Verena Alberti - O Riso, As Paixões e as Faculdades Da Alma

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    O riso, as paixes e as faculdades da alma*

    Verena AlbertiCPDOC - FGV

    * Trabalho apresentado ao XVIII Encontro Anual da Associao Nacional de Ps-Graduao ePesquisa em Cincias Sociais (ANPOCS), Caxambu-MG, 23 a 27 de novembro de 1994, Grupo deTrabalho Pessoa, corpo e doena. Ele retoma algumas questes desenvolvidas no terceiro captulode minha tese de doutorado, La pense et le rire: tude des thories du rire et du risible ,apresentada ao departamento de literatura da Universidade de Siegen (Alemanha) em 1993.

    Alberti, Verena. O riso, as paixes e as faculdades da alma . Textos de Histria.Revista daPs-Graduao em Histria da Universidade de Braslia. Braslia, UnB, v.3, n.1, 1995, p.5-25.

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    O riso sempre constituiu uma incgnita na histria do pensamento ocidental,mais especificamente aquilo que faz o homem rir, o porqu do "prprio do homem".Essa questo tanto mais relevante quanto se considere que, alm de diferenciar ohomem dos animais, o riso foi durante muito tempo aquilo que distinguia o homem deDeus.Basta dizer que Jesus Cristo, apesar de munido da risibilitas, a faculdade de rircomum a todos os homens, jamais riu, segundo provam amplamente textos da teologiamedieval (cf. Suchomski, 1975). Saber o que o riso foi portanto durante muitotempo - e mutatis mutandis at hoje - desvendar os mistrios de uma faculdadeintrnseca condio humana, marcada, de um lado, pela superioridade em relao aosanimais e, de outro, pela inferioridade em relao a Deus.

    Ao contrrio do que se pode pensar hoje em dia, no foram poucos ospensadores que se ocuparam dessa questo. Na Antigidade, destacam-se Plato,

    Aristteles, Ccero e Quintiliano. Seus textos j indicam que o campo de investigaodo riso combinava diferentes abordagens: tica, potica, retrica.

    Mas no sculo XVI, em um tratado sobre o riso de autoria de Laurent Joubert,mdico francs de Montpellier, que encontramos uma das respostas mais completas -seno a mais completa - para o enigma do riso. O tratado, intitulado Trait du ris,contenant son essance, ses causes, et mervelheus effais, curieusemant recerchs,raisonns & observs, foi publicado em Paris em 1579.1 Joubert contemporneode Rabelais, que, ao que parece, tambm obteve o grau de mdico por Montpellier, porvolta de 1530 (cf. Febvre, 1942: 89, e Screech, 1979: 21). Ele no chega a citar

    Rabelais, mas se refere, uma vez pelo menos, s histrias de Boccaccio.

    O autor do Trait du ris parece ter sido um mdico de destaque: aluno esucessor de Rondelet em sua cadeira, foi nomeado chanceler da Universidade deMontpellier em 1573 (posto em que ficou at a morte, em 1582, aos 53 anos) e aindatinha o ttulo de mdico ordinrio do rei Henri III e da rainha de Navarra, mulher deHenri IV. Publicou vrias obras, alm do Trait du ris, sendo que uma parece teratingido maior sucesso, pois cuidava de assuntos como fecundidade, gravidez, parto eamamentao, entre outros, tendo o nome curioso deErreurs populaires (publicadaem 1570 ou 1578, ou ainda 1579). Em resumo, no se pode dizer que Joubert tenha

    sido um autor qualquer; ele estava certamente em sintonia com os debates mdico-filosficos de seu tempo e tinha sem dvida uma formao de peso. S para se ter umaidia, ao longo do Trait du ris so citados mais de noventa autores gregos, latinos,hebreus e rabes, entre mdicos, filsofos, poetas etc. Predominam Aristteles,Galeno, Hipcrates, Plato, Plnio e Homero, mas h tambm os mdicoscontemporneos a Joubert, como Franois Valeriole, Hieronymo Fracastorio, Gabrielde Tarrega, entre outros. Tudo isso mostra que debruar-se sobre o enigma do riso

    1Parece ter havido uma primeira edio em 1560, seguida de duas outras, em 1567 e 1574, que noentanto se perderam (cf. Amoureux, 1814, e Dilieu, 1969).

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    est longe de ser, neste caso, tarefa de somenos importncia. E como a medicina,ainda neste caso, pressupe no apenas o conhecimento dos rgos do corpo, mastambm o conhecimento das faculdades da alma, a explicao do riso se tornanecessariamente complexa: ela implica responder a questes do tipo "como a alma movida pelo objeto do riso?" e "como se produzem os maravilhosos efeitos do riso?",entre outras tantas. O resultado um quadro interessantssimo de certas concepesde corpo, cognio e afeco que, apesar de especficas ao Trait du ris, no deixamde remeter a certos padres de pensamento que remontam Antigidade e seestendem para alm do sculo de Joubert - como o caso particularmente dodualismo razo x paixo, que marca boa parte da histria do pensamento sobre o riso.Essas concepes sero objeto de discusso neste texto, com base naquilo que nostraz a teoria do riso de Joubert.

    Toda argumentao de Joubert, desde o incio do Trait du ris , se sustenta nofato de o riso ser uma das maiores maravilhas do mundo. O riso tanto um milagreque, se no fosse to comum, todo mundo se surpreenderia ao ver o corpo sacudirviolentamente em um instante. De um lado, essa idia est na base da justificativa dotratado: Joubert justifica seu estudo dizendo que vai se dedicar a um assunto alto e

    profundo. De outro lado, a idia do riso como maravilha o fundamento de todo seuelogio do riso: o riso prova da excelncia da razo divina, da superioridade da almasobre o corpo e finalmente da imortalidade da alma - no que Joubert procede, alis, auma espcie de conciliao do homem com seu "prprio", na medida em que o risocessa de marcar a diferena do homem em relao a Deus.

    Resumir a teoria do riso de Joubert necessariamente empobrec-la. O que seapresenta aqui de uma s vez resultado, no Trait du ris, de uma investigaocuidadosa e paulatina, condizente com a tarefa de descobrir a causa intrnsecade umfenmeno escondido atrs de sua propriedade ocultae capaz de nos trazer para pertodossegredos da alma. Por ter sua causa escondida atrs de sua propriedade oculta, oriso se assemelha a outros fenmenos que acontecem miraculosamente, como o raio,

    por exemplo, os quais louvvel investigar, uma vez que aquilo que podemos saber mais extenso do que a cincia.2

    O comeo da investigao se debrua sobre aquilo que faz rir, ou, nas palavrasde Joubert, sobre a matire ridicule, a chose ridicule, ou ainda les ridicules.3Trata-se de uma matria concreta, de estatuto semelhante aos "espritos" ou aos "humores",que penetra em ns pelos canais dos olhos e dos ouvidos - porque a coisa risvel pode

    2"Le Philosophe dit tresbien, que le scibile (c'est dire, ce qu'on peut savoir) ha plus grand etdueque la sciance." (Joubert, 1579: 6)3No Trait du ris, "ridicule" no se reveste necessariamente da conotao pejorativa que vir a termais tarde como adjetivo. Trata-se, antes, de uma denominao genrica para aquilo que faz rir, oobjeto do riso, e por isso preferimos usar aqui "risvel" em lugar de "ridculo", quando traduzimos ostermos de Joubert.

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    ser vista ou ouvida. O importante a ressaltar que essa matria risvel essencialmente frvola, v e sem nenhuma importncia, o que aumenta o cartermilagroso do riso: de um lado, surpreendente que o corpo seja to violentamentesacudido por uma coisa de nada; de outro, isso mostra que a causa intrnseca do risoainda deve ser procurada alhures. A definio da coisa risvel segue, em Joubert, atradio terica que dominou durante muito tempo a histria do pensamento sobre oriso e que remonta Potica de Aristteles: o que provoca o riso um defeito ou umadeformidade indignos de piedade.4Esto nesse caso, por exemplo, as partes pudendasde outrem: so torpes mas indignas de piedade, de modo que sua viso provoca o riso.O mesmo se aplica queda na lama de algum bem vestido, contanto que essa pessoano se machuque, pois a cessa o riso e vem a compaixo. Algum que coma umaguloseima de boa aparncia, que, na verdade, amarga, tambm objeto de riso pois torpe se deixar enganar dessa forma. Enfim, so diversos os exemplos que corroboram

    a definio daquilo que faz rir.

    A matria risvel, seja ela feita ou dita, penetra pelos canais prprios aossentidos da viso e da audio. Se at aqui a investigao de Joubert era relativamentefcil, agora ela se aproxima do n grdio, que consiste em saber como e onde a alma comovida pela coisa risvel. A questo to complexa que exige um estudo minuciosodas faculdades da alma. O carter maravilhoso do riso e seus movimentos torepentinos e diversos indicam que sua sede s pode ser uma parte nobre do corpo: ocrebro, sede da faculdade sensitiva, ou o corao, sede da faculdade apetitiva. (Ofgado tambm parte nobre do corpo, mas no tem o poder de movimento, de modo

    que no pode ser a sede do riso.) De um lado, o riso parece ter sua sede no crebro,pois o crebro que recebe o que requer o esprito atento e ele que governa osmsculos e os nervos que participam dos diferentes movimentos do riso. De outrolado, contudo, os movimentos do riso independem de nossa vontade, de modo que no

    podem estar ligados ao crebro, que governa apenas os movimentos voluntrios. Emoutras palavras: no advento do riso ocorre necessariamente uma participao docrebro, isto , do esprito atento que recebe a matria do riso, mas o crebro no temnenhuma ingerncia sobre os movimentos do riso, que ocorrem nossa revelia("malgr nous", diz Joubert). J possvel perceber que dois atributos da razo estoem causa nesse conflito: a cognioe a vontade; a primeira tendo participao no

    riso, a outra, no.

    4Essa uma variao da definio do cmicode Aristteles: "o cmico consiste em um defeito outorpeza que no causa nem dor nem destruio" (Potique, 5,49a). Na histria do pensamento sobreo riso, essa definio passou a ter vida prpria, independente do texto de Aristteles. Mas na

    Potica ela remete especificamente ao objeto da comdia , arte de representar as aes doshomens que se diferencia da tragdia justamente no que diz respeito ao objeto representado: o objetotrgico aquele que engendra ao destrutiva ou dolorosa, suscitando medo ou piedade (cf.Fuhrmann, 1973, e as notas de leitura de Dupont-Roc & Lallot edio da Potica aqui consultada,

    p. 178). A definio do cmico como defeito andino corresponde portanto originalmente ao no-trgicono campo especfico da produo potica.

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    Esse problema, que perpassa todo o tratado, se desdobra em solues

    especialmente complexas, que fazem a riqueza da teoria de Joubert. Como impossvel que o crebro controle os movimentos do riso, a sede deste acaba sendoatribuda ao corao, especificamente faculdade apetitiva sem toque ("sansattouchemant"). A faculdade apetitiva, que preside no corao, responsvel pelosdesejos ou apetites da alma, que a fazem seja perseguir (querer) seja rejeitar osobjetos. Quando h toque, sentimos prazer ou dor atravs dos nervos, e o apetite no

    provm de nenhuma cogitao nem obedece razo - podemos pensar o quantoquisermos que um membro est machucado que no sentiremos dor por isso.5J osdesejos ou apetites que advm sem toque seguem necessariamente o pensamento oua cogitao ("suivet necessairemant la psee ou cogitati"), que nos ensinam a

    perseguir o agradvel e a evitar o que desagrada. entre as afeces que ocorrem sem

    toque que Joubert localizar afinal a causa do riso, e isso por uma razo bastanteconcreta: o fato da matria risvel no tocar o corpo. A causa do riso portanto umapaixo do mesmo estatuto que alegria, tristeza, esperana, medo, amizade, ira,compaixo, vergonha, zelo, audcia, inveja e malcia - ou seja, as treze afeces queocorremsem toque e das quais a afeco do riso ser uma variante.

    Remeter o riso a uma afeco da alma no propriamente novo na histria dopensamento sobre o riso. J Plato definia o estado de alma suscitado pelas comdiascomo uma afeco mista, feita de uma mistura de dor e prazer (cf. Philbe, 48a-ss).

    No mesmo sentido, foi no contexto de discusso das paixes a serem suscitadas no

    ouvinte que o riso e principalmente aquilo que faz rir surgiram como objetos nocampo da retrica antiga (cf. especialmente Ccero, De l'orateur, II, 216-ss, eQuintiliano,Institution oratoire, VI, 3). A novidade de Joubert no est propriamenteno fato de relacionar a causa do riso a uma paixo ou afeco da alma, e sim no modocomo d conta dessa paixo, dissecando o processo de formao do riso desde amatria risvel at os mnimos detalhes da agitao do corpo - processo cuja precisodepende de longas incurses no terreno das faculdades da alma, especialmente no quediz respeito relao entre o crebro e o corao.

    Como toda paixo, a afeco do riso s se consolida no corao. O objeto

    risvel penetra no crebro atravs dos sentidos da viso e da audio, chega em seguidaao senso comum, de onde parte imediatamente para a sede da faculdade que lhe prpria, isto , para o corao. Esse transporte to rpido que o crebro no chega aser movido pelo objeto risvel; ele apenas toma conhecimento dele, do mesmo modo

    5A diviso das afeces da alma em "prazer" e "dor" faz parte de uma tradio terica bastantedifundida que remonta ao livro IV da Repblica de Plato (cf. La Rpublique, IV, 436a-441d).Segundo essa tradio, todas as afeces da alma seriam regidas pelos fundamentos do "prazer" (oapetite concupiscvel) e da "dor" (o apetite irascvel): ou desejamos aquilo que nos agrada ourecusamos aquilo que nos desagrada. Sobre essa mesma diviso na tradio escolstica, cf.Levi,1964:19-s.

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    que necessrio conhecer a injria para que o corao seja movido pela ira. ocorao, portanto, que ser comovido ("mu") pelo objeto risvel, dando origem a ummovimento peculiar: a alternncia rpida de dilatao e contrao especfica paixodo riso. Esse movimento , na verdade, a combinao de duas paixes contrrias: aalegria, em que o corao se dilata, e a tristeza, em que o corao se contrai, havendocontudo maior dilatao do que contrao no caso do riso, j que nele a alegriaultrapassa a tristeza. O fato dessa combinao se encontrar na origem do riso decorreda especificidade da matria risvel: ela nos d alegria porque a consideramos indignade piedade e porque nela no h dano, e nos d tristeza porque todo risvel vem de umdefeito ou indecncia. A afeco do riso portanto mista, do mesmo modo que seuobjeto. Alm disso, enquanto possvel morrer-se de grande alegria (o corao seexpande e deixa escapar espritos e vapores sangneos) e de grande tristeza (ocorao se contrai excessivamente, de modo que o calor se apaga), no caso do riso

    nunca se corre esse risco pois a alternncia dos movimentos contrrios do coraoimpede tanto a perda como a reteno fatais dos espritos.6

    essa, ento, a origem de todos os movimentos prprios ao riso: o movimentoparticular do corao responsvel por todas as reaes do corpo, desde a agitao dodiafragma, passando pela voz entrecortada, a contrao dos msculos da face, aabertura da boca, a vermelhido do rosto, o advento de lgrimas, at a agitao deombros, braos, peito e pernas, a dor na barriga e a incontinncia urinria e deventosidades, para citar apenas os efeitos mais comuns do riso. H que se convir queuma agitao e uma transformao de tal ordem s podem constituir uma grande

    maravilha da alma, um milagre que, se fosse menos comum, surpreenderia a todos.

    De todos os rgos que participam do movimento do riso, o diafragma o maisimportante, porque atravs de sua agitao que o peito e o resto do corpo so levadosa se moverem. Nesse sentido, o corao e o diafragma so, segundo Joubert, os

    principais instrumentos do ato chamado riso. Alm disso, na ligao entre ambos quese encontra o fundamento anatmico do "prprio do homem": o corao agitado almdo normal comove o pericrdio, sua cobertura, e este, por sua vez, puxa o diafragma,ao qual ele est ligado em grande extenso nos homens, bem diferente do que ocorrenos animais, como se pode ver pela anatomia. Esta portanto a principal razo pela

    qual s o homem capaz de rir. A outra razo diz respeito atividade cognitiva: necessrio conhecer a matria risvel que penetra na alma, porque as afeces spodem ser deslanchadas pela coisa concebida e conhecida. Como os animais sodotados apenas do conhecimento de coisas que pertencem s necessidades vitais -

    6A dicotomia entre alegria e tristeza no que se refere aos movimentos do corao e a seus efeitos bastante comum na tradio terica das paixes, desde os esticos, passando por Agostinho eToms de Aquino, at Descartes, por exemplo. Cf. Levi, 1964: 234, e Descartes, Les passions del'me(1649), artigos 99-116.

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    alimentao, conservao das espcies e defesa de seus corpos -, no concebem,em seus espritos, o risvel.

    Ora, essa diferena acende novamente a discusso sobre a sede do riso, eJoubert mesmo se pergunta: por que, ento, no relacionar o riso intelignciaracional, uma vez que desse modo os animais j estariam excludos da faculdade derir? J sabemos que o problema repousa na vontade: o riso no pode ser atributo dafaculdade racional porque ele foge do controle da razo.

    Evidentemente Joubert no se contenta em constatar o fato; interessa a eleexplicarpor que afinal o movimento do riso no obedece vontade. Sua explicaorequer novamente conhecimentos precisos sobre as partes da alma, e possvel

    perceber que, nesse caso especfico, ela remonta diretamente a uma classificao de

    Aristteles. Em suatica a Nicmaco , Aristteles divide a alma em uma parte racionale outra privada de razo. Esta ltima ainda se subdivide em duas partes: a primeira, denatureza vegetativa, responsvel pela nutrio e o crescimento, que no tem nenhuma

    participao num princpio racional, e a segunda, de natureza apetitiva , que, em certosentido participa da razo, na medida em que a escuta e a ela obedece (tica aNicmaco, I,13). Ora, ao descrever as faculdades da alma, Joubert explica, entreoutras coisas, que a razo comanda duas faculdades, as quais ela governa de formadiferente: a faculdade apetitivae a faculdade motora. O comando sobre a primeira civilou poltico: a razo mostra o dever ao corao e aconselha que ele apazige aafeco. Se o corao resiste ao freio, a razo recorre ao segundo comando, que ela

    exerce sobre os movimentos e que imposto("en matre") ou soberano: a razoouvontadeordena aos msculos e aos nervos que parem os movimentos da paixo e afaculdade motora obedece prontamente.7

    No caso do riso, to logo o corao se lana no movimento caracterstico daafeco, o crebro passa a ponderar se razovel que o corao esteja comovido("mu"). Se ele acha a emoo honesta, ele consente. Se no, ele tenta convencer ocorao a parar seu movimento: o comando civil ou poltico que a razo exercesobre a faculdade apetitiva. Se o corao no obedece, a razo pode ordenar faculdade motora de cessar os movimentos provocados pelo corao comovido.

    Entretanto - e justamente aqui que repousa o problema da vontade -, a faculdademotora no obedece a esse comando da razo e o riso continua nossa revelia. Issoacontece, prossegue Joubert, porque tanto os msculos quanto a vontade mesma so

    7A analogia com apolticana descrio das faculdades da alma no especificidade do texto deJoubert. O prprio trecho da tica a Nicmaco que trata da diviso da alma introduzido pelarelao entre a virtude poltica e o conhecimento da alma: cabe ao homem verdadeiramente

    poltico estudar a alma do mesmo modo que o mdico estuda o corpo, uma vez que a virtudehumana a virtude da alma. J. Pigeaud, em La maladie de l'me, tambm chama ateno para ofato de, na tradio mdico-filosfica antiga, a poltica servir de metfora ao organismo e a seufuncionamento, como o caso da noo de potncias("puissances") da alma (Pigeaud, 1981:353).

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    levados a seguir o movimento do corao a despeito deles mesmos, porque, se eles seopusessem e resistissem, haveria risco de sufocao e os membros do peito poderiamse romper e rasgar. Para dar conta desse movimento coagido e encantado ("contraint etravi") dos msculos comovidos pela agitao do corao, Joubert recorre aoensinamento de Galeno sobre a respirao, movimento necessrioe coagidomasque nem por isso deixa de ser voluntrio. Nesse sentido, o movimento dos msculosdurante o riso da mesma natureza que o movimento da respirao - uma coaonecessria ("necessaire contrainte"); se ele no segue o comando do crebro no quediz respeito vontade, porque obedece a uma outra instncia da razo: a razo da

    Natureza, a razo da alma como um todo, que sabeque seria muito perigoso se osmsculos se opusessem ao movimento do corao. A virtude formadora, o Criador, ouainda a Natureza - trs designaes que se referem a uma mesma instncia no tratadode Joubert - construram nosso corpo de tal forma que ele obedece facilmente assim

    que o esprito comovido pelo objeto risvel, e logo o representa atravs do riso. ANatureza no faz nada imprudentemente, de modo que ela acomodou a forma dohomem ao riso, fabricando industriosamente os instrumentos convenientes sua

    produo. Desse modo, se o movimento do riso no obedece nossa vontade - e porisso no pode ser atribudo virtude racional da alma -, nota-se que, no final dascontas, ele o faz em obedincia a uma outra vontade, que se sobrepe s faculdades daalma e responsvel pelo funcionamento maravilhoso de todas as coisas que h nomundo - desde o riso at o raio. A investigao de Joubert, de que aqui s dei conta

    parcialmente, alcana uma explicao completa e surpreendentemente concreta detodo o processo de produo do riso. O milagre est desvendado, chegou-se at sua

    causa intrnseca e sua propriedade oculta, e esse resultado s faz reforar o cartermaravilhoso da alma, da natureza e da razo divina.

    Afastando-nos um pourco do Trait du ris, possvel perceber que as questestratadas por Joubert no so questes isoladas na histria do pensamento sobre o riso.

    Na realidade, o mrito de Joubert est em explor-las exausto e de um modopeculiar, responsvel pela riqueza de seu tratado. Se tomarmos o caso do binmiopensamentoou cogitao, de um lado, e vontade, de outro - especialmente discutidoaqui -, o texto de Joubert constitui um exemplo de como questes particularmenteobscuras da tradio mdico-filosfica antiga so apropriadas por um mdico e

    pensador do sculo XVI.

    Vimos que o binmio pensamento - vontade est na base da hesitao deJoubert em conferir ao crebro o estatuto de sede do riso: ao mesmo tempo em que oriso necessariamente precedido de pensamento ou cogitao, ele no obedece vontade, de modo que, nele, dois atributos da razo se tornam incompatveis.

    Essa espcie de conflito pode ser encontrada em um pequeno trecho de Aspartes dos animais, de Aristteles, que trata rapidamente do riso. O trecho precedido da descrio das funes do diafragma nos animais sangneos. Segundo

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    Aristteles, o diafragma separa o altoe o baixodo animal e isola assim o corao e opulmo do abdomen, protegendo-os da exalao e do excesso de calor desprendidosdos alimentos. Ele funciona como uma espcie de barragem entre a parte nobre(cabea, pulmes, corao) e a parte menos nobre (abdomen, fgado, bao, vesculaetc.) em todos os animais em que possvel separar o alto do baixo. Porque o humorquente e excrementcio exalado pelas partes adventcias ao diafragma traz uma

    perturbao manifesta ao raciocnio e sensibilidade , continua Aristteles, alunsautores chamam o diafragma de centro frnico (do pensamento). Convm esclarecerque os radicais gregos phrn e phrnos remetem tanto ao diafragma - como em"frenite" - quanto ao pensamento - como em "frenologia". Nota-se que a posiomediana do diafragma lhe confere um estatuto particularmente importante, pois eleencerra as especificidade do alto(do pensamento, da sensibilidade) e do baixo(umavez que atrai os humores exalados pela atividade digestiva).

    Antes de chegarmos passagem que trata propriamente do riso, importanteressaltar que a idia do diafragma como diviso entre a parte nobre da alma e a partemais baixa j est presente em Plato (Timeu, 70a). Segundo Galeno, foi Plato queintroduziu o termo diafragma (que significa barreira), apesar de ele mesmo ainda usarphrenes como os autores antigos. (apud. Pigeaud, 1981:78) Vale registrar que oradical phrn permaneceu no nome phrenitis, doena que existiu como entidademdica de Hipcrates a Pinel, designando perturbaes contnuas no pensamentoacompanhadas de febre. (Pigeaud, 1981:71-ss)

    O estatuto especial do diafragma e sua relao com o pensamento no eramestranhos a Joubert. Ao conferir ao diafragma um lugar destacado no processo deformao do riso, Joubert assim o qualifica: "quase todo nervoso e delicadamentesensvel (...) que, estando doente, tem os mesmos acidentes que o crebro." Tanto ,acrescenta, que "os antigos gregos chamaram o diafragma de phrenes , isto ,

    pensamento e entendimento". (Joubert, 1579: 125)

    Vejamos finalmente o que diz a passagem sobre o riso, em As partes dosanimaisde Aristteles. A passagem tem a funo de confirmar a ao do calor sobre odiafragma:

    "O que prova que, quando ele recebe calor, o diafragma manifesta assim queele experimenta uma sensao, o que se passa no riso. Com efeito, sefazemos ccegas em algum, ele se pe a rir logo em seguida, porque omovimento ganha rapidamente essa regio, e mesmo se o movimento aesquenta levemente, o efeito sensvel, e o pensamento se pe emmovimento contra a vontade. Se o homem o nico animal passvel deccegas, isso vem, primeiro, da finura de sua pele, mas tambm do fato deque ele o nico animal que ri." (Les parties des animaux, 637a)

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    Ou seja: o homem ri quando lhe fazem ccegas porque o movimento que resulta dasccegas gera um calor que, mesmo leve, produz um efeito sensvel sobre o diafragma.O diafragma manifesta e experimenta imediatamente essa sensao e "o pensamento se

    pe em movimento contra a vontade". Essa ltima assero permanece bastanteenigmtica no texto, principalmente porque sua relao com as outras asseres no muito clara. Mas considerando o que Aristteles quer provar, nessa passagem - que ocalor de "baixo" causa uma perturbao manifesta no raciocnio -, talvez fosse possvelconcluir que, no caso do riso, essa perturbao definida como sendo precisamenteum movimento do pensamento contra a vontade.

    Joubert no ignorava essa passagem de Aristteles. Ao contrrio: dedicou-lheespecial ateno, ao discutir longamente em seu tratado se era correto tomar porequivalentes o riso e as ccegas e se isso bastava para dar conta do fato do riso ser

    prprio do homem. Na verdade, Joubert discorda, nesse particular, de Aristteles,classificando o riso provocado pelas ccegas como riso bastardo, j que noconcerne faculdade apetitiva sem toque . O curioso que, mesmo conhecendo ediscutindo longamente essa passagem deAs partes dos animais- passagem, alis, quese tornou clssica na histria do pensamento sobre o riso, por conter a afirmao deque o homem o nico animal que ri -, mesmo citando, ento, essa passagem, Joubertno destaca, nela, a frase que se refere disputa entre o pensamento e a vontade. notvel, contudo, que ele encontre a soluo do problema dos msculos que noobedecem ao comando da vontade justamente no movimento da respirao- podemosdizer, do diafragma. A respirao, enquanto movimento voluntrio e coagido - o que,

    levado ao extremo, talvez equivalesse a "voluntrio e involuntrio" -, tambm podesignificar certa confluncia do altoe do baixo, de modo que seu estatuto talvez sejato especial quanto o do diafragma.

    Um texto hipocrtico, trazido por J. Pigeaud, mostra que no estamos muitolonge de determinado terreno comum na tradio mdico-filosfica antiga. O trechoem questo est entre os captulos deMaladie sacrque tratam do papel do crebrono conhecimento, considerando suas relaes com o ar. Diz a passagem, bastantehermtica: o ar passa primeiro pelo crebro, vindo puro, o que permite a nitidez do

    juzo. No crebro se d o conhecimento e o juzo. Se o ar passasse primeiro pelo

    corpo, quando chegasse ao crebro, estaria quente e misturado com o humor da carnee do sangue, retirando assim a nitidez. Desse modo, entrando primeiro no crebro, o ardeixa ali suafora, para s ento passar para o resto do corpo, onde responsvel pelaaodos olhos, ouvidos, lngua, mos e ps - porque h pensamentoem todo o corpo,na medida em que ele participa do ar. (apud.Pigeaud, 1981:33-ss) Pigeaud identificanesse texto uma teoria da significao aliada a um modelo fsico: o crebro umintrprete do conhecimento, que se achafora delee idntico ao ar; a condio fsica

    para a interpretao do conhecimento haver um bom acesso do ar ao crebro. (id.:36) Sem pretender desvendar a passagem, quero apenas chamar a ateno para duasrecorrncias. Primeiro, a relao pensamento-ar, que nos remete diretamente

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    relao pensamento-diafragma, e sugere ainda uma aproximao entre pensamento erespirao. Segundo, a assimetria entre, de um lado, crebro, juzo e conhecimento(em que predominam a forae a purezado ar) e, de outro, "todo corpo" e a aodeolhos, ouvidos, lngua e membros (estando o ar quente e misturado com humores).

    No ser essa ao justamente o resultado da vontade - daquela parte de "ar-pensamento" que circula por todo o corpo? Ou melhor: aquilo que se passa nocrebro, de um lado, e em "todo corpo", de outro, no equivale, no final das contas, sduas atividades que, no Trait du ris, dizem respeito virtude racional da alma - acognio e a vontade?

    Na histria do pensamento sobre o riso, os textos que remontam a esseuniverso de concepes mdico-filosficas antigas no so os nicos que nos falamde uma relao entre o riso e o pensamento . Essa recorrncia se deve, em grande

    parte, ao dilema que est na base da definio do riso como "prprio do homem": oraele prprio do homem-"animal racional", uma vez que s o homem capaz deconceber o objeto risvel, ora ele prprio do homem-"animal irracional", isto ,governado pelas paixes, que sofre lapsos de juzo e perde o controle sobre simesmo.8Essa ltima vertente vai perdendo importncia no final do sculo XVIII, e dlugar a uma variante que substitui o descontrole provocado pela paixopor umdescontrole "energtico": o riso passa a ser a descarga de uma energia acumulada emexcesso, em virtude de uma expectativa que no se cumpriu.9

    8 Um exemplo dessa oscilao uma obra annima publicada em 1768, Trait des causesphysiques et morales du rire relativement l'art de l'exciter, que consegue reunir explicaes todspares para o riso quanto, de um lado, dizer que seu princpio uma alegria racional ("joieraisonne"), e, de outro, que sua causa a loucura("folie"). O primeiro princpio justificado com

    base na "marca distintiva" que separa o homem dos outros animais: a faculdade racional.Como osoutros animais so igualmente capacitados para a alegria, mas no riem, o princpio do riso s podeser a joie raisonne, por ele ser prprio espcie racional. J o princpio da loucura se sustenta noargumento contrrio: o riso escapa justamente quando a razo se afasta, quando o princpiointeligente se desvia, quando, enfim, h um eclipse do juzo.9Esse tipo de explicao j aparece, em parte, na teoria esttica de Kant: o riso uma afeco quedecorre da repentina transformao de uma expectativa em nada. Uma vez que, nele, no ocorre

    nem juzo nem entendimento, o nico canal aberto para o escoamento da expectativa frustrada aafeco que pe em movimento as entranhas e o diafragma e promove uma sensao de sade.(Kant, 1790: 407-ss) Mais tarde, Spencer dir que a origem do riso um excesso de energia nervosano utilizada na ao mental, e por isso descarregada em contraes musculares quase convulsivas -explicao na qual diretamente seguido por Darwin. (cf. Spencer, 1860; Darwin, 1872: 200-s)Esse padro "energtico" reaparece em Freud, para quem o riso provocado pelo jogo de palavrasdecorre da economia da energia normalmente despendida na ligao de duas sries de idiasseparadas. (Freud, 1905: 113-s) Finalmente Lvi-Strauss tambm usa esse modelo em seu "Finale"do Homem nu: o riso resulta de uma conexo rpida e inesperada de dois campos semnticosseparados, que libera uma reserva de atividade simblica, a qual se despende em contraesmusculares. (Lvi-Strauss, 1971: 587-s). interessante notar que tanto Freud quanto Lvi-Straus se

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    Mas h uma outra forma de descontrole que vai ganhando terreno a partir do

    final do sculo XIX e que tem em Nietzsche e Bataille seus principais expoentes.Trata-se de provocar o descontrole da razo, de ultrapassar seus limites, nica formade ainda filosofar. "Rir de si mesmo, como se deveria rir, para sair de toda a Verdade!",

    prega Nietzsche nas primeiras pginas de sua Gaia cincia(1882) - cincia que elepretende seja a nica a existir no futuro, quando o risose tiver ligado sabedoria. EemZaratustra : "Que seja tida como falsa toda verdade em que no houve sequer umarisada!" (III, 23) Bataille tambm muito claro nesse sentido: o riso , para ele, "odado central, o dado primeiro, e talvez at o dado ltimo da filosofia" (Oeuvres, VIII:220). H outros autores, outros textos, que mostram que o riso passou a ter um papel-chave no esforo filosfico de apreender aquilo que ultrapassa a finitude da Razo, daVerdade e do Ser.10Para esses autores e para seus leitores talvez no seja intil saber

    que a relao riso-pensamento tambm foi legtima em outras pocas, ainda que - epour cause- a Razo a no tivesse limites.

    referem a essa conexo de idias como "curto-circuito", isto , em analogia direta com a energiaeltrica.10 Cf. Jean Paul, 1804; Schopenhauer, 1818,1844; Ritter, 1940, entre outros.

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    Referncias

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    Annimo - 1768 - Trait des causes physiques et morales du rire relativement l'art de l'exciter.Genve, Slatkine Reprints, 1970. [Na reimpresso de 1970, a editoraatribui o texto a Poinsinet de Sivry, mas tambm possvel que o autor tenha sidoDreux du Radier.]

    Aristteles

    - Les parties des animaux. Texte tabli et traduit par Pierre Louis. Paris, LesBelles Lettres, 1956.- La Potique. Texte, traduction, notes par Roselyne Dupont-Roc et JeanLallot. Prface de Tzvetan Todorov. Paris, Seuil, 1980.-tica a Nicmaco.So Paulo, Abril Cultural, 1970. (Os pensadores)

    Bataille, Georges. Oeuvres compltes. Paris, Gallimard, 1970-6.

    Ccero. De l'orateur. Livre deuxime. Texte tabli et traduit par Edmond Courbaud. 4edition, Paris, Les Belles Lettres, 1966.

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    Descartes, Ren - 1649 - Les passions de l'me . in: Oeuvres philosophiques deDescartes.Textes tablis, prsents et annots par Ferdinand Alqui. Paris, GarnierFrres, 1973, t. III, p.939-1103.

    Dilieu, Louis - 1969 - "Laurent Joubert, chancelier de Montpellier." in.:Bibliothqued'Humanisme et Renaissance. Travaux et Documents.Genve, Droz, t. XXXI, 1969,

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    Febvre, Lucien - 1942 -Le problme de l'incroyance au XVIe sicle. La religion deRabelais.Paris, Albin Michel.

    Freud, Sigmund - 1905 - Der Witz und seine Beziehung zum Unbewussten. Frankfurt,S. Fischer Verlag, 1970, Studienausgabe Bd. IV, p.9-219.

    Fuhrmann, Manfred - 1973 -Einfhrung in die Antike Dichtungstheorie. Darmstadt,Wissenschaftliche Buchgesellschaft.

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    Jean Paul (Richter) - 1804 - Vorschule der sthetik. in: Werke in zw lf Bnden.Hrg.

    Norbert Miller. Mnchen, Wien, Carl Hanser Verlag, 1975, Bd.9.

    Joubert, Laurent - 1579 - Trait du ris suivi d'un Dialogue sur la cacographiefranaise. Genve, Slatkine Reprints, 1973.

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    Levi, Anthony - 1964 - French Moralists: the Theory of the Passions, 1585 to 1649 .Oxford, Clarendon Press.

    Lvi-Strauss, Claude - 1971 -L'homme nu. Paris, Plon.

    Nietzsche, Friedrich. Werke in drei Bnden. Mnchen, Carl Hanser Verlag, 1954.

    Pigeaud, Jackie - 1981 - La maladie de l'me.tude sur la relation de l'me et ducorps dans la tradition mdico-philosophique antique. Paris, Les Belles Lettres.

    Plato- La Rpublique . Texte tabli et traduit par Emile Chambry. in: Oeuvrescompltes, t. VII, 1e partie. Paris, Les Belles Lettres, 1967.

    - Philbe. Texte tabli et traduit par Auguste Dis. in: Oeuvres compltes, t.IX, 2e partie. Paris, Les Belles Lettres, 1959.- Timeu. Trad. Carlos Alberto Nunes. in: Dilogos. v. XI, UniversidadeFederal do Par, 1977.

    Quintiliano. Institution oratoire.Texte tabli et traduit par Jean Cousin. Paris, LesBelles Lettres, 1977.

    Ritter, Joachim - 1940 - "ber das Lachen." in: Subjektivitt. Sechs Aufstze.Frankfurt, Suhrkamp Verlag, 1974, p.62-92.

    Schopenhauer, Arthur - 1818, 1844 - Die Welt als Wille und Vorstellung.in: Werkein zehn Bnden. Zrcher Ausgabe. Zrich, Diogenes Verlag AG, 1977, Bd. 1-4.

    Screech, M.A. - 1979 -Rabelais. London, Gerald Ducksorth & Co.

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    Suchomski, Joachim - 1975 - 'Delectatio' und 'Utilitas'. Ein Beitrag zum Verstndnismittelalterlicher komischer Literatur.Bern, Mnchen, Franke Verlag.