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O sistema vascular é avaliado por múltiplas modalidades imagiológicas como a ecografia, a TC e RM. Ainda que com os avanços técnicos, num futuro, possa ser substituída, a angiografia com produto de contraste iodado continua a ser o método gold standard para o estudo do sistema vascular. Esta é a modalidade imagiológica de eleição nos procedimentos de diagnóstico e terapêutica endovascular. Contudo, a ocorrência de reações alérgicas ao contraste iodado iónico (4 a 12% a nível mundial) e não iónico (1 a 3%), levou a comunidade médica a procurar alternativas ao mesmo, ainda que os mais recentes contrastes não-iónicos apresentem uma menor taxa de reações adversas. CASO 1 Mulher de 78 anos com cardiopatia isquémica, fibrilhação auricular, hipertensão arterial, Diabetes Mellitus tipo 2, doença renal crónica pré-hemodiálise e clearence de creatinina de 17cc/min/1.73m². Seguida em consulta do pé diabético por lesões dos dedos com dor em repouso no MI esquerdo. CASO 2 Homem de 86 anos com hipertensão arterial, Diabetes Mellitus tipo 2, doença cardíaca isquémica, doença renal crónica em hemodiálise e história de alergia severa a contraste iodado com reacção anafiláctica. A angiografia com CO 2 é um método alternativo para estudo angiográfico das circulações venosa e arterial que deve ser ponderado nos casos em que o uso de contraste iodado é considerado de elevado risco, nomeadamente na presença de insuficiência renal avançada ou potencial reação alérgica ao contraste iodado ou, ainda, em procedimentos mais complexos que impliquem a administração de um grande volume de contraste. É um método seguro, barato e eficaz para uso em procedimentos diagnósticos e terapêuticos. Não pretende ser substituto ao contraste iodado mas sim uma alternativa ao mesmo nos casos que o exijam. A angiografia com dióxido de carbono (CO 2 ) remonta aos anos 50 por via intravenosa, e por via intraarterial aos anos 70, tendo uma aplicação mais frequente com o surgimento da angiografia de subtracção digital (DSA). Gradualmente, a angiografia com dióxido de carbono tem vindo a provar ser uma alternativa extremamente segura e eficaz para avaliar o sistema vascular em doentes com doença renal e com alergia ao contraste, produzindo o CO 2 uma imagem de contraste negativo na subtracção de imagem. Submetida a angiografia de CO 2 do MI esquerdo com angioplastia transluminal da artéria femoral superficial e porção proximal da artéria poplítea. Na avaliação pós-operatória, após 1 mês, apresenta resolução da dor em repouso e melhoria na cicatrização da lesão trófica. Seguido em consulta externa de pé diabético com arteriopatia grau IV do MI direito. Foi submetido a angiografia com CO 2 transfemoral esquerda. Diagnostica-se oclusão da artéria femoral superficial direita sem condições para tratamento endovascular. Doente recusou tratamento cirúrgico. Referências Bibliográficas: Cochran S., “Anaphylactoid reactions to radiocontrast media”, 2005, Curr Allergy Asthma R, 5:28–31; Eschelman D., Sullivan K., Bonn J., Gardiner G. Jr., “Carbon dioxide as a contrast agent to guide vascular interventional procedures”, 1998, Am J Roentgenol, 171:1265–1270; Frankhouse J., Ryan M., Papanicolaou G, Yellin A., Weaver F., “Carbon dioxide/digital subtraction arteriography-assisted transluminal angioplasty”, 1995, Ann Vasc Surg. 9:448–452; Kessel D., Robertson I., Patel J., etal., “Carbon-dioxide-guided vascular interventions: technique and pitfalls”, 2002, Cardiovasc Intervent Radiol, 25: 476–483; Moos J., Sam S., Han S., etal., “Safety of carbon dioxide digital subtraction angiography”, 2011, Arch Surg, 146:1428–1432; Patel B., Kapoor B., Borghei P, Shah N., Lockhart M., “Carbon dioxide as an intravascular imaging agent: review”, 2011, Curr Probl Diagn Radiol, 40:208–217; Pillai A., Shah A., Ferral H, Madassery S, Asselmeier S, Paruchuri S., “Transient disorientation and severe bradycardia after carbon dioxide angiography”, 2010,JVascIntervRadiol,21:805–806; Ana Monteiro¹ , António Rodrigues¹ , Cláudia Machado¹ , Davide Freitas¹ , Graça Costa¹ ¹Técnico de Radiologia do Centro Hospitalar e Universitário do Porto UTILIZAÇÃO DE CO COMO MEIO DE CONTRASTE NA ANGIOGRAFIA DESVANTAGENS Apesar de raras e fatais, as complicações podem ser: embolismo e isquemia secundária Potencial neurotoxicidade e potencial arritmia cardíaca Não deve ser utilizado na aorta torácica, na artéria coronária e na circulação cerebral Mais artefactos de movimento devido à baixa densidade do CO2 Necessidade de aquisições com um maior número de frames por segundo (aumento da dose de radiação) Não deve ser usado em pacientes com insuficiência e hipertensão pulmonar, e aneurisma da aorta abdominal V ANTAGENS Não existe o risco de reações anafiláticas ou toxicidade renal Tem alta solubilidade no sangue e é excretado a nível pulmonar Pode ser utilizado em procedimentos mais invasivos pela quantidade “ilimitada” que pode ser injetado Tem baixa viscosidade Visualização de artérias colaterais e/ou obstruções arteriovenosas em tumores ou malformações arteriovenosas Caracterização de tumores que se apresentam como avasculares com contraste iodado, e se apresentam vasculares com CO2

UTILIZAÇÃO DE CO₂COMO MEIO DE CONTRASTE NA … · com produto de contraste iodado continua a ser o ... ainda que os mais recentes contrastes não-iónicos apresentem ... UTILIZAÇÃO

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Page 1: UTILIZAÇÃO DE CO₂COMO MEIO DE CONTRASTE NA … · com produto de contraste iodado continua a ser o ... ainda que os mais recentes contrastes não-iónicos apresentem ... UTILIZAÇÃO

O sistema vascular é avaliado por múltiplas modalidades imagiológicas como a ecografia, a TC e RM. Ainda que com os avanços técnicos, num futuro, possa ser substituída, a angiografia

com produto de contraste iodado continua a ser o método gold standard para o estudo do sistema vascular. Esta é a modalidade imagiológica de eleição nos procedimentos de diagnóstico

e terapêutica endovascular. Contudo, a ocorrência de reações alérgicas ao contraste iodado iónico (4 a 12% a nível mundial) e não iónico (1 a 3%), levou a comunidade médica a procurar

alternativas ao mesmo, ainda que os mais recentes contrastes não-iónicos apresentem uma menor taxa de reações adversas.

CASO 1 Mulher de 78 anos com cardiopatia isquémica, fibrilhação auricular,

hipertensão arterial, Diabetes Mellitus tipo 2, doença renal crónica pré-hemodiálise e

clearence de creatinina de 17cc/min/1.73m².

Seguida em consulta do pé diabético por lesões dos dedos com dor em repouso no

MI esquerdo.

CASO 2 Homem de 86 anos com hipertensão arterial, Diabetes Mellitus tipo 2,

doença cardíaca isquémica, doença renal crónica em hemodiálise e história de alergia

severa a contraste iodado com reacção anafiláctica.

A angiografia com CO2 é um método alternativo para estudo angiográfico das circulações venosa e arterial que deve ser ponderado nos casos em que o uso de contraste iodado é

considerado de elevado risco, nomeadamente na presença de insuficiência renal avançada ou potencial reação alérgica ao contraste iodado ou, ainda, em procedimentos mais complexos

que impliquem a administração de um grande volume de contraste. É um método seguro, barato e eficaz para uso em procedimentos diagnósticos e terapêuticos. Não pretende ser

substituto ao contraste iodado mas sim uma alternativa ao mesmo nos casos que o exijam.

A angiografia com dióxido de carbono (CO2) remonta aos anos 50 por via intravenosa, e por via intraarterial aos anos 70, tendo uma aplicação mais frequente com o surgimento da

angiografia de subtracção digital (DSA). Gradualmente, a angiografia com dióxido de carbono tem vindo a provar ser uma alternativa extremamente segura e eficaz para avaliar o sistema

vascular em doentes com doença renal e com alergia ao contraste, produzindo o CO2 uma imagem de contraste negativo na subtracção de imagem.

Submetida a angiografia de CO2 do MI esquerdo com angioplastia transluminal da

artéria femoral superficial e porção proximal da artéria poplítea.

Na avaliação pós-operatória, após 1 mês, apresenta resolução da dor em repouso e

melhoria na cicatrização da lesão trófica.

Seguido em consulta externa de pé diabético com arteriopatia grau IV do MI direito.

Foi submetido a angiografia com CO2 transfemoral esquerda.

Diagnostica-se oclusão da artéria femoral superficial direita sem condições para

tratamento endovascular. Doente recusou tratamento cirúrgico.

Referências Bibliográficas: Cochran S., “Anaphylactoid reactions to radiocontrast media”, 2005, Curr Allergy Asthma R, 5:28–31; Eschelman D., Sullivan K., Bonn J., Gardiner G. Jr., “Carbon dioxide as a contrast agent to guide vascular interventional procedures”, 1998, Am J Roentgenol, 171:1265–1270;

Frankhouse J., Ryan M., Papanicolaou G, Yellin A., Weaver F., “Carbon dioxide/digital subtraction arteriography-assisted transluminal angioplasty”, 1995, Ann Vasc Surg. 9:448–452; Kessel D., Robertson I., Patel J., et al., “Carbon-dioxide-guided vascular interventions: technique and pitfalls”, 2002,

Cardiovasc Intervent Radiol, 25: 476–483; Moos J., Sam S., Han S., et al., “Safety of carbon dioxide digital subtraction angiography”, 2011, Arch Surg, 146:1428–1432; Patel B., Kapoor B., Borghei P, Shah N., Lockhart M., “Carbon dioxide as an intravascular imaging agent: review”, 2011, Curr Probl Diagn

Radiol, 40:208–217; Pillai A., Shah A., Ferral H, Madassery S, Asselmeier S, Paruchuri S., “Transient disorientation and severe bradycardia after carbon dioxide angiography”, 2010,JVascIntervRadiol,21:805–806;

Ana Monteiro¹ , António Rodrigues¹ , Cláudia Machado¹ , Davide Freitas¹, Graça Costa¹

¹Técnico de Radiologia do Centro Hospitalar e Universitário do Porto

UTILIZAÇÃO DE CO₂ COMO MEIO DE CONTRASTE

NA ANGIOGRAFIA

DESVANTAGENS

Apesar de raras e fatais, as complicações podem ser: embolismo e isquemia

secundária

Potencial neurotoxicidade e potencial arritmia cardíaca

Não deve ser utilizado na aorta torácica, na artéria coronária e na circulação

cerebral

Mais artefactos de movimento devido à baixa densidade do CO2

Necessidade de aquisições com um maior número de frames por segundo (aumento

da dose de radiação)

Não deve ser usado em pacientes com insuficiência e hipertensão pulmonar, e

aneurisma da aorta abdominal

VANTAGENS

Não existe o risco de reações anafiláticas ou toxicidade renal

Tem alta solubilidade no sangue e é excretado a nível pulmonar

Pode ser utilizado em procedimentos mais invasivos pela quantidade “ilimitada”

que pode ser injetado

Tem baixa viscosidade

Visualização de artérias colaterais e/ou obstruções arteriovenosas em tumores ou

malformações arteriovenosas

Caracterização de tumores que se apresentam como avasculares com contraste

iodado, e se apresentam vasculares com CO2