4
Parei de fumar CADERNO ESPECIAL MARÇO 2013 * As causas da dependência * Fumantes de longa data, como Ramon Mazzarino (foto), revelam como conseguiram abandonar o vício do cigarro Rejane Bicca

Vida & Saúde - Março de 2013

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Encartado no Jornal Opinião de Encantado/RS

Citation preview

Page 1: Vida & Saúde - Março de 2013

Parei de fumar

Caderno espeCialMarço 2013

* As causas da dependência

* Fumantes de longa data, como Ramon Mazzarino (foto), revelam como conseguiram abandonar o vício do cigarro

Rej

ane

Bic

ca

Page 2: Vida & Saúde - Março de 2013

2 A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que o número de fumantes no mundo seja de cerca de 1,2 bilhão de pessoas. No último século, o tabaco foi

o responsável pela morte de 100 milhões de pessoas.

A nicotina, que é encontrada em todos os derivados do taba-co (charuto, cachimbo, cigarro de palha, etc) é a droga que causa depen-dência. Esta substância é psicoativa, isto é, produz a sensação de prazer, o que pode induzir ao abuso e à dependência. Por ter características complexas, a dependência à nicotina é incluída na Classificação Internacional de Doenças

da Organização Mun-dial de Saúde - CID 10ª revisão. Ao ser ingerida, produz alterações no Sistema Nervoso Central, modificando assim o esta-do emocional e compor-tamental dos indivíduos, da mesma forma como ocorre com a cocaína, heroína e álcool.

Depois que a nico-tina atinge o cérebro, entre 7 a 9 segundos, libera várias substâncias

(neurotransmissores) que são responsáveis por estimular a sensação de prazer (núcleo accubens), explicando-se assim as boas sensações que o fumante tem ao fumar. Com a ingestão contínua da nicotina, o cérebro se adapta e passa a precisar de doses cada vez maiores para manter o mesmo nível de satisfação que tinha no início. Esse efeito é chamado de tolerância

à droga. Com o passar do tempo, o fumante pas-sa a ter necessidade de consumir cada vez mais cigarros. De tal forma que, a quantidade média de cigarros fumados na adolescência, nove por dia, na idade adulta passa a ser de 20 cigarros por dia. Com a dependência, cresce também o risco de se contrair doenças debili-tantes, que podem levar à invalidez e à morte.

A dependência

A fumaça do cigarro tem mais de 4,7 mil substâncias tóxicas. O alcatrão, por exemplo, é composto de mais de 40 compostos cancerí-genos. Já o monóxido de carbono (CO) em contato com a hemoglo-bina do sangue dificulta a oxige-nação e, consequentemente, ao privar alguns órgãos do oxigênio causa doenças como a ateros-clerose (que obstrui os vasos sanguíneos). A nicotina é conside-rada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) droga psicoativa que causa dependência. Ela também aumenta a liberação de cateco-laminas, que contraem os vasos sanguíneos, aceleram a freqüên-cia cardíaca, causando hiperten-

são arterial.O tabagismo está relacionado

a mais de 50 doenças sendo res-ponsável por 30% das mortes por câncer de boca, 90% das mortes por câncer de pulmão, 25% das mortes por doença do coração, 85% das mortes por bronquite e enfisema, 25% das mortes por derrame cerebral. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), todo ano cinco milhões de pessoas morrem no mundo por causa do cigarro. E, em 20 anos, esse número chegará a 10 mi-lhões se o consumo de produtos como cigarros, charutos e cachim-bos continuar aumentando.

Segundo o Instituto Nacional do

Câncer (INCA), o tabaco também tem relação com a impotência sexual e infertilidade masculina pois, segundo estudos, prejudica a mobilidade do espermatozóide. Os mesmos prejuízos também são atribuídos ao cachimbo e ao charuto. Apesar de não serem tragáveis, possuem uma concen-tração de nicotina maior, que é absorvida pela mucosa oral.

Não só o fumo ativo, mas o pas-sivo também aumenta os riscos de doença. Sete não fumantes morrem por dia em consequência do fumo passivo. O tabagismo passivo aumenta em 30% o risco para câncer de pulmão e 24% o risco para infarto.

Quatro mil substâncias tóxicas

Março 2013

Primeira aula exPerimental

grátis

Page 3: Vida & Saúde - Março de 2013

3

Feliz Páscoa !

Que a alegria da ressurreição de Cristo esteja em seu coração hoje e sempre.

O tabagismo é responsável por cerca de 200 mil mortes por ano no Brasil e é reconhecido pela Organização Mundial da Saúde como doença epidêmica.

Eles conseguiram largar o cigarro

Durante 47 anos, o cigarro foi o companheiro inseparável de Miriam Balbinot. "Talvez, meu confidente, com quem dividi longos momentos observando a fumaça desaparecendo no ar", acrescenta. Mesmo sabedora dos malefícios que o cigarro provoca, ela não tinha forças suficien-tes para abandoná-lo. Diariamente, a família a aconselhava a parar, mas nenhum argumento era mais importante do que o prazer que ele propor-cionava.

Miriam ficou doente e precisou baixar o hospi-tal com muita falta de ar. "Isso me assustou de tal maneira que decidi por mim mesma parar de fumar. Isso já faz 10 anos. Confesso que foi difícil não ter mais entre os dedos aquele pequeno pedaço de papel. Fico feliz quando as

pessoas param e esque-cem facilmente. Comigo não foi assim", revela.

Ela confessa que sofreu muito com a situação, e ainda sofre, mas tem a consciência que a vida está mais saudável. Para compensar a falta do cigarro, dedicou-se à arte da cerâmica. Bendito barro! Hoje, as mãos que seguravam o cigarro, pro-duzem obras de arte.

ReportagemDiogo Daroit Fedrizzi e Angela Reale

O assessor parlamentar Elton Luis Fontana, 51 anos, fumou durante 34 anos. Por nove vezes, tentou parar, sem sucesso. Na décima tentativa, no dia 2 de setembro de 2012, ele conseguiu. Por duas razões, uma por pressão dos filhos e outra por perceber que o tabaco estava preju-dicando a saúde. Fontana já sentia a respiração fragilizada, cansaço e, por vezes, tontura.

Uma semana após decidir abandonar o vício, procurou ajuda médica. Até hoje recorre ao remédio Zyban. "Ele me ajuda muito", confessa. Fontana admite que a principal dificuldade é se sentir sem a companhia do cigarro. "Por volta dos três primeiros meses, sentia a impressão, a todo momento, que havia esquecido ou perdido alguma coisa, que estava faltando algo nas mãos e nos bolsos".

Até hoje demonstra um pouco de ansiedade. Por cinco meses, apresentou sinais de inquie-tude, náuseas, falta de paladar e, com o tempo, muito apetite. "O apoio e estímulo dos familia-res e amigos é indispensável".

"Não deixe para amanhã. Faça isso hoje! Tem uma sigla interessante que pode aju-dar: DDZ - determinação, disciplina e Ziban (medicamento)."

"Para o fumante sempre há um subter-fúgio quando o tema em pauta é 'Parar de Fumar'. Antigamente, fumar era ser moder-no. Hoje, é porque o cigarro 'me acalma, me tranquiliza, é uma companhia, fumo porque o parceiro ou parceira também fuma, um dia vou deixar sem problemas, o cigarro não me faz nenhum mal'".

"Não fumo próximo de oito meses. É fácil? Não, não é fácil, mas é possível! Hoje posso dizer que conheço os dois lados (do fumante e do ex-fumante). O fumante não tem mais a noção do que é viver sem fumar, do quanto é prazeroso, do quanto é bom se sentir livre, do quanto é agradável sentir-se incluído socialmente".

"Ouvi, um dia, de um amigo ex-fumante: 'Fumar é bom! Não fumar é melhor ainda!'

"Por outro lado também ouvi de um outro amigo fumante: 'Sinceramente eu não me imagino me vendo sem fumar.' Ouvi também de alguém não fumante (sábio) dizer: 'Eu não vejo nenhuma vantagem em fumar. Se alguém me provar, alguma vantagem que traz ser fumante, eu também começo a fumar'".

"Falar sobre 'parar de fumar' é um tema que a maioria dos fumantes procura sempre evitar. O assunto lhe causa inquietação, uma sensação de vazio, medo, de que lhe está sendo tirado algo muito precioso, etc."

"Tenho a sensação que, por razões diver-sas, mais de 90% dos fumantes já pensou, tentou, enfim gostaria de deixar de fumar. O primeiro passo para quem quiser ter êxito nessa empreitada é a tomada de uma decisão consciente".

Dicas do FontanaNove tentativas

Elton Fontana fumou durante 34 anos

Ramon Mazzarino fumou desde os 15 anos. Já havia tentado largar o vício por duas vezes. A maior con-quista foi ficar 22 dias sem colocar o cigarro na boca. Agora, aos 39, decidiu parar de vez. "Eu não estava bem decidido, mas a esposa e os filhos sempre 'enchiam o saco' para parar. Isso foi martelando na minha cabe-ça. Então, no ano passado, no dia 24 de abril, decidi que seria o Dia D", conta.

Mazzarino recebeu ajuda psiquiátrica. "O médico me receitou o Bup, um compri-mido para a ansiedade na primeira semana. Na segunda semana foram dois com-primidos e, nesse período, era para escolher o dia para parar", revela. Segundo ele,

a principal dificuldade é a tentação para voltar a fumar. "Acredito que para qualquer dependente do cigarro que está em abstinência, ou do chimarrão, café, bebida, quer o 'parceiro' de volta. Depois das refeições, durante uma pescaria ou uma churrasque-ada, ela faz uma falta danada".

O agente funerário já fez projeções sobre a quantida-de de cigarros que deixará de consumir quando com-pletar um ano de abstinên-cia. "Serão 15 mil cigarros ou 750 carteiras que não fumei. Não temos noção do mal que faz ao nosso corpo. A vontade dá, mas passa. Tem que ser teimoso e aguentar esses segundos para não voltar. Depois fica tudo certo de novo", afirma.

"Hoje, deixo uma camisa ou um casaco no carro. Pode ficar lá uma semana, vai estar com cheirinho de amaciante como se tivesse tirado do roupeiro. Antes, quando fumava, ficava meio dia no carro e, quando chegava em casa, já tinha

que por para lavar. O cheiro é horrível"RAMON MAZZARINO

Fumante por 47 anosA família 'enchia o saco' Rejane Bicca

Angela Reale

Miriam se assustou com a falta de ar

Arquivo pessoal

Março 2013

Page 4: Vida & Saúde - Março de 2013

Investimentos

De acordo com o Inca, em 2011, o País gastou R$ 21 bilhões no trata-mento de pacientes com doenças relacionadas ao consumo de cigarros. O valor foi 3,5 vezes maior que o im-posto arrecadado pela Receita Federal com produtos derivados do tabaco, e corresponde a 30% de todo o orça-mento do Sistema Único de Saúde (SUS).

Ainda segundo o instituto, nos últi-mos dez anos, o tabaco matou 50 mi-lhões de pessoas em todo o mundo. O consumo do cigarro é responsável por mais de 15% das mortes de homens adultos, e 7% das mortes de mulheres. No Brasil, um em cada cinco homens e uma em cada dez mulheres morrem por causa do tabagismo.

Dependências

A dependência provocada pela

nicotina produz grande desconforto físico e psicológico ao fumante que tenta abandonar o uso, comprome-tendo a abstinência.

Física: Cada tragada tem 4.730 substâncias e, com o tempo, o cor-po do fumante passa a precisar do cigarro para funcionar. Quando se tira essas substâncias, particularmente a nicotina, o corpo vive uma espécie de curto-circuito e entra em síndrome de abstinência. Os principais sintomas são ansiedade, inquietação, sonolência ou insônia, e prisão de ventre.

Psicológica: O cigarro torna-se uma “bengala” para o viciado, que passa a fumar mais quando está es-tressado, triste e se sentindo sozinho.

Comportamental: O fumante tem uma rotina com o cigarro. Há mo-mentos em que o fumar é um hábito automático. Depois da refeição, com o cafezinho, após ir ao banheiro, etc.

4Março 2013

O Secretário da Saúde de Encantado, Marino Deves, afirma que o município desenvolve ações tentando conscientizar os fumantes a abandonarem o vício. O Posto SUS é uma porta de entrada para quem deseja abandonar o vício. "Temos um pneumologista, o Maurício Feldens, que vai estabelecer um diagnóstico, vai fazer exames e vai medicar essa pessoa. Temos essa medicação para auxiliar esta pessoa a deixar de fumar", comenta. "Notamos também que há um índice de fumantes que tentam parar, mas que voltam a fumar. A persistência deve ser importante. Tem que lutar contra esse

malefício".Deves critica ainda a industrialização

do cigarro e a produção do tabaco na região. "É um absurdo, principalmente, por conhecermos os malefícios que o ci-garro traz para as pessoas". Ele contesta também os argumentos favoráveis ao fumo, sobretudo, por garantir o sustento de famílias e o retorno de impostos para os municípios. "Estudos já comprovaram que os gastos dos municípios, do Estado e da União com a prevenção e o trata-mento do câncer de pulmão são muito superiores ao volume de recursos que é arrecadado pelos impostos", diz.

Pesquisas indicam que 80% dos fumantes desejam parar de fumar, mas apenas 3% conseguem sozinhos, demandando tratamento específico

"A persistência deve ser importante", diz secretário de saúde

Deves questiona defensores da produção e industrialização do tabaco

Especialistas acon-selham as pessoas a marcar uma data para largar o vício. Há dois métodos para parar de fumar: imediatamente ou gradualmente. O método mais adequado é a parada imediata, no qual você marca uma data e, a partir desse dia, não fuma mais nenhum cigarro. Esta deve ser sempre sua primeira opção.

Outra alternativa é parar gradualmente, reduzindo o número de cigarros ou retardan-do a hora do primeiro cigarro do dia. Mas você não deve gastar mais de duas semanas, pois pode

se tornar uma forma de adiar, e não de parar de fumar.

Para reduzir o número de cigarros, diminua um pouco a cada dia. Por exemplo, uma pessoa que fuma 30 cigarros por dia, no primeiro dia fuma os 30 cigarros usuais, no segundo dia 25, no terceiro 20, no quarto 15, no quinto 10 e no sexto fuma apenas 5 cigarros. O sétimo dia é a data para deixar de fumar e o primeiro dia sem cigarros.

Ao retardar a hora do primeiro cigarro, o fumante deve proceder com o mesmo método gradual. Por exemplo,

no primeiro dia você começa a fumar às 9h, no segundo às 11h, no terceiro às 13h, no quar-to às 15h, no quinto às 17h e no sexto às 19h. O sétimo dia é a data para deixar de fumar e o pri-meiro dia sem cigarros.

Lembre-se também que fumar cigarros de baixos teores não é uma boa alternativa. Todos os tipos de derivados do tabaco (cigarros, charu-tos, cachimbos, cigarros de Bali, etc.) fazem mal à saúde. Cuidado com os métodos milagrosos para deixar de fumar. Caso não consiga parar de fumar sozinho, procu-re orientação médica.

"Estudos já comprovaram que os gastos dos municípios, do Estado e da União com a prevenção e o tratamento do

câncer de pulmão são muito superiores ao volume de recursos que é arrecadado pelos impostos do tabaco"

MARINO DEVES

Orientações para abandonar o vício