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Performances Interacionais e Mediações Sociotécnicas Salvador - 10 e 11 de outubro de 2013 UTILIZAÇÃO DO APLICATIVO INSTAGRAM COMO DISPOSITIVO JORNALÍSTICO PARTICIPATIVO NO CONTEMPORÂNEO: MOSTRA DE UM CASO. 1 MARTINS, Antoniela Rodriguez 2 GOMES, Marcela Lorea 3 BANDEIRA, Mônica Oliveira Ramos 4 CASTRO, Rodrigo Inacio 5 Universidade Federal de Pelotas Resumo: O trabalho objetiva problematizar o possível emprego do Instagram como um dispositivo de produção de informações jornalísticas. Com base nos aportes teóricos do jornalismo participativo e conceituações acerca dos Sites de Redes Sociais (SRS) foram analisadas algumas imagens coletadas através de duas hashtags, posteriormente reunidas na categoria/caso “alagamento da cidade de Pelotas” (Rio Grande do Sul - Brasil). O processo metodológico é inspirado na Teoria Fundamentada (Grounded Theory), dividindo-se em três etapas, com a utilização do site Statigram como Crawler. Os resultados indicam que ocorre a produção de conteúdo jornalístico, porém os autores não possuem uma intenção jornalística de captura das imagens, assim, observou-se que os instagrammers não desejavam informar sobre o fenômeno, mas sim registrar o fato. Palavras-chave: Jornalismo participativo; Sites de Redes Sociais (SRS); Instagram; Imagem. Abstract: The paper aims to problematize the possible use of the Instagram app as a device for the production of journalistic information. Based on the theoretical support of participatory journalism and conceptualizations about Social Networking Sites (SNS) were analyzed some images collected through two hashtags, subsequently assembled in the case "water logging the city of Pelotas" (Rio Grande do Sul - Brazil). The methodological process is inspired by Grounded Theory and broken into three stages of research, using the site Statigram as a Crawler. The results indicate that there is the production of journalistic content, but this productivity has no journalistic intention of information dissemination by the authors, that way, it was observed that instagramers when capture the images did not wish to inform about the phenomenon, but rather record the fact. 1 Artigo submetido ao NT 5 Sociabilidade, novas tecnologias e práticas colaborativas de produção de conteúdo do simpósio em tecnologias digitais e sociabilidade 2013 (SIMSOCIAL). Trabalho orientado pela Prof. Dra. Rosária Ilgenfritz Sperotto, integrante do Programa de Pós-Graduação em Educação e Programa de Pós-Graduação em Ciências e Matemática, Faculdade de Educação/FaE - UFPEL e líder do Grupo de pesquisa Comunicação, Cultura, Tecnologias e Modos de Subjetivação (CoCTec) 2 Bolsista CNPq do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), integrante do Grupo de pesquisa CoCTec e acadêmica do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Pelotas. 3 Bolsista FAPERGS do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PROBIC), integrante do Grupo de pesquisa CoCTec e acadêmica do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Pelotas. 4 Bolsista CNPq do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBITI), integrante do Grupo de pesquisa CoCTec e acadêmica do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Pelotas. 5 Bolsista CNPq, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação, Universidade Federal de Pelotas. Integrante do Grupo de pesquisa CoCTec.

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Performances Interacionais e Mediações Sociotécnicas Salvador - 10 e 11 de outubro de 2013

UTILIZAÇÃO DO APLICATIVO INSTAGRAM COMO DISPOSITIVO

JORNALÍSTICO PARTICIPATIVO NO CONTEMPORÂNEO: MOSTRA DE UM

CASO.1

MARTINS, Antoniela Rodriguez2

GOMES, Marcela Lorea3

BANDEIRA, Mônica Oliveira Ramos4

CASTRO, Rodrigo Inacio5

Universidade Federal de Pelotas

Resumo: O trabalho objetiva problematizar o possível emprego do Instagram como um

dispositivo de produção de informações jornalísticas. Com base nos aportes teóricos do

jornalismo participativo e conceituações acerca dos Sites de Redes Sociais (SRS) foram

analisadas algumas imagens coletadas através de duas hashtags, posteriormente reunidas na

categoria/caso “alagamento da cidade de Pelotas” (Rio Grande do Sul - Brasil). O processo

metodológico é inspirado na Teoria Fundamentada (Grounded Theory), dividindo-se em três

etapas, com a utilização do site Statigram como Crawler. Os resultados indicam que ocorre a

produção de conteúdo jornalístico, porém os autores não possuem uma intenção jornalística

de captura das imagens, assim, observou-se que os instagrammers não desejavam informar

sobre o fenômeno, mas sim registrar o fato.

Palavras-chave: Jornalismo participativo; Sites de Redes Sociais (SRS); Instagram; Imagem.

Abstract: The paper aims to problematize the possible use of the Instagram app as a device

for the production of journalistic information. Based on the theoretical support of

participatory journalism and conceptualizations about Social Networking Sites (SNS) were

analyzed some images collected through two hashtags, subsequently assembled in the case

"water logging the city of Pelotas" (Rio Grande do Sul - Brazil). The methodological process

is inspired by Grounded Theory and broken into three stages of research, using the site

Statigram as a Crawler. The results indicate that there is the production of journalistic content,

but this productivity has no journalistic intention of information dissemination by the authors,

that way, it was observed that instagramers when capture the images did not wish to inform

about the phenomenon, but rather record the fact.

1 Artigo submetido ao NT 5 – Sociabilidade, novas tecnologias e práticas colaborativas de produção de conteúdo do

simpósio em tecnologias digitais e sociabilidade 2013 (SIMSOCIAL). Trabalho orientado pela Prof. Dra. Rosária Ilgenfritz

Sperotto, integrante do Programa de Pós-Graduação em Educação e Programa de Pós-Graduação em Ciências e Matemática,

Faculdade de Educação/FaE - UFPEL e líder do Grupo de pesquisa Comunicação, Cultura, Tecnologias e Modos de

Subjetivação (CoCTec) 2 Bolsista CNPq do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), integrante do Grupo de pesquisa

CoCTec e acadêmica do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Pelotas. 3 Bolsista FAPERGS do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PROBIC), integrante do Grupo de

pesquisa CoCTec e acadêmica do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Pelotas. 4 Bolsista CNPq do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBITI),

integrante do Grupo de pesquisa CoCTec e acadêmica do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Pelotas. 5 Bolsista CNPq, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação, Universidade Federal

de Pelotas. Integrante do Grupo de pesquisa CoCTec.

Keywords: Participatory Journalism; Social Networking Sites (SNS); Instagram; Image.

1 INTRODUÇÃO

A internet desencadeou algumas transformações, proporcionando a utilização do

contexto online como acionador de novos modos de aprendizagens e diferentes formas de

produção de informações e de conhecimento. Tais mudanças têm causado impacto

significativo nas sociabilidades dos indivíduos, uma vez que possibilita outras formas de

conexão e interações entre as pessoas. Dentro dessas modificações, o Jornalismo adaptou-se

às velocidades do fluxo informacional e aos novos meios de divulgação de noticias.

Uma das possibilidades contemporânea de propagação de notícias está na utilização

dos smartphones, os usuários desses gadgets6, através de diferentes aplicativos como, por

exemplo, o Instagram, podem capturar imagens e vídeos e postá-las na internet de forma

síncrona em diferentes Sites de Redes Sociais (SRS). Sendo assim, no momento em que o

instagramer7 publica uma foto, ocorre a divulgação da mesma e ele se torna um autor que

pode disseminar uma informação podendo vir, também, a conter caráter jornalístico,

consequentemente, o jornalismo passa a ser participativo. Entendemos a prática participativa,

segundo a ideia de Bowman e Willis (2003, p. 9), os quais definem o jornalismo participativo

como “o ato de uma pessoa, ou grupo de pessoas, atuar ativamente no processo de coletar,

reportar, analisar e disseminar notícias e informação”.

O presente trabalho problematiza o emprego do Instagram como um dispositivo de

produção de informações em uma cultura participativa dos ofícios do jornalismo.

Conceituamos dispositivo através da teorização de Peraya (1999), pois no contexto do qual

nos referimos o mesmo aparece como uma tecnologia, um sistema de relações sociais e um

sistema de representações (KLEIN, 2007). Para tanto analisaremos, através da prática de

lurking8, algumas imagens do caso “alagamento da cidade de Pelotas” (Rio Grande do Sul-

Brasil) que ocorreu no dia 20 de fevereiro de 2013. As imagens foram produzidas e postadas

pelos autores que utilizam o aplicativo, não sendo esses funcionários de qualquer equipe

jornalística da região.

6 Dispositivos tecnológicos 7 Usuário do Instagram. 8 Participação apenas como observados, sem nenhuma intervenção ativa.

2 CONCEITUAÇÃO E PROBLEMATIZAÇÕES ACERCA DOS SITES DE REDES

SOCIAIS (SRS)

A hipermodernidade9 possibilita outras formas de vida e hábitos aos sujeitos, um

exemplo são as relações através dos SRS, nesses surgem novas práticas que disseminam

discursos produtores de “verdades”. Segundo Henning (2013, p.40), “na contemporaneidade,

engendramos verdades e somos engendrados por elas”, pois vivemos em uma sociedade

marcada pelas tecnologias da comunicação. Dessa forma um SRS fornece estrutura para a

propagação desses discursos, além de mapear estilos, comportamentos e intercâmbios. Sendo

assim, “ao estudar as estruturas decorrentes das ações e interações entre os atores sociais é

possível compreender elementos a respeito desses grupos e, igualmente, generalizações a seu

respeito” (FRAGOSO, RECUERO E AMARAL 2011).

Recuero (2009) indica a possibilidade de expressão e socialização através da

Comunicação Mediada por Computador (CMC), não obstante, sabe-se que atualmente a

comunicação (re)configurou-se, sendo a internet o “trilho” que serve de meio para as

conexões entre os indivíduos. O próprio computador, na forma convencional como

conhecíamos, também vem se reconfigurando em diferentes gadgets, esses sincronizados aos

nossos SRS vinte e quatro horas por dia.

Mas o que seria uma rede social? Ou um SRS propriamente dito? Segundo Recuero

(2009), o próprio conceito de rede social é uma metáfora proposta na teoria das pontes de

Konigsberg por Leonard Euler;

Euler, em seu trabalho, demonstrou que cruzar as sete pontes sem jamais repetir um

caminho era impossível. Para tanto ele conectou as quatro partes terrestres (nós ou

pontos) com as sete pontes (arestas ou conexão), mostrando a inexistência da

referida rota e criando o primeiro teorema da teoria dos grafos. (RECUERO, 2009,

p.19).

Entendendo a metáfora da rede social é possível compreender metodologias que

estudam à Análise de Redes Sociais (ARS) na internet, pois estamos tratando de um modo de

interação presente em uma sociedade que se encontra cada vez mais estruturada como rede

(FRAGOSO, RECUERO E AMARAL, 2011).

Rodeghiero (2012) indica que ao entender a sociedade como rede (estruturas e

dinâmicas) consegue-se compreender as dinâmicas dos softwares e sites que priorizam as

9 Lipovetsky, 2011.

interações interpessoais através de perfis online presentes no ciberespaço. Wellman et al.

(1996), demonstram que um site ou software é caracterizado como um ambiente social

quando as redes de computadores conectam pessoas e máquinas. Já Boyd & Ellison (2007)

elencaram três requisitos que certificam um ambiente online como um SRS.

(1) Construir um perfil público ou semi-público dentro de um sistema limitado, (2)

articular uma lista de outros usuários com quem se compartilha uma conexão, e (3)

ver e percorrer a sua lista de conexões e aquelas feitas por outros dentro do sistema.

A natureza e nomenclatura dessas conexões podem variar de site para site. (BOYD

& ELLISON, 2007, p.1).

Atualmente o Brasil é o país que mais cresce em número de usuários do Facebook,

mais popular SRS do mundo. “Segundo números do site de consultoria Social Bakers, 3,6

milhões de brasileiros se cadastraram na rede social durante os últimos três meses –

crescimento de 5,4% em relação ao total de 66 milhões de usuários”10

Com base nesses dados

consegue-se visualizar que os brasileiros participam de forma ativa no contexto das redes

sociais online.

Cabe ressaltar que cada SRS possui suas ferramentas, finalidades e peculiaridades.

Dois exemplos de SRS com finalidades distintas são o Twitter e o Pinterest. O primeiro

possui semelhanças com as ferramentas presentes nos Blogs11

, porém com uma configuração

diferenciada. Dentro do microblog são permitidas postagens de apenas 140 caracteres

(atualmente ocorre à possibilidade de adição de fotos e localização do usuário) que respondem

a pergunta “o que está acontecendo?”, tornando assim as publicações mais dinâmicas e

instantâneas. Já o segundo é um SRS de compartilhamento de fotos e vídeos, semelhante a um

painel onde os usuários podem fixar (pins) imagens. Mesmo que cada SRS se diferencie uns

dos outros por suas dinâmicas, todos possuem uma delimitação dos objetos, bem como dados

de composição, estruturais e dinâmicos conceituados de forma comum, denominados dentro

do Estudo de Redes Sociais de propriedades dos dados (FRAGOSO, RECUERO E

AMARAL, 2011).

Para uma melhor compreensão das dinâmicas que serão apresentadas na análise do

trabalho faz-se necessário conceituar alguns elementos presentes no Estudo de Redes Sociais.

Dentro da delimitação dos elementos possuímos dois conceitos: Ator (nó) e conexão (aresta).

O primeiro pode ser representado por um perfil ou mesmo um dispositivo, neste caso “não são

10 http://goo.gl/ajhdb (acesso em 05 de março de 2013) 11 O Blog permite ao usuário postar textos, vídeos, imagens e links, bem como os sujeitos podem postar comentários sobre o

conteúdo, configurando assim o intercâmbio de opiniões.

atores sociais, mas representações dos atores sociais” (RECUERO, 2009, p.30). Segundo a

autora os nós presentes na rede social atuam “modelando” as estruturas sociais através das

interações.

Quando se trabalha com redes sociais na internet, no entanto, os atores são

constituídos de maneira um pouco diferenciada. Por causa do distanciamento entre

os envolvidos na interação social, principal característica da comunicação mediada

por computador, os atores não são imediatamente discerníveis. Assim, neste caso,

trabalha-se com representações dos atores sociais, ou com construções identitárias

do ciberespaço. (RECUERO, 2009. p.25).

Já o segundo pode ser “um link, uma quantidade de comentários, comentários

recíprocos, ‘amigos’ do sistema etc.” (FRAGOSO, RECUERO E AMARAL, 2011, p.119).

De forma geral as conexões são trocas sociais (comunicações/interações) que dão o

movimento a rede, sendo o principal foco de estudos dos SRS, pois caracterizam-se como o

processo comunicacional propriamente dito, do mesmo modo que são as matérias primas das

relações e laços sociais (RECUERO, 2009). A escolha dos elementos é muito importante,

devendo ser realizada com “cuidado pelo pesquisador diante de sua problemática de pesquisa

e sua abordagem do objeto” (FRAGOSO, RECUERO E AMARAL, 2011, p.119).

Nota-se que até a própria comunicação entre os sujeitos reconfigura-se no ciberespaço,

podendo ser síncrona, como se estivéssemos conversando com alguém em tempo real em

ambientes offline, ou ainda assíncrona, quando mandamos um e-mail ou deixamos uma

mensagem para alguém que irá verificar após algum tempo.

Quanto aos dados de composição, os mesmos tendem a ser utilizados por

pesquisadores que priorizem os estudos qualitativos. Dentre eles temos os laços sociais; são as

conexões estabelecidas entre dois ou mais nós, podendo ser classificados como fortes ou

fracos, variando conforme a magnitude e intimidade entre os atores. Mesmo a maioria das

pesquisas, principalmente as ligada ao consumo, deterem suas investigações nas relações

presente nos laços fortes, Recuero (2009, p.41) destaca o valor dos laços fracos, pois “são eles

que conectam os grupos, constituídos de laços fortes, entre si”.

Também temos, ainda dentro da qualidade da conexão, o capital social; Segundo

Fragoso, Recuero e Amaral (2011), pode ser entendido como o conjunto de valores criado por

um grupo. As autoras denominam como os recursos de um determinado grupo, usufruídos por

todos e baseado na reciprocidade. É importante se ter em mente que o capital social se da

através das interações, porém, não é a interação em si (RECUERO, 2009).

Recuero (2009) no traz três pilares problematizados sobre o capital social; Relações

sociais, reciprocidade e conteúdo. Sendo assim, é necessário estudar as relações que envolvem

esse capital, e igualmente, o conteúdo dessas.

Podemos, assim, perceber que a construção de capital social não é inteiramente

emergente, mas também uma consequência da apropriação social das ferramentas de

comunicação na internet. Essa apropriação é capaz de gerar tipos de capital social de

primeiro nível, o mais básico e mais voltado aos indivíduos, o que é típico das redes

de filiação12

. Já o capital social de segundo nível, mais característico de redes

emergentes13

, demanda maior investimento e maior contato entre os atores sociais.

Por conta disso, nem sempre é encontrado nos sites de redes sociais. (RECUERO,

2009. p.115).

A autora salienta o caráter multiplexo da rede, definindo a multiplexidade como a

“medida dos diferentes tipos de relação social que existem em uma determinada rede”

Recuero (2009, p.77). Também pode ser definida como os diversos tipos de capital social nas

interações entre os atores de uma rede. “Imaginemos, por exemplo, que um determinado ator

A utiliza o Orkut, o Google Talk e o Twitter para manter uma conexão com outro ator B. Essa

variedade de plataformas poderia indicar uma multiplexidade do laço” (RECUERO, 2009,

p.77).

Outro aspecto das interações presentes nos SRS são as apropriações feitas pelos atores

sociais constituintes do contexto online. Recuero (2009), destaca o aparecimento frequente de

comportamentos emergentes nesses ambientes, tais como a construção de identidades nas

comunidades do Orkut, sendo assim uma “forma de construir uma perspectiva de quem se é

no sistema” (RECUERO, 2009, p.91).

Dessa forma as redes sociais online “são quase sempre, mutantes e tendem a

apresentar comportamentos criativos, inesperados e emergentes” (RECUERO, 2009, p.92).

Cabe resaltar a existência de muitas subdivisões dos conceitos descritos, da mesma maneira,

existe inúmeros outros que não foram expostos no presente trabalho.

3 INSTAGRAM

O Instagram é um aplicativo desenvolvido por Kevin Systrom e Mike Krieger em

outubro de 2010, ambos formados pela universidade de Stanford. Dentre as características

marcantes do aplicativos estão; Layout simples, dinâmicas intuitivas, edições rápidas de

fotografias e vídeos, possibilidade de uso de imagens capturas diretamente com a câmera,

12 A autora define como rede de filiação as redes das quais o sistema mantém o laço (normalmente fraco) entre os atores,

onde as interações são reativas como, por exemplo, o ato de adicionar um amigo no Facebook. 13 As redes emergentes são mantidas por relações dialógicas, constantes e duradouras entre os atores/nós (RECUERO, 2009).

bem como de imagens presentes na galeria, captura e postagem de vídeos curtos (15

segundos), sistema de “tagueamento”14

(hashtag), adição de localização nas imagens e

compartilhamento do material publicado em outros SRS.

O aplicativo Instagram foi desenvolvido especificamente para smartphones e tablets

com o sistema operacional iOS, desenvolvido pela Apple Inc15

. Posteriormente, em abril de

2012, o uso do aplicativo foi estendido para outro sistema operacional; Android, desenvolvido

pela Open Handset Allience, conduzida pela empresa Google16

. No primeiro dia em que o

aplicativo foi disponibilizado para o Android já alcançou a marca do primeiro milhão, sendo

atualmente, metade dos usuários ativos do Instagram utilizadores desse sistema17

.

O instagram encontra-se entre os aplicativos com maior número de downloads da lista

de conteúdos gratuitos da Google Play18

, bem como na App Store19

. No ano de 2013, em

cerca de um mês, dez milhões de usuários ativos ingressaram no serviço totalizando

atualmente mais de 130 milhões de usuários20

. São aproximadamente 16 bilhões de fotos

compartilhadas, um bilhão de curtidas e 45 milhões foto por dia21

. O site Marketo22

disponibilizou um infográfico contendo alguns dados demográficos sobre o perfil dos

usuários do aplicativo Instagram. Esses sendo 55% do sexo feminino e 45% do sexo

masculino, a maioria entre 18 e 24 anos (34%) e a minoria entre 45 e 55 anos (5%)23

.

Em abril de 2012 o Facebook anunciou a compra do Instagram pela quantia de um

bilhão de dólares, logo, o Instagram passou a fazer parte da equipe da empresa, entretanto a

coordenação do aplicativo manteve-se com os fundadores e equipe originais. Apesar do

Instagram ser direcionado em primeira instancia para smartphones e tablets, ou seja, a cultura

14 Neologismo advindo da palavra “tag” do inglês etiqueta, ou seja, marcações. Dessa forma as hashtags caracterizam-se

como um sistema que cria hiperlinks por tematicas dentro de alguns SRS. 15 Empresa norte-americana que produz e comercializar produtos eletrônicos de consumo, softwares, computadores

smartphones e tablets (www.apple.com). 16 Empresa com foco em mecanismos de busca online de informações. Atualmente a empresa Google possui diversos web-

softwares, serviço de e-mail e rede social própria. (www.google.com). https://www.google.com.br/about/company/products/

(acesso em 30 de abril de 2013). 17http://tecnologia.terra.com.br/internet/apos-um-ano-instagram-tem-metade-dos-usuarios-

usandoandroid,47d4b1a7925dd310VgnVCM20000099cceb0aRCRD.html (acesso em 08 de abril de 2013). 18 Loja de aplicativos do sistema operacional Android. https://play.google.com/store (acesso em 23 de março de 2013). 19 Loja de aplicativos para aparelhos com o sistema operacional IOS. https://itunes.apple.com/br/genre/ios/id36?mt=8 (acesso

em 23 de março de 2013) 20 http://www.tecmundo.com.br/instagram/41078-instagram-tem-130-milhoes-de-usuarios-ativos-todos-os-meses.htm (acesso

em 27 de junho de 2013) 21 Cabe lembrar que esses valores crescem diariamente, sendo impossível registrar em um trabalho acadêmico o numero

exato, pois a poucas horas esses já são outros. Pode-se realizar o acompanhamento desses dados no site oficial do aplicativo.

http://instagram.com/press (acesso em 2 de julho de 2013) 22 http://www.marketo.com 23 http://blog.marketo.com/blog/2013/03/what-your-instagram-filter-says-about-you-infographic.html (acesso em 8 de abril

de 2013).

mobile24

, muitos sites possibilitam a visualização do perfil dos usuários (quando públicos)

através da web desktop25

, entre eles; Instagrid, Printstagram e Statigram26

. Além da

visualização do perfil os instagramers contam com uma série de outros serviços que não

encontram no próprio aplicativo como, por exemplo, o acompanhamento estatístico de suas

postagens.

No dia 5 de novembro de 2012 a equipe do Instagram anunciou a criação de sua

página oficial no formato web27

. Nessa página é visível a Bio dos usuários (pequena descrição

dos mesmos), fotos, número de seguidores/seguindo e capa onde são mostradas de forma

sequencial as imagens recentes. As possibilidades de interações são; curtir, comentar e seguir

outros perfis. O feed de notícias (página inicial) foi liberado em 5 de fevereiro de 2013. As

postagens de fotos são feitas exclusivamente pelos smartphones e tablets.

Verifica-se que mesmo se o aplicativo tivesse sido desenvolvido para desempenhar

uma tafera especifica, fotografar, filmar e editar essas imagens com a adição de filtros28

, hoje

ele comporta-se como um SRS, quer dizer, um “espaço de expressão e de construção de

impressões” (RECUERO, 2009, p.29). Muitos “gurus” das tecnologias justificam o grande

sucesso do Instagram devido a essas características sociais, uma vez que a captura de imagens

e posterior edição não foi algo inovador no contexto mobile. São apropriações do caráter

social do aplicativo Instagram o foco do presente trabalho, no próximo tópico abordaremos as

mesmas, linkando com algumas práticas jornalísticas presente no contexto online.

4 JORNALISMO PARTICIPATIVO

No aplicativo Instagram o material publicado pode ser interpretado de diversas formas,

sendo que os usuários desse serviço têm a possibilidade de registrar um fato no instante em

que ocorre, muitas vezes tornando-se o principal nó transmissor de uma notícia. No

jornalismo Participativo os conteúdos, que normalmente não possuem edição, mostram a

realidade, denunciam ou expõem o que muitas vezes a mídia não reproduz. Conforme Primo e

Cassol, 1999, através da interatividade, um dos pilares do Jornalismo Participativo, os

24 Cultura mobile neste trabalho refere-se às sociabilidades presentes entre os usuários de dispositivos móveis (smartphones e

tablets). 25 Internet acessada através dos computadores de mesa. 26 Respectivamente: http://new.instagrid.me , http://printstagr.am e statigr.am 27 http://blog.instagram.com/post/35068144047/announcing-instagram-profiles-on-the-web (acesso em 25 de março de 2013). 28 Os filtros são alterações de luz e cores que podem ser aplicados nas imagens de forma pré-programada em busca de um

efeito, ou mesmo o resgate da qualidade de uma câmera fotográfica.

usuários dos SRS tem a oportunidade de transmitir as notícias de outro modo. Ao postarem e

compartilharem fatos dos acontecimentos cotidianos, retratados através de imagens e vídeos

dos problemas ou necessidades da comunidade na qual vivem, esses mostram uma visão

alternativa que traz a possibilidade de diferir da visão dada as notícias divulgadas pelas fontes

oficiais de informação.

Existem muitos termos para designar o formato de transmissão de informações

caracterizado pela interação de pessoas que não possuem formação jornalística. Alguns dos

termos mais utilizados são: jornalismo cidadão (citizen journalism), jornalismo participativo,

grassroots journalism, e jornalismo open source (fonte aberta). O termo citizen journalism é o

mais utilizado para a versão web. Entretanto, nos estudos acadêmicos o termo mais utilizado é

participatory journalismo (jornalismo participativo).

Como afirma Träsel (2007, p.6), o jornalismo participativo assume “papel

complementar ao jornalismo profissional”. Sendo assim, mesmo nos casos em que é

constituído inteiramente por amadores, forma composições que coexistem com o

território jornalístico. Elas não eliminam ou superam a sua importância e as suas

fronteiras, mas podem modificá-las. Nos sistemas colaborativos se desenvolve um

trabalho em comum entre interagentes, que atuam juntos para dar sentido a um todo.

Assim, ocorre a mobilização da coletividade, que se mantém apoiada no auxílio

mútuo. (BELOCHIO, 2009, p.57)

Dessa forma, através do Jornalismo Participativo os sujeitos encontram ferramentas e

a oportunidade de atuar de forma ativa na produção de informações, essas contendo caráter

jornalístico, ou seja, a noticia propriamente dita. Pode-se interagir com uma matéria por meio

de comentários, acessar hiperlinks sugeridos pelo autor e ainda divulgar em SRS através da

prática de postagem e compartilhamento, produzindo ele mesmo a notícia ou atuando como

um nó propagador da mesma. A participação dos usuários em Sites, SRS, Blogs, aplicativos e

outros veículos de informações alterou a rotina de produção das notícias nos meios de

comunicação, hoje esses encontram-se abertos a opiniões e intervenções, realizam enquetes e

convidam o leitor a prática de construção das notícias.

Primo e Träsel (2006) destacam que os primeiros periódicos a percorrerem a Web

mantinham demarcada a barreira entre a redação/edição de notícias e os internautas (leitores).

A abertura de sites noticiosos à construção participativa de notícias e ao debate das mesmas

levanta novas questões, não apenas sobre o webjornalismo, mas também exige discussões em

torno do sistema de produção e dos próprios ideais jornalísticos:

Novas formas de participação vêm sendo oferecidas no webjornalismo, chegando ao

limite de ampla e irrestrita redação e edição por parte de qualquer pessoa com acesso

à rede. Abre-se, assim, espaço para a interação mútua (Primo, 2004), na qual o

desenvolvimento do processo interativo é negociado entre os participantes. Neste

caso, o relacionamento desenvolvido entre os interagentes têm um impacto recursivo

sobre a interação, seus participantes e produtos. (PRIMO e TRASEL, 2006: 9).

Como dito anteriormente, um dos pilares do jornalismo participativo, é a

interatividade, segundo Steuer (APUD PRIMO E CASSOL, 1999) é a extensão em que os

usuários podem participar, fazendo modificações na forma e no conteúdo de um ambiente

mediado em tempo real. Através da interatividade os sujeitos têm a oportunidade de estarem

mais próximos das rotinas de produção da mídia. Logo, “em vez de falar sobre produtores e

consumidores de mídia como ocupantes de papeis separados, podemos agora considerá-los

como participantes interagindo de acordo com um novo conjunto de regras, que nenhum de

nós entende por completo”. (JENKINS, 2009, p.30). À vista disso, o presente trabalho, além

da análise de um caso de Jornalismo Participativo, objetiva problematizar parte desse

conjunto de regras descrito pelo autor. Com esse movimento de ideias pretende-se fomentar

as discussões acerca dos modos contemporâneos de produção e propagação de notícias.

5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Devido ao fato do Instagram se tratar de um dispositivo relativamente novo, encontra-

se algumas dificuldades quanto aos processos metodológico de pesquisa, tendo em vista que

não existe uma metodologia especifica para o mesmo, ou qualquer outro aplicativo. Sendo

assim, a teorização presente nos Estudos de Redes Sociais, aliada aos conceitos advindos da

Teoria Fundamentada ou Grounded Theory (FRAGOSO; RECUERO; AMARAL, 2011),

trouxeram elementos para a criação de um desenho metodológico para o trabalho. Realizou-se

três etapas de pesquisa com a utilização do site Statigram, uma das formas possíveis de

visualização dos perfis presentes no Instagram através da web desktop. O site funcionou como

um Crawler29

, onde no sistema de busca do Statigram foi digitada a palavra “Pelotas” (Nome

da cidade a qual estamos investigando), nesse sistema são fornecidos os nomes de usuários e

hashtags30

que contenham a palavra ou derivados da mesma.

O foco de pesquisa foram as hashtags, pois por meio delas seriam expostos os

hiperlinks contendo a seleção de imagens. A primeira busca gerou um total de vinte hashtags

29 “Também chamados de spiders e bots, os crawlers são programas que rastreiam hipertextos como a web, passando de um

documento a outro através dos hiperlinks e armazenando dados sobre os nós percorridos e suas conexões.” (FRAGOSO;

RECUERO; AMARAL, 2011). 30 Hashtags tem origem na palavra “tag” do inglês etiqueta, ou seja, marcações online. Normalmente nos SRS as mesmas

vêm acompanhadas da cerquilha (#).

(Tabela 1). De posse desses hiperlinks iniciou-se a segunda etapa de pesquisa. Foram

revisados todos os links e selecionadas de forma qualitativa as imagens para a análise. Com

base nos dados fornecidos pela segunda etapa optou-se por direcionar o foco da investigação

para duas hashtags: #Pelotas e #PelotasPic, pois com as demais não obteve-se imagens que se

enquadrassem dentro do conceito presente no Jornalismo Participativo.

Na terceira etapa de pesquisa realizou-se a categorização das imagens selecionadas na

segunda etapa. Trabalhou-se com a formação de grupos devido à diversidade de temas

presentes nas diferentes imagens. Partiu-se de um desenho inicial do processo metodológico

de pesquisa, porém o mesmo foi se reconfigurando ao longo da própria investigação com base

nos dados surgidos nas buscas.

Tabela 1: Hashtags encontradas na primeira etapa de pesquisa.

Hashtags Número de imagens por hashtag

#Pelotas 4287

#PelotasPic 301

#pelotas200anos 105

#pelotasrs 78

#pelotaso 25

#pelotasuiza 11

#pelotaseuteamo 7

#pelotassilenciosa 6

#peloras_rs; #pelotasso 5

#pelotasdetennis 4

#pelotascolonial; #pelotasboii;

#pelotasdegoma; #pelotass;

#pelotasdecolores; #pelotasdeplaya.

3

#pelotasaltarina; #pelotasss;

#pelotasuave

2

6 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Partindo da palavra “Pelotas” foram encontradas vinte hashtags totalizando 4.855

imagens, sendo as selecionadas para o trabalho categorizadas nas seguintes temáticas:

campanhas eleitorais, passeata em prol dos familiares das vitimas do incêndio na boate Kiss

ocorrido na cidade de Santa Maria, condições climáticas, atividades esportivas e imagens

relacionadas ao alagamento que ocorreu na cidade de Pelotas no dia 20 de fevereiro de 2013.

Devido aos limites de um artigo realizou-se uma análise das onze imagens referentes à última

categoria citada, deste modo, uma mostra de um dos casos. Todas as imagens são

provenientes das hashtags #Pelotas e #PelotasPic, sendo a primeira com um total de 4.278

fotos e a segunda com 301 fotos31

. O número de imagens na primeira hashtag deu-se devido à

multiplicidade de sentido da palavra, uma vez que a mesmo encontra-se também no idioma

espanhol.

O caso do qual vamos nos aprofundar no presente trabalho, segundo o site do Jornal

Diário Popular (online32

), causou transtornos à população devido ao alagamento da cidade de

Pelotas, onde vários pontos da região registraram problemas no escoamento da água. De

acordo com o pronunciamento do Corpo de Bombeiros, a chuva registrada chegou a 32

milímetros entre as 8h e às 17h, segundo informações da Defesa Civil, durante as 48 horas de

ocorrência do fenômeno já havia chovido 82 milímetros, o que equivale a 63% do total

previsto para todo o mês de agosto de 2013. A chuva atingiu seu ápice entre as 12h30min e às

14h30min, intervalo no qual várias ruas e avenidas ficaram completamente alagadas. A

situação ganhou repercussão nos SRS, fotos e vídeos capturados por moradores circularam

mostrando a dimensão dos problemas ocasionados pela chuva.

Dentre os SRS, o aplicativo Instagram já está sendo utilizado por alguns veículos

jornalísticos, como exemplifica Teixeira (2012) ao relatar algumas práticas da equipe de

imagem na criação de missões e publicação de conteúdos colaborativos nas redes sociais

online no Jornal do Comércio:

O aplicativo Instagram funciona como uma ferramenta para agrupar o material

jornalístico enviado pelos internautas/leitores, servindo ainda como base noticiosa.

As peculiaridades de múltiplos olhares em relação a um fato, o registro do inusitado,

a notícia, fazem parte do material publicado via Instagram. Um aspecto a ser

considerado é o estímulo à prática do jornalismo cidadão, por meio do qual os

conteúdos compartilhados mostram aspectos da realidade cotidiana, na produção de

imagens sobre eventos, problemas ou necessidades da comunidade na qual vivem os

usuários da rede social. (TEIXEIRA, 2012. p.6)

31 Coleta em fevereiro de 2013. 32 Jornal mais antigo do Rio Grande do Sul e o terceiro do Brasil com circulação diária ininterrupta na Pelotas – Rio Grande

do Sul. http://www.diariopopular.com.br (acesso em 20 de julho de 2013).

As imagens coletadas no caso do alagamento da cidade de Pelotas fazem parte do

conceito de cultura participativa descrito pela autora, pois está vinculada “a produção de

conteúdos próprios e a incorporação desses na difusão de informações.” (TEIXEIRA, 2012,

p.7). Porém, tal produção de conteúdo não possui uma intenção jornalística de difusão das

informações, isto é, os instagrammers ao capturarem as imagens não desejam informar sobre

o fenômeno, contudo demostram uma intencionalidade de registro dos mesmos, nesse caso as

situações de alagamento na região. Evidencia-se esse fato através das legendas presentes nas

imagens, por exemplo, quando o autor cita: “Barquinhos navegando pela cidade!” (Figura 4).

O teor jornalístico da informação veiculada pela imagem acaba sendo secundário ao próprio

ato de fotografar o fenômeno.

Ratifica-se em outras legendas que os autores não possuem a intenção de noticiar um

fato. Na legenda “Pra variar” (Figura 1) percebe-se que o fenômeno não é inédito na cidade.

Em contrapartida, observa-se na descrição: “10 anos aqui e nunca vi disso...” (Figura 5) o

espanto de outro autor com o ocorrido. Apesar de todas as imagens tratarem do mesmo fato,

encontra-se diferentes pontos de vista e intensidades na transmissão da informação através das

postagens no Instagram. Sendo assim, os autores além da publicação visual, ou seja, das

imagens, também imprimem suas opiniões ao postarem uma foto no SRS. As imagens

postadas, quando aliadas a uma legenda ou a uma hashtag, assumem outros significados.

Ainda dentro da análise de algumas legendas, observa-se na Figura 2, caracterizada

pela grande quantidade de água acumulada nas vias de um bairro da cidade, a forma irônica

de escrita: “Nem choveu em Pelotas II”. Essa figura de linguagem, que consiste em dizer o

contrário daquilo que se pensa, é utilizada muitas vezes pelos autores com a finalidade de

denunciar, criticar, ou mesmo censurar algo de maneira a convidar o leitor a refletir sobre o

tema presente na imagem. Caso semelhante ocorre na Figura 3, nessa revela-se um cenário

parecido com o presente na Figura 2, entretanto a legenda “A rua virou um lago gigantesco”

pode caracterizar-se como outra figura de linguagem, a hipérbole, sendo essa expressada por

uma ideia exagerada de uma fato, com o objetivo de chamar a atenção do leitor para a

informação que deseja-se transmitir, porém ainda sem a intenção jornalística do autor.

Na Figura 6 o autor utilizou o recurso de fotocolagem, no entanto o Instagram não

possui esse processo de edição, contudo pode-se postar fotos diretamente da galeria dos

gadgets, essas já editadas em diferentes aplicativos. A fotocolagem pode ser uma forma de

mostrar diferentes ângulos ou uma sequência dos fenômenos capturados. Observa-se que

nessa imagem o autor optou por não adicionar legenda, mas faz uso de diversas hashtags. No

jornalismo participativo é comum o uso de hashtags no chamado crowdsourcing, segundo

Nieles (2012);

Em jornalismo o crowdsourcing compreende a utilização de um grande grupo

de leitores para narrar um fato jornalístico. “Tal prática difere do tradicional

processo de reportagem no sentido de que a informação obtida não é coletada

manualmente, por um repórter ou uma equipe jornalística, mas através de

algum agente automatizado, como um website”. (NILES, 2012, APUD

TEIXEIRA, 2012, p.6).

Desta forma, a formação de hiperlinks, através da adição de diferentes hashtags nas

legendas das imagens postadas no aplicativo Instagram, caracteriza-se como um agente

automatizado de informações organizado por temáticas especificas.

Figura 1: Pra variar #pelotas Figura 2: Nem choveu em Pelotas II #pelotaspic

Figura 3: A rua virou um lago gigantesco! Figura 4: Barquinhos navegando pela cidade!

Performances Interacionais e Mediações Sociotécnicas Salvador - 10 e 11 de outubro de 2013

Figura 5: 10 anos aqui e nunca vi disso… #pelotas Figura 6: #instacollage#pelotas

#chuva#help#muita_agua#u

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se, com base na mostra do caso “alagamento na cidade de Pelotas” ocorrido

no dia 20 de fevereiro de 2013, a produção de conteúdo jornalístico, porém essa produtividade

ocorre sem uma intenção jornalística de difusão das informações por parte dos autores das

imagens. Observou-se que os instagrammers ao capturarem as imagens não desejavam

informar sobre o fenômeno, mas sim registrar o fato. Dessa forma, a informação existe, porém

toma um caráter secundário quanto ao registro fotográfico e a descrição das legendas. Essas

pistas nos remetem a importância da participação dos sujeitos, através dos SRS, na construção

da noticia no contemporâneo, pois com esses dispositivos indexadores...

Permite que seja colocado em prática o jornalismo cidadão, colaborativo, no qual o

internauta mostra os problemas de sua comunidade, por exemplo, em uma relação

com o valor da notícia que difere da normalmente adotada pelas grandes redações

jornalísticas. Aproxima-se da realidade vivida, do cotidiano, das necessidades de

indivíduos, comunidades, bairros, cidades. (TEIXEIRA, 2012. p.12).

Por fim, ratifica-se a importância das legendas para o sentido que se pretende dar as

imagens postadas no aplicativo Instagram, uma vez que o conteúdo presente nessas, bem

como as marcações por meio das hashtags, podem modificar o sentido das imagens nos SRS.

Citamos alguns estudos problematizando o uso do Instagram pelos veículos jornalísticos,

porém conclui-se o trabalho com a indicação da necessidade de maior apropriação dessas

empresas sobre as sociabilidades e os fluxos informacionais presentes nesse, uma vez

observado que os modos de transmissão das informações vêm se reconfigurando no

contemporâneo.

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