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Críticas e boicote marcam o Enade 2006 Publicado em 13/11/2006 - 13:53 Conscientização sobre a avaliação foi feita em todos os locais de prova de Curitiba O Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), substituto do antigo Provão, foi realizado neste domingo, 12 de novembro, por mais de 460 mil estudantes de nível superior em todo o país. Este ano, foram convocados a prestar o exame alunos dos cursos de Administração, Arquivologia, Biblioteconomia, Biomedicina, Ciências Contábeis, Ciências Econômicas, Comunicação Social, Design, Direito, normal superior em Formação de Professores, Música, Psicologia, Secretariado Executivo, Teatro e Turismo. Nas escolas que serviram como local de prova, membros do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e dos centros acadêmicos da Universidade Federal do Paraná (UFPR) se mobilizaram para convencer os participantes a não realizar a prova. Os ‘manifestantes’ entregaram uma carta, feita pelo Fórum de Executivas e Federações de Cursos, explicando porque e como boicotar o Enade, além de entregar um adesivo contendo os dizeres: ‘Boicote Já! Por uma avaliação de Verdade! Nota Zero pro Enade!’, que deveria ser colado na folha de gabarito de quem decidisse não realizar o exame. Bernardo Pilotto, membro do DCE, foi um dos estudantes que distribuiu o material. Aluno de Ciências Sociais da UFPR, ele lembrou que ninguém no seu curso realizou o exame no ano passado e, junto com outros colegas, incentivou os demais estudantes a tomar a mesma atitude. “Ciências Sociais teve conceito 1 (o mais baixo numa escala de 1 a 5) porque os alunos têm uma posição política de não aceitar a imposição que é o Enade”, afirma. “O exame é obrigatório e isso é ruim, porque as pessoas têm que querer ser avaliadas para que a prova funcione”, conclui o estudante. Além de Ciências Sociais, os cursos de Arquitetura e Urbanismo e Física da UFPR também tiveram notas mínimas na última edição do exame devido ao boicote. O panfleto entregue nos locais de prova explica que a nota de quem boicota o exame não aparece no histórico escolar e que o MEC não pode divulgá-la. Além disso, esclarece que as coordenações não podem reter o diploma de quem opta por não realizar o Enade, a não ser que os convocados não comparecerem para, ao menos, assinar a prova. Escolhas Apesar da decisão ser individual, em geral os estudantes de cada curso se reúnem para discutir e optar pelo boicote em massa ou pela realização da prova. Os alunos devem entrar num consenso porque se apenas uma parte deles fizer a avaliação, o curso recebe uma nota intermediária, que significa baixo desempenho. Quando o boicote é unânime, o conceito 1 reflete o protesto dos estudantes, já que a nota mais baixa só pode ser obtida em condições especiais como essa. Calouro de Psicologia da UFPR, César Fernandes estava distribuindo adesivos antes da prova, para a qual também foi convocado. “Vou boicotar a prova, porque a gente fez uma votação e o posicionamento de Psicologia é contra a realização do exame”, afirma. Fernandes diz ainda que a avaliação é necessária, mas, 20/9/2009 Críticas e boicote marcam o Enade 20… www.jornalcomunicacao.ufpr.br/…/print 1/3

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Apesar da decisão ser individual, em geral os estudantes de cada curso se reúnem para discutir e optar pelo boicote em massa ou pela realização da prova. Os alunos devem entrar num consenso porque se apenas uma parte deles fizer a avaliação, o curso recebe uma nota intermediária, que significa baixo desempenho. Quando o boicote é unânime, o conceito 1 reflete o protesto dos estudantes, já que a nota mais baixa só pode ser obtida em condições especiais como essa. Escolhas

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Críticas e boicote marcam o Enade 2006

Publicado em 13/11/2006 - 13:53

Conscientização sobre a avaliação foi feita em todos os locais de prova de Curitiba

O Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), substituto do antigo Provão, foi realizado nestedomingo, 12 de novembro, por mais de 460 mil estudantes de nível superior em todo o país. Este ano, foramconvocados a prestar o exame alunos dos cursos de Administração, Arquivologia, Biblioteconomia,Biomedicina, Ciências Contábeis, Ciências Econômicas, Comunicação Social, Design, Direito, normalsuperior em Formação de Professores, Música, Psicologia, Secretariado Executivo, Teatro e Turismo.

Nas escolas que serviram como local de prova, membros do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e doscentros acadêmicos da Universidade Federal do Paraná (UFPR) se mobilizaram para convencer osparticipantes a não realizar a prova. Os ‘manifestantes’ entregaram uma carta, feita pelo Fórum deExecutivas e Federações de Cursos, explicando porque e como boicotar o Enade, além de entregar umadesivo contendo os dizeres: ‘Boicote Já! Por uma avaliação de Verdade! Nota Zero pro Enade!’, quedeveria ser colado na folha de gabarito de quem decidisse não realizar o exame.

Bernardo Pilotto, membro do DCE, foi um dos estudantes que distribuiu o material. Aluno de CiênciasSociais da UFPR, ele lembrou que ninguém no seu curso realizou o exame no ano passado e, junto comoutros colegas, incentivou os demais estudantes a tomar a mesma atitude. “Ciências Sociais teve conceito 1(o mais baixo numa escala de 1 a 5) porque os alunos têm uma posição política de não aceitar a imposiçãoque é o Enade”, afirma. “O exame é obrigatório e isso é ruim, porque as pessoas têm que querer seravaliadas para que a prova funcione”, conclui o estudante. Além de Ciências Sociais, os cursos deArquitetura e Urbanismo e Física da UFPR também tiveram notas mínimas na última edição do examedevido ao boicote.

O panfleto entregue nos locais de prova explica que a nota de quem boicota o exame não aparece nohistórico escolar e que o MEC não pode divulgá-la. Além disso, esclarece que as coordenações não podemreter o diploma de quem opta por não realizar o Enade, a não ser que os convocados não comparecerempara, ao menos, assinar a prova.

Escolhas

Apesar da decisão ser individual, em geral os estudantes de cada curso se reúnem para discutir e optar peloboicote em massa ou pela realização da prova. Os alunos devem entrar num consenso porque se apenas umaparte deles fizer a avaliação, o curso recebe uma nota intermediária, que significa baixo desempenho.Quando o boicote é unânime, o conceito 1 reflete o protesto dos estudantes, já que a nota mais baixa sópode ser obtida em condições especiais como essa.

Calouro de Psicologia da UFPR, César Fernandes estava distribuindo adesivos antes da prova, para a qualtambém foi convocado. “Vou boicotar a prova, porque a gente fez uma votação e o posicionamento dePsicologia é contra a realização do exame”, afirma. Fernandes diz ainda que a avaliação é necessária, mas,

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para ele, o Enade não contempla aspectos como as diferenças regionais e curriculares das faculdades, já quea prova é igual para o Brasil inteiro.

André Ehrlich, colega de Fernandes, saiu da sala vinte minutos depois do início da avaliação porque tambémentregou o exame em branco. “Eu acredito que o Enade não é uma prova adequada e a realização deveriaser opcional. E exame deveria trazer benefícios para os alunos e não apenas para o MEC”, afirma.

Ao contrário dos estudantes de Psicologia, outros alunos optaram por realizar a prova. É o caso de AngélicaOlstan e Bruna Scharf, formandas em Direito do Centro Universitário Positivo (Unicenp). Embora acreditemque o Enade não seja a melhor forma de avaliação e que tão pouco trará benefícios futuros, ambas fizeram aprova. Bruna acredita que “o Enade é uma possibilidade de ver se as pessoas conhecem ou não a matériaque estudam”. Angélica é mais enfática. “Eu fiz porque é obrigatório”, afirma.

Cristiane Souza, caloura de Turismo da Faculdade Internacional de Curitiba (Facinter), também optou porfazer o exame, mas justifica que sua motivação é apenas a obrigatoriedade da prova. “Eu sei basicamenteque o Enade é a avaliação das faculdades, mas acho que ele não é adequado porque muitas vezes o alunotrabalha na área e por isso se sai bem. O curso acaba não sendo realmente avaliado”, diz.

Nem todos os estudantes, no entanto, estavam decididos pela realização da prova ou boicote ao exame. Ocurso de Direito da UFPR foi palco de uma discussão entre os alunos que decidiram boicotar a prova(principalmente os do primeiro ano) e alguns formandos que não sabiam que atitude tomar. Muitos temiamque o curso, reconhecido como tradicional na cidade, acabasse sendo desacreditado.

Segundo Adriana Cabral, caloura no curso, a decisão final foi pelo boicote, depois de um debate conduzidopelo centro acadêmico. “Grandes faculdades como a USP (Universidade de São Paulo) e a Unicamp(Universidade Estadual de Campinas) também não concordam com o Enade. Ao invés de melhorar oscursos, os resultados têm desprestigiado algumas universidades”, diz. Camila Calixto, estudante do quintoano de Direito, também não realizou o exame. “Boicotei porque eu não concordo com a prova, que nãoavalia como deveria. Os alunos deveriam defender uma avaliação que expresse aquilo que a faculdadeprecisa”, afirma.

Prova Inadequada

Além dos motivos relatados por quem boicotou, os alunos dos cursos de Música apontam mais uma razãopara reclamar da avaliação do MEC: a inexistência de uma prova de conhecimentos práticos. Os estudantesconcordam com a avaliação teórica, mas consideram imprescindível o exame prático para que os resultadossejam coerentes. “Cada especialização deveria ter uma prova diferente”, afirma o aluno de Música da UFPRDanilo Cardozo. “Eu faço licenciatura, mas tem gente que faz produção ou bacharelado de instrumentos. Sãocoisas totalmente diferentes”, diz.

No caso do curso de Gestão da Informação, não contemplado pelo Enade, os alunos foram incluídos narelação dos convocados para prestar a prova de Biblioteconomia. Embora o curso tenha surgido dessa área,a formação é voltada para outros aspectos do tratamento da informação. “Nós não sabemos várias coisassobre Biblioteconomia, como catalogar, por exemplo. Nossa formação não é tão voltada para livros”, afirmaLealis Pedroso, aluna de Gestão da Informação da UFPR.

Segundo a estudante, os professores e coordenadores apoiaram o boicote, com o objetivo de pressionar oMinistério da Educação (MEC) a desenvolver uma avaliação que prestigie o curso. “O MEC partiu de umagrande área que é a Ciência da Informação e escolheu biblioteconomia como representante de toda a área”,explica Lealis. “Eu espero que o MEC reconheça o curso de Gestão da Informação como uma área

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separada de Biblioteconomia, para que nós, os profissionais, também sejamos reconhecidos”, afirma aestudante Jessica Andrade.

Reportagem: Larissa Vatzco

Endereço da página: http://www.jornalcomunicacao.ufpr.br/2006/node/328

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