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VITROCERÂMICA A PARTIR DE TRATAMENTO DE RESÍDUO HOSPITALAR VIA PLASMA: ESTUDO DA CINÉTICA DE DEVITRIFICAÇÃO POR DIFRAÇÃO DE RAIOS-X Nádia Marcuz, Edmilton Gusken, Raul F. Cuevas, Carlos K. Suzuki Rua Mendeleiev s/n, Faculdade de Engenharia Mecânica – Unicamp, DEMA Lab. Ciclo Integrado de Quartzo, C.P. 6122, CEP 13.083-970 [email protected] Lab. Ciclo Integrado de Quartzo – DEMA – FEM – UNICAMP RESUMO Descobriu-se que o tratamento por plasma térmico de resíduos hospitalares gera como subproduto um material vitrocerâmico inerte ao meio ambiente, com alto poder de bloquear radiações ultravioleta e infravermelho próximo. A composição deste material apresenta como elementos majoritários cálcio, silício, ferro, alumínio e oxigênio. O objetivo deste trabalho é compreender a cinética de devitrificação pelo controle do tratamento térmico. Determinou-se por DTA as temperaturas de fusão e recristalização, e com a fusão a 1573K seguido por resfriamento abrupto, obteve-se amostras vítreas, que foram tratadas termicamente para induzir a devitrificação. Através da técnica de difração de raios-X identificou-se três estruturas cristalinas, Mg(Al,Fe) 2 O 4 , Ca(Ti,Mg,Al)(Si,Al) 2 O 6 e NaAlSiO 4 , e determinou-se o tamanho médio e quantidade dos cristalitos presentes nessas fases com as diferentes temperaturas de tratamento térmico. A relevância deste trabalho revela-se no controle da formação das fases cristalinas do material que contribuem efetivamente na absorção da radiação ultravioleta e infravermelho próximo. Palavras chaves: vitrocerâmica, resíduo-hospitalar, difração de raios-X, devitrificação. 1

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VITROCERÂMICA A PARTIR DE TRATAMENTO DE RESÍDUO HOSPITALAR VIA PLASMA: ESTUDO DA CINÉTICA DE DEVITRIFICAÇÃO POR DIFRAÇÃO DE

RAIOS-X

Nádia Marcuz, Edmilton Gusken, Raul F. Cuevas, Carlos K. Suzuki

Rua Mendeleiev s/n, Faculdade de Engenharia Mecânica – Unicamp, DEMA

Lab. Ciclo Integrado de Quartzo, C.P. 6122, CEP 13.083-970

[email protected]

Lab. Ciclo Integrado de Quartzo – DEMA – FEM – UNICAMP

RESUMO

Descobriu-se que o tratamento por plasma térmico de resíduos hospitalares

gera como subproduto um material vitrocerâmico inerte ao meio ambiente, com alto

poder de bloquear radiações ultravioleta e infravermelho próximo. A composição

deste material apresenta como elementos majoritários cálcio, silício, ferro, alumínio e

oxigênio. O objetivo deste trabalho é compreender a cinética de devitrificação pelo

controle do tratamento térmico. Determinou-se por DTA as temperaturas de fusão e

recristalização, e com a fusão a 1573K seguido por resfriamento abrupto, obteve-se

amostras vítreas, que foram tratadas termicamente para induzir a devitrificação.

Através da técnica de difração de raios-X identificou-se três estruturas cristalinas,

Mg(Al,Fe)2O4, Ca(Ti,Mg,Al)(Si,Al)2O6 e NaAlSiO4, e determinou-se o tamanho médio

e quantidade dos cristalitos presentes nessas fases com as diferentes temperaturas

de tratamento térmico. A relevância deste trabalho revela-se no controle da

formação das fases cristalinas do material que contribuem efetivamente na absorção

da radiação ultravioleta e infravermelho próximo.

Palavras chaves: vitrocerâmica, resíduo-hospitalar, difração de raios-X, devitrificação.

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INTRODUÇÃO

Grande parte das cidades brasileiras não possui tratamento de resíduos

hospitalares, predominando os aterros a céu aberto e quase que a total ausência de

incineradores instalados ou em operação. Muito embora os resíduos hospitalares

sejam compostos de materiais de elevado poder patogênico, sendo classificados

como resíduos perigosos classe 1, somente um pequeno número de unidades de

tratamento de resíduos no país atuam dentro dos padrões considerados satisfatórios (1-2). Os resíduos hospitalares são compostos de materiais oriundos de seringas,

vidraria, roupas, materiais orgânicos, materiais plásticos, entre outros (3-5). Em

algumas cidades, como por exemplo Campinas, no estado de São Paulo, com cerca

de 1 milhão de habitantes, são gerados cerca de 6 toneladas/dia de resíduos

hospitalares, sendo gastos aproximadamente R$ 3 milhões/ano com o seu

tratamento e disposição, muito embora tais tratamentos sejam considerados pouco

efetivos (6). Estima-se no caso em que todos os municípios brasileiros viessem a

executar o tratamento de resíduos hospitalares, esse montante poderia ser de R$

500 milhões/ano. No caso do tratamento por incineração, o qual possibilita a

eliminação da toxicidade dos resíduos, por outro lado gera substâncias de alto poder

carcinogênico, como é o caso das dioxinas(7), e também resíduos sólidos na forma

de cinzas. Os resíduos sólidos resultantes da incineração usualmente são perigosos

devido à presença de metais pesados, que podem ser lixiviados ao meio ambiente,

contaminando o lençol freático, o que requer a sua disposição em aterros

controlados. Por outro lado, o recente desenvolvimento da tecnologia de plasma

térmico para o tratamento de resíduos tem gerado grande interesse, pois a

temperaturas elevadas, é possível obter-se um material inerte ao meio ambiente, e

sem o risco de gerar dioxinas. Além disso, são obtidos dois subprodutos após o

resfriamento do resíduo tratado: (i) material vitrocerâmico e (ii) matriz metálica (8).

Embora o subproduto metálico tenha demanda como insumo para empresas

metalúrgicas, a perspectiva de uso para a matriz vitrocerâmica restringe-se a

aplicações de baixo valor agregado, como por exemplo confecção de blocos para

construção civil.

Estudos anteriores do material vitrocerâmico obtido por tratamento a plasma de

resíduo hospitalar, revelaram a elevada capacidade de absorver radiação ultravioleta

e infravermelho próximo (9), apresentando como composição química predominante

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cálcio, silício, ferro, alumínio e oxigênio. Uma vez que alterando-se a estrutura

cristalina de um material, alteram-se as propriedades ópticas do mesmo (10), este

trabalho teve por objetivo estudar a cinética de devitrificação do material oriundo do

tratamento via plasma térmico do resíduo hospitalar, e posteriormente, através de

tratamentos térmicos controlados. Com o melhor entendimento do controle da

formação das fases, objetivou-se também visualizar novas propriedades que

permitam aplicações mais nobres ao material vitrocerâmico. O vitrocerâmico bruto,

obtido via plasma, foi refundido a 1573K e resfriado abruptamente, a fim de se obter

um material vítreo, sendo então realizados tratamentos térmicos controlados. A

técnica de análise térmica diferencial (DTA) foi empregada para determinação das

temperaturas de fusão e cristalização, a fim de estabelecer as temperaturas

adequadas ao processo de devitrificação. Utilizou-se a espectrometria de

fluorescência de raios-X (FRX) para análise da composição, e a difração de raios-X

(DRX) para identificação das estruturas cristalinas, e também para a estimativa do

tamanho e concentração dos cristalitos.

MATERIAIS E MÉTODOS

Vitrocerâmicos são definidos como materiais policristalinos contidos em uma

matriz amorfa, produzidos através da devitrificação ou cristalização controlada de

materiais vítreos (11-13). Tais materiais são obtidos através de vidros inorgânicos, os

quais passam por tratamentos térmicos adequados, a temperaturas elevadas

(normalmente entre 800K a 1400K), por um período de tempo determinado, de

forma a controlar o crescimento dos cristais na matriz vítrea (14).

Com a finalidade de estudar o processo de devitrificação do material

vitrocerâmico obtido por tratamento a plasma de resíduo hospitalar, este foi

refundido a 1573K e realizado tratamento térmico controlado. Estudos anteriores

demonstraram que esta temperatura é suficiente para atingir a fusão completa em

todo o material (9). Para o processo de refusão e ensaios de caracterização por FRX

do material bruto, este foi inicialmente pulverizado em um moinho de bolas revestido

de sílica, utilizando-se como bolas, pedras maiores do próprio vitrocerâmico, a fim de

evitar contaminação. Neste procedimento, obteve-se granulometria inferior a 250 µm

(60 mesh).

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Para obter informações qualitativas e quantitativas da composição do material

vitrocerâmico, foram realizados ensaios de FRX, utilizando um espectrômetro Rigaku

RIX-3100, com tubo de ródio (Rh) a 50 kV e 80 mA, cristais analisadores PET e LiF,

e diafragma de 25 mm de diâmetro, em pastilhas compactadas do vitrocerâmico em

pó. Na análise quantitativa utilizou-se a metodologia dos parâmetros fundamentais,

com correções da sensitividade para cada elemento.

O restante do material bruto, após ter sido moído, peneirado (#60) e

homogeneizado, passou por fusão a 1573K durante 9 horas, em um forno elétrico

EDG F1700, seguido por resfriamento abrupto (“quenching”). O processo de

“quenching” consistiu em verter rapidamente o material fundido sobre uma chapa de

aço carbono, sendo recoberto por outra chapa também de aço carbono, ambas à

temperatura ambiente.

Após o processo de “quenching”, foram determinadas as temperaturas de

fusão e cristalização das amostras obtidas, por análise térmica diferencial (DTA),

estabelecendo-se as temperaturas adequadas para o processo de devitrificação.

Nos ensaios de DTA, as amostras foram moídas manualmente em um almofariz de

ágata, até a granulometria inferior a 250 µm e acondicionadas em cadinhos de

alumina, com atmosfera protetora de hélio e taxa de aquecimento de 10 K/min. O

equipamento utilizado foi o Netzsch-Thermiche Analyse, modelo STA 409-EP e o

software para análise dos dados obtidos foi o “Proteus Analysis”.

As amostras foram tratadas termicamente a 1043K por 1 hora (100K acima da

temperatura de transição vítrea) para nucleação dos cristalitos, e em seguida nas

temperaturas de 1123, 1173, 1223, 1273 e 1323K, durante um período de 2 horas,

para o crescimento dos cristalitos, sendo resfriadas dentro do forno.

As análises de DRX foram conduzidas em amostras tratadas termicamente do

material vitrocerâmico em pó, com granulometria inferior a 37 µm. Utilizou-se um

difratômetro Rigaku DMAX 2200, com tubo de cobre, instalado no Laboratório Ciclo

Integrado de Quartzo, na faixa de 20º a 70º (2θ), com passo angular de 0,02º, tempo

de contagem de 13 segundos/passo, e auxílio da base de dados JCPDS (PCPDF

WIN, 1997) (15) para identificação das estruturas.

Para estimar o tamanho médio dos cristalitos e a intensidade integrada relativa

(calculado através da área dos picos de difração), efetuou-se varredura sobre o pico

de difração de maior intensidade de cada fase cristalina, com passo angular de

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0,004º e tempo de contagem de 10 segundos/passo. A intensidade integrada relativa

é proporcional à concentração de cristalitos, conforme a equação (A) a seguir (16):

m

XX

cKI

µ.

∝ , (A)

onde IX, é a intensidade integrada relativa da fase X,

K, é uma constante de proporcionalidade,

cX, é a concentração da fase X,

µm, é o coeficiente de absorção linear do vitrocerâmico.

Através dos perfis dos picos de difração, utilizou-se a fórmula proposta por

Scherrer (B) (16) para estimar o tamanho médio dos cristalitos correspondente a cada

fase cristalina. A correção do efeito instrumentação na largura do perfil de difração

foi realizada usando amostra padrão.

BBt

θλ

cos..9,0

= , (B)

onde t, é o tamanho médio do cristalito, em Angstrons,

λ, o comprimento de onda da radiação, em Angstrons,

B, largura à meia altura do perfil de difração, em radianos,

θB, ângulo de Bragg.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

As análises por FRX do material vitrocerâmico de resíduo hospitalar indicam

que não houve variação da composição química após a fusão seguida por

“quenching” e pós tratamentos térmicos em relação ao material bruto. A constituição

do material apresenta como elementos majoritários, O, Ca, Si, Fe e Al e também

outros tipos de metais pesados, em menores concentrações, como Cr, Zn, Cu, Ni,

entre outros. O resultado da análise de FRX é apresentado na Tabela I.

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Tabela I – Composição química do material vitrocerâmico de resíduo hospitalar

obtida por espectrometria de fluorescência de raios-X.

Concentração em massa (%)

O 48,024

Ca 12,191

Si 9,530

Fe 9,100

Al 8,681

Na 4,183

Ti 2,234

Mg 2,217

K 1,866

P 0,860

Zn 0,263

Ba 0,253

Cr 0,148

Mn 0,148

S 0,138

Sr 0,040

Cl 0,041

Cu 0,019

Zr 0,017

Y 0,017

Ni 0,009

Nb 0,003

Os difratogramas de raios-X das amostras do material bruto revelam a

existência de quatro estruturas cristalinas, Mg(Al,Fe)2O4 (JCPDS: 21-540),

Ca(Ti,Mg,Al)(Si,Al)2O6 (JCPDS: 25-0306), NaAlSiO4 (JCPDS: 35-0424) e

Ca2(Fe,Mg,Ti)6(Si,Al)6)20 (JCPDS: 23-0607), denominadas fases 1, 2, 3 e 4,

respectivamente (Figura 01).

20 25 30 35 40 45 50 55 60 651000

2000

3000

4000

5000

6000

4

2

2: Ca(Ti,Mg,Al)(Si,Al)2O

6- JCPDS: 25-0306

22

22

2

2

2

2

2

44

3

3

3: NaAlSiO4 - JCPDS: 35-04244: Ca2(Fe,Mg,Ti)6(Si,Al)6O20 - JCPDS: 23-0607

1: Mg (Al, Fe)2O

4- JCPDS:21-540

11

1

Inte

nsid

ade

(cps

)

2θ (graus)

Figura 01. Difração de raios-X do material vitrocerâmico bruto.

Através da análise térmica diferencial, foi possível observar os principais

fenômenos característicos de transição vítrea, cristalização e fusão, apresentados

no termograma da Figura 02. O fenômeno de transição vítrea ocorre em

aproximadamente 941K, permanecendo o material em estado amorfo até a

temperatura de aproximadamente 1119K. A partir de 1119K, inicia-se a cristalização

do material, caracterizado pelo evento exotérmico. O início da fusão apresenta-se

em torno de 1343K, atingindo a fusão completa em aproximadamente 1400K (evento

endotérmico).

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Figura 02. Termograma obtido após ensaio de DTA em vitrocerâmico, com taxa de

aquecimento de 10 K/min.

Na amostra pós-“quenching”, verificou-se a presença da fase Mg(Al,Fe)2O4

(fase 1), que permaneceu mesmo após os tratamentos térmicos subseqüentes.

Através dos difratogramas de raios-X das amostras submetidas a tratamentos

térmicos controlados (Figura 03), observou-se que foi induzido o crescimento de

duas estruturas cristalinas adicionais em relação aos difratogramas de raios-X do

material pós-“quenching”: Ca(Ti,Mg,Al)(Si,Al)2O6 e NaAlSiO4 (denominadas fases 2 e

3, respectivamente). As fases 2 e 3 foram observadas nos tratamentos térmicos a

partir de 1123K (Figura 03).

20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70

333

Fase 3: NaAlSiO4 - JCPDS: 35-0424

11 2222222222222

1 2222

222

22

11

12

2

2

111

Fase 1: Mg(Al, Fe)2O4 - JCPDS: 21-540Fase 2: Ca(Ti,Mg,Al)(Si,Al)2O6 - JCPDS:25-0306

Inte

nsid

ade

[u.a

]

2θ (graus)

1323 K 1273 K 1223 K 1173 K 1123 K Amostra após fusão/ resfriamento abrupto

Figura 03. Difratogramas de raios-X do material vitrocerâmico fundido e resfriado

abruptamente, e das amostras tratadas termicamente.

473 673 873 1073 1273 1473

Temperatura (K)

-0,15

-0,10

-0,05

0

0,05

0,10

Cristalização Transição vítrea 1138 K

0,15

Início da cristalização

1119 K

Início da fusão Exo 1343 K

941 K

Fusão 1400 K

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A fase 1, na temperatura de tratamento térmico de 1173K, revelou o tamanho

médio máximo do cristalito de 122 ± 2 nm, coincidindo com a temperatura de

cristalização do material, que foi observado na análise de DTA próxima a 1138K.

Aumentando-se a temperatura de tratamento térmico de 1223K para 1323K,

observa-se a ocorrência de diminuição do tamanho médio dos cristalitos (de 122 ± 2

nm para 103 ± 1 nm.), e a redução da intensidade integrada relativa, de 302 ± 1 u.a.

para 263 ± 1 u.a. (Figura 04), indicando que a fase 1 pode estar se dispersando na

matriz amorfa, conforme a temperatura de tratamento térmico se aproxima da

temperatura de fusão do material.

1100 1150 1200 1250 1300 1350

102

104

106

108

110

112

114

116

118

120

122

124

Intensidade Int. Relativa (u.a.)

Tam

anho

méd

io d

o cr

ista

lito

(ηm

)

Temperaturas (K)

150

200

250

300

350

400

450

Figura 04. Relação entre o tamanho médio dos cristalitos da fase 1 (Mg (Al,Fe)2O4) e

a intensidade integrada relativa do perfil na posição 2θ = 36,28º.

tamanho médio do

ristalito de 77 ± 1 nm para 110 ± 2 nm com o aumento da temperatura de

tratam

Observou-se na fase 2 que houve um crescimento do

c

ento térmico, como pode ser observado na Figura 05, evidenciando que os

tratamentos térmicos induziram preferencialmente a formação da fase 2. Nota-se

também que o tamanho médio dos cristalitos nas temperaturas de tratamento

térmico de 1273K e 1323K mantiveram-se constantes (108 ± 2 nm), e a intensidade

integrada relativa apresentou redução (Figura 05), tais efeitos somados a

proximidade da temperatura de fusão do material vitrocerâmico (em

aproximadamente 1343K, determinada pelo ensaio de DTA) indicam o início do

processo de fusão da fase 2. Desta forma, o aumento da temperatura de tratamento

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térmico, acarretou aumento do tamanho dos cristalitos, conferindo maior

cristalinidade ao material (17-19).

110

115

1100 1150 1200 1250 1300 1350

75

80

85

90

95

100

105Intensidade I

Tam

anho

méd

io d

os c

rista

litos

(ηm

)

Temperatura (K)

500

1000

1500

2000

2500

3000

nteg. Relativa (u.a.)

Figura 05. Relação entre o tamanho médio dos cristalitos da fase 2

(Ca(Ti,Mg,Al)(Si,Al)2 O6) e a intensidade integrada relativa do perfil na posição 2θ =

s amostras do material bruto, as quais se desconhece o efeito térmico

ofridos pelas mesmas, verificou que o tamanho médio do cristalito, relativo a fase 2,

foi p

As amostras submetidas a tratamentos térmicos controlados revelaram a

rês estruturas cristalinas: fase 1 - Mg(Al, Fe)2O4, fase 2 -

(Ca(T

29,82º.

Na

s

róximo a 125 ± 2 nm, e intensidade integrada relativa de 669 ± 3 u.a.

Comparando estes resultados do material bruto com os das amostras tratadas

termicamente, verificou-se pouca variação dos tamanhos médios dos cristalitos,

entretanto, os tratamentos térmicos induzem a cristalização do material,

apresentando uma concentração de cristalitos 144% maior que o material bruto.

CONCLUSÕES

existência de t

i,Mg,Al)(Si,Al)2 O6) e fase 3 - NaAlSiO4. A fase 1 foi observada logo após a

fusão seguida por resfriamento abrupto do material. Já as fases 2 e 3 foram

crescidas após os tratamentos térmicos. O maior tamanho médio dos cristalitos foi

encontrado nas temperaturas de tratamento térmico de 1173K e 1323K, para as

fases 1 e 2, respectivamente. Entretanto, a fase 2 mostrou ser mais sensível ao

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tratamento térmico, apresentando variação do tamanho do cristalito. Em relação a

fase 2, o tratamento térmico controlado apresentou-se como uma alternativa do

controle da cristalização do material vitrocerâmico.

O presente trabalho possibilitou entender o controle do crescimento das fases

cristalinas no material vitrocerâmico. O maior crescimento da fase

(Ca(T

Os autores gostariam de agradecer à FINEP/PADCT III, FAPESP/PIPE,

, CNPq-Universal e CNPq pelo apoio financeiro. Um dos

autores

GRÁFICAS

. J.A. Ferreira. Resíduos Sólidos e lixo hospitalar: Uma discussão ética. Cad.

, 2 (1995), pp. 314-320.

4. neshprasad, Current Science 83, 3 (2002) pp. 271-278.

zardous Materials

razil-Japan: Energy, Environment and Sustainable

7.

8. K Suzuki, in 15th International Symposium on

ittees of the 15 th ISPC,

i,Mg,Al)(Si,Al)2 O6) contribui para maior absorção de radiação ultravioleta,

permitindo aplicações mais nobres, como bloqueadores ultravioleta, além de

aumentar o valor agregado do material vitrocerâmico.

AGRADECIMENTOS

CAPES, CNPq-RHAE

, N. Marcuz, agradece à Capes pela bolsa de Mestrado. Agradecemos

também a Profa. Cecília A. C. Zavaglia e o Sr. C. Sales Lambert pela colaboração

no tratamento térmico.

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GLASS-CERAMIC MATERIAL OBTAINED FROM HOSPITAL WASTE TREATED BY THERMAL PLASMA: STUDY OF THE KINETICS OF DEVITRIFICATION BY

X-RAY DIFFRACTION TECHNIQUE

Abstract

It has been observed that thermal plasma treatment of hospital waste produces

a glass-ceramic material, which is completely inert to the environment and presents a

special property to optical absorption. The major components of this glass-ceramic

material are: calcium, silicon, iron, aluminum, and oxygen. The objective of the

present research is to understand the kinetics of devitrification of multiple phases by

controlling thermal treatment conditions. The melting and crystallization temperatures

of the glass-ceramic material were determined by differential thermal analysis.

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Vitreous samples were obtained by melting the as-received material at 1573K,

followed by quenching. Afterwards, samples were thermally treated, inducing

controlled crystallization. By X-ray diffraction technique, three crystalline phases were

identified: Mg(Al,Fe)2O4, Ca(Ti,Mg,Al)(Si,Al)2O6 and NaAlSiO4. Average size and

concentration of the crystallites were also determined. The relevance of this work is

shown on the control of the crystalline phase formation, that contributes to the optical

absorption in ultraviolet and near-infrared radiation.

Keywords: glass-ceramic, hospital waste, X-ray diffraction, devitrification

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