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ISSN 1519-0412 vol. XVII nº 64 set./dez. 2015 O Que Estudantes de Contabilidade “Pensam” Sobre o Resultado Abrangente? A Qualidade Informacional das Políticas Contábeis, Mudanças de Estimativas e Retificação de Erros: uma Análise nas Notas Explicativas das Maiores Empresas Brasileiras Heritage Assets no Brasil: Um Estudo de Caso sobre a Ilha Fiscal Retornos Anormais Versus Criação de Valor e Sinergias Operacionais de Firmas Brasileiras Envolvidas em Combinações de Negócios Prestação de Contas por Entidades do Terceiro Setor e seus Impactos na Obtenção de Recursos: Um Olhar Sobre o Comportamento dos Doadores Individuais Os Impactos da Assimilação da Norma Internacional de Relatório Financeiro (IFRS 15), que Trata do Reconhecimento das Receitas de Contratos com os Clientes, e seus Efeitos Assimétricos Nas Demonstrações Financeiras das Empresas Brasileiras Análise da Relação entre a Divulgação de Informações por Segmento e a Competitividade

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ISSN 1519-0412

vol. XVII nº 64 set./dez. 2015

O Que Estudantes de Contabilidade “Pensam” Sobre o Resultado Abrangente?

A Qualidade Informacional das Políticas Contábeis, Mudanças de Estimativas e Retificação de Erros: uma Análise nas Notas Explicativas das Maiores Empresas Brasileiras

Heritage Assets no Brasil: Um Estudo de Caso sobre a Ilha Fiscal

Retornos Anormais Versus Criação de Valor e Sinergias Operacionais de Firmas Brasileiras Envolvidas em Combinações de Negócios

Prestação de Contas por Entidades do Terceiro Setor e seus Impactos na Obtenção de Recursos: Um Olhar Sobre o Comportamento dos Doadores Individuais

Os Impactos da Assimilação da Norma Internacional de Relatório Financeiro (IFRS 15), que Trata do Reconhecimento das Receitas de Contratos com os Clientes, e seus Efeitos Assimétricos Nas Demonstrações Financeiras das Empresas Brasileiras

Análise da Relação entre a Divulgação de Informações por Segmento e a Competitividade

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CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJPensar Contábil

Ficha catalográfica

P418 Pensar Contábil, v. 1, n.1, ago. 1998-. - Rio de Janeiro: CRCRJ, 1998-.

Quadrimestral ISSN 1519-0412 1.Contabilidade. I.Conselho Regional de Contabilidade do Estado do Rio de Janeiro

CDU – 657

CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJPensar Contábil

Josir Simeone Gomes (Rio de Janeiro – RJ)EditorPós-doutor em Controle de Gestão na Universidade Carlos III de Madrid e Professor da UNIGRANRIOAdriano Rodrigues (Rio de Janeiro – RJ)Doutor em Controladoria e Contabilidade pela USP, Mestre em Ciências Contábeis pela UFRJ, Professor da área de Contabilidade e Finanças da UFRJ, dos Programas de Pós-Graduação da FACC e COPPEAD UniverCidade e Professor da Faculdade Moraes Júnior Mackenzie Rio, da UniverCidade, do MBA de Perícia e de Auditoria e Compliance da Universidade Cândido MendesAntônio Ranha da Silva (Rio de Janeiro – RJ) Mestre em Economia Empresarial pela UCAM, Bacharel em Ciências Contábeis pela UGF, Professor Assistente da Universidade Federal Fluminense, Professor da FGV Management, Membro do IBRACON, Membro da Academia de Ciências Contábeis do Estado do RJ - ACERJ, Conselheiro de Administração da HAGA SAEmma Taliani Castelló (Espanha)Professora titular da Universidad AlcaláErnesto Lopes-Valeiras Sampedro (Espanha)Professor Depto. Economia Financeira e Contabilidade de Vigo Francisco José dos Santos Alves (Rio de Janeiro – RJ)Doutor em Contabilidade e Controladoria – FEA/USP, Professor da UNISUAM, Professor e Coordenador Adjuntodo PPGCC da UERJHector Jaime Correa Pinzon (Colômbia)Contador Público da Universidade de Manizales, Membro do Conselho Permanente para Evolução da Normas Internacionais de Contabilidade na Colômbia, Membro e Presidente da Comissão de Administração e Finanças da Associação Interamericana de Contabilidade, Membro do Instituto Nacional de Contadores Públicos de Colômbia, Presidente da Federação de Contadores Públicos da Colômbia - FedecopJorge Ribeiro dos Passos Rosa (Rio de Janeiro – RJ)Contador, Administrador, pós-graduado em Didática de Ensino Superior. Livre docente em Contabilidade Financeira pela UGF, professor com dedicação exclusiva em Contabilidade Gerencial da UFF. Atua nos MBAS de Controladoria e Finanças; Contabilidade e Auditoria; Gestão Contábil e Tributária da UFFJosé Alonso Borba (Florianópolis – SC)Doutor em Contabilidade pela USP e Professor da UFSCMagno Tarcísio de Sá ( Rio de Janeiro – RJ) Contador, Especialização em Contas Públicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Professor Assistente da Faculdade Béthencourt da Silva e Supervisor de Auditoria da Auditoria Geral do Estado – Secretaria de Estado e Fazenda (RJ) Maria Thereza Pompa Antunes (São Paulo – SP)Doutora em Controladoria e Contabilidade pela USP e Professora Adjunta da Universidade PresbiterianaMackenzie/FAAPNahor Plácido Lisboa (São Paulo – SP)Doutor em Controladoria e Contabilidade pela FEA/USP, Professor da FEA/USP e Pesquisador da FIPECAFIOscar Diaz Becerra (Perú)Mestre em Contabilidade e Gestão pela UNMSM. Professor honorário da Universidade Nacional Santiago Antúnez de Mayolo, Patrícia Gonzalez Gonzalez (Colômbia)Graduada em Contadoria pública pela Universidade Del Valle, Especialização em Finanças e Gerência em Impostos pela Universidade Del Valle, Doutora em Controladoria e Contabilidade pela USP. Chefe do Programa em Finanças da Universidade Del Valle. Sandra Maria dos Santos (Fortaleza – CE)Pós-Doutora em Economia Regional e Urbana pela UFPE/PIMES, Doutora em Economia Industrial pelaUFPE/PIMES e Editora Chefe da Contextus – Revista Contemporânea de Economia e GestãoVicente Mateo Ripoll-Feliu (Espanha), Doutor em Contabilidade pela Universidade de Valencia, Professor Titular da Universidade de Valencia (Espanha)Waldir Jorge Ladeira dos Santos (Rio de Janeiro – RJ)Doutor em Políticas Públicas e Formação Humana pela UERJ, Mestre em Contabilidade Financeira pelaUERJ, Professor da UERJ, Professor Adjunto da FACC/UFRJ e Professor da EPGE da FGV Management

Consultores Ad Hoc Adolfo Henrique Coutinho e Silva (Doutor em Contabilidade e Controladoria pela FEA/USP, Professor Adjunto da FAF/UERJ), Andre Carlos Busanelli de Aquino (Doutor em Ciências Contábeis - FEA/USP, Professor Associado da FEA-RP/USP), André Paula Osório Duque (Doutora em Ciência da Informação pela UFF), Aracéli Cristina de Sousa Ferreira (Doutora em Controladoria e Contabilidade pela USP, Professora Titular da UFRJ), Francisco Antônio Bezerra (Doutor em Ciências Contábeis pela FEA/USP, Professor Permanente no PPGCC/Furb), Jorge Vieira da Costa Junior (Doutor em Controladoria e Contabilidade pela USP), Jose Augusto Veiga da Costa Marques (Pós-Doutor em Contabilidade e Controladoria pela FEA/USP, Professor Associado da FACC/UFRJ), José Maria Dias Filho (Doutor em Controladoria e Contabilidade pela USP, Professor Adjunto da Faculdade de Ciências Contábeis da UFBA), Marcelo Coletto Pohlmann (Doutor em Controladoria e Contabilidade pela USP, Professor Adjunto da PUC-RS), Miguel Ângelo Caçoilo Gonçalves (Doutorando em Contabilidade da Universidade do Minho) Natan Szuster (Doutor em Contabilidade pela USP, Pós-Doutor pela University of Illinois at Urbana-Champaign, Professor da FACC/UFRJ), Poueri do Carmo Mario (Doutor em Ciências Contábeis pela FEA/USP, Professor Adjunto do Departamento de Ciências Contábeis da UFMG), Ricardo Lopes Cardoso (Doutor em Ciências Contábeis pela FEA/USP, Professor Adjunto da EBAPE/FGV e da FAF/UERJ, Pesquisador Produtividade CNPQ nível 2), Simone Silva da Cunha Vieira (Doutora em Ciências Contábeis pela FEA/USP, Professora Adjunta da UERJ),Vinícius Aversari Martins (Doutor em Controladoria e Contabilidade pela USP, Professor Doutor da FEA-RP/USP)

Conselho Regional de Contabilidade do Estado do Rio de Janeiro

Rua Primeiro de Março, 33 – Centro – Rio de Janeiro – RJCEP: 20.010-000 • tel.: (21) 2216-9595 • fax: (21) 2216-9607www.crc.org.br Envio de artigos e assinatura: [email protected] de impressão: dezembro/2015Tiragem: 2.000 exemplares

ISSN 1519-0412Distribuição: por assinatura anual (R$ 16,00)Atendimento ao assinante •tel.: (21) 2216-9602

ExpedienteConselho Diretor do CRCRJ

Vitória Maria da SilvaPresidente

Francisco José dos Santos AlvesVice-presidente

Waldir Jorge Ladeira dos SantosVP de Desenvolvimento Profissional

Josir Simeone GomesVP de Pesquisa e Estudos Técnicos

Samir Ferreira Barbosa NehmeVP Operacional

Gil Marques MendesVP de Registro Profissional

Márcia Tavares Sobral de SousaVP de Fiscalização, Ética e Disciplina

Irany Onofre RodriguesVP de Interior

Antonio Ranha da SilvaVP de Controle Interno

CONCEITO QUALIS/CAPES: B3Esta revista está indexada em www.atena.org.br, www.latindex.org e www.sumarios.org.

Corpo Editorial

Produção Editorial e Design: Cajá Comunicação Impressão: Triunfal Gráfica e EditoraApoio administrativo: Beatriz Rodrigues Fernandes e Patrícia Silva

“As opiniões emitidas em artigos são de exclusiva responsabilidade de seus autores. É permitida a reprodução de qualquer matéria, desde que citada a fonte.”

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Editorial

Sumário Summary

What Do Accounting Students “Think” 4 About The Comprehensive Income?

Rosenery Loureiro Lourenço, Carla Macedo Velloso dos Santos, Adolfo Henrique Coutinho e Silva

The Informational Quality Of The Accounting Policies, 14 Changes Of Estimates And Error Correction: An Analysis In Notes Of The Largest Brazilian Companies

Rosane Barbosa Ruberto, Alessandro Pereira Alves

Heritage Assets In Brasil: A Casy Study About Ilha Fiscal 23

Esdras Carlos de Santana, Alex Sandro de Oliveira Barbosa, Larissa Gomes de Oliveira

Abnormal Returns Versus Value Creation And Operational 30 Synergies Of Brazilian Firms Involved In Business Combination

Márcio Marvila Pimenta, José Augusto Veiga da Costa Marques, Marcelo Alvaro da Silva Macedo

Third Sector Accountability And Its Impacts On Obtaining Resources: 39 A Look At The Behavior Of Individual Donors

Henrique Portulhak, Albino Joao Delay, Vicente Pacheco

The Impact Of Assimilation Of The International Financial Reporting 48 Standard (IFRS 15), Which Deals With The Recognition Of Revenue From Contracts With Customers, And Their Asymmetric Effects On The Financial Statements Of Brazilian Companies

Carlos José Guimarães Cova

Analysis Of The Relation Between Information Per Segment 56 Disclosure And Competition

Nathan Emiliano de Oliveira, Patrícia de Souza Costa, Jéssica Rayse de Melo Silva Avila

O Que Estudantes de Contabilidade “Pensam” 4 Sobre o Resultado Abrangente?

Rosenery Loureiro Lourenço, Carla Macedo Velloso dos Santos, Adolfo Henrique Coutinho e Silva

A Qualidade Informacional das Políticas Contábeis, Mudanças de 14 Estimativas e Retificação de Erros: uma Análise nas Notas Explicativas das Maiores Empresas Brasileiras

Rosane Barbosa Ruberto, Alessandro Pereira Alves

Heritage Assets no Brasil: Um Estudo de Caso sobre a Ilha Fiscal 23

Esdras Carlos de Santana, Alex Sandro de Oliveira Barbosa, Larissa Gomes de Oliveira

Retornos Anormais Versus Criação de Valor e Sinergias Operacionais 30 de Firmas Brasileiras Envolvidas em Combinações de Negócios

Márcio Marvila Pimenta, José Augusto Veiga da Costa Marques, Marcelo Alvaro da Silva Macedo

Prestação de Contas por Entidades do Terceiro Setor e 39 seus Impactos na Obtenção de Recursos: um Olhar Sobre o Comportamento dos Doadores Individuais

Henrique Portulhak, Albino Joao Delay, Vicente Pacheco

Os Impactos da Assimilação da Norma Internacional de 48 Relatório Financeiro (IFRS 15), que Trata do Reconhecimento das Receitas de Contratos com os Clientes, e seus Efeitos Assimétricos Nas Demonstrações Financeiras das Empresas Brasileiras

Carlos José Guimarães Cova

Análise da Relação entre a Divulgação de Informações por 56 Segmento e a Competitividade

Nathan Emiliano de Oliveira, Patrícia de Souza Costa, Jéssica Rayse de Melo Silva Avila

Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ

Prezados leitores,

Com esta edição 64 de nossa Revista Pensar Contábil, colocamos à disposição de vocês os trabalhos vencedores dos Prêmios Américo Matheus Florentino e Geraldo de La Rocque, concedidos pelo CRCRJ no ano de 2015. Os artigos selecionados abordam temas atuais de grande relevância para os Profissionais da Contabilidade, justificando plenamente o incentivo à produção científica nesta importante área do conhecimento humano.

Prêmio Américo Matheus Florentino

1º lugar – O que estudantes de Contabilidade “pensam” sobre o resultado abrangente?

2º lugar – A qualidade informacional das políticas contábeis, mudanças de estimativas e retificação de erros: Uma análise nas notas explicativas das maiores empresas brasileiras.

3º lugar - Heritage assets no Brasil: Um estudo de caso sobre a Ilha Fiscal.

Prêmio Geraldo de La Rocque

1º lugar – Retornos anormais versus criação de valor e sinergias operacionais de firmas brasileiras envolvidas em combinações de negócios.

2º lugar – Prestação de contas por entidades do terceiro setor e seus impactos na obtenção de recursos: Um olhar sobre o comportamento dos doadores individuais.

2º lugar – Os impactos da assimilação da Norma Internacional de Relatório Financeiro (IFRS 15), que trata do reconhecimento das receitas de contratos com os clientes e seus efeitos assimétricos nas demonstrações financeiras das empresas brasileiras.

3º lugar – Análise da relação entre a divulgação de informações por segmento e a competitividade.

Agradecendo a preferência por nossa Revista, desejamos a todos uma boa leitura e que o ano de 2016 seja pleno de realizações, felicidades e muita paz.

Josir Simeone GomesEditor

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 17, n. 64, p. 3, set./dez. 2015

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CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJPensar Contábil

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1º Lugar - V Prêmio Contador Americo Matheus Florentino 2015

O Que Estudantes de Contabilidade “Pensam” Sobre o Resultado Abrangente?

Rosenery Loureiro LourençoRio de Janeiro – RJ Doutoranda em Ciências Contábeis na PGCC/UFRJ1 Professora Assistente da UEMS2 [email protected]

Carla Macedo Velloso dos Santos Rio de Janeiro – RJ Doutoranda em Ciências Contábeis na PGCC/UFRJ1

Professora Assistente da UFAM3

[email protected]

Adolfo Henrique Coutinho e Silva Rio de Janeiro – RJ Professor Adjunto da UFRJ1

Doutor em Contabilidade e Controladoria na FEA/USP4 [email protected]

ResumoO objetivo do artigo é verificar a percepção de estudantes

de graduação em ciências contábeis a respeito da Demons-tração do Resultado Abrangente (DRA). Por meio de questio-nários aplicados a 157 alunos de duas universidades federais das regiões Norte e Sudeste, foram testadas as seguintes hipóteses: H1: Acadêmicos possuem conhecimentos básicos sobre DRA. H2: Acadêmicos percebem a DRA como impor-tante para a tomada de decisões. H3: A percepção sobre a importância da DRA aumenta na medida em que os alunos estão mais avançados nos períodos do curso. H4: Acadêmicos de diferentes regiões, mas matriculados em IES com mesmo conceito no ENADE, percebem a DRA de igual maneira. Os dados foram analisados por meio de estatística descritiva e teste de Qui-quadrado. Os resultados mostraram que os res-pondentes não possuem conhecimentos básicos sobre a DRA, no entanto consideram-na importante, sendo que a atribuição de importância tem maior proporção para os alunos da IES lo-calizada no Norte. A análise também permitiu verificar que alu-nos dos semestres iniciais atribuem maior importância à DRA do que alunos que estão nos semestres finais. Assim sendo,

confirmou-se a hipótese H2 da pesquisa e rejeitou-se as de-mais. Por fim, concluiu-se que alunos de ciências contábeis das IES analisadas os quais estão em vias de se formar não pos-suem conhecimento necessário para lograrem êxito em ques-tões concernentes a DRA em exames do CFC ou do ENADE.Palavras-chave: Demonstração do Resultado Abrangente. Percepção discente. Acadêmicos de Contabilidade.

AbstractThe paper aims to verify the perception of undergraduate

students in accounting regarding the Comprehensive Income Statement (DRA). Using questionnaires with 157 students from two federal universities in North and Southeast of Brazil, the following hypotheses were tested: H1: Academics have basic knowledge about DRA. H2: Academic perceive the DRA as im-portant for decision-making. H3: The perception about the im-portance of DRA increases when students are in periods more advanced of the course. H4: Academics from different regions, but enrolled in IES with the same concept in ENADE, perceive the DRA equally. Data were analyzed by descriptive statistics and chi-square test. Results show that the respondents do not have basic knowledge about the DRA, however consider it im-portant. Students from IES situated in the North region consider it more important than those from the Southeast. The analysis also shows that the DRA is more important for students of initial semesters. Therefore, only the H2 hypothesis of the research was confirmed. Finally, it was concluded that graduate students in accounting at IES analyzed which are in the process of for-ming do not have knowledge required to be successful on is-sues related to the DRA in exams of CFC or ENADE.Key words: Comprehensive Income Statement. Student Per-ception. Academic of Accounting.

1. IntroduçãoAs práticas contábeis adotadas no Brasil sofreram profunda

reformulação após a aprovação da Lei 11.638/2007. Esta nova lei permitiu que os órgãos reguladores passassem a exigir que as empresas adotassem as normas internacionais de contabilidade emitidas pelo IASB (International Accounting Standard Board) na preparação de suas demonstrações contábeis anuais, a partir do ano de 2010. Além da introdução de novas sistemáticas de reconhecimento, mensuração e evidenciação foram introduzidas novas demonstrações contábeis obrigatórias, tais como a De-monstração de Resultado Abrangente (DRA).

1 UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro – CEP 22290-240 – Rio de Janeiro – RJ 2 UEMS - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – CEP 79900-000 - Ponta Porã – MS3 UFAM – Universidade Federal do Amazonas – CEP 69077-000 – Manaus - AM4 FEA /USP - Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo – CEP 05508-010 - São Paulo – SP

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 17, n. 64, p. 4- 13, set./dez. 2015

Artigo recebido em 14/08/2015 e aceito em 23/09/2015

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Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ

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O Que Estudantes de Contabilidade “Pensam” Sobre o Resultado Abrangente?

Esta demonstração oferece uma visão ampliada do resul-tado, pois inclui os ganhos e perdas ainda não realizados que não transitaram pela Demonstração do Resultado do Exer-cício (DRE), mas que, para diversos autores (STROEHER; FREITAS, 2008; CARRAHERA; AUKENA, 2013; ZUCCA, 2009), são fundamentais para compreensão do negócio da empresa como um todo. A divulgação da DRA permite que o tomador de decisões possa fazer suas escolhas diferente-mente das que faria ao considerar apenas a DRE (Keating, 1999). A literatura contábil tem reconhecido que a omissão ou opacidade de itens de outros resultados abrangentes, os quais são registrados diretamente no patrimônio líquido, po-dem conduzir a uma decisão imprecisa por parte de inves-tidores e analistas (FERRARO, 2011; HIRST; HOPKINS; WAHLEN, 2004). Em linhas gerais, o conceito de resultado abrangente ainda é pouco discutido no Brasil, pois, somente em 2009, a DRA foi incorporada no conjunto completo obri-gatório de demonstrações contábeis por meio da deliberação 595/2009 que ratificou o CPC 26 (PINHEIRO; MACEDO; VI-LAMAIOR, 2012).

Neste contexto de expressivas mudanças na prática con-tábil no Brasil, ocorrida em poucos anos, observa-se também alguma preocupação com a necessidade de repensar a edu-cação contábil no País, especialmente no que se refere à ne-cessidade de atualização das grades curriculares dos cursos de ciências contábeis, revisão das ementas das disciplinas, bem como a atuação dos professores em geral.

Mais especificamente, como as demonstrações contábeis são relevantes por sumarizarem as transações ocorridas e permitirem a verificação de tendências futuras, alunos de gra-duação deveriam ser preparados para estruturar e avaliar seu conteúdo informacional, pois as demonstrações representam importantes instrumentos de comunicação com usuários in-ternos e externos. Assim, há uma discussão crescente a respeito de que habilidades os estudantes de contabilidade deveriam apresentar.

Segundo Kavanagh e Drennan (2008) uma corrente destaca que alunos de contabilidade devem ter essencialmente habili-dades técnicas, outra privilegia competências além da técnica profissional. A pesquisa destas autoras evidencia que tanto es-tudantes quanto empregadores concordam que os programas de graduação em contabilidade não estão desenvolvendo de forma suficiente habilidades e atributos não-técnicos e profis-sionais “essenciais”. Os alunos demonstraram esperar mais do que atributos técnicos nos currículos.

Em contrapartida, os atributos técnicos são fundamentais para que minimamente esses alunos sejam absorvidos pelo mercado de trabalho. Kavanagh e Drennan (2008, p. 295) ar-gumentam que embora se espere que graduados possuam as competências exigidas pelos empregadores, “estes devem compreender, como os alunos fazem, que a aprendizagem é um processo contínuo e muitas das habilidades de ordem superior que eles esperam só podem ser desenvolvidas com a orientação “on the job”. Alunos, professores de contabilida-de e empregadores percebem a importância de habilidades e atributos profissionais em diferentes graus, desta forma Kava-nagh e Drennan (2008, p. 296) concordam com Gati (1998), o qual destaca que, enquanto “os empregadores continuarem a priorizar as habilidades que os graduados de nível de entrada

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 17, n. 61, p. 4- 13, set./dez. 2015

não possuem, seus esforços para garantir empregados satis-feitos podem não ser muito proveitosos”.

Os cursos de graduação em ciências contábeis no Brasil implementam a estrutura de seus currículos a partir das ma-cro diretrizes fornecidas pelas Resoluções do Conselho Na-cional de Educação, sendo que, em âmbito local, é o projeto pedagógico do curso em cada Instituição de Ensino Superior (IES) que orienta as matrizes curriculares e organiza as dis-ciplinas. As demonstrações contábeis são contempladas em disciplinas específicas, mas normalmente servem como pano de fundo para boa parte delas, ainda em que o objetivo final delas não seja elaborar ou analisar demonstrações.

De acordo com o artigo 3º da Resolução CNE/CES Nº 10/2004, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Ciências Contábeis, a formação profissional oferecida pelo curso de graduação deve permitir que o egresso possua competências para aplicar adequada-mente a legislação inerente às funções contábeis. Sob este pressuposto, os alunos devem reunir conhecimento compa-tível com as atualizações legislativas pertinentes à profissão.

Um projeto pedagógico normalmente é atualizado quando se observa defasagem ou inadequação; no entanto, ainda que esse projeto não passe por reformulações, na medida em que alterações importantes são inseridas no âmbito da profissão, como as decorrentes da convergência às normas internacionais, por exemplo, espera-se que o curso providen-cie mecanismos dentro das disciplinas para que esses alunos sejam atualizados e possam responder tanto às mudanças legislativas quanto às necessidades emergentes da profis-são. As respostas aos exames do CFC e do ENADE podem consistir em balizadores indiretos de como os cursos estão aderentes à CNE/CES Nº 10/2004 em termos de adequação à legislação da profissão.

Dado o exposto, o objetivo deste artigo é verificar a percep-ção de estudantes de graduação em ciências contábeis a res-peito da Demonstração do Resultado Abrangente. A pesquisa justifica-se, primeiramente, por se tratar de uma demonstra-ção recente para o contexto brasileiro, e, dado que poucas pesquisas já foram publicadas sobre o resultado abrangen-te, este texto busca encorpar o quadro de discussões. Em segundo lugar, a pesquisa se justifica por apresentar a per-cepção de estudantes de graduação que talvez participem do ENADE 2015. Este exame nacional tem apresentado em suas versões anteriores questões que abordam a estrutura e o con-teúdo informacional das demonstrações contábeis, o que se espera que continue a ocorrer nesse ano. Neste sentido, o estudo reportará de que forma a DRA tem sido percebida pe-los estudantes e se as disciplinas dispensam tempo para uma demonstração que, embora não seja obrigatória para todas as empresas, deve compor o conjunto completo das demonstra-ções contábeis no Brasil.

Este artigo possui além desta introdução outras quatro se-ções. A Revisão da literatura discorre sobre a formação do contador e aspectos relativos à estrutura curricular dos cursos de contabilidade, bem como sobre o Resultado Abrangente em termos de seu poder preditivo e forma de apresentação. A seção três apresenta as hipóteses de Pesquisa e os proce-dimentos metodológicos adotados. Na seção quatro, são dis-cutidos os resultados oriundos da análise dos questionários

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6 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 14, n. 55, p. 56 - 64, set./dez. 2012

aplicados. A última seção apresenta as considerações finais e, por fim, são elencadas as referências.

2. Revisão da LiteraturaEsta Seção apresenta aspectos sobre a formação do con-

tador no Brasil e a estrutura curricular do curso de ciências contábeis, além de sintetizar aspectos conceituais do resul-tado abrangente.

2.1. Formação do Contador e a Estrutura Curricular No Brasil o ensino da profissão contábil começou no sé-

culo XIX, com a instituição formal das Aulas de Comércio e do Instituto Comercial do Rio de Janeiro. Já no século XX, surgiu o curso superior de Ciências Contábeis e Atuariais, por meio do Decreto-lei nº 7.988/45, com duração de quatro anos, concedendo o título de Bacharel em Ciências Contábeis aos seus concluintes. Em 1992 a estrutura do curso mudou com a Resolução nº 03/92, que estimulava o conhecimento teórico e prático e permitia o competente exercício da profissão (PE-LEIAS et al., 2007).

Segundo Leite (2005), a Resolução nº 03/92, entre outras deliberações, definiu que o curso englobasse disciplinas di-vididas em três categorias. A primeira compreendia as disci-plinas de formação geral e de natureza humanística e social; a segunda compreendia as disciplinas que desenvolviam co-nhecimentos para a formação profissional básica, específica e outras a critério da instituição; por sua vez, a terceira ca-tegoria compreendia as disciplinas que desenvolviam o co-nhecimento ou atividades de formação complementar, possi-bilitando o envolvimento da computação, jogos de empresas, estudo de caso, estágio supervisionado, trabalho de conclu-são de curso, entre outros.

Levando em conta as mudanças no mundo empresarial, o que refletia diretamente na demanda dos profissionais contá-beis, em 2004 a Resolução CNE/CES nº 10/2004, instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Ciências Contábeis. Segundo Ott et al., (2011), a partir des-sa Resolução as estruturas dos cursos deveriam contemplar o perfil desejado do egresso em termos de competências e habilidades, que incluíam visão sistêmica e interdisciplinar da atividade contábil, a aplicação adequada da legislação ine-rente às funções contábeis, liderança de equipes multidisci-plinares, desenvolvimento, análise e implantação de sistemas contábeis, entre outras.

Bernardo, Nascimento e Nazareth (2010), com o objetivo de identificar nos cursos de Ciências Contábeis do Estado de Minas Gerais as características do ensino, pesquisa e prá-ticas interdisciplinares, como determinadas na Resolução CNE/CES nº 10/2004, concluíram que as práticas de interdis-ciplinaridade tinham relação estreita com a atualização das estruturas curriculares, principalmente pela inclusão das dis-ciplinas Contabilidade Internacional e Controladoria. Contudo, constataram que muitas Instituições de Ensino Superior (IES) não ofereciam tais disciplinas, contemplando a estrutura cur-ricular em apenas 50%, no caso da disciplina Contabilidade Internacional e em 87%, no caso da Controladoria. Concluí-ram, ainda, que a disciplina Controladoria contribuía significa-tivamente para o desenvolvimento de uma visão sistêmica do

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aluno, auxiliando-o nas atividades na empresa. Já a disciplina Contabilidade Internacional conduzia o aluno a reflexões so-bre a harmonização e padronização das normas contábeis.

Ainda nesse contexto, tendo por objetivo analisar a inclu-são da disciplina contabilidade internacional nas estruturas curriculares dos cursos de Ciências Contábeis das capitais brasileiras, conforme a Resolução CNE/CES nº 10/2004 do Ministério da Educação até junho de 2006, Niyama et al. (2008) concluíram que, das 286 IES situadas nas capitais, 183 divulgavam suas estruturas via internet e, destas, ape-nas 44 continham a disciplina contabilidade internacional nas estruturas curriculares. Com base nesses resultados, os autores destacaram que o país poderia ficar atrasado no que se refere ao processo de convergência das normas e padrões internacionais.

Dadas as mudanças ocorridas na contabilidade brasileira, especialmente a partir da Lei 11.638/07 e seguintes, as quais alteraram a Lei 6.404/64 e alinharam o Brasil a uma conver-gência completa aos padrões internacionais de contabilidade, houve forte impacto sobre o ensino da contabilidade como um todo, e algumas discussões que eram quase que exclusivas da disciplina contabilidade internacional estão dissolvidas, atualmente, por várias disciplinas.

Diversas pesquisas, nacionais e internacionais, tiveram como foco o perfil, as habilidades e as competências do “novo profissional contábil” demandado pelo mercado de trabalho, como no estudo de Cory e Huttenhoff (2011), com a finali-dade de identificar os tópicos que deveriam ser abordados nos cursos de graduação em ciências contábeis dos Estados Unidos. Com a pesquisa, obtiveram 170 respostas de conta-dores que atuavam em empresas privadas e concluíram que os conhecimentos mais importantes adquiridos na graduação eram contabilidade intermediária, ética, contabilidade avança-da, contabilidade gerencial, auditoria, ambiente de negócios e contabilidade tributária. O resultado do estudo destes autores contribui para o argumento de que os conhecimentos técnicos fazem diferença no mercado de trabalho. É por meio destas disciplinas que os acadêmicos afinam suas competências e habilidades técnicas ao aprender elaborar e interpretar as de-monstrações contábeis à luz do contexto econômico e social.

Com o objetivo de examinar o ponto de vista dos profis-sionais de contabilidade dos Estados Unidos sobre as com-petências e conhecimentos que os alunos deveriam buscar antes de entrar no mercado de trabalho, Cory e Pruske (2012) realizaram uma pesquisa com 464 profissionais contábeis ex-perientes e concluíram que seriam fundamentais para a futura empregabilidade dos alunos os conhecimentos sobre o pa-cote Office, Windows; eles terem criatividade em solucionar problemas; sensibilização para questões éticas; entenderem as terminologias de informática; e, por fim, mostrarem habili-dades técnicas e também não-técnicas.

Já Souza e Vergilino (2012), com o objetivo de investigar a aderência existente entre a formação oferecida por IES do Rio Grande do Sul e as exigências do mercado de trabalho do profissional contábil, analisaram anúncios de oferta de emprego publicados por headhunters na Revista Exame – janeiro de 2008 a dezembro de 2009 – e utilizaram questio-nário endereçado aos coordenadores de cursos de Ciências

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7Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 14, n. 55, p. 56 - 64, set./dez. 2012 7

Contábeis. Concluíram, portanto, que o ensino oferecido pela maioria das IES atendia às demandas de mercado para o profissional contábil. Verificaram que os anúncios busca-vam profissionais cada vez mais capacitados, com conheci-mentos em IFRS, consolidação de demonstrações, análise, conversão, relatórios para investidores estrangeiros, legisla-ção societária, tecnologia da informação relacionada à rotina contábil, entre outros.

Em estudo semelhante, Santos et al., (2011), com o obje-tivo de avaliar se a formação acadêmica em Ciências Con-tábeis oferecida pelas IES de Curitiba (PR) condizia com as demandas do mercado de trabalho na área contábil, analisa-ram dados coletados nos anúncios de emprego e nas estru-turas curriculares do curso de Ciências Contábeis das IES. Eles concluíram que a formação dos profissionais contábeis oferecida pelas IES condizia com as necessidades do merca-do. Concluíram, ainda, que as exigibilidades das empresas pesquisadas eram relacionadas à experiência, conhecimen-tos em contabilidade e legislação societária e tributária, tecno-logia da informação, contabilidade gerencial e gestão empre-sarial, domínio de outros idiomas, Normas Internacionais de Contabilidade, entre outros.

Diante disso, evidencia-se a preocupação de pesquisadores com a formação dos acadêmicos em contabilidade e também a necessidade de que estes estudantes saibam elaborar e in-terpretar as informações a partir de habilidades técnicas e não--técnicas. Estes alunos serão filtrados de alguma forma, ou pelo mercado ou pelos órgãos que autorizam sua atuação nele e, assim sendo, os cursos são responsáveis por oferecerem disci-plinas que estejam adequadas às necessidades formativas.

2.2. Resultado Abrangente: Características ge-rais e importância

No Brasil, a forma de apresentar resultados abrangentes é orientada pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) e pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC), os quais conside-ram a DRA como parte do conjunto completo das demonstrações contábeis para uma empresa brasileira. O resultado abrangente corresponde às mudanças ocorridas no patrimônio líquido, e são provenientes das transações empresariais e de outros eventos não relacionados com os sócios, reunindo assim os itens eviden-ciados na DRE e na DRA. De acordo com o CPC 26-R1 (2011), devem ser classificados como outros resultados abrangentes os itens de receita e despesa não reconhecidos na DRE. Os compo-nentes dos outros resultados abrangentes incluem:

(a) variações na reserva de reavaliação; (b) ganhos e per-das atuariais em planos de pensão com benefício a empre-gados; (c) ganhos e perdas derivados de conversão de demonstrações contábeis de operações no exterior; (d) ganhos e perdas na remensuração de ativos financeiros disponíveis para venda; (e) parcela efetiva de ganhos ou perdas advindos de instrumentos de hedge em operação de hedge de fluxo de caixa.

Em consonância com o IASB, o CPC 26-R1 indica que a DRA pode ser apresentada como parte da DRE, caso permis-sível por Lei, ou como uma demonstração separada. Como a Lei 6.404/76 não prevê tal condição para os resultados abran-gentes na DRE, adota-se a normatização do CFC que por

meio da NBC TG 26 (R2) indica que a DRA pode ser apresen-tada como demonstração separada ou dentro da demonstra-ção das mutações do patrimônio líquido (DMPL).

O resultado abrangente faz parte dos elementos utilizados para verificar o poder preditivo das informações contábeis e evidências empíricas de inúmeras pesquisas têm possibilita-do a formação de diferentes propriedades desse critério de evidenciação. Algumas questões conceituais e resultados empíricos em âmbito internacional e também no contexto na-cional permitem entender melhor esse fenômeno.

Keating (1999) discorre que dar atenção a itens de outros resultados abrangentes torna a contabilidade financeira útil para a tomada de decisões de credores e investidores, pois se a empresa tem um ganho não realizado durante determi-nado período e tal fato não é divulgado, pode-se comprome-ter a tomada de decisão. Quando a contabilidade evidencia os resultados abrangentes, os credores e investidores tem a possibilidade de avaliar o fluxo de caixa futuro da empresa, o qual pode ser aumentado ou diminuído em função de ganhos e perdas não realizadas. Outro argumento favorável de Kea-ting (1999) à evidenciação dos outros resultados abrangentes diz respeito ao seu poder de transmitir informações sobre re-cursos da empresa e mudanças ocorridas nestes recursos, informações estas que não estão claras e desagregadas em outras demonstrações e nem mesmo em notas explicativas.

De acordo com Rees e Shane (2012), algumas pesquisas mostram que os lucros têm valor mais relevante e podem pre-ver melhor os fluxos de caixa futuros do que os outros re-sultados abrangentes. No entanto, os autores destacam que um achado mais importante é o fato de que os itens de ou-tros resultados abrangentes “são incrementalmente de valor relevante, mas com implicações dramaticamente diferentes para o valor da empresa”, o que apoia uma demonstração em separado. Os autores também destacam que estudos re-centes mostram que maior “transparência na apresentação dos resultados abrangentes está associada com decisão dos gestores em outras áreas que afetam a transparência das de-monstrações” (REES; SHANE, 2012, p. 37).

No Brasil, uma pesquisa realizada por Dúrsio e Mário (2014) com 179 empresas listadas na Bovespa evidenciou que o poder explicativo do lucro líquido e do resultado abran-gente foram muito próximos. Os autores confirmaram sua hi-pótese de pesquisa de que não há diferença entre o Lucro Líquido e o Resultado Abrangente no que concerne ao poder preditivo. A pesquisa também mostrou, diferentemente do que aponta a literatura internacional, que empresas do setor financeiro não apresentaram diferença em relação ao lucro líquido futuro e o lucro líquido corrente.

Por outro lado, as evidências empíricas da análise rea-lizada por Silva e Silva (2015) com 62 empresas do Novo Mercado da BM&FBovespa indicam que os itens que com-põem a DRA têm potencial de gerar volatilidade no resul-tado do exercício, caso sejam reconhecidos na DRE. A análise permitiu concluir que há diferenças métricas entre resultado líquido e resultado abrangente, e apontou a ne-cessidade da formulação de orientações técnicas especí-ficas para a DRA por parte dos reguladores, de forma a melhorar a qualidade e a comparabilidade das informações prestadas pelas empresas.

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 17, n. 61, p. 4- 13, set./dez. 2015

O Que Estudantes de Contabilidade “Pensam” Sobre o Resultado Abrangente?

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8 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 14, n. 55, p. 56 - 64, set./dez. 20128

Cursino, Lemes e Botinha (2014) estudaram empresas bra-sileiras listadas na Bovespa e verificaram o impacto da eviden-ciação do resultado abrangente nos valores dos indicadores financeiros Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) e Lucro por ação (EPS), com base nos lucros líquido e abrangente. As evidencias empíricas mostram que, para essas empresas, não há diferença entre o ROE e EPS calculados sobre o lucro líqui-do ou o lucro abrangente, mas que os indicadores de rentabili-dade podem ser impactados pelo resultado abrangente.

Num estudo com empresas não financeiras listadas em Xan-gai, Lin e Rong (2012) forneceram evidências empíricas de que a divulgação de outros resultados abrangentes é negativamente relacionada com o gerenciamento de resultados, já que estes po-dem ser reduzidos em certa medida a partir da maior transparência daqueles. Rahman e Hmadan (2015) estudaram 84 companhias não financeiras listadas na Malásia e observaram que 83 delas uti-lizam o modelo simples, informações de resultados abrangentes dentro da DRE, e a maioria destas empresas foi negativamente afetada pelo ajuste de conversão de moeda estrangeira. Antes da regulação, as empresas na Malásia divulgavam itens não relacio-nados aos proprietários dentro da demonstração das mutações do Patrimônio Líquido (DMPL).

A partir de um experimento com 80 analistas de crédito e risco de bancos comerciais, que possuíam experiência média de 12 anos como analista financeiro, Hirst, Hopkins e Wah-len (2004) reuniram evidencias empíricas de que o formato da demonstração do resultado abrangente associa-se com a transparência das demonstrações e influencia os julgamen-tos de valor dos analistas de crédito e risco de bancos. As demonstrações claras e completas melhoraram o julgamento dos analistas. Outros experimentos (HIRST; HOPKINS, 1988; TARCA et al., 2007) desenvolvidos com analistas e alunos de MBA também sugerem que a clara evidenciação dos resulta-dos abrangentes impacta o julgamento dos analistas.

Em resumo, as evidências apresentadas nos estudos men-cionados anteriormente indicam, em sua maioria, que a divul-gação da Demonstração de Resultado Abrangente é relevante para o usuário da informação contábil, dependendo natural-mente da magnitude dos efeitos dos ganhos e perdas reconhe-cidos diretamente como outros resultados abrangentes.

3. Hipótese de Pesquisa e MetodologiaOs estudantes de cursos de graduação em ciências contá-

beis se submetem a dois importantes exames: o Exame de Sufi-ciência do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE). Por meio do primeiro, o egresso obtém autorização para o exercício legal da profissão em território brasileiro. Por meio do segundo, as insti-tuições de ensino superior obtêm um importante sinalizador para as ações educacionais por meio do conceito obtido quando o INEP faz a aferição do desempenho dos estudantes. Os dados do censo da educação superior de 2012 (INEP, 2014) permitem observar que as disparidades entre as regiões brasileiras podem ser visualizadas de muitas formas, por exemplo:

a) Número de instituições públicas de educação superior que participaram do senso em 2012: Norte (28), Nordes-te (65), Centro-oeste (19), Sudeste (143), Sul (49). Estas instituições distribuídas em categorias administrativas

apresentam-se da seguinte forma: federais (103), estadu-ais (116), municipais (85).

b) Número de cursos graduação em ciências contábeis no ano de 2012 é de 140 em instituições públicas, e por região geográfica distribuem-se da seguinte maneira: Norte (12), Nordeste (40), Centro-oeste (21), Sudeste (25), Sul (42).

c) O ENADE conceitua as instituições com notas de 1 a 5, notas 1 e 2 são consideradas insatisfatórias, nota 3 é conside-rada razoável e notas 4 e 5 consideradas boas. A distribuição percentual de notas boas pelas regiões, conforme ENADE 2012 é: Norte (25%), Nordeste (28%), Centro-oeste (33%), Sudeste (36%), Sul (67%). Esses percentuais sugerem que estudantes de cursos localizados na parte sul e sudeste do Brasil estão melhor preparados que estudantes de cursos localizados nas regiões nordeste e norte. Ao se observar a composição de notas razoáveis obtidas, isto é, conceito 3 no ENADE, os percentuais são os seguintes: Norte (42%), Nor-deste (53%), Centro-oeste (38%), Sudeste (44%), Sul (26%).Como a convocação para participar do exame ENADE

ocorre para cada curso de graduação a cada 3 anos, os cur-sos de ciências contábeis serão novamente avaliados no ENADE 2015, que ocorrerá no mês de novembro, conforme Normativa nº 3 e Portaria nº 54, de 6 de março de 2015, MEC. Por se tratar do principal meio de comunicação com usuários da informação contábil, espera-se que, no exame de 2015, os alunos sejam solicitados a evidenciar conhecimento aca-dêmico no que concerne às Demonstrações Contábeis. No ENADE 2012, por exemplo, as questões a serem desenvolvi-das requeriam conhecimento sobre BP, DRE, DVA, conforme questões 18, 24, 25, 27 e 33. Isto implica dizer que conhecer as demonstrações contábeis preconizadas pela Lei 6.404/76 e Pronunciamentos Técnicos do CPC, em especial o CPC-26 (R1), é fundamental para os alunos que estejam em via de concluir a graduação (a partir do 7ª período de graduação).

Como a DRA não é uma demonstração obrigatória a todas as empresas, espera-se que os professores dispensem um tipo equi-valente de tratamento em relação a esta DC quando ministram dis-ciplinas relacionadas com estrutura e/ou análise de demonstrações. Assim sendo, a percepção dos alunos a respeito dessa demons-tração seria igual para IES com mesmo conceito no ENADE 2012, mesmo que pertencessem a regiões diferentes do território brasilei-ro. Adicionalmente, espera-se que alunos dessas IES que estejam cursando ciências contábeis a partir do 7º período estejam aptos a responder questões básicas concernentes à DRA. Com base no exposto, as hipóteses a serem testadas pela pesquisa são:

H1: Acadêmicos de ciências contábeis possuem conheci-mentos básicos sobre DRA.

H2: Acadêmicos de ciências contábeis percebem a DRA como uma DC importante para a tomada de decisões.

H3: A percepção sobre a importância da DRA aumenta na medida em que os alunos estão mais avançados nos perío-dos do curso.

H4: Acadêmicos de ciências contábeis de diferentes regiões, mas matriculados em IES com mesmo conceito no ENADE, percebem a DRA de igual maneira em relação a importância

O estudo comparou a percepção sobre a DRA de discentes de uma IES pública federal da região sudeste com uma IES pública

Rosenery Loureiro Lourenço Carla Macedo Velloso dos Santos Adolfo Henrique Coutinho e Silva

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9Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 14, n. 55, p. 56 - 64, set./dez. 2012

demonstrações contábeis, 44 alunos afirmaram que as disci-plinas não atenderam suas expectativas, 100 alunos afirma-ram que as expectativas foram atendidas e 13 deles afirma-ram que não saberiam responder essa questão. A Figura 1 resume outros aspectos do perfil geral dos respondentes:

9

federal da região norte. A amostra é composta por discentes de graduação em ciências contábeis de uma universidade pública do estado do Rio de Janeiro (58), e de uma universidade pública do estado de Amazonas (99), perfazendo um total de 157 respon-dentes. Ambas as universidades obtiveram conceito 3 no ENADE 2012. Os dados foram obtidos por meio de questionários impres-sos com questões fechadas, disponibilizados aos alunos durante três dias de aulas em abril de 2015.

Para um breve perfil dos respondentes, foram elaboradas quatro questões. Outras onze questões foram elaboradas para identificar a percepção e conhecimento dos respondentes em relação à DRA. Duas questões foram elaboradas em escala de importância – fundamental, útil, pouco relevante, irrele-vante, não sei responder . A primeira buscou identificar o grau de utilidade à informação transmitida por cada uma das cinco demonstrações contábeis, BP, DRE, DFC e DRA. A segunda questão buscou mensurar o grau de utilidade atribuído para al-guns itens presentes nas demonstrações contábeis. Para todas as questões o respondente tinha a opção de responder “não sei responder”, nesse caso, a questão não foi computada para formação das análises. Para analisar as respostas, os dois pri-meiros graus da escala foram aglutinados na categoria “impor-tante”, e os dois próximos graus na categoria “sem importân-cia”. Por se tratar de escala não métrica, estes dados nominais foram analisados a partir das considerações de Fávero et al. (2009) por meio de distribuição de frequências.

Nove questões foram elaboradas com variáveis binárias (sim ou não) para avaliar questões como: atuação profissional, opinião sobre disciplinas cursadas e sobre as demonstrações contábeis e, conhecimento e interpretação da DRA. Estas variáveis dummy foram analisadas por meio de testes de proporção ao nível de sig-nificância de 5%. O conhecimento prático sobre conceitos bási-cos referentes a DRA foi mensurado por meio de duas questões, que estão detalhadas na subseção “Conhecimentos básicos e Percepção dos respondentes”.

Após o recebimento dos questionários, os dados foram ta-bulados em uma planilha eletrônica do Excel, na qual foram realizados os cálculos estatísticos necessários para a pes-quisa. Para a análise dos resultados, utilizou-se a estatística descritiva e o teste de Qui-Quadrado, que serviu para analisar a existência da relação entre as variáveis.

4. ResultadosEsta seção divide-se em: perfil geral dos respondentes;

conhecimentos básicos e percepção dos respondentes. Nela exploram-se os dados obtidos e testam-se as hipóte-ses propostas.

4.1. Perfil dos RespondentesOs 157 respondentes são alunos regulares de duas univer-

sidades federais. Do total dos respondentes, 75 atuam pro-fissionalmente na área contábil e 82 não trabalham na área. Estes alunos estão distribuídos nos seguintes períodos da graduação: 81 alunos estão cursando os semestres iniciais do curso (neste estudo, correspondem aos semestres 4 a 7) e 76 alunos estão cursando os semestres finais (neste estudo, cor-respondem aos semestres 8 a 10).

Ao serem questionados quanto à sua satisfação em rela-ção às disciplinas relacionadas com elaboração e análise de

No painel A é possível observar que mais da metade dos alu-nos (82 alunos, 52,2%) não obteve o conhecimento que espe-rava no que se refere às demonstrações contábeis. O painel B busca levantar dados sobre um aspecto importante no ensino--aprendizado, que é propiciar ao aluno contato com peças con-tábeis reais para discutir números além dos evidenciados nos livros, mas aqueles que representem a realidade de empresas

18

Figura 1: Perfil geral dos respondentes

PAINEL A: Você alcançou o conhecimento desejado sobre as Demonstrações Contábeis com as disciplinas até aqui cursadas?

100

80

60

40

20

0

57

sim não Não sei responder

82

PAINEL B: Você teve acesso a Demonstrações Financeiras de empresas reais nas disciplinas que cursou?

100

80

60

40

20

0

95

sim não Não sei responder

58

4

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa

PAINEL C: A Demonstração do Resultado Abrangente (DRA) foi abordada em alguma das disciplinas que cursou?

0 20 40 60 80 100

5

20

89

43

não sei responder

abordagem satisfatória

abordagem insatisfatória

não foi abordada

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 17, n. 61, p. 4- 13, set./dez. 2015

O Que Estudantes de Contabilidade “Pensam” Sobre o Resultado Abrangente?

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10 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 14, n. 55, p. 56 - 64, set./dez. 201210

reais. Os dados mostram que 95 alunos (60,5% dos responden-tes) tiveram acesso a estes demonstrativos nas disciplinas. O painel C evidencia que a abordagem da DRA nas disciplinas, do ponto de vista dos alunos, foi realizada de forma insuficiente.

Mais de 90% dos alunos consideram importante o conhecimen-to das demonstrações contábeis para o seu futuro profissional – sim (147), não (4), não sei responder (6) – e para eles o elemento con-siderado mais importante para a tomada de decisão, a partir das demonstrações é: o fluxo de caixa (54), o resultado líquido (51), re-ceitas (23), lucros acumulados (13), resultado abrangente (9).

4.2. Conhecimentos Básicos e Percepção dos Respondentes

O conhecimento prático sobre conceitos básicos concernen-tes à DRA foi mensurado por duas questões: uma discutiu a for-ma de apresentação “Questão 14. A DRA pode ser apresentada dentro da DMPL ou em relatório próprio”. Para esta questão, o aluno poderia assinalar “sim”, “não” ou “não sei responder”. A ou-tra abordou a adição ou subtração de valores para a composição do resultado abrangente total. Esta segunda questão foi extraída e adaptada de uma questão presente no Exame do CFC:

Questão 17. Uma empresa apresentou os seguintes dados: Lucro Líquido do Período 272.000; Ajustes de Instrumentos Financeiros Disponíveis para Venda (30.000); Tributos s/Ajus-tes Instrumentos Financeiros 10.000; Ajustes de Conversão do Período 27.000; Tributos s/Ajustes de Conversão do Período (9.000) . Para essa empresa, a DRA apresentará um Resulta-do Abrangente Total de:

a) □ 270.000. b) □ 252.000. c) □ 290.000. d) □ Não sei responder.

Para resolver a questão, o respondente deveria conside-rar que o resultado do período é o total de receitas menos o total de despesas do período, exceto aqueles itens que de-vem ser reconhecidos como outros resultados abrangentes do período. Como o exercício apresenta um lucro líquido do período de 272.000, o aluno deveria simplesmente adicionar ou subtrair a este lucro os valores dos itens de outros resul-tados abrangentes apresentados.

A Figura 2 sintetiza os dados obtidos na análise dos res-pondentes. A hipótese H1 da pesquisa afirma que “Acadêmi-cos de ciências contábeis possuem conhecimentos básicos sobre DRA”, e buscou-se testá-la por meio dos acertos nas questões 14 e 17.

Se for considerado o acerto nas duas questões propostas para mensuração do conhecimento, verifica-se que os alunos não possuem conhecimentos básicos sobre DRA, apenas 7 respondentes (4%) acertaram as questões 14 e 17. Se, para mensurar o conhecimento, for considerado acerto parcial, ou seja, o aluno acertou uma questão ou outra, então, 56 alu-nos (36%) poderiam ser enquadrados como possuidores de conhecimento básico. De maneira geral, pode-se observar que os alunos não possuem conhecimentos básicos sobre a DRA, portanto a hipótese 1 foi rejeitada.

A hipótese H2 da pesquisa afirma que “Acadêmicos de ciências contábeis percebem a DRA como uma DC impor-tante para a tomada de decisões”. A Figura 2 permite ob-servar que praticamente todos os respondentes atribuem importância (acima de 90%) à BP, DRE e DFC. Ao conside-rar a DRA, eles consideram-na uma demonstração impor-tante, mas em percentual menor que as anteriores.

Para essa hipótese buscou-se comprovar se existe dife-rença significativa entre as observações dos alunos e um per-centual esperado de importância atribuída. Espera-se 65% de frequência em atribuição de importância à DRA. O teste de aderência para nível de significância de 5% permitiu aceitar a hipótese nula, e concluir que os acadêmicos de ciências contábeis consideram a DRA como uma DC importante, dado que o p-valor do teste qui-quadrado foi de 0,3981.

Também se verificou a existência de diferença entre os alunos das diferentes IES. O teste qui-quadrado para as duas amostras independentes mostrou que, para um nível de significância de 5%, há diferença de percepção quanto a importância atribuída à DRA entre as IES, o p-valor do tes-te foi de 0,00076. Alunos da IES localizada na região Norte atribuíram maior importância a DRA do que os alunos ma-triculados na IES da região sudeste. O Quadro 1 resume as frequências e os resultados dos testes realizados para avaliar as hipóteses estabelecidas na pesquisa.

Figura 2: Resultados obtidos para as hipóteses H1 e H2

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa

Possuem conhecimentos básicos

NÃO possuem conhecimentos

Rosenery Loureiro Lourenço Carla Macedo Velloso dos Santos Adolfo Henrique Coutinho e Silva

H1: Acadêmicos de ciências contábeis possuem conhecimentos básicos sobre DRA

H2: Acadêmicos de ciências contábeis percebem a DRA como uma DC importante para a tomada de decisões

160

120

80

40

0Acertou as duas questões Acertou a questão 14 OU

a questão 17

7

150

56

101

Importância atribuída ao BP

Importância atribuída a DRE

Importância atribuída a DFC

Importância atribuída a DRA

160

120

80

40

097%

153 155 147

97

99% 94% 62%

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 17, n. 64, p. 4- 13, set./dez. 2015

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Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ

11Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 14, n. 55, p. 56 - 64, set./dez. 2012 11

O Painel A permite verificar que os alunos que estão cursando os semestres iniciais do curso dão mais impor-tância à DRA do que os alunos que estão nos períodos finais. Uma possível explicação para esse fenômeno é que estes alunos dos semestres finais (semestres 8 a 10), quando iniciaram o curso, não tiveram oportunidade de detalhamentos a respeito das mudanças relativas à con-

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa

vergência às normas internacionais de contabilidade e as alterações ocorridas na Lei no final de 2008 e em 2009. Possivelmente, alunos desses períodos não exploraram a Estrutura Básica Conceitual do CPC em disciplinas bási-cas. Outrossim, logo após as alterações nas Leis, os cur-sos lentamente iniciaram processos de reformulação dos conteúdos para os projetos pedagógicos e professores

Quadro 1: Painéis com p-valor dos testes Qui-quadrado para importância e conhecimento da DRA

PAINEL A - Importância atribuída à DRA por alunos do início e fim de curso

Importante Sem importância Total geralFim de curso (semestre 8 a 10) 45 7 52

Início de curso (semestre 4 a 7) 52 1 53

Total geral 97 8 105

p-valor Teste Qui-quadrado 0,02540 α = 0,05

H0 : alunos de início e fim de curso são iguais

H1 : há diferença entre alunos de início e fim de curso

PAINEL B - Importância atribuída à DRA, para alunos de diferentes IES

IES do Norte IES do Sudeste Total geralImportante 69 28 97

Sem importância 8 8

Total geral 69 36 105

p-valor Teste Qui-quadrado 0,00076 α = 0,05

H0 : não existe diferença entre IES

H1 : há diferença entre alunos das IES

PAINEL C - Importância atribuída a DRA por alunos que atuam na área contábil

Não atuam na área contábil Atuam na área contábil Total geral

Importante 48 49 97

Não sei responder 30 22 52

Sem importância 4 4 8

Total geral 82 75 157

p-valor Teste Qui-quadrado 0,62788 α = 0,05

H0 : Grupo de alunos que atuam são iguais aos que não atuam

H1 : há diferença entre alunos que atuam e os que não atuam na área contábil

PAINEL D - Conhecimentos básicos sobre DRA e e a abordagem nas disciplinas

SEM conhecimento básico de DRA COM conhecimento básico de DRA Total geral

Abordagem foi insatisfatória 85 4 89

DRA não foi abordada 42 1 43

Abordagem foi satisfatória 18 2 20

Total geral 145 7 152

p-valor Teste Qui-quadrado 0,39930 α = 0,05

H0 : não existe diferença de conhecimento por conta da abordagem da DRA

H1 : há diferença entre alunos conforme a abordagem da DRA nas disciplinas

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 17, n. 61, p. 4- 13, set./dez. 2015

O Que Estudantes de Contabilidade “Pensam” Sobre o Resultado Abrangente?

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buscaram qualificação para atualização e reformatação no conteúdo das disciplinas.

De acordo com o Painel C, verifica-se que o fato de atu-ar na área contábil não contribui para que o aluno atribua maior ou menor importância à DRA. Os resultados eviden-ciados no Quadro 1 contribuem para a rejeição da hipóte-se H3 estabelecida na pesquisa, ou seja, verificou-se que a percepção sobre a importância da DRA não aumenta na medida em que os alunos estão mais avançados nos pe-ríodos do curso. Tais resultados também contribuem para que seja rejeitada a hipótese H4 estabelecida na pesqui-sa, isto é, verificou-se que os acadêmicos de ciências contábeis de diferentes regiões, mas matriculados em IES com mesmo conceito no ENADE, percebem a DRA de for-ma diferenciada, já que para alunos da IES localizada no Norte do País a DRA é mais importante do que para alu-nos da IES localizada na região sudeste.

5. Considerações FinaisEste artigo buscou verificar a percepção de estudantes

de graduação em ciências contábeis de uma IES locali-zada na região Norte e outra na região Sudeste, a res-peito da demonstração do resultado abrangente. Foram estabelecidas quatro hipóteses para a pesquisa: H1: Aca-dêmicos de ciências contábeis possuem conhecimentos básicos sobre DRA; H2: Acadêmicos de ciências contá-beis percebem a DRA como uma DC importante para a tomada de decisões; H3: A percepção sobre a importân-cia da DRA aumenta na medida em que os alunos estão mais avançados nos períodos do curso; H4: Acadêmicos de ciências contábeis de diferentes regiões, mas matricu-lados em IES com mesmo conceito no ENADE, percebem a DRA de igual maneira.

Os resultados mostraram que os alunos não possuem conhecimentos básicos sobre a DRA. No entanto, consi-

deram-na como uma demonstração contábil importante. Os testes estatísticos confirmaram que há diferença na percepção de importância atribuída pelos alunos das IES, sendo que ela é percebida como mais importante para os alunos da IES localizada na região Norte. A análise tam-bém permitiu verificar que alunos dos semestres iniciais de curso atribuem maior importância à DRA do que alunos que estão nos semestres finais. Diante desses resultados, foram rejeitadas as hipóteses H1, H3 e H4 estabelecidas na pesquisa.

No Brasil, conforme ratificam o CPC e o CFC, a DRA faz parte do conjunto completo das demonstrações finan-ceiras; sendo assim, considera-se elementar que os alu-nos recebam treinamento sobre sua função, estrutura e utilidade na tomada de decisões.

A pesquisa concluiu que os alunos de ciências contá-beis que estão em vias de se formar não possuem conhe-cimento necessário para lograrem êxito em questões con-cernentes a DRA em um exame para o CFC ou o ENADE, pois os dados evidenciaram que o conhecimento sobre a DRA está aquém do esperado.

Quanto às limitações da pesquisa, destacam-se o uso do questionário, que depende da capacidade e disposição dos respondentes em cooperar para que haja qualidade de informações, e a impossibilidade de generalização dos resultados para todos os cursos de ciências contábeis de instituições públicas brasileiras, dado terem sido es-tudadas apenas duas IES, uma da região norte e outra da região sudeste. Sendo assim, sugere-se para futuros estudos que a pesquisa seja replicada em outras IES, in-clusive de outras regiões do Brasil. Sugere-se, também, verificar a percepção e o conhecimento dos docentes des-sas instituições para que seja possível entender como a DRA está sendo abordada nas disciplinas ministradas.

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14 14 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 17, n. 64, p. 14- 22, set./dez. 2015

2º Lugar - V Prêmio Contador Americo Matheus Florentino 2015

A Qualidade Informacional das Políticas Contábeis, Mudanças de Estimativas e Retificação de Erros: uma Análise nas Notas Explicativas das Maiores Empresas Brasileiras

Rosane Barbosa RubertoBelford-Roxo– RJ Bacharel em Ciências Contábeis pela UFRRJ1 [email protected]

Alessandro Pereira AlvesPetrópolis – RJ Mestre em Ciências Contábeis pela UFRJ2 [email protected]

ResumoO propósito deste estudo foi analisar as características qualitati-

vas da divulgação informacional em notas explicativas das maiores empresas brasileiras com relação às políticas contábeis, mudanças de estimativas e retificação de erros. Para tanto, foi realizada uma pesquisa descritiva quanto aos seus objetivos e documental quanto ao seu delineamento. Procedeu-se à coleta de dados após a ela-boração de uma planilha padrão com critérios pré-estabelecidos – avaliando-se a qualidade da nota explicativa de acordo com o que o foi divulgado pela empresa. Assim, foi aplicada nota 0,0 para em-presa que não apresentou a informação; nota 1,0 para aquela que a apresentou, mas com baixa qualidade; nota 2,0 para aquela que a apresentou com alguma qualidade, mas ainda insuficiente para o entendimento do usuário da informação; e nota 3,0 para aquela que apresentou a informação completa para o entendimento. Para as empresas que não tiveram mudanças de estimativas ou retifica-ção de erros, não houve atribuição de notas, sendo considerado “não aplicável”. Foram analisados os relatórios contábeis de apre-sentação em 31/12/2014 das 10 maiores companhias brasileiras de capital aberto ranqueadas pela Forbes em 2015. Constatou-se que as empresas Vale e Braskem apresentaram maior qualidade

informacional em notas explicativas, e a Ultrapar apresentou menor qualidade em relação às demais empresas. Com o resultado, ficou mais evidente que a maioria das empresas do estudo apresentou adequadamente suas notas explicativas no que concerne às regras do CPC 23 (Políticas Contábeis, Mudança de Estimativa e Retifi-cação de Erro), o que poderá ser a tendência do mercado após o primeiro quinquênio de aplicação das normas internacionais. Palavras-chave: Nota explicativa, características qualita-tivas, divulgação

AbstractThe purpose of this study was to analyze the qualitative charac-

teristics of the information disclosure in the notes of the largest Brazi-lian companies in relation to accounting policies, changes in estima-tes and error correction. Therefore, some descriptive of your goals and documentary about its design was performed. It proceeded to collect data after the drafting of a standard sheet with pre-established criteria assessing the quality of note according to what was reported by the company. So it was applied note 0.0 for companies that did not submit the information; note 1.0 to the one presented but with low quality; note 2.0 to the one presented with some quality, but still insu-fficient for the user’s understanding of the information; and note 3.0 to the one that presented the complete information for understanding. For companies who have not had changes in estimates or correction of errors, no grading is considered “not applicable”. Accounting pre-sentation reports were analyzed in 31/12/2014 the 10 largest publicly traded Brazilian companies ranked by Forbes in 2015. It was found that Vale and Braskem companies had higher information quality in the notes and Ultrapar reported lower quality compared to other companies. With the result, it became more evident that most of the surveyed companies adequately presented his notes with concern the statement of standards CPC 23 (Accounting Policies, Changes in Accounting Estimates and Errors) which may be the market trend after the first five years of implementation of international standards.Key words: Explanatory note, Qualitative characteristics, Disclosure

1 UFRRJ - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – CEP 23897-000 –Seropédica – RJ 2 UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro – CEP 22290-240 – Rio de Janeiro - RJ

Artigo recebido em 14/08/2015 e aceito em 23/09/2015

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Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ

15Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 14, n. 55, p. 56 - 64, set./dez. 2012 15Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 17, n. 64, p. 14-22, set./dez. 2015

A Qualidade Informacional das Políticas Contábeis, Mudanças de Estimativas e Retificação de Erros: uma Análise nas Notas Explicativas das Maiores Empresas Brasileiras

1. IntroduçãoCom a criação das International Financial Reporting Standards

(IFRS) publicadas pelo International Accounting Standards Board (IASB), muitos países aderiram ao regulamento, incluindo o Brasil. As normas brasileiras de contabilidade entraram em convergência, efetivamente, com as normas internacionais a partir da publicação da lei nº 11638/2007. Assim, em 2010 as companhias de capital aberto e as companhias de capital fechado de grande porte, isto é, com ativo superior a R$ 240 milhões ou receita bruta anual acima de R$ 300 milhões, foram obrigadas a elaborar seus demonstrati-vos financeiros de acordo com a nova legislação.

Segundo o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) cria-do pela resolução CFC nº 1.055/05, uma das vantagens da con-vergência à “contabilidade internacional” é que as empresas não precisarão elaborar diferentes demonstrativos contábeis para di-versos usuários, evitando, assim, maiores custos. No entanto, as empresas apresentaram aumento significativo na divulgação das informações no final do exercício, principalmente, no que se refere às notas explicativas, conforme apontou pesquisa realizada pela empresa de consultoria Ernst & Young Terco (2010, p. 17). Se-gundo a pesquisa, as exigências de divulgação presentes no IFRS resultaram em aumento no conteúdo informacional das notas expli-cativas. Entende-se, assim, que em decorrência das novas práticas contábeis tornou-se imprescindível a divulgação de maior conteúdo informacional do que o exigido anteriormente.

Esse aumento na quantidade de informações divulgadas pela empresa, através das notas explicativas, trouxe benefícios para os seus usuários externos, na medida em que, com mais dados (com qualidade) a seu dispor, podem-se tomar melhores decisões eco-nômicas, levando a influências positivas e significativas no nível de investimento para a entidade.

Neste sentido, é possível supor que, quanto melhor for o con-teúdo informacional divulgado através das notas explicativas, maior será o grau de confiança do usuário. Se o grau de confiança do usuário aumenta em relação à companhia, melhor poderá ser o seu investimento nela, o que acarretará para a empresa maior visibilida-de e competitividade no mercado.

Por outro lado, cumpre destacar que, muitas vezes, tais informa-ções não possuem a qualidade desejada, pois o conteúdo contido em determinada nota pode não influenciar a decisão do usuário externo, que, por não fazer parte das atividades da empresa, se ba-seia em decisões através dos dados publicados pelas companhias em suas demonstrações contábeis, as quais apresentam muito conteúdo, porém, pouco significativos, uma vez que as informações (significativas) contidas nas demonstrações devem ser retratadas de forma detalhada na nota explicativa.

Nesse sentido, uma empresa, ao elaborar a nota explicativa ao final do período, deve elaborá-la conforme a legislação vigen-te, sem dúvida, porém é necessário que a nota seja apresenta-da de forma clara, pois servirá como base para os usuários das informações contábeis. Ressalta-se que tais usuários devem ter conhecimento razoável dos negócios. Logo, caso a empresa te-nha alguma informação considerada importante, esta deverá ser divulgada pela entidade, independentemente do grau de dificul-dade contida no conteúdo.

2 Em português: Normas e Padrões Internacionais de Contabilidade.3 Em português: Comitê de Normas Internacionais de Contabilidade.

Diante do exposto, o presente estudo tem por objetivo geral ana-lisar as características qualitativas da divulgação informacional em notas explicativas das maiores empresas brasileiras com relação às políticas contábeis, mudanças de estimativas e retificação de erros, realizando uma comparação entre a divulgação das notas explicati-vas pelas empresas e as exigências do CPC 23.

A relevância do estudo pode ser considerada de irrefutável indis-pensabilidade, pois, ao mesmo tempo em que se tem um cenário convergente e a adaptação das empresas a esse novo cenário, as empresas tendem a melhorar a elaboração das notas explicativas, e, como foi exposto anteriormente, estas se tornam cada vez mais importantes e exigem feitos, em relação a elas. Logo, os estudan-tes e os profissionais da área precisarão estar cientes e atualizados a respeito dessa nova situação na área contábil. Neste sentido, o estudo servirá de importante fonte de pesquisa para alunos, profes-sores, profissionais e a sociedade de maneira geral.

O estudo está organizado em cinco partes. Inicialmente, apre-sentou-se a introdução com conceitos elementares para a fami-liarização do tema, sua relevância e objetivo geral. Na sequência, será apresentada a revisão da literatura discutindo brevemente os conceitos, a importância com consistência teórica e a atualidade do tema. Posteriormente, será apresentada a metodologia de pesqui-sa, os resultados e análises e, por último, a conclusão que inclui as limitações e propostas para futuros estudos.

2. Revisão de Literatura2.1. Notas explicativas

As notas explicativas, como o próprio nome indica, explicam e/ou complementam uma informação que tenha ficado sem deta-lhamento. É através delas, principalmente, que se podem adquirir informações não contidas nas demonstrações contábeis, auxilian-do na tomada de decisão tanto dos usuários internos quanto dos usuários externos.

As notas explicativas passaram a incorporar as demonstrações contábeis após a aprovação da Lei 6.404/76, que estabelece no § 4º art. 176 que “as demonstrações serão complementadas por notas explicativas e outros quadros analíticos ou demonstrações contábeis necessárias ao esclarecimento da situação patrimonial e dos resultados do exercício”.

Em complemento a referida Lei, Neves (2005, p.14) afirma que:

“... as notas explicativas não tratam da exceção de algum pro-cedimento contábil nas demonstrações e sim esclarecem sobre um conjunto integrado de informações, ou seja, a divulgação das práticas contábeis usadas. Não devem ser utilizadas para retificar, como de fato não retificam, a aplicação de práticas con-tábeis inadequadas.”No item 6.2 da NBC T 6 (1992), é destacado que fazem parte

do conteúdo das notas explicativas informações de natureza patri-monial, econômica, financeira, legal, física e social, assim como os critérios que são utilizados na elaboração das demonstrações con-tábeis e os eventos subsequentes ao BP. A referida norma, ainda naquele tempo, apontava que era preciso observar alguns aspectos para a elaboração das notas explicativas como: (i) as informações devem contemplar os fatores de integridade, autenticidade, preci-são, sinceridade e relevância; (ii) os textos devem ser simples, obje-

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Rosane Barbosa Ruberto Alessandro Pereira Alves

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tivos, claros e concisos; (iii) os assuntos devem ser ordenados obe-decendo a ordem observada nas demonstrações contábeis, tanto para os agrupamentos como para as contas que os compõem; (iv) os assuntos relacionados devem ser agrupados segundo seus atributos comuns; (v) os dados devem permitir comparações com os de datas de períodos anteriores; (vi) as referências a leis, de-cretos, regulamentos, normas brasileiras de contabilidade e outros atos normativos devem ser fundamentados e restritos aos casos em que tais citações contribuam para o entendimento do assunto tratado na nota explicativa, entre outros.”

É importante ressaltar que as informações inseridas nas notas explicativas, conforme consta no item 6.2 da NBC T 6 (1992), de-vem ser relevantes e devem complementar e/ou suplementar uma informação que não foi suficientemente evidenciada ou que não consta nas demonstrações.

Contudo, apesar de o tempo ter passado, é possível perceber que a ideologia não mudou, isto é, ainda nos dias atuais as normas também requerem maior qualidade informacional; porém, o merca-do não foi tão exigente naquele tempo.

Com o processo de convergência, um novo texto sobre o tema foi elaborado. Assim, de acordo com o apresentado nos itens 112 a 117 da NBC TG 26 (2013, pp 586-587), as notas explicativas devem: (i) apresentar informações acerca da base para a elabo-ração das demonstrações contábeis; (ii) divulgar informações re-queridas pelas normas, interpretações e comunicados técnicos que não tenham sido apresentados nas demonstrações contábeis; (iii) prover informação adicional que não tenha sido apresentada nas demonstrações contábeis, mas que seja relevante para a sua com-preensão; (iv) divulgar um resumo das políticas contábeis especí-ficas (significativas); (v) apresentar informação de suporte de itens apresentados nas demonstrações contábeis; (vi) divulgar informa-ção a respeito das fontes de incerteza e estimativas que tenham riscos significativos de provocar modificação material nos valores contábeis de ativos e passivos nos próximos anos; entre outros.

Neste sentido, a nova regra detalha um pouco mais o que deve ser divulgado em nota explicativa, mas, no final, o objetivo permanece semelhante àquele apresentado na regra anterior, isto é, manter uma complementação à divulgação das demonstrações contábeis de modo que os relatórios sejam mais compreensíveis, sem que com isso haja informação irrelevante e/ou que não seja útil para a tomada de decisão dos usuários de maneira geral.

Hungarato e Costa (2004, p.2) ratificam essa colocação acres-centando que as notas explicativas são informações que comple-mentam as demonstrações contábeis, integrando-as e buscando evidenciar com transparência os resultados obtidos pela entidade. Segundo os mesmos autores, as notas explicativas não possuem a finalidade de substituir as demonstrações contábeis: sua finalidade é esclarecer fatos ocorridos nas demonstrações que não ficaram evidentes ao usuário.

Além do que foi especificado anteriormente, as notas explicati-vas precisam apresentar outro tipo de conteúdo. Desta forma, Ne-ves (2005, p.18) destaca que as notas explicativas devem conter características qualitativas e quantitativas, de forma clara e ordena-da, para que seja capaz de repassar o conteúdo relevante contido nas demonstrações, pois é isso que vai determinar a característica da divulgação de informações corporativas.

Nesse sentido, as características qualitativas de relevância, re-presentação fidedigna, compreensibilidade e comparabilidade tam-bém devem ser utilizadas para a elaboração das notas explicativas.

Até esse ponto, é possível inferir que as notas explicativas pos-suem uma posição apropriada no processo de informação financei-ra, no entanto, segundo Neves (2005, p.37) “...há o risco de se dar ênfase excessiva às notas explicativas como método de divulga-ção, ou ao seu uso como desculpa pelo fornecimento de demons-trações formais inadequadas...”. Ou seja, as empresas acabam “pecando” pelo excesso de informações irrelevantes nas notas, por problemas na elaboração, por dar ênfase à sua divulgação, entre outros fatores.

Contudo, o mercado (usuários da informação) vem reagindo ao excesso de notas apresentado pelas empresas. Em pesquisa reali-zada em 2014 pela Associação Brasileira de Companhias Abertas (Abrasca), de acordo com Torres (2015, p.1) está ocorrendo uma mudança na apresentação das notas explicativas pelas compa-nhias brasileiras. Segundo o mesmo autor, já no ano de 2014, apro-ximadamente 40% das companhias começaram a revisar e reduzir o tamanho das notas explicativas, e, conforme a pesquisa feita, a maioria delas reduziu em torno de 10% a 29% o conteúdo divulga-do e outras chegaram a reduzir mais de 30% do documento em comparação a 2013.

Isso confirma que as entidades brasileiras não elaboravam suas notas explicativas conforme deveriam. As características qualita-tivas (relevância, representação fidedigna, compreensibilidade, comparabilidade e materialidade) não estavam sendo utilizadas na composição das notas explicativas.

Esta iniciativa é parte do projeto que o IASB prepara acerca da divulgação das informações pelas companhias de capital aberto dos países que adotam as IFRS, já que o tamanho e qualidade das notas são fatores de preocupação (preocupação que já vem de muito tempo atrás e que ficou mais evidente após a adoção das IFRS), segundo Plöger (2015) apud Torres (2015, p.1).

Para profissionais da área e pesquisadores que analisam as de-monstrações e suas respectivas notas, não é difícil perceber que boa parte delas, desde a obrigatoriedade de utilização das regras dos pronunciamentos contábeis, a partir de 2010, são meras cópias de descrições de alguns pronunciamentos. Em algumas vezes, as empresas só alteram os valores, mantendo a mesma descrição de notas de períodos anteriores.

Ratificando essa constatação, Plöger (2015) apud Torres (2015, p.1) aponta que “há casos em que a empresa copia o pronuncia-mento inteiro do CPC, para depois dizer que aquela norma não se aplica a ela”.

Para os autores, na mesma pesquisa realizada pela Abrasca, em 2014, foi possível verificar que a redução do tamanho dos ba-lanços se deveu, sobretudo, à “simplificação do detalhamento em excesso das notas. Além disso, também foi verificada a retirada de notas sobre saldos que não eram representativos ou referentes a temas que não se aplicavam à empresa e junção de informações que apareciam de forma repetitiva em diferentes notas explicativas”.

2.2. Políticas ContábeisA norma IAS 8 trata das alterações de política contábil. No Brasil

corresponde ao CPC 23 R 03 que define as Políticas Contábeis também conhecidas como Práticas Contábeis como “os princípios, as bases, as convenções, as regras e as práticas específicas apli-cados pela entidade na elaboração e na apresentação de demons-trações contábeis.”

A seleção e aplicação das políticas contábeis devem ser de for-ma uniforme para transações semelhantes, salvo se a norma per-

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 17, n. 64, p. 14- 22, set./dez. 2015

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17Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 14, n. 55, p. 56 - 64, set./dez. 2012 17

mitir a classificação de itens aos quais se pode aplicar diferentes po-líticas. As políticas contábeis são retrospectivas, ou seja, quando há uma mudança de política, ela tem efeito retrospectivo. Neste caso, é como se a nova política sempre tivesse sido adotada.

2.3. Mudança de EstimativasConforme o CPC 23 R 03 a mudança de estimativa contá-

bil é “um ajuste nos saldos contábeis de ativo ou de passivo, ou nos montantes relativos ao consumo periódico de ativo, que decorre da avaliação da situação atual e das obrigações e dos benefícios futuros esperados associados aos ativos e passivos” Isto resultará em informações novas e novos desenvolvimentos. Mudanças em estimativa contábeis po-dem afetar resultados do período corrente (neste caso, o reconhecimento é feito no próprio período) ou os resultados do período corrente mais os resultados futuros (o reconhe-cimento será feito nos períodos futuros). Em ambas as situ-ações, o efeito da mudança será reconhecido como receita ou despesa de forma prospectiva.

É normal fazer uso das estimativas para a elaboração das de-monstrações, tal fato, não reduz a confiabilidade das mesmas.

2.4. Retificação de ErrosDe acordo ao que tange o CPC 23 R 03, erros podem ocorrer

no registro, na mensuração, na apresentação ou na divulgação de elementos de demonstrações contábeis. Conforme IASB apud Salotti (2012, p.09), esses erros incluem: efeitos de erros mate-máticos, erros ao aplicar as políticas contábeis, lapsos, interpre-tações incorretas de fatos, fraude, cálculo incorreto, entre outros. Esses erros, se não corrigidos, deixam as demonstrações em não conformidade com as normas, interpretações, entre outros,

independentemente de serem erros materiais ou imateriais. Para realizar a correção de um erro é necessária, de acordo com Salotti (2012, p.22), a “reelaboração dos valores comparativos e se o erro ocorreu antes do período anterior mais antigo, reelaboram-se os saldos iniciais de ativos, passivos e patrimônio líquido do período anterior mais antigo apresentado”

2.5. Pesquisas RealizadasA pesquisa realizada pela empresa de consultoria Ernst & Young

(2010, p.17), baseada nas alterações ocorridas após a adoção das IFRS, ressalta que foi evidenciada a existência de notas explicati-vas “padronizadas”, isto é, informações que muitas vezes citavam de maneira literal determinada norma IFRS, mas sem efetivamente prover informações relevantes aos usuários.

Além disso, apuraram que as notas não apresentam informa-ções suficientes em relação a itens como: impairment de ativos, entre outros. Segundo o estudo, as exigências impostas pela IFRS, consequentemente, aumentaram a quantidade de infor-mações divulgadas pelas empresas. O resultado é positivo; po-rém, as demonstrações contábeis só irão atingir o seu objetivo principal (prover informações relevantes para a tomada de deci-são econômica) quando houver melhora significativa na qualida-de apresentada.

Desta forma, um dos tópicos abordados que se refere ao grau de detalhamento exigido pelo IFRS resultou no aumento do volume de informações divulgadas pelas empresas. Agora, é preciso focar a qualidade imposta nas informações prestadas aos usuários. Portanto, as empresas devem ter ciência de que a Contabilidade brasileira vive um novo momento, e que os velhos costumes – como a “falta de atenção”, dada a elaboração das demonstrações financeiras – devem ser abandonados.

Autor e Ano Objetivo da Pesquisa Resultado / Conclusão

Agnaldo Araújo Neves (2005)

Abordar a finalidade e utilidade da nota explicativa, o grau de dificuldade de compreensão dos usuários sobre as informações e práticas contábeis contidas nas notas explicativas e identificar os elementos essenciais e os aspectos relevantes sobre a elaboração, características, os conteúdos das notas explicativas, segundo a Lei das Sociedades por Ações e a Comissão de Valores Mobiliários.

A maior finalidade da nota explicativa é gerar informações aos usuários, não os deixando em dúvida. Para isso, é preciso verificar as informações complementares necessárias a um melhor esclarecimento, e não somente no que tange à Lei das S.A, pois a transparência contida nas notas possibilitará ao usuário melhor compreensão da real situação financeira da empresa.

Ernst & Young Terco (2010)

O estudo objetiva, além de examinar o grau de adesão ao novo padrão contábil, apresentar, igualmente, oportunidades de melhoria para futuras empresas adotantes do IFRS.

O resultado apontou um aumento da quantidade de informações divulgadas pelas empresas.

Arildo Hungarato e Alexander Ferreira Costa (2004)

Analisar a natureza das notas explicativas. A Pesquisa foi direcionada para o estudo e análise do conteúdo das notas explicativas apresentadas pelas empresas do setor elétrico.

No resultado, identificou-se que as mesmas não atendem plenamente aos itens objetos das normas. Entende-se que uma das causas do não atendimento pleno compreende a falta de uma estrutura padronizada de notas explicativas, além de o assunto não ser pautado de maneira compulsória, e sim a título de sugestão, sem esgotar-se.

Quadro 1: Síntese de algumas das pesquisas realizadas.

Fonte: Elaboração própria com a utilização de dados de Neves (2005), Ernst & Young Terco (2010) e Hungarato e Costa (2004)

O Quadro 1 é apresenta a síntese de algumas pesquisas realizadas sobre a qualidade das notas explicativas.

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 17, n. 64, p. 14- 22, set./dez. 2015

A Qualidade Informacional das Políticas Contábeis, Mudanças de Estimativas e Retificação de Erros: uma Análise nas Notas Explicativas das Maiores Empresas Brasileiras

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3. MetodologiaEsta pesquisa é classificada como descritiva, porque

buscou determinar e divulgar características importantes predominantes nas notas explicativas, além de descrever em partes a elaboração das notas explicativas atualmente pelas empresas brasileiras. Para Gressler (2004, p.42) a pesquisa descritiva é usada para “... descrever os fenôme-nos existentes, situações presentes e eventos, identificar problemas e justificar condições, comparar e avaliar o que os outros estão desenvolvendo e situações para futuros planos e decisões...”

Segundo Silva e Menezes (2005, p. 20), a pesqui-sa do ponto de vista da forma de abordagem pode ser qualitativa, quantitativa ou mista. Para este estudo, a forma de abordagem e análise dos dados se dará pela abordagem qualitativa.

Posteriormente, realizou-se um levantamento acerca do que havia na literatura sobre a divulgação das notas explica-tivas e a qualidade das demonstrações contábeis, as normas pertinentes ao caso, como o CPC entre outros.

Em seguida, procedeu-se à coleta e posterior análise dos dados. O processo de seleção das empresas se deu por meio da publicação anual realizada pela Forbes em seu ranking que aponta as 2000 maiores companhias de capital aberto em 2015, com relatórios anuais de 2014. O ranking é calculado a partir da combinação de 4 fatores: receitas, lucros, ativos e valor de mercado; por consequên-cia, foram selecionadas as 10 maiores empresas brasileiras apontadas neste ranking em 2015. Pelo pouco tempo dis-ponível, não foi possível a escolha de um grupo maior de empresas; porém, pretendeu-se escolher este grupo, pois são as maiores empresas consideradas em um ranking in-ternacional. Logo, podem fornecer informações importantes sobre as características qualitativas das notas explicativas, considerando que, geralmente, as maiores empresas são responsáveis por uma maior divulgação de dados, pois pos-suem maior quantidade de investidores, fazendo com que divulguem mais. Cabe destacar que as instituições financei-ras que também estão no ranking como umas das maiores empresas do mundo foram excluídas da base de dados, a fim de evitar distorções no resultado, uma vez que as mesmas seguem o regulamento do Banco Central do Brasil (BACEN) e podem não necessariamente utilizar as regras do CPC em alguns casos.

As notas foram coletadas através do site da CVM (http://www.cvm.gov.br/) dos relatórios publicados com data de apre-sentação em 31 de Dezembro de 2014.

Os dados coletados foram sobre as Políticas Contábeis, Mudança de Estimativa e Retificação de Erro. A razão para essa escolha é que tais práticas, visam a melhorar a relevân-cia e a confiabilidade das demonstrações contábeis, permitin-do assim sua comparabilidade no decorrer do tempo com a de outras entidades.

A análise consiste na verificação das informações pu-blicadas em notas explicativas com relação as exigências do CPC 23 (revisão 3), cujo objetivo é definir critérios para a seleção e a mudança de políticas contábeis, juntamente com o tratamento contábil e divulgação de mudança nas

políticas contábeis, a mudança nas estimativas contábeis e a retificação de erros.

Para melhor organização dos dados coletados, foram cria-das planilhas eletrônicas, as quais foram categorizadas e de-talhadas conforme as exigências do CPC 23.

No campo Nota, é realizado o somatório de pontos obtidos através da pontuação dada em cada item listado na planilha que tenha sido cumprido. O critério escolhido para a atribui-ção das notas foi como a empresa divulgou as informações descritas na planilha acima. Assim, as notas foram distribuí-das da seguinte forma:

• Nota 0 – Para empresa que não apresentou a informação;

• Nota 1,0 – Para aquela que a apresentou, mas com baixa qualidade;

• Nota 2,0 - Para aquela que a apresentou com alguma qualidade, mas ainda insuficiente para o entendimen-to do usuário da informação;

• Nota 3,0 - Para aquela que a apresentou com quali-dade, isto é: a informação é completa para o entendi-mento.

É importante ressaltar que as informações fornecidas pelas empresas em suas notas explicativas, além de obedecerem aos critérios exigidos pelo CPC 23, devem ser relevantes, fi-dedignas, compreensíveis e comparáveis.

Além disso, para as empresas que não tiveram mudanças de estimativas ou retificação de erros não houve atribuição de notas, mas sim a inserção de N/A – Não Aplicável.

De acordo com Gressler (2004, p. 194) “validade refe-re-se à extensão em que um instrumento mede o que se propõe medir.” Segundo a mesma autora, por outro lado, “a confiabilidade refere-se à extensão na qual o instru-mento é consistente em medir o que foi determinado a medir, em condições que se admitem ser constantes.”

Desta forma, para garantir a confiabilidade do instru-mento de coleta de dados, a análise foi fundamentada com base em literatura pertinente e claramente definida; tomaram-se os devidos cuidados para que o instrumento de pesquisa tivesse medidas válidas e confiáveis para uma análise efetiva dos dados.

4. Resultados e AnáliseNeste capítulo é apresentada a pesquisa realizada, as-

sim como os resultados e análises obtidos através dela. A pesquisa visa a comparar as informações das notas com as exigências do CPC 23, identificando assim elementos essenciais e aspectos relevantes sobre a elaboração, ca-racterísticas e finalidades das notas explicativas adotadas pela prática contábil.

Em cada empresa selecionada, foi realizada a análise de suas Políticas Contábeis, Mudanças de Estimativas e Retificação de erros, comparando com as exigências do CPC 23.

Para realizar essa comparação, foram selecionadas al-gumas exigências do CPC 23, e, a cada exigência cumprida pela empresa no conteúdo de sua nota explicativa, foram atri-buídas notas conforme critério especificado no capítulo sobre a metodologia da pesquisa.

Rosane Barbosa Ruberto Alessandro Pereira Alves

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19

Desta forma, conforme Quadro 2, apresenta-se o resul-tado obtido com a análise das Políticas Contábeis.

Verificou-se, nos dados coletados, certo padrão nas notas explicativas em relação à escolha das políticas con-tábeis. Porém, a maior parte das empresas definiu cla-ramente a aplicação de tais políticas, salvo com relação à empresa ULTRAPAR, onde as definições apresentadas foram praticamente cópias das normas contábeis.

As estimativas contábeis também fazem parte da polí-tica contábil da empresa, e, ao analisarem-se as notas da Cielo e da Cemig, assim como da empresa Ultrapar, per-cebe-se que as empresas apresentam brevemente quais são os itens que sofrem estimativas, mas não fornecem uma introdução, por menor que seja, sobre como ocorrem tais estimativas. Isto acaba deixando uma lacuna para o usuário da informação a respeito do assunto, o qual terá que buscar nas notas tais informações, quando a empresa já poderia ter fornecido uma noção sobre o tema. Por essa razão, sobretudo, as empresas Ultrapar, Cielo e Cemig apresentaram menor qualidade informacional nas notas explicativas. Abaixo, é demonstrada uma parte do item s da nota explicativa da empresa Ultrapar referente às suas estimativas contábeis.

“As demonstrações financeiras incluem, portanto, entre outros, estimativas, premissas e julgamentos referen-tes, principalmente, à determinação do valor justo de instrumentos financeiros (notas explicativas nº 4, 14 e

Quadro 2: Resultado da qualidade das notas explicativas sobre “Políticas Contábeis”

Fonte: Elaboração própria a partir da coleta de dados da pesquisa

Empresas Descrição de como as PCs são aplicadas

Há seleção e aplicação das PCs uniformemente para transações semelhantes

Os efeitos da apli-cação das PCs são materiais

As informações apresentadas são relevantes, fidedignas, compreensíveis e comparáveis

Nota

VALE 3 3 3 3 12

PETROBRAS 3 3 3 3 12

JBS 3 3 3 3 12

BRF – BRASIL FOODS

3 3 3 3 12

GRUPO PÃO DE AÇÚCAR

3 3 3 3 12

ULTRAPAR 1 3 3 2 9

CIELO 2 3 3 2 10

CEMIG 2 3 3 2 10

ELETROBRÁS 3 3 3 3 12

BRASKEM 3 3 3 3 12

22), determinação da provisão para créditos de liquida-ção duvidosa (notas explicativas nº 5 e 22)...” Logo, esta forma de divulgação, que também é encon-

trada nas empresas Cielo e Cemig pode prejudicar o en-tendimento do usuário da informação, uma vez que este precisará percorrer as notas explicativas para compreen-der como ocorrem as estimativas da entidade.

4.2 Análise da Qualidade Informacional com Relação às Mudanças de Estimativas

De acordo com o CPC 23 R03 Mudança de Estimativa é “um ajuste nos saldos contábeis de ativo ou de passi-vo, ou nos montantes relativos ao consumo periódico de ativo, que decorre da avaliação da situação atual e das obrigações e dos benefícios futuros esperados associa-dos aos ativos e passivos.”

Quando a entidade efetua esses ajustes e reconhece--os corretamente, em geral, como despesa ou receita, e demonstra tal informação comparando com o período an-terior, tal informação pode ser considerada de qualidade.

No Quadro 3, é possível verificar o resultado obtido com a análise das Mudanças de Estimativas.

O resultado obtido na análise em relação a mudança de estimativas pode ser considerado satisfatório porque não foi constatado em nenhuma das entidades tal ocorrência, o que pode demonstrar maior prudência na elaboração de suas demonstrações contábeis. No entanto, talvez esse resultado fosse diferente em um grupo de empresas maior

4.1 Análise da Qualidade Informacional com Re-lação às Políticas Contábeis

De acordo com o CPC 23 R03 as políticas contábeis são “os princípios, as bases, as convenções, as regras e as prá-ticas específicas aplicados pela entidade na elaboração e na apresentação de demonstrações contábeis.”

Para obter qualidade nas Políticas Contábeis, é necessário que a entidade cumpra algumas exigências impostas pelo CPC 23. Caso a empresa não identifique um pronunciamento que trate sobre determinada transação, a administração deverá jul-gar tal transação para aplicação e desenvolvimento de sua po-lítica contábil obedecendo aos critérios impostos pelo CPC 23.

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 17, n. 64, p. 14- 22, set./dez. 2015

A Qualidade Informacional das Políticas Contábeis, Mudanças de Estimativas e Retificação de Erros: uma Análise nas Notas Explicativas das Maiores Empresas Brasileiras

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ou com a escolha de um grupo de empresas de menor porte. Além disso, a empresa pode ter deixado de divulgar a informação, mas o objetivo do estudo é avaliar apenas o que foi divulgado.

4.3 Análise da Qualidade Informacional com Relação a Retificação de Erros

Conforme Salotti (2012, p.9) esses erros incluem: efeitos de erros matemáticos, erros ao aplicar as políti-cas contábeis, lapsos, interpretações incorretas de fatos,

Empresas Divulgação da Natu-reza de Mudança na Estimativa Contábil

Divulgação do Montante de Mu-dança na Estimati-va Contábil

Caso o montante do efeito de períodos subsequentes não tenha sido divulgado, o motivo desta não divul-gação foi informado?

As informações apresentadas são relevantes, fidedig-nas, compreensíveis e comparáveis?

Nota

VALE N/A N/A N/A N/A -

PETROBRAS N/A N/A N/A N/A -

JBS N/A N/A N/A N/A -

BRF – BRASIL FOODS

N/A N/A N/A N/A -

GRUPO PÃO DE AÇÚCAR

N/A N/A N/A N/A -

ULTRAPAR N/A N/A N/A N/A -

CIELO N/A N/A N/A N/A -

CEMIG N/A N/A N/A N/A -

ELETROBRÁS N/A N/A N/A N/A -

BRASKEM N/A N/A N/A N/A -

Fonte: Elaboração própria a partir da coleta de dados da pesquisa

Quadro 3: Resultado da qualidade das notas explicativas sobre “Mudança de Estimativa”

fraude, cálculo incorreto, entre outros. A entidade deve retificá-los assim que forem identificados, e, para que tal correção seja considerada de qualidade, é preciso que a empresa reelabore os valores comparativos. Caso o erro tenha ocorrido antes do período anterior, o mais antigo, devem-se reelaborar os saldos iniciais de ativos, passi-vos e o patrimônio líquido do período anterior mais antigo, apresentado de forma retrospectiva.

No Quadro 4 é possível verificar o resultado obtido com a análise da Retificação de Erros.

Empresas A natureza do erro do período anterior

Montante da retificação no início período anterior mais antigo apresentado

As circunstâncias que levaram à existência dessa condição

As informações apre-sentadas são relevantes, fidedignas, compreensí-veis e comparáveis?

Nota

VALE N/A N/A N/A N/A -

PETROBRAS 3 0 3 2 8

JBS N/A N/A N/A N/A -

BRF – BRASIL FOODS

N/A N/A N/A N/A -

GRUPO PÃO DE AÇÚCAR

N/A N/A N/A N/A -

ULTRAPAR N/A N/A N/A N/A -

CIELO N/A N/A N/A N/A -

CEMIG N/A N/A N/A N/A -

ELETROBRÁS N/A N/A N/A N/A -

BRASKEM N/A N/A N/A N/A -

Quadro 4: Resultado da qualidade das notas explicativas sobre “Retificação de Erros”

Fonte: Elaboração própria a partir da coleta de dados da pesquisa

Rosane Barbosa Ruberto Alessandro Pereira Alves

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21

O resultado obtido com os dados em relação à retificação de erros foi satisfatório, pois somente a Petrobras teve retificação a ser realizada devido, principalmente, ao esquema de pagamen-tos indevidos, conforme a entidade cita no item 3.2.3 de sua nota explicativa, a qual trata da abordagem adotada para ajuste de ativos afetados pelos gastos adicionais.

Ao analisar as notas explicativas da Petrobras, percebe-se que, em decorrência do seu atual momento, a empresa consultou todas as possíveis normas, orientações, legislações, entre outros, para a elaboração de suas demonstrações e notas explicativas. No que tange à sua retificação, ela não a conseguiu, devido a informações insuficientes para determinar o montante em relação à baixa de gastos adicionais capitalizados indevidamente, que foi reconhecida no resultado do terceiro trimestre de 2014, em fun-ção da impraticabilidade de se determinarem os efeitos específi-cos em cada período no passado. Logo, as informações não são totalmente confiáveis, conforme a entidade afirma no item 3.2.3 da nota explicativa, não podem ser comparáveis e perdem um pouco de sua comparabilidade. A própria entidade reconhece isto ao tratar de valores recuperáveis que “A Companhia ainda não re-cuperou nenhum valor referente aos pagamentos indevidos feitos por fornecedores e não pode estimar de forma confiável qualquer valor recuperável nesse momento”.

Salvo isso, não foram constatadas nas outras entidades tais ocorrências, o que demonstra maior prudência na elaboração de suas demonstrações contábeis.

Diante do exposto, grosso modo, as melhores divulgações encontradas no decorrer das análises foram com relação às em-presas Vale e Braskem.

A empresa Vale apresentou suas principais práticas contá-beis, apresentou uma mudança em sua política contábil e a di-vulgou: ela consiste nos seus Ativos e Passivos mantidos para venda e operação descontinuada. Nota-se que a empresa di-vulga o método de como realiza a estimativa contábil e reco-nhece que alguns elementos, como as suas reservas minerais e a vida útil das minas, representam valores significativos, entre os quais qualquer alteração pode causar impactos significativos nos encargos de depreciação, exaustão e amortização. Neste caso, suas estimativas contábeis são analisadas anualmente. E o mesmo se aplica a qualquer elemento que venha a causar grande impacto em seus resultados. A empresa é bem objetiva em suas informações e o usuário consegue compreender com facilidade tais informações.

A empresa Braskem também apresentou as principais políti-cas contábeis adotadas, ilustrando com uma tabela e detalhando como são aplicadas. As estimativas contábeis são bem detalha-das. Desta forma, verificou-se que a empresa fornece bastante informação a respeito, de forma clara e objetiva, a fim de transmitir transparência ao seu usuário.

Por outro lado, a empresa Ultrapar apresentou notas explicati-vas com qualidade inferior à das demais empresas. Diferentemen-te das notas verificadas nas outras empresas, a nota explicativa desta companhia é prolixa. A mesma apresenta as principais polí-ticas adotadas, onde a definição dos elementos é praticamente a cópia do que tange à norma, perdendo um pouco da objetividade. No entanto, quando trata do uso de suas estimativas contábeis, onde a administração faz o uso das melhores informações dis-poníveis na data da preparação das demonstrações contábeis, a entidade detalha da seguinte forma: “As demonstrações financei-

ras incluem, portanto, entre outros, estimativas, premissas e julga-mentos referentes, principalmente, à determinação do valor justo de instrumentos financeiros (notas explicativas nº 4, 14 e 22)...”. Uma pequena introdução de como são feitas já daria ao usuário da informação uma noção sobre o tema. Porém, suas informa-ções são “maçantes” e perdem a objetividade, prejudicando assim a compreensão do usuário da informação contábil.

Uma observação a ser feita – que, apesar de não fazer parte da análise, é de total importância – é com relação à elaboração das notas explicativas. Constatou-se que as notas explicativas das entidades estão mais objetivas, pois não possuem tantas páginas. Nesse sentido, é provável que tais entidades estejam dentro do percentual de 40% das companhias brasileiras de capital aberto que conseguiram reduzir suas notas explicativas em um percentual que varia de 10% a 29%, conforme aponta a pesquisa divulgada recentemente (26/06/2015), de acordo com Plöger apud Torres (2015, p.1). Através da revisão, diminuíram o tamanho de suas notas explicativas e, com isso, as entidades tornam-se mais objetivas, deixam de fornecer tanta informação a respeito da empresa e tratam mais dos assuntos considerados importantes ao usuário. Não é possível detalhar aqui uma nota explicativa completa, mas cito abaixo apenas para exemplifica-ção um modelo referente a uma das políticas contábeis adota-das pela empresa Vale, descritas em sua nota explicativa:

“Combinação de negócios

quando a Companhia adquire controle de uma entidade, os ativos identificáveis adquiridos, os passivos e passivos con-tingentes assumidos e a participação dos acionistas não con-troladores são mensurados inicialmente pelo valor justo na data de aquisição.A diferença líquida positiva entre a contraprestação transferida e o valor justo dos ativos identificados e passivos assumidos líqui-dos, na data da aquisição, é registrada como ágio (“goodwill”), que é atribuído a cada unidade geradora de caixa adquirida.”

Em suma, com a realização do estudo, constatou-se que ain-da há empresas que não se preocupam (ou ainda não sabem) em apresentar notas explicativas com qualidade informacional. Por outro lado, ficou mais evidente a qualidade das informações no que concerne às políticas contábeis conforme demonstrado no Quadro 2; a análise realizada em relação às mudanças de es-timativas e retificação de erros demonstra maior cautela, maior sensatez da parte da entidade ao elaborar seus demonstrativos contábeis, acompanhando a tendência do mercado de acordo com Torres (2015, p.2). Lembramos que este estudo visou à verificação apenas dos dados divulgados nas notas explicativas, e o resultado poderá ser diferente se o estudo for apresentado a uma gama maior de empresas de porte e setores diferenciados.

5. Conclusão e RecomendaçõesO objetivo do presente estudo foi analisar as características

qualitativas da divulgação informacional em notas explicativas das maiores empresas brasileiras com relação as políticas con-tábeis, mudanças de estimativas e retificação de erros. Para tan-to, foram analisadas as notas explicativas (por meio de critérios específicos) dos relatórios das 10 maiores empresas classifica-das pela Forbes em 2015.

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 17, n. 64, p. 14- 22, set./dez. 2015

A Qualidade Informacional das Políticas Contábeis, Mudanças de Estimativas e Retificação de Erros: uma Análise nas Notas Explicativas das Maiores Empresas Brasileiras

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Pela análise das 10 maiores companhias brasileiras de ca-pital aberto, conclui-se que a maioria das empresas do estudo apresentou adequadamente suas notas explicativas no que se refere às regras do CPC 23 (Políticas Contábeis, Mudança de Estimativa e Retificação de Erro), o que sugere ser a tendência do mercado após o primeiro quinquênio de aplicação das nor-mas internacionais. Percebe-se que as empresas já estão man-tendo posicionamento favorável quanto à iniciativa do projeto que o IASB prepara acerca da divulgação das informações pelas companhias de capital aberto dos países que adotam as IFRS, no intuito de produzir relatórios com notas explicativas mais “en-xutas” e com maior qualidade informacional.

Em contrapartida ao resultado encontrado, a exceção ocorreu por conta da empresa ULTRAPAR, onde as definições apresen-tadas foram praticamente cópias das normas contábeis, perden-do um pouco da objetividade. Porém, essa prática pode variar de empresa para empresa, pois depende da qualificação dos profis-sionais responsáveis pela emissão do relatório. Mas, geralmente com o tempo, as empresas acabam se adequando as exigências dos usuários.

Além disso, foi verificado que, além das características fun-damentais (Relevância e Representação Fidedigna) e de melho-rias (Compreensibilidade e Comparabilidade) a serem utilizadas não só para elaboração das demonstrações contábeis, como também da nota explicativa, os principais atributos qualitativos verificados nas notas explicativas foram: Prudência, Objetivida-de, Clareza e Transparência.

É importante ressaltar que todas as informações prestadas possuem caráter relevante, evidenciando um fator essencial na elaboração das notas explicativas de acordo com normas contá-beis NBC T 6 e NBC TG 26 (CPC 26).

Foram encontradas certas limitações no que tange ao assun-to abordado neste estudo. Há um déficit de estudos na área re-lacionados à nota explicativa, políticas contábeis, mudanças de estimativas e retificação de erro. Praticamente, não há estudo sobre o assunto em meios com boa qualidade científica. Algu-mas informações pesquisadas sejam na internet ou em livros são simplesmente informações descritas pelas normas. Além disso, cabe ressaltar que os resultados obtidos podem ter certo grau de subjetividade, pois dependem, em parte, da interpreta-ção e opinião do autor, não sendo possível generalizar.

Como sugestão para futuros estudos, é possível que, com a aplicação do mesmo tipo de pesquisa a uma gama maior de em-presas de porte e setores diferenciados, o resultado seja diferen-te ou mais amplo. Além disso, é possível pesquisar a qualidade das notas explicativas utilizando-se outras normas contábeis e não apenas o CPC 23, conforme realizado neste estudo.

Por fim, a elaboração de uma satisfatória nota explicativa exi-ge bom conhecimento de contabilidade, pois é de total impor-tância a observação no que tange às normas, para se obter um resultado satisfatório na nota explicativa, seguindo os critérios exigidos e não se esquecendo dos atributos que a compõem: Prudência, Objetividade, Clareza e Transparência. Vale lembrar que a nota explicativa não é feita para a empresa, e sim para os usuários das demonstrações contábeis.

Referências

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Rosane Barbosa Ruberto Alessandro Pereira Alves

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 17, n. 64, p. 14- 22, set./dez. 2015

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Heritage Assets no Brasil: um Estudo de Caso sobre a Ilha Fiscal

Esdras Carlos de SantanaRio de Janeiro – RJ Mestre em Ciências Contábeis pela UFRJ1 Chefe do Departamento de Contabilidade da Diretoria de Fi-nanças da Marinha2

Professor da Trevisan Escola Superior de Negócios3 [email protected]

Alex Sandro de Oliveira Barbosa Rio de Janeiro – RJ Trevisan Escola Superior de Negócios3

[email protected]

ResumoAnalisaram-se as principais normas intencionais sobre a conta-

bilização dos heritage assets e demonstrou-se, a partir de um caso concreto, como vem sendo realizada atualmente no Brasil a mensu-ração, o reconhecimento e a evidenciação de um bem com as mes-mas particularidades desses ativos. Os heritage assets possuem como principal característica o seu valor histórico, artístico, científico, tecnológico, geofísico ou ambiental. Estas características tornam a sua mensuração um trabalho de difícil execução, visto que a avalia-ção ultrapassa a medição do valor da estrutura física para alcançar o registro contábil do intangível. Através de uma pesquisa exploratória, os dados levantados foram analisados de forma qualitativa, buscan-do demonstrar a contabilização da Ilha Fiscal, um dos monumentos mais conhecidos da cidade do Rio de Janeiro e que reúne caracte-rísticas de um heritage asset. Na pesquisa, constatou-se que, apesar de os órgãos internacionais de normatização contábil já terem pro-nunciamentos sobre o tema, não há, entre eles uma conformidade sobre tais normas; e que há no Brasil orientações para contabiliza-ção de ativos com características semelhantes aos heritage assets apenas paras as entidades públicas, porém sem que seja possível o reconhecimento da parcela relativa ao intangível. Palavras-chave: Heritage assets. Ativo intangível. Contabi-lidade pública.

Abstract The main international statement about heritage assets

accounting methods were analyzed; and, based on a specific case, the way the recognition, measurement and disclosures of an asset with the same features as these assets have been being done in Brazil were displayed. The main characteristics of heritage assets lie on their historical, artistic, scientific, technological, geophysical or environmental value. These characteristics turn their measurement into a hard task because the valuation accounts for more than the evaluation value of the physical structure to achieve the intangible asset booking value. By means of an exploratory research, the surveying data were analyzed in a qualitative way with the intention to show the accounting of Ilha Fiscal, one of the most famous monuments of Rio de Janeiro city that gathers characteristics of a heritage asset. This research found out that, even though the international accounting standard boardings have already released statements about the topic, there is no compatibility among the boardings yet; and that there are Brazilian accounting statements to assets with de same characteristics as heritage assets just for the public sector entity, but they cannot recognize intangible portion.Key words: Heritage assets. Intangibles assets. Accounting public sector.

1. Introdução A adoção das normas internacionais de contabilidade tem como

efeito a divulgação de informações econômico-financeiras com maior qualidade, transparência e comparabilidade. Para os usuá-rios das demonstrações contábeis aplicadas ao setor público acres-centa-se o benefício de uma nova visão da contabilidade pública, direcionada para a determinação do valor do patrimônio, proporcio-nando a melhora qualitativa na mensuração, reconhecimento e evi-denciação do patrimônio sob a responsabilidade dos entes públicos.

Apesar dos avanços ocorridos na evidenciação dos ativos per-tencentes ao setor público, um grupo especial de bens ainda é ob-jeto de grande discussão entre os autores. São eles os bens que exercem a função de propagar a cultura e o conhecimento de uma determinada sociedade, conhecidos internacionalmente como heri-tage assets e mantidos por entidades públicas ou privadas.

Segundo o Accounting Standards Board (ASB, 2009), os heri-tage assets possuem como principal característica o seu valor his-tórico, artístico, científico, tecnológico, geofísico ou ambiental. Es-tas características tornam a sua mensuração um trabalho de difícil execução, visto que a avaliação ultrapassa a medição do valor da

3º Lugar - V Prêmio Contador Americo Matheus Florentino 2015

1 UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro – CEP 22290-240 2 Marinha do Brasii - Centro, Rio de Janeiro - RJ - CEP, 20010-0003 Trevisan Escola Superior de Negócios - Centro, Rio de Janeiro - RJ - CEP, 20010-000

Larissa Gomes de OliveiraRio de Janeiro – RJ Trevisan Escola Superior de Negócios3

[email protected]

Artigo recebido em 14/08/2015 e aceito em 23/09/2015

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 17, n. 64, p. 23- 29, set./dez. 2015

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estrutura física para alcançar o registro contábil do intangível.Este trabalho tem como objetivo apresentar as principais normas

intencionais sobre contabilização dos heritage assets e demonstrar, a partir de um caso concreto, como vem sendo realizada atualmen-te no Brasil a mensuração, o reconhecimento e a evidenciação de um bem com as mesmas particularidades desses ativos.

Para desenvolver o tema, foi realizada a análise do tratamen-to contábil dado à Ilha Fiscal, que teve sua escolha motivada pelo fato de ser um dos monumentos mais conhecido da cidade do Rio de Janeiro, por reunir as características de um heritage asset e estar contabilizada e depreciada em conformidade com as Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Pú-blico (NBC T SP 16.9).

A Ilha Fiscal está situada na cidade do Rio de Janeiro e foi o cenário do “Último Baile do Império”, que aconteceu poucos dias depois de sua inauguração. O baile também precedeu a Procla-mação da República, que ocorreu seis dias mais tarde. Apesar de esta solenidade ser o marco mais relevante da sua história, não se pode esquecer que a Ilha também testemunhou a Revolta Armada, ocorrida no ano de 1893.

A Ilha Fiscal possui representatividade cultural muito forte para o Brasil. Porém, não se pode afirmar que todo este valor está repre-sentado nas demonstrações contábeis da entidade que a mantém. Frise-se que não há norma nacional que padronize o processo de reconhecimento, mensuração e evidenciação dos heritage assets, e que, para as entidades públicas, o reconhecimento da parcela intangível de bens culturais ainda é vedado pelo Manual de Con-tabilidade Aplicada ao Setor Público (MCASP), ao contrário do que ocorre em outros países, nos quais os organismos de normatização contábil já emitiram pronunciamentos sobre a forma de contabiliza-ção desses ativos.

Sendo assim, esta pesquisa contribui para o desenvolvimento da Ciência Contábil, uma vez que amplia o conhecimento sobre um assunto ainda com poucos estudos publicados e alguns questio-namentos no que tange ao reconhecimento e à contabilização dos heritage assets.

Quanto à organização deste trabalho, na próxima seção o as-sunto será abordado sob a perspectiva de diversos autores e enti-dades de normatização contábil. Em seguida serão apresentadas a metodologia aplicada na pesquisa e a descrição dos critérios atual-mente utilizados na reavaliação do valor de registro patrimonial da Ilha Fiscal. Por fim, serão apresentadas as limitações da pesquisa e as conclusões.

2. Referencial Teórico2.1. Conceitos de Heritage Assets

Os heritage assets são bens tangíveis com qualidades históri-cas, artísticas, científicas, tecnológicas, geográficas ou ambientais, preservados ou mantidos principalmente em razão da sua contri-buição para o conhecimento e para a cultura. (ASB, 2009). Blöndal (2003) dá como exemplo os prédios históricos, os monumentos, os sítios arqueológicos, os museus, as galerias e os acervos.

Ao abordar o tema, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) separou os heritage assets em cultural heritage e natural heritage, sendo que os pri-meiros englobam os monumentos, os grupos de construções e os sítios arqueológicos, e no segundo estão aqueles que podem ser entendidos como um conjunto de bens em que as características naturais consistem em físicas, biológicas, geológicas e fisiográficas. (ASB, 2006, p.20).

Para Martins, Araújo e Lima (2014) os heritage assets são ativos físicos preservados por uma entidade em razão do seu valor cultu-ral, histórico ou ambiental, que normalmente não possuem substitu-tos e não são destinados à venda. Nesta mesma linha, os autores Tavares, Gonçalves e Niyama (2010) acrescentam que tais bens carregam consigo uma importância ímpar para determinado povo ou sociedade por sua representatividade histórico/cultural, cuja in-tenção de sua preservação é indefinida.

As definições acima chamam a atenção pelo fato de descreve-rem os heritage assets como bens que possuem um alto valor para a sociedade da qual fazem parte e que, se medido, supera a quan-tia monetária referente à sua composição física. Esta propriedade tem feito com que alguns autores defendam a classificação destes bens como intangíveis. Entre eles estão Borges et al. (2013), que afirmam que o principal atributo destes ativos reside na representa-tividade cultural e/ou histórica para um povo ou nação, elementos que tornam suas características intangíveis mais latentes.

Em relação ao reconhecimento dos Ativos Intangíveis, o art. 179 da Lei 6.404/76, inciso VI, determina que sejam contabilizados no referido grupo os direitos que tenham por objeto bens incorpóreos destinados à manutenção da companhia ou exercidos com essa finalidade, inclusive o fundo de comércio adquirido.

O Pronunciamento Técnico CPC 04 (R1), correlacionado às Normas Internacionais de Contabilidade IAS 38, define como In-tangível o ativo não monetário identificável sem substância física e orienta que, em caso de indefinição sobre o tratamento do mesmo como Imobilizado ou Intangível, a entidade avalie qual elemento é mais significativo.

Contudo, o mesmo Pronunciamento impõe como regra de reconhecimento do ativo intangível que o mesmo seja identifi-cável, acrescentando que um ativo satisfaz o critério de identi-ficação, quando:

a) for separável, ou seja, puder ser separado da entidade e ven-dido, transferido, licenciado, alugado ou trocado, individualmente ou junto com um contrato, ativo ou passivo relacionado, indepen-dente da intenção de uso pela entidade; oub) resultar de direitos contratuais ou outros direitos legais, inde-pendentemente de tais direitos serem transferíveis ou separá-veis da entidade ou de outros direitos e obrigações. (CPC, 2010).

Atualmente, entidades de normatização contábil como o ASB e o Federal Accounting Standards Advisory Board (FASAB) classifi-cam os heritage assets como bens tangíveis e orientam a sua con-tabilização no Imobilizado, porém de forma segregada dos outros ativos nele registrados.

Este não é o único impasse que rodeia o tema. A própria classifi-cação dos heritage assets como Ativo também tem sido questiona-da, uma vez que tais bens normalmente apresentam fluxo de caixa negativo, ou seja, as despesas com a sua manutenção normalmen-te são maiores que as receitas proporcionadas por eles, contrarian-do o conceito do International Accounting Standards Board (IASB), na sua norma The Conceptual Framework for Financial Reporting, que define como Ativo o recurso controlado pela entidade como re-sultado de eventos passados e do qual se espera que fluam futuros benefícios econômicos para a entidade. (IASB, 2006).

Reforçando a ideia acima, Mautz (1981 citado por RUA, 2014) confirma que os heritage assets não produzem rendimentos ou flu-xos de caixa positivos e por isso não podem ser reconhecidos como ativos. Neste aspecto, o autor alinha-se a outros que contestam a definição de Ativo do IASB, especialmente quando aplicada aos

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Heritage Assets no Brasil: um Estudo de Caso sobre a Ilha Fiscal

bens de propriedade das entidades públicas, pelo fato de as mes-mas não possuírem como finalidade a obtenção de lucros, mas sim a prestação de serviço a terceiros.

Com relação às entidades públicas, Deegan e Samkin (2002, apud TAVARES; GONÇALVES E NIYAMA, 2010) chamam aten-ção para o fato de que, mesmo apresentando fluxos de caixa lí-quidos negativos, os heritage assets auxiliam essas entidades a alcançar os seus objetivos, que na maioria dos casos são sociais, lembrando ainda que o mesmo ocorre com as empresas que apre-sentam como única finalidade a manutenção e guarda destes bens e que sem eles não teriam função.

Como alternativa à não classificação dos heritage assets como ativos, Mautz (1988, segundo RUA, 2014) sugeriu a criação de uma nova tipologia de elementos denominada como Facilities, definidos como bens que, em cumprimento da sua habitual função na entida-de, geram fluxos de caixa negativos, devendo ser contabilizados se-paradamente e podendo converter-se em ativos se forem vendidos por um preço certo, proporcionando consequentemente um fluxo líquido positivo para a entidade.

Pallot (1990) também sugere a criação de um grupo de ativos específico denominado de community assets que, justificado na existência de uma propriedade comum, acolheriam os bens de in-fraestrutura e os heritage assets nas demonstrações contábeis das entidades públicas:

[...] en esta línea se movería la propuesta [...] de considerar la existencia de unos “activos comunitarios” (community assets) que, basados en la existencia de uma “propiedad común” (com-mon property), acogerían a una serie de activos especiales, distinguiéndolos de la generalidad de los activos ordinarios que establemente son utilizados por las entidades públicas para el cumplimiento directo de los propios fines. El término “community assets” incluiría tanto los activos de infraestructura como los “he-ritage assets” (PALLOT, 1990 segundo Gómez; CASAL, 2008).

Neste mesmo diapasão, Gómez e Casal (2008) afirmam que, para elaborar um tratamento contábil especial para esses ativos, primeiramente, deve-se separá-los em dois grupos: um com ativos que são considerados recursos, e outro composto por aqueles con-siderados propriedades. Os community assets se classificariam no segundo grupo, os ativo de propriedade.

Entretanto, sobre os aspectos relativos à classificação, o ASB se posicionou definindo os heritage assets como Ativos:

The future economic benefits associated with the artefact are pri-marily in the form of its service potential rather than cash flows. In the Board’s view, by virtue of the service potential they provide, heritage assets meet the definition of an asset; that is, they provi-de ‘rights or other access to future economic benefits controlled by an entity as a result of past transactions or event. (ASB, 2009).

Todavia, o juízo acima não se estende a todos os casos, tendo em vista que existem bens que não possuem potencial prestação de serviço, como, por exemplo, praças e ruínas, mas que também se encaixam na definição de heritage assets.

Esta discussão confirma que a evidenciação dos heritage as-sets é de extrema importância para os usuários das demonstrações contábeis, pois possibilita entre outras coisas o acompanhamento dos montantes dispensados pelas instituições na manutenção dos referidos ativos:

In fact, the accounting for heritage assets should not focus only on the technical accounting side but also on the reliability, credibility

and usefulness of accounting information for different stakehol-ders and its impact on the decision-making (OUDA, 2014).

Apesar dos questionamentos acima, o tema heritage assets ain-da é pouco conhecido no Brasil e não dispõe de muitos estudos e pesquisas. No exterior, órgãos como o ASB e FASAB já emitiram normas que conceituam e orientam a contabilização desses ativos. Todavia, não há consenso entre as orientações emanadas por es-ses órgãos. Da parte dos órgãos de normatização brasileiros, ainda não há nenhuma norma sobre a contabilização desses bens.

2.2 Normas Contábeis Relativas aos Heritage Assets No Reino Unido, o ASB através da norma FRS 30 – Heritage

Assets trata esses ativos como Imobilizado e orienta que a sua mensuração deve ser realizada com base no FRS 15 – Tangible Fixed Assets. A referida norma propõe que, nos casos em que o custo ou valor do bem seja conhecido, este deve ser apresentado no Balanço Patrimonial separadamente dos demais ativos imobili-zados. De forma contrária, os valores devem ser evidenciados ape-nas em notas explicativas. Entretanto, esta possibilidade somente será aceita se o custo para gerar as informações necessárias para a contabilização for superior aos possíveis benefícios. Já as trans-formações ocorridas na valoração do bem deverão ser reportadas na demonstração de resultado do período incorrido.

A norma acima também explicita que a escolha do método de avaliação a ser utilizado fica a critério da própria entidade. Além de não exigir que a mesma seja realizada por avaliadores externos, fato que pode resultar em diminuição da credibilidade da informa-ção prestada, haja vista que a avaliação interna pode ser compro-metida pelo fato de os mencionados ativos não possuírem um mer-cado próprio.

Apesar da liberdade para escolha do critério de avaliação dos heritage assets, esta deve ser cercada de cuidados. Nesse sentido, Ouda (2014) exemplifica o que ocorre em outros países:

For example, the city of Luxor in Egypt hosts one third of the mo-numents and antiquities of the world (heritage assets). Therefo-re, the capitalization of all heritage assets in Egypt will lead to the exaggeration of net worth, which may give an indication that Egypt has huge positive economic/financial resources. In fact, this is untrue as Egypt is suffering from a large public debt and budget deficit. (OUDA, 2014).

Em relação ao teste de recuperabilidade, a norma afirma que o mesmo deverá ser realizado em todo bem que sofrer deterioração física e que este procedimento deve seguir as orientações do FRS 11 – Impairment of Fixed Assets and Goodwill.

Nos EUA, o FASAB, ao abordar o tema, separou os herita-ge assets em duas classes, de acordo com a função atribuída a cada ativo:

Heritage assets may in some cases be used to serve two purpo-ses—a heritage function and general government operations. In cases where a heritage asset serves two purposes, the heritage asset should be considered a multi-use heritage asset if the pre-dominant use of the asset is in general government operations (e.g., the main Treasury building used as an office building). He-ritage assets having an incidental use in government operations are not multi-use heritage assets; they are simply heritage as-sets. (FASAB, 2005).

Para os heritage assets que não tenham uma utilização funcio-nal, o FASAB propõe que sejam contabilizados, diretamente nas

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contas de resultado da entidade, apenas os custos com aquisi-ção, melhoria, reforma ou renovação. No entanto, para aqueles considerados multi-use, o órgão orienta para que tais bens sejam reconhecidos no Balanço Patrimonial, além de serem depreciados conforme a sua vida útil. Nos casos de recebimento por doação, os heritage assets devem ser registrados pelo seu valor escritural e, na sua falta, pelo fair value estimado. (FASAB, 2005).

Como foi dito anteriormente, no Brasil não há norma que padro-nize o tratamento dos heritage assets. Todavia, segundo o Manu-al de Contabilidade Aplicada ao Setor Público (MCASP, 2014), os bens imóveis mantidos por entidades públicas e considerados de domínio público são denominados Bens de Uso Comum do Povo. Esse grupo é subdividido em “Ativos de Infraestrutura”, composto por redes rodoviárias, sistemas de esgoto, pontes, calçadas, dentre outros; e os “Bens do Patrimônio Cultural”, assim chamados devido a sua significância histórica, cultural ou ambiental, e que compreen-de os monumentos e prédios históricos, sítios arqueológicos, áreas de conservação e reservas naturais. Nota-se que esse último apre-senta um conceito mais próximo da definição de heritage assets.

Segundo o MCASP, o reconhecimento e a mensuração dos Bens do Patrimônio Cultural são facultativos e podem seguir bases outras que não as utilizadas para os ativos imobilizados. Porém, com relação ao tratamento contábil relativo aos ativos intangíveis pertencentes às entidades públicas, o referido Manual deixa claro que tais procedimentos não se aplicam ao patrimônio cultural intan-gível. (grifo nosso).

Desta forma, o MCASP (2014) define que os Bens do Patrimô-nio Cultural, que se assemelham por definição aos heritage assets, devem ser reconhecidos como Ativo Imobilizado e criam uma restri-ção à contabilização da parcela intangível desses ativos.

Os Bens do Patrimônio Cultural também são tratados pelas Nor-mas Internacionais de Contabilidade para o Setor Público (Interna-tional Public Sector Accounting Standards – IPSAS), editada pela Federação Internacional de Contadores (International Federation of Accountants - IFAC), no seu pronunciamento nº 17 - Ativo Imo-bilizado. Nessa norma, o IFAC afirma que os Bens do Patrimônio Cultural receberam tal denominação pela sua importância cultural, histórica ou ambiental para a sociedade.

Tanto o Manual (MCASP, 2014) como as IPSAS nº 17 eviden-ciam algumas características dos heritage assets, ressaltando não serem exclusivas desses bens:

(a) O seu valor cultural, ambiental, educacional e histórico prova-velmente não é refletido totalmente no valor financeiro puramen-te baseado no preço de mercado;(b) As obrigações legais ou estatutárias podem impor proibições ou restrições severas na alienação por venda;(c) São geralmente insubstituíveis e seus valores podem aumen-tar através do tempo mesmo se sua condição física se deteriorar;(d) Pode ser difícil estimar sua vida útil, a qual em alguns casos podem ser centenas de anos. (IFAC, 2010, p. 463).

3. Aspectos MetodológicosA abordagem da pesquisa deste trabalho é classificada como ex-

ploratória, composta normalmente por três elementos: levantamento bibliográfico, entrevistas e análise de casos. Gil (2008) esclarece que este tipo de pesquisa é realizada especialmente quando o tema se-lecionado é pouco explorado e torna-se difícil formular hipóteses pre-cisas e operacionalizáveis sobre o mesmo. Desta forma, a pesquisa

está compatível com os ensinamentos de Gil, tratar de tema ainda pouco explorado e por utilizar elementos sugeridos pelo autor.

Para a fundamentação teórica, foi realizada uma revisão biblio-gráfica onde foram coletados os posicionamentos de órgãos nacio-nais e internacionais sobre heritage assets, além das opiniões de diversos autores que através de artigos dissertaram sobre o tema.

Os dados coletados foram analisados de forma qualitativa. Nes-te tipo de investigação é considerada a relação entre a realidade e o tema abordado e a análise dos dados passa a depender muito da capacidade e do estilo do pesquisador (GIL, 2008).

Diferentemente da análise quantitativa, na abordagem qualitati-va dos dados não se faz necessário o uso de fórmulas e métodos estatísticos. Sendo assim, nessa pesquisa a análise dos dados foi empregada de forma a demonstrar de que, apesar da harmoniza-ção às normas internacionais de contabilidade aplicadas ao setor público, no país, os ativos com características semelhantes aos he-ritage assets recebem tratamento contábil diferente daquele reco-mendado por organismos internacionais de contabilidade pública.

Para obtenção de mais informações sobre o ativo em estudo, foi elaborado um questionário com perguntas abertas ao engenheiro civil integrante do grupo responsável pela reavaliação do valor de registro contábil da Ilha Fiscal. O referido engenheiro está atualmen-te lotado na Diretoria de Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha (DPHDM).

A escolha do entrevistado deve-se ao fato de o mesmo ter sido integrante do grupo de engenheiros civis que efetuou o úl-timo processo de reavaliação da Ilha Fiscal e também do pro-cesso de reavaliação de outros bens pertencentes à Marinha do Brasil como, por exemplo, o Museu Naval, o Espaço Cultural e a Biblioteca da Marinha.

Também foram analisados os registros do bem em estudo constantes no Sistema de Gerenciamento do Patrimônio Imobiliário de Uso Especial da União – SPIUnet e no Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal – SIAFI .

4. Apresentação e Análise dos Dados4.1 Mensuração e Contabilização da Ilha Fiscal

Em 1889, o Castelo da Ilha Fiscal, projetado pelo engenheiro Adolpho Del Vecchio, foi inaugurado. Os motivos de sua construção foram a necessidade de um posto alfandegário nas proximidades do fundeadouro dos navios mercantes estrangeiros, que aportavam na Baía de Guanabara, e o encantamento do Imperador Pedro II pela beleza do projeto e sua localização.

A Ilha Fiscal ficou conhecida por ter recebido “O Último Baile do Império”, que ocorreu no ano de 1889, evento considerado um marco a história do Brasil, pois ocorreu dias antes da Procla-mação da República.

A Ilha Fiscal é um que imóvel pertencente à União, sob a respon-sabilidade do Comando da Marinha (CM) e atualmente faz parte do Complexo Cultural do Serviço de Documentação da Marinha (SDM). Seu terreno, localizado na Baía de Guanabara, possui área de 6.100 m2, sendo cada metro quadrado avaliado em R$ 1.517,06. No que se refere à benfeitoria da utilização, possui 3.843,39 m2 de área construída.

Segundo informações coletadas nos sistemas SIAFI, o imóvel está contabilizado no Balanço Patrimonial da DPHDM, no Ativo Imobilizado, em conformidade com o MCASP (2014) e as Normas Brasileiras de Contabilidade Aplicadas ao Setor Público (NBC T

4 Este sistema é utilizado no gerenciamento dos imóveis pertencentes à União, denominados de “Bens de Uso Especial”. 5 Sistema no qual é registrada a contabilização da execução orçamentária e patrimonial da União

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Heritage Assets no Brasil: um Estudo de Caso sobre a Ilha Fiscal

6 No local podem ser realizados jantares, encontros de negócios, confraternizações. Também pode ser locada como set de filmagens para produções cinematográficas, de televisão e publicitárias. Fonte: https://www.mar.mil.br/dphdm/ilha/ilha_loc.htm>.

16.10 – Avaliação e Mensuração de Ativos e Passivos em Entida-des do Setor Público).

A avaliação do imóvel foi realizada por uma equipe forma-da por três engenheiros civis nomeados por processo formal, e como base foi utilizada a Norma Brasileira - NBR 14653-1. Esta norma foi emitida pela Associação Brasileira de Normas Téc-nicas (ABNT) e possui como finalidade orientar a avaliação de imóveis de forma geral, tendo que ser utilizada em conjunto com as normas posteriores. (ABNT, 2001).

Juntamente com a norma acima, foi utilizada a NBR 14653-2 que, segundo a ABNT (2004), “visa detalhar os procedimentos gerais da norma de avaliação de bens – NBR 14653-1:2001 – no que diz respeito à avaliação de imóveis urbanos, inclusive glebas urbanizáveis, unidades padronizadas e servidões urbanas”. Estas normas possuem como finalidade orientar os engenheiros avaliado-res no exercício de sua profissão e são obrigatórias para qualquer parecer relativo a esta atividade.

Segundo o entrevistado, os parâmetros utilizados para a men-suração do imóvel foram: a área do terreno, a área construída, o custo do metro quadrado do terreno, o custo do metro quadrado da construção e a depreciação física. Estes aspectos estão em con-formidade com a NBC T 16.10 que orienta que a “mensuração dos bens de uso comum será efetuada, sempre que possível, ao valor de aquisição ou ao valor de produção e construção”.

A Ilha Fiscal é aberta à visitação pública e também pode ser lo-cada para a realização de diversos eventos. Estas possibilidades de serviços a oferecer também justificam a sua classificação no Ati-vo Imobilizado. Conforme o IFAC, a classificação do bem depende do seu potencial de serviço.

Alguns bens do patrimônio cultural possuem potencial de servi-ços além de seu valor cultural, por exemplo, um prédio histórico usado como escritório. Nestes casos, podem ser reconhecidos e mensurados na mesma base como ativos imobilizados. Para outros bens do patrimônio cultural, seu potencial de serviços é limitado às suas características, por exemplo, monumentos e ruínas. A existência de potenciais de serviços alternativos pode afetar a escolha de base de mensuração. (IFAC, 2010). A Ilha Fiscal, em 31 de dezembro de 2014, estava contabilizada

pelo montante de R$ 14.721.279,50. Esse valor era composto por R$ 9.254.066,00, referentes ao terreno, e R$ 5.467.213,50, cor-respondentes à benfeitoria da utilização. Até aquela data, o ativo registrava um saldo Depreciação Acumulada no montante de R$ 6.628,19, sendo o seu valor líquido totalizado em R$ 14.714.651,31.

O montante total do Ativo reportado na Demonstração Contábil da DPHDM, em 31 de dezembro de 2014, era de R$ 29.838.059,43. Conclui-se, portanto, que a Ilha Fiscal representa aproximadamente 49,31% dos bens e direitos da instituição que a mantém. Juntamen-te com a Ilha Fiscal, a DPHDM possui outros bens considerados como Patrimônio Cultural e regularmente contabilizados, tais como o Espaço Cultural da Marinha, o Navio-Museu Bauru, o Submarino--Museu Riachuelo, a Biblioteca da Marinha e o Museu Naval.

A DHPDM tem sua vinculação administrativa ligada à Marinha do Brasil, órgão da administração direta do governo federal, subor-dinado ao Ministério da Defesa. Por este motivo, a Ilha Fiscal apa-rece em todas as demonstrações contábeis das referidas entidades quando efetuada a consolidação das contas contábeis.

Apesar da importância do bem para a história do Brasil, o valor histórico da Ilha Fiscal não foi considerado no cálculo de sua mensu-

ração e reavaliação. De acordo com o entrevistado, por ocasião da reavaliação foi considerada somente a parte física do imóvel como, por exemplo, o custo do metro quadrado da construção. Para o enge-nheiro, caso as normas de contabilização dos heritage assets fossem adotadas no Brasil, e o seu valor histórico fosse obrigatório para a sua avaliação, o valor monetário da Ilha Fiscal seria muito superior ao valor registrado nas demonstrações contábeis da DPHDM.

A declaração do entrevistado é compatível com o entendimento dos autores Borges et al. (2013) ao afirmarem que “por sua natu-reza, estes bens têm natureza corpórea, mas trazem consigo um legado para a sociedade que em muitos casos supera o valor ma-terial para sua existência ”.

Como apresentado no referencial teórico, uma das discus-sões que existem atualmente sobre os heritage assets gira em torno da sua classificação como Ativo. Para Tavares, Gonçalves e Niyama (2010) esse questionamento se faz presente, pois em muitos dos casos tais bens não geram fluxos de caixa positivos para a entidade mantenedora. Atualmente, a Ilha Fiscal conse-gue auferir receita através da abertura do espaço para visitação, cerimônias e outros eventos . Entretanto, não podemos afirmar que o fluxo de caixa gerado por ela é positivo, visto que os dados necessários para essa informação não foram coletados para a realização dessa pesquisa.

Conforme apresentado acima, a destinação do imóvel para outras funções além da transmissão da cultura e conhecimento, permite enquadrar a Ilha Fiscal no grupo de heritage assets multi--use, os quais, segundo o FASAB (2005) devem ser depreciados conforme sua vida útil. Portanto, caso no Brasil o conceito heritage assets fosse admitido em sua plenitude, a depreciação sofrida pelo ativo Ilha Fiscal não seria questionada e estaria em conformidade com as normas do referido órgão.

Com relação ao tratamento cultural recebido por bens que pos-suem valor histórico para uma sociedade, no Brasil o procedimen-to utilizado é o Tombamento. Este processo nada mais é do que a inscrição das obras consideradas pertencentes do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em Livros do Tombo. Segundo o De-creto-Lei nº 25, em seu artigo 1º, compõem este grupo os “bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico”. Os Livros do Tombo são se-parados pelos seguintes segmentos: Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, Histórico, Belas Artes e Artes Aplicadas. O tomba-mento da Ilha Fiscal foi realizado pelo Instituto Estadual do Patri-mônio Cultural (INEPAC) no dia 27 de agosto de 1990 por meio do processo de número E-18/001.177/90.

5.Considerações FinaisEsta pesquisa foi realizada com objetivo apresentar as principais

normas intencionais sobre contabilização dos heritage assets e de-monstrar, a partir de um caso concreto, como vem sendo realizada atualmente no Brasil a mensuração, o reconhecimento e a eviden-ciação de um bem com as mesmas particularidades desses ativos.

Para isso, foi realizado um estudo de caso no qual foram coleta-dos dados nos SIAFI, no SPIUnet e em entrevista a um dos enge-nheiros responsáveis pela reavaliação da Ilha Fiscal, ativo objeto do estudo. Além destes procedimentos, também foi feita uma revisão bibliográfica para a fundamentação teórica da pesquisa.

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Através do levantamento e análise dos dados, constatou-se que, apesar dos órgãos internacionais de normatização contábil já terem pronunciamentos sobre o tema, não há um consenso entre as nor-mas por eles divulgadas.

No Brasil, os bens com características semelhantes aos heritage assets são tratados como Bens do Patrimônio Cultural, devendo ser contabilizado no ativo Imobilizado das entidades mantenedoras. Porém, ainda não há orientações para aqueles mantidos por enti-dades privadas e para aqueles mantidos por entidades do setor pú-blico: o MCASP (2014) faculta o seu reconhecimento, mas sem que seja possível o reconhecimento da parcela relativa ao intangível.

Foi constatado também que o valor apresentado nas de-monstrações contábeis da DPHDM, e consequentemente no Balanço Geral da União (BGU), no fim do exercício 2014, re-flete apenas o valor referente à parte física do bem, não sendo considerado o valor cultural do imóvel.

Atualmente, a Ilha Fiscal é um bem tombado que gera receita através da locação do imóvel para cerimônias, eventos culturais e visitação pública. Desta forma, como limitação desta pesquisa, pode-se apontar o fato de não ter sido efetuado o levantamento do valor referente à receita gerada pela Ilha Fiscal. A obtenção des-ses dados auxilia na composição do fluxo de caixa gerado pelo bem, e, a partir desta evidenciação, torna-se possível saber se o seu resultado foi positivo ou negativo.

Como sugestão para próximas pesquisas, recomenda-se a ampliação da pesquisa sob a perspectiva dos fluxos de

caixa gerados pelos heritages assets, e também sob o foco da classificação de tais ativos em função das restrições le-gais ou estatuárias para de alienação por venda, indicada por Ouda (2014).

Observa-se que a falta de estudos e normas referentes ao tema e às características relativos aos heritage assets dificultam bastante a contabilização desses bens. Reforçando esta ideia, o ASB apre-senta as seguintes características do heritage assets que podem dificultar a mensuração desses bens:

3. They are often irreplaceable and their value may increase over time even as their physical condition deteriorates;4. It may be difficult to estimate their useful lives, which in some cases could be several hundred years. Based on these specific characteristics, the heritage assets seem to be largely different from other government assets (e.g., property, plant and equipment, infrastructure assets, mi-litary assets, etc.) and private sector assets. (ASB, 2006 apud OUDA, 2014)Por fim, constatou-se que, apesar de muitos autores con-

siderarem importante a representação monetária do valor histórico/cultural na composição do valor total dos heritage assets, para que esta informação seja evidenciada de forma que melhor informe os usuários das demonstrações contá-beis, devem-se antes de tudo solucionar os questionamentos básicos sobre sua definição como Ativo e sua classificação com Imobilizado ou Intangível.

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1º Lugar XVI Edição Prêmio Contador Geraldo De La Rocque 2015

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Retornos Anormais Versus Criação de Valor e Sinergias Operacionais de Firmas Brasileiras Envolvidas em Combinações de Negócios

Márcio Marvila PimentaSão Gonçalo – RJ Mestre em Ciências Contábeis pela PPGCC/UFRJ1 Professor Assistente do ICM/UFF2 [email protected]

José Augusto Veiga da Costa MarquesRio de Janeiro – RJ Pós-Doutor em Controladoria e Contabilidade pela FEA/USP3 Professor Associado do PPGCC/UFRJ1 [email protected]

ResumoEste estudo tem como objetivo verificar se os anúncios das com-

binações de negócios, nos moldes do Pronunciamento Contábil CPC 15 causam reação no mercado de capitais, e, posteriormente, verificar se os casos que demonstraram reação, ou seja, expectati-vas positivas ou negativas, foram corroborados por mudanças nas variáveis de criação de valor e de sinergias operacionais, compa-rando-se a média destas nos períodos antes e depois da efetivação das referidas operações. Os resultados indicaram na primeira parte do estudo que 63 das 64 operações analisadas não apresentaram reações, apontadas pelo teste de Estudos de Eventos, sugerindo que os anúncios de combinação de negócios não causaram impac-to no mercado. Em seguida, na segunda parte do estudo, efetua-ram-se os testes de criação de valor e sinergias operacionais para a única operação que apresentou reação. Os testes sinalizaram melhora apenas no Valor de Mercado/Valor Patrimonial e piora nas

métricas: Firm Value, Crescimento das Vendas Líquidas, EBITDA, Geração Bruta de Caixa e MEBIT.Palavras-chave: Combinação de Negócios. CPC 15. Estudo de Eventos. Criação de Valor. Sinergias Operacionais.

AbstractThis study aims to determine whether the announcements of

business combinations, similar to the CPC 15, cause reaction in the capital markets and subsequently verify that the cases that presented reaction, ie positive or negative expectations, were corroborated by changes in variables value creation and operational synergies, the average is comparing these in the periods before and after the execution of such operations. The results showed in the first part of the study that 63 of the 64 operations analyzed showed no reactions, indicated by the Event Studies test, suggesting that the business combination of ad caused no impact on the market. Later, in the second part of the study, we effected up tests of value creation and operational synergies for the only thing you presented reaction. The tests showed an improvement only in the Market/Book Value and worsening metrics: Firm Value, Growth Net Sales, EBITDA, Cash Gross Generation and MEBIT.Key words: Business Combinations. CPC 15. Events Study. Value creation. Operating synergies.

1. IntroduçãoSegundo Copeland, Koller e Murrin (2002) e Costa Junior (2008),

a combinação de negócios suscita grande interesse de analistas, contadores e pesquisadores, devido à complexidade relativa de sua aplicação a cada setor de mercado em razão de suas particulari-dades e, também, devido ao grande volume de investimento para este tipo de negociação. Em adição, essas transações despertam expectativas no mercado acionário e interesse no meio acadêmico de variadas áreas.

Importantes estudos, como os de Williamson (1970), Manne (1965), e Arrow (1975), seguem a vertente de que a fusão é uma forma de maximizar o desempenho da administração e/ou aprovei-tar sinergias das empresas combinadas.

Ao se utilizar a técnica econométrica de Estudo de Eventos, Manne (1965) afirma que este teste avalia simultaneamente a hipó-

1 PPGCC/UFRJ - Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da Universidade Federal do Rio de Janeiro – CEP. 22290-240 - Rio de Janeiro – RJ2 ICM / UFF - Instituto de Ciências da Sociedade na Universidade Federal Fluminense – CEP 27930-560 – Macaé – RJ 3 FEA/USP - Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo – CEP 05508-010 – São Paulo – SP

Marcelo Alvaro da Silva MacedoRio de Janeiro – RJ Pós-Doutor em Controladoria e Contabilidade pela FEA/USP3

Professor Adjunto do PPGCC/UFRJ1

Artigo recebido em 04/09/2015 e aceito em 13/10/2015

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31Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 14, n. 55, p. 56 - 64, set./dez. 2012

Retornos Anormais Versus Criação de Valor e Sinergias Operacionais de Firmas Brasileiras Envolvidas em Combinações de Negócios

31Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 17, n. 64, p. 30- 38, set./dez. 2015

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tese de mercado eficiente, se é caracterizado na sua forma fraca, semiforte ou forte, e o comportamento dele perante circunstâncias como, por exemplo, o anúncio de combinação de negócios.

Healy et al (1992), examinaram o desempenho pós-aquisição das 50 maiores fusões dos EUA entre 1979 e meados de 1984. Empresas adquiridas evidenciaram melhorias significativas na pro-dutividade de ativos em relação a seus negócios, levando a maio-res retornos e fluxo de caixa operacional. Quando as empresas combinadas são do mesmo core business, apresentam resultados econômicos ainda melhores.

Esse estudo indica que há uma forte relação positiva entre o aumento pós-fusão nos fluxos de caixa operacionais e de retornos anormais ao redor de anúncios de fusão, o que confirma que as expectativas de melhorias econômicas ratificam as reavaliações patrimoniais das empresas combinadas (HEALY et al, 1992).

Ghosh (2001) questiona estudos como o de Healy et al (1992), pois entende que tais resultados de desempenho podem ser ten-denciosos, porque as adquirentes quando se engajam em aquisi-ções já se encontram em período de desempenho superior aos dos concorrentes. Ao usar empresas comparando o desempenho e o tamanho como referência, Ghosh (2001) não encontrou evidência de que o desempenho operacional melhora após as aquisições.

No Brasil dos anos 90, foi observado um fenômeno de grande quantidade de combinação de negócios. O período de 1991 a 2002 foi fortemente impulsionado pela vigência da PND – Programa Na-cional de Desestatização, marcado pelas facilitações no sentido da privatização de empresas estatais (COSTA JUNIOR, 2008).

Segundo Costa Junior (2008), para incentivar o processo de de-sestatização, o governo editou a lei 9.457/97, objetivando facilitar o processo de alienação de controle das entidades estatais e diminuir os custos transacionais. Esse período foi marcado por uma altera-ção na Lei Societária, através da suspenção do artigo 254 da Lei 6.404/76 que regulava a Oferta Pública compulsória ao adquirente do controle de uma companhia aberta.

Subsequentemente, com o controle da inflação, a abertura eco-nômica, o crescimento do mercado interno e a elevada liquidez fi-nanceira internacional, viabilizou-se o surgimento de um ambiente propício ao crescimento de fusões e aquisições de empresas no Brasil. Nos últimos anos essas operações movimentaram cifras bi-lionárias na economia.

Adicionalmente, notou-se a carência de pesquisas ex post facto de combinação de negócios no período após a emissão do CPC 15, sendo que antes deste período relevantes estudos, como o de Costa Junior (2008) e Camargos e Barbosa (2009), seguiram esta linha utilizando Fusões e Aquisições, podendo ser replicados ou aperfeiçoados para pesquisas mais recentes.

Diante disso, surge o seguinte questionamento: como se compor-tam as ações ordinárias de empresas negociadas na BM&FBovespa quando estas anunciam operações de combinação de negócios? Desse modo, o objetivo principal, através da utilização da técnica de estudo de eventos, é verificar como o mercado de capitais reage em torno do anúncio de combinação de negócios e depois observar se a expectativa foi corroborada com mudanças significativas de variáveis de criação de valor e sinergias operaci nais.

A pesquisa torna-se oportuna em razão do atual momento de importantes acontecimentos depois da pesquisa de Costa Junior (2008), tanto no contexto internacional – com a Crise dos Subpri-mes alcançando seu auge em 2008 e suas consequências poste-riores –, quanto no cenário de mudança de práticas contábeis local,

com a emissão da Lei 11.638/07, da Lei 11.941/09 e, sucessiva-mente, do Pronunciamento Técnico CPC 15. Tudo isso tornou pro-picio abordar o tema “combinação de negócios”, adicionando-se o fato de carência de estudos em torno da reação do mercado diante de anúncios destas operações. Houve aumento significativo nas operações de F&As em 2010 de aproximadamente 70% em rela-ção ao ano anterior.

Conforme os boletins de fusões e aquisições emitidos pela As-sociação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais - ANBIMA de 2010 a 2013, este fenômeno movimentou aproximadamente 680 bilhões de reais, estabilizando após um ra-zoável crescimento em 2011 e ligeira queda nos anos de 2012 e 2013, porém movimentando cifras bilionárias.

O estudo se delimita em operações de combinação de negócios ocorridas no Brasil no período de 2010 a 2013. Foram analisadas somente as operações contidas nos boletins de fusões e aquisi-ções elaboradas pela ANBIMA, de que constam registros somente de operações acima de 20 milhões de reais. Serão amostradas as empresas adquirentes (bidders) que tiverem ações negociadas da BM&FBovespa.

Analisaram-se somente as operações ocorridas no período abordado e utilizadas duas fases: o estudo de eventos por re-tornos ao redor dos anúncios e a análise da criação de valor e sinergias operacionais.

2. Informação Contábil e o Mercado de CapitaisAo longo das últimas décadas, pesquisas sobre informação con-

tábil e o mercado de capitais focaram em relacionar a divulgação de determinado conteúdo contábil à valorização ou não das ações. Este tipo de pesquisa é importante, pois é necessário saber os as-pectos da informação contábil que contribuem para a precificação das ações e cotação de outros instrumentos de captação de recur-sos no mercado financeiro (SCARPIN, PINTO e BOFF, 2007).

As características contidas na informação contábil seguem es-sencialmente as orientações contidas no pronunciamento contábil CPC 00 (R1) - Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro (2011). Este pronunciamento traz a abordagem qualitativa para a informação destinada ao usuário ex-terno. Portanto, os relatórios contábeis têm a função, além de outras enumeradas no CPC 00(R1), de auxiliar o usuário externo, como por exemplo, os acionistas, na sua tomada de decisão no ambiente de mercado de capitais.

O mercado de capitais é muito importante para o desenvolvi-mento econômico de um país, pois possibilita maior liquidez para investimentos e propicia maior dinamismo na alocação destes com os demais setores da economia. Com o seu desenvolvimento, o mercado de capitais permite formação de subsídios para a precifi-cação dos títulos negociados que deva refletir as todas as informa-ções disponíveis (FAMA, 1970).

A importância da divulgação das informações contábeis para o mercado de capitais desperta grande interesse por parte de pesqui-sadores na área de contabilidade e de outras áreas correlatas. No decorrer dos anos 60 até os dias atuais, pesquisas trazem resulta-dos que corroboram a importância da informação contábil, sendo o estudo de Ray Ball e Philip Brown em 1968 a referência em pesqui-sas deste tipo de abordagem.

Ball e Brown (1968) analisaram a influência da informação con-tábil no mercado de capitais. Para isto observaram a relação en-tre lucros anormais e retornos anormais das ações negociadas na

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Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 16, n. 61, p. 35- 44, set./dez. 201432

Bolsa de Nova Iorque. O estudo concluiu as seguintes assertivas: a divulgação de lucro acrescenta valor informativo para os investi-dores no mercado de capitais; foi evidenciado o ajuste gradual dos retornos anormais durante o ano estudado; há informações que não são refletidas no preço das ações antecipadamente; e há um movimento que tende a persistir após as divulgações contábeis.

Beaver (1968) em seu estudo corrobora a conclusão do trabalho de Ball e Brown (1968). Além de analisar os aspectos informativos das métricas contábeis, evidenciou que os preços e o volume dos títulos são influenciados pelos anúncios de índices contábeis.

Por sua vez, Fama et al. (1969) verificaram o comportamento do mercado após desdobramento de ações e concluíram que os preços das ações incorporaram as informações disponíveis rapida-mente, verificando assim a eficiência do mercado acionário.

Beaver, Clark e Wright (1980) abordaram o impacto da divulga-ção de lucros, e notaram que não há correlação perfeita entre as variações dos resultados contábeis e os preços das ações. Com este resultado, Sarlo Neto et al (2005) afirmam:

As evidências encontradas nesses trabalhos indicam que a re-levância dos números contábeis depende de vários fatores pre-sentes no ambiente econômico. Dentre esses fatores, podem--se destacar as variáveis macroeconômicas e microeconômicas (taxa de juros, tipos de indústria etc), e as características do mer-cado acionário (valor de mercado, liquidez, regulamentação etc).

Takamatsu, Lamounier e Colauto (2008) analisaram a reação do mercado de capitais quando há anúncios de prejuízos divulga-dos pelas empresas. Para operacionalizar, a pesquisa utilizou-se da técnica de estudo de eventos, possibilitando a observação dos impactos da informação contábil pública no mercado acionários. O resultado encontrado na pesquisa foi que a divulgação causou rea-ção no comportamento das ações, com queda do valor da cotação. Confirmou-se adicionalmente a eficiência da forma semiforte para mercado de ações nacional em relação a divulgação do prejuízo, pois os retornos anormais diminuíram após dois dias de negociação após a divulgação.

Corroborando com Sarlo Neto et al (2005), Takamatsu, La-mounier e Colauto (2008) afirmam em seu estudo que, devido a crescente abordagem positiva da teoria da contabilidade, este movi-mento incentivou a disseminação do ramo de pesquisas empíricas que visam a verificar a influência da informação contábil no merca-do de capitais. Esta linha de pesquisa permitiu aos autores chegar às seguintes conclusões em sua pesquisa:

O modo como o mercado reage a informações específicas pre-sentes nas demonstrações financeiras auxiliam na análise da utilidade dos principais instrumentos de comunicação da con-tabilidade. Dentre as informações específicas, o resultado do exercício destaca-se como uma das mais relevantes, apontando (no caso de lucro) a capacidade de crescimento e o potencial de criação de valor econômico da firma e vice-versa.

Contudo, Sarlo Neto et al (2005) alertam que se devem tomar precauções em pesquisas no mercado nacional, pois ele apresenta especificidades próprias, como alta regulação, fragilidade da prote-ção aos acionistas minoritários e a elevada concentração do con-trole acionário.

3. Combinação de Negócios: Estudos InerentesApós a emissão do Pronunciamento Técnico CPC 15, não hou-

ve muitos estudos locais disponíveis acerca do assunto. Geralmen-

te os artigos analisam o grau de aderência aos procedimentos ema-nados do referido Pronunciamento. Dentre os estudos nacionais e internacionais, destacam-se algumas contribuições.

Peter Dodd (1980), em seu estudo pela University of Chicago, efetuou pesquisa que dispôs sobre a reação diária do mercado para o anúncio e posterior aceitação ou rejeição de propostas de fusão. Naquela ocasião, houve reação positiva do mercado, rápida e vi-gorosa para o anúncio público da proposta de fusão. Mais adiante, houve reação positiva para a aprovação das propostas concluídas e reação negativa para as propostas canceladas.

Mais tarde, Ghosh (2001) trouxe outra abordagem: analisou se o desempenho é maior em aquisições em dinheiro, como sugerido por vários estudos como o feito por Healy et al (1992), Morck et al.(1989), Barber and Lyon (1996) e Loughran and Ritter (1997). Os resultados indicaram que os fluxos de caixa aumentam signifi-cativamente após as aquisições feitas em dinheiro, mas diminuem para troca de ações.

Por sua vez, Aktas, Bodt e Declerk (2002) analisaram a ques-tão do vazamento de informações em torno de anúncios de com-binação de negócios no mercado francês. Por meio da análise dos retornos anormais acumulados e das variações de exposição relativas à propagação 30 dias antes do anúncio, descobriram que o nível do volume cumulativo anormal antes da operação é signi-ficativamente mais elevado para operações entre empresas fran-cesas, em comparação com aquelas que envolvem pelo menos uma empresa estrangeira.

No âmbito nacional, Camargos e Barbosa (2005) avaliaram se as fusões e aquisições de empresas estudadas resultaram em cria-ção de valor e sinergias operacionais. Este estudo compreendeu um total de 72 operações de F&As ocorridos entre 1996 a 2004 e realizou-se um estudo descritivo que utilizou os testes Wilcoxon Signed Rank Test e do Rank Test para analisar dados trimestrais. Os processos de F&As resultaram em sinergias operacionais e na maximização do valor de mercado das empresas pesquisadas.

Novamente no Brasil, Costa Junior (2008) desenvolveu, em sua tese, o estudo que confrontou resultados de duas técnicas: o estudo de eventos por retornos ao redor dos anúncios e o estudo de eventos amparado por métricas contábeis. Foram amostrados 101 anúncios (1º Fato Relevante arquivado) envolvendo 104 ope-rações, totalizando R$ 223,7 bilhões, ou 66,86% do universo que integrou o ranking da ANBID de 2002 a 2006.

Na primeira técnica observou-se que o anúncio das operações de fusão e aquisição criou expectativas de maximização de valor para os acionistas das firmas combinadas. Porém, para os acionis-tas das firmas ”target”, na ocorrência de uma Oferta Pública - OPA, o anúncio das operações de fusão e aquisição foi precificado de modo diferenciado entre ações ordinárias e preferenciais, causando no mercado uma reação similar à hipótese da miopia, fenômeno comum no ambiente brasileiro. Na segunda técnica, não se confir-maram as expectativas médias do mercado no que se creditava às possíveis sinergias originadas da combinação de firmas envolvidas.

Ainda mais, Lusch, Brown e O´Brien (2011) relataram a preo-cupação com os ativos relacionais, que são ativos originados do relacionamento entre a empresa com os clientes, fornecedores e outros stakeholders envolvidos no negócio. Fez-se um estudo entre o antes e o depois da combinação, para se verificar se os ativos re-lacionais aumentam ou diminuem. Em um exemplo, o autor ressalta que não há garantia de fidelidade de um cliente comprar o produto de um negócio vendido a outra organização.

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 17, n. 64, p. 30- 38, set./dez. 2015

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33Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 14, n. 55, p. 56 - 64, set./dez. 2012

mitigando assim o risco de haver distorções de comportamento do mercado por conta de outros eventos. Desse modo, definiu-se a janela de estimação composta por 30 dias de negociação na BM&FBovespa; por sua vez, a janela de evento foi composta por 5 dias antes e 5 dias após a data do evento, perfazendo um total de 11 dias; e, por fim, a janela de comparação foi formada por 10 dias após a janela do evento.

As ações objetos de estudos foram as ordinárias, pois são repre-sentativas do controle da empresa (sendo a abordagem de controle uma das principais características trazidas pelo CPC 15), e, como foram selecionadas as empresas adquirentes para estudos, julgou--se apropriado analisá-las para verificar o comportamento dos de-tentores destas ações.

No sítio do BM&FBovespa e na base de dados da ECONOMÁ-TICA foram acessadas as cotações históricas do período compre-endido pelas janelas de cada operação. Pela natureza da técnica de estudo de evento, foram excluídas as empresas que não tives-sem ações negociadas em bolsa de valores, e, como um dos ob-jetivos é analisar a reação dos adquirentes que detém as ações ordinárias, não foi analisado os comportamentos das cotações das empresas adquiridas.

Selecionadas as cotações, foi efetuado o cálculo dos retornos das ações utilizando-se a fórmula logarítmica pelo motivo de suas vantagens frente à fórmula discreta. Segundo Soares, Rostagno e Soares (2002), tal forma gera retornos com distribuição que tende à normal, atendendo um dos pressupostos dos testes estatísticos.

,com t = 1, por se estar utilizando

apenas um período, sendo: r, Pt e Pt – 1 a taxa de retorno, o preço da ação no período t e o preço da ação no período t – 1, respectivamente.

No procedimento de teste, utilizou-se o Modelo de Retornos Ajustados ao Risco e ao Mercado (Modelo de Mercado) para cal-cular retornos anormais, pois, segundo Costa Junior (2008), este é o modelo mais sensível à percepção de reações do mercado, sendo amplamente difundido nas pesquisas que utilizam estudo de eventos, consoante Brown e Warner (1980 e 1985). Este modelo é caracterizado por um dos modelos estatísticos que tem relação linear entre o retorno do portfólio de mercado, no caso o retorno do IBOVESPA, com retorno de um determinado ativo, neste caso aos retornos das ações analisadas, através de utilização de regressão linear. Para esta etapa foi utilizado o software estatístico GRETL e o SPSS, versão 20 (Windows).

Na composição dos retornos para preencher as janelas de esti-mação, evento e comparação, houve muitos períodos sem cotação em que foi utilizado o procedimento Trade-to-Trade para solucionar este problema, para não enviesar a análise. Porém, houve casos em que, na data do evento, a adquirida ainda não havia apresen-tado ações negociadas na BM&FBovespa, impedindo a analise destas operações.

Calculados os retornos, aplicou-se a fórmula para encontrar os retornos anormais. Tal formula é caracterizada pela subtração do retorno normal observado pelo retorno normal esperado. Como já se obteve o retorno observado, aplica-se a fórmula:

(1) ,

33

Como também, Orsag e McClure (2013) direcionaram a pes-quisa ao demostrar o Valor Presente Líquido Modificada como ins-trumento para avaliação da sinergia da combinação de negócios. Porém, o artigo limitou-sea descrever o procedimento de avaliação, não utilizando casos reais.

Por sua vez, Golubov, Petmezas e Travlos (2015) pesquisaram se as aquisições financiadas por ações expropriam valor para os acionistas. Usando o estudo de eventos e a data de anúncio da oferta de ações, estimou-se através de predição linear e pontuação de propensão correlacionando a queda do preço da ação com a escolha de financiamento desta operação. Neste efeito, as aquisi-ções financiadas por ações não têm valor destrutivo, e o método de pagamento geralmente não tem poder explicativo.

4. MetodologiaA pesquisa se caracteriza como positivista e, com base em seus

objetivos, classifica-se como descritiva. Ao se classificar a pesquisa com base nos procedimentos técnicos utilizados, ela enquadra-se como bibliográfica. Quanto à abordagem, a pesquisa se caracteriza como quantitativa.

Para operacionalizar a pesquisa, primeiramente utilizou-se a téc-nica de estudo de eventos, que compreende as seguintes etapas segundo CAMPBELL, LO e MACKINLAY (1997): (1) Definição do Evento; (2) Critério de Seleção; (3) Retornos Normais e Anormais; (4) Procedimento de Estimação; (5) Procedimento de Teste; e (6) Resultados Empíricos.

Após definir o evento como combinação de negócios, solicita-ram-se à ANBIMA - Associação Brasileira das Entidades dos Mer-cados Financeiros e de Capitais os arquivos denominados: Tabelas de Operações de Fusões e Aquisições, correspondentes aos anos de 2010 a 2013. Com estes arquivos, pelo motivo da delimitação da presente pesquisa, foram selecionados os eventos de operações de combinação de negócios cujas adquirentes fossem listadas na BM&FBovespa.

Foi adotado o critério da ANBIMA para definição de adquirente, pois a mesma está em consonância com os pressupostos de identi-ficação expostas no Pronunciamento Contábil – CPC 15.

Após esta etapa, foram analisados, conforme estudo de Costa Junior (2008), os arquivos Fato Relevante e Comunicado ao Mer-cado, documentos que se encontram no sítio da CVM. A partir daí, verificou verificou-se se as operações selecionadas estavam, de fato, enquadradas na definição de combinação de negócios contida no Pronunciamento Técnico CPC 15. Ou seja, foi verificado se as operações se constituíram em mudança de controle acionário direto ou indireto e se os ativos adquiridos e os passivos assumidos cons-tituíam em negócio.

Identificadas as operações, foi utilizada a data de publicação dos arquivos analisados como data do anúncio do evento. Houve casos em que a empresa não divulgou fato relevante ou comunicado ao mercado sobre as operações de fusão ou aquisição de empresas ocorridas no ano e, assim, optou-se por excluir estas operações.

Identificada a data do anúncio do evento (data zero) foram definidas as janelas de estimação, de evento e de comparação. Conforme Costa Junior (2008), a definição do tamanho das jane-las carrega certa dose de subjetividade; portanto, foi utilizado o procedimento adotado em variados trabalhos, como o de Leite e Sainvicente (1990), Perobelli e Ness Jr. (2000) e Takamatsu, La-mounier e Colauto (2008) por apresentar janelas curtas de tempo,

Retornos Anormais Versus Criação de Valor e Sinergias Operacionais de Firmas Brasileiras Envolvidas em Combinações de Negócios

R= 1n Pt

P t-1( )

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 17, n. 64, p. 30- 38, set./dez. 2015

Rit = αi + βi Rtn+ εit = E (Rit Xit) + εit

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CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJPensar Contábil

34 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 14, n. 55, p. 56 - 64, set./dez. 2012Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 16, n. 61, p. 35- 44, set./dez. 201434

onde a variável dependente é o retorno observado e a variável independente é o retorno do índice IBOVESPA (TAKAMATSU, LAMOUNIER e COLAUTO, 2008).

Por fim, o cálculo do retorno anormal é dado por:

(2) , em que o AR é o retorno

anormal, Rit é o retorno observado e o é o retorno esperado.

Seguindo o estudo de Camargos e Barbosa (2003), após este cálculo efetua-se o teste t de Student para as médias dos retornos anormais referente a janela de estimação e a de evento para veri-ficar, se as médias são estatisticamente diferentes. Porém, antes foram verificados os pressupostos estatísticos: a normalidade e a heterocedasticidade. Quando houve problemas de normalidade, efetuou-se o teste não paramétrico U de Mann-Whitney.

Na formulação das hipóteses, definiu-se como Hipótese Nula: o evento combinação de negócios não surtiria impacto nos preços e retorno das empresas. A Hipótese Alternativa é que a combinação de negócios é significativa e impacta na percepção dos investido-res, levando-os a adaptarem suas decisões de investimento e com-posição dos portfólios.

Quando confirmada a normalidade dos dados, efetuou-se o Tes-te de Variância de Levene; nos casos em que houve problemas de heterocedasticidade, foi aplicado o Teste t de Student ajustado; nos demais casos aplicou-se o Teste t de Student “normal”.

Seguidamente, foi usada a técnica de agregação de retornos anormais e cálculo de suas médias para as diferentes operações analisadas. Esta técnica também foi utilizada por Takamatsu, La-mounier e Colauto (2008).

(3) ;

Além dos aspectos citados, o estudo também avaliou a criação de valor e a identificação de sinergias. Para isto, efetuou-se teste, explicadas na Figura 1, das operações que exibiram reação na data de evento; aplicou-se o teste não paramétrico de Wilcoxon para captar evidencias se houve criação de valor e sinergias operacio-nais após a efetivação das negociações. A data da efetivação da operação de combinação de negócios utilizada foi adquirida através das notas explicativas divulgadas pelas companhias.

Posteriormente, mediante análise de estudo de Camargos e Barbosa (2009), utilizaram-se variáveis para verificar a criação de valor e as sinergias operacionais. A captação das sinergias pode ser observada através de duas medidas de criação de valor: Valor de Mercado/Valor Patrimonial e Firm Value, e por quatro medidas de sinergias operacionais: Crescimento das Vendas Líquidas, EBI-TDA, Geração Bruta de Caixa e MEBIT.

Em seu artigo, Camargos e Barbosa (2009) observaram a exis-tência de correlação entre as três medidas de valor. Através do Tes-te de Correlação de Pearson, a um nível de significância de 1%, verificou-se proximidade entre Q de Tobin - QT e VM/VP acima de 84%. Portanto, os autores concluíram que se pode utilizar VM/VP como proxy do QT. Logo, selecionamos, pelo fato de acessibilidade de dados, a variável VM/VP, juntamente com o FV, para análise da criação de valor das empresas.

Em seguida, conforme Camargos e Barbosa (2009), comparou--se o período anterior e posterior da efetivação da operação de combinação de negócio. Para buscar indícios de se as expectativas refletidas no comportamento dos retornos anormais foram corrobo-radas pelo desempenho pós-evento, analisaram-se os indicadores financeiros da adquirente correspondentes a 8 trimestres antes, e 8 trimestres após o evento. Trata-se da comparação da média das variáveis escolhidas; aplicou-se o teste de Wilcoxon.

5. Apresentação e Análise dos ResultadosEste capítulo foi dividido em duas partes: A primeira remete aos

resultados do estudo de eventos efetuado nos retornos das ações ordinárias das empresas adquirentes envolvidas em combinação de negócios. A segunda é representada pelos resultados obtidos das variáveis correspondentes à criação de valor, que captam a si-nergia operacional.

Foram selecionadas negociações cujas adquirentes tivessem ações negociadas na BM&FBovespa no período dos respectivos anúncios – resultando em 157 operações. Subsequentemente, foram realizadas as regressões dos retornos anormais e verificadas se as operações se caracterizavam como Combinação de Negócios, con-forme disciplinada pelo CPC 15. As realizadas regressões resultaram num total de 64 operações com retornos anormais significativos.

Após realizados os testes empíricos para diferenças das médias dos retornos anormais antes e após o evento, utilizando-se o t de Student e o teste U de Mann-Whitney, 63 operações não evidencia-ram diferença entre a janela de estimação e a janela evento. Portan-to, apenas uma operação apresentou diferença significativa entre as janelas a um nível de significância de 0,10.

Este resultado vai ao encontro dos estudos de Copeland, Kol-ler e Murrin (2002) e de Costa Junior (2008), que não encontraram diferenças significativas quando analisaram o comportamento das ações ordinárias das adquirentes envolvidas nas operações. Estes resultados podem refletir a desconfiança da efetivação das siner-gias esperadas ao adicionar-se o goodwill sobre valor da aquisição.

Esta tendência pode representar também a ocorrência de insi-der trading, pois os retornos anormais poderiam conter a informa-ção da ocorrência dos eventos antes do anúncio destas operações e a amplitude da janela de evento talvez não tenha podido captar o momento da absorção desta informação de maneira significativa.

Figura 1: Etapas do Teste de Criação de Valor e Sinergias Operacionais

Fonte: Elaborado pelo autor

Definir as empresas a serem analisadas

Levantamento de dados - 8 trimestres antes e depois da data da CB.

Procedimento de Teste – Comparar as médias dos 8 trimestres antes e 8

trimestres depois

Determinar as variáveis a serem

testadas

Utilizar a data da efetivação da Combinação de Negócios Resultados empíricos

Márcio Marvila Pimenta José Augusto Veiga da Costa Marques Marcelo Alvaro da Silva Macedo

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 17, n. 64, p. 30- 38, set./dez. 2015

ARit = Rit - αi - βiRtn

CARit (t1, t2) = Σ ARt

(αi + βiRtn)

t2

t–t1

CAR(t1, t2) = Σ ARit

n

i=1

1N

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Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ

35Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 14, n. 55, p. 56 - 64, set./dez. 2012 35

Aparentemente, utilizando-se um período maior poderia captar--se este fenômeno com significância estatística, assim como Aktas, Bodt e Declerk (2002) que, em seu estudo, utilizaram uma série de janelas no intuito de captar vazamento de informações e obser-varam que os retornos anormais médios acumulados começaram a apresentar variações 30 dias antes do anúncio, mesmo para os casos em que não existiam rumores na imprensa financeira.

Além disto, acumularam-se os retornos anormais para cada uma das 64 operações. Embora os resultados apontem não ter havido reação do mercado com significância estatística, observou--se que, numa grande parte das operações, houve sequência de retornos positivos até a data do evento e, em seguida, há o ajuste nos retornos voltando, aparentemente, à “normalidade” das cota-ções praticadas.

Posteriormente, efetuou-se o teste t de Student e, conforme es-tudo de Takamatsu, Lamounier e Colauto (2008), somaram-se os retornos anormais de todas as operações e calcularam-se as mé-dias dos retornos anormais de cada dia que compôs as janelas de estimação, evento e comparação. Novamente, não foi encontrada diferença significativa entre as médias das janelas observadas.

Com nível de significância de 5%, as médias apresentaram-se iguais no teste t de Student, apresentando p-valor de 38,06%. Por-tanto, pode-se supor que não houve reação dos acionistas detento-res das ações ordinárias. Corroborando com o estudo de Mackinlay (1997), Copeland, Koller e Murrin (2002) e Costa Junior (2008).

Para melhor análise, elaborou-se a Figura 2 com os retornos anormais médios não acumulados em que pode observar-se uma elevação no momento zero do anúncio da combinação de negócios na janela de evento.

Embora os resultados não apontem reação com significância estatística, a Figura 3 evidencia um possível suporte à hipótese de eficiência semiforte. Verificou-se que, aparentemente, houve alte-ração do comportamento do mercado após acessarem-se as in-formações disponibilizadas nos fatos relevantes, que indicavam o anúncio de combinação de negócios. Porém, logo após absorver tais informações, observou-se a tendência de voltar aos patamares anteriores à divulgação do evento.

De maneira geral, os resultados encontrados alinham-se com a literatura apresentada nesta pesquisa. Primeiramente, destaca-se o estudo de Mackinlay (1997), que evidencia diversas pesquisas que trouxeram evidências empíricas sobre F&As utilizando-se da metodologia de Estudo de Eventos. Os resultados apontaram que os retornos anormais das firmas adquiridas são elevados e positi-vos, enquanto os retornos das adquirentes são próximos de zero, ou seja, não há reação.

Isto foi corroborado pelo estudo de Copeland, Koller e Murrin (2002), ao abordar reações do Mercado ex ante facto, pois afirmam que, tomando como base dezenas de estudos acadêmicos por eles analisados, o retorno para os acionistas das empresas adquirentes, quando há o anúncio de combinação de negócios, não é diferente de zero estatisticamente.

Por fim, alinha-se com o estudo de Costa Junior (2008), que, ao aplicar os procedimentos estatísticos aos retornos das ações ordi-nárias da adquirente, observou que os retornos anormais analisa-dos não foram estatisticamente significativos. Porém, quando foram observadas as ações preferenciais, verificou-se que os retornos evi-denciaram variações significativas. Esta variação foi mais evidente quando observados os retornos anormais das adquiridas.

Os resultados desta pesquisa apontaram que apenas uma operação obteve reação no período analisado. Embora a literatura exponha que operações como estas não provocam reações signi-ficativas em ações ordinárias, era esperado um número maior de operações com reação ao anúncio de combinação de negócios. Sendo assim, buscou-se embasamento para encontrar o motivo de tal comportamento dos retornos anormais da operação contida no Quadro 1.

Retornos Anormais Versus Criação de Valor e Sinergias Operacionais de Firmas Brasileiras Envolvidas em Combinações de Negócios

0,002000,001800,001600,00140 0,00120 0,00100 0,000800,000600,000400,000200,00000

-5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5

Retornos Anormais Acumulados

Retornos Anormais Acumulados

Figura 3: Retornos anormais acumulados médios

Fonte: Resultados da Pesquisa

Figura 2: Retornos anormais médios

Fonte: Resultados da Pesquisa

0,00800

0,00600

0,00400

0,00200

-

- 0,00200

- 0,00400

- 0,00600

Média dos Retornos Anormais

Média dos Retornos Anormais

-5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5

Apesar de não haver diferença estatisticamente significativa entre as médias dos retornos anormais da janela de estimação e a janela de evento, observa-se que houve elevação da média dos retornos anormais no momento do anúncio das combina-ções de negócios.

Adicionalmente, efetuou-se o processo de acumulação dos re-tornos anormais da janela de evento. Conforme Figura 3, verifica--se novamente a possível reação do mercado diante do anúncio do evento, comportamento diferente do exposto no estudo de Costa Junior (2008). Pôde ser observado que o gráfico em sua pesquisa apresentou retornos anormais acumulados com comportamento constante sem variações significativas.

Adquirente Adquirida Vendedora Valor Anúncio

PetrobrasGas Brasiliano Distribuidora

Eni Spa R$ 458.200.000

Quadro 1: Operação que houve reação no Estudo de Eventos.

Fonte: Resultado da pesquisa

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36 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 14, n. 55, p. 56 - 64, set./dez. 2012Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 16, n. 61, p. 35- 44, set./dez. 201436

e Barbosa (2009), que obtiveram evidências positivas de criação de valor e sinergias operacionais nas empresas analisadas. Portanto, houve evidências de perdas de valor da empresa e declínio das variáveis de sinergias operacionais da adquirente após efetivada a combinação de negócios. Segundo Copeland, Koller e Murrin (2002), resultados negativos de operações como esta poderiam ser oriundos de avaliação excessivamente otimista do potencial de mercado, superestimativa das Sinergias, ofertas muito agressivas e integração pós-aquisição mal administrada.

6. ConclusãoEsta pesquisa objetivou verificar como o mercado de capitais re-

age em torno do anúncio de combinação de negócios, mais espe-cificamente o comportamento das ações ordinárias das empresas adquirentes. Posteriormente, procurou-se verificar se a expectativa foi corroborada com melhorias verificadas por métricas de desem-penho operacional ou de criação de valor da empresa.

Ao verificar se o mercado reage em torno de anúncios de combinação de negócio, operacionalizou-se o Estudo de Even-tos, comparando a média dos retornos anormais das janelas de estimação e de evento. A janela de estimação foi composta por 30 dias, seguindo o proposto por Leite e Sainvicente (1990), Pe-robelli e Ness Jr. (2000) e janela de evento de - 5 dias a + 5 dias conforme adotado por Takamatsu, Lamounier e Colauto (2008) e Procianoy e Antunes (2001).

Após selecionadas as operações, em que as regressões com as variáveis Ibovespa e retornos observados foram significativas, efetuaram-se os cálculos para encontrar retornos anormais e pros-seguiram os testes de média para observar possíveis diferenças entre as médias dos retornos anormais da janela de estimação e janela de evento. Os resultados alcançados foram: das 64 opera-ções amostradas, 63 não evidenciaram diferenças entre as médias, ou seja, sugere-se que não houve reação do mercado acionário.

Embora não haja evidências estatisticamente significativas sobre a reação generalizada em torno da divulgação da combi-nação de negócios, ao acumular os retornos anormais, observou--se na Figura 1 uma tendência de subida nos dias anteriores à divulgação dos eventos. Já nos dias posteriores, após absorvida a informação do evento, houve ajuste gradual aos patamares ob-servados anteriormente.

Como apenas uma operação apresentou reação, efetuaram-se os cálculos propostos na metodologia na segunda parte da pesqui-sa. Embora os resultados obtidos nesta segunda etapa não possam ser generalizados, por se tratar da análise de apenas uma opera-ção, este procedimento teve como objetivo complementar e ilustrar como seriam efetuados tais testes. Mediante os testes já abordados

Ao se utilizar o t de Student observa-se que houve aumento na média dos retornos anormais que compõem a janela de evento e a significância da diferença das médias entre os períodos estudados que apresentou um p-valor de 0,0913.

Uma possível explicação acerca da causa desta reação poderia ser relacionada a uma expectativa positiva “por trás” da conclusão da operação, pois permitiria à Petrobrás assumir posicionamento significativamente melhor no setor de distribuição de gás, ao ter um maior acesso ao mais importante mercado brasileiro de gás natural. Segundo Fato Relevante da Petrobrás (2010):

A GBD possui a concessão das atividades de distribuição de gás natural na região noroeste do estado de São Paulo, em uma área que cobre 375 municípios e atende a demanda industrial, comercial, residencial e do setor de transportes da região. O con-trato de concessão teve início em dezembro de 1999 com dura-ção de 30 anos, podendo ser estendido por mais 20 anos. Em 2009, a rede de distribuição da companhia alcançou 734,5 km e o volume de vendas foi de aproximadamente 529 mil metros cúbicos de gás por dia.

Para a Petrobras, esta aquisição irá posicionar a empresa na atividade de distribuição no maior mercado brasileiro para o gás natural, região de São Paulo, e próximo à entrada do gás forneci-do pela Bolívia e transportado pelo Gasbol e às reservas de gás da região Sudeste.Sendo assim, conforme Tabela 1, efetuaram-se os cálculos para

analisar a criação de valor através das variáveis: Valor de Mercado/Valor Patrimonial e Firm Value para esta única operação.

Logo após, analisaram-se as variáveis de Sinergias Operacio-nais efetuando os testes de Wilcoxon para os dois períodos pro-postos. Para isto, foram utilizadas as variáveis: Crescimento das Vendas Líquidas, EBITDA, Geração Bruta de Caixa e MEBIT.

Observou-se, no grupo de Criação de Valor, que os testes não são conclusivos. O item VM/VP evidencia declínio na média no pe-ríodo após a data de efetivação da combinação de negócios, com variação negativa de 46,6%, enquanto FV apresentou variação po-sitiva de 11,7%. Entretanto, somente o VM/VP apresentou signifi-cância estatística com p-valor de 0,012.

No conjunto Sinergias Operacionais, as variáveis MEBIT, EBI-TDA, Geração Bruta de Caixa, Crescimento das Vendas Líquidas seguiram a mesma direção nos resultados. Todos estes itens apon-taram variação negativa entre os períodos antes e depois da efeti-vação da combinação de negócios. Porém, atenta-se que somente o GBC e MEBIT apresentaram diferenças significativas, ambas com p-valor de 0,012.

Analisando os resultados obtidos nos testes aplicados à opera-ção 25/2010, estes não corroboraram com o estudo de Camargos

Nº Amostra Variável Média Antes Média Depois Variação na Média Resultado Nível Sig. - Teste Wilcoxon -

1 Criação de Valor VM/VP 1,333 0,716 -46,3% piorou 0,012

2 FV 25,512 28,507 11,7% melhorou 0,263

1 Sinergias Operacionais CRESC. 0,04 0,02 -44,3% piorou 0,123

2 EBTIDA 60.959.819.500 58.211.497.500 -4,5% piorou 0,263

3 GBC 0,14 0,09 -36,4% piorou 0,012

4 MEBIT 22,83 14,36 -37,1% piorou 0,012

Tabela 1: Resultados de Criação de Valor e Sinergias Operacionais

Fonte: Resultados da Pesquisa

Márcio Marvila Pimenta José Augusto Veiga da Costa Marques Marcelo Alvaro da Silva Macedo

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37Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 14, n. 55, p. 56 - 64, set./dez. 2012 37

anteriormente, foram encontrados indícios de que esta expectativa, evidenciada mediante reação positiva dos retornos anormais, não foi atendida devido à queda nas variáveis de criação de valor e de sinergias operacionais da combinação de negócios em questão.

Os resultados indicaram que, em geral, os acionistas de ações ordinárias da adquirente não apresentam expectativas quando há o anúncio de combinação de negócios. Portando, há indícios de que os acionistas ordinaristas são reticentes quanto aos resultados da efetividade dos benefícios destas operações.

Este comportamento pode ser explicado devido aà descon-fiança do sucesso da operação, podendo ser derivada, de acor-do com Copeland, Koller e Murrin (2002), de avaliação excessi-vamente otimista do potencial de mercado, superestimativas das sinergias, ofertas muito agressivas e integração pós aquisição mal administrada.

O resultado encontrado vai ao encontro do estudo realizado por Costa Junior (2008), que em sua pesquisa ressalta: “

(...) os anúncios das operações resultaram em retornos anor-mais positivos e estatisticamente significativos para os acionistas preferencialistas das firmas “bidder” e em retornos anormais po-sitivos, porém não estatisticamente significativos, para os acio-nistas ordinaristas( ...)

Os resultados nos permitem supor que o mercado avaliou que os preços praticados para aquisição, em geral, aparentemente não foram justos e não tinham fundamentos na sua abordagem sobre as possíveis sinergias.

Como sugestão de pesquisas futuras, poder-se-iam ampliar os testes utilizando-se também ações preferenciais, tanto para adquirentes como para adquiridas e também ampliação da janela de evento para possibilitar a captação melhor o momento da ab-sorção da informação de combinação de negócios pelo mercado. Finalizando, também se sugere a seleção de um número maior de operações para testes pós-efetivação da combinação de negócios independentemente de se estas obtiveram ou não reação na data da divulgação do evento.

Retornos Anormais Versus Criação de Valor e Sinergias Operacionais de Firmas Brasileiras Envolvidas em Combinações de Negócios

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38 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 14, n. 55, p. 56 - 64, set./dez. 2012Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 16, n. 61, p. 35- 44, set./dez. 2014 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 17, n. 64, p. 39- 47, set./dez. 201538

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39Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 14, n. 55, p. 56 - 64, set./dez. 2012 39Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 17, n. 64, p. 39- 47, set./dez. 2015

2º lugar - XVI Prêmio Contador Geraldo de La Rocque 2015

Prestação de Contas por Entidades do Terceiro Setor e seus Impactos na Obtenção de Recursos: um Olhar Sobre o Comportamento dos Doadores Individuais

Henrique Portulhak Curitiba – PRProfessor Pesquisador do Centro Universitário Autônomo do Brasil - UNIBRASIL1

Doutorando em Contabilidade pela UFPR2 [email protected]

Albino Joao Delay Curitiba – PRMestrando em Contabilidade pela UFPR1

Professor da Faculdade Educacional Colombo - FAEC3 [email protected]

ResumoA prestação de contas, ferramenta que legitima as ações toma-

das pelos agentes e aumenta a confiabilidade sobre a condução de uma organização, também é procedimento que deve ser seguido pelas entidades do Terceiro Setor, tanto para atender órgãos regu-lamentadores e fiscalizadores, quanto para obter recursos junto a doadores atuais e potenciais. A pesquisa teve por objetivo verificar se existe uma relação entre a prática de prestação de contas e o comportamento de indivíduos no papel de doadores. Para isso, foi realizado um levantamento junto a doadores individuais atuais e anteriores que moram na cidade de Curitiba e Região Metropoli-tana, tendo sido obtidas 277 respostas de indivíduos que foram divididos em oito grupos distintos. A análise descritiva dos dados, baseada em 17 hipóteses de pesquisa, foi complementada com a aplicação de testes estatísticos como U de Mann-Whitney e H de Kruskal-Wallis. Os resultados indicam que, em geral, há uma relação positiva entre a prestação de contas realizada por entida-

des do Terceiro Setor e o comportamento de doação de indivídu-os, o que ocorre de forma mais significativa no comportamento de manter, aumentar ou retomar doações. Os achados dessa pesquisa podem chamar a atenção de entidades do Terceiro Setor para a di-ferenciação provocada pela prestação de contas, além de subsidiar decisões a respeito da forma de sua disponibilização.Palavras-chave: Prestação de Contas; Terceiro Setor; Doado-res Individuais.

AbstractThe accountability, tool that legitimizes the actions taken by agents

and increases reliability on the management of an organization, it is also a procedure to be followed by the third sector organizations, both to meeting regulatory and supervisory bodies as to obtaining funds from current and potential donors. This research aims to verify whether there is a relationship between accountability and behavior of individual donors. A survey was conducted with current and for-mer individual donors who live in the metropolitan region of Curiti-ba (Brazil), where were obtained 277 responses, whose individuals were divided into eight distinct groups. Descriptive analysis, based on 17 research hypotheses, has been complemented with the appli-cation of statistical tests such as Mann-Whitney and Kruskal-Wallis. Results indicate that, in general, there is a positive relationship be-tween accountability performed by third sector organizations and the behavior of donation of individuals, which occurs more significantly in behavior to maintain, increase or resume donations. Findings may call attention from third sector organizations not only to the differen-tiation caused by accountability, but also to support their decisions about the form of disposal.Key words: Accountability; Third Sector; Individual Donors.

1. IntroduçãoA prestação de contas é uma ferramenta que propicia ao agente

demonstrar a quitação de suas obrigações junto ao principal de uma organização com relação ao gerenciamento dos recursos que lhe foram confiados, o que se faz importante diante das relações cons-truídas socialmente para que seja possível garantir a sobrevivência das instituições (NAKAGAWA; RELVAS; DIAS, 2007).

A eficiência e a eficácia de redes e processos de prestação de contas confiáveis e transparentes (accountabilty), construídas den-tro e fora da organização, podem ser um elemento decisivo para a

1UNIBRASIL - R. Konrad Adenauer, 442 - Tarumã, Curitiba - PR - CEP 82820-5402UFPR - Universidade Federal do Paraná - CEP 80060-000 - Curitiba – PR3 FAEC - Rua Dorval Ceccon, 664 - Jd Nossa Senhora de Fátima, Colombo - PR - CEP 83405-0304UFSC - R. Eng. Agronômico Andrei Cristian Ferreira, s/n - Trindade, Florianópolis - SC - CEP 88040-900

Vicente PachecoCuritiba – PRDoutor em Engenharia de Produção pela UFSC4

Professor do PPGCONT/UFPR2

[email protected]

Artigo recebido em 04/09/2015 e aceito em 13/10/2015

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40 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 14, n. 55, p. 56 - 64, set./dez. 2012Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 16, n. 61, p. 35- 44, set./dez. 201440

continuidade das organizações resultantes das relações sociais, e neste contexto apresenta-se a importância da contabilidade para a sobrevivência das instituições (ROBERTS; SCAPENS, 1985; NAKAGAWA; RELVAS; DIAS, 2007).

Com isso, a busca pela realização de uma prestação de contas que legitime as ações realizadas pelos agentes, visando a aumen-tar a confiabilidade sobre a condução da organização, também é princípio básico que deve ser cumprido por entidades do Terceiro Setor, não apenas para atender obrigações junto a órgãos regula-mentadores e fiscalizadores, mas também para obter credibilidade junto à sociedade e, em consequência, garantir a continuidade de suas atividades (MILANI, 2004; CARNEIRO; OLIVEIRA; TORRES, 2011; RENGEL et al., 2012).

Originada com base nos princípios da filantropia e caridade re-ligiosa, o Terceiro Setor apresenta crescimento em abrangência e importância no Brasil e no mundo, ganhando impulso na década de 1970 e acelerando sua evolução a partir da década de 1980. No Brasil, enquanto na década de 1980 existiam 44 mil organi-zações do Terceiro Setor, em 2005 esse número chegou a 338 mil organizações. Tal evolução, por ser um setor que movimenta aproximadamente 1 trilhão de dólares, demandou dessas enti-dades uma evolução gerencial para atendimento de exigências legais e para desenvolver uma gestão voltada ao desempenho, o que remete à busca por transparência e prestação de contas (SILVA, 2010; MANAS; MEDEIROS, 2012).

Dessa forma, a prática de prestação de contas realizada por en-tidades sem finalidades lucrativas – tanto obrigatória quanto volun-tária – busca apresentar às partes interessadas, especialmente aos doadores públicos e privados, que a missão da instituição foi cum-prida e os recursos confiados a estas foram corretamente utilizados (OLAK; NASCIMENTO, 2010; CARNEIRO; OLIVEIRA; TORRES, 2011; CUNHA; MATIAS-PEREIRA, 2012).

O processo de prestação de contas em entidades do Terceiro Setor é considerado um fator crucial para a sustentabilidade da or-ganização, pois, de acordo com Milani (2004), as organizações que apresentarem melhor atendimento das necessidades informacio-nais de doadores atuais e em potencial terão maiores condições de captar maior volume de recursos financeiros e não financeiros. Isso é particularmente relevante considerando que, de acordo com Ca-margo et al. (2001), a escassez de recursos é a principal dificuldade enfrentada pelas entidades sem finalidades lucrativas.

Todavia, nota-se que tal presunção, apresentada em diversos textos acadêmicos, carece de evidências empíricas que suportem a relação positiva esperada entre a prática de prestação de contas por entidades do terceiro setor e o comportamento de doadores individuais, especialmente observando tal fenômeno sob a ótica dos fornecedores de recursos. Cabe ressaltar a importância dos doadores individuais para essas entidades, já que estes foram responsáveis pelo investimento de cerca de 1,1 bilhão de reais no ano de 2007 (MANAS; MEDEIROS, 2012).

Considerando a referida lacuna, a presente investigação busca responder a seguinte questão: qual a relação entre a prestação de contas realizada por entidades do Terceiro Setor e o comportamen-to de indivíduos no papel de doadores?

Em termos gerais, a presente investigação tem por objetivo ve-rificar se existe relação entre a prática de prestação de contas e o comportamento de indivíduos no papel de doadores. Em específi-co, a investigação busca analisar se o processo de prestação de contas por parte das entidades do Terceiro Setor, remetida ou ape-

nas disponibilizada, possui relação com a tendência de manuten-ção ou aumento de provimento de recursos por parte de doadores atuais, ou ainda se há associação desse evento com a interrupção de provimento de recursos por parte de antigos doadores.

Pesquisas realizadas buscaram aliar a prestação de contas de entidades do Terceiro Setor com o recebimento de doações; en-tretanto, tais investigações tiveram como objeto as próprias organi-zações e as informações divulgadas por elas, como em Trussel e Parsons (2008), Gandía (2009), Sloan (2009), Cruz (2010) e Atan, Zainon e Wah (2012) ou a realização de experimentos com alunos, como em Cruz, Corrar e Slomski (2008). Assim, justifica-se a ne-cessidade da realização dessa investigação devido à ausência de evidências empíricas sobre o tema que analisem o problema sob a ótica dos indivíduos que doam às organizações do Terceiro Setor, e que possuem papel importante na continuidade dessas instituições.

Além disso, os resultados dessa pesquisa, que possui como enfoque os doadores individuais, podem fornecer informações importantes que possam justificar o comportamento de organiza-ções do Terceiro Setor que, de acordo com Oliveira (2009), Cruz (2010), Carneiro, Oliveira e Torres (2011) e Zittei, Politelo e Scar-pin (2013), reconhecem a importância da prestação de contas, mas não demonstram agir de modo que reflita essa necessidade de divulgação de informações para seus doadores.

Quanto ao campo de pesquisa, a realização da investigação é relevante, já que estudos que aliam a contabilidade e o Tercei-ro Setor ainda são pouco numerosos no Brasil (DANI; DAL VES-CO; SCARPIN, 2011). A importância de estudos que relacionem esses dois temas se dá pelo importante papel da contabilidade em viabilizar aos provedores de recursos e receptores de resul-tados informações sobre transparência e sustentabilidade da en-tidade (MARIO et al., 2013).

2. Referencial Teórico-empírico2.1 O Terceiro Setor

“Terceiro Setor” é um termo recente utilizado no Brasil e no mundo. Para Coelho (2002), o termo foi utilizado pela primeira vez na década de 1970 por pesquisadores americanos e, a partir dos anos 1980, por pesquisadores europeus. O Terceiro Setor caracteriza um conjunto de organizações que se apresentam como alternativa às desvantagens apresentadas pelo mercado e pela burocracia do governo, proporcionado maior flexibilidade e eficiência ao mercado com a previsibilidade da burocracia pú-blica (COELHO, 2002; MANAS; MEDEIROS, 2012).

Apesar de o termo ser amplamente utilizado, Nagai (2012) afirma que o mesmo é controverso por apresentar um problema conceitual, sobretudo no que se refere à abrangência. Para Paes (2006), trata-se de um termo vago e residual por pretender abranger um enorme conjunto de organizações sociais e entidades da socie-dade civil. Em contraponto, Dias (2008) acredita que o esforço e a preservação dessas diferenças formam o elemento de sustentação e fortalecimento da atuação, não buscando a homogeneidade de conceito e tratamento legal.

Um conjunto de atributos foi proposto por Salamon e Anheier (1992) para caracterizar as organizações do Terceiro Setor. Para os autores, as organizações do Terceiro Setor devem ser: (i) formais: institucionalizadas, independentemente de legalizadas ou não e com procedimentos que assegurem sua perpetuação; (ii) privadas: podem até receber recursos do governo, mas não devem ter com ele ligação institucional (iii) não distribuidoras de lucros: não devem

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Prestação de Contas por Entidades do Terceiro Setor e seus Impactos na Obtenção de Recursos: um Olhar Sobre o Comportamento dos Doadores Individuais

ter como finalidade o lucro, apesar de poder gerar resultados supe-ravitários; (iv) autônomas: devem conter sua própria governança e não ser controladas por agentes externos; (v) voluntárias: devem ter sido criadas de forma voluntária, sem imposição legal ou contra-tual, e (vi) ter fins públicos: beneficiar o público externo, extrapolan-do aos associados da entidade. No Brasil, tomando como base o Código Civil, três figuras jurídicas podem ser enquadradas nesses atributos: (i) as associações; (ii) as fundações; (iii) as organizações religiosas (IBGE, 2008).

Tratando especificamente do cenário brasileiro, um fator impor-tante que contribuiu para o desenvolvimento do Terceiro Setor foi a notória aproximação entre o setor empresarial e as entidades que o compõem, resultando em parcerias com o objetivo de apoiar projetos de proteção ambiental, promoções sociais no campo, saú-de, educação, entre outros. Para as instituições do Terceiro Setor, isto se constitui em importante fonte de financiamento (BETTIOL, 2005). Entretanto, conforme afirma Mindlin (2009), as fontes de fi-nanciamento das atividades desenvolvidas pelo Terceiro Setor não se restringem às contribuições realizadas pelo setor empresarial, envolvendo um conjunto pulverizado de pessoas físicas associadas ou não a essa organização, também compondo, em consequência, o conjunto de partes interessadas em suas atividades.

2.2. As Partes Relacionadas com o Terceiro Setor

Em qualquer organização, existem partes interessadas – os stakeholders¬¬ – que esperam e exigem o alcance de determina-dos resultados em suas atividades. Os stakeholders avaliam e se interessam pelo processo de criação de valor da instituição, já que são motivados a contribuir com as organizações se essas demons-trarem ser capazes de produzir resultados que excedam o montan-te de contribuições realizadas (KRASHINSKY, 1997).

Tais partes interessadas, como no caso das entidades do Ter-ceiro Setor, estão presentes na organização – como mantenedores, gestores, voluntários e funcionários – ou estão presentes no am-biente externo à organização – como doadores, mídia, parceiros, governo, associações, organizações representativas de determi-nados segmentos sociais e a população em geral (KRASHINSKY, 1997; BALSER; MCCLUSKY, 2005).

Dentre os stakeholders presentes no contexto das entidades do Terceiro Setor, destacam-se os doadores como atores particular-mente importantes para a continuidade dessas organizações, até porque, como destaca Moore (2003), se estes cessarem a dispo-nibilização de recursos, essas instituições certamente deixarão de existir. Sob tal ótica, o mesmo autor considera que os doadores tam-bém podem ser considerados como clientes dessas organizações – os clientes upstream – já que, apesar de serem vistos inicialmente como provedores de recursos, também possuem motivações e ex-pectativas definidas em contraprestação à disponibilização de re-cursos efetuada e, dessa forma, é possível compreender que os doadores também possam ter interesse de verificar se os objetivos que manifestaram ao disponibilizar recursos para a instituição foram devidamente atendidos.

Neste sentido, o processo de prestação de contas é voltado a atender as necessidades dos stakeholders a respeito de demons-trar o atendimento de suas expectativas ou do alcance dos resul-tados por eles esperados, e, para que a prestação de contas seja efetiva, faz-se necessário compreender que expectativas cada parte interessada possui a respeito das atividades exercidas pela

organização, para que dessa forma a organização do Terceiro Se-tor responda adequadamente às preocupações de cada parte inte-ressada e seja capaz de construir uma relação de confiança entre as partes (FLETCHER et al., 2003; BALSER; MCCLUSKY, 2005).

Dessa forma, o atendimento das necessidades informacionais manifestadas por esses stakeholders – especialmente quando rea-lizadas de forma proativa – é um fator importante para as entidades do Terceiro Setor, já que recursos físicos e financeiros, além de legi-timidade, são elementos importantes para a continuidade da organi-zação e que não são necessariamente previsíveis ou controláveis; contudo, são itens providos por essas partes e que necessitam ser gerenciados por meio de monitoramento e administração do rela-cionamento com os stakeholders (BALSER; MCCLUSKY, 2005).

2.3 A Prestação de Contas por Entidades do Terceiro Setor

De acordo com Roberts (1991), a informação contábil atua como um espelho por cujo intermédio os produtores e suas atividades se tornam visíveis, e, por meio dessa imagem, ge-rada de forma aparentemente objetiva, as partes interessadas buscam verificar, julgar e comparar o desempenho individual e coletivo, provocando dessa forma efeitos positivos e negativos sobre os agentes e suas atividades.

Quanto ao aspecto normativo, a prestação de contas por enti-dades brasileiras do Terceiro Setor é disciplinada pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) por meio de Normas Brasileiras de Contabilidade – Técnicas (NBC T) específicas, a saber: (i) NBC T 10.4, voltada às fundações; (ii) NBC T 10.18, voltada a entidades sindicais e associações de classe; e (iii) NBC T 10.19, voltada a entidades sem finalidade de lucros. Entretanto, essas entidades também devem observar normatizações de aplicação geral, como os Princípios de Contabilidade e demais NBC T’s (OLAK; NASCI-MENTO, 2010).

Além disso, a prestação de contas pode ser exigida por órgãos estatais de controle como Tribunais de Contas, Ministério Público, Ministério da Justiça e Receita Federal, além de entes convenia-dos, de acordo com parâmetros previamente estabelecidos (CFC, 2008). Olak e Nascimento (2008) explicam que tais exigências se devem à necessidade que os fornecedores de recursos possuem de saber sobre a sua aplicação e eficácia, o que pode influenciar em decisões futuras do provedor sobre o volume e manutenção da dis-ponibilização de recursos, o que se aplica tanto a órgãos públicos, como a investidores institucionais e doadores individuais.

Neste sentido, e levando em consideração a crescente compe-tição por recursos públicos e privados devido ao crescimento do Terceiro Setor, a promoção de práticas de prestação de contas que extrapolem as exigências legais e formais, e demonstrem de forma espontânea as ações empreendidas por essas organizações junto à sociedade em geral, se tornam relevantes como postura ética e moral apresentada pela entidade em seus gestores, além de poder compor a estratégia competitiva da empresa (CARNEIRO; OLIVEI-RA; TORRES, 2011).

Denotando a importância do processo de accountability para a continuidade das organizações do Terceiro Setor, diversas inves-tigações buscaram aliar a divulgação de informações por essas entidades com o comportamento dos doadores. Trussel e Parsons (2008) realizaram um estudo em entidades estadunidenses que in-dicou quatro fatores que agrupam, de acordo com a literatura aca-dêmica, elementos tratados como importantes determinantes de

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recebimento de doações em favor de entidades enquadradas no Terceiro Setor, e que compõem o grupo de informações reportadas por essas entidades: eficiência, estabilidade financeira, quantidade de informação disponibilizada e reputação da organização.

O estudo experimental realizado por Cruz, Corrar e Slomski (2008) buscou verificar a relação entre a divulgação de informa-ções contábeis econômicas e o comportamento de fazer doação em favor da entidade do Terceiro Setor. A pesquisa empreendida em duas universidades brasileiras indicou que os estudantes, exer-cendo o papel de doadores individuais, não apresentaram decisões influenciadas pelas informações econômicas, tanto com relação à decisão de doar quanto pelo volume de doação tencionado.

Gandía (2009) buscou verificar como os sítios da Internet podem contribuir para a prestação de contas por entidades do Terceiro Se-tor, notando, dentre os resultados de seu estudo realizado em enti-dades espanholas, que um nível mais alto de evidenciação possui relação positiva com o montante de recursos advindo de doadores. Já Sloan (2009) investigou a relação o efeito de ratings recebidos por entidades estadunidenses do Terceiro Setor no comportamento das doações recebidas, notando uma associação positiva entre os ratings e as contribuições recebidas.

Cruz (2010) realizou investigação em determinado grupo de en-tidades brasileiras do Terceiro Setor – as Organizações da Socie-dade Civil de Interesse Público (OSCIP) –, buscando identificar a relevância das informações divulgadas para o comportamento de financiamentos privados recebidos por elas. Os resultados dessa investigação indicaram uma relação positiva entre investimentos e doações privadas e divulgação de informações contábeis sobre reputação, e de investimentos privados institucionais e divulgação das informações contábeis sobre eficiência operacional, o que para esse particular não foi indicado para doações individuais.

Atan, Zaion e Wah (2012) buscaram verificar a relação entre a qualidade da informação divulgada por entidades do Terceiro Setor e as doações totais recebidas por essas entidades. Com base em organizações da Malásia, os resultados da investigação indicaram que o montante total de doações recebidas possui relação positiva com a qualidade da evidenciação promovida.

Em um estudo de caso em uma entidade do Terceiro Setor da região Sul do Brasil, Silva, Dockhorn e Scarpin (2012) notaram que os financiadores privados dessa instituição levam em conta na pres-tação de contas recebida características como proximidade, con-fiabilidade e história em maior peso do que os relatórios contábeis.

Levando em conta as evidências obtidas em estudos correlatos à pesquisa em tela, além da questão e objetivos da investigação, enuncia-se a seguinte hipótese de pesquisa: há relação positiva en-tre a prestação de contas realizada por entidades do Terceiro Setor e o comportamento de doação de indivíduos. Para a realização do teste da hipótese de pesquisa, apresentam-se a seguir os procedi-mentos metodológicos adotados.

3. MetodologiaO estudo caracteriza-se como descritivo (SAMPIERI; COLLA-

DO; LUCIO, 2006), e foi realizado por meio de um levantamento (HAIR et al., 2005). Para a realização da pesquisa, delimitou-se como espaço geográfico a cidade de Curitiba e sua Região Metro-politana. A Região Metropolitana de Curitiba, segundo a Coordena-ção da Região Metropolitana de Curitiba (COMEC), é constituída por 29 municípios, sendo a oitava região metropolitana mais popu-

losa do Brasil, com 3.223.836 habitantes, e concentra 30,86% da população do estado do Paraná. (COMEC, 2015).

Considerando que a população de doadores presente nesse es-paço geográfico pode ser considerada indeterminada, calculou-se o tamanho da amostra necessária para empreender a investigação com erro amostral de 5% e nível de confiança de 90%, resultando em 272 indivíduos, sendo essa uma amostra não probabilística por acessibilidade (FREUND, 2006).

Para viabilizar o teste da hipótese de pesquisa, foi elaborado um questionário estruturado, que buscou coletar informações a respeito da percepção dos respondentes sobre a relação. O referi-do questionário é composto por três blocos principais: o primeiro é composto por questões de filtro e por questões que buscam definir a categoria do respondente e, para isso, utilizaram-se questões di-cotômicas, abertas e listas de seleção; o segundo é composto por questões direcionadas a verificar a relação entre comportamento das doações individuais e a prestação de contas e, para isso, tais questões foram mensuradas por meio de escala tipo Likert de 10 pontos, possibilitando a atribuição de pesos de um a dez para cada uma dessas questões; e o terceiro é composto por questões que buscam determinar o perfil do respondente quanto à gênero, es-colaridade e faixa de idade, o que permite inferências adicionais durante a análise de dados.

Quanto às categorias, o questionário propiciou a captação da percepção de oito grupos distintos de respondentes, identificados de (a) até (h), os quais, de acordo com suas posições específicas, contribuem para uma resposta abrangente à questão de pesquisa. Por isso, para cada grupo de respondentes, foram abertas hipóte-ses de pesquisa alinhadas com a hipótese geral apresentada ao final do referencial teórico (nível I) e, dentro de cada grupo, novas hipóteses foram segregadas (nível II) para melhor especificação da hipótese formulada para cada grupo.

No grupo (a), verificou-se a percepção do doador atual que rece-be a prestação de contas. Para esse perfil, em consonância com a hipótese de pesquisa, verificou-se se há uma relação positiva entre a prestação de contas enviada pelas entidades do Terceiro Setor e a disponibilização de recursos por indivíduos que doam atual-mente. Para isso, verificou-se (Ha1) se há relação positiva entre a prestação de contas enviada pelas entidades do Terceiro Setor e a intenção de indivíduos que doam atualmente em continuar doando e (Ha2) se há relação positiva entre a prestação de contas enviada pelas entidades do Terceiro Setor e a intenção desses indivíduos em doar mais.

No grupo (b), verificou-se a percepção do doador atual que aces-sa de forma espontânea a prestação de contas. Para esse perfil, verificou-se se há uma relação positiva entre a prestação de contas disponibilizada pelas entidades do Terceiro Setor e a disponibiliza-ção de recursos por indivíduos que doam atualmente. Para isso, verificou-se (Hb1) se há uma relação positiva entre a prestação de contas disponibilizada pelas entidades do Terceiro Setor e a inten-ção de indivíduos que doam atualmente em continuar doando e (Hb2) se há uma relação positiva entre a prestação de contas dis-ponibilizada pelas entidades do Terceiro Setor e a intenção desses indivíduos em doar mais.

No grupo (c), verificou-se a percepção do doador atual que bus-cou espontaneamente a prestação de contas, mas não a encon-trou. Para esse perfil, verificou-se se há relação negativa entre a prestação de contas não disponibilizada pelas entidades do Tercei-

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ro Setor e a disponibilização de recursos por indivíduos que doam atualmente. Para tanto, buscou-se verificar (Hc1) se há uma relação positiva entre uma possível disponibilização de prestação de contas pelas entidades do Terceiro Setor e a intenção de indivíduos que doam atualmente em doar mais.

No grupo (d), verificou-se a percepção do doador atual que não recebeu e não buscou a prestação de contas. Para esse perfil, ve-rificou-se se há uma relação negativa entre a prestação de contas não disponibilizada pelas entidades do Terceiro Setor e a disponibi-lização de recursos por indivíduos que doam atualmente. Para isso, buscou-se verificar (Hd1) se há uma relação positiva entre uma possível disponibilização de prestação de contas pelas entidades do Terceiro Setor e a intenção de indivíduos que doam atualmente em doar mais.

No grupo (e), verificou-se a percepção do antigo doador que re-cebeu prestação de contas. Para esse perfil, verificou-se se há uma relação positiva entre a qualidade da prestação de contas enviada pelas entidades do Terceiro Setor e o comportamento de indivíduos em deixar de doar recursos, de acordo com os fatores apontados por Trussel e Parsons (2008): eficiência operacional (He1), estabi-lidade (He2), quantidade de informações (He3) e reputação (He4).

No grupo (f), verificou-se a percepção do antigo doador que acessou de forma espontânea a prestação de contas. Para esse perfil, verificou-se (Hf1) se há uma relação positiva entre a quali-dade da prestação de contas disponibilizada pelas entidades do Terceiro Setor e o comportamento de indivíduos em deixar de doar recursos, o que é dado por eficiência operacional (Hf1), estabilidade (Hf2), quantidade de informações (Hf3) e reputação (Hf4), e (Hf5) se há uma relação positiva entre um possível recebimento da pres-tação de contas das entidades do Terceiro Setor e a disposição de indivíduos em tornar a doar recursos.

No grupo (g), verificou-se a percepção do antigo doador que buscou espontaneamente a prestação de contas e não a en-controu. Para esse perfil, verificou-se (Hg1) se há uma relação positiva entre um possível recebimento da prestação de contas das entidades do Terceiro Setor e a disposição de indivíduos em tornar a doar recursos.

No grupo (h), verificou-se a percepção do antigo doador que não recebeu e não buscou prestação de contas. Para esse perfil, verificou-se (Hh1) se há uma relação positiva entre um possível re-cebimento da prestação de contas das entidades do Terceiro Setor e a disposição de indivíduos em tornar a doar recursos.

Para realização dos testes para as hipóteses elencadas em cada grupo, além de análise descritiva das questões diretamente ligadas às hipóteses, foram aplicados o teste U de Mann-Whitney e o teste H de Kruskal-Wallis para a realização de inferências adi-cionais entre os grupos. A análise e a aplicação das técnicas foram realizadas com o apoio do software estatístico Statistical Package for Social Sciences ®, versão 22.

O questionário foi submetido a um pré-teste com o intuito de eli-minar as possíveis inconsistências e minimizar as dificuldades de compreensão. Para isso, o instrumento de pesquisa foi aplicado no mês de abril de 2015 em oito indivíduos de um programa de pós--graduação, contemplando as oito categorias determinadas.

Na sequência, o instrumento de pesquisa foi disponibilizado por meio da ferramenta Google Docs ® e esteve à disposição dos res-pondentes entre os meses de abril de 2015 a julho de 2015. Ao final, foi obtida uma amostra não intencional de 277 respostas válidas, ori-

ginadas principalmente das cidades de Curitiba (72,6%), Colombo (10,1%) e Araucária (5,4%). Ressalta-se que o consentimento à pes-quisa foi realizado à medida que os colaboradores responderam o questionário e, ainda, foi assegurado aos respondentes o anonimato.

4. Análise de DadosOs principais resultados obtidos com a realização dos testes das

hipóteses podem ser observados na Tabela 1. A tabela apresenta as hipóteses definidas para cada grupo definido de indivíduos e as hipóteses de segundo nível desdobradas de cada hipótese do res-pectivo grupo, conforme desenvolvido no desenho metodológico da pesquisa, bem como os resultados obtidos para os testes realiza-dos para as hipóteses nulas de nível I e II.

Com relação aos indivíduos enquadrados no grupo (a), notou-se que estes são predominantemente do sexo feminino (52,8%), na faixa de idade entre 20 e 30 anos (35,9%), com en-sino superior (34%) ou especialização completa (34%) e renda familiar entre 4 e 10 salários-mínimos (39,6%). Estes realizam doações principalmente para entidades religiosas (60,4%), em valor anual médio de R$ 1.086,25.

Para esse grupo, o teste da hipótese (Ha1) revelou que a presta-ção de contas é um fator que motiva o doador a continuar a realizar doações. Da mesma forma, os sujeitos desse grupo indicam que o recebimento da prestação de contas motiva a doar mais recursos do que doam atualmente (Ha2).

Já os indivíduos do grupo (b) são em maioria do sexo masculino (55,6%), na faixa de idade entre 20 e 30 anos (50%), com ensino superior completo (38,9%) e renda familiar entre 4 e 10 salários-mí-nimos (44,4%). Estes realizam doações principalmente para entida-des religiosas (61,1%), em valor anual médio de R$ 583,13. Nesse grupo, indicou-se que o fato de terem encontrado a prestação de contas da entidade receptora causa motivação para continuar do-ando recursos (Hb1). Entretanto, para esse grupo indicou-se que a prestação de contas disponibilizada não é um fator que influencia a aumentar o volume de doações (Hb2).

Adicionalmente, comparou-se os resultados obtidos para indivídu-os que receberam a prestação de contas com indivíduos que aces-saram espontaneamente a prestação de contas. Notou-se, por meio do teste U de Mann-Whitney, que ocorreu diferença estatisticamente significativa para o comportamento de continuar realizando doações (p=0,016), o que indica que o envio da prestação de contas motiva de forma mais significativa o doador atual do que apenas a dispo-nibilização dessa prestação de contas para seu acesso. Entretanto, com relação à disposição do doador atual em realizar doações em maior volume do que a realizada atualmente, o teste U de Mann--Whitney não revelou diferente estatisticamente significante entre os dois grupos analisados (p=0,112), o que indica que não há diferenças relevantes no comportamento do doador atual no sentido de aumen-tar seu volume de doações por conta do recebimento ou do acesso à prestação de contas da entidade receptora.

O grupo (c) é composto de uma amostra equilibrada quanto ao gênero, com faixa de idade entre 31 e 40 anos (46,9%), ensino mé-dio completo (43,8%) e renda familiar entre 2 e 4 salários-mínimos (34,4%). Os indivíduos deste grupo realizam doações principalmen-te para associações (62,5%), em valor anual médio de R$ 542,07. Para o grupo, ocorreu a rejeição da hipótese nula, indicando que o recebimento da prestação de contas motivaria o indivíduo a doar mais recursos do que ele doa atualmente (Hc1).

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Os sujeitos do grupo (d) são, em maioria, do sexo masculino (56,6%), na faixa de idade entre 31 e 40 anos (41%), com ensino superior completo (30,1%) e renda familiar entre 2 e 4 salários-mí-nimos (38,6%). Estes realizam doações principalmente para asso-ciações (61,4%), em valor anual médio de R$ 623,33. Nesse grupo, a exemplo do ocorrido no grupo (c), ocorreu a rejeição da hipótese nula, indicando que o recebimento da prestação de contas motivaria o indivíduo a doar mais recursos do que ele doa atualmente (Hc1).

De forma suplementar, foram comparados os resultados obtidos para indivíduos que buscaram e não encontraram a prestação de contas com indivíduos que não buscaram pela prestação de con-tas. Notou-se, por meio do teste U de Mann-Whitney, que existe uma diferença estatisticamente significativa entre os grupos quanto à propensão de continuar a doar no caso de recebimento da pres-tação de contas (p = 0,001). Com isso, indica-se que indivíduos que buscaram e não encontraram a prestação de contas possuem maior disposição em continuar a doar no caso de recebimento de uma prestação de contas em comparação aos indivíduos que não buscaram pela prestação de contas.

Os sujeitos do grupo (e) são predominantemente do sexo femini-no (82,4%), na faixa de idade entre 20 e 30 anos (47,1%), com en-sino médio (29,4%) ou superior (29,4%) completo e renda familiar entre 4 e 10 salários-mínimos (52,9%). Estes realizavam doações principalmente para entidades religiosas (70,6%). O teste das hipó-teses relacionadas a esses grupos indica que, ao inquirir os indiví-duos a respeito dos elementos qualitativos elencados por Trussel e Parsons (2008) (He1; He2; He3; He4), todas as hipóteses nulas

foram aceitas, o que sugere que a decisão de deixar de realizar do-ações para uma entidade do terceiro setor não foi influenciada pela prestação de contas recebida.

O grupo (f) é composto de uma amostra equilibrada quanto ao gênero, na faixa de idade entre 20 e 40 anos (80%), com ensino superior completo (40%) e renda familiar entre 2 e 10 salários-míni-mos (60%). Estes realizavam doações principalmente para entida-des religiosas (70%). O resultado obtido com o teste das hipóteses atreladas a esse grupo (Hf1; Hf2; Hf3; Hf4) apresentaram indica-ções semelhantes ao ocorrido no grupo (e), sugerindo que a qua-lidade da prestação de contas elaborada pela entidade receptora não foi fator decisivo para o encerramento das doações. Já quanto à motivação demonstrada pelos doadores desse grupo para tornar a realizar doações no caso de recebimento de prestação de contas (Hf5), os dados indicaram rejeição à hipótese nula.

Os respondentes do grupo (g) são em maioria do sexo mas-culino (71,4%), na faixa de idade entre 41 e 50 anos (57,1%), com ensino médio completo (57,1%) e renda familiar entre 2 e 4 salários-mínimos (57,1%). Estes realizavam doações principal-mente para associações (71,4%). Para esse grupo, a rejeição da hipótese nula de (Hg1) indicou que o recebimento da prestação de contas por esses indivíduos seria um fator que motivaria uma retomada nas doações.

Já os respondentes enquadrados no grupo (h) são, em sua maio-ria, do sexo feminino (61,4%), na faixa de idade entre 20 e 30 anos (40,4%), com ensino superior completo (35,1%) e renda familiar entre 4 e 10 salários-mínimos (38,6%). Estes realizavam doações princi-

Grupos Hipótese Nível I Hipótese Nível II Média Mediana H0 (II) H0 (I)

a Ha Ha1 8,75 10 Rejeitada

RejeitadaHa2 7,38 8 Rejeitada

b HbHb1 6,83 8 Rejeitada Parcialmente

rejeitada Hb2 5,78 5 Aceita

c Hc Hc1 9,69 10 Rejeitada Rejeitada

d Hd Hd1 8,36 10 Rejeitada Rejeitada

e He

He1 3,06 1 Aceita

AceitaHe2 2,71 1 Aceita

He3 2,59 1 Aceita

He4 2,35 1 Aceita

f Hf

Hf1 3,8 4 Aceita

Aceita

Hf2 3,6 2,5 Aceita

Hf3 4,8 4,5 Aceita

Hf4 3,8 2,5 Aceita

Hf5 6,9 7,5 Rejeitada

g Hg Hg1 9,57 10 Rejeitada Rejeitada

h Hh Hh1 6,98 8 Rejeitada Rejeitada

Fonte: dados da pesquisa

Tabela 1: Resultados dos testes de hipótese da pesquisa, por grupo

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palmente para associações (47,4%), tendo na sequência próxima as entidades religiosas (43,9%). De forma semelhante ao observado no grupo (g), a rejeição da hipótese nula indica que o recebimento da prestação de contas poderia motivá-los a tornar a doar.

Retomando os resultados obtidos para os grupos (f), (g) e (h), que deixaram de realizar doações e não receberam prestação de contas, a realização do teste H de Kruskal-Wallis aponta que exis-tem diferenças significativas entre a motivação dos doadores en-quadrados nos grupos (e), (f) e (g) em voltar as realizar doações no caso de recebimento de prestação de contas (p=0,04). Quanto aos resultados obtidos junto a cada grupo de respondentes ao serem inquiridos a respeito da possibilidade de voltar a doar no caso de re-cebimento de prestação de contas, notou-se que os indivíduos que buscaram e não encontraram a prestação de contas indicam maior motivação em tornar a doar (mediana 10; média 9,57), enquanto os indivíduos que acessaram voluntariamente a prestação de contas (mediana 7,5; média 6,9) e que não buscaram a prestação de con-tas (mediana 8; média 6,98) apresentaram resultados semelhantes e, da mesma forma que o ocorrido no grupo (f), com motivação fa-vorável diante do recebimento da prestação de contas.

Quanto à importância atribuída à prestação de contas, notou-se que, em todos os grupos analisados, os indivíduos consideram a prestação de contas uma informação importante (mediana 10). Sob essa ótica, testes adicionais por meio do teste U de Mann-Whitney indicaram que não há diferenças significativas entre indivíduos que doam e que não doam atualmente (p=0,142), entre os que rece-beram a prestação de contas e os que não receberam (p=0,587) e entre os indivíduos que receberam ou acessaram a prestação de contas e os que não observaram de qualquer forma a prestação de contas (p=0,200).

5. ConclusõesA presente investigação teve por objetivo verificar se existe uma

relação entre a prática de prestação de contas e o comportamen-to de indivíduos no papel de doadores. Para isso, foram coletadas informações de doadores individuais localizados na Cidade de Curitiba e Região Metropolitana por meio de questionário auto ad-ministrado, sendo definidos para melhor resolução da questão de pesquisa oito grupos de análise.

Os resultados obtidos com a análise dos dados indicaram que, em geral, há uma relação positiva entre a prestação de contas re-alizada por entidades do Terceiro Setor e o comportamento de do-ação de indivíduos, acatando-se dessa forma a hipótese geral de-finida para essa pesquisa. Tal resultado indica alinhamento com a relação observada em estudos anteriores, como em Gandía (2009), Sloan (2009) e Cruz (2010).

Conforme os testes das hipóteses definidas para cada grupo, notou-se que, para os doadores que atualmente fornecem recursos para essas entidades, a prestação de contas leva ou pode levar es-ses indivíduos a continuarem doando ou, até mesmo, doarem mais recursos (ressalvando-se o resultado obtido para doadores que acessaram a prestação de contas e sua disposição em doar mais).

Quanto aos objetivos específicos, ressalta-se em primeiro lugar a análise realizada sobre as informações obtidas junto aos antigos doadores. Nessa análise, notou-se que a prestação de contas é um elemento que poderia mudar a postura dos antigos doadores de modo a retomarem o fornecimento de recursos. Entretanto, ao verificar os antigos doadores que de alguma forma tiveram acesso

à prestação de contas, notou-se que a qualidade da prestação de contas recebida ou acessada não foi um fator que influenciou de-cisivamente na decisão destes em deixar de doar, levando-se em conta elementos qualitativos presentes nas prestações de contas observadas por estes.

Nesse contexto, nota-se que a prestação de contas elaborada por entidades do Terceiro Setor, considerada uma informação im-portante por todos os grupos de indivíduos, é um elemento mais significativo na promoção de influência positiva – no sentido de manter, aumentar ou retomar doações – do que na promoção de influências negativas – no sentido de cessar – no comportamento de doadores individuais.

Já quanto ao objetivo específico que busca verificar diferenças entre a prestação de contas remetida ou apenas disponibilizada pela entidade do Terceiro Setor no comportamento dos doadores individuais, a análise dos dados indicou que os doadores que rece-bem a prestação de contas possuem maior tendência em continuar doando recursos do que aqueles que acessam de alguma forma a prestação de contas.

Esse resultado, em especial, pode contribuir para que entidades do Terceiro Setor reflitam ou avaliem a respeito da estratégia ado-tada pela instituição para divulgação de sua prestação de contas, buscando, desse modo, maior fidelização desses colaboradores e o fortalecimento de entradas contínuas de recursos, o que pode fa-cilitar o seu planejamento de longo prazo.

As conclusões tecidas nessa pesquisa podem sofrer limitações ao considerar a abrangência do estudo (Curitiba e Região Metro-politana), o nível de confiança escolhido para a investigação (90%) e a obtenção da amostra obtida por acessibilidade. Todavia, os re-sultados obtidos podem subsidiar as entidades do Terceiro Setor para que estas notem a prestação de contas como um elemento de diferenciação na obtenção de recursos junto a doadores individuais, levando em conta a dificuldade de obtenção de recursos por sua escassez e pela concorrência existente de outras entidades.

Tal percepção obtida junto aos doadores individuais reforça as intrigantes observações realizadas por autores como Oliveira (2009) e Cruz (2010), que indicam que, apesar de as entidades do Terceiro Setor declararem que consideram a prestação de contas importante, estas agem de forma adversa a essa percepção. Dessa forma, tal comportamento, além de se demonstrar contraditório le-vando em consideração a percepção das próprias entidades sobre a importância da prestação de contas, também se apresenta confli-tante à importância atribuída pelos doadores individuais.

Além disso, a pesquisa empreendida contribui academicamente ao abordar a relação entre a prestação de contas e os doadores in-dividuais pela ótica desses últimos, buscando suprir essa lacuna de pesquisa e confirmar achados de pesquisas realizadas que aborda-ram as entidades do Terceiro Setor, como em Cruz (2010) e Atan, Zainon e Wah (2012).

Visando a expansão de estudos que aliem contabilidade e Ter-ceiro Setor no Brasil (DANI; DAL VESCO; SCARPIN, 2011), novas pesquisas podem ser realizadas com temática relacionada à pes-quisa em tela: (i) verificação da relação entre prestação de contas realizada por entidades do Terceiro Setor e doadores institucionais; (ii) investigação sobre as motivações que doadores individuais ou institucionais possam ter ao alterar a entidade para qual disponi-biliza seus recursos; (iii) investigação sobre fatores que levam um doador individual a deixar de realizar doações.

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2º lugar - XVI Prêmio Contador Geraldo de La Rocque 2015

Os Impactos da Assimilação da Norma Internacional de Relatório Financeiro (IFRS 15), que Trata do Reconhecimento das Receitas de Contratos com os Clientes, e seus Efeitos Assimétricos nas Demonstrações Financeiras das Empresas Brasileiras

Carlos José Guimarães Cova Niterói –RJ Doutor em Engenharia de Produção pela UFRJ1 CEO da Aleph Educacional2 [email protected]

ResumoEste trabalho tem o propósito de verificar, no contexto do

processo de convergência contábil das normas brasileiras de contabilidade para o padrão internacional IFRS, os impactos advindos da assimilação da IFRS – 15 à Norma Internacional de Relatório Financeiro, que dispõe sobre o reconhecimen-to das receitas de contratos com os clientes. Esta inovação regulatória acarretou também a necessidade de superação de novos desafios para as empresas, por ocasião da elabo-ração e divulgação de suas demonstrações financeiras, em virtude de uma série de impactos em múltiplas dimensões das companhias abertas. De um modo geral, as empresas vão necessitar também identificar as mudanças necessárias nas políticas, procedimentos, controles internos e sistemas para assegurar que as transações de receita sejam avaliadas apropriadamente de acordo com a IFRS – 15. Trata-se de uma pesquisa de caráter descritivo e explicativo. Sua prin-cipal conclusão aponta no sentido de que o ajuste à norma internacional IFRS – 15 deve ser objeto de uma preparação desde já, pois o processo de implementação pode ser tra-balhoso, de tal forma que é recomendável que as empresas comecem a estabeceler um planejamento com celeridade. Uma preparação com antecedência constitui-se em medida fundamental para uma transição sem problemas.Palavras-chave: IFRS – 15, Reconhecimento das receitas de contratos, Convergência Contábil.

AbstractThis work aims to verify, in the context of the accounting

convergence process of Brazilian accounting standards to the international standard IFRS, arising impacts of assimilation

of IFRS - 15, the International Standard for Financial Report, which provides for the recognition of revenue contracts with customers. This regulatory innovation also led to the need to overcome new challenges for companies, during the prepa-ration and disclosure of its financial statements because of a number of impacts in multiple dimensions of public companies. In general, companies will need to also identify the necessary changes in policies, procedures, internal controls and systems to ensure that revenue transactions are properly evaluated ac-cording to IFRS - 15. It is a descriptive research and explana-tory. Its main conclusion points towards the adjustment to the international IFRS - 15 should be the subject of a preparation already because the implementation process can be cumber-some, so that it is recommended that companies begin to es-tablish a plan to speed . A preparation in advance constitutes a fundamental step for a smooth transition.Key words: IFRS – 15, Revenue recognition agreements, Ac-counting Convergence.

1. IntroduçãoO processo de convergência das normas contábeis interna-

cionais (International Financial Reporting Standards – IFRS), emitidas pelo Comitê de Normas Internacionais de Contabi-lidade (International Accounting Standards Board – IASB), avança à medida que são emitidos seus novos postulados. No bojo dos avanços normativos promovidos pelo IASB, órgão responsável pela emissão das normas contábeis no padrão IFRS, existem eventos que provavelmente acarretarão impac-tos relevantes para as companhias brasileiras.

Registra YOKOI (2015) que esta situação também ocorrerá no caso da agenda relativa à implantação da IFRS – 15, a Norma Internacional de Relatório Financeiro que dispõe sobre o reconhecimento das receitas de contratos com os clientes. A Norma objetiva melhorar o relatório financeiro e a comparabili-dade nas demonstrações financeiras em âmbito internacional, conforme o propósito do processo de convergência inciado na década passada.

A Receita constitui-se em uma métrica importante para os usuários e analistas das demonstrações financeiras e é muito empregada para avaliar o desempenho financeiro e as pers-pectivas futuras das organizações.

1 UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro – CEP 21941-901 – Rio de Janeiro – RJ 2 Aleph Educacional - Rod. Amaral Peixoto, 36 - 1009 - Galeria Paz, Niterói – RJ

Artigo recebido em 04/09/2015 e aceito em 13/10/2015

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Não obstante, o advento da nova norma sobre reconheci-mento de receitas já produziu alguma apreensão, a ponto de sua efetiva introdução já ter sofrido uma postergação, pois sua entrada em vigor terá início um ano depois do previsto, em janeiro de 2018, o que significará sua aplicação retroativa desde 2016.

Com relação a este tema, as duas principais instituições que trabalham no aperfeiçoamento das IFRS, o Internatio-nal Accounting Standards Board (IASB) e o Financial Ac-counting Standards Board (FASB) divulgaram, em 28 de maio de 2014, a Norma Internacional de Relatório Financei-ro (IFRS 15), que trata do reconhecimento das receitas de contratos com os clientes.

A referida Norma tem por fulcro o aperfeiçoamento dos re-latórios financeiros e a comparabilidade nas demonstrações financeiras em âmbito mundial. Na avaliação de performance das corporações, o emprego da Receita constitui-se em im-portante driver para os analistas e demais usuários das de-monstrações financeiras.

Não obstante, de um modo geral, o emprego da Receita como métrica de avaliação e para projeções ficava prejudica-do, em virtude do fato de que os requisitos de reconhecimen-to de receita do IFRS não tinham detalhes suficientes para formar convencimento, ao passo que os requisitos de con-tabilidade do USGAAP foram considerados de caráter muito prescritivos, além de produzirem ocasionais conflitos de inter-pretação. Estas circunstâncias demandavam um tratamento que viesse a dirimir estas questões.

Assim, a emissão da nova norma para reconhecimento de receitas, a IFRS 15 – Receitas de Contratos com Clien-tes (Revenue from Contracts with Customers), constituiu-se em importante marco de aperfeiçoamento das normas con-tábeis. Como sói acontecer, tal inovação regulatória acarre-tou a necessidade de superação de novos desafios para as empresas, por ocasião da elaboração e divulgação de suas demonstrações financeiras. Provavelmente, não apenas as demonstrações financeiras serão afetadas com o advento da IFRS 15. Esta norma também deverá impactar os processos de negócios e os controles internos das organizações.

A assimilação e a implantação da nova norma deverão as-sumir distintos graus de complexidade, conforme as especifi-cidades do segmento industrial e da estrutura dos controles internos de cada empresa. É possível inferir, em consequên-cia, que a IFRS 15 irá impactar as empresas de forma assi-métrica, o que demandará avaliações preliminares para um efetivo gerenciamento de sua implantação.

Ademais, em virtude de os novos requisitos de divulgação serem amplos e configurarem uma alteração significativa em face das normas de IFRS existentes, é fundamental que as empresas se qualifiquem com urgência para a sua aplicação.

Não podemos nos esquecer de que os prazos sempre se exaurem, de tal sorte que, a despeito do fato de que a data de vigência da IFRS 15 – que seria inicialmente a partir de janeiro de 2017 – ter sido postergada para o início de 2018, é da maior relevância que as organizações elaborem um diag-nóstico para poderem estabelecer um cronograma apropriado à sua adoção, bem como gerenciar o processo de transição para a nova norma.

O presente trabalho discorrerá acerca dos principais as-pectos da IFRS 15, analisando as alterações nas práticas que são adotadas em alguns segmentos de indústria. Esta ocorrência é uma das múltiplas questões que a convergên-cia ao IFRS impôs para as companhias de capital aberto no Brasil. Assim, o problema que se apresenta é: o processo de convergência aos postulados da IFRS - 15 pela contabilidade

brasileira implicará a necessidade de um planejamento de im-plementação nas empresas de capital aberto?

A nossa suposição inicial é de que o processo de assimila-ção dos princípios relativos à IFRS - 15 vai requerer um crite-rioso planejamento de implementação, em razão dos efeitos diferenciados para cada segmento de negócio.

O objetivo principal deste trabalho é realizar uma apre-sentação dos principais aspectos atinentes à implementa-ção da norma IFRS 15 – Receitas de Contratos com Clien-tes, em especial destacando algumas das alterações nas práticas contábeis que são adotadas em alguns ramos de atividades empresariais.

2. Revisão da Literatura2.1. O Histórico, os Prazos de Implementação e a Caracterização da IFRS - 15

O advento da IFRS – 15 se insere no contexto dos aper-feiçoamentos institucionais promovidos e desenvolvidos pelo International Accounting Standards Board (IASB), em linha com os seguintes objetivos, segundo Perez Júnior (2005, p.43): desenvolver um conjunto único de normas contábeis, compreensível, transparente e de qualidade; promover o uso e a aplicação rigorosa das normas interna-cionais de contabilidade; provocar convergências de nor-mas nacionais e internacionais.

Conforme registra JUBELS (2014), o IASB e o FASB publi-caram, em 28 de maio de 2014, uma nova norma conjunta so-bre o reconhecimento de receitas, que substitui a maior parte da orientação detalhada acerca do reconhecimento de receita disponível atualmente em conformidade com as IFRS e U.S. GAAP. A publicação de uma única norma sobre o reconhe-cimento de receitas constitui-se me notável avanço para os órgãos normativos, embora, para as entidades que reportam a norma, o trabalho esteja apenas se iniciando, em razão das necessidades de adequção aos casos concretos.

A referida norma foi concebida cerca de cinco anos após o IASB e o FASB publicarem, de forma conjunta, a primeira ver-são de suas propostas de reconhecimento de receitas. O lon-go período de desenvolvimento do projeto fez com que mui-tas empresas adiassem a própria avaliação acerca de como seriam afetadas. De certa forma, o advento dos requisitos de contabilidade sobre um dos mais importantes indicadores fi-nanceiros e as receitas – na medida em que serão aplicáveis a quase todas as empresas que preparam relatórios em IFRS e U.S. GAAP – implicarão uma série de medidas de adapta-ção por parte dessas entidades.

As novas exigências relativas ao reconhecimento da re-ceita afetarão distintas empresas de maneiras diferentes. As empresas que vendem produtos e serviços de forma unifica-da, na mesma operação, bem como as organizações voltadas para grandes projetos, tais como as empresas de telecomu-nicações, de software, de engenharia, de construção e incor-poração imobiliária, estão entre aquelas que podem sofrer alterações significativas no momento do reconhecimento da receita. Por sua vez, existem outras entidades para as quais os impactos podem não ser muito significativos.

Entrementes, todas as entidades necessitam avaliar os impactos advindos da nova norma, de tal forma que possam lidar com as implicações nos seus negócios. Especificamen-te, os novos requisitos de divulgação são extensos e podem exigir mudanças nos sistemas e processos para a coleta dos dados necessários, ainda que os resultados das demonstra-ções financeiras não sofram alterações.

A nova norma inicialmente entraria em vigor em janeiro de 2017, mas já uma dilatação do prazo, que passou para ja-

Os Impactos da Assimilação da Norma Internacional de Relatório Financeiro (IFRS 15), que Trata do Reconhecimento das Receitas de Contratos com os Clientes, e seus Efeitos Assimétricos nas Demonstrações Financeiras das Empresas Brasileiras

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neiro de 2018. Existe também a previsão de que entidades que reportam em IFRS podem optar por aplicá-la antes de sua obrigatoriedade, embora tal possibilidade não seja fac-tível para as organizações que reportam de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil.

Mais uma vez, não se pode considerar que existe folga de tempo disponível para as adaptações, pois algumas decisões precisam ser tomadas em breve, tais como, por exemplo, a decisão acerca de quando e como fazer a transição para a nova norma. Nesse sentido, uma decisão correta adotada de forma antecipada é capaz de permitir que as empresas de-senvolvam um plano de implementação eficiente e informem os seus principais stakeholders.

Dentre as principais implicações na norma IFRS 15, está a constituição de uma fonte única de regras que se aplicam às receitas, para todas as entidades, em todos os setores da economia. Esta recente norma contábil para o reconhecimen-to de receitas constitui-se em uma mudança significativa com relação às normas IFRS existentes.

A nova norma se aplica a receitas de contratos com clien-tes e promove uma substituição, de forma consolidada, todas as normas e interpretações anteriores do IFRS que dispõem sobre receitas, tais como a IAS 11 - Contratos de Constru-ção (Construction Contracts), a IAS 18 - Receita (Revenue), a IFRIC 13 – Programas de Fidelização de Clientes (Customer Loyalty Programmes), a IFRIC 15 - Contratos para Constru-ção do Setor Imobiliário (Agreements for the Construction of Real Estate), a IFRIC18 - Recebimento em Transferência de Ativos de Clientes (Transfers of Assets from Customers) e a SIC-31 - Receita – Transações de Permuta envolvendo Servi-ços de Publicidade (Revenue – Barter Transactions involving Advertising Services).

Por sua vez, aqui no Brasil, assim que o Comitê de Pro-nunciamentos Contábeis (CPC) emitir a norma equivalente à IFRS 15, a mesma passará a substituir as seguintes normas: CPC 30 - Receita, CPC 17 - Contratos de Construção, ICPC 02 – Conrtatos de Construção do Setor Imobiliário e ICPC 11 – Recebimento em Transferência de Ativos de Clientes. Embora a IFRS 15 também seja baseada em princípios que são consistentes com as regras existentes aplicáveis a recei-tas, ela oferece um leque maior de orientações acerca de sua aplicação. Entrementes, a ausência de regras claramente de-finidas deverá implicar na necessidade de uma maior capaci-dade de julgamento.

Destarte, a nova norma terá pouco efeito em algumas em-presas, mas exigirá mudanças significativas em outras, em especial naquelas para as quais as normas IFRS existentes oferecem pouca orientação sobre sua aplicação. Além disso, a IFRS 15 também especifica o tratamento contábil para de-terminados itens normalmente considerados como receitas, tais como, por exemplo, alguns custos associados à obtenção e ao cumprimento de um contrato, ou ainda associados à ven-da de certos ativos não financeiros.

Não obstante, apesar da IFRS 15 passar a vigorar para os exercícios iniciados a partir de 1º de janeiro de 2018, é permi-tida a sua adoção antecipada para as entidades que apresen-tam suas informações financeiras de acordo com as normas IFRS, desde que esse fato seja divulgado, bem como para aquelas empresas que adotam a norma pela primeira vez.

A data de vigência da norma para companhias abertas que aplicam os conceitos do US GAAP é 15 de dezembro de 2016, ou seja, para efeitos práticos é essencialmente a mesma data para as organizações que preparam suas infor-mações financeiras de acordo com as normas IFRS. Porém, a

adoção antecipada não é permitida para companhias abertas dos EUA, pois estas serão obrigadas a aplicar a nova norma para os períodos de apresentação financeira a partir de 15 de dezembro de 2017. No Brasil, historicamente, os agentes reguladores também não têm autorizado a adoção antecipada para novos pronunciamentos contábeis.

É preciso destacar que há uma abordagem para o período de transição, uma vez que a IFRS 15 exige uma aplicação em base retrospectiva. Os Comitês decidiram permitir a adoção “retrospectiva integral”, na qual a norma é aplicada para to-dos os períodos apresentados, ou uma adoção “retrospectiva modificada”. Nesse sentido, os Comitês esclareceram os se-guintes termos:

(i) A data da aplicação inicial – é a data que marca o início do período-base em que a empresa aplica a IFRS 15 pela primeira vez. Por exemplo, para uma entidade cujo período--base anual se encerra em 30 de junho, a data da aplicação inicial obrigatória será 1º de julho de 2017.

(ii) Contrato concluído – trata-se de um contrato em que a entidade tenha transferido integralmente todos os bens e ser-viços identificados antes da data da aplicação inicial.

Como resultado, as entidades não precisam aplicar a IFRS 15 aos seus respectivos contratos se tiverem concluído todas as obrigações de desempenho neles previstas antes da data da aplicação inicial, mesmo que ainda não tenham recebido a respectiva contraprestação e essa contraprestação ainda esteja sujeita a variabilidade.

Entrementes, conforme destaca a EY Brasil – Auditoria (2014), dependendo das políticas contábeis anteriores da em-presa, a tentativa de aplicar a adoção retrospectiva modifica-da pode ser uma tarefa mais difícil do que a entidade poderia esperar. Entre as situações que podem tornar a aplicação desse método mais complexa, são elencadas:

(i) As obrigações de desempenho individuais identificadas segundo a IFRS 15 são diferentes dos elementos/resultados (deliverables) identificados segundo as regras atuais.

(ii) A alocação do preço de venda relativo individual exigida pela IFRS 15 resulta em valores distintos da contraprestação que está sendo alocada a obrigações de desempenho dife-rentes das que tinham sido alocados no passado.

(iii) Caso o contrato contenha contraprestação variável, o valor da contraprestação variável que pode ser incluído na contraprestação alocável difere do valor segundo as regras atuais.

Além disso, o método de adoção retrospectiva modificada requer efetivamente que a empresa mantenha dois conjuntos de livros no ano da adoção, a fim de atender à exigência de divulgar todos os itens das demonstrações financeiras como se fossem preparados de acordo com as regras atuais.

2.2. As Situações em Que é Aplicável a IFRS – 15 A nova norma IFRS – 15 será aplicada nos casos de con-

tratos de entrega de bens ou serviços para um cliente, exceto quando tais contratos se referirem aos seguintes aspectos:

(i) arrendamentos mercantis;(ii) seguros;(iii) direitos ou obrigações que estão no âmbito da orienta-ção de determinados instrumentos financeiros, tais como, por exemplo, os contratos de derivativos;(iv) garantias, exceto aquelas de produtos ou serviços (so-mente para U.S. GAAP4); ou(v) trocas não monetárias, operadas entre entidades na mesma linha de negócios, que facilitam as vendas para clientes que não são parte desta troca.

Carlos José Guimarães Cova

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 17, n. 64, p. 48- 56, set./dez. 2015

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Sim

Um contrato com um determinado cliente pode estar parcialmen-te no alcance da nova norma e parcialmente no alcance de outra orientação contábil, como, por exemplo, no caso de um contrato de arrendamento de um ativo e manutenção de equipamentos arren-dados ou um contrato de serviços financeiros com um depósito em dinheiro e serviços de tesouraria. A figura 1 a seguir nos apresenta uma regra de decisão para a aplicação da IFRS – 15:

Alguns aspectos aludidos pela nova norma, tais como, por exemplo, o ato de identificar o contrato com o cliente, de de-terminar o preço da transação, a determinação de quando o controle é transferido, também são aplicáveis às vendas de

ativos intangíveis e imobilizado, inclusive imóveis, que não são resultado das atividades ordinárias de uma entidade.

Por sua vez, os contratos com um colaborador ou sócio estão ao alcance da nova norma apenas na medida em que a contraparte for um cliente ou se a entidade determina que não existem orientações existentes mais relevantes a aplicar.

A nova norma também inclui um expediente prático, permitindo que as entidades apliquem seus requisitos a uma carteira de contra-tos com características semelhantes, desde que não seja esperado que o resultado fique materialmente diferente da contabilização dos contratos individualmente. Com relação a este aspecto, mais uma

vez JUBELS (2014) destaca que não fica claro qual o nível de isen-ção que será permitido pela abordagem de carteira.

Esta preocupação reside no fato de que, a despeito de a aborda-gem de carteira aparentemente ser mais efetiva economicamente do que a aplicação da nova norma, em uma base de contrato indi-vidual, não está claro o nível de esforço a ser requerido para avaliar quais características semelhantes constituem uma carteira.

Estas características semelhantes poderiam ser, por exemplo, o impacto de diferentes ofertas, os períodos de tempo ou localiza-ções geográficas. Será preciso também um tempo para avaliar se a abordagem de carteira é apropriada, desenvolvendo o processo e os controles necessários para contabilização da carteira.

2.3. As Etapas do Modelo Conceitual de Reconheci-mento da Receita

A nova norma IFRS – 15 apresenta um arcabouço que substi-tui a orientação existente sobre o reconhecimento de receita nos U.S. GAAP e IFRS. Ela se distancia dos requisitos específicos por

Figura 1: Etapas do modelo conceitual e os impactos em setores específicos.

Fonte: KPMG International Standards Group. Disponível em www.kpmg.com/BR

indústria e tipo de transações fundamentados nos U.S. GAAP, que também hoje são usados por algumas entidades que reportam em IFRS, uma vez que não há uma orientação específica nas IFRS.

Na IFRS – 15, as novas exigências de divulgação qualitativa e quantitativa têm por fulcro auxiliar os usuários das demonstrações financeiras a entender a natureza, o montante, o momento e a in-certeza em relação à receita e aos fluxos de caixa decorrentes de contratos com clientes.

As organizações deverão aplicar um modelo conceitual com-posto de cinco etapas para determinar quando é possível reco-nhecer a receita, e por qual valor. O modelo especifica que a receita deve ser reconhecida quando (ou conforme) uma em-presa transfira o controle de bens ou serviços para os clientes, pelo valor que a mesma espera ter direito a receber. Uma vez que determinados critérios forem cumpridos, a receita então será reconhecida nas seguintes situações:

(i) com o passar do tempo, de uma forma a refletir o desempe-nho da entidade da melhor maneira possível; ou(ii) em um determinado momento, quando o controle do bem ou serviço é transferido para o cliente. A figura 2 a seguir nos apresenta a sequência de etapas do modelo conceitual de reco-nhecimento da receita:O impacto da nova norma irá variar de acordo com a indústria da

entidade. As etapas do modelo que são mais suscetíveis a afetar a prática atual de indústrias específicas são resumidas na tabela da figura 3 a seguir: 2

A norma IFRS – 15 disponibiliza orientação de implementa-ção em diversos aspectos, incluindo garantias e licenças. Ela também oferece orientação acerca de quando capitalizar os cus-tos de obtenção e cumprimento de um contrato, a menos que já exista orientação em outra norma contábil, como por exemplo, no caso dos estoques.

Para algumas entidades, podem não ocorrer mudanças expres-sivas no momento e no montante da receita reconhecida. Contudo, inferir esta conclusão exigirá um entendimento do novo modelo e uma análise da sua aplicação a determinadas transações.

O contrato está plenamente no alcance de outras normas contábeis? Aplicar essas outras normas

O contrato está parcialmente no alcance de outras normas contábeis?Essa norma possui uma orientação

específica aplicável?

Primeiramente, aplique a outra norma e, em seguida, para o residual...

Aplicar nova norma sobre reconhecimento de receitas

SimNão

Sim

Não

Não

Identificar o contato Alocar o preço da transação

Reconhecer a receita

Fonte: KPMG International Standards Group. Disponível em www.kpmg.com/BR

Figura 2: Etapas do modelo conceitual de reconhecimento da receita:

Etapa 1

Identificar as obrigações de desempenho

Etapa 2

Determinar o preço da transação

Etapa 3

Etapa 4

Etapa 5

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Os Impactos da Assimilação da Norma Internacional de Relatório Financeiro (IFRS 15), que Trata do Reconhecimento das Receitas de Contratos com os Clientes, e seus Efeitos Assimétricos nas Demonstrações Financeiras das Empresas Brasileiras

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A nova norma entra em vigor para os exercícios iniciados em ou após 1o de janeiro de 2017, para as entidades que aplicam as IFRS, e vai vigorar para os exercícios iniciados após 15 de dezem-bro de 2016, para as entidades de capital aberto que aplicam os U.S. GAAP. A adoção antecipada é permitida apenas para fins das IFRS. No entanto, a adoção antecipada não está disponível para entidades que divulgam suas demonstrações financeiras de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil.

O princípio fundamental que rege o modelo de cinco etapas da norma IFRS – 15 é o fato de que as empresas devem reconhe-cer a receita para representar a transferência dos bens ou serviços prometidos aos clientes, e ainda o fato de que o montante da re-ceita reconhecida deve refletir a contraprestação que elas esperam receber em troca desses bens ou serviços. A Figura 4, a seguir, nos apresenta a sequência de etapas de aplicação do modelo de reconhecimento da receita.

Para a Etapa 1 (Identificar o contrato com o cliente), vale des-tacar que a IFRS – 15 define contrato como um acordo entre duas ou mais partes que cria direitos e obrigações exigíveis, sendo es-tas últimas por disposição legal. Os contratos podem ser escritos, orais ou implícitos por práticas comerciais usuais de uma entidade. Em alguns casos, dois ou mais contratos podem ser combinados e contabilizados como um único contrato com um cliente. Um con-trato com determinado cliente também precisa atender a todos os seguintes requisitos: (1) o recebimento da contraprestação é prová-vel; (2) os direitos aos bens ou serviços e condições de pagamento podem ser identificados; (3) o mesmo possui substância comercial; e (4) ele é aprovado e as partes envolvidas estão comprometidas com as suas obrigações.

Caso um contrato consiga atender a todos estes requisitos no inicio do contrato, uma entidade não precisa reavaliar esses aspec-tos, a menos que haja mudança significativa nos fatos e circunstân-cias. Conforme registra JUBELS (2014), os setores mais impacta-dos com as observações relativas a esta etapa são o aeroespacial e defesa, de saúde (EUA), de ciências biológicas e o imobiliário.

Com relação à Etapa 2 (Identificar as obrigações de desempe-nho estabelecidas no contrato), é necessário que as organizações identifiquem cada promessa de entregar um bem ou prestar um serviço em contrato com um cliente. Uma promessa constitui obri-gação de desempenho se o bem ou serviço prometido for distinto. Para a caracterização de um bem ou serviço prometido distinto, faz--se necessário o atendimento dos dois critérios a seguir elencados.

(i) Critério 1 - O cliente pode se beneficiar do bem ou serviço por conta própria ou juntamente com outros recursos que estão prontamente disponíveis para ele.(ii) Critério 2 - A promessa da entidade de transferir o bem ou

Figura 3: Etapas do modelo conceitual e os impactos em setores específicos.

Fonte: KPMG International Standards Group. Disponível em www.kpmg.com/BR

Etapa

1 2 3 4 5

Aeroespacial e defesa ✓ ✓ ✓

Administradores de fundos ✓

Montagem e construção ✓ ✓

Fabricantes sob contrato ✓

Saúde (EUA) ✓ ✓

Licenciadores (Mídia, Ciências Biológicas, Franquadores) ✓ ✓ ✓

Bens Imóveis ✓ ✓ ✓

Softwares ✓ ✓ ✓

Telecomunicações (Redes móveis, Cabo) ✓ ✓

Etapa 1

Fonte: KPMG International Standards Group. Disponível em www.kpmg.com/BR

Figura 4: Sequência de etapas do modelo conceitual de reconhecimento de receitas.

Identificar o contrato com o cliente

Obrigação de desempenho 1

Obrigação de desempenho 2

Alocar o preço da transação às obrigações de desempenho

no contratoReconhecer a receita no momento em que (ou à

medida em que) a entidade cumprir uma obrigação

de desempenho

Reconhecer a receita

Identificar as obrigações de desempenho estabelecidas

no contrato

Determinar o preço da transação

Etapa 2

Etapa 3

Etapa 4Etapa 5

Alocar o preço da transação à obrigação

de desempenho 1

Alocar o preço da transação à obrigação

de desempenho 2

Contrato (ou contratos

combinados)

Preço da transação para o contrato

serviço para o cliente é identificável separadamente de outras promessas no contrato.Nesse sentido, a IFRS – 15 inclui orientações adicionais para

ajudar a determinar se os referidos critérios foram atendidos. Os indicadores de que uma obrigação de desempenho é identificável separadamente incluem o seguinte rol de possibilidades:

(i) A entidade não fornece um serviço significativo de integra-ção do bem ou serviço com outros bens ou serviços prometi-dos no contrato.

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(ii) O bem ou serviço não modifica significativamente ou customi-za um outro bem ou serviço prometido no contrato.(iii) O bem ou serviço não é altamente dependente ou alta-mente inter-relacionado com outros bens ou serviços prome-tidos no contrato.Por sua vez, JUBELS (2014) destaca que uma série de produtos

ou serviços distintos que são substancialmente os mesmos e têm o mesmo padrão de transferência para o cliente, tais como, por exem-plo, um contrato de fornecimento fixo de energia, constitui uma obrigação de desempenho única. Em face dessas circunstâncias, os setores da economia que poderão ser mais impactados pelas alterações impostas pela IFRS - 15 são os seguintes: licenciadores, imóveis, software, telecomunicações.

Para a Etapa 3 do processo, que consiste em determinar o preço da transação, a IFRS – 15 também impõe alguns cuidados. O preço da transação é o montante da contraprestação a que uma empresa tem direito em troca da transferência de bens ou serviços para um cliente. Para determinar esse montante, uma entidade considera os seguintes fatores:

(i) Valor de contraprestação variável (e o fator limitante): trata-se da consideração do risco de estorno da receita ao determinar qual o nível de valor de contraprestação variável incluir no preço da transação.(ii) Componente de financiamento significativo: refere-se a con-tratos com um componente de financiamento significativo, no qual a entidade ajusta o valor prometido da contraprestação para refletir o valor do dinheiro no tempo.(iii) Contraprestação não monetária: a contraprestação não mo-netária deve ser mensurada ao valor justo, se razoavelmente estimável. Caso contrário, uma empresa deve empregar o preço de venda independente do bem ou serviço que foi prometido em troca da contraprestação não monetária.(iv) Contraprestação a pagar a um cliente: trata-se da determina-ção acerca de a contraprestação devida a um cliente constituir--se em uma redução do preço da transação, um pagamento de um bem ou serviço distinto, ou uma combinação de ambos.É prevista uma exceção para remunerações baseadas em volu-

mes de venda e de utilização, tais como, por exemplo, o pagamento de royalties decorrentes de licenças de propriedade intelectual. De acordo com a IFRS – 15, as entidades não podem incluir estima-tivas dessas remunerações no preço da transação. Nestes casos, a receita proveniente dessas remunerações é reconhecida somente quando o último dos eventos a seguir ocorrer: venda e utilização sub-sequente; e satisfação ou satisfação parcial da obrigação de desem-penho a que os royalties estão relacionados. No entanto, essa exce-ção aplica-se apenas a licenças de propriedade intelectual distintas.

Dentre os setores que podem sofrer maiores impactos com a adequação desta etapa, destacam-se o aeroespacial e defesa, os administradores de fundos e o segmento de construção civil.

A Etapa 4 consiste em alocar o preço da transação às obriga-ções de desempenho. Em regra, as empresas alocam o preço de transação para cada obrigação de desempenho na proporção do seu preço de venda independente.

A melhor evidência da existência do preço de venda indepen-dente consiste na verificação de um preço observável de vendas independentes desse bem ou serviço para clientes em situação semelhante. Contudo, se o preço de venda independente não for diretamente observável, as entidades devem usar uma das seguin-tes formas para estimá-lo:

(i) avaliar o mercado no qual elas vendem bens ou serviços e estimar o preço que os clientes estariam dispostos a pagar; (ii) prever os custos esperados, acrescidos de uma margem ade-quada; ou(iii) em circunstâncias limitadas, subtrair a soma dos preços de venda independentes observáveis de outros bens ou serviços no contrato do valor total da transação.

Os setores da economia que poderão ser os mais significati-vamente afetados nesta etapa são os seguintes: software e te-lecomunicações.

Por fim, a Etapa 5 consiste em reconhecer a receita no momento em que (ou à medida que) a empresa venha cumprir uma obriga-ção de desempenho

Uma organização reconhece a receita no momento em que (ou à medida em que) atende uma obrigação de desempenho quando transfere o controle de um bem ou serviço para um cliente. O con-trole pode ser transferido em um determinado momento específico, ou ao longo do tempo.

Preliminarmente, uma empresa pode avaliar se transfere o con-trole ao longo do tempo utilizando os seguintes critérios:

(i) O cliente recebe e consome, simultaneamente, os benefícios fornecidos pelo desempenho da empresa, de acordo com a sua atuação, como por exemplo nos serviços de rotina ou recorrentes.(ii) O desempenho da empresa cria ou aprimora um ativo que o cliente controla, conforme o ativo vai sendo criado ou aprimo-rado. Um exemplo clássico seria a construção de um ativo no terreno do cliente.(iii) O desempenho da empresa não cria um ativo com uso alter-nativo para a mesma e ela tem o direito executável de exigir o pa-gamento pela execução concluída até o momento. Como exem-plo, a construção de um ativo especializado que só o cliente pode usar, ou a construção de um ativo a pedido de um cliente.Se um ou mais destes critérios for atendido, a entidade reco-

nhece a receita ao longo do tempo, utilizando um método que me-lhor reflita o seu desempenho. Ele pode ser um método de saída (por exemplo, unidades produzidas) ou um método de entrada (por exemplo, custos incorridos ou horas de trabalho). O objetivo é mos-trar o desempenho da entidade durante a transferência do controle de bens ou serviços para o cliente.

Dentre os setores que poderão ser mais significativamente afe-tados com os procedimentos desta etapa, destacam-se: aeroespa-cial e defesa, construção civil, fabricantes sob contrato, licenciado-res, imobiliário, software.

2.4 – Os Principais Impactos para as Companhias Abertas Advindos da Assimilação da IFRS – 15

Conforme podemos verificar na análise da EY Brasil – Audito-ria (2014), a IFRS 15 afetará o reconhecimento, a mensuração e a divulgação de receita para várias empresas. A Receita é frequente-mente o indicador de desempenho financeiro mais importante para a avaliação das organizações. A obtenção de entendimento do efei-to da norma, o fornecimento de comunicação em tempo hábil aos stakeholders e o planejamento prévio são requisitos fundamentais para o êxito da implementação.

Nesse desiderato, mesmo as empresas que não esperam mu-danças significativas na mensuração de receita e na época do reco-nhecimento, também precisarão validar essa premissa. Adicional-mente, as empresas vão necessitar também identificar quaisquer mudanças necessárias nas políticas, procedimentos, controles in-ternos e sistemas para assegurar que as transações de receita se-jam avaliadas apropriadamente de acordo com a IFRS – 15. Além disso, as entidades precisarão se planejar para as exigências de divulgação significativamente expandidas.

Como resultado do advento da IFRS 15, algumas empresas podem enfrentar uma mudança significativa por ocasião do reco-nhecimento de receita. O processo de implementação pode ser trabalhoso, de tal forma que seria recomendável que as empresas começassem a estabeler um planejamento com celeridade. Uma preparação com antecedência constitui-se em medida fundamental para uma transição sem problemas. A análise da EY Brasil – Au-ditoria (2014) sugere que não se trata apenas de uma mudança contábil, pois uma vez que o objetivo de uma entidade é o de gerar receita, não constituiria surpresa o fato de que mudanças nas exi-

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Os Impactos da Assimilação da Norma Internacional de Relatório Financeiro (IFRS 15), que Trata do Reconhecimento das Receitas de Contratos com os Clientes, e seus Efeitos Assimétricos nas Demonstrações Financeiras das Empresas Brasileiras

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gências contábeis para a receita pudessem afetar várias funções e processos de negócios das empresas.

A seguir, apresentamos o conjunto dos principais impactos assi-nalados por JUBELS (2014), com relação ao advento da IFRS – 15:

(i) A receita pode ser reconhecida em determinado momento ou com o passar do tempo: As entidades que hoje empregam os métodos denominados “fase de conclusão” ou “porcenta-gem de conclusão” deverão reavaliar se o reconhecimento da receita será procedido com o passar do tempo ou em um o momento específico. Caso a opção seja pelo reconhecimento da receita com o passar do tempo, o modo pelo qual o pro-gresso para a conclusão é mensurado pode ser alterado. Por sua vez, outras empresas que hoje reconhecem a receita em determinado momento podem passar a reconhecê-la com o passar do tempo. Para promover conformidade com os novos critérios, uma empresa deverá avaliar a natureza das suas obrigações de desempenho e efetuar revisão minuciosa dos termos contratuais, considerando o que é legalmente aplicável na sua esfera de competência.(ii) Possível aceleração ou diferimento do reconhecimento da receita: numa base comparativa com a contabilidade atual, o reconhecimento de receita pode ser adiantado ou diferido para transações com múltiplos elementos, valores de contrapresta-ção variável ou nos casos de licenças. As principais métricas e índices financeiros podem ser afetados, fato que vai influenciar as expectativas dos analistas, as eventuais precificações contin-gentes, os acordos de remuneração e as cláusulas contratuais de “covenants”.(iii) Revisões podem ser necessárias para o planejamento tri-butário, cumprimento das cláusulas de “covenants” e planos de incentivo de vendas: as novas regras de reconhecimento de receitas podem afetar o momento dos pagamentos de impos-tos, a capacidade de pagar dividendos em algumas jurisdições e o cumprimento das cláusulas de “covenants”. Mudanças tri-butárias causadas pelos ajustes no momento e no valor de re-conhecimento das receitas, despesas e de custos capitalizados podem exigir a revisão do planejamento tributário. As empresas podem precisar reconsiderar os bônus e os planos de incentivo para funcionários, com o objetivo de garantir que eles permane-çam alinhados com as metas corporativas.(iv) Os processos de vendas e contratação podem precisar ser reconsiderados. Uma eventual reavaliação dos termos contra-tuais e das práticas comerciais atuais – tais como os canais de distribuição – poderá ser necessária para algumas empresas.(v) Os sistemas de TI podem requerer atualização: as alterações no reconhecimento da receita eventualmente deverão alterar os parâmetros de programação dos sistemas vigentes, uma vez que as entidades poderão ter necessidade de capturar dados adicionais exigidos pela nova norma, tais como, por exemplo, dados utilizados para fazer estimativas de transações de receita e aqueles necessários para corroborar divulgações. A aplicação retrospectiva da nova norma pode significar a introdução ante-cipada de novos sistemas e processos, e, potencialmente, criar uma necessidade de manter registros paralelos durante o perí-odo de transição.(vi) Novas estimativas e julgamentos serão exigidos: a nova nor-ma introduz novas estimativas e limites que vão requerer elevado grau de julgamento, o que pode afetar o valor e/ou o momento de reconhecimento de receita. Os julgamentos e as estimativas precisarão ser atualizados, o que pode conduzir eventualmente a mais ajustes nas demonstrações financeiras para mudanças de estimativas em períodos subsequentes.(vii) Processos contábeis e controles internos precisarão ser revisados: as empresas deverão revisar os seus processos para que possam coletar as novas informações na sua ori-

gem; por exemplo, a administração executiva, as operações de vendas, o marketing e o desenvolvimento de negócios, bem como a documentação de forma adequada, especial-mente quanto a eventuais estimativas e julgamentos. Estas organizações também precisarão considerar os controles in-ternos necessários para assegurar a integridade e a precisão das informações, sobretudo nos casos em que elas não fo-ram levantadas previamente.(viii) Novas divulgações extensivas serão exigidas: a preparação de novas divulgações poderá exigir algum tempo, bem como a busca das informações necessárias pode exigir algum esforço adicional e alterações nos sistemas. Não há registro de isenção para omitir divulgações no caso de informações sensíveis do ponto de vista comercial.(ix) As entidades precisarão se comunicar com as partes in-teressadas: os investidores e outras partes interessadas de-sejarão compreender o impacto da nova norma em todos os aspectos do negócio, de preferência antes da sua vigência. A despeito do fato de que a adoção antecipada não está dispo-nível para entidades que divulgam suas demonstrações finan-ceiras de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil, o conhecimento antecipado dos impactos será uma medida saudável para a gestão. Neste sentido, pode haver interesse a respeito do efeito sobre os resultados financeiros, os custos de implementação, acerca de quaisquer mudanças propostas nas práticas de negócios, ou ainda sobre a abordagem de tran-sição selecionada. Por fim, para as empresas que reportam em IFRSs, certas entidades devem reportar em U.S. GAAP, se pretendem fazer uma adoção antecipada.

3. MetodologiaNeste estudo foi utilizado o método hipotético-dedutivo, segundo

o qual a suposição foi testada, buscando-se compreender a relação entre os elementos abordados. Segundo Vergara (2007, p. 12) “O método hipotético dedutivo (...) vê o mundo como existindo, inde-pendentemente da apreciação que alguém faça dele, independen-temente do olho do observador.”

3.1 Tipo de Pesquisa3.1.1 Quanto aos Fins

Este trabalho pode ser definido como uma pesquisa descritiva e explicativa, pois procura descrever e explicar os efeitos da assimila-ção da IFRS - 15 pelas normas contábeis brasileiras e os impactos desses ajustes nas demonstrações financeiras e nos processos de negócios das empresas. Neste sentido, buscamos novas reflexões, ultrapassando a visão do pesquisador.

3.1.2 Quanto aos MeiosQuanto aos meios, a pesquisa pode ser classificada como docu-

mental e bibliográfica.

3.2 Universo e AmostraO Universo da pesquisa compreende os dispositivos normativos

introduzidos pela legislação no direito societário e suas implicações para as empresas de capital aberto no Brasil. Os elementos sele-cionados para a análise não foram objeto de qualquer tratamento estatístico; por isso dizemos que a amostra dos mesmos foi selecio-nada pelo critério da acessibilidade.

3.3 Coleta de DadosOs dados foram coletados através de pesquisa bibliográfica e

documental, usando-se como subsídio materiais publicados em li-vros, artigos, revistas e legislação.

3.4 Tratamento dos DadosTodos os dados levantados, tanto por pesquisa bibliográfica

quanto documental, foram tratados de forma qualitativa.

Carlos José Guimarães Cova

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3.5 Limitações do MétodoA pesquisa ficou limitada a dois aspectos principais. Em primeiro

lugar, não existem ainda muitos textos e artigos que tratem desta questão, o que restringiu nossa pesquisa. Outra limitação diz res-peito à subjetividade e interpretação do pesquisador. Embora seja desejável buscar a neutralidade na análise, é uma limitação do pró-prio ser humano a ausência de total imparcialidade diante dos fatos.

4. ResultadosA presente pesquisa registrou alguns fatos relevantes decorren-

tes da assimilação dos princípios da IFRS – 15, que dispõe sobre o reconhecimento das receitas de contratos com os clientes, pelas normas contábeis brasileiras.

De um modo geral, verificamos ao longo deste trabalho que as companhias deverão realizar análise minuciosa dos seus contratos, para fazerem um enquadramento correto das imposições da nova norma. No caso de eventual aplicação retrospectiva, as empresas poderão desenvolver um plano de transição para execuções de procedimentos em paralelo, incluindo reconciliações, de tal forma que possam coligir os dados necessários para fornecer informa-ções comparativas.

Além disso, numa perspectiva mais ampla de mercado de capitais, os investidores e outros stakeholders também vão pre-cisar compreender o impacto da nova norma no negócio como um todo, com vistas à fundamentação de suas avaliações. Com relação às múltiplas dimensões do ambiente corporativo afetadas pelas mudançãs impostas pela IFRS – 15, algumas se destacam por sua relevância.

No ambiente de controle, por exemplo, será necessário ajustar ou adicionar controles para abordar julgamentos e estimativas mais amplas. Além disso, será preciso examinar as estruturas de con-trole para assegurar uma permanente conformidade com os regu-lamentos. Nas relações com os investidores será preciso proceder uma comunicação prévia do impacto para os principais membros, bem como esclarecer acerca de potenciais mudanças nas princi-pais métricas aplicadas.

No âmbito da tecnologia de informação (TI), será necessário atualizar os principais processos e controles em relação a todas as alterações na forma como as transações são contabilizadas segundo a IFRS – 15. Como medida acautelatória, será importan-te desenvolver sistemas de TI e processos manuais para arquivar dados e outras exigências ampliadas de apresentação das de-monstrações financeiras.

Com relação aos aspectos de gestão tributária, será necessário investigar impactos sobre as estratégias fiscais existentes e com relação ao planejamento tributário, ao mesmo tempo em que será preciso gerenciar os requisitos de integração com os novos siste-

mas de receita implementados em resposta à IFRS – 15. Sob a óti-ca das informações gerenciais, as companhias deverão estabelecer um plano de ação com relação aos potenciais ajustes nos principais indicadores de desempenho, além de avaliar os requerimentos de eventuais mudanças nos relatórios gerenciais internos para obter maior aderência com as novas divulgações externas.

5. ConclusãoConforme foi visto a partir dos materiais pesquisados, a assi-

milação dos princípios contidos na IFRS – 15 vai demandar uma série de proviências por parte das companhias brasileiras. Para as companhias de capital aberto no Brasil, como consequências dos potenciais impactos no tempo, adivindos da IFRS – 15, verificamos que, em virtude da amplitude e detalhamento da nova norma, o processo de implementação deve ser abrangente e incluir as diver-sas áreas da empresa, e não apenas o tradicional departamento financeiro. Uma vez que as implicações da assimilação da norma se darão nos processos, controles internos e em múltiplas opera-ções dos negócios das empresas, o envolvimento nessa questão também será da alçada das áreas de tecnologia de informação, de gestão tributária, de assessoria jurídica, de marketing e vendas, de recursos humanos, de relação com os investidores, e, como não poderia deixar de ser, a alta administração.

Não obstante, em alguns casos, o efeito da IFRS – 15 pode afe-tar a forma como os relacionamentos com clientes são estruturados e mantidos. Ademais, uma vez que os usuários das demonstrações financeiras analisam a receita criteriosamente, como um driver ob-jetivo de desempenho, as empresas devem enfatizar o estabele-cimento de políticas e práticas eficazes de reconhecimento de re-ceita que forneçam um bom grau de fidedignidade nas avaliações. Nesse sentido, especial atenção deve ser dada à compreensão dos fluxos de trabalho relacionados ao tema em análise, que devem ser considerados nas avaliações de impacto. Dentre estes fluxos, destacam-se, o contábil e de apresentação financeira, os fluxos ge-radores de tributos, os processos de negócio e sistemas, além de uma preocupação dos gestores na promoção do gerenciamento de mudança, da comunicação e do treinamento.

Por fim, buscando responder à nossa indagação inicial, formula-da no problema desta pesquisa, acerca de se “o processo de con-vergência aos postulados da IFRS - 15 pela contabilidade brasileira, implicará a necessidade de um planejamento de implementação nas empresas de capital aberto?”, podemos afirmar que são robus-tos os elementos de convicção que apontam ser afirmativa a res-posta, o que corrobora a nossa suposição inicial no sentido de que o processo de assimilação dos princípios relativos à IFRS - 15 vai requerer um criterioso planejamento de implementação, em razão dos efeitos diferenciados para cada segmento de negócio.

Referências

[1] EY Brasil – Auditoria. Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas - Junho de 2014.[2] JUBELS, Danilo S. Simões e Ramon D. Coordenação Técnica no Brasil. IFRS em destaque 02/14: First Impressions

- IFRS 15 - Receita de contratos com Clientes. KPMG International Standards Group. Disponível em www.kpmg.com/BR[3] PEREZ JÚNIOR, José Hernandez. Conversão das demonstrações contábeis. – 6ª ed. – São Paulo: Atlas, 2005.[4] VERGARA. Silvia. Projetos e Relatórios de Pesquisa em Administração. São Paulo: Atlas, 2007.[5] YOKOI, Yuki. Novidades do IASB vão impactar o Brasil. – São Paulo: Revista Capital Aberto, Seletas, Edição 144,

Agosto de 2015.

Sítios visitados:http://www.ibracon.com.br/ibracon/Portugues/detNoticia.php?cod=1910

www.kpmg.com/BR

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 17, n. 64, p. 48- 56, set./dez. 2015

Os Impactos da Assimilação da Norma Internacional de Relatório Financeiro (IFRS 15), que Trata do Reconhecimento das Receitas de Contratos com os Clientes, e seus Efeitos Assimétricos nas Demonstrações Financeiras das Empresas Brasileiras

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3º lugar - XVI Prêmio Contador Geraldo de La Rocque 2015

Análise da Relação entre a Divulgação de Informações por Segmento e a Competitividade

Nathan Emiliano de Oliveira Uberlândia – MG Graduando em Ciências Contábeis na FACIC/UFU1 [email protected]

Patrícia de Souza Costa Uberlândia – MGProfessora da Faculdade de Ciências Contábeis /UFU1

Doutora em Contabilidade e Controladoria pela FEA/USP2 [email protected]

Jéssica Rayse de Melo Silva Avila Uberlândia – MGMestranda em Ciências Contábeis no PPGCC/UFU1

[email protected]

ResumoEste artigo investiga a relação entre o nível de competitividade

entre as companhias abertas brasileiras e a evidenciação de in-formações por segmento. A amostra da pesquisa é composta por 46 companhias abertas brasileiras, listadas no índice Ibovespa no período de 2010 e 2013. O modelo econométrico envolve dados em painel, sendo o retorno sobre o ativo (ROA) das empresas acima da média do ROA do setor usado como proxy para seto-res mais competitivos. De acordo com os resultados da investi-gação, 83% das empresas optaram por divulgar as informações por segmento de negócio e divulgaram de 2 a 4 segmentos. O nível de evidenciação das informações por segmento é de 63% no horizonte temporal de estudo, sendo que as empresas per-tencentes aos setores regulados (energia elétrica e telecomuni-cações) possuem índice de evidenciação superior àquele dos demais setores analisados. Percebeu-se uma curva de aprendi-zagem na divulgação de informações por segmento, uma vez que o paradigma de evidenciação cresceu ao longo do período. Os resultados sugerem que as empresas possuidoras do ROA acima da média do setor demonstram menos informações por segmen-to, corroborando a hipótese de pesquisa de que as companhias pertencentes a setores mais competitivos são menos propensas a divulgar separadamente informações por segmento. Infere-se que a competitividade é um fator que pode afetar a divulgação de

informações por segmento, necessitando ser observada por pes-quisadores, investidores, normatizadores e reguladores. Palavras chave: Informações por segmento. Evidenciação. Re-torno sobre o ativo.

AbstractThis paper examines the relation between the competition level

of the Brazilian publicly traded companies and the information per segment disclosure. The research sample consists of 46 Brazilian publicly traded companies listed by the Ibovespa Index from 2010 to 2013. The econometric model comprises a panel data where the companies whose return on assets (ROA) is above average for the sector are regarded as proxy to more competitive sectors. According to the research results, 83% of the companies choose to disclose information per business segment, revealing 2-4 seg-ments. The information per segment disclosure level is 63% in the study period, considering that the disclosure level of companies belonging to the regulated sectors (power and telecommunications companies) is higher than that of the others.

The information per segment disclosure shows a learning curve, for the disclosure index has grown during the period. The results suggest that the companies with ROA above average for the sector disclose less information per segment, confirming the research hy-pothesis that the companies belonging to competitive sectors tend to disclose less segment information individually. The conclusion is that the competition affects the information per segment disclosure and researchers, investors, standard setters and regulators must observe it.Key words: Segment information. Disclosure. Return on assets.

1. IntroduçãoA concorrência, o tamanho da empresa e o setor de atuação da

entidade são fatores que podem afetar o nível de evidenciação de informações por segmento (BOTOSAN; STANFORD, 2005; NI-CHOLS; STREET, 2007; NICHOLS; STREET; CEREOLA, 2012). Botosan e Stanford (2005) e Nichols e Street (2007), analisando a norma IAS 14R - Segment Reporting, identificaram que a combi-nação de segmentos é significativamente influenciada por vários fatores, tais como a competitividade e a concorrência nos setores de atuação da empresa.

Em novembro de 2006, o International Accounting Standards Board (IASB) emitiu a norma IFRS 8 - Operating Segments, em substituição à IAS 14R, com o objetivo de fornecer orientação mais detalhada e estabelecer requisitos para a evidenciação de

1 UFU - Universidade Federal de Uberlândia - CEP 38408-100 - Uberlândia – MG 2 FEA /USP - Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo – CEP 05508-010 - São Paulo – SP

Artigo recebido em 04/09/2015 e aceito em 13/10/2015

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informações sobre segmentos operacionais (NICHOLS; STREET; CEREOLA, 2012). Dentre os objetivos do IFRS 8, estão o aumen-to da comparabilidade e a melhoria na quantidade e na qualida-de da demonstração de informações por segmento (SCHVIRCK; LUNKES; GASPARETTO, 2012). Porém, mesmo após a adoção do IFRS 8, o IASB não conseguiu anular um problema identificado desde a emissão da IAS 14: a agregação de segmentos diferen-tes com o objetivo de esconder, dos concorrentes, linhas opera-cionais mais produtivas (NICHOLS; STREET, 2007; NICHOLS; STREET; CEREOLA, 2012).

Para Nichols, Street e Cereola (2012), não houve melhoria na qualidade da divulgação das informações por segmento após a adoção da IFRS 8, em substituição à IAS14R. Esses autores ana-lisaram o nível de evidenciação de informações por segmento, de acordo com o exposto no IFRS 8, de 361 empresas europeias, no período de 2008 a 2009. Encontraram redução significativa no número médio de itens divulgados, principalmente aqueles rela-cionados aos passivos, patrimônio líquido e método de equivalên-cia patrimonial. Por outro lado, esses autores detectaram aumento significativo de empresas que relatam mais de uma medida de lucratividade do segmento. Uma vez que o nível de evidenciação, mesmo com as revisões incluídas no IFRS 8, tem sido reduzido, a competitividade pode ser um fator responsável por essa retração.

No Brasil, o CPC 22 – Informações por Segmento, correlacio-nado com o IFR 8, foi aprovado pelo Comitê de Pronunciamen-tos Contábeis (CPC, 2009) com vigência a partir do exercício de 2010. Os resultados do estudo de Schvirck, Lunkes e Gasparetto (2012) demonstraram que, após a aplicação do CPC 22, a forma de publicação dos segmentos passou a ser bastante heterogê-nea, não estabelecendo qualquer tipo de padrão, seja por setor de atuação, seja por listagem de governança corporativa, seja pelo tamanho do ativo da companhia.

Diante do exposto, o problema de pesquisa é: existe relação entre a divulgação de informações por segmento e o nível de com-petitividade das empresas? O objetivo deste estudo é investigar a relação entre o nível de competitividade das companhias abertas brasileiras e a evidenciação de informações por segmento.

A amostra da pesquisa é constituída por 46 companhias aber-tas brasileiras listadas no índice Ibovespa no período de 2010 e 2013. O modelo econométrico foi estabelecido com base nos es-tudos de Nichols e Street (2007) e Nichols, Street e Cereola (2012) e envolve dados em painel, sendo o retorno sobre o ativo (ROA) das empresas acima da média do ROA do setor usado como pro-xy para setores mais competitivos.

Os resultados desta pesquisa podem ser úteis para diversos usuários da informação contábil, especialmente, para normatiza-dores e investidores. O IASB, desde que emitiu o IFRS 8, está preocupado com a adoção da abordagem da gestão na definição das informações por segmento (NICHOLS; STREET; CEREOLA, 2012). Assim, os resultados desta investigação podem ser úteis no processo de revisão da norma. A melhoria no processo de evi-denciação de informações por segmento pode ser benéfica tam-bém para os investidores no processo de tomada de decisões.

Este trabalho está organizado em seis seções, incluindo esta introdução. A segunda seção trata do referencial teórico. A tercei-ra refere-se às hipóteses da pesquisa. A seção seguinte aborda a metodologia do trabalho. As seções cinco e seis aludem aos resultados e às considerações finais, respectivamente.

2. Referencial Teórico2.1. Informações por Segmento

O princípio básico das informações por segmento é que os dados apresentados nas demonstrações contábeis possi-bilitem aos usuários a avaliação adequada da natureza das atividades do negócio e seus respectivos efeitos financeiros, conhecendo, de fato, o ambiente econômico em que a em-presa está inserida (IUDÍCIBUS et al., 2010). Esses autores defendem que a separação por segmento é importante para que seja possível compreender o histórico e as tendências da companhia, entender o contexto regional de um produto ou serviço, avaliar a influência de aspectos políticos, mensu-rar a contribuição de um cliente relevante para as receitas da empresa, entre outros.

A primeira versão da IAS 14 - Segment Reporting foi emitida pelo International Accounting Standards Committee (IASC) em 1981. A norma exigia que as empresas divulgas-sem seus relatórios sobre vendas, lucros e ativos para cada segmento, identificáveis por linha de negócios ou localização geográfica (NICHOLS; STREET, 2007). Porém, essa diretriz foi bastante criticada por suas definições amplas que per-mitiam interpretações divergentes sobre os requisitos para a identificação e a evidenciação de segmentos (NICHOLS; STREET, 2007).

Assim, em 1990, a Organization for Economic Coopera-tion and Development (OCDE), a International Organization of Securities Commissions (IOSCO) e o Working Group of the United Nations recomendaram à IASC expandir requisitos de divulgação e abordar as questões de implementação para a IAS 14 (ALBRECHT; CHIPALKATTI, 1998). Para superar os problemas associados a essa norma, a IASC, em conjunto com o Financial Accounting Standards Board (FASB) e o Ac-counting Standards Board (AcSB), decidiu exigir uma nova abordagem para a identificação de segmentos, a IAS 14R (SCHVIRCK; LUNKES; GASPARETTO, 2012).

No entanto, as ineficiências da IAS 14, que permitiam in-terpretações divergentes sobre requisitos para identificação de um segmento, persistiram na IAS 14R (NICHOLS; STRE-ET, 2007). Esses autores apresentaram evidências que comprovaram a ineficácia da IAS 14R na consecução dos objetivos da IASC, uma vez que identificaram uma relação indireta entre a divulgação de segmentos e o nível de con-corrência do setor. Isso sugere que, sob o exposto na IAS 14R, as empresas omitem informações sobre os segmen-tos operacionais, inclusive a quantidade real de segmentos, quando expostas a níveis mais elevados de concorrência (NICHOLS; STREET, 2007).

Em novembro de 2006, em meio a preocupações signifi-cativas sobre a adoção da abordagem de gestão das enti-dades na divulgação de informações por segmento, a IASC emitiu o IFRS 8, que substituiu a IAS 14R, com o objetivo de aumentar o número de segmentos relatados e melhorar a qualidade das informações divulgadas (NICHOLS; STREET, 2007). Semelhante ao exposto na IAS 14R, o IFRS 8 define que uma entidade deve divulgar informações que permitam aos usuários das demonstrações financeiras avaliar a na-tureza financeira, os efeitos dos tipos de atividades a que se dedica e os ambientes econômicos em que opera (NI-

Análise da Relação entre a Divulgação de Informações por Segmento e a Competitividade

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CHOLS; STREET; CEREOLA, 2012). A principal diferença entre as normas está nos critérios para identificação de seg-mentos. Para o IFRS 8, se um componente de uma entidade vender, principal ou exclusivamente, para outros segmentos da entidade, esse componente é definido como segmento operacional. Para a IAS 14R, segmentos operacionais são limitados àqueles que obtenham maioria de sua receita com vendas a partes externas, ou seja, não exige que diferen-tes estágios de uma entidade integrada possam ser iden-tificados como segmentos separados. Em contraste com a IAS 14R, o IFRS 8 não define receita, despesa, resultado, ativos e passivos do segmento, nem requer que as infor-mações por segmento sejam preparadas em conformidade com as políticas contábeis adotadas para a elaboração das demonstrações contábeis da entidade. Como consequência, a entidade terá maior ‘liberdade’ (subjetivismo responsável) para determinar o que irá incluir no lucro ou na perda por segmento, limitada apenas por suas práticas de relatórios internos (DELOITTE, 2007).

Em 2013, o IASB finalizou a revisão do IFRS 8 que ha-via sido iniciada em 2010. Foram realizadas duas alterações nessa revisão (DELOITTE, 2015): 1) a norma exige que a entidade divulgue os julgamentos feitos pela administra-ção na aplicação dos critérios de agregação de segmentos operacionais; 2) a norma esclarece que uma entidade tem apenas de comunicar reconciliações do total de ativos dos segmentos reportáveis aos ativos da entidade, se os ativos do segmento são divulgados regularmente. Percebe-se que a preocupação do IASB com a agregação de segmentos per-manece na revisão da IFRS 8.

Na legislação brasileira, a partir do exercício de 2010, as companhias abertas tiveram que se adequar ao pronuncia-mento CPC 22, que normatiza a publicação de informações por segmento. Essa norma, correlacionada com o IFRS 8, visa a contribuir com a melhoria da evidenciação de informa-ções ao mercado, exigindo que as companhias abertas apre-sentem, aos seus usuários externos, informações de como é formado o resultado da empresa, considerando a participa-ção de cada um de seus segmentos operacionais. Ou seja, passem a divulgar, acompanhadas das demonstrações con-tábeis já existentes, as informações por segmentos, de acor-do com o referido pronunciamento (SCHVIRCK; LUNKES; GASPARETTO, 2012). Iudícibus et al. (2010) argumentam que, até a aplicação do CPC 22, havia pouco incentivo no Brasil para divulgação de informações por segmento e um número bem reduzido de empresas preparavam-nas de for-ma voluntária, tímida e discreta, por exigência da atuação em mercados internacionais.

De acordo com o exposto no CPC 22, a empresa deve di-vulgar informações que permitam aos usuários das demonstra-ções contábeis avaliar a natureza e os efeitos financeiros das atividades de negócios nos quais ela está envolvida e os am-bientes econômicos em que opera (TORRES, 2011). O CPC 22 estabelece que a entidade deva divulgar, no mínimo, as in-formações apresentadas no Quadro 1.

O Quadro ilustra a relação dos itens que precisam ser eviden-ciados nas notas explicativas e/ou no balanço patrimonial das companhias brasileiras para cada segmento divulgável.

2.2. Evidenciação e CompetitividadeO objetivo da contabilidade é construir um arquivo básico da

informação contábil no qual cada tipo de usuário, de forma flexível, possa obter a informação que lhe seja conveniente (IUDÍCIBUS, 2004). A evidenciação de informações contábeis está ligada ao objetivo da contabilidade, pois ela procura garantir que informa-ções diferenciadas sejam levadas para os vários tipos de usu-ários, tendo como uma das suas principais características a de apresentar aos usuários das demonstrações contábeis, por meio de relatórios, a situação econômica e financeira das companhias, bem como os riscos relacionados a investimentos (IUDÍCIBUS, 2004; SCHVIRCK; LUNKES; GASPARETTO, 2012.).

Embasado na Teoria da Agência que, segundo Hendriksen e Van Breda (1999), acontece quando o bem-estar de uma parte (denominada principal) depende das decisões tomadas por outra (denominada agente), é possível verificar que o desejo em obter vantagem no mercado influencia o gestor a não evidenciar tudo o que ocorre nas empresas. Lopes e Martins (2005) argumentam que a contabilidade é empregada pelos gestores para comunicar, de forma seletiva, os aspectos mais interessantes da empresa. Essa comunicação é seletiva porque os gestores não fornecem todas as informações ao seu dispor, porém selecionam o que é mais relevante ao seu próprio interesse.

As escolhas das informações publicáveis são realizadas, espe-cialmente, de forma a atender às exigências legais e conduzidas por um amplo conjunto de fatores que afetam seus resultados. Este é um evento endógeno por considerar que as empresas ten-dem a divulgar as informações de acordo com os benefícios que podem extrair delas (VERRECCHIA, 2001; PAULO, 2007).

O CPC 22 não define um padrão de formato e de dados a serem divulgados pelas organizações. As informações por

Nº do item do CPC 22

Resumo dos itens que devem ser evidenciados

23 1. Lucro Líquido2. Receita da mesma entidade3. Receita Financeira4. Despesa Financeira5. Depreciação e amortização6. Custo7. Ativo 8. Passivo9. Patrimônio Líquido10. IR/CSLL11. EBIT

28 Conciliação:12. do Passivo, 13. da Receita, 14. do Ativo, 15. do Patrimônio Líquido e 16. do Lucro Líquido.

32 17. Receita Clientes

33 18. Receita Clientes Exterior

34 19. Informações sobre Principais Clientes

Quadro 1: Itens a serem divulgados conforme CPC 22

Fonte: Elaboração própria com base no CPC 22

Nathan Emiliano de Oliveira Patrícia de Souza Costa Jéssica Rayse de Melo Silva Avila

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segmento, de acordo com essa norma, devem ser elabora-das com uma abordagem gerencial, por meio dos relatórios utilizados para a tomada de decisões internas, independente-mente de normas fiscais ou tributárias (SCHVIRCK; LUNKES; GASPARETTO, 2012). Partindo do pressuposto de que cada empresa possui um modelo de gestão específico, a aborda-gem gerencial pode favorecer o uso do poder discricionário do gestor, na divulgação de informações por segmento (NI-CHOLS; STREET; CEREOLA, 2012; SCHVIRCK; LUNKES; GASPARETTO, 2012).

A abordagem gerencial proposta pela norma deixa inves-tidores preocupados com a possibilidade de haver manipula-ção de dados, devido à liberdade no processo de evidencia-ção das informações por segmentos, uma vez que a diretriz requer a divulgação de informações que tenham sido desen-volvidas para decisões gerenciais internas (CRAWFORD; HELLIAR; POWER, 2010). Ao dar liberdade para a compa-nhia definir o que é divulgável, cria-se uma brecha para que as empresas, de forma discricionária, assumam que toda a sua atividade está agregada a um único segmento e, com isso, não apresentem informações além do que já consta-vam em seus demonstrativos antes da vigência do CPC 22 (SCHVIRCK; LUNKES; GASPARETTO, 2012).

O prejuízo em relação à concorrência é frequentemente citado como um desincentivo para divulgar informações por segmentos (HARRIS, 1998; TALHA; SALLEHHUDDIN; MOHAMMAD, 2006; NICHOLS; STREET, 2007). O receio das empresas em beneficiar potenciais concorrentes com informações estratégicas da compa-nhia, quando da divulgação de informações por segmento, pode resultar na agregação discricionária de segmentos e na perda de qualidade nas informações divulgadas (BACKER; MCFARLAND, 1968 apud NICHOLS; STREET, 2007).

Quando uma entidade opta por divulgar suas informações por segmento, há três diferentes tipos de desvantagem competitiva em relação à concorrência (BACKER; MCFARLAND, 1968, apud NICHOLS; STREET, 2007). A primeira é que a divulgação de in-formações dos segmentos rentáveis pode atrair novos concorren-tes para o setor de atividade. A segunda é que divulgar informa-ções sobre segmentos deficitários pode atrair ofertas públicas de aquisição ou pode forçar a empresa a vender esses segmentos para melhorar seus lucros em curto prazo. Por fim, requisitos de informação não uniformes, em nível regional ou global, podem afetar a competitividade internacional (BACKER; MCFARLAND, 1968 apud NICHOLS; STREET, 2007).

Os órgãos reguladores do mercado buscam, por meio de nor-mas e leis, melhorar a divulgação das informações por segmento, com o objetivo de proporcionar, ao mercado, informações mais detalhadas dos negócios operados pelas companhias. Porém o nível de competitividade continua a influenciar significativamente a maneira como os segmentos de diferentes indústrias são combi-nados para formar segmentos de negócios (NICHOLS; STREET, 2007). Ao delimitar quais informações por segmento devem ser divulgadas, os órgãos reguladores do mercado buscam, dessa forma, tornar a competitividade entre as empresas mais saudá-vel. Todavia não conseguem fazer com que as informações por segmento não sejam prejudiciais à competição, visto que podem assumir diversas formas e estruturas (HARRIS, 1998; NICHOLS; STREET, 2007; SCHVIRCK; LUNKES; GASPARETTO, 2012).

3. Hipóteses de PesquisaA pesquisa foca a relação entre os lucros anormais (proxy para

concorrência empresarial) em determinados setores de diferentes empresas e a escolha de alguns gestores em agregar segmentos, com o objetivo de esconder esses lucros, levando em considera-ção a adoção do CPC 22. Harris (1998) insinua que as empresas agregam determinados segmentos para ocultar informações de ne-gócios valiosas a fornecedores, clientes e concorrentes. Botosan e Stanford (2005) informam que as determinações de segmento, por parte das empresas, buscam velar blocos mais rentáveis que operam em setores menos competitivos do que em suas opera-ções principais. Nichols, Street e Cereola (2012) acreditam que as divulgações por segmento não necessariamente correspondem a informações utilizadas pela gestão para a tomada de decisão. Os resultados de Nichols e Street (2007) fornecem evidências de que a IAS 14R permite que os gerentes agreguem segmentos para prote-ger os retornos em excesso. Assim, a literatura recomenda que os gestores mitiguem custos competitivos por meio da confidencialida-de e evidências empíricas sugerem que os gestores divulguem, se-letivamente, segmentos sob a abordagem da IAS 14. Dessa forma, a hipótese a ser testada, nesta pesquisa, é:

H1: As empresas são menos propensas a divulgar, separada-mente, informações por segmento (menor nível de evidencia-ção) em que o retorno sobre o ativo (ROA) exceda a média do setor de atuação da empresa (setores mais competitivos).H2: As empresas são menos propensas a evidenciar o setor de atuação como o principal segmento de negócio quando o retorno sobre o ativo (ROA) exceda a média do setor de atua-ção da empresa (setores mais competitivos).

4. Aspectos MetodológicosA pesquisa é do tipo descritiva, com abordagem quantita-

tiva. A amostra inicial é constituída por 65 companhias abertas brasileiras, listadas, em novembro de 2014, no índice Ibovespa (indicador de desempenho médio das cotações dos ativos de maior negociabilidade e representatividade do mercado de ações brasileiro). Desse grupo, foram excluídas 12 empresas que não apresentaram, em suas notas explicativas, as demonstrações por segmento. Além delas, outras sete empresas do setor de finanças e seguros foram excluídas por admitirem um critério diferente de agregação de segmento conforme item 12 do CPC 22. Desta for-ma, a amostra final, com informações expressas sobre segmen-tos, é composta por 46 companhias com demonstrações entre 2010 e 2013. A amostra foi definida por conveniência, levando em consideração a acessibilidade dos dados necessários nas notas explicativas que foram divulgadas no sítio eletrônico da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

A análise das notas explicativas contemplou a forma de divul-gação dos segmentos, as políticas contábeis utilizadas e as práti-cas empregadas pelas organizações. Para cada um dos 19 itens relacionados na terceira coluna do Quadro 1, foi verificado se a empresa realizou a evidenciação nas notas explicativas e/ou no balanço patrimonial, de acordo com o exposto na segunda coluna. Em seguida, foi calculado o nível de evidenciação das informa-ções por segmento (EVID) das companhias abertas da amostra, conforme Equação 1:

(Equação 1)

Análise da Relação entre a Divulgação de Informações por Segmento e a Competitividade

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 17, n. 64, p. 56- 64, set./dez. 2015

EVIDi,t = QI Di,t

QI Oi,t

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60 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 16, n. 61, p. 35- 44, set./dez. 201460

A maioria das empresas da amostra, conforme exposto na Ta-bela 1, está segmentada em 2, 3 e 4 segmentos, representando 24,12%, 30,65% e 26,13% respectivamente (total de 80,9% da amostra analisada), corroborando as pesquisas de Nichols, Street e Cereola (2012) e Schvirck, Lunkes e Gasparetto (2012),.

Tabela 1: Número de segmentos divulgados.

Fonte: Elaboração própria. A Tabela 2 ilustra o tipo e o número de segmentos divulgados

por setor de atuação das empresas que constam na amostra.

Tabela 2: Definição de segmentos segregada por setores

Fonte: Elaboração própria.

O baixo número de empresas em cada segmento dificultou a análise dessa tabela. Porém, é possível identificar, por exemplo, no setor de Alimentos e Bebidas, que apenas uma empresa apre-sentou os segmentos por região geográfica, enquanto a maioria optou por linha de negócios. Isso pode sugerir pesquisas sobre o isomorfismo na divulgação de informações por segmento.

Na Tabela 3, é apresentado o índice de evidenciação calculado entre os anos de 2010 e 2013, para cada companhia aberta com-ponente da amostra. O índice de evidenciação por empresa va-riou entre 26% (AllAmerLat; Hipermarcas e ItauUnibanco) e 89%

O índice de evidenciação das informações por segmento (EVID) é calculado, dividindo-se a quantidade de informações di-vulgadas (QID) por empresa da amostra pela quantidade total de informações que a mesma deveria ter divulgado, de acordo com o CPC-22 (QIO – quantidade mínima de informações). Cada uma das companhias deve publicar 19 itens sobre os segmentos. Para exemplo do cálculo, tem-se que a companhia aberta Marfrig apre-sentou, nas demonstrações financeiras do exercício de 2013, um total de 13 informações das 19 que ela deveria ter evidenciado. Essa empresa deixou de revelar seis itens. Assim, o nível de evi-denciação para essa empresa, em 2013, foi de 68,4%, conforme exposto na Equação 2:

EVIDMarfrig, 2013= 13/19 = 68,4% (Equação 2)

O modelo especificado na Equação 2 foi utilizado para veri-ficar o nível de evidenciação das companhias abertas brasilei-ras. Além do cálculo do nível de evidenciação, os dados foram analisados com o objetivo de identificar relações entre as vari-áveis de evidenciação.

A hipótese H2 será testada por meio da Equação 3:

(Equação 3)

A variável SET representa uma variável binária com valor 1 se o setor de atuação da empresa é reportado nas informações por segmento como o principal segmento de negócio; 0, em caso con-trário. A proxy utilizada para a competitividade foi o retorno sobre o ativo (ROA) da empresa acima da média do setor de atuação, pois mostra a capacidade de cada segmento de uma empresa em gerar resultado, comparado com a capacidade média do setor. O ROA é uma variável binária com valor 1 se a empresa apresenta retorno sobre o ativo acima da média do setor; 0, em caso con-trário. A variável SEG equivale ao número de segmentos apre-sentados nas demonstrações de cada empresa. A variável TAM representa o tamanho da empresa e é resultante do logaritmo do ativo total da empresa.

A Equação 3 será testada por meio de regressão logística para dados em painel.

5. ResultadosNo Gráfico 1, são ilustrados os tipos de segmentos divulgados

pelas companhias abertas da amostra. Em 83% dos casos, as informações por segmento foram divulgadas por linha de negócio, em 6% por região geográfica e 3% utilizaram como critério tanto a atuação geográfica quanto a linha de negócio. Em 8% dos casos, em algum dos períodos analisados, a empresa não fez a divulga-ção das informações por segmento, por entender que a empresa utiliza apenas um segmento. Esses resultados são semelhantes aos apresentados por Schvirck, Lunkes e Gasparetto (2012) e Ni-chols, Street e Cereola (2012), para empresas brasileiras e euro-peias, respectivamente.

Número de segmentos % das empresas da Amostra

Um segmento 0,50%

Dois segmentos 24,12%

Três segmentos 30,65%

Quatro segmentos 26,13%

Cinco segmentos 10,55%

Seis segmentos 6,03%

Dez segmentos 2,01%

SetorDefinição de segmentos

Divisão de SegmentosGeográfico Linha de

negóciosAmbos

Alimentos e Bebidas 1 4 2 a 5

Comércio 4 2 a 4

Construção 5 1 a 6

Energia Elétrica 6 4 a 6

Mineração 1 5

Outros 1 7 2 a 4

Papel e Celulose 3 2

Petróleo e Gás 1 5

Química 2 4 e 5

Siderur&Metalur 2 2 3, 4 e 6

Telecomunicações 1 3

Transporte Serviços 3 1 2 a 5

Veículos e peças 1 1 2, 4 e 6

Total 4 40 2

Linha de Negócios

Ambos

Atuação Geográfica

Não evidenciaram

Fonte: Elaboração própria.

3%6%

8%

83%

Gráfico 1: Tipos de segmentos divulgados pelas empresas

Nathan Emiliano de Oliveira Patrícia de Souza Costa Jéssica Rayse de Melo Silva Avila

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 17, n. 64, p. 56- 64, set./dez. 2015

SETi,t = β0 + β1 ROAi,t + β2 SEGi,t + β3 TAM i,t + εt

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61

(Ambev S/A; Ecorodovias; Energias BR; L. Americanas e Marcopolo). A média no índice de evidenciação para os anos de 2010 a 2013 foi de 63%, ou seja, as empresas não estão divulgando, de maneira completa, os itens que devem ser revelados, de acordo com o CPC 22.

Empresa % Evid Empresa % Evid Empresa % Evid Empresa % Evid

AllAmerLat 26% Braskem 47% Klabin S/A 67% P.Acucar 82%

Hypermarcas 26% Eletrobras 47% Marfrig 71% Copel 84%

BRF SA 37% Embraer 47% Oi 74% CyrelaRealt 84%

Duratex 37% Vale 47% Cosan 76% PDG Realt 84%

JBS 37% Kroton 53% CPFL 79% Petrobras 84%

Suzano Papel 37% Souza Cruz 53% Gerdau 79% Localiza 86%

Fibria 39% Ultrapar 53% Gerdau Met 79% Ambev S/A 89%

Even 42% Cemig 58% Gol 79% Ecorodovias 89%

Sabesp 42% Natura 58% Light S/A 79% Energias BR 89%

Sid Nacional 42% CCR SA 63% MRV 79% L. Americ 89%

Lojas Renner 45% USinas 63% Qualicorp 79% Marcopolo 89%

BR Malls Par 46% Gafisa 67% Média de evidenciação no período 63%

Tabela 3: Índice de evidenciação por empresa

Fonte: Elaboração própria.

Na Tabela 4, é exposto o índice de evidenciação médio por setor. As empresas que mais demonstraram são do setor de petróleo e gás (ín-dice de evidenciação de 84%), seguidas do setor de telecomunicações (índice de evidenciação de 74%). Observa-se que as companhias de setores regulados (por exemplo, telecomunicações e energia elétrica) mostraram maiores índices de evidenciação. Talvez o enforcement da regulação seja uma variável relevante na divulgação de informações por segmento, o que pode ser objeto de estudo para pesquisas futuras.

Durante os anos em que a amostra foi analisada, o nível de evidenciação das demonstrações financeiras por segmento foi crescendo: 59,8% em 2010 e 63,16% em 2013 (GRÁFICO 2). Esse resultado pode sugerir uma curva de aprendizagem na aplicação do CPC 22. Essa decorrência é contrária àquela encontrada por Nichols, Street e Cereola (2012) para empresas europeias, principalmente, no que se refere à divulgação de passivos.

Tabela 4: Índice de evidenciação por setor

Setor Qtd. Empresas % Evid Setor Qtd. Empresas % Evid

Alimentos e Bebidas 5 59% Petróleo e Gás 1 84%

Comércio 4 68% Química 2 50%

Construção 5 68% Siderur&Metalur 4 64%

Energia Elétrica 6 73% Telecomunicações 1 74%

Mineração 1 58% Transp. Serviços 4 56%

Outros 8 52% Veículos e peças 2 68%

Papel e Celulose 3 49%

Fonte: Elaboração própria.

Analisando o índice de evidenciação de acordo com número de segmentos divulgados pelas companhias no Gráfico 3, os resulta-dos indicam que, à medida que o número de segmentos divulgados aumenta, o nível de evidenciação diminui: 79% com 1 segmento e 47% com 10 segmentos. Isso pode sugerir a capacidade dos gestores em esconder o sucesso de linhas específicas de negó-cios, visto que, quando o gestor divulga mais segmentos em suas demonstrações, o nível de evidenciação de uma provável linha de negócio lucrativa é ruim e, quando ele divulga um número menor de segmentos, o nível de evidenciação é bom, mas a linha de negócio lucrativa pode não estar evidenciada de maneira separada.

Gráfico 2: Índice de evidenciação por ano

Fonte: Elaboração própria.

2010 2011 2012 2013 Média

59,80% 61,22% 63,10% 63,16% 61,86%

64,00%

62,00%

60,00%

58,00%

Evidenciação

Análise da Relação entre a Divulgação de Informações por Segmento e a Competitividade

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No Gráfico 4, é exibido o índice de evidenciação das compa-nhias com retorno sobre o ativo (ROA) acima da média, com-parando com as empresas que expõem o retorno sobre o ativo abaixo da média. O ROA é a variável utilizada para medir o nível de competição de cada companhia.

Na Tabela 5, é apresentado o índice de evidenciação por item que deve ser revelado, conforme exposto no CPC 22. O item mais evidenciado por todas as empresas da amostra é a conciliação da receita, com 92,13%; o destaque negati-vo fica para as receitas provenientes de clientes no exterior, com 5,56%. Os resultados desta tabela permitem destacar, também, que as empresas buscaram revelar, em sua grande maioria, as receitas de qualquer natureza, as despesas finan-ceiras e o lucro líquido.

Itens que devem ser evidenciados Evid

Itens que devem ser evidenciados

Evid

Ativo 61,57% EBIT 56,48%

Conciliação da Receita 92,13%Informações Principais Clientes

7,41%

Conciliação do Ativo 59,72% IR/CSLL 49,07%

Conciliação do Lucro Líquido

67,13% Lucro Líquido 70,37%

Conciliação do Passivo 48,61% Passivo 44,91%

Conciliação do Patrimônio Líquido

38,43% Patrimônio Líquido 38,43%

Custo 61,57% Receita Clientes 75,93%

Depreciação e amortização

56,02%Receita Clientes Exterior

5,56%

Despesas Financeiras 70,83% Receita Financeira 90,28%

Tabela 5: Índice de evidenciação por item que deve ser eviden-ciado no relatório

Fonte: Elaboração própria.

Os resultados revelados no Gráfico 4 permitem aceitar a hi-pótese de pesquisa H1, pois sugere que empresas com ROA acima da média do setor de atuação (setores mais competiti-vos) são menos propensas a divulgar separadamente informa-ções por segmento (menor nível de evidenciação). O desfecho está de acordo também com os resultados encontrados por Ni-chols e Street (2007), sugerindo que setores mais competitivos mostraram menor nível de evidenciação.

A hipótese H2 foi testada por meio da Equação 3. A estatísti-ca descritiva das variáveis categóricas é apresentada na Tabe-la 6. Observa-se que 52,7% das empresas da amostra exibiram o setor de atuação nas informações por segmento como o prin-cipal segmento de negócio, e 58,6% das empresas expuseram um ROA abaixo da média do setor de atuação (TABELA 6).

VariávelEmpresas

Quant. %SET 0 - setor de atuação não foi

evidenciado como principal segmento de negócio

87 47,3

1 - setor de atuação evidenciado como principal segmento de negócio

97 52,7

Total 184 100ROA 0 - a empresa apresenta um

retorno sobre o ativo abaixo da média do setor

108 58,6

1 - a empresa apresenta um retorno sobre o ativo acima da média do setor

76 41,4

Total 184 100

Tabela 6: Frequência das Variáveis Categóricas

Fonte: Elaboração própria.

1 2 3 4 5 6 7

1 2 3 4 5 6 10

79% 57% 65% 61% 68% 64% 47%

12

10

8

6

4

2

0

Fonte: Elaboração própria.

Gráfico 3: Índice de evidenciação por número de segmen-tos divulgados

Nº de segmentos divulgados

Gráfico 4: Índice de evidenciação por ROA

Fonte: Elaboração própria.

80%

60%

40%

20%

0%0 - ROA abaixo da média 1 - ROA acima da média

Evidenciação

Na Tabela 7, é exposta a estatística descritiva das variáveis SEG e TAM.

SEG TAM

Média 3,39 16,71

Mínimo 1 14

Máximo 6 20

Desvio Padrão 1,11 1,14

Tabela 7: Estatística Descritiva das Variáveis Contínuas

Fonte: Elaboração própria.

Nathan Emiliano de Oliveira Patrícia de Souza Costa Jéssica Rayse de Melo Silva Avila

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 17, n. 64, p. 56- 64, set./dez. 2015

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Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ

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63

(2007), pois a variável ROA teve um parâmetro significativo para todos os anos examinados, suportando, para eles, a hipótese de que as empresas de sua amostra tendem a esconder segmentos que estão alcançando lucros superiores. Uma possível explicação para os resultados desta pesquisa é o fato de as empresas estarem evidenciando menos informações por segmento e poucos segmen-tos sem a necessidade de esconder o setor principal de atuação.

6. Considerações FinaisEste artigo tem por objetivo analisar a relação entre o nível de

competitividade entre as companhias abertas brasileiras e a es-colha dos gestores quanto ao nível de evidenciação das informa-ções por segmento. A amostra deste estudo envolve 46 empresas listadas no índice Ibovespa durante os anos de 2010 a 2013.

Os resultados do estudo sugerem que, em média, as empre-sas divulgam, significativamente, mais segmentos por linha de negócios. A maioria das companhias examinadas apresentam entre 2 e 4 segmentos. O índice de evidenciação no período de estudo é de 63%, abaixo do mínimo estabelecido no CPC 22. Porém, percebeu-se aumento no número médio de itens de-monstrados ao longo do horizonte temporal de estudo, sugerin-do uma curva de aprendizagem na aplicação do pronunciamen-to. Além disso, empresas com ROA acima da média (setores mais competitivos) ofereceram menor nível de evidenciação de informações por segmento, corroborando a hipótese de estudo de que empresas que atuam em setores mais competitivos es-tão menos propensas a revelar informações por segmento para evitar custos de competitividade.

A variável ROA não se mostrou significativa na determi-nação das empresas quanto a evidenciar o setor de atuação como o principal segmento de negócio. Infere-se que, uma vez que as empresas divulgam de 2 a 4 segmentos apenas e anun-ciam informações abaixo do mínimo estabelecido no CPC 22, elas não se preocupam em não espalhar o setor de atuação como o principal segmento de negócio. Esse resultado pode ser objeto de aprofundamento em pesquisas futuras.

As principais limitações do estudo são o tamanho da amostra e o período de estudo. Para pesquisas futuras, sugere-se aumentar o período e a amostra, além de pesquisar a relação entre a divul-gação de informações por segmento e a curva de aprendizagem, o isomorfismo, a teoria institucional e a regulação.

Variável Coeficiente Wald Sig

Constante -15,293 20,317 0,000

ROA -0,234 0,395 0,530

SEG 0,518 8,153 0,004

TAM 0,832 15,244 0,000

Número de Obervações 184

Hosmer and Lemeshow Test 12,935

Sig. 0,114

Nagelkerke R Square 0,313

Tabela 8: Regressão Logística

Fonte: Elaboração própria.

Na Tabela 8, são ilustrados os resultados da regressão lo-gística. O teste de Hosmer and Lemeshow com valor de sig. de 0,114 sugere que não há diferenças significantes entre as fre-quências previstas e as observadas, ao nível de 5%. De acordo com o resultado do teste de Nagelkerke R Square, o modelo proposto apresenta um poder explicativo de 31,3%.

Quanto aos parâmetros da equação, apenas aqueles das variáveis SEG e TAM se mostraram significativos (estatística de Wald inferiores ao nível de significância de 5%). Assim, os resultados insinuam que, quanto maior o número de setores evi-denciados nas informações por segmento (SEG) e quanto maior o tamanho da empresa (TAM), maior a probabilidade de a em-presa demonstrar o setor de atuação como o principal segmento de negócio da empresa, corroborando a expectativa gerada pelo trabalho de Nichols e Street (2007), os quais confirmaram que, quanto maior a empresa, maior a probabilidade de divulgação.

No entanto, a variável ROA não apresentou parâmetro signifi-cativo. Assim, a hipótese H2 não foi aceita. Ou seja, os resultados da pesquisa não corroboram a hipótese de que as empresas são menos propensas a divulgar o setor de atuação como o principal segmento de negócio quando o retorno sobre o ativo (ROA) excede a média do setor de atuação da empresa (setores mais competiti-vos). Isso difere dos resultados encontrados por Nichols e Street

Análise da Relação entre a Divulgação de Informações por Segmento e a Competitividade

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 17, n. 64, p. 56- 64, set./dez. 2015

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64 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 16, n. 61, p. 35- 44, set./dez. 201464

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VERRECCHIA, R. E. Essays on disclosure. Journal of Accounting and Economics, v. 32, n. 1-3, p. 97-18, 2001.

Índice de títulos

ano/nº pag.

A qualidade informacional das políticas contábeis, mudanças de estimativas e retificação de erros: uma análise nas notas explicativas das maiores empresas brasileiras XVII / 64 14

Adesão dos balanços sociais publicados pelos CFC E CRCs das Regiões Sul e Sudeste do país à NBC T 15, na categoria de Recursos Humanos no ano de 2012 XVII / 63 04

Análise Bibliométrica dos Artigos Publicados como Estudos Bibliométricos na História do Congresso Brasileiro de Custos XVII / 62 04

Análise da relação entre a divulgação de informações por segmento e a competitividade XVII / 64 56

Análise dos Custos Envolvidos na Construção de Unidades Habitacionais Vinculadas ao Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV): Estudo de um Empreendimento Imobiliário na Região Metropolitana da Capital do Estado do Rio Grande do Sul XVII / 62 34

Avaliação dos ativos intangíveis no setor de construção civil brasileiro: Um estudo documental XVII / 63 12

Disclosure Obrigatório de Ativos Intangíveis das Companhias Listadas nos Níveis de Governança Corporativa da Bm&FBovespa XVII / 62 45

Gestão dos Riscos de Inadimplência dos Tomadores de Crédito: Um Estudo em uma Cooperativa de Crédito XVII / 62 55

Heritage assets no Brasil: um estudo de caso sobre a Ilha Fiscal XVII / 64 23

Moeda funcional, uma abordagem conceitual e interpretativa para investidores e gestores financeiros XVII / 63 22

Mudança no processo orçamentário: estudo de caso numa empresa de comunicação do Rio Grande do Sul XVII / 63 31

O Impacto do Câmbio nas Ações das Empresas Brasileiras Internacionalizadas XVII / 62 14

O Que Estudantes de Contabilidade “Pensam” Sobre O Resultado Abrangente? XVII / 64 04

O Sistema de Consulta do Site do TJMG como Evidenciação das Metodologias de Avaliação de Empresas nos Procedimentos de Apuração de Haveres XVII / 62 24

Os impactos da assimilação da Norma Internacional de Relatório Financeiro (IFRS 15), que trata do reconhecimento das receitas de contratos com os clientes, e seus efeitos assimétricos nas demonstrações financeiras das empresas brasileiras XVII / 64 48

Prestação de contas por entidades do terceiro setor e seus impactos na obtenção de recursos: um olhar sobre o comportamento dos doadores individuais XVII / 64 39

Relacionamento e desempenho: Estudo bibliométrico e sociométrico da produção científica do programa de pós-graduação em Contabilidade da UFSC XVII / 63 41

Retornos anormais versus criação de valor e Sinergias operacionais de firmas brasileiras envolvidas em combinações de negócios XVII / 64 30

Utilidad para el Control de Gestión de la Transferencia de Conocimiento desde las Relaciones Universidad-Empresa XVII / 63 52

Análise da Relação entre a Divulgação de Informações por Segmento e a Competitividade

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 17, n. 64, p. 64- 67, set./dez. 2015

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Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ

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Indice de autores

AIRES, Otávio Augusto Morais (Relacionamento e desempenho: Estudo bibliométrico e sociométrico da produção científica do programa de pós-graduação em Contabilidade da UFSC) XVII / 63 41

ALMEIDA, Leonardo Soares Francisco de (Avaliação dos ativos intangíveis no setor de construção civil brasileiro: Um estudo documental) XVII / 63 12

ALVES, Alessandro Pereira A qualidade informacional das políticas contábeis, mudanças de estimativas e retificação de erros: uma análise nas notas explicativas das maiores empresas brasileiras XVII / 64 14

AVILA, Jéssica Rayse de Melo Silva Análise da relação entre a divulgação de informações por segmento e a competitividade XVII / 64 56

AYRES, Paulo Roberto Reichelt (Mudança no processo orçamentário: estudo de caso numa empresa de comunicação do Rio Grande do Sul) XVII / 63 31

BARBOSA, Alex Sandro de Oliveira Heritage assets no Brasil: um estudo de caso sobre a Ilha Fiscal XVII / 64 23

BARBOSA, Ricardo Rodrigues (O Sistema de Consulta do Site do TJMG como Evidenciação das Metodologias de Avaliação de Empresas nos Procedimentos de Apuração de Haveres) XVII / 62 24

BARBOZA, Fabiano de Almeida (Moeda funcional, uma abordagem conceitual e interpretativa para investidores e gestores financeiros) XVII / 63 22

BASTOS JUNIOR, Eurides (Relacionamento e desempenho: Estudo bibliométrico e sociométrico da produção científica do programa de pós-graduação em Contabilidade da UFSC) XVII / 63 41

BONFIM, Mariana Pereira (O Impacto do Câmbio nas Ações das Empresas Brasileiras Internacionalizadas) XVII / 62 14

CARISSIMO, Cláudio Roberto (O Sistema de Consulta do Site do TJMG como Evidenciação das Metodologias de Avaliação de Empresas nos Procedimentos de Apuração de Haveres) XVII / 62 24

COSTA, Patrícia de Souza Análise da relação entre a divulgação de informações por segmento e a competitividade XVII / 64 56

COVA, Carlos José Guimarães Os impactos da assimilação da Norma Internacional de Relatório Financeiro (IFRS 15), que trata do reconhecimento das receitas de contratos com os clientes, e seus efeitos assimétricos nas demonstrações financeiras das empresas brasileiras

XVII / 64 48

CRUZ, June Alisson Westarb (Relacionamento e desempenho: Estudo bibliométrico e sociométrico da produção científica do programa de pós-graduação em Contabilidade da UFSC) XVII / 63 41

CUNHA FILHO, Claudio Stern da (Análise dos Custos Envolvidos na Construção de Unidades Habitacionais Vinculadas ao Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV): Estudo de um Empreendimento Imobiliário na Região Metropolitana da Capital do Estado do Rio Grande do Sul)

XVII / 62 34

DAL MAGRO, Cristian Baú (Gestão dos Riscos de Inadimplência dos Tomadores de Crédito: Um Estudo em uma Cooperativa de Crédito XVII / 62 55

DELAY, Albino Joao Prestação de contas por entidades do terceiro setor e seus impactos na obtenção de recursos: um olhar sobre o comportamento dos doadores individuais XVII / 64 39

DIEHL, Carlos Alberto (Mudança no processo orçamentário: estudo de caso numa empresa de comunicação do Rio Grande do Sul) XVII / 63 31

DUQUE, Andréa Paula Osório (O Impacto do Câmbio nas Ações das Empresas Brasileiras Internacionalizadas) XVII / 62 14

FELIU, Vicente Ripoll (Utilidad para el Control de Gestión de la Transferencia de Conocimiento desde las Relaciones Universidad-Empresa) XVII / 63 52

FERREIRA, Denize Demarche Minatti (Adesão dos balanços sociais publicados pelos CFC E CRCs das Regiões Sul e Sudeste do país à NBC T 15, na categoria de Recursos Humanos no ano de 2012) XVII / 63 04

FERREIRA, Luiz Felipe (Adesão dos balanços sociais publicados pelos CFC E CRCs das Regiões Sul e Sudeste do país à NBC T 15, na categoria de Recursos Humanos no ano de 2012) XVII / 63 04

HEIN, Nelson (Gestão dos Riscos de Inadimplência dos Tomadores de Crédito: Um Estudo em uma Cooperativa de Crédito) XVII / 62 55

IABNEZ, Francisco Carlos (Avaliação dos ativos intangíveis no setor de construção civil brasileiro: Um estudo documental) XVII / 63 12

KLANN, Roberto Carlos (Disclosure Obrigatório de Ativos Intangíveis das Companhias Listadas nos Níveis de Governança Corporativa da Bm&FBovespa) XVII / 62 45

LOURENÇO, Rosenery Loureiro O Que Estudantes de Contabilidade “Pensam” Sobre O Resultado Abrangente? XVII / 64 04

MACEDO, Marcelo Alvaro da Silva Retornos anormais versus criação de valor e Sinergias operacionais de firmas brasileiras envolvidas em combinações de negócios XVII / 64 30

MARQUES, José Augusto Veiga da Costa Retornos anormais versus criação de valor e Sinergias operacionais de firmas brasileiras envolvidas em combinações de negócios XVII / 64 30

MARTINS, Lisiane Adriana (Adesão dos balanços sociais publicados pelos CFC E CRCs das Regiões Sul e Sudeste do país à NBC T 15, na categoria de Recursos Humanos no ano de 2012) XVII / 63 04

MONDINI, Vanessa Edy Dagnoni (Gestão dos Riscos de Inadimplência dos Tomadores de Crédito: Um Estudo em uma Cooperativa de Crédito) XVII / 62 55

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 17, n. 64, p. 64- 67, set./dez. 2015

Page 66: vol. XVII nº 64 set./dez. 2015 - webserver.crcrj.org.brwebserver.crcrj.org.br/asscom/Pensarcontabil/revistaspdf/revista64.pdf · Internacional de Relatório Financeiro (IFRS 15),

CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJPensar Contábil

66

MOREIRA, Márcia Athayde (O Sistema de Consulta do Site do TJMG como Evidenciação das Metodologias de Avaliação de Empresas nos Procedimentos de Apuração de Haveres) XVII / 62 24

MUNHOZ JUNIOR, Joel Pereira (Relacionamento e desempenho: Estudo bibliométrico e sociométrico da produção científica do programa de pós-graduação em Contabilidade da UFSC) XVII / 63 41

OLIVEIRA, Larissa Gomes de Heritage assets no Brasil: um estudo de caso sobre a Ilha Fiscal XVII / 64 23

OLIVEIRA, Nathan Emiliano de Análise da relação entre a divulgação de informações por segmento e a competitividade XVII / 64 56

ORO, Ieda Margarete (Disclosure Obrigatório de Ativos Intangíveis das Companhias Listadas nos Níveis de Governança Corporativa da Bm&FBovespa) XVII / 62 45

PACHECO, Vicente Prestação de contas por entidades do terceiro setor e seus impactos na obtenção de recursos: um olhar sobre o comportamento dos doadores individuais XVII / 64 39

PADOVANI, Fernando (O Impacto do Câmbio nas Ações das Empresas Brasileiras Internacionalizadas) XVII / 62 14

PELEIAS, Ivam Ricardo (O Sistema de Consulta do Site do TJMG como Evidenciação das Metodologias de Avaliação de Empresas nos Procedimentos de Apuração de Haveres) XVII / 62 24

PIMENTA, Marcio Marvila. Retornos anormais versus criação de valor e Sinergias operacionais de firmas brasileiras envolvidas em combinações de negócios XVII / 64 30

PORTULHAK, Henrique Prestação de contas por entidades do terceiro setor e seus impactos na obtenção de recursos: um olhar sobre o comportamento dos doadores individuais XVII / 64 39

ROCHA, Daniela Torres da (Relacionamento e desempenho: Estudo bibliométrico e sociométrico da produção científica do programa de pós-graduação em Contabilidade da UFSC) (Relacionamento e desempenho: Estudo bibliométrico e sociométrico da produção científica do programa de pós-graduação em Contabilidade da UFSC)

XVII / 63 41

RODRÍGUES, Anadairin Díaz (Utilidad para el Control de Gestión de la Transferencia de Conocimiento desde las Relaciones Universidad-Empresa) XVII / 63 52

RUBERTO, Roseane Barbosa A qualidade informacional das políticas contábeis, mudanças de estimativas e retificação de erros: uma análise nas notas explicativas das maiores empresas brasileiras XVII / 64 14

SANTANA, Esdras Carlos de Heritage assets no Brasil: um estudo de caso sobre a Ilha Fiscal XVII / 64 23

SANTOS, Bruna Januário dos (Adesão dos balanços sociais publicados pelos CFC E CRCs das Regiões Sul e Sudeste do país à NBC T 15, na categoria de Recursos Humanos no ano de 2012) XVII / 63 04

SANTOS, Carla Macedo Velloso dos O Que Estudantes de Contabilidade “Pensam” Sobre O Resultado Abrangente? XVII / 64 04

SANTOS, Geovane Camilo dos (Análise Bibliométrica dos Artigos Publicados como Estudos Bibliométricos na História do Congresso Brasileiro de Custos) XVII / 62 04

SILVA, Adolfo Henrique Coutinho e O Que Estudantes de Contabilidade “Pensam” Sobre O Resultado Abrangente? XVII / 64 04

SOUZA, Ângela Rozane Leal de (Análise dos Custos Envolvidos na Construção de Unidades Habitacionais Vinculadas ao Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV): Estudo de um Empreendimento Imobiliário na Região Metropolitana da Capital do Estado do Rio Grande do Sul)

XVII / 62 34

VARGAS, Sandra Belloli (Mudança no processo orçamentário: estudo de caso numa empresa de comunicação do Rio Grande do Sul) XVII / 63 31

VIEIRA NETO, Julio (Avaliação dos ativos intangíveis no setor de construção civil brasileiro: Um estudo documental) XVII / 63 12

Indice de assuntos

APURAÇÃO DE HAVERES O Sistema de Consulta do Site do TJMG como Evidenciação das Metodologias de Avaliação de Empresas nos Procedimentos de Apuração de Haveres XVII / 62 24

ATIVO INTANGÍVEL Heritage assets no Brasil: um estudo de caso sobre a Ilha Fiscal XVII / 64 23

ATIVOS INTANGÍVEIS Avaliação dos ativos intangíveis no setor de construção civil brasileiro: Um estudo documental XVII / 63 12

ATIVOS INTANGÍVEIS Disclosure Obrigatório de Ativos Intangíveis das Companhias Listadas nos Níveis de Governança Corporativa da Bm&FBovespa XVII / 62 45

AVALIAÇÃO Avaliação dos ativos intangíveis no setor de construção civil brasileiro: Um estudo documental XVII / 63 12

AVALIAÇÃO DE EMPRESAS O Sistema de Consulta do Site do TJMG como Evidenciação das Metodologias de Avaliação de Empresas nos Procedimentos de Apuração de Haveres XVII / 62 24

BALANÇO DE DETERMINAÇÃO O Sistema de Consulta do Site do TJMG como Evidenciação das Metodologias de Avaliação de Empresas nos Procedimentos de Apuração de Haveres XVII / 62 24

BALANÇO SOCIAL Adesão dos balanços sociais publicados pelos CFC E CRCs das Regiões Sul e Sudeste do país à NBC T 15, na categoria de Recursos Humanos no ano de 2012 XVII / 63 04

BIBLIOMETRIA Análise Bibliométrica dos Artigos Publicados como Estudos Bibliométricos na História do Congresso Brasileiro de Custos XVII / 62 04

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 17, n. 64, p. 64- 67, set./dez. 201566

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Pensar Contábil CRCRJ Conselho Regional de Contabilidade do RJ

67

BIBLIOMETRIA Relacionamento e desempenho: Estudo bibliométrico e sociométrico da produção científica do programa de pós-graduação em Contabilidade da UFSC XVII / 63 41

COMBINAÇÃO DE NEGÓCIOS Retornos anormais versus criação de valor e Sinergias operacionais de firmas brasileiras envolvidas em combinações de negócios XVII / 64 30

CONSTRUÇÃO CIVIL Avaliação dos ativos intangíveis no setor de construção civil brasileiro: Um estudo documental XVII / 63 12

CONSTRUTORAS Análise dos Custos Envolvidos na Construção de Unidades Habitacionais Vinculadas ao Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV): Estudo de um Empreendimento Imobiliário na Região Metropolitana da Capital do Estado do Rio Grande do Sul

XVII / 62 34

CONTROLE DE GESTÃO Utilidad para el Control de Gestión de la Transferencia de Conocimiento desde las Relaciones Universidad-Empresa XVII / 63 52

CONVERGENCIA CONTÁBIL Os impactos da assimilação da Norma Internacional de Relatório Financeiro (IFRS 15), que trata do reconhecimento das receitas de contratos com os clientes, e seus efeitos assimétricos nas demonstrações financeiras das empresas brasileiras

XVII / 64 48

COOPERATIVA DE CRÉDITO Gestão dos Riscos de Inadimplência dos Tomadores de Crédito: Um Estudo em uma Cooperativa de Crédito XVII / 62 55

CUSTOS Análise dos Custos Envolvidos na Construção de Unidades Habitacionais Vinculadas ao Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV): Estudo de um Empreendimento Imobiliário na Região Metropolitana da Capital do Estado do Rio Grande do Sul

XVII / 62 34

DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO ABRANGENTE O Que Estudantes de Contabilidade “Pensam” Sobre O Resultado Abrangente? XVII / 64 04

DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS Moeda funcional, uma abordagem conceitual e interpretativa para investidores e gestores financeiros XVII / 63 22

DISCLOSURE OBRIGATÓRIO Disclosure Obrigatório de Ativos Intangíveis das Companhias Listadas nos Níveis de Governança Corporativa da Bm&FBovespa XVII / 62 45

EVIDENCIAÇÃO Análise da relação entre a divulgação de informações por segmento e a competitividade XVII / 64 56

GESTÃO DO RISCO DE CRÉDITO Gestão dos Riscos de Inadimplência dos Tomadores de Crédito: Um Estudo em uma Cooperativa de Crédito XVII / 62 55

GOODWILL Avaliação dos ativos intangíveis no setor de construção civil brasileiro: Um estudo documental XVII / 63 12

GOVERNANÇA CORPORATIVA Disclosure Obrigatório de Ativos Intangíveis das Companhias Listadas nos Níveis de Governança Corporativa da Bm&FBovespa XVII / 62 45

INTERNACIONALIZAÇÃO O Impacto do Câmbio nas Ações das Empresas Brasileiras Internacionalizadas XVII / 62 14

MERCADO IMOBILIÁRIO Análise dos Custos Envolvidos na Construção de Unidades Habitacionais Vinculadas ao Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV): Estudo de um Empreendimento Imobiliário na Região Metropolitana da Capital do Estado do Rio Grande do Sul

XVII / 62 34

NOTA EXPLICATIVA A qualidade informacional das políticas contábeis, mudanças de estimativas e retificação de erros: uma análise nas notas explicativas das maiores empresas brasileiras XVII / 64 14

ORÇAMENTO Mudança no processo orçamentário: estudo de caso numa empresa de comunicação do Rio Grande do Sul XVII / 63 31

REDES SOCIAIS Relacionamento e desempenho: Estudo bibliométrico e sociométrico da produção científica do programa de pós-graduação em Contabilidade da UFSC XVII / 63 41

RESPONSABILIDADE SOCIAL Adesão dos balanços sociais publicados pelos CFC E CRCs das Regiões Sul e Sudeste do país à NBC T 15, na categoria de Recursos Humanos no ano de 2012 XVII / 63 04

RESULTADOS Análise dos Custos Envolvidos na Construção de Unidades Habitacionais Vinculadas ao Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV): Estudo de um Empreendimento Imobiliário na Região Metropolitana da Capital do Estado do Rio Grande do Sul

XVII / 62 34

SOCIOMETRIA Relacionamento e desempenho: Estudo bibliométrico e sociométrico da produção científica do programa de pós-graduação em Contabilidade da UFSC XVII / 63 41

TAXA DE CÂMBIO O Impacto do Câmbio nas Ações das Empresas Brasileiras Internacionalizadas XVII / 62 14

TERCEIRO SETOR Prestação de contas por entidades do terceiro setor e seus impactos na obtenção de recursos: um olhar sobre o comportamento dos doadores individuais XVII / 64 39

VARIAÇÃO CAMBIAL Moeda funcional, uma abordagem conceitual e interpretativa para investidores e gestores financeiros XVII / 63 22

Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 17, n. 64, p. 64- 67, set./dez. 2015

Errata da edição 63

Pág. 3: Onde se lê "Unctional currency", leia-se "Functional currency".

Pág. 22: Os títulos corretos do autor Fabiano de Almeida Barboza são:

Bacharel em Ciências Contábeis pela UFRJMBA em Gestão Financeira, Controladoria e Finanças pela FGV

67

Page 68: vol. XVII nº 64 set./dez. 2015 - webserver.crcrj.org.brwebserver.crcrj.org.br/asscom/Pensarcontabil/revistaspdf/revista64.pdf · Internacional de Relatório Financeiro (IFRS 15),

68 Pensar Contábil, Rio de Janeiro, v. 14, n. 55, p. 56 - 64, set./dez. 2012

IR na fonte – atualizado de acordo com a in RFB nº1.500, de 29/10/14

Autor: José Cassiano Borges

As rotinas diárias que devem ser observadas pelos contribuintes no cumprimento de obrigações tributárias exigem cada vez mais que eles obtenham informações concisas e confiáveis sobre s implicações fiscais decorrentes de suas operações/prestações e outras atividades. Em face da intricada legislação tributária nacional, frequentemente não é com facilidade que o contribuinte consegue aplicar os dispositivos legais à sua situação concreta. Esta obra preenche essa lacuna que tanto aflige o contribuinte, tratando os casos mais complexos com a objetividade que estes necessitam. As diversas situações tributadas na fonte pagadora são dissecadas e esclarecidas em linguagem corrente, proporcionando ao contribuinte uma visão clara de seus aspectos essenciais. Por essas razões, é um livro imprescindível não só para o leigo, como também para estudantes, contadores, advogados, auditores e todos aqueles que aspiram uma carreira no campo da tributação.

Editora Freitas Bastos

Contabilidade bancária e de instituições financeiras (nível básico)

Autor: Inácio Dantas

Apresenta subsídios básicos para pesquisa e estudo da Contabilidade, tanto para o estudante de Ciências Contábeis e Técnico Contábil, quanto para os profissionais de qualquer área que pretendem participar de concursos em instituições bancárias ou financeiras. A pesquisa sobre a qual trata o livro diz respeito à forma de contabilização dos fatos (e atos) contábeis, tendo em vista os padrões e normas do COSIF (Plano Contábil das Instituições do Sistema Financeiro Nacional) e do Banco Central do Brasil. O livro traz também uma “bateria” de mais de 110 exercícios, desde a “abertura de capital” até a “apuração do Resultado do Exercício” (ARE), tudo em conformidade com os padrões COSIF/BCB, inclusive o “Plano de Contas”, aqui apresentado de forma resumida. Os “enunciados” dos lançamentos têm os registros contábeis (nas 4 fórmulas) sequenciados de “razonetes”, com respectivos saldos, conta a conta. Ressalte-se que esses exercícios não são repetitivos; o autor busca dar enfoque a fatos novos para gerar novos lançamentos e com isso facilitar, ampliar e enriquecer o conhecimento, além de dar uma maior abrangência ao estudo. No que tange aos lançamentos contábeis, sempre que necessário constarão “notas” cotejando o registro contábil (estudo) com a pesquisa, “notas” essas referenciadas com o disposto pelo COSIF/BCB, com a legislação do CFC (“Teorias Contábeis”), IFRS, ou CPC aplicados ao caso. Os Balancetes / Balanço Patrimonial Analítico e o D.R.E. apresentados no Capítulo 6 são resultados dos lançamentos contábeis do Capítulo 4; esses relatórios contábeis seguem as normas básicas Cosif.

Editora Freitas Bastos

Análise financeira das empresas – 2ª edição

Autores: José Augusto Veiga da Costa Marques, João Bosco Arbués Carneiro Júnior e Carlos Alberto Kühl

O livro apresenta, discute e aprofunda várias das técnicas e modelos de análise do desempenho das empresas com base nas demonstrações contábeis. As práticas contábeis utilizadas no Brasil sofreram efeitos relevantes após as recentes alterações na legislação societária e após os últimos pronunciamentos técnicos do CPC, os quais introduziram critérios de avaliação patrimonial como o valor justo, o valor de recuperação, além de outras mudanças na forma de divulgação das demonstrações contábeis. Nesse sentido, o livro mostra como aplicar, comparar e decidir a partir das análises vertical, horizontal e de quocientes. Em adição, chama-se atenção para os impactos das flutuações de preços sobre os elementos patrimoniais e de resultado, tanto no que diz respeito à variação geral de preços quanto às específicas de ativos. De modo diferente dos demais livros desta área de Contabilidade, este procura maneiras de implementação das técnicas e modelos de avaliação do desempenho e demonstrações reais publicadas por companhias abertas selecionadas. Em suma, o livro pretende fornecer uma visão objetiva e prática de utilização das várias ferramentas de análise utilizando inúmeros casos práticos e estudos de casos. Um guia prático para analistas de crédito e investimento e perfeita para a disciplina de análise das demonstrações contábeis/financeiras.

Editora Freitas Bastos