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V-020- ESTUDO DA EVOLUÇÃO DA INFRA-ESTRUTURA SANITÁRIA NA CIDADE DO SALVADOR – BAHIA: prospecções de futuro para uma efetiva gestão de cidade Rita de Cássia Couto Oliveira(1) Engenheira. Pós Graduada em Planejamento e Administração de Recursos Ambientais (PNUMA/UCSal); Saúde Pública (UNAERP); Gestão Ambiental, com especialização em Auditoria e Qualidade Ambiental (UCSal); Gestão Empresarial (FGV). Doutoranda em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional (Univ. de Barcelona). Vivências em construção e auditorias de Agendas 21 Locais/Regionais, no Estado da Bahia. Ex-Gestora de RH e da Universidade Corporativa da EMBASA. Auditora Interna. Celina Alda de Oliveira Fonseca Bacharel em Direito. Pós-Graduada em Gestão Ambiental, com especialização em Auditoria e Qualidade Ambiental (UCSal); Saúde Pública (UNAERP). Extensão nas ar. eas de Qualidade; Meio Ambiente (Educação, Planejamento, Avaliação de Impacto, Auditoria, Direito); Direito; Sistemas de Gestão (Qualidade, Ambiental). Vivências em construção e auditorias de Agendas 21 Locais/Regionais, no Estado da Bahia. Assessora Jurídica Ambiental da UNEB – Campus II – Departamento de Educação. Endereço(1): Rua do Futuro, 19 - Itapoan. Salvador – Bahia. CEP: 41.610-310 - Tel: (71) 249-6146; (71) 9126-7992 e-mail: [email protected]; [email protected]; [email protected] RESUMO O propósito é construir referências capazes de emanar a força de integrar pessoas nos processos de tomadas de decisão, na busca permanente da qualidade de vida do maior número possível de Seres. Percebemos que o ritmo desencontrado de urbanização vem mudando as ações e relações das pessoas entre si, com as coisas e com a natureza que as sustenta, e assim, transformam as cidades em conglomerados urbanos, marcadas pela

V-020- ESTUDO DA EVOLUÇÃO DA INFRA-ESTRUTURA … · desatenção humana que causa o descompasso entre o crescimento populacional e a capacidade de planejamento do Poder. Tudo isto,

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V-020- ESTUDO DA EVOLUÇÃO DA INFRA-ESTRUTURA SANITÁRIA NA CIDADE DO SALVADOR – BAHIA: prospecções de futuro para uma efetiva gestão de cidade Rita de Cássia Couto Oliveira(1) Engenheira. Pós Graduada em Planejamento e Administração de Recursos Ambientais (PNUMA/UCSal); Saúde Pública (UNAERP); Gestão Ambiental, com especialização em Auditoria e Qualidade Ambiental (UCSal); Gestão Empresarial (FGV). Doutoranda em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional (Univ. de Barcelona). Vivências em construção e auditorias de Agendas 21 Locais/Regionais, no Estado da Bahia. Ex-Gestora de RH e da Universidade Corporativa da EMBASA. Auditora Interna. Celina Alda de Oliveira Fonseca Bacharel em Direito. Pós-Graduada em Gestão Ambiental, com especialização em Auditoria e Qualidade Ambiental (UCSal); Saúde Pública (UNAERP). Extensão nas ar. eas de Qualidade; Meio Ambiente (Educação, Planejamento, Avaliação de Impacto, Auditoria, Direito); Direito; Sistemas de Gestão (Qualidade, Ambiental). Vivências em construção e auditorias de Agendas 21 Locais/Regionais, no Estado da Bahia. Assessora Jurídica Ambiental da UNEB – Campus II – Departamento de Educação. Endereço(1): Rua do Futuro, 19 - Itapoan. Salvador – Bahia. CEP: 41.610-310 - Tel: (71) 249-6146; (71) 9126-7992 e-mail: [email protected]; [email protected]; [email protected] RESUMO O propósito é construir referências capazes de emanar a força de integrar pessoas nos processos de tomadas de decisão, na busca permanente da qualidade de vida do maior número possível de Seres. Percebemos que o ritmo desencontrado de urbanização vem mudando as ações e relações das pessoas entre si, com as coisas e com a natureza que as sustenta, e assim, transformam as cidades em conglomerados urbanos, marcadas pela

desatenção humana que causa o descompasso entre o crescimento populacional e a capacidade de planejamento do Poder. Tudo isto, num exame da equação gerada pela demanda de serviços e infra-estrutura adequados para acolher. A organização espacial das cidades se configura em cenários contrastantes, onde as personagens vêem-se em espaços urbanos fragmentados, de ambientes ecologicamente diversos, desencadeando segregação e desigualdades. No universo da higiene e salubridade ambiental, as redes de infra-estrutura sanitária formam teias de fluxos subterrâneos de energia que desempenham um papel fundamental na vida da cidade. Nessa via, os serviços essenciais de água e esgoto destinam-se a sanear o meio ambiente, num ciclo de aproveitamento de nutrientes que devem despertar nas pessoas a verdadeira natureza da intervenção higiênico-sanitária, e estimular a sensação individual e coletiva da responsabilidade solidária do bem-estar social. Investigar geograficamente a evolução seqüencial das redes físicas de água e esgoto da Cidade do Salvador, no período compreendido entre 1850 e 2000, em observância ás forças históricas e a fatores físicos, biológicos e sociais ao tempo condicionantes, é o objeto deste trabalho de pesquisa. Analisar o nível de abrangência do atendimento às funções primárias das redes de saneamento básico e compreender as relações sutis das dimensões politico-institucionais, técnico-operacionais, sócio-culturais e econômico-ambientais decorrentes do processo evolutivo observado - são os objetivos deste estudo. Ousar abstrair pontos de sensibilidade e de ruptura do sistema implantado, que sirvam de referências para construção de matrizes de decisão futura e. assim, também participar do desenvolvimento sustentável, é a prospecção. PALAVRAS-CHAVE: Higiene, Água e Esgoto, Redes de Infraestrutura, Pontos de Referência, Matrizes de Decisão, Qualidade de Vida, Desenvolvimento Sustentável. INTRODUÇÃO O mundo mudou. As transformações fazem-se urgentes. O homem é chamado por toda a sua inteligência a serviço do interesse individual e coletivo de sobrevivência. A cidade é um espaço que se pressupõe seguro, ‘palco de encontros’ onde se processam as relações dos seres entre si, dos seres com as coisas e com a natureza que nos sustenta, permitindo realizar o ambiente que se quer viver. Líderes lúcidos, atentos aos direitos e deveres do povo, proclamam a participação e estimulam a solidariedade, capazes de afastar dos seres o sofrimento e aproximá-las da feliz...cidade. A Etologia preconiza que a evolução acontece na espécie e não nos indivíduos, sendo o ‘ambiente natural’ aquele onde se processa essa evolução. Considerando que, atualmente, quase três bilhões de pessoas, cerca de metade da população mundial, vivem em cidades, qual será então, a natureza do ambiente urbano, onde a espécie humana se desenvolve? O ambiente urbano é o resultado do fluir de forças históricas - decorrentes da ação natural e humana - que delineiam espaços geográficos diferenciados, quase sempre pela prepotência e preconceito humanos. Esses espaços delimitam fronteiras político-administrativas e imprimem características próprias - ambientais, econômicas, sociais e culturais. Dentro dessa limitação os meios urbanos constituem-se, portanto, numa realidade espacial,

impregnada de história, onde ocorrem os assentamentos humanos e toda rede de relações, responsáveis pelas transformações do ambiente em que se vive. Não obstante as razões - se por sonho de um viver melhor ou por esperança de sobreviver- o permanente deslocamento de massas humanas, do meio rural para o urbano e ou das cidades menores para maiores, impacta diretamente nas redes de infra-estrutura existentes, que na ausência de um planejamento urbano adequado, entram em colapso, ampliam desigualdades e resultam em catástrofes de toda espécie. A ocupação desordenada do sitio urbano vincula-se às dinâmicas da pobreza de grande parte da população. As populações mais pobres acabam por ocupar os fundos de vales, encostas Íngremes, áreas de proteção de mananciais, e outros locais desprovidos de infra-estrutura sanitária. Esse processo de ocupação gera grandes despesas decorrentes da inobservância da vigilância ambiental, tanto com processos de desapropriações, quanto com processos de despoluição e até mesmo de saúde, que poderiam ser facilmente evitados. Hoje, presenciamos a morte de nossos rios urbanos e todas as nossas represas invadidas, até mesmo pela população de classe alta. Epidemias há séculos erradicadas, ressurgem no mundo, especialmente nos países em desenvolvimento e ou subdesenvolvidos. Doenças como a cólera, a dengue, etc., aguça o sentimento de que não existem fronteiras para as questões ambientais. Expande-se a compreensão da importância do saneamento básico, enquanto instrumento de prevenção a doenças, preservação da saúde, salubridade e conservação ambiental. Amplia-se a consciência de que ações individuais ou isoladas são esforços inúteis, inconsistentes, na busca da salubridade ambiental, sendo fundamental a atuação efetiva das autoridades públicas, para uma efetiva gestão das cidades, agindo sobre todo território e seus indivíduos, através de políticas e ações integradas de recursos hídricos, saneamento, saúde pública, meio ambiente, educação e desenvolvimento urbano. O custo dos serviços de saneamento é extremamente majorado em função da ocupação irracional do espaço urbano. A localização dos empreendimentos, os padrões de assentamento e consumo, bem como o conhecimento da capacidade de suporte dos sítios, tanto em relação à disponibilidade de água, quanto à capacidade de assimilação dos corpos receptores, no que tange à carga poluidora do destino final dos resíduos sólidos e ou líquidos, são fundamentais para o adequado planejamento territorial. Tanto a oferta quanto a adequação dos serviços de saneamento, estão intimamente relacionados e condicionados à conservação da natureza e em especial, à proteção e preservação dos mananciais e das suas faixas de domínio. Saneamento inadequado é um dos principais agravos à saúde e ao meio ambiente que a população urbana do terceiro mundo enfrenta até hoje. O déficit dos serviços de saneamento básico - tanto ao nível de cobertura, quanto á defasagem entre a oferta dos serviços de água e esgotos - sinaliza uma inadequação da estrutura sanitária, principalmente quando confrontados com a sua finalidade primária de promover a salubridade do meio, tendo em foco a saúde global dos espaços urbanos e de suas populações.

Entendemos nesse estudo as fronteiras como limites do sistema, que embora tenham o marco de uma existência física, podem ser apenas uma delimitação imaginária. Para a etologia, por exemplo, a fronteira que separa o indivíduo do social é tão somente a frágil pele humana. Observa-se ainda que nas questões ambientais as fronteiras que separam os povos - as diversas áreas de uma cidade, e até mesmo unidades regionais, países e continentes - são imaginárias, atingindo a todos, independente de classe econômica e estrato social a que pertençam, o resultado das trans-inter-multirelações dos seres. Geográficamente, una frontera político-administrativa podría considerarse una catástrofe, por la discontinuidad que produce en el espacio, comportando un cambio de régimen administrativo, eventualmente de lengua, moneda, etc., y ello de una manera brusca, sin gradación espacial. Javier MARTÍN-VIDE, 1993-94 As fronteiras que estabelecem distâncias sócio-econômico-ambientais, que separam as coletividades, ou ainda que contribuam para o desigual e insustentável desenvolvimento entre as várias regiões político-administrativas dentro de uma mesma cidade, resultando na ampliação do vazio que separa as pessoas nessa crescente desigualdade social - é a preocupação prima neste estudo. Nesse pensar as redes de infra-estrutura sanitária, objeto deste trabalho, se inserem como importantes fronteiras que delineiam limites entre as diversas áreas político-administrativas que compõem as cidades, de tal forma que a fragmentação espacial e a segregação social tornam-se visíveis e o caráter socialmente heterogêneo dessas áreas pode ser evidenciado. O descompasso entre a evolução das redes de água e esgoto desconsidera o caráter sistêmico das redes de saneamento básico, onde a ausência da segunda anula boa parte da funcionalidade e efeitos positivos da primeira, além de onerar todo o sistema de abastecimento de água, em função da má qualidade das águas dos mananciais. A HIPÓTESE A defasagem entre a evolução das redes de água e esgoto evidencia a inadequação desses serviços, gerando importantes externalidades associadas á saúde pública e à degradação ambiental. A inadequação dos serviços de saneamento básico promove um desenvolvimento negativo que amplia as variabilidades sócio-econômicas e culturais, acentuando o desequilíbrio do complexo ambiental - é a hipótese de trabalho. A METODOLOGIA/O ESTUDO DE CASO Adotando como fronteira os limites do Município de Salvador, este trabalho se propõe investigar como e onde as redes urbanas de saneamento básico da Cidade do Salvador se desenvolveram e analisar os níveis e abrangência de cobertura, no período compreendido entre 1850 e 2000 – observando cada contexto em seu tempo, tendo em mira a finalidade primária das redes de infra-estrutura sanitária. Realizamos uma investigação histórica sobre as redes de água e esgoto, em Salvador no período em estudo, buscando elucidar a sua concepção e evolução. Analisamos como se desenvolveram, qual a lógica e o nível de cobertura dos serviços, levantando as áreas de abrangência dos serviços e os estratos sociais

beneficiados e excluídos, em cada período. Considerando Salvador, terceira cidade mais populosa do Brasil, uma típica metrópole de terceiro mundo, que representa a realidade de infra-estrutura sanitária das cidades da região nordeste, confronta-se o processo evolutivo estudado com o modelo de desenvolvimento de redes da Teoria de Dupuy (1991), adotado para cidades de países desenvolvidos (Figura 01). Figura 01: MODELO DE EVOLUÇÃO DAS REDES DE SERVIÇOS NA FRANÇA (DUPUY, 1991 ). Fonte: DUPUY, G. L´urbanism e de les xarxes. Teories i mètodes. 1996. Constata-se que no modelo de desenvolvimento de redes apresentado por Dupuy (1996) as redes de serviços de esgoto sanitário evoluem segundo uma curva logística paralela à de abastecimento de água, alcançando o ponto de saturação do nível de cobertura com uma defasagem entre estes serviços, inferior a 10%, enquanto que em Salvador essa defasagem é superior a 70%. A distribuição espacial de dados de saneamento enfrenta a limitação das subdivisões de ordem administrativa e ou econômica, comumente adotadas para o planejamento urbano. Buscamos de início fazer uma correlação entre a base geográfica adotada para o saneamento (bacias) e a base adotada para o planejamento urbano da cidade (regiões administrativas), de modo a trabalhar sobre uma única base que se apresentasse comum e adequada. Porém a complexidade dos ajustes necessários e a exigüidade de tempo constituíram-se em mais uma limitação em nossa análise dos fatores ambientais que caracterizam o fenômeno estudado. Considerando como unidades de planejamento as regiões administrativas da Cidade do Salvador (Figura 02), buscamos ainda, estabelecer correlações entre os sistemas de saneamento básico e indicadores de qualidade ambiental urbana, no esforço de identificar prováveis causas e compreender os efeitos decorrentes, das semelhanças e diferenças encontradas, entre a evolução das redes de infra-estrutura sanitária do modelo dos países desenvolvidos (França) e o de uma metrópole do terceiro mundo (Salvador). Figura 02 : MUNICÍPIO DE SALVADOR POR REGIÕES ADMINISTRATIVAS Fonte: Prefeitura Municipal de Salvador RA 1 CENTRO

RA 2 ITAPAGIPE RA 3 SÃO CAETANO RA 4 LIBERDADE RA 5 BROTAS RA 6 BARRA RA 7 RIO VERMELHO RA 8 PITUBA RA 9 BOCA DO RIO RA 10 ITAPOAN RA 11 CABULA RA 12 TANCREDO NEVES RA 13 PAU DA LIMA

RA 14 CAJAZEIRAS RA 15 VALÉRIA RA 16 SUBÚRBIO FERROVIÁRIO Elaboração: EMBASA – Departamento de Informática/Divisão de Geoprocessamento, 2002. Este trabalho, cujo foco é investigar o processo evolutivo das redes de saneamento básico e suas interações - num esforço de reflexão sobre a problemática da adequação dos serviços – além da análise de conteúdo no estudo de textos e documentos, lança mão de dados colhidos da observação, de entrevistas e questionários não estruturados, num confronto permanente entre teoria e práticas, de modo a não isolar o fenômeno em análise, contextualizando-o. A sistematização das experiências, leituras e discussões realizadas em cursos de especialização, e em especial, ao longo do curso de Doctorado en Planificacion Territorial y Desarrollo Regional, permite analisar o problema sob uma nova ótica, à luz de novos princípios e teorias. À vontade inicial de compreender e expressar o fenômeno da estruturação sanitária da Cidade do Salvador, ao longo do último século, juntou-se uma inquietação ao perceber, a inexistência de registros oficiais de dados, especialmente com relação ao sistema de abastecimento de água. Também causou espanto constatar que a escassa produção científica sobre o tema, não contemplava aspectos integrados da concepção, operação e gestão dos sistemas urbanos de saneamento básico, muito menos quanto à adequação desses serviços: propósito deste projeto de pesquisa. Para o estudo sobre a qualidade urbana de Salvador, tomamos por base um ramo da Geografia Humana - a Geografia Médica, que possui interfaces estreitas com a Epidemiologia e o Planejamento de Saúde, e por conseqüência direta, com as políticas e ações de saneamento básico. Aponta como fatores ambientais com reflexo na saúde: fatores sociais, biológicos e físicos, situando o saneamento básico (água, esgoto e lixo) dentre os fatores sociais (Ver Quadro 01). É importante ressaltar que esses fatores são interdependentes. Assim, por exemplo, a ausência ou inadequação dos serviços de saneamento (fator social) implica em alterações e efeitos significativos nos demais fatores e indicadores sociais, biológicos e físicos. Com relação à saúde de uma população e do ambiente, a associação entre o saneamento é imediata.

Quadro 01: FATORES DO MEIO AMBIENTE URBANO COM REFLEXO NA SAÚDE SOCIAIS RENDA DISTRIBUIÇÃO DENSIDADE POPULACIONAL DISTRIBUIÇÃO EDUCAÇÃO NÍVEIS VIOLÊNCIA LESÕES INTERNACIONAIS ACIDENTES DE TRÂNSITO SANEAMENTO ÁGUA / ESGOTO RESÍDUOS SÓLIDOS EQUIPAMENTOS DE SAÚDE SUFICIÊNCIA HABITAÇÃO TIPOLOGIA / QUANTIDADE BIOLÓGICOS SAÚDE MORBIDADE / MORTALIDADE ÁREAS VERDES QUANTIDADE

FÍSICOS CLIMA UMIDADE RELATIVA TEMPERATURA INTEMPÉRIES - ALAGAMENTOS RELEVO CORRIMENTO DE TERRA POLUIÇÃO SONORA/ VISUAL AR / ÁGUA Elaboração: CARVALHO, A.P. (1997. p.46) Por fim, á luz da Teoria das Redes (dupuy, 1991) e da Teoria Geral da Decisão (lhamas, 1991), num exercido de prospecção, intenta-se abstrair pontos de sensibilidade e ruptura - pontos de decisão -, de modo a construir referências de gestão para uma feliz...cidade. AS REDES URBANAS DE SERVIÇOS E ANÁLISE DAS REDES URBANAS: Notas metodológicas e fundamentos En la construcción de la ciudad las redes de infraestructruras desempeñan un papel fundamental... no hay ciudad sin redes de infras. Jaume Font i Garolera. As cidades assemelham-se a organismos vivos em constante mutação. Se por um lado são centros de cultura científica e artística, de empreendimentos e de aperfeiçoamento técnico, por outro se nutrem das reservas naturais e do que é produzido no campo. É de fundamental importância uma "aproximação intuitiva" (VIDE, 1993-94), de modo a perceber mais claramente as inter-relações existentes nas redes de serviços urbanos, e, reconhecer, prever e prevenir os fatores de riscos e lamentos que podem surgir a qualquer momento. Os sistemas de água e esgoto são intrinsecamente interligados ao meio ambiente urbano, onde a natureza e a coletividade se encontram em total interatividade. A existência de serviços públicos de interesse da coletividade – abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana, energia elétrica, transporte, educação, saúde, comunicação, segurança etc. -, servem de indícios para verificação do grau de urbanidade de uma comunidade e do padrão de vida de seus habitantes. A relação entre o saneamento e

o desenvolvimento urbano é forte, e se traduz sobretudo, quanto ao planejamento territorial e ao uso e ocupação do solo. Condições desordenadas de ocupação dificultam a oferta dos serviços, tornando-a via de regra, mais onerosa e mais insegura. A partir da Década Internacional do Abastecimento de Água e de Esgotamento Sanitário - 1981 a 1990 -, assim declarada pela Organização das Nações Unidas, ampliou-se a compreensão dessa relação. Todos sabemos que é uma questão complexa. A ocupação desordenada do sitio urbano vincula-se às forças históricas que condicionaram as dinâmicas da pobreza de grande parte da população. As populações mais pobres acabam por ocupar os fundos de vales, encostas íngremes, áreas de proteção de mananciais, e outros locais inadequados e desprovidos de infra-estrutura sanitária. Tanto a oferta quanto a adequação dos serviços de saneamento, estão intimamente relacionados e condicionados à conservação da natureza e em especial, à proteção e preservação dos mananciais e das suas faixas de domínio. A falta de saneamento básico em cobertura e extensão, tanto nos grandes aglomerados como nos pequenos, o impasse a que se chegou em outros projetos como o controle da poluição, as habitações de baixo custo, estão demandando de uma nova visão e forma de aproximação entre as vertentes: político-institucional, técnico-científico-empresarial e sócio-econômico-cultural. Serratosa (1996, in DUPUY, 1996), ressalta que o gráfico de evolução das redes da França (Ver Figura 01), elaborado por Dupuy, es uma aportación capital y constitue um paradigma de valor universal. Salienta que a forma inovadora de representação, com o tempo nas abscissas e o percentual de usuários reais sobre os usuários potenciais nas ordenadas, permite extrair lições definitivas: todas las redes siguen um proceso de evolución según una curva logística, con un primer periodo de crecimiento lento (sólo los "marqueses" y los grandes potentados son usuarios reales), un segundo periodo con una fuerte aceleración (la masificación del servicio), y un final lento hacia saturación (el 95% de los usuarios potenciales acaba haciendo uso del servicio; b) el inicio y el final son siempre iguales y las curvas sólo difieren en el tiempo necesario para conseguir la extensión masiva del servicio; e, c) continuamente aparecen nuevos servicios con desfases de 20 a 30 años, en un proceso del que no se conoce el final, que pide corredores específicos e integrados para no deteriorar el territorio. Serratosa (1996) alerta, também, para a emergente necessidade do desenvolvimento da investigação histórica sobre as redes, destacando alguns estudos realizados, nos últimos anos, na França e em outros lugares, a exemplo da tese doutoral de Alain Beltran sobre a rede elétrica de Paris (1878-1946); a obra americana de Clay MacShane sobre as redes viárias urbanas (MacShane, 1994); e, os diversos estudos publicados na Espanha, sobre evolução das redes, telefônicas e elétricas (Capel, 1994a, 1994b), de gás (Arroyo, 1996), dentre outros. Salienta que la herramienta básica expuesta en El urbanismo de las redes, es un modelo basado en la teoría de grafos, embora reconheça as limitações desse método, uma vez que mostra-se insuficiente para tomar em consideração sua relação com o espaço urbano " ordinário" a que serve. Sinaliza ainda, o uso de um outro método a partir da geometria factral, e da semiologia das redes como elemento indispensável para o urbanismo.

O uso do modelo de evolução das redes de Dupuy (1996) na análise de redes urbanas de água e esgoto da Cidade do Salvador, bem como a visão integradora de teorias matemáticas - Teoria de Catástrofes (Thom, 1972 y Zeeman, 1972-77, in MARTIN-VIDE, 1993-94) e Teoria Geral da Decisão (LHAMAS, 1991) – para expandir a percepção e compreensão dos seus efeitos, é o que se apresenta de inovador nesse trabalho de investigação. No "atualismo" (palavra em aspas usada para expressar toda dinâmica atual) em que vivemos, existe uma total interação entre os sistemas de serviços urbanos, de modo a reclamar esforços para romper barreiras – como água rompendo diques, que separam as profissões gerando desta forma profissionais solidários que passem a trabalhar cooperativamente para tomadas de decisão compartilhadas na busca da solução de problemas existentes e ou emergentes. Pretende-se assim, contribuir para o rompimento da rigidez de ‘fronteiras imaginárias’ que demarcam os domínios acadêmico, técnico e empresarial, que em muito têm dificultado a percepção da complementaridade entre estes, e a interação das pesquisas realizadas, de forma a potencializar oportunidades. Sempre na perspectiva de que o objetivo maior é a adequação dos serviços de saneamento, no fazer e refazer constante deste trabalho de investigação, uma idéia fixa se instalou feito mira: ser útil! A CIDADE DO SALVADOR Triste Baía... Oh quão dessemelhante .... Gregório de Matos Fundada em 29 de março de 1549, Salvador foi a primeira capital do Brasil, posição que manteve durante 214 anos (1549-1763). A Baía de Todos os Santos já era conhecida pelos navegadores portugueses desde 1500. Em 1583, Salvador tinha duas praças, três ruas e cerca de 1600 habitantes. A densa malha hidrográfica, formada por pequenos córregos que fluem para os dois rios principais, o Camurugipe e o Lucaia, além das numerosas fontes naturais que garantiam o suprimento de água. A forte declividade das encostas provocava o escoamento rápido das águas e chuvas e dos esgotos, para os vales, onde se juntavam os cursos d’água, em direção ao mar. Salvador, portanto, nasceu fortificada e dotada de fácil e farto suprimento de água. A proximidade de boas fontes e aguadas era condição imprescindível para os locais de assentamento dos ocupantes pioneiros da cidade primitiva. Assim é que a localização de muitas dessas minas naturais, que muitas vezes sangravam no sopé das elevações, contribuíram decisivamente para o traçado dos contornos da cidade. O sítio natural de Salvador possui uma forma linear, ao longo da escarpa e falhas da península. Capital da Colônia e do Vice-Reinado até 1763, Salvador manteve-se como a maior aglomeração urbana do país durante cerca de 300 anos. E mesmo depois de transferida a sede do governo para o Rio de Janeiro, a cidade continuou crescendo, sendo hoje a terceira

cidade em população no Brasil. O censo de 1780 atribuiu-lhe uma população de 39.309 pessoas; em 1872, já contava com 129.109 habitantes; em 1900, alcançava 205.813 moradores. Só que a sua expansão urbana, talvez como decorrência da distorção original que orientou a localização de seu núcleo mais antigo, realizou-se de modo linear pelas cristas dos morros, os chamados "caminhos dos índios", livres do matagal, da umidade e dos atoleiros dos vales. Nas encostas, plantavam-se os pomares e as hortas. Nos vales, completamente abandonados, era o vazio (Dórea, 1999). Esse vazio demográfico prosseguiu até perto dos anos 80. Em 1978, Salvador tinha efetivamente ocupados apenas 30%, aproximadamente da sua área total, sendo os restantes 70% de seu território considerados um vazio demográfico, registrando-se apenas esporádicos processos de ocupação espontânea, fazendo surgir pequenos núcleos, isolados e dispersos, carentes de toda e qualquer infra-estrutura urbana (CEDURB, 1978). A solução adotada na Bahia sempre foi a de grandes projetos de desenvolvimento urbano, envolvendo áreas de grande extensão. A desenfreada especulação imobiliária, porém, sempre se constituiu num grande obstáculo ao planejamento urbano de Salvador, e a conseqüente ocupação ordenada e orientada desses vazios geográficos. Por outro lado o processo de migração intensiva do interior para a capital, gerou o fenômeno da metropolização da Cidade do Salvador. A Região Metropolitana de Salvador abrange 16 municípios: Salvador, Simões Filho, Lauro de Freitas, Itaparica, Vera Cruz, Salinas, Jaguaripe, Camaçari, Mata de São João, Dias D’avila, Candeias, São Francisco do Conde, São Sebastião do Passé, Madre de Deus, Santo Amaro e Saubara. Apresenta uma população de 2.493.224 habitantes, dos quais 2.073.510 (83,2%) localizam-se em Salvador (Ver Figura 03). Figura 03 – REGIÃO METROPOLITANA DE SALVADOR Fonte: EMBASA, 2002. Até meados do séc.XIX, desenvolveu-se como pólo comercial e econômico, destacando-se a agricultura canavieira no Recôncavo e a pecuária no Sertão. Na segunda metade do século XIX, com o ápice do desenvolvimento econômico de base agro-exportadora, apesar de não exigir grande concentração populacional urbana, houve um incremento na infra-estrutura da cidade e arredores, determinado pelas ligações ferroviárias com as cidades do Recôncavo e a instalação do serviço de transporte urbano (Gordilho, 1990). O clima favorecido por sua extensa orla marítima, com seus 45 km de praias urbanas; a umidade relativa do ar com média anual de 81% com temperatura média anual de 25ºC e uma pluviosidade anual registrada na ordem de 1900 mm, em quase um eterno verão; a riqueza da diversidade cultural; belezas naturais e patrimônio arquitetônico dos mais importantes; descortinam para a Cidade do Salvador uma vocação natural: o turismo. Representa o maior pólo turístico da Bahia, com relevante desempenho do setor terciário, cujo fluxo financeiro, gira em torno de 12% de todo o produto gerado pela industria de transformação do Estado.

SEGREGAÇÃO ESPACIAL E DINÂMICA SOCIAL A situação geográfica por sua vez torna sua evolução repleta de peculiaridades, a começar pela falha geológica no seu sítio natural que praticamente dividiu a cidade em duas zonas, denominadas de cidade alta e cidade baixa. A zona alta engloba 14 das 16 Regiões Administrativas da Cidade: Centro, Brotas, Liberdade, Cabula, São Caetano, Valéria, Cajazeiras, Pau da Lima, Tancredo Neves (que formam o miolo), Barra, Rio Vermelho, Pituba, Boca do Rio e Itapoan (que compõem a faixa litorânea, banhada pelas águas do Oceano Atlântico). E a zona baixa composta das regiões da península Itapagipana e Subúrbio Ferroviário (faixa litorânea banhada pelas águas da Baía de Todos os Santos). A sua extensão de orla também direcionou seus primeiros processos de expansão urbana. Sua ocupação foi iniciada pelo lado ocidental, voltada para Baía de Todos os Santos, estendendo-se posteriormente pela orla, tanto ao longo da Baía quanto do Oceano Atlântico. Só muito recentemente vem sendo densamente habitada em seu chamado Miolo, zona compreendida entre a Avenida Paralela e a BR-324. Tal crescimento é marcado por invasões e através da compra de grandes extensões de terras por especuladores, que as loteavam de maneira irregular ou aguardavam sua valorização. Os bairros da Vitória, Graça, Barra e Orla Oceânica, foram ocupados principalmente pela aristocracia rural, enquanto que as classes média e baixa se estabeleciam mais ao norte, concentrando na cidade baixa o comércio, onde se instalou o Porto de Salvador. Os vales, quando ocupados, geralmente pela população carente, eram usados para a plantação de cultura de subsistência, assim como as áreas próximas às represas de água. Tais características de ocupação prevaleceram até os anos de 1940. Com a decadência da cultura cacaueira no sul do Estado, Salvador passou a sofrer uma grande corrente migratória, responsável, num período de dez anos (40-50), por acentuado acréscimo da população, que passou de 290.443 para 414.235 habitantes. Esse processo gerou um desequilíbrio habitacional com reflexos em todo sistema de infra-estrutura urbana, exigindo a intervenção do Estado, que no esforço de equacionar o problema inicia a construção de conjuntos habitacionais populares. Houve ainda o incremento do comércio varejista no centro e uma expansão para o interior da cidade, ainda pelas zonas verdes e de cumeadas, compreendendo bairros como Federação, Brotas, Barbalho, Quintas e Liberdade; no sentido dos subúrbios ferroviários (notadamente Periperi e Paripe); e uma ocupação dos espaços vazios ao longo dos vales, pela população pobre, com acessos precários pelas cumeadas. Essa evolução vai refletir profundamente na localização de seus equipamentos urbanos mais importantes, notadamente os de saúde e de saneamento. Salvador, segundo Carvalho (1997), representa uma típica cidade do Terceiro Mundo, constituindo-se em campo exemplar para análise do fenômeno da fragmentação espacial, baseada na qualidade do meio ambiente urbano, com todos os problemas de uma metrópole subdesenvolvida. O Anexo I, busca oferecer uma caracterização das Regiões Administrativas (RA´s) da Cidade do Salvador para uma melhor visualização da fragmentação espacial e segregação existentes.

No estudo de Carvalho (1997) observa-se que a variável renda representa um fator social estruturante em relação aos demais aspectos ambientais analisados, uma vez que reflete decisivamente nos demais fatores. O Quadro 02 busca evidenciar a segregação econômica em função da concentração de renda por região administrativa. Quadro 02 – PERFIS POR RENDA MEDIANA EM SALÁRIO MÍNIMO DE CHEFES DE FAMÍLIAS EM REGIÕES ADMINISTRATIVAS DE SALVADOR - 1991 PERFIS REGIÕES ADMINISTRATIVAS RENDA MEDIANA (s.m) FAIXAS DE PICOS (s.m.) INDICE QUALIDADE AMBIENTAL (Grupo) A RA 6 – BARRA RA 8 – PITUBA 11,64 s.m a 13,78 s.m. mais de 20 s.m. de 5 a 15 s.m. G-I G-I B

RA 1 – CENTRO RA 5 – BROTAS RA 9 – BOCA DO RIO 2,69 s.m. a 3,80 s.m. de 5 a 10 s.m. de 1 a 2 s.m. G-II G-II G-II C RA 2 – ITAPAGIPE RA 3 – SÃO CAETANO RA 4 – LIBERDADE RA 7 – RIO VERMELHO RA 10 – ITAPOAN RA 11 – CABULA RA 13 – PAU DA LIMA RA 14– CAJAZEIRAS 1,54 s.m. a 1,99 s.m. 0,5 s.m. a 2 s.m.

2 a 10 s.m. G-III G-III G-IV G-II G-III G-II G-III G-II D RA 12 – TANCREDO NEVES RA 15 – VALÉRIA RA 16 – SUBÚRBIO FERROVIÁRIO 1,28 s.m. a 1,36 s.m. G-IV G-IV G-III Fonte: Carvalho, 1997. Elaboração: OLIVEIRA, Rita, 2002. Apresenta assim, quatro perfis padrões de níveis de renda definidos (classes). A classe alta (A), concentrada basicamente em duas regiões administrativas (RAs 6 e 8), que juntas

representam 6,45% da população e 4% da área urbana total de Salvador; a classe média (B) agrupando 16,88% da população e 13% da área, concentrada em três regiões (RAs 1, 5 e 9); a classe média baixa (C) abrangendo oito regiões (RAs 2, 3, 4, 7, 10, 11, 13 e 14), compreendendo 56,63% da população e 58% da área; e, três regiões (RAs 12, 15 e 16) com uma população de baixa renda (D), representando 20,04% da população e 25% do espaço urbano. Percebe-se o grande espaçamento existente entre as classes A e B (quase 10 s.m.), e o gradual achatamento entre as demais classes, registrando-se baixas diferenças - inferiores a 2 s.m. e 0,5 s.m. -, entre as classes B e C e entre C e D, respectivamente. A orla litorânea do Atlântico, com uma extensão de quase 30 km de praias menos poluídas, concentra as classes de renda mais alta (A), se constitui em área de grande valorização; enquanto na orla voltada para a Baía, compreendendo 24 km de extensão de praias com maior grau de poluição - sendo 6,5 km dentro da área de influência portuária -, predomina a classe média baixa (C), e possui seus terrenos menos valorizados, em função de características ambientais e outros fatores e variáveis, como serviços de infra-estrutura inexistentes ou insuficientes (saneamento, transporte, saúde, educação, lazer, etc). O Plano Diretor de Abastecimento de Água e Controle da Poluição da Grande Salvador, em 1974, considerava três classes, para efeito de definição do perfil do consumidor e tarifação: Classe A (acima de 20 s.m); Classe B (entre 6 e 20 s.m); Classe C (menor que 6 s.m). Estabelecendo uma correlação entre as classes consideradas no Plano Diretor de Águas (1974) e as definidas no estudo de Carvalho (1997), observa-se em ambas a concentração da classe de maior renda situa-se nas regiões da Barra e Pituba (RAs 6 e 8). Se utilizado o mesmo critério do Plano Diretor, adotando as mesmas faixas de renda para definição das classes A, B e C, em 1997 não existiria a classe de renda alta (A) e estas duas regiões seriam classificadas como todas as demais como baixa renda (C). Na análise feita do caso de Salvador, por Carvalho (1997), constata-se como a saúde e a qualidade de vida de seus habitantes sofrem um processo de diferenciação espacial bastante forte, ressaltando o caráter fragmentado do ambiente urbano na sociedade capitalista, repleta de guetos e zonas marginais. Nota-se também traços culturais diferenciados dentro de uma mesma região administrativa em virtude da convivência de populações com realidades e níveis de renda diametralmente diferenciados nesses espaços. No meio urbano a segregação espacial espelha a convivência do formal e o informal, de ricos e miseráveis, de esperdício e escassez. . . Sabemos que a principal característica de qualquer metrópole é a profunda fragmentação e que a violência é um mal comum. Porém, a violência maior é viver em pobreza extrema, em sub-habitações a exemplo das 'palafitas' nos Alagados, na região do subúrbio ferroviário. As periferias e subúrbios da cidade espelham os subterrâneos das relações humanas e institucionais, onde presenciamos uma fome que não é de comida, e sim de consumo; uma sede que não é de bebida, e sim de justiça. FORÇAS HISTÓRICAS Salvador, no passado, foi abastecida por um conjunto de fontes e chafarizes. Algumas delas ficaram tão famosas, que deram origem ao nome de locais até hoje bastante conhecidos, tais

como: Fonte das Pedras, Fonte Nova, Fonte de Água de Meninos, Fonte do Dique. Naquele tempo, até que se pensasse num sistema de abastecimento a distribuição de água era feita no lombo de animais em barris de 80 litros. A primeira ação visando a canalização das águas para abastecimento data de 1852, com a criação da Companhia do Queimado. Curiosamente, essa não era uma empresa estatal e sim privatizada, vez que pertencia ao português Francisco Pereira da Rocha que distribuía água para a cidade a partir da barragem do Rio Queimado. A Lei 451 de 17/06/1852, criando a Companhia do Queimado, de iniciativa privada, autorizava a cobrança ao usuário, por pote ou barril, sem o privilégio, porém, de explorar fontes ou chafarizes. A exigência, um ano depois, de redução do preço da água como contra-partida para que essa exploração fosse concedida, foi a gota dágua para que a iniciativa privada se retirasse e a intendência encampasse a Companhia. Desde cedo a resistência à normatização do coletivo e do consumo foi evidenciada pela população, quando em 1872, o Governo Imperial teve que revogar a ordem de 1860, de colocação de medidores em todos os prédios com penas dágua, em razão da repulsa dos moradores. Também nessa época epidemias de febre amarela (1849-1854) e de cólera (1855-1856) afetam profundamente a cidade, resultando na canalização do Rio das Tripas, visando melhorias das condições sanitárias e higiênicas. No ano de 1904, essa empresa era encampada pela Intendência, por 2.700 contos de réis. Em 1905, em função dos serviços e tarifas inadequados, o Engº Teodoro Sampaio, através de Concorrência Pública, detém a concessão para elaboração de projeto, construção e exploração dos serviços de abastecimento dágua. Dois anos depois, a Prefeitura Municipal de Salvador – PMS, consegue empréstimo junto ao L’Union Parisienne, para realizar melhorias no sistema Mata Escura e construção de 27 km de redes de esgotos. Devido à precariedade das instalações e aumento da demanda, o Governo Estadual assume os serviços de saneamento básico, através da Lei nº 1114, de 30/12/1924. Vincula-se saneamento à saúde, ficando a gestão a cargo do Departamento de Engenharia e Subsecretaria de Saúde e Assistência Públicas. Em 1925 houve uma piora significativa dos serviços, agravada por prolongada estiagem com redução de 50% do volume disponível. O Estado assume os encargos do saneamento básico e assina contrato com o engenheiro sanitarista Saturnino de Brito para ampliação dos serviços. A lógica da auto-sustentação dos serviços já se fazia presente através de tarifação adequada, que poderia sofrer acréscimos quando se realizasse obras que assegurassem à população um suprimento regular, em quantidade e qualidade de água, bem como uma melhor eficácia do sistema de esgotamento. Através da Lei 2173 de 22/06/1929 cria-se a Comissão de Saneamento, vinculada à Secretaria de Viação e Obras Públicas, objetivando a realização das obras de saneamento básico em Salvador. Em 1936 inauguram-se as obras de Saturnino de Brito apresentando serviços satisfatórios. Em 1939 com a criação do Conselho Nacional de Águas e Energia Elétrica e do Fundo de Saneamento e Energia, viabiliza-se as obras de aproveitamento do Rio Joanes para ampliação dos serviços de abastecimento de água da cidade. O Governo

Federal, através do Decreto Lei 2367 de 04/07/1940, cria o Departamento Nacional de Obras e Saneamento – DNOS, vinculado ao Ministério do Interior. Esse Ministério tinha como atribuições o Saneamento Urbano e Rural, e obras de finalidades múltiplas. Em 1942 foi criado o Serviço Especial de Saúde Pública – SESP, que 20 anos mais tarde viria a se transformar em uma Fundação (FSESP). A SESP foi concebida em conseqüência de um convênio entre o Brasil e os EUA, com a finalidade de proteger os trabalhadores, que nos vales dos rios Amazonas e Doce, produziam borracha e extraíam mica e cristal de rocha, materiais estratégicos usados durante a II Guerra Mundial. Após a Guerra, a FSESP expandiu suas atividades ao Vale São Francisco e a todo Nordeste. Em 1943 cogitou-se traçar o primeiro plano urbanístico completo para a cidade, que já contava com mais de 300.000 habitantes. Reconhecia-se já àquela época a importância de um planejamento urbanístico integrado, que atendesse às necessidades da cidade como um todo. Infelizmente esse planejamento jamais se efetivou, muito embora a barragem de Pedra do Cavalo tenha sido concebida para múltiplas finalidades, continua sem a otimização de uso prevista, servindo apenas para o abastecimento de água de parte de Salvador e cidades circunvizinhas. Em 1949, para cessar as reclamações da parte baixa da cidade, o Governador Otávio Mangabeira constrói chafarizes públicos para abastecer bairros tipicamente proletários, como São Caetano e adjacências; e anuncia obras em novos bairros considerados de "veraneio" da população de alto poder aquisitivo como Amaralina e Pituba. No período compreendido entre 1943 e 1955, alguns acontecimentos foram marcantes para o setor de saneamento: a criação do Fundo de Saneamento e Energia, em 1951, que possibilitou as obras de aproveitamento do Rio Joanes, Cobre e Ipitanga, para o abastecimento da cidade. Nascia no Brasil um novo modelo organizacional para o setor de saneamento, que se estendeu até meados da década de 60. Esse modelo consistia na celebração de convênios entre as Prefeituras e o SESP, culminando na criação dos Serviços Autônomos de Água e Esgoto – SAAEs, que recebem apoio técnico e financeiro para construção e operação de sistemas de água e esgoto, com recursos de fundos rotativos que previam o retorno dos investimentos. Outra ação importante foi a Lei Federal 2004 de 03/10/1953, quando o saneamento passou a contar com 5% dos recursos de royalties da extração de petróleo no território estadual. Em Salvador, com a extinção da Comissão de Águas e Esgotos de Salvador – CAECs - e da Superintendência de Água e Esgotos – SAE, e a fusão destes pelo Departamento de Saneamento – DS, também vinculado à Secretaria de Viação e Obras Públicas, caracterizava mais uma vez uma preocupação maior com as construções do que com a operação dos serviços. A Lei Estadual 1549 de 16/11/61, extinguiu o DS e criou a Superintendência de Água e esgoto do recôncavo – SAER, com personalidade jurídica e autonomia administrativo-financeira. Essa Lei, em seu artigo primeiro, estabelecia que os recursos concedidos sobre qualquer forma, direta ou indiretamente, só poderiam ser aplicados nas cidades que para efeito desta mesma Lei, compunham o Recôncavo Baiano: Salvador, Camaçari, Candeias e São Francisco do Conde. As receitas da SAER provinham

de: sua renda industrial; 50% do produto da arrecadação do Fundo de Saneamento (Lei 423/51); 10% da arrecadação dos royalties devidos ao Estado pela Petrobrás (Lei Federal 2004/53); de auxílios e subvenções federais, estaduais e municipais; doações; operações de crédito. O Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID, criado em 1959, a partir de 1961 firma contratos de empréstimos com bancos regionais, estaduais e órgãos de saneamento estaduais, financiando obras em várias capitais, como o Rio de Janeiro, Salvador, Belém, Recife, São Luis e Natal. Parte dos sistemas nacionais de saneamento eram administrados por empresas estrangeiras e organismos nacionais. As tarifas de água e esgoto permaneciam as mesmas vigentes há 30 anos. A ausência de uma Política Nacional de Saneamento fez prevalecer a falta de coordenação administrativa reinante desde 1930 até os dias de hoje. Daí em diante, trocando de siglas e de Secretarias, muita água rolou no setor de saneamento básico no Brasil. Em 1962, o Governo da Bahia resolveu instituir a SAER – Superintendência de Águas e Esgotos do Recôncavo, para planejar, programar e administrar o abastecimento de água. Somente em 1971, quando Salvador viveu um cenário de transformações e mudanças que culminou com a implantação do Centro Administrativo da Bahia, nascia a EMBASA – Empresa Baiana de Águas e Saneamento S.A., para incorporar os serviços das extintas COMAE e COSEB que atuavam respectivamente na Capital e Interior do Estado da Bahia. A EMBASA, criada através da Lei 2929 de 15/05/1971, e regulamentada pelo Decreto 22396 de 31/05/1971, sob o mandato institucional de executar a Política de Abastecimento de Água e Esgotamento Sanitário do Estado da Bahia, assina em 1992 contrato com a Secretaria de Política Urbana – SEPURB e o Banco Mundial, para o Programa de Modernização do Setor Saneamento – PMSS; e em 1996, com o BIRD para o Programa de Saneamento Ambiental – Bahia Azul. Por certo esses programas possibilitaram um primeiro e grande passo de estruturação sanitária em direção à adequação dos serviços de saneamento, no que se refere a indicadores físicos das redes de infraestrutura de água e esgoto. Quão distantes, porém estamos, no que tange ao nível de cobertura onde ainda existe um longo caminho a percorrer, sob o ponto de vista de adequação dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário, em observância ao direito à inclusão e universalização do atendimento às necessidades vitais de nutrição e higiene dos seres humanos – função primária das redes de infra-estruturas urbanas de saneamento básico. EVOLUÇÃO DAS REDES URBANAS DE ÁGUA E ESGOTO: SALVADOR (1850 – 2000) Como a situação atual é física – e moralmente insuportável para uma enorme massa de indivíduos, cabe pensar na hipótese de urgentemente atender aos mais clamorosos sofrimentos da população e aguardar que a História, ao ser feita, permita um caminho onde

cada passo não seja para agravar ainda mais as carências e aumentar as condições. Seja como for, a situação atual deve ser erradicada o quanto antes. Milton Santos. Espaço e Método, 1985, p.81. Por entender "que não se pode continuar a tomar serias decisões sem um sério embasamento... que não se pode mudar o rumo das coisas somente pelo desejo de mudar... que o esforço cientifico é incompleto se ficar apenas no conhecer a realidade, sem evoluir para o intervir nela, e que para o melhor intervir é essência melhor conhecer" (Demo, 1981), este trabalho tem por objeto investigar geograficamente a evolução seqüencial das redes físicas de água e esgoto da Cidade do Salvador, no período compreendido entre 1850 e 2000, em observância às forças históricas e a fatores físicos, biológicos e sociais ao tempo condicionantes. Saneamento inadequado é um dos principais problemas de saúde e meio ambiente que a população urbana do Terceiro Mundo enfrenta até hoje. O déficit dos serviços de saneamento básico cai desproporcionalmente nesses países, especialmente nas áreas de assentamento de populações de baixa renda. No Brasil, o Censo Demográfico de 1991 (Tabela 01), correlacionando os serviços de saneamento básico com classes de renda, revela uma realidade perversa: de 23,10 milhões de domicílios, 4,25 milhões (18%) não são atendidos por redes de abastecimento de água e 8,9 milhões (39%) não são servidos pela rede de esgotamento sanitário. Com relação ao serviço de abastecimento de água, dos 4,25 milhões de domicílios sem acesso à água canalizada, 4,12 milhões (97%), situam-se em classes de renda inferiores a 5 salários mínimos; enquanto que nos situados em classes de renda superiores a 5 salários mínimos, o déficit desse serviço cai para 3%, que representam 129 mil domicílios. No que tange aos serviços de esgotamento sanitário o quadro é mais assustador: 8,9 milhões de domicílios não são ligados à rede ou fossa séptica, sendo 7,94 milhões (89%) situados em classes de renda inferiores a 5 salários mínimos; para as demais classes de renda esse déficit baixa para 11%, que correspondem a 964 mil domicílios. Tabela 01: ACESSO A SERVIÇOS DE SANEAMENTO POR CLASSES DE RENDA: BRASIL (1991) CLASSE (salário mínimo) Total de Domicílios (milhões) DOMICÍLIOS SEM ÁGUA CANALIZADA DOMICÍLIOS SEM LIGAÇÃO À REDE DE ESGOTO OU FOSSA SÉPTICA %

Quantidade (mil) % Quantidade (mil) 0 a 1 1 a 2 2 a 3 3 a 5 5 a 10 10 a 20 20 e mais 1,4 7,8 4,2 3,8 3,5 1,6 0,8 33 38 12 5 3 1

1 462 2.964 504 190 105 16 8 59 56 40 28 208 12 9 826 4.368 1.680 1.064 700 192 72 Fonte: IBGE. Censo Demográfico 1991, Dados Preliminares.

A população do Brasil está distribuída 77,4% em áreas urbanas e 22,6% em áreas rurais. As áreas urbanas são constituídas de 9.629 localidades, sendo 4.754 sedes municipais e 4.875 distritos. Das sedes municipais 94,76% possuem SAAs e apenas 28% possuem SESs. A densidade média brasileira, para a população estimada é da ordem de 17,87 hab/km2. A população da Bahia e de Salvador quase que foram multiplicadas, por cinco e dez vezes, respectivamente, num período de quase um século (1890 – 1991). Era necessário investir em infra-estrutura sanitária de modo a reverter o quadro de carências em serviços de saneamento básico. Não é difícil de se entender o motivo de somente em 1852, com uma população de 45.000 habitantes, começar a ser pensado o primeiro sistema de abastecimento para a Cidade do Salvador, com a organização da Companhia do Queimado (Lei 451, de 17/06/1852), concessionária da distribuição de água em chafarizes, casas de vendagem e umas poucas penas (ligações domiciliares). Afora uns poucos trechos de galerias, construídas nos tempos do Império, para escoamento tanto de águas pluviais quanto de despejos domésticos, apenas em 1905, já com mais de 200.000 habitantes, se tenha contratado elaboração de um projeto de sistemas de esgotos. A disposição da cidade, com suas ruas e casarios no alto das cumeadas, e a existência de um sistema natural de drenagem razoavelmente satisfatório constituíram-se, provavelmente, nas razões que levaram sucessivos governos e a própria comunidade a ignorarem ou desprezarem a necessidade de construção de um sistema de esgotamento sanitário. Por sua vez, a posição geográfica da cidade, cercada pelo mar por três lados, tendo a leste o Oceano Atlântico e a oeste a Baía de Todos os Santos, aliada ao elevado índice de insolação, contribuiu para difundir o mito de que Salvadora era – e é – uma cidade saudável. "La gente se comporta, en gran medida, tal como percibe la realidad." MARTIN-VIDE, 1990. No início do século XX a Cidade do Salvador contava com 53 Km de rede de água (1900) e 27 km de rede de esgoto (1907). O Decreto-Lei nº 12.023, de 25 de setembro de 1941, que serviu de base à concorrência pública para a adjudicação dos serviços de águas e esgoto, em seu artigo 9º, estabeleceu que a concessionária deveria "assegurar um suprimento diário de água potável nunca inferior a 300 litros por habitante abastecível, com 15% de folga sobre a capacidade máxima, em cada período considerado, segundo o aumento normal da população, na base estimativa que se fará de 5 em 5 anos". Assim, por expressa determinação do edital de concorrência, fixou-se para a capital baiana, o consumo "per capita" em 345 litros (Góes, 1943). Os mananciais existentes deveriam fornecer 55.200m3, diariamente, para uma população de 160.000. Com o tratamento das águas do Camurugipe, Prata e Mata Escura, previsto no edital, o volume diário total eleva-se, apenas, a 54.000m3. Com a taxa de 300 litros por habitante e por dia, só haveria água, de acordo com a cláusula nº 9 do decreto-lei de 1941, até o ano 1948. A folga de 15%, exigida pelo edital, não poderia ser satisfeita desde a data da própria concorrência. Em 1972, quando terminaria o contrato, ao invés dos 300 litros por habitante por dia, previstos no edital, a cidade contaria, apenas, com 190 litros. Chegar-se-ia, fatalmente, a uma situação no mínimo contraditória: o governo estadual assinaria um contrato, sabendo, antecipadamente, que não poderia ser

cumprido em virtude de uma impossibilidade de ordem material. Caberiam, então, duas alternativas: adução de novos mananciais através de construção de novas represas; e ou redução da quota de consumo por habitante por dia. A capital baiana não tinha à época, um parque industrial capaz de consumir grandes volumes de água. Existiam graves defeitos no abastecimento d’água da cidade, que perturbavam a sua distribuição uniforme e eqüitativa. Saturnino de Brito, assinalava que o volume fornecido era mais que o duplo do volume avaliado e cobrado pelo regime das penas d’água. Do mau serviço de distribuição resultavam, ao mesmo tempo, grandes desperdícios e penúria d’água para considerável número de consumidores. Também achava que a quota de 150 litros por habitantes era bastante para a cidade, onde não faltariam recursos de outras águas para a indústria, irrigação, lavagem de roupas, etc". A resistência da população ao uso de medidores remonta de longa data, quando o Governo Imperial ordenou sua instalação em todos os prédios com ‘penas dágua’, em 1860, tendo que revogar a lei de obrigatoriedade do seu uso em 1872. Restabelecendo-se, porém, o uso obrigatório do hidrômetro, a quota de 200 litros seria perfeitamente suficiente para resolver a questão do abastecimento d’água, sem novas represas, até meados de 1968, segundo Saturnino de Brito, que, já em 1926, aconselhava a construção de uma grande represa no rio Joanes, para resolver o problema de abastecimento de água da cidade por um largo prazo. Contudo, durante longo período adotou-se para o abastecimento d’água da cidade, o critério de utilizar-se de captação em pequenos mananciais esparsos e insuficientes para uma boa distribuição, que apresentavam inúmeros inconvenientes. Assim, em 1940, a cidade contava com nove pequenas represas, que, mal acabadas, já exigiam a adução de novos lacrimais para atender às exigências crescentes do consumo. Essas represas contribuíam para o consumo d’água na cidade, com um volume de 54.000m3 por dia. Estudos da época observavam que as perdas totais indicadas como gastos não controlados, oscilavam, em redes bem construídas, em torno de 15%, enquanto que em cidades onde o suprimento se fazia sem emprego de medidores, os desperdícios ultrapassavam 50% do volume distribuído. Essa influência da hidrometração sobre o consumo de água evidenciou-se através de análises realizadas nas cidades de Hamburgo (Alemanha) e em Detroit (Estados Unidos). À medida que se instalavam medidores, o consumo "per capita" de Hamburgo caía de 220 para 170 litros diários; e, em Detroit, de 670 para 490 litros diários. Sem controle, a exploração financeira dos serviços é falha e torna a sua cobrança duvidosa. Segundo Góes (1943), a única razão apontada para a sua não obrigatoriedade, à semelhança dos medidores de energia elétrica, dava-se por conta de uma suposição de que poderia trazer uma redução no consumo, prejudicando as boas práticas de higiene. O que poderia ser resolvido, admitindo-se uma cota fixa para um volume julgado indispensável, cobrando-se o excedente de acordo com uma tabela diferencial, criteriosamente elaborada, a exemplo da orientação recente da ONU de se estabelecer uma cota mínima de 40 litros por pessoa dia, para garantir a sobrevivência. Apesar de desde a década de 20, já se evidenciasse ser a hidrometração, uma providência eficaz contra o desperdício da água, nenhum reservatório de distribuição da cidade possuía

aparelhos para medição dos volumes d’água, para melhor controle do consumo real. Alertava –se, desde essa época para a perda física de água - cuja distribuição era dispendiosa - e a conseqüente perda econômica no faturamento. Percebe-se que o uso obrigatório de hidrômetro viria a sanar graves defeitos que se notam, até hoje, na distribuição de água em Salvador. A grande maioria das residências possui reservatórios de água, e as que não os possui, geralmente a população mais carente, reservam a água de alguma maneira, a exemplo de tonéis, vasilhames e outros utensílios. Isso se deve ao fato da realização constante de ‘manobras’ na rede, bem como a intermitência e constantes faltas dágua no sistema de abastecimento, principalmente nas regiões de baixa renda. Esse acondicionamento individual da água, assim como falhas na manutenção das redes, contribuem para a má qualidade e conseqüente impropriedade da água distribuída, gerando aversão por parte da população à sua utilização diretamente das torneiras. Em 1925, em razão da estiagem prolongada com redução de 50% do volume disponível, houve uma piora significativa dos serviços de abastecimento de água na cidade. O Estado assume encargos do saneamento básico e assina contrato com Saturnino de Brito para ampliação dos serviços. O Estado custearia os serviços de água e esgoto com o produto das respectivas taxas, podendo aumentá-las quando realizasse obras, que assegurassem à população um suprimento regular em quantidade e qualidade de água em eficácia do esgotamento sanitário. Inicia uma nova lógica da auto-sustentação dos serviços como produto de tarifação adequada, observando a estreita vinculação entre saneamento e saúde. A criação do Fundo de Saneamento e Energia, em 1939, possibilitou as obras de aproveitamento do Rio Joanes para abastecimento da cidade. É também nessa época que ao tempo que surgem bairros de classe alta, intensificam-se os processos de invasão, como as palafitas dos Alagados e início da periferização da cidade, fruto do desequilíbrio habitacional, causado principalmente, pela intensa migração do contingente demográfico envolvido com a instalação da cultura cacaueira no sul do Estado. Com quase 300.000 vidas, a Cidade do Salvador clamava por um serviço permanente e suficiente na distribuição, sem o qual o uso de hidrômetros causaria prejuízos aos consumidores, uma vez que a realização de manobras, principalmente em cidades de topografia acidentada como a de Salvador, conduziria a entradas de ar na rede, dando uma falsa medição do consumo. Além do mais, sem um serviço adequado, não se poderia abandonar "o uso condenável e dispendioso" das caixas dágua nas habitações. Em alguns países desenvolvidos, a exemplo dos Estados Unidos, essa prática é ilegal. Assim, em 1943 cogita-se em traçar o primeiro plano urbanístico completo para a cidade. A cidade do Salvador é dividida em três bacias hidrográficas distintas: a bacia que acompanha o contorno da Baía de Todos os Santos desde o Farol da Barra até Itapagipe; a bacia que perlonga o litoral do Atlântico, do Farol da Barra até o Rio Vermelho na Ponta do Chega-Negro; e, a bacia do Camurugipe, que corta a cidade, sendo a mais importante de todas. O projeto de abastecimento de água previa a ampliação das redes de modo a melhorar o nível de cobertura nas áreas já atendidas e beneficiar as demais áreas ainda não contempladas pelas redes existentes; enquanto que o projeto de esgotos pretendia dotar Salvador de um sistema de esgotamento sanitário, que atendesse à região que drenava para a Baía de Todos os Santos.

A Comissão de Estudos e Obras dos Serviços de Águas e Esgoto da Cidade do Salvador teve sua denominação alterada em jan/1944, para Comissão de Águas e Esgotos de Salvador - CAECS, agora vinculada à Secretaria da Viação e Obras Públicas. Esta Comissão tinha como objetivos: revisar e atualizar os projetos de Saturnino; elaborar o Plano Diretor de Saneamento Básico para a Cidade; e realizar obras de ampliação do Sistema de Abastecimento de Água - SAA de Salvador. A necessidade de combate ao desperdício, a adoção generalizada de hidrômetros, bem como uso da técnica apropriada de ligação de água, foram as principais recomendações contidas no Relatório da CAECS, em 1945. Em 1949 foram construídos chafarizes públicos para o suprimento dos bairros tipicamente proletários, como São Caetano e adjacências (RA 3), e para os bairros considerados de ‘veraneio’ da classe de renda mais alta (RA 8). O repasse dos 5% dos recursos de royalties pela extração do petróleo no território estadual (Lei Federal 2004/53) e as linhas de crédito especial, através do Fundo de Saneamento – criado em 1951 -, possibilitaram no período de 1943-55 a realização de obras e expansão dos serviços de abastecimento de água. Foram realizadas nesse período obras de aproveitamento dos mananciais dos rios do Cobre e Ipitanga, e extensão da rede de água, voltada para o Campo Grande, Pelourinho e Barbalho (RA 1) e parte de Itapagipe (RA 2), beneficiando com os serviços, grupos da população com perfil de alta e média rendas. No início dos anos 60, apenas 45% da população urbana do país tinha água encanada e 24% coleta de esgoto. Salvador contava nessa época (1960) com seis setores de abastecimento devido à grande variação de cotas na cidade. A rede distribuidora de água cobria parte reduzida da área habitada, havendo necessidade de expansão da rede o que era impossível devido à escassez de linhas adutoras. O Censo revelava 655.735 habitantes e a cidade contava com apenas 30 km de rede de esgotos, sendo que 27 km haviam sido construídas por Teodoro Sampaio em 1904. A rede existente cobria apenas 3,3% da área urbana total e cerca de 4% da população. O Sistema de Abastecimento de Água de Salvador – SAA, era insuficiente para a população, e os serviços inadequados tanto do ponto de vista quantitativo (nível de cobertura), quanto do ponto de vista qualitativo, uma vez que a água distribuída tinha sérias deficiências nos tratamentos físico-químicos e sanitários. Operava com regime de "manobras" em algumas áreas. Havia vias públicas abastecidas com menos de 3 horas diárias. Não se dispõe de dados quanto à distribuição por tipo de usuários (classe). Os escassos recursos vinham da União, a fundo perdido onde alguns Estados puderam ampliar redes e ou realizar algumas melhorias nos sistemas e na qualidade do atendimento. O recém-criado Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID (1959), firma contratos de empréstimos com bancos regionais e estaduais e órgãos de saneamento estaduais, para financiar obras em várias capitais, como Rio de Janeiro, Salvador, Belém, Recife, São Luís e Natal. Em Salvador, as negociações para o empréstimo tiveram início no Centro de Projetos e Estudos – CPE, que via a questão do abastecimento de água numa perspectiva de desenvolvimento regional. Por ‘sugestão’ do BID, foi constituído o Conselho de Saneamento,

tendo por finalidade monitorar a administração da autarquia, na expectativa de que uma gestão "séria" possibilitasse a auto-sustentação financeira do setor Carteado, 1993. Os organismos internacionais, ao concederem os empréstimos, definiam (e ainda definem) não apenas a forma da utilização dos recursos, mas a forma de atuação do próprio setor de saneamento. No programa estabelecido com o BID, viabilizou-se o Sistema Joanes realizando 140 km de rede de água com instalação de 25.000 hidrômetros (medidores). O uso de hidrômetros sinalizava um atendimento à nova lógica do setor, imposta pelo BID, visando a auto-sustentação através de tarifação justa, onde o usuário pagaria o correspondente ao volume efetivamente medido, portanto, consumido. No período compreendido de 1961 a 1966, foram realizadas extensões da rede de água beneficiando os bairros da Pituba (RA 8), Alagados , Massaranduba (RA 2) e a os bairros que drenam para a faixa litorânea do Atlântico, da Amaralina a Itapoan (RAs 7 a 10). Foram substituídas linhas tronco para reforço no abastecimento de áreas já atendidas por redes de água já existentes, porém com serviços inadequados (insuficiente e intermitente), beneficiando bairros em processo de adensamento, como Itapagipe, Uruguai (RA 2), Brotas (RA 5), Nazaré e parte da área central da cidade alta (RA 1). Quando não era possível fazer a extensão, construía-se chafarizes, que eram operados e administrados por funcionários da autarquia. Estima-se que em 1966 existissem cerca de 100 chafarizes na cidade, localizados na periferia: Pau da Lima, Fazenda Sete de Abril (RA 13), e nos subúrbios, como Plataforma, Periperi (RA 16). A partir de 1969, essas áreas foram beneficiadas com quase 100 km de rede de água.O serviço público de esgotamento sanitário continuava o mesmo de 1907, quando foram construídos 27 km de rede de esgoto, muito embora a população tenha quase quintuplicado. Esgoto não figurava como um problema nem para a população nem pra as autoridades públicas. A solução encontrada pela população era de fossas sépticas ligadas à rede de drenagem de águas pluviais, saturando os terrenos. Quando não corriam pelas encostas, desembocando nos vales – agravando a situação de riscos de movimentos de terra -; eram lançados a céu aberto – gerando a degradação ambiental, poluindo o solo, o lençol freático, os rios, córregos e mares. Com a abertura das avenidas de vale (1960 – 1970), a ausência do sistema público de esgotamento sanitário se fez visível, causando problemas inclusive pela movimentação de terra durante as obras de terraplenagem dessas avenidas. Em 1966 foi elaborado o "Planejamento Geral do Sistema de Esgotos para a Cidade do salvador e para o Distrito Industrial de Aratu no Estado da Bahia". Somente em 1971, quando Salvador viveu um cenário de transformações e mudanças que culminou com a implantação do Centro Administrativo da Bahia, na Avenida Paralela, nascia a EMBASA. Salvador iniciava os anos 70 como a maior cidade do continente sem serviços de esgotamento sanitário. A lógica era privilegiar o interesse do capital privado, direcionando a demanda para a construção civil. Assim em abril de 1972, começaram as obras do primeiro emissário submarino totalmente construído na América Latina, com capacidade para esgotar 7,8

m3/seg. Concluída a parte de mais alto custo – os emissários terrestre e submarino, a execução do sistema foi interrompida por falta de recursos (Carteado, 1993:104). A partir da década de 70, constata-se uma evolução seqüencial nas redes de água e esgoto e conseqüente ampliação do nível de cobertura. Vários foram os fatores político-institucionais e técnico operacionais que contribuíram e ainda contribuem para que a Cidade do Salvador se recupere desse atraso histórico de 400 anos, sem redes de infra-estrutura sanitária adequadas ao porte da metrópole que se transformou, com seus 2,5 milhões de habitantes e outros tantos milhões de visitantes. Dentre os fatores mais significativos para essa evolução, especialmente com relação às redes de esgoto, destacam-se o Plano Nacional de Saneamento –PLANASA; o Programa de Modernização do Setor de Saneamento – PMSS; e o Programa de Saneamento Ambiental – BAHIA AZUL. A Bahia foi o primeiro estado brasileiro a reformular a sua estrutura administrativa voltada para o saneamento básico, criando através da Lei Estadual nº 2929, de 11 de maio de 1971, a Secretaria do Saneamento e Recursos Hídricos, adequando-se às recomendações do Plano Nacional de Saneamento - PLANASA e habilitando-se a convênios com o Banco Nacional de Habitação – BNH, para mobilizar recursos e executar o mais ambicioso programa de saneamento básico no Estado. Na década de 90, após a perdida década da água (anos 80), foi lançado, a nível nacional, o Programa de Modernização do Setor Saneamento - PMSS, onde a EMBASA, juntamente com mais três Companhias Estaduais de Saneamento, foi selecionada como empresa-piloto para implementação e teste. Este Programa, constava (e ainda consta) de uma série de medidas de ajustes a saber: redução de despesas; recuperação de créditos; investimentos; e, dispositivos de controle e de gestão. O PMSS, provocou mudanças na Gestão da Empresa, mesmo quando ainda não havia ocorrido aporte de recursos, quanto aos seguintes aspectos: (i) adoção de postura empresarial; (ii) utilização de indicadores; e, (iii) adoção e cumprimento de compromissos e metas. Em 09 de dezembro de 1992 e em 1º de março de 1996, a EMBASA assinou contratos de adesão com o Programa de Modernização do Setor Saneamento – PMSS e com o Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, respectivamente. A partir destas datas, constata-se uma evolução significativa nos indicadores de extensão de redes e ligações e conseqüentemente do índice de cobertura dos serviços, especialmente de esgotamento sanitário (Ver Tabela 02). Tabela 02 - EVOLUÇÃO DOS INDICADORES DE SANEAMENTO: SIAA SALVADOR, LAURO DE FREITAS E SIMÕES FILHO (1992 – 2001) 1992 1993 1994

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 LIGAÇÕES DE ÁGUA 321.123 329.908 336.337 343.478 351.250 357.230 368.720 396.553 421.917 437.899 LIGAÇÕES DE ESGOTO 30.868 31.743 33.327 37.715 41.170

48.529 63.815 82.297 92.141 106.623 ECONOMIAS RESID. DE ÁGUA 532.945 532.945 542.758 557.078 567.135 580.048 598.542 602.774 660.536 682.174 ECONOMIAS RESID. DE ESGOTO 115.567 122.211 127.395 141.111 148.749 166.246

193.028 214.670 233.216 259.284 EXTENSÃO REDE DE ÁGUA 3.892 3.929 3.946 4.078 4.122 4.193 4.251 4.398 4.525 EXTENSÃO REDE DE ESGOTO 527 566 602 636 862 1.121 1.406 1.467 Fonte: EMBASA, Assessoria de Planejamento, 2002.

Notas: POPULAÇÃO URBANA (Censo IBGE): Salvador: 2.073.510 (1991); 2.439.823 (2000); Lauro de Freitas: 44.374 (1991); 108.128 (2000); Simões Filho: 44.419 (1991); 76.817 (2000). A evolução das redes e a conseqüente ampliação do nível de cobertura dos serviços, no período estudado (1850 – 2000) podem ser mais bem visualizados no Anexo II. Para visualizar a atual distribuição espacial das redes de água e esgoto (2002), por bacias de contribuição, ver as Figuras 04 e 05. No Anexo III temos a situação em 2002 do Programa BAHIA AZUL quanto às obras de esgotamento sanitário. Figura 04: REDES DE ÁGUA POR BACIA DE DRENAGEM EM SALVADOR, 2002. Fonte: FDI/ Departamento de Geoprocessamento da EMBASA, 2002. Figura 05: REDES DE ESGOTO, POR BACIA DE DRENAGEM EM SALVADOR, 2002 Fonte: FDI/ Departamento de Geoprocessamento da EMBASA, 2002. Os investimentos em esgotamento sanitário vem aumentando, ao longo da última década, o que demonstra a preocupação da empresa em ampliar este serviço. O Quadro 03 apresenta a previsão de investimentos, em U$ (milhões) do Programa Bahia Azul, que representa o maior conjunto de obras e ações na área de saneamento e meio ambiente que o Governo da Bahia realiza, desde o início dos anos 70, quando se iniciou a implantação dos sistemas de esgotamento sanitário de Salvador e cidades de grande porte do Estado (BAHIA AZUL, 2002). Quadro 03 – PREVISÃO DE INVESTIMENTOS: BAHIA AZUL (U$ milhões) – 2000 FONTES DE INV./ PROJETO BID BIRD

GEB JBIC CEF BNDES TOTAL BTS 264 79 78 19 440 PMSS 65 10 15 50 140 METROPOLITANO 8 12 20 TOTAL 264 73

101 78 15 69 600 Fonte: BAHIA AZUL, 2002. ANÁLISE E COMPREENSÃO DO PROCESSO EVOLUTIVO É preciso compreender a função das redes de infra-estrutura sanitária e perceber os efeitos da descontinuidade e ou inadequação dos serviços de saneamento básico. Conceitos de cidadania, eficácia social e qualidade de vida devem espelhar as atividades e serviços higiênico-sanitários de modo a tornar a vida humana senão socialmente sustentável, ao menos suportável. Estamos vivenciando uma nova economia da solidariedade, onde os custos do não-ambientalmente adequado não podem mais ser considerados externalidades, uma vez que interferem e impactam a todos. Os indicadores sócio-econômicos e de cobertura dos serviços de saneamento básico nos dão a exata medida da insalubridade ambiental que atinge a todos, e em especial à maioria da população carente. A ONU estuda a possibilidade de universalização no atendimento e garantir o direito a um mínimo de 40 litros de água por habitante dia, de forma a promover condições de sobrevivência e sustentabilidade das populações desassistidas, e evitar a catástrofe que se anuncia da completa falta d’água em algumas regiões do planeta. Enquanto isso, as redes de água das grandes cidades brasileiras apresentam, a lamentável média, de 40% em ‘perdas’ de água no sistema distribuidor. Isso significa dizer, que em 100 litros de água tratada, 40 litros não dão retorno ao investimento, e o que é pior, não chegam ao consumidor. Quais os fatores que contribuem efetivamente para essa situação? A convivência com essa realidade de ‘perdas’ - previstas e contabilizadas nas projeções de populações abastecíveis desde os primeiros Planos Diretores de Água para as regiões brasileiras - tem conduzido os técnicos e as instituições a uma equivocada percepção e busca de solução do problema, atuando nos sintomas, sem a devida investigação criteriosa e aprofundada dos fatores (físicos, biológicos, sócio-culturais, econômico-ambientais, político-institucionais, técnico-operacionais) de modo a se combater as causas fundamentais da questão.

Continuam sem respostas, algumas questões elementares, a exemplo: por que o índice de inadimplência dos serviços de saneamento é maior que a de serviços de energia, telefonia e outros? Será porque na percepção da população os serviços de água e esgoto são menos essenciais ... ou será porque ainda não se pôs em marcha uma política eficaz de comunicação e educação sanitária e ambiental ... ou será uma questão de ineficiência gerencial e ou operacional dos sistemas? Mesmo considerando-se a complexidade das principais metrópoles brasileiras, em que as cidades se expandem numa dinâmica muito mais intensa e rápida (e às vezes diametralmente oposta) do que o previsto nos planos urbanísticos, onde os processos de invasão e favelização proliferam, cabe questionar por que dificilmente se pode beber da água distribuída pelos sistemas de abastecimento, diretamente das torneiras. Por que é necessário todo um trabalho exaustivo de agentes sociais, no sentido de convencimento e aceitação das comunidades (classes ricas e ou pobres) para a viabilidade social e econômica das obras e manutenção dos serviços de saneamento, se estes são considerados essenciais. No Brasil, os sistemas urbanos de saneamento básico, paradoxalmente à sua função de tornar sadio e produtivo o ambiente e as pessoas, vêm ao longo do tempo contribuindo para o aparecimento de novos padrões de desigualdades e exclusão social. Qual a natureza das razões que inviabilizam a oferta eqüitativa e sustentável de saneamento básico para todos? Como conceber a oferta de água potável sem a conseqüente coleta de esgotos por ela gerada? No que tange ao saneamento básico, contabilizam-se tristes registros: 33% da população privada do abastecimento de água; 100 milhões desassistidos pela rede de esgotamento sanitário, com apenas 10% do que é coletado recebendo tratamento adequado; população infantil contaminada por doenças de veiculação hídrica, responsáveis na média nacional, por 60% de internações na rede hospitalar pública; 56 milhões de habitantes de cidades infestadas pelo aedes aegypti, entre outros vetores, que contaminam centenas de milhares de pessoas, somente por encontrarem condições de proliferação em ambientes desprovidos do abastecimento regular de água e disposição adequada para o lixo e esgoto (TENÓRIO, 1998). Apesar de encontrarem-se por vezes em esferas distintas de competências de gestão – institucionais, empresariais e operacionais - são, em última instância, responsabilidades intrínsecas das concessionárias prestadoras de serviços de saneamento, quer sejam públicas ou privadas (Ver Figura 06). Figura 06 – RESPONSABILIDADES DAS COMPANHIAS CONCESSIONÁRIAS DE SANEAMENTO BÁSICO Elaboração: OLIVEIRA, R. 2002 (adaptado de Andrade, 2000). Assim como o não atendimento de várias demandas sociais entende-se a ausência e ou inadequação de redes urbanas de água potável e de esgotamento sanitário, como reflexo de

uma questão mais ampla, de caráter político-institucional e técnico-empresarial, cujos efeitos se fazem sentir em suas dimensões sócio-econômico-ambientais. As próximas seções buscam explicitar os principais aspectos e questões que produzem esses efeitos. Aspectos Político-institucionais Em diversos países do mundo, a gestão dos serviços de saneamento vem ocupando o centro dos debates sobre gestão urbana. Não mais se restringe o tema a questões da estatização, municipalização ou privatização, inserindo a função da regulação na gestão dos serviços. Sob a ótica das companhias públicas de saneamento, verifica-se uma mudança de cultura, onde se amplia o foco para o mercado e para o cliente, seja ele usuário ou não dos serviços, uma vez que, num ambiente cada vez mais globalizado e competitivo, as empresas redefinem o seu papel buscando uma maior responsabilidade social e cidadania ambiental. Na visão dos profissionais do setor, observa-se uma dose de apreensão, onde o desconhecimento das questões legais e institucionais do processo de desestatização acarreta uma visão equivocada do processo de regulação, focada apenas na privatização e no corporativismo, na busca de garantir uma estabilidade no emprego, há muito já perdida! De modo geral o saneamento tem caráter local, tendo, portanto, o município, o Poder concedente, conforme preconiza o Artigo 30 da Constituição Federal de 1988. Por outro lado, constata-se que o setor de saneamento, ainda não dispõe a nível federal, de instrumentos que respaldem a política pública das concessionárias dos serviços de abastecimento de água e saneamento básico. As normas existentes são frágeis e inadequadas para a definição de marcos e implementação de ações regulatórias. A Lei das Concessões, por sua vez, abriu uma perspectiva que introduz uma série de questionamentos sobre o futuro das empresas estatais do Setor de Saneamento no Brasil. Essa Lei proporciona o surgimento de várias empresas privadas operadoras de serviços, que se preparam para participar de todas as licitações públicas, acenando aos Prefeitos e Governadores com as supostas "vantagens", de uma gestão privada. O setor de saneamento no Brasil assumiu sua atual configuração ao longo da década de 1970, no âmbito do Plano Nacional de Saneamento Básico (1971) – PLANASA -, quando foram criadas as Companhias Estaduais de Saneamento Básico – CESBs -, desde então as grandes operadoras. Estas empresas centralizaram os serviços municipais no nível estadual e eram, em 1997, responsáveis pelo atendimento de cerca de 70% dos municípios e 80% da população urbana do país. Os demais municípios são autônomos, isto é, administram seus próprios serviços. O setor está, portanto, subdividido em dois segmentos: os serviços municipais autônomos e os estaduais. O PLANASA vigorou do início dos anos 70 ao início dos anos 90 e permitiu melhorar notavelmente a cobertura dos serviços de saneamento básico em todo o país. Além disso, propiciou a capacitação técnica das empresas estaduais para o gerenciamento de grandes sistemas de produção. Entretanto, tais resultados têm sido amplamente questionados quando contrapostos à ineficiência operacional-gerencial e ao desequilíbrio financeiro que têm caracterizado o desempenho dessas Companhias. Apesar das melhorias observadas no

período mais recente, as empresas apresentam um histórico de problemas técnicos, operacionais, gerenciais, financeiros e institucionais dos quais resultam desempenhos no mínimo insatisfatórios. Umas das razões que explicam os altos índices de mortalidade infantil e mortalidade em geral, na Cidade do Salvador, notadamente devido a doenças gastro-intestinais, é a baixa cobertura de soluções adequadas para o destino dos esgotos sanitários. No que pese todos os esforços para compensar o atraso centenário, atualmente apenas 26% das residências da cidade se encontram ligadas aos sistemas de esgotamento sanitários operados pela EMBASA. Do restante, a grande maioria lança os seus efluentes de forma inadequada, comprometendo a saúde da própria família e da comunidade em geral. As concessionárias de saneamento, públicas ou privadas, que dependem essencialmente dos recursos hídricos para as suas atividades produtivas, e que têm por mandato institucional, o dever de zelar pelos mananciais, por muito tempo descuidaram do cumprimento dessa obrigação. O modelo desencadeado pelo Plano Nacional de Saneamento – PLANASA, contribuiu para a consolidação deste quadro em 2 (dois) aspectos: a) ao propor um modelo auto-sustentável a partir da arrecadação tarifária, gerido em última instância por um organismo financeiro - o BNH, que marginalizou, de fato, investimentos não rentáveis, tais como o esgotamento sanitário, principalmente nas áreas ocupadas pela população de menor renda; b) ao exigir das prefeituras a concessão dos serviços e esgotos para as empresas estatais, para receberem financiamentos do Sistema Financeiro de Saneamento, dificultou-se a possibilidade de articulação e coordenação dos esforços de expansão da infra-estrutura urbana. Persistem grandes perdas nos sistemas de água e baixa produtividade. Os procedimentos gerenciais, tarifários - as tarifas foram muitas vezes utilizadas como instrumentos de controle da inflação e como moeda política – e financeiros dessas empresas tendem a ser inadequados, os gastos de pessoal, elevados, e ainda há grande descontrole de custos. As Comanhias de Saneamento apresentam também um histórico de alto endividamento e, por fim, não existem instâncias regulatórias para monitorar sua ação, o que lhes proporcionou grande autonomia decisória. A falta de incentivos à eficiência é decorrente das próprias condições que viabilizaram o PLANASA – o fato de essas empresas serem monopólios públicos e sua facilidade para captar recursos e realizar grandes obras – e da politização das suas administrações. Tais problemas impediram que as metas programadas para o PLANASA – universalização dos serviços e auto-sustentação financeira do setor – fossem alcançados. A partir de fins dos anos 80 ocorre a progressiva desarticulação dos mecanismos institucionais e administrativos do PLANASA. Desde então, as empresas passaram a enfrentar dificuldades crescentes para realizar investimentos compatíveis com o crescimento populacional e as necessidades de reduzir os déficits existentes, agravados pela redução da arrecadação do Fundo de Garantia do Trabalhador - FGTS, maior fonte de recursos do setor. Com o fim do PLANASA, no início dos anos 90, o sistema federal de gestão do setor esteve por algum tempo desarticulado, até que, em 1995, foi transferido para a Secretaria de Políticas Urbanas (SEPURB) do Ministério do Planejamento e Orçamento, que desde então

vem traçando e implementando uma nova Política Nacional de Saneamento visando à completa reestruturação do setor. Nas novas políticas, a eficiência tornou-se importante requisito para atingir as metas de universalização do atendimento, já que sua ampliação pode gerar recursos capazes de financiar parte importante dos investimentos. Em 1995 a SEPURB estimou que a redução à metade do índice de perdas das empresas estaduais disponibilizaria recursos da ordem de R$ 1 bilhão por ano (20% do faturamento do setor). Esta recuperação representa algo em torno de 40% dos investimentos necessários para que o país alcance a meta de universalização dos serviços. Não cabe a menor dúvida que a reversão do quadro de carências do setor saneamento em Salvador passa pela reformulação do modelo institucional vigente, de forma a se conseguir níveis de articulações e mútuo apoio entre o Estado e Município, que permitam não apenas uma maior racionalidade, e conseqüentemente, barateamento dos investimentos do setor, como também mecanismos de motivação e coordenação técnico–administrativas eficientes e rápidos. Torna-se necessário, portanto, definir um modelo de aproximação interinstitucional que não só articule e coordene as ações previstas, como permita a consolidação de propostas que só são viáveis quando se encara o saneamento básico de uma forma abrangente, considerando a sua função primária de promover a salubridade do meio e a saúde das pessoas. Para isto acontecer há necessidade de aproximar os setores responsáveis pelo abastecimento d’água, esgotos sanitários, drenagem pluvial, limpeza pública e vigilância sanitária, num espaço institucional adequadamente projetado para permitir o planejamento integrado e a articulação das ações dos órgãos responsáveis por estas atividades, sejam estaduais ou municipais, sem conduto lhes retirar a sua necessária independência. Há que se ressaltar a atuação dos bancos multilateriais de fomento ao desenvolvimento na reorganização do setor saneamento, particularmente o Banco Mundial – BIRD e o Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID. Matéria jornalística em 1998 informava que o BNDES se preparava para apoiar uma série de licitações para a área de saneamento, com a abertura de linhas de crédito para o setor privado. A febre das privatizações no Brasil lança sua atenção sobre o saneamento. Preocupa além da ausência de instrumentos e mecanismos regulatórios; o despreparo do Estado que ainda conta com ultrapassados mecanismos de comando e controle; e, preocupa principalmente, a grande massa de excluídos que não têm condições de arcar com os custos dos investimentos que se fazem necessários. Em Relatório sobre o desenvolvimento mundial o Banco Mundial afirma que um Estado efetivo será vital na provisão dos bens e serviços á sociedade e na construção de regras e instituições de promoção no desenvolvimento sustentável econômica e socialmente. Foi desenvolvido pelo Banco Mundial em 1998, um estudo específico para questão do saneamento, com o nome de "Brazil, managing pollution". Trata-se de um relatório de avaliação da chamada Brown Agenda para o Brasil, elaborado por técnicos de diversos setores do Banco Mundial, em Washington, que a ponta, entre outros, os seguintes problemas como recorrentes nos sistemas de gestão:

falta de priorização dos problemas e de intervenção que privilegiem critérios de custo-efetividade; adoção de instrumento antiquado de comando e controle; falta de integração da aspecto ambientais nas políticas especiais setoriais e no processo de planejamento; alta de capacidade de implantação efetiva da legislação; confiança excessiva no financiamento governamental. PAGNOCCHESCHI, Bruno. 1998 O Banco Mundial, ressalta ainda, em seu Relatório que o processo de modernização do setor, em curso, e o início da privatização oferecem oportunidade única para incrementar o investimento no setor e para integrar o saneamento básico com o planejamento da qualidade ambiental. Adverte, no entanto que problemas na coordenação de ações que envolvem o setor ambiental e outros setores poderão desencaminhar o processo; ressalta ainda a necessidade de marco regulatório claro e definição prévia de objetivos e obrigações dos concessionários ao longo do tempo. A criação de um ambiente de eficiência e qualidade na prestação dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário, no Brasil, requer, no entanto, a observância, dentre outros, dos princípios legais prescritos na Carta Magna: (i) o saneamento básico é serviço de responsabilidade comum, da União, Estados, e Municípios, cabendo às municipalidades a titularidade dos serviços de interesse local; (ii) os sistemas de saneamento básico, saúde, meio ambiente, recursos hídricos e desenvolvimento urbano, devido à natureza interdependente e ao princípio da competência concorrente dos diversos níveis de governo exigem a coordenação institucional de suas atividades; (iii) descentralização administrativa e o fortalecimento administrativo e financeiro das municipalidades; (iv) necessidade de licitação para as novas concessões de serviços públicos, exceto no caso de entidade pública criada pelo poder concedente com finalidade exclusiva. Constituição Federal, 1988. Por outro lado é preciso pensar o saneamento enquanto infra-estrutura promotora do desenvolvimento. Os concessionários de saneamento básico, quer sejam públicos ou privados, enquanto organizações que prestam um serviço de utilidade pública, devem estar atentos aos aspectos e vetores de desenvolvimento local e regional, de modo a estudar e elaborar projetos compatíveis com o poder aquisitivo (renda) das pessoas, tendo em mira a adequação tarifária dos serviços e a redução da inadimplência, observando a premissa de que o acesso aos serviços de saneamento básico é um direito assegurado pela Constituição Federal do Brasil. Questões Técnico-operacionais Esta seção trata de algumas questões ligadas à concepção de projetos de redes, como demandas e consumos per capita; e, à operação das redes, como micromedição e perdas. Também aborda a questão dos indicadores do saneamento.

Quanto à concepção dos projetos de redes Um projeto pode ser técnico, econômico e ambientalmente adequado, porém se não for socialmente aceito, sua manutenção torna-se onerosa e deficiente, e dificilmente se conseguirá a sustentabilidade das intervenções sanitário-ambientais. Em razão do modelo centralizador e autoritário do PLANASA, os profissionais do saneamento básico distanciaram-se da realidade das comunidades a que servem. Assim, muitas vezes os sistemas são concebidos sem a discussão e comprometimento de todas as partes interessadas. É preciso preparar os profissionais do setor e resgatar essa aproximação, de modo a vislumbrar a eficácia e sutentabilidade das intervenções higiênico-sanitárias. O modo de apropriação do espaço urbano da Região Metropolitana de Salvador espelha a reprodução das desigualdades sócio-econômicas e a segregação de grande contingente populacional nas periferias, inviabilizando, por vezes, a universalização de soluções convencionais para muitos sítios urbanos de baixa renda, que, em contrapartida, requerem soluções alternativas para os problemas de saneamento. Os bairros que abrigam populações de baixa renda, devido a implicações de ordem técnica e econômica, não se adaptam à solução convencional da rede coletora adotada. Esses bairros, com topografia acidentada, encostas tecnicamente consideradas não edificáveis e habitações de baixo custo construtivo, dificultam a implantação da rede coletora que, caso viesse a ser adotada, por certo, resultaria num sistema tarifário bastante oneroso para a população de baixa renda. As redes de saneamento básico, especialmente as de esgoto, enfrentam condições inapropriadas nas vizinhanças mais pobres, ocasionando catástrofes tanto por sua existência quanto por sua inexistência. Ruas estreitas e indefinidas, disposição irregular das habitações, aliados à localização dessas áreas, geralmente nas piores regiões urbanas – terrenos rochosos, encostas propensas a desabamento, alagadiços e bacias propensas a inundações, distantes dos principais troncos coletores - tornam as soluções convencionais extremamente onerosas e por vezes tecnicamente impossíveis e ou inadequadas. Sob o ponto de vista técnico, dentre os avanços da engenharia sanitária no país, destaca-se a concepção do sistema condominial de redes de esgotos, como uma alternativa de saneamento urbano centrado no usuário, acessível a todas camadas sociais, especialmente aquelas de menor poder aquisitivo. Essa alternativa, concebida no final dos anos 70, por engenheiros sanitaristas brasileiros, supera muitas barreiras técnicas e financeiras no saneamento urbano. A experiência condominial tem se configurado nesse período de tempo, em uma solução tecnicamente segura, e em caminho mais apropriado para servir a população de baixa renda e vizinhanças de alta densidade urbana. A maioria dos problemas do sistema condominial tem origem nas redes interceptoras, e resulta de uma precária supervisão de projeto, baixa qualidade das obras e dos materiais empregados, operação e manutenção deficientes - problemas estes, que também ocorrem com o sistema convencional. Contudo, há uma resistência significativa, tanto da comunidade técnica quanto científica, em rever normas técnicas para redes de esgotos que têm permanecido inalteradas por mais de um século (WATSON, 1994). Por outro lado, a concepção dos sistemas baseia-se quase que exclusivamente em dados e registros oficiais, sobre populações e densidades, que não retratam a dinâmica, muito menos aspectos sócio-culturais dessa população. É vital resgatar essa aproximação, de modo a vislumbrar uma

co-gestão dos serviços e a sustentabilidade das intervenções higiênico-sanitários. Também verifica-se a necessidade de incorporar a variável ambiental em todo ciclo dos sistemas de água e esgoto, abrangendo desde a concepção e as obras à operação e a manutenção destes. Quanto à anatomia dos indicadores Os indicadores de saneamento não traduzem a realidade observada e vivida. É preciso substanciar os indicadores, transpondo o paradigma da racionalidade instrumental, onde os fins justificam os meios, para uma racionalidade de valorização dos meios, de modo a vislumbrar se não a auto-gestão na manutenção dos serviços e benefícios das intervenções sanitárias, ao menos a gestão compartilhada – axiomas do desenvolvimento sustentável. Na percepção generalizada de que o saneamento básico - em condições adequadas, ou seja, com qualidade, acessibilidade e equidade - é essencial para a geração de riqueza e a promoção da saúde e bem-estar social das cidades e suas coletividades, reside a principal razão pela qual os governos e instituições brasileiras, têm realizado consideráveis esforços para melhoria dos seus indicadores de atendimento e cobertura. Reconhece-se que aferir a adequação dos serviços de saneamento é uma tarefa extremamente complexa. Chama-se atenção, ainda, para as reconhecidas e marcantes especificidades nacionais e regionais, no que diz respeito à base técnico-científica, que apontam para a necessidade de associar à produção de informação quantitativa o desenvolvimento de estudos mais aprofundados para validar ou redefinir os pressupostos sobre os quais se apóiam os indicadores. A simples observação dos indicadores de saneamento básico disponíveis permite que se constate que à medida que se avance dos indicadores de gerenciais e operacionais (de caráter técnico-financeiro), para indicadores de resultados (de caráter empresarial) e destes para os de impacto (de caráter político-institucional), mais escassos se tornam, constituindo-se, em si, um resumo de sua própria história. Os indicadores que ora se disponibilizam para o Brasil acompanham, grosso modo, esta descrição. Embora o país já possua longa tradição na produção destes indicadores, em especial os de insumo e produção, há ainda lacunas importantes a serem preenchidas, mesmo no que diz respeito a estes. Não se dispõe, por exemplo, de dados abrangentes sobre os recursos aplicados em saneamento básico pelas empresas, nem sobre os resultados traduzidos em efeitos (saúde, qualidade ambiental, desenvolvimento), o que impede a mensuração mais acurada dos esforços nacionais no setor. Os próprios investimentos públicos neste campo são subdimensionados em função das dificuldades existentes. Quanto à demanda x consumo e micromedição A questão do consumo ‘per capita’ não comporta solução generalizada de ordem teórica. Em projetos novos pode-se até fixar uma taxa de consumo por meio de comparações baseadas em suprimentos alheios, porém, deve-se observar se as cidades possuem condições de vida pelo menos semelhantes à considerada. Quando se tratar, no entanto de uma ampliação de serviço, convém prever-se o novo volume de água de acordo com os elementos estritamente peculiares à vida da cidade, ou melhor, da área onde se dará a expansão da rede.

É de fundamental importância a incorporação de novas filosofias e tecnologias, a exemplo de produção mais limpa, de forma a transpor paradigmas com relação a "perdas", consideradas erroneamente como "inerentes" aos processo de produção e distribuição. Verifica-se também, a importância da conscientização e educação sanitária e ambiental em todas as classes, de forma a reduzir os desperdícios e as perdas de água bem como o entendimento dos benefícios das intervenções higiênico-sanitários. Dimensões Sócio-econômico-ambientais Em Salvador, tal qual as demais metrópoles brasileiras, o índice de qualidade ambiental urbana reflete, na realidade, o índice de desigualdades sociais, econômicas, culturais e ambientais. Isso se traduz em forma de uma visível segregação espacial, social e também racial. Por razões já explicitadas neste trabalho em suas notas metodológicas, utilizamos como base geográfica as Regiões Administrativas (RA) da Cidade do Salvador. É importante ter-se em mente os processos de expansão urbana da cidade e de evolução da densidade populacional, por região administrativa, ao longo do período considerado, na caracterização das questões ambientais analisadas. Igualmente relevante é a localização da população em áreas de risco de movimento de encostas, bem como das populações fixadas em invasões. Desde 1920, Saturnino advertia para a necessidade imperiosa de medidas de defesa efetiva das bacias hidrográficas, mananciais em potencial para o abastecimento de água para a Cidade do Salvador. Previa, a grande despesa decorrente da inobservância dessa vigilância ambiental, tanto com processos de desapropriações, quanto com processo de despoluição, que poderiam ser facilmente evitados. Reconhecia-se a importância de um planejamento urbanístico integrado, que atendesse às necessidades da cidade como um todo. Infelizmente esse planejamento jamais se efetivou. A preocupação com a preservação dos mananciais e lençóis freáticos, embora considerada uma questão importante, pelas 23 Companhias Estaduais de Saneamento Básico - responsáveis por cerca de 80% da população abastecida por sistemas de água (SAAs) e 65% da população atendida por sistemas de esgotos (SESs), no Brasil , apenas três apresentaram programas efetivos de monitoramento, preservação e ou recuperação de mananciais - segundo pesquisa realizada pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI/SENAI, 2000). A ausência do planejamento e da efetiva vigilância do Poder deixa-nos um triste legado: hoje temos todas as nossas represas invadidas, até mesmo pela população de classe alta – conhecidas como invasões de ‘colarinho branco’ -, como se verifica nas ocupações de luxo no lago da barragem de Pedra do Cavalo – área de preservação ambiental permanente!. Quanto a qualidade das águas das praias, estudo realizado pela autora (OLIVEIRA, R. & SOUZA, 1991), considerando aspectos geográficos, urbanísticos e sanitários, na avaliação da qualidade das águas das praias de Salvador, ao longo do período de 1976-90, constatou-se ser o esgoto o principal fator limitante da balneabilidade dessas praias. A partir da análise da classificação dinâmica anual da qualidade das águas das praias de Salvador, no período estudado (76 a 90), evidenciou-se uma crescente deteriorização, com o processo de expansão urbana sem o devido acompanhamento das redes de infraestrutura sanitária. As

praias da Península Itapagipana, com os lançamentos de esgotos e lixo, desde 1976 apresentavam-se impróprias, registrando uma tendência a um percentual médio anual de 100% de impropriedade. Nos demais trechos de praia, os dados de 1988 a 1990, sinalizavam também, uma tendência generalizada à impropriedade, com exceção das praias de Piatã e Stella Mares, que iniciavam seu processo de ocupação e adensamento urbanos e se mantiveram com percentual médio de propriedade anual superior a 80% - portanto próprias. É evidente que as medidas ao nível de saneamento básico, adotadas pelo Programa de Governo – Bahia Azul, especialmente esgotamento sanitário, são determinantes para reversão desse quadro. Com o intento de realizar correlações espaciais e temporais, com os demais fatores e variáveis que caracterizam a qualidade ambiental urbana, apresenta-se quadro-resumo das características ambientais estudadas, é apresentado com a classificação da qualidade ambiental por região administrativa em razão da ordem hierárquica dos fatores ambientais, considerados por Carvalho (1997) e acolhidos neste estudo, que quando analisados em seu conjunto refletem a Qualidade Ambiental Urbana da Cidade do Salvador, no recorte temporal compreendido entre 1991-95 (Ver ANEXO IV – Mapas de Correlações). Trata-se, no entanto, de um instrumento de apoio a mais na visualização das questões ambientais analisadas. Essa ordem hierárquica determina alguns grupos de diferentes níveis de qualidade ambiental. Este trabalho representa um esforço de análise da correlação do saneamento, em especial do nível de cobertura de esgotamento sanitário, com os demais fatores ambientais considerados. A seguir apresenta-se as principais constatações em cada grupo onde percebe-se uma correspondência quase direta entre os quatro perfis de renda e os quatro grupos de qualidade ambiental urbana (ver Anexo I e Quadro 02). Grupo I (G-I) - corresponde à situação mais favorável, cujo somatório dos pesos de fatores ambientais situam-se numa faixa de 51,5 a 55,50. Compõem esse grupo, por ordem de classificação da hierarquia final, a Pituba e Barra (RAs 8 e 6). Essa classificação reflete uma perfeita concordância com o nível de renda mais alto e com as condições sanitárias mais adequadas, apresentando índice de cobertura de 100% dos serviços de água e esgoto. Grupo II (G-II)- corresponde à situação, cujo somatório dos pesos de fatores situam-se numa faixa de 76,50 a 88,50. Compreende, por ordem de colocação, Boca do Rio, Cajazeiras, Rio Vermelho, Brotas, Centro e Cabula (RAs 9, 14, 7, 5, 1 e 11). À semelhança do fator renda, cujos grupos A e B apresentaram significativa diferença entre as faixas, a qualidade ambiental também apresenta essa distância, ressaltando a segregação de renda existente e conseqüentemente fragmentação ambiental. A região de Cajazeiras (RA 14), apesar de caracterizar-se com perfil predominante de renda média baixa, graças à intervenção estatal efetiva, na promoção de condições razoáveis de infra-estrutura, apresenta boa colocação quando comparada com as demais regiões de perfil econômico semelhante. A pesar de não ser coberta pela rede de esgotos, a região conta com sistemas isolados dos conjuntos habitacionais. A região do Rio Vermelho (RA 7), apesar de também possuir perfil predominante de renda média baixa, apresenta-se nesse grupo em razão principalmente das intervenções sanitárias, com 100% de cobertura dos serviços de água e esgoto. As regiões Centro e Brotas, com perfil de renda média, com características positivas diversificadas, que em seu conjunto se apresentam numa mesma faixa de qualificação

ambiental do Cabula, de menor perfil de renda. Isso pode ser creditado à baixa densidade populacional e à existência de muitos conjuntos habitacionais, que possuem sistemas isolados de esgotamento sanitário. Grupo III (G_III) - corresponde à situação ambiental cujo somatório dos pesos de fatores situam-se numa faixa de 103,0 a 111,50. Compreende, por ordem de colocação, as regiões de Itapagipe, Pau da Lima, Itapoan, Liberdade e Subúrbio Ferroviário (RAs 2, 13, 10, 3 e 16). São regiões de características bastante diferenciadas, principalmente com relação ao perfil de renda, apresentando em comum a ausência de cobertura de redes de esgotos. O Subúrbio Ferroviário apesar de estar situado nesse grupo de qualidade ambiental de médio para baixo, figura entre as piores regiões em relação a vários fatores, principalmente os de caráter higiênico-sanitários. Grupo IV (G_IV) - corresponde a situação mais desfavorável, cujo somatório dos pesos de fatores situam-se numa faixa de 116,50 a 126,50. Compreende, por ordem de colocação, as regiões de São Caetano, Tancredo Neves e Valéria (RAs 3, 12 e 15). Caracteriza um ambiente com problemas ambientais gravíssimos, como assentamentos em áreas de risco, expansão do processo de ocupação espontânea e ausência de cobertura de redes de água e esgoto. ANÁLISE DO PROCESSO EVOLUTIVO À LUZ DA TEORIA DE REDES O estudo e compreensão do processo evolutivo permitem a realização do esforço de análise que se segue, à luz da Teoria de Redes (DUPUY, 1991). Inicialmente apresenta-se um gráfico comparativo da evolução de cobertura das redes de infra-estrutura de água e esgoto na França (segundo o modelo de DUPUY, 1991) e em Salvador, no período compreendido entre 1850 e 2000 (ver Figura 07). Define-se limites de classe iguais, para a França e Salvador, de percentuais de cobertura das redes de água e esgoto, ao longo do período em estudo. Em seguida, aplicando os enunciados da Teoria de Redes, observa-se as diferenças e semelhanças encontradas. Por fim analisa-se o processo evolutivo considerando as forças históricas, os aspectos político-institucionais e as questões técnico-operacionais, aos tempos condicionantes, no esforço de estabelecer correlações com as dimensões sócio-econômico-sociais resultantes desse processo. Apesar de encontrarem-se por vezes em esferas distintas de competências de gestão – institucionais, empresariais e operacionais - são, em última instância, responsabilidades intrínsecas das concessionárias prestadoras de serviços de saneamento, quer sejam públicas ou privadas (Ver Figura 06). Figura 06 – RESPONSABILIDADES DAS COMPANHIAS CONCESSIONÁRIAS DE SANEAMENTO BÁSICO Elaboração: OLIVEIRA, R. 2002 (adaptado de Andrade, 2000).

Assim como o não atendimento de várias demandas sociais entende-se a ausência e ou inadequação de redes urbanas de água potável e de esgotamento sanitário, como reflexo de uma questão mais ampla, de caráter político-institucional e técnico-empresarial, cujos efeitos se fazem sentir em suas dimensões sócio-econômico-ambientais. As próximas seções buscam explicitar os principais aspectos e questões que produzem esses efeitos. Aspectos Político-institucionais Em diversos países do mundo, a gestão dos serviços de saneamento vem ocupando o centro dos debates sobre gestão urbana. Não mais se restringe o tema a questões da estatização, municipalização ou privatização, inserindo a função da regulação na gestão dos serviços. Sob a ótica das companhias públicas de saneamento, verifica-se uma mudança de cultura, onde se amplia o foco para o mercado e para o cliente, seja ele usuário ou não dos serviços, uma vez que, num ambiente cada vez mais globalizado e competitivo, as empresas redefinem o seu papel buscando uma maior responsabilidade social e cidadania ambiental. Na visão dos profissionais do setor, observa-se uma dose de apreensão, onde o desconhecimento das questões legais e institucionais do processo de desestatização acarreta uma visão equivocada do processo de regulação, focada apenas na privatização e no corporativismo, na busca de garantir uma estabilidade no emprego, há muito já perdida! De modo geral o saneamento tem caráter local, tendo, portanto, o município, o Poder concedente, conforme preconiza o Artigo 30 da Constituição Federal de 1988. Por outro lado, constata-se que o setor de saneamento, ainda não dispõe a nível federal, de instrumentos que respaldem a política pública das concessionárias dos serviços de abastecimento de água e saneamento básico. As normas existentes são frágeis e inadequadas para a definição de marcos e implementação de ações regulatórias. A Lei das Concessões, por sua vez, abriu uma perspectiva que introduz uma série de questionamentos sobre o futuro das empresas estatais do Setor de Saneamento no Brasil. Essa Lei proporciona o surgimento de várias empresas privadas operadoras de serviços, que se preparam para participar de todas as licitações públicas, acenando aos Prefeitos e Governadores com as supostas "vantagens", de uma gestão privada. O setor de saneamento no Brasil assumiu sua atual configuração ao longo da década de 1970, no âmbito do Plano Nacional de Saneamento Básico (1971) – PLANASA -, quando foram criadas as Companhias Estaduais de Saneamento Básico – CESBs -, desde então as grandes operadoras. Estas empresas centralizaram os serviços municipais no nível estadual e eram, em 1997, responsáveis pelo atendimento de cerca de 70% dos municípios e 80% da população urbana do país. Os demais municípios são autônomos, isto é, administram seus próprios serviços. O setor está, portanto, subdividido em dois segmentos: os serviços municipais autônomos e os estaduais.

O PLANASA vigorou do início dos anos 70 ao início dos anos 90 e permitiu melhorar notavelmente a cobertura dos serviços de saneamento básico em todo o país. Além disso, propiciou a capacitação técnica das empresas estaduais para o gerenciamento de grandes sistemas de produção. Entretanto, tais resultados têm sido amplamente questionados quando contrapostos à ineficiência operacional-gerencial e ao desequilíbrio financeiro que têm caracterizado o desempenho dessas Companhias. Apesar das melhorias observadas no período mais recente, as empresas apresentam um histórico de problemas técnicos, operacionais, gerenciais, financeiros e institucionais dos quais resultam desempenhos no mínimo insatisfatórios. Umas das razões que explicam os altos índices de mortalidade infantil e mortalidade em geral, na Cidade do Salvador, notadamente devido a doenças gastro-intestinais, é a baixa cobertura de soluções adequadas para o destino dos esgotos sanitários. No que pese todos os esforços para compensar o atraso centenário, atualmente apenas 26% das residências da cidade se encontram ligadas aos sistemas de esgotamento sanitários operados pela EMBASA. Do restante, a grande maioria lança os seus efluentes de forma inadequada, comprometendo a saúde da própria família e da comunidade em geral. As concessionárias de saneamento, públicas ou privadas, que dependem essencialmente dos recursos hídricos para as suas atividades produtivas, e que têm por mandato institucional, o dever de zelar pelos mananciais, por muito tempo descuidaram do cumprimento dessa obrigação. O modelo desencadeado pelo Plano Nacional de Saneamento – PLANASA, contribuiu para a consolidação deste quadro em 2 (dois) aspectos: a) ao propor um modelo auto-sustentável a partir da arrecadação tarifária, gerido em última instância por um organismo financeiro - o BNH, que marginalizou, de fato, investimentos não rentáveis, tais como o esgotamento sanitário, principalmente nas áreas ocupadas pela população de menor renda; b) ao exigir das prefeituras a concessão dos serviços e esgotos para as empresas estatais, para receberem financiamentos do Sistema Financeiro de Saneamento, dificultou-se a possibilidade de articulação e coordenação dos esforços de expansão da infra-estrutura urbana. Persistem grandes perdas nos sistemas de água e baixa produtividade. Os procedimentos gerenciais, tarifários - as tarifas foram muitas vezes utilizadas como instrumentos de controle da inflação e como moeda política – e financeiros dessas empresas tendem a ser inadequados, os gastos de pessoal, elevados, e ainda há grande descontrole de custos. As Comanhias de Saneamento apresentam também um histórico de alto endividamento e, por fim, não existem instâncias regulatórias para monitorar sua ação, o que lhes proporcionou grande autonomia decisória. A falta de incentivos à eficiência é decorrente das próprias condições que viabilizaram o PLANASA – o fato de essas empresas serem monopólios públicos e sua facilidade para captar recursos e realizar grandes obras – e da politização das suas administrações. Tais problemas impediram que as metas programadas para o PLANASA – universalização dos serviços e auto-sustentação financeira do setor – fossem alcançados. A partir de fins dos anos 80 ocorre a progressiva desarticulação dos mecanismos institucionais e administrativos do PLANASA. Desde então, as empresas passaram a enfrentar dificuldades crescentes para realizar investimentos compatíveis com o crescimento populacional e as

necessidades de reduzir os déficits existentes, agravados pela redução da arrecadação do Fundo de Garantia do Trabalhador - FGTS, maior fonte de recursos do setor. Com o fim do PLANASA, no início dos anos 90, o sistema federal de gestão do setor esteve por algum tempo desarticulado, até que, em 1995, foi transferido para a Secretaria de Políticas Urbanas (SEPURB) do Ministério do Planejamento e Orçamento, que desde então vem traçando e implementando uma nova Política Nacional de Saneamento visando à completa reestruturação do setor. Nas novas políticas, a eficiência tornou-se importante requisito para atingir as metas de universalização do atendimento, já que sua ampliação pode gerar recursos capazes de financiar parte importante dos investimentos. Em 1995 a SEPURB estimou que a redução à metade do índice de perdas das empresas estaduais disponibilizaria recursos da ordem de R$ 1 bilhão por ano (20% do faturamento do setor). Esta recuperação representa algo em torno de 40% dos investimentos necessários para que o país alcance a meta de universalização dos serviços. Não cabe a menor dúvida que a reversão do quadro de carências do setor saneamento em Salvador passa pela reformulação do modelo institucional vigente, de forma a se conseguir níveis de articulações e mútuo apoio entre o Estado e Município, que permitam não apenas uma maior racionalidade, e conseqüentemente, barateamento dos investimentos do setor, como também mecanismos de motivação e coordenação técnico–administrativas eficientes e rápidos. Torna-se necessário, portanto, definir um modelo de aproximação interinstitucional que não só articule e coordene as ações previstas, como permita a consolidação de propostas que só são viáveis quando se encara o saneamento básico de uma forma abrangente, considerando a sua função primária de promover a salubridade do meio e a saúde das pessoas. Para isto acontecer há necessidade de aproximar os setores responsáveis pelo abastecimento d’água, esgotos sanitários, drenagem pluvial, limpeza pública e vigilância sanitária, num espaço institucional adequadamente projetado para permitir o planejamento integrado e a articulação das ações dos órgãos responsáveis por estas atividades, sejam estaduais ou municipais, sem conduto lhes retirar a sua necessária independência. Há que se ressaltar a atuação dos bancos multilateriais de fomento ao desenvolvimento na reorganização do setor saneamento, particularmente o Banco Mundial – BIRD e o Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID. Matéria jornalística em 1998 informava que o BNDES se preparava para apoiar uma série de licitações para a área de saneamento, com a abertura de linhas de crédito para o setor privado. A febre das privatizações no Brasil lança sua atenção sobre o saneamento. Preocupa além da ausência de instrumentos e mecanismos regulatórios; o despreparo do Estado que ainda conta com ultrapassados mecanismos de comando e controle; e, preocupa principalmente, a grande massa de excluídos que não têm condições de arcar com os custos dos investimentos que se fazem necessários. Em Relatório sobre o desenvolvimento mundial o Banco Mundial afirma que um Estado efetivo será vital na provisão dos bens e serviços á sociedade e na construção de regras e instituições de promoção no desenvolvimento sustentável econômica e socialmente.

Foi desenvolvido pelo Banco Mundial em 1998, um estudo específico para questão do saneamento, com o nome de "Brazil, managing pollution". Trata-se de um relatório de avaliação da chamada Brown Agenda para o Brasil, elaborado por técnicos de diversos setores do Banco Mundial, em Washington, que a ponta, entre outros, os seguintes problemas como recorrentes nos sistemas de gestão: falta de priorização dos problemas e de intervenção que privilegiem critérios de custo-efetividade; adoção de instrumento antiquado de comando e controle; falta de integração da aspecto ambientais nas políticas especiais setoriais e no processo de planejamento; alta de capacidade de implantação efetiva da legislação; confiança excessiva no financiamento governamental. PAGNOCCHESCHI, Bruno. 1998 O Banco Mundial, ressalta ainda, em seu Relatório que o processo de modernização do setor, em curso, e o início da privatização oferecem oportunidade única para incrementar o investimento no setor e para integrar o saneamento básico com o planejamento da qualidade ambiental. Adverte, no entanto que problemas na coordenação de ações que envolvem o setor ambiental e outros setores poderão desencaminhar o processo; ressalta ainda a necessidade de marco regulatório claro e definição prévia de objetivos e obrigações dos concessionários ao longo do tempo. A criação de um ambiente de eficiência e qualidade na prestação dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário, no Brasil, requer, no entanto, a observância, dentre outros, dos princípios legais prescritos na Carta Magna: (i) o saneamento básico é serviço de responsabilidade comum, da União, Estados, e Municípios, cabendo às municipalidades a titularidade dos serviços de interesse local; (ii) os sistemas de saneamento básico, saúde, meio ambiente, recursos hídricos e desenvolvimento urbano, devido à natureza interdependente e ao princípio da competência concorrente dos diversos níveis de governo exigem a coordenação institucional de suas atividades; (iii) descentralização administrativa e o fortalecimento administrativo e financeiro das municipalidades; (iv) necessidade de licitação para as novas concessões de serviços públicos, exceto no caso de entidade pública criada pelo poder concedente com finalidade exclusiva. Constituição Federal, 1988. Por outro lado é preciso pensar o saneamento enquanto infra-estrutura promotora do desenvolvimento. Os concessionários de saneamento básico, quer sejam públicos ou privados, enquanto organizações que prestam um serviço de utilidade pública, devem estar atentos aos aspectos e vetores de desenvolvimento local e regional, de modo a estudar e elaborar projetos compatíveis com o poder aquisitivo (renda) das pessoas, tendo em mira a adequação tarifária dos serviços e a redução da inadimplência, observando a premissa de que o acesso aos serviços de saneamento básico é um direito assegurado pela Constituição Federal do Brasil.

Questões Técnico-operacionais Esta seção trata de algumas questões ligadas à concepção de projetos de redes, como demandas e consumos per capita; e, à operação das redes, como micromedição e perdas. Também aborda a questão dos indicadores do saneamento. Quanto à concepção dos projetos de redes Um projeto pode ser técnico, econômico e ambientalmente adequado, porém se não for socialmente aceito, sua manutenção torna-se onerosa e deficiente, e dificilmente se conseguirá a sustentabilidade das intervenções sanitário-ambientais. Em razão do modelo centralizador e autoritário do PLANASA, os profissionais do saneamento básico distanciaram-se da realidade das comunidades a que servem. Assim, muitas vezes os sistemas são concebidos sem a discussão e comprometimento de todas as partes interessadas. É preciso preparar os profissionais do setor e resgatar essa aproximação, de modo a vislumbrar a eficácia e sutentabilidade das intervenções higiênico-sanitárias. O modo de apropriação do espaço urbano da Região Metropolitana de Salvador espelha a reprodução das desigualdades sócio-econômicas e a segregação de grande contingente populacional nas periferias, inviabilizando, por vezes, a universalização de soluções convencionais para muitos sítios urbanos de baixa renda, que, em contrapartida, requerem soluções alternativas para os problemas de saneamento. Os bairros que abrigam populações de baixa renda, devido a implicações de ordem técnica e econômica, não se adaptam à solução convencional da rede coletora adotada. Esses bairros, com topografia acidentada, encostas tecnicamente consideradas não edificáveis e habitações de baixo custo construtivo, dificultam a implantação da rede coletora que, caso viesse a ser adotada, por certo, resultaria num sistema tarifário bastante oneroso para a população de baixa renda. As redes de saneamento básico, especialmente as de esgoto, enfrentam condições inapropriadas nas vizinhanças mais pobres, ocasionando catástrofes tanto por sua existência quanto por sua inexistência. Ruas estreitas e indefinidas, disposição irregular das habitações, aliados à localização dessas áreas, geralmente nas piores regiões urbanas – terrenos rochosos, encostas propensas a desabamento, alagadiços e bacias propensas a inundações, distantes dos principais troncos coletores - tornam as soluções convencionais extremamente onerosas e por vezes tecnicamente impossíveis e ou inadequadas. Sob o ponto de vista técnico, dentre os avanços da engenharia sanitária no país, destaca-se a concepção do sistema condominial de redes de esgotos, como uma alternativa de saneamento urbano centrado no usuário, acessível a todas camadas sociais, especialmente aquelas de menor poder aquisitivo. Essa alternativa, concebida no final dos anos 70, por engenheiros sanitaristas brasileiros, supera muitas barreiras técnicas e financeiras no saneamento urbano. A experiência condominial tem se configurado nesse período de tempo, em uma solução tecnicamente segura, e em caminho mais apropriado para servir a população de baixa renda e vizinhanças de alta densidade urbana. A maioria dos problemas do sistema condominial tem origem nas redes interceptoras, e resulta de uma precária supervisão de projeto, baixa qualidade das obras e dos materiais empregados, operação e manutenção deficientes - problemas estes, que também ocorrem

com o sistema convencional. Contudo, há uma resistência significativa, tanto da comunidade técnica quanto científica, em rever normas técnicas para redes de esgotos que têm permanecido inalteradas por mais de um século (WATSON, 1994). Por outro lado, a concepção dos sistemas baseia-se quase que exclusivamente em dados e registros oficiais, sobre populações e densidades, que não retratam a dinâmica, muito menos aspectos sócio-culturais dessa população. É vital resgatar essa aproximação, de modo a vislumbrar uma co-gestão dos serviços e a sustentabilidade das intervenções higiênico-sanitários. Também verifica-se a necessidade de incorporar a variável ambiental em todo ciclo dos sistemas de água e esgoto, abrangendo desde a concepção e as obras à operação e a manutenção destes. Quanto à anatomia dos indicadores Os indicadores de saneamento não traduzem a realidade observada e vivida. É preciso substanciar os indicadores, transpondo o paradigma da racionalidade instrumental, onde os fins justificam os meios, para uma racionalidade de valorização dos meios, de modo a vislumbrar se não a auto-gestão na manutenção dos serviços e benefícios das intervenções sanitárias, ao menos a gestão compartilhada – axiomas do desenvolvimento sustentável. Na percepção generalizada de que o saneamento básico - em condições adequadas, ou seja, com qualidade, acessibilidade e equidade - é essencial para a geração de riqueza e a promoção da saúde e bem-estar social das cidades e suas coletividades, reside a principal razão pela qual os governos e instituições brasileiras, têm realizado consideráveis esforços para melhoria dos seus indicadores de atendimento e cobertura. Reconhece-se que aferir a adequação dos serviços de saneamento é uma tarefa extremamente complexa. Chama-se atenção, ainda, para as reconhecidas e marcantes especificidades nacionais e regionais, no que diz respeito à base técnico-científica, que apontam para a necessidade de associar à produção de informação quantitativa o desenvolvimento de estudos mais aprofundados para validar ou redefinir os pressupostos sobre os quais se apóiam os indicadores. A simples observação dos indicadores de saneamento básico disponíveis permite que se constate que à medida que se avance dos indicadores de gerenciais e operacionais (de caráter técnico-financeiro), para indicadores de resultados (de caráter empresarial) e destes para os de impacto (de caráter político-institucional), mais escassos se tornam, constituindo-se, em si, um resumo de sua própria história. Os indicadores que ora se disponibilizam para o Brasil acompanham, grosso modo, esta descrição. Embora o país já possua longa tradição na produção destes indicadores, em especial os de insumo e produção, há ainda lacunas importantes a serem preenchidas, mesmo no que diz respeito a estes. Não se dispõe, por exemplo, de dados abrangentes sobre os recursos aplicados em saneamento básico pelas empresas, nem sobre os resultados traduzidos em efeitos (saúde, qualidade ambiental, desenvolvimento), o que impede a mensuração mais acurada dos esforços nacionais no setor. Os próprios investimentos públicos neste campo são subdimensionados em função das dificuldades existentes. Quanto à demanda x consumo e micromedição A questão do consumo ‘per capita’ não comporta solução generalizada de ordem teórica. Em projetos novos pode-se até fixar uma taxa de consumo por meio de comparações

baseadas em suprimentos alheios, porém, deve-se observar se as cidades possuem condições de vida pelo menos semelhantes à considerada. Quando se tratar, no entanto de uma ampliação de serviço, convém prever-se o novo volume de água de acordo com os elementos estritamente peculiares à vida da cidade, ou melhor, da área onde se dará a expansão da rede. É de fundamental importância a incorporação de novas filosofias e tecnologias, a exemplo de produção mais limpa, de forma a transpor paradigmas com relação a "perdas", consideradas erroneamente como "inerentes" aos processo de produção e distribuição. Verifica-se também, a importância da conscientização e educação sanitária e ambiental em todas as classes, de forma a reduzir os desperdícios e as perdas de água bem como o entendimento dos benefícios das intervenções higiênico-sanitários. Dimensões Sócio-econômico-ambientais Em Salvador, tal qual as demais metrópoles brasileiras, o índice de qualidade ambiental urbana reflete, na realidade, o índice de desigualdades sociais, econômicas, culturais e ambientais. Isso se traduz em forma de uma visível segregação espacial, social e também racial. Por razões já explicitadas neste trabalho em suas notas metodológicas, utilizamos como base geográfica as Regiões Administrativas (RA) da Cidade do Salvador. É importante ter-se em mente os processos de expansão urbana da cidade e de evolução da densidade populacional, por região administrativa, ao longo do período considerado, na caracterização das questões ambientais analisadas. Igualmente relevante é a localização da população em áreas de risco de movimento de encostas, bem como das populações fixadas em invasões. Desde 1920, Saturnino advertia para a necessidade imperiosa de medidas de defesa efetiva das bacias hidrográficas, mananciais em potencial para o abastecimento de água para a Cidade do Salvador. Previa, a grande despesa decorrente da inobservância dessa vigilância ambiental, tanto com processos de desapropriações, quanto com processo de despoluição, que poderiam ser facilmente evitados. Reconhecia-se a importância de um planejamento urbanístico integrado, que atendesse às necessidades da cidade como um todo. Infelizmente esse planejamento jamais se efetivou. A preocupação com a preservação dos mananciais e lençóis freáticos, embora considerada uma questão importante, pelas 23 Companhias Estaduais de Saneamento Básico - responsáveis por cerca de 80% da população abastecida por sistemas de água (SAAs) e 65% da população atendida por sistemas de esgotos (SESs), no Brasil , apenas três apresentaram programas efetivos de monitoramento, preservação e ou recuperação de mananciais - segundo pesquisa realizada pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI/SENAI, 2000). A ausência do planejamento e da efetiva vigilância do Poder deixa-nos um triste legado: hoje temos todas as nossas represas invadidas, até mesmo pela população de classe alta – conhecidas como invasões de ‘colarinho branco’ -, como se verifica nas ocupações de luxo no lago da barragem de Pedra do Cavalo – área de preservação ambiental permanente!.

Quanto a qualidade das águas das praias, estudo realizado pela autora (OLIVEIRA, R. & SOUZA, 1991), considerando aspectos geográficos, urbanísticos e sanitários, na avaliação da qualidade das águas das praias de Salvador, ao longo do período de 1976-90, constatou-se ser o esgoto o principal fator limitante da balneabilidade dessas praias. A partir da análise da classificação dinâmica anual da qualidade das águas das praias de Salvador, no período estudado (76 a 90), evidenciou-se uma crescente deteriorização, com o processo de expansão urbana sem o devido acompanhamento das redes de infraestrutura sanitária. As praias da Península Itapagipana, com os lançamentos de esgotos e lixo, desde 1976 apresentavam-se impróprias, registrando uma tendência a um percentual médio anual de 100% de impropriedade. Nos demais trechos de praia, os dados de 1988 a 1990, sinalizavam também, uma tendência generalizada à impropriedade, com exceção das praias de Piatã e Stella Mares, que iniciavam seu processo de ocupação e adensamento urbanos e se mantiveram com percentual médio de propriedade anual superior a 80% - portanto próprias. É evidente que as medidas ao nível de saneamento básico, adotadas pelo Programa de Governo – Bahia Azul, especialmente esgotamento sanitário, são determinantes para reversão desse quadro. Com o intento de realizar correlações espaciais e temporais, com os demais fatores e variáveis que caracterizam a qualidade ambiental urbana, apresenta-se quadro-resumo das características ambientais estudadas, é apresentado com a classificação da qualidade ambiental por região administrativa em razão da ordem hierárquica dos fatores ambientais, considerados por Carvalho (1997) e acolhidos neste estudo, que quando analisados em seu conjunto refletem a Qualidade Ambiental Urbana da Cidade do Salvador, no recorte temporal compreendido entre 1991-95 (Ver ANEXO IV – Mapas de Correlações). Trata-se, no entanto, de um instrumento de apoio a mais na visualização das questões ambientais analisadas. Essa ordem hierárquica determina alguns grupos de diferentes níveis de qualidade ambiental. Este trabalho representa um esforço de análise da correlação do saneamento, em especial do nível de cobertura de esgotamento sanitário, com os demais fatores ambientais considerados. A seguir apresenta-se as principais constatações em cada grupo onde percebe-se uma correspondência quase direta entre os quatro perfis de renda e os quatro grupos de qualidade ambiental urbana (ver Anexo I e Quadro 02). Grupo I (G-I) - corresponde à situação mais favorável, cujo somatório dos pesos de fatores ambientais situam-se numa faixa de 51,5 a 55,50. Compõem esse grupo, por ordem de classificação da hierarquia final, a Pituba e Barra (RAs 8 e 6). Essa classificação reflete uma perfeita concordância com o nível de renda mais alto e com as condições sanitárias mais adequadas, apresentando índice de cobertura de 100% dos serviços de água e esgoto. Grupo II (G-II)- corresponde à situação, cujo somatório dos pesos de fatores situam-se numa faixa de 76,50 a 88,50. Compreende, por ordem de colocação, Boca do Rio, Cajazeiras, Rio Vermelho, Brotas, Centro e Cabula (RAs 9, 14, 7, 5, 1 e 11). À semelhança do fator renda, cujos grupos A e B apresentaram significativa diferença entre as faixas, a qualidade ambiental também apresenta essa distância, ressaltando a segregação de renda existente e conseqüentemente fragmentação ambiental. A região de Cajazeiras (RA 14), apesar de caracterizar-se com perfil predominante de renda média baixa, graças à intervenção estatal efetiva, na promoção de condições razoáveis de infra-estrutura,

apresenta boa colocação quando comparada com as demais regiões de perfil econômico semelhante. A pesar de não ser coberta pela rede de esgotos, a região conta com sistemas isolados dos conjuntos habitacionais. A região do Rio Vermelho (RA 7), apesar de também possuir perfil predominante de renda média baixa, apresenta-se nesse grupo em razão principalmente das intervenções sanitárias, com 100% de cobertura dos serviços de água e esgoto. As regiões Centro e Brotas, com perfil de renda média, com características positivas diversificadas, que em seu conjunto se apresentam numa mesma faixa de qualificação ambiental do Cabula, de menor perfil de renda. Isso pode ser creditado à baixa densidade populacional e à existência de muitos conjuntos habitacionais, que possuem sistemas isolados de esgotamento sanitário. Grupo III (G_III) - corresponde à situação ambiental cujo somatório dos pesos de fatores situam-se numa faixa de 103,0 a 111,50. Compreende, por ordem de colocação, as regiões de Itapagipe, Pau da Lima, Itapoan, Liberdade e Subúrbio Ferroviário (RAs 2, 13, 10, 3 e 16). São regiões de características bastante diferenciadas, principalmente com relação ao perfil de renda, apresentando em comum a ausência de cobertura de redes de esgotos. O Subúrbio Ferroviário apesar de estar situado nesse grupo de qualidade ambiental de médio para baixo, figura entre as piores regiões em relação a vários fatores, principalmente os de caráter higiênico-sanitários. Grupo IV (G_IV) - corresponde a situação mais desfavorável, cujo somatório dos pesos de fatores situam-se numa faixa de 116,50 a 126,50. Compreende, por ordem de colocação, as regiões de São Caetano, Tancredo Neves e Valéria (RAs 3, 12 e 15). Caracteriza um ambiente com problemas ambientais gravíssimos, como assentamentos em áreas de risco, expansão do processo de ocupação espontânea e ausência de cobertura de redes de água e esgoto. ANÁLISE DO PROCESSO EVOLUTIVO À LUZ DA TEORIA DE REDES O estudo e compreensão do processo evolutivo permitem a realização do esforço de análise que se segue, à luz da Teoria de Redes (DUPUY, 1991). Inicialmente apresenta-se um gráfico comparativo da evolução de cobertura das redes de infra-estrutura de água e esgoto na França (segundo o modelo de DUPUY, 1991) e em Salvador, no período compreendido entre 1850 e 2000 (ver Figura 07). Define-se limites de classe iguais, para a França e Salvador, de percentuais de cobertura das redes de água e esgoto, ao longo do período em estudo. Em seguida, aplicando os enunciados da Teoria de Redes, observa-se as diferenças e semelhanças encontradas. Por fim analisa-se o processo evolutivo considerando as forças históricas, os aspectos político-institucionais e as questões técnico-operacionais, aos tempos condicionantes, no esforço de estabelecer correlações com as dimensões sócio-econômico-sociais resultantes desse processo.