168
URSULA CASTRO DE OLIVEIRA Eimeria spp. de coelho e galinha domésticos: desenvolvimento de ensaios moleculares e caracterização filogenética Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Parasitologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, para obtenção do Título de Doutor em Ciências. São Paulo 2011

URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Eimeria spp. de coelho e galinha

domésticos: desenvolvimento de

ensaios moleculares e

caracterização filogenética

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

Parasitologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo,

para obtenção do Título de Doutor em Ciências.

São Paulo 2011

Page 2: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Eimeria spp. de coelho e galinha

domésticos: desenvolvimento de

ensaios moleculares e

caracterização filogenética

São Paulo 2011

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Parasitologia do Instituto de

Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, para obtenção do Título de Doutor em Ciências.

Área de Concentração: Biologia da Relação Patógeno-Hospedeiro.

Orientador: Prof. Dr. Arthur Gruber

Page 3: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

DADOS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)

Serviço de Biblioteca e Informação Biomédica do

Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo

reprodução não autorizada pelo autor

Oliveira, Ursula Castro.

Eimeria spp. de coelho e galinha domésticos: desenvolvimento de ensaios moleculares e caracterização filogenética. / Ursula Castro Oliveira. -- São Paulo, 2010.

Orientador: Gruber, Arthur. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo. Instituto de Ciências Biomédicas. Departamento de Parasitologia. Área de concentração: Biologia da Relação Patógeno-Hospedeiro. Linha de pesquisa: Biologia Molecular de Eimeria ssp. Versão do título para o inglês: Eimeria spp. of domestic rabbit and fowl: development of molecular assays and phylogenetic characterization. Descritores: 1. Eimeria spp. 2. Diagnóstico Molecular 3. Oryctolagus cuniculus 4. Gallus gallus 5.Filogenia Molecular 6. Evolução I. Gruber, Arthur II. Universidade de São Paulo. Instituto de Ciências Biomédicas. Programa de Pós-Graduação em Parasitologia. III. Título.

ICB/SBIB0174/2010

Page 4: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS

_____________________________________________________________________________________________________

Candidato(a): Ursula Castro Oliveira.

Título da Tese: Eimeria spp. de coelho e galinha domésticos: desenvolvimento de ensaios moleculares e

caracterização filogenética.

Orientador(a): Arthur Gruber.

A Comissão Julgadora dos trabalhos de Defesa da Tese de Doutorado, em sessão

pública realizada a ................./................./................., considerou

( ) Aprovado(a) ( ) Reprovado(a)

Examinador(a): Assinatura: .................................................................................... Nome: ............................................................................................ Instituição: .....................................................................................

Examinador(a): Assinatura: .................................................................................... Nome: ............................................................................................ Instituição: .....................................................................................

Examinador(a): Assinatura: .................................................................................... Nome: ............................................................................................ Instituição: .....................................................................................

Examinador(a): Assinatura: .................................................................................... Nome: ............................................................................................ Instituição: .....................................................................................

Presidente: Assinatura: .................................................................................... Nome: ............................................................................................ Instituição: .....................................................................................

Page 5: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA
Page 6: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA
Page 7: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA
Page 8: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Arthur Gruber, primeiramente por me aceitar como aluna, por permitir

que transitasse por vários laboratórios aprendendo novas técnicas. Agradeço por

seu laboratório ter uma infraestrutura muito autossuficiente, fazendo com que

sejamos independentes. Agradeço pela orientação durante todos esses anos.

Ao Dr. Michal Pakandl (Academy of Sciences, República Tcheca), pelas amostras de

Eimeria de coelho doméstico, sem as quais seria impossível o desenvolvimento

deste trabalho.

Ao Prof. Dr. Paolo Zanotto (ICB-USP), pelo auxílio nas análises filogenéticas deste

trabalho, sempre solicito e disposto a ensinar.

À Profª Drª Alda Madeira pela ajuda com o sequenciamento, e diversas

colaborações nas dúvidas veterinárias, coordenando o nosso Laboratório junto com

o Arthur em tempos difíceis, mas sempre confiante.

Ao Prof. Dr. Paulo Lee Ho, meu orientador da iniciação científica que despertou meu

interesse pela biologia molecular. Aqueles quase seis anos foram a melhor

lembrança do que era estar em um laboratório onde tínhamos a possibilidade de

aprender tudo, tudo era novidade. Orientador que ensinou a base científica, a qual

me permitiu inúmeras novas experiências profissionais.

Aos meus queridos pais, Bernadete e Ariovaldo por fazerem apaixonar-me pela

ciência desde muito cedo, através de nossas viagens pelo Brasil afora.

Ao meu irmão, Emiliano pelos diversos esclarecimentos sobre paleontologia e ser o

técnico de plantão dos computadores de casa. À minha cunhada Gabriela pela sua

determinação e companhia.

Page 9: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Às minhas queridas avós, Reny e Aparecida por me ensinarem o que é ser forte e

nunca desistir de aprender. Aos meus queridos avôs Sebastião ( in memorian) e

Francisco (in memorian).

À minha tia Beatriz por ser minha amiga, por sua companhia e conselhos em todos

os momentos.

Ao Fernando, meu amor e companheiro que me deu força, coragem e determinação

nos momentos mais difíceis. Por suportar os momentos de loucura e estresse

durante todo meu doutorado. Por até aprender biologia molecular, parasitologia e

filogenia para discutir comigo em casa. Pelo precioso auxílio na formatação desta

tese.

Aos meus queridos sogros Bernadete e Arnaldo pelo apoio e pela acolhida em uma

nova família.

À Dra. Jeniffer Novaes, minha amiga, companheira de bancada e comadre por

sempre estar pronta para uma boa discussão filosófica sobre Ciência e sobre a Vida.

Por ajudar-me nos momentos difíceis da minha vida e das etapas deste Doutorado.

À Alessandra Popov(a) por sempre estar pronta a ajudar no laboratório e fora dele,

compartilhando todas as dificuldades de um doutorado.

À Alessandra Fratus minha amiga e fotógrafa oficial, por me escutar e fazer-me ver a

vida de um modo mais leve.

As minhas amigas e amigos do colégio Isis, Vivian, Tatu, Menfis, Daniel, Fabiana

que perduram firmemente até hoje, e suas famílias que acabaram se tornando um

pouco minha também.

À Laureana por permitir que eu desse tanto palpite na sua iniciação científica, por

ser tão culta e atrapalhada ao mesmo tempo.

Page 10: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ao Thibério e André pela ajuda em bioinformática e pelas conversas divertidas.

À nossa técnica Érika por nos ajudar a colocar o laboratório em ordem e estar

sempre a disposição para nos ajudar.

À faculdade de Ciências Farmacêuticas e Bioquímica da Universidade de São Paulo

pela formação durante a graduação e incentivo ao desenvolvimento da pesquisa na

Universidade.

Ao Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, pela formação

durante a pós-graduação.

Ao Departamento de Parasitologia por ter nos acolhido e permitido o

desenvolvimento desse trabalho. Aos seus professores pelos conselhos, disciplinas

e avaliações.

À Granja Kunitomo, pela doação das aves utilizadas na propagação das espécies de

Eimeria de galinha.

À CAPES e ao Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) pelo suporte financeiro.

Page 11: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA
Page 12: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

RESUMO

Oliveira UC. Eimeria spp. de coelho e galinha domésticos: desenvolvimento de

ensaios moleculares e caracterização filogenética. [tese (Doutorado em Parasitologia)]. São Paulo: Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São

Paulo; 2011.

Protozoários parasitas do gênero Eimeria infectam uma ampla variedade de

hospedeiros e causam doenças entéricas conhecidas genericamente como

coccidioses. O presente estudo teve dois objetivos gerais: (1) desenvolver ensaios

moleculares para a detecção e discriminação das onze espécies de Eimeria de

coelho doméstico; (2) estudar as relações evolutivas entre espécies de Eimeria de

hospedeiros mamíferos e aves. Visando o primeiro objetivo, realizamos o

sequenciamento de DNA da região ITS1 do cistron ribossômico de todas as

espécies de Eimeria de coelho. A partir das sequências, foram desenhados

iniciadores espécie-específicos e os ensaios foram testados quanto à sua

especificidade, não sendo observadas reatividades cruzadas. O limite de detecção

variou entre 500 fg a 1 pg, o que corresponde a 0,8 a 1,7 oocistos esporulados. Para

o estudo filogenético, sequenciamos quatro marcadores moleculares distintos de

espécies de Eimeria de galinha e de coelho. Os dados foram analisados em

conjunto com sequências já existentes de Eimeria de outros hospedeiros utilizando

vários métodos de reconstrução filogenética. A utilização de um conjunto

concatenado de genes permitiu obter árvores filogenéticas de Eimeria com maior

congruência entre os diferentes métodos de reconstrução filogenética e maior grau

de suporte nos nós. E. maxima apresentou uma aceleração de sua taxa de evolução

em relação a outras espécies de Eimeria, fato que se correlaciona com sua maior

diversidade antigênica e imunológica. As análises filogenéticas indicaram que as

espécies de Eimeria são em geral monofiléticas em relação aos seus hospedeiros,

mas, ocasionalmente, são observadas parafilias. A topologia das árvores também

demonstrou que a especificidade do hospedeiro parece ser mais relevante do ponto

de vista das relações evolutivas dos parasitas do gênero Eimeria do que o caractere

de presença/ausência do resíduo do oocisto, como se considerava na literatura. A

análise demográfica indicou que múltiplos eventos de invasão de hospedeiros

Page 13: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

mamíferos e aves devem ter ocorrido ao longo do processo evolutivo. Em termos

ecológicos, foi observada ainda uma correlação entre as relações evolutivas das

diferentes espécies de Eimeria e os hábitos alimentares e habitats de seus

hospedeiros. Finalmente, a hipótese de co-evolução entre parasitas do gênero

Eimeria e seus hospedeiros não foi suportada devido às seguintes evidências: (1) há

relatos experimentalmente comprovados de mudança de hospedeiros em espécies

de Eimeria de roedores; (2) as datações da invasão de roedores, galinha e coelho

apontam para uma divergência das espécies de Eimeria muito mais recente do que

a dos respectivos hospedeiros; e (3) a árvore dos parasitas não pode ser

reconciliada com a árvore dos respectivos hospedeiros.

Palavras-chave: Eimeria. Coelho doméstico. Reação em cadeia da polimerase.

ITS1. Diagnóstico molecular. Filogenia molecular. Evolução.

Page 14: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

ABSTRACT

Oliveira UC. Eimeria spp. of domestic rabbit and fowl: development of molecular

assays and phylogenetic characterization [Ph. D. thesis (Parasitology)]. São Paulo: Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo; 2011.

Protozoan parasites of the genus Eimeria infect a wide range of hosts, and cause

enteric diseases generically known as coccidioses. This work presented two main

objectives: (1) development of molecular assays for the detection and discrimination

of the eleven Eimeria species of domestic rabbit; (2) study of the evolutionary

relations among Eimeria species of mammals and birds. Aiming at the first goal, we

sequenced the ITS1 of the ribosomal cistron of the eleven Eimeria species of

domestic rabbit and designed species-specific primers. The assays were tested in

regard to their specificity and no cross-reactivity has been observed. The detection

threshold varied from 500 fg to 1 pg, which corresponds to 0.8 to 1.7 sporulated

oocysts. For the phylogenetic analysis, we sequenced four distinct molecular markers

of Eimeria species of domestic fowl and rabbit. An overall analysis comprising our

data and public sequences of Eimeria of other hosts has been performed, and we

used several distinct methods for the phylogenetic reconstruction. A concatenated

multiple gene dataset permitted to generate phylogenetic trees with the best

congruence across different methods and the highest node support values. E.

maxima showed an accelerated evolution rate when comparing to other Eimeria

species, which correlates with its known higher antigenic and immunological

diversity. The phylogenetic analyses indicated that Eimeria species are often

monophyletic in regard to their hosts, but paraphylies are sometimes observed. Tree

topology also demonstrated that host specificity is more relevant in reflecting the

phylogenetic relationships than is the presence/absence of the oocyst residuum. The

demographic analysis indicated that multiple events of invasion of mammal and bird

hosts might have occurred along the evolutionary process. In terms of ecology, we

observed a correlation between the evolutionary relationships of different Eimeria

species and the feeding habits and habitats of their respective hosts. Finally, the

hypothesis of co-evolution of Eimeria parasites and their hosts could not be

Page 15: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

supported due to the following evidences: (1) there are experimental reports of host-

switching events among rodent Eimeria species; (2) the estimated divergence time of

Eimeria species is much more recent than the divergence time of their respective

vertebrate hosts; and (3) the parasite and host trees cannot be reconciled.

Keywords: Eimeria. Domestic rabbit. Polymerase chain reaction. Molecular

diagnosis. ITS1. Molecular phylogeny. Evolution.

Page 16: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Amplificação da região ITS1 do cistron ribossômico. ......................... 64

Figura 2 - Teste de especificidade dos ensaios para diagnóstico de Eimeria

spp. de coelho ....................................................................................... 65

Figura 3 - Teste de sensibilidade de detecção de Eimeria spp. de coelho ......... 66

Figura 4 - Teste de sensibilidade de detecção de E. magna e E. piriformis

com diferentes enzimas ....................................................................... 67

Figura 5 - Mapeamento de verossimilhança obtido com o programa

Tree-Puzzle ........................................................................................... 69

Figura 6 - Mapeamento de verossimilhança para o conjunto de dados

concatenado .......................................................................................... 70

Figura 7 - Filograma obtido por neighbor-joining da SSU de rRNA nuclear das

espécies de Eimeria de coelho e galinha domésticos........................ 72

Figura 8 - Filograma obtido por máxima parcimônia do conjunto de dados

concatenado das espécies de Eimeria de coelho e galinha .............. 75

Figura 9 - Filograma obtido por neighbor-joining do conjunto de dados

concatenado das espécies de Eimeria de coelho e galinha ............... 76

Figura 10 - Filograma obtido por máxima verossimilhança do conjunto de

dados concatenado das espécies de Eimeria de coelho e galinha .. 77

Figura 11 - Filograma obtido por máxima verossimilhança do conjunto de

dados concatenado das espécies de Eimeria de coelho, galinha e

roedores .............................................................................................. 80

Figura 12 - Filograma obtido por máxima verossimilhança da SSU de rRNA

nuclear para as espécies de Eimeria de diversos hospedeiros........ 83

Figura 13 - Distribuição de valores de posteriores ao longo do comprimento

da cadeia............................................................................................. 87

Figura 14 - Árvore de máxima credibilidade dos clados obtida através dos

dois métodos utilizados no BEAST, utilizando quatro marcadores

moleculares (SSU, LSU, citocromo b e ORF470) concatenados

para as espécies de Eimeria de galinha, coelho e roedores. ........... 88

Figura 15 - Estimativas Bayesianas do TMRCA e distribuição da

probabilidade posterior marginal usando os modelos demográficos

Yule e birth-and-death. ...................................................................... 90

Figura 16 - Cladograma da análise das substituições nos códons da ORF470

em espécies de Eimeria de galinha, coelho e roedores ................... 93

Page 17: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Origem geográfica das amostras de Eimeria spp. utilizadas neste

trabalho. ................................................................................................ 46

Tabela 2 - Sequências nucleotídicas de iniciadores utilizados para

amplificação dos ITS1 específicos de cada uma das onze espécies

de Eimeria de coelho doméstico ......................................................... 51

Tabela 3 - Alvos moleculares e sequências dos iniciadores utilizados para

amplificação dos quatro marcadores filogenéticos.............................. 53

Tabela 4 - Alvos moleculares e sequências dos iniciadores utilizados para

fechamento do sequenciamento dos marcadores filogenéticos ......... 54

Tabela 5 - Código de acesso das sequências públicas utilizadas nas análises

filogenéticas .......................................................................................... 57

Tabela 6 - Resultados estatísticos da análise com o programa BEAST

utilizando os modelos demográficos de bsl, Yule e birth-and-death .. 85

Tabela 7 - Análises pareadas de verossimilhanças marginais dos modelos

utilizados para o estudo demográfico das espécies de Eimeria de

diferentes hospedeiros ......................................................................... 86

Tabela 8 - Datas estimadas em torno das quais podem ter ocorrido as

invasões dos ancestrais de cada grupo de hospedeiro obtidos

através dos métodos de Yule e birth-and-death .................................. 91

Page 18: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

LISTA DE ABREVIATURAS

ACT – (auto-correlation time) tempo de auto-correlação

Água Milli-Q – água purificada por osmose reversa, deionizada e tratada com luz

UV (Sistema RiOs e Milli-Q Synthesis da Millipore)

bd – birth-and-death

bsl – Bayesian skyline

CI – índice de consistência

cox-1 – citocromo oxidase 1

DNA – ácido desoxirribonucleico

DNAse – desoxirribonuclease

dNTP – abreviação coletiva para desoxinucleosídios trifosfato (dATP, dCTP, dGTP

e dTTP)

EDTA – ácido etilenodiaminotetracético

ESS – (effective sample size) tamanho efetivo da amostragem

HCl – ácido clorídrico

LSU – (Large Sub Unit) subunidade grande do ribossomo

MCMC – (Markov and Monte Carlo chain) cadeia de Markov e Monte Carlo

MAA – milhões de anos atrás

NCBI – (National Center for Biotechnology Information) Centro Nacional de

Informação em Biotecnologia - EUA

ORF – (Open Reading Frame) fase aberta de leitura

p/v – peso por volume

PCR – (Polymerase Chain Reaction) Reação em Cadeia da Polimerase

pH – -log [H+]

RAPD – (Random Amplified Polymorphic DNA) polimorfismo de DNA amplificado

randomicamente

RNA – ácido ribonucléico

RNAse - ribonuclease

Page 19: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

SDS – dodecil sulfato de sódio

SDS-PAGE – eletroforese em gel de poliacrilamida contendo SDS

SNPs – (Single nucleotide polymorphism) polimorfismo de nucleotídeo único

spp. – espécies

SSU – (Small Sub Unit) subunidade pequena do ribossomo

TBE – solução tampão Tris-borato-EDTA

TE – solução tampão Tris-EDTA

TM – temperatura de fusão (de um primer)

tmrca ou TMRCA – (time to most recent commom ancestor) tempo para o ancestral

comum mais recente

Tris – Tris[hidroxmetil]aminometano

rRNA – RNA ribossômico

UV – ultravioleta

v/v – volume por volume

Page 20: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

LISTA DE UNIDADES

oC – grau Celsius

cm – centímetro

g – aceleração da gravidade

g – grama

h – hora

kb – quilobase

kDa – quilodalton - 1.000 unidades de massa atômica (1 dalton = 1 u.m.a. = 1,66 x

10-24 g)

L – litro

M – molar

mg - miligrama

mL – mililitro

mM – milimolar

N – normal

ng – nanogramas

nM – nanomolar

bp – (base pair) pares de bases

pmoles – picomoles

U – unidades

g – micrograma

pg – picograma

fg – fentograma

L – microlitro

M – micromolar

Page 21: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 23

1.1 Aspectos gerais dos parasitas do gênero Eimeria ................................... 24

1.1.1 O filo apicomplexa.e o gênero Eimeria ........................................................ 24

1.1.2 O ciclo de vida dos parasitas do gênero Eimeria ........................................ 26

1.2 A coccidiose em coelho (Oryctolagus cuniculus) e galinha

(Gallus gallus) ....................................................................................................... 27

1.2.1 Características das espécies de Eimeria de coelho doméstico

(Oryctolagus cuniculus) .......................................................................................... 27

1.2.2 Características das espécies de Eimeria de galinha doméstica

(Gallus gallus) ......................................................................................................... 28

1.2.3 Formas de controle da coccidiose ................................................................ 30

1.3 Diagnóstico de parasitas do gênero Eimeria ............................................. 32

1.3.2 Diagnóstico das espécies de Eimeria de galinha doméstica ...................... 33

1.3.2 Diagnóstico das espécies de Eimeria de coelho doméstico ....................... 35

1.4 Filogenia molecular do gênero Eimeria ...................................................... 37

2 OBJETIVOS ........................................................................................................ 40

2.1 Objetivos gerais ............................................................................................. 41

2.2 Objetivos específicos .................................................................................... 41

3 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................... 43

3.1 Preparo das soluções .................................................................................... 44

3.2 Soluções .......................................................................................................... 44

3.3 Propagação dos parasitas ............................................................................ 45

3.3.1 Amostras de Eimeria de galinha doméstica ................................................. 45

3.3.2 Amostras de Eimeria de coelho doméstico .................................................. 45

3.4 Purificação dos oocistos e esporulação .................................................... 47

3.4.1 Oocistos de Eimeria de galinha doméstica .................................................. 47

3.4.1 Oocistos de Eimeria de coelho doméstico ................................................... 48

3.5 Tratamento dos oocistos com hipoclorito de sódio ................................. 48

3.6 Purificação do DNA genômico das espécies de Eimeria de galinha

e coelho ................................................................................................................. 49

3.7 Quantificação de DNA ................................................................................... 49

3.8 Desenho dos iniciadores .............................................................................. 50

3.9 Amplificação do DNA..................................................................................... 50

3.9.1 Amplificação do ITS1 das onze espécies de Eimeria de coelho

doméstico ............................................................................................................... 50

3.9.2 Amplificação de marcadores moleculares para estudo filogenético ........... 52

3.10 Sequenciamento do DNA ............................................................................ 52

Page 22: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

3.11 Análise da qualidade das sequências e montagem ................................ 53

3.12 Ensaios diagnósticos para Eimeria spp. de coelho ................................ 55

3.12.1 Desenho de iniciadores espécie-específicos ............................................. 55

3.12.2 Amplificação do DNA .................................................................................. 55

3.13 Análises filogenéticas ................................................................................. 56

3.13.1 Marcadores moleculares e sequenciamento ............................................. 56

3.13.2 Conjuntos de dados .................................................................................... 57

3.13.3 Análises por distância (neighbor-joining), máxima parcimônia e máxima

verossimilhança ...................................................................................................... 59

3.13.4 Mapeamento da verossimilhança ............................................................... 60

3.13.5 Análise de recombinação (RDP) ................................................................ 61

3.13.6 Análise demográfica das espécies de Eimeria .......................................... 61

3.13.7 Análise da evolução de caracteres nas proteínas ORF470 ...................... 62

4 RESULTADOS .................................................................................................... 63

4.1 Diagnóstico molecular de Eimeria spp. de coelho .................................... 64

4.2 Análises filogenéticas de parasitas do gênero Eimeria ........................... 68

4.2.1 Avaliação do sinal filogenético por mapeamento de verossimilhança ........ 68

4.2.2 Análises preliminares com diferentes marcadores e critérios de

optimalidade ........................................................................................................... 70

4.2.3 Análises preliminares com conjunto de dados concatenados e diferentes

critérios de optimalidade ........................................................................................ 73

4.2.4 Análise de recombinação entre marcadores ............................................... 78

4.2.5 Reconstrução filogenética com marcadores concatenados ........................ 78

4.2.6 Reconstrução filogenética com máxima amostragem de taxa .................... 80

4.2.7 Análise demográfica das espécies de Eimeria ............................................ 84

4.2.8 Análise da substituição nas sequências codificantes de proteínas ............ 92

5 DISCUSSÃO ....................................................................................................... 94

5.1 Discriminação de Eimeria spp. de coelho e suas implicações ............... 95

5.2 Reconstrução filogenética................................................................................ 98

5.2.1 Árvores de genes e árvores de espécies ..................................................... 98

5.2.2 Aspectos evolutivos da presença de resíduo de oocisto em Eimeria ......... 101

5.2.3 Eimeria spp. e as invasões dos hospedeiros ............................................... 105

5.2.4 Aspectos ecológicos da relação parasita-hospedeiro no gênero Eimeria .. 110

5.2.5 Alta taxa de evolução e diversidade antigênica em E. maxima .................. 122

6 CONCLUSÕES ................................................................................................... 125

REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 127

Page 23: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

ANEXOS ................................................................................................................. 148

ANEXO A – Artigo em periódico ........................................................................... 149

ANEXO B – Teste de especificidade dos ensaios para diagnóstico de

Eimeria spp. de coelho ........................................................................................... 150

ANEXO C – Comandos para execução dos paupblocks para as análises

filogenéticas utilizando o programa PAUP, comandos para ModelTest

e RAxML ................................................................................................................. 154

ANEXO D – Filogramas das análises dos marcadores individuais utilizando

os três critérios de optimalidade (neighbor-joining, máxima parcimônia e

máxima verossimilhança)....................................................................................... 156

Page 24: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

1 INTRODUÇÃO

Page 25: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Introdução 24

1.1 Aspectos gerais dos parasitas do gênero Eimeria

1.1.1 O filo Apicomplexa e o gênero Eimeria

Os parasitas do gênero Eimeria pertencem ao filo Apicomplexa, o qual

compreende um grande número de protozoários intracelulares obrigatórios. Este filo

é considerado bastante antigo e diverso, sendo composto por mais de 5.000

espécies, entre os quais se encontram patógenos humanos de grande impacto na

saúde publica (Roos, 2005). O gênero Plasmodium compreende espécies

causadoras da malária humana, doença devastadora que é responsável por cerca

de 850 mil mortes por ano segundo estatísticas da Organização Mundial da Saúde

(Kappe et al., 2010). O Toxoplasma gondii é responsável por várias manifestações

clínicas em humanos adultos, especialmente indivíduos imunossuprimidos, além de

provocar malformações em fetos, abortamentos e diferentes níveis de

comprometimento intelectual (Tenter et al., 2000; Elmore et al., 2010). Finalmente,

Cryptosporidium e Cyclospora podem causar enterites severas (Chako et al., 2010;

Ortega et al., 2010). Outros gêneros pertencentes ao filo Apicomplexa apresentam

grande importância na medicina veterinária devido aos graves prejuízos que causam

na produção animal. O gênero Eimeria, por exemplo, causa prejuízos para indústria

avícola estimados em 800 milhões a 3 bilhões de dólares por ano (Allen e Fetterer.

2002; Shirley et al., 2004). Outros exemplos de importantes patógenos animais

incluem Cystoisospora, que acomete animais domésticos e humanos (Lindsay et al.,

1994; Lindsay et al., 1997), Theileria, responsável pela febre da costa leste em gado

(Morrison, 2009), e a Babesia, que infecta ruminantes, cães e humanos, levando a

quadros de anemia e aumento de volume esplênico (Chauvin et al., 2009; Vannier et

al., 2008). Os organismos do filo Apicomplexa são caracterizados por apresentar o

complexo apical, um conjunto de organelas (roptrias, micronemas e conoides) que

estão envolvidos com os processos de adesão e invasão na célula hospedeira

(Roos, 2005; Striepen et al., 2002; Sibley, 2004). Além disso, a maioria destes

protozoários apresenta duas organelas contendo genoma próprio, a mitocôndria e o

apicoplasto ou plastídio (Wilson et al., 1997). A mitocôndria possui um genoma

Page 26: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado 25

concatamérico linear e composto por unidades repetidas em série de 6 kb. Este

genoma caracteriza-se pela presença de apenas três genes, citocromo b, citocromo

oxidase 1 e citocromo oxidase 3, além de sequências fragmentadas de RNA

ribossômico (Hikosaka et al., 2010a,b). O apicoplasto ou plastídio possui um

genoma circular de 35 kb composto por 60 genes: tRNAs, subunidades maior e

menor de rRNA, e genes codificadores de proteínas (Cai et al., 2003; Kalanon et al.,

2010).

O gênero Eimeria foi proposto por Schneider em 1875, levando em

consideração o aspecto morfológico do oocisto esporulado, composto por quatro

esporocistos contendo dois esporozoítos cada um. Acredita-se que Eimeria stiedai

tenha sido um dos primeiros organismos observados no século XVII (1674) por

Leeuwenhoek, quando este pesquisador utilizou seu recém-desenvolvido

microscópio para examinar a bile de coelho (cf. Hammond et al., 1973). Os

organismos do gênero Eimeria pertencem à classe Coccidia, e estão amplamente

distribuídos em uma grande variedade de hospedeiros invertebrados e vertebrados,

de anelídeos a mamíferos (Current et al., 1990; Hammond et al., 1973; Shirley et al.,

2000). Esses protozoários causam de doenças de grande importância econômica

em animais de produção, conhecidas genericamente como coccidioses. Em geral as

enfermidades causadas por parasitas do gênero Eimeria afetam o trato intestinal,

causando enterites de grau variável, podendo variar de lesões quase imperceptíveis

até danos significativos e profundos na mucosa, podendo levar a hemorragias e

necrose. Em geral a morbidade da doença é muito alta em animais confinados, mas

a mortalidade é relativamente baixa, geralmente associada a infecções bacterianas

secundárias. Algumas espécies de Eimeria podem colonizar outros órgãos além do

intestino, como no caso de E. stiedai de coelho, que coloniza o epitélio dos dutos

biliares, causando lesões hepáticas (Pakandl, 2009).

Os protozoários do gênero Eimeria possuem um ciclo de vida bastante

complexo, com fases de reprodução assexuada e sexuada. Esses parasitas se

caracterizam por apresentar um ciclo de vida monoxênico e, em geral, uma alta

especificidade de hospedeiros. Assim um hospedeiro pode se infectado por mais de

uma espécie de Eimeria, mas a maioria das espécies conhecidas do gênero

somente infecta uma única espécie de hospedeiro (Hammond et al., 1973; Shirley et

al., 2005).

Page 27: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Introdução 26

1.1.2 Ciclo de vida dos parasitas do gênero Eimeria

O ciclo de vida de parasitas do gênero Eimeria inicia-se pela ingestão de um

oocisto esporulado por um hospedeiro susceptível. Em aves como a galinha

doméstica (Gallus gallus), a parede do oocisto é rompida mecanicamente pela ação

da musculatura da moela e da abrasão de detritos ingeridos. Em mamíferos, a

simples digestão por proteases como a tripsina e sais biliares é capaz de

desencadear a ruptura da parede do oocisto, liberando os esporocistos. No intestino

delgado dos hospedeiros aves ou mamíferos, os esporozoítos, na presença de

tripsina e sais biliares, sofrem um processo denominado excistação, pelo qual os

parasitas exteriorizam-se ativamente. Uma vez liberados, os esporozoítos invadem

células epiteliais do intestino e células da lâmina própria. Esta invasão pode ocorrer

no próprio sítio da colonização (que é específico para cada espécie de Eimeria).

Alternativamente, pode ocorrer uma migração posterior dos esporozoítos através da

mucosa para o local específico de seu desenvolvimento.

Em sítios específicos do intestino, os esporozoítos invadem as células da

mucosa e se diferenciam em esquizontes ou merontes. Os esquizontes realizam

uma reprodução assexuada através de multiplicação por fissão múltipla

(esquizogonia ou merogonia). Após o amadurecimento dos esquizontes, ocorre sua

ruptura e a consequente liberação de formas merozoítas na luz intestinal, os quais

podem infectar novas células do hospedeiro. Algumas espécies invadem células

linfoides intraepiteliais e são transportados até o sítio final de colonização através da

lamina propria.

Após um ou mais ciclos de esquizogonia, o parasita sofre uma diferenciação

para macrogametócitos e microgametócitos. Os microgametócitos se rompem e

liberam os microgametas, formas biflageladas capazes de se locomover até os

macrogametas, fecundando-os e produzindo zigotos. Cada zigoto resulta na

formação de um oocisto não esporulado, e este é o único estágio do ciclo de vida no

qual o parasita é diplóide. Após a ruptura das células intestinais, os oocistos não

esporulados são eliminados no ambiente juntamente com as fezes. Esta forma do

parasita, contudo, não é infectante. Em condições adequadas de temperatura,

umidade e oxigenação, o oocisto não esporulado sofre uma meiose seguida de duas

mitoses, gerando um oocisto esporulado. Esse processo de reprodução assexuada

Page 28: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado 27

é denominado esporogonia ou esporulação. O oocisto esporulado e infectante, e

possui no seu interior quatro esporocistos contendo dois esporozoítos cada um. O

ciclo de vida é completado quando um novo hospedeiro não imune ingere o oocisto

esporulado (Hammond et al., 1973, McDougald et al., 1997; Min et al., 2004; Shirley

et al., 2005).

1.2 A coccidiose em coelho (Oryctolagus cuniculus) e galinha (Gallus gallus)

1.2.1 Características das espécies de Eimeria de coelho doméstico (Oryctolagus

cuniculus)

Um total de onze espécies de Eimeria podem infectar o coelho doméstico

(Oryctolagus cuniculus): E. coecicola (íleo e ceco), E. exigua (íleo), E. flavescens

(jejuno e íleo), E. intestinalis (íleo, ceco e colón), E. irresidua (íleo), E. magna (jejuno

e íleo), E. media (duodeno e jejuno), E. perforans (jejuno), E. piriformis (ceco, colón

e reto), E. stiedai (dutos biliares) e E. vejdovskyi (íleo) (Courdet et al., 1979;

Jelínková et al., 2008; Licois et al., 1992; Licois et al., 1995; Norton et al., 1979;

Owen, 1970; Pakandl, 1988; Pakandl, 1989; Pakandl e Jelínková, 2006). Uma

característica única das espécies de Eimeria que infectam o coelho doméstico é a de

possuir merozoítos polinucleados (exceto E. irresidua), mas não se sabe ao certo a

função deste estágio (Pakandl, 2009). O período de pré-patência pode variar entre

4,5 a 14 dias, para E. media e E. stiedai, respectivamente. A infecção mais severa é

causada por E. intestinalis e E. flavescens que resultam em inibição do crescimento,

piora da conversão alimentar, diarréia severa, e podem gerar altos índices de

mortalidade. E. coecicola, por outro lado, é considerada uma espécie pouco

patogênica, e o animal infectado não apresenta sinais clínicos da doença (Hammond

et al., 1973; Pakandl, 2009).

A imunidade desenvolvida é espécie-específica, ou seja, o animal infectado

com uma espécie torna-se imune somente para infecções com parasitas da mesma

espécie. Os animais mais novos não são protegidos pelos anticorpos maternos

presentes no leite, mas somente se tornam susceptíveis 21 dias após o nascimento,

Page 29: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Introdução 28

enquanto que os animais mais velhos são mais sensíveis à infecção (Pakandl et al.,

2007; Pakandl et al., 2008a,b). Rose (1973) sugeriu que a imunidade dos animais

mais jovens era devida à presença de ácido para-aminobenzóico (PABA) no leite

materno. Dürr et al. (1969) determinaram que a infecção de animais mais jovens

(menos de 21 dias) é menos eficiente por algum mecanismo relacionado ao bloqueio

da excistação, fato confirmado por Pakandl et al. (2007) e Pakandl et al. (2008b).

Animais com idade superior a 21 dias, mesmo que ainda sob aleitamento, mas que

já tenham iniciado a ingestão de outro tipo de alimento, teriam o ambiente do seu

trato gastrintestinal alterado, permitindo a excistação dos esporozoítos e posterior

invasão das células do epitélio intestinal.

1.2.2 Características das espécies de Eimeria de galinha doméstica (Gallus gallus)

Existem sete diferentes espécies de Eimeria que causam a coccidiose em

galinha doméstica: E. acervulina, E. brunetti, E. maxima, E. mitis, E. necatrix, E.

praecox e E. tenella. As espécies mais relevantes em termos dos prejuízos

econômicos que causam na produção avícola são E. tenella, a E. maxima e a E.

acervulina (Shirley et al., 2004). Semelhantemente ao observado em Eimeria de

coelho, os locais de infecção são específicos para cada espécie. Assim, E.

acervulina e E. praecox infectam a porção anterior do intestino delgado, E. maxima e

E. necatrix infectam a porção média do intestino delgado, sendo que em E. necatrix

a terceira esquizogonia e a gametogonia ocorre nos cecos. A E. tenella infecta os

cecos. Em E. brunetti a infecção inicia-se no terço médio do intestino delgado, mas a

gametogonia ocorre na porção posterior do intestino delgado entre a região ileocecal

e o reto. E. mitis infectam a porção inferior do intestino delgado (Tyzzer, 1929;

Levine, 1942; Levine, 1961). A patogenicidade também varia quanto à espécie,

sendo que E. tenella e E. necatrix são as mais patogênicas, enquanto E. mitis é a

menos patogênica (Long et al., 1984; Eckert et al., 1995). Os prejuízos diretos

causados pela coccidiose aviária incluem o menor ganho de peso, aumento de

mortalidade, aumento de infecções secundárias e custos com o tratamento com

Page 30: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado 29

quimioterápicos. Os custos indiretos estão relacionados com o uso de drogas e/ou

vacinas na prevenção da infecção (Shirley et al., 2005).

A imunidade é espécie específica onde antígenos únicos a cada espécie e a

cada estágio do ciclo de vida forneceram diferentes informações ao sistema imune

do hospedeiro. Um hospedeiro infectado com uma determinada espécie está

protegido (imune) a uma nova infecção por aquela mesma espécie e cepas

derivadas desta espécie, com exceção de E. maxima. Essa espécie de Eimeria de

galinha, é a mais imunogênica, tendo sido demonstrado que uma infecção com

apenas 25 oocistos é capaz de conferir imunidade protetora (Long e Millard,1979b).

Contudo, E. maxima, comparada com as outras espécies de Eimeria de galinha,

apresenta um menor grau de proteção cruzada entre cepas. Essa característica é

devida à maior diversidade antigênica observada nessa espécie (Fitz-Coy, 1992;

Long e Millard, 1979b; Martin et al., 1997; McDonald et al., 1986; Norton e Hein,

1976; Shirley e Bellatti, 1988). As respostas imunológicas das diferentes cepas

foram estudadas frente ao posterior desafio de galinhas imunizadas com cepas

heterólogas (Long e Millard,1979b; Martin et al., 1997), tendo sido observado que as

cepas somente conferem imunidade total contra infecções homólogas. Em

infecções heterólogas, o grau de proteção observado é de grau variável. Além disso,

também foi demonstrado que a linhagem de galinha utilizada nos experimentos tem

influência na resposta imune para as infecções com E. maxima (Smith et al., 2002).

1.2.3 Formas de controle da coccidiose

Os principais métodos de controle da coccidiose são o uso preventivo de

drogas anticoccidianas na ração animal, e a vacinação com cepas vivas dos

parasitas. O uso de doses sub-ótimas de anticoccidianos misturados à ração elimina

a maior parte da população dos parasitas, mas mantém ainda uma pequena fração

de parasitas viáveis. Estes parasitas são capazes de infectar o hospedeiro e induzir

uma resposta imune protetora, mas devido à baixa carga infectante, ou por um

processo de atenuação, não causam sinais clínicos ou perdas na produtividade. No

caso da vacinação, os produtos comercialmente disponíveis são formulados com

Page 31: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Introdução 30

suspensões de oocistos viáveis de uma combinação de espécies. Existem dois tipos

de formulações vacinais: as vacinas compostas por cepas virulentas utilizadas em

baixa dose, e aquelas compostas por cepas selecionadas para o caractere de

precocidade, as quais têm uma atenuação da virulência (Chapman et al., 2002;

Dalloul e Lillehoj, 2005; Shirley et al., 2007).

As cepas precoces são selecionadas para o desenvolvimento de um ciclo de

vida precoce, isto é, para um período de pré-patência mais curto. O processo de

seleção consiste na coleta dos primeiros oocistos eliminados na patência e uma

subsequente passagem em novos animais para propagação. Repetindo-se essa

abordagem seguidamente, consegue-se reduzir gradualmente o período de pré-

patência a cada passagem, até a estabilização em desse período. O encurtamento

do período pré-patente ocorre devido a uma redução de um ou mais ciclos de

esquizogonia durante a fase assexuada da infecção intestinal, reduzindo-se assim o

grau de multiplicação dos parasitas e, por consequência, gerando lesões muito mais

leves no hospedeiro (Jeffers, 1975; McDougald e Jeffers, 1976). O objetivo final é,

novamente, se obter uma infecção ativa pouco patogênica, mas efetiva do ponto de

vista de geração de imunidade. Vários produtos comerciais estão atualmente

disponíveis no mercado internacional e no Brasil, tanto com o uso de cepas

virulentas em baixas doses, quanto com o uso de cepas precoces.

Das espécies de Eimeria de coelho doméstico, existem somente seis

espécies para as quais foram desenvolvidas cepas precoce: E. coecicola (Courdet et

al., 1995), E. flavescens (Pakandl, 2005), E. intestinalis (Licois et al., 1990), E.

magna (Licois et al., 1995), E. media (Licois et al., 1994) e E. piriformis (Pakandl e

Jelínková, 2006). Existem algumas diferenças na obtenção das cepas precoces de

coccídeos de galinha e coelho. Diferentemente do observado em Eimeria de galinha,

algumas diferenças morfológicas podem ser evidenciadas entre as cepas parentais

e precoces de Eimeria de coelho (Pakandl et al., 2001). Uma das características do

oocisto esporulado de cepas precoces é a presença do corpo refrátil nos

esporocistos. Nos oocistos esporulados das cepas precoces de E. magna e E.

media o corpo refrátil é maior do que nas cepas parentais. No caso de E. intestinalis,

dois dos quatro esporocistos apresentam o corpo refrátil maior que o da cepa

parental, enquanto os outros dois esporozoítos não os possuem. Essas diferenças

morfológicas permitem a diferenciação de cepas precoces das parentais através de

características morfológicas (Pakandl et al., 2001; Pakandl, 2009). Mesmo

Page 32: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado 31

apresentando estas diferenças morfológicas, as cepas precoces e parentais de

Eimeria de coelho não apresentaram diferenças de padrões de bandas em estudos

de RAPD (Ceré et al., 1997).

O controle da infecção por Eimeria em coelhos de produção é essencialmente

feito através do uso de quimioterápicos como a sulfadimetoxina e toltrazuril, sendo

também comum o uso de antibióticos ionóforos como salinomicina, monensina e

lasalocida. A sulfadimetoxina atua inibindo a recaptura de ácido fólico e ácido para-

aminobenzóico, consequentemente bloqueando a síntese de pirimidinas (Pakandl,

2009). O toltrazuril é um anticoccidiano de amplo espectro usado em coelhos, é

efetivo nos estágios de esquizontes e gamontes (Peeters et al., 1986). Os ionóforos

(salinomicina, monensina e lasalocida) são moléculas que perturbam o transporte de

íons através da membrana celular, aumentando a permeabilidade celular, sendo a

salinomicina mais eficiente na redução da produção de oocistos em coelhos

(Pakandl, 1986). Testes laboratoriais utilizando cepas precoces foram feitos para

visando o desenvolvimento de uma vacina viva para o controle da coccidiose em

coelhos, mas não existe até o presente momento nenhum produto comercial

disponível (Pakandl, 2009). De fato, testes preliminares com vacinas de cepa

precoces em Eimeria de coelho doméstico foram descritas para E. magna, onde

animais imunizados com oocistos da cepa precoce mostraram-se imunes à infecção

com a cepa parental, com redução da perda de peso e diminuição da excreção de

oocistos. Para E. magna foram feitos experimentos de dispersão de oocistos da

cepa precoce nas gaiolas de criação. Uma dose de quarenta mil oocistos para

coelhos com idade de 25 dias mostrou-se eficiente. Os animais vacinados não

tiveram perda de peso significativa e a excreção de oocistos diminuiu (Drouert-Viard

et al.,1997a,b).

Outra forma de controle seria o uso de vacinais de subunidades. Contudo,

pouco foi desenvolvido nesta área para Eimeria de coelho. Hanada et al. (2003a,b)

descreveram um antígeno solúvel encontrado na bile de coelhos infectados com

Eimeria stiedai, com tamanho de 49 kDa, localizado no micronema, e específico de

merozoítos. Infecções experimentais realizadas com animais imunizados com esse

antígeno demonstraram uma redução da eliminação de oocistos e da quantidade de

parasitas encontrados nos dutos biliares (Hanada et al., 2003a,b).

Page 33: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Introdução 32

1.3 Diagnóstico de parasitas do gênero Eimeria

1.3.1 Diagnóstico das espécies de Eimeria de galinha doméstica

A identificação das espécies de Eimeria tem sido classicamente feita

utilizando-se como parâmetros a espécie do hospedeiro, o local da infecção, aspecto

das lesões, período de pré-patência, período mínimo de esporulação, morfologia do

oocisto esporulado, proteção cruzada, entre outros. Contudo, as características

biológicas listadas acima podem apresentar sobreposição entre as espécies. Assim,

vários grupos de pesquisa passaram a desenvolver ensaios moleculares para a

discriminação de espécies e cepas do parasita. Para a identificação de Eimeria de

galinha doméstica, foram desenvolvidos vários testes. A análise eletroforética de

isoenzimas foi uma das primeiras formas de identificação inter e intra-específica

(Shirley, 1975; Shirley, 1978). A separação de proteínas por eletroforese em SDS-

PAGE foi outra técnica utilizada para a discriminação das espécies de Eimeria de

galinha (Sutton et al., 1989; Eckert et al., 1995). Com o avanço das técnicas de

biologia molecular, vários outros testes foram desenvolvidos. A análise de

polimorfismo de fragmentos de DNA gerados pela ação de enzimas de restrição, o

RFLP (polimorfismo no comprimento do fragmento de restrição), permitiu identificar

três espécies, E. tenella, E. acervulina e E. necatrix, e algumas cepas de E. tenella

(Ellis e Bumstead, 1990; Shirley, 1994).

Técnicas moleculares baseadas na reação em cadeia da polimerase, a PCR,

permitiram o avanço dos testes diagnósticos. Apenas uma pequena quantidade de

DNA é necessária para que um determinado produto seja amplificado

exponencialmente e de forma específica, fazendo com que a sensibilidade seja

muito maior do que a obtida em outras técnicas (Mullis e Faloona, 1987). Stucki et

al. (1993), utilizando como alvo um fragmento de 560 pb da região intergênica do

gene da subunidade ribossômica 5S, desenvolveram um ensaio eficiente para a

detecção de E. tenella. Outra técnica que foi utilizada no diagnóstico molecular de

espécies de Eimeria que infectam a galinha doméstica foi o RAPD (polimorfismo de

DNA amplificado randomicamente). Essa técnica, diferentemente de outras, não

exige o conhecimento prévio de qualquer informação do genoma do organismo. O

Page 34: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado 33

RAPD é uma técnica baseada em PCR que utiliza iniciadores arbitrários (geralmente

decâmeros) em condições de baixa estringência. O resultado obtido é um perfil de

bandas específico daquela espécie, conhecido como impressão digital de DNA (DNA

fingerprinting). Esses perfis permitem diferenciar espécies e até mesmo cepas.

Ensaios de RAPD demonstraram, conforme esperado, que o polimorfismo entre

espécies é bastante superior ao observado entre cepas (Procunier et al., 1993).

Contudo, a técnica permite a diferenciação de cepas de uma mesma espécie

(Fernandez et al., 2003a; Shirley e Bumstead, 1994).

O primeiro ensaio molecular baseado em PCR com iniciadores específicos,

capaz de identificar cada uma das sete espécies de Eimeria que infectam a galinha

doméstica, foi descrito por Schnitzler et al. (1998, 1999). Esse ensaio molecular

utilizou como alvo o ITS1 (espaçador interno transcrito 1) do cistron de RNA

ribossômico. Foi demonstrado que o ITS1 possui variações interespecíficas que

permitiram discriminar as sete espécies de forma específica e com alta sensibilidade.

Recentemente, a mesma abordagem foi feita para 6 espécies de Eimeria que

infectam os bovinos (Kawahara et al., 2010).

O nosso grupo desenvolveu ensaios diagnósticos para as sete espécies de

Eimeria de galinha baseados em RAPD (Fernandez et al., 2003a). Em um trabalho

posterior, as bandas espécie-específicas tiveram seu DNA extraído e sequenciado e,

a partir desses dados, foi possível desenvolver um conjunto de marcadores SCAR

(Sequence Characterized Amplified Region), os quais são altamente específicos e

reprodutíveis (Fernandez et al., 2004). Além disso, a partir de sete marcadores

SCAR, específicos para cada uma das espécies de Eimeria de galinha, foi

desenvolvido um ensaio de PCR multiplex (Fernandez et al., 2003b). Nesse ensaio,

todas as espécies podem ser detectadas e identificadas em uma reação conjunta

realizada em um único tubo, facilitando enormemente o diagnóstico de amostras de

campo. Além dos métodos moleculares de diagnóstico, nosso grupo também

desenvolveu um sistema de identificação de oocistos de Eimeria de galinha baseado

em reconhecimento de padrões de imagem (Castañón et al., 2007). Foram

consideradas várias características morfológicas do oocisto esporulado como a

curvatura, tamanho e estruturas internas, para diferenciar as sete espécies de

Eimeria que infectam a galinha doméstica. Assim foi criada uma interface web na

qual o usuário pode submeter fotos de amostras para análise e diagnóstico de

Page 35: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Introdução 34

espécies de Eimeria de galinha e de coelho em tempo real

(http://www.coccidia.icb.usp.br/ uploadoocyst/uploadimg.php).

Para a análise quantitativa, Blake et al. (2008) descreveram o primeiro ensaio

de PCR em tempo real para a detecção e quantificação de amostras de E.

acervulina, E. maxima, E. necatrix e E. tenella, espécies que infectam a galinha

doméstica. Os autores utilizaram como sequências-alvo uma região do gene que

codifica a proteína de micronema 1 (Blake et al., 2006), e sequências espécie-

específicas de SCARs que haviam sido previamente descritas pelo nosso grupo

(Fernandez et al., 2004). Vrba et al. (2010) desenvolveram um teste de PCR em

tempo real para as outras quatro espécies de Eimeria completando o trabalho inicial

de Blake et al. (2008). Este trabalho também utilizou sequências espécie-específicas

de SCARs (Fernandez et al., 2004). Kawahara et al. (2008) descreveram uma PCR

em tempo real para a identificação e quantificação de cinco espécies de Eimeria de

galinha: E. acervulina, E. brunetti, E. maxima, E. necatrix e E. tenella. Como alvo

foram usadas sequências do ITS1, exceto para E. maxima, onde os autores

modificaram os iniciadores previamente desenvolvidos por Lew et al. (2003).

Kirkpatrick et al. (2009) apresentaram um novo método baseado no ITS2 de rRNA

para a detecção e identificação das sete espécies de Eimeria de galinha, utilizando

PCR em tempo real com posterior separação dos produtos em eletroforese capilar e

análise da curva de melting de alta resolução. Morgan et al. (2009) desenvolveram

sete ensaios de PCR em tempo real para a detecção e quantificação das espécies

de Eimeria que infectam a galinha doméstica na Austrália, a partir de amostras de

fezes, usando como alvo a região do ITS2.

1.3.2 Diagnóstico das espécies de Eimeria de coelho doméstico

O diagnóstico das espécies de Eimeria de coelho tem sido feito classicamente

através da morfologia dos oocistos e parâmetros biológicos da infecção,

semelhantemente ao procedimento descrito acima para as espécies que infectam a

galinha. Em termos diagnóstico molecular, contudo, não existe até o presente

momento nenhum método disponível para a detecção e identificação das onze

Page 36: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado 35

espécies de Eimeria de coelho doméstico. Ceré et al. (1995) descreveram um teste

de RAPD para nove espécies, incluindo quatro cepas de E. media e duas de E.

intestinalis, não tendo sido incluídas no estudo as espécies E. stiedai e E. irresidua.

A técnica do RAPD permitiu distinguir as nove espécies, porém, dado o alto grau de

semelhança entre os perfis de amplificação devido ao baixo polimorfismo, diferentes

cepas somente puderam ser divididas em dois grupos. O mesmo já havia sido

observado em espécies de Eimeria de galinha doméstica para cepas de E. tenella e

E. acervulina (Procunier et al., 1993). Ceré et al. (1996) também desenvolveram

marcadores espécie-específicos para a identificação e diagnóstico de E. media

através de RAPD. A marcação com digoxigenina e posterior hibridização aumentou

consideravelmente a sensibilidade para amostras com poucos oocistos em amostras

coletadas diretamente das fezes. Uma comparação por RAPD de cepas precoces

com as parentais para E. magna e E. intestinalis não identificou nenhuma diferença

entre essas cepas (Ceré et al., 1997). O RAPD, embora seja uma técnica

relativamente fácil e que não requer conhecimento prévio da sequência dos DNAs

alvo, apresenta uma série de desvantagens para fins de diagnóstico, especialmente

para uso universal. Como a técnica utiliza iniciadores arbitrários em baixa

estringência a reprodutibilidade é muito baixa. Assim, enzimas de amplificação e

termocicladores de marcas diferentes podem resultar em perfis de amplificação

muito discrepantes, ainda que os iniciadores e condições de ciclagem sejam os

mesmos. Isso significa que a técnica funciona razoavelmente bem dentro de um

mesmo laboratório, mas é de difícil aplicação entre laboratórios distintos. Outro

aspecto bastante negativo da técnica é que, ao invés de uma PCR convencional que

gera um único produto de amplificação, o RAPD resulta em um perfil de múltiplas

bandas. Isso é particularmente desvantajoso em amostras mistas, uma vez que a

sobreposição de bandas impede a correta identificação das espécies presentes.

Os genes ribossômicos nucleares ou genes de rRNA de eucariotos são

compostos de repetições arranjadas em repetições seriadas (tandem). Cada uma

destas repetições contém as subunidades de rRNA 18S, 5.8S e 28S, além dos

espaçadores externos transcritos ETS1 e ETS2 e espaçadores internos transcritos

ITS1 e ITS2. As subunidades pequena (SSU ou 18S) e grande (LSU ou 28S) do

rRNA têm sido empregadas para análises filogenéticas de espécies devido ao seu

alto grau de conservação em organismos ao longo de toda a escala evolutiva. As

regiões espaçadoras, por outo lado, não serem utilizadas funcionalmente, não

Page 37: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Introdução 36

sofrem grande pressão de seleção e apresentam, portanto, maior grau de

divergência. Essas regiões são mais indicadas para estudos de populações, usando-

se as variações intra-específicas como caracteres discriminantes. Outra aplicação

dos ITSs é no desenvolvimento de ensaios diagnósticos por PCR. Utilizando-se, por

exemplo, iniciadores dirigidos contra as regiões flanqueadoras do ITS1, presentes

em regiões altamente conservadas das subunidades SSU (18S) e 5.8S, consegue-

se amplificar com sucesso o ITS1 de muitas espécies, e até mesmo de gêneros

distintos. Uma vez sequenciados os produtos de amplificação, pode-se desenhar

pares de iniciadores específicos para uma ou mais espécies em estudo. Essa

abordagem foi utilizada com sucesso para o desenvolvimento de ensaios

diagnósticos em vários organismos, incluindo as sete espécies de Eimeria de

galinha doméstica (Schnitzler et al., 1998; Schnitzler et al., 1999).

Os dados de sequenciamento do genoma de Eimeria tenella indicam que o

cistron ribossômico apresenta cerca de 140 cópias

(http://www.sanger.ac.uk/Projects/E_tenella/), o que o torna um excelente alvo para

amplificação com uma boa sensibilidade de detecção. Dada a importância da

coccidiose na criação de coelhos, e a ausência de ensaios moleculares para

diagnóstico que permitam a detecção e discriminação das onze espécies de Eimeria

de coelho doméstico, decidimos desenvolve no presente trabalho um conjunto de

ensaios moleculares baseados em PCR para as onze espécies de Eimeria de

coelho, utilizando o ITS1 como alvo de amplificação.

1.4 Filogenia molecular do gênero Eimeria

Para o gênero Eimeria existem poucos estudos de filogenia molecular que

demonstram as relações evolutivas entre as espécies. Reduker et al. (1987)

realizaram um estudo pioneiro baseado em análises cladística e fenética, no qual os

autores utilizaram um conjunto de características morfológicas dos oocistos, história

de vida dos parasitas e padrões isoenzimáticos. Os resultados permitiram agrupar

as diferentes espécies de Eimeria de quatro gêneros de roedores cricetídeos em

Page 38: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado 37

dois clados. Esses clados podiam estar associados à presença ou ausência de um

corpo residual no oocisto. Kheysin (1971) descreveu este resíduo como sendo um

grânulo de lipídeos que é eliminado do citoplasma do zigoto durante o processo de

esporogonia. Contudo, algumas espécies de Eimeria possuem este resíduo

enquanto outras não, e sua função ainda é desconhecida. As espécies de Eimeria

de galinha não possuem esse resíduo de oocisto. Outros grupos, utilizando dados

moleculares, também observaram a correlação de espécies de Eimeria de roedores

filogeneticamente relacionadas com o caractere do resíduo do oocisto.

Zhao e Duszynski (2001a) utilizaram sequências da SSU de rRNA nuclear e

da ORF470 de apicoplasto para estudar as relações filogenéticas entre dez espécies

de Eimeria que infectam roedores silvestres, e sua correlação com a morfologia do

oocisto esporulado e a especificidade de hospedeiro. As árvores obtidas nesse

estudo, com ambos os marcadores, mostraram o agrupamento dessas espécies em

dois clados, cujos oocistos esporulados apresentavam ou não a presença do

resíduo. Como o agrupamento das espécies de Eimeria mostrou correlação com

esta característica morfológica, e não pelos respectivos hospedeiros, os

pesquisadores concluíram que as diferenças morfológicas, mais do que a

especificidade de hospedeiro, estariam associadas a essas duas linhagens. Em

outro estudo (Zhao e Duszynski, 2001b), os autores utilizaram a LSU de rRNA de

apicoplasto e a SSU de rRNA nuclear para analisar as relações filogenéticas entre

16 espécies de Eimeria que infectam roedores. Assim como no primeiro trabalho

(Zhao e Duszinski, 2001a), as relações estre as espécies foram comparadas quanto

à especificidade de hospedeiro e caracteres morfológicos do oocisto esporulado.

Nesse estudo, as árvores obtidas refletiram, novamente, dois clados, um contendo

as espécies que possuem oocisto com resíduo e outro sem resíduo. Desta forma,

Zhao e Duszynski (2001b) argumentam que o resíduo de oocisto seria um caractere

morfológico altamente associado com as relações filogenéticas entre as espécies de

Eimeria de roedores.

Zhao et al. (2001) utilizaram sequências parciais da SSU de rRNA nuclear e

LSU de rRNA de apicoplasto para estudar a relação filogenética entre duas espécies

de Eimeria de morcegos (E. antrozoi e E. rioarribaensis) e cinco espécies de Eimeria

de roedores. As árvores filogenéticas obtidas com a análise dos dois marcadores

moleculares, individuais ou concatenados, mostraram que as espécies de Eimeria

de roedores não formam um grupo monofilético em relação aos seus hospedeiros.

Page 39: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Introdução 38

As espécies de Eimeria de morcegos agruparam-se com espécies de Eimeria de

roedores morfologicamente similares. Segundo os autores, estes resultados

sugerem que as espécies de Eimeria de morcegos teriam divergido das espécies de

Eimeria de roedores como resultado de transferência lateral deste parasita entre

estes hospedeiros.

Barta et al. (1997) usaram a SSU de rRNA para estudar as relações

filogenéticas de espécies de Eimeria de galinha doméstica. Esse estudo demonstrou

que E. tenella e E. necatrix formam um clado separado das outras espécies, com

alto grau de suporte. Esse agrupamento pode ser correlacionado com algumas

características biológicas dessas espécies, como a sua alta patogenicidade, a forma

e tamanho semelhante de seus oocistos, a geração de enterites hemorrágicas e

colonização dos cecos. As outras cinco espécies que infectam o trato intestinal

superior foram agrupadas em três clados, um somente com E. acervulina; o segundo

com E. brunetti, E. maxima e E. praecox; e o último com E. mitis e E. mivati, uma

espécie cuja validade é controversa. Contudo, o suporte da árvore obtida foi alto

somente na definição do nó entre os ramos de E. tenella e E. necatrix. Os demais

nós entre as outras cinco espécies apresentaram menores valores de suporte.

Morrison et al. (2004) utilizaram a SSU de rRNA nuclear para a reconstrução

filogenética de um grande número de organismos da classe Coccidia. Neste estudo,

observaram que na família Eimeriidae a SSU de rRNA apresenta uma baixa

variabilidade, comparado com outras famílias (Sarcocystidae) da classe Coccidia.

Essa pequena variabilidade resulta em um sinal filogenético fraco, o que pode

explicar os baixos níveis de suporte observados em vários nós das árvores. O baixo

sinal filogenético da SSU de rRNA foi observado mesmo quando o alinhamento

múltiplo de sequências considerou dados da estrutura secundária do rRNA. Entre as

sugestões desses autores para melhorar a congruência das árvores filogenéticas

estava o uso de outros marcadores como genes codificadores de proteínas.

(Morrisson et al., 2004).

Recentemente, a reconstrução filogenética das onze espécies de Eimeria de

coelho também foi feita usando-se a SSU de rRNA (Kvičerová et al., 2008).

Semelhantemente ao que foi observado para Eimeria de roedores (Zhao et al., 2001;

Zhao e Duszynski, 2001a,b), as espécies de Eimeria de coelho formaram dois

clados, representando os grupos com e sem o resíduo de oocisto. Nenhuma

Page 40: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado 39

correlação maior, contudo, pôde ser feita com outras características biológicas,

como sítio da lesão ou período pré-patente.

Power et al. (2009) descreveram estudos filogenéticos entre isolados de E.

trichosuri, uma espécie de Eimeria de marsupial, (gambá - Thricosurus vulpecula) e

outras espécies de Eimeria de mamíferos e aves. Nestes estudos os autores

especularam que as espécies de Eimeria de galinha originaram-se a partir de

espécies de Eimeria de mamíferos placentários. Além disso, também sugeriram que

as espécies de Eimeria teriam co-evoluído com seus hospedeiros.

Na inferência filogenética de uma dada espécie não é recomendado utilizar

um único gene, mas, sim, um conjunto de genes que reflita melhor a história

evolutiva da espécie. A utilização de apenas um marcador filogenético implica na

obtenção de uma árvore que reflete mais a história evolutiva desse marcador nas

diferentes espécies analisadas, do que a história evolutiva das próprias espécies. O

uso de um maior número de marcadores dilui eventuais variações individuais entre

as taxas de evolução de cada marcador e pode reduzir a incongruência de

topologias entre eles. Desde que um número razoável de marcadores fosse

utilizado, tomando-se o cuidado de não incluir sequências transferidas lateralmente,

as árvores poderiam ser consideradas como árvores filogenéticas das espécies

analisadas (species trees). Rokas et al. (2003) utilizaram genomas de diferentes

espécies do gênero Saccharomyces e selecionaram 106 genes ortólogos para um

estudo filogenético. Os autores concluíram que conjuntos de dados contendo um ou

poucos genes podiam gerar árvores topologicamente incongruentes, ainda que cada

uma delas apresentasse alto suporte. Entretanto, quando os dados utilizados

consistiram de genes concatenados, qualquer combinação de vinte genes resultava

em árvores perfeitamente congruentes e com alto suporte. Essas árvores, portanto,

podiam ser consideradas como árvores de espécies.

Assim, decidimos no presente trabalho estender o estudo das relações

filogenéticas de espécies do gênero Eimeria utilizando todas as espécies conhecidas

do parasita de um hospedeiro ave (galinha) e de um mamífero (coelho). Visando

ainda obter árvores com maior suporte, que reflitam melhor a evolução das espécies

do parasita, decidimos empregar um conjunto de quatro marcadores moleculares

distintos, originados de três compartimentos celulares: núcleo, mitocôndria e

apicoplasto.

Page 41: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

2 OBJETIVOS

Page 42: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Objetivos

41

2.1 Objetivos genéricos

Desenvolver ensaios moleculares para a discriminação das onze espécies de

Eimeria de coelho;

Realizar estudos de reconstrução filogenética das espécies de Eimeria de

coelho e de galinha utilizando múltiplos marcadores, visando uma melhor

compreensão das relações evolutivas entre esses organismos.

2.2 Objetivos específicos

Desenvolver um sistema de diagnóstico por PCR das onze espécies de

Eimeria de coelho doméstico (Oryctolagus cuniculus) e realizar testes de

validação quanto à especificidade e sensibilidade dos ensaios;

Amplificar e determinar a sequência nucleotídica de marcadores moleculares

de espécies de Eimeria de coelho (SSU de rRNA nuclear, LSU de rRNA e

ORF470 de plastídio, e citocromo b mitocondrial) e de galinha (LSU rRNA e

ORF470 de apicoplasto)1;

Realizar análises filogenéticas, procurando responder as seguintes questões:

o Quais aspectos biológicos apresentam maior associação com as

relações filogenéticas das espécies de Eimeria: morfologia do oocisto

do parasita, especificidade do hospedeiro, ou o habitat dos

hospedeiros e seus parasitas?

1 No caso de Eimeria de galinha, foram usadas sequências da SSU de rRNA (18S), disponíveis

publicamente, e sequências de citocromo b previamente determinadas pelo nosso grupo (Romano, 2004).

Page 43: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

42

o As árvores filogenéticas de hospedeiros e parasitas podem ser

reconciliadas, implicando num processo de co-evolução?

o Em quais possíveis datas teriam ocorrido as invasões dos hospedeiros

por parasitas do gênero Eimeria?

Page 44: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

3 MATERIAIS E MÉTODOS

Page 45: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Materiais e Métodos

44

3.1 Preparo e tratamento das soluções

Todas as soluções foram preparadas utilizando-se água purificada por

osmose reversa, deionizada e tratada com luz UV através do Sistema RiOs e Milli-Q

Synthesis da Millipore (água Milli-Q). As soluções foram autoclavadas a 121 °C por

20 minutos para a eliminação de possíveis contaminações.

Para reagentes termossensíveis, utilizou-se água previamente autoclavada e

as soluções resultantes foram esterilizadas por filtração (filtro Millex 0,2 m,

Millipore).

3.2 Soluções

- Tampão de Amostra tipo II, 6X concentrado - 15% (p/v) Ficoll (tipo 400) em H2O;

0.25% (p/v) azul de bromofenol; 0,25% (p/v) xileno cianol FF.

- Tampão de amostra 6X concentrado - 15% (p/v) Ficoll (tipo 400) em H2O; 0,25%

(p/v) azul de bromofenol.

- Tampão de Extração - 10 mM Tris-HCl pH 8,0; 50 mM EDTA pH 8,0.

- Tampão de sequenciamento 2,5X concentrado - 200 mM Tris-HCl pH 9,0; 5,0

mM MgCl2.

- TBE 10X concentrado - 900 mM Tris-borato; 20 mM (p/v) EDTA; pH 8,0.

- TE - 10 mM Tris-HCl pH 8,0; 1 mM EDTA pH 8,0.

Page 46: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

45

3.3 Propagação dos parasitas

3.3.1 Amostras de Eimeria de galinha doméstica

Foram utilizadas amostras das sete espécies de Eimeria que infectam a

galinha doméstica, a Tabela 1 indica a origem de cada uma delas. Os parasitas

foram propagados em machos de postura da linhagem Bovans White (Hendrix

Poultry Breeders), cedidos pela Granja Kunitomo (Mogi das Cruzes, SP). Os pintos

de um dia foram alojados em gaiola do tipo bateria, com bebedouro automático e

aquecimento. As aves foram mantidas com água e ração livre de anticoccidianos ad

libitum em ambiente com ventilação constante. Na idade de 3 a 4 semanas, as aves

foram transferidas para uma sala de infecção e alojadas em gaiolas de 50 x 50 x 50

cm na densidade de até 4 aves por gaiola. Cada ave foi infectada com a dose

apropriada (Long et al., 1976) de oocistos esporulados de Eimeria spp. por via oral

até o papo, utilizando-se uma sonda conectada a uma seringa. As fezes,

depositadas sobre folhas de papel, foram coletadas durante o período de patência e

utilizadas para a purificação dos oocistos.

No caso de Eimeria tenella os oocistos foram purificados através do método

utilizado por Long et al. (1976) com algumas variações. Após o sétimo dia de

infecção, as aves foram sacrificadas por deslocamento cervical e os cecos

coletados. Os cecos foram abertos longitudinalmente, a mucosa dos cecos foi

raspada, com auxílio de uma lamínula de vidro, e lavada com água destilada.

3.3.2 Amostras de Eimeria de coelho doméstico

Foram utilizadas amostras das onze espécies de Eimeria de coelho

doméstico. Todas as amostras (Tabela 1) foram cedidas pelo Dr. Michal Pakandl

(Instituto de Parasitologia, Academia de Ciências da República Tcheca), colaborador

científico desse trabalho. As amostras de Eimeria de coelho foram propagadas no

laboratório de origem em coelhos brancos SPF da linhagem New Zealand, criados

Page 47: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Materiais e Métodos

46

em biotério apropriado. Os animais foram mantidos em ambiente livre de coccídias

com renovação de ar e filtração através de filtros HEPA. Todas as gaiolas, ração e

água foram previamente esterilizadas, tendo sido usada uma ração livre de

anticoccidianos. Para a propagação dos parasitas, os animais foram infectados

oralmente com os oocistos, e as fezes coletadas durante o período de patência de

cada espécie de Eimeria. A manipulação dos animais seguiu as normas do comitê

de ética local da Academia de Ciências da República Tcheca.

Tabela 1 - Origem geográfica das amostras de Eimeria spp. utilizadas neste trabalho.

Amostra/Espécie Origem Geográfica

E. acervulina H Institute for Animal Health, Reino Unido

E. brunetti C São Paulo, Brasil

E. coecicola České Budĕjovice, República Tcheca

E. exígua Nouzilly, França

E. flavescens České Budĕjovice, República Tcheca

E. intestinalis Nouzilly, França

E. irresidua České Budĕjovice, República Tcheca

E. magna Nouzilly, França

E. maxima 191 República Tcheca

E. media Nouzilly, França

E. mitis CR República Tcheca

E. necatrix C São Paulo, Brasil

E. perforans Nouzilly, França

E. piriformis České Budĕjovice, República Tcheca

E. praecox D United States Department of Agriculture – Estados Unidos

E. stiedai České Budĕjovice, República Tcheca

E. tenella H Institute for Animal Health, Reino Unido

E. vejdovskyi České Budĕjovice, República Tcheca

Page 48: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

47

3.4 Purificação de oocistos e esporulação

3.4.1 Oocistos de Eimeria de galinha doméstica

Para purificação de oocistos de Eimeria spp. de galinha doméstica, as fezes

foram coletadas durante o período de patência para cada espécie. Logo após a

coleta, as fezes foram homogeneizadas em um volume de água destilada,

utilizando-se um agitador mecânico com hélice (tipo naval). Em seguida, as fezes

foram peneiradas através de uma tela de aço inoxidável com malha de 40 mesh

(tamanho de poro aproximadamente 425 m), e lavadas por 3 a 4 vezes com volume

de água destilada.

Os oocistos foram então purificados empregando-se um método de flutuação

em solução salina (Long et al., 1976). O material purificado foi então centrifugado a

2.000 g por 5 minutos, sem desaceleração (centrífuga Sorvall, modelo Super T-21,

rotor ST-H750). Em seguida o sobrenadante foi descartado e o sedimento

ressuspenso em solução salina saturada. Após uma nova centrifugação a 2.000 g

por 5 minutos, a fase superior constituída de oocistos foi cuidadosamente removida

com uma seringa com agulha 40x12 mm. Os oocistos obtidos foram diluídos em

água e sedimentados através de centrifugação nas mesmas condições acima

descritas.

No caso de E. tenella, as aves infectadas foram sacrificadas 168 horas após a

infecção e os oocistos foram obtidos através de raspagem da mucosa dos cecos

com lamínula de vidro e água destilada. Em seguida, o material foi peneirado em

uma tela de aço inoxidável de 40 mesh para remoção de debris. A suspensão de

oocistos foi então centrifugada a 2.500 g por 5 minutos.

Após a purificação, os oocistos foram ressuspensos em solução 2% (p/v) de

dicromato de potássio para uma concentração final de 5 x 105 oocistos/mL. A

esporulação foi realizada à temperatura de 28 oC em uma câmara de incubação

B.O.D. (modelo 347CD, Fanem, Brasil). Os oocistos foram mantidos sob oxigenação

forçada, através de borbulhamento de ar por 72 horas. Em seguida, o volume foi

reduzido e as amostras de oocistos foram estocadas a 4 oC.

Page 49: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Materiais e Métodos

48

3.4.2 Oocistos de Eimeria de coelho doméstico

Assim como na etapa de propagação (item 3.3.2) a purificação dos oocistos

das espécies de Eimeria de coelho foi realizada pelo Dr. Michal Pakandl (Academy

of Sciences, República Tcheca) seguindo-se o protocolo descrito por Coudert et al.

(1995). O sedimento contendo os oocistos foi ressuspenso em solução 2% (p/v) de

dicromato de potássio para uma concentração máxima de 1 x 106 oocistos/mL. Os

oocistos obtidos de cada uma das espécies foram esporulados a 26 oC por 24 horas

para E. exigua e E. perforans e 48 horas para as demais nove espécies

(considerando 80% de oocistos esporulados). Ao contrário das espécies de Eimeria

de galinha, a temperatura deve ser menor que 28 °C para não comprometer a

viabilidade dos oocistos (Coudert et al., 1995). A esporulação foi feita em um banho

termostatizado com agitação.

3.5 Tratamento dos oocistos com hipoclorito de sódio

Visando a remoção de impurezas e bactérias contaminantes, as amostras

foram tratadas com hipoclorito de sódio. Para isso, a suspensão de oocistos foi

centrifugada a 3.500 g por 5 minutos e o sedimento lavado duas vezes com água

destilada para a remoção do dicromato de potássio. Em seguida, o sedimento foi

ressuspenso em 10 mL de hipoclorito de sódio 10-12% (cloro ativo) e incubado por

10 minutos em gelo. Após este período, a amostra foi diluída 10 vezes em água

destilada, centrifugada e lavada por pelo menos três vezes nas mesmas condições

citadas acima.

Page 50: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

49

3.6 Purificação do DNA genômico das espécies de Eimeria de galinha e coelho

Para a purificação do DNA das espécies de Eimeria de coelho, os oocistos

foram ressuspensos em tampão de extração (Tris-HCl 10 mM pH 8.0; EDTA 50 mM

pH 8.0) contendo SDS (0,5%) e Proteinase K (100 g/ml), e incubados por 2 horas a

50 ºC. Essa etapa teve como objetivo facilitar a quebra posterior dos oocistos,

aumentando assim o rendimento final de DNA. Em seguida, os oocistos foram

lavados três vezes com tampão de extração e centrifugação 2.500 g por 5 minutos.

A partir dessa etapa, os oocistos de Eimeria de galinha e de coelho foram

processados de forma idêntica. Assim, os oocistos foram ressuspensos em tampão

de extração (Tris-HCl 10 mM pH 8.0; EDTA 50 mM pH 8.0) e rompidos totalmente

com o uso de agitador de tubos tipo vortex (Daigger Vortex Genie 2™, A. Daigger &

Co, Inc., EUA) com meio volume de pérolas de vidro (0,4 mm de diâmetro, Sigma-

Aldrich Corp., EUA). A quebra dos oocistos e esporocistos foi monitorada por

microscopia. Após uma centrifugação a 12.000 g por 10 minutos, o sobrenadante foi

recolhido, adicionado de RNAse A (20 g/ml final) e incubado a 37 oC por 1 hora. A

seguir foram adicionados SDS (0,5% p/v final) e Proteinase K (100 g/ml final), e a

amostra foi incubada a 50 oC por 2 horas. A extração de DNA foi feita por meio de

extrações com um volume de fenol, um volume de fenol/clorofórmio/álcool isoamílico

(25:24:1) um volume de clorofórmio/álcool isoamílico (25:1). O DNA foi precipitado

pela adição de 2,5 volumes de etanol absoluto e acetato de amônio (2,5 M final) a -

20°C por uma hora. O DNA precipitado foi centrifugado a 10.000 g a 4 °C por 30

minutos, e o sedimento lavado com etanol 70%. O sedimento de DNA foi seco a

vácuo e ressuspenso em solução de TE (Tris-HCl 10 mM pH 8.0; EDTA 1mM pH

8.0).

3.7 Quantificação de DNA

A quantificação das amostras de DNA foi feita por fluorimetria com o uso do

sistema Quant-iT™ High-Sensitivity dsDNA do QubitTM (Invitrogen Corp., Carlsbad,

Page 51: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Materiais e Métodos

50

Califórnia, EUA). Esse sistema permite uma quantificação precisa e específica, pois

a molécula ligante é específica para DNA de fita dupla, mesmo na presença de

contaminantes como RNA e proteínas.

3.8 Desenho dos iniciadores

Todos os iniciadores utilizados neste trabalho foram desenhados

manualmente com o programa OLIGO 4.0 Primer Analysis Software (Wojciech

Rychlik). O programa permite analisar características dos oligonucleotídeos tais

como à temperatura de fusão (Tm, Temperatura de melting), complementaridade

entre o par de iniciadores, falsos sítios de pareamento, formação de estruturas tipo

grampo de cabelo (hairpins), entre outros. As Tabelas 2, 3 e 4 mostram os pares de

iniciadores utilizados neste trabalho.

3.9 Amplificação do DNA

3.9.1 Amplificação do ITS1 das onze espécies de Eimeria de coelho doméstico

A reação de amplificação foi feita utilizando-se 10 ng de DNA molde para

cada espécie de Eimeria de coelho, 1U of Platinum® Taq DNA Polymerase High

Fidelity (Invitrogen Corporation, Carlsbad, Califórnia,EUA), 1x High Fidelity PCR

Buffer, 1,5 mM MgCl2, 200 M dNTP mix,400 nM dos iniciadores ITS1-F e ITS1-R

(Tabela 2). Após uma etapa inicial de 2 minutos a 94 ºC para denaturação, a

amplificação foi conduzida por 30 ciclos de 1 minuto a 94 ºC, 1 minuto a 58 ºC e 1

minuto a 72 ºC, com uma etapa de extensão final de 7 minutos a 72 ºC. Os produtos

da amplificação foram analisados em gel de agarose 1,5% corados com 0,5 g/mL

de brometo de etídio. Os produtos das amplificações foram observados rapidamente

com o auxílio de uma lâmpada portátil de UV de onda longa, e excisadas do gel. A

purificação foi feita em colunas (GFX PCR DNA and Gel Band Purification Kit, GE

Page 52: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

51

Healthcare Biosciences, Pittsburgh, EUA) e eluídas com TE (10 mM Tris-HCl pH 7.4;

1 mM EDTA).

Tabela 2 - Sequências nucleotídicas de iniciadores utilizados para amplificação dos ITS1 específicos de cada uma das onze espécies de Eimeria de coelho doméstico.

Espécie de Eimeria Nome do iniciador

Sequência do iniciador

Todas as espécies de Eimeria de coelho

ITS1-F

ITS1-R

GGGAAGTTGCGTAAATAGA CTGCGTCCTTCATCGAT

E. coecicola Ecoe-ITS1-F

Ecoe-ITS1-R

AGCTTGGTGGGTTCTTATTATTGTAC CTAGTTGCTTCAACAAATCCATATCA

E. exigua Eexi-ITS1-F

Eexi-ITS1-R

GAATAAGTTCTGCCTAAAGAGAGCC

TATATAGACCATCCCCAACCCAC

E. flavescens Efla-ITS1-F

Efla-ITS1-R

GAATATTGTTGCAGTTTACCACCAA

CCTCAACAACCGTTCTTCATAATC

E. intestinalis Eint-ITS1-F

Eint-ITS1-R

TGTTTGTACCACCGAGGGAATA

AACATTAAGCTACCCTCCTCATCC

E. irresidua Eirr-ITS1-F

Eirr-ITS1-R

TTTGGTGGGAAAAGATGATTCTAC

TTTGCATTATTTTTAACCCATTCA

E. magna Emag-ITS1-F

Emag-ITS1-R

TTTACTTATCACCGAGGGTTGATC

CGAGAAAGGTAAAGCTTACCACC

E. media Emed-ITS1-F

Emed-ITS1-R

GATTTTTTTCCACTGCGTCC

TTCATAACAGAAAAGGTAAAAAAAGC

E. perforans Eper-ITS1-F

Eper-ITS1-R

TTTTATTTCATTCCCATTTGCATCC

CTTTTCATAACAGAAAAGGTCAAGCTTC

E. piriformis Epir-ITS1-F

Epir-ITS1-R

ACGAATACATCCCTCTGCCTTAC

ATTGTCTCCCCCTGCACAAC

E. stiedai Esti-ITS1-F

Esti-ITS1-R

GTGGGTTTTCTGTGCCCTC

AAGGCTGCTGCTTTGCTTC

E. vejdovskyi Evej-ITS1-F

Evej-ITS1-R

GTGCTGCCACAAAAGTCACC

GCTACAATTCATTCCGCCC

Page 53: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Materiais e Métodos

52

3.9.2 Amplificação de marcadores moleculares para estudo filogenético

Foram utilizados quatro marcadores moleculares para o estudo filogenético:

subunidade pequena (SSU) do rRNA nuclear, subunidade grande (LSU) do rRNA de

apicoplasto, ORF470 de apicoplasto, e o citocromo b mitocondrial. Foram utilizados

alguns iniciadores já descritos e outros desenhados neste trabalho. Esta informação,

bem como as sequências dos iniciadores, temperaturas de pareamento e

concentrações de cloreto de magnésio utilizadas nas amplificações estão

apresentadas na Tabela 3.

As reações de amplificação foram feitas utilizando-se 10 ng de DNA molde

para cada espécie de Eimeria, 1U of BIOLASE™ DNA Polymerase (Bioline, Londres,

Reino Unido), 1x NH4 Buffer, 200 M dNTP mix, 25 pmoles de cada iniciador e

cloreto de magnésio (conforme Tabela 3). Após uma desnaturação inicial de 5

minutos a 94 ºC, a amplificação foi conduzida por 30 ciclos, consistindo de 1 minuto

a 94 ºC, 1 minuto na temperatura de pareamento (ver Tabela 3), 1 minuto a 72 ºC,

comum a etapa de extensão final de 7 minutos a 72 ºC. Os produtos da amplificação

foram analisados em gel de agarose1,5% corados com 0,5 g/mL brometo de etídio.

Os produtos das amplificações foram excisadas do gel e purificados como descrito

anteriormente (item 3.9.1).

3.10 Sequenciamento do DNA

O sequenciamento do DNA foi feito utilizando-se o kit ABI PRISM Big Dye ™

Terminator Cycle Sequencing v 3.1 (Applied Biosystems, Foster City, Califórnia,

EUA). Cada reação utilizou 2,0μL do mix do kit de BigDye; 6,0μL de Tampão de

Sequenciamento 2,5x concentrado (200 mM Tris-HCl pH 9.0; 5,0 mM MgCl2); 3,2

pmol/μL de iniciador e cerca de 30 ng de DNA (produto de PCR purificado), em um

volume final de 20 μL. As reações de sequenciamento consistiram em 40 ciclos de

96 oC por 20 segundos, 52 oC por 20 segundos e 60 oC por 4 minutos. Após a

reação, os terminadores não incorporados foram removidos por precipitação

diferencial conforme instruções do fabricante (PE Applied Biosystems, 1998). As

Page 54: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

53

amostras foram aplicadas em um sequenciador automático de DNA modelo ABI

3100 com o uso do polímero POP-6. Cada produto amplificado foi sequenciado em

ambas as fitas, num total de cinco replicatas para cada uma das espécies de

Eimeria spp.

Tabela 3 - Alvos moleculares e sequências dos iniciadores utilizados para amplificação dos quatro marcadores filogenéticos.

Alvo molecular Nome do iniciador

Sequência do iniciador Temp.

Paream.(oC)

[MgCl2] (mM)

aSSU nuclear

(18S)

18S-F

18S-R

GCTTGTCTCAAAGATTAAGCCATGC CGGAAACCGTGTTACGACTTTTG

55,0 1,5

bCitocromo b

mitochondrial

cytb-F

cytb-R

ACAAAGTCCCAGCAGTAGCGG GTAAATACCTAATTCTTTATGGTTTGC

50,0 1,5

bLSU de

plastídeo parcial (23S)

23S-F

23S-R

CCCTAGAGTAACTTTTATWCGTT CCTTTAAARAGTGCGTWAWAGCT

50,0 2,5

dORF470 de

plastídeo parcial

ORF470-F

ORF470-R

GATGATATATCTTATTATTCAATTCCTT TCCAATATGTAACATTTTATTTCC

50,0 2,5

aORF470 de

plastídeo parcial

ORF470-Fmax

ORF470-Rmax

ATTTAAACAGCCAGATTGGTG AAATTAATAAAGGTACTTCTAATTCTAATT

49,0 2,5

aIniciadores desenhados neste trabalho.

bRomano (2004)

cModificado de Zhao e Duszynski(2001b)

dZhao e Duszynski(2001a)

3.11 Análise da qualidade das sequências e montagem

Todas as sequências geradas foram submetidas a um processamento seriado

(pipeline) utilizando-se o sistema EGene (Durham et al., 2005). Os eletroferogramas

foram analisados pelo programa Phred (Ewing et al., 1998; Ewing et al., 1998)

quanto à qualidade, as sequências tiveram os respectivos iniciadores utilizados na

amplificação mascarados e as pontas aparadas. Em seguida, as sequências foram

submetidas a um filtro de qualidade e montadas com o uso do programa CAP3

(Huang et al., 1999). Ao final, as montagens foram inspecionadas no programa

Consed (Gordon et al., 1998). As montagens foram consideradas terminadas

Page 55: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Materiais e Métodos

54

segundo os seguintes critérios: índice Phred acima de 20 (correspondente a uma

estimativa de erro de 1:100) em todas as bases da sequência consenso; leitura de

todas as bases em ambas as fitas; leitura de todas as bases no mínimo três vezes;

consenso de todas as bases obtido a partir de leituras de ambas as fitas. Quando

necessário, foram desenhados iniciadores adicionais para cobrir regiões mais

internas dos produtos de amplificação (ver Tabela 4).

Tabela 4 - Alvos moleculares e sequências dos iniciadores utilizados para fechamento do sequenciamento dos marcadores filogenéticos.

Ao final, foram geradas sequências consenso em formato FASTA, usando-se

a mesma orientação da sequência para todas as espécies. As sequências

nucleotídicas da região ITS1 do cistron ribossômico foram submetidas ao GenBank,

tendo recebido os códigos de acesso HM768881 a HM768891. As sequências dos

marcadores filogenéticos receberam os códigos HQ173828 a HQ173892.

Alvo molecular Iniciador Sequência

SSU rRNA

18S-INT-F

18S-INT-R

18S-EXT-F

18S-EXT-R

CCATGCACCACCACCCATAGA

CGCGGTAATTCCAGCTCCAA

ACCGTCGAAAGCTGATAGGTCAG

CTTCTTAGAGGGACTTTGCGTGTC

Citocromo b mitochondrial

cytb-1000-F

ACTTCTAAGTGAGGTTCGATCACT

LSU rRNA de plastídeo

23S-F1

23S-R1

23S-F2

23S-R2

ATACTAAGGAGTACGAAATAACTTT

ACCGTTATAGTTACAGCCGCC

GGACAGAAAGACCCTATGAAGCT

TTACAGYAHAGGGAADTTTAACC

ORF470 de plastídeo ORF470-F1

ORF470-R1

TCAGAAGATTTTGCTCAATTTGA

CTTTCAAATTGAGCAAAATCTTC

Page 56: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

55

3.12 Ensaios diagnósticos para Eimeria spp. de coelho

3.12.1 Desenho de iniciadores espécie-específicos

As sequências nucleotídicas obtidas para a região ITS1 das onze espécies de

Eimeria de coelho, organizadas na mesma orientação da fita, foram submetidas a

um alinhamento múltiplo utilizando-se o programa ClustalX versão 2.0 (Thompson et

al., 1997; Larkin et al., 2007). O alinhamento múltiplo foi salvo no formato ALN e

editado no programa BioEdit (http://www.mbio.ncsu.edu/BioEdit/bioedit.html). As

regiões polimórficas específicas de cada espécie foram identificadas manualmente,

e os iniciadores desenhados utilizando-se o programa Oligo versão 4

(http://www.oligo.net). Dentro do possível, os iniciadores foram desenhados de forma

a não apresentar estruturas internas do tipo “grampo de cabelo” (hairpin) e nem

formar dímeros entre si ou com o segundo iniciador da amplificação. A Tabela 2

contém os iniciadores ITS1 específicos.

3.12.2 Amplificação do DNA

A reação de amplificação foi feita utilizando-se 10 ng de DNA molde para

cada espécie de Eimeria; 1U de AmpliTaq Gold® DNA Polymerase (Applied

Biosystems); 1x Gene Amp PCR Buffer II; 200μMdNTPmix; 400 nM de cada um dos

iniciadores; cloreto de magnésio na concentração de 1,5 mM. Após um ciclo inicial

de 5 minutos a 95 ºC para desnaturação do DNA e ativação da enzima (hot start), o

fragmento foi amplificado por 30 ciclos consistindo de 45 segundos de desnaturação

a 95 ºC, 45 segundos de pareamento a 54 °C e 1 minuto de extensão a 72 ºC. A

reação de amplificação foi finalizada com um ciclo de extensão por 7 minutos a 72

ºC. As amostras foram separadas em géis de agarose 1,5% e fotografadas

digitalmente sob luz UV (Alpha Innotech Corp. Santa Clara, Califórnia, EUA).

Page 57: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Materiais e Métodos

56

3.13 Análises filogenéticas

3.13.1 Marcadores moleculares e sequenciamento

Conforme descrito no item 3.9.2, foram utilizados os seguintes marcadores

moleculares de Eimeria spp. para o estudo: subunidade pequena (SSU) do rRNA

nuclear, subunidade grande (LSU) do rRNA de apicoplasto, ORF470 de apicoplasto,

e o citocromo b mitocondrial (cytb).No caso do citocromo b, as sequências

nucleotídicas das onze espécies de coelho foram determinadas neste trabalho. Para

as espécies de galinha doméstica, foram utilizadas sequências previamente geradas

pelo nosso grupo (Romano, 2004). As sequências do SSU (18S) do cistron

ribossômico de Eimeria de galinha foram descritas por Barta et al. (1997), foram

obtidas a partir de bases de dados públicas (GenBank). No caso das espécies de

Eimeria de coelho, sequências da SSU (18S) foram descritas por Kvičerová et al.

(2008) quando este trabalho estava em andamento e, portanto, utilizamos para as

análises subsequentes as sequências geradas em nosso laboratório. Para a

ORF470 e LSU (23S), foram utilizadas as sequências nucleotídicas determinadas

neste trabalho a partir das amostras de Eimeria de galinha e de coelho, totalizando

18 espécies. Além das sequências nucleotídicas geradas neste trabalho e

depositadas no GenBank (ver item 3.11), foram utilizadas várias sequências de

outros grupos depositadas em bancos públicos, conforme listado na Tabela 5. Como

grupo externo, foi escolhido o Toxoplasma gondii, uma vez que é um organismo

relativamente próximo ao gênero Eimeria e também pertence à classe Coccidia.

Nesse caso, foram utilizadas sequências públicas disponíveis para os quatro

marcadores moleculares de T.gondii: SSU de rRNA nuclear (L37415), citocromo b

mitocondrial (AF015627), LSU de rRNA e ORF470 de apicoplasto (U87145 –

correspondente ao genoma completo de apicoplasto).

Page 58: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

57

3.13.2 Conjuntos de dados

As sequências nucleotídicas de cada marcador molecular, obtidas como

descrito anteriormente (item 3.11) e também a partir de bancos públicos, foram

utilizadas para as análises filogenéticas. Inicialmente, foram feitos alinhamentos

múltiplos das sequências de cada marcador, de forma independente, usando-se o

programa ClustalX 2.0 (Thompson et al., 1997; Larkin et al., 2007). Para cada

marcador, foram empregadas as sequências das onze espécies de Eimeria de

coelho e das sete espécies de Eimeria de galinha. Após a obtenção de cada

alinhamento, foi criado um perfil (profile) a partir do mesmo e, em seguida,

procedeu-se a um segundo alinhamento adicionando-se as sequências de T. gondii

(grupo externo). Essa abordagem foi feita para não perturbar o alinhamento inicial

das espécies de Eimeria, visto que T. gondii é filogeneticamente mais distante.

Tabela 5 – Código de acesso das sequências públicas utilizadas nas análises filogenéticas (continua)

Organismo Abrev. Hospedeiro SSU rRNA LSU rRNA ORF470

E. acervulina Eace Gallus gallus U67115 - -

E. adenoeides Eade Meleagris gallopavo AF324212 - -

E. ahsata Eahs Ovis aries AF338350 - -

E. albigulae Ealb Neotoma albigula AF307880 AF307885 AF311630

E. antrozoi Eant Antrozous pallidus AF307876 - -

E. arizonensis Eari Reithrodontomys spp. AF307878 AF307883 AF311631

E. arnyi Earn Diadophis punctatus

arnyi AY613853 - -

E. bovis Ebov Bos taurus EBU77084 - -

E. brunetti Ebru Gallus gallus U67116 - -

E. catronensis Ecat Myotis lucifugus AF324213

E. chaetodipi Echa Chaetodipus hispidus AF339489 - -

E. chobotari Echo Dipodomys merriami AF324214 - -

E. crandallis Ecra Ovis aries AF336339 - -

E. dipodomysis Edip Dipodomys phillipsii AF339490 - -

E. falciformis Efal Mus musculus AF080614 AF307887 AF311632

E. faurei Efau Ovis aries AF345998 - -

E. gruis Egru Grus monacha e

G. vipio AB205165 - -

Page 59: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Materiais e Métodos

58

Tabela 5 - Código de acesso das sequências públicas utilizadas nas análises filogenéticas.

(conclusão)

Organismo Abrev. Hospedeiro SSU rRNA LSU rRNA ORF470

E. langebarteli Elan Reithrodontomys

megalotis AF311640 AF332528 AF311639

E. leucopi Eleu Peromyscus leucopus AF339491 - -

E. maxima Emax Gallus gallus U67117 - -

E. meleagrimitis Emel Meleagris gallopavo AF041437 - -

E. mitis Emit Gallus gallus U67118 - -

E. necatrix Enec Gallus gallus U67119 - -

E. nieschulzi Enie Rattus novergicus U40263 AF307886 AF311633

E. onychomysis Eony Onychomys

leucogaster AF307879 AF307884 AF311634

E. ovinoidalis Eovi Ovis aires AF345997 - -

E. papillata Epap Mus musculus AF311641 AF332531 AF311635

E. peromysci Epero Peromyscus truei AF339492 - -

E. pilarenses Epil Myotis ciliolabrum AF324215 - -

E. polita Epol Sus scrofa domesticus AF279667 - -

E. porci Epor Sus scrofa domesticus AF279666 - -

E. praecox Epra Gallus gallus U67120 - -

E. ranae Eran Rana temporaria EU717219 - -

E. reedi Eree Perognathus flavus AF311642 AF332533 AF311636

E. reichenowi Erei Grus monacha e

G. vipio AB205170 - -

E. rioarribaensis Erio Myotis ciliolabrum AF307877 - -

E. scabra Esca Sus scrofa domesticus AF279668 - -

E. scholtysecki Esch Dipodomys agilis AF324216 - -

E. separata Esep Rattus novergicus AF311643 AF332535 AF311637

E. sevilletensis Esev Onychomys arenicola AF311644 AF332536 AF311638

E. telekii Etel Lemniscomys striatus AF246717 - -

E. tenella Eten Gallus gallus U67121 - -

E. trichosuri Etri Trichosurus vulpecula FJ829323 - -

E. tropidura Etro Tropidurus delanonis AF324217 - -

Eimeria spp. DAM-2009

E_Dmar Dryocopus martius FN298443 - -

E. weybridgensis Ewey Ovis aires AY028972 - -

Eimeria spp. de M. gallopavo

E_Mgal Meleagris gallopavo HM117016 - -

Eimeria spp. de P.colchicus

E_Pcol Phasianus colchicus HM117010 - -

Page 60: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

59

Os alinhamentos foram editados manualmente nos programas Seaview

(Galtier et al., 1996) e/ou Se-Al (Rambaut, 1996). Para os marcadores de genes

ribossômicos SSU (nuclear) e LSU (de apicoplasto), a edição manual utilizou

modelos estruturais (Gagnon et al., 1996; Gutell et al., 1993) como moldes. Assim,

procurou-se editar o alinhamento de forma a conservar as estruturas secundárias de

hastes (stems), deixando a maior parte dos polimorfismos para as regiões de alças

(loops). No caso dos marcadores que codificam proteínas, ORF470 e citocromo b,

as sequências nucleotídicas foram traduzidas conceitualmente com o programa

TRANSEQ do pacote EMBOSS (Rice et al., 2000). Utilizou-se o código genético da

Tabela 4 do NCBI, no qual o códon UGA codifica triptofano, ao invés de representar

um códon de terminação. As sequências proteicas foram então submetidas a um

alinhamento múltiplo com o programa ClustalX e posteriormente este alinhamento foi

editado com o programa Seaview. O alinhamento múltiplo editado, juntamente com

as sequências nucleotídicas em formato FASTA, foram usados como entrada para o

programa CodonAlign 2.0 (Hall, 2001). Este programa, baseado no alinhamento

proteico, gera o alinhamento correspondente de sequências nucleotídicas.

Finalmente, procedemos à exclusão de algumas regiões de caracteres que

continham trechos de sequências presentes somente em T. gondii, sem similaridade

com as sequências de Eimeria. Por outro lado, caracteres presentes nas sequências

de todas as espécies de Eimeria, mas ausentes em T. gondii foram tratadas como

ausentes (missing) nesse organismo (Barta, 1997). Finalmente, os alinhamentos dos

foram concatenados com o programa Se-Al (Rambaut, 1996).

3.13.3 Análises por distância (neighbor-joining), máxima parcimônia e máxima

verossimilhança

Inicialmente, utilizou-se o programa PAUP* version 4.0b10 (Swofford, 2002)

para as análises filogenéticas preliminares. Foram usados para efeito de

comparação, três critérios de optimalidade: distância por neighbor-joining, máxima

parcimônia e máxima versossimilhança. Em todos os casos, foi feita ao final uma

análise de bootstrap com 1000 replicatas para avaliar a topologia das árvores,

utilizando-se a regra do consenso da maioria (>50%).

Page 61: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Materiais e Métodos

60

No caso do critério de distância, foi utilizado o método de neighbor-joining

com mínima evolução. Para a reconstrução com máxima parcimônia, empregou-se

uma busca heurística usando-se o método tree-bisection-reconnection (TBR) como

algoritmo de branch-swapping. Para a reconstrução filogenética por máxima

verossimilhança, primeiramente foi executado um teste hierárquico com o programa

Modeltest v.3.7 (Posada et al., 1998). Este programa testa os dados frente a 56

modelos de substituição de nucleotídeos, visando a seleção do modelo evolutivo que

melhor se ajusta a esse conjunto de dados. A seleção do modelo mais adequado foi

feita para cada um dos marcadores moleculares em separado e, posteriormente,

para os conjuntos concatenados. Os valores estimados pelo programa Modeltest

para as matrizes de substituição, assim como os de alfa e proporção de sítios

invariantes, foram então utilizados no PAUP* para realizar as análises de máxima

verossimilhança. Procedeu-se a uma busca heurística usando-se uma árvore obtida

por máxima parcimônia para a topologia inicial.

Alternativamente ao PAUP*, foram também feitas análises de máxima

verossimilhança com o programa RAxML (Stamatakis, 2006). O tempo de

processamento para uma análise com 1.000 replicatas de “bootstrap” neste

programa é bem menor se comparado com o tempo do programa PAUP*. Os

comandos utilizados para as análises encontram-se no ANEXO C.

Todas as árvores geradas de todos os marcadores e do conjunto

concatenado foram visualizadas com o programa NJPlot (Perrière et al., 1996) e

editadas no FigTree (não publicado - disponível em

http://tree.bio.ed.ac.uk/software/figtree).

3.13.4 Mapeamento da verossimilhança

Visando avaliar o sinal filogenético do conjunto de dados, foi realizado um

teste de mapeamento de verossimillhança (likelihood mapping), utilizando o método

dos quartetos, implementado no programa Tree-Puzzle (Schmidt et al., 2002).

Page 62: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

61

3.13.5 Análise de recombinação (RDP)

O programa RDP3 (Recombination Detection Program) (Martin et al., 2010)

usa diferentes algoritmos para detectar sequências recombinantes e pontos de

recombinação. Foram utilizados os seguintes métodos para a detecção de

recombinação: RDP, GENECONV, Bootscan, MaxChi, Chimaera, SiScan e 3Seq.

Para a análise, consideramos um p-valor aceitável maior do que 0,05 e usamos uma

correção de Bonferroni. A detecção positiva de recombinação em pelo menos cinco

métodos é necessária para se considerá-la válida.

3.13.6 Análise demográfica das espécies de Eimeria

Para a análise demográfica, utilizou-se o alinhamento concatenado de

marcadores (SSU de rRNA nuclear, LSU de rRNA de apicoplasto, citocromo b

mitocondrial e ORF470 de apicoplasto) de espécies de Eimeria de galinha, coelho e

roedores. Esse conjunto de dados foi utilizado para a datação dos nós das árvores

para obter-se a estimativa do tempo para o ancestral comum mais recente (TMRCA

– Time to Most Recent Common Ancestor) de cada grupo monofilético. Para isso, as

análises foram feitas utilizando-se um conjunto de programas do pacote BEAST

v1.4.8 – Bayesian Evolutionary Analysis Sampling Trees (Drummond e Rambaut,

2007). Utilizou-se como modelo evolutivo o GTR+I+ (General Time-Reversible), o

estima a frequência de bases e assume seis taxas de substituição diferentes (A↔T,

A↔C, A↔G, C↔T, G↔T e C↔G). Além disso, o modelo assume uma proporção

de sítios invariantes (parâmetro I), estimada a partir dos dados, e uma distribuição

gama para as variações de taxas entre sítios (parâmetro G), a qual foi utilizada com

10 categorias. Utilizou-se ainda um modelo de relógio molecular estrito (strict clock)

com uma taxa fixa de substituição por sítio de 4,43 x 10-9 por ano. Essa taxa foi um

valor médio calculado a partir de valores de taxas de substituição estimados para

parasitas do gênero Plasmodium (Rich et al., 1998; Hughes e Verra, 2001; Mu et al.,

2005; Hayakawa et al., 2008; Ricklefs e Outlaw, 2010). Para a hipótese a priori (Tree

Page 63: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Materiais e Métodos

62

Prior) da árvore, consideramos o modelo Skyline Bayesiano coalescente

(Coalescent: Bayesian Skyline - bsl), que é um modelo para genealogias intra-

específicas e, adicionalmente, os modelos de co-especiação de Yule e de birth-and-

death (bd), que são mais adequados para processos inter-específicos.

A análise foi feita em quatro corridas independentes com comprimentos de

cadeia de 50 milhões de gerações, e amostragem a cada 5.000 estados, totalizando

10.000 árvores armazenadas no final. Os arquivos de saída (log) de cada corrida

independente, gerados pelo programa BEAST, foram inspecionados com o

programa Tracer. Em seguida os arquivos log foram combinados com o programa

LogCombiner. Nessa etapa, do total de 40.000 estados amostrados nas quatro

corridas, foram eliminados os primeiros 1.000 (burnin) de cada uma. Finalmente, os

arquivos log combinados com o LogCombiner de cada um dos modelos testados

(bsl, Yule e bd) foram então carregados no Tracer e submetidos a uma análise de

verossimilhança para a comparação via fator de Bayes. O programa LogCombiner

também foi usado para combinar os arquivos de árvores *.trees gerados pelo

BEAST. Nesse caso, o arquivo de saída do LogCombiner foi carregado no programa

TreeAnnotator para sumarizar a informação e gerar uma árvore anotada contendo

dados relativos a comprimento e tempo dos ramos, probabilidades posteriores, etc.

Finalmente, essa árvore de máxima credibilidade de clados (MCC) foi inspecionada

no programa FigTree.

3.13.7 Análise da evolução de caracteres nas proteínas ORF470 e citocromo b

Visando estudar a evolução de caracteres nas sequências das proteínas

ORF470 e citocromo b nas diferentes espécies de Eimeria, utilizou-se o programa

MacClade 4: Analysis of Phylogeny and Character Evolution v4.06 (Maddison et al.,

1992). Esse programa utiliza máxima parcimônia para gerar cladogramas que

permitem uma fácil inspeção da evolução dos caracteres, a identificação de

homoplasias, sinapomorfias e outros eventos, além da reconstrução dos estados

ancestrais.

Page 64: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

4 RESULTADOS

Page 65: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Resultados

64

4.1 Diagnóstico molecular de Eimeria spp. de coelho

Visando o desenvolvimento de ensaios moleculares para a detecção e

discriminação das onze espécies de Eimeria de coelho, procedeu-se ao

sequenciamento da região ITS1 do cistron ribossômico. Para isso, foram

desenhados iniciadores (ver item 3.8) dirigidos contra regiões conservadas que

flanqueiam a região ITS1 a partir de uma sequência pública (código de acesso

AF026388). Amostras de DNA das onze espécies de Eimeria de coelho foram então

utilizadas para amplificar o ITS1, conforme descrito no item 3.9.1. Os produtos de

amplificação apresentaram tamanhos variando entre 400 e 600 pb (Figura 1).

Figura 1 - Amplificação da região ITS1 do cistron ribossômico. Produtos de amplificação de ITS1 de Eimeria de coelho doméstico separados por eletroforese em gel de agarose 1,5% corado com brometo de etídeo. As reações de amplificação foram feitas com os iniciadores ITS1-F e ITS1-R (Tabela 2). As espécies de Eimeria de coelho utilizadas estão indicadas, assim como o controle positivo contendo DNA de E. tenella (de galinha), controle negativo sem DNA, e marcador de tamanho molecular em escada de 100 pb(100 bp DNA Ladder, Invitrogen).

Page 66: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

65

Cada um dos produtos da amplificação foi sequenciado (item 3.10), as

sequências obtidas foram montadas (item 3.11) e submetidas a um alinhamento

múltiplo (item 3.12.1). A partir deste alinhamento foram desenhados iniciadores

espécie-específicos (Tabela 2). Em seguida os iniciadores foram testados frente a

amostras de DNA homóloga. O tamanho dos fragmentos amplificados variou entre

166 a 289 pb (dados não mostrados). Todas as reações foram padronizadas de

forma a obtermos o máximo rendimento de produto e usando-se uma temperatura

de pareamento semelhante para todas as reações. Finalmente, foram feitos testes

de especificidade utilizando-se os iniciadores frente a amostras de todas as espécies

de Eimeria de coelho. Conforme pode ser visto na Figura 2, não foram observadas

reações cruzadas entre as diferentes espécies.

Figura 2 - Teste de especificidade dos ensaios para diagnóstico de Eimeria spp. de coelho. Amostras de DNA das onze espécies de Eimeria de coelho foram amplificadas por PCR utilizando-se pares de iniciadores homólogos e heterólogos. Os produtos de amplificação foram separados por eletroforese em géis de agarose 1,5% corados com brometo de etídeo. Controles negativos sem DNA também estão indicados. Faixas horizontais dos géis estão mostradas na figura para economia de espaço. Nenhuma banda adicional de amplificação foi observada nas áreas remanescentes dos géis (ver ANEXO B).

Page 67: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Resultados

66

Uma vez padronizadas as condições de amplificação, e confirmada a

especificidade de amplificação para todas as espécies, foram feitos testes de

sensibilidade individualmente para cada espécie. Assim, amostras de DNA de cada

espécie, variando de 1 ng até 10 fg, foram amplificadas nas condições previamente

padronizadas. Como pode ser visto na Figura 3, a sensibilidade observada nos

diferentes ensaios variou de 1 pg a 50 fg de DNA, sendo 500 fg a sensibilidade para

o conjunto de todas as espécies. Foram feitas ainda alterações dos programas de

amplificação como, por exemplo, tempo de rampagem entre as fases de pareamento

e extensão, touchdown. Essas alterações, entretanto, não mostraram diferenças

significativas na sensibilidade ou especificidade.

Figura 3 - Teste de sensibilidade de detecção de Eimeria spp. de coelho. Amostras de DNA

das onze espécies de Eimeria de coelho foram diluídas seriadamente e amplificadas por PCR. As espécies de Eimeria e massas de DNA utilizadas em cada reação estão apresentadas. Controles negativos sem DNA também estão indicados.

Page 68: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

67

Finalmente, decidiu-se testar se a sensibilidade era afetada pela marca da

polimerase de amplificação. Assim, além da enzima AmpliTaq Gold® DNA

Polymerase (Applied Biosystems, EUA), foram utilizadas também as enzimas Taq

DNA polimerase de dois outros fabricantes: BIOLASE™ DNA polymerase(Bioline,

Reino Unido) e Taq DNA polymerase recombinant (Fermentas International Inc.,

Canadá).Procedeu-se então a um teste de sensibilidade, como descrito

anteriormente, para duas espécies de Eimeria de coelho: E. piriformis e E. magna. A

Figura 4 mostra que a despeito de variações no rendimento de produto amplificado

entre as enzimas, o limiar de detecção observado foi semelhante: 500 fg de DNA.

Figura 4 - Teste de sensibilidade de detecção de E. magna e E. piriformis com diferentes

enzimas. As espécies de Eimeria, enzimas e massas de DNA utilizadas em cada reação estão apresentadas. Controles negativos sem DNA também estão indicados.

Page 69: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Resultados

68

4.2 Análises filogenéticas de parasitas do gênero Eimeria

As análises filogenéticas das espécies de Eimeria de galinha e de coelho

foram realizadas utilizando-se quatro marcadores moleculares: subunidade pequena

(SSU) do rRNA nuclear, subunidade grande (LSU) do rRNA de apicoplasto,

ORF470 de apicoplasto, e o citocromo b mitocondrial (cytb). Assim, as análises

foram feitas com marcadores de genes codificadores de proteínas (cytb e ORF470),

e de subunidades ribossômicas SSU e LSU. Além disso, a escolha dos marcadores

levou em consideração o fato de serem originados de três diferentes genomas e

compartimentos celulares: nuclear, mitocondrial e de apicoplasto. Com esta

abordagem, procurou-se utilizar marcadores que tivessem diferentes histórias de

pressão de seleção e taxas de evolução, mas, que no seu conjunto, refletissem a

evolução dos organismos.

4.2.1 Avaliação do sinal filogenético por mapeamento de verossimilhança

Visando avaliar se os conjuntos de dados dos quatro marcadores

apresentavam sinal filogenético, decidiu-se submetê-los a um teste de mapeamento

de verossimilhança (Strimmer e von Haeseler, 1997) com o uso do programa Tree-

Puzzle. Este teste permite verificar o sinal filogenético dos dados, estimando a

confiança dos ramos internos das árvores obtidas. Através da análise dos quartetos,

as probabilidades posteriores são colocadas num sistema de coordenadas em três

dimensões, onde todos os pontos obtidos são lançados na superfície de um

triângulo. Assim, podemos analisar a informação filogenética dos dados através de

diagramas que permitem visualizar a quantidade de quartetos não resolvidos que

ficam na região central do triângulo. Conforme pode ser visto na Figura 6, todos os

quatro marcadores apresentaram no mínimo 90% de quartetos resolvidos, os quais

podem ser visualizados como pontos nos vértices do triângulo. Em função desse

resultado, decidiu-se por fim avaliar o sinal filogenético dos quatro marcadores

moleculares concatenados em um único conjunto de dados. Conforme pode ser

Page 70: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

69

visto na Figura 7, o sinal filogenético melhorou em relação ao dos marcadores

individuais, obtendo-se 97,6% de quartetos resolvidos.

A B

C D

Figura 5 - Mapeamento de verossimilhança obtido com o programa Tree-Puzzle. Os conjuntos de dados dos marcadores estão indicados: SSU rRNA nuclear (A), LSU rRNA de apicolplasto (B), citocromo b mitocondrial (C) e ORF470 de apicoplasto (D).

Page 71: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Resultados

70

Figura 6 - Mapeamento de verossimilhança para o conjunto de dados concatenado. Esse

mapeamento foi obtido com o programa Tree-Puzzle para o conjunto de dados composto pela concatenação dos marcadores SSU rRNA nuclear, LSU rRNA de apicoplasto, citocromo b mitocondrial e ORF470 de apicoplasto.

4.2.2 Análises preliminares com diferentes marcadores e critérios de optimalidade

Inicialmente, foram utilizados os quatro marcadores moleculares individuais

para análises de distância (neighbor-joining), máxima parcimônia e máxima

verossimilhança. Os conjuntos de dados empregados nessas análises preliminares

incluíram sete espécies de Eimeria de galinha e onze de coelho. As reconstruções

filogenéticas foram feitas como descrito no item 3.13.3. No caso da máxima

verossimilhança, foi realizada uma avaliação do melhor modelo evolutivo usando-se

o programa ModelTestv.3.7 (Posada et al., 1998). Os modelos evolutivos de

substituição de nucleotídeos mais adequados aos dados foram: GTR+I+ para a

Page 72: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

71

SSU, ORF470 e cytb, e TVM+I+ para a LSU. Para o conjunto de dados dos quatro

marcadores concatenados, o modelo selecionado foi o GTR+I+. O modelo GTR

(General Time-Reversible) assume seis taxas distintas de substituições (ver

explicação no item 3.13.5). O modelo TVM (transversional model with unequal base

frequencies) estima a frequência de bases e assume cinco taxas de substituição

distintas. Assim, esse modelo discrimina as taxas de todos os tipos de transversões,

mas assume que as taxas de transições A↔G e C↔T são iguais. Ambos os

modelos acima estimam a proporção de sítios invariantes (parâmetro I) e assumem

uma distribuição gama para as variações de taxas entre sítios (parâmetro ). Estes

modelos foram utilizados na análise de verossimilhança de cada um dos

marcadores, bem como para o conjunto concatenado.

Uma comparação entre as árvores geradas com os marcadores individuais

revelou que a despeito de algumas variações de topologia entre árvores, obtidas por

diferentes marcadores e/ou critério de optimalidade, de modo geral as topologias

foram bastante semelhantes. Assim, essas análises demonstraram que as espécies

de Eimeria são monofiléticas em relação aos seus hospedeiros galinha e coelho

domésticos, independentemente do marcador e método utilizados. A Figura 5 mostra

uma árvore obtida por neighbor-joining para o marcador SSU rRNA, e exemplifica a

topologia tipicamente observada para essas espécies de Eimeria. Para efeito

comparativo, as árvores obtidas com o uso de outras combinações de critérios de

optimalidade e marcadores moleculares estão apresentadas no ANEXO D.

Page 73: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Resultados

72

Figura 7 – Filograma obtido por neighbor-joining da SSU de rRNA nuclear das espécies de Eimeria de coelho e galinha domésticos. Os valores de bootstrap encontram-se indicados nos nós. Os quadros representam os dois diferentes hospedeiros: galinha em azul e coelho em verde. As espécies de Eimeria de coelho que estão marcadas em azul possuem oocisto com corpo residual, as demais espécies não possuem corpo residual nos seus oocistos.

Outro resultado observado em todas as análises é que alguns clados são

muito evidentes e reprodutíveis. Nas espécies de Eimeria de coelho são evidentes

dois clados, sendo o primeiro composto por E. exigua, E. irresidua, E. flavescens e

E. piriformis, e o segundo pelas sete demais espécies (Figura 5 e ANEXO D). Um

aspecto morfológico interessante e que está correlacionado com esses dois clados é

que todas as sete espécies do segundo clado apresentam uma estrutura no oocisto

denominada corpo residual ou resíduo do oocisto, ao passo que nenhuma das

espécies do primeiro clado apresentam essa estrutura. Esse segundo clado não

apresenta muita consistência, observando-se várias politomias e valores de suporte

Page 74: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

73

frequentemente baixos, especialmente quando se analisa marcadores individuais

(ANEXO D). Ainda assim, um par de espécies, E. perforans e E. media, sempre

forma o mesmo clado, o qual por sua vez está sempre próximo a E. magna.

Contudo, as demais espécies de Eimeria de coelho desse grupo, E. stiedai, E.

intestinalis, E. coecicola e E. vejdovskyi não formaram topologias consistentes.

As espécies de Eimeria de galinha doméstica também apresentaram

consistência quando comparados os resultados de diferentes marcadores ou

métodos de análise. Assim, E. tenella e E. necatrix consistentemente formam um

clado separado das outras cinco espécies, independentemente do marcador e do

método utilizado na análise filogenética (Figura 7 e ANEXO D – Figuras D1 a D12).

Essas duas espécies mostram-se mais divergentes das demais espécies de Eimeria

de galinha, e essa característica na topologia das árvores geradas também está de

acordo com dados descritos na literatura com SSU rRNA e genomas mitocondriais

(Barta et al., 1997; Romano, 2004). No segundo grupo de espécies, E acervulina e

E. mitis formam um clado separado na maioria das análises. Por outro lado, as

relações entre E. maxima, E. brunetti e E. praecox não são tão claras e consistentes,

mas essas três espécies em geral foram um clado.

4.2.3 Análises preliminares com conjunto de dados concatenados e diferentes

critérios de optimalidade

Em função dos resultados descritos acima, decidiu-se testar um alinhamento

dos quatro marcadores concatenados com os três critérios de optimalidade. As

figuras 8, 9 e 10 mostram as árvores obtidas por máxima parcimônia, neighbor-

joining, e máxima verossimilhança, respectivamente Pode-se observar pela

comparação dessas árvores que a congruência dos resultados é ainda maior do que

quando se compara os dados obtidos com marcadores individuais. Por exemplo, as

árvores obtidas por máxima parcimônia para os marcadores individuais apresentam

algumas diferenças topológicas (ver ANEXO D). Contudo, o uso do conjunto

concatenado resultou numa árvore (Figura 8) cuja topologia é extremamente

Page 75: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Resultados

74

congruente com as árvores obtidas por neighbor-joining (Figura 9) e máxima

verossimilhança (Figura 10) para o mesmo conjunto de dados. Além disso, os

valores de suporte dos nós, em sua maioria, são bastante altos e certamente

maiores do que os obtidos com o uso dos marcadores individuais.

Contudo, o conjunto de quatro genes concatenados utilizado neste trabalho

ainda não foi capaz de elucidar totalmente as relações de algumas espécies. Assim,

as relações entre E. intestinalis, E. vejdovskyi, E. coecicola, e E. stiedai, no clado

das espécies de Eimeria de coelho, e entre E. maxima, E. brunetti e E. praecox, no

clado das espécies de Eimeria de galinha, ainda são bastante indefinidas. Uma

característica evidente em Eimeria maxima é que seu ramo nas árvores obtidas sob

diferentes métodos de reconstrução é muito mais longo do que o das demais

espécies. Isso pode significar que essa espécie tenha uma taxa de evolução distinta

em relação as demais espécies.

Page 76: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

75

Figura 8 - Filograma obtido por máxima parcimôniado conjunto de dados concatenado. Marcadores moleculares utilizados: SSU de rRNA nuclear, LSU de rRNA de apicoplasto, citocromo b mitocondrial e ORF470 de apicoplasto. As espécies de Eimeria de galinha e coelho estão indicados. Os valores de bootstrap encontram-se indicados nos nós. As espécies de Eimeria contendo resíduo do oocisto estão marcadas em azul. Os quadros coloridos indicam os diferentes hospedeiros.

Page 77: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Resultados

76

Figura 9 - Filograma obtido por neighbor-joining do conjunto de dados concatenado. Marcadores moleculares utilizados: SSU de rRNA nuclear, LSU de rRNA de apicoplasto, citocromo b mitocondrial e ORF470 de apicoplasto. As espécies de Eimeria de galinha e coelho estão indicados. Os valores de bootstrap encontram-se indicados nos nós. As espécies de Eimeria contendo resíduo do oocisto estão marcadas em azul. Os quadros coloridos indicam os diferentes hospedeiros.

Page 78: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

77

Figura 10 - Filograma obtido por máxima verossimilhança do conjunto de dados concatenado de SSU de rRNA nuclear, LSU de rRNA de apicoplasto, citocromo b mitocondrial e ORF470 de apicoplasto. As espécies de Eimeria de galinha e coelho estão indicados. Os valores de bootstrap encontram-se indicados nos nós. As espécies de Eimeria contendo resíduo do oocisto estão marcadas em azul. Os quadros coloridos indicam os diferentes hospedeiros.

Page 79: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Resultados

78

4.2.4 Análise de recombinação entre marcadores

A análise de recombinação entre as espécies estudadas foi feita com o

conjunto concatenado das espécies de Eimeria de galinha e coelho e,

posteriormente, foram incluídos dados de espécies de Eimeria de roedores. A

analise feita através dos métodos RDP, GENECONV, Bootscan, MaxChi, Chimaera,

SiScan e 3Seq não evidenciou eventos de recombinação nos conjuntos de dados.

4.2.5 Reconstrução filogenética com marcadores concatenados

Conforme apresentado anteriormente, os quatro marcadores moleculares

testados apresentaram um bom sinal filogenético no teste de mapeamento de

verossimilhança, e a concatenação dos alinhamentos individuais resultou num

conjunto de dados com sinal filogenético ainda melhor (item 4.2.1 e Figuras 5 e 6).

As reconstruções filogenéticas realizadas com cada marcador individual, sob

diferentes critérios de optimalidade, resultaram em árvores com topologias

relativamente congruentes, confirmando, também, a consistência dos dados (item

4.2.2, Figura 7 e ANEXO D). Essa conclusão foi confirmada pelo uso de um conjunto

de dados concatenado em que se observou uma maior congruência de topologias

das árvores obtidas por diferentes critérios de optimalidade (item 4.2.3 e Figuras 8, 9

e 10). Finalmente, uma análise de recombinação demonstrou não haver evidência

de eventos de recombinação entre os distintos marcadores (item 4.2.4).

Em função dos resultados acima, decidiu-se utilizar nas análises filogenéticas

subsequentes apenas o conjunto de dados concatenado dos quatro marcadores.

Assim, com a disponibilidade em bancos públicos de sequências desses marcadores

em espécies de Eimeria de uma ampla gama de hospedeiros, decidiu-se ainda

agregar o maior número possível de espécies de Eimeria no conjunto de dados.

Fazendo-se uma busca no GenBank, identificou-se um total de dez espécies de

Eimeria de roedores silvestres que continham sequências para a SSU nuclear, LSU

de apicoplasto e ORF470 (Tabela 5). Assim construímos um alinhamento

Page 80: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

79

concatenado contendo dados das sete espécies de Eimeria de galinha, onze de

coelho e dez de roedores silvestres. No caso do citocromo b, não havia sequências

públicas disponíveis para as espécies de Eimeria de roedores silvestres, tendo sido

seus caracteres tratados como ausentes (missing) para estas espécies. Este

conjunto de dados representa um compromisso entre o maior número disponível de

marcadores moleculares (evidência global) com a maior amostragem possível de

taxa (máxima amostragem).

Esse conjunto de dados foi submetido a uma análise de máxima

verossimilhança. Primeiramente, procedeu-se a um teste de modelos evolutivos

usando-se os programas PAUP* e ModelTest, conforme descrito no item 3.13.3. O

modelo mais adequado aos dados foi o GTR+I+. Assim, usando esse modelo,

utilizou-se o programa RaxML para realizar a reconstrução filogenética com máxima

verossimilhança e a análise de bootstrap com 1.000 replicatas. Conforme pode ser

visto na árvore apresentada na Figura 11, as espécies de Eimeria de roedores

formaram dois clados, claramente definidos pela presença ou ausência do resíduo

do oocisto. De fato, essa observação já havia sido descrita por Zhao e Duszynski

(2001a,b) utilizando de forma individual os marcadores SSU de rRNA nuclear, LSU

de rRNA de apicoplasto e ORF470. Similarmente ao que foi descrito por esse grupo,

observamos que a presença do resíduo foi mais importante para a definição dos

clados do que as espécies de hospedeiros dos parasitas. O grupo das espécies de

Eimeria de coelho também apresentou dois clados, compreendendo espécies com e

sem presença de resíduo do oocisto, tal como relatado por Kvičerová et al. (2008)

com uso da SSU de rRNA nuclear. O caractere da presença do resíduo de oocisto

está claramente associado com a formação de clados distintos nas espécies de

Eimeria de roedores e de coelho. Contudo, ao contrário da parafilia que se observa

nas espécies de Eimeria de roedores em relação aos seus hospedeiros, no caso do

coelho, as espécies de Eimeria formaram um clado monofilético em relação a esse

hospedeiro. Nosso trabalho representa a primeira análise conjunta de espécies de

Eimeria de coelho, roedores e galinha, usando simultaneamente quatro marcadores.

Conforme será apresentado na Discussão, essa análise integrada permitiu identificar

evidências mais concretas sobre e evolução das espécies do gênero Eimeria.

Page 81: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Resultados

80

Figura 11 - Filograma obtido por máxima verossimilhança dos quatro marcadores moleculares concatenados para as espécies de Eimeria de galinha, coelho e roedores. Marcadores moleculares utilizados: SSU, LSU, citocromo b e ORF470. Os valores de bootstrap encontram-se indicados nos nós. As espécies de Eimeria contendo resíduo do oocisto estão marcadas em azul. Os quadros indicam os diferentes hospedeiros.

4.2.6 Reconstrução filogenética com máxima amostragem de taxa

Visando a obtenção de um panorama evolutivo mais amplo em termos de

hospedeiros, decidimos construir um novo conjunto de dados utilizando o maior

número possível de espécies de Eimeria, oriundas de uma maior gama de

hospedeiros. Nesse caso, foi utilizado um único marcador molecular, a SSU de rRNA

nuclear e incluiu-se no conjunto as sequências nucleotídicas maiores do que 1.000

pb. Esse conjunto de dados de máxima amostragem de taxa incorporou em relação

ao conjunto de dados anterior (máxima evidência) várias espécies de Eimeria de

Page 82: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

81

aves (peru, faisão, pica-pau e garça), ruminantes (ovino e bovino), suínos, várias

espécies adicionais de roedores, marsupial, morcegos, répteis e de um anfíbio. O

alinhamento foi feito conforme descrito no item 3.13.2, utilizando-se dados

estruturais do rRNA para guiar a edição manual. Semelhantemente à análise

descrita anteriormente, utilizou-se o programa RAxML com o modelo evolutivo

GTR+I+ para a reconstrução filogenética com máxima verossimilhança. A Figura 12

apresenta a árvore filogenética obtida para um total de 60 espécies distintas de

Eimeria.

Em relação às espécies de Eimeria de aves, observou-se que E. tenella e E.

necatrix apresentam-se mais próximas de duas espécies de Eimeria de perus do

que das cinco demais espécies de Eimeria de galinha. Uma dessas espécies de

peru é E. adenoeides, cuja relação próxima com E. tenella e E. necatrix já havia sido

demonstrada por Morrison et al. (2004) usando o mesmo marcador. A outra amostra

refere-se a um isolado de Eimeria de peru não caracterizado em termos de espécie

(código de acesso HM117016 – Miska et al., 2010). Uma amostra de Eimeria isolada

de faisão, e também não caracterizada em termos de espécie (código de acesso

HM117010 – Miska et al., 2010), se mostrou mais próxima das cinco outras espécies

de Eimeria de galinha do que de E. tenella e E. necatrix. Concluindo, essas

amostras de Eimeria de peru e faisão sugerem a ocorrência de parafilia das

espécies de Eimeria de aves. Contudo, esse dado deve ser tomado com precaução

pelo fato de ter sido determinado para um único marcador (SSU de rRNA nuclear), e

dos valores de suporte dos nós serem relativamente baixos. Finalmente, as espécies

de Eimeria de garças (Gruiformes) se mostraram filogeneticamente muito distantes,

estando mais próximas das amostras do anfíbio e dos répteis, e da raiz da árvore.

Em relação às espécies de Eimeria de coelho, não houve ocorrência de

parafilia, e a topologia observada foi semelhante à descrita anteriormente (Figuras 8

a 11). Embora as ordens Lagomorpha e Rodentia sejam filogeneticamente próximas,

as espécies de Eimeria de coelho se mostraram bem mais relacionadas com

espécies de ruminantes e suínos do que com espécies de Eimeria de roedores. Os

parasitas de suínos e de ruminantes (bovino e ovino), por sua vez, formaram clados

distintos. Contudo, observou-se parafilia em relação ao hospedeiro ovino, com a

inclusão de uma espécie de Eimeria de boi no mesmo clado. Ao lado deste grupo

temos vários clados de hospedeiros onívoros. O próximo clado separado dos demais

Page 83: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Resultados

82

é composto por espécies de Eimeria de suínos. Estas espécies também não

possuem resíduo de oocisto.

No caso dos roedores, os dois clados observados anteriormente (Figura 11)

se mantiveram com a incorporação das espécies adicionais de Eimeria. Assim como

observado por Zhao et al. (2001), o grupo das espécies de Eimeria de roedores se

mostrou parafilético, com duas espécies de Eimeria de morcegos (E. antrozoi, com

resíduo de oocisto, e E. rioarribaenses, sem resíduo de oocisto) formando um clado

conjuntamente com espécies de roedores. Próximo ao grupo acima, contudo um

pouco mais externo encontram-se duas espécies de Eimeria de quirópteros, E.

pilarenses (Duszynski et al., 1999) e E. catronensis (Seville e Gruver, 2004), que não

possuem resíduo de oocisto e formam um clado. O gênero do morcego hospedeiro

destas duas espécies é Myotis, o mesmo que alberga a E. rioarribaenses. É preciso

ressaltar que os valores de suporte para os ramos das espécies de Eimeria de

morcegos foram todos muito baixos, o que significa que essa topologia não é

necessariamente a verdadeira, e isso poderia explicar a parafilia do clado de

espécies de Eimeria de roedores e quirópteros.

O próximo grupo mais externo aos descritos acima, é o que contem espécies

de Eimeria de anfíbios (ordem Anura) e de répteis (ordem Serpentes), E. ranae e E.

arnyi, respectivamente (Jirků et al., 2009; Upton e Oppert, 1991). Em seguida,

aparece um ramo correspondente a E. trichosuri (Power et al., 2009), uma espécie

de Eimeria de marsupial (gambá – Trichosurus vulpecula) da Oceania. Mais

externamente aparece um clado formado por E. reichenowi e E. gruis (Matsubayashi

et al., 2005), duas espécies de Eimeria que infectam aves da ordem Gruiformes.

Finalmente, mais proximamente da raiz, está E. tropidura, uma espécie que infecta

um lagarto do gênero Tropidurus no arquipélago de Galápagos (Couchet al., 1996).

Page 84: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

83

83

Figura 12 - Filograma obtido por máxima verossimilhança da SSU de rRNA nuclear para as espécies de Eimeria de diversos hospedeiros. Os valores de

bootstrap encontram-se indicados nos nós. As espécies de Eimeria contendo resíduo do oocisto estão marcadas em azul. Os quadros indicam os diferentes hospedeiros.

Page 85: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Resultados

84

4.2.7 Análise demográfica das espécies de Eimeria

Com o objetivo de testar a hipótese de que tenha ocorrido co-especiação

entre as espécies de Eimeria e seus hospedeiros, foram feitas análises Bayesianas

para a determinação do tempo para o ancestral comum mais recente (TMRCA –

Time to Most Recent Common Ancestor) de cada grupo monofilético (item 3.13.6).

Para isso, foi utilizado como conjunto de dados o alinhamento concatenado de

marcadores (SSU de rRNA nuclear, LSU de rRNA de apicoplasto, citocromo b

mitocondrial e ORF470 de apicoplasto) de espécies de Eimeria de galinha, coelho e

roedores. Utilizou-se o programa BEAST sob o modelo GTR+I+ modelo de

relógio molecular estrito (strict clock) com uma taxa fixa de substituição por sítio.

Como não existem registros fósseis de parasitas do gênero Eimeria, e não existem

pontos de calibração óbvios para o relógio molecular desses parasitas, utilizamos

uma taxa de evolução de 4,43 x 109 substituições por sítio por ano, a qual foi

baseada numa média de estimativas obtidas para o gênero Plasmodium (ver item

3.13.6).

Foram testados vários modelos de história demográfica, os quais definem

as probabilidades a priori de cada análise. Inicialmente utilizou-se o modelo Skyline

Bayesiano coalescente (Coalescent: Bayesian Skyline - bsl), que é mais apropriado

para genealogias intra-específicas. Por essa razão, decidiu-se empregar também os

modelos de Yule e birth-and-death. O modelo birth-and-death considera o

nascimento e morte de linhagens ao longo do tempo. Por sua vez, o modelo de co-

especiação de Yule é um método estocástico no qual as taxas de especiação variam

com o tempo e com número de espécies. A Tabela 6 mostra que resultados das

probabilidades posteriores foram bastante semelhantes entre os três diferentes

modelos demográficos.

Page 86: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

85

Tabela 6 - Resultados estatísticos da análise com o programa BEAST utilizando os modelos demográficos de bsl, Yule e birth-and-death (bd). Conjunto de dados: alinhamento concatenado de marcadores (SSU de rRNA nuclear, LSU de rRNA de apicoplasto, citocromo b mitocondrial e ORF470 de apicoplasto) de espécies de Eimeria de galinha, coelho e roedores.

Contudo, decidimos ainda realizar com o programa Tracer uma comparação

pareada dos modelos demográficos através do cálculo do fator de Bayes, e

identificar qual deles (Yule, birth-and-death e bsl) seria mais adequado para

representar os dados. Para isso, o programa Tracer calcula a média harmônica do

valor de verossimilhança (posterior) dos resultados de dois modelos e,

posteriormente, determina o valor da diferença no espaço logarítmico. Valores de BF

superiores a 20 são considerados suficientemente altos para favorecer fortemente

um modelo em comparação com o outro

(http://beast.bio.ed.ac.uk/Model_comparison). Conforme pode ser visto na Tabela 7,

a comparação dos modelos bd contra bsl, e Yule contra bsl resultou em valores

muito altos, acima de 100, demonstrando que o modelo bsl é muito menos

adequado aos nossos dados do que os modelos bd e Yule. A comparação dos

modelos bd e Yule gerou valores em torno de 1, o que demonstra que nenhum

desses modelos apresenta vantagem significativa em relação ao outro, para esse

conjunto de dados. Em função desses resultados, serão mostrados daqui para frente

apenas os resultados obtidos com esses dois modelos nas análises subsequentes.

Resultado estatístico bsl bd Yule

Média -25.498,51 -25.265,62 -25.265,67

Desvio padrão 2,27 2,03 0,12

Mediana -25.495,86 -25.263,33 -25.265,22

Probabilidade posterior inferior 95% -25.508,29 -25.273,00 -25.274,56

Probabilidade posterior superior 95% -25.483,58 -25.254,60 -25.256,39

Tempo de auto-correlação (ACT) 40.118,09 40.000 44.714,02

Tamanho efetivo da amostra (ESS) 4.486,75 4.500 4.025,58

Page 87: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Resultados

86

Tabela 7 - Análises pareadas de verossimilhanças marginais dos modelos utilizados para o estudo demográfico das espécies de Eimeria de diferentes hospedeiros.

Abreviações: S.E. – smoothed estimate.

As análises demográficas realizadas com o uso dos modelos bd e Yule

apresentaram resultados convergentes. A Figura 13 mostra um gráfico da

distribuição dos valores de verossimilhança nas quatro diferentes corridas de cada

modelo. A aparência do gráfico, usualmente denominada “lagarta peluda” (hairy

caterpillar), pode ser considerada um resultado muito bom em termos de análise

Bayesiana, visto que houve convergência de resultados entre as diferentes cadeias

de cada modelo, e entre os distintos modelos. Além disso, não foram observadas

grandes flutuações e nem tendências no gráfico, o que demonstra a estabilidade da

MCMC (cadeia de Markov Monte Carlo).

As árvores filogenéticas obtidas com os modelos bd e Yule apresentaram

topologias idênticas (dados não mostrados). Em função disso, os resultados de

ambos os modelos foram combinados com o programa LogCombiner e através do

programa TreeAnnotator foi determinada a árvore de máxima credibilidade de clados

(maximum clade credibility tree), ou seja, a árvore com o maior produto de

probabilidades posteriores de clados (Figura 14). Pode-se ver nesta árvore que as

espécies de Eimeria de mamíferos formam um clado separado do clado das

espécies de aves, contendo, por sua vez, dois grupos de espécies: as espécies que

infectam roedores (Rodentia) e as espécies que infectam coelhos (Lagomorpha).

Além disso, observa-se que cada um dos grupos acima ainda se subdivide em

clados de espécies contendo ou não o resíduo do oocisto.

Modelo ln P(modelo|data) S.E. Fator de Bayes

bd bsl Yule

bd -25.271,94 +/- 0,22 - 102,74 1,14

bsl -25.508,51 +/- 0,37 -102,74 - -101,60

Yule -25.274,55 +/- 0,32 -1,14 101,60 -

Page 88: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

87

87

Figura 13 - Distribuição de valores de posteriores ao longo do comprimento da cadeia. O gráfico apresenta os resultados de quatro cadeias independentes para cada modelo testado (bd e Yule).

Page 89: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

88

Figura 14 - Árvore de máxima credibilidade dos clados obtida através dos dois métodos utilizados no BEAST, utilizando quatro marcadores moleculares

(SSU, LSU, citocromo b e ORF470) concatenados para as espécies de Eimeria de galinha, coelho e roedores. Os valores de posteriores encontram-se indicados nos nós. As espécies de Eimeria de coelho e roedores marcadas em azul possuem oocisto com corpo residual, as demais espécies não possuem corpo residual nos seus oocistos. Os quadros indicam os três diferentes grupos de hospedeiros.

Page 90: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

89

Finalmente, determinou-se o tempo para o ancestral comum mais recente

(TMRCA) dos grupos de espécies que infectam galinhas, coelhos e roedores. Para

isso, usou-se o programa LogCombiner para combinar os arquivos de saída das

quatro corridas independentes, feitas com cada um dos modelos demográficos (Yule

e bd). Os arquivos com os dados combinados foram então carregados no programa

Tracer e usados para gerar um gráfico das densidades marginais posteriores de

cada um dos três hospedeiros. Conforme pode ser visto na Figura 15, observam-se

claramente ondas de invasão com TMRCAs distintos para os diferentes

hospedeiros. Além disso, é possível notar que houve congruência das curvas

obtidas com os dois modelos. Esses dados sugerem que os hospedeiros sofreram

diferentes ondas de invasão por parte dos parasitas. A Tabela 8 apresenta os dados

numéricos detalhados da análise, incluindo as datas estimadas para a invasão de

cada hospedeiro. Assim, a primeira onda de invasão do ancestral dos roedores teria

ocorrido ao redor de 14 milhões de anos atrás, seguida da invasão do ancestral da

galinha em torno de 12 milhões e, por último, da invasão do ancestral do coelho

cerca de 7 milhões de anos atrás. A Figura 16 apresenta as datas de divergências

estimadas em 15 milhões para os ancestrais de Eimeria, já a divergência entre

ancestrais de Eimeria e T. gondii parece ter ocorrido em torno de 61 milhões de

anos atrás.

Page 91: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Resultados

90

Figura 15 - Estimativas Bayesianas do TMRCA e distribuição da probabilidade posterior

marginal usando os modelos demográficos Yule e birth-and-death. Os organismos hospedeiros estão indicados.

Page 92: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

91

91

Tabela 8 - Datas estimadas em torno das quais podem ter ocorrido as invasões dos ancestrais de cada grupo de hospedeiro obtidos através dos métodos de Yule e birth-and-death.

Estatística Yule_roedores bd_roedores Yule_galinhas bd_galinhas Yule_coelhos bd_coelhos

Média 14,48 E6 14,48 E

6 11,82 E

6 11,82 E

6 7,00 E

6 6,98 E

6

Desvio padrão 10.133,27 10.595,40 8.176,95 8.496,69 6.203,05 6.510,15

Mediana 14,46 E6 14,47 E

6 11,81 E

6 11,81 E

6 6,99 E

6 6,98 E

6

Média geométrica 14,46 E6 14,45 E

6 11,81 E

6 11,79 E

6 6,99 E

6 6,97 E

6

Probabilidade posterior inferior 95% 13,25 E6 13,27 E

6 10,80 E

6 10.776 E

6 6,24 E

6 6,17 E

6

Probabilidade posterior superior 95% 15,78 E6 15,73 E

6 12,91 E

6 12,86 E

6 7,82 E

6 7,80 E

6

Tempo de auto-correlação (ACT) 42.675,38 44372,87 40.000 40.000 40.000 41.417,04

Tamanho efetivo da amostra (ESS) 4.217,89 4.056,53 4.500 4.500 4.500 4.346,04

Page 93: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Resultados

92

4.2.8 Análise da substituição nas sequências codificantes de proteínas

Com o objetivo de evidenciar o tipo e número de substituições que ocorreram

na proteína ORF470, foi feita uma análise cladística (Figura 16). Foram utilizadas

sequências geradas em nosso laboratório para espécies de Eimeria de galinha e

coelho, assim como sequências públicas para espécies de Eimeria de roedores. A

reconstrução filogenética obtida permite claramente observar que duas espécies, E.

maxima (hospedeiro galinha) e E. langebartelli (hospedeiro Reithrodontomys –

cricetídeo), apresentam ramos muito mais longos, contendo uma grande número de

substituições quando comparadas às demais espécies de Eimeria. E. maxima

apresentou um número de autapomorfias muito maior do que qualquer outra

espécie, seguida de E. langebartelli e E. albigulae (hospedeiro Neotoma–

cricetídeo). Esse resultado sugere que E. maxima possa estar sofrendo uma

aceleração da taxa de evolução em relação às outras espécies, a qual possa estar

sendo causada por uma adaptação ao nicho. Outro aspecto que se destaca é o alto

número de substituições homoplásicas, especialmente em E. brunetti (hospedeiro

galinha) e E. langebartelli. Comparando-se E. maxima (20 substituições) e E.

langebartelli (21 substituições), observa-se que a primeira apresenta 14

autapomorfias e 6 homoplasias para fora, enquanto a segunda contém 9

autapomorfias e 12 homoplasias para fora. Esse resultado sugere que E.

langebartelli está sofrendo uma evolução convergente. Em relação à presença de

resíduo de oocisto, existem duas sinapormorfias que definem em Eimeria de

roedores o clado, composto pelas espécies E. albigulae, E. onychomysis, E.

arizonensis e E. reedi. No caso das espécies de Eimeria de coelho, o clado das

espécies de Eimeria que contém resíduo de oocisto também é definido por duas

sinapomorfias.

Page 94: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

93

93

Figura 16 - Cladograma obtido para sequências da proteína ORF470 de espécies de Eimeria de galinha, coelho e roedores. O comprimento dos ramos é

proporcional ao número de substituições reconstruídas. Os hospedeiros estão indicados pelos quadros coloridos. O tipo de substituição e os índices de consistência relativos a cada sítio também estão indicados.

28: T→I

79: I→V

102: F→Y

26: S→G

54: T→A

136: N→D

137: S→F

165: V→I

205: S→C

230: Y→H

9: T→V

11: T→A

19: I→V

25: E→D

36: V→I

44: V→I

59: I→V

70: Y→H

78: T→V

81: S→P

104: A→K

132: L→I

140: V→I

164: L→F

167: N→D

171: L→I

172: N→D

183: D→N

203: N→H

204: A→S

208: W→R

230: Y→N

41: V→I

136: N→S

209: V→I

27: N→H

93: I→T

167: N→D

74: S→L

226: L→I

233: S→R

11: T→A

203: N→D

219: W→R

34: V→I

78:T→M233: S→R

135: S→G

49: N→S

59: I→M

70: Y→S

136: N→S

13: N→K

14: S→G

21: L→Q

230: Y→V

47: I→V

65: I→L

139: S→T

24: Q→K

67: Y→C

203: K→N

230: Y→C

23:T→A

232: S→A

36: V→L

67: Y→F

9: T→G

10: N→C

11: T→C

12: F→I

13: N→T

16: L→S

21: L→V

28: T→M

121: S→A

204: A→S

230: Y→H

19: I→V

102: F→Y

17: E→K

31: T→K

54: T→I

88:A→S

104:A→T

138:A→S

140:V→A

185:S→T

205:S→L

209:V→I

230:Y→F

2: F→Y

5: K→E

10: N→H

78: T→S

247: S→A

135: G→S

230: Y→S

19: V→A199:W→C

204: A→S

227: I→V

28: T→I

29: I→F

44: V→I

59: I→L

135: G→N

215: S→A

230: Y→S

14: S→L135: N→S

6: E→D

24: Q→K

28: I→V

207: D→N

230: S→F

5: K→E

7: I→T

202: K→T

227: I→V

23: T→A

21: L→V

170: I→T

230: S→Y23:T→A

199: R→K

5: K→E

12: F→L

49: N→T

170: I→T

209: V→I

27: N→K

28: T→L

34:V→I

69:P→S

139:S→Y

205: S →L

7: I→S

135: S→D

81: S→P

54: T→N

187: E→D

41: V→I

52: I→L

209: V→I

229: N→D

247: S→A

10: N→I

29: I→V

30: S→L

31: T→V

32: L→S

56: I→V

80: V→I

81: S→L

118: R→K

137: S→F

141: I→S

167: E→N

169: G→S

181: R→Y

201: L→F

204: A→S

216: A→I

223: S→T

232: S→I

244: M→L

59: I→M

2: F→I

10: N→L

36: I→V

74: L/S→M

78: T→V

135: S→N

141: I→V

158: V→I

165: V→I

181: R→H

185: S→L

205: L→I

76: I→V

17: N→K

23: N→M

136: I/T→F

167: E→N

201: L→F10: N→T

29: I→V

6: K→E

9: N→T

15: I→L

102: F→Y

135: S→N56: I→V

69: S→P

E.

ma

xim

a

E.

bru

ne

tti

E.

mitis

E.

ace

rvu

lina

E.

pra

eco

x

E.

ne

ca

trix

E.

ten

ella

T.

go

nd

ii

E.

irre

sid

ua

E.

pir

ifo

rmis

E.

fla

ve

sce

ns

E.

exig

ua

E.

ve

jdo

vskyi

E.

pe

rfo

ran

s

E.

stie

da

i

E.

me

diaE.

ma

gn

a

E.

inte

stin

alis

E.

co

ecic

ola

E.

alb

igu

lae

E.

ari

zo

ne

nsis

E.

ree

di

E.

falc

ifo

rmis

E.

se

vill

ete

nsis

E.

nie

schu

lzi

E.

pa

pill

ata E

. se

pa

rata

E. langebarte

li

Índice de Consistência (CI):

0,0-0,090,10-0,190,20-0,290,30-0,390,40-0,490,50-0,590,60-0,690,70-0,790,80-0,890,90-0,991,0

único, uniforme acima

mudança acima, não fora

homoplasia acima

homoplasia fora

homoplasia dentro e fora

19: I→L

E.

on

ych

om

ysis

Coelho

Roedores

Hospedeiros:

Galinha

Page 95: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

5 DISCUSSÃO

Page 96: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Discussão

95

5.1 Discriminação de Eimeria spp. de coelho e suas implicações

A coccidiose é a principal doença parasitária de aves e outros animais de

produção, incluindo o coelho. Um total de onze espécies de Eimeria infectam o

coelho doméstico, sendo que dez delas colonizam o trato intestinal e uma espécie,

E. stiedai infecta os dutos biliares do fígado (Coudert, 1989; Licois e Coudert, 1982).

A despeito dos avanços das técnicas moleculares, a coccidiose dos coelhos tem

sido pouco abordada. Em função disso, a discriminação das onze espécies de

Eimeria ainda tem sido feita por parâmetros biológicos como morfologia dos

oocistos, sítios de colonização, localização, aspecto e profundidade das lesões,

período de pré-patência, etc. (Eckert et al., 1995).

Com relação a testes moleculares, somente ensaios de RAPD para a

diferenciação de nove das onze espécies foram descritos (Cere et al., 1995, 1996,

1997). O RAPD foi um método muito usado na década de 90 pelo fato de não

requerer nenhuma informação acerca das sequências nucleotídicas das moléculas-

alvo da amplificação. Contudo, a contrapartida dessa vantagem é que a técnica é

baseada no uso de iniciadores arbitrários sob uma estringência muito baixa. Com

isso, ao invés de obtermos uma única banda de amplificação, o resultado é um perfil

de bandas que constitui uma impressão digital da amostra (fingerprint). Essa

característica inviabiliza o uso de RAPD em amostras mistas, uma condição muito

frequente em espécimes coletados no campo, uma vez que a sobreposição de

diferentes perfis torna a leitura do resultado praticamente impossível. Finalmente,

dada à baixa estringência da amplificação, o método é muito afetado por possíveis

contaminações, e sua reprodutibilidade entre laboratórios é bastante baixa.

Em função da situação descrita acima, decidimos desenvolver um conjunto de

ensaios moleculares para a detecção e discriminação das onze espécies de Eimeria

que infectam o coelho. Como alvo molecular, foi escolhido o ITS1, um marcador que

apresenta um polimorfismo inter-específico relativamente alto, mas com baixa

variabilidade intra-específica. Essa característica o torna um alvo muito adequado

para o desenvolvimento de ensaios de discriminação de espécies. De fato, esse

marcador foi empregado com sucesso para o desenvolvimento de ensaios para a

discriminação de espécies de Eimeria de galinha doméstica (Schnitzler et al., 1998,

Page 97: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

96

1999). Decidimos então utilizar a mesma abordagem para o desenvolvimento de um

método de diferenciação de espécies de Eimeria de coelho.

O desenvolvimento dos ensaios consistiu em uma primeira etapa em que

utilizamos iniciadores dirigidos contra sequências flanqueadoras conservadas,

visando à amplificação do ITS1 de todas as espécies. Em uma segunda etapa,

foram desenhados iniciadores direcionados para regiões polimórficas espécie-

específicas. Inicialmente foram observadas algumas reações cruzadas, tendo sido

detectadas E. media e E. intestinalis em algumas amostras de outras espécies. Após

novas propagações das cepas, a partir de oocistos individuais, nenhuma reatividade

cruzada foi observada, confirmando-se assim a especificidade de todos os ensaios.

O encontro de contaminação de amostras com E. intestinalis é bastante comum,

visto que esta espécie apresenta um alto potencial reprodutivo, e pode rapidamente

ultrapassar outras espécies de Eimeria durante uma infecção experimental.

Com relação à sensibilidade, todas as espécies apresentaram bandas de

amplificação até o limite de 500 fg a 1 pg. Se considerarmos que cada célula

(esporozoíto) contém 75 fg de DNA, conforme determinado por Cornelissen et al.

(1984), o nosso protocolo de diagnóstico molecular é capaz de detectar 0,8 a 1,7

oocistos esporulados. Esse resultado é similar ou melhor do que resultados típicos

descritos na literatura. Schnitzler et al. (1998) reportaram um limite de detecção de

25 oocistos para E. brunetti usando um ensaio baseado em PCR do ITS1. Utilizando

o ITS2 como alvo, Gasser et al. (2001) observaram um limite de detecção de 5 a 10

pg de DNA para Eimeria de galinha. Fernandez et al. (2003b) obtiveram uma

sensibilidade de 1 pg usando marcadores SCARs múltiplos ou individuais para

galinha doméstica. Todos esses estudos utilizaram diluições seriadas de DNA para

calcular a sensibilidade, porém condições de ensaio na vida real podem apresentar

uma sensibilidade menor. De fato, nosso grupo observou para oocistos de Eimeria

de galinha que o rendimento de purificação de DNA não é linear em relação à

quantidade de oocistos da amostra (Fernandez et al., 2003b). Amostras com baixas

quantidades de oocistos, possivelmente apresentam uma menor eficiência de

quebra, o que se traduz na obtenção de quantidades de DNA dramaticamente

menores. Esse fato resulta numa redução de sensibilidade em cerca de uma ordem

de magnitude. Vários métodos químicos ou mecânicos/químicos têm sido propostos

para o rompimento dos oocistos, mas acreditamos que ainda não exista um método

reprodutível para a quebra dos oocistos com altos rendimentos de DNA. Apesar

Page 98: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Discussão

97

desta limitação, a sensibilidade do nosso teste ainda é suficientemente alta para a

detecção de quantidades de parasitas inferiores às que causariam sinais clínicos e

perdas econômicas.

Uma sensibilidade alta é importante para se detectar espécies de Eimeria que

ainda estejam em concentrações sub-clínicas, mas que devido à sua alta

capacidade de reprodução, casos de E. intestinalis e E. vejdovskyi (Pakandl, 2009),

possam tornar-se clinicamente relevantes. No caso de E. intestinalis, por exemplo,

foi demonstrado que a inoculação de coelhos não imunes pode resultar na produção

de 3-5 x 108 oocistos por animal, com 50% de mortalidade (Coudert et al., 1995).

Assim, mesmo a presença de quantidades muito pequenas dessa espécie deveria

ser prontamente detectada em amostras de campo, antes que sinais clínicos e

perdas de produção se tornassem perceptíveis. Uma aplicação prática importante de

um ensaio de alta sensibilidade é a monitoração da pureza de amostras de Eimeria

utilizadas em pesquisas laboratoriais, bem como em testes de campo. Tais amostras

deveriam ser regularmente testadas contra contaminações cruzadas, especialmente

para aquelas espécies de Eimeria cujas populações são altamente prevalentes,

crescem rapidamente, e podem facilmente ultrapassar as espécies originalmente

presentes nas amostras. Essa aplicação se reveste de uma importância ainda maior

no caso de linhagens de Eimeria destinadas à composição de possíveis vacinas

multivalentes no futuro. A identificação acurada de espécies de Eimeria também é

importante na prática de campo por causa da alta variabilidade de patogenicidade

entre as diferentes espécies. Por exemplo, E. coecicola e E. perforans são não

patogênicas ou pouco patogênicas, enquanto outras espécies, como E. intestinalis e

E. flavescens, são altamente patogênicas (Coudert et al., 1995). Portanto, os

ensaios descritos neste trabalho podem contribuir para revelar a etiologia precisa de

surtos de coccidiose em coelhos.

Concluindo, desenvolvemos com êxito um conjunto de ensaios de diagnóstico

molecular que permitem discriminar com eficiência as onze espécies de Eimeria que

infectam o coelho doméstico. Esses ensaios poderão permitir a realização de

levantamentos de populações de parasitas com alta especificidade e sensibilidade,

contribuindo para uma melhor compreensão da epidemiologia desse importante

grupo de parasitas.

Page 99: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

98

5.2 Reconstrução filogenética

5.2.1 Árvores de genes e árvores de espécies

Um dos grandes desafios na análise filogenética é a obtenção de resultados

acurados. Entre os fatores mais importantes para uma reconstrução filogenética

acurada estão o número de genes amostrados, a amostragem de taxa, e o método

de reconstrução utilizado. Um grande número de trabalhos de reconstrução

filogenética têm sido feitos com a utilização de marcadores clássicos como os genes

da SSU e LSU de rRNA nuclear, citococromo b mitocondrial, entre outros. Uma vez

que diferentes marcadores moleculares sofrem diferentes pressões de seleção,

podem haver variações muito importantes na história evolutiva entre eles. Assim, a

análise filogenética de qualquer marcador isolado não descreve a história evolutiva

de uma dada espécie, mas, sim, daquele marcador em particular, e a árvore obtida é

considerada uma “árvore do gene” (gene tree). Isso explica porque reconstruções

filogenéticas, realizadas com marcadores distintos, frequentemente apresentam

incongruências entre si, e as árvores resultantes contêm diferenças de topologias

(Pamilo e Nei, 1988). Visando reduzir o efeito das diferentes histórias evolutivas de

cada gene, surgiu a ideia de se usar conjuntos de dados compostos de vários genes

distintos. A inferência filogenética de tais conjuntos de dados resultaria em uma

árvore de espécies (species tree). Um dos primeiros trabalhos e avaliar esta

abordagem em escala genômica foi relatado por Rokas et al. (2003). Utilizando

dados de genomas completos de sete espécies do gênero Saccharomyces, esses

autores selecionaram 106 genes ortólogos para um estudo filogenético. Os autores

concluíram que conjuntos de dados contendo um ou poucos genes podiam gerar

árvores topologicamente incongruentes, ainda que cada uma delas apresentasse

valores de suporte relativamente altos. Contudo, usando genes concatenados, os

autores verificaram que qualquer combinação de vinte genes era capaz de gerar

árvores perfeitamente congruentes, e com valores de suporte superiores a 95%. O

uso de um maior número de marcadores diluiria eventuais variações individuais

entre as taxas de evolução de cada marcador e poderia assim dirimir sinais

Page 100: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Discussão

99

conflitantes entre eles. Essas árvores podem ser consideradas como árvores de

espécies (species trees).

Conclusões semelhantes foram obtidas por Kuo et al. (2008), quando

analisaram 268 genes de cópia única, compartilhados em parasitas do filo

Apicomplexa. Utilizando genes individuais na inferência filogenética, os autores

observaram um total de 48 topologias distintas. Ao utilizar um conjunto de dados

consistindo dos genes concatenados, os autores obtiveram uma árvore com a

mesma topologia do que aquela obtida a partir do consenso das 48 topologias, em

todos os métodos testados (neighbor-joining, máxima parcimônia e máxima

verossimilhança). Os valores de suporte da árvore obtida com os genes

concatenados foram de 100% para todos os nós. Comparando-se com o uso de

genes individuais, a topologia mais frequentemente observada foi suportada por

apenas 19% dos genes. Esses resultados claramente demonstram que há um alto

grau de incongruência topológica entre árvores geradas a partir de diferentes genes,

mas que a utilização de um conjunto de genes concatenados resulta numa árvore de

espécies com altos valores de suporte.

Contudo, a utilização de uma quantidade razoável de genes para resolver

possíveis conflitos de sinal entre eles, não é necessariamente uma condição

suficiente para obter-se uma boa acurácia da reconstrução filogenética. De fato,

Collins et al. (2005) demonstraram que a não estacionariedade dos dados pode

resultar em diferenças composicionais as quais, por sua vez, podem levar à

interpretação errônea de que dois taxa são irmãos. Outro fator que pode resultar em

topologias erradas é a atração por ramos longos, que ocorre quando há uma taxa de

evolução muito rápida e múltiplas substituições podem ter ocorrido em cada

caractere. Hedtke et al. (2006) utilizaram um conjunto de oito genes e reestudaram

os taxa abordados por Rokas et al. (2003) num contexto muito maior de

amostragem, incluindo um total de 78 espécies. Os autores demonstraram que a

amostragem de taxa parece ser tão importante para a acurácia da inferência

filogenética quanto o número de genes. De fato, a utilização de 40 taxa resultou em

valores de bootstrap de 100% com apenas quatro genes. Uma das explicações

desse resultado é que uma alta amostragem de taxa poderia neutralizar os efeitos

da atração de ramos longos.

No gênero Eimeria, os estudos filogenéticos disponíveis até o momento foram

feitos empregando-se como marcadores moleculares genes ribossômicos e de

Page 101: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

100

apicoplasto (Barta et al., 1997; Jirků et al., 2009; Kvičerová et al., 2008;

Matsubayashi et al., 2005; Power et al., 2009; Zhao e Duszynski, 2001a,b; Zhao et

al., 2001). Nestes trabalhos, os marcadores foram utilizados individualmente,

gerando árvores que possuem grande número de nós com baixo suporte. No caso

da SSU de rRNA, os trabalhos nos levam a concluir, assim como já mostrado por

Morrison et al. (2004), que esse marcador possui um baixo sinal filogenético para

Eimeria devido ao seu alto grau de conservação dentro desse gênero.

Considerando-se os aspectos discutidos acima, relativos à utilização de múltiplos

genes e amostragem de taxa, decidimos no presente trabalho utilizar quatro genes

derivados de três compartimentos celulares: núcleo (gene SSU de rRNA),

mitocôndria (citocromo b) e apicoplasto (genes LSU de rRNA e ORF470). A escolha

dos marcadores moleculares foi baseada em dois aspectos: (1) a existência de

sequências públicas para alguns desses genes em espécies do gênero Eimeria

(Barta et al., 1997; Kvičerová et al., 2008; Morrison et al., 2004; Romano, 2004; Zhao

e Duszynski, 2001a,b); e (2) dados de literatura que mostravam a viabilidade dessa

estratégia. De fato, o primeiro trabalho a utilizar marcadores derivados de genomas

de diferentes compartimentos celulares em Apicomplexa, incluindo uma sequência

(ATPase ClpC) derivada do apicoplasto, foi relatado por Rathore et al. (2001) para a

reconstrução filogenética de nove espécies de Plasmodium. Esses autores

utilizaram, além da ClpC, o citocromo b e a SSU de rRNA nuclear. As análises

filogenéticas realizadas com os marcadores individuais revelaram uma congruência

relativamente alta. Tenter et al. (2002) também sugeriram o uso de marcadores

derivados de diferentes compartimentos, visando, nesse caso, a obtenção de uma

filogenia mais acurada dos organismos da classe Coccidia.

Para se avaliar o sinal filogenético dos marcadores individuais e

concatenados, realizamos uma análise de mapeamento de verossimilhança (item

4.2.1). Os resultados mostraram que a concatenação dos quatro marcadores levou a

um aumento do sinal filogenético quando comparado ao sinal obtido em qualquer um

dos marcadores individuais. Esse resultado foi confirmado pela observação de que a

concatenação dos marcadores filogenéticos aumentou muito o grau de suporte dos

diferentes nós. Além disso, as árvores geradas com o conjunto concatenado através

de métodos de parcimônia (Figura 8), distância (Figura 9) e verossimilhança (Figura

10) demonstraram topologias muito mais semelhantes entre si (item 4.2.3) do que

com os marcadores individuais, bem como valores de suporte de nós muito maiores.

Page 102: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Discussão

101

5.2.2 Aspectos evolutivos da presença de resíduo de oocisto em Eimeria

Algumas espécies de Eimeria possuem uma estrutura granular no interior de

seus oocistos conhecida como resíduo de oocisto. Kheysin (1971) descreveu este

resíduo como sendo um grânulo de lipídeos que é eliminado do citoplasma do zigoto

durante o processo de esporogonia. Não existem descrições sobre sua possível

função, e é possível que essa estrutura represente apenas um subproduto do

processo de esporulação. Embora a literatura relate apenas a presença ou ausência

do resíduo do oocisto nas distintas espécies de Eimeria, há diferenças morfológicas

importantes.

Nas espécies de Eimeria de roedores, coelhos e morcegos (E. antrozoi),

utilizadas em nosso estudo, o resíduo de oocisto apresenta-se como uma estrutura

nitidamente globular e compacta, contendo um grande número de grânulos lipídicos

agregados (Norton et al., 1977; Reduker e Duszynski, 1985; Duszynski et al.,

1999a). Essa morfologia também é observada em Eimeria de mamíferos da ordem

Scadentia (Duszynski et al., 1999b). Contudo, há várias descrições na literatura em

que o resíduo pode apresentar morfologias diferentes. Assim, há várias espécies de

Eimeria de mamíferos da ordem Insectivora (ex. Eimeria titthus de Parascalops

breweri – “toupeira de cauda peluda”), na qual o resíduo de oocisto é descrito como

um conjunto de grânulos dispersos. Outras espécies de Eimeria desta ordem de

hospedeiros possuem ainda um resíduo descrito com tendo forma irregular

(Duszynski e Upton, 2000). Uma compilação de espécies de Eimeria de mamíferos

da ordem Chiroptera (Duszynski, 2002) apresenta várias descrições de espécies de

Eimeria contendo um resíduo de oocisto com formas e tamanhos irregulares, ou,

ainda, com grânulos dispersos.

A maioria das espécies de Eimeria de aves descritas na literatura não

apresenta resíduo de oocisto, como é o caso das espécies utilizadas em nosso

trabalho. No caso das espécies em que a presença do resíduo é relatada, a

documentação fotográfica é em sua maioria ausente ou de baixa qualidade. Ainda

assim, as descrições apresentam o resíduo como um conjunto de grânulos lipídicos

esféricos ou sub-esféricos, dispersos ou agrupados de forma irregular, como em

espécies de Eimeria de codorna (Bashtar et al., 2010), faisão (Musaev et al., 1998),

pombo doméstico (Alyousif et al., 2009), pomba do Arquipélago de Galápagos

Page 103: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

102

(McQuistion, 1991), papagaio-do-mar (Leighton e Gajadhar, 1986), gaivota prateada

(Gajadhar e Leighton, 1988), e corvo-marinho-de-orelhas (Yabsley et al., 2002).

Nas espécies de Eimeria de répteis e anfíbios, as descrições do resíduo de

oocisto são bastante variadas (Duszynski, 1969; Duszynski et al., 2007; McAllister e

Upton, 1990; Segade et al., 2006; Siroký et al., 2006). Das espécies que possuem o

resíduo de oocisto, existem aquelas nas quais o resíduo de oocisto é globular,

compacto, e com grânulos lipídicos esféricos. Em algumas outras espécies, o

resíduo do oocisto apresenta grânulos grosseiros agregados ou circundando uma

área vacuolar, ou, ainda, é composto de grânulos dispersos ou que formam uma

massa irregular. Existe ainda um tipo de morfologia em espécies de Eimeria de

anfíbios em que os grânulos lipídicos são circundados por uma membrana. Em

peixes também há espécies de Eimeria que possuem oocistos com e sem resíduo.

Eimeria lepidosirenis, que infecta a piramboia (Lepidosiren paradoxa), apresenta um

resíduo cuja morfologia consiste em uma massa esférica composta de uma mistura

de grânulos pequenos e grandes envoltos de uma fina membrana (Lainson, 2006).

Reduker et al. (1987) descreveram pela primeira vez que o resíduo de

oocisto permitia classificar as espécies de Eimeria roedores da família Cricetidae

(ratos, camundongos e hamsters) em dois clados. Para a análise cladística, os

autores utilizaram a morfologia de oocistos, características do ciclo de vida e padrão

de migração eletroforética de enzimas. Os autores propuseram uma hipótese na

qual esses grupos de Eimeria de roedores cricetídeos teriam se originado a partir de

duas linhagens ancestrais, as quais teriam evoluído independentemente sob dois

possíveis cenários. No primeiro cenário, as duas linhagens já estariam presentes

como taxa irmãos no ancestral dos roedores e, com a posterior divergência e

radiação dos hospedeiros, as linhagens de Eimeria teriam evoluído de forma

independente e concordante. No segundo cenário possível, as linhagens teriam se

originado de dois processos separados de invasão, em tempos diferentes dessa

relação hospedeiro-parasita. Assim, ancestrais de cada uma das linhagens,

presentes em hospedeiros distantes, porém sintópicos, teriam tido sucesso em

invadir e se adaptar em cricetídeos. A partir daí, ancestrais de cada uma dessas

linhagens teriam divergido e sofrido a especiação, explorando novos hospedeiros

cricetídeos. Esse foi o primeiro trabalho a mostrar de forma muito clara a existência

de dois clados de Eimeria de roedores, caracterizados principalmente pela presença

ou ausência de resíduo de oocistos.

Page 104: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Discussão

103

Zhao e Duszynski (2001a), utilizando os marcadores ORF470 e rRNA 18S

(SSU) em dez espécies de Eimeria de roedores, obtiveram árvores com dois clados

associados à presença ou ausência do resíduo. Esse resultado foi posteriormente

confirmado com o uso de marcadores de rRNA 18S (SSU) nuclear e rRNA 23S

(LSU) de apicoplasto, em um conjunto de 16 espécies de Eimeria de roedores (Zhao

e Duszynski, 2001b). Em outro trabalho do grupo (Zhao et al., 2001), usando os

rRNAs 18S nuclear e 23S de apicoplasto, os autores incluíram duas espécies de

Eimeria de morcegos, E. antrozoi (com resíduo) e E. rioarribaensis (sem resíduo).

Os resultados demonstraram que essas duas espécies se agruparam com as

espécies de Eimeria de roedores com base na presença/ausência do resíduo, e não

pelos respectivos hospedeiros. O conjunto desses resultados levaram os autores a

concluir que as diferenças morfológicas (presença ou ausência de resíduo) dos

oocistos esporulados refletiam mais as relações filogenéticas e evolutivas dos

parasitas e hospedeiros do que a especificidade de hospedeiros das diferentes

espécies de Eimeria.

Os resultados da nossa análise filogenética, utilizando os diferentes

marcadores de forma individual (Figura 7 e ANEXO D - Figuras D1 a D12) ou

concatenada (Figuras 8 a 10), mostraram de forma congruente e inequívoca que as

espécies de Eimeria de galinha e coelho são monofiléticas em relação a esses dois

hospedeiros. No grupo das espécies de Eimeria de coelho, existe uma clara divisão

em dois clados, contendo ou não o resíduo de oocisto. Esse resultado está de

acordo com os resultados já descritos na literatura para espécies de Eimeria de

coelho (Kvičerová et al., 2008) e de outros roedores (Zhao e Duszynski, 2001a,b).

Quando o conjunto de marcadores concatenados incluiu os taxa de Eimeria de

roedores, nossos resultados demonstraram a ocorrência de dois clados mais

externos em relação às espécies de Eimeria de galinha e coelho (Figura 11), e

caracterizados pela presença ou ausência do resíduo do oocisto, semelhantemente

ao que havia sido observado por Zhao e Duszynski (2001a,b).

Os resultados do nosso trabalho, contudo, claramente rejeitam a hipótese de

Zhao et al. (2001), de que o resíduo do oocisto seria filogeneticamente mais

relevante do que a especificidade do hospedeiro. Comparada aos dados de Zhao e

Duszynski (2001a, b) e Zhao et al. (2001), nossa análise incorporou todas as

espécies de Eimeria de dois hospedeiros (galinha e coelho), num total de dezoito

espécies, aumentando significativamente a amostragem de taxa. É importante

Page 105: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

104

mencionar ainda que os valores de suporte observados em nossa análise foram

claramente superiores àqueles obtidos pelo uso de marcadores individuais em

Eimeria de roedores (Zhao e Duszynski, 2001a,b) e de coelho (Kvičerová et al.,

2008). Assim, se a presença do resíduo do oocisto fosse um caractere

filogeneticamente mais importante do que a especificidade de hospedeiro, deveria

se encontrar uma parafilia das espécies de Eimeria de coelho. No entanto, o que

claramente observamos é o oposto, isto é, as espécies de Eimeria de coelho e

roedores são parafiléticas em relação à presença do resíduo de oocisto.

Acreditamos que a conclusão de Zhao et al. (2001) foi baseada em um número

relativamente pequeno de espécies de Eimeria, caracterizadas por uma relação de

baixa especificidade natural em relação aos seus hospedeiros.

A menor especificidade de hospedeiros em Eimeria de roedores (Duszynski,

1986; Hnida e Duszynski, 1999b; Kvičerová et al., 2007), poderia explicar porque

esse grupo é monofilético em relação ao resíduo de oocisto (uma característica da

linhagem ancestral de Eimeria), mas parafilético em relação aos seus hospedeiros.

No caso do coelho, até onde se sabe, a especificidade de hospedeiro é alta (Levine

e Ivens, 1972), e isso pode ter contribuído para uma maior divergência e

especialização dos parasitas neste animal. Assim, a especificidade de hospedeiro

passaria a representar um caractere filogenético mais importante do que o resíduo

do oocisto. Isso explicaria porque as espécies de coelho que contém resíduo não

formaram um clado com as espécies de Eimeria de roedores com resíduo.

Finalmente, é importante mencionar que embora a literatura considere o

resíduo do oocisto como um caractere binário (ausente/presente), o fato é que do

ponto de vista evolutivo talvez devessem ser considerados múltiplos estados. Assim,

quando presente, o caractere poderia ser classificado em pelo menos três

categorias: compacto/disperso, regular/ irregular e envolto/não envolto (por

membrana). Outro aspecto é que embora não tenhamos encontrado descrições de

resíduos de oocistos globulares compactos em espécies de Eimeria de aves, é

provável que isto talvez tenha ocorrido devido ao baixo número de descrições na

literatura. Possivelmente a característica de ter ou não resíduo de oocisto é muito

antiga neste gênero de protozoário, sendo encontrada em espécies de Eimeria de

organismos hospedeiros pertencentes a uma grande diversidade de animais. Seria

muito interessante, no futuro, obtermos dados moleculares de espécies de Eimeria

que representassem os diferentes grupos de morfologia de resíduo de oocisto, bem

Page 106: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Discussão

105

como dados biológicos relativos à especificidade de hospedeiro dessas espécies.

Esses dados, aliados aos já disponíveis, poderiam nos fornecer um panorama mais

completo quanto à relevância dos caracteres de especificidade de hospedeiro e

presença/morfologia do resíduo do oocisto nas relações evolutivas de parasitas do

gênero Eimeria.

5.2.3 Eimeria spp. e as invasões dos hospedeiros

Power et al. (2009), baseados em uma análise filogenética de um conjunto de

espécies de Eimeria derivado de uma ampla gama de hospedeiros, especularam

que as espécies de Eimeria de galinha poderiam ter sido originadas de um ancestral

que infectava mamíferos placentários. Essa hipótese se baseava no fato de as

espécies de Eimeria de galinha formarem um clado interno em um grande grupo que

abrange espécies de Eimeria de mamíferos placentários. Nossos resultados (Figura

12), usando o mesmo marcador (SSU de rRNA nuclear), mostram de fato a mesma

topologia. Para essa hipótese ser verdadeira, contudo, seriam necessárias algumas

condições: (1) ocorrência de múltiplos eventos de invasão dos parasitas nos seus

hospedeiros ao longo da evolução; (2) convivência temporal e geográfica de

hospedeiros mamíferos e aves em um mesmo habitat; (3) ocorrência de eventos de

transmissão cruzada e mudança de hospedeiros pelos parasitas; e (4) ausência de

co-evolução entre os hospedeiros e parasitas, exceto quando a especificidade de

hospedeiro já estivesse plenamente consolidada.

Visando testar a primeira premissa, de que possam ter ocorrido múltiplos

eventos de invasão, empregamos uma análise Bayesiana para determinar as

possíveis datas de invasão dos hospedeiros roedores, coelhos e galinhas e da

radiação destas espécies de Eimeria. Para que a análise demográfica tivesse maior

consistência, e refletisse preferencialmente a evolução das espécies, e não a dos

seus genes individuais, utilizamos o conjunto dos quatro genes concatenados (ver

item 4.2.7). Para as datações, assumimos uma taxa fixa de substituição por sítio de

4,43 x 10-9 por ano (ver item 3.13.6). Nossos resultados (Figuras 14 e 15; Tabela 8)

mostram que os ancestrais dos roedores teriam sido invadidos em torno de 14

milhões atrás, os ancestrais da galinha ao redor de 12 milhões, e o ancestral do

Page 107: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

106

coelho há cerca de 7 milhões de anos atrás. Também podemos inferir que o

ancestral de Eimeria e T. gondii teria divergido em torno de 61 milhões de anos

atrás. Essas datas de invasões foram congruentes quando comparados os

resultados dos dois modelos demográficos utilizados (bd e Yule), conforme pode ser

visto na Tabela 8.

Power et al. (2009) defenderam a hipótese de co-evolução para parasitas do

gênero Eimeria e seus hospedeiros. A co-evolução é uma hipótese bem

estabelecida em vários modelos hospedeiro/parasita. Contudo, a falta de registros

fósseis de parasitas protozoários impede uma definição de uma escala de tempo

que permita comparar a divergência de linhagens de hospedeiros e seus parasitas.

O uso de dados moleculares tem, contudo, permitido testar essa hipótese com

razoável grau de confiabilidade. Jongwutiwes et al. (2005) examinaram 106

genomas mitocondriais de P. vivax para estudar sua expansão. Para a calibração do

relógio molecular foram utilizadas duas datas, de 5 e 7 MAA para a divergência de

homem e chimpanzé. Os autores estimaram o ancestral comum mais recente de P.

vivax e P. falciparum em torno de 200.000 a 300.000 anos atrás. As datas obtidas

corroboram que estas duas espécies de Plasmodium foram parasitas de linhagens

hominídeas antes do surgimento do homem moderno (Homo sapiens) e, neste caso,

as populações de parasitas e hospedeiros teriam se expandido conjuntamente.

Hayakawa et al. (2008), utilizando sequências das três proteínas codificadas pelo

genoma mitocondrial de 21 espécies de Plasmodium, observaram a existência de

dois grupos de espécies com taxas de substituição de aminoácidos e estimaram a

radiação desses grupos em 16-24 e 26-38 milhões de anos atrás (MAA). Essas

datas são muito mais recentes do que a divergência das linhagens de seus

hospedeiros, avaliadas em 75 MAA para a divergência entre primatas e roedores e

310 MAA para mamíferos/aves. Esses autores concluíram que essa grande

discrepância de datas de divergência entre parasitas e hospedeiros exclui a

possibilidade de co-divergência com os hospedeiros. Assim, a divergência dos

parasitas teria se iniciado por meio de eventos de mudança de hospedeiro (host

switching). Outros autores (Hughes e Verra, 2001; Mu et al., 2005; Rich et al., 1998;

Ricklefs e Outlaw, 2010) também calcularam a divergência do gênero Plasmodium e

resultados bastante semelhantes foram encontrados.

Em nossa análise, utilizamos uma taxa baseada na média das taxas de

substituição calculadas por diferentes métodos para Plasmodium. Contudo,

Page 108: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Discussão

107

sabemos que os parasitas do gênero Plasmodium têm algumas particularidades,

como, por exemplo, a variação antigênica, e não são filogeneticamente tão próximos

de Eimeria quanto T. gondii. Su et al. (2003) determinaram uma taxa de evolução

para T. gondii. Para isso, os autores primeiramente utilizaram uma taxa de 0,85 x

10-10, estimada para a evolução do gene da SSU de rRNA nuclear (Escalante e

Ayala, 1995), determinando assim a data de divergência entre os gêneros

Toxoplasma e Neospora em 12,7 MAA. Essa data foi usada como ponto de

calibração do relógio molecular e, com base num conjunto de dados composto de

ITS1 e introns de genes, os autores estimaram a taxa média de evolução de T.

gondii em 2,12 x 10-8 substituições/sítio/ano.

A simples aplicação dessa taxa em Eimeria não seria em nossa opinião

adequada. Primeiramente, T. gondii apresenta uma estrutura populacional muito

particular e diferente de Eimeria, composta por três linhagens extremamente

homogêneas, denominadas I, II e III, e algumas linhagens mais discrepantes,

conhecidas como “exóticas”. As três linhagens apresentam um alto grau de

homogeneidade genética, que se acredita ter sido originada por uma adaptação à

infectividade oral direta (Su et al., 2003), caracterizada por uma varredura seletiva

(selective sweep) sob forte pressão seletiva positiva, o que permitiu a fixação

simultânea de um conjunto de genes pelo efeito de hitchhiking e a propagação de

linhagens praticamente clonais. Esse trato genético permite que animais carnívoros

e onívoros se infectem com cistos teciduais de T. gondii com muito maior frequência

do que pela contaminação com oocistos liberados pelos hospedeiros definitivos

felinos. Com isso, o parasita pode se perpetuar e propagar na população de

hospedeiros usando majoritariamente a reprodução assexuada. Eimeria, por outro

lado, apresenta um ciclo direto monoxênico em que a etapa de reprodução sexuada

é obrigatória.

Outro aspecto do trabalho de Su et al. (2003) é que os autores utilizaram a

taxa de Escalante e Ayala (1995) para calcular a data de divergência entre os

gêneros Neospora e Toxoplasma, data essa que foi usada para calibrar o relógio.

Essa taxa, embora tenha sido originalmente usada para datações no gênero

Plasmodium, é muito lenta (no mínimo uma ordem de grandeza) do que as

estimativas determinadas por trabalhos posteriores para o gênero Plasmodium (Rich

et al., 1998; Hughes e Verra, 2001; Mu et al., 2005; Hayakawa et al., 2008; Ricklefs

e Outlaw, 2010). Como a divergência entre Neospora e Toxoplasma é um evento

Page 109: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

108

relativamente recente (12,7 MAA), e a radiação das linhagens é muito mais recente

ainda (cerca de 1000 a 10000 anos atrás), o erro incorrido por esses autores por

utilizar a taxa de Escalante e Ayala (1995) não foi provavelmente muito grande.

Em nosso caso, não há pontos muito óbvios de calibração do relógio

molecular. No caso de Eimeria não há um taxon irmão com dados moleculares

disponíveis, que permita estabelecer uma data de divergência como foi o caso de

Toxoplasma e Neospora. Além disso, tampouco é possível estabelecer datas de

divergência entre hospedeiros como um marco temporal, como foi feito entre

humanos e chimpanzés para P. falciparum e P. reichenowi (Hughes e Verra, 2001).

Em função desse fato, decidimos utilizar a taxa média derivada dos estudos em

Plasmodium. Como discutiremos adiante, mesmo que consideremos que a taxa de

evolução em Eimeria possa ser várias vezes maior ou menor, as conclusões do

nosso trabalho não seriam alteradas.

Dados fósseis indicam que a divergência entre o ancestral das aves

(dinapsídio) e mamíferos (sinapsídio), ocorreu entre 312 a 330 milhões de anos

atrás (± 1,1 milhões de anos) (Donoghue e Benton, 2007; Benton e Donoghue, 2007;

Bromham et al., 1999; Kumar e Hedges, 1998; Nei et al., 2001). Ainda, as radiações

de roedores e Lagomorpha teriam ocorrido há 65 e 90 MAA, respectivamente

(Benton e Donoghue, 2007; Kumar e Hedges, 1998). Nossa análise demográfica

(ver item 4.2.7) estimou que parasitas do gênero Eimeria teriam invadido roedores,

galinha e coelho há 14, 12 e 7 MAA, respectivamente. Esses resultados indicam,

portanto, que a invasão e divergência das espécies de Eimeria foram posteriores à

divergência dos seus hospedeiros. Além disso, o fato de a galinha ter sido invadida

após os roedores, mas anteriormente ao coelho, sugere a possibilidade de que

possa ter havido uma mudança de hospedeiro de um mamífero para uma ave.

Finalmente, a árvore filogenética das espécies de Eimeria (Figura 12), demonstra

que as espécies de Eimeria de galinha, coelho e ruminantes compartilham um

ancestral comum. Assim, a galinha teria sido invadida por um ancestral que já

infectava mamíferos, conforme já havia sido sugerido por Power et al. (2009).

Assim, a despeito da invasão dos roedores pelos parasitas ser bem mais

antiga (14 milhões de anos) do que a do coelho (7 milhões de anos atrás), de acordo

com nossos resultados (ver item 4.2.7; Figura 15, Tabela 8), a especificidade de

hospedeiro parece não ter se restringido em roedores tanto quanto em Lagomorpha.

A baixa especificidade de hospedeiro em Eimeria de roedores pode ter persistido

Page 110: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Discussão

109

devido à co-habitação de um mesmo habitat por múltiplos hospedeiros por um longo

período de tempo. Por outro lado, em Lagomopha, os hábitos dos diferentes

hospedeiros são bastante diferentes, com o coelho sendo uma espécie gregária,

enquanto as lebres são animais tipicamente solitários. Isso pode ter contribuído para

a definição de habitats distintos para os hospedeiros, e uma maior especialização

dos parasitas.

Em nossa análise (item 3.13.6), utilizamos o modelo de relógio molecular

estrito, com uma taxa de substituição fixa por sítio e, portanto, assumimos que a

mesma taxa de evolução tenha se aplicado a todos os taxa. De fato, há espécies

como E. maxima, entre outras, que demonstraram ramos muito mais longos do que

as demais espécies (Figuras 11 e 16; item 5.2.5). Contudo, quando testamos

modelos de relógio relaxado, entretanto, os resultados não convergiram. A taxa de

evolução que utilizamos foi obtida a partir de uma média de determinações feitas em

Plasmodium. Como não sabemos o quanto esta taxa utilizada difere da taxa real de

evolução do gênero Eimeria, resolvemos refazer a análise demográfica utilizando

taxas cinco vezes mais rápidas (2,21 x 10-8 substituições/sítio/ano) ou mais lentas

(8,86 x 10-10 substituições/sítio/ano). As datas estimadas para as invasões de

roedores, galinha e coelho passaram a ser 1,4, 2,8, 2,4 MAA, respectivamente,

assumindo a taxa mais rápida. Para a taxa mais lenta, os valores foram,

respectivamente, 70, 60 e 35 MAA. Considerando-se que a divergência entre

mamíferos e aves data de 312-330 MAA, nossos dados sugerem fortemente que a

divergência das espécies de Eimeria é muito posterior à de seus hospedeiros.

Finalmente, se analisarmos a árvore filogenética dos hospedeiros (como por

exemplo, no projeto Tree of Life (http://tolweb.org/tree/) e a árvore das espécies de

Eimeria, não é possível reconciliá-las, o que fortemente rejeita a hipótese de co-

evolução.

Assim, nossos dados, juntamente com os reportados na literatura, permitem-

nos concluir que a hipótese de co-evolução entre parasitas do gênero Eimeria e

seus hospedeiros não é suportada devido principalmente às seguintes evidências:

(1) há relatos experimentalmente comprovados de mudança de hospedeiros em

espécies de Eimeria de roedores; (2) as datações da invasão de roedores, galinha e

coelho apontam para uma divergência das espécies de Eimeria muito mais recente

do que a dos respectivos hospedeiros; e (3) a árvore dos parasitas não pode ser

reconciliada com a árvore dos respectivos hospedeiros.

Page 111: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

110

Entretanto, uma vez que uma especialização muito grande do parasita em

relação a um hospedeiro tenha sido estabelecida, resultando numa alta

especificidade de hospedeiro, a co-evolução passa a ser mais provável. Contudo,

ainda nos dias de hoje, esse fenômeno deve ser restrito a algumas espécies de

Eimeria, como, por exemplo, as de galinha, que apresentam altíssima especificidade

de hospedeiro. Já no caso das espécies de Eimeria de roedores, que sabidamente

ainda estão mudando de hospedeiros, a co-evolução não pode ser considerada.

5.2.4 Aspectos ecológicos da relação parasita-hospedeiro no gênero Eimeria

Um dos aspectos chave para uma melhor compreensão da evolução de

parasitas é o conhecimento de suas relações com o ambiente e seus hospedeiros. A

co-existência de populações de diferentes espécies de hospedeiros em um dado

habitat, denominada sintopia (ou simpatria, quando relacionada a uma escala

geográfica maior), representa uma das condições necessárias para que um parasita

possa invadir um novo hospedeiro. O grau de especificidade de hospedeiro, quando

muito alto, pode implicar num processo de co-evolução entre parasita e hospedeiro.

Quando a especificidade é relativamente baixa, há a possibilidade de ocorrência de

eventos de mudança de hospedeiro pelo parasita. Em malária, estudos relacionados

a esses aspectos estão mais avançados, e já existem fortes evidências científicas de

que houve eventos de mudança de hospedeiro em várias espécies de Plasmodium.

Mu et al. (2005) demonstraram através de estudos de frequência de haplótipos de

genoma mitocondrial, padrões de migração dos parasitas, história demográfica e

mapeamento de co-filogenia, que a infecção humana por P. vivax teria se originado

de macacos rhesus asiáticos através de um evento de mudança de hospedeiro .

Escalante et al. (2005), utilizando três genes nucleares e um de apicoplasto, também

concluíram que P. vivax teria se tornado um parasita humano quando o homem

iniciou suas migrações pela Ásia e houve uma mudança de hospedeiro a partir de

macacos. Singh et al. (2004) encontraram infecções naturais de um parasita de

Macaca spp. (P. knowlesi) em humanos na Malásia e Bornéo, abrindo a

possibilidade de que eventos de mudança de hospedeiro possam ter ocorrido entre

macacos rhesus e humanos.

Page 112: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Discussão

111

Os parasitas do gênero Eimeria que infectam aves têm sido classicamente

considerados altamente específicos em relação a seus hospedeiros (Fernando,

1990; Joyner, 1982; Maquardt, 1973). Essa característica vem sendo utilizada,

juntamente com dados morfológicos e biológicos, para se classificar as espécies do

parasita. Vários artigos na literatura descrevem testes de infecção cruzada in vitro e

in vivo. Ensaios de infecção cruzada in vitro, utilizando esporozoítos de E. tenella em

cultura primária de células de rim de várias espécies de aves, demonstraram a

presença de vários estágios endógenos em células de galinha, faisão, perdiz e peru,

mas o ciclo completo, com formação de oocisto, foi observado apenas em galinha e

faisão (Doran, 1971). Posteriormente, Doran e Augustine (1973) descreveram o

desenvolvimento endógeno completo de E. tenella em células de peru, faisão,

perdiz, codorna e galinha d’Angola. Esses resultados sugeriam que pelo fato de os

parasitas poderem se desenvolver in vitro, talvez fosse possível a ocorrência de

transmissão cruzada e desenvolvimento do ciclo in vivo. Várias tentativas foram

relatadas na literatura para tentar comprovar essa hipótese, sendo que na maioria

das vezes não se conseguiu evidenciá-la. Vetterling (1976) utilizou E. tenella para a

infecção de faisão, peru, galinha d'Angola, codorna e perdiz, não tendo observado

patência em nenhuma dessas espécies. Por outro lado, todas as linhagens de

galinha testadas apresentaram desenvolvimento completo do ciclo, ainda que com

diferentes níveis de susceptibilidade. Embora o desenvolvimento completo de E.

tenella não tenha sido evidenciado em outros hospedeiros, foi demonstrado que

formas esporozoítas são capazes de invadir a mucosa intestinal dos diferentes

hospedeiros (Doran, 1978; Long e Millard, 1979a).

Experimentos de infecção cruzada utilizando espécies de Eimeria de peru

também foram feitas. Steward (1947) demonstrou que E. meleagridis é capaz de

infectar galinha, mas não outas aves como codornas, faisões, perdiz e galinha

d'Angola. Alguns relatos também mostraram que Eimeria dispersa é capaz de

infectar galinha, codorna, faisão e perdiz (Tyzzer, 1929; Doran, 1978). Chapman

(2008), em uma recente revisão sobre Eimeria de peru, compilou as diferentes

tentativas de transmissão cruzada e nenhum outro trabalho adicional foi relatado.

Alguns testes de imunidade cruzada utilizando E. adenoeides em galinhas

demonstraram que ocorre o desenvolvimento de imunidade parcial contra E. tenella

(Augustine e Danforth, 1990). Em outro relato (Augustine et al., 1991), foi observado

que a infecção de galinha com E. adenoeides e E. meleagrimitis conferiu proteção

Page 113: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

112

parcial contra E. tenella e E. acervulina, mas não contra E. necatrix. Por outro lado, a

infecção de perus por E. tenella e E. acervulina não conferiu imunidade contra E.

adenoeides (Augustine e Danforth, 1995). Em nenhum dos relatos acima, contudo,

foi observada patência, o que indica que a imunidade cruzada deve ter sido gerada a

partir de formas intracelulares presentes no início do ciclo. Esse resultado sugere

que as espécies de Eimeria heterólogas conseguem eventualmente invadir as

células intestinais, mas em alguma etapa subsequente o ciclo é interrompido,

conforme se observa na maioria das tentativas em cultura de células.

As infecções cruzadas de espécies de Eimeria de aves em hospedeiros não

nativos, se ocorrem, são eventos muito raros. Os poucos resultados supostamente

positivos (Tyzzer, 1929; Steward, 1947; Doran, 1978) são muito antigos, e é possível

que os isolados utilizados para as infecções cruzadas não fossem totalmente puros,

e que eventuais contaminações não tivessem sido detectadas. Outro aspecto a ser

considerado, é que todas as tentativas de transmissão cruzada foram feitas em

gêneros diferentes de hospedeiros, mas não em diferentes espécies de um mesmo

gênero. É possível que a barreira de especificidade seja restrita ao gênero, mas não

a espécies, como será discutido abaixo para espécies de Eimeria de roedores.

Finalmente, é importante mencionar que transmissões cruzadas não são observadas

na natureza em galinhas, mesmo em locais aonde há criações mistas com várias

espécies de aves. É possível ainda que na natureza, além de um mecanismo de

especificidade intrínseco do hospedeiro, ocorra também uma exclusão de nicho, por

competição com as espécies nativas de Eimeria.

Um dos aspectos interessantes observados na reconstrução filogenética com

a máxima amostragem de taxa (Figura 12), usando o marcador SSU rRNA, é a

posição das espécies de Eimeria de peru e de faisão. Aparentemente, as espécies

de Eimeria de galinha, peru e faisão são parafiléticas em relação aos seus

hospedeiros. Assim, E. tenella e E. necatrix (originadas de galinha) são

filogeneticamente mais próximas de E. adenoeides (de peru) e um outro isolado de

peru, de espécie não identificada (Miska et al., 2010), do que das demais cinco

espécies de Eimeria de galinha. Semelhantemente, essas outras espécies de

Eimeria de galinha estão mais próximas de uma Eimeria de faisão do que do clado

que contém E. necatrix e E. tenella. Esse resultado está de acordo com os dados

reportados por Morrison et al. (2004), que estudaram relações filogenéticas de

organismos da classe Coccidia com a SSU rRNA, e também obtiveram o mesmo

Page 114: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Discussão

113

posicionamento para E. adenoeides. Miska et al. (2010), utilizando como

marcadores a SSU rRNA e o gene cox-1 (citocromo c1), também observaram que E.

tenella e E. necatrix formam um clado com isolados de Eimeria de peru e faisão. E.

meleagrimitis (uma outra espécie de Eimeria de peru), e um isolado de Eimeria de

pica-pau, posicionam-se externamente aos clados das demais espécies de Eimeria

de galinha, peru e faisão (Figura 12). Analisando-se os dados, está claro que

existem aparentemente dois clados principais de Eimeria nessas espécies de

hospedeiros. Esses dois clados apresentam uma correlação com o sítio intestinal de

colonização, sendo um grupo com maior número de espécies que infectam

diferentes porções do intestino delgado e, o segundo grupo, composto de E. tenella,

E. necatrix, E. adenoeides e uma espécie de Eimeria de peru não identificada (Miska

et al., 2010), as quais colonizam preferencialmente os cecos em pelo menos um

estágio de desenvolvimento.

Acredita-se que as atuais linhagens de galinha doméstica tenham se

originadas da galinha vermelha da selva (red jungle fowl), do Sudeste Asiático.

Como não se sabe se as atuais espécies de Eimeria de galinha infectavam esse

animal antes da domesticação, foram feitos alguns estudos usando a galinha da

selva do Ceilão (Gallus lafayettei) e a galinha da selva da Malásia (Gallus gallus

spadiceus). Várias espécies de Eimeria foram identificadas nesses hospedeiros,

sendo algumas delas capazes de infectar a galinha doméstica, mas nenhuma delas

produzindo oocistos nos cecos (revisado em Barta et al., 1997). Por outro lado,

perus apresentam várias espécies de Eimeria capazes de colonizar os cecos, entre

elas E. adenoeides, a qual forma um clado com E. tenella e E. necatrix (Morrison et

al., 2004; Figura 12 deste trabalho), duas espécies de Eimeria de galinha doméstica.

Com base nesses dados, Barta et al. (1997) especularam que as atuais espécies

cecais de Eimeria de galinha, E. tenella e E. necatrix, poderiam ter se originado de

uma mudança de hospedeiro pelos parasitas, do peru para a galinha, uma vez que a

domesticação pelo homem teria criado oportunidades de co-habitação desses dois

animais. Contudo, se considerarmos que o peru é um animal originário da América

do Norte, a possível convivência com galinhas somente poderia ter ocorrido a partir

da descoberta da América, há pouco mais de 500 anos. Esse período de tempo

seria curto demais para ocorrer uma divergência tão grande quanto a que se

observa entre as espécies de Eimeria de galinha e peru, mesmo entre aquelas que

colonizam os cecos desses hospedeiros. Parece muito mais provável que os

Page 115: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

114

trabalhos originais com galinhas da selva não encontraram espécies de Eimeria de

ceco devido à baixa amostragem. Por exemplo, um dos trabalhos da época

(Fernando e Remmler, 1973) utilizou apenas quatro exemplares de galinha da selva

do Ceilão para o levantamento de espécies de Eimeria. O que parece mais provável

é que as atuais espécies de Eimeria de galinha e peru (e talvez de outras aves)

tenham se originado a partir de duas linhagens ancestrais, cujos sítios preferenciais

de colonização já se haviam se diferenciado em intestino delgado e cecos.

Os nosso resultados e os de Morrison et al. (2004) devem, entretanto, ser

tomados com precaução, uma vez que foram obtidos para um único marcador (SSU

de rRNA nuclear), o qual apresenta baixo sinal filogenético para a família Eimeriidae

(Morrison et al., 2004). Recentemente, Miska et al. (2010) observaram resultados

similares usando de forma individual os genes da SSU de rRNA e o cox-1

mitocondrial, o que parece confirmar a proximidade filogenética entre as espécies

cecais de Eimeria de galinha e peru. De qualquer forma, a amostragem de taxa

ainda é baixa para as espécies de Eimeria de aves, com exceção daquelas de

galinha. De fato, no caso do peru, admite-se a existência de pelo menos cinco

espécies distintas de Eimeria e duas outras cuja validade ainda requer confirmação

(Chapman, 2008). No caso do faisão, a identificação do número de espécies ainda

não é clara, dado o baixo número de trabalhos com este hospedeiro. Se

considerarmos que o faisão e o pica-pau tenham pelo menos quatro espécies cada

um, então a amostragem de taxa empregada é de fato muito pequena. Se todas as

espécies de Eimeria de cada um desses hospedeiros fossem empregadas,

certamente teríamos maior segurança em relação à parafilia observada.

Em relação aos Lagomorpha, o coelho (Oryctolagus cuniculus) pode ser

infectado por onze espécies diferentes de Eimeria (Pakandl, 2009). Da mesma

forma, outros gêneros de hospedeiros Lagomorpha também são infectados por

parasitas do gênero Eimeria. Aoutil et al. (2005) fizeram um levantamento de

espécies de Eimeria em lebres europeias (Lepus europaeus e L. granatensis) e

descreveram um total de 21 espécies ou subespécies, sendo algumas delas

encontradas nas duas espécies de hospedeiros. Levine e Ivens (1972) mostraram

que o coelho não pode ser infectado experimentalmente com espécies de Eimeria

de Lepus, mas em alguns casos raros pode sofrer infecção por Eimeria de

Sylvilagus. Apesar disso, considera-se que a especificidade de hospedeiro em

Lagomorpha seja alta.

Page 116: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Discussão

115

Diferentemente do observado em espécies de Eimeria de galinha e

Lagomorpha, em roedores há numerosos trabalhos que relatam a possibilidade de

transmissão cruzada entre hospedeiros de diferentes gêneros e até mesmo de

famílias distintas. Mayberry et al. (1982) observaram que Eimeria separata

(hospedeiro Rattus norvegicus) foi capaz de completar o ciclo em três de um total de

sete linhagens distintas de camundongo, sugerindo que existem componentes

genéticos associados à susceptibilidade do hospedeiro à infecção. Esse fato

também já foi observado na relação das espécies de Eimeria com o hospedeiro

galinha (revisado por Long, 1973). Assim, qualquer conclusão acerca da

incapacidade de uma espécie de hospedeiro de albergar o ciclo completo de uma

Eimeria não deveria ser baseada em infecções experimentais de apenas uma

linhagem desse hospedeiro. Levine e Ivens (1988) estudaram diversas combinações

de infecções cruzadas entre: roedores/roedores, roedores/Lagomorpha,

roedor/carnívoro e roedor/ave, num total de 169 infecções. Entre as espécies de

roedores, observou-se que 80% das infecções entre espécies de um mesmo gênero

tiveram sucesso, mas apenas 12,5% das infecções entre espécies de gêneros

distintos foram bem sucedidas. Não foram observadas, contudo, infecções cruzadas

de Eimeria de roedores para carnívoros, aves e Lagomorpha. Em roedores

silvestres, vários estudos têm demonstrado que enquanto algumas espécies de

Eimeria são hospedeiro-especificas, outras podem infectar hospedeiros de outras

espécies e mesmo de gêneros diferentes. E. langerbarteli, por exemplo, pode

infectar hospedeiros como Peromyscus leucopus e P. truei, mas não P. maniculatus

(Hnida e Duszynski, 1999b). E. arizonensis, por outro lado, é capaz de infectar

espécies de roedores dos gêneros Peromyscus e Reithrodontomys (Hnida e

Duszynski, 1999b; Upton et al., 1992). Eimeria cahirinensis também é capaz de

infectar uma ampla gama de espécies de roedores, porém restritas ao gênero

Acomys (Kvičerová et al., 2007). Segundo a hipótese de Duszynski (1986), estes

hospedeiros sintópicos podem ter compartilhado habitats por longos períodos de

tempo, permitindo o surgimento de condições para a transmissão cruzada de

parasitas de uma espécie de hospedeiro para outra.

Zhao et al. (2001) observaram em seus estudos filogenéticos utilizando a SSU

rRNA nuclear e LSU de rRNA de apicoplasto, que espécies de Eimeria de morcego

(E. antrozoi e E. rioarribaenses) formam um clado com E. arizonensis, E. albigulae e

E. onychomysis, espécies de Eimeria de roedores morfologicamente similares.

Page 117: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

116

Esses resultados foram interpretados pelos autores como uma evidência que a

similaridade morfológica dos oocistos poderia refletir melhor as relações

filogenéticas dos hospedeiros/parasitas do que a especificidade de hospedeiro.

Morrison et al. (2004), utilizando as sequências da SSU de rRNA nuclear e uma

grande amostragem de taxa (39 espécies de Eimeria), não conseguiram reproduzir

este resultado. Em nosso trabalho, também utilizando maior número de taxa (60

espécies de Eimeria) e o mesmo marcador, também não conseguimos definir um

clado das espécies derivadas de morcegos. A árvore obtida (Figura 12) mostra que

E. antrozoi (com resíduo de oocisto) e E. rioarribaensis (sem resíduo) estão no

mesmo clado das espécies de Eimeria de roedores que possuem resíduo de oocisto.

Contudo, os valores de suporte dos nós são bastante baixos, similarmente ao que foi

observado por Morrison et al. (2004). Assim, utilizando esse marcador, qualquer

conclusão filogenética deve ser tomada com grande precaução. As outras duas

espécies de Eimeria de quirópteros (E. pilarenses e E. catronenses) analisadas, que

não têm resíduo, formaram um clado externo ao das espécies de Eimeria de

roedores, com valor de bootstrap de 62% (Figura 12). Assim, acreditamos que uma

maior amostragem de taxa e um maior número de genes seriam necessários para se

elaborar hipóteses filogenéticas mais sólidas acerca desse grupo de espécies.

A baixa especificidade de hospedeiro e a possibilidade de ocorrência de

eventos de transmissão cruzada poderiam explicar o agrupamento de espécies de

Eimeria de hospedeiros distintos em um mesmo clado. Zhao et al. (2001) que E.

antrozoi e E. rioarribaensis poderiam ter sido originadas a partir de espécies de

Eimeria de roedores, como resultado de transferência lateral entre estes dois

hospedeiros. Algumas observações que correlacionaram os hábitos dos hospedeiros

destas espécies apontaram que E. antrozoi poderia ter divergido de E. arizonensis

(Scott e Duszynski, 1997). O morcego A. pallidus, hospedeiro da E. antrozoi, se

alimenta de artrópodes terrestres como escorpiões, besouros e centopeias, o que

facilitaria o contato com fezes de roedores contaminadas com oocistos de Eimeria.

Por outro lado, esta hipótese não se aplica a E. rioarribaenses, cujo morcego

hospedeiro, do gênero Myotis, possui habitats diferentes (árvores, arbustos e fendas

em rochas).

Eventos de transmissão cruzada entre espécies de Eimeria de diferentes

hospedeiros parecem ocorrer ou ser facilitados por múltiplos fatores. Hospedeiros

filogeneticamente próximos, por apresentarem características bioquímicas parecidas

Page 118: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Discussão

117

(presença de receptores de membranas, hormônios, etc.) poderiam ser mais

suscetíveis a infecções cruzadas por Eimeria. Assim, poucas mutações dentro de

uma população do parasita poderiam levar a uma adaptação de alguns indivíduos ao

novo hospedeiro. Contudo, a ocorrência espontânea dessas mutações não é

condição suficiente para a mudança de hospedeiro. A sintopia de hospedeiros, ou

seja, o compartilhamento de um habitat comum ao mesmo tempo, é também uma

das condições chave para permitir a transmissão cruzada de parasitas.

Observando-se a árvore filogenética com maior amostragem de espécies de

Eimeria (Figura 12), parece haver uma correlação entre as relações evolutivas das

diferentes espécies de Eimeria e os hábitos alimentares e habitats de seus

hospedeiros. Assim, o primeiro clado da árvore, representado pelas espécies de

Eimeria de aves Galliformes (galinha, peru e faisão) e Piciformes (pica-pau),

apresenta um clado irmão composto por sua vez por dois subclados,

compreendendo as espécies de Eimeria que infectam hospedeiros da ordem

Lagomorpha e subordem Ruminantia, respectivamente (Figura 12) . As espécies de

parasitas que infectam o coelho formam um clado monofilético, enquanto o clado

dos hospedeiros ruminantes compreende um grupo parafilético de espécies de

Eimeria que infectam ovelhas, contendo ainda uma espécie que infecta bovinos (E.

bovis).

Duas características importantes e comuns aos hospedeiros representados

por aves Galliformes e mamíferos Lagomorpha e Ruminantia, é que esses animais

são terrestres e preferencialmente herbívoros. Embora tecnicamente os Galliformes

sejam considerados animais onívoros, pois podem incorporar em sua alimentação

pequenos insetos e anelídeos, sua fonte primária de alimentação são grãos de

vegetais, daí serem consideradas aves granívoras. O gênero Eimeria compreende

parasitas com ciclo de vida com transmissão oral-fecal. Essa característica implica

que animais terrestres apresentam muito maior oportunidade de contaminação.

Além disso, animais herbívoros e granívoros, devido aos seus hábitos de

alimentação, acabam tendo muito maior contato com o solo e plantas

potencialmente contaminados com oocistos do que animais predadores. Assim, é

possível que a maior proximidade filogenética entre as espécies de Eimeria de

Galliformes, Lagomorpha e Ruminantia esteja relacionada com o compartilhamento

de habitats e hábitos alimentares, sugerindo que eventos de mudança de

hospedeiros possam ter ocorrido ao longo da evolução. Um contraponto a essa

Page 119: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

118

hipótese é a presença de uma espécie de Eimeria de pica-pau no clado das

espécies de hospedeiros Galliformes. O pica-pau alimenta-se majoritariamente de

larvas de insetos e, portanto, não se enquadra nas definições acima. Contudo, é

preciso salientar que a amostragem de taxa nesse caso se limita a essa única

espécie. A coleta e análise de um maior número de amostras de espécies de

Eimeria de aves de outras ordens poderiam elucidar esse ponto, e eventualmente

corroborar nossa hipótese. O grupo imediatamente mais basal aos três clados

referidos acima é o que contem as espécies de Eimeria de suínos, animais com

hábitos alimentares tipicamente onívoros. A esse grupo se seguem dois clados de

espécies de Eimeria de roedores, animais que também apresentam alimentação

onívora. Dentro desse clado ainda fazem parte duas espécies de Eimeria de

morcegos (E. antrozoi e E. rioarribaenses), sendo que, conforme discutido acima, o

hospedeiro de E. antrozoi compartilha o mesmo habitat que alguns roedores

selvagens da América do Norte.

Mais externamente aos clados dos roedores está o clado de outras duas

espécies de Eimeria de quirópteros, E. pilarensis e E. catronensis, cujos hospedeiros

são morcegos insetívoros do gênero Myotis, encontrados no Continente Americano.

Em seguida encontramos um clado formado por E. ranae (Jirků et al., 2009), uma

espécie que infecta rãs, e E. arnyi (Upton e Oppert, 1991), que tem como hospedeiro

uma serpente norte-americana. Em hospedeiros anfíbios, Jirků et al. (2009)

demonstraram que E. ranae é capaz de infectar indistintamente duas espécies de

rãs terrestres, Rana temporaria e Rana dalmatina, mas não Pelophylax kl.

esculentus, um ranídeo semi-aquático, híbrido entre Rana lessonae e Rana

ridibunda, e classificado em outro subgênero. Esse parece ser mais um caso em que

uma espécie de Eimeria pode infectar duas espécies de hospedeiros do mesmo

gênero que vivem sintopicamente, mas não é capaz de infectar outra espécie que

apresenta um habitat diferente.

Seguindo-se em direção à base da árvore filogenética (Figura 12), encontra-

se E. trichosuri (Power et al., 2009) cujo hospedeiro é um gambá da Oceania

(Trichosurus vulpecula). A posição dessa espécie de Eimeria, distante das espécies

de Eimeria de outros mamíferos, e próxima das espécies que infectam aves, répteis

e anfíbios, pode ser explicada pelo fato de os marsupiais serem uma das linhagens

mais antigas de mamíferos, e devido ao isolamento geográfico imposto por sua

localização na Oceania. Power et al. (2009), também utilizando a SSU de rRNA,

Page 120: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Discussão

119

observaram que E. trichosuri divergiu antes do clado formado pelas espécies de

Eimeria de mamíferos placentários e aves. Os autores concluíram que E. trichosuri,

por ter supostamente divergido antes do clado que contém espécies de espécies de

Eimeria de mamíferos placentários, seria uma evidência de co-evolução entre os

hospedeiros e parasitas. O problema dessa conclusão é que as espécies de Eimeria

de aves Galliformes formam um clado interno ao grande clado que inclui as espécies

de mamíferos placentários. Segundo os autores, isso seria uma forte evidência de

que as espécies de Eimeria de galinha teriam se originado de uma espécie ancestral

presente em um mamífero placentário. Em nossa reconstrução filogenética, E. ranae

(isolada de rã) e E. arnyi (isolada de serpente) formam um clado que se interpõe

entre E. trichosuri e o grande clado que engloba as espécies de Eimeria de

mamíferos placentários e aves Galliformes e Piciformes. Tanto nos nossos dados,

quanto nos de Power et al. (2009), os valores de suporte do ramo de E. trichosuri

são relativamente baixos, da ordem de 50-60%. Em nossa opinião, certamente são

necessários estudos mais profundos, abrangendo maior amostragem de espécies de

Eimeria de outros marsupiais, répteis e anfíbios, além de mais marcadores, antes de

formular uma hipótese tão ampla. Finalmente, é importante mencionar que a

hipótese de Power et al. (2009) de que as espécies de Eimeria de galinha teriam se

originado de um ancestral residente em um mamífero placentário é altamente

contraditória com a outra hipótese dos autores, de que teria havido co-evolução

entres os parasitas do gênero Eimeria e seus hospedeiros.

Com posição ainda mais basal na árvore da Figura 12, encontramos as

amostras de Eimeria de garças (E. gruis e E. reichenowi), resultado que está de

acordo com o trabalho original de Matsubayashi et al. (2005). Um aspecto

interessante é que as espécies de Eimeria de garças apresentam características

biológicas bastante distintas das observadas em hospedeiros Galliformes e

Piciformes. A infecção inicia-se no intestino, mas propaga-se para diferentes tecidos

e órgãos, causando uma coccidiose visceral disseminada. Outro aspecto importante,

é que os hospedeiros da ordem Gruiformes são filogeneticamente bastante distantes

daqueles da ordem Galliformes. As aves Gruiformes têm um com comportamento

migratório e uma alimentação extremamente variada. Dessa forma, esses

hospedeiros não compartilham nichos com outros animais por longos períodos, o

que sugere que poderia haver uma menor oportunidade para a ocorrência de

eventos de transmissão cruzada de espécies de Eimeria com outras aves. Assim, E.

Page 121: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

120

gruis e E. reichenowi teriam divergido relativamente cedo das demais espécies de

Eimeria, o que parece explicar a grande distância filogenética em relação às

espécies de Eimeria de outras aves. Finalmente, na posição mais basal da árvore,

está presente uma outra espécie de Eimeria de réptil, cujo hospedeiro é o lagarto da

lava, do gênero Tropidurus do arquipélago de Galápagos (Couch et al., 1996). Neste

caso, o isolamento geográfico é possivelmente responsável pela grande divergência

desta espécie em relação a todas demais.

Um dos aspectos mais interessantes em relação à gama de hospedeiros de

parasitas do gênero Eimeria diz respeito ao número muito pequeno de relatos

comprovados de infecção em mamíferos da ordem Carnivora (Duszynski et al.,

1995). Por outro lado, esse grupo de animais é infectado por coccídias da família

Sarcocystidae como Toxoplasma, Neospora, Hammondia e Cystoisospora. Da

mesma forma, uma parte significativa das aves é infectada apenas por coccídias do

gênero Cystoisospora, mas não por Eimeria, e as razões desse fato ainda são

desconhecidas. Os parasitas do gênero Eimeria são monoxênicos e não formam

cistos teciduais, enquanto as coccídias da família Sarcocystidae utilizam-se de

hospedeiros intermediários, nos quais formam cistos teciduais. Os hospedeiros

intermediários exercem um papel fundamental no ciclo de vida dos Sarcocystidae,

uma vez que permitem a disseminação dos parasitas, e oferecem uma via

alternativa de contaminação dos hospedeiros definitivos através da predação.

Assim, além da contaminação direta oral-fecal com oocistos eliminados por outros

hospedeiros, a predação e consequente ingestão de cistos teciduais é uma eficiente

forma de contaminação dos hospedeiros definitivos. No caso do Toxoplasma gondii,

animais onívoros também podem se infectar com cistos teciduais, através da

predação ou pela ingestão de carcaças de animais mortos. Contudo, como são

incapazes de realizar a fase sexual do ciclo, esses animais também são

considerados hospedeiros intermediários. No caso de Cystoisospora, ao menos para

algumas espécies como C. felis, C. rivolta, and C. ohioensis, já se sabe que o ciclo

de vida envolve facultativamente hospedeiros de transporte ou paratênicos. Nesses

hospedeiros, ocorre a acumulação de cistos monozóicos em tecidos extraintestinais,

sem a ocorrência de reprodução assexuada dos parasitas (Mehlhorn, 2008).

Hospedeiros carnívoros, ao predar animais infectados por Eimeria como aves

Galliformes, coelhos e ruminantes, entre outros, acabam ingerindo esses parasitas,

mas não sofrem infecção. Esse fato sugere que, a despeito da sintopia de

Page 122: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Discussão

121

predadores e presas, não há casos conhecidos em que tenham ocorrido eventos de

mudança de hospedeiro da presa para o predador. As poucas descrições de

espécies de Eimeria em carnívoros não são suficientemente detalhadas e

experimentalmente embasadas para excluir a possibilidade da coccídia encontrada

ser originada a partir de animais predados ao invés do próprio animal carnívoro

(Tenter et al., 2002). Essa situação gera um pergunta: por que os parasitas do

gênero Eimeria não teriam invadido hospedeiros da ordem Carnivora?

A resposta a esta pergunta pode estar em alguns aspectos relativos ao

comportamento e hábitos alimentares desse grupo de animais. Os felinos, com

exceção dos leões, são animais que vivem na maior parte de sua vida de forma

solitária. Esse comportamento implica numa baixa densidade de animais, o que

dificulta a transmissão de uma doença cujo ciclo é direto e a contaminação,

puramente pela via oral-fecal. Outros mamíferos carnívoros como canídeos e

morsas vivem em grupos com comportamento social bem definido e, portanto, a

questão da densidade não se aplicaria a esses animais. Uma questão que parece,

assim, mais importante é que os carnívoros, embora sejam animais terrestres, não

mantém um contato tão direto e íntimo com o solo como animais herbívoros,

granívoros e alguns insetívoros. Aves Galliformes como perus, galinhas e faisões

são granívoras e têm o hábito de ciscar o solo, aumentando a possibilidade de entrar

em contato com oocistos eliminados por outros indivíduos. Animais herbívoros como

lagomorfos e ruminantes alimentam-se predominantemente de folhas verdes, brotos

e ervas, os quais são arrancados diretamente a partir do solo. Essas plantas

rasteiras podem facilmente sofrer contaminação por oocistos eliminados com as

fezes de animais, funcionando dessa forma como via de transmissão de Eimeria.

Roedores e suínos, a despeito de serem animais onívoros, também mantém contato

muito íntimo com o solo, alimentando-se com frequência de vegetais rasteiros e

sementes.

Concluindo, a análise da árvore filogenética da SSU de rRNA nuclear de

Eimeria mostra correlações dos clados observados com os habitats e hábitos

alimentares dos hospedeiros. Embora hajam casos em que essas correlações não

são aparentes, acreditamos que uma amostragem de taxa mais ampla teria que ser

feita para se ter uma figura mais abrangente e consistente. Além disso, ao lado dos

dados moleculares, seria necessário se realizar testes de infecção cruzada entre

hospedeiros. Um dos aspectos que limitam os estudos evolutivos de Eimeria é a

Page 123: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

122

pouca quantidade de trabalhos que descrevam precisamente as informações

geográficas da coleta das amostras, tipo de habitat dos hospedeiros, a morfologia

dos oocistos, e o encontro de estágios intracelulares do parasita. Esse último

aspecto é particularmente importante em animais predadores, pois os oocistos de

suas presas podem atravessar o trato digestório de forma intacta e serem

erroneamente assumidos como parasitas desses predadores. Assim, a

comprovação da relação parasita-hospedeiro somente pode ser assumida pelo

encontro de formas intracelulares e/ou por infecções experimentais. Infecções

experimentais também são fundamentais para se determinar a especificidade de

hospedeiros de cada espécie de Eimeria. Esses aspectos e vários outros problemas

relacionados à taxonomia de parasitas coccídias foram relatados e discutidos por

Tenter et al. (2002).

5.2.5 Alta taxa de evolução e diversidade antigênica em E. maxima

Nossa análise cladística, utilizando a proteína ORF470, revelou que E.

maxima apresenta os ramos mais longos entre todas as espécies analisadas (Figura

16). Um total de 14 autapomorfias foram evidenciadas, sugerindo uma pressão de

seleção que provocou uma aceleração da taxa evolutiva. Embora esse resultado

esteja baseado na análise de apenas uma única proteína, a ocorrência de ramos

longos em E. maxima também foi observada em todas as outras análises

filogenéticas (ver Figuras 8-11 e ANEXO D). Esse resultado também já havia sido

observado por Barta et al. (1997) e Power et al. (2009), usando a SSU de rRNA

nuclear. A razão pela qual E. maxima apresenta um comportamento tão distinto em

relação às demais espécies de Eimeria de galinha não é conhecido, mas é possível

que esta espécie ainda esteja sob um processo evolutivo de adaptação de nicho.

Do ponto de vista biológico, sabe-se que E. maxima também apresenta um

comportamento diferente em relação às demais espécies de Eimeria de galinha. E.

maxima é a espécie mais imunogênica, tendo sido observado que uma infecção com

apenas 25 oocistos pode conferir imunidade total (Long e Millard, 1979b). Além

disso, E. maxima apresenta uma grande diversidade antigênica e imunológica.

Vários relatos da literatura (Fitz-Coy, 1992; Long e Millard, 1979b; Martin et al.,

Page 124: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Discussão

123

1997; McDonald et al., 1986; Norton e Hein, 1976; Shirley e Bellatti, 1988)

descrevem a ocorrência de uma diversidade imunológica entre diferentes cepas de

E. maxima, o que tem como consequência um nível muito mais reduzido de proteção

cruzada do que o observado entre cepas das outras espécies de Eimeria de galinha.

De fato, a imunização de aves com cepas de E. maxima e posterior desafio com

outras cepas revela diferentes níveis de imunidade cruzada (Long e Millard, 1979b;

Martin et al., 1997; Smith et al., 2002). Outro aspecto interessante é que a linhagem

de galinha utilizada nos experimentos influencia a resposta imune para as infecções

com E. maxima. Smith et al. (2002) demonstraram que a imunidade cruzada pode

eventualmente ser unidirecional, isto é, o grau de proteção cruzada entre duas

cepas pode ser muito diferente dependendo de qual delas tenha sido usada na

infecção imunizante ou no desafio subsequente. A existência de variabilidade na

resposta imunológica já foi descrita em outros parasitas do filo Apicomplexa, como

Plasmodium falciparum (Bonelo et al., 2000) e Theileria parva (Morrison, 2007),

onde cepas diferentes da mesma espécie não conferem imunidade cruzada.

Contudo, os mecanismos envolvidos em Plasmodium, como variabilidade antigênica,

não foram encontrados em E. maxima. Possivelmente, E. maxima deve ter possuir

um conjunto de antígenos compartilhados entre as cepas, os quais são capazes de

induzir uma resposta imune que confere proteção cruzada entre várias cepas. Outro

grupo de antígenos mais restritos poderiam conferir uma proteção mais efetiva,

porém cepa-específica (Blake et al., 2005). Em nosso laboratório, desenvolvemos

conjuntos de marcadores microssatélites para E. maxima, E. acervulina e E. tenella.

O polimorfismo alélico observado nas três espécies foi bastante baixo (média de 2,4

a 3,1 alelos por locus), mas E. maxima apresentou um grau de heterozigosidase

(0,44) nitidamente maior do que E. acervulina (0,37) e E. tenella (0,32) (dados não

publicados). Esse resultado sugere que E. maxima possa ter uma taxa de

recombinação maior durante a meiose e, com isso, aumenta o grau de

heterozigosidase da população. Se esse fato for extrapolado para os antígenos

imunoprotetores do parasita, poderia explicar, ao menos em parte, a maior

diversidade antigênica que se observa em E. maxima, quando comparada à de

outras espécies de Eimeria de galinha. Contudo, resta ainda compreender melhor o

os possíveis mecanismos responsáveis pela maior taxa de evolução de E. maxima,

e que contribuem para a maior diversidade antigênica observada nessa espécie.

Page 125: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

124

Duas espécies de Eimeria de roedores (E. langhebarteli e E. albigulae)

também apresentam um maior número de substituições em relação às demais

espécies (Figura 16). Contudo, pouco se sabe ainda acerca da biologia desses

parasitas, o que nos impede de tentar correlacionar essa característica com outros

aspectos do ciclo de vida. O fato de E. langebarteli apresentar uma grande

proporção de homoplasias para fora pode sugerir que essa espécie esteja sofrendo

uma pressão de seleção que a está levando a um processo de evolução

convergente.

Page 126: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

6 CONCLUSÕES

Page 127: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Conclusões

126

Desenvolvemos um ensaio de diagnóstico molecular que permite

discriminar com eficiência as onze espécies de Eimeria que infectam o

coelho doméstico.

A utilização de um conjunto concatenado de genes permitiu obter árvores

filogenéticas de Eimeria com maior congruência entre os diferentes

métodos de reconstrução filogenética e maior grau de suporte nos nós.

A especificidade do hospedeiro parece ser mais relevante do ponto de

vista das relações evolutivas dos parasitas do gênero Eimeria do que o

caractere de presença/ausência do resíduo do oocisto.

As análises filogenéticas indicam que as espécies de Eimeria são em geral

monofiléticas em relação aos seus hospedeiros, mas, ocasionalmente, são

observadas parafilias.

A análise demográfica sugere a ocorrência de múltiplos eventos de

invasão de hospedeiros mamíferos e aves ao longo do processo evolutivo.

A hipótese de co-evolução entre parasitas do gênero Eimeria e seus

hospedeiros não é suportada devido às seguintes conclusões: (1) há

relatos experimentalmente comprovados de mudança de hospedeiros em

espécies de Eimeria de roedores; (2) as datações da invasão de roedores,

galinha e coelho apontam para uma divergência das espécies de Eimeria

muito mais recente do que a dos respectivos hospedeiros; e (3) a árvore

dos parasitas não pode ser reconciliada com a árvore dos respectivos

hospedeiros.

Parece haver uma correlação entre as relações evolutivas das diferentes

espécies de Eimeria e os hábitos alimentares e habitats de seus

hospedeiros.

E. maxima apresenta uma aceleração de sua taxa de evolução em relação

a outras espécies de Eimeria, fato que se correlaciona com sua maior

diversidade antigênica e imunológica.

Page 128: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

REFERÊNCIAS

Page 129: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Referências

128

REFERÊNCIAS*

Allen PC, Fetterer RH. Recent advances in biology and immunobiology of Eimeria

species and in diagnosis and control of infection with these coccidian parasites of poultry. Clin Microbiol Rev. 2002 Jan;15(1):58-65.

Alyousif MS, Al-Shawa YR, Al-Asiri SS. Eimeria livialissp.n.(Apicomplexa:Eimeriidae) from the domestic pigeon, Columba livia domestica in Saudi Arabia. J Egypt Soc

Parasitol. 2009 Aug;39(2):383-8.

Aoutil N, Bertani S, Bordes F, Snounou G, Chabaud A, Landau I. Eimeria (Coccidia: Eimeridea) of hares in France: description of new taxa. Parasite. 2005 Jun;12(2):131-44.

Barta JR, Martin DS, Liberator PA, Dashkevicz M, Anderson JW, Feighner SD, et al. Phylogenetic relationships among eight Eimeria species infecting domestic fowl

inferred using complete small subunit ribosomal DNA sequences. J Parasitol. 1997 Apr;83(2):262-71.

Barta JR. Investigating phylogenetic relationships within the Apicomplexa using

sequence data: the search for homology. Methods. 1997 Oct;13(2):81-8.

Bashtar AR, Abdel-Ghaffar F, Al-Rasheid KA, Mehlhorn H, AlNasrI. Light microscopic study on Eimeria species infecting Japanese quails reared in Saudi Arabian farms. Parasitol Res. 2010 Jul;107(2):409-16.

Benton MJ, Donoghue PC. Paleontological evidence to date the tree of life. Mol Biol

Evol. 2007 Jan;24(1):26-53.

Blake DP, Hesketh P, Archer A, Carroll F, Shirley MW, Smith AL. The influence of immunizing dose size and schedule on immunity to subsequent challenge with antigenically distinct strains of Eimeria maxima. Avian Pathol. 2005 Dec;34(6):489-

94.

Blake DP, Shirley MW, Smith AL. Genetic identification of antigens protective against coccidia. Parasite Immunol. 2006 Jul;28(7):305-14.

*De acordo com: International Committee of Medical Journal. Editors. Uniform requirements for manuscripts submitted to Biomedical Journal: sample references. Available from: http://www.icmje.org [2007 May 22].

Page 130: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

129

Blake DP, Qin Z, Cai J, Smith AL. Development and validation of real-time polymerase chain reaction assays specific to four species of Eimeria. Avian Pathol.

2008 Feb;37(1):89-94.

Bonelo A, Valmori D, Triponez F, Tiercy JM, Mentha G, Oberholzer J, et al. Generation and characterization of malaria-specific human CD8(+) lymphocyte

clones: effect of natural polymorphism on T cell recognition and endogenous cognate antigen presentation by liver cells. Eur J Immunol. 2000 Nov;30(11):3079-88.

Cai X, Fuller AL, McDougald LR, Zhu G. Apicoplast genome of the coccidian Eimeria tenella. Gene. 2003 Dec 4;321:39-46.

Castañón CAB, Fraga JS, Fernandez S, Gruber A, Costa LD. Biological shape

characterization for automatic image recognition and diagnosis of protozoan parasites of the genus Eimeria. Pattern Recognition. 2007 Jul;40(7):1899-910.

Ceré N, Licois D, Humbert JF. Study of the inter- and intraspecific variation of Eimeria spp. from the rabbit using random amplified polymorphic DNA. Parasitol Res.

1995;81(4):324-8.

Ceré N, Humbert JF, Licois D, Corvione M, Afanassieff M, Chanteloup N. A new approach for the identification and the diagnosis of Eimeria media parasite of the

rabbit. Exp Parasitol. 1996 Mar;82(2):132-8.

Ceré N, Licois D, Humbert JF. Comparison of the genomic fingerprints generated by the random amplification of polymorphic DNA between precocious lines and parental strains of Eimeria spp. from the rabbit. Parasitol Res. 1997;83(3):300-2.

Chako CZ, Tyler JW, Schultz LG, Chiguma L, Beerntsen BT. Cryptosporidiosis in people: it's not just about the cows. J Vet Intern Med. 2010 Jan-Feb;24(1):37-43.

Chapman HD, Cherry TE, Danforth HD, Richards G, Shirley MW, Williams RB. Sustainable coccidiosis control in poultry production: the role of live vaccines. Int J

Parasitol. 2002 May;32(5):617-29.

Chapman HD.Coccidiosis in the turkey. Avian Pathol. 2008 Jun;37(3):205-23. Chauvin A, Moreau E, Bonnet S, Plantard O, Malandrin L. Babesia and its hosts:

adaptation to long-lasting interactions as a way to achieve efficient transmission. Vet Res. 2009 Mar-Apr;40(2):37.

Page 131: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Referências

130

Collins TM, Fedrigo O, Naylor GJ. Choosing the best genes for the job: the case for

stationary genes in genome-scale phylogenetics. Syst Biol. 2005 Jun;54(3):493-500.

Cornelissen AW, Overdulve JP, van der Ploeg M. Determination of nuclear DNA of five eucoccidian parasites, Isospora (Toxoplasma) gondii, Sarcocystis cruzi, Eimeria tenella, E. acervulina and Plasmodium berghei, with special reference to

gamontogenesis and meiosis in I. (T.) gondii. Parasitology. 1984 Jun;88(Pt 3):531-

53.

Couch L, Stone PA, Duszynski DW, Snell HL, Snell HM. A survey of the coccidian parasites of reptiles from islands of the Galápagos Archipelago: 1990-1994. J

Parasitol. 1996 Jun;82(3):432-7. Coudert P, Licois D, Streun A. Characterization of Eimeria species. I. Isolation and study of pathogenicity of a pure strain of Eimeria perforans(Leuckart, 1879; Sluiter

and Swellengrebel, 1912). Z Parasitenkd. 1979 Sep;59(3):227-34.

Coudert P. Some peculiarities of rabbit coccidiosis. In: Yvore P. (Ed.), Coccidia and

Coccidiomorphs, Vth International Coccidiosis Conference, Tours, France, 17–20 October. Les Colloques de l’INRA series, vol. 49, INRA, Paris, 1989. p. 481–8.

Coudert P, Licois D, Drouvet-Viard F. Eimeria species and strains of rabbits. In:

Eckert J, Braun R, Shirley MW, Coudert P. COST. 89/820. Biotecnology: guidelines on techniques in coccidiosis research. Luxembourg: Office for Official Publications of

the European Communities; 1995. p. 52-73.

Current WL, Upton SJ, Long PL. Taxonomy and life cycles. In: Long PL (Ed.) Coccidiosis of man and domestic animals. Boca Raton, FL: CRC Press, Inc.; 1990. p. 1-16

Dalloul RA, Lillehoj HS. Recent advances in immunomodulation and vaccination

strategies against coccidiosis. Avian Dis. 2005 Mar;49(1):1-8.

Donoghue PC, Benton MJ. Rocks and clocks: calibrating the Tree of Life using fossils and molecules. Trends Ecol Evol. 2007 Aug;22(8):424-31.

Doran JD. Comparative development of Eimeria tenella in primary cultures of kidney

cells from the chicken, pheasant, partridge, and turkey. J Parasitol. 1971

Dec;57(6):1376-7.

Page 132: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

131

Doran DJ. The life cycle of Eimeria dispersa Tyzzer 1929 from the turkey in

gallinaceous birds. J Parasitol. 1978 Oct;64(5):882-5. Doran DJ, Augustine PC. Comparative development of Eimeria tenella from

sporozoites to oocysts in primary kidney cell cultures from gallinaceous birds. J Protozool. 1973 Nov;20(5):658-61.

Drouet-Viard F, Coudert P, Licois D, Boivin M. Acquired protection of the rabbit (Oryctolagus cuniculus) against coccidiosis using a precocious line of Eimeria magna: effect of vaccine dose and age at vaccination. Vet Parasitol. 1997a

May;69(3-4):197-201.

Drouet-Viard F, Coudert P, Licois D, Boivin M. Vaccination against Eimeria magna

coccidiosis using spray dispersion of precocious line oocysts in the nest box. Vet Parasitol. 1997b Jun;70(1-3):61-6.

Drummond AJ, Rambaut A. BEAST: Bayesian evolutionary analysis by sampling trees. BMC Evol Biol. 2007;7:214.

Durham AM, Kashiwabara AY, Matsunaga FT, Ahagon PH, Rainone F, Varuzza L, et

al. EGene: a configurable pipeline generation system for automated sequence analysis. Bioinformatics. 2005 Jun 15;21(12):2812-3.

Dürr U, Pellerdy L. Oxygen consumption of coccidiosis-oocystes during sporulation. Acta Vet Acad Sci Hung. 1969;19(3):307-10.

Duszynski DW. Host specificity in the coccidia of small mammals: Fact or fiction? In: Berecky M. Advances in Protozoological Research. Symposia Biologica Hungarica.

Budapest: Akadémiai Kiadó; 1986. vol. 33. p. 325-37.

Duszynski DW, Couch L, Upton SJ. The Coccidia of the World. Available from: http://www.k-state.edu/parasitology/worldcoccidia/ [2010 jul 15].

Duszynksi DW. Two new coccidia (Protozoa: Eimeriidae) from Costa Rican lizards with a review of the Eimeria from lizards. Journal of Protozoology. 1969;16:581-5.

Duszynski DW, Scott DT, Aragon J, Leach A, Perry T. Six new Eimeria species

from vespertilionid bats of North America. J Parasitol. 1999a Jun;85(3):496-503.

Page 133: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Referências

132

Duszynski DW, Wilson AU, Wade D, Upton SJ, Levine ND. Coccidia (Apicomplexa:

Eimeriidae) in the Primates and the Scandentia. International Journal of Primatology. 1999b 20(5):761-97.

Duszynski DW, Upton SJ. Coccidia (Apicomplexa: Eimeriidae) of the mammalian order Insectivora. Special publication of the Museum of Southwestern Biology, N. 4.

Albuquerque: The University of New Mexico; 2000.

Duszynski DW. Coccidia (Apicomplexa: Eimeriidae) of the mammalian order Chiroptera. Special publication of the Museum of Southwestern Biology, N. 5, Albuquerque: The University of New Mexico; 2002.

Duszynski DW, Bolek MG, Upton SJ. Coccidia (Apicomplexa: Eimeriidae) of

amphibians of the world. Zootaxa 1667. 2007.

Eckert J, Braun R, Shirley MW, Coudert P. COST. 89/820. Biotecnology: guidelines on techniques in coccidiosis research. Luxembourg: Office for Off icial Publications of the European Communities; 1995. 300 p.

Ellis J, Bumstead J. Eimeria species: studies using rRNA and rDNA probes.

Parasitology. 1990 Aug;101(1):1-6. Elmore SA, Jones JL, Conrad PA, Patton S, Lindsay DS, Dubey JP. Toxoplasma

gondii: epidemiology, feline clinical aspects, and prevention. Trends Parasitol. 2010

Apr;26(4):190-6.

Escalante AA, Ayala FJ. Evolutionary origin of Plasmodium and other Apicomplexa

based on rRNA genes. Proc Natl Acad Sci U S A. 1995 Jun20;92(13):5793-7.

Escalante AA, Cornejo OE, Freeland DE, Poe AC, Durrego E, Collins WE, Lal AA. A monkey's tale: the origin of Plasmodium vivax as a human malaria parasite. Proc Natl

Acad Sci U S A. 2005 Feb 8;102(6):1980-5.

Ewing B, Hillier L, Wendl MC, Green P. Base-calling of automated sequencer traces using phred. I. Accuracy assessment. Genome Res. 1998 Mar;8(3):175-85.

Ewing B, Green P. Base-calling of automated sequencer traces using phred. II. Error

probabilities. Genome Res. 1998 Mar;8(3):186-94.

Page 134: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

133

Fernandez S, Costa AC, Katsuyama AM, Madeira AM, Gruber A. A survey of the inter- and intraspecific RAPD markers of Eimeria spp. of the domestic fowl and the

development of reliable diagnostic tools. Parasitol Res. 2003a Apr;89(6):437-45.

Fernandez S, Pagotto AH, Furtado MM, Katsuyama AM, Madeira AM, Gruber A. A multiplex PCR assay for the simultaneous detection and discrimination of the seven Eimeria species that infect domestic fowl. Parasitology. 2003b Oct;127(Pt 4):317-25.

Fernandez S, Katsuyama AM, Kashiwabara AY, Madeira AM, Durham AM, Gruber A. Characterization of SCAR markers of Eimeria spp. of domestic fowl and construction of a public relational database (The Eimeria SCARdb). FEMS Microbiol Lett. 2004

Sep 1;238(1):183-8. Fernando MA, Remmler O. Four new species of Eimeria and one of Tyzzeria from the Ceylon jungle fowl Gallus lafayettei. J Protozool. 1973 Feb;20(1):43-5.

Fitz-Coy SH. Antigenic variation among strains of Eimeria maxima and E. tenella of

the chicken. Avian Dis. 1992 Jan-Mar;36(1):40-3.

Gagnon S, Bourbeau D, Levesque RC. Secondary structures and features of the 18S, 5.8S and 26S ribosomal RNAs from the Apicomplexan parasite Toxoplasma gondii. Gene. 1996 Sep 16;173(2):129-35.

Gajadhar AA, Leighton FA. Eimeria wobeseri sp. n. and Eimeria goelandi sp. n. (Protozoa: Apicomplexa) in the kidneys of herring gulls (Larus argentatus). J Wildl

Dis. 1988 Jul;24(3):538-46.

Galtier N, Gouy M, Gautier C. SEAVIEW and PHYLO_WIN: two graphic tools for

sequence alignment and molecular phylogeny. Comput Appl Biosci. 1996 Dec;12(6):543-8.

Gasser RB, Woods WG, Wood JM, Ashdown L, Richards G, Whithear KG. Automated, fluorescence-based approach for the specific diagnosis of chicken

coccidiosis. Electrophoresis. 2001 Oct;22(16):3546-50.

Gordon D, Abajian C, Green P. Consed: a graphical tool for sequence finishing. Genome Res. 1998 Mar;8(3):195-202

Gutell RR, Gray MW, Schnare MN. A compilation of large subunit (23S and 23S-like) ribosomal RNA structures: 1993. Nucleic Acids Res. 1993 Jul 1;21(13):3055-74.

Page 135: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Referências

134

Hall BG. CodonAlign 2.0, Rochester, NY. 2001. Available from:

http://www.sinauer.com/hall/2e/ [2009 Jan 20]. Hammond DM, Long PL. The Coccidia: Eimeria, Isospora, Toxoplasma, and Related

Genera. London: Baltimore & Butterworths: University Park Press; 1973. 539 p.

Hanada S, Omata Y, Umemoto Y, Kobayashi Y, Furuoka H, Matsui T, et al. Relationship between liver disorders and protection against Eimeria stiedai infection

in rabbits immunized with soluble antigens from the bile of infected rabbits. Vet Parasitol. 2003a Feb 13;111(2-3):261-6.

Hanada S, Umemoto Y, Omata Y, Koyama T, Nishiyama K, Kobayashi Y, Furuoka H, Matsui T, Maeda R, Saito A. Eimeria stiedai merozoite 49-kDa soluble antigen

induces protection against infection. J Parasitol. 2003b Jun;89(3):613-7.

Hayakawa T, Culleton R, Otani H, Horii T, Tanabe K. Big bang in the evolution of extant malaria parasites. Mol Biol Evol. 2008 Oct;25(10):2233-9.

Hedtke SM, Townsend TM, Hillis DM. Resolution of phylogenetic conflict in large data sets by increased taxon sampling. Syst Biol. 2006 Jun;55(3):522-9.

Hikosaka K, Watanabe Y, Tsuji N, Kita K, Kishine H, Arisue N, Palacpac NM,Kawazu S, Sawai H, Horii T, Igarashi I, Tanabe K. Divergence of the mitochondrial genome structure in the apicomplexan parasites, Babesia and Theileria. Mol Biol Evol. 2010a

May;27(5):1107-16

Hikosaka K, Nakai Y, Watanabe YI, Tachibana SI, Arisue N, Palacpac NM, Toyama T, Honma H, Horii T, Kita K, Tanabe K. Concatenated mitochondrial DNA of the coccidian parasite Eimeria tenella. Mitochondrion. 2010b Oct 31; [Epub ahead of

print]. Available from: http://www.sciencedirect.com/science/journal/15677249.

Hnida JA, Duszynski DW. Cross-transmission studies with Eimeria arizonensis, E. arizonensis-like oocysts and Eimeria langebarteli: host specificity at the genus and

species level within the Muridae. J Parasitol. 1999b Oct;85(5):873-7.

Huang X, Madan A. CAP3: A DNA sequence assembly program. Genome Res. 1999 Sep;9(9):868-77.

Page 136: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

135

Hughes AL, Verra F. Very large long-term effective population size in the virulent human malaria parasite Plasmodium falciparum. Proc Biol Sci. 2001 Sep

7;268(1478):1855-60.

Jeffers TK. Attenuation of Eimeria tenella through selection for precociousness. J

Parasitol. 1975 Dec;61(6):1083-90.

Jelínková A, Licois D, Pakandl M. The endogenous development of the rabbit coccidium Eimeria exigua Yakimoff, 1934. Vet Parasitol. 2008 Oct 1;156(3-4):168-72.

Jirků M, Jirků M, Oborník M, Lukes J, Modrý D. A model for taxonomic work on homoxenouscoccidia: redescription, host specificity, and molecular phylogeny of Eimeria ranae Dobell, 1909, with a review of anuran-host Eimeria (Apicomplexa:

Eimeriorina). J Eukaryot Microbiol. 2009 Jan-Feb;56(1):39-51.

Jongwutiwes S, Putaporntip C, Iwasaki T, Ferreira MU, Kanbara H, Hughes AL. Mitochondrial genome sequences support ancient population expansion in Plasmodium vivax. Mol Biol Evol. 2005 Aug;22(8):1733-9.

Joyner LP. Host and Site Specificity. In: Long PL. The Biology of the Coccidia.

Baltimore: University Park Press; 1982; p. 35-62. Kalanon M, McFadden GI. Malaria, Plasmodium falciparum and its

apicoplast.Biochem Soc Trans. 2010 Jun;38(3):775-82.

Kappe SH, Vaughan AM, Boddey JA, Cowman AF. That was then but this is now: malaria research in the time of an eradication agenda. Science. 2010 May 14;328(5980):862-6.

Kawahara F, Taira K, Nagai S, Onaga H, Onuma M, Nunoya T. Detection of five avian Eimeria species by species-specific real-time polymerase chain reaction assay.

Avian Dis. 2008 Dec;52(4):652-6.

Kawahara F, Zhang G, Mingala CN, Tamura Y, Koiwa M, Onuma M, Nunoya T. Genetic analysis and development of species-specific PCR assays based on ITS-1 region of rRNA in bovine Eimeria parasites. Vet Parasitol. 2010 Nov 24;174(1-2):49-

57.

Kheysin EM. Life cycles of coccidian of domestic animals. Translated by: Plous FK Jr. Baltimore: University of Park Press; 1971.

Page 137: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Referências

136

Kirkpatrick NC, Blacker HP, Woods WG, Gasser RB, Noormohammadi AH. A

polymerase chain reaction-coupled high-resolution melting curve analytical approach for the monitoring of monospecificity of avian Eimeria species. Avian Pathol. 2009

Feb;38(1):13-9.

Kuo CH, Wares JP, Kissinger JC. The Apicomplexan whole-genome phylogeny: an

analysis of incongruence among gene trees. Mol Biol Evol. 2008 Dec;25(12):2689-98.

Kvičerová J, Ptácková P, Modrý D. Endogenous development, pathogenicity and host specificity of Eimeria cahirinensis Couch, Blaustein, Duszynski, Shenbrot and

Nevo, 1997 (Apicomplexa: Eimeriidae) from Acomys dimidiatus (Cretzschmar 1826)

(Rodentia: Muridae) from the Near East. Parasitol Res. 2007 Jan;100(2):219-26.

Kvičerová J, Pakandl M, Hypsa V. Phylogenetic relationships among Eimeria spp.

(Apicomplexa, Eimeriidae) infecting rabbits: evolutionary significance of biological

and morphological features. Parasitology. 2008 Apr;135(4):443-52. Lainson R, Ribeiro L. Eimeria lepidosirenis n.sp. (Apicomplexa:Eimeriidae) of the South American lungfish Lepidosiren paradoxa (Osteichthyes:Dipnoi) from

Amazonian Brazil. Mem Inst Oswaldo Cruz. 2006 May;101(3):327-9.

Larkin MA, Blackshields G, Brown NP, Chenna R, McGettigan PA, McWilliam H, et al. Clustal W and Clustal X version 2.0. Bioinformatics. 2007 Nov 1;23(21):2947-8.

Law AE, Mullineaux CW, Hirst EM, Saldanha J, Wilson RJ. Bacterial orthologues

indicate the malarial plastid gene ycf24 is essential. Protist. 2000 Dec;151(4):317-27. Leighton FA, Gajadhar AA. Eimeria fraterculae sp. n. in the kidneys of Atlantic puffins (Fratercula arctica) from Newfoundland, Canada: species description and lesions. J

Wildl Dis. 1986 Oct;22(4):520-6.

Levine PP. A new coccidium pathogenic for chickens. Eimeria brunetti n. sp.

(Protozoa: Eimeriidae). Cornell Veterinarian. 1942;32:430-9.

Levine ND. Protozoan Parasites of Domestic Animals and of Man. Minneapolis: Burgess Publishing Company; 1961. p. 158-253.

Levine ND, Ivens V. Cross-transmission of Eimeria spp. (Protozoa, Apicomplexa) of

rodents--a review. J Protozool. 1988 Aug;35(3):434-7.

Page 138: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

137

Lew AE, Anderson GR, Minchin CM, Jeston PJ, Jorgensen WK. Inter- and intra-strain

variation and PCR detection of the internal transcribed spacer 1 (ITS-1) sequences of Australian isolates of Eimeria species from chickens. Vet Parasitol. 2003 Feb

28;112(1-2):33-50.

Licois P, Coudert P. Coccidioses et diarrhées dulapin à 343 l’engraissement. Bull.

GTV. 1982(5):109–22.

Licois D, Coudert P, Boivin M, Drouet-Viard F, Provot F. Selection and characterization of a precocious line of Eimeria intestinalis, an intestinal rabbit

coccidium. Parasitol Res. 1990;76(3):192-8.

Licois D, Coudert P, Bahagia S, Rossi GL. Endogenous development of Eimeria

intestinalis in rabbits (Oryctolagus cuniculus). J Parasitol. 1992 Dec;78(6):1041-8.

Licois D, Coudert P, Drouet-Viard F, Boivin M. Eimeria media: selection and

characterization of a precocious line. Parasitol Res. 1994;80(1):48-52.

Licois D, Coudert P, Drouet-Viard F, Boivin M. Eimeria magna: pathogenicity,

immunogenicity and selection of a precocious line. Vet Parasitol. 1995 Nov;60(1-

2):27-35. Lindsay DS, Blagburn BL. Biology of mammalian Isospora.Parasitol Today. 1994

Jun;10(6):214-20. Lindsay DS, Dubey JP, Blagburn BL. Biology of Isospora spp. from humans,

nonhuman primates, and domestic animals. Clin Microbiol Rev. 1997 Jan;10(1):19-34.

Long PL, Millard BJ, Joyner LP, Norton CC. A guide to laboratory techniques used in

the study and diagnosis of avian coccidiosis. Folia Vet Lat. 1976 Jul-Sep;6(3):201-17. Long PL, Millard BJ. Rejection of Eimeria by foreign hosts. Parasitology. 1979a

Apr;78(2):239-47.

Long PL, Millard BJ. Immunological differences in Eimeria maxima: effect of a mixed

immunizing inoculum on heterologous challenge. Parasitology. 1979b Dec;79(3):451-

7.

Page 139: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Referências

138

Long PL, Joyner LP. Problems in the identification of species of Eimeria. J Protozool.

1984 Nov;31(4):535-41.

Maddison WP, Maddison DR. MacClade: analysis of phylogeny and character evolution. Sunderland, Massachusetts: Sinauer Associates; 1992.

Marquardt WC. Host and Site Specificity in the Coccidia. In: Hammond DM, Long PL. The Coccidia. Baltimore & Butterworths, London: University Park Press; 1973; p. 23-

43.

Mayberry LF, Marquardt WC, Nash DJ, Plan B. Genetic dependent transmission of Eimeria separata from Rattus to three strains of Mus musculus, an abnormal host. J

Parasitol. 1982 Dec;68(6):1124-6.

Martin AG, Danforth HD, Barta JR, Fernando MA. Analysis of immunological cross-

protection and sensitivities to anticoccidial drugs among five geographical and temporal strains of Eimeria maxima. Int J Parasitol. 1997 May;27(5):527-33.

Martin DP, Lemey P, Lott M, Moulton V, Posada D, Lefeuvre P. RDP3: a flexible and fast computer program for analyzing recombination. Bioinformatics. 2010 Oct

1;26(19):2462-3. McAllister CT, Upton SJ. The coccidia (Apicomplexa: Eimeriidae) of Crocodilia, with descriptions of two new species from Alligator mississippiensis (Reptilia:

Alligatoridae), from Texas. Journal of Parasitology. 1990;76:332-6.

McDonald V, Shirley MW, Bellatti MA. Eimeria maxima: characteristics of attenuated

lines obtained by selection for precocious development in the chicken. Exp Parasitol.

1986 Apr;61(2):192-200. McDougald LR, Jeffers TK. Eimeria tenella (Sporozoa, Coccidia): Gametogony

following a single asexual generation. Science. 1976 Apr 16;192(4236):258-9.

McDougald LR, Reid WM. Coccidiosis. In: Calnek BW, Barnes HJ, Beard CW, McDougald LR, Saif YM. Diseases of Poultry. 10th ed. Ames: Iowa State University

Press; 1997. p. 865-83. McQuistion TE. Eimeria palumbi, a New Coccidian Parasite (Apicomplexa: Eimeriidae) from the Galapagos Dove (Zenaida galapagoensis). TRANS. AM.

MICROSC. Soc. 1991 Apr;110(2):178-81.

Page 140: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

139

Mehlhorn H. Encyclopedia of Parasitology. 3rd ed. Heidelberg: Springer; 2008.

Min W, Dalloul RA, Lillehoj HS. Application of biotechnological tools for coccidia

vaccine development. J Vet Sci. 2004 Dec;5(4):279-88.

Miska KB, Schwarz RS, Jenkins MC, Rathinam T, Chapman HD. Molecular characterization and phylogenetic analysis of Eimeria from turkeys and gamebirds:

implications for evolutionary relationships in Galliform birds. J Parasitol. 2010

Oct;96(5):982-6.

Morgan JA, Morris GM, Wlodek BM, Byrnes R, Jenner M, Constantinoiu CC, et al. Real-time polymerase chain reaction (PCR) assays for the specific detection and quantification of seven Eimeria species that cause coccidiosis in chickens. Mol Cell

Probes. 2009 Apr;23(2):83-9.

Morrison DA, Bornstein S, Thebo P, Wernery U, Kinne J, Mattsson JG. The current status of the small subunit rRNA phylogeny of the coccidian (Sporozoa). Int J Parasitol. 2004 Mar 29;34(4):501-14.

Morrison WI. The biological and practical significance of antigenic variability in protective T cell responses against Theileria parva. Vet Parasitol. 2007 Aug

19;148(1):21-30. Morrison WI. Progress towards understanding the immunobiology of Theileria

parasites. Parasitology. 2009 Oct;136(12):1415-26.

Mu J, Joy DA, Duan J, Huang Y, Carlton J, Walker J, Barnwell J, Beerli P,Charleston MA, Pybus OG, Su XZ. Host switch leads to emergence of Plasmodium vivax malaria

in humans. Mol Biol Evol. 2005 Aug;22(8):1686-93.

Mullis KB, Faloona FA. Specific synthesis of DNA in vitro via a polymerase-catalyzed chain reaction. Methods Enzymol. 1987;155:335-50.

Musaev M, Gaibova G, Ismailova G, Alieva F, Iskenderova N. The Coccidia of the Gallinaceous Birds in Azerbaijan. Tr. J. of Veterinary and Animal Sciences.

1998;22:409-13. Norton CC, Hein HE. Eimeria maxima: a comparison of two laboratory strains with a

fresh isolate. Parasitology. 1976 Jun;72(3):345-54.

Page 141: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Referências

140

Norton CC, Catchpole J, Rose ME. Eimeria stiedai in rabbits: the presence of an

oocyst residuum. Parasitology. 1977 Aug;75(1):1-7. Norton CC, Catchpole J, Joyner LP. Redescriptions of Eimeria irresidua Kessel & Jankiewicz, 1931 and E. flavescens Marotel & Guilhon, 1941 from the domestic

rabbit. Parasitology. 1979 Oct;79(2):231-48.

Ortega YR, Sanchez R. Update on Cyclospora cayetanensis, a food-borne and

waterborne parasite. Clin Microbiol Rev. 2010 Jan;23(1):218-34. Owen D. Life cycle of Eimeria stiedae. Nature. 1970 Jul 18;227(5255):304.

Pakandl M. Efficacy of salinomycin, monensin and lasalocid against spontaneous Eimeria infection in rabbits. Folia Parasitol (Praha). 1986;33(3):195-8.

Pakandl M. Description of Eimeria vejdovskyi sp.n. and redescription of Eimeria media Kessel, 1929 from the rabbit. Folia Parasitol(Praha). 1988;35(1):1-9.

Pakandl M. Life cycle of Eimeria coecicola Cheissin, 1947. Folia Parasitol (Praha).

1989;36(2):97-105. Pakandl M, Licois D, Coudert P. Electron microscopic study on sporocysts and sporozoites of parental strains and precocious lines of rabbit coccidian Eimeria intestinalis, E. media and E. magna. Parasitol Res. 2001 Jan;87(1):63-6.

Pakandl M. Selection of a precocious line of the rabbit coccidium Eimeria flavescens

Marotel and Guilhon (1941) and characterization of its endogenous cycle. Parasitol

Res. 2005 Sep;97(2):150-5. Pakandl M, Jelínková A. The rabbit coccidium Eimeria piriformis: Selection of a

precocious line and life-cycle study. Vet Parasitol. 2006 Apr 30;137(3-4):351-4.

Pakandl M, Hlaskova L. The reproduction of Eimeria flavescens and Eimeria intestinalis in suckling rabbits. Parasitol Res. 2007 Oct;101(5):1435-7.

Pakandl M, Hlásková L, Poplstein M, Neveceralová M, Vodicka T, Salát J, Mucksová

J. Immune response to rabbit coccidiosis: a comparison between infections with Eimeria flavescens and E. intestinalis. Folia Parasitol (Praha). 2008a Mar;55(1):1-6.

Page 142: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

141

Pakandl M, Hlásková L, Poplstein M, Chromá V, Vodicka T, Salát J, Mucksová J.

Dependence of the immune response to coccidiosis on the age of rabbit suckling. Parasitol Res. 2008b Nov;103(6):1265-71.

Pakandl M. Coccidia of rabbit: a review. Folia Parasitol (Praha). 2009 Sep;56(3):153-66.

Pamilo P, Nei M. Relationships between gene trees and species trees. Mol Biol Evol.

1988 Sep;5(5):568-83.

Peeters JE, Geeroms R. Efficacy of toltrazuril against intestinal and hepatic coccidiosis in rabbits. Vet Parasitol. 1986 Nov;22(1-2):21-35.

Perrière G, Gouy M. WWW-Query: An on-line retrieval system for biological sequence banks. Biochimie. 1996;78:364-9.

Posada D, Crandall KA. MODELTEST: testing the model of DNA substitution.

Bioinformatics. 1998;14(9):817-8. Power ML, Richter C, Emery S, Hufschmid J, Gillings MR. Eimeria trichosuri:

phylogenetic position of a marsupial coccidium, based on 18S rDNA sequences. Exp Parasitol. 2009 Jun;122(2):165-8.

Procunier JD, Fernando MA, Barta JR. Species and strain differentiation of Eimeria

spp. of the domestic fowl using DNA polymorphisms amplified by arbitrary primers.

Parasitol Res. 1993;79(2):98-102.

Rambaut, A. Se-Al v2.0: Sequence alignment editor. 1996. Available from: http://tree.bio.ed.ac.uk/software/seal/ [2009 jan 20].

Rambaut A, Drummond AJ. Tracer v1.4. 2007. Available from: http://beast.bio.ed.ac.uk/Tracer/ [2010 jan 10].

Reduker DW, Duszynski DW. Eimeria ladronensis n. sp. and E. albigulae

(Apicomplexa: Eimeriidae) from the woodrat, Neotoma albigula (Rodentia:

Cricetidae). J Protozool. 1985 Aug;32(3):548-50.

Reduker DW, Duszynski DW, Yates TL. Evolutionary relationships among Eimeria

spp. (Apicomplexa) infecting cricetid rodents. Can J Zool. 1987;65:722-35.

Page 143: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Referências

142

Rice P, Longden I, Bleasby A. EMBOSS: the European Molecular Biology Open

Software Suite. Trends Genet. 2000 Jun;16(6):276-7.

Rich SM, Licht MC, Hudson RR, Ayala FJ. Malaria's Eve: evidence of a recent population bottleneck throughout the world populations of Plasmodium falciparum.

Proc Natl Acad Sci U S A. 1998 Apr 14;95(8):4425-30.

Ricklefs RE, Outlaw DC. A molecular clock for malaria parasites. Science. 2010

Jul 9;329(5988):226-9.

Rokas A, Williams BL, King N, Carroll SB. Genome-scale approaches to resolving incongruence in molecular phylogenies. Nature. 2003 Oct 23;425(6960):798-804.

Romano CM. Caracterização Molecular e análise comparativa de genomas mitocondriais de Eimeria spp. de galinha doméstica. [dissertação (Mestrado em

Parasitologia)]. São Paulo: Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo; 2004.

Roos DS. Genetics. Themes and variations in apicomplexan parasite biology. Science. 2005 Jul 1;309(5731):72-3.

Rose ME. Immunity. In: Hammond DM, Long PL. The coccidia. Baltimore: University Park Press; 1973. p. 295–341.

Schmidt HA, Strimmer K, Vingron M, von Haeseler A. TREE-PUZZLE: maximum

likelihood phylogenetic analysis using quartets and parallel computing. Bioinformatics. 2002 Mar;18(3):502-4.

Schnitzler BE, Thebo PL, Mattsson JG, Tomley FM, Shirley MW. Development of a diagnostic PCR assay for the detection and discrimination of four pathogenic Eimeria

species of the chicken. Avian Pathol. 1998;27(5):490-7.

Schnitzler BE, Thebo PL, Tomley FM, Uggla A, Shirley MW. PCR identif ication of chicken Eimeria: a simplified read-out. Avian Pathol. 1999 Feb;28(1):89-93.

Scott DT, Duszynski DW. Eimeria from bats of the world: two new species from Myotis spp. (Chiroptera: Vespertilionidae). J Parasitol. 1997 Jun;83(3):495-501.

Page 144: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

143

Segade P, Crespo C, Ayres C, Cordero A, Arias MC, García-Estévez JM, Iglesias Blanco R. Eimeria species from the European pond turtle, Emys orbicularis (Reptilia:

Testudines), in Galicia (NW Spain), with description of two new species. J Parasitol. 2006 Feb;92(1):69-72.

Seville RS, Gruver J. Species of Eimeria (Apicomplexa: Eimeriidae) from bats

(Chiroptera: Vespertilionidae) in central Wyoming. J Parasitol. 2004Apr;90(2):348-51. Shirley MW. Enzyme variation in Eimeria species of the chicken. Parasitology. 1975

Dec;71(3):369-76.

Shirley MW. Electrophoretic variation of enzymes: a further marker for genetic studies of the Eimeria. Z Parasitenkd. 1978 Sep 4;57(1):83-7.

Shirley MW, Bellatti MA. Live attenuated coccidiosis vaccine: selection of a second

precocious line of Eimeria maxima. Res Vet Sci. 1988 Jan;44(1):25-8. Shirley MW, Bumstead N. Intra-specific variation within Eimeria tenella detected by

the random amplification of polymorphic DNA. Parasitol Res. 1994;80(4):346-51.

Shirley MW. Coccidial parasites from the chicken: discrimination of different populations of Eimeria tenella by DNA hybridization. Res Vet Sci. 1994 Jul;57(1):10-

4.

Shirley MW. The genome of Eimeria spp., with special reference to Eimeria tenella--a

coccidium from the chicken. Int J Parasitol. 2000 Apr 10;30(4):485-93.

Shirley MW, Ivens A, Gruber A, Madeira AM, Wan KL, Dear PH, Tomley FM. The Eimeria genome projects: a sequence of events. Trends Parasitol. 2004

May;20(5):199-201.

Shirley MW, Smith AL, Tomley FM. The biology of avian Eimeria with an emphasis

on their control by vaccination. Adv Parasitol. 2005;60:285-330.

Shirley MW, Smith AL, Blake DP. Challenges in the successful control of the avian coccidia. Vaccine. 2007 Jul 26;25(30):5540-7.

Sibley LD. Intracellular parasite invasion strategies. Science. 2004 Apr 9;304(5668):248-53.

Page 145: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Referências

144

Singh B, Kim Sung L, Matusop A, Radhakrishnan A, Shamsul SS, Cox-Singh J, Thomas A, Conway DJ. A large focus of naturally acquired Plasmodium knowlesi

infections in human beings. Lancet. 2004 Mar 27;363(9414):1017-24.

Siroký P, Kamler M, Modrý D. Eimeria lokuma n. sp. (Apicomplexa: Eimeriidae), a new coccidium from the African helmeted turtle Pelomedusa subrufa (Lacépède)

(Testudines: Pelomedusidae). Syst Parasitol. 2006 Sep;65(1):73-6. Smith AL, Hesketh P, Archer A, Shirley MW. Antigenic diversity in Eimeria maxima

and the influence of host genetics and immunization schedule on cross-protective immunity. Infect Immun. 2002 May;70(5):2472-9.

Stamatakis A. RAxML-VI-HPC: maximum likelihood-based phylogenetic analyses

with thousands of taxa and mixed models. Bioinformatics. 2006 Nov 1;22(21):2688-90.

Striepen B, White MW, Li C, Guerini MN, Malik SB, Logsdon JM, Jr., et al. Genetic complementation in apicomplexan parasites. Proc Natl Acad Sci U S A. 2002 Apr

30;99(9):6304-9.

Strimmer K, von Haeseler A. Likelihood-mapping: a simple method to visualize phylogenetic content of a sequence alignment. Proc Natl Acad Sci U S A. 1997 Jun 24;94(13):6815-9.

Su C, Evans D, Cole RH, Kissinger JC, Ajioka JW, Sibley LD. Recent expansion of Toxoplasma through enhanced oral transmission. Science. 2003 Jan

17;299(5605):414-6.

Sutton CA, Shirley MW, Wisher MH. Characterization of coccidial proteins by two-dimensional sodium dodecyl sulphate-polyacrylamide gel electrophoresis. Parasitology. 1989;99(2):175-87.

Stucki U, Braun R, RoditiI. Eimeria tenella: characterization of a 5S ribosomal RNA

repeat unit and its use as a species-specific probe. Exp Parasitol. 1993 Feb;76(1):68-75.

Swofford DL. PAUP. Phylogenetic Analysis Using Parsimony (*and Other Methods). Version 4beta10. Sunderland, Massachusetts: Sinauer Associates; 2002.

Page 146: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

145

Tenter AM, Heckeroth AR, Weiss LM. Toxoplasma gondii: from animals to humans.

Int J Parasitol. 2000 Nov;30(12-13):1217-58.

Tenter AM, Barta JR, Beveridge I, Duszynski DW, Mehlhorn H, Morrison DA,Thompson RC, Conrad PA. The conceptual basis for a new classification of the coccidia. Int J Parasitol. 2002 May;32(5):595-616.

Thompson JD, Gibson TJ, Plewniak F, Jeanmougin F, Higgins DG. The CLUSTAL_X

windows interface: flexible strategies for multiple sequence alignment aided by quality analysis tools. Nucleic Acids Res. 1997; Dec 15;25(24):4876-82.

Tyzzer EE. Coccidiosis in gallinaceous birds. Am J Epidemiol. 1929 Sep 10(2): 269-383.

Upton SJ, Reduker DW, Current WL, Duszynski DW. Taxonomy of North American

fish Eimeriidae, NOAA Technical Report NMFS 11. 1984. p. 18. Upton SJ, Oppert CJ. Description of the oöcysts of Eimeria arnyi n. sp. (Apicomplexa: Eimeriidae) from the eastern ring neck snake Diadophis punctatus arnyi (Serpentes:

Colubridae). Systematic Parasitology 1991; 20:195-7.

Upton SJ, McAllister CT, Brillhart DB, Duszynski DW, Wash CD. Cross-transmission studies with Eimeria arizonensis-like oocysts (Apicomplexa) in New World rodents of the Genera Baiomys, Neotoma, Onychomys, Peromyscus, and Reithrodontomys

(Muridae). J Parasitol. 1992 Jun;78(3):406-13.

Vannier E, Gewurz BE, Krause PJ. Human babesiosis. Infect Dis Clin North Am.2008

Sep;22(3):469-88, viii-ix. Vetterling JM. Eimeria tenella: host specificity in gallinaceous birds. J Protozool. 1976

Feb;23(1):155-8.

Vrba V, Blake DP, Poplstein M. Quantitative real-time PCR assays for detection and quantification of all seven Eimeria species that infect the chicken. Vet Parasitol. 2010

Dec;174(3-4):183-90.

Wilson RJ, Williamson DH. Extrachromosomal DNA in the Apicomplexa. MicrobiolMolBiol Rev. 1997 Mar;61(1):1-16.

Page 147: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Referências

146

Yabsley MJ, Gottdenker NL, Fischer JR. Description of a new Eimeria sp. and

associated lesions in the kidneys of double-crested cormorants (Phalocrocorax auritus). J Parasitol. 2002 Dec;88(6):1230-3.

Zhao X, Duszynski DW. Phylogenetic relationships among rodent Eimeria species

determined by plastid ORF470 and nuclear 18S rDNA sequences. Int J Parasitol.

2001a May 15;31(7):715-9.

Zhao X, Duszynski DW. Molecular phylogenies suggest the oocyst residuum can be used to distinguish two independent lineages of Eimeria spp in rodents. Parasitol

Res. 2001b Aug;87(8):638-43

Zhao X, Duszynski DW, Loker ES. Phylogenetic position of Eimeria antrozoi, a

bat coccidium (Apicomplexa: Eimeriidae) and its relationship to morphologically similar Eimeria spp. from bats and rodents based on nuclear 18S and plastid 23S

rDNA sequences. J Parasitol. 2001 Oct;87(5):1120-3.

Page 148: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

ANEXOS

Page 149: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Anexos

149

ANEXO A – Artigo em periódico. Oliveira UC, Fraga JS, Licois D, Pakandl M, Gruber

A. Development of molecular assays for the identification of the eleven Eimeria species of the domestic rabbit (Oryctolagus cuniculus). Vet

Parasitol. 2010 Nov 4. [Epub ahead of print].

Page 150: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

150

ANEXO B - Teste de especificidade dos ensaios para diagnóstico de Eimeria spp.

de coelho.

(continua)

Figura B.1- Teste de especificidade dos ensaios para diagnóstico de Eimeria spp. de coelho. Amostras de DNA das onze espécies de Eimeria de coelho foram amplificadas por PCR utilizando-se pares de iniciadores homólogos e heterólogos. Os produtos de amplificação foramseparados por eletroforese em géis de agarose 1,5% corados com brometo de etídeo. Controles negativos sem DNA e marcador de tamanho molecular em escada de 100 pb (100 bp DNA Ladder, Invitrogen) também estão indicados.

Page 151: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Anexos

151

(continua)

Figura B.1- Teste de especificidade dos ensaios para diagnóstico de Eimeria spp. de coelho. Amostras de DNA das onze espécies de Eimeria de coelho foram amplificadas por PCR utilizando-se pares de iniciadores homólogos e heterólogos. Os produtos de amplificação foramseparados por eletroforese em géis de agarose 1,5% corados com brometo de etídeo. Controles negativos sem DNA e marcador de tamanho molecular em escada de 100 pb (100 bp DNA Ladder, Invitrogen) também estão indicados.

Page 152: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

152

(continua)

Figura B.1-Teste de especificidade dos ensaios para diagnóstico de Eimeria spp. de coelho. Amostras de DNA das onze espécies de Eimeria de coelho foram amplificadas por PCR utilizando-se pares de iniciadores homólogos e heterólogos. Os produtos de amplificação foramseparados por eletroforese em géis de agarose 1,5% corados com brometo de etídeo. Controles negativos sem DNA e marcador de tamanho molecular em escada de 100 pb (100 bp DNA Ladder, Invitrogen) também estão indicados.

Page 153: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Anexos

153

(conclusão)

Figura B.1-Teste de especificidade dos ensaios para diagnóstico de Eimeria spp. de coelho. Amostras de DNA das onze espécies de Eimeria de coelho foram amplificadas por PCR utilizando-se pares de iniciadores homólogos e heterólogos. Os produtos de amplificação foramseparados por eletroforese em géis de agarose 1,5% corados com brometo de etídeo. Controles negativos sem DNA e marcador de tamanho molecular em escada de 100 pb (100 bp DNA Ladder, Invitrogen) também estão indicados.

Page 154: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

154

ANEXO C - Comandos para execução dos paupblocks para as análises filogenéticas

utilizando o programa PAUP, comandos para ModelTest e RAxML.

Neigbour-joining #NEXUS

BEGIN PAUP;

log start=yes file=NJ_arquivo.log replace=yes;

set autoclose=yes warnreset=no increase=auto;

outgroup;

set criterion=distance;

NJ;

Savetrees BrLens=yes MaxDecimals=3 from=1 to=1 file=NJ_arquivo.tre

format=phylip;

bootstrap search = NJ nreps=1000 conlevel=50;

root;

savetrees from=1 to=1 file=NJboot_arquivo.tre format=phylip

savebootp=nodelabels maxDecimals=1 replace=yes;

log stop;

end;

Máxima Parcimônia #NEXUS

BEGIN PAUP;

log start=yes file=Parsi_arquivo.log replace=yes;

set autoclose=yes warnreset=no increase=auto;

outgroup;

set criterion=parsimony;

hsearch;

savetrees BrLens=yes MaxDecimals=3 from=1 to=1

file=Parsi_arquivo.tre format=phylip;

bootstrap search = heuristic nreps=1000 conlevel=50;

root;

savetrees from=1 to=1 file=Parsiboot_arquivo.tre format=phylip

savebootp=nodelabels maxDecimals=1 replace=yes;

log stop;

end;

Page 155: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Anexos

155

Máxima verossimilhança #NEXUS

BEGIN PAUP;

log start=yes file=ML_parsi_arquivo.log replace=yes;

set autoclose=yes warnreset=no increase=auto;

outgroup;

set criterion=parsimony;

hsearch;

set criterion=likelihood;

Lset Base=(valores Modeltest)Nst= valores Modeltest

Rmat= (valores Modeltest) Rates= valores Modeltest

Shape= valores Modeltest Pinvar= valores Modeltest;

lscores 1;

lset rmatrix=(valores Modeltest) basefreq=(valores Modeltest) rates=

valores Modeltest shape=valores Modeltest;

hsearch start=1;

savetrees BrLens=yes MaxDecimals=3 from=1 to=1

file=MLparsi_arquivo.tre format=phylip;

bootstrap search = heuristic nreps=1000 conlevel=50;

root;

savetrees from=1 to=1 file=MLparsiboot_arquivo.tre format=phylip

savebootp=nodelabels maxDecimals=1 replace=yes;

log stop;

end;

ModelTest exe modelblockPAUPb10

Arquivos de saída: modelscores e modelfit.

Executar o ModelTest: modeltest3.7 -a0.01 <model.scores>bestmodel

RAxML raxmlHPC -f a -s arquive.fasta.phylip -n arquive_saida -m GTRGAMMAI

-x 1234 -# 1000

Page 156: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

Ursula Castro de Oliveira Tese de Doutorado

156

ANEXO D - Filogramas das análises dos marcadores individuais utilizando os três critérios de optimalidade (neighbor-joining, máxima parcimônia e máxima

verossimilhança).

Page 157: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

157

Figura D.1 - Filograma obtido por neighbor-joining da SSU de rRNA nuclear de espécies de Eimeria de coelho e galinha domésticos. Os

valores de bootstrap encontram-se indicados nos nós. Os quadros em tons de cinza representam os dois hospedeiros. As espécies de Eimeria com oocisto contendo ou não o corpo residual estão indicadas pelas barras horizontais.

Page 158: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

158

Figura D.2 - Filograma obtido por máxima parcimônia da SSU de rRNA nuclear de espécies de Eimeria de coelho e galinha domésticos. Os

valores de bootstrap encontram-se indicados nos nós. Os quadros em tons de cinza representam os dois hospedeiros. As espécies de Eimeria com oocisto contendo ou não o corpo residual estão indicadas pelas barras horizontais.

Page 159: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

159

Figura D.3 - Filograma obtido por máxima verossimilhança da SSU de rRNA nuclear de espécies de Eimeria de coelho e galinha domésticos. Os valores de bootstrap encontram-se indicados nos nós. Os quadros em tons de cinza representam os dois hospedeiros. As espécies de Eimeria com oocisto contendo ou não o corpo residual estão indicadas pelas barras horizontais.

Page 160: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

160

Figura D.4 - Filograma obtido por neighbor-joining da LSU de rRNA do apicoplasto de espécies de Eimeria de coelho e galinha domésticos. Os

valores de bootstrap encontram-se indicados nos nós. Os quadros em tons de cinza representam os dois hospedeiros. As espécies de Eimeria com oocisto contendo ou não o corpo residual estão indicadas pelas barras horizontais.

Page 161: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

161

Figura D.5 - Filograma obtido por máxima parcimônia da LSU de rRNA do apicoplasto de espécies de Eimeria de coelho e galinha domésticos.

Os valores de bootstrap encontram-se indicados nos nós. Os quadros em tons de cinza representam os dois hospedeiros. As espécies de Eimeria com oocisto contendo ou não o corpo residual estão indicadas pelas barras horizontais.

Page 162: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

162

Figura D.6 - Filograma obtido por máxima verossimilhança da LSU de rRNA do apicoplasto de espécies de Eimeria de coelho e galinha

domésticos. Os valores de bootstrap encontram-se indicados nos nós. Os quadros em tons de cinza representam os dois hospedeiros. As espécies de Eimeria com oocisto contendo ou não o corpo residual estão indicadas pelas barras horizontais.

Page 163: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

163

Figura D.7 - Filograma obtido por neigbor-joining do citocromo b mitocondrial de espécies de Eimeria de coelho e galinha domésticos. Os

valores de bootstrap encontram-se indicados nos nós. Os quadros em tons de cinza representam os dois hospedeiros. As espécies de Eimeria com oocisto contendo ou não o corpo residual estão indicadas pelas barras horizontais.

Page 164: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

164

Figura D.8 - Filograma obtido por máxima parcimônia do citocromo b mitocondrial de espécies de Eimeria de coelho e galinha domésticos. Os

valores de bootstrap encontram-se indicados nos nós. Os quadros em tons de cinza representam os dois hospedeiros. As espécies de Eimeria com oocisto contendo ou não o corpo residual estão indicadas pelas barras horizontais.

Page 165: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

165

Figura D.9 - Filograma obtido por máxima verossimilhança do citocromo b mitocondrial de espécies de Eimeria de coelho e galinha

domésticos. Os valores de bootstrap encontram-se indicados nos nós. Os quadros em tons de cinza representam os dois hospedeiros. As espécies de Eimeria com oocisto contendo ou não o corpo residual estão indicadas pelas barras horizontais.

Page 166: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

166

Figura D.10 - Filograma obtido por neigbor-joining da ORF470 de apicoplasto de espécies de Eimeria de coelho e galinha domésticos. Os

valores de bootstrap encontram-se indicados nos nós. Os quadros em tons de cinza representam os dois hospedeiros. As espécies de Eimeria com oocisto contendo ou não o corpo residual estão indicadas pelas barras horizontais.

Page 167: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

167

Figura D.11 - Filograma obtido por máxima parcimônia da ORF470 de apicoplasto de espécies de Eimeria de coelho e galinha domésticos. Os

valores de bootstrap encontram-se indicados nos nós. Os quadros em tons de cinza representam os dois hospedeiros. As espécies de Eimeria com oocisto contendo ou não o corpo residual estão indicadas pelas barras horizontais.

Page 168: URSULA CASTRO DE OLIVEIRA

168

Figura D.12 - Filograma obtido por máxima verossimilhança da ORF470 de apicoplasto de espécies de Eimeria de coelho e galinha

domésticos. Os valores de bootstrap encontram-se indicados nos nós. Os quadros em tons de cinza representam os dois hospedeiros. As espécies de Eimeria com oocisto contendo ou não o corpo residual estão indicadas pelas barras horizontais.