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Violência Idoso Dependente

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Essa monografia (Amélia, Cleonice e Leila) fala de idoso, violência intrafamiliar e dependência.

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ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA

DE VITÓRIA-EMESCAM

AMÉLIA ROSSI CRIVELLARI CLEONICE VIANA DOS SANTOS ANGELI

LEILA SILVA CICILIOTI

VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR CONTRA OS IDOSOS DEPENDENTE S: a experiência do SOS Idoso de Serra

VITÓRIA 2007

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2

AMÉLIA ROSSI CRIVELLARI CLEONICE VIANA DOS SANTOS ANGELI

LEILA SILVA CICILIOTI

VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR CONTRA OS IDOSOS DEPENDENTE S: a experiência do SOS Idoso de Serra

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado à Escola Superior de

Ciências da Santa Casa de Misericórdia

de Vitória – EMESCAM, como requisito

para obtenção do grau de bacharel em

Serviço Social.

Orientadora: Professora Mestre Tânia Maria Bigossi do Prado.

VITÓRIA 2007

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3

AMÉLIA ROSSI CRIVELLARI

CLEONICE VIANA DOS SANTOS ANGELI LEILA SILVA CICILIOTI

VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR CONTRA OS IDOSOS DEPENDENTE S: a experiência do SOS Idoso de Serra

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola Superior de Ciências da

Santa Casa de Misericórdia de Vitória – EMESCAM, como requisito parcial para

obtenção do grau de bacharel em Serviço Social.

Aprovada em _______ de ___________de 2007.

COMISSÃO EXAMINADORA

______________________________________

Professora mestre Tânia Maria Bigossi do Prado

Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de

Vitória-EMESCAM

Orientadora

________________________________________

Myrthes Brocolli Lima

Universidade Gama Filho-RJ

Especialista em Administração e Planejamento de Projetos

Sociais-Assistente Social

_________________________________________

Claudia Gomes Rossoni

Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de

Vitória-EMESCAM

Assistente Social Mestre em Atenção à Saúde Coletiva

Page 5: Violência Idoso Dependente

4

DEDICATÓRIA:DEDICATÓRIA:DEDICATÓRIA:DEDICATÓRIA:

A todas as famílias que têm idosos. Que elas possam compreender

as transformações e limitações que perpassam a velhice e nas

dificuldades encontrar e dar o amor, carinho e atenção aos seus

idosos.

Page 6: Violência Idoso Dependente

5

AGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOS

A Deus, que em todo momento esteve presente em nossas vidas, toda a nossa

gratidão por nos ajudar e nos conduzir nesta caminhada, onde passamos por muitos

desafios, mas que nos proporcionou a vitória.

Aos nossos queridos familiares, pelo carinho e compreensão que nos dedicaram

nesta trajetória, onde suportaram a nossa ausência em momentos especiais, mas

que puderam entender e continuaram a nos apoiar, atingindo conosco o ápice da

conquista.

A nossa querida orientadora professora Tânia Maria Bigossi do Prado, nossa eterna

mestre, por nos fazer acreditar que seríamos capazes de desempenhar a nossa

pesquisa de cunho tão delicado. Tantas vezes confiou e acreditou que

conquistaríamos nossos objetivos e nos tornaríamos vencedoras. Nunca nos deixou

desanimar e valorizou o máximo as nossas expectativas e competências, nos

fazendo sentir de fato assistente social.

Aos nossos eternos professores e mestres, que nos ensinaram além da teoria a

prática da vida acadêmica e da vida cotidiana para sermos cidadãs conscientes e

questionadoras!

Nosso carinho e amizade em especial para Erlete, Livia e Débora, que juntas

formamos um grupo imbatível!!!

Em todo momento de nossos estudos, nossas famílias estiveram envolvidas de

forma direta, portanto não podemos neste momento separá-las e aqui queremos

registrar o nosso carinho especial a: Jose Luiz, Larissa, Talles e Renato.

Cleo e Amélia

Nossa gratidão, carinho, amizade a Angeli, Viktor, Vikcenzo e a dª Alice.

Amélia e Leila.

Quantas alegrias nos proporcionaram: Wanderson, Chayna, Kaiser e Bethoven.

Leila e Cleo

Page 7: Violência Idoso Dependente

6

AGRADECIMENTOS

Ao meu Deus que me deu condições de persistir neste caminho para alcance da

vitória, por ser meu eterno amigo e companheiro me amparando em todos os

momentos, toda honra glória e louvor, pois até aqui me ajudou o Senhor.

Aos meus amados filhos Wanderson e Chayna que depos itaram a confiança que

podia alcançar a realização deste sonho tão esperad o, o meu agradecimento

filhos queridos pela compreensão, carinho e dedicaç ão, ao genro Kaiser pelo

apoio e dedicação, a Drª. Magali que me direcionou a este caminho, aos

amigos queridos por compartilhar todos os momentos vividos nesta jornada. A

Cleonice e Leila pela amizade que tem me dedicado e por terem estado sempre

presentes nos momentos bons e também nos enfrentame ntos das tempestades.

Quero dizer a vocês que as amo do fundo do meu cora ção e agradeço por ter

encontrado alguém que me é muito especial. Aos meus irmãos em Cristo que me

sustentaram na oração, o meu muito obrigado por ter compreendido a minha

ausência. Amo todos vocês!!!

Amélia Rossi CrivellariAmélia Rossi CrivellariAmélia Rossi CrivellariAmélia Rossi Crivellari

Agradeço a Deus por mais essa conquista. A todos que tanto amo, meu eterno amor

e gratidão! Essa vitória também é de vocês!!! Ao meu marido, José Luiz; meus filhos,

Larissa e Talles, pela compreensão e por torcerem pela minha vitória e pelo apoio e

carinho; a minha querida mãe Nair e ao meu querido pai José Vicente que me deram

à vida e me ensinaram a viver. Aos meus sogros o Sr. Solino e a Sra. Alzira que me

apoiaram; aos meus irmãos; cunhados; e a Renato pela força. Aos meus amigos

que me acolheram em suas orações e pediram ao Papai do céu uma benção

especial. A minha querida amiga Cleo com quem divido essa vitória, porque foi ela

quem me incentivou a retornar os estudos. As queridas amigas Amélia e Cleo com

quem mantive uma parceria para a conclusão deste sonho: o nascimento desse

TCC. Obrigada por ter vocês por perto, com carinho lembrarei de tudo o que

passamos juntas, de todos os problemas que enfrentamos, de todas as experiências

que vivemos, é tão grande a felicidade que chega ser infinita. Amo vocês!!!

Leila Silva CiciliotiLeila Silva CiciliotiLeila Silva CiciliotiLeila Silva Cicilioti

Toda a glória e louvor, a ti Deus e Senhor de minha vida. Como é grande o seu amor

e misericórdia pelos seus filhos! Neste momento dedico esta realização aos maiores

Page 8: Violência Idoso Dependente

7

tesouros da minha vida: o meu bem Angeli que sempre foi muito compreensivo,

tolerante e meu grande parceiro na realização deste objetivo; aos filhos Viktor e

Vikcenzo meus amores sinceros que por quatro anos conviveram com minha

ausência. Agradeço a todos os familiares especialmente meus irmãos e cunhados;

meu carinho aos amigos; mestres e aos usuários que participaram dessa caminhada

e conquista, ela é nossa! Não posso esquecer de você Priscila, muito obrigado!

Leila o que sería de mim sem você? Você também é responsável pela minha

realização, quanto apoio e estímulo me proporcionou!

A minha alegria agradeço e dedico a uma grande mulher que sempre esteve comigo

me apoiando em tudo, tudo: a minha mãe exemplo de força, persistência e beleza e

que quase na reta final Papai do céu levou para alegrar e cantar com os anjos do

céu! Mãe querida que saudade, quanta falta me faz neste momento. Eu te amo.

Cleonice Viana dos Cleonice Viana dos Cleonice Viana dos Cleonice Viana dos Santos AngeliSantos AngeliSantos AngeliSantos Angeli

Page 9: Violência Idoso Dependente

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ASSIM EU VEJO A VIDA

A vida tem duas faces:

Positiva e negativa

O passado foi duro

mas deixou o seu legado

Saber viver é a grande sabedoria

Que eu possa dignificar

Minha condição de mulher,

Aceitar suas limitações

E me fazer pedra de segurança

dos valores que vão desmoronando.

Nasci em tempos rudes

Aceitei contradições

lutas e pedras

como lições de vida

e delas me sirvo

Aprendi a viver.

Cora Coralina*

_____________________________________________

* Ana Lins de Guimarães Peixoto Bretas, nasceu em Goiás Velho no ano 1889 e era conhecida como “Aninha da Ponte da Lapa”. Teve apenas a instrução primária e sendo doceira de profissão, publicou seu primeiro livro aos 75 anos de idade. Faleceu em 10 de abril de 1985 em Goiânia, ela representa a imagem do idoso que enfrentou as dificuldades para realizar um sonho.

Page 10: Violência Idoso Dependente

9

RESUMO

Objetiva analisar a ocorrência de violência contra o idoso dependente, pela perda da

capacidade funcional nas relações familiares tendo como foco as denúncias no SOS

3ª Idade - SOS Idoso do Município de Serra-ES, por meio dos objetivos específicos:

a) caracterizar a violência, tipologia e perfil do agressor e do idoso; b) conhecer o

vínculo familiar entre o agressor e o idoso e, c) identificar os fatores de riscos de

violência. Os procedimentos técnicos utilizados foram a pesquisa bibliográfica,

documental e de campo. Para a pesquisa de campo, foram realizadas entrevistas

com os idosos/vítimas e com os agressores. Foi possível evidenciar que as

violências encontradas configuram-se como: verbal; negligência; abandono;

psicológica; financeira; discriminação, e física. A negligência, o abandono, e a

violência verbal aparecem em todos os três casos entrevistados. A psicológica

aparece em dois casos de forma explícita, no entanto nota-se que todos os idosos

vítimas de maus tratos são agredidos psicologicamente. A financeira pôde ser

verificada em dois idosos entrevistados, a discriminação aparece em dois idosos

entrevistados relacionados à cor da pele e pelo fato de um dos idosos ter os

membros inferiores amputados, e a física foi identificada em um caso. Quanto ao

perfil, identificamos que os idosos vítimas de maus tratos com dependência

funcional tinham características comuns, como: baixa escolaridade e muitos filhos

(cinco, seis e sete). Em relação às outras características, observou-se que a idade

era de 66, 67 e 73 anos, que dois são do sexo masculino e um do sexo feminino.

Quanto à renda dos idosos, dois recebem salário mínimo e um recebe mais de

quatro salários mínimos; dois idosos que recebem salário mínimo; um é de

aposentadoria, e um é de benefício assistencial (BPC), o terceiro é pensionista. O

estado civil observado foi que dois são viúvos e um vive em união estável. Dois

idosos residem em casa alugada e um idoso tem casa própria. O perfil do agressor,

segundo resultado da pesquisa, ratifica as pesquisas em âmbito nacional:

geralmente são homens, dependentes de substâncias psicoativas e residem no

mesmo domicílio da vítima, com uma dependência financeira. Os vínculos familiares

entre o agressor e o idoso também ratificam os estudiosos da questão, há uma

fragilidade ou inexistência de vínculos. A dependência química pelo uso de drogas,

álcool e remédio controlado deu ênfase ao resultado da pesquisa como o principal

Page 11: Violência Idoso Dependente

10

fator de risco e imbricado ao isolamento social confirma os estudos e indicadores de

fatores de riscos aos idosos. Observou-se que tanto os idosos quanto os cuidadores/

agressores, ou vice-versa, ficam numa situação difícil, sem perspectivas e sem

aparatos para romperem o círculo vicioso. A pesquisa trouxe à tona, também, que os

idosos não têm percepção da violência a que são cometidos.

Palavras-chaves : idoso, violência, dependência, família.

Page 12: Violência Idoso Dependente

11

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Pirâmide etária.........................................................................................29

Casos denunciados e em acompanhamento em 2006 do SOS Idoso:

Gráfico 2 – Procedências das denúncias.................................................................. 72

Gráfico 3 – Tipos de maus tratos...............................................................................73

Gráfico 4 – Estado Civil............................................................................................. 73

Gráfico 5 – Religião....................................................................................................74

Gráfico 6 – Emprego da renda...................................................................................74

Gráfico 7 – Com quem o idoso reside........................................................................75

Gráfico 8 – Principais doenças ..................................................................................75

Gráfico 9 – Alguém cuida do idoso ............................................................................76

Perfil dos idosos: visitadas realizadas em 2006 pelo SOS Idoso:

Gráfico 10 – Sexo.......................................................................................................78

Gráfico 11 – Quantidade de filhos dos idosos............................................................78

Gráfico 12 – Renda do idoso......................................................................................79

Gráfico 13 – Origem da renda....................................................................................79

Page 13: Violência Idoso Dependente

12

Gráfico14 – Autonomia...............................................................................................80

Gráfico 15 – Tipo de moradia ....................................................................................80

Gráfico 16 – Tipos de abusos ....................................................................................81

Achados da pesquisa:

Gráfico17 – Tipos de violências.................................................................................89

Gráfico 18 – Perfil do idoso: idade ............................................................................92

Gráfico 19 – Perfil do idoso: sexo...............................................................................92

Gráfico 20 – Perfil do idoso: estado civil ...................................................................93

Gráfico 21 – Perfil do idoso: escolaridade..................................................................93

Gráfico 22 – Perfil do idoso: religião...........................................................................94

Gráfico 23 – Perfil do idoso: renda ............................................................................94

Gráfico 24 – Perfil do idoso: origem da renda ...........................................................95

Gráfico 25 – Perfil do idoso: Nº de filhos....................................................................95

Gráfico 26 – Perfil do idoso: dependência funcional..................................................96

Gráfico 27 – Perfil do idoso: dependência química....................................................96

Gráfico 28 – Perfil do idoso: tipo de moradia.............................................................97

Page 14: Violência Idoso Dependente

13

Perfil do Agressor/cuidador:

Gráfico 29 – Perfil agressor/cuidador: idade..............................................................98

Gráfico 30 – Perfil agressor/cuidador: sexo...............................................................99

Gráfico 31 – Perfil agressor/cuidador: estado civil.....................................................99

Gráfico 32 – Perfil agressor/cuidador: Nº de filhos...................................................100

Gráfico 33 – Perfil agressor/cuidador: tipo de moradia............................................100

Gráfico 34 – Perfil agressor/cuidador: renda............................................................101

Gráfico 35 – Perfil agressor/cuidador: origem da renda...........................................101

Gráfico 36 – Perfil agressor/cuidador: escolaridade.................................................102

Gráfico 37 – Perfil agressor/cuidador: dependência química...................................102

Gráfico 38 – Fatores de riscos.................................................................................112

Page 15: Violência Idoso Dependente

14

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Bairros com incidências de denúncias .. .................................................71

Page 16: Violência Idoso Dependente

15

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – População residente de Serra.................................................................57

Quadro 2 – Níveis de autonomia dos idosos atendidos SOS Idoso/Estatística.........77

Page 17: Violência Idoso Dependente

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LISTA DE SIGLAS

AVC - Acidente Vascular Cerebral

BPC - Benefício de Prestação Continuada

CETURB-GV - Companhia de Transporte Urbano da Grande Vitória

CIVIT I e CIVIT II - Centro Industrial Metropolitano de Vitória

COMIDS - Conselho Municipal do Idoso da Serra

CC - Código Civil

CF - Constituição Federal

CP - Código Penal

CPC - Código do Processo Civil

DAE - Departamento de Administração Estratégica (SEPLAE)

DAPES - Departamento de Ações Programáticas Estratégicas

DAS - Departamento de Assistência Social

DATASUS - Sistema de Informatização de Saúde do SUS

DIG - Divisão de Informações Gerenciais (SEPLAE)

ECO 92 - Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

EI - Estatuto do Idoso

Page 18: Violência Idoso Dependente

17

ESF - Estratégia Saúde da Família

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

IJSN - Instituto Jones dos Santos Neves

LEP - Lei de Execução Penal

MS - Ministério da Saúde

NOAS - Norma Operacional de Assistência à Saúde

ONU - Organização das Nações Unidas

OMS - Organização Mundial de Saúde

PAAI - Programa de Atenção ao Idoso

PEI - Política Estadual do Idoso

PMS - Prefeitura Municipal de Serra

PNI - Política Nacional do Idoso

PNRMAV - Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e

Violências do Ministério da Saúde

PNSI - Política Nacional de Saúde do Idoso

PNSPI - Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa

PSF - Programa de Saúde da Família

Page 19: Violência Idoso Dependente

18

SAS - Secretaria de Ação à Saúde

SDH - Subsecretaria dos Direitos Humanos

SEPLAE - Secretaria de Planejamento Estratégico

SEPROM - Secretaria de Promoção Social

SOS - Socorro

SUS - Sistema único de Saúde

TCC - Trabalho de Conclusão de Curso

TIMS -Terminal Industrial Multimodal da Serra

Page 20: Violência Idoso Dependente

19

SUMÁRIO

1.CONSIDERAÇÕES INICIAIS.........................................................................

21

CAPÍTULO I ........................................................................................................... 27

2. O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL ........................................................... 27

2.1. A FAMÍLIA E O IDOSO

DEPENDENTE…………………..………………………. 31

2.2. O LIMITE ENTRE CUIDAR E MALTRATAR...................................................... 36

2.3. FATORES DE RISCOS...................................................................................... 40

CAPÍTULO II .......................................................................................................... 41

3. PROTEÇÃO À PESSOA IDOSA NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA - MARCO

LEGAL ...................................................................................................................... 41

3.1. LEI DE EXECUÇÃO PENAL (LEP) - LEI N º 7.210/84...................................... 41

3.2. CÓDIGO PENAL (CP) - LEI Nº 7.209/84........................................................... 41

3.3. CONSTITUIÇÃO FEDERAL (CF) DE 1988........................................................ 42

3.4. POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO (PNI) - LEI Nº 8.842/94............................... 46

3.5. POLÍTICA ESTADUAL DO IDOSO (PEI) - LEI Nº 4.496/98.............................. 47

3.6. CÓDIGO DO PROCESSO CIVIL (CPC) - LEI N º 10.173/01............................. 48

3.7. CÓDIGO CIVIL (CC) - LEI Nº 10.406/02............................................................ 48

3.8. ESTATUTO DO IDOSO (EI) - LEI Nº. 10.741/03.............................................. 49

3.9. REDE NACIONAL DE PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA E PROM OÇÃO DA

SAÚDE.PORTARIA Nº 936/GM/2004

......................................................................

51

3.9.1. Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI) - Portaria nº

2.528/06.....................................................................................................................

52

Page 21: Violência Idoso Dependente

20

CAPÍTULO III........................................................................................................ 56

4. CONTEXTUALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE SERRA……………………………... 56

4.1. CARACTERIZAÇÃO

INSTITUCIONAL……………………………………………. 59

4.2. PROGRAMA DE ATENÇÃO AO IDOSO DO MUNICÍPIO DE

SERRA………... 60

4.3. PROJETO SOS 3ª IDADE - SOS IDOSO.......................................................... 63

CAPÍTULO IV........................................................................................................ 82

5. METODOLOGIA E ANÁLISE DOS ACHADOS DA PESQUISA ........................ 82

5.1. CARACTERIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA................................................................ 87

5.2. PERFIL DO IDOSO, DO CUIDADOR/AGRESSOR E AGRESSOR/CUIDADOR.... 90

5.2.1. Perfil do idoso ................................................................................................ 90

5.2.2. Perfil do agressor .......................................................................................... 97

5.3. VÍNCULO FAMILIAR ENTRE O AGRESSOR E O IDOSO................................ 103

5.4. FATORES DE RISCOS DE VIOLÊNCIA............................................................ 109

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS…………………………………………………….. 114

7. REFERÊNCIAS…………………………………………………………... 119

APÊNDICES.......................................................................................................... 125

APÊNDICE A - Termo de autorização para pesquisa

institucional…………………. 126

APÊNDICE B - Roteiro de entrevista para o idoso co m dependência

funcional….. 127

APÊNDICE C - Roteiro de entrevista para o agressor/ e cuidador........................... 128

ANEXOS................................................................................................................. 129

ANEXO A – Termo de Consentimento livre e esclarecido........................................ 130

Page 22: Violência Idoso Dependente

21

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O mundo envelhece e o Brasil acompanha este movimento de forma rápida e sem

condições essenciais que favoreçam este processo de envelhecimento. A família na

atualidade passa por transformações na sua estrutura, sejam elas econômicas ou

sociais que refletem-se no “cuidar do idoso”, principalmente os que apresentam

dependências oriundas de perdas funcionais ou emocionais. No limiar do cuidar e a

falta de condições para tal, pode-se favorecer o maltratar.

A velhice pode significar vivências diferenciadas, que vão da plenitude à decadência,

da satisfação e prazer à miséria, à dependência e ao abandono. Sabemos que o

idoso, dentro do contexto familiar, representa uma categoria que pode vir a ser

dependente, provocando a fragilidade dos relacionamentos e na maioria das vezes

trazendo conflitos intergeracionais. E, conseqüentemente, os fatores de riscos de

violência aparecem imbricados a essas variáveis.

A pesquisa realizada propôs investigar alguns aspectos peculiares do processo de

dependência do idoso e os conflitos familiares relacionados a essa dependência.

Existe evidência de que muitas são as políticas que focam o idoso e sua família,

porém as dificuldades na implementação abrangem desde a precária captação de

recursos, ao frágil sistema de informação para a análise de condições de vida e

saúde, passando, evidentemente, pela inadequada capacitação de recursos

humanos.

Ao escolher este tema como TCC – Violência intrafamiliar contra os idosos

dependentes – temos a intenção de contribuir para a construção de medidas de

prevenção em que idoso possa ser contemplado como um ser autônomo, embora

com alguma dependência inerente à pessoa idosa.

Podemos perceber que conflitos intergeracionais despontam à medida que os idosos

precisam cada vez mais de atenção especial, pois muitos deles criaram os seus

filhos e depois os netos, porém a grande maioria das famílias brasileiras não tem

estrutura para cuidar de seus idosos.

Em pesquisas empreendidas acerca da violência contra a pessoa idosa constam

que, no Brasil, mais de 95% das pessoas acima de 60 anos estão morando com

Page 23: Violência Idoso Dependente

22

seus parentes ou vivem em suas próprias casas. Em cerca de 26% de todas as

famílias existem pelo menos uma pessoa com mais de 60 anos. Estudos parciais

feitos no país mostram que a maioria das queixas dos velhos é contra filhos, netos

ou cônjuges e outros 7% se referem aos outros parentes. As denúncias enfatizam

em primeiro lugar abusos econômicos (tentativas de apropriação dos bens do idoso

ou abandono material cometido contra ele), em segundo lugar, agressões físicas e

em terceiro, recusa dos familiares em dar-lhes proteção. A maioria das violências

físicas cometidas pelos filhos (homens) está associada ao alcoolismo: deles próprios

ou dos pais idosos (MINAYO, 1999, apud PEREIRA et al 2006).

A estudiosa acima mencionada caracteriza o agressor familiar, geralmente assim:

• vive na mesma casa que a vítima;

• depende do idoso ou o idoso depende dele;

• é abusador de álcool e drogas, ou o idoso dependente dele é abusador;

• tem vínculos afetivos frouxos e pouco comunicativos com o idoso;

• vive socialmente isolado e assim mantém o idoso;

• sofreu ou sofre agressões por parte dos idosos; depressão ou transtorno

mental (MINAYO, 1999).

Em dois documentos específicos que tratam dos direitos da pessoa idosa, o Plano

de Ação de Enfrentamento da Violência contra a Pessoa Idosa da Subsecretaria dos

Direitos Humanos (SDH, 2005) e a Política Nacional de Redução da

Morbimortalidade por Acidentes e Violências, do Ministério da Saúde (MS, 2001),

encontra-se estabelecido a necessidade de ações estratégicas de denúncias das

violências acometidas no âmbito familiar, espaço cultural coletivo, público e

institucional. O Plano de Ação de Enfrentamento da Violência contra a Pessoa Idosa

aprofunda e focaliza as diretrizes para atuação do poder público nos casos de

abusos, maus tratos e negligências, responsáveis por provocar no idoso mortes,

lesões, traumas e muito sofrimento físico e emocional. Entre algumas ações

estratégicas no espaço institucional verifica-se a indicação de implantação do

Disque - Idoso.

O documento Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e

Page 24: Violência Idoso Dependente

23

Violências do Ministério da Saúde (2001) prevê ações concretas para a proteção e

prevenção dos abusos contra os idosos no país, estabelecendo dispositivos legais e

normativos para o enfrentamento da violência, prevê ainda implantações de

estratégias de proteção, como os Conselhos Nacionais e Locais de Direitos dos

Idosos, os SOS-Idoso; os Ligue-Idoso e outras medidas que promovam a segurança

dos idosos.

O nosso interesse em estudar sobre o idoso iniciou-se no 2° período na disciplina de

Questão Social II, quando fizemos uma pesquisa que tinha por objetivo conhecer o

processo de envelhecimento e como se relacionavam os idosos da 3ª idade,

considerando os aspectos sociais e familiares. Para realização da pesquisa

acadêmica elaboramos um roteiro de entrevistas que foi aplicado no grupo de

convivência “Unidos Venceremos”, situado em El Dourado, na Serra, e respondido

por três idosos, uma assistente social e um professor de educação física. O

despertar da temática favoreceu a nossa inclusão nos campos de estágios.

Nossas experiências com os idosos advêm do estágio no SOS Idoso, de Grupos de

Convivência do Programa de Atenção ao Idoso da Prefeitura Municipal de Serra,

onde as alunas desta pesquisa realizaram o primeiro contato com o tema conforme

relato acima, e da experiência de estágio na Clínica de Fisioterapia da EMESCAM,

que atende pacientes idosos com incapacidades funcionais provenientes de

acidentes vasculares cerebrais (AVC), acidentes em geral, reumatismos, artroses,

entre outros.

A pesquisa apresentada teve como objetivo geral analisar a ocorrência de violência

contra o idoso dependente, pela perda da capacidade funcional, nas relações

familiares tendo como foco as denúncias no SOS 3ª Idade - SOS Idoso do Município

de Serra-ES, e como objetivos específicos: caracterizar a violência, tipologia e perfil

do agressor e do idoso; conhecer o vínculo familiar entre o agressor e o idoso e

identificar os fatores de riscos de violência.

Quanto ao seu objetivo, essa pesquisa caracteriza-se como exploratória, que

segundo Gil (2002)

Estas pesquisas têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-los mais explícito ou a construir hipóteses. Pode-se dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de idéias ou a descoberta de intuições (GIL, 2002, p.41).

Page 25: Violência Idoso Dependente

24

No desenvolvimento do processo da pesquisa, utilizamos como procedimentos

técnicos a pesquisa bibliográfica, a pesquisa documental e de campo.

Para a pesquisa bibliográfica, utilizamos livros, teses e produções diversas de

autores consagrados no tema sobre envelhecimento, violência, dependência

funcional e cuidadores familiares.

A pesquisa documental foi realizada a partir dos documentos elaborados pela

prefeitura municipal de Serra, legislações específicas e estatísticas oficiais (IBGE,

IPEA) e de dados registrados nos prontuários de denúncias do Projeto SOS 3ª Idade

- SOS Idoso do município de Serra em 2006 e na internet, em busca de sites oficiais

do governo.

Gil (2002) conceitua e faz menção à diferença existente entre as duas técnicas de

pesquisa bibliográfica e documental por isso entendemos ser importante o registro.

A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, construído principalmente de livros e artigos científicos [...]. A pesquisa documental assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica. A diferença essencial entre ambas está na natureza das fontes. Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental vale-se de materiais que não recebem ainda um tratamento analítico (GIL, 2002, p.44-45).

A coleta dos dados ocorreu por meio de entrevistas, tendo perguntas semi-

estruturadas e realizadas com três idosos com dependência funcional, como um

idoso acamado e dois idosos cadeirantes, e com as respectivas famílias atendidas

no SOS 3ª Idade - SOS Idoso/Serra.

May (2004) cita que ao utilizarmos este método de entrevistas semi-estruturadas, as

perguntas são especificadas, porém o entrevistador pode adentrar mais nas

questões não padronizadas, desde que não interfira nos resultados das respostas.

[...] esses tipos de entrevistas permitem que as pessoas respondam mais nos seus próprios termos do que as entrevistas padronizadas, mas ainda forneçam uma estrutura maior de comparabilidade do que as entrevistas focalizadas (MAY, 2004, p.148).

A pesquisa teve como seleção a amostra intencional, visto que certos aspectos

foram relevantes para a obtenção do resultado proposto nos objetivos já

Page 26: Violência Idoso Dependente

25

apresentados. Aspectos como a dependência funcional de idosos sendo cuidados

por algum familiar

Uma amostra intencional, em que os indivíduos são selecionados com base em certas características tidas como relevantes pelos pesquisadores e participante, mostra-se mais adequada para a obtenção de dados de natureza qualitativa [...]. A intencionalidade torna uma pesquisa mais rica em termos qualitativos (GIL, 2002, p.145).

Todos os relatos foram gravados em fitas magnéticas de registro de áudio

(cassetes) e em seguida transcritos, considerando as determinações que regulam a

ética em pesquisa com seres humanos e o termo de consentimento livre e

esclarecido, cujo modelo segue como apêndice. Os dados coletados foram

analisados numa abordagem qualitativa, que para Minayo (2000)

trabalha com o universo de significados, motivações, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variável. (idem, 2000, p.22).

Apresentamos a sistematização deste estudo em capítulos:

No primeiro capítulo, tratamos do envelhecimento populacional como fenômeno

mundial e no Brasil, as relações conflituosas familiares e a violência contra a pessoa

idosa.

No segundo capítulo, fizemos um relato acerca do marco legal de proteção à pessoa

idosa no Brasil: Lei de Execução Penal (LEP, 1984); Código Penal (CP, 1984);

Constituição Federal (CF, 1988); Política Nacional do Idoso (PNI, 1994); Política

Estadual do Idoso (PEI, 1998); Código Processo Civil (CPC, 2001); Código Civil (CC,

2002); Estatuto do Idoso (EI, 2003); Rede Nacional de Prevenção da Violência e

Promoção da Saúde (Portaria 936/GM/04) e a Política Nacional de Saúde do Idoso

(PNSI, 2006).

No terceiro capítulo, apresentamos o Programa de Atenção à Pessoa Idosa no

Município de Serra, com ênfase no Projeto SOS 3ª Idade/SOS Idoso.

No quarto capítulo, apresentamos os dados que foram coletados nas entrevistas

com os idosos e seus familiares e o tratamento deles analisados e correlacionando-

os e fundamentando a literatura existente.

Page 27: Violência Idoso Dependente

26

Nas considerações finais, pontuamos o que foi relevante na análise dos dados e

apontamos os novos horizontes que se abrirão a partir desta pesquisa, além de

possibilitar e fomentar na sociedade a discussão de como a violência intrafamiliar

com o idoso com dependência funcional ou mesmo aquele idoso sem problemas

físicos ou psíquicos está configurada nos lares. Especificamente no município de

Serra, medidas sociais e preventivas já foram iniciadas em 2004, com a criação do

SOS 3ª Idade. Em 2006, os resultados obtidos nos atendimentos do SOS Idoso são

apresentados na pesquisa de maneira a desvelar a violência intrafamiliar cometida

contra os idosos e se tornam profícuos na construção de estratégias de

enfrentamento.

Nota-se a importância e a necessidade de discutir a temática que permeia a

sociedade, pois a longevidade dos idosos é um fato concreto, e a partir dessas

discussões ou pesquisas possam gerar subsídios onde as leis em vigência e já

citadas efetivamente garantam a segurança, dignidade, saúde, promoção e a

integridade do idoso junto aos familiares. Medidas que desenvolvam e fortaleçam os

vínculos familiares. O resultado da pesquisa apresentou, que a falta desses vínculos

ou de como eles foram constituídos, ocasionam maus tratos e desrespeitos aos

idosos dependentes oriundos de incapacidades funcionais pelos seus cuidadores,

tornando-os cuidadores/agressores.

Page 28: Violência Idoso Dependente

27

CAPÍTULO I

2. O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL

A população mundial está envelhecendo num ritmo muito acentuado. Estima-se que

a população mundial de idosos seja de 629 milhões de pessoas, com um

crescimento anual na taxa de (2%), sendo um ritmo mais alto em relação ao resto da

população. De acordo com as Nações Unidas (ONU), 360 milhões desta população

idosa residem em países em desenvolvimento, sendo que (53%) residentes na Ásia;

(24%) na Europa; (8%) na América do Norte; (7%) na América Latina e Caribe e

(7%) na África (BERZINS, 2003, p.22).

A população idosa no Brasil tem aumentado consideravelmente em relação às

outras faixas etárias, e de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE, 2000) representa um contingente de quase 15 milhões de

pessoas com 60 anos ou mais de idade (8,6%) da população brasileira.

Nos próximos 20 anos, a população idosa do Brasil poderá ultrapassar os 30

milhões de pessoas e deverá representar quase 13% da população ao final deste

período. Em 2000, segundo o Censo, a população de 60 anos ou mais de idade era

de 14.536.029 de pessoas, contra 10.722.705 em 1991. A população idosa do

Espírito Santo é de 273 mil, conforme os indicadores do Departamento de

Informática do SUS - ES (DATASUS-ES1, 2005). De acordo com o relatório da

Secretaria de Administração Estratégica do município de Serra (PMS, 2006), com

referência no Censo IBGE (2000), a população idosa no município é de 16.466

idosos e até a conclusão desta pesquisa não registramos dados mais atuais quanto

à população de idosos no município para comparar em números percentuais com a

população do município de Serra, que em 01.07.2006 (IBGE) é estimada em

394.370 pessoas.

1 DATASUS, órgão da secretaria executiva do Ministério da Saúde, que tem como atribuição a responsabilidade de coletar, processar e disseminar informações sobre a saúde.

Page 29: Violência Idoso Dependente

28

O peso relativo da população idosa no início da década representava (7,3%),

enquanto, em 2000, essa proporção atingia (8,6%). Em 1980, havia cerca de 16

idosos para cada 100 crianças; em 2000, essa relação praticamente dobrou,

passando para quase 30 idosos por 100 crianças, portanto a longevidade vem

contribuindo progressivamente para o aumento de idosos na população (IBGE,

2000). Um exemplo é o grupo das pessoas de 75 anos ou mais de idade que teve o

maior crescimento relativo (49,3%) nos últimos dez anos, em relação ao total da

população idosa.

Moragas (1997, p.21) cita também que a proporção de pessoas idosas em relação

ao total da população é a que mais aumenta, superando os níveis em qualquer

época da história, e justifica o fato ocorrido considerando as melhorias no nível de

vida e a redução da taxa de natalidade.

O fenômeno da longevidade em virtude do envelhecimento tem ocorrido de forma

contínua. Em países centrais, a transição ocorreu de maneira diferente de países

periféricos, como no Brasil. Naqueles países se deu de forma lenta e gradativa, de

acordo com o desenvolvimento econômico e social, pois encontrou um cenário

socioeconômico favorável, que propiciou a expansão do sistema de proteção. Em

países em desenvolvimento como o Brasil, não teve o mesmo aparato em face da

conjuntura recessiva e da crise fiscal que impedia a expansão do sistema de

proteção social para todos os grupos etários (CAMARANO, 2004).

No Brasil, o processo de transição demográfica se desenvolve de forma vertiginosa

e heterogênea, associado às desiguais condições sociais no país. Este fato pode ser

observado por Veras (2003, p.8), quando ele cita que: “a população idosa se

constitui como um grupo bastante diferenciado, entre si e em relação aos demais

grupos etários, tanto do ponto de vista das condições sociais, quanto dos aspectos

demográficos e epidemiológicos”.

No entanto, a partir da década de 90, o fenômeno se tornou visível devido às

necessidades especiais que esta população requer, como medidas preventivas,

assistenciais, de saúde, ficando a velhice então suscetível à discussão de alguns

setores públicos.

Page 30: Violência Idoso Dependente

29

O envelhecimento populacional no Brasil tem como fatores salientados pelos

estudiosos a redução da taxa de fecundidade decorrente da inserção da mulher no

mercado de trabalho; o uso de contraceptivos; a passagem da sociedade rural para

urbana; também a redução da taxa de mortalidade, verificado pelo acesso das

pessoas ao sistema de saúde; condições de saneamento básico; investimento em

tecnologia; avanço da medicina e medidas preventivas, como utilização de vacinas e

medicamentos como antibióticos; políticas de saúde que contribuíram para o

aumento da expectativa de vida (BERZINS, 2003, p.29; CAMARANO, 2004, p.28).

Esses fatores contribuíram para que a pirâmide etária de base larga e a forma

triangular - características de regimes demográficos de altas taxas de fecundidade e

de mortalidade, mudasse para uma forma mais arredondada, de base reduzida,

característica de regimes de grande redução na fecundidade (Berquó, 1999, p.13).

Gráfico: 1

Gráfico 1: Pirâmide etária

Fonte: Atlas geográfico do Brasil - Editora Melhoramentos Ltda. - Direitos para a internet reservados

ao UOL 12.11.2006

A figura acima confirma a expectativa do aumento de vida da população brasileira,

uma vez que na década de 70 a faixa etária entre 50 a 70 anos era pouco

representativa e na década de 2000 houve um acréscimo considerável,

especialmente na faixa etária compreendida entre 55 e 70 anos.

Page 31: Violência Idoso Dependente

30

No Brasil, a pesquisa do Censo do IBGE em 2000 apontou que (62,4%) dos idosos

são responsáveis pelos domicílios e têm, em média, 69 anos de idade e 3,4 anos de

estudo.

As mulheres constituem a maioria da população idosa no Brasil, com (55%), e

predominam nas áreas urbanas. As idosas têm maior probabilidade de ficar viúvas

em situação sócioeconômica desvantajosa, participam mais que os homens nas

atividades extras domésticas, de organizações de movimento de mulheres, fazem

cursos especiais, viagens e trabalhos remunerados temporários, assumem

progressivamente o papel de chefe de famílias e provedoras. Os homens mais

velhos têm mais dificuldades de se adaptar à saída do mercado de trabalho.

Berzins (2003) relata que os fatores que contribuem para maior longevidade da

população feminina são vários: a proteção hormonal do estrógeno, e possuem

diferenças em relação ao homem, como a sua inserção diferente no mercado de

trabalho, o consumo de tabaco e álcool, a postura em relação à saúde/doença e a

relação com serviço/saúde.

Entre 1940 e 2000 houve um aumento na proporção de pessoas alfabetizadas, bem

como no número médio de anos de estudo, porém na população idosa temos uma

diferença entre homens e mulheres, onde a mulher sai em desvantagem. Num

contexto geral, continuam com baixa escolaridade, sendo os homens com (68,9%) e

as mulheres com (63,4%) de alfabetizados. Até os anos 60, os homens tinham mais

acesso à escola do que as mulheres (BERZINS, 2003).

Nas últimas décadas, constata-se um crescimento de (16,1%) na alfabetização de

idosos, promovendo aumento significativo no percentual de idosos alfabetizados

do país, que pode ser atribuído à reforma da política educacional no Brasil

(IBGE, 2000).

Camarano (2002) afirma que as famílias brasileiras nas quais existem idosos estão

em melhores condições econômicas do que as demais famílias. Os rendimentos dos

idosos brasileiros se situam num patamar mais elevado do que o da população

jovem, e possuem casa própria. Isso se deve, em grande medida, aos tipos de

arranjos internos e etapas de ciclo familiar que estabelecem diferentes relações de

dependência econômica entre os membros das famílias, bem como à

Page 32: Violência Idoso Dependente

31

universalização dos benefícios da seguridade social (Beneficio de Prestação

Continuada - BPC e Renda Mensal Vitalícia).

Ainda em relação ao rendimento, as mulheres têm o menor em todas as faixas

etárias, e são oriundos de aposentadorias e pensões por viuvez, e em casos

específicos voltam a trabalhar para complementar a renda familiar (BERZINS, 2003,

p.30).

Com Veras (1999, p.45), no entanto, verificamos que não é uma situação mais

vantajosa, visto que ao final na sua aposentadoria a situação do idoso é pior, porque

os seus ganhos durante o período produtivo ficam reduzidos. Portanto, isso não

significa que o idoso esteja em condições ideais, e sim que o resto da população

está empobrecida.

2.1 A FAMÍLIA E O IDOSO DEPENDENTE

Embora velhice não possa ser considerada sinônimo de doença, à medida que se

vai envelhecendo, aparecem as doenças crônicas, como hipertensão arterial,

diabetes, parkinson, alzheimer, entre outras. Essas doenças podem desencadear

limitações funcionais, onde o idoso pode adquirir maior dependência total e parcial,

conforme o seu estilo de vida, reduzindo sua capacidade de adaptar-se ao meio

social e familiar, propiciando estresse causado por essas doenças ou limitações

funcionais. Com este processo de envelhecimento, as funções corporais vão

sofrendo alterações, comprometendo sua capacidade funcional e o seu desempenho

nas atividades básicas e diárias, onde muitas vezes os idosos não aceitam viver

com algumas incapacidades.

A capacidade funcional e dependência acompanham o processo de envelhecimento

e a literatura médica apresenta a capacidade funcional

como um indicador de saúde de idosos e a dependência como um sinal de falência da habilidade física, psicológica ou social – seja por doença, por uso de medicamentos, por trauma ou pelo processo contínuo do envelhecimento (AGREE, 1999 apud GIACOMIN, 2004, p.133).

A fragilidade é forte determinante de incapacidade e dependência. A dependência é

um fenômeno com numerosa interface com aspectos mentais, físicos, econômicos,

Page 33: Violência Idoso Dependente

32

sociais e emocionais. Margret Baltes (1996) apud Torres et al. (2004), discorre

que a dependência na velhice tem caráter multidimensional, entende-se que a

dependência assume diferentes momentos do ciclo vital, e na velhice é visto

como evento negativo e estressante. O que perpassa a dependência na velhice

são causas múltiplas que atuam em conjunto, influenciadas pelo estado

biológico, condições ecológicas, sociais, culturais, econômicas e psicológicas

(TORRES et al. 2004, p. 86).

A dependência física e cognitiva dos idosos propõe forte carga de exigência para os

familiares que respondem pelo cuidado. A avaliação que os cuidadores familiares

fazem do cuidado como algo oneroso não depende apenas do grau de incapacidade

do idoso, mas também do tipo de doença, de seu grau de cronocidade, do seu

prognóstico, da idade do idoso e de seus cuidadores, do grau de parentesco que há

entre os cuidadores e o idoso, das relações familiares atuais e dos

comprometimentos financeiros e instrumentais acarretados pela incapacidade do

idoso (NÉRI & SOMMERHALDER, 2002 apud TORRES et al. 2004, p. 89).

A fragilidade e a incapacidade funcional são enormes desafios para a maioria das

pessoas que envelhecem, elas não por acaso, costumam dizer que têm mais medo

desses eventos do que da própria morte. Neste sentido, prestar cuidado a um

familiar fragilizado e dependente mobiliza tantas emoções.

Papaléo Netto (1996) apud Torres et al. (2004) utiliza autores como Orem e Sullivan

(1979) que identificam quatro níveis de dependência para o auto cuidado e

relacionam-se às necessidades de intervenção. São eles:

Nível l - Independentes: possuem boas condições de saúde e de autocuidado,

mantendo seu estilo de vida, tendo diante de si um grande número de opções.

Nível lI – Parcialmente independente: necessita de ajustamento para manter a

continuidade de seu estilo de vida, estando vulneráveis ao declínio da saúde e

diminuição de suas habilidades para o auto cuidado.

Nível III – Independentes delegadores: apresentam condições de saúde e habilidade

para autocuidado precário, tendo seu estilo de vida ameaçado.

Nível IV – dependentes: as condições de saúde estão intensamente comprometidas

e suas habilidades para autocuidado são deficitários ou ausentes. Freqüentemente

enfrentam doenças terminais e o processo de morte.

Page 34: Violência Idoso Dependente

33

Campedelli, Perracini & Dias (1993) apud Torres et al. (2004) fazem referência à

classificação de Gray (1985), que relata três níveis de intervenção dinâmicas e

complementares, conforme o grau de fragilidade e de dependência, combinados

com os recursos instrumentais, materiais, sociais e psicológicos dos cuidadores: o

cuidado formal, a institucionalização e o cuidado informal. O primeiro nível é

exercido por profissionais, no lar ou em instituições; o segundo, por profissionais e

por voluntários em instituições de curta, média e longa permanência, e o terceiro,

por leigos (rede familiar, amigos e voluntários).

No cuidado com o idoso dependente, a família é a fonte primária de suporte social

informal, onde se almeja uma atmosfera afetiva comum, de aquisição de

competência e de interação entre os membros (PELZER & FERNANDES, 1997

apud TORRES et al. 2004).

Os valores e costumes, a educação e a situação socioeconômica da família

interagem com a idade e o gênero das pessoas que cuidam e das que são cuidadas.

A relação entre o idoso e sua família é influenciada pelos moldes de família

existentes nas sociedades, principalmente daquela em que o idoso se insere.

O processo de cuidar da pessoa idosa depende da integração das relações

familiares, da disponibilidade de recursos pessoais, e da história anterior de

relacionamento com o idoso (PERRACINI, 1994 apud TORRES et al. 2004).

A família tem um papel de suma importância, não só em proporcionar ajuda

nas atividades de vida diária como, também, em proporcionar suporte

emocional ao idoso. E nesse ponto que incidem as maiores dificuldades dos

familiares ao cuidar da pessoa idosa. A tarefa de cuidar do idoso fragilizado e de

alta dependência no domicílio altera toda a dinâmica familiar. As rotinas

domésticas terão que ser definidas com base nas necessidades do idoso, pois ele

passa a ser o foco de atenção da família. A relação de dependência entre o

idoso e o cuidador familiar introduz uma nova concepção de si e do outro,

assim como também constrangimentos e restrições sociais, físicos e financeiros

(MENDES et al. 2002 apud TORRES et al. 2004).

As transformações ocorridas no âmbito familiar, especialmente na estrutura familiar em virtude da diminuição do tamanho da família e da inserção da mulher no mercado de trabalho dificultaram o suporte familiar ao idoso que vem a necessitar dessa tarefa exercida até pouco tempo pelas mulheres no

Page 35: Violência Idoso Dependente

34

seio das famílias nucleares, especialmente aquele idoso que é acometido de doença grave ou incapacidade (ASSIS, 2004, p.15).

Os problemas geralmente têm origem ou se acentuam com a perda do cônjuge e

podem representar efeitos da perda da autoridade, ainda a relação no âmbito

familiar é um dos principais fatores de equilíbrio e bem-estar dos que envelhecem,

ou do inverso, frutos de laços construídos ao longo do tempo que repercutem ao

envelhecer em rancor ou raiva (ASSIS, 2004).

Algumas atividades do dia- a- dia são indispensáveis para a manutenção de funções

vitais ao ser humano. De acordo com Giacomin (2004), essas funções vitais podem

ser de autocuidado, de mobilidade e mentais e podem ser entendidas como aquelas

que fazem as pessoas funcionarem. Quando o idoso não é mais capaz de realizar

essas tarefas diárias de prover o auto-cuidado, como vestir-se, banhar-se, transferir-

se de uma cadeira, alimentar-se, precisa de cuidados de alguém que faça por ele,

ocorre neste momento a dependência, seja temporária ou definitiva.

Quando há ocorrência da falta da independência funcional faz-se necessário a

atenção de um cuidador, já que o idoso dependente fica limitado ao atendimento de

suas necessidades. Giacomin (2004, p.134) discute que a “independência funcional,

é a capacidade de realizar sozinho todas essas funções essenciais”. Funções essas

entendidas como necessidades básicas no dia - a- dia que precisam ser supridas.

Os idosos em condição de dependência precisam de ajuda familiar, principalmente

de um cuidado mais específico para auxiliá-lo nas suas necessidades básicas.

Sabemos que a dependência de um idoso gera impacto na economia familiar e

conflitos intergeracionais. Essa dependência aumenta de acordo com sua fragilidade

e vulnerabilidade do estado de vida e saúde do mesmo.

Sabemos também que não é só a incapacidade que cria a dependência, mas a

soma da incapacidade com a necessidade (SOUZA, 2004 et al.).

Essas limitações causadas pela dependência e a necessidade de ajuda total de

outras pessoas fazem com que muitos idosos se isolem, não saindo mais de suas

casas, vivendo em situação de dependência e isolamento social.

De acordo com estudos muitas famílias não estão preparadas para cuidar de seus

idosos dependentes, que exigem, tempo e dedicação, porque o tempo que era

dedicado ao lazer e aos amigos agora é dedicado ao cuidado do idoso. Sendo

Page 36: Violência Idoso Dependente

35

assim, essa redução de atividade e isolamento social, promovida pelos cuidados

com o idoso dependente colabora para o estresse mental, físico e financeiro em

seus cuidadores, podendo levá-los à depressão, raiva e torná-los violentos,

contribuindo com a negligência no cuidar e maus tratos nas relações intrafamiliares.

Sendo a família uma instituição fundamental para a vida das diferentes sociedades,

temos que o fenômeno do envelhecimento e da velhice humana perpassa por

momentos históricos e conflitos de geração da mesma. E é dentro da família que o

indivíduo desenvolve as relações e passa a ser conhecido pelos apelidos familiares

e por qualidades e defeitos, sem precisar de máscaras, logo, não há necessidade de

esconder sua verdadeira personalidade.

Nos dias atuais, a família deixa de ser monoparental e incorpora um novo modelo no

qual familiares se ajuntam, morando todos na mesma casa, principalmente com os

idosos. No entanto, com a adesão deste novo membro, faz-se necessário uma

estruturação familiar que dê conta de todas as necessidades básicas do idoso.

Portanto, tal instituição tem função importante no que diz respeito à vida de um

indivíduo, principalmente na vida de um idoso que faz parte do grupo familiar, tendo

tantas especificações e limitações oriundas da nova fase: a velhice. Diante desse

cenário, quando a família não dá conta de cuidar dos idosos, temos que os papéis

de cuidadores passam a ser direcionado, a instituições públicas e/ou privadas os

quais muitas vezes, também não dão conta de suas demandas enquanto sujeito de

direitos. Quase todos os serviços educativos, sanitários, de segurança social e

assistencial que hoje o Estado assume, com maior ou menor êxito, foram em alguma

época executados pela família e atualmente nas sociedades avançadas modernas,

um grande número de instituições, tanto privadas como governamentais, substitui a

família nessas funções “históricas” (PAPALÉO, 2005 p. 93).

As relações entre os idosos e as famílias sofreram diversas mudanças sociais,

econômicas e culturais associadas à modernização. Isso se dá principalmente pela

inserção da mulher no mercado de trabalho, pela redução do tamanho da família e

também pelo surgimento dos novos papéis de gênero e da maior longevidade. Logo,

estão diante de uma situação onde os membros não possuem as devidas condições

Page 37: Violência Idoso Dependente

36

de arcar e dar atenção aos idosos e suas necessidades particulares, não por

vontade própria, mas sim de acordo com as novas configurações, que os impedem

de realizar ações integradoras e que são de direito dos mesmos.

2.2 O LIMITE ENTRE CUIDAR E MALTRATAR

Na obra de Yves Michaud (1989) encontramos a definição de violência como o fato

de agir sobre alguém ou fazê-lo agir contra a sua vontade empregando a força ou

intimidação. Ele conceitua segundo os dicionários franceses contemporâneos, sendo

a violência o assassinato, a tortura, as agressões e vias de fatos, as guerras, a

opressão, a criminalidade, o terrorismo. Etimologicamente, “violência” advém do

latim violentia, que significa violência. Na tradução do latim para o grego, o verbo

violare significa tratar com violência, profanar, e a palavra vis significa a força em

ação, confirmando a conceituação de Michaud.

A história e a sociologia darão uma idéia das incertezas que cercam a apreensão da

violência, uma vez que a violência contemporânea muda de fisionomia e de escala

porque é o produto de sociedades nas quais também mudaram a administração de

todos os aspectos da vida social, a tecnologia e os meios de comunicação de

massa, a mídia (MICHAUD, 1989).

Em Wieviorka (1997) encontramos que a violência não é a mesma de um período a

outro, surge um novo paradigma da violência que caracterizaria o mundo

contemporâneo, correspondente à história e transformações recentes, a partir dos

anos 60 e 70, proporcionando novos significados. Ele confirma que “a violência

contemporânea situa-se no cruzamento do social, do político e do cultural, do qual

ela exprime correntemente as transformações e a eventual desestruturação” (p.36).

Minayo (1999) cita que a violência contra os idosos não ocorre só no Brasil: faz parte

da violência social em geral e constitui um fenômeno universal. Em muitas

sociedades, diversas expressões dessa violência, freqüentemente, são tratadas

como uma forma de agir “normal” e “naturalizada”, ficando ocultas nos usos, nos

costumes e nas relações entre as pessoas. Tanto no Brasil como no mundo, a

violência contra os mais velhos se expressa nas formas de relações entre os ricos e

Page 38: Violência Idoso Dependente

37

os pobres, entre os gêneros, as raças e os grupos de idade nas várias esferas de

poder político, institucional e familiar.

A estudiosa apresenta que as violências contra idosos se manifestam de forma:

estrutural compreendida como aquela que ocorre pela desigualdade social e é

naturalizada nas manifestações de pobreza, de miséria e de discriminação;

interpessoal que se refere às interações e relações cotidianas e institucionais que

diz respeito à aplicação ou à omissão na gestão das políticas sociais e pelas

instituições de assistência. A literatura internacional estabeleceu algumas categorias

e tipologias para designar as várias formas de violências praticadas contra a

população idosa:

• Abuso físico, maus tratos físicos ou violência física são expressões que se

referem ao uso da força física para compelir os idosos a fazerem o que

não desejam, para feri-los, provocar-lhes dor, incapacidade ou morte.

• Abuso psicológico, violência psicológica ou maus tratos psicológicos

correspondem a agressões verbais ou gestuais com o objetivo de

aterrorizar os idosos, humilhá-los, restringir sua liberdade ou isolá-los do

convívio social.

• Abuso sexual, violência sexual são termos que se referem ao ato ou jogo

sexual de caráter homo ou hetero-relacional, utilizando pessoas idosas.

Esses abusos visam a obter excitação, relação sexual ou práticas eróticas

por meio de aliciamento, violência física ou ameaças.

• Abandono é uma forma de violência que se manifesta pela ausência ou

deserção dos responsáveis governamentais, institucionais ou familiares de

prestarem socorro a uma pessoa idosa que necessite de proteção.

• Negligência refere-se à recusa ou à omissão de cuidados devidos e

necessários aos idosos, por parte dos responsáveis familiares ou

institucionais. A negligência é uma das formas de violência contra os

idosos mais presente no país. Ela se manifesta, freqüentemente,

associada a outros abusos que geram lesões e traumas físicos,

emocionais e sociais, em particular, para as que se encontram em

situação de múltipla dependência ou incapacidade.

Page 39: Violência Idoso Dependente

38

• Abuso financeiro e econômico consiste na exploração imprópria ou ilegal

dos idosos ou ao uso não consentido por eles de seus recursos

financeiros e patrimoniais. Esse tipo de violência ocorre, sobretudo, no

âmbito familiar.

• Auto-negligência diz respeito à conduta da pessoa idosa que ameaça sua

própria saúde ou segurança, pela recusa de prover cuidados necessários

a si mesma.

O Plano de Ação para o Enfrentamento da Violência Contra a Pessoa Idosa

(2005, p.11) utiliza-se do conceito estabelecido pela Rede Internacional para a

Prevenção dos Maus Tratos contra o Idoso, onde define a violência contra esse

grupo etário: “O maltrato ao idoso é um ato (único ou repetido) ou omissão que lhe

cause dano ou aflição e que se produz em qualquer relação na qual exista

expectativa de confiança”.

A classificação e a conceituação internacional estão em conformidade com o

documento da Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e

Violências - Ministério da Saúde (MS, 2001).

De acordo com o crescimento da população idosa e a ausência de implementação

de políticas que dêem sustentação a esta demanda, está ocorrendo um aumento do

número de pessoas idosas vítimas de negligências, abuso, violência e maus-tratos.

Percebe-se que esses tipos de violências no interior das famílias são vistos como

um acontecimento natural. O fato de a família ser considerada sagrada e intocável

pode estar contribuindo para que as situações de abuso, negligência, violência e

maus tratos, permaneçam ocultos pelos envolvidos.

Em conseqüência da fragilidade física e emocional os idosos, quando são vítimas de

maus tratos praticados pelos seus familiares, relutam em denunciar os seus

agressores, por medo de sofrer represálias e por alimentarem sentimento de afeto

aos mesmos.

Os idosos geralmente se referem aos filhos e netos de maneira positiva, elogiando e

valorizando a vida doméstica deixando menos evidentes as dificuldades que

possuem por questões de segurança.

Page 40: Violência Idoso Dependente

39

Geralmente, a violência intrafamiliar que envolve o idoso fragilizado e dependente é

conseqüência das perdas funcionais físicas, da aposentadoria, do acometimento de

múltiplas doenças crônico-degenerativas, onde determinam a perda de papéis

sociais do idoso (SOUZA, 2004).

Em algumas situações, os maus tratos ocorrem pelo fato dos idosos possuírem

casas próprias, favorecendo que os filhos e netos morem com eles, expondo-os a

conflitos de gerações. Existem casos de familiares que voltam ao convívio dos

idosos por falta de recursos financeiros e econômicos para a sua sobrevivência, e

acabam apropriando-se de seus bens e ameaçando-os de expulsão de suas

próprias casas, utilizando de violência física ou ameaças.

Sanches (1997) apud Grossi e Souza defende que brigas conjugais,

desentendimento com filhos, a falta de recursos econômicos e de espaços são

fatores que podem contribuir para o abuso e maltrato familiar contra o idoso, mesmo

sendo este o proprietário do local onde reside a família.

No que diz respeito à saúde, principalmente daqueles que dependem do

atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS), percebemos que os idosos são

bastante sacrificados, visto não possuírem um atendimento específico para a idade.

Enfrentam filas intermináveis para conseguir uma consulta médica, e os

medicamentos de que necessitam. Esses medicamentos não são encontrados com

facilidade na rede pública, além do que os hospitais não oferecem leitos reservados

para os mesmos. Há casos em que idosos ficam em macas pelos corredores de

hospitais. Outro ponto é a negligência pela falta do não acompanhamento de seus

familiares.

Zimerman (2000) apud Grossi e Souza chama atenção para o fato de que os idosos

brasileiros necessitam de maior atenção e respeito às suas características

particulares, como por exemplo, a internação de maior duração e a reserva de leitos

para os idosos doentes.

Percebemos que, com o crescimento da população idosa a violência na área da

saúde está bem acentuada com os maus tratos a que os idosos são submetidos.

Page 41: Violência Idoso Dependente

40

2.3 FATORES DE RISCOS

Segundo estudiosos da violência contra a pessoa idosa, há alguns fatores de riscos

que comparecem nas relações intrafamiliares: a história de violência familiar,

dependência (idoso fragilizado e agressor dependente da vítima), incapacidade

funcional com alto grau de dependência para os cuidados, estresse do cuidador,

isolamento social, problemas na área da saúde mental, presença de alcoolistas

entre os membros da família, entre outros (MACHADO; QUEIROZ, 2002).

Caldas (2004, p.159) cita que a idade avançada propicia fragilidade, que é expressa

por solidão, presença de múltiplas doenças, vulnerabilidades a efeitos de

tratamentos, vulnerabilidade a doenças, problemas funcionais, quedas dentre outros.

1. Fatores de riscos do idoso:

- idosos mais longevos;

- idosas mulheres;

- idosos dependentes de cuidados diretos;

2. Fatores de riscos do cuidador:

- idade avançada (60 anos e mais);

- cuidadoras mulheres;

- dependência financeira da renda do idoso;

- cuidador único em cuidado integral;

- cuidador doente / estressado;

3. Fatores de riscos do ambiente situacional:

- convivência intergeracional;

- isolamento social;

Page 42: Violência Idoso Dependente

41

- dependências mútuas cuidador / idoso.

CAPÍTULO II

3. PROTEÇÃO À PESSOA IDOSA NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA - MARCO

LEGAL

3.1.LEI DE EXECUÇÃO PENAL (LEP, 1984) - LEI N º 7.210/84.

Estabelece que no caso do condenado com mais de 60 anos, o trabalho que lhe for

atribuído na prisão deve ser compatível com a idade (Lei n º 7.210/84- art. 32 § 2º).

Na execução da pena, o sentenciado maior de 70 anos pode ser beneficiado com a

prisão domiciliar (Lei n º 7.210/84 - art. 117 - inciso I).

3.2.CÓDIGO PENAL (CP, 1984) - LEI Nº 7.209/84.

Na esfera de ação penal são circunstâncias que atenuam a pena: “I – ser o agente

menor de 21 anos, na data do fato, ou maior de 70 anos, na data da sentença art.65

inciso I do Código Penal”.

Ainda, nessa mesma área está contemplado como requisito da suspensão da pena

“... não superior a 4 (quatro) anos, poderá ser suspensa, por 4 (quatro) a 6 (seis)

anos, desde que o condenado seja maior de 70 (setenta) anos de idade art.77 inciso

III - § 2º do Código Penal.

Com relação à redução dos prazos de prescrição, o Código Penal preceitua: “são

reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso era, ao tempo do

crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença, maior de 70

(setenta) anos. Artigo 115 do Código Penal, redação dada pela Lei (nº 7.209/84).

Page 43: Violência Idoso Dependente

42

3.3.CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

A primeira iniciativa de proteção e promoção social e amparo à velhice neste

governo democrático encontra-se na Carta Magna, a Constituição Federal de 1988.

Pretendemos expor aos leitores deste estudo os principais Títulos, Capítulos e

Artigos que mencionam os direitos dos idosos na Constituição Federal de 1988.

No Título II, trata dos Direitos e Garantias Fundamentais do cidadão e no Artigo 5º

cita que “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade

do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, e á propriedade”.

No Artigo (Art.) 6o estabelece que “São direitos sociais a educação, a saúde, o

trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à

maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta

Constituição”.

O Artigo 7º cita que “São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros

que visem à melhoria de sua condição social”, faz menção nos incisos XXIV à

aposentadoria; e no inciso XXX a proibição de diferença de salários, de exercício de

funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil; no

Art. 8º estabelece no inciso VII cita que “o aposentado filiado tem direito a votar e

ser votado nas organizações sindicais”; entendemos que pela constituição os

aposentados representam a categoria de idoso.

O Capítulo IV trata dos Direitos Políticos e podemos encontrar no Artigo 14º: “A

soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto,

com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:

1º - O alistamento eleitoral e o voto são: [...]

II - facultativos para:

a) os analfabetos

b) e para os maiores de setenta anos”;

Page 44: Violência Idoso Dependente

43

O Título III trata Da Organização do Estado e o Capítulo VII trata Da Administração

Pública, onde no Artigo 40 cita a pessoa idosa quando diz que: “Aos servidores

titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime de

previdência de caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo

ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas, observados

critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo”.

Lê-se no: § 1º “Os servidores abrangidos pelo regime de previdência de que trata

este artigo serão aposentados, calculados os seus proventos a partir dos valores

fixados na forma dos parágrafos (§§) 3º e 17.

I - por invalidez permanente, sendo os proventos proporcionais ao tempo de

contribuição, exceto se decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou

doença grave, contagiosa ou incurável, na forma da lei;

II - compulsoriamente, aos setenta anos de idade, com proventos proporcionais ao

tempo de contribuição; [...]

a) sessenta anos de idade e trinta e cinco de contribuição, se homem, e cinqüenta e

cinco anos de idade e trinta de contribuição, se mulher;

b) sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos de idade, se mulher,

com proventos proporcionais ao tempo de contribuição”.

O Título VIII organiza os direitos concernentes Da Ordem Social, no Capítulo I trata

Da Disposição Geral

No Artigo 193 estabelece que “A ordem social tem como base o primado do

trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais”.

O Capítulo II Da Seguridade Social organiza no Artigo 194 que “A seguridade social

compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da

sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à

assistência social”.

Page 45: Violência Idoso Dependente

44

Na Seção II, que trata da Saúde, no Artigo 196, encontramos que “A saúde é direito

de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que

visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e

igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.

Na Seção III Da Previdência Social no Artigo 201 configura “A previdência social

será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação

obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e

atenderá, nos termos da lei, a:

I - cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada;

II - proteção à maternidade, especialmente à gestante;

III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário; [...].

De acordo com o § 1º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para

a concessão de aposentadoria aos beneficiários do regime geral de previdência

social, ressalvados os casos de atividades exercidas sob condições especiais que

prejudiquem a saúde ou a integridade física e quando se tratar de segurados

portadores de deficiência, nos termos definidos em lei complementar.

§ 6º A gratificação natalina dos aposentados e pensionistas terá por base o valor dos

proventos do mês de dezembro de cada ano.

§ 7º É assegurada aposentadoria no regime geral de previdência social, nos termos

da lei, obedecidas as seguintes condições:

I - trinta e cinco anos de contribuição, se homem, e trinta anos de contribuição, se

mulher;

II - sessenta e cinco anos de idade, se homem, e sessenta anos de idade, se

mulher, reduzido em cinco anos o limite para os trabalhadores rurais de ambos os

sexos e para os que exerçam suas atividades em regime de economia familiar,

nestes incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o pescador artesanal”. [...].

Page 46: Violência Idoso Dependente

45

Na Seção IV Da Assistência Social o Artigo 203 cita que “A assistência social será

prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade

social, e tem por objetivos:

I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; [...]”.

O Capítulo VII reúne os direitos e deveres Da Família, Da Criança, Do Adolescente e

Do Idoso.

Artigo 226 menciona que “A família, base da sociedade, tem especial proteção do

Estado. A responsabilidade do Estado para com o idoso e com a família encontra-se

no oitavo parágrafo:

§ 8º - O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a

integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações”.

No Artigo 227 estabelece que “É dever da família, da sociedade e do Estado

assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à

saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à

dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de

colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,

violência, crueldade e opressão”.

§ 1º - O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança e

do adolescente, admitida à participação de entidades não governamentais e

obedecendo aos seguintes preceitos:

II - garantia de direitos previdenciários e trabalhistas;

IV - garantia de pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional,

igualdade na relação processual e defesa técnica por profissional habilitado,

segundo dispuser a legislação tutelar específica;

O Artigo 230 registra que “A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar

as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua

dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida”.

Page 47: Violência Idoso Dependente

46

§ 1º - Os programas de amparo aos idosos serão executados preferencialmente em

seus lares.

§ 2º - Aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a gratuidade dos

transportes coletivos urbanos.

A Constituição Federal reúne vários direitos e garantias aos idosos, no entanto eles

necessitam de regulamentação para a sua implementação como ocorrido com o § 2º

do Artigo 230, que menciona o transporte urbano gratuito aos maiores de 65 anos,

que foi incluído no Artigo 40 do Estatuto do Idoso de 2003 como direito ao transporte

interestadual gratuito. Todavia, depois de várias liminares das empresas de

transportes que negavam esse direito, o presidente da República assinou o Decreto

nº 5.934 (em anexo) de 18/10/2006, regulamentando o artigo. O decreto considera

idoso, pessoa com igual ou maiores de 60 anos.

3.4. POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO (PNI, 1994) - LEI Nº 8.842/94.

A Lei nº 8.842, de 04 de janeiro de 1994 e decretada em 03 de julho de 1996 tem

como finalidade e objetivo no artigo 1º assegurar os direitos sociais do idoso, criando

condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na

sociedade. Para efeito desta Lei consideram-se como idosas pessoas com 60 anos

ou mais, mesma idade reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Ela

traz responsabilidades partilhadas pelo Estado, família, sociedade civil, ministério

público, todos os órgãos públicos e instituições sociais. As sua principais regras

estabelecem que compete a:

“I – a família, a sociedade e o Estado têm o dever de assegurar ao idoso todos os

direitos da cidadania, garantindo sua participação na comunidade, defendendo sua

dignidade, bem-estar e o direito à vida;

III - o Idoso não deve sofrer discriminação de qualquer natureza, e

IV - o Idoso deve ser o principal agente e o destinatário das transformações a serem

efetivadas através desta política”.

Por considerarmos relevante o que a política estabelece na área da justiça,

registramos as ações como:

Page 48: Violência Idoso Dependente

47

“promover e defender os direitos da pessoa Idosa” (alínea a).

“zelar pela aplicação das normas sobre o Idoso, determinando ações para evitar

abusos e lesões a seus direitos‘’ art. 10 inciso VI - alínea b.

Destaca na lei atenção quanto à conceituação de assistência asilar, onde “entende-

se por modalidade asilar o atendimento, em regime de internato, ao idoso sem

vínculo familiar ou sem condições de prover a própria subsistência de modo a

satisfazer as suas necessidades de moradia, alimentação, saúde e convivência

social (Artigo 3º); modalidade de assistência não-asilar – Centro de Convivência;

Centro de Cuidados Diurno: Hospital - Dia e Centro - Dia; Casa- Lar; Oficina

Abrigada de Trabalho e Atendimento Domiciliar (art. 4º - inciso I a IV); “fica proibida

a permanência, em instituições asilares de caráter social, de idosos portadores de

doenças que exijam assistência médica permanente ou de assistência de

enfermagem intensiva, cuja falta possa agravar ou pôr em risco sua vida ou a vida

de terceiros” (Artigo 18), e “o Idoso terá atendimento preferencial nos órgãos

públicos e privados prestadores de serviços à população” (Artigo 17).

3.5. POLÍTICA ESTADUAL DO IDOSO (PEI/98) - LEI Nº 4.496/98.

O Governo Estadual, através do Decreto nº 4.496 de 27 de julho de 1999

regulamenta a Lei criada em dezembro de 1998, que dispõe sobre a Política

Estadual do Idoso, Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa e do

Fundo Estadual para a Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa. Esta política vem a

responder uma necessidade de participação do Estado quanto à criação da Política

Nacional do Idoso e para tanto ele cria mecanismos na sua organização. Está

estruturado em Capítulos: Capítulo I, seus objetivos, princípios, diretrizes e

competências dos Órgãos e Entidades; Capítulo II do Conselho Estadual de Defesa

dos Direitos da Pessoa Idosa; Capítulo III do Fundo Estadual para a Defesa dos

Direitos da Pessoa Idosa. Ao todo a Lei é constituída por 36 Artigos, e todos eles

vem reforçar o que já está estabelecido no âmbito Federal.

Page 49: Violência Idoso Dependente

48

3.6.CÓDIGO DO PROCESSO CIVIL (CPC/ 01) - LEI N º 10.173/01

O Código do Processo Civil brasileiro sofreu alteração e trata de questões

concernentes ao idoso, quando estabelece que é prioritária a tramitação de

procedimentos judiciais, em que figure como parte pessoa com idade igual ou

superior a 65 anos. Esse comportamento, com a morte do beneficiado, estender-se-

á ao seu cônjuge sobrevivente, companheiro ou companheira, com união estável,

maior de 65 anos (Lei n º 10.173/01 - Artigos 1.211-A e 1.211-C).

3.7.CÓDIGO CIVIL (CC/02) – LEI Nº 10.406/02

O Novo Código Civil, instituído pela Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, é

composto de 2.044 artigos e sua aplicação se fez necessária, visto que se tratava de

lei que alterava a vida das pessoas, devido às transformações sociais sofridas

especialmente no seio das famílias brasileiras. No Capítulo II DOS DIREITOS DA

PERSONALIDADE que passa a dispor sobre os chamados direitos da

personalidade:

Artigo 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são

intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação

voluntária.

Artigo 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da

personalidade, reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas

em lei.

Parágrafo Único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida

prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou

colateral até o quarto grau.

No Capítulo V do Título III encontramos sobre DOS ATOS ILÍCITOS

Artigo 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,

violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato

ilícito.

Page 50: Violência Idoso Dependente

49

O Capítulo VI trata DOS ALIMENTOS e nele encontramos que qualquer dos

cônjuges, ou seja, inclusive o marido, poderá pedir alimentos ao outro.

Artigo 1.694, estabelece que “Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros

pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível

com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua

educação”.

Artigo 1695, “São devidos os alimentos quando quem os pretende não tem bens

suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria mantença, e aquele, de

quem se reclamam, pode fornecê-los, sem desfalque do necessário ao seu

sustento”.

Artigo 1.708, “Com o casamento, a união estável ou o concubinato do credor, cessa

o dever de prestar alimentos”.

Parágrafo Único. “Com relação ao credor cessa, também, o direito a alimentos, se

tiver procedimento indigno em relação ao devedor”.

Consideramos importante ressaltar o que preconiza o Novo Código Civil Brasileiro

devido a situações de atendimento no SOS Idoso. Recentemente atendemos um

caso em que a idosa de 60 anos encontrava-se desamparada de habitação e de

proventos. Após tentativas de aproximação entre filho e mãe sem êxito, procedeu-se

o encaminhamento para a Defensoria Pública, uma vez que a idosa manifestou o

desejo de pleitear a pensão alimentícia na justiça.

3.8. ESTATUTO DO IDOSO (EI /2003) - LEI Nº. 10.741/03

Lei de 1º de outubro de 2003, foi elaborada para fortalecer e implementar uma lei já

existente, que é a Política Nacional do Idoso (PNI, 1994). Nela ficam instituídos os

direitos assegurados à pessoa idosa com igual ou superior a 60 (sessenta) anos.

Na justificativa do Projeto do SOS 3ª Idade - SOS Idoso verifica-se que ele atende a

uma necessidade especificada no Estatuto do Idoso onde no Artigo 4º estabelece

que:

Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será punido na forma da lei.

Page 51: Violência Idoso Dependente

50

No Artigo 46 verifica-se que: “A política de atendimento ao idoso far-se-á por meio

do conjunto articulado de ações governamentais da União, dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios”, e determina linhas de ação da política como serviços

especiais de prevenção e atendimento às vítimas de negligência, maus tratos,

exploração, abuso, crueldade e opressão.

Alguns Artigos consideramos relevantes para análise, como:

É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar o idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária (Artigo 3º).

No 3º Artigo é determinante quando cita que toda a sociedade civil, como o Estado e

família, têm responsabilidades quanto à qualidade de vida e conseqüentemente com

a saúde dos idosos, mas para tal faz-se necessário que cada cidadão contribua para

que durante o processo de envelhecimento o idoso encontre esta qualidade de vida

e este conjunto de direitos, conforme o artigo citado.

Outros artigos para reflexão são os 4º e o 6º. O Artigo 4º já citado na justificativa no

Projeto do SOS 3ª Idade - SOS Idoso.

Artigo 6º “Todo cidadão tem o dever de comunicar à autoridade competente

qualquer forma de violação a esta Lei que tenha testemunhado ou de que tenha

conhecimento”. Este artigo é aplicado quando ocorrem denúncias no SOS 3ª Idade -

SOS Idoso, mas são poucas as pessoas que aceitam denunciar por medo de

represálias.

Registramos outros artigos onde responsabilidades e direitos dos idosos são

expressos, como no Artigo 9º “É obrigação do Estado, garantir à pessoa idosa à vida

e à saúde, mediante políticas públicas que permitam um envelhecimento saudável,

com condições dignas”;

Artigo 15º “É assegurada à atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do

SUS, garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em conjunto articulado e

contínuo das ações e serviços, para a prevenção, promoção, proteção e

recuperação da saúde, incluindo a atenção especial às doenças que afetam

preferencialmente os idosos”;

§ 1 º A prevenção e a manutenção da saúde do idoso serão efetivadas por meio de:

Page 52: Violência Idoso Dependente

51

I – cadastramento da população idosa em base territorial;

II – atendimento geriátrico e gerontológico em ambulatórios.

3.9. REDE NACIONAL DE PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA E PROMOÇÃO DA

SAÚDE - PORTARIA Nº 936/GM/2004

A Portaria do Ministério da Saúde (Nº. 936/2004) de 19 de maio de 2004 estabelece

a necessidade da criação dos Núcleos de Proteção à Pessoa Idosa como política

em resposta às demandas dos usuários idosos.

A mesma Portaria dispõe sobre a estruturação da Rede Nacional de Prevenção da

Violência e Promoção da Saúde e a Implantação e Implementação de Núcleos de

Prevenção à Violência em Estados e Municípios.

É uma Portaria em consonância a Lei nº 8.080 (Lei Orgânica da Saúde), de 19

setembro de 1990 que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e

recuperação de saúde e ainda quanto à organização e funcionamentos dos serviços

correspondentes ao SUS; e com a Portaria nº 737/GM, de 16 de maio de 2001, que

dispõe sobre a Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e

Violências, cujo objetivo é estabelecer diretrizes e responsabilidades institucionais

onde se contemplem e valorizem medidas inerentes à promoção da saúde e a

prevenção de agravos externos.

No Artigo 1º da Portaria Nº. 936/2004 resolve: aprovar a estruturação da Rede

Nacional de Prevenção da Violência e Promoção da Saúde, com o objetivo de

articular a gestão e as ações do Departamento de Ações Programáticas Estratégicas

– Área Técnica de Prevenção da Violência e Causas Externas, da Secretaria de

Prevenção da Violência e Promoção da Saúde Estaduais e Municipais e do Distrito

Federal, Atenção à Saúde – do Ministério da Saúde – DAPES/SAS/MS, com os

Núcleos de com instituições acadêmicas e organizações não governamentais

conveniadas com o Ministério da Saúde e outras iniciativas dos municípios e

estados que contribuam para o desenvolvimento do Plano Nacional de Prevenção

da Violência.

A Rede Nacional de Prevenção da Violência e Promoção da Saúde (Portaria nº 936)

demonstra as responsabilidades competentes nas três esferas de governo, como,

Page 53: Violência Idoso Dependente

52

citado acima, mas achamos conveniente pautar as competências referentes à esfera

municipal, visto que o foco da nossa pesquisa são as denúncias atendidas no SOS

Idoso do município de Serra.

Na elaboração do enfrentamento da violência, compete ao Núcleo Municipal:

a) Elaborar o Plano Municipal de Prevenção da Violência e Promoção da Saúde;

b) Promover e participar de políticas e ações intersetoriais e de redes sociais que

tenham como objetivo a prevenção da violência e a promoção da saúde;

c) Qualificar e articular a rede de atenção integral às pessoas vivendo situações de

violência e desenvolver ações de prevenção e promoção da saúde para segmentos

populacionais mais vulneráveis;

d) Garantir a implantação e implementação da notificação de maus-tratos e outras

violências, possibilitando melhoria da qualidade da informação e participação nas

redes locais de atenção integral para populações estratégicas;

e) Estimular o desenvolvimento de estudos e pesquisas estratégicas; e

f) Capacitar os profissionais, movimentos e conselhos sociais para o trabalho de

prevenção da violência em parceria com os pólos de educação permanente loco -

regionais (MS, 2004).

3.9.1. Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI) - Portaria Nº 2.528/06.

A Portaria Nº 2.528 de 19 de outubro de 2006 aprova Política Nacional de Saúde da

Pessoa Idosa. Ela revisa e atualiza a Portaria n° 1 .395/GM, de 10 de dezembro de

1999 que anunciava a Política Nacional de Saúde do Idoso.

A Política Nacional do Idoso, promulgada em 1994 e regulamentada em 1996,

assegura direitos sociais à pessoa idosa, criando condições para promover sua

autonomia, integração e participação efetiva na sociedade e reafirmando o direito à

saúde nos diversos níveis de atendimento do SUS (Lei nº 8.842/94 e Decreto nº

1.948/96). Nesse sentido, a Política de 1999 assume que o principal problema que

pode afetar o idoso é a perda de sua capacidade funcional, isto é, a perda das

habilidades físicas e mentais necessárias para realização de atividades básicas e

instrumentais da vida diária (MS, 2006).

Page 54: Violência Idoso Dependente

53

No entanto, com o objetivo de “reorganizar a prática assistencial, em 1994 é

elaborado pelo Ministério da Saúde o Programa de Saúde da Família (PSF),

imprimindo nova dinâmica nos serviços de saúde e estabelecendo uma relação de

vínculo com a comunidade, humanizando esta prática direcionada à vigilância na

saúde, na perspectiva da intersetorialidade (Brasil, 1994), denominando-se não mais

programa e sim Estratégia Saúde da Família (ESF)” (MS, 2006).

Em 2002, é proposta a organização e a implantação de Redes Estaduais de

Assistência à Saúde do Idoso (Portaria nº 702/SAS/MS, de 2002), tendo como base

as condições de gestão e a divisão de responsabilidades definida pela Norma

Operacional de Assistência à Saúde (NOAS). Como parte de operacionalização das

redes, são criadas as normas para cadastramento de Centros de Referência em

Atenção à Saúde do Idoso (Portaria nº 249/SAS/MS, de 2002) (MS, 2006).

O Artigo 2º desta política (PNSI, 2006) determina que os órgãos e entidades do

Ministério da Saúde, em que as suas ações se relacionem com o objeto desta, que

obviamente trata do idoso, “promovam a elaboração ou a readequação de seus

programas, projetos e atividades em conformidade com as diretrizes e

responsabilidades nela estabelecidas”. A política faz um retrato histórico de

conquistas na sua introdução, quanto ao direito universal e integral à saúde

conquistado pela sociedade brasileira na Constituição de 1988 e reafirmado com a

criação do Sistema Único de Saúde (SUS), por meio da Lei 8.080/90. Retrata a Lei

nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990, Lei Orgânica da Saúde que dispôs sobre a

participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde e estabelece

princípios e direciona a implantação de um modelo de atenção à saúde que priorize

a descentralização, a universalidade, a integralidade da atenção, a eqüidade e o

controle social, ao mesmo tempo em que incorpora, em sua organização, o princípio

da territorialidade para facilitar o acesso das demandas populacionais aos serviços

de saúde. Modelo ainda distante de toda população brasileira, especialmente dos

idosos que fazem parte da população mais vulnerável por motivos diversos.

A legislação brasileira em relação aos cuidados da população idosa é considerada

avançada pelo Ministério da Saúde, mas no próprio documento encontramos que

embora avançada, “a prática ainda é insatisfatória”.

Page 55: Violência Idoso Dependente

54

Encontramos também que a “vigência do Estatuto do Idoso e seu uso como

instrumento para a conquista de direitos dos idosos, a ampliação da Estratégia

Saúde da Família que revela a presença de idosos e famílias frágeis e em situação

de grande vulnerabilidade social e a inserção ainda incipiente das Redes Estaduais

de Assistência à Saúde do Idoso tornaram imperiosa a readequação da Política

Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI)” (MS, 2006).

Outras necessidades que propiciaram a Política Nacional de Saúde do Idoso/99

passar por nova estruturação surgiu em fevereiro de 2006, com a Portaria nº

399/GM, onde o documento das Diretrizes do Pacto pela Saúde contempla o Pacto

pela Vida2. Neste documento, a saúde do idoso aparece como uma das seis

prioridades pactuadas entre as três esferas de governo, sendo apresentada uma

série de ações que visam, em última instância, à implementação de algumas das

diretrizes da Política Nacional de Atenção à Saúde do Idoso (MS, 2006).

“A finalidade primordial da Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (2006) é

recuperar, manter e promover a autonomia e a independência dos indivíduos idosos,

direcionando medidas coletivas e individuais de saúde para esse fim, em

consonância com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde. É alvo

dessa política todo cidadão e cidadã brasileiros com 60 anos ou mais de idade.

Considerando:

a) o contínuo e intenso processo de envelhecimento populacional brasileiro;

b) os inegáveis avanços políticos e técnicos no campo da gestão da saúde;

c) o conhecimento atual da Ciência;

d) o conceito de saúde para o indivíduo idoso se traduz mais pela sua condição de

autonomia e independência que pela presença ou ausência de doença orgânica;

e) a necessidade de buscar a qualidade da atenção aos indivíduos idosos por meio

de ações fundamentadas no paradigma da promoção da saúde;

2 Significa uma ação prioritária no campo da saúde que deverá ser executada com foco em resultados e com a explicitação inequívoca dos compromissos orçamentários e financeiros para o alcance desses resultados.

Page 56: Violência Idoso Dependente

55

f) o compromisso brasileiro com a Assembléia Mundial para o Envelhecimento de

2002, cujo Plano de Madri fundamenta-se em: (a) participação ativa dos idosos na

sociedade, no desenvolvimento e na luta contra a pobreza; (b) fomento à saúde e

bem-estar na velhice: promoção do envelhecimento saudável; e (c) criação de um

entorno propício e favorável ao envelhecimento; e

g) escassez de recursos socioeducativos e de saúde direcionados ao atendimento

ao idoso;

A necessidade de enfrentamento de desafios como:

a) a escassez de estruturas de cuidado intermediário ao idoso no SUS, ou seja,

estruturas de suporte qualificado para idosos e seus familiares destinadas a

promover intermediação segura entre a alta hospitalar e a ida para o domicílio;

b) número insuficiente de serviços de cuidado domiciliar ao idoso frágil previsto no

Estatuto do Idoso. Sendo a família, via de regra, a executora do cuidado ao idoso,

evidencia-se a necessidade de se estabelecer um suporte qualificado e constante

aos responsáveis por esses cuidados, tendo a atenção básica por meio da

Estratégia Saúde da Família um papel fundamental;

c) a escassez de equipes multiprofissionais e interdisciplinares com conhecimento

em envelhecimento e saúde da pessoa idosa; e

d) a implementação insuficiente ou mesmo a falta de implementação das Redes de

Assistência à Saúde do Idoso” (MS, 2006).

Em síntese, a Política Nacional de Saúde do Idoso (PNSI, 2006) tem como meta

uma atenção à saúde adequada e digna para os idosos e idosas brasileiras,

principalmente para aquela parcela da população idosa que teve, por uma série de

razões, um processo de envelhecimento marcado por doenças e agravos que

impõem sérias limitações ao seu bem-estar. A partir deste princípio, suscita em nós

assistentes sociais uma participação ampla na discussão e na implementação de

medidas que façam valer os direitos dos idosos.

Page 57: Violência Idoso Dependente

56

CAPÍTULO III

4. CONTEXTUALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE SERRA

O Instituto Jones dos Santos Neves contextualiza a história da cidade de Serra. Ele

apresenta que a aldeia de Conceição, como era conhecida, o município, foi fundada

em 1556 pelo padre jesuíta Bráz Lourenço, e pertencia a freguesia de Conceição de

Nossa Senhora da Vitória, sendo desmembrada em 1769 por uma Lei provincial nº

6, de 6 de novembro de 1875, concedendo-lhe foros de cidade. No entanto, pelo

Decreto nº 53, de 11 de novembro de 1890, regula a criação do município de Serra-

Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN 2006).

O Município de Serra está localizado na micro-região metropolitana de Vitória, a 70

metros de altitude, e tem sua posição geográfica determinada pelo paralelo 20°07'

43" de latitude sul e 40°18'28" longitude oeste. Es tá a 27 km da capital do Estado. A

altitude máxima; 833 metros (Mestre Álvaro), a altitude mínima: 0,0m (nível do mar).

A extensão territorial da Serra é de 554.278 km², sendo o maior município da

Grande Vitória, ocupando 38% da área micro-regional, e limita-se ao norte com o

município de Fundão, através dos rios Timbuí e Reis Magos; ao sul com os

municípios de Vitória e Cariacica; a leste, com o Oceano Atlântico e a Oeste, com o

município de Santa Leopoldina. O município está dividido em cinco distritos: a Serra-

Sede, Calogi, Carapina, Nova Almeida e Queimado (SERRA, 2006).

O município de Serra, de acordo com o IBGE (2000), apresenta uma população de

321.181 (ver tabela ilustrativa abaixo), no entanto somando a população dos bairros

de Hélio Ferraz, Conjunto Carapina I e Bairro de Fátima, atingem 330.874

moradores, tendo em vista que no Censo de 2000 esses bairros foram inclusos no

município de Vitória. Faz-se importante o registro desses dados, pois estes bairros

apresentam dados de atendimentos na estatística anual de 2006 do SOS Idoso.

Porém a população estimada em 2006 para o município por este mesmo instituto

aproxima-se de 394.370 pessoas (IBGE, estimativas 01.07.2006). A população

idosa, de acordo com o Censo 2000, é de 16.439 idosos (IBGE), e até o

Page 58: Violência Idoso Dependente

57

desenvolvimento deste estudo não obtivemos dados mais recentes quanto a esta

população.

População residente, por situação do domicílio e sexo, segundo os Distritos (1) e (2)

de Serra.

Quadro: 1

População Residente de Serra

Situação domicílio

Distritos Total Homens Mulheres Urbana

Total

Homens Mulheres Rural

Total

Homens

Mulheres

Espírito

Santo 3.097.232 1.534.806 1.562.426 2.463.049 1.199.740 1.263.309 634.183 335.066 299.117

Serra (2) 330.874 163.051 167.823 329.314 162.217 167.097 1.560 834 726

Distritos (1)

Calogi 1.245 658 587 366 189 177 879 469 410

Carapina 192.924 94.917 98.007 192.899 94.904 97.995 25 13 12

Nova

Almeida 33.671 16.787 16.884 33.504 16.695 16.809 167 92 75

Queimado 206 109 97 44 24 20 162 85 77

Serra 93.135 45.987 47.148 92.808 45.812 46.996 327 175 152

Quadro 1: População Residente de Serra

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000. Elaboração: PMS/SEPLAE/DAE/DIG. (1) Refere-se à classificação dos distritos

segundo o IBGE. Obs.: Os dados são de 01 de agosto de 2000 – data de referência do Censo Demográfico 2000 do IBGE. (2)

Inclui-se os bairros Hélio Ferraz, Conjunto Carapina I e Bairro de Fátima, os quais o IBGE, conforme lei estadual, considera

como sendo pertencentes ao município de Vitória. Assim, os totais divulgados pelo IBGE se referindo ao município de Serra

tem uma diferença de 9.693 pessoas, sendo 4.593 homens e 5.100 mulheres a menos, ou seja, os totais de Serra segundo o

IBGE são 321.181 habitantes, sendo 158.458 homens e 162.723 mulheres. Ressalta-se que os dados destes bairros são

preliminares mas eles não alteram a população rural. Prefeitura Municipal de Serra - Secretaria de Planejamento Estratégico.

A Serra se desponta nacionalmente pela sua importância turística, especialmente

pelas suas belas praias freqüentadas por turistas de todo o Brasil, atraindo a

atenção de visitantes de São Paulo, Rio de Janeiro e principalmente de Minas

Gerais. Dentre as praias, destacam-se Jacaraípe, Manguinhos, Carapebus e Nova

Almeida.

Page 59: Violência Idoso Dependente

58

A população serrana cresceu de forma significativa nas últimas três décadas, e de

acordo com o Censo 2000 as principais tendências para o município até 2020 é um

crescimento mais acelerado que os demais municípios da Região Metropolitana da

Grande Vitória.

No documento O Planejamento Estratégico das Cidades da Agenda 213

encontramos um estudo da Futura (1999) em que cita a Serra como o município da

Grande Vitória a tornar-se o mais populoso município do Estado, com projeção da

população prevista para 2020 de 515.400 habitantes, e ainda que haverá uma queda

nas taxas de crescimento populacional para os municípios da Grande Vitória, com

exceção de Viana e da Serra, onde haverá a maior taxa de aumento populacional

(FUTURA, 1999, apud SERRA, 2006).

Atualmente a Serra apresenta relações econômicas com outras regiões do país e

com outros países do mundo devido a suas riquezas naturais e pela instalação em

seu território de grandes empresas exportadoras e importadoras.

O município constituiu-se nos últimos anos na principal frente de expansão

econômica e populacional da Região Metropolitana da Grande Vitória4. Concentra

atualmente o maior parque industrial metropolitano e estadual. Nas regiões de

Carapina e Laranjeiras estão localizados os seus distritos industriais, com destaque

para as áreas da Companhia Siderúrgica de Tubarão, Centro Industrial

Metropolitano de Vitória - CIVIT I e CIVIT II - e Terminal Industrial Multimodal da

Serra –TIMS- (FUTURA, 1999 apud AGENDA 21, 2006). A população serrana

apresenta um perfil majoritário de classe média e baixa, sendo menos expressivo o

seu contingente de população de alta renda, se comparada com a capital Vitória, e

menos relevante o percentual de sua população que vive em condições de miséria

3 A ECO 92, Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, recomendou aos países membros a elaboração de suas Agendas 21 nacional, estadual e local. As Agendas 21 passaram a adotar o planejamento estratégico com visão e gestão estratégica favorecendo as cidades e devido às suas complexas estruturas e à necessidade de tornar o desenvolvimento como técnica de previsão do seu futuro e de mobilização da sociedade para conquistar um desenvolvimento mais harmonioso e melhores condições de vida (SERRA, 2006). 4 A Região Metropolitana da Grande Vitória engloba sete municípios: Cariacica, Fundão, Guarapari, Serra, Viana, Vila Velha e Vitória. Quase 50% dos três milhões de habitantes do estado estão na Grande Vitória, numa área que representa apenas 5% do território capixaba (IJSN, 2006).

Page 60: Violência Idoso Dependente

59

absoluta, se comparada com outros municípios da região metropolitana, como

Cariacica.

Os bairros com maior concentração de população pobre do município são

Divinópolis/Belvedere e Planalto Serrano, onde, respectivamente, (83,17%) e

(76,64%) das famílias ganham menos que R$ 496,00 e nenhuma ganha mais que

R$ 2.944,00 não havendo nesses bairros população de classe alta.

Os bairros mais ricos são os conjuntos Valparaíso e Parque Residencial

Laranjeiras, onde, respectivamente, (6,34%) e (4,88%) da população têm renda

inferior a R$ 496,00 e (77,77%) e (80,39%) têm renda entre R$ 497,00 e R$

2.943,00. Nesses bairros, há expressivo percentual de famílias de classe alta, com

renda acima de R$ 2.944,00, sendo (12,7%) no primeiro e (10,98%) no segundo

(SERRA 2006).

4.1. CARACTERIZAÇÃO INSTITUCIONAL

A Secretaria de Promoção Social (SEPROM) está situada na Rua Alpheu Correia

Pimentel, nº 150, no bairro de Caçaroca, Serra-ES. O Projeto SOS 3ª Idade,

atualmente conhecido como SOS Idoso, funciona em uma sala do Departamento de

Assistência Social desta secretaria.

A composição técnica da SEPROM, no tocante ao Projeto SOS 3ª Idade - SOS

Idoso, é composta pela secretária de Promoção Social, Maria Nazareth Motta

Liberato; diretora do Departamento de Ação Social, Nazaret Pimentel; coordenadora

do Programa de Atenção ao Idoso, Regilene Mazzariol Tononi; assistente social do

Projeto SOS Idoso, Myrthes Brocolli Lima; estagiária de serviço social, Cleonice

Viana dos Santos Angeli, e pela assistente administrativa Valéria Mateus.

A Secretaria de Promoção Social é uma instituição pública de caráter político e

social, que desenvolve planos, programas e projetos coletivos que visam a atender

as demandas da sociedade serrana.

O sistema organizacional é de caráter político e também se torna econômico, na

medida em que precisa de recursos, mas não visa a lucros e nem a produção

comercial, as suas ações são essencialmente dirigidas ao público morador de Serra.

Page 61: Violência Idoso Dependente

60

A responsabilidade social é praticada pelo gestor, o atual Prefeito Audifax Charles

Barcellos, e de sua equipe de trabalho, representada pelos secretários, diretores,

equipe técnica e não técnica, pela própria comunidade, e também com parcerias

firmadas do setor privado.

Através de documentos da Lei nº 2356/2000, a estrutura organizacional do Poder

Executivo do Município de Serra foi constituída e tem como objetivo: contribuir,

coordenar e cumprir a formulação do plano de ação do Governo Municipal e os

programas gerais e setoriais inerentes à secretaria, que se dispõe: Assessoria

Técnica; Coordenadoria Municipal do Fundo da Infância e da Adolescência;

Departamento de Incentivo ao Trabalhador; Divisão de Emprego; Divisão de

Capacitação Profissional; Departamento de Assistência à Criança e ao Adolescente;

Divisão de Desenvolvimento Familiar; Divisão de Assistência; Departamento de

Assistência Social; Divisão de Atendimento Social; Divisão de Desenvolvimento

Comunitário.

4.2. PROGRAMA DE ATENÇÃO AO IDOSO DO MUNICÍPIO DE SERRA

O programa funciona atualmente com cinco projetos e um conselho, a saber:

conviver, yoga, de reeducação alimentar, Centro de Convivência para o idoso, SOS

3ª idade – SOS idoso e o Conselho Municipal do Idoso da Serra (COMIDS). Esses

projetos são descritos abaixo, conforme o Relatório Anual do Programa de Atenção

ao Idoso (PAAI, 2006).

Projeto Conviver

Modalidade não asilar de atendimento – Grupos de Convivência

Público alvo - Pessoas com 60 anos ou mais.

Número de atendimento - 1.250 pessoas.

Implantado em 1989, através de convênio com a antiga Legião Brasileira de

Assistência (LBA), o projeto Conviver encontra-se em funcionamento através do

sistema descentralizado e participativo da Assistência Social, que culminou com a

gestão municipal. O município possui hoje 20 grupos de convivência que trabalha a

participação grupal através de uma equipe multidisciplinar (assistentes social,

professores de educação física, monitores e professores de educação artística e

Page 62: Violência Idoso Dependente

61

estagiária de serviço social), aprimorando as potencialidades físicas, intelectuais,

criativas e sociais, promovendo a autonomia, integração e a participação efetiva do

idoso na sociedade. As reuniões acontecem semanalmente em espaços cedidos

pela comunidade (SERRA, 2006).

Projeto Yoga

Público alvo – Pessoas com 60 anos ou mais.

Número de atendimento - 250 pessoas.

Projeto implantado em 1999, tendo como experiência piloto os grupos de praia

(Jacaraípe e Manguinhos). Tem como objetivo melhorar o funcionamento do corpo e

proporcionar o equilíbrio emocional, tranqüilidade e alegria de viver no cidadão que

está vivendo a velhice. Em decorrência do sucesso alcançado, foi ampliado nos

anos seguintes, funcionando em espaços cedidos pela comunidade (SERRA, 2006).

Projeto de Reeducação Alimentar

Público alvo – Pessoas com 60 anos ou mais.

Número de atendimento – 150 pessoas.

Implantado em 2005, com objetivo de orientar o idoso quanto à alimentação

alternativa nutricional e proporcionar conhecimentos de fitoterapia como meios de

equilíbrio e prevenção de doenças relativas ao envelhecimento, buscando dessa

forma uma melhoria na qualidade de vida dessas pessoas. O projeto funciona em

espaços cedidos pela comunidade (SERRA, 2006).

Centro de Convivência para o Idoso

Modalidade não asilar de atendimento

Público alvo: Pessoas com 60 anos ou mais.

Número de atendimento: 500 idosos.

Atividades oferecidas: yoga, liaon gong, vagonite, pintura em molde vazado,

hidroginástica, alfabetização e biodanza.

Local: Rua Maestro Manoel Xavier, s/nº - Caçaroca – Serra – ES.

Horário de funcionamento: 07h às 18h horas.

Page 63: Violência Idoso Dependente

62

Tel fax: 3251-6986.

Implantado em abril de 2006, é um espaço destinado à freqüência dos idosos e de

seus familiares, onde são desenvolvidas, planejadas e sistematizadas ações de

atenção ao idoso, de forma a elevar a qualidade de vida, promover a participação, a

convivência social, a cidadania e a integração intergeracional.

O atendimento no Centro de Convivência consiste no fortalecimento de atividades

associativas, produtivas e promocionais, contribuindo para autonomia,

envelhecimento ativo e saudável, prevenção do isolamento social, socialização e

aumento da renda própria (SERRA, 2006).

Conselho Municipal do Idoso da Serra (COMIDS)

Órgão permanente, de composição paritária, com caráter deliberativo e consultivo,

vinculado à Secretaria Municipal de Promoção Social.

Criado através da lei 2700 de 17 de junho de 2004.

O Decreto nº. 0870, de 21 de fevereiro de 2005, dá a nomeação dos conselheiros

para gestão 2005/2007 (SERRA, 2006).

Projeto SOS-3ª Idade/SOS Idoso

Para o enfrentamento de inúmeras denúncias de maus tratos recebidas desde a

implantação do Estatuto do Idoso (outubro de 2003), e pelo comprometimento e

responsabilidade da municipalidade frente à população idosa, foi criado em janeiro

de 2004 o Serviço SOS Idoso, pioneiro no Estado. Tendo como objetivo receber,

orientar e apurar denúncias de maus tratos contra a pessoa idosa.

A partir das denúncias, são adotados alguns procedimentos, visando à garantia de

proteção social do idoso, tais como: visitas domiciliares, reuniões familiares,

orientações diversas, articulação e encaminhamentos a órgãos como: ministério

público, secretaria de saúde, casa do cidadão, atendimento jurídico, conselho

municipal do idoso, entre outros (SERRA, 2006).

Público alvo: cidadão serrano de 60 anos ou mais.

Número de atendimentos: desde sua implantação, de 2004 a 2006, o SOS Idoso já

recebeu 1.579 ligações, 424 atendimentos no setor e 390 visitas domiciliares

realizadas. Dentre esses dados, 458 corresponderam a denúncias de maus tratos e

Page 64: Violência Idoso Dependente

63

1.545 orientações sobre assuntos referentes ao Estatuto do Idoso, instituições de

longa permanência, benefício de prestação continuada (BPC), localização dos

grupos de convivência e yoga, locais de atendimento jurídico, dentre outros.

Local: Secretaria de Promoção Social (Departamento de Assistência Social).

Horário de funcionamento: 08h às 18 horas, no telefone: 3291-7470.

4.3. PROJETO SOS 3ª IDADE - SOS IDOSO

Dentre as demandas apresentadas no SOS 3ª Idade - SOS Idoso estão às

necessidades de verificação de denúncias de violências e de maus tratos

relacionados a negligências, abandonos, abusos, explorações financeiras, físicas,

psicológicas, dentre outros. Denúncias essas anônimas ou não, feitas pelo telefone

3291-7470 ou diretamente no setor, encaminhadas por instituições como hospitais,

ou por ofícios advindos do Ministério Público, Secretaria de Saúde, Casa do Cidadão

e demais secretarias do município, de outros municípios, de setores públicos e da

sociedade civil.

Atende-se ainda a demanda de idosos sem renda5, que solicitam declaração para

requerer transporte interestadual gratuito.

As atividades técnicas são realizadas por meio de visitas domiciliares; reuniões com

familiares dos idosos; com técnicos de outras secretarias ou órgãos como o

Ministério Público; relatório mensal para o conselho municipal dos idosos; estatística

mensal; relatório social; parecer técnico.

A participação da comunidade ocorre através das denúncias anônimas ou no setor.

Os principais problemas enfrentados para a realização das atividades são recursos

humanos e transporte para realização de visitas, e ainda exercer a

interdisciplinaridade.

De acordo com Regilene Mazzariol, coordenadora do Programa de Atenção ao

Idoso (PAAI), até a presente data não foi realizado avaliação técnica do projeto, tem

sido realizado a avaliação das práticas de atendimentos e encaminhamentos, que 5 O Estatuto do Idoso no artigo 40 dispõe sobre a gratuidade aos idosos maiores de 65 anos, que é regulamentada conforme critério da legislação local. Em 18/10/2006 o Decreto nº 5.934 regulamenta a lei da gratuidade no transporte interestadual, e no Art. 2º deste Decreto considera idoso pessoa com idade igual ou superior a 60 anos.

Page 65: Violência Idoso Dependente

64

podem ser considerados positivos. Quanto ao monitoramento, é contínuo, através

das discussões com os profissionais envolvidos nos atendimentos dos idosos do

Projeto.

Quanto ao financiamento, o município não possui Fundo Municipal específico para a

pessoa idosa, e os recursos referentes a essa modalidade são disponibilizados pelo

Fundo Municipal de Assistência Social, que consta como recursos do orçamento da

Secretaria de Assistência Social.

Os objetivos propostos no Projeto SOS 3ª Idade, que documentalmente não foi

revisado, serão expostos a seguir. A prática de atendimento do usuário resultou na

denominação atual do Projeto SOS Idoso, onde abarca pessoa idosa com idade

igual ou superior a 60 anos. A demanda apresenta uma realidade que contempla

idosos longevos e não corresponde apenas a literatura que conceitua a 3ª idade em

que classifica idosos numa determinada faixa etária, compreendida entre 60 a 74

anos. De acordo com Peixoto:

Sinônimo de envelhecimento ativo e independente, a terceira idade converte-se em uma nova etapa da vida, em que a ociosidade simboliza a prática de novas atividades sob o signo do dinamismo. [...] Entretanto, a invenção da terceira idade – nova fase do ciclo de vida entre a aposentadoria e a velhice – é simplesmente produto da universalização dos sistemas de aposentadoria [...] e que prescrevem a esse grupo etário maior vigilância alimentar e exercícios físicos, mas também necessidades culturais, sociais e psicológicas. [...] a unificação de todas as idades na rubrica aposentado, sob a etiqueta terceira idade, apresenta um outro recorte nas faixas de idade: parece agora importante distinguir os jovens idosos dos idosos velhos. Em conseqüência, surge uma nova expressão na nomenclatura [...] para classificar as pessoas de mais de 75 anos: é a quarta idade. [...] associando a essa imagem a idade biológica (da aposentadoria aos 74 anos) aproxima [...] os representantes da quarta idade – os muito velhos –, à imagem tradicional da velhice, ou seja, à decadência ou incapacidade física (PEIXOTO, 1998, p. 75-77).

Para melhor compreensão sobre dinâmica dos atendimentos do SOS 3ª Idade - SOS

Idoso descrevemos os objetivos propostos no documento do projeto a seguir.

Objetivos Gerais: centralizar orientações e encaminhamentos necessários, através

de atendimento telefônico, no que refere aos assuntos de interesse público,

denúncias e reclamações de qualquer forma de discriminação, desrespeito, maus

tratos e outros males sofridos pelos idosos do município de Serra.

Objetivos Específicos:

Page 66: Violência Idoso Dependente

65

� receber denúncias de discriminação, negligência e maus tratos contra o

idoso, e realizar os devidos encaminhamentos;

� orientar sobre direitos e deveres do idoso, de acordo com a lei 8.842/94 (PNI)

e o Estatuto do Idoso / lei nº 10.741 de 1º de outubro de 2003;

� encaminhar representação a autoridade competente em caso de flagrante de

maus tratos contra o idoso;

� orientar sobre benefícios assistenciais;

� orientar quanto aos serviços prestados pela comunidade:

Grupos de convivência;

Serviço de saúde da rede municipal;

Atendimento jurídico;

Agenda cultural;

� realizar contatos com meios de comunicação para localização de familiares

ou parentes;

� elaborar estatísticas mensais dos atendimentos prestados visando à

avaliação e a criação de novas alternativas de intervenção.

População Atendida

A população atendida caracteriza-se por pessoas com idade igual ou superior a 60

anos de ambos os sexos. Os idosos vitimizados na maioria são viúvas pensionistas

e aposentadas.

A família também se configura como usuário na medida em que busca auxílio para

mediação de problemas, orientações diversas. Predomina a figura de mulheres que

realizam as denúncias e buscam esse auxílio.

A situação socioeconômica do público alvo é diversificada, não é homogênea, porém

predomina a baixa renda. Os idosos geralmente residem sozinhos ou com um dos

filhos em domicílios próprios, possuem baixa escolaridade, alguns são até iletrados,

e no caso dos familiares envolvidos nas denúncias de maus tratos quase sempre

são dependentes economicamente dos idosos. Os idosos apresentam algum tipo de

Page 67: Violência Idoso Dependente

66

problema de saúde, ficando debilitados e dependentes de acompanhantes. A

debilidade é proveniente de doenças oriundas do processo biológico da velhice,

como problemas de hipertensão, coração, diabetes, AVC, transtorno mental, entre

outros.

O usuário participa na instituição quando ele próprio busca atendimento do serviço

ou o faz por intermédio de algum membro de sua família e de vizinhos e moradores

da comunidade.

Analisamos 76 casos onde as denúncias registradas e visitas realizadas no SOS

Idoso do Município de Serra permanecem em acompanhamento no ano de 2006. O

acompanhamento se faz necessário para monitoramento e suporte social aos idosos

e familiares.

Os motivos das denúncias atendidas no SOS Idoso em 2006 não são homogêneos e

num atendimento podem conter várias formas de maus tratos e violências, para

melhor visualização, os motivos são relatados abaixo em forma de texto *.

Podemos verificar que são vários os tipos de maus tratos relatados pelos

denunciantes num mesmo caso, dificultando uma categorização, pois os tipos são

imbricados uns com os outros.

Expomos os seguintes achados na análise dos registros:

o em seis denúncias que os idosos são negligenciados pelos filhos, diretamente

e também relacionam maus tratos pela família;

o em quatro casos, o filho recebe a pensão e não repassa o dinheiro para os

idosos;

o seis registros de abandono de idosos pelos filhos/ou familiares;

o em quatro casos, o filho separou-se e foi morar com a mãe, um dos filhos

ainda levou três filhos com ele, e ainda agridem verbalmente e exploram as

idosas, mas não informam de que forma elas são exploradas;

o três registros de uso indevido do cartão do idoso, mas não identifica quem

faz o uso indevido;

o três casos nos quais os filhos são alcoolistas e agridem fisicamente a idosa,

num desses casos o filho que separou da esposa e foi morar com a mãe e

com o irmão e agride fisicamente a ambos, em outro caso o denunciante

Page 68: Violência Idoso Dependente

67

relaciona que o filho é usuário de drogas (ilícitas) e alcoolista e que a

agressão por parte do filho é porque sua mãe nega a dar o seu dinheiro a

ele;

o dois registros em que os irmãos denunciam que o filho com o qual reside a

idosa não a deixa receber visitas dos seus filhos e nem deixa os irmãos

fazerem melhorias na casa dela;

o dois registros de que a idosa sofre maus tratos e agressões pela filha e neta,

mas os maus tratos não são tipificados;

o em dois casos onde os filhos agridem fisicamente as idosas e retêm o cartão

das mesmas;

o dois idosos são agredidos pelas esposas;

o dois casos em que os filhos drogados agridem as mães idosas e agridem os

padrastos;

o dois registros de netas que agridem psicologicamente as idosas;

o uma denúncia onde o filho adotivo do idoso o agride fisicamente, rouba os

objetos da casa para trocar por drogas, a casa está ficando destruída porque

ele quebra tudo;

o uma denúncia onde o esposo da idosa mantém relação sexual com a

cunhada na frente da esposa acamada;

o um caso em que a irmã denuncia 11 irmãos que negligenciam a sua mãe

idosa;

o um caso onde a filha faz o namorado bater no pai idoso;

o um caso onde a filha alega que não tem saúde para cuidar da mãe, porque a

idosa é impulsiva, não obedece ninguém e só quer ficar na rua;

o um filho pede auxílio, pois o irmão é alcoolista, sustentado pela mãe, e teme

que ele possa vir a fazer algum mal à mãe;

o o serviço social do hospital Dório Silva denúncia que a idosa é negligenciada

pela família, outra denuncia do mesmo hospital citando que um idoso

encontra-se abandonado no mesmo;

o um registro onde o irmão alega que a irmã está retendo documentos da mãe;

o um caso em que a idosa alega que a filha vai abandoná-la para morar com a

companheira e com isso ficará sozinha;

o um registro onde cita que um casal tem um filho único e que é seu cuidador, e

os idosos estão sem atendimento médico e têm dificuldades de locomoção;

Page 69: Violência Idoso Dependente

68

o um registro relatando de que o idoso cuida sozinho da esposa idosa que está

acamada depois que sofreu AVC;

o uma denúncia de filho que mandou a mãe embora da própria casa e ainda

maltratava a idosa;

o um registro de denúncia feito pela própria idosa, relatando que seu filho a

agride fisicamente, a ameaça de morte e xinga de todas formas;

o um caso em que o idoso sente-se ameaçado de ser colocado num asilo

pelos seus familiares;

o um registro de agressão física sem especificação no prontuário;

o um registro onde a esposa pede ajuda para o esposo idoso e para o filho,

que são alcoolistas e vivem na rua;

o uma denúncia de idosa e filho doente mental que sofrem maus tratos

psicológicos;

o um caso em que a própria idosa alega que é agredida psicologicamente pelo

seu filho;

o outro caso de filho que solicita visita à casa de seus pais (idosos) para

verificar se ocorrem maus tratos e abandono, mas não é informado por parte

de quem;

o um caso em que o filho alega que a mãe é explorada pelos irmãos

financeiramente;

o um caso de denúncia onde o neto é acusado de ter violentado sexualmente

avó;

o denúncia de maus tratos, mas sem a tipificação;

o um caso em que o idoso alega que filho é alcoolista e o ameaçou por várias

vezes de morte;

o um caso em que os netos fizeram a casa da idosa de ponto de drogas,

tirando-a da moradia;

o a tia denuncia o filho da idosa por não deixar a mãe tomar remédios

controlados devido à religião e com isso ela tem tido crises nervosas

constantes;

o dois casos em que as filhas cuidam sozinhas das mães idosas. Uma das

idosas é acamada e a filha alega não poder trabalhar, porque os irmãos não

querem ajudar a cuidar da mãe e não dão nenhuma assistência, e a outra tem

Page 70: Violência Idoso Dependente

69

mal de alzheimer e a filha também sente que os irmãos abandonaram a mãe

e não manifestam nenhuma responsabilidade;

o um caso em que a idosa relata que filho é alcoolista, ela não consegue dormir

e não agüenta mais o filho em casa sem tomar banho há mais de um mês;

o vizinha denuncia que a idosa sofre maus tratos por parte da sobrinha que

mora em Viana e fica com o cartão da idosa;

o o idoso negligencia a saúde, ele gasta todo o seu salário e filhos não sabem

com que gasta;

o um caso onde a idosa sofre maus tratos por parte da sua filha, que faz uso de

drogas e ameaça com canivete;

o uma denúncia de um idoso relatando que a idosa sofreu AVC há 7 anos, vive

na cadeira de rodas, a esposa e ele ficam com fome, chegam há ficar 15 dias

sem tomar banho, a família é negligente com eles;

o filhos de vizinhos, mandados pelos pais, jogam bombinhas no quintal para

incomodar casal de idosos e filho doente;

o sobrinho faz pressão psicológica para idosa vender uma casa para se

beneficiar;

o a idosa quer internar o filho que possui transtorno mental, pois não tem

condições de cuidar dele sozinha;

o dois casos denunciando que idosa sofre maus tratos praticados pelos seus

netos;

o o idoso sofreu 5 derrames e está sozinho em casa;

o suspeita-se que a idosa sofra maus tratos pelo genro;

o idosa alega que vizinho está desrespeitando a sua privacidade, quebrando a

lei do silêncio, todas as noites ele faz barulhos para provocá-la;

o idosos estão abandonados e convivem com um doente mental, sua residência

está infestada de ratos;

o inquilino da idosa está dando muitos problemas, ele a agride

psicologicamente e não paga aluguel há meses;

o filha pede ajuda dos irmãos para pagar o plano de saúde dos pais, pois

devido a dificuldades financeiras parou de pagar;

o filha alega que seu pai sofreu um derrame, mora com ela mas não ajuda. Ele

pega o seu dinheiro e doa tudo na igreja;

o filha pede ajuda, pois idosa está descontrolada e agressiva e bebe demais;

Page 71: Violência Idoso Dependente

70

o filho colocou o idoso no abrigo para ficar com o restante de seu dinheiro, a

sobrinha queixa-se que ele encontra-se muito fraco e precisa ser

hospitalizado;

o o idoso é alcoolista e agride psicologicamente a idosa;

o suspeitas de que o idoso esteja sendo agredido fisicamente pelos filhos e

netos.

Observa-se que os idosos também reproduzem os maus tratos, nos registros consta

que uma filha alega não ter condições de continuar cuidando da mãe, porque sofre

maus tratos por parte da idosa.

Os casos apresentados estão de acordo com a forma escrita e registrada nos

prontuários de denúncias, alguns casos precisaram ser reescritos para melhor

compreensão dos dados.

Conforme citado acima, em 2006 o SOS Idoso manteve em acompanhamento 76

casos e consideramos relevantes apresentar os perfis de alguns dados desses

atendimentos.

Apresentamos abaixo os bairros com incidências de denúncias de maus tratos

contra os idosos no município, conforme estatística do SOS Idoso em 2006:

Page 72: Violência Idoso Dependente

71

Bairros com incidências de denúncias:

Tabela: 1

Bairros Quantidades %

Jacaraípe 07 17

Nova Carapina 06 15

José de Anchieta 05 15

Feu Rosa 05 15

NV Almeida 03 04

São Marcos 03 04

Planalto Serrano 03 04

Vila Nova Colares 03 04

Não informado 03 04

Cascata 02 02

El Dourado 02 02

Bairro de Fátima 02 02

Serra Dourada III 02 02

Jardim Carapina 02 02

Serra Dourada II 02 02

Nova Zelândia 01 01

Laranjeiras Velha 01 01

Eurico Salles 01 01

Porto Canoa 01 01

Novo Horizonte 01 01

São Judas Tadeu 01 01

Divinópolis 01 01

Bicanga 01 01

P.Res.Laranjeiras 01 01

Jardim Limoeiro 01 01

Jardim Tropical 01 01

São Domingos 01 01

Colina da Serra 01 01

Carapina 01 01

Total 76 100

Page 73: Violência Idoso Dependente

72

Conforme a tabela acima, os três bairros de maior expressão de índices de

denúncias de maus tratos e de atendimentos do SOS Idoso são: Jacaraipe, com

sete casos, Nova Carapina, com seis e Jose de Anchieta, com cinco casos

denunciados consecutivamente.

Buscamos analisar quem são os denunciantes ou de onde procedem as denúncias

de maus tratos contra os idosos no SOS idoso em 2006 e o resultado é descrito no

gráfico abaixo:

Gráfico: 2

Procedência das denúncias

3610

54

222222

11111

0 10 20 30 40

1

O próprio

Sobrinha

A. Social (DAS- Plantão)

Conselho Tutelar

Nora

M inistério Público

PA da Serra

Pró-Vida

S.social H.Dório Silva

Irmã

Esposa

Vizinha

Filho

Filha

Anônimas

Observou-se que a maioria das denúncias é anônima com trinta e seis casos,

seguidas de dez casos denunciados pelas filhas, cinco casos são os filhos que

denunciam, quatro casos as denúncias foram realizadas por vizinhos. Outras

denúncias variam em dois casos cada: irmã, hospital, esposa, pró-vida, ministério

público, pronto socorro da Serra. Existem ainda casos de denúncias advindas do

conselho tutelar, pelo próprio, sobrinha, nora e do plantão social do DAS-SEPROM.

Page 74: Violência Idoso Dependente

73

Tipos de Maus Tratos denunciados no SOS Idoso em 2006

Gráfico: 3

Tipos de maus tratos

36; 40%

14; 16%14; 16%

13; 14%

13; 14% Psicológico

Negligência

Abandono

Financeiro

Físico

Os maus tratos mais evidentes são os psicológicos, com trinta e seis casos (40%),

seguidos de negligência e abandono, com catorze casos (16%), financeiro e físico,

com treze casos (14%) cada.

Gráfico: 4

Estado civil

32

25

6 53 2 2 1

0

5

10

15

20

25

30

35

1

Viúvo (a)

Casado

Não informado

Separado

Divorciado

Solteiro

União estável

Desquitado

O gráfico 4 apresenta os dados do estado civil, que são: trinta e dois idosos viúvos,

vinte e cinco casados, seis não informaram, cinco são separados, três são

divorciados , dois são solteiros e dois têm união estável e um é desquitado.

Page 75: Violência Idoso Dependente

74

Gráfico: 5

Religião

38; 50%25; 33%

10; 13% 1; 1% 2; 3%

Evangélico

Católico

Não informado

Luterana

Adventista 7° dia

O gráfico 5 demonstra que (50%) dos idosos que sofrem maus tratos são

evangélicos que corresponde a trinta e oito idosos, (33%) são católicos, que significa

vinte e cinco idosos, (13%) não informaram a religião, que significa dez idosos,

outros (4%) são de denominações evangélicas como a Luterana e Adventistas do 7º

dia, que assim se definiram.

Gráfico: 6

Emprego da renda

26; 35%

26; 34%

17; 22%

7; 9%Sustento da família

Sustento próprio

Auxílio à família

Não informado

Nota-se que (35%) dos idosos, que corresponde a vinte e seis idosos têm a renda

empregada no sustento da família, (34%) representa vinte e seis idosos a renda é

para o seu próprio sustento, (22%), que corresponde a dezessete idosos, a renda

auxilia a família e (9%), que corresponde a sete idosos, não informaram como usam

a renda.

Page 76: Violência Idoso Dependente

75

Gráfico: 7

Com quem o idoso reside

63%14%

11%9% 3%

Com familiares

Não informado

Com companheiro

Com terceiros

Analisamos com quem residem os idosos atendidos no SOS Idoso do município de

Serra e verificamos que 63% deles residem com a família, 14 % residem sozinhos,

11% não informaram com quem residem e 9% residem com companheiros e 3%

com terceiros.

Gráficos: 8

Principais doenças

0

5

10

15

20

25

30

Pre

ssão a

lta

Depre

ssão e

AV

C

Reum

atis

mo

Fra

tura

fêm

ur

Pro

ble

ma

Depressão eansiedade,osteoporose,AVC 5Brônquite,reumatismo, artrose4Neurológicos,fratura de fêmur,coração 3problema renal einsuficiênciacrônica 2Outros 1 doençacada

São várias as doenças apresentadas pelos idosos, identificamos as principais por

ordem de maior incidência como: hipertensão arterial em vinte e quatro idosos;

diabetes em dez; depressão; ansiedade; seqüela de AVC; osteoporose em cinco

idosos respectivamente; quatro casos de bronquite; reumatismo e artrose,

respectivamente; três problemas neurológicos; fratura de fêmur; de coração; e ainda

dois casos de idosos com problema renal e insuficiência renal crônica, dentre outras.

Page 77: Violência Idoso Dependente

76

Gráfico: 9

Alguém cuida do idoso

34; 45%

29; 38%

13; 17%Sim

Não

Nãoinformado

O gráfico 9 mostra que 45% dos trinta e quatro idosos recebem cuidados de alguém,

não tipificamos que é o cuidador; 38 %, que são vinte e nove idosos, não recebem

cuidados e 17% que são treze idosos não informaram se têm algum cuidador.

O quadro abaixo apresenta os níveis de autonomia verificados nos idosos atendidos

vítimas de maus tratos em acompanhamento no SOS Idoso em 2006.

Page 78: Violência Idoso Dependente

77

Quadro: 2*

Níveis de Autonomia dos Idosos atendidos no SOS Idoso : Casos em acompanhamento 2006

Autonomia Sim Não Dificuldades Auxílio

terceiros

Acamados Nº de

idosos

Com Sem

Enxerga 44 02 25 01 0 0 72

Ouve 60 0 06 06 0 0 66

Fala 60 02 03 0 0 0 65

Alimenta só 65 0 04 0 04 0 73

Banha só 53 10 03 0 10 0 70

Veste só 52 15 04 0 01 0 72

Caminha só 49 08 09 0 0 02 68

Quadro 2 - Níveis de Autonomia dos Idosos atendidos no SOS Idoso 2006/Estatística SOS Idoso -

DAS - SEPROM. PMS, 2006.

*Nota explicativa: na tabela de autonomia os dados não fecham em 100% dos 76

casos atendidos e que permaneceram em acompanhamento no ano de 2006, e

objetos de nossa análise, porque durante visitas domiciliares alguns idosos se

encontravam sozinhos e apresentavam dificuldades em responder as perguntas

dirigidas a eles.

Nos gráficos a seguir apresentaremos o perfil dos idosos e dos agressores

atendidos e visitados pelo Projeto SOS Idoso em 2006, que totalizaram 126 visitas.

Por motivos de mudanças, falecimentos entre outros, 13 dessas visitas não constam

do perfil.

Page 79: Violência Idoso Dependente

78

Gráfico: 10

Sexo

36; 32%

77; 68%Masculino

Feminino

Observa-se que setenta e sete idosos são mulheres, que representam 68% dos

atendidos e trinta e seis são homens, que correspondem a 32% dos usuários.

Gráfico: 11

Quantidade de filhos dos idosos

6%

27%

40%

27%

7 Idosos Nenhum filho

31 Idosos tem 1 a 2filhos

44 Idosos tem 3 a 4filhos

31 Idosos tem 5 oumais f ilhos

Os dados que apresentam nos atendimentos em 2006 são de que 40% dos idosos

têm de três a quatro filhos, em segundo lugar os dados são semelhantes, visto que

27 % que correspondem a trinta e um idosos, respectivamente têm de um a dois

filhos e de cinco ou mais filhos, ainda sete idosos não possuem nenhum filho.

Page 80: Violência Idoso Dependente

79

Gráfico: 12

Renda do idoso

7%

78%

7% 4% 4%

8 Não temrenda

87idosos= 1salário mínimo

8 idosos= 1 a 2salários

5 idosos= 2 a 3salários

5 idosos + de 3salários

Os idosos atendidos em 78% que correspondem a oitenta e sete idosos recebem 1

salário mínimo, oito idosos que corresponde a 7% recebem de 1 a 2 salários

mínimos e apenas cinco idosos que corresponde a 4% recebem mais de 3 salários

mínimos. Outros dados importantes são de que oito idosos que corresponde a 7%

não possuem nenhuma renda e que os que têm renda não recebem o inferior de 1

salário mínimo.

Gráfico: 13

Origem da renda

46%

8%

29%

17%

52Aposentadoria

9 Outros

33 Pensionistas

19 BPC

Dos casos acompanhados no que tange à origem da renda dos idosos, cinqüenta e

dois são aposentados correspondentes a 46%, trinta e três são pensionistas que

Page 81: Violência Idoso Dependente

80

correspondem a 29%, dezenove idosos recebem BPC que correspondem a 17% e

nove idosos têm outros tipos de rendimentos que correspondem a 8%.

Gráfico: 14

Autonomia

27%

73%

30 IdososDependentes

83 IdososIndependentes

Das cento e treze visitas realizadas, observa-se que oitenta e três idosos que

correspondem a 73% são independentes e trinta idosos são dependentes. A

estatística não estabelece o grau de dependência ou tipos de dependências.

Gráfico: 15

Tipo de moradia

68%9%

23%

77 Casa própria

10 Casa alugada

26 Casa cedida

No levantamento dos dados estatísticos verificou-se que 68% que correspondem a

setenta e sete idosos residem em casas próprias, 23% que correspondem a vinte e

Page 82: Violência Idoso Dependente

81

seis idosos residem em casas cedidas e 9% que correspondem a dez idosos moram

em casas alugadas.

Gráfico: 16

Tipos de Abusos

41%

16%16%

14%

11% 2%

50 psicológicos

20 físicos

20 negligências

17 abandonos

14 financeiros

02 outros

Dos cento e treze casos em acompanhamentos, nota-se que cinqüenta idosos que

correspondem a 41% são vítimas explícitas de abusos psicológicos, vinte idosos

sofrem abusos físicos e vinte sofrem negligências, que consecutivamente

corresponde a 16% cada, dezessete idosos sofrem abandono que correspondem a

14%, catorze idosos sofrem abusos financeiros que corresponde a 11% e ainda

outros dois idosos, que não são especificados os tipos de abusos, correspondem a

2% .

Todos os dados apresentados foram extraídos da Estatística 2006 do SOS Idoso -

DAS-SEPROM/PMS – 2006.

Page 83: Violência Idoso Dependente

82

CAPÍTULO IV

5. METODOLOGIA E ANÁLISE DOS ACHADOS DA PESQUISA

A análise dos achados da pesquisa constou de leituras das entrevistas gravadas e

transcritas, buscando apreender as respostas das perguntas propostas nos objetivos

do nosso estudo, e para tal foram analisadas conforme referencial teórico construído

no processo da pesquisa.

Apresentamos a seguir, identificadas por nomes fictícios de personagens gregos

onde características das atitudes ou fatos da vida se assemelham à dos idosos

entrevistados e os respectivos agressores/cuidadores e cuidadores/agressores que

fizeram parte deste estudo:

Sujeito1: Sr. Apolo – Deus da música, da poesia e d o amor : Idoso, 66 anos,

viúvo, do sexo masculino, cadeirante com membros inferiores amputados há dois

anos, vítima de má circulação sangüínea de causa desconhecida.

Sujeito 2: Sr. Dionísio – Deus do vinho e do delíri o místico, divindade benéfica:

Idoso, 73 anos, sexo masculino, acamado vítima de acidente vascular cerebral

(AVC) há 4 anos e de hérnia ignal escrotal.

Sujeito 3: Sra. Hestia – Deusa do fogo e da lareira , do lar: Idosa, 67 anos, sexo

feminino, cadeirante com fratura fêmur há 5 meses vítima de acidente doméstico.

Sujeito 4: Sra. Eres – Deus da guerra, inimigo da s erena luz solar e da calmaria

atmosférica: Idosa cuidadora/agressora, 74 anos, companheira de união estável do

Sr. Dionísio.

Sujeito 5: Hefesto – Deus do fogo, nasceu coxo o qu al foi lançado pela mãe do

alto do monte Olimpo: Agressor, 42 anos, sexo masculino, solteiro, reside com a

mãe (Hestia).

Sujeito 6: Selene – Linda deusa com asas: Cuidadora/agressora, 23 anos, sexo

feminino, filha do Sr. Apolo.

Page 84: Violência Idoso Dependente

83

Sujeito 7: Hermes – fiel mensageiro de seu pai. Deu s dos sonhos, jovem ágil e

vigoroso: Agressor/cuidador, 37 anos, sexo masculino, filho de Eres e o padrasto

Sr. Dionísio.

A etapa inicial do trabalho de campo deu-se através de nossa aproximação com a

Secretária de Secretaria de Promoção Social, onde solicitou-se da mesma

autorização para realização da pesquisa no Projeto SOS Idoso.

No segundo momento, iniciou-se a elaboração de um instrumento para a coleta e

produção dos dados, que se constituiu em roteiro de entrevistas semi-estruturadas,

cujas questões nortearam a produção de dados com vistas a alcançar os objetivos

propostos pela pesquisa.

Num terceiro momento fizemos o agendamento das entrevistas com os idosos

selecionados a partir do critério de dependência funcional e seus respectivos

familiares, que configuraram-se em cuidadores/agressores e agressores/

cuidadores, variando conforme o registro da denúncia, uma vez que observamos

que os agressores em alguns casos são os próprios cuidadores e os cuidadores são

os agressores e vice versa.

Após a exposição dos objetivos da pesquisa, que em todo momento foi deixado bem

claro que se tratava de uma pesquisa acadêmica sem vínculo com a prefeitura

municipal de Serra, e confirmada a participação dos mesmos, que aconteceu

através da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido com timbre da

EMESCAM, demos início propriamente às entrevistas semi-estruturadas gravadas

em fitas magnéticas, nos dias e horários pré-determinados e para tal fizemos visitas

domiciliares em condução própria.

O primeiro contato com os idosos e os familiares se deu de forma tranqüila e sem

grandes dificuldades, como no caso do Sr. Apolo, visto que ele tem

acompanhamento contínuo no SOS Idoso, especialmente quando precisa de

serviços médicos, que sempre solicita o auxílio. Mesmo tentando romper esta

dependência após cadastrá-lo no Programa Mão na Roda da CETURB-GV, o idoso

encontra dificuldades de agendamento principalmente por não ter telefone fixo e

Page 85: Violência Idoso Dependente

84

morar sozinho em uma casa alugada e localizada numa ladeira de difícil locomoção,

para ele, mas de fácil acesso de transporte rodoviário.

Durante as duas horas de entrevistas, observamos que o idoso demonstrava a todo

instante interesse em nos agradar e sentia-se constrangido por não oferecer certos

confortos durante nossa permanência em sua casa. Observamos grandes carências,

como afetiva, material e cuidados básicos de higiene e apoio familiar.

Ele mostrou vários álbuns de fotografias, onde guarda as fotos de seus familiares,

pessoas importantes na sociedade com as quais se relacionava antes da doença e

obras realizadas de lindas pinturas e painéis artísticos espalhados pelo Brasil.

Sr. Apolo, como designa o nome fictício, é um poeta e compositor, possui um

caderno em que registra várias poesias, músicas e relatos de sua vida que pretende

escrever um livro.

A filha Selene, nome fictício havia acabado de chegar do trabalho. Ela trabalha das

23 h às 7 da manhã em um grande hipermercado de Vitória como repositora de

mercadorias e deu uma “passadinha” para deixar algumas coisas, como carne e pão

para o pai, e também conceder-nos a entrevista. Ela estava meio indisposta para

diálogo, mas respondeu às perguntas de forma clara e objetiva. Não é filha biológica

do idoso que foi morar com a sua mãe quando a mesma estava grávida de 2 meses.

Se sente filha biológica e não demonstrou interesse em conhecer o pai, fala que é

filha de “Tiquinho” de forma alegre e brincalhona.

A segunda entrevista durou três horas e 30 minutos, realizada com Hefesto, o filho

agressor, às 8 da manhã, único horário que poderíamos encontrá-lo sóbrio, fato dito

pela mãe, a Sra. Hestia, por ocasião do agendamento, uma vez que ele costuma

sair bem cedo pra beber ou então já dorme com a garrafinha de cachaça. O nome

fictício foi atribuído à personalidade agressiva e tempestuosa dele. O nome dela está

relacionado ao fogo e ao lar, percebe-se uma relação contraditória onde o amor e o

ódio estão juntos lado a lado.

A menção da garrafinha de cachaça confirmou-se, quando chegamos à residência,

estava ao lado do sofá. Fomos recebidas com desconfiança por ele, que pediu as

nossas identificações “funcionais”. Explicamos que não estávamos ali a trabalho e

Page 86: Violência Idoso Dependente

85

mostramos as identidades estudantis. Em segundo momento expomos o motivo pelo

qual estávamos ali e a nossa pretensão para que ele nos auxiliasse com alguns

dados. Apresentamos o termo de consentimento livre e esclarecido para a adesão

na pesquisa. Ele pegou a folha, leu e releu, hesitou, no entanto assinou.

A partir do momento da aceitação, ele mesmo admitiu que bebe muito e usa drogas.

Não havíamos começado a entrevista. Ainda, estávamos revisando a fita quando ele

foi até a estante da sala e pegou uma caixinha de madeira e apresentou-nos

“maconha”, perguntando-nos se conhecíamos e se não queríamos usar. A Mãe que

estava deitada numa cama na sala ficou escandalizada e começaram a discutir.

Uma das pesquisadoras respondeu-lhe que já conhecia a maconha de pesquisas

realizadas quando adolescente na escola e que não fazia uso, mas sem emitir juízo

de valor, deixando-o bem à vontade. Pensamos que este fato foi crucial para

obtermos a confiança do agressor. Não fumou a droga na nossa frente, mas

observamos que toda vez que dava uma descidinha dava uma “fumadinha” e uma

“bicadinha” na garrafa de cachaça. Evitamos ainda perguntas diretas que falassem

de violência, tentamos valorizar a subjetividade dele até ganhar a sua confiança e

responder as perguntas. As respostas foram diretas e nos impressionou a

franqueza, a clareza, a riqueza de detalhes das informações que mantemos

gravadas que muito contribuíram para compreensão dos resultados de nossa

pesquisa.

Quando falamos sobre denúncias, ele ficava muito agitado e por várias vezes pediu

para desligar o gravador. Durante a entrevista da Sra. Hestia quando ela

demonstrou interesse em pedir ajuda ao conselho tutelar para orientar a filha a

respeito da falta de cuidados com os netos e devido estarem sem estudar, Hefesto

exigiu que lhe entregasse a fita, pois não concordou com a mãe e demonstrou

preocupação com a sobrinha adolescente, que é diabética. Contornamos a situação

e prosseguimos.

A entrevista com a Sra. Hestia foi carregada de agressões verbais, a todo instante

imaginávamos que eles se agrediriam fisicamente. Hefesto em vários momentos

exigiu que a mãe jogasse claro e falasse a verdade. Quando perguntamos o que ele

queria dizer ela desconversou e disse que não sabia. Pensamos que ele desejava

que ela admitisse que também é alcoolista, fato que a idosa não admitiu em nenhum

Page 87: Violência Idoso Dependente

86

momento. Nas perguntas mais delicadas esperamos que o filho saísse da sala para

fazê-las devido às interferências e cuidados pessoais para não indispor-nos com ele.

Para demonstrar as dificuldades em realizar a entrevista transcrevemos a seguir

fragmentos da fala do entrevistador e da respostas de Hefesto:

Entrevistador: você já teve algum problema com a polícia? Hefesto: oi? Polícia, sim. Preso? ...É, já, mamãe mandou me prender...porque eu dei...eu fiz assim na cabeça dela. Entrevistador: você deu uns tapas na sua mãe, Hefesto? Hefesto: eu fiz assim, oh. (demonstra com gestos que deu tapas na cabeça da mãe). Um tapinha só. Tô mentindo? Sra. Hestia: eu não mandei te prender não, foi o vizinho. Hefesto: Quem mandou foi você mesmo (ele afirmou).

As duas entrevistas foram tensas, angustiantes e apreensivas, pois não sabíamos

qual seria a próxima ação/ reação do agressor.

As últimas entrevistas aconteceram em dias alternados. Primeiro entrevistamos a

idosa cuidadora/agressora, Sra. Eres. A denúncia de maus tratos partiu dela própria

denunciando o filho Hermes de ofendê-la com palavras. Ao refletir sobre as relações

familiares, podemos perceber que a idosa provoca atritos entre todos os familiares,

tanto da parte dela quanto da parte do Sr. Dionísio. O histórico familiar é de

sofrimentos e complicações onde identificamos que ela apresenta problemas

psíquicos. Em seguida fizemos entrevista como enteado agressor Hermes.

Observamos de fato que entre a mãe e o filho não há diálogo, tolerância ou

compreensão. Muita agressão verbal da parte da mãe para com ele e muita

perseguição dos irmãos pelo fato dele usar álcool e maconha. Esses mesmos

irmãos o iniciaram no vício e hoje não fazem mais uso da droga e organizaram a

vida deles economicamente. O Hermes permanece no vício e de acordo com ele “é

a única maneira de agüentar a vida que leva” e não encontra maneiras de romper

com o isolamento social porque tem “dó” do Sr. Dionísio, que não conta com o apoio

de mais ninguém para levá-lo ao médico, dar banho e trocar a sonda quando tem

infecção urinária. A idosa reconhece que sem a ajuda do filho o tratamento de saúde

e os cuidados que tem com o Sr. Dionísio ela não tem como realizar, pois não tem

forças físicas ou emocionais. Ela chora constantemente.

A entrevista com o Sr. Dionísio, idoso acamado, foi realizada em outro dia por

motivos técnicos com o gravador. Ela transcorreu naturalmente e acompanhada da

Page 88: Violência Idoso Dependente

87

esposa Sra. Eres. Ele se comunica bem, mas percebemos que na primeira visita

quando realizamos a entrevista com a Sra. Eres e com Hermes, houve alteração no

seu comportamento. Sentimos que ele estava um pouco desorientado e angustiado,

o que posteriormente entendemos. A filha do Sr. Dionísio num sábado foi visitá-lo e

a Sra. Eres não aceitou a presença dela, porque chegou de “mãos vazias” e houve

discussão entre elas. No domingo seguinte, a irmã do idoso e uma amiga foram

visitá-lo e também não levaram nada para ele e ainda criticaram a Sra. Eres, então

ela correu atrás da cunhada pela avenida do bairro com um pedaço de pau. Essas

situações constrangem o idoso, que não tem como reagir e segundo ele, que é

muito pacato e sempre tudo está bom. Não concorda com os atos da esposa, mas

agradece a Deus por tê-la a seu lado. A Sra. Eres não admite que os familiares dele

quase não o visita e que ainda não dão nenhuma assistência financeira.

5.1. CARACTERIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA

A pesquisa proposta teve como objetivos caracterizar a violência intrafamiliar

existente nos atendimentos das denúncias de maus tratos praticados contra os

idosos dependentes no município de Serra, a partir das experiências do SOS Idoso

e selecionado a partir de critérios já expostos na metodologia. No caderno de

atenção básica nº 8 do Ministério da Saúde (MS, 2001) encontramos que: “A

violência intrafamiliar é um problema social de grande dimensão que afeta toda a

sociedade, atingindo de forma continuada, especialmente mulheres, crianças,

adolescentes, idosos e portadores de deficiência”.

Diferentes formas de violência contra os idosos são apontadas por Minayo (2003)

apud Pereira et. al. (2006), como a estrutural (ocorre pela desigualdade social e

é naturalizada nas manifestações de pobreza, de miséria e de discriminação); a

interpessoal (se refere às interações e relações cotidianas) e a institucional (diz

respeito à aplicação ou à omissão na gestão das políticas sociais e pelas instituições

de assistência).

Page 89: Violência Idoso Dependente

88

Algumas categorias e tipologias foram estabelecidas no Ministério da Saúde e no

Ministério da Justiça, e internacionalmente para designar as diferentes formas de

violências mais praticadas contra os idosos e confirmadas no Plano de Ação para o

Enfretamento da Violência Contra a Pessoa (SDH, 2005), já descritas no referencial

teórico e algumas foram ratificadas no nosso estudo como o abuso físico ou

violência física; abuso psicológico; abandono; negligência; abuso financeiro e

econômico. Nos dados coletados podemos observar que as violências encontradas

configuram-se como: verbal; negligência; abandono; psicológica; financeira; física e

discriminação.

A violência verbal, a negligência e abandono aparecem em todos os três casos

entrevistados. A psicológica aparece em dois casos de forma explícita, no entanto

nota-se que todos os idosos vítimas de maus tratos são acometidos de violência

psicológica. A financeira pôde ser verificada em dois idosos entrevistados. A

discriminação aparece em dois idosos entrevistados, relacionados à cor de pele e

pelo fato de um dos idosos ter os membros inferiores amputados, e a violência física

foi identificada em um caso. Relatamos a seguir fragmentos das falas de alguns

idosos dependentes vítimas de violência, em casos onde todas as violências citadas

acima estão imbricadas, como a violência psicológica, verbal, negligência e

abandono:

Eu não agüento mais essa situação...uma hora eu vou ali pra beirada da praia, eu vou enfiar naquele mar,...ele não tem paciência comigo, ele me chama de tudo quanto é nome...sabe me ameaça de me jogar das escadas, me chama de vagabunda, de prostituta, de tudo quanto é nome (Sra. Hestia).

Relatamos ainda fragmentos de falas de idosos dependentes vítimas de

discriminação e violência financeira:

[...]discriminação que eu digo rotina, não verbalmente,...pelo um olhar, pelo modo da pessoa lidar com você... que a discriminação não é só quando a pessoa te repele, você é negro,... num simples olhar você nota a discriminação, a pessoa abaixa a cabeça, vira a cara, corta pro lado, isso acontece aqui toda hora quase... tem uma pessoa ai que eu não vou dizer quem é, que vez enquanto... ele passava ai com a cara...fechada, rancor, olhava pra mim, virava a cara pra lá e cuspia...(Sr. Apolo).

[...]Agora isso que meu filho fez comigo de vender essa casa foi a maior sacanagem (ela chora). Ele foi vender a casa de porteira...casa com piscina, com sauna, sabe, vendeu a casa de porteira fechada e me deixa desse jeito aqui oh ( Sra. Hestia).

Page 90: Violência Idoso Dependente

89

[...]eu passo sem dinheiro, já tem uns oito mês que eu to sem dinheiro, oito ou mais...porque eu recebo pouco e dei pra ela só receber...o dinheiro passa pra mão dela e não sei quanto ela recebe... quando eu trabalhava eu recebia e sabia...a única coisa que eles fazem de errado é de me não ajudar ( idoso falando dos filhos biológicos) ( Sr. Dionísio). [...]eu recebo um salário mínimo, ele também recebe, mais tem os descontos que coitado do Hermes...pegou empréstimo...que é três anos,eu não tenho certeza ele nunca falou nada (Sra. Eres).

Para melhor visualização dos tipos de violências encontradas na pesquisa, os dados

seguem expostos no gráfico abaixo:

Gráfico 17

Tipos de violências

17%

17%

18%18%

12%

12%6%

Psicológica 3

Verbal 3

Negligência 3

Abandono 3

Financeira 2

Discriminação 2

Física 1

O gráfico 17 representa a violência psicológica e a verbal com três casos (17%),

consecutivamente; a negligência e o abandono, com três (18%); financeira e

discriminação, com dois (12%) cada e a física com um caso (6%).

Tipos de violência

Page 91: Violência Idoso Dependente

90

5.2. PERFIL DO IDOSO, DO AGRESSOR/CUIDADOR E CUIDADOR/AGRESSOR

5.2.1. O perfil do idoso

Segundo Minayo (2003), o perfil do idoso e do agressor no Brasil favorece os maus

tratos e produz os fatores de riscos aos quais ficam expostos os idosos. As

principais características são: o agressor e vítima vivem na mesma casa; o fato de

os filhos serem dependentes financeiramente de seus pais de idade avançada; ou

de os idosos dependerem da família de seus filhos para sua manutenção e

sobrevivência; o abuso de álcool e drogas pelos filhos, outros adultos da casa ou

pelo próprio idoso; haver, na família, ambiente e vínculos frouxos, pouco

comunicativos e pouco afetivos; isolamento social dos familiares e da pessoa de

idade avançada; o idoso ter sido ou ser uma pessoa agressiva nas relações com

seus familiares; haver história de violência na família; os cuidadores terem sido

vítimas de violência doméstica; padecerem de depressão ou qualquer tipo de

sofrimento mental ou psiquiátrico.

Esse perfil do idoso e do agressor e os fatores de riscos expostos puderam ser

observados no resultado da pesquisa proposta, confirmando a literatura conhecida

do assunto no Brasil.

O idoso Sr. Apolo tem 66 anos, é viúvo, do sexo masculino, mora só em casa

alugada, tem a 4ª série escolar, é católico e utiliza-se de cadeira de rodas para

locomoção, uma vez que os membros inferiores foram amputados há dois anos,

vítima de má circulação sangüínea de causa desconhecida. Ele é pai de 7 filhos

oriundos de três relacionamentos, sendo que 5 destes até a realização da pesquisa

eram omitidos pelo idoso, uma vez que ele declarou ao SOS Idoso apenas duas

filhas do último relacionamento, e que a filha cuidadora/agressora não é biológica. A

sua renda é de R$ 380, 00, proveniente de BPC, é tabagista de alto consumo diário,

ex-alcoolista e agressivo. Portanto, observamos que o alcoolismo e a falta de

vínculos familiares e relações conflituosas do passado, e atualmente conflitos com o

esposo da filha e a deficiência física favorecem para o isolamento social.

Page 92: Violência Idoso Dependente

91

O Sr. Dionísio é idoso, de 73 anos, do sexo masculino, tem união estável, é

evangélico, ele reside em casa própria, com a companheira e o enteado há 34 anos,

é acamado, vítima de acidente vascular cerebral (AVC) há 4 anos que deixou

seqüela física que dificulta os movimentos e de hérnia ignal escrotal, ele tem 6 filhos

de dois casamentos anteriores, os quais residem com as mães. A escolaridade é 1ª

série, e trabalhou como tratorista por 36 anos até a aposentadoria, tendo um salário

de R$ 380,00 oriundos da previdência social. Ex-alcoolista, ex-tabagista. Os fatores

de riscos observados são: laços familiares frouxos; alcoolismo tanto da parte do

idoso quanto do cuidador; droga ilícita do agressor/cuidador; a agressividade;

transtornos psíquicos e a idade avançada da esposa cuidadora; idoso acamado

devido à seqüela do AVC e da doença crônica, da hérnia ignal, que proporciona o

isolamento social do idoso e dos familiares cuidadores/agressores ou

agressores/cuidadores.

Dona Hestia é idosa, tem 67 anos, do sexo feminino, é viúva, é católica, mora com

filho solteiro em casa alugada. Encontra-se cadeirante com fratura de fêmur há 5

meses, vítima de acidente doméstico, tem 5 filhos, sendo que 4 destes não mantêm

contato. Estudou até a 7ª série, possui uma renda de R$1.555,00 de pensão do

falecido marido. Alcoolista não assumida. Identificamos, ao analisar o perfil da Sra.

Hestia, os seguintes fatores de riscos: os laços familiares conturbados que

pontuamos como frouxos; a idosa e o filho agressor fazem uso de bebidas

alcoólicas, o filho utiliza-se de drogas ilícitas como maconha, cocaína e crack, a

dependência física e de necessidades de cuidados de Sra. Hestia, dependência

financeira do agressor e a agressividade de ambas as partes.

Page 93: Violência Idoso Dependente

92

O gráfico abaixo visualiza os resultados obtidos:

Gráfico:18

As idades dos idosos pesquisados variaram entre sessenta e seis e setenta e três

anos.

Gráfico: 19

Perfil idoso: sexo

2; 67%

1; 33%Masculino

Feminino

Os nossos entrevistados foram constituídos de dois idosos do sexo masculino, que

representou (67%) e uma idosa do sexo feminino (33%).

Perfil do idoso: idade

66

67

73 66 anos

67 anos

73 anos

Page 94: Violência Idoso Dependente

93

Gráfico: 20

Perfil idoso: estado civil

33%

67%

União estável 1

Viúvo 2

O resultado da pesquisa apreendida mostrou que (67%), representam dois idosos

são viúvos e (33%) que representa um idoso têm união estável.

Gráfico: 21

O gráfico 21 apresenta a escolaridade dos idosos entrevistados e observou-se que

os três possuem o ensino fundamental incompleto, sendo a 7ª, 4ª e 1ª série.

Perfi idoso: escolaridade

1

1

1

1ª série ens.Fund.

4ª série ens.Fund

7ª série ens.Fund

Page 95: Violência Idoso Dependente

94

Gráfico: 22

Perfil idoso: religião

67%

33%

Católica

Evangélica

No caso da nossa pesquisa, os números obtidos foram que três idosos são

católicos, que representa (67%) e um idoso é evangélico que representa (37%), no

entanto esses dados não confirmam a estatística do SOS Idoso em 2006, quando os

idosos evangélicos representavam (50%), e os católicos (33%) e outras

denominações (17%), (ver gráfico 5).

Gráfico: 23

Perfil idoso: renda

67%

33%1 salário mínimo

acima de 4salários mín.

Page 96: Violência Idoso Dependente

95

Quanto à renda dos idosos participantes da pesquisa, observou-se que (67%), e que

representa dois idosos, têm renda de um (1) salário mínimo e apenas uma idosa

possui renda superior a quatro (4) salários mínimos, (33%).

Gráfico: 24

Perfil idoso: origem renda

1

1

1 BPC

Aposentadoria

Pensão

A origem da renda citada no gráfico acima (24) provém de uma aposentadoria; um

benefício de prestação continuada e de uma pensão.

Gráfico: 25

Perfil idodo: Nº de filhos

5 Filhos

6 Filhos

7 Filhos

Observou-se que os idosos apresentam muitos filhos. Possuem de cinco a sete

filhos cada.

Page 97: Violência Idoso Dependente

96

Gráfico: 26

Perfil idoso: dependência funcional

67%

33%Cadeirantes 2

Acamado

Os três idosos entrevistados possuíam uma limitação e dependência funcional, que

se justifica no objetivo da pesquisa. Dois idosos são cadeirantes, que representam

(67%) e um idoso é acamado, significando (33%) dos entrevistados.

Gráfico: 27

Perfil idoso: dependência química

1; 17%

2; 33%1; 17%

2; 33%

Tabagista

Ex-tabagista

Alcoolista

Ex-alcoolista

Os idosos entrevistados têm ou tiveram algum tipo de dependência química.

Observou-se que: (33%), que representam dois idosos, são ex-alcoolistas e ex-

tabagistas, respectivamente. Dois idosos, representando (17%) cada, são alcoolistas

e tabagistas, também respectivamente.

Page 98: Violência Idoso Dependente

97

Gráfico: 28

Perfil: tipo de moradia

1; 33%

2; 67%

Própria

Alugada

Dos três idosos pesquisados, apenas um tem casa própria (33%) os outros dois

moram de aluguel (67%).

5.2.2.O perfil do agressor

Queiroz e Machado (2002, p. 795), no estudo “Negligência e Maus-Tratos”, discorre

sobre o perfil do agressor que configura-se em: filho dependente da vítima;

problemas mentais; alcoolismo e dependência de drogas.

Essas representações das autoras são ratificadas quando observados os perfis dos

agressores pesquisados, e descritos a seguir:

A cuidadora/agressora Sra. Eres é idosa de 74 anos e mantém união estável com o

Sr. Dionísio há 34 anos, reside em casa própria com o companheiro e com o filho

caçula, que é solteiro. Ela é mãe de 7 filhos do primeiro marido já falecido, estudou

até 2ª série, é evangélica e tem renda de R$ 380,00 proveniente de pensão. Tem

forte temperamento explosivo e descontrolado, chega a ser agressiva com o idoso e

com outros familiares, faz uso de medicamentos controlados, menciona alguns

remédios que não sabe o nome. Apresentamos fragmentos de seu relato que

confirmam os fatores de riscos expostos:

Page 99: Violência Idoso Dependente

98

...eu tenho depressão, eu tenho pressão alta, tomo muito remédio...eu tenho dores nas pernas, franquezas nas pernas, nos braços, eu tomo remédio controlado...que eu não posso comprar que é proibido, meu filho mais velho que compra é remédio forte ,e quando não vende remédio eu grito, brigo, falo...eu não tenho mais perna pra andar, eu dependo... eu sou dependente do calmante. O meu remédio é muito forte... Tunitrazepan 1mg... Enalapril pra pressão (Eres).

Hefesto é filho agressor de 42 anos, do sexo masculino, é solteiro, sem religião e

reside com a mãe, a Sra. Hestia, em casa alugada. Ele tem um filho com o qual não

convive, sua escolaridade é a 4ª série do ensino fundamental, desempregado, no

entanto ele declara que possui renda própria que aproxima-se de R$ 250,00 mensal

proveniente de coleta de sucatas. Extremamente agressivo e usuário de drogas

ilícitas, como maconha, que usa atualmente devido ao preço de baixo custo, mas

que se possível utiliza cocaína, heroína e crack. Também faz uso de drogas lícitas

como o fumo e álcool.

Selene é filha cuidadora/agressora, tem 23 anos, do sexo feminino, é casada, não

informou a religião, reside de aluguel com um filho e o marido, tem escolaridade de

ensino fundamental completo e trabalha como comerciaria, recebendo um salário de

R$ 440,00 mensal. Não é filha biológica do Sr. Apolo.

Hermes é filho agressor/cuidador, tem 37 anos, do sexo masculino, é evangélico, é

solteiro e não tem filhos. Ele reside com a mãe, Sra. Eres e o padrasto, Sr. Dionísio.

Concluiu o ensino médio completo, é usuário de álcool e maconha, exerce a

profissão de carregador de cargas em transportadora, com uma renda de R$ 380,00

mensal, mas depende financeiramente da mãe porque não tem casa própria.

Gráfico: 29

Perfil agressor/cuidador: idade

74

42

37

23

74 anos

42 anos

37 anos

23 anos

Page 100: Violência Idoso Dependente

99

Ao analisar o perfil do agressor /cuidador, verificamos que as idades variam de 23

anos a 74 anos, não sendo possível tirar média etária.

Gráfico: 30

Perfil agressor/cuidador: sexo

2; 50%2; 50%

Masculino 2

Feminino 2

Quanto ao sexo dos agressores/ cuidadores, ficaram em (50%) para cada.

Gráfico: 31

Perfil agressor/cuidador: estado civil

1; 25%

2; 50%

1; 25%

Casado

Solteiro

União estável

O estado civil dos agressores/cuidadores ratificam os estudos, uma vez que (50%)

dos pesquisados são filhos homens e solteiros, os outros dois são mulheres, no

entanto uma é casada (25%) e outra em união estável (25%).

Page 101: Violência Idoso Dependente

100

Gráfico: 32

Perfil agressor/cuidador: Nº filhos

1; 25%

2; 50%

1; 25%

Sete filhos

Um filho

Nenhum filho

Um agressor/cuidador possui sete filhos (25%); dois têm um filho (50%) e o terceiro

não tem nenhum filho (25%).

Gráfico: 33

Perfil agressor/cuidador: tipo de moradia

25%

25%

50%

Própria

Mora c/ a mãe

Alugada

Observou-se que (50%) dos agressores/cuidadores moram em casa alugada; (25%),

que representa um pesquisado, mora em casa própria e o último mora com a mãe.

Page 102: Violência Idoso Dependente

101

Gráfico: 34

Perfil agressor/cuidador: renda

50%

25%

25%

1 Salário mínimo

1 Salário e meio

Menos de 1 salário

A renda mais representativa dos agressores/cuidadores é que dois recebem salário

mínimo (50%); um recebe um (1) salário e meio (25%) e outro recebe menos de um

(1) salário mínimo (25%).

Gráfico: 35

Perfil agressor/cuidador: origem renda

25%

50%

25%Pensão

Assalariado

Outros

Page 103: Violência Idoso Dependente

102

De acordo com o gráfico 35, dois agressores são assalariados (50%), um recebe

pensão (25%) e outro tem seus rendimentos provenientes do trabalho com sucatas

(25%).

Gráfico: 36

Perfil agressor/cuidador: escolaridade

25%

25%

50%

Ens. Fund. Completo

Ens. Médio Completo

Ens. Fund. Incompleto

Dois agressores/cuidadores possuem ensino fundamental incompleto (50%); um tem

ensino médio completo (25%) e quatro entrevistados possuem ensino fundamental

completo (25%).

Gráfico: 37

Perfil do agressor/cuidador: dependência química

33%

33%

17%

17% Álcool 2

Maconha 2

Remédio controlado 1

Nenhuma 1

Page 104: Violência Idoso Dependente

103

A nossa pesquisa confirmou que quando o agressor/cuidador apresenta algum tipo

de dependência química, favorece o maltrato. O gráfico 37 acima responde nossas

inquietações quando observa-se que: (33%) dos agressores/cuidadores, que

correspondem a dois, são usuários de drogas, explicitamente a maconha, (33%) que

também representa dois pesquisados fazem uso contínuo de bebidas alcoólicas, um

agressor (7%) utiliza-se de remédios controlados e (17%), representa um

pesquisado, não tem nenhuma dependência.

5.3. VÍNCULO FAMILIAR ENTRE O AGRESSOR E O IDOSO

De acordo com Assis (2004, p.16), a relação afetiva no âmbito familiar é um dos

principais fatores de equilíbrio e bem-estar dos que envelhecem.

Aceitação e respeito, raiva ou rancor são frutos de laços constituídos ao longo do tempo que repercutem no apoio ao idoso. Há que se considerar os efeitos da perda da autoridade na subjetividade da pessoa idosa, que, por doença, pobreza, e/ou fragilidade emocional tende a ser progressivamente perder espaços para os mais jovens, filhos e netos, na decisão de aspectos centrais de sua vida. Tal fato pode ocasionar comportamentos agressivos, de auto-afirmação e intolerância, por outro lado, de excessiva dependência (MOTA, 1990 apud ASSIS, 2004, p.16).

Durante o processo de coleta de dados pudemos verificar que a tenuidade dos

vínculos familiares envolvendo os idosos dependentes vítimas de maus tratos é

perceptível nos relatos e nos gestos dos atores envolvidos. Eles são identificados no

desenvolver das entrevistas quando relatam as experiências próprias. Geralmente

as relações familiares são permeadas de conflitos não resolvidos oriundos de

interesses diferentes, que por anos se arrastam e quando a velhice chega desponta

necessidades específicas. A família contemporânea se vê num momento em que as

necessidades se mostram abruptas e com certo nível de rigor, deixando o idoso

passível de atitudes e mesmo de ações frustradas de cuidadores, que se tornam

também agressores.

Para Pacheco (2004), os conflitos familiares sempre existiram e são inerentes à

existência humana.

Page 105: Violência Idoso Dependente

104

Toda família vivencia conflitos internos que variam em intensidade, mas, que resolvidos ajudam o crescimento individual e coletivo. Os conflitos, quando trabalhados pelos membros familiares, podem ser uma alavanca para o estabelecimento de melhores condições de vida conjunta (PACHECO, 2004, p.350).

Nas relações familiares do Sr. Apolo não observamos vínculos familiares

constituídos. O seu histórico familiar é marcado por tragédias, onde ainda bebê a

sua mãe cometeu suicídio colocando álcool no seu próprio corpo e levando junto

com ela a outra filha também criança. Este fato marcou muito a vida do idoso, pois

expressa que atualmente sofre muito em virtude do suicídio da mãe. Acredita que

também não morreu na ocasião do suicídio porque ficou com a missão de pagar

pelo ato cometido pela genitora. Ele foi criado pelo pai e pela madrasta até 14 anos,

de idade quando saiu de casa, pois sofria maus tratos físicos e também era forçado

a exercer funções domésticas. Quando tinha entre 13 e 14 anos teve várias

passagens em internato de menores, pois fugia de casa constantemente. Quando

internado, participou de oficinas onde se profissionalizou como pintor e artesão,

atividades que exerceu até adoecer. Foi “andarilho”, viveu em várias cidades do

país, e constituiu três famílias, mas não conservou vínculo com nenhuma delas.

Decidiu conduzir a sua vida de maneira “errante”, sempre em busca de liberdade e

aproximou-se das filhas quando estas já estavam adolescentes. Quando adoeceu

precisou que a filha Selene cuidasse dele uma vez que a outra filha optou por viver a

sua própria vida e constituir família em outra cidade.

Os fragmentos dos relatos abaixo confirmam os dados apresentados:

Era garoto... tinha 13,14 anos...É eu ia e voltava, eu sai definitivo, me deixa ver, com 30 anos, sai... comecei a rodar tudo isso...trabalhava um pouquinho no posto, morava dois três meses naquela cidade ta, ai viajava pra outra, morava mais um tempinho em outra...morei em Porto Novo com uma mulher lá por pouco tempo, ah eu vou te contar uma coisa, eu...era muito biscateiro, saia fora, não ficava muito tempo não, meu negócio era andar (Sr. Apolo). a minha mãe morreu era pequenininho, ela se matou, por isso que eu ando sofrendo por esse mundo a fora...ela se matou, ciúme de meu pai... Então ela...entrou pro banheiro botou álcool, tacou álcool no corpo, despejou e tacou fogo e correu pra me pegar me levar, meu pai não deixou...assim meus parentes contaram ...ele agarrou com um cobertor assim encharcado de água e abraçou ela e me afastou pra não me levar, sendo que minha irmã foi, minha irmã não teve jeito, morreu (Sr. Apolo).

Page 106: Violência Idoso Dependente

105

A agressora/cuidadora Selene foi educada pela avó materna desde os 7 anos de

idade até os 15, após o falecimento da mãe, vítima de atropelamento, que na época

encontrava-se embriagada. Ilustramos abaixo os fragmentos da fala da filha:

Olha eu fui criada com minha vó...desde os sete anos...ai dos sete aos quinze anos fui criada com ela...ai eu tive alguns problemas lá com ela, ai fui morar com meu pai...(Selene).

Oh, na verdade a família de meu pai mesmo é só eu e minha irmã né, porque as minhas tias irmãs da minha mãe...na verdade ninguém gosta, assim muito de papai, por causa de problema dele de antes...acho que quando mãe...era viva...meu pai era um pouco nervoso com ela... (Selene).

Ao analisar os dados do idoso Sr. Dionísio, percebemos também um rompimento

nos vínculos familiares, uma vez que ele não foi criado pelos pais biológicos e

reproduziu o mesmo quando não criou e educou os seus filhos. Ele foi criado pela

avó paterna e após as separações da primeira e da segunda esposa não manteve

contato com os filhos. O contato com os filhos do segundo casamento foi refeito

após o adoecimento do idoso, quando necessitou de assistência e ela não ocorreu.

Os filhos deste idoso justificam não ter condições econômicas e não demonstram

interesse em estreitar o relacionamento com o pai, onde são notáveis os

ressentimentos por terem sido abandonos quando crianças. O idoso mantém um

vínculo mais estreito e menos conflituoso, no entanto piedoso, com o enteado com

quem mantém contato há 34 anos, e aproximadamente 10 anos residem na mesma

moradia.

Eu cuido dele desde que ficou sem andar e agravou os problemas de saúde. Isso mais ou menos dois anos (Hermes).

...eu, eu não fui criado por parte deles, fui criado pela minha avó... deram eu pra minha avó...a minha avó me tratava do jeito que ela podia...tinha os outros, mais cinco...era bom, eu ia pro um lado eles ia pra outro (Sr.Dionísio).

Nos fragmentos da fala do idoso observamos como ocorreu a participação dele na

educação dos filhos e o rompimento dos vínculos quando deixou a família:

...o mais velho tava com dezesseis anos pra dezessete... eu só ensinei eles a não fazer coisa errada...sempre eu dei, dava uma coça neles...dava uma

Page 107: Violência Idoso Dependente

106

coça neles pra eles aprender a tratar os outros...pra poder aprender a trabalhar...precisava porque só queria ficar brincando...inclusive quando eles brincavam, não dava pra eles estudar...tinha que corrigir, a obrigação era minha (Sr. Dionísio).

A cuidadora/agressora Sra. Eres teve dificuldades em constituir vínculos familiares e

mantê-los. Apresenta relacionamento conflituoso com os 7 enteados, filhos do

falecido marido, e com os 7 filhos biológicos que mantém afastados e distantes de

si. Toda aproximação é penosa e permeada de brigas e rancores oriundos da sua

ausência de mãe, pois os filhos ainda crianças foram educados e criados pelos

outros irmãos mais velhos, enteados da Sra. Eres. O único filho que mantém um

relacionamento mais próximo a ela é o filho Hermes, que a todo instante declara que

ainda residem juntos por causa dos cuidados especiais que o Sr. Dionísio requer.

Abaixo transcrevemos fragmentos do relato da idosa cuidadora/agressora, que

expressa os resultados obtidos:

Muito difícil. Papai bebia muito e batia muito nos filhos. Sofri muito com ele e depois com o meu falecido marido...Levantar muito cedo pra trabalhar na roça e não pude estudar, mulher não podia estudar (Sra. Eres).

eu sou mãe de criação... mãe, eu que criei ela.Tô de mal com ela por que...ela me deu uma casa [...], to com uma causa na justiça muito grande...Ela quer se aparecer com... minha família...então ela é a chefe a poderosa, ela quer ser a poderosa ( Sra. Eres).

Não fui uma boa mãe...Poderia ter sido melhor ( a idosa fica calada como se fosse chorar) (Sra. Eres).

Não tenho bom relacionamento. Só o [...] que liga pra mim. Tem filho que não vejo há muitos anos, são afastados de mim...Ninguém liga, cada um vive na sua vida (Sra. Eres).

O agressor/cuidador Hermes foi criado pela irmã mais velha desde os 2 anos de

idade até a adolescência, quando voltou a morar com Sra. Eres e Sr. Dionísio. Seu

relacionamento com os irmãos é difícil, quase inexistente, devido ao uso de

maconha e de álcool e de atritos violentos com Sra. Eres devido à personalidade

explosiva e agressiva dela.

Eu não vivi com eles. Depois que meu pai morreu, minha mãe largou os filhos e saiu pelo mundo. Quando ela foi viver com o Sr. Dionísio eu tinha uns dois anos e já morava com a minha irmã [...]. Morei muito tempo com ela (Hermes).

...tive boas escolas, estudei no Nacional, Darwin, não estudei mais porque não quis, não aproveitei, mais. Os meus irmãos não aceitam dizem que dou trabalho pra mamãe e querem que eu saia de casa (Hermes).

Page 108: Violência Idoso Dependente

107

... eles não vem aqui, mamãe ela é que vai sempre na casa deles. Mas sempre brigam (Hermes).

O filho Hermes, da idosa cuidadora/agressora, relata seu relacionamento com o

idoso e faz consideração sobre os motivos pelos quais os filhos do Sr. Dionísio não

se aproximarem do pai, deixando-o abandonado. Informa também que a mãe a Sra.

Eres cobra assistência financeira de forma agressiva. A citação abaixo relata as

informações anteriores:

Com ele é bom. Agente se entende. Faço o que posso pra ajudar...Eles quase nem vem aqui, é por causa da mamãe. Ela toca eles daqui e também fala desaforos. O problema dela é dinheiro. Só pensa em dinheiro, quer que eles dêem dinheiro pra ela. Mas eles são pobres e também não tem condições (Hermes).

A terceira entrevistada, a idosa Sra. Hestia, apresenta vínculos familiares frouxos.

Manteve vínculos afetivos com a família até o período em que residiu no interior com

os 5 filhos e o esposo. Observamos que na transição da zona rural para a urbana a

família foi permeada por sobressaltos que transformara negativamente esses

vínculos. Após o falecimento do pai6, as brigas e atritos se agravaram intensamente,

posteriormente questões inerentes a interesses financeiros se multiplicaram e

contribuíram para destruir a relação familiar até então fragilizada. A relação

conflituosa do passado se acumulou e os resquícios afetam os familiares na

atualidade.

Através das falas da Sra. Hestia observou-se o quanto foram frágeis os vínculos

familiares dessa família:

... quando eles eram pequenos eu não morava aqui não, eu morava em fazenda...no interior de Minas... então eles trabalhavam plantando batata doce, iam pra escola sabe, eu tinha aquela vida assim...Mais pacata. Depois que vieram pra cidade que viraram isso. Esse então ficou terrível (Sra. Hestia).

Hoje, se eu fosse nova... não queria ter mais nenhum filho. Sinceramente não... Todos me deram problema. Todos me deram problema (Sra. Hestia).

6 Poder da autoridade paterna: “quando o homem é o chefe da família, é também, de fato, seu amo e senhor, mandando e desmandando na mulher e nos filhos” (SAFFIOTI, P.44).

Page 109: Violência Idoso Dependente

108

...todo mundo afastado...ninguém liga...ah, eu vou te falar uma coisa, eu como mãe, vou falar com toda sinceridade, eu morro de dó deles, porque eles são muito pobres de espírito. Eles todos tem filhos eles não sabem o dia de amanhã (Sra. Hestia).

Nota-se um vínculo afetivo aparente entre o filho agressor/cuidador Hefesto. Afetivo

aparente uma vez que há brigas violentas, insultos, agressões físicas, dentre outras,

onde as substâncias psicoativas influem no comportamento do filho e da mãe,

porém o laço consangüíneo mantém uma força desconhecida, ligando-os mesmo

em momentos de discórdias.

não estou rogando... você está me entendendo?...não estou rogando praga, não estou...não quero que aconteça nada de ruim com eles, sabe? Não quero que aconteça nada de ruim. Mas o que eles estão fazendo comigo...é um pecado, é uma injustiça (Sra. Hestia). ...o Filho 2 me trata muito bem. A Filha2 me trata muito bem. Quem me trata com cascudo é o [...], que uma vez a...dona da casa ligou pra ele, pra que eu tava atrasada com o aluguel, “pega os lixos dela e joga no meio da rua, eu não tenho nada com ela, ela não é a minha mãe”. Assim que ele respondeu pra ela, sabe. E o Agressor é isso aí que você está vendo (Sra. Hestia).

A idosa tenta justificar o comportamento do filho incapacitando-o mentalmente,

relacionando a violência praticada com a possível psicopatia herdada do pai e situa

o filho como vítima, negando as violências praticadas por ele. Todos os filhos de

Sra. Hestia mantêm-se distantes entre si e com a mãe, e as relações são

fragilizadas pelo comportamento individualista de cada um.

Em relação ao filho agressor, nota-se a identificação com a mãe quando ao ser

perguntado sobre sua percepção de família e responde “que só a mãe é sua

família”. No entanto, ocorre a negação de família quando não deseja ter um

relacionamento mais próximo com o filho, oriundo de namoro de 6 meses que teve

com uma pessoa em São Paulo quando jovem.

Os fatos são expressos nos fragmentos de sua fala:

...tenho um menino de que vai fazer 20 anos, certo, mora em São Paulo, que deixa pra lá que eu não quero saber dele mais (Hefesto). Não é... eu passei nove anos em São Paulo, né, tive aí alguns problemas, e essa parte aí eu não quero contar, certo, é eu... desliga um pouquinho aí (Hefesto).

Page 110: Violência Idoso Dependente

109

é espera aí, tem que...ta tomando conta, né, o homem de casa...em partes sou eu certo... É quando criança...foi bom e já teve algumas pilantragem, né ...(Hefesto).

5.4. FATORES DE RISCOS DE VIOLÊNCIA

Quando propusemos observar os fatores de risco nas relações familiares que

envolvem os idosos dependentes e os cuidadores/agressores objetivamos identificar

a linha tênue que a literatura aponta entre o limiar do cuidar e o maltratar e para tal

passamos a expor os resultados obtidos a seguir:

A teoria dos autores é confirmada quando analisamos os casos das famílias dos

idosos Sr. Apolo, do Sr. Dionísio e da Sra. Hestia. No caso da família do Sr. Apolo,

observamos que o alcoolismo e a falta de vínculos familiares geraram agressões

físicas da parte dele para a última esposa, que por sua vez também era alcoolista.

Essas relações conflituosas hoje são reconhecidas pelo idoso, mas não aceitas por

ele como normal. No seu entendimento não deseja que a filha Selene passe pelo

constrangimento que sua esposa foi acometida enquanto sua companheira devido

ao seu alcoolismo. A filha agressora/cuidadora tem relação conjugal conturbada em

virtude das “cervejinhas de fim de semana” do marido.

...uma coisa que eu gostei foi ficar distante dessa discussão que ele bebia muito...desenfreadamente ta, era de segunda...de domingo a domingo, todo dia, então tinha aquela briga todo dia em casa ...eu pensava que nunca ia parar de beber na vida...e hoje em dia eu tenho nojo de bebida (Sr. Apolo).

Selene confirma que a bebida influenciou negativamente o relacionamento do pai

com os familiares e que também está contribuindo para “arranhar” o seu casamento,

fato que pode ser confirmado em sua fala quando diz:

É... relacionado a isso mesmo...porque o meu pai...quando bebia era um pouco violento...eles brigavam demais, meu pai já chegou várias vezes agredir minha mãe...Minha mãe bebia...era alcoólatra mesmo...tava embriagada e ela foi atropelada (Selene).

Queiroz e Machado (2002, p.794), apontam o fator de risco como a dependência em

que “a incapacidade funcional e o alto grau de dependência para os cuidados

aumenta o risco e a vulnerabilidade para os maus tratos e a negligência”. Este

conceito é confirmado e identificado na dependência funcional do idoso, ocasionada

Page 111: Violência Idoso Dependente

110

pela amputação dos membros inferiores e dos outros idosos dependentes sujeitos

da nossa pesquisa.

...não tem como não, mais difícil ...não posso mais subir numa escada, não posso subir num andaime...uma paisagem tamanho dessa...eu não posso fazer mais (Sr. Apolo).

Ao analisar os fatores de riscos na família do Sr. Dionísio, encontramos o alcoolismo

tanto da parte do idoso quanto do cuidador como base dos atritos, além da droga

ilícita do agressor/cuidador, a agressividade, transtorno psíquico e a idade avançada

da esposa cuidadora, a seqüela deixada pelo AVC e a doença crônica da hérnia

ignal que o incapacita para a realização das atividades diárias e a falta de busca de

assistência médica enquanto jovem.

Esses fatores de riscos são observados conforme os fragmentos dos relatos a

seguir:

...era muito vira lata...eu bebia todas...foi o que mais acabou comigo (Sr. Dionísio). ...o que prejudicou eu ta aqui,...botar aqui na cama e deixar eu paralítico,... foi o derrame, foi o derrame...deixei de andar deixei de tudo (Sr. Dionísio).

Outro fator de risco citado pelas estudiosas e verificado na pesquisa é o isolamento

social do cuidador /agressor, explicitado em sua fala quando diz que:

Eu não tenho vida própria. Vocês tão vendo, eu venho em casa todo dia nessa hora (11 horas) pra fazer a minha comida e dar banho nele. Minha mãe não agüenta...ele é muito pesado e a hérnia é muito grande. Precisa de cuidados especiais, não é qualquer pessoa que sabe manusear as coisas dele (Hermes).

Eu morava em [...] e eles mandavam eu pegar encima da cômoda. E nisso eu também fumava. Pra agüentar essa vida que eu levo só fumando maconha...Só maconha e álcool (Hermes).

Não acho que ...prejudico ninguém, não, só bebo pra desestressar, é muito complicado aqui em casa (Hermes).

No último caso observamos que os laços familiares construídos entre a idosa Sra.

Hestia e os filhos foram conturbados. A idosa e o filho agressor fazem uso de

bebidas alcoólicas, o filho utiliza-se de drogas ilícitas como maconha, cocaína e

crack. A dependência física e de necessidades de cuidados de Sra. Hestia,

dependência financeira do agressor e a agressividades de ambas as partes

Page 112: Violência Idoso Dependente

111

constituem assim fatores de riscos que podem ser observados nas falas dos atores

entrevistados:

Ele não é normal, Fulana. Você notou, né?...o pai dele foi aposentado no107...é ele era psicopata...eu não sei, eu não fiz os exames, mas eu tenho a impressão que ele tem um problema qualquer (Sra. Hestia). E muita cachaça também. Mas a roda de amigos dele é essa, os amigos dele são todos alcoolistas, porque ele bebe...(Sra. Hestia). Esse daí toda vida foi rebelde desse jeito, que o pai dele bebia muito também, ele aprendeu a beber com o pai...o pai dele morreu de tanto que ele bebia (Sra. Hestia). De vez em quando eu tomava uma cerveja...até uns seis meses atrás...uma cerveja, uma vez por semana, duas (Sra. Hestia). ...essa falha de dente aqui sabe? Sabe por que ele tem falha? os dentes dele foram arrancados de alicate por causa de droga. Porque ele comprou fiado e não pagou e amarraram ele e arrancaram com alicate (Sra. Hestia). ...eu vou te falar uma coisa que...bem uns 32 anos...A professora me chamou e falou, que ele estava usando maconha dentro da escola (Sra. Hestia).

Nos três casos de famílias analisados pudemos encontrar o alcoolismo como fator

preponderante para o maltratar; a agressividade como parte da formação histórica

da família e reproduzida em diferentes gerações; duas famílias com vínculos

familiares frouxos e uma família onde o vínculo familiar é inexistente; a dependência

funcional relacionada à incapacidade física e cuidados específicos em três casos.

Em dois casos encontramos a similaridade do uso de drogas ilícitas, como a

maconha. Em dois casos a dependência financeira dos filhos agressores, dois

agressores com problemas psíquicos, e uma idosa cuidando do companheiro idoso

acamado. Nas famílias entrevistadas observou-se que tanto os idosos quantos os

cuidadores/agressores se encontram isolados socialmente e com alto nível de

estresse. Os fatores de riscos encontrados são visualizados no gráfico a seguir.

Page 113: Violência Idoso Dependente

112

Gráfico: 38

Fatores de riscos

0 1 2 3 4 5

QUANT

Problemas psíquicoscuid/agressorDepend. Financeiracuid/agressorEstresse

Idade do cuidador

Agressividade

Falta de vínculos

Vinculos frouxos

Dependência funcional

Isolamento social idoso

Em todos os casos entrevistados buscamos identificar a concepção de violência

tanto do idoso maltratado quanto dos cuidadores/agressores.

Dois idosos vítimas de maus tratos não conseguem conceber a violência cometida

contra eles, apenas em um caso em que a idosa, além de conceber verbaliza em

vários momentos da entrevista e demonstra os seus sentimentos de indignação por

se encontrar numa situação de dependência e sujeita a outros, sendo esse outro um

filho que deveria proporcionar a sua segurança e bem-estar, porém faz o contrário, a

subjuga aos maus tratos físicos, psicológicos e vários outros.

Relato de idosa que concebe a violência praticada contra si:

Até uma palavra mal falada é violência, do jeito que ele fala comigo. Ele quando peço... de noite eu grito...me da um copo d´ água...” ah você enche o saco, porque você não morre de uma vez”...Pôxa vida. Tem noite que dorme a água aqui oh, bebo água quente, água velha (Sra.Hestia).

Relato de idoso que não concebe a violência praticada contra si:

pra mim violência é quando você trata os outros mau, bate, mata, é isso que eu acho que é violência... não nossa, nossa senhora nunca (Sr. Dionísio).

Três cuidadores/agressores têm uma concepção de violência externa da relação

familiar destes. Quando questionados sobre violência, em nenhum momento

admitiram a violência no interior da família praticado contra os idosos. A concebem

Page 114: Violência Idoso Dependente

113

de uma forma externa e perceptível à sociedade, muito distante do seu convívio e do

cotidiano. Visualizam uma violência estrutural, apenas um cuidador/agressor, além

da concepção estrutural da violência, identifica e sinaliza a violência cometida contra

o idoso dependente.

A concepção de violência dos cuidadores/agressores pode ser observada nos

fragmentos de suas falas a seguir:

Sociedade, né, fazer intriga das pessoas né, um ta querendo puxar o outro...O nosso governo seria mais honesto, no caso você viu ai a reportagem...um menino de dois anos, tomou dois tiros na cabeça...que mundo é esse nosso (Hefesto).

Eu acho uma safadeza, falar logo assim, porque pôxa tem, meu pai é um cara que ...pode se defender com a palavra, falar gritar alguma coisa, tem idoso aí né coitado que não pode falar, que não pode levantar da cama, é um absurdo, nossa senhora, os velhinhos ficam lá na porta, esperando atendimento nesses hospitais, aí, é um absurdo, nessas macas, ah, que absurdo (Selene).

É tanta coisa. Esse mundo é violento. O que estão fazendo com o velho é violência. Me denunciaram que estava maltratando mamãe...mas quem mais prejudica o Sr. Dionísio é a minha mãe... ela fica azucrinando,...na verdade ela briga eu só me defendo. Ela joga o que tiver na mão, até com faca ela já me atacou (Hermes).

Os casos de denúncias no SOS Idoso envolvendo os idosos e familiares

pesquisados tiveram o registro de denúncias anônimas no ano de 2004. No entanto,

em 2006 suscitaram maior intervenção, pois os maus tratos se agravaram,

principalmente no tocante às relações de agressões envolvendo a Sra. Hestia e o

filho Hefesto.

Page 115: Violência Idoso Dependente

114

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No desenvolvimento deste estudo observou-se o quão vulneráveis são os idosos no

nosso país, especificamente no município de Serra não poderia ser diferente. No

entanto, os idosos dependentes provenientes da perda da capacidade funcional

ficam mais expostos e sujeitos a maus tratos que perpassam as relações familiares

ou mesmo os maus tratos institucionais.

Quanto aos objetivos propostos, que foram: analisar a ocorrência de violência contra

o idoso dependente, pela perda da capacidade funcional, nas relações familiares

tendo como foco as denúncias no SOS 3ª Idade - SOS Idoso do Município de Serra-

ES, confirmou-se a expectativa de desvelamento dessa violência intrafamiliar

cometida contra os idosos.

Na dinâmica de atendimentos do SOS Idoso notam-se as dificuldades encontradas

pelos cuidadores em dar o suporte social e cuidados básicos ao idoso dependente

de perdas funcionais, ocasionadas por diversos motivos, como doenças crônicas

degenerativas, seqüelas de AVC, acidentes domésticos, entre outros.

Observamos ainda, que o familiar ao manter o idoso próximo de si, utiliza-se dos

proventos para agregar a renda familiar. Em outras famílias notam-se que a única

fonte de renda da família, provém das aposentadorias e benefícios dos idosos,

sendo o idoso provedor do lar. Mas, o papel de chefe de família não é reconhecido

uma vez que o idoso tornou-se um peso para a família. A idade avançada, a

longevidade, é considerada por algumas gerações como desprestígio social e

familiar.

As dificuldades encontradas para caracterizar a violência e a tipologia, que

compõem o nosso segundo objetivo, foram muitas, uma vez que os idosos, mesmo

sendo vítimas e com o acompanhamento do SOS idoso, não percebem como os

maus tratos transformam a vida pessoal e social deles. A violência, mesmo

denunciada, continua velada, acontece na “casa do meu vizinho, na minha não”.

Esta frase não foi verbalizada em nenhum momento pelos idosos participantes da

pesquisa, ela se fez notar nas expressões e sentimentos de cada um.

Page 116: Violência Idoso Dependente

115

Observou-se que as violências encontradas configuram-se como: negligência e

abandono, (18%), respectivamente, a violência verbal, (17%), sendo que esses

abusos aparecem em todos os três casos entrevistados. A psicológica aparece em

dois casos de forma explícita, no entanto nota-se que todos os idosos vítimas de

maus tratos são agredidos psicologicamente e, portanto, consideramos no resultado

final os 3 casos que correspondem a (17%). A financeira pôde ser verificada em dois

idosos entrevistados, (12%), a discriminação aparece em dois idosos entrevistados

relacionados à cor de pele e pelo fato de um dos idosos ter os membros inferiores

amputados, significando (12%) e a física foi identificada em um caso representando

(6%).

Outro objetivo proposto foi identificar o perfil do idoso e o perfil do agressor. Quanto

ao perfil do idoso, identificamos que os idosos vítimas de maus tratos com

dependência funcional tinham características comuns como: baixa escolaridade

onde os três idosos possuem ensino fundamental incompleto (1ª série, 4ª série e 7ª

série) e todos os três idosos têm mais de cinco filhos cada ( cinco, seis e sete). Em

relação a outras características, observou-se a idade eram de 66, 67 e 73 anos, que

dois são do sexo masculino que representa (67%) dos entrevistados e um do sexo

feminino (33%). Outro dado verificado foi a religião, onde dois são católicos (67%) e

um evangélico (33%), quanto à renda dos idosos, dois recebem um salário mínimo,

(67%), e um recebe mais de quatro salários mínimos; dois idosos que recebem

salário mínimo, um é de aposentadoria, um é de benefício assistencial (BPC) e o

terceiro é pensionista. O estado civil observado foi que dois são viúvos, com (67%),

e um vive em união estável, (33%), dois idosos residem em casa alugada, (67%) e

um idoso tem casa própria, (33%).

Analisamos a dependência funcional e se os idosos apresentavam algum tipo de

dependência química. Encontramos que todos os três tem dependência funcional o

que justifica o nosso objetivo sendo essas dependências observadas em dois idosos

cadeirantes, representando (67%) desse tipo de dependência e um idoso acamado o

que corresponde a (33%). A dependência química confirmou-se no resultado da

pesquisa, onde verificou-se que dois idosos são ex-alcoolistas e ex-tabagistas

respectivamente (33%) cada um, um tabagista e um alcoolista representando

respectivamente (7%) cada.

Page 117: Violência Idoso Dependente

116

Quanto ao perfil do agressor, confirma-se a literatura onde o agressor geralmente é

do sexo masculino, dependente de álcool ou de outras drogas. O resultado da

pesquisa obteve que (50%) dos agressores são homens, filho e enteado e (50%)

são mulheres, a filha e a esposa. No tocante ao estado civil, dois filhos são solteiros

que corresponde a (50%) consecutivamente, união estável e casada que representa

(25%) cada; quanto à moradia, (50%) correspondem a dois agressores que moram

de casa alugada, (25%) em casa própria e (25%) mora na casa da mãe; quanto ao

número de filhos, dois agressores têm um filho cada, que corresponde a (50%) dos

pesquisados, (25%) têm sete filhos e (25%) não têm filhos; analisando a renda dos

agressores podemos observar que dois deles são assalariados (50%), um recebe

pensão por falecimento do marido (25%) e um têm outro tipo de renda, sendo que

dois têm renda de um salário mínimo (50%), um tem renda de um salário mínimo e

meio (25%), e um tem menos de um salário de renda (25%). Analisando a

escolaridade dos agressores, nota-se que dois têm ensino fundamental incompleto e

que corresponde a (50%), um tem ensino médio completo, (25%), e um tem ensino

fundamental completo (25%). Quanto à dependência química, observa-se que dois

agressores são dependentes de álcool e maconha, o que significa (33%), um é

dependente de remédio controlado, o que representa, (17%) e outro não tem

nenhuma dependência representando (17%).

Quanto ao objetivo da pesquisa que trata de conhecer o vínculo familiar entre o

agressor e o idoso e identificar os fatores de riscos de violência, ratifica os

estudiosos da questão. A dependência química pelo uso de drogas, álcool e remédio

controlado deu ênfase no resultado da pesquisa, no entanto nota-se que o

isolamento social confirma os estudos e indicadores de fatores de riscos aos idosos.

Observou-se que tanto os idosos quanto os cuidadores/ agressores ou vice-versa

ficam numa situação acuada, sem perspectivas e sem aparatos para romperem o

círculo vicioso. Hoje eu maltrato, amanhã me arrependo e prometo mudar e depois

de amanhã repito as mesmas violências.

Minayo (2003) discorre que

Em qualquer política de prevenção e atenção à violência contra os idosos, atualmente, precisa-se considerar as diferentes formas de configuração do problema. Devem ser objeto de atenção: políticas públicas que redefinam, de forma positiva, o lugar do idoso na sociedade e privilegiem o cuidado, a

Page 118: Violência Idoso Dependente

117

proteção e sua subjetividade, tanto em suas famílias como nas instituições, tanto nos espaços públicos como nos âmbitos privados.

Verifica-se que os vínculos familiares envolvendo os idosos dependentes vítimas de

maus tratos, geralmente são relações permeadas por conflitos e brigas que se

arrastam por toda uma vida e quando chega a velhice acontecem os revides.

Podemos afirmar que nessas famílias os vínculos familiares são frouxos, quase

inexistentes.

Nota-se que os idosos apesar da prole numerosa, em um dado momento de suas

vidas, residem com aquele filho mais problemático, com dependência de álcool,

maconha e outras sustâncias químicas. A pesquisa mostrou que eles permanecem

nessa situação por vários motivos, dentre alguns a dependência funcional do idoso,

à falta de autonomia financeira dos filhos agressores/cuidadores, e por serem a

única referência de família, uma vez que os outros filhos e parentes se afastaram.

Nos três casos de famílias analisados podemos encontrar o alcoolismo como fator

preponderante para o maltratar, representando 8%, os ex-alcoolistas representam

dois casos, que significam 6%. A agressividade apareceu em quatro, pessoas

representando 10%. A formação histórica familiar de alcoolismo aparece em três

casos, sendo 9% e contribui como fator de risco, uma vez reproduzida em diferentes

gerações. A falta de vínculos familiares apareceu em um caso, representando 3%,

as famílias de vínculos frouxos somaram dois casos, representando 6%, a

dependência funcional aparece em três idosos, que corresponde a 9%. Em dois

casos encontramos a similaridade do uso de drogas ilícitas, como a maconha,

significando 6%, dos casos entrevistados. O isolamento social dos agressores e dos

idosos aparece em todos os casos, representando 8% cada. Dois casos de

dependência financeira do filho agressor, que significa 6% dos entrevistados.

Aparecem nos resultados dois casos de transtornos psíquicos dos

agressores/cuidadores, que significam 6%, a idade do cuidador atualmente constitui

um fator preponderante para os maus tratos e foi observado um caso onde a idosa

de 74 anos cuida do companheiro idoso de 73 anos acamado, representativo nos

resultados como 3%. O tabagismo aparece em dois casos, 6%, o ex-tabagismo

aparece em um caso, com 3%, outro fator delicado são os usos de remédios

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118

controlados utilizados pelos agressores/cuidadores que no caso deste estudo

aparece em um, representando 3%.

Observamos que o consumo das drogas lícitas ou ilícitas tem grande influência nas

relações familiares e o uso varia de acordo com o poder aquisitivo do usuário e do

familiar, se o agressor tem dinheiro ou tem como obter a droga, consome o crack, a

cocaína e outras químicas e quando não tem se satisfaz fazendo o uso da maconha

e do álcool, conforme relatos dos entrevistados.

O fato de os idosos não perceberem a violência de que são vítimas pode ser

explicada, uma vez que eles próprios sentem-se um fardo para a família e para a

sociedade. Essa não percepção reforça a dificuldade de desvelar as diversas formas

de violências praticadas contra a pessoa idosa, em especial a dependente pela

perda da capacidade funcional no interior da família.

No nosso país existe um conjunto de leis, citadas neste estudo, que garantem a

qualidade e a promoção de vida dos sujeitos fragilizados e que constituem atores

das novas gerações, os idosos. No entanto, faz-se necessário lutas individuais ou

coletivas que possam romper com as situações críticas de maus tratos, ou violências

das quais são vítimas os idosos do Brasil, em especial aos munícipes de Serra.

Violência ou maus tratos? Qual a diferença? Essa resposta depende de quem está

sendo vítima e de quem está praticando, para nós pesquisadores sociais tem o

mesmo significado e propomos que o Estado, Sociedade e Família se mobilizem

para romper essas práticas que não são atuais e que estão ocultas no interior das

famílias. As famílias precisam que os seus direitos sociais sejam garantidos, dando-

lhes condições econômicas, sociais e sustentabilidade para o enfrentamento das

questões sociais e buscar mecanismos de transporem os obstáculos dos rancores e

da tênue linha que levam aos maus tratos.

“Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidas nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição” (artigo 2º da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948).

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119

7. REFERÊNCIAS

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4. BRASIL. Datasus . Disponível em: <http://w3.datasus.gov.br/datasus/datasus.php?.area=363A6B0C0D0E0F363G6H0I1Jd6L7M0N&VInclude=../site/texto.php>Acesso em: 09.jun.2007.

5. _______.Estatuto do Idoso . Lei nº. 10.741 de 1º de outubro de 2003. Brasília, 2003.

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7. _______.Presidência da Presidência da República. Subsecretaria de Direitos Humanos. Plano de Ação para o Enfrentamento da Violência Con tra a Pessoa Idosa . Brasília, 2005. Disponível em: < www.presidencia.gov.br/sedh >Acesso em: 30 jun. 2006.

8. _______.Política Nacional de Redução da Morbimortalidades p or Acidentes e Violências . Portaria nº. 737/GM 16/05/2001. Disponível em: <http://conselho.saude.gov.br/comissao/acidentes_violencias2.htm>Acesso em: 03 jul. 2006.

Page 121: Violência Idoso Dependente

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9. _______.Política Nacional do Idoso . Lei nº. 8.842 de 04/01/1994. Brasília, 1998.

10. _______.Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa. Portaria Nº 2.528/06. Disponível em: < http://www.senado.gov.br/conleg/Idoso/DOCS/Federal/Portaria2528.doc>Acesso em: 05 maio 2007.

11. _______.Ministério da Saúde. Rede Nacional de Prevenção da Violência e

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APÊNDICES

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APÊNDICE A

Termo de autorização para pesquisa institucional

ESCOLA DE ENSINO SUPERIOR DA SANTA CASA DE MISERICÓ RDIA DE VITÓRIA – EMESCAM

Vitória, 14 de fevereiro de 2007.

À secretária de promoção social do município de Serra

Senhora Maria Nazeth Motta Liberato

Solicitamos autorização desta conceituada instituição para a realização da Pesquisa

Relações conflituosas ocasionadas pela dependência funcional do idoso no âmbito

familiar que será desenvolvida pelos acadêmicos de serviço social do 8º período

Amélia Rossi Crivellari, Cleonice Viana dos Santos Angeli e Leila Silva Cicilioti, sob a

orientação da Profª. Mestre Tania Maria Bigossi do Prado.

A pesquisa tem como objetivo identificar e analisar a ocorrência de violência contra o

idoso dependente, pela perda da capacidade funcional e conhecer os vínculos entre

o agressor e o idoso nas relações familiares tendo como foco as denúncias no SOS

3ª Idade Idoso do Município de Serra - ES.

Para sua operacionalização será realizado entrevista com três idosos e suas

respectivas famílias. O desenvolvimento do trabalho respeitará os princípios éticos

de autonomia e confiabilidade dos dados. Os resultados serão devolvidos para a

instituição no término do trabalho e defesa do TCC.

Atenciosamente,

___________________________________

Profª. Mestre Tania Maria Bigossi do Prado

Orientador da Pesquisa de TCC

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APÊNDICE B

Roteiro de entrevista para o idoso com dependência funcional

Nome:______________________________________________________________ Idade:______________________________________________________________ Sexo:_______________________________________________________________ 1- Quantos filhos têm?_________________________________________________ 2- Com quem mora e desde quando?______________________________________ 3- Qual a renda familiar? E a origem?_____________________________________ 4- Quais as despesas do idoso?__________________________________________ 5- Quais problemas de saúde que você tem, e há quanto tempo?________________ 6- Quais as limitações que este problema te trouxe?__________________________ 7- Como você foi educado pelos seus pais?_________________________________ 8- O que acha da forma como foi educado?_________________________________ 9- Como você educou os seus filhos?_____________________________________ 10-Você hoje os educaria da mesma forma?________________________________ 11-Como é o seu relacionamento com a sua família?_________________________ 12-Como você é tratado pela sua família?__________________________________ 13-O que é violência pra você?___________________________________________ 14-Você já foi vítima de violência? Como aconteceu?_________________________ 15-Você conhece algum direito do idoso do Estatuto do Idoso?_________________ 16-Você denunciaria alguém por estar violando os seus direitos?________________ 17-Onde?___________________________________________________________

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APÊNDICE C

Roteiro de entrevista para o agressor/ e cuidador

Nome:______________________________________________________________ Idade:______________________________________________________________ Sexo:_______________________________________________________________ 1- Você é casado?____________________________________________________ 2- Quantos filhos têm?_________________________________________________ 3- Qual a sua renda e fonte dela?_________________________________________ 4- Desde quando é responsável pelos cuidados com o idoso?__________________ 5- Quais as limitações que lhe são acarretadas por cuidar do idoso?_____________ 6- Como você foi educado pelos seus pais?_________________________________ 7- O que acha da forma como foi educado?_________________________________ 8- Como você educa os seus filhos?______________________________________ 9- Como é o seu relacionamento com o idoso?______________________________ 10-Como é o seu relacionamento com a sua família?_________________________ 11-Como é a relação dos seus filhos com o idoso?___________________________ 12-O que é violência pra você?___________________________________________ 13-Você já foi vítima de violência? Como aconteceu?_________________________ 14-Você conhece algum direito do Estatuto do Idoso?_________________________ 15-Você denunciaria alguém por estar violando os seus direitos?________________ 16-Onde?___________________________________________________________ 17- O que você acha da violência praticada contra o idoso?____________________

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ANEXOS

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ANEXO A – Termo de consentimento livre e esclarecid o

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Este documento visa solicitar sua participação na pesquisa “Relações conflituosas ocasionas pela dependência funcional do idoso no âmbito familiar”, que consistirá em resultado do trabalho de Conclusão de Curso ao Departamento de Serviço Social da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória – Emescam. Este estudo tem como objetivo: analisar a ocorrência de violência contra o idoso dependente, pela perda da capacidade funcional, nas relações familiares tendo como foco as denúncias no SOS Idoso do Município de Serra-ES e conhecer os vínculos familiares entre o agressor e o idoso; e identificar a tipologia da violência.. Serão aplicadas entrevistas semi-estruturadas , ou seja, o entrevistador utilizará um roteiro de perguntas, mas haverá liberdade para o entrevistado expor outras questões referentes ao assunto estudado. Além disso, as entrevistas serão gravadas, transcritas e posteriormente, analisadas, sendo ao final do processo as fitas serão destruídas. O presente termo assegura os seguintes direitos: a) Pedir, a qualquer tempo, maiores informações sobre a pesquisa; b) Liberdade de desistir, a qualquer tempo, de participar da pesquisa; c) Garantia de sigilo absoluto sobre nomes, apelidos, bem como quaisquer informações sobre a identificação pessoal; d) Opção de solicitar que determinadas falas e/ou declarações não sejam incluídas em nenhum documento oficial, o que será prontamente atendido. Você receberá uma cópia desse termo em que constará telefone e o endereço eletrônico dos pesquisadores, podendo tirar suas dúvidas a qualquer momento sobre o projeto e sua participação. “Eu, ____________________________________ portador do RG ________________residente ______________________________________________. Declaro que, após esclarecimento prestado pelos pesquisadores e ter entendido o objetivo da pesquisa, consinto voluntariamente em colaborar na realização desta. Fico ciente também que uma cópia deste termo permanecerá arquivada com os pesquisadores do Departamento de Serviço Social da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória-EMESCAM, responsáveis por esta pesquisa”.

Vitória, ______ de ____________________ de 2007. __________________________________ Assinatura do Declarante ASSINATURA DOS PESQUISADORES: Nome: ___________________ Nome:______________________ Nome:__________________ Tel: _____________________ Tel: ________________________ Tel_____________________ e-mail: ____________________e-mail:______________________ e-mail__________________