Visadas_discursivas,_gêneros_situacionais_e_construção_ textual

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    Visadas discursivas, gneros situacionais e construo textualin Ida Lucia Machado e Renato de Mello. Gneros reflexes em anlise do discurso.Belo Horizonte, Nad/Fale-UFMG, 2004.

    Uma maneira de colocar os problemas

    Em um artigo [1] para a revista Rseaux [2], intitulado As condies de uma tipologia dosgneros televisivos de informao, comecei por apresentar alguns problemas que a noo degnero traz. Me apoiei, naquele momento, nas diferentes categorias que a tradio literrianos legou para evidenciar a diversidade dos critrios aos quais ela recorria, e, finalmente, paradiscutir sua pertinncia quando se trata de classificar textos no literrios. Percebo, hoje, queexecutei o exerccio clssico, quando se escreve um artigo, que consiste em fazer umareviso crtica da questo antes de adiantar seu prprio ponto de vista. Entretanto, sintomtico o fato de eu ter me referido, como outros, tradio literria, como se a questodos gneros no pudesse ser tratada sem passar por ali. Certamente, ainda somosherdeiros dessa tradio, mas me parece, agora, que um erro, que melhor romper com elae que prefervel recolocar essa questo sob outro ponto de vista. Alm disso, se voltamos Antiguidade, percebemos que, desde essa poca, coexistiram duas problemticas. Umaresultante da posio do poeta da Grcia pr-arcaica, que, encarregados de encenar o papelde intermedirio entre os deuses e os humanos, tinha a responsabilidade de celebrar osheris (gneros pico e epidctico), e de resolver os enigmas (os mitos), o que acabou porcodificar a poesia em um certo nmero de gneros tais como o pico, o lrico e o dramtico. Aoutra, resultante da necessidade de gerar a vida da cidade e os conflitos comerciais epolticos, nasceu na Grcia clssica e teve seu impulso na Roma cicernica, fazendo da palavrapblica um instrumento de deliberao e de persuaso poltica. , desse modo, nesta segundafiliao que me inscreverei e retomarei algumas tentativas de definio dos gneros noliterrios para colocar os problemas de uma outra maneira e tentar fazer algumasproposies.

    Podemos considerar, de forma simplificada, que a questo dos gneros no literrios foi, ou ,abordada de diversas maneiras : determinando os lugares de palavra lugares sociaisdiziam os antigos que resultam da maneira como uma sociedade estrutura,institucionalmente, a prtica social em grandes setores de atividade : o poltico, o religioso, ojurdico, o cientfico, o educativo, etc ; segundo as grandes funes de base da atividadelinguageira, segundo o polo do ato de comunicao em direo ao qual elas so orientadas :so as funes bem conhecidas de Jakobson (1963) (emotiva, conativa, ftica, potica,referencial e metalingstica) ou de Halliday (1973, 1974), (instrumental, interacional, pessoal,heurstica, imaginativa, ideacional, interpessoal, etc.) ; fundindo-se na naturezacomunicacional da troca verbal, segundo a qual, conforme prope Bakhtin (1984), esta natural, espontnea (gneros primeiros), ou construda, institucionalizada (gnerossegundos) ; ou que, como outros propem, os textos produzidos so dialgicos oumonolgicos, orais ou escritos ; apoiando-se no aparelho formal da enunciao, comoprops Benveniste (1969), com a oposio discurso/narrativa, e outros que, nesta linha ouna de Culioli, fazem classificaes em funo das marcas enunciativas ; tentando definir ostipos de atividade linguageira, tendo um valor mais ou menos prototpico, tais como onarrativo, o argumentativo, o explicativo, o descritivo, etc. ; descrevendo as caractersticasformais dos textos e reunindo as marcas as mais recorrentes para concluir na determinao deum gnero textual [3] ; enfim, procurando determinar um domnio de produo de discursossegundo os textos fundadores, cuja finalidade a de determinar os valores de um certodomnio de produo discursivo, como o discurso filosfico, o cientfico, o religioso, o literrio,etc. [4] Esta rpida reviso das formas de abordar a noo de gnero no tem a pretenso deser exaustiva. Ela nos (re)lembra, entretanto, a complexidade da questo. Ela serve,sobretudo, para mostrar que o que levado em conta para definir esta noo diz respeito,tanto ancoragem social do discurso, quanto a sua natureza comunciacional, tanto s atividadeslinguageiras construdas, quanto s caractersticas formais dos textos produzidos. Logo,podemos nos perguntar se estes diferentes aspectos no esto ligados. Os tomarei, ento,aqui, para evidenciar os problemas que eles trazem quando os consideramos separadamentee proporei uma maneira de articul-los.

    Em primeiro lugar, o aspecto da ancoragem social que funda os gneros unindo-os sdiferentes prticas sociais que se instauram em uma sociedade. Estas prticas podem ter,para os atores linguageiros, um papel emprico de ponto de referncia, ponto de referncia

    sem o qual, como diz Bakhtin (1984), a troca verbal seria impossvel. Mas podemos chegar a

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    sem o qual, como diz Bakhtin (1984), a troca verbal seria impossvel. Mas podemos chegar aconsider-las como um campo estruturado (no sentido de Bourdieu), onde se instauramrelaes de foras simblicas entre os atores, relaes de foras mais ou menoshierarquizadas e institucionalizadas segundo o campo concernido. Os campos que prefirochamar de domnios de prtica linguageira, visto que esta denominao remete muito mais experincia comunicativa determinam, ento, de antemo, a identidade dos atores que seencontram ali, os papis que devem representar, o que faz com que as significaes dosdiscursos que circulam ali sejam fortemente dependentes da posio de seus enunciadores.Radicalizando este ponto de vista, poderamos dizer que o estatuto do ator social e o papelque ele representa que so determinantes para julgar a conformidade de um discurso emrelao ao domnio no qual ele produzido. Assim, todo discurso seria marcado por uma certaperformatividade, desde que o ator social, que est na origem enunciativa, fossereconhecido em seu estatuto : no mais o que dito que conta, mas a origem enunciativaexterna do que dito.

    A se encontra justamente a problemtica (da os verbos no condicional). Para fazer dependera significao dos discursos do estatuto do ator produtor do ato de linguagem, de sua posiode legitimidade mais do que de seu papel de sujeito enunciador, isso quer dizer que qualquerque seja a maneira de falar, ele produziria um discurso tpico do domnio concernido. Porconsequncia, o padre que batiza poderia tambm dizer Eu te condecoro no lugar de Eu tebatizo, o que quer dizer que no existiria caractersticas discursivas prprias a umdomnio [5] : pertenceria ao gnero poltico todo discurso produzido no domnio de prticapoltica, ao gnero miditico todo discurso produzido no domnio de prtica das mdias, aognero cientfico, todo discurso produzido no domnio de prtica das cincias, etc.

    Agora, podemos levantar, de maneira razovel, a hiptese de que todo domnio de prticasocial tende a regular as trocas, e, por consequncia, a instaurar as regularidades discursivas,ou, como mostrou a etnometodologia, ritualizaes linguageiras, as quais constituem uma dasmarcas (no sentido de marcar um territrio) do domnio [6]. Ainda falta encontrar o meio dearticular o domnio de prtica social com a atividade discursiva. A dificuldade vem do fato queestes domnios de prtica so extensivos demais e englobantes para que se possa marcarregularidades discursivas. A proposio que vai se seguir consiste precisamente em estruturaro domnio de prtica social em domnio de comunicao, o que constitui um resposta possvel aesta questo. Enquanto isso tomaremos nota do fato que, se queremos estudar os discursosque se manifestam e circulam nos lugares sociais, precisamos de uma categorizao destes.

    No que diz respeito aos tipos de atividade linguageira, o problema que se coloca saber a queelas correspondem do ponto de vista da produo linguageira : elas correspondem aoperaes mentais ou so modos de organizao textual ? Ao ler os trabalhos sobre aquesto, duas tendncias parecem, de fato, se destacar.

    A primeira chamaremos de cognitiva, na medida em que ela se liga a uma teoria cognitiva geralsobre a linguagem. Esta tendncia consiste em descrever as operaes do pensamento quese encontraria em correspondncia com tal ou tal organizao textual. Esta posio postulaque existiriam no esprito esquematizaes abstratas ordenadas (scripts) que fariam o papelde prottipos originais a partir dos quais se ordenaria um mecanismo de projeo emdiscursos (down), quando se trata de tomar conscincia do processo de produo dos textos,ou em direo aos quais se ordenaria um mecanismo de reconstruo da esquematizao(up), quando se trata de tomar conscincia do processo de compreenso. por isso que ospsicolingistas se apoiam, para suas descries ou experimentaes, em marcas formais(marcao morfolgica), mas que representam, aqui, somente o papel de traos reveladoresdestas operaes (Caron, 1989 e Richard, 1990).

    A outra tendncia, que poderamos chamar de semiodiscursiva, consiste em considerar quetodo texto sendo heterogneo, no este que pode ser classificado, mas aquilo que, em umnvel mais abstrato, constitui sua estrutura. Por conseqncia, podemos considerar que asesquematizaes, mesmo se elas dizem respeito s operaes mentais, no so tantoprocessos de engendramento/compreenso do texto quanto o reflexo de sua armadura,como diz Adam (1992). Para este autor, as categorias prototpicas homogneas queconstituem esta armadura so sequncias autnomas (narrativa, descrio, explicao,argumentao e dilogo) cuja configurao se marca pelos feixes de regularidades queencontramos no texto. Para outros, trata-se de um conjunto de procedimentos, o que chameide modos de organizao do discurso, (Charaudeau, 1992), (narrativo, descritivo,argumentativo), que devem ser considerados como condies de construo do discurso que osujeito falante disporia para organizar sua inteno discursiva, e no como a esquematizaodo texto.

    Nada impede que estas duas tendncias coloquem a questo do que seria um nvel deorganizao do discurso que no seja o da configurao formal, estando ligado s marcasformais dos textos sem ser completamente dependente deles. A propsito disto, podemos

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    assinalar a proposio interessante de Bronckart (1994) que distingue tipo de gnero, ence que [le type] constitue un segment de texte, et dautre parte en ce quil implique une possibilitdidentification sur la base de ses proprits linguistiques. De fato, sabemos por um lado que umprocedimento de organizao ou de esquematizao (argumentativo, por exemplo) pode serconfigurado de diversas maneiras inclusive sob uma aparncia narrativa e que por outrolado, no importa qual tipo de texto (por exemplo, o tipo publicitrio) pode misturar vriosdestes procedimentos. Alm disso, parece que este nvel de organizao do discurso no estligado a um domnio de prtica social. Veremos que a proposio que se segue consiste em terneste nvel um papel de articulao entre o lugar das prticas sociais e o da configuraotextual.

    Tentar classificar os textos a partir da recorrncia das marcas formais traz outros tipos deproblemas. Peguemos um texto e encontraremos nele regularidades marcantes (o emprego detorneios impessoais, de conectores, de formas temporais, de pronomes, etc.) ; peguemos, emseguida, outros textos que parecem pertencer ao mesmo gnero (no colocaremos, aqui, aquesto do ponto de vista) : constataremos que de um texto ao outro algumas formas sodiferentes e outras so semelhantes. Concluiremos que este conjunto de textos se caracterizapor certas recorrncias formais, o que permitir fazer dele uma classe, um tipo ou gnero.Entretanto, surgem, a, dois problemas.

    O primeiro est relacionado ao sentido no qual estas formas podem ser portadoras.Conhecemos o fenmeno da polissemia das formas tanto lexicais quanto gramaticais que fazcom que jamais estejamos certos de que uma mesma forma que se encontra nos vrios textostenha a mesma significao. A interrogao pode corresponder a uma categoria de pedidopara dizer ou de pedido para fazer, de solicitao ou de injuno, de pedido de informao ou depedido de validao. Os torneios impessoais e as nominalizaes podem ter uma funo dedistanciamento para fins de neutralizao da subjetividade do sujeito falante (como nos textosadministrativos ou cientficos), ou de colocao de pressupostos de evidncia (como nos textopolticos ou ttulos de jornais). Este poli-pertencimento das formas categorias diferentesconstitui um primeiro obstculo certamente, no intransponvel para uma classificao dostextos a partir de suas recorrncias formais.

    O segundo problema, ligado ao primeiro, reside no fato de que no sabemos se estasrecorrncias nos garantem que temos um tipo especfico de texto. O que est em discusso,aqui, saber se as recorrncias formais so exclusivas ou somente especficas de um tipo detexto. Se elas so exclusivas, ento teremos fundado um gnero textual, mas sob a condiode provar a exclusividade atravs de um trabalho de comparao sistemtica com outros tiposde textos. Se elas so especficas quer dizer prprias de um tipo de texto mas noexclusivas deste , ento, podemos apostar que os textos agrupados em nome destaespecificidade constituem uma classe heterognea diante da situao. Por exemplo, seramoslevados a reagrupar em uma mesma classe um texto dito administrativo, um texto ditodidtico, um texto dito cientfico ou um texto dito jornalstico pelo fato de que eles teriam emcomum as mesmas caractersticas formais (nominalizaes, torneios impessoais, presena doon terceira pessoa em francs , construo apositiva das frases, etc.). Evidentemente,poderamos responder que isso no impede que consideremos que cada um destes tipos detextos se caracteriza por estas regularidades formais s quais se unem outras e que estasoma que constitui a especificidade do gnero. Sim, mas isso remete ao mesmo tempo a umaltima questo : a quais critrios podemos recorrer para dizer que um texto administrativo,poltico, didtico ou cientfico ? No estaramos dando como acabado o que ainda precisa serdemonstrado ? Pressupomos que temos um texto administrativo, depois lhe damos ascaractersticas formais que lhe so especficas e no exclusivas. Logo, justamente, a questose coloca em saber em que este texto pode ser chamado de administrativo. E nos vemosnovamente de volta ao comeo, quer dizer na questo do domnio de prtica social. Ascaractersticas formais seriam somente traos caracterizadores que trariam aos textospropriedades especficas e no traos definitrios que trazem aos textos propriedadesconstituintes.

    Ao colocar o problema dos gneros textuais opondo o que acontece alm da produolinguageira as condies de produo trazidas pelos domnios de prtica ao que se passaaqum as caractersticas formais dos textos , se perguntando sobre o lugar que asatividades linguageiras ocupam, parece que a questo fundamental que colocada a dasrestries e da liberdade que o sujeito falante dispe. Aceitar que existe gneros reconhecer que a produo linguageira submetida a restries. Mas, em que nvel estasrestries intervm ? Se elas agem aqum, no nvel das caractersticas formais, ento, osujeito no tem mais liberdade. Para fazer reconhecer o gnero no qual ele se exprime, eleseria obrigado a passar pelo modelo de formas codificadas de antemo, a se exprimir demaneira perfeitamente conforme a estas restries, e, assim, a desaparecer como sujeito.Falar, escrever, se exprimir, diria respeito a uma atividade de recitao, como o caso cadavez que algum faz uma prece litrgica ou quando repete um texto sagrado. Se, ao contrrio,as restries agem alm, isso poderia querer dizer que o sujeito estaria completamente

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    determinado pelo lugar que lhe d o dispositivo do domnio de prtica social, e que suamaneira de falar teria pouca importncia, tudo sendo marcado de antemo. A proposio quese segue tenta responder a este dilema.

    Proposta

    Diremos, primeiramente, maneira de Bakhtin (1984:285), que preciso, ao sujeito falante,referncias para poder se inscrever no mundo dos signos, significar suas intenes ecomunicar. Isso o resultado do processo de socializao do sujeito atravs da linguagem eda linguagem atravs do sujeito, ser individual e coletivo. conjuntamente que se constrem,em nome do uso, a normalizao dos comportamentos, do sentido e das formas, o sujeitoregistrando-os em sua memria. Isso permite levantar a hiptese que existem no sujeito trsmemrias que testemunham cada uma das maneiras das quais se constituem ascomunidades.

    Uma memria dos discursos, na qual so construdos saberes de conhecimento e de crenasobre o mundo (Charaudeau, 1997, cap. 2). Tais discursos circulariam na sociedade enquantorepresentaes [7] em torno das quais se constrem as identidades coletivas, fragmentam asociedade em comunidades discursivas [8]. sobre esta memria dos discursos que apublicidade joga com seus slogans, como Obernai, a primeira grande cerveja com um tero decalorias a menos que faz invoca as representaes partilhadas em torno do efeito dascalorias, da forma delgada do corpo como valor do mundo moderno, do fato que so oshomens que bebem cerveja, e que as mulheres poderiam tambm ser consumidoras dessabebida. Assim, as comunidades discursivas renem virtualmente sujeitos que partilham osmesmos posicionamentos, os mesmos sistemas de valores, quer se trate de opinies polticas,julgamentos morais, doutrinas, ideologias, etc.

    Uma memria das situaes de comunicao enquanto dispositivos que normatizam as trocascomunicativas e que se definem atravs de um conjunto de condies psicossociais derealizao, de modo que os parceiros possam se entender sobre o que constitui a expectativa(enjeu) da troca, possam estabelecer um contrato de reconhecimento, condio da construorecproca e diferenciada do sentido. Assim se constituem as comunidades comunicacionais. esta memria comunicacional que permite aos sujeitos fazer a diferena entre umarepresentao da morte quando ela tratada pelas mdias de informao e quando ela tratada pela publicidade comercial, que permite aceitar aquela e rejeitar esta [9]. No se tratamais, aqui, da representao do contedo, daquilo que mostrado, mas do lugar situacionalno qual mostrado. As comunidades comunicacionais renem, desta vez fisicamente [10],sujeitos que partilham a mesma viso (representaes) daquilo que devem ser as constantesdas situaes de comunicao. Por exemplo, considerar que os discursos polticos sopassveis de interpretao diferentes dependendo, se um comcio, uma manifestao, umcolquio, um debate, uma conversa amigvel, etc.

    Uma memria das formas de signos que servem para trocar (quer sejam trocas verbais,icnicas, gestuais) no que elas constituam um sistema mais enquanto empregadas de tal outal forma, quer dizer atravs de seu uso. Estes signos se organizam enquanto maneiras dedizer mais ou menos rotineiras, como se o que importasse da linguagem no fosse o que sediz mas sua execuo. Assim, se constituem comunidades de saber dizer, outros diriam deestilo, em torno de maneiras de falar, razo pela qual podemos falar, aqui, de comunidadessemiolgicas [11]. esta memria semiolgica que faz com que os indivduos possamelaborar julgamentos de ordem esttica, tica, pragmtica,etc., sobre a maneira de secomportar e de falar em nome de normas sociais suposstamente partilhadas. A comunidadesemiolgica , assim, igualmente uma comunidade virtual de sujeitos que se reconhecematravs da rotinizao das formas de comportamento e de linguagem.

    Tendo em vista a relao de consubstancialidade que situao, sentidos e formas mantm razovel levantar a hiptese, correlativa da precedente, de que se estabelece uma articulaoestreita entre estes trs tipos de memrias, e, alm disso, entre a situao de comunicao,que um elemento de estruturao da prtica social, e a normalizao-codificao dasprticas linguageiras. Podemos, ento, sustentar a idia de que o sujeito social se dota degneros empricos, e que, por meio de representaes que ele se constri deles pelaaprendizagem e pela experincia, ele os erige em normas de conformidade linguageira e osassocia aos lugares de prtica social mais ou menos institucionalizados.

    Diremos, em seguida, que uma anlise dos gneros deve se apoiar em uma teoria do fatolinguageiro, dito de outra maneira, em uma teoria do discurso na qual possamos conhecer osprincpios gerais sobre os quais ela se funda e os mecanismos que os colocam emfuncionamento. Toda teoria do discurso implica, assim, que sejam determinados diferentesnveis de organizao do fato linguageiro. J expus, aqui e ali, os aspectos de uma teoriapsicoscio-comunicativa (que chamo de semiodiscursiva) na qual me inscrevo. Me deterei,desse modo, aqui, somente nos aspectos que me parecem mais pertinentes para explicar

    minha posio sobre a questo dos gneros.

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    minha posio sobre a questo dos gneros.

    No nvel dos princpios gerais, os quais tm por funo fundar a atividade de linguagem [12],me deterei mais particularmente no princpio de influncia que est na origem de certasvisadas (ver abaixo), as quais determinam a orientao do ato de linguagem como ato decomunicao em funo da relao que o sujeito falante quer instaurar frente ao seudestinatrio.

    O nvel dos mecanismos do funcionamento duplo. Ele compreende por um lado, aquilo queestrutura o domnio de prtica em domnio de comunicao, a saber, um conjunto de situaesde comunicao, e por outro lado, aquilo que ordena a discursivizao (mise en discours), asaber, um conjunto de procedimentos semiodiscursivos.

    A situao de comunicao o lugar onde se instituem as restries que determinam aexpectativa (enjeu) da troca, estas restries provenientes ao mesmo tempo da identidadedos parceiros e do lugar que eles ocupam na troca, da finalidade que os religa em termos devisada, do propsito que pode ser convocado e das circunstncias materiais nas quais a trocase realiza. Quando um conjunto de situaes partilham as mesmas caractersticas, mesmo sealgumas outras so diferentes, isso quer dizer que elas se encontram em um mesmo domniode comunicao (por exemplo, as situaes de comcio, de declarao televisiva de programaeleitoral fazem parte do domnio de comunicao poltica). Destes componentes, me detereimais particularmente, aqui, no da finalidade, porque ele que, selecionando um tipo devisada, determina a orientao discursiva da comunicao. evidente, entretanto, que nopodemos dissociar estes componentes uns dos outros, e que conjuntamente que elescontribuem para definir a expectativa (enjeu) da comunicao. Este nvel metodologicamenteaquele pelo qual deve comear a anlise dos discursos.

    A discursivizao o lugar onde se instituem, sob o efeito das restries da situao, asdiferentes maneiras de dizer mais ou menos codificadas. Este lugar , ento, tambm ele,um lugar de restries, mas convm distinguir aqui as restries discursivas das restriesformais. Esta distino se faz necessria para resolver o problema assinalado mais acima,resultante do fato que vrios textos pudessem dar a impresso de pertencer a uma mesmaclasse de textos, enquanto que algumas de suas formas so distintas. O que se ressalta dasrestries discursivas da ordem de atividades de ordenamento do discurso (os modosdiscursivos) sem que possa ser determinada de maneira automtica a forma exata do produtofinal. O que se ressalta das restries formais, em compensao, corresponde a um empregoobrigatrio das maneiras de dizer que encontramos necessariamente em todo textopertencente mesma situao.

    Para ilustrar imediatamente o valor explicativo destes trs nveis, e antes de precisar suafuno, poderemos citar o caso do ttulos de imprensa. Estes se inscrevem em uma situaode comunicao jornalstica que se inscreve, ela prpria, no domnio de comunicao miditicaem nome de sua finalidade que seleciona uma visada de informao. Estes dados situacionaisdemandam uma restrio discursiva de anncio das notcias que demanda por sua vez estarestrio formal de titulao. Vemos, assim, que poderamos falar de gneros em cada umdestes diferentes nveis : o gnero informao determinado pelo domnio miditico, o gnerojornalstico determinado pela situao, o gnero anncio determinado pela restrio discursiva,o gnero ttulo determinado pela restrio formal.

    Das visadas aos limites situacionais

    As visadas correspondem a uma intencionalidade psico-scio-discursiva que determina aexpectativa (enjeu) do ato de linguagem do sujeito falante e por conseguinte da prpria trocalinguageira. As visadas devem ser consideradas do ponto de vista da instncia de produoque tem em perspectiva um sujeito destinatrio ideal, mas evidentemente elas devem serreconhecidas como tais pela instncia de recepo [13] ; necessrio que o locutor e ointerlocutor possam recorrer a elas. As visadas correspondem, assim, atitudes enunciativasde base que encontraramos em um grande corpus de atos comunicativos reagrupados emnome de sua orientao pragmtica, mas alm de sua ancoragem situacional. Os tipos devisada so definidos por um duplo critrio : a inteno pragmtica do eu em relao com aposio que ele ocupa como enunciador na relao de fora que o liga ao tu ; a posio queda mesma forma tu deve [14] ocupar. Sem entrar em detalhes, descreveremos, aqui, seis dasprincipais visadas :

    a visada de prescrio : eu quer mandar fazer (faire faire), e ele tem autoridade depoder sancionar ; tu se encontra, ento, em posio de dever fazer.a visada de solicitao : eu quer saber, e ele est, ento, em posio deinferioridade de saber diante do tu mas legitimado em sua demanda ; tu est emposio de dever responder solicitao.a visada de incitao : eu quer mandar fazer (faire faire), mas, no estando em

    posio de autoridade, no pode seno incitar a fazer ; ele deve, ento fazer

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    posio de autoridade, no pode seno incitar a fazer ; ele deve, ento fazeracreditar (por persuaso ou seduo) ao tu que ele ser o beneficirio de seu prprioato ; tu est, ento, em posio de dever acreditar que se ele age, para o seu bem.a visada de informao : eu quer fazer saber, e ele est legitimado em sua posiode saber ; tu se encontra na posio de dever saber [15] alguma coisa sobre aexistncia dos fatos, ou sobre o porque ou o como de seu surgimento.a visada de instruo : eu quer fazer saber-fazer, e ele se encontra ao mesmotempo em posio de autoridade de saber e de legitimao para transmitir o saber ; tuest em posio de dever saber fazer segundo um modelo (ou modo de emprego) que proposto por eu.a visada de demonstrao : eu quer estabelecer a verdade e mostrar as provassegundo uma certa posio de autoridade de saber (cientista, especialista, expert) ; tuest em posio de ter que receber e ter que avaliar uma verdade e, ento, ter acapacidade de faz-lo.

    Para evitar qualquer mal entendido, convm precisar, aqui, o que essas visadas no so. Elasno constituem esquematizaes abstratas de um texto, visto que elas se situam bem afrente deste na conceitualizao de uma inteno discursiva que no prejulga aquilo que deveser a organizao textual. Elas no correspondem a atos de fala [16], no sentido dapragmtica, mesmo se elas partilham com eles o fato de que se trata de uma co-enunciaointencional que marcada pelo efeito que ela suscetvel produzir. Os atos de fala sounidades mais finas que se situam em um nvel mais engajado na realizao discursiva, oenunciado. De fato, um ato como o de prometer, segundo o contexto, poder correspondera uma visada de prescrio, de incitao ou de informao. Estas visadas tambm nocorrespondem s funes da linguagem tais como definidas por Jakobson, visto que mesmovendo afinidades entre algumas destas funes e as visadas, estas so, neste momento, bemmais distintivas que aquelas. A funo conativa, por exemplo, pode se inserir em uma visadaprescritiva, solicitativa ou incitativa. Alm disso, as funes referencial, metalingstica oupotica deveriam ser antes consideradas como funes internas linguagem do que comovisadas comunicativas intencionais. Enfim, estas visadas no podem constituir um princpio detipologizao dos textos, visto que elas se encontram bem a frente da configurao textual eque elas no permitem prjulgar o que esta ser. Juntar todos os textos que correspondem auma visada de informao conduziria a constituir um conjunto heterogneo do ponto de vistade sua situao de emprego. Entretanto, estas visadas so necessrias, como veremosagora, para definir estas situaes.

    Cada situao de comunicao seleciona, para definir sua finalidade, uma ou vrias visadasdentre as quais geralmente uma (s vezes duas) dominante [17]. Assim, a situao decomunicao miditica pode convocar vrias visadas : de instruo (em suas rubricas deconselhos), de incitao (em seus ttulos dramatizantes), de demonstrao (quando ela d apalavra aos experts). Mas ela o faz sob a cobertura da visada dominante de informao (querdizer daquela que determina a expectativa (enjeu) do contrato de comunicao). Maisexatamente, ela o faz, como o mostra a anlise, sob uma visada dominante dupla : deinformao, para responder exigncia democrtica que quer que a opinio pblica sejaesclarecida sobre os acontecimentos que se produzem no espao pblico ; de incitao, pararesponder exigncia de concorrncia comercial que quer que este discurso se enderece aomaior nmero e, desse modo, procure capt-lo (Charaudeau, 1997, cap. 4). Em compensao,a situao de comunicao publicitria no tem que fazer seno uma visada de informao eno se justifica seno atravs de uma visada de incitao. No h, ento, correspondncia bi-unvoca entre visada discursiva e situao de comunicao, uma mesma situao podendoconvocar vrias visadas, ou uma mesma visada podendo se encontrar em diferentessituaes. Por exemplo, a visada de prescrio em situaes que devem fazer conhecer : asregras da conduta automobilstica (cdigo de trnsito), as leis que geram o comportamentocvico (cdigo civil), as regras que geram a vida da empresa (regras internas) ; a visada deincitao em situaes em que procuramos orientar o comportamento dos indivduos (cartazespublicitrios, reunies eleitorais, campanhas de preveno) ; a visada de informao emsituaes em que procuramos guiar o cidado ou o usurio (jornais, centros de acolhimento,boletins e circulares, propaganda pblica).

    Como dissemos, a finalidade, e, logo, a visada que ela seleciona, no o todo da situao decomunicao. Mas ela um de seus elementos essenciais que se combina com outrascaractersticas dos outros componentes : a identidade dos participantes (por exemplo, para acomunicao miditica, a instncia informante de um lado, a instncia cidad do outro ; para acomunicao publicitria, a instncia publicista de um lado, a instncia consumidora do outro) ;o propsito e sua estruturao temtica (por exemplo, para as mdias, os acontecimentos doespao pblico ; para a publicidade, o sonho do bem-estar do indivduo) ; e as circunstnciasque precisam as condies materiais da comunicao (rdio, imprensa, televiso, para asmdias ; cartazes de rua, propagandas televisivas, encartes nas revistas, para a publicidade).

    A situao de comunicao , assim, o que determina, atravs das caractersticas de seus

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    componentes, as condies de produo e de reconhecimento dos atos de comunicao,condies de enunciao sob seu aspecto externo. Por conseguinte, ela estrutura o domniode prtica que sociologicamente vasto em domnio de comunicao. Este sendo dealguma forma a resultante de todas as situaes de comunicao que dizem respeito, ele ,ao mesmo tempo, e por efeito de retorno o lugar onde se encontram as condies gerais squais devem satisfazer os componentes das diferentes situaes de comunicao dos quaisfazem parte. Isto quer dizer que cada situao de comunicao particular, inscreve, ao mesmotempo, no nvel de seus componentes, os dados gerais que instruem o domnio, e trazespecificaes que lhe so prprias. Por exemplo, o domnio de comunicao poltica instruiuma certa visada (incitao), uma certa identidade dos parceiros (responsvelpoltico/cidado/adversrio), um certo propsito (a idealidade do bem-estar social),componentes que encontramos em qualquer que seja a situao particular, quer se trate deum comcio, de um folheto, de uma declarao radiofnica, etc. A mesma coisa para osdomnios de comunicao miditica ou publicitria, na qual encontramos as condies geraisacima evocadas, em qualquer que seja a situao particular (imprensa, rdio ou televiso). por isso que podemos falar de contrato de comunicao : todo domnio de comunicaoprope a seus parceiros um certo nmero de condies que definem a expectativa (enjeu) datroca comunicativa, que sem o seu reconhecimento no haveria possibilidade deintercompreenso. As situaes particulares seriam, ento, consideradas como variantes (ousub-contratos) de um contrato global.

    Esta noo de contrato permite reunir os textos que participam dessas mesmas condiessituacionais. Assim, podem ser construidos corpus, seja em torno do contrato global decomunicao (corpus de textos publicitrios, de textos de informao miditica, de textospolticos), seja em torno das variantes mais especficas (corpus de propagandas publicitriasdistinto de um corpus de cartazes de rua, de crnicas polticas jornalsticas distinto de umcorpus de crnicas radiofnicas, etc.). Tal tipologia, no evidentemente o nico princpio declassificao dos textos. Ela no permite, por exemplo, distinguir, no interior da classe dostextos jornalsticos, as diferenas que existem entre diferentes tipos de crnicas ou de artigos. necessrio, ento, agora, olhar um pouco mais de perto o que acontece no nvel daconstruo discursiva.

    Do contrato s restries discursivas

    As restries situacionais do ato de comunicao devem ser consideradas como dadosexternos, mas elas s tem razo de ser porque elas tm por finalidade construir o discurso ;elas respondem questo do estamos aqui para dizer o qu ? e, fazendo isso, elasproduzem instrues que devem encontrar seu correspondente em um como dizer ? Aligao entre os dados externos e a construo discursiva de causalidade, mas ela no seestabelece em uma correspondncia termo a termo. Os dados determinam o que deve ser oquadro do tratamento linguageiro no qual eles vo se ordenar. Assim, observaremos que osdados da finalidade, pelo vis de suas visadas, determinam uma certa escolha dos modosenoncivos (descritivo, narrativo, argumentativo) [18] que deve empregar o sujeito falante ; osdados da identidade dos parceiros determinam certos modos enunciativos (alocutivo, elocutivo,delocutivo) nos quais ele deve se engajar ; os dados do propsito determinam certos modosde tematizao, quer dizer a organizao dos temas e sub-temas a serem tratados ; os dadosdas circunstncias materiais determinam certos modos de semiologizao, quer dizer aorganizao da mise en scne material (verbal e/ou visual) do ato de comunicao. Asrestries discursivas no correspondem a uma obrigao de emprego desta ou daquelaforma textual, mas a um conjunto de comportamentos discursivos possveis entre os quais osujeito comunicante escolhe aqueles que so suscetveis de satisfazer s condies dosdados externos.

    Para ilustrar a ordem das restries discursivas, retomarei, simplificando, aquelas que jdescrevi a propsito do contrato miditico (Charaudeau, 1997, 3 parte). As visadas deinformao e de incitao que o caracterizam determinam um quadro de tratamento no qual ainstncia miditica levada a : tomar conhecimento do acontecimento para transform-lo emnotcia (acontecimento narrado), utilizando procedimentos descritivos e narrativos, s vezesobjetivantes (credibilidade), s vezes dramatizantes (captao) ; explicar o acontecimento(anlise e comentrio), utilizando procedimentos argumentativos ; produzir o acontecimento(acontecimento provocado), utilizando procedimentos de interao (debates, conversas,entrevistas). Os lugares atribudos aos parceiros deste contrato (a identidade) determinam umquadro de tratamento enunciativo no qual a instncia miditica deve se construir uma imagemde enunciador neutro, no implicado e distante, e deve construir uma imagem da instnciadestinatria devendo ser concernida (em nome da cidadania), tendo sensibilidade (em nomeda natureza humana) e procurando compreender (em nome do esprito de simplicidade). Opropsito determina uma racionalizao do tratamento temtico, em torno dos acontecimentosselecionados em funo de seu potencial de atualidade, de proximidadee de desordemsocial.

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    Como isto foi dito no incio, podemos considerar o lugar das restries discursivas como umlugar intermedirio entre os dados das restries situacionais e a configurao textual. Elepermite resolver o problema evocado mais acima das variantes de formas no interior de umamesma situao de comunicao. Se a situao de comunicaao miditica desse diretamenteinstrues de forma, todos os jornais, mais ou menos, se pareceriam. Se eles so diferentes, em razo da escolha das formas (ao mesmo tempo reveladoras de certos posicionamentos).Mas se eles so reconhecidos ao mesmo tempo como jornais de informao, porque elesrespeitam o essencial das restries discursivas de descrio e de comentrio doacontecimento, atravs de um trabalho que utiliza procedimentos de ordem narrativa,descritiva e argumentativa adequadas. Da podemos ver igualmente que estes procedimentostambm no so tipos discursivos ; eles so aquilo que diz o termo de procedimento : uminstrumento a servio da realizao das restries discursivas.

    Das restries dircursivas s restries formais

    A aprendizagem da linguagem s pode ser feita pela aproprio progressiva das formas deuso, formas repetitivas que se tornam rotineiras e se fixam em maneiras de dizer. Mas como a hiptese inicial essas maneiras de dizer dependem da situao de comunicao, arotinizao em questo se configura em formas que fazem eco nas exigncias das restriessituacionais via restries discursivas. Nesse nvel no se trata de considerar que oordenamento destas formas obedece a regras, mas antes a normas de uso mais ou menoscodificadas cujas formas que as exprimem podem ser objeto de variantes. Assim, se tododiscurso publicitrio em nome de suas restries situacionais e discursivas, deve apresentaras qualidades do produto exaltado sob a forma de um slogan (ou de um gancho), e que esteslogan deve ser enunciado em uma forma breve, isso no impede que as construesfrsticas, nas quais ele enunciado so elas muito variveis. Se o discurso de informao emnome de suas restries situacionais e discursivas, deve, na imprensa ser objeto de umanncio da notcia sob a forma de ttulos relativamente curtos, isso no impede acomparao destes o mostra que estes aparecem em construes frsticas diversas semque possamos dizer que a construo nominalizada seja predominante, visto que istodepende dos jornais e do tipo de notcia anunciada.

    Todos os componentes da situao de comunicao condicionam as formas, via restriesdiscursivas, mas as circunstncias materiais so, talvez, as que influenciam mais diretamentenas formas, o que se explica j que estas induzem os dipositivos materiais. Isso comeapela exigncia de formas de oralidade ou de escritura, se levamos em conta que o dispositivocoloca os parceiros da troca em co-presena fsica e uma situao interlocutiva oumonolocutiva, a qual justificar que o canal de transmisso seja fnico ou escritural. Emseguida, se estamos, por exemplo, em uma situao de interlocuo, isso se d pelos papisque so atribudos aos diferentes parceiros da troca, papis que faro com que as tomadasde fala e as atitudes enunciativas no sejam as mesmas, por exemplo, em uma entrevista,uma conversa ou um debate (Charaudeau, 1986, 1992). Em compensao, se estamos emuma situao monolocutiva, sem a co-presena fsica dos parceiros, sero ainda os termos dodispositivo que faro com que a forma de apresentao de uma mensagem seja diferente deuma comunicao por carta, correio eletrnico ou telegrama. a partir da tomada deconscincia destas circunstncias que pude propor, em meu trabalho de anlise do discurso deinformao miditica (Charaudeau, 1997, cap. 7), uma tipologia fundada primeiramente sobreo dispositivo como materialidade da mise en scne (o que permite dizer que o rdio essencialmente um dispositivo de contato, a televiso um dispositivo de espetculo e aimprensa um dispositivo de legibilidade) ; e depois sobre os diferentes procedimentos de miseen scne que so utilizados para construir diversos dispositivos cnicos (entrevistas,reportagens, ttulos, etc.) (Charaudeau, 1997, cap. 10).

    , assim, nesse nvel que se constri o texo, se entendemos por texto o resultado de um ato delinguagem produzido por um sujeito dado em uma situao de troca social dada. Levando-se emconta que o texto um ato de linguagem, ele se caracteriza pelas propriedades gerais detodo fato linguageiro, a saber, sua materialidade significante (oral, escritural, mimo-gestual) esuas condies de construo lingstica (morfolgica, sinttica). Levando-se em conta que otexto produzido em uma situao contratual, ele depende para sua significao daquilo quecaracteriza uma situao (finalidade e visada enunciativa, identidade dos parceiros, propsitotematizante e circunstncias materiais particulares). Levando-se em conta que o texto tem pororigem um sujeito, ele se apresenta, ao mesmo tempo, com propriedades da situao que osobredetermina em parte, e com propriedades singulares do fato da intervenoindividualizante deste. por isso que podemos dizer que todo texto singular, a menos queele seja a simples cpia de um outro. Todo texto se inscreve, assim, em uma continuidade que delimitada por uma abertura e um fechamento abertura e fechamento que as condiessituacionais e discursivas lhe do e ele se caracteriza por uma coerncia interna que lhe duma estrutura e uma existncia mais ou menos autonma.

    Mas se se trata de classificar textos, necessrio considerar seus pontos comuns e no suas

    diferenas. Seus pontos comuns podem ser encontrados em trs nveis : nos componentes do

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    diferenas. Seus pontos comuns podem ser encontrados em trs nveis : nos componentes docontrato situacional, nas categorias nas restries discursivas e nos diferentes aspectos daorganizao formal do texto. Neste ltimo nvel, trata-se de determinar as recorrncias formaisnos seguintes domnios : na mise en scne textual, a saber, a disposio do paratexto(Genette, 1982), (por exemplo, a composio das pginas de um jornal e sua organizao emexcesses, rubricas e sub-rubricas) ; na composio textual interna, a saber, sua organizaoem partes, a articulao entre estas e os jogos de retomadas e reenvios de uma outra (porexemplo, a composio de uma tese varivel segundo a disciplina em suas diferentespartes) [19] ; na fraseologia, a saber, o emprego recorente das locues, frmulas breves eoutros torneios fixos [20] ; enfim, na construo gramatical, a saber, a recorrncia dos tipos deconstruo (ativa, passiva, nominalizada, impessoal), das marcas lgicas (os conectores) dapronominalizao, da anaforizao, da modalidade e de tudo que diz respeito ao aparelhoformal da enunciao. Talvez devssemos acrescentar o domnio das recorrncias lexicais, maseste aspecto das caractersticas formais mais aleatrio porque a repetio e a isotopialexical so muito dependentes da temtica e no so muito determinveis se no nos tipos detextos fortemente marcados [21].

    Eis alguns casos que mostram que a relao de incidncia que se estabelece entre estes trsnveis de restries varivel.

    Um caso em que a incidncia forte de um nvel a outro : a comunicao publicitria(Charaudeau, 1994). No nvel situacional, a visada de incitao exige que o produto sejaexaltado atravs de suas qualidades singulares e excepcionais de forma que ele alcance asensibilidade do destinatrio suposto e instale nele um desejo de apropriao do produto viasua identificao com o beneficirio ideal que encenado. No nvel das restries discursivas,surgem para responder a esses dados : um discurso epifnico (anncio do surgimento singulardo produto) ; um discurso de valorizao extrema do produto, tanto em suas qualidadesintrnsecas ( o melhor), quanto nos resultados benficos que produz sua utilizao (voc sera mais bela), o que leva esse discurso a ligar os contrrios (o mais excepcional e o maisacessvel) ; um discurso que deve mexer com a imaginao, ter ares de evidncia e que possaser facilmente repetido, calo de sua memorizao. Logo, veremos surgir, no nvel formal,slogans feitos de frases curtas, obedecendo a um certo ritmo e jogando com as palavras parafabricar metforas, algumas realistas outras imaginrias.

    Um caso em que a incidncia ainda forte, mas somente pontual no nvel das formas dotexto : a crnica cinematogrfica (Charaudeau, 1988). No nvel situacional, a dupla visada dodiscurso de informao miditica faz com que a crnica cinematogrfica deva falar de um filmeque acaba de ser lanado (critrio de atualidade) deva ser identificado, descritotematicamente e deva ser objeto de uma avaliao. No nvel das restries discursivas,surgem, ento ; um discurso de identificao (ttulo do filme, autor, atores, gnero, etc.), umresumo da histria e um discurso de apreciao que celebre ou critique o autor e os atores. Nonvel formal vemos, assim, surgir uma recorrncia de citaes (perspectiva biogrfica do filme),de termos mais ou menos tcnicos (falar da encenao), de adjetivos apreciativos e de frasesexclamativas de entusiasmo ou de indignao.

    Um caso em que as restries situacionais e discursivas tm uma incidncia no nvel dacomposio textual interna : a narrativa jornalstica das manchetes. As restries situacionais(informar sobre os dramas e tragdias da vida cotidiana/incitar o interesse pelo assunto)fazem com que, no nvel discursivo, a narrativa tome ares de uma narrativa fantstica como ainterrogao sobre o destino humano. Logo, a composio textual se caracteriza por : umaabertura que apresenta o resultado dramtico do fato ; um retorno s causas sem jamaispoder propor uma que seja a certa, deixando, assim, o leitor em suspense ; um desfecho (umaqueda) que se interroga sobre os males deste mundo e a misria humana.

    Um caso em que as restries influenciam no comportamento linguageiro do sujeito : osdebates televisivos. O dado situacional que quer que o animador coloque em presenaconvidados que tm opinies contrrias ou pontos de vista diferentes (visada de informao),e que ele os leve a revelar as intenes escondidas e a dar explicaes sinceras e claras, demaneira que ele deve se preparar, discursivamente, para um certo jogo de distribuio de falae de questionamento (visada de incitao). imperativo que o comportamento linguageiro doanimador seja feito de tomadas de fala que apresentam os convidados e os interrogue com aajuda de perguntas, algumas informativas, outras validativas, e ainda outras provocativas.

    Enfim um caso em que, ao contrrio dos casos precedentes, a incidncia na organizaotextual fraca. O caso do prefcio de uma obra, para o qual os dados situacionais se limitama : que o autor do prefcio tenha a maior notoriedade possvel, na esperana que o valor daobra aumente ; que ele trate do mesmo assunto mas o inscrevendo em uma problemticamais ampla afim de mostrar sua importncia ; que ele tente articular seu propsito com o que dito na obra, sublinhando os aspectos que ele acha mais importantes. Mas, como o autor doprefcio deve, ao mesmo tempo, justificar sua notoriedade, ele tentar mostrar a

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    singularidade da obra, logo, a composio do seu texto dever ser suficientemente diferentede outros prefcios. O que faz com que reconheamos um prefcio reside, assim, menos nasrecorrncias textuais do que no fato que ele se encontra no incio do livro, sobre o ttuloprefcio e assinado por aquele que chamamos de personalidade, quer dizer por ndices queremetem diretamente ao contrato, o qual combina curiosamente visada de incitao e visadade demonstrao. Do mesmo modo, no caso que Maingueneau e Cossutta (1995), chamam dediscursos constituintes, a incidncia sobre as formas fraca. Isso normal, visto que afinalidade destes discursos fundar valores, o que explica o fato deles serem mais voltadospara o contedo do que para a forma. E quando os autores desse trabalho chegam adeterminar as caractersticas de cdigo linguageiro e de ethos, por um lado percebemosque eles fazem parte da definio dos valores editados, e por outro lado, podemos nosperguntar se essas caractersticas no remetem mais s concepes de escritura da poca doque ao prprio gnero. De qualquer forma, seguindo o modelo aqui exposto, um discursoconstituinte como um discurso filosfico deveria ser classificado como inscrito em uma situaode visada demonstrativa, tendo restries discursivas que levam a definir (modo descritivo), aexplicar (modo explicativo), a provar (modo demonstrativo), a valorizar (modalizaoapreciativa), e cujas marcas formais so variveis segundo o domnio de prtica social (opropsito tematizante), o contexto dos sistemas de pensamento e a poca.

    Respostas a alguns problemas

    Terminarei retomando os problemas expostos no incio, para sublinhar em que medida essaproposta traz respostas.

    Sobre a questo fundamental da articulao entre o lugar de ancoragem social dos discursose as recorrncias formais dos textos produzidos neste lugar, vemos, por um lado, que estaarticulao mais ou menos estreita e, por outro lado, que ela no possvel se no nacondio que este lugar seja ele prprio estruturado em domnio e situaes de comunicaes.Nesta condio, o lugar de ancoragem social pode ser considerado como um lugar contratualque determina, atravs das caractersticas de seus componentes, um certo nmero de dadossituacionais, os quais do, por sua vez, instrues para a discursivizao. So, assim, osdados situacionais que induzem as regularidades discursivas, e estas as formas textuais.Estas ltimas no esto ali se no que como ndices semiolgicos que remetem a esses dadose permitem, assim, ao receptor, reconhecer o gnero-contrato com o qual ele trata.

    Se, no lugar de interrogar sobre os dados situacionais, vemos, ao contrrio, as caractersticasdos textos, percebemos, por um lado, que algumas dentre elas so mais ou menos fortementerecorrentes, e, por outro lado, que podemos encontrar essas mesmas marcas em outros tiposde textos. O que pensar, ento, do estatuto dessas recorrncias que no so exclusivas deum tipo de texto ? Seguirei, aqui, a explicao de Branca-Rossof (1997), que, tendo estudadocartas de reclamao, levanta um certo nmero de locues particularmente recorrentes (porexemplo, as locues prepositivas depois, aps( la suite de), levado emconsiderao (compte tenu de), etc.), e observa, ao mesmo tempo, que encontramos essasmesmas locues em outros lugares alm das cartas administrativas [22].. A autora se propea explicar esse fenmeno pelo fato que o uso transporta essas locues de um domnio deprtica outro, e que se criam, ao mesmo tempo, tipos de lnguas segundas.Poderamos,assim, conceber que estas formas circulam de um grupo outro, de uma situao outra,seguindo um esquema que seria : rotinizao das maneiras de dizer em uma situao decomunicao uso difundido fora da situao de origem [23] criao de uma lnguasegunda reinvestimento desta lngua segunda em outras situaes. Produzir-se-ia um tipode reciclagem do uso lingstico como percebemos na gria francesa, no francs popular e nofrancs corrente. conveniente, assim, desconfiar da aparente recorrncia das formas, sequeremos concluir o que um gnero, o que nao exclui que essas formas possam funcionarcomo indicadores de gnero.

    Sobre a questo da transgresso dos gneros, ou seja, o fato que percebemos os ndices dereconhecimento de um tipo de texto, mas que, ao mesmo tempo, detectamos formas que noso esperadas, podemos chegar seguinte explicao :.se falamos de desrespeito de umgnero, a questo que se coloca saber o que no respeitado : so as formas, asrestries discursivas ou os dados situacionais ? Depende. Branca-Rossof observa, em seuestudo, que certas cartas de reclamao respeitam as caractersticas de incio e trmino dascartas, mas so marcadas por uma enunciao emotiva, s vezes com insultos, s vezes semforma de polidez. Ela liga essas transgresses ao ethos, conceito da retrica que ela retomaseguindo a redefinio proposta por Maingueneau (1984). Mas se o ethos uma vocalidadefundamental que deve ser atribuida a uma origem enunciativa, uma voz que atesta o que dito, podemos considerar que o ethos pode se ligar a dois tipos de sujeito : aquele que estinscrito no contrato de comunicao, fazendo parte das restries situacionais, e aquele quese liga ao sujeito no seu esforo de individualizao. Assim, diremos que um ethos decortesia e distanciamento est inscrito no gnero da carta de reclamao, como em qualquercarta administrativa ou uma escrita que tenha um carter oficial : sujeito marcado pela sua

    posio de inferioridade (o administrado) face a uma administrao, entidade coletiva cega,

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    posio de inferioridade (o administrado) face a uma administrao, entidade coletiva cega,tendo poder de execuo. Da a transgresso que se exprime por uma falta de polidez e pelosinsultos deve ser considerada como remetendo ao ethos de um indivduo particular [24]. Masremarcaremos que esta transgresso no muda nada no contrato global nem no gnero, setodavia as outras restries so respeitadas, a saber : descrio de uma situao na qual osujeito ator, avaliao negativa da situao pelo sujeito que a vtima dessa avaliao,pedido de reparao endereada pela vtima instncia que tem o poder de reparao. Seno for esse o caso porque diz respeito a uma outra situao, um outro gnero : a carta deinsulto.

    Mas isso se d tambm com outros tipos de transgresso. Por exemplo, a transgresso dascampanhas publicitrias da Benetton, as quais, dando a esses cartazes o ndice essencial dodomnio de comunicao publicitria (o nome da marca), trata de assuntos que no soprevistos pelo contrato publicitrio [25]. Este, de fato, exclue que ele seja tratado comoacontecimentos se produzindo no espao pblico ou colocando em discusso a moral social.Ora, o que fazem as campanhas Benetton. O problema colocado por essas campanhas no que elas tenham tratado da guerra na Bsnia, nem da Aids, nem do racismo, que elastenham feito isso no mbito de uma publicidade comercial. Dito de outra forma, o quepodemos censurar nessas campanhas, de ter trapaceado com os contratos. Elas seapresentam como uma campanha humanitria que responde a um contrato de comunicaocvica : informar para fazer agir de maneira solidria, enquanto que sua finalidade respondea uma campanha comercial cujo contrato de consumo : seduzir para fazer comprar. Trata-se, assim, aqui, de uma transgresso a um dos componentes do contrato de comunicaopublicitria, o propsito : no lugar de exaltar um bem de consumo, uma informao tratadaremetendo vida pblica, social e poltica. Se este tipo de transgresso se generalizasse einvadisse toda a produo publicitria, poderamos ento, chegar mudana das condies docontrato publicitrio. Assim, surge a possibilidade para os gneros de evoluirem e de seremdiferentes de uma sociedade outra, em um jogo de influncias recprocas entre contrato 1 individualizao transgresso ou variante contrato 2. Isso aconteceu com os ttulos deimprensa sob a influncia da iniciativa tomada pelo jornal Libration, nos anos 80, iniciativa quesurgiu como transgresso parcial, em seguida como uma variante, depois acabou por segeneralizar. Isso aconteceu igualmente com os debates televisivos aps as emisses deMichel Polac, do tipo Direito de resposta, as quais sem serem reproduzidas de forma idnticamudaram os dados situacionais e discursivos deste gnero.

    Sobre a questo das variantes, convm primeiramente precisar que elas no devem serconfundidas com a questo das transgresses. O que caracteriza a variante de um gnero que ela respeita o essencial das caractersticas do gnero, propondo uma outra caractersticarecorrente que acaba no por modificar mas por especificar um desses aspectos. Dito nostermos da proposta aqui defendida, a coisa muito mais fcil de compreender : uma varianteno muda nada nos dados situacionais de base do contrato, mas especifica alguns de seuscomponentes. Por exemplo, no contrato de formao miditica se constitue subcontratosespecficos, seja no nvel das circunstncias materiais (escripturalidade da imprensa, oralidadeda rdio, audiovisualidade da televiso), seja no nvel das restries discursivas (relatar oacontecimento, comentar o acontecimento), seja no nvel da organizao formal (anunciar anotcia pelo ttulo, dividir as notcias em rubricas). Por exemplo, no contrato do debatetelevisivo (que , ele prprio, um subconjunto do contrato de informao miditica),encontramos as variantes : o talk show, o debate cultural, o debate poltico. Assim, poderemosdistinguir, no interior da situao de comunicao poltica, os subcontratos : comcios, folhetosde programa eleitoral, declaraes televisivas, intervenes na Assembia nacional, escritostericos e profisses de f. Consideraremos que a entrevista e a conversa radiofnicas soduas variantes de interao, a posio dos dois interlocutores sendo diferente em cada umdesses casos : no hierarquizada na conversa, hierarquizada na entrevista.

    Alm disso deve estar ligada a esta questo das variantes a do entrecruzamento doscontratos : os contratos do poltico que se entrecruzam com os contratos do miditico, seja nodebate, na entrevista, seja na locuo televisiva. Aqui, a dificuldade consiste em saber qual o contrato que super-comanda os outros : o de debate poltico que engloba todas as formasde debate (incluindo aqui o miditico) ? o debate miditico que se especifica em debatepoltico ? Ou seria, ainda, a idia que se faz, em uma dada sociedade, do debate em geral quese encontra acima dos outros.

    Sobre a questo da classificao dos textos em funo dos modos discursivos, questo quetraz enormes problemas, parece que esse modelo traz uma resposta. Uma receita de cozinhase d em um modo explicativo, argumentativo ou descritivo ? Se o manual escolar se digualmente em um modo explicativo, pode ele ser classificado no mesmo gnero que a receitade cozinha ? Podemos dizer a mesma coisa para as Instrues oficiais ?

    Si seguimos este modelo convm, primeiramente, se perguntar qual a visada do contratosituacional na qual aparecem estes diferentes textos. Observaremos, da, que a receita de

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    cozinha pertence a uma situao cuja visada de instruo, o eu devendo, supostamente, teruma autoridade de saber-fazer, e fazendo com que tu saiba fazer seguindo um modelo defazer. Em compensao, uma placa de empresa, um prospecto de um organismo de serviopblico, um catlogo de museu ou um guia turstico pertencem a uma situao cuja visada de informao, o eu devendo, supostamente, ter uma autoridade de saber e fazendo com quetu saiba. Por outro lado, as Instrues oficiais pertencem a uma situao cuja visada deprescrio, o eu estando em posio de poder para mandar fazer (ou no fazer) e fazendo comque tu faa. Neste nvel de distino, j podemos constatar que o uso corrente confunde aspistas de classificao empregando um mesmo termo, instrues, para textos quepertencem a situaes diferentes : Instrues ministeriais (prescrio), Instrues deinstalao de seu computador (instruo). A outra dificuldade reside no fato que em umamesma obra podemos ter textos que pertencem a diferentes visadas. Po exemplo, em ummanual de computador alguns textos tm uma visada de informao (a descrio das partesdo aparelho), outros tm uma visada de instruo (exposio das manipulaes possveis).

    Se, agora, vemos o que acontece no nvel dos modos discursivos, constataremos que : asreceitas de cozinha se apresentam como uma sucesso de aes a serem realizadas,utilizando, assim, um modo descritivo (descrio de aes), e no um modo narrativo ; os guiase os catlogos identificam e descrevem lugares, objetos e pessoas, utilizando igualmente ummodo descritivo ; os manuais de instrues expem objetivos ou problemas e maneiras deresolv-los, utilizando um modo explicativo ; as Instrues oficiais descrevem as aes a seremseguidas que so obrigaes, dever fazer, e utilizam para isso um modo descritivo (estasinstrues so tipos de imposies que no se explicam).

    Enfim, se nos colocamos no nvel da configurao textual, podemos constatar, como jdissemos, regularidades mais ou menos marcadas e sistemticas, em funo do que so asrestries discursivas. Por exemplo, no modo descritivo de uma visada de instruocorrespondem marcas de designao que servem para identificar objetos e lugares, marcas dequalificao mais ou menos objetivas, o todo sob forma de lista, em uma organizao mais oumenos hierarquizada da sucesso das aes a serem realizadas, sob uma modalizaoalocutiva (pegue) ou delocutiva (pegar). No modo explicativo de uma visada de instruoou de informao corresponde uma fraseologia logicisante cuja base sempre um se,ento, sob uma modalizao ora alocutiva (se voc quiserento), ora delocutiva deobrigao (devemos, preciso, suficiente, convm). Quanto ao lxico, ele ser maisou menos recorrente segundo o domnio temtico tratado : s vezes constitudo emverdadeiro campo lexical como nas receitas de cozinha ou nos manuais tcnicos, muito menosmarcado em outros casos.

    Para retomarmos a questo colocada no incio, vemos que o modo discursivo no podesozinho constituir um princpio de classificao. A explicao, por exemplo, pode se encontrarem um texto cientfico, em um manual de instrues, em um artigo de jornal, enquanto quecada um pertence a uma situao de comunicao que tem uma visada diferente (dedemonstrao, de instruo ou de informao). O que este modelo prope considerar oresultado da combinao entre estes diferentes nveis, evitando colocar a questo dosgneros a partir de um s destes nveis [26]. Na combinao, situao na visada de instruo +modo descritivo + marcas do fazer (lista e lxico especializado), se ligam os textos do tiporeceita de cozinha, instrues de montagem, instrues farmacuticas (posologia), etc. ;na combinao visada de instruo + modo explicativo + marcas gramaticais (conectores lgicos)se ligam os manuais e guias de instruo ; na combinao visada de prescrio + mododescritivo + marcas de impessoalidade e de obrigao (pronome on, em francs, torneiosimpessoais, verbos de modalidade) se ligam os textos do tipo leis, cdigos, instruesoficiais, etc. Evidentemente, este modo de classificao destaca a complexidade de algunscasos, mas pelo menos ele tem o mrito de mostrar o porqu, atravs deste jogo decombinaes.

    Concluso

    No final deste trabalho, no saberia muito bem dizer o que poderamos chamar por gnero :as constantes do contrato situacional ? Mas onde est a indicao formal ? ; as constantes daorganizao discursiva ? Mas o que dizer de sua variao ? ; As constantes formais ? Mas oque dizer de sua circulao nos gneros diferentes ?

    No que me diz respeito, me mantenho nesta terminologia que tem o mrito de ser clara : ocontrato global do domnio de comunicao com suas variantes, no que diz respeito aos dadossituacionais ; a organizao discursiva e seus modos, no que diz respeito s restriesespecficas advindas dos dados situacionais ; as formas textuais no que diz respeito srecorrncias formais que testemunham as regularidades e at mesmo as rotinizaes e aconfigurao textual. Poderamos, ento, a respeito destas categorias, falar de gnerosituacional para se referir s condies do contrato [27], falar de sub-gneros como se falade sub-contratos que so as variantes encaixadas em um contrato global. Desde ento, o

    narrativo, o descritivo, o explicativo e o argumentativo no seriam, nesta perspectiva gneros

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    narrativo, o descritivo, o explicativo e o argumentativo no seriam, nesta perspectiva gnerosporque cada uma dessas categorias da atividade discursiva reuniria textos pertencentes asituaes diferentes e logo no poderia constituir um critrio de classificao quecorrespondesse aos domnios da prtica comunicativa. Do mesmo modo, uma recorrncia demarcas formais, por mais forte que ela seja, no pode sozinha, ser significativa de um tipo detexto, visto a circulao dessas marcas entre diversos textos. Elas no sero consideradasseno como traos daquilo que as restries discursivas e situacionais ordenam.

    Em resumo, podemos dizer que, em se tratando dos nveis de produo-interpretao dodiscurso diferentes, cada um destes traz um princpio de classificao que lhe prprio : onvel situacional permite reunir textos em torno das caractersticas do domnio decomunicao ; o nvel das restries discursivas deve ser considerado como o conjunto dosprocedimentos que so chamados pelas instrues situacionais para especificar a organizaodiscursiva ; o nvel da configurao textual cujas recorrncias formais so volteis demais paratipificar de forma definitiva um texto, mas constituindo os ndices. Cada um destes princpiosde classificao legtimo e pode ser til segundo o objetivo de anlise que se prope seguir.A posio aqui defendida que uma definio dos gneros de discurso passa pela articulaoentre esses trs nveis e a correlao (e no em implicao sucessiva) dos dados que cada umdesses nveis prope. Nessa perspectiva, difcil definir o gnero como um prottipo ou comouma esquematizao abstrata, visto que h componentes demais de ordem diferente queintervm para sua composio, a menos que acontea de um dia se construir um modelocognitivo que chegue a integr-los e axiomatiz-los.

    Resta colocar uma ltima questo a das tipologias. Se possvel estabelecer classificaessegundo os nveis e os critrios que acabamos de definir porque possvel estabelecertipologias. Mas qual o interesse em construir tipologias ? Por quem e para quem elas soestabelecidas ? Essas questes merecem ser colocadas, visto que elas se encontram nocentro de qualquer anlise dos discursos : toda classificao pressupe a existncia decategorias, mas em matria de discursos, as categorias no tem (no deveriam ter)fundamento ontolgico ; somente um valor operatrio para dar conta de outra coisa almdelas prprias. Poderamos falar das categorias da lngua, mas estas so pelo menossustentadas por um imaginrio de sistematicidade que lhe d ares de natureza estvel. Se,ento, uma tipologia deve ser estabelecida, convm se perguntar : (i) se ela classificadiscursos (em qual sentido deste termo) ou textos ; (ii) se ela destinada a dar conta de umfenmeno scio comunicativo emprico e, neste caso, a tipologia no seno uma grade deleitura movedia servindo de referncia (segundo a expresso de Bakhtin) , ou se ela se dcomo um princpio de classificao absoluta, categorizando e naturalizando os textos demaneira definitiva (quem nunca sonhou com tal taxonomia ?) afim de construir uma mquinade produzir texto (projeto de inteligncia artificial) ; ou ainda se ela tem uma finalidadeaplicativa para, por exemplo propor aos aprendizes de lngua materna ou de lnguaestrangeira modelos de como escrever, como falar. O ponto de vista aqui adotado o doajustamento em uma empiria linguageira estruturada por uma certa maneira de teorizar acomunicao verbal, com categorias que trazem elas prprias sua prpria crtica.

    Enfim, se me fosse permitido terminar com uma observao, no que diz respeito a incidnciadesta reflexo no domnio da didtica das lnguas, diria que a questo dos gneros, vistadesta forma, deve permitir, de uma maneira melhor, tornar o aprendiz consciente da maneiracuja a escolha das formas linguageiras est ligada perscepo que temos das constantessituacionais, seja para respeit-las ou para jogar com elas com fins estratgicos. Logo,aparece mais claramente para o professor o que podem ser as estratgias de tratamento daquesto : abord-la pelas formas, mas ser necessrio fazer descobrir as restriessituacionais e discursivas ; abord-la pela situao, e ser necessrio fazer descobrir asrestries discursivas da advindas assim como as marcas formais que as configuram ; abord-la pelas atividades discursivas e ser necessrio trat-las segundo os dados situacionais aosquais elas se ligam.

    Traduo de Renato de Mello

    Referncias Bibliogrficas

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    [1] Este artigo foi publicado em francs : Charaudeau, P. Vises discursives, genressituationnels et construction textuelle. In : Ballabriga, M. (direction) Analyse des discours.Toulouse : Ed. Universit du Sud, 2001.p. 45-73.

    [2] Revista Rseaux, n. 81. Paris : Cnet. janeiro-fevereiro de 1997.

    [3] Cf. Carnets du Cediscor n.1. Un Lieu dinscription de la didacticit, Presses de la SorbonneNouvelle, 1992.

    [4] O que Maingueneau e Cossuta chamam de discursos constituintes, ver artigo dosautores em Langages n. 117, Paris : Larousse, 1995.

    [5] , finalmente, levar ao extremo a proposta de Bourdieu que diz que o poder das palavrasno outra coisa seno o poder delegadado do intrprete do fato que o poder no seencontra nas palavaras mas nas condies sociais de utilizao das palavras Ce que parlerveut dire, Paris : Fayard, 1982. p. 103.

    [6] Os antigos haviam feito disso a hiptese de uma maneira talvez um pouco radical demaisna medida em que onde para eles no se podia ser reconhecido e legitimado em um lugarsocial que se coincidisse o papel linguageiro que se tinha e a forma linguageira que seproduzia. O que explica que a forma sendo legitemante, ela possa ser categorizada(Aristteles). Sonia Branca lembra, ao citar os travalhos de A. Collinot, F. Mazire e F. Douay-Doublin, que este modelo que os jesuitas entretiveram pelas aulas de retrica at o sculoXVIII (ver ; Types, modes et genres In : Revue Langage et Socit, n. 87.)

    [7] Trata-se de representaes scio-discursivas.

    [8] Esta noo, tal como est aqui definida, em um sentido mais restritivo que aqueleproposto por. Maingueneau (1995). Para ele, a comunidade discursiva inclui os discursosproduzidos pelos diversos tipos de atores de um campo institucional dado, seuposicionamento, e os modos de vida, de normas, etc. que eles partilham. De fato, estadefinio corresponderia ao conjunto das trs comunidades que esto, aqui, definidas.

    [9] A aluso feita, aqui, publicidade da Benetton que se serviu de uma camisa furada porbalas e manchada de sangue de um cidado da Bsnia, imagem quase banal na televiso etransgressiva em um publicidade (ver mais a frente).

    [10] Mesmo se os indivduos reunidos no se conhecem, no se tocam, nem se encontramjuntos no mesmo momento.

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    [11] O termosemiolgica tomado, aqui, no seu sentido restrito, referindo-se parte formaldo signo.

    [12] Os princpios de alteridade, de influncia, de regulao, de pertinncia so definidos noartigo : Une analyse smiolinguistique du discours In : Revue Langages 117, Paris :Larousse, Maro, 1995.

    [13] Para que haja intercompreenso, o sujeito interpretante, que se encontra na instnciade recepo, deve pelo menos reconhecer a visada.

    [14] A palavra deve, aqui, no tem o valor de uma norma moral. Ele assinala um horizontede expectativa, o lugar (posio e ao) que atribudo de antemo ao tu se ele quer entrarna parceria do ato comunicativo.

    [15] Quer dizer que ele no pode no querer saber, dever saber que frequentementejustificado a posteriori.

    [16] s vezes, dizemos atos de linguagem, mas empregando eu mesmo esta expresso emum sentido mais amplo de ato comunicativo, prefiro falar de ato de fala quando se trata dosentido que lhe d a pragmtica.

    [17] Retomamos, aqui, a idia de dominncia sugerida por Jakobson, a propsito das funesda linguagem.

    [18] O modo descritivo serve para descrever um estado dos seres e do mundo ; o modonarrativo serve para descrever as aes humanas, ou tidas como tais, que se originam em umprojeto de busca ; o modo argumentativo serve para descrever as lgicas que se decompemelas prpias em explicativasquando a verdade j estabelecida e que preciso explicar ocomo dos fenmenos, e em demonstrativos quando se trata de estabelecer e de provar averdade (ver nossa Grammaire du sens, 1992, 3 Parte). Por esta ltima categoria, noconfund-la com a visada, mesmo que ela seja objeto de uma mesma definio. Aqui, trata-sede um procedimento, enquanto que para a visada, trata-se de uma inteno pragmtica.

    [19] Isto frequentemente o objeto de instrues mais ou menos precisas como nosconselhos que se emprega na escola, nas escolas de jornalistas e nos numerosos manuaismodernos sobre como escrever, redigir, etc.

    [20] Por exemplo, as expresses ditas do estilo administrativo, como visto que, esperadoque ou as frmulas que, nos textos jornalsticos, precedem as citaes, como segundode fonte bem segura, se acreditamos, etc.

    [21] Nas receitas de cozinha, crnicas gastronmicas, notcias tcnicas, farmacuticas, etc.

    [22] Ver Des innovations et des fonctionnements de langue rapports des genres, In :Revue Langage et Socite, n 87, 2000, e tambm Les lettres de rclamation adresses auservice de la redevance, In : Revue Langage et socit, n 81, 1997.

    [23] Para tanto preciso termos certeza de que h uma situao de origem.

    [24] Esta transgresso corre o risco de ser fatal ao indivduo em sua carta de reclamao,visto que ele se constri uma imagem de resmungador.

    [25] Trata-se da publicidade de produto comercial e no da publicidade de servios nem dascampanhas de preveno.

    [26] Por exemplo : a receita de cozinha pertence a um gnero narrativo, descritivo ouexplicativo ? No h uma resposta nica para esta questo, porque poderamos justificar apresena destes trs modos discursivos. Em compensao, vemos a resposta possvel,combinando os diferentes nveis.

    [27] Ou de gnero textual se nos referirmos ao conjunto dos textos reunidos em nome de seupertencimento a um mesmo contrato.