Direito Processual Penal - Renato Brasileiro

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DIREITO PENAL Intensivo II Prof. Renato Brasileiro _______________________________________________________________________________________________________2010

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Prof. Renato Brasileiro Aula 01 15 27-07-2010

QUESTES PREJUDICIAIS Conceito: Questes prejudiciais so as questes que devem ser avaliadas pelo juiz, com valorao penal ou extrapenal, e devem ser decididas antes do mrito da ao principal.Ex: Crime de Bigamia Art. 235 - Contrair algum, sendo casado, novo casamento: Pena - recluso, de dois a seis anos. 1 - Aquele que, no sendo casado, contrai casamento com pessoa casada, conhecendo essa circunstncia, punido com recluso ou deteno, de um a trs anos. 2 - Anulado por qualquer motivo o primeiro casamento, ou o outro por motivo que no a bigamia, considera-se inexistente o crime.

Algum o acusa de crime de bigamia. Alega-se que no se pode responder pelo crime de bigamia porque no juzo cvel tramita uma ao de anulao do casamento. O primeiro casamento a questo prejudicial e o crime de bigamia a questo prejudicada. Fica prejudicada at o momento em que o juzo cvel tiver uma deciso acerca da nulidade do primeiro casamento. Ex: Abandono materialArt. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistncia do cnjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente invlido ou maior de 60 (sessenta) anos, no lhes proporcionando os recursos necessrios ou faltando ao pagamento de penso alimentcia judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo: Pena - deteno, de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa, de uma a dez vezes o maior salrio mnimo vigente no Pas.

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Pargrafo nico - Nas mesmas penas incide quem, sendo solvente, frustra ou ilide, de qualquer modo, inclusive por abandono injustificado de emprego ou funo, o pagamento de penso alimentcia judicialmente acordada, fixada ou majorada.

Se tramita no cvel uma investigao de paternidade, no se pode condenar algum pelo crime de abandono material. Natureza jurdica: Apesar de algumas posies em sentido contrrio prevalece o entendimento de que a questo prejudicial condiciona a existncia da prpria infrao penal. Portanto, trata-se de uma elementar da infrao penal, pois condiciona a prpria existncia do delito. Obs. :

Elementares: so dados essenciais da figura tpica, cuja ausncia pode produziruma atipicidade absoluta ( a atipicidade mesmo, a conduta atpica) ou relativa ( sinnimo de desclassificao Ex. funcionrio pblico delito peculato, se retira esta elementar gera uma atipicidade relativa). tudo aquilo que acaba interferindo no tipo penal elementar do art. 121. Ex. matar algum o algum uma

Circunstncias: so dados perifricos que gravitam ao redor da figura tpica.Podem aumentar ou diminuir a pena, mas no interferem no crime. (elas interferem na pena) Caractersticas:

1. Anterioridade: significa que a questo prejudicial deve ser enfrentada antes domrito da ao principal (da imputao criminal).

2. Essencialidade ou Interdependncia: o mrito da ao principal depende daresoluo da questo prejudicial. Uma agravante no pode se tornar questo prejudicial, porque no est ligada ao mrito da ao principal.

3. Autonomia: a questo prejudicial pode ser objeto de uma ao autnoma.Na bigamia, por exemplo, independentemente do processo criminal, subsiste a ao anulatria do primeiro casamento no juzo cvel.

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Questes Prejudiciais x Questes Preliminares:

Questes Prejudiciais Est relacionada ao direito material

Questes Preliminares Est ligada ao direito processual (* salvo nos casos de prescrio que est ligada ao mrito, preliminar de mrito). Esto relacionadas a pressupostos processuais, tanto de existncia como de validade So sempre vinculadas ao processo criminal. A questo preliminar est sempre vinculada ao processo penal, ou seja, se no existir o processo penal a questo preliminar desaparece S podem ser decididas pelo juzo penal, justamente pelo fato de serem vinculadas.

uma elementar da infrao penal

Tem existncia autnoma

Podem ser objeto de anlise pelo juzo penal ou pelo juzo extrapenal.

Conceito de Questo Preliminar: o fato processual ou de mrito que impede que o juiz aprecie o fato principal. Ex: Preliminar de mrito: prescrio. No Brasil, se h prescrio tem-se que julgar extinta a punibilidade. LFG contrrio, tendo em vista que, mesmo havendo a extino da punibilidade, deve-se julgar o mrito, para saber se o ru inocente ou culpado. A litispendncia e a coisa julgada so exemplos de preliminares processuais. Sistemas de soluo: Como se resolve uma questo prejudicial? H, pois, vrios sistemas. 1) Sistema da Cognio Incidental (tambm conhecido como Sistema do Predomnio da Jurisdio Penal): O juiz penal sempre competente para apreciar a questo prejudicial, mesmo sendo ela heterognea (aquela que pertence a outro ramo do Direito). Esse sistema tem como critica o fato de que, de certa forma, viola o princpio do juiz natural, porque permite que o juiz penal decida uma questo que no da sua competncia. Em contrapartida, h celeridade e economia processual se for adotado esse princpio.

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2) Sistema da Prejudicialidade Obrigatria: (tambm conhecido como Sistema da Separao Jurisdicional Absoluta) O juiz penal nunca competente para apreciar a questo prejudicial heterognea (aquela pertencente a outro ramo do Direito), nem mesmo de maneira incidental. A vantagem que o princpio do juiz natural observado. Porm, ficam prejudicadas a economia processual e a celeridade. 3) Sistema da Prejudicialiade Facultativa: De acordo com esse sistema, o juiz criminal tem a faculdade de apreciar ou no as questes prejudiciais heterogneas (aquelas pertencentes a outro ramo do Direito). 4) Sistema Ecltico ou Misto: Resulta da fuso do Sistema da Prejudicialidade Obrigatria com o Sistema da Prejudicialidade Facultativa. o sistema adotado no Brasil no CPP. Quanto s questes prejudiciais heterogneas relativas ao estado civil das pessoas, vigora o Sistema da Prejudicialidade Obrigatria. Porm, quanto s demais questes prejudiciais heterogneas, vigora o Sistema da Prejudicialidade Facultativa. Exemplo: Furto Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia mvel. A elementar a coisa ser alheia logo se alegar que a coisa prpria isto prejudicial heterognea que dispensa a discusso no juzo civil. Classificao das Questes Prejudiciais: Quanto natureza: a) homognea, comum ou imperfeita: a questo prejudicial pertence ao mesmo ramo do direito da questo prejudicada. No acarreta a suspenso do processo. Exs: calnia e exceo da verdade;

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Ex: receptao e furtoReceptao Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito prprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-f, a adquira, receba ou oculte:

Ex. lavagem de capitais e crime antecedente. No caso da lavagem de capitais, deve-se sempre saber qual a origem do capital (crime antecedente), para que possa ser apurada a lavagem de capitais. Ressalte-se que a tramitao simultnea do crime de lavagem de capitais e o crime antecedentes no obrigatria, inclusive porque o crime antecedente pode ter sido cometido e estar sendo julgado no exterior.

LEI N 9.613, DE 3 DE MARO DE 1998. Dos Crimes de "Lavagem" ou Ocultao de Bens, Direitos e Valores Art. 1 Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localizao, disposio, movimentao ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de crime: I - de trfico ilcito de substncias entorpecentes ou drogas afins; II - de terrorismo; II de terrorismo e seu financiamento; (Redao dada pela Lei n 10.701, de 9.7.2003) III - de contrabando ou trfico de armas, munies ou material destinado sua produo; IV - de extorso mediante seqestro; V - contra a Administrao Pblica, inclusive a exigncia, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, de qualquer vantagem, como condio ou preo para a prtica ou omisso de atos administrativos; VI - contra o sistema financeiro nacional; VII - praticado por organizao criminosa. VIII praticado por particular contra a administrao pblica estrangeira (arts. 337-B, 337-C e 337-D do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 Cdigo Penal). (Inciso includo pela Lei n 10.467, de 11.6.2002)

O CPP somente trata das questes prejudiciais heterogneas (vide arts 92 e 93 do CPP)DAS QUESTES PREJUDICIAIS Art. 92. Se a deciso sobre a existncia da infrao depender da soluo de controvrsia, que o juiz repute sria e fundada, sobre o estado civil das pessoas, o curso da ao penal ficar suspenso at que no juzo cvel seja a controvrsia dirimida por sentena passada em julgado, sem prejuzo, entretanto, da inquirio das testemunhas e de outras provas de natureza urgente. Pargrafo nico. Se for o crime de ao pblica, o Ministrio Pblico, quando necessrio, promover a ao civil ou prosseguir na que tiver sido iniciada, com a citao dos interessados.

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Art. 93. Se o reconhecimento da existncia da infrao penal depender de deciso sobre questo diversa da prevista no artigo anterior, da competncia do juzo cvel, e se neste houver sido proposta ao para resolv-la, o juiz criminal poder, desde que essa questo seja de difcil soluo e no verse sobre direito cuja prova a lei civil limite, suspender o curso do processo, aps a inquirio das testemunhas e realizao das outras provas de natureza urgente.

Logo quando o CPP trata das questes prejudiciais, no est preocupado com as questes homogneas, mas sim com relao s questes prejudiciais heterogneas. As prejudiciais homogneas no so objeto de anlise nos artigos 92 e 93 do CPP, na verdade so resolvidas por meio da conexo probatria ou instrumental (art 76 , III do CPP). A questo prejudicial homognea resolvida por meio da conexo probatria ou instrumental. O art. 76, III do CPP trata do tema:Art. 76. A competncia ser determinada pela conexo: ....................................................................................................................... III - quando a prova de uma infrao ou de qualquer de suas circunstncias elementares influir na prova de outra infrao.

Se os dois crimes so objeto do mesmo processo, o juiz julga primeiro o crime antecedente e, depois, na mesma sentena, o crime consequente. Porm, se o primeiro crime no estiver no mesmo processo, o juiz deve apreci-lo de maneira incidental, apenas para poder julgar a questo prejudicada. Nesse caso, crime no faz coisa julgada material. Assim, o ideal fazer uma mesma denncia para os dois crimes. O STJ entende que a tramitao simultnea dos processos pode ocorrer, mas no obrigatria. b) heterognea, jurisdicional ou perfeita: A questo prejudicial diz respeito a outro ramo do Direito, diverso da questo prejudicada. a que ser estudada a partir de agora, j que a que o CPC se atm. deciso incidental sobre o primeiro

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Quanto competncia: a) no devolutivas: so sempre analisadas pelo juizo penal. As questes homogneas so sempre analisadas pelo juiz penal. No se devolve o conhecimento da matria a outro rgo do poder judicirio. b) devolutivas: o juiz penal devolve o conhecimento da matria da questo prejudicial ao juiz natural. Esto subdivididas em: b.1) absolutas: aquelas que jamais podero ser analisadas pelo juiz penal. So aquelas questes prejudiciais heterogneas relativas ao estado civil das pessoas. b.2) relativas: so aquelas que podem, eventualmente, ser analisadas pelo juiz penal. So as questes prejudiciais heterogneas, desde que no relacionadas ao estado civil das pessoas. Quanto aos efeitos: A doutrina subdivide as questes prejudiciais em: a) obrigatria, necessria ou em sentido estrito: So aquelas que sempre acarretam a suspenso do processo, pois o juiz penal no tem competncia para apreci-las. So as questes heterogneas relativas ao estado civil das pessoas, ou seja, as prejudiciais devolutivas absolutas. Isso porque as relativas devem ser remetidas ao juzo cvel. b) facultativa ou em sentido amplo: So aquelas que nem sempre acarretam a suspenso do processo, pois o juiz penal pode, eventualmente, enfrent-las. Aqui trata-se da questo prejudicial devolutiva relativa, ou seja, a heterognea, salvo as relativas ao estado das pessoas.

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Questes prejudiciais obrigatrias: Como afirmado acima, sempre suspendem o processo. O primeiro item a ser abordado diz respeito aos pressupostos. Pressupostos: a) tem que ser uma questo que afeta o mrito, ou seja, deve ser uma elementar da infrao penal. Para que se possa falar em questo prejudicial, deve-se falar em elementar. Aqui surge a diferena entre uma elementar e uma circunstncia do crime. Elementares so dados essenciais da figura tpica, cuja ausncia pode produzir uma atipicidade absoluta ou relativa (desclassificao). J as circunstncias so dados perifricos que gravitam ao redor da figura tpica. Podem aumentar ou diminuir a pena, mas no interferem no crime. Ex: funcionrio pblico uma elementar, pois se se retirar a figura o crime desclassificado.Art. 92. Se a deciso sobre a existncia da infrao depender da soluo de controvrsia, que o juiz repute sria e fundada, sobre o estado civil das pessoas, o curso da ao penal ficar suspenso at que no juzo cvel seja a controvrsia dirimida por sentena passada em julgado, sem prejuzo, entretanto, da inquirio das testemunhas e de outras provas de natureza urgente. Pargrafo nico. Se for o crime de ao pblica, o Ministrio Pblico, quando necessrio, promover a ao civil ou prosseguir na que tiver sido iniciada, com a citao dos interessados.

Assim, no for uma elementar no uma questo prejudicial. ATENO: circunstncias do crime, como atenuantes ou agravantes, no acarretam suspenso do processo criminal. Questo de concurso: Fulano pratica um roubo contra o pai. Durante o curso do processo criminal, ficou-se sabendo que tramitava uma investigao de paternidade. Podia-se suspender a ao penal? R - Nesse caso, no se suspende o processo, porque no altera a elementar, porque mesmo que no for pai, continua o crime de roubo. Nesse caso, h uma circunstncia e no uma elementar.

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Obs.: Se transitou em julgado com a agravante de ser o crime contra o pai e no civil a investigao de paternidade resulta na negativa de paternidade pode-se entrar com Reviso Criminal. b) a alegao deve ser sria e fundada. c) deve a questo prejudicial heterognea estar relacionada ao estado civil das pessoas.

Consequncias do reconhecimento de uma questo prejudicial obrigatria: a) obrigatria a suspenso do processo e, consequentemente, do prazo prescricional, at o transito em julgado do processo no juzo civil.Art. 116 do CP - Causas impeditivas da prescrio: Art. 116 - Antes de passar em julgado a sentena final, a prescrio no corre: I - enquanto no resolvida, em outro processo, questo de que dependa o reconhecimento da existncia do crime;

Exemplos de situaes em que o processo de conhecimento fica suspenso e a prescrio tambm fica suspensa: 1) Citao por edital; (art. 366 do CPP)Art. 366. Se o acusado, citado por edital, no comparecer, nem constituir advogado, ficaro suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produo antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar priso preventiva, nos termos do disposto no art. 312.

2) Suspenso condicional do processo (art. 89 da lei dos Juizados Especiais 9.099);Art. 89. Nos crimes em que a pena mnima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou no por esta Lei, o Ministrio Pblico, ao oferecer a denncia, poder propor a suspenso do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado no esteja sendo processado ou no tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspenso condicional da pena (art. 77 do Cdigo Penal).

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Exemplo de situaes em que o processo de conhecimento fica suspenso e a prescrio no fica suspensa: 1) Doena mental superveniente infrao penal. (Art. 152 do CPP)Art. 152. Se se verificar que a doena mental sobreveio infrao o processo continuar suspenso at que o acusado se restabelea, observado o 2o do art. 149.

b) produo de provas urgentes: Aqui, o ideal no o juiz realizar as provas urgentes, mas toda a instruo e depois suspender o processo.Art. 92. Se a deciso sobre a existncia da infrao depender da soluo de controvrsia, que o juiz repute sria e fundada, sobre o estado civil das pessoas, o curso da ao penal ficar suspenso at que no juzo cvel seja a controvrsia dirimida por sentena passada em julgado, sem prejuzo, entretanto, da inquirio das testemunhas e de outras provas de natureza urgente.

Obs.: A doutrina entende que todas as testemunhas devero ser ouvidas no processo, ou seja, qualquer testemunha dever ser ouvida para no prejudicar a apurao da verdade ( no somente aquelas idosas ou que estejam em leito de morte). O ideal fazer toda a instruo probatria e no final suspende-se o processo. c) nos crimes de ao penal pblica, deve o MP promover a ao civil referente questo prejudicial, mesmo que no tivesse legitimidade originariamente, ou deve dar prosseguimento quela em curso. Na hora da questo prejudicial obrigatria, o juiz penal suspende o processo. Ora, e se a ao civil no estiver em andamento? Assim, em decorrncia do princpio da obrigatoriedade da ao penal pblica, o MP pode entrar com a ao civil, mesmo que no legitimado originrio para propor a ao. (Art. 92 Pargrafo nico do CPP)Art, 92 Pargrafo nico do CPP Pargrafo nico. Se for o crime de ao pblica, o Ministrio Pblico, quando necessrio, promover a ao civil ou prosseguir na que tiver sido iniciada, com a citao dos interessados.

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Questo Prejudicial Facultativa: Pressupostos: a) deve ser uma elementar da infrao penal; b) deve ser de difcil soluo; c) no deve versar sobre o estado civil das pessoas; d) no deve o direito civil limitar a prova quanto questo prejudicial: No direito penal, vige o princpio da liberdade das provas, por estar em jogo a liberdade de locomoo, vige o princpio da busca da verdade (que um ideal porque a verdade real no existe). Excetuam-se as provas ilcitas e ilegtimas. No entanto, no direito civil, no vige o princpio da liberdade das provas. Nesse caso, se no juzo civil houver limitao probatria (Ex. art. 227 do CC), o ru estaria sendo prejudicado, pois, no processo penal, admite-se ampla liberdade na produo das provas, logo, no pode o juiz penal enviar o processo. Vide Art. 227 do CC:Art. 227. Salvo os casos expressos, a prova exclusivamente testemunhal s se admite nos negcios jurdicos cujo valor no ultrapasse o dcuplo do maior salrio mnimo vigente no Pas ao tempo em que foram celebrados. Pargrafo nico. Qualquer que seja o valor do negcio jurdico, a prova testemunhal admissvel como subsidiria ou complementar da prova por escrito.

e) a questo prejudicial deve ser da competncia do juzo extrapenal; f) j deve ter sido proposta a ao civil, ou seja, a ao civil deve estar em andamento; Consequncias das questes prejudiciais facultativas: a) se o juiz reconhecer a existncia dessa prejudicial, deve suspender o processo: O juiz criminal marca um prazo de suspenso que pode ser prorrogado. Por conseguinte, suspenso o processo, deve-se suspender tambm a prescrio. O processo fica suspenso de acordo com o prazo fixado pelo juiz, o qual pode ser prorrogado. Aqui no vigora a regra de que o processo penal fica suspenso at o trnsito em julgado do processo no juzo cvel. Se mesmo depois da prorrogao do prazo no houve uma deciso no juzo cvel, o juzo penal retoma a sua competncia para apreciar tal questo, de maneira incidental.

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b) inquirio das testemunhas e possibilidade de produo de outras provas urgentes; c) nos crimes de ao penal pblica, deve o MP intervir nas aes em andamento. A questo prejudicial facultativa vem disposta no CPP no art. 93:Art. 93. Se o reconhecimento da existncia da infrao penal depender de deciso sobre questo diversa da prevista no artigo anterior, da competncia do juzo cvel, e se neste houver sido proposta ao para resolv-la, o juiz criminal poder, desde que essa questo seja de difcil soluo e no verse sobre direito cuja prova a lei civil limite, suspender o curso do processo, aps a inquirio das testemunhas e realizao das outras provas de natureza urgente. 1o O juiz marcar o prazo da suspenso, que poder ser razoavelmente prorrogado, se a demora no for imputvel parte. Expirado o prazo, sem que o juiz cvel tenha proferido deciso, o juiz criminal far prosseguir o processo, retomando sua competncia para resolver, de fato e de direito, toda a matria da acusao ou da defesa. 2o Do despacho que denegar a suspenso no caber recurso. 3o Suspenso o processo, e tratando-se de crime de ao pblica, incumbir ao Ministrio Pblico intervir imediatamente na causa cvel, para o fim de promover-lhe o rpido andamento.

Observaes finais: 1) Da deciso que suspender o processo, cabe recurso? R - Sim, Recurso em Sentido Estrito. (vide Art. 581, inciso XVI, do CPP)Art. 581. Caber recurso, no sentido estrito, da deciso, despacho ou sentena: XVI - que ordenar a suspenso do processo, em virtude de questo prejudicial;

2) E da deciso que no suspender o processo, ou seja, que indeferir o pedido desuspenso do processo? R - Da deciso que no suspende o processo, no cabe recurso. Porm, caso haja um risco potencial liberdade de locomoo, pode ser usado o habeas corpus. (vide art. 93, 2o do CPP). 2o Do despacho que denegar a suspenso no caber recurso.

Obs. O MP pode impetrar o Habeas corpus em favor do acusado. 3) A suspenso do processo pode ser decretada de ofcio ou depende de provocao das partes. R- Pode se dar de ofcio ou por provocao das partes. (vide Art. 94 do CPP)Art. 94. A suspenso do curso da ao penal, nos casos dos artigos anteriores, ser decretada pelo juiz, de ofcio ou a requerimento das partes.

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4) Qual a consequencia se o juiz penal aprecia uma questo prejudicial obrigatria? (Ex: bigamia). R- Havendo prejudicial obrigatria, haver nulidade absoluta se o juiz criminal nega a suspenso do processo e aprecia a questo, pois era absolutamente incompetente para faz-lo. Por exemplo, se em processo criminal por bigamia, o juiz penal decide acerca da nulidade do primeiro casamento, nesse caso, o juiz penal viola competncia em razo da matria, logo tal sentena seria dotada de nulidade absoluta. Poderia essa sentena ser discutida mesmo aps o trnsito em julgado. Obs.: Alguns doutrinadores, como Ada Grinover, sustentam que no caso de incompetncias absolutas a sentena seria inexistente. Mas um posicionamento minoritrio.

5) A suspenso s do processo penal ou poder haver no inqurito policial?R- No h suspenso de inqurito policial por conta de questo prejudicial, ela s acarreta suspenso do processo. 6) A deciso do juzo cvel faz coisa julgada no juzo penal? E diante de uma

prejudicial facultativa, quando analisada por juiz penal, faz coisa julgada no cvel? R- Tem fora de coisa julgada na esfera penal a sentena cvel relativa questo prejudicial heterognea, seja ela relacionada ou no ao estado civil das pessoas (tenha havido ou no a suspenso do processo). Todavia, a deciso do juiz criminal sobre questo prejudicial facultativa (devolutiva relativa) no faz coisa julgada na esfera civil, j que apreciada de maneira incidental.

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Princpio da Suficincia da Ao Penal: Em algumas situaes, a ao penal, por si s, j suficiente para dirimir a controvrsia. o que ocorre nas questes prejudiciais heterogneas no relativas ao estado civil das pessoas e que no sejam de difcil soluo, as quais podem ser resolvidas no prprio processo penal. Quando o juiz penal se depara com questes prejudiciais heterogneas, exceo daquelas ligadas ao estado civil das pessoas, ele tem a faculdade de dizer se vai decidir ou no a questo. Quando o juiz penal enfrenta essa questo heterognea, pode-se dizer que a ao penal suficiente para dirimir as duas questes. Nas questes prejudiciais heterogneas que no digam respeito ao estado civil das pessoas, o juiz criminal pode apreciar toda a matria, desde que a questo no seja de difcil soluo. Dissertao: deciso final do procedimento administrativo de lanamento nos crimes materiais contra a ordem tributria. Em primeiro lugar, deve-se fazer meno ao art. 83 da Lei 9.430/96. Alguns doutrinadores comearam a sustentar que o art. 83 da Lei 9.430/96 teria criado uma condio de procedibilidade, ou seja, o MP, para propor uma ao penal por crime contra a ordem tributria, ficaria dependendo da deciso final no processo administrativo. Na ADIN 1.571, mesmo tendo sido julgada improcedente, o STF entendeu o seguinte: - o artigo 83 da Lei 9.430/96 no criou condio de procedibilidade da ao penal por crime contra a ordem tributria. - portanto, pode o MP oferecer denncia independentemente da representao fiscal se, por outros meios, tiver conhecimento do lanamento definitivo. - o art. 83 tem como destinatrio as autoridades fazendrias, prevendo o momento em que devem encaminhar ao MP notitia criminis de crime contra a ordem tributria. Art. 83. A representac a o fiscal para fins penais relativa aos crimes contra a ordem c a tributa ria definidos nos arts. 1 e 2 da Lei n 8.137, de 27 de dezembro de 1990, sera a a encaminhada ao Ministe rio Pu blico apo s proferida a decisa o final, na esfera e u o a administrativa, sobre a exige ncia fiscal do cre dito tributa rio correspondente. e e a

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Para grafo u nico. As disposies contidas no caput do art. 34 da Lei n 9.249, de 27 de a u dezembro de 1995, aplicam-se aos processos administrativos e os inque ritos e processos e em curso, desde que na o recebida a denu ncia pelo juiz. a u

Qual a natureza jurdica dessa deciso final? Prevalece o entendimento de que a deciso final do processo administrativo de lanamento, a de condio objetiva de punibilidade. Por essa corrente, antes da deciso final, no possvel falar-se em consumao de crime material contra a ordem tributria. Vide RHC 90.532 (STF) e HC 54.248 (STJ). No entanto, h quem afirma que o MP pode oferecer denncia, figurando a deciso final como uma questo prejudicial heterognea (art. 93 do CPP), acarretando a suspenso do processo e da prescrio. Sustentam essa posio Eugnio Pacheli de Oliveira, LFG. Condio de procedibilidade x Condio objetiva de punibilidade: Condio de procedibilidade: - est relacionada do direito processual. - conceito: so condies exigidas para o regular exerccio do direito de ao. As condies da ao tanto podem ser genricas (possibilidade, legitimidade, interesse) como especficas (depende do crime. Ex: entrada do ru em territrio nacional) - efeito da ausncia de uma condio de procedibilidade: Ex: o MP oferece denncia em crime de ao penal privada. Essa ausncia pode ser percebida no momento do oferecimento da peca acusatria, seja denncia ou queixa. Nesse momento, a consequencia a rejeio da pea acusatria. E se o juiz perceber a ausncia de uma condio de procedibilidade durante o curso do processo? Nesse caso, pode o juiz, por exemplo, extinguir o processo sem resoluo de mrito por falta de interesse em prosseguir com o processo. No se adentra ao mrito, logo, essa deciso s faz coisa julgada formal. Assim, removido o impedimento, nova ao penal pode ser proposta. Condio objetiva de punibilidade: - est ligada ao direito material.

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- conceito: so condies exigidas pelo legislador para que o fato se torne punvel e que esto fora do tipo penal. Independem do dolo ou da culpa do agente. Encontram-se entre o preceito primrio e secundrio da norma penal incriminadora, condicionando existncia da pretenso punitiva do Estado. - efeito da ausncia: Antes do processo, o STF j tem entendido que, enquanto no houver uma deciso final do procedimento administrativo, no h justa causa para a ao penal (HC 81.611). Nesse caso, deve-se entender justa causa como fundamento de direito. Justa causa como condio de procedibilidade, a justa causa que se entende como o mnimo de provas para que se d incio ao processo penal. J ao final do processo, a ausncia da condio de objetiva de punibilidade, o caminho , inegavelmente, o da absolvio. Porm, se h absolvio, houve anlise de mrito, logo haver coisa julgada tanto formal quanto material. Aula 02 29/07/2010 PROCEDIMENTOS INCIDENTAIS 1. Excees: So procedimentos incidentais em que se alegam determinados fatos processuais referentes a pressupostos ou a condies da ao, objetivando a extino do processo ou sua simples dilao. 2. Excees x Objees: Objees processuais so a defesa ou as modalidades de defesa que podem ser conhecidas de ofcio pelo juiz. J a exceo a defesa que s pode ser conhecida pelo juiz se for alegada pela parte. Como exemplo de exceo no processo civil, temos a incompetncia relativa. J a incompetncia absoluta seria caso de objeo. No processo penal, a apalavra exceo foi utilizada de maneira incorreta, pois todas as questes do art. 95 podem e devem ser conhecidas de ofcio pelo juiz, citadas pelo as excees podem ser conhecidas de ofcio. Concluindo, o CPP usou de maneira indevida o termo exceo, na medida em que todas as excees do art. 95 podem ser conhecidas de ofcio pelo juiz.

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Art. 95. Podero ser opostas as excees de: I - suspeio; II - incompetncia de juzo; III - litispendncia; IV - ilegitimidade de parte; V - coisa julgada.

3. Modalidades de Excees: a) dilatrias: So as excees que geram a procrastinao do processo. Das cinco modalidades do art. 95 so dilatrias a suspeio (o impedimento e a incompatibilidade seguem o mesmo procedimento da suspeio), incompetncia de juzo e a ilegitimidade de parte. Atente que no caso da ilegitimidade, alguns autores entendem que fazem parte das excees dilatrias. Defendem essa tese Fernando Capez e Jlio Mirabete. Isso porque se a ilegitimidade for reconhecida o processo ser extinto. A melhor posio a de que apenas a suspeio e incompetncia so excees dilatrias. b) peremptrias: a exceo que produz a extino do processo. So excees peremptrias, a litispendncia, a coisa julgada e a ilegitimidade. Defendem que a ilegitimidade modalidade de exceo peremptria LFG e Eugnio Pacheli de Oliveira. Em regra, as excees so processadas em autos apartados e no suspendem o andamento do processo.Art. 111. As excees sero processadas em autos apartados e no suspendero, em regra, o andamento da ao penal.

Com relao exceo de suspeio, caso a parte contrria reconhea a procedncia da arguio, o curso do processo poder ser suspenso.Art. 102. Quando a parte contrria reconhecer a procedncia da argio, poder ser sustado, a seu requerimento, o processo principal, at que se julgue o incidente da suspeio.

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Como o juiz pode apreciar as questes de ofcio, mesmo que a exceo tenha sido argida de maneira incorreta o juiz poder apreci-las. 4. Exceo de Suspeio: Segue o mesmo procedimento quando se estiver diante de uma exceo de impedimento ou incompatibilidade. Qual a diferena, no processo penal, entre impedimento, suspeio e incompatibilidade? Suspeio: Em regra, as hipteses de suspeio referem-se a uma relao externa ao processo (Ex.: relao de amizade ou de inimizade).Art. 254. O juiz dar-se- por suspeito, e, se no o fizer, poder ser recusado por qualquer das partes: I - se for amigo ntimo ou inimigo capital de qualquer deles; II - se ele, seu cnjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a processo por fato anlogo, sobre cujo carter criminoso haja controvrsia; III - se ele, seu cnjuge, ou parente, consangneo, ou afim, at o terceiro grau, inclusive, sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado por qualquer das partes; IV - se tiver aconselhado qualquer das partes; V - se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes; VI - se for scio, acionista ou administrador de sociedade interessada no processo.

- consequencia da deciso proferida por juiz suspeito a nulidade absoluta do ato. Essa nulidade absoluta porque no est sujeita convalidao. A nulidade ab initio.Art. 564. A nulidade ocorrer nos seguintes casos: I - por incompetncia, suspeio ou suborno do juiz;

O nus da prova da suspeio da parte que faz a sua argio, ou seja, do excipiente. (vide STJ HC 146.796)

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HABEAS CORPUS N 146.796 - SP (2009/0175180-7) EMENTA PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS . EXCEO DE SUSPEIO. ALEGAO DE PARCIALIDADE DE MAGISTRADO FEDERAL. HIPTESES DO ART. 254 DO CPP. NO TAXATIVIDADE. IMPROPRIEDADE DA VIA ELEITA POR AUSNCIA DA FASE DE INSTRUO. NECESSIDADE DO CONTRADITRIO. IMPARCIALIDADE DO JULGADOR. ORDEM PARCIALMENTE CONHECIDA E, NESSA EXTENSO, DENEGADA. 1. Se certo que o impedimento diz da relao entre o julgador e o objeto da lide (causa objetiva), no menos correto afirmar que a suspeio o vincula a uma das partes (causa subjetiva). 2. Tanto o impedimento quanto a suspeio buscam garantir a imparcialidade do Magistrado, condio sine qua non do devido processo legal, porm, diferentemente do primeiro, cujas hipteses podem ser facilmente pr-definidas, seria difcil, qui impossvel, ao legislador ordinrio prever todas as possibilidades de vnculos subjetivos (juiz e partes) susceptveis de comprometer a sua imparcialidade. 3. Para atender ao real objetivo do instituto da suspeio, o rol de hipteses do art. 254 do CPP no deve, absolutamente, ser havido como exaustivo. necessria certa e razovel mitigao, passvel de aplicao, tambm e em princpio, da clusula aberta de suspeio inscrita no art. 135, V, do CPC c/c 3 do CPP. 4. H grande diferena entre o habeas corpus que ataca atos relacionados a persecuo penal e o que visa o reconhecimento da parcialidade do magistrado. Enquanto naquele o objetivo (sanar constrangimento ilegal) dispensa o contraditrio, uma vez que o exame se debrua sobre a legalidade/constitucionalidade do ato atacado, neste a anlise do pedido reclama, quase que necessariamente, incurso aprofundada em todo o conjunto probatrio produzido tanto pelo excipiente/paciente, quanto pelo excepto, com ampla possibilidade de defesa (contraditrio). 5. Sendo do excipiente o nus de produo da prova, ela, quando apresentada, deve ser confrontada com os argumentos do excepto, possibilitando ao julgador aferir sua veracidade e o contexto ftico no qual foi gerada. 6. Em que pese ser possvel, embora pouco provvel, ocorre hipteses nas quais a parcialidade do magistrado se revela ostensiva, viabilizando, desde logo, a utilizao desta via, para afastar o constrangimento. No caso, tal no ocorre, pois a documentao apresentada, por si s, no se revela apta a demonstrar a pretensa parcialidade do Magistrado, excepto, conforme bem ponderou o acrdo impugnado, que, alis, transitou em julgado. 7. Notrio ser incabvel, atravs da estreita ao em foco, o aprofundado exame de provas, tal como, por exemplo, coligir tpicos isolados de vrias decises do Magistrado, apenas aquelas que seriam adversas, inseridos em contexto amplo, para formar, em decorrncia, suposto conjunto probatrio que justificaria a imputao a ele, do grave vcio de parcialidade. A experincia revela, diversamente, a imparcialidade e lisura que informam a atuao dos Magistrados, em geral. A exceo, que consistiria em pretensa parcialidade, para ser acolhida, deve restar sobejamente demonstrada pelo excipiente, com apoio em elementos de persuaso indene de dvidas, convergentes, sobretudo em ao de pedir habeas corpus. Isto no ocorreu. 8. Ordem parcialmente conhecida e, nessa extenso, denegada, ficando sem efeito a liminar. Braslia (DF), 04 de maro de 2010(data do Julgamento) MINISTRO ARNALDO ESTEVES LIMA Relator

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Suspeio por foro ntimo: a Resoluo n 82 do CNJ art. 1 trata do assunto.RESOLUO N 82, de 09 de junho de 2009. Regulamenta as declaraes de suspeio por foro ntimo. O PRESIDENTE DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIA, no uso de suas atribuies, Considerando que durante Inspees realizadas pela Corregedoria Nacional de Justia foi constatado um elevado nmero de declaraes de suspeio por motivo de foro ntimo; Considerando que todas as decises dos rgos do Poder Judicirio devem ser fundamentadas (art. 93, IX, da CF); Considerando que dever do magistrado cumprir com exatido as disposies legais (art. 35, I, da LC 35/1979), obrigao cujo observncia somente pode ser aferida se conhecidas as razes da deciso; Considerando que no julgamento do relatrio da Inspeo realizada no Poder Judicirio Estadual do Amazonas foi aprovada a proposta de edio de Resoluo, pelo Conselho Nacional de Justia, para que a as razes da suspeio por motivo ntimo, declarada pelo magistrado de primeiro e de segundo grau, e que no sero mencionadas nos autos, sejam imediatamente remetidas pelo magistrado, em carter sigiloso, para conhecimento pelo Tribunal ao qual est vinculado; Considerando que a sistemtica de controle adotada, com xito, h vrios anos, por alguns Tribunais do Pas. R E S O L V E: Art. 1. No caso de suspeio por motivo ntimo, o magistrado de primeiro grau far essa afirmao nos autos e, em ofcio reservado, imediatamente expor as razes desse ato Corregedoria local ou a rgo diverso designado pelo seu Tribunal. Art. 2. No caso de suspeio por motivo ntimo, o magistrado de segundo grau far essa afirmao nos autos e, em ofcio reservado, imediatamente expor as razes desse ato Corregedoria Nacional de Justia. Art. 3. O rgo destinatrio das informaes manter as razes em pasta prpria, de forma a que o sigilo seja preservado, sem prejuzo do acesso s afirmaes para fins correcionais. Art. 4. Esta resoluo entrar em vigor na data de sua publicao. Ministro GILMAR MENDES

Impedimento: Em regra, as hipteses de impedimento referem-se a uma relao interna com o processo. Estas causas so taxativas. Se um Desembargador atuar em processo administrativo contra servidor do Tribunal, pode julgar o processo penal? O STF entendeu que sim. Assim, caso de impedimento, com base no inciso III do art. 252 do CPP, quando um desembargador atua julgando um recurso administrativo e, depois, um recurso criminal. Vide HC 86.963 do STF.

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HC 86963 / RJ - RIO DE JANEIRO Ementa EMENTA: HABEAS CORPUS. PEDIDO APRECIADO DE OFCIO E DENEGADO. CABIMENTO. MAGISTRADO QUE JULGOU RECURSO ADMINISTRATIVO. PRONUNCIAMENTO DE DIREITO SOBRE A QUESTO. POSTERIOR PARTICIPAO NO JULGAMENTO DA APELAO RIMINAL. IMPEDIMENTO EXISTENTE. ORDEM CONCEDIDA. Embora o Superior Tribunal de Justia tenha afirmado, na ementa do acrdo impugnado, que no conhecia do pedido, o mrito foi apreciado e a ordem denegada. Assim, conhece-se do presente habeas corpus. O desembargador relator do recurso administrativo pronunciou-se de direito sobre a questo e manteve a pena de demisso, com anlise detalhada dos fatos imputados ao paciente. Consideraes que, no mnimo, tangenciam o mrito da ao penal. Posterior participao no julgamento do apelo criminal fere o princpio do devido processo legal. Ordem concedida, para que se determine a realizao de novo julgamento, declarado nulo o acrdo de que participou o magistrado impedido, nos termos do art. 252, III, do Cdigo de Processo Penal. Como o paciente est preso em razo do trnsito em julgado da sentena condenatria confirmada pelo acrdo que ora se anula, deve ser expedido alvar de soltura em seu favor. Art. 252. O juiz no poder exercer jurisdio no processo em que: I - tiver funcionado seu cnjuge ou parente, consangneo ou afim, em linha reta ou colateral at o terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado, rgo do Ministrio Pblico, autoridade policial, auxiliar da justia ou perito; (neste caso fica no processo quem atuou primeiro) II - ele prprio houver desempenhado qualquer dessas funes ou servido como testemunha; III - tiver funcionado como juiz de outra instncia, pronunciando-se, de fato ou de direito, sobre a questo; (1)Para o STF, magistrado que juldou recurso administrativo, pronunciando-se de direito sobre a questo, est impedido de participar no julgamento de aplelao criminal- HC 86.963; 2) Para que haja o impedimento necessrio que o juiz tenha se pronunciado, de fato, ou de direito no processo atos de movimentao processual no geram impedimento STJ HC 121.416) IV - ele prprio ou seu cnjuge ou parente, consangneo ou afim em linha reta ou colateral at o terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente interessado no feito. STF - HC/86963 EMENTA: HABEAS CORPUS. PEDIDO APRECIADO DE OFCIO E DENEGADO. CABIMENTO. MAGISTRADO QUE JULGOU RECURSO ADMINISTRATIVO. PRONUNCIAMENTO DE DIREITO SOBRE A QUESTO. POSTERIOR PARTICIPAO NO JULGAMENTO DA APELAO CRIMINAL. IMPEDIMENTO EXISTENTE. ORDEM CONCEDIDA. Embora o Superior Tribunal de Justia tenha afirmado, na ementa do acrdo impugnado, que no conhecia do pedido, o mrito foi apreciado e a ordem denegada. Assim, conhece-se do presente habeas corpus. O desembargador relator do recurso administrativo pronunciou-se de direito sobre a questo e manteve a pena de demisso, com anlise detalhada dos fatos imputados ao paciente. Consideraes que, no mnimo, tangenciam o mrito da ao penal. Posterior participao no julgamento do apelo criminal fere o princpio do devido processo legal. Ordem concedida, para que se determine a realizao de novo julgamento, declarado nulo o acrdo de que participou o magistrado impedido, nos termos do art. 252, III, do Cdigo de Processo Penal. Como o paciente est preso em razo do trnsito em julgado da sentena condenatria confirmada pelo acrdo que ora se anula, deve ser expedido alvar de soltura em seu favor.

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STJ HC 121.416 EMENTA HABEAS CORPUS. USO DE DOCUMENTO FALSO. IMPEDIMENTO DO JULGADOR. MAGISTRADA QUE ATUOU NA PRIMEIRA INSTNCIA RECEBENDO A DENNCIA E REALIZANDO OUTROS ATOS INSTRUTRIOS, INCLUSIVE INTERROGATRIO, E, QUANDO DO JULGAMENTO DA APELAO, ATUA COMO REVISORA. VIOLAO AOS PRINCPIOS DO DEVIDO PROCESSO LEGAL E IMPARCIALIDADE DOS JULGADORES. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CARACTERIZADO. 1. O impedimento e a suspeio de Magistrado so circunstncias que afetam a garantia constitucional da imparcialidade do julgador. 2. No caso, a Magistrada titular da Vara Criminal atuou na instruo, recebendo a denncia, procedendo ao interrogatrio e, posteriormente, recebendo o apelo defensivo. 3. Mesmo no tendo sido ela a prolatora da sentena, no se pode afastar que sua participao criaria empecilhos sua atuao em outra instncia, a teor do que estabelece o art. 252, III, do Cdigo de Processo Penal. 4. De se ressaltar, ainda, que hoje em dia se confere primordial ateno ao interrogatrio, tanto que, aps as reformas processuais, se explicitou o princpio da identidade fsica do julgador. 5. Assim, est configurada a ofensa aos princpios do devido processo legal e tambm da imparcialidade dos julgadores. Ratificar tais condutas, por certo, refogem ao modelo penal garantista, compatvel com nossa Constituio. 6. Como efeito da anulao aqui procedida, de rigor se assegurar ao paciente que aguarde em liberdade o desfecho da ao penal, sob pena de violao ao princpio da razovel durao do processo. 7. Ordem concedida para, de um lado, anular o acrdo da apelao, determinando que outro julgamento seja realizado, apontando-se o impedimento da Desembargadora que atuou em primeira instncia; de outro lado, assegurar possa o paciente aguardar em liberdade o desfecho do processo.

Qual a consequencia da prtica de atos jurisdicionais por um juiz impedido? Para a doutrina, a consequencia a inexistncia do ato. Tamanha a gravidade do ato, que seria quase que dizer que essa deciso foi proferida por um no juiz, porque faltaria a ele jurisdio. J a jurisprudncia entende que seria caso de nulidade absoluta. Incompatibilidade: As causas de incompatibilidade so aquelas previstas nas leis de organizao judiciria e que no esto elencadas entre as causas de suspeio e impedimento. Como conseqncia tem-se a nulidade absoluta dos atos. Exs: durante dia da semana juiz que foi assaltado e ladro aponta arma para a cabea do juiz. No dia seguinte, tem que julgar um crime de roubo. Por bvio, no ter iseno para julgar o roubo; defensora pblica que no defende estuprador porque j sofreu tentativa de estupro.

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4.1. Procedimento da exceo de suspeio: Pode o juiz declarar-se suspeito, impedido ou incompatvel de ofcio. O que ocorre quando o juiz se declara suspeito e h dvida quanto suspeio? Caso o substituto no concorde com a deciso do juiz, deve comunicar o fato ao Conselho Superior da Magistratura. Isso somente para fins de eventual punio, porque o juiz no pode ser obrigado a julgar o caso se se declarar suspeito de ofcio. Arguio da exceo de suspeio pelas partes: - petio escrita dirigida ao juiz. No h exceo de suspeio oral. Todas as outras excees podem ser feiras oralmente, exceto a de suspeio. - a argio deve se dar na primeira oportunidade em que a parte aparecer no processo (se for o MP ou o Querelante, no momento do oferecimento da pea acusatria; se quem est argindo a suspeio o acusado, dever ser apresentada Acusao art. 396-A CPP) - deve ser assinada pela parte ou o advogado deve ter procurao com poderes especiais. - a arguicao dirigida ao juiz. A primeira possibilidade o acolhimento pelo juiz. Uma vez acolhida a exceo de suspeio, os autos so remetidos ao substituo legal. Pode acontecer de o juiz acolher a exceo. Se ele acolhe a suspeio, na Resposta

automaticamente os autos sero remetidos ao seu substituto (contra esta deciso no cabe recurso). Obs. As excees, em geral so julgadas pelo juiz, exceto no caso de exceo de suspeio ou de impedimento.Art. 99. Se reconhecer a suspeio, o juiz sustar a marcha do processo, mandar juntar aos autos a petio do recusante com os documentos que a instruam, e por despacho se declarar suspeito, ordenando a remessa dos autos ao substituto. Art. 100. No aceitando a suspeio, o juiz mandar autuar em apartado a petio, dar sua resposta dentro em trs dias, podendo instru-la e oferecer testemunhas, e, em seguida, determinar sejam os autos da exceo remetidos, dentro em vinte e quatro horas, ao juiz ou tribunal a quem competir o julgamento. 1o Reconhecida, preliminarmente, a relevncia da argio, o juiz ou tribunal, com citao das partes, marcar dia e hora para a inquirio das testemunhas, seguindo-se o julgamento, independentemente de mais alegaes.

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2o Se a suspeio for de manifesta improcedncia, o juiz ou relator a rejeitar liminarmente.

Caso o juiz no acolha a exceo de suspeio, autua em apartado a exceo, oferece resposta em trs dias e remete os autos ao Tribunal, no prazo de 24 horas. No Tribunal, h duas possibilidade: 1. rejeio liminar se manifestamente improcedente; 2. se houver uma verossimilhana na alegao, o Tribunal ouve as testemunhas e profere a deciso. De acordo com o CPP, contra essa deciso do Tribunal, no cabe recurso. No entanto, a doutrina entende que nada impede que o ru se utilize de habeas corpus, no caso do acusado e mandado de segurana se autor. Mas nesses casos no se admite dilao probatria, ento como se provar amizade ntima? Mas se houver a prova, so cabveis os writs. Ainda, contra essa deciso do Tribunal, a doutrina entende que podem ser interpostos RE e RESP. Qual o momento para a arguio de suspeio? Primeiro em que tiver oportunidade de se manifestar no processo. Para o MP e querelante, no momento do oferecimento da pea acusatria. J para o acusado, o momento o da resposta acusao, antiga defesa prvia. Art. 396-A do CPP, alterado em 2008 pela Lei 11.719.Art. 396-A. Na resposta, o acusado poder argir preliminares e alegar tudo o que interesse sua defesa, oferecer documentos e justificaes, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas, qualificando-as e requerendo sua intimao, quando necessrio. (Includo pela Lei n 11.719, de 2008). 1o A exceo ser processada em apartado, nos termos dos arts. 95 a 112 deste Cdigo. (Includo pela Lei n 11.719, de 2008). 2o No apresentada a resposta no prazo legal, ou se o acusado, citado, no constituir defensor, o juiz nomear defensor para oferec-la, concedendo-lhe vista dos autos por 10 (dez) dias. (Includo pela Lei n 11.719, de 2008).

A doutrina entende que, se no for argida na primeira oportunidade haver a precluso, porque como se houvesse a aceitao daquele magistrado. Isso no significa dizer que a falta de imparcialidade do magistrado no possa ser questionada posteriormente como preliminar de nulidade da sentena.

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Durante o IPL, no podem ser opostas excees de suspeio.

Embora as excees devam ser arguidas na primeira oportunidade possvel, tratando-se de questes ligadas ao Devido Processo Legal e imparcialidade da jurisdio, o impedimento, a suspeio ou a incompatibilidade podero ser reconhecidos mesmo aps o trnsito em julgado da sentena penal condenatria, mediante a utilizao do habeas corpus e da reviso criminal. Pode ser oposta exceo pelo assistente da acusao? H duas correntes na doutrina. Fernando da Costa Tourinho Filho e Fernando Capez entendem que sim. Por outro lado, LFG e Mirabete entendem que no. Atualmente, a figura do assistente vem ganhando mais importncia. Logo, em prova aconselhvel que se d essa possibilidade ao assistente que tem interesse na conduo do processo por um juiz imparcial por um processo justo. 4.2 Suspeio, impedimento ou incompatibilidade do MP: Ao rgo do MP aplicam-se as mesmas causas d eimpedimento, suspeio e incompatibilidade aplicveis aos juzes. Assim, se o marido promotor, a esposa no pode ser a juza, por exemplo.Art. 258. Os rgos do Ministrio Pblico no funcionaro nos processos em que o juiz ou qualquer das partes for seu cnjuge, ou parente, consangneo ou afim, em linha reta ou colateral, at o terceiro grau, inclusive, e a eles se estendem, no que Ihes for aplicvel, as prescries relativas suspeio e aos impedimentos dos juzes.

Estas causas de impedimento se aplicam quando o MP atua como parte e tambm quando atua como fiscal da lei. O MP que investiga pode oferecer denncia? Sim. Vide Smula 234 do STJ.Smula: 234 A PARTICIPAO DE MEMBRO DO MINISTRIO PBLICO NA FASE INVESTIGATRIA CRIMINAL NO ACARRETA O SEU IMPEDIMENTO OU SUSPEIO PARA O OFERECIMENTO DA DENNCIA.

Pode-se argir a suspeio, impedimento ou incompatibilidade somente quando parte ou tambm quando atua como fiscal da lei? Como ser argida em ambos os casos.

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Quem decide a exceo argida contra o MP? De acordo com o CPP, art. 104, quem decide essa exceo o juiz, no cabendo recurso contra esta deciso.Art. 104. Se for argida a suspeio do rgo do Ministrio Pblico, o juiz, depois de ouvi-lo, decidir, sem recurso, podendo antes admitir a produo de provas no prazo de trs dias.

Atente que possvel sustentar que o artigo 104 no foi recepcionado pela CF/88, por violar os princpios institucionais do MP, notadamente o Princpio do Promotor Natural, devendo a arguio de suspeio ser dirigida ao Conselho Superior do Ministrio Pblico. Se o juiz for decidir, h violao da independncia funcional do MP. Essa posio deve ser adotada em provas do MP. Conseqncia da atuao de um Promotor suspeito em um processo: A doutrina entende que como no h qualquer dispositivo legal que declare os atos praticados nulos eles devero ser considerados validos apenas havendo uma irregularidade neles. 4.3 Suspeio de autoridade policial: O CPP traz um de seus artigos dos mais contraditrios em relao a esta matria.Art. 107. No se poder opor suspeio s autoridades policiais nos atos do inqurito, mas devero elas declarar-se suspeitas, quando ocorrer motivo legal.

H situaes em que a vtima do delito (um Delegado de polcia por exemplo) investigou o prprio delito de que foi vitimado. Ora parte no pode opor a exceo, mas ela pode se declarar suspeita. Assim, mesmo que a vtima do delito for o delegado, ele pode presidir a investigao pelo CPP.

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4.4 Suspeio no Jri1. - Peculiaridades: feita oralmente e decidida de plano pelo juiz. Obs.: Na sesso de Julgamento so convocados 25 jurados e, pelo menos 15 devero estar presentes para instalao da referida sesso. O juiz faz a leitura dos artigos 448 e 449 aguardando que o jurado reconhea a sua suspeio. Se o jurado no reconhecer a sua suspeio, a arguio dever se dar imediatamente devendo ser decidida naquele momento pelo juiz. - Questes: - Jurado suspeito levado em considerao para o cmputo dos 15 jurados? SIM. - Obs.: no se confunde com recusa peremptria (ou recusa imotivada).Art. 451. Os jurados excludos por impedimento, suspeio ou incompatibilidade sero considerados para a constituio do nmero legal exigvel para a realizao da sesso. (Redao dada pela Lei n 11.689, de 2008)

- Jurados Impedidos no mesmo Conselho: Antes da Lei n 11.689 de 2008, era causa de nulidade relativa, sendo obrigatria a comprovao do prejuzo (Ex.: votao 4 a 3). Com a Lei n 11.689 de 2008, a votao ser interrompida quando forem atingidos 4 votos em um sentido. Como no ser possvel determinar o grau de influncia do voto do jurado impedido, sua atuao ser causa de nulidade absoluta.1

Art. 448. So impedidos de servir no mesmo Conselho: (Redao dada pela Lei n 11.689, de 2008) I marido e mulher; (Includo pela Lei n 11.689, de 2008) II ascendente e descendente; (Includo pela Lei n 11.689, de 2008) III sogro e genro ou nora; (Includo pela Lei n 11.689, de 2008) IV irmos e cunhados, durante o cunhadio; (Includo pela Lei n 11.689, de 2008) V tio e sobrinho; (Includo pela Lei n 11.689, de 2008) VI padrasto, madrasta ou enteado. (Includo pela Lei n 11.689, de 2008) 1o O mesmo impedimento ocorrer em relao s pessoas que mantenham unio estvel reconhecida como entidade familiar. (Includo pela Lei n 11.689, de 2008) 2o Aplicar-se- aos jurados o disposto sobre os impedimentos, a suspeio e as incompatibilidades dos juzes togados. (Includo pela Lei n 11.689, de 2008) Art. 449. No poder servir o jurado que: (Redao dada pela Lei n 11.689, de 2008) I tiver funcionado em julgamento anterior do mesmo processo, independentemente da causa determinante do julgamento posterior; (Includo pela Lei n 11.689, de 2008) FRUTO DA JURISPRUDNCIA. II no caso do concurso de pessoas, houver integrado o Conselho de Sentena que julgou o outro acusado; (Includo pela Lei n 11.689, de 2008) III tiver manifestado prvia disposio para condenar ou absolver o acusado. (Includo pela Lei n 11.689, de 2008)

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No confundir a suspeio do jurado com as chamadas recusas peremptrias (aquelas recusas sem motivao, ou seja, as partes podem recusar os jurados sem ter que motivar o porqu de sua recusa). 5. EXCEO DE INCOMPETNCIA. DECLITAORIA FORI. - Incompetncia Absoluta: interesse pblico; nulidade absoluta; pode ser argida a qualquer momento, e, se em favor da defesa, mesmo aps o trnsito em julgado de sentena condenatria ou absolutria imprpria; o prejuzo aqui presumido. - Em razo da matria: - Em razo da funo: - Incompetncia Relativa: interesse das partes; nulidade relativa; deve ser argida no momento oportuno (sob pena de precluso); o prejuzo deve ser comprovado ( complicado provar, pois muito abstrato). - Em razo do lugar: - Por distribuio: - Por preveno: - Por conexo ou continncia: Obs: diferentemente do processo civil, no processo penal o juiz pode declarar de ofcio a incompetncia absoluta ou a relativa. 5.1 PROCEDIMENTO: - O juiz pode se pronunciar de ofcio at a sentena. O juiz pode declarar de ofcio tanto a incompetncia relativa quanto a absoluta. Desta deciso cabe RSE (artigo 581, II).Art. 251. Ao juiz incumbir prover regularidade do processo e manter a ordem no curso dos respectivos atos, podendo, para tal fim, requisitar a fora pblica.

- Se o juiz julgar procedente a exceo. Cabe RSE (artigo 581, III).Art. 581. Caber recurso, no sentido estrito, da deciso, despacho ou sentena: II - que concluir pela incompetncia do juzo;

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III - que julgar procedentes as excees, salvo a de suspeio; (se for caso de suspeio, ela j apreciada pelo Tribunal, logo no caber RESE)

- Se julgada improcedente: de acordo com o CPP, no h recurso especfico (pode se valer de habeas corpus ou como preliminar de uma apelao). Obs: por que caso julgada procedente a exceo de suspeio, por que no cabe RSE? Porque julgada diretamente pelo tribunal2. 5.2 ) CONSEQUENCIAS: - Artigo 5673: nulidade dos atos decisrios. De acordo com a jurisprudncia, os atos instrutrios podem ser aproveitados. Obs: e no caso de aproveitamento, como fica o princpio da identidade fsica do juiz (artigo 399, 2.4 - NOVIDADE - 2008 era exclusivo do processo civil)? Passou a ser possvel sustentar que os atos instrutrios devero ser renovados. Obs: recebimento da denncia considerado ato decisrio? Para a jurisprudncia, no, podendo, portanto, ser ratificado perante o juzo competente. A prescrio somente ser interrompida com a ratificao pelo juzo competente. 6) EXCEO DE ILEGITIMIDADE. - Legitimidade ad causam. Trata-se de condio da ao. Conseqncia: Nulidade absoluta. Ex: MP oferecendo denncia em crime de ao penal privada. Nas hipteses de ilegitimidade ad causam, ao invs de opor uma exceo, pode a parte interpor HC, pedindo o trancamento do processo. - Legitimidade ad processum. Refere-se a um pressuposto processual de existncia ou de validade da relao processual. Conseqncia: nulidade relativa Ex: menor de 18 anos oferecendo queixa-crime. possvel a ratificao do ato processual.2

Art. 581. Caber recurso, no sentido estrito, da deciso, despacho ou sentena: I - que no receber a denncia ou a queixa; II - que concluir pela incompetncia do juzo; III - que julgar procedentes as excees, salvo a de suspeio (porque julgada no tribunal);

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Art. 567. A incompetncia do juzo anula somente os atos decisrios, devendo o processo, quando for declarada a nulidade, ser remetido ao juiz competente. 4 2o O juiz que presidiu a instruo dever proferir a sentena. (Includo pela Lei n 11.719, de 2008).

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Caso: Menor de 17 anos praticou um ato infracional e foi denunciado hoje que encontrase com 19 anos. Ele tem legitimidade para a causa porque foi ele quem praticou o ato infracional, somente ele no pode ser julgado no juzo criminal que incompetente. Reconhecida a incompetncia absoluta do juzo em razo da matria deve-se mandar o processo para a vara da infncia e da juventude. - Recursos cabveis: a) Se julgada procedente: RSE (artigo 581, III).Art. 581. Caber recurso, no sentido estrito, da deciso, despacho ou sentena: III - que julgar procedentes as excees, salvo a de suspeio;

b) Se o juiz anula o processo em razo da ilegitimidade: RSE (artigo 581, XIII).Art. 581. Caber recurso, no sentido estrito, da deciso, despacho ou sentena: XIII - que anular o processo da instruo criminal, no todo ou em parte;

c) Se julgada improcedente: no cabe recurso (mas, pode manejar HC ou em preliminar de apelao). 7. EXCEO DE LITISPENDNCIA: - a situao de o acusado estar respondendo a dois processos penais distintos pelo mesmo fato delituoso, independentemente da classificao que lhe seja atribudo. Obs: A expresso lide (conflito de interesses qualificado por uma pretenso resistida) no Processo Penal alvo de muitas crticas. Primeiro, porque no haveria um conflito de interesses (ao MP no interessa a condenao de um inocente). Segundo, porque no se pode falar que h uma qualificao por uma pretenso resistida (no adianta o acusado concordar). Assim, no processo penal, deve sempre haver resistncia por parte da defesa, mesmo que somente pelo advogado. - A litispendncia est relacionada ao princpio do ne/non bis in idem. - No h litispendncia entre inqurito policial e processo penal. S haver a partir da citao vlida no segundo processo. - Momento do cabimento da litispendncia: no silncio do CPP utiliza-se o Art. 219 do CPCArt. 219. A citao vlida torna prevento o juzo, induz litispendncia e faz litigiosa a coisa; e, ainda quando ordenada por juiz incompetente, constitui em mora o devedor e interrompe a prescrio.

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- Quando haver identidade de aes: a) Mesmo pedido*: no processo penal, o pedido no um elemento que identifique duas aes, pois sempre um pedido genrico de condenao. b) Mesmas partes*: no que tange ao plo ativo, esse critrio no se presta para diferenciar aes penais: denncia oferecida pelo MP e queixa subsidiria oferecida pelo ofendido, ambas em relao ao mesmo fato delituoso. Apesar de no haver dentidade no plo ativo, como as aes tramitam contra o mesmo acusado pelo mesmo fato delituoso, est presente a litispendncia. c) Causa de Pedir*: no Processo Penal a mesma imputao Enfim: para configurar a litispendncia no Processo Penal, o mesmo acusado deve estar respondendo a dois processos penais condenatrios distintos relacionados mesma imputao, independentemente da classificao que lhe seja atribuda. Logo, devem ambas as aes terem sido propostas em face do mesmo acusado e versando sobre fatos naturais imputados idnticos (no importando a classificao). - Recursos cabveis: - Quando o juiz reconhece de ofcio, trata-se de deciso com fora de definitiva. Assim, cabe apelao (artigo 593, II5). Obs: deve ser argida no processo que foi instaurado em segundo lugar. - Se julgada procedente, cabe RSE (artigo 581). - Se julgada improcedente (HC ou preliminar de apelao). Aula 03 03/08/2010 8. EXCEO DE COISA JULGADA. - Efeito da coisa julgada: Imutabilidade da deciso.5

II - das decises definitivas, ou com fora de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos no previstos no Captulo anterior;31

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Esta imutabilidade tem natureza absoluta ou relativa? R- A idia de coisa julgada est ligada segurana jurdica mas ela no um valor jurdico imutvel porque pode ser que mesmo depois do transito em julgado se verificar a existncia de um erro judicirio. Logo, no Brasil, admite-se a Reviso Criminal.(mas depende da natureza da sentena se a deciso for absolutria no cabe reviso porque no se admite reviso criminal pr societ). Em se tratando de uma sentena condenatria ou uma sentena absolutria imprpria, nesse caso admite-se reviso criminal e tambm se admite aqui o habeas corpus, mesmo aps o trnsito em julgado. Se a sentena for absolutria ou declaratria extintiva da punibilidade, por fora do Art. 8 12 da Conveno Americana de Direitos Humanos o ordenamento brasileiro no admite reviso criminal (ne bis in idem). Esta imutabilidade tem natureza absoluta (a chamada pela doutrina de COISA SOBERANAMENTE JULGADA).Conveno Americana de Direitos humanos 12. O acusado absolvido por sentena transitada em julgado no poder ser submetido a novo processo pelos mesmos fatos.

E se por acaso a deciso absolutria foi proferida por juiz incompetente? De acordo com a jurisprudncia, essa coisa soberanamente julgada existe mesmo se a deciso absolutria for proferida por um juiz incompetente (STF HC 86.606 6). - Coisa julgada formal: consiste na imutabilidade da deciso no processo em que foi proferida. (Ex.: Arquivamento por falta de provas; a impronncia art. 414 CPP)6

EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. PERSECUO PENAL NA JUSTIA MILITAR POR FATO JULGADO NO JUIZADO ESPECIAL DE PEQUENAS CAUSAS, COM TRNSITO EM JULGADO: IMPOSSIBILIDADE: CONSTRANGIMENTO ILEGAL CARACTERIZADO. ADOO DO PRINCPIO DO NE BIS IN IDEM. HABEAS CORPUS CONCEDIDO. 1. Configura constrangimento ilegal a continuidade da persecuo penal militar por fato j julgado pelo Juizado Especial de Pequenas Causas, com deciso penal definitiva. 2. A deciso que declarou extinta a punibilidade em favor do Paciente, ainda que prolatada com suposto vcio de incompetncia de juzo, susceptvel de trnsito em julgado e produz efeitos. A adoo do princpio do ne bis in idem pelo ordenamento jurdico penal complementa os direitos e as garantias individuais previstos pela Constituio da Repblica, cuja interpretao sistemtica leva concluso de que o direito liberdade, com apoio em coisa julgada material, prevalece sobre o dever estatal de acusar. Precedentes. 3. Habeas corpus concedido. (HC 86606, Relator(a): Min. CRMEN LCIA, Primeira Turma, julgado em 22/05/2007, DJe-072 DIVULG 02-08-2007 PUBLIC 03-08-2007 DJ 03-08-2007 PP-00086 EMENT VOL-02283-04 PP-00638)

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CPP Art. 414. No se convencendo da materialidade do fato ou da existncia de indcios suficientes de autoria ou de participao, o juiz, fundamentadamente, impronunciar o acusado. (Redao dada pela Lei n 11.689, de 2008) Pargrafo nico. Enquanto no ocorrer a extino da punibilidade, poder ser formulada nova denncia ou queixa se houver prova nova. (Includo pela Lei n 11.689, de 2008)

- Coisa julgada Material: a imutabilidade da deciso projetada para fora do processo. Ela pressupe a coisa julgada formal. (Ex.: casos de absolvio sumria no Procedimento Comum Art. 397 do CPP).Art. 397. Aps o cumprimento do disposto no art. 396-A, e pargrafos, deste Cdigo, o juiz dever absolver sumariamente o acusado quando verificar: (Redao dada pela Lei n 11.719, de 2008). I - a existncia manifesta de causa excludente da ilicitude do fato; (Includo pela Lei n 11.719, de 2008). II - a existncia manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade; (Includo pela Lei n 11.719, de 2008). III - que o fato narrado evidentemente no constitui crime; ou (Includo pela Lei n 11.719, de 2008). IV - extinta a punibilidade do agente. (Includo pela Lei n 11.719, de 2008).

- Essa imutabilidade da sentena absoluta? - A imutabilidade da sentena condenatria no absoluta, tem natureza relativa, na medida em que cabvel a reviso criminal e o HC, mesmo aps o trnsito em julgado de sentena condenatria ou absolutria imprpria. Portanto, a coisa julgado s ser soberana no processo penal quando a sentena for absolutria ou declaratria de extino da punibilidade, pois nesses casos no se admite reviso criminal pro societate. - LIMITES OBJETIVOS E SUBJETIVOS DA COISA JULGADA (o que vai estar protegido):

Limites objetivos da coisa julgada: Dizem respeito ao fato natural imputado aoacusado e objeto de posterior sentena, pouco importando a qualificao jurdica que lhe seja atribuda.

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Obs.: Se o acusado for absolvido como autor de um delito, nada impede que seja novamente processado como partcipe desse mesmo delito, pois as imputaes so distintas. (STF HC 82.980)

EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. HOMICDIO. JRI. CONCURSO DE PESSOAS. RUS DENUNCIADOS POR AUTORIA E PARTICIPAO. JULGAMENTO DESMEMBRADO. ABSOLVIO DO PARTCIPE. JULGAMENTO DO SEGUNDO RU, QUE, EM PLENRIO, INVERTE A ACUSAO INICIALMENTE POSTA NA DENNCIA, ASSUMINDO A PARTICIPAO NO EVENTO CRIMINOSO E IMPUTANDO AO PARTCIPE ABSOLVIDO A AUTORIA MATERIAL DO DELITO. ABSOLVIO. SEGUNDA DENNCIA EM CONFORMIDADE COM A NOVA VERSO DOS FATOS. ALEGAO DE AFRONTA COISA JULGADA. INTELIGNCIA DO ART. 110, 2, DO CPP. VINCULAO OBRIGATRIA ENTRE PRONNCIA-LIBELO-QUESITAO. INAPLICABILIDADE DO ART. 384, CAPUT E PARGRAFO NICO, NA SEGUNDA FASE DO RITO DO JRI (JUDICIUM CAUSAE). 1. A ofensa coisa julgada exige a identidade de causa, caracterizada pela identidade do fato, sendo que esta no se verifica no caso de alterao de um dos elementos que o constitui (tempo, lugar, conduta imputada ao agente). 2. A absolvio, pelo Conselho de Sentena, da imputao de participao no crime de homicdio -- pela entrega da arma e auxlio fuga -no veda a possibilidade de nova acusao pela autoria material. Da mesma forma, a absolvio, pelo Jri, da imputao de autoria material do crime de homicdio no faz coisa julgada impeditiva de o acusado responder a nova ao penal (agora como partcipe) pelo mesmo crime cuja autoria material imputada a outrem. Novas imputaes que no passaram pelo crivo do Conselho de Sentena no configuram identidade de fato apta a caracterizar a coisa julgada (art. 110, 2, do CPP). Precedentes. 3. O procedimento do Jri, marcado por duas fases distintas e procedimentos especficos, exige a correlao obrigatria entre pronncia-libelo-quesitao. Correlao, essa, que decorre no s da garantia da ampla defesa e do contraditrio do ru -- que no pode ser surpreendido com nova imputao em plenrio --, mas tambm da necessidade de observncia paridade de armas entre acusao e defesa. Da a impossibilidade de alterao, na segunda fase do Jri (judicium causae), das teses balizadas pelas partes na primeira fase (judicium accusationis), no dispondo o Conselho de Sentena dos amplos poderes da mutatio libelli conferidos ao juiz togado. 4. Habeas corpus indeferido.

Limites subjetivos da coisa julgada: dizem respeito ao imputado ou aos imputados.Dizem respeito pessoa que ocupou o plo passivo da ao penal (sentada no banco dos rus). Obs.: Deciso absolutria em relao a um dos co-autores do delito no faz coisa julgada em relao aos demais, salvo se o juiz reconhecer, categoricamente, a inexistncia do fato delituoso. - Observaes finais quanto coisa julgada:

1. Duplicidade

de

sentenas

condenatrias

com

trnsito

em

julgado:

deve-se considerar vlida aquela que transitou primeiro;

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2. Concurso formal (com uma ao ou omisso pratica 2

ou mais crimes):

a deciso a respeito de um dos fatos delituosos no faz coisa julgada em relao ao outro, salvo se houver o reconhecimento categrico da ao ou a omisso (deciso absolutria) porque o juiz estar dizendo que a ao no existiu.

3.

Crime Continuado (Ex.: estelionatrio contra o INSS): caso uma srie de

continuidade delitiva j tenha sido julgada, a outra srie pode ser objeto de outro processo, com posterior unificao de penas pelo juzo das execues.CPP Art. 82. Se, no obstante a conexo ou continncia, forem instaurados processos diferentes, a autoridade de jurisdio prevalente dever avocar os processos que corram perante os outros juzes, salvo se j estiverem com sentena definitiva. Neste caso, a unidade dos processos s se dar, ulteriormente, para o efeito de soma ou de unificao das penas.

4.

Crime

Habitual

(aquele

que

exige

uma

prtica

reiterada)

e

Crime Permanente (aquele em que a consumao se prolonga no tempo): a coisa julgada refere-se apenas aos fatos ocorridos at o oferecimento da pea acusatria, pois neste momento em que se d a delimitao da imputao. Portanto os fatos posteriores podem ser objeto de novo processo.

5.

Indivduo processado por tentativa de homicdio e condenado, falecendo a

vtima aps o trnsito em julgado. Ele no poder ser processado pelo homicdio consumado, pois o fato natural a ele imputado seria o mesmo. Recursos Cabveis em relao Exceo de Coisa Julgada: - se o juiz julga procedente a exceo de coisa julgada (reconhece que j foi processado e julgado por aquele fato) recurso cabvel o RESE (Recurso em Sentido Estrito); - se o juiz julga improcedente a exceo de coisa julgada no h previso legal de recurso, mas no se pode negar a possibilidade de invocar um habeas corpus quando houver risco a liberdade de locomoo ou, em uma preliminar de apelao discutir a coisa julgada; - se o juiz reconhece de ofcio a coisa julgada ou a litispendncia: o juiz vai extinguir o processo sem o exame de mrito (segundo a doutrina, tem-se uma deciso com fora de

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definitiva) o recurso cabvel a Apelao porque esta situao no consta no rol do Art. 581 do CPP que trata do RESE. (vide Art. 583 do CPP).593. Caber apelao no prazo de 5 (cinco) dias: .................................................................................................................................................. II - das decises definitivas, ou com fora de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos no previstos no Captulo anterior; (Redao dada pela Lei n 263, de 23.2.1948)

NOVO PROCEDIMENTO COMUM As Leis 11.689/08 e 11.690 so leis recentes que entraram em vigor no dia 09 de agosto de 2008. Momentos depois, entrou em vigor a Lei 11.719/08, mais precisamente em 22 de agosto de 2008. Essa Lei trouxe o novo procedimento comum ao CPP. 1. O direito Intertemporal: Surge essa discusso quando se tem a sucesso de Leis no tempo. Qual a regra do direito intertemporal quando se est diante de uma regra do direito penal? 1.1. Regra do Direito Penal: Em se tratando de uma regra do direito penal, vige o princpio da irretroatividade da Lei Penal mais gravosa (Art. 5, inciso LX)(Ex. ECA Art. 244 B 1).Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupo de menor de 18 (dezoito) anos, com ele praticando infrao penal ou induzindo-o a pratic-la: Pena - recluso, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. 1o Incorre nas penas previstas no caput deste artigo quem pratica as condutas ali tipificadas utilizando-se de quaisquer meios eletrnicos, inclusive salas de bate-papo da internet.

Porm, h a chamada ultra-atividade da Lei Penal mais benfica. Aqui usa-se o critrio do tempus delicti. Exs: a nova Lei do Trfico de 2006, trouxe uma pena mais acentuada para o traficante de drogas. Essa nova pena no tem aplicao aos crimes cometidos antes de sua entrada em vigor. No caso da Lei antiga que trazia pena mais branda, mesmo estando revogada, se o crime foi cometido na sua vigncia, ela ter ultra-atividade. 1.2. Regra do Direito Processual:

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No direito processual, cada vez mais a doutrina trabalha com uma subdiviso do direito processual, a saber: a) norma genuinamente processual: So leis que cuidam de procedimentos, atos processuais, tcnicas do processo, etc. (Ex.: a Lei n 11.719/2008). Nesse caso, o critrio a ser adotado o princpio da aplicao imediata ou tempus regit actum. Qual a Lei que se aplica s normas genuinamente processuais? a lei vigente quando o ato processual foi praticado. Esse critrio est estabelecido no art. 2. do CPP:Art. 2. A lei processual penal aplicar-se- desde logo, sem prejuzo da validade dos atos realizados sob a vigncia da lei anterior.

b) norma processual material ou mista: H duas correntes que a definem. A primeira a restritiva e a segunda ampliativa. De acordo com a corrente restritiva, embora disciplinadas em diplomas processuais penais, dispe sobre o contedo da pretenso punitiva, tais como direito de queixa ou representao, prescrio, decadncia, perempo etc. Ex: tem-se crime de ao penal incondicionada. Se amanh uma lei transformar esse crime em crime de ao penal privada, tal repercute na pretenso punitiva do Estado. Como exemplo podemos citar a Lei 9.099/95, como a composio civil dos danos, suspenso condicional do processo, representao e transao penal. norma processual material se aplica o critrio da irretroatividade da lei mais gravosa. Sempre trs como efeito imediato o da ultra-atividade da lei mais benfica. O artigo 90 da Lei dos Juizados diz o seguinte:Art. 90. As disposies desta Lei no se aplicam aos processos penais cuja instruo j estiver iniciada.

Foi ajuizada uma ADIN (1.719), onde o STF deu interpretao conforme ao dispositivo para determinar a aplicao de normas de direito penal mais favorveis. Isso foi feito exatamente com base no critrio da corrente restritiva. Essa norma, Lei dos Juizados, primeira vista voc poderia pensar que trata de procedimento, norma genuinamente processual, mas essa lei, em seu bojo, vai trazer vrios institutos despenalizadores:

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Transao penal (se eu cumpro a pena restritiva estar extinta a punibilidade), Composio civil dos danos (se eu dou um dinheirinho a voc, renncia aodireito de queixa ou de representao)

Suspenso condicional do processo (que a oitava maravilha do mundo, faoum acordozinho l, deixo de frequentar certas casas, como se houvesse fiscalizao, se voc cumpre as condies durante 2 anos est extinta a punibilidade)

Representao (a partir da Lei dos Juizados passou-se a exigir representao nocrime de leso corporal leve e de leso corporal culposa) Apesar da Lei dos Juizados ser tecnicamente uma lei processual, quando voc para para olhar dentro da lei, nela voc v vrios institutos despenalizadores. Pergunta-se: ser que esses institutos no seriam aplicveis aos processos penais em andamento? bvio que sim porque, lembre-se, nesse caso, temos uma norma processual material. J a corrente ampliativa afirma que uma norma processual material seria aquela que estabelece condies de procedibilidade, meios de prova, liberdade condicional, priso preventiva, fiana, modalidade de execuo da pena e todas as demais normas que produzam reflexos no ius libertatis do agente. Toda e qualquer norma processual que de algum modo traga algum reflexo no direito de liberdade, ser uma norma processual material. Ento, por exemplo, se amanh for criada uma nova modalidade de priso, essa nova modalidade s seria possvel aps a entrada em vigor da lei. Apenas relembrando, nas normas processuais materiais, o critrio que se aplica o da irretroatividade da lei mais gravosa, da mesma forma que uma lei mais benfica ter ultraatividade. Exemplos: 1) Art. 90 da Lei dos JuizadosArt. 90. As disposies desta Lei no se aplicam aos processos penais cuja instruo j estiver iniciada. (Vide ADIN n 1.719-9)

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PENAL E PROCESSO PENAL. JUIZADOS ESPECIAIS. ART. 90 DA LEI 9.099/1995. APLICABILIDADE. INTERPRETAO CONFORME PARA EXCLUIR AS NORMAS DE DIREITO PENAL MAIS FAVORVEIS AO RU. O art. 90 da lei 9.099/1995 determina que as disposies da lei dos Juizados Especiais no so aplicveis aos processos penais nos quais a fase de instruo j tenha sido iniciada. Em se tratando de normas de natureza processual, a exceo estabelecida por lei regra geral contida no art. 2 do CPP no padece de vcio de inconstitucionalidade. Contudo, as normas de direito penal que tenham contedo mais benfico aos rus devem retroagir para benefici-los, luz do que determina o art. 5, XL da Constituio federal. Interpretao conforme ao art. 90 da Lei 9.099/1995 para excluir de sua abrangncia as normas de direito penal mais favorveis ao rus contidas nessa lei.

2) Art. 366 do CPPArt. 366. Se o acusado, citado por edital, no comparecer, nem constituir advogado, ficaro suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produo antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar priso preventiva, nos termos do disposto no art. 312. (Redao dada pela Lei n 9.271, de 17.4.1996) (Vide Lei n 11.719, de 2008)

Delito praticado em 1995 e citao por edital que se deu em 1996 aplica-se o Art. 366 ou no? R - Para os tribunais, o Art. 366 do CPP teve sua aplicao limitada aos crimes praticados aps a vigncia da Lei n 9.271/1996. 1.3 Extino do Protesto por Novo Jri: Ocorria quando o cidado fosse condenado a uma pena igual ou superior a 20 anos, pouco importando se esse delito fosse ou no doloso contra a vida. Foi revogado pelo art. 4. da Lei 11.689/08. O Protesto por Novo Jri foi extinto aps o julgamento do mandante do homicdio da Doroth Stang. No segundo julgamento, a testemunha-chave volta atrs no depoimento e o CN resolve extinguir o Protesto por Novo Jri. Cidado que pratica um homicdio qualificado no dia 01 de Marco de 2007. Nesse meio tempo entra em vigor, no dia 09 de agosto de 2008, a nova Lei do Jri. Se o julgamento for hoje e o acusado condenado a mais de 20 anos, cabe protesto por novo jri? Quer-se saber qual a natureza jurdica do art. 4. da Lei 11.689/08. Natureza jurdica do art. 4. da Lei 11.689/08:

1) A primeira corrente afirma que se trata de norma processual material. Portanto,caso o crime tenha sido cometido at a entrada em vigor da Lei 11.689/08, mesmo que o julgamento seja realizado posteriormente, o acusado ter direito ao protesto39

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por novo jri caso seja condenado por um delito (mesmo que no doloso contra a vida), a uma pena igual ou superior a 20 anos. Defendem essa posio LFG e Rogrio Sanches.

2) J a segunda corrente entende que se trata de norma genuinamente processual.Qual a Lei que se aplica ao recurso? a vigente poca do delito? a vigente quando a deciso proferida? a vigente quando se interpe o recurso? A Lei do recurso a lei vigente no momento em que a deciso recorrvel foi proferida. Isso porque nesse momento surge o direito adquirido da observncia das normas recursais vigentes. O art. 4. da Lei 11.418/06 (Repercusso Geral) trata sobre o tema: aplica-se esta Lei aos recursos interpostos a partir do primeiro dia de sua vigncia. Esse artigo tem um grave defeito. Adota como critrio o da interposio do recurso. A Lei do recurso no a vigente quando se interpe, mas sim quando a deciso proferida. Fique atento a isso. Quando a deciso proferida, surge o meu direito de recorrer. Ento, naquele momento que eu tenho que olhar a lei. E eu tenho o direito observncia das regras vigentes. No caso da repercusso geral, veja que est incorreto, porque a lei colocou a data da interposio. E como que o Supremo consertou a inconstitucionalidade desse art. 4? O Supremo disse que para que a repercusso geral passasse a ser exigida. No bastava somente a lei. Alm da lei, seria necessrio tambm de alterao do regimento interno do Supremo. E o que o Supremo, de maneira sbia, fez? Quando alterou o seu regimento, prevendo a repercusso geral, na alterao constou: a repercusso geral somente ser exigida em relao s decises proferidas a partir da vigncia dessas alteraes. Foi a forma que o Supremo encontrou para contornar o grave defeito desse art. 4 que adotou o momento da interposio quando o correto adotar a lei vigente no momento em que a deciso tiver sido proferida.

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Essa segunda corrente vem sendo adotada por Guilherme de Sousa Nucci, Gustavo Badar, Andei Borges e a maioria da doutrina. Questo da Magistratura de MG Em 08-08-2008, sexta-feira, foi proferida uma deciso de absolvio sumria no Tribunal do Jri. Em 09-08-2008, sbado, entra em vigor a Lei n 11.689-2008. Na segunda-feira, 11-08-2008, o advogado interpe o recurso. Qual recurso ele deve interpor? (em 08-08-2008 o recurso seria RESE, em 09-08-2008 com a nova lei o recurso seria o de Apelao)

R A lei que se aplica ao recurso a lei que est em vigor quando a sentena publicada. Como a sentena foi publicada em 08-08-2008 o recurso cabvel seria o RESE porque a lei nova ainda no estava em vigor.

A Lei 11.789/08 no se aplica aos processos j encerrados. Mas quanto aos processos cujas denncias ainda nem foram oferecidas, ser aplicada. E quanto aos processos em andamento? 1.4 Aplicao da Lei 11.719/08 aos processos em andamento: Devem ser analisados trs sistemas: a) Sistema da Unidade Processual: Apesar de se desdobrar em uma srie de atos diversos, o processo apresenta uma unidade. Portanto, s pode ser regulado por uma nica Lei, qual seja, a Lei antiga, para que no haja retroatividade da Lei nova. b) Sistema das fases processuais: Cada fase processual pode ser regida por uma Lei diferente. As fases so as seguintes: - postulatria: - ordinatria: - instrutria: - decisria: - recursal:

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c) Sistema do isolamento dos atos processuais: A nova Lei no atinge os atos processuais j praticados, mas se aplica aos atos processuais a praticar, independentemente da fase processual em que se estiver. O art. 2. do CPP adotou esse sistema.Art. 2. A lei processual penal aplicar-se- desde logo, sem prejuzo da validade dos atos realizados sob a vigncia da lei anterior.

Ex: No dia 10 de junho de 2008 ocorreu o interrogatrio. Na Lei antiga, o interrogatrio era o primeiro ato da instruo, com uma audincia para interrogatrio, outra para as testemunhas da acusao e outra para as testemunhas de defesa. No dia 12 de novembro de 2008, o juiz j pode fazer uma audincia una de instruo e julgamento, com as testemunhas de acusao e defesa. Mas o interrogatrio ter que ser feito novamente? Sim, alguns professores esto dizendo que o juiz deve realizar novo interrogatrio aps toda a instruo. Isso porque o escopo da Lei que o interrogatrio seja o ltimo ato, depois d