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Vitimologia e Direito Penal Brasileiro: Assistência à Vítima RESUMO Este trabalho tem como objetivo mostrar o papel secundário da vítima no Direito Penal brasileiro, bem como da relevância dos Centros de Assistência à Vítima de crime. Serão apresentados um breve histórico sobre os precursores da Vitimologia, os pioneiros no Brasil e as características principais que envolvem a vítima da criminalidade, a classificação vitimária, a vitimização e os demais aspectos da Vitimologia em outros institutos legais. A Vitimologia vem sendo palco de importantes discussões dentro do Direito Penal Brasileiro. Sabe-se que no âmbito internacional em muitos países ela já tem um espaço significativo nos estudos sobre a criminalidade. Em épocas passadas, a vítima não tinha um papel de destaque como tem agora para algumas Leis Especiais, pois não só a sua participação para a efetividade do crime é analisada por criminólogos, como também a sua importância após a ocorrência do fato delituoso. Acrescente-se inclusive, que, é através desses estudos vitimológicos que surgiram as chamadas políticas de prevenção da criminalidade. Isto proporciona de alguma forma mecanismos para dar condições de oferecer as pessoas, vítimas da violência, assistência necessária através de instituições habilitadas, com equipes multidisciplinares, procurando desta forma, traçar um perfil mais humanitário da vítima dentro do sistema penal. Vislumbra-se, desta maneira, que este trabalho versado busca através da pesquisa bibliográfica e de seus métodos histórico, axiológico e comparativo abalizar um breve estudo do papel da vítima na Ciência Criminal. Palavras-chave: Vítimologia. Vítima. Direito Penal. Assistência. ABSTRACT This Project aims to shoe the secondary role of the victim in the Brazilian Penal Code as well as the relevance of the Crime Victim Support Centers. There will be presented a brief

Vitimologia e Direito Penal Brasileiro

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Vitimologia e Direito Penal Brasileiro: Assistência à Vítima

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo mostrar o papel secundário da vítima no Direito Penal brasileiro, bem como da relevância dos Centros de Assistência à Vítima de crime. Serão apresentados um breve histórico sobre os precursores da Vitimologia, os pioneiros no Brasil e as características principais que envolvem a vítima da criminalidade, a classificação vitimária, a vitimização e os demais aspectos da Vitimologia em outros institutos legais. A Vitimologia vem sendo palco de importantes discussões dentro do Direito Penal Brasileiro. Sabe-se que no âmbito internacional em muitos países ela já tem um espaço significativo nos estudos sobre a criminalidade. Em épocas passadas, a vítima não tinha um papel de destaque como tem agora para algumas Leis Especiais, pois não só a sua participação para a efetividade do crime é analisada por criminólogos, como também a sua importância após a ocorrência do fato delituoso. Acrescente-se inclusive, que, é através desses estudos vitimológicos que surgiram as chamadas políticas de prevenção da criminalidade. Isto proporciona de alguma forma mecanismos para dar condições de oferecer as pessoas, vítimas da violência, assistência necessária através de instituições habilitadas, com equipes multidisciplinares, procurando desta forma, traçar um perfil mais humanitário da vítima dentro do sistema penal. Vislumbra-se, desta maneira, que este trabalho versado busca através da pesquisa bibliográfica e de seus métodos histórico, axiológico e comparativo abalizar um breve estudo do papel da vítima na Ciência Criminal.

Palavras-chave: Vítimologia. Vítima. Direito Penal. Assistência.

ABSTRACT

This Project aims to shoe the secondary role of the victim in the Brazilian Penal Code as well as the relevance of the Crime Victim Support Centers. There will be presented a brief history about the precedents of the Victimology, the pioneers in Brazil and the principal characteristics which involve the criminality victim, the victim classification, the victimization and further aspects of victimology in other legal institutes. The Victimology has been the center of important discussions in the Brazilian Penal Law. It is known that in the international sphere, in many countries, it has already had a meaningful space in the studies of criminality. In the past times the victim did not have an important role as it has now for some special laws because now not only its participation for the crime effectiveness is analyzed by the criminologists but also its importance after the occurrence of the felonious fact. Furthermore, is through these victimology studies that the criminal preventive

politics appeared. It promotes somehow mechanisms which give conditions to offer people, who are victims of violence, the necessary assistance through the formal institutions, with multidisciplinary teams, trying this way to achieve a more humanitarian profile of the victim in the penal system. It is expected that this project searches, through the bibliographical research and its historical, axiological and comparative methods, to demonstrate a brief study of the victim’s role in the Criminal Science.

Key words: Victimology. Victim. Criminal Law. Assistance.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

1. ASPECTOS GERAIS DA VITIMOLOGIA

1.1 Período do Pré-nascimento da Vitimologia

1.1.1 A Escola Clássica

1.1.2 A Escola Positiva

1.2 Os Precursores da Vitimologia no Brasil

1.3 Conceito de Vitimologia

1.4 Conceito de Vítima

1.5 Significado de Vitimização e sua Classificação

1.6 Classificação dos tipos de Vítimas

2. O PAPEL DA VÍTIMA

2.1 Na Constituição da República Federativa do Brasil

2.2 No Código Penal Brasileiro

2.3 No Código de Processo Penal Brasileiro

2.4 Na Lei 9.099/95: Juizados Especiais Cíveis e Criminais

2.5 Lei 9.807/99: Da Proteção Especial a Vítimas e a Testemunha

2.6 No Código de Trânsito Brasileiro - CTB

2.7 Na Resolução 1990/22 – ONU/1985

2.8 Em outras Aplicações Legais da Vitimologia

3. A IMPORTÂNCIA DA ASSISTÊNCIA ÀS VÍTIMAS DA CRIMINALIDADE

3.1 Para os Centros de Assistências às Vítimas

3.2 Para a Medicina Legal

3.3 Para a Psicologia e profissionais afins

CONCLUSÃO

REFERÊNCIAS

INTRODUÇÃO

A sociedade tem sido palco de uma triste realidade criminal. A cada dia aumenta o número de vítimas e crimes praticados por diversas pessoas de classes sociais diferentes, culturas e raças, no Brasil e no mundo.

Atualmente o estudo da vitimologia aparece como um instrumento imprescindível no diagnóstico da criminalidade e na elaboração de uma política criminal mais efetiva a ser implementada e mais valorizada pelo nosso “Estado” Democrático de Direito. Daí a importância da vitimologia, pois, além de estudar a influência da vítima na ocorrência do crime, ela também cuidará de todos os momentos relacionados com o fato do crime, como também suas consequências.

A Vitimologia é considerada como uma ciência autônoma, na interpretação de alguns criminólogos e especialistas da área penal. Não podemos esquecer que ela adveio da Criminologia, que é uma ciência baseada na experiência que tem como objeto de estudo o crime, o delinquente, a vítima e o controle social do comportamento criminoso.

Nessa esteira, a palavra Vitimologia vem da expressão latina “ victima ” + “ ae” e da raiz grega logo , tendo como definição o estudo das vítimas.

Em primeiro lugar, veja-se que a Vitimologia tem por finalidade estudar a personalidade da vítima nos diferentes aspectos psicológicos, sociais, econômicos, garantindo também a proteção individual e global da vítima.

É oportuno, inclusive, espancar dentre as mais diversas classificações de estudiosos do mundo, os tipos de vítimas definidos por Benjamin Mendelshon: a primeira classificação está ligada a vítima inocente, aquela que não existe nenhuma provocação nem outra forma de participação no crime; a segunda

classificação é à vítima provocadora, que voluntariamente ou imprudentemente colabora com os fins pretendidos ou alcançados pelo criminoso e, a terceira classificação descreve a vítima agressora, esta considerada simuladora ou imaginária. Nesses casos são as vítimas que cometem, por si, a ação nociva, e o não culpado deve ser excluído de toda pena.

O Sistema Penal Brasileiro não tem por objetivo o diagnóstico do acontecimento criminal, nem de alvitrar questões acerca das políticas sociais de prevenção ao crime.

Destarte, no Direito Penal, o criminoso cumpre a chamada pena de prisão e por decorrência recebe do órgão Estatal (Previdência Social) o auxílio-reclusão, por outro lado, a vítima fica excluída de qualquer ajuda ou auxílio, tendo que, muitas vezes, recorrer ao Poder Judiciário para pleitear indenização pelos diversos danos por ela sofridos.

De acordo com a Previdência Social, o auxílio reclusão é o benefício devido aos dependentes do segurado que for preso por qualquer motivo. Ele tem direito a receber o auxílio-reclusão durante todo o período da reclusão. O benefício será pago se o trabalhador não estiver recebendo salário da empresa, auxílio-doença, aposentadoria ou abono de permanência em serviço.

Averbe-se, finalmente, que a vítima sente-se depreciada pelo Direito Penal, ao passo que espera soluções justas e rápidas pelos efeitos do crime cometido. Entretanto, essas expectativas muitas vezes são frustradas devido ao próprio sistema falido, precário e sem perspectivas futuras para o seu aprimoramento no tratamento às vítimas criminais.

No âmbito do Direito Penal e Processual brasileiro, a vítima foi relativamente esquecida, suas expectativas são escassas e a reparação de um possível dano não é um fator decisivo e prioritário. A vítima poderia ser tão importante para o sistema penal como o criminoso é. Se houvesse um maior discernimento das autoridades públicas sobre a importância da assistência às vítimas de crimes, reconhecendo os direitos dos cidadãos de poder viver em uma sociedade mais justa e segura, provavelmente haveria um enxugamento, apriori, no sofrimento doloso que é causado, muitas vezes pelo criminoso à vítima de determinado delito, bem como uma prevenção dada à vítima para não cometer um novo delito como uma forma de revidar o que recebeu. O fato é que essa omissão na legislação penal ou até mesmo o interesse estatal no que pertine aos dispositivos legais penais, deixam o próprio sistema falido, desacreditado e a mercê de uma justiça privada, ou seja, a justiça feita com as próprias mãos.

Sabemos que diante desta situação geral sobre a criminalidade que nos cerca e o aumento de crimes e vítimas, o poder público deveria fomentar, por meio de subsídios, a criação de entidades não governamentais, implementar políticas criminais e investir mais em programa de apoio as vítimas, a justiça restaurativa e

outras ações, pois com essas medidas de proteção, a sociedade estaria sem dúvida consciente de que o poder público valoriza a situação da vítima, dando total apoio ao seu tratamento.

Importante ainda trazer a lume, que as leis especiais estão cada vez mais preocupadas com essa assistência à vítima criminal e o instituto da reparação de dano.

O estudo vitimológico é um tema que vem a cada dia tendo uma importância significativa no âmbito das ciências criminais no mundo todo.

Entendemos que uma boa política criminal não deve se deter apenas a idéia de tratamento e sim de possibilitar através de todos os meios para efetivar um trabalho de interdisciplinaridade, procurando dar uma assistência mais justa e presencial, as mais diversas vítimas de crime.

Nessa ordem de idéias, o presente trabalho pretende analisar o papel secundário que a vítima representa para o nosso sistema penal brasileiro, seguidos da importância dos poucos Centros de Assistência à vítima para resgatar a sua dignidade humana e auto-estima.

Portanto, o estudo da Vitimologia, partindo da idéia da vítima como foco de carência principal será analisada a luz dos Códigos Criminais, da CF/88 e leis especiais, empregando os métodos de pesquisa bibliográfica, dos quais as fontes referentes estarão os livros, as revistas criminais, os artigos científicos, os sítios, como também as entrevistas.

Desse modo, o primeiro capítulo será apresentado os aspectos gerais da Vitimologia, focalizando o período do pré-nascimento, os precursores no Brasil e no mundo. Apresentaremos ainda a noção conceitual da Vitimologia, da vítima e sua classificação e, o significado de vitimização.

No segundo capítulo será analisado o papel da vítima na Constituição Federal de 1988, no Código Penal e do Processo Penal brasileiro, bem como nas demais leis especiais que incluíram a vítima criminal num panorama mais positivo, acerca da assistência legal à vitima.

O terceiro e último capítulo discorrerá sobre a importância da assistência às vítimas da criminalidade, enfocando o trabalho realizado pelos Centros de Assistências às vítimas. Em seguida serão feitas considerações acerca do papel relevante que a Medicina Legal representa para as vítimas e, finalizando com as opiniões dos profissionais ligados a área criminal sobre as perspectivas para uma melhoria no sistema, no que se refere à valorização da vítima para o Estado e a sociedade.

Pois bem, diante dessas considerações, é possível dizer que a presente

monografia vem resgatar a vítima esquecida dos tempos remotos para um tratamento mais humano, nas aplicações das leis especiais e as medidas de proteção, procurando sem dúvida, atenuar o sofrimento e danos causados a vítima de crime.

1. ASPECTOS GERAIS DA VITIMOLOGIA

Este capítulo traz uma análise geral sobre a história da Vitimologia e os demais aspectos pertinentes a matéria. Em primeiro lugar, elenca os períodos do pré-nascimento, os pioneiros no Brasil, os conceitos de Vitimologia, vítima e vitimização. O capítulo se encerra com a classificação dos tipos de vítimas por diversos autores.

1.1 Período do Pré-nascimento da Vitimologia

As chamadas Escolas Penais em meados dos anos de 1750 tiveram uma importante influência para o Direito Penal. Surge daí, a estruturação do saber filosófico-jurídico representadas por algumas correntes.

Apesar de várias correntes existentes no período das Escolas Penais, apenas duas delas (Clássica e Positiva) merecem destaque pela nobreza de coerência lógica e também filosoficamente bem determinada.

1.1.1 A Escola Clássica

A primeira das Escolas Penais é a chamada “Escola Clássica” baseada na idéia de que a responsabilidade criminal do delinquente é calcada na sua própria responsabilidade ética, ou seja, moral e se ampara no livre arbítrio (1) (Cf. GUIMARÃES, 2006, p.92).

Em breve síntese, Guilherme de Souza Nucci ensina que:

A Escola Clássica fundamentalmente via o criminoso como a pessoa que, por livre-arbítrio, infringiu as regras impostas pelo Estado, merecendo o castigo denominado pena. Visualizava primordialmente o fato cometido, razão pela qual consagrou o princípio da proporcionalidade, evitando-se as penas corporais de toda ordem (NUCCI, 2008, p. 69).

Complementa José Flávio Braga Nascimento:

Para os clássicos, o livre arbítrio existe em todos os homens psiquicamente desenvolvidos e sãos. Possuindo tal faculdade podem escolher entre motivos diversos e contraditórios e são moralmente responsáveis por terem a vontade livre e imperadora. O criminoso é totalmente responsável porque tem a responsabilidade moral, e é moralmente responsável porque possui o livre arbítrio (NASCIMENTO, 2007, p. 37).

Constata-se, destarte, a preocupação vitimológica dessa escola, de maneira ainda bastante embrionária, quando cuida da violência, da opressão e iniquidade a que chegara a justiça penal da Idade Média e séculos que se seguiram e que fizera, por fim, a consciência comum da época lutar por um regime de ordem, justiça e segurança, pretendendo-se por um basta ao cruel e arbitrário direito punitivo de então (PIEDADE JÚNIOR, 1993, p. 55).

Convém mencionar dois grandes nomes que tiveram destaque na Escola Clássica: Cesare Bonesana (Marquês de Beccaria) e Francesco Carrara.

Autor da obra “Dos delitos e das penas” no ano de 1764, o italiano Cesare Bonesana conhecido com o pseudônimo de Beccaria, não aceita as arbitrariedades da justiça na sua época. Falava que o “indulto” (extinção da punibilidade) é o fruto da imperfeição da lei, ou da falta de compreensão das penas.

Por outro lado, Francesco Carrara considerado o autor do período da Escola Clássica, diz que: “O homem deve ser submetido às leis penais por sua natureza moral; em consequência, ninguém pode ser socialmente responsável pelo ato praticado se moralmente irresponsável” (CARRARA apud NASCIMENTO, 2007, p. 38).

Dentre os trabalhos realizados por Carrara na Escola Clássica, a publicação do “Programma de derecho criminal” mereceu destaque pela importante contribuição acerca de dois princípios. O primeiro princípio advertia que o principal objetivo do direito criminal é prevenir os abusos por parte da autoridade e o segundo princípio enfatizava que o crime não é uma entidade de fato, mas de direito.

Ensina Francesco Carrara que, in verbis:

A pena não é simples necessidade de justiça que exija a expiação do mal moral, pois só Deus tem a medida e a potestade de exigir a expiação devida, tampouco é mera defesa que procura o interesse dos homens às expensas dos demais; nem é fruto de um sentimento dos homens, que procuram tranqüilizar seus ânimos frente ao perigo de ofensas futuras. A pena não é senão a sanção do preceito ditado pela lei eterna, que sempre tende à conservação da humanidade e a proteção de seus direitos, que sempre procede com observância às normas de Justiça, e sempre responde ao sentimento da consciência universal (GARCIA, 2004).

Para Beccaria, a Escola Clássica parte da concepção que o homem como um ser livre e racional que é capaz de refletir, tomar decisões e atuar em consequência. (SERRANO MAÍLLO, 2007, p. 63)

1.1.2 A Escola Positiva

Com pensamentos antagônicos a Escola Clássica que acreditava no livre arbítrio para a realização do fato criminoso, Cesare Lombroso, médico italiano, institui a Escola Positiva, acreditando que o papel central da criminalidade decorre de fatores biológicos em que o homem não tem domínio sobre a sua vontade.

Nos dizeres de José Flávio Braga Nascimento (2007, p. 39):

A escola antropológica é baseada no determinismo psicológico, inaceitando o livre-arbítrio e expungindo a responsabilidade moral dos indivíduos. O homem está sujeito a lei da causalidade e seus atos são consequências internas e externas, que dão diretriz à vontade.

Na Escola Positiva, muitos nomes tiveram lugar de destaque nos estudos referentes ao delito para o Direito Penal, tais como: Cesare Lombroso, Enrico Ferri, Rafael Garofalo, Franz Von Liszt e Gabriel Tarde.

Como ensina Guilherme de Souza Nucci (2008, p. 65):

Lombroso sustentou que o ser humano poderia ser um criminoso nato, submetido a características próprias, originárias de suas anomalias físico-psiquicas. Dessa forma, o homem nasceria delinquente, ou seja, portador de caracteres impeditivos de sua adaptação social, trazendo como consequência o crime, algo naturalmente esperado. Não haveria livre-arbítrio, mas simples atavismo.

Em síntese conclusiva de alguns principais autores da Escola Positiva, José Flávio Braga Nascimento elenca algumas características:

Cesare Lombroso – Em seu trabalho examinou o delinquente e o delito, considerando os advindos do atavismo, herança da idade selvagem, da idade animal e até da infância, e o delito é uma consequência da organização física e moral do criminoso.

Enrico Ferri – Sociólogo e fundador da criminologia moderna classificou como causa dos delitos fatores biológicos, físicos e sociais.

Rafael Garofalo - Classificou os delinquentes de assassinos (aqueles que agridem os sentimentos de piedade); de ladrões (os que agridem os sentimentos de probidade); os que infringem ambos os sentimentos, como os assaltantes e os criminosos e os cínicos, que cometem os crimes sexuais (NASCIMENTO, 2007, p. 40).

A Escola Positiva enxergava o criminoso como um produto da sociedade, que não agia por livre-arbítrio, mas por não ter outra opção, além de ser levado ao delito por razões atávicas. Visualizava, sobretudo, o homem-delinquente e não o fato praticado, motivo pelo qual a pena não necessitava representar castigo, mas tinha caráter preventivo, isto é, até quando fosse útil poderia ser aplicada (NUCCI, 2008,

p.69).

É, por conclusão lógica, que a Escola Clássica tinha por base o crime como uma infração, ou seja, a transgressão de um direito e sem dúvida o foco era a responsabilidade penal e a pena aplicada ao criminoso.

Enquanto para a Escola Positiva o crime era produto de interferências biológicas, sociais e físicas. Portanto, o crime passou a não fazer parte unicamente dos estudos para dar ensejo aos seus autores: autor x vítima.

Com os resultados apresentados pelas Escolas Penais surgiram então novas contribuições com os precursores da Vitimologia.

1.2 Os Precursores da Vitimologia no Brasil

Primeiramente, antes de discorrer acerca dos precursores da Vitimologia no Brasil, é importante falar dos pioneiros sobre os estudos da Vitimologia no mundo.

Muitas vezes, quando se ouve falar em “Vitimologia” surgem, portanto, algumas imprecisões acerca do seu precursor e aparecem no contexto dois grandes nomes: Hans Von Hentig e Benjamin Mendelsohn.

Hans Von Hentig, alemão, professor de criminologia na Universidade de Bonn, segundo José Flávio Braga do Nascimento (2007, p.156) sistematizou uma classificação das vítimas, estabelecendo a relação do criminoso com a vítima.

Hans Von Hentig publicou no ano de 1948 a pesquisa intitulada “O criminoso e suas vítimas” na Universidade de Yale nos Estados Unidos. Considerado por muitos o pioneiro dos estudos vitimológicos.

De outro lado, o israelita Benjamin Mendelsohn, professor e advogado. Conforme as palavras de José Flávio Braga Nascimento (2007, p.157) Mendelsohn já trabalhava com a vitimologia desde a década de 1940, foi o professor israelita, um ano antes do livro de Von Hentig Hans, que falou perante um Simpósio sobre o tema Vitimologia.

Entres os estudiosos no campo da Vitimologia aparece o espanhol e professor de Direito Penal Luis Jiménez de Asúa. Para ele, foi Hans Von Hentig o pioneiro, pois trouxe a tona à importância da vítima na gênese do crime.

Já para o vitimólogo argentino, Elías Neuman, o precursor dos estudos sobre a Vitimologia foi Mendelsohn e relata:

Desde que conheci Mendelsohn em 1973 e ler seus trabalhos, me convenci que ele foi o precursor da Vitimologia, pois um ano antes de aparecer o livro de Von Hentig, Mendelsohn já havia falado em uma conferencia sobre o assunto, em 29

de março de 1947, convidado pela Sociedade de Psiquiatria de Bucarest (NEUMAN apud NOGUEIRA, 2006, p. 20).

Fritz Paasch citado por Newton Fernandes (1995, p. 457) também afirma ser Benjamin Mendelsohn o verdadeiro fundador da vitimologia. Em outras palavras, entendendo-se o estudo da vítima na ampla e multiforme órbita do Direito.

Não podemos deixar de elencar outros nomes que muito contribuíram para o interesse da Vitimologia (Cf. MIGUEL), depois de Hans Von Hentig e Benjamin Mendelshon, surge também o canadense Henry Ellenberger, com a publicação Relations psychologiques entre le criminel et la victime , fazendo importante classificação das vítimas.

Como também Stephen Schafer, inglês, que escreveu o livro The victim and his criminal e na América do Sul, Jiménez de Asúa, em 1961, trata do assunto em obra específica.

A contribuição que Hans Von Hentig e Benjamin Mendelsohn, renomados estudiosos no âmbito da Vitimologia deram às ciências criminais é tão importante que pouco importa quem foi o pioneiro. Hoje, graças as suas pesquisas a “Vitimologia” surgiu com o desafio de dar uma nova roupagem à vítima e assim outros seguidores surgiram com outras perspectivas.

No Brasil, comenta Armida Bergamini Miotto apud Heitor Piedade Júnior (1993, p. 149): “Tem-se notícia de que a Revista da Faculdade de Direito da Universidade Estadual do Paraná, anos VI e VII, ns. 6 e 7, de 1958 e 1959, transcreveu trabalho de Jean Paul Cornil, sobre vitimologia, apresentado durante as Jornadas criminológicas Holando-Belgas, em dezembro de 1958, publicado na Revue de Droit Pénal et de Criminologie, de Bruxelas”.

Por outro lado, o que se vê é a obra de Edgard de Moura Bittencourt, nascido em São Paulo, lançando a sua obra “Vítima (Vitimologia: a dupla penal delinquente-vítima, participação da vítima no crime, contribuição da jurisprudência brasileira para a nova doutrina), no ano de 1971.

Heitor Piedade Júnior em seu livro “Vitimologia” cita alguns pioneiros que começaram a empenhar-se sobre a importância da vítima no direito penal, por exemplo:

No Estado do Rio de Janeiro destacam-se: Ester Kosovski, Fernando Whitaker da Cunha, Laércio Pellegrino, José Arthur da Cruz Rios, Paulo Ladeira de Carvalho.

Já no Estado do Paraná encontramos: René Ariel Dotti, Herber Soares Vargas e Eros Nascimento Gradowski e em Brasília a estudiosa Armida Bergamini Miotto.

Há de se admitir, porém, que com os diversos estudos existentes no nosso país a

preocupação dos criminólogos e outros interessados com o papel em que a vítima ocupa é fundamental para a ciência criminal, deste fato nasceu então “A Sociedade Brasileira de Vitimologia” (Fundada em 28 de julho de 1984 no Rio de Janeiro).

De acordo com o art. 1º do Estatuto da Sociedade Brasileira de Vitimologia, a instituição é civil sem fins lucrativos.

Como se percebe, as finalidades da Sociedade Brasileira de Vitimologia estão elencadas no art. 3º: I – a realização de estudos, pesquisas, seminários e congressos ligados à pesquisa vitimológica; II – formular questões que sejam submetidas ao estudo e decisão da Assembléia Geral; III – manter contato com outros grupos nacionais e internacionais, promovendo reuniões regionais, nacionais ou internacionais sobre aspectos relevantes da ciência penal e criminológica, no que concerne à vitimologia (Cf. NOVA CRIMINOLOGIA, 2001).

Em dados extraídos no Boletim da Sociedade Brasileira de Vitimologia, nº1 julho/agosto de 1988, os objetivos desta Sociedade são elencados por Heitor Piedade Júnior (PIEDADE JÚNIOR, 1993, p.155): Conjugar todos os especialistas interessados na área da vitimologia; estimular o estudo e a pesquisa da vitimologia, nas universidades e nas sociedades científicas; promover congressos, simpósios, encontros e outras reuniões científicas, onde a vítima seja debatida; manter contato e propiciar intercâmbio entre sociedades congêneres internacionais e sociedades jurídicas, psicológicas, médicas que se interessem pelo assunto; editar, logo que possível, uma revista sobre a matéria; despertar entre universitários e/ou profissionais liberais as vocações sobre a Vitimologia.

Vale ressaltar, por fim, que apesar de existir alguns livros, artigos, instituições, monografias, teses e etc. na área da Vitimologia, o assunto na atualidade ainda é muito pequeno entre os doutrinadores. Poucos autores reservaram uma obra específica destinada apenas ao estudo da Vitimologia. Mas, com o avanço da Criminologia e as novas concepções relacionadas ao crime no direito penal, as perspectivas de novas obras são bastante animadoras.

1.3 Conceito de Vitimologia

Existe ainda muita controvérsia se a Vitimologia seria ou não considerada uma ciência autônoma. Para alguns doutrinadores a Vitimologia é apenas um ramo da “Criminologia” (2), outros acham que ela é revestida de caráter científico pelo fato de existir objeto, método e fim próprios.

Deve-se ressaltar desde logo, que a maior parte da doutrina considera a Vitimologia uma divisão da Criminologia, mas podemos concluir que não há unanimidade na definição como ramo da Criminologia ou uma ciência autônoma.

Etimologicamente o termo vitimologia provém do latim “ victima ”, “ ae” e da raiz

grega logo , podendo ser definida como o estudo das vítimas.

Na definição de Benjamin Mendelshon a vitimologia é a “ciência sobre as vítimas e a vitimização” (MENDELSHON apud PIEDADE JÚNIOR, 1993, p. 80).

A Vitimologia é o estudo do comportamento da vítima frente à lei, através de seus componentes biossociológicos e psicológicos, visando apurar as condições em que o indivíduo pode apresentar tendência a ser vítima de uma terceira pessoa ou de processos decorrentes dos seus próprios atos (OLIVEIRA, 1996, p. 82).

Sandro D’Amato Nogueira (2006, p. 51) define a vitimologia como uma ciência que também visa a estudar o comportamento, a conduta e principalmente como estão vivendo as vítimas após terem sofrido algum tipo de delito e, para isso é feita uma investigação e pesquisa.

Heitor Piedade Júnior (1993, p. 81-86) cita algumas importantes tentativas de conceituação do conceito de Vitimologia:

1. Benjamin Mendelshon define a Vitimologia como a Ciência sobre as vítimas e a vitimização.

2. Henry Ellenberger considera que a Vitimologia é o ramo da Criminologia que se ocupa da vítima direta do crime e que compreende o conjunto de conhecimentos biológicos, sociológicos e criminológicos concernentes à vítima.

3. Enfatiza Paul Cornil que os criminólogos têm-se preocupado com o estudo da personalidade da vítima, de seu comportamento, suas motivações e reações, face de uma infração penal.

4. Raúl Goldstein define que é a parte da Criminologia que estuda a vítima não como efeito conseqüente da realização de uma conduta delitiva, mas como uma das causas, às vezes principal, que influenciam na produção de um delito.

5. Em Hans Göppinger, a Vitimologia representa de fato um determinado departamento do campo total, relativamente fechado da Criminologia empírica, e, em particular, do complexo problema: o delinqüente em suas interdependências sociais.

6. David Abrahamnsen, criminólogo ensina que a Vitimologia compreenderia o estudo científico da personalidade e outorga atenção toda especial aos fatores pertinentes ao desenvolvimento emocional e social da pessoa (ou do grupo) que se tornou vítima de um crime.

7. Guglielmo Gulotta conceitua como uma disciplina que tem por objeto o estudo da vítima, de sua personalidade, de suas características, de suas relações como delinqüente e do papel que assumiu na gênese do delito.

8. Luis Rodrígues Manzanera, autor mexicano de renome internacional, indica ser ela o estudo científico da vítima, que não deve esgotar-se com o estudo do sujeito passivo do crime, mas também ater-se às outras pessoas que são atingidas e a outros campos não delituosos, como pode ser o campo dos acidentes.

9. Para Ramírez González a Vitimologia é o estudo psicológico e físico da vítima que, com o auxílio das disciplinas que lhe são afins, procura a formação de um sistema efetivo para a prevenção e controle do delito.

10. Segundo o professor desembargador fluminense, Eduardo Mayr, vitimologia é o estudo da vítima no que se refere a sua personalidade, quer do ponto de vista biológico, psicológico e social, quer do de sua proteção social e jurídica, bem como dos meios de vitimização, sua inter-relação com o vitimizador e aspectos interdisciplinares e comparativos.

11. De acordo com Vetter E. Silverman: “O termo vitimologia revela um especial estudo das relações delinquente-vítima, numa seara em que os criminólogos se têm envolvido pelo menos durante dois séculos”.

12. Para Ramírez González: a Vitimologia é “o estudo psicológico e físico da vítima que, com o auxílio das disciplinas que lhe são afins, procura a formação de um sistema efetivo para a prevenção e controle do delito”.

Nas palavras de Sandro D’Amato Nogueira (2006, p. 15) “o instituto da Vitimologia é uma ciência que nasceu a princípio incorporada à criminologia (3) e tem como sua principal meta estudar a vítima, seu comportamento, sua participação no delito sofrido, suas tipologias, bem como a possível reparação de danos por elas sofridos”.

A definição apresentada a seguir acerca do conceito de Vitimologia é dada por José Osmir Fiorelli e Rosana Cathya Ragazzoni Mangini (2009, p. 184) que dizem:

É a ciência que estuda a vítima sob os pontos de vista psicológico e social, na busca do diagnóstico e da terapêutica do crime, bem como da proteção individual e geral da vítima. Tem por objetivo estabelecer o nexo existente na dupla penal, o que determinou a aproximação entre a vítima e delinquente, a permanência e a evolução desse estado.

Eles elencam ainda de maneira didática alguns dos principais interesses constituídos pela vitimologia:

1) Prevenção do delito: por meio da identificação de medidas de natureza preventiva (policiamento, iluminação, identificação e neutralização de pontos de vulnerabilidade etc.). Sob esse aspecto, destaca-se o estudo: do comportamento

do delinquente em relação à vítima; do comportamento da vítima em relação ao delinquente; da influência do comportamento da vítima para a ocorrência do evento-criminoso e dos fatores que levam a vítima a reagir ou não contra aquele ou aqueles que a vitimizam ou, até mesmo, a acentuar essa relação de desequilíbrio.

2) Desenvolvimento metodológico-instrumental: que inclui a obtenção e o desenvolvimento de informações destinadas à análise técnico-científica dos fatores que envolvem os delitos, por exemplo, local de residência, sexo, idade, nível econômico e cultural da vítima e do autor do ato infracional, propiciando estudos de correlação e projetos de atuação sobre elementos causais.

3) Formulação de propostas de criação e reformulação de políticas sociais: condizentes com a atenção e reparação devida à vítima pelos múltiplos tipos de danos que sofre, econômicos, sociais e psicológicos. Podem incluir, por exemplo, ações destinadas a restabelecer a tranquilidade de eliminar o medo, restaurando condições de vida ajustadas ao comportamento solidário e à confiança no sistema de justiça.

4) Desenvolvimento continuado do modelo de Justiça Penal: imprimido-lhe atualidade e consistência do ponto de vista social, cultural, tecnológico e econômico, sem perder de vista os aspectos humanos e conjugando o respeito à individualidade com a preservação dos direitos da coletividade. Esta preocupação possui grande importância do ponto de vista da percepção dos indivíduos em relação ao sistema como um todo porque, inegavelmente, o que as vítimas mais esperam, de imediato, é que seja feita justiça. Entretanto, o conceito de justiça encontra-se longe de ser absoluto e recebe influencia de local, costumes, leis vigentes e condições particulares de cada indivíduo envolvido nas situações em que existe delito.

A Vitimologia de acordo com a definição do Dicionário Jurídico de Maria Helena Diniz (1998, p.751) tem como acepção: 1. Psicologia forense. a) Estudo científico da personalidade da vítima e de sua influência para a motivação e consumação do delito (Geraldo Magela Alves); b) ciência da vítima. 2. Direito Penal. Disciplina que estuda a influência exercida pela vítima na prática do crime (Aquaviva).

Lola Aniyar de Castro apud Heitor Piedade Júnior (1993, p. 83) importante criminóloga venezuelana reconhecida internacionalmente faz algumas referências sobre o objeto da vitimologia nos seguintes incisos:

1º) É o estudo da personalidade da vítima, tanto vítima de delinqüente, ou vítima de outros fatores, como conseqüência de suas inclinações subconscientes.

2º) O descobrimento dos elementos psíquicos do “complexo criminógeno” existente na “dupla penal”, que determina a aproximação entre a vítima e o criminoso, quer dizer: “o potencial de receptividade vitimal”.

3º) Análise da personalidade das vítimas sem intervenção de um terceiro. Estudo que tem maior alcance do que o feito pela Criminologia, pois abrange assuntos tão diferentes como o suicídio e os acidentes de trabalho.

4º) Estudos dos meios de identificação dos indivíduos com tendência a se tornarem vítimas; seria então possível a investigação estatística de tabelas de previsão como as que foram feitas com os delinqüentes pelo casal Glueck, o que permitiria incluir os métodos psicoeducativos necessários para organizar a sua própria defesa.

5º) A importantíssima busca dos meios de tratamento curativo a fim de prevenir a recidiva da vítima.

Destrinchando tais idéias, com apoio nas palavras de Paul Zvonimir Separovic apud Heitor Piedade Júnior (1993, p. 85) os objetivos da Vitimologia podem ser assim organizados: 1. Analisar a magnitude do problema da vítima; 2. Explicar as causas da vitimização; 3. Desenvolver um sistema de medidas para reduzir a vitimização e 4. Dar assistência às vítimas.

A finalidade da “Vitimologia” nos dizeres de João Farias Júnior (1996, p. 250):

A vitimologia se destina a estudar a complexa órbita de manifestações e comportamentos das vítimas em relação aos delinquentes e dos delinquentes em relação às suas vítimas, visando a análise, do ponto de vista, biopsicossocial, na gênese do delito. Tal análise poderá ajudar a justiça, não só em relação ao julgamento de responsabilidade e culpabilidade, diante da sistemática atual, como em relação ao julgamento do estado perigoso à sistemática recuperacional que preconizamos.

Vale destacar, pela alta relevância teórica, que Mendelsohn apud Newton Fernandes (1995, p. 457) conceitua a Vitimologia como a ciência que procura estudar a personalidade da vítima sob os pontos de vista psicológico e sociológico na busca do diagnóstico e da terapêutica do crime e da proteção individual e geral da vítima.

Conclusivamente é certo asseverar as palavras do ex-presidente da Sociedade Mundial de Vitimologia, o Professor Zvonimir Separovic, acerca da Vitimologia:

A vitimologia deve ter como meta a orientação para a maior proteção dos indivíduos. O seu propósito deveria ser contribuir, tanto quanto possível, para tornar a vida humana segura, principalmente a salvo de ataque violento por outro ser humano: 1- Explorando meios para descobrir vítimas latentes ou em potencial e situações perigosas que levam à morte, lesões e danos à propriedade. 2- Provendo direitos humanos para os que sofrem em resultado de ato ilegal ou de acidente. 3- Incentivando as pessoas e as autoridades nos seus esforços para

reduzir os perigos e estimulando novos programas para prover condições seguras de vida. 4- Provendo meios para pesquisa na área de segurança humana, incluindo fatores criminológicos, psicológicos e outros, e desenvolvendo métodos e enfoques inovadores para tratar de segurança humana. 5- Promovendo um programa efetivo não só para proteger a sociedade de atos ofensivos, através de condenação, castigo e correção, mas também proteger as vítimas reais e em potencial de tais atos. 6-Facilitando a denúncia de atos vitimizadores, o que contribuirá para atingir o objetivo de prevenção de danos futuros (PIEDADE JÚNIOR, 1993, p. 85).

Mais incisivo João Farias Júnior (1996, p. 249) chega mesmo a disparar que a Vitimologia é a parte da Criminologia que estuda: 1. O comportamento dos delinquentes em relação às suas vítimas; 2. O comportamento de suas vítimas em relação aos criminosos; 3. Até que ponto a vítima concorreu para a produção do crime; 4. A desdita do homem criminoso.

Existem questões, entretanto, que devem ser mencionadas depois de tão importantes conceituações sobre a “Vitimologia”. É distintivo o fato de que a Vitimologia é uma ciência autônoma que procura tratar da vítima com fundamental valorização dentro do sistema penal, mas é nítida a omissão estatal no incentivo a criação de mais organizações que tratem da vítima com seriedade e respeito que ela merece, fazendo valer o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana.

1.4 Conceito de Vítima

Significado do vocábulo vítima ETMON: “Victima” “ae” = da vítima + logos = tratado, estudo = estudo da vítima.

A vítima é um dos elementos que compõe o objeto da moderna criminologia como também o delito, o delinquente e o controle social.

Atualmente a vítima vem ganhando um espaço muito importante em nosso ordenamento jurídico brasileiro, o que faz pensar em mudanças nos institutos legais por parte dos doutrinadores e legisladores.

É inquestionável o valor que o estudo da vítima possui hoje para a Ciência total do Direito penal. A vítima passou por três fases principais na história da civilização ocidental. No início, fase conhecida como idade de ouro, a vítima era muito valorizada, valorava-se muito a pacificação dos conflitos e a vítima era muito respeitada. Depois, com a responsabilização do Estado pelo conflito social, houve a chamada neutralização da vítima. O Estado, assumindo o monopólio da aplicação da pretensão punitiva, diminuiu a importância da vítima no conflito. Ela sempre era tratada como uma testemunha de segundo escalão, pois, aparentemente, ela possuía interesse direto na condenação dos acusados. E, por último, da década de cinquenta para cá, adentramos na fase do redescobrimento

da vítima, onde a sua importância é sob um ângulo mais humano por parte do Estado (CALHAU, 2006, p. 36).

No que pertine ao momento adequado para o estudo da vitimologia, cumpre analisar as considerações feitas por Garcia Pablos Molina apud Valdenia Brito Monteiro (2002, p. 230):

O abandono da vítima do delito é um fato incontestável que se manifesta em todos os âmbitos: no Direito Penal (material e processual), na Política Criminal, na Política Social, nas próprias ciências criminológicas. Desde o campo da Sociologia e da Psicologia social, diversos autores, têm denunciado esse abandono: O Direito Penal contemporâneo – advertem – acha-se unilateral e equivocadamente voltado para a pessoa do infrator, relegando a vítima a uma posição marginal, ao âmbito da previsão social e do Direito Civil material e processual. A Criminologia tampouco tem mostrado sensibilidade pelos problemas da vítima do delito, pois centra seu interesse exclusivamente na pessoa do delinquente. O sistema legal define com precisão os direitos – o status – do infrator (acusado), sem que referidas garantias em favor do presumido responsável tenha lógico correlato uma preocupação semelhante pelos da vítima.

Assim, na definição do Vocabulário Jurídico a palavra “vítima” vem do latim victima, geralmente entende-se toda a pessoa que é sacrificada em seus interesses, que sofre um dano ou é atingida por qualquer mal. E sem fugir ao sentido comum, na linguagem penal designa o sujeito passivo de um delito ou de uma contravenção. É assim o ofendido, o ferido, o assassinado, o prejudicado, o burlado (SILVA, 2008, p. 1495).

Para Maria Helena Diniz (1998, p.751) a vítima para o Direito Penal é o: 1. Sujeito passivo do crime. 2. aquele contra quem se perpetrou o delito ou contravenção.

Nessa trilha de pensamento, Edgard de Moura Bittencourt (1974, p. 51) sustenta que:

O conceito de vítima se estende, pois, a vários sentidos: o sentido originário, com que se designa a pessoa ou animal sacrificado à divindade; o geral, significando a pessoa que sofre os resultados infelizes dos próprios atos, dos de outrem ou do acaso; sentido jurídico-geral (grifo nosso), representando aquele que sofre diretamente a ofensa ou ameaça ao bem tutelado pelo Direito, jurídico-penal-restrito, designando o indivíduo que sofre diretamente as consequencias da violação da norma penal; e, por fim, o jurídico-penal-amplo, que abrange o indivíduo e a comunidade que sofrem diretamente as consequencias do crime.(Grifo nosso).

Interessante observar o que preleciona Lélio Braga Calhau (2003, p. 22) no âmbito conceitual do significado do vocábulo “vítima”. Para ele existem três definições conceituais fundamentais para a compreensão da vítima: a primeira é a literária ou

a gramatical, a segunda a vitimológica e a terceira a jurídica.

No entendimento literário ou gramatical, ele trás a baila o ensinamento de Antonio Scarance Fernandes:

Reflete, a partir do sentido etimológico, os significados que o vocábulo vítima apresentou na evolução. São mencionadas duas fontes principais, vindas do latim. Derivaria ela de vincire, que significa atar, ligar, referindo-se aos animais destinados ao sacrifício dos deuses após a vitória na guerra e que, por isso, ficavam vinculados, ligados, atados a esse ritual, no qual seriam vitimados. Adviria o vocábulo de vincere , que tem sentido de vencer, ser vencedor, sendo vítima o vencido, o abatido. Fala-se ainda no terceiro vigere , que quer dizer vigoroso, ser forte.

Já na definição vitimológica, existiu uma pequena imprecisão em alusão ao conceito de vítima dado por Mendelsohn. Nesse sentido ressaltou Krchhoff apud Lélio Braga Calhau, (2003, p.22 em nota de rodapé) que “[...] na perspectiva de Mendelsohn, por ele denominada de universal, foi abrangido todo tipo de vítima, vítimas de natureza, da tecnologia, do meio ambiente, do trânsito, da energia cósmica. Esse dificultou um desenvolvimento no estudo das vítimas”.

Uma advertência final afigura-se-nos imprescindível. Segundo Lélio Braga Calhau (2003, p. 23) sobrepujado essa indefinição, adveio a vitimologia, trazendo novas perspectivas sobre a participação da vítima para a ocorrência do delito e sem dúvida uma das mais importantes, o instituto da reparação do dano causado à vítima do delito.

Por último, a definição da vítima no âmbito jurídico a definição do aspecto jurídico da vítima também tem as suas dificuldades, haja vista as limitações que se realizem por se utilizarem conceitos nas normas jurídicas (CALHAU, 2003, p. 23).

Didaticamente, explica Guilherme de Souza Nucci na sua obra Leis Penais e Processuais Penais Comentadas (2008, p. 1017) que:

“Vítima” é o sujeito passivo do crime, ou seja, a pessoa que teve o interesse ou o bem jurídico protegido diretamente violado pela prática da infração penal. Denomina-se, também ofendido. Deve ser ouvido, sempre que possível, durante a instrução, a fim de colaborar com a apuração da verdade real, valendo a oportunidade, inclusive, para indicar provas e mencionar quem presuma ser o autor do delito (art. 201, CPP).

Convêm registrar, ademais, algumas definições dadas por estudiosos da literatura especializada sobre a Vitimologia conforme elenca Heitor Piedade Júnior (1993, p. 86):

1. A definição de Benjamin Mendelsohn: Para ele a vítima “é a personalidade do

indivíduo ou da coletividade na medida em que está afetada pelas consequências sociais de seu sofrimento determinado por fatores de origem muito diversificada, físico, psíquico, econômico, político ou social, assim como do ambiente natural ou técnico”.

2. Já Paul Separovic: define a vítima como sendo “qualquer pessoa física ou moral, que sofre como resultado de um desapiedado desígnio, incidental ou acidentalmente”.

3. Para Luis Rodrigues Manzanera: “vítima é o indivíduo ou grupo que sofre um dano, por ação ou por omissão, própria ou alheia, ou por caso fortuito”.

A Declaração dos Princípios Fundamentais de Justiça Relativos às Vítimas da Criminalidade e de Abuso do Poder traz consigo o conceito de “ vítima” :

1. Entendem-se por "vítimas" as pessoas que, individual ou coletivamente, tenham sofrido um prejuízo, nomeadamente um atentado à sua integridade física ou mental, um sofrimento de ordem moral, uma perda material, ou um grave atentado aos seus direitos fundamentais, como consequência de atos ou de omissões violadores das leis penais em vigor num Estado membro, incluindo as que proíbem o abuso de poder.

2. Uma pessoa pode ser considerada como "vítima", no quadro da Declaração, quer o autor seja ou não identificado, preso, processado ou declarado culpado, e qualquer que sejam os laços de parentesco deste com a vítima. O termo "vítima" inclui também, conforme o caso, a família próxima ou as pessoas a cargo da vítima e as pessoas que tenham sofrido um prejuízo ao intervirem para prestar assistência às vítimas em situação de carência ou para impedir a vitimização.

Nesse ambiente, inclusive, vale a referência da Resolução 40/34 da Assembléia Geral das Nações Unidas, de 29 de novembro de 1985 a respeito da definição de vítima:

Pessoa que, individual ou coletivamente, tenha sofrido danos, inclusive lesões físicas ou mentais, sofrimento emocional, perda financeira ou diminuição substancial de seus direitos fundamentais, como consequências de ações ou omissões que violem a legislação penal vigente, nos Estados – Membros, incluída a que prescreve o abuso de poder.

João Farias Júnior (1996, p.250) define a vítima como “qualquer pessoa que sofra infaustos resultados, seja de seus próprios atos, seja dos atos de outrem, seja de influxos nocivos ou deletérios, seja de fatores criminógenos, ou seja do acaso”.

Entre os grupos de estudiosos sobre a vítima, podemos incluir Edgard de Moura Bittencourt autor do livro Vítima que ensina os diferentes sentidos empregados no conceito de vítima:

1. Sentido originário, com que se designa a pessoa ou animal sacrificado à divindade; 2. O geral, significando a pessoa que sofre os resultados infelizes dos próprios atos, dos de outrem ou do acaso; 3. O jurídico-geral, representando aquele que sofre diretamente a ofensa ou ameaça ao bem tutelado pelo Direito; 4. O jurídico-penal-restrito, designando o indivíduo que sofre diretamente as consequencias da violação da norma penal, e, por fim; 5. O sentido jurídico-penal-amplo, que abrange o indivíduo e a comunidade que sofrem diretamente as consequencias do crime (BITTENCOURT, 1971, p. 51).

Entendemos que vítima é aquela pessoa que sofre algum tipo de dano, seja ele de ordem física, moral, econômica e psicológica. A vítima ainda é tratada com menos interesse para a sociedade como o “criminoso”, “infrator” ou “delinquente” é tratado no sistema penal, com mais rigor e com a anuência da comunidade clamando por aplicações de sanções severas e urgentes.

1.5 Significado de Vitimização e sua Classificação

Na Vitimologia um dos aspectos principais além do estudo da vítima, do seu aspecto social, psicológico ou econômico é o chamado processo de “vitimização”.

Vitimização, processo vitimizatório, ou vitimização são termos neológicos, oriundos de “vítima”, e significam ação ou efeito de alguém vem a ser vítima de sua própria conduta ou da conduta de terceiro, ou fato da natureza (SILVA, 2007).

No conceito do dicionário Jurídico, Maria Helena Diniz (1998, p. 751) define vitimização como o ato de tornar alguém vítima. Ação ou efeito de vitimar pessoa ou grupo.

José Osmir Fiorelli e Rosana Cathya Ragazzoni Mangini (2009, p.198) cita Alvino Augusto Sá que conceitua vitimização como um processo complexo, pelo qual alguém se torna, ou é eleito a tornar-se, um objeto-alvo da violência por parte de outrem. Como processo, implica uma rede de ações e/ ou omissões, interligadas por interesses, ideologias e motivações conscientes ou inconscientes.

Na definição de um dos principais especialistas renomados brasileiros Heitor Piedade Júnior (1993, p. 107) o conceito sobre “vitimização” é assim definido:

Vitimização, ou vitimação, ou processo vitimizatório, é a ação ou efeito de alguém (indivíduo ou grupo) se automotivar ou vitimizar outrem (indivíduo ou grupo). É processo mediante o qual alguém (indivíduo ou grupo) vem a ser vítima de sua própria conduta ou da conduta de terceiro (indivíduo ou grupo), ou de fato da Natureza. No processo de vitimização, salvo no caso de autovitimização quando ocorre a autolesão, necessariamente, encontra-se a clássica dupla vitimal, ou seja, de um lado, o vitimizador (agente) e de outro a vítima (paciente).

Entretanto continua Heitor Piedade Júnior (1993, p. 110) que o termo “vitimário”, em Vitimologia, significa o agente vitimizador. Expressão originária do latim “victimarius” era o encarregado de ascender o fogo e amarrar os animais que deveriam ser sacrificados como vítimas.

Segundo ele, em Vitimologia entende-se por vitimário o agente que causa dano ou sofrimento na vítima.

Indispensável relatar a definição dada por Lélio Braga Calhau (2006, p.38) os processos de vitimização (primária, secundária e terciária) são pontos centrais no estudo da Vitimologia.

O que ocorre na vitimização conforme a lição de Antonio García-Pablos de Molina e Luiz Flávio Gomes (2008, p. 78) são as consequências negativas de um fato traumático, especialmente, de um delito.

Para eles, a classificação na doutrina dos tipos de vitimização primária, secundária e terciária não seja do todo pacífico, pois existem classificações ou formas de vitimização ocasional ou prolongada, direta ou indireta etc. no entendimento de outros autores. E dentre as demais classificações destacam como importante:

1. Vitimização primária: costuma-se entender o processo pelo qual uma pessoa sofre, de modo direto ou indireto, os efeitos nocivos derivados do delito ou fato traumático, sejam estes materiais ou psíquicos.

2. Vitimização secundária: abrange os custos pessoais derivados da intervenção do sistema legal que, paradoxalmente, incrementam os padecimentos da vítima. Assim, a dor que causa a ela reviver a cena do crime ao declará-lo ante o juiz; o sentimento de humilhação que experimenta quando os advogados do acusado culpam-na argumentando que foi ela própria que com sua conduta provocou o delito.

3. Vitimização terciária: compreenderia o conjunto de custos da penalização sobre quem a suporta pessoalmente ou sobre terceiros, e teria a ver com a premissa lógica de que os custos do delito sobre as pessoas e sobre a sociedade devem ser ponderados com os custos da penalização do infrator para ele próprio, para terceiros ou para a própria sociedade

Na doutrina aparece também um quarto tipo na classificação acima citada denominada de “autovitimizaçãosecundária ” fornecido pela Psicologia Jurídica, onde, para Jorge Trindade apud Sandro Carvalho Lobato de Carvalho e Joaquim Henrique de Carvalho Lobato (2008) a vítima se culpa do evento criminoso, passando a "recriminar-se pelo que aconteceu, procurando encontrar motivos para explicar o fato, supondo-se co-responsável pelo evento", o que lhe poderá causar sérios problemas de ordem psicológica.

Em outra definição conceitual Sandro Carvalho Lobato de Carvalho e Joaquim Henrique de Carvalho Lobato levantam outras questões pertinentes à classificação dos tipos de vitimização primária, secundária e terciária:

1. A vitimização primária é normalmente entendida como aquela provocada pelo cometimento do crime, pela conduta violadora dos direitos da vítima – pode causar danos variados, materiais, físicos, psicológicos, de acordo com a natureza da infração, personalidade da vítima, relação com o agente violador, extensão do dano, dentre outros.

2. Por vitimização secundária ou sobrevitimização, entende-se aquela causada pelas instâncias formais de controle social, no decorrer do processo de registro e apuração do crime

3. Já vitimização terciária é aquela que ocorre no meio social em que vive a vítima. É a vitimização causada pela família, grupo de amigos, no seio de seu trabalho etc. A comunidade em que a vítima vive a vitimiza. Após a divulgação do crime, sobretudo aqueles contra os costumes, muitos se afastam, os comentários são variados e os olhares atravessados para a vítima, o que a fazem se sentir cada vez mais humilhada e, não raras vezes, até culpada do delito. Quando se tratam de vítimas crianças e adolescentes na escola, por exemplo, muitos são solidários; mas outros, até mesmo pela curiosidade, fazem perguntas demais, brincam com o fato, e mais constrangimentos impõem as vítimas (CARVALHO; LOBATO, 2008).

No âmbito da Psicologia Jurídica também encontramos alguns tipos de vitimização que são relevantes para a Vitimologia como bem explanam José Osmir Fiorelli e Rosana Cathya Ragazzoni Mangini (2009, p. 198):

a) Vitimização física: caracteriza-se pela negligência e pelos maus tratos, podendo instalar-se paulatinamente, da forma mais leve à mais grave. Em todas as situações de vitimização física ocorrem fenômenos ligados à percepção e que podem ser responsáveis pela fraca resposta da vítima, graças à perda gradativa da discriminação para o sofrimento e suas consequências.

b) Vitimização psicológica: encontra-se a pessoa depreciada do ponto de vista afetivo, por negligência ou rejeição.

c) Vitimização sexual: a pessoa desempenha o papel de objeto de gratificação sexual do adulto. Trata-se de um jogo perverso, baseado em relação de poder, no qual a vítima é submetida de maneira insidiosa, a ponto de não se dar conta da evolução do processo de vitimização.

Em sua obra intitulada “Vitimologia” Sandro D’Amato Nogueira (2006, p.61) fala sobre as fases do processo de vitimização – ITER VICTIMAE citando Edmundo de Oliveira:

A primeira fase é denominada “intuição”. Quando se planta na mente da vítima a idéia de ser prejudicado, hostilizada ou imolada por um ofensor. A segunda fase é caracterizada pelos “atos preparatórios” (conatus remotus). Logo depois de projetar mentalmente a expectativa de ser vítima, passa o indivíduo à fase dos atos preparatórios, momento em que desvela a preocupação de tornar as medidas preliminares para defender-se ou ajustar o seu comportamento, de modo consensual ou com resignação, às deliberações de dano ou perigo articulados pelo ofensor. Já a terceira fase é o início da execução (conatus proximus) . Oportunidade em que a vítima começa a operacionalização de sua defesa, aproveitando a chance de que dispõe para exercitá-la, ou direcionar seu comportamento para cooperar, apoiar ou facilitar a ação ou omissão aspirada pelo ofensor. A quarta fase é a execução (executio) . Ocorre a autêntica execução distinguido-se pela definitiva resistência da vítima para então evitar, a todo custo, que seja atingida pelo resultado pretendido por seu agressor, ou então se deixar por ele vitimizar. E por último, a quinta fase caracterizada pela consumação (consummatio) ou tentativa (crime falho ou conatus proximus ). Depois da execução, aparece a consumação mediante o advento do efeito perseguido pelo autor, com ou sem a adesão da vítima.

Segundo a concepção do referido autor, a execução, a consumação e o exaurimento são elementos que fazem parte de conatus próximus .

Sandro D’Amato Nogueira (2006, p. 62) citando Lúcio Ronaldo Pereira Oliveira adverte ainda para a “perigosidade vitimal” que é a etapa inicial da vitimização. É um estado psíquico e comportamental em que a vítima se coloca estimulando a sua vitimização, por exemplo, a mulher que usa roupas provocantes, estimulando a libido do estuprador, no crime de estupro.

Cita também Heber Soares Vargas (NOGUEIRA, 2006, p. 63) que define a perigosidade vitimal sendo a qualidade e quantidade de constantes estímulos agressivos que a vítima projeta objetiva e subjetivamente sobre si ou sobre outrem, favorecendo ou estimulando nesse conduta violenta, impulsiva e agressiva capaz de provocar danos e sofrimentos em si próprio.

Um dos instrumentos mais fortes que qualquer pessoa tem em suas mãos e que não tem nenhum custo é a prevenção. Sobre prevenção à vitimização Nildo Nery dos Santos (1991, p.7) esclarece que prevenir é a preparação e disposição que antecipadamente se faz para evitar que algo aconteça, e se a prevenção criminal é conhecer com antecipação a probabilidade de uma conduta criminal, dispondo de meios necessários para evitá-la, na prevenção vitimal o intento é o de evitar que ocorra a vitimização.

Em síntese conclusiva a sua obra “Prevenção à vitimização” Nildo Nery dos Santos (1991, p. 29) enfatiza que na verdade, a prevenção à vitimização depende mais de uma boa planificação sócio-econômica e política, do que de determinadas medidas específicas. Pondera ainda que o número de vitimizados cresce na proporção em

que a sociedade se torna mais desorganizada.

Outras questões são por ele elencadas de forma clara e objetiva para uma boa percepção acerca da importância da prevenção à vitimização, tais como:

Os pilares que sustentam a prevenção são os de consciência administrativas, legislativas, judicial e comunitária, os quais devem atuar harmonicamente na mesma direção em busca do bem comum, de segurança e da justiça.

A eficiência dos meios de comunicação de massa como condutores de idéias e formadores de opinião pública, deve ser direcionada à prevenção e não ser usada como estimuladora da permissividade e da violência.

Denunciar as patologias sociais é uma forma de prevenção, porém precisamos nos doar muito mais em favor daqueles que clamam por viver com dignidade, sem violência e sem opressão.

Sem equívoco a prevenção é o melhor caminho a ser seguido num cenário crescente de violência que estamos vivendo na atualidade. A educação, uma boa estrutura familiar, mudanças na política criminal, investimentos públicos levaram cada vez mais os jovens a refletirem se vale a pena ou não entrar no mundo da criminalidade, perder ou ter sua liberdade.

1.6 Classificação dos tipos de Vítimas

A classificação dos tipos de vítimas é diversa e vários autores criminólogos internacionais e nacionais pontuam conforme seus conhecimentos a sua classificação.

No tocante à Vitimologia não podemos deixar de citar a classificação dos tipos de vítimas classificadas por Hans Von Hentig e Benjamin Mendelshon os pioneiros da vitimologia no mundo.

Em suas primeiras obras, Hans Von Hentig, tenta uma classificação na qual se afasta dos critérios legais para propor cinco categorias de classes gerais e seis de tipos psicológicos . Não pretende fazer uma classificação de todas as vítimas, mas sim categorizar as mais freqüentes ou principais vitimizáveis. (NOGUEIRA, 2006, p.45):

Classes Gerais:

1.O jovem, que por sua fragilidade no reino animal e na espécie humana, é o mais propenso a sofrer um ataque;

2. A mulher, cuja fragilidade é reconhecida, até por lei;

3. O ancião, que está incapacitado de diversas formas;

4. Os débeis e doentes mentais, nos quais se situam os drogados, alcoólicos e outras vítimas potenciais por problemas mentais;

5. Os imigrantes, as minorias e os tolos (dull normals) , pois têm desvantagem frente ao resto da população.

Tipos Psicológicos:

1. O deprimido, no qual está abatido o instinto de conservação, pelo que se põe constantemente em perigo;

2. O ambicioso, cujo desejo de lucro e avareza o fazem facilmente vitimizável;

3. O lascivo, aplicado principalmente a mulheres vítimas de delitos sexuais que provocaram ou seduziram;

4. O solitário e o desiludido, que baixam sua guarda em busca de companhia e de consolo;

5. O atormentador, que martiriza os outros até provocar sua vitimização;

6. O bloqueado, o excluído e o agressivo, que por sua impossibilidade de defesa, sua marginalização, ou sua provocação, são vítimas fáceis.

Hans Von Hentig, em sua obra “El delito” procura apresentar uma nova tentativa de divisão sobre as vítimas, mas longe de ser considerada uma classificação propriamente dita. Assim, as vítimas são separadas em quatro aspectos:

Situação da Vítima:

1.1 Vítima ilhada: se afasta das relações sociais normais e se torna solitária, se priva da natural proteção da comunidade. Exemplo: O ancião, o estrangeiro, o misantropo, etc.

1.2 Vítima por proximidade: distingue entre proximidade familiar (produz carnificina, incestos e violações) e profissional (produz vítimas de roubos e de atentado ao pudor).

Impulsos e Eliminações de Inibições da Vítima:

2.1 Vítima com ambição de lucro: é aquela que por cobiça, por desejo de enriquecimento fácil, cai em mãos de espertalhões;

2.2 Vítima com ânsia de viver: é aquela que se privou das coisas que a maioria

gozou e trata de recuperar o tempo perdido, de viver aquilo que não viveu. Exemplo: busca de aventuras e perigos, paixão pelo jogo, etc.

2.3 Vítimas agressivas: são aquelas que torturaram sua família, seus amigos, sua amante ou subordinados, os que em determinado momento, e por um mecanismo de saturação, se convertem de vítimas em agentes do delito.

2.4 Vítimas sem valor: parece ser um sentimento arraigado em algumas pessoas que determinados indivíduos inúteis são vítimas de menor valor. Como exemplos, os velhos, os doentes, "os malas", os maus, os pecadores, os infiéis, etc.

Vítimas com Resistência Reduzida:

3.1 Vítima por estado emocional: a esperança, a compaixão, a devoção, o medo, o ódio, etc. São estados emocionais propícios à vitimização.

3.2 Vítimas por transições normais no curso da vida: neste caso conta em primeiro lugar a pouca idade, por ingenuidade, confiança e inexperiência. A puberdade e a idade estão em segundo lugar. Nas mulheres a gravidez e a menopausa ocupam um lugar privilegiado.

3.3 Vítima perversa: Hentig inclui aqui os que denomina de "psicopáticos". Se trata de desviados que são explorados por seus problemas.

3.4 Vítima alcoólica: a existência do alcoolismo é facilmente comprovada em boa parte das vítimas, o álcool é o primeiro dos fatores que criam vítimas.

3.5 Vítima depressiva: A preocupação e a depressão levam a buscar a autodestruição, pois o instinto de conservação "sofre ataques" e, por isso o sujeito sofre "acidentes" e se põe em situações vitimológicas.

3.6 Vítima voluntária: é aquela que permite que se cometa o ilícito, ou que ao menos não oferece nenhuma resistência. São os casos principalmente em matéria sexual.

Vítima Propensa:

4.1 Vítima indefesa: é aquela que se vê privada da ajuda do Estado, porque tem que evitar a perseguição penal. A vítima tem que tolerar a lesão, pois a perseguição judicial lhe causaria mais danos que os produzidos neste momento.

4.2 Vítima falsa: é a que se autovitimiza para obter beneficio, seja para receber um seguro, cobrir um desfalque, etc.

4.3 Vítima imune: é determinada pessoa que até o mundo criminal evita vitimizar já que se considera uma espécie de tabu. Exemplo: sacerdotes, fiscais, juízes,

policiais, jornalistas, etc.

4.4 Vítima hereditária: é um tema que apenas foi objeto de atenção (...).

4.5 Vítima reincidente: apesar de a vítima já ter sido vitimada, não toma cuidados para não voltar a sê-lo. Trata-se de sujeito com impulsos defensivos demasiadamente fracos.

4.6 Vítima que se converte em autor: parte do postulado de que existe, onde não existe, claro contraste entre autor e ofendido. É algo assim como o vencido que se passa para o lado do inimigo, pois lhe convencem de seus melhores métodos de combate.

A classificação dos tipos de vítimas segundo Benjamin Mendelsohn é calcada na relação do criminoso com a sua vítima:

1. Vítima completamente inocente ou vítima ideal: é a vítima inconsciente, que se colocaria em 0% absoluto da escala de Mendelsohn. É a que nada fez ou nada provocou para desencadear a situação criminal, pela qual se vê danificada. Ex. incêndio.

2. Vítima de culpabilidade menor ou vítima por ignorância: neste caso se dá um certo impulso involuntário ao delito. O sujeito por certo grau de culpa ou por meio de um ato pouco reflexivo causa sua própria vitimização. Ex. Mulher que provoca um aborto por meios impróprios pagando com sua vida, por sua ignorância.

3. Vítima tão culpável quanto o infrator ou vítima voluntária: aquelas que cometem suicídio jogando com a sorte. Exemplo: a) roleta russa; b) suicídio por adesão; c) a vítima que sofre de enfermidade incurável e que pede que a matem, não podendo mais suportar a dor (eutanásia); d) a companheira (o) que pactua um suicídio (incubo ou sucumbo); e) os amantes desesperados; e f) o esposo que mata a mulher doente e se suicida.

4.Vítima mais culpável que o infrator

4.1 Vítima provocadora: aquela que por sua própria conduta incita o infrator a cometer a infração. Tal incitação cria e favorece a explosão prévia à descarga que significa o crime.

4.2 Vítima por imprudência: é a que determina o acidente por falta de cuidados. Ex. quem deixa o automóvel mal fechado ou com as chaves no contato.

5. Vítima mais culpável ou unicamente culpável

5.1 Vítima infratora: cometendo uma infração o agressor vira vítima

exclusivamente culpável ou ideal, se trata do caso de legitima defesa, em que o acusado deve ser absolvido.

5.2. Vítima simuladora: o acusador que premedita e irresponsavelmente joga a culpa no acusado, recorrendo a qualquer manobra com a intenção de fazer justiça num erro.

5.3 Vítima imaginária: se trata geralmente de indivíduos com distúrbios psicopatas de caráter e conduta. É o caso do paranóico reivindicador, litigioso, interpretativo, perseguidor-perseguido, histérico, mitomaníaco, demente senil, menor púbere. Só serve para indicar um autor imaginário ante a justiça penal e temos que evitar que se cometam erros judiciais com esse tipo de atitude. (NOGUEIRA, 2006, p. 48-50).

Para efeito da aplicação da pena ao criminoso Mendelsohn conclui que as vítimas podem ser classificadas em três grandes grupos:

Primeiro grupo : vítima inocente: não há provocação nem outra forma de participação no delito, mas sim puramente vítima.

Segundo grupo : estas vítimas colaboraram com a ação nociva e existe uma culpabilidade recíproca, pela qual a pena deve ser menor para o agente do delito (vítima provocadora, vítima por imprudência, vítima voluntária, vítima por ignorância).

Terceiro grupo : nestes casos são as vítimas as que cometem por si a ação nociva e o não culpado deve ser excluído de toda pena: vítima agressora, vítima simuladora, vítima imaginariam (NOGUEIRA, 2006, p. 48-50).

Via de consequência é intuito reconhecer que as tentativas de classificação das vítimas, segundo Hans Von Hentig e Benjamin Mendelsohn contribuíram para o surgimento de novas tipologias das vítimas na visão de autores estrangeiros e nacionais.

Entre os autores estrangeiros está Luis Jimenez de Asúa que localiza as vítimas em duas categorias principais, segundo Sandro D’Amato Nogueira (2006, p. 38):

1. Vítimas Indiferentes : Ao vitimário é indiferente a vítima contra a qual exerce violência. Exemplo típico é a roubo. Ao delinquente está interessa nem o nome nem a condição da vítima, seu único interesse é apoderar-se dos valores que leva.

2. Vítimas determinadas . O vitimário dirige seus atos contra uma determinada pessoa. Exemplo, o crime passional, para o homem que mata a mulher que lhe foi infiel, para ele não dá na mesma matar a ela ou a outra; tem que ser determinadamente essa mulher.

2.1. Vítimas Resistentes . São aquelas vítimas que diante de um ataque com uma faca ou revólver, se defendem de um tal modo que podem acabar matando em legítima defesa.

2.2 Vítimas Coadjuvantes : Aqueles que "colaboram" na sua própria vitimização. Asúa cita como exemplo de coadjuvantes as vítimas de tiranicídio, os homicidas justiceiros, os homicídios passionais, ou duelos, a briga, o suicídio, os crimes sexuais, as mortes, as lesões em acidentes causados por outros e aqueles contra a propriedade, especialmente a fraude. (Grifo nosso).

Entre os autores nacionais podemos destacar a classificação de Edmundo Oliveira (apud Sandro D’Amato Nogueira, 2006, p. 37):

1. Vítima programadora . Quando ela elabora ou arquiteta o arranjo que redunda em ação criminosa, atraindo o ofensor tal qual as ovelhas atraem os lobos no campo.

2. Vítima precipitadora . Quando ela empresta sua adesão, como cooperadora ou colaboradora, contribuindo, de alguma forma, com conduta dolosa ou culposa, para o desencadeamento da ação ou omissão de ofensor, na dinâmica de execução do crime.

3. Vítima de caso fortuito . Ela sofre uma lesão ou um dano ditado pela fatalidade de um acaso. O acontecimento fortuito vai além das cautelas humanas das possibilidades normais da previsão (antever claramente um fato), bem como da própria previsibilidade (capacidade ou aptidão para antever um fato).

3. Vítima de força maior . Ela padece das consequencias de uma pressão superior dos limites da vontade e do comportamento sugeridos pela razão humana.

É reconhecidamente pela força da Criminologia, que a Vitimologia vem ganhando um espaço merecido no Direito Penal Brasileiro. A vítima passa de esquecida para ganhar um espaço garantido em alguns institutos legais.

Esclarece Heitor Piedade Júnior (1993, p. 106) que:

No estudo da tipologia da vítima, talvez o maior mérito tenha sido a descoberta de que a vítima de crime nem sempre é aquela pessoa inofensiva, passiva, inocente. Ao contrário, a Vitimologia tornou evidente que a vítima pode ter exercido uma cooperação relevante, acidental, negligente ou dolosa na conduta do agente.

O próximo capítulo apresenta uma breve explanação acerca do papel da vítima em alguns dos mais relevantes dispositivos em que a vítima é inserida juridicamente, seja ela de maneira a favorecer o criminoso, como também em seu benefício

próprio.

2. O PAPEL DA VÍTIMA

O que pretendemos abordar neste capítulo são as diferentes colocações dadas à vítima criminal. Em linhas gerais, a vítima em alguns dispositivos ocupa posições adversas dando margem a grandes questionamentos.

Há sem dúvida, ponderáveis argumentos em favor dos que entendem que a vítima deveria ter um tratamento congruente ao que é proporcionado ao criminoso.

Destarte, as leis inominadas são instituídas com a finalidade de preencher as lacunas que claramente os códigos deixaram de incluir ou por omissão ou também pela antiguidade da lei. Sabemos que com a crescente evolução humana e cultural, a sociedade mostra-se carente de novas normas, que de alguma forma assegurem os seus direitos.

2.1 Na Constituição da República Federativa do Brasil

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, no Título IX das Disposições Constitucionais Gerais em seu art. 245 contempla a assistência à vítima pelo Poder Estatal, apenas em situações que envolvem indivíduo com poder aquisitivo baixo, quando o fato é concretizado por crime doloso.

Alexandre de Moraes (2007, p. 2272) entende que este artigo da Constituição Federal apresenta má técnica redacional, porque versa sobre norma constitucional de eficácia limitada, ou seja, este dispositivo não presume nenhum direito à vítima e sim exclusivamente a seus herdeiros e dependentes carentes.

De acordo com esse enfoque, Lélio Braga Calhau (2003, p.54) acrescenta que o art. 245 da CF/88 ainda não foi regulamentado. Para ele, quando isso acontecer, seria de bom senso a inclusão das vítimas de crimes culposos.

Para Antonio Gargía-Pablos de Molina e Luiz Flávio Gomes (2008, p. 523) há no art. 245 da CF a previsão de uma reparação a ser feita pelo erário público, mas continua na dependência de uma lei futura, que venha suprir a omissão legislativa. Neste momento, só resta pensar na remota (e discutível) via de mandado de injunção (4) para fazer daquele dispositivo uma realidade.

Segundo Lélio Braga Calhau (2000, p. 235) em artigo publicado na Revista Brasileira de Ciências Criminais “Podemos comprovar a situação de desprestígio da vítima, visto enquanto cidadã, numa interpretação sistemática da Constituição Federal, pois se sobre o acusado temos várias referências a direitos e garantias fundamentais (art. 5º, CF/88), por outro lado, não encontramos proteções à vítima nesse terreno”.

Ao analisar o referido art. 245 da CF/88, Lélio Braga Calhau conclui que:

A norma programática acima (de aplicação futura duvidosa) traz seria injustiça por não proteger as vítimas de crimes culposos, deixando-as amparada pelo Poder Público. A fim de se coibir tal injustiça material, mister se inclua na proteção das vítimas, também aquelas vítimas de crimes culposos nas mesmas condições acima referidas. Enfim, não existe cidadania se não se proporciona à vítima o mesmo tratamento assistencial que o Estado recebe quando da prática de um crime, pois a vítima como cidadã, é o elemento estrutural do Estado Democrático de Direito (CALHAU, 2000, p. 235).

2.2 No Código Penal Brasileiro

O Código Penal Brasileiro foi instituído pelo Decreto-Lei no 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Com quase 69 anos de existência percebemos notoriamente que as vítimas da nossa sociedade necessitam de mais proteção e ação do Poder Público.

A vítima só é lembrada após a reforma de 1984, no art. 59 do “Código Penal Brasileiro” quando o magistrado vai aplicar a pena-base para o criminoso. Neste sentido, a vítima contribuiu para a ocorrência do fato delituoso, e também nos arts. 61, II, c; 65, III, c e 121,§1º (5), todos do Código Penal.

Reza o art. 59 do Código Penal que o magistrado examinará a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social, a personalidade do agente, os motivos, as circunstâncias e consequências do delito e o comportamento da vítima.

Edmundo de Oliveira in Lélio Braga Calhau (2003, p.64) esclarece que no Direito Penal brasileiro a vítima de maneira alguma recebe uma punição pelo juiz criminal, mas assevera que o seu comportamento pode influir na aferição da responsabilidade penal do réu e na referida penalidade.

Guilherme de Souza Nucci (2009, p. 401) no Código Penal Comentado afirma que o comportamento da vítima é a modo de agir da vítima que pode levar ao crime. Pondera ainda que:

Investigar o comportamento da vítima para buscar uma co-responsabilidade pode também trazer alguns efeitos negativos que, no extremo, causaria uma absurda inversão de papéis. A ausência de questionamento acerca do comportamento da vítima pode representar, para o autor, a mesma sobrecarga que sua instauração pode ocasionar para a vítima.

Nas pertinentes palavras de Paulo José da Costa Júnior (2002, p. 202) em seus comentários ao Código Penal, relembra que:

O Código, na sua redação anterior, só se referia em sua Parte Especial, de

maneira indireta e isolada, ao comportamento da vítima, como quando esta provocava injustamente o homicida (art.121,§1º), ou o agressor (art. 129,§, 4º); ou mesmo quando o ofendido, de forma reprovável, provoca a injúria (art. 140,§1º, I). O Código atual inovou nesse ponto ao emprestar especial relevo ao comportamento desempenhado pela vítima, antes ou durante o fato punível.

Importante atentar para o fato de que o legislador penal de 1984 decidiu arrolar, de maneira específica, no rol das circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal que irão implicar na dosimetria da pena, o referido comportamento ostentado pela vítima. Com isso podemos verificar que o dispositivo legal em tela, passou a consagrar com mais valor no que pertine ao binômio delinquente e vítima.

Segundo a lição de Celso Delmanto (2007, p.195), o comportamento da vítima “em sede de homicídio culposo (6) decorrente de acidente de trânsito, se o comportamento da vítima contribuiu para a ocorrência do infausto, associado à primariedade e aos bons antecedentes do acusado, nada justifica a fixação da pena-base acima do mínimo legal e a imposição de regime semi-aberto, fazendo jus á redução da pena e ao regime aberto. (TJP, Ap. 97.237/2, RT 824/657).

Para Sandro D’Amato Nogueira (2006, p. 69) em sua obra intitulada “Vitimologia”, acerca da Exposição de Motivos do art. 59 do CP, diz que houve uma preocupação com o papel da vítima no que concerne à aplicação da pena:

50. As diretrizes para fixação da pena estão relacionadas no art. 59, segundo o critério da legislação em vigor, tecnicamente aprimorado e necessariamente adaptado ao novo elenco de penas. Preferiu o Projeto a expressão “culpabilidade” em lugar de “intensidade do dolo ou grau de culpa”, visto que graduável é a censura, cujo índice, maior ou menor, incide na quantidade da pena. Fez-se referência expressa ao comportamento da vítima, erigido, muitas vezes, em fator criminógeno, por constituir-se em provocação ou estímulo à conduta criminosa, como, entre outras modalidades, o pouco recato da vítima nos crimes contra os costumes [...].

Arrematando, vale lembrar ademais, que o consentimento da vítima (ofendido) deve ser investigado, pois dependendo do comportamento do ofendido, a conduta do sujeito ativo pode proceder em atípica e anti-jurídica.

Nesse particular, merece referência um novo entendimento doutrinário de Oswaldo Henrique Duek Marques in Sandro D’Amato Nogueira (2006, p. 71) que diz:

O comportamento da vítima não deveria ser considerado como circunstância judicial na individualização da pena do infrator, se tal comportamento não chega a ofender ou a pôr em perigo bens jurídicos de terceiros, permanecendo dentro da esfera de liberdade conferida constitucionalmente às pessoas, sob pena de ofensa aos Direitos e Garantias Fundamentais. A análise do comportamento da vítima, nos crimes contra ela cometidos, deve ser levada em conta exclusivamente para

serem estabelecidas medidas de prevenção da criminalidade e de assistência às vítimas. Isto porque em inúmeras situações da vida social a vítima pode revelar um maior grau de vulnerabilidade do que outras pessoas, seja do ponto de vista intelectual ou psíquico, seja quanto ao seu aspecto comportamental (psíquico, intelectual, comportamental etc.). Essa vulnerabilidade pode facilitar ou estimular a conduta delituosa, mas como já comentado, não deve influir na responsabilidade individual do infrator (Grifo nosso).

O cenário concernente a interpretação dos dispositivos existentes no Código Penal referentes ao comportamento da vítima, nos levam a crer que a posição ocupada pela vítima é desconfortável, pois ela passa a ser vista como uma grande vilã que contribuiu para o acontecimento de um ilícito penal. Não há dúvida de que, por ora, isso influenciará de forma benéfica a aplicação da pena que o criminoso receberá. É nítida a omissão da assistência a vítima no diploma legal, pouco importando a situação de fato e valendo apenas para a dosimetria penal.

2.3 No Código de Processo Penal Brasileiro

Na esfera processual penal, a vítima não aparece em nenhum momento, como parte importante do processo. Mas, alguns dispositivos não podem deixar de ser comentados sob o aspecto da vítima na fase processual, ou seja, do ofendido (7).

Fernando Capez (2008, p.188) preleciona em consonância com o art. 30 do CPP e do art. 100 do CP, que “a lei processual penal confere ao ofendido , ou ao seu representante legal, ou então aos seus sucessores, o direito de acusar, na qualidade de substituto processual do Estado, representado pelo Ministério Público, outorgando-lhe a legitimidade ativa da ação penal”.

Em outras palavras, podemos dizer que o assistente da acusação é a própria vítima de fato.

É mister fazer referência ao art. 91,inciso I, do Código Penal (8) que compõe um dos efeitos da sentença penal condenatória virar certa a obrigação de recompensar o dano motivado pelo delito. Neste mesmo sentido, o Código de Processo Penal em seu art. 63 reza que: “Transitada em julgado a sentença condenatória poderão promover-lhe a execução, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido , seu representante legal ou seus herdeiros”.

Impende afirmar, de qualquer sorte, que o papel do assistente não é meramente o de auxiliar a acusação, e sim, a de buscar proteger seu interesse na reparação do dano ex delicto , ou seja, é o dano causado por uma transgressão penal que possibilita o pedido de indenização ou reparação no âmbito cível.

Importa observar, por oportuno, conforme Fernando da Costa Tourinho Filho (2008, p. 379) que a interferência do assistente só é possível em ação penal pública. Na ação privada, o ofendido figura como parte necessária, e, assim, não é

possível sua intervenção como assistente em tal caso. Inconcebível poder ele ser assistente de si próprio.

Esclarece ainda que:

Hoje, as contravenções, integrando o rol das infrações de menor potencial ofensivo, subordinam-se às regras do Juizado Especial Criminal. Assim, na fase preliminar da transação, não haverá assistente. Contudo, se for instaurado o procedimento sumaríssimo, nada impede sua intervenção, a teor do art. 268 do CPP (TOURINHO FILHO, 2008, p. 379).

Preceitua o art. 268 do CPP que: “em todos os termos da ação pública, poderá intervir, como assistente do Ministério Público, o ofendido ou seu representante legal, ou, na falta, qualquer das pessoas mencionadas no Art. 31 (9)”, ou seja, admite a intervenção do assistente desde o recebimento da denúncia, até a sentença não transitar em julgado, o ofendido ou o seu representante legal se habilitar no processo como assistente.

Na definição de Guilherme de Souza Nucci no Manual de Processo Penal e Execução Penal (2008, p.560):

O assistente de acusação é a posição ocupada pelo ofendido, quando ingressa no feito, atuando, ao lado do Ministério Público, no pólo ativo. Trata-se de sujeito e parte secundária na relação processual. Não intervém obrigatoriamente, mas, fazendo-o, exerce nitidamente o direito de agir, manifestando pretensão contraposta à do acusado.

Frente ao que se expôs apoiado na lição didática de Guilherme de Souza Nucci (2008, p. 564), em obra consagrada ao tema, percebe-se a importância de enumerar as atividades processuais do assistente, uma vez habilitado no processo e dependendo da fase processual em que ocorrer sua intervenção, tais como:

1) Propor meios de provas; (por exemplo: exames periciais, busca e apreensão, acareações, reconhecimentos, juntada de documentos etc.), sendo que, antes de decidir sobre a realização das provas requeridas pelo assistente deverá o Juiz ouvir o Ministério Público, segundo preceitua o § 1º do art. 271 do CPP:

Art. 271 - Ao assistente será permitido propor meios de prova, requerer perguntas às testemunhas, aditar o libelo (peça não mais existente) e os articulados, participar do debate oral e arrazoar os recursos interpostos pelo Ministério Público, ou por ele próprio, nos casos dos arts. 584, § 1º, e 598.

§ 1º - O juiz, ouvido o Ministério Público, decidirá acerca da realização das provas propostas pelo assistente.

§ 2º - O processo prosseguirá independentemente de nova intimação do

assistente, quando este, intimado, deixar de comparecer a qualquer dos atos da instrução ou do julgamento, sem motivo de força maior devidamente comprovado.

2) Requerer perguntas às testemunhas, tem o assistente o direito de propor perguntas não somente às testemunhas, mas também às pessoas que forem ouvidas como simples declarantes;

3) Aditar o libelo (10)-crime acusatório e os articulados. O aditamento ao libelo, peça não mais existente, pouco lhe resta a fazer, a não ser, por exemplo, apresentar outras testemunhas para serem ouvidas em plenário, caso o ministério Público não tenha esgotado o número legal, que é de cinco (art. 422 do CPP):

Art. 422. Ao receber os autos, o presidente do Tribunal do Júri determinará a intimação do órgão do Ministério Público ou do querelante, no caso de queixa, e do defensor, para, no prazo de 5 (cinco) dias, apresentarem rol de testemunhas que irão depor em plenário, até o máximo de 5 (cinco), oportunidade em que poderão juntar documentos e requerer diligência.

O aditamento de articulado não tem aplicação, pois esta forma processual, na realidade, e a peça denominada alegações finais, que o assistente de acusação apresenta individualmente e não em complementação à do Ministério Público.

Não podemos deixar de lembrar que o “libelo” foi suprimido pela Lei nº 11.689/2008.

4) Participar do debate oral. O direito de debater oralmente ocorre nos procedimentos ordinário, sumário e sumaríssimo”. Já no que se refere ao Tribunal do Júri, o tempo deve ser racionado com o promotor. “...Caso haja divergência quanto a isso, quem deve decidir é o juiz presidente, mas sem retirar a possibilidade do assistente manifestar-se”.

5) Arrazoar os recursos interpostos pelo Ministério Público, ou por ele próprio, conforme o caso. Alem do direito de arrazoar os recursos, pode o assistente de acusação apresentar os seus diretamente, nas seguintes hipóteses:

a) decisão de impronúncia – art. 584, § 1º, atualmente, impugnada por apelação; b) julgamento de extinção da punibilidade – art. 584, § 1º; c) sentença absolutória – art. 598; d) sentença condenatória visando ao aumento de pena. Lembra Nucci que em decorrência lógica da possibilidade de interpor alguns recursos, é possível, ainda, conferir-se ao assistente legitimidade para ingressas com carta testemunhável, embargos de declaração e recursos especial e extraordinário.

As súmulas do Supremo Tribunal Federal trazem referências ao tema em questão, tais como:

*STF Súmula nº 208 - 13/12/1963 - Súmula da Jurisprudência Predominante do

Supremo Tribunal Federal - Anexo ao Regimento Interno. Edição: Imprensa Nacional, 1964, p. 103 . Assistente do Ministério Público - Recurso Extraordinário - Decisão Concessiva de Habeas-Corpus. O assistente do Ministério Público não pode recorrer, extraordinariamente, de decisão concessiva de habeas-corpus

* STF Súmula nº 210 - 13/12/1963 - Súmula da Jurisprudência Predominante do Supremo Tribunal Federal - Anexo ao Regimento Interno. Edição: Imprensa Nacional, 1964, p. 104. Assistente do Ministério Público - Recursos em Apelação e Recurso em SentidoEstrito. O assistente do Ministério Público pode recorrer, inclusiveextraordinariamente, na ação penal, nos casos dos arts. 584 parágrafo1º e 598 do Código de Processo Penal (Cf. BRASIL).

Em síntese conclusiva, Guilherme de Souza Nucci (2008, p. 565) diz que:

Uma vez admitido no processo, deve o assistente, através do seu advogado, ser intimado para todos os atos que devam se realizar no feito, como é o caso das audiências de instrução. Entretanto, se deixar de comparecer a qualquer um deles, para os quais tenha sido regulamente cientificado, sem fornecer a devida justificativa, não será mais intimado. Sua função de auxiliar da acusação não é indispensável, sendo razoável que ele zele pela sua participação, não abandonando a causa sem justa razão. Se o fizer, não é desabilitado, mas não será mais intimado de acordo com o art. 271, § 2º do CPP.

Vicente Greco Filho (2009, p. 241), por sua vez, faz digressão expondo que o fundamento da possibilidade de intervenção do ofendido, é o seu interesse na reparação civil, mas o assistente atua também em colaboração com a acusação pública, no sentido da aplicação da lei penal. Segundo ele, o “ofendido tem sentido técnico penal; é o sujeito passivo da infração”.

Acresça-se que o ofendido pelo crime, sujeito passivo da relação jurídico-penal, normalmente não integra a relação jurídico-processual penal, salvo nas ações penais de iniciativa privada quando poderá, em nome próprio, interpor a ação penal, oferecendo uma queixa-crime (MOREIRA, 2004).

Adverte ainda que:

Na verdade, é fato inconteste que a vítima não ocupa na ciência criminal um papel de relevo, ao contrário do que ocorreu no início da civilização quando "teve relevante papel na punição dos autores de crimes". García-Pablos, por exemplo, informa que "o abandono da vítima do delito é um fato incontestável que se manifesta em todos os âmbitos (...). O Direito Penal contemporâneo – advertem diversos autores – acha-se unilateralmente voltado para a pessoa do infrator, relegando a vítima a uma posição marginal, ao âmbito da previsão social e do Direito Civil material e processual (MOREIRA, 2004).

Comenta, portanto, que a própria legislação processual penal relega a vítima a um plano menos importante, de modo inclusivo pela "falta de referência de disposições expressas no referidos ordenamentos, que postergam medidas para salvaguardar os valores afrontados. Para ele, de toda forma, ainda há um grande caminho a percorrer quando se trata de se estabelecer exatamente o papel da vítima no processo penal.

2.4 Na Lei 9.099/95: Juizados Especiais Cíveis e Criminais

A Lei 9.099 dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais (JECrim), de 1995 é aplicada para os crimes de menor potencial ofensivo. É de se registrar que a referida lei no Brasil tem um caráter peculiar de um novo modelo de justiça consensual.

O Capítulo II é reservado especialmente para os Juizados Especiais Criminais com dispositivo referente à competência e aos atos processuais; da fase preliminar; do procedimento sumaríssimo; da execução; das despesas processuais e das disposições finais.

Para Lélio Braga Calhau (2003, p. 71) no procedimento do JECrim, a vítima tem papel preponderante e gira em torno de si a perspectiva de solução do conflito, assim, segundo ele, a lei valorizou a participação da figura da vítima no processo penal, permitindo que o juiz criminal, na audiência preliminar, provoque a conciliação das partes em relação aos danos causados pela infração de menor potencial ofensivo, atribuindo efeito de título executivo à sentença que homologa a composição dos envolvidos e possibilitando que seja arrazoado no Juízo Cível.

Conforme o entendimento de Fernando Capez (2007, p. 534), a lei dos juizados especiais criminais deu uma nova roupagem a figura da vítima, que estava esquecida, saindo assim do desprezo a que estava relegada e, com isso, retornando ao centro das discussões criminológicas. Portanto, uma nova jurisdição que insere a vítima como prioridade. Finalmente, a vítima deixa de ser apenas uma colaboradora da Justiça, a princípio, sempre relegada a segundo plano, para assumir o papel de ator principal.

Pode-se aventar que o objetivo principal da Lei 9.099/95, nos fatos criminosos, habita na busca da reparação dos danos à vítima.

De grande importância é perceber os principais avanços que a Lei 9.099/95 trouxe para o direito criminal brasileiro na análise de Mario Bezerra da Silva (SILVA, 2007): a concepção do delito como um fato histórico, interpessoal, comunitário e social; a transformação da vítima em sujeito de direitos ; o fim da despersonalização do conflito; a ponderação das várias expectativas geradas pelo crime; a comunicabilidade, possibilidade do diálogo entre infrator e vítima; a resolutibilidade, que a decisão adotada pelo juiz criminal resolva o conflito, é dizer, permita a reparação do dano; a vítima passa a ser comunicada de todo o

andamento do feito e de seus direitos; evita-se a vulgarização da pena de prisão (última ratio) desmistificando-se; a pretensão punitiva, na linha da “força do Direito”.

Dessa maneira, com parâmetros constitucionais, a Lei do JECrim adéqua-se com muita primazia aos anseios e as cobranças da moderna Vitimologia. Sabemos também que com o passar do tempo a lei precisará de certos ajustes para se adequar as mudanças contínuas que a sociedade vem sofrendo.

Lélio Braga Calhau (2002, p. 72), comenta Hulsman, e destaca que as pessoas que comparecem ao serviço de atendimento a vítima e testemunhas num Tribunal de Paris, criado desde 1980, tem como objetivo falar do prejuízo sofrido, simplesmente com a esperança de fazer cessar a situação que as incomoda e recuperar seu dinheiro, se for o caso. Então, o que essas vítimas querem é obter reparação e reencontrar a paz.

Não há dúvida de que atualmente existe uma maior atenção voltada para beneficiar a vítima na demanda criminal.

Observe-se, porém, que a reparação de danos está na base legal do modelo consensual de Justiça Criminal. (...) Logo, é inteiramente conveniente a presença da vítima para que se possa tentar uma conciliação, inclusive no que se relaciona com a reparação de danos. Sendo possível o acordo, tudo fica resolvido. Não sendo possível, remete-se o assunto para a via civil. (NOGUEIRA, 2006, p. 66).

Vladimir Brega Filho (BREGA FILHO, 2004) a respeito da Lei 9.099/95 trás comentários de natureza negativa enfatizando que:

Embora os progressos trazidos pela lei 9.099/95, no tocante à reparação do dano, sejam elogiáveis, não podemos deixar de destacar alguns pontos relativos à vitimologia que devem ser corrigidos. O primeiro e mais importante deles é o do momento da representação nos crimes de ação penal pública, condicionada à representação. Segundo a lei, a representação deve ser feita em audiência preliminar, na presença do autor do fato. Isso faz com que a vítima, já perturbada com o delito, sinta-se ainda mais constrangida. A não representação é muitas vezes fruto deste constrangimento. Imagine-se alguém que tenha sido ameaçado de morte e que tenha de representar contra o autor da ameaça na frente do juiz. Se existia alguma inimizade, isto somente iria exacerbá-la. Acreditamos que essa situação deve ser corrigida pela legislação ou mesmo pelo Juiz. Não obtida a composição civil, o juiz deve ouvir a vítima sem a presença do autor. Não há razão alguma para que o autor presencie o momento da representação, devendo ele ser trazido novamente à audiência quando da transação penal, ato que é personalíssimo e exige a sua presença.

Na interpretação de García-Plabos de Molina e Luiz Flávio Gomes (2008, p. 533) a Lei 9.099/95 sob o influxo das reivindicações da Criminologia e principalmente da

Vitimologia, veio promover uma mudança radical na clássica mentalidade exclusivamente repressiva, assim o novo sistema já não tem a preocupação de atender a vontade punitiva do Estado. Em primeiro lugar está o atendimento preferencial da expectativa da vítima e depois em segundo plano, a aplicação de uma pena não privativa de liberdade.

2.5 Na Lei 9.807/99: Da Proteção Especial a Vítimas e a Testemunhas

A Lei 9.807 de 13 de julho de 1999, composta por vinte e um artigos, tem como objetivo principal dar mais proteção e amparo aquelas pessoas que são vítimas dos mais diferentes crimes. Uma nova conquista no âmbito jurídico acerca da assistência às vítimas criminais.

Promulgada especialmente para suprir algumas omissões do Código Penal e Processual, e a Constituição Federal de 1988, determina algumas importantes medidas acerca da proteção as vítimas e testemunhas.

Em seu texto redacional, a Lei 9.807/99 estabelece normas para a organização e a manutenção de programas especiais de proteção a vítimas e a testemunhas ameaçadas. Institui o Programa Federal de Assistência a Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas e dispõe sobre a proteção de acusados ou condenados que tenham voluntariamente prestado efetiva colaboração à investigação policial e ao processo criminal. (Grifo nosso).

Bruno Cezar da Luz Pontes (PONTES, 1999) tece alguns comentários pertinentes, a respeito da Lei 9.807/99:

A proteção a vítimas e testemunhas é algo de fundamental importância para o desenvolvimento das investigações policiais, para a instrução processual e para a diminuição da impunidade. [...] Também estabelece medidas efetivas para que a testemunha e a vítima possam passar ilesas por toda a investigação, inclusive podendo mudar o nome completo do próprio protegido como de toda a sua família. Houve até mesmo a preocupação em proteger o participante do crime investigado, tudo na intenção de preservar o que for importante para a descoberta da verdade real, identificando os criminosos, recuperando o produto do crime e, precipuamente, localizando uma possível vítima que esteja com sua integridade física ameaçada, na maioria absoluta das vezes quando se tratar de crimes permanentes. (Grifo nosso).

Nessa linha de pensamento, é possível apresentar considerações importantes de alguns artigos da Lei 9.087/99 feitas por Guilherme de Souza Nucci (2008, pags.1017 a 1023) em sua obra “Leis penais e processuais penais comentadas”:

1. No art. 1º da Lei 9.807/99, o conceito de vítima refere-se ao sujeito passivo do crime, ou seja, a pessoa que teve o interesse ou bem jurídico protegido diretamente violado pela prática da infração penal. Denomina-se, também,

ofendido. Deve ser ouvido, sempre que possível, durante a instrução, a fim de colaborar com a apuração da verdade real, valendo a oportunidade, inclusive, para indicar provas e mencionar quem presuma ser o autor do delito.

2. No art. 2º, para ele é razoável que o Estado leve em consideração, para o fornecimento da proteção, a relevância das declarações da vítima ou de qualquer testemunha para a produção da prova no processo criminal. Pessoas arroladas para depor sobre fatos desinteressantes ou menos importante para a busca da verdade real não precisam, na realidade, de proteção estatal. Se porventura, sofrerem algum tipo de coação ou ameaça, é preferível que sejam dispensadas de depor em lugar de se movimentar a máquina estatal para lhes garantir proteção.

3. Já no art. 3º, enfatiza ser incompreensível que somente o Ministério Público seja consultado sobre a viabilidade de inclusão da vítima ou da testemunha no programa de proteção, analisando a gravidade da coação ou da ameaça, bem como a dificuldade de preveni-las ou reprimi-las e, ainda, a sua importância para a produção da prova. Segundo ele, a autoridade policial e o juiz do processo poderiam e deveriam ser consultados, antes da admissão, pois a busca da verdade real não é atribuição exclusiva do órgão acusatório oficial.

4. O art.11 da Lei diz que a proteção oferecida pelo programa terá um prazo de duração máximo de 2 (dois) anos. Nucci entende que um programa sério de proteção a testemunha e a vítima não pode ter teto para expirar. Tudo está a depender da ameaça sofrida e do grau de sua duração, que pode ser imponderável. Logo, inexiste razão lógica para o disposto neste artigo.

Karina Gomes Cherubini (CHERUBINI, 2009) comenta que “A cada dia, com o aumento da criminalidade, a legislação processual penal procura dar proteção às vitimas e testemunhas. Instrumentos normativos foram criados com esta finalidade, em especial, a Lei 9.807/99”. Portanto, para ela os Programas de governo são implementados para dar exequibilidade a essa lei.

Surge logo depois da Lei 9.807/99, o Decreto 3.518, de 20 de junho de 2000, composto de 23 artigos, que veio para regulamentar o Programa de Assistência a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas, estabelecido através do art. 12 (11) da Lei em tela.

O art. 1º do Decreto diz que o Programa Federal de Assistência a Vítimas e as Testemunhas Ameaçadas refere-se ao conjunto de medidas adotadas pela União, com a finalidade de oferecer proteção e assistência a pessoas ameaçadas ou coagidas, em virtude de contribuir com a investigação ou o processo criminal.

No que tange as medidas do referido “Programa”, o objetivo principal é garantir a integridade física e psicológica das pessoas que são beneficiadas, estimando a segurança e o bem-estar conforme reza o parágrafo único do art. 1º e seus incisos: I - segurança nos deslocamentos; II - transferência de residência ou

acomodação provisória em local sigiloso, compatível com a proteção; III -preservação da identidade, imagens e dados pessoais; IV - ajuda financeira mensal; V - suspensão temporária das atividades funcionais; VI - assistência social, médica e psicológica; VII - apoio para o cumprimento de obrigações civis e administrativas que exijam comparecimento pessoal; e VIII - alteração de nome completo, em casos excepcionais.

No art. 3º temos a garantia do ingresso no Programa daquelas pessoas que de alguma forma cooperarem com a produção da prova, ressaltando a importância do cumprimento e da aceitação das regras de condutas estabelecidas, através do termo de compromisso, que é consolidado no ato de sua admissão.

Mas adiante, o art. 9º conceitua:

A Rede Voluntária de Proteção é o conjunto de associações civis, entidades e demais organizações não-governamentais que se dispõem a receber, sem auferir lucros ou benefícios, os admitidos no Programa, proporcionando-lhes moradia e oportunidades de inserção social em local.

Outra questão importante é acerca do capítulo III, que envolve o sigilo e a segurança da proteção. Pois bem, com o fito de preservar “O Conselho, o Órgão Executor, o Serviço de Proteção e demais órgãos e entidades envolvidos nas atividades de assistência e proteção aos admitidos no Programa devem agir de modo a preservar a segurança e a privacidade dos indivíduos protegidos”. (art.15)

Ainda a respeito deste capítulo, o art. 16, do Decreto diz que “Os deslocamentos de pessoas protegidas para o cumprimento de atos decorrentes da investigação ou do processo criminal, assim como, para compromissos que impliquem exposição pública, são precedidos das providências necessárias à proteção, incluindo, conforme o caso, escolta policial, uso de colete à prova de balas, disfarces e outros artifícios capazes de dificultar sua identificação.

Impende observar que o Decreto permite a pessoa protegida pelo “Programa” sentir segurança e mais proteção diante do medo que paira sobre a sua vida até a resolução do fato.

2.6 No Código de Trânsito Brasileiro - CTB

Conforme vem sendo exposto, na necessária e tão importante perspectiva vitimológica, mais uma lei especial foi criada para beneficiar a vítima, ou seja, uma lei preocupada com a situação da vítima. A Lei 9.503 de 23 de setembro de 1997 do Código de Trânsito Brasileiro.

Segundo Lélio Braga Calhau (2003, p. 76):

A vitimização no trânsito no Brasil é de extrema gravidade. Mais de cinquenta mil

pessoas morrem por ano em acidentes de trânsito no Brasil e, nem o Poder Público investe suficientemente em campanhas educativas, e nem a sociedade civil se toca da tragédia que abala os lares de todo os brasileiros. Todos nós, sem exceção, somos vítimas virtuais da baderna que é o transito no Brasil. O trânsito é um dos bastiões da impunidade e cada vez mais pessoas são vitimizadas, famílias inteiras são assassinadas por irresponsáveis nas estradas, sendo que a resposta estatal (penal e administrativa) é vergonhosa, as vítimas são deixadas muitas vezes em situação de total desamparo pelo Poder Público (quando sobrevivem) e os investimentos por parte do Poder Público para reduzirmos essa vitimização a níveis civilizados são irrisórios.

De logo, é possível afirmar, que a sociedade brasileira não aguenta mais ver os responsáveis por tantas tragédias anunciadas nas estradas bem como a falta de investimento do Poder Público em políticas sociais e fiscalização contínua para dar mais efetividade às leis especiais e punir com mais rigor aqueles que não acreditam nas aplicações das legislações brasileiras.

Para alguns estudiosos do Código Brasileiro de Trânsito, a inclusão da multa reparatória para a vítima criminal gera ainda muita discussão.

Lélio Braga Calhau (2003, p. 76 em nota de rodapé) cita Rogério Felipeto que enfatiza:

A multa reparatória como inovação que é, vem recebendo as mais diversas críticas. Ao seu ver, podem elas ser reputadas à nova percepção que o legislador passou a ter da vítima, que é estranha a nossa tradição protecionista e garantista do acusado, comum a nosso sistema jurídico. Com efeito, a sistemática toda coloca-se no sentido de proteger o indivíduo (acusado) de uma sanha punidora do Estado, que nem sempre corresponde à realidade.

Para Cezar Roberto Bittencourt (Apud Lélio Braga Calhau, 2003, p 77):

Tem predominado o entendimento de que o dano sofrido pela vítima do crime não deve ser punido, mas reparado pelo agente. Enfim, os argumentos são os mais variados, mas acabam todos produzindo sempre uma mesma e injusta conseqüência: o esquecimento da vítima do delito, que fica desprotegida pelo ordenamento jurídico e abandonada por todos os organismos sociais que, de regra, preocupam-se somente com o agente, e não com a vítima.

No que pertine ao entendimento jurisprudencial sobre o instituto da multa reparatória Lélio Braga Calhau (2003, p. 79-80) cita duas decisões:

1. Resta a prestação pecuniária imposta em favor da família da vítima, contra a qual se insurge. Cem salários mínimos, convenha-se, não se afigura quantia excessiva; a vida da vítima valia muito mais, certamente. E aqui está a se tratar de pena, solvendo a importância estipulada, não faz o réu favor algum a ninguém

(TACRIM -SP – AC 1211661/1 – Relator Luiz Ambra).

2. Nos crimes de trânsito, se dos autos não há prova do prejuízo material resultante do delito, inadmissível se torna a incidência da multa reparatória prevista no artigo 297, § 1o, da Lei 9.503/97 (Ap. 1.172/697/1 – 5ª Câmara – J. 10.05.00 – Relator Paulo Vitor – RT 783/634)

Assim conclui o doutrinador que:

O instituto é polêmico e causa uma certa adversidade entre os doutrinadores, mas superada essa dificuldade inicial de torná-lo efetivo e comum no dia forense, com certeza demonstrar-se-á que é um dos melhores instrumentos de assistência ao grupo de vitimizados que são os decorrentes de crimes de trânsito (CALHAU, 2003, p. 80).

De acordo com o art. 297 do Código de Trânsito Brasileiro, o legislador foi feliz ao incluiu a imposição de multa reparatória como reza o art. supracitado: “A penalidade de multa reparatória consiste no pagamento, mediante depósito judicial em favor da vítima, ou seus sucessores, de quantia calculada com base no disposto no § 1º do art. 49 (12) do Código Penal, sempre que houver prejuízo material resultante do crime”.

Equivale a dizer: com fundamento nesta norma, o magistrado pode aplicar uma pena de pagamento de “multa reparatória” ao acusado, salientando que é necessário haver um dano material à vítima.

Sobre dano material ou prejuízo material, Guilherme de Souza Nucci (2008, p. 1105) lembra que:

A lei é clara ao exigir apenas a indenização ao dano material, excluindo-se do processo-crime a discussão sobre eventual dano moral. O ideal é que durante o tramite da instrução criminal, o magistrado permita (e até determine) a produção de prova do quantum relativo ao dano material sofrido pelo ofendido. O réu terá condições de se defender não somente a respeito da materialidade e da autoria do delito de transito como também o valor reparatório a pagar.

Registre-se, oportunamente, que a multa reparatória é direcionada exclusivamente para a vítima do delito, tendo o referido artigo proporcionado a vítima do crime de trânsito o ressarcimento dos prejuízos que lhes foram causados, evitando assim, o ingresso de uma ação exaustiva no Poder Judiciário.

O fato de o art. 297 falar em “penalidade de multa reparatória” tem levado parte da doutrina a interpretar o novo instituto como pena. Nesse caso, a multa jamais poderia ser imposta, dado que nenhum dos crimes de trânsito a prevê, especificamente, em seus respectivos tipos incriminadores. Assim de acordo com o princípio da reserva legal, revisto no art. 5º, XXXIX, da Constituição Federal, não

cominada no preceito secundário do tipo, a pena não poderá ser imposta (CAPEZ, 2008 in Damásio de Jesus).

Nesse ambiente, inclusive, vale a referência segundo Guilherme de Souza Nucci (2008, p. 1105) sobre a discussão acerca da constitucionalidade ou não da referida multa reparatória (pela inconstitucionalidade) bem como a sua natureza jurídica, se penal ou cível. Para ele, nenhuma ofensa existe ao devido processo legal e seus corolários.

Outros argumentos que vicejam em favor desse instituto apresentam diferentes fatos, como perfaz Jorge Henrique Schaefer Martins (1998, p.19):

Possível a constatação de que referida espécie de pena, foi idealizada com o intuito de se resolver duas questões de uma só vez, o que já tem ocorrido no âmbito dos Juizados Especiais Criminais. A diferença é que, naqueles, o pagamento de verbas indenizatórias é acordado entre as partes, e nesse caso, haverá a imposição do Estado, por intermédio de seu órgão julgador, após o curso de ação penal. A execução, obviamente dependerá do trânsito em julgado da sentença.

No que toca ao prejuízo material, a definição é dada de acordo com a definição do dicionário jurídico: “Por dano material, entenda-se o prejuízo pessoal, que atingiu a própria vítima (matéria orgânica), como também a perda ou prejuízo que fere diretamente um bem patrimonial, diminuindo o valor dele, restringindo a sua utilidade, ou mesmo a anulando” (De Plácido e Silva, apud MARTINS 1998, p. 19).

Maurílio Moreira Leite (Cf. LEITE), após discorrer sobre a “multa reparatória” do art. 297 do Código de Trânsito Brasileiro, sintetiza o instituto fazendo algumas considerações importantes:

I — A pena de multa reparatória, apesar da forma pouco ortodoxa utilizada em sua criação, atende ao princípio da anterioridade da lei penal, delineado no art. 5º, inciso XXXIX, da Constituição Federal: “Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”.

II — Nos crimes contra a incolumidade pública, de perigo concreto, resultando dano material, a multa aplicável é a reparatória, em detrimento da geral, em face do princípio da especialidade.

III — A denúncia, de forma expressa, deverá mencionar a existência de dano material decorrente do delito de trânsito, omissão que impedirá o acolhimento judicial da pena reparatória, em vista do princípio da proibição de julgamento ultra e extra petita , quando vulnerado restaria preceito constitucional que assegura a amplitude do direito de defesa.

IV — O valor da multa reparatória deverá ser formulado em dias multa, atendidos

os pressupostos de aplicação da pena pecuniária previstos no Código Penal, tendo por limite, que lhe é próprio, o total do prejuízo material oriundo do crime de trânsito.

V — A execução da pena de multa, inclusive reparatória, é da competência do Ministério Público, em que pese interpretação equivocada do art. 51 do Código Penal, com a redação que lhe deu a Lei n. 9.268, de 1º de abril de 1996.

2.7 Na Resolução 1990/22 – ONU/1985

No âmbito internacional, o Conselho Econômico e Social da Organização das Nações Unidas – ONU por meio da Resolução 40/34 da Assembléia-Geral, de 29 de novembro de 1985, adotou a “Declaração dos Princípios Básicos de Justiça Relativos às Vítimas da Criminalidade e de Abuso do Poder”.

A presente Resolução também fez a convocação dos Estados membros e outras organizações a adotarem as medidas imprescindíveis para tornar eficazes as disposições acerca da Resolução com a finalidade específica para reduzir a vitimização, ou seja, o objetivo principal é de que os Estados fundem prestação de serviços de assistência às vítimas de criminalidade.

Importante registrar que a Resolução “solicita ao Secretário-Geral que tome e coordene, com o concurso de todas as entidades do sistema das Nações Unidas e de outras organizações competentes, as medidas necessárias, com um objetivo humanitário, para prevenir e reduzir as formas mais graves da vitimização, quando os meios de recurso sejam insuficientes, e que: a) Acompanhe a situação; b) Elabore e institua mecanismos de resolução de conflitos e mediação; c) Promova o aceso das vítimas às vias judiciais e aos recursos legais; d) Ajude a proporcionar assistência material, médica e psicossocial às vítimas e às suas famílias”.

A Declaração dos Princípios Fundamentais de Justiça Relativos às Vítimas da Criminalidade e de Abuso de Poder define o que seria as vítimas da criminalidade e outras disposições:

1. Entendem-se por "vítimas" as pessoas que, individual ou coletivamente, tenham sofrido um prejuízo, nomeadamente um atentado à sua integridade física ou mental, um sofrimento de ordem moral, uma perda material, ou um grave atentado aos seus direitos fundamentais, como conseqüência de atos ou de omissões violadores das leis penais em vigor num Estado membro, incluindo as que proíbem o abuso de poder.

Neste passo, afiguram-se indispensáveis neste momento, algumas observações acerca da amplitude da compreensão das decisões tomadas no Oitavo Congresso das Nações Unidas para a Prevenção do Crime e o Tratamento dos Delinquentes, realizado em Havana, Cuba, no período de 27 de agosto a 07 de setembro de 1990:

1. Preocupado com o fato de a criminalidade e a vitimização continuarem a colocar graves problemas que afetam tanto os indivíduos como grupos inteiros da população e que ultrapassam, muitas vezes, as fronteiras nacionais,

2. Sublinhando a necessidade de uma ação e de medidas preventivas para garantir o tratamento justo e humano das vítimas, cujas necessidades têm sido muitas vezes ignoradas,

3. Reconhecendo a importância da Declaração dos Princípios Básicos de Justiça Relativos às Vítimas da Criminalidade e de Abuso de Poder, que estabelece normas e princípios orientadores para a reparação dos prejuízos sofridos pelas vítimas e para a assistência a prestar-lhes, e que deve ser largamente divulgada e aplicada,

4. Sublinhando a necessidade de solidariedade social, que supõe a criação de laços estreitos entre os membros da sociedade, a fim de assegurar a paz social e o respeito dos direitos das vítimas, bem como a necessidade de mecanismos e de medidas apropriados para garantir a reparação e assistência às vítimas, aos níveis nacional, regional e internacional,

5. Recomenda que os governos procurem fornecer às vítimas da criminalidade e de abuso de poder serviços de ajuda pública e social e estimulem a elaboração de programas de assistência, de informação e de indenização das vítimas, adaptados à respectiva cultura.

É de se concluir, então, que a Declaração sugere que deverão ser adotadas medidas no âmbito internacional e regional, para aprimorar o acesso à justiça, ao tratamento mais justo, à reparação do dano causado (indenização), à assistência social às vítimas de delitos, ao ressarcimento. Como também, delineia as essenciais medidas para acautelar a vitimização ligada ao abuso de poder e oferecer os demais instrumentos referentes a esses abusos.

2.8 Em outras Aplicações Legais da Vitimologia

Além dos dispositivos legais citados acima não podemos deixar de mencionar outras aplicações práticas inseridas no âmbito da Vitimologia.

a) Legítima Defesa

O instituto da “legítima defesa” é um aspecto sem dúvida marcante dentro da Vitimologia, possibilitando a vítima à proteção legal diante de um fato criminoso.

Segundo a definição do art. 25, do Código Penal Brasileiro, “Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou eminente, a direito seu ou de outrem”.

De acordo com este dispositivo, a vítima que reage a uma ilícita agressão não pode ser considerada pela sociedade uma vítima criminosa que agiu dolosamente.

Já se teve oportunidade, inclusive, de reconhecer o raciocínio aqui esposado em sede jurisprudencial, como cita Celso Delmanto (2007, p. 98): “Em face de agressão injusta, a vítima tem a faculdade legal e o dever moral de obstá-la, mesmo recorrendo ao exercício de violência” (TJSP, RT 624/303; TACrS, Julgados 75/406)”.

b) Violência doméstica

A Lei 11.340/06 referente à violência doméstica, conhecida pela luta de uma mulher que foi vítima de crime por duas vezes pelo seu próprio marido e conseguiu instituir pela sua luta na justiça a criação da “Lei Maria da Penha”.

A Lei Maria da Penha cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra mulher.

Para a vitimologia não só a lei tem um caráter peculiar de proteção às vítimas de crime, como também o art. 21 que assegura a vítima do delito a ciência de que o agressor foi preso ou que saiu do cárcere. Isto mostra, que a vítima a partir deste dispositivo pode pelo menos manter uma vida um pouco mais tranqüila, sabendo por onde anda seu agressor.

c) Agravantes Genéricas

Nas agravantes genéricas do art. 61 do CP, alíneas “e”, “f”, e “h” Guilherme de Souza Nucci (2009, p.415) lembra que nas relações de família aumenta-se a punição no caso de crime cometido contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge, tendo em vista a maior insensibilidade moral do agente, que viola o dever de apoio mútuo existente entre parentes e pessoas ligadas pelo patrimônio. Já na alínea “f” esta violência doméstica contra mulher, que é agredida no âmbito doméstico, e por fim, a alínea “h”, que agrava o crime quando a vítima é a criança, o idoso, o enfermo e gestante.

d) Atenuantes Genéricas

Nas atenuantes genéricas do art. 65, alínea “c” “in fine” quando diz que o crime cometido sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima, configura uma atenuante na aplicação da pena ao criminoso.

e) Homicídio Privilegiado

Convém destacar, ainda, o homicídio privilegiado do art. 121, § 1º do Código Penal: Matar alguém. Pena: reclusão de 6 (seis) a 20 (vinte) anos. Caso de diminuição de pena: parágrafo 1º. Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou, sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.

Conforme o art. em tela, aqui o agente é instigado pela própria vítima a dar impulso ao crime. Entende que, se a provocação não fosse realizada, o crime talvez não fosse consumado.

f) Injúria

O art. 140, § 3º do Código Penal diz que “Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência. Pena - reclusão de um a três anos e multa. Aqui trata da injúria com preconceito e em sede jurisprudencial temos o exemplo dado por Celso Delmanto (2007, p. 416):

INJÚRIA COM PRECONCEITO - Comete crime do art. 140, § 3º, do CP, e não o delito do art. 20 da Lei nº 7.716/89, o agente que utiliza palavras depreciativas referentes a raça, cor, religião ou origem, com intuito de ofender a honra subjetiva da vítima (TJSP, RT 752/594).

g) Aborto Sentimental

Outra importante aplicação refere-se ao aborto sentimental, humanitário ou ético do art. 128, II, do CP que reza “Não se pune o Aborto praticado por médico”:II - se a gravidez resulta de estupro e o Aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

Nas palavras de Celso Delmanto (2007, p. 375) neste tipo o aborto legal, leva em consideração a saúde psíquica da mãe decorrente do trauma causado pelo crime sexual de que foi vítima.

Reza o art. 122, inciso II do Código Penal - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave. A pena é duplicada se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.

h) Meio Ambiente

De acordo com o art. 12 da Lei 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que instituiu na esfera dos crimes contra o meio ambiente, a pena da prestação pecuniária, que

segundo a lei, consiste no pagamento em dinheiro à vítima ou à entidade pública ou privada, com fim social, de importância, fixada pelo juiz, não inferior a um salário mínimo, nem superior a 360 salários mínimos. O valor pago será deduzido do montante de eventual reparação civil a que for condenado o infrator.

Assim podemos dizer que, na eminência de dar mais proteção legal a determinados atos que envolvam vítimas de crimes, os legisladores vêm se sensibilizando com as proporções que o mundo do crime está tomando, que de alguma forma cria novos mecanismos de proteção para garantir prioridade à assistência de vítimas de crime.

O capítulo seguinte abordará questões sobre a importância da assistência das vítimas para algumas ciências e o papel desempenhado pelos centros de assistência no amparo as vítimas criminais.

3. A IMPORTÂNCIA DA ASSISTÊNCIA ÀS VÍTIMAS DA CRIMINALIDADE

Num contexto de violência, a criminalidade ganha cada vez mais um espaço significativo nas estatísticas. A sociedade procura garantir a proteção do seu bem jurídico, utilizando-se de instrumentos alternativos e muitas vezes, com um custo econômico bastante alto e, por outro lado, clama aos entes políticos, medidas urgentes de políticas sociais, para amenizar o impacto devastador e negativo que o crime causa às vítimas da criminalidade.

Um fato que chama a atenção nas sociedades modernas é o desamparo a que se vêem às vítimas abandonadas pela máquina estatal, e mesmo pela sociedade civil, quando da ocorrência de fatos delituosos. Ao contrário do aspecto racional, que seria o fim do sofrimento ou a amenização da situação, em face da ação do sistema repressivo estatal, a vítima sofre danos psíquicos, físicos, sociais e econômicos adicionais, em consequência da reação formal e informal, derivada do acontecimento. Não são poucos os especialistas em Criminologia a afirmarem que essa reação acarreta mais danos efetivos à vítima do que o prejuízo derivado do crime praticado anteriormente (CALHAU, 2009).

Ao que parece, Lélio Braga Calhau (2009) afirma em poucas palavras que: “Uma sociedade que não protege e não presta assistência efetiva às vítimas de seus crimes não obtém níveis de cidadania dignos para o momento histórico em que a humanidade se encontra”.

Segundo o art. 5º, inciso LXXIV, da Constituição Federal de 1988 o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos.

A atenção à vítima criminal é bastante defendida pelo Promotor de Justiça Lélio Braga Calhau (2009), que lança uma proposta de mudança na redação do atual art. 5º, inciso LXXIV, da CF/88, que se aprovada, passará a vigorar da seguinte

forma: “a proteção da vítima criminal é assegurada pelo Estado, devendo o Poder Judiciário garantir tratamento igualitário à vítima e ao acusado em processo criminal”.

Interessante posição que chega o Promotor de Justiça, quando afirma que:

O acréscimo de um inciso elevando a proteção da vítima criminal ao patamar de direito constitucional fundamental será uma medida de elevada importância no plano da Política Criminal e da proteção dos direitos humanos no Brasil, podendo servir de paradigma para outros países, que nesse momento buscam dentro de suas realidades enfrentarem o aumento da criminalidade que vem assolando diversas nações dando um tratamento justo para as vítimas criminais (CALHAU, 2009).

Complementa ainda que o contexto atual a vítima criminal é abandonada em vários sentidos. O Estado não lhe proporciona a assistência necessária após o cometimento de um delito, a sociedade civil, em alguns casos, vê a vítima criminal como uma pessoa fracassada e a estigmatiza, a segurança terceirizada se aproveita das falhas do Estado para vender seus serviços para a população etc. (CALHAU, 2009).

Para Susana Montoza de Lanza (2001, p. 214), as intervenções dos Centros de atenção a vítimas de crimes devem formar parte de uma rede que permita abordar o problema desde todas as áreas envolvidas, de maneira coordenada e efetiva. Chama atenção para a capacitação das polícias, juízes e profissionais da saúde acerca dos efeitos pós-traumáticos, como também, a importância de evitar revitimizações e o tratamento digno e respeitoso da vítima, em qualquer situação penal.

3.1 Para os Centros de Assistências às Vítimas

Apesar do Estado brasileiro ainda possuir um número pequeno de centros de apoio às vítimas, algumas instituições se destacam por realizarem um trabalho multidisciplinar ao tratamento das pessoas vítimas de crime familiar, sexual, tortura, maus tratos, erro médico, etc.

De grande importância, também, são os programas de assistências às vítimas do crime, atuando principalmente ante o sofrimento humano e social dos ofendidos pelo crime. E sob o ângulo de procedimentos no processo criminal, estão presentes para superar ignorância e procrastinação de legítimos direitos (CALHAU, 2003, p. 50 in PAPALEO).

Convém primeiramente destacar na esfera internacional, uma das instituições pioneiras, responsáveis por assegurar prestação de assistência às vítimas da criminalidade a Organização Nacional para Assistência - NOVA . Com sede em Washington, a “NOVA” tem por objetivo assessorar as demais instituições, que

também garantem uma assistência às vítimas.

Nesse diapasão, vale invocar também outra grande instituição americana conhecida como Ato Vítimas de Crime - VOCA que estabeleceu uma dotação anual incluída no próprio Departamento do Tesouro dos Estados Unidos em prol das vítimas criminais.

Em Portugal temos também a APAV (Cf. ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE APOIO À VÌTIMA) fundada em 1990, com sede em Lisboa. É uma instituição particular de solidariedade social, pessoa coletiva de utilidade pública, que tem por finalidade estatutária promover e contribuir para a informação, proteção e apoio aos cidadãos, vítimas de infrações penais.

Como se verifica, é uma organização sem fins lucrativos e de voluntariado, que apóia, de forma individualizada, qualificada e humanizada, vítimas de crimes, através da prestação de serviços gratuitos e confidenciais.

Deste modo genérico, para a efetivação de seus objetivos, a APAV propõe-se nomeadamente a:

1. Promover a proteção e o apoio a vítimas de infrações penais, em particular às mais carentes, designadamente através da informação, do atendimento personalizado e encaminhamento, do apoio moral, social, jurídico, psicológico e econômico;

2. Colaborar com as competentes entidades da administração da justiça, polícias, de segurança social, da saúde, bem como as autarquias locais, regiões autônomas e outras entidades públicas ou particulares de infrações penais e respectivas famílias;

3. Incentivar e promover a solidariedade social, designadamente através da formação e gestão de redes de cooperadores voluntários e do mecenato social, bem como da mediação vítima-infrator e outras práticas de justiça restaurativa;

4. Fomentar e patrocinar a realização de investigação e estudos sobre os problemas da vítima, para a mais adequada satisfação dos seus interesses;

5. Promover e participar em programas, projetos e ações de informação e sensibilização da opinião pública;

6. Contribuir para a adoção de medidas legislativas, regulamentares e administrativas, facilitadoras da defesa, proteção e apoio à vítima de infrações penais, com vista à prevenção dos riscos de vitimização e atenuação dos seus efeitos;

7. Estabelecer contactos com organismos internacionais e colaborar com

entidades que em outros países prosseguem fins análogos.

A Declaração sobre os Princípios Fundamentais de Justiça às Vítimas de Delitos e do Abuso de Poder no que diz respeito à assistência pondera que: As vítimas devem receber a assistência material, médica, psicológica e social de que necessitem, através de organismos estatais, de voluntariado, comunitários e autóctones (13); As vítimas devem ser informadas da existência de serviços de saúde, de serviços sociais e de outras formas de assistência, que lhes possam ser úteis, e devem ter fácil acesso aos mesmos; O pessoal dos serviços de polícia, de justiça e de saúde, tal como, o dos serviços sociais e o de outros serviços interessados deve receber uma formação que o sensibilize para as necessidades das vítimas, bem como, instruções que garantam uma ajuda pronta e adequada às vítimas; Quando sejam prestados serviços e ajuda às vítimas, deve ser dispensada atenção às que tenham necessidades especiais, em razão da natureza do prejuízo sofrido (...).

Um dos importantes aspectos sobre os Centros de Assistência à Vítima segundo o Centro de Difusion de la Victimologia (Cf. CENTRO DE DIFUSION DE LA VICTIMOLOGIA) são as características que esses centros apresentam, tais como:

1. A assistência deve ir o mais rapidamente possível à vítima para reduzir tanto quanto possível, o sentimento de impotência que o impacto do delito também pode ter resultado.

2. A contribuição deve ser voluntária e não imposta coercitivamente. O importante é que você saiba que a vítima de que ela pode ser assistida quando necessário, de modo que possa vir a aceitar a ajuda disponível para eles.

3. O auxílio deve ser abrangente, deve abranger não só a vítima, mas para o primário, secundário, se houver. Não se esqueça que eles também são vítimas do ato violento parentes, amigos, vizinhos, etc.

4. Cuidados devem ser tomados para não venda para a vítima do conflito. Ela deve ter um papel ativo na superação do trauma que teve como protagonista e não um mero espectador passivo. A vítima é uma pessoa com deficiência é alguém que sofreu uma perda enorme e inesperado que interrompeu suas vidas. Tratá-lo como um meio válido para perpetuar as conseqüências de sua vitimização, em vez de ajudar a superá-los.

5. A assistência deve ser orientada primordialmente para superar o trauma psicológico e físico, não significa a negação ou esquecimento, pois isso poderia significar que estabelece as condições para re-criar a vitimização.

6. A assistência deve ser prestada por uma equipe interdisciplinar unicamente qualificada para lidar com as vítimas. Alguns especialistas sugerem que deveriam especializar-se por tipo de crime (sexo, propriedade, etc.) sempre reconhecendo

que cada evento é sempre único, mas pode salvar itens associados com os outros.

7. Coerente com a discussão acima, um critério deve prevalecer a personalização da assistência, tendo em conta as circunstâncias especiais do caso se enquadra a questão de fugir da padronização da ajuda oferecida. Poderíamos fazer um paralelo com a abordagem da personalização da pena, para fugir da tensão com que é frequentemente aplicada hoje, onde foi reduzida a uma simples operação aritmética.

8. O trabalho dos Centros deverão considerar a adoção de abordagens alternativas e pouco ortodoxo para os problemas das vítimas para superar as limitações dos sistemas tradicionais. Nas palavras de Albert Einstein, “... os problemas significativos que enfrentamos hoje não pode ser resolvido por pensar o mesmo nível em que estávamos quando os criamos ..."

9. Nunca se esqueça que o principal elemento que pode dar a vítima é o AMOR. Isto pode soar piegas ou pouco acadêmico, mas sem o carinho não é possível alcançar a pessoa que chega cheio de apreensões, preocupações e suspeitas.

Já na Argentina, na Província de Córdoba, foi instituído o “Centro para as Vítimas de Crime”, em 1986, tendo como fundamentos:

1. A determinação dos danos presentes na personalidade da vítima e a possibilidade de transcendência para o futuro dos prejuízos e determinação e aplicação das medidas adequadas para sanar esse prejuízo.

2. Os cuidados e tratamento para a vítima para o seu desenvolvimento físico, psicológico e social.

3. A orientação da vítima e da família para superar a situação de tensão que havia ocorrido.

4. A orientação e assistência às vítimas em relação a questões trabalhistas, educacionais e sociais, nos casos em que a situação tem afetado a criminalidade nessas áreas.

5. Todas aquelas tarefas contribuem para a recuperação das vítimas da criminalidade.

Quando a vítima de crime chega ao Centro é entrevistada por dois profissionais, um advogado e um profissional de saúde que serão responsáveis por fazer um diagnóstico da situação vitimológica e logo iniciar o tratamento que melhor se adapta a vitima em questão. O objetivo é provocar ajuste interno da vítima, que contribua para a sua recuperação.

Informa que os casos frequentes são as vítimas de homicídio, estupro e violência doméstica. Esses são casos em que a família inteira é vítima, e requer atenção extra.

Existem diversos outros Centros de Assistências espalhados pelo Mundo, que de alguma forma, ajudam as vítimas criminais a conviver com a situação, dando conforto, proteção e assistência multidisciplinar.

No Brasil, também existem alguns Centros de referências de apoio às vítimas da violência que merecem destaque.

No Estado de Pernambuco o PROVITA, Programa de Apoio e Proteção a Testemunhas, Vítimas e Familiares de Vítimas da Violência teve início no ano de 1996, por iniciativa do Gajop (14) (Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares), uma instituição da sociedade civil de promoção e defesa dos Direitos Humanos, com Status Consultivo Especial no Conselho Econômico e Social (ECOSOC) da ONU, tem atuação especializada na área de justiça e segurança com abrangência nacional. Sua missão institucional é contribuir para a democratização e o fortalecimento da Sociedade e do Estado, na perspectiva da vivência da cidadania plena e da indivisibilidade dos Direitos Humanos (Cf. PROVITA).

O PROVITA está presente em 16 Estados brasileiros: Acre, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Pernambuco , Rio de Janeiro, Santa Catarina, Distrito Federal, São Paulo e Rio Grande do Sul.

De acordo com a definição do PROVITA, o programa é uma parceria exclusiva entre o Estado e a sociedade civil. Deve-se destacar desde logo, que o programa resgata o sentido de solidariedade, por meio de um grupo de voluntários e também promove a interação entre os diversos órgãos estatais de Justiça e segurança.

Vale aqui lembrar que o objetivo maior do PROVITA, com fundamento na Lei 9.807/99 é de prestar auxílio social, médico, psicológico e jurídico por parte da equipe multidisciplinar do Programa e dos voluntários; como também, oferecer bolsa trabalho e cursos profissionalizantes.

A Prefeitura da Cidade do Recife inaugurou em dezembro de 2002 o Centro de Referência Clarice Lispector, que atende mulheres vítimas de violência doméstica e sexista (15), servindo de referência a nível nacional, na aplicação das políticas de gênero indicativo aos direitos das mulheres.

A Casa de Abrigo Sempre Viva - Funciona 24h. Objetiva garantir a integridade física e psicológica às mulheres em situação de violência física e sexista, sob risco de vida, bem como, a seus filhos. População alvo: mulheres em situação de risco de vida acima de 18 anos e filhos (estes, de ambos os sexos até 14 anos de

idade); Serviços oferecidos: assistência social, atendimento psicológico, enfermagem, educação física, educação social, recreação. Atividades: - Grupos de reflexão, integração, relaxamento e oficinas temáticas; atividades físicas, de recreação e lazer, atendimento psicossocial e jurídico às mulheres abrigadas e seus filhos, encaminhamento à rede de apoio para inclusão nos serviços e programas municipais de assistência social (Cf. SERVIÇO DE UTILIDADE PÚBLICA).

Outra grande conquista para o Estado de Pernambuco no apoio às vítimas da criminalidade é Centro de Referência Interprofissional na Atenção a Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência – Criar .

O Programa Criar surgiu devido ao aumento alarmante de crimes contra a vida e a dignidade infanto-juvenil. Segundo a jornalista Natasha Pitts da Adital (Notícias da America Latina e Caribe) nos cinco primeiros meses do ano de 2009 foram registrados 464 casos de violência sexual, cometida contra crianças e adolescentes, conforme informações do Disque Denúncia. (PITTIS, 2009).

Por iniciativa do Tribunal de Justiça de Pernambuco - TJPE, através da Coordenadoria da Infância e da Juventude - CIJ, o CRIAR nasceu da necessidade de garantir um atendimento mais personalizado às vitimas e familiares que suportavam situação de violência, especialmente a violência sexual.

Salienta ainda Natasha Pittis que em 1996, Pernambuco foi o primeiro estado brasileiro a criar uma vara especial para cuidar de crimes contra a criança e o adolescente. Em 2008, viu-se a necessidade de se criar mais uma vara especial e, neste mesmo ano, foi idealizado o Centro.

"O Criar surgiu baseado no contexto de violência existente no Brasil e principalmente no Nordeste. Após muitas discussões sobre violência infanto-juvenil e contra a mulher e também sobre a redução do dano no depoimento das vítimas, o juiz coordenador da infância constatou a necessidade de um atendimento interprofissional e mais voltado para o acolhimento das vítimas", explicou Alessandra de Lima Araújo, coordenadora do Criar. (ARAÚJO apud PITTIS, 2009).

Conforme o depoimento da Coordenadora do CRIAR, após um ano de funcionamento e com algumas deficiências na parte física, o Criar vem desenvolvendo um trabalho amplo, que consiste em ajudar na prevenção, no combate e no acompanhamento dos casos de violência sexual contra as crianças e os adolescentes. Segundo ela, em algumas situações, o Criar também cede atenção ao agressor/réu, por meio de um programa de conscientização.

O Centro de Referência Interprofissional na Atenção a Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência conta com uma equipe de psicólogos, pedagogos e assistentes sociais. Quando o processo é aberto a equipe de profissionais iniciam

o trabalho de orientar acerca dos procedimentos, acompanhar e encaminhar a vítima e a família, fazer um estudo do caso, para detectar se ainda existe risco para a vítima e, se o agressor ainda está em contato com a criança ou adolescente; como também de visitar, entrevistar e preparar para a audiência. "Nosso trabalho é, acima de tudo, de acolhimento, para garantir a proteção da vítima", esclarece a coordenadora do Centro. (ARAÚJO apud PITTIS, 2009).

Alessandra de Lima Araújo informa que com um ano de funcionamento as estatísticas mostram que foram acompanhados 85 casos de violência sexual, a maioria decorrente de estupros e atentado violento ao pudor, envolvendo, geralmente, vítimas do sexo feminino, entre a faixa etária dos 12 aos 17 anos. Os agressores, na maior parte das vezes, são pessoas próximas às vítimas, tais como, padrastos, vizinhos, tios e pais. Entre os meninos, os dados do Criar apontam que a faixa etária entre 6 e 11 anos é a mais atingida.

É mister reconhecer também que a vítima tem seus direitos reservados, em alguns programas advindos do Poder Legislativo, sendo conduzidos através de representantes do governo federal e estadual. Pelo crescimento da população, os programas de assistência oferecidos, ainda são insuficientes, pois, a violência e o alto índice de criminalidade a cada ano aumentam no país.

A partir dessa idéia, poderemos organizar os programas da seguinte maneira:

O programa federal de assistência às vítimas de crime, testemunhas ameaçadas, e os infratores dispostos a ajudar na investigação e ação penal de 1999;

Convenção Interamericana sobre tráfico internacional de menores –1998;

Convenção à repressão do tráfico de pessoas e prostituição, de 1959;

Convenção para restringir ou proibir a utilização de certas armas convencionais à proteção das vítimas da guerra de 1998;

Fundo Penitenciário Nacional (FUNPEN) para apoiar programas de assistência às vítimas de crime de 1994 (art. 3º da Lei Complementar Nº 79, de 7 de Janeiro de 1994);

Convenções contra a tortura, penas cruéis e desumanas – tratamento, prevenção, assistência médica e tratamento para as vítimas, de 1991 (art.14 - Cada Estado Parte assegurará, em seu ordenamento jurídico, à vítima de um ato de tortura, direito a reparação e a uma indenização justa e adequada, incluindo os meios necessários a sua mais completa reabilitação possível. No caso de morte da vítima, em consequência de tortura, seus dependentes farão jus a uma indenização).

Valdenia Brito Monteiro (Cf. MONTEIRO) afirma que:

O dano que sofre a vítima a partir do fato delituoso, não se esgota por aí, pois o impacto psicológico que ela sofre no momento da investigação criminal, tendo em vista o medo de depor, acrescentando-se a isso o medo de represália, torna-a mais vulnerável.

A vulnerabilidade da vítima é maior quando pertencente às classes menos favorecidas. Totalmente desprotegida do sistema penal e, muitas vezes, ameaçada por ser o acusado do próprio aparato do Estado, o medo de denunciar torna-se maior. Muitas vítimas desejam colaborar com a Justiça, mas quando sentem a sua vulnerabilidade e a de seus familiares, preferem o silêncio a denunciar.

Há, portanto, uma garantia na legislação em diversos tratados, convenções, leis extravagantes, o direito assegurado das vítimas da criminalidade para uma possível reparação, bem como os programas de assistência, que incluam tratamento psicológico, médico, judiciário entre outros.

3.2 Para a Medicina Legal

Sem dúvida, a Medicina legal tem uma influência muito grande na aplicação da dosimetria da pena para o criminoso, ao analisar a vítima nas circunstâncias do crime. É através dos resultados dos peritos, que o laudo apresentado à autoridade competente ajudará a entender quais foram os meios utilizados pelo agente para produzir determinadas características.

A Medicina Legal para o Direito apresenta uma forte contribuição para o estudo da vítima, pois é através dos seus procedimentos técnicos científicos, que ela examina as diversas causas de grande relevância jurídica, como por exemplo, as lesões provocadas pelo agressor às vítimas e a própria morte.

A Vitimologia é um ramo da Medicina Legal, que para alguns doutrinadores é considerada como ciência que analisa a vítima e seu comportamento no acontecimento criminoso, procurando agregar o ato delituoso com o comportamento da vítima.

Em artigo publicado pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, a professora do Instituto Nacional de Medicina Legal, Teresa Maria Salgado de Magalhães trás importantes considerações acerca da “vítima como objeto da intervenção médico legal”, dentre elas:

a) A Medicina Legal constitui uma ciência que trabalha direta, e muito particularmente, com situações relacionadas com o fenômeno da vitimação, onde a vítima, enquanto pessoa se apresenta como seu principal objeto de intervenção;

b) A importância da abordagem da vítima enquanto pessoa, ou seja, não apenas

na vertente que limita ao seu aspecto orgânico, mas antes no seu todo, de forma global, considerando todas as suas partes integrantes (corpo, capacidades, situação de vida e subjetividade);

c) A importância da vítima na missão médico-legal, enquanto parceria em diversas intervenções multidisciplinares, de se envolver nas estratégias e medidas que visam prevenir a violência, promover a segurança, evitar a vitimização secundária e a revitimização, bem como garantir a proteção e a reinserção das vítimas, numa atitude de trabalho que deverá cada vez mais acontecer em rede;

d) As vítimas não são apenas aquelas que sofrem diretamente as consequências do fenômeno vitimizante, mas, também, aquelas que sofrem indiretamente e até secundariamente. (MAGALHÃES, 2004).

Teresa Magalhães complementa que o termo médico-legal, que “o ‘médico legista’ não é o especialista dos cadáveres, mas antes, o especialista da violência ou, melhor ainda, da vítima , sejam as questões referidas a pessoas mortas ou, como é mais frequente, a pessoas vivas”.

Comenta ainda que, a respeitável missão da medicina legal esta baseada em quatro etapas: a primeira relacionada a atividade probatória, que tem como finalidade o esclarecimento da justiça no que concerne às questões do foro bio-psico-social; a segunda com a atividade assistencial (que engloba - o acolhimento, acompanhamento e orientação clínica, social e legal das vítimas de violência, avaliando o perigo e o risco em que as mesmas se encontram) como o risco de morte por suicídio, homicídio ou acidente e risco de recidiva, bem como o risco de outras possíveis ou potenciais vítimas (na família ou de proximidade) e o acolhimento das vítimas mortais na sequência de situações de violência, e o apoio e orientação clínica, social e legal dos seus familiares; a terceira está ligada a atividade de investigação e formação, particularmente perspectivada no sentido da prevenção, uma vez que a medicina legal constitui um observatório dos fenômenos de violência e dos seus efeitos sobre as vítimas e; a quarta define a atividade doutrinal, colaborando na adaptação da legislação à realidade científica e social.

Já no que se refere às vítimas não mortais chama atenção no aspecto de que a medicina legal pode encontrá-las em duas ocasiões diferentes: num exame inicial, pouco depois do fato vitimizante, ou seja, num estado peri ou pós-traumático recente, no qual a vítima apresenta ainda lesões e começa a exprimir o seu sofrimento, e no período da perícia médico-legal final, após a estabilização das sequelas e, em geral, após a alta clínica. Descreve que é neste segundo momento que a vítima evidência às consequências permanentes, não só a nível do corpo, como também, das suas capacidades, situações de vida e subjetividade, pelo que este se reveste de uma função reparadora particularmente importante.

Finaliza dizendo que, apesar da vitimologia clássica interessar sobretudo ao estudo das vítimas de crimes, numa abordagem médico-legal da vítima, que tem

como objetivo contribuir para a melhor compreensão do processo de vitimação em geral, e das suas consequências, em particular, com a finalidade de auxiliar no planejamento de intervenções efetivas e eficazes, permitindo minorar as consequências do dano pós-traumático e, se possível, preveni-lo, a vítima terá de ser considerada numa perspectiva mais alargada.

Nesse tema, torna-se conveniente estabelecer a importância que a Medicina Legal tem para a determinação da aplicação da pena ao criminoso pelo magistrado. A vítima neste aspecto representa uma peça fundamental para o trabalho técnico dos peritos.

3.3 Para a Psicologia e profissionais afins

A Psicologia Forense, entre muitos outros aspectos relativos à situação apresentada pela vítima da criminalidade, chama atenção para as consequências psicológicas causadas pelo impacto do resultado de uma ação criminosa.

Muitas vítimas, apesar de controlar seus sentimentos, mostram um equilíbrio emocional positivo em relação ao fato delituoso ocorrido, outras já não tem o mesmo controle emocional e apresentam sérios transtornos emocionais e muitas vezes irreparáveis.

Para estas pessoas, a Psicologia Forense atuará na investigação do delinquente de maneira globalizada e ajudará a conviver e aceitar os resultados que um crime desencadeia.

Poder descobrir que o medo, a angústia, a frustração, a raiva, o ódio, etc., podem ser compartilhados com profissionais especializados e que estes poderão dar conforto e força para viver, sem ambiguidade só aumenta a perspectiva de que determinados especialistas precisam dar mais assistência às vítimas da criminalidade, fazendo assim um importante papel preventivo para que não ocorra uma vingança privada gerando novos criminosos dentro da sociedade.

Assim, considerando a participação cada vez maior de algumas instituições na criação de centros de assistências às vitimas da criminalidade é notável que exista muita coisa ainda para ser realizada, em prol do tratamento e da assistência às vítimas da violência.

Segundo a Cartilha do Conselho Federal de Psicologia (2009, p.48) sobre o Serviço de Proteção Social a Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência, Abuso e Exploração Sexual e suas Famílias: referências para a atuação do psicólogo:

O atendimento psicológico deve compor a atenção psicossocial, que é operacionalizada por um conjunto de procedimentos técnicos especializados, com o objetivo de estruturar ações de atendimento e de proteção a crianças e adolescentes, proporcionando-lhes condições para o fortalecimento da autoestima,

o restabelecimento de seu direito à convivência familiar e comunitária em condições dignas de vida e possibilitando a superação da situação de violação de direitos, além da reparação da violência sofrida.

Uma ação criminosa deixa marcas irreparáveis na vítima e grande parte da população atingida pela violência não tem condições de arcar com despesas para tratamento da saúde amenizando os problemas causados em decorrência do crime.

A criação e ampliação de novos Centros de Apoio às Vítimas de crime e um trabalho de campanha contínua de divulgação pelos órgãos públicos e privados deixará a população mais amparada na busca de seus direitos e de uma qualidade de vida melhor.

Em entrevistas pessoais com alguns profissionais que trabalham com vítimas em diferentes situações, podemos assim verificar o que cada um pensa a respeito da situação geral da vítima, da assistência e também de sugestões para melhorar este cenário tão esquecido.

Para o médico psiquiatra, Horton Coura Pinto Filho (16), do CAPS Esperança e do Hospital Oswaldo Cruz, as principais reclamações das vítimas estão relacionadas com o medo, ansiedade, tristeza e insônia. A violência do cônjuge e da Polícia Militar é o mais comum entre os atendimentos.

Segundo ele um atendimento de qualidade, constituído por uma equipe multidisciplinar, formada para este fim específico, não muito diferente daquele que procura o serviço público de saúde e não encontra, seria uma forma mais concreta de melhoria, no que se refere à assistência a vítima criminal.

Finaliza, chamando atenção que deveria ser função do Estado acolher as vítimas, em vez de gastar verbas com publicidade ou desviá-las para outros fins. Entende ainda que, uma sociedade que convive com a violência no seu dia à dia, necessita de um serviço específico para acolhê-la e não ser uma ação isolada, ou seja, uma ação conjunta que mudará a sociedade, a Igreja, o Ministério Público e a Justiça.

Comenta ainda que, a Política Criminal deveria endurecer as leis que protege os bandidos, mas não o cidadão de bem, vítima da violência institucionalizada.

Já para a psicóloga, Andréa de Fátima Soares, da Coordenação da Saúde Mental do Recife, pela Prefeitura da Cidade do Recife, as principais reclamações das vítimas estão focalizadas no ato discriminatório, no isolamento, intolerância e o desrespeito.

Afirma que, só através da sensibilização e capacitação dos profissionais, melhoraria o trabalho de assistência à vítima criminal.

Relata também que, vê a vítima criminal como indivíduos amplamente vitimados: por sua própria condição de transtorno mental, mas muito mais, pelo preconceito social que desconsidera suas potencialidades de recuperação e equilíbrio.

Para ela o Estado deve disponibilizar serviços com equipes multidisciplinares, capacitadas e com perfil para atender a demanda; que poderá ser espontânea (quando a vítima estiver em condições de escolha) ou mesmo acompanhadas (encaminhadas) para os que sofreram maiores danos.

Sabemos que o trabalho desenvolvido pelos Centros de Assistências às Vítimas de crimes é fundamental para o equilíbrio emocional na vida de qualquer pessoa vitimada.

Importante salientar a beleza do tratamento que é dispensada pela equipe multidisciplinar, que só contribui para o conforto da vítima e muitas vezes da própria família.

CONCLUSÃO

É importante reconhecer, na linha do raciocínio exposto que o presente trabalho nos leva a entender que a Vitimologia mesmo sendo considerada para alguns estudiosos como um ramo da Criminologia, que estuda a vítima no aspecto comportamental, nas suas necessidades e na importância do binômio delinquente-vítima é considerada a ciência do estudo das vítimas.

Merece referência, outrossim, que no passado somente o criminoso era peça fundamental para as pesquisas desenvolvidas através das observações realizadas por criminólogos e juristas. Agora vale destacar que modernamente não só o criminoso é objeto das pesquisas, mas também a vítima, que passou a fazer jus no campo penal e da própria Criminologia, sem dúvida, graças ao surgimento da Vitimologia.

Sabemos que existe controvérsia quando o tema é a respeito do pioneiro da Vitimologia. Hans Von Hentig com “ The Criminal and the Victim ” em 1940 é para muitos, o pioneiro da Vitimologia, mas outros afirmam ser Benjamin Mendelsohn. O primordial aqui é saber que estes renomados estudiosos sobre o tema contribuíram muito para o progresso das pesquisas sobre as vítimas a nível mundial.

Diante dos estudos realizados por Benjamin Mendelsohn podemos definir a Vitimologia como a ciência que busca estudar a individualidade da vítima no aspecto psicológico e sociológico, na investigação do diagnóstico e da terapêutica do delito, bem como no amparo individual e geral da vítima.

O papel da vítima na antiguidade teve a sua fase de ouro, com a chamada vingança privada, ou seja, estava em suas mãos a forma para resolver o problema

do crime como o seu agressor, utilizando-se de castigos físicos, da apreensão de bens materiais e até mesmo levar o delinquente à morte.

Com o fim da vingança privada, o Estado toma para si a responsabilidade de manter a ordem pública e, exclusivamente, dar início da persecução penal. Foi neste período, que a vítima ficou relegada a um plano inferior, tornando-se neutra e enfraquecida.

Por último, surge a terceira e atual fase em que a vítima é redescoberta no fim da II Guerra Mundial, marcado pelos crimes bárbaros cometidos por Adolf Hitler contra os judeus. Nesta fase ficou evidente a preocupação do real esquecimento da vítima no direito penal, pois, os estudos mostravam porque as vítimas também não poderiam ser sujeitos de direitos. Daí, nasce a Vitimologia, redescobrindo a importância da vítima dentro do sistema penal.

Em arremate ao ponto analisado, diversos autores definem o que seria a vítima e, é a partir destes conceitos, que podemos trazer a baila nosso entendimento sobre o que seria “vítima”: é aquele indivíduo que sofre uma ação criminosa e têm como consequências muitas vezes, danos físicos, psicológicos e econômicos.

Sobreleva abordar, ainda, importante questão decorrente, acerca da vitimização, um dos pontos fundamentais no estudo da Vitimologia.

Frise-se que com a evolução histórica, hoje a Vitimologia não se restringe apenas às pesquisas de vitimização criminal, mas, sobretudo, pode ser inserida também no âmbito das vítimas de acidentes de trabalho; de acidentes de trânsito; e abusos nas relações comerciais, trabalhistas, de consumo, de acidentes domésticos; de lesões patrimoniais e outras, de natureza exatamente civil.

Não há dúvida que, uma Política de Prevenção da Vitimização contribuirá para possível diminuição da criminalidade. Um trabalho pautado na pesquisa de identificação de quem são as nossas vítimas e principalmente que tipos de crime foram vítimas, isto é, procurar saber se foi vítima de algum crime, qual crime, em que ano, local, se tem alguma relação com o agente, quais foram os prejuízos, se a autoridade policial tomou ciência, se o atendimento por este agente foi satisfatório, que medidas gostaria que fossem adotadas, etc.

Vale ressaltar que a partir do instante que se conhece a população alvo das transgressões, bem como as espécies físicas em que estas se expandem, verifica-se então, que algumas dessas transgressões podem ser impedidas, ocorrendo assim a denominada prevenção.

Um dos objetivos da Vitimologia é de que todas as pessoas têm o dever de conhecer os riscos aos quais estão expostos, por razão da ocupação, da natureza física ou da classe social. É preciso conhecer o cenário criminal para que seja eficaz a prevenção do crime.

Via de consequência é intuito reconhecer que determinadas Leis Extravagantes vêm conferindo acertadamente a preocupação da inclusão da vítima de crime no cenário do Direito Penal, inclusive a reparação do dano cometido pelo agente criminoso.

Surgem, nessa ambientação, os Centros de Assistência às Vítimas de Crime, que têm por finalidade, a satisfação das necessidades das vítimas depois de uma ocorrência criminosa. As necessidades dessas vítimas são das mais diversas possíveis, como: financeira, psicológica, médica, emocional, de informação, de assessoria jurídica e etc.

Muitas Instituições são criadas devido aos resultados dos altos índices da criminalidade e percebem como as vítimas desses crimes precisam de assistência mais individualizada. O número de instituições que cuidam das vítimas ainda é considerado insuficiente para a população vitimária.

No relato de Lélio Braga Calhau, fica o importante alerta:

Lamentavelmente, o que se percebe hoje é que, em muitos casos, as vítimas ficam em total defasagem de seus direitos em face dos seus agressores. Nem a Polícia, nem o Ministério Público e o Poder Judiciário nada podem fazer, haja vista que o acusado possui todas as garantias constitucionais em detrimento da vítima. Não se defende a substituição do Direito Penal brasileiro por um “Direito Penal da Vítima”, mas procura-se o ponto de equilíbrio que o justo tratamento penal deveria observar (CALHAU, 2009).

A Revista Âmbito Jurídico, em artigo publicado de Mario Bezerra da Silva (SILVA, 2007) sobre a Vitimologia, elenca de forma contundente algumas propostas que deveriam ser levadas em consideração aos mecanismos legais e sociais de proteção à vítima, tais como: Implementação do disposto no artigo 245 da Constituição Federal do Brasil; Disposições Constitucionais Gerais; Criação de programas ou organismos de iniciativa privada de defesa, amparo e proteção dos direitos da vítima; Criação do “ressarcimento securitário”; Fundos de compensação, “caixa de ressarcimento” (modelo cubano, peruano e boliviano: O Estado indeniza a vítima depois cobra o infrator); Implementação do que dispõem as Leis 7.347/85 (fundo para indenizações ao consumidor); Utilização do Fundo Penitenciário que dentre suas funções, uma delas é a reparação à vítima de crime; Rede Pró – Justiça Comunitária e Solução de Conflitos, “vigentes no Canadá, desde 1985”; Lei nº 9.807 de 13 de julho de 1999, “que estabelece normas para organização e manutenção de programas especiais de proteção a vítimas e a testemunhas ameaçadas”; Divulgação ampla de uma “Cartilha dos Direitos das Vítimas”; Ampla discussão na academia sobre a dimensão de “Reparação do Dano” e Divulgação ao alcance de todos, “entidades de amparo e socorro à vítima”.

As autoridades políticas precisam ainda se sensibilizarem mais com as consequências que os crimes provocam às vítimas da criminalidade e promoverem estudos sérios para implementar, através de políticas criminais, medidas urgentes de prevenção, que possam reduzir os impactos causados por esses criminosos.

A vítima, cada vez mais, vive refém do seu próprio medo e de seu lar, clamando por representantes sérios e dispostos a mudarem o cenário de injustiça, descaso, omissões e corrupção que o país está atravessando.

É preciso também deixar a população informada com divulgação em todos os meios pertinentes de comunicação, da finalidade, existência e localização dos Centros de Assistência à Vítima de Crime.

NOTAS:

(1) Entende-se por arbítrio o poder da vontade que escolhe e decide por si mesma, sem dependência estranha, fundada apenas em razões íntimas.

(2) Nas palavras de Antonio García-Pablos de Molina e Luiz Flávio Gomes, Criminologia é uma ciência empírica e interdisciplinar, que se ocupa do estudo do crime, da pessoa do infrator, da vítima e do controle social do comportamento delitivo, e que trata de subministrar uma informação válida, contrastada, sobre a gênese, dinâmica e variáveis principais do crime-contemplando este como problema individual e como problema social -, assim como sobre os programas de prevenção eficaz do mesmo e técnicas de intervenção positiva no homem delinquente e nos diversos modelos ou sistemas de resposta ao delito (MOLINA; GOMES, 2008, p.32).

(3) Nascimento conceitua a criminologia como uma ciência empírica e interdisciplinar que tem por objeto de análise a personalidade do autor do comportamento no delito, da vítima e do controle social das condutas desviadas e criminosas. (NASCIMENTO, 2007, p. 6).

(4) Entende-se por mandado de injunção um procedimento para se obter ordem judicial que assegure a qualquer cidadão o exercício de um direito fundamental, que a CF prevê, porém ainda não foi regulamentado em lei complementar ou ordinária. (GUIMARÃES, 2006, p.405).

(5) Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime, II - ter o agente cometido o crime: c) à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa do ofendido;

Art. 65: nas circunstâncias atenuantes: São circunstâncias que sempre atenuam a pena: III - ter o agente: c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade superior, ou sob a influência de violenta

emoção, provocada por ato injusto da vítima; Art. 121: Matar alguém: § 1º - Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço (Grifo nosso).

(6) Homicídio culposo: Aquele que o indivíduo não teve a intenção de cometer determinado ato.

(7) Ofendido: sujeito passivo de delito por ofensa ou dano; o mesmo que vítima (GUIMARÃES, 2006, p.427).

(8) Art. 91 - São efeitos da condenação:

I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime;

(9) Art. 31 - No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.

(10) No Processo Penal, era a peça apresentada pelo órgão do Ministério Público após a pronúncia, onde expõe, articuladamente, o fato criminoso e suas circunstâncias, indica aas medidas de segurança que ao caso se aplicam e pede, conclusivamente, a condenação do réu. (GUIMARÃES, 2006, p. 395).

(11) Art. 12. Fica instituído, no âmbito do órgão do Ministério da Justiça com atribuições para a execução da política de direitos humanos, o Programa Federal de Assistência a Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas, a ser regulamentado por decreto do Poder Executivo.

(12) § 1º do art. 49: A multa reparatória não poderá ser superior ao valor do prejuízo demonstrado no processo.

(13)São os indígenas, nativos.

(14) O GAJOP é uma entidade de defesa e promoção dos Direitos Humanos responsável pela execução dos Programas Estaduais de Apoio e Proteção a Vítimas, Testemunhas e Familiares de Vítimas da Violência, do Acre e de Pernambuco e pelo Monitoramento Nacional, através de convênio com a Secretaria Especial de Direitos Humanos, órgão ligado ao Gabinete da Presidência da República.

(15) A Sempreviva Organização Feminista resume o que seria a violência sexista: Na sociedade em que vivemos a relação entre homens e mulheres é baseada na desigualdade. Entre as inúmeras manifestações dessa desigualdade está a violência sexista. A violência sexista tem seus alicerces na subordinação das mulheres. Elas são tratadas como se fossem objetos e dominadas pelos homens,

que mantém sobre elas uma relação de poder. As manifestações de violência vão desde as pressões psicológicas até os maus tratos físicos e a morte. Para isso o agressor faz uso da força e também de ameaças. A violência sexista é um dos recursos fundamentais para a manutenção da dominação-exploração das mulheres e para submetê-las a situações que contrariam seus desejos. (Cf. SEMPREVIVA ORGANIZAÇÃO FEMINISTA).

(16) Entrevistas cedidas no dia 11 de nov. de 2009.

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Texto confeccionado por (1)Marcilia Cruz (2)Marcilia Cruz

Atuações e qualificações (1)Formada em Secretariado Executivo pela ESUSPE. Formada em Direito pela Faculdade Salesiana do Nordeste- FASNE.

(2)Formada em Secretariado Executivo pela ESUSPE. Formada em Direito pela Faculdade Salesiana do Nordeste- FASNE.

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