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VIAGEM VISUAL Rio de Janeiro Uberaba Belo Horizonte Paulo Rezende

VIAGEM VISUAL

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Imagens que ilustram minha vivência com as cidades do Rio de Janeiro, Uberaba e Belo Horizonte: deslumbre com a arquitetura e a natureza; curiosidade com os usos e costumes; denúncia do descaso com o meio ambiente; perturbação com a passagem do tempo.

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VIAGEM VISUAL Rio de Janeiro Uberaba Belo Horizonte

Paulo Rezende

Apresentação 5

Introdução 7

Rio de Janeiro 8

Uberaba 19

Carvoaria 25

SOS Rio Uberaba 33

Folia de Reis 42

Casarões de Uberaba 54

Mata Atlântica – uma pálida lembrança 61

Aves do Cerrado 66

Praça da Liberdade 79

A visão do Cemitério 85

Serra da Canastra 92

Passagem do Tempo 101

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Apresentação

Paulo Vicente de Rezende rodou meio-mundo para descobrir-se e

realizar-se naquilo que realmente gosta. Nasceu em Conquista -

MG, numa fazenda onde corria um riachozinho alegre saltando entre

pedras escuras. De lá veio para Uberaba, depois Belo Horizonte, Rio

de Janeiro e novamente em Uberaba. Foi na década de 50 que nos

conhecemos e nos tornamos amigos. Fui seu professor e

trabalhamos juntos em grupos de conscientização política, entre a

classe estudantil. No Rio de Janeiro estudou Ciências Sociais. Mas

nada disso fez com que se realizasse. Procurou novos rumos e foi

terminar estudando pintura, desenho, fotografia e escultura

contemporânea na Escola de Artes Visuais do Parque Lage.

Muitos anos se passaram. Vim a encontrá-lo novamente aqui em

Uberaba. Foi uma notícia vinda pelo telefone: “Prata, estou

novamente em Uberaba. Vim para ficar.” Fui procurá-lo. Eu tinha

naquele momento na memória aquele adolescente de 58. Estava

diferente, de bigode e barbicha e sem aqueles cabelos negros que

tratava com vaidade. Era agora um senhor, já casado, pai e avô.

“Time goes by...”

Paulo não era mais um bancário, era um artista que se interessava

apenas pela arte enquanto arte. Era outra pessoa, mas o mesmo

amigo de sempre. Com freqüência nos encontramos. Ele sabe que

admiro seu trabalho, por isso não me deixa por fora daquilo que vai

criando. É um artista fora dos padrões convencionais. Procura o

detalhe. Vai em busca de ângulos aparentemente sem sentido. Não

é um realista no sentido que chamamos de ingênuo. Seus quadros,

para os leigos no assunto, assustam e causam estranheza. Pintura

ou escultura para ele não é algo para ser entendido ou explicado.

Ele vai além do comum.

Aprendemos na velha filosofia que a arte é a expressão do belo e

belo é tudo aquilo que visto agrada. Como diziam os latinos:

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“Pulchrum est quod visum placet”. Paulo Rezende foge desse

esquema. Seus quadros, sua pintura e suas fotos não procuram

agradar. Ele procura novos rumos. Usa materiais estranhos, papel,

pigmento, chapas, cobre oxidado sobre diferentes suportes. É

originalíssimo. São trabalhos experimentais, idéias sem procura de

um resultado final, criação aparentemente sem equilíbrio. Todos nós,

sem que tomemos consciência, estamos sempre à procura de um

sentido para as coisas, de significados. É isto o que caracteriza

Paulo Rezende: a procura.

Na fotografia é a mesma tendência: a procura de ângulos

aparentemente sem significados. Neste livro, agora editado, seu

objetivo é perpetuar os lugares pelos quais passou: Uberaba, Belo

Horizonte, Rio de Janeiro. Quase sempre em preto e branco. A

fotografia está no seu sangue. É bisneto de José Severino Soares

(1835-1917), premiado muitas vezes na Exposição Nacional de

Fotografia no Rio de Janeiro. Paulo presta homenagem ao seu

bisavô com duas fotografias. Seu livro é um livro de memórias em

fotos. Eternizou em suas fotos tudo o que o atraia: velhos casarões

de Uberaba, igrejas antigas (ângulos), aves do cerrado, folia de reis,

carvoarias, Serra da Canastra.

Em 2007, Paulo Rezende, no Centro de Cultura José Maria Barra,

fez uma exposição realmente original. São fotografias de pessoas

nascidas em cada ano, de 1901 a 2007. Cada foto como que

congela o tempo em que foi tirada. Por amizade e delicadeza,

“congelou-me” em 1922. Faz tempo, hein, Paulinho?

No mais, meus parabéns ao velho amigo ainda não congelado.

Parabéns pela originalidade de seu livro como “aquele que corre

atrás de coisas que ninguém vê”.

Padre Prata

Uberaba, julho de 2008

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Introdução

Na década de 60, sai de Uberaba para trabalhar e estudar. Naquela

época, era a viagem ao futuro desconhecido, sedutor e cheio de

esperança. Uma aventura para todo jovem interiorano, à procura de

oportunidade e crescimento no grande centro urbano.

Inicialmente, fui para Belo Horizonte, onde terminei meu segundo

grau, no Colégio Estadual, ingressei na Faculdade de Ciências

Econômicas, no Curso de Sociologia e fui trabalhar num banco

mineiro.

Posteriormente, fui para o Rio de Janeiro, onde permaneci por mais

de trinta anos. Lá, realmente vivi e curti outras vidas. Na década de

90, estudei pintura, desenho, escultura contemporânea, gravura,

fotografia na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Foi a minha

relação direta e real com a arte: a realização de minhas exposições

e o contato com artistas de expressões e linguagens diferentes.

A partir de 2002, inicio uma viagem visual com fotografais do Rio de

Janeiro, Uberaba e Belo Horizonte. Imagens que ilustram minha

vivência com estas cidades e seu entorno: deslumbre com a

arquitetura e a natureza; curiosidade com os usos e costumes;

denúncia do descaso com o meio ambiente; perturbação com a

passagem do tempo.

Paulo Rezende

Uberaba, 2011

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Rio de Janeiro

Rio foi e continua sendo a minha grande experiência de vida.

Trabalho, arte, trilhas, escaladas, montanhas, mar, beleza, asa delta,

praias, lagoas, calçadão, maresia, vida trepidante, alegria,

descontração, cinema, shopping, restaurantes, descobertas.

Em cores ou preto e branco, uma maravilha que seduz, hipnotiza e

encanta o olhar. No penúltimo dia de minha partida, em 2002, para

uma ausência momentânea, registrei, com fotos em preto e branco,

um percurso que me é tão rico e sedutor: Botafogo, Copacabana,

Lagoa Rodrigues de Freitas, Escola de Artes Visuais Parque Lage,

Ipanema, Leblon, São Conrado, Barra, Lagoa de Marapendi,

Recreio.

Nos anos seguintes, nas oportunidades que retornava ao Rio,

continuava a fotografar os lugares por onde passava, congelando as

imagens que nunca deixei de admirar.

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Enseada de Botafogo

Copacabana

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Escola de Artes Visuais do Parque Lage

Lagoa Rodrigues de Freitas

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Ipanema e Leblon

Barra da Tijuca

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Recreio dos Bandeirantes

Praia do Recreio

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Baia da Guanabara

Centro do Rio de Janeiro – Praça XV

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Centro Cultural do Banco do Brasil – Instalação da Exposição Lusa a Matriz Portuguesa

Mosteiro de Santo Antônio

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Marina da Glória

Barco de Pescadores – Barra da Tijuca

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Cordão de Biguás – Barra da Tijuca

Praia da Barra da Tijuca

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Lagoa de Marapendi

Pescador – Lagoa de Marapendi

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Rio de Janeiro vista de Niterói

Rio de Janeiro vista aérea

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Uberaba

O primeiro impulso que tive, ao retornar a Uberaba, após alguns

anos, foi rever algumas construções, inauguradas nas primeiras

décadas do século XX, que tanto me seduziram na infância: Grupo

Escolar Brasil, Cine Royal, Igreja São Domingos, Igreja Santa Rita,

Cine Teatro São Luiz, Mercado Municipal, Capela do Colégio Nossa

Senhora das Dores, Palácio Episcopal.

Ao fotografar estes espaços, ia lembrando as histórias que contavam

de meu bisavô, um fotógrafo pioneiro, viajor por dezoito Estados

brasileiros e Europa, que aqui veio morar e falecer. José Severino

Soares (1838-1917), considerado o primeiro fotógrafo de Uberaba,

premiado numa Exposição Nacional de Fotografias, realizada no Rio

de Janeiro em 1875, retratou pessoas e registrou momentos

históricos da cidade. Com duas fotos dele, uma de meu avô, por

volta de 1908 e outra da inauguração do Grupo Escolar Brasil, em

03/10/1909, presto minha homenagem.

Minhas fotos em preto e branco foram tiradas, com filme de baixa

sensibilidade, Kodalith ASA 6, em junho de 2002.

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Accioly Severino Soares, fotografado por José Severino Soares, por volta de 1908

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Foto de José Severino Soares da Inauguração do Grupo Escolar Brasil, em 03/10/1909

Mercado Municipal

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Igreja de Santa Rita

Igreja de São Domingos

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Capela do Colégio Nossa Senhora das Dores

Palácio Episcopal

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Igreja Santa Teresinha

Cerâmica Misson

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Carvoaria

O contato que mantive com uma carvoaria no Triângulo Mineiro, em

2003, possibilitou o registro de algumas fotos em preto e branco e

um breve contato com o trabalhador.

O lado mais triste da Carvoaria, além da poluição e agressão ao

meio ambiente, é o trabalho do carvoeiro. Por um período, longe de

sua família, se estabelece junto aos fornos de onde se afasta,

normalmente, após a conclusão da queima e armazenamento do

carvão.

Um precário barraco, construído de pau a pique e lona, serve de

moradia. O trabalho é executado sem nenhuma proteção, sob forte

calor e a presença sufocante da fuligem e da fumaça. No domingo

preservado, a monotonia é afugentada com muita cachaça.

Tive uma recepção acolhedora e alegre, contrastando com um

ambiente de desconforto e solidão.

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SOS Rio Uberaba

Em 2003, recém chegado à Uberaba e chocado com a poluição do

Rio Uberaba, registrei algumas imagens em preto e branco, num

trecho de aproximadamente 100 metros, localizado na cidade e

próximo da avenida denominada Via Verde. Além do Rio Uberaba,

fotografei seu afluente – um esgoto a céu aberto –, nos fundos da

Fundação Cultural de Uberaba. A ausência de cores nas fotos

denunciava a verdadeira cor plúmbea das águas.

Em 2007, quando novamente voltei a fotografar o mesmo local,

agora em cores, a constatação foi a mesma: o rio continuava poluído

e teimava em sobreviver, com sua bela mata ciliar e com uma fauna

que resistia à poluição e ao mau cheiro.

A água é o nosso bem mais precioso: constitui dois terços de nosso

corpo e 70% da superfície da Terra. Menos de 1% da água terrestre

é água doce e própria para consumo humano.

No Brasil, apesar de ter a maior bacia hidrográfica do mundo, se o

consumo continuar no ritmo atual, cerca de 30% da população

poderá ter de racionar água até 2025.

A água está se tornando, progressivamente, um dos principais focos

de conflito do presente século. Mas, infelizmente, ela continua sendo

tratada como uma dádiva eterna que não precisa de cuidados:

desperdiçamos, poluímos e desprezamos o nosso bem mais

precioso.

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Folia de Reis

A Folia de Reis ou Reisado é uma festa popular, de caráter religioso,

herdada dos colonizadores portugueses. Sua comemoração era

semelhante à portuguesa, pelo menos até o século XVIII, com trocas

de presentes na véspera do Dia de Reis. Em Portugal, em meados

do século XVII, tinha como principal finalidade divertir o povo. No

Brasil, com o tempo, adquiriu traços mais populares, misturando-se

a novos elementos, como o candomblé, no Rio de Janeiro, ou às

congadas, em Alagoas.

Atualmente, a Folia de Reis se constitui de um auto, em que são

dramatizadas as passagens bíblicas do nascimento de Cristo, da

visitação dos reis magos e da fuga da sagrada família para o Egito.

É uma manifestação alegre e colorida, impregnada de expressão de

fé e os preciosos versos são preservados de geração em geração,

por tradição oral.

Entre a véspera de Natal e o dia 6 de janeiro – Dia de Reis –, grupos

de cantadores e instrumentistas, trajando roupas coloridas e

transportando a bandeira, percorrem a cidade, entoando versos

relativos à visitação dos Reis Magos – Baltazar, Belchior e Gaspar –

ao Menino Jesus e recolhendo oferendas – comida e dinheiro. Nas

apresentações, é “oferecida” a bandeira do grupo – enfeitada com

fitas e santinhos –, à qual tributam especial respeito. A Bandeira

Guia ou Santa Guia – simbolizando a estrela que orientou os Reis

Magos na visita ao menino Jesus – é o maior símbolo da Folia de

Reis e vai sempre à frente.

O grupo – normalmente integrado por 12 membros (mesmo número

dos apóstolos) – é composto pelo Alferes (ou Capitão, chefe da

Confraria), dos cantadores, instrumentistas (viola, violão, sanfona,

reco-reco, chocalho, cavaquinho, pandeiro, triângulo, caixa são os

principais instrumentos) e palhaços. Os palhaços, representando os

soldados do Rei Herodes, vestidos com roupas coloridas e cobertos

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por máscaras, são responsáveis pela distração e divertimento de

quem assiste à apresentação e vão sempre afastados um pouco da

formação normal da Folia, nunca se adiantando à bandeira.

A Folia de Reis é comemorada, notadamente, em cidades do interior

do Nordeste, Minas Gerais, Goiás, São Paulo e nas periferias de

grandes cidades. Na década de 20, estava restrita ao meio rural.

Com a intensa migração dos camponeses para os grandes centros

urbanos, houve o deslocamento das antigas Companhias de Reis. A

Folia de Reis, ao lado de Congadas e Moçambique, é uma das

manifestações do folclore mais antigas em Uberaba-MG.

Atualmente, esta cidade conta com, aproximadamente, 100

companhias.

As fotos em preto e branco foram tiradas por ocasião do 48º

Encontro Anual de Folia de Reis, realizado em 12 de fevereiro de

2006 e, as fotos em cores, em 4 de março de 2007.

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Casarões de Uberaba

Na cidade de Uberaba-MG, no final do ano de 1.800 e nas primeiras

décadas do ano de 1.900, foram construídos casarões, tanto em

estilo art déco e eclético, com elementos neoclássicos, como na

arquitetura islâmica indiana – esta em decorrência do intenso

contato dos criadores de gado Zebu com a Índia.

No decorrer dos anos, poucos foram preservados, alguns tombados

pelo Patrimônio Histórico e restaurados – como resgate da cultura e

preservação de uma época –, muitos derrubados e, em seu lugar,

construídos diferentes tipos de edificação.

Os casarões remanescentes – que, no passado, tiveram momentos

de glória e hoje se encontram abandonados e em avançado

processo de deterioração – ainda resistem, à espera de restauração

e inclusão definitiva à memória arquitetônica da cidade.

As fotos em preto e branco foram tiradas nos meses de março e abril

de 2006.

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Mata Atlântica – uma pálida lembrança

No início do ano de 2007, pela manhã, ao longo da Rodovia

Anhanguera, no sentido da cidade de Ribeirão Preto-SP ao

Triângulo Mineiro, enfrentei um tempo chuvoso, totalmente fechado,

com baixa visibilidade.

A visão de uma paisagem desolada, com raríssimos exemplares de

uma outrora exuberante Mata Atlântica, criava um ambiente lúgubre

em contraste com a luminosidade que normalmente está presente

na região.

A presença de isoladas e pouquíssimas palmeiras, ipês, embaúbas,

cedros, jequitibás, buritis inseridos num cenário momentâneo de

nebulosidade, carregava a lembrança pálida, apagada e muito

fragmentada do território original ocupado pela Mata Atlântica.

A Mata Atlântica percorria o litoral brasileiro de ponta a ponta,

ocupando uma área de 1 milhão e 300 mil quilômetros quadrados.

Tratava-se da segunda maior floresta tropical úmida do Brasil, só

comparável à Floresta Amazônica e, atualmente, restam apenas

cerca de 5% da sua extensão original.

Em relação ao Estado de São Paulo, a Mata Atlântica cobria 80% do

seu território. O início do desmatamento na região fotografada

coincide com a formação das primeiras fazendas de café do século

19 e prosseguiu, até hoje, com a produção de álcool e açúcar.

Depois dos 500 anos de ocupação, o que restou da Mata Atlântica

está confinado aos poucos corredores ainda existentes ao longo das

encostas, local onde era mais difícil cortar, em especial nas regiões

Sul e Sudeste, ao longo das Serras do Mar, Geral e da Mantiqueira.

Além desses remanescentes, o que ficou são ilhas isoladas no

planalto e na região Nordeste.

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Aves do Cerrado

Todas as fotos foram tiradas no estado de Minas Gerais,

especificamente na cidade de Uberaba e na zona rural de Sacramento.

Deslumbrado pela grande quantidade de espécies de aves na cidade

de Uberaba, onde atualmente estou residindo e trabalhando, decidi

iniciar um trabalho fotográfico no ano de 2007. Posteriormente, visitei a

área rural de Sacramento e a Serra da Canastra.

A avifauna do Cerrado, com cerca de 837 espécies – de mata, de

campos de cerrado, de campos de altitude, brejos, matas ciliares,

veredas de buritis, rios, lagoas –, é extremamente rica e diversa,

abrangendo aproximadamente metade das aves listadas no Brasil.

As áreas nativas, hoje, representam menos de 30% de sua extensão

original. O Cerrado, um dos biomas de maior diversidade de fauna e

flora do mundo, integra o bloco dos 25 grandes biomas mais

ameaçados do planeta, segundo estudo da ONG Conservation

International.

As aves respondem à ação antrópica, colonizando novas áreas,

abandonando outras, ou permanecendo nos habitats pouco alterados

Com as construções das cidades, ocorreu a substituição dos ambientes

naturais pelos habitats ditos antrópicos – ruas, praças, pomares, lagos,

jardins, gramados, casas, prédios –. Nas áreas rurais, fez-se a

conversão do cerrado nativo por áreas de pastagens, cultivos

agrícolas, fazendas.

Se quisermos ter a companhia das aves do cerrado, precisamos da

vegetação e da paisagem do cerrado, de plantas, flores e frutos, bem

como permitir a sobrevivência, controlando predadores, coibindo a

caça e a captura, estimulando reprodução em cativeiro para atender à

demanda de aves de estimação, realizando pesquisas para manejar o

ambiente de forma favorável a toda avifauna nativa.

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Alma-de-gato (piaya cayana)

Anu-branco (guira cuckoo)

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Bem-te-vi (pitangus sulphuratus)

Canário-da-terra-verdadeiro (sicalis flaveola)

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Papa-mosca-do-cerrado (culicivora caudacuta)

Tucanuçu (ramphastos toco)

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Gavião-carijó (rupornis magnirostris)

Encontro (icterus cayanensis)

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Gralha-do-cerrado (cyanocorax cristatellus)

Tico-tico (zonotrichia capensis)

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Birro (melanerpes candidus)

Caracará (caracara plancus)

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Príncipe, verão (pyrocephalus rubinus)

Curicaca-comum (theristicus caudatus)

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Saí-andorinha (tersina viridis)

Suiriri (tyrannus melancholicus)

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Maria faceira (syrigma sibilatrix)

Sabiá-do-campo (mimus saturninus)

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João-de-barro (furnarius rufus)

Periquito-rei (aratinga aurea)

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Seriema (cariama cristata)

Pica-pau-do-campo (colaptes campestri)

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Sabiá-do-banhado (embernagra platensis)

Tiziu (volatinia jacarina)

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Praça da Liberdade

Belo Horizonte foi a primeira grande cidade que conheci. Naquela

época, havia um grande êxodo de jovens das cidades do interior que

procuravam, na grande cidade, a oportunidade de crescimento

escolar, profissional. O contato com um novo mundo, mais

trepidante e repleto de novidades, provocava uma grande excitação

e carga emocional. Tempos de descobertas, de mudanças

embaladas pela música dos Beatles, pela nouvelle vague, pelas

pregações do Frei Xico, pelas aulas de antropologia do Rubinger,

pelos movimentos de esquerda, pelo ambiente surreal e bachiano do

Bu “Che” co. Momentos precocemente abafados pela TFM, pelo

movimento militar.

Em fevereiro de 2007, depois de alguns anos, visitei, com certa

nostalgia e com outro olhar, a capital mineira. Agora, bem maior,

com novas construções, shoppings, concessionárias, locais e bairros

transformados, uma nova Savassi. Mas a grande surpresa foi a

Praça da Liberdade, ponto de encontro da cidade, com seu

estupendo conjunto arquitetônico e paisagístico restaurados: Palácio

da Liberdade, Secretarias de Estado em estilo eclético com

elementos neoclássicos, construções no estilo Art Déco, prédios

modernos como o Edifício Niemeyer e a Biblioteca Pública, coreto,

fontes e a exuberante e magnífica aléia de palmeiras imperiais.

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A visão do Cemitério

A visão do cemitério sempre nos causa certo temor. Visitá-lo, só

mesmo como obrigação, algo forçado: em enterro de parente, de

amigos próximos, de celebridades, de pessoas com quem

estabelecemos um vínculo qualquer.

Quando criança, ir ao cemitério no dia 2 de novembro, geralmente

sob um sol escaldante, era uma obrigação mórbida, revestida quase

sempre de curiosidade: caminhar pelas ruas dos túmulos à procura

de algum conhecido morto, olhar as fotos e ficar imaginando como

seriam essas pessoas em vida. Ou, simplesmente, vagar o olhar

sobre as torres, as cruzes, os vasos, as inscrições, as estátuas de

anjos e as diferentes edificações, numa experiência sem sucesso ao

tentar decifrar aquela estranha, irreal e silenciosa moradia.

Hoje, vou visitar o cemitério sem nenhuma obrigação. Com outra

curiosidade e olhar: entender e registrar as diferenças construídas.

A construção do cemitério, mantendo todas as diferenças existentes

em vida – edificações imponentes, outras pobres, locais valorizados

contrastando com simples espaços –, somente resulta numa

tentativa inútil de dissimular o nivelamento imposto pela morte.

As fotos do cemitério de Uberaba foram tiradas em março de 2007.

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Serra da Canastra

Em julho de 2007, fizemos uma inesquecível excursão ao Parque

Nacional da Serra da Canastra. Uma paisagem de tirar o fôlego: ar

puro, chapadão a perder de vista, longínquas montanhas, céu de um

azul intenso. As grandes ondulações de terreno, com predominância

da vegetação rasteira, constituíam uma paisagem única. Uma rara e

deliciosa sensação de ser único naquela imensidão.

Época de extrema seca, as matas ciliares eram isoladas e

destacadas manchas verdes numa imensa planície de tons

desvanecidos. Raras flores se destacavam e algumas poucas aves

(seriema, urubu-rei, maria-branca, maria-preta, bico de pimenta, tico-

tico, caracará e outras por nós desconhecidas) davam sinal de vida.

Para nossa frustração, não encontramos as grandes atrações: o

lobo-guará, o tamanduá-bandeira, o veado-campeiro. Antes de

iniciar a saída do Parque, a parada obrigatória para visitar a

nascente do Velho Chico.

Após 60 km de estrada de terra, descemos a serra e rumamos para

o vale com vista privilegiada do belo, imponente e magnífico maciço

da Serra da Canastra. Outras surpresas nos esperavam: a saborosa

comida mineira, o contato com o Rio São Francisco, a visita

imperdível à Cachoeira Casca D’Anta – 186 metros – e o

estonteante vôo de ultraleve sobre o vale e o chapadão da Serra da

Canastra.

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Passagem do Tempo

Em setembro de 2007, realizei, no Centro de Cultura José Maria

Barra, SESI/FIEMG, Uberaba, uma exposição de fotografias, numa

tentativa de registrar o período ocorrido nos últimos cento e seis

anos, um quinto da história do nosso País.

As próprias fotos das pessoas, nascidas em cada ano, de 1901 a

2007, tentam congelar o tempo na ocasião em que foram tiradas.

Os registros dos eventos, nascimentos e falecimentos, acontecidos

em cada ano, permitiu à memória saltar sobre a cronologia,

recuperar o tempo passado e concluir, numa reflexão viva do

presente, que o homem é um ser que existe no tempo e que a vida

humana é uma passagem.

Das 106 pessoas fotografadas, selecionei onze, cada uma

representando a década de seu nascimento.

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1901-2007, Vó Fiúca

Início do século XX

Pela primeira vez, realiza-se a entrega do Prêmio Nobel: Física, Química,

Fisiologia ou Medicina, Literatura e Paz.

Segurança nas transfusões com a classificação dos tipos sangüíneos (A/B/O)

Realizada em Paris a primeira exposição do jovem pintor (19 anos) Pablo

Picasso

Promulgada, no Brasil, a 1ª Constituição Republicana

Santos Dumont ganha o prêmio Deutsch de la Meurthe por contornar a torre

Eiffel

No Rio, a capoeira, o batuque e a umbigada são proibidos

A “Cidade de Minas”, capital de Minas Gerais, é rebatizada como “Belo

Horizonte”

Nascimento de Carl Barks, criador do Pato Donald e outras personagens (m.

2000), Hirohito, Imperador do Japão (m. 1989), Louis Armstrong, músico (m.

1971), Walt Disney, cineasta (m. 1966)

Falecimento da Rainha Vitoria do Reino Unido (n. 1819), Giuseppe Verdi,

compositor italiano de óperas (n. 1813)

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1912, Galdino

Os EUA absorvem 36% das exportações brasileiras

Fundado o Santos Futebol Clube

Fundada a Faculdade de Medicina de São Paulo (USP)

Titanic afunda na viagem inaugural

Nascimento de Jackson Pollock, pintor norte-americano (m. 1956),

Jorge Amado, escritor (m. 2001), Luiz Gonzaga, o “rei do baião” (m.

1989), Mazzaropi, comediante (m. 1981), Michelangelo Antonioni,

cineasta italiano (m. 2007)

Literatura: Tarzan dos Macacos, de Edgar Rice Burroughs

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1922, Padre Prata

Descoberta a vitamina E

Criado o Imposto de Renda

Semana de Arte Moderna

Oficializada a letra do Hino Nacional Brasileiro

Formação da União Soviética

Fundação do Partido Comunista do Brasil

O nadador Johnny Weissmuller (futuro Tarzan em 1932) bate o recorde dos

100 m livre (58,6 segundos)

Nascimento de Pier Paolo Pasolini, cineasta, escritor (m. 1975), Leonel

Brizola, político (m. 2004), Otto Lara Resende, escritor mineiro (m. 1992),

Tônia Carrero, atriz, Darcy Ribeiro, antropólogo, escritor (m. 1997), José

Saramago, escritor português (m. 2010)

Falecimento de Gastão de Orleans, Conde D´Eu (n. 1842)

James Joyce publica Ulisses, marco da literatura moderna

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1936, Cezar

Publicação da primeira tira de BD Fantasma, de Lee Falk.

Hitler assina aliança com o ditador italiano fascista Benito Mussolini

Nascimento de Martha Rocha, Miss Brasil, Éder Jofre, pugilista, Pedrinho

Mattar, pianista (m. 2007), Luiz Fernando Veríssimo, escritor

Literatura: Raizes do Brasil de Sergio Buarque de Holanda

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1949, Cidmar

Criação da OTAN

União Soviética testa sua primeira bomba atômica

Mao Tsé-tung funda a República Popular da China

A Alemanha é oficialmente dividida em dois países

Criado o Dia dos Namorados no Brasil

Nascimento de Djavan, cantor, Niki Lauda, piloto de F1, Ana Maria Braga,

apresentadora de TV, Antonio Fagundes, ator, Bete Mendes, atriz,

Emerson Leão, futebolista, Meryl Streep, atriz, Fagner, cantor, Simone,

cantora

Falecimento de Richard Strauss, compositor austríaco (n. 1863)

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1957, Cardoso

Considerado o ano inaugural do movimento musical urbano da Bossa Nova

Tratado de Roma estabelece a Comunidade Econômica Européia

Lançamento do Sputnik I, o primeiro satélite artificial a orbitar a Terra

O piloto argentino Juan Manuel Fangio vence o GP da Alemanha, em

Nürburgring e conquista seu quinto título mundial na Fórmula 1

No Maracanã, Pelé estreia na seleção brasileira, com 16 anos de idade

A Filial Brasileira da Volkswagen começa a funcionar com a produção diária

de oito veículos

Nascimento de Osama bin Laden (m. 2011), fundamentalista islâmico, Spike

Lee, cineasta

Falecimento de Humphrey Bogart, ator (n. 1899), Washinton Luis, Presidente

do Brasil (n. 1869), Diego Rivera, pintor mexicano (n. 1886)

108

1966, Gislaine

China: revolução cultural queima livros ocidentais

Golpe de estado que instaurou a ditadura argentina

Os Beatles dão o seu último concerto, em São Francisco

Nos EUA é concebido um aparelho que roda jogos eletrônicos na

televisão, lançado comercialmente apenas seis anos mais tarde

Entra no ar, em São Paulo, no canal 05, a TV Globo

Inauguração da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

O presidente Castello Branco fecha o Congresso Nacional

A jovem equipe do Cruzeiro vence o melhor time de futebol da época, o

Santos, por 3 a 2, no Pacaembu e sagra-se campeão da Taça Brasil

Nascimento de Romário, jogador de futebol, Alexandre Borges, ator, Mike

Tyson, boxeador campeão de peso pesados, Fernanda Torres, atriz,

Cláudia Raia, atriz, Giulia Gam, atriz

Falecimento de Venceslau Brás, Presidente do Brasil (n. 1868), Walt

Dysney (n. 1901), Buster Keaton, comediante (n. 1895)

109

1978, Marcinho

O cardeal polonês Karol Józef Wojtyła se torna o papa João Paulo II

Nasce na Inglaterra Louise Brown, o primeiro bebê de proveta do mundo

Começam a ser implantados os primeiros sistemas de telefonia celular

Ernesto Geisel envia emenda ao congresso para acabar com o AI-5

Suicídio em massa dos seguidores do pastor Jim Jones, que tomaram

veneno, morrendo cerca de 912 pessoas

Criado o avião Boeing 767

Nascimnento de Carolina Dieckmann, atriz, Danielle Cicarelli, modelo

Falecimento de Papa Paulo VI (n. 1897), Papa João Paulo I (n. 1912)

110

1986, Roberta

O ônibus espacial Chellenger explode exatos 72 segundos após decolar,

matando seus sete tripulantes

Criado o Plano Cruzado, plano econômico que previa congelamento e

tabelamento de preços e salários

Chernobyl é assolada por um desastre nuclear

Nascimento de Rafael Nadal, tenista espanhol

Falecimento de Simone de Beauvoir, escritora e filósofa francesa (n. 1908),

Jorge Luis Borges, escritor argentino (n. 1899), Cary Grant, ator (n. 1904)

111

1999, Antônio

O euro começa a ser usado em transacções electrónicas, em onze países

Projeto da Internet2 brasileira prevê a interligação entre 14 cidades, para

teleducação e telemedicina, revolucionando a rede pública

Internet 2 será 300 vezes mais veloz que a atual

Falecimento de Antônio Houaiss, filólogo, escritor (n. 1915), Bidu Sayão,

soprano brasileira (n. 1902), Dias Gomes, dramaturgo brasileiro (n. 1922)

Literatura: Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, de J. K. Rowling

112

2006, Júlia

Plutão deixa de ser reconhecido como um planeta

Centenário do vôo histórico do 14 Bis

Decola o primeiro vôo entre São Paulo e Pequim

Boeing 737 da GOL, com 154 passageiros a bordo, colide com outro avião de

pequeno porte. Não houve sobreviventes

Colapso no sistema aéreo brasileiro provoca atrasos nos aeroportos do país

Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1, vencido por Felipe Massa, tornando-se

o primeiro brasileiro a vencer em casa desde Ayrton Senna, em 1993

Brasil sagra-se campeão mundial de vôlei masculino

Cientistas divulgam o mapa genético das abelhas

Cientistas da Nasa encontram provas de água no planeta Marte

Muçulmanos protestam contra declarações do papa Bento XVI sobre Maomé

Falecimento de Betty Friedan, líder feminista estadunidense (n. 1921), Aldemir

Martins, artista plástico (n. 1922), George Savalla Gomes, o palhaço

Carequinha (n. 1915), Raul Cortez, ator (n. 1932), Puskás, jogador de futebol

húngaro (n. 1927)

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Paulo Rezende

Nasceu em Minas Gerais. Formou-se em Ciências

Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Especializou-se em Ensino de Artes Visuais pela

Escola de Belas Artes da Universidade Federal de

Minas Gerais. Estudou pintura, desenho, escultura

contemporânea, gravura e fotografia na Escola de

Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro,

entre 1996 e 2001. Em 2005, participou como artista

local do projeto Rede Nacional Artes

Visuais/FUNARTE, em Uberaba.

Paulo Rezende expõe seus trabalhos desde 1997 e

foi premiado no 2º Panorama de Artes Plásticas de

Uberaba em 2002, no III Salão Nacional de Artes

Plásticas de Curvelo em 2005 e no Festival de 1

Minuto da Universidade Federal do Triângulo Mineiro

na Categoria Arte em 2008. Suas obras fazem parte

do acervo de várias instituições culturais.