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UTILIZAÇÃO DE NOVAS LINGUAGENS NO ENSINO DE GEOGRAFIA DE NÍVEL MÉDIO Zenis Bezerra Freire 1 Josandra Araujo Barreto de Melo 2 Luiz Arthur Pereira Saraiva 3 RESUMO Diante das discussões referentes ao ensino de Geografia no Brasil, se faz necessário algumas reflexões sobre a temática, sobretudo propondo novas linguagens e/ou metodologias de ensino, que visem oportunizar maior dinamicidade no processo de ensino-aprendizagem nas escolas, no contexto do ensino médio. O presente trabalho parte da análise de experiência desenvolvida no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência PIBID/Subprojeto de Geografia, da Universidade Estadual da Paraíba, atuante no ensino médio da E.E.E.M.I Hortênsio de Sousa Ribeiro PREMEN. Sua contribuição consiste em resgatar a importância do ensino na formação da cidadania, rompendo com o tecnicismo e conteudismo, (não desprezando a importância dos mesmos para a educação), na tentativa de promover um ensino dinâmico, sem romper com o conteúdo programático previsto para a disciplina. Neste contexto, a questão central do trabalho é como implementar novas linguagens e/ou metodologias para dinamizar o ensino de Geografia? A partir de tal questão, partiu-se do propósito de resgatar o uso da arte da pintura e expandir o uso de novas linguagens possíveis para os alunos inseridos no ensino médio que, na maioria das vezes, são restringidos do exercício contínuo de tais atividades ainda nas séries iniciais, tendo como objetivo contribuir com a perspectiva da aprendizagem dos educandos, a partir da percepção do ser/estar no mundo, das relações e vivências cotidianas dos lugares e dos territórios expressos na paisagem, através de múltiplos olhares das áreas de ocupação irregulares na cidade de Campina Grande-PB articuladas a múltiplas escalas. O método utilizado tem sido o fenomenológico-hermenêutico, através da implementação de um projeto de intervenção em turmas do 3º ano do Ensino Médio da Escola acima mencionada. Apesar do projeto ainda estar em andamento, já é possível verificar que vem constituindo uma experiência de aprendizagem significativa para os educandos, o que é visível através do engajamento e participação dos alunos nas atividades previstas, bem como nas discussões promovidas em cumprimento ao programa. Palavras-Chave: Ensino de Geografia. Novas linguagens e metodologias. Pintura. 1.INTRODUÇÃO A discussão em torno do ensino de Geografia nos diversos níveis da Educação Básica vem tomando largas proporções ao longo do tempo, sobretudo nos últimos anos a partir de uma maior abertura teórico-metodológica que permita pensar o ensino em uma escala ampla. Neste contexto, são tomados debates que permeiam diversas temáticas, dentre elas, pode-se 1 Graduanda em Licenciatura em Geografia, Universidade Estadual da Paraíba/ Bolsista PIBID/CAPES. E-mail: [email protected] 2 Departamento de Geografia, Universidade Estadual da Paraíba /Coordenadora de área do Subprojeto PIBID Geografia/CAPES. E-mail:[email protected] 3 Doutorando do Programa de Pós- Graduação em Geografia UFPE/ Supervisor PIBID/ CAPES. E-mail: [email protected]

UTILIZAÇÃO DE NOVAS LINGUAGENS NO ENSINO DE … · identificar possíveis metodologias de trabalho em sala de aula, a posteriori com a discussão do conteúdo de Geografia Urbana

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UTILIZAÇÃO DE NOVAS LINGUAGENS NO ENSINO DE

GEOGRAFIA DE NÍVEL MÉDIO

Zenis Bezerra Freire1

Josandra Araujo Barreto de Melo2

Luiz Arthur Pereira Saraiva3

RESUMO

Diante das discussões referentes ao ensino de Geografia no Brasil, se faz necessário algumas reflexões

sobre a temática, sobretudo propondo novas linguagens e/ou metodologias de ensino, que visem

oportunizar maior dinamicidade no processo de ensino-aprendizagem nas escolas, no contexto do

ensino médio. O presente trabalho parte da análise de experiência desenvolvida no Programa

Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência PIBID/Subprojeto de Geografia, da Universidade

Estadual da Paraíba, atuante no ensino médio da E.E.E.M.I Hortênsio de Sousa Ribeiro – PREMEN.

Sua contribuição consiste em resgatar a importância do ensino na formação da cidadania, rompendo

com o tecnicismo e conteudismo, (não desprezando a importância dos mesmos para a educação), na

tentativa de promover um ensino dinâmico, sem romper com o conteúdo programático previsto para a

disciplina. Neste contexto, a questão central do trabalho é como implementar novas linguagens e/ou

metodologias para dinamizar o ensino de Geografia? A partir de tal questão, partiu-se do propósito de

resgatar o uso da arte da pintura e expandir o uso de novas linguagens possíveis para os alunos

inseridos no ensino médio que, na maioria das vezes, são restringidos do exercício contínuo de tais

atividades ainda nas séries iniciais, tendo como objetivo contribuir com a perspectiva da aprendizagem

dos educandos, a partir da percepção do ser/estar no mundo, das relações e vivências cotidianas dos

lugares e dos territórios expressos na paisagem, através de múltiplos olhares das áreas de ocupação

irregulares na cidade de Campina Grande-PB articuladas a múltiplas escalas. O método utilizado tem

sido o fenomenológico-hermenêutico, através da implementação de um projeto de intervenção em

turmas do 3º ano do Ensino Médio da Escola acima mencionada. Apesar do projeto ainda estar em

andamento, já é possível verificar que vem constituindo uma experiência de aprendizagem

significativa para os educandos, o que é visível através do engajamento e participação dos alunos nas

atividades previstas, bem como nas discussões promovidas em cumprimento ao programa.

Palavras-Chave: Ensino de Geografia. Novas linguagens e metodologias. Pintura.

1.INTRODUÇÃO

A discussão em torno do ensino de Geografia nos diversos níveis da Educação Básica

vem tomando largas proporções ao longo do tempo, sobretudo nos últimos anos a partir de

uma maior abertura teórico-metodológica que permita pensar o ensino em uma escala ampla.

Neste contexto, são tomados debates que permeiam diversas temáticas, dentre elas, pode-se

1 Graduanda em Licenciatura em Geografia, Universidade Estadual da Paraíba/ Bolsista PIBID/CAPES. E-mail:

[email protected] 2 Departamento de Geografia, Universidade Estadual da Paraíba /Coordenadora de área do Subprojeto PIBID

Geografia/CAPES. E-mail:[email protected] 3 Doutorando do Programa de Pós- Graduação em Geografia UFPE/ Supervisor PIBID/ CAPES. E-mail:

[email protected]

destacar a relação ensino-aprendizagem, acoplada a novas possibilidades metodológicas que

possam proporcionar uma melhoria no que concerne a aprendizagem dos alunos.

Os reflexos desta pesquisa são trazidos à luz da contribuição do PIBID (Programa

Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência) do Subprojeto de Geografia que atua no

contexto do ensino médio inovador, da E.E.E.M.I. Hortênsio de Sousa Ribeiro (PREMEN)

localizado na cidade de Campina Grande - Paraíba, o projeto realizado na escola mencionada,

foi desenvolvido em uma turma do 3º ano do Ensino Médio.

A problemática sobre a qual foi centrada a presente discussão teve como objetivo

trazer novas linguagens e/ou metodologias para dinamizar o ensino de Geografia. Tendo em

vista que esta disciplina viveu/vive um dilema no contexto educacional, ter se tornado

“enfadonhora” e “decorativa”, paradigmas estes que se vem tentando mudar através dos

direcionamentos docentes e do olhar voltado para a escola não mais como um campo de

regência educacional e sem importância, mas sim um espaço vivido, político, praticado,

produzido e (re)produzido pelos agentes educacionais.

Para tanto a importância do desenvolvimento deste trabalho se dá pela possibilidade de

pensar outras composições metodológicas no Ensino Médio que deem aos alunos um

conhecimento significativo. Neste contexto o presente artigo tem como objetivo contribuir

com a perspectiva da aprendizagem dos educandos, a partir da percepção do ser/estar no

mundo, das relações e vivências cotidianas dos lugares e dos territórios expressos na

paisagem, através de múltiplos olhares das áreas de ocupação irregulares na cidade de

Campina Grande-PB articuladas a múltiplas escalas, visando fazer com que os alunos a partir

de um olhar cotidiano possam expor suas percepções acerca destas áreas na cidade que por

muito passam despercebidas aos olhares apressados dos sujeitos que habitam a cidade.

Por fim para alcançar tal objetivo a metodologia desenvolvida inicialmente se deu a

partir da aplicação de questionários diagnósticos, bem como a analise dos mesmos para

identificar possíveis metodologias de trabalho em sala de aula, a posteriori com a discussão do

conteúdo de Geografia Urbana se enveredou pela percepção das problemáticas ambientais que

estão presentes no espaço urbano de Campina Grande, tendo em vista esta questão se

manifestar em vários veículos de comunicação, como também está presente na realidade de

alguns dos alunos da escola, fazendo com que fosse estimulada a percepção dos mesmos

através do estimulo do olhar. Por fim a pintura foi escolhida para expressar a percepção tendo

em vista uma atração da turma pela arte, observada em meio aos trabalhos desenvolvidos para

a disciplina de artes na escola.

2.ENSINO DE GEOGRAFIA: apontamentos iniciais

O ensino de Geografia no Brasil atualmente ainda tem perpassado por diversos

processos preocupantes que se posicionam a partir de processos históricos oriundos da

constituição da própria disciplina no contexto escolar, como problematiza Pontuschka (2007).

Nesta ótica o desafio concerne em pensar uma Geografia Tradicional de base Positivista – que

teve grande importância - no processo inicial de ensino de Geografia no Brasil, sobretudo no

que concerne a influencia da geografia francesa com os desdobramentos do método regional

discutidos por Paul Vidal de La Blache, que ganha amplitude no Brasil nos ensinamentos de

Pierre Deffontaines.

A Geografia que chega ao Brasil na ideologia a favor de uma geopolítica de Estado,

com a perspectiva do “conhecer para dominar” como critica Lacoste. Nestes direcionamentos

o ensino da geografia enquanto disciplina escolar tinha como objetivo o conhecimento do

território para um maior domínio do mesmo, no entanto, nos anos finais da década de 1970

em uma emergência de novas discussões sociais, que permeavam as consequências das

Guerras, e pós maio de 1968, a geografia enquanto ciência através de Santos (1992), em sua

obra Por Uma Geografia Nova , passa a questionar as produções geográficas que vigoravam

até então e seus dimensionamentos sociais.

No âmbito da escola este contexto não poderia ser diferente, se fazia necessário um

debate centrado em uma critica a sociedade que estava a se formar, com uma forte produção e

(re) produção do capital, e a produção das desigualdades sociais que começam a se tornar

cada vez mais presentes no espaço. Nos anos 1990 começam a surgir novos questionamentos

na sociedade, embasados no processo de globalização, o acirramento das desigualdades

sociais, e os debates em torno da diversidade cultural, bem como a discussão sobre construção

e desconstrução de identidades, assim incluindo no debate as questões de gênero, como nos

traz ao debate Silva (2011).

Pensar em aulas de Geografia apenas dentro dos parâmetros tradicionais e com a

utilização de materiais didáticos que pelo excesso de uso vem perdendo seu encantamento

foi/é a força motriz para o desgaste da disciplina, trazendo assim consequências não apenas

para os alunos, que por sua vez perdem o entusiasmo nas aulas por pensarem no processo de

ensino-aprendizado da Geografia apenas como uma obrigação escolar, e sem exercer

nenhuma conexão com o cotidiano que o rodeia e por sua vez não percebendo a Geografia

que acontece a cada passo que os mesmos dão. Mas também para os professores, que por

perceberem o pouco interesse do alunado na disciplina acabam por ministrarem aulas,

desmotivados.

Desta forma é preciso pensar a construção do conhecimento como um processo que

necessita da atuação de vários atores para a boa obtenção de resultados. E para a participação

desses atores se faz necessário à elaboração de estratégias onde todos estes sejam construtores

ativos deste processo. Retirando assim o corpo discente da inatividade ou da atividade passiva

que o mesmo vem exercendo.

Para tanto, pensar em algumas questões que perpassam a prática da docência, como é

o caso da leitura e da escrita é fundamental. Para Martins apud Pillar (2011, p.8) “a leitura é

um processo de compreensão de expressões formais e simbólicas, não importando por meio

de que linguagem” desta forma percebe-se que a possibilidade de leitura não está centrada em

apenas uma forma de linguagem e com isto percebemos que a escrita que se configura como

formas de expressão e comunicação, não estão apenas pautados na produção textual composta

por letras, palavras e frases, esta linguagem também pode ser encontrada nas diversas formas

de expressão da arte seja ela na música, no teatro, na pintura dentre outros.

Direcionando os aspectos acima elencados, no âmbito das reflexões evidenciadas pelo

ensino de Geografia no Ensino Médio, é perceptível através da experiência na escola, a

necessidade de traçar novas estratégias metodológicas que possibilitem um ensino dinâmico, a

partir destes pressupostos o trabalho da pintura como uma nova linguagem de expressão do

espaço pelos alunos, teve sua raiz no pensamento de Kaercher, em minicurso ministrado no

XVII Encontro Nacional de Geógrafos, realizado na Universidade Federal de Minas Gerais, o

autor afirmava que a grande maioria dos estudantes tinham suas habilidades para arte de

modo geral podada na escola do âmbito do Ensino Fundamental, pois a partir do 6º ano

começavam a ser direcionados a estudos com foco no âmbito profissional e para o mercado de

trabalho, esta realidade por sua vez ainda é muito mais intensa no contexto do Ensino Médio,

onde a preparação voltada para os exames que possibilitam o ingresso na Universidade

passam a ser centrais para os educandos.

Para tanto, é necessário que haja uma multiplicidade de possibilidades no ensino para

que se possa pensar novas formulações no âmbito da discussão geográfica levando os alunos a

novas formas de ler/pensar o espaço sobre o qual estes estão inseridos, bem como se

expressam sobre ele o transformando e o (re)organizando dando aos alunos a possibilidade

do pensamento pois para Alves (2004, p.58)

“O pensamento é como águia que só alça vôo nos espaços vazios do desconhecido.

Pensar é voar sobre o que não se sabe. Não existe nada mais fatal para o pensamento

que o ensino das respostas certas. Para isto existem escolas: não para ensinar

respostas, mas para ensinar perguntas. As respostas nos permitem andar em terra

firme. Mas somente as perguntas nos permitem entrar pelo mar desconhecido.”

(p.58).

O alçar voo neste desconhecido para o autor, permite dentro do dialogo com novas

formas de perceber o espaço geográfico e transformá-lo, esta forma de pensar e expressar o

pensamento através da arte denota novas formas do olhar, este por sua vez que vai para além

do campo da visão, mas que perpassa pelo campo da percepção dos sujeitos sobre o espaço

vivido, possibilitando um conhecimento significativo e eficaz.

3. A PINTURA E A CONSTRUÇÃO DO OLHAR GEOGRÁFICO

A pintura é uma gravação da emoção.

(Edward Hopper)

A dinâmica aplicada foi pensada dentro de todo um contexto pedagógico relacionado

às possibilidades trazidas pelo Ensino Médio Inovador que está dentro de um plano maior de

reformulação da educação no país. O Ensino Médio Inovador tem como força motriz a

implantação da interdisciplinaridade. Para tanto a metodologia abordada na aula busca esta

interação com a disciplina do Ensino das Artes, quando traz a produção artística, mesmo não

tendo a intenção do ensino da estética, para se produzir um olhar Geográfico. A pintura assim

foi percebida como arte de escrita, escrita esta produzida pelo corpo discente a partir do

entendimento que os mesmos tiveram sobre o conteúdo de Geografia Urbana centrada na

análise da cidade de Campina Grande-PB, através dos múltiplos olhares acerca das áreas de

ocupação irregulares existentes na cidade.

Para a realização da atividade dividiu-se em dois momentos, o primeiro momento

contou com a abordagem teórica e aula expositiva com indagações tais como: O que são áreas

de ocupações irregulares? Como as questões ambientais interferem neste processo de

funcionamento e organização da cidade? E como o planejamento urbano pode contribuir para

a diminuição dos riscos que envolvem habitar as áreas de ocupação irregulares?

Posteriormente os alunos a partir do que foi entendido e observado sobre as áreas de risco,

escreveram a partir da linguagem da pintura a compreensão de cada um sobre estas áreas.

Articulando desta forma as diversas escalas sejam elas locais e/ou globais.

Para realização desta análise lançou-se mão, sobretudo, da Paisagem enquanto

categoria de análise geográfica, pois esta como expõe Dardel (2011, p.31) “[...] não é um

circulo fechado, mas um desdobramento. Ela não e verdadeiramente geográfica a não ser pelo

fundo, real ou imaginário, que o espaço abre além do olhar”. Neste sentido trabalhar o

conceito de paisagem em sala de aula vai para além do domínio do visível, se estende para a

percepção de mundo que os sujeitos compreendem do espaço onde vivem, e é possível

observar tais elementos em Santos (1998) elenca a paisagem para além do que pode ser

abarcado pela visão complementando com a percepção a partir dos odores, movimentos sons,

ou seja, os elementos que direcionam a sensibilidade e o sentido da experiência, esta que por

sua vez é direcionada pelo olhar.

Alfredo Bosi (1988, p.66), nos traz que “O olhar não está isolado, o olhar está

enraizado na corporeidade enquanto sensibilidade e enquanto motricidade.” Motricidade está

que impulsionou a construção do ensino-aprendizagem de forma encantadora. Uma espécie de

abrir janelas para a percepção dos estudos e acontecimentos geográficos que se dão no

cotidiano de cada aluno. A pintura é a expressão de um olhar sobre algo ou alguém, é assim

como nos fala Hopper quando diz que “A pintura é uma gravação da emoção” aquilo que toca

a cada sujeito de forma mais intensa será transmitida na pintura, talvez por isso alguns artistas

afirmem que a obra de arte fala mais sobre quem a produziu do que do objeto produzido.

Desta forma temos na produção da aula a composição de várias paisagens, pois cada uma

destas serão observada a partir do ângulo de cada um dos “pintores/alunos”.

Na figura 1, percebe-se a (re)organização diferenciada que se tem na sala de aula, pois

uma metodologia diferente precisa romper não apenas com os padrões teóricos do

entendimento da docência, mas perpassa os aspectos físicos como se faz possível ver na figura

abaixo:

Figura 1: Alunos do 3º ano produzindo as telas sobre a ocupação irregular em Campina Grande- PB

Fonte: Zenis Freire, Bolsista PIBID subprojeto Geografia/UEPB

A liberdade da pintura trouxe cores e movimentos para a sala de aula, olhares atentos e

preocupados com os detalhes. As cadeiras enfileiradas, voltadas para o quadro branco deu

lugar a um grande circulo onde os alunos se movimentavam com maior facilidade e onde os

mesmos se olhavam frente a frente. O quadro branco e o pincel para quadro deram espaço às

cartolinas que foram coloridas. Cada uma trazendo uma escrita/pintura diferente, pois cada

escritor/pintor/aluno expressava-se em múltiplos olhares proporcionando uma possibilidade

de reorganização espacial.

Nas figuras 2 e 3, as telas/cartolinas sendo expostas na sala de aula, trazendo assim um

colorido permanente para o espaço, pois as telas continuaram na sala após a atividade. O que

propicia a continuidade do trabalho, pois cada sujeito que adentrar este espaço observará nas

paisagens elementos diferente e de formas múltiplas.

Figura 2: Alunos do 3º ano, finalizando as atividades da oficina.

Fonte: Zenis Freire, Bolsista PIBID subprojeto Geografia/UEPB

Outro ponto que é de fundamental importância no desenvolvimento da atividade é a

percepção da maior interação entre os alunos e dos mesmos com os docentes, pois estes

passam a se ver não apenas como receptores de conhecimentos, mas como produtores do

mesmo junto com os docentes.

Figura 3: Exposição das telas produzidas na oficina

Fonte: Zenis Freire, Bolsista PIBID subprojeto Geografia/UEPB

Na “gravação das emoções” feitas por estes alunos o exercício da docência foi

motivadora, não apenas pela atividade proposta ter ocorrido de forma positiva com relação as

suas produções, mas pela relação que se estabeleceu entre discentes e docentes e a percepção

do entendimento por parte dos alunos com relação ao que se propunha na atividade e a

importância da mesma na formação geográfica e pessoal de cada um destes sujeitos.

Observando por esta ótica, foi pensada a aplicação de atividades que utilizaram

recursos matérias, pouco explorados, principalmente quando se trata das turmas do Ensino

Médio. A utilização da prática da pintura rompeu com dois paradigmas existentes na sala de

aula, o primeiro diz respeito à renovação com elementos que não incluem alta tecnologia,

fazendo-se uma (re) utilização de elementos simples e tradicionais para outros ciclos da

educação, as series iniciais, porém com uma reconfiguração no uso, ao fazer o deslocamento

dessa metodologia, o processo como um todo se tornou estimulante. O segundo rompimento

que se tem é a descentralização da figura do professor, pois a aula teve o aluno como

produtor, já que os mesmos produzindo as pinturas construíram um olhar Geográfico, a partir

dos elementos discutidos em sala de aula.

A experiência ainda buscou articular a ideia das áreas de ocupações irregulares

discutidas no plano teórico com o cotidiano daqueles que vivenciam estes espaços. Diversas

são as experiências que podem ser citadas possibilitando integrar o cotidiano às práticas

escolares, através da articulação entre as diversas escalas geográficas. Assim como a pintura,

trabalhas com outras linguagens como músicas, cinema e charges humorísticas, por exemplo,

também podem ser mencionados enquanto formas de articular o cotidiano ao espaço escolar.

Nesse direcionamento, é possível mencionar o trabalho de Alves et. al. (2012) que

relata a experiência de utilização de charges e tiras humorísticas em sala de aula. Através

desses recursos, foi possível trabalhar com questões ambientais cotidianas que estão, assim

como as áreas de ocupação irregulares e os problemas ambientais urbanos presentes no dia-a-

dia dos alunos, não se faz necessário, portanto que haja um alto grau de abstração para

explicar fenômenos conhecidos na prática pelos alunos, mas sim explicar cientificamente

como tais fenômenos se dão e as possíveis soluções para os mesmos.

A mencionada autora destaca que tal recurso não se restringe a utilização apenas no

ensino superior, podendo ser trabalhado também no Ensino Básico, constituindo mais uma

possibilidade de flexibilização curricular, em que o cotidiano dos alunos é pensado e discutido

em sala de aula.

Neste contexto, Moreira (2012) recomenda a utilização de filmes no ensino de

Geografia como uma possibilidade de dinamizar a aprendizagem. Destacando sua importância

para os alunos, o autor afirma: “[...] todo filme é ambientado em um dado local, representa

certa realidade, e, deste modo, contém muitos aspectos a serem analisados geograficamente e

discutidos em sala de aula” (ibidem, p.63).

Moreira (op. cit.) destaca temáticas como a violência urbana, conflitos em diversas

escalas, relações de gênero, entre outros, que possibilitam ao professor utilizar os filmes em

sala de aula, visto que constituem possibilidades de integrar o espaço vivido ao contexto de

sala de aula. Nessa perspectiva, o autor destaca a necessidade de articulação das diversas

escalas geográficas.

Apesar da experiência em análise não ter efetivado o uso do cinema no ensino de

Geografia, foi possível perceber, através da produção das pinturas efetuada pelos alunos de

como a imagem suscita a aprendizagem, assim como também o redimensionamento da

dinâmica de sala de aula facilitam a integração entre os atores que constroem a partir de uma

experiência cotidiana algo significativo ligado à percepção da cidade.

Martins (2008) analisa a experiência desenvolvida a partir da utilização de imagens

midiáticas com alunos do ensino fundamental (6º ano) para esta, a experiência contribuiu para

trazer a tona discussões de conteúdos cotidianos “[...] relacionadas a fatos do cotidiano do

país, tais como violência, meio ambiente, política, mercado de trabalho, educação etc., que

contribuíssem para o desenvolvimento da reflexão, do questionamento e o confronto de

ideias.” Nesse encaminhamento metodológico, recomenda a prática da pesquisa pelos alunos

como uma possibilidade de dinamizar as aulas de Geografia e construir um conhecimento

significativo.

Percebe-se, quão rica é a experiência do trabalho com a imagem em sala de aula seja ela

em forma de pintura ou não. A partir dessa base teórica, buscou-se, através da experiência do

PIBID/CAPES/UEPB, Subprojeto de Geografia, ao se trabalhar com alunos do 3º ano do

Ensino Médio, produzir painéis demonstrando suas apreensões sobre as áreas de ocupações

irregulares de forma interativa, procurando provocar reflexões e questionamentos acerca das

dimensões destes no cotidiano dos alunos, ou em outras escalas de análise.

Outrossim, o trabalho com a pintura possibilitou aos alunos e a equipe do PIBID como

um todo o exercício da observação, que constitui um dos princípios lógicos da Geografia. O

trabalho executado levou os alunos a descobrir um novo mundo de possibilidades e

perspectivas inseridas na arte percebendo, desta maneira, as formas de apropriação dos

espaços, bem como as territorializações aparentes na paisagem além de perceberem os

elementos que aproximam e afastam a interrelação do homem e da natureza.

4.AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o apoio concedido, mediante bolsas, efetuado pela Coordenação

de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES, através do Programa

Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID.

5.CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante das questões expostas acima, pode-se dizer quão importante à abordagem de

novas linguagens no ensino de geografia abordando elementos interdisciplinares, mas também

partindo da realidade dos alunos, valorizando os aspectos das paisagens sobre os quais

produzem e (re)produzem o espaço urbano através de sua percepção e de seus olhares.

Também é possível perceber a dinâmica do ensino interligado a experiência com o

espaço de vivência e o modo de ler/pensar a cidade, além de estimular os alunos do Ensino

Médio a outras possibilidades de aprendizagem significativa pelo conhecimento cotidiano

pensando a formação dos alunos em sentido amplo, com uma formação cidadã que vá além do

conhecimento técnico, e que perpasse por um conhecimento de mundo, uma vez que estes

alunos serão agentes transformadores do espaço daí a importância de estimula-los aos olhares

geográficos e a novas maneiras de poder olhar a paisagem do espaço onde habitam.

A experiência de trabalho com novas linguagens na geografia foi satisfatória e o

objetivo alcançado ao passo que através de uma grande interação entre alunos, professor e

bolsista, se conseguiu uma aprendizagem significativa de modo a estimular os olhares dos

alunos as multifaces das ocupações irregulares na cidade, estes resultados proporcionaram aos

alunos apresentações de trabalhos nos eventos escolares onde os mesmos apresentam o

conteúdo com segurança, demonstrando assim que o conteúdo significativo não é obtido

somente através de aulas expositivas, mas também é possível a partir de novas linguagens

mesmo no contexto do Ensino Médio da Educação Básica.

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