USO DE GEOTECNOLOGIA PARA CONSTRUÇÃO DO MAPA DA ÁREA 600 DA UNIDADE DE SAÚDE SANTOS ANDRADE EM CURITIBA (PR)

PRATES, Venina UTP - venina.prates@utp.br MANOEL, Adriana UTP - adrimanoel@yahoo.com.br

BRISKI, Sandro UTP - sandro.briski1@utp.br As Unidades de Saúde (US) com Programa Saúde da Família (PSF)1 do Município de Curitiba tem a responsabilidade de realizar o acompanhamento epidemiológico das famílias dos seus entornos. O acompanhamento ocorre por meio de equipes volantes que se dirigem às residências dos moradores, usuários do serviço de saúde. Uma das questões que dificulta e prejudica o trabalho das equipes nesse acompanhamento é a deficiência de mapas que auxiliem na localização das famílias e sua quantificação. Esta situação reflete o principal objetivo do trabalho que foi propor o desenvolvimento de um mapa analógico com o apoio de Sistemas de Informações Geográficas (SIG), com base nos dados epidemiológicos que possa servir de apoio para as ações da equipe de saúde da Unidade de Saúde Santos Andrade. A área de estudo esta localizada no bairro Campo Comprido, nas margens do Rio Mossunguê, bacia do Rio Barigüi, sendo uma das áreas de maior risco físico, ambiental e social. Para a elaboração do trabalho foram necessárias as atividades de campo, escritório e geoprocessamento. O mapeamento da área de abrangência permite que se desenvolva o planejamento e a avaliação das ações de saúde no nível local. O conhecimento de características demográficas, sociais e de saúde permite visualizar situações de risco e priorizar as ações de saúde. Sendo assim o trabalho no Programa Saúde da Família (PSF)1 seria dificultado sem a existência de mapas. A possibilidade de trabalhar com Sistemas de Informações Geográficas (SIG), que permita atualizações constantes, é um avanço, pois os mapas são um grande facilitador do trabalho das equipes de saúde.

Palavras Chave: geoprocessamento, epidemiologia, prevenção The Health Units (US) with the Family Health Program of Curitiba has the responsibility of carrying out the epidemiologic attendance of the families of its surroundings. The attendance takes place through volant teams that go to the family residences, users of the health service of health. One of the questions that makes it difficult for the team to work is the lack of maps to help them in the location and quantification of the families. This situation reflects the principal objective of the work that proposed the development of an analogical map with the support of Geographical Information Systems (GIS), on basis of the epidemiologic data that could be used as a support for the health team actions of the Santos Andrade Health Unit. This area of study is located in Campo Comprido (a neighborhood in Curitiba), beside Mossunguê River, basin of Barigüi River, being one of the areas in higher physical, environmental and social risk. For the preparation of the work field, office and geoprocessing activities were necessary. The maping of the area allows us to develop the planning and the evaluation of the health actions in the local level. The knowledge of demographic, social and health characteristics allows us to visualize risky situations and priorize the health actions. Therefore, the work in Family Health Program would be harder without the maps. The possibility of working with Geographical Information Systems (GIS), which allows constant updating, is an advancement, since the maps are a great facilitators of the health teams work. Keyword: geoprocessing, epidemiologic, prevention 1Atualmente, o PSF é definido como Estratégia Saúde da Família (ESF), ao invés de programa, visto que o termo programa aponta para uma atividade com início, desenvolvimento e finalização.

INTRODUÇÃO A Epidemiologia preocupa-se com a freqüência e o padrão dos eventos relacionados com o

processo saúde-doença na população. Essa ciência voltada para a saúde pública é responsável no desenvolvimento de estratégias para as ações voltadas para a proteção e promoção da saúde da comunidade. Constitui-se também como instrumento para o desenvolvimento de políticas no setor da saúde.

As Unidades de Saúde (US) com Programa Saúde da Família (PSF)1 do Município de Curitiba tem a responsabilidade de realizar o acompanhamento epidemiológico das famílias dos seus entornos. O acompanhamento ocorre por meio de equipes volantes que se dirigem às residências dos moradores, usuários do serviço de saúde.

A densidade de ocupação dessas áreas é média e alta, onde se destacam as áreas invadidas. Há deficiência de serviços de saneamento básico, de áreas verdes e de lazer e de equipamentos públicos em geral.

Uma das questões que dificulta e prejudica o trabalho das equipes, no acompanhamento epidemiológico dos usuários, é a deficiência de mapas que auxiliem na localização das famílias e sua quantificação, fator este que pode contribuir para as equipes traçarem com segurança e precisão os planos de ações da saúde.

Devido à percepção da realidade de uma dessas Unidades de Saúde (Unidade de Saúde Santos Andrade), faz-se necessário a realização deste projeto em virtude de um acompanhamento mais eficaz, pois é uma área com alto índice de pessoas acamadas, crianças sem vacinação ou vacinas atrasadas, animais domésticos com sarna, falta de saneamento, acúmulo de lixo e vários pontos de tráfico e uso de drogas.

A rede própria municipal de Curitiba é composta por 123 equipamentos de saúde, sendo que, destas, 47 Unidades Básicas de Saúde, 48 Unidades Básicas com Programa Saúde da Família (PSF), 11 Unidades de saúde complexas, 7 Centros de Atendimento Psicossocial - CAPS, 8 Centros Municipais de Urgências Médicas - CMUM´s, 1 Hospital Geral e Maternidade (Centro Médico Comunitário Bairro Novo), 1 Laboratório de análises clínicas (SMS, 2007).

A rápida expansão demográfica aliada as grandes dificuldades financeiras que a população tem enfrentado vem acarretando grandes problemas sociais. Um deles é o crescimento acelerado de favelas, que na maioria das vezes, surgem em locais impróprios para moradia, como em nascentes e leitos de rios.

A área de estudo pertence à Unidade de Saúde Santos Andrade localizada no Bairro Campo Comprido, nas margens do Rio Mossunguê, Bacia do Rio Barigui. Está sujeita as inundações que

1 Atualmente, o PSF é definido como Estratégia Saúde da Família (ESF), ao invés de programa, visto que o termo programa aponta para uma atividade com início, desenvolvimento e finalização.

trazem focos de doenças, sendo uma das áreas de maior risco físico, ambiental e social atendidas pela US.

Não há registro de um mapa oficial em que a equipe de saúde apóie-se para desenvolver suas atividades, assim, diante deste impasse, o objetivo principal deste trabalho foi propor o desenvolvimento de um mapa analógico e um mapa cadastral com o apoio de Sistema de Informações Geográficas (SIG), com base nos dados epidemiológicos como suporte para a ação da equipe de saúde da unidade de saúde auxiliando na localização das famílias e sua quantificação, otimizando o trabalho.

A área de estudo, Jardim Santos Andrade, localiza-se no bairro Campo Comprido região oeste da cidade de Curitiba, no Estado do Paraná, está situada entre as coordenadas: latitude s 25º27’22” e longitude o 49º19’21” e latitude s 25º27’29” e longitude o 49º19’01”.

O bairro por muito tempo foi passagem para o caminho que levava a Ponta Grossa e região dos Campos Gerais. Povoado por chácaras, a então Estrada do Mato Grosso – hoje Rua Eduardo Sprada – era área rural e sossegada, entretanto hoje é pólo de sofisticados condomínios residenciais (Figura 1).

FIGURA 1 – CONDOMÍNIOS DE LUXO

Fonte: Fernandes, M (2007) Localizada em fundo de vale nas margens do rio Mossunguê, o Jardim Santos Andrade

apresenta três realidades distintas de ocupação do solo: aproximadamente 56% da população reside em loteamento regulamentado, 6,5% em conjuntos habitacionais da Cohab e 37,5% das famílias residem em áreas de ocupação irregular (SMS, 2007). Sendo assim a área 600 é caracterizada por ser uma das áreas de maior risco físico, ambiental e social atendida pela Unidade de Saúde Santos Andrade (Figura 2).

FIGURA 2 – ÁREA 600 – JARDIM SANTOS ANDRADE

Fonte: Modificado de Google Earth (2008)

Por ser uma planície de inundação, no período das chuvas, as famílias sofrem as conseqüências das enchentes e desmoronamento das margens do Rio Mossunguê, o que as coloca em situação de risco permanente (Figura 3)

Figura 3 – Áreas de risco

Fonte: Manoel, A. 2008

A insalubridade do ambiente ocorre devido à falta de saneamento e do lixo acumulado. Como não há instalações diretas de água tratada, muitas famílias utilizam água de poço contaminada e de algumas bicas (Figura 4) existentes no local. Mesmo sabendo dos riscos, a população continua

consumindo destas fontes. Um dos fatores que causa a contaminação da água são os esgotos domiciliares (Figura 5) lançados diretamente no rio.

Figura 4 – Poço e Bica

Fonte: Silva, M.I.V. (2007)

Figura 5 – Esgotos domiciliares lançados no rio Mossunguê

Fonte: Silva, M.I.V. (2007)

A principal fonte de renda de algumas famílias é a reciclagem do lixo, o que causa um transtorno a mais na região. Há um acúmulo muito grande de resíduos sólidos recolhido nas residências (Figura 6) e no terreno vago existente na área, contribuindo para a proliferação de roedores e outros animais, com potencial a veiculação de doenças.

Figura 6 – Lixo acumulado

Fonte: Manoel, A. (2008)

Tabela 1 - Riscos a que estão submetidas às famílias que vivem na área 600

Riscos Descrição Motivos

Riscos Ambientais

• Inundações • Contaminações • Desabamentos

• Ocupações lindeiras • Falta de saneamento • Acúmulo de lixo

Riscos Habitacionais

• Vulnerabilidade e fragilidade ambiental

• Insalubridade das habitações

• Estruturas e materiais de construção frágeis ou inflamáveis

• Precárias condições habitacionais, de infra-estrutura e higiene

Riscos Sociais

• Violência • Reduzidas oportunidades e

possibilidades de formação e trabalho

• Redução de auto-estima

• Alto nível de exposição a riscos • Baixo nível de atendimento público

(infra-estrutura, serviços públicos) • Preconceito Social

Observa-se na figura 7 que as construções são antigas, portanto é baixo o índice de migração de famílias para outras comunidades, contribuindo assim para a verticalização das construções (Figura 8).

Figura 7 – Construções antigas

Fonte: Manoel, A. (2008)

Figura 8 – Construção verticalizada

Fonte: Silva, M.I.V (2007)

Observa-se (Figura 9) que algumas famílias residem em habitações inadequadas e com precária higiene domiciliar e pessoal. Embora algumas casas sejam de alvenaria, o piso geralmente é de cimento bruto, terra batida ou de madeira com frestas como também os telhados muitas vezes não tem forro, favorecendo a entrada de roedores e outros animais peçonhentos.

Figura 09 – Telhado sem forro e piso

Fonte: Silva, M.I.V (2007)

Em contrapartida há uma área de destaque por sua organização e limpeza do local ao meio da

invasão da área 600, onde residem três famílias, que cultivam árvores frutíferas e hortas. (Figura 10)

Figura 10 - Chácara

Fonte: Silva, M.I.V (2007)

Outro local de destaque é a Casa de Apoio Abibe Isfer (Figura 11) que beneficia aproximadamente 200 famílias com atividades sócio-culturais, além de desenvolver trabalhos como: oficinas de artesanato, computação, educação, artes e recreação. Além disso, o instituto dá assistência a vários grupos de mães e adolescentes, com o objetivo de retirar a população da marginalidade, ensinando conceitos de cidadania e de cuidados pessoais a todas as pessoas. Por meio de algumas parcerias com a Prefeitura Municipal de Curitiba, a Casa de Apoio sede seu espaço físico para a realização do contra-turno escolar e outras atividades na área do ensino (LIMA, 2005).

FIGURA 11 – CASA DE APOIO ABIBE ISFER

Fonte: Manoel, A. (2008)

Entre os problemas existentes na região, há um alto índice de alcoolismo, consumo e tráfico

de drogas além do descaso dos pais com a higiene pessoal e atenção familiar. A maioria das crianças residentes na área faz suas refeições na creche ou na escola, sendo muitas vezes sua única refeição. O único local para o lazer delas é um campinho de areia e um parquinho (Figura 12).

Figura 12 – Área de lazer

Fonte: Silva, M.I.V (2007)

COHAB

A Prefeitura Municipal de Curitiba tem intenção na remoção destas famílias, mas não há interesse dos moradores nas alternativas de outras áreas ofertadas. Enquanto o poder público não tomar uma providência, cada vez mais aumentará as ocupações irregulares neste local. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Neste trabalho não foram utilizados imagens de satélite para a elaboração dos produtos,

devido à dificuldade (custos) de aquisição de imagens com boa resolução para mapear a área 600, pois imagens com resolução baixa cedidas pelo INPE como Landsat e CBERS não seria possível delimitar detalhadamente todas as casas, sendo assim optou-se fazer levantamento em campo com o auxilio de GPS e bússola e com o apoio da agente comunitária Maria Izabel Vaz da Silva. Assim estabelecido o que fazer, vieram as atividades de como fazer. Para estas foram realizadas as atividades de campo, geoprocessamento e escritório.

Atividade de campo

Para a realização das atividades de campo, já com o croqui (Figura 14) elaborado determinou-se os pontos de controle (coordenadas planas retangulares, espaçadas aleatoriamente), com o apoio do GPS.

FIGURA 14 – CROQUI DA ÁREA 600

Elaborado por Manoel, A. (2008)

As informações sobre as residências dos usuários foram coletados através de cadastramento das famílias. Os dados epidemiológicos foram levantados com a pesquisa e investigação na realidade social, através das condições de vida, condições ambientais e condições de moradias.

GEOPROCESSAMENTO

A segunda fase do projeto constituiu na confecção dos produtos cartográficos. A primeira

atividade resumiu-se na vetorização do croqui por meio do software AutoCadR-14 (Figura 15). Para o cadastramento das famílias foi utilizado o software Spring 4.3.3 (INPE, 2008) (Figura 16), onde posteriormente criou-se um projeto apresentando características de projeção, retângulo envolvente, datum, zona, meridiano central, pertinentes ao recorte espacial. No modelo de dados foram criados categorias do tipo temático e cadastral.

A escolha baseou-se principalmente, em função da relação custo/benefício proporcionado por este software, apresentando bom desempenho mesmo com equipamento de pouca capacidade de processamento, além de apresentar uma interface amigável com os usuários.

Figura 15 – Mapa da área 600

Figura 16 – Mapa cadastral da área 600 Utilizou-se também o programa Excel para a construção da tabela da área médica (Figura 17)

e tabela da área odontológica (Figura 18), com as informações dos usuários da área coletados em atividades de campo.

Figura 17 – Exemplo de tabela área médica

Figura 18 – Exemplo de tabela área odontológica

Escritório

A atividade de escritório resumiu-se em pesquisas teóricas conceituais, organização de dados

brutos, confecção sistematizada das informações como suporte aos planos de ações, compilação de informações primárias e secundárias e descrever as informações de campo para finalmente apresentar os resultados.

RESULTADOS Segundo a Dr. Ana Maria Sant’Ana, médica e do Dr. Shoji Adachi, odontólogo, ambos da

Unidade de Saúde Santos Andrade, responsáveis pela área 600, as equipes do Programa Saúde da Família (PSF) são responsáveis pela população residente num território estabelecido segundo critérios geográficos. No ano de 2007 havia cerca de 27 mil equipes de PSF no Brasil, atendendo a uma população de 88 milhões de pessoas. O mapeamento da área de abrangência permite que se desenvolva o planejamento e a avaliação das ações de saúde no nível local. O conhecimento de características demográficas, sociais e de saúde permite estabelecer situações de risco e priorizar ações como planejamento familiar, prevenção de doenças crônico-degenerativas como osteoporose, câncer e doenças cardiovasculares, pré-natal, acompanhamento do crescimento e desenvolvimento de crianças, saúde mental, controle de doenças infecciosas, saúde bucal e outras.

O trabalho no PSF seria dificultado sem a existência de mapas, e a possibilidade de trabalhar com Sistemas de Informações Geográficas (SIG), permitindo atualizações constantes, é um avanço de relevância inestimável. Diante disso pode-se afirmar que o objetivo proposto foi atingido com êxito, pois os mapas são um grande facilitador do trabalho das equipes de saúde, que certamente se refletirá na qualidade de vida da população atendida. A figura 19 apresenta o produto gerado para as aplicações pelos profissionais de saúde em campo do Jardim Santos Andrade em Curitiba (PR). Figura 19 – Mapa da Micro área 600 da Unidade de Saúde Santos Andrade

Elaborado por: Manoel, A. (2008)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mediante a coleta das informações em campo associado às informações epidemiológicas da

unidade de saúde foi possível concluir que a incorporação desse instrumental geotecnológico aparece como uma alternativa, tendo em vista a expressiva demanda de informações sobre diversas áreas, em especial aquelas mais pobres e informais.

O uso de Sistemas de Informações Geográficas (SIG) é um instrumento tecnológico eficiente, tendo em vista a expressiva demanda de informações, tanto das condições de saúde, como na localização dos usuários.

Sendo assim, o mapa analógico atingiu o objetivo proposto, pois através dele pode-se ter a localização imediata dos lotes e do programa que cada paciente está inscrito otimizando o trabalho dos profissionais de saúde.

Através dos resultados parciais obtidos neste trabalho, propõe-se dar continuidade nas outras áreas pertencentes à Unidade de Saúde Santos Andrade. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA CURITIBA. Secretaria Municipal da Saúde (SMS). Prefeitura Municipal de Curitiba, 2007. LIMA, Júlio César: Casa de Apoio Abibe Isfer. Matéria de responsabilidade do Gabinete do Deputado Marcos Isfer, 2005. Disponível em: http://www.alep.pr.gov.br/arquivos/geral_noticias_conteudo.php?notoid=128&grupo=4. Acesso em 17/10/2007. SPRING: Integrating remote sensingand GIS by object-oriented data modelling” Camara G, Souza RCM, FreitasUM, Garrido J Computers & Graphics, 20:(3) 395-403, May-Jun 1996.