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Validação da prova e sanitização de suportes A validação e esterilização dos suportes digitais é uma componente crucial de qualquer exame forense de prova digital. Para que um perito forense possa assegurar a idoneidade da prova recolhida, é necessário começar por garantir a correta utilização dos programas e equipamentos envolvidos nessa mesma recolha. Os métodos utilizados pelos envolvidos podem por vezes ser demorados e fastidiosos mas no entanto fundamentais. Da mesma forma, a preparação dos dispositivos de suporte a ser utilizados é também fundamental, passando obrigatoriamente pela utilização de ferramentas e processos que garantam a não contaminação da prova. A não conformidade com as melhores práticas que garantam a integridade da prova pode comprometer irremediavelmente a idoneidade da mesma bem como a dos técnicos envolvidos. Validação Existem dois pilares num exame forense. O perito e as ferramentas que este usa. Os ataques à integridade da prova vão sempre incidir sobre um deles ou sobre os dois simultaneamente. Os ataques ao perito vão invariavelmente incidir sobre os seus conhecimentos técnicos, formação específica na área e métodos que utilizou. A única forma de mitigar estes ataques é garantir que quem lida com estes processos tem a formação adequada para tal e a documentação adequada e detalhada de todo o processo O treino e a experiencia dos técnicos deverá ser contínua e o mais abrangente possível, para que este esteja habilitado a interagir com todos os sistemas existentes na organização. Ainda que este não necessite de ser um perito em todas as áreas, o que seria manifestamente impossível, terá de ter um leque de conhecimentos bastante alargado. Colóquios, seminários e acompanhamento das tecnologias mais recentes através de livros técnicos são outras das fontes de conhecimento que deverão estar continuamente ao dispor dos técnicos. Acima de tudo estes deverão acumular experiencia forense em casos concretos. Os ataques ao software serão normalmente feitos com dois objetivos. Um dos quais é a esperança de “apanhar” o perito numa pergunta que não pode ser por ele respondida, porque este não sabe a resposta ou perante a qual este mostre grande hesitação na resposta. A segunda é a de capitalizar numa qualquer fragilidade do software, ainda que não tenha diretamente a ver com as funcionalidades que foram utilizadas no caso concreto. O objetivo é ferir a credibilidade da ferramenta e criar a dúvida em quem tem por missão avaliar a validade probatória dos elementos reunidos. Há que ter sempre em mente o princípio do direito que determina que “in dúbio pro réu”, ou seja, em caso de dúvida não se releva a prova incriminatória. É preciso nunca esquecer que toda a prova pericial pode ser contestada em tribunal e reexaminada por outro perito, conforme prevê o art.º 158 do CPP e que esta deverá obter os mesmos resultados. As defesas de quem é acusado estão cada vez melhor preparadas e assessoradas tecnicamente, sendo comum serem chamados a depor pela defesa, especialistas forenses e de informática, com o objetivo de pôr em causa a prova produzida pela acusação, face ao que, é preciso não esquecer que o primeiro degrau na cadeia da prova é cumprido na empresa, quando se recolhe e preserva a prova.

Validação Da Prova e Sanitização de Suportes

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  • Validao da prova e sanitizao de suportes

    A validao e esterilizao dos suportes digitais uma componente crucial de qualquer exame

    forense de prova digital. Para que um perito forense possa assegurar a idoneidade da prova

    recolhida, necessrio comear por garantir a correta utilizao dos programas e equipamentos

    envolvidos nessa mesma recolha. Os mtodos utilizados pelos envolvidos podem por vezes ser

    demorados e fastidiosos mas no entanto fundamentais. Da mesma forma, a preparao dos

    dispositivos de suporte a ser utilizados tambm fundamental, passando obrigatoriamente pela

    utilizao de ferramentas e processos que garantam a no contaminao da prova. A no

    conformidade com as melhores prticas que garantam a integridade da prova pode

    comprometer irremediavelmente a idoneidade da mesma bem como a dos tcnicos envolvidos.

    Validao

    Existem dois pilares num exame forense. O perito e as ferramentas que este usa. Os ataques

    integridade da prova vo sempre incidir sobre um deles ou sobre os dois simultaneamente.

    Os ataques ao perito vo invariavelmente incidir sobre os seus conhecimentos tcnicos,

    formao especfica na rea e mtodos que utilizou.

    A nica forma de mitigar estes ataques garantir que quem lida com estes processos tem a

    formao adequada para tal e a documentao adequada e detalhada de todo o processo

    O treino e a experiencia dos tcnicos dever ser contnua e o mais abrangente possvel, para

    que este esteja habilitado a interagir com todos os sistemas existentes na organizao. Ainda

    que este no necessite de ser um perito em todas as reas, o que seria manifestamente

    impossvel, ter de ter um leque de conhecimentos bastante alargado. Colquios, seminrios e

    acompanhamento das tecnologias mais recentes atravs de livros tcnicos so outras das fontes

    de conhecimento que devero estar continuamente ao dispor dos tcnicos.

    Acima de tudo estes devero acumular experiencia forense em casos concretos.

    Os ataques ao software sero normalmente feitos com dois objetivos.

    Um dos quais a esperana de apanhar o perito numa pergunta que no pode ser por ele respondida, porque este no sabe a resposta ou perante a qual este mostre grande hesitao na

    resposta. A segunda a de capitalizar numa qualquer fragilidade do software, ainda que no

    tenha diretamente a ver com as funcionalidades que foram utilizadas no caso concreto. O

    objetivo ferir a credibilidade da ferramenta e criar a dvida em quem tem por misso avaliar

    a validade probatria dos elementos reunidos. H que ter sempre em mente o princpio do

    direito que determina que in dbio pro ru, ou seja, em caso de dvida no se releva a prova incriminatria.

    preciso nunca esquecer que toda a prova pericial pode ser contestada em tribunal e

    reexaminada por outro perito, conforme prev o art. 158 do CPP e que esta dever obter os

    mesmos resultados.

    As defesas de quem acusado esto cada vez melhor preparadas e assessoradas tecnicamente,

    sendo comum serem chamados a depor pela defesa, especialistas forenses e de informtica,

    com o objetivo de pr em causa a prova produzida pela acusao, face ao que, preciso no

    esquecer que o primeiro degrau na cadeia da prova cumprido na empresa, quando se recolhe

    e preserva a prova.

  • A forma de defesa contra os ataques ao software utilizado, estar o mais familiarizado possvel

    com o seu funcionamento, documentar todos os passos dados e recorrer sempre a programas

    certificados e reconhecidos como idneos para os fins utilizados.

    Esterilizao dos suportes de Media

    A definio de esterilizao de suportes magnticos na comunidade forense, tem a ver com a

    reescrita de todos os bytes do suporte com um valor hexadecimal conhecido ou aleatrio, de

    forma a eliminar toda a informao previamente existente nesse suporte. Este processo

    normalmente designado por wipe, limpeza ou esterilizao. A este propsito, no demais recordar que as funes dos sistemas operativos para apagar e

    formatar os suportes, no efetuam qualquer reescrita:

    A operao de apagar ficheiros que os sistemas operativos disponibilizam, deixa todo o

    contedo do suporte perfeitamente intacto removendo apenas as suas ligaes (links);

    Para fins forenses recomenda-se a utilizao de uma ferramenta de wipe com reescrita por 00h (zeros), uma vez que facilita a verificao da esterilizao do suporte, j que o seu

    checksum dever ser 0.

    Porqu utilizar suporte esterilizados

    Em situaes onde dados do suspeito tm de ser copiados para suportes digitais e para que

    sejam futuramente alvo de exame, imperioso que nenhum dado exista nesses suportes de

    destino, sob pena de se misturar dados e contaminar irremediavelmente a prova. O melhor

    mtodo utilizar um utilitrio que reescreva cada byte do suporte com 00h, ou confirmando

    que o seu checksum 0 caso seja um suporte fornecido como estando supostamente limpo.

    A adoo deste procedimento assegura:

    _ A completa eliminao de todos os dados que eventualmente existam no suporte e

    _ A confirmao de que o suporte est esterilizado atravs da obteno de um checksum =0.

    Quando utilizar suportes digitais esterilizados

    _ Sempre que se pretenda que, em determinado suporte digital, sejam colocadas cpias forenses

    de dados.

    _ Quando se recebem suportes de terceiros, sejam eles novos ou usados e estes se destinem a

    receber dados de prova.

    _ Sempre que se devolvem suportes a terceiros, estes devem ser sempre esterilizados e no

    simplesmente apagados.

    importante salientar que uma simples cpia de ficheiros entre suportes de armazenamento,

    pode inadvertidamente colocar dados do nosso sistema no suporte de destino.

    Como criar um suporte esterilizado

    Existem diversos programas que permitem a reescrita de cada byte dos suportes digitais.

    Alguns programas no permitem a escolha do valor do byte a ser utilizado na reescrita enquanto

    outros sim.

    Para efeitos forenses sempre aconselhvel utilizar o 00h. O EnCase permite esta ltima opo, reportando quantos sectores foram reescritos. Se soubermos de antemo quantos

    sectores tem o suporte que estamos a utilizar, pode facilmente confirmar-se que todos os seus

    sectores foram reescritos.