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  • TRANSIES RELATADAS POR MULHER ADULTA - SUBSDIOS AO MODELO DE ADAPTAO HUMANA DE

    SCHLOSSBERG

    Antonia Silva Paredes Moreira* Rosalina Aparecida Partesani Rodrigues**

    Maria Ceclia Manzolli*** MOREIRA, A. S. P.; RODRIGUES, R. A. P.; MANZOLLI, M.C. Transies relatadas

    por mulher adulta - subsdios ao modelo de adaptao humana de Schlossberg. Rev.latino-am.enfennagem, Ribeiro Preto, v. 4, n, 1, p. 177-87, janeiro 1996.

    Atravs de um estudo de caso, as transies e crises experienciadas foram

    expressas por uma mulher, em fase de vida adulta. com 42 anos. O contedo da fala apresentado neste trabalho usando para isto o modelo de adaptao humana proposto por SCHLOSSBERG, com os objetivos de obter-se informaes sobre crises e transies, assumir a postura de entrevistador no normativo e aplicar um modelo oriundo da Psicologia na Enfermagem, Utilizou-se a tcnica de anlise de contedo para analisar a entrevista. Verificou-se neste estudo que a pessoa enquanto mulher adulta conseguiu trabalhar suas crises em direo a sua adaptao, utilizando-se de recursos pessoais. UNITERMOS: mulher adulta, no normatividade. transio

    * Professor Adjunto do Departamento de Enfermagem de Sade Pblica e Psiquiatria CCS - Universidade Federal da Paraba. Doutoranda do Programa de Ps-Graduao Nvel Doutorado - rea Enfermagem Fundamental da Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo

    ** Professor Doutor do Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo

    *** Professor Associado do Departamento de Enfermagem Psiquitrica e Cincias Humanas da Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo

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  • CONSIDERANDO O MODELO DE SCHLOSSBERG O ser humano passa por momentos crticos ao longo de seu

    desenvolvimento quer na infncia, na adolescncia, na juventude, na maturidade e na velhice. Em cada estgio a pessoa reage, de acordo com inmeras variveis contingenciais peculiares ao seu modo de vida, como um ser em ascenso no trabalho, na vida social, pessoa e transpessoal, numa continuidade do processo vital. Uma descontinuidade neste processo, manifestada por uma paralisao caracteriza-se uma crIse.

    Na viso de SCHLOSSBERG (1982) no tocante maturidade, ocorre momentos denominados de transies ou crises. Tal fator provoca uma descontinuidade na percepo de vida onde a histria fica descontnua, ocorrendo uma fragmentao no processo de viver, pois cada etapa de vida conseqncia da anterior. Sabe-se que todo ser humano tm experincias de crise psicolgica ou transies, pois fazem parte do seu caminhar como um contnuo. Isto no quer dizer que em outros momentos no haja transies, mas as que surgem na maturidade, foco de interesse deste trabalho so dignas de destaque. Alm do que, o adulto j tem acrescentado ao seu percurso uma bagagem psicogentica, um background histrico e sociocultural.

    A posio de SCHLOSSBERG (1982) sobre o desenvolvimento do homem adulto de concepo no normativa. Para ele, a pessoa vive num mundo dinmico, de relaes interpessoais, dando e recebendo ateno, afeto, trabalho, carinho, isto , participando socialmente em grupos onde influencia e influenciado. Alm disso, vive num certo lugar do planeta, num dado instante social e histrico, com seus questionamentos intrnsecos a serem resolvidos ou no, em que tudo muda, os valores, normas, opinies e a prpria cincia.

    Neste ambiente complexo, o indivduo enfrenta momentos de mudanas focalizados por SCHLOSSBERG (1982) como transies. Estas podem ter percursos diversos. Ele considera de grande importncia o discurso no normativo, assinalando como ponto de referncia o curso de vida. Aponta a ocorrncia ou no de eventos biopsicossociais capazes de afetarem ou no a vida do homem em vrios aspectos realando a importncia do autoconceito na percepo que se tem do mundo e nas relaes estabelecidas com este.

    Por este ngulo v-se que se posicionar no normativamente diante do desenvolvimento adulto assumir uma postura aberta, que isenta de fatalismo. Como base nestes pontos iniciais pode-se entender que autores no normativos admitem eventos que so marcos de transies evidenciadas por ocasio de eventos, como casamento, nascimento do primeiro filho, ascenso de status profissional, definio do estado civil, morte de pais, filhos, entre outros.

    Acentuam, por sua vez, que as pessoas vo experienciando as diversas perdas e acrscimos no decorrer da vida de acordo com o referencial da prpria

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  • existncia e as circunstncias histrico-sociais ocorridas no contexto em que se encontra.

    Direcionando o presente estudo pela tica da no normatividade foi adotada a proposta de SCHLOSSBERG (1982) enquanto um terico no normativista a respeito do desenvolvimento humano. Isto deu margem a que se pensasse acerca dos vrios aspectos que envolvem a sua aproximao Enfermagem, enquanto esta trabalha com adultos.

    Partindo de tal posicionamento, encontrou-se no autor referenciais capazes de subsidiar uma srie de opes na tentativa de se entender a pessoa em transio.

    Pode-se assim observar no modelo de SCHLOSSBERG (1982) que ele enfatiza as transies as quais podem vir ou no acompanhadas de um evento marcante; que as caractersticas das transies contidas na prpria pessoa so singulares; que as caractersticas ambientais na pr e ps-transio precisam ser consideradas, que a pessoa tem sua capacidade prpria de adaptao aos fatos que ocorrem. Estas caractersticas podem levar a caminhos que o pesquisador poder percorrer.

    Para visualizar o exposto por SCHLOSSBERG (1982) organizou-se a figura que se segue na pgina seguinte, tendo-se o cuidado de adapt-la a realidade em que se vive.

    Assim, numa leitura dos aspectos contidos no modelo de SCHLOSSBERG (1982) observa-se os seguintes tpicos: Com relao ao item 1 - a transio na maturidade pode ser vista como resultante de mudanas que ocorrem nas relaes sociais levando o indivduo ao crescimento ou deteorizao. O item 2, observa-se que as caractersticas da transio se relacionam possibilidade da pessoa partir para uma mudana de papel, ser acometida de emoes, novas fontes, com previsibilidade conhecida ou no, que podem apresentar um desenvolvimento, com ritmo e durao prprios, entre outros. No item 3, encontra-se as caractersticas ambientais onde a pessoa se encontra neste ambiente, ela se depara com sistemas de apoio fracos ou fortes, com relao social de intensa ou tnue intimidade, suportes institucionais, enfim, de todo o ambiente fsico, ecolgico e cultural. No item 4, so realadas as caractersticas inerentes ao indivduo, sendo contemplados tpicos como: sexo, competncia psicosocial, idade, raa, nvel socioeconmico, valores, vivncias anteriores semelhantes entre outras; finalmente, no item 5 aborda a adaptao ao longo do processo em que pode haver reorganizao da personalidade, conhecimentos dos prprios recursos, da comunidade, seguida de uma reelaborao de percepes e tomada de decises.

    No conjunto, SCHLOSSBERG (1982) v a mudana de uma forma abrangente incluindo ganhos e perdas no status e papis sociais, profissionais, pessoais, em que as emoes permeiam, facilitando, bloqueando ou conjuntamente interferindo na ao da pessoa. Isto, contudo, no linear, depende da fonte interna do organismo e/ou externa. A imprevisibilidade est presente a todo instante, ao lado de aspectos possivelmente previsveis.

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  • Figura 1 - Questes destacadas nos m

    omentos de transio e durante a m

    aturidade(rem

    orso esquemtico do m

    odelo de SCH

    LOSSB

    ERG

    1982)

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  • o autor ressalta ainda, o ritmo da transio, que lhe peculiar tanto no contexto geral como em cada instante. Alm disso, se superpe com o perodo anterior e posterior do momento de pico, ou seja, na pr e ps-transio, levando em conta o que a sociedade, os grupos sociais como a famlia, trabalho, igreja, oferecem ou neguem a pessoa, sem perder de vista o potencial gentico e a possibilidade de ocorrer desenvolvimento pessoal.

    Como se pode ver, o quadro proposto pelo no normativista em apreo bastante complexo, dinmico e abrangente.

    Ao meio de todos esses eventos variveis e, em suma, a pessoa chega a um ponto crtico, ela cresce, superando ou apresentando deterioraes.

    Partindo dessa compreenso de adulto e pensando a Enfermagem, v-se que ela pode se relacionar com a pessoa em transio considerando esta relao como uma oportunidade significativa de se fazer presente como profissional no normativo. Isto porque, o modelo de SCHLOSSBERG (1982) oferece oportunidade de se atuar sem preconceitos ou esquemas pr-estabelecidos sobre a pessoa em transio. Enfim, leva o profissional a enxergar o aqui-agora sem esquemas previsveis e numa linha de pensamento contextual.

    A partir dessas consideraes, este estudo teve como objetivos os de obter informaes junto a uma mulher adulta sobre seu viver em transies, segundo o modelo de SCHLOSSBERG (1982), assumir uma postura de entrevistador tendo como guia norteador a sugesto do citado modelo e refletir sobre a aplicabilidade deste, pela Enfermagem.

    FOCALIZANDO A METODOLOGIA

    Trata-se de um estudo de caso, com uma mulher adulta com 42 anos de idade, que concordou em participar da pesquisa. solteira, secretria de uma instituio pblica, branca, nvel socioeconmico mdio e vive com a me.

    Os passos metodolgicos no estudo de caso em pauta foram desenvolvidos a partir da realizao de uma entrevista semi estruturada, subsidiada na seguinte questo: "Descreva as transies que voc vivenciou em sua vida adulta".

    As respostas foram registradas em um dirio de campo (tipo bloco), segundo conceito de MINAYO (1994) e os dados coletados foram analisados e interpretados utilizando-se a tcnica da anlise de contedo, citada por BARDIN (1991).

    Esta anlise consistiu em agrupar os dados em categorias, a partir das unidades de anlises contidas na fala da entrevistada, as quais foram subsidiadas nos itens contidos, no modelo terico de SCHLOSSBERG (1982), conforme descrito. As unidades de anlise temtica corresponderam s frases emitidas

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  • espontaneamente pela entrevistada, as quais foram agrupadas semanticamente. Em seguida, os dados foram transcritos e analisados segundo a referida

    tcnica. Selecionou-se, pois, as unidades de anlise, agrupando-as nas categorias pr-estabelecidas conforme modelo do autor em apreo.

    As cinco categorias emergentes, com suas respectivas sub categorias, compuseram a figura 1. Estas foram definidas e codificadas da seguinte forma:

    Categoria 1: TOE-TRANSIO COM OCORRNCIA E NO OCORRNCIA DE EVENTOS - compreende todas as unidades de anlise cujos ncleos de sentido encontram-se inseridos em mudanas nas relaes sociais com possibilidade de crescimento ou deteriorao. Englobam tambm todas as unidades de anlise que corresponderam s no mudanas nas relaes sociais. Esta categoria integra as seguintes sub categorias:

    TOE 1 - mudanas nas relaes sociais; TOE 2 - possibilidade de crescimento ou deteriorao no desenvolvimento pessoal; TONE 1 - transio com no ocorrncia de evento; TONE 2 - transio com ocorrncia e com possibilidade de no deteriorao.

    Categoria 2: CAS-CATEGORIAS DE TRANSIO NA PR E PS TRANSIO (DA PRPRIA PESSOA) - correspondem todas as unidades de anlise as quais contemplam os seguintes aspectos pessoais: mudana de papel (ganho ou perda), emoes (positivas ou negativas), fonte (interna ou externa), previsibilidade (prevista ou no prevista), incio (gradual ou sbito), durao (permanente, temporria ou incerta) e grau de ansiedade. Nesta categoria encontram-se as seguintes sub-categorias:

    CAS 1 - mudana de papel; CAS 2 - emoes e/ou sentimento; CAS 3 - grau de ansiedade.

    Categoria 3: CAPA-CARACTERSTICAS PR E PS TRANSIO - englobam unidades de anlise que contemplam os seguintes itens: os sistemas internos de apoio (relaes de intimidade, unidade de famlia, rede de amigos), suportes institucionais, ambiente fsico e os fatores culturais. Apresenta as seguintes sub categorias:

    CAPA/t1 - sistemas internos de apoio com relao a intimidade; CAPA/t2 -sistemas institucionais, ambiente fsico e fatores culturais.

    Categoria 4: CI-CARACTERSTICAS DO INDIVDUO - arrola as seguintes unidades de anlise, as quais apontam para os seguintes aspectos: competncia psicossocial (sexo e identificao do papel sexual, idade, sade, raa e etnia), nvel scio-econmico, orientao de valor e experincia com uma transio parecida. Esta, compreende as seguintes sub categorias:

    CI 1 - sade; CI 2 - orientao de valor/experincia anterior. Categoria 5: A-ADAPTAO - diz respeito as unidades de anlise envolvendo

    o movimento ao longo das fases neste contnuo, atravs da transio, observado no item compreendido a partir do embebimento total da personalidade a reorganizao desta.

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  • APRESENTANDO E DISCUTINDO OS DADOS

    Identificou-se para cada categoria descrita, as seguintes unidades de anlise:

    Na categoria 1 - TOE, cujos enunciados referem-se transcrio de ocorrncia de eventos e de no ocorrncia de eventos, na transio emergiu as seguintes sub categorias:

    TOE 1 - Nesta sub categoria a qual contempla as mudanas nas relaes sociais a partir da ocorrncia de eventos foram identificadas as seguintes unidades de anlise: ... idade de menopausa... / ...ela queria se vingar de mim... / ...me culpava da doena dela... / ...brigava muito com a gente em casa... / ...eu trabalhava fora... / ...no comeo foi at bom... / ...passei crises....

    TOE 2 - Diz respeito possibilidade de crescimento ou deteriorao, do desenvolvimento da pessoa, abrangendo as seguintes unidades de anlise: ... entrei em crise novamente... / ...meu pai bebia muito... / ...ele chegava em casa de manh... / ...voltava bbado... / ...jogando comida fora... / ...ele aposentou... / ...ficava em casa... / ...logo ele morreu... / ...a morte dele....

    TONE 1 - compreende as unidades de anlise acerca da transio de no ocorrncia de eventos, isto , engloba as seguintes unidades de anlise: ... no deu em nada... / /...no deu em nada... / ...no bebeu demais...;

    TONE 2 - refere-se transio de no ocorrncia com possibilidade de no deteriorao, evidenciadas nas seguintes unidades de anlise: ... presenciava muitas discusses... / ...entrei em crise de novo.../ ...ele ia no bar...ele bateu em mim com uma barra de ferro...".

    Para SCHLOSSBERG (1982), embora uma transio pode ser motivada a partir de mudanas esperadas, ou no, sempre est relacionada a ganhos ou perdas, podendo ser considerados estes aspectos tanto positivos como negativos.

    um processo onde o indivduo passa de um estado de total preocupao a estados de reestruturao e integrao. Em sua viso, o indivduo por si s capaz, de se adaptar a estes processos no decorrer da vida.

    Na categoria CAS, diz respeito as caractersticas da transio em si mesma, cujas unidades de anlise encontram-se nas seguintes sub categorias: CAS 1 esta sub categoria corresponde as unidades de anlise que abordam as mudanas de papel, descritas como: ...eu cuidava da casa.../ ...eu trabalhava em consultrio dentrio.../ ..,eu trabalhava s meio perodo.../ ...ele trabalhava como guarda noturno.../ ...ele fazia companhia para minha me.../ ...eu trabalhava o dia todo.../ ...escola...; CAS 2 - as emoes/sentimentos (positivas e negativas), contidas nesta sub-categoria so referentes s seguintes unidades de anlise: ...na verdade eu estava mesmo com medo.../ ...at que ele ficou s comigo.../ ...me deixava de lado.../ ...no tenho vontade de procur-lo.../ ...ela queria se vingar de mim.../

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  • ...ficava muito violento.../ ...me deixou triste.../ ...ela percebeu que me deixava aborrecida.../ ...me atingia muito.../ ...no se vingar a palavra certa.../ ...no me conformo.../ ...ele disse que estava com medo.../ ...eu vivia apavorada.../ ...no me conformei.../ ...chorava o tempo todo.../ ...eu estava entusiasmada com ele.../ ...no tenho certeza.../ ...brigava comigo.../ ...eu no dizia.../ ...eu negava.../ ...no fundo tenho vergonha da situao,.../ ...no tinha tempo para se encontrar comigo.../ ...no me conformava.../ ...acho que a paixo acabou.../ ...ele no se separava de vez da mulher.../ ...significava...ele no levava a srio.../ ...trocada pelo servio.../ ...ela queria desforra....

    Observou-se entre as categorias descritas que o maior nmero de falas da entrevista, esteve relacionado com a categoria acima mencionada ou seja, as emoes/sentimentos (positivas e negativas). Tal fato aponta luz do modelo utilizado de SCHLOSSBERG 1982, que uma transio condicionada segundo o aparecimento ou no, de eventos resultantes de mudanas no autoconceito e na percepo do indivduo em relao ao mundo e conseqentemente, suas relaes com as mudanas comportamentais deste. Logo, os dados revelam-se neste estudo, a partir de eventos relativos mudana de papel, a sentimentos e/ou emoes e ao grau de ansiedade descrito na subcategoria correspondente. Com isto mostrou-se que estes sentimentos e/ou emoes intervm no modo de lidar com as crises. CAS 3 - O grau de ansiedade encontra-se nas seguintes unidades de anlise: ... eu s via de vez em quando... / ...quebrando tudo em casa... / ...voltou... / ...eu ficava apavorada... / ...chorava o tempo todo. Evidencia-se ento, que a ansiedade por ser s vezes positiva ajuda a pessoa a tomar decises acertadas durante uma crise. Tambm pode tomar uma dimenso em que a pessoa descontrola-se e no consegue perceber as sadas por mais simples que as paream, talvez por precauo, /medo ou pnico.

    Na categoria CAPA encontrou-se as seguintes sub categorias que aludem caractersticas pr e ps-transio: CAPA/t1 - compreende os sistemas internos de apoio referentes a: relao de intimidade, unidade de famlia e rede de amigos. Encontram-se destacadas nas seguintes unidades de anlise: ... no quis abrir processo contra ele... / ...arrumei um namorado... / ...ele era casado... / ...vivia rodeado de mulheres... / ...tinha vrias namoradas... / ...minha me desconfiava... / ...jogando indiretas...; CAPA/t2 - para os suportes institucionais, ambiente fsico e fatores culturais, identificou-se as seguintes unidades de anlise: ... internada no sanatrio vrias vezes.../ ...minha me internada.../ ...sanatrio de doentes mentais....

    SCHLOSSBERG (1982) ainda ressalta a necessidade de equilbrio necessrio entre recursos e deficincias includos na percepo que o indivduo tem a esse respeito, como resultante da experincia real em lidar com as crises.presentes e passadas.

    Tal fato nos remete ao primeiro recurso onde as pessoas utilizam de si mesmas. Quando se esgotam seus recursos pessoais e seus mecanismos de

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  • enfrentamento de dificuldades que estas mais freqentemente usam os recursos externos, ou seja, suportes institucionais. Estes ltimos, geralmente so requeridos quando a ansiedade atingiu tal intensidade que a pessoa no percebe outra sada, ou quando j se instalou um processo doentio.

    Na situao presente a pessoa alegou ter superado a transio sem precisar desses recursos para si, mas apenas para sua me, que foi o elemento que adoeceu durante o processo. Observou-se que ela aponta a me como a paciente identificada que necessita de ajuda, contudo questionamos acerca do entendimento da transio como sendo mais abrangente a qual engloba a famlia.

    Na categoria CI - relativa s caractersticas do indivduo, composta pelas seguintes sub categorias:

    CI 1 - Aborda temas referentes sade - nesta subcategoria foram observadas as seguintes unidades de anlise: ... minha me ficou doente... /...ele no conseguiu dormir... /...minha me piorou... /...fez vrios exames... /...reclama de uma dor na barriga....

    Cl 2 - Refere-se orientao de valor e/ou experincia anterior relatada. Esto contidas nesta sub categoria as seguintes unidades de anlise: ... considerada de psicolgica... /...ela pedia para o mdico intern-la... / ...vivia separado da mulher... / ...era bem mais velho....

    Na categoria - A - Adaptao encontra-se representada pelas seguintes unidades de anlise: ... at hoje continua com dor... /...fez isso at hoje... /...agora aprendi a conviver com isso... /...melhorou muito... /...assim est sendo at hoje... o tempo passou... /...estou mais tranqila....

    Salienta-se que, no tocante transio em si mesma, esta pode igualmente afetar a adaptao a partir de aspectos como mudana de papel, mudanas afetivas, durao e grau de ansiedade, origem, ritmo, fonte e forma de aparecimento da transio, de acordo com SCHLOSSBERG (1982).

    Observa-se ainda, que os graus e facilidades de adaptao, so especficos de cada indivduo. Da pode-se inferir, neste estudo de caso, uma tendncia desta mulher adulta de inserir-se na adaptao, segundo o modelo proposto e evidenciada nos seguimentos de falas acima mencionadas.

    AMARRANDO OS OBJETIVOS

    A entrevista realizada segundo postura e um roteiro pr-estabelecido, ofereceu

    subsdios aos pesquisadores para a obteno de relevantes dados. Evidencia-se no depoimento da entrevistada, que enquanto adulta passa por

    transies. Nota-se no caso, que na pr, durante e ps-transio foi evidenciada

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  • na mulher: ansiedade e sentimentos antagnicos como raiva, alegria, tristeza, medo, entre outros. Observa-se que ela conseguiu passar pelas transies utilizando-se de recursos pessoais visualizadas nos itens arrolados, no modelo descrito anteriormente, como caractersticas do ambiente pr, ps-transio e na transio de si mesma.

    Isto mostra que ficar de braos cruzados uma atitude, s vezes to cheia de sentimentos como a de aes. Sua ansiedade at certo grau, mesmo estando presente, representa uma fora propulsora a qual lhe conduzia a uma passagem da transio, com mais segurana e coragem.

    Vale aqui refletir sobre o olhar da enfermeira sobre o cliente/paciente ao ficar de braos cruzados. Presa a preconceitos pode inferir sua impotncia diante da crise. O que no raro encontrar tal atitude das prprias enfermeiras. Muito embora aparentemente inativo, a pessoa tem seu mundo interior e passa nele uma srie de emoes, lembranas, comparaes que ajudam a sair-se vencedora ou vencida, a fluir ou a permanecer irracional diante da fase de transio.

    Assim sendo, a possibilidade de assumir uma atitude de entrevistadores ancoradas em SCHLOSSBERG (1982), significa estar aberta para receber depoimentos sem expectativas, buscando material de vrias fontes e procurando libertar-se das possveis percepes congeladas. Desta maneira, foi o que se procurou realizar no presente estudo.

    Alm disso, a entrevista assim conduzida levou os entrevistadores a constatar a facilidade que se tem nesta posio. Enquanto isso eles do margem a entrevista para se colocar livremente e oferecer espao para que esta pense em facetas ocultas de si mesmo, dando assim a prpria entrevista em carter teraputico.

    Em suma, refletir sobre a importncia tanto dos dados obtidos sobre a pessoa em transio, na aplicabilidade do modelo visando estar vivenciando uma postura no normativa na coleta de dados, resgata as seguintes consideraes: a procura de outros focos na entrevista, os quais foram observados nesse estudo ao verificar-se que a me que adoeceu, o que caracteriza tambm uma transio por encontrar-se inserida como um dos elementos que compem o ambiente pr e ps-transio. E por se tratar de me, possivelmente isto tem grande peso como elemento desencadeante de um redimensionamento de vida.

    Vale ressaltar, que este estudo leva a se pensar que os profissionais de enfermagem devem estar atentos a tais fatos, interagindo com adultos e conseqentemente, com os que fazem parte do complexo ambiental, na identificao dessas passagens.

    Finalmente, assumindo um modelo no normativo a enfermeira ter recebido contribuio atualizada no entendimento da pessoa como ser nico, vivendo seu momento conforme sua possibilidade. Logo, isto favorece que se minimize a ao dos preconceitos, evitando enquadramentos capazes de conduzir o enfermeiro a impor seus prprios pensamentos, centrado nos seus valores, hbitos e costumes.

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  • TRANSITIONS DESCRIBED BY AN ADULT WOMAN - SUBSIDIES FROM THE HUMAN ADAPTATION MODEL OF

    SCHLOSSBERG The case study of a forty two years old woman expressed the transition and

    crisis experienced by an adult woman. The speech content is presented in this article according to the human adaptation model of SCHLOSSBERG and attempting to acquire informations about crisis and transitions. The authors assumed a position of non-normative interviewers applying a psychological model in nursing and used the content analysis technic. They verified that the adult woman crises were solved using her own personal resources. UNITERMS: adult woman, non-normative, transition

    TRANSICIONES Y CRISIS RELATADAS POR UNA MUJER ADULTA - AYUDAS AL MODELO DE ADAPTACIN HUMANA

    DE SCHLOSSBERG A travs de un estudio de caso, de una mujer de 42 aos, fueron expresadas

    sus transiciones y crisis vividas. El contenido del habla es presentado en este trabajo, utilizando el modelo de adaptacin humana propuesto por SCHLOSSBERG, con el objetivo de obtener informaciones sobre crisis y transiciones, se asumi la postura de entrevistador no normativo y se aplic un modelo originario de la psicologa en la Enfermera. Se ha utilizado el anlisis de contenidos para clasificar el material de las entrevistas. En los resultados del estudio se constata que la mujer adulta ha conseguido superar las crisis, en direccin de su adaptacin, utilizando recursos personales.

    UNITERMOS: mujer adulta, no-normativo, transicin

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 01. BARDIN, L. Anlise de contedo. Lisboa: Edies 70, 1991. 02. MINAYO, M. C. de S. (org.). Pesquisa social: teoria, mtodo e criatividade.

    Petrpolis: Vozes, 1994. 03. SCHLOSSBERG, N. Y. A model for analyzing human adaptation to transition.

    Counse I.Psychologist, v. 9, n. 2, p. 2, 1982.

    Rev. Latino-am.enfermagem - Ribeiro Preto - v. 4 - n. 1 - p. 177-187 - janeiro 1996 187

    EDITORIALGraciette Borges da SilvaEDITORIAL

    Graciette Borges da Silva *