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VANIA LUCIANE ALVES GARCIA LIMEIRA COMPORTAMENTO ALIMENTAR, PADRÃO DE ATIVIDADES E USO DO ESPAÇO POR A/ouaa fusca (PRIMATES, PLATYRRHINI) EM UM FRAGMENTO DEGRADADO DE FLORESTA ATLÂNTICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Banca Examinadora: Dr. Leandro Salles Presidente da Banca Ora. Cibele R. Bonvicino Dr. Ulisses Caramaschi Rio de Janeiro, 09 de agosto de 1996. ii

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VANIA LUCIANE ALVES GARCIA LIMEIRA

COMPORTAMENTO ALIMENTAR, PADRÃO DE ATIVIDADES E

USO DO ESPAÇO POR A/ouatta fusca (PRIMATES,

PLATYRRHINI) EM UM FRAGMENTO DEGRADADO DE

FLORESTA ATLÂNTICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Banca Examinadora:

Dr. Leandro Salles Presidente da Banca

Ora. Cibele R. Bonvicino

Dr. Ulisses Caramaschi

Rio de Janeiro, 09 de agosto de 1996.

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Local de realização do trabalho:

Museu Nacional / UFRJ

Departamento de Vertebrados

Seção de Mastozoologia

Orientador:

Instituição:

Luiz Flamarion B. de Oliveira

Museu Nacional / UFRJ

Departamento de Vertebrados

Seção de Mastozoologia

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FICHA CATALOGRÁFICA

LIMEIRA, Vãnia Luciane Alves Garcia Comportamento Alimentar, Padrão de Atividades e Uso do Espaço por Alouatta fusca (Primates, Platyrrhini) em um Fragmento Degradado de Floresta Atlântica no Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. UFRJ,

Museu Nacional, 1996. Número de páginas introdutórias: XVI. 137p. Tese: Mestre em Ciências Biológicas (Zoologia) 1. Alouatta fusca 2. Padrão de atividades 3. Comportamento alimentar 4. Uso do espaço

1. Universidade Federal do Rio de Janeiro - Museu Nacional li. Teses

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. '·

O sol tefletia sobte as co�as das átvote!: e aquecia o iMtante ...

O som do ambiente em que me enconttava qual obsetvadota quebl'Ou-se com o l'Onco dos batbados •..

�oni, entijo, ao �eteebet que o meu alvo de anos de �e!:quisa ••. a e!:�écie de macaco que sem�te me cativou a atençijo, nijo �odia set �l'Oduto do acaso ••.

�oni ao �eteebet que meu alvo de anos de �e!:quisa eta cuidadoso mas longo te!:ultado de excelente ctiaçijo. � que !unto com outl'Os lindos detalhe!: da natuteza que nos cetea nos fQzem acteditat �lena e �tofundamente num significado mais magnificente �ª"ª a existência.

�mocionei-me com os saltos ágeis tealizados com caudas longas segutando e colotindo os galhos ...

�mocionei-me com as de!:cobettas de hábitos e atitude!: de sete!: vivos belamente �l'Oletados �ata enchet de alegtia a vivência humana!

Obtigada, Ctiadot!!!

Ilustração da Fieldiana Zoology, New Series, 39, 1987.

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AGRADECIMENTOS

Às seguintes pessoas e instituições devo meus sinceros agradecimentos:

- Dr. Luiz Flamarion B. de Oliveira, pela orientação, apoio e críticas ao

trabalho .

- Dr. Alfredo Languth pela sua orientação e incentivo ao desenvolvimento

inicial deste trabalho.

- Eduardo Gasparian pelo apoio total durante o desenvolvimento do traballho

de campo na Mata Boa Vista .

- Neucimar, senhor Elias, seu Carlinhos, senhor Jorge, dona Zilda e à todos os

funcionários da Fábrica de Lanifício Alto da Boa Vista que de uma forma ou de

outra me ajudaram com tudo o que eu precisava para o trabalho de campo.

- Roberto Malatesta Rodrigues meu fiel companheiro e ajudante de campo,

obrigada também por estar sempre presente em todos os momentos que

precisei.

- Jorginho pela sua grande participação na coleta e herborização das amostras

de plantas.

- Angélica querida amiga e vizinha de Levy Gasparian, que por muitas vezes

se preocupou comigo se eu havia chegado bem em casa, depois de um dia

inteiro de trabalho no mato. Obrigado também pelas ótimas refeições.

- Bruno por ter me ajudado com a metodologia aplicada aos estudos em

fitossociologia na Mata Boa Vista.

- Andrea pela sua ajuda e orientação na triagem das amostras de plantas.

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- botânicos do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, principalmente Haroldo

Lima, Mário Gomes, ítalo, Bruno, Claudia, Cyl e Marli pela identificação das

espécies vegetais.

- Professor José Luis Drummond Alves, COPPE/UFRJ, pela disposição em me

ajudar com o programada de computador que utilizei para elaborar o mapa

com as rotas dos barbados.

- João Alves pela amizade, incentivo e valiosa colaboração nas análises

estatísticas.

- Márcia Jardim pela amizade e pelas dicas nas análises dos dados.

- Patrícia, Márcia, Paulo Cesar (PC) e Érika, meus colegas da Seção de

Matozoologia por terem me ajudado a realizar alguns trabalhos de digitação e

elaboração de tabelas de dados.

- Ora. Karen Strier e Dr. Steve Ferrari, pelo incentivo e sugestões quanto ao

trabalho de campo e análise dos dados.

- Carlão Limeira, meu marido, pelo seu grande apoio em todas as fases deste

trabalho.

- CAPES pela bolsa de estudos a mim concedida.

- Patrícia pela colaboração na ilustração de alguns desenhos.

- Roberta Raquel pela sua inspiração especial que enriqueceu com certeza

este trabalho.

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viii

RESUMO

Ao longo de 12 meses um grupo de quatro indivíduos (1 macho adulto, 1

macho subadulto e 2 fêmeas adultas) de Alouatta fusca foi acompanhado

durante cinco dias cada mês, em um fragmento de mata degradado de 80 ha,

localizado no município de Comendador Levy Gasparian, Rio de Janeiro. Um

estudo fenológico de 320 árvores foi realizado concomitantemente às

observações comportamentais de A. fusca. O comportamento alimentar,

padrões de atividades e o uso do espaço foram registrados através de

amostragens instantâneas de 3 minutos a cada 7 minutos de intervalo.

Cinqüenta e oito dias completos de observação foram utilizados, totalizando

700 horas de observação direta dos animais e 13. 715 registros

comportamentais foram tomados. Os percursos diários do grupo foram

medidos após os dias das observações comportamentais. A dieta foi

constiuida de folhas (72%}, frutos (12%) e flores (10%). Diferenças

significativas foram observadas entre as porcentagens no consumo de folhas e

flores entre as estações do ano O consumo de folhas foi maior no outuno e

inverno do que na primavera e verão. Já o consumo de flores foi maior na

primavera e verão. O grupo de estudo gastou 73% do seu dia descansando,

15% alimentando-se, 11 % locomovendo-se, 0,48% socializando, O, 14% em

atividade de dessedentação, O, 11 % vocalizando e O, 78% engajado em outras

atividades. Houve diferenças significativas no tempo gasto em repouso,

alimentação e locomoção entre as estações do ano. No verão o grupo

repousou menos, se alimentou mais e se locomoveu menos, enquanto que no

inverno se alimentou menos e repousou e se locomoveu mais. O tamanho da

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área domiciliar do grupo foi de 11,6 ha. É a maior área domiciliar já observada

para esta espécie. No inverno e primavera o número de quadrados de 25m x

25m utilizados foi significativamente maior do que no verão e primavera. Em

geral, a porcentagem de ítems na dieta bem como os padrões de atividades do

grupo foram semelhante aos padrões observados em outras áreas de estudos.

No entanto, algumas diferenças foram observadas considerando as diferentes

estações do ano. Parte das diferenças observadas em relação a outros grupos

em outras regiões podem estar relacionadas principalmente com a perda da

diversidade de espécies vegetais devido ao acentuado grau de fragmentação

da floresta e a disponibilidade, distribuição, densidade e conteúdo químico dos

recursos vegetais.

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ABSTRACT

Feeding behavior, patterns of activity and use of space of Alouatta fusca

(Primates, Platyrrhini) in a degraded fragment of the Atlantic forest, State

of Rio de Janeiro.

During 12 months, a wild group of four individuais ( 1 adult male, 1 undermale

and 2 adults females ) of Alouatta fusca was followed for five days each month,

in a 80 ha fragment of secondary forest located in the County of Comendador

Gasparian, in the State of Rio de Janeiro. A phenological study of 320 trees in

the area was performed concomitantly. The monkeys' feeding behavior, activity

patterns, and home range were registered by scan sampling every three

minutes, with ?-minute intervals. Fifty-eight complete days of observation were

analyzed, totaling 700 hours of direct observation with 13,715 behavioral

records taken. The daily movements of the group were measured after the

behavioral observations were taken. The diet included leaves (72% ), fruits

(12%) and flowers (10%). Significant differences were detected between

percentages in the use of leaves and flowers among seasons. Leaf

consumption was greater in the Autumn and Winter. Flower comsumption was

greater in the Spring and in the Summer. The group spent 73% of the day

resting, 15% feeding, 11 % moving, 0.48% in social interactions, 0. 14%

drinking, O, 11 % vocalizing, and O, 78% performing other activities. There were

significant seasonal differences in the amount of time spent resting, feeding,

and moving. ln the Summer, the group

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spent more time foraging, and less time resting or moving, whereas in the

winter it spent less time feeding and more time resting and moving. Home­

range was 11.6 ha, the largest recorded for this species to date. ln the Winter

and in the Autumn the number of 25x25m squares used was significantly larger

than in the Summer and in the Spring. Generally, the percentage of items in the

diet and patterns of activity of the group were similar to the patterns observed

in other study areas. Nevertheless, some seasonal differences have been

observed, part of which may be related to the low plant diversity due to the

accentuated level of forest fragmentation, and to the availability, distribution,

density and phytochemical content of the plant resources.

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ÍNDICE GERAL

FICHA CATALOGRÁFICA DEDICATÓRIA AGRADECIMENTOS RESUMO ABSTRACT ÍNDICE GERAL ÍNDICE DE FIGURAS ÍNDICES DE TABELAS

INTRODUÇÃO GERAL Objetivos Gerais

ÁREA DE ESTUDO

Localização Clima Vegetação Fauna

GRUPOS E GRUPO DE ESTUDO

MATERIAL E MÉTODOLOGIA GERAL Aspectos Fenológicos Observações Comportamentais Avaliação das Amostragens Comportamentais Análise Geral dos Dados

CAPÍTULO 1 COMPORTAMENTO ALIMENTAR

Introdução Métodos Resultados

Utilização mensal, sazonal anual e diurna do itens alimentares Disponiblidade de recursos e itens alimentares Utilização diária sazonal e anual de espécies vegetais Disponibilidade de Recursos e as principais espécies vegetais na dieta Diversidade de Espécies Vegetais Consumidas

Discussão Seletividade de Itens e Espécies Vegetais e a Disponibilidade de Recursos Variação Diurna na Seleção Alimentar

xii

vi V

vi vii

viii xii xiv xvi

1

5

6

6

8

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16

17

18

18

20 25 29

31 33 35 35 39 42 45

47 48

48

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CAPÍTULO 2 PADRÃO DE ATIVIDADES

Introdução Métodos Resultados

Orçamento de Atividades Mensal, Sazonal e Anual Repouso Alimentação Locomoção Ciclo Diurno de Atividades Diferenças entre Classes Sexo-Etárias

Discussão Comparações lntraespecíficas no Orçamento de Tempo Fatores que Influenciam o Tempo Gasto em Repouso Fatores que Influenciam o Tempo Gasto em Alimentação Fatores que Influenciam o Tempo Gasto em Locomoção Padrões Diurnos de Atividades

Comparação Entre Classes Sexo-Etárias

CAPÍTULO 3 USO DO ESPAÇO

Introdução Métodos Resultados

Área de Uso Uso da Área e Recursos Alimentares Percurso Diário Percurso Diário e Suas Relações com o Comportamento Alimentar, Disponibilidade e Distribuição de Recursos Uso dos Estratos Verticais da Floresta

Discussão Fatores que Afetam o Tamanho Anual e Sazonal da Área Domiciliar A variação no Uso da Área Domiciliar Fatores que Afetam a Extensão do Percurso Diário Utilização dos Estratos Verticais da Floresta

CONCLUSÕES Conservação da Espécie

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

xiii

58

59

61 61

63 64 64 65

70 72 72 73 74

77 79 82

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86 88

88

95

101

101 103

106

106 109

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120

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ÍNDICE DE FIGURAS

INTRODUÇÃO GERAL

ÁREA DE ESTUDO 1 - Mapa mostrando a localização da área de estudo, Mata Boa

Vista, no Município de Comendador Levy Gasparian, RJ. 2 - Precipitação média mensal de 1985 a 1992 e do perf odo de

1993/1994, Estação Meteorológica de Avelar, Rio de Janeiro, RJ. Fonte: Instituto Nacional de Meteorologia.

3 - Temperaturas médias das máximas e mínimas mensais de 1985 a 1992, média máxima e mínima mensal 1993/1994 e temperatura média compensada 1993/1994, Estação Meteorológica de Avelar, Rio de Janeiro. Fonte: Instituto Nacional de Meteorologia.

4 - Foto mostrando dois perfis da Mata Boa Vista. Na foto (a) observa-se uma variedade de espécies vegetais em diferentes estágios de sucessão. Na foto (b) ao fundo observa-se uma predominância de Pseudopiptadenia conforta Leg. Mimosaceae no estrato superior da mata.

5 - Foto mostrando a Mata Boa Vista, durante os períodos úmido e seco.

CAPÍTULO 1

xiv

página 7

9

10

12

15

1 - Porcentagem anual de itens alimentares consumidos por Alouatta 36 fusca na Mata Boa Vista.

2 - Porcentagem de tempo gasto no consumo de itens alimentares em diferentes estações do ano.

3 - Variação diurna na porcentagem de itens alimentares consumidos por Alouatta. fusca.

4 - Número de indivíduos arbóreos (expresso em porcentagem) apresentando diferentes fenofases mensalmente. DESDA = desfolhados; DESFO =- desfolhando; FOSE = folhas secas; BRO = brotando; NOV = folhas novas; MAO= folhas maduras.

CAPÍTULO 2

38

40

41

1 - Ciclo diurno anual das principais atividades comportamentais de 66 Alouatta fusca na Mata Boa Vista.

2 - Comparação entre o ciclo diurno de tempo gasto em repouso em 67 cada estação do ano e o padrão anual (esperado) observados no grupo de estudo.

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XV

3 - Comparação entre o ciclo diurno de tempo gasto em alimentação 68 em cada estação do ano e o padrão anual (esperado) observados no grupo de estudo.

4 - Comparação entre o ciclo diurno de tempo gasto em locomoção em 69 cada estação do ano e o padrão anual (esperado) observados no grupo de estudo.

5 - Porcentagens médias e desvio padrão de tempo gasto diariamente 71 em repouso(a), alimentação(b) e locomoção( c) entre as categorias sexo-etárias.

CAPÍTULO 3 1 - Porcentagem acumulada de quadrados diferentes usados por 89

Alouatta fusca na Mata Boa Vista ao longo do período de estudo. 2 - Área domiciliar do grupo de estudo e distribuição dos quadrados 90

(25m X 25m) utilizados. 3 - Área domiciliar do grupo e distribuição dos quadrados (25m X 25m) 92

utilizados no outono (abril, maio e junho/93) e inverno (julho, agosto e setembro/93).

4 - Área domiciliar do grupo e distribuição dos quadrados (25m X 25m) 93 utilizados na primavera (outubro, novembro e dezembro) e verão (janeiro, fevereiro e março).

5 - Uso diferencial anual da área de uso do grupo, expresso como a 94 porcentagem do número de dias de observação (n=58) no qual cada quadrado foi utilizado.

6 - Porcentagens de uso dos quadrados da área de estudo por Alouatta 97 fusca quanto a atividade de alimentação no outono.

7 - Porcentagens de uso dos quadrados da área de estudo por Alouatta 98 fusca quanto a atividade de alimentação no inverno.

8 - Porcentagens de uso dos quadrados da área de estudo por Alouatta 99 fusca quanto a atividade de alimentação no primavera.

9 - Porcentagens de uso dos quadrados da área de estudo por Alouatta 100 fusca quanto a atividade de alimentação no verão.

1 O - Uso dos estratos verticais da floresta por Alouatta fusca na Mata 104 Boa Vista baseado no número total de registros extraídos das amostragens instantâneas. 1 = solo; 2 = O <h�Sm; 3 = Sm< h �10m; 4 = 10m<h�15m; 5 = > 15m.

11 - Distribuição de freqüência do uso dos estratos verticais em que 105 cada atividade comportamental foi observada. R = repouso; A = alimentação; L = locomoção; LO = locomoção direcional; D = dessedentação; S = social; V = vocalização; DEF = defecação . 1 = solo; 2 = O <h�Sm; 3 = Sm< h �1 0m; 4 = 1 0m<h�15m; 5 = > 1 Sm.

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ÍNDICE DE TABELAS

INTRODUÇÃO GERAL

ÁREA DE ESTUDO

xvi

1 - Lista de famílias, subfamílias e espécies de plantas da Mata Boa 13 Vista. As freqúências foram extraídas em uma transsecção ao longo de um percurso diário de A fusca.

2 - Número e composição dos grupos de Alouatta fusca na Mata Boa 17 Vista.

3 - Distribuição dos dias de observações, números de registros, 23 amostras e indivíduos por amostra em cada mês de coleta de dados comportamentais.

4 - Análise de possíveis diferença na observação entre os indivíduos 27 do grupo de estudo.

CAPÍTULO 1 1 - Médias mensais, sazonais e anuais das porcentagens de itens 37

alimentares, consumidos diariamente por Alouatta fusca na Mata Boa Vista.

2 - Porcentagem de tempo gasto sazonalmente e anualmente no 43 consumo de espécies de plantas e seus respectivos itens alimentares que fizeram parte da dieta de Alouatta fusca na Mata Boa Vista.

3 - Fenologia mensal das três espécies de árvores mais consumidas 46 pelo Alouatta fusca na Mata Boa Vista.

4 - Indicas de diversidade de espécies vegetais na dieta de A fusca 47 na Mata Boa Vista e Reserva Biológica de Santa Genebra (H = índice de diversidades de Shannon-Wiener; J = uniformidade nas proporções de uso das espécies na dieta).

CAPÍTULO 2 1 - Médias mensais, sazonais e anual de tempo gasto por Alouatta 62

fusca em diferentes atividades diárias na Mata Boa Vista, durante o período de estudo

CAPÍTULO 3 1 - Números mensais, sazonais e anual de quadrados (25m X 25m)

usados pelo grupo de estudo. 2 - Distâncias médias mensais, sazonais e anual percorridas pelo

grupo estudo

91

102

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INTRODUÇÃO GERAL

As florestas tropicais são bem conhecidas pela sua alta diversidade de

espécies vegetais e observam-se peculiaridades em termos de espécies,

gêneros e famílias em cada região (RICHARDS, 1952). As variações nas

condições do solo, suprimento de água, clima e topografia são as maiores

causas da variação encontrada nestas formações florestais, das quais boa parte

dos primatas direta ou indiretamente obtêm seu alimento (OATES, 1987).

Os primatas e as florestas tropicais compartilham uma longa história de

associação. Associações estas que envolvem muitos benefícios mútuos, mas que

também podem resultar em prejuízos. Por exemplo, como a grande maioria dos

primatas são arborícolas, muitos deles são inteiramente dependentes dos

recursos produzidos por árvores e trepadeiras, tais como: folhas novas, flores e

frutos de onde eles adquirem seus requerimentos nutricionais diariamente. As

chances de germinação das sementes de várias plantas podem ser aumentadas

pela sua passagem através do trato digestivo dos primatas. Mas, por outro lado,

nem todas as partes e espécies de plantas podem ser consumidas pelos

primatas ou por outros mamíferos herbívoros.

As plantas, de alguma forma, defendem-se dos herbívoros através de

proteções sobre sua superfície (espinhos, por exemplo), por produzir substâncias

que reduzem a capacidade digestiva dos animais (celulose, hemicelulose,

ligninas, taninos e sílica) e/ou toxinas que podem repelir ou matar o herbívoro

(alcalóides, terpenóides, etc.) (HOWE & WESTLEY, 1988). Na maioria dos

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2

casos, as plantas exercem sua ação após a ingestão a fim de deter a seleção

futura (WATERMAN, 1984) .

Estudos têm demonstrado a influência da composição química da planta

sobre a seletividade alimentar de algumas espécies de primatas ( por exemplo:

MILTON, 1979; GLANDER, 1981; ROGERS et ai., 1993; KARGUPTA & KUMAR,

1994 ). Estes estudos observaram a preferência alimentar por folhas com alto

teor protéico e baixos teores de fibra e de compostos secundários (inibidores

digestivos e toxinas).

Mesmo diante da alta diversidade de plantas geralmente observada nas

florestas tropicais, a dieta dos primatas pode estar restrita a poucas espécies

vegetais . Por exemplo, GLANDER (1975; 1981) registrou que seu grupo de

Alouatta palliata das 100 espécies de árvores encontradas na sua área de

estudo, 80% do tempo de alimentação foram gastos em apenas 15 espécies.

A disponibilidade, distribuição, densidade e o tamanho dos recursos

vegetais utilizados como alimento são fatores que mais influenciam os padrões

comportamentais e dietários observados nos primatas (MILTON, 1980; STRIER,

1989, 1991; BICCA-MARQUES, 1991; BARTON et ai. , 1993; AGETSUMA, 1995a,

1995b). No entanto, a variabilidade da presença e concentração de nutrientes e

compostos secundários dos recursos vegetais também devem ser considerados.

Estes fatores, provavelmente, além de influenciar os padrões mencionados acima

devem também ser responsáveis pelas diferenças observadas nas densidades

populacionais de primatas em diferentes habitats. Oates et ai. (1990) observou

uma correlação negativa entre as densidades de primatas folívoros em diferentes

área africanas e as concentrações médias de compostos secundários nas

florestas em que estão localizados.

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3

As florestas tropicais em todo mundo estão sendo destruídas e reduzidas a

segmentos disjuntos principalmente devido à expansão agropecuária

(BERNSTEIN et ai. , 1976). No Brasil, a Floresta Atlântica que ocorre desde Rio

Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, têm sido uma região explorada e

devastada por muitos anos. MITTERMEIER et ai. (1982) a consideram como um

dos ecossistemas florestais mais ameaçado sobre a terra. Segundo LEITÃO

FILHO (1994) a Floresta Atlântica é uma formação muito heterogênea onde a

baixa similaridade entre os levantamentos florísticos já conduzidos indicam que

um grande número de espécies de árvores têm uma distribuição restrita e

ocorrem em regiões limitadas. Assim, a fragmentação em qualquer região da

Floresta Atlântica significa perda da diversidade.

Dentre as espécies endêmicas de primatas da Floresta Atlântica, Alouatta

fusca é a que possui uma distribuição mais ampla, ocorrendo desde o sul da

Bahia até o Rio Grande do Sul e, ainda, no nordeste da Argentina (HIRSCH et

a/., 1991). A espécie é conhecida popularmente, dependendo da região, como

bugio, guariba e barbado. Pode ser encontrada em diferentes tipos de habitats

tais como matas com Araucária, matas secundária, floresta deciduais,

semideciduais e perenifolias.

Devido a destruição que a Floresta Atlântica vem sofrendo, as populações

desta espécie ficaram restritas a áreas de diferentes tamanhos e condições

ambientais. Conforme observado por JANZEN (1975), o homem tem causado

distúrbios sobre a sucessão natural das florestas tropicais, o que tem ocasionado

a formação de agrupamentos vegetais não encontrados em nenhuma série

sucessional natural . Isso pode ter efeitos significativos sobre o A fusca, pois a

perda do habitat inalterado é amplamente reconhecida como a mais séria

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4

ameaça para a sobrevivência dos primatas (MARSH et ai. , 1987) . Entretanto, as

diferentes formas de alteração ambiental e seus efeitos sobre os primatas têm

sido objeto de poucos estudos (ibidem) .

As espécies de Alouatta são as únicas da Região Neotropical a incluir uma

proporção substancial de folhas na sua dieta (CARPENTER, 1934; AL TMANN,

1959; HILL, 1962; FOODEN, 1974; HLADIK AND HLADIK, 1969; EISENBERG

AND THORINGTON, 1973; MITTERMEIER, 1973; SMITH, 1977; GLANDER,

1978; MILTON, 1978), inclusive A. fusca (MENDES, 1989; CHIARELLO, 1992) .

No entanto, isto não significa que sejam folívoros altamente especializado.

MILTON (1978) classifica-os como folívoros comportamentais porque além de

não possuírem as especializações encontradas nos folívoros do Velho Mundo

como os Colobíneos (Cercopithecidae) e lndri ideos (lndriidae), sendo menos

eficiente em utilizar alimentos perenes (folha madura) que são mais abundantes

e preferem consumir folhas jovens de várias espécies e frutos que são itens

sazonais. Para CROCKETT E EISENBERG (1987) a classificação mais

apropriada com relação ao hábito alimentar de Alouatta é folívoro-frugívoro.

Alguns pesquisadores acreditam que, por ser folívoro e ter uma área de uso

relativamente pequena, Alouatta possa ter maiores chances de sobreviver em

habitats fragmentados (LOVEJOY et ai. , 1986). De acordo com TERBORGH

(1992), vários mecanismos causam a perda de espécies em florestas tropicais

que se tornam fragmentadas. Com o passar do tempo, mudanças na estrutura da

vegetação podem ocorrer, entre outros efeitos, e conseqüentemente podem

afetar as populações de primatas que estão confinadas a pequenos fragmentos

isolados. Por um outro lado, sob o ponto de vista evolutivo, segundo BOULIÊRE

(1979), para os mamíferos com habilidades de aprendizagem desenvolvidas,

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5

qualquer grau de novidade e imprevisibilidade do ambiente pode certamente

conceder vantagens, capacitando certos indivíduos à explorar possibilidades

novas e testar novos estilos de vida, que podem eventualmente levar a tradições

sociais novas.

Dentro deste contexto, torna-se relevante estudar o comportamento e

ecologia de A. fusca em habitats fragmentados que estejam isolados durante

muitos anos, não só para detectar as conseqüências do isolamento sobre o

comportamento, como também, para compreender e delimitar a amplitude da

variabilidade adaptativa desta espécie frente a diferentes condições ecológicas.

Objetivos Gerais

Considerando os aspectos básicos do comportamento e ecologia de

Alouatta, este trabalho foi direcionado à avaliação de três principais:

comportamento alimentar, padrões de atividades e uso do espaço. Os dados

obtidos para um grupo de A. fusca em um fragmento de habitat degradado são

comparados e discutidos com as informações existentes principalmente a nível

intraespecífico e em relação a disponibilidade, distribuição, densidade e

conteúdo químico de componentes da dieta. Aspira-se que os resultados deste

estudo auxiliem na identificação de parâmetros ecológicos determinantes da

sobrevivência de A. fusca em áreas degradadas e que a sua compreensão possa

contribuir para programas de conservação da espécie.

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6

ÁREA DE ESTUDO

Localização

A área estudada compreende um fragmento de Floresta Atlântica de

aproximadamente 80 ha bastante alterado denominado Mata Boa Vista (MBV)

Este fragmento está situado na Fazenda Amazonas, município de Comendador

Levy Gasparian, Região do Médio Vale do Paraíba do Sul Inferior, Rio de

Janeiro, as margens do Rio Paraibuna (22° 02' 30" S e 43° 11' 30" W) (Figura 1 ).

O relevo característico desta região foi modelado pelas ondulações muito

cortadas dos rios que proporcionaram um tipo de formação chamada "mar de

morros" ou "meias-laranjas" (DOMINGUES et ai. , 1976). As áreas adjacentes a

Mata Boa Vista são compostas principalmente por pastagens e algumas

moradias. Apenas um córrego está presente em toda Mata Boa Vista. Durante o

período seco, este córrego diminui drasticamente o seu fluxo de água. Parte da

área domiciliar do grupo de estudo passa por este córrego.

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7

Figura 1 - Mapa mostrando a localização da área de estudo, Mata Boa Vista, no Município de Comendador Levy Gasparian, Rio de Janeiro.

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n

9

dos meses de fevereiro de 1994 e junho de 1993 foram 34ºC e 10,9ºC,

respectivamente (Figuras 3 ).

·a ·u

..... 1 985-1 992 -a- 1 993/1994

400

350

300

250

200

1 50

1 00

50

o JAN MAR MAi JUL SET NOV JAN MAR

Mês

Figura 2 - Precipitação média mensal de 1985 a 1992 e do período de 1993/1994, Estação Meteorológica de Avelar, Rio de Janeiro, RJ. Fonte: Instituto Nacional de Meteorologia

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35

30

25

aJ 20

aJ Q)

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1 0

5

o JAN

� 1 985-1 992 Média das Máximas -9- 1993/1 994 Média das Máximas

-- 199311994 Média Compensada ________..__ 1985-1 992 Média das Mlnimas

- •-· 1 993/1994 Média das Mlnimas

MAR MAi JUL Mês

SET NOV

-· . •---

JAN MAR

Figura 3 - Temperaturas médias das maxImas e mmImas mensais de 1985 a 1992, médias máximas e mínimas mensais 1993/1994 e temperatura média compensada 1993/1994, Estação Meteorológica de Avelar, Rio de Janeiro. Fonte: Instituto Nacional de Meteorologia.

1 0

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1 1

Vegetação

A maior parte da Região do Médio Vale do Paraíba do Sul Inferior não

apresenta vestígios da vegetação nativa, que anteriormente cobria a região.

Atualmente grandes áreas são ocupadas por pastagens, aglomerações urbanas

restando apenas pequenas ilhas de mata.

Diferente das florestas úmidas da Serra do Mar, as florestas que restaram

da Região do Médio Vale do Paraíba do Sul Inferior se caracterizam por refletir

um clima mais seco; apresentam perda quase total das folhas no período seco,

um porte mais baixo e reduzido número de epífitas (DOMINGUES et ai. , 1976).

A vegetação da Mata Boa Vista pode ser caracterizada, segundo a

classificação da vegetação brasileira (VELOSO et ai. , 1991 ), como Floresta

Estacionai Semidecidual Submontana. A maior parte da vegetação atual é

secundária e apresenta vários estágios de sucessão com predominância de

algumas espécies arbóreas de leguminosas (Figura 4 ) . Em vários trechos da

mata, o estrato superior é constitu ído principalmente por Pseudopiptadenia

conforta (Leg. Mim. ) e Anadenanthera peregrina (Leg.Mim. ), sendo a densidade

da primeira mais alta. No estrato médio as espécies mais comuns, entre outras,

são: Apuleia leiocarpa (Leg. Cae. ), Platypodium elegans (Leg. Pap. ) e Brosimum

guianense (Moraceae) . Na Tabela 1 estão relacionados as espécies de plantas

mais encontradas na Mata Boa Vista bem como as freqüências com que cada

uma foi amostrada. Estas informações foram extraídas ao longo de um percurso

diário mais utilizado pelo grupo de estudo.

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(a)

(b)

Figura 4 - Foto mostrando dois perfis da Mata Boa Vista . Na foto (a) observa-se uma variedade de espécies vegetais em d iferentes estágios de sucessão. Na foto (b) ao fundo observa-se uma predominância de Pseudopiptadenia contorta (Leg . Mimosaceae) no estrato superior da mata.

12

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� ----.

13

Tabela 1 - Lista de famí l ias, subfamíl ias e espécies de plantas da Mata da Boa Vista. As freqüências foram extra ídas em uma transecção ao longo de um

percurso diário de A. fusca.

FAMÍLIA ESPÉCIE

1 ndeterm i nadas I ndeterminadas Leg. Caes. Apu/eia Jeiocarpa Leg. Mim. Pseudopiptadenia conforta Moraceae Brosimum guianense Anonaceae Rollinia sylvatica Leg. Mim. Piptadenia gonoacantha Leg. Mim. RSP24* Leg. Mim. Anadenanthera peregrina Flacourteaceae Gasearia sy/vestris Leg. Pap. Acosmium Jeutiscifolium Monimiaceae RSP1 0* Leg. Mim. RSP25* Euphorbiaceae Mabea fistulifera Moraceae RSP1 1 * Leg. Pap. Platypodium e/egans Nyctaginaceae RSP7* Rutaceae Dyctioloma sp. Leg. Pap. Dalbergia nigra Rubiaceae Alibertia Boraginaceae Cordia superba Leg. Mim. Piptadenia panicu/ata Sapindaceae RSP26* Myrtaceae RSP1 4* Indeterminada RSP23* Nyctaginaceae RSP8*

' I ndivíduos mortos 1 nderterminado Indeterminada RSP21 * Rutaceae RSP37* Lecythidaceae Cariniana estrellensis Lauraceae Cryptocarya moschata Erytroxelaceae Erythroxylum cuspidifolium. Leg. Mim. lnga cf tenuis Bignoniaceae Jacaranda sp. Lecythidaceae Lecythis Janceolata Chrysobalanaceae Licania kunthiana Leg. Pap. Machaerium nyctitans Leg . Caes. Pe/tophorum dubium Rubiaceae Psychotria nididula

Freqüência Proporção

88 0,200 38 0,086 35 0,080 33 0,075 26 0,059 22 0,050 22 0,050 1 9 0,043 1 8 0,041 1 4 0,032 1 3 0,029 1 2 0,027 1 0 0,023 1 0 0,023 9 0,020 7 0,01 6 6 0,01 4 5 0,01 1 4 0,009 4 0,009 4 0,009 4 0,009 3 0,007 3 0,007 3 0,007 2 0,005 2 0 ,005 2 0,005 1 0,002 1 0,002 1 0,002 1 0,002 1 0,002 1 0,002 1 0,002 1 0,002 1 0,002 1 0,002

%

20,00 8,64 7,95 7,50 5,91 5,00 5,00 4 ,32 4,09 3 , 1 8 2,90 2,73 2,27 2,27 2,05 1 ,59 1 ,36 1 , 1 4 0,91 0,91 0,91 0,91 0,68 0,68 0,68 0,45 0,45 0,45 0,23 0,23 0,23 0,23 0,23 0 ,23 0,23 0,23 0,23 0,23

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Tabela 1 - Continuação

Rubiaceae Psychotria sp. 1 1 0,002 0,23 Rubiaceae Randia armata 1 0,002 0,23 Flacou rteaceae RSP 1 * 1 0,002 0,23 Moraceae RSP1 2* 1 0,002 0,23 Moraceae RSP1 3* 1 0,002 0,23 Myrtaceae RSP1 8* 1 0,002 0,23 I ndeterminada RSP1 9* 1 0,002 0,23 Sapotaceae RSP29* 1 0,002 0,23 Polygonaceae RSP34* 1 0,002 0,23 Ulmaceae RSP35* 1 0,002 0,23 Meliaceae RSP9* 1 0,002 0,23 Hippocrateaceae Salacia sp. 1 0,002 0,23

440 1 ,00 1 00,00

* RSP# amostras de uma mesma espécie não identificada

Em vários trechos da mata o sub-bosque é rarefeito devido ao corte seletivo

de algumas espécies e, como o solo é muito compacto e descoberto, a

germinação e desenvolvimento de novos indivíduos torna-se difícil,

comprometendo, assim, a regeneração natural da mata. Durante o período seco

(de abril a setembro) a maioria das árvores aos poucos perde suas folhas até

ficar inteiramente desfolhadas. Acima do solo observa-se um acúmulo de folhas

secas. Ao iniciar o período úmido ( outubro a março) a aparência das árvores se

torna viva com o surgimento repentino de brotos e folhas novas até que suas

copas fiquem inteiramente cobertas de folhas. Com a chegada do período seco

começa um novo ciclo (Figura 5).

Dentro dos 80 ha da mata, uma plantação de eucaliptos ocupa cerca de

um quarto da área.

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L

,,

15

(a) (b)

Figura 5 - Foto mostrando o interior da Mata Boa Vista durante os períodos úmido (a) e seco (b) .

16

Fauna

Alouatta fusca é a única espécie de primata existente neste fragmento. De

acordo com os moradores locais, no passado havia mais barbados do que na

atualidade. Segundo os proprietários, a espécie já vivia nesta mata desde a

época da aquisição da fazenda em 1950. Nesse período a floresta já se

encontrava fragmentada. Certamente, a população da Mata Boa Vista está

isolada há mais de 40 anos. Outros mamíferos de porte grande observados na

área durante o período do estudo foram quati (Nasua nasua), tamanduá-de­

colete ( Tamandua tetradactyla) e irara (Eira barbara) .

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(a) (b)

Figura 5 - Foto mostrando o interior da Mata Boa Vista durante os períodos úmido (a) e seco (b).

16

Fauna

Alouatta fusca é a única espécie de primata existente neste fragmento. De

acordo com os moradores locais, no passado havia mais barbados do que na

atualidade. Segundo os proprietários, a espécie já vivia nesta mata desde a

época da aquisição da fazenda em 1950. Nesse período a floresta já se

encontrava fragmentada. Certamente, a população da Mata Boa Vista está

isolada há mais de 40 anos. Outros mamíferos de porte grande observados na

área durante o período do estudo foram quati (Nasua nasua), tamanduá-de­

colete (Tamandua tetradactyla) e irara (Eira barbara).

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GRUPOS E GRUPO DE ESTUDO

Em dezembro de 1992 e janeiro de 1993 um levantamento de dados sobre o

número e composição dos grupos de A. fusca na Mata Boa Vista foi realizado.

Para isso, várias trilhas foram percorridas repetidas vezes durante 1 O dias e

quando os animais eram avistados, o número de indivíduos, composição do

grupo e o local foram anotados. Foi possível constatar a presença de 5 grupos

(Tabela 2). O tamanho destes grupos variou de 3 a 6 indivíduos e a média de

indivíduos por grupo foi de 4 ,2 . O grupo G1 foi escolhido para o estudo

comportamental porque a sua área de uso era de fácil acesso. No início do

estudo o grupo G1 era constituído de um macho adulto, duas fêmeas adultas e

um macho subadulto, nos últimos 4 meses a partir de dezembro de 1993, a

fêmea F1 desapareceu restando apenas 3 indivíduos.

Tabela 2 - Número e composição dos grupos de Alouatta fusca da Mata Boa Vista

Comeosi�ão * no. indivíduos ma fa msa fsa JV inf não

ide nt.

G1 4 1 2 1 G2 3 1 2 G3 3 1 G4 5 1 2 1 1 GS 6 1 2 1 2

Total 21 5 10 1 1 3 *ma = macho adulto; fa = fêmea adulta; msa = macho subadulto; fa = fêmea subadulta; jv = juvenil; inf = infante.

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MATERIAL E METODOLOGIA GERAL

Aspectos Fenológ icos

Os padrões de abundância e raridade de recursos influenciam fortemente a

vida dos organismos. Segundo PERES ( 1 994 ), os primatas neotropicais são os

primeiros a serem afetados localmente pela escassez de frutos porque são

incapazes de realizar movimentos migratórios substanciais ou reduzir seus

requerimentos metabólicos basais. Por um outro lado, podem modificar seus

padrões de utilização do espaço e composição da dieta (GAUTIER-HION et ai.

1 981 ). Assim, para um melhor entendimento sobre como os barbados da Mata

Boa Vista respondem à disponibilidade de recursos e tipos de alimentos

alternativos num habitat de floresta semidecídua degradada na Floresta

Atlântica, um estudo fenológico se fez necessário .

Através da fenologia, avaliando a periodicidade na produção de partes

vegetativas (brotos, folhas novas e folhas maduras) e reprodutivas (flor e frutos)

dos indivíduos de uma área em tempo definido (NRC, 1 981 ), pode-se estimar

e/ou descrever os recursos alimentares disponíveis na área de uso dos primatas

e compara-los com as observações do comportamento alimentar.

Em março de 1 993, antes do início das observações comportamentais, em

uma porção da área de uso do grupo G1 foi aplicado o método de quadrantes

(COTTAM & CURTIS, 1 956) com a finalidade de marcar árvores através de uma

amostragem aleatória e acompanhar o seu ciclo fenológico. Foram demarcados

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.:

19

linha perpendicular a transacção formando, assim, quadrantes centrados. A

árvore mais próxima ao ponto central, de cada quadrante, com diâmetro do

tronco na altura do peito (DAP) maior ou igual a 1 O cm foi amostrada. As

seguintes medidas foram registradas: distância entre a árvore e o ponto, altura e

CAP ( circunferência do tronco na altura do peito, para calcular o DAP através da

formula: DAP = CAP/ 7t ). Ramos de cada árvore da amostragem foram coletados

para identificação.

Um total de 320 árvores foram amostradas, distribuídas em 80 pontos

demarcados ao longo de 11 transacções ( 4 dessas com 40 metros e 7 com 100

metros de extensão).

Os dados fenológicos destas árvores foram coletados durante 2 a 3 dias de

cada mês, antes das observações do comportamento dos animais. Numa ficha de

campo eram registradas para cada indivíduo a presença ou ausência de frutos,

flores, folhas maduras, folhas novas, brotos e queda de folhas e se o indivíduo

estava desfolhado.

O cálculo da disponibilidade dos recursos foi baseado na porcentagem total

do número de indivíduos apresentando cada fenofase mensalmente .

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Observações Comportamentais

A part ir de abri l de 1 993, um grupo de A. fusca (grupo G1 ) da Mata Boa

Vista foi estudado pelo período de 1 2 meses para a coleta de dados de maneira

sistemática sobre o seu comportamento. A composição deste grupo no in ício do

trabalho era de um macho adulto, duas fêmeas adultas e um macho subadulto.

Os dados comportamentais foram obtidos através dos métodos de

amostragem de varredura instantânea ("scan sampl ing"; AL TMANN, 1 974) e

observações oportun ísticas (observações ad libitum; ALTMANN, 1 974) . O método

de amostragem instantânea consiste em reg istrar o primeiro comportamento de

cada indivíduo (um após o outro) do grupo de estudo, com duração de pelo 5

segundos dentro do período da amostragem. As amostragens t iveram 3 minutos

de duração com intervalo de 7 m inutos. Foram tomadas, em geral , seis amostras

por hora de observação. Este método tem sido usado em muitos estudos de

ecologia de primatas, inclu indo aqueles de Alouatta fusca MENDES (1 989) e

CHIARELLO (1 991 ) , e seu objetivo principal é determinar a quantidade ou

porcentagem de tempo que os ind iv íduos estudados dedicam a várias atividades

(AL TMANN, 1 974). Durante cinco d ias por mês o grupo de estudo foi observado

desde o amanhecer até ao anoitecer. Em cada amostragem a identidade,

atividade, local e altura em relação ao solo de cada indivíduo visível do grupo foi

observada e anotada. As atividades foram d ivid idas em sete categorias:

- Descanso: quando o animal estava dormindo, parado, sentado ou deitado;

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- Locomoção: qualquer movimento vertical ou horizontal envolvendo mudança de

posição; deslocamento na árvore e entre as árvores;

- Social: quando dois ou mais indivíduos interagiam incluindo bricadeiras,

catação, interações agonísticas entre indivíduos do mesmo ou de grupos

diferentes, cópula, esfregar queixo e/ou pescoço.

- Dessedentação: bebendo água de riacho ou nos reservatórios de árvores;

- Vocalização: quando o indivíduo estava inteiramente envolvido em emitir

alguma vocalização principalmente chamados longos;

- Outros: atividades não determinadas e defecando .

Quando o indivíduo em observação estava se alimentando, o tipo do item

alimentar (folha, fruto, flor, galho, etc), sua maturidade e o número da árvore

sobre a qual se alimentava foram anotados. Quando o alimento ingerido não

podia ser identificado era registrado como indeterminado. Os indivíduos eram

observados alimentando-se sobre uma trepadeira a árvore de suporte era

marcada. As árvores foram marcadas com fitas plásticas (lisolênio) de cor laranja

e placas (acetato branco) contendo um número. Quando a espécie era

conhecida, seu nome acompanhava o registro. Caso contrário, seu número era

anotado e posteriormente eram coletados algumas amostras para identificação.

Um binóculo 7 x 35 NIKON foi usado para estas observações.

As observações oportunísticas (ad libitum) não tiveram tempo especificado

ou duração. Essas eram feitas durante todo o tempo em que o observador estava

com o grupo nos períodos entre as amostras sistemáticas do comportamento

(scan sampling). As horas iniciais das observações do grupo eram anotadas,

bem como todas os horários de cada observação, até o final do período. O

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encontros de grupos, cópulas e brincadeiras e também o esfregar da região anal ,

ventra l , pescoço e queixo, dessedentação e o ato de defecar foram anotados em

ad libitum toda vez que observados.

Durante o trabalho um total de 59 dias foram gastos nas observações d i reta

dos an imais. Foram obtidos 4. 1 98 amostras de varredura instantânea contendo

1 3. 7 1 5 registros. A distribuição destes dados bem como a data das observações

estão na Tabela 3.

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Tabela 3 - Distribuição dos dias de observações, números de registros, amostras e indivíduos por amostra em cada mês de coleta de dados com'2ortamentais. Mês Data das No. No. No. de Indivíduos

Observações Dias Registros Amostras /Amostra Comeortamentais

abr 93 28/4/93 a 01/5/93 4 912 281 3,2

mai 17/5/93 a 21/5/93 5 1229 346 3,5

jun 14/6/93 a 18/6/93 5 1283 353 3,6

jul 19/7 /93 a 23/7 /93 5 1194 350 3,4

ago 16/8/93 a 20/8/92 5 1159 348 3,3 -, set 13/9/93 a 17 /9/93 5 1243 344 3,6

out 18/10/93 a 2/10/93 5 1304 355 3,7

nov 12/11/93 a 6/11/93 5 1360 369 3,7

dez* 13/12/93 a 17 /12/93 5 927 359 2,6

jan 94 18/01 /94 a 22/01 /94 5 1022 372 2,7

fev 21 /02/94 a 25/02/94 5 1026 362 2,8

mar 14/03/94 a 1 8/03/94 5 1056 359 2,9

Total 59 13715 4198 3,3

*De dezembro em diante o número de total de indivíduos no grupo foi de 3.

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Os movimentos do grupo foram registrados durante as amostragens

instantâneas e nos intervalos nas observações ad libitum. O macho adulto do

grupo G1 foi o alvo principal deste registro. Todas as árvores utilizadas nos

deslocamentos eram marcadas com fitas plásticas coloridas (roxa) contendo um

número. Após os cinco dias de acompanhamento do grupo, dois a três dias eram

utilizados mensalmente para a tomada de medidas das rotas utilizadas pelo

macho adulto durante o período. As descrições eram feitas o auxílio de um

ajudante e a utilização de uma bússola Suunto, clinômetro e uma trena de 30

metros Três variáveis eram registradas entre dois pontos: a direção da rota,

inclinação do terreno e a distância percorrida. Um programa de computador

(AutoSketch) foi utilizado para desenhar as trajetórias do grupo. Posteriormente,

um gradeado foi sobreposto neste mapa. Cada quadrado do gradeado

representou 25 x 25 m da área de uso do grupo G1 e um código foi dado para

identifica-lo. Este código de identificação do quadrado foi inserido no banco de

dados comportamentais.

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Aval iação das Amostragens Comportamentais

Tendenciosidades nas observações de primatas podem surgir quando

determinados comportamentos ou indivíduos têm maior probabilidade de serem

visualizados. Isso parece ser inevitável devido aos métodos utilizados e as

condições sob as quais as observações são normalmente conduzidas

(CLUTTON-BROCK, 1977; FERRARI, 1988). FERRARI et ai. (1994), identifica

alguns fatores que podem influenciar a coleta de registros nas amostras de

varredura instantânea ("scan sampling") entre eles, a altura, densidade da

cobertura arbórea das florestas tropicais e o tamanho dos grupos podem causar

transtornos na amostragem de varredura (SETZ, 1991 ).

Para reduzir tais tendências nas análises do comportamento do grupo

alguns pesquisadores, entre eles STRIER ( 1986) e BICCA-MARQUES (1991 ),

tem utilizado um método de análise indicado por CLUTTON-BROCK ( 1977) e

AL TMANN ( 1974) no qual cada amostra equivale a uma observação baseando­

se na proporção em que uma ou diferentes atividades comportamentais

aparecem nesta amostra. Por um outro lado, quando o número de amostragens e

números de registros são suficientemente altos, e há aparente falta de

tendências influenciando a coleta dos dados comportamentais, as freqüências

relativas observadas dos diferentes comportamentos devem refletir as

freqüências relativas nas quais eles ocorreram (ALTMANN, 1974; FERRARI,

1988). Assim, para obter uma maior confiabilidade sobre os dados coletados no

presente estudo, principalmente em relação as observações individuais de cada

membro do grupo, uma análise mais detalhada das freqüências relativas

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encontradas nos dados d isponíveis foi rea l izada a fim de verificar as tendências

que por ventura possam exist ir.

A anál ise foi baseada na suposição de que todos os indivíduos teriam sido

registrados com freqüência igual (FERRARI , 1 988). Para aval iar se houve

diferenças significativas em cada período mensal do estudo, foi uti l izado o teste

estatístico de Kolmogorov-Smirnov (K-S) (S IEGEL, 1 979). Esta anál ise (Tabela 4)

não demonstrou desvios significativos (K-S = 0,50; n = 4 ou 3; P < 0,05) em cada

período de coleta de dados, comprovando assim, a homogeneidade das

observações sobre os animais neste estudo.

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27

' Tabela 4 - Análise de possíveis diferenças na observação entre os indivíduos do grupo de estudo.

IND1

ABR MAi JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ JAN FEV MAR

MA 24,2 26.9 27,0 28,5 28,3 27,4 26, 1 27,0 38,5 35,8 35,3 34,0

F1 2 27,9 23,6 23 ,2 25,1 21 ,4 24,2 25,0 24,6 o o o o

F2 22,4 24,2 25,1 23,9 24,3 24, 1 24,8 24.6 27, 1 31 ,6 30,9 33,0

MSA 25,5 25,1 24.6 22,4 26,0 24,2 24. 1 23,8 34,4 32,5 33,8 33,0

Teste Kolmogorov-Smirnov para cada período de amostragem

FE3 25,0 25,0 25,0 25,0 25,0 25,0 25,0 25,0 33,0 33,0 33,0 33,0

K-S 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,67 0,67 0,67 0,67

n 4 4 4 4 4 4 4 4 3 3 3 3

p < 0,05 < 0,05 < 0,05 . < 0,05 < 0,05 < 0,05 < 0,05 < 0,05 < 0,05 < 0,05 < 0,05 < 0,05

Indiv íduos: MA = macho adulto; F1 = fêmea adulta; F2 = fêmea adulta e MSA = macho subadulto. 2 A partir de dezembro F1 desapareceu , restando apenas 3 indivíduos no grupo 3 FE = Freqüência Esperada

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A aparente falta de tendenciosidade operando nos dados comportamentais

dos barbados na MBV pode estar relaciona com vários fatores. A. fusca é um

animal de porte grande e vagaroso, fácil de ser localizado e acompanhado. No

momento de registrar a atividade de cada indivíduo do grupo de estudo, durante

cada amostragem instantânea, todos os indivíduos puderam ser vistos em

poucos segundos, pois o grupo continha apenas 4 indivíduos. AGETSUMA

(1995) no seu estudo sobre a sincronia de forrageamento num grupo de Macaca

fuscata yakuí, observou que quando o grupo era menor havia mais sincronia

entre os membros do grupo de quando este era maior. A identificação de cada

membro do grupo também foi facilitada por causa do dimorfismo sexual e marcas

naturais. A presença do observador deste o início do estudo não causou

nenhuma reação notável aos animais.

No presente trabalho, com relação aos aspectos físicos do local que

poderiam causar dificuldades de observação, também não foram encontrados

muitos obstáculos. A altura média da cobertura arbórea na Mata Boa Vista é de

25 metros e como a maioria das espécies arbóreas que compõem a floresta são

leguminosas que possuem folhas pequenas, os animais foram facilmente

observados nesta faixa de altura. Na maior parte da área de uso do grupo, o sub­

bosque é rarefeito devido a pressão antrópica, sendo de fácil locomoção para o

observador. A topografia da região também ajudou muito pois como o relevo é

acidentado isso proporcionou muitas vezes ao observador estar no mesmo nível

de altura dos animais. Apenas quando os indivíduos deslocavam-se para uma

determinada área da sua área de uso, houve um pouco de dificuldade para

observar todos os membros do grupo na fase inicial do estudo. Como esta área

abrangia a margem da mata com muitos arbustos e lianas, por alguns momentos

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ficavam fora de alcance do observador. A presença de um ajudante de campo

continuamente seguindo o macho adulto e marcando os locais de passagem

permitiu ao observador principal mais facilidade para encontrar os demais

membros do grupo. Algum membro do grupo eventualmente não era registrado

quando se afastava demais pois a duração da amostragem não permitia incluí-lo

na amostra.

Análise Geral Dos Dados

Todas as análises do comportamento do grupo foram baseadas nas

freqüências relativas observadas dos diferentes padrões de comportamentos. A

decisão de seguir este tipo de análise foi influenciada pelo número

suficientemente alto de amostras de varredura instantânea e registros coletados

e a aparente falta de tendências influenciando os dados.

Os dados foram armazenados e analisados em um computador PC 386

usando os seguintes programas: EXCEL, ACCESS, NCSS e STATISTICA.

Em cada capítulo são descritos detalhadamente o manejo dos dados e

análises estatísticas desenvolvidas.

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Ca�ítulo 1

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Introdução

Apesar da alta diversidade de espécies de plantas existentes nas florestas

tropicais, os mamíferos herbívoros não consomem qualquer planta disponível.

Antes, selecionam aquelas que são superiores em certos componentes

nutricionais e baixos em outros (BELOVSKY & SCHMITZ, 1991 ). A seletividade

de espécies vegetais na alimentação de Alouatta também foi observada em

vários estudos (MILTON, 1980; GLANDER, 1981; ESTRADA, 1983; BICCA­

MARQUES, 1991; CHIARELLO, 1992; QUEIROZ, 1995 entre outros). No entanto,

o número de espécies consumidas varia consideravelmente. Dos fatores que

talvez tenham contribuído para isso, as diferentes densidade e diversidade de

plantas destes Habitats talvez sejam os mais importantes. Resta compreender

até que ponto a diversidade de plantas bem como as modificações na sua

densidade afetam a dieta de Alouatta particularmente em ambientes

fragmentados onde uma das conseqüências é a perda de espécies vegetais.

Acredita-se que Alouatta, embora seja o único gênero de primata

Neotropical a incluir uma proporção maior de folhas na sua dieta, seja bastante

seletivo e prefira balancear sua dieta com folhas e frutos e/ou flores de uma

ampla variedade de espécies de plantas (MILTON, 1980). Provavelmente A.

fusca, endêmico da Floresta Atlântica, um dos ecossistemas mais ameaçadas do

planeta, (MITTERMEIER et ai. , 1982) tenha a sua persistência em determinados

ambientes fortemente dependente de uma dieta diversificada ou de boa

qualidade.

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Há poucas informações sobre o comportamento a l imentar de A. fusca em

diferentes t ipos de habitats. Nas áreas onde a fragmentação persiste por muitos

anos, principalmente em reg iões que não há possib i l idade de regeneração

devido ao acentuado grau de devastação, um estudo mais detalhado desta

espécie vivendo nestas condições se faz necessário. Portanto, espera-se que a

dieta de A. fusca na Mata Boa Vista, devido ao grau fragmentação a que a região

foi submetida, seja menos diversificada e mais seletiva em termos de espécies

vegetais do que em outras áreas já estudadas. Tendo isso em vista, neste

capítulo objetiva-se:

1 . descrever os padrões a l imentares de A. fusca em um fragmento degradado;

2. anal isar estes padrões sazonalmente relacionando-os com a fenologia dos

indivíduos arbóreos da área de estudo;

3. comparar e discutir os resultados principalmente a n ível intraespecífico

objetivando detectar alguma mudança comportamental ou efeito advindo da

fragmentação.

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Métodos

Os resultados relativos a avaliação do comportamento alimentar foram

baseados em 201 7 registros de alimentação extraídos das amostragens de

varredura instantânea dos 58 dias completos de observação, ao longo do

período de estudo.

As porcentagens dos itens alimentares que fizeram parte da dieta de A

fusca na Mata Boa Vista foram calculadas somando o número de registros em

que cada item alimentar foi consumido diariamente. Este número foi dividido pelo

número total de registros de alimentação obtidos naquele dia e por fim

multiplicado por 1 00.

O teste estatístico não paramétrico de Kruskal-Wallis (K-W) (CONOVER,

1 980) foi utilizado para verificar a existência de diferenças significativas no

consumo de cada item entre as estações do ano.

O coeficiente de correlação de Spearman ( rs ) foi usado para verificar as

relações entre o consumo de itens alimentares e espécies vegetais com a

disponibilidades de recursos (dados fenológicos).

As porcentagens de espécies vegetais utilizadas como fontes de alimento

foram calculadas somando os números de registros em que cada espécie

aparece na dieta em cada estação do ano. Este valor foi dividido pelo total de

registros de alimentação daquela estação e multiplicado por 1 00. O mesmo

procedimento foi usado para determinar o uso anual.

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A diversidade de espécies vegetais (H') na alimentação de A. fusca e a

uniformidade nas proporções (J') de uso das espécies foi calculada pela equação

de Shannon-Wiener como sugerida por CHIARELLO ( 1992):

H' = -I: pi log pi

J' = H' / log n

onde,

pi = proporção em que cada espécie entrou na dieta em cada estação do ano.

n = número total de espécies utilizadas como alimento em cada estação.

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Resultados

Uti l ização Mensal , Sazonal , Anual e Diurna dos Itens Al imentares

Os itens alimentares consumidos pelo grupo de estudo na Mata Boa Vista

foram folhas maduras, folhas novas, frutos maduros, frutos imaturos, brotos de

flores, flores abertas, galhos ou ramos finos e pecíolos. A Figura 1 apresenta a

porcentagem total de itens agrupados em categorias maiores. Folhas foi o item

mais consumido seguido por frutos e flores. A categoria "outros" inclui galhos ou

ramos finos e brotos, e a categoria "ind." são os itens indeterminados.

A Tabela 1 apresenta as médias mensais, sazonais e anuais das

porcentagens de itens alimentares consumidos por A. fusca durante o período de

estudo. A maior porcentagem no consumo de folhas maduras foi observada no

mês de junho (92,8%). Nos meses de setembro, outubro, novembro e janeiro as

folhas novas foram os itens mais consumidos. Frutos foram consumidos em todos

os meses exceto no mês de setembro. Já as maiores porcentagens no consumo

de flores foram observadas nos meses de agosto, novembro, janeiro e fevereiro.

Diferenças significativas entre as porcentagens no tempo gasto no consumo de

cada item e as estações do ano foram observadas apenas no consumo folhas e

flores. O consumo de folhas foi maior no outono e inverno diferindo

significativamente do consumo da primavera e verão (K-W = 14,468, n = 58; P <

0,01) (Figura 2). Na primavera e verão houve um aumento no consumo de flores

e frutos, mas somente o consumo de flores foi significativamente diferente em

relação as outras estações (K-W = 11, 046, n = 58; P < 0,05).

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FRUTOS 1 2%

OUTROS 4%

FLORES 1 0%

IND 2%

FOLHAS 72%

Figura 1 - Porcentagem anual de itens alimentares consumidos por Alouatta fusca na Mata Boa Vista

36

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Tabela 1 - Médias mensais, sazonais e anuais das porcentagens de ítens alimentares consumidos diariamente por Alouatta fusca na Mata Boa Vista.

ITENS FM FN FINO BR FRM FRI FRIND FLOR IND

ABR 93 60,9 2,8 9, 7 0,0 20,2 0,0 0,0 0,0 6,4 MAi 75,7 0,7 4,0 0,0 17,2 0,0 0,0 0,0 2,4 JUN 92,8 1,3 0,0 0,0 3,7 0,0 0,0 0,8 1,3 JUL 76,5 1,6 4,6 0,0 13,7 0,0 0,0 0,3 3,4 AGO 66,2 1, 5 9, 8 1,9 4, 1 0,0 0,0 16,5 0,0 SET 19,5 40,5 13, 1 23,1 0,0 0,0 0,0 3,8 0,0 OUT 5, 8 80,9 5,7 2, 1 3,2 0,0 0,0 0,0 2,3 NOV 5,7 47,3 2,0 7,2 2,4 0,0 0,0 35,1 0,4 DEZ 9,8 7,8 34,4 6,6 4,9 23,8 10,6 0,0 2, 1 JAN 94 0,0 53,4 9,7 0,0 0,0 0,6 0,0 34,8 1,6 FEV 49,6 5,6 5,5 0,7 0,5 8,6 3,0 23,6 2,8 MAR 50,7 7,0 4,4 1,5 28,3 1,1 2, 1 4, 0 1,0

OUTONO 76, 5 1,6 4,6 0,0 13,7 0,0 0,0 0,3 3,4 INVERNO 54, 1 14,5 9, 1 8, 3 5,9 0,0 0,0 6,9 1,1 PRIMAVERA 7,1 45,3 14,0 5,3 3,5 7,9 3,5 11,7 1,6 VERÃO 33,5 22,0 6,5 0,7 9,6 3,4 1,7 20,8 1,8

ANUAL 42,8 20,9 8,6 3,6 8,2 2,8 1,3 9,9 2,0

1 FM = Folha Madura ; FN = Folha Nova; FINO = Folha de maturidade Indeterminada; BR = Brotos e pecíolos; FRM = Fruto Maduro; FRI = Fruto Imaturo; FRIND = Fruto de maturidade Indeterminada; FL = Flôr; IND = ítens Indeterminados.

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90

80

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40 ::,g o

30

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"""" OUTONO INVERNO PRIMAVERA VERÃO

Figura 2 - Porcentagem de tempo gasto no consumo de itens al imentares em d iferentes estações do ano

38

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A Figura 3 apresenta as porcentagens de consumo de cada item em

relação a cada faixa horária. Foi observado um maior consumo de flores e frutos

do início da manhã até o in ício da tarde, e uma proporção maior de folhas e

menor de frutos e flores no final da tarde.

Disponibi l idade de Recursos e Itens Al imentares

Os dados fenológicos (Figura 4) mostram que nos meses de abril e maio de

1993 as árvores da Mata Boa Vista apresentaram uma densa cobertura de folhas

maduras e, gradativamente, a maioria perdeu suas folhas até o fim do inverno.

No mês de setembro mais de 60% das árvores observadas estavam desfolhadas

mas, logo no mês seguinte in ício do período úmido, mais de 50% das árvores já

estavam repletas de brotos e folhas novas. O pico de produção de brotos e folhas

novas foi no mês de novembro. Houve um outro pico menor de árvores

produzindo folhas novas em janeiro. Quanto a produção de frutos e flores os

dados não foram representativos. Isso, talvez tenha acontecido porque a maioria

das árvores observadas eram jovens ou, também, pela dificuldade de

observação dos indivíduos mais altos dificultando assim a observação destas

fenofases. Apenas uma correlação significativa foi encontrada entre as

porcentagens de tempo gasto no consumo de itens e as porcentagens mensais

das fenofases apresentadas pelos indivíduos arbóreos na área de estudo. A

disponibilidade mensal de folhas novas foi correlacionada positivamente com

consumo de folhas novas na dieta dos barbados (rs = 0,870, n = 12; P < 0,001 ).

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1 1

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1 00

90

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m ) � � :, f-� f-8 f-

,� 17 5 � 1.-., D R íl t 3 ' � n .. � �lo" � 11

6:00 7:00 8:00 9:00 1 0:00 1 1 :00 1 2:00 1 3 :00 1 4:00 1 5:00 1 6:00 1 7 :00 hora

Figura 3 - Variação d iurna na porcentagem de itens a l imentares consumidos por Alouatta fusca.

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1- DESDA - DESFO - FOSE - BRO - NOV - MAO 1

1 00

90

80

70

60

-� 50 e:

40 � o

30

20

o !=:::...11i::::::;::::::::;:=:::;2�����:::;::=s====3=!� ABR MAi JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ JAN FEV MAR

meses

Figura 4 - Porcentagem do número de indivíduos arbóreos apresentando diferentes fenofases mensalmente. Desda = desfolhados; Desfo = desfolhando; Fose = folhas seca; Bro = brotando; Nov = folhas novas; Mad = folhas maduras.

4 1

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I'

42

Util ização diária, sazonal e anual de espécies vegetais

A Tabela 2 relaciona as espécies de plantas que foram consumidas pelo

grupo de estudo sazonalmente e anualmente com suas respectivas porcentagens

de uso. Do número total de registros de alimentação, em 95% dos registros foi

possível determinar a espécie de planta consumida. Das 37 espécies

observadas, nove são trepadeiras e vinte e oito são árvores.

Duas espécies foram as mais importantes na dieta, Apuleia leiocarpa e

Brosimum guianense. Ambas representam 55,2% do tempo gasto em alimentação

e são seguidas por Platypodium elegans com 1 O, 7%. O restante do tempo gasto

(34,06%) foi distribuído entre as outras 34 espécies. Em média um total de 5,64

espécies de plantas foram consumidas diariamente. A dieta foi mais diversificada

em termos de folhas com uma média diária de 4,83 espécies, sendo superior ao

demais itens (média de 0,54 para espécies fontes de flor e 0 ,78 para fontes de

frutos). Estes resultados demonstram uma grande seletividade com relação as

espécies consumidas. Vinte e cinco espécies foram fontes de folhas enquanto

que apenas sete foram fontes flores e outras sete como fonte de frutos. A estação

com o maior número de espécies consumidas foi o verão com 21 espécies. A

estação com o menor número foi a primavera com 14 espécies consumidas. As

espécies da família Bignoniacea (três trepadeiras e uma árvore) foram as

principais fontes de flores na dieta dos barbados da MVB. As principais fontes de

frutos foram Brosimum guianense, Celtis iguanae, Cecropia sp., Birsonyma sp. e

Eugenia sp.

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Tabela 2 - Porcentagem de tempo gasto sazonalmente e anualmente no consumo de espécies de plantas e seus respectivos itens a l imentares que fizeram parte da dieta de Alouatta fusca na Mata Boa Vista.

ESPECIE (FAMiLIA) o� ITEM2 ITEM p ITEM V ITEM ANUAL

Apuleia leiocarpa 1 4,37 FM 25,70 FM; FN; BR; FL 35,39 FN;BR 34,71 FN; BR; FM 27,76

(Leg. Caes.) Brosimum guianense 35,53 FM 40, 1 9 FM 1 5,35 FN 20,83 FM; FRM; FRI 27,42

(Moraceae) Platypodium e/egans 21 ,94 FM 4,91 FM 1 5,99 FN; FL 1 ,32 FN; FM 1 0,76

(Leg. Pap.) I ndeterminados 5,44 8, 1 8 4,48 2,31 4,86

Cybistax antisyphilitica 1 1 ,24 FL 3,37

(Bignoniaceae) Eugenia sp. 10,41 FRM 3,1 2

(Myrtaceae) Machaerium brasiliense 0,77 FM;FN 2, 1 1 FN 7,46 FN 1 ,1 6 FN 2,73

(Leg. Pap.) Dalbergia frutescens 0,93 BR 8,32 F 1 , 1 6 FN 2,48

(Leg. Pap.) Ce/tis iguane 7,38 FRM 1 ,40 FRM; FM 0, 1 7 FN 2,23

(Ulmaceae) Dyctioloma sp. 3,69 FM 2,34 F 0, 1 7 F 1 ,49

(Rutaceae) Arrabidaea sp. 4,96 FL 1 ,49

(Bignoniaceae) SP9 0,93 FM 4,69 1 ,29

Adenocalymma cymbalum 3,80 FL 1 , 1 4

(Bignoniaceae) Cecropia sp. 1 ,36 FN; FRM 3,50 FN; FRM 1 ,00

(Moraceae) SPSB 1 ,94 F; FM 1 ,65 FN 0,50

(Leg. Mim.) Piptadenia panicu/ata 0,64 FN 2,81 FN 0,99

(Leg. Mim) Pseudopiptadenia 2,33 FM 2,34 F 0,64 FN; F; BR 0,99 FN; F 1 ,54

conforta (Leg. Mim.) Dalbergia nigra 0,78 FM 1 ,87 FM; BR 0,64 FN 0,50 F 0,89

(Leg. Pap.) Anadenanthera peregrina 0,58 FM 2,34 F 0,1 7 F 0,69

Leg. Mim. Byrsonia sp. 2,91 FRM 0,74

(Myrtaceae) Alibertia sp. 0,23 FM 2,35 FRM 0,59

(Rubiaceae) SP1 8 2,1 4 FM 0,55

(Rutaceae) A372 1 ,71 FN 0,40

Genipa sp. 1 ,71 FRM 0,40

(Rubiaceae) Arrabidaea ateramnantha 0,83 FL 0,25

(Bignoniaceae)

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Continuação da Tabela 6

ESPECIE (FAMILIA) o ITEM ITEM p ITEM V ITEM ANUAL Guapira aff. opposita 0, 19 FN 0,23 BR 0, 1 7 FN 0,10

(Nytaginaceae) Ficus gome/eira 0,70 BR 0,21 F 0,20

(Moraceae) SP1 7 0,58 FRM; FM 0,1 5

(Sapotaceae) Serjania sp. 0,70 0,15

(Sapindaceae) SP1 5 0,70 FM 0, 15

(Ftaucurtiaceae) lnga plana 0,43 FN 0,10

(Leg. Mim.) Mabea fistulifera 0,33 FN 0,10

(Euphorbiaceae) SP33 0, 1 7 FN 0,05

(Bignoniaceae) Mikania sp. 0, 1 7 FN 0,05

(Compositae) SP22 0,23 FN 0,05

(Myrtaceae) Dalechampia ficifo/ia 0,23 FM 0,05

(Euphorbiaceae) SP3 0,23 F 0,05

Clarisia ilicifolia 0,19 FN 0,05

(Moraceae)

Total 15 20 1 4 21 373

1 O = Outono; 1 = Inverno; P = Primavera; V = Verão

:l FM = Folha Madura; FN = Folha Nova; BR = Broto; F = Folha maturidade inderterminada; FRM = Fruto Maduro;

FRI = Fruto Imaturo; FL = Flôr.

;j Sem os indeterminados

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Entre as duas espécies de plantas mais consumidas, B. guianense e A.

leiocarpa, há uma alternância com relação a importância relativa no consumo

destas espécies de acordo com as estações do ano. As porcentagens de tempo

gasto no consumo da primeira espécie foi maior no outono e inverno do que a da

segunda espécie. Na primavera e verão A. leiocarpa passa a ser a mais

consumida.

Disponibi l idade de Recursos e as Principais Espécies Vegetais na

Dieta

Correlações significativas entre as porcentagens de consumo das três

principais espécies de plantas utilizadas pelo grupo de estudo e as fenofases

apresentadas pelos indivíduos arbóreos da Mata Boa Vista foram observadas

apenas entre o consumo de A. /eiocarpa e B. guianense. O consumo de A.

leiocarpa foi inversamente correlacionado com a queda de folhas na mata ( rs =

0,641, n = 12; P < 0,05) e positivamente com produção brotos e folhas novas (rs =

0,587, n = 12; P < 0,05 e rs = 0,565, n = 12; P = 0,05, respectivamente). Já o

consumo de B. guianense foi positivamente correlacionado com a queda de

folhas (rs = 0,623, n = 12; P < 0,05) e negativamente com a produção de brotos e

folhas novas (rs = -0,769, n =12; P < 0,01 e rs = -0,863, n = 12; P < 0,001,

respectivamente).

A Tabela 3 mostra a fenologia mensal das três espécies mais consumidas

por A. fusca na Mata Boa Vista. Enquanto que em agosto e setembro a A.

leiocarpa e P. elegans estavam praticamente desfolhados B. guianense ainda

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46

mínimo de folhas de (outubro e novembro) A. leiocarpa e P. elegans já estavam

repletos de brotos e folhas novas. Em janeiro um outro pico de produção de

brotos e folhas por essas espécies foi observado.

Tabela 3 - Fenologia mensal 1 das três espécies2 de árvores mais consumidas por Alouatta fusca na Mata Boa Vista.

MES DESFOLHAD FOL. BROTO FOL. FRUTO FLO A MADURA NOVA R

A p B A p B A p B A p B A p B A p B

ABR o o o 1 00 1 00 1 00 o o o o o o o o 30 o o o MAI o o o 1 00 1 00 100 o o o o o o o o 20 o o o JUN 1 0 o o 1 00 100 100 o o o o o o o o o o o o JUL 20 o o 60 50 1 00 o o o o o o 1 0 o o o o o

AGO 80 88 o 10 1 3 90 o o o o o o o o o o o o SET 1 00 100 40 o o 60 o o o o o o o o o o o o OUT 1 3 o 40 20 o 30 90 88 40 100 75 20 1 0 o 1 0 o o o NOV 40 o o 30 50 10 40 63 100 1 0 100 1 00 10 o 20 o o o

DEZ 60 o o 40 1 00 1 00 o o o o o o o o 1 0 o o o JAN o o o 1 00 88 1 00 20 o 1 0 40 1 3 60 o o 50 o o o FEV o o o 1 00 88 1 00 o o o 20 o o o o 50 o o o MAR o o o 100 88 1 00 o o o 30 o 30 o o 40 o o o

Expresso em porcentagem baseada no número de indivíduos de cada espécie apresentando difereutes fenofases 2 A = Apuleia leiocarpa; P = Platypodium elegans; B = Brosimum guianense

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47

Diversidade de Espécies Vegetais Consumidas

O índice para a diversidade em espécies vegetais (H') consumidas pelo

grupo foi comparado com o índice observado por CHIARELLO (1994) na Reserva

de Santa Genebra (Campinas, São Paulo) em cada estação (Tabela 8). Os

índices observados na Mata Boa Vista foram menores do que os observados em

Santa Genebra. Isto indica que a dieta do grupo da Mata Boa Vista foi menos

diversificada e, conseqüentemente, mais seletiva em termos de espécies

vegetais do que o grupo de Santa Genebra. O menor índice observado na Mata

Boa Vista foi no inverno e o maior foi na primavera.

Tabela 4 - Índices de diversidade de espécies vegetais na dieta de A. fusca na Mata Boa Vista e na Reserva de Santa Genebra (H' = índice de diversidade Shannon-Wiener; J' = uniformidade nas proporções de uso das espécies na dieta . Estação

Outono

Inverno

Primavera

Verão

Total

Mata Boa Vista

Número de Es écies MBV1

15

20

14

21

37

H' MBV 0,771

0,751

0,805

0,858

J' MBV 0,656

0,577

0,702

0,649

Número de Es écies SG2

24

31

32

32

68

2 Reserva de Santa Genebra (dados extraídos de CHIARELLO, 1 994) .

J' SG) 0,748

0,787

0,800

0,747

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Discussão

Seletividade de Itens e Espécies Vegetais e a Disponibi l idade de

Recursos

48

A proporção de itens na dieta do grupo de A. fusca na Mata Boa Vista é

semelhante ao que foi observado para a espécie em outras áreas de estudo

(MENDES, 1989; CHIARELLO, 1992; JARDIM, 1992). Ao comparar o consumo

médio destes itens alimentares verifica-se que o consumo de folhas sempre

ocupou mais de 70% da dieta da espécie. No entanto, diferenças são observadas

em relação ao consumo de frutos e flores em cada área. A porcentagem de

consumo de frutos, na Reserva de Santa Genebra, São Paulo (CHIARELLO,

1992) foi menor (5,2%) em relação a este estudo (11 %) e ao observado na

Estação Biológica de Caratinga, Minas Gerais (13,9%) (MENDES, 1989) e

Estação Ecológica de Aracuri, Rio Grande do Sul (11%) (JARDIM, 1992).

Segundo CHIARELLO & GALETTI (1994), a derrubada de árvores na Reserva de

Santa Genebra tem provavelmente diminuído o número de espécies de árvores

com frutos carnosos usados por A. fusca. Mas, possivelmente a baixa

diversidade de frutos na dieta de A. fusca pode estar associada a baixa

disponibilidade de frutos carnosos em florestas semidecíduas (GALETTI, 1992

apud CHIARELLO & GALETTI , 1994). Já PRATES et ai. (1990) observou que

folhas novas e frutos foram os itens mais constantes na dieta de A. fusca no

Parque Estadual de ltapuã, Rio Grande do Sul.

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r

49

Estudos em outras espécie de Alouatta também revelam variações nas

proporções de folhas frutos e flores na dieta em diferentes áreas. Há regiões

onde a dieta de A. pallíata foi equilibrada entre folhas e frutos (ESTRADA, 1984;

MILTON, 1980; RICHARD, 1970; SMITH, 1977); enquanto que em outras a

proporção de folhas na dieta foi bem mais superior do que a de frutos e flores

(GLANDER, 1978). Já BONVICINO (1989) observou uma predominância de

frutos na dieta de A. belzebul. Na Mata Boa Vista também foi observado um certo

equilíbrio entre folhas e frutos ou flores na dieta do grupo em três meses dos

doze meses de estudo. No mês de dezembro o consumo de frutos ocupou uma

parcela de 39% da dieta enquanto que nos meses de novembro e janeiro o

consumo de flores foi de 35%.

Há evidências de que exista uma tendência quanto ao hábito alimentar de

Alouatta ser equilibrado em folhas que são ricas em proteínas, e frutos (e/ou

flores) que são ricos em carbohidratos não-estruturais. O consumo de flores,

segundo MILTON (1980), pode envolver tanto o valor protéico como o energético,

pois muitas possuem um conteúdo protéico tão alto quanto folhas e outras um

conteúdo de carbohidrato não-estrutural tão alto quanto os frutos. No entanto, a

tendência de uma dieta mais balanceada só se manifestará em ambientes cuja

composição e estrutura da floresta ofereçam, em diferentes épocas do ano, além

de folhas novas os frutos e flores preferidos ou requeridos por Alouatta.

ESTRADA (1984) ainda sugere que a relação entre as proporções entre o

consumo de folhas e o consumo de frutos por A. pallíata além de estar

relacionada com a necessidade de realizar uma dieta mais balanceada pode

estar também relacionada com a baixa digestibilidade das folhas e a presença de

metabólitos secundários das plantas. Isso pode levar os barbados a terem que

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50

i nvest ir na procura de a l imentos mais d igeríveis como os frutos, e/ou

concentrarem sua dieta fol ívora em poucas espécies.

Apesar do aspecto perturbado da vegetação da Mata Boa Vista, algumas

espécies de plantas foram fontes de frutos e flores para o grupo de estudo

permitindo assim, uma dieta um pouco mais balanceada, pelo menos durante a

primavera e verão, períodos de maior d ispon ib i l idade destes itens. Estas

espécies além de serem relativamente incomuns nesta área, se caracterizam

pela produção de flores e frutos fortemente sazonais.

Mesmo d iante de uma certa d iversidade de espécies vegetais, o grupo de

estudo foi ainda mais seletivo do que o grupo de A. fusca estudado na Reserva

de Santa Genebra (CH IARELLO, 1992; 1994) . Nesta área seis espécies

representaram juntas 54, 5% enquanto que apenas duas espécies, Apuleia

leicarpa (Leguminosae) e Brosimum guianense (Moraceae) foram as mais

importantes na dieta de A. fusca na Mata Boa Vista representando 55% das

observações de tempo gasto na a l imentação. A. leiocarpa e B. guianense foram

as principais fontes de folhas mas também foi observado, ocasionalmente,

consumo de flores da primeira e de frutos da segunda. Provavelmente o consumo

intensivo de A. leiocarpa e B. guianense por A. fusca na Mata Boa Vista esteja

relacionado com a alta densidade populacional apresentada por estas espécies

na área de estudo, sua disponib i l idade e o conteúdo químico dos seus itens. Com

relação ao conteúdo fitoquímico das plantas da Mata Boa Vista, certamente este

deve ser o fator mais importante que pode afetar a seleção a l imentar do grupo, já

que outras espécies de plantas também foram abundantes mas pouco

consumidas, como é o caso de Pseudopiptadenia conforta.

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5 1

Os padrões fenológicos apresentados pelas A. leiocarpa e B. guianense

representam bem o comportamento alimentar oportunístico do Alouatta fusca, o

que geralmente também foi observado em outras espécies de Alouatta com

relação a outras espécies de plantas (GLANDER 1975; BICCA-MARQUES, 1991;

QUEIROZ, 1995).

Geralmente a seleção de alimentos pelos primatas está relacionada com a

sua palatabilidade ou digestibilidade, valor calórico ou nutricional ou o grau de

toxidade (CLUTTON-BROCK, 1977). Segundo BELOVSKY & SCMITZ (1991)

para um forrageador sobreviver num determinado ambiente ele deve satisfazer

seus requisitos nutricionais (os mais importantes são: energia, proteína, água e

sódio). Estudos desenvolvidos com A. palliata demonstraram que estes

selecionam folhas com alto teor protéico e baixos teores de fibra e de compostos

secundários (MILTON, 1979 e GLANDER, 1981 ). Estudos em outros primatas

também demonstraram esta preferência alimentar tais como em gorilas

(ROGERS et ai. 1990), babuínos (BARTON et ai. , 1993) e em Presbytis entellus

(KAR-GUPTA & KUMAR, 1994).

Provavelmente a vegetação da Mata Boa Vista deve ser de baixa qualidade

ou deve conter níveis altos de compostos secundários, quando comparada com a

vegetação da Reserva de Santa Genebra. Isso pode ser responsável pela

restrição da amplitude nutricional requerida para esta espécie e,

conseqüentemente, pode afetar a sua densidade populacional. Segundo KOOL

(1992) onde a vegetação é geralmente de baixa qualidade, ou somente

sazonalmente abundante, a seleção para certos alimentos é esperada e deve ser

acentuada. De fato, o grupo de A. fusca na Mata Boa Vista concentrou a sua

dieta em poucas espécies. Isto pode ser conseqüência da perda de espécies

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vegetais provocada não só pela fragmentação, mas também pela constante

retirada seletiva de árvores do sub-bosque pelos moradores locais. Além disso,

foi observado que o número de espécies consumidas, ou seja, a diversidade de

espécies na dieta do grupo de estudo foi menor do que o encontrado por

CHIARELLO (1994) na Reserva de Santa Genebra. O aumento populacional de

A. fusca na Reserva de Santa Genebra, segundo CHIARELLO (1994) , ocorreu

em resposta a dois fatores principais: a ausência de predadores e abundância de

alimento. Diferente desta situação, a densidade de A. fusca na Mata Boa Vista

têm diminuído. Segundo relatos dos moradores locais estes eram mais

numerosos anteriormente. A densidade foi estimada em 0,26 indivíduos por

hectare, enquanto que na Reserva de Santa Genebra a densidade estimada foi

de 1,77 indivíduos por hectare (CHIARELLO & GALETTI, 1994). Têm sido

demonstrado que Alouatta requer itens de qualidade nutricional relativamente

superior e, que a limitação destes itens ou a sua falta pode limitar o número de

indivíduos que o habitat pode suportar (MILTON, 1982). GAULIN et ai. (1980)

mostrou que a disponibilidade de alimento é um importante determinante na

distribuição e densidade de Alouatta na Ilha de Barro Colorado, Panamá

Segundo o autor, o tamanho do grupo foi positivamente correlacionado com a

densidade de duas espécies. Se isso for verdadeiro para outros tipos de habitats,

então o conteúdo nutricional das duas espécies mais consumidas pelo grupo

estudo, que são também abundantes na por toda área de estudo, não é suficiente

no sentido de sustentar uma população maior.

A regeneração natural da vegetação da Mata Boa Vista ocorre

principalmente nas bordas da mata e são nestas áreas onde há mais trepadeiras.

Eventualmente queimadas são provocadas por moradores locais prejudicando o

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53

desenvolvimento de plantas nas áreas de borda. O centro da mata também foi

bastante alterado por cortes seletivo de madei ra e a cobertura superior é

composto principalmente por Pseudopiptadênia conforta . Em vários trechos o

sub-bosque apresenta um aspecto ralo sem desenvolvimento de indivíduos

novos. Diante disso, e com a possível perda de espécies vegetais e baixo valor

nutricional dos principais recursos a l imentares, certamente as chances de A.

fusca encontrar a l imento de qual idade superior são poucas.

É amplamente reconhecido e evidências demonstram, que as espécies de

plantas no seu estágio in icial de crescimento são melhores fontes de a l imento

para os herbívoros do que as espécies de plantas no seu estágio final de

desenvolvimento (CATES & ORIANS, 1975; KOOL, 1992) . CHIARELLO (1994)

atribui a prol iferação de l ianas resultante do distúrbio do habitat como sendo

benéfica para os barbados já que elas foram um componente significante na dieta

do seu grupo de estudo.

Há evidências de que Alouatta persiste em fragmentos pequenos de mata

devido a sua dieta que é composta basicamente de folhas, pela sua habi l idade

de andar em pequenos grupos e por ter área de uso de tamanho flexível

(SCHWARZKOPF & RYLANDS, 1989) . A fragmentação leva a a lteração do

ambiente físico que por sua vez leva à mudanças na composição das espécies e

estrutura da vegetação (TERBORGH, 1992) . Possivelmente habitats

fragmentados in icia lmente ofereçam um aumento de al imento para estes

primatas, mas posteriormente a sua persistência, que depende da produção

continua de recursos, pode ser afetada.

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54

Variação Diurna na Seleção Alimentar

A necessidade de manter uma dieta balanceada pode levar Alouatta a variar

sua dieta durante o dia. Segundo SMITH (1977) este balanço envolve alimentos

ricos em proteínas (folhas e brotos) e ricos em carbohidratos digeríveis (frutos e

flores). Têm sido observado em várias espécies de primatas uma preferência de

consumir frutos pela manhã (CLUTTON-BROCK, 1977). A maioria das espécies

folívoras diurnas se alimentam de folhas preferencialmente no fim da tarde

(GANZHORN & WRIGHT, 1994). De fato, A. fusca na Mata Boa Vista foi

observado consumindo uma proporção maior de frutos e flores na parte da

manhã até o início da tarde, e uma proporção maior de folhas no fim do dia.

O consumo de frutos pela manhã têm sido relacionado com a necessidade

de suprir o seu déficit energético quando acordam, pois os frutos contém mais

açúcares livres podendo ser absorvidos e convertidos diretamente em energia

(RAEMAEKERS, 1978). Com relação a A. fusca na Mata Boa Vista parece que há

uma tendência de consumir frutos e/ou flores pela manhã. Isto certamente, além

de diminuir o déficit de energia, deve estar associado a natureza mais dispersa

destes recursos. A. fusca deve tentar encontra-los e consumi-los logo no início

do dia antes que anoiteça. Um dos maiores picos no tempo gasto em locomoção

pelo grupo de estudo foi observado nos mesmos horários.

Entre as explicações sugeridas para um consumo maior de folhas pela tarde

três delas serão consideradas e discutidas (para uma revisão ver

RAEMAEKERS, 1978; CHAPMAN & CHAPMAN, 1991; GANZHORN & WRIGHT,

1994).

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' e -- - - - · -

55

(1) Folhas são digeridas mais lentamente do que frutos. Ao consumi-las

antes de dormir a energia seria liberada posteriormente durante à noite de

maneira diferenciada do que seria com o consumo de frutos (CLUTTON-BROCK,

1977; RAEMAEKERS, 1978). Estudando a digestibilidade de A. palliata, MI LTON

(1980) demonstrou que os barbados, por possu írem uma concentração alta de

flora bacteriana no intestino posterior, conseguem obter uma eficiência digestiva

de 90% numa dieta constituída de folhas. Como a inatividade de Alouatta está

relacionada com a atividade metabólica de alimentos relativamente indigeríveis

(SMITH, 1977), possivelmente estes concentrem a ingestão maior de folhas no

período da tarde para obter assim uma eficiência digestiva melhor do que durante

o dia quando o período de descanso é mais curto.

(2) Se as chances de encontrar algum outro alimento melhor do que folhas

diminui durante o período de atividade diária então estes passariam a se

alimentar mais de folhas (CHAPMAN & CHAPMAN, 1991; GANZHORN &

WRIGHT, 1 994). Folhas realmente são mais pobres em carbohidratos livres do

que frutos mas, por um outro lado, são ricas em proteínas (WATERMAN, 1984).

Alouatta, como já mencionado, prefere obter uma alimentação balanceada não

só em frutos e folhas como também diversificar a dieta constitu ída só de folhas.

Possivelmente esta hipótese seja verdadeira apenas nas épocas de escassez de

alimentos.

(3) Segundo RAEMAEKERS (1978) os gibões (Hylobates syndactylus

continentis e H. lar lar) consumiriam mais folhas à tarde porque suas

concentrações de açúcar são mais altas do que na parte da manhã. As folhas só

começam a sintetizar carbohidrados na presença de luz, chegando a um pico

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máximo no fim do dia. GANZHORN & WRIGHT ( 1994) demonstraram que

realmente os teores de carbohidratos nas folhas foram significativamente mais

elevados à tarde e que as concentrações de proteínas também foram altas neste

período. Se isso for verdadeiro para Alouatta, estes então estariam maximizando

o uso deste recurso pela tarde para obter uma alimentação mais energética e

nutritiva.

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Capítulo 2

Padtão de Atividade!:

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I ntrodução

A maneira como os primatas usam seu tempo e organizam as suas

atividades é um importante aspecto da ecologia comportamental (MALIK, 1986) e

pode ser influenciada por vários fatores incluindo: requerimentos energéticos,

tamanho, idade e sexo do indivíduo, proporção de itens alimentares na dieta,

variações climáticas, qualidade, disponibilidade e distribuição dos alimentos

(MILTON, 1980; MITTERMEIER, 1973; STRIER, 1987a; LAWES & PIPER, 1992).

Todos estes fatores se interrelacionam, mas alguns podem exercer uma

influência circunstancial. Geralmente, as diferenças nos padrões de atividades

encontradas entre populações da mesma espécie vivendo em diferentes hábitats

e entre espécies são atribuídas ao tipo de hábitat. Considerando as pressões

ambientais sob as quais um grupo de A. fusca esteja sujeito, por viver em um

fragmento de mata degradado, possivelmente os padrões de atividade

representam a resposta mais segura e facilmente mensurável às mudanças na

qualidade ambiental (LAWES & PIPER, 1992).

Neste capítulo o orçamento e os padrões de atividades de Alouatta fusca

em um fragmento de mata degradado são analisados, descritos e discutidos

intraespecificamente com informações similares em diferentes hábitats de

maneira associada aos fatores acima mencionados.

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Métodos

Para as análises dos padrões e do orçamento de atividades diárias foram

utilizados apenas os dias inteiros de observação. Dos 59 dias de observação um

deles (17/12/93) foi excluído desta análise devido a uma forte chuva que

interrompeu as observações a partir do meio dia.

A porcentagem do tempo gasto em diferentes atividades (repouso,

alimentação, locomoção, social, dessedentação, vocalização e outros) foi

calculada diariamente somando os números de registros de cada atividade,

dividindo-se pelo número total de registros de atividades daquele dia, e

multiplicando-se o resultado por 100.

Para avaliar as significâncias das diferenças do tempo gasto em atividades

entre as estações do ano o período de estudo foi dividido em quatro estações:

outono (abril, maio e junho), inverno Uulho, agosto e setembro), primavera

(outubro, novembro e dezembro) e verão Uaneiro, fevereiro e março). As

significâncias foram avaliadas pelo teste estatístico não paramétrico de Kruskal­

Wallis (K-W) (CONOVER, 1980).

A porcentagem de tempo gasto em diferentes atividades foi também

correlacionada com a proporção de ítens alimentares na dieta e com a fenologia

dos indivíduos arbóreos da Mata Boa Vista. Para isso foi utilizado o coeficiente

de correlação de Spearman (rs) -

No ciclo diurno de atividades para cada faixa horária foi calculada a

porcentagem total de registros em que cada atividade foi observada por estação.

O teste do x2 foi utilizado para verificar se os padrões diurnos de atividades

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estatístico não paramétrico de Wilcoxon (T) (SIEGEL, 1973) foi utilizado para

avaliar a significância das diferenças observadas nos orçamentos de atividades

entre as categorias sexo-etárias do grupo.

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6 1

Resultados

Orçamento de Atividades Mensal , Sazonal e Anual

A Tabela 1 mostra como o grupo estudado utilizou seu tempo diurno na

Mata Boa Vista durante o período de estudo. Em média, para cada atividade, o

grupo passou 73% do seu dia descansando, 15% alimentando-se, 11 %

locomovendo-se, 0,48% socializando, O, 14% em atividade de dessedentação,

O, 11 % vocalizando e O, 78% engajado em outras atividades. A atividade de

repouso, durante todo o estudo, foi o comportamento predominante. No padrão

anual a alimentação e a locomoção foram, respectivamente, a segunda e a

terceira atividades mais observadas. No entanto esta ordem não foi observada

para todos os meses. Nos meses de agosto, setembro e outubro a segunda

atividade mais observada foi a locomoção. As atividades restantes ocuparam

sempre uma pequena porção do orçamento sendo que a atividade menos

observada foi a vocalização. Dos doze meses de estudo em apenas dois, agosto

e novembro ( 4 dias dos 59 dias de observação) o grupo de estudo foi observado

vocalizando.

Diferenças significativas foram observadas apenas nas porcentagens de

tempo gasto nas atividades de repouso, alimentação e locomoção e entre as

estações do ano. No verão, o tempo gasto em repouso foi significativamente

menor em relação ao outono e ao inverno, mas não diferiu significativamente do

observado na primavera (K-W = 9,059, n = 58, P > 0,05). O tempo gasto em

alimentação foi maior no verão, diferindo significativamente do tempo gasto em

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Tabela 1 - Médias mensais, sazonais e anual do tempo gasto por Alouatta fusca em diferentes atividades diárias na Mata Boa Vista durante o período de estudo.

ABR 93 MAi JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ JAN 94 FEV MAR

OUTONO INVERNO PRIMAVERA VERÃO

ANUAL

R

76,96 73,38 74,71 76, 1 9 72,84 73, 1 5 73,60 73,36 66,78 72,91 68,70 66,85

75,02 74 ,06 71 ,25 69,49

72,45

A

1 2,70 1 5 ,58 1 6,01 1 2 ,28 1 1 ,46 1 1 ,69 1 1 ,09 1 2 ,77 1 9,26 1 6,37 1 9,82 21 ,85

1 4,76 1 1 ,81 1 4,37 1 9,35

1 5 ,07

L

8,51 9,95 8,68

1 0 ,75 1 3 ,55 1 3,87 1 4,01 1 1 ,50 1 2,21 9 ,30 1 0,31 8,84

9 ,04 1 2 ,72 1 2,57 9,48

1 0 ,96

ATIVIDADES s D V o

0,29 0,46 0,00 1 ,09 0,08 0,24 0,00 0,77 0,08 0,00 0,00 0 ,51 0 ,00 0,00 0,00 0 ,77 1 ,07 0,00 0 ,70 0,38 0,41 0 , 1 6 0,00 0,72 0 ,76 0,22 0,00 0,32 1 ,24 0,00 0,61 0 ,52 0,47 0,36 0 ,00 0,93 1 ,00 0, 1 0 0,00 0 ,32 0,20 0,09 0,00 0,88 0 , 1 9 0,09 0,00 2, 1 8

O , 1 5 0,23 0,00 O , 79 0,49 0,05 0,23 0,62 0,82 O, 1 9 0,20 0,59 0,46 0,09 0 ,00 1 , 1 2

0,48 0 , 1 4 0, 1 1 0 ,78

1 R = Repouso; A = Alimentação; L = Locomoção; S = Social ; D = Dessedentação V = Vocalização (chamados longos); O = Outros (defecar e atividades não

determinadas)

62

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63

alimentação no outono, inverno e primavera (K-W = 17,980, n = 58, P < 0,001) .

Apesar da porcentagem de tempo gasto em alimentação ter sido menor no

inverno em relação ao outono e primavera diferenças significativas não foram

observadas. Por sua vez, a atividade de locomoção foi maior no inverno e

primavera diferindo significativamente do outono e verão (K-W = 9,789, n = 58, P

< 0,025). O grupo de estudo no verão, repousou menos, se alimentaram mais e

se locomoveu menos enquanto que durante o inverno repousou mais, se

alimentou menos e se locomoveu mais.

A seguir são descritos os resultados das correlações que foram

significativas entre as porcentagens de tempo gasto em repouso, alimentação e

locomoção, e o percentual de ítens alimentares encontrados na dieta e a

fenologia dos indivíduos arbóreos.

Repouso

O tempo gasto em repouso esteve negativamente correlacionado ao

percentual de frutos (rs = -0,267; n = 58; P < 0,05) e positivamente ao percentual

de folhas (rs = 0,359; n = 58; P < 0,01) na dieta. Com relação as fenofases

apresentadas pelos indivíduos arbóreos da Mata Boa Vista, o tempo gasto em

repouso esteve significativamente correlacionado com a porcentagem de

indivíduos desfolhando (rs = 0,644; n = 12; P < 0,05).

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64

Alimentação

O tempo gasto em alimentação esteve negativamente correlacionado com o

consumo de folhas (rs = -0,385; n = 58; P < 0,01) e folhas novas (rs = -0,249; n =

58; P < 0,05).e positivamente com o consumo de frutos (rs = 0,305; n = 58; P <

0,05) e frutos imaturos (rs = 0,447; n = 58; P < 0,001 ). Observou-se também que

com o aumento dos indivíduos arbóreos desfolhando e desfolhados mensalmente

houve uma diminuição no tempo gasto em alimentação (rs = -0,590; n = 12; P <

0,05 e rs = -0,580; n = 12; P < 0,05, respectivamente), e um aumento no tempo

gasto em alimentação quando a disponibilidade de folhas maduras também

aumentou (rs = 0,622; n = 12; P < 0,05).

Locomoção

A porcentagem tempo gasto diariamente em locomoção esteve associada

positivamente com o consumo de folhas novas na dieta (rs = 0,257; n = 58; P <

0,05). Diferentemente do que ocorreu no tempo gasto em alimentação, com a

diminuição da disponibilidade de folhas, ou seja, com o aumento de indivíduos

arbóreos desfolhados na Mata Boa Vista, houve um aumento no tempo gasto em

locomoção ( rs = 0,839; n = 12; P < 0,001) e com o aumento da disponibilidades

de folhas maduras houve uma diminuição no tempo gasto nesta atividade (rs = -

0,839; n = 12; P < 0,001 ).

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65

Ciclo Diurno de Atividades

A Figura 1 apresenta o padrão d iurno anual das atividades de

repouso, a l imentação e locomoção ao longo do dia. Podem ser observados três

picos de a l imentação intercalados por períodos de repouso. O primeiro, menor

pico de al imentação, ocorreu no in ício da manhã (6:00 - 7 :00 horas), o outro no

fim da manhã (1 1 : 00 - 1 2:00 horas) e o últ imo e maior quase no fim da tarde

(1 5 :00 - 1 6:00 horas). Dois picos na atividade de locomoção ocorreram. Um antes

do segundo pico de al imentação no final da manhã e o outro junto com a

atividade de a l imentação à tarde.

As comparações entre o padrão diurno anual das atividades de repouso,

al imentação e locomoção e o padrão diurno sazonais das mesmas atividades

podem ser vistos nas Figuras 2, 3 e 4. Diferenças significativas ocorreram

apenas nas atividades de al imentação e locomoção. Os padrões d iurnos

encontrados na atividade de al imentação no outono, primavera e verão foram

significativamente d iferentes do padrão anual (x,2 = 31 ,67, n = 4, P < 0 ,01 ; x,2 =

33,05, n = 4, P < 0,001 ; x,2 = 52 ,81 , n = 4, P < 0,001 , respectivamente). Quanto

ao padrão d iurno na atividade de locomoção, diferenças significativas entre o

padrão anual e o observado nas diferentes estações do ano ocorreram apenas

no outono (x2 = 1 1 2,75, n = 4, P < 0,001 ) , inverno (x,2 = 1 25, 1 0, n = 4, P < 0,001 )

e primavera (x2 = 2 1 ,98, n = 4, P < 0,05) .

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66

!- REPOUSO - ALIMENTAÇÃO - LOCOMOÇÃO 1

1 00

90

80

70

V)

60

.!!! 50

40 � o

30

20

1 0

6:00 7:00 8:00 9:00 10:00 1 1 :00 1 2:00 1 3:00 1 4:00 1 5:00 1 6:00 1 7:00 18:00

hora

Figura 1 - Ciclo diurno anual das principais atividades comportamentais de Alouatta fusca na Mata Boa Vista

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- OUTONO - INVERNO -PRIMAVERA

"õ,

o

1 00

90

80

70

60

50

40

30

20

1 0

o 6:00 8:00 1 0:00 1 2:00

hora

67

VERÃO - ESPERADO

1 4:00 1 6:00 1 8 :00

Figura 2 - Comparação entre o ciclo diurno de tempo gasto em REPOUSO em cada estação do ano e o padrão anual (esperado) observados no grupo de estudo.

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-OUTONO -INVERNO - PRIMAVERA

50

45

40

35

30

·g, 25 ,_

20 o

1 5

1 0

5

o 6:00 8:00 1 0:00 1 2 :00

hora

68

VERÃO - ESPERADO

1 4 :00 1 6 :00 1 8:00

Figura 3 - Comparação entre o ciclo diurno de tempo gasto em ALIMENTAÇÃO em cada estação do ano e o padrão anual (esperado) observados no grupo de estudo.

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-OUTONO -INVERNO - PRIMAVERA VERÃO - ESPERADO

50

45

40

35

30

g> 25 .... 20

o

1 5

1 0

5

o 6:00 7:00 8:00 9:00 1 0:00 1 1 :00 1 2 :00 1 3:00 1 4 :00 1 5:00 1 6:00 1 7:00 1 8:00

hora

69

Figura 4 - Comparação entre o ciclo diurno de tempo gasto em LOCOMOÇÃO em cada estação do ano e o padrão anual (esperado) observados no grupo de estudo.

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70

Diferenças entre Classes Sexo-Etárias

A Figura 5 apresenta a porcentagem média anual do tempo gasto em

repouso, alimentação e locomoção entre as classes de sexo-etárias do grupo de

estudo. Houve diferenças significativas entre a proporção de tempo gasto em

repouso pelo macho adulto e o macho subadulto (T = 35,7; n = 58; P < 0,001) e

entre a fêmea adulta e macho subadulto (T = 48,8; n = 58, P < 0,01 ). Não foram

observadas diferenças entre o macho adulto e a fêmea adulta (T = 74,6, n = 58;

P > 0,05). Verificou-se, assim, que os adultos repousaram mais que o subadulto.

Com relação ao tempo gasto em alimentação não foi encontrada nenhuma

diferença significativa entre macho adulto e fêmea adulta ( T = 68,6; n = 58; P >

0,05), macho adulto e macho subadulto (T = 65, 1; n = 58, P > 0,05) e fêmea

adulta e macho subadulto (T = 62, 1; n = 58, P > 0,05). Diferenças significativas

na proporção de tempo gasto em locomoção foram também encontradas. O

macho adulto tendeu a locomover-se menos do que o macho subadulto (T = 49,9,

n = 58; P < 0,01) e do que a fêmea adulta (T = 51,8; n = 58, P < 0,01 ). Entre a

fêmea adulta e macho subadulto não houve diferenças significativas (T = 82,0; n=

58, P > 0,05).

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REPOUSO

82 ----�--------�---�

78

74 1 1 L..-�--' D D 1

D 1 70

66

62 L..----�----�---�---�

24

22

20

18

16

14

12

10

FÊMEA ADULTA MACHO SUBADUL TO

MACHO ADULTO

ALIMENTAÇÃO

1 D 1 1 1 D 1 1 a

FÊMEA ADULTA MACHO SUBADUL TO

MACHO ADULTO

LOCOMOÇÃO 18 �---�--------�--------,

16

14

12

10

8

6

D 1 D 1 a 1

4 '-----�--------�--------'

FÊMEA ADULTA MACHO SUBADUL TO MACHO ADULTO

:r: o

D ±Std. Err.

o Mean

I ±Std. Dev.

D ±Std. Err.

a Mean

I ±Std. Dev. 0 ±Std. Err.

o Mean

(a)

(b)

(e)

Figura 5 - Porcentagens médias e desvio padrão de tempo gasto diariamente em repouso (a) , a l imentação (b) e locomoção (c ) entre as categorias sexo­etárias.

71

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72

DISCUSSÃO

Comparações lntraespecíficas no Orçamento de Tempo

A proporção de tempo que o grupo de estudo dedicou às diferentes

categorias de atividades anualmente é semelhante aos padrões encontrados

para A. fusca em outras regiões (MENDES, 1989; CHIARELLO, 1993). No

entanto, ao considerar as mudanças sazonais nota-se diferentes padrões

comportamentais entre estas áreas e a do presente estudo. Diferente do que foi

observado por CHIARELLO (1993) na reserva de Santa Genebra, São Paulo, na

Mata Boa Vista A. fusca repousou menos no verão do que em outras estações.

Quanto ao tempo gasto em alimentação, tanto os barbados da reserva de Santa

Genebra (CHIARELLO, 1993) como os de Caratinga, Minas Gerais (MENDES,

1989), se alimentaram mais durante o inverno, enquanto que os barbados da

Mata Boa Vista se alimentaram mais durante o verão. Diferente também do que

foi observado por MENDES (1989) em Caratinga, A. fusca na Mata Boa Vista se

locomoveu significativamente mais durante o inverno e primavera do que nas

demais estações.

As diferenças intraespecíficas nos orçamentos de atividades podem estar

associadas a vários fatores, incluindo às diferenças entre os hábitats

principalmente com relação a composição das espécies vegetais (CHIARELLO,

1992), disponibilidade e distribuição das fontes alimentares (STRIER, 1987;

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73

DEFLER, 1995). Além disso, as diferenças encontradas entre o grupo deste

estudo e demais, estudados em outras áreas, podem estar relacionadas com a

natureza decídua das árvores na Mata Boa Vista. Provavelmente, na época do

inverno as árvores desta área sejam mais decíduas do que as encontradas nas

outras áreas onde A. fusca foi estudado anteriormente. Com a diminuição da

oferta de alimentos, o grupo da Mata Boa Vista usou uma estratégia

comportamental diferente aumentando o tempo gasto em locomoção para suprir

suas necessidades nutricionais e repousou mais para, conseqüentemente,

economizar mais energia.

Fatores que Influenciam o Tempo Gasto em Repouso

Apesar das variações sazonais e anuais encontradas nas porcentagens de

tempo gasto em repouso entre as diferentes áreas estudadas, A fusca gastou

mais de 60% do seu tempo diário em repouso. Este padrão regular de inatividade

é encontrado também em outras espécies do gênero (MILTON, 1979; GLANDER,

1975; SMITH, 1977; GAULIN & GAU LIN , 1982; BICCA-MARQUES, 1991 ).

Algumas explicações para este padrão de comportamento estão baseadas no

hábito e processamento alimentar dos barbados. MILTON (1979), acredita que a

inatividade seja um dos mecanismos utilizados por Alouatta para conservar

energia devido a uma dieta composta basicamente de folhas; item pobre em

carbohidratos não-estruturais. Já GLANDER (1975) sugere que este é o preço

pago para a manutenção do seu sistema de desintoxicação por se alimentarem

de espécies de árvores nas quais encontram seus requerimentos nutricionais.

Segundo SMITH (1977), a inatividade permite aos barbados concentrarem sua

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74

atividade metabólica na digestão de um alimento relativamente indigerível. É

difícil afirmar se um ou outro destes fatores mencionados acima estejam agindo

em maior ou menor grau com relação ao grupo estudado mas possivelmente

fatores como esses agem simultaneamente.

Provavelmente a disponibilidade e a proporção de frutos, flores, folhas

novas e folhas maduras na dieta, bem como a composição química das folhas

tenham influenciado a variação sazonal observada no tempo gasto em repouso

bem como nas outras atividades comportamentais do grupo. O tempo gasto em

repouso esteve positivamente correlacionado com o uso de folhas e

negativamente correlacionado com a proporção de frutos na dieta. Isto pode

indicar que quando a proporção de itens pobres em energia e de difícil digestão,

como folhas, é alta na dieta, A. fusca tende a ficar mais tempo inativo. De

maneira contrária descansam menos quando a dieta passa a ser mais rica em

frutos que são alimentos mais energéticos e de fácil digestão. Este

comportamento, no entanto, coincide com períodos de menor e maior abundância

de flores e frutos, e que correspondem ao inverno e verão respectivamente.

Fatores que Influenciam o Tempo Gasto em Alimentação

O tempo de alimentação de A. fusca na Mata Boa Vista foi negativamente

correlacionado com a importância relativa de folhas, principalmente folhas novas,

e positivamente com a disponibilidade de frutos. Vários fatores podem estar

interagindo para isso tais como o conteúdo químico das folhas novas e maduras

das espécies de planta da dieta, requerimentos de alimentos mais energéticos,

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75

parte da seleção das folhas que Alouatta consome é determinada por sua

composição química. Geralmente a escolha é influenciada por conter uma

proporção a lta de proteínas e baixa de compostos secundários e fibras. Dentre

estas as proporções de prote ínas e fibras são os mais importantes para os

fol ívoros (MILTON, 1 979). Existe, no entanto, uma variação no conteúdo destes

elementos não só a n ível intraespecífico como também entre folhas novas e

maduras da mesma espécie. Das espécies de plantas fontes de folhas para os

barbados na reg ião estudada, Apuleia leiocarpa, Brosimum guianense e

Platypodium elegans foram as mais consumidas. Durante o inverno a

porcentagem de tempo gasto em a l imentação foi o menor observado. Nesta

época, a maioria das espécies arbóreas, inclu indo A. leiocarpa e P. elegans,

perdem suas folhas. Com a pouca disponib i l idade de frutos e flores, a proporção

de folhas na dieta de A. fusca tornou-se mais a lta sendo que o B. guianense foi

sua principal fonte a l imentar. Resultados obtidos da anál ise de fenóis totais e

taninos condensados ao longo do ano de 1 994 nestas plantas na Mata Boa Vista

(FERREIRA et. ai. , 1 995a; FERREIRA et. ai. , 1 995b ) revelam que o B.

guianense possui teores muito maior destes compostos do que os de A.

leiocarpa e P. e/egans. Durante a primavera, época em que a Apuleia leiocarpa

está brotando e com folhas novas, a maior parte da d ieta de A. fusca passou a

ser constituída de folhas novas e brotos desta espécie. Segundo FERRE IRA et.

ai. ( 1 995b) as concentrações de fenóis totais e tan inos condensados de A.

leiocarpa atingiram seu valor mais a lto no mesmo período. Estas observações

foram feitas no ano seguinte a este trabalho. Se considerarmos que as folhas

novas e brotos de A. leiocarpa apresentam estas característ icas durante a

primavera possivelmente esta seja uma boa expl icação para a correlação

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76

negativa observada entre o tempo gasto em alimentação e o consumo de folhas

novas.

Os taninos são polifenois de complexidade aparentemente infinita.

Importantes para defesa de plantas são os taninos condensados, que ocorrem

na maioria das plantas lenhosas. Por estar ligado as proteínas, os taninos

condensados impedem a digestão dos tecidos da planta por bloquear a ação das

enzimas digestivas, ligando as proteínas a ser digeridas, ou interferindo na

nutrição (HOWE & WESTLEY, 1988). Segundo WATERMAN & MOLE (1994), os

resultados de estudos relacionados com a seleção alimentar sugerem que a

maioria dos herbívoros evitam consumir níveis de compostos fenólicos,

principalmente taninos, que estão em excesso na sua dieta normal. No entanto,

um herbívoro pode preferivelmente consumir uma fonte de alimento rica em

tanino, porque o benefício de ingerir o conteúdo também rico em energia deste

alimento, compensa o custo de consumir o tanino (SMALLWOOD & PETERS,

1986 apud WATERMAN & MOLE, 1994).

É provável que as principais espécies de plantas selecionadas como fontes

de folhas por A. fusca na área estudada possuam a maioria das características,

tais como alto teor de proteína, baixo teores de compostos secundários (como

alcalóides) e fibras, que geralmente são encontradas nas plantas selecionadas

por Alouatta. Ao seleciona-las para seu consumo eles evitam certamente, ingerir

uma quantidade de tanino acima de sua tolerância, diminuindo o tempo gasto em

alimentação. Isto corrobora a predição de BELOVSKY & SCHMITZ (1991 ), de

que o tempo gasto na alimentação de herbívoros pode ser reduzido pela sua

capacidade digestiva. Outras explicações no entanto podem estar associadas à

diminuição do tempo gasto em alimentação. CHIARELLO (1992), sugere que o

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77

valor nutritivo das folhas jovens, que o seu grupo de barbados consumiu , seja

responsável pela d iminuição do tempo de saciação e , conseqüentemente, pela

redução do tempo gasto em al imentação. A ingestão de folhas na dieta pode ser

restringida pela necessidade de fontes de energia (flores e frutos) na forma de

carbohidratos estruturais (MI LTON, 1 979). A taxa de d igestão tende a diminuir

quando o conteúdo de fibra na a l imentação aumenta (MILTON & DEMMENT,

1 988) .

Fatores que Influenciam o Tempo Gasto em Locomoção

As variações sazonais ocorridas na proporção de tempo que o grupo

estudado gastou em locomoção também parece ser fortemente influenciada pela

d isponib i l idade, distribuição e conteúdo qu ímico das folhas novas. As maiores

proporções de tempo observadas em locomoção ocorreram no inverno e

primavera, diferindo sign ificativamente das proporções de outono e verão. Além

da escassez de a l imento durante inverno, estas diferenças podem também estar

relacionadas com o aumento na proporção de folhas novas, principalmente de A.

leiocarpa, na dieta, no final do inverno e durante a primavera.

Assim como flores e frutos, folhas novas estão d ispon íveis por pouco

período de tempo e geralmente estão d istribuídas em "manchas" na área

domici l iar dos barbados. Como o consumo de folhas novas de A. /eiocarpa foi

bastante a lto no final do inverno e durante a primavera, possivelmente os

barbados da Mata Boa Vista tenham procurado maximizar o uso deste recurso

buscando diferentes indivíduos desta espécie e evitando a ingestão de elevados

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78

ao mesmo tempo uti l izado um recurso de elevado valor nutritivo. Há evidências

de que a lgumas espécies de plantas, uma vez que um herbívoro tenha se

al imentado de uma porção de folhas novas, a planta responda, dentro de 24

horas, aumentando seus compostos defensivos ( in ib idores de proteínas) nas

folhas (RYAN & GREEN, 1 974; apud MILTON, 1 980; HANKIOJA & NIEMALA,

1 975; apud MILTON, 1 980; HARBORNE, 1 991 ) . De fato, dos 1 05 indivíduos de

A. leiocarpa procurados para o consumo de folhas novas pelos barbados da MBV

desde o fim do inverno até o fim da primavera, apenas 9 foram reuti l izados e,

destes, 4 foram reuti l izados em menos de 24 horas.

D iante d isso pode-se conclu i r que a d istribuição, como também a

assincronia dos indivíduos de A. leiocarpa na apresentação de folhas novas,

tenha exercido uma forte influência no aumento do tempo gasto em locomoção,

no final do inverno e por toda a primavera. Para a obtenção das folhas estes

tiveram que percorrer d istâncias maiores e, possivelmente, evitando também o

uso dos mesmos indivíduos mais de uma vez. Um outro fato que pode reforçar

esta h ipótese é correlação positiva encontrada entre o consumo de A. leiocarpa e

o tempo gasto em locomoção (rs = 0 ,370, n = 58, P < 0,01 ). A d isponib i l idade e a

distribuição de outros recursos d iferentes, que fizeram parte da sua dieta durante

o verão, também pode expl icar, em parte, a menor proporção do tempo gasto em

locomoção encontrada nesta estação do ano. Devido a maior concentração

destes recursos na sua área domici l iar, os barbados andaram menos para

local iza-los.

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79

Padrões Diurnos de Atividades

A variação na atividade de alimentação entre as horas do dia tem sido

registrada em uma variedade de mamíferos tropicais (CLUTTON-BROCK, 1974),

incluindo os primatas. Geralmente, os picos de alimentação são observados um

na parte da manhã e outro no fim da tarde, com um pico de repouso no meio do

dia (CHIVERS, 1969). Um padrão similar foi encontrado para A. fusca tanto na

Mata da Boa Vista como em outras áreas onde a espécie foi estudada

(CHITOLINA & SANDER, 1981; MENDES, 1989; JARDIM, 1992; CHIARELLO,

1993a).

Embora as atividades de alimentação tenham sido observadas em todas as

faixas horárias, o grupo de estudo tendeu a concentrar esta atividade no início

da manhã, no final da manhã e principalmente no final da tarde. Estes períodos

de alimentação foram intercalados por períodos de repouso que parecem estar

mais relacionados com a digestão. Por consumirem uma proporção substancial

de folhas, os barbados precisam repousar para concentrar suas atividades

metabólicas na digestão deste item (SMITH, 1977). Estudos feitos em outros

primatas tais como Colobus badius (CLUTTON-BROCK, 1974) e Callicebus

personatus (KI NZEY & BECKER, 1983), também sugerem a influência de

mudanças nos processos digestivos bem como a influência de uma alimentação

mais folívora sobre as atividades de repouso e alimentação.

Quanto a distribuição na atividade de locomoção dos barbados ao longo do

dia, esta parece estar fortemente relacionada com a procura de alimentos. Os

dois picos observados apesar de estarem associados com alimentação podem

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80

antes do segundo pico de alimentação, e quase sempre envolveu uma mudança

de área de forrageamento. Isto pode ser devido à busca de uma dieta mais

diversificada e obtenção de alimentos mais enegéticos e/ou monitoramento das

principais fontes de alimento. O segundo período de maior atividade também está

ligado ao forrageamento mas, possivelmente, com a intenção de consumir

alimentos mais abundantes, como as folhas das principais fontes, dentro da sua

área domiciliar. Isto concorda em parte com CHIVERS (1991) que comenta que

de acordo com a disponibilidade de alimentos os primatas persistentemente

variam seus padrões diários na dieta. Frutos são consumidos no início do dia

para repor os níveis de açúcar no sangue, e folhas são consumidas no final do

dia quando os primatas estão mais cansados, com sistema digestivo carregado,

para digeri-las lentamente através da noite.

Alguns estudos têm demonstrado a influência de variáveis climáticas sobre

os padrões de atividades em A. fusca. Segundo JARDIM (1992) o número de

horas possíveis de sol pode determinar o tempo de duração das atividades da

espécie. Isto afeta principalmente os horários iniciais e finais das atividades e a

distribuição das atividades durante o dia (ibidem). CHIARELLO (1993a),

observou correlações significativas entre as temperaturas médias do dia e as

porcentagens de tempo dedicadas as atividades de repouso (correlação positiva)

e alimentação (correlação negativa). Ele acredita que as temperaturas mais

baixas típicas do inverno aumentam as necessidades energéticas dos barbados e

assim, conseqüentemente, a atividade de alimentação.

Apesar do presente trabalho não ter avaliado as variações climáticas

ocorridas na área de estudo, pode-se sugerir alguma relação entre estas

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8 1

variáveis e os padrões d iurnos das atividades dos barbados. No inverno A. fusca

tende a começar suas atividades mais tarde e termina-las mais cedo do que no

verão. Em dias com nebl ina pela manhã, os barbados só começaram suas

atividades após dissipação da mesma. Por esta área de estudo estar local izada

numa região onde as temperaturas não chegam a ser tão extremas, como no

caso dos barbados que vivem em latitudes mais elevadas, possivelmente as

variações nas temperaturas não exercem uma influência tão forte sobre seus

padrões de atividade. Por exemplo, o grupo estudado foi observado se

locomovendo nas horas mais quentes do ano no período de verão. No verão,

igualmente, a porcentagem de tempo gasto em al imentação foi mais elevada. Um

dos maiores picos de locomoção ocorreram nas horas in iciais da manhã no

período de inverno. Possivelmente as condições cl imáticas encontradas nas

áreas de ocorrência de A. fusca, bem como a qual idade e disponib i l idade dos

recursos al imentares sejam os principais fatores responsáveis pelas diferenças

observadas nos padrões comportamentais desta espécie entre as d iferentes

áreas de estudo. Segundo STRIER ( 1 987a) as variações sazonais e

disponibi l idade de al imento não parecem restringir as atividades dos primatas,

antes modificam a proporção de tempo dedicada as várias atividades.

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82

Comparação entre as Classe Sexo-Etárias

Os orçamentos de atividades em muitas espécies de primatas variam entre

idade e sexo (HARRISON, 1983). Diferenças no tempo gasto nos orçamentos de

atividades entre os membros do grupo de estudo também foram observadas.

Segundo ROBI NSON (1981; apud LAWES & PIPER, 1992), estas diferenças

podem indicar estratégia de forrageamento diferentes entre as classes sexo­

etárias. De fato parece que o macho adulto deste estudo adotou uma estratégia

conservadora de energia pois descansou mais, locomoveu-se menos e

alimentou-se de maneira similar ao macho subadulto. Este padrão não concorda

inteiramente com o que foi observado por BICCA-MARQUES & CALEGARO

MARQUES (1994) em A. caraya. Os autores citam haver uma tendência para um

aumento no descanso e uma diminuição no movimento e alimentação quando o

animal torna-se mais velho e maior. O tempo gasto em alimentação entre as três

classes examinadas não foram diferentes. Isto pode indicar que outros fatores

além do tamanho e idade podem influenciar os orçamentos de atividades entre as

diferentes classes sexo-etárias.

Possivelmente o maior tempo gasto em locomoção, observados na fêmea

adulta e no macho subadulto, possa estar associado com a minimização de

interações tipo competição alimentar com o macho adulto. Em certas ocasiões

observou-se tanto o macho subadulto como a fêmea adulta forrageando

afastados do macho adulto. Foi observada agressão direta por parte do macho

adulto no sentido de obter acesso a certos alimentos. Por exemplo, quando os

frutos de Genipa sp. estavam maduros o macho adulto não permitia acesso dos

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83

foi agredido na ocasião de tentativas de acesso. Os demais componentes do

grupo somente consumiam os restos dos frutos deixados já que normalmente

todos eram consumidos. Os frutos de Genipa sp. são grandes e poucos são

produzidos. Isto pode ter levado o macho adulto à monopolização do recurso.

O maior tempo gasto em alimentação por fêmeas adultas em alguns

primatas parece estar associado com períodos de gestação e lactação

(CLUTTON-BROCK, 1974; SMITH, 1977; STRIER, 1987a; BICCA-MARQUES &

CALEGARO MARQUES, 1994), embora o oposto tenha sido observado em

fêmeas lactantes de Cercopithecus sabaeus (HARRISON, 1983). A fêmea adulta

do grupo de estudo nunca foi observada carregando filhote ou copulando com o

macho adulto durante todo o período de estudo. Esta fêmea não chegou a ter

filhotes e talvez isto explique um tempo gasto em alimentação semelhante aos

outros membros do grupo.

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Capítulo g

u�o do ��paço

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Introdução

O uso do termo "home range" ou área domiciliar tem sido aplicado ao

comportamento de mamíferos silvestres (STICKEL, 1968). A área domiciliar é

geralmente descrita como a área que um animal ou grupo de animais utiliza

durante suas atividades diárias (CHIVERS, 1969; NRC, 1981 ). Segundo

STICKEL (1968), o tamanho da área domiciliar é o reflexo de uma combinação de

fatores tais como hábitat, suprimento de alimento, estação do ano, condições

climáticas e densidade populacional e, algumas vezes tem sido possível

identificar o fator que é mais crítico na limitação do seu tamanho.

O alimento geralmente é considerado um dos fatores mais importantes e

que limita a ocupação do espaço por uma espécie animal. Os recursos

alimentares podem variar consideravelmente em natureza e abundância e, por

sua vez podem influenciar a maneira como os animais usam e ocupam o espaço.

Segundo OATES (1 987), os padrões de movimentos dos primatas são fortemente

influenciados pela distribuição dos recursos especialmente os recursos

alimentares.

O presente capítulo pretende descrever e analisar o uso do espaço de um

grupo de A. fusca num hábitat de vegetação perturbada relacionando-o

principalmente com dados fenológicos, disponibilidade e utilização dos recursos

alimentares.

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86

Métodos

Um total de 13.038 registros das amostragens de varredura instantânea de

local ização ( coordenadas de quadrados de 25 m X 25 m traçados no mapa das

rotas) do grupo de estudo foram obtidos durante 59 d ias. Isto representa 95,06%

das observações totais das amostragens.

Para verificar o acréscimo de quadrados novos uti l izados mensalmente foi

calculada a sua porcentagem acumulada. No primeiro mês de estudo o número

de quadrados uti l izados foram registrados e, posteriormente, para cada mês

foram acrescentados os novos quadrados de uso não registrados anteriormente.

O número total de quadrados observados no último mês foi dividido pelo número

encontrado em cada mês e multip l icado por cem.

A anál ise estatística não-paramétrica de Kruskal-Wal l is (K-W) foi usada

para ava l iar se as d iferenças observadas no número de quadrados uti l izados

diariamente entre as estações do ano foram significativas.

Os quadrados relacionados com a atividade de a l imentação foram

considerados separadamente objetivando verificar a existência de correlações

significativas no padrão de uso dos mesmos entre as estações do ano. As

percentagens de uti l ização em cada estação do ano foram extraídos das

amostragens instantâneas. As relações foram aval iadas pelo coeficiente de

correlação de Spearman (rs ) .

Para calcular o uso preferencia l das d iferentes porções do estrato vertical

da floresta pelos barbados, estas porções foram divid idas em cinco categorias de

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)

87

alturas (h): 1 = solo; 2 = O < h � 5 metros; 3 = 5 < h � 10 metros; 4 = 10 < h � 15

metros e 5 = h > 1 5 metros. Posteriormente, todos os registros obtidos das

amostragens instantâneas em cada categoria foram agrupados. O uso diferencial

dos quadrados e também as relações com cada atividade comportamental foram

comparadas.

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Resultados

Área de Uso

A Figura 1 apresenta a porcentagem acumulada de quadrados (25m x 25m)

novos usados e adicionados mensalmente pelo grupo de estudo. Nos quatro

últimos meses poucos quadrados novos foram acrescentados. Assim, o número

total de quadrados diferentes usados pelo grupo de estudo na Mata Boa Vista foi

de 186, totalizando uma área de uso de 11,6 hectares (Figura 2) ao longo do

ano.

Em média o grupo de estudo ocupou uma área de 20,8 quadrados por dia,

com uma amplitude total de variação de 7 quadrados (no mês de junho) a 51

quadrados (no mês de agosto) (Tabela 1 ). O inverno e primavera foram as

estações com os maiores números de quadrados usados e diferenças

significativas foram encontradas entre o número total de quadrados usados

diariamente entre estas estações o outono e o verão ( K-W = 8,58; n = 58, P <

0,05) (Figuras 3 e 4).

A área domiciliar não foi usada de maneira homogênea pelo grupo de

estudo. Na Figura 5 observa-se um uso diferencial anual de cada quadrado. A

maioria dos quadrados (101 quadrados) apresentou uma porcentagem de uso de

1 % à 10%, enquanto que apenas 2 quadrados apresentaram a elevada

porcentagem de 41 % à 50% de uso.

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Figura 1 - Porcentagem acumulada de quadrados uti l izados por Alouatta fusca na Mata Boa Vista ao longo do período de estudo.

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Figura 2 - Área domiciliar do grupo de estudo e distribuição dos quadrados {25m X 25m) utilizados.

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9 1

Tabela 1 - Números mensais, sazonais e anual de quadrados (25m X 25 m) utilizados pelo grupo de estudo.

no. total 1 média diária 2 amplitude mensal hectares 3

ABR 40 13,0 9 - 21 2,50 MAi 58 18,4 9 - 26 3,63 JUN 65 17,2 7 - 25 4,06 JUL 69 23,4 14 - 31 4,31 AGO 87 25,8 13 - 51 5,44 SET 92 26,6 20 - 38 5,75 OUT 77 26,2 14 - 45 4,81 NOV 78 23,0 17 - 27 4,88 DEZ 50 18,3 13 - 23 3,13 JAN 47 17,6 7 - 27 2,94 FEV 58 18,4 12 - 29 3,63 MAR 64 20,2 17 - 25 4,00

OUTONO 72 1 6,43 4,50 INVERNO 115 25,27 7,19 PRIMAVERA 98 22,79 6,13 VERÃO 78 18,73 4,88

Total Anual 186 20,8 11,63

Número total de diferentes quadrados usados no mês. 1 A média foi calculada somando o número de quadrados usados diariamente e dividindo pelo número de dias. j Somatório das áreas dos quadrados uti l izados

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Figura 3 - Área domici l iar do grupo e distribuição dos quadrados (25m X 25m) uti l izados no outono (abri l , maio e junho/93) e inverno Uulho, agosto e setembro/93).

92

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VERÃO

93

Figura 4 - Área domici l iar do grupo e d istribuição dos quadrados (25m X 25m) uti l izados na primavera (outubro, novembro e dezembro/93) e verão Uaneiro, fevereiro e março/94) .

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Figura 5 - Uso diferencial anual da área domiciliar do grupo, expresso como a porcentagem do número de dias de observação (n= 58) no qual cada quadrado foi utilizado

94

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95

Uso da Área e Recursos Alimentares

Os barbados da Mata Boa Vista ocuparam a sua área de acordo com a

disponibilidade sazonal e a distribuição dos seus recursos alimentares. O

quadrado T1, foi por exemplo usado apenas uma vez no fim do inverno quando

um agregado de quatro árvores de Apuleia leiocarpa estava produzindo folhas

novas. O mesmo aconteceu com o quadrado G1 no outono quando o grupo

consumiu frutos maduros de uma trepadeira, Celtis iguanae. Os quadrados S17,

S 18, R 17, R 18, R 19 foram usados repetidamente no outono, inverno e primavera

sendo que a cada estação foi observado um consumo de diferentes ítens

sazonais de diferentes espécies, tais como frutos maduros de Cecropia sp. ,

flores, brotos e folhas novas de A. leiocarpa, e folhas novas de Dalbergia

frutescens e Machaerium brasiliense.

O uso de determinados quadrados envolveu tanto agregados de recursos

alimentares de diferentes espécies vegetais produzindo itens sazonais, como

visto acima, como também um uso de quadrados com agregados de suas

principais fontes alimentares produzindo itens de duração mais longa (folhas

maduras de B. guianense, A. leiocarpa e P. elegans). Foi observado também que

em alguns quadrados estes últimos recursos alimentares estavam associados

com outras espécies de plantas que forneceram em alguma época um item

sazonal (folhas novas, flores ou frutos).

Dos 186 quadrados uti l izados, independente da atividade comportamental

envolvida, 119 foram usados na al imentação. Isso corresponde a 64 % do total

da área de uso. Deste 119 quadrados de alimentação 49 foram usados no

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outono, 55 no inverno, 67 na primavera e 49 no verão. A anál ise das correlações

do uso destes quadrados entre as estações do ano demonstrou algumas

relações significativas. Observou-se uma certa tendência do grupo de estudo

uti l izar os mesmos quadrados de al imentação no outono e verão (rs = 0,311; n =

11 9; P < 0,001) e na primavera e verão (rs = 0 ,238; n = 119; P < 0 ,05) . Não foi

observado uma correlação significativa (rs = 0,049; n = 1 1 9; P > 0,50) nas

proporções de uso dos quadrados entre as áreas de al imentação do inverno e

primavera embora essas tenham sido as estações com uso de áreas maiores.

Isto evidencia que A. fusca usou áreas de a l imentação no inverno que

normalmente não uti l iza em outras épocas do ano (Figuras 6, 7, 8 e 9) e,

acentuadamente, com freqüências de uso diferenciadas.

O número total de quadrados usados mensalmente foi correlacionado com

os dados fenológicos obtidos de maneira independente na área de estudo.

Correlações positivas e significantes foram observadas com as porcentagens

mensais do número de árvores desfolhadas e com as porcentagens mensa is de

indivíduos apresentando folhas secas (rs = 0,84; n =12; P < 0,001 e rs

= 0 ,72; n =

1 2; P < 0,01 , respectivamente). O número de quadrados uti l izados correlacionou­

se negativamente com o número de árvores apresentando folhas maduras

(rs= . 82; n = 12; P = 0,001 ) .

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101

Percurso Diário

Em média, a distância percorrida diariamente pelo grupo estudado foi de

607,47 metros com uma variação diária de 235 (no mês de junho) a 1527 metros

(no mês de agosto) (Tabela 2). Foram observadas diferenças significativas nos

percursos diários entre as estações do ano (K-W = 9,97; n = 58, P < 0,05). As

maiores distâncias percorridas ocorreram no inverno e primavera. Estas diferiram

significativamente das distâncias percorridas no outono e verão. Isto já era

esperado dado a correlação observada entre o número de quadrados usados

diariamente e o percurso diário ( rs = 0,908; n = 58, P < 0,0001 ).

Percurso Diário e suas Relações com o Comportamento Al imentar,

Disponibi l idade e Distribuição de Recursos

O percurso diário dos barbados foi correlacionado com a disponibilidade e

distribuição de itens e espécies vegetais preferidos na alimentação e com as

características fenológicas apresentadas pelas árvores da área de estudo. As

distâncias percorridas diariamente pelo grupo foram inversamente

correlacionadas com as porcentagens de tempo gasto no consumo de folhas

maduras (rs = -0,272; n = 58, P < 0,05) e positivamente com as porcentagens de

tempo gasto no consumo de folhas novas e no consumo de Apuleia leiocarpa (rs

= 0,259; n =58, P < 0,05 e rs = 0,259; n = 58, P < 0,05, respectivamente).

O percurso médio mensal esteve associado positivamente com o número de

indivíduos arbóreos desfolhados (rs = 0,77; n = 12, P < 0,01) e negativamente

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1 02

com o número de indivíduos arbóreos apresentando folhas maduras (rs = - 0.76;

n =12, P < 0.01 ).

Tabela 2 - Distâncias médias mensais, sazonais e anual percorridas pelo grupo de estudo.

ABR MAi JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ JAN FEV MAR

OUTONO INVERNO PRIMAVERA VERÃO

Média Anual

média diária (metros) amplitude mensal

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765 662

575,8 496,1 502,7 523,8

529,06 718,56 674,14 507,33

607,47

295 - 831 290 - 975 235 - 665 391 - 870

318 - 1527 588 - 1077 379 - 1203

566 - 906 504 - 624 284 - 750 354 - 606 478 - 585

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103

Uso dos Estratos Verticais da Floresta

Mais de 60% dos registros em que os barbados foram observados em

diferentes estratos verticais ocorreram na categoria 5, ou seja a mais de 15

metros de altura. Apenas 0,04% dos registros foram no solo (Figura 1 O. Porém,

ao se considerar as diferentes atividades comportamentais em relação a cada

categoria de altura, verifica-se um uso diferencial do estrato vertical da floresta

envolvendo cada atividade (Figura 11 ) Quando em repouso A. fusca foi

observado com maior freqüência acima de 15 metros de altura (67,6% das

observações). Em atividade de alimentação os estratos 3, 4 e 5 foram utilizados

quase que igualmente (29,9%, 31 % e 35%, respectivamente). Durante a

locomoção houve uma certa preferência, principalmente em relação a locomoção

direcional, em utilizarem os estratos mais superiores. A categoria 1 (solo) foi mais

freqüentemente utilizada quando os barbados foram observados em atividade de

dessedentação pois estes desciam até um córrego da área de estudo. O grupo,

no entanto, também utilizou a água que se acumula em ocos formados nas

bifurcações de troncos de determinadas árvores. Devido a isso, o estrato 3 (5m <

h �10m) teve uma freqüência de uso de 35%. A atividade de vocalização foi

sempre observada no estrato mais alto da floresta.

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Figura 11 - Distribuição de freqüência do uso dos estratos verticais em que cada atividade comportamental foi observada. *R = repouso; A = alimentação; L =

locomoção; LO = locomoção direcional ; D = dessedentação; S = social; V =

vocalização; DEF = defecação. 1 = solo; 2 = Om < h � Sm; 3 = Sm < h � 1 Om; 4 =

10m < h � 15m; 5 = >15m.

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106

DISCUSSÃO

Fatores que Afetam o Tamanho Anual e Sazonal da Área Domici l iar

A dimensão anual da área domiciliar (11, ha) do A. fusca na Mata Boa Vista

está acima das estimativas já observadas para esta espécie. Na Estação

Biológica de Caratinga (Minas Gerais) e na Reserva de Santa Genebra (São

Paulo) as dimensões das áreas domiciliares foram respectivamente 7 ha e 4 ha

(MENDES, 1989; CHIARELLO, 1992; 1993). Possivelmente, os fatores mais

críticos envolvidos nestas diferenças estejam relacionados com a distribuição,

qualidade e disponibilidade de alimentos, requerimentos nutricionais e densidade

populacional.

CHIARELLO (1993) menciona que as diferenças encontradas entre o

tamanho da área domiciliar de seu grupo e a do grupo da Estação Biológica de

Caratinga esteve relacionada principalmente com as diferenças na

disponibilidade de frutos entre as duas áreas. Como o grupo da Reserva de

Santa Genebra consumiu poucos frutos (5,2%) devido ao hábitat alterado, o

tamanho da área domiciliar foi menor em relação ao grupo da Estação Biológica

de Caratinga onde o consumo de frutos foi mais elevado (13,%). O grupo do

presente estudo consumiu uma proporção de frutos semelhante a observada na

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107

Estação Biológica de Caratinga (12%), no entanto, sua área domiciliar foi ainda

maior. Os resultados deste estudo demonstraram que os fatores mais

relacionados e possivelmente com maior influência sobre o tamanho da área

domiciliar foram a ausência de folhas devido às características fenológicas

apresentada pelas árvores da Mata Boa Vista e a distribuição e disponibilidade e

de folhas novas de A. /eiocarpa em diversos setores da floresta. Com a chegada

do inverno a maioria das árvores perde suas folhas e com isso, o grupo estudado

teve que aumentar sua área domiciliar para encontrar alimentos e suprir suas

necessidades diárias. De fato, as áreas de alimentação do grupo no inverno não

foram relacionadas com as áreas de alimentação de outras estações do ano. Isso

demonstra que os barbados tiveram que procurar por novas áreas de

alimentação. No final do inverno e durante a primavera as folhas novas de A.

leiocarpa surgiram repentinamente e assincronicamente após o período de

senescência. Por estarem amplamente espalhadas pela área domiciliar do grupo,

os barbados certamente procuraram maximizar o uso deste recurso visitando

várias fontes.

Ao comparar o tamanho da área domiciliar do grupo deste estudo com o

que foi observado na Estação Biológica de Caratinga (MENDES, 1989) e na

Reserva de Santa Genebra (CHIARELLO, 1992) entre as estações do inverno e

verão verifica-se que em cada área os barbados apresentaram diferentes

estratégias comportamentais. No inverno, enquanto do grupo da Mata Boa Vista

aumentou o tamanho da área domici l iar (7,9 ha) devido a grande falta de

alimento levando-o à explorar áreas mais distantes, o grupo da Estação

Biológica de Caratinga (6,5 ha) reduziu o tamanho da área domiciliar

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permanecendo mais tempo em áreas que oferecessem mais alimentos. Já o

grupo da Reserva de Santa Genebra manteve praticamente o mesmo tamanho

da área domiciliar em ambas estações (3, 12 ha no inverno e 3,65 ha no verão},

devido à grande importância das lianas na sua dieta e à grande abundância e

homogeneidade com que estas estão distribuídas na sua área domiciliar . No

verão o grupo de estudo reduziu o tamanho da sua área domiciliar (4,88 ha) por

causa de uma maior oferta e distribuição mais agregada dos recursos

alimentares que constituíram sua dieta, enquanto o grupo da Estação Biológica

de Caratinga aumentou sua área (7, 19 ha) devido a maior disponibilidade e

distribuição mais esparsa de frutos que foi o seu principal item alimentar durante

este período.

A falta de alimentos e as características na distribuição e disponibilidade

desses recursos podem ser os principais fatores que expliquem as diferenças

intraespecíficas não só entre os hábitats como também no mesmo local em

épocas diferentes. ZHANG (1995) demonstrou que um grupo de Cebus apella

utilizou duas estratégias em épocas de escassez de alimentos dependendo da

severidade da falta de frutos e características na distribuição das fontes

relevantes de frutos. Ou eles aumentaram o tamanho da sua área domiciliar e/ou

comprimento da percurso para reunir suas necessidades nutricionais, ou

reduziram, restringindo a diversidade dietária e qualidade alimentar.

Um outro fator que deve também ter determinado ou influenciado o maior

tamanho anual da área domiciliar do grupo da Mata Boa Vista é a densidade

populacional. CROCKETT & EISENBERG (1987) encontraram uma correlação

negativa e significativa entre o tamanho da área domiciliar e a densidade

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1 09

populacional baseando-se nos dados de vários estudos de Alouatta. Além disso,

evidências também sugerem que grupos grandes de primatas tendem a ocupar

uma área maior do que grupos pequenos, e que áreas de uso são menores onde

o alimento é mais abundante (CLUTTON-BROCK & HARVEY, 1977). A densidade

estimada de Alouatta fusca, observada no presente estudo foi mais baixa (0,26)

do que as densidades estimadas na Reserva de Santa Genebra (1,77;

CHIARELLO, 1992) e na Estação Biológica de Caratinga (1, 17; MENDES, 1989).

Apesar do tamanho do grupo da Mata Boa Vista tenha sido um pouco menor ( 4

indivíduos) do que na Reserva de Santa Genebra (5 indivíduos) e Estação

Biológica de Caratinga (7 indivíduos), provavelmente isto não deve ter exercido

um papel tão importante na determinação do tamanho anual da área domiciliar

do grupo da Mata Boa Vista. Talvez a baixa densidade observada na Mata Boa

Vista seja um reflexo da incapacidade desta área em sustentar uma população

maior. Assim, além da escassez de alimentos principalmente durante o inverno e

por causa da distribuição e disponibilidade de folhas novas de Apuleia Jeiocarpa,

a baixa densidade populacional de A. fusca na Mata Boa Vista pode também ter

sido um dos fatores que mais influenciou o tamanho anual da área domiciliar do

grupo de estudo.

A Variação no Uso da Área Domici l iar

Vários estudos têm demonstrado um uso diferencial pelos primatas de sua

área domiciliar (CHIVERS, 1977; MILTON, 1981; ESTRADA, 1984; STRIER,

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1 10

1987b; CHAPMAN, 1988; BICCA-MARQUES, 1991; BARTON et ai. 1992; HILL &

AGETSUMA 1995). Segundo estes estudos, os padrões de uso da área

domiciliar estão fortemente relacionados com os recursos alimentares preferidos

que variam sazonalmente. CHAPMAN (1988) no seu estudo sobre a utilização de

recursos de Alouatta palliata e Ateies geoffroyi sugere que decisão de quando ir a

uma porção da área domiciliar mostra ser uma função da taxa na qual o recurso é

esgotado na área em uso e da disponibilidade relativa dos recursos em outras

porções. De fato, muitas porções da área domiciliar do grupo de estudo foram

utilizadas somente durante a época de disponibilidade de algum recurso. Por

exemplo, a disponibilidade dos frutos de Celtis iguanae e folhas novas de

determinados indivíduos de Apuleia leiocarpa levou o grupo consumir seus frutos

e folhas novas em porções da área domiciliar que nunca mais foram utilizadas.

No caso dos frutos de C. iguanae, provavelmente estas porções da área não

foram utilizadas novamente por causa da baixa disponibilidade ou ausência deste

recurso alimentar. Mas, com relação as porções onde estavam localizados

determinados indivíduos de A. leiocarpa dos quais somente suas folhas novas

foram consumidas, talvez pela maturidade das folhas os benefícios nutricionais

e/ou energéticos não compensassem deslocamentos até estas porções já que

folhas maduras poderiam ser adquiridas facilmente devido a abundância desta

espécie na área domiciliar do grupo.

Apenas dois quadrados da área domiciliar foram os mais utilizados pelo

grupo de estudo com uma porcentagem máxima de uso de 40% a 50%. Esta

porção da área domiciliar pode ser denominada como a área nuclear do grupo.

Segundo KAUFMANN (1962 apud BATES, 1970), áreas nuclear indicam partes

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1 1 1

outras. Parece que os barbados tendem à concentrar suas atividades de

forrageamento nas porções de seus hábitats com as densidades mais altas dos

recursos alimentares preferidos (A. palliata citado por MILTON (1980, 1981 ) ; A.

belzebul citado por BONVICINO (1989) ; A. fusca citado por MENDES, 1989 e A.

caraya citado por BICCA-MARQUES, 1991 ). A área nuclear do grupo da Mata

Boa Vista parece também apresentar densidades altas de recursos alimentares

pois muitas árvores de Brosimum guianense e de Apuleia /eiocarpa, que foram as

principais espécies na alimentação, estão presentes neste local. Além disso, a

maioria das árvores utilizadas para pernoite também foram observadas nesta

área.

Fatores que Afetam a Extensão do Percurso Diário

O comprimento médio anual do percurso do grupo foi um pouco maior

(607,5 m) do que o comprimento médio anual observado na Reserva de Santa

Genebra (466,8 m) e na Estação Biológica de Caratinga (523 m). Estas

diferenças podem refletir diferenças nas características da composição,

densidade, distribuição, fenologia e conteúdo químico das plantas encontradas

nestas áreas de estudo.

Parte das variações diárias observadas no comprimento do percurso na

Mata Boa Vista podem ser explicadas pela disponibilidade e distribuição de itens

e espécies vegetais preferidos na alimentação. Os dados demonstraram que

quanto maior o consumo de folhas maduras na dieta menor a distância

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1 12

percorrida, enquanto que o percurso foi maior com o aumento no consumo de

folhas novas principalmente de Apuleia leiocarpa. Como as principais espécies

de planta fornecedoras de folhas maduras na dieta do grupo são abundantes na

área de estudo (B. guianense, A. /eiocarpa e P. elegans) o grupo não precisou

percorrer longas distâncias para encontra-las. Mas o fato de que folhas maduras

sejam mais difíceis de serem digeridas (MILTON, 1980) também pode ter

contribuído para isso. Como a inatividade dos barbados pode estar relacionada

com a atividade metabólica de alimentos relativamente indigeríveis (SMITH,

1977), então, para os barbados obterem uma melhor eficiência digestiva seria

necessário que permanecessem mais tempo parados do que andando.

MENDES (1989) acredita que o menor e o maior deslocamento de seu grupo de

estudo, observado entre os períodos seco e úmido respectivamente, tenham sido

influenciados pelo consumo de itens alimentares energeticamente pobres (folhas)

no período seco e ricos (frutos) no período úmido. Mas esta interpretação pode

ser confundida com a distribuição e disponibilidade dos recursos alimentares.

Pois, mesmo consumindo uma proporção maior de frutos ( 15%) e flores (21%) no

verão (itens considerados energeticamente ricos) o percurso médio do grupo da

Mata Boa Vista foi menor (507 m) do que nas outras estações devido a

distribuição mais agregada destes itens alimentares. Enquanto que a assincronia

dos indivíduos de A. leiocarpa produzindo folhas novas no fim do inverno e por

toda a primavera levou o grupo a percorrer longas distâncias para consumi-las.

As características fenológicas apresentadas pelos indivíduos arbóreos da

Mata Boa Vista também pode ajudar a explicar as variações observadas no

comprimento dos percursos diários do grupo de estudo. Distâncias maiores foram

observadas durante a fase na qual a maioria das árvores estavam desfolhadas,

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característica típica do inverno ou período mais seco da Mata Boa Vista. Isto

pode estar relacionado com a falta de alimentos e a procura por recursos

alimentares dos quais os animais pudessem extrair seus requerimentos

nutricionais diários. Com o aumento na oferta de alimentos, que caracterizou

principalmente o verão ou período úmido, os percursos diários foram mais curtos.

Estas observações corroboram a predição de BARTON et ai. (1993) da

existência de uma relação inversa entre o tamanho da área de forrageamento

necessária para cada indivíduo satisfazer seus requerimentos nutricionais diários

e a densidade média de alimento dentro da área domicliar.

Ao longo do período de estudo foi observado que o grupo usou

freqüentemente determinados trajetos de sua área domiciliar. Segundo

CHAPMAN (1988), os movimentos regulares também observados em A. palliata e

Ateies geoffroyi, podem servir como um meio sistemático de amostragem do seu

ambiente. Visitas a áreas mais distantes podem representar uma verificação de

futuros alimentos (CHIVER, 1977). De fato, o dia que o grupo da Mata Boa Vista

percorreu a maior distância observada (1527 m) algumas áreas visitadas foram

as mesmas do mês seguinte nas quais folhas novas de Apuleia leiocarpa foram

consumidas.

Util ização dos Estratos Verticais da Floresta

O uso dos estratos verticais por A. fusca tem sido observado por MENDES

(1989) e JARDIM (1992). Estes estudos têm demonstrado a preferência de A.

fusca pelo estrato superior das florestas. Neste estudo também foi observado

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esta preferência já que 61 % dos registros comportamentais ocorreram entre 16 a

25 metros (altura máxima dos ind ivíduos arbóreos da Mata Boa Vista). MENDES

(1989) acredita que, como os barbados gastam a maior parte de seu tempo d iário

em repouso, provavelmente eles uti l izam mais esta faixa de altura para se

acomodarem melhor, terem uma boa visual ização da área domici l iar, além de ser

mais seguro. Mas como os barbados são i nteiramente herbívoros, esta

preferência pode estar mais relacionada com produção dos seus recursos

a l imentares. Apesar do grupo de estudo ter sido observado forragear em

proporções semelhantes entre três categorias de alturas (3, 4 e 5) , isto deve

estar mais relacionado com a estrutura e composição da vegetação da Mata Boa

Vista.

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1 1 5

CONCLUSÕES

Apesar do aspecto perturbado da Mata Boa Vista algumas espécies de

plantas, fontes de frutos e flores para o grupo de estudo, permitiram uma dieta

balanceada entre estes itens e folhas, pelo menos durante a primavera e verão.

No mês de dezembro o consumo de frutos ocupou uma parcela de 39% e folhas

de 52% da dieta, enquanto que nos meses de novembro e janeiro o consumo de

flores foi de 35% e folhas de 55% e 63%, respectivamente. Isto pode indicar que

quando espécies de plantas que produzem frutos ou flores, preferidos na

alimentação, estão presentes no habitat dos barbados a dieta será mais

balanceada. Mas com · os efeitos advindos da perturbação do seu hábitat,

incluindo cortes seletivos de espécies importantes na alimentação, uma dieta

mais balanceada fica comprometida, principalmente para A. fusca que vive em

ecossistema que já foi bastante modificado.

Os resultados deste estudo demonstraram que dieta do grupo em relação ao

uso de espécies vegetais foi bastante seletiva. Duas espécies, Apuleia leiocarpa e

Brosimum guianense, foram as mais importantes na dieta, . Ambas representam

55,2% do tempo gasto em alimentação e são seguidas por Platypodium elegans

com 10,7%. O restante do tempo gasto (34,06%) foi distribuído entre as outras 34

espécies. As elevadas proporções observadas no consumo de A. leiocarpa e B.

guianense pode ser conseqüência da perda de espécies vegetais provocada pela

fragmentação e degradação da área, pela alta densidade destas espécies na

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área de estudo e pelo conteúdo químico principalmente de suas folhas que foram

os itens mais consumidos. Mas outros fatores também devem ser incluídos.

Talvez a presença compostos secundários e inibidores digestivos nas plantas da

Mata Boa Vista tenham levado ao uso mais intensivo destas duas espécies.

Na Mata Boa Vista A. fusca foi observado consumindo uma proporção maior

de flores e frutos do início da manhã ao início da tarde, e uma proporção maior

de folhas e menor de frutos e flores no final da tarde. O consumo de frutos e

flores pela manhã pode estar associado ao déficit energético do animal ao

acordar e à natureza mais dispersa destes recursos. Já o consumo maior de

folhas no período da tarde pode estar relacionado com a digestão mais eficiente

deste item durante um repouso mais prolongado, bem como a maximização do

seu maior conteúdo protéico e calórico nesta hora do dia.

Os padrões de atividades comportamentais apresentados por A. fusca

durante o ano na Mata Boa Vista foram semelhantes aos padrões observados em

outros hábitats já estudados. Isto demonstra que embora vivendo em hábitat

bastante perturbado o grupo de barbados manteve seus padrões ecológicos

comportamentais inalterados. Em média, o grupo passou 73% do seu dia

descansando, 15% alimentando-se e 11 % locomovendo-se. Mas, ao se

considerar as variações sazonais foram observadas diferentes estratégias

comportamentais entre o grupo deste estudo e os grupos de outras áreas. Isto se

deve principalmente à escassez de alimentos durante o inverno bem como

certamente a sua distribuição e conteúdo químico das folhas novas de Apuleia

leiocarpa no fim do inverno e durante a primavera. Neste período o grupo

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estudado repousou mais, se locomoveu mais e se alimentou menos do que no

verão, época de maior disponibilidade de alimento.

No padrão diurno das atividades comportamentais do grupo de estudo foram

observados três picos de alimentação intercalados por períodos de repouso, dois

picos na atividade de locomoção que ocorreram um antes do segundo pico de

alimentação no final da manhã, e outro pico junto com a atividade de alimentação

à tarde. Provavelmente os padrões observados de alimentação e de repouso

devem estar relacionados com as mudanças nos processos digestivos bem como

a influência de uma alimentação mais folívora. Quanto aos dois picos de

locomoção, .estes devem estar mais relacionados com a procura de alimentos. O

primeiro, com a mudança da área de forrageamento para diversificar a dieta e o

consumo de alimentos mais energéticos e o segundo com o consumo de

alimentos mais facilmente encontrados, como as folhas das principais espécies

utilizadas (Apuleia leiocarpa, Brosimum guianense e Platypodium elegans ). As

variações observadas no ciclo diurno de atividades entre as estações do ano de

certa forma podem ter sido influenciadas por variações climáticas. Mas, como as

temperaturas na região estudada não chegam a ser tão extremas possivelmente

as variações não tenham exercido uma influência tão forte sobre o grupo quando

comparada com regiões de latitude mais elevada onde A. fusca foi estudado.

As diferenças observadas no tempo gasto em diversas atividades entre as

classes sexo-etárias podem indicar estratégias de forrageamento diferentes. De

fato parece que o macho adulto deste estudo adotou uma estratégia

conservadora de energia pois descansou mais, locomoveu-se menos e alimentou-

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se de maneira similar ao macho subadulto. Estas diferenças no entanto, não

estão apenas associadas com o sexo e a faixa etária dos membros do grupo.

Possivelmente o maior tempo gasto em locomoção, observado na fêmea adulta e

no macho subadulto, pode estar relacionado em evitar a competição alimentar

com o macho adulto. Como a fêmea adulta do grupo de estudo nunca foi

observada carregando filhote ou copulando com o macho adulto durante todo o

período de estudo possivelmente isto explique um tempo gasto em alimentação

semelhante aos outros membros do grupo.

O tamanho da área domiciliar do A. fusca na Mata Boa Vista foi o maior

observado para esta espécie. Os resultados deste estudo demonstraram que os

fatores mais relacionados, e possivelmente que mais influenciaram o tamanho da

área domiciliar, foram a ausência de folhas e a conseqüentemente escassez de

alimentos devido às características fenológicas apresentadas pelas árvores da

Mata Boa Vista durante o inverno. A disponibilidade de folhas novas de A.

leiocarpa em diversos setores da floresta, que brotam assincronicamente a partir

do final do inverno e durante a primavera, levou o grupo estudado a maximizar o

uso da área.

Um outro possível fator associado ao maior tamanho da área domiciliar do

grupo da Mata Boa Vista é a densidade populacional. A densidade estimada no

presente estudo foi mais baixa (0,26 indivíduos por hectare) do que as

densidades estimadas na Reserva de Santa Genebra (1.77) e Estação Biológica

de Caratinga (1.17). Possivelmente a baixa densidade observada na Mata Boa

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Vista seja um reflexo da incapacidade da área em sustentar uma população

maior.

Ao se comparar os padrões de uso da área domici l iar com os de outras

áreas onde A. fusca foi estudado, verifica-se que o valor nutricional da

a l imentação, mais a densidade e distribuição dos recursos a l imentares são os

principais fatores envolvidos nas d iferenças observadas. O uso diferencia l de

várias porções da área domici l iar do grupo ocorreu principalmente em função da

disponib i l idade ou ausência itens al imentares e devido também ao

amadurecimento das folhas de determinados indivíduos de Apuleia leiocarpa. Os

quadrados da área domici l iar mais uti l izados pelo grupo, assim como observado

em outros estudos, foram relacionados com a abundância das principais espécies

na al imentação.

As variações diárias observadas no comprimento do percurso do grupo da

Mata Boa Vista foram sign ificativamente relacionadas com o consumo de folhas

maduras, folhas novas e características fenológicas dos indivíduos arbóreos.

Quanto maior o consumo menor foi a distância percorrida, enquanto que o

percurso foi maior com o aumento no consumo de folhas novas. Como as

principais espécies de plantas fornecedoras de folhas maduras na dieta do grupo

são abundantes na área de estudo (B. guianense, A. leiocarpa e P. elegans) o

grupo não precisou percorrer longas distâncias para encontra-las. Mas esta

interpretação pode ser confundida com a distribuição e d isponibi l idade dos

recursos a l imentares. Já a assincronia e d istribuição dos indivíduos de A.

leiocarpa exerceu uma influência contrária, ou seja, para maximizar a ingestão

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deste item efêmero os barbados percorreram distâncias maiores. Quanto as

características fenológicas apresentadas pelos indivíduos arbóreos, os maiores

percursos foram observados durante a fase na qual a maioria das árvores

estavam desfolhadas. Isto pode estar relacionado com a falta de alimentos e a

procura por recursos alimentares dos quais os animais pudessem extrair seus

requerimentos nutricionais diários. Com o aumento na oferta de alimentos, que

caracterizou principalmente o verão ou período úmido, os percursos diários foram

mais curtos.

Assim como em outros estudos, o uso dos estratos verticais por A. fusca na

Mata Boa Vista revelou sua preferência pelo estrato superior da floresta.

Conservação da Espécie

As populações remanescentes de A. fusca, além da fragmentação,

degradação e perda do seu hábitat podem estar sujeitas a outros tipos de

ameaças. MENDES (1989) acredita que as densidades baixas observadas de A.

fusca em determinadas áreas do Espírito Santo foram causadas por alguma

doença que no passado matou muitos animais. De certa forma, populações de

uma espécie animal vivendo em diferentes fragmentos amplamente espalhados,

durante um período de alguma epidemia estariam mais seguras do que se

vivessem em uma mesma área. Os fragmentos isolados poderiam impedir um

alastramento para outras áreas protegendo assim, outras populações.

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1 2 1

populacional, a vulnerabilidade pode ser maior a caçadores. Mas, mesmo sendo a

densidade populacional baixa, os indivíduos são mais fácilmente encontrados por

caçadores. A. fusca, além de ser facilmente avistado é normalmente lento e

retraido.

Como A. fusca é um primata herbívoro algumas populações isoladas

vivendo em determinados tipos de hábitats talvez possam estar ameaçadas

devido ao cumulativo no seu organismo de determinadas substâncias

encontradas nas plantas que consomem. Em muitas plantas é comum a

ocorrência de fitosteróis (sitosterol, estigmasterol), flavonóides, etc. que possuem

atividades semelhantes aos hormônios naturais (LUCKER, 1990). Alguns estudos

demonstraram que determinados constituintes de plantas podem iniciar (NEGUS

& BERGER, 1977) ou inibir (BERGER et ai. , 1977) a reprodução em espécies que

normalmente tem taxas de metabolismo basal altas, tais como o roedor Microtus

montanus. (Muridae) Provavelmente dependendo do tipo de dieta, principalmente

daquelas que são menos diversificadas e das concentrações e tipo de

substâncias existentes nas plantas consumidas, algumas conseqüências podem

ser agravadas em determinados hábitats. A fragmentação dos hábitats, além de

causar a perda de espécies preferidas na alimentação de A. fusca, pode estar

tornando a sua dieta mais fibrosa e/ou tóxica. Possivelmente, por falta de opção,

os barbados tenham uma dieta com concentrações altas de compostos

secundários. Uma evidência desta possibilidade pode estar na dieta fortemente

seletiva. Isto pode, conseqüentemente, restrigir os recursos necessários para

satisfazer as necessidades nutricionais da espécie. Para compensar esta perda

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de nutrientes e evitar um consumo excessivo de compostos secundários

possivelmente os barbados prefiram maximizar o uso de poucas espécies,

aumentando ou diminuindo o tamanho de sua área domiciliar de acordo com a

densidade destas. ESTRADA (1984) sugere que, entre outros fatores, a baixa

densidade de poucas espécies de árvores usadas na alimentação explica o

tamanho relativamente grande da área domiciliar do grupo que estudou.

Em caso da necessidade de translocar um grupo ou vários grupos de A.

fusca para alguma área determinada, além de avaliar a capacidade de

sustentação destas é importante, adicionalmente, verificar as concentrações de

compostos secundários e fibras das plantas potencialmente utilizadas na

composição da dieta.

Segundo CHIARELLO & GALETTI (1994) a principal ameaça da

sobrevivência de A. fusca em hábitats fragmentados é o isolamento geográfico de

populações pequenas, que a longo prazo poderia resultar na ausência do fluxo

genético e um conseqüente declínio da heterozigosidade. BICCA-MARQUES

(1991) sugere que as construções de parcelas de matas com espécies nativas ou

exóticas, mas que podem ser fontes alimentares importantes para os barbados,

pode tornar possível a migração de indivíduos entre populações isoladas. No

caso das populações isoladas na Região do Vale do Paraíba, na qual a Mata Boa

Vista está localizada, as espécies de plantas que mais poderiam colaborar para

isso seriam Apuleia leiocarpa, Brosimum guianense, Platypodium elegans e

Pseudopiptadenia contorna. As três primeiras, além de sua importância na dieta,

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espécie citada também é bem sucedida neste tipo de ambiente mas foram

raramente consumidas. A sua importância reside no tipo de cobertura e na sua

contribuição na estruturação do hábitat de A. fusca.

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Clima

O clima é tropical com uma estação chuvosa e outra seca, com

temperaturas mais elevadas e precipitações maiores de outubro a março. O

período de temperaturas mais baixas com precipitações menores é de abril a

setembro. No município de Comendador Levy Gasparian ainda não existe uma

estação meteorológica. Dados climáticos não foram coletados localmente durante

o período de estudo. Os dados sobre precipitação e temperatura foram

fornecidos pelo Instituto Nacional de Meteorologia e compilados da Estação

Meteorológica de Avelar localizada cerca de 40 km de distância da área de

estudo. Esta estação começou seu funcionamento a partir do ano de 1985 e os

dados obtidos foram divididos em dois grupos. O primeiro concentra os dados de

1985 a 1992, e o segundo de 1993 a março de 1994 que representa o período de

desenvolvimento deste trabalho.

A precipitação média anual de 1985 a 1992 foi de 1226, 1 mm. Os meses

com precipitação média mais baixa e mais elevada foram julho e janeiro (16,7 mm

e 245.8 mm, respectivamente). Durante o ano de estudo (abril de 1993 a março

de 1994) a precipitação anual foi de 1182,4 mm e os meses com mais baixa e

mais elevada precipitação foram julho de 1993 e março de 1994 (2,8 mm e 373

mm, respectivamente) (Figura 2).

A temperatura média diária das máximas e a média das mínimas do período

1985 a 1992 foi de 30,5 ºC (fevereiro) e 9,9 ºC 0ulho), respectivamente. De abril

de 1993 a março de 1994 a temperatura média compensada variou de 16,4 ºC

em junho a 25,2 ºC em fevereiro; e as temperaturas máximas e mínimas médias

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