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UNIDADE VOLTAMETRIA/POLAROGRAFIA: CONCEITOS E TÉCNICAS Métodos Eletroanalíticos Os métodos eletroanalíticos são métodos instrumentais de análises que empregam as propriedades eletroquiímicas de uma solução para determinas a concentração de um analito. Analito Em química analítica, analito é o componente (elemento, composto ou íon) de interesse analítico de uma amostra. A informação analítica que se obtém sobre o analito na amostra pode ser qualitativa (se o analito está presente ou numa determinada concentração na amostra), quantitativa (a proporção em que se encontra) e estrutural. A voltametria é uma técnica eletroquímica onde as informações qualitativas e quantitativas de uma espécie química são obtidas a partir do registro de curvas corrente-potencial, feitas durante a eletrólise dessa espécie em uma cela eletroquímica constituída de pelo menos dois eletrodos, sendo um deles um microeletrodo (o eletrodo de trabalho) e o outro um eletrodo de superfície relativamente grande (usualmente um eletrodo de referência). O potencial é aplicado entre os dois eletrodos em forma de varredura, isto é, variando-o a uma velocidade constante em função do tempo. O potencial e a corrente resultante são registrados simultaneamente. A curva corrente vs. potencial obtida é chamada de voltamograma. Na voltametria, o potencial aplicado a um eletrodo é o parâmetro de controle e é variado de forma sistemática de modo a produzir uma reação redox sobre o eletrodo. A corrente, por outro lado, é resultante da transferência de elétrons que ocorre durante a redução ou a oxidação de espécies eletroativas; sobre a superfície do eletrodo. Entre o final do ano 1950 e o início de 1960, o desenvolvimento de técnicas espectroscópicas diminuiu consideravelmente a utilização da polarografia em análises, exceto em aplicações especiais, como a determinação de oxigênio molecular em soluções. A partir da metade dos anos 60, com o desenvolvimento de amplificadores operacionais rápidos e estáveis, importantes modificações na polarografia clássica foram desenvolvidas, de modo a aumentar significantemente a sensibilidade e a seletividade do método. Atualmente, instrumentos relativamente baratos e com sensibilidade, em parte por bilhão para muitas substâncias eletroativas são comercializados. Desta forma, um recente ressurgimento no interesse da utilização da polarografia tem sido comprovado. Como a área dos dois eletrodos é diferente, o microeletrodo se polarizará, isto é, assumirá o potencial aplicado a ele. O eletrodo de referência, por possuir uma área grande, não se polarizará, mantendo o seu potencial constante. O microeletrodo é comumente feito de um material inerte, como Au, Pt, Hg e C. Quando o microeletrodo é constituído de um eletrodo gotejante de mercúrio, a técnica é chamada de polarografia. 1

Voltametria e Polarografia

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UNIDADE

VOLTAMETRIA/POLAROGRAFIA: CONCEITOS E TÉCNICAS

Métodos Eletroanalíticos

Os métodos eletroanalíticos são métodos instrumentais de análises que empregam as propriedades eletroquiímicas de uma solução para determinas a concentração de um analito.

Analito

Em química analítica, analito é o componente (elemento, composto ou íon) de interesse analítico de uma amostra.

A informação analítica que se obtém sobre o analito na amostra pode ser qualitativa (se o analito está presente ou numa determinada concentração na amostra), quantitativa (a proporção em que se encontra) e estrutural.

A voltametria é uma técnica eletroquímica onde as informações qualitativas e quantitativas de uma espécie química são obtidas a partir do registro de curvas corrente-potencial, feitas durante a eletrólise dessa espécie em uma cela eletroquímica constituída de pelo menos dois eletrodos, sendo um deles um microeletrodo (o eletrodo de trabalho) e o outro um eletrodo de superfície relativamente grande (usualmente um eletrodo de referência). O potencial é aplicado entre os dois eletrodos em forma de varredura, isto é, variando-o a uma velocidade constante em função do tempo. O potencial e a corrente resultante são registrados simultaneamente. A curva corrente vs. potencial obtida é chamada de voltamograma.

Na voltametria, o potencial aplicado a um eletrodo é o parâmetro de controle e é variado de forma sistemática de modo a produzir uma reação redox sobre o eletrodo. A corrente, por outro lado, é resultante da transferência de elétrons que ocorre durante a redução ou a oxidação de espécies eletroativas; sobre a superfície do eletrodo.

Entre o final do ano 1950 e o início de 1960, o desenvolvimento de técnicas espectroscópicas diminuiu consideravelmente a utilização da polarografia em análises, exceto em aplicações especiais, como a determinação de oxigênio molecular em soluções. A partir da metade dos anos 60, com o desenvolvimento de amplificadores operacionais rápidos e estáveis, importantes modificações na polarografia clássica foram desenvolvidas, de modo a aumentar significantemente a sensibilidade e a seletividade do método. Atualmente, instrumentos relativamente baratos e com sensibilidade, em parte por bilhão para muitas substâncias eletroativas são comercializados. Desta forma, um recente ressurgimento no interesse da utilização da polarografia tem sido comprovado.

Como a área dos dois eletrodos é diferente, o microeletrodo se polarizará, isto é, assumirá o potencial aplicado a ele. O eletrodo de referência, por possuir uma área grande, não se polarizará, mantendo o seu potencial constante. O microeletrodo é comumente feito de um material inerte, como Au, Pt, Hg e C. Quando o microeletrodo é constituído de um eletrodo gotejante de mercúrio, a técnica é chamada de polarografia.

Os microeletrodos têm formatos e tamanhos diferentes, com frequência são discos pequenos de um condutor que é prensado em um cilindro de material inerte, como Teflon, que tenha em si, um fio para contato (Figura 1). O condutor pode ser um material inerte, como Pt, Au. Em voltametria os sinais de excitação (Figura 1’), de potencial variável, são aplicados sobre uma célula eletroquímica contendo um microeletrodo. Esse sinal extrai uma resposta característica de corrente na qual se baseia o método.

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FIGURA 1: Microeletrodos FIGURA 1’: Sinais de excitação

Nas últimas décadas, o desenvolvimento de novos circuitos eletrônicos tem permitido desenvolver instrumentos com capacidade de aplicar diferentes formas de programação de potencial e, dependendo da programação estabelecida, a técnica polarográfica recebe distintos nomes, como ser visto, posteriormente.

A instrumentação básica da polarografia consiste de três partes principais: um potenciostato, um gerador de funções e um microamperímetro.

A função do potenciostato é aplicar uma voltagem entre o eletrodo de trabalho e o eletrodo auxiliar, ou seja, manter uma diferença de potencial constante entre o eletrodo de trabalho e o eletrodo de referência.

O gerador de funções deve variar este potencial, tanto na direção negativa ou positiva, de forma contínua ou em saltos entre dois valores distintos de potencial.

O microamperímetro deve registrar a corrente que circula na célula eletroquímica de modo sincronizado corri a variação do potencial.

A corrente devida à transferência de elétrons que se processa quando oxidação (perda de elétrons) ou redução (ganho de elétrons) ocorre sobre a superfÍcie do eletrodo é denominada de corrente faradáica. Esta corrente é proporcional à concentração das espécies eletroativas em solução. A corrente de redução (corrente catódica) é, por convenção, assinalada com um sinal positivo, enquanto que a corrente de oxidação (corrente anódica) com um sinal negativo.

Os primeiros estudos voltamétricos foram feitos por Heyrovsky e Kuceras, em 1922, usando um eletrodo gotejante de mercúrio como eletrodo de trabalho e como eletrodo de referência, o ECS. Portanto, a primeira técnica voltamétrica desenvolvida foi a polarografia. A curva corrente vs voltagem obtida, é chamada de polarograma. A Figura 2, mostra um polarograma obtido para uma solução de Cd(II) em HCl 1 mol/L.

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FIGURA 2: Polarogramas de corrente contínua (DC) típicos: (A) polarograma de 0,5x10-3 mol/L Cd+2 em HCl 1,0 mol/L. (B) Polarograma de HCl 1,0 mol/L.

Para melhor entendimento, o polarograma mostrado na Figura 2 pode ser dividido em cinco partes:

1. Região onde o potencial é positivo (E > 0): surge uma corrente anódica devido a oxidação do mercúrio do próprio eletrodo de trabalho:

Hg Hg2+ + 2e-

portanto, nessa região a polarografia não pode ser usada.

2. Região entre 0 V e -0,5 V (0 V < E < -0,5V): nessa parte do polarograma observa-se apenas a chamada corrente residual, que é decorrente de redução/oxidação de impurezas presentes no eletrólito de suporte (HCl 1mol L-1).

3. Parte do polarograma onde E = -0,6 V: Neste potencial ocorre um aumento brusco da corrente em função da redução do cádmio junto à superfície do eletrodo gotejante de mercúrio

Cd2+ + 2e- + Hg Cd(Hg)

4. Região de -0,7 V < E < -1V: Nessa parte do polarograma a corrente atinge um valor limite e por isso é chamada de corrente limite e é independente do potencial aplicado. Nesse intervalo de potencial o Cd2+ é reduzido tão rapidamente quanto chega na superfície do eletrodo, através de um processo de transporte por difusão de seus íons do interior da solução até à superfície do eletrodo. Como a solução é mantida sem agitação, o transporte de massa da espécie eletroativa (Cd2+) não envolverá convecção. Como a solução também possui um eletrólito de suporte (HCl 1 mol/L), o transporte de massa da espécie eletroativa não envolverá migração, o que produziria uma corrente de migração devido à movimentação de espécies carregadas sob efeito de um campo elétrico.

Tendo HCl 1 mol/L como eletrólito de suporte, a corrente de migração será praticamente devido ao HCl. Assim, este transporte do Cd2+ do seio da solução junto à superfície do eletrodo será governado apenas por um processo difusional. Nessa condição, a corrente resultante é

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chamada de corrente de difusão. Como pode ser visto na Figura 2, essa corrente é obtida pela diferença entre a corrente residual e a corrente limite, e é representada por id.

A relação entre a corrente de difusão (que é uma corrente do tipo faradaica, isto é, uma corrente produzida por uma reação eletródica) e a concentração da espécie eletroativa em solução é dada pela equação de Ilkovic:

ondeid = corrente de difusão (µA) n = quantidade de matéria (antigamente conhecido como “número de moles”) de elétrons por mol de substância m = velocidade da vazão de mercúrio através do capilar de vidro (mg/s) t = tempo de gota (s) C = concentração em mmol L-1.

Além da difusão, como comentado acima, mais dois processos de transferência de massa entre a solução e a superfície do eletrodo podem ocorrer. Um desses processos é a migração de partículas carregadas em um campo elétrico. O outro é a convecção, um processo mecânico, que ocorre devido à movimentação da solução (usando-se um agitador magnético e uma barra magnética, por exemplo). O processo de migração em um campo elétrico é minimizado pela adição de um eletrólito inerte (eletrólito de suporte) à solução em uma concentração pelo menos 100 vezes maior do que a substância eletroativa (HCl 1 mol/L, neste caso). O processo de convecção é eliminado mantendo-se a solução em repouso, sem agitação. Assim, apenas o processo de difusão será responsável pelo transporte de massa, e a corrente medida, id, pode ser efetivamente expressa como corrente de difusão.

5. Região do polarograma onde E < -1,0 V: A corrente aumenta em função do potencial devido à redução de H3O+ (simplificadamente, H+) do eletrólito de suporte:

H+ + e- ½ H2

Nessa região a polarografia também não pode ser usada, pois a corrente devido ao eletrólito de suporte (íons H+, neste exemplo) sobrepor-se-á à corrente de difusão produzida pela espécie eletroativa de interesse (analito).

O potencial no polarograma correspondente à meia altura da onda polarográfica (no ponto onde i = id/2), cujo valor está ao redor de -0,6 V conforme pode ser visto no exemplo da Figura 1, é chamado de potencial de meia-onda, representado por E1/2. O potencial de meia onda é característico da substância eletroativa e reflete a facilidade de redução ou oxidação da substância em um dado eletrólito. O valor de E1/2, desse modo, serve para identificar a espécie eletroativa, ou seja, para fazer a análise qualitativa de espécies presentes em uma dada amostra.

Do ponto de vista de análise quantitativa a informação importante do polarograma é o fornecimento do valor da corrente de difusão, id. A corrente de difusão é relacionada à concentração da substância eletroativa pela equação de Ikovic, conforme discutido acima no ítem 4, equação 1. Esta equação pode ser simplificada para:

onde k envolve os termos (607nD1/2m2/3t1/2) da eq. 1, uma vez que eles permanecem constantes em um dado eletrólito de suporte, para um mesmo capilar, uma mesma temperatura, e uma mesma pressão de Hg sobre o capilar. A eq. 2 é chamada de equação simplificada de Ilkovic que, por ser mais conveniente do que a equação 1, é preferencialmente usada para fins analíticos.

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Quanto ao potencial de meia-onda, E1/2, trata-se de um parâmetro oriundo da equação de Nernst aplicada à polarografia. Esta equação considera que a reação eletroquímica junto à superfície do eletrodo gotejante de mercúrio é reversível. De um modo geral, a reação é representada por:

Ox + ne- Red

A equação de Nernst para esta reação no sentido da redução (onda polarográfica catódica), a 250 C, adquire a forma:

onde : E = potencial devido à relação de concentrações na interface eletrodo/solução das formas oxidada e reduzida da espécie eletroativa ([Ox]i/[Red]), E0 = potencial padrão do sistema de óxido redução constituído pelas formas oxidada e reduzida da espécie eletroativa, [Ox]i = concentração da forma oxidada da espécie eletroativa junto à interface eletrodo-solução,[Red]i = concentração da forma reduzida da espécie eletroativa junto à interface eletrodo-solução.

A partir desta consideração inicial, e das considerações sobre a relação entre as correntes e concentrações das formas oxidada e reduzida da espécie eletroativa, expressas pela equação de Ilkovic (eq. 2) tem-se:

sendo:

i = corrente em qualquer ponto da onda polarográfica, [Ox] = concentração da forma oxidada da espécie eletroativa no seio da solução e K = constante da equação de Ilkovic para a forma oxidada da espécie eletroativa.

No platô da onda polarográfica, [Ox]i , a concentração da forma oxidada da espécie eletroativa na interface do eletrodo, torna-se zero, pois toda partícula da espécie eletroativa que chegar junto à superfície do eletrodo (governada por difusão, como a polarografia/voltametria) será reduzida, e a corrente será = à corrente de difusão. A eq. (4) se torna:

onde id é a corrente de difusão. Combinando-se as equações (4) e (5) chega-se a:

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Se a forma reduzida da espécie eletroativa for solúvel em água e esta forma não estiver presente originalmente junto com a forma oxidada, ela se difundirá da superfície do eletrodo para o corpo da solução, ou, no caso de metais, elpoderá se difundir da superfície do eletrodo para o interior da gota de mercúrio, formando amálgama. Assim, para qualquer valor de:

onde k é a constante da equação de Ilkovic para a forma reduzida da espécie eletroativa. Aqui a corrente i dependerá apenas da concentração da forma reduzida junto à superfície do eletrodo, uma vez que a concentração da forma reduzida originalmente presente é igual a zero. Substituindo-se na equação (3), chega-se a

ou

onde

Quando a corrente i for igual à metade da corrente de difusão ( i =id/2), o potencial será igual ao potencial de meia onda, E1/2, ( Figura 1)e a equação (9) se reduz à:

Desta equação pode-se ver que o potencial de meia onda, E1/2, é constante e característico para uma dada substância eletroativa que constitua um sistema de óxido-redução reversível e que seu valor é independente da concentração da forma oxidada, [Ox], no corpo da solução. Assim, combinando-se as equações (9) e (11) , chega-se à:

Esta equação é chamada de equação da onda polarográfica e representa o potencial como uma função da corrente em qualquer ponto da onda polarográfica. O potencial de meia onda é característico da substância eletroativa, não dependendo nem mesmo das características do eletrodo. Por isso ele é útil na análise qualitativa de amostras desconhecidas, podendo ser usado na identificação de substâncias presentes nessas amostras.

Procedendo-se maneira análoga para um processo anódico, teremos a seguinte equação para uma onda anódica:

AS CÉLULAS VOLTAMÉTRICAS

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As células eletroquímicas utilizadas em voltametria/polarografia são, evidentemente , do tipo eletrolítica e podem ter dois ou três eletrodos. Heyrovsky utilizou uma célula de dois eletrodos e durante muito tempo usou-se apenas esse tipo de célula. Na célula de dois eletrodos (Figura 2), conforme já foi exposto na introdução, tem-se um eletrodo de trabalho, de superfície pequena, ou seja, um microeletrodo. No caso da polarografia o eletrodo de trabalho é um microeletrodo gotejante de mercúrio. O potencial é aplicado no eletrodo de trabalho frente a um eletrodo de referência, usualmente um eletrodo de calomelano saturado, de área superficial grande, para que apenas o eletrodo de trabalho polarize. Essa célula apresenta alguns inconvenientes, pois a corrente resultante da varredura de potencial passa através do eletrodo de referência. Isto obriga a usar-se um eletrodo de calomelano de reservatório grande de KCl, devido à reação que ocorrerá no mesmo.

Por exemplo: na determinação polarográfica de cobre, haverá redução de Cu(II) no eletrodo de mercúrio (eletrodo de trabalho), e, conseqüentemente oxidação de Hg na outra meia célula (calomelano saturado). Assim, na meia célula do eletrodo de trabalho:

Cu+2 + 2 e- Cu

Na meia célula do calomelano:

Ou seja, haverá consumo de Hg0 e Cl-, necessitando usar-se eletrodos de referência grandes, para que eles mantenham o potencial constante durante a aplicação de potencial.

Devido à passagem de corrente através do eletrodo de referência e reações que ocorrem no mesmo, isto afetará as medidas em concentrações da ordem de 10 -4 mol L-1, pois essa corrente se aproximará do valor da corrente de difusão. Outra limitação é a resistência da célula. Quando ela aumenta, como no caso de meio não aquoso, aumentará a corrente que passará através dos eletrodos o que provocará distorções nos polarogramas, tornando inviável a utilização da técnica nessas condições.

CÉLULAS DE TRÊS ELETRODOS

Para resolver essas limitações das células de dois eletrodos, foi desenvolvida a célula de três eletrodos (Figura 3a). O terceiro eletrodo é chamado de eletrodo auxiliar, podendo ser de platina, ouro, carbono vítreo, etc. Ele foi introduzido na célula voltamétrica para assegurar o sistema potenciostático. Nesta célula, os eletrodos são conectados a um amplificador operacional, pertencente ao circuito eletrônico do polarógrafo. O amplificador operacional atuará quando for aplicada uma diferença de potencial entre o eletrodo de trabalho e o eletrodo de referência, fazendo com que a resistência do eletrodo de referência aumente e a do eletrodo auxiliar diminua (Figura 3b). Assim, a corrente passará entre o eletrodo de trabalho e o auxiliar, evitando que ocorram distúrbios (como eletrólise, por exemplo) no eletrodo de referência. Com este recurso o eletrodo de referência realizará o seu papel sem interferências, que é o de manter o seu potencial constante durante as medidas. Por isto pode-se usar além do eletrodo de trabalho e do auxiliar, um eletrodo de referência de dimensões pequenas, o que facilita o uso de recipientes polarográficos/voltamétricos de tamanho reduzido.

De um modo geral, a célula de três eletrodos apresenta as vantagens de:

1. ser mais adequada para soluções diluídas,

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2. poder ser usada para soluções de alta resistência (solventes orgânicos, mistura água mais solvente orgânico),3. poder ser usada com eletrólitos de suporte mais diluídos.

CÉLULA ELETROQUÍMICA E INSTRUMENTAÇÃO

Os experimentos eletroquímicos usualmente são realizados em uma célula contendo três eletrodos imersos na solução a ser analisada (vide Figura 3):

1) O eletrodo de trabalho, onde se processa a reação de interesse. Na polarografia clássica, o eletrodo de trabalho utilizado é o eletrodo gotejante de mercúrio;

2) O eletrodo de referência, que fornece um potencial estável, com o qual o potencial aplicado ao eletrodo de trabalho é comparado. Os eletrodos de referência mais utilizados em polarografia são o eletrodo de calomelano saturado (ECS) e o eletrodo de prata/cloreto de prata (Ag/AgCl);

3) O eletrodo auxiliar (ou contra eletrodo), que consiste de um material condutor e quimicamente inerte, como por exemplo, platina (Pt).

FIGURA 3 – Célula de três eletrodos, utilizada em experimentos eletroquímicos

A solução a ser analisada deve conter a amostra dissolvida e um eletrólito de suporte também dissolvido, numa concentração mínima de 10-3 mol/L, para assegurar uma condutividade média da solução requerida nas medidas eletroquímicas.

O eletrólito de suporte deve ser escolhido de forma a não interferir nas reações eletroquímicas das espécies eletroativas analisadas no intervalo de potencial de interesse.

Entre os eletrólitos de suporte típicos podemos destacar os do tipo

Ácido: (HCI, HNO3, HClO4, H2SO4, etc.); Básico: (NaOH, KOH, NH4OH, etc.); Sal: (NaCI, KCI, K2SO4, etc.);Tampão: (acetato, fosfato citrato, tartarato, etc.).

ELETRODO GOTEJANTE DE MERCÚRIO

Quanto ao eletrodo gotejante de mercúrio, pelo fato de ser um eletrodo líquido, é constituído por um reservatório de mercúrio conectado a um tubo capilar de vidro, com comprimento variando entre 5 e 20 cm (vide Figura 4). O mercúrio, forçado pela gravidade,

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passa através desse tubo, com cerca de 0,02 a 0,05 mm de diâmetro interno, formando um fluxo constante de gotas idênticas, cujos diâmetros podem variar de 0,2 a 1 mm.

FIGURA 4: Célula polarográfica/voltamétrica de três eletrodos. (a) Esquema mostrando os eletrodos no recipiente polarográfico (b) Esquema com a célula conectada a um potenciostato.

As gotas se formam em intervalos de tempo definidos, entre 1 e 5 segundos, devido à pressão constante exercida pelo mercúrio (Figura 4a). O capilar de vidro é ligado ao reservatório por um tubo plástico flexível. O conjunto capilar mais tubo plástico mais reservatório é chamado de coluna de mercúrio. O tempo de duração da gota é controlado pela gravidade variando-se a altura dessa coluna, o que é facilmente conseguido porque o tubo plástico é flexível. Este tipo de

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meia-célula de mercúrio nasceu com a polarografia e é utilizado nos instrumentos de células com dois eletrodos (Figura 4b).

Nos polarógrafos modernos o gotejamento do mercúrio passa a ser controlado por dispositivos eletromecânicos, devido aos recursos instrumentais incorporados nos aparelhos modernos. Uma válvula solenóide abre e fecha o duto do mercúrio, sincronizada a um dispositivo (chamado de martelo) que golpeia o capilar, derrubando a gota. Isto permite ao usuário controlar o tempo de duração e o tamanho da gota selecionando-os no painel do instrumento em uso.

Escolhe-se um tamanho e um tempo pré-determinado para a duração da gota de mercúrio, a válvula solenóide abre e fecha rapidamente após a gota atingir o tamanho escolhido, o martelo é acionado a seguir no tempo pré-determinado golpeando o capilar e derrubando a gota. Logo uma nova gota é formada, repetindo-se o ciclo sucessivamente até ao final da varredura de potencial.

Todo o conjunto de operações, envolvendo formação da gota, tempo de duração da gota, varredura de potencial, medida da corrente e registro do polarograma/voltamograma é feito de maneira sincronizada e automática, em razão dos recursos eletrônicos presentes nos polarógrafos. Esta meia-célula de mercúrio é a preferida para ser usada em sistemas de células de três eletrodos.

O MÁXIMO POLAROGRÁFICO

O máximo polarográfico é um fenômeno que ocorre durante o registro do polarograma devido a turbulências envolvendo a gota de mercúrio e a camada de difusão adjacente a ela. No início do platô da onda polarográfica a corrente de difusão fica maior do que deveria, voltando após mais alguns milivolts de varredura ao nível normal, governada pelo processo de difusão. Esse máximo interfere na análise polarográfica pela distorção da forma da onda, o que dificulta a determinação de sua altura (corrente de difusão, id). Na maior parte das vezes ele tem uma forma aguda, como mostrada na Figura 5, e é chamado de máximo de primeira ordem.

FIGURA 5: Polarografia DC de uma solução de In (III) mostrando um máximo polarográfico de primeira ordem.

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Geralmente esse máximo é explicado em termos de uma não uniformidade do campo elétrico devido à geometria da gota de mercúrio, ou seja, a densidade de corrente seria desigualmente distribuída na gota. Ela seria maior na parte da gota que está presa ao capilar do que no fundo da gota. Isto faria com que a camada deslizasse na superfície da gota de mercúrio aumentando momentaneamente a quantidade de partículas que reagiriam no eletrodo e conseqüentemente a corrente medida nessa parte do polarograma. Após essa quantidade de partículas extras reagirem, ela se reduziria à quantidade governada pela difusão e a corrente se normalizaria.

A maneira de evitar a formação de máximos na prática é utilizar os chamados supressores de máximo, que são substâncias tenso-ativas. As moléculas dessas substâncias são adsorvidas junto à superfície da gota de mercúrio formando um filme protetor, o que impediria o deslizamento da camada de difusão. O supressor mais comum é a gelatina, que é utilizada a uma concentração de 10-3 a 10-4 % (m/V). Outros supressores comuns são o vermelho de metila e o triton X-100, sempre usados em baixas concentrações para não isolarem a superfície do eletrodo devido à espessura do filme de adsorção.

Em alguns casos o máximo polarográfico tem a forma arredondada e ocorre em soluções de eletrólitos concentradas (a partir de 0,1 mol/L). Esse tipo de máximo é chamado de máximo de segunda ordem e também é evitado usando-se supressores de máximo como no caso anterior. A causa para esse máximo é atribuída a processos convectivos ocorrendo dentro da gota de mercúrio (movimentação do mercúrio dentro da própria gota) mais que na solução.

Fenômenos de adsorção também podem produzir máximos polarográficos. Nesse caso o máximo é chamado máximo de terceira ordem. Ele ocorre em razão da adsorção de substâncias que apresentam propriedades superfície-ativas. Na região do polarograma em cujo potencial a adsorção ocorrer haverá um aumento da corrente de modo semelhante aos casos anteriores.

ELETRODOS DE TRABALHO

O eletrodo de trabalho mais importante usado em voltametria ainda é o eletrodo de mercúrio. Ele pode ser usado tanto no modo gotejante quanto no modo estático. Nesse modo, a gota de mercúrio, depois de formada, permanece imóvel na ponta do capilar e o voltamograma é registrado nessa única gota. O eletrodo de mercúrio também pode ser usado na forma de filme de mercúrio. Neste caso, o filme é depositado eletroquimicamente em superfícies sólidas, como de platina e carbono vítreo. A sua atuação (do eletrodo de mercúrio) é marcadamente na região catódica, em potenciais que podem variar de +0,3 V a -2,3 V vs. o eletrodo de calomelano saturado (ECS), dependendo do meio utilizado. Esta região de potencial é onde ocorrem as reações eletródicas da maioria dos íons metálicos e de grande número de espécies orgânicas, daí a sua importância. No modo gotejante ele é um eletrodo de superfície renovável, evitando problemas, entre outros, devido aos chamados envenenamentos superficiais.

O eletrodo gotejante de mercúrio (DME) foi inventado por Heyrovsky para medidas de tensão superficial e representa, historicamente e atualmente, um instrumento de enorme importância para a eletroanalítica. A Figura 4 mostra o diagrama de um DME. O mercúrio está contido em um reservatório e é liberado através de um fino tubo capilar (diâmetro interno de -0,05 mm) na forma de gotas esféricas. Cada gota cresce até que seu peso não possa mais ser suportado pela tensão superficial. Tipicamente, o tempo de vida de uma gota é de 2 a 6 s e cada gota "madura" tem um diâmetro de 0,5 a 1,0 mm.

Para um processo de eletrólise ocorrendo durante o crescimento de uma gota de mercúrio, a corrente deve possuir uma dependência com o tempo, que reflete tanto a expansão do "eletrodo esférico" quanto os efeitos da eletrólise. Além disso, cada gota que se desprende do capilar agita a solução e praticamente anula os efeitos de depleção, tanto que cada gota pode ser considerada como "nascendo em uma solução fresca” e o tempo de vida representando um novo experimento.

Entre os eletrodos sólidos o de platina é um dos mais importantes. Ele atua na região de potencial de cerca de +1,1 V a -0,5 V vs. ECS, dependendo do eletrólito de suporte utilizado. É

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útil na região anódica, onde o eletrodo de mercúrio não atua. Outro eletrodo sólido útil na região anódica é o de ouro, que pode ser utilizado em intervalos de potencial de +1,5 a -0,8 V vs. ECS. Muito usados na região anódica são os eletrodos de carbono, principalmente o de carbono vítreo, que atua no intervalo de +1,5 V a -1,1 V vs. ECS, dependendo do meio utilizado.

Embora diversos eletrodos sólidos possam ser usados em parte da região catódica, todos têm desempenho inferior ao eletrodo de mercúrio, devido principalmente as suas propriedades envolvendo a renovação superficial e formação de amálgamas com vários metais.

Mais recentemente têm sido desenvolvidos novos tipos de eletrodos de trabalho para serem usados em voltametria, tais como os eletrodos quimicamente modificados e os ultra-microeletrodos. Embora em boa parte ainda estejam em estágio de pesquisa, apresentam um grande potencial para ampliar o campo de utilização da técnica voltamétrica.

Na Tabela 1 são apresentados os valores para a reprodutibilidade do tamanho da gota e na 2, os valores típicos das áreas de gotas de mercúrio do sistema Modelo 303 SMDE, comercializado pela empresa EG&G Pinceton Applied Research Corporation.

TABELA 1 – REPRODUTIBILIDADE DO TAMANHO DA GOTA DE MERCÚRIO COM O SISTEMA 303 SMDE DA EG&G PARC.

Modo de operação Tamanho da Gota Desvio Padrão Relativo (%)

EGM Pequeno 0,79

EGPM Pequeno 0,56

EGPM Grande 0,87

TABELA 2 – Áreas típicas da gota de mercúrio com o sistema 303 SMDE da EG&G PARC

Tamanho da GotaPeso da Gota

(mg)Área da Gota

(cm2)

Pequeno 1,2 0,096

Médio 2,5 0,0156

Grande 5,4 0,0261

O eletrodo gotejante de mercúrio possui características que permitem destacar a polarografia entre os métodos eletroanalíticos. Entre as vantagens podemos mencionar:

1) O processo de gotejamento faz com que o eletrodo seja sempre renovado, ou seja, a superfície do eletrodo não sofre modificações permanentes por reações que possam conduzir a uma deposição de materiais indesejáveis. Com qualquer outro eletrodo, a condição da superfície do eletrodo dever ser constantemente monitorada. Se o comportamento do eletrodo sofre alteração por reações ocorrendo sobre a superfície, procedimentos devem ser adotados para regenerar a superfície original.

2) O alto sobrepotencial da descarga de hidrogênio sobre mercúrio e a habilidade deste em formar amálgama com muitos íons metálicos, permite que a análise possa ser conduzida em potenciais mais negativos que qualquer outro eletrodo metálico e toma possível o estudo de reações que são termodinamicamente menos favoráveis.

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Um exemplo é a redução do íon sódio a amálgama de sódio em solução aquosa alcalina, que pode ser claramente observada em um experimento polarográfico.

A grande desvantagem do eletrodo gotejante de mercúrio é o seu limite anódico. A oxidação do mercúrio cm soluções aquosas ácidas, por exemplo, ocorre em potenciais próximos a 0,0 V vs. ECS e não permite a análise de materiais que são oxidados em potenciais mais positivos.

REMOÇÃO DO OXIGÊNIO DISSOLVIDO

Quando se trabalha na região catódica, como é o caso da polarografia, há a necessidade da remoção do oxigênio atmosférico dissolvido nas soluções. Isto porque o O2 é eletroativo e produz duas ondas polarográficas nessa região, uma com potencial de meia onda, E1/2, ao redor de -0,05 V vs. o eletrodo de calomelano saturado (ECS) e a outra com E1/2 ao redor de -1,0 V vs. ECS. A primeira onda catódica é devido às reações:

O2 + 2 H+ + 2e- .. H2O2 (meio ácido)

O2 + 2 H+ + 2e- .. 2 H2O (meio alcalino ou neutro)

Tanto a formação de água oxigenada na redução do oxigênio em meio ácido como a formação de água em meio alcalino ou neutro ocorrerão no mesmo potencial (E1/2 ˜ -0,05 V vs. ECS).

A segunda onda catódica (E1/2 -1,0 V vs. ECS) é devido às reações:

O2 + 4 H+ + 2e- H2O2 (meio ácido)

O2 + 2 H2O + 4e- 4 OH-

(meio alcalino ou neutro)

Como consequência, na região catódica quando se faz uma medida polarográfica ou voltamétrica na presença de O2 a corrente de fundo será alta, e vai mascarar a corrente produzida pela espécie eletroativa. Por isso é necessário remover o O2 dissolvido na solução antes das medidas serem feitas. Isto é feito desaerando-se a solução, pela passagem de um gás inerte, isento de O2. O gás é borbulhado na solução durante alguns minutos, remove o O2, e fica dissolvido em seu lugar. Mas como é eletroquimicamente inerte nesse intervalo de potencial (região catódica considerada acima) não produzirá nenhuma corrente polarográfica ou voltamétrica. Os gases mais usados para esse fim são: N2, Ar, Ne e He.

O Nitrogênio é o mais usado por ser mais barato e poder ser facilmente obtido com pureza alta em relação à presença do oxigênio. Quando isto não ocorre, podem ser usados frascos lavadores de gás intercalados entre o cilindro de N2 e o recipiente polarográfico, contendo redutores que removerão o O2, purificando assim o nitrogênio que será borbulhado na solução a ser polarografada.

FATORES QUE AFETAM A VELOCIDADE DE UMA REAÇAONA INTERFACE ELETRODO-SOLUÇÃO

Consideremos uma reação composta de diversas etapas, ocorrendo na interface eletrodo-solução (reação eletródica), e produzindo a oxidação de espécies dissolvidas, O, em espécies reduzidas, R, também em solução (Figura 6), ou seja, a reação global pode ser escrita como:

O + ne- R

Em geral, a corrente é governada pelas velocidades dos seguintes processos:

1) Transferência de massa do seio da solução para a superfície do eletrodo;2) Transferência de cargas na superfície do eletrodo;

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3) Reações químicas precedentes ou subsequentes à transferência de carga. Estas podem ser processos homogêneos (em solução), como protonação ou dimerização, ou heterogêneos (na superfície do eletrodo), como decomposição catalítica;

4) Outras reações superficiais, como adsorção, dessorção, ou cristalização (eletrodeposição).

Figura 6 – Etapas de uma reação eletródica geral

REAÇÃO ELETRÓDICA REVERSÍVEL OU NERNSTIANA

As reações eletródicas mais simples são aquelas cujas cinéticas de transferência de cargas e etapas químicas associadas são muito rápidas quando comparadas com os processos de transporte de massa. Em outras palavras, se um processo eletródico envolve somente etapas com cinéticas de transferência de cargas rápidas e reações homogêneas reversíveis, podemos estabelecer que:

a) as reações homogêneas estão cm equilíbriob) as concentrações superficiais das espécies envolvidas na reação O + ne- R estão

relacionadas ao potencial do eletrodo E por uma equação da forma de Nernst, ou seja:

,

onde Eo é o potencial padrão, x a distância da superfície do eletrodo, Co(x = O) e CR(x = O) as concentrações das espécies O e R na superfície do eletrodo, e os demais termos com seus significados usuais. Estas reações eletródicas são freqüentemente chamadas de reações reversíveis ou reações nernstianas.

Assim, a velocidade "líquida", v, de uma reação nernstiana é totalmente governada pela velocidade com que as espécies eletroativas são trazidas para a superfície do eletrodo por transporte de massa, vtm. Temos ainda que:

Podemos notar que o valor de I denominado de constante da corrente de difusão, depende somente de n e Do, que são constantes características das espécies eletroativas e da solução. Esta constante I pode ser entendida da mesma forma como a absortividade molar, , é

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uma constante do sistema para medidas óticas. O produto (m2/3 t1/6), chamado de constante do capilar, descreve a influência das características do eletrodo gotejante sobre a corrente de difusão; ambos m e t são fáceis de serem avaliados experimentalmente. Portanto, conhecendo-se I, podemos avaliar Co* simplesmente pelas medidas de id.

TRANSPORTE DE MASSA EM CÉLULAS ELETROQUÍMICAS

O transporte de massa, isto é, o movimento de espécies de um local na solução para outro, surge das diferenças no potencial elétrico ou químico nos dois locais, ou do movimento de um elemento de volume na solução. Os modos de transporte de massa são:

1. Migração: movimento de um corpo carregado sob a influência de um campo elétrico (um gradiente de potencial elétrico);

2. Difusão: movimento de espécies sob a influência de um gradiente de potencial químico, ou seja, um. gradiente de concentração;

3. Convecção: transporte hidrodinâmico ou por agitação. Geralmente, o fluxo de um fluido ocorre por convecção natural (convecção causada por gradientes de densidade) e convecção forçada, e pode ser caracterizado por regiões estagnantes, fluxo laminar e fluxo turbulento.

O transporte de massa para um eletrodo é governado pela equação de Nernst-PIanck, a qual para transporte unidimensional ao longo do eixo x pode ser escrita como

,

onde:

Jj(x) é o fluxo de espécies i (mol s-1 cm-2 ) a uma distância x da superfície;Di o coeficiente de difusão (cm2 s-1);

o gradiente de concentração a uma distância x;

o gradiente de potencial;

zi e Ci a carga e a concentração das espécies i, respectivamente;Vi(x) a velocidade (em s-1) com a qual um elemento de volume na solução se move ao longo do eixo x.

Nesta equação, os três termos do lado direito representam as contribuições da migração, difusão e convecção, respectivamente, ao fluxo.

TRATAMENTO SEMI-EMPÍRICO PARA UMA REAÇÃO ELETRÓDICASOB CONTROLE DIFUSIONAL

Transporte de massa por migração não apresenta utilidade em experimentos eletroquímicos. Na presença de um excesso de eletrólito de suporte na solução, a migração das espécies eletroativas é minimizada a uma extensão tal que pode ser desprezada. Por outro lado, desde que um gradiente de concentração sempre se desenvolve tão logo uma reação eletródica seja iniciada, transporte de massa por difusão desempenha um papel fundamental em qualquer experimento eletroquímico.

Assim sendo, consideremos um eletrodo planar, de área A, imerso em uma solução inicialmente contendo somente espécies O que são reduzidas de acordo com a reação:

O + ne- R

já aqui demonstrada.

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A solução contém um excesso de eletrólito de suporte e a célula eletroquímica está livre de distúrbios mecânico e térmico, ou seja, migração e convecção estão ausentes. Além disso, as dimensões da célula são grandes quando comparadas com as do eletrodo. Sob tais condições, é possível supor que o transporte de massa ocorre pelo processo denominado de difusão linear semi-infinita.

VOLTAMETRIA (POLAROGRAFIA) CLÁSSICA

Os princípios discutidos até aqui constituem a atualmente chamada voltametria/polarografia clássica ou de corrente contínua. Do ponto de vista analítico esta técnica é muito limitada para os dias atuais, pois não consegue determinar espécies com concentrações abaixo de 10-4 a 10-5 mol L-1. A atual análise de traços exige determinação de

concentrações da ordem de até 10-12 mol L-1, ou mesmo menor.

Uma das principais limitações da polarografia/voltametria clássica em relação à sensibilidade é a chamada corrente capacitiva, que é uma das principais componentes da corrente de fundo, que constitui a corrente residual mostrada nos polarogramas da Figuras 2 e 7.

FIGURA 7: Variação da corrente em função do tempo em voltametria/polarografia. O valor da corrente faradáica (Id) diminui mais lentamente que o da corrente capacitiva(Ic), permitindo uma medida discriminatória entre elas.

Essa corrente surge devido a fenômenos relacionados à dupla camada elétrica. Quando um potencial é aplicado a um microeletrodo ele adquire uma carga tipo condensador, devido ao carregamento e descarregamento da dupla camada elétrica. Como em voltametria usa-se varredura de potencial, a cada etapa de potencial aplicado o eletrodo apresentará esse carregamento e descarregamento da dupla camada, desenvolvendo uma corrente, que, por esta razão, é chamada de corrente capacitiva ou de condensador.

A outra componente da corrente de fundo ou residual é uma corrente do tipo faradáica, que ocorre devido a impurezas presentes no eletrólito de suporte, em outros reagentes utilizados e ao oxigênio dissolvido. Essa corrente pode ser reduzida ou mesmo eliminada usando-se reagentes mais puros e removendo-se o oxigênio pela passagem de um gás inerte.

Assim, ficou claro que a principal componente da corrente de fundo que limita a sensibilidade é a corrente capacitiva. Então a pesquisa científica direcionou-se na busca de procurar reduzir essa corrente para que a sensibilidade da técnica pudesse ser melhorada. Portanto, a razão para o baixo limite de detecção da polarografia clássica é porque a corrente faradáica, isto é, a corrente devido à reação no eletrodo da substância a ser determinada, fica da mesma ordem ou menor do que a corrente capacitiva quando a sua concentração atinge valores da ordem de 10-4 a 10-5 mol L-1, não sendo mais possível distingui-la da corrente de fundo. Desse

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modo, conseguindo-se discriminar essas correntes, a sensibilidade da técnica pode ser melhorada.

Em um experimento de polarografia, o analisador polarográfico, varre o intervalo de potencial no qual a redução (ou oxidação) da espécie eletroativa de interesse ocorre. O método mais simples de se aplicar uma varredura de potencial é na forma de uma "rampa" linear, como a ilustrada na Figura 8. Esta é a programação de potencial utilizada na polarografia DC ("Direct Current Polarography").

FIGURA 8 – Programação de potencial para a polarografia DC.

Um primeiro resultado positivo foi obtido na própria polarografia/voltametria de corrente contínua, ou, como também é chamada, polarografia/voltametria DC (do inglês Direct Current), ou ainda, polarografia/voltametria clássica. Este resultado foi obtido fazendo-se a medida da corrente perto do final do tempo de vida da gota de mercúrio. Como foi verificado que a corrente capacitiva cai mais rapidamente do que a faradáica em função do tempo, fazendo-se a medida nos últimos milisegundos da duração da gota, a corrente faradáica será discriminada da capacitiva. Esta forma de medir a corrente constitui a polarografia DC ou, como é chamada na Europa, polarografia DC tast (de tasten, do alemão, que quer dizer toque).

Para medir-se a corrente é necessário sincronizar-se a os dispositivos envolvidos na célula com os envolvidos no potenciostato. Assim, escolhe-se um tempo pré-determinado para a duração da gota de mercúrio, digamos, 1 segundo. A válvula solenóide, comandada a partir do circuito eletrônico do polarógrafo, se abrirá e a gota se formará no capilar, atingindo um tamanho também pré-estabelecido, fechando-se então a válvula. A gota permanecerá estática durante 1 s e nos últimos 15 a 20 ms de duração a corrente será amostrada, e ao final do tempo escolhido, o "martelo" golpeará o capilar derrubando a gota, formando-se em seguida da mesma maneira uma nova gota de mercúrio, repetindo-se o ciclo de medida, sucessivamente até ao final da varredura de potencial escolhida.

A DC amostrada será registrada em função do potencial aplicado e produzirá um polarograma como o mostrado na Figura 6b. Não há aqui os "dentes de serra" apresentados nos polarogramas da Figura 2 e da Figura 9a, mas uma linha registrada em "saltos" ou "degraus". Entretanto, a forma desse novo polarograma é a mesma dos polarogramas das Figuras 2 e 9b, ou seja, em forma de onda. Os saltos ou degraus verificados para o registro da corrente (em um registrador analógico) se deve à conveniência de utilizar-se a rampa de potencial aplicado em etapas, ou seja, sincronizando-se a velocidade de varredura com o tempo de duração da gota. Por exemplo, usando-se uma velocidade de varredura de 10 mV/s e um tempo de gota de 1 s, avança-se o potencial de 10 mV a cada segundo, realizando-se as medidas a cada etapa. Entretanto, as melhorias obtidas não trouxeram de fato benefícios significativos à técnica voltamétrica, em termos de sensibilidade.

Rigorosamente falando, consegue-se apenas trabalhar-se com conforto em concentrações da ordem de 10-4 a 10-5 mol L-1 e melhorar um pouco a resolução, ou seja, a diferença de potenciais de meia onda entre duas substâncias adjacentes pode ser um pouco

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E

E2

E1

v = 2 – 5 mV/s

0 t

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menor que na polarografia DC clássica para que possam ser determinadas simultaneamente, uma vez que os polarogramas ficam mais bem definidos sem "os dentes de serra" da DC clássica.

FIGURA 9: Comparação de um polarograma obtido com as técnicas (a) DC e (b) DC amostrada

A VOLTAMETRIA (POLAROGRAFIA) DE PULSO NORMAL

Na década de 50, a polarografia de varredura linear deixou de ser uma técnica analítica importante devido ao desenvolvimento de métodos espectroscópicos com melhores limites de detecção, mais rápidos e mais convenientes.

Além disso, na polarografia de corrente amostrada, a corrente é medida somente em um período de tempo muito pequeno durante a vida da gota, e toda a corrente faradáica que flui antes do período de amostragem não é utilizada na medição, pelo contrário, reduz o fluxo de espécies eletroativas para a superfície do eletrodo no tempo da medida real. Estas limitações foram largamente superadas a partir da metade dos anos 60, com a introdução das técnicas polarográficas de pulso e a comercialização de eletrodos gotejantes de mercúrio estático.

O eletrodo gotejante de mercúrio é inicialmente mantido em um potencial de base Eb, durante um período de tempo de vida da gota. Neste potencial, a reação em estudo não se processa, ou seja, corrente faradáica não flui no sistema. Quando restarem apenas cerca de 60 milisegundos (ms) do tempo de vida da gota, ou seja, num tempo ’, o potencial é

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instantaneamente mudado para um novo valor E. Durante os últimos 17 ms deste pulso, ou seja, a partir de um tempo , a corrente é medida e registrada em função do potencial, e a aplicação do pulso de potencial termina com o retorno do potencial ao valor inicial Eb. Para cada nova gota de mercúrio, o potencial E é maior que o da gota anterior. A Figura 10 mostra os polarogramas obtidos, de pulso normal e de corrente amostrada, para uma solução 10 -5 mol/L Cd2+ em 0,01 mol/L HCl, e comprova as maiores magnitudes das correntes faradáicas com o método de pulso. Note que as escalas de corrente são diferentes.

Figura 10 – Polarograma de uma solução solução 10-5 mol/L Cd2+ em 0,01 mol/L HCl. (a) polarografia de pulso normal e (b) polarografia de corrente amostrada.

A VOLTAMETRIA (POLAROGRAFIA) DE PULSO DIFERENCIAL

Uma melhoria instrumental considerável na discriminação da corrente faradáica da capacitiva viria a ser conquistada com o desenvolvimento das técnicas de pulso, principalmente a de pulso diferencial. Neste caso a instrumentação foi desenvolvida de tal modo que as medidas de corrente e aplicações de potencial e pulsos de potencial sejam realizados em intervalos de tempo muito pequenos.

Na polarografia de pulso diferencial a programação de potencial é feita aplicando-se um pulso de potencial superposto em uma rampa de potencial linearmente crescente em instrumentos analógicos (uma rampa DC) e cada etapa de aplicação do pulso é definida pela varredura de potencial e pelo tempo de gota utilizados. O pulso aplicado é de pequena amplitude

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(10 a 100 mV) e é imposto durante 50 a 60 ms perto do final da vida da gota, quando o crescimento da gota de mercúrio já cessou Figura 11a.

A corrente é amostrada em dois intervalos de tempo de cerca de 15 ms cada um; o primeiro intervalo imediatamente antes da aplicação do pulso (S1) e o segundo próximo do final do tempo de vida da gota (S2). O valor final da corrente é a diferença entre esses dois valores medidos.

FIGURA 11: Representação esquemática da aplicação do potencial em função do tempo em polarografia de pulso diferencial: (a) em instrumentos analógicos; (b) em instrumentos digitais. A corrente é mostrada em S1 e S2 e a diferença entre elas é que é registrada:

I = Isa – Is1.

Dessa maneira, a corrente capacitiva é compensada, pois os seus valores nos dois pontos onde a corrente é amostrada são muito próximos. Os valores das duas correntes estão separados de dois valores de potenciais por cerca de 50 a 100 mV (que na verdade é o valor da amplitude do pulso superposto).

Na Figura 10b mostra-se a programação de potencial referente a uma instrumentação digital, onde os pulsos de potencial são superpostos em uma rampa de potencial em forma de degraus diferentemente de uma rampa de potencial linearmente crescente, como no caso de instrumentação analógica, mas a amostragem de corrente segue o mesmo esquema da instrumentação analógica.

A diferença de correntes amostradas em (S1) e em (S2) será maior ao redor do potencial de meia onda, onde uma pequena variação de potencial produzirá uma grande variação de corrente. A diferença dessas correntes aumentará até atingir um valor máximo próximo do valor de potencial correspondente ao potencial de meia onda(E1/2) da polarografia clássica. Após este ponto a diferença dos valores de corrente diminuirá, voltando ao valor da corrente de fundo e o polarograma terá uma forma de pico conforme pode ser visto na Figura 11.

Na Figura 12a, os picos de pulso diferencial registrados são de aparelhagem analógica e o pico da Figura 9b é de digital. Na Figura 9b, o potencial correspondente ao ponto máximo do pico é o potencial de pico, Ep, e serve para identificar a espécie eletroativa, como no caso do E1/2

da polarografia DC. O valor da corrente correspondente ao Ep é a corrente de pico, Ip, que é proporcional à concentração da espécie eletroativa, permitindo a sua determinação quantitativa. Para medir a altura do pico e determinar Ip traça-se uma reta tangenciando a base do pico (Figura 12b).

A seguir mede-se a altura a partir do ponto máximo do pico até a reta tangente à base, perpendicularmente ao eixo x e paralelamente ao eixo y. Essa altura, medida em unidades de corrente é Ip, conforme está mostrado na Figura 12b.

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FIGURA 12: Polarogramas de pulso diferencial. (a): comparação entre polarogramas DC e de pulso diferencial para espécies a uma mesma concentração. As concentrações usadas estão próximas ao limite de detecção para a polarografia DC. (b): Polarogramas de pulso diferencial registrado em aparelho digital.

Em razão da corrente capacitiva ser compensada ao registrar-se as diferenças de corrente, a sensibilidade da técnica de pulso diferencial (dp) ultrapassa significativamente à da polarografia clássica ou DC, atingindo-se limites de detecção da ordem de 10 -7 a 10-8 mol/L. No polarograma da Figura 11a, as duas técnicas podem ser visualizadas em termos da sensibilidade. As duas espécies eletroativas apresentam polarogramas DC a concentrações próximas ao limite de detecção e a técnica de pulso diferencial mostra os polarogramas nessas mesmas condições. Pode ser claramente visto na figura, as vantagens da polarografia de pulso diferencial frente à DC, quanto à sensibilidade.

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A resolução da técnica também é melhorada. Na polarografia DC para determinar-se duas substâncias eletroativas simultaneamente elas precisam apresentar uma diferença de potenciais de meia onda de pelo menos 200 mV. Já na polarografia de pulso diferencial uma diferença entre os potenciais de pico (Ep) de apenas 50 a 100 mV poderá ser suficiente para a determinação simultânea.

A ESCOLHA DE PARÂMETROS NA POLAROGRAFIA DE PULSO DIFERENCIAL

Antes de realizar-se uma análise a escolha de determinados parâmetros precisa ser feita. Um deles, na técnica de pulso diferencial, é o valor da amplitude do pulso a ser usado. Geralmente escolhe-se um valor entre 10 e 100 mV. Valores típicos são de 25 mV para sistemas com um elétron e 50 mV para sistemas com dois elétrons. A amplitude de pulso afeta a corrente de pico, conforme pode ser visto na equação desenvolvida por Parry e Osteryoung, para um processo termodinamicamente totalmente reversível e controlado por difusão:

onde Ip é a corrente de pico, .E é a amplitude de pulso, A é a área do eletrodo, C é a concentração da espécie eletroativa, F o faraday, D o coeficiente de difusão, n o número de elétrons, ð é o número pi, 3,1416..., t, o tempo de duração do pulso, R a constante dos gases e T a temperatura absoluta.

Desta equação pode ser claramente visto que Ip é proporcional à concentração da espécie eletroativa e também à amplitude do pulso. Aumentando-se a amplitude do pulso aumenta-se o valor da corrente, sendo então maior a sensibilidade. Entretanto, um aumento da amplitude provoca um aumento na largura do pico, reduzindo a resolução. Dois picos adjacentes não podem ser resolvidos ao menos que a amplitude do pulso seja bem menor do que a separação entre os dois potenciais de pico.

A escolha da amplitude deve ser um compromisso entre o aumento da sensibilidade e a perda de resolução. Daí usar-se, de um modo geral os valores típicos mencionados de 25 mV para sistemas com um elétron e 50 mV para sistemas com dois elétrons, como já mencionado anteriormente. Para cada valor de amplitude de pulso será registrado um polarograma. O que apresentar um pico melhor definido e com maior valor de Ip, indicará a amplitude a ser escolhida. Quando a determinação de mais de uma espécie estiver envolvida, será considerada a amplitude que fornecer um compromisso entre a maior corrente de pico obtida (que permite maior sensibilidade) e a melhor separação entre eles (o que permite uma resolução maior).

Outro parâmetro importante a ser escolhido é a velocidade de varredura. No caso do pulso diferencial o valor máximo que pode ser usado é de 10 mV s-1. O valor típico é de 5 mV s -1. Se forem usadas velocidades de varreduras maiores que 10 mV s-1 as etapas de potencial serão muito longas e elas até mesmo poderão "pular" o pico, dependendo dessa velocidade. Nesses casos, haveria, portanto uma perda de resolução, de modo que ou não haverá registros de corrente em pontos importantes dos picos voltamétricos/polarográficos (o que afetará as suas formas e definições) ou, até mesmo, esses picos poderão não ser registrados.

Os picos polarográficos nesta técnica fornecem uma informação qualitativa, que é o valor do potencial de pico, Ep, e uma informação quantitativa, que é a corrente de pico, Ip. Para construir-se uma curva de calibração normalmente colocam-se os valores das correntes de pico contra as concentrações da espécie eletroativa correspondentes a eles. Mas pode-se também usar a área sob o pico versus a concentração. Este caso dá melhores resultados quando ocorrem fenômenos de adsorção, por exemplo, alterando a forma do pico de uma medida para outra. A altura muda, mas a área permanece constante. Não há uma regra definida para a escolha, de modo que ambas podem ser testadas para verificar-se qual delas é a mais adequada, embora no caso de picos com certa sobreposição a medida da corrente de pico (Ip) dê melhores resultados (Figura 13).

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FIGURA 13: Polarogramas de pulso diferencial com sobreposição. As linhas tracejadas indicam a maneira correta de “completar” o polarograma para ler as correntes de pico em termos de altura máxima.

A relação entre a corrente de pico (altura ou área) e a concentração da espécie eletroativa é obtida pelo uso da equação de Parry e Osteryoung (equação14) simplificada de maneira análoga à equação de Ilkovic. Mantendo-se todos os parâmetros constantes da equação (14), ela se torna:

onde: Ip= corrente de pico. K = constante englobando todos os termos da equação (14) mantidos constante durante as medidas (exceto C, naturalmente). C = concentração da espécie eletroativa.

VOLTAMETRIA DE ONDA QUADRADA

A polarografia/voltametria de pulso diferencial ainda é a técnica mais usada presentemente para fins analíticos, devido às vantagens apresentadas em relação à detectabilidade e à resolução frente as técnicas de corrente contínua. Mas, ao lado dela, uma técnica muito conveniente do ponto de vista analítico que tem sido incorporada em diversos instrumentos comerciais é a voltametria de onda quadrada de varredura rápida. Ainda que a voltametria de onda quadrada tenha surgido em 1957 devido aos estudos de Baker, a utilização da técnica era limitada pela tecnologia eletrônica.

Com os progressos da tecnologia analógica e digital, ela passou a ser incorporada nos polarógrafo a partir dos anos 80, principalmente, na sua forma de varredura rápida. Nessa forma ela é também chamada de voltametria de onda quadrada de Osteryoung, atribuída ao nome do pesquisador americano que a desenvolveu.

A técnica pode ser usada para realizar-se experimentos de um modo bem mais rápido do que com a técnica de pulso diferencial, com sensibilidade semelhante ou um pouco melhor, pois aqui também ocorrem compensações da corrente capacitiva. Um experimento típico que requer cerca de três minutos para ser feito pela polarografia de pulso diferencial pode ser feito em segundos pela voltametria de onda quadrada.

A programação de potencial usada na voltametria de onda quadrada pode ser vista na Figura 14. Uma onda quadrada simétrica (Figura 14b) é superposta sobre uma rampa de potencial em forma de degraus (Figura 14a) de tal forma que o pulso direto da onda quadrada coincida com o início do degrau da rampa (Figura 14c). O pulso reverso da onda quadrada por sua vez coincide com a metade da etapa da rampa em degraus.

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Os parâmetros tempo e potencial aplicado são mostrados na Figura 15, onde ô é o tempo de um ciclo de onda quadrada e também de um ciclo da rampa em degraus. A freqüência da onda quadrada em Hz é 1/ô. Es é a amplitude do pulso de onda quadrada em mV, onde 2xEsw é a amplitude pico a pico (amplitude do pico direto ao reverso).

FIGURA 14: Seqüencial potencial vs. Tempo (E vs. T) usada em voltametria de onda quadrada.

FIGURA 15: Parâmetros tempo e potencial aplicado em voltametria de onda quadrada, onde: = tempo de um ciclo de onda quadrada; 1/ = freqüência da onda quadrada em Hz; Ew =amplitude de pulso da onda quadrada em mV; E = potencial em mV da

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etapa de rampa de potencial e 2Esw = amplitude de pico a pico da onda quadrada em mV. Eetapa é o potencial da etapa da rampa de potencial em degraus. A velocidade de varredura v para um experimento de voltametria de onda quadrada pode ser calculada pela equação:

Por exemplo, se for usado um potencial de etapa (Eetapa ) de 2 mV e ô de 0,01 s (correspondente à freqüência de 100 Hz) a velocidade de varredura será de 200 mV/s, que é consideravelmente maior que a de 1 até 10 mV/s da técnica de pulso diferencial.

A medida de corrente na voltametria de onda quadrada é feita amostrando-se a mesma duas vezes durante cada ciclo da onda quadrada, uma vez no final do pulso direto e a outra no final do pulso reverso. A técnica discrimina a corrente capacitiva em razão de sua diminuição mais rápida do que a corrente faradaíca, e fazendo-se a amostragem da corrente perto do final da duração do pulso, como no caso da técnica de pulso diferencial. A diferença da corrente entre a duas amostragens é registrada em função do potencial da rampa em degraus. De modo semelhante à técnica de pulso diferencial, a voltametria de onda quadrada produz picos para processos faradaícos, cuja altura é proporcional à concentração da espécie eletroativa.

Devido às rápidas velocidades de varredura usadas na onda quadrada, um voltamograma inteiro é registrado em uma única gota de mercúrio. Os primeiros experimentos em onda quadrada eram limitados pelo eletrodo gotejante de mercúrio (EGM). Neste eletrodo o mercúrio flui constantemente mudando a sua área superficial na medida em que a gota é formada. A mudança da área superficial produz inclinações na linha de base da rampa de potencial e torna a interpretação dos dados experimentais mais complexas. Na voltametria de onda quadrada moderna usa-se o eletrodo de mercúrio no modo estático (EMGE, eletrodo de mercúrio de gota estática ou, do inglês, static mercury droping electrode, SMDE). Neste eletrodo a gota é formada rapidamente de tal modo que ela permanece de tamanho constante durante todo o tempo despendido para a medida experimental, não apresentando os problemas de área superficial que ocorrem com o eletrodo gotejante de mercúrio.

Quanto às freqüências usadas em voltametria de onda quadrada, elas encontram-se tipicamente na região de 1 a 120 Hz. Dentro desta faixa de freqüências, as medidas podem ser feitas com velocidades cem vezes maiores ou mais que nas técnicas de pulso.

VOLTAMETRIA DE REDISSOLUÇÃO

O desenvolvimento das técnicas polarográficas/voltamétricas de pulso diferencial e onda quadrada permitiram chegar a determinações analíticas da ordem de 10-7 a 10-8 mol/L. entretanto, na moderna análise de traços é necessário chegar-se a limites abaixo de 10 -8 mol/L, o que não se consegue apenas utilizando-se medidas polarográficas/voltamétricas usuais. essas medidas, também chamadas de medidas voltamétricas/polarográficas diretas, são afetadas pela chamada corrente de fundo, que é a corrente residual já discutida quando tratou-se da polarografia dc. essa corrente, também comentada anteriormente ao tratar-se do desenvolvimento das técnicas de pulso e de onda quadrada, apresenta os dois componentes, o faradaíco e o capacitivo. O faradaíco, devido a impurezas e oxigênio dissolvido pode ser minimizado pelo uso de reagentes puros e desaerando-se a solução. O capacitivo é minimizado pela forma de amostragem da corrente. A questão aqui é que essa amostragem de fato não zera a corrente capacitiva, apenas a minimiza. Assim, quando a concentração atinge valores da ordem de 10-8 mol/L cai-se em um problema semelhante aquele que havia na polarografia clássica: a corrente faradáica torna-se muito baixa e fica encoberta pela corrente de fundo, chegando-se ao limite da técnica.

Uma possibilidade para resolver esse problema é a utilização de processos de pré-concentração da substância a ser determinada, de maneira que a corrente faradaíca possa aumentar, suplantando a de fundo, e chegar-se a limites de detecção inferiores a 10 -7 - 10-8

mol/L. Na análise voltamétrica a pré-concentração apresenta a vantagem de poder ser feita no

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próprio eletrodo de trabalho, sendo, sob este aspecto, bastante fácil e conveniente a sua utilização.

VOLTAMETRIA DE REDISSOLUÇÃO ANÓDICA

Uma das técnicas que se utiliza de processos de pré-concentração é a voltametria de redissolução anódica( VRA) (do inglês, Anodic Stripping Voltammetry, ASV), muito utilizada na determinação de metais pesados, uma vez que vários deles podem ser depositados no eletrodo de mercúrio através de eletrólise de soluções de seus íons.

Nesta técnica a etapa de pré-concentração consiste de uma eletrodeposição a potencial constante e controlado da espécie eletroativa sobre um eletrodo estacionário. Esta etapa é seguida por uma etapa de repouso e uma de determinação, sendo que esta última consiste na redissolução de volta à solução da espécie anteriormente eletrodepositada.

Como exemplo pode ser citado a determinação de íons cobre. Inicialmente ajusta-se o potencial do eletrodo a um valor suficientemente negativo para reduzir os íons cobre a cobre metálico, o qual é eletrodepositado sobre o eletrodo.

A eletrólise é feita por um tempo suficiente e sob agitação constante para concentrar o cobre na superfície do eletrodo a partir de um volume relativamente grande da solução sobre um volume muito menor do eletrodo, devido à pequena superfície necessária ao eletrodo de trabalho (que é na verdade um microeletrodo). A seguir, deixa-se a solução em repouso por alguns segundos para o sistema entrar em equilíbrio.

Na etapa seguinte procede-se à varredura de potencial para valores mais positivos (anódicos), e o cobre é redissolvido retornando à solução, devido à sua reoxidação.

Ao ocorrer a reoxidação do cobre a corrente variará, e como no caso da redução, haverá a formação de um pico com o valor de Ep anódico praticamente igual ao do Ep catódico para um sistema reversível.

A corrente de pico obtida (Ip) é proporcional à concentração do cobre, sendo um sinal analítico correspondente a uma concentração que estaria abaixo do limite de detecção na medida voltamétrica/polarográfica direta.

A pré-concentração faz com que a concentração, na gota de mercúrio, devido ao seu volume minúsculo, seja muito maior que na solução, obtendo-se assim um sinal analítico bem maior relativamente à concentração presente na solução, explicando-se o aumento da sensibilidade da técnica.

As três etapas envolvidas na voltametria de redissolução anódica serão discutidas a seguir e estão esquematicamente representadas na Figura 15.

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FIGURA 15: Na Figura 15a: etapas envolvidas na voltametria de redissolução anódica. (a) programação E vs t mostrando os tempos de deposição (Td); e potenciais de deposição Ed, para Cd2+ e Cu2+. (b) Tempo de repouso (T1). (c) etapa de redissolução. Na Figura 15b; voltamogramas hipotéticos obtidos na etapa da redissolução para Cd2+ e Cu2+.

ETAPA DE DEPOSIÇÃO

Esta etapa principia por escolher o eletrodo de trabalho mais adequado. Os mais usados são os eletrodos de mercúrio de gota pendente, de mercúrio de gota estática, de filme de mercúrio e de carbono vítreo. Praticamente não há diferença entre os eletrodos de mercúrio de gota pendente e de gota estática, apenas na maneira de amostrar a corrente, nas células modernas. Os eletrodos de mercúrio são mais vantajosos na determinação de metais pesados pois muito deles formam amálgamas, produzindo sinais mais reprodutíveis do que os depósitos metálicos formados na superfície de eletrodos sólidos. Os eletrodos estacionários de gota de mercúrio são usados para concentrações acima de 1 ng/mL e os de filme de mercúrio para concentrações abaixo de 1 ng/mL (“ppb”).

O eletrodo de filme de mercúrio é mais sensível que o de gota, pois ele tem um volume bem menor. Mas para concentrações acima de 1 ng/mL ele pode formar compostos intermetálicos, o que produz interferências nas determinações.

Uma vez escolhido o eletrodo, a deposição é feita eletroliticamente aplicando-se o potencial de deposição (Ed) (Figura 13a) durante um determinado tempo e com agitação da solução. O tempo de deposição (td) é escolhido em função da espécie eletroativa, ficando geralmente entre 30 s e 3 min. Tempos muito longos devem ser evitados, pois podem produzir sinais fora da região de proporcionalidade entre a corrente e a concentração. A agitação faz com que o transporte de massa por convecção mantenha a concentração da espécie eletroativa junto à superfície do eletrodo igual à do resto da solução, permitindo um depósito maior do metal em um dado tempo de deposição do que se o processo de transporte de massa fosse difusional. Essa agitação deve ser feita à velocidade constante e controlada com precisão.

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Nesta etapa, ocorrerá então a redução do metal e conseqüentemente a sua deposição sobre a superfície do eletrodo. Para o caso de eletrodos de mercúrio:

para o caso de eletrodos sólidos:

ETAPA DE REPOUSO OU TEMPO DE EQUILÍBRIO

Após completar-se a deposição do metal, a agitação cessa e durante alguns segundos deixa-se a solução em repouso, para que a concentração do metal depositado homogeinize-se, entrando em equilíbrio na superfície do eletrodo. No eletrodo de gota de mercúrio esse equilíbrio é atingido após a concentração do metal uniformizar-se pela sua difusão na gota. Isto requer cerca de 15 a 20 segundos. Para o eletrodo de filme de mercúrio este tempo é de cerca de 5 segundos , devido ao volume bem menor do filme em relação à gota. O tempo correspondente a esta etapa é chamado de tempo de repouso (tr) (Figura 13 a).

ETAPA DE REDISSOLUÇÃO

esta etapa faz-se a varredura de potencial na direção anódica onde o voltamograma será registrado, obtendo-se o sinal analítico de acordo com a técnica voltamétrica escolhida (pulso diferencial ou onda quadrada, por exemplo). O metal ou metais depositados se redissolverão quando os seus potenciais de pico forem atingidos (Figura 13b):

As técnicas voltamétricas mais comuns escolhidas nesta etapa são a de corrente contínua (DC), chamada aqui de voltametria de varredura linear (LSV, do inglês, “Linear Stripping Voltammetry”), a voltametria de pulso diferencial e a voltametria de onda quadrada. A voltametria de varredura linear é mais rápida do que a de pulso diferencial (pode-se usar varreduras de até 1 V/s), mas não discrimina a corrente capacitiva, não sendo adequada para concentrações abaixo de 20 – 30 ng/mL. Abaixo de 20 ng/mL pode-se usar o pulso diferencial, que é uma técnica mais sensível por discriminar a corrente capacitiva. Se a voltametria de onda quadrada de varredura rápida for disponível, ela pode ser usada pois reúne as vantagens do pulso diferencial e da LSV, resultando em varreduras rápidas com alta sensibilidade.

A ASV apesar de ser uma técnica muito sensível e conveniente para a análise de traços, ela é praticamente restrita a metais que apresentam solubilidade no mercúrio, sendo aplicável à cerca de 30 elementos. Ela pode também ser aplicada a alguns compostos iônicos e a algumas substâncias orgânicas, que formam compostos pouco solúveis com o mercúrio e ficam depositados junto à superfície do eletrodo. Nestes últimos dois casos a voltametria de redissolução é normalmente usada com varreduras catódicas, ou seja, no modo de voltametria de redissolução catódica (CSV, do inglês, “Cathodic Stripping Voltammetry”), uma vez que as espécies acumuladas no eletrodo sofrerão redução.

Quanto aos metais, somente alguns poucos podem ser determinados pela voltametria de redissolução catódica, tais como Mn e Pb. Eles são determinados na forma de seus óxidos depositados na superfície de eletrodos sólidos, como de carbono ou platina.

VOLTAMETRIA ADSORTIVA POR REDISSOLUÇÃO

As limitações apresentadas pela ASV e CSV podem ser removidas através da técnica voltamétrica chamada de voltametria adsortiva por redissolução. Esta técnica foi desenvolvida

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mais recentemente, tendo-se em vista justamente superar os limites impostos pela ASV e CSV e ampliar o uso da voltametria em análise de traços.

Na voltametria adsortiva, a pré-concentração é feita pela adsorção da espécie eletroativa na superfície do eletrodo. No caso de metais isto é feito através de seus íons complexos. Adiciona-se então à solução contendo o íon metálico um complexante adequado e o complexo formado (metal-ligante) é que será acumulado junto à superfície do eletrodo. Dessa maneira a pré-concentração não depende da solubilidade do metal no mercúrio, como no caso da voltametria de redissolução convencional, e metais pouco solúveis (no mercúrio) poderão ser determinados.

Devido a essas características, a técnica também é aplicável a um número ilimitado de substâncias orgânicas, bastando que elas apenas tenham propriedades superfície-ativa, para poderem ser adsorvidas na superfície do eletrodo de trabalho, e que sejam, evidentemente, eletroativas.

Quanto a detectabilidade, o limite de detecção pode chegar a valores ao redor de 100 vezes menor dos que os observados na voltametria de redissolução anódica. Podem ser usados eletrodos de mercúrio, onde obtém-se limites de detecção de até 10-11 - 10-12 mol/L, ou eletrodos sólidos, principalmente na região anódica, com limites de deteção da ordem de 10-8 a 10-10 mol/L.

As propriedades adsortivas podem ser verificadas por voltametria cíclica, de pulso diferencial, cronocoulometria, etc. As espécies a serem adsorvidas necessitam possuir um coeficiente de adsorção maior que 10-4 cm.

O esquema de pré-concentração utilizado na voltametria adsortiva por redissolução (AdSV, do inglês, “Adsorptive Stripping Voltammetry”) é análogo ao da voltametria de redissolução convencional (ASV).

ETAPA DE PRÉ-CONCENTRAÇÃO

Os parâmetros usados nesta etapa são basicamente os mesmos já discutidos para a ASV, sendo apenas diferentes os processos de acumulação e de redissolução.

Na Figura 16 está representado esquematicamente o procedimento usado na voltametria adsortiva por redissolução, para a determinação de um metal M na presença do ligante L, formando o complexo a ser adsorvido MLn. Pode-se usar um potencial análogo ao potencial de deposição da ASV, o potencial de acumulação (Eac), para obter-se uma pré-concentração mais seletiva, embora isso não seja necessário em muitos casos. Aqui também existirá um tempo de acumulação (tac), análogo ao td da ASV, que também é cronometrado, durante o qual a espécie de interesse será adsorvida sobre a superfície do eletrodo. As reações envolvidas nesta etapa são:

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FIGURA 16: Representação esquemática do procedimento usado na voltametria adsortiva por redissolução mostrando as etapas apara a acumulação e redissolução na determinação de um metal Ma+ em presença de um ligante L.

ETAPA DE REDISSOLUÇÃO

Como nesta técnica o processo envolvido na interface eletrodo-solução é a adsorção, não há a necessidade de um tempo de repouso ou de equilíbrio, como no caso da ASV, onde ocorre eletrodeposição de metais, e difusão dos mesmos no mercúrio. Assim, após terminar a pré-concentração, pode-se proceder a redissolução, fazendo-se a varredura usualmente na direção catódica, usando-se a técnica voltamétrica adequada. Aqui também obter-se-á um pico, como no caso da ASV, e a reação eletródica pode ser representada por:

ou seja, como o metal foi adsorvido, ele será reduzido a partir do ponto onde o potencial atingir o valor do potencial de decomposição, e o valor de potencial de pico Ep também é correspondente ao E1/2 da onda polarográfica. Assim, a varredura de potencial aqui será catódica, e não anódica como no caso da ASV, onde o metal pré-concentrado será reoxidado.

Na voltametria adsortiva por redissolução também há a possibilidade do ligante sofrer redução ou oxidação no processo de redissolução do complexo adsorvido, se o ligante usado for uma espécie eletroativa. Assim, o seu sinal também poderá ser usado para a determinação do metal. Para o caso de substâncias orgânicas o processo é análogo.

EXPERIMENTOS PARA VERIFICAR PROPRIEDADES ADSORTIVAS

Para que uma substância possa ser determinada pela voltametria adsortiva por redissolução (AdSV) ela precisa apresentar propriedades de adsorção (superfície ativa) junto à superfície do eletrodo de trabalho, além de ser, evidentemente, eletroativa em uma dada região de potencial. Isto pode ser feito usando-se as próprias técnicas de voltametria de pulso diferencial e de onda quadrada.

Por exemplo, no caso de um metal, adiciona-se um complexante na solução e o complexo formado poderá adsorver-se ou não sobre a superfície do eletrodo. Se for feita a varredura no sentido catódico em vários tempos de "espera", ou seja, de acumulação, e o pico do voltamograma de pulso diferencial ou onda quadrada aumentar a cada vez, de modo análogo

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a esse tipo de estudo com a ASV, é indicação de que o complexo estará sendo adsorvido. Aumentando-se o tempo de acumulação, aumenta-se a adsorção e a concentração do complexo na superfície do eletrodo, aumentando-se então a corrente de pico a cada etapa, enquanto não houver saturação da superfície. Se não houver alteração da altura do pico voltamétrico antes de uma eventual saturação, o íon complexo formado não estará sendo adsorvido e não apresentará coeficiente de adsorção apropriado ao uso desta técnica.

Outra técnica voltamétrica muito empregada para este fim é a voltametria cíclica repetitiva (Figura 17).

FIGURA 17: Voltametria cíclica repetitiva mostrando voltamogramas de espécie com propriedades superfície ativa.

Nesta técnica realiza-se a varredura de potencial direta e inversa em vários ciclos sucessivos observando-se os picos catódicos e anódicos da espécie eletroativa. Considerando-se o exemplo anterior, um metal na forma de um íon complexo produzirá picos catódicos e anódicos que crescerão a cada varredura se houver adsorção. O aumento do pico ocorrerá até evidentemente saturar-se a superfície do eletrodo. O crescimento dos picos ocorrerá aproximadamente no mesmo potencial se o sistema for reversível. O pico catódico aumentará a cada ciclo pelo mesmo motivo que o pico aumenta usando-se as técnicas de pulso diferencial e onda quadrada para diferentes tempos de acumulação.

A cada ciclo, aumenta-se a concentração do complexo junto à superfície do metal, aumentando a corrente do pico, na varredura direta. O metal se deposita então na superfície do eletrodo, dando o pico anódico na varredura reversa e aumentando a cada ciclo devido ao aumento da concentração do metal reduzido na superfície do eletrodo.

O TRATAMENTO DE DADOS EM POLAROGRAFIA E VOLTAMETRIA

O tratamento de dados usuais em polarografia e voltametria para fins de análise quantitativa, consiste em medir-se a corrente de difusão (no caso da polarografia DC) ou as correntes de pico no caso de outras técnicas polarográficas/voltamétricas como pulso diferencial e onda quadrada. As correntes obtidas são então relacionadas às concentrações de soluções padrões da espécie eletroativa e à concentração dessa espécie na amostra de interesse. As três maneiras mais comuns de se fazer isso serão discutidas a seguir.

MÉTODO DA CURVA PADRÃO

Nesse método, também chamado de curva de calibração ou ainda curva analítica, mede-se a corrente polarográfica/voltamétrica de soluções padrão de várias concentrações da substância em estudo (analito), colocando-se os valores de corrente (corrente de pico, Ip, ou corrente de difusão, Id) versus os valores de concentração em um gráfico de coordenadas

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cartesianas. A curva obtida apresenta um comportamento linear na região de concentração de interesse, passando pela origem no caso das técnicas clássicas. No caso de técnicas mais sensíveis, devido as correntes de fundo, ela pode não passar pela origem, o que não afeta o uso do método. A concentração é calculada pela interpolação da corrente medida da amostra na curva padrão. Isto pode é ilustrado na Figura 18.

Geralmente a corrente usada na curva, Ip, é a corrente correspondente à altura máxima de pico, mas pode-se também usar a área de pico, quando isto for conveniente.

Esse método é o mais comum em química analítica. Entretanto, quando se trabalha com matrizes complexas freqüentemente ocorre o chamado efeito de matriz, ou seja, a determinação da concentração por interpolação da corrente da amostra lida na curva padrão leva a resultados errados. Isto porque a curva padrão é feita usando-se soluções padrões em condições de pureza e conhecimento das substâncias presentes, diferente das condições da matriz, onde se desconhece a presença de diversas espécies, sendo que várias delas podem causar interferências. No caso de acontecer interferências, pode-se usar o método da adição de padrão.

FIGURA 18: Curva padrão. O gráfico representa a corrente de pico vs. Concentração do Fe(III) usando-se a polarografia de pulso diferencial em um eletrólito de suporte à base de citrato em pH 5,00.

MÉTODO DA ADIÇÃO DE PADRÃO

O método da adição de padrão é usado com o objetivo de minimizar-se o problema de efeito de matriz. Como uma matriz complexa geralmente tem espécies presentes que afetam as propriedades da substância a ser determinada (por exemplo, amostras contendo substâncias que alteraram a força iônica do meio ou que complexam-se com metais, mudando as características polarográficas/voltamétricas desses metais), a idéia é realizar as medidas experimentais nas mesmas condições ou mais próximas possíveis das condições da matriz.

Nesse procedimento, a amostra é adicionada à célula polarográfica/voltamétrica juntamente com o eletrólito de suporte e a corrente referente à espécie de interesse (analito) é registrada. A seguir, adiciona-se sobre a solução da amostra uma alíquota de alguns microlitros da solução padrão do analito, de tal modo que a variação do volume total seja desprezível. Por exemplo, se a solução da amostra tiver um volume de 5 mL, adiciona-se uma alíquota do padrão

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de 5 µL. Após a adição do padrão, lê-se a corrente referente à soma da concentração do analito mais a concentração adicional da solução padrão do analito adicionada.

Usualmente adicionam-se pelo menos três alíquotas da solução padrão, registrando-se a corrente após cada adição. O volume adicionado é escolhido de tal forma a não ocorrer diluição apreciável da amostra, o que alteraria as suas condições originais, que aqui só são alteradas praticamente pela variação da concentração do analito.

Como as medidas com os padrões são feitas em condições muito próximas das condições da amostra, o efeito de matriz é significativamente minimizado, ou seja, as interferências que afetam as medidas da corrente referente ao analito presente na amostra, afetarão da mesma maneira as medidas das correntes referentes ao analito mais as alíquotas da solução padrão sucessivamente adicionadas sobre a amostra.

Com os valores obtidos das correntes da amostra e dos padrões, constrói-se uma curva corrente vs. concentração como está mostrado na Figura 19. A corrente da amostra (Ip ou Id, dependendo da técnica usada), é colocada no eixo "y" para o valor 0 (zero) do eixo "x"'. Os próximos valores da corrente total de amostra mais padrões, para cada adição de padrão, são colocados no eixo "y" e as respectivas concentrações no eixo "x". O gráfico resultante deve dar uma reta. Essa reta é extrapolada até cortar o eixo da concentração (eixo "x") no lado negativo das coordenadas.

FIGURA 19: Curva de adição de padrão utilizada em polarografia/voltametria

O módulo do valor negativo obtido é o valor da concentração do analito da amostra na solução da célula polarográfica/voltamétrica. Sabendo-se o volume total da solução na célula polarográfica e o volume da amostra original adicionado a ela, calcula-se então a concentração do analito na solução da amostra original.

Embora o método da adição de padrão seja muito vantajoso no caso de matrizes que contenham espécies não identificadas que possam afetar o sinal medido, tais como substâncias que são adsorvidas na superfície do eletrodo de trabalho, presença de sais que alteraram a força iônica do meio, presença de ligantes que formam complexos com íons metálicos, o método da curva padrão é considerado mais exato. Assim, se as características da matriz for reprodutível e conhecida, o método da curva padrão é melhor e deve ser preferido.

MÉTODO DO PADRÃO INTERNO OU ÍON PILOTO

Em voltametria/polarografia pode-se também usar o método do padrão interno para minimizar o efeito de matriz. Nesse método usa-se uma substância padrão diferente da substância a ser determinada (analito) que é adicionada à amostra. Essa substância (piloto) deve ter um potencial de meia onda ou de pico diferente do analito, mas não muito distante, para que não se use uma varredura de potencial muito longa.

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A corrente devido à onda ou ao pico polarográfico é registrada para ambos em um mesmo voltamograma. Assim, assume-se que tudo o que afetar o pico (ou onda) do analito afetará também do mesmo modo o pico (ou onda) do piloto. É claro que o método pode ser aplicado tanto para espécies iônicas quanto moleculares. O nome íon piloto é devido ao método ter sido desenvolvido originalmente para metais. Na Figura 20 pode-se ver esquematicamente um polarograma/voltamograma de uma solução contendo picos do analito e do piloto. A concentração do analito é determinada pela razão entre a corrente de pico do analito e do íon piloto.

FIGURA 20: Método do padrão interno ou íon piloto usado em polarografia/voltametria mostrando voltamograma de pulso diferencial com picos do íon piloto e da espécie a ser determinada.

A equação polarográfica/voltamétrica que relaciona a corrente de pico e concentração do padrão é dada pela equação 17, no caso de medir-se corrente de pico:

onde (ip)p é a corrente de pico do padrão interno ou íon piloto, Ip é uma constante (análoga à constante k da equação de Ilkovic) e Cp é a concentração do padrão interno ou íon piloto. Da mesma maneira, a equação para o analito torna-se:

onde (ip)x é a corrente de pico da substância desconhecida (analito), Ix é uma constante análoga à da equação anterior e Cx é a concentração do analito, a ser determinada. A razão entre a corrente de pico do íon piloto e do analito fica:

daqui chega-se à concentração do analito Cx através da equação:

ip/ix é chamado de relação do padrão interno, Rx. Finalmente a equação (20) se torna:

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Rx é uma constante válida para um dado meio e um dado capilar, no caso de usar-se eletrodos de mercúrio no modo gotejante ou estático. Qualquer alteração de algum parâmetro dessas condições um novo valor de R deve ser determinado.

O método do padrão interno ou íon piloto é considerado muito bom para minimizar efeitos de matrizes, mas é difícil encontrar substâncias que apresentem o perfil adequado para serem usadas como tal. Uma espécie para servir como padrão interno necessita ter o seu potencial de meia onda (ou de pico) relativamente próximo ao do analito e não ter a possibilidade de ser encontrada como um componente da matriz ou como um contaminante dos reagentes utilizados.

CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE MÉTODOS VOLTAMÉTRICOS EM ANÁLISE DE TRAÇOS

O uso de métodos voltamétricos em análise de traços envolve cuidados experimentais do mesmo modo que outros métodos analíticos utilizados nessas análises. Assim, é importante realizar a limpeza do material utilizado escrupulosamente, evitar contaminações, perda do analito durante os processos de tratamento da amostra, etc. Um problema adicional no caso específico de métodos voltamétricos, é que pode ocorrer a formação de compostos intermetálicos quando se usam eletrodos de mercúrio na determinação de metais por ASV. Todos esses fatores mencionados afetam a exatidão e a confiabilidade da análise e devem ser minimizados.

MINIMIZAÇÃO DA CONTAMINAÇÃO

Na análise de traços e ultra-traços de metais, o problema de contaminação da amostra é permanente. A confiabilidade e a validade dos dados analíticos dependem do grau em que a contaminação pode ser evitada ou reduzida. Isso remete à chamada "boa prática de laboratório", isto é, trabalhar sempre atento aos mínimos detalhes referentes aos cuidados experimentais nas diversas operações realizadas, como pesagens, limpeza de material, uso adequado de reagentes (manuseio), estocagem de reagentes, estocagem de amostras, etc.

A vidraria deve ser deixada em ácido nítrico 6 mol L-1 durante várias horas para descontaminação, uma vez que o vidro adsorve íons em sua estrutura devido ao efeito da troca iônica. Em seguida, antes de serem usadas, as peças devem ser lavadas várias vezes com porções de água destilada e água desionizada (pelo menos 6 vezes em cada caso).

Os reagentes usados para a preparação de eletrólitos de suporte e padrões devem ser da mais alta pureza possível. Alguns desses reagentes são fornecidos comercialmente, outros necessitam de purificação adicional feita no próprio laboratório de análise.

A água a ser utilizada na preparação de soluções de padrões e amostras deve ser de alta pureza. Assim, deve-se usar água destilada de destiladores de vidro tipo pyrex, destiladores de quartzo, etc, conforme a necessidade de aplicação. Em geral recomenda-se usar água desionizada de alta pureza usando-se o sistema de purificação Millipore Milli-Q.

A contaminação devido a impurezas de reagentes, particulados do ar, e traço de metais de recipientes e paredes de células são os componentes primários do branco. Devido a isso, o pré-tratamento da amostra deve ser simplificado. Quanto menor o número de etapas no processo de abertura e preparação da amostra, menor será a contaminação. Sobre as contaminações oriundas de paredes de recipientes feitos de vidro, às vezes é preferível utilizar-se frascos de teflon ou polietileno, que tem coeficientes de adsorção bem menores que o vidro em relação a espécies iônicas. Soluções padrões de concentração abaixo de 10 -3 mol L-1 jamais devem ser estocadas. Padrões diluídos devem ser preparados diariamente.

Quanto ao problema da formação de compostos intermetálicos, isto acontece quando se usam os eletrodos de mercúrio para a análise de traços de metais por ASV. Ao formar-se um desses compostos, os picos voltamétricos podem sofrer severas alterações, diminuindo a altura ou sofrendo deslocamentos. A causa da formação desses compostos é a alta de concentração no mercúrio de metais que são depositados junto com o analito. Vários compostos intermetálicos são conhecidos, incluindo, por exemplo as combinações: Ag-Cd, Ag-Cu, Cu-Cd, Cu-Ni, Ag-Zn, Cu-Zn, Co-Zn, Cu-Sb, Cu-Sn, Ni-Sb, etc. Uma interferência muito comum desse tipo é entre zinco e cobre. Quando eles são depositados simultaneamente pode ocorrer a formação de três

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compostos, CuZn, CuZn2 e CuZn3. Esses compostos produzem picos próximos ao potencial de pico do cobre, resultando em um aumento da corrente de pico do cobre e uma diminuição da corrente de pico do zinco.

A maneira prática utilizada para minimizar as interferências devido a formação de compostos intermetálicos em análise de traços por voltametria de redissolução anódica (ASV), envolve o uso de técnicas mais sensíveis como pulso diferencial ou onda quadrada, em lugar de varredura linear, pois elas exigem um tempo de deposição menor, diminuindo a concentração dos metais no eletrodo e reduzindo a formação desses compostos. Outro recurso utilizado é usar-se o eletrodo de mercúrio de gota pendente para concentrações mais elevadas e o de filme de mercúrio apenas para concentrações mais baixas. Assim, de um modo geral, para concentrações de metais acima de 10 µg L-1 pode-se usar o eletrodo de gota de mercúrio, e o de filme de mercúrio para concentrações menores que 10 µg L-1.

VALIDAÇÃO DE MÉTODOS VOLTAMÉTRICOS

A utilização de um método analítico exige confiabilidade, ou seja, que o resultado apresentado pelo mesmo seja exato, o que cientificamente significa que o valor obtido para a concentração do analito deve ser verdadeiro dentro do erro experimental. Para isso, quando o método é utilizado em uma dada matriz, há a necessidade de se ter certeza a respeito do resultado da análise. Isto é feito verificando-se a validez ou validade do método. O procedimento para essa verificação é chamado de validação.

A validação é feita envolvendo os parâmetros analíticos usuais (erro, desvio, desvio padrão, etc) e a obtenção do resultado da análise por mais de uma via analítica e a comparação entre si dos diferentes valores obtidos. De um modo geral, há três maneiras comuns para realizar-se a validação: o método (teste) de recuperação, a análise de amostra certificada e a determinação analítica por um segundo método.

TESTE DE RECUPERAÇÃO

Este procedimento é feito enriquecendo-se a amostra com uma quantidade conhecida do padrão utilizado. A amostra mais o padrão passam por todo o procedimento de análise que a amostra sozinha passou previamente no procedimento usual de análise. O resultado obtido para a concentração do analito com a amostra enriquecida é subtraído do resultado obtido da amostra sozinha, sem o enriquecimento. A diferença deve dar o valor da concentração do padrão adicionado para o enriquecimento da amostra dentro do erro experimental. O resultado é expresso em termos de porcentagem de recuperação do padrão adicionado. O resultado ideal é de uma recuperação de 100%, mas evidentemente o valor obtido aceitável estará ao redor de 100% dentro do erro experimental do método.

AMOSTRA CERTIFICADA

A amostra certificada é uma amostra referente a uma dada matriz, onde vários de seus constituintes foram analisados por diversos laboratórios e diversos métodos, coordenados por uma instituição. A instituição fornece um certificado sobre o resultado das análises ao comercializar a amostra. Há amostras certificadas para várias matrizes, como ligas metálicas, plantas, material biológico, solos, etc. A validade do método é verificada aqui, determinando-se o analito para qual o método foi desenvolvido, na matriz certificada, e comparando-se o resultado obtido com o valor certificado. Esse resultado, para ser aceito, deve concordar com o valor certificado dentro do erro apresentado por este valor (o valor certificado). Evidentemente, a matriz referente à amostra certificada deve ser do mesmo tipo da matriz estudada.

DETERMINAÇÃO POR UM SEGUNDO MÉTODO

Essa via de validação é feita usando-se um método diferente do método em estudo. O ideal é que sejam os mais diferentes possíveis. Por exemplo, no caso de um método voltamétrico, que é um método eletroanalítico, tratando-se de um metal, pode-se usar para a

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validação um método com técnica espectroanalítica, tal como absorção atômica. Os resultados obtidos por ambas as técnicas devem concordar dentro do erro experimental.

CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A VALIDAÇÃO

Como já foi dito, é necessário validar o método o desenvolvido, quando aplicado a uma matriz, para que o mesmo tenha confiabilidade. Embora possam existir aspectos diversos e mesmos polêmicos sobre essa questão, em geral é recomendável que um dos procedimentos seja o teste de recuperação. Mesmo que nesse procedimento o pesquisador use os seus próprios padrões, é justamente esse aspecto, a certeza que ele pode ter da exatidão de seus padrões, que é um dos motivos para que ele use essa via. Uma outra razão para usar-se o método de recuperação é que um grande número de matrizes com que se trabalha não tem amostras com certificado disponíveis comercialmente, e quando tem podem ser muito caras. Finalmente há o fato de que nem sempre há a possibilidade de usar-se um segundo método, pela falta de equipamento. Já o teste de recuperação é uma via sempre disponível. Mas, uma só via de validação pode não ser completamente satisfatória. Assim, é recomendável usar-se pelo menos duas vias, podendo uma delas ser o método de recuperação, e a outra, um segundo método com técnica diferente da do método desenvolvido, ou a análise de uma amostra certificada, quando esta estiver disponível.

Naturalmente, há outros pontos que sempre devem ser considerados em análises químicas, tais como a amostragem e a abertura e tratamento da amostra, que são aspectos básicos da química analítica e que envolvem todas as técnicas de análise.

VOLTAMETRIA CÍCLICA

A Voltametria Cíclica Rápida (VC ou VCR) é uma técnica muito utilizada in vivo, desenhada para providenciar uma boa resolução temporal e química. Esta técnica baseia-se na aplicação de uma varredura de potencial ao eletrodo, cuja direção varia ao longo do tempo. Como cada varredura demora em média cerca de 20 ms, pode-se aplicar repetidas varreduras por segundo. A maior diferença entre a voltametria cíclica e a voltametria tradicional, é a velocidade da medição e o tamanho dos eletrodos usados (cerca de 8 mm de diâmetro). 

A VC (ou VCR) permite estudar as propriedades eletrofisiológicas dos neurônios e, atendendo ao neurotransmissor que tem sido mais estudado, a DA, a VCR proporciona um bom estudo dos vários subsistemas dopaminérgicos e as suas respectivas funções nas desordens motoras e psicológicas.

Além da corrente faradaica, existem outras contribuições de corrente, como resultado do carregamento da dupla camada (corrente capacitiva) e da existência de grupos funcionais eletroativos no eletrodo (como é o caso dos óxidos nos eletrodos de carbono). Os microeletrodos em fibra de carbono têm uma linha de base (ou ruído) muito estável que pode facilmente ser medida a priori e subtraída da corrente total. A estabilidade da corrente não faradáica é, aliás, um pré-requisito para os sistemas que empregam a VCR.

O varrimento negativo, seguido da aplicação de um potencial positivo, permite que as espécies electroctivas retomem ao seu estado de oxidação inicial, evitando o efeito tóxido que estas espécies têm sobre os tecidos (neurotoxinas) e ao mesmo tempo, previne a formação de filmes de óxidos sobre o eletrodo (passivação).

APLICAÇÃO DE TÉCNICAS VOLTAMÉTRICAS

A habilidade para fazer medições dos níveis de neurotransmissores em tempo real, com a voltametria in vivo, permite que muitas questões quanto à mecanística do processo de neurotransmissão sejam respondidas. Estas análises fornecem informações únicas relativas à cinética de administração de drogas; permitem o estudo de variações químicas no córtex,

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associadas a alterações fisiológicas (como a fome ou a sede) bem como, têm sido utilizado no estudo de doenças neurodegenerativas como a doença de Parkinson ou Alzheimer.

A voltametria é uma técnica que pode ser utilizada para estudar vias bioquímicas e mecanismos de ação celulares, já que se conseguem produzir eletrodos miniaturizados que podem ser colocados no fluido extra-celular, com pouca danificação dos tecidos circundantes. Atualmente tem sido muito utilizada para estudar os mecanismos que estão na base de regulação dos níveis de neurotransmissores, numa dada região do córtex, utilizando-se meios para manipular a secreção e captação desse transmissor. Esta técnica tem sofrido alterações ao longo do tempo, visando ultrapassar alguns problemas, como é o caso do bloqueamento do eletrodo quando este está exposto a constituintes biológicos e atingir os mais altos níveis de especificidade, reprodutibilidade e sensibilidade.

Apenas moléculas que possam ser facilmente oxidadas ou reduzidas são abrangidas pela voltametria, como é o caso das catecolaminas: dopamina (DA) e noradrenalina (NA) e as aminas biogênicas: serotonina (5-hidroxitriptamina ou 5-HT) e histamina.

Os neurotransmissores são substâncias químicas produzidas pelos neurônios e são usadas para transmitir informação entre as células. Estes são libertados por um neurônio pré-sináptico para a fenda sináptica, no espaço extra-celular e causam uma alteração na membrana pós-sináptica. Esta célula receptora, pode ser um neurônio com receptores par aos transmissores, sofrendo uma alteração de potencial, porém, também pode ser uma célula muscular ou uma célula glandular. (Fig.1).

Neurotransmissão é a conversão de um evento elétrico num evento químico e posteriormente noutro evento elétrico. Com o presente trabalho, pretende-se fazer uma abordagem geral sobre a utilização da voltametria in vivo para o estudo dos processos da neurotransmissão.

Figura 21: Diagrama simplificado de um terminal nervoso catecolínico. O neurotransmissor é sintetizado e armazenado em vesículos que fundem com a membrana libertando o seu conteúdo para a fenda sináptica. Uma vez libertos, os transmissores ligam-se aos receptores pós-sinápticos e aos autorreceptores. A captação e difusão da catecolamina finda a estimulação da célula pós-sináptica. O transmissor é reciclado e armazenado ou metabolizado.

PERSPECTIVA HISTÓRICA

A voltametria in vivo foi introduzida em 1973 quando Ralph Adams e os seus colaboradores implantaram, pela primeira vez, um eletrodo miniaturizado em pasta de carbono, no córtex de um ratinho e conseguiram detectar material eletroativo. Adams centrou-

se mais no estudo das correntes de oxidação de catecolaminas, porém, deparava-se com o problema de existirem outras espécies eletroativas, como o ácido ascórbico, no mesmo potencial e por estas se encontrarem em concentrações muito superiores às das catecolaminas.

Gonon desenvolveu outro tipo de eletrodos para detectar as catecolaminas. Nestes caso ele usou um eletrodo de trabalho em fibra de carbono, associado à voltametria de impulso diferencial, tendo conseguido diminuir o diâmetro do eletrodo para 12mm.

Wightman, ao contrário dos trabalhos anteriores, em vez de procurar detectar os níveis basais de dopanina no córtex, utilizou a voltametria cíclica rápida (VCR) para detectar a dopamina libertada pelos terminais nervosos, após estimulação elétrica. A concentração de dopamina (e de qualquer outro neurotransmissor) medida é afetada pela libertação, captação, difusão e metabolismo do neurotransmissor. 

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APLICAÇÃO DE OUTROS TIPOS DE VOLTAMETRIA

Além da VCR, a cronoamperometria, a amperometria de potencial constante e a voltametria de pulso diferencial, são também técnicas utilizadas na monitorização de neurotransmissores.

Na amperometria de potencial constante, é aplicado só um passo de potencial produzindo-se uma corrente que decai com o tempo. Esta técnica oferece a melhor resolução temporal, porém, não permite distinguir as correntes de oxidação dos vários analitos, oferecendo uma fraca seletividade. Esta técnica também é muito utilizada na obtenção de senssores e biossensores, visando interesse em neurotransmissores.

Na cronoamperometria é aplicado um potencial de onda quadrada, repetitivamente, medindo-se a variação da corrente com o tempo. O potencial escolhido é o suficiente para oxidar e re-reduzir as espécies de interesse o que também evita a acumulação de neurotransmissores oxidados (como no caso da CVR). Atualmente tem-se utilizado a cronoamperometia ultra-rápida in vivo, para monitorizar os níveis de 5-HT no meio extra-celular. Para tal introduzem-se os eletrodos na região subgranular do gyrus dentado, que é uma região de densa enervação seretonérgica e, no corpos calosum, o qual está privado do transportador de 5-HT. Neste estudo utilizou-se meios farmacológicos, a fuvoxamina que é um inibidor da captação de 5-HT, a fim de ampliar o sinal do transmissor em estudo.

O ELETRODO

Desde o início do uso da voltametria in vivo até aos dias de hoje, o tipo de eletrodo utilizado tem sofrido algumas alterações, nomeadamente no que diz respeito ao seu tamanho, às técnicas utilizadas para melhorar a seletividade e a constante de tempo do eletrodo, mas, tem-se mantido o uso do eletrodo de fibra de carbono. Este pode apresentar a forma de disco, cilindro ou elipse (Figura 22):

Figura 22: Um microeletrodo em fibra de carbono, destinado a medir a oxidação de nerotransmissores, utilizando uma fibra de carbono (ou um pequeno grupo de fibras) como elemento condutor.

Os eletrodos têm uma constante de tempo determinada pela propriedade resistiva do eletrólito e capacitiva da interface do eletrodo com a solução. Os estudos cinéticos estão limitados por esta constante de tempo uma vez que o eletrodo só consegue medir processos que durem 1/2 tempo a mais do que a sua constante de tempo. Inicialmente os eletrodos construídos tinham constantes de tempo da ordem dos 100ms ou mais, atualmente, com os microeletrodos, atingiram-se os 100 ns, conseguindo-se determinar os tempos de difusão. A recente introdução dos nanoeletrodos, permite o estudo de mecanismos ultra-rápidos, atingindo-se constantes de tempo da ordem de 1 ns.

O aumento da seletividade e sensibilidade tem sido conseguida com a alteração da superfície do eletrodo. Recorre-se por vezes ao uso de eletrocatalizadores ou mediadores, que podem estar ligados por diversas formas ao eletrodo. O método mais comum na monitorização

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de neurotransmissores, para aumentar a especificidade, é a formação de um filme polimérico com Nafion na superfície do eletrodo. Dada a sua natureza aniônica, consegue-se uma pré-concentração de espécies catiônicas, como é o caso da DA ou NA e repulsão de espécies aniônicas, como o ascorbato.

Nas análises in vivo, deve-se ter em consideração que nas diferentes regiões do córtex, o conteúdo neuroquímico varia consideravelmente, assim, algum grau de especificidade é conseguido selecionando-se um local alvo apropriado.

Por exemplo, colocando um eletrodo no "striatum" pode-se considerar que a corrente do oxidação obtida, é devida à grande concentração de DA e não de NA, que nesta zona está presente em baixa quantidade.

Por outro lado, pode-se manipular o conteúdo do meio extra-celular com uso de compostos farmacológicos: pode-se inibir seletivamente a síntese de um dado transmissor ou bloquear a secreção, diminuindo a sua concentração no meio extra-celular, ou, pode-se bloquear a captação do transmissor, produzindo-se um efeito oposto. Isto permite a detecção da DA sem interferência do seu principal metabolito. Estas manipulações farmacológicas podem causar alterações fisiológicas uma vez que interferem com mecanismos de feedback inerentes ao processo de neurotransmissão.

Outra forma de melhorar a seletividade in vivo, é estimular apenas os axônios dos neurônios de interesse. Esta aproximação é limitada pelo fato do grupo de neurônios que foi estimulado, poder não representar o que sucede fisiologicamente.

UMA ALTERNATIVA: O ELETRODO DE SÍLICA

Os eletrodos de carbono são selados por vidro. Recentemente foram criados novos eletrodos que procuram responder a alguns problemas, nomeadamente a fragilidade do vidro; procuram simplicidade de montagem do material no laboratório e que consigam penetrar mais fundo no córtex dos animais em estudo. Estes eletrodos são manufaturados com carbono e sílica fundida. Têm boas propriedades mecânicas; são muito fáceis de montar num laboratório, já que não requerem material especial; exibem uma sensibilidade à DA e NA semelhante à dos eletrodos de carbono e podem ser produzidos longos o suficiente para atingir zonas mais profundas do córtex.

PROBLEMA DA ANÁLISE IN VIVO

A principal diferença entre as análises eletroquímicas in vivo, em relação à análise de células ou tecidos (brian slice), é a distância entre o local de secreção e o eletrodo. O tamanho da fenda sináptica é muito reduzida, por exemplo, a sinapse dopamínica do striatum, tem uma fenda de apenas 15 nm, de forma que não se consegue colocar o eletrodo diretamente sobre o local de secreção. Para se obter correntes de oxidação, é necessário que o neurotransmissor abandone a sinapse e percorra um caminho até ao eletrodo, por difusão, que é dificultado pelas estruturas celulares.

As correntes medidas refletem então, as alterações ocorridas no meio extra-sináptico. A interacção dos transmissores com receptores e transportadores, diminui a sua concentração extra-celular, daí que a concentração seja uma medida da "eficácia" de um neurotransmissor no córtex.

CONCLUSÃO RESUMIDA

A voltametria in vivo tem sido utilizada desde que Ralph Adams introduziu pela primeira vez um eletrodo de trabalho no córtex de um animal. Desde então esta técnica tem sofrido as naturais evoluções que decorrem ao longo do tempo. Tem-se mantido o uso do eletrodo em fibra de carbono, com ligeiras alterações no sentido de melhorar a seletividade e sensibilidade.

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Os mecanismos de neurotransmissão têm sido elucidados principalmente com a VCR. Ainda recentemente foi desvendado o processo de regulação da captação e secreção da DA , com o uso desta técnica, porém, convém dizer que a voltametria é frequentemente confirmada e complementada por outras técnicas. O conhecimento básico do funcionamento anatômico do sistema nervoso, é fundamental para a correta interpretação dos resultados. A microdiálise bem como a cromatografia líquida de alta pressão são frequentemente utilizadas em conjunto com a voltamentria, alargando o espectro de compostos analisados e melhorando a seletividade.

A voltametria tem sido uma ferramenta fundamental no que toca ao esclarecimento de processos envolvidos na neurotransmissão, mas ainda há muitas barreiras a transpor. Num futuro talvez possamos contar com nanoeletrodos que consigam atingir os espaços mais recôndidos do nosso cérebro, como a fenda sináptica.

BIBLIOGRAFIA UTILIZADA

1. Texto descrito por:Luiz Manoel Aleixo Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Química, CP 615413084-862 Campinas, São Paulo - Brasil

OBS: foram feitas alterações no seu conteúdo.

2. BRETT, A. M. O., BRETT, C. M. A., Bioelectroquímica princípios, métodos e aplicações, Coimbra: Livraria Almedina, 1996.

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12. (http://www.qmw.ac.uk/~physiol/aboutFCV.html)

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13. SAMMUT, Stephen, MUSCAT, RICHARD; The Basic Principles and Application of Fast Cyclic Voltammetry in the Monitoring of Synaptic neurotransmitter overflow and Neuronal Electrophysiological Monitoring

14. (http://www.cis.um.edu.mt/~phcy/symp97/sammut.htm)

15. "http://es.wikipedia.org/wiki/M%C3%A9todos_electroanal%C3%ADticos

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3. Aleixo, L.M., Sitton, M. e Ribeiro, F.A.L., Estudo polarográfico sobre a determinação de Fe(III) utilizando-se a técnica da polarografia de pulso diferencial, Química Nova 4th editon, 2001.

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13. Plambeck, James A., Electroanalytical Chemistry: Basic Principles and Applications, John Willey & Sons, New York, 1982.

14. http://www.uc.pt/rnam/artigos/005.htm

EXERCÍCIOS DE VOLTAMETRIA

1) Qual a diferença entre as técnicas: voltametria e polarografia?2) Que é eletrólito suporte?3) Defina os termos: correntes: catódica, anódica, faradáica e difusional.4) EGM: Em que consiste? b) Quais as vantagens? Desvantagem?

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5) Fale sobre as técnicas voltamétricas/polarográficas DC, DC amostrada, de pulsos normal e diferencial, no que se refere a sensibilidade e variação de corrente. Represente-as graficamente.

6) O que significa o termo desaeração ou purga?7) Que são reações nernstiniana?8) O que você entende sobre voltametria cíclica?9) O que acontece com um eletrodo a medida que seu potencial se torna mais negativo? E o

inverso?10) Como acontece o máximo polarográfico?11) Quais os processos de velocidade que governam a corrente?12) Qual a forma de voltametria de onda quadrada? Qual a sensibilidade desta técnica?13) Comente sobre a técnica VRA no que se refere nas etapas de repouso, deposição e de

redissolução.14) Em que consiste o tratamento de dados nas técnicas: polarografia e voltametria?15) Método de curva padrão:

a) O que é medido? b) O que representa a curva obtida? 16) Método de adição padrão: a) qual o objetivo de seu uso? b) Como é feita a adição da

amostra?17) Método de padrão interno: a) como é usado? b) Como é determinada a concentração do

analito?18) Como é feita a validação dos métodos voltamétricos?19) Como é realizado o teste de recuperação em voltametria?20) Quando dizemos que uma amostra é certificada?22a) Quais as fontes de corrente residual em polarografia de varredura linear? b) Por que as

correntes residuais são menores em polarografia por amostragem de corrente (DC amostrada)?

Ra) A primeira é a corrente de redução de impurezas presentes na solução, como íons de metais pesados presentes na água destilada, pequenas quantidades de oxigênio dissolvido e impurezas na substância utilizada como eletrólito suporte.

A segunda é denominada de corrente de carregamento, corrente capacitiva ou corrente de condensador que carrega as gotas de mercúrio com relação à solução, podendo ser positiva ou negativa.

OBS: na varredura linear todas as oscilações de corrente observadas pelo crescimento e diminuição da gota de mercúrio dão uma forma serrilhada à toda a variação de corrente.

Rb) Com relação a polarografia DC amostrada, observa-se que as correntes residuais são menores, isto é explicado pelo fato da corrente não ser monitorada continuamente e, sim, amostrada, ou seja, a corrente só é informada ao registrador apenas segundos antes da gota cair. Desta forma, uma curva em forma de linha e não serra, como na varredura linear (DC), é apresentada.

EXEMPLOS ENVOLVENDO VOLTAMETRIA

1) ESTUDO CICLO VOLTAMÉTRICO DE NITROPRUSSIATO DE SÓDIO1: J.C.SILVA2, L.P.R.PROFETI3, N.R.STRADIOTTO4, J.F.ANDRADE (orientador)5: Departamento de Química-FFCLRP/USP

O nitroprussiato de metais (MFe(CN)5NO) tem sido pouco pesquisado apesar de sua ação hipotensiva, reduzindo significamente a pressão sanguínea de pacientes hipertensos e de sua

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alta reatividade, podendo ser utilizado como reagente analítico. O nitroprussiato de sódio é usado frequentemente em análises farmacêuticas qualitativamente e quantitativamente. Este projeto de pesquisa tem como objetivo principal obter os parâmetros voltamétricos do nitroprussiato de sódio para possíveis aplicações analíticas. Para obtenção desses parâmetros, foram feitos voltamogramas cíclicos de várias concentrações diferentes de nitroprussiato de sódio ( 2, 4, 6, 8, 10mmol.L-1), mantendo a velocidade de varredura constante (100mV.s-1). Também foram obtidos voltamogramas cíclicos, mantendo a concentração de nitroprussiato em 4mM e variando a velocidade de varredura ( 20, 50, 100, 200, 500mV.s -1 ). Foram utilizados (NH4)2SO4, Na2SO4 , K2SO4 a 0.10mol.L-1 como eletrólito de suporte e um potencial variando ( 0 à –0.6V ), para obtenção desses parâmetros voltamétricos. Como o nitroprussiato é anólogo ao ferrocianeto de potássio, sendo este um sistema conhecido pela literatura e também pesquisado neste laboratório, por outros colegas, foram efetuados testes para o ferrocianeto de potássio. Este será colocado em anexo para comparação com o nitroprussiato de sódio.

1Projeto financiado pela CNPq;2 Bolsista PIBIC/CNPq.

2) COMPORTAMENTO REDOX DE FLAVONÓIDES1: A.A.deLima2, W. F. DE Giovani3 (orientador) - Departamento de Química - FFCLRP/USP

O trabalho consiste no estudo do comportamento eletroquímico e espectroscópico dos complexos formados entre flavonóides como a 3-hidroxiflavona, quercetina, crisina e rutina e íons Cu2+, usando como solventes etanol e metanol.

Em sistemas que apresentam reação química acoplada anterior ao processo redox, as características dos ciclovoltamogramas são:

a. Com o aumento da velocidade de varredura, o potencial varia para o potencial negativo. b. O gráfico da corrente versus n 1/2 (velocidade de varredura), é uma curva exponencial

decrescente. c. Não existe corrente catódica.

Os ítens a e b não são observados em nossos ciclovoltamogramas, pois quando se aumenta a velocidade o potencial aumenta para o potencial positivo e o gráfico corrente versus n 1/2 não se comporta como uma curva exponencial decrescente.

Os valores dos potenciais de oxidação de uma solução de 3-hidroxiflavona e sulfato de cobre em meio de metanol, são 0.83, 0.85, 0,87 e 0,90 em 20, 50, 100 e 200 mVs-1respectivamente.

Em espectros UV-Visível dos flavonóides; temos os seguintes valores de bandas de absorção para a rutinaa 249nm, 319nm e 364nm. No complexo com cobre a banda em 364 nm desapare e aparece uma banda em427 nm; as outras bandas são observadas em 278nm e 321 nm.

Projeto financiado pela PIBIC/CNPQ; 2Bolsista PIBIC/CNPQ.

EXPERIMENTO 01

Determinação dos Valores de Potencial e Número de Elétrons do Par

FeIII(Cn)63-/FeII(Cn)6

4- por Voltametria Cíclica

Introdução

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A voltametria é uma técnica eletroquímica fundamentada na interpretação das relações tensão-corrente durante a eletrólise, em meio quiescente, de uma espécie eletroativa muito diluída, na presença de uma elevada concentração de um eletrólito inerte. O potencial é variado de modo sistemático e a curva corrente-potencial obtida é chamada de voltamograma.

A aplicação mais comum da voltametria é na análise de qualquer espécie que seja eletroativa, ou seja, que possa ser oxidada e reduzida. A medida que o eletrodo torna-se mais negativo, o eletrodo aumenta a sua capacidade de reduzir espécies eletroativas. Inversamente, quando o potencial torna-se mais positivo, a sua capacidade de oxidar espécies eletroativas aumenta.

A corrente é a medida do fluxo de elétrons devida a transferência (e -) que se processa quando uma oxidação (perda de elétrons) ou redução (ganho de elétrons) ocorre sobre uma superfície de um eletrodo.

O potencial de redução formal (E0) de um par reversível é centrado entre o potencial do pico anódico e o catódico, ou seja:

E0 = (Epa + Epc)/2

O número (n) de elétrons transferidos na reação de eletrodo para um par reversível pode ser determinado por meio da separação entre os potenciais de picos e é aproximadamente 0,059 V.

Para um sistema reversível, a corrente de pico é descrita pela equação de Randles-Sevcik (varredura direta do primeiro ciclo):

Ip = 2,69x105 n3/2 A D1/2 c v½

onde:Ip =corrente de pico (A).n = número de elétronsA = área do eletrodo (cm)D = coeficiente de difusão (cm2/s)c = concentração (mol/cm3)v = velocidade de varredura (v/s).

Os valores de Ipa/Ipc 1.A célula voltamétrica normalmente usada em experimentos eletroquímicos contém três

eletrodos imersos na solução a ser analisada:

Eletrodo de Trabalho: onde a reação de interesse ocorre. Ex. (ouro, platina, grafite pirolítico, carbono vítreo);Eletrodo de Referência: fornece um potencial estável, com o qual o potencial do eletrodo de trabalho é comparado. Ex. Eletrodo de Calomelano Saturado (ECS), Prata/ Cloreto de Prata (Ag/AgCl);Eletrodo Auxiliar ou Contra Eletrodo: consiste de um material condutor e quimicamente inerte. Ex. Platina (Pt), Grafite.

A solução a ser analisada contém a amostra dissolvida e um eletrólito de suporte, numa concentração de 1,0x10-3 mol L1-, para assegurar uma boa condutividade requerida pela técnica e de modo a não interferir nas reações eletroquímicas dos materiais eletroativos de interesse. Alguns eletrólitos de suporte são descritos abaixo:

Ácidos: HCl, H2SO4, H3PO4, etc.Bases: NaOH, KOH, NH4OH, etc.Tampões: citrato, fosfato, borato, etc.

As técnicas voltamétricas são aplicadas na determinação de elementos eletroativos a nível de traços, apresentando resultados com boas precisão e exatidão.

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Page 46: Voltametria e Polarografia

Este experimento objetiva utilizar a técnica de voltametria cíclica (VC) para determinar os valores de potencial (Ep) e número de elétrons (n) do par Fe III(CN)6

3-/FeII(CN)64-. Pretende-se

ainda avaliar os efeitos da velocidade de varredura, concentração das espécies eletroativas e reversibilidade.

Procedimento

Preparar uma solução estoque de K3Fe(CN)6 1,0 mM em K2SO4, 0,1 mol/L. Efetuar um pré-tratamento da superfície do eletrodo de trabalho através de um polimento com alumina, lavagem com água e ultra-som. Preencher a célula eletroquímica com K3Fe(CN)6 até imersão dos eletrodos. Desaerar a solução com gás inerte (N2 ou argônio) por aproximadamente 10 min. Durante a desoxigenação, ajustar os parâmetros do equipamento (com eletrodo de trabalho desconectado): Ei = -100 mV; Ef = +600 mV; direção = negativa para a positiva; v = 100 mV/s. Conectar o eletrodo de trabalho. Iniciar a varredura para obter o voltamograma cíclico (VC) do par redox FeIII(CN)6

3-/FeII(CN)64-.

Os efeitos de “v” são observados, repetindo um experimento VC para cada velocidade (25, 50, 75, 100mV/s).

Tratamento de dados

Do voltamograma cíclico obtido para o par Fe III(CN)63- / FeII(CN)6

4–, em eletrodo de platina, determinar os valores de Ep (potencial de pico do par Fe+2/Fe+3).

Bibliografia Consultada

Kissinger, P. T. e Heineman, W. R. Laboratory Techniques in Electroanalytical Chemistry , Dekker, New York. 1984.Sawyer, D. T.; Heineman, W. R.; Beebe, J. M. Chemistry Experiments for Instrumental Methods, John Wiley Sons, New York, 1984.Skoog, D. A.; Holler, F. J. e Nieman, T. A. Princípio de Análise Instrumental, Artmed Editora S.A, São Paulo, 2002.

EXPERIMENTO 02

Determinação do Potencial de Oxidação da Dopamina

por Voltametria de Onda Quadrada

Introdução

A Voltametria de Onda Quadrada (SWV) é a mais sensível das técnicas tradicionais de pulso. Nesta técnica a medida de corrente é realizada com velocidades de varredura maiores que 100mV/s, e as medidas de corrente sendo realizadas apenas ao final do pulso de potencial, onde a magnitude da corrente capacitiva já está minimizada. Como vantagens pode ser citada a formação de ondas quadradas sobrepostas de forma a construir degraus de potenciais e o fato

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Page 47: Voltametria e Polarografia

de que a varredura completa de potencial, no intervalo de trabalho, pode ser feita mais rapidamente.

A técnica consiste em uma amostragem da corrente no final de cada um dos pulsos. Em sistemas reversíveis as correntes reversas são significantes, assim as correntes de saída são maiores do que as correntes diretas ou reversas. Essa é uma das razões para que a SWV apresente maior sensibilidade do que as técnicas: voltametria de pulso diferencial e polarografia.

A SWV apresenta, em relação à voltametria cíclica, uma maior capacidade de detecção de pequenas quantidades de compostos, pois não gera corrente capacitiva constante durante a medida. A maior sensibilidade e velocidade dessa técnica têm aumentado seu uso em determinações quantitativas de espécies eletroativas em solução.

O experimento proposto objetiva utilizar a técnica de voltametria de onda quadrada (SWV) para determinar o potencial de oxidação da dopamina, [DA] = 1x 10 -4 mol/L em solução tampão fosfato pH 7.

Procedimento

Antes de começar seu experimento seu professor ou monitor lhe mostrará a estrutura da dopamina e falará sobre sua importância na pesquisa científica, do ponto de vista clínico e farmacêutico.

Os experimentos eletroquímicos serão realizados em uma cela eletroquímica (Figura 1)

de três compartimentos contendo:

Eletrodo de Trabalho: Pasta de carbonoEletrodo de Referência: Prata /Cloreto de Prata (Ag/AgCl) ou Calomelano Saturado (ECS).Eletrodo Auxiliar ou Contra Eletrodo: Platina (Pt)

Figura 1: Diagrama da célula eletroquímica

(1) Entrada para o eletrodo de trabalho(2) Entrada para o eletrodo auxiliar(3) Entrada para o eletrodo de referência(4) Entrada Scalp(5) Tampas de teflon(6) Cela

Figura 2: Diagrama do eletrodo de trabalho

(1) Fio de Platina(2) Tubo de Vidro(3) Suporte do Eletrodo(4) Resina(5) Cavidade para o eletrodo modificado com pasta de carbono

Preparo da pasta de carbono

Misturar 95 mg de pó de grafite com 5 mg de Ftalocianina de Ferro (FePc) e ir adicionando, aos poucos, 100 μL de óleo mineral (Nujol®), para que a pasta de carbono

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adquira uma consistência. Esta é colocada em uma cavidade na extremidade de um tubo de vidro (4 mm de diâmetro interno) com uma profundidade de 1mm, e pressionada sobre uma folha de papel sulfite até obter uma superfície lisa.

Uso do aparelho

Colocar 10 mL da solução na célula eletroquímica e, após inserir os eletrodos nos locais indicados (Figura 1) colocar sob fluxo de nitrogênio por 3 min, para que a solução seja desaerada. Ligar o potenciostato nas seguintes condições: potencial de 0 a 600 mV, corrente de 10A, 4 mV de degrau de potencial, 25 mV para a amplitude da onda quadrada e freqüência de 15 Hz empregando assim, a técnica SWV, usando um potenciostato BAS CV-50W, acoplado a um microcomputador

Tratamento de dados

Analisar o voltamograma em relação à corrente demonstrando o que indica a presença da dopamina e mostrar o pico de potencial registrado referente à oxidação da dopamina e em relação à redução do aminocromo.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Wang, J. Analytical Electrochemistry, John Wiley & Sons, New York, 2000, p.118-127, 171-202.Eggins, B. R. Biosensors: An Introduction, John Wiley & Sons, New York, 1997.Sotomayor, M.D.P.T.; Kubota, L.T., Química Nova, 2002, 25, 123.Sotomayor, M.D.P.; Tanaka, A.A.; Kubota, L.T.; Anal.Chim.Acta, 2002, 455, 215.Hasebe, Y.; Akiyama, T.; Yagisawa, T.; Uchiyama, S.; Talanta, 1998, 47, 1139.Osteryoung, J. e O’Dea, J. Electroanalytical Chemistry, Ed. A. J. Bard, Dekker, New York, Vol. 14, 1986, pp. 209-308.Skoog, D. A., Holler, F. J. e Nieman, T. A., Princípio de Análise Instrumental, Artmed Editora S.A, São Paulo, 2002.

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Page 49: Voltametria e Polarografia

EXPERIMENTO 03

Determinação da Corrente de Oxidação do Catecol por Cronoamperometria

Introdução

A cronoamperometria é uma técnica eletroquímica de pulso, que consiste em aplicar um potencial constante e analisar a corrente resultante que pode ser identificada através de análise de sua variação com o tempo. A curva corrente versus tempo é chamada cronoamperograma.

Esta técnica permite utilizar sensores amperométricos os quais são promissores para o desenvolvimento de técnicas analíticas versáteis na determinação de compostos fenólicos, como por exemplo, o catecol.

Este experimento objetiva utilizar a técnica de cronoamperometria para determinação da corrente de oxidação do catecol em solução tampão fosfato.

Procedimento

Os experimentos eletroquímicos serão realizados em uma cela eletroquímica (Figura 1) de três compartimentos contendo:

Eletrodo de trabalho: Pasta de carbonoEletrodo de referência: Prata/Cloreto de Prata (Ag/AgCl) ou Calomelano Saturado (ECS).Eletrodo auxiliar ou contra eletrodo: Platina(Pt)

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Figura 2: Diagrama da célula eletroquímica(1) Entrada para o eletrodo de trabalho(2) Entrada para o eletrodo auxiliar(3) Entrada para o eletrodo de referência(4) Entrada scalp(5) Tampas de teflon(6) Cela

Figura 3: Diagrama do eletrodo de trabalho(1) Fio de platina(2) Tubo de vidro(3) Suporte do eletrodo(4) Resina(5) Cavidade para o eletrodo modificado

As medidas eletroquímicas serão efetuadas em um potenciostato acoplado a um microcomputador, empregando a técnica de cronoamperometria.

Preparo da pasta de carbono

Misturar 100 mg de pó de grafite com 15 mg de ftalocianina de manganês (MnPc), 90 mg de histidina (His) e 1,0 mL de solução tampão fosfato em concentração 0,1 mol L-1 e em pH 6.

Adicionar 100 μL de óleo mineral (Nujol®) para que a pasta de carbono possa adquirir consistência.

Colocar a pasta de carbono modificada em uma cavidade na extremidade de um tubo de vidro (4 mm de diâmetro interno) com uma profundidade de 1 mm e pressionada sobre uma folha de papelpara obtenção de uma superfície lisa.

Uso do aparelho

Colocar 10 mL da solução tampão fosfato pH 7 na cela eletroquímica e, após inserir os eletrodos nos locais indicados (Figura 1), ligar o potenciostato nas seguintes condições: potencial de 0 mV, corrente de 10 A e tempo de 600 s.

Adicionar peróxido de hidrogênio, para aumentar a sensibilidade do sistema. Convém lembrar que na superfície do eletrodo ocorrerá a reação de redução do peróxido e oxidação do MnPc.

Efetuar a varredura de corrente e esperar estabilizar para em seguida ser adicionado 100 L de catecol 1,0 x 103- mol/L. Fazer adições de 50 em 50 s de solução de catecol, perfazendo um total de 7 pontos. Ao adicionar o catecol este será oxidado.

Tratamento de dados

Fazer a curva analítica (variação da corrente vs concentração) de catecol adicionado, visando obter o melhor coeficiente de correlação.

Bibliografia Consultada

Rosatto, S. S.; Kubota, L. T. e Oliveira Neto, G. Anal. Chim. Acta, 390, 65, 1999. Lima, A.W.O., Nascimento, V.B., Pedrotti, J.J. and Angnes, J.J. Anal. Chim. Acta, 354, 325, 1997.Sotomayor, M. D. P. T.; Tanaka, A. A.; e Kubota, L. T. Anal. Chim. Acta, 215, 223, 2002.

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Page 51: Voltametria e Polarografia

B. Wang and S. Dong, J.Electroanal. Chem. 487, 45, 2000.Skoog, D. A.; Holler, F. J. e Nieman, T. A. Princípio de Análise Instrumental, Artmed Editora S. A.,São Paulo, 2002.

EXPERIMENTO 04

Determinação Polarográfica de Chumbo (II)

Introdução

A polarografia iniciou com Heyrovsky que usou a propriedade do mercúrio dissolver alguns metais e ao mesmo tempo a de ser um bom condutor de eletricidade. Esta técnica é um método eletroquímico baseado no registro da variação que ocorre quando a voltagem aplicada atinge o potencial no qual as espécies de interesse reagem eletroquimicamente. O método consiste em uma eletrólise onde o eletrodo de trabalho utilizado é um micro eletrodo gotejante de mercúrio.

O experimento objetiva realizar um experimento polarográfico, para determinação de Pb (II) em solução.

Procedimento

Colocar 5 mL de água e 0,5 mL do eletrólito suporte, NaNO3 0,1 mol/L, na célula eletroquímica e desaerar por 8 min com gás nitrogênio, sob agitação constante.

Durante o tempo de desaeração, ajustar os parâmetros do sistema voltamétrico polarográfico, acompanhado de um agitador magnético e um registrador X-Y, nas seguintes condições:

Sensibilidade = 0,5 mA. Potencial inicial = 0.0 V. Potencial final = -1,0 V. Tempo de gota = 1 segundo. Registrador X = 100 mV/cm. Registrador Y = 100 ou 250 mV/cm. Velocidade de varredura 10 mV/s.

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Iniciar a varredura de potencial apertando a tecla “scan”. Este experimento mostra o polarograma apenas do eletrólito suporte.

Em seguida adicionar algumas gotas de Triton-X-100 que é um supressor de máximo polarográfico. Sua adição evita deformação no polarograma do íon Pb (II).

Adicionar uma alíquota de 50 µL de solução estoque da solução de Pb (NO3)2 0,1 mol/L para a célula eletroquímica. A solução resultante terá uma concentração de 1 x 10-3

mol/L. Realizar então, nova varredura nas condições já determinadas, usando as técnicas polarográficas de direct corrent (DC) e diferencial de pulso.

Adicionar mais quatro alíquotas de Pb (NO3)2, de 50 µL cada, à célula eletroquímica. Para cada uma realizar as varreduras nos modos anteriores, obtendo-se polarogramas correspondentes às concentrações de 2 x 10-3 mol/L, 3 x 10-3 mol/L, 4 x 10-3 mol L-1 e 5 x 10-3 mol/L de Pb(NO3)2.

Tratamento de dados

Os polarogramas deverão ser enumerados e serem usados para determinar a corrente de difusão, o potencial de meia onda e o número de elétrons.

Fazer uma tabela contendo duas colunas: concentração de Pb (NO3)2 em mol/l e corrente (A), para os polarogramas no modo DC.

Construir o gráfico correspondente à Equação de Ilkovic e determinar os valores dos coeficientes angular, linear e de correlação.

Escrever a equação da reta.

OBSERVAÇÃO: este roteiro de prática foi gentilmente cedido pela Profa. Dra. Aldaléa L. B. Marques.

Bibliografia Consultada

Ohlweiler, O. A. Química Analítica Quantitativa, 2a edição. Livros Técnicos e Científicos, Rio de Janeiro. 1976.Skoog, A. D.; West, D. M., e Holler, F. J. Fundamentals of Analytical Chemistry. 6a edição Saunders College Publishing, New York, 1981.Christian, G. D. Analytical Chemistry, John Wiley Sons, 4a edição, New York. 1986.Skoog, D. A., Holler, F. J. e Nieman, T. A. Princípio de Análise Instrumental, Artmed Editora S.A., 2a edição, São Paulo, 2002.

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