Vertentes do jornalismo econômico no telejornalismo brasileiro - as colunas de Míriam Leitão e Joelmir Betting

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    SBPJor Associao Brasileira de Pesquisadores em JornalismoVIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

    (Universidade Federal do Maranho, So Lus), novembro de 2010

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    Vertentes do jornalismo econmico

    no telejornalismo brasileiro:

    as colunas de Mriam Leito e Joelmir Beting

    Edna de Mello Silva 1

    Resumo: O artigo se prope a trazer uma breve reviso de literatura sobre o histrico, a lingua-gem e os desafios do jornalismo econmico no Brasil. Enfatiza o desafio de articular a prtica

    jornalstica com a notcia econmica, e em especial, a presena do comentarista econmico nostelejornais brasileiros. Traz como recorte de pesquisa a anlise das colunas de Mriam Leito, noTelejornal Bom Dia Brasil, exibido s 7 da manh, pela Rede Globo de Televiso e de JoelmirBeting, no Telejornal Jornal da Noite, exibido pela Rede Bandeirantes de Televiso. Os resul-tados encontrados apontam para as diferenas: na linguagem adotada por cada comentarista e do

    julgamento de valor apresentado pelos jornalistas, o que pode denotar linhas editoriais e posi-

    cionamentos polticos diferenciados (em oposio) em cada um dos programas.

    Palavras-chave: telejornalismo; jornalismo econmico; comentarista econmico;linguagemjornalstica.

    1. Jornalismo e Economia: entre a histria e o conceitoA rea do jornalismo econmico sempre desempenhou um papel importante para

    a sociedade brasileira. Desde o surgimento do jornalismo impresso, as discusses sobre

    as polticas econmicas praticadas pelo governo ganham espao entre as notcias de

    destaque. O prprio jornal de Hiplito da Costa, Correio Brazilienze, considerado o

    primeiro jornal impresso brasileiro, fundado em junho de 1808, j trazia anlises e crti-

    cas sobre a poltica de cobrana de impostos adotada pela Corte portuguesa, recm-

    chegada ao Brasil poca.

    1Doutora e Mestre em Cincias da Comunicao pela ECA-USP, jornalista diplomada, professora adjunta do curso

    de Comunicao Social da Universidade Federal do Tocantins (UFT), pesquisadora do NUPEJOR (Ncleo de Pes-quisa e Estudos em Jornalismo e Multimdia). Email:[email protected]

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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    Na televiso, o jornalismo encontrou o desafio de explicar a um pblico massi-

    vo, como as decises polticas ligadas ao universo financeiro repercutiriam no dia-a-dia

    do brasileiro. Merece destaque a figura do comentarista econmico, jornalista respons-

    vel por traduzir o chamado economs para as pessoas comuns, especialmente em me-

    ados dos anos 80, quando a inflao chegou casa dos 239% e a simples ao de ir ao

    supermercado comprar mantimentos exigia do consumidor uma anlise sobre os preos.

    Nos dias de hoje, o jornalismo econmico tem desafios de outra natureza. Com a

    moeda estabilizada e o processo de globalizao j consolidados so outras as preocu-

    paes dos brasileiros. Estudar quais so as prticas do jornalismo econmico neste

    contexto de fundamental importncia para o campo do jornalismo. Primeiro, porque a

    televiso continua sendo o principal veculo em que as pessoas procuram informao.

    Segundo, porque os telejornais trazem relatos, notcias que falam de consumo, econo-

    mia, polticas governamentais, crimes e lazer, numa sucesso de dados que mistura in-

    formao e entretenimento. Saber os limites entre o que a interpretao das relaes

    do mercado referentes economia e o que simplesmente uma matria de consumo,

    essencial para que o telespectador possa praticar sua cidadania, de forma crtica e inde-pendente.

    Este artigo traz os primeiros resultados da pesquisa Vertentes do Jornalismo

    Econmico no Jornalismo Televisivo Brasileiro que integra um dos trabalhos do N-

    cleo de Pesquisa e Estudos em Jornalismo e Multimdia da Universidade Federal do

    Tocantins. um projeto entrelaado pesquisa coordenada pelo Prof. Antonio Pedroso

    Neto (financiada pelo CNPq) que se intitula: O jornalismo econmico no Brasil: entre

    a economia e a poltica (Nupejor/CNpq/UFT).

    1.1 - Precedentes histricos

    Para Caldas (2003, p. 11), o jornalismo econmico tem a mesma idade da i m-

    prensa. No h registro de um jornal sem notcias de fatos econmicos. J Dines

    (1986, p. 71) atribui ao Jornal do Brasil, em 1963, a incorporao da temtica econmi-

    ca s pautas cotidianas:

    A deflao que se seguiu Revoluo de 1964 e a fase de reorganizao denossa vida econmica que a ela se seguiu, trouxeram ao nvel do leitor mdioos assuntos que se circunscreviam aos rgos especializados. Ainda que no

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    governo Kubitschek o famoso binmio energia-transporte tenha popularizado

    alguns temas econmicos, o desempenho jornalstico daquele perodo de de-senvolvimento econmico resumiu-se aos aspectos espetaculares. (DINES,1986, p. 71).

    Quinto (1987, p. 48) entende que at 1950 a imprensa divulgava pequenas no-

    tas e questes relacionadas aos interesses do comrcio e dos cafeicultores, com infor-

    maes sobre taxas cambiais e movimentos de exportao.

    Esse noticirio originado nas agncias estrangeiras de informao, nascmaras do comrcio ou no Ministrio da Fazenda. acompanhado por redu-zido grupo de interessados. Os temas econmicos so tratados pelos jornaissem qualquer distino das demais notcias e h uma ntida preferncia pelonoticirio da rea poltica.

    Para Calais (2006, p. 52) a cobertura da economia nem sempre teve destaque nos

    noticirios, principalmente porque at a dcada de 1960, a poltica sempre foi a dona

    dos principais espaos dos jornais - mesmo porque a economia brasileira ainda se mos-

    trava titubeante e apenas no incio de seu processo de modernizao.

    Lene (2007, p. 155) entende que at a dcada de 70, a cobertura do noticirio

    econmico era voltado mais para a divulgao de informaes financeiras e comerciais

    como cotaes da bolsa, do cmbio e de preos de produtos agrcolas. Com a ditadura

    militar vivida no pas, a partir de meados dos anos 60 do sculo XX, os temas relacio-

    nados poltica foram fortemente censurados e deram lugar cobertura econmica.

    Essa idia tambm compartilhada por Caldas (2005, p. 19) que considera que a

    editoria de economia passa a se especializar e ganhar espao no perodo de restrio ao

    livre exerccio do jornalismo imposto pelos generais militares. Teriam nascido tambm

    no perodo da primeira fase da ditadura militar os jornais e as revistas especializadas emeconomia.

    Vilas Boas (2006, p. 11) corrobora essa avaliao e defende que , em decorrn-

    cia do fenmeno da hiperinflao vivenciada at 1994, a cobertura dos fatores econ-

    micos passa a ser produzida com o formato de jornalismo de servio: com informaes

    prticas sobre aplicaes, prestaes de casa prpria, impostos e taxas escolares, custo

    de vida, defesa do consumidor e outros assuntos do interesse de indivduos de classe

    mdia desorientados com a deteriorao diria de seus ganhos. Para o autor, esse tipo

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    de jornalismo est radicalizado no Brasil, assim como matrias que no levam em conta

    a conexo entre a poltica e a economia.

    Entre as dcadas de 50 e 60, do sculo XX, o noticirio econmico no tinha

    grande destaque na televiso, ficando disperso em meio s outras notcias do cotidiano.

    Somente em 1970, com o sucesso de Joelmir Beting nos impressos (jornais e revistas),

    ele passa a apresentar sua coluna de economia em programas jornalsticos de televiso,

    na Tv Gazeta de So Paulo. Oprograma A Multiplicao do Dinheiro considerado a

    primeira experincia de jornalismo econmico na televiso. O programa era semanal,

    tinha a durao de 2 horas e trazia notcias, entrevistas e debates, com nfase no merca-

    do financeiro (Tramontina, 1996; Caldas, 2005; Resende, 2005).

    1.2 - Os desafios da notcia econmica

    Sem dvida, um dos desafios do jornalista especializado em economia diz respeito

    ao uso da linguagem. Muitas vezes, as informaes provenientes das fontes trazem jar-

    ges e termos prprios da rea econmica que no fazem parte do cotidiano da maioriadas pessoas comuns. Por sua vez, o jornalista deve decifrar essa linguagem e adapt -

    la ao vocabulrio do pblico (leitor/telespectador) que no homogneo.

    No jornalismo dedicado economia, um dos principais problemas de lingua-gem est no fato de ele se dirigir a pelo menos dois pblicos bem diferencia-dos, que se comunicam por cdigos prprios: de um lado, especialistas, gran-des empresrios e profissionais de mercado: de outro, o grande pblico e ospequenos empresrios. [...]O desafio do jornalista est em reportar e analisar,transmitir opinies de economistas e governo, sem usar linguagem que aspessoas comuns no entendam, e sem violar os conceitos criados pela lingua-gem dos economistas. (KUCINSKI, 1996, p.168).

    Quinto (1987, p. 104) assinala que a linguagem jornalstica de Economia envolve a

    introduo de explicaes, de grias, neologismos e siglas. Essa caracterstica aliada ao

    uso de grficos e tabelas para ilustrar as informaes tornariam o texto do jornalismo

    econmico menos atrativo e tcnico:

    Enfim, a linguagem tcnica elitiza a informao prestada pelo Jornalista deEconomia que, apesar disso, insiste em us-la. Ser comum encontrar nas p-ginas dos jornais, das revistas ou nos boletins (newsletters) notcias cujos tex-tos tornam possvel ao leitor comum entender a informao. Como a lingua-

    gem utilizada pelo Jornalismo Econmico hbrida - um pouco de jargesdas operaes de mercado e um pouco de categorias da cincia econmica -

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    alguns textos representativos das operaes de mercado no so devidamente

    compreendidos nem mesmo pelos economistas [...]

    A respeito das dificuldades enfrentadas no mbito profissional pelo jornalismo

    especializado em economia Biondi (197?, p. 16) alerta sobre os salrios baixos, o exces-

    so de trabalho e a falta de tempo para apurar a notcia:

    Isso levou a duas distores que considero a praga do jornalismo: o prime i-ro, o release, e em segundo a fonte que torna o reprter depende dela, j queele no tem tempo de estudar. A surgem as expresses em voga: o Governo

    vai adotar medidas para agilizar o mercado, novos patamares, em suma,expresses que no dizem nada porque no interessa dizer nada.

    O autor considera ainda que um dos males do jornalista econmico foi identifi-

    car-se demasiado com os porta-vozes, ser recebido e desfrutar do privilgio de obter

    para si as informaes, o que leva os profissionais a se esquecerem de que esto escre-

    vendo para o pblico e muitas vezes fazerem o uso do economs, o que para Biondi

    (197?, p. 20) seria um problema no deliberado de elitismo.

    Caldas (2005, p. 65) evidencia que h uma grande oferta de pautas que chegam

    todos os dias aos e-mails dos jornalistas especializados em economia, na forma de rele-

    ases fornecidos por empresas de divulgao e assessorias de imprensa, o que exige mui-

    to trabalho de filtragem e apurao das informaes a serem divulgadas.A autora tam-

    bm defende que o jornalista deve possuir um acervo pessoal de informaes a que pos-

    sa recorrer para analisar uma notcia e indicar tendncias. Tramontina (1996) ao relatar

    o cotidiano de Joelmir Beting cita uma situao semelhante:

    [...] (mesa) ocupada quase que totalmente por vrias pilhas com centenas derecortes de jornais e revistas, documentos e artigos. Aquele o material re-cente usado como fonte de pesquisa. [...] lidos trs ou quatro jornais, dezenasde fax e boletins, analisados documentos, estudos especiais sobre empresas esetores variados da economia, ele est quase pronto. Se ainda restou algumadvida ou precisa de um esclarecimento qualquer, ele mesmo liga para suafonte. (TRAMONTINA, 1996, p.89).

    Segundo Francisco (2006, p. 118) existem alguns entraves na produo da not-

    cia da rea econmica que devem ser considerados como obstculos para a obteno do

    conhecimento e entendimento da informao por parte do leitor. O primeiro deles seria

    a falta de tempo para apurar melhor a notcia e para construir o texto. Segundo a pesqui-

    sadora, o jornalista vive o paradoxo: escrever logo e publicar para no correr o risco dese furado, ou escrever e apurar melhor a matria (...) correndo o risco de ter seu trabalho

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    perdido. O segundo aspecto refere-se ao fato do jornalista utilizar muitas fontes ofici-

    ais, o que na viso da autora, so as assessorias de imprensa e diretores das grandes

    federaes e associaes, alm de economistas, que tentam a seu modo explicar o que

    acontece no mercado econmico, transmitindo a viso de suas entidades.

    O terceiro entrave para a compreenso da informao por parte do leitor seria a

    linguagem inadequada, repleta de jarges e dados, utilizada na construo da notcia.

    Diz ela: so dados, tabelas, nmeros e percentuais na maioria das vezes no traduzidos

    ou explicados ao leitor ou espectador e, quando so feitos, por meio de siglas ou ter-

    mos que fazem parte do jargo econmico, mas distantes do vocabulrio ou do conhe-

    cimento de mundo de grande parte do pblico (FRANCISCO, 2006, p.118).

    2. Primeiras leituras: as colunas de Economia nos telejornaisA pesquisa Vertentes do Jornalismo Econmico no telejornalismo brasileiro

    pretende perceber a configurao atual do jornalismo econmico no telejornalismo bra-

    sileiro, atravs da anlise das notcias e da participao dos comentaristas especializa-

    dos na rea. Este artigo apresenta uma parte das primeiras leituras sobre o tema, enfati-

    zando o estudo sobre as colunas de Economia nos Telejornais Bom Dia Brasil (Rede

    Globo de Televiso) e Jornal da Noite (Rede Bandeirantes de Televiso).

    A escolha dos telejornais se deve presena dos comentaristas econmicos nas

    edies regulares dos programas, Mriam Leito no Bom Dia Brasil e Joelmir Beting

    no Jornal da Noite. A pesquisa descritiva e a tcnica de Anlise de Contedo deu

    suporte para as anlises dos telejornais (BARDIN,1977; SILVA, 2009).

    O telejornal Bom Dia Brasil veiculado pela Rede Globo de Televiso, no ca-nal aberto, e retransmitido pelas afiliadas em rede nacional no horrio das 7h00 da ma-

    nh. Uma caracterstica do programa o tom informal da linguagem utilizada nas not-

    cias e a presena dos apresentadores Renato Machado e Renata Vasconcellos, que divi-

    dem a bancada do telejornal e o cenrio de sala de visitas em que costumam dialogar

    com eventuais convidados ou com os comentaristas especializados em esporte e econo-

    mia.

    A jornalista Mriam Leito a comentarista de Economia que participa quaseque diariamente do telejornal. Seu trabalho trazer para o telespectador comum, ainda

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    no incio do dia, os desdobramentos das notcias econmicas do dia anterior ou a agenda

    das decises que influenciaro o dia-a-dia do cidado ao longo do dia ou da semana.

    Uma caracterstica interessante dos comentrios de Mriam a situao de di-

    logo que criada com os apresentadores do telejornal no momento da apresentao de

    suas apreciaes sobre a economia. A estrutura freqente dos comentrios o Telejornal

    Bom Dia Brasil a apresentao da cabea da notecia, gralmente em forma de um a

    pergunta para a jornalista, seguida pelo comentrio de Mriam, em linguagem coloquial

    e sem o apoio do teleprompter. Toda apresentao do comentrio feita ao vivo. co-

    mum que o assunto debatido pela comentarista tenha sido precedido por reportagem que

    introduz a discusso do tema.

    Durante os comentrios de Mriam Leito, a jornalista se dirige inicialmente aos

    apresentadores respondendo ao comentrio ou questionamento que lhe foi impetrado

    por um deles. No momento seguinte, ainda no momento de sua explanao, a jornalista

    intercala o seu olhar, ora dirigindo-se aos colegas apresentadores, ora dirigindo-se para

    a uma cmera (que simula o olhar para o telespectador). Os enquadramentos utilizados

    nas cenas intercalam-se entre plano de conjunto, nos momentos de dilogo com os apre-sentadores e planos mais fechados (mdio ou prximo), dirigindo-se para a cmera.

    Na apresentao dos comentrios de Mriam Leito so freqentes interpelaes

    ou questionamentos feitos pelos apresentadores durante sua exposio. A jornalista em

    muitos momentos interrompida, h sobreposio de vozes e gaguejos, situaes co-

    muns num dilogo normal. A jornalista faz uso de recursos expressivos como gestos

    com as mos e meneios de cabea para enfatizar seus argumentos.

    O comentrio de Joelmir Beting apresentado durante o telejornal Jornal daNoite, apresentado por Boris Casoy, pela Rede Bandeirantes de Televiso. Boris Casoy

    apresenta o telejornal sozinho na bancada, intercalando seu olhar para cmeras diferen-

    tes na troca de assuntos/notcias.

    A estrutura de apresentao do comentrio fixa. O apresentador Boris Casoy

    fala o ttulo/assunto da notcia e em seguida chama o comentarista Joelmir Beting. Na

    sequncia, o telespectador v entre em quadro o jornalista Joelmir Beting, em plano

    mdio,sentado, a bancada tendo ao fundo um cenrio que remete idia de uma reda-

    o de jornalismo. Tanto o cenrio quanto o enquadramento so fixos. Uma caractersti-

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    ca importante da participao de Beting que o quadro gravado. Um telespectador

    atento pode perceber isso, pelo fato de que um selo escrito Ao vivo retirado da tela

    durante a exposio do comentarista.

    No comentrio de Joelmir Beting o olhar do jornalista dirigido diretamente pa-

    ra a cmera, como se estivesse fitando e conversando com o telespectador. Seu timbre

    de voz forte e compassado. Por vezes, possvel perceber inflexes de ironia em sua

    voz.

    2.1 - Anlise do Comentrio de Mriam Leito - Telejornal Bom Dia Brasil

    Data: 20/07/2010

    O tema do comentrio de Mriam Leito foi a reunio do Banco Central para

    definio da taxa de juros.

    Cabea: Apresentador Renato Machado:

    VAMOS FALAR DE BANCOS, VAMOS FALAR COM A MRIAM LEITO, SOBREBANCOS E SOBRE O BANCO CENTRAL QUE SE REUNE HOJE PRA DEFINIR ATAXA DE JUROS, MIRIAM LEITO, E A? A TAXA SOBE, FICA ONDE EST, O

    QUE QUE VAI ACONTECER?

    Na fala de Machado, o Banco Central a fonte da informao que Mriam iria

    comentar. Mriam continua:

    A BOA NOTICIA QUE NAS LTIMAS HORAS OS BANCOS, AS CONSULTO-RIAS, TEM FEITO UMA REVISO DAS PREVISES. ELES ESTAVAM A-CHANDO QUE IA SUBIR 0,75 PONTOS PERCENTUAL E AGORA VRIOS ES-TO ACHANDO QUE PODE SUBIR MEIO PONTO. MESMO ASSIM OS JUROSSO ALTSSIMOS .

    Mais adiante, o tom otimista do comentrio tambm mantido:

    A QUE EST A BOA NOTCIA, A BOA NOTCIA QUE PRIMEIRO AS PRE-VISES DE INFLAO ESTO CAINDO, A PRPRIA INFLAO EST CE-DENDO E AQUELE MEDO DE QUE O PAS ESTIVESSE CRESCENDO ALM DACONTA NO COMEO DO ANO EST COMEANDO A CEDER.

    Pelo comentrio de Mriam Leito, o telespectador tem uma idia positiva sobre o

    anncio da taxa de juros pelo Banco Central. Apesar da ressalva de que os juros so

    altssimos, Mriam salienta que a inflao est cedendo e que o medo da inflaotambm comea a ceder. A jornalista cita como exemplo a compra de um aparelho de

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    televiso para assistir aos jogos da Copa para ilustrar um situao de consumo que con-

    tribuiu para a queda da previso da taxa de juros.

    No decorrer do comentrio, o apresentador Renato Machado fala de uma conversa

    que teria tido com um amigo economista alertando de que o Brasil pode ser afetado por

    uma crise externa. Mriam concorda com esta posio e afirma que o Brasil no poupa

    e investe pouco e por isso pode ficar vulnervel a crises externas. Percebe -se durante o

    comentrio de Mriam, uma preocupao de emprestar um tom de conversa anlise,

    trazendo exemplos (como a compra do aparelho de TV) que pudessem ser entendidos

    pelo telespectador comum.

    2.2 - Anlise do comentrio de Joelmir Beting - Jornal da NoiteData: 22/07/2010

    O tema do comentrio de Joelmir foi o anncio do aumento da taxa de juros.

    Bris anuncia:

    A PARTIR DE AMANH, O PAS TEM UMA NOVA TAXA BSICA DE JUROS.

    O COPOM DECIDIU ESTA NOITE AUMENTAR A SELIC EM MEIO PONTOPERCENTUAL. JOELMIR BETiNG COMENTA.

    J no incio de sua explanao, Joelmir d o tom de sua avaliao, fala de uma e-

    levao da taxa de juros num tom alarmista, que atenuado pela afirmao de que j

    era esperado pelo mercado.

    CONFIRMADO. O BANCO CENTRAL DECRETOU NOVA ELEVAO NATAXA BSICA DE JUROS, A SELIC COMO J ERA ESPERADO POR DOIS

    TEROS DOS ANALISTAS E TAMBM DOS RENTISTAS, A TAXA SOIBENESTA QUINTA-FEIRA MEIO PONTO PERCENTUAL , DE DEZ E VINTE ECINCO PARA DEZ E SETENTA E CINCO POR CENTO AO ANO.

    E mais adiante faz uma avaliao crtica, afirmando que outros segmentos da so-

    ciedade tambm esto insatisfeitos com o aumento da taxa de juros. De certa forma,

    introduz a idia de que o vice-presidente no concordaria com a conduta adota pela e-

    quipe econmica do governo.

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    ESSE NOVO AUMENTO CRITICADO POR EMPRESARIOS, TRABALHADO-

    RES, CONSUMIDORES, A INFLAO EST EM DESACELERAO, A ECO-NOMIA EM ACOMODAO, ENTO JUROS NO ALTO E EM ALTA, VALEMPOR UMA OVERDOSE DE ARROJO MONETRIO NA CATEGORIA DO MALDESNECESSRIO COMO REPETE A TODO HORA O VICE PRESIDENTE JOSALENCAR.

    No fechamento do comentrio, Beting faz uma crtica velada ao governo, num

    tom de voz que se assemelha ao sarcamo:

    PARA AZAR DO PRPRIO GOVERNO, SENTADO NUMA DVIDA PBLICA DA

    ORDEM DE UM TRILHO E MEIO DE REAIS, UM CASO NICO (RISADASARCASTICA): O DEVEDOR ELEVA O JUROS DA PRPRIA DVIDA PARA A-LEGRIA DE SEUS CREDORES.

    A idia que trazida pelo texto sentado numa dvida pblica de um governo

    inoperante e estagnado, que nada faz para mudar a situao. O riso sarcstico dissimu-

    lado, mas presente, refora uma situao de que o governo no teria competncia para

    administrar o pas: um caso nico: o devedor eleva o juros da prpria dvida.

    Concluses preliminares

    notria a diferena de abordagem sobre o tema do anncio do aumento da taxa

    de juros entre os dois comentaristas. Na viso de Mriam Leito, houve uma melhora na

    situao vivida no pas, o que fez com que o juros s aumentasse somente zero ponto

    cinco pontos percentuais, abaixo do previsto anteriormente. J na avaliao de Joelmir

    o aumento reflete a inoperncia do governo e afirma categoricamente que setores dasociedade (empresrios, trabalhadores e consumidores) fizeram crticas contra o au-

    mento.

    ntida tambm a postura crtica de Joelmir Beting em relao equipe do go-

    verno federal responsvel pela poltica econmica do pas. Em seu texto, Beting eviden-

    cia o despreparo e a situao nica de um devedor que aumenta os juros da prpria

    dvida.

    No est evidente em nenhum dos comentrios quais foram as fontes utilizadaspara a apurao das informaes. Na fala de Renato, ele cita um amigo economista,

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    SBPJor Associao Brasileira de Pesquisadores em JornalismoVIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

    (Universidade Federal do Maranho, So Lus), novembro de 2010

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    Mriam fala do Banco Central, Joelmir menciona empresrios, trabalhadores e con-

    sumidores, porm ningum nomeia as pessoas envolvidas. H uma falta de preciso na

    identificao dos atores que circulam no processo. Na cabea, enquanto Renato Macha-

    do cita o Banco Central, Bris fala do Copom e da taxa SELIC. Em nenhum momento,

    contextualizada a informao sobre a relao dos rgos citados com a informao

    fornecida.

    De toda forma, o telespectador que por ventura tenha assistido ao Telejornal

    Bom Dia Brasil no dia 20/07/2010 e ao telejornal Jornal da Noite, em 22/07/2010,

    teria dvidas em relao interpretao da taxa de juros em seu cotidiano. O carter

    informativo que caracterizaria a presena de um comentrio econmico inserido no tele-

    jornal no cumpriria o seu papel fundamental.

    Os dados coletados ainda no so suficientes para uma anlise conjuntural da

    presena do jornalismo econmico no telejornalismo, nem das linhas editoriais adotadas

    pelos programas ou pelos comentaristas. A pesquisa encontra-se em fase inicial, porm

    as primeiras leituras efetuadas j denunciam que o tema proposto pode revelar muito

    sobre a cobertura jornalstica da rea econmica no telejornalismo brasileiro e possi-velmente as construes de sentido que podem ser apresentadas pelo texto jornalstico.

    Referncias

    BARDIN, Laurence. Anlise de Contedo. Lisboa: Edies 70, 1977.

    BIONDI, Aloysio. A linguagem na reportagem econmica. I Seminrio de Tcnica de Jorna-lismo. Rio de Janeiro: ABI, 197?. Pgs. 15-20.

    CALDAS, Suely. Jornalismo econmico. So Paulo: Contexto, 2003.

    CALAIS, Alexandre. Empresas & Negcios. In: VILAS BOAS, Sergio. Formao & Infor-mao econmica: jornalismo para iniciados e leigos. So Paulo: Summus Editorial, 2006.

    DINES, Alberto. O papel do jornal: uma releitura. So Paulo: Summus Editorial, 1986.

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    KUCINSKI, Bernardo. Jornalismo econmico. So Paulo: Editora da Universidade de So

    Paulo, 1996.

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    (Universidade Federal do Maranho, So Lus), novembro de 2010

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    _________. Jornalismo na era virtual: ensaios sobre o colapso da razo tica. So Paulo: Edi-

    tora Fundao Perseu Abramo: Editora UNESP, 2005.

    RESENDE, Jos Venncio. Construtores do Jornalismo Econmico: da cotao do boi aocongelamento de preos.So Paulo: cone 2005.

    SILVA, Edna de Mello. Propostas Metodolgicas para a Anlise de Telejornais. XXXII Con-gresso Brasileiro de Cincias da Comunicao .Curitiba, 2009. CD ROM.

    TRAMONTINA, Carlos. Entrevista: a arte e as histrias dos maiores entrevistadores da televi-so brasileira. So Paulo: Globo, 1996.

    VILAS BOAS, Srgio (org.). Formao & Informao econmica: jornalismo para iniciados

    e leigos. So Paulo: Summus Editorial, 2006.