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1 Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation.
Florianópolis, SC, Brazil, October 07-10, 2015.
USO DA IMPRESSÃO 3D NA FABRICAÇÃO
DE ÓRTESES – UM ESTUDO DE CASO
Bruno O. Fernandes
Universidade Tecnológica
Federal do Paraná
Curitiba, Paraná, Brasil
José A. Foggiatto
Universidade Tecnológica
Federal do Paraná
Curitiba, Paraná, Brasil
Paloma H. Poier
Universidade Tecnológica
Federal do Paraná
Curitiba, Paraná, Brasil
RESUMO As órteses são dispositivos utilizados para
melhorar o padrão anatômico e funcional de
membros com limitações devido a enfermidades
ou acidentes. Este trabalho propõe uma nova metodologia para o projeto e a fabricação de
órteses customizadas utilizando tecnologias como
o escaneamento e a Impressão 3D para
assegurar uma melhor adaptabilidade e maior
conforto para o usuário. Foi utilizado um programa para realizar o escaneamento 3D a
partir de uma série de fotos do modelo do
membro afetado. A órtese foi modelada em um
programa CAD-3D a partir da superfície gerada no escaneamento e fabricada por Impressão 3D
em PLA. O resultado mostrou-se promissor e
atualmente a órtese está sendo utilizada por uma
criança com paralisia cerebral e avaliada por sua terapeuta ocupacional.
PALAVRAS-CHAVE Órteses; Tecnologia
Assistiva; Impressão 3D; Escaneamento 3D.
ABSTRACT
Orthoses are devices used to improve the
anatomical and functional pattern of members with limitations due to illness or accidents. This
paper proposes a new methodology for the
design and manufacturing of customized orthoses
using scanning and 3D printing technologies to ensure better adaptability and comfort for the
user. A program was used to perform the 3D
scan, from a series of photos of the affected limb
model. The orthosis was modeled in a 3D-CAD software from the surface generated in scanning,
and was manufactured in PLA by 3D Printing. The
result was promising and currently the orthosis is
being used by a child with cerebral palsy and being evaluated by an occupational therapist.
KEYWORDS Orthosis; 3D printing; Assistive
Technology; 3D Scanning.
INTRODUÇÃO
Segundo o Comitê de ajudas técnicas a
Tecnologia Assistiva “é uma área do
conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias,
estratégias, práticas e serviços que objetivam
promover a funcionalidade, relacionada à
atividade e participação, de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade
reduzida, visando sua autonomia, independência,
qualidade de vida e inclusão social” [1].
As órteses são dispositivos de Tecnologia Assistiva utilizadas em diferentes contextos de
tratamento. Podem ser empregadas para facilitar
a cicatrização em procedimentos pós-cirúrgicos e
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traumáticos, para a manutenção ou promoção da
amplitude articular, na substituição ou facilitação
de uma função, na prevenção e correção de deformidades, para apoiar um membro lesionado,
entre outras possíveis aplicações [2]. O uso das
órteses pode evitar ou adiar procedimentos
cirúrgicos e invasivos [3]. A Figura 1 mostra um exemplo de órtese comercial.
Figura 1: Exemplo de órtese comercial.
Fonte: http://www.exclusivasiglesias.com/
Embora as aplicações e benefícios das órteses
sejam conhecidos e aceitos, no Brasil, a sua utilização é limitada devido a diversos entraves
divulgados em um relatório do Conselho Nacional
de Saúde em 2010 [4]. Segundo o documento, o
Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza alguns modelos de órteses para a população,
entretanto os municípios desconhecem os
procedimentos para aquisição dos mesmos [4].
Os processos burocráticos de licitação para a compra normalmente atrasa a entrega aos
usuários e, consequentemente, prejudicam o
tratamento. Sobre a qualidade dos produtos, o
Grupo de Trabalho relatou não haver nenhum
procedimento padrão para testar as características das órteses vendidas ou cedidas
pelo SUS, nem mesmo pelos órgãos de controle
Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)
e Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia). O relatório também
aponta como deficitária a gestão de recursos para
esta finalidade [4].
Além da disponibilização pelo SUS existem as órteses comerciais e órteses confeccionadas por
terapeutas ocupacionais em contexto clínico. As
órteses comerciais têm como característica
negativa a impossibilidade de modelagem personalizada ou de mudança nos ângulos
articulares. No caso das órteses confeccionadas
pelos terapeutas, especialmente para membro
superior, as tecnologias de desenvolvimento são bastante artesanais, o que, em alguns casos
implica em desconforto para o usuário e
imprecisão de forma. Além disso, o custo unitário
é alto devido ao valor do material utilizado. Durante o processo de prescrição e confecção
de uma órtese é necessário um exame detalhado
do membro que receberá o dispositivo. Deve-se
observar e considerar as proeminências ósseas, as deformidades existentes e outras estruturas
que possam causar pontos de pressão ou lesões
[5]. Após o desenvolvimento também é essencial
o acompanhamento dos pais e terapeutas para assegurar que a órtese esteja auxiliando na
funcionalidade ou impedindo o avanço de
deformidades [5].
Crianças com Paralisia Cerebral são usuárias
de órteses entre outros dispositivos de Tecnologia Assistiva, pelo motivo de que podem apresentar
diversos problemas relacionados ao controle
motor e ter suas habilidades funcionais
comprometidas [2]. Estas crianças podem ter limitações que as impedem de realizar tarefas e
atividades típicas do cotidiano infantil. A
reabilitação e a Tecnologia Assistiva são recursos
terapêuticos que buscam gerar independência e autonomia, dentro das possibilidades das
mesmas [2].
Em grande parte dos casos, crianças com
Paralisia Cerebral apresentam alterações de tônus
muscular e padrões inadequados de movimento e postura [3]. Estas alterações podem afetar os
membros superiores e inferiores, mas com
relação ao membro superior, a Paralisia Cerebral
é considerada uma das patologias de maior dificuldade para definição do tratamento e
evolução [6]. As contraturas em membros
superiores são frequentes e em alguns casos há
acometimento da articulação do punho. Segundo Sposito [7], estas deformidades podem acarretar
a perda de 60% da função manual.
Para melhor compreensão da deformidade em
flexão de punho é importante conhecer os padrões saudáveis de flexão desta articulação.
Segundo a literatura, a maior amplitude ativa
possível do punho é de 90° [8] (Figura 2),
partindo da posição neutra (0°) ilustrada na
Figura 3. Em caso de desiquilíbrios sensório-
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motores decorrentes da Paralisia Cerebral este
ângulo pode ser superior a 90 graus.
Figura 2: Maior grau de flexão de punho
Figura 3: posição neutra ou 0° grau
Tanto os ângulos de flexão do punho quanto as articulações da mão podem apresentar
alterações devido a espasticidade [9]. A
espasticidade é “aumento na tensão do músculo
quando ele é passivamente alongado, a qual é causada por um exagero do reflexo de
estiramento muscular” [10] e está presente em
88% dos casos de Paralisia Cerebral [11].
Quando não tratada, causa contraturas, rigidez,
luxações, dor e deformidades. Como tratamento preventivo destas
deformidades, as crianças devem ser
acompanhadas por equipe multidisciplinar em
geral formada por fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, médicos neurologistas, ortopedistas
entre outros, para evitar o tratamento cirúrgico e
invasivo.
O tratamento conservador, ou não cirúrgico, baseia-se na mobilização, alongamento,
estiramento passivo e utilização de órteses. De
acordo com Sposito [7] as órteses são
comumente empregadas para manter o
comprimento muscular e impedir a evolução das contraturas, pois quando um musculo é
passivamente estirado ocorre “uma diminuição da
sensibilização do reflexo de estiramento, com
redução da espasticidade” [7].
Com o intuito de contribuir no processo de melhoria do tratamento conservador, este
trabalho apresenta uma proposta de
metodologia para a produção de órteses
customizadas utilizando tecnologias de escaneamento e impressão 3D.
A impressão 3D (ou Manufatura Aditiva) é uma tecnologia cada vez mais empregada no
desenvolvimento de produtos, visto o seu
potencial de aplicação [12]. O processo, de
maneira geral, consiste na deposição de sucessivas camadas de material uma sobre a
outra, partindo de uma geometria modelada em
um sistema CAD 3D (Computer Aided Design)
[13].
Na área da saúde a manufatura aditiva tem sido aplicada em preparações para cirurgias,
diminuindo as possibilidades de erro e o tempo
para os procedimentos, na criação de estruturas
chamadas de scaffolds utilizadas para facilitar o desenvolvimento celular, em próteses
implantadas ou substitutivas de membros [14].
Dispositivos de Tecnologia Assistiva também têm sido fabricados com a manufatura aditiva.
Segundo Silva e Maia [15], desde 2001 existem
pesquisas com a aplicação da Manufaura Aditiva em desenvolvimento de Tecnologia Assistiva no
Brasil. Os autores relatam a produção do Centro
de Tecnologia da Informação Renato Archer
(CTI) que apoia projetos para auxílios para a vida diária, recursos de acessibilidade ao
computador, órteses e próteses, adequação
postural, auxílios para cegos ou com visão
subnormal, auxílios para surdos ou com déficit auditivo [15].
No caso das órteses, existem relatos, porém poucas pesquisas científicas divulgadas.
Entretanto, existem indícios de que esta
tecnologia pode favorecer o processo de
desenvolvimento destes dispositivos. Um dos fatores indicativos é a velocidade de produção.
Quanto mais rápido for o início do uso de órteses, melhores serão os resultados obtidos.
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Portanto, a impressão 3D é a tecnologia mais
adequada para assegurar essa agilidade na
fabricação. Além da diminuição do tempo de espera, acredita-se que a metodologia proposta
resolva outros problemas encontrados nas
órteses atuais: imprecisão, desconforto e alto
custo. Para avaliar o método, foi realizado um
estudo de caso com uma criança com paralisia
cerebral de uma instituição de atendimento a
pessoas com deficiência.
METODOS/PROCEDIMENTOS
O trabalho foi desenvolvido seguindo a
metodologia ilustrada na Figura 4:
Figura 4: metodologia utilizada.
Seleção do caso
A criança foi selecionada a partir da avaliação e indicação do terapeuta ocupacional da
instituição. Trata-se de um adolescente de 14
anos, cadeirante, com tetraparesia espástica
decorrente da Paralisia Cerebral. Ele apresenta deformidade nas articulações dos punhos, sendo
este o motivo da indicação de órteses.
Segundo a avaliação da terapeuta
ocupacional, a órtese mais adequada seria a
estática seriada. Como a deformidade já estava instalada, não haveria condições de uma órtese
que posicionasse punho e mão diretamente para
a posição neutra. Seria necessário, portanto, uma
angulação gradativa.
Aquisição da anatomia
Depois de selecionada a criança, o passo
seguinte foi definir a melhor maneira para capturar a forma do membro que receberá a
órtese. Verificou-se que esta é a etapa mais
importante do processo.
Com o objetivo de causar o menor desconforto na criança, optou-se por utilizar um
procedimento rápido de aquisição da forma da
articulação do punho. Logo, a alternativa de usar
gaze engessada, por exemplo, foi descartada. Foi utilizada a massa de modelar. Este material, além
envolver o punho do paciente com facilidade, não
é agressivo para a pele e apresenta
características lúdicas. Devido a deformidade do punho da criança
foram necessários alguns cuidados no
posicionamento para obter a maior amplitude
passiva possível. Primeiramente, a terapeuta
ocupacional, responsável por acompanhar o processo, realizou massagens para alongar a
musculatura e posicionar o membro superior.
Quando o membro superior foi posicionado e o
punho estabilizado na posição de maior amplitude articular passiva possível - estipulada
pela terapeuta ocupacional - uma porção de
massa de modelar foi colocada ao redor da região
da qual se desejava adquirir a forma. O molde foi então retirado e levado para o escaneamento 3D.
Foi necessário repetir o processo duas vezes,
visto que na primeira tentativa a quantidade de
massa utilizada foi subdimensionada (150g) e as
paredes ficaram muito finas. Isso resultou em alteração da geometria do molde durante o
transporte. Infelizmente isso somente foi
percebido na etapa de avaliação.
Na aquisição da anatomia para a segunda órtese, foi utilizado o dobro de massa. Além
disso, foram medidas algumas distâncias
consideradas importantes: a largura da mão, do
punho e o comprimento dos dedos. Desta vez
Seleção do Caso
Aquisição da anatomia
Escaneamento 3D
Modelagem 3D
Impressão 3D
Acabamento
Avaliação
5 Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation.
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não houve alteração nas dimensões da forma e
seguiu-se para a etapa de escaneamento.
Escaneamento 3D
Para realizar o escaneamento do molde, foi
adotada uma solução que dispensou o uso de equipamentos específicos. Foi utilizado o software
123D Catch (Autodesk® Inc.), disponível para
computadores, tablets e celulares. O programa é
bastante intuitivo, de simples operação e realiza
o escaneamento 3D a partir de fotos (de 20 a 40) tiradas ao redor do objeto que se deseja o
modelo tridimensional.
Foram respeitadas as recomendações de
utilização contidas no tutorial do programa, sendo estas: a utilização de uma superfície plana
e de cor sólida para posicionar o objeto, a
colocação de quadrados de papel coloridos ao
redor do modelo para facilitar a interpretação das imagens pelo programa, e a utilização de uma
escala ao lado do modelo para facilitar o posterior
dimensionamento do modelo 3D. Objetos com
referências bem definidas são mais facilmente reconhecidos pelo programa, portanto, foi
desenhado um quadriculado no molde escaneado.
Para assegurar a conformidade dimensional, o
molde teve suas dimensões verificadas a partir
das medidas coletadas no momento de aquisição da forma. A primeira órtese não passou por esse
procedimento, e não foi identificada a variação
dimensional da peça antes da modelagem e
fabricação. A Figura 5 mostra uma das fotos utilizadas no
escaneamento; nela é possível notar que o
modelo foi preparado segundo as recomendações
do tutorial.
Figura 5 - Molde preparado para o escaneamento.
As fotos capturadas foram processadas pelo
123D Catch, que gerou um modelo tridimensional
do objeto (exportado para o formato obj).
Modelagem 3D
A representação tridimensional da mão e do
braço é o ponto de partida para o
desenvolvimento da órtese. Como a superfície gerada pelo escaneamento possui uma malha
muito complexa e muito detalhada. Isso acarreta
problemas na modelagem, pois malhas muito
complexas, como se pode observar na Figura 6, dificultam ou impedem o uso de operações ou
ferramentas como cortes, espessamento,
arredondamentos ou suavizações. O alto nível de
detalhamento, que a princípio pode parecer uma
vantagem, pode gerar pontos de pressão, como por exemplo, nas dobras da pele em articulações
dos dedos ou do punho.
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Figura 6 - Malha obtida no 123D Catch.
Como os softwares disponíveis não permitiram
simplificar essa malha de maneira automatizada,
a estratégia selecionada foi utilizar a malha
obtida somente como referência para a
modelagem da órtese a partir de uma malha simplificada.
O primeiro passo foi importar a malha, vinda
do escaneamento, no programa 3DS MAX
(Autodesk® Inc.). Para se obter a superfície adequada a ser usada como referência,
deletaram-se as partes laterais e inferiores do
modelo. A superfície resultante é mostrada na
Figura 7. A modelagem partiu de um plano simples que
foi conformado, através da movimentação de
vértices e arestas, primeiramente na parte
inferior do braço. Em seguida, o plano foi dividido; uma parte dele seguiu a extensão da
palma e dos dedos e a outra seguiu o dedo
polegar. Para finalizar, foram modeladas as
superfícies laterais.
Figura 7 - Superfície de referência.
Durante essa etapa, a modelagem foi
realizada de forma que a malha que estava sendo gerada acompanhasse a geometria da superfície
de referência, no entanto deveria ser suave e não
demasiadamente detalhada, para evitar pontos
de pressão. Outro detalhe importante é que a
superfície foi gerada considerando um espaçamento (offset) de um milímetro entre a
superfície de referência e a nova malha, pois
depois da impressão seria aplicada uma camada
de EVA (Acetato de Vinila) na órtese. A Figura 8 mostra superfície obtida pela
modelagem, onde é possível notar uma malha
muito mais simples do que a obtida pelo
escaneamento 3D. Para transformá-la em um modelo sólido, que
pudesse ser produzido por manufatura aditiva, a
superfície recebeu um espessamento de três
milímetros.
Esta fase foi a mais demorada de todo processo e depende muito da experiência do
projetista no uso do programa de modelagem.
Foram utilizadas cerca de cinco horas para
concluir o modelo.
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Figura 8 - Superfície obtida por modelagem
Impressão 3D
A primeira órtese foi impressa em resina acrílica fullcure 720 (Stratasys® Inc.) com a
impressora Eden 250 disponível no Núcleo de
Prototipagem e Ferramental (NUFER) da UTFPR.
O processo, denominado Polyjet, deposita finas camadas de resina, que são imediatamente
curadas pela exposição à luz ultravioleta. No
entanto, o custo desse material inviabiliza a
aplicação para órteses, visto a órtese custaria R$ 807,00 (sem considerar o custo da hora/
máquina).
A segunda órtese, ilustrada na Figura 9, foi
fabricada na impressora 3D CLONER (Microbras).
Esta máquina é nacional e usa o processo FDM (Modelagem por Fusão e Deposição). Foi utilizado
o biopolímero PLA (ácido poliláctico) na forma de
filamento. Esse material é fundido e forçado
através de um bico extrusor calibrado que deposita cada uma das camadas. A grande
vantagem desse processo é o preço do material,
visto que a órtese foi produzida a um custo de R$
27,00 (sem considerar o valor da hora/máquina). Embora a qualidade superficial não seja tão boa
quanto a órtese impressa em resina acrílica, isso
não inviabiliza o seu uso para essa aplicação.
Figura 9 - Órtese impressa em PLA
Acabamento
Como a Impressora 3D utilizada na segunda
órtese possui apenas um bico extrusor e a
geometria da órtese possuía regiões suspensas
(com necessidade de suporte para a sua
fabricação), foi necessária uma etapa de pós-processamento para a retirada dos suportes e
lixamento das superfícies.
Para aumentar o conforto da órtese durante
sua utilização, foi colocada uma camada de EVA na superfície que entraria em contato com a mão
da criança. A cola utilizada foi o cianoacrilato.
O sistema de fixação da órtese na mão da
criança foi feito com tiras de velcro que contornam a mão e o antebraço. Elas são coladas
à superfície inferior da órtese, onde há outra tira
de velcro. Para que o velcro não entrasse em
contato direto com a pele da criança, foram confeccionadas proteções de EVA.
Avaliação
A etapa de avaliação foi planejada em duas fases: a primeira ocorreu no momento da
colocação da órtese na criança, onde a equipe de
execução do projeto e a terapeuta ocupacional
analisaram a adaptabilidade do dispositivo. Para a segunda etapa foi desenvolvido um
instrumento de avaliação contendo sete
questões. Os itens de avaliação foram baseados
nos princípios encontrados na literatura
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considerados importantes para o sucesso do uso
da órtese [16]:
1. Eficácia no posicionamento ou
funcionalidade desejada;
2. Facilidade de colocação;
3. Facilidade de retirada; 4. Facilidade de higienização;
5. Localização do velcro;
6. Conforto;
7. Estética.
Para cada item, o respondente deve atribuir
um valor de 0 a 10. O respondente também deve
observar se, após o uso diário, houve sinais de pontos de pressão, tais como vermelhidão ou
lesões. Devido a dificuldade de expressão verbal
da criança o instrumento foi encaminhado para a
sua família e para a terapeuta ocupacional.
Síntese da aplicação da metodologia
Esta metodologia está em desenvolvimento
e, embora os resultados tenham sido considerados bons, estão sendo feitos estudos
para a substituição do programa 123D Catch pelo
uso de escâneres a laser para o escaneamento
direto ou indireto dos membros que receberão as
órteses. A intenção é evitar a dependência com o programa comercial que atualmente disponibiliza
gratuitamente os modelos 3D no formato STL.
A etapa de modelagem 3D deverá também
será reavaliada visando acelerar esse processo. Outros programas serão testados para a
simplificação das superfícies fornecidas pelos
escâneres.
O objetivo principal do desenvolvimento dessa metodologia é simplificar ao máximo cada
etapa para que a produção de órteses utilizando
a impressão 3D possa se popularizar nas
instituições que atendem crianças com
deficiência. O fluxograma ilustrado na Figura 10 mostra as etapas da metodologia destacando os
principais recursos utilizados.
Figura 10: Síntese da metodologia aplicada ao caso.
RESULTADOS
A primeira órtese (Figura 11) não foi validada. Na etapa de colocação ela não se adequou a
anatomia do braço e da mão da criança. Foi
verificado que o molde teve a sua geometria
alterada durante o transporte. Com excelente acabamento superficial, a órtese feita em resina
acrílica poderia ser utilizada para essa aplicação
se o custo do material não fosse tão alto.
• ADOLESCENTE DE 14 ANOS
• NECESSIDADE DE ÓRTESE DEVIDO A DEFORMIDADE EM MEMBRO SUPERIOR ESQUERDO
Seleção do Caso
•POSICIONAMENTO REALIZADO PELA TERAPEUTA OCUPACIONAL
•MOLDE EM MASSA DE MODELAR
Aquisição da anatomia
•PREPARAÇÃO DO MOLDE PARA O ESCANEAMENTO
•ESCANEAMENTO VIA PROGRAMA 123D CATCH (Autodesk® Inc.)
Escaneamento 3D
•MODELAGEM NO PROGRAMA 3DS MAX (Autodesk® Inc.)
Modelagem 3D
•PLANEJAMENTO DOS SUPORTES
•FABRICAÇÃO NA IMPRESSORA 3D CLONER
Impressão 3D
•RETIRADA DOS SUPORTES E LIXAMENTO
•COLOCAÇÃO DE CAMADA DE EVA E DOS VELCROS
Acabamento
•MELHORA IMEDIATA
•COMPARAÇÃO DE IMAGEM
•INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO
Avaliação
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Figura 11 - Primeira órtese não validada.
A segunda órtese, mostrada nas Figuras 12 e
13, foi aprovada pela terapeuta ocupacional no
momento da colocação e via instrumento de avaliação. A geometria, acabamento e elementos
de fixação foram imediatamente considerados
adequados ao caso em estudo.
Figura 12: Vista lateral da órtese.
Figura 13 - Vista inferior da órtese.
A Figura 14 ilustra a mão da criança sem o
uso da órtese. Verifica-se que, em função da contratura causada pela espasticidade, o ângulo
formado entre o antebraço e a mão é de 42
graus.
Figura 14: Mão da criança sem o uso da órtese.
Este ângulo evidencia a gravidade da
deformidade, pois a maior flexão possível, segundo a literatura, é de 90 graus, no caso da
criança esta amplitude chega a aproximadamente
138 graus (figura 14).
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Observa-se na Figura 15 que, com o uso da
órtese, o ângulo entre o antebraço e a mão
aumentou para 106 graus, diminuindo o valor de flexão para 74º. É previsto que a criança receba
outras órteses futuramente, aumentando
gradativamente esse ângulo.
Até o momento, não foi possível avaliar o ganho de amplitude articular ativa, mas observa-
se, através da comparação entre as Figuras 14 e
15, a melhora imediata após a colocação da
órtese.
Figura 15: Órtese posicionada na mão da criança.
Com relação ao instrumento de avaliação
desenvolvido o mesmo foi respondido pela terapeuta ocupacional após duas semanas de
uso. As respostas podem ser verificadas na
Tabela 1.
As menores pontuações foram as de conforto,
localização do velcro e facilidade de colocação e posicionamento. Nos itens de estética e facilidade
de retirada a avaliação foi próxima ao maior
escore.
A família não respondeu a avaliação até o momento.
Itens avaliados
1 a 10
Eficácia no posicionamento
ou funcionalidade desejada
8
Facilidade de retirada 9
Facilidade de colocação e
posicionamento
7
Facilidade de higienização 8
Localização do velcro 7
Conforto 7
Estética 9
Tabela 1: Itens avaliados pela terapeuta ocupacional
DISCUSSÃO
Na avaliação imediata do uso da órtese foi
possível observar um aumento na amplitude articular passiva de quarenta e dois para cento e
seis graus.
Durante a colocação da órtese, observou-se
que a articulação do punho não se apoiou completamente no dispositivo (Figura 15).
Acredita-se que, com o uso contínuo, e
consequente aumento da amplitude articular, a
acomodação ocorrerá. Essa inconformidade sugere que o ângulo do
punho no momento de aquisição da forma era
maior do que o ângulo que de fato a órtese
deveria apresentar. Essa diferença pode ter sido
causada por diversas variáveis, como a temperatura, o alongamento realizado
anteriormente, condições de conforto da criança,
etc. Para tentar padronizar essas condições, será
necessária a elaboração de um protocolo de obtenção do molde. Estão sendo estudadas
outras concepções para a órtese prevendo um
sistema de articulação regulável que permitirá
maior flexibilidade no posicionamento do melhor ângulo para a órtese.
Sobre a avaliação respondida pela terapeuta
ocupacional, todos os quesitos obtiveram escore
acima de 5. Porém aqueles de menor nota, como
conforto, localização do velcro e facilidade de colocação e posicionamento serão discutidos com
11 Fourth International Conference on Integration of Design, Engineering and Management for innovation.
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a terapeuta com a intenção de promover
melhorias nas próximas órteses.
Na avaliação do material PLA, utilizado na impressão 3D da segunda órtese, foi verificado
que ele possuía resistência suficiente para essa
aplicação, tendo um custo aproximadamente
trinta vezes menor que o custo da resina acrílica utilizada na primeira órtese.
As falhas na etapa de aquisição da anatomia
acarretaram no descarte da primeira órtese. Esta
atividade exige habilidade e rapidez na moldagem do membro que receberá a órtese,
não deve causar desconforto e nem agredir a
pele da criança. Desse modo, a massa de
modelar cumpre os requisitos, porém provoca imprecisões dimensionais e geométricas,
causadas principalmente no transporte ou no
manuseio. Elas podem ser minimizadas através
de medições do membro, e da verificação, nas
etapas seguintes, da replicação dessas medidas. Para estudos futuros sugere-se a utilização de
outros materiais para a moldagem, como o
alginato – material utilizado na odontologia –
que, apesar de mais caro, garante maior precisão geométrica, também não é agressivo à pele, e
tem uma cura rápida [17].
A etapa de modelagem 3D da órtese foi
considerada crítica, pois ela depende da experiência do profissional no programa de
modelagem. Estudos estão sendo realizados para
definir qual programa é o mais adequado para
transformar as superfícies escaneadas em
superfícies que permitam o espessamento, gerando o sólido base para a órtese.
A avaliação da funcionalidade e da eficácia da
órtese em possibilitar o aumento da amplitude
articular está em andamento. Outros aspectos relacionados ao uso contínuo - como facilidade de
higienização, conforto, ocorrência de pontos de
pressão, durabilidade e resistência dos materiais
também estão em processo de avaliação.
CONCLUSÃO
Sugere-se a criação de um protocolo para a
aquisição da anatomia, pois o posicionamento correto do membro que receberá a órtese é
fundamental para o sucesso do projeto e
depende do profissional de saúde que está
acompanhando o processo.
O instrumento de avaliação desenvolvido
também será aprimorado com a inclusão de
questões sobre os procedimentos de dispensação da órtese. Pretende-se no futuro comparar o
método utilizado com os processos convencionais
de desenvolvimento e disponibilização de órteses.
A fim de eliminar os problemas encontrados durante o desenvolvimento da órtese, sugere-se
o aprofundamento na análise de materiais a
serem utilizados na aquisição da anatomia. Outro
fator importante é a definição de um método para a modelagem tridimensional da órtese, a fim
de possibilitar que profissionais menos
experientes possam gerar os modelos de forma
sistematizada. Finalmente, é esperado que as informações
obtidas pelo acompanhamento deste e de outros
casos, a longo prazo, possibilite aperfeiçoar essa
metodologia para a fabricação de órteses com o
uso das tecnologias de Impressão 3D.
AGRADECIMENTOS
À UTFPR, CNPq e CAPES pelas bolsas
concedidas para a execução desse trabalho, a empresa All Copy, representante da Impressora
3D Cloner em Curitiba, pela impressão da órtese
em PLA e a Escola de Educação Especial Vivian
Marçal pela parceria nesse estudo piloto.
REFERÊNCIAS
[1] Brasil, 2009, “Subsecretaria Nacional de
Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência.
Comitê de Ajudas Técnicas. Tecnologia Assistiva” CORDE, Brasília, pp 138.
[2] Van Petten A. M. V. N., Ávila A. F., Silva e
Lima C. G., 2014, “Efeito do uso de órtese de
punho na função manual”, Cad. Ter. Ocup,
UFSCar, São Carlos, 22(1), pp 79-87. [3] Alon, G., Mcbride, K., 2003, “Person with
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