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 Bruno Custódio de Moura Visão Desenvolvimentista da CEPAL Trabalho apresentado para a disciplina “Padrões de Desenvolvimento Capitalista”, do Curso de Ciências Econômicas, ministrado pelo Prof. Dr. Áquilas Mendes. Pontifícia Universidad e Católica de São Paulo 2009

Visão Desenvolvimentista da CEPAL

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Bruno Custódio de Moura

Visão Desenvolvimentista da

CEPAL

Trabalho apresentado para a disciplina

“Padrões de Desenvolvimento Capitalista”,

do Curso de Ciências Econômicas,

ministrado pelo Prof. Dr. Áquilas Mendes.

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo2009

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Sumário

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Introdução

Este trabalho visa discutir e apresentar as características principais da visão

desenvolvimentista da CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina e Caribe.

Visto a vasta obra de mais de 50 anos dessa agência da ONU, o presente trabalho vai

discorrer sobre as principais temáticas inaugurais e de grande importância entre meados dos

anos 1950 e 1960.

Primeiro, será descrito o contexto histórico, político e econômico mundial a qual o

surgimento da Cepal estava submetido, e quais idéias a agência já lutava contra ou a favor.

Depois será explicada a concepção originária do pensamento cepalino, pautada no conceitocentro-periferia, que irá adentrar em todas as teses da organização, e qual será base para

grande parte da crítica e propostas a serem desenvolvidas pela a comissão. Um destaque

especial será dado à famosa tese da deterioração dos termos de troca, que fomentará a crítica

ao livre comércio.

Em seguida, discutir-se-á a proposta de industrialização e internalização das economias

 periféricas subdesenvolvidas, dando atenção especial à principal delas, a substituição de

importações e algumas de suas conseqüências e necessidades de ação, como garantir alguns

setores protecionistas na economia. E também se explicará a tendência inflacionária nas

economias periféricas, conceituando-a como estrutural, sendo ela intrínseca ao movimento

industrializante latino-americano.

E finalmente, será apresentada a preocupação da Cepal que se refere ao planejamento.

Reiterando o fato que essa comissão tinha um forte compromisso de orientar os países que

estavam realmente na periferia dos interesses da hegemonia norte-americana.

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1. Contexto Histórico

1.1 O pós Segunda Guerra Mundial 

Quando o pensamento cepalino surgiu, o mundo estava provando um boom

econômico. Embora os países latino-americanos também sentissem essa prosperidade, essa

era pertencia essencialmente aos países capitalistas desenvolvidos (HOBSBAWM, 1998). Foi

no pós-guerra, no período entre os anos de 1945 até meados dos anos 70, que o regime

fordista de acumulação se consolidou mundialmente.

Muito do grande boom mundial foi assim um alcançar ou, no caso dos EUA, um continuar de

velhas tendências. O modelo de produção em massa de Henry Ford espalhou-se para

indústrias do outro lado dos oceanos, enquanto nos EUA o princípio fordista ampliava-se

 para novos tipos de produção, da construção de habitações à chamada junk food (...)

(HOBSBAWM, 1998: 259)

 Nos anos 40 e 50 as disputas teóricas e políticas relativas ao futuro dos países

desenvolvidos foi a da conveniência da intervenção do Estado para estabelecer um novo

 padrão de crescimento (BIELSCHOWSKY, 1996). Depois da Grande Depressão, o

liberalismo econômico foi dando lugar ao consenso keynesiano. As políticas de Welfare-State

e intervenção do Estado para garantir o pleno emprego e a capacidade de consumo eram

dominantes.

Todos queriam um mundo de produção e comércio externo crescentes, pleno emprego,

industrialização e modernização, e estavam preparados para consegui-lo, se necessário, por 

meio de um sistemático controle governamental e administração de economias mistas, e da

cooperação com movimentos trabalhistas organizados, contanto que não fossem comunistas.

 A Era de Ouro do capitalismo teria sido impossível sem esse consenso de que a economia de

empresa privada (...) precisava ser salva de si mesma para sobreviver. (HOBSBAWM,

1998: 268)

A supremacia norte-americana era fato. Pelo o Acordo de Bretton Woods o dólar se torna

a moeda de reserva internacional e várias instituições internacionais como a ONU e o FMI

foram criadas sob a sua subordinação política. A combinação de poder e dinheiro fizeram os

EUA liderar o bloco capitalista diante do quadro da Guerra Fria. Com o Plano Marshall, os

EUA ajudaram a Europa e o Japão a se recuperarem (HOBSBAWM, 1998), em detrimento datotal ignorância dada à América Latina.

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1.2 Criação da CEPAL

 Nos anos que se seguiram ao pós-guerra, as economias latino-americanas estavam em

 pleno processo de industrialização e urbanização, potencializado pelo crescimento de 5,8%entre 1945 e 54. Isso abria espaço para o fortalecimento da ideologia industrializante que

vinha dando os seus primeiros passos, mas havia uma espécie de “vazio teórico” e falta de

teorias que pudessem ser adaptadas às realidades econômicas e sócias que se tentavam

entender e transformar (BIELSCHOWSKY, 2000).

 Nessa mesma época vigorava mundialmente as teorias etapistas de desenvolvimento

de Rostow, que tinham uma visão tecnicista e elitista de desenvolvimento, o qual criava um

modelo de sociedade tradicional (ROSTOW, 1964). E a teorização cepalina estruturalista iria preencher esse vazio, respeitando as especificidades históricas latino-americanas, criticando

as teorias rostowianas e defendendo os interesses econômicos da região.

A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe foi constituída em 1948, por 

uma decisão da Assembléia Geral das Nações Unidas de 1947. Inicialmente sob a batuta do

PNUD – Programa das Nações Unidas para Desenvolvimento, a CEPAL foi criado no

contexto das queixas latino-americanas de exclusão com relação ao Plano Marshall e de falta

de acesso aos “dólares escassos”, que dificultava a reposição dos desgastados aparelhos

 produtivos da região. Apesar desse “incentivo”, na época pensava-se que a nova organização

estava fadada a ser mais uma entre as inúmeras agências internacionais inexpressivas e

 burocratizadas já existentes. Mas com Prebisch, a sua história viria a ser bem diferente. Ele só

se tornou secretário executivo em 1950, porém já tinha chegado em 1949 em Santiago como

consultor e logo em seguida divulgou sua primeira obra na organização que Hirschman

chamaria de “Manifesto latino-americano”. Tratava-se de “O desenvolvimento econômico da

América Latina e alguns de seus problemas principais” publicado posteriormente em 1962.

(BIELSCHOWSKY, 2000).

2. Subdesenvolvimento e o Conceito Centro-Periferia

Raúl Prebisch, ex-gerente geral do Banco Central argentino, naquele documento se

debruça sobre as especificidades do subdesenvolvimento latino-americano no contexto

internacional. Nisso, elabora-se a concepção originária que estará presente em todo

 pensamento cepalino: o conceito Centro-Periferia.

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Esse conceito postula que a economia mundial está composta por dois pólos, o centro e a

 periferia, e que suas estruturas produtivas se diferem:

 A estrutura produtiva da periferia se diz heterogênea, para indiciar que nela coexistematividades onde a produtividade do trabalho é elevada, como no setor exportador, com outras de

 produtividade reduzida, como agricultura de subsistência. Ademais, indica-se que dita estrutura

é especializada, em um duplo sentido: as exportações se concentram em um ou em poucos bens

 primários; a diversificação horizontal, a complementaridade intersetorial e a integração vertical 

da produção possuem escasso desenvolvimento, de tal modo que gama muito ampla de bens – 

 sobretudo manufaturas – deve obter-se mediante a importação. (RODRÍGUEZ, 1986:11)

Enquanto nos países do centro, o aparelho produtivo é diversificado, tem produtividade

homogênea ao longo de toda sua extensão e tem mecanismos de criação e difusão tecnológica

e de transmissão social de seus frutos que são inexistentes na periferia (BIELSCHOWSKY,

2000).

Visto essas diferenças, o pensamento cepalino não tratava somente de comparar o

subdesenvolvimento periférico com a história das economias do centro. Para os autores

cepalinos, o desenvolvimento nas condições da periferia latino-americana não seria uma

“etapa” de um processo universal de desenvolvimento – como em Rostow (1964). Mas um processo inédito, cujos desdobramentos históricos seriam singulares à especificidade de suas

experiências, cabendo esperar-se sequências e resultados distintos aos que ocorreram no

desenvolvimento dos países do centro (BIELSCHOWSKY, 2000).

Furtado foi o expoente intelectual que mais defendeu uma teorização independente do

subdesenvolvimento na América Latina. No seu livro Desenvolvimento e subdesenvolvimento

(FURTADO apud BIELSCHOWSKY, 2000: 239-262), ele explicita a problemática histórica

do subdesenvolvimento (BIELSCHOWSKY, 2000):

O subdesenvolvimento não constitui uma etapa necessária do processo de formação das

economias capitalistas modernas. É, em si, um processo particular, resultante da penetração de

empresas capitalistas modernas em estruturas arcaicas. O fenômeno do subdesenvolvimento

apresenta-se sob várias formas e em diferentes estágios. (...) Como fenômeno específico que é, o

 subdesenvolvimento requer esforço de teorização autônomo. A falta desse esforço tem levado

muitos economistas a explicar, por analogia à experiência das economias desenvolvidas,

 problemas que só podem ser bem equacionados a partir de uma adequada compreensão do

 fenômeno do subdesenvolvimento. ( FURTADO apud BIELSCHOWSKY, 2000: 23)

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Através dessas concepções, originárias da Cepal, fundamentou-se as teses estruturalistas,

que defendiam a deterioração dos termos de troca, a industrialização via substituição de

importações (para diminuir as disparidades entre o centro e a periferia), inflação estrutural e

entre outras.

2.1 Deterioração dos termos de troca

Os países que compunham o núcleo do capitalismo ocidental comerciavam, é claro, com o mundo

de além-mar, e com grande vantagem, pois os termos de comércio os favoreciam – ou seja,

 podiam obter matérias-primas e alimentos mais baratos. (HOBSBAWM, 1998: 264)

Prebisch no seu trabalho inaugural da Cepal destacou o fenômeno acima ilustrado por 

Hobsbawm. Com os dados do relatório da ONU sobre a relação entre os preços dos produtos

 primários e dos artigos finais da indústria (ONU apud BIELSCHOWSKY, 2000: 81), ele

elabora uma crítica severa ao vigente sistema de divisão internacional do trabalho,

contestando a idéia ricardiana das vantagens comparativas, cuja validade permanecia

indiscutida no mundo acadêmico. Segundo essa teoria, o comércio internacional era o motor 

do crescimento – permitia a todos os países que dele participavam utilizar mais racionalmente

os próprios recursos – e também era um fator de redução das disparidades de renda entre os

 países (FURTADO, 1980). Furtado adiciona e comentando o citado relatório:

Ora, os dados empíricos sobre o comportamento a longo prazo dos preços relativos nos

mercados internacionais estavam longe de confirmar as previsões que cabia inferir dessas

hipóteses [ricardianas]. Se alguma evidência havia era em sentido inverso, isto é, no da

concentração da renda gerada pelo intercâmbio internacional, em benefício dos países de mais

alto nível de renda. Prebisch deslocou a discussão do nível abstrato dos teoremas de vantagens

comparativas (...) para o da observação das estruturas sociais, dentro das quais os custos são

 formados e o excedente é apropriado. (FURTADO, 1980: 39)

Conclui-se pelas próprias palavras de Prebisch:

(...) Uma vez que, na realidade, como se verificou, a relação [de preços] se deslocou num sentido

desfavorável aos produtos primários, entre os anos 1870 e os nãos 1930, é evidente que a renda

dos empresários e dos fatores produtivos, nos centros industriais, cresceu mais do que o aumento

da produtividade, e na periferia, menos do que seu aumento correspondente.

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 Em outras palavras, enquanto os centros preservaram integralmente o fruto do progresso

técnico de sua indústria, os países periféricos transferiram para eles uma parte do fruto do seu

 próprio progresso técnico. (PREBISCH apud BIELSCHOWSKY, 2000: 83)

3. Internalização da Economia

Demonstrado então esse desenvolvimento desigual entre os países denominados centro

(com tecnologia estendida por todos os setores de forma similar – homogênea e diversificada)

e periferia (com concentração do avanço em um setor em contraste com os demais setores – 

heterogênea e especializada), a CEPAL pretendia colocar os países da América Latina nos

“supostos rumos certos” do desenvolvimento capitalista “menos desigual” (TRANSPADINI

E STEDILE, 2005).

Segundo a organização, a principal maneira de reduzir as disparidades centro-periferia

era a criação de um desenvolvimento para dentro, que consistiria na instalação e ampliação

de um setor industrial, cuja produção se destina ao mercado interno (RODRÍGUEZ, 1986).

Isso só era possível via o alargamento do processo de substituição de importações com um

 papel primordial do Estado, liderando um desenvolvimento planejado direto na economia.

3.1 Substituição de Importações

A tese da substituição de importações como processo específico da industrialização latino-

americana consiste principalmente na idéia de que o processo é o resultado de uma interação

dinâmica entre o desequilíbrio externo e as novas demandas por importação, resultantes da

expansão industrial, que por sua vez, vem do próprio desequilíbrio (BIELSCHOWSKY,

1996). Para se industrializar, o país teria que passar por um estrangulamento do balanço de

 pagamentos, por conta de sua especialização e heterogeneidade, ainda iria sofrer com os

termos deteriorados por muito tempo.

A dinâmica substitutiva consiste na forma como a economia reage a sucessivos

estrangulamentos do balanço de pagamentos. Iniciando em industrialização de setores de

instalação “fácil para segmentos cada vez mais sofisticados e exigentes (bens de capitais)

(BIELSCHOWSKY, 2000).

 Na época era difundida por expoentes liberais de que a Cepal propunha era uma

“autarquia”. Mas havia recorrente reiteração de que o processo substitutivo apenas alterava a

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composição das importações (BIELSCHOWSKY, 2000), ou até mesmo as aumentava, como

Tavares (2000) explica:

(...) o processo de substituição não visa diminuir o quantum de importação global (...). Por outrolado, no lugar desses bens substituídos aparecem outros e à medida que o processo avança isso

acarreta um aumento da demanda deriva por importações (de produtos intermediários e bens de

capital) que pode resultar numa maior dependência do exterior, em comparação com as

 primeiras fases do processo de substituição. (TAVARES apud BIELSCHOWSKY, 2000:

228)

3.2 Garantir alguns setores protecionistas

Prebisch na luta contra os argumentos ortodoxos em favor do livre comércio, foi

defendendo o protecionismo para diminuir as desvantagens comerciais já descritas da

 periferia.

(...) para contrabalançar as diferenças da produtividade só restaria a proteção, através de tarifas

alfandegárias ou de subsídios, já que as restrições à importação são em geral menos aconselháveis

como medidas de política industrial, a não ser que sejam só temporárias.(PREBISCH apud

BIELSCHOWSKY, 1996: 28)

Em decorrência do próprio processo de substituição de importações, o protecionismo

deveria ser adotado em alguns setores estratégicos da economia descritos a seguir: o de

subsistência, o exportador e o industrial (BIELSCHOWSKY, 1996).

3.3 Inflação Estrutural 

Um dos subprodutos da teoria do desenvolvimento periférico foi a tese estruturalista

sobre a inflação. Quando ela surgiu, causou grande entusiasmo pelo fato da luta contra as políticas estabilizadoras (BIELSCHOWSKY, 1996). A tese se ancora na estrutura produtiva

dos países latino-americanos que têm uma economia heterogênea.

 A tendência à inflação decorria tanto do desequilíbrio da balança de pagamentos como das

demais insuficiências que o processo de industrialização enfrenta em economias pouco

diversificadas (rigidez agrícola, escassez de energia e transporte etc.). (BIELSCHOWSKY,

2000:33)

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Tais desproporções com o centro resultam em inflação, o que deságua em um dilema:

crescimento rápido, mas desequilibrado; ou uma situação de estagnação em que o crescimento

é obstruído pelas deficiências estruturais econômicas?

A única maneira de evitar a inflação seria alterar as condições estruturais que a

 provocam, e isso deveria ser feito por meio de um esforço de crescimento contínuo e

 planejado. Políticas restritivas não apenas fracassam no tratamento da inflação, mas ainda, ao

causarem recessão, reforçam as tendências inflacionárias estruturais (BIELSCHOWSKY,

2000).

De acordo com o pensamento cepalino, a inflação era intrínseca ao movimento

industrializante latino-americano, a qual somente poderá ser combatida através de maisindustrialização e planejamento.

4. Planejamento

A natureza dos trabalhos da Cepal foi fortemente de política orientadora. O Estado era

 primordial ao processo de desenvolvimento, para tratar dos problemas estruturais de

 produção, emprego e distribuição na periferia subdesenvolvida.

O conceito-chave utilizado para dar coerência às proposições de política foi o de

“planejamento” ou de “programação”. Nos anos 1950 e 1960, a ênfase no planejamento

orientado tinha um significado adicional, que era suprir imensas deficiências técnicas na

maioria dos governos da região (BIELSCHOWSKY, 2000).

O texto clássico da Cepal sobre o tema em 1955, propõe uma técnica de programação que

 pode assim ser resumido:

(...) o planejamento tem que começar pelas projeções gerais da economia, prosseguir através do

estudo dos diversos setores e, por último, confrontar as primeiras com os resultados obtidos no

estudo parcial dos diferentes ramos, a fim de poder fazer as retificações e ajustes que se tornem

necessários. (CEPAL apud BIELSCHOWSKY, 2000: 291)

A Cepal defendia a urgência de programas de desenvolvimento, centrando a

argumentação na necessidade de evitar desequilíbrios externos e estabelecer um equilíbriorazoável na expansão das várias atividades básicas. A necessidade do programa também

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adviria da escassez de poupança, o que exigiria cuidadosa seleção das atividades a serem

estimuladas (PREBISCH apud BIELSCHOWSKY, 1996: 26).

Daí em diante planejamento simbolizou as preocupações da agência com odesenvolvimento econômico latino-americano e caribenho.

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Conclusão

O surgimento da CEPAL foi um marco para as economias latino-americanas em uma

época que toda atenção estava centrada na Europa e outros países centros para a política deinfluência norte-americana.

A agência foi de extrema importância para constatação de que o subdesenvolvimento dos

 países ditos periféricos, não é um estágio de um desenvolvimento para outro melhor, mas sim

um uma condição especial, única, com problemas crônicos que os países ditos centrais nunca

 passaram. E por isso modelos clássicos de desenvolvimento, como o de etapas de Rostow,

não eram apropriados para o desenvolvimento econômico da periferia latino-americana.

A ousadia de seus autores, principalmente a de Raúl Prebisch, simplesmente foi de suma

importância, ao propor que a divisão internacional do trabalho baseada nas vantagens

comparativas de David Ricardo não era realmente “vantajosa” e evidenciando um mundo em

dois pólos, o centro e a periferia, em que a especialização produtiva dos países

subdesenvolvidos traria uma deterioração dos termos de troca, transferindo o progresso

técnico para os países centrais e até mesmo o alimentando lá.

A CEPAL também tratou de conceituar outro problema persistente das economias periféricas, a inflação, como intrínseco à estrutura produtiva e ao movimento industrializante,

e assim inevitável. A inflação estrutural visou combater as medidas estabilizadoras que outras

organizações como o FMI defendiam para os países subdesenvolvidos.

Destacado então as problemáticas do subdesenvolvimento, a CEPAL incentivou e

orientou os países latino-americanos a diminuir as disparidades com o centro e a tratar da

inflação estrutural, através da implantação de um desenvolvimento para dentro, o qual a

industrialização e a formação de um mercado interno mais diversificado eram primordiais. E

 para isso, a organização incentivava o alargamento do processo de substituição de

importações para tornar alguns setores estratégicos da economia mais dinâmicos e modernos

em conjunto de algumas medidas protecionistas.

E finalmente, com toda essa ênfase orientadora, a CEPAL sempre demonstrou em suas

obras a participação ativa do Estado como o vetor das medidas industrializantes por ela

desenvolvidas, e enfatizando as técnicas de planejamentopara controlar e atenuar os

 problemas estruturais da periferia.

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