93
Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Biociências Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia Variações horárias na entrada e saída dos golfinhos-rotadores e sua relação com fatores ambientais, na Baía dos Golfinhos em Fernando de Noronha – PE. Thiago Emanoel Bezerra da Costa Natal 2011

Variações horárias na entrada e saída dos golfinhos-rotadores e … · 2017. 11. 5. · Os golfinhos são encontrados em todos os ambientes marinhos do mundo, com exceção dos

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

  • Universidade Federal do Rio Grande do Norte

    Centro de Biociências

    Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia

    Variações horárias na entrada e saída dos golfinhos-rotadores e sua relação

    com fatores ambientais, na Baía dos Golfinhos em Fernando de Noronha – PE.

    Thiago Emanoel Bezerra da Costa

    Natal

    2011

  • Thiago Emanoel Bezerra da Costa

    Variações horárias na entrada e saída dos golfinhos-rotadores e sua relação

    com fatores ambientais, na Baía dos Golfinhos em Fernando de Noronha – PE.

    Dissertação apresentada ao

    Programa de Pós-Graduação em

    Psicobiologia da Universidade

    Federal do Rio Grande do Norte,

    como requisito para obtenção do

    título de Mestre em Psicobiologia.

    Orientador: Prof. Dr. Flávio José de Lima Silva

    Natal

    2011

  •  

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

  • Título: Autor: Data da defesa: Banca Examinadora: ___________________________________ Nome: Prof. Dr. Flávio José de Lima Silva ___________________________________ Nome: Dr. José Martins da Silva Jr. ___________________________________ Nome: Prof. Dr. Lídio França do Nascimento

  • Dedicatória

    A todos aqueles que me ajudaram e que tornaram esse sonho possível.

    Porque um sonho que se sonha só, é apenas um sonho que se sonha só, mas um sonho que se sonha junto é realidade.

  • Agradecimentos

    Em primeiro lugar agradeço a toda minha família, a meus pais ( Josemar e Marilene) e minhas irmãs em especial (Luana, Joana, Lílian e Lene). Por todas as palavras de

    incentivo e por toda a ajuda que eles puderam me dar.

    Aos meus avós e minhas tias, porque eu sei que eles se sentem muito orgulhosos de mim.

    Em segundo lugar, agradeço à minha segunda família (Seu Renato, Dona Lúcia, Vó Bia, Sávio, Renata e Larissa). Por ter me “adotado” no início dessa jornada, e por

    nunca ter me deixado sentir um estranho no ninho.

    A toda a equipe do Projeto Golfinho Rotador. Ótimas pessoas que conheci em Fernando de Noronha, que eu sei que posso contar sempre que precisar. Em

    especial a Priscila, Marina, Juliana, Aline e Ademir, por serem verdadeiros amigos que eu sei que posso contar na minha vida.

    A Petrobras, que por meio do Programa Petrobras Ambiental patrocina o Projeto Golfinho Rotador, viabilizando este estudo.

    A toda a equipe do Projeto Cetáceos da Costa Branca, que indiretamente também ajudaram na construção desse trabalho, afinal de contas foi, e é, “aqui” que nascem todos os dias mais vontade para continuar cada vez mais com esse trabalho. Em

    especial a Adna, Bernadete e Camilo.

    A equipe do Projeto Pequenos Cetáceos (Iraê, Lídio, Diogo, Pedro e Gustavo), por me inserir nas pesquisas com cetáceos também no litoral sul do RN.

    A todos os professores do departamento de Turismo da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte, principalmente a professora Tatiana, por ter me incentivado muito, principalmente nessa última etapa da construção dessa dissertação.

    A Sandja por ter me ajudado na tradução do abstract e ter conseguido entrar aqui nestes agradecimentos aos 45’ do segundo tempo.

    A professora Simone e ao professor Mademerson, pela ajuda nas análises estatísticas aqui feitas.

    A Flávio José de Lima Siilva e a José Martins da Silva Júnior, por terem me ensinado muito, não apenas como pesquisador, mas como pessoa.

    E, é claro, aos golfinhos por terem sido alvo de todo este estudo, por serem estes animais intrigantes e que muito aguçam a curiosidade de todos, além de ser uma companhia necessária nos momentos solitários do Mirante dos Golfinhos e do Forte dos Remédios.

  • Resumo

    Os golfinhos são encontrados em todos os ambientes marinhos do mundo, com

    exceção dos polos. No Brasil, a maior concentração destes animais é no

    Arquipélago de Fernando de Noronha, que possui clima tropical com duas estações

    pluviométricas bem definidas: estações seca e chuvosa. A Baía dos Golfinhos é sua

    região de maior concentração em Noronha. Este estudo possui o objetivo de

    caracterizar a ritmicidade circadiana comportamental do golfinho-rotador, Stenella

    longirostris, na ocupação da Baía dos Golfinhos, no Arquipélago de Fernando de

    Noronha, Nordeste do Brasil, em decorrência de flutuações do ambiente natural em

    que os mesmos estão inseridos. O estudo foi realizado diariamente entre janeiro de

    1991 e dezembro de 2009, com observações de ponto-fixo a partir do Mirante dos

    Golfinhos, localizado na Baía dos Golfinhos. Os dados foram analisados com o

    programa PASW Statistics 18 com testes estatísticos não paramétricos, sendo

    analisados os horários de entrada e saída dos golfinhos-rotadores e suas relações

    com a fase lunar, a incidência de ventos e a estação pluviométrica local. Os ritmos

    diurnos do golfinho-rotador são influenciados pela lua, adiantando o seu horário de

    chegada à Baía dos Golfinhos em períodos de lua-cheia devido a alta luminosidade

    lunar noturna proporcionar uma maior eficiência alimentar destes animais. O horário

    de saída dos golfinhos-rotadores não mostrou diferença estatística entre as fases

    lunares, apesar de possuir o mesmo padrão do anterior. Em situações de maior

    incidência de ventos ao redor do arquipélago, os rotadores chegam mais cedo à

    Baía dos Golfinhos, já que a mesma está mais protegida dos ventos que atingem o

    arquipélago. Em períodos de alta pluviosidade em Fernando de Noronha, os

    golfinhos-rotadores tendem a chegar mais tarde e sair mais cedo da enseada devido

    a chuva causar condições adversas para o seu descanso.

  • Abstract

    The dolphins are found in all world’s marine environments, except for poles.

    On Brazil, the major concentration of this animals is on Fernando de Noronha

    Islands, wich have a tropical climate with two well-defined rainfall seasons: dry and

    rainy season. The Baía dos Golfinhos, wich is the most crowded piece of dolphins on

    the archipelago. These research looks for to characterize the circadian rhythms of the

    spinner dolphin behavior, Stenella longirostris, on the Baía dos Golfinhos occupation,

    at the Fernando de Noronha islands, Brazil’s northeast, according to the fluctuations

    of environment that they all are inserted. The research was realized daily between

    1991 January and 2009 December, with observations from a fixed point up to Mirante

    dos Golfinhos, located on Baía dos Golfinhos. The data was examined with the

    PASW Statistics 18 program, up to nonparametric tests, being analyzed on the

    incoming and out coming time of the spinner dolphins and the relationship with moon

    phases, the wind incidence, and the rainfall season, the dolphins were inserted. The

    spinner dolphins diurnal rhythms are influenced by moon phases, the spinner

    dolphins arrival at Baía dos Golfinhos earlier when it’s full moon because of the high

    luminosity at night cause a bigger food efficiency for these animals. The outgoing

    time of spinner dolphins didn’t show statistic difference between moon phases,

    despite follows the same pattern for the incoming time. When the spinner dolphins

    are submitted to bigger wind incidence conditions around the archipelago, the

    dolphins come early to the Baía dos Golfinhos, since that one is protected from wind

    that reaches Fernando de Noronha, the spinner dolphins tends to arrive later and

    leave earlier of the bay because the rain may cause adverse conditions for your rest.

  • Índice de figuras

    Manuscrito 1 Pág.

    Figura 1: Imagem aérea do Arquipélago de Fernando de Noronha, com destaque para a Baía dos Golfinhos. Fonte: Google Earth. Adaptada pelo autor.

    32

    Figura 2: Horário médio (mediana) da chegada dos golfinhos rotadores em função da fase lunar.

    36

    Figura 3: Horário médio (mediana) de saída dos golfinhos rotadores em função da fase lunar

    37

    Manuscrito 2 Pág.

    Figura 1: Arquipélago de Fernando de Noronha, com destaque para a Baía dos Golfinhos, vista do Mirante dos Golfinhos. Fonte: Adaptada pelo Autor.

    62

    Figura 2: Gráfico de quantidade de chuva média entre os meses observados, ao longo dos 19 anos de estudo. Com linha de tendência revelando a mediana da pluviosidade em todo o período de estudo

    65

    Figura 3: Gráfico do horário de chegada médio entre os meses observados, com linha de tendência para o valor da mediana geral do horário de chegada dos golfinhos à Baía dos Golfinhos, em Fernando de Noronha.

    66

    Figura 4: Gráfico do horário de saída médio entre os meses observados, com linha de tendência para o valor da mediana geral do horário de saída dos golfinhos da Baía dos Golfinhos, em Fernando de Noronha.

    68

    Figura 5: Gráfico que mostra a mediana para os horários de chegada dos golfinhos rotadores classificados por cada categoria de velocidade do vento.

    70

    Figura 6: Gráfico que mostra a mediana para os horários de saída dos golfinhos rotadores classificados por cada categoria de velocidade do vento.

    72

  • Índice de Tabelas Manuscrito 1 Pág

    Tabela 1: Horário de entrada dos rotadores da Baía dos Golfinhos entre os anos de 1991 e 2009.

    33

    Tabela 2: Horário de saída dos rotadores da Baía dos Golfinhos entre os anos de 1991 e 2009.

    34

    Tabela 3: Número de observações do horário de entrada dos rotadores da Baía dos Golfinhos entre os anos de 1991 e 2009, por fase lunar.

    32

    Tabela 4: Número de observações do horário de entrada dos rotadores da Baía dos Golfinhos entre os anos de 1991 e 2009, por fase lunar.

    33

    Manuscrito 2 Pág.

    Tabela 1: Número de observações do horário de entrada dos rotadores da Baía dos Golfinhos entre os anos de 1991 e 2009, por estação pluviométrica

    67

    Tabela 2: Número de observações do horário de saída dos rotadores da Baía dos Golfinhos entre os anos de 1991 e 2009, por estação pluviométrica

    68

    Tabela 3: Número de observações do horário de Chegada dos rotadores da Baía dos Golfinhos entre os anos de 1991 e 2002, por categoria do vento

    69

    Tabela 4: Número de observações do horário de Saída dos rotadores da Baía dos Golfinhos entre os anos de 1991 e 2002, por categoria do vento

    71

  • Sumário Introdução geral .........................................................................................................14

    Objetivos, hipóteses e predições ...............................................................................22

    Objetivo geral ..................................................................................................22

    Objetivos específicos ......................................................................................22

    Hipóteses e Predições ....................................................................................22

    Hipótese 1 ............................................................................................22

    Predição 1 .................................................................................22

    Predição 2 .................................................................................23

    Hipótese 2 ............................................................................................23

    Predição 1 .................................................................................23

    Predição 2 .................................................................................23

    Predição 3 .................................................................................23

    Manuscrito 1 ..............................................................................................................24

    Resumo ...........................................................................................................25

    Introdução .......................................................................................................27

    Materiais e Métodos ........................................................................................30

    Área de estudo e coleta de dados .......................................................30

    Análise estatística dos dados ...............................................................32

    Resultados ......................................................................................................33

    Horário de entrada ...............................................................................35

    Horário de saída ...................................................................................36

    Discussão .......................................................................................................37

    Referências bibliográficas ...............................................................................43

    Marine Mammal Science – Formatação .........................................................48

  • Manuscrito 2 ..............................................................................................................55

    Resumo ...........................................................................................................56

    Introdução .......................................................................................................58

    Materiais e Métodos ........................................................................................61

    Área de estudo .....................................................................................61

    Métodos ................................................................................................62

    Análise dos dados ................................................................................64

    Resultados ......................................................................................................65

    Pluviosidade x Horário de Chegada .....................................................65

    Pluviosidade x Horário de Saída ..........................................................67

    Velocidade do vento x Horário de Chegada ........................................69

    Velocidade do vento x Horário de Saída ..............................................70

    Discussão .......................................................................................................72

    Referências bibliográficas ...............................................................................75

    Journal of the Marine Biological Association of the United Kingdom – Formatação OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO79

    Considerações finais .................................................................................................88

    Referências bibliográficas .........................................................................................91

  • 14

    Introdução geral

    Menna-Barreto (2003) afirma que animais e plantas mudam conforme o clima,

    hora do dia e estações do ano, que espécies surgem e desaparecem, e que a vida

    aparece como movimento permanente. Afirma ainda que a forma mais evidente da

    organização temporal de um ser vivo é com relação aos estímulos ambientais, como

    fotoperíodo e disponibilidade de alimento.

    Animais em vida livre possuem flutuações temporais na expressão dos seus

    comportamentos, estando essas oscilações correlacionadas com as mudanças

    recorrentes que se apresentam no ecossistema em que eles estão inseridos. Até

    pouco tempo tinham sido infrutíferas as tentativas para relacionar estas oscilações

    regulares com fatores do clima, não obstante o fato da respectiva sincronia e

    proeminência nas latitudes setentrionais parecer sugerir algum acontecimento cíclico

    fora do ecossistema local. Caso se possa provar que os fatores do clima, casuais ou

    outros, não constituem a causa principal de oscilações violentas, então deverá olhar-

    se naturalmente para causas existentes no interior das próprias populações, isto é,

    para fatores intrínsecos (Odum 2001).

    Em ambientes marinhos, os principais fatores que afetam o comportamento

    diário dos animais são os ciclos claros e escuros, as marés e ciclos lunares (Saigusa

    2001). Acontecimentos periódicos podem estar relacionados com os ciclos lunares

    (que controlam as marés, por exemplo) e com os ciclos estacionais. Há muito tempo

    é aceito que os padrões de comportamentos e atividades dos animais são

    influenciados por ritmos endógenos arrastados, associados com pistas ambientais

    (Hanson 2008).

  • 15

    A maioria das pesquisas sobre o impacto do ciclo lunar em vertebrados, a

    exemplo daquelas feitas com peixes, tem focado no entendimento de como o ciclo

    lunar e as mudanças de marés associadas afetam a sincronia reprodutiva, migração

    de marés, migração de estratos e dinâmica hormonal de espécies marinhas (Hanson

    2008).

    Os mamíferos marinhos sempre despertam interesse e curiosidade, talvez por

    serem ainda pouco conhecidos quanto aos seus hábitos e comportamento, o que em

    grande parte se deve à dificuldade de observação no meio em que vivem (Pinedo et

    al. 2002). Apesar de a maioria dos animais mostrarem padrões diários e sazonais

    em seu comportamento, padrões comportamentais de cetáceos vivendo livremente

    raramente são descritos (Bräguer 1993).

    Marques (2006) descreve que ritmo biológico é a expressão utilizada para

    identificar oscilações regulares nos sistemas biológicos. Essa definição ampla

    abrange tanto ritmos gerados endogenamente (pelos chamados sistemas de

    temporização), como ritmos provocados diretamente por flutuações regulares do

    ambiente. E dessa forma, os ritmos circadianos são aqueles que apresentam

    períodos em torno de 24 horas, ou qualquer outra duração entre 20 e 28 horas.

    Ritmos ultradianos (mais rápidos) apresentam períodos menores do que 20 horas.

    Ritmos infradianos apresentam períodos maiores do que 28 horas (e.g.: sazonais).

    Os ritmos biológicos, circadianos ou não, trazem uma vantagem ecológica

    indiscutível, uma vez que enlaça os ritmos ambientais e fisiológicos, e torna os

    organismos capazes de antecipar as periodicidades diárias, estacionais e outras

    quanto à luz, temperatura, marés e assim por diante (Odum 2001).

  • 16

    O clima influencia uma variedade de processos ecológicos. Estes efeitos

    operam através de parâmetros meteorológicos locais tais como temperatura, ventos,

    chuvas, neves e correntes oceânicas, assim como as interações entre eles. Estas

    flutuações movimentam temporariamente e espacialmente mudanças de calor e

    vapor d’água que terminará determinando o crescimento, recrutamento e padrões de

    migração das espécies (Stenseth 2002).

    Outros grupos de mamíferos aquáticos também mostram ritmos circadianos

    em seu comportamento, como para algumas espécies de Otarídeos, onde a

    presença de ritmos circadianos tem sido estudada com base em mudanças na

    densidade populacional dos grupos (Sepúlveda et al. 2001). Sepúlveda et al. (2001)

    também relatam que uma espécie de Otarídeo, Otaria flavescens, demonstra um

    comportamento rítmico de ocupação da colônia de Cochoa, zona central do Chile,

    em que a densidade populacional sofre um grande decréscimo durante a noite, e

    aumenta durante o dia, relatando que isto pode estar relacionado ao hábito alimentar

    noturno dos Otarídeos sul-americanos. Diferente dos Otarídeos, que possuem

    alguma dependência com o ambiente terrestre, os cetáceos possuem vida

    totalmente inserida no meio aquático.

    Algumas informações sobre ritmos diurnos de cetáceos podem ser obtidas

    através de relatos de expedições baleeiras, de observações casuais relatadas em

    pequenos detalhes e de estudos com outros objetivos primários. Outro recurso

    potencial de informações em ritmos diurnos são os diários de bordo destas

    expedições e anotações de campo. Uma razão para esta aparente falta de interesse

    neste tipo de pesquisa pode ser a dificuldade em se estudar qualquer aspecto de

    vida destes animais (Klinowska 1986).

  • 17

    O conhecimento da distribuição espacial e associações entre espécies de

    cetáceos é importante para uma completa avaliação e manejo destas espécies

    (Polacheck 1987).

    Desta forma, já se tem conhecimento da distribuição e sazonalidade para

    algumas espécies de cetáceos, o que é de grande importância devido ao fato de os

    mesmos terem sofrido pressões de capturas intencionais, acidentais ou provenientes

    da degradação de meio em que vivem, em especial as espécies costeiras, e para

    várias, essas pressões têm-se refletido na redução de suas populações (Pinedo et

    al. 1992).

    Para Lagenorhynchus acutus e Delphinus delphis, golfinho-de-lateral-branca

    do atlântico e golfinho-comum, respectivamente, na plataforma continental nordeste

    dos Estados Unidos, Selzer (1988) descreve que as distribuições destes animais

    podem ser descritas geograficamente, correlacionadas com fatores ambientais, tais

    como temperatura da superfície do mar, salinidade e topografia do fundo, devido à

    abundância de presas.

    Forney (1998) conclui que a distribuição e abundância de muitos cetáceos da

    Califórnia, parecem variar com as mudanças oceanográficas tanto nas escalas de

    tempo sazonais quanto interanuais. Bearzi et al. (1999) descreveu o padrão

    comportamental de ocupação de área por Tursiops truncatus, golfinho-nariz-de-

    garrafa, para a baía de Kvarneric, nordeste do mar Adriático, relatando que

    variações anuais em tamanho de grupo mostram que os padrões de agrupamento

    estão fortemente relacionados aos padrões comportamentais dos golfinhos. Isto

    indica que a variação inter-anual no tamanho médio do grupo foi afetada por

    variações ambientais e ecológicas (e.g.: tipo de presa, disponibilidade e distribuição),

  • 18

    em vez de ser inteiramente determinada por mudanças nas atividades

    comportamentais.

    Os golfinhos pertencem à classe Mammalia, subclasse Theria, infraclasse

    Eutheria, ordem Cetartiodactyla, subordem Odontoceti, que compreende os

    cetáceos com dentes, e família Delphinidae. Os golfinhos possuem o corpo

    hidrodinâmico, alongado e fusiforme. Os membros anteriores são nadadeiras

    internamente sustentadas pela cintura peitoral e por todos os ossos correspondentes

    aos da pata de tetrápode. Não apresentam membros posteriores e a cintura pélvica

    está reduzida a um pequeno osso sem função. A nadadeira dorsal e caudal são

    aquisições secundárias, resultantes de adaptação à água, não apresentam estrutura

    óssea, só cartilagem, e têm função de equilíbrio e orientação (Pinedo et al. 1992). A

    nadadeira caudal tem posição horizontal, apresenta um pedúnculo caudal muito

    musculoso e é responsável pela propulsão do corpo (Silva-Jr. 2010).

    Os golfinhos são encontrados em todos os ambientes marinhos do mundo,

    com exceção dos polos. Existem muitas espécies de golfinhos que vivem em rios, na

    costa entrando em estuários, em alto mar e em alguns casos possuem ampla

    distribuição. No Brasil, os golfinhos mais facilmente encontrados são o boto-cor-de-

    rosa (Inia geoffrensis), boto-cinza (Sotalia guianensis), golfinho-nariz-de-garrafa

    (Tursiops truncatus) e golfinho-rotador (Stenella longirostris) (Silva-Jr. 2010).

    O golfinho-rotador, Stenella longirostris, pode ser identificado externamente

    por seu rostro relativamente longo e fino, padrão de coloração, e nadadeira dorsal. O

    padrão de coloração na maioria das regiões consiste em três partes, uma capa

    cinza-escura, linha lateral cinza claro, e uma região ventral branca. Machos

    sexualmente maduros atingem tamanhos entre 129 e 235 cm, e pesam entre 23 e

  • 19

    80kg (Perrin 1998) O golfinho-rotador é pantropical, ocorrendo em todas as águas

    tropicais e subtropicais ao redor do mundo, entre aproximadamente 30-40°N e 20-

    30°S. Ele é tipicamente conhecido como uma espécie de alto-mar, mas populações

    costeiras e raças ou subespécies existem no Pacífico Leste, Oceano Indico, Sudeste

    da Ásia e provavelmente em outros lugares (Perrin et. al. 2005).

    Esta espécie de golfinho tem a característica de ser bastante sociável,

    vivendo em grupos onde o tamanho varia amplamente, desde poucos golfinhos até

    milhares. Golfinhos-rotadores comumente se juntam com o golfinho-pintado, Stenella

    attenuata, e outros golfinhos e pequenas baleias dentadas (Perrin et al. 2002;

    Bastida et al. 2007; Reeves et al. 2002). Golfinhos-rotadores podem ser confundidos

    ainda, no Atlântico Tropical, com o Stenella clymene, que é similar em aparência

    com o Stenella longirostris e também é observado realizando rotações, apesar de

    não serem tão acrobáticas quanto o Golfinho-rotador (Perrin et al. 2008)

    A espécie S. longirostris (Figura 1) constitui quatro subespécies, sendo a

    Stenella longirostris longirostris uma subespécie oceânica localizada ao redor de

    ilhas oceânicas do Atlântico Tropical, Índico, e oceano Pacífico Ocidental e Central;

    no Pacífico, ela geralmente não se estende a leste dos 145°W. Nesta subespécie

    estão inclusas populações regionais, incluindo aqueles ao redor do Havaí (Hawaiian

    spinners). No pacífico, a leste de 145°W e entre aproximadamente 24°N da Baixa

    California e 10°S do Peru, o rotador oriental (S. l. orientalis) substitui o S. l.

    longirostris. Formas intermediárias ou híbridas entre estas duas espécies são

    encontradas em quase todo o mar do Pacífico oriental tropical; elas são algumas

    vezes conhecidas como “barriga-branca” (whitebelly) ou rotadores “ocidentais” (S. l.

    centroamericana). Finalmente, S. l. roseiventris, o rotador anão, ocorre em águas

  • 20

    costeiras superficiais do sudeste da Ásia à Malásia ou Norte da Austrália (Reeves

    2002; Norris et al. 1994). Na América do Sul, apenas a S. l. orientalis, apenas no

    Oceano Pacífico, e S. l. longirostris, tanto no Oceano Pacífico quanto Atlântico, são

    representadas (Bastida et al. 2007).

    Figura 1: Golfinho-rotador, Stenella longirostris. Imagem: FAO; Species Identification Guide.

    As diferenças entre a ocupação de habitats e a distribuição dos rotadores no

    Oceano Atlântico Tropical Sul, comparando com os Oceanos Pacífico e Índico, se

    deve ao fato de que, enquanto nesses dois oceanos existem centenas de ilhas que

    podem ser usadas como área de descanso pelos rotadores, no Oceano Atlântico

    Tropical Sul somente um local apresenta tamanho e condições oceanográficas para

    este fim. No Brasil, a concentração de rotadores em Fernando de Noronha é

    conhecida há mais de 20 anos (Silva Jr. 2010).

    Portanto, um entendimento sobre os mecanismos ambientais que medeiam

    os horários de entrada e saída dos golfinhos da baía são importantes para um maior

    conhecimento da espécie, assim como uma maior compreensão das consequências

    que as variações climáticas podem ter na ocupação de um habitat para esta espécie

    de golfinho.

  • 21

    Objetivos, hipóteses e predições

    Objetivo geral

    Caracterizar a freqüência de ritmicidade circadiana comportamental do

    golfinho-rotador, Stenella longirostris, na ocupação da Baía dos Golfinhos, no

    Arquipélago de Fernando de Noronha, Nordeste do Brasil, em decorrência de

    flutuações do ambiente natural em que os mesmos estão inseridos.

    Objetivos específicos

    a. Detectar a associação entre as fases da lua e os horários de entrada e

    saída dos golfinhos na Baía dos Golfinhos (artigo1).

    b. Relacionar as variações nos horários de entrada e saída dos golfinhos-

    rotadores, em Fernando de Noronha, com a incidência de ventos e a

    pluviosidade do local (artigo 2).

    Hipóteses e Predições

    Hipótese 1: As alterações no ambiente marinho causadas pela fase

    lunar influenciam nos horários de ocupação dos golfinhos-rotadores da Baía

    dos Golfinhos.

    Predição 1: O horário de chegada dos golfinhos-rotadores na Baía dos

    Golfinhos sofre influência significativa da fase lunar a que os mesmos estão

    submetidos. Sendo adiantado nos períodos de lua-cheia.

  • 22

    Predição 2: O horário de saída dos golfinhos-rotadores da Baía dos

    Golfinhos não sofre influência significativa da fase lunar a que os mesmos

    estão submetidos.

    Hipótese 2: Alterações climáticas influenciam no tempo de ocupação

    da Baía dos Golfinhos, em Fernando de Noronha.

    Predição 1: Os horários de chegada e de saída dos golfinhos-rotadores

    na Baía dos Golfinhos sofre influência significativa da velocidade dos ventos

    em Fernando de Noronha.

    Predição 2: Os horários de chegada dos golfinhos-rotadores da Baía

    dos Golfinhos sofre influência significativa da estação pluviométrica em

    Fernando de Noronha.

    Predição 3: Os horários de saída dos golfinhos-rotadores da Baía dos

    Golfinhos sofre influência significativa da estação pluviométrica em Fernando

    de Noronha.

  • 23

    Manuscrito 1

    Título – Influência das fases lunares nos horários de entrada e saída dos

    golfinhos-rotadores e sua relação com a fase lunar na Baía dos Golfinhos, no

    Arquipélago de Fernando de Noronha/PE, Brasil.

    Autores: Thiago Emanoel Bezerra da Costa1; José Martins da Silva-Jr 2; Flávio José

    de Lima Silva1,3,4

    1-Programa de Pós Graduação em Psicobiologia - Universidade Federal do Rio

    Grande do Norte, Brasil.

    2- Centro Mamíferos Aquáticos/Instituto Chico Mendes de Conservação da

    Biodiversidade – ICMBio.

    3-Departamento de Turismo – Universidade Estadual do Rio Grande do Norte,

    Brasil.

    4- Centro Golfinho Rotador.

    Periódico - Marine Mammals Science

    QUALIS A.

    Status – a ser submetido

  • 24

    Resumo

    Este estudo possui o objetivo de detectar a associação entre as fases da lua e os

    horários de entrada e saída dos golfinhos na Baía dos Golfinhos, no Arquipélago de

    Fernando de Noronha, Nordeste do Brasil. O estudo foi realizado diariamente entre

    janeiro de 1991 e dezembro de 2009, totalizando 3880 dias de observação, com

    observações de ponto-fixo a partir do Mirante dos Golfinhos, localizado na Baía. O

    número de observações entre as fases lunares não mostrou diferença significativa

    para os dias em que foi possível se registrar o horário de entrada (X2 = 0,830; p =

    0,842) e para os dias em que foi possível registrar o horário de saída dos golfinhos

    rotadores da Baía dos Golfinhos (X2 = 0,927; p = 0,819). Quanto ao horário de

    entrada dos golfinhos-rotadores na Baía dos Golfinhos, e sua relação com a fase

    lunar, houve diferença estatística significativa entre as mesmas (Kruskal Wallis test,

    H=15,996; gl=3; p=0,001). Quando comparadas as fases lunares separadamente

    notou-se que horário de entrada dos golfinhos na lua cheia foi significativamente

    diferente da lua nova (Mann-Whitney test U, U=289732,500; z=-3,755; p=0,000) e da

    lua minguante (Mann-Whitney test U, U=286776,500; z=-2,897; p=0,004). Porém o

    horário de chegada dos golfinhos-rotadores não foi significativamente diferente entre

    o período de luas cheia e crescente (Mann-Whitney test U, U=307366,500; z=-1,868;

    p=0,062). Para o horário de saída dos golfinhos rotadores da Baía dos Golfinhos,

    notou-se que não há diferença significativa entre os períodos analisados (Kruskal

    Wallis test, H=0,027; gl=3; p=0,999). A maior luminosidade do oceano, durante o

    período de lua-cheia, proporciona uma maior eficiência alimentar por parte dos

    predadores, na lua-crescente o fotoperíodo é semelhante ao da lua-cheia, o que

    explica a não existência de diferença estatística entre estes períodos.

  • 25

    Introdução

    Apesar da maioria dos animais mostrarem padrões diários e sazonais em seu

    comportamento, padrões comportamentais de cetáceos vivendo livremente

    raramente são descritos (Bräguer 1993). Uma razão para esta aparente falta de

    interesse neste tipo de pesquisa pode ser a dificuldade em se estudar qualquer

    aspecto de vida destes animais. O estudo dos ritmos de mamíferos aquáticos

    também pode ser feito a partir de análises neurofisiológicas, como para o caso de

    pinípedes. Ridgway (1975) descreve o ritmo cardíaco de pinípedes em diferentes

    estágios do seu sono, sugerindo que os mesmos passam por um processo de

    bradicardia durante o processo de apneia e taquicardia durante o processo

    respiratório.

    Para otarídeos, Sepúlveda (2001) relata que a presença de ritmos circadianos

    tem sido estudada baseada nas mudanças das densidades das populações e

    colônias, que poderiam ser atribuídas a comportamentos alimentares ou

    reprodutivos.

    Um conhecimento da distribuição e associação entre espécies é importante

    para um entendimento da ecologia de qualquer comunidade. Sem tal conhecimento,

    não há como definir corretamente a estrutura de uma comunidade, muito menos

    levantar questões de quais fatores estão atualmente estruturando a comunidade e

    controlando sua dinâmica (Polacheck 1987).

    Algumas informações sobre ritmos diurnos de cetáceos podem ser obtidas

    através de relatos de expedições baleeiras, de observações casuais relatadas em

    pequenos detalhes e de estudos com outros objetivos primários. Outro recurso

    potencial de informações em ritmos diurnos são os diários de bordo destas

    expedições e anotações de campo (Klinowska 1986). Outra forma, quando as

  • 26

    condições permitem, são os estudos a partir de observações de ponto fixo, o que

    para golfinho-rotador é feito no Oceano Pacífico Leste, no Arquipélago do Havaí e

    no Atlântico Sul, em Fernando de Noronha (Silva 2001).

    O golfinho-rotador, Stenella longirostris, é pantropical, ocorrendo em todas as

    águas tropicais e subtropicais ao redor do mundo, entre aproximadamente 30-40°N

    e 20-30°S, é tipicamente conhecido como uma espécie de alto-mar, mas populações

    costeiras e raças ou subespécies existem no Pacífico Leste, Oceano Indico, Sudeste

    da Ásia e provavelmente em outros lugares (Perrin 2002). Porém as diferenças entre

    a ocupação de habitats e a distribuição dos rotadores no Oceano Atlântico Tropical

    Sul, comparando com os Oceanos Pacífico e Índico, deve-se ao fato de que,

    enquanto nesses dois oceanos existem centenas de ilhas que podem ser usadas

    como área de descanso pelos rotadores, no Oceano Atlântico Tropical Sul somente

    um local apresenta tamanho e condições oceanográficas para este fim (Silva-Jr.

    2010).

    Norris (1991) também relata que o ciclo diário para o golfinho-rotador consiste

    em hábitos alimentares noturnos, em zonas de alimentação em mar aberto, e

    descanso diurno, onde os rotadores comumente buscam lugares rasos como baías

    protegidas, para refúgio de conveniência após uma noite de alimentação em alto-

    mar.

    Esta sincronização com o ciclo claro/escuro mostra um padrão evidente para

    estes animais, e o entendimento dos fatores que medeiam esta sincronização é

    importante para um maior conhecimento da espécie.

    A alimentação do golfinho-rotador se baseia principalmente em diversas

    espécies de pequenos peixes de hábitos mesopelágicos, de tamanhos menores que

    20 cm; também consumem diversas espécies de lulas e camarões, que são

  • 27

    encontrados em profundidades de até 300 metros. Estas presas estão mais

    próximas da superfície durante a noite para alimentarem-se de organismos

    planctônicos, que iniciam ao entardecer sua migração vertical até a superfície. Por

    isto, a principal atividade trófica destes golfinhos se apresenta durante a noite,

    quando seu alimento se concentra a menor profundidade e assim consomem menos

    energia (Bastida et al. 2007).

    Estudos com o golfinho-rotador no Havaí – EUA mostram um padrão sazonal

    dos horários de entrada e saida, do tempo de mergulho e expressão das atividades

    aéreas na Baía de Kealake’akua (Würsig et al. 1994).

    O ritmo biológico pode ser afetado por fatores ambientais ou antrópicos,

    podendo estes ritmos estar relacionados com acontecimentos periódicos como fases

    lunares (que controlam as marés, por exemplo) e com os ciclos estacionais. É aceito

    que os padrões de comportamentos e atividades dos animais são influenciados por

    ritmos endógenos arrastados, associados com pistas ambientais. Em ambientes

    marinhos, os principais fatores que afetam o comportamento diário dos animais são

    os ciclos claro e escuro, as marés e ciclos lunares (Saigusa 2001).

    Segundo Silva & Silva-Jr. (2009) a determinação da existência de ritmos

    circadianos e sazonais é importante para o avanço no conhecimento dos aspectos

    biológicos das espécies, especialmente em regiões tropicais. Este estudo tem o

    caráter de ser pioneiro para este tipo de espécie, o que reflete na dificuldade de

    associação com outras pesquisas preexistentes, desta forma a associação com

    animais mais próximos filogeneticamente, ou ecologicamente, do golfinho-rotador

    torna-se necessária.

  • 28

    Este estudo teve como objetivo de detectar a associação entre as fases da

    lua e os horários de entrada e saída dos golfinhos na Baía dos Golfinhos, no

    Arquipélago de Fernando de Noronha, Nordeste do Brasil.

    Materiais e Métodos

    Área de estudo e coleta de dados

    O Arquipélago de Fernando de Noronha, Nordeste do Brasil, é constituído por

    uma ilha principal e 17 ilhas secundárias. A ilha principal, a Ilha de Fernando de

    Noronha, possui 17 km2 distribuídos longitudinalmente na direção sudoeste-

    nordeste, formando duas faces com 11 km de extensão. A face noroeste,

    denominada de Mar de Dentro, fica protegida dos ventos predominantes. No Mar de

    Fora, a face sudeste, o mar é mais agitado (Silva-Jr. 1996).

    O estudo foi realizado entre janeiro de 1991 e dezembro de 2009, totalizando

    3880 dias de observação, com observações de ponto-fixo a partir do Mirante dos

    Golfinhos (Figura 1), localizado na Baía dos Golfinhos, em Fernando de Noronha. As

    observações ocorreram entre as 6 horas e 15 horas, ou até 1 hora depois do último

    golfinho deixar a Baía dos Golfinhos, em Fernando de Noronha.

    Segundo Silva-Jr. (2005) a Baía dos Golfinhos é a enseada de águas mais

    calmas, transparentes e profundas do Arquipélago de Fernando de Noronha,

    possuindo uma profundidade entre 0 e 25 metros, com 15 metros em torno do centro

    (Almeida, 1958).

    O horário de entrada dos golfinhos-rotadores na Baía dos Golfinhos, em

    Fernando de Noronha, foi definido como sendo o horário em que o primeiro golfinho

    penetrava nas dependências da baía, passando através de uma linha imaginária de

  • 29

    formato côncavo que era tomada de um limite ao outro da enseada (Figura 2).

    Foram contabilizados somente aqueles dias em que pode ser observada a entrada

    dos golfinhos na baía, os dias em que os animais entravam antes da chegada dos

    pesquisadores não foram considerados estatisticamente, o horário de chegada foi

    desprezado. Porém quando os observadores chegavam antes do amanhecer e os

    golfinhos já se encontravam na Baía, o horário de chegada obtido foi correspondente

    ao horário de chegada do pesquisador.

    Para realizar as observações, os pesquisadores estavam munidos com o

    auxílio de binóculos com aumento 12x90 e Rongda XBZ 30x-260x-160 Zoom,

    contadores mecânicos e planilhas. Para a caracterização da ocupação de área pelos

    golfinhos-rotadores os dados acima foram coletados por meio do método de

    amostragem de grupo focal com registro contínuo (Altmann 1974).

    Figura 2: Imagem aérea do Arquipélago de Fernando de Noronha, com destaque para a Baía dos Golfinhos. Fonte: Google Earth. Adaptada pelo autor.

  • 30

    Os dados referentes às fases da lua foram coletados através do software Ars

    Magna Internet Services, no Site Cosmobrain Astronomia.

    Análise estatística dos dados

    Os dados foram analisados com o programa PASW Statistics 18 a partir de

    testes estatísticos não paramétricos, pois não apresentam distribuição normal (Field,

    2009). O Teste de Qui-quadrado foi utilizado para se observar se existia diferença

    significativa entre o número de observações para cada fase da lua, admitindo-se um

    valor de 5% (α = 0,05) como nível de significância. O Teste Kruskal Wallis foi usado

    para verificar diferenças entre os horários de chegada e de saída dos golfinhos e a

    fase lunar. Foi realizado um Teste U Mann-Whitney para cada comparação de fase

    lunar par-a-par, adotando-se neste caso o nível de significância de 0,8% (α = 0,008).

    Resultados

    Entre Janeiro de 1991 e Dezembro de 2009 foram realizadas 3906

    observações, das quais em 3193 vezes foi possível registrar o horário de entrada

    dos golfinhos à baía (Tabela 1). Em 807 dias de lua cheia foi possível registrar o

    horário de chegada dos golfinhos à Baía dos Golfinhos, em Fernando de Noronha.

    Seguido por 805 dias em que a lua estava nova, o mesmo número para lua

    crescente e o período de lua minguante foi aquele que foi obtido o menor número de

    observações, com 776 dias registrados (Tabela 03).

  • 31

    Tabela 1: Horário de entrada dos rotadores da Baía dos Golfinhos entre os anos de 1991 e 2009.

    Em 2974 dias foi possível observar o horário de saída dos golfinhos da Baía

    dos Golfinhos, em Fernando de Noronha (Tabela 2). No que diz respeito à fase da

    lua a que cada dia de observação esteve inserido, a distribuição se comportou em

    754 observações na lua crescente, 750 observações na lua nova, 749 observações

    na lua cheia e 721 observações na lua minguante (Tabela 4).

    Ano Média Desvio Padrão Mínimo Máximo N

    1991 6h16min 21min 5h30min 7h04min 46 1992 6h13min 19min 6h00min 6h50min 11 1994 6h16min 25min 5h30min 8h00min 74 1995 6h07min 18min 5h22min 6h50min 87 1996 6h09min 20min 5h13min 7h46min 111 1997 6h02min 21min 4h58min 6h47min 45 1998 6h11min 26min 5h30min 8h45min 174 1999 6h04min 24min 4h40min 8h35min 210 2000 6h10min 29min 5h15min 8h53min 197 2001 6h02min 28min 5h15min 9h30min 228 2002 6h08min 31min 5h15min 10h24min 216 2003 6h11min 47min 5h20min 14h00min 255 2004 6h27min 1h23min 5h42min 15h00min 240 2005 6h23min 38min 5h27min 9h56min 266 2006 6h26min 38min 5h29min 10h05min 266 2007 6h29min 1h04min 3h22min 14h58min 265 2008 6h43min 1h36min 4h50min 14h42min 246 2009 6h40min 1h16min 5h14min 14h05min 256

    TOTAL 6h12min 29min 3h22min 15h00min 3193

  • 32

    Tabela 2: Horário de saída dos rotadores da Baía dos Golfinhos entre os anos de 1991 e 2009.

    O número de observações entre as fases lunares não mostrou diferença

    significativa tanto para os dias em que foi possível se registrar o horário de entrada

    (X2 = 0,830; p = 0,842), quanto para os dias em que foi possível registrar o horário

    de saída dos golfinhos rotadores da Baía dos Golfinhos, em Fernando de Noronha

    (X2 = 0,927; p = 0,819). Portanto o número de observações foi significativamente

    homogêneo para todas as fases lunares, tanto no horário de entrada, quanto no

    horário de saída dos golfinhos rotadores da Baía dos Golfinhos.

    Ano Média Desvio Padrão Mínimo Máximo N

    1991 12h47min 3h05min 8h30min 16h15min 13 1992 7h00min - 7h00min 7h00min 1 1994 13h44min 3h18min 6h09min 17h49min 66 1995 14h52min 1h55min 7h30min 18h30min 97 1996 13h43min 2h58min 6h27min 17h48min 106 1997 13h43min 3h53min 6h05min 17h40min 36 1998 14h46min 2h39min 5h55min 17h40min 157 1999 13h43min 3h19min 5h50min 18h07min 198 2000 13h32min 3h28min 6h02min 18h30min 183 2001 14h17min 2h46min 6h17min 18h40min 224 2002 14h02min 2h35min 6h30min 17h50min 182 2003 12h11min 2h50min 6h01min 17h08min 207 2004 12h33min 3h17min 6h11min 17h40min 231 2005 13h47min 2h31min 6h07min 18h15min 254 2006 13h34min 2h32min 6h16min 18h06min 255 2007 13h37min 2h35min 6h20min 17h45min 262 2008 11h49min 3h02min 5h56min 17h06min 246 2009 12h10min 2h45min 6h19min 17h48min 256

    TOTAL 13h40min 2h48min 5h50min 18h40min 2974

  • 33

    Horário de entrada

    No que diz respeito ao horário em que os golfinhos rotadores entraram na

    Baía dos Golfinhos, em Fernando de Noronha, e sua relação com a fase lunar,

    observou-se que havia diferença estatística significativa entre as mesmas (Kruskal

    Wallis test, H=15,996; gl=3; p=0,001) (Tabela 3).

    Tabela 3: Número de observações do horário de entrada dos rotadores da Baía dos Golfinhos entre os anos de 1991 e 2009, por fase lunar.

    Quando comparadas as fases lunares par-a-par notou-se que horário de

    entrada dos golfinhos na lua cheia foi significativamente diferente da lua nova

    (Mann-Whitney test U, U=289732,500; z=-3,755; p=0,000) e da lua minguante

    (Mann-Whitney test U, U=286776,500; z=-2,897; p=0,004). Porém o horário de

    chegada dos golfinhos-rotadores não mostrou-se significativamente diferente entre o

    período de lua cheia e lua crescente (Mann-Whitney test U, U=307366,500; z=-

    1,868; p=0,062).

    Quando comparados entre si os períodos de lua nova, minguante e crescente

    não apresentaram diferença significativa no que diz respeito ao horário de chegada

    dos golfinhos rotadores (Figura 2).

    FASE DA LUA N MEDIANA DESVIO PADRÃO

    Hora de Entrada

    Cheia 807 6h07min 58min

    Minguante 776 6h11min 1h00min Nova 805 6h12min 52min Crescente 805 6h10min 44min Total 3193 - -

  • 34

    Figura 2: Horário (mediana) médio de chegada dos golfinhos rotadores em função da fase lunar.

    Horário de saída

    Ao analisar a correlação existente entre a fase lunar e o horário de saída dos

    golfinhos rotadores da Baía dos Golfinhos, em Fernando de Noronha, notou-se que

    não há diferença significativa entre os períodos analisados (Kruskal Wallis test,

    H=0,027; gl=3; p=0,999).

    Tabela 4: Número de observações do horário de entrada dos rotadores da Baía dos Golfinhos entre os anos de 1991 e 2009, por fase lunar.

    FASE DA LUA N MEDIANA DESVIO PADRÃO

    Hora de Saída

    Cheia 749 14h16min 3h04min Minguante 721 14h17min 3h02min Nova 750 14h25min 2h56min Crescente 754 14h17min 2h57min Total 2974 - -

  • 35

    Figura 3: Horário médio (mediana) de saída dos golfinhos rotadores em função da fase lunar.

    Apesar de não haver diferença significativa entre os períodos lunares

    observados, nota-se um leve decréscimo no horário de saída dos golfinhos na fase

    da lua cheia, o que pode não ter mostrado-se significante estatisticamente devido

    aos mesmos apresentarem níveis altos de desvios padrões nas observações (Figura

    3).

    A fase de lua nova mostrou os maiores valores tanto para horário de entrada

    quanto para o horário de saída (Figura 2 e Figura 3).

    Discussão

    O golfinho-rotador possui um ciclo diário de comportamento onde durante a

    noite busca áreas de alimentação em alto-mar, e durante o dia costuma se

  • 36

    aproximar de baías ou enseadas para descanso e realização de atividades sociais

    (Norris et al. 1994; Silva-Jr. 1996; Sazima et al. 2003 e Silva-Jr. et al. 2004, 2005).

    Em geral, golfinho-rotador tem como presas pequenos peixes mesopelágicos,

    lulas e camarões, que estão entre 200 e 300 metros de profundidade. Em águas

    hawaianas, onde o comportamento de forrageio do golfinho-rotador tem sido

    estudado em detalhes, eles caçam principalmente a noite, quando a dispersa e

    profunda camada de recursos se move à superfície (Reeves 2002).

    Segundo Gliwicz (1986), em ambientes marinhos o ciclo lunar está associado

    tanto com as diferenças nas condições lunares, quanto nas condições e flutuações

    de marés. Hanson et al. (2008) relata sobre a influência significativa da fase lunar na

    atividade e distribuição de acordo com a profundidade para o Osteichthyes

    Micropterus salmoides, mostrando que durante períodos onde a luminosidade lunar

    é maior, os predadores teriam mais facilidade em encontrar suas presas.

    Gliwicz (1986) aponta ainda que sardinhas capturam zooplâncton mais

    eficientemente nas noites de lua-cheia, quando o mesmo se aproxima da superfície

    e torna-se subitamente vulnerável. O estudo citado foi feito através de observações

    sobre as flutuações na captura de sardinhas com zooplâncton em seus estômagos.

    Estas flutuações, observadas durante o período mais claro do ciclo lunar do

    zooplâncton indicam que um maior número de sardinhas vem à superfície do mar

    somente durante o período próximo da lua cheia, quando elas poderiam também se

    alimentar eficientemente na abundância de zooplâncton à noite.

    Acredita-se que os ciclos lunares comumente afetam a captura de peixes

    através de mudanças no comportamento e movimento dos peixes. Ciclos lunares

    têm sido encontrados afetando forrageamento, comportamento de agrupamento,

  • 37

    distribuição vertical e capturabilidade de muitos peixes marinhos, peixes de águas

    doces e mariscos (Kuparinen et al. 2009).

    Chiou et al. (2003) apresenta resultados sobre os efeitos da fase lunar e

    profundidade de habitat nos padrões de migração vertical de camarões (Acetes

    intermedius) examinados em observações de campo nas águas costeiras do

    sudoeste do Taiwan, concluindo que a captura destes animais foi usualmente mais

    alta quando a lua aparecia durante a noite, e que os camarões foram mais

    abundantes nas águas superficiais do que em águas mais profundas durante o

    período de lua cheia.

    Os ciclos biológicos podem ainda apresentar sincronização ou arrastamento

    com outros ciclos geofísicos como marés, fases da lua e estações do ano, refletindo

    respectivamente o ritmo tidal, lunar e sazonal (Aschoff 1984). Esta condição de

    eficiência alimentar configura-se como arrastamento temporal no período de

    forrageamento do animal.

    O arrastamento é um ajuste temporal obtido entre os estados fisiológicos e

    comportamentais, como do repouso à atividade ou do sono à vigília, e consiste

    também na harmonização das fases dos ritmos da espécie em questão com aquelas

    dos ciclos ambientais (Marques & Menna-Barreto 2006). O golfinho-rotador possui

    uma natureza alimentar noturna, o que pode ser mais dinâmica se a abundância de

    alimentos for maior em condições específicas de noites com mais facilidade de ele

    se alimentar. Isto pode causar o arrastamento no seu comportamento de retornar ao

    descanso da Baía dos Golfinhos, em Fernando de Noronha.

    Por ser um animal que está mais acima em toda essa cadeia alimentar que

    envolve zooplâncton, pequenos peixes como o carapau (Decapterus macarellus) e o

    peixe-voador, lulas e camarões vermelhos (Silva-Jr. 2010), o golfinho rotador se

  • 38

    beneficia desta maior disponibilidade de presas na superfície, ficando saciado mais

    cedo em fases claras da lua.

    Para o zooplâncton, Previattelli et al. (2005) relata que Durante o dia os

    indivíduos tendem a se concentrar nas regiões mais profundas, e durante a noite

    distribuem-se mais homogeneamente em toda a coluna d'água. Esse

    comportamento se assemelha com a descrição da migração conhecida como

    noturna ou normal, ou seja, esta classificação leva em conta o horário do dia em que

    há deslocamento dos indivíduos de uma profundidade para outra na coluna d' água:

    quando há o deslocamento para camadas mais superficiais e oxigenadas da água

    durante a noite. Em noites onde há uma maior luminosidade lunar, este zooplâncton

    que está migrando se torna mais susceptível a caça por predadores.

    Para golfinhos-rotadores havaianos Benoit-Bird & Au (2003) relatam que os

    mesmos quando estão forrageando deveriam ser afetados pela dinâmica espaço-

    temporal de suas presas tanto em escalas pequenas quanto largas. Concluindo que

    os golfinhos-rotadores também seguiram as migrações verticais de suas presas e

    exploraram as áreas verticais dentro da camada limite que tinha a mais alta

    densidade destas presas.

    Silva (2001) sugere que a nítida ritmicidade circadiana de comportamento dos

    golfinhos-rotadores possui controle endógeno, com forte relação com as variações

    de fotoperíodo verificadas na área, embora essas variações apresentem discretas

    diferenças entre estações seca e chuvosa.

    Na fase da lua-cheia a luminosidade da superfície do oceano é maior, o que

    proporciona uma maior facilidade na captura de alimentos por parte dos predadores,

    já que a visibilidade das presas fica maior (Longcore & Rich 2004).

  • 39

    Silva-Jr. (1996) descreve que o ciclo diário de atividade padrão dos golfinhos

    que vêm dois dias seguidos ao Arquipélago consistiu em movimento matinal em

    direção à Ilha de Fernando de Noronha, chegada à Baía dos Golfinhos após o

    nascer do sol, saída à tarde para as zonas tróficas e alimentação noturna. A

    presença, o número e a permanência de rotadores na Baía dos Golfinhos estão

    relacionados com as condições ambientais da enseada, as condições

    oceanográficas da região e a disponibilidade trófica nas imediações do Arquipélago.

    Segundo Silva-Jr. (1996) o horário de chegada à enseada está relacionado

    com o término do horário de alimentação dos rotadores, com a distância da área de

    alimentação e o tempo que eles demoram em se deslocar até a Baía dos Golfinhos.

    Portanto se o término do horário de alimentação é mais cedo, devido a uma maior

    eficiência alimentar causada pela facilidade de se encontrar alimento na lua cheia,

    consequentemente os golfinhos-rotadores tenderiam a adiantar seu retorno à sua

    área de descanso, em Fernando de Noronha.

    Segundo Silva (2001) o marcador ambiental com maior importância para os

    comportamentos analisados do golfinho-rotador foi o fotoperíodo, principalmente em

    sua variação sazonal. Tomando-se por base este marcador ambiental, a fase de lua

    crescente possui luminosidade semelhante à fase de lua cheia, o que explica o fato

    de que os dados aqui apresentados não terem detectado diferença significativa entre

    estes dois períodos lunares.

    A fase de lua nova apresentou o maior valor para o horário de entrada, o que

    pode ser resultado de esta fase lunar ser aquela mais distante da fase mais clara da

    lua (lua-cheia), resultando em um arrastamento inverso no horário de chegada dos

    animais para valores mais altos.

  • 40

    A fase de lua minguante é aquela posterior à lua-cheia, sendo assim

    apresentou valores semelhantes a esta, apesar de ainda manter diferença estatística

    significativa. Este fato pode evidenciar um fator remanescente dos efeitos causados

    pela alta luminosidade noturna causada pela lua-cheia.

    No que se refere ao horário de saída dos golfinhos-rotadores da Baía dos

    Golfinhos, a fase lunar não tem influência significativa nos seus valores, apesar dos

    altos valores apresentados neste estudo para a fase de lua nova, em comparação

    com as demais. Este fato leva a concluir que o comportamento diurno de descanso

    dos golfinhos rotadores não sofre influência direta da fase lunar.

    Porém é notório que em fases da lua que os golfinhos-rotadores entraram

    antes, eles também saíram antes, assim como naquelas fases em que eles entraram

    mais tarde, eles também saíram mais tarde, isto pode também ser uma evidência do

    arrastamento causado pela fase lunar até mesmo nos hábitos de descanso diurno

    dos golfinhos, apesar de os testes estatísticos não mostrarem que essas diferenças

    nos horários de saída serem significativas.

    O presente estudo caracteriza-se por ser pioneiro no âmbito de correlacionar

    os hábitos de ocupação dos golfinhos-rotadores na Baía dos Golfinhos, do Parque

    Nacional Marinho de Fernando de Noronha, com as fases lunares a que os mesmo

    estão submetidos quando estão em busca de alimentos a noite.

    Segundo Silva (2001) estudos em cronobiologia de cetáceos são

    praticamente inexistentes, existindo apenas trabalhos enfocando aspectos da

    divisão horária de comportamentos golfinhos concentrados em baías e enseadas.

    Portanto, este estudo se demonstra importante no que diz respeito a um melhor

    entendimento dos fatores que medeiam os comportamentos rítmicos dos golfinhos

    rotadores de Fernando de Noronha.

  • 41

    Referências bibliográficas

    Almeida, F.F.M. 1958. Geologia e Petrologia do Arquipélago de Fernando de

    Noronha. Rio de Janeiro: IBGE, 181 P.

    Altmann, J. 1974. Observational study of behavior: sampling methods. Behaviour,

    49, 227–267.

    Aschoff, J. 1984. A survey on biological rhythms. In: Aschoff, J. (Ed.) Handbook of

    Behavioural Neurobiology – Biological Rhythms, vol. 4. 2nd edn. New York:

    Plenum Press. 563 p. p. 3-10.

    Bastida, R., Rodríguez, D., Secchi, E., da Silva, V. 2007. Mamíferos Acuaticos de

    Sudamerica y Antártida. 1ª Ed. Buenos Aires: Vázquez Mazzini Editores.

    Benoit-Bird, K. J., Au, W. W. L. 2003. Prey dynamics affect foraging by a pelagic

    predator (Stenella longirostris) over a range of spatial and temporal scales.

    Behav Ecol Sociobiol 53:364–373.

    Bräguer, S. 1993. Diurnal and seasonal behavior patterns of bottlenose dolphins

    (Tursiops truncatus). Marine Mammal Science, 9(4): 434-438.

    Chiou, W. D., Cheng, L. Z. & Chen, C. T. 2003. Effects of lunar phase and habitat

    depth on vertical migration patterns of the sergestid shrimp Acetes intermedius.

    Fisheries Science 69, 277–287.,

    Field, A. 2009. Descobrindo a estatística usando o SPSS. 2ª Ed: Artmed, Porto

    Alegre, 688 p.

    Gliwicz Z.M. 1986. A lunar cycle in zooplâncton. Ecology: 67, 883–897.

  • 42

    Hanson, K. C., Arrosa, S., Hasler, C. T., Suski, C. D., Philipp, D. P., Niezgoda, G.

    & Cooke, Ss. J. 2008. Effects of lunar cycle on the activity patterns and depth

    use of a temperate sport fish, the largemouth bass, Micropterus salmoides.

    Fisheries Management and Ecology. 15, 357–364.

    Klinowska, M. 1986. Diurnal Rhythms in cetácea – a review. Report International

    Whaling Community.

    Kuparinen, A., O’Hara, R. B. O. and Merilä, J. 2009. Lunar periodicity and the

    timing of river entry in Atlantic salmon Salmo salar. Journal of Fish Biology 74,

    2401–2408.

    Longcore, T. & Rich, C. 2004. Ecological light pollution. Front Ecol Environ; 2(4):

    191–198

    Marques, N. & Menna-Barreto, L. 2006. Ritmos biológicos. Pags. 95-113. In

    Yamamoto, M. E.; Volpato, G. L. Comportamento Animal. Natal, RN: EDUFRN.

    Menna-Barreto, L. & Marques, N. 2003. Cronobiologia: Princípios e Aplicações. 3ª

    Ed. rev. e ampl. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo.

    Norris, K. S. & Pryor, K. 1991. Dolphin Societes: discoveries and puzzles.

    California. Pages: 365-382.

    Norris, K. S., Würsig B. & Wells, R. S. 1994. The spinner dolphin. Pages 14-30 in

    NORRIS, K. S., WÜRSIG, B., WELLS, R. S. and WÜRSIG, M, eds. The

    Hawaiian spinner dolphin. University of California Press, Berkeley, CA.

    Perrin, W. F.; Würsig, B. & Thewissen, J. G. M. 2002. Encyclopedia of marine

    mammals. Academic Press. Pags.: 1174-1178.

  • 43

    Polacheck, T. 1987. Relative abundance, distribution and inter-specific relationships

    of cetacean schools in the eastern tropical pacific. Marine Mammal Science,

    3(1): 54-77.

    Previattelli, D. Santos-Silva, E. N. dos & Darwich, A. J. 2005. Distribuição Vertical

    do Zooplâncton e sua relação com variáveis ambientais. Em Diversidade

    Biológica e Sociocultural do Baixo Rio Negro, Amazônia Central. INPA.

    Manaus. pp. 109-121.

    Reeves, P.; Stewart, B. S.; Clapham, P. J. & Powell, J. A. 2002. A guide to marine

    mammals of the world. New York: Alfred A. Knopf, Inc. p 374-377.

    Ridgway, S. H., Harrison, R. J. & Loyce, P. L. 1975. Sleep and Cardiac Rhythm in

    the Gray Seal. Science, New Series, Vol 187, Issue 4176, pp. 553-555.

    Saigusa, M. 2001. Daily rhythms of emergence of small invertebrates inhabiting

    shallow subtidal zones: a comparative investigation at four locations in Japan.

    Ecological Research, 16:1-28.

    Sazima, I., Sazima, C. & Silva Jr, J. M. da. 2003. The cetacean offal connection:

    Feces and vomits of spinner dolphins as a food source for reef fishes. Bulletin

    of Marine Science 72:151–160.

    Sepúlveda, M., Oliva, D. P. & Palma, F. J. 2001. Daily and annual circarhythms

    activity in the South American sea lion Otaria flavescens(Carnivora: Otariidae)

    at the central zone of Chile. Revista de Biología Marina y Oceanografia

    36(2):181–187

  • 44

    Silva-Jr., J. M. Aspectos do Comportamento do Golfinho-rotador, Stenella

    longirostris (Gray, 1828), no Arquipélago de Fernando de Noronha. 1996.

    Recife: UFPE, 1996. 131 f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-

    Graduação em Oceanografia, Departamento de Oceanografia, Universidade

    Federal de Pernambuco, Recife.

    Silva Jr, J. M. da. 2005. Ecologia Comportamental do golfinho-rotador (Stenella

    longisrostris) em Fernando de Noronha / José Martins da Silva Júnior. Recife:

    O Autor, 2005. 120p. Tese (doutorado) – Universidade Federal de

    Pernambuco. CTG. Oceanografia. Área Oceanográfica Biológica.

    Silva Jr, J. M. da. 2010. Os golfinhos de Noronha. São Paulo: Bambu Editora e

    Artes Gráficas. 192 p.

    Silva Jr., J.M., Silva, F. J. L. & Sazima, I. 2005. Rest, nurture, sex, release, and

    play: Diurnal underwater behaviour of the spinner dolphin at Fernando de

    Noronha Archipelago, SW Atlantic. Journal of Ichthyology and Aquatic Biology

    9:161–176.

    Silva, F. J. L. & Silva Jr, J. M. da. 2009. Circadian and seasonal rhythms in the

    behavior of spinner dolphins (Stenella longirostris). Marine Mammal Science,

    25(1): 176–186.

    Silva, F. J. L. 2001. Descrição de Comportamento, Sazonalidade de Número de

    Indivíduos e Reprodução de Golfinho-rotador, Stenella longirostris, em

    Fernando de Noronha / Flávio José de Lima Silva. Natal: O Autor, 2001. 120p.

    Tese (doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

    Psicobiologia. Área Comportamento Animal.

  • 45

    Würsig, B., Wells, R. S., Norris, K. S. & Würsig, M. 1994. A spinner dolphin’s day.

    In: Norris, K. S., Würsig, B., Wells, R. S. & Würsig, M. (eds) The Hawaiian

    Spinner Dolphin. Berkeley, University of California Press.

  • 46

    Marine Mammal Science – Formatação.

    MARINE MAMMAL SCIENCE publishes significant new findings on marine

    mammals resulting from original research on their form and function, evolution,

    systematics, physiology, biochemistry, behavior, population biology, life history,

    genetics, ecology and conservation. Range extensions, unusual observations of

    behavior, and preliminary studies of a few individuals are published only where there

    is sufficient new information to render the manuscript of general interest. Low priority

    will be given to confirmatory investigations of local or regional interest.

    The Journal endorses the principle that experiments using live animals should

    be undertaken only for the purpose of advancing knowledge. Consideration should

    be given to the appropriateness of experimental procedures, species of animals

    used, and number of animals required. All animal experimentation reported in

    MARINE MAMMAL SCIENCE must be conducted in conformity with the relevant

    animal care codes of the country of origin. The Editor will refuse manuscripts in which

    evidence of adherence to such codes is not apparent.

    MARINE MAMMAL SCIENCE publishes (1) Articles: important original

    research; (2) Review articles: critical appraisals which place recent research in a new

    conceptual framework; (3) Notes: short communications on current research,

    important preliminary findings or new techniques; (4) Opinions: invited contributions

    on selected topics; (5) Letters a forum for communications in response to papers

    previously published in MARINE MAMMAL SCIENCE, opinion, interpretation, and

    new information on all topics of interest to marine mammalogists. Articles, Review

    articles and Notes are subject to peer review. Any Letter challenging published

    results or interpretations is transmitted to the author of the published work with na

    invitation to respond. The letter and its response are published simultaneously.

  • 47

    Letters are judged by the Editor on appropriateness of the subject and interest to

    readers.

    MANUSCRIPT PREPARATION

    The manuscript should be concise, logical, and unequivocal. Publication is

    facilitated if authors double-check for typographical and other errors and ensure that

    manuscripts and figures meet the requirements outlined below. Manuscripts that do

    not conform will be returned for correction before consideration. If in doubt, consult

    the Editorial Office. Authorsare charged for excessive changes in proof. A full-length

    Article includes a title page, abstract, keywords, text, acknowledgments, literature

    citations, tables, figure captions, and figures. Notes and Letters do not have na

    abstract and are prepared in narrative form without headings, except for "Literature

    Cited." All parts of the manuscript, including footnotes, tables, and figure captions,

    should be typewritten, double-spaced with margins at least 2.5 cm wide. Number all

    pages of the manuscript beginning with the title page and include line numbers on

    each page. Underline only when the material is to be set in italics. Use capital

    letters only when the letters or words are to be capitalized. Do not end a line of text

    with a hyphen.

    TITLE PAGE

    The first page should contain only the title and the name, affiliation, and

    complete address (plus current address, if different) of the author(s). The title should

    be brief and contain words useful for indexing and information retrieval.

    ABSTRACT AND KEY WORDS

    The abstract, of not more than 200 words typed on a separate page, should

    precisely reflect the contents of the paper, and focus attention on the purpose of the

    study, principal results, conclusions and their significance. Below the abstract,

  • 48

    provide and identify as such three to en key words or short phrases that will assist in

    cross-indexing your article.

    TEXT

    As a general guide, The Chicago Manual of Style is recommended. Spelling

    should be standard U.S. (not British) to conform to Webster's Third New International

    Dictionary. Units should conform to the Système International d'Unités (SI). Non-

    standard abbreviations must be defined the first time they appear. Mathematical

    symbols, Greek letters, and unusual symbols should be identified clearly;

    superscripts and subscripts should be legible and carefully placed.

    STANDARD ABBREVIATIONS

    General: s, min, h (hour), d (day), wk, mo, yr, g (gram), mg, kg, Hz, kHz, MHz,

    km, m (meter), mm, cm, cc, mi (mile), ft, in. (note period), kn (knot), ha, gal, ml, l

    (liter, spell out when used alone). Statistics: P (probability), x (mean), SD, SE, CV,

    SEM, n (sample size), df, r (correlation coefficient), t, F, U, Z (statistical tests); letters

    in equations are italicized. Latin words and phrases (always italicized): i.e., (note

    comma); e.g., (note comma), ca.; cf; in vivo; in situ; vs.; etc.; per se; et al.; via; sensu;

    sensu faro; sensu stricto; a priori.

    ACKNOWLEDGMENTS

    List all acknowledgments briefly under a single heading at the end of the text

    on a separate page. If applicable, give the permit number under which the work was

    conducted.

    LITERATURE CITED

    References should be cited in the text in the following form: Smith (1982);

    Smith (1982a, b); Smith (1983, 1984); Smith and Jones (1984); (Smith 1986); (Smith

    1986, Jones 1987); (Smith 1986; Jones 1986, 1987); more than two authors, Smith

  • 49

    et al. 1987. References should be double-spaced and listed alphabetically as

    "Literature Cited" in the following standard form, giving the journal titles in full:

    ARMSTRONG, W.A., and C.W. OLIVER. 1995. Recent use of fish aggregating

    device in the eastern tropical Pacific tuna purse-seine fishery: 1990-1994. National

    Marine Fisheries Service Center Administrative Report LJ-95-14 (unpublished). 47

    pp. Available from SWFC, P.O. Box 271, La Jolla, CA 92038.

    GENTRY, R.L., and J.R. HOLT. 1982. Equipment and techniques for handling

    northern fur seals. U.S. Department of Commerce, NOAA Technical Report NMFS

    SSRF-758. 15 pp.

    HUBBS, C.L., W.F. PERRIN and K.C. BALCOMB. 1973. Stenella

    coeruleoalba in the eastern and central tropical Pacific. Journal of Mammalogy

    54:549-552.

    LEATHERWOOD, S., and R.R. REEVES. 1983. The Sierra Club handbook of

    whales and dolphins. Sierra Club Books, San Francisco, CA.

    MURCHISON, A.E. 1980. Detection range and range resolution of

    echolocating bottlenoseporpoise (Tursiops truncatus). Pages 43-70 in R.-G. Busnel

    and J.F. Fish, eds. Animal sonar systems. Plenum Press, New York, NY.

    Multiple citations for an author and single co-author are arranged

    alphabetically according to co-author. If there is more than one co-author, citations

    are arranged chronologically. Issue numbers are not used unless page numbering

    begins at 1 with each issue. The number of pages is not given for books, but should

    be included for unpublished documents, theses, and "gray literature" (government

    reports, technical bulletins, etc.)

    Personal communications and unpublished data are not to be included under

    "Literature Cited" but may be cited as footnotes, which shall include the complete

  • 50

    name and address of the source and the month and year of the communication or

    notification of the unpublished data. A paper may be cited "in press" only if it has

    been accepted in final form by a journal. Papers "submitted" or "in preparation" may

    not be cited as such, but information in them may be cited as "personal

    communication." Any citation of a personal communication, unpublished data,

    manuscript submitted or in preparation, or unpublished report must be with the

    explicit permission of the lead author or person who provided the information.

    Reference to non-refereed documents (e.g., contract reports, environmental impact

    statements, meeting working papers) is discouraged. Citations of these documents

    must be accompanied by the address where they can be obtained. Meeting abstracts

    should not be cited. Any document bearing a "Do not cite without permission"

    statement may be cited only with the explicit permission of the lead author. A

    statement that all necessary permissions have been obtained must be included in the

    cover letter accompanying the submitted manuscript. The use of gray literature is

    discouraged and should only be cited when there is no primary literature to support

    important findings or the interpretation of those findings presented in the manuscript.

    Authors must double-check all literature cited; they are solely responsible for its

    accuracy. Taxonomic usage in MARINE MAMMAL SCIENCE in general follows D.

    W. Rice (1998) “Marine mammals of the world: Systematics and distribution,” Society

    for Marine Mammalogy Special Publication Number 4. Authors wishing to use a

    different nomenclature should explain the departure in a footnote.

    TABLES

    Excessive tabular data are discouraged. Tables should be typed separately

    and doublespaced. Tables should be numbered with Arabic numerals in the

  • 51

    sequence first referenced in the text and have a brief title. Column headings and

    descriptive footnotes should be brief. Do not use vertical rules.

    FIGURES

    Figures are costly and should be used with discretion. An illustration is justified

    only if it clarifies or reduces the text. Please note that if accepted, figures will be

    requested in TIFF or EPS format. Please save line artwork (vector graphics) as

    Encapsulated PostScript (EPS) and bitmap files (halftones or photographic images)

    as Tagged Image Format (TIFF), with a resolution of at least 300 dpi at final size.

    More detailed information on the submission of electronic artwork can be found at:

    http://www.blackwellpublishing.com/bauthor/illustration.asp.

    SUBMISSION OF MANUSCRIPTS

    All manuscripts should be submitted online at:

    http://mc.manuscriptcentral.com/mmsci.

    Useful guidelines can be found in ScholarOne’s “Quick-Start Guide for

    Authors” and “Tips for Uploading Files in Manuscript Central” located at:

    http://mcv3help.manuscriptcentral.com/tutorials/Author.pdf. Please contact the

    editorial office at [email protected] if you have problems submitting your

    manuscript. A manuscript number will be assigned to each new submission and sent

    to the submitting author via return email. In all correspondence beyond the initial

    submission, please put your assigned manuscript number on the subject line of your

    email. Authors submitting a manuscript do so on the understanding that if it is

    accepted for publication, copyright of the article, including the right to reproduce the

    article in all forms and media, shall be assigned exclusively to The Society for Marine

    Mammalogy. The Society will not refuse any reasonable request by the author for

    permission to reproduce any of his or her contributions to MARINE MAMMAL

  • 52

    SCIENCE. Authors are responsible for page charges of $15.00 (U.S.) per printed

    page or part 67 thereof. If funds for publication are not supplied by an agency or

    grant, a waiver of Page charges may be applied for by email to the Editor at

    [email protected]. Please write “waiver request” and the manuscript number on

    the subject line.

    THE F. G. WOOD STUDENT SCHOLARSHIP

    Forest G. Wood, a founder of the Society for Marine Mammalogy, was noted

    for his editorial skills. All students submitting manuscripts accepted for publication in

    Marine Mammal Science should indicate at the time of submission if they want to be

    considered for this award. The editor will select the winner from among the accepted

    manuscripts submitted during the interval between successive Biennial Conferences

    on the Biology of Marine Mammals. Further details about the award can be found on

    the Society's web Page at: http://www.marinemammalogy.org.

  • 53

    Manuscrito 2

    Título – Influência da incidência de chuva e ventos nos horários de entrada e saída dos golfinhos-rotadores, em Fernando de Noronha/PE, Brasil.

    Autores: Thiago Emanoel Bezerra da Costa1; José Martins da Silva-Jr 2; Flávio José de Lima Silva1,3,4;

    1-Programa de Pós Graduação em Psicobiologia - Universidade Federal do Rio

    Grande do Norte, Brasil.

    2- Centro Mamíferos Aquáticos/Instituto Chico Mendes de Conservação da

    Biodiversidade – ICMBio.

    3-Departamento de Turismo – Universidade Estadual do Rio Grande do Norte,

    Brasil.

    4- Centro Golfinho Rotador.

    Periódico - Journal of the Marine Biological Association of the United Kingdom

    QUALIS B

    Status – a ser submetido

  • 54

    Resumo

    O clima influencia uma variedade de processos ecológicos, tais como temperatura,

    ventos, chuvas, neves e correntes oceânicas, assim como as interações entre eles.

    O golfinho-rotador freqüenta a Baía dos Golfinhos, em Fernando de Noronha,

    durante todo o ano e estudos com ritmos biológicos para golfinhos rotadores têm

    focado mais nas variáveis de número de indivíduos, atividades aéreas e

    reprodutivas. Este estudo possui o objetivo de relacionar as alterações nos horários

    de entrada e saída dos golfinhos-rotadores, em Fernando de Noronha, com a

    incidência de ventos e a pluviosidade do local. O estudo foi realizado diariamente

    entre janeiro de 1991 e dezembro de 2009, totalizando 3880 dias de observação,

    com observações de ponto-fixo a partir do Mirante dos Golfinhos, localizado na Baía

    dos Golfinhos, em Fernando de Noronha. Foram coletados dados de velocidade do

    vento e pluviosidade do local, fornecidos pela Estação Meteorológica de Fernando

    de Noronha. Os golfinhos tendem a chegar à Baía dos Golfinhos mais tarde em

    períodos de chuva, quando comparados ao período de seca. Os golfinhos rotadores

    tendem a sair mais cedo da Baía dos Golfinhos, em Fernando de Noronha, no

    período chuvoso. No que diz respeito à velocidade dos ventos, notou-se que os

    golfinhos tendiam a chegar mais tarde quando estavam submetidos a condições de

    vento de maior velocidade (acima de 18 nós). Também foi detectado que os

    golfinhos rotadores tendem a sair mais cedo da Baía dos Golfinhos, em Fernando de

    Noronha, quando estão submetidos à condições de velocidade dos ventos mais

    fortes (acima de 18 nós), quando comparados com ventos mais fracos (abaixo de 18

    nós). O principal comportamento observado pelos golfinhos-rotadores, em Fernando

    de Noronha, é o descanso, portanto em condições de maior incidência de chuvas e

    ventos, que agitam o interior da Baía, os golfinhos tendem a evitá-la.

  • 55

    Introdução

    O clima influencia uma variedade de processos ecológicos. Estes efeitos

    operam através de parâmetros meteorológicos locais tais como temperatura, ventos,

    chuvas, neves e correntes oceânicas, assim como as interações entre eles (Stenseth

    2002). Todas as maiores correntes superficiais nos oceanos são criadas pelo arrasto

    dos ventos na superfície da água. Os ventos surgem porque o ar quente das

    regiões equatoriais sobe e é substituído pelo ar que flui em direção ao equador,

    tanto no hemisfério norte, quanto no hemisfério sul. O ar das correntes de vento vem

    do ar que se eleva acima do Equador e então flui para latitudes mais altas (Mann &

    Lazier 2006).

    Menna-Barreto (2003) afirma que animais e plantas mudam conforme o clima,

    hora do dia e estações do ano, que espécies surgem e desaparecem, e que a vida

    aparece como movimento permanente. Afirma ainda que a forma mais evidente da

    organização temporal de um ser vivo é com relação aos estímulos ambientais.

    Determinar como flutuações climáticas afetam os ecossistemas oceânicos

    exige uma compreensão de como os processos físicos e biológicos interagem

    através de uma ampla gama de escalas (Murphy 2007). Esses fatores do clima,

    fatores extrínsecos, podem constituir a causa principal de oscilações nos fatores

    biológicos das populações que estão em contato com essas alterações nos fatores

    ambientais (Odum 2001).

    Os mais diversos comportamentos podem apresentar padrões rítmicos e

    sazonais, como Au et al. (2000) demonstrou para baleias-jubarte (Megaptera

    novaeangliae) caracterizando suas canções durante intervalos regulares ao longo do

    dia, mostrando que as baleias apresentavam canções mais altas ao amanhecer e ao

    entardecer.

  • 56

    Stewart et al. (1996) demonstra que os movimentos e padrões de mergulho de

    focas, Phoca sibirica (Foca-do-Lago-Baikal), parecem ser primariamente associados

    com os movimentos sazonais de suas presas primárias e secundariamente

    relacionados com os padrões sazonais de formação de gelo e degelo.

    Greene (2004) demonstra a importância das condições ambientais serem

    favoráveis para um maior sucesso reprodutivo em baleias-franca-do-norte

    (Eubalaena glacialis). Relatando que a possibilidade de se conservar espécies

    ameaçadas mais eficientemente é maior quando se tem conhecimento adequado

    dos requerimentos ecológicos e ambientais necessários para um aumento da sua

    população.

    Daura-Jorge et al. (2005) concluem que a organização dos grupos e os

    padrões comportamentais de uma população de boto-cinza, Sotalia guianensis, na

    Baía Norte, em Santa Catarina, Sul do Brasil, estão provavelmente ligados aos ciclos

    sazonais e diários. Comportar-se de diferentes maneiras ao longo de linhas

    espaciais e temporais são formas que uma espécie encontra de melhor explorar e se

    adaptar às variações do ambiente.

    Guissamulo (2008) encontrou uma sazonalidade marcada para golfinhos-nariz-

    de-garrafa, Tursiops truncatus, na Baía de Maputo, sul de Moçambique, onde uma

    maior freqüência e tamanho de grupo dos golfinhos ocorriam durante o inverno, e o

    mesmo relacionou esta maior freqüência como um efeito secundário da maior

    disponibilidade de alimento nesta época.

    A maioria dos estudos que analisam o uso de habitat de uma dada espécie de

    mamífero marinho relacionam seus efeitos secundários a partir da disponibilidade de

    alimento naquela região, enfatizando a maior ou menor disponibilidade de presas

  • 57

    quando o período de chuva é intenso, ou quando as rajadas de vento são mais

    fortes.

    Algumas espécies de cetáceos também sofrem influência de fatores do clima

    em seu comportamento, como descreve Forney (1998), concluindo que a

    distribuição e abundância de muitos cetáceos da Califórnia parecem variar com as

    mudanças oceanográficas tanto em escalas de tempo sazonais quanto interanuais.

    O golfinho-rotador (Stenella longirostris) é pantropical, ocorrendo em todas as

    águas tropicais e subtropicais ao redor do mundo, entre aproximadamente 30-40°N

    e 20-30°S (Perrin et. al. 2002). Ele é tipicamente conhecido como uma espécie de

    alto-mar, mas populações costeiras e raças ou subespécies existem no Pacífico

    Leste, Oceano Indico, Sudeste da Ásia e provavelmente em outros lugares (Bastida

    et al. 2007). Outras populações também são comumente encontradas em ilhas e

    arquipélagos, como Havaí, Polinésia Francesa e Fernando de Noronha (Norris &

    Dohl 1980; Poole 1995; Silva-Jr. 1996).

    O golfinho-rotador freqüenta a Baía dos Golfinhos, do Parque Nacional Marinho

    de Fernando de Noronha, durante todo o ano, mas alterações comportamentais

    sazonais podem ser vistas em seu comportamento, como variações em seus ritmos

    diários. Porém a influência da pluviosidade e velocidade dos ventos em Fernando de

    Noronha nos horários de entrada e saída dos golfinhos rotadores ainda são

    desconhecidos em uma escala mais ampla de observações.

    Estudos com ritmos biológicos para golfinhos-rotadores em Fernando de

    Noronha têm focado mais nas variáveis de número de indivíduos, atividades aéreas

    e reprodutivas (Silva 2001; Silva & Silva-Jr. 2009)

  • 58

    Este estudo possui o objetivo de relacionar as alterações nos horários de

    entrada e saída dos golfinhos-rotadores, em Fernando de Noronha, com a incidência

    de ventos e a pluviosidade do local.

    Materiais e Métodos

    Área de estudo

    O Arquipélago Fernando de Noronha (3o50’ latitude Sul e 32o24’ longitude

    Oeste) pertence ao estado de Pernambuco e dista 545 km de Recife e 345 km do

    Cabo de São Roque no Rio Grande do Norte. As ilhas do arquipélago elevam-se de

    uma rasa plataforma com aproximadamente 4 ou 5 Km de largura (Almeida 1958). O

    arquipélago é formado pela ilha principal e mais 20 ilhotas, tendo a área total de

    26km2. Apresenta uma única ilha habitada, cujo nome é o mesmo do Arquipélago. A

    Ilh