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VI – REGIÃO METROPOLITANA DE SALVADOR VI.1 - CARACTERIZAÇÃO GERAL Institucionalização e Configuração da Área Metropolitana Salvador é uma referência urbana importante no Brasil, não só pela sua dimensão populacional, atualmente em torno de 2,5 milhões de habitantes, o que lhe confere o terceiro lugar entre os municípios-capitais, mas, sobretudo, pelos seus 450 anos de história. Fundada no início do período colonial, com funções político-administrativas e mercantis, ela sediou o governo geral do Brasil até 1763. Mas com a transferência da capital do país para o Rio de Janeiro, o declínio da base agro-exportadora local e, posteriormente, a constituição de um mercado unificado nacionalmente e a concentração industrial no Centro-Sul, a cidade foi afetada negativamente, experimentando um longo período de estagnação econômica e populacional. Essa estagnação só começou a ser superada nos anos de 1950, com a descoberta e exploração de petróleo no Recôncavo baiano, responsável, por algumas décadas, pela maior parte da produção nacional. Com um volume de investimentos sem paralelo na história da economia do estado, a Petrobrás elevou o emprego industrial, a massa de salários e o montante de renda, estimulando o surgimento de algumas indústrias complementares à empresa, a construção civil, o comércio e os serviços e desencadeando um processo de significativo crescimento populacional, econômico e urbano em Salvador e nas franjas da cidade. Em fins da década de 60, essa área também passou a receber alguns investimentos industriais incentivados pela SUDENE. Dos anos 70 para os 80, os esforços desenvolvimentistas do governo federal para complementar a matriz industrial brasileira – com a produção de insumos básicos e bens intermediários – aproveitaram vantagens locacionais existentes para a implementação do Pólo Petroquímico de Camaçari, que se converteu no foco dinâmico da economia regional, comandando a expansão e a diversificação da sua estrutura produtiva, e do Complexo do Cobre. Esses e outros investimentos tiveram um impacto extraordinário sobre a velha capital baiana, ampliando, inclusive, suas articulações espaciais com os municípios vizinhos de Simões Filho, Candeias e Camaçari, que sediam as novas indústrias, e dando início à formação da Região Metropolitana de Salvador (RMS). Composta por 10 municípios bem distintos em termos de área, população e condições socioeconômicas, mas com uma integração e uma complementaridade que se superpõem à sua diferenciação, a RMS tornou-se responsável por mais de 80% da indústria de transformação e mais da metade da produção e da riqueza estadual. Salvador, onde o Censo de 2000 encontrou 80,9% da população da região, constitui a principal praça comercial e financeira baiana, concentrando 79,5% dos depósitos bancários estaduais, sedes de empresas, a burocracia estatal, atividades portuárias e serviços especializados. Além disso, sua beleza natural e patrimônio histórico cultural têm levado a um intenso crescimento do turismo. Camaçari, que

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VI – REGIÃO METROPOLITANA DE SALVADOR VI.1 - CARACTERIZAÇÃO GERAL Institucionalização e Configuração da Área Metropolitana Salvador é uma referência urbana importante no Brasil, não só pela sua dimensão populacional, atualmente em torno de 2,5 milhões de habitantes, o que lhe confere o terceiro lugar entre os municípios-capitais, mas, sobretudo, pelos seus 450 anos de história. Fundada no início do período colonial, com funções político-administrativas e mercantis, ela sediou o governo geral do Brasil até 1763. Mas com a transferência da capital do país para o Rio de Janeiro, o declínio da base agro-exportadora local e, posteriormente, a constituição de um mercado unificado nacionalmente e a concentração industrial no Centro-Sul, a cidade foi afetada negativamente, experimentando um longo período de estagnação econômica e populacional. Essa estagnação só começou a ser superada nos anos de 1950, com a descoberta e exploração de petróleo no Recôncavo baiano, responsável, por algumas décadas, pela maior parte da produção nacional. Com um volume de investimentos sem paralelo na história da economia do estado, a Petrobrás elevou o emprego industrial, a massa de salários e o montante de renda, estimulando o surgimento de algumas indústrias complementares à empresa, a construção civil, o comércio e os serviços e desencadeando um processo de significativo crescimento populacional, econômico e urbano em Salvador e nas franjas da cidade. Em fins da década de 60, essa área também passou a receber alguns investimentos industriais incentivados pela SUDENE. Dos anos 70 para os 80, os esforços desenvolvimentistas do governo federal para complementar a matriz industrial brasileira – com a produção de insumos básicos e bens intermediários – aproveitaram vantagens locacionais existentes para a implementação do Pólo Petroquímico de Camaçari, que se converteu no foco dinâmico da economia regional, comandando a expansão e a diversificação da sua estrutura produtiva, e do Complexo do Cobre. Esses e outros investimentos tiveram um impacto extraordinário sobre a velha capital baiana, ampliando, inclusive, suas articulações espaciais com os municípios vizinhos de Simões Filho, Candeias e Camaçari, que sediam as novas indústrias, e dando início à formação da Região Metropolitana de Salvador (RMS). Composta por 10 municípios bem distintos em termos de área, população e condições socioeconômicas, mas com uma integração e uma complementaridade que se superpõem à sua diferenciação, a RMS tornou-se responsável por mais de 80% da indústria de transformação e mais da metade da produção e da riqueza estadual. Salvador, onde o Censo de 2000 encontrou 80,9% da população da região, constitui a principal praça comercial e financeira baiana, concentrando 79,5% dos depósitos bancários estaduais, sedes de empresas, a burocracia estatal, atividades portuárias e serviços especializados. Além disso, sua beleza natural e patrimônio histórico cultural têm levado a um intenso crescimento do turismo. Camaçari, que

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tem a segunda concentração demográfica, tornou-se um centro industrial importante com a implantação do Pólo Petroquímico e de várias empresas, como a Ford e a Monsanto, instaladas mais recentemente. Além disso, na sua Orla Marítima, encontram-se loteamentos e empreendimentos de lazer e turismo para as classes altas e médias. Candeias, dinamizada a partir da exploração do petróleo, sedia algumas indústrias, assim como Simões Filho, onde uma numerosa população de baixa renda vem buscando menores custos de moradia. Madre de Deus, com uma área de apenas 11 km, sedia um terminal marítimo da Petrobrás, além de ser uma área de veraneio, pesca e mariscagem. Com uma população e uma densidade demográfica reduzidas, Vera Cruz e Itaparica vivem da pesca, mariscagem e turismo. Em São Francisco do Conde, outro pequeno município, está localizada a Refinaria Landulfo Alves, a única do Nordeste. Dias D’Ávila, antiga estância hidromineral, perdeu essa função em conseqüência dos efeitos ambientais adversos do Pólo, transformando-se em uma cidade dormitório. Finalmente, Lauro de Freitas tem registrado um intenso crescimento populacional e econômico nas últimas décadas, ao concentrar algumas atividades de transformação, um comércio e serviços dinâmicos e condomínios de alta renda (onde reside parte dos empregados de melhor remuneração do pólo industrial de Camaçari), conurbando-se com Salvador. Como também ocorreu em São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre, a RMS foi constituída bem antes da sua institucionalização pela Lei Federal Complementar nº. 14, de 8 de junho de 1973, a qual abrangeu outras nove capitais brasileiras, concebidas como áreas estratégicas de controle político e desenvolvimento econômico. Inicialmente a RMS era composta pelos municípios de Camaçari, Candeias, Itaparica, Lauro de Freitas, Salvador, São Francisco do Conde, Simões Filho e Vera Cruz. Posteriormente foram incorporados mais dois municípios: Dias D’Ávila desmembrado, de Camaçari em 1985, e Madre de Deus, desmembrado de Salvador em 1989.

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Vetores de Crescimento e Dinâmica da Economia Como se sabe, o sistema urbano brasileiro é polarizado por duas metrópoles globais, que são ainda os portões de entrada (gateway cities) do país: São Paulo e Rio de Janeiro. No degrau abaixo da hierarquia urbana nacional, estão oito metrópoles regionais: na região Sul, Porto Alegre e Curitiba; no Sudeste, Belo Horizonte; no Centro-Oeste, Brasília; no Norte, Belém; finalmente, no Nordeste, Fortaleza, Recife e Salvador. As metrópoles regionais brasileiras são megacidades segundo os padrões internacionais. As populações de suas regiões metropolitanas variavam, em 2000, de 1,8 milhões de habitantes, em Belém, a 4,8 milhões em Belo Horizonte. Apesar da queda nas taxas de crescimento demográfico no Rio de Janeiro e em São Paulo, a fração da população brasileira que habita as oito maiores metrópoles regionais continua a crescer; ela passou de 12% em 1980, para 13% em 1991 e 14,4% em 2000. Nesse conjunto, cinco regiões metropolitanas destacam-se pelo crescimento populacional e Salvador não está entre elas: Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Belém e Brasília (Ver taxas de crescimento da população da RMS em 2000, na tabela VI.1). Tabela VI.1 Área, População e Taxa de Crescimento Região Metropolitana de Salvador – 2000 Municípios Área Domicílios População % RMS Taxa

Crescimento Camaçari 759,83 41.206 161.727 5,3 4,0 Candeias 264,47 18.778 76.783 2,5 1,3 Dias d’Ávila 207,47 11.286 45.333 1,5 4,2 Itaparica 47,28 4.848 18.945 0,6 2,5 Lauro de Freitas

59,80 29.163 113.543 3,8 5,6

Madre de Deus

11,14 2.925 12.036 0,4 3,0

Salvador 324,53 651.293 2.443.107 80,9 1,8 S. F. do Conde

219,29 6.185 26.282 0,9 2,9

Simões Filho 192,28 23.121 94.066 3,1 2,9 Vera Cruz 253,50 7.650 29.750 1,0 3,3 Total RMS 2.339,59 796.456 3.021.572 100,0 2,1 Fonte: IBGE. Censo 2000. Conforme projeções do IBGE, Salvador atingiu o total de 2,6 milhões de habitantes em 2004, devendo alcançar 2,8 milhões por volta de 2010 e cerca de 3,1 milhões em 2020. Os números para sua região metropolitana (RMS) são, respectivamente, 3,1, 3,6 e 4 milhões. O crescimento demográfico na RMS nos anos 1990, que apresentou um ritmo inferior aos das cinco principais regiões metropolitanas do Brasil,

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parece estar associado ao limitado dinamismo da sua economia. Um exame da expansão do PIB metropolitano de Salvador sustenta essa hipótese. Conforme dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a RMS era a sétima região metropolitana do país e a primeira do Nordeste em termos de criação de valor. Em 1996, a RMS teria contribuído com 2,32% do PIB brasileiro (1,64% em 1970); Salvador, com 1,89% (1,34% em 1970). No mesmo ano, a RMS teria respondido por quase 53% do PIB baiano e Salvador por 43%, ou seja, 81,4% deste PIB metropolitano foram gerados na capital. Os últimos dados do PIB municipal, produzidos pelo IPEA com base em registros censitários e informações administrativas (por exemplo, valor adicionado, movimento de transporte aéreo), são relativos a 1996. É possível que a metodologia utilizada pelo IBGE leve a uma subestimação do peso dos serviços em Salvador, valorizando o produto industrial e extrativo mineral concentrado em alguns municípios da Região Metropolitana, sobretudo em Camaçari (sede do Pólo Petroquímico), Simões Filho (onde fica o Centro Industrial de Aratu), São Francisco do Conde e Candeias. Talvez, pela mesma razão, o IBGE estime uma participação maior da RMS no PIB baiano. A avaliação do IPEA para 1996, baseada em um maior número de variáveis, parece mais próxima da realidade, na medida em que dá maior peso às atividades “terciárias” produzidas na capital. De acordo com o IPEA, o PIB de Salvador e região metropolitana cresceu a taxas superiores às verificadas nas duas principais metrópoles do país, São Paulo e Rio de Janeiro, de 1970 a 1990. Na última década, continuou à frente do Rio de Janeiro. Entre 1970 e 1985, do ponto de vista da expansão do produto, Salvador esteve entre as metrópoles mais ativas do país, ao lado de Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre, Curitiba, Fortaleza e Belém. No entanto, o PIB de Salvador e região metropolitana cresceu mais lentamente do que os das quatro metrópoles de maior dinamismo do país, no período mais recente para o qual existem dados – 1985-1996. Nesse intervalo, as metrópoles que se destacam são Curitiba, Belo Horizonte, Brasília e Fortaleza. Os ritmos de crescimento da população e do PIB de Salvador têm assegurado o aumento da distância que separa essa metrópole das capitais de menor porte no Nordeste brasileiro (com exceção da dinâmica cidade de Fortaleza) e, sobretudo, dos centros urbanos de menor tamanho na Bahia. Deve-se notar, contudo, que Salvador concorre, na rede urbana nacional, direta e indiretamente, com as quatro metrópoles regionais que têm apresentado maior dinamismo populacional e econômico. Essas metrópoles são capazes de disputar com a capital baiana não só a atração de empresas da nova onda footloose de empreendimentos industriais, mas também os investimentos em serviços e a localização de centros de decisão de organizações estatais, privadas e do terceiro setor1.

1 O termo “footloose” (livre para ir aonde se quer) tem servido para caracterizar a indústria que atualmente se desloca em

busca de menores custos salariais e incentivos fiscais. Essa indústria tem maior liberdade de localização graças ao avanço da terceirização e subcontratação de serviços, à redução do valor imobilizado em capital fixo e ao uso de mão-de-obra

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Como será detalhado posteriormente, a participação das populações de Salvador e da RMS na população da Bahia continuou aumentando na década de 1990. A capital concentrava 17,5% da população estadual em 1991 e 18,7% em 2000; sua região metropolitana abrigava, respectivamente, 21% e 23,1%. A concentração do PIB é muito maior. Dados da Secretaria Estadual da Fazenda para a arrecadação de tributos e taxas estaduais confirmam essa polarização econômica: a RMS respondeu por 75,31% da arrecadação do Estado da Bahia em 2001; Salvador, por 35,59%. Finalmente, vale assinalar que as novas tendências de desenvolvimento da RMS tendem a acentuar essa concentração. Em busca de novas alternativas econômicas para o estado e para a região metropolitana, tanto o governo estadual quanto os municípios têm apostado na concessão de incentivos fiscais para a atração de novas indústrias e no incremento do turismo. Com essa perspectiva, é possível diferenciar dois determinantes preferenciais de intervenção, sendo um ligado à dinamização e à expansão do pólo industrial, com a instalação do complexo automobilístico da Ford Nordeste, e o outro direcionado para o centro histórico e o litoral norte, com a ampliação e a diversificação de ações relacionadas ao turismo, através de projetos de requalificação urbana na área formal da cidade e da construção de grandes complexos hoteleiros. As instalações do Complexo Ford foram implantadas em 2001, compreendendo, além da montadora, um conjunto de 33 empresas sistemistas e um terminal portuário exclusivo, construído na Baía de Aratu, para o escoamento da produção no país e para consumidores das Américas do Sul e do Norte. Nele também serão concentradas as atividades de importação de veículos. Com uma produção de cerca de 100 mil veículos por ano e capacidade plena de 250 mil, esse complexo industrial atualmente oferece 7.500 empregos diretos. Faltam elementos para avaliar o seu impacto sobre a RMS, inclusive em termos espaciais, mas pode-se supor que ele será significativo. O segundo determinante de expansão metropolitana, que se delineia com o turismo, revela-se através das diferentes ações empreendidas a partir dos anos noventa, que capturam e transformam o próprio espaço urbano em mercadoria, com a exploração de áreas públicas, a privatização de praias e dos serviços urbanos, a instalação de pedágios nos principais acessos à cidade formal valorizada, destacando-se como principais intervenções: a) requalificação de certas áreas da cidade antiga, como o Pelourinho e adjacências, expulsando a população pobre e transformando-se em um grande shopping aberto, com bares, restaurantes, atividades culturais, etc.; b) intervenções pontuais de embelezamento e melhoria em áreas públicas da cidade formal, como praças e jardins, ou parques da orla; c) redimensionamento dos projetos e investimento em habitação social, sobretudo nas áreas degradadas inseridas na cidade formal e

pouco qualificada, num contexto de queda dos custos de transporte e telecomunicação. É o caso típico da indústria calçadista, que abandona o Rio Grande do Sul e São Paulo para se reinstalar na Bahia e no Ceará.

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próximas às áreas de atração turística, privilegiando-se a estética em detrimento do conforto habitacional; d) instalação de empreendimentos hoteleiros de grande porte no litoral norte, extrapolando os próprios limites da RMS, a exemplo do Resort Praia do Forte, Complexo Sauípe e outros investimentos privados, seguindo-se à privatização da Linha Verde, principal acesso para essa região litorânea; e) a discussão da requalificação da área do antigo Comércio, crescentemente esvaziado, com indicações de investimentos turísticos de lazer e habitação para as classes médias. Esses investimentos públicos e privados, no seu conjunto, apontam para a intensificação da segmentação socioespacial que se configurou na cidade industrial moderna, trazendo novos conteúdos na reestruturação espacial em curso, que já esboçam o redesenho da cidade-região e a diferenciação cada vez mais acentuada do uso e acesso ao espaço urbano entre os pobres e aqueles que podem consumir a cidade mercadoria. VI.2 – DIAGNÓSTICO SOCIOURBANO DA REGIÃO METROPOLITANA As análises que se seguem têm dois recortes espaciais básicos: fragmentam a RMS nos 10 municípios que a compõem ou tratam o espaço da Região Metropolitana em sua divisão por AED – Área de Expansão dos Dados da Amostra. VI.2.1 - Ocupação, renda e diferenciação socioespacial Nos anos mais recentes, a RMS vem sendo especialmente afetada pelos efeitos adversos da crise, do ajuste e da reestruturação produtiva da economia brasileira. Desde a década de noventa, ela vem registrando uma interrupção da tendência à estruturação do mercado de trabalho, uma redução expressiva dos postos (especialmente no setor industrial), um crescimento lento dos vínculos formalizados e uma expansão do assalariamento sem registro em carteira e do trabalho por conta própria em condições precárias. Em 2003, conforme os dados da PNAD, a participação dos empregados era de 52,6% na RMS, superior apenas às registradas nas regiões metropolitanas de Recife e de Belém; a parcela desses trabalhadores que possuía carteira assinada (estando cobertos pela legislação trabalhista e pela proteção social) não ia além de 67,8% e as condições de precarização e vulnerabilidade ocupacional da força de trabalho também se expressavam pelo percentual de trabalhadores por conta própria e de trabalhadores domésticos na região (24,8% e 10,5%, respectivamente). Naquele mesmo ano, os trabalhadores da RMS tinham padrões de remuneração ligeiramente superiores apenas aos das grandes metrópoles do Norte e Nordeste do país (Belém, Fortaleza e Recife), uma vez que 39,5% dos ocupados percebiam até um salário mínimo; 67,2% até dois salários, 19,7% entre dois a cinco e somente 9,3% mais de cinco salários, distanciando-se bastante das remunerações que prevaleciam nas metrópoles mais desenvolvidas do Centro-Sul e na região do Distrito Federal e entorno. Paralelamente, explicitando os estreitos limites de incorporação produtiva da economia de Salvador e da sua região metropolitana, muitas vezes

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encoberta pelo trabalho precário e mal remunerado, o desemprego tem chegado a 25,23% da PEA, o que confere à RMS uma posição na dianteira de um triste campeonato, que se estabelece nesse aspecto, entre as metrópoles brasileiras. Ademais, segundo informações do DIEESE, a duração média da procura de trabalho tem se elevado, chegando à cifra de 12 meses, e o percentual de desempregados em busca de trabalho há mais de um ano tem atingido cerca de 26,5% em Salvador. Embora não existam dados sobre os demais municípios, há evidências de que a desocupação é ainda mais acentuada em outros municípios, a exemplo de São Francisco do Conde, Dias D’Ávila, Itaparica e Vera Cruz, como sugere o Mapa VI.1, que mostra a distribuição espacial da população ocupada. Neste Mapa VI.1, percebe-se que os maiores percentuais de população ocupada se encontram na orla de Salvador e de Lauro de Freitas. Os maiores índices de desocupados, por sua vez, estão nas áreas do Miolo e do Subúrbio Ferroviário soteropolitanos, além das zonas de baixa densidade demográfica, como trechos de Camaçari, Simões Filho, Dias D’Ávila e São Francisco do Conde.

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Mapa VI.1 Taxa de Ocupação Total Região Metropolitana de Salvador – 2000

Tanto a evolução histórica como as transformações dos últimos anos contribuíram para a conformação de uma metrópole periférica e bastante desigual, com ilhas de afluência em um mar de pobreza. Analisando a estrutura social da RMS com a metodologia que vem sendo utilizada pelo Observatório das Metrópoles, encontra-se uma pequena elite de maior renda, composta pelos grandes empregadores locais, por dirigentes do setor público e privado e por profissionais autônomos ou empregados de nível superior; setores médios e pequenos empregadores com um peso mais reduzido que em outras metrópoles brasileiras; um contingente de trabalhadores em atividades terciárias expressivo; e um proletariado secundário, no qual a participação da indústria de transformação (moderna ou tradicional) é especialmente restrita (Tabela VI.2). Os ocupados na agropecuária são pouco numerosos e se concentram nos municípios menos desenvolvidos e integrados ao pólo metropolitano, como Itaparica, São Francisco do Conde e Vera Cruz. Mas a marca básica da RMS, como já foi visto, é a dimensão e o peso do subproletariado e do

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excedente de mão-de-obra, que se expressa pela freqüência de prestadores de serviços não especializados, trabalhadores domésticos, ambulantes e catadores, além do alto nível de desemprego. Tabela VI.2 Categorias Sócio-Ocupacionais Região Metropolitana de Salvador - 2000 Categorias Sócio-Ocupacionais N % Dirigentes Grandes empregadores 7.287 0,7 Dirigentes do setor público 2.751 0,2 Dirigentes do setor privado 3.346 0,3 Profissionais de Nível Superior Profissionais autônomos de nível superior 13.250 1,2 Profissionais empregados de nível superior 34.147 3,1 Profissionais estatutários de nível superior 7.217 0,6 Professores de nível superior 18.427 1,7 Pequenos empregadores Pequenos empregadores 27.133 2,4 Ocupações Médias Ocupações de escritório 114.441 10,3 Ocupações de supervisão 46.385 4,2 Ocupações técnicas 59.792 5,4 Ocupações médias de saúde e educação 54.474 4,9 Ocupações de segurança pública, justiça e correios

24.104 2,2

Ocupações artísticas e similares 12.165 1,1 Trabalhadores do Secundário Trabalhadores da indústria moderna 45.496 4,1 Trabalhadores da indústria tradicional 35.341 3,2 Trabalhadores da construção civil 89.061 8,0 Trabalhadores dos serviços auxiliares 46.415 4,2 Trabalhadores do Terciário Especializado Trabalhadores do comércio 111.232 10,0 Prestadores de serviços especializados 127.938 11,5 Trabalhadores do Terciário Não Especializado Prestadores de serviços não especializados 59.375 5,3 Trabalhadores domésticos 109.535 9,8 Trabalhadores ambulantes 47.092 4,2 Catadores 6.771 0,6 Trabalhadores Agrícolas Agricultores 12.783 1,1 Fonte: IBGE. Censo Demográfico, 2000. Dados da Amostra. A evolução e as características econômicas e sociais de Salvador e da sua região metropolitana vêm se refletindo não apenas na conformação do espaço, mas também na sua apropriação diferenciada pelas diversas categorias sociais. Para entender esse fenômeno, vale lembrar como a

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transformação de Salvador e a constituição da região metropolitana também envolveram mudanças radicais no tecido urbano. Essas mudanças, associadas à realização de investimentos complementares, pesados e seletivos, centrados na infra-estrutura e no projeto industrial, interferiram decisivamente na conformação de um novo padrão de produção do espaço urbano, com a configuração de três vetores bem diferenciados de expansão da cidade: a Orla Marítima Norte, o “Miolo” e o Subúrbio Ferroviário no litoral da Baía de Todos os Santos. O primeiro constitui a “área nobre” da cidade, local de moradia, serviços e lazer, onde se concentram a riqueza, os investimentos públicos, os equipamentos urbanos e os interesses da produção imobiliária. O segundo, localizado no centro geográfico do município, começou a ser ocupado pela implantação de conjuntos residenciais para a “classe média baixa” na fase áurea da produção imobiliária através do Sistema Financeiro de Habitação, tendo a sua expansão continuada por loteamentos populares e sucessivas invasões coletivas, com uma disponibilidade de equipamentos e serviços bastante restrita. Finalmente, o Subúrbio Ferroviário teve sua ocupação impulsionada inicialmente pela implantação da linha férrea, em 1860, constituindo, a partir da década de 1940, a localização de muitos loteamentos populares, que foram ocupados nas décadas seguintes sem o devido controle urbanístico, com suas áreas livres também invadidas. Transformou-se em uma das áreas mais carentes e problemáticas da cidade, concentrando uma população extremamente pobre e sendo marcada pela precariedade habitacional, pelas deficiências de infra-estrutura e serviços básicos e, mais recentemente, por altos índices de violência. Assim, a segregação socioespacial da pobreza se consolidou e intensificou com o surgimento da Salvador moderna e da sua região metropolitana. Analisando a distribuição espacial da estrutura social com a metodologia que vem sendo utilizada pelo Observatório das Metrópoles, verifica-se a existência de oito tipos socioespaciais, apresentados no Mapa VI.2, que configuram áreas definidas. No tipo superior, predomina o grupo dirigente; no médio-superior, o predomínio é do grupo intelectual; no médio, se misturam pequenos empregadores e setores do grupo intelectual; no médio-popular, coexistem setores médios e pequenos empregadores; os tipos populares são aqueles onde predominam os trabalhadores do setor secundário e do terciário relativamente especializado; no tipo subproletário, há uma concentração dos trabalhadores do terciário não especializado, ou seja, dos prestadores de serviços diversos, empregados domésticos, ambulantes e catadores. Mapa VI.2 Tipologia Socioespacial Região Metropolitana de Salvador – 2000

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No Mapa VI.2, fica patente a ocupação da Orla Atlântica de Salvador e Lauro de Freitas pelos grupos dos grandes empregadores e dirigentes e pelos trabalhadores “intelectuais”, em uma mancha praticamente contínua, limitada a Oeste pela Avenida Paralela, eixo viário importante que faz a ligação de Salvador com o vetor de expansão do Litoral Norte e se configura como a fronteira dessa “cidade” com as áreas populares, ressalvando-se o enclave que se constitui no Nordeste de Amaralina, bairro popular com alta densidade demográfica que rompe a continuidade da mancha, o que também ocorre com o bairro da Boca do Rio, um pouco mais ao norte. Nesses espaços superiores, encontram-se os equipamentos públicos e privados mais importantes, modernos centros de comércio e de serviços, redes de infra-estrutura – energia, esgoto, água, telefonia, coleta de lixo, sistema viário – e diversos trechos com baixa densidade demográfica. Enquanto os grupos dos grandes empregadores e dirigentes e dos trabalhadores intelectuais se distribuem na Orla Atlântica de Salvador e de Lauro de Freitas, em manchas quase contínuas, destacando-se as falhas representadas pelo Nordeste de Amaralina, Boca do Rio e parcela de Itapuã, o proletariado se distribui no restante da região metropolitana, ocupando a Salvador que as elites deixaram para trás e os demais

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municípios da RMS, com a exceção da orla de Lauro de Freitas. Notam-se claramente manchas de ocupação do proletariado na orla de Salvador, correspondendo a vazios de grupos ocupacionais de mais alta renda deixando, ainda, as áreas do Centro Antigo e da Vitória para os setores médios. Já os setores médios ocupam o centro tradicional e as áreas mais antigas da cidade, áreas sem dinamismo, com alta densidade demográfica, mas com infra-estrutura. As áreas populares são as que abrigam a população que não tem possibilidade de consumir o espaço da cidade moderna nem da cidade tradicional e vai se alojar tipicamente em parcelamentos clandestinos e habitações precariamente auto-construídas. Essas áreas populares ocupam, em Salvador, parte da orla da Baía de Todos os Santos, do que hoje se chama de Miolo e do Subúrbio Ferroviário, dividindo o espaço com as áreas do sub-proletariado em Salvador e no restante da RMS. Ao contrário da ocupação do proletariado, os trabalhadores da sobrevivência coexistem também ao longo da Orla Atlântica, em interstícios das áreas superiores. Levando-se em conta as características da economia e as condições ocupacionais que prevalecem em Salvador e nos demais municípios que constituem sua região metropolitana, não chega a ser surpreendente que os baixos níveis de renda e a intensidade da pobreza dos seus moradores se destaquem dentre os principais traços da região. Considerando-se como indicador de pobreza uma renda mensal familiar per capita inferior a meio salário mínimo, constata-se que a freqüência dessas famílias era de 28,7% em Salvador, conforme o Censo de 2000, elevando-se a 32,29% em Lauro de Freitas, 38,82% em Madre de Deus, 43,06% em Simões Filho, 41,10% em Camaçari, 41,70% em Candeias, 41,73% em Dias D’Ávila, 49,10% em Itaparica, 49,87% em São Francisco do Conde e 49,78% em Vera Cruz. Já as famílias com uma renda per capita acima de três salários mínimos constituíam 21,29% em Salvador, 17,79% em Lauro de Freitas, 7,91% em Madre de Deus, 5,54% em Simões Filho, 8,11% em Camaçari, 6,10% em Candeias, 6,70% em Dias D’Ávila, 6,94% em Itaparica, 5,81% em São Francisco do Conde e 8,53% em Vera Cruz. A incidência da pobreza e sua distribuição no espaço da RMS são apresentados no Mapa VI.3. Mapa VI.3 Famílias com Renda Per Capita até Meio Salário Mínimo Região Metropolitana de Salvador – 2000

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VI.2.2 – Demografia Como foi visto anteriormente, Salvador é a terceira cidade mais populosa do país, comanda a sexta maior região metropolitana brasileira em termos demográficos e, ainda que em ritmo mais lento, sua população continua crescendo. Trata-se de uma região fundamentalmente urbana, cujo grau de urbanização passou de 96,6% em 1991 para 98,4% em 2000. Merecem destaque os aumentos no grau de urbanização ocorridos nos municípios de Lauro de Freitas, Candeias e Simões Filho, assim como o fato de que, em 2000, Salvador e Itaparica eram 100% urbanos. No período entre 1991 e 2000 a RMS teve uma taxa média geométrica de crescimento anual de 2,14% (superior à média de 1,1% correspondente à Bahia como um todo), com significativas variações entre os municípios. Lauro de Freitas foi quem mais cresceu (5,7% ao ano), seguido por Dias

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D’Ávila (4,26%) e Camaçari (4,0%). Vera Cruz ficou no quarto lugar, com 3,37%, e Simões Filho, Madre de Deus e São Francisco do Conde apresentaram taxas em torno de 3,0%. As menores taxas de crescimento foram registradas em Salvador e em Candeias, 1,85 e 1,33%, respectivamente. Com a segunda maior área e 80,9% da população da RMS, Salvador apresentava uma densidade demográfica de 3.457 habitantes por quilômetro quadrado em 2000. Lauro de Freitas ficava em segundo lugar (com 1.895 habitantes por quilômetro quadrado) e Madre de Deus, que possui uma pequena área, em terceiro, com 1.080,33. Simões Filho, para onde vem se dirigindo uma população de menor nível de renda à procura de menores custos de habitação, tinha 489,5 habitantes por quilômetro quadrado. Candeias, 290, e os demais municípios, uma densidade inferior a 220 habitantes. Entre esses últimos está Camaçari, que detém a segunda maior população residente, mas possui o maior território entre aqueles que compõem a região metropolitana. Vale ressaltar a concentração de moradores que se registra no centro de Camaçari, de Candeias e de Simões Filho, assim como em algumas áreas de Lauro de Freitas e de Salvador, como mostra o Mapa VI.4.

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Mapa VI.4 Densidade Demográfica –Habitantes por Km2

Região Metropolitana de Salvador – 2000

Em relação aos movimentos migratórios, a Região Metropolitana de Salvador é, no seu conjunto, uma área atrativa, tendo apresentado um saldo migratório total (emigrantes menos imigrantes) de 30.150 pessoas entre 1995 e 2000, com diferenças importantes entre os diversos municípios. Dos dez municípios da RMS, oito possuem um saldo positivo, com destaque para Lauro de Freitas, que recebeu 20.152 pessoas vindas do próprio estado da Bahia e também de fora dele. Trata-se de uma cidade que vem atraindo moradores de maior poder aquisitivo, que trabalham nas indústrias e em outras empresas da região metropolitana, e tem assistido à expansão de condomínios fechados para as camadas de alta e média renda e a um grande incremento dos serviços, incentivado pelo poder local. O segundo maior saldo positivo pertence a Camaçari, município que sedia o Pólo Petroquímico e outras empresas industriais, que atraiu 14.003 pessoas nesse período. Já Salvador tem um saldo migratório negativo,

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com a perda de 22.084 moradores, que se deslocaram principalmente para fora da Bahia. A esse respeito, observa-se que, qualquer que tenha sido o município considerado, o principal destino dos emigrantes da RMS é claramente o Sudeste do país, de onde, por sua vez, são originários 50,3% dos migrantes que vieram para Lauro de Freitas e 50,7% dos que se deslocaram para Salvador (mapa VI.5). Mapa VI.5 Percentual de Migrantes de Fora da Região Região Metropolitana de Salvador - 2000

Analisando-se a composição etária da população, a RMS apresenta uma clara retração da base de sua pirâmide demográfica, que representa as crianças de 0 a 4 anos de idade. Outros movimentos importantes foram o aumento da participação das pessoas com 70 anos ou mais e o expressivo crescimento do contingente de jovens entre 15 e 24 anos de idade na população de 2000, o que evidencia a necessidade de políticas públicas direcionadas às pessoas desse grupo etário, como a educação de nível médio e qualificação profissional. Salvador tem a menor proporção de crianças de 0 a 14 anos de idade em sua população residente, tanto em 1991 como em 2000. O município apresenta menores taxas de natalidade e, ao mesmo tempo, é um pólo de

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atração de adultos jovens, o que ajuda a explicar também a maior proporção de pessoas de 15 a 64 anos de idade. A freqüência de pessoas idosas cresceu em todos os municípios da RMS, sendo que os municípios onde sua participação é maior são Itaparica e Vera Cruz. Mapa VI.6 Índice de Envelhecimento Região Metropolitana de Salvador – 2000

Como ilustra o Mapa VI.6, no âmbito da RMS, a distribuição da população por grupos etários é diferenciada. A participação das crianças e adolescentes é relativamente mais elevada em Dias D’Ávila, Simões Filho, Camaçari, São Francisco do Conde e Itaparica, assim como nas áreas onde se concentram os grupos de mais baixa renda de Lauro de Freitas e de Salvador. Já a presença dos velhos, com 65 anos ou mais, mostra-se mais intensa em Itaparica e Vera Cruz, assim como em alguns bairros mais antigos do Centro e da orla de Salvador. Em termos da divisão da população por sexo, constata-se que a distribuição da população masculina residente na RMS manteve-se praticamente estável entre 1991 e 2000, em que pese o seu pequeno crescimento relativo no município de Salvador. O mesmo não se pode

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dizer das mulheres. Se 82,2% das mulheres que residiam na RMS em 1991 encontravam-se em Salvador, em 2000 esse percentual caiu para 80,9%, registrando-se, paralelamente, um aumento relativo da sua participação nos municípios de Lauro de Freitas e de Camaçari. Vale ressaltar que, na RMS, se observa um significativo crescimento das famílias nas quais as mulheres são as pessoas de referência, no período analisado. Salvador, São Francisco do Conde e Itaparica se destacam como os municípios onde a proporção de famílias sob a responsabilidade de mulheres era mais elevada. Note-se também que, em decorrência da sua conformação e evolução histórica, Salvador e sua região metropolitana apresentam uma elevada proporção de negros e pardos na população. Na capital baiana, enquanto os brancos representavam 23,0% dos residentes computados pelo Censo de 2000, o contingente de pardos e de negros atingia 54,8% e 20,4%. Para o conjunto da RMS, esses números eram de 21,8%, 56,4% e 20,0%, respectivamente. Ou seja, negros e pardos em conjunto representavam 76,4% da população da RMS em 2000. Além disso a distribuição espacial por cor mostra claras diferenças, conforme o Mapa VI.7. A maioria dos brancos se aglomera na área central de Salvador e na faixa ao longo da Orla Atlântica, que vai de Salvador a Lauro de Freitas, onde se concentram as oportunidades de trabalho, a maior parte dos equipamentos e serviços urbanos e os espaços classificados como médios ou superiores. Já o maior contingente de negros e pardos, que persiste na base da pirâmide social, encontra-se nos espaços mais desfavoráveis do Miolo e do Subúrbio Ferroviário de Salvador, assim como em municípios como Itaparica, Madre de Deus e Camaçari.

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Mapa VI.7 Distribuição de Negros e Pardos Região Metropolitana de Salvador – 2000

VI.2.3 - Educação A análise sobre o tema da educação na RMS se baseou nos indicadores relativos aos índices de analfabetismo, grau de escolaridade e adequação à freqüência escolar de diferentes faixas etárias da população. Considerando-se o percentual de analfabetos por faixa etária, nota-se uma significativa melhora nos índices obtidos no censo de 2000, se comparados aos de 1991, como se pode observar na Tabela VI.3. Todavia, essa melhora relativa que se observa nos dados agregados por município não significa a redução de desigualdades, como pode ser notado quando os indicadores são espacializados. Levando-se em conta os percentuais de pessoas analfabetas de quinze anos ou mais por município da RMS, a Tabela VI.3 mostra que, em 1991, somente Salvador tinha um número de analfabetos inferior a 10%; cinco municípios – Camaçari, Candeias, Dias D’Ávila, São Francisco do Conde e

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Vera Cruz – estavam acima de 20%, sem considerar o caso de Lauro de Freitas, que apresentava uma taxa de 19,57%. Já em 2000, Salvador, Lauro de Freitas e Madre de Deus exibem percentuais abaixo de 10%, e nenhum município tem uma taxa maior do que 17%. Naquele ano, São Francisco do Conde e Vera Cruz destacam-se por evidenciarem as maiores taxas percentuais, todas acima dos 16%. Tabela VI.3 Percentual de Pessoas Analfabetas por Faixa Etária Região Metropolitana de Salvador - 2000

Município

15 a 17 anos, 1991

15 a 17 anos, 2000

18 a 24 anos, 1991

18 a 24 anos, 2000

15 anos ou mais, 1991

15 anos ou mais, 2000

25 anos ou mais, 1991

25 anos ou mais, 2000

Camaçari 8,78 3,98 11,77 5,31 20,05 12,35 23,03 15,45 Candeias 11,05 4,56 12,58 5,04 22,27 13,53 27,98 17,86 Dias d'Ávila 10,13 0,76 10,68 4,34 20,38 12,16 24,48 15,03 Itaparica 11,74 5,82 10,27 4,01 18,91 14,91 22,51 18,09 Lauro de Freitas 14,1 2,94 12,48 4,51 19,57 9,43 21,36 10,46 Madre de Deus 10,08 1,08 6,85 1,93 15,84 8,73 18,64 11,05 Salvador 5,89 2,3 5,41 2,66 9,84 6,28 11,19 7,28 São Francisco do Conde 13,74 4,27 13,27 5,2 28,88 16,83 35,79 20,16 Simões Filho 11,05 3,6 9,18 3,56 18,84 11,56 23,01 14,79 Vera Cruz 10,01 3,36 16,78 9,14 24,34 16,08 26,51 18,74 Fonte: IBGE. Censo Demográfico, 2000. Já o Mapa VI.8, que apresenta a distribuição espacial do analfabetismo funcional, indicador que se refere a pessoas com até 3 anos de estudo e 15 ou mais anos de idade, mostra que a situação é significativamente melhor no município pólo da Região Metropolitana. Entretanto, o problema aparece mesmo em Salvador: quando se observa o espaço intra-urbano, nota-se que as taxas são melhores na Orla Atlântica, piorando a partir daí, o mesmo acontecendo com Lauro de Freitas. Já em Camaçari, somente áreas restritas na sede do Município têm taxas próximas a Salvador. A distribuição espacial das taxas de analfabetismo na RMS mostra situação similar à descrita acima, destacando-se somente a sede de Camaçari, a orla de Lauro de Freitas e trechos do município de Salvador com taxas abaixo dos 12 pontos percentuais. É relevante notar que a taxa de analfabetismo se refere a toda população com mais de 15 anos, o que dilui a melhoria recente que é evidente quando se examinam os dados sobre as faixas etárias de 15 a 17 e de 18 a 24 anos. Todavia, ela aponta para a necessidade de políticas publicas que foquem as áreas mais carentes da região. Mapa VI.8 Analfabetismo Funcional

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Região Metropolitana de Salvador – 2000

Freqüência Escolar A análise da freqüência escolar considerou indicadores para as faixas etárias correspondentes aos diversos níveis de ensino, ou seja, examinou-se a proporção de crianças e jovens freqüentando escola em nível de ensino correspondente à sua faixa etária, bem como a proporção da freqüência que se dá na série ou no nível de ensino adequado para aquela idade. A freqüência ao ensino fundamental é obrigatória para todas as crianças com idade entre 7 a 14 anos. Porém, em nenhum município da Região, esse indicador atinge 100%. No conjunto da RMS, do total de 441.264 crianças, 423.336 (95,93%) têm acesso à escola, enquanto que quase 18 mil crianças não a freqüentam. Os maiores percentuais não estão em Salvador, que tem 96,07%, mas em São Francisco do Conde, que atinge 97,13%. Acima de Salvador, estão também os municípios de Candeias, Dias D’Ávila, Itaparica e Simões Filho, todos na faixa dos 96%. As taxas

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mais baixas estão em Vera Cruz (93,26%) e Madre de Deus (93,53%), como se pode ver na Tabela VI.4. A observação da distribuição geográfica dos índices de freqüência escolar evidencia grandes desigualdades no interior dos municípios. Os melhores índices, próximos a 100%, aparecem no caso da freqüência na faixa de 7 a 14 anos em Salvador, notadamente nas áreas da orla e do Centro Tradicional; os índices mais baixos situam-se no interior do município. Tabela VI.4 Percentual de freqüência escolar por faixa etária Região Metropolitana de Salvador - 2000

Município

% 7 a 14 anos na escola, 1991

% 7 a 14 anos na escola, 2000

% 10 a 14 anos na escola, 1991

% 10 a 14 anos na escola, 2000

Camaçari 84,25 94,03 88,61 94,69 Candeias 82,58 96,27 85,09 96,99 Dias D'Ávila 81,26 96,48 84,33 97,12 Itaparica 88,26 96,74 88,96 96,75 Lauro de Freitas 80,18 95,93 83,05 95,43 Madre de Deus 91,39 93,53 91,23 93,39 Salvador 87,92 96,07 89,79 96,61 São Francisco do Conde 83,26 97,13 85,19 97,07 Simões Filho 87,01 96,51 89,03 96,38 Vera Cruz 83,58 93,26 84,15 92,77 Um indicador da eficiência com que vem se dando o atendimento às crianças de 7 a 14 anos pode ser inferido da adequação idade-série. Em Salvador, quase 27% da população com essa faixa etária têm mais de um ano de atraso. No extremo oposto, aparece Vera Cruz, onde quatro de cada dez crianças estão com mais de um ano de atraso escolar, como mostra a Tabela VI.5. Na mesma Tabela VI.5, o exame da faixa de 10 a 14 anos evidencia que os percentuais se elevam para mais de 38% em Salvador e para quase 60% em Vera Cruz. Além da situação de Vera Cruz, são também preocupantes os casos de Candeias, Dias D’Ávila e São Francisco do Conde, onde cerca de metade da população escolar dessa faixa etária se encontra com mais de um ano de atraso. As mesmas desigualdades se revelam no exame da distribuição geográfica dos dados. Há percentuais bastante diversos no interior do município de Salvador, que tem áreas com adequação acima de 80% e áreas com nível de adequação abaixo de 50%, como demonstra o Mapa VI.9. Tabela VI.5 Percentual de Anos de Atraso e Menos de 4 Anos de Estudo por Faixa Etária

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Região Metropolitana de Salvador - 2000

Município

7 a 14 anos com mais de 1 ano atraso, 1991

7 a 14 anos com mais de 1 ano atraso, 2000

10 a 14 anos com mais de 1 ano atraso, 1991

10 a 14 anos com mais de 1 ano atraso, 2000

10 a 14 anos com menos de 4 anos de estudo, 1991

10 a 14 anos com menos de 4 anos de estudo, 2000

Camaçari 52,75 32,28 75,21 46,75 77,56 49,85 Candeias 51,97 35,69 73,67 49,23 75,27 52,13 Dias D'Ávila 49,67 33,53 68,76 48,61 72,86 51,02 Itaparica 53,69 36,32 76,24 53,5 77,54 55,53 Lauro de Freitas 49,89 32,00 70,23 46,48 71,36 52,38 Madre de Deus 52,02 30,54 71,59 45,03 70,39 51,06 Salvador 41,33 26,96 58,37 38,56 63,18 43,69 São Francisco do Conde 60,3 34,40 83,78 52,61 86,28 49,26 Simões Filho 57,05 32,89 79,59 47,97 80,51 51,77 Vera Cruz 52,07 40,98 75,7 59,52 74,58 55,17 Fonte: IBGE. Censo Demográfico, 2000.

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Mapa VI.9 Adequação idade-série – 7 a 14 anos Região Metropolitana de Salvador – 2000

Se for considerada a freqüência escolar de jovens acima de 18 anos, ou seja, o acesso ao curso superior, delineia-se um quadro em que se acentuam as diferenças entre o pólo e os municípios periféricos: verifica-se que os maiores índices de acesso ao ensino superior estão em Salvador, onde 9,19% dos jovens entre 18 e 22 anos freqüentam curso superior, e em Lauro de Freitas, com 7,48%. Os demais municípios apresentam índices em torno (ou abaixo) de 1% de freqüência em cursos superiores, o que se explica pela inexistência de faculdades e universidades próximas. Há que se destacar ainda a evolução de Lauro de Freitas nesse aspecto, pois passa de menos de 1% em 1991 para mais de 7% em 2000, motivado pela instalação de várias faculdades privadas nos últimos anos em seu território e pela maior facilidade de acesso de sua população jovem às universidades sediadas em Salvador. V.2.4 Moradia

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A expansão e modernização econômica da RMS se deram sobre uma região urbana pobre e incipiente, polarizada por uma cidade praticamente estagnada ao longo de várias décadas, exigindo sua transformação. Isso aconteceu de forma bastante rápida e abrupta, entre as décadas de 1960 e 1970, com a realização de grandes obras que acompanharam e anteciparam os vetores da expansão urbana e de uma intensa ocupação informal de famílias de baixa renda na periferia. Nos anos 1980, consolida-se um novo centro urbano, impulsionado por grandes empreendimentos públicos e privados realizados na década anterior, destacando-se a construção da Av. Paralela, do Centro Administrativo da Bahia, da nova Estação Rodoviária e do Shopping Iguatemi. Essa nova centralidade não apenas direciona a expansão da cidade no sentido da orla norte, como irá contribuir para o gradativo esvaziamento do Centro Tradicional na área antiga da cidade. Diante desse quadro, as soluções para construção de moradias estiveram, desde a década de 1940, vinculadas, sobretudo, à produção informal, associando processos de parcelamento improvisado e autoconstrução. Compõem o conjunto as invasões, os parcelamentos clandestinos e outras formas de ocupação habitacional deficientes de atributos de habitabilidade, que juntos constituem a ocupação informal na área urbana. Formaram-se à revelia dos parâmetros urbanísticos estabelecidos e cresceram fora das regras de segurança e conforto previstos para a edificação, portanto, sem controle público. Caracterização da moradia Para Salvador, no inicio da década de 1990, as áreas das chamadas “invasões”, representavam 14% da área de habitação na cidade, onde moravam aproximadamente 30% da população. Conjuntamente com outras áreas ocupadas de maneira informal, correspondiam a 32% da ocupação habitacional, abrigando 60% da população. Em termos geográficos, as áreas em condições mais precárias de habitabilidade concentram-se no Subúrbio Ferroviário e no chamado Miolo da cidade, enquanto aquelas em melhores condições situam-se na área central e na faixa ao longo da Orla Oceânica, ainda que, também inseridas nesse tecido, existam algumas poucas pequenas ilhas de ocupação informal e deficiente, ocorridas quando essas áreas não eram ainda valorizadas. Em relação aos demais municípios da RMS, as evidências do ambiente construído nas suas sedes demonstram claramente a predominância de áreas informais, com alto grau de deficiências urbanísticas, seguindo o mesmo padrão de precariedade física e de periferização no entorno dos núcleos centrais, semelhante ao que ocorre em Salvador, ainda que abrangendo uma menor população. Para mapear as áreas de ocupação informal, foi usado o indicador “habitação com até 3 cômodos”, que indica sua provável precariedade da habitação, caracterizando a convivência de usos conflitantes – cozinha, banheiro, dormitório e estar, por exemplo A distribuição espacial de domicílios com até 3 cômodos ilustra a concentração de habitações mais precárias e em condições de informalidade quanto à propriedade em Salvador – notadamente no centro geográfico e ao norte da Orla da Baía de Todos os Santos, áreas

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que correspondem ao Subúrbio Ferroviário e ao Miolo – e nos demais municípios da RMS, com a exceção de Vera Cruz, que certamente se explica pela predominância de domicílios voltados ao uso de lazer por residentes de Salvador, as chamadas casas de veraneio Os domicílios tipo apartamento, que são normalmente habitações de maior qualidade construtiva, cujo acesso se dá normalmente através do mercado imobiliário formal, ocupam as áreas do Centro Tradicional e praticamente toda Orla Atlântica de Salvador. Na parte da Orla, ficam de fora somente a área de Itapuã, ao norte do município de Salvador, e Lauro de Freitas, onde predominam habitações horizontais – residências e condomínios, mas de bom padrão construtivo. Se forem considerados os percentuais de domicílios com até 3 cômodos, agregados por município, Camaçari, Simões Filho e Dias D’Ávila apresentam as maiores cifras: 25,3%, 23% e 20,7% respectivamente. Salvador aparece em situação proporcionalmente melhor, com 14,7%, mas demonstra valores absolutos extremamente elevados: de um total de 651.008 domicílios existentes no município, 95.537 possuem até 3 cômodos. Quanto à propriedade dos domicílios, constata-se que, em Salvador, 530.239 são próprios e, dentro desse grupo, 483.980 possuem também a propriedade do terreno.

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Mapa VI.10 Domicilios sem a propriedade do terreno Região Metropolitana de Salvador – 2000

Quanto ao déficit habitacional básico, constata-se que, proporcionalmente, as melhores situações são as de Salvador e Lauro de Freitas, com déficits de 12%. Já em Camaçari e Dias D’Ávila, os déficits chegam a 17%; em Candeias, 18%, e nos demais municípios que aparecem agregados, ultrapassam 19%. Já em números absolutos, o déficit habitacional em Salvador chega a mais de 81.000 domicílios do número total de 104.878 relativo à RMS. Note-se ainda que Salvador se destaca também por praticamente não ter domicílios rurais, como se vê na Tabela VI.6. O número de domicílios vagos, por sua vez, é um pouco superior ao déficit estimado nos casos de Salvador, Camaçari e Lauro de Freitas. Tabela VI.6 Déficit Habitacional Básico Região Metropolitana de Salvador - 2000

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Absoluto Percentual Domicílios Vagos Municipio Total Urbana Rural Total Urbana Rural Total Urbana Rural Camaçari 7.127 6.775 352 17,28 17,18 18,57 7.512 7.030 482 Candeias 3.382 2.920 462 18,01 17,23 25,26 2.733 2.444 289 Dias D’Ávila 1.990 1.803 187 17,63 17,01 27,10 1.926 1.797 129 Lauro de Freitas 3.567 3.361 206 12,23 12,07 15,79 4.794 4.582 212 Salvador 81.429 81.390 39 12,51 12,51 17,26 89.405 89.337 68 Simões Filho 3.180 2.530 650 13,75 13,31 15,80 2.947 2.218 729 DEMAIS MUNICIPIOS 4.113 3.805 308 19,03 19,04 18,86 4.978 4.632 346 TOTAL 104.878 102.626 2.252 13,17 13,08 19,42 114.295 112.040 2.255

Fonte: Fundação João Pinheiro Acesso à infra-estrutura A análise dos indicadores de acesso dos domicílios às redes de infra-estrutura na RMS revela grandes desigualdades. O Mapa VI.11 contém informações sobre o abastecimento de água por rede geral, com canalização em pelo menos um cômodo – situação considerada adequada. Nele, evidencia-se uma distribuição bastante assimétrica. Nesse aspecto, o município de Salvador tem uma situação razoável, com quase a totalidade de sua área coberta, ficando os demais municípios em situação bem mais precária, com as exceções de Dias D’Ávila e Vera Cruz, que apresentam condições um pouco melhores, e também a orla de Lauro de Freitas, parte da orla de Camaçari e sua sede. Em termos de escoamento sanitário adequado, ou seja, domicílios com esgotamento ligado à rede geral ou à fossa séptica, a situação é similar. Salvador apresenta a melhor posição, sendo que a área do município coberta por escoamento sanitário adequado é bem menor que a área atendida por abastecimento de água. Quanto aos demais municípios, observa-se que a orla de Camaçari não possui escoamento sanitário adequado, fato que poderá vir a causar prejuízos ambientais e de saúde pública, na medida em que a área venha a sofrer adensamento, tendência que se configura hoje. A coleta de lixo adequada, por serviço de limpeza ou caçamba, ocorre em índices próximos a 100% nos domicílios localizados na orla de Salvador e no Centro Tradicional do município, caindo um pouco para índices entre 90 e 95% em suas demais áreas e na orla de Lauro de Freitas. Há também alguns bolsões na faixa de 70 a 95% no município de Salvador, que correspondem a áreas de ocupação informal. Nos demais municípios, com a exceção da área da sede de Camaçari, a situação se apresenta pior que em Salvador. Mapa VI.11 Abastecimento de água adequado Região Metropolitana de Salvador – 2000

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Acesso a bens Os domicílios da RMS revelam desigualdade também no que diz respeito ao acesso a bens. Considerando os bens de uso difundido, como rádio, televisão e geladeira, cuja ausência do consumo aponta para maior precariedade do morador, Salvador é o município no qual há uma maior proporção de domicílios com todos esses bens (531.024, de um total de 651.008 domicílios), seguido por Lauro de Freitas, com 22.008 domicílios com acesso aos bens de uso difundido num universo de 29.160 domicílios. O Mapa VI.12 mostra a distribuição espacial da desigualdade no interior dos municípios. Salvador e Lauro de Freitas destacam-se como as áreas da RMS que têm proporcionalmente maior acesso a bens. No pólo, sobressaem-se as áreas do Centro Tradicional e da Orla Atlântica; em Lauro de Freitas, a sua orla. Mapa V.12 Domicílios com acesso a bens de uso difundido Região Metropolitana de Salvador – 2000

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Considerando o acesso a bens de uso restrito, como computadores e ar condicionado, Salvador se destaca proporcionalmente e em números absolutos, relevando a enorme distância que separa o município pólo da RMS dos demais. Enquanto Salvador tem 300.539 domicílios com acesso a este tipo de bens, Itaparica, no extremo oposto, tem somente 940. Em termos proporcionais, a pior situação é a de Vera Cruz, onde 1.252 domicílios possuem acesso aos bens de uso restrito, o que equivale a pouco mais de 16% do total de domicílios. Em Itaparica, a situação é proporcionalmente melhor, chegando a 19,38%, embora se deva considerar que, provavelmente, parte destes domicílios são usados no verão por famílias residentes em Salvador como habitações de lazer. VI.2.5 Mobilidade e transporte Os meios de transporte na Bahia se organizam a partir da metrópole, Salvador, que – apesar de não ter uma localização central no estado, como é o caso, por exemplo, de Belo Horizonte – centraliza todo o sistema de transporte do estado, coordenando a vida de relações econômicas da Bahia. Isso é o resultado do processo histórico de ocupação do território baiano. Simplificando, pode-se dizer que é para Salvador, ou de Salvador, que saem ou chegam às rodovias, ferrovias, linhas aéreas ou de

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navegação, incluindo aqui o sistema de ferry-boat, que liga a capital à ilha de Itaparica e daí ao Sul do estado. Desse modo, o interior do estado se integra à Metrópole e o estado se integra ao resto do país. Em termos de transporte marítimo, a RMS dispõe dos portos de Aratu e de Salvador. No ano de 2001, a SEI (Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia) registrou o seguinte movimento: Aratu, 20.587.922 toneladas e Salvador 1.939.383 toneladas. O aeroporto Luiz Eduardo Magalhães, antes denominado Aeroporto Dois de Julho, localizado no município de Salvador, é o maior do estado e, segundo dados da SEI movimentou, em 2001, 3.081.310 passageiros. Considerando o transporte rodoviário intermunicipal, Salvador é a cidade do estado com maior número de linhas de ônibus – 350 – seguida de Itabuna, com 77 linhas, e de Feira de Santana, cidade que está na esfera de influência da RMS, com 66 linhas. Outros municípios da Região Metropolitana, Vera Cruz, Camaçari e Lauro de Freitas, vêm na quinta, sexta e oitava posição, respectivamente, com 43, 31 e 29 linhas de ônibus intermunicipais, segundo dados da SEI de 1998. Pode-se notar que existe um forte movimento pendular entre Salvador e os municípios citados, particularmente Lauro de Freitas, como observamos no Mapa VI.13, que mostra o movimento de pessoas que trabalham ou estudam em outro município. Lauro de Freitas é a cidade que possui maior percentual de moradores deslocando-se para outro município, com finalidades de estudo ou trabalho. Esse indicador (deslocamento entre o domicilio e o local de trabalho ou estudo) fornece um referencial importante para a apreciação dos processos de metropolização e configuração da centralidade dos espaços. Lauro de Freitas cumpre o papel de residência principal para parcela da população que trabalha ou estuda em Salvador, ou secundária para parcela da população do município pólo que tem ali residências para uso em férias ou lazer, constituindo-se em expansão da área nobre de Salvador. O movimento entre Salvador e Lauro de Freitas demonstra que, para a população metropolitana, as fronteiras administrativas são irrelevantes, e é necessária a implantação de políticas públicas que considerem a totalidade do espaço metropolitano. Recentemente, em 2004, a reação de segmentos da população, particularmente os estudantes do ensino médio, à alteração das tarifas de ônibus em Salvador foi levada em conta pela municipalidade vizinha na definição de suas tarifas, as quais estão fora do controle da SMTU – Secretaria Municipal de Transportes Urbanos – de Salvador; em determinado período, viagens maiores em termos de distância, originadas em Lauro de Freitas, tiveram tarifas menores que viagens iniciadas e terminadas no município de Salvador. Em Salvador, segundo estimativas da SMTU, o número de viagens motorizadas por dia chega a 2,9 milhões; o índice de motorização – automóveis por 1.000 habitantes – é de 140 unidades, com cerca de 72% das viagens sendo feita por ônibus, 28% por transporte individual e 1% de transporte ferroviário. Existem em operação 2.233 ônibus, que operam 398 linhas e atendem a uma demanda mensal estimada em mais de 40 milhões de passageiros, além de cerca de 300 “vans” e lotações. O

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número de viagens a pé é bastante alto, existindo estimativas de que chegue a 1/3 das viagens, refletindo a precariedade do sistema e a baixa renda da população, como pode ser visto no item 1.3 deste documento. A necessidade de um sistema de transporte de massa em Salvador é urgente. Em 2001, foi assinado contrato para construção do metrô, que contaria com recursos do BIRD, do governo federal, do estado e do município, além de recursos da iniciativa privada. Todavia, as obras, apesar de iniciadas, encontram-se virtualmente paralisadas em 2005, por falta de aporte dos recursos públicos previstos. O modelo de financiamento e gestão adotado previa que o concedente – poder público – implantaria a via permanente e os sistemas fixos, e o concessionário forneceria, manteria e operaria o sistema, com o usuário pagando tarifa única.

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Mapa VI.13 Pessoas de 15 anos ou mais que trabalham ou estudam em outro município Região Metropolitana de Salvador – 2000

VI.2.6 Incidência de homicídios Entre os maiores problemas que vêm atingindo as grandes cidades brasileiras está o da violência. A concentração de renda e o aumento das desigualdades, as dificuldades de inserção no mercado de trabalho e a pobreza têm se somado a fatores como a expansão do tráfico de drogas e a ausência de políticas mais efetivas de segurança pública, contribuindo para uma elevação da conflitividade e da violência, inclusive com o aumento do número de homicídios. Considerando-se as dez maiores regiões metropolitanas brasileiras, São Paulo e Rio de Janeiro são aquelas que apresentam as maiores taxas de homicídio do país, concentrando, respectivamente, 35,5% e 20,9% dos casos registrados durante o período de 1998 a 2002. Na classificação nacional, a RMS aparece em nono lugar, com 3,0% do total de homicídios computados no período e uma média das taxas de vítimas de homicídios de 30,4 por 100.000 habitantes (gráfico VI.1).

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Gráfico VI.I

Contudo, em termos absolutos, a freqüência de homicídios é elevada, principalmente no pólo metropolitano. Dados referentes a 2002 evidenciam a ocorrência de 1204 homicídios, 1000 deles em Salvador (tabela VI.7) . Os demais registros distribuem-se entre os outros municípios da RMS, com destaque para Camaçari (65 casos), Lauro de Freitas (23 casos) e Simões Filho (44 casos). Levando-se em conta o tamanho da população, Lauro de Freitas aparece com 36,6 vítimas por 100.000 habitantes, Salvador com 31,7, Camaçari com 26,1 e Simões Filho com 24,6. A evolução da taxa de homicídios registra um crescimento na RMS e na maioria dos municípios que a compõem, com exceção de Lauro de Freitas, São Francisco do Conde e Vera Cruz. Tabela VI.7 Comportamento das Taxas de Vítimas de Homicídios(1) Registrados pelo Ministério da Saúde por 100.000 Habitantes, nos Municípios da Região Metropolitana(2) de Salvador, no Período de 1998 a 2002

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Localidades Número de Vítimas de Homicídios Registrados pelo Ministério da Saúde no ano de 2002

População em 2002

Média das Taxas de Vítimas de Homicídios por 100.000 Habitantes no Período de 1998 a 2002

Evolução da Taxa de Vítimas de Homicídio por 100 mil Habitantes no Período de 1998 e 2002

PosiçãRelaçãMédia Taxa RegiãoMetropde Hopor 1Habitano de 12002

Brasil 53.242 174.632.932 29.5 5,6% - Estado 2.716 13.323.150 16.3 23,0% -

Código Do Município

Região Metropolitana

1.204 3.132.046 30.4 10,0% -

1 Camaçari 65 171.843 26.1 19,0% Abaixo2 Candeias 26 78.645 22.4 5,1% Abaixo3 Dias D’Ávila 18 48.294 22.6 283,3% Abaixo4 Itaparica 3 19.763 11.3 - Abaixo5 Lauro de

Freitas 43 122.857 36.6 -46,5% Acima

6 Madre de Deus

2 12.636 8.4 - Abaixo

7 Salvador 1.000 2.520.505 31.7 12,6% Acima 8 São

Francisco do Conde

1 27.555 13.5 -88,1% Abaixo

9 Simões Filho 44 98.595 24.6 70,7% Abaixo10 Vera Cruz 2 31.353 9.9 -61,8% Abaixo

Fonte: Ministério da Saúde / Fundação Nacional de Saúde – FUNASA Organização dos dados: Ministério da Justiça – MJ / Secretaria Nacional de Segurança Pública – SENASP / Departamento de Pesquisa, Análise da Informação e Desenvolvimento de Pessoal em Segurança Pública – Coordenação Geral de Pesquisa e Coordenação de Análise da Informação. 1 – Valores Absolutos obtidos do banco de dados dos Sistemas de Informação sobre Mortalidade (SIM) – 1996 a 2002. 2 – Foram consideradas as Regiões Metropolitanas divulgadas pelo Censo 2000 do IBGE. 3 – Foram considerados apenas os municípios com população superior a 20.000 habitantes. Como nos demais centros urbanos brasileiros, as vítimas de homicídios são majoritariamente jovens (48% dos crimes atingem pessoas entre 15 e 24 anos) e do sexo masculino, residentes nas periferias urbanas, em localidades como o Subúrbio Ferroviário, ou Itinga, por exemplo.

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A contradição entre aspirações de consumo e de realização pessoal – elevadas por uma sociedade em que a própria identidade de jovem é associada ao acesso a certos bens (tênis e roupas “de marca”, por exemplo) – e a impossibilidade de concretizá-las tem levado muitos jovens a uma brutal frustração. Acossado pela pobreza, pelo desemprego e, principalmente, por uma completa ausência de perspectivas, um número crescente deles tem se envolvido com pequenos delitos, gangues, seqüestros e tráfico de drogas, contribuindo para o aumento da criminalidade e da violência nas grandes cidades, das quais tem se tornado as vítimas principais (gráfico VI.2). Gráfico VI.2

V.3 – CONDIÇÕES INSTITUCIONAIS DE COOPERAÇÃO ENTRE OS MUNICÍPIOS As regiões metropolitanas dos países em desenvolvimento são caracterizadas, do ponto de vista político, institucional e administrativo, como espaços territoriais, onde ações cooperativas não foram constituídas ao longo do processo de metropolização. Se, por um lado, as grandes metrópoles são responsáveis pela geração de parcela expressiva da riqueza estadual e, muitas vezes, nacional, seu dinamismo e seus problemas extrapolam os limites formais municipais. No entanto, mecanismos de cooperação e de coordenação das relações intergovernamentais e da gestão desses territórios, ou as instituições

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(regras) de cooperação, são quase inexistentes.2 Ou seja, a passagem de nível estratégico de gestão das metrópoles, do local para o urbano ou metropolitano, ainda não ocorreu na maioria das grandes cidades do Terceiro Mundo.3

No Brasil, embora alguns estados tenham iniciado experiências de planejamento metropolitano nos anos 70, a institucionalização das RM’s foi capturada pelo regime militar, que as concebeu de acordo com os próprios objetivos do regime, ou seja, centralização e controle do território por parte do governo federal. Como argumentado anteriormente (Souza, 1985), as RM’s brasileiras foram desenhadas para que o governo federal exercesse domínio sobre os territórios mais dinâmicos do ponto de vista econômico e político. Desse desenho resultou a conformação da gestão metropolitana dependente dos recursos e das decisões federais, limitando a autonomia dos municípios que as integravam e dos estados, estes forçados a constituir e a manter entidades de gestão metropolitana. Tal desenho excluía a possibilidade de construção de mecanismos de cooperação e até mesmo de coordenação.4

Do ponto de vista metropolitano, mecanismos de cooperação requerem a busca de consenso entre um mosaico de atores e de agências, estas últimas públicas, semipúblicas e privadas, que atuam simultaneamente no mesmo espaço territorial. A cooperação, neste caso, gera o que é chamado de problema da ação coletiva. Com inúmeros atores e agências envolvidos, os problemas de ação coletiva são inerentes à gestão metropolitana. Formatos de gestão ou políticas públicas que demandam a cooperação de muitos atores e agências constituem, portanto, um problema de ação coletiva de um grande grupo. Como aponta a literatura, a cooperação nos grandes grupos tende a ter custos elevados e implica a construção de consensos entre diversos órgãos de diferentes níveis de governo para que suas ações e recursos convirjam simultaneamente para uma dada decisão. Daí, portanto, a importância conferida pela literatura de se enfrentar a questão da ação coletiva por meio do desenho institucional, ou seja, através de regras que incentivem atores e agências à cooperação para o objetivo da produção do bem comum ou coletivo, ou, de forma mais direta, regras para se alcançarem os objetivos de uma gestão metropolitana baseada na cooperação. Isso porque a cooperação, por não ser intrinsecamente voluntária, só ocorrerá na vigência de uma estrutura de incentivos que torne possível superar a inércia inicial dos atores e das agências, minimizar o conflito de interesses e a tendência à não-cooperação. Tanto do ponto de vista empírico como teórico, as questões relacionadas à cooperação na RMS não se colocam como uma exceção frente às demais RM’s do Brasil, ainda que apresentem algumas particularidades. Isso

2 Pesquisa da Universidade Pompeu Fabru, de Barcelona identificou que o Brasil e a Argentina são os países federais que menos contam com instrumentos de relações intergovernamentais, em contraste com a Alemanha, Canadá, Austrália, Suíça e EUA (Agranoff, 2003).

3 Sobre este ponto, ver Stren (2003). 4Dados os objetivos desta seção, é importante distinguir cooperação de coordenação, embora ambas impliquem em

construção de consensos. A cooperação é requerida quando existe autonomia formal dos entes que participam da ação coletiva e a coordenação ocorre quando os participantes compartilham a mesma fonte de autoridade, sendo, portanto, possível centralizar decisões, as quais têm um fluxo na direção “de cima para baixo”.

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porque diversas configurações políticas, tributárias, legais e administrativas atuam no sentido de constranger a cooperação entre os municípios metropolitanos e entre estes e o estado, tais como: em sistemas federativos como o brasileiro, delega-se, em geral, relativa autonomia aos municípios, o que acirra o conflito entre os que governam as grandes cidades e os que governam o estado. O federalismo por si só e enquanto instituição não é responsável pelo acirramento de conflitos intergovernamentais. Contudo, no caso do Brasil, os conflitos inerentes ao formato federativo de governo não contam com canais de intermediação de interesses ou com mecanismos de relações intergovernamentais, formais ou informais, indutores da cooperação entre os entes federados; o federalismo brasileiro é simétrico, ou seja, toda esfera do mesmo nível de governo tem competências iguais, o que faz com que as competências de municípios complexos sejam iguais às de uma pequena cidade; a institucionalização das RM’s, seu papel e suas competências passaram a ser, a partir da Constituição de 1988, matéria estadual; no entanto, os estados não identificaram incentivos capazes de romper a inércia que a maioria vem demonstrando em relação à gestão metropolitana; a ausência de um sistema tributário voltado para uma melhor equalização fiscal entre os municípios estimula o acirramento da competição. Exemplo dessa competição foi a recente guerra fiscal entre os municípios das RM’s em torno das alíquotas do ISS; a Constituição brasileira não prevê incentivos tributários para que os municípios cumpram diferentes papéis no território metropolitano; mudanças nas regras tributárias capazes de mudar a base financeira das RM’s são politicamente complexas porque essas regras são constitucionalizadas, o que exige emenda constitucional ou maioria qualificada; mecanismos de cooperação e de resolução de conflitos só são acionados quando existe interferência federal, dadas as características altamente competitivas do federalismo brasileiro, aliado ao fato de o mesmo não ter gerado mecanismos de cooperação e/ou de coordenação inter ou intragovernamentais; a titularidade de alguns sistemas de serviços em rede é matéria polêmica do ponto de vista legal e político, com disputas constantes entre o estado e os municípios. O caso dos sistemas de água e esgoto é o mais claro. A solução, mais uma vez, depende do governo federal, que elaborou o marco regulatório do setor de saneamento, mas ainda não conseguiu aprová-lo no Congresso; no decorrer do processo constituinte, do qual resultou a relativa descentralização de recursos e de competências, houve intensa mobilização de atores e instituições em defesa da descentralização. No entanto, ainda não está claro quais atores e instituições vão defender formas cooperativas de gestão no território metropolitano, além da comunidade de especialistas; a trajetória da institucionalização das RM’s no Brasil é associada a formas autoritárias de gestão do território, por ter sido introduzida no auge do regime militar.

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No caso específico da RMS, vários trabalhos apontam para a existência dos seguintes constrangimentos à cooperação: os governos locais não são envolvidos no processo decisório sobre ações estaduais que ocorrem nos espaços territoriais dos municípios, o que gera resistências ou omissão dos municípios quando chamados a participar; o envolvimento das prefeituras só ocorre quando existe aporte de recursos específicos para que o governo local realize alguma obra ou programa; inexistem estímulos materiais e políticos para que as prefeituras aportem recursos a programas estaduais que ocorrem nos seus territórios, mas que não são por elas coordenados; a manutenção das obras, ou a participação das prefeituras na fase de pós-intervenção de projetos realizados pelo governo do estado, tem sido avaliada como insatisfatória; a capacidade técnica e de gestão dos municípios da RMS é considerada precária. Mesmo naqueles que detêm receita orçamentária per capita relativamente alta vis-à-vis outros municípios, não se tem conhecimento da existência de programas de capacitação técnica dos seus quadros, com raras exceções, em geral localizadas na área fazendária; a RMS é marcada por heterogeneidades de toda ordem, inclusive em relação à distribuição dos recursos tributários. Em termos per capita, por exemplo, Salvador apresenta um dos mais baixos índices da RMS em arrecadação de ICMS, em contraste com São Francisco do Conde, que, com 1% da população da RMS arrecada 20,4% do ICMS da região5; tensões nas relações entre o governo do estado e as prefeituras são constantes. Tensões desse tipo são típicas da complexidade e do crescimento das tarefas públicas que foram sendo delegadas aos governos ao longo do tempo. Essas tensões, todavia, são agravadas em situações em que as capacidades dos níveis de governo são muito desiguais ou quando as instâncias na ponta das relações intergovernamentais, ou seja, os municípios, são muito frágeis. Como nos ensina Pressman (1975: 106), as relações intergovernamentais geram, sempre, “doadores” e “receptores”, os quais dependem um do outro e nenhuma das instâncias detém o completo controle sobre a ação. Quando existem instrumentos de apoio mútuo e de cooperação construídos a partir de negociações, as relações intergovernmentais se desenvolvem de forma parcialmente cooperativa e parcialmente antagônica, mas sempre mutuamente dependentes; a trajetória da Conder, entidade que até 1998 era encarregada da gestão da RMS, foi marcada por sucessivas mudanças político-institucionais, estimuladas por transformações nos processos econômicos, sociais e políticos ocorridos na região. Essas mudanças foram, em grande parte, condicionadas pelo maior ou menor respaldo político que a entidade e suas lideranças conseguiram arregimentar ao longo do tempo, aliado ao projeto político das lideranças estaduais, que sempre usaram a Conder como instrumento para o alcance de seus projetos. A maior mudança, no

5 Ver Conder (2000) para dados sobre as finanças dos municípios da RMS.

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entanto, ocorreu quando foi retirada da Conder a exclusividade da gestão metropolitana, passando a ser responsável pelo planejamento e execução de projetos urbanos, inclusive habitacionais, em todo o estado da Bahia. Diante do exposto, pode-se argumentar que, assim como ocorre nas demais regiões metropolitanas brasileiras, a gestão metropolitana na RMS não foi nem está desenhada para incorporar formas cooperativas de gestão do território. Inexistem instâncias formais ou informais voltadas para a cooperação (e nem sequer para a coordenação) entre estado e municípios e/ou entre municípios. Ademais, a constituição dessas instâncias, ou seja, a criação das condições institucionais (regras) para a cooperação, está ausente da agenda do mosaico de atores e agências que atuam nas regiões metropolitanas brasileiras em geral, inclusive na de Salvador. A ausência de mecanismos de cooperação gera, por fim, o vazio institucional da gestão e da governança metropolitanas hoje existente nas RM’s brasileiras. VI.4 – DESEMPENHO FISCAL DOS MUNICÍPIOS Este item procura compreender o desempenho fiscal dos municípios da Região Metropolitana de Salvador - RMS, visando estabelecer critérios de possibilidades de os municípios da RMS poderem liderar ou colaborar, financeira e administrativamente, com outros níveis de governo na implantação de políticas públicas de desenvolvimento urbano, nos respectivos territórios. De início, vale ressaltar que entre os dados disponíveis não estão compreendidos todos os municípios da RMS, estando excluídos Vera Cruz, Itaparica e Candeias. Distribuição das Atividades Econômicas e da População dentro da RMS Diferentemente de outras regiões metropolitanas analisadas, as atividades econômicas e a população não estão igualmente concentradas na cidade pólo – no caso a cidade do Salvador. Apesar de concentrar aproximadamente 80% da população (2004), Salvador não possui mais do que 21% do PIB metropolitano. Esta situação foi agravada, nas últimas décadas, fruto de três movimentos simultâneos: 1) a instalação do Centro Industrial de Aratu – CIA, no município de Simões Filho; 2) a instalação do Pólo Petroquímico de Camaçari; e 3) a transferência de indústrias instaladas em Salvador para municípios da região metropolitana, notadamente Camaçari e Simões Filho. Poder-se-ia, ainda, citar um outro movimento residual mas que não deixa de ser importante: a saída de serviços de Salvador para municípios vizinhos em razão da política de incentivos, ou melhor denominando, em razão da “guerra fiscal”. Assim, Salvador foi se transformando numa cidade especializada na prestação de serviços de nível mais elevado, a exemplo da educação superior (que nos últimos cinco anos também se concentrou no município de Lauro de Freitas, com as escolas privadas) e de tratamentos médicos de alta complexidade, além de ser a cidade sede do governo estadual e concentrar boa parte dos serviços públicos federais. Ao lado dessa especialização, que pode ser considerada como algo positivo, Salvador também vai adquirindo a característica de uma cidade-

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dormitório e empobrecida. Em 1996, o seu PIB per capita correspondia a R$ 7.140 ( a preços de 2000), sendo inferior ao de Camaçari e, sobretudo, ao de São Francisco do Conde (o 3º maior do Brasil). Tanto esse PIB como o maior índice de desemprego entre as regiões metropolitanas do Brasil (em torno de 24%), são indicativos desse empobrecimento. A Receita e Despesa da RMS A análise das finanças da RMS mostra que a atividade econômica não acompanha o movimento da população: ou seja, aqui, quanto menor a população maior o nível de atividade econômica – os exemplos marcantes são os municípios de Camaçari e São Francisco do Conde. Salvador, com 84,1% da população, só dispõe de 64,5% do total da receita corrente líquida da RMS. Em sentido oposto, tem-se os casos de Camaçari, Candeias, Lauro de Freitas, São Francisco do Conde e Simões Filho que, juntos, com apenas 17,8% da população, detêm 35,5% da receita corrente liquida total da RMS (tabela VI.8). Conforme dito anteriormente, a diferença da situação fiscal de Salvador “vis-a-vis” outros municípios decorre do fato dos dois maiores pólos industriais da Bahia estarem concentrados, respectivamente, em Camaçari e Simões Filho, de ter havido, no passado recente, a transferência das indústrias instaladas em Salvador para municípios vizinhos e da “guerra fiscal” que, também, transferiu empresas da área de serviços, sobretudo, para o município de Lauro de Freitas.

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Tabela VI.8 Receitas da Região Metropolitana de Salvador e dos Municípios

RUBRICAS TOTAL DA RMS

SALVADOR

CAMAÇARI

DIAS D´AVILA

LAURO DE FREITAS

MADRE DE DEUS

SÃO FRANCISDO DO CONDE

SIMÕES FILHO

POPULAÇÃO

01 Receita Total Líquida (02 + 49) 100,00 100,00 100,00

100,00 100,00

100,00 100,00

100,00

02 Receita Corrente Líquida (03+10+40+41) 03 Receitas Tributárias Próprias (04..09)

04 Imp.Sobre a Prop.Pred.e Territorial Urbana – IPTU

6,97 9,01 4,16 1,88 6,48 1,61 0,66 1,98

05 Imp.Sobre Serviços – ISS 15,66 18,32 9,94 13,31 19,19 5,11 7,90

11,12

06 Imp.Sobre Transmissão de Bens Imóveis – ITBI

1,74 2,32 0,85 0,14 2,10 0,00 0,02 0,13

07 Taxas / Contrib Melhoria 4,23 5,45 2,41 0,90 6,21 0,38 0,06 0,89 08 ICMS 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 09 Outros Impostos DF 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

10 Transferências Correntes (11+26+31+32+33+36+39)

11 Transferências da União (12..25)

12 Imposto de Renda Retido na Fonte – IRRF

1,53 1,64 1,71 0,66 0,84 0,83 1,80 0,58

13 IOF – Ouro 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

14 Imposto Territorial Rural – ITR 0,61 0,00 0,02 0,00 0,00 0,00 0,00

14,46

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15 Seguro Receita – LC nº 87/96 0,49 0,52 1,49 1,31 0,51 1,32 1,64 -6,19 16 Compensação Extração Mineral 0,91 0,00 0,00 0,00 0,00 28,40 0,00 0,00 17 Cota Petróleo 0,12 0,16 0,01 0,19 0,18 0,07 0,04 0,00

18 Fundo de Participação dos Municípios 11,07 12,22 8,89 15,14 14,49 4,47 3,46

12,27

19 Fundo de Participação dos Estados 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 20 Sistema Único de Saúde – SUS 3,56 3,89 5,26 3,47 3,38 0,91 0,65 0,00

21 Contribuição de Intervenção Domínio Econômico – CIDE

0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

22 Transferências FNAS 0,09 0,00 0,64 0,00 0,00 0,08 0,00 0,00 23 Transferências FNDE 0,36 0,36 0,47 0,00 0,77 0,17 0,26 0,00 24 Outras Transferências da União – DF 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 25 Demais Transferências da União 0,09 0,11 0,11 0,38 0,00 0,00 0,00 0,00 26 Transferências dos Estados (27..30)

RUBRICAS TOTAL DA RMS

SALVADOR

CAMAÇARI

DIAS D´AVILA

LAURO DE FREITAS

MADRE DE DEUS

SÃO FRANCISCO DO CONDE

SIMÕES FILHO

POPULAÇÃO

27 Cota-Parte do ICMS 27,85 17,37 50,22 41,08 17,58 48,09 67,56

41,11

28 Cota-Parte do IPVA 2,83 3,86 0,87 0,76 3,05 0,07 0,04 0,60 29 Cota-parte IPI-Ex 0,49 0,31 0,90 0,73 0,29 0,82 1,15 0,62 30 Cota-Parte do Salário Educação 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

31 Sistema Único de Saúde - SUS Estados/Municípios

0,01 0,00 0,00 0,00 0,00 0,12 0,04 0,00

32 Outras Transferências dos Estados/Municípios

0,39 0,34 0,52 0,67 0,32 0,50 0,75 0,00

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33 Transferências Multigovernamentais (34+35)

34 Transferências do Fundef 5,49 4,26 7,42

13,11 12,40 2,36 2,10

15,82

35 Complementação União - Fundef 0,33 0,29 0,50 0,89 0,84 0,16 0,14 0,00 36 Transferências de Convênios (37+38) 37 Transferências da União 0,51 0,66 0,01 0,94 1,19 0,00 0,00 0,10 38 Transferências dos Estados/Municípios 0,15 0,16 0,00 0,22 0,11 0,15 0,00 0,71 39 Outras Transferências Correntes 0,03 0,05 0,00 0,03 0,00 0,00 0,00 0,00 40 Receita da Dívida Ativa 1,53 1,90 0,66 0,53 2,93 0,04 0,10 1,33

41 Outras Receitas Correntes Líquidas (42+46+47+48)

42 Receita Patrimonial (43..45) 43 Receita de Valores Mobiliários 2,28 2,97 0,81 0,05 0,84 3,43 1,08 0,00 44 Receita de Concessões e Permissões 0,20 0,30 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 45 Outras Receitas Patrimoniais 0,21 0,18 0,12 0,00 1,10 0,01 0,00 0,84 46 Receita Agropecuária/Industrial/Serviços 1,32 1,89 0,00 0,00 1,33 0,44 0,12 0,00 47 Receitas de Contrib Econômicas 1,44 2,13 0,00 1,85 0,00 0,00 0,00 0,00 48 Demais Receitas Correntes Líquidas 3,85 4,00 1,82 1,75 3,14 0,10 10,41 1,98

49 Receita de Capital (50+51+52+53+56+59+60)

50 Operações de Crédito 0,05 0,07 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 51 Alienação de Ativos 0,02 0,00 0,14 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 52 Amortização de Empréstimos 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 53 Transferência de Capital (54+55) 54 Transferência da União 0,01 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,26

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RUBRICAS TOTAL DA RMS

SALVADOR

CAMAÇARI

DIAS D´AVILA

LAURO DE FREITAS

MADRE DE DEUS

SÃO FRANCISCO DO CONDE

SIMÕES FILHO

POPULAÇÃO 55 Transferência dos Estado/Municípios 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 56 Transferências de Convênios (57+58) 57 Transferências da União 0,23 0,27 0,05 0,00 0,70 0,36 0,00 0,00 58 Transferências dos Estados/Municípios 3,33 4,98 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 1,38 59 Outras Transferências de Capital 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 60 Outras Receitas de Capital 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 Fonte:

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Uma análise desagregada da receita mostra a mesma tendência e a exceção fica por conta do IPTU À medida que o município se expande, melhora a produtividade deste imposto, em razão do aumento natural da renda e da riqueza, melhorando o padrão de residências, mas também em razão de que, nos maiores municípios, as condições políticas para sua cobrança são mais favoráveis. Do ponto de vista da despesa, chama a atenção o mediano comprometimento dos recursos com o pagamento do pessoal, particularmente Salvador, comprometendo cerca de 42% do total de gasto. Madre de Deus aparece como o município que menos compromete recursos do orçamento com o pagamento de pessoa (Tabela VI.9) l.

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Tabela VI.9 Despesas da Região Metropolitana de Salvador e dos Municípios - 2003 Em %

DESPESA Estrutura da Despesa PRIORIDADE DE GASTO

Gasto Urbano

INDICADORES CIDADES

Despesa Total Líquida

Pessoal

Outras Despesas Correntes

Serviço da Dívida

Investimento e Outras Despesas de Capital

Rigidez do Orçamento Total

Rigidez do Orçamento Fiiscal

Gasto Social

TOTAL

Urbanismo

Habitação

Transporte

Saneamento

Gestão Ambiental

Salvador 100,00

31,74

47,10 8,86 12,30 55,19 56,92 66,53

36,28

30,58 0,70 5,00 ─ ─

Camaçari 100,00

35,53

50,36 5,15 8,96 57,65 58,21 60,65

11,88

4,48 1,21 0,16 6,02 0,00

Dias D’Ávila 100,00

46,66

33,42 7,96 11,96 70,54 70,58 62,14

10,78

8,14 0,15 0,00 2,48 0,01

Lauro de Freitas

100,00

43,22

35,72 2,39 18,68 58,45 58,94 29,20

17,21

17,18 ─ ─ 0,00 0,03

Madre de Deus 100,00

26,65

37,00 0,21 36,13 32,90 34,07 76,93

19,77

18,86 ─ ─ 0,68 0,23

São Francisco do Conde

100,00

39,03

37,26 6,60 17,11 56,71 57,33 75,37

23,46

22,88 0,30 ─ 0,26 0,01

Simões Filho 100,00

44,20

29,22 3,62 22,96 62,72 62,72 72,79

21,38

17,08 1,17 ─ 3,13 ─

Fonte:

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Por outro lado, considera-se relativamente elevado o índice de comprometimento da despesa com a rubrica Outras Despesas Correntes, principalmente nos casos relativos a Salvador e Camaçari. De todo modo, como se trata de uma região com um certo grau de industrialização e, portanto, de renda, boa parte dos serviços sociais fundamentais já estão municipalizados (a exemplo da educação fundamental e de parte da de 2º grau, além dos serviços de saúde de pequena e média complexidades), o que fazem elevar os gastos em custeio. Os gastos com investimento apresentam um comportamento bastante diferenciado: Camaçari apresenta 9% e Madre de Deus 36%.Deve ser ressalvado que Madre de Deus é um município criado há pouco tempo. Pode-se supor que, não tendo elevadas despesas com pessoal e com o serviço da dívida, possa destinar maior soma de recursos a investimentos No plano dos gastos por função, particularmente naquilo que se considera como gasto urbano – urbanismo, habitação, transporte, saneamento e gestão ambiental - , os municípios da RMS apresentam situações bem díspares. Primeiro, os baixos índices de Dias D’Ávila e de Camaçari nestas funções; segundo, o gasto dos demais municípios se concentra fundamentalmente no programa de urbanismo, visto que a política de habitação está praticamente desativada, o programa de transporte está concentrado em Salvador e o pouco que se faz no restante dos municípios praticamente é assumido pelo Governo Estadual, através do órgão metropolitano, no caso a CONDER – Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia, e os de saneamento e gestão ambiental também são realizados pelo governo estadual, seja mediante a Empresa Baiana de Água e Saneamento S/A – EMBASA ou do Centro de Recursos Ambientais – CRA; terceiro, o alto índice de Salvador (cerca de 31%) em gasto com urbanismo se deve ao fato de, nos últimos cinco anos, a prefeitura vem desenvolvendo um amplo programa de recuperação de jardins e das principais praças da cidade, além de obras de proteção de encostas. Esta análise da despesa, por fim, se completa com a interpretação dos indicadores de rigidez orçamentária. Caso se compreenda que a rigidez orçamentária é medida pelo quanto do orçamento está comprometido por determinação legal – saúde e educação – ou com aqueles gastos de difícil compressão. – a exemplo do serviço da divida, pessoal, legislativo etc. – então, pode-se considerar que os municípios da RMS estão, desse ponto de vista, numa situação bastante confortável, pois, em média, 40% do orçamento de gasto estão livres para alocações alternativas. Mais ainda, o município de Madre de Deus apresenta um índice médio de apenas 33% - o que se explica provavelmente em razão do seu noviciado em termos de autonomia municipal. Não obstante, é preciso cuidado com esse indicador, visto que numa interpretação livre pode-se querer concluir que as possibilidades de

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investimento são dadas pelos índices de “recursos livres” de vinculação. Isto não é necessariamente verdadeiro, pois existem gastos que não estão vinculados, ou não são compreendidos como incomprimíveis, mas são tão ou mais imperiosos que aqueles efetuados por determinação constitucional – veja o exemplo do gasto com a coleta do lixo da cidade Embora esta análise só alcance um ponto no tempo (o ano de 2003), ainda assim os dados dão evidências da estrutura da situação fiscal dos municípios que compõem, hoje, a Região Metropolitana de Salvador. E as mais relevantes são: Salvador, do ponto de vista econômico e fiscal, não concentra privilégios por ser a capital; isto decorre de uma política deliberada de governo de tirar de Salvador toda a base econômica de natureza industrial – que hoje se concentra mais fortemente nos municípios de Camaçari e Simões Filho. Até mesmo os empreendimentos turísticos de alto nível estão se concentrando mais no Litoral Norte, portanto fora de Salvador; Com isso, a capital vai se transformando numa cidade dormitório e por concentrar mais de 4/5 da população da RMS, a renda tributária per capita é baixa, portanto insuficiente para atender as demandas sociais, e sua dependência da ajuda “voluntária” dos governos estadual e federal é cada vez mais acentuada; À primeira vista, o volume de arrecadação de ISS nos municípios de São Francisco do Conde (que tem a segunda maior refinaria de petróleo do país – a Refinaria Landulfo Alves) e Camaçari (que sedia o maior pólo petroquímico) parece ser relativamente baixo vis-à-vis, outros municípios da RMS, notadamente Candeias e Dias D’Ávila; Os dados de despesa revelam um certo disciplinamento fiscal, particularmente no que diz respeito aos gastos com pessoal; Por conta da “estadualização” de políticas como habitação, saneamento e gestão ambiental, os municípios quase não alocam recursos nestas rubricas, concentrando os esforços no programa urbanismo; embora chame a atenção o baixo índice de aplicação por parte de Camaçari e de Dias D’Ávila;

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VI.5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS O perfil delineado para a RMS, a partir das informações apresentadas neste documento, confirma a sua importância dentro do cenário nacional. Como visto, a RMS coloca-se como a sexta região metropolitana do país em termos demográficos e a primeira do Nordeste em termos de criação de valor. Nessa perspectiva, Salvador, o pólo da região, também assume proeminência, respondendo por mais da metade do PIB baiano e pela quase totalidade do PIB metropolitano. Por concentrar o maior dinamismo econômico e a maioria da população da região, além de outros fatores que lhe conferem destaque dentre os municípios que compõem a região metropolitana, a cidade apresenta-se como relevante referência urbana no Brasil. Observa-se ainda que as iniciativas mais recentes de desenvolvimento econômico da RMS, baseadas na atração de novas indústrias e no incremento do turismo, acentuam a tendência de que para lá convirja a maior parte da riqueza da Bahia. Contudo, apesar da referida força, a economia da RMS tem apresentado um dinamismo limitado, o que traz repercussões a outras dimensões da vida da metropolitana. Em princípio, essa limitação encontra-se refletida no fato de que seu ritmo de crescimento demográfico, embora positivo, foi inferior aos das cinco principais regiões metropolitanas do Brasil durante os anos de 1990. Ademais, a insuficiência da pujança econômica traz conseqüências para as condições de ocupação e renda da população. Salvador e demais municípios da região metropolitana caracterizam-se por se mostrarem incapazes de oferecer melhores opções de subsistência às pessoas ali residentes. Ainda que esses problemas tenham caráter histórico – que remontam à estrutura produtiva pouco diversificada e mal assentada em bases capitalistas modernas, predominante na velha capital até meados do século passado –, a RMS vem sofrendo os impactos adversos da crise, do ajuste e da reestruturação produtiva por que vem passando a economia brasileira nos anos mais recentes. Tais impactos se traduzem na interrupção da tendência à estruturação do mercado de trabalho, na expressiva diminuição dos postos de trabalho (notadamente no setor industrial), no parco crescimento do número de vínculos formalizados e na expansão do assalariamento sem registro em carteira e da elevação da quantidade de pessoas que trabalham por conta própria em condições precárias. Assim, a confluência de fatores históricos com essas transformações recentes fez com que a RMS viesse a se configurar como uma região periférica e bastante desigual, com focos de afluência em uma extensa área caracterizada pela pobreza. Em termos demográficos, a RMS mostra-se quase que totalmente urbana, colocando-se como uma área atrativa para a migração de pessoas que vêm de outras partes da Bahia e do Brasil. Os emigrantes da RMS, por outro lado, destinam-se predominantemente

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ao Sudeste do país, onde as possibilidades de inserção econômica são mais promissoras. Tais movimentos migratórios se fazem sentir na composição etária da população da RMS. Por ser um pólo de atração de jovens adultos, a região tem uma grande proporção de pessoas com idades entre 15 e 64 anos, sendo que, ao longo da década de 90, observou-se um particular crescimento do número de jovens entre 15 e 24 anos, o que acirrou a necessidade de políticas públicas de inserção profissional voltadas para esse grupo etário. Ainda com relação ao perfil etário da população, é importante notar o aumento da proporção de idosos em todos os municípios da RMS e da redução do número de crianças de 0 a 4 anos de idade. Um outro traço que merece breve menção é a elevada proporção de negros e pardos presentes na população de Salvador e região metropolitana, fato que se coaduna com a conformação e evolução histórica do lugar. Com relação às taxas de homicídio, a RMS aparece em nono lugar na classificação nacional entre as regiões metropolitanas brasileiras. Assim como ocorre nos demais centros urbanos do país, as vítimas de homicídios são majoritariamente jovens do sexo masculino, residentes em áreas de periferia. A análise da questão da educação, por sua vez, revela que a RMS é marcada por grandes desigualdades. De uma maneira geral, os índices referentes a Salvador são melhores que os das demais localidades da região metropolitana. Além das desigualdades intermunicipais, chama atenção a existência de iniqüidades intramunicipais, o que fica explícito através da apreciação da forma como se distribuem espacialmente os indicadores de educação no interior dos territórios de cada um dos municípios. No que concerne ao tema da moradia, todos os municípios da RMS apresentam grandes proporções de suas áreas ocupadas de maneira informal. Tais áreas localizam-se eminentemente nas periferias urbanas, caracterizando-se pelos elevados graus de deficiências urbanísticas e pela presença de construções precárias, deficientes de atributos de habitabilidade. Dentre todos os municípios, apenas Salvador possui indicadores razoáveis de acesso dos domicílios a infra-estrutura e a alguns serviços básicos, como abastecimento de água, escoamento sanitário e coleta de lixo. Há que se comentar ainda sobre a questão do transporte na RMS. Sobre esse assunto, Salvador coloca-se como ponto central do sistema de transporte não apenas da região metropolitana, mas de todo o estado da Bahia. Apesar da não centralidade geográfica da capital baiana, é de lá que chegam e saem as rodovias, ferrovias, linhas aéreas ou de navegação. Dessa forma, os canais que estabelecem as ligações físicas entre as distintas localidades da RMS estão atrelados a Salvador. Para lidar com a complexidade de todas essas questões e problemas que perpassam o âmbito da região metropolitana, seria desejável que

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se pudesse contar com mecanismos de cooperação e de coordenação das relações intergovernamentais e da gestão desse espaço territorial. No entanto, tais mecanismos (ou instituições) de cooperação são quase inexistentes no caso da RMS, assim como é comum acontecer em diversas regiões metropolitanas localizadas em países em desenvolvimento, onde ações cooperativas não costumam se consolidar ao longo do processo de metropolização. Nesse sentido, Salvador não se coloca como uma exceção em meio às demais regiões metropolitanas brasileiras: devido a diversas configurações políticas, tributárias, legais e administrativas, que tendem a constranger a cooperação entre os municípios metropolitanos e entre estes e o estado, pode-se dizer que a gestão metropolitana na RMS não se reveste de formas cooperativas de gestão do território. Não se dispõe de instâncias formais ou informais que primem pela cooperação e/ou coordenação intermunicipal ou entre estado e municípios. Até o presente momento, a criação de tais condições institucionais para a cooperação ainda não integra a agenda dos atores e agências influentes na RMS, da mesma forma como se observa em suas congêneres brasileiras. VI.6 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGRANOFF, Robert (2003) “Intergovernmental Policy Management”. Trabalho apresentado na conferência internacional “Which Federalism?”. Brindisi-Itália, 12-14 de novembro. BAHIA. CONDER. Painel de informações. Salvador: 1992. BAHIA. CONDER/SEI. Informações básicas dos municípios baianos. Salvador: 1994. BORGES, Ângela Maria Carvalho. Desestruturação do mercado de trabalho e vulnerabilidade social: a região metropolitana de Salvador na década de 90. Salvador: 2003. Tese (Doutorado em Ciências Sociais)- Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA. BORGES, Ângela; FILGUEIRAS, Luis A. M. Mercado de trabalho nos anos 90: o caso da RMS. Bahia Análises & Dados. Salvador, SEI, v. 5, n. 3, p. 30-63, 1995. BORJA, Jordi; CASTELS, M. Local e global. La gestión de las ciudades en la era de la información. Madrid: Taurus, 1997. BRANDÃO, Maria D. de A. O último dia da criação: mercado, propriedade e uso do solo em Salvador. In: VALLADARES, Lícia do P. (Org.). Habitação em questão. Rio de Janeiro: Zahar, 1981. CALDEIRA, Teresa P. do R. Cidade dos muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo. São Paulo: Ed. 34/EDUSP, 2000. CARVALHO, Inaiá M. M. de; SOUZA, Guaraci A. A. de. A produção não capitalista no desenvolvimento capitalista de Salvador. In: SOUZA, Guaraci A. A. de; FARIA, Vilmar (Orgs.). Bahia de todos os pobres. São Paulo: CEBRAP, 1980. p.71-102. CARVALHO, Inaiá M. M. de; ALMEIDA, Paulo Henrique; AZEVÊDO, José Sérgio G. Dinâmica metropolitana e estrutura social em

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