160
“Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose Visceral: limites e possibilidades para o monitoramento das ações” por Joana Martins de Sena Dissertação apresentada com vistas à obtenção do título de Mestre Modalidade Profissional em Saúde Pública. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Rosely Magalhães de Oliveira Assistente da orientadora: Prof. Paulo Chagastelles Sabroza Rio de Janeiro, abril de 2011.

“Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

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Page 1: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

“Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose Visceral:

limites e possibilidades para o monitoramento das ações”

por

Joana Martins de Sena

Dissertação apresentada com vistas à obtenção do título de Mestre

Modalidade Profissional em Saúde Pública.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Rosely Magalhães de Oliveira

Assistente da orientadora: Prof. Paulo Chagastelles Sabroza

Rio de Janeiro, abril de 2011.

Page 2: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

Esta dissertação, intitulada

“Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose Visceral:

limites e possibilidades para monitoramento das ações”

apresentada por

Joana Martins de Sena

foi avaliada pela Banca Examinadora composta pelos seguintes membros:

Prof. Dr. Almério de Castro Gomes

Prof.ª Dr.ª Marly Marques da Cruz

Prof.ª Dr.ª Rosely Magalhães de Oliveira – Orientadora

Dissertação defendida e aprovada em 19 de abril de 2011.

Page 3: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

Catalogação na fonte

Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica

Biblioteca de Saúde Pública

S474 Sena, Joana Martins de

Vigilância entomológica do Programa de Leishmaniose

Visceral: limites e possibilidades para o monitoramento das ações. / Joana Martins de Sena. -- 2012.

159 f. : tab. ; graf. ; mapas

Orientador: Oliveira, Rosely Magalhães de

Sabroza, Paulo Chagastelles

Dissertação (Mestrado) – Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro, 2012

1. Leishmaniose Visceral. 2. Vigilância Epidemiológica.

3. Monitoramento. 4. Avaliação de Programas e Projetos de

Saúde. 5. Controle de Vetores. I. Título.

CDD - 22.ed. – 616.9364

Page 4: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

A U T O R I Z A Ç Ã O

Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a

reprodução total ou parcial desta dissertação, por processos fotocopiadores.

Rio de Janeiro, 19 de abril de 2011.

________________________________

Joana Martins de Sena

Page 5: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

Este trabalho é dedicado a:

Minha mãe Amélia, essência do exemplo de força e perseverança que sempre manteve

frente as adversidades. Que inspira-me em todos os momentos da minha vida para

nunca desistir diante dos obstáculos.

“Não é porque certas coisas são difíceis que deixaremos de ousar. Mas é por falta de

ousadia que tais coisas são difíceis”

Sêneca - filósofo francês

Page 6: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

AGRADECIMENTOS

O momento de agradecer é sempre muito delicado. Corre-se o risco de omitir

alguém por falha da memória ou ainda de não dar a justa ênfase que muitos esperam e

merecem.

Primeiramente, agradeço a Deus pela vida e pela capacidade que me foi dada a

realizar todos os meus sonhos.

Agradeço ao decisivo incentivo dado pela Ana Nilce, Márcia e Waneska amigas

e colegas de trabalho que sempre acreditaram em mim e na minha capacidade. A elas

sou eternamente grata por este mestrado e tantos outros aprendizados da vida que

experimentei ao longo dessa trajetória de trabalho e amizade dentro e fora do Ministério

da Saúde.

Aos meus orientadores Rosely Magalhães de Oliveira e Paulo Chagastelles

Sabroza, pelo grande apoio, estímulo e a decisiva orientação em transformar todas as

minhas dificuldades em conhecimento. O que consequentemente me fez amadurecer

não só como profissional, mas como pessoa. Ressalto que a paciência e a disposição nos

momentos de orientação no processo de elaboração deste trabalho foram, além de

fundamentais para a sua conclusão, um grande aprendizado.

Agradeço as coordenadoras Elizabeth Moreira dos Santos e Marly Marques por

todo o aprendizado e as oportunidades de permitir contato com professores da melhor

qualidade da avaliação e monitoramento na teoria e na prática. Além de favorecer o

convívio com um grupo de colegas e amigos que durante o curso promoveu-se

momentos agradáveis de convivência, sendo que alguns a amizade foi além desses

momentos.

Aos consultores do Programa na área de entomologia e epidemiologia Vera

Lucia Fonseca de Camargo-Neves, Elizabeth Rangel, Edelberto Santos Dias, Maurício

Vilela, José Dilermando Andrade. E a mais nova integrante do grupo Adriana Zwetsch

com seu jeito “ativa” tem motivado a fortalecer as ações da rede de vigilância

entomológica de flebotomíneos. Obrigada pelas valiosas contribuições em momento

oportunos da minha vida profissional e acadêmica.

Nem de longe é possível deixar de agradecer aos colegas e amigos dos Núcleos

de Entomologia de todas as Unidades Federadas que vez ou outra me passaram

conhecimentos e experiência. Com eles compartilho meu cotidiano no Programa de

Leishmaniose Visceral.

Page 7: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

Muzenilha e Carina, amigas que com disposição e compreensão para ajudar

sempre fizeram com que eu não me esqueça do período de convívio na Secretaria

Estadual de Saúde. A história profissional no Programa das Leishmanioses e as muitas

convicções tornaram, por meio da nossa interlocução, possível este trabalho, além de

revitalizar a amizade, mesmo a distância.

A minha amiga Dalva e orientadora não só em aspectos relativos ao trabalho do

mestrado, mas também da vida. Obrigada pela força e motivação que sempre fizeram

parte do seu dia-a-dia.

Aos colegas do Programa Nacional das Leishmanioses Daniele Pelissari,

Francisco Edilson, Michella Cechinell, e ao Bidiah Neves estagiário que com seu

espírito jovem e cheio de vontade de fazer coisas novas, acaba estimulando a gente a

inovar e ver que ainda há muita coisa a se fazer.

Agradecimentos também à banca examinadora pela disponibilidade de apreciar

esse trabalho. Cada qual, ao seu modo e estilo próprio, chama atenção para um e outro

aspecto que pode ser melhorado ou aprofundado, em especial o Prof. Almério Gomes

que com sua imensa sabedoria sempre esteve me mostrando caminhos novos e

desafiadores.

Por fim a toda minha família que sempre esteve ao meu lado apoiando e me

dando forças. Especialmente a minha mãe que tanto amo.

Obrigada!!!!!!

Page 8: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

SUMÁRIO

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ......................................................................... 10

LISTA DE FIGURAS, TABELAS E QUADROS.............................................................. 12

LISTA DE APÊNDICES E ANEXOS ................................................................................ 14

RESUMO............................................................................................................................. 15

ABSTRACT......................................................................................................................... 16

APRESENTAÇÃO.............................................................................................................. 17

1. INTRODUÇÃO............................................................................................................... 18

1.1 Característica vetorial da leishmaniose visceral............................................................. 21

1.2 Delimitação do Problema............................................................................................... 23

1.3 Justificativa .................................................................................................................... 25

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.................................................................................... 28

2.1 O PVC-LV após descentralização do SUS................................................................... 28

2.2 Monitoramento & Avaliação e Vigilância Entomológica.............................................. 32

2.3 Indicadores de monitoramento....................................................................................... 38

3 OBJETIVOS...................................................................................................................... 43

3.1 Objetivo Geral................................................................................................... ............. 43

3.2 Objetivos Específicos..................................................................................................... 43

4. METODOLOGIA............................................................................................................ 44

4. Desenho do Estudo e Procedimentos Metodológicos...................................................... 44

4.1 Descrição das ações de vigilância entomológica do PVC-LV e do contexto

organizacional ..................................................................................................................... 44

4.2 Construção do modelo lógico do PVC-LV enfocando a Vigilância Entomológica ..... 46

4.3 Identificação dos indicadores de estrutura, processo e resultados................................. 47

4.4 Análise da aplicação dos indicadores em uma Unidade Federada................................. 51

4.5 Considerações éticas e divulgação dos resultados......................................................... 52

4.6 Limitações do estudo...................................................................................................... 53

5 RESULTADOS................................................................................................................. 55

5.1 Descrição das ações de vigilância entomológica do PVC-LV relacionando-o com

contexto organizacional e identificando características da estrutura disponível para

realização das ações......................................................................................................... ....

55

5.2 – Construção do modelo lógico do PVC-LV e da Vigilância Entomológica nas três

esferas de governo do SUS.................................................................................................. 91

5.3 Identificação de elementos para o monitoramento das ações de vigilância

entomológica do PVC-LV nas três esferas de gestão.......................................................... 97

5.4 Análise da aplicação dos indicadores de monitoramento das ações de vigilância 103

Page 9: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

entomológica do PVC-LV em uma Unidade Federada........................................................

6 DISCUSSÃO..................................................................................................................... 123

6.1 Avaliação das oficinas.................................................................................................... 134

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................ 135

8 RECOMENDAÇÕES....................................................................................................... 137

9 REFERÊNCIAS................................................................................................................ 138

10 ANEXOS E APÊNDICES.............................................................................................. 150

Page 10: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AFU Avaliação com Foco na Utilização

CCZ Centro de Controle de Zoonoses

CDC Centers for Disease Control and Prevention

Cgdt Coordenação Geral de Doenças Transmissíveis

Cglab Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde Pública

Cenepi Centro Nacional de Epidemiologia

Conass Conselho Nacional de Saúde

Conep Comissão Nacional e Ética em Pesquisa

Cosems Conselhos Municipais de Saúde

CQ Controle Químico

CIV Controle Integrado de Vetores

Dagvs Diretoria de Apoio a Gestão da Vigilância em Saúde

Datasus Departamento de Informática do SUS

DDT Dicloro Difenil Tricloroetano

Deneru Departamento de Endemias Rurais

Devep – Departamento de Vigilância Epidemiológica

DTV Doenças Transmitidas por Vetores

Funasa Fundação Nacional de Saúde

GT Grupo Técnico

Gtvs Grupo Técnico de Vigilância em Saúde

Ibge Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

Lacen Laboratório Central de Saúde Pública

Lira Levantamento de Índice Rápido do Aedes aegypti

LRN Laboratório de Referência Nacional

LSP Laboratórios de Saúde Pública

LV Leishmaniose Visceral

LVH Leishmaniose Visceral Humana

MS Ministério da Saúde

NE Núcleo de Entomologia

OMS Organização Mundial de Saúde

PAS Plano Anual de Saúde

Pavs Programação Ações de Vigilância em Saúde

Page 11: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

PPI Pactuação Programada Integrada

PVC-LV Programa de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral

SES Secretaria Estadual de Saúde

SESAU-TO Secretaria de Estado de Saúde de Tocantins

SI Sistema de Informação

SMS Secretaria Municipal de Saúde

Sucam Superintendência de Campanhas de Saúde Pública

SUS Sistema Único de Saúde

SVS Secretaria de Vigilância em Saúde

Sinan – Sistema de Informação de Agravos de Notificação

Sucen/SP – Superitendência de Controle de Endemias do Estado de São Paulo

PFVS – Piso Fixo de Vigilância em Saúde

UF Unidade Federada

UVL Unidade Territorial de Vigilância Local

UZV Unidade Técnica de Zoonoses Vetoriais e Raiva

VE Vigilância Entomológica

WHO World Health Organization

Page 12: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

LISTA DE FIGURAS, QUADROS E TABELAS

Figura 1 – Casos de LV, segundo região de residência, Brasil, de 2000 a 2009................ 19

Figura 2 – Taxa de letalidade de LV, Brasil, de 2000 a 2009........................................... 20

Figura 3 – Principais etapas do processo de compreensão dos limites e possibilidades

do monitoramento das ações de vigilância entomológica do PVC-LV............................... 52

Figura 4 – Estrutura Organizacional da Secretaria de Vigilância em Saúde, com

destaque para o CGDT e CGLAB....................................................................................... 60

Figura 5 – Organograma do Departamento de Vigilância Epidemiológica/CGDT com

destaque para o GT Leishmanioses..................................................................................... 61

Figura 6 – Distribuição dos Laboratórios Estaduais de Entomologia, segundo unidade

de lotação............................................................................................................................. 62

Figura 7 – Estratificação dos municípios segundo perfil de transmissão de LV - Brasil,

2007 – 2009......................................................................................................................... 67

Figura 8 – Modelo lógico do Programa de Vigilância e Controle da Leishmaniose

Visceral do Nível Federal.................................................................................................... 92

Figura 9 – Modelo lógico da Vigilância Entomológica do PVC-LV nível federal............ 93

Figura 10 – Modelo lógico das ações de Vigilância Entomológica do PVC-LV no nível

estadual SES........................................................................................................................ 95

Figura 11 – Modelo lógico das ações de Investigação Entomológica no nível municipal 96

Figura 12 – Modelo lógico das ações de Levantamento Entomológico no nível

municipal............................................................................................................................. 96

Figura 13 - Modelo lógico das ações de Monitoramento Entomológico no nível

municipal............................................................................................................................. 97

Figura 14 - Estrutura organizacional da Vigilância Epidemiológica da Secretaria

Estadual de Saúde do Tocantins.......................................................................................... 105

Figura 15 – Número de casos, óbitos e taxa de letalidade de leishmaniose

visceral. Tocantins, 2005 a 2010................................................................................ 119

Figura 16 - Situação epidemiológica da leishmaniose visceral no estado do Tocantins,

2010. ................................................................................................................................... 121

Figura 17 – Imóveis borrifados nos municípios prioritários para o controle da

leishmaniose visceral. Tocantins, 2008 a 2010.......................................................... 122

Quadro 1 – Equipamentos destinados as Secretarias Estaduais de Saúde pelo Plano de

Investimentos do Ministério da Saúde, Brasil, 2004-2006.................................................. 64

Quadro 2 – Parâmetros atuais para classificação de municípios com transmissão de LV,

Brasil 2007.................................................................................................................. ......... 67

Page 13: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

Quadro 3 – Ações prioritárias da Programação das Ações de Vigilância em Saúde

referentes ao Programa das Leishmanioses - vigilância entomológica............................... 74

Quadro 4 – Indicadores de Estrutura das ações de vigilância entomológica..................... 98

Quadro 5 – Indicadores de Processo das ações de vigilância entomológica..................... 101

Quadro 6 – Indicadores de Resultados das ações de vigilância entomológica.................. 102

Quadro 7 – Análise dos indicadores qualitativos - Estrutura............................................ 109

Quadro 8 – Análise dos indicadores quantitativos - Estrutura.......................................... 109

Quadro 9 – Análise dos indicadores qualitativos - Processo........................................... 116

Quadro 10 – Análise dos indicadores quantitativos - Processo......................................... 116

Quadro 11 – Análise dos indicadores quantitativos - Resultados .................................... 118

Quadro 12 – Análise dos indicadores qualitativos - Resultados ....................................... 118

Quadro 13 - Limites e possibilidade do funcionamento do atual das ações de Vigilância

Entomológica do Programa de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral.............. 133

Tabela 1 - Ações de vigilância entomológica programadas e executadas pela Secretaria

de Estado da Saúde do Tocantins, PAVS, 2003-2009........................................................ 115

Page 14: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

LISTA DE APÊNDICES E ANEXOS

Apêndice 1 – Programação da oficina de trabalho............................................................. 144

Apêndice 2 – Ficha de Avaliação da Oficina..................................................................... 145

Apêndice 3 – Roteiro de entrevista com gestor MS........................................................... 146

Apêndice 4 – Roteiro de entrevista e de coleta de dados na SES................................ 147

Apêndice 5 – Roteiro de entrevista com consultor da área de entomologia ...................... 148

Apêndice 6 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido............................................. 149

Apêndice 7 – Termo de Autorização Institucional.................................................... 151

Apêndice 08 – Roteiro para observação de campo............................................................ 152

Anexo 1 – Relatório padronizado das atividades de Vigilância Entomológica e Controle

Vetorial do Programa da Leishmaniose Visceral........................................................

153

Page 15: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

RESUMO

A Leishmaniose Visceral (LV) tem apresentado quadro de gravidade ascendente

com epidemias em áreas urbanas de municípios de médio e grande porte. Nas grandes

metrópoles a doença atinge bairros bem consolidados constituindo novos circuitos

integrados de produção. Diante de mudanças climáticas, ambientais e expansão

demográfica amplia-se como um considerável problema de saúde pública no Brasil,

demonstrando que todo o país corre risco de epidemias de LV. A vigilância e controle

dessa enfermidade transmitida por vetor precisam considerar as características da

endemia em cada parte do país e suas diferenças regionais. A implantação das ações

depende do conhecimento sobre seus ciclos de transmissão, e o conhecimento e

características dos casos é insuficiente para análise da situação do problema, requerendo

o monitoramento da enzootia canina, dos vetores e das condições ambientais das áreas

vulneráveis e com transmissão da doença. Este trabalho esteve voltado para

compreender os limites e possibilidades de uma proposta de monitoramento para as

ações de Vigilância Entomológica do Programa de Vigilância e Controle da

Leishmaniose Visceral-PVC-LV. Esse componente tem implantação recente, entretanto

é considerado uns dos principais elementos norteadores das ações de prevenção e

controle. O processo foi baseado na descrição do atual das ações relacionando-o com o

contexto organizacional da VE nos níveis federal e estadual em conjunto com gestores,

profissionais de entomologia das Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde e

consultores do Ministério da Saúde das áreas de entomologia e epidemiologia, num

processo orientado pelo que Patton denomina Avaliação com Foco na Utilização - AFU.

Empregada como uma possibilidade de construção coletiva e consensuada, esta

abordagem permitiu desenvolver um processo dialogado com um grupo identificado de

atores, amparado pelas evidências da prática do serviço e da organização do trabalho de

profissionais que atuam no PVC-LV. A descrição da intervenção foi realizada a partir da

construção de um modelo lógico (ML) da intervenção, que permitiu apresentar a

racionalidade existente entre os componentes da intervenção: estrutura, processo e

resultados. Os dados e informações que compõe o estudo envolveram procedimentos

metodológicos através de levantamento documental, observação de campo e oficinas de

discussão com atores-chaves, reforçando a necessidade de implantação e

monitoramento da vigilância entomológica. Os resultados envolvem a compreensão de

limites e possibilidades do modelo atual tendo em vista a realidade dos serviços de

saúde nos diferentes níveis de gestão, fundamentada no conhecimento de profissionais

que atuam na gestão política e técnica do Programa e também de especialistas do campo

científico; identificação de indicadores de estrutura, processo e resultados, fluxos e

periodicidade das informações. Acredita-se que a implantação do monitoramento das

ações de vigilância entomológica venha qualificar a própria ação, além de ampliar a

visão dos profissionais de saúde frente ao surgimento de novos aspectos relacionados,

não só à epidemia da LV, mas a predição de fatores de risco relacionados ao vetor.

Palavras-chave: Monitoramento & Avaliação de Programas, Vigilância Entomológica;

Leishmaniose Visceral, Controle Vetorial.

Page 16: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

ABSTRACT

Visceral Leishmaniasis (VL) has presented a situation of escalating severity with

epidemics in urban areas of large and medium-sized municipal districts. In big cities the

disease affects well established neighborhoods composing new integrated circuit of

production. Faced with climate and environmental changes and also demographic

expansion, VL broadens as a substantial public health problem in Brazil, demonstrating

that the entire country is at risk of epidemics. The vigilance and control of this vector-

borne disease must consider it’s characteristics in each part of the country and its

regional differences. The implementation of actions depends on knowledge of their

transmission cycles, and the knowledge and characteristics of cases are insufficient for

analyzing the situation of the problem, requiring the monitoring of the canine enzootic

disease, vectors and environmental conditions of vulnerable areas and the ones with the

disease transmission. This work is aimed to understand the limits and possibilities of a

proposal of monitoring for the actions of Entomological Surveillance (ES) of the

Surveillance and Control of Visceral Leishmaniasis Program (SCVLP). This component

was recently established, however, is considered one of the guiding elements of the

prevention and control actions. The process was based on the description of the current

model relating it to the organizational context of the ES at the federal and state levels

together with managers, professionals on entomology from State and Municipal Health

Secretariats and consultants from the Ministry of Health on entomology and

epidemiology, in a process guided by what Patton calls approach focused on the use -

AFU. Used as a possibility of a collective and consensual construction, this approach

permitted the development of a process dialogued with an identified group of actors,

supported by the evidences of the practice of service and work organization of

professionals engaged in SCVLP. The description of the intervention was carried out

from the construction of a logical model (LM), which allows presenting the rationality

among the intervention components: inputs, activities, outputs and results. The data and

information that makes up the study involved methodological procedures through

archival survey, field observation and discussion workshops with key stakeholders,

reinforcing the need for implementation and monitoring of ES. The outcomes involve

understanding the limits and possibilities of the present model considering the reality of

health services at different levels of management, based on knowledge of professionals

working in policy and technical management of the Program and also from experts

working in the scientific field; identification of elements and indicators of structure,

process and results, flows and frequency of information. It is believed that the

implantation of monitoring the actions of ES will qualify the action itself, and to expand

the vision of health professionals in the presence of the emergence of new aspects

linked not only to the VL epidemic, but the prediction of risk factors related to the

vector.

Keywords: Monitoring and Valuation of Programs, Entomological Surveillance;

Visceral Leishmaniasis, Vector Control.

Page 17: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

APRESENTAÇÃO

A minha trajetória profissional nas ações de vigilância entomológica é resultante

da identificação da necessidade de profissionais para atuar no Sistema Único de Saúde

(SUS), observação adquirida desde a graduação em Ciências Biológicas (1997-2000).

Naquele período soube da mobilização da esfera federal em descentralizar as ações e

consequentemente da criação de postos de trabalho nessa área. Inicialmente com

estudos voltados para os flebotomíneos. Sendo que o trabalho de conclusão do curso

esteve voltado para conhecimento da fauna de flebotomíneos nos municípios de Palmas

e Porto Nacional, Tocantins.

Em 2001 decidi, por conta própria ir para São Paulo fazer especialização em

Entomologia Médica (Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo) no

anseio de aperfeiçoar-me e consegui uma vaga de emprego na Secretaria Estadual de

Saúde, quando voltasse para o estado. Em 2003, ingressei no serviço público, com

contrato temporário na SESAU-TO, indo exercer minhas atividades no Núcleo de

Entomologia Médica, onde consequentemente comecei atuar no Programa das

Leishmanioses, experimentando trabalhar em meio a “ditadura da emergência”, pois a

cidade de Palmas vivenciava o pico de uma epidemia de leishmaniose visceral (LV).

Exatamente nesse período houve a reformulação do programa e novas metodologias de

vigilância e controle do programa. Em 2006, fui selecionada para atuar no Programa no

nível federal, especialmente para acompanhar as ações de vigilância entomológica e

controle vetorial, dessa forma a trajetória da minha história profissional, em

determinado momento se confunde com a reformulação do Programa.

Em minha rotina nos serviços de vigilância e controle da LV tive a oportunidade

de atuar nas três esferas de governo, sendo possível observar os avanços e as

dificuldades na implantação das ações e conhecendo a heterogeneidade dos processos

de descentralização das ações do Programa de Vigilância e Controle da LV (PVC-LV).

A motivação para este trabalho surgiu da necessidade de uniformizar práticas de

Monitoramento & Avaliação de Programas nos diferentes níveis de gestão do SUS

considerando execução das ações sob a base territorial local.

Este trabalho também é parte do esforço do PVC-LV, que busca entre outros, o

aperfeiçoamento das ações de vigilância entomológica (VE) e consequentemente a

qualificação das ações de controle sobre o vetor. A perspectiva é contribuir para

melhoria e adequação dos processos organizacionais e decisórios no âmbito das

Page 18: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

diferentes esferas de gestão do Programa e subsidiar soluções de problemas,

reorientando as ações e serviços.

A proposta contempla uma das principais responsabilidades da esfera federal de

gestão do Sistema Único de Saúde do Brasil, que é a adequação de medidas de

intervenção, não só nos seus fundamentos técnicos, mas também naqueles referentes à

própria operacionalização dessas intervenções.

Page 19: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

18

1 INTRODUÇÃO

A leishmaniose visceral (LV) é uma zoonose de transmissão vetorial amplamente

difundida no mundo, ocorrendo na Ásia, Europa, África e nas Américas. São registrados

anualmente 500 mil novos casos de LV, com aproximadamente 50 mil óbitos (WHO,

2010). Recentemente ocorreram epidemias na Etiópia (2005), Kênia (2007) e Sudão

(2009) (WHO, 2010). Nas Américas a doença é mais frequente no Brasil que atualmente

contribui com 90% dos casos produzidos. Venezuela e Colômbia numa escala menor.

Também foram registrados casos na Bolívia, Paraguai Equador, Suriname, Honduras El

Salvador, Guatemala e México. Destaca-se que Argentina tem vivenciando significativo

aumento dos casos e a expansão das áreas de ocorrência.

Três padrões epidemiológicos podem ser identificados atualmente nas Américas,

podendo haver superposição de mais de um deles na mesma área: o padrão silvestre, o

rural e o urbano (Ministério da Saúde, 2006). No Brasil, originalmente o padrão

epidemiológico rural da LV, predominou até o final da década 1980, entretanto, nos

últimos anos o padrão urbano tem se consolidado cada vez mais em várias regiões do

País. Nos estados do Pará e Roraima ainda se observa o comportamento do padrão rural

em áreas isoladas. O relato de casos do ambiente silvestre está se tornando disperso e

raro.

Recentemente a LV tem apresentado quadro epidemiológico ascendente com

epidemias em áreas urbanas de municípios de médio e grande porte (Maia-Elkhoury et

al., 2008, Glória, 2006, Gontijo, 2004), e também municípios de pequeno porte. O

comportamento da transmissão é cíclico, com elevação de casos em períodos

quinquenais, sendo observadas diferenças nessas ocorrências entre estados e municípios

(Maia-Elkhoury et al., 2008; Ministério da Saúde, 2009a). Nas grandes metrópoles,

como Belo Horizonte a doença atinge bairros bem consolidados constituindo novos

circuitos integrados de produção (Sabroza, 1992, 2001). Mediante mudanças climáticas,

ambientais e expansão demográfica a LV amplia-se como um considerável problema de

saúde pública no Brasil, demonstrando que em diversas áreas do país estão sujeitas a

epidemias de LV.

A doença vem se expandindo de forma gradativa para as regiões Norte, Sudeste

e Centro-Oeste, pois passaram de 17% do total de casos em 2000 para 48% dos casos

em 2008 (Ministério da Saúde, 2010). No Brasil, em 2009 foram registrados casos

autóctones em 21 Unidades Federadas de cinco regiões do Brasil. Apesar do maior

Page 20: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

19

número de casos estarem na região Nordeste, na série histórica da Figura 1 observa-se

uma redução dos casos nesta região, que passou de 83% (4.029/4.858) do total

confirmado em 2000, para 48% (1.754/3.639) dos casos confirmados em 2009.

Fonte: Sinan/SVS/MS

Figura 1 – Casos de LV, segundo região de residência. Brasil, de 2000 a 2009.

Nos humanos a LV apresenta evolução crônica e sistêmica causada pela

Leishmania (Leishmania) infantum chagasi, caracterizada por febre, esplenomegalia,

perda de peso, astenia, anemia, dentre outros sintomas e quando não tratada, pode

evoluir para óbito em mais de 90% dos casos (Desjeux, 2004).

De acordo com dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação

(Sinan), no ano de 2009 13% (993/5.570) dos municípios brasileiros notificaram ao

Ministério da Saúde a ocorrência de 3.693 casos novos de LV humana (LVH) e sendo

que a transmissão autóctone foi registrada em mais de 1.200 municípios distribuídos

entre as 21 Unidades Federadas, no período de 2006 e 2008 (Werneck, 2010).

Esta doença acomete principalmente o gênero masculino e as crianças menores

de 10 anos, sendo que em 2009 esses valores foram de 64% (2.358/3.693) e de 37%

(1.377/3.693), respectivamente. Neste ano foram realizadas no Sistema Único de Saúde

2.860 internações por LV, com média de permanência de 14 dias.

No ano de 2009 ocorreram 216 óbitos por LV, o que representa uma letalidade

de 5,8%, sendo que a maior letalidade registrada desde 2000 foi de 8,5% em 2003

(Figura 2).

0

500

1.000

1.500

2.000

2.500

3.000

3.500

4.000

4.500

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Fonte: Sinan/SVS/MS.

Figura 2 – Taxa de letalidade de LV. Brasil, de 2000 a 2009.

A intensa expansão territorial da LV é decorrente da presença e adaptação do

vetor Lutzomyia longipalpis ao ambiente urbano, aliado a circulação de Leishmania

infantum chagasi entre cães domésticos e de fatores socioeconômicos e ambientais que

favorecem a sua ocorrência. As transformações ambientais associadas a movimentos

migratórios e ao processo de esvaziamento rural e urbanização da população têm

refletido diretamente no padrão urbanizado da doença no país. Por um lado, o processo

desordenado de ocupação urbana resulta em condições precárias de vida e destruição

ambiental, promovendo condições favoráveis para a reprodução do vetor, que tem

explorado o acúmulo de matéria orgânica gerada por animais domésticos e más-

condições sanitárias (Maia-Elkhoury et.al., 2008, Rangel & Vilela, 2008, Werneck,

2010).

Apesar dos fatores climáticos como temperatura, umidade e pluviometria

sabidamente influenciarem de modo variável a população de flebotomíneos, nas áreas

analisadas (Dias et al., 2007), há outro fator que também pode estar incriminado na

variação da incidência anual de LV, bem como a abundância do vetor: o fenômeno El

Niño, pois tem provocado alterações no ritmo cíclico das chuvas e de secas afetando ora

positivamente e ora negativamente na densidade vetorial e na intensidade da

transmissão da doença (Macedo, 2008). Além disso, essas variáveis estão associadas a

uma série de fatores determinantes locais.

Mesmo com todos os esforços empregados nas ações de controle, a leishmaniose

visceral tem aumentado significativamente sua importância face aos aspectos ecológicos

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emergentes decorrentes do processo de urbanização e das alterações no ambiente natural

(Bevilacqua, 2001). A forte relação apresentada pela ocorrência da leishmaniose

visceral e os perfis cultural, nutricional e socioeconômico da população atingida,

remetem ao controle da doença para além das barreiras pertencentes ao contexto

ambiental em que a doença está inserida (Carandina & Magaldi, 1998). Em Belo

Horizonte a leishmaniose visceral tem-se expandido mesmo com uso intenso de

recursos financeiro e humano no seu controle. A doença alcançou altos coeficientes de

morbidade e letalidade nas populações atingidas (Bevilacqua, 2001, Ministério da

Saúde, 2006, Silva, 2001).

Luz et al.(2005) citam a educação como controle cultural para a leishmaniose

visceral, por tornar participantes diversas camadas da população e por democratizar

atitudes capazes de beneficiar as práticas de controle.

Em relação ao controle vetorial, as dificuldades operacionais e o alto custo

relacionados à implementação sustentada em larga escala da borrifação intra e

peridomiciliar com inseticidas, associadas ao conhecimento limitado sobre a ecologia e

biologia dos flebotomíneos no meio urbano e a necessidade de um sistema de vigilância

entomológica abrangente que forneça informações qualitativas e quantitativas sobre a

ecologia do vetor, são outros fatores que impedem avançar no controle da LV no país

(Maia-Elkhoury et al., 2008; Rangel & Vilela, 2008).

Portanto, um conjunto de atividades em saúde pública, destinado a englobar as

informações necessárias para o conhecimento, em qualquer tempo, da situação do

quadro epidemiológico da LV em foco, ainda é falho para detectar ou mesmo prever, as

alterações, de forma a direcionar e orientar a aplicação de medidas preventivas, com o

propósito de atingir o máximo de eficácia (Missawa & Lima, 2006).

1.1 Característica vetorial da Leishmaniose Visceral

Os vetores da LV são dípteros pertencentes a família Psychodidae e sub-família

Phlebotominae. Estes insetos são denominados flebotomíneos e conhecidos

popularmente como mosquito palha, tatuquiras, birigui, dentre outros. São pequenos e

têm como características a coloração amarelada, castanho ou de cor palha e, em posição

de repouso, suas asas permanecem eretas e semi-abertas. (Rangel et.al, 2003). No

Brasil, duas espécies, até o momento, estão relacionadas com a transmissão da doença,

Lutzomyia (Lutzomyia) longipalpis e Lutzomyia (Lutzomyia) cruzi. A primeira espécie é

Page 23: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

22

considerada a principal transmissora da Leishmania (L.) infantum chagasi no Brasil.

Uma situação particular é observada na região central do país, onde L. cruzi estaria

envolvida com a transmissão de LV nos Estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso

(Santos et. al, 1998; Missawa, et al 2006, 2007). Mais recentemente, em estudos

realizados na cidade de La Banda, Argentina, correlacionaram-se a ausência de L.

longipalpis e a presença de Lutzomyia migonei em áreas com casos autóctones de LV

(SALOMÓN et al. 2010). Caso similar foi demonstrado na cidade de São Vicente

Férrer, em Pernambuco, onde foi detectada a infecção natural de Lu. migonei por L.

chagasi, o que evidencia sua possível participação na transmissão da doença nessas

áreas (CARVALHO et al., 2010).

No Brasil a distribuição geográfica de L. longipalpis é ampla e está em

expansão, pois já é encontrada nas cinco regiões brasileiras, com registro confirmado

nos estados do Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins (Norte), Alagoas, Bahia, Ceará,

Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe (Nordeste),

Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul (Centro-Oeste) e nos estados do Espírito

Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo (Sudeste) (Aguiar & Medeiros, 200).

Em praticamente todos os municípios de ocorrência da LV humana e canina essa

espécie está presente. O registro mais recente foi no estado do Rio Grande do Sul, que

em dezembro de 2008 registrou o primeiro caso canino com a caracterização da espécie

de Leishmania (Leishmania) infantum chagasi e em janeiro de 2009 os primeiros casos

humanos (Ministério da Saúde, 2010).

Nas áreas enzoóticas e endêmicas da L. infantum chagasi a espécie Lu.

longipalpis já foi capturada juntamente com outras espécies de flebotomíneos, logo

precisa investigar se existem vetores secundários desse parasito. O resultado positivo

traria avanço sobre a dinâmica de transmissão e avaliação dos riscos epidemiológicos da

LV.

Vários estudos tem apontado o aumento e a predominância de flebotomíneos na

estação chuvosa, com correlação positiva com a pluviometria e umidade em diferentes

estados brasileiros como, Minas Gerais (Barata et al., 2004; Monteiro et al., 2005), Rio

Grande do Norte (Ximenes et al., 2006), Mato Grosso (Missawa & Dias, 2007) e Mato

Grosso do Sul (Silva ET al., 2007; Oliveira et al., 2008). Sugere-se que o aumento dos

casos de LV sucede os picos de captura do vetor (Macedo et. al., 2008). Estes autores

sugeriram que a chuva beneficia os flebotomíneos quando em níveis moderados ao

longo da estação chuvosa, mas os prejudica quando inunda o chão, destruindo os

Page 24: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

23

criadouros e matando as pupas no solo. Uma pequena variação destes fatores nos

microhabitats é suficiente para alterar a dinâmica das populações de flebotomíneos

(Dias et al., 2007). Ao contrário do que ocorre nos habitats naturais dos flebotomíneos,

pois possuem pequena variação na temperatura e umidade, o que favorece a presença

desses insetos, já que os mesmos são muito sensíveis à dessecação.

Macedo et. al., (2008) e Camargo-Neves et al. (2001) apontam a necessidade de

correlacionar densidade vetorial com os aspectos ambientais do peridomicílio, tais como

presença de vegetação, raízes, troncos de árvores e matéria orgânica no solo,

representando possíveis abrigos e criadouros para o vetor. Além disso, as habitações

humanas de má qualidade e em locais inadequados, a construção desordenada de

abrigos de animais domésticos no ambiente peridomiciliar e a carência de condições

mínimas de saneamento básico são condições comuns em áreas rurais e periféricas de

centros urbanos (Muniz et al., 2006), explicando, em parte, a persistência das

leishmanioses nesse ambiente.

1.2 – Delimitação do Problema

O PVC-LV tem suas diretrizes e estratégias estruturadas (MS, 2006). Todavia a

partir da análise das informações da vigilância entomológica, feita de forma rotineira

pelo nível federal, observa-se incoerência entre as atividades de vigilância entomológica

realizadas quando relacionadas a classificação epidemiológica dos municípios ou as

localidades no que diz respeito as metodologias utilizadas pelas equipes de entomologia

das Secretarias Estaduais de Saúde (SES). Este componente requer preparação técnica e

tempo para se estruturar nacionalmente. Enquanto os problemas de ordem e

organizacional e política não forem resolvidos seus reflexos na efetividade do Programa

persistirão. As principais falhas observadas são que em alguns municípios as atividades

recomendadas não cobriram o número mínimo de imóveis/localidades recomendados

pelo PVC-LV; não levou em consideração a classificação epidemiológica da área; não

manteve ação sistemática, pois houve interrupção das atividades por alguns meses.

Enfim, para muitos municípios essas ações não foram capazes de estabelecer

informações sobre a ocorrência e a sazonalidade do Lu. longipalpis, além do não

cumprimento das ações programadas pelo estado.

Diante do exposto, questões básicas ainda não são respondidas adequadamente e

integralmente pelas equipes de vigilância entomológica de flebotomíneos, tais como:

Page 25: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

24

Quais e quanto são os municípios caracterizados como receptivos e não receptivos e

com autoctonia de LV? Quais possuem informações da presença do Lu. longipalpis e ou

Lu. cruzi? Nos município, qual o índice de áreas ou bairros positivos e quais possuem a

maior freqüência do vetor? Qual a sazonalidade do vetor nos municípios endêmicos?

Quais as condições ambientais dos domicílios que apresentam maior freqüência do

vetor e quais são os principais fatores que contribuem para a presença de criadouros

naturais de flebotomíneos em área urbana?

Pressupõe-se que o desenvolvimento das atividades de vigilância entomológica

não seguem o rigor metodológico, em relação ao tempo de coleta para obter uma

amostra representativa do vetor no município, assim como não leva em consideração os

parâmetros epidemiológicos recomendados pelo Programa. Essa afirmação é baseada

nas informações repassadas pelos próprios técnicos de entomologia dos estados e

municípios, bem como pelas análises das informações de vigilância entomológica

registradas ao nível central.

A latência prolongada entre a coleta e análise das informações e sua

disponibilização em tempo hábil para os gestores do programa, dificulta o

desenvolvimento adequado das intervenções de prevenção e controle da LV no âmbito

municipal e local.

Portanto, acredita-se que existem fatores limitantes para que essas atividades

sejam realizadas de forma sistemática e periódica criando dificuldades para gerar

informações confiáveis sobre a infestação do vetor nos municípios e direcionar

corretamente as ações de controle da LV. Consequentemente, alguns aspectos

fundamentais continuam sem operacionalização, tais como ausência da prática de

monitoramento e avaliação das atividades de vigilância entomológica e do controle

vetorial, inexistência ou insuficiência na integração entre técnicos da vigilância

epidemiológica e entomológica.

A inexistência de um sistema informatizado para a VE faz com que o serviço de

vigilância em saúde, nos diferentes níveis de gestão, trabalhe com planilhas e

formulários precários. Estes, além de apresentar limitações relacionadas à completitude

e periodicidade do envio, comprometendo a qualidade e análise das informações e

conseqüentemente dificultando a avaliação metas pactuadas pelos diferentes níveis de

gestão. Desse modo, a análise desse componente, por parte da coordenação nacional do

Programa, evidenciaram a importância de repensar o atual modelo de monitoramento,

no sentido de buscar alternativas práticas e simples para o acompanhamento e atuação

Page 26: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

25

nos problemas identificados. O desenvolvimento de um sistema que contenha uma base

de dados que integre informações dos casos humanos, de reservatórios e do vetor

aliados a informações sócio-ambientais que propicie diagnóstico de risco em tempo

hábil e resposta rápida para operacionalização do Programa de LV e que gere ações de

intervenção em tempo oportuno.

Tendo em vista a recente incorporação das ações de vigilância entomológica,

considera-se que identificar elementos e recursos para implantação de Monitoramento

& Avaliação constitui uma oportunidade de aperfeiçoar esse componente dentro do

PVC-LV e consequentemente melhorar as intervenções. Além do mais é esperado

formulação de parâmetros que futuramente possam subsidiar avaliação da efetividade

do Programa.

Diante do acima exposto esse estudo busca responder as seguintes questões:

Quais são as ações de vigilância entomológica e seus objetivos e qual a

característica do contexto organizacional e da estrutura disponível para

realização das ações?

Qual o modelo lógico da intervenção e da organização das ações de vigilância

entomológica do PVC-LV?

Quais são os indicadores de estrutura, processo e resultado para os diferentes

níveis de gestão, imprescindíveis no monitoramento das atividades de vigilância

entomológica do programa?

Quais os limites e as potencialidades de implementação do sistema de vigilância

entomológica, na realidade do SUS?

1.3 – Justificativa

A atual política de descentralização do sistema de saúde tem proporcionando

avanços qualitativos para a reorganização dos sistemas locais de vigilância

epidemiológica. As secretarias estaduais estão cada vez mais, deixando de desempenhar

o papel de executoras para assumir responsabilidades de coordenação, supervisão, e

monitoramento das ações (Ministério da Saúde, 2009). Entretanto a vigilância

entomológica remodelada ainda carece de uma implementação mais ampla nas três

esferas de governo. Nesse sentido iniciativas para o levantamento dos limites e

potencialidades desse componente poderá ser mais um passo na sua valorização e

incorporação do monitoramento e avaliação nos programas das doenças transmitidas

Page 27: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

26

por vetores. Considerando:

- a recente incorporação do componente Vigilância Entomológica pelo PVC-LV;

- a operacionalização inadequada das ações de vigilância entomológica e controle

vetorial da LV por parte de algumas unidades federadas (UF);

- as dificuldades na compreensão das metodologias da vigilância entomológica da LV,

por parte tanto dos coordenadores estaduais do programa e dos entomólogos;

- a ausência ou insuficiência do alcance da metas da Programação de Ações de

Vigilância em Saúde (PAVS) por parte de algumas UFs;

- carência de um sistema de informação em bases entomológicas que permita

acompanhamento e supervisão nos métodos de coleta disponibilizando informações em

tempo hábil para os gestores do programa, aliada a ausência ou deficiência do

monitoramento das atividades de vigilância entomológica da LV por parte dos diferentes

níveis de gestão do Programa da LV;

- a falta de uma rede informatizada para o registro das informações padronizadas pelo

Programa das Leishmanioses do Ministério da Saúde referente às ações e aos

indicadores da vigilância entomológica de flebotomíneos;

- ausência ou baixa integração entre técnicos da vigilância epidemiológica e

entomológica do programa das leishmanioses;

- a expansão da LV, bem como a mudança no perfil de transmissão e intensificação da

urbanização da doença em diferentes regiões do país;

- o processo de descentralização das ações de vigilância e controle das doenças no

âmbito do SUS;

- a importância de institucionalizar ações de Monitoramento e Avaliação incorporando-

as à rotina do trabalho, solidificando habilidade técnica para planejar intervenções, gerir

os serviços, dar sustentação à formulação de políticas e apoio às decisões sobre quais

mudanças devem ser operadas (Felisberto, 2004);

A proposta de levantar elementos dentro da vigilância entomológica para o

monitoramento das ações preconizadas PVC-LV permitirá: 1) a elaboração da teoria do

programa 2) a identificação dos principais atores envolvidos na intervenção e suas

responsabilidades; 3) a identificação de problemas na execução das ações e assim

colaborar na qualidade e aperfeiçoamento da intervenção e planejamento adequado da

mesma; 4) colaborar com o processo de qualificação das equipes técnicas para a

apreensão de práticas e capacidades específicas para o adequado monitoramento da

Page 28: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

27

intervenção e consequentemente promover-se-á a organização do trabalho e sua

institucionalização.

Constitui-se, também, num pré-requisito ao monitoramento dos efeitos e num

valioso instrumento de gerenciamento do programa, servindo de estímulo ao processo

de reflexão-ação-reflexão. E acima de tudo, contribuir para identificação de prioridades

e redirecionamento das ações, conseqüentemente para identificação de indicadores

epidemiológicos e operacionais que assegure factibilidade na avaliação do Programa de

prevenção e controle da LV.

Page 29: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

28

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 – O Programa de Vigilância e Controle da LV após descentralização do SUS

O início das operações de controle da leishmaniose visceral remonta à década de

1950.

Na legislação brasileira, o decreto que regulamenta as ações de controle da

leishmaniose visceral ainda é década de 1960, quando o então Presidente da República,

usando da atribuição que lhe conferia o art. 87, item I, da Constituição, publicou as

Normas Técnicas Especiais para o Combate as Leishmanioses no País. As ações

definidas no decreto estão voltadas principalmente para o controle de cães positivos, por

meio da eutanásia.

As ações eram executadas pelo Departamento Nacional de Endemias Rurais

(Deneru) em áreas de grande endemicidade, como os estados do nordeste do Brasil.

É importante ressaltar que esta endemia apresentava-se com caráter estritamente

rural, diferente do padrão atualmente observado como a urbanização da sua ocorrência.

O trabalho foi interrompido em 1964, tendo sido retomado apenas em 1980, pela

Superintendência de Campanhas de Saúde Pública (Sucam). Silveira et. al., (2009)

afirma que desde o final da década de 1940 o Ministério da Saúde dispunha de

tecnologia eficaz para o controle de populações domiciliadas de flebotomíneos, mas as

prioridades entre as doenças transmitidas por vetores (DTVs) naquele momento não era

a leishmaniose visceral. Dessa forma a doença ampliou a sua área de ocorrência e

consequentemente aumentou o número de casos.

O Programa de Leishmaniose Visceral só foi estruturado, no Brasil, na forma de

programa de alcance nacional a partir de 1980. Antes, eram cumpridas ações isoladas,

de maior ou menor alcance, em função de um aporte descontínuo de recursos,

determinado pelo baixo nível de prioridade conferido às atividades (Silveira et al,

2009). Nesse período o Dicloro Difenil Tricloroetano (DDT) foi o inseticida utilizado

extensivamente para o controle dos vetores da malária e conseqüentemente teve um

efeito fortuito e dramático sobre os flebotomíneos peri-domésticos, em particular nas

áreas endêmicas da LV, sendo utilizado pela primeira vez nos anos 1950 para borrifar as

paredes internas e externas nas residências do estado do Ceará onde a transmissão era

sustentada e apresentava-se como grave problema de saúde publica (Lainson & Rangel,

2003).

Page 30: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

29

O controle vetorial era estruturado sob modelo de operação campanhista. Seguia

em parte a metodologia de trabalho definida a partir do pressuposto de que as grandes

endemias, devido sua magnitude e intensidade da transmissão, era necessário receber

ataque intensivo em torno das localidades que apresentavam casos da doença. Essas

ações seriam sustentadas por algum tempo, até que alcançadas determinadas metas,

previamente estabelecidas e definidas como condição para a instituição do que se

convencionou chamar de fase de vigilância. Assim, a vigilância entomológica

corresponderia a uma fase avançada das operações, para a qual se admitia que os

serviços locais de saúde, poderiam assumir as práticas próprias de controle das DTVs

(Silveira et al., 2009).

As primeiras ações no sentido de descentralização se deram no início de 1999

quando a Funasa por meio do Centro Nacional de Epidemiologia (Cenepi) elaborou e

publicou o manual “Controle, Diagnóstico e Tratamento da Leishmaniose Visceral

[Normas Técnicas] (Funasa, 1.999). As ações no nível federal estavam voltadas para

assessorias aos estados e municípios e repasse de recursos para os municípios de maior

transmissão no país visando a execução das ações de vigilância e controle.

No referido manual os objetivos da vigilância entomológica estavam voltados

para caracterizar a autoctonia dos casos, conhecer a distribuição espacial e densidade do

vetor e monitorar a efetividade dos inseticidas (MS, 1.999). A descrição das ações sobre

o vetor resumiam-se em cinco parágrafos, e não detalhava quais seriam os métodos de

coleta e o monitoramento das informações, deixando a critério dos executores das ações

os aspectos referentes ao tempo de exposição das armadilhas e os locais de coleta.

Apresentavam-se indicadores de presença e distribuição do vetor, entretanto as ações

eram desencadeadas apenas com a perspectiva de controle baseado no encontro do

vetor. O controle químico, até 2003, era feito com a Cipermetrina® que pertence a

classe dos piretróides.

Documentos localizados na Secretaria Estadual da Saúde do Ceará (Ministério

da Saúde, 2001), associado a relato de profissionais, apontam que muitas reuniões

foram realizadas com a participação do comitê assessor do programa para discussão e

atualização sobre as ações que vinham sendo realizadas nos municípios com

transmissão da LV. Em 2000, a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), convocou um

comitê de especialistas para, juntamente com a gerência do PVC-LV reavaliar as

estratégias de controle empregadas e redirecionar as ações de controle visando à

racionalização da atuação (Costa, 2001). O objetivo era de “atualizar as metodologias e

Page 31: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

30

estratégias de controle da leishmaniose visceral no Brasil” além de propor a suspensão

das ações de eutanásia de cães infectados com LV, publicando a revelia do MS o artigo

“Mudanças no controle da LV”. É importante ressaltar que uma parte desse grupo de

consultores era contra as ações de eutanásia de cães como medida de controle da

doença.

No entanto, a suspensão dessa ação não foi considerada pelo Programa Nacional

da LV, pois técnicos envolvidos com o Programa de várias secretarias estaduais e

municipais de diferentes regiões do país reuniram-se em uma oficina de trabalho na "IV

Reunião de Pesquisa Aplicada para o Controle de Doença de Chagas e Leishmanioses"

e discordaram das alterações propostas pelo comitê assessor do MS e reiteram as

recomendações contidas na oficina de trabalho anteriormente estabelecidas até que

estudos específicos e bem controlados fundamentassem melhor as alternativas (Carta ao

editor, 2001). Teoricamente, as estratégias de controle pareciam adequadas, mas na

prática a prevenção de doenças transmissíveis por vetores biológicos carecia de

informações da complexa tríade ecológica envolvendo vetores, agentes biológicos e

animais silvestres, domésticos e o próprio homem e a sua interação sob diferentes

aspectos ambientais e espaço habitado (Gontijo, 2004), que diretamente retratavam a

epidemiologia das doenças transmitidas por artrópodes.

A reformulação do programa era uma necessidade apontada como emergencial

em virtude da grande polêmica sobre as ações de controle baseadas na eutanásia de cães

positivos para LV, vivenciada no período, entre pesquisadores do meio científico e

técnicos do serviço de saúde. Um grupo de consultores e assessores defendiam uma

reformulação das ações com enfoque maior sobre o vetor. As discussões continuaram e

a pressão sobre a revisão das normas técnicas aumentaram.

Cabe aqui um parêntese importante e informá-los que a gerência nacional do

Programa de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral funcionou no Centro

Nacional de Epidemiologia (Cenepi), da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) até

2003. Com a extinção do Cenepi e criação da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS)

do Ministério da Saúde (Decreto 4.726/2003), houve a transferência da coordenação

dessas ações para esta secretaria e o Programa das Leishmanioses foi assumido por uma

nova gerência que tinha nas mãos a responsabilidade de fazer a reformulação das ações.

Nesse sentido, em 2003 a gerência do Programa convocou um grupo de

consultores e assessores do MS e propôs a revisão do manual publicado em 1.999, e das

Page 32: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

31

metodologias das ações de vigilância e controle da doença propostas pelo meio técnico-

cientifico, incorporando todo conhecimento obtido com as atividades executadas até

aquele ano. Este aprimoramento foi realizado com base em evidências encontradas na

literatura científica e na experiência de profissionais do serviço. As ações de vigilância

entomológica e controle vetorial foram detalhadamente propostas. Também se revisou

esquemas de tratamento para casos humanos, ficha e fluxo de notificação de casos

humanos. As ações de vigilância e o controle do reservatório foram focalizadas para as

áreas de maior transmissão.

O Ministério da Saúde publicou, em 2003, o Manual de Vigilância e Controle da

Leishmaniose Visceral, nos termos do parágrafo 1º do art. 1 da Lei 6.259 de 30 de

outubro de 1975, do inciso XVI do art. 15 da Lei 8.080 e da Portaria nº 3.252 de 2009,

que prevê como competência do Ministério da Saúde definir, em regulamento, a

organização e as atribuições dos serviços incumbidos da ação de vigilância

epidemiológica, promover a sua implantação e coordenação. Além disso, prevê como

atribuição da União em conjunto com as demais esferas de gestão do SUS, em seu

âmbito administrativo, elaborar normas técnico-científicas de promoção, proteção e

recuperação da saúde, sendo de responsabilidade primária dos municípios a execução

dessas ações. Em 2006 foi feita pequena revisão sem trazer modificações substanciais.

Nesse período um estudo foi encomendado para avaliar as estratégias

preconizadas pelo MS, como forma de atender as recomendações apontadas pelo grupo

de consultores do comitê assessor e dos próprios técnicos que foram contra a suspensão

da eutanásia de cães. Defenderam a permanência das ações até que novas evidências

apontassem fossem demonstradas. Os resultados encontrados no estudo apontaram que

o controle vetorial com uso de inseticidas e a eliminação de cães infectados, apresentam

efetividade para a redução da incidência de infecção humana, particularmente em áreas

com transmissão moderada e muito alta (Werneck, 2008). Este autor afirma também

que o controle da LV tem se revelado como um grande desafio, considerando que tanto

as medidas de controle vetorial quanto as medidas dirigidas ao controle da população

canina infectada enfrentam importantes problemas na operacionalização no campo.

A perspectiva de identificação de elementos e indicadores para o monitoramento

das ações do Programa de Vigilância e Controle da LV, com a fundamentação teórica

conceitual aqui desenvolvida, representa uma aproximação com a história do avanço

das ações de vigilância entomológica segundo princípios e práticas do Sistema Único de

Saúde, destacando a descentralização político-administrativa.

Page 33: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

32

2.2 – Monitoramento & Avaliação e Vigilância Entomológica

A vigilância entomológica é um componente do sistema de vigilância

epidemiológica e Gomes (2002) a define com as ações que prevê a “contínua

observação e avaliação de informações sobre as características biológicas e ecológicas

dos vetores, sob a influência dos fatores ambientais, nos níveis das interações com

hospedeiros humanos e animais reservatórios”. O conjunto de ações deve proporcionar

o conhecimento necessário para detecção de qualquer mudança no perfil de transmissão

das doenças e avaliação das ações de controle. Assim sendo, as recomendações

propostas pelo PVC-LV devem considerar esse amplo conceito e instituí-lo como

instrumento precursor para o desencadeamento das medidas de prevenção e controle do

agravo.

Gomes (2002 pp 82) afirma que as atribuições principais da vigilância

entomológica devem ter como fundamentos elementos que permitam definir os níveis

de predição de ocorrência ou mudança no perfil epidemiológico das doenças

transmitidas por artrópodes. Neste sentido deve buscar:

identificar espécies de vetores por meio de caracteres morfológicos e biológicos

com vista à definição de hábitos e comportamento implicados na transmissão de

doenças;

estabelecer indicadores entomológicos compatíveis com níveis de transmissão da

doença;

detectar precocemente espécies exóticas e, nas autóctones, o nível de domiciliação

ou o grau de contato homem-inseto necessários ao estabelecimento da capacidade

vetorial;

identificar situações ambientais e climáticas que favoreçam a reprodução e as

estações mais sujeitas à disseminação de patógenos;

manter sempre as Vigilâncias Ambiental e Epidemiológica informadas sobre as

inter-relações homem-vetor, no tempo e espaço, associadas aos hospedeiros dos

agentes infecciosos e artrópodes que causam acidentes;

recomendar, com bases técnicas, as medidas para eliminar ou reduzir a

abundância de vetores, sob a óptica do controle integrado;

avaliar permanentemente a adequação dos indicadores entomológicos na

formulação das estratégias de intervenção; e

avaliar o impacto das intervenções específicas sobre vetores.

Page 34: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

33

Nesse sentido, a vigilância específica dos fatores de risco biológico representa a

seleção e mensuração de indicadores biológicos, incluindo análise e definição de áreas

de risco epidemiológico à transmissão da doença, para elaborar as bases científicas e

técnicas para implementação dos programas de prevenção e controle das doenças

transmitidas pelos insetos (Gomes, 2002). Além disso, é necessário promover a

agilidade na identificação de características vetoriais consideradas de riscos

epidemiológicos para propiciar as intervenções oportunas. Também prestar-se-ia ao

monitoramento de indicadores operacionais e administrativos segundo metas

estabelecidas pelos serviços hierarquizados de saúde, sobretudo, na implementação e na

avaliação desses programas.

Destaca-se que a vigilância entomológica é considerada um dos componentes

principais para indicação e reconhecimento das áreas de transmissão prioritária,

objetivando o direcionamento das ações oportunas de prevenção e controle da LV

(Ministério da Saúde, 2006). Para dimensionar o impacto das medidas de controle e

orientar ajustes nas ações prescritas pelo Programa Nacional, é fundamental que o

banco de dados sejam alimentados periódica e sistematicamente (Donalísio & Glasser,

2002). Estes autores afirmam que a insuficiência ou inconsistência das informações,

sobre o vetor, disponíveis nos sistema de informações, em detrimento da

supervalorização da cobertura nas atividades de controle, atribuindo-se muitas vezes,

apenas a esse aspecto os resultados satisfatórios, resulta na idéia simplista de que para

solucionar o problema basta intensificar o trabalho que está sendo realizado. Desta

forma, a estratégia de controle não se operacionaliza na forma mais completa, tampouco

torna-se instrumento precursor de ações qualificadas.

Segundo Sabroza et al. (1992), existem fatores ambientais e comportamentais,

para a doença e situação particular, que traduzem a produção dos processos endêmicos-

epidêmicos. Para explicá-los, Sabroza et al.(1995 pp 216) utilizam o conceito de

condições de receptividade, definidas como o conjunto de características ambientais,

sociais e comportamentais que permitem a reprodução dos parasitos e sua manutenção

nas comunidades”. Para tanto a compreensão dos aspectos eco-epidemiológicos da

leishmaniose visceral, bem como para o sucesso das ações de vigilância e controle das

leishmanioses é necessário ter conhecimentos mais precisos dos elos que compõem a

cadeia de transmissão, para os quais as características bio-ecológicas dos flebotomíneos

vetores devem sempre merecer uma atenção especial.

Page 35: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

34

Estudo realizado por Donalísio & Glasser (2002), ressalta a necessidade de

buscar melhores indicadores que possam predizer riscos de transmissão viral e que

sejam de fácil manejo pelos programas de controle. É importante propor e validar

modelos preditivos que estimem densidade de vetores e risco de epidemias, incluindo

variáveis ecológicas e sociais, expondo o que há de universal nestes modelos e o que

deve ser particularizado por regiões.

Um maior entendimento do processo endêmico depende do estudo

interdisciplinar do local de ocorrência do agravo, considerando variáveis ambientais,

demográficas, biológicas, sociais e geográficas. Neste nível de análise, a localidade

deve ser vista como um espaço que se origina e é originado a partir das relações

humanas estabelecidas e não meramente como um lugar onde a doença ocorre (Soares,

2006).

Para doenças importantes como a leishmaniose visceral além de outras

atividades que devem ser realizadas de forma integrada, o controle deve ser direcionado

no combate aos vetores refletindo proteção das populações humanas contra a infecção.

Contudo a WHO (2005) reconhece, como grave, a diminuição da capacidade dos países

na implementação de intervenções mais eficazes no controle de vetores. Uma das razões

é que muitas vezes os programas não têm especialistas nessa área; em resultado,

atividades de vigilância entomológicas de rotina, integradas com as demais ações, como

vigilância e monitoramento e avaliação das atividades de controle, não são realizadas.

Diante disso há necessidade dos gestores suprir essa deficiência, pois

dificilmente poder-se-á seguir as recomendações da 48º Reunião do Conselho Diretor da

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), que propôs uma agenda de controle

integrado de vetores como resposta integral às doenças transmitidas por vetores,

seguindo a lógica do conceito de Controle Integrado de Vetores (CIV).

Uma das proposições da agenda leva em consideração que o CIV seja:

Método baseado no conhecimento dos fatores locais que influenciam a biologia dos

vetores, transmissão de doenças e morbidade;

Uso de um amplo número de intervenções, geralmente em combinação e

sinergicamente;

Articulação dentro do setor saúde e com os demais setores cujas ações impactam na

presença dos vetores;

Engajamento das comunidades locais e dos demais grupos implicados;

Page 36: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

35

Regulação por parte do setor saúde e definição de normatização pertinente.

Iniciativas de monitoramento e avaliação passam a desempenhar um importante

papel no gerenciamento de programas de saúde, assegurando que os recursos

direcionados aos programas sejam utilizados adequadamente; que os serviços sejam

acessados por todos que deles necessitem; que as atividades sejam realizadas de

maneira oportuna e que os resultados sejam alcançados conforme o esperado. A função

do M&A facilita um uso mais efetivo e eficiente dos recursos humanos e financeiros e

maiores benefícios em saúde para a população assistida – o que é especialmente

relevante em áreas onde os recursos são limitados (Travassos, 2004).

Usualmente o Monitoramento & Avaliação servem a três propósitos: melhorar as

ações do programa potencializando a tomada de decisão oportuna, prestar contas e

atribuir se o efeito é resultante da intervenção, além de produzir conhecimento através

de pesquisas avaliativas (Hartz, 2000), aspectos esses que precisam ser incorporados ao

Programa Nacional da Leishmaniose Visceral.

A implantação de um processo de M&A envolve a articulação de uma proposta,

de natureza técnico-político, com as práticas dos sujeitos que estão executando e

usufruindo das ações de saúde. Na vigilância em saúde, a transformação desta intenção

em gesto implica na superação de concepções tradicionais sobre o caráter burocrático

dos sistemas de informações em saúde, decorrentes da quantidade enorme de dados que

são produzidos e encaminhados para outros níveis organizacionais, sem que sejam

usados para o planejamento e avaliação das ações pelo nível local e da introdução de

mudanças profundas no dia-a-dia do trabalho para que a informação como instrumento

de análise e de ação seja incorporado no interior das práticas assistenciais (Merhy,

2002). Este é o desafio da implantação da vigilância entomológica não apenas para a

leishmaniose visceral como também para as demais doenças transmitidas por

artrópodes.

Faz parte do acompanhamento ou monitoramento, investigar as razões pelas

quais o que foi realizado diferiu do programado e também verificar os imprevistos que

ocorreram os quais impediram ou prejudicaram a realização de atividades ou, se o que

foi planejado não foi suficiente (Hartz, 2000).

Waldman (2007) afirma que a intervenção deve ser acompanhada por

instrumentos simples que permitam uma visualização da situação no momento

considerado, tais como: a) cronogramas físicos: são úteis para informar sobre a

Page 37: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

36

ocorrência de atrasos, especialmente os que ocorrem em atividades críticas que podem

prejudicar a execução da ação; b) cronogramas financeiros: informam sobre a

disponibilidade ou a falta de recursos, em relação ao previsto, servindo como base ao

planejamento financeiro para o restante do projeto, indicando a possibilidade de

remanejar recursos entre atividades ou entre insumos de uma mesma atividade ou, ainda

a necessidade de buscar recursos complementares. Para o mesmo autor, monitorar é um

importante instrumento de saúde pública, pois permite “controlar e às vezes ajustar

programas” ou “olhar atentamente, observar ou controlar com propósito especial”. Para

o autor, as atividades de monitorização podem ser caracterizadas como a inteligência

dos serviços ou projetos de saúde, oferecendo: as bases para a sua avaliação nos

aspectos técnicos e operacionais e também para identificar precocemente agravos

inusitados e alterações comportamentais ou ambientais que constituam riscos à saúde da

população. Assim o modelo teórico de monitoramento deve ter como base o que está

programado no plano, acompanhando a execução das ações propostas, por área de

atuação.

Um plano de monitoramento deve contemplar indicadores dos seguintes

elementos: a) Estrutura: que são precondições (insumos e organização) que possibilitam

processos apropriados e resultados favoráveis; b) Processo: aplicação das etapas de um

plano, ou seja, compara os procedimentos realizados com o estabelecido no plano; e c)

Resultado: avaliado sob diferentes aspectos, seja a análise de informações, indicadores e

taxas ou condições saúde, acessibilidade e satisfação do usuário (Donabedian,1978).

A estrutura do monitoramento pressupõe que haja fluxos de procedimentos

técnicos e administrativos, coleta de dados e informações eficientes, regularidade, da

qualidade e da fidedignidade dos registros, organização das atividades para que ocorram

de forma sistemática e contínua. Identificação precoce dos problemas, implementação

imediata de procedimentos corretivos e acompanhamento do grau de correção, além do

envolvimento efetivo dos profissionais de saúde, gestores e integração intra e

interinstitucional (Donabedian, 1978). Ele deve ser analítico, isto é, quando há uma

coerência entre ações e atividades propostas e as realizadas; um grau de cumprimento

dos objetivos, resultados e efeitos produzidos gerando assim impactos na saúde da

população. Favorece ainda o conhecimento do desempenho dos profissionais

envolvidos e da sua qualidade. É propositivo, quando fornece elementos para adequação

e revisão da programação, seleção de prioridades de intervenção e contínua revisão da

Page 38: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

37

aplicação dos recursos e instrumentalização dos Conselhos Municipais de Saúde

(Cosems) para acompanhamento e avaliação do programa.

São considerados como dimensões do monitoramento, os processos (produção,

produtividade e qualidade técnica); os efeitos intermediários (utilização, oportunidade,

responsividade); os efeitos finalísticos (controle de riscos e danos); e o rendimento

(eficiência). Além disso, é utilizado como critério cognitivo aquele pelo qual o

programa ou um de seus componentes será acompanhado. O critério em função do qual

o objeto recebe uma apreciação qualitativa ou quantitativa podem gerar alguns

problemas relacionadas as dimensões como limites à operacionalização (custos),

racionalidade das ações de controle e interesses dos stakeholders, que são significativos

e podem ser tornar inaplicáveis.

No Brasil, os estudos de monitoramento & avaliação sobre as ações de vigilância

e controle da LV são escassos. Os mais recentes, são do final da década de 2000,

abordando os resultados das ações de controle em município endêmico no estado da

Bahia (Oliveira, 2003). Sob esse aspecto cabe destacar que o estudo não contemplou os

critérios de julgamento de avaliação, caracterizando-se mais em uma avaliação de

impacto das ações de controle da leishmaniose visceral do que propriamente de

avaliação de implantação do Programa. Camargo-Neves, 2004 e Werneck, (2008),

fizeram uma aproximação de um estudo avaliativo das ações de vigilância e controle do

PVC-LV, com enfoque nos componentes de vigilância entomológica, controle vetorial e

vigilância e controle de reservatórios, porém com objetivo mais voltado para a

efetividade das ações, em estudo randomizado e controlado, do que para a

conformidade e qualidade técnica das ações sem considerar a interferência dos

contextos político e organizacional e aspectos do contexto externo. A relação entre o

conhecimento sobre o agravo e as práticas adotadas pela população para a sua

prevenção e controle foram abordadas no estudo de Borges (2008). Não foi localizado

nenhum estudo avaliativo que aborda a implantação do Programa de LV e de seus

componentes, constituindo atualmente uma grande lacuna na avaliação da implantação

das ações, visto que o Sistema de Saúde passa por um processo de institucionalização

das práticas de M&A, buscando o aperfeiçoamento e melhoria dos serviços.

Também não foram realizados estudos voltados para avaliação das ações de

vigilância entomológica do PVC-LV com vistas a identificação de indicadores de

controle estratégico para as ações sobre o vetor.

Page 39: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

38

2.3 – Indicadores de monitoramento

Para Assis et al (2005), indicadores são medidas quantitativas ou qualitativas

elaborados para detalhar se os objetivos da intervenção estão sendo adequadamente

conduzidos. Os indicadores quantitativos permitiriam observar os aspectos da estrutura

organizacional, as necessidades do serviço, o processo de implantação, enquanto que os

qualitativos, permitiriam observar os aspectos relacionados a adoção ou rejeição de

atitudes, valores, estilos de comportamento e consciência.

A abordagem qualitativa enriquece a análise dos dados, dando consistência e

estímulo à elaboração de um método de monitoramento construído não apenas a partir

de informações geradas pelas próprias equipes, mas também, para que possam refletir

sobre os significados potenciais que cada uma delas pode estar indicando (Ministério da

Saúde, 2004).

A matriz de critérios é uma estrutura determinada e determinante que organiza

as principais dimensões eleitas para o MA&VE com a finalidade de expressar os

critérios e parâmetros aplicáveis aos processos projetados (Afoldi, 2006). À menos que

metas precisas sejam estabelecidas, não há forma de estabelecer se um programa esta

progredindo satisfatoriamente (Wholey et al., 1970).

Do mesmo modo, as características desejáveis dos indicadores - clareza,

utilidade, mensurabilidade, confiabilidade e validade - merecem debate e confirmação.

O monitoramento do desempenho e avaliação da implementação da intervenção

ou programa necessita de algumas ações fundamentais para sua efetiva manutenção. É

necessário estabelecer as metas “smart” que permitem verificar a coleta de rotina de

dados comparando-os com as metas, verifica a relação entre recursos, atividades e

metas, classifica a execução do programa de acordo com padrões, parâmetros, critérios

e indicadores acordados, emite relatórios sistemáticos e periódicos alertando para

problemas, analisa porque as metas não foram alcançadas, examina contribuições

específicas do contexto ao grau de implementação, explora resultados inesperados e

refere lições aprendidas, reforçando aspectos potenciais do programa a serem

reproduzidos e provê recomendações para sua melhoria (Hatz, 2000).

Considerando a exposição acima, acredita-se que o elemento-chave do sistema

de monitoramento da vigilância entomológica é a organização do sistema de registro de

Page 40: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

39

dados, o qual deve ser formado por meio simples e contínuo, garantindo os fluxos

mesmo durante os períodos de menor atividade dos vetores (Gomes, 2002). Para tanto

se faz fundamental a presença de um subsistema de informação que abarque os

diferentes níveis de gestão do sistema de saúde. Este subsistema deve ser alimentado

através de um subsistema de inteligência epidemiológica que sirva para analisar as

informações sobre vetores, e para isto é necessário:

estabelecer obrigatoriedade para a coleta e a análise dos dados e sua ampla

divulgação;

a vigilância entomológica bem como o seu sistema de informação sejam

entendidos como instrumento da Vigilância em Saúde;

ser ágil na mensuração das densidades do vetor para avaliação do risco de

transmissão;

acompanhar os programas de controle com o objetivo de avaliar seu impacto;

não abdicar da condição de ser um instrumento de “inteligência” voltado às

bases técnicas dos programas;

pressupor existência de programa continuado de formação de recursos humanos,

especificamente para entomologistas (Gomes, 2002 pp 83)

Ressalta-se que o alcance de objetivos da vigilância entomológica depende da

capacitação da rede de saúde por meio de aquisição de equipamentos, disponibilidade

de recursos humanos e da formação de profissionais por meio de centros de referência

que possuam especialistas no campo da ecologia e taxonomia de artrópodes (Gomes,

2002), além da capacitação dos gestores para entenderem a importância da

implementação das mesmas.

O cumprimento das funções da Vigilância Entomológica depende da

disponibilidade de dados que sirvam para subsidiar o processo de produção da

informação para ação. A qualidade da informação depende, sobretudo, da adequada

coleta de dados gerados no local onde ocorre o evento sanitário (dado coletado). É nesse

nível que os dados devem ser primariamente tratados e estruturados para se constituírem

em um poderoso instrumento – a informação, capaz de subsidiar um processo dinâmico

de planejamento, avaliação, manutenção e aprimoramento das ações (Brasil, 2009).

A coleta de dados deve ocorrer em todos os níveis de atuação do sistema de

saúde. A força e valor da informação (dado analisado) dependem da precisão com que o

dado é gerado (Ministério da Saúde, 2009). Portanto, os responsáveis pela coleta devem

Page 41: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

40

ser preparados para aferir a qualidade do dado obtido. Tratando-se, por exemplo, das

ações de vigilância entomológica e controle vetorial da LV, é fundamental a capacitação

de profissionais em ações de taxonomia e biologia de flebotomíneos, métodos de coleta,

processamento e identificação de espécies e controle vetorial para que na evolução da

valência ecológica do vetor as informações possam ser comparadas entre si para

confirmação da mudança.

Outro aspecto relevante refere-se à representatividade dos dados, em relação à

magnitude do problema existente.

O fluxo, periodicidade e tipos de dados coletados devem corresponder ao perfil

ecológico da transmissão pra eleger as necessidades prévia estabelecidas, com base nos

indicadores adequados às características do agravo ou da intervenção. A prioridade de

conhecimento prévio sempre será concedida à instância responsável pela execução das

medidas de controle. Quando for necessário o envolvimento de outro nível do sistema, o

fluxo deverá ser suficientemente rápido para que não ocorra atraso na adoção de

medidas de controle (Ministério da Saúde, 2009).

A tomada de decisões pela gestão de doenças transmitidas por vetores deve ser

baseada em evidências a partir da competência e capacidade vetorial versus

desenvolvimento da capacidade de gestão do nível local. Além de pesquisas e atividades

operacionais, sob monitoramento de rotina e avaliação sistemática ampla, emprega-se

métodos seletivos de indicadores dos vetores, biológicos/não biológicos, ecológicos e

das condições climáticas do ambiente. A organização de sistemas de registros de dados

simples e contínuos para assegurar o fluxo ágil, mesmo nos períodos de menor atividade

dos vetores (Gomes, 2002).

Um dos pilares do funcionamento do sistema de vigilância entomológica, em

qualquer de seus níveis, é o compromisso de responder aos informantes, de forma

adequada e oportuna. Fundamentalmente, essa resposta – ou retro-alimentação –

consiste no retorno regular de informações às fontes produtoras, demonstrando a sua

contribuição para o processo. A retroalimentação do sistema materializa-se na

disseminação periódica de informes epidemiológicos sobre a situação local, regional,

estadual macroregional ou nacional. Essa função deve ser estimulada em cada nível de

gestão. Além de motivar os notificantes a retroalimentação do sistema propicia a coleta

de subsídios para reformular normas e ações nos diversos níveis, assegurando a

continuidade e aperfeiçoamento do processo (Ministério da Saúde, 2009).

Page 42: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

41

O desenvolvimento do estudo se dará a partir de um processo compartilhado de

construção do conhecimento baseado no que Patton (1997) define como “Avaliação

com Foco na Utilização”- AFU, em que o processo é iniciado com conhecimento para

identificação da necessidade de mudança e formulação, sendo acompanhado e orientado

sistematicamente.

Concentra-se nessa abordagem o compromisso com a melhoria do programa ou

da intervenção e sua aplicação é plenamente coerente com um conjunto de

circunstâncias, nas quais estão requeridas a avaliação interna e o empenho de criar uma

cultura de aprendizado permanente e de desenvolvimento institucional (Santos, 2006).

O que a distingue das abordagens tradicionais é o envolvimento de usuários potenciais -

aqui denominados atores-chave em todo o processo de desenvolvimento do estudo e o

estabelecimento (através de negociação), dependendo do uso atribuído pelos atores - do

modelo a ser criado (Patton, 2004).

Segundo o autor, a idéia de “utilidade” estaria relacionada a algumas lições

aprendidas com experiências proveitosas de avaliações e baseada nos desafios de

explicar para os atores-chave o uso intencional da avaliação e monitoramento. Esse uso,

significando o modo como os atores experimentam e aproveitam as descobertas que

fazem do processo avaliativo, obtendo evidências concretas sobre a realidade do

programa/intervenção e sobre a conveniência dos resultados obtidos, indo além da

intuição das observações.

Determinar o grau de responsabilidade de cada um dos atores-chave, tornando

claro que o comprometimento com a mudança implica muitas vezes, em novas

mudanças e que é necessário decidir em conjunto como aplicá-las. Para isto, alguns

passos se fazem fundamental como testar a realidade e indicar pacto para resultados

concretos. Na lógica da intervenção, observar e mensurar seus efeitos. Compreendendo

como ela se desenvolve é possível estabelecer medidas justas, expressivas e seguras;

informar os resultados amplamente, de forma que sua utilização democrática favoreça

sua adoção em outras experiências; disseminando os achados dessa construção coletiva

entre todos os atores-chave e outros interessados na intervenção.

O que Patton destaca, com essa abordagem, é a importância da resposta dos

atores ao enunciado do problema e o delineamento dos valores que escolhem para sua

resolução. As escolhas irão, em certa medida, caracterizar suas responsabilidades em

utilizar as conclusões, promovendo a mudança.

É a possibilidade de trabalhar com os atores-chave não somente no nível da

Page 43: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

42

avaliação, pois no caso deste estudo, a vigilância entomológica ainda precisa ser

implementada - mas com o que, aqui, denominamos de etapas, de forma atuante,

próxima e negociada. O autor chama a atenção para o que denomina “receptividade

situacional”, definida como a disposição do ator-chave em apontar quais os fatores que

podem influenciar as etapas.

Desse modo, afirma ainda, que “não há um modo padronizado que possa ser

aplicado independentemente da circunstância ou contexto”, sendo sempre necessário

negociar e projetar o provável uso dos achados de acordo com a expectativa dos atores-

chave. Portanto não existiria, na opinião do autor, um único método a ser utilizado.

Patton não advoga com essa abordagem nenhum conteúdo particular, desenho ou teoria,

justificando então que o processo de negociação auxilia os atores-chave a fazer a

seleção mais apropriada àquela situação-problema.

Os propósitos podem ser os mais diversos e entre tantos se destacam,

principalmente, aqueles de intenção formativa - para o aprendizado, melhoria e

identificação dos aspectos positivos e negativos da intervenção e os geradores de

conhecimento (de desenvolvimento) - para a apreciação de várias experiências, que

possibilitariam obter senão um, mas vários padrões de efetividade para uma

determinada intervenção.

Para além dos propósitos, o autor defende a mesma lógica para a escolha do

desenho do estudo (experimental, naturalista), das técnicas de coleta e análise dos dados

(quantitativa, qualitativa) e também para a definição do foco do monitoramento &

avaliação (processos, resultados, impactos). Utilizada, neste estudo, como uma

possibilidade de construção coletiva e consensuada, esta abordagem permitiria

promover “um processo para tomar decisões sobre estas questões em colaboração com

um grupo identificado de usuários-potenciais focando nos respectivos usos intencionais

da avaliação” (Patton, 1997). Portanto, identificar elementos para o monitoramento das

ações de Vigilância Entomológica do PVC-LV num processo participativo envolvendo

passo a passo os profissionais responsáveis pela sua implementação, é a base desse

estudo.

Page 44: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

43

3. OBJETIVOS

3.1 – Objetivo Geral

Compreender os limites e possibilidades de construção de uma proposta de

monitoramento das ações de vigilância entomológica do PVC-LV, tendo em vista a

realidade do SUS.

3.2 – Objetivos Específicos

Descrever as ações de vigilância entomológica do PVC-LV relacionando-o com

o contexto organizacional e identificando as características da estrutura

disponível para realização das ações;

Descrever o modelo lógico do Programa de Vigilância e Controle da LV nas três

esferas de gestão, enfocando o componente de Vigilância Entomológica;

Identificar indicadores de estrutura, processo e resultados além de outros

elementos para o monitoramento das ações de vigilância entomológica do

Programa de Vigilância e Controle de Leishmaniose Visceral;

Analisar a aplicação dos indicadores de monitoramento das ações de vigilância

entomológica do Programa da Leishmaniose Visceral em uma Unidade

Federada.

Page 45: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

44

4. METODOLOGIA

Desenho do Estudo e Procedimentos Metodológicos

O desenho do estudo está voltado para compreender os limites e possibilidades

de construção de uma proposta de monitoramento das ações de vigilância entomológica

do PVC-LV, tendo como guia a necessidade de incorporação de conhecimento de

informantes privilegiados que acumulam conhecimento cientifico acumulado e

experiência nos serviços de vigilância em saúde, em particular aqueles envolvidos nas

atividades de vigilância entomológica do programa de leishmaniose visceral. Desta

forma o desenvolvimento do estudo se deu a partir de um processo compartilhado de

construção do conhecimento baseado na avaliação com foco na utilização (Patton,

1997). A construção dessa proposta considerou a necessidade de indicadores que

permitam monitorar as ações de vigilância entomológica do PVC-LV nos aspectos que

envolvem desde o planejamento das ações até a execução das mesmas, levando em

consideração tanto os aspectos entomológicos quanto os operacionais.

Portanto, foram identificados os seguintes interessados: a gestão federal do

PVC-LV, principal responsável pela demanda de construção de um sistema de

monitoramento, a área técnica da entomologia da CGLAB, os consultores da área de

entomologia de flebotomíneos, considerando o interesse convergente, além de outros

programas de agravos de transmissão vetorial como, por exemplo, Dengue, Malária,

Febre Amarela e Doença de Chagas que podem utilizar o modelo como referência.

São ainda considerados potenciais usuários deste processo, os demais níveis de

gestão (municipal e estadual) do Programa das Leishmanioses onde se inserem as

diversas unidades objeto dessa proposta.

4.1 Descrição das ações de Vigilância Entomológica do PVC-LV e do contexto

organizacional

Para descrição das ações de vigilância entomológica do PVC-LV relacionando-o

com o contexto organizacional identificando as características da estrutura disponível

para realização das ações, buscou-se fazer uma recuperação histórica do processo de

elaboração e implantação das ações de vigilância e controle atualmente vigente,

especialmente as relacionadas à vigilância entomológica. Portanto entrevistas (3) foram

realizadas com testemunhas privilegiadas (informantes-chave), definidas por Quivy &

Page 46: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

45

Campenhoudt (1998) como pessoas que por sua posição, ação e responsabilidades, têm

bom conhecimento da situação/intervenção. As entrevistas foram realizadas com ex-

gerente da Entomologia antes da criação da SVS e com os responsáveis pela Rede de

Laboratórios de Entomologia na configuração atual (Apêndice 3) e a segunda entrevista

com gerentes do Programa da LV e da Entomologia no nível estadual (Apêndice 4),

além da terceira entrevista com um consultor do MS da área de entomologia e

pertencente ao Laboratório de Referência Nacional – LRN (Apêndice 5).

A descrição do funcionamento atual das ações de vigilância entomológica também

foi baseada em dados obtidos em manuais técnicos, decretos e leis (8.080/1990,

6.860/2009, 51.838/1963), portarias (1.172/2003, 3.252/2009), relatórios técnicos,

depoimentos de técnicos e gestores que atuam ou atuaram na organização e estruturação

do Programa no Ministério da Saúde e nas SES. Foi também realizada pesquisa

documental que inicialmente foi baseada na localização de documentos com

informações importantes e que constituiu apoio a elaboração dos marcos histórico do

Programa tais como:

Manual “Controle, Diagnóstico e Tratamento da LV [Normas Técnicas], 1999;

Relatório de Trabalho do comitê assessor do Programa de LV, Fortaleza, 2001;

Relatório da Reunião Nacional das Leishmanioses 2003, 2005, 2006, 2007,

2008;

Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral, 2006.

Relatórios das reuniões de revisão do Manual, versão 2006.

Relatório da Reunião Nacional de Vigilância Entomológica das Leishmanioses

2007;

Foi feita uma breve descrição dos antecedentes do programa de LV a partir da

descentralização do SUS, com enfoque nas ações de vigilância entomológica, levando

em consideração as mudanças ocorridas, tanto as verticais, quanto as horizontais, para

se entender os processos mais gerais que levam a atual configuração do Programa da

Vigilância e Controle da LV,

Para descrição do contexto organizacional e da estrutura para realização das

ações foram utilizados documentos que abordam: organograma institucional, definição

Page 47: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

46

de competências, estrutura física, equipamentos e insumos, recursos humanos e

capacitações e alocação de recursos financeiros. Colaboraram para essa etapa

informações dos participantes da oficina que foi realizada para identificar indicadores e

outros elementos para uma proposta de monitoramento das ações de vigilância

entomológica do Programa da Leishmaniose Visceral, descrita no item 4.3 dos

procedimentos metodológicos.

A descrição das competências por nível de gestão referente ao Programa das

Leishmanioses, nesse estudo estão as voltadas para a vigilância entomológica e controle

vetorial e foi tomado como referências as diretrizes estabelecidas na Portaria Ministerial

no 3.252/2009 e o manual de LV (2006).

Os estados que implantaram as ações de vigilância entomológica de

flebotomíneos apresentam níveis diferenciados de organização desse serviço, por isso,

para descrever o contexto organizacional no nível estadual neste estudo foi utilizada às

características do serviço da Secretaria Estadual de Saúde de Tocantins (Sesau-TO),

visto que é uma das UF em que o processo de implantação e institucionalização das

ações da VE encontra-se bem avançado.

4.2 Construção do Modelo Lógico do PVC-LV enfocando a Vigilância

Entomológica

De acordo com Medina et al., (2004) o modelo lógico é entendido como uma

representação que permite visualizar como o dado no programa deve ser implantado,

definir o que deve ser medido, verificar qual parcela de contribuição nos resultados

observados. Explicita como o programa idealmente funciona, discriminando seus

componentes, sua forma de operacionalização, etapas necessárias à transformação de

seus objetivos e metas. Já Hartz (2005) afirma que os serviços de saúde só alcançarão a

eficácia esperada se os diferentes componentes do programa forem trabalhados de

forma integrada, de forma a estabelecer uma relação entre os objetivos e os seus

resultados. Nesse sentido o modelo lógico consegue explicar melhor essas relações.

Modelo lógico é uma maneira visual e sistemática de apresentar as relações entre

intervenção e efeito e deve incluir as relações entre os recursos necessários, as

atividades planejadas e os efeitos que o programa pretende alcançar. É uma

representação da racionalidade das ações e é frequentemente apresentado como um

Page 48: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

47

fluxograma ou uma tabela e explica a sequência de passos que conduzem aos efeitos do

programa (Ministério da Saúde, 2007a).

A construção do modelo lógico do PCV-LV partiu das informações contidas no

Manual de Vigilância e Controle da LV (2006). Um primeiro esboço do modelo lógico

do PVC-LV e da Vigilância Entomológica no nível estadual foi construído durante o

desenvolvimento do curso de mestrado profissional em Avaliação em Saúde e contou

com a colaboração de profissionais da área técnica do Programa Nacional da

Leishmaniose Visceral.

Depois de elaborado, o modelo lógico foi submetido a apreciação dos atores-

chaves durante as oficinas. Na primeira, discutiu-se a lógica de realização das ações,

não foi possível problematizar a configuração esquemática das ações e fluxos, o que

contribuiu para o aperfeiçoamento e ajustes no mesmo.

Apenas no final da segunda oficina, em conjunto com participantes, foi possível

conformar o modelo lógico da vigilância entomológica do Programa de LV que mais se

aproxima da realidade. Permitindo assim, a identificação de indicadores que abordam a

estrutura, processos e resultados e consequentemente selecionar aqueles indicadores que

são mais factíveis para compor o monitoramento das ações de vigilância entomológica

do Programa de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral.

4.3 Identificação dos indicadores de estrutura, processo e resultados

Para a identificação dos indicadores para o monitoramento das ações de

vigilância entomológica do PVC-LV nas três esferas de gestão do SUS foi adotado os

conceitos de Estrutura, Processo e Resultados propostos por (Donabedian, 1978). Sendo

que os indicadores de Estrutura estão relacionados a parte física de uma instituição, os

seus funcionários, instrumentais, equipamentos, móveis, aspectos relativos à

organização. Os indicadores de Processo ajudam a mostrar hoje, como será o resultado

no futuro. Tem-se a relação entre as atividades dos profissionais e o resultado. Já os

indicadores de Resultados mostram a situação das ações do programa (componente) está

em um determinado resultado.

Nesse processo de identificação de indicadores encontros foram promovidos,

sendo que o primeiro ocorreu com os técnicos e gestores do Ministério da Saúde, sendo

a coordenadora da Unidade Técnica de Zoonoses Vetoriais e Raiva, na qual o Programa

Page 49: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

48

das Leishmanioses fica subordinado ao Grupo Técnico do Programa das Leishmanioses

e o coordenador da rede de entomologia pela CGLAB e teve como objetivo

contextualizar o problema identificado, apresentar a proposta do estudo e da abordagem

que foi utilizada junto aos envolvidos.

Essa primeira aproximação além de criar, internamente, condições políticas para

desencadear o processo de discussão e negociação do estudo e estabelecer uma agenda

de reuniões, permitiu a identificação dos prováveis atores-chave desse processo. Foi

possível ainda neste encontro relacionar os potencias usuários da proposta, e desta

forma compartilhar as expectativas do funcionamento efetivo da VE para o programa da

leishmaniose visceral.

Duas oficinas envolvendo os atores-chaves permitiu discutir os problemas do

modelo atual e propor mudanças quanto ao monitoramento desse componente nos

diferentes níveis de gestão do SUS.

A primeira oficina de trabalho foi coordenada pela autora deste trabalho com a

colaboração de um profissional da área técnica do Programa Nacional das

Leishmanioses e de consultores, sendo um epidemiologista e três entomologistas

pertencentes a Rede de Referência em Leishmanioses da Fiocruz e também uma

consultora e pesquisadora da Superintendência de Controle de Endemias (Sucen) de São

Paulo. Foram convidados a participar da oficina os representantes do Programa das

Leishmanioses dos estados de Minas Gerais (Secretaria Estadual de Saúde e as

Municipais de Montes Claros e Belo Horizonte), São Paulo (Superintendência do

Controle de Endemias), Pará e da Bahia (Secretarias Estadual de Saúde) e um

representante da Secretaria Municipal de Palmas.

O critério de escolha dos participantes da oficina foi baseado na identificação de

testemunhas privilegiadas que pertencem ao quadro de gestores, técnicos e consultores

com experiência e conhecimento sobre vigilância da LV, em particular a vigilância

entomológica de flebotomíneos, que foram selecionados em conjunto com a

Coordenação Nacional do Programa das Leishmanioses.

Os profissionais convidados que atuam no Programa das Leishmanioses nos três

níveis de gestão e participaram como informantes-chaves e contribuíram na discussão

dos fatores limitantes e potenciais, trazendo experiências resultantes do processo de

concepção, reformulação e implementação das atividades de VE do PVC-LV.

Houve grande número de inscritos na oficina portanto, para minimizar esse

problema foram formados dois grupos para facilitar a discussão aprofundada sobre o

Page 50: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

49

tema. Cada grupo foi coordenado por um participante consultor, que elegeu um relator.

O desenvolvimento da oficina teve como ponto inicial a apresentação dos

objetivos do encontro e da proposta de trabalho. Foi explicado o processo de trabalho e

as discussões foram ser direcionadas para o consenso sobre os indicadores e elementos

para o monitoramento da vigilância entomológica do PVC-LV.

A oficina foi estruturada em duas etapas, sendo a primeira para obter uma

análise dos limites e potencialidades da implementação do modelo atual da VE, tendo

em vista o contexto político e organizacional dos serviços de saúde. Esta etapa teve

como ponto de partida a apresentação critica da autora, baseada na experiência de

quando atuou no nível estadual e atualmente como responsável por esta área no nível

federal, envolvendo temas sobre a descentralização das ações, recursos humanos,

carreira do profissional de entomologia e a necessidade de reformulação da política

estrutural e organizacional da rede de laboratórios de entomologia no país,

especialmente sobre o financiamento das ações. E os problemas atualmente enfrentados

para implantação da vigilância entomológica do PVC-LV. Para orientação dos

participantes foi apresentados os pontos norteadores das discussões, conforme

programação (Apêndice 1), além da própria visão de gestores e técnicos executores das

ações nas esferas estadual e municipal do PVC-LV, além de gestores do nível federal.

Os consultores que, de certa forma, são expectadores dessa proposta, mas que fazem

parte da construção, reformulação e implantação das ações e que defendem um sistema

de monitoramento e avaliação institucionalizado.

A compreensão dos limites e possibilidades de monitoramento das ações

apresentados nesse estudo emergiu da concepção do atual modelo da vigilância

entomológica do PVC-LV bem como, os problemas técnicos políticos e organizacionais

para implementação da vigilância entomológica da LV nos diferentes níveis de gestão

frente a construção de uma proposta de monitoramento para essas ações.

Para complementar essa análise critica foram considerados ainda dados e

informações de relatórios técnicos e registros obtidos por meio da observação

sistemática em campo em atividades de rotina do Programa Nacional das

Leishmanioses, especialmente em supervisões e ações de monitoramento dessas ações

com base na experiência da autora. Além de contextualizar os processos de trabalho nos

diferentes níveis de gestão. E tomou como referência o funcionamento das ações de

vigilância entomológica do PVC-LV considerando as normas técnicas. Esta reflexão

Page 51: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

50

aporta subsídios técnicos e elementos para elaboração de uma futura proposta de

monitoramento da vigilância entomológica do PVC-LV.

Na segunda etapa foram apresentados os indicadores que podem compor uma

proposta de monitoramento, voltada para analise crítica e construção de consenso com

base na avaliação da viabilidade, factibilidade e pertinência dos mesmos. Propôs-se que

os participantes norteassem as discussões para a análise da estrutura, processo e

resultados das ações de vigilância entomológica. Também foram orientados a analisar a

forma de descrição dos indicadores ou como os mesmos seriam expressos, podendo até

mesmo sugerir novas propostas. Ao final dessa etapa foram selecionados os mais

factíveis para compor a proposta de monitoramento.

A intenção dessa oficina também era de apresentar e discutir o modelo lógico do

funcionamento do Programa nos níveis estadual e municipal, que foi construído com

base no Manual de Vigilância e Controle da LV (2006), porém não houve tempo hábil

para este fim.

Ao final do evento e como produto esperado das discussões de cada grupo de

trabalho, as informações foram apresentadas em plenária e posteriormente consolidadas

em apenas um relatório. Os participantes puderam registrar a impressão e sugestões do

evento em um formulário de avaliação de evento (Apêndice 2).

Tanto os elementos quanto a identificação de fatores potencializadores para uma

proposta de monitoramento representaram, sobretudo, produtos que surgiram do

processo de discussão com os atores chaves desse estudo, tanto os profissionais das

equipes de entomologia estadual quanto dos consultores do programa que participaram

da revisão do manual.

Para coleta dessas informações foi utilizado gravadores de áudio e registro em

diário de campo e para processamento e análise das informações levantadas durante a

oficina foi utilizada os registro em áudio, como também o registro escrito produzido

pelos grupos referente às discussões sobre os indicadores e também as informações

contidas na avaliação individual da oficina. A abordagem qualitativa constitui a análise

narrativa desse estudo.

A partir da análise critica elaborada na oficina e da discussão dos indicadores foi

feita a reformulação dos mesmos. Também compõem como elementos colaborativos

para construção dessa etapa consultas aos manuais técnicos dos programas da Dengue,

Malária, Doença de Chagas, Febre Amarela, com destaque para o sistema de

Page 52: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

51

monitoramento da Malária atualmente bem consolidado e que apresenta algumas

semelhanças com o PVC-LV.

4.4 Análise da aplicação dos indicadores em Unidade Federada

Houve necessidade de uma nova consulta aos técnicos de entomologia que

atuam na Secretaria Estadual de Saúde para verificar a aplicação dos indicadores de

monitoramento de uma Unidade Federada, de forma a testá-los e analisar o

comportamento dos mesmos. Nesse sentido, foi selecionada a equipe de entomologia da

SES de Tocantins por representar claramente avanços significativos entre a situação

entomológica antes e depois da reformulação do programa, em 2003.

Participaram da oficina quatro biólogos integrantes do Núcleo de Entomologia

Médica, mas que atuam especificamente nas ações de vigilância entomológica de

flebotomíneos (campo e laboratório), quatro profissionais que trabalham na Gerência do

Núcleo das Leishmanioses (vigilância epidemiológica) sendo eles, uma médica

veterinária, dois biólogos e uma enfermeira. Participou também um representante da

Gerência do Núcleo de Insumos Estratégicos e Operação de Campo que também

desenvolve ações no sentido de implantar as ações do PVC-LV, especialmente as

relacionadas as ações de controle vetorial nos municípios do estado.

Foi realizada uma apresentação abordando os conceitos de monitoramento,

indicadores de estrutura, processo e resultados, modelo lógico da intervenção do

programa.

Os produtos esperados da oficina era a discussão dos indicadores de estrutura,

processo e resultados considerando a conformidade e qualidade técnica. Os modelos

lógicos do PVC-LV e da vigilância entomológica no nível estadual foram amplamente

discutidos e reformulados com base na experiência e visão dos técnicos referente ao

funcionamento das ações, tanto no nível estadual quanto municipal, durante a oficina.

A figura 3 representa as principais etapas do processo de compreensão dos

limites e possibilidades do monitoramento das ações de vigilância entomológica do

PVC-LV, tendo em vista a realidade do SUS

Page 53: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

52

Figura 3 – Principais etapas do processo de compreensão dos limites e possibilidades

do monitoramento das ações de vigilância entomológica do PVC-LV

Foram utilizadas técnicas qualitativas no sentido de agregar informações

produzidas sob diferentes perspectivas, como aquelas produzidas pelo campo científico,

pelos serviços de saúde e pela experiência dos profissionais que atuam direta e

indiretamente no Programa de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral.

4.5 Considerações Éticas e divulgação dos resultados

O referido estudo buscou garantir padrões de propriedade e assegurar que as

discussões fossem conduzidas legalmente, eticamente e com a devida preocupação com

o bem estar dos envolvidos, como também daqueles afetados pelos seus resultados. O

projeto foi submetido ao Comitê de Ética da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio

Arouca da Fundação Oswaldo Cruz e atendeu todos os requisitos da Resolução 196/96

do Conselho Nacional de Saúde, conforme parecer n° 136/09, sendo aprovado em 01 de

março de 2010.

Cada participante foi convidado formalmente a participar do processo, por meio

de documento oficial encaminhado as coordenações do Programa das Leishmanioses

Page 54: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

53

tanto das Secretarias Estaduais quanto as Municipais.

Os participantes foram informados sobre os objetivos do estudo, bem como

direito ao sigilo a respeito de sua identidade. O consentimento foi formalizado por meio

de assinatura do Termo de Consentimento Livre Esclarecido (Apêndice 6) em duas vias,

sendo uma arquivada e a outra retirada pelo entrevistado. Todos os convidados

concordaram em participar do referido estudo.

Foi solicitada junto ao Departamento de Vigilância Epidemiológica da Secretaria

de Vigilância em Saúde autorização para a realização do estudo por meio do Termo de

Autorização onde estavam explicitados os sujeitos, os objetivos e a duração esperada da

pesquisa (Apêndice 7).

As discussões foram registradas por meio de áudio (gravador digital) e

registradas por via escrita e os relatórios das oficinas foram escritos de forma a não

identificar os informantes e foram depositadas no acervo bibliográfico do Programa das

Leishmanioses da Unidade Técnica de Zoonoses Vetoriais e Raiva (UZR), do Ministério

da Saúde. As gravações de áudio, após transcrição foram destruídas na presença de

testemunha que confere legitimidade ao fato.

Ao final desse estudo os resultados serão divulgados aos atores envolvidos, por

meio de reuniões com os interessados dentro da SVS e também durante a Reunião

Nacional do Programa das Leishmanioses, que ocorre anualmente e conta com a

presença de técnicos do programa das SES e consultores da área de vigilância

entomológica de flebotomíneos. Também serão elaborados artigos para periódicos

especializados e serão feitas apresentação em congressos e outros eventos científico.

4.6 Limitações do estudo

Uma limitação importante desse estudo é o fato de haver poucas referências

bibliográficas sobre estudo de Monitoramento & Avaliação das ações do Programa de

LV, especialmente voltadas para o componente de vigilância entomológica. O que

impossibilita o estabelecimento do padrão de verificação dos indicadores dessa

intervenção.

A dificuldade de discutir indicadores para o nível municipal e local, pelo fato de

não haver um banco de dados sobre o vetor disponível no nível federal que permitisse

uma reflexão sobre a real situação dos resultados das ações implantadas desde a

reformulação do programa em 2003 e consequentemente a análise do comportamento

Page 55: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

54

dos indicadores de estrutura e processo da vigilância entomológica do PVC-LV que

influenciam de forma direta a obtenção dos resultados.

A outra limitação refere-se a dificuldade da autora manter-se neutra na análise

dos fatores limitantes e os que potencializam o monitoramento desse componente nas

três esferas de gestão do programa. Isso se deve ao fato de desempenhar o triplo papel,

de mestranda do curso de avaliação em saúde, gestora e expectadora das ações de

vigilância entomológica o que pode ter influenciado em alguns resultados.

Page 56: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

55

5. RESULTADOS

5.1 Descrição das ações de vigilância entomológica do PVC-LV relacionando-o

com contexto organizacional e identificando características da estrutura disponível

para realização das ações

Após 15 anos da publicação da Constituição Brasileira (1988) e Lei Orgânica da

Saúde (8.080/1990) com as diretrizes do SUS de forma descentralizada para os estados

e municípios, as ações do Programa de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral

até 2001 continuavam centralizadas na Funasa e eram executadas nos municípios pelos

técnicos dos Distritos Sanitários de sua área de abrangência. Assim a proposta de um

modelo descentralizado é muito recente.

Para facilitar o entendimento desse processo de ampliação e descentralização do

PVC-LV, especialmente das ações de vigilância entomológica segue abaixo em ordem

cronológica os eventos relacionados à implantação e fortalecimento das ações voltadas

para os flebotomíneos.

Principais marcos da descentralização e fortalecimento das ações de Vigilância

Entomológica do PVC-LV, com destaque às ações do nível federal

1999 – Elaboração e Publicação do Manual: Controle, diagnóstico e tratamento da

leishmaniose visceral [Normas Técnicas] (1.999);

2003 – Extinção do Cenepi e criação da SVS (Decreto 4.726/2003);

- Reformulação do Programa das Leishmanioses, sob nova gerência e coordenação

- Revisão do Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral; Grupos de

consultores e profissionais do serviço colaboraram na construção das metodologias da

Vigilância Entomológica do PVC-LV;

- Reunião Nacional das Leishmanioses (outubro) e apresentação das novas

metodologias de Vigilância e Controle da LV, com destaque para participação de um

representante da entomologia das secretarias estaduais de saúde de cada UF;

- Realização das atividades de VE por alguns estados (Bahia, Ceará, Maranhão, Minas

Gerais, São Paulo, Tocantins) adotando as novas metodologias recomendadas pelo MS;

2004 – Publicação do Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral;

Page 57: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

56

- Realização de cursos para formação de recursos humanos voltados para a VE do PVC-

LV (foram formados de 2 a 3 profissionais por UF para atuar nas atividades de VE do

PVC-LV). Os cursos foram promovidos pelo Ministério da Saúde em parceria com os

Laboratórios de Referência Nacional;

- Mobilizações na direção da descentralização efetiva das ações de Vigilância

Entomológica do PVC-LV, assim como para organização da Rede de Laboratórios de

Entomologia no país pela CGLAB;

- Plano de investimentos do MS para aquisição de veículos, equipamentos de

laboratório e de campo e equipamentos de informática com vista ao fortalecimento das

ações do PVC-LV no nível estadual, especialmente das ações de vigilância

entomológica;

- Reunião Nacional das Leishmanioses, sem participação de representantes da

entomologia;

2005 – Reunião Nacional das Leishmanioses com participação de representantes da VE-

PVC-LV. Observa-se a ampliação das ações de VE no país e a motivação dos técnicos

em fortalecer o Programa;

2006 – Ampliação das ações de vigilância entomológica no país, especialmente para as

áreas de transmissão da LV, aumento do conhecimento sobre o número de espécies de

flebotomíneos no país;

- Reunião Nacional das Leishmanioses com a participação de representantes da

entomologia da SES, com a baixa adesão ao evento;

2007 – Realização da Reunião da Vigilância Entomológica (maio) com representantes

da VE das 27 UF para atualização das informações e discussão de um modelo de

sistema de informação para vetores das leishmanioses;

- Apresentação dos avanços da VE por estado. Destaque para aqueles com experiências

bem sucedidas na implementação das ações, com aspectos inovadores;

- Curso de Entomologia (julho) promovido pelo Ministério da Saúde e Laboratório de

Referência Nacional da Fiocruz René Rachou – 10 UF contempladas;

- Seminário da CGLAB (setembro) para discutir as competências de cada nível de

gestão das ações de Vigilância Entomológica e elaboração de documento que normatiza

a Vigilância Entomológica no país;

- Reunião Nacional das Leishmanioses (outubro), participação de poucos representantes

da entomologia;

Page 58: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

57

2008 – Aquisição e distribuição de materiais entomológicos como armadilhas CDC,

capturadores, armadilha de shannon para 27 UF, condicionado a elaboração de Plano de

Ação;

- Reunião Nacional das Leishmanioses (outubro), participação de poucos representantes

da entomologia;

2009 – Revisão da PAVS e reformulação das ações de vigilância entomológica do PVC-

LV;

- Não foi realizada Reunião Nacional das Leishmanioses;

2010 – Curso de Entomologia (promovido pelo Ministério da Saúde e Laboratório de

Referência Nacional, voltado para implementação e fortalecimento das ações de VE

para os estados da Região Norte, especialmente os considerados sem casos autóctones

de LV (15 profissionais);

- Não foi realizada Reunião Nacional das Leishmanioses;

- Início da revisão do Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral versão

2006.

Com a descentralização do SUS se possibilitou a transferência de muitas das

responsabilidades que eram exclusivas do nível federal, conforme estabelece a portaria

3.252/2009, complementadas pelas diretrizes contidas nos manuais. É importante

destacar que depois do Decreto 51.838/1963 os documentos que definem diretrizes e

ações da Leishmaniose Visceral são somente os manuais técnicos. Não existe um

reconhecimento oficial enquanto Programa Nacional. Esse processo de descentralização

e institucionalização do Programa nos municípios não está totalmente consolidado,

apesar dos avanços observados nos últimos anos.

Cabe ao MS o fornecimento de insumos estratégicos como os inseticidas,

capacitação de técnicos em entomologia e controle vetorial, assessoria, supervisão a

estados e municípios (Ministério da Saúde, 2006).

Ainda de acordo com a portaria a realização das atividades de vigilância

entomológica é de competência municipal, entretanto devido a complexidade das ações

normatizadas pelo PVC-LV convencionou-se que as mesmas sejam realizadas pelas

SES.

As Secretarias Estaduais de Saúde (SES), através do Núcleo de Entomologia, é

responsável pela capacitação de recursos humanos e conseqüentemente multiplicação

do conhecimento, adquiridos durante os cursos promovidos pelo Ministério da Saúde,

Page 59: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

58

ou durante assessoria técnica. Além disso, é responsável pelo apoio aos municípios no

que refere ao planejamento das ações e delimitação das áreas a serem trabalhadas,

acompanhamento e supervisão das atividades, tanto de vigilância entomológica quanto

do controle vetorial junto aos municípios. É importante lembrar que as atividades

deverão ser integradas com a vigilância epidemiológica (Ministério da Saúde, 2006).

As Secretarias Municipais de Saúde (SMS) devem colaborar com a SES ou

realizar integralmente as ações, desde que tenham um serviço de entomologia

organizado (Ministério da Saúde, 2006), com estrutura física, equipamentos e recursos

humanos específicos para execução e manutenção das ações. A complexidade dessas

atividades estão relacionadas a estrutura física adequada com equipamentos

(microscópios e estereoscópios) e recursos humanos capacitados para realização dessas

atividades, as coletas que requer a disponibilidade de veículos e combustível

permanente, além de alguns insumos como armadilhas, baterias e pilhas, e o processo

de clarificação e montagem de flebotomíneos em lâminas, que requer reagentes de

difícil aquisição (goma arábica, cloral hidratado) destinados a preparação de soluções

químicas específicas como o lactofenol e o berlese.

Caso tenham o laboratório de entomologia implantado, esses municípios terão

que estabelecer e pactuar suas ações e metas nos instrumentos de gestão específico,

denominado PAVS1, junto ao estado e consequentemente este junto ao Ministério da

Saúde.

O acompanhamento ou monitoramento cabe aos níveis federal e estadual por

meio do instrumento de monitoramento. O objetivo final é aperfeiçoar os recursos e a

efetividade das ações do PVC-LV (Ministério da Saúde, 2006).

O Sistema Nacional de Vigilância em Saúde é integrado pelo Subsistema

Nacional de Vigilância Epidemiológica, de doenças transmissíveis e de agravos e

doenças não transmissíveis; Subsistema Nacional de Vigilância em Saúde Ambiental;

incluindo ambiente e saúde do trabalhador; Subsistema Nacional de Laboratórios de

Saúde Pública, nos aspectos pertinentes à vigilância em saúde; Sistemas de Informação

de Vigilância em Saúde (Decretos 4.726/2003 e 7.336/2010). Cabe a Secretaria de

Vigilância em Saúde a coordenação deste Sistema, fundamentada nos princípios do SUS

1 PAVS – Esclarecimentos sobre este instrumento será apresentado na página 71

Page 60: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

59

(Brasil, 2009). A constituição Federal de 1988, a Lei Orgânica da Saúde e todas as

Normas Operacionais destacam a importância da Epidemiologia para o planejamento de

ações e serviços, avaliação de resultados e alocação de recursos. Portanto, seguindo essa

lógica observa-se na Figura 4 a localização da Coordenação Geral de Doenças

Transmissíveis do Departamento de Vigilância Epidemiológica (Devep) dentro da

estrutura organizacional da SVS e respectivamente as Unidades Técnicas que compõem

essa coordenação, dentre elas a Unidade Técnica de Zoonoses Vetoriais e Raiva (UVZ).

Na Figura 5 verifica-se que a responsabilidade pela gestão das Leishmanioses encontra-

se no Grupo Técnico 3, denominado GT Leishmanioses.

Page 61: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

60

Figura 4 – Estrutura Organizacional da Secretaria de Vigilância em Saúde, com destaque para o CGDT e CGLAB

Decreto 7.336/2010

Page 62: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

61

Figura 5 – Organograma do Departamento de Vigilância Epidemiológica/CGDT com

destaque para o GT Leishmanioses

Esse grupo técnico é composto de duas enfermeiras, sendo uma responsável pela

gerência do Programa, um médico veterinário e duas biólogas, sendo uma responsável

pelas ações de vigilância entomológica e controle vetorial. Atualmente a equipe conta

com dois estagiários, sendo um estudante de enfermagem e outro de medicina

veterinária. Observe que o organograma foi recentemente publicado, entretanto a

organização a partir das Unidades Técnicas não é reconhecida oficialmente no Decreto

7.336/2010.

De acordo com a estrutura organizacional os laboratórios de entomologia fazem

parte do Subsistema Nacional de Laboratórios de Saúde Pública, que constitui o

conjunto de Laboratórios de Saúde Pública (LSP) pertencentes à União, aos estados,

municípios e ao Distrito Federal, organizados conforme seu grau de complexidade e

Fonte: Decreto 7.336/2010

Page 63: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

62

hierarquizados por agravos ou programas, com finalidade de desenvolver atividades

laboratoriais pertinentes à vigilância epidemiológica, sanitária e à saúde do trabalhador,

além de atividades específicas de controle de agravos à saúde (Brasil, 2009).

A organização do Sistema Nacional de Laboratórios de Saúde Pública (LSP)

define que os laboratórios de entomologia das secretarias estaduais e municipais de

saúde estejam ligados aos Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacen) dos estados

sob a Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde Pública (Cglab) da SVS. Porém,

nem todos os estados aderiram esse modelo, sendo que algumas UF convencionaram o

funcionamento desses laboratórios dentro de coordenações de vigilância epidemiológica

ou ambiental. Em muitos estados os Lacen, geralmente, constituem outra diretoria de

forma a não compor a superintendência ou diretoria de vigilância em saúde nos

organogramas da SES.

Até 2010 eram reconhecidas 54 unidades de laboratórios de entomologia ligadas

à rede de LSP, cujo mapa apresenta as localizações por UF, no Brasil. Destaca-se que

somente 33% dos laboratórios estão funcionando dentro dos Lacen (Ministério da

Saúde, 2010b). Os demais fazem parte de outro departamento da secretaria estadual de

saúde, como é o caso de São Paulo (Figura 6).

Figura 6 – Distribuição dos Laboratórios Estaduais de Entomologia, segundo unidade

de lotação.

Fonte: CGLAB, 2010

Page 64: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

63

Diferentemente dos Programas de Dengue, Malária e Doença de Chagas que

possuem laboratórios municipalizados o Programa das Leishmanioses recomenda que as

ações de vigilância entomológica sejam executadas preferencialmente pelo nível

estadual e regional, dada a complexidade da estrutura física, equipamentos,

profissionais que requerem à execução das ações de vigilância entomológica de

flebotomíneos.

A estruturação e implantação dos laboratórios de entomologia estaduais tiveram

seu início no ano de 2000 com o processo de descentralização das ações do SUS, e foi

intensificada em 2004. O Ministério da Saúde passou a apoiar também a implantação de

laboratórios municipais no Brasil (Ministério da Saúde, 2001), entretanto com maior

enfoque para execução das ações de VE dos programas da Dengue e Malária. Temos

que reconhecer que a reformulação do Programa das Leishmanioses com enfoque no

vetor impulsionou os avanços nas ações de vigilância entomológica nos estados e

também incentivou a descentralização dessas ações somente para municípios

prioritários da LV, preferencialmente capitais, que por se enquadrarem nessa categoria,

possuem melhores condições de sustentar as ações de forma rotineira.

A vigilância entomológica dos programas de DTV no Brasil foi um dos

componentes que recebeu muito investimentos, na ordem de quinze milhões de reais,

por meio do Projeto Vigisus II, no nível federal. Esse projeto é resultante de um acordo

de empréstimo com o Banco Mundial – BIRD, nº LN7227-BR. Em seu escopo

contemplou ações de Vigilância e Controle de Doenças, que foi idealizado para ser

desenvolvido em três fases, tendo estabelecido como objetivo geral “Fortalecer o

processo, em curso, de reestruturação e implementação do Sistema Nacional de

Vigilância Epidemiológica e incrementar a prevenção e o controle de doenças com

vistas à consolidação de estruturas permanentes e descentralizadas, capazes de dar

sustentabilidade à execução de ações que produzam o necessário impacto sobre os

indicadores de morbimortalidade de importantes agravos no Brasil”.

No referido convênio foram alocados recursos financeiros com o objetivo de

“Implementar a vigilância entomológica dos vetores”, da linha de ação 2: Vigilância

Epidemiológica e Controle de Doenças Transmissíveis. Destaca-se que as ações nesse

sentido não estavam restritas somente ao MS. Os níveis estadual e municipal também

podiam incluir ações de fortalecimento das ações de vigilância entomológica e controle

vetorial no seu plano de ação.

Outro objetivo referente aos Laboratórios de Saúde Pública também foi

Page 65: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

64

contemplado no convênio para “Ampliar a capacidade do diagnóstico laboratorial das

doenças transmissíveis”. De acordo com o organograma da SVS, os laboratórios de

entomologia estando ligados a Rede de Laboratórios em Saúde Pública na esfera

estadual (Lacen), pressupõe que ações de diagnóstico de espécies de animais vetores de

doenças também poderiam ser fortalecidas com os recursos do convênio.

Foram financiados também cursos de entomologia médica, em instituições de

referência, para profissionais estaduais e municipais com a perspectiva de fortalecer as

ações de controle vetorial, sendo formados profissionais de nível superior e médio para

atuar como referência estadual e regional na área de vigilância entomológica dos

programas de doenças transmitidas por vetores. Dessa forma contemplando outro

objetivo da linha 2 do Vigisus (Ministério da Saúde, 2002).

Planos de investimentos também foram elaborados pelo Ministério da Saúde,

entre 2003-2005, visando fortalecer ou implantar as ações de vigilância entomológica

dos flebotomíneos contemplou todas UF, bem como, a ampliação das equipes de

entomologia das SES e SMS. Só no ano de 2005 foram investidos seis milhões de reais

(R$ 6.000.000,00), (Alves et. al, 2006) na estruturação dos núcleos de entomologia com

fornecimento de veículos, equipamentos de laboratório e de campo, como armadilhas de

captura de flebotomíneos, tipo CDC® (Quadro 3) e capacitação de recursos humanos.

Além disso, anualmente o MS tem adquirido e distribuído em média um milhão de

cargas de Alfacipermetrina® para o controle vetorial nos municípios prioritários.

Também foram feitos investimentos em estudos para avaliar a eficácia do inseticida

atualmente utilizado e outras formulações de praguicidas (carbamatos, organofosforado

e outros piretróides).

Page 66: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

65

Quadro 1 – Equipamentos destinados à Secretarias Estaduais de Saúde pelo Plano de

Investimentos do Ministério da Saúde, Brasil, 2004-2006.

Fonte: SVS, 2009

Também nesse período, diversas capacitações em taxonomia, identificação e

controle de flebotomíneos foram promovidas pelo grupo técnico do PVC-LV em

conjunto com a CGLAB. As capacitações aconteceram nos Laboratórios de Referência

Nacional de Transmissores das Leishmanioses (LRN-TL), dentre eles destaca-se o

Centro de Pesquisas René Rachou em Belo Horizonte, o Instituto Oswaldo Cruz no Rio

de Janeiro. Foram formados aproximadamente 100 profissionais (registro do

laboratório) para atuarem como referência nos laboratórios de entomologia estaduais e

municipais do país, além de atuar como multiplicadores dessas capacitações no seu

local de trabalho. Iniciativas de algumas Secretarias Estaduais de Saúde no sentido de

organizar cursos em vigilância entomológica de flebotomíneos treinando profissionais

de laboratórios regionais e municipais de saúde também tiveram apoio do MS e

Laboratórios de Referência Nacional.

A implantação das ações foi ocorrendo de forma gradual pelos estados e

posteriormente por alguns municípios, sendo estes principalmente os municípios

prioritários para LV, como é o caso de Araçatuba/SP, Campo Grande/MS, Caxias/MA,

Fortaleza/CE, Jequié/BA, Palmas/TO, Teresina/PI, sendo a maioria deles capitais. Em

virtude do caráter voluntário, pois não existiu qualquer regulamentação oficial do MS

que estabelecesse a obrigatoriedade de implantação e manutenção das ações, nem todos

os estados implantaram ou sistematizaram essas ações. Já os estados acima

referenciados apresentam-se avanços significativos.

Não foi possível, neste estudo, observar de forma mais detalhada como as

atividades de vigilância entomológicas eram realizadas, quais formulários e

ITEM DESCRIÇÃO MATERIAIS QUANTIDADE

01 Armadilhas Luminosas Tipo CDC (2005) 5.000

02 Microscópio Bacteriológico (2006) 27

03 Microscópio Estereoscópio (2006) 27

04 Destilador de água NOVA TÉCNICA (2004) 27

05 Balança semi-analítica MARTE AS 1000 (2004) 27

06 Pick-up CD 4x2 GM Chevrolet S-10 (2004) 20

Page 67: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

66

instrumentos de monitoramento eram utilizados até a reformulação do programa, pois

não existem registros sobre o processo anterior nos arquivos da área técnica.

Conseqüentemente não foi possível também saber quais os municípios que

apresentavam registro do vetor.

As ações atualmente normatizadas pelo MS estão no Manual de Vigilância e

Controle da Leishmaniose Visceral, versão 2006 e será apresentada de forma mais

detalhada após a descrição do contexto organizacional do Programa.

Apresenta-se a seguir os objetivos e ações do PVC-LV com enfoque nas ações

de vigilância entomológica, para melhor compreensão do contexto da organização dos

processos de trabalhos em cada esfera de gestão do SUS e os principais fatores

limitantes e potenciais do atual modelo.

O objetivo geral é reduzir as taxas de letalidade e grau de morbidade através do

diagnóstico e tratamento precoce dos casos, bem como diminuir os riscos de

transmissão mediante controle da população de reservatórios e do agente transmissor e

compreende os seguintes componentes técnicos: a) Vigilância Epidemiológica; b)

Vigilância e Assistência aos casos humanos; c) Vigilância Entomológica e Controle

Vetorial e d) Vigilância e Controle de Reservatórios (Ministério da Saúde, 2006).

Dentre os objetivos específicos da vigilância destacam-se:

Identificar as áreas vulneráveis e/ou receptivas para transmissão da LV;

Avaliar a autoctonia referente ao município de residência;

Investigar o local provável de infecção (LPI);

Conhecer a presença, a distribuição e monitorar a dispersão do vetor;

Fornecer condições para que os profissionais da rede de saúde possam

diagnosticar e tratar precocemente os casos;

Fornecer condições para realização do diagnóstico e adoção de medidas

preventivas, de controle e destino adequado do reservatório canino;

Investigar todos os supostos óbitos de LV;

Monitorar a tendência da endemia, considerando a distribuição no tempo e

no espaço;

Indicar as ações de prevenção de acordo com a situação epidemiológica;

Desencadear e avaliar o impacto das ações de controle;

Monitorar os eventos adversos aos medicamentos.

Page 68: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

67

As ações passaram a ser específicas para cada situação epidemiológica a partir

de um modelo de estratificação epidemiológica e para isso foram padronizados critérios

para classificação de áreas para a vigilância e controle da LV. Os municípios com

transmissão humana de LV a classificação foi proposta utilizando a média de casos dos

últimos cinco anos (Ministério da Saúde, 2006), entretanto a partir do ano de 2007

adotou-se a média dos últimos três anos (Ministério da Saúde, 2009). No Quadro 2

estão apresentados os parâmetros de classificação epidemiológica das áreas de

transmissão humana de LV.

Quadro 2 – Parâmetros atuais para classificação de municípios com transmissão de LV,

Brasil 2007.

Classificação Epidemiológica Municípios Média de casos últimos 3 anos

Transmissão Intensa ≥ 4,4 casos

Transmissão Moderada ≥ 2,2 e < 4,4 casos

Transmissão Esporádica < 2,2 casos

Registro de Primeiro Caso Caso autóctone de LVH no ano em vigor

A estratificação dos municípios, segundo perfil de transmissão de LV no Brasil

(2007 a 2009) demonstra que 229 dos 5.551 municípios brasileiros apresentavam

transmissão moderada ou intensa (Figura 7). Em 2010 estes eram considerados os

prioritários para o desenvolvimento das ações de controle.

Fonte: Sinan/SVS/MS

Figura 7 – Estratificação dos municípios segundo perfil de transmissão de LV - Brasil,

2007 – 2009.

Page 69: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

68

Os municípios sem transmissão podem ser classificados em vulnerável – aqueles

contíguos a municípios com transmissão de LV e que fazem parte do mesmo eixo viário

e possuem fluxo intenso de pessoas ou em alto processo migratório, desde que esteja

dentro da área de distribuição vetorial; e não vulnerável: aquele não contíguo a

municípios com transmissão e que não fazem parte do mesmo eixo viário. Outra

classificação para municípios receptivos (presença do vetor) ou não receptivos

(ausência do vetor), independentemente da vulnerabilidade (Ministério da Saúde, 2006).

Para tanto a VE deve ser implementada tanto nos municípios com e sem transmissão da

LV, a fim de caracterizar as áreas em receptivas e não receptivas ou ainda funcionar

como um evento sentinela.

Através da análise epidemiológica da leishmaniose visceral envolvendo sempre

os casos dos três últimos anos, que deve ser feita pelas equipes do programa dos níveis

federal, estadual e municipal. Os profissionais de saúde poderão identificar e classificar

as diferentes áreas e a partir delas, adotar as recomendações propostas para a vigilância,

monitoramento e controle da leishmaniose visceral.

Para melhor compreensão da aplicação das metodologias de vigilância e controle

da LV é necessário definições de conceitos fundamentais para cada situação

epidemiológica: Municípios Vulneráveis: aqueles sem casos autóctones de LV humana

ou canina que seja contíguo a municípios com casos de LV, que fazem parte do mesmo

eixo viário, e que mantenha fluxo migratório intenso; Municípios Receptivos: aquele

com a presença do vetor (Lutzomyia longipalpis ou Lu. cruzi); Municípios com

transmissão: o setor, conjunto de setores, ou município onde esteja ocorrendo a

transmissão de LV humana; Município com transmissão enzoótica: o setor, conjunto

de setores ou município onde está ocorrendo a transmissão canina. Destaca-se que esta

classificação não estava contemplada no manual de 2006 estando, portanto prevista para

incorporar na nova versão do manual que está em fase de revisão desde 2010.

Os municípios com casos suspeitos de LV humana ou canina deverão aguardar a

conclusão da investigação para classificá-los em uma das definições. Neste caso o

município é classificado como “Área em investigação” (MS, 2006).

Conforme ficou evidenciado nos itens anteriores as ações de vigilância

entomológica são fundamentais para identificação de risco da ocorrência de LV em cães

e humanos, bem como para caracterização dos municípios e classificação

epidemiológica.

Os objetivos gerais da vigilância entomológica visam levantar informações de

Page 70: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

69

caráter qualitativo e quantitativo sobre os flebotomíneos transmissores de LV nos

diferentes municípios com e sem transmissão dessa endemia. Qualitativamente, a

simples presença do vetor – Lutzomyia longipalpis, e Lutzomyia cruzi - é um indicador

de risco de transmissão, permitindo: a) classificar segundo presença ou não de vetor os

municípios, áreas ou setores urbanos ou localidades rurais em áreas receptivas (com

presença de vetor) ou não receptivas (ausência de vetor), nas quais as medidas de

prevenção e controle da doença deverão ser implantadas; b) conhecer a distribuição

espacial do vetor, a fim de estabelecer prioridades em setores urbanos ou localidades

rurais, nos quais deverão ser desencadeadas as ações de prevenção e controle do vetor e;

c) priorizar setores ou localidades que serão avaliados quanto à presença de enzootia

canina ou quanto às taxas de prevalência canina (Ministério da Saúde, 2006).

Quantitativamente pode permitir: a) obter indicadores de densidade vetorial por

domicílio, a fim de estabelecer a curva de sazonalidade, de modo a orientar o período

mais adequado para a realização do controle vetorial e; b) avaliar o impacto das ações

de controle do vetor (Ministério da Saúde, 2006).

A vigilância entomológica da LV possui diferentes metodologias, baseadas nos

objetivos que são relacionados com a situação epidemiológica dos municípios,

conforme descrito nos parágrafos a seguir:

a – Levantamento Entomológico: Esta atividade tem como objetivo - verificar a

presença de Lu. longipalpis/L.cruzi e conhecer a dispersão do vetor no município.

Deve ser realizado em municípios sem casos humanos de LV ou silenciosos e em

municípios de transmissão esporádica, moderada ou intensa e que não tenham sido

realizadas investigações anteriores. Naqueles municípios sem casos autóctones esta

atividade deve ser aplicada, pelo menos uma vez ao ano, a fim de acompanhar as áreas

receptivas para a realização do inquérito canino amostral e nos municípios com

transmissão da LV orientar a espacialização das ações de controle do vetor (Ministério

da Saúde, 2006).

A metodologia proposta é a utilização de armadilha de isca luminosa tipo CDC.

A unidade de pesquisa para a zona rural será a localidade e para a zona urbana, os

setores de zoneamento utilizados para o controle do Aedes aegypti. A coleta de

flebotomíneos deverá ser realizada em todos os setores/localidade do município,

utilizando-se de duas até dez armadilhas em cada setor/localidade. Cada armadilha deve

ser instalada no peridomicílio, preferencialmente, em abrigos de animais, expostas uma

Page 71: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

70

hora após o crepúsculo até o período matutino seguinte (de preferência retirar antes das

7 horas) durante três noites consecutivas. Os domicílios selecionados devem ser,

preferencialmente, aqueles sugestivos para a presença do vetor tais como: residências

com peridomicílio que possuam presença de plantas (árvores, arbustos), acúmulo de

matéria orgânica, presença de animais domésticos (cães, galinhas, porcos, cavalos,

cabritos, entre outros) (Ministério da Saúde, 2006).

B - Investigação Entomológica: Esta atividade tem como objetivo verificar a presença

de Lu. longipalpis/L.cruzi, quando há registro do (s) primeiro (s) casos de LV humana

ou canina em área considerada não endêmica ou em caso de epidemia para desencadear

ações de controle mais intensa, sendo mais um indicador que auxiliará na investigação

epidemiológica e na definição da autoctonia do caso, isto é, reclassificar o município

como de transmissão. Várias são as metodologias que podem ser utilizadas em uma

investigação, entretanto o PVC-LV propõe a coleta manual que consiste na pesquisa do

vetor em áreas internas (intradomicílio), especialmente nos dormitórios com o auxílio

de um tubo de sucção oral (tipo aspirador de Castro) ou aspiradores elétricos com

auxílio de uma lanterna. Nas áreas externas (peridomicílio) devem ser pesquisados

principalmente os anexos e os abrigos de animais. As coletas devem ser realizadas no

mínimo em três noites consecutivas em cada domicílio por um período mínimo de 30

minutos/domicílio, sendo: 15 minutos para a coleta no intradomicílio e 15 minutos no

peridomicílio, podendo também ser realizada simultaneamente de 15 a 20 minutos em

cada domicilio a ser pesquisado. A coleta manual deve ser iniciada uma hora após o

crepúsculo até as 22 horas (Ministério da Saúde, 2006). Os resultados obtidos

descreverão a condição epidemiológica da transmissão e a reclassificação da área.

c - Monitoramento entomológico: Esta atividade é levada a cabo rotineiramente nas

áreas endêmicas que tem como objetivo conhecer a distribuição sazonal e abundância

relativa das espécies Lu. longipalpis/Lu. cruzi, visando estabelecer o período mais

favorável para a transmissão da LV e direcionar as medidas de prevenção e controle

químico do vetor e o sucesso obtido. Em cada estado deve ser selecionados um ou mais

municípios distribuídos de acordo com sua classificação epidemiológica e as diferentes

situações climáticas, topográficas e de cobertura vegetal, visto que a presença e a

flutuação estacional das espécies das populações de flebotomíneos, em uma

determinada região geográfica, estão relacionadas a fatores como temperatura, umidade

relativa do ar e índice pluviométrico, composição do solo, altitude, relevo e tipo de

vegetação. É recomendado para municípios de transmissão moderada e intensa de LV

Page 72: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

71

(Ministério da Saúde, 2006).

O método preconizado para realização do monitoramento é a armadilha de isca

luminosa em dez domicílios no mínimo, previamente definidos, que serão pontos fixos

das coletas, nos quais durante dois anos são realizadas coletas mensais. As armadilhas

devem ser expostas no peri e intradomicílio. O monitoramento permite verificar a

relação de abundância relativa do vetor, com a finalidade de orientar medidas de

controle nestes ambientes. Para tanto, nos diferentes pontos pesquisas deverão ser

concomitantes (Ministério da Saúde, 2006).

As armadilhas deverão ser expostas por 12 horas, iniciando-se uma hora a partir

do crepúsculo, durante quatro noites consecutivas por mês. O domicílio escolhido

deverá ser preferencialmente aquele sugestivo para a presença do vetor tais como

residências com peridomicílios que possuam presença de plantas (árvores, arbustos),

acúmulo de matéria orgânica, presença de animais domésticos (cães, galinhas, porcos,

cavalos, cabritos, entre outros). As condições socioeconômicas e o tipo de moradia são

critérios que podem ser levados em consideração para a seleção da unidade domiciliar

(Ministério da Saúde, 2006).

Ainda segundo a norma (Ministério da Saúde, 2006) as atividades de VE devem

orientar as ações de controle, que no caso da LV essas medidas constituem-se em ações

de saneamento ambiental, de educação em saúde e adoção de medidas preventivas

individuais direcionadas ao homem, ao vetor e ao cão. A execução das mesmas requer

planejamento e integração das ações da equipe de saúde dos municípios com e sem

transmissão da LV e também da população.

d - Avaliação:

Após a coleta e identificação dos flebotomíneos os dados deverão ser

consolidados em tabelas, gráficos e mapas, assim como analisados e interpretados os

indicadores entomológicos propostos, de forma periódica. Preferencialmente é

recomendado que as informações levantadas sejam discutidas em conjunto com os

técnicos do programa. Essas informações constituem subsídios para direcionar as ações

de prevenção e controle, visando atingir os objetivos do programa, entre eles a melhoria

da qualidade e da oportunidade das informações e a integração das ações de controle de

vetores, de reservatórios com as ações de controle de casos humanos.

Três indicadores foram propostos para avaliação e acompanhamento das

atividades de vigilância entomológicas no manual de LV versão 2006 sendo eles:

Page 73: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

72

1- Índice de setores localidades positivas: permite avaliar a dispersão do vetor e a

extensão do risco de transmissão no âmbito do município;

Nº de setores localidades positivas com Lu. longipalpis/Lu. cruzi X 100

Total de setores/localidades positivas

2- Infestação domiciliar: permite avaliar a magnitude da infestação no município e sua

dispersão;

Total de domicílios positivos para Lu. longipalpis/ Lu. cruzi X 100

Total de domicílios pesquisados

3- Abundância relativa do vetor: permite avaliar a densidade vetorial dada pela média

de Lu. longipalpis/Lu. cruzi por domicilio, ao longo do tempo, permitindo avaliar a

sazonalidade vetorial, bem como as intervenções realizadas contra o vetor (MS,

2006).

Espera-se que os produtos resultantes das ações vigilância entomológica

(levantamento, investigação e monitoramento entomológico) nos municípios seja a

divulgação das informações levantadas. Portanto, espera-se que seja disponibilizado ao

final das coletas e identificação dos flebotomíneos um relatório contendo os resultados

encontrados em cada município, apresentação de mapa com distribuição espacial do

vetor e demais indicadores propostos no manual, sazonalidade do vetor por município

ou região, quando for o caso. O relatório deve permitir a visualização dos indicadores

acima relacionados na unidade de trabalho desejada e conseqüentemente auxiliar a

equipe de saúde na delimitação da área para realizar as ações de controle vetorial, seja

ele químico ou de manejo ambiental, bem como as demais ações do programa (MS,

2006).

Os dados deverão ainda ser disponibilizados para outros setores da SES, equipes

de educação em saúde, outras instituições relacionadas com as ações de manejo

ambiental e limpeza urbana, e, principalmente para a população. A divulgação por meio

de jornais rádios televisão e boletins informativos são recomendados.

No nível federal os dados entomológicos servirão para manter atualizadas as

informações sobre o comportamento e a distribuição das espécies transmissoras das

leishmanioses no país.

As análises das informações geradas pela VE devem permitir ao grupo de

inteligência a avaliação da magnitude e transcendência do problema. Assim, os dados

coletados no processo, além de permitir estabelecer a área e a extensão do risco de

aparecimento de casos novos deve também medir a extensão que as medidas de controle

Page 74: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

73

devem assumir. Neste sentido, a análise epidemiológica integrada com fatores

entomológicos desta endemia deve ser sistemática e contínua, propiciando a

classificação e identificação das recomendações a serem adotadas em cada município

com foco na unidade territorial local.

Como forma de monitorar as atividades de vigilância entomológica de

flebotomíneos por parte do MS, foi proposto um formulário específico (Anexo 01). O

mesmo foi apresentado e discutido durante a Reunião Nacional das Leishmanioses do

ano de 2005 (Ministério da Saúde, 2005), sendo aprovado de forma consensuada com

algumas modificações como modelo de relatório para as ações de vigilância

entomológica do Programa de LV. Estabeleceu-se o preenchimento mensal pela SES e

que envio trimestral ao nível federal (área técnica das leishmanioses) com as datas

limites de 30/04 (1º trimestre), 30/07 (2º trimestre), 30/10 (3º trimestre) e 30/01 ano

subseqüente (4º trimestre). Quando da sua implantação o relatório tinha como objetivo o

acompanhamento das ações de vigilância entomológica.

Supervisões in loco também são utilizadas para acompanhamento das ações do

programa, momento em que os técnicos do Ministério da Saúde também assessoram e

orientam as equipes do programa junto aos estados e municípios. Porém essas ações são

limitadas em número e freqüência em cada estado ou município prioritário.

A partir de 2003 as ações de VE foram incluídas na Programação Pactuada

Integrada (PPI), atualmente denominada de Programação das Ações de Vigilância em

Saúde (Pavs), devendo cada estado pactuá-las e executá-las anualmente. É um elenco

norteador e não obrigatório de ações que subsidiará a Programação Anual de Saúde

(PAS) das Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, para o alcance de metas do

Pacto e demais prioridades de relevância para o Sistema Nacional de Vigilância em

Saúde, formalizada pela Portaria nº 3.252/2009. Foi elaborada e proposta pela equipe

técnica da Diretoria de Apoio a Gestão da Vigilância em Saúde (Dagvs), acordada no

âmbito do Grupo Técnico de Vigilância em Saúde (Gtvs), Nela está organizada os

seguintes eixos: I – Ações prioritárias nacionais: ações relacionadas aos indicadores ou

prioridades do Pacto pela Vida e Pacto de Gestão; II – Ações prioritárias segundo

critérios epidemiológicos: ações de relevância epidemiológica para determinadas

regiões do país, ou mesmo de relevância nacional, e que não foram contempladas no

Pacto pela Vida e Pacto de Gestão; e III – Ações para fortalecimento do sistema: ações

transversais que contribuem para o fortalecimento do sistema nacional de vigilância em

saúde.

Page 75: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

74

A SVS/MS, as Secretarias Estaduais de Saúde (SES) e Municipais de Saúde

(SMS) deverão ajustar anualmente suas ações e parâmetros para compor a Planejamento

Anual de Saúde (PAS) conforme necessidades detectadas no decorrer de sua

implementação.

Em 2009 as ações e parâmetros relativos aos componentes do PVC-LV foram

revisadas e atualizadas. Três ações foram incluídas pelo Programa das Leishmanioses

no eixo II da PAVS, sendo uma delas as ações de vigilância entomológica (Quadro 3).

As mesmas foram reformuladas e descritas de forma mais clara, estabelecendo os meios

para alcançar os objetivos das ações (Ministério da Saúde, 2009).

Quadro 3 – Ações prioritárias da Programação das Ações de Vigilância em Saúde

referentes ao Programa das Leishmanioses - vigilância entomológica

Definição da Ação Realizar vigilância entomológica de flebotomíneos para

leishmaniose visceral, segundo classificação epidemiológica dos

municípios.

Justificativa As atividades de vigilância entomológica das leishmanioses são

fundamentais para conhecer a bioecologia dos vetores, identificar

e medir o risco de transmissão por meio da presença, nível de

infestação e distribuição do vetor. Esta ação permitirá priorizar o

direcionamento das ações de prevenção e controle do agravo em

áreas com e sem transmissão e avaliação do impacto das

intervenções.

Medida de

desempenho da ação

Cobertura: Indicadores das atividades preconizados pela vigilância

entomológica.

Método de cálculo

da medida de

desempenho

Para os níveis federal e estadual:

Nº de municípios com atividades de vigilância entomológica

realizadas segundo metodologia utilizada/Nº de municípios

programados x 100

Para o nível municipal: N° de localidades com atividades de

vigilância entomológica realizadas segundo metodologia utilizada

/ Nº de localidades programadas x 100

Destaca-se que, para cada situação epidemiológica das

leishmanioses existe uma metodologia específica, sendo eles a

Investigação, o Levantamento ou Monitoramento Entomológico

Unidade de medida Nº Total e Percentual

Fonte de dados Banco de dados em formulários e relatórios das ações de

vigilância entomológica de flebotomíneos disponíveis nas

Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde. Os laboratórios

estaduais de entomologia são responsáveis pela consolidação,

análise e divulgação das informações em modelo eletrônico.

OBS: Para os vetores das leishmanioses não há ainda um sistema

informatizado para coleta de dados, o que dificulta o

acompanhamento e análise das informações produzidas.

Page 76: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

75

Disponibilidade dos

dados

A periodicidade da produção dos dados varia de acordo com o

nível de gestão, situação epidemiológica e a metodologia utilizada.

Para os municípios em surtos ou com registro do 1º caso de LV as

informações para o nível local deverão ser priorizadas e

disponibilizadas pelo fluxo de informações imediatamente após

coleta, identificação dos flebotomíneos e análise dos resultados.

Nas demais situações as informações entomológicas deverão ser

disponibilizadas mensalmente pelo nível estadual e

trimestralmente deverão ser encaminhadas para o nível federal,

conforme formulários padronizados.

Parâmetro Brasil Cobertura maior ou igual a 75%

Etapas prioritárias

para alcance da ação

proposta

• Garantir infra-estrutura mínima para desenvolvimento das

atividades de vigilância entomológica (recursos humanos

capacitados, estrutura física, insumos entomológicos, transportes).

• Programação e acompanhamento sistemático das atividades de

vigilância entomológica de forma integrada entre setores, técnicos

das vigilâncias epidemiológicas e entomológicas dos diferentes

esferas de governo;

• Realizar as atividades de vigilância entomológica com rigor

metodológicos (normas).

Avaliar o desempenho do programa.

As ações de vigilância entomológica do PVC-LV são norteadas primeiramente

pela definição do conceito de VE e pela padronização das metodologias de pesquisas

entomológicas. Portanto, a transmissão das informações a partir de uma organização

hierárquica dos dados (nível local, municipal, estadual e federal) é uma etapa

fundamental do processo. Há necessidade de aperfeiçoar o modelo atualmente existente

em busca do melhor direcionamento dessas ações, enquanto não existir um sistema de

informação próprio.

Apesar de todas as limitações existentes na implantação e execução das ações do

PVC-LV há muito que comemorar, pois os avanços têm refletido na organização dos

serviços nas esferas federal, estadual e municipal, mais especificamente sobre as ações

de vigilância entomológica. Pode se afirmar que a reformulação do programa em 2003

impulsionou a estruturação dos núcleos de entomologia no país, especialmente nas áreas

com transmissão da doença.

Embora o MS busque maior eficiência das ações vigilância entomológica,

algumas limitações impedem que ela tenha a utilidade desejada, por deparar com

algumas dificuldades já apontadas por Gomes (2002), e que serão descritas no decorrer

desse trabalho.

Page 77: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

76

Como forma de resumir as principais limitações segue abaixo os tópicos

levantados e discutidos durante a oficina e as atividades de observação de campo.

Resistência ao processo de Descentralização

O processo de descentralização trouxe muitos avanços para o SUS, entretanto os

profissionais tiveram uma resistência muito grande de aceitar esse modelo,

especialmente os da área das endemias, que possuíam uma cultura de modelo

campanhista e uma visão de trabalho bastante limitada em relação ao pensar

epidemiológico. Aliado a esse fato pode-se apontar a queda do status de ser funcionário

público federal, para se tornar trabalhador de uma Secretaria Estadual ou Municipal de

Saúde.

Alguns estados não sabiam se absorviam aqueles técnicos da Fundação Nacional

de Saúde (FUNASA), e se poderiam ser incorporados ao quadro de servidores.

...mas a questão do modelo da descentralização eu acho que ela visou atingir os

objetivos do SUS, de fazer com que o município execute as ações de forma atender as

necessidades que existam ali na sua área de abrangência...é o que eu acho da

descentralização.

(participante entomologia-CGLAB )

Eu acho que a descentralização as ações de entomologia deveria ter sido

primeiramente estadual e isso não ficou claro para o quadro de técnicos da SUCAM e

FUNASA e nem para o estado assumir a estruturação da vigilância entomológica a

exemplo da experiência da SUCEN. Acho que isso foi um equívoco muito grande. A

questão política desse processo. Considero que com a expertis do Ministério e

juntamente com as secretarias estaduais esse problema ainda possa ser sanado a

tempo.

(participante entomologia 2)

Durante a descentralização das ações do SUS o papel do estado foi claramente

definido, porém simplesmente não se conseguiu concretizar e estruturar a proposta das

ações de vigilância entomológica de forma regionalizada, portanto tem uma série de

pendências a serem resolvidas para se tornar mais claro o papel da VE que é completar

a descentralização e regionalização do SUS, especialmente da entomologia.

Page 78: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

77

O estado até pode trabalhar com suas funções sem a regionalização, mas é

fundamental uma estrutura regionalizada de fato, tendo claro definições de

competências e acumulação de infra-estrutura. Esse é um dos componentes

importantes. Senão a gente vai ficar discutindo essa fragilidade o tempo todo e não

avança em outros aspectos considerados igualmente importantes.

( participante epidemiologista 1)

Diversos estados não estão desenvolvendo as ações em nível das regionais, o que

torna ainda mais difícil a execução das ações sobre o vetor em nível local, pois o

controle acaba sendo feito sem a orientação entomológica. Sabe-se que apenas um

laboratório estadual centralizado de entomologia não consegue implementar as ações de

vigilância entomológica em todos os municípios de forma adequada e oportuna.

“Embora as ações de vigilância entomológica devessem ser municipalizadas, não seria

conveniente acumular laboratórios de entomologia nos municípios de pequeno porte”

(participante epidemiologista 1)

Não existe mais modelo federalizado das ações de entomologia. Resta ao nível

municipal ou ao estadual se estruturar. A tarefa maior nossa é convencer os estados que

tendo a equipe de entomologia é poder economizar recursos lá na frente.

(participante entomologia CGLAB)

Na realidade de São Paulo todas as atividades de VE é responsabilidade do

estado, quem a executa é Superintendência de Controle de Endemias (SUCEN). Nós

temos dez laboratórios de entomologia implantados, um em cada regional de saúde que

engloba atividades para todos os insetos vetores. Dois são de referência entomológica

especificamente para flebotomíneos e eles são responsáveis pela capacitação desses

laboratórios regionais. ...Quando o município quer assumir e fazer a mais do que está

proposto, então nós capacitamos e disponibilizamos todo o material impresso. No

primeiro momento os treinamentos são voltados para aspectos que englobam desde a

triagem dos flebotomíneos até a parte de operação e aplicação de inseticidas. A gente

tem essa facilidade.

(Participante entomologia São Paulo)

Ausência de definição política institucional e financeira para as ações de vigilância

Page 79: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

78

entomológica

A portaria 1399/1999 é um exemplo de um instrumento de definição das

diretrizes de cada nível de gestão do SUS, sendo alterada em 2003 pela 1172/2003 e

mais recentemente substituída pela 3252/2009.

Inclusive a portaria permite o estado trabalhar com suas funções a não ser que

tenha uma estrutura regionalizada ou descentralizada de fato, que tenha capacidade e

acumulação de infra-estrutura para realização das ações.

Na esfera federal, as ações de vigilância entomológica do GT Leishmanioses estão

voltadas para o planejamento anual dos aspectos relacionados ao programa,

especialmente daqueles que envolvem esse componente como, por exemplo, o

planejamento da aquisição de materiais entomológicos, bem como sua distribuição, a

realização de cursos voltados para a formação de recursos humanos que irão atuar no

nível estadual ou municipal do programa, supervisões e assessorias junto aos estados e

municípios relacionadas as ações de vigilância entomológica e controle vetorial. Além

do acompanhamento dessas ações por meio dos instrumentos de monitoramento

referente a PAVS.

A CGLAB por sua transversalidade colabora em aspectos relacionados as

capacitações, aquisição e distribuição de equipamentos, além de ações relacionadas a

estruturação da Rede de Laboratórios de Entomologia.

Não é verdade que o papel do estado não foi definido durante o processo de

descentralização. Ele está claramente definido... simplesmente não se conseguiu até o

momento concretizar a proposta, portanto tem uma série de pendências a serem

resolvidas, para se tornar mais clara e completar a descentralização. Essa é uma

agenda pendente.

(participante epidemiologista 1)

Porém os técnicos insistiram que do ponto de vista político, financeiro e

institucional não existem normas ou diretrizes específicas para as ações da Rede de

Laboratórios de Entomologia do país, estabelecendo as competências por nível de

gestão, como é o caso da Portaria 2606/20052. Acredita-se que com uma portaria ou um

manual que estabeleça as competências de forma detalhada de cada esfera de governo

Page 80: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

79

contribuirá para a valorização desse componente pelos gestores nos níveis estaduais e

municipais.

Houve iniciativas para consolidação de uma portaria quando a CGLAB, em

2007, organizou o Seminário Nacional de Entomologia Médica com a participação de

representantes dos estados, academia e consultores da área de entomologia médica para

discutir a política no país buscando institucionalizar esse componente nos três níveis de

governo. Uma proposta de portaria foi o principal produto desse encontro. Do seminário

também saiu a seguinte recomendação, “a necessidade de definição, do ponto de vista

político e financeiro, as questões relativas à estruturação dos núcleos de entomologia e

a implementação das ações de vigilância entomológica e de invertebrados de interesse

em saúde” (Ministério da Saúde, 2007). A portaria até o momento não foi publicada.

Financiamento

Os técnicos apontam que há muitas incertezas e indefinições em relação ao

financiamento para as ações de VE, o que implica na dificuldade em planejar as ações

de vigilância entomológica. Esse problema muitas vezes é decorrente da falta de

conhecimento dos instrumentos legais que existem e possibilita aos profissionais da área

em reivindicar o apoio necessário a execução das atividades.

A experiência do Programa da Dengue com capacitação de recursos humanos

para serem multiplicadores na Tecnologia e Aplicação de Inseticidas nos estados e

municípios... Seria interessante que o PVC-LV desenvolvesse esse mesmo tipo de

capacitação para as ações de vigilância entomológica... para os flebotomíneos e tentar

junto com a SVS que esse fundo fosse aplicado também para essa proposta. Em relação

ao financiamento tem uma portaria que é 1966 da Secretaria de Trabalho e Educação

em Saúde que ela prevê a descentralização e gerenciamento dos recursos para

capacitação tanto das ações da Atenção Básica quanto das ações de Vigilância em

Saúde e tem vários estados que não utilizaram esses recursos desde 2007. O recurso

está parado. Ele pode ser utilizado para várias atividades de capacitação. É necessário

que o estado tenha uma comissão de Educação em saúde implantada e fazer a

discussão e levar para CIB e colocar a necessidade desses cursos. E tentar negociar

esse recurso para este fim. Eu acho que é um caminho muito interessante.

(epidemiologista/Belo Horizonte)

Está claramente definido que o financiamento das ações de vigilância

Page 81: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

80

entomológica de flebotomíneos deve ser por meio dos recursos do Piso Fixo de

Vigilância em saúde porém existe uma ingerência sobre este campo que ninguém quer

assumir. Outras vezes isso acontece por que no momento em que a Dengue aparece

como problema no município toda a atenção e recursos são direcionados para o seu

controle, independente do plano de ação ou meta que foi pactuado com a esfera federal.

Apresentam-se os diversos aspectos relacionados à gestão das ações de

vigilância entomológica no nível organizacional nas esferas federal, estadual e

municipal.

Falta de uma carreira profissional - precariedade de recursos humanos, instabilidade

profissional

Há o consenso sobre a grande precariedade de recursos humanos no nível

estadual para desenvolvimento das ações de vigilância entomológica e controle vetorial,

agravada pela aposentadoria de técnicos e agentes de endemias da FUNASA e a

inexistência de uma carreira em vigilância em saúde no âmbito do SUS.

Ano que vem é ano político e há grande possibilidade dos profissionais que

foram treinados pelo Ministério da Saúde em conjunto com os laboratórios de

referencia nacional sejam demitidos, pois o vínculo é temporário. Se entrar governo

novo pode modificar todo esse cenário a partir da demissão dos contratados. Pra vocês

terem uma idéia em um desses estados eu vi que das 30 pessoas que atuam no programa

apenas dois eram concursados. Qual é a perspectiva disso a longo e médio prazo?

(participante entomologia 3)

A minha preocupação é que a não contratação de recursos humanos por meio

de concurso para executar essas ações no nível estadual acabem fazendo com que essas

ações sejam repassadas para os municípios. Pois hoje por mais que capacita e que se

multiplique esse problema do vínculo de trabalho vai continuar também no nível

municipal e precisa ser resolvido... Para capacitar um técnico em entomologia de

flebotomíneo até que chegue a nível ideal leva muito tempo. Em média eu considero um

prazo de 80 dias úteis para deixar esse profissional preparado. Daí eu digo que esse

problema tem que ser resolvido em curto prazo.

(participante entomologia 4)

Com a descentralização das ações ocorreram dois grandes movimentos: um foi a

criação e ampliação dos cursos de formação de recursos humanos na área de

Page 82: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

81

entomologia pelas instituições de ensino, como Faculdade de Saúde Pública/USP,

Fundação Oswaldo Cruz do Rio de Janeiro e Belo Horizonte, Instituto Nacional de

Pesquisas da Amazônia e Instituto Evandro Chagas/Belém, além de outras

universidades estaduais e federais. O outro movimento foi os planos de investimentos

feitos pelo MS e algumas SES para o fortalecimento dos Laboratórios Estaduais de

Entomologia foi determinante para o avanço das ações. Esses dois movimentos

coincidiram com a reformulação do Programa e publicação do manual em 2003.

Conseqüentemente houve ampliação de número de municípios com informações sobre a

presença do vetor e melhoria do conhecimento sobre os ciclos de transmissão desse

agravo que tem se comportado de forma diferente em algumas regiões do país.

Estrutura física, veículos e diárias, equipamentos e insumos

Há insuficiência ou mesmo ausência de laboratórios de referência regional para

apoiar os programas de doenças transmitidas por vetores no nível estadual.

Os laboratórios de entomologia que estão dentro ou sob a coordenação Lacen,

apresentam estrutura física de melhor qualidade que alguns que não fazem parte, como

é o caso da entomologia do estado do Pará com sede em Belém, que funcionava em um

prédio antigo de um Distrito Sanitário da Funasa e que até 2007 as condições eram

bastante precárias, até que finalmente em 2008, foi alocado no Lacen, com significativa

melhoria das condições.

O modelo proposto pela CGLAB de abrigar os laboratórios de entomologia é

uma questão que requer amadurecimento especialmente por parte dos gestores do

Lacens no sentido de entender qual o papel dos Laboratórios de Entomologia na

Vigilância em Saúde, pois envolve práticas de campo com grande interface com a

epidemiologia e operação de campo. Além de rever a questão do financiamento das

ações para que as mesmas se operacionalizem.

A descentralização das ações de VE para todos os municípios é complexa pela

necessidade do aparato referente à estrutura física, equipamentos e principalmente

recursos humanos que superem a capacidade de realizar as ações de vigilância

entomológica de flebotomíneos, e que provavelmente a maioria dos municípios não

terão condições de sustentar, portanto o MS recomenda que em virtude disso as ações

permaneçam sob a responsabilidade de execução da SES, até que ocorra um processo

de amadurecimento e aperfeiçoamento da gestão dos municípios.

Page 83: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

82

Atualmente existe uma grande dificuldade por parte da SES em adquirir insumos

estratégicos para apoiar nas atividades de coleta e identificação de flebotomíneos, como

por exemplo as pilhas, baterias, materiais entomológicos e ainda os reagentes utilizados

na produção de soluções de uso no processo de clarificação, diafanização e montagem

dos flebotomíneos.

Nesse caso, pressupõe-se a falta de priorização pelos gestores na programação e

nos processos de compras, bem como pela dificuldade de uma especificação detalhada

dos produtos por parte da equipe solicitante. Quanto aos reagentes químicos, dentre os

quais pode se destacar o ácido acético, éter goma arábica, cloral hidratado, ácido lático e

glicerina a dificuldade de aquisição pelas secretarias deve-se ao fato de serem produtos

controlados pela polícia federal. Isso dificulta a finalização dos processos,

especialmente pela morosidade das informações chegarem até o técnico interessado. Os

Lacen possuem licença para aquisição desses produtos, porém alguns laboratórios de

entomologia não estão vinculados a eles e por isso acabam não aproveitando dessa

facilidade que o mesmo possui. A implantação dessas ações nos municípios requer,

antes de mais nada uma avaliação da sustentabilidade das mesmas pelos gestores e

técnicos com conhecimento aprofundado dos processos de trabalho que as mesmas

exigem.

Anualmente o Ministério da Saúde, por meio do PVC-LV adquire armadilhas

entomológicas e disponibiliza aos núcleos de entomologia. As mesmas são consideradas

como insumo estratégico, pois são de difícil aquisição pelos estados e municípios,

especialmente por ser produto importado, o que eleva o custo e dificulta o processo

pelas leis da administração pública brasileira. Aliado ao fato de que no Brasil são

poucas as empresas que apresentam produção em grande escala e que podem concorrer

aos processos de licitação. Sendo assim o fornecimento das armadilhas para os estados

deve ser mantidos, para que não haja interrupção das atividades pela falta desses

insumos. Essa ainda é uma forma que o MS tem de dar sustentabilidade as ações de VE.

Ausência ou deficiência no monitoramento das ações

A ausência de monitoramento sistemático e retroalimentado pelas diferentes esferas

de governo para as ações de vigilância entomológica do PVC-LV é um problema que

tem dificultado a análise de situação da LV no país tanto do ponto de vista dos

municípios com transmissão da doença, especialmente aqueles com alta transmissão e

Page 84: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

83

os considerados silenciosos.

Uma das limitações dessa atividade reside em parte no modelo de relatório

padronizado em 2005 (Anexo 01), pois a análise só permite conhecer a quantidade de

ações de investigação, levantamento e monitoramento entomológico realizadas por

localidades dentro dos municípios, permitindo apenas uma análise operacional e

administrativa do programa. Apresenta limitações nas informações de vigilância

entomológica do nível local, tais como: indicadores dos índices de infestação, número

de vetores coletados por local de captura, dentre outros importantes. E atualmente o

monitoramento desses indicadores não é realizado pelos técnicos dos estados e

municípios. Colabora para este fato a falta de capacitação e atualização dos

profissionais, pois mesmo que não exista um sistema informatizado para coleta e análise

das informações de VE, é possível a partir da aplicação sistemática e observação do

comportamento dos indicadores em nível municipal e principalmente em nível

territorial local, à interpretação que indica os resultados encontrados e refletir sobre o

comportamento dos flebotomíneos vetores, especialmente para o local de ocorrência dos

mesmos. Além de ser possível analisar as informações operacionais desse componente.

Com relação ao monitoramento das metas pactuada na Pavs também apresenta-se

uma série de limitações, não só do aspecto gerencial para analisar as metas pactuadas e

alcançadas pelas UF. Mas principalmente pela dificuldade de fazer o planejamento

anual de forma integral e integrada das ações de VE, estabelecendo o número de

municípios a serem contemplados com as ações de VE naquele ano a partir da definição

dos quais são prioritários para implantar essas ações, especialmente naqueles com

transmissão. Muitas vezes decorrente da própria falta de integração com a vigilância

epidemiológica. O acesso aos dados da estratificação dos municípios não é facilitada

pelo coordenador do Programa e que também não providenciam a instalação do Sinan

nos computadores do laboratório de entomologia.

Há dificuldades de incluir municípios sem transmissão nesse planejamento a fim de

caracterizá-los quanto a receptividade da LV. Às vezes até se planeja, porém na hora de

executar a ação não é priorizada porque o município não tem transmissão.

Também se observa uma grande dificuldade por parte dos técnicos dos estados no

estabelecimento das ações baseadas na Pavs, bem como o planejamento e

acompanhamento adequado dessas ações. A análise das informações de vigilância

entomológica pelo nível federal consequentemente apresenta limitações no

acompanhamento da programação e execução das ações dos estados e municípios.

Page 85: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

84

Destaca-se o limitado número de profissionais e o excesso de demandas na área técnica,

além da ausência de um sistema informatizado que possibilite a coleta e análise das

informações em tempo hábil para os gestores do programa e assim avaliar e buscar

solucionar os problemas identificados, retroalimentando os estados e municípios sobre a

qualidade e conformidade das suas ações. Gerando uma permanente sensação de que

muitos estão fazendo por fazer, e que não existe até o momento uma aplicabilidade real

das informações levantadas.

Até de 2010 a consolidação das informações, pelo GT Leishmanioses,

resultantes da pactuação de metas da Pavs pelas UF era difícil pelo fato de não ter

acesso as ações pactuadas pelos estados. O acesso a essas informações junto aos estados

era limitado e ao departamento de monitoramento da SVS que realiza o

acompanhamento e supervisão desse instrumento, não era possível. Pois foi priorizado

pelo Gtvs, desde a concepção do instrumento apenas o monitoramento de ações de

alguns agravos considerados prioritários e que não incluía as ações de vigilância

entomológica do PVC-LV.

Em 2009 houve uma reformulação do setor de monitoramento da Pavs da SVS, e

uma maior integração com as áreas técnicas de programas que tinham ações e metas no

instrumento de pactuação, de forma que proporcionou compartilhar para cada área

técnica o que cada UF pactuou referente aos eixos prioritários das ações de vigilância

em saúde, no qual as ações do Programas das Leishmanioses estão incluídas. Isso leva a

crer que esse processo de institucionalização do monitoramento é resultados dos vários

investimentos feitos pela SVS na formação de profissionais, proporcionado assim

avanços e criando a perspectiva de que futuramente será possível verificar o que foi

pactuado e o que foi alcançado por cada UF, especificamente a vigilância entomológica.

Outro fator diz respeito a dificuldade de entendimento por parte dos técnicos de

como pactuar as metas da Pavs seja um ponto complicador, pois as atividades de

levantamento, investigação e monitoramento entomológico fazem parte de uma mesma

ação desse instrumento de pactuação “Realizar vigilância entomológica de

flebotomíneos para leishmaniose visceral, segundo classificação epidemiológica dos

municípios”.

Page 86: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

85

Eu penso que fica sempre uma confusão... porque como podemos medir cada

atividade que é diferenciada e aplicada de acordo com a situação epidemiológica de

cada agravo (LV e LTA)?”

(participante epidemiologia 1)

Há dificuldades de fazer o próprio planejamento anual das ações de vigilância

entomológica pelos técnicos estaduais. A falta de integração dos técnicos de

entomologia com a vigilância epidemiológica do programa, responsável pela

estratificação epidemiológica dos municípios que conseqüentemente nortearia a

identificação dos municípios prioritários a ser realizadas ações de vigilância

entomológica de flebotomíneos naquele ano representa outra deficiência do

planejamento. Há dificuldades na troca de informações da vigilância epidemiológica

para vigilância entomológica e o inverso também acontece. Falta um grupo de

inteligência para dá as regras e manter o funcionamento adequado das ações.

Outro problema crítico do monitoramento das ações é a dificuldade de manter

uma periodicidade das supervisões junto aos estados, muitas vezes inviabilizadas pela

indisponibilidade de recursos humanos no nível federal, tanto do programa das

leishmanioses, quanto da equipe da Cglab, coordenação responsável pela rede de

laboratórios de entomologia no país. Poucos estados receberam uma ou mais

supervisões ao longo desses sete anos após implementação da proposta de 2003.

“É muito importante a supervisão por parte do Ministério da Saúde para as

ações de vigilância entomológica, pois na maioria das vezes a simples ida de um

técnico do MS falando para o nosso gestor que essas ações são importantes e que fazem

parte da PAVS ajuda muito. Pois se a gente fala não tem valor nenhum. Como diz o

ditado: santo de casa não faz milagre”

(participante epidemiologia 1)

Durante a primeira oficina os técnicos ressaltaram a dificuldade do envio dos

relatórios de forma trimestral, sendo que esse tema foi bastante debatido. Os

participantes recomendaram que o Ministério da Saúde alterasse a periodicidade do

envio dos relatórios de trimestral para anual, até que o sistema de informação seja

viabilizado.

Page 87: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

86

A falta de supervisões por parte do Ministério da Saúde junto aos estados e

municípios prioritários de LV é outro ponto critico atualmente relatado pelos

profissionais da vigilância entomológica.

“As supervisões pelo Ministério da Saúde são importantes, pois ajuda a tirar

dúvidas, aponta soluções para enfrentar as dificuldades, motiva a equipe,

especialmente porque a gente pode mostrar os avanços também ... Isso motiva. A gente

se sente valorizado”

(participante vigilância 1)

A necessidade de supervisões nos estados sem casos autóctones também é

necessária, como forma de sensibilizar os gestores na implantação das ações de

vigilância entomológica a fim de caracterizar os municípios quanto a vulnerabilidade e

receptividade da LV, especialmente naqueles que apresentam alta vulnerabilidade

ambiental e sócio-econômica, como por exemplo o estado de Rondônia.

Aliado a este fato colabora a não realização das reuniões nacionais anualmente,

especialmente com a participação de representantes da entomologia de flebotomíneos.

O Ministério da Saúde tenta promover anualmente reuniões nacionais do

Programa das Leishmanioses. Nessa ocasião os coordenadores estaduais do programa

além de representantes da área do diagnóstico laboratorial e da entomologia participam

e discutem os avanços e limitações obtidos durante o ano, além de propor estratégias de

resolução dos mesmos. Além de ser um momento de dar visibilidade das ações

executadas pelas três esferas de governo, além de constituir também um momento de

apreensão do conhecimento.

Há dois anos não se consegue realizar a reunião nacional, isso em virtude da

limitação financeira por parte do Ministério e dos estados, para apoiar na compra de

passagens, pois de acordo com o Decreto Presidental, as cotas mensais de passagens são

limitadas a cada Ministério e distribuídas às Secretarias e respectivos departamentos.

Falta de sistema informatizado

Os técnicos apontaram a ausência de um sistema informatizado para coleta e

registro de dados bem como análises e informações para as três esferas de governo

como limitador para coleta e análise adequada dos dados.

A informação é fundamental para a democratização da Saúde e o aprimoramento

Page 88: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

87

de sua gestão. A informatização das atividades do SUS, dentro de diretrizes tecnológicas

adequadas, é essencial para a descentralização das atividades de saúde e viabilização do

controle social sobre a utilização dos recursos disponíveis.

Destaca-se que a necessidade de criar um sistema informatizado para

consolidação das informações entomológicas foi apontada pelos técnicos e gestores do

programa nos diferentes esferas de governo durante a Reunião Nacional das

Leishmanioses, ocasião em que foram apresentadas as novas metodologias da vigilância

entomológica de flebotomíneos (Ministério da Saúde, 2003). Porém, a elaboração e

implantação do mesmo dentro do MS está sob a responsabilidade do Departamento de

Informática do SUS - Datasus. Este, apesar de ter como prioridade a proposta de

desenvolvimento do SI para a entomologia de flebotomíneos desde 2006, ainda não foi

possível a concretização devido a uma série de outras prioridades que são colocadas a

frente da necessidade do programa de leishmaniose visceral. Em 2007 foi realizada

uma reunião para discutir a padronização das informações e elaboração de boletins em

conjunto com os técnicos das secretarias estaduais de saúde. Porém o desencadeamento

do processo de desenvolvimento do sistema de informação pelo órgão que pode garantir

a sua efetiva implantação e sustentabilidade do funcionamento ainda não ocorreu.

A ausência de informações por localidade, município e mesmo para o país

inviabiliza as análises e comportamentos dos indicadores de resultados das ações,

especialmente no nível municipal.

Processos de trabalho no nível local

A unidade territorial de vigilância se reveste de elevada relevância para o

entendimento de como a doença ocorre e conseqüentemente para os gestores do

programa realizar as ações de prevenção e controle (Soares, 2006), pois é aonde as

ações de vigilância entomológica se operacionalizam.

Atualmente se verifica, por consenso, uma grande limitação sobre o

conhecimento da base territorial nos municípios ou mesmo a ausência de olhar para

localidade por parte dos técnicos da VE do PVC-LV.

“É verdade... nem todos os municípios têm uma base territorial bem definida e

atualizada. Eu digo isso porque a gente chega no município e muitas vezes procuramos

se tem um mapa da zona urbana e na maioria das vezes não tem. Uma coisa

aparentemente simples de consegui...”

Page 89: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

88

(epidemiologia 1)

Outro problema que limita as ações de monitoramento da vigilância

entomológica de vetores da LV é a ausência de parâmetros para obter uma amostra

representativa das coletas de flebotomíneos, especialmente no ambiente urbano de

municípios de grande porte e consequentemente de obtenção do índice de infestação do

vetor e dos padrões de comportamento dos mesmos. Um trabalho pioneiro desenvolvido

por Passaret e Silans (2004) propõe um modelo simples e de fácil aplicação, porém

pouco difundido entre os técnicos do serviço.

Durante a oficina de discussão uma consideração importante apontada por um

dos participantes resume que: ...“Atualmente existem dois modelos de consolidação das

ações de controle vetorial. Um está relacionado ao modelo difuso que você repassa

recurso, repassa informação e espera que gere resultados na população de baixo para

cima. Ao lado desse modelo de controle difuso que é o que predomina no SUS, mas que

não dá conta de uma série de problemas, como por exemplo, o dengue e as

leishmanioses, mas que dá conta de outros. O que se espera é que desenvolvamos para

a leishmaniose visceral o modelo de controle estratégico. E o que a gente tem que fazer

é levantar indicadores que consigam mostrar fragilidades e vulnerabilidades

relacionados as informações até o momento produzidas pelos profissionais que atuam

no programa.”

(epidemiologista 1)

Apesar dos dados produzidos e acumulados pelo serviço até o momento não

foram utilizados para definir parâmetros sobre a infestação do vetor e essa limitação é

resultante da dificuldade por parte da esfera federal em ter acesso a esses dados,

especialmente pela ausência de um sistema de informação que permita a coleta e análise

sistemática dos dados.

Atualmente o PVC-LV considera que apenas uma fêmea de Lutzomyia

longipalpis/Lu.cruzi oferece risco de transmissão da LV, aliado a outros fatores de risco,

portanto, somente a informação qualitativa (presença do vetor) em um município sem

transmissão de LV humana e canina já é o suficiente para desencadear outras ações de

vigilância e prevenção no local de registro.

A indefinição nos limites mínimos de densidade vetorial abaixo dos quais a

transmissão da doença não ocorre é um problema para os programas de DTV para

Page 90: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

89

estabelecer as metas das ações de controle de forma geral, porém o Pncd e Pncm

desenvolveram modelos de análise dos dados que permitem estimar o nível de

infestação do vetor pelo qual existe o risco da doença ocorrer com o Levantamento de

Índice Rápido do Aedes aegypti (Lira). Faltam pesquisas aplicadas para avançar nesse

campo.

O conhecimento do padrão de comportamento dos indicadores (presença,

infestação e abundância relativa) propostos no manual de LV, ainda não estão bem

consolidados, o que dificulta a análise e melhor definição dos fatores de risco

relacionados ao vetor. Sendo assim é recomendado que a construção desse indicador

seja baseada numa série histórica dos dados produzidos pela equipe de entomologia das

Secretariais Estaduais e Municipais de Saúde. Porém essa tarefa ainda constitui um

grande desafio para os gestores do Programa. O estabelecimento de parcerias entre o

serviço e as instituições de pesquisas é necessário e emergencial nesse sentido. A

própria revisão do manual e das metodologias de VE requer esse pensar imediatamente.

Particularmente nas ações de investigação ecológica dos flebotomíneos vetores

primários e espécies potenciais para exercer o papel de vetores secundários da LV.

Essa questão merece atenção especial no pensar e executar as ações de vigilância

entomológica no nível local. Os técnicos e gestores do programa nas esferas federal e

estadual também estão limitados com esse problema, pois ainda não avançou na

discussão de um modelo de atuação da vigilância e controle da LV com base nas

informações entomológicas de base territorial local. Como um dos fatores motivadores

aponta-se a falta de análise integrada e projetos integrados nesse sentido.

A ausência de parâmetros operacionais para definir indicadores de produtividade

para as atividades de vigilância entomológica de flebotomíneos é outro problema que

não permite o estabelecimento de indicadores de produtividade para essas ações e

consequentemente não há referencia para você monitorar e avaliar as ações.

Durante a reunião de revisão do manual de LV muito se discutiu a respeito desse

aspecto. O objetivo era levantar parâmetros, com base na experiência dos técnicos

responsáveis pela execução das ações, porém nessa ocasião não foi possível obter um

consenso junto aos consultores. Diante disso essa discussão foi levada para a oficina

com a equipe de entomologia do nível estadual em que os resultados encontram-se no

item 5.4.

Falta de integração

Page 91: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

90

Outro problema atualmente enfrentado pelo PVC-LV refere-se a falta de

integração, pois alguns profissionais da vigilância epidemiológica trata a entomologia

como um componente que está subordinado aos anseios e demandas da vigilância

epidemiológica e não como um componente de inteligência que possibilita a

compreensão dos fatores ambientais e ecológicos que interage com os flebotomíneos

favorecendo os ciclos de transmissão da doença. Em outras palavras, desconsideram a

importância da eco-epidemiologia da LV, promovendo discussão e problematização dos

achados pela equipe de entomologia de forma articulada.

“O pessoal da vigilância epidemiológica de alguns programas trata a gente (da

entomologia) como fosse subordinado deles. Já o coordenador do programa, não. Ela

vem aqui discute e planeja junto com a gente”

(entomologia 1).

Page 92: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

91

5.2 – Construção do modelo lógico do PVC-LV e da Vigilância Entomológica nos

três esferas de governo do SUS

A organização dos componentes técnicos da vigilância entomológica, objetivos,

competências, atividades, instrumentos, indicadores, fluxos de informação,

periodicidade e produtos previstos foram utilizadas duas etapas para destacar os sub-

componentes da Vigilância Entomológica (pesquisa do vetor).

Na primeira etapa refere-se ao planejamento das ações e de como elas devem ser

implementadas (investigação, levantamento e monitoramento entomológico)

considerando o tipo de ambiente com destaque ao conhecimento, por parte da equipe de

entomologia estadual, da situação geográfica e epidemiológica (casos humanos) dos

municípios, dos conhecimentos entomológicos prévios, da consolidação das

informações provenientes das pesquisas entomológicas e análise das mesmas, e por

último na interface da entomologia com a epidemiologia, no nível estadual associando à

retro alimentação das informações junto aos municípios pesquisados.

Na segunda etapa, apresenta as ações de VE como elemento norteador das

atividades de controle vetorial, especialmente nas áreas que tenham foco o

desenvolvimento das ações de prevenção e as de controle químico do vetor, sendo

direcionadas a partir dos indicadores entomológicos no nível municipal e local. Neste

caso, caberá a equipe de entomologia (estadual ou municipal) levantar as informações,

analisar e posteriormente programar em conjunto com a vigilância epidemiológica as

atividades a serem implantadas levando em consideração as localidades/bairros/setores

que apresentam maior infestação e freqüência relativa do Lutzomyia longipalpis ou Lu.

cruzi.

Para melhor compreensão do funcionamento dos diferentes componentes técnicos

do PVC-LV, apresenta-se o modelo lógico do PVC-LV no nível federal (Figura 8) e em

seguida o modelo lógico da vigilância entomológica nesse nível de gestão representado

na Figura 9. Devido o enfoque desse estudo foi feito um recorte do modelo lógico do

PVC-LV com destaque para vigilância entomológica na esfera estadual encontra-se

apresentado na Figura 10 .

Page 93: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

92

Figura 8 - Modelo lógico do Programa de Vigilância e Controle da Leishmaniose

Visceral do nível federal

1.Implementar as ações de

vigilância e controle canino nos estados e municípios

1. Implementar e fortalecer as ações de Vigilância entomológica

ASSISTÊNCIA

UZR e CGLAB

1. Nº de capacitações realizadas

2. Nº de laboratórios com diagnóstico humano e canino

implantados

1. Nº de municípios que receberam capacitação 2. Relatórios acompanhados

1. Nº de municípios

com cobertura das

atividades de VE

2. Nº de municípios

com as medidas de

prevenção e

controle vetorial implantadas.

1. Nº de análises realizadas 2. Nº de municípios classificados

epidemiologicamente

Produtos

1.Capacitação de recursos; 2. Gerenciamento da distribuição e estoque de insumos (medicamentos; kits de diagnóstico) 3. Estabelecimento de protocolos e

normas referentes ao uso de medicamentos e kits de diagnóstico

1. Capacitação de

recursos humanos

para realização das

ações de vigilância e

controle de

reservatórios

2.Acompanhamento

das ações de

vigilância e controle

de reservatórios nos

municípios

1. Análise das

informações de VE

3 – Divulgação d as

informações

4 - Recomendar as

medidas de

prevenção e

combate ao vetor

Análise dos

SI (SINAN,

SIM, SIH)

2. Análise

epidemiológica doa

LV no Brasil.

3. Analise do perfil

epidemiológico dos

casos

4. Monitoramento da

tendência da endemia

Atividades

1. Implementar as ações do PVC-LV nos estados e municípios

1. Apoiar na organização da rede de

diagnóstico e assistência nos

diferentes níveis de atendimento

(primário, secundário e terciário)

2. Implementar e fortalecer o

diagnóstico canino e assessorar

tecnicamente quando descentralizado

para os municípios

Objetivos

VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA, AMBIENTAL *CGLAB

UZR* – PVC-LV **CGLAB

Clínica/Laboratorial/Farmacêutica Vigilância e Controle do Reservatório

Vigilância Entomológica e

Controle do Vetor

Vigilância e Controle dos

Casos humanos

Dimensão Estratégica: Implantação das ações de Vigilância e Controle da LV

COMPONEN

TES

ESTRATÉGI

COS

Resultados

1. Conhecimento da situação

epidemiológica dos municípios e perfil dos casos humanos

1.Estoque regular de insumos 2. Redução da letalidade

1. Diminuição da morbi-mortalidade da LV 2. Diminuição da incidência de LV

1. Cobertura dos

municípios com

atividades de

entomologia

2. Conhecimento

sobre a presença e

distribuição do

vetor

1.Municípios

realizando

vigilância e

controle de cães

com LV

2. Conhecimento

sobre o índice de

positividade

canina

Impacto

*UZR – Unidade Técnica de Zoonoses Vetoriais e Raiva ** CGLAB – Coordenação Geral de Laboratórios

Page 94: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

93

Como forma de representar os diferentes componentes, subcomponentes e os

fluxos, de interface para implantação, com os diferentes setores da estrutura

organizacional do programa, apresenta-se na Figura 09 o modelo lógico da vigilância

entomológica no nível federal.

Figura 9 - Modelo lógico da Vigilância Entomológica do PVC-LV no nível federal

DIMENSÃO ESTRATÉGICA

Implantação e estruturação das ações de Vigilância Entomológica nas áreas com e

sem transmissão de LV no Brasil

Objetivos

Atividades

UVR* - PVC-LV

Gestão das Ações da VE **CGLAB

Gerência de Entomologia MONITORAMENTO

&AVALIAÇÃO

Implementar e fortalecer as ações de vigilância entomológica do PVC-LV

Estabelecer a Política Nacional dos Laboratórios de Entomologia

Avaliar as ações de vigilância entomológica dos níveis estadual e municipal Promover reuniões de avaliação

Elaboração/estabelecimento de normas e fluxos Planejamento das ações Capacitação de RH

Alocação de recursos e equipamentos

Estabelecimento de normas e fluxos Planejamento e programação ações VE

Alocação de recursos financeiros Aquisição de insumos estratégicos e equipamentos Capacitação de RH Acompanhamento metas e atividades SES e SMS

Divulgação informações

Reuniões técnicas com equipe do PVC-LV Analise periódica dos

indicadores de monitoramento das ações dos níveis estadual e municipais Análises dos indicadores da PAVS a SES Reuniões de avaliação do Programa

Computador e impressora Internet Sistema de informações

Recursos humanos capacitados

Recursos financeiros Estrutura Física Sistema de Informação

Estrutura física laboratórios de entomologia

Recursos financeiros Recursos humanos Normas e equipamentos

Insumos

Produtos

Resultados

Nº de UF com VE do

PVC-LV implantados Nº RH capacitados Normas VE implantadas Metas alcançadas

Nº de UF com laboratórios Entomologia implantados Nº RH capacitados Equipamentos

disponibilizados

Relatório da situação

entomológica no país Divulgação das informações para gestores e equipe do

PVC-LV

Melhoria das condições de trabalho dos laboratórios Institucionalização da

entomologia

Profissionais qualificados para implantação VE Ampliação das ações VE

Melhoria da qualidade das ações de vigilância

entomológica

*Unidade de Zoonoses Vetoriais e Raiva ** CGLAB – Coordenação Geral de Laboratórios

Page 95: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

94

Destaca-se que o modelo lógico da VE apresentado na Figura 10 representa a

atuação desse componente no nível estadual, sendo este o responsável para desencadear

as ações nos municípios programados ou ainda acompanhar as ações executadas pelos

municípios que possuem esse serviço estruturado. Entretanto, houve a necessidade de

desenhar o modelo lógico da atuação desse componente no nível municipal, discutindo

com os profissionais e adequando-o a realidade situacional de cada município.

Durante o processo de descrição da intervenção e do modelo lógico da VE no

nível estadual identificou-se a necessidade de incluir um item relativo a avaliação. O

mesmo está voltado para estimular os profissionais a refletirem sobre as análises das

informações resultantes dessas ações.

Do ponto de vista de interesse do programa, o produto resultante das ações de

vigilância entomológica no nível municipal é o mais relevante, pois representa quais as

atividades e resultados são esperados a partir da implantação das ações nos municípios,

especialmente no nível local, onde as ações de prevenção e controle vetorial deverão ser

desencadeadas. Nesse sentido o modelo lógico foi divido por metodologia utilizada

sendo elas aplicadas de acordo com a situação epidemiológica da LV no município.

Page 96: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

95

DIMENSÃO

ESTRATÉGI

CA

Realizar ações de VE segundo classificação epidemiológica dos municípios

Objetivos

Atividades

LEVANTAMENTO ENTOMOLÓGICO

INVESTIGAÇÃO

ENTOMOLÓGICA MONITORAMENTO

ENTOMOLÓGICO MONITORAMENT

O &AVALIAÇÃO

1. Verificar a presença de Lu. Longipalpis ou de L. cruz em municípios sem casos humanos ou em municípios de transmissão esporádica, moderada ou intensa, desde que não tenha

informações anteriores. 2. Conhecer a dispersão do vetor no município a fim de apontar as áreas receptivas para realização ações prevenção de controle do vetor.

1. Verificar a presença de Lu. Longipalpis ou L. cruzi em municípios com registro de primeiro caso de LV humana ou canina. 2. Definir a autoctonia dos casos humanos e caninos em municípios considerados sem transmissão.

1. Conhecer a distribuição sazonal e abundância do Lu. Longipalpis ou L. cruzi, em área com transmissão moderada ou intensa a fim

de estabelecer o período mais favorável para transmissão da LV e direcionar as medidas de prevenção e controle do

vetor.

Avaliar cumprimento de metas e as ações de vigilância entomológica dos níveis estadual,

municipal e local

Execução das atividades de investigação entomológica no município a partir da notificação do primeiro caso em municípios considerados sem transmissão Análises dos indicadores entomológicos

Fluxo (Divulgação) das informações Intensificação das medidas de prevenção e controle do vetor.

Execução das atividades de

levantamento entomológico conforme programação prévia com a Vig. Epidemiológica Análises dos indicadores entomológicos Fluxo (Divulgação) das informações

Planejamento das medidas de prevenção e controle do vetor.

Execução das atividades de

ME em municípios previamente programados com a Vig. Epidemiológica Análise dos indicadores entomológicos Fluxo (Divulgação) das informações Avaliação das medidas de

prevenção e controle do vetor.

Reuniões técnicas

com equipe do PVC-LV nos municípios Analise periódica dos indicadores de monitoramento das ações dos níveis estadual, municipal e local das informações

Reuniões para avaliação do Programa

Avaliar infraestrutura Computador e impressora Internet Sistema de informações

Recursos humanos, Profissionais capacitados em entomologia Laboratórios de entomologia

Veículos Materiais de campo e laboratório

Recursos humanos, Profissionais capacitados em entomologia Laboratórios de entomologia

Veículos Materiais de campo e laboratório

Recursos humanos, Profissionais capacitados em entomologia Laboratórios de entomologia Veículos Materiais de campo e

laboratório

Insumos

Produtos

Resultado

s

Número de municípios com levantamento entomológico Número de localidades pesquisadas Número de relatórios confeccionados.

Número de municípios com investigação entomológica Número de localidades pesquisadas Número de relatórios confeccionados.

Número de municípios com monitoramento entomológico implantado/realizado 3. Número de relatórios confeccionados .

Relatório da situação Boletim Epidemiológico Divulgação das informações para gestores e equipe do PVC-LV

Definição da autoctonia LV Definição do papel vetorial, Definição áreas para LE

Implantação das medidas de prevenção e controle.

Definição da potencialidade de transmissão de LV Definição do nível de infestação e dispersão do

vetor (nº localidade positiva) Classificação epidemiológica do município Implantação das medidas de

prevenção e controle.

Definição da abundância relativa e da sazonalidade do vetor no município; Orientação das atividades de controle químico para o

período mais favorável; Avaliação do impacto das ações

Melhoria da qualidade das ações de vigilância

entomológica

Figura 10 - Modelo lógico das ações de Vigilância Entomológica no nível estadual/SES

Page 97: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

96

A lógica do funcionamento das ações de levantamento, investigação e

monitoramento entomológico nos municípios, encontram se representado nos modelos

lógicos das Figuras 11,12 e 13, respectivamente.

Figura 11 – Modelo lógico das ações de Investigação Entomológica no Nível municipal

Figura 12 - Modelo lógico das ações de Levantamento Entomológico no nível

municipal

Page 98: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

97

Figura 12 – Modelo lógico das ações de Monitoramento Entomológico no nível

municipal

5.3 Identificação de elementos para o monitoramento das ações de vigilância

entomológica do PVC-LV nas três esferas de gestão

A necessidade de identificar elementos para o monitoramento das ações de

Vigilância Entomológica do Programa de Vigilância e Controle da Leishmaniose

Visceral (PVC-LV) é parte da inquietação em verificar que, a despeito da existência de

normas e diretrizes para estruturação das ações de vigilância e controle vetorial das

leishmanioses, o monitoramento e avaliação (M&A) atual não contempla aspectos

relativos aos indicadores de estrutura, processo e resultado. Além disso, a periodicidade,

os fluxos e as análises das informações das atividades de vigilância entomológica não

estão bem consolidados.

As informações geradas pela estrutura do programa não têm sido suficientes para

suprir a necessidade do mesmo, tampouco gera indicadores como ferramenta a ser

utilizada pela vigilância entomológica de flebotomíneos em nível de localidade,

dificultando o acompanhamento dos indicadores epidemiológicos, operacionais e de

organização de serviço nos diferentes níveis de gestão do Programa.

Apenas três indicadores entomológicos foram disponibilizados no Manual de

Vigilância e Controle da LV em 2003, sendo: a) índice de localidades positivas, b)

infestação domiciliar e c) abundância relativa do vetor. Os mesmos são indicadores de

resultado e não possibilita o monitoramento da implantação das ações, bem como não

Page 99: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

98

demonstra a situação da estrutura e processo desse componente no nível de sua

operacionalização.

Pensando na identificação de indicadores para o monitoramento, um primeiro

esboço dos indicadores para vigilância entomológica e controle vetorial foi elaborado

pela autora durante o curso de especialização em Avaliação em Saúde e estão

apresentados nos quadros 4 a 7. Foram propostos indicadores de estrutura, processo e

resultados, considerando a conformidade e qualidade técnica, baseados nos critérios de

monitoramento & avaliação da implantação e desempenho de programa.

Quadro 4 – Indicadores de estrutura das ações de vigilância entomológica

Indicadores

Análise

Existência de departamento de VE instituída na SES (portaria ou

organograma)

Análise dicotômica

Sim ou não

Existência de estrutura física de laboratório de entomologia* Análise dicotômica

Sim ou não

Disponibilidade de técnico de nível superior responsável para VE de

flebotomíneos

Nº de técnicos treinados para

VE leishmanioses

Disponibilidade de recursos humanos – equipe técnica Nº de técnicos disponíveis

Disponibilidade de equipamentos adequados** (microscópios e lupas)

Nº de equipamentos

disponíveis (Relação equipamentos/

técnicos)

Disponibilidade de material de consumo Nº de insumos necessários

Disponibilidade de recursos de informática (computador e impressora) Nº de equipamentos

informática disponíveis

Processamento dos dados (Sistema de informação) implantado Existência de fluxo de

informações implantado

Disponibilidade de veículos para equipe de entomologia da SES N° de veículos disponíveis

Existência de articulação/integração entre a entomologia, epidemiologia e operação de campo

(Atividades para planejamento e acompanhamento das ações)

Nº reuniões integradas realizadas por ano

Proporção de recursos PFVS aplicados nas atividades de VE

Custo (R$) total das

atividades por ano ou

Valor (R$) Investido nas

ações de entomologia

Adoção das Normas Técnicas das atividades da Vigilância Entomológica

(levantamento, investigação e monitoramento entomológico)

Adequação entre o planejado

e o executado

Existência de laboratórios de entomologia descentralizados (Regionais ou

municipais)

Nº de laboratórios ligados a

SES

Proporção de técnicos treinados para atividades de vigilância entomológica de

flebotomíneos

Nº de técnicos treinados

* Normas de biossegurança (espaço físico, bancada, sala de coleção, pia, capela exaustão, cadeiras para bancada, etc.) ** Microscópios e estereoscópios conforme recomendações Ministério da Saúde

Page 100: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

99

Durante a oficina para discussão e identificação de elementos para o

monitoramento das ações de vigilância entomológica do PVC-LV a discussão foi

baseada nas propostas apresentadas pela autora destacando as variáveis essenciais para

analisar as ações do programa, norteadas pela relevância, factibilidade e periodicidade.

Os participantes sugeriram a inclusão ou exclusão dos indicadores, e ainda a

modificação do texto em algumas situações sobre a proposta apresentada.

Indicadores de Estrutura

O grupo fez sugestão na redação do indicador “Existência de

departamento/laboratório de laboratório de entomologia instituído na SES” alterar para

“Existência de estrutura (laboratório, departamento, gerência técnica)” acrescido do

texto Normas de biossegurança (espaço físico, bancada, sala de coleção, pia, capela

exaustão química, cadeiras para bancada, etc. e microscópios bacteriológicos e lupas

conforme recomendações Ministério da Saúde que devem estar junto no texto da tabela

a fim de esclarecer sobre as normas técnicas adequadas.

Para o indicador “Disponibilidade de recursos humanos - equipe técnica”

sugeriu-se que deveria acrescentar o termo “mínima”. Sendo que o grupo definiu como

parâmetro 02 técnicos em entomologia e 01 coordenador.

Sugeriu-se a inclusão de mais um indicador sobre o “Número de profissionais

capacitados para a vigilância entomológica (campo e laboratório)”. Os participantes

da oficina entenderam que as equipes deveriam ser distintas, em relação as ações de

captura em campo, identificação em laboratório e borrifação.

Quanto ao indicador “Disponibilidade de material de consumo” o grupo

apontou que é importante que esse item venha associado da definição de material de

consumo. Foi esclarecido pela autora que a armadilha CDC faz parte dessa categoria de

material, juntamente de baterias descartáveis e recarregáveis, lâminas, estiletes e

reagentes para identificação. Estes insumos são considerados básicos para realização

das atividades de VE de flebotomíneos. Os participantes sugeriram que o planejamento

de aquisição dos referidos materiais deve ser baseado no histórico de consumo de cada

laboratório, que subsidiará na definição da quantidade de material de consumo. Quanto

ao indicador “Disponibilidade de recursos de informática” houve consenso sobre a

importância do mesmo e foi sugerido pelo grupo acrescentar o acesso a internet. Sendo

Page 101: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

100

que o texto recomendado para o referido indicador seria “Disponibilidade de acesso a

internet” para compor o sistema de monitoramento da VE do PVC-LV.

Quanto ao indicador “Disponibilidade de veículos para equipe de entomologia”

foi aprovado e sugeriram a inclusão também sobre a manutenção periódica e

questionaram sobre qual seria a base de cálculo em relação a disponibilidade efetiva.

Neste caso a autora esclareceu que seria um indicador qualitativo, não sendo necessário

ter uma fórmula para calculá-lo. Portanto, foi elaborado texto para o novo indicador

“Manutenção periódica dos veículos para entomologia”

Sugeriram ainda a seguinte redação: “Operação de campo nível municipal:

Veículo apropriado ao serviço”. Neste caso esse indicador é proposto para o

monitoramento das ações de controle vetorial do PVC-LV, no nível municipal.

Entretanto o mesmo não será incluído no sistema de monitoramento da VE, pois refere-

se as ações de controle vetorial, que não será contemplado neste estudo.

Em relação ao indicador “Existência de articulação e integração entre

entomologia, epidemiologia, operação de campo e demais setores da vigilância”, o

grupo teve dificuldade de entender como este seria monitorado, mas após várias

discussões concluíram que seria através do “Número de reuniões técnicas envolvendo a

entomologia, epidemiologia e operação de campo para o planejamento e

acompanhamento das ações”.

Em relação ao indicador “Proporção de recursos PFVS aplicados nas atividades

de vigilância entomológica do PVC-LV” discutiu-se que seria pertinente, mas não há

como discriminar e fica difícil estimar a base de cálculo. Portanto, o consenso do grupo

foi de excluir esse indicador.

Os dois grupos concluíram que quanto ao indicador “Departamento de controle

vetorial na SES” não é pertinente, pois foge da lógica organizacional, além de favorecer

a fragmentação do processo. Porém a autora esclareceu que esse indicador objetiva

verificar se na secretaria estadual de saúde há um departamento que acompanha as

ações de controle de vetores nos municípios do estado, apoia no planejamento e

supervisão das ações junto aos municípios e também atua na capacitação de recursos

humanos para o controle vetorial do PVC-LV. Esse departamento deveria ser

responsável pelo gerenciamento e controle do estoque de inseticidas e equipamentos de

controle de vetores.

O indicador “Adoção de normas técnicas nas atividades de vigilância

entomológica (levantamento, investigação e monitoramento entomológicos)” está

Page 102: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

101

confuso e inadequado, teria que ser reformulado. É importante acrescentar que esse

indicador está relacionado ao monitoramento dos processos e não da estrutura.

Quanto ao indicador “Proporção de técnicos treinados para atividades de

controle vetorial” entenderam como uma equipe única onde a avaliação do controle

deverá estar inserida por parte da equipe de vigilância entomológica da SES, não sendo

recomendado manter esse indicador para não levar a fragmentação das ações nesse nível

de gestão. Destaca-se ainda que a execução das ações de controle de vetores é de

responsabilidade do nível municipal, cabendo ao estado o papel de assessoria no

planejamento, capacitação de recursos humanos e gerenciamento e distribuição dos

insumos como equipamentos e inseticidas.

Indicadores de Processo

Para os indicadores de processo, a periodicidade do monitoramento seria

trimestral e a execução da programação mensal, com supervisão que permita o

monitoramento da cobertura e da qualidade das ações. Quanto a base de cálculo, o texto

recomendado pelo grupo referente ao denominador seria “indicadas” e não

“programadas”.

Quadro 5 – Indicadores de processo das ações de vigilância entomológica

Indicadores Indicador/Base de cálculo

Cobertura Investigações Entomológicos (IE) N° de IE realizadas_ x 100

Nº de IE programadas

Cobertura Levantamentos Entomológicos (LE) N° de LE realizados_ x 100

Nº de LE programados

Cobertura do Monitoramento Entomológico (ME) N° de ME realizados_ x 100

Nº de ME programados

Cobertura do controle vetorial (químico)

Relação entre controle químico aplicado e classificação

epidemiológica

Consumo de inseticida N. de imóveis borrifados

N. inseticida gasto

Ações de manejo ambiental realizadas Nº de ações realizadas_ x 100

Nº de ações planejadas

Em relação ao indicador “Cobertura do controle vetorial (químico)” o grupo

sugeriu que a base de cálculo dessa ação deve ser a relação entre o “número de casas

borrifadas, divididas por casas programadas, segundo a norma técnica, devendo ser

apresentado em percentual”.

Page 103: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

102

Já em relação ao indicador para o manejo ambiental, não ficou claro para o

grupo como seria o monitoramento dessas ações e quais os indicadores seriam

adequados para compor o sistema, uma vez que ainda não está definido como devem ser

realizadas tais ações. Portanto, recomendou-se uma discussão específica para esse tema,

sendo fundamental a definição melhor das metodologias, definição de competências e

métodos de acompanhamento.

Indicadores de Resultados

Considerando os objetivos principais da vigilância entomológica os indicadores

de resultados são responsáveis por medir se os objetivos foram alcançados, nesse

sentido o foco de discussão da oficina, foi analisar a visão dos atores-chaves na

aplicabilidade dos indicadores atualmente propostos pelo programa.

Quadro 06 – Indicadores de resultados das ações de vigilância entomológica

Indicadores Indicador/Base de cálculo

Índice de localidades positivas

Nº de localidades positivas com Lu. longipalpis/Lu. cruzi X 100 Nº de setores/localidades positivas

Infestação domiciliar:

Permite avaliar a magnitude da infestação

no município e sua dispersão

Nº de domicílios positivos para Lu. longipalpis/ Lu. cruzi X 100 Nº de domicílios pesquisados

Abundância relativa do vetor ou

Média de Lu. longipalpis por domícilio Nº de Lu. longipalpis encontrados

Nº de domicílios pesquisados

Distribuição espacial do vetor Mapa ou cartograma com a distribuição espacial dos indicadores

entomológicos

Os indicadores de resultados estão vinculados a definição da unidade territorial

que os municípios utilizam para setorializar as ações do programa e atualmente ainda há

uma grande dificuldade por parte dos técnicos em identificar e definir essas localidades,

logo o grupo questionou quais e quantos municípios seriam capazes de gerar os

indicadores propostos. Nesse sentido, por consenso recomendou modificar o indicador,

apontado que o mesmo é útil e aplicável se ficar expresso da seguinte forma:

“Proporção de municípios que tem a implementação das ações de vigilância

entomológica definida a partir da base territorial por localidade”.

O indicador proposto “Distribuição espacial do vetor” não corresponde

propriamente a um indicador e sim a um produto das ações de vigilância entomológica,

Page 104: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

103

mas que deve constar no sistema de monitoramento de indicadores qualitativos como

“Disponibilidade de mapa contendo a distribuição do vetor por município”

5.4 Análise da aplicação dos indicadores de monitoramento das ações de vigilância

entomológica do PVC-LV em uma Unidade Federada

As epidemias de LV que ocorreram no estado do Tocantins, mais

especificamente no município de Palmas em 2003 e mais recentemente em Araguaína

em 2008, refletiram diretamente a organização das ações do programa de forma

emergencial, tanto no nível estadual quanto nesses municípios. No estado, as ações de

vigilância e controle da LV aumentaram e se fortaleceram em virtude da crise gerada

pelas epidemias vivenciadas nos últimos anos.

Os profissionais que não amadureceram em um processo gradual resultante da

convivência com outros profissionais do programa de outras regiões do país que

vivenciaram a mesma situação, durante os encontros, cursos e Reuniões Nacionais,

acabaram adquirindo a experiência nas emergências impostas pela explosão de casos em

vários municípios do estado.

Glória, 2006 aponta que as ações implantadas em Palmas conseguiu reduzir

significativamente os casos pela série de ações que foram desencadeadas

simultaneamente frente a epidemia. Dentre elas destacam-se: a) instituição de uma força

tarefa, através da contratação e treinamento de 210 agentes para atuarem nas ações de

borrifação. Foram borrifadas 59.492 imóveis com inseticida residual em 4 ciclos de

tratamento com intervalos de 4 meses entre eles. Nos anteriores existiam apenas 8

agentes executando essas ações; b) a intensificação no controle da população canina,

com realização de um censo canino e coleta de 7.300 amostras de sangue para exames

sorológicos, resultando em 35% de positividade, sendo os cães positivos submetidos a

eutanásia; c) a estruturação e organização do núcleo de entomologia da Secretaria

Municipal de Saúde, iniciando o trabalho de monitoramento dos flebotomíneos, que

passou a desenvolver suas atividades de forma mais integrada com as equipes de

controle químico e canino.

O laboratório de entomologia estruturado no CCZ por conta do período

endêmico possui atualmente um acúmulo de dados sobre o vetor que permite a equipe

do programa avaliar a estratificação das unidades territoriais com baixa ou sem

Page 105: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

104

transmissão dos casos humanos a informações sobre a densidade e infestação do vetor

aos casos caninos e consequentemente direcionar ações de prevenção e controle de

forma mais oportuna.

Em Araguaína a implantação da equipe de entomologia no CCZ foi estimulada

pela equipe estadual por observar a capacidade de estrutura física e de recursos

humanos que possuíam o município para desenvolver suas próprias ações de vigilância

entomológica. Em 2008 o município apresentou o maior número de casos no país.

Para melhor entendimento do funcionamento das ações de vigilância

entomológica é necessário antes contextualizar onde se localiza o Programa das

Leishmanioses dentro da Secretaria Estadual de Saúde e como se organizam as ações do

PVC-LV, com enfoque na vigilância entomológica.

A estrutura organizacional da Secretaria Estadual de Saúde de Tocantins define

que as ações de Vigilância em Saúde são gerenciadas pela Superintendência de

Vigilância e Proteção Saúde na qual a Vigilância Epidemiológica está inserida, sendo

composta pelas coordenações de Imunização, Doenças Transmissíveis, Doenças Não

Transmissíveis e Doenças Vetoriais e Zoonoses conforme apresentado na Figura 14.

A gerência técnica do Programa das Leishmanioses está vinculada a

Coordenação de Doenças Vetoriais e Zoonoses, coordenação que envolve também o

Núcleo de Entomologia Médica e o Núcleo de Insumos Estratégicos e Operação de

Campo. Esse atua de forma integrada e transversalmente aos outros Programas de

Doenças Transmitidas por Vetores, compondo o sistema de inteligência entomológica e

operação de controle do estado.

Atualmente a equipe de vigilância epidemiológica do Programa das

Leishmanioses na Secretaria de Estado de Saúde é composta de 4 técnicos, sendo um

médico veterinário, dois biólogos e uma enfermeira. A responsável pela equipe do

Programa das Leishmanioses, uma médica veterinária que desenvolve suas atividades

desde 2001. Destaca-se que a mesma acompanhou todo o processo de reformulação do

programa nacional e que em 2003 enfrentou a epidemia da LV no município de Palmas.

Page 106: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

105

Figura 14 – Estrutura Organizacional da Vigilância Entomológica e do Programa de Leishmaniose Visceral da SES Tocantins

VIGILÂNCIA

EPIDEMIOLÓGICA

Imunização

Doenças Vetoriais e

Zoonoses

Rede de

Frio

Imunoprev.

DST/AIDS

DDA, Veic.

Hid. e Alim.

Crônicas

Fator de Riscos e Proteção

Doenças

Transmissíveis

Doenças não

Transmissíveis

Entomologia

Dengue e Febre

Amarela

Vig.

Hospitalar

Vig. Saúde do

Índio

Meningite, Tracoma e

Hepatite

Pneumologia

Sanitária

Dermatologia

Sanitária

Malária

Zôo e Animais

Peçonhentos

Op. De Campo e UBV

Chagas

Leishmaniose

Eventos Adversos

Violências e

Acidentes

Page 107: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

106

O Núcleo Estadual de Entomologia Médica é composto de 15 profissionais,

sendo dois técnicos de nível médio e os demais biólogos. A organização da equipe se dá

a partir da execução das atribuições de cada profissional que estão relacionados ao

desenvolvimento de atividades especificas dos Programas de Dengue, Febre Amarela,

Doença de Chagas, Malária e Leishmanioses, sendo que em situações emergenciais, se

necessário, todos se envolvem em diferentes atividades.

Na Gerência do Núcleo de Insumos Estratégicos e Operação de Campo atuam

quatro profissionais com elevada experiência no planejamento e avaliação das ações de

controle vetorial, que dentre as inúmeras funções, destaca-se o suporte aos programas

de doenças transmitidas por vetores, controle de insumos químicos, aquisição de

equipamentos de proteção individual, manutenção de equipamentos, capacitação de

recursos humanos, além de assessoria e supervisão das ações junto aos municípios.

Atualmente a equipe de vigilância entomológica do programa foi ampliada em

função do concurso realizado no ano anterior (2009), sendo recrutados dois

profissionais biológicos para atuar em conjunto com os dois já existentes. Destaca-se

que no período do estudo a equipe nova encontrava se em treinamento.

Foi possível, durante a oficina sentir dos técnicos certa apreensão do que poderia

acontecer com a equipe no próximo ano, em função da mudança de governador, que

consequentemente muda a gestão na SES e às vezes no corpo técnico. Alterando toda a

proposta de organização, distribuição de atribuições, que consequentemente refletiria

nas ações do PVC-LV e da própria realização das atividades de vigilância

entomológica. Destaca-se que, apesar das dificuldades relatadas pela equipe, todos

acreditavam que os avanços que conquistaram na gestão atual foram em função do

reconhecimento da importância desse componente no programa, bem como pela grave

situação epidemiológica da LV no estado.

Análise dos indicadores de implantação das ações de VE do componente estrutural

e insumos

Para análise do comportamento dos indicadores da estrutura e insumos das ações

de vigilância entomológica, no que diz respeito a conformidade foi aplicado um check-

list e questões junto aos participantes durante a oficina.

Quanto a “Existência de estrutura de vigilância entomológica instituído a SES”

ficou demonstrado que a vigilância entomológica teve o seu devido reconhecimento a

Page 108: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

107

partir do momento em que a Gerência de entomologia foi apresentado em organograma

da Secretaria com a implantação de um laboratório com estrutura física alocado

exclusivamente para este fim. Chama atenção a criação da Gerência de Operação de

Campo e Insumos Estratégicos, representando o mesmo nível de importância que as

demais gerências. Atualmente a configuração desse organograma não está publicado em

decreto.

As “Condições da estrutura física do laboratório de entomologia adequados com

as normas técnicas” foram consideradas “ruins” em função de não contemplar as

exigências de normas de biossegurança quando da implantação do mesmo. Destaca-se

que parte do grupo discordou por não levar esse item em consideração, evidenciando o

desconhecimento dos fatores de risco de saúde do trabalhador. Algumas condições e

ações que esse setor oferece, chegou-se ao consenso, por entender que a responsável

pelo laboratório conhece bem dessas normas. Chamou-se a atenção para os conceitos de

normas adequadas para os laboratórios de entomologia, e que o laboratório em questão

precisa de muitos ajustes para sua devida adequação. Ressalta-se que o laboratório de

entomologia contemplou uma sala para a administração e o escritório, uma sala para

almoxarifado, uma sala para coleção entomológica, banheiro, copa e o próprio

laboratório de entomologia, contendo bancadas de madeira em MDF, cadeiras e

armários. O espaço físico é amplo com capacidade para 07 técnicos na bancada.

Quanto a “Disponibilidade de material de consumo em tempo oportuno (pilhas,

baterias, reagentes de laboratório)”, foi informado que no momento não estavam em

falta nenhum insumo básico. Porém acrescentaram que mesmo que se faça o

planejamento antecipado, geralmente há um momento que os insumos acabam, pois os

processos de aquisição são morosos e muitas vezes não apresentam concorrentes nos

processos de licitação inviabilizando a finalização do processo.

Em relação ao indicador “Disponibilidade de veículos para as ações de

vigilância entomológica” no estado, bem como “manutenção periódica dos veículos” o

grupo sugeriu que não é possível avaliar, pois todos os veículos ficam em uma

coordenação de transporte, não sendo possível obter um número exato. Apenas

ressaltaram que sempre são atendidos em suas programações desde que feita de forma

antecipada. E quanto a manutenção dos mesmos acredita-se que é uma prioridade do

setor, pois é observada a conservação dos carros adquiridos há mais tempo. Foi

informado pela autora que o Ministério da Saúde disponibilizou duas caminhonetes

cabine dupla para a SES em 2005.

Page 109: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

108

A “Agilidade nos processos de pagamento de diárias” foi considerada ótima nos

dias atuais, pois era um problema muito sério há dois anos em que os técnicos quase

sempre viajavam para os municípios sem receber as diárias antecipadas e demorava de

semanas a meses, comprometendo as ações e constituindo em fator desmotivador para

os técnicos em realizar os trabalhos de vigilância entomológica.

No que refere à “Disponibilidade de recursos de informática (computador e

impressora), apesar de responderem que sim, destacaram que não há quantidade

suficiente para cada um dos profissionais que trabalham na equipe, tendo os mesmos

que dividir o equipamento disponível. Porém há que destacar que há no total 4

computadores e todos conectados a internet para a equipe de entomologia.

O “Nº de profissionais capacitados para realização de ações de vigilância

entomológica” foi separado entre os capacitados para realizar as ações de campo e os

que executam ações de campo e laboratório, pois nem todos que atuam nas ações de

vigilância entomológica foram capacitados para identificação de flebotomíneos. É

importante destacar que quatro profissionais biólogos atuam diretamente nas atividades

de vigilância entomológica de flebotomíneos, realizando atividades de campo e

laboratório, capacitação de recursos humanos, assessoria e supervisão junto aos

municípios.

No que se refere aos materiais entomológicos existentes foi apontada que do

total de armadilhas luminosas CDC existentes (140) apenas 80 estavam com estado de

conservação ideal para as atividades. Sendo que as demais haviam esgotado o tempo de

vida útil do motor não sendo possível a reposição do mesmo, pela dificuldade de

adquiri-los nos processos de compra. Infelizmente essas armadilhas são desprezadas,

não servindo mais para coleta de insetos, por não ter um departamento para manutenção

e recuperação das mesmas nas secretaria estadual e municipais de saúde.

Dois dos quatro microscópios entomológicos eram inadequados para as ações de

identificação de flebotomíneos devido a estrutura dos mesmos que não permitia o apoio

das mãos para a montagem dos insetos em lâminas, sendo que os mesmos foram

adquiridos pela SES. Os dois considerados adequados foram doados do Ministério da

Saúde, resultante do plano investimento feito pelo PVC-LV/ em 2004/2005 na

estruturação dos laboratórios de entomologia.

Quanto a “Proporção de recursos PFVS aplicados nas atividades de VE”, não foi

possível obter a soma. Apenas referiram-se apenas a estimativa de valores gastos com

Page 110: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

109

diárias e equipamentos de forma anual, pois no relatório de gestão esse item é

contemplado por agravo.

Os resultados da aplicação do check-list contendo questões relacionadas aos

indicadores de estrutura estão representados nos quadros 7 e 8.

Quadro 7 – Análise dos indicadores qualitativos – ESTRUTURA Indicadores Fontes de

verificação

Obs. Para

discussão

Existência de estrutura de vigilância entomológica ligado ao

LACEN, VA, VE, (laboratório, departamento, gerência técnica)

Decreto,

Portaria,

Organograma

SIM ( X )

NÃO ( )

Disponibilidade de profissional de nível superior responsável para

VE de flebotomíneos Check list SIM ( X )

NÃO ( )

Condições da estrutura física do laboratório de entomologia de

acordo com as normas técnicas (Normas de biossegurança (espaço

físico, bancada, sala de coleção, pia, capela exaustão, cadeiras

para bancada, etc adequados.)

Check list RUIM ( X )

BOA ( )

ÓTIMA ( )

Disponibilidade de material de consumo em tempo oportuno (pilhas,

baterias, reagentes de laboratório) Check list SIM ( )

NÃO ( X )

Disponibilidade de veículos para atividades de campo

Check list SIM ( X )

NÃO ( )

Manutenção periódica dos veículos

Check list SIM ( )

NÃO ( )

Agilidade nos processos de pagamento de diárias

Check list RUIM ( )

BOA ( )

ÓTIMA ( X )

Disponibilidade de recursos de informática (computador e

impressora) para processamento dos dados (Sistema de Informação)

implantado

Check list SIM ( X )

NÃO ( )

Disponibilidade de acesso a internet

Check list SIM ( X )

NÃO ( )

Quadro 8 – Análise dos indicadores quantitativos - ESTRUTURA Indicadores Fontes de

verificação

Obs. Para discussão

Nº de profissionais capacitados para realização de ações de

vigilância entomológica (campo)

Ckeck-list 13

Nº de profissionais capacitados para realização de ações de

vigilância entomológica (laboratório e análise das informações)

Ckeck-list 04

Nº de armadilhas luminosas CDC

Ckeck-list NºAdequado (80 )

Nº Inadequado (50 )

Nº de Microscópios Bacteriológicos

Ckeck-list NºAdequado (04 )

Nº Inadequado ( )

Nº de Microscópios Entomológicos

Ckeck-list NºAdequado (02 )

Nº Inadequado (02 )

Proporção de recursos PFVS aplicados nas atividades de VE do

PVC-LV

Relatório

Gestão

Não foi possível obter

na ocasião, mas os

técnicos informaram

que é possível levantar

Page 111: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

110

Para descrição das ações do processo de trabalho e análise da conformidade das

ações as informações apresentam-se de forma seqüencial seguindo as etapas adotadas

pela equipe das vigilâncias epidemiológica, entomológica e operação de campo, com

destaque para depoimentos que foram relevantes para contextualizar as falas de cada

participante da oficina.

Com relação ao planejamento das ações de vigilância e controle da leishmaniose

visceral na SES, observa-se uma sintonia entre os técnicos, que mesmo estando em

ambientes separados isso não é um fator limitante para a discussão e acompanhamento

das ações. Destaca-se que as programações anuais das ações de VE pela Secretaria

Estadual de Saúde de Tocantins são feitas sempre em conjunto com a equipe da

vigilância epidemiológica em que as seguintes etapas são cumpridas:

• Planejamento a partir da classificação epidemiológica dos municípios,

estabelecendo anualmente os prioritários;

• Pactuação das ações e metas na PAVS;

• Realização de reuniões ou oficinas de planejamento para elaboração dos Planos

de Trabalho com os municípios prioritários para LV e definições de ações de

vigilância entomológica e controle vetorial, além das demais ações do programa;

• Realização das atividades de vigilância entomológica nos municípios definidos;

• Identificação dos flebotomíneos e consolidação dos dados no sistema de

informação local (planilhas eletrônicas);

• Análise das informações entomológicas;

• Elaboração de relatórios e divulgação das informações para SES e SMS;

• Ações de acompanhamento e supervisão junto aos municípios.

A partir do planejamento estabelecido, mensalmente são feitas as programações

de viagens pela Coordenação de Doenças Vetoriais e Zoonoses para realização das

atividades de entomologia.

Quando da realização das atividades de vigilância entomológica nos municípios,

a equipe geralmente é composta por representantes das gerências da vigilância

epidemiológica do Programa das Leishmanioses e da Operação de Campo/Insumos

Estratégicos.

Page 112: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

111

“Essa experiência é muito positiva, pois possibilita para nós da vigilância

epidemiológica entender melhor as ações da entomologia e valorizar mais a

importância das informações por ela produzidas”

(participante da vigilância epidemiológica 1)

“Em um dos levantamentos entomológicos que fizemos nos deparamos com a

situação atípica. Os colegas ficaram estarrecidos porque nunca tinha feito esse tipo de

atividade e não imaginava que poderíamos capturar mais de 11.000 flebotomíneos em

três noites de coleta.

(participante da vigilância entomológica 2)

Antes da visita aos municípios para realização de ações de entomologia, a equipe

de saúde é informada pela SES com antecedência seja por meio ofício, contato

telefônico ou e-mail sobre os objetivos da visita da equipe técnica do programa.

A gente nunca vai ao município sem antes avisar a equipe, pois isso favorece a

organização do trabalho quando a gente chega. Reunimo-nos com os profissionais do

município para apresentação do programa e logo solicitamos o apoio para seleção dos

pontos de coleta e instalação das armadilhas.

(participante da vigilância entomológica 1)

A programação de viagem, geralmente é feita para permanências dos técnicos

durante quatro dias nos municípios, sendo o primeiro para apresentação das ações do

Programa, visitas as unidades de saúde (UBS, CCZ, Hospital de Referência).

No município inicialmente é feito uma reunião com a equipe de saúde para

informar sobre os objetivos da visita, ocasião em que requer o envolvimento dos

profissionais do município, especialmente os agentes de saúde e de endemias. Esses

profissionais, por conhecer profundamente a situação da sua área de abrangência, são

responsáveis por disponibilizar mapa ou croqui da área em que atuam, facilitando assim

a identificação prévia de locais potenciais para instalação das armadilhas.

“Eles (os agentes) sempre tem um mapa ou croqui por micro-área. Se não tem

do programa da Dengue, tem da ESF, de forma que a gente consegue realizar uma boa

amostragem dos municípios, utilizando na maioria das vezes, duas armadilhas por

micro-área”

Page 113: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

112

(participante da vigilância entomológica 1)

A coleta de flebotomíneos é feita conforme recomendações do Ministério da

Saúde, utilizando-se de duas a dez armadilhas por localidade. Vale destacar que 83%

(116/139) dos municípios do estado do Tocantins tem população inferior a dez mil

habitantes e destes 64% (75/116) dos municípios tem menos de cinco mil habitantes.

Diante disso são caracterizados de pequeno porte, portanto, em média são instaladas 15

armadilhas na zona urbana, sendo esse quantitativo suficiente para representar todos os

setores/localidades em situações do levantamento entomológico do município,

conforme as orientações contidas no manual de LV. Para seleção dos pontos de captura

são utilizados as orientações de domicílios contendo animais domésticos,

preferencialmente galinheiros, pocilgas e canis.

Como o padrão de transmissão da LV no estado é urbano, as pesquisas

entomológicas são prioritariamente voltadas para este ambiente. A zona rural

geralmente é representada nessas atividades, seja por ocasião de registro do primeiro

caso humano, por solicitação da equipe do município para levantamentos

entomológicos.

A separação e triagem dos insetos é feita no próprio município, possibilitando

assim que os profissionais de saúde do município possam conhecer os flebotomíneos e

tenham noção da situação das áreas com alta densidade do vetor. Além disso, podem

observar que nem sempre uma condição climática desfavorável, significa que não

encontrará esses insetos, pois a sua presença depende muito das condições

microclimáticas e de saneamento ambiental. O que torna esse momento especial para

difundir o conhecimento para os técnicos de atuação no nível local.

Após retorno ao laboratório, o processo de clarificação, diafanização e

identificação dos insetos é feito no tempo mínimo de dois dias e no máximo uma

semana. Em seguida é elaborado relatório técnico contendo as informações encontradas,

análise dos indicadores entomológicos por local de coleta e conseqüentemente as

recomendações. O relatório é confeccionado no máximo em 30 dias. É encaminhado

para o município, solicitando ampla divulgação das informações para os profissionais

de saúde e população.

Antes da reformulação do Programa, em 2003 foram realizadas ações de

vigilância entomológica flebotomíneos do PVC-LV em alguns municípios do estado,

porém a atual gestão do Programa não considerou as informações contidas em relatórios

Page 114: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

113

da FUNASA em função de desconhecer as metodologias utilizadas, e que não

permitiam definir os indicadores produzidos, exceto a presença do vetor. Além da

dificuldade de localizar esses documentos nos distritos sanitários (Porto Nacional e

Tocantinópolis). Atualmente a estrutura e os profissionais fazem parte do município e

muitas informações se perderam no tempo.

Em 2003, a primeira ação de vigilância entomológica baseada na metodologia

proposta pelo Ministério da Saúde após a reformulação do programa foi em um

município com registro do primeiro caso, um mês após a apresentação do manual de LV

na Reunião Nacional das Leishmanioses, (novembro) no município de Taipas. Foram

pesquisadas todas as micro-áreas na zona urbana e uma localidade rural, no total foram

instaladas 9 armadilhas e autoctonia confirmada. Destaca-se que as ações de

investigações entomológicas sempre foram acompanhadas simultaneamente de

levantamentos entomológicos pela equipe de entomologia estadual. O objetivo sempre

foi de otimizar os recursos e ampliar as ações aproveitando o tempo e os técnicos no

município.

No ano de 2004 o Núcleo de Entomologia realizou levantamentos

entomológicos em municípios com transmissão de LV que até então não tinha sido

realizadas investigações anteriores, destacando que as metodologias utilizadas eram as

recomendadas pelo MS. Os municípios pesquisados foram Wanderlância, Darcinópolis,

Palmeiras do Tocantins, Cristalândia. Em Paranã, São Salvador, Centenário, Alvorada,

São Bento, Novo Acordo, Porto Alegre, Pedro Afonso e Brasilândia foram realizadas

investigações entomológicas, a fim de confirmar a autoctonia dos respectivos

municípios com registro do primeiro caso humano naquele ano. A autoctonia não foi

confirmada para os municípios de São Bento e Pedro Afonso.

As ações de monitoramento entomológico também foram iniciadas em 2004,

sendo selecionados os municípios de Araguaína, Cristalândia, Palmas e Tocantinópolis

e Porto Nacional estes considerados de transmissão intensa ou moderada da LV,

localizados em diferentes regiões fisiográficas. O município de Porto Nacional iniciou

as ações de ME, porém foram interrompidas em 2005. Destaca-se que a equipe de

entomologia no município atualmente é composta por dois profissionais que foram

cedidos pela Funasa e que participaram de vários cursos voltados para coleta e

identificação de flebotomíneos, entretanto os mesmos não mantinham regularidade na

realização dessas atividades. Por possuir laboratório de entomologia estruturado a

equipe de Palmas executa as ações de vigilância entomológica do PVC-LV no próprio

Page 115: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

114

município, desde 2004 com a implantação do monitoramento entomológico que

estendeu até julho de 2006.

Em 2005 foram realizadas ações de levantamento entomológico em 10

municípios, sendo Araguacema, Araguanã, Babaçulândia, Xambioá, Dianópolis,

Divinópolis, Fátima considerados de transmissão esporádica no período. As

investigações entomológicas para os municípios com registro do primeiro caso foram

realizadas em Maurilândia, Jaú, Porto Alegre, Almas e Lagoa da Confusão. Na ocasião

também foram realizadas ações de levantamento entomológico na zona urbana e rural a

fim de conhecer a presença e distribuição do vetor. No total foram pesquisadas 98

localidades neste ano. Destaca-se que não possível confirmar a autoctonia do caso por

meio do encontro do vetor no município de Lagoa da Confusão, entretanto considerando

a investigação epidemiológica o caso para esse município.

No ano de 2006 durante as ações de investigações entomológicas foram

realizadas ações de levantamento entomológico em 40 localidades dos municípios de

Ananás, Carrasco Bonito e Pequizeiro, sendo que estes registraram pela primeira vez

casos de LV humana no município. A autoctonia dos casos foi confirmada em todos

esses municípios a partir da investigação epidemiológica dos casos e do encontro do

vetor.

Onze municípios tiveram levantamentos entomológicos realizados no ano de

2006, totalizando 132 localidades pesquisadas para o vetor da LV, possibilitando

conhecer a presença e distribuição do vetor nos municípios, bem como o planejar as

atividades de prevenção e controle do vetor.

No ano de 2007 o Núcleo de Entomologia da SES realizou investigações e

levantamentos entomológicos nos municípios de Araguanã, Bandeirantes, Couto

Magalhães, Juarina e Palmeirante perfazendo um total de 52 localidades pesquisadas.

Além disso, realizou-se levantamento entomológico em 8 municípios considerados com

transmissão de LV e que ainda não tinham sido feitas pesquisas para o vetor.

Em 2008 dez municípios foram pesquisados por meio de investigações

entomológicas. No total foram 104 localidades pesquisadas. Sessenta e uma localidades

tiveram levantamento entomológico para LV, que corresponde a 6 municípios

pesquisados. Em nenhum município foi realizado monitoramento entomológico em

2008 em virtude do término dessa atividade que iniciou em 2006 e nenhuma

programação para outros municípios.

Page 116: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

115

A partir da implementação das ações de VE no estado do Tocantins a

coordenação estadual disponibiliza a caracterização dos municípios segundo

estratificação epidemiológica e entomológica do estado, inclusive consegue priorizar

essas ações para os municípios sem transmissão que ainda não foram pesquisados.

Conforme apontado anteriormente as ações de vigilância entomológica do

programa das leishmanioses integram a PAVS. De acordo com os relatórios de gestão

(2003-2009), consta na Tabela 01 as metas das ações de vigilância entomológica

programadas e executas pela SES-TO.

Tabela 01: Ações de vigilância entomológica programadas e executadas pela Secretaria

de Estado da Saúde do Tocantins, PAVS, 2003-2009.

ANO/AÇÃO PROGRAMADO EXECUTADO

% LE IE ME LE IE ME

2003 9 1 0 9 1 0 100%

2004 22 9 5 14 9 5 77,8%

2005 15 6 5 10 4 4 69,2%

2006 7 6 5 12 4 4 111,1%

2007 10 6 3 8 5 0 68,4%

2008 6 6 0 6 10 0 133,3 %

2009 10 6 0 8 8 0 100%

TOTAL 79 40 15 67 41 13

LE – Levantamento Entomológico; LI – Investigação Entomológica; ME – Monitoramento Entomológico

Observa-se uma redução do número de municípios programados para as ações

de levantamento entomológico, isto se deve ao fato de que para atingir a meta da PAVS

os técnicos tem diminuído o número de municípios planejados, fazendo com que as

metas sejam sempre alcançadas. A capacidade de ampliação das ações existe, porém ela

não se efetiva porque depende da priorização dessas atividades pelos gestores, o que

não tem acontecido. Porém tem outro lado positivo por parte da SES-TO que é a

dedicação em concluir as ações, buscando a qualidade da ação e a real aplicabilidade

das informações da VE.

Anualmente é feito o relatório de gestão das ações do Programa das

Leishmanioses, sendo possível conhecer os municípios contemplados pela vigilância

Page 117: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

116

entomológica do PVC-LV e consequentemente identificar a presença e distribuição do

vetor no estado.

É importante considerar que a descrição da organização do trabalho das ações de

vigilância entomológica no estado do Tocantins no texto considerou-se o

desenvolvimento das ações desde a reformulação do programa, em 2003 e o

comportamento dos indicadores nos quadros baseou nos resultados alcançados em 2009.

Os resultados da aplicação do check-list contendo questões relacionadas aos

indicadores de processo estão representados nos quadros 9 e 10.

Quadro 9 – Análise dos indicadores qualitativos - PROCESSO Fontes de

verificação

Obs. Para

discussão

Uso de protocolo/normas técnicas do MS para realização das ações de

VE nos municípios Check list SIM ( X )

NÃO ( )

Planejamento anual das ações de vigilância entomológica por

município Check list SIM ( X )

NÃO ( )

Disponibilidade para participar de reuniões técnicas e de avaliação do

programa Check list SIM ( X )

NÃO ( )

Existência de articulação/integração entre a entomologia,

epidemiologia e operação de campo (Atividades para planejamento e

acompanhamento das ações)

Check list RUIM ( )

BOA ( X )

ÓTIMA ( )

Abordagem a equipe de saúde do município para realização das ações

de VE – (reunião para esclarecer objetivos,metodologia e

envolvimento dos agentes)

Check list SIM ( X )

NÃO ( )

Registros das informações realizadas (boletins de campo, laboratório)

Check list SIM ( X )

NÃO ( )

Existência de fluxo de informações implantado (SMS – SES – MS)

Check list SIM ( )

NÃO ( )

Facilidade em elaborar relatório técnico entomológico

Check list SIM ( X )

NÃO ( )

Compromisso em disponibilizar resultado das pesquisas

entomológicas após visita a município – Relatório Check list SIM ( X )

NÃO ( )

Disponibilidade de mapa contendo distribuição do vetor no estado

Check list SIM ( X )

NÃO ( )

Manutenção dos equipamentos de campo e laboratório necessários

para realização das ações de vigilância entomológica Check list SIM ( X )

NÃO ( )

Quadro 10 – Análise dos indicadores quantitativos - PROCESSO Indicadores Fontes de

verificação

Obs. Para

discussão

Nº de municípios com transmissão que realizaram ação de

levantamento entomológico/ano Relatório

gestão

9

Nº de municípios sem transmissão que tiveram ação de

levantamento entomológico/ano (apoio para caracterização

quanto a receptividade da LV)

Relatório

gestão

1

Nº de município com implantação de monitoramento

entomológico – Sazonalidade estabelecida Relatório

gestão

4

Tempo médio (em dias) de processamento – coleta, identificação e liberação do relatório

Check list Entre 14 a 30

dias

Proporção de municípios que tem a implementação das ações de

vigilância entomológica definida a partir da base territorial. % 100

Nº de reuniões técnicas envolvendo técnicos da epidemiologia e Check list 1 Mês ( X )

Page 118: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

117

operação de campo para o planejamento e acompanhamento das

ações 1 Trimestre ( )

1 Ano ( )

No que se refere aos indicadores de nível local (Quadros 11 e 12) não foi

possível aprofundar a discussão, primeiramente por não ser possível obter dos técnicos

uma análise sobre os indicadores de vigilância entomológica. No relatório das ações de

levantamento e investigação entomológica, por município até possui resultados dos

indicadores do índice de localidades positivas e a abundância relativa do vetor,

entretanto até o momento não se tem uma análise aprofundada dos dados de

entomologia a partir da base de dados que foram levantados e encontram-se acumulados

ao longo desses sete anos após a reformulação do programa.

Apesar das ações de vigilância entomológica serem consideradas recentes, há

necessidade de um olhar interdisciplinar dos fatores determinantes para a ocorrência da

LV nas unidades territoriais com maior relevância epidemiológica, de forma a

identificar elementos de “controle estratégico”. Esse deve ser o foco dos gestores e

técnicos que atuam nos diferentes níveis de gestão do programa.

O manual de LV está sob revisão, desde 2010 e é preciso que uma nova versão

seja apresentadas com experiências que permitam o aperfeiçoamento das ações,

especialmente relacionados aos parâmetros da infestação do vetor nas áreas de maior

ocorrência da LV.

Os dados entomológicos encontram-se armazenados em planilhas Excell® e fica

sob a responsabilidade do Núcleo de Entomologia da SES-TO.

Os dados acumulados pela vigilância entomológica do Programa de LV

constituem uma série histórica de dados até o momento levantadas, que por meio de

uma análise aprofundada e aplicação de testes estatísticos será possível obter uma

padrão de distribuição e freqüência dos indicadores propostos pelo PVC-LV. Assim

discutir questões referentes aos indicadores de resultados visando estabelecimento de

padrões de comportamento dos mesmos e dessa forma obter referências para o controle

estratégico da doença no estado do Tocantins assim estabelecer o aperfeiçoamento

dessas informações que permitirá o melhor direcionamento das ações de prevenção e

controle da LV nos municípios.

Page 119: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

118

Monitoramento nível Municipal e Local

Quadro 11 – Análise dos indicadores quantitativos - RESULTADOS

Indicadores Indicador/Base de cálculo Obs. Para

discussão

Fontes de

verificação

Índice de positividade das Unidades de Vigilância Local – UVL

Uso: Medir a dispersão do vetor e a extensão do risco de transmissão

no âmbito do município.

Nº UVL com Lu. longipalpis/Lu. cruzi X 100 Nº de UVL positivas

% por UVL

Relatórios

Infestação domiciliar:

Uso: Permite avaliar a magnitude da infestação no município e sua

dispersão no município

Nº de domicílios positivos para Lu. longipalpis/ Lu. cruzi X 100 Nº de domicílios pesquisados

% por domicilio Relatórios

Abundância relativa do vetor

Uso: Conhecer a média de vetor por domicílio.

Ao longo do tempo, permite avaliar as intervenções realizadas.

Nº de Lu. longipalpis/Lu. cruzi coletados (intra e peri) Nº domicílios pesquisados (intra e peri)

Média

Relatórios

Quadro 12 – Análise dos indicadores qualitativos - RESULTADOS INDICADORES

Obs. Para discussão Fontes de verificação

Sazonalidade do vetor estabelecida (Monitoramento Entomológico)

Apresentar a média mensal do

vetor por município com ME Boletim Epidemiológico

Disponibilidade de mapa contendo distribuição do vetor no município

Apresentar a distribuição espacial

dos indicadores por UVL em

mapa

Boletim Epidemiológico

Facilidade de ter acesso as informações das pesquisas entomológicas por parte da equipe da vigilância

epidemiológica e da operação de campo

SIM ( X )

NÃO ( )

Check list

Planejamento das ações de controle levam em consideração os indicadores entomológicos

SIM ( X )

NÃO ( )

Check list

Page 120: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

119

Situação epidemiológica da LV no estado do Tocantins

No período de 2005 a 2010, foram confirmados 2.159 casos de LV no Tocantins.

Entre os anos de 2005 e 2009 os casos da doença no Estado representaram 47% da

ocorrência na Região Norte e 9,7% no país. O Tocantins está entre os 10 estados com

maior registro de casos2 e a letalidade média neste período foi de 6%.

Comparando-se os casos confirmados registrados em 2006 ao mesmo período em

2007 e 2008, verifica-se um aumento de 70 e 94,5%, respectivamente (Gráfico 5).

Os municípios de Araguaína (n=880), Palmas (n=216), Porto Nacional (n=153),

Araguatins (n=148), Paraíso do Tocantins (n=102) e Tocantinópolis (n=77) juntos,

representaram 72,9% do total de casos confirmados no período avaliado. Visando a

intensificação das ações de vigilância e controle da LV, o Ministério da Saúde, repassou

incentivos financeiros, em 2008 para os 6 municípios acima relacionados, em 2009

somente para Araguaína e em 2010, para Araguatins e Araguaína.

As ações executadas foram programadas em conjunto com as equipes municipais de

saúde através da elaboração de Planos de Trabalho, no qual a partir da definição das áreas de

risco foram programadas as atividades de controle químico, inquérito canino e recomendação

de manejo ambiental, determinando a redução dos casos observados nos anos de 2009 (11%) e

2010 (28,8%) (Gráfico 5).

Figura 15 – Número de casos, óbitos e taxa de letalidade de leishmaniose visceral.

Tocantins, 2005 a 2010.

Fonte: SINAN/SIM/SESAU/TO.

Page 121: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

120

De acordo com a classificação epidemiológica adotada pelo Ministério da Saúde,

O Estado apresentou 78 municípios com transmissão de LV no período de 2008 a 2010,

dos quais 24,3% foram considerados prioritários para o desenvolvimento das ações de

vigilância e controle vetorial e de reservatórios domésticos, além das demais ações

recomendadas.

Para análise da vigilância entomológica no estado do Tocantins foi considerada

as ações realizadas o período de 2003-2009, portanto tem-se a seguinte situação:

a) 78 apresentam transmissão de LV humana autóctone, destes 12 são de transmissão

intensa, 7 de transmissão moderada e 58 de transmissão esporádica;

b) Dos 62 municípios sem transmissão 39 são classificados como Vulnerável;

c) 21 municípios são classificados como Vulnerável Receptivo, sendo que a presença

do vetor foi confirmada na maioria deles por meio de investigação entomológica

quando do registro do primeiro caso humano de LV. Atualmente esses municípios

não tem registro de casos humanos de LV;

d) Apenas um município é classificado como Não Vulnerável (Araguaçu). Porém

pesquisas entomológicas ainda não foram implementadas até o momento para

verificar a receptividade da LV no município;

e) Sandolândia é o único município classificado como Não Vulnerável e Não

Receptivo, até o momento e teve o levantamento entomológico no ano de 2007,

quando ocorreu um surto de LTA. Na ocasião a pesquisa realizada na área urbana

não encontrou o Lutzomyia longipalpis;

f) Em 83 municípios foi detectada a presença do vetor resultantes das atividades de

vigilância entomológica no período de 2003 até 2009.

Page 122: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

121

Figura 16 – Situação epidemiológica da leishmaniose visceral no estado do Tocantins,

2010.

Nota: Dados não publicados, cedidos pelo Núcleo de Entomologia da SESAU-TO, 2010.

A ação de vigilância sobre o reservatório canino da leishmaniose visceral de

forma contínua, de periodicidade no mínimo mensal, permite ao município verificar se a

LV está circulando, já que a enzootia canina tem precedido a ocorrência de casos

humanos, além de identificar os cães infectados para a realização da eutanásia e ainda

avaliar a prevalência. No período de 2008 a 2010, foram examinados 95.823 cães, sendo

que destes, 25.494 tiveram diagnóstico laboratorial confirmado. O número de

municípios que realizou essa ação aumentou gradativamente, passando de 63 em 2008

para 87 municípios em 2010, porém, em contrapartida, também observou-se uma

redução gradativa no número de cães examinados, passando de 35.997 em 2008, para

25.856 em 2010.

Considerando que o cão é a principal fonte de infecção, é imprescindível que os

municípios prioritários cumpram suas programações de inquérito canino, como também

que os demais municípios, de transmissão esporádica e sem transmissão, realizem a

vigilância canina, o que certamente contribuirá para a diminuição dos riscos de

transmissão da LV.

Page 123: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

122

O controle químico vetorial foi realizado nos municípios de transmissão intensa

e moderada de casos humanos, por meio de 2 ciclos de borrifação. O 1º ciclo iniciando

ao final do período chuvoso e o 2º ciclo, 4 meses após o primeiro ciclo. De um modo

geral, na avaliação do controle químico referente ao período de 2008 a 2010, poucos

municípios prioritários conseguiram realizar essa atividade com bom desempenho,

alcançando pelo menos de 75% do total de imóveis programados. Em 2008 foram

borrifados 69% dos imóveis programados e em 2009, a ação teve um desempenho ainda

mais baixo chegando a 40,2%. Ressalta-se que em 2010 o Ministério da Saúde inseriu

na Programação das Ações de Vigilância em Saúde, PAVS, a ação de controle químico,

sendo o ano onde se verificou o pior desempenho, com a borrifação de apenas 38% dos

imóveis programados (Figura 17) .

Figura 17 – Imóveis borrifados nos municípios prioritários para o controle da

leishmaniose visceral. Tocantins, 2008 a 2010.

Fonte: Relatórios Mensais das Atividades de leishmaniose Visceral em Áreas

Prioritárias/SESAU/TO.

95.092

122.896 123.240

65.638

49.426 46.840

69,0

40,2 38,0

0,0

20,0

40,0

60,0

80,0

100,0

0

20.000

40.000

60.000

80.000

100.000

120.000

140.000

2008 2009 2010

Per

cen

tual

de

imó

veis

bo

rrif

ado

s

mer

o d

e im

óve

is

Nº imóveis programados

Nº imóveis borrifados

Page 124: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

123

6 DISCUSSÃO

As ações de vigilância entomológica deverão ser precursoras das ações de

prevenção e controle ao vetor, o que requer o fortalecimento dessas ações em nível

regionalizado por estado e até mesmo descentralizado para os municípios que tem

estrutura física e recursos humanos com capacitação técnica de implantar e dar

sustentabilidade a essas ações.

Uma critica global da situação da implantação das ações do Programa de

Vigilância e Controle da LV, especialmente sobre as ações de vigilância entomológica

visto, a complexidade da sua operacionalização, aliada a profundas diferenças de infra-

estrutura dos serviços de saúde, pode ser feita, e nem sempre refletirá a gravidade das

situações regionais e locais. Porém, esse tipo de análise tampouco valoriza os bons

resultados alcançados até o momento.

Cabe então destacar os bons exemplos que demonstraram capacidade para

superar as limitações e avançar no aprimoramento do programa e das ações. Nesse

sentido, destacar os estados que conseguem vencer essas dificuldades e fazer com que a

vigilância seja antecipada as situações de crises, consequentemente promovendo o

aperfeiçoamento de ações que contemplem o controle estratégico seja cada vez mais

valorizados, mantendo o seu funcionamento, mesmo diante de situações complexas.

Como por exemplo, o baixo investimento financeiro e alto custo operacional na

execução das ações de controle como é o caso do Programa de Vigilância e Controle da

LV. Então a criatividade e ousadia são características que compõem o perfil de

profissionais que se sentem desafiados com situações de pressão.

São Paulo, mesmo sendo um estado populoso, com problemas típicos pelo

grande número de municípios e baixo investimento em recursos humanos na saúde tem

conseguido lograr alguns êxitos quanto a implantação das ações e alcance de alguns dos

principais objetivos da vigilância entomológica. Os avanços e a priorização de outros

agravos não o exclui do grupo que organiza e institucionaliza as ações de determinado

programa a partir das crises e ditadura da emergência. Foi o que aconteceu com o estado

a partir da entrada da LV em Araçatuba, no final da década de 1990, mesmo com as

dificuldades impostas pela burocracia do serviço público.

Assim como os estados de Mato Grosso do Sul e Tocantins, respectivamente,

que cresceram com a crise das epidemias vivenciadas nos municípios de Três Lagoas

(2007) e Campo Grande (2007) e Palmas (2003) e Araguaína (2008).

Page 125: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

124

Campo Grande, por exemplo, acabou institucionalizando um laboratório de

entomologia dentro do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) para que as ações de

levantamento e monitoramento entomológico fossem implantadas sistematicamente.

Inclusive estudos de mapeamento do vetor e da distribuição sazonal foram realizados

pela equipe e os resultados encontram-se publicados em artigos científicos e boletins

epidemiológicos. Dessa forma sendo possível o conhecimento do período de maior

densidade do vetor e permitindo.

É importante ressaltar que os profissionais desses laboratórios foram treinados

em cursos promovidos pelo MS e Laboratórios de Referência Nacional.

Minas também é outro estado em que as ações do Programa de LV de forma

geral foram fortalecidas, pela equipe de entomologia estadual. Em Belo Horizonte,

Montes Claros, Porteirinha e Janaúba possuem estudos importantes sobre o vetor em

ações desenvolvidas pelo serviço e com a colaboração de pesquisadores do LRN.

Estados que apresentam uma importante situação de transmissão da LV em

muitos municípios como Bahia, Ceará, Pará e Piauí as ações de vigilância entomológica

por parte da equipe estadual até que conseguiu alguns avanços, especialmente de ordem

estruturante, mas a resposta das equipes estaduais precisam de fortalecimento.

Portanto continua havendo necessidade de ter uma metodologia que permita

avaliar e destacar os estados que implantaram as ações, mas que não é possível saber

ainda se estas têm conseguido dar a resposta que os gestores necessitam para

desencadear ações de controle estratégico, especialmente nos municípios prioritários.

Estados como Paraná, Santa Catarina, Acre, Amapá, Amazonas e Rondônia,

especialmente, por não terem registro de casos autóctones de LV ainda não implantaram

sistematicamente ações de vigilância entomológica da LV, especialmente as de

levantamento entomológico a fim de apoiar na caracterização dos municípios quanto a

receptividade da LV (presença do vetor), por entenderem que não pertencem as áreas

com transmissão do agravo e acabam por não fazer ações de vigilância, constituindo um

dos grandes desafios atuais do programa. A dificuldade reside primeiramente em

convencer os técnicos responsáveis pela VE em realizar as referidas ações e segundo em

sensibilizar os gestores em dar as condições para implantação das mesmas.

Esse grupo de estados que ainda não estão direcionando as ações para responder

as seguintes questões: a) quantos municípios são caracterizados em receptivos e não

receptivos, autoctonia da LV e sazonalidade do vetor? b) quais municípios possuem

informações sobre o Lu. longipalpis e/ou Lu.cruzi?

Page 126: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

125

Aqueles estados em que já tem confirmação de casos autóctones de LV também

precisam ampliar as ações para os municípios silenciosos e vulneráveis e urgentemente

se organizar e implantar essas ações de forma integral e sistemática, em que o encontro

do vetor constitui-se em um evento sentinela para a identificação de casos caninos e

humanos de LV.

A implantação das ações da VE do Programa de LV, com análise dos resultados

nos municípios dessas UFs poderiam evitar que situações surpresas fossem vivenciadas,

como foi a experiência do Rio Grande do Sul, quando o município de São Borja

notificou quase que simultaneamente, os primeiros casos caninos de LV, o registro do

vetor e logo em seguida os casos humanos, demonstrando que as ações de vigilância

entomológica poderiam ter servido de alerta para a entrada da LV na região.

É necessário chamar a atenção de que o objetivo do Programa é que ações de

vigilância entomológica sejam utilizadas permanentemente como indicador de

receptividade para as áreas sem transmissão da LV. Sendo, portanto, indicada a sua

implementação em todo o território brasileiro.

Além de fatores relacionados acima há uma série de outros problemas que

persistem e limitam a implantação efetiva das ações de vigilância entomológica de

flebotomíneos nos níveis federal, estaduais e municipais, dentre eles destacam-se:

A resistência no processo de descentralização das ações de vigilância

entomológica para o nível municipal é compreensível até o ponto que o conhecimento e

a capacidade estrutural e técnica instalada seja um fator limitante. Acima desse nível é

possível sim pensar pelo menos a implantação dessas ações de forma regionalizadas nos

estados, especialmente os de grande porte populacional e de grande extensão territorial.

Um erro fundamental será insistir em um modelo de ação executado centralizado, pelo

nível estadual. Pois de fato quem deve fazer a vigilância entomológica são os

municípios. Deve-se buscar uma forma de quebrar a tensão criada no modelo atual e

estimular cada vez mais a descentralização, com capacitações técnicas e fornecimentos

de insumos estratégicos como as armadilhas CDC e materiais entomológicos. Acredita-

se que a aplicação das competências propostas na Portaria 3252/2009 aliada a uma

política de alocação de recursos financeiros do próprio PFVS será capaz de fortalecer e

ampliar as ações de vigilância entomológica do PVC-LV.

A capacitação de profissionais, por meio de uma política ou uma agenda

Page 127: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

126

permanente de cursos voltadas para a formação de recursos humanos, com propósito de

executar ações de vigilância entomológica de serviço e aplicada as ações de controle, é

de importância fundamental. Assim como o aproveitamento funcional dessas pessoas

com bases empregatícias estáveis, com perspectiva de carreira profissional e com

salários razoáveis, constitui uma providencia que deve urgentemente ser desencadeada

pelo setor público, a começar pelo nível federal. A terceirização nesta área tem se

mostrado pouco efetiva e até mesmo desastrosa para atual situação do controle das

doenças transmitidas por vetores no país.

Atualmente muitos dos profissionais que foram capacitados pelo MS e que por

algum tempo tentaram estruturar e manter funcionando as ações de entomologia nos

estados acabam mudando de área, visto as dificuldades para implementar essas ações no

estado e municípios. Imperando a falta de apoio dos gestores estaduais, primeiramente

em reconhecer a gravidade da situação epidemiológica e também dar condições para

que o seu grupo técnico tenha facilidade de programação das ações com acesso a

diárias, veículos e materiais de campo e laboratório. Isso desestimula em continuar

lutando por algo que comprovadamente não tem sido priorizado pelos gestores de

programas de doenças transmitidas por vetores. Se por lado o esvaziamento do serviço

de vigilância entomológica, pelos profissionais que foram contemplados com cursos de

formação sobre o Programa de LV é ruim, pelo investimento feito e pela dificuldade de

substituir esses profissionais, por outro lado tem o aspecto positivo da difusão do

conhecimento daquele técnico em outra área ou região que venha atuar, acreditando que

ele venha continuar na saúde pública.

A ausência de um sistema informatizado para a vigilância dos vetores da

leishmaniose visceral de fato é um grande limitador para que algumas ações se

operacionalizem. Mas primariamente antes de construir uma sistema informatizado com

altos investimentos financeiros se requer uma radical mudança de pensamento entre os

profissionais da área. Que o sistema não irá esgotar a carência de análise de situação

sistemática e exercício para compreensão dos dados. Além do rigor e da qualidade nas

ações de coleta em campo e da observação dos contextos que colaboram para alteração

e comportamento da doença na unidade territorial local. O processo de aprimoramento

do monitoramento das ações de vigilância entomológica requer, antes de tudo, uma

análise critica dos profissionais do programa sobre o que estão fazendo com os dados

acumulados desde a reformulação das ações até o momento atual. O que mudou e em

que melhorou?

Page 128: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

127

Quanto aos processos de trabalho no nível local, nas áreas onde há registro de

casos humanos e ou caninos autóctones é fundamental que se tenha informação sobre os

ciclos de transmissão para a população exposta. Em uma zoonose transmitida por vetor

como a LV, o conhecimento das características epidemiológicas dos casos humanos é

insuficiente para a análise da situação do problema, requerendo também o

monitoramento da enzootia canina e da população do vetor, além da caracterização das

condições ambientais das áreas de transmissão. Identificar o vetor, seu padrão de

distribuição espacial e o período de sua maior presença no peridomicílio nas unidades

territoriais relevantes, associadas a características sócio-econômicas e de moradia da

população, devem ser os principais objetivos das equipes de vigilância entomológica

nos municípios. Aliada a retroalimentação oportuna e discussão das informações para os

municípios pesquisados pelas equipes estaduais ou regionais de entomologia. Portanto,

a relação entre os profissionais do nível estadual e municipal devem equacionar as

necessidades de estabelecimento de fluxos, devolução, transferência dos dados

analisados para os municípios para o devido planejamento das ações de controle

considerando o conjunto de informações produzidas e sua real aplicação nos níveis

locais.

Um banco de dados, análise das informações, relatórios e até mesmo artigos que

respondam as questões sobre: a) qual o índice de áreas/bairros positivos e quais

possuem os maiores níveis de infestação do vetor nos municípios? qual a sazonalidade

do vetor nos municípios endêmicos? quais as condições ambientais dos domicílios que

apresentam maior freqüência de Lu. longipalpis ou Lu.cruzi? Estes são alguns dos

principais problemas que o programa e o seu sistema de informação ainda não

conseguiu resolver após a reformulação.

Primeiramente é preciso que todos entendam a função da informação dentro do

sistema de vigilância e controle da LV, e que não há necessidade de um sistema

informatizado para que as análises sejam realizadas. O planejamento das ações de

controle nos municípios, especialmente no nível local precisa levar em consideração os

indicadores entomológicos. Outro movimento é organização e consolidação de uma

base territorial única que permita a consolidação das informações por unidade de

vigilância local, já que a agregação dos por município dificulta o planejamento das

ações de controle, devido o caráter focal da doença e da sua diversidade epidemiológica

conforme aponta o estudo realizado por Soares (2006). Em alguns municípios essa base

não existe em outros ela existe, porém cada componente trabalha com uma base

Page 129: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

128

territorial diferente. Há necessidade urgente de integrar e consolidar uma base única,

preferencialmente a do PSF.

No estado do Tocantins observou que os indicadores propostos no manual de LV,

especialmente os de “Índice de localidades positivas” e “Abundância relativa do vetor”

são comumente utilizados nos relatórios, entretanto não foi possível analisar o

comportamento desses indicadores nos municípios com atividades de VE realizadas. A

dificuldade deve-se ao fato dos dados estarem armazenados em planilhas Excell®,

dificultando uma análise mais sofisticada com programas como o Epi Info®, Map

Info®.

Os dados do serviço sobre a sazonalidade do vetor até que se consolidou, porém

não foi possível observar nesse estudo se essas informações tem sido utilizadas para

direcionar as ações de controle, especialmente o químico.

É importante que o Programa no nível federal proponha e valide modelos

preditivos de risco de epidemias, que estimem densidade de vetores co-relacionados

com informações dos reservatórios, incluindo variáveis ecológicas e sociais, expondo o

que há de universal nestes modelos e o que deve ser particularizado,

Nas discussões durante a primeira oficina foi observado que profissionais de

uma UF tem interesse de realizar estudos de infecção natural e fonte alimentar do Lu.

longipalpis e algumas vezes conseguem organizar para realizar essas ações no nível

estadual e até em municípios.

É claro que os resultados são muito importantes para o serviço, entretanto é

preciso minimamente que as ações básicas estejam sendo realizadas (levantamento,

investigação e monitoramento entomológicos) e alcançando os objetivos iniciais do

Programa para depois propor ações mais complexas como estas.

(entomologista 4)

No estado do Tocantins observou-se a responsabilidade pela execução das ações

de vigilância entomológica é da equipe estadual de entomologia em praticamente todos

os municípios, exceto em Palmas e Araguaína que desenvolveram a capacidade e

autonomia para realização das ações. O aperfeiçoamento do planejamento estratégico

foi ocorrendo gradualmente.

Para a equipe estadual, um dos fatores que podem contribuir para a análise

aprofundada dos dados entomológicos, especialmente dos indicadores propostos pelo

programa nacional, é a limitação do tempo, ocasionada pelo excesso de atribuições que

os profissionais tem. Especialmente por ter que dar conta de acompanhar e realizar as

Page 130: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

129

ações em uma série de municípios. Além de demandas urgentes também conhecida

como a “ditadura da emergência” originalmente decorrente do modelo assistencialista

que ainda perdura no SUS. As equipes de saúde, especialmente nos municípios que

extrapolam a sua capacidade de atuação sobre fatores de outra ordem e que

consequentemente requer o apoio do estado numa situação emergencial, seja pelo

surgimento de surtos de LV ou mesmo de outros agravos, deixa o que estavam fazendo

para atender aos chamados de emergência.

A falta de uma agenda que compatibilize as atividades de rotina do programa em

criar um momento de exercitar a mente numa sala de situação, com envolvimento de

uma equipe multi e interdisciplinar e que analise com profundidade os dados

acumulados da vigilância entomológica, sob o aspecto crítico e aplicado ao serviço

ainda é um desafio a ser superado. Esse momento poderia ser também importante para a

elaboração de informes epidemiológicos agregando os dados de vetor, cães e do

ambiente. A produção de artigos científicos também poderia ser estimulada pela equipe

do serviço a partir de uma cooperação técnica com as instituições de pesquisas locais e

se possível com as de referência nacional. Sabe-se que ações como essas estimulam os

profissionais que atuam no serviço, especialmente tendo o seu nome na autoria ou co-

autoria de artigo cientifico.

Há poucos investimentos nesse sentido. No estado do Tocantins, por exemplo,

até existe um momento reservado para o planejamento anual, reuniões mensais e de

avaliação e elaboração de relatório de gestão, mas que não discutem com profundidade

esses aspectos dos indicadores de produção local da doença. Isso requereria o

envolvimento sistemático de técnicos dos municípios prioritários para a doença

também, pois o conhecimento acumulado que esses profissionais possuem contribuem

bastante para compreensão de aspectos que eles vivenciam com maior freqüência na

prática do dia a dia. Há no estado um incentivo para a elaboração de informes

epidemiológicos e bimestralmente são publicadas atualizações sobre a situação

epidemiológica da LV e das ações de vigilância entomológica e controle vetorial;

vigilância e controle de reservatórios realizadas nos municípios do estado.

Há necessidade de desmitificar a crença de que esse papel cabe apenas aos

pesquisadores de instituições de ensino. Os profissionais do serviço são também

pesquisadores e poderiam potencializar suas competências com a parceiras éticas e

comprometidas com o SUS. Assim seria possível constituir uma equipe de inteligência

em vigilância entomológica direcionada para o serviço, deixando para a Entomologia

Page 131: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

130

Médica Acadêmica o papel de pesquisas mais robustas sobre os flebotomíneos vetores e

seus padrões de comportamento, como por exemplo, estudos de infecção natural, fonte

alimentar, taxomonia e sistemática, competência vetorial, além de vários outros.

Durante os últimos vinte anos, e mais recentemente com a reformulação das

metodologias de vigilância entomológica em 2003, muitos estudos para conhecer a

sazonalidade do Lu. longipalpis foram realizados e hoje pode se afirmar que o padrão

está praticamente definido em muitas regiões e que há forte associação com os índices

pluviométicos, temperatura e umidade. Entretanto, outros estudos mais específicos para

testar os indicadores de abundância relativa, níveis de infestação do vetor e criadouros

naturais nas áreas com transmissão ainda são indispensáveis.

Cabe aos gestores da vigilância entomológica, tanto no nível federal, quanto aos

pesquisadores de serviço orientar e direcionar, de forma integrada essas práticas, de

forma a contemplar a necessidade de aperfeiçoamento dos indicadores de risco,

operacionais e de avaliação de impacto das ações de controle e fazer da vigilância

entomológica um instrumento de suporte para a vigilância e controle da LV, mais uma

vez lembrando que essa é uma doença de transmissão vetorial.

Com o processo de descentralização das ações está ocorrendo também a

expropriação do monopólio do conhecimento de várias áreas, como a vigilância

entomológica e as práticas de controle (Taiul, 2002). Portanto, o aperfeiçoamento da

democratização do conhecimento produzido sobre os vetores da LV deve ser, cada vez

mais, institucionalizada e ampliada.

O controle da LV, não pode residir apenas em ações executadas nos laboratórios

de entomologia e nas ações de campo das equipes de agentes de endemias. Ela deve

extrapolar as ações especificas e ampliar o leque de possibilidades de integração com

atividades envolvendo a população e outros setores da sociedade como a educação,

saneamento, meio ambiente e agências de financiamento de projetos (Taiul, 2002). O

manejo ambiental, por exemplo, é imprescindível no controle da LV, tendo em vista que

o processo de expansão da doença está associado principalmente à presença e

distribuição da espécie Lu. longipalpis, uma vez que a mesma se adapta facilmente ao

ambiente doméstico. Nesses ambientes, os fatores que favorecem a presença e

abundância de flebotomíneos, especialmente da Lu. longipalpis estão relacionados às

condições precárias de vida, aliada à presença de animais domésticos (principalmente

galinhas), matéria orgânica com umidade e sombreamento.

Quanto a ausência de monitoramento e avaliação das ações e supervisões,

Page 132: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

131

durante todo processo de levantamento dos indicadores e elementos para compor uma

proposta de monitoramento observou-se que os participantes concordaram que a

proposta é importante para fortalecer as ações de vigilância entomológica do PVC-LV

no País, pois os indicadores servirão para sustentar a demanda do planejamento de

custos do programa.

Observou-se que não existe uma relação dos indicadores de resultados

contemplados na Pavs, com os indicadores propostos no manual de LV. Os indicadores

da Pavs para o monitoramento do nível federal e estadual como: o Nº de municípios

com atividades de vigilância entomológica realizadas segundo metodologia utilizada/Nº

de municípios programados x 100 e para o nível municipal: N° de localidades com

atividades de vigilância entomológica realizadas segundo metodologia utilizada/Nº de

localidades programadas x 100 são apenas indicadores operacionais e não permitem

uma análise dos indicadores de resultados que são os principais objetivos do programa.

Há necessidade de rever essa questão e acrescentar na Pavs os indicadores de resultados

como “Índice de localidades positivas”, “Infestação domiciliar” e “Abundância relativa

do vetor”. A periodicidade da produção dos dados varia de acordo com o nível de

gestão, situação epidemiológica e a metodologia utilizada, entretanto, cabe ao

Ministério da Saúde estimular a produção dos dados e supervisão periódica dessas ações

junto aos estados e municípios.

Na discussão dos grupos durante a primeira oficina não houve um consenso

entre os participantes sobre a periodicidade do monitoramento. Os participantes do um

grupo recomendaram a periodicidade do envio dos dados de forma trimestral, como

atualmente é proposto pelo MS, sendo a execução da programação mensal, com

supervisão por parte do MS abordando o monitoramento da cobertura e da qualidade

das ações. Já outro grupo entendeu que os indicadores são factíveis e que a

periodicidade para ser alimentado pelo nível estadual deve ser de forma semestral e o

envio do relatório para a coordenação nacional do programa anual associado de pelo

menos uma visita técnica aos laboratórios de entomologia dos estados por parte do

Ministério da Saúde.

A experiência de discutir o modelo lógico do programa e das ações de vigilância

entomológica permitiu a identificação de elementos que até então não tinha sido

observado pela autora. A visão dos profissionais que estão atuando diretamente na

execução das ações permitiu incrementar aspectos importantes no modelo lógico como

a integração da equipe e a responsabilidade de identificar fatores de risco da LV,

Page 133: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

132

independente da área de atuação, ou seja, o olhar multidisciplinar dos elementos

envolvidos na cadeia de transmissão, e consequentemente apoiar a autora na elaboração

da teoria do programa

Seria ainda necessário, incorporar à proposta de monitoramento um conjunto de

critérios para as capacitações dos profissionais, havendo necessidade de estabelecer

requisitos mínimos para seleção dos mesmos. Dentre eles o compromisso de

implementar as ações de VE no estado em que atuam de forma a atender os objetivos

do PVC-LV.

Acreditam também que, com o monitoramento haverá contribuição na gestão

dos equipamentos e insumos disponibilizados pelo Ministério da Saúde, como veículos

e equipamentos de laboratório e de campo, baseados nas diretrizes do programa.

Cabendo ao MS a supervisão sistemática da entrega dos referidos materiais junto as

SES, além de monitorar o uso dos recursos disponibilizados.

Os atores-chaves apontaram que seria importante também estabelecer critérios

para os indicadores pactuados e atingidos, por meio da aplicação da meritrocracia, ou

seja, do reconhecimento daqueles que atingiram níveis ótimos nos indicadores de gestão

do programa considerando a conformidade, qualidade técnica, cobertura, oportunidade e

integralidade. Além de construir mecanismos de controle e supervisão eficazes para os

indicadores de estrutura, processo e resultados.

Pelo fato de constituir-se um estudo direcionado para a pesquisa formativa foi

possível por meio de apresentação do problema e compartilhamento das situações

colaborar com o processo de qualificação das equipes técnicas para a apreensão de

práticas e capacidades específicas para o adequado monitoramento da intervenção e

consequentemente promover-se-á a organização do trabalho e sua institucionalização.

As discussões com os gestores com técnicos dos níveis federal, estadual e

municipal, e consultores da área entomologia e epidemiologia permitiu a identificação

dos principais atores envolvidos na intervenção e suas responsabilidades, bem como

uniformizar conhecimentos sobre a descentralização e os problemas que ela ainda

enfrenta para sua efetiva consolidação no SUS, destacando que a participação de

representantes da entomologia da CGLAB e de um gestor do nível federal contribuiu

para a identificação de problemas na estruturação da Rede de Laboratórios de

Entomologia e das ações de vigilância entomológica de forma geral e assim colaborar

na qualidade e aperfeiçoamento da intervenção e planejamento adequado da mesma

dentro das competências que lhes são atribuídas

Page 134: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

133

No Quadro 13 estão resumidas os principais limites e possibilidade do

funcionamento do atual das ações de Vigilância Entomológica do Programa de

Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral.

Quadro 13 – Limites e possibilidade do funcionamento do atual das ações de

Vigilância Entomológica do Programa de Vigilância e Controle da Leishmaniose

Visceral

Cont

exto

Componentes Limites Possibilidades

Co

nte

xto

Org

aniz

acio

nal

Política e financeira

Resistência ao processo de descentralização - mudanças

Falta de uma política institucional e financeira bem definida

para as ações de entomologia das DTVs de forma integral e

equitativa nas diferentes esferas de governo

Falta de uma carreira profissional de RH em vigilância

entomológica dentro do SUS

Instabilidade profissional sem incentivo ao aperfeiçoamento

da carreira, ausência de concursos voltados para profissionais

de nível técnico

Indefinições e incertezas sobre o financiamento das ações de

VE

Apoderamento das Diretrizes da

portaria 3252/2009 e dos recursos

do PFVS

Poder de argumentação com base

na situação epidemiológica e

visão futurista

Inclusão na programação de

Concursos de profissionais da

área (Veterinário e Biólogo)

Estrutura

Precariedade de recursos humanos na área de entomologia

agravada pela aposentadoria dos técnicos da FUNASA

Precariedade nos vínculos de trabalho nas diferentes esferas de

governo

Falta ou insuficiência de uma política de capacitação e

atualização profissional por parte da MS e SES

Falta de estrutura física adequada de laboratórios de

entomologia em todas as UF

Insuficiência ou mesmo ausência de laboratórios de referência

regional

Falta ou insuficiência de veículos ou combustível

Dificuldades no pagamento de diárias para os trabalhos de

campo

Dificuldade na aquisição de insumos de rotina (baterias,

pilhas, reagentes)

Aspectos da Biossegurança deficiente

Laboratórios de Entomologia bem

estruturados quando pertencem ao

LACEN

Aquisição e distribuição de

materiais entomológicos pelo MS

(exceto reagentes)

Monitoramento &

Avaliação

Falta de padronização dos formulários e de instrumentos de

monitoramento por parte do MS

Falta de mecanismos para modificar a atuação profissional por

parte do MS

Ausência de sistema informatizado para coleta e análise dos

dados nas três esferas de governo

Falta de conhecimento sobre os instrumentos de gestão – PTA,

PAVS

Insuficiência de supervisões por parte do MS, SES e Regionais

Usar a criatividade ter iniciativas

Conhecer e se apoderar dos

instrumentos e mecanismos do

SUS

Oficializar solicitações

Processos de trabalho

Falta de integração entre entomologia, epidemiologia e

operação de Campo

Dificuldade de acesso a estratificação da LV nos municípios

Falta de base territorial local

Baixa adesão as normas

Ausência de parâmetros entomológicos de risco

Ausência de parâmetros de produtividade

Revisão do Manual

Reuniões Nacionais ou

Macroregionais

Supervisões

Capacitações

As grandes mudanças no sistema de saúde brasileiro vieram alterar essa situação

quando relacionadas a descentralização e unificação das ações de saúde pública. Assim,

Page 135: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

134

novas expectativas foram criadas para o controle da LV.

6.1 Avaliação das oficinas

Na avaliação da oficina os atores apresentaram suas impressões apontando as

seguintes considerações:

Que a troca de idéias de profissionais de diferentes áreas de atuação e

experiências de realidades diferentes tanto do ponto de vista da implementação

das ações de VE, quanto da situação epidemiológica da LV;

A discussão sobre o modelo lógico permitiu sobre os indicadores de resultados

foi muito rica, pois permitiu a reflexão sobre o real valor desses instrumentos;

Conhecimento da proposta da vigilância entomológica não chegou ao nível

municipal;

Houve expectativa que não foi atendida, como o aprofundamento sobre o

manejo ambiental;

O momento das recomendações observou-se diversas condições de interpretação

da proposta;

O momento de consenso em alguns casos foi crítico, porém todos concordaram

da importância da proposta para o aperfeiçoamento e efetiva implementação das

ações de vigilância entomológica no SUS;

Existe um hiato muito grande entre o processo e o resultado das ações de

vigilância entomológica;

Há consenso sobre a necessidade do trabalho integrado entre os profissionais da

vigilância epidemiológica, entomológica e equipes de controle vetorial.

Na oficina em Tocantins, entender o modelo lógico do programa e o que ele

representa para uma proposta de monitoramento constituiu numa atividade rica e

produtiva na compreensão final sobre os indicadores de estrutura, processo e

resultados.

Page 136: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

135

7 Considerações finais

Entende-se que a análise aqui apresentada e discutida desses sete anos da

reformulação e implantação das ações de vigilância entomológica do PVC-LV, nos

permite afirmar que esse componente é uma realidade no Sistema Único de Saúde.

Muitas Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde entre profissionais,

dirigentes e gestores apropriaram-se da proposta apresentada pelo MS e buscam

exercitá-la. Outras, contudo, ainda estão implantaram e não desenvolvem essas ações,

mas precisam de engajamento, que depende de todos que hoje estão diretamente

envolvidos na sua operacionalização, cabendo criar e prover as condições necessárias

para tanto.

Outra constatação oriunda desse estudo é a análise do trabalho desenvolvido no

período indicando as proporções e o tamanho dos desafios a enfrentar. A proporção

relaciona-se diretamente ao volume de pessoas mobilizadas, que identificam

necessidades e as apresentam na expectativa de ajuda adequada e oportuna, nem sempre

disponível ou fácil de ser encontrada. O tamanho do desafio relaciona-se diretamente

com o aprofundamento ou aperfeiçoamento das metodologias desenvolvidas, pois

quanto mais se aprimora, maiores são as dificuldades que se apresentam.

Os avanços e desafios registrados dizem respeito principalmente a aspectos

estruturantes que, por um lado, são fundamentais à institucionalização da vigilância

entomológica e, por outro, apresentam considerável grau de dificuldade, visto que

implicam questões de natureza diversa, como recursos humanos, vontade técnica e

política, informação e conhecimento.

Em saúde, realizar ações de vigilância de vetores requer alta dosagem de

motivação e, ao mesmo tempo, de expectativas, obviamente sujeitas a serem ou não

respondidas. Assim, utilizando-se de técnica ou até mesmo de arte, a vigilância

entomológica do PVC-LV deve sempre significar a busca da identificação de fatores de

riscos com vistas a proteger a população, individual e coletivamente.

A construção das metodologias para a vigilância entomológica do PVC-LV no

SUS pode ser classificada tanto como um avanço na medida em que já vem sendo

exercitada por expressivo número de profissionais, quanto como um desafio, sobretudo

se considerar o curto período deste processo que esta ação experimentou ao longo

desses anos, pressionado em parte pela crise gerada com a expansão da leishmaniose

visceral no país e ou pelo próprio processo de descentralização do SUS.

Page 137: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

136

Baseado na essência e nos objetivos da vigilância entomológica do PVC-LV,

que deve ser sempre a da busca constante da melhoria e do aperfeiçoamento, a presente

proposta indica que, entre os resultados e os obstáculos, o saldo é expressivamente

positivo.

Os avanços ultrapassaram, em muito, as dificuldades enfrentadas ou ainda a

superar. Mais importante do que esse saldo, entretanto, é o que se pode esperar a partir

de agora. É pertinente e legítimo reconhecer que a vigilância entomológica da LV já

tem o seu caminho aberto, definido e adequado para um percurso seguro rumo a uma

efetiva incorporação no SUS.

É uma realidade que requer prática, vivência, considerando a sua história, ainda

pequena, porém densa. Um planejamento capaz de contribuir de fato para a saúde das

pessoas, para a qualidade de vida. Nesse sentido, todos nós somos responsáveis.

Page 138: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

137

8 RECOMENDAÇÕES

Como o manual de LV 2006 está em fase de revisão sugere-se que e a equipe

técnica do PVC-LV do Ministério da Saúde e os consultores do programa orientem a

revisão para contemplar os seguintes aspectos:

Aprofundar a discussão no nível de localidade para viabilizar sua

operacionalização;

Detalhar melhor as metodologias de vigilância entomológica, estabelecendo a

periodicidade de realização das ações;

Padronizar uma metodologia a fim de obter amostras representativas nas coletas,

especificando a cobertura e periodicidade adequada em cada unidade de

vigilância local;

Aplicar os indicadores de estrutura, processo e resultados no monitoramento das

ações de vigilância entomológica pelo nível federal e estimular a análise dos

dados no nível local;

Padronizar instrumentos de coleta das informações referentes as atividades de

campo e laboratório (boletins padronizados);

Detalhar as atribuições por nível de gestão, conforme proposto na portaria

3252/2009, especificando aquelas de maior relevância;

Viabilizar sistema informatizado para coleta e análise dos dados, bem como

garantir a sustentabilidade do mesmo em todas Unidades Federadas do país;

Estabelecer o registro e fluxo das informações para os diferentes níveis de gestão

visando a sistematização e difusão das informações referentes aos aspectos eco-

epidemiológicos e operacionais considerados mais relevantes para o

monitoramento das ações de vigilância entomológica do Programa.

Page 139: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

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9 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções

Gratificadas do Ministério da Saúde... integra o Centro de Referência Professor Hélio

Fraga à estrutura da Fundação Oswaldo Cruz - FIOCRUZ, altera e acresce artigo ao

Anexo I e altera o Anexo II ao Decreto no 4.725, de 9 de junho de 2003, que aprova o

Estatuto e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções

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Page 151: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

150

10 ANEXOS E APENDICES

Apêndice 1 - Programação oficina de trabalho

Coordenadores: Joana Sena e Sinval Brandão

Hora Programa/Conteúdo Produto 8:30

Boas Vindas/Interação de todo o grupo/Contrato de trabalho Assinar lista de presença

Apresentação do objetivo da oficina – Descrição das atividades

Lista presença assinada

09:30

Apresentação de alguns conceitos (monitoramento, avaliação, indicadores, modelo lógico)

Antecedentes do Programa – Vigilância Entomológica e Controle Vetorial

Componentes técnicos, objetivos, competências, atividades, instrumentos, indicadores, fluxos de informações periodicidade e

produtos

Apresentação de informações resultantes das análises das informações contidas na área técnica do nível federal do PVC-LV

Processos de trabalhos dos diferentes esferas de governo –

Contextos políticos e organizacionais

Apresentação da descrição do modelo lógico da vigilância entomológica do PVC-LV

Análise critica - Discussão (30 minutos)

Problemas identificados

Limites e possibilidades do modelo

Análise critica dos contextos – visão dos participantes

Apontar estratégias para uma efetiva implementação da vigilância entomológica da LV

Apresentação

pela

coordenadora da oficina

11:00 Dividir os participantes em três grupos Grupo 1 – Paulo Sabroza, Sinval Vera, Claudio, Luzy, Jesuína, Rosana,

Silvana Grupo 2 – Elizabeth, Mauro, Maurício, Silvana, Daniela, Rosely,

Edelberto, Mardones, Fabiano, Rodrigo, Adriana

Apresentar a Matriz de Indicadores

Observar os indicadores de estrutura, processo e de resultados – componentes para implantação levando em consideração as

dimensões de qualidade técnica, oportunidade e cobertura das

ações

Definir consenso sobre os indicadores para monitoramento das

ações de Vigilância Entomológica - técnica de consenso

14:00 Continuação dos trabalhos em grupo

Preparação da síntese de cada grupo – utilizar as planilhas de consenso

Apresentação da síntese de cada grupo pelo relator (2 pessoas) Observar e registrar pontos relevantes das discussões • Avaliação • Encerramento

Relatório Final Anotações facilitadores Avaliação individual

Page 152: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

151

Apêndice 2 – Ficha de Avaliação do Evento

OBJETIVO DO EVENTO: Identificar elementos para uma proposta de monitoramento das

ações de vigilância entomológica do Programa de Vigilância e Controle de Leishmaniose

Visceral

Identificação do subgrupo: 1 ( ) 2 ( )

Senhores participantes sua avalição é importante para que tenhamos um referencial sincero e verdadeiro

sobre as nossas atividades. Nesse sentido, solicitamos que marque com um X na opção que se aproxima

de sua opinião.

1- Como se sentiu no subgrupo?

( ) ÓTIMO ( ) BOM ( ) REGULAR ( ) RUIM

Comentários:__________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________

2- Como classifica sua contribuição no subgrupo?

( ) ALTA ( ) BOA ( ) COMO ESPECTADOR ( ) BAIXA

Comentários:__________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________

3- A Oficina de Consenso representou para você...

Ícones: cruz (sentido de sacrifício), bomba (sentido de tensão), caveira (morte, ruim), avião

(viagem,voando), vela (luz, esclarecedor), livro (conhecimento, enriquecedor), coração (acolhedor)

Comentários:__________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________

4- A Oficina de Consenso foi produtiva para o subgrupo?

( ) ótima produtividade ( ) boa produtividade ( ) pouca produtividade

5- Como foi o desempenho do relator do seu subgrupo?

( )ótimo ( ) bom ( ) pouco apropriado ( ) ruim

Comentários:__________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________

6- Como avalia o material utilizado?

( ) ótimo ( ) bom ( ) pouco apropriado ( ) ruim

Comentários:__________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________

7-Que momento da oficina você

destacaria?___________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________

LOCAL/DATA

Page 153: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

152

Apêndice 3 – Roteiro de entrevista com gestores no nível federal

1) – Sei que o Vigisus I contemplou o fortalecimento das ações de entomologia no

âmbito do Ministério da Saúde e dos estados. Você pode descrever quais foram estas

ações?

2) - Como foi a mobilização das áreas técnicas de doenças transmitidas por vetores para

incluir essas ações no plano de financiamento pelo Vigisus 1?

3) – A formação de pessoal qualificado para realizar ações de vigilância entomológica e

controle vetorial foi financiada pelo Vigisus 1 – Como foi o processo que se deu para

realização de cursos em Entomologia Médica pela Faculdade de Saúde Publica da USP?

4) Enquanto entomólogo o que você entende como papel da vigilância entomológica

dos programas de agravos transmitidos por vetores?

5) A partir das mudanças ocorridas com a criação da SVS a partir da FUNASA o que

favoreceu as ações de vigilância entomológica de forma geral?

6) E o que não favoreceu?

7) O que você observa de pontos positivos atualmente em relação as ações de vigilância

entomológica de flebotomíneos?

8) Você acredita que rede de vigilância entomológica do Programa das Leishmanioses

tem conseguido cumprir seu papel dentro do SUS? Por quê?

9) E o que você observa de pontos negativos?

10) O que você acha da recomendação do Programa das Leishmanioses em que as

ações de vigilância entomológica de flebotomíneos deverão ser desenvolvidas pelo nível

estadual?

10) Que recomendações você faria para a equipe do Programa das Leishmanioses obter

uma rede de vigilância entomológica atuante e bem estruturada?

11) Considerações finais

Page 154: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

153

Apêndice 4 – Roteiro de Entrevista, coleta de dados e documentos junto ao

coordenador do Programa de LV e da Vigilância Entomológica de flebotomíneos

no nível estadual

Ações planejadas e metas a serem alcançadas da VE do PVC-LV

Relatórios de gestão do programa de LV

Percentual dos recursos do PFVS aplicados nas ações de VE do programa

Relação entre o que foi planejado o os resultados alcançados das ações.

Atas das reuniões com a participação de representantes da vigilância epidemiológica,

entomológica e operação de campo

Relatórios de levantamentos, investigação e monitoramento entomológicos pos

formulação do programa

Relatórios e documentos técnicos do programa

Amostras de larvas recebidas e identificadas pelo laboratório. Mapas de índices de

infestação;

Quantitativo de meios de transporte, materiais de consumo, normas e protocolos para

VE da LV, disponíveis de forma oportuna e conforme as normas do programa.

Nº de profissionais capacitados em vigilância entomológica em cursos promovidos pelo

MS e pela SES

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154

Apêndice 5 – Roteiro de Entrevista com consultor

1) Você que acompanhou o processo de reformulação do Programa de Vigilância e

Controle da LV (PVC-LV) quais os aspectos destacaria como positivos e negativos nas

ações de vigilância entomológica do programa a partir das mudanças ocorridas?

2) A formação de pessoal qualificado para realizar ações de vigilância entomológica e

controle vetorial é uma das iniciativas fundamentais para o processo de estruturação e

efetiva implantação das ações do PVC-LV de forma descentralizada. Enquanto membro

consultor do Ministério da Saúde e profissional do LRN, quais são os pontos que você

destacaria na realização dessas capacitações?

3) Você conhece os indicadores da Vigilância entomológica do PVC-LV? Poderia listá-

los? Se sim. O que cada um quer dizer?

4) O que você modificaria ou acrescentaria nas ações de vigilância entomológica da LV

referentes aos indicadores e na aplicação deles

5) Conhecendo um pouco da realidade das ações de vigilância entomológica do

Programa das Leishmaniose visceral desenvolvidas nos estados e municípios

brasileiros, você acredita que a rede de laboratórios de entomologia dos estados e

municípios tem conseguido cumprir seu papel dentro do SUS? Por quê?

6) O que você acha da recomendação do Programa das Leishmanioses em que as ações

de vigilância entomológica de flebotomíneos deverão ser de responsabilidade do nível

estadual, exceto naqueles municípios em que exista condições de estrutura física e de

recursos humanos capacitados para sua efetiva realização?

7) Que recomendações você faria para a equipe do Programa das Leishmanioses obter

uma rede de vigilância entomológica atuante e bem estruturada?

8) Como você diferencia a vigilância entomológica de serviço para a entomologia

médica acadêmica?

Considerações finais

Page 156: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

155

Apêndice 06 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(gestor, técnicos da gestão federal, coordenadores da vigilância epidemiológica do PVC-LV

na SES, coordenador da vigilância entomológica do PVC-LV da SES, representante da VE

na SMS e consultores do PVC-LV/MS).

O (a) Sr. (a) está sendo convidado (a) para participar do estudo “Vigilância

Entomológica do Programa de Leishmaniose Visceral: Compreensão dos limites e

possibilidades do monitoramento” e esta pesquisa fará parte de uma Dissertação de

Mestrado Profissional (ENSP/FIOCRUZ). Tem como objetivo identificar indicadores e

elementos para uma proposta de monitoramento das ações de vigilância entomológica

do PVC-LV, além de buscar compreender os fatores que tem facilitado e dificultado a

implantação das ações nas três esferas de governo. Sua participação nesta pesquisa é

muito importante e dar-se-á mediante a entrevistas e oficinas para discussões e

construção de consenso relacionadas a implantação das ações do Programa das

Leishmanioses, em especial as atividades de vigilância entomológica.

As informações que forem produzidas serão totalmente confidenciais e para

atender os objetivos, serão consolidadas em relatórios. Sua informação não será

utilizada para avaliações individuais ou de pessoas. Entretanto considerando a

especificidade do cargo que o (a) Sr. (a) ocupa atualmente, existe um risco de

identificação, assim, solicito autorização para citação do cargo caso algum trecho da sua

fala durante as discussões seja transcrito no relatório. As discussões realizadas na

oficina serão gravadas em áudio e ficarão sob a guarda pessoal da responsável pela

pesquisa e serão destruídas após sua transcrição.

Esclareço ainda, que sua participação não trará nenhum risco individual e

coletivo e também não é obrigatória. Caso desista de participar poderá retirar o

consentimento a qualquer momento sem prejuízo a sua vida pessoal e profissional.

Local, e data.

_______________________________________

Joana Martins de Sena

Declaro que entendi os objetivos, riscos e benefícios de minha participação na oficina e

concordo em participar.

Page 157: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

156

_______________________________________

Profissional de Saúde

Instituição de Ensino: Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca – ENSP/FIOCRUZ

Comitê de Ética em Pesquisa – CEP/ENSP

Rua: Leopoldo Bulhões, nº 1480 – andar térreo – Manguinhos, Rio de Janeiro – RJ, CEP -21041-210

Responsável pela Pesquisa: Joana Martins de Sena Instituição de origem: Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde Endereço e telefone de contato: SCS Quadra 4 Bloco A, 2°Andar, Edifício Principal, Brasília/DF.

Fone: (61) 3213-8157

Page 158: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

157

Apêndice 07 – Termo de Autorização Institucional

À

Joana Martins de Sena Instituição de Ensino: Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca – ENSP/FIOCRUZ

Rua: Leopoldo Bulhões, nº 1480 – andar térreo – Manguinhos, Rio de Janeiro – RJ, CEP: 21041-210

Responsável pela Pesquisa: Joana Martins de Sena Instituição de origem: Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde

Autorizo a utilização de dados dos sistemas e subsistemas de informações e de

registros administrativos (relatórios técnicos e de gestão) e demais documentos

referentes ao Programa das Leishmanioses, pertencentes aos arquivos do Departamento

de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Vigilância em Saúde.

Esta autorização restringe-se a utilização dos dados para realização da pesquisa

intitulada “Vigilância Entomológica do Programa da Leishmaniose Visceral:

Limites e Possibilidades do Monitoramento”. Cujo objetivo é identificar indicadores

e elementos de monitoramento das ações de vigilância entomológica do Programa de

Leishmaniose Visceral para os diferentes níveis de gestão do Programa.

A qualquer momento esta autorização poderá ser retirada, o que não acarretará

nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador ou com a FIOCRUZ/ENSP.

As informações obtidas nos registros administrativos deverão ser confidenciais e

o sigilo sobre a identificação dos sujeitos deve ser mantido.

Autorizo que os dados resultantes desse estudo possam sejam utilizados

exclusivamente nesse estudo, desde que resguardem o sigilo e a confidencialidade do

sujeito da pesquisa.

Brasília, 30 de outubro de 2009

Eduardo Carmo Hage

Departamento de Vigilância Epidemiológica

Diretor

Page 159: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

158

Apêndice 08 – Roteiro para observação de campo

Espaço físico da VE e equipamentos adequados à equipe:

Ambiente (confortável, silencioso, bem iluminado, limpo, boa acomodação, fácil acesso

os profissionais).

Materiais de consumo disponíveis em quantidade suficientes e adequados.

Laboratório de entomologia adequado à equipe: ambiente (confortável, silencioso, bem

iluminado, limpo, boa acomodação, fácil acesso os profissionais).

Equipamentos entomológicos disponíveis em quantidade suficientes e adequados

Page 160: “Vigilância Entomológica do Programa de Leishmaniose

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Anexo 1 – Relatório padronizado das atividades de Vigilância Entomológica e Controle

Vetorial do Programa da Leishmaniose Visceral