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30 ECONOMIA A GAZETA SEXTA-FEIRA, 14 DE FEVEREIRO DE 2014 [email protected] MÍRIAM LEITÃO Em desaceleração O comércio varejista de dezembro teve uma queda pequena, mas confirma que o cenário ficou mais negativo para o PIB. Hoje, sai o IBC-Br de dezembro. No dia 27, o IBGE divulga o PIB do quarto trimestre. As previsões são de um resultado negativo no índice usado pelo Banco Central para calcular a ati- vidade; e de um número muito baixo para o PIB trimestral. A economia está desacelerando. Em dezembro, o comércio varejista restrito caiu 0,2%, mas quando ele é ampliado com as vendas de automó- veis e construção a queda é de 1,5%. A indústria em dezembro encolheu 3,5%. Os dois números juntos deixam o cenário mais difícil para o PIB deste ano; não apenas o de 2013. Os dados devem confirmar que a economia cresceu um pouco mais de 2% em 2013. Qual o número exato, só se saberá dia 27, mas será melhor do que 2012. Essa redução do ritmo que se vê na indústria e no varejo, no entanto, mostra que a economia entra em 2014 com menos embalo. O comércio no iní- cio de 2013 estava com alta de 8,3%, em 12 meses, e terminou o ano com 4,3%. Está perdendo vigor. Já a in- dústria melhorou, mas de forma lenta: foi de -1,83% para 1,15%. As quedas na indústria e no comércio no último mês do ano provocam o que os economistas chamam de carrega- mento estatístico negativo. Ou seja, é preciso recuperar primeiro o que se per- deu, para depois voltar a crescer. Por isso, o momento nos bancos, consul- torias e grandes empresas é de voltar às planilhas e refazer as contas com viés de baixa. O Itaú Unibanco vai divulgar hoje suas novas projeções. Até ontem, o nú- mero do PIB de 2014 era de 1,9% e, agora, deve ficar menor. “A queda forte da indústria vai in- fluenciar na conta e os seus efeitos serão mais sentidos em 2014 do que no PIB do quarto trimestre de 2013”, explicou o economista Luka Machado Barbosa, do Itaú Unibanco. Segundo Luka, o crescimento este ano será baixo por vários motivos. O comércio está desacelerando, na taxa em 12 meses, desde novembro de 2012, quando crescia a um ritmo de 8,6%. Chegou em dezembro em 4,3%, e o Itaú estima que termine este ano com apenas 3% de alta. O economista Armando Castelar, do Ibre/FGV, diz que a estimativa é de um PIB entre 1,5% e 2% em 2014. Com o resultado do comércio e da indústria de dezembro, ele acredita que o número ficará mais próximo de 1,5%. Enquanto o comércio perde vi- gor, a indústria não consegue se re- cuperar, mesmo com a desvalorização do real, que dificulta as importações e facilita as exportações. “A confiança dos empresários e dos consumidores está baixa e isso afeta o investimento. A indústria vai sentir a crise da Argentina, que compra nos- sos manufaturados. A China está cres- cendo menos, o que não ajuda a ex- portação de commodities. Temos in- flação alta, um governo intervencio- nista, e até risco de racionamento de energia”, disse Castelar. Ontem, o governo admitiu que há riscos — mas “baixíssimos” — de di- ficuldade de suprimento de energia. Felizmente, as chuvas estão voltando nesta segunda metade de fevereiro. Parte do período chuvoso se perdeu. O risco de rebaixamento da nota de crédito do país limita a capacidade do governo de gastar para impulsio- nar o PIB mesmo sendo ano de elei- ção. Há pouca margem para gastos no Orçamento. O aumento do custo da conta de energia torna menor ainda a margem de manobra. A agricultura, que teve crescimento muito forte em 2013, deve repetir um bom resultado este ano, embora a seca possa afetar o plantio de algumas co- lheitas. O setor tem pouco peso no cál- culo do PIB feito pelo IBGE, mas é fundamental nas contas externas. Após a queda do PIB no terceiro trimestre, de 0,5%, o país voltará a crescer no quarto, segundo a maioria das projeções. A consultoria inglesa Capital Economics estima alta de 0,5%. O Itaú prevê 0,6%, mas o dado pode ficar menor com a revisão que está sendo feita. Castelar prevê 0,3%. Mesmo os números sendo baixos, se for confirmado um dado acima de ze- ro, o país escapa da recessão técnica que ocorre quando há dois trimestres negativos. Alguns economistas, como Luis Otávio Leal, acham que o resul- tado do varejo eleva o risco de o úl- timo trimestre fechar negativo, o que tecnicamente colocaria o país em re- cessão. Seja como for, o que os nú- meros mostram é que o país está re- duzindo o crescimento, quando deve- ria acelerar. t Os pontos-chave 1 Queda do comércio em dezembro confirma cenário mais difícil para o crescimento do PIB de 2014 2 Por efeito estatístico, as quedas da indústria e do comércio vão tirar impulso do começo do ano 3 Os dados mostram que a economia cresceu pouco em 2013 e no fim do ano reduziu o ritmo Essa redução do ritmo que se vê na indústria e no varejo, no entanto, mostra que a economia entra em 2014 com menos embalo EM SÃO MATEUS Saudita compra parte do Petrocity Khaled bin Alwaleed agora é dono de 21% do porto que será feito em Urussuquara Os investimentos do príncipe saudita Khaled bin Alwaleed apontam ca- da vez mais para o Espírito Santo. Ontem, o grupo sau- dita KBW anunciou a aqui- sição de ações que a empre- sa BRPar Venture Partners possuía nos setores brasi- leiros de mineração, portos e de construção civil. Após a compra dos ati- vos, a holding liderada pe- lo príncipe Khaled bin Alwaleed amplia sua pre- sença no complexo por- tuário Petrocity (em São Mateus) na empresa de construção Arcadia Enge- nharia do Brasil e na mine- radora Royal Minerals, nas quais já era investido- ra minoritária. Com essa operação, a KBW concluiu a aquisição de um bloco significativo de ações no Petrocity, com uma participação de 21,6%, e finalmente obte- ve a aprovação, por parte da assembleia de acionis- tas, do plano de financia- mento, que inclui um IPO para o Petrocity em uma bolsa de valores interna- cional, cuja escolha será anunciada em breve. O terminal portuário Petrocity, previsto para a localidade de Urussuqua- ra, é voltado para apoio às operações offshore de pe- tróleo e gás, incluindo a área onde estão os campos do pré-sal. O empreendi- mento terá 12 berços e de- mandará R$ 480 milhões na primeira fase, com en- trada em operação até o fi- nal de 2016. O terminal fi- nal, totalmente construí- do, tem previsão de custo de cerca de R$ 1 bilhão. O projeto inicial foi am- pliado e contemplará ain- da um estaleiro para o re- paro de embarcações, que ocupará área de 500 mil metros quadrados e de- mandará US$ 750 mi- lhões de investimento. O Petrocity é o maior in- vestimento da KBW no Brasil. Trata-se de um pro- jeto com 1,5 milhão de metros quadrados de área inicial (o equivalente ao Parque do Ibirapuera, em São Paulo) com foco no se- tor de óleo e gás. A Royal Minerals, em- presa de mineração com sede no Espírito Santo, pos- sui 11 minas especializa- das na extração de minério de ferro, brita e granito. A Arcadia Engenharia do Brasil foi fundada no fi- nal de 2013 pela Arcadia Engineering SRL, empre- sa romena especializada em consultoria e acompa- nhamento de obras. A BR- Par ainda possui 5% das ações da companhia que agora serão totalmente transferidos para a KBW. Com isso, o grupo saudita expande sua posição e tor- na-se proprietário de 50% das ações da empresa. RICARDO MEDEIROS - 29/10/2013 Grupo de príncipe tem vários investimentos no Brasil LOGÍSTICA R$ 1 bi investimento É o aporte total no porto que será construído em São Mateus. Com Alvaro Gribel (de São Paulo) oglobo.com.br/economia/miriamleitao

ústria e MÍRIAM LEITÃO - ijsn.es.gov.br · 30 ECONOMIA A GAZETA SEXTA-FEIRA, 14 DE FEVEREIRO DE 2014 [email protected] MÍRIAM LEITÃO Em desaceleração O comércio varejista

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30 ECONOMIAA GAZETA SEXTA-FEIRA, 14 DE FEVEREIRO DE 2014

[email protected]

MÍRIAMLEITÃOEm desaceleração

O comércio varejista de dezembroteve uma queda pequena, mas confirmaque o cenário ficou mais negativo parao PIB. Hoje, sai o IBC-Br de dezembro.No dia 27, o IBGE divulga o PIB doquarto trimestre. As previsões são deum resultado negativo no índice usadopelo Banco Central para calcular a ati-vidade; e de um número muito baixopara o PIB trimestral. A economia estádesacelerando.

Em dezembro, o comércio varejistarestrito caiu 0,2%, mas quando ele éampliado com as vendas de automó-veis e construção a queda é de 1,5%.A indústria em dezembro encolheu3,5%. Os dois números juntos deixamo cenário mais difícil para o PIB desteano; não apenas o de 2013.

Os dados devem confirmar que aeconomia cresceu um pouco mais de2% em 2013. Qual o número exato, sóse saberá dia 27, mas será melhor doque 2012. Essa redução do ritmo que sevê na indústria e no varejo, no entanto,mostra que a economia entra em 2014com menos embalo. O comércio no iní-cio de 2013 estava com alta de 8,3%,em 12 meses, e terminou o ano com4,3%. Está perdendo vigor. Já a in-dústria melhorou, mas de forma lenta:foi de -1,83% para 1,15%.

As quedas na indústria e no comérciono último mês do ano provocam o queos economistas chamam de carrega-mento estatístico negativo. Ou seja, é

preciso recuperar primeiro o que se per-deu, para depois voltar a crescer. Porisso, o momento nos bancos, consul-torias e grandes empresas é de voltar àsplanilhas e refazer as contas com viés debaixa. O Itaú Unibanco vai divulgar hojesuas novas projeções. Até ontem, o nú-mero do PIB de 2014 era de 1,9% e,agora, deve ficar menor.

“A queda forte da indústria vai in-fluenciar na conta e os seus efeitosserão mais sentidos em 2014 do queno PIB do quarto trimestre de 2013”,explicou o economista Luka MachadoBarbosa, do Itaú Unibanco.

Segundo Luka, o crescimento esteano será baixo por vários motivos. Ocomércio está desacelerando, na taxaem 12 meses, desde novembro de2012, quando crescia a um ritmo de8,6%. Chegou em dezembro em4,3%, e o Itaú estima que termineeste ano com apenas 3% de alta.

O economista Armando Castelar,do Ibre/FGV, diz que a estimativa éde um PIB entre 1,5% e 2% em 2014.Com o resultado do comércio e daindústria de dezembro, ele acreditaque o número ficará mais próximo de1,5%. Enquanto o comércio perde vi-gor, a indústria não consegue se re-cuperar, mesmo com a desvalorizaçãodo real, que dificulta as importações efacilita as exportações.

“A confiança dos empresários e dosconsumidores está baixa e isso afeta o

investimento. A indústria vai sentir acrise da Argentina, que compra nos-sos manufaturados. A China está cres-cendo menos, o que não ajuda a ex-portação de commodities. Temos in-flação alta, um governo intervencio-nista, e até risco de racionamento deenergia”, disse Castelar.

Ontem, o governo admitiu que háriscos — mas “baixíssimos” — de di-ficuldade de suprimento de energia.Felizmente, as chuvas estão voltandonesta segunda metade de fevereiro.Parte do período chuvoso se perdeu.

O risco de rebaixamento da nota

de crédito do país limita a capacidadedo governo de gastar para impulsio-nar o PIB mesmo sendo ano de elei-ção. Há pouca margem para gastos noOrçamento. O aumento do custo daconta de energia torna menor ainda amargem de manobra.

A agricultura, que teve crescimentomuito forte em 2013, deve repetir umbom resultado este ano, embora a secapossa afetar o plantio de algumas co-lheitas. O setor tem pouco peso no cál-culo do PIB feito pelo IBGE, mas éfundamental nas contas externas.

Após a queda do PIB no terceirotrimestre, de 0,5%, o país voltará acrescer no quarto, segundo a maioriadas projeções. A consultoria inglesaCapital Economics estima alta de0,5%. O Itaú prevê 0,6%, mas o dadopode ficar menor com a revisão queestá sendo feita. Castelar prevê 0,3%.Mesmo os números sendo baixos, sefor confirmado um dado acima de ze-ro, o país escapa da recessão técnicaque ocorre quando há dois trimestresnegativos. Alguns economistas, comoLuis Otávio Leal, acham que o resul-tado do varejo eleva o risco de o úl-timo trimestre fechar negativo, o quetecnicamente colocaria o país em re-cessão. Seja como for, o que os nú-meros mostram é que o país está re-duzindo o crescimento, quando deve-ria acelerar.

t

Os pontos-chave

1Queda do comércio em

dezembro confirma cenário

mais difícil para o

crescimento do PIB de 2014

2Por efeito estatístico, as

quedas da indústria e do

comércio vão tirar impulso

do começo do ano

3Os dados mostram que a

economia cresceu pouco em

2013 e no fim do ano reduziu

o ritmo

Essa redução do ritmo que se vê na indústria eno varejo, no entanto, mostra que a economiaentra em 2014 com menos embalo

EM SÃO MATEUS

Saudita compra parte do PetrocityKhaled bin Alwaleedagora é dono de 21%do porto que será feitoem Urussuquara

Os investimentos dopríncipe saudita Khaledbin Alwaleed apontam ca-da vez mais para o EspíritoSanto.Ontem,ogruposau-dita KBW anunciou a aqui-siçãodeaçõesqueaempre-sa BRPar Venture Partnerspossuía nos setores brasi-leirosdemineração,portose de construção civil.

Após a compra dos ati-vos, aholding lideradape-lo príncipe Khaled binAlwaleed amplia sua pre-sença no complexo por-tuário Petrocity (em SãoMateus) na empresa deconstrução Arcadia Enge-nhariadoBrasilenamine-radora Royal Minerals,nas quais já era investido-

ra minoritária.Com essa operação, a

KBW concluiu a aquisiçãode um bloco significativode ações no Petrocity, comuma participação de21,6%, e finalmente obte-ve a aprovação, por parteda assembleia de acionis-tas, do plano de financia-mento, que inclui um IPOpara o Petrocity em umabolsa de valores interna-cional, cuja escolha seráanunciada em breve.

O terminal portuárioPetrocity, previsto para alocalidade de Urussuqua-ra, é voltado para apoio àsoperações offshore de pe-tróleo e gás, incluindo aáreaondeestãooscamposdo pré-sal. O empreendi-mento terá 12 berços e de-mandará R$ 480 milhõesna primeira fase, com en-tradaemoperaçãoatéofi-nal de 2016. O terminal fi-nal, totalmente construí-do, tem previsão de custode cerca de R$ 1 bilhão.

O projeto inicial foi am-pliado e contemplará ain-da um estaleiro para o re-paro de embarcações, queocupará área de 500 milmetros quadrados e de-mandará US$ 750 mi-lhões de investimento.

OPetrocityéomaior in-vestimento da KBW noBrasil. Trata-sedeumpro-

jeto com 1,5 milhão demetros quadrados de áreainicial (o equivalente aoParque do Ibirapuera, emSãoPaulo)comfoconose-tor de óleo e gás.

A Royal Minerals, em-presa de mineração comsedenoEspíritoSanto,pos-sui 11 minas especializa-das na extração de minériode ferro, brita e granito.

A Arcadia EngenhariadoBrasil foi fundadano fi-nal de 2013 pela ArcadiaEngineering SRL, empre-sa romena especializadaem consultoria e acompa-nhamento de obras. A BR-Par ainda possui 5% dasações da companhia queagora serão totalmentetransferidos para a KBW.Com isso, o grupo sauditaexpandesuaposiçãoe tor-na-se proprietário de 50%das ações da empresa.

RICARDO MEDEIROS - 29/10/2013

Grupo de príncipe tem vários investimentos no Brasil

LOGÍSTICA

R$ 1 biinvestimentoÉ o aporte total no portoque será construído emSão Mateus.

Com Alvaro Gribel (de São Paulo)oglobo.com.br/economia/miriamleitao

Documento:AG14CAEO030;Página:1;Formato:(274.11 x 381.00 mm);Chapa:Composto;Data:13 de Feb de 2014 21:42:54