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1 UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE ENFERMAGEM PERCURSO HISTÓRICO DA SAÚDE MENTAL E A ATUAÇÃO DA ENFERMAGEM Keila Christina Lopes Frasson Marcela de Carvalho Campos Renata Deslandes Leão Addário Rodrigo Sipriano Pereira Romilda Oliveira Cardoso Governador Valadares 2008

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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE

FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE ENFERMAGEM

PERCURSO HISTÓRICO DA SAÚDE MENTAL

E A ATUAÇÃO DA ENFERMAGEM

Keila Christina Lopes Frasson Marcela de Carvalho Campos

Renata Deslandes Leão Addário Rodrigo Sipriano Pereira Romilda Oliveira Cardoso

Governador Valadares

2008

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KEILA CHRISTINA LOPES FRASSON MARCELA DE CARVALHO CAMPOS

RENATA DESLANDES LEÃO ADDÁRIO RODRIGO SIPRIANO PEREIRA ROMILDA OLIVEIRA CARDOSO

PERCURSO HISTÓRICO DA SAÚDE MENTAL

E A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO

Trabalho de conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Enfermagem, apresentado à Faculdade de Ciências e Saúde da Universidade Vale do Rio Doce.

Orientadora: Profª. Patrícia Malta Pinto

Governador Valadares

2008

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DECLARAÇÃO DE AUTORIA

Renata Deslandes Leão Addário, aluna do curso de Graduação em Enfermagem

da FACS – UNIVALE, Identidade n°200748846 SST-RJ emitida pela SSPMG,

declaro para os devidos fins e sob as penas da Lei, que este TCC – Trabalho de

conclusão de curso que versa sobre o Percurso Histórico da Saúde Mental e a

Atuação do Enfermeiro – é de minha exclusiva autoria, estando a UNIVALE –

Universidade Vale do Rio Doce através do curso de Enfermagem, autorizada a

divulga-la, mantendo cópia na biblioteca, sem ônus referentes a direitos autorais,

por se tratar de exigência parcial para a certificação de bacharel no curso de

graduação em enfermagem

Governador Valadares, 17 de Novembro de 2008

_________________________________

Renata Deslandes Leão Addário

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DECLARAÇÃO DE AUTORIA

Keila Christina Lopes Frasson, aluna do curso de Graduação em Enfermagem da

FACS – UNIVALE, Identidade nº MG- 14700-546 emitida pela SSPMG, declaro

para os devidos fins e sob as penas da Lei, que este TCC – Trabalho de

conclusão de curso que versa sobre o Percurso Histórico da Saúde Mental e a

Atuação do Enfermeiro – é de minha exclusiva autoria, estando a UNIVALE –

Universidade Vale do Rio Doce através do curso de Enfermagem, autorizada a

divulga-la, mantendo cópia na biblioteca, sem ônus referentes a direitos autorais,

por se tratar de exigência parcial para a certificação de bacharel no curso de

graduação em enfermagem

Governador Valadares, 17 de Novembro de 2008

_________________________________

Keila Christina Lopes Frasson

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DECLARAÇÃO DE AUTORIA

Romilda Oliveira Cardoso, aluna do curso de Graduação em Enfermagem da

FACS – UNIVALE, Identidade n° MG 13016415 emitida pela SSPMG, declaro

para os devidos fins e sob as penas da Lei, que este TCC – Trabalho de

conclusão de curso que versa sobre o Percurso Histórico da Saúde Mental e a

Atuação do Enfermeiro – é de minha exclusiva autoria, estando a UNIVALE –

Universidade Vale do Rio Doce através do curso de Enfermagem, autorizada a

divulga-la, mantendo cópia na biblioteca, sem ônus referentes a direitos autorais,

por se tratar de exigência parcial para a certificação de bacharel no curso de

graduação em enfermagem

Governador Valadares, 17 de Novembro de 2008

_________________________________

Romilda Oliveira Cardoso

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DECLARAÇÃO DE AUTORIA

Rodrigo Sipriano Pereira, aluna do curso de Graduação em Enfermagem da

FACS – UNIVALE, Identidade n° MG -14.398.196 emitida pela SSPMG, declaro

para os devidos fins e sob as penas da Lei, que este TCC – Trabalho de

conclusão de curso que versa sobre o Percurso Histórico da Saúde Mental e a

Atuação do Enfermeiro – é de minha exclusiva autoria, estando a UNIVALE –

Universidade Vale do Rio Doce através do curso de Enfermagem, autorizada a

divulga-la, mantendo cópia na biblioteca, sem ônus referentes a direitos autorais,

por se tratar de exigência parcial para a certificação de bacharel no curso de

graduação em enfermagem

Governador Valadares, 17 de Novembro de 2008

_________________________________

Rodrigo Sipriano Pereira

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DECLARAÇÃO DE AUTORIA

Marcela de Carvalho Campos, aluna do curso de Graduação em Enfermagem da

FACS – UNIVALE, Identidade n° MG 13160-629 emitida pela SSPMG, declaro

para os devidos fins e sob as penas da Lei, que este TCC – Trabalho de

conclusão de curso que versa sobre o Percurso Histórico da Saúde Mental e a

Atuação do Enfermeiro – é de minha exclusiva autoria, estando a UNIVALE –

Universidade Vale do Rio Doce através do curso de Enfermagem, autorizada a

divulga-la, mantendo cópia na biblioteca, sem ônus referentes a direitos autorais,

por se tratar de exigência parcial para a certificação de bacharel no curso de

graduação em enfermagem

Governador Valadares, 17 de Novembro de 2008

_________________________________

Marcela de Carvalho Campos

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KEILA CHRISTINA LOPES FRASSON MARCELA DE CARVALHO CAMPOS

RENATA DESLANDES LEÃO ADDÁRIO RODRIGO SIPRIANO PEREIRA ROMILDA OLIVEIRA CARDOSO

A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NA HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA

Trabalho de conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Enfermagem, Faculdade de Ciências e Saúde da Universidade Vale do Rio Doce.

Bancada Examinadora:

________________________________________________________ Prof.ª Patrícia Malta Pinto – Orientadora

Universidade Vale do Rio Doce

________________________________________________________ Prof.ª Ana Maria Germano

Universidade Vale do Rio Doce

________________________________________________________ Prof.ª Erick Ramalho

Universidade Vale do Rio Doce

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AGRADECIMENTOS

Agradecemos primeiramente a Deus que iluminou nosso caminho durante

essa caminhada. Agradecemos de forma especial a nossa Professora e

Orientadora Patrícia Malta, pelo apoio, pela confiança concedida, pela

compreensão e pelo laço de amizade que foi construído ao longo do estudo.

Agradecemos aos nossos familiares e amigos, e a todos que de alguma forma

contribuíram para essa vitória.

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Que é loucura: ser cavaleiro andante ou segui-lo como escudeiro? De nós dois, quem é louco verdadeiro? O que, acordado, sonha doidamente? O que, mesmo vendado, Vê o real e segue o sonho De um doido pelas bruxas embruxados? (Carlos Drumond de Andrade)

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RESUMO

Este TCC intitulado “O percurso histórico da saúde mental e a atuação da enfermagem“ estuda a forma de assistência prestada ao portador de sofrimento mental adotada hoje, foi construído ao longo de um percurso histórico-político, este trabalho foi dividido em três tempos, no primeiro momento foi feito uma retrospectiva história da loucura onde observou as concepções e construções na forma de lidar com o dito Louco. Um período anterior à idade media o louco gozava de liberdade e tinha circulação nas cidades, para em seguida ter inicio a segregação na idade média caracterizada pela Nau dos insensatos. Segregação esta fortalecida na renascença com inicio do pensamento racional. Neste período iniciam-se as grandes internações para toda população marginal. No período moderno teve a efetivação do hospital psiquiátrico voltado para a população de loucos, onde reinava a exclusão, segregação e maus tratos. No segundo momento do trabalho discutiu-se a Reforma Psiquiátrica que veio para questionar este aparato manicomial e criar estruturas alternativas de tratamento dos portadores de transtorno mental. Este modelo atual retorna os princípios de liberdade, resgate da cidadania e assistência digna e adequada para este sujeito, No terceiro tempo foi pesquisado a assistência de enfermagem psiquiátrica no Brasil, que sofreu influência inicial do saber médico, onde o profissional enfermeiro era chamado a administrar a desordem do hospício e da loucura e executar as tarefas. Tinha o papel apenas de controlar o disciplinamento da loucura. Portanto a enfermagem nasceu com a necessidade de disciplinarização. Pós Reforma Psiquiátrica a enfermagem encontra-se em fase crítica para definir o saber e o fazer, sendo que o hospital psiquiátrico questionado em sua estrutura e chamado a rever e cumprir sua função real, e outros dispositivos surgem para atender a está população de forma aberta, têm-se CAPS e outros aparatos. Este trabalho teve como objetivo analisar o papel do enfermeiro na história psiquiátrica até a atualidade. O estudo apresenta resultados de uma revisão integrada de textos técnicos científicos, descritivo analítico, qualitativo. A identificação das fontes foi realizada por meio dos sistemas informatizados de busca Literaria, Scielo e Revistas de enfermagem e livros. Após avaliação do estudo foram selecionados 52 artigos e divididos em 3 categorias: a história da loucura; a reforma psiquiátrica e a atuação do enfermeiro em saúde mental sob o paradigma da reforma psiquiátrica.

Palavras-chave: enfermagem, psiquiatria, loucura. reforma psiquiátrica

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ABSTRACT

This TCC entitled "The history of mental health and performance of nursing" studying the form of assistance to the bearer of suffering mental adopted today, was built over a history-political, this work was divided into three stages, the first time was done a retrospective history of insanity which designs and constructs the observed in dealing with Jojo said. A period before the age fool the media and had enjoyed freedom of movement in cities, then start Tuesday segregation in the average age characterized by the Ship of Fools. Segregation this strengthened the beginning of the renaissance with rational thought. In this period will begin the admissions to all major population marginal. In the modern period had the effect of psychiatric hospital toward the population of fools, where reigned the exclusion, segregation and mistreatment. In the second stage of the work discussion was held on Mental Illness who came to question this apparatus asylum structures and create alternative treatment for patients with mental disorder. This model returns the current principles of freedom, citizenship and rescue assistance dignified and appropriate for this subject, the third time was investigated in psychiatric nursing care in Brazil, which affected the initial medical knowledge, where the professional nurse was called to administer the chaos and madness of hospice and perform the tasks. He was the only paper to control the disciplining of madness. So the nurse was born with the need for disciplining. Post Mental Illness to nursing is being critical to set the know and do, and the psychiatric hospital questioned in its structure and called to review and fulfill its real function, and other devices emerge to meet the population is in an open, has been CAPS and other apparatuses. This study aimed to examine the role of nurses in the psychiatric history to the present. The study presents the results of a review of integrated technical scientific texts, descriptive analytical, qualitative. The identification of the sources was performed using computerized systems to search Literary, Scielo and nursing journals and books. After evaluation of the study were selected and 52 articles divided into 3 categories: the story of madness, the psychiatric reform and the role of nurses in mental health under the paradigm of psychiatric reform.

Keywords: nursing, psychiatry, madness. psychiatric reform

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LISTA DE ABREVIATURAS

CAPS – Centro de Referencia em saúde Mental

CAPS: Centro de Atenção do Psicossocial

CAPS-Ad: Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogras

CNSM: Conselho Nacional de Saúde Mental

INPS: Instituto Nacional de Previdência Social

MTSM: Movimento dos Trabalhadores em Saúde Menta

SUS: Sistema Único de Saúde

TCC: Trabalho de Conclusão de curso

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SUMÁRIO

1- INTRODUÇÃO-------------------------------------------------------------------------15

2- DESENVOLVIMENTO TEÓRICO

2.1 - A História da Loucura----------------------------------------------------------------17

2.2 - A Reforma Psiquiátrica--------------------------------------------------------------23

2.3 - História da Atuação do Enfermeiro em Saúde Mental ----------------------30

CONSIDERAÇÕES FINAIS---------------------------------------------------------------41

REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICA--------------------------------------------------------43

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INTRODUÇÃO

O presente estudo, intitulado “percurso histórico da saúde mental e a

atuação da enfermagem” ocupa-se de como é a atuação do enfermeiro na história

da psiquiatria.

Muito se fala da história da psiquiatria, da concepção da loucura, da forma

como socialmente eram tratados os loucos, mas há poucas construções acerca

do papel do enfermeiro neste processo.

Trata-se de um trabalho de conclusão do curso de enfermagem superior,

cuja base metodológica será pautada na revisão bibliográfica de textos técnicos

científicos, que abordem o tema história da enfermagem, com a finalidade de

analisar o papel do enfermeiro na história psiquiátrica até a atualidade.

A questão a ser respondida: Qual é o papel do enfermeiro na construção

da história da psiquiatria até a atualidade? Enfocando a realidade brasileira.

Para responder a questão de pesquisa foi feito um estudo onde nosso

objetivo é descrever a história da enfermagem psiquiátrica.

Entretanto, para que se possa explicitar o problema de pesquisa que

motivou a desenvolver este projeto, entende-se ser necessário antes de tudo,

fazer um resgate da história da loucura e a assistência ao indivíduo com

transtornos mentais.

Têm-se como objetivos específicos: Detectar o surgimento da enfermagem

na psiquiatria; Construir um histórico da enfermagem psiquiátrica; Observar a

evolução da prática da enfermagem psiquiátrica associado ao modelo político,

histórico e social; Analisar a adequação da enfermagem psiquiátrica ao contexto

das políticas de saúde mental atuais.

Acredita-se ser de fundamental importância essa pesquisa, pois poderá ser

um instrumento para posteriores pesquisas na área de saúde mental. Permitirá a

avaliação dos avanços ocorridos na assistência em saúde mental, além do

enriquecimento teórico científico.

Trata-se de uma pesquisa qualitativa de cunho descritivo, pautada na

revisão bibliográfica, foram pesquisados literaturas referentes ao tema, artigos e

teses. Foram feitas busca na BIREME, CIELO, biblioteca da USP e outros.

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O desenvolvimento do presente TCC conta com uma breve retrospectiva

histórica da loucura, a reforma psiquiátrica e retrata concepções da atuação do

enfermeiro a luz das atuais políticas da saúde mental.

As considerações finais foram tecidas a partir dos conhecimentos

construídos no decorrer da pesquisa bibliográfica e no diálogo com os autores

que deram sustentação teórica ao trabalho.

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DESENVOLVIMENTO TEÓRICO

1.1 – A História da loucura

Para iniciar uma discussão sobre a enfermagem psiquiátrica faz-se

necessário retomar a história da loucura.

A desrazão é entendida como tudo aquilo que uma sociedade enxerga como sendo seu "outro": a estranheza, a ameaça, a alteridade radical. Essa dimensão pode ser identificada em diversas épocas e, inclusive, pode ser percebida como essencial nas mais variadas formações histórico-sociais. Entretanto, apesar desse lugar de exclusão sempre ter existido, nem sempre coube ao louco a tarefa de representar a desrazão. Pelbart (1989:79)

Segundo Pelbart, (1989), a loucura nem sempre foi considerada algo

negativo, muito menos uma doença. Pelo contrário, na Grécia antiga ela já foi

considerada até mesmo um privilégio. Filósofos como Sócrates e Platão

ressaltavam a existência de uma forma de loucura tida como divina e, inclusive,

utilizavam a mesma palavra (manikê) para designar tanto o "divinatório" como o

"delirante".

Ao longo do tempo, a loucura foi se afastando do seu papel de portadora

da verdade e foi se encaminhando em uma direção completamente oposta. Na

fascinante obra intitulada História da Loucura, pode-se perceber como esse corte

entre misticismo e razão pode ser percebido em vários âmbitos da experiência

humana.

Segundo Foucault, (1972), a história não é a história do discurso

psiquiátrico, mas é uma história anterior a capturação dessa loucura pelo saber

médico como seu objetivo de conhecimento.

Na Antigüidade e na Idade Média, os chamados loucos gozavam de certo grau de liberdade, muitas vezes circulando e fazendo parte do cenário e das linguagens sociais. É verdade que sempre existiram formas de encarceramento dos loucos; igualmente, desde a Antigüidade, a Medicina se ocupava deles; eram também abordados por práticas mágicas e religiosas; muitos, ainda, vagavam pelos campos e pelas cidades. Contudo, nenhuma dessas formas de relação da sociedade com a loucura prevalecia, variando sua predominância conforme as épocas e os lugares. Minas Gerais (2006:18)

No Final da idade média a loucura circulava, fazia parte da vida cotidiana, e

uma experiência possível para cada um, antes exaltada do que dominada, até o

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final do século XVI não havia fundamento para a certeza de não ser louco,

sabedoria e loucura, estavam muito próximos. A grande expressão dessa

proximidade estava relacionada à linguagem das artes. Amarantes (2004)

Segundo Foucault (1979), na Idade Média a loucura passa a ocupar os

lugares que a lepra ocupava na idade média, lugares deixados sem utilidades

bem como os ritos. E a partir do século XV a face da loucura passa a assombrar a

imaginação do homem ocidental.

Ainda de acordo com Foucault (2001), a experiência padrão, no entanto na

Idade Média foi o “nau dos loucos” onde estes eram enviados a terras distantes,

com saída pelo mar. Este ato estava carregado de simbolismo, muito além da

mera utilidade social, a limpeza da desrasão.

Foucault (2001) também reforça que nessa época acontecia de alguns

loucos serem chicoteados publicamente e que no decorrer de uma espécie de

jogo eles eram perseguidos numa corrida simulada e escorraçados da cidade a

bastonadas.

Neste período, os loucos eram escorraçados e freqüentemente confiados a

barqueiros. O louco tornava-se passageiro por excelência, o prisioneiro de

passagem, solidamente acorrentado à infinita encruzilhada.

Apesar de se perceber que desde a Idade Média já existiam mecanismos

de exclusão do louco, ainda não é aí que a loucura é percebida como um

fenômeno que requeira um saber específico, pois os primeiros estabelecimentos

criados para circunscrever a loucura destinavam-se simplesmente a retirar do

convívio social as pessoas que não se adaptavam a ele. Somente no próximo

período histórico (Renascença século XV e XVI) é que se transformará essa

relação. Brasil (2005)

No decorrer do século XVII, a loucura se fixa no hospital. Na Europa, criam-

se casas de internação onde a loucura é retida. O pensamento moderno aprisiona

filosoficamente a loucura. Na filosofia de Descartes, que se encontra na base do

pensamento moderno, a loucura se vê privada do direito a alguma relação com a

verdade. A partir do racionalismo moderno, sabedoria e loucura se separam. Com

Descartes “a loucura foi colocada fora do domínio no qual o sujeito detém seus

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direitos à verdade; domínio este que, para o pensamento clássico, é a própria

razão”. Foucault (2000:121)

Retomando a literatura de Foucault (1979), há relato que 1656, foi fundado

em Paris, o Hospital Geral, uma instituição destinada a recolher todos os pobres

da cidade. Sem nenhum caráter médico. Um hospital da ordem monárquica e

burguesa. Entre a preocupação burguesa de ordenar a miséria e a tradição da

Igreja de assistência aos pobres tem lugar uma prática ambígua: no interior

dessas casas, ela é uma prática comprometida com o desejo de ajudar e a

necessidade de punir.

O autor acima citado afirma que a loucura na idade média sai da

imensidão do mar de paradoxal relação prisão e liberdade na nau dos loucos e

encontra seu lugar nos grandes hospitais.

Foucault (1989) ainda destaca que quando a Renascença inventou o

internamento, ocorreu o início do período racionalista, a loucura passou a ser

vista como desrazão e os loucos, foram vítimas de grandes internações, foram

inclusive acorrentados nos hospitais gerais. Duas questões são fundamentais

para entender a experiência da loucura na Renascença. Primeiramente a loucura

passou a ser considerada e entendida somente em relação à razão e em segundo

lugar a loucura só passou a ter sentido no próprio campo da razão tornando-se

uma de suas formas.

Segundo Foucault (2000) no decorrer do século XVII a loucura se fixou no

hospital. Na Europa através da instituição do internamento que nasceu de uma

inquietação com a pobreza, a loucura foi percebida como conseqüência da

própria miséria, pela incapacidade de trabalho e integrada ao grupo dos acusados

de imoralidade, leprosos, sifilíticos e outros grupos de excluídos. “A razão dessa

maneira designa a loucura como um momento essencial de sua própria natureza,

já que agora a verdade da loucura é sem motivos a razão”. Foucault (1996:06)

É importante considerar que no contexto do desatino os loucos eram muito

além do que conhecemos pelas psicoses, mas eram considerados muitas vezes

loucos os libertinos, os que viviam uma sexualidade considerada profana (ex:

homossexuais, desempregados, bêbados, praticante de magia e etc.).

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Percebe-se que durante o século XVII os hospícios proliferaram e

abrigaram no mesmo ambiente, os doentes mentais com marginalizados de

outras espécies. O tratamento que essas pessoas recebiam nas instituições

costumava ser desumano, sendo considerado pior do que o recebido nas prisões.

Eles são mais mal tratados que os criminosos; eu os vi nus, ou vestidos de trapos, estirados no chão, defendidos da umidade do pavimento apenas por um pouco de palha. Eu os vi privados de ar para respirar, de água para matar a sede, e das coisas indispensáveis à vida. Eu os vi entregues às mãos de verdadeiros carcereiros, abandonados à vigilância brutal destes. Eu os vi em ambientes estreitos, sujos, com falta de ar, de luz, acorrentados em lugares nos quais se hesitaria até em guardar bestas ferozes, que os governos, por luxo e com grandes despesas, mantêm nas capitais. Esquirol (1818)

Ainda na Renascença os loucos eram “mostrados em grades para o

público que os visitavam como se fossem monstros, animais, apontando o dedo,

refletindo sobre o que não se deve ser”. Tommasi (2005:35).

Esse grande internamento não se dava pelo saber médico, saber este que

só se pronunciaria a verdade da loucura ao final do século XVIII e início do século

XIX com Pinel e Tuke. Na verdade essas casas de internações tinham intenções

políticas/religiosas de repressão. O internamento, este fato maciço cujos indícios

são encontrados em toda a Europa do século XVII.

De acordo com Foucalt, (1979), é o século XVIII que vem, definitivamente,

marcar a apreensão do fenômeno da loucura como objeto do saber médico,

caracterizando-o como doença mental e, portanto, passível de cura.

O enfoque da loucura como doença e da psiquiatria como especialidade médica é recente na história da humanidade aproximadamente 200 anos. A partir do século XVIII é que, o homem inventou uma nova maneira de se perceber, uma nova maneira de vivenciar a condição humana. Perbalt (1989:57)

A loucura sempre existiu, bem como o lugar para se tratar dos loucos:

templos, domicílios e instituições, mas a instituição psiquiátrica, propriamente dita,

é uma construção do século XVIII.

A partir dessa nova forma de vivenciar a condição humana, estabeleceu-se

"o diferente", aquele que não segue padrão de comportamento que a sociedade

define. O doente mental, o excluído do convívio dos iguais, dos ditos normais, foi

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então afastado dos donos da razão, dos produtivos e dos que não ameaçavam a

sociedade.

Ao final do século XVIII, surgiu uma nova reestruturação do espaço social, simbolizada na Europa pela Revolução Francesa. Não mais se admitia, ao menos formalmente, o encarceramento arbitrário de nenhum cidadão. De nenhum, com uma única exceção: os loucos! Minas Gerais (2006:17)

Influenciado pelos ideais do Iluminismo e da Revolução Francesa (Século

XVIII), Philippe Pinel (1745-1826), diretor dos hospitais de Bicêtre e da

Salpêtrière, foi um dos primeiros a libertar os pacientes dos manicômios das

correntes, propiciando-lhes uma liberdade de movimentos por si só terapêutica.

Desde que a questão dos "loucos" passa a ser um assunto médico-científico,

surgem duas correntes diferentes de pensamento com relação ao trato dos

pacientes e à origem de seus males. Uma crê no tratamento "moral", nas práticas

psico-pedagógicas, nas terapias afetivas como mais importantes. Outra focaliza o

tratamento físico, crendo ser a loucura um mal orgânico, fruto de uma lesão ou de

um mau funcionamento encefálico. Para esta última, o ambiente dos manicômios,

suas instalações, não são tão relevantes para o tratamento. Edinger (1984)

O Século XVIII é o século das Luzes, onde a razão ocupa um lugar de

destaque, pois é através dela que o homem pode conquistar a liberdade e a

felicidade. Ocorre a valorização do pensamento científico e é em meio a esse

contexto que surge o hospital como espaço terapêutico. Entretanto, deve-se ter

cuidado ao imprimir a esse acontecimento uma ótica humanitária e altruísta, pois

essa medicalização do hospital não se deu visando "uma ação positiva sobre o

doente ou a doença, mas simplesmente uma anulação dos efeitos negativos do

hospital”. Foucault (1979:123).

No fim do século XVIII quanto mais o louco era corporalmente coagido,

mais a imaginação se degradava. O internamento tornou-se lugar de cura não

com função de repressão, mas como meio que organizava a liberdade. O

internamento ganhava valor terapêutico, passando a ser asilo. A loucura

transformou-se em objeto médico, ganhando o valor de doença. Foucault (2000).

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Com o passar dos tempos, no “[...] advento da modernidade no século XIX,

são criados os asilos ou hospitais psiquiátricos e os loucos são por sua vez

tratados como doentes mentais”. Minas Gerais (2006:18)

Ligados ao aparecimento dos asilos surgiram os nomes de S.Tuke, na

Inglaterra e Pinel na França. Tuke e Pinel ao contrário do que se costuma dizer

quando se conta a história da psiquiatria, não se romperam com as práticas de

internamento.

A internação, portanto é uma criação institucional própria ao século XVII

que assume o sentido inteiramente diferente da prisão na Idade Média.

Philippe Pinel introduziria um marco definitivo da percepção da loucura como desrazão e erro, apoiado no racionalismo historicamente desenvolvido desde a era clássica. Com isso, fecha-se o ciclo de dominação da loucura, transformada em doença mental Pelbart (1989:121).

Pesquisando a psiquiatria no Brasil pode-se afirmar que a atenção

específica ao doente mental teve início com a chegada da Família Real. Em

virtude das várias mudanças sociais e econômicas ocorridas, e para que se

pudesse ordenar o crescimento das cidades das populações foi necessário o uso

de medidas de controle entre essas, a criação de um espaço que recolhesse das

ruas aqueles que ameaçavam a paz e a ordem social. Posteriormente em 1852 foi

criado o primeiro hospício brasileiro tendo o hospital psiquiátrico como cenário de

isolamento.

Em 1830 foi promulgado o Código Criminal do Império do Brasil que

afirmava, de acordo com os artigos 10 e 11 que "os loucos de todo o gênero,

salvo se tiverem lúcidos intervalos e nele cometerem o crime" não seriam julgados

criminosos. Ainda no artigo 12 estabelecia-se que "os loucos que tiverem

cometido crimes, serão recolhidos às casas para eles destinadas, ou entregues

às suas famílias, como ao juiz parecer mais conveniente", em razão dos loucos

perturbarem a cidade, em especial, o funcionamento do Porto do Rio de Janeiro.

Engel (1995:251)

Assim, os denominados loucos passaram a ser recolhidos das ruas da

cidade e levados para albergues, inclusive, utilizando-se os porões da Santa Casa

do Rio de Janeiro.

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Posteriormente, os denominados loucos passaram a ser considerados

doentes mentais e a Irmandade, com apoio do Imperador, construiu na Praia

Vermelha o Hospício Pedro II visando introduzir os métodos terapêuticos

preconizados por Pinel.

Segundo Amarante (1998) em 1852 o Hospício de Pedro II, foi inaugurado

com 140 leitos, a inauguração do suntuoso Hospício de Pedro II, em 1852,

instalado na praia da Saudade, retirou os pacientes da Santa Casa de

Misericórdia, que se encontravam em condições insalubres, e acenou com a

possibilidade do tratamento moral. Surgiu nesse momento a primeira instituição

psiquiátrica do Brasil.

Segundo Moreira (1907) a partir da metade do século XIX os alienados

foram considerados doentes mentais e passaram a contar com hospitais

especiais para seu acolhimento no Brasil. O Hospício de Pedro II foi o primeiro a

propiciar um tratamento mais humano a esses doentes, à base de sedativos e de

métodos terapêuticos preconizados pelo médico francês Philippe Pinel, que

substituíram os métodos corretivos e de coerção. A Santa Casa do Rio de Janeiro

foi, assim, pioneira na aplicação desses métodos de tratamento dos alienados,

considerados mais modernos na época.

Segundo Amarante (1995) dessa forma, a sociedade Brasileira criou

espaços de enclausuramento como suposto tratamento para a doença mental, no

entanto, o movimento da Reforma Psiquiátrica foi construindo críticas a esse

modelo, revelando formas substitutivas de trabalho. Paulatinamente, algumas

transformações foram compondo o cenário da luta a favor da saúde mental em

espaços abertos, em detrimento das medidas estritamente manicomiais.

1.2 – A Reforma Psiquiátrica

Retomando a história político social do Brasil, observa-se que nos anos 50

com a crescente industrialização do país, cresce o complexo médico hospitalar,

no qual a assistência era prioritariamente previdenciária, os investimentos da

esfera pública se destinavam a construção de grandes hospitais para

previdenciários e de compras de serviços de hospitais privados. Ogata (2000)

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No fim da década de 50 a situação psiquiátrica brasileira era caótica: superlotação, deficiência de pessoal, maus -tratos, condições de abrigos deploráveis, no qual nesse período houve a descoberta das drogas antipsicóticas. Ogata (2000:74)

Ainda de acordo com o autor na década de 60 começaram a surgir

movimentos que buscavam a mudança do modelo assistencial psiquiátrica, no

qual a psiquiatria era questionada, sobretudo suas bases de conhecimento,

surgindo da antipsiquiatria que vem descrever a loucura como um produto da

realidade social. Ogata (2000)

Segundo Kantorski (2001) o período que se seguiu ao movimento militar de

1964 representou um marco na assistência psiquiátrica destinada ao doente

mental indigente e a uma nova fase de extensão de cobertura aos trabalhadores e

seus dependentes.

É importante assinalar que o modelo clínico na realidade brasileira ampliou-

se e contou com importante impulso durante o processo de industrialização nos

anos 70, quando ocorreu uma grande expansão da indústria farmacêutica e de

equipamentos médico-hospitalares. Chama-se a atenção para o fato de que

“enquanto o mundo voltava-se para a desospitalização, o Brasil, sob o cenário do

golpe militar, investia na extensão dos cuidados psiquiátricos através do aumento

de leitos e da multiplicação da rede privada contratada”. Kantorski (2001:29)

Nessa mesma época se observa a ampliação de hospitais privados, um

crescimento do parque manicomial brasileiro (100.000 leitos em 313 hospitais

psiquiátricos, 20% públicos e 80% privados conveniado com o SUS), priorizou-se

o investimento na rede privada. Minas Gerais (2006).

O nascimento dos diferentes movimentos da reforma ocorreu sempre em

momentos de efervescências políticas e culturais. Assim, os manicômios não

apenas cresceram enormemente em número, como se tornaram cada vez mais

repressivos. O isolamento, o abandono, os maus tratos e as péssimas condições

de hospedagem faziam parte da realidade brasileira.

Surgem os primeiros movimentos de reforma psiquiátrica. Assim, o início

desses movimentos deu-se no contexto dos projetos de reconstrução social pós II

guerra mundial. Os momentos mais ousados ligam-se a mobilizações sociais dos

anos 60 e 70 que, atingiriam seu auge no movimento francês em maio de 68. O

questionamento quanto à assistência do portador de sofrimento mental surge

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quando a sociedade questiona outros impasses da sua própria ordem,

expressando uma vontade coletiva de mudanças. Minas Gerais (2006)

Segundo Amarante (1995), existiram dois momentos da reforma

psiquiátrica: o primeiro quando a psiquiatria tentou a renovação, mas ainda

mantendo-se como preponderante, tinha a pretensão de melhorar o

funcionamento organizacional do Hospício, com a intenção de tornar terapêutico

esse ambiente. Com isso afirmava, ainda, a internação psiquiátrica como

terapêutica e o Hospital Psiquiátrico como o lugar de práticas curativas, e o

segundo momento foi quando a psiquiatria pretendeu ampliar dentro dos seus

domínios, saindo dos hospícios para as comunidades. Prevenir e promover a

saúde mental, da adaptação social foram as intenções da psiquiatria.

O autoritarismo político para todas as instituições, com dificuldade ou

impossibilidade de debate facilitou a implantação da chamada indústria da loucura

nos hospitais psiquiátricos particulares conveniados com o poder público. Sem

barreiras sem eleições diretas para governadores dos estados, os hospitais

psiquiátricos estaduais mantinham suas direções distantes das discussões

políticas. Os hospitais psiquiátricos federais eram dirigidos por indicações

superiores sem participações na base.

Em 1978 um episódio denuncia a falta de condições humanas de trabalho

no então já denominado Centro Psiquiátrico Pedro II.

O velho hospício Engenho de Dentro que, resultou em apoio políticos e notícias na imprensa, denunciando as péssimas condições de trabalho falta de garantia trabalhista, ameaças a profissionais e pacientes, agressões, trabalho escravo e estupro. Este episódio veio fortalecer ainda mais o início do processo da Reforma Psiquiatria. Amarante (1995:51)

A reforma psiquiátrica brasileira inspirou-se no modelo de

desinstitucionalizaçao italiana. A experiência italiana de reforma propunha que

não bastava trocar o local do tratamento ao portador de transtorno mental, mas

transforma o movimento num mecanismo capaz de conceber o problema da

loucura em cuidar, pensar e integrar tratava-se de colocar a doença entre

parêntese e cuidar de pessoas. A experiência italiana diferenciou-se de todas as

outras experiências de reforma psiquiátrica exatamente por esse feito partindo da

crítica ao modelo manicomial, os italianos acabaram por construir outro modelo de

entendimento da loucura e a propor uma outra psiquiatria ao abordar-se o saber

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psiquiátrico de forma crítica e dialética. Lutaram para construir um movimento de

construção desse saber e buscaram ao reconstruí-lo demonstrar toda opressão e

dominação que carregava o conceito da doença mental e de loucura construindo

assim, um paradigma de desinstitucionalização. Basaglia (1979)

Líder da Reforma Psiquiátrica Italiana, Franco Basaglia, tem uma

participação fundamental na história da Reforma Psiquiátrica Brasileira.

Demonstrou com a clareza que lhe era própria, a indignação diante do absurdo

dos hospitais psiquiátricos e a repressão que sofriam as classes dominadas.

Deflagrou o debate sobre o ambiente hospitalar, nos seus mínimos detalhes com

o lema “crear condiciones” para permitir aflorar necessidades “reales de los

usuários del servicio”. Amarante (1995: 51).

Rotelli (2001) adverte para a distinção entre desinstitucionalização e

desospitalização. Esta, apenas retira as pessoas de dentro dos Hospitais

Psiquiátricos, sem proporcionar uma rede de atenção que os substitua e sem criar

uma alteração na forma da sociedade lidar com o “problema mental”.

Para situar precisamente o que o grupo italiano pratica como

desinstitucionalização, Rotelli diz que esta não se limita à desospitalização nem

ao “intento de renovar a capacidade terapêutica da Psiquiatria, liberando-a das

suas funções arcaicas de controle social, coação e segregação”, igualmente não

se destina ao que “[...] para os grupos de técnicos e políticos radicais [...]

simbolizava a perspectiva de abolição de todas as instituições de controle social”

nem com um “programa de racionalização financeira e administrativa, sinônimo de

redução de leitos hospitalares e uma das primeiras operações conseqüentes da

crise fiscal.” Rotela (2001:19).

A Reforma Psiquiátrica propõe transformar o modelo assistencial em saúde

mental e construir um novo estatuto social para o louco, o de cidadão como todos

os outros. Não pretende acabar com o tratamento clínico da doença mental, mas

sim eliminar a prática do internamento como forma de exclusão social dos

indivíduos portadores de transtornos mentais. Para isso, propõe a “substituição do

modelo manicomial pela criação de uma rede de serviços territoriais de atenção

psicossocial, de base comunitária”. Amarante (1995:22)

A Reforma Psiquiátrica é um processo político e social complexo

composto de atores, instituições força de diferentes organismos no governo

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federal, estadual e municipal, nos conselhos profissionais, e nos territórios de

pessoas com transtornos mentais, “a reforma psiquiátrica avança marcada por

impasse, tensões conflitos e desafios.” Brasil (2005:6).

Entre 1973 e 1982, foram divulgados documentos oficiais do Instituto

Nacional de Previdência Social (INPS), Ministério da Previdência e Assistência

Social e Divisão Nacional de Saúde Mental, condenando o atendimento asilar. Um

grupo que impulsionou as discussões acerca da desinstitucionalização foi o

Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental, (MTSM) iniciado na década de

1970 com a intenção de lutar contra a privatização da saúde, dadas as

particularidades e deformações do sistema psiquiátrico brasileiro, este processo

"mobiliza todos os atores envolvidos no sistema de ação institucional", a

prioridade é a transformação das relações de poder. Lima e Teixeira (1995:58)

A instalação do primeiro centro de atenção do psicossocial (CAPS) do país

em são Paulo em 1978, foi um momento importante na história da transformação

da assistência a saúde mental no Brasil. Esse CAPS leva o nome de centro de

atenção psicossocial professor Luiz da Rocha Cerqueira. Sávio (2003).

Em 1987, ocorreu no Rio de Janeiro a I Conferência Nacional de Saúde Mental, seguindo os pressupostos da 8a Conferência Nacional de Saúde, ocorrida em Brasília em 1986. O documento final, que analisava as desigualdades sociais, o aumento da morbidade, adotando o novo conceito de saúde, reitera a implementação da Reforma Sanitária. Propunha então a reformulação do modelo assistencial em saúde mental e conseqüente reorganização dos serviços, privilegiando o atendimento extra-hospitalar e as equipes multiprofissionais. Iniciava-se a discussão dos direitos de cidadania e da legislação em relação ao doente mental Grande parte do movimento da reforma sanitária e reforma psiquiátrica passou a ser incorporada ao aparelho do Estado. Brasil (2002:34).

Em 1988, houve a promulgação da Constituição Federativa do Brasil, no

qual a saúde conquistou um espaço histórico.

Neste momento é instituído o sistema único de saúde (SUS), no qual são elaborados os princípios de universalização, hierarquização, regionalização, eqüidade, participação popular dos cidadãos e complementaridade pelo setor privado, Saúde é um direito de todos e dever do estado. Ogata (2000:25)

Em 1989 se deu a intervenção de uma clinica particular em Santos-SP

(Clínica Anchieta), onde eram freqüentes relatos e denúncia de violência contra

os internos. A clinica Anchieta foi fechada e em seu lugar foi montada uma

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estrutura de serviços, dispositivos e estratégias que, baseada na concepção de

território, passaria a promover cuidado, acolhimento e inclusão. Amarante (2004)

No mesmo ano surge o Projeto de Lei N° 3657/89, do Deputado Paulo

Delgado, que dispunha sobre a extinção progressiva dos manicômios brasileiros e

sua substituição por outros recursos assistenciais.

Após os avanços políticos e de organização conseguidos na década de 80,

no Brasil, na área da Saúde Mental, acontece em Caracas, na Venezuela, em

novembro de 1990, a "Conferência Regional para a Reestruturação da Atenção

Psiquiátrica dentro dos Sistemas Locais de Saúde". Essa reunião produziu um

documento que resume o que era o entendimento, naquele momento, a respeito

de como deveriam ser conduzidas as Ações de Saúde Mental. Trata-se de um

documento com a chancela da Organização Mundial da Saúde e da Organização

Pan-americana da Saúde. No preâmbulo, o texto final aprovado na Conferência,

que veio a ser conhecido como "Declaração de Caracas", critica a internação

psiquiátrica e a assistência psiquiátrica convencional. Numa afirmação decisiva

para a área da Saúde Mental. Brasil (2002:11) Em 2001 após 12 anos de

tramitação no congresso nacional a Lei Paulo Delgado é sancionada no país,

neste mesmo ano é realizada a III CNSM que apresenta um caráter reflexivo no

qual avalia avanços e retrocessos, mais que isso retoma as discussões e reafirma

a necessidade de colocar em pauta o projeto maior que é a “saúde integral como

um direito do cidadão e dever do Estado”. Nesta conferência buscava-se:

Consolidação da reforma psiquiátrica como política de governo, CAPS como valor

estratégico para a mudança do modelo de assistência, implementar, uma política

de saúde mental para usuário de álcool e droga e estabelece o controle social.

Amarante (2000:69).

A lei 10.216/01 que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas

portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde

mental no país, define uma série de direitos das pessoas portadoras de transtorno

mental, dentre eles o de “[...] ser tratada, preferencialmente, em serviços

comunitários de saúde mental”. Como, no artigo 4º, a Lei indica que “A internação,

em qualquer de suas modalidades, só será indicada quando os recursos extra-

hospitalares se mostrarem insuficientes”, compreende-se que o Poder Público por

meio de SUS precisa adotar meios para que a Lei se cumpra: as pessoas têm o

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direito de terem tratamento em serviços comunitários e não em internações

psiquiátricas. Um avanço seria essa interpretação ser colocada de modo

absolutamente explícito. Proíbe a internação em lugares de características

asilares, determina que deva ser desenvolvido um programa de alta e reabilitação

psicossocial para as pessoas há longo tempo internadas, define e diferencia

internações voluntárias, involuntárias e compulsórias. “Para as internações

involuntárias, a Lei exige que, no prazo de setenta e duas horas, a mesma seja

comunicadada ao Ministério Público Estadual, bem como as altas.” Brasil

(2002:16)

Com o intuito de operacionalizar a portaria 10.216 foi estabelecido que os Centros de Atenção Psicossocial poderão constituir-se nas seguintes modalidades de serviços: CAPS I, CAPS II e CAPS III, definidos por ordem crescente de porte/complexidade e abrangência populacional, conforme disposto nesta Portaria; nesta portaria as três modalidades de serviços cumprem a mesma função no atendimento público em saúde mental, distinguindo-se pelas características descritas. Brasil (2003:01)

O CAPs I, serviço de atenção psicossocial com capacidade operacional

para atendimento em municípios com população entre 20 mil e 70 mil habitantes;

CAPs II, em municípios entre 70 mil e 200 mil habitantes; CAPs III, com mais de

200 mil habitantes; CAPs I, destinados ao atendimento de crianças e

adolescentes; e CAPsAd, para pacientes com transtornos decorrentes do uso e

da dependência de substâncias psicoativas. Tais modalidades diferem também

por horário de atendimento, número de pacientes atendidos por dia e de

profissionais disponíveis. Brasil (2003)

O processo que denominamos Reforma Psiquiátrica BRASILEIRA data de

pouco mais de vinte anos e tem como marca distintiva e fundamental o reclame

da cidadania do louco: "Embora trazendo exigências políticas, administrativas,

técnicas – também teóricas – bastante novas, a reforma insiste num argumento

originário: os direitos do doente mental, sua cidadania” Amarante (1995: 31)

Nascido do reclame da cidadania do louco, o movimento atual da reforma psiquiátrica brasileira desdobrou-se em um amplo e diversificado escopo de práticas e saberes. A importância analítica de se localizar a cidadania como valor fundante e organizador deste processo está em que a reforma é, sobretudo um campo heterogêneo, que abarca a clínica, a política, o social, o cultural e as relações com o jurídico, e é obra de atores muito diferentes entre si. Amarante (1995:46)

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Embora tenha em sua origem um questionamento da clínica, a reforma

psiquiátrica não pôde se furtar a enfrentar o problema das práticas de cuidado

dirigidas aos loucos. Para alguns autores isso é o mesmo que dizer que a reforma

psiquiátrica não pôde se furtar de enfrentar o problema da clínica e de operar em

seu interior, uma vez que a clínica é o principal dispositivo historicamente

construído pela sociedade para se relacionar com o fato da loucura. Leal (1994).

Segundo Delgado (1989), nas últimas décadas, a noção de reforma ganha

uma inflexão diferente: a crítica ao asilo deixa de visar seu aperfeiçoamento ou

humanização, vindo a incidir sobre os próprios pressupostos da psiquiatria, a

condenação de seus efeitos de normatização e controle. A expressão reforma

psiquiátrica passa então a exigir uma 'adjetivação precisa', denotando um

movimento cujo início o autor situa na segunda metade da década de 1970 e que

tem uma característica essencial: no Brasil da restauração democrática, sua

característica dominante é o repto da cidadania de sujeitos obrigatoriamente

tutelados. O desafio paradoxal da cidadania interditada.

1.3 - A enfermagem em saúde mental construção histórica

A enfermagem profissional moderna surgiu no contexto de emergência do

sistema capitalista europeu, particularmente na Inglaterra, subseguindo a

decadência dos sistemas monástico-caritativos de assistência à saúde das

populações, que ocorreu entre os séculos XVI e XIX. Desde as suas origens, a

enfermagem profissional presenciou modos de divisão social e técnica do seu

trabalho e esteve submetida a relações de compra e venda de força de trabalho,

tais como se conhece contemporaneamente. Admitindo como o marco de

nascimento da enfermagem moderna a data de 9 de julho de 1860, quando 15

candidatas tiveram suas matrículas aceitas na Escola Nightingale, que funcionava

junto ao Hospital St. Thomas, em Londres, pode-se identificar duas caracterís ticas

do emergente sistema capitalista: a reprodução da divisão do trabalho e a

utilização de mulheres em atividades que exigiam pouca qualificação. O trabalho

de enfermagem ou das "criadas de enfermaria" era comparável ao trabalho

doméstico e, conseqüentemente, com baixa remuneração. Melo (1986:45)

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O autor ainda destaca que essa primeira escola, que instituiu o padrão

curricular de formação da enfermagem profissional hegemônico no mundo

moderno, definia duas categorias para a formação: as “lady-nurses e as nurses”.

Reproduzindo a estrutura social de classes da sociedade, as primeiras, oriundas

da burguesia, eram preparadas para o ensino e supervisão, e as nurses,

geralmente oriundas da classe baixa, executavam o trabalho de cuidado direto

dos doentes e moravam e trabalhavam no hospital durante o período de

formação. Ou seja, “as lady-nurses eram responsáveis pelo trabalho intelectual e

as nurses pelo trabalho manual de enfermagem.” Melo (1986:46)

Nesse período de transição da enfermagem tradicional para a moderna, os

instrumentos de trabalho de enfermagem relacionavam-se mais ao treinamento

disciplinar dos agentes do que à elaboração do saber de enfermagem. O modelo

educacional, introduzido por Nightingale, tinha por objetivo a implementação de

técnica disciplinar que possibilitasse a transformação do espaço hospitalar em

local de cura, de disciplinamento dos trabalhadores e das tarefas, sob direção

médica. Nesse sentido, as inovações desse período referem-se, essencialmente,

ao espaço geográfico imediato – limpeza, luz, calor e outros – e não aos cuidados

dos doentes diretamente. Almeida (1989). O objeto de trabalho de enfermagem

transformou-se historicamente – fragmentou-se, complexificou-se e transfigurou-

se – desde o feudalismo até à atualidade do modo de produção capitalista. Silva

(1989)

A enfermagem é, portanto, prática historicamente estruturada, ou seja,

existe ao longo da história da humanidade, porém constituída por diferentes

maneiras de cuidar que, por sua vez, são determinadas pelas relações sociais de

cada momento histórico.

A medicina moderna é uma medicina social que tem, como um de seus

componentes, o interesse no corpo individual. O controle dos corpos, operado por

essa medicina supostamente individual, é uma estratégia de controle social na

modernidade. Nesse projeto de medicina, situa-se o nascimento da psiquiatria.

Essa, sendo a primeira especialidade médica, surge atrelada a um projeto de

conhecimento e transformação da sociedade, característico da Europa do século

XVIII, com algumas especificidades nos diferentes países. No Brasil, se fez

presente a partir do século XIX. Machado (1978)

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O objeto dessa medicina moderna era o espaço social e, a criação do

hospício, o processo que possibilitava a inserção do "louco" nesse espaço,

organizado e disciplinado, segundo as normas de higiene. A loucura passou a ser definida, explicada e tratada pela medicina e adquiriu o estatuto de doença mental, doença adjetivada, portanto específica, que requer um saber médico específico, técnica e métodos também específicos. Essa medicina especial, [...], teve um nascimento historicamente situado, resultado do encontro entre uma prática social sistemática de reclusão de incapazes e um pensar médico positivo. Silva (1994:23)

No Brasil, a necessidade de organização do hospício moderno determinou

a criação de uma primeira escola de enfermagem ligada ao Hospital Nacional de

Alienados, a Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras, inspirada no

modelo francês. Em 1890, em um contexto de luta dos médicos pelo controle

político/científico do Hospício Pedro II, fundado em 1852, no qual permaneceram

até algumas décadas depois, como figura subordinada à administração religiosa,

surgiu essa primeira escola de enfermagem brasileira que tinha entre seus

principais objetivos a preparação de pessoal para o trabalho de cuidar dos

alienados num espaço medicamente concebido e, portanto, necessitado de mão-

de-obra também médico-cientificamente orientada.

A psiquiatria e a enfermagem psiquiátrica surgiram no hospício. O hospício era instituição disciplinar para reeducação do louco/alienado, o médico/alienista, a figura de autoridade a ser respeitada e imitada nesse projeto pedagógico e, os trabalhadores de enfermagem, os atores coadjuvantes nesse processo, os executores da ordem disciplinar emanada dos médicos. Miranda (1994:71)

No Brasil, a loucura e o louco só passaram a representar um problema

para a medicina e para o Estado Brasileiro a partir da primeira metade do século

XIX. Desde então, ambos adquiriram o estatuto de objeto da prática médica e de

intervenções estatais. As primeiras instituições especificamente destinadas à

exclusão social do louco surgiram a partir da segunda metade do século XIX

Machado (1978); Cunha (1986); Resende, (1987).

Conforme Delgado (1997), ao resgatar o contexto histórico em que a

enfermagem psiquiátrica surge, observa-se que no período de início da

enfermagem psiquiátrica, o trabalho estava vinculado às ordens religiosas, que

organizava todo o ambiente do hospício e que faziam o papel de supervisão,

havendo um abuso de poder por parte destas religiosas que encobriam e

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permitiam maus tratos aos doentes. No entanto, após a proclamação da

República, em 1889, o poder das religiosas começa a diminuir, enfraquecendo

assim suas atribuições, sendo o momento em que as mesmas deixem as

instituições.

Fernandes (1982), Rocha (1994) e Barros (1996) relataram, em seus

estudos, a história da enfermagem psiquiátrica no país. A assistência de

enfermagem, no período colonial, era responsabilidade da Ig reja e tinha um

caráter caritativo, sendo realizada pelas freiras, leigos e ex–pacientes. Os loucos

eram recolhidos nos porões das Santas Casas de Misericórdia, onde sofriam

espancamentos e contenções.

Segundo Rocha (1994), desde a inauguração do Hospício Pedro II, há

referências quanto à participação dos enfermeiros, orientados a prestar uma

assistência com carinho e paciência e, ao mesmo tempo, responsáveis pela

ordem do hospício, usando medidas disciplinadoras. Em 1890, o hospício passou

a ser responsabilidade do Estado e os médicos assumiram sua direção. As

religiosas responsáveis pela enfermagem deixaram o asilo, devido

incompatibilidade com diretores.

Com o abandono do hospício pelas religiosas, o Governo Provisório da

República manda buscar, na França, enfermeiras leigas para continuar nas

funções de organização do hospício, sendo que elas deveriam organizar uma

escola para enfermeiros no Hospício Nacional de Alienados. Esta é a primeira

tentativa de formalizar o ensino da enfermagem no Brasil, só que no modelo

religioso, pois o "ensino de enfermagem francês ainda se baseava no modelo

religioso não tendo aderido ainda ao sistema Nightingale." Rocha (1994:8)

No Brasil, no início do século, teoricamente competia aos alienistas a prescrição dos meios terapêuticos e a delegação da execução destes ao pessoal de Enfermagem, na realidade eram os últimos que definiam em que momento e quais procedimentos deveriam ser utilizados para conter as manifestações de agitação dos internos. Kirschbaum (1994:5)

A Enfermagem, nesse contexto, apresentava “aptidões que supostamente

um profissional da área deveria possuir para trabalhar com doentes mentais:

saber ouvir e compreender o outro”. E desenvolvia uma prática profissional

caracterizada principalmente pela vigilância, observação e controle do

comportamento dos pacientes - através das medidas de contenção física - bem

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como pela execução de cuidados de enfermagem complementares à clínica

médica (controle de sinais vitais, higiene, alimentação). Kirschbaum (2000:315)

O repouso seria a primeira medida terapêutica a ser tomada “clinoterapia - o

doente deveria permanecer no leito para reduzir a excitação cerebral e renovar o

sistema nervoso”. No caso dos doentes mais agitados, a clinoterapia pode ser

garantida com a utilização de amarras. Nesse sentido, a Enfermagem levaria a

camisa de força, as faixas para contenção e os lençóis, para fazer o "invólucro

úmido" (técnica que consistia em manter o paciente enrolado em lençóis

molhados por algumas horas). Pereira (2004:35)

Segundo argumentavam Machado (1978) e Miranda (1994) a psiquiatria e a

enfermagem psiquiátrica surgiram no hospício, uma instituição disciplinar para

reeducação do louco/alienado, o médico/alienista, a figura de autoridade a ser

respeitada e imitada nesse projeto pedagógico e, os trabalhadores de

enfermagem, os atores coadjuvantes nesse processo, os executores da ordem

disciplinar emanada dos médicos.

Segundo argumentavam Rocha (1912); Souza (1942); Godoy (1952);

Machado (1978); Jacobina (1982); Cunha (1986), dentre os motivos apontados

pelos psiquiatras para se encarregarem da formação dos agentes de

enfermagem destacam-se a inexistência de pessoal qualificado para tal ocupação

no país e a pretensão de moralizar os trabalhadores que então assistiam às

pessoas internadas nas instituições psiquiátricas, a maioria das pessoas que

procuravam este tipo de trabalho não se submetia às normas disciplinares que

deveriam orientar o funcionamento dos asilos para que estes se tomassem

efetivamente um local de tratamento para doentes mentais. Aqueles médicos

creditavam tal insubordinação às características pessoais dos indivíduos

empregados das instituições psiquiátricas, descritos pelos primeiros como

imorais, despreparados culturalmente e despossuídos de qualquer vocação para

cuidar de doentes mentais. Conforme pensavam, a qualificação formal ou o

preparo informal no interior do próprio processo de trabalho seria uma medida

eficaz para especializar enfermeiros de ambos os sexos para cuidar dos doentes

mentais nas instituições psiquiátricas e nos programas de higiene mental,

segundo os preceitos científicos e humanitários defendidos pela medicina mental

brasileira, desde o século XIX.

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Segundo Rocha (1994), as mudanças no campo da assistência à saúde

mental, ocorridas no Brasil a partir dos anos 80, seguindo o modelo de Reforma

Psiquiátrica, trouxeram a necessidade de reorganizar os serviços, criar novas

modalidades de atendimento terapêutico, dentre as quais, hospitais-dia e

unidades de internação em hospital geral, e reformular o modo de organização do

trabalho nas equipes existentes nestes serviços, com a finalidade de se

constituírem equipes interdisciplinares, onde os agentes de enfermagem

pudessem assumir um caráter terapêutico em sua atuação, superando uma

prática marcada pelo modelo controlador e repressor, que caracterizava o

trabalho de enfermagem em psiquiatria desde seus primórdios.

Conforme Machado (1978), tal estruturação do espaço asilar, proposta pelo

alienismo francês desde o final do século XVIII e incorporada pela psiquiatria

brasileira a partir da segunda metade do século XIX, criou condições para que os

hospícios se transformassem em “instrumento terapêutico”, ou seja, em um

espaço não só de exclusão social - função que lhes fora atribuída no Brasil, da

segunda metade até o final do século XIX-, mas também de produção de um

saber sobre a loucura e os meios de curá-la.

Num serviço sob essa organização, a(o) enfermeira(o) recolhia sua

habilidade e conhecimento ao fazer administrativo e burocrático, num infindável

fazer e refazer de escala de trabalho (do profissional de nível médio), conferência

de roupa (de paciente, de cama, de banho), de pertences (de paciente, da

enfermaria, do hospital), afastamento sistemático do cuidado do paciente e

controle sistemático do fazer alheio (visita médica, vigilância de familiar, do

auxiliar, outro profissional).

No duro regime asilar-hospitalar da década de 80, a admissão para

trabalhar no hospital psiquiátrico era associada a castigo, um lugar para onde

poucos profissionais iam de livre escolha e para onde o funcionário-problema era

transferido (no serviço público). O sentido da admissão para o quadro de

funcionários tinha a mesma conotação da admissão de um paciente: absoluta

falta de livre escolha.

Até o início da década de 90, qualquer direito de escolha era negado ao paciente, que incluía a impossibilidade de escolher: o lugar para se tratar, porque não havia oferta substitutiva ao hospital; o profissional responsável pelo seu cuidado, porque essa responsabilidade era

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prerrogativa médica, desde a admissão à alta hospitalar; co-responsabilizar-se pelo seu tratamento, porque lhe eram negadas informações sobre manejo de medicamento, do tratamento clínico (insulinoterapia, choque elétrico sem anestesia, choque com cardiasol, entre outras terapias biológicas) consentido por parentes e depois compartilhadas com o paciente como a única alternativa disponível o que, diante do veredicto da autoridade médica, nada mais exigia de explicação. Aranha e Silva (1986:121).

Esse era o campo do pleno exercício da psiquiatria clínica, médica,

biológica e onde a enfermagem (agentes de nível superior e médio) e demais

agentes de saúde se acomodavam sob a impotência e conivência com o abuso

do saber técnico. Agentes de saúde e pacientes aguardavam as condutas

médicas, submetidas à autoridade do saber científico, construído e autorizado

pelo protocolo de pesquisa, nem sempre compartilhado com a pessoa sem crítica

a quem iria "ajudar".

A ação de enfermagem (prevalentemente presidida por agente de nível superior e executada por agente de nível médio) dependia do diagnóstico e da ordem médica e constava de: a) cuidado com a alimentação (monitorar o peso, hidratação e acompanhar a alimentação realizada com colher para evitar que o talher se transformasse em instrumento de ataque); b) cuidado com o sono (vigilância noturna, administração de medicamentos e estratégias para evitar o sono durante o dia); c) cuidados com a higiene (vigilância nos banhos coletivos, troca de roupa hospitalar, conferência e controle de pertences de uso individual para paciente autorizado para portar objetos); d) vigilância com atitudes agressivas, suicidas, manipulativas, depressivas, ansiosas, sociopatas, psicopatas, desviadas sexualmente, amorais; e) encaminhamento dos pacientes para o pátio, algumas horas semanais. Num lugar com tais características, o paciente era o depósito de patologias a ser observado, diagnosticado, controlado, documentado e posteriormente oferecido ao saber médico para ser curado. Barros (1996: 14)

De acordo com Rodrigues (1990), no campo da Saúde Mental, as novas

concepções exigem a construção de conhecimentos complexos e diversificados,

para permitir espaços de autonomia ao sujeito portador de transtorno mental.

Esse espaço, na prática profissional de Enfermagem em Saúde Mental, é espaço

dos cuidados com o objetivo de cuidar de subjetividades e permitir o resgate da

cidadania.

De acordo com Delgado (1997) a transição paradigmática em Saúde

Mental ocorre na passagem do paradigma da internação, para a "psiquiatria da

desinstitucionalização". Essa transição paradigmática está em curso, pois o

"paradigma da internação" exacerba sua incapacidade em instituir espaços de

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ajuda e acolhimento. A estabilidade e o controle das alterações psicopatológicas,

propostas pelas ações embasadas no referencial científico unicamente biológico,

não se sustentam como se previa. No campo psicossocial de atenção à saúde

mental, não cabe mais as explicações simplistas, deterministas da causa única e

da proposta objetiva e restritiva de tratar com base em apenas um referencial ou

modelo.

A "psiquiatria da desinstitucionalização" pretende uma transformação no campo do saber, das práticas profissionais, educacionais e institucionais da saúde mental. Essas transformações estão em consonância com a transição paradigmática e vislumbram a construção de um "paradigma emergente", pois se distanciam do paradigma clássico, inaugurando, tanto na prática como no discurso, contextos criativos e inovadores, sobre o sofrimento psíquico dos sujeitos. Reforma Psiquiátrica pretende a revisão e transformação de diversos conceitos, posturas e ações terapêuticas, colocando em questão paradigmas conhecidos e hegemônicos. Assim, situa-se no bojo da transição paradigmática, pois pretende rever quatro campos fundamentais: os conceitos e a teoria; as técnicas e a assistência; o político e o jurídico; a questão sociocultural. Delgado (1997:69).

As denominações podem ser diversas para serviços especializados

localizados em hospitais gerais e necessariamente substitutivos do modelo

manicomial: enfermarias de psiquiatria, unidade de internação psiquiátrica e

unidade psiquiátrica. O vocábulo enfermaria significa local destinado ao

tratamento de doentes. “Portanto, vale a reflexão sobre um espaço de tratamento

para sujeitos, não cabendo aqui a condição de espaço de exclusão de doentes

mentais, característica do hospital psiquiátrico tradicional.” Delgado (1997:19).

Segundo Pedrão (1990), hoje a discussão envolve a legislação, os

direitos dos pacientes, a ética no atendimento, bem como a elaboração de

tecnologias de cuidado capazes de acolher e permitir a autonomia dos sujeitos

com sofrimento psíquico. Cabe ressaltar que o processo de trabalho nas

enfermarias, como em outros equipamentos de saúde mental, deve manter a

marca de processo, de criação cotidiana, de invenção, que pode dar a cada uma

das experiências um caráter singular, e, a cada equipe, a possibilidade de

construir, com seu desejo, o trabalho diário, em lugar das repetições modelares.

De acordo com Alves (1992), a enfermagem psiquiátrica exige do

enfermeiro um desenvolvimento mais completo, uma compreensão mais notável e

uma maior preocupação no que se refere ao relacionamento enfermeiro/cliente. A

agressividade do paciente, seguida da aceitação do mesmo ao tratamento;

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diálogo; demora do restabelecimento para um quadro de melhora, e cuidado por

parte da família. A comunicação é uma parte especial no processo terapêutico,

comunicação é a habilidade de transmitir idéias para outros e de manter a mente

aberta para entender as idéias e sentimentos dos outros. É buscar a integração, o

respeito, o aprimoramento e o estímulo às pesquisas possíveis, visando a uma

meta de real melhoria à assistência interdisciplinar ao doente mental.

Segundo Pedrão (1990), acredita-se que o preparo dessa equipe deve ser

ampliado para além das questões clínicas e que o papel terapêutico dos

enfermeiros é tão importante quanto o do psiquiatra. Afirma-se, ainda, que é

importante que a enfermagem tenha consciência do valor do relacionamento

interpessoal como instrumento terapêutico e saiba utilizá-lo.

Ainda segundo Pedrão (1990), a atuação específica de enfermagem

psiquiátrica, destaca-se: "inter-relacionamento” pessoal enfermeiro-paciente;

estabelecimento da relação de ajuda e do aconselhamento psicológico

terapêutico.

De acordo com Rodrigues (1990), no cotidiano da enfermagem em saúde

mental, a construção de uma nova prática e, para isso, a formação, as

supervisões, reflexões e, principalmente, a elaboração de um aporte teórico com

base na crítica, deveriam ser assumidas pelos profissionais. Porém dúvidas se

instalam sobre a função burocrática - gerência e a função assistencial direta.

Alves (1992) considera que na pesquisa realizada em alguns trabalhos,

as análises sobre o trabalho em equipe ressaltam que a assistência de

enfermagem ainda prioriza problemas físicos e clínicos dos pacientes, observação

e manutenção do ambiente terapêutico da enfermaria, com relatos que destacam

a precária capacitação e integração do enfermeiro com a equipe como um todo.

Na pesquisa “A ordem hospitalar: implicações do contexto do hospital geral para a

prática clínica da psiquiatria” reconstituem-se, historicamente, a criação de

unidades de internação no hospital geral, no Brasil e no mundo, na perspectiva da

análise crítica de superação dos paradigmas da atenção médico-hospitalar.

Conforme Pugin (1997), sobre a concepção de objeto que permeia o

processo de trabalho dos enfermeiros em saúde mental, estudos demonstram

que, apesar do discurso dos enfermeiros estar orientado para a desconstrução do

saber psiquiátrico e para a superação das práticas manicomiais, o paradigma

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predominante em suas ações é o modelo organicista. Os enfermeiros mantêm as

práticas tradicionais – triagem e controle principalmente medicamentoso dos

pacientes em crise – embora o discurso aponte para atividades de relacionamento

interpessoal e trabalho interdisciplinar. Assim, embora reconheçam a limitação

daquele modelo médico psiquiátrico na abordagem do sujeito com transtornos

mentais, ocupam-se, rotineiramente, de sua "doença mental" ao controlar o

comportamento dos usuários e, apesar de criticar o tratamento ofertado pela

instituição - pautado pelo modelo organicista - não se percebem como agentes de

transformação dessa realidade.

É a oportunidade de contextualização prático-teórica para uma

assistência de enfermagem pautada em cuidados subjetivos e em concomitância

com outros saberes da saúde que não se restrinjam ao paradigma biológico.

Segundo Pires (1998), a enfermagem é, portanto, prática historicamente

estruturada, ou seja, existe ao longo da história da humanidade, porém

constituída por diferentes maneiras de cuidar que, por sua vez, são determinadas

pelas relações sociais de cada momento histórico. Atualmente, o trabalho de

enfermagem é integrante do trabalho coletivo em saúde, é especializado, dividido

e hierarquizado entre auxiliares, técnicos e enfermeiros de acordo com a

complexidade de concepção e execução. A enfermagem, embora detenha

autonomia relativa em relação aos demais profissionais, subordina-se ao

gerenciamento do ato assistencial em saúde executado pelos médicos. O

processo de trabalho dos profissionais de saúde tem como finalidade – a ação

terapêutica de saúde; como objeto – o indivíduo ou grupos doentes, sadios ou

expostos a risco, necessitando medidas curativas, preservar a saúde ou prevenir

doenças; como instrumental de trabalho – os instrumentos e as condutas que

representam o nível técnico do conhecimento que é o saber de saúde e o produto

final é a própria prestação da assistência de saúde que é produzida no mesmo

momento em que é consumida.

De acordo com Macedo (1996), experiência dos novos modelos

assistenciais e das tecnologias de cuidados pode ser significada no deslizar do

eixo sintoma-tratamento-cura, abrindo-se à procura de novos sentidos,

conferindo, para isso, um estatuto positivo à fala dos pacientes. Significa,

também, não abandonar o modelo ideal de subjetividade e de inserção social

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como um resultado fixado a priori para respeitar as diferenças e as

particularidades dos sujeitos, mantendo-se, no entanto, nos limites de uma prática

clínica cujo conhecimento não é somente advindo da precisão e objetividade

científica, embora não menos consistente por isso.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho de conclusão de curso foi realizado com base em revisão

bibliográfica, no qual se abordou a trajetória da enfermagem dentro da história

psiquiátrica. O grupo de pesquisadores teve a oportunidade de construir

conhecimento sobre a evolução da atuação dos profissionais de enfermagem ao

longo de sua história. Durante as pesquisas pode-se observar as diferentes

formas de lidar com os “loucos” e a “loucura”.

A partir das leituras realizadas detectou-se que o “louco” no período antes

da idade média gozava de certo grau de liberdade. A “loucura” se encontrava

inscrita nos processos sociais e na sociedade.

A partir da Idade Média começa a operar uma mudança na forma de

conviver com essas pessoas. Foucalt no seu livro História da loucura retrata a

“nau dos insensatos” que representou o início do processo de segregação dos

ditos “loucos” que, eram colocados em barcos e lançados ao mar, onde eram

abandonados a própria sorte.

Na Renascença considerando o período da razão, os “loucos” começam

internados em casas asilares junto a um universo de pessoas marginalizadas.

Inicia-se nesse período a internação. Pinel considerado o pai da psiquiatria

propõe mudanças na estrutura asilar e destina os ditos “loucos” a um local próprio

para a assistência. Esta foi a grande evolução operada no século XIX. Esse

período coincide com a criação do primeiro hospital psiquiátrico brasileiro

seguindo o modelo europeu.

A medicina moderna tinha como objetivo criar um espaço social, a criação do

hospício, onde pudesse inserir os loucos em um ambiente organizado e

disciplinado segundo as normas de higiene. A loucura começou a ser definida,

explicada e tratada pela medicina e adquiriu o estatuto de doença mental, uma

doença específica que requer um conhecimento específico, técnicas e métodos

também específicos. Essa medicina teve seu nascimento historicamente situado,

resultado do encontro de uma prática social sistemática de reclusão de incapazes

e um pensador médico positivo.

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Com relação a assistência de enfermagem o grupo encontrou pouco

recurso material relatando a atuação do enfermeiro ao longo da história da

loucura, mas o pouco material encontrado apontava que o enfermeiro atuava

dentro de uma perspectiva positivista, voltada para manutenção da ordem e da

disciplina dos asilos, não havia um cuidado com o sujeito.

As novas experiências a partir dos novos modelos assistenciais têm

conferido um novo estatuto à fala dos pacientes e ao cuidado de enfermagem.

Significa, respeitar as diferenças e as particularidades dos sujeitos, mantendo-se,

no entanto, nos limites de uma prática clínica cujo conhecimento não é somente

advindo da precisão e objetividade científica. Fazendo com que os doentes

mentais possam ter um tratamento adequado e uma reintegração social. Os

tornando seres humanos que se igualam aos outros, dignos de qualquer atuação

na sociedade.

Espera-se que esse estudo seja uma oportunidade para reafirmar que a

adequação profissional é fundamental para a execução dos serviços em saúde

mental.

A enfermagem vem buscando a cada dia melhorias no desenvolver do

cuidar dos portadores de doença mental, almejando meios para um tratamento

mais adequado, de forma eficiente e humanizado.

Sempre atrás de melhorias, adequando meios de atualizações tanto de

conhecimento quanto de relacionamento interpessoal com o paciente fazendo

com que o portador se sinta um ser humano digno como qualquer outro,

independente das suas diferenças.

Pois todo ser humano merece respeito e tem o direito de ter uma vida

digna, em meio a sociedade.

Então devemos sempre estar buscando melhorias não só para esse tipo

de tratamento,mas também para o nosso dia a dia!

O desafio está lançado. É preciso coragem, competência, audácia e

ciência. É preciso arte, interdisciplinaridade e espírito de união para enfrentar o

cuidado ao doente mental e à sua cuidadora, porque o cuidado destes se faz no

cotidiano de suas vidas.

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