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Em uma região rica em olhos d'água no interior de Pedro II, norte do Piauí, existe uma comunidade chamada Vale do São Francisco. É lá que a gente encontra a propriedade de Seu José Ferreira de Melo, 58 anos de idade e Dona Francisca Arlindo da Silva Melo, também de 58 anos. Na comunidade vivem 23 famílias que sobrevivem basicamente da agricultura familiar e da criação de animais, eles aproveitaram os olhos d'água que têm na região para fazer uma canalização que leva água potável para todas as casas, mas Seu José e Dona Francisca aproveitam essa riqueza para experimentar várias técnicas de cultivos. De um experimento e outro, hoje a família tem um dos quintais produtivo mais bonito da região. A história desse casal começa quando Francisco Ferreira de Melo veio do Ceará e comprou algumas terras na comunidade. Lá ele conheceu Boaventura Carreiro de Melo, casou e com ela teve 16 filhos, um deles é Seu José. O agricultor conta que desde criança conhecia Dona Francisca Arlindo, pois moravam na mesma comunidade, os dois se apaixonaram e resolveram casar, da união nasceram seus cinco filhos, três mulheres e dois homens. A propriedade da família do casal foi herdada com o falecimento de Seu Francisco, as terras de 116 hectares foram divididas entre os 16 irmãos. Seu José ficou com 11 hectares, somados com a parte que comprou dos irmãos, hoje suas terras chegam a cerca de 60 hectares. É nessas terras que ele planta e cria seus animais de pequeno porte, pratica a apicultura, fabrica a rapadura e agora aposta na criação de peixes em tanques. De acordo com Seu José quase toda sua área é produtiva. As terras subindo as montanhas ele disse que utiliza para fazer plantação de cerqueiro, que só dá uma vez no ano, no local ele faz o consócio de milho, feijão e mandioca. “O consócio é bom porque você ganha tempo no manejo e pode ter diversas culturas em uma área Piauí Ano 3 | nº 65 | Agosto | 2009 Pedro II - Piauí Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Vale do São Francisco Produção auto-sustentável que vem do semiárido 1 Seu José colhendo mandioca, produção saudável livre de agrotóxico. Dona Francisca ajuda o marido quando não está ensinando seus alunos da comunidade.

Vale do São Francisco: produção autossustentável que vem do Semiárido

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Em uma região rica em olhos d'água no interior de Pedro II, norte do Piauí, existe uma comunidade chamada Vale do São Francisco. É lá que a gente encontra a propriedade de Seu José Ferreira de Melo, 58 anos de idade e Dona Francisca Arlindo da Silva Melo, também de 58 anos. Na comunidade vivem 23 famílias que sobrevivem basicamente da agricultura familiar e da criação de animais, eles aproveitaram os olhos d'água que têm na região para fazer uma canalização que leva água potável para todas as casas, mas Seu José e Dona Francisca aproveitam essa riqueza para experimentar várias técnicas de cultivos. De um experimento e outro, hoje a família tem um dos quintais produtivo mais bonito da região.

A história desse casal começa quando Francisco Ferreira de Melo veio do Ceará e comprou algumas terras na comunidade. Lá ele conheceu Boaventura Carreiro de Melo, casou e com ela teve 16 filhos, um deles é Seu José. O agricultor conta que desde criança conhecia Dona

Francisca Arlindo, pois moravam na mesma comunidade, os dois se apaixonaram e resolveram casar, da união nasceram seus cinco filhos, três mulheres e dois homens. A propriedade da família do casal foi herdada com o falecimento de Seu Francisco, as terras de 116 hectares foram divididas entre os 16 irmãos. Seu José ficou com 11 hectares, somados com a parte que comprou dos irmãos, hoje suas terras chegam a cerca de 60 hectares. É nessas terras que ele planta e cria seus animais de pequeno porte, pratica a apicultura, fabrica a rapadura e agora aposta na criação de peixes em tanques.

De acordo com Seu José quase toda sua área é produtiva. As terras subindo as montanhas ele disse que utiliza para fazer plantação de cerqueiro, que só dá uma vez no ano, no local ele faz o consócio de milho, feijão e mandioca. “O consócio é bom porque você ganha tempo no manejo e pode ter diversas culturas em uma área

Piauí

Ano 3 | nº 65 | Agosto | 2009Pedro II - Piauí

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Vale do São FranciscoProdução auto-sustentável que vem do

semiárido

1

Seu José colhendo mandioca, produção saudável livre de agrotóxico.

Dona Francisca ajuda o marido quando não está ensinandoseus alunos da comunidade.

só, dá para aproveitar bem o espaço”. Seu José também cultiva plantas forrageiras que são utilizadas para alimentar suas pequenas criações de cabras, ovelhas, galinhas e porcos.

A família pratica o sistema de agrofloresta onde a mata nativa é preservada e aproveitada, no local apenas são retiradas as árvores mais baixas e ali plantado pés de laranja, mamão, acerola, goiaba, abacate, coco, macaxeira, banana, jerimum, cerejas e manga. Agora Seu José está fazendo experimento com a palma, ele disse que conheceu a planta há dois anos em uma viagem que fez para ver as experiências de outros agricultores em Pernambuco, desse tempo para cá, ele começou a plantar no quintal de casa e diz que por enquanto está dando certo.

O agricultor aproveita os olhos d'água abundantes na região para encher os reservatórios e através de canalização ou inundação a água vai escorrendo e molhando as culturas. Para proteger a plantação nada de agrotóxico ou adubo químico, ele diz que usa defensivos naturais, como querobom, feito com querosene e sabão e as plantas nim, o angico e a manipueira que também servem de repelentes.

Seu José conta que aprendeu tudo isso com os pais e os mais velhos da região, mas como gostava de conhecer foi aperfeiçoando o que sabia através de cursos. Primeiro participou do Projeto Agrícola da Paróquia de Pedro II e depois do Projeto Social da Diocese de Parnaíba. Foi através desses programas que Seu José e algumas famílias da região conheceram a prática da apicultura. Ele conta que em 1986, incentivados pelo Projeto Social, 14 famílias da região formaram um dos primeiros grupos na prática da apicultura, algumas famílias desistiram e outras foram embora, hoje restaram oito famílias no grupo. Seu José diz que ele mesmo confecciona de forma artesanal, com talos de carnaúba as caixas das abelhas africanizadas para a colheita do mel que acontece de fevereiro a junho, o que é colhido serve para o consumo e também é vendido e gera uma renda extra para as famílias.

No ano de 2000, Seu José e Dona Francisca contam que decidiram ir morar em Pedro II para acompanhar de perto a educação dos filhos que já moravam na cidade para concluírem os estudos. O casal recebeu um convite para trabalhar na Ecoescola do Centro de Formação Mandacaru, uma ONG que desenvolve trabalho na região, era a oportunidade que eles esperavam para poderem ficar mais perto dos filhos. Seu José trabalhava como instrutor de campo, dava aulas práticas sobre horticultura, capinocultura e fruticultura e dona Francisca trabalhava como merendeira. Porem eles dizem que se sentiam triste quando visitavam sua casa e que mesmo tendo deixado alguém cuidando do local, sentiam que as coisas estavam andando devagar, foi quando resolveram voltar. O casal trabalhou na Ecoescola ainda por nove anos, período que os filhos concluíram o ensino médio. Segundo o agricultor

uma das alegrias maiores de sua vida foi retornar a suas terras. Dona Francisca que é professora e dava aulas de 1° a 4° há mais de 20 anos na comunidade, retornou ao ofício, os filhos do casal continuam em Pedro II, trabalhando e estudando, apenas o mais velho, ajuda o pai com os serviços do campo.

Seu José diz que uma das coisas mais importante que aprendeu nos cursos que participou foi o respeito à natureza e sua importância para os homens. Agora ele aposta na criação de peixe, sonho antigo que a família e moradores da região não acreditavam que daria certo. “eu sempre quis fazer um tanque desses, para criar peixes, mas o pessoal aqui ficaram com medo, fiquei decepcionado, mas não desisti, agora realizei meu objetivo”. Apenas mais um dos objetivos alcançados, agora é esperar para ver o que mais Seu José vai experimentar produzir em seu quintal.

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Ministério doDesenvolvimento Social

e Combate à Fome

Secretaria de Segurança Alimentar

Apoio:

www.asabrasil.org.br

CENTRO REGIONAL DE ASSESSORIA E CAPACITAÇÃO

A produção e venda do mel é uma das rendas das famílias do Vale do São Francisco.