Usos e Funções

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  • 8/19/2019 Usos e Funções

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    “Usos e Funções”

    Allan MerriamThe Antropology of Music” - 1964

    Northest University Press

    Quando falamos dos usos da música estamos nos referindo as maneiras pelas quais amúsica é empregada na sociedade humana, á prática habitual ou exercício costumeiro damúsica tanto quanto uma coisa em si quanto em conjunção com outras atividades. A cançãocantada por um amante para sua ama da está sendo usada de certa maneira tal como umainvocação cantada aos deuses ou um convite musical aos animais para virem e seremmortos. A música é usada em certas situações e torna—se parte delas, mas pode ter ou nãouma função mais profunda. Se o amante usa a canção para cortejar sua amada, a função de

    tal música pode ser analisada como a continuidade e perpetuação do grupo biológico.Quando a suplicante usa a música para aproximar-se do seu deus, está empregando ummecanismo particular em conjunção com outros mecanismos, tais como a dança, a oração,o ritual organizado, e os atos cerimoniais. A função da música, por outro lado, é entãoinseparável da função da religião que pode talvez ser interpretada como o estabelecimentode um sentido de:segurança frente ao universo. “Uso”, portanto, refere-se à situação na quala música é empregada na ação humana; “função diz respeito às razões deste emprego eparticularmente ao propósito mais amplo ao qual serve.

    O conceito de função têm sido usado em ciências sociais de várias maneiras, eNadel(1951) resumiu os vários usos em quatro tipos maiores.

    1º ) - Primeiro “ter função” é usado como um sinônimo para “operar”,“tomar parte”, eu “estar ativo”, a cultura “funcionante” estando contrastada com aquele tipode cultura que os arqueólogos e difusionistas reconstroem.

    2º ) - Segundo, “função quer dizer não-aleatório”, isto é, que “todos os fatos sociais têmuma função.... e que em cultura não há nenhuma sobrevivência a-funcional, relíquias dadifusão ou outros acréscimos puramente fortuitos”.

    3º ) Terceiro, à função “pode ser dado o sentido que tem em física, onde ela denota umainterdependência simples, direta, irreversível, implicada na causalidade clássica”. -

    4º ) E finalmente, função “pode significar a eficácia específica de qualquer elemento ondequer que ele preencha os requisitos da situação, isto é, responda a um propósitoobjetivamente definido; esta equação de função com objetivo, que, desde Spencer, temdominado o pensamento biológico”.

    A.R. Radcliffe-Brown, cuja orientação teórica está inteiramente ligada ao conceito defunção na antropologia contemporânea, tende a enfatizar os terceiro e quarto usos depalavra, mas, com aplicação particular ao sistema social:

    Pela definição aqui oferecida, “função’ é a contribuição que umaatividade parcial dá a atividade total da qual é parte. A função de umcerto costume social... tem um certo tipo de unidade, que podemoschamar de unidade funcional. Podemos definí-lo como uma condição naqual todas as partes de um sistema social trabalham juntas com um_grau

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    suficiente de harmonia ou consistência interna, isto é, sem produzirconflitos persistentes que não possam ser resolvidos ou regulados(1952).

    Padcliffe—Brown enfatiza dois outros pontos que são importantes aqui. “Um é que ahipótese não requer a afirmação dogmática de que tudo na vida de qualquer comunidadetenha uma função. Ela só requer o pressuposto de que pode ter uma função e que é justoprocura-la. Isto, é claro, só nega a posição implícita no segundo uso de função de Nadel.

    “O segundo é que o que parece ter o mesmo uso social em duas sociedadespode ter funções diferentes nas duas.. em outras palavras, para definir umuso social, e a partir daí, para fazer comparações válidas entre os usos dediferentes povos ou períodos, é. necessário considerar não somente aforma do costume, mas também sua função”.

    Em etnomusicologia, estes termos foram freqüentemente usados alternativamente, embora

    habitualmente com um ou outros sentidos em um dado contexto. Por exemplo,freqüentemente assinala-se que a música é um aspecto cotidiano e presente em todos osmomentos da vida em sociedades ágrafas. Em nossa sociedade, diz-se, tendemos acompartimentalizar as artes; isto é, enfatizamos as diferenças, ou supostas diferenças, entrearte “pura” e “aplicada”, entre o “artista” e o “artista comercial” ou “artesão”, quediferenciam-se quanto ao papel e à função. Também, fazemos rígidas distinções entre o“artista” e sua “audiência”, com o primeiro grupo tendendo a ser pequeno em número elimitado a indivíduos “dotados”, e o segundo sendo uma massa mais ou menos indistintacujas percepções da arte são de .qualidade variada e freqüentemente indiscriminada.

    Em sociedades ágrafas, geralmente “pode ser dito com certeza que nenhuma distinçãodesta ordem prevalece. Arte é uma parte da vida, não é separada dela”. (Herskevita, 1948) .

    Isto não quer dizer necessariamente que a especialização está ausente da música dos povoságrafos, e m número relativamente grande de pessoas nestas sociedades não sãocompetentes para participar da_música. A música é considerada funcional no sentido deque ela nasce de grande parte do povo de uma dada sociedade ágrafa e que quase todosparticipam dela, enfatizando assim a falta de uma distinção básica entre “artista” e“artesão” ou entre “artista” e “audiência”

    Quando falamos de música desta maneira, estamos usando função no primeiro sentido deNadei isto é, um sinônimo para “operante” “tomando parte” , “ativa”, e talvez maisespecificamente, estejamos falando que a música é a mais “ funcional” em sociedadeságrafas do que na nossa própria sociedade. Pode-se notar que Nadei dispensa este uso da

    palavra função como “indiferente ou redundante, podendo ser desprezada”, e parece claroque se está falando realmente neste caso de uso, mais do de função. Mas hoje um outroponto igualmente importante, a questão de que a música é realmente mais usado nassociedades ágrafas do que na nossa. Parece ser uma questão que nunca foi seriamentediscutida; ou melhor, é simplesmente pressuposta.

    É verdade que em nossa sociedade tendemos a fazer a distinção entre arte pura eaplicada; com respeito à música, aceitamos chamar “música clássica” ou “artística” comopura e formas tais como a do cinema, rádio ou televisão como música aplicada. Entretanto,muitas questões podem ser levantadas em conexão com esta distinção. Em primeiro lugar, éesta urna distinção real ou meramente semântica? As linhas de distinção entre a chamadamúsica “clássica” e muito do jazz contemporâneo são difíceis de traçar, e tendemos a falar

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    agora de alguma música folclórica como sendo “arte”. Por outro lado, estaria à música deprograma realmente divorciada de uma “aplicação”, no sentido de que se espera que elaprovoque impressões e emoções especificas. Em segundo lugar, na interpretação de se a

    música é pura ou aplicada, é consideravelmente importante saber precisamente quem faz aaplicação. Freqüentemente tendemos a esquecer que a sociedade norte-americana consistede urna grande e diferenciada massa de gente cujos julgamentos e percepções musicaisvariam enormemente. Na verdade, a divisão da música em tipos puro e aplicado é feitasomente por um segmento específico desta sociedade; sua validade para grande número depessoas é duvidosa. Finalmente, não sabemos com certeza se os povos ágrafos fazem estesmesmos tipos de distinção. Não sabemos se certa música nestas sociedades é usadaexclusivamente para diversão; não sabemos se esta, forma a base para os julgamentosrelativos à arte “pura”, nem se os povos ágrafos encaram as canções usadas com finsmedicinais como urna forma mais aplicada de música.

    Levando o problema mais adiante, podemos nos perguntar se nossa própria distinçãoentre “artista’, “artista comercial” e “artesão” é clara. Certamente, há casos definidos, masdeve ser possível descrever o homem faz cutelaria moderna como estando dos dois ladosdesta linha imaginária e o mesmo é verdade para o atual compositor “third-strearn”

    Associado ao jazz moderno. Por outro lado, parece lógico para nós assumir que taisdistinções não são feitas em sociedades ágrafas, mas novamente parece que nãoacumulamos evidência suficiente para tal. O que dizer do “menestrel errante” -profissional,tão frequentemente encontrado na Âfrica? Ê seu papel o papel de artesão? Não há nenhumadistinção entre ele e o membro do coro dos artesãos? Já vimos que muitas sociedadessustentam os músicos profissionais de uma maneira ou de outra e que o papel docompositor é diferenciado como algo especial; estes especialistas são artesãos ou artistas?

    Não temos respostas claras para estas perguntas.A questão do artista e da audiência também é cheia de problemas. Embora seja verdade quenossos concertistas tendam a ser rigidamente diferenciados de sua audiência, o que dizerdas situações de música folclórica contemporãnea, onde a audiência é encorajada aparticipar, ou de alguns aspectos de jazz onde a audiência congrega-se totalmente aosmúsicos, às vezes dançando? Novamente, pudemos assinalar um grande número desituações em sociedades ágrafas onde o músico apresenta-se distante de uma audiência; ébem verdade que a audiência participa batendo palmas ritmicamente ou dançando, mas istotambém acontece em nossa sociedade. E quanto à afirmação de que mais gente,proporcionalrnente, toma parte em música em sociedades ágrafas do que na nossa, podemossomente apontar o número inacreditável de instrumentos musicais vendidos nos EstadosUnidos e as estimativas cada vez maiores do número de pessoas que fazem algum tipo demúsica, seja para si mesmos ou para outra.

    Em resumo, perguntas deste tipo não são tão facilmente respondidas comofreqüentemente se pensou. O fato é que quando fazemos distinções estamos falando decasos especiais de nossa própria sociedade, em oposição às suposições sobre todas associedades àgrafas. Falamos principalmente daquilo que chamamos música artística, masnão consideramos os muitos outros tipos de música que também fazem parte de nossacultura musical. Se tais distinções têm algum elemento de verdade, como provavelmentedevem ter, é razoável perguntar se as exceções não são significativas

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    A ponto de invalidar qualquer utilidade que as distinções pareçam ter De qualquer forma,descrever o papel da música da maneira feita aqui, não é realmente falar de sua função, maschamar atenção sobre o uso da música.

    Outro tipo de asserção feita pelos etnomusicólogos sobre as “funções” da música dizrespeito à repetida afirmação de que enquanto a música é usada e integrada-a quase todosos aspectos da vida entre os povos ágrafos, o mesmo não acontece com a sociedadeocidental. Assim, exemplos como o seguinte, que refere-se aos Tutai de Ruanda, sãocitados:

    .....canções para vangloriar-se, para guerra e saudação, canções executadasquando mulheres recém casadas encontram-se e lembram amigosausentes, canções infantis, canções para louvar uma moça e muitas mais.De importãncia especial para os Tutai são as canções que falam do gado, eestes subtipos que incluem canção para vangloriar-se, chamadas ibirirnbo

    nos quais dois homens cantam em competição um com o outro, alternandofrases musicais podem disputar tanto valorizando uma vaca quantocantando os méritos de uma vaca em relação à outra. Canções especiais,que não são as ibiririmbo são cantadas para louvar as vacas, outro paraindicar a importância de se ter vacas, há canções para levar o gado paracasa à noite, para o pastor quando está pronto para levar o gado para casaquando está pegando água para o gado, quando está com outros pastores ànoite. Louvações ao gado real inyamba, são cantadas; crianças cantamcanções de gado especiais, outras são cantadas quando o gado está sendomostrado aos visitantes. Músicas especiais para flauta enganam os ladrõesde gado à noite, outras canções narram acontecimentos históricos nosquais o gado tomou parte (Merriam, 1959)

    Esta lista impressionante de tipos de música refere-se a apenas um elemento da culturamusical Tutsi; poderia aumentar dramaticamente se fosse feita referencias às canções decasamento e outros subtipos, isto para não falar das músicas religiosas como um todo.

    Novamente, quando estamos falando de música nestes termos, estamos lidando aprincípio como uso da música, isto é com o que Nadei chama “operante”, “tomando parte”,ou “ativa” Se enfatizarmos, como fazemos geralmente, o conceito de que música emsociedades ágrafas é “mais funcional” de que na nossa, é preciso que haja alguma evidênciapara sustentar esta afirmação. A primeira vista, poderia parecer que sim. A sociedadeamericana certamente não tem tantos tipos de música, comparáveis às músicas Tutais sobreo gado, e no entanto sempre superestimamos a grande variedade de usos presente em nossamúsica. Temos canções de amor, canções de guerra, canções de esporte, canções funerárias,canções de trabalho; usamos a música para estimular a atividade no trabalho ou lazer, paraembalar-nos quando comemos; donas de casa têm musicas especiais para acompanhar seutrabalho; os ginastas são acompanhados por música, e assim por diante.

    O ponto crucial do problema, entretanto, parece estar no fato de que a palavra função éerradamente empregada neste contexto. Quando falamos da música em sociedades ágrafacomo sendo “mais funcional” do que na nossa, implicitamente dizemos que ela é tambémmais importante; o que realmente queremos dizer é que a música em sociedades ágrafaspode ser usada em uma variedade maior de situações do que na nossa. Neste sentido, amúsica em sociedades ágrafas pode ser mais usada de forma dirétamënte aplicável, mas nãoé de jeito nenhum necessariamente mais funcional.

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      Há um outro sentido no qual os etnomusicólogos descreveram a música como sendofuncional, e este diz respeito ao fato de que, pelo menos em alguma culturas, a música nãopode ser abstraída de seu contexto cultural. Entre os Basengye, por exemplo o corpo total

    de músicos é conhecido e não desconhecido, como na nossa cultura, e além disto, asmúsicas individuais são instantaneamente reconhecidas em termos de seu uso. Isto significaque a música enquanto tal não existe separada de seu contexto; ao contrario, o contextopode muito bem determinar a conceitualização da música

    Teremos mais a dizer sobre isto no capítulo 13, mas o emprego da palavra função ligado aisto coincide com a terceira definição de Nadei, ou seja, ela “denota uma interdependênciade elementos que é complexa, intermediada e recíproca, em oposição à dependênciasimples, direta e irreversível implícita na causalidade clássica”.

    ATENÇÃO

    Podemos levar isto adiante, pois raramente foi comentada a extensão em que o músico e amúsica são funcionais em algumas sociedades ágrafas. Lembre-se que, entre os Basengye,os músicos são considerados em posições inferiores na escala social; tanto músicos quantonão-músicos dizem enfaticamente que não querem que seus filhos tornem-se músicos. Aomesmo tempo, a idéia de urna aldeia sem músicos é inconcebível, e quase que se pode dizerque a visão dos Basengye inclui o valor de que a vida sem música não pode ser consideradavida

    Mais especificamente, um grande funeral não pode acontecer entre os Basengye sem apresença de um músico profissional e sua música. Este funeral estende-se por um períodode sete dias, geralmente o enterro do corpo e executa urna série de funções que só ele podefazer. Não há ninguém que faça o papel de vítima de pantomima agressiva executada pelos

    parentes do sexo feminino do morto; a pantomima serve para estabelecer a natureza mágicaou não-mágica do morto, permite externar as tensões internas das mulheres, torna públicoseu envolvimento emocional e inocenta na morte do seu parente. Sem o músicoprofissional, estas várias expressões teriam que deslocar-se para outras pessoas.

    Tal como o funeral é atualmente estruturado, é o músico que desempenha estas funções.Também é o papel do músico ajudar aos enlutados a esquecer a tragédia da morte. Quandoele aparece, todo o curso do funeral muda; as pessoas passam a sorrir e brincar pelaprimeira vez desde a morte; danças sociais, cuja função é especificamente ajudar as pessoasa esquecer, são introduzidas e encorajadas pelo músico; fazendo papel de palhaço, elecontribui para aliviar as tensões que, neste ponto do funeral, atingiram seu nível máximo deintensidade. Novamente, outras pessoas poderiam fazer este papel tão bem quanto o

    músico, mas o fato é que, na sociedade Basengye, outras pessoas não o fazem. O músico éuma figura-chave no funeral. Da mesma forma, ele é a figura-chave em outras atividades,tais como a dança, a caça, alguns comportamentos religiosos, e outros aspectos da vidaBasengye. Realmente, sem o músico, cujos numerosos papéis mal foram abordados aqui, aestrutura de muitos comportamentos Basongye mudaria. A integração da música no tecidosocial como um todo é extremarnente importante e ilustra o quarto emprego de função deNadel, isto é, “a eficácia específica de qualquer elemento por meio do qual ele preenche osrequisitos da situação, isto é, responde a um propósito objetivamente definido; está é aequação da função com objetivo”...

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      Vez por outra, então, os etnomusicólogos empregaram o conceito de função em trés dosquatro sentidos descritos por Nadel, mas na maioria dos casos no primeiro sentido, isto é,como sinônimo de “operar”, “tomar parte”, “ser ativo”. Quando empregado desta maneira,

    o termo mais preciso é “uso”, mais do que “função”; nestes casos, embora se saiba como amúsica é combinada com outras atividades, não se sabe qual seu propósito, ou qual sua“função”.

    Tendo feito estas distinções, tentaremos agora obter alguma idéia dos vários usos efunções da música na sociedade humana. Começando pelo primeiro, é evidente que amúsica é usada como acompanhamento ou parte de quase toda a atividade humana. Osantropólogos conceberam numerosos esquemas para abranger tudo de qualquer cultura e aomesmo tempo divida-la em partes que podem ser manipuladas com relativa facilidade.Dentre eles está o esquema organizatório de Murdock no qual os materiais da cultura foramoriginalmente colocados em 46 categorias (Murdock et al., 1945) , e o título de quase todas

    as divisões faz lembrar instantaneamente alguma atividade musical associada.Entre os índios Fathead podem ser isoladas 14 tipos principais de situações musicais e

    cada uma delas é sujeita a numerosas subdivisões (Merriam e Merriam 1955) . Já citamos acomplexidade dos tipos de música Tutai com respeito a algumas músicas sociais, e umcatálogo incompleto dos músicos Basongye revela cerca de 30 tipos que, novamente,poderiam ser subdivididos.

    Embora não seja possível nem desejável tentar um catálogo de todos os usos da música,pode-se pelo menos indicar o raio de alcance da atividade musical que perpassa todos osaspectos da cultura. Herskovits (1948) bolou um conjunto úteis de categorias paramanipular os materiais culturais que será seguido aqui em linhas gerais. :

    1º ) Sua primeira divisão, Cultura Material e Suas Sanções é dividida em quatro partes,Tecnologia e Economia, e as atividades musicais associadas são numerosas. Canções deTrabalho são encontradas em quase todas as culturas, incluindo tipos tais como música pararemar em canoa, músicas para acompanhar a moagem de grão, a colheita, a construção dascasas e transporte de produtos etc. As canções tanto a tecnologia da medicina quanto suaprática, e são usadas para garantir uma boa caçada uma boa pescaria ou uma colheitaabundante. O compositor, e executante e o fabricante de instrumentos lucram com suasatividades e contribuem para a economia geral.

    2º ) A segunda divisão de Herskovits é instituições social, que compreende organizaçãosocial, e estruturas políticas. A organização Social é marcada em quase todos os pontos pormúsica; o ciclo de vida inclui canções de nascimento com subdivisões especiais para

    múltiplos nascimentos; acalantos; canções de batismo; canções para ensinar as funçõeshigiênicas; canções da puberdade; canções de cumprimentos; canções de amor e decasamento, canções de linhagem e clãs; canções de grupos Sociais associativas; cançõesfunerárias, e muitas outras de aplicação igualmente especifica. Assinalamos antes o uso damúsica com propósitos educa tivos e teremos oportunidade de falar novamente disto.Estruturas políticas estão constantemente ligadas música, como em canções de louvor adignatários políticos cantadas na ocasião da investidura do cargo, comentários sobreacontecimentos políticos e objetivos políticos desejados, e assim por diante.

    O homem e o Universo compreendem o terceiro aspecto da cultura de Herskovits,subdividido em Sistemas de Crenças e Controle do Poder.

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      As Crenças religiosas são expressas através de orações musicais, mitos e lendas musicais,músicas de culto, funcionários religiosos e outros. O controle de poder é frequentementeobtido através de canções de súplica; canções mágicas para curar, caçar e muitas outras

    atividades que requerem assistência sobrenatural, canções de espíritos, bruxas e outros fenômenos sobrehumanos; invocações melódicas, e assim por diante. Já tivemos oportunidadede assinalar o uso crucial da música na busca da visão dos Plains Indians e no funeralBasongye. Com relação a isto, devemos chamar a atenção para os estudos grandementedetalhados dos antropólogos americanos sobre cerimonial religioso e ritual entre os gruposindígenas americanos na primeira parte deste século. Estes estudos incluem descriçõesminuciosas e contêm ricas informações sobre o uso da música. Dersey, por exemplo,fornece uma descrição minuciosa da Dança do Sol Ponca na qual a participação dosmúsicos é meticulosamente detalhada (1905 b). Descrevendo o rito de vigília OsafoLaFlesche dá uma descrição extremamente rigorosa do papel importante que a músicadesempenha nesta cerimônia (1925) Mooney descreve o uso da música e seu papel

    importante na Dança do Fantasma; sua importância é enfatizada pelo fato de que eleconsagra quase quarenta por cento de sua monografia a letras de canções (1896) Estasdescrições estão entre as mais detalhadãs que é e cada uma delas constribuisubstancialmente para nossa compreensão da maneira pela qual a música é usada emcerimônias religiosas.

    4º ) A quarta categoria de Herskovits é estética, dividida em Artes Gráficas e Plástica,Folclore e Música, teatro e dança; as relações com a dança são estreitas. A música e a dançatêm uma relação inseparável e o teatro quase que por definição inclui a música. O folclore ea música são encontrados juntos com grande freqüência como partes de uma mesmareunião social, quando a canção é uma párte de um canto folclórico, através do uso de

    provérbios nas letras das canções, e quando são cantados louvores. São compostas cançõespara consagrar máscaras, sendo que canções e máscaras são muito frequentementeencontrados juntos, e há canções especiais para entalhadores, pintores, ceramistas,trabalhadores em metal, e outros artistas.

    5º ) A categoria final de Herskovits é linguagem, e nós dedicamos um capítulo deste livro àdiscussão de letras de canções, as quais tém uma relação muito estreita com a música. Alémdisso, tipos especiais de linguagem são transmitidas por apetrechos musicais tais como nalinguagem dos tambores, dos apitos, e das trombetas, são também frequentemente usadosem música 1inguagen secretas.

    Estas observações compreendem apenas uma parte dos usos da música em sociedadehumana e ainda assim eles indicam a enorme gama de atividades nas quais a música temparte, às vezes tangencialmente, mas freqüentemente de maneira central. A importância damúsica, a julgar pela completa ubiquidade da sua presença, é enorme, onde se consideraque a música é usada tanto quanto um acessório de muitas atividades e como parteintegrante de muitas outras que não poderiam ser bem executadas ou sim plesmente nãopoderiam ser executadas sem música, sua importância e substancialrnente aumentada.Provavelmente não há nenhuma outra atividade cultural_humana tão difundida e que atinja,molde e frequentemente, controle tanto o comportamento humano.

    Quando nos voltamos para as funções da música os problemas tornam-se maiscomplicados, pois estamos procurando principalmente generalizações que sejam aplicáveisigualmente a todas as sociedades. Numa tentativa de fazer um exame inicial dessas funções

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    encaradas corno universais:culturais, estamos usando a palavra “função” principalmente noquarto sentido de Nadel, isto é, “ eficácia específica de qualquer ele mento pelo qual elepreenche os requisitos da situação, isto é, responde a um propósito obietivamente definido,

    essa é a equação da função como objetivo”...Existe, no entanto, um alargamento deste uso, uma vez que nós tentemos descobrir os

    propósitos ou funções da música encarada no seu sentido mais amplo.

    Deve ser também reforçado que nesse nível nós estamos lidando com avaliaçõesanalíticas não folclóricas, estamos procurando respostas à pergunta sobre o que a musicafaz a sociedade humana. Eu gostaria de propor dez funções principais em oposição a usos,da música, e cada uma será discutida abaixo sem ordem especial de importãncia.

    1 - A FUNÇÃO DA EXPRESSÃO EMOCIONAL - Existe evidência considerável paraindicar que a música funciona grandemente e em vários níveis como um meio de expressãoemocional. Discutindo letras de canções, tivemos ocasião de ressaltar que uma de suasprincipais caractrísticas é o fato de que elas proporcionam um veículo para a expressão deidéias e emoções não reveladas no discurso comum

    Num nível mais geral, no entanto, a música parece estar claramente envolvida com aemoção e parece ser um veiculo para sua expressão, seja esta emoção especial(obscenidade, censura, etc) ou geral. Burrows, por exemplo, chama a atenção repetidamentepara essa conexão em vários de seus trabalhos relativos á música da Oceania.

    Falando de Uvea e Futuna, ele escreve:

    Característico de todos os cantos das duas ilhas é o seu caráter social ocanto solo é restrito a liderar um coro, ou a passagens dialogadas ouentremeadas. Isto pode explicar a escassez de canções que expressememoções mais íntimas, por exemplo, a ausência de acalanto quando umaemoção pode ser tanto coletiva quanto individual, é o aspecto coletivo queencontra expressão na canção... Em suma, as canções recolhidas indicamque o canto em Uvea e Futuna podem expressar e estimular qualqueremoção que é compartilhada por um grupo, seja ele doméstico, detrabalho, ou toda a nação (1945).

    Em outra passagem, Burrows enumera uma série de “funções” da música nos Tuamotos:novamente acentua a importãncia da expressão emocional. Estimulando e expressando aemoção e a transmitindo aos ouvintes. A emoção pode ser exaltação religiosa como nocanto da criação. E na canção do pássaro vermelho sagrado tristeza, como nos lamentos,saudade ou paixão como nas canções de amor; alegria em movimento; excitação sexual eurna variedade de outras canções, nas danças, exaltação do ego em cantos de glória;estimulando a coragem e o vigor como nos cantos de avivar; e sem dúvida outros...

    Presente em todos eles em maior ou menor grau está a função geral de estimular,expressar e dividir emoção Esta função está relacionada mesmo nas canções de trabalho.De acordo com a maneira nativa de pensar, alguma coisa mais que emoção ou podersobrenatural, é transmitido nos encantamentos; mas do ponto de vista europeu a funçãorealmente executada ainda é a de transmitir emoção (1933).

    Um ponto de vista algo similar, embora ligado à música Ocidental , é sugerido por McAllester quando ele observa. “Conosco uma função principal da música parece ser como

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    um auxílio numa atitude de indução. Temos canções para evocar estudos de tranquilidade,nostalgia, sentimento, relações grupais, sentimento religioso, solidariedade partidária, epatriotisrno, para só mencionar alguns. Assim cantamos para botar crianças para dormir,

    para fazer trabalho parecer mais suave, para fazer as pessoas comprarem certo tipo decomida para o café da manhã ou para ridicularizar nossos inimigos’ (1960)

    Abordando sua análise de urna ou direção, Freeman chega a conclusões similaresdiscutindo versos conhecidos como “Lei Ana, Ika”, ou “U.S.E.D.”, cantados no Havaíantes, durante e depois da Segunda Guerra Mundial (1957) . Neste caso, no entanto, eleconsidera três principais funções mutantes em canções folclóricas, duas das quais envolvemexpressão emocional e duas das quais, além disso envolvem outras funções. A principalhipótese de Freenian é que “a importância funcional de uma canção folclórica deveria serrevelada através de seu relacionamento com outros aspectos do sistema sócio-cultural e que“um tipo específico de expressão folclórica deveria ser associado com um tipo específico

    de organização social” a qual mudando deveria também “provocar mudanças de naturezado folclore associado a ela”. Sua conclusão é a seguinte:

    Em primeiro lugar, versos de protesto surgem quando os membros deuma sociedade estão desprovidos de outros mecanismos de protesto. Taiscanções serão encontradas em qualquer segmento oprimido da sociedade epersistirá enquanto estes indivíduos forem desprovidos de outras formasmais diretas de ação. Esses versos representam uma tentativa dosmembros da sociedade de fazer frente a condições sociais inaceitáveis Poroutro lado eles podem diminuir as frustrações — eles permitem que oindivíduo desabafe num grupo compatível e através disto se ajuste àscondições sociais como elas são. Por outro lado, eles podem realizar umamudança social através da mobilização do sentimento de grupo Em

    qualquer dos casos, estes versos funcionam para reduzir o desequilíbriosocial e integrar a sociedade.

    Em segundo lugar, quando existe uma frustação ou conflito de longoprazo em necessidades pessoais ou exigências culturais que estejamligados aos costumes da sociedade, serão cantados versos estabilizadores.Eles descreverão o conflito, mas eles não terminarão em protesto. Aocontrário, eles proporcionarão a solução que é sancionada pelos costumes.Assim, versos estabilizadores permitem que a pessoa desabafe e tendem avalidar o sistema social.

    Em terceiro lugar, quando as condições permitem outras maneirasinstitucionalizadas de expressão pessoal e quando não são predominantes

    conflitos morais a longo prazo, estarão em evidencia versos de um tipopara funções de diversão.

    Charles Keil, num estudo não publicado, (1962) vê a música como sendo divisível em“função solidária” e uma “catarse”, ou “função de liberação”.

    Nós falaremos desta função solidária mais tarde, mas a função de liberação está segundoele melhor expressa na música de jazz. Ele postula ainda que há uma correlação entre essasduas funções gerais da música e as sociedades que as expressam; assim “uma tradiçãocultural que dá enfase ao controle social, à moderação, à calma, as sanções que“envergonham”,etc., é mais capaz de promover ao menos uma ou duas válvulas de escape

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    musicais para relaxar as tensões que podem ser desenvolvidas para indivíduos emparticular”.

    Tanto Freeman quanto Keil tentam dar urna explicação para a função da música comourna expressão emocional, mas a discussão mais de talhada foi feita por Devereaux, cujotrabalho se baseia em termos de teoria freudiana e a aplica em todas as artes (Devereaux elaBarre) , 1961) O ponto principal de Devereaux é que a arte existe porque ela vai deencontro a urna necessidade social não satisfeita por outras atividades culturais isto é o queele chama a “ de válcula de escape” Além de encarar a arte como urna inofensiva válvulade escape” ele diz que “a sociedade e o artista consideram a manifestação artísticaincontestável no que diz respeito à forma, mas que pode ser repudiada quanto ao conteúdo”.

    Devereaux continua:

    Em resumo, a arte pode funcionar precisamente corno urna válvula deescape social porque, como vimos, é um compromisso e é tanto maisrepudiável quanto à intenção e ao conteúdo. Ele permite ao artista dizer eao consumidor ouvir (e ver)

    - o proibido, contanto que:

    (1) A mensagem seja formulada de maneira que uma dada sociedade decida denominar“arte”.

    (2) O verdadeiro conteúdo da mensagem seja oficialmente definido como subordinado àsua forma,

    (3) A mensagem seja entendida corno repudiável...

    Tendo demonstrado que a arte proporciona uma vâlcula de escape para o que é

    considerado tabu,devemos em seguida procurar definir os assuntos tabus que encontramexpressão na arte. Estes assuntos pertencem a três principais áreas:

    (1) Os tabus geralmente humanos: incesto, assassinato dentro de um grupo, etc.

    (2) Os tabus específicos da cultura: sexo numa sociedade puritana, avareza na sociedadeMohave, covardia nas sociedades índias da planície, etc.

    (3) O que é o tabu idiossincrático: (neuróticos) — desejos reprimidos, etc.

    A percepção que o artista tem das regras deste jogo e suas manobras deálibi, que transformam sua “obscenidade”, “revolta” ou “blasfêmia” emarte, são também importantes... O artista deve também possuir uma

    habilidade muito grande para “patinar em gelo fino”, na verdade, quantomelhor o patinador, mais fino pode ser o gelo (as regras da arte) onde elepode funcionar. Em outras palavras, quanto melhor o artista domina o seutrabalho, mais certo ele pode chegar da expressão do que é tabu semperder o efeito

    Nós falamos até agora da liberação emocional proporcionada através da música doindivíduo que se encontra em situações sociais determinadas, mas deve ser tambémlembrado que o processo criativo em si mesmo permite uma liberação emocional Gotshalkchama a atenção para este fato quando ele aponta a importáncia da “satisfação da vontadeou do impulso para o virtuosismo e realização que o objeto público pode representar para oartista criativo. Uma obra de arte pode ser para ele, não pequena satisfação de um sonho,

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    mas a sólida satisfação de uma realidade atingida. Ela pode representar para ele um marcoconfirmador de desenvolvimento de seu talento, como um símbolo de se poder realizar ecomo uma vitória de seu eu como uma força criativa sobre enormes obstáculos e

    dificuldades (1947).Finalmente, a música pode funcionar como um mecanismo de liberações emocional para

    um grande grupo de pessoas agindo conjuntarnente. Este é o caso por exemplo dos indiosFlathead — e presumivelmente de muitas outras tribos de índios americanos - os quaismantêm tradições de certos tipos de canções e danças ainda que a ocasião real de suasexecuções há muito não exista. Os Flathead genuinamente desfrutam das muitas ocasiõesnas quais eles executam música e dança feitas para guerra, para escalpo, para casamento,para ocasiões cerimoniais, e assim por diante. Ainda que não exista nenhuma oportunidadede praticar as ações para as quais a maioria das canções e danças foram criadas. A música ea dança neste caso servem çomo urna expressão de liberação emocional da cultura

    essencialmente hostil que cerca os Flatheade através da ênfase de valores culturais eles dãooportunidade, aos índios, numa situação permitida, de liberarem a hostilidade que sentem

    Uma importante função da música então é a oportunidade que dá para umavariedade de expressões emocionais

    a) a liberação de idéias e pensamentos não mencionáveis de outro modo

    b) a correlação de urna grande variedade de emoções e música

    c) a oportunidade de deixar desabafar e talvez resolver conflitos sociais

    d) a explosão de criatividade em si mesma

    e) e a expressão das hostilidades do grupo. Seria possível citar uma variedade muito maior

    de expressões emocionais, mas os exemplos dados aqui indicam claramente a importánciadesta função na música.

    2 - A FUNÇÃO DO PRAZER ESTÉTICO - O problema da estética em relação à músicanão é simples. Ele inclui a estética tanto do ponto de vista do criador quanto docontemplador e se deve ser considerada com uma das mais importantes funções da músicadeve ser demonstrável para outras culturas além da nossa. Música e uma estética estãoclaramente associadas na cultura Ocidental assim como nas culturas da Arábia, India,China, Japão, Coréia, Indonésia, e talvez também algumas outras. Mas se a associação estápresente nas culturas do mundo ágrafo é um ponto discutível. Aqui está envolvida a questãoprincipal de que, exatamente, é uma estética, e particularmente se ela é um conceito de

    cultura. Estas são questões importantes às quais dedicaremos o capítulo 13. Neste ponto,deve ser deixado em aberto, e pode-se apenas dizer que a função do prazer estético éclaramente inoperante em algumas culturas do mundo, e talvez presente em outras

    3 - A FUNÇÃO DO DIVERTIMENTO - A música proporciona uma função de diversãoem todas as sociedades. Deve-se apenas ressaltar que deve ser feito uma distinção entrédiversão ‘’pura” que parece ser urna característica particular da música na sociedadeOcidental, e diversão combinada com outras funções. A última pode ser característica queprevalece nas sociedades ágrafas.

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    4 - A FUNÇÃO DE COMUNICAÇÃO - Tivemos ocasião de discutir a música como ummeio de comunicação no cap. 1, e será lembrada que o problema principal é que enquantosabemos que a música comunica alguma coisa, não estamos certos quanto ao que, como e

    para quem. A música não é linguagem universal, mas sim é formada de acordo com acultura da qual é parte. Nas letras de canções que emprega, ela comunica informação diretapara aqueles que compreendem a língua na qual é feita. Ela transmite emoção ou algosimilar à emoção, para aqueles que compreendem o idioma. O fato de que a música écompartilhada como uma atividade humana por todos os povos pode significar que elacomunica uma determinada compreensão simplesmente por sua existência. De todas asfunçôes da música a função de comunicação é talvez a menos conhecida e compreendida.

    5 - A FUNÇÃO DE REPRESENTAÇÃO SIMBÓLICA - Quase não há dúvida de que amúsica funciona em todas as sociedades como urna representação simbólica de outrascoisas, idéias e comportamentos

    6 - A FUNÇÃO DE REAÇÃO FÍSICA - É com alguma hesitação que esta função émencionada, porque é questionável se a reação física pode ser relacionada num grupo defunções sociais No entanto, o fato de que a música provoca reação física é claramentenotado pelo seu uso na sociedade humana, embora as reações possam ser motivadas porconvenções culturais A possessão, por exemplo, é claramente provocada pelo menos emparte pela música funcionando numa situação total, e sem a possessão certos cerimoniaisreligiosos em certas culturas são considerados frustrados. A música também excita ecanaliza o comportamento da multidão; ele encoraja reações físicas do guerreiro e docaçador; ela estimula a reação física na dança, o que pode ser uma necessidade primeiranestas ocasiões. Produção da reação física parece ser uma importante função da música, e aquestão de se ela é principalmente uma reação biológica provavelmente é superada pelo

    fato de que é formada culturalmente7 - A FUNÇÃO DE IMPOR CONFORMIDADE A NORMAS SOCIAIS - As canções decontrole social têm um importante papel num número substancial de culturas, tantoprevenindo diretamente os membros da sociedade que estejam errando, como através deestabelecimento indireto de que é considerado comportamento correto. Isso é tambémencontrado em canções usadas por exemplo na época das cerimônias de iniciação quandoos jovens membros da cornunidade são instruídos especificamente sobre oscomportamentos próprios e impróprios. As canções de protesto chamam a atenção para ocomportamento conveniente ou não. A imposição de conformidade às normas sociais é umadas funções mais importantes da música.

    8 - A FUNÇÃO DE VALIDAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES SOCIAIS E DOS RITUAISRELIGIOSOS - No que diz respeito à música usada em situações sociais e religiosas, hápouca informação para se saber até onde ela realmente valida estas instituições e rituais. Arespeito dos Navaho, Reichard diz que “a primeira função da canção é preservar a ordem,coorde nar os símbolos cerimoniais. ..“ (1950), e Burrows comenta que uma das funçõesdas canções entre os Tuamatus é (transmitir potência mágica através de encantamentos”(1933)). Podemos também lembrar a declaração de Freernon de que são cantados versosestabilizadores quando existe “conflito ou frustração de longo prazo em relação anecessidades pessoais ou culturais que estejam ligados aos costumes da sociedade”; nestecaso o conflito é descrito e uma solução permitida é sugerida Os sistemas religiosos sãovalidados, como no folclore, através da recitação do mito, e da lenda em canções, assim

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    como através da música que expresse preceitos religiosos. As instituições sociais sãovalidadas através de canções que enfatizam o que é conveniente e o que não é convenientena sociedade, assim como as que dizem às pessoas o que se deve fazer e como se deve

    fazer. Esta função da música precisa ser melhor estudada.

    9 - A FUNÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO PARA CONTINUIDADE E ESTABILIDADEDA CULTURA

    A música permite expressão emocional, dá prazer estético, diverte, comunica, provocareação física, impõe conformidade às normas sociais, e valida instituições sociais ereligiosas, é claro que ela contribui para a continuidade e estabilidade da cultura. Nestesentido, talvez, ela contribua nem mais nem menos do que qualquer outro aspecto dacultura, e estamos usando aqui provavelmente função sentido limitado de “tomar parte de”.

    Ao mesmo tempo, não muitos elementos da cultura tem oportunidade de ter expressãoemocional, de divertir, comunicar, e assim por diante, na mesma extensão a música. Alémdisso, a música é num certo sentido uma atividade somatória e a expressão de valores. Ummeio pelo qual o centro de psicologia de uma cultura é exposto sem muitos dosmecanismos protetores que cercam outras atividades culturais. Neste sentido, ela dividesua função com outras artes. Como um veículo de história, mito e lenda, ela aponta para acontinuidade da cultura; através da transmissão da educação, controle de membrosdesviantes da sociedade, e alinhando o que é certo, ela contribui para a estabilidade dacultura. E a sua própria existência proporciona uma sólida e normal atividade que asseguraaos membros da sociedade que o mundo continua no caminho certo.

    Podemos lembrar a reação dos Basomgye à sugestão de eliminar os músicos de suaaldeia, ou citar a observação de um índio Sia a Leslie White: “Meu amigo, sem cançõesvocê não pode fazer nada” (White 1962)

    Waterman resumiu a contribuição da música para a continuidade e estabilidade da culturaYirkalla na Austrália mostrando que como um mecanismo de enculturação, a músicaalcança quase todos os aspectos da vida. Ele escreve:

    Basicamente, a música funciona em Yirkalla como um mecanismo de enculturação, ummeio de aprender a cultura yirkalla. Durante sua vida, o aborígene o cercado por eventosmusicais que o instruem sobre o seu elemeto natural e sobre sua utilização pelo homem,que lhe ensina sua visão do mundo e forma o seu sistema de valores e que reforça suacompreensão dos conceitos aborígenes de status e do seu próprio papel. Mais

    especificamente, as canções funcionam como emblemas da condição de membro e da sualinhagem, como validação de seu sistema religioso e como símbolos de status na hierarquiada idade. Elas servem em algumas ocasiões ao objetivo de relaxar tensões, enquanto outrostipos são usados para aumentar a emoção de um climax ritual. Eles proporcionam ummétodo de controle, por meios sobrenaturais, de seqüência de acontecimentos naturais deoutra maneira incontroláveis. Além disso, alguns tipos de canções produzem uma liberaçãode criatividade individual enquanto muitos podem ser usadas simplesmente para disforiapessoal. Em todos os casos, a função enculturadora da música, ajudando a formar apersonalidade social do aborígene à maneira dos Yirkalla ao invés de qualquer outra forma,é clara (1956).

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    10º ) DE CONTRIBUIÇÃO PARA A INTEGRAÇÃO DA SOCIEDADE

    Claro que promovendo um ponto de união em torno do qual os membros de uma

    sociedade se congregam, a música realmente realiza a função de integrar a sociedade. Estafunção já foi comentada por vários autores. Nketia, falando dos músicos Yoruba em Accra,diz “Para os Yoruba em Accra, as execuções da música cuba... trazem tanto a satisfação departicipar de algo familiar quantb a certeza de se tomar parte de um grupo que compartilhaos mesmos valores, os mesmos modos, de vida, um grupo que mantém as mesmas formasde arte. A música sim traz uma renovação de solidariedade triba1 (1958). (‘

    Observa que enquanto várias atividades do Songman da Austrália lhe trazem inspiração,“não seria considerado uma instituição social. Isto vem da sua ação como um fator deintegração e de unificação no seu clã e na sua tribo. (1957)

    As observações de Freernan a respeito das canções folclóricas praianas sugerem que ascanções de protesto social podem permitir ao indivíduo desabafar e assim “ajustar-se àscondições sociais tais como elas são” ou elas podem alcançar uma mudança social atravésda mobiliza do sentimento do grupo.

    Nos dois casos, estes versos funcionam para reduzir o desequilíbrio social para integrar asociedade. “Podemos também lembrar a dicotomia de Keil (1962) entre “solidariedade” eas funções “liberadoras” da música, na qual os compositores tentam expressar unidadecultural” na sua música e convidando “o ouvinte a identificar-se com a experiência coletivaamericana, usando todos os artifícios sociais, concebíveis com este objetivo. “Finalmente,falando da dança Andamanesa, Radcliffe- Brown enfatiza a função integração: descrita comsuas canções de acompanhamento, pode portanto ser descrita como uma atividade na qual,em virtude dos efeitos de ritmo e melodia, todos os membros da comunidade podem

    cooperar harmoniosamente e agir com a unidade...O prazer que o dançarino sente se irradia para todos os que estão à sua volta ele se sente

    pleno de boa vontade para com seus companheiros. A partilha com outros de um intensoprazer, deve sempre inclinar-nos para esses sentirnentos expansivos...

    Deste modo a dança produz a condição na qual a unidade, a harmonia e a na comunidadeestão no máximo, e na qual estão sendo intensamente sentido por todos os membros. Aprodução desta condição é a principal função da dança. Uma vez que a dança garante umaoportunidade para a ação direta da unidade sobre o indivíduo, e vimos que ela exercita noindivíduo estes sentimentos pelos quais a harmonia social é mantida (1948)

    A música, assim, proporciona ponto de união em torno do qual os membros da sociedade se

    reúnem para se dedicar a atividades que requerem cooperação e coordenação do grupo.Nem toda música é executada assim, é claro, mas toda sociedade tem ocasiões marcadaspela música que reúnem seus membros e os faz lembrar de sua unidade. É possível que estalista de funções da música tenha que ser condensada, mas em geral ela resume o papel damúsica na cultura humana. A música é claramente indispensável para a propagaçãoadequada das atividades que constituem a sociedade; é um comportamento humanouniversal, sem ele, é questionável que o homem possa se chamar realmente homem, comtudo o que isto significa.

    Tradução de Suzane Travassos e Elizabeth Travassos