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Revista do Grupo de Estudos do Cancro do Pulmão Director Dr. Agostinho Costa Corpo Redactorial Dr. Fernando Barata Dr.ª Bárbara Parente Dr.ª Cármen Calçada Prof. Dr. Venceslau Hespanhol Dr. António Araújo Conselho Cientíco Prof. Dr. Henrique Queiroga Pneumologista / Hospital S. João, Porto Dr. Hernâni Lencastre Cirurgião Torácico / CHVNGaia / Espinho Dr. José Dinis Oncologista / IPOFG, Porto Dr.ª Marta Soares Oncologista / IPOFG, Porto Dr. Paulo Costa Radioterapeuta / HPP, Porto Dr.ª Rosete Nogueira Anatomopatologista / Centro de Genética Clínica, Porto Dr.ª Teresa Almodôvar Pneumologista / IPOFG, Lisboa Direcção do GECP Dr. Fernando Barata Presidente Dr.ª Bárbara Parente Secretária Dr.ª Cármen Calçada Tesoureira Prof. Dr. Venceslau Hespanhol Vogal Dr. António Araújo Vogal

Volume 7. Número 1, 2010

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Revista GECP

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Page 1: Volume 7. Número 1, 2010

Revista do Grupo de Estudos do Cancrodo Pulmão

Director

Dr. Agostinho Costa

Corpo Redactorial

Dr. Fernando Barata Dr.ª Bárbara ParenteDr.ª Cármen CalçadaProf. Dr. Venceslau HespanholDr. António Araújo

Conselho Científi co

Prof. Dr. Henrique QueirogaPneumologista / Hospital S. João, Porto

Dr. Hernâni LencastreCirurgião Torácico / CHVNGaia / Espinho

Dr. José DinisOncologista / IPOFG, Porto

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Dr. Paulo CostaRadioterapeuta / HPP, Porto

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Dr.ª Teresa AlmodôvarPneumologista / IPOFG, Lisboa

Direcção do GECP

Dr. Fernando Barata PresidenteDr.ª Bárbara ParenteSecretáriaDr.ª Cármen CalçadaTesoureiraProf. Dr. Venceslau HespanholVogalDr. António AraújoVogal

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Revista do Grupo de Estudos do Cancro do PulmãoVolume 7. Número 1, 2010

Editorial..................................................................................... 5

Artigos Originais Papel da Radioterapia no Tratamento de Timomas Malignos ............................................................................. 7 Catarina Travancinha, Telma Almeida, Paula Pereira, Luísa Mirones, Margarida Roldão Radioquimioterapia sequencial ou concomitante no estádio III do CPNPC: avaliação retrospectiva da toxicidade aguda e sobrevidas ..................................... 21 Liliana Lombo, Cármen Calçada, André Soares, António Araújo, Maria Bento, Marisa Lobão, Carla Castro, Helena Pereira

Artigos de Revisão Radioterapia Estereotáxica do Pulmão ............................. 29 Nuno Pimentel Irradiação profiláctica do cérebro (IPC) nos carcinomas do pulmão não pequenas células (CPNPC): para quando uma mudança de paradigma? ........................................... 39 Pedro Chinita Radioterapia de Intensidade Modulada e Carcinoma do Pulmão Não Pequenas Células .................................... 45 Maria Paula Fontes

Caso Clínico Metástase intra-orbitária de adenocarcinoma do pulmão – a propósito de um caso clínico ....................................... 53 Matilde Salgado, Pedro Meireles, Marcos Guimarães, Vítor Leal, António Morais, Margarida Marques

Actividades do GECP ............................................................... 61 Reunião da Primavera ........................................................ 63 Assembleia Geral ............................................................... 64 4.º Congresso Português do Cancro do Pulmão ................. 65

Propriedade: Grupo de Estudos do Cancro do Pulmão Sede: Avenida Dr. Antunes Guimarães, n.º 554 – 4100-074 Porto Telefone: 351 226 165 450 – [email protected] – www.gecp.net Design, Pré-impressão e impres-são: Publicações Ciência e Vida, Lda. – Apartado 44 - 2676-901 Odivelas Telefone: 214 787 850 Fax: 214 787 859 E-mail: [email protected] Assinatura anual: 20 € Número avulso: 10 € Distribuição gratuita aos Sócios do Grupo de Estudos do Cancro do Pulmão, Sociedades Científicas afins, Entidades Oficiais e Privadas de âmbito médico Tiragem: 500 exemplares impressos em Acid Free Paper Periodicidade: semestral ISSN 1645-9466 Depósito legal: 208 344/04

Índice

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Editorial

A investigação, a perseverança e a persistência de quem trata cancro do pulmão permitiram nas últimas duas décadas duplicar a sobrevida média dos doentes.

Isto só é possível com o empenho e o envolvimento de todas os profissionais de saúde e com a utilização de todas as armas terapêuticas de que dispomos.

A Radioterapia teve sempre um papel fundamental no tratamento curativo ou paliativo destes doen-tes e actualmente é, não só genericamente aceite como indispensável no tratamento, mas também uma área de grande potencial para inovar e investigar.

As novas tecnologias de planeamento e tratamento em radioterapia nomeadamente 3DCRT planing, 4DCT planing, Gating, IMRT, SBRT, Radiocirurgia cerebral, etc. estão a trazer uma nova visão do tra-tamento do cancro do pulmão com radiação.

Cada vez mais conseguimos localizar/focalizar a área de tratamento, aumentar a dose de radiação no tumor, diminuir os efeitos laterais e melhorar os resultados clínicos.

A Direcção do GECP pretendeu com este número da Revista fazer uma actualização sobre a radio-terapia no cancro do pulmão. Ficará muito gratificada se conseguir também ajudar a aumentar o inte-resse de todos os profissionais nas potencialidades da radioterapia e especificamente, criar predilecção pelo cancro do pulmão entre os Radioterapeutas!

Cármen Calçada

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Artigo original

Papel da Radioterapia no Tratamento de Timomas MalignosThe Role of Radiation Oncology in the Treatment of Malignant Thymomas

Catarina Travancinha1, Telma Almeida2, Paula Pereira2, Luísa Mirones3, Margarida Roldão4.

[email protected] do Internato Complementar, 2Assistente Hospitalar, 3Assistente Hospitalar Graduada, 4Directora de Serviço.Serviço de Radioterapia do Instituto Português de Oncologia de Lisboa, Francisco Gentil (IPOLFG).

RESUMO

Introdução: Os Timomas são tumores raros, de crescimento lento, típicos das 4.ª e 5.ª décadas de vida. O trata-mento destes tumores ainda é um assunto controverso, no entanto, é actualmente aceite que o tratamento de primeira linha é a cirurgia, já que mais de metade destes tumores se encontram localizados na altura do diagnós-tico, sendo ressecáveis. Não obstante, em determinados estádios da doença, é importante a associação de tera-pêuticas adjuvantes, tendo a Radioterapia (RT) um papel a desempenhar.Objectivos: Revião da casuística dos doentes com o diagnóstico de timoma maligno, tratados no Serviço de Ra-dioterapia do IPOLFG entre 1990 e 2009 e revisão da literatura, realizada a propósito de um caso clínico de timoma maligno, com o objectivo de melhor compreender o papel da RT no tratamento deste tumor.Material e Métodos: Foi estudada retrospectivamente uma série de 18 doentes com o diagnóstico de timoma maligno, tratados no Serviço de Radioterapia do IPOLFG entre 1990 e 2009. O tratamento utilizado foi cirurgia de ressecção tumoral e RT adjuvante em 13 casos e RT paliativa em 5 doentes.Resultados: Verificámos uma sobrevida total aos 5 anos de 69 % e aos 10 anos de 54 % nos doentes tratados com cirurgia de ressecção tumoral e RT adjuvante. A taxa de recidiva deste grupo de doentes foi cerca de 61,5 % e a taxa de mortalidade cerca de 69 %, por progressão da doença. As doses utilizadas foram de 30 Gy em RT paliativa, com eficácia no alívio sintomático de todos os doentes, e de 45 -50 Gy na RT pós -operatória.Discussão e Conclusões: Apesar da reduzida amostra, os nossos resultados encontram -se em concordância com os dados da literatura, apontando para eventual vantagem de utilização de RT adjuvante no tratamento destes doentes, com diminuição da taxa de recorrência e o aumento da sobrevida.

Palavras -chave: Tumores do mediastino anterior, Timomas, Radioterapia

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1. INTRODUÇÃO

Os timomas são tumores raros, embora sejam os mais comummente encontrados no mediasti-no anterior, em adultos. Trata -se de tumores in-dolentes, de crescimento lento, mas com poten-cial de invasão local. Geralmente ocorrem nas 4.ª ou 5.ª décadas de vida, podendo, no entanto, ser encontrados noutras faixas etárias, embora mais raramente. Não se evidencia clara predis-posição de sexo ou raça para o desenvolvimento desta patologia.1,4

Várias síndromes paraneoplásicas podem estar associados a este tipo de neoplasia, sendo a mais comum a Miastenia Gravis.1,4,6

A maioria dos doentes apresenta -se assinto-mática, sendo os timomas diagnosticados aci-dentalmente em exames de rotina. Na altura do

diagnóstico, cerca de metade dos timomas encontram -se totalmente encapsulados sendo, na sua maioria, totalmente ressecáveis. A metas-tização é rara, no entanto, quando ocorre, os órgãos preferencialmente afectados são a pleura, o rim, o osso ou o fígado. A metastização cerebral é bastante rara e a ganglionar também (excepto no carcinoma tímico, neste último caso).4,9

A Escala de Classificação de Timomas da Organização Mundial de Saúde (OMS) refere -se ao tipo histológico do tumor (Tabela I). A classifi-cação histológica dos timomas é ainda contro-versa, já que, devido aos seus diferentes padrões e à larga variabilidade citológica, a sua classifi-cação não é fácil. Não obstante, a classificação da OMS, relativamente recente, foi adoptada lar-gamente por vários países do mundo, pelo que foi a escolhida pelos autores.2,10

ABSTRACT

Introduction: Thymomas are rare and slow growing tumors, typical of the 4th or 5th decades of life. The treatment of these tumors is still a controversial issue, however, is now accepted that surgery is the main treatment. This oc-curs because half of the tumors are located and completely resectable at the time of diagnosis. Despite this, in certain stages of this disease, it is important the association of adjuvant treatments in which the Radiotherapy (RT) has a role to play.Objectives: To report the case series with the diagnosis of malignant thymoma, treated in the Radiotherapy Service of IPOLFG between 1990 and 2009 and a literature review, based in a case report of malignant thymoma, with the aim of better understanding the role of RT in the treatment of this tumor.Material and Methods: A retrospective study was conducted with a series of 18 patients with the diagnosis of ma-lignant thymoma, treated at the Radiotherapy Service of IPOLFG, between 1990 and 2009. The standard treatment was surgery and adjuvant RT in 13 cases and palliative RT in 5 patients.Results: The authors verified a 5 year survival rate of 69 % and a 10 year survival rate of 54 % in patients treated with surgery and adjuvant RT. The recurrence rate of this group of patients was about 61.5 % and the mortality rate was 69 %, due to disease progression. The doses used were 30 Gy for palliative treatment, with verified efficiency in symptomatic relief of all patients, and 45 -50 Gy in adjuvant, curative RT.Discussion and Conclusions: Despite the small studied sample, our results are consistent with the literature data, pointing to an eventual advantage of the use of adjuvant RT in the treatment of these patients, allowing a lower recurrence rate and increased survival.

Key -words: Anterior Mediastinal Tumors, Thymomas, Radiotherapy, Radiation Oncology

Catarina Travancinha, Telma Almeida, Paula Pereira, et al.

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Tabela I. Classificação da OMS para Timomas

Tipo Definição Sobrevida a 5 -10 anos

A Timoma medular 95 -100 %

AB Timoma misto 90 -93 %

B1 Timoma predominantemente cortical 85 -89 %

B2 Timoma cortical 71 -82 %

B3 Carcinoma tímico 40 -71 %

C Carcinoma tímico bem diferenciado e/ou Carcinoma tímico 23 %

O Sistema de Estadiamento de Timomas mais amplamente aceite nos dias de hoje é o Sistema de Masaoka (Tabela II). Este sistema de estadia-mento deverá ser realizado no pós -operatório já que a invasão capsular só é diagnosticada com fiabilidade após avaliação anatomo -patológica da peça.1,2,4,6

Tabela II. Sistema de Estadiamento de Masaoka para Timomas

Estádio Descrição Sobrevida a 5 anos

I Totalmente encapsulado, sem invasão capsular microscópica 94 -100%

II

A - Invasão microscópica da cápsulaB - Invasão macroscópica do tecido adiposo adjacente ou da pleura mediastínica

86 -95 %

III

Invasão dos órgãos adjacentes (i.e. pericárdio, grandes vasos ou pulmão)

A - Sem invasão dos grandes vasos

B - Com invasão dos grandes vasos

56 -69 %

IVA - Disseminação pericárdica ou pleural

B - Metástases embólicas 11 -50 %

Um outro Sistema de Estadiamento, menos utilizado, mas não menos útil, é o Groupe d’Etudes des Tumeurs Thymiques (GETT). Este sistema é importante já que se refere ao período pré--operatório, determinando a extensão da ressec-ção cirúrgica possível (Tabela III).2,12

O tratamento para este tipo de tumor não se encontra ainda estandardizado, devido à dificul-dade em encontrar, nos estudos publicados, amostras significativas.

A cirurgia é o tratamento de primeira linha. Os timomas são tumores radiossensíveis, podendo a radioterapia (RT) ter um papel no seu tratamen-to. As suas indicações ainda não são precisas, no entanto, tem -se verificado uma diminuição da taxa de recidiva e melhoria da sobrevida, quando utilizada em tumores invasivos, mesmo após res-secção cirúrgica completa. Nos tumores localiza-dos a RT não tem indicação formal, já que não diminui o número de recidivas.3,5

A quimioterapia (QT) pós -operatória é eficaz em tumores em estádios Masaoka III e IV, ou em tumores recorrentes, notando -se um ligeiro au-mento na sobrevida dos doentes, não havendo evidência da sua indicação em tumores totalmen-te ressecados cirurgicamente.4,5,7,8

Tabela III. Sistema de Estadiamento GETT para Timomas

Estádio Descrição Sobrevida a 5 anos

Ia Tumor encapsulado, totalmente ressecável 100 %

Ib

Tumor macroscopicamente encapsulado, totalmente ressecável, mas existindo suspeitas de potencial invasão capsular ou adesões mediastínicas

87 -60 %

II Tumor invasivo mas totalmente ressecável 85 %

IIIa Tumor invasivo, parcialmente ressecável 65 %

IIIb Tumor invasivo não ressecável 40 %

IVa Metástases supra -claviculares ou implantes pleurais à distância

IVb Metástases à distância

No que toca ao tratamento de timomas inva-sivos, embora não existindo ainda guidelines consensuais da sua aplicação nesta patologia,

Papel da Radioterapia no Tratamento de Timomas Malignos

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parece seguro afirmar que uma abordagem mul-tidisciplinar é a mais adequada, na maioria das situações.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Os autores realizaram uma pesquisa de do-entes admitidos com o diagnóstico de timoma no Serviço de Radioterapia do IPOLFG, de 1990 a 2009.

Durante este período foram tratados neste serviço vinte doentes com o diagnóstico de timo-ma. Dois doentes foram excluídos, um por se encontrar ainda em tratamento, e outro por ter sido proposto apenas para RT paliativa sobre metástases ósseas. Foram então encontrados dezoito doentes com timoma maligno proposto para tratamento com RT.

O sistema de classificação utilizado pelos au-tores para o tipo histológico do tumor é a Classi-ficação da OMS. Para o estadiamento, os autores escolheram dois sistemas, o de Masaoka que se pretende que seja um sistema de estadiamento pós cirurgia, e o sistema de GETT, um estadia-mento pré -cirúrgico que pretende avaliar a res-secabilidade do tumor.

3. CASO CLÍNICO

PMPR, sexo feminino, 44 anos de idade, raça caucasiana, com o diagnóstico de timoma inva-sivo, B2/B3, estádio IIIA de Masaoka e II de GETT.

O diagnóstico foi obtido em Janeiro de 2007, no Hospital de Santarém, na sequência de in-vestigação de queixas álgicas no membro su-perior esquerdo com irradiação para o pescoço e região torácica anterior. Após realização de

radiografia de tórax (Figura 1), observou -se vo-lumosa massa que desviava os 2/3 superiores do hemitórax esquerdo. Realizou biopsia guiada por Tomografia Computorizada (TC), em 15 -01 -2007, que revelou timoma no estádio II de GETT. Foi proposta para cirurgia no IPOLFG e, em 22 de Março de 2007, realizou tumorec-tomia mediastínica, com ressecção tumoral com-pleta, excisão de dois gânglios linfáticos e de leito pericárdico. A análise anatomopatológica da peça demonstrou a existência de tumor ex-tenso, nodular, invadindo o parênquima pulmo-nar; os gânglios e o tecido pericárdico não evi-denciaram tecido tumoral. O timoma apresentava características histológicas de ti-moma cortical e de carcinoma tímico (B2/B3), no estádio IIIA Masaoka.

Foi proposta para RT adjuvante sobre o leito tumoral que iniciou em Maio de 2007 e terminou em Junho do mesmo ano. A dose de radiação total prescrita foi de 45 Gy / 25 fracções /5 sema-nas, distribuída da seguinte forma: 39,5 Gy / 22 fracções através de dois campos, AP -PA, com

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Figura 1. Radiografia de tórax inicial

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fotões de energia de 15 MV sobre o mediastino e região pulmonar esquerda adjacente (Figura 2); e 5,4 Gy / 3 fracções, através de três campos

conjugados, dois oblíquos e um lateral esquerdo, com fotões de energia de 15 MV, como boost no leito tumoral (Figura 3).

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Figura 2. Campos de Tratamento de RT sobre o mediastino (1.ª parte do tratamento).

Figura 3. Campos de tratamento sobre o leito tumoral (2.ª parte do tratamento).

Papel da Radioterapia no Tratamento de Timomas Malignos

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A doente manteve -se em vigilância e, na TC torácica de follow -up, de Novembro de 2008 (Fi-gura 5), verificou -se uma recidiva da lesão no pilar diafragmático esquerdo, com cerca de 70 x 31 x 50 mm, acompanhando a pleura diafragmá-tica costo -vertebral; visível pequeno gânglio latero -aórtico direito com 12 mm de maior eixo – estádio II de GETT.

A biopsia da lesão guiada por TC (Figura 6) identificou -a como timoma B3 (carcinoma tími-co). Realizou excisão da lesão mediastínica e reconstrução do diafragma, a 18 de Março de

2009. A análise histológica da peça revelou rup-tura da cápsula do tumor com cerca de 1 cm, sem tumor nos limites de ressecção. Novo es-tadiamento deste tumor coloca -o no estádio IIB de Masaoka.

Foi proposta para terapêutica adjuvante com RT, que realizou de Maio a Junho de 2009. Foi administrada uma dose de 45 Gy / 25 fracções / 5 semanas através de três campos oblíquos conjugados na região torácica inferior e abdo-

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Figura 5. TC tórax (06 -11 -2008)

Figura 6. Biopsia guiada por TC (15 -01 -2009)

KeyStructure

(2500 pts LIVE)Plan Min Dose

(CGy)Max Dose

(cGy)Mean Dose

(cGy)Total Vol

(cc)

CTV 1033292 (09) 4314 5069 4697 535.4

PTV 1033292 (09) 3911 5069 4665 984.2

L.Lung 1033292 (09) 126 5062 3273 748.3

R.Lung 1033292 (09) 2 4093 189 1308.1

Total lungs 1033929 (09) 2 5063 1354 2056.1

Cord 1033292 (09) 0 4600 1800 47.3

Heart 1033292 (09) 86 4931 2912 648.5

Figura 4. Histograma dose -volume

Catarina Travancinha, Telma Almeida, Paula Pereira, et al.

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minal superior, com fotões de energia de 15 MV (Figuras 7 e 8).

Foi feita uma TC toraco -abdomino -pélvica de controlo após o tratamento, em Outubro 2009 (Fi-gura 9), que revelou apenas alterações de natureza residual, pós -cirúrgicas, no hemitórax esquerdo.

Actualmente a doente encontra -se assintomá-tica, mantendo follow -up em consulta de cirurgia geral no IPOLFG.

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KeyStructure

(2500 pts LIVE)Plan Min Dose

(CGy)Max Dose

(cGy)Mean Dose

(cGy)Total Vol

(cc)

CTV 1033292b (03) 4306 4860 4579 181.4

PTV 1033292b (03) 4127 4910 4575 450.1

Spinal Cord 1033292b (03) 149 4642 2941 22.3

R.Lung 1033292b (03) 0 1163 45 1417.7

L.Lung 1033292b (03) 0 154 19 522.6

Total lungs 1033292b (03) 0 1126 36 1973.9

Heart 1033292b (03) 0 117 47 506.9

Kidney (L) 1033292b (03) 76 4876 2230 220.6

Kidney (R) 1033292b (03) 37 2333 599 183.4

Liver 1033292b (03) 13 3224 415 1457.2

Figura 7. Histograma dose -volume

Figura 8. Campos de tratamento de RT de Timoma reci-divado

Papel da Radioterapia no Tratamento de Timomas Malignos

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4. RESULTADOS

Foram encontrados 18 doentes com o diag-nóstico de timoma maligno, tratados no Serviço de Radioterapia do IPOLFG. As idades

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Figura 9. TC torácica pós -tratamento (20 -10 -2009)

Figura 10. Campos de Tratamento de RT (reconstrução). Em cima: tratamento inicial (2007). Em baixo: re -irradiação da recidiva (2009).

Tabela IV. Resultados

Número total de doentes (n) N = 18 %

Idade (anos)Média 50Mínima 20 Máxima 77

SexoFeminino 10 55Masculino 8 45

RaçaCaucasiana 17 95Negra 1 5

Hábitos tabágicosSim 1 5Não 17 95

Hábitos alcoólicosSim 3 17Não 15 83

Síndromes paraneo-plásicas

Ausente 11 61Miastenia Gravis 7 39

Outro 0 –

Tipo Histológico (OMS)

A 0 –AB 3 17B1 1 5B2 3 17B3 6 33C 2 11Sem diagnóstico 3 17

Estadiamento Masaoka

I 0 –II 7 39III 6 33IV 5 28

Estadiamento GETT

Ia 0 –Ib 2 11II 6 33IIIa 5 28IIIb 3 17IVa 2 11IVb 0 –

Ressecabilidade Cirúrgica

Total 6 33Parcial 7 39Irressecável 5 28

RadioterapiaAdjuvante 13 72Paliativa 5 28

Quimioterapia Não utilizada 9 50Curativa 6 33Paliativa 3 17

Recidiva 8 61,5Local 4 50À distância 4 50N.º de Óbitos Total 9 69Causas Metastização 7 78

Miastenia Gravis 2 22

Catarina Travancinha, Telma Almeida, Paula Pereira, et al.

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encontravam -se compreendidas entre os 20 e os 77 anos, sendo a média de idades cerca de 50 anos. A maioria era do sexo feminino, embora a diferença não fosse significativa (Tabela IV).

Não se identificou nenhum factor comum na amostra, sendo a maioria dos doentes não fuma-dores, negando também hábitos alcoólicos. Sete doentes (39 %) apresentavam Miastenia Gravis associada ao timoma, não se tendo identificado mais nenhum tipo de síndrome paraneoplásica na amostra. O tipo histológico predominantemen-te encontrado na população em estudo foi o timo-ma B3 (classificação da OMS), encontrando -se maioritariamente tumores localmente avançados, no estádio II de Masaoka e II de GETT, sendo a maioria ressecáveis (72 %). A ressecção tumoral total foi conseguida em 33 % dos casos, a parcial em 39 % dos casos e, em cerca de 28 % dos casos, o tumor era irressecável, tendo sido estes doentes aceites para RT paliativa.

A cirurgia foi a terapêutica de primeira linha, associada a RT adjuvante. Neste grupo de doentes (13), houve recidiva descrita em 8 casos (61,5 %), 4 destes apresentaram recidivas locais e, outros 4, recidivas à distância. A taxa de mortalidade foi de 69 %. Faleceram 9 doentes (69 %), 7 dos quais (78 %) por progressão da doença oncológica e 2 (22 %) por complicações da Miastenia Gravis.

A sobrevida média total foi cerca de 10 anos (Tabela V), sendo a sobrevida média livre de doença um pouco menor, cerca de 8 anos. A sobrevida global aos 2 anos foi de 100 %, aos 5 anos foi de 69 % e aos 10 anos foi de 54 %.

Tabela V. Sobrevida média

Sobrevida aos 2 anos 100 %Sobrevida aos 5 anos 69 %Sobrevida aos 10 anos 54 %Sobrevida livre de doença 8 anosSobrevida total 10 anos

As Tabelas IV e V permitem resumir os resul-tados encontrados na amostra em estudo.

5. REVISÃO DA LITERATURA

O timo é um órgão com um papel importante na imunidade celular, permitindo a maturação dos linfócitos T. É constituído por dois lobos envolvi-dos por uma cápsula.

A nível celular é constituído por linfócitos e células epiteliais.11,13,14 É actualmente aceite que são as células epiteliais as responsáveis pela trans-formação tumoral e capacidade invasiva dos timo-mas, apresentando estes, de uma maneira geral, um curso indolente e um crescimento lento.1,6,11

As neoplasias do timo são raras sendo, na sua maioria, timomas.13 Os timomas malignos são ex-tremamente raros, com uma incidência de cerca de 0,15 casos por 100 000 habitantes por ano,6,13 dados corroborados por uma revisão epidemioló-gica recente realizada pelo Surveillance, Epide-miology, and End Results program (SEER).

Constituem cerca de 30 % das massas me-diastínicas anteriores em adultos,1,6 mas apenas 15 % nas crianças.6 São típicos da idade adulta, a partir da 4.ª década de vida, sendo rara a sua incidência antes dos 35 anos de idade e pare-cendo haver uma diminuição da incidência após os 70 anos de idade.13 Não existe uma predispo-sição clara de sexo ou raça para este tipo de tumor.1 No entanto, um estudo epidemiológico realizado nos EUA em 2003 revelou um ligeiro aumento da incidência destes tumores em ho-mens e nas raças negra e asiática. Não foi de-terminado ainda nenhum factor predisponente para este tipo de neoplasia.13

Como já referido anteriormente, cerca de 30 a 50 % dos doentes são assintomáticos, sendo o diagnóstico realizado acidentalmente através

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de exames de rotina, outros 30 % dos diagnósti-cos são conseguidos através da investigação de queixas de tosse ou dispneia e, por fim, cerca de 30 a 20 % são realizados após investigação de um síndrome paraneoplásica, sendo o mais co-mum deles a Miastenia Gravis, que afecta cerca de 30 a 45 % dos casos de timoma.1,4,6

Outras síndromes paraneoplásicas podem ocor-rer associados a este tipo de tumor, tais como a aplasia eritrocitária e a hipogamaglobulinemia. Estes ocorrem em cerca de 10 a 15 % dos casos, poden-do ser explicados por mecanismos auto -imunes, ainda não completamente estudados.1,6,13

Na maioria dos casos, os timomas têm um aspecto característico na TC, apresentando -se como massas mediastínicas anteriores com den-sidade de tecidos moles e com áreas de calcifi-cação. Os contornos geralmente são lisos ou lobulados. Factores que permitem suspeitar de malignidade são, por exemplo, a invasão vascu-lar, a perda do encapsulamento e a presença de depósitos pleurais.1 A TC é superior à Ressonân-cia Magnética (RM) no diagnóstico e no estadia-mento de tumores do mediastino anterior. A RM poderia trazer alguma mais valia no diagnóstico diferencial dos timomas, no entanto, sendo o diagnóstico destes tumores realizado por biopsia, este método imagiológico não vem adicionar qual-quer tipo de benefício. A Tomografia por Emissão de Positrões (PET) no diagnóstico e no estadia-mento dos timomas ainda se encontra em estudo, não devendo ser utilizada por rotina.2

Em termos terapêuticos, a cirurgia é o trata-mento de primeira linha, sendo a ressecção com-pleta do tecido tumoral um dos factores preditivos mais importantes da sobrevida a longo pra-zo.1,2,4,7,16 A mortalidade no período pós -operatório deste tipo de cirurgia é menor que 1 %.1

A cirurgia como terapêutica isolada é apenas indicada em tumores totalmente encapsulados,

estádio I de Masaoka. Neste estádio, alguns estudos apontam para taxas de recorrência me-nores que 5 %, com tratamento cirúrgico isola-do.1,2,21

Para timomas nos estádios II e III de Masaoka, é importante equacionar tratamentos adjuvantes pós -operatórios, nomeadamente a RT.20,21 Vários estudos sugerem que a taxa de recidiva destes tumores, com terapêutica cirúrgica isolada, é de cerca de 30 %, sendo que se verifica uma dimi-nuição dessa mesma taxa para cerca de 8 %, quando se associa RT adjuvante.4,19,22,23

De sublinhar que existem fortes evidências que a RT adjuvante é útil em tumores no estádio II Masaoka após ressecção incompleta ou, em tumores estádio III após ressecção, quer comple-ta, quer incompleta, permitindo diminuir a taxa de recidiva local. A maioria dos autores refere não existir benefício da RT adjuvante em tumores no estádio II após ressecção completa.1,4,25

Num estudo de Curran et al21, foram estudados 68 doentes com timomas no estádio II e III, tendo--se verificado 0 % de recorrências nos doentes tratados com cirurgia e RT adjuvante e 50 % nos doentes apenas submetidos a cirurgia de excisão tumoral completa. Outros estudos todavia não corroboram estes resultados.

Alguns tumores localmente avançados (está-dio III e IV) irressecáveis ab initio, podem ser tratados com RT neoadjuvante, de modo a pos-sibilitar uma ressecção cirúrgica posterior. A RT neoadjuvante tem sido alvo de pequenos estudos que demonstram respostas ao tratamento na or-dem dos 80 %, prevendo também um efeito de diminuição do potencial de disseminação duran-te a cirurgia.12,16,21,26 Nestes estádios, se as lesões forem francamente irressecáveis, a RT como te-rapêutica primária está indicada.4,21,25

Durante a cirurgia é importante a colocação de clips no leito tumoral ou local de margens

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duvidosas, de modo a facilitar o planeamento posterior pelo Médico Radioterapeuta.4

Apesar da aparente evidência de benefício da RT na diminuição da recorrência tumoral local, na doença localmente avançada, o mesmo não acontece no que toca à disseminação pleural destes tumores quando esta zona não é tratada também. No entanto, foi demonstrado que o alar-gamento dos campos de tratamento com irradia-ção de todo o tórax determinava um aumento significativo na toxicidade dos tecidos normais. Órgãos de risco como o coração, o pulmão e a espinhal -medula estão limitados em termos de quantidade de dose que podem receber sem toxicidade marcada.2,24

Para o tratamento de RT é necessário um planeamento prévio, com realização de TC torá-cica e marcação de volumes a irradiar. O Gross Tumor Volume (GTV), tal como o nome indica, refere -se ao tumor visível, se existir. O Clinical Tumor Volume (CTV) deve incluir o leito tumoral, o timo (em casos de ressecção parcial) e os locais com alta suspeição de doença residual. O Plan-ning Target Volume (PTV) consiste numa margem adicionada ao CTV, devendo ser, nestes casos, de 1 a 2 cm. 1,2 A dose de radiação prescrita para este tipo de tumores deverá ser de 45 a 50 Gy em fraccionamento convencional (1,8 a 2 Gy / dia) na RT adjuvante, se ressecção cirúrgica com-pleta, 54 Gy se as margens cirúrgicas forem mi-croscopicamente positivas e, 60 a 70 Gy se as margens forem macroscopicamente positivas. No caso da RT neoadjuvante, podem ser adminis-tradas doses de 40 a 50 Gy em fraccionamento convencional.1,2,5,27

Não existem grandes dúvidas quanto ao be-nefício da RT no tratamento deste tipo de tumor no entanto, existem efeitos secundários que po-dem ocorrer durante os tratamentos, derivados da toxicidade da radiação nos órgãos saudáveis.

A toxicidade aguda pode manifestar -se por fadiga, tosse, odinofagia ou disfagia e a toxicidade tardia refere -se principalmente a pneumonites, pericar-dites, miocardites ou mielopatias rádicas.

Os avanços tecnológicos da RT, da Radiologia e da Informática permitiram o desenvolvimento de técnicas com maior precisão associadas a uma menor toxicidade. Técnicas de RT 2D foram substituídas pela RT 3D, planeada a partir de volumes identificados numa TC de planeamento. Existe já a possibilidade de utilização de Acele-radores Lineares com técnica de Intensity--Modulated Radiation Therapy (IMRT) que per-mite poupar maior volume de tecidos sãos, diminuindo a toxicidade, resultando num trata-mento mais direccionado (Figura 9).

Figura 92. Histograma Dose -Volume comparativo das várias técnicas de Radioterapia (IMRT, 3D e 2D) A) Medula Espinhal B) Pulmão.

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A RT por Imagem Guiada (IGRT) é uma das mais recentes técnicas em RT, ainda não dispo-nível no IPOLFG. Permite tomar em considera-ção os movimentos involuntários do doente, di-reccionando o feixe de radiação para o local do tumor, tendo em conta os movimentos respirató-rios, na altura do tratamento, e realizando ajustes diários do feixe em cada sessão de RT. Este método permite então uma maior precisão do tratamento, com menor toxicidade nos tecidos saudáveis adjacentes.30,31

A recorrência tumoral dos timomas pode ocor-rer até 32 anos após a cirurgia, pelo que é ne-cessário um follow -up longo. O prognóstico des-ta doença a longo prazo é muito variável. A taxa de sobrevida aos 5 anos varia com o estádio da doença, sendo cerca de 93 % para estádio Ma-saoka I, 86 % para estádio II, 70 % para o estádio III e 50 % para o estádio IV.

6. DISCUSSÃO

Primeiro que tudo é importante referir que, devido à raridade da situação clínica apresen-tada, a amostra estudada não é estatisticamen-te significativa, devido ao seu número diminuto. No entanto os autores verificaram uma consis-tência dos resultados com os estudos apresen-tados na literatura. A idade média da amostra foi de 50 anos, havendo apenas uma ligeira dife-rença, não significativa, entre sexo feminino e masculino. Não foram encontrados factores pre-disponentes para este tipo de tumor, tais como tabaco ou álcool.

Os autores puderam observar uma incidência de Miastenia Gravis associada ao timoma de cerca de 39 %, tendo sido estes casos conside-rados mais graves. Não foi observado qualquer outra síndrome paraneoplásica. O tipo histológi-

co mais frequentemente encontrado foi timoma B3 (classificação OMS). Esta não é a histologia mais frequente nos estudos da literatura, no en-tanto, trata -se de tumores agressivos, com gran-de potencial de invasão que, na altura do diag-nóstico, se encontram em estádios avançados. Na amostra em estudo, verificou -se uma elevada percentagem de timomas localmente avançados, em estádios II e III de Masaoka (72 %) e II e IIIa de GETT (61 %), pelo que se compreende a predominância deste tipo histológico.

Dos doentes estudados, 28 % dos casos eram inoperáveis, pelo que realizaram apenas RT pa-liativa, com eficácia no alívio sintomático em todos os doentes. As doses utilizadas nestes casos foram de 30 Gy em esquema de hipofracciona-mento (3 Gy / dia). Cerca de 72 % dos doentes estudados foram submetidos a cirurgia de res-secção tumoral, completa ou parcial, e a terapêu-tica adjuvante com RT nas doses de 45 a 50 Gy em fraccionamento convencional. Esta dose de radiação está de acordo com as doses indicadas na literatura para terapêutica adjuvante pós--operatória. No entanto, a falta de guidelines pre-cisas relativas a este tipo de tratamento torna difícil a utilização, por toda a comunidade médica, de doses internacionalmente aceites.

A terapêutica adjuvante com QT foi utilizada apenas em 50 % dos casos, encontrando -se re-servada para doença avançada ou inoperável.

Apesar da terapêutica implementada, verificou--se uma taxa de recidiva, nos doentes submetidos a RT adjuvante, na ordem dos 61,5 % e uma taxa de mortalidade de 69 %, devendo -se 78 % dos óbitos à progressão da doença oncológica e 22 % a complicações de Miastenia Gravis.

A sobrevida global aos 5 anos, da amostra apresentada, foi cerca de 69 % e aos 10 anos foi de 54 %. Visto que a maioria dos pacientes era portador de doença localmente avançada, estádio

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de Masaoka II e III, e que a ressecabilidade ci-rúrgica total do tumor foi apenas conseguida em 33 % dos casos, as taxas de recidiva e de sobre-vida encontram -se de acordo com os dados en-contrados em outros estudos, mostrando, apesar do número reduzido da amostra, um eventual benefício da utilização da RT adjuvante com in-tuito curativo, por diminuição da taxa de recidiva e aumento da sobrevida e da RT paliativa, por melhoria sintomática.

7. CONCLUSÃO

Os timomas são neoplasias de incidência rara na nossa população. O prognóstico e a sobrevida dependem maioritariamente do estádio da doen-ça na altura do diagnóstico e da sua ressecabili-dade cirúrgica.

Devido à raridade da situação clínica existem poucos estudos acerca deste tipo de neoplasia, sendo a população estudada sempre diminuta, o que dificulta a elaboração de guidelines mais precisas no que toca ao tratamento dos timo-mas. Há evidência que a ressecção cirúrgica é a terapêutica de primeira linha. Em tumores localmente avançados ou com margens cirúrgi-cas positivas, é importante a associação de terapêuticas adjuvantes, sendo a RT uma es-pecialidade de retaguarda muito importante, devido à sensibilidade destes tumores a este tipo de tratamento. A RT adjuvante parece de-terminar um melhor controlo local da doença e uma diminuição da taxa de recidiva, em deter-minados estádios, permitindo aumentar a so-brevida destes doentes. Apesar da reduzida amostra, os nossos resultados apontam para uma eventual vantagem da utilização de RT adjuvante no tratamento curativo ou paliativo dos doentes com timoma.

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Radioquimioterapia sequencial ou concomitante no estádio III do CPNPC: avaliação retrospectiva da toxicidade aguda e sobrevidas

Sequential or concurrent radiochemotherapy in stage III NSCLC: retrospective evaluation of acute toxicity and survival

Liliana Lombo1, Cármen Calçada2, André Soares1, António Araújo3, Maria Bento4, Marisa Lobão5, Carla Castro5, Helena Pereira6

[email protected] Interno Complementar do Serviço de Radioterapia; 2 Assistente Hospitalar Graduada de Radioterapia; 3 Assistente Hospitalar, Serviço de Oncologia Médica; 4 Chefe de Serviço, Serviço de Epidemiologia; 5 Assistente Hospitalar, Serviço de Radioterapia; 6 Directora do Serviço de Radioterapia.Instituto Português de Oncologia do Porto Francisco Gentil, E.P.E.

Artigo original

RESUMO

O tratamento do carcinoma do pulmão não pequenas células (CPNPC), no estádio III, evoluiu nas últimas duas décadas, sendo a modalidade combinada de radioquimiterapia, a terapêutica standard actualmente mais utili-zada. Assim, a sobrevida a médio e a longo prazo melhorou para os pacientes neste estádio, comparativamen-te aos baixos outcomes atingidos com a radioterapia isolada usada no passado. A radioquimioterapia concomi-tante é o tratamento de eleição neste grupo de doentes com doença avançada, apesar de associada a toxici-dade aguda aumentada. Apresentamos neste estudo o resultado de todos os doentes portadores de CPNPC, em estádio III, localmente avançado, tratados com radioquimioterapia sequencial ou concomitante no IPOFG do Porto, entre 2002 e de 2008. Foram analisados retrospectivamente os processos clínicos de 85 doentes, com registo de toxicidade aguda e sobrevidas.

Palavras-chave: Radioquimioterapia, CPNPC, Estádio III

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ABSTRACT

The treatment of stage III non–small -cell lung cancer has evolved over the last two decades, with combined -modality therapy the current standard of care. As a result, intermediate and long -term survival has improved for patients in this common stage category, compared to the poor outcomes achieved with the historical standard of once -daily radiation therapy alone. Chemotherapy plus radiotherapy given concurrently is the optimal treatment for the group of patients with advanced stage III disease, although associated with increased acute toxicity. We present in this study all patients with advanced stage III non–small -cell lung cancer treated with chemotherapy plus radiotherapy given sequentially or concurrently, in the Portuguese Institute of Oncology of Porto between 2002 and 2008.We retrospectively reviewed the clinical files of 85 patients with evaluation of acute toxicity and overall survivals.

Key-words: Radiochemotherapy, NSCLC, Stage III

1. INTRODUÇÃO

O cancro do pulmão constitui uma das princi-pais causas de morte nos países desenvolvidos. Apesar dos incrementos nos resultados obtidos, a sobrevida global aos 5 anos é de cerca de 15 %, sem grandes previsões de mudança.

Em Portugal, relativamente à incidência de doença oncológica, situa -se em quarto lugar, sen-do a primeira causa de morte por cancro, quando englobamos ambos os sexos.

O Carcinoma do Pulmão não Pequenas Células (CPNPC) constitui cerca de 85 % dos tumores do pulmão e cerca de 40 % destes apresentam -se num estádio avançado (IIIA ou IIIB - T3N1; T4, qualquer N; e qualquer T, N2, ou N3), na altura do diagnóstico.

Há cerca de 35 % de doentes que se apre-sentam com doença localmente avançada, em estádio III, que não são susceptíveis de ser tra-tados com cirurgia e são potencialmente curáveis. O tratamento clássico só com radioterapia apre-sentava taxas de cura muito pobres mas a actu-al abordagem terapêutica multidisciplinar de-monstrou uma melhoria franca das taxas de resposta e das sobrevidas.

Actualmente, a combinação da quimioterapia e radioterapia constitui a abordagem standard nos doentes com CPNPC, localmente avançado.

A radioquimioterapia concomitante tem sido alvo de controvérsia mas, apesar de associada a to-xicidade aguda aumentada, demonstrou melhor sobrevida relativamente à QT/RT sequencial e é a eleita em pacientes com bom estado geral.

Apresentamos neste estudo o resultado de todos os doentes portadores de CPNPC local-mente avançado (estádio III), tratados com radio-quimioterapia sequencial ou concomitante no IPO do Porto, entre Janeiro de 2002 e Fevereiro de 2008. Foram analisados retrospectivamente os processos clínicos de 85 doentes, com registo de toxicidade aguda e sobrevidas.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Foi efectuado um estudo retrospectivo de 85 pacientes portadores de CPNPC em estádio III, de acordo com o sistema de estadiamento da 7.ª edição dos manuais da UICC e da AJCC. Todos os doentes foram submetidos a radioquimiotera-pia, sequencial ou concomitante, de intuito cura-tivo, no IPO do Porto, entre 2002 e 2008.

As características dos 85 doentes elegíveis estão descritas na Tabela I, tendo sido divididos de acordo com o tipo de tratamento: sequencial (n = 69) versus concomitante (n = 16).

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Tabela I. Características dos pacientes, por tipo de tratamento

Características QT/RT

sequencial(n = 69)

QT/RT concomitante

(n = 16)

Idade

< 60 anos

≥ 60 anos

24

45

4

12

Sexo

Feminino

Masculino

9

60

0

16

ECOG

0

1

2

12

53

4

4

11

1

Tabagismo

Não

Sim

15

54

3

13

Histologia

Epidermóide

Adenocarcinoma

Outros

38

20

11

7

5

4

Estádio

IIIA

IIIB

28

41

8

8

Esquema de QT

Platino+ Paclitaxel

Platino+ Gemcitabina

50

19

15

1

QT/RT sequencial – quimioradioterapia sequencialQT/RT concomitante – quimioradioterapia concomitante

Os doentes submetidos a terapêutica sequen-cial efectuaram 4 ou 6 ciclos de quimioterapia (6 ciclos nos tumores volumosos), seguida de ra-dioterapia. Os protocolos de quimioterapia usa-dos foram um derivado do platino e paclitaxel ou gemcitabina, de 3/3 semanas.

Nos tratamentos concomitantes, a quimiotera-pia usada foi o platino e paclitaxel semanal em doses reduzidas seguida de 2 ciclos em doses plenas. Um doente efectuou platino e gemcitabina. Apenas 3 pacientes realizaram RT/QT concomi-

tante ab initio, enquanto os restantes 13, efectua-ram RT em concomitância com o 3.º ciclo de QT.

O planeamento de radioterapia foi tridimen-sional e baseado em imagens de TC ou PET/TC, sempre que possível. Os volumes de radioterapia englobaram a doença macroscópica (tumor pri-mário e gânglios suspeitos de invasão), visível nas imagens de planeamento. Na quimioradiote-rapia sequencial foram marcados volumes pós--QT. A irradiação ganglionar electiva foi efectuada apenas nos casos de tratamento sequencial, com gânglios que tiveram boa resposta à quimiotera-pia prévia.

O tratamento foi efectuado num acelerador linear, usando fotões de energia mista (6 e 15 MV) e colimação com MLC.

No nosso estudo, as doses totais de radiação variaram entre 50 e 70 Gy com uma mediana de 60 Gy, sendo que 44 doentes efectuaram doses de RT ≤ 60 Gy, enquanto os restantes foram submetidos a doses > 60 Gy.

A toxicidade foi avaliada de acordo com a WHO (World Health Organization) e segundo os critérios da RTOG (Radiation Therapy Oncology Group) após QT/RT.

As sobrevidas global e livre de progressão fo-ram calculadas desde o primeiro dia de tratamen-to através do método de Kaplan -Meier e as dife-renças avaliaram -se pelo método de log -rank.

Os autores usaram o programa de computador SPSS, na análise estatística dos dados.

3. RESULTADOS

Da amostra total, 36 doentes pertenciam ao estádio IIIA e 49 ao estádio IIIB. A idade mediana dos pacientes foi de 63 anos (mínima 30 e máxi-ma 82 anos); 76 doentes (89,4 %) eram do sexo masculino e 9 (10,6 %) do sexo feminino. Verifi-

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camos antecedentes tabágicos em 67 doentes, na altura do diagnóstico, sendo que apenas 18 eram não fumadores (Tabela I).

O carcinoma epidermóide foi o tipo histológico mais frequente (45 doentes), seguido do adeno-carcinoma (25 doentes) e outras histologias (15 doentes).

Relativamente à escala de estado geral (ECOG), 16 doentes (18,8 %) apresentavam um ECOG de 0; 64 doentes (75,3 %) 1 e apenas 5 (6 %) tinham um valor superior a 1.

Os protocolos de quimioterapia usados fo-ram um derivado do platino e paclitaxel em 65 doentes (76,5 %) e um derivado de platino com gemcitabina de 3/3 semanas, em 20 pacientes (23,5 %). No grupo de tratamento com quimio-radioterapia sequencial, 50 doentes efectuaram platino e paclitaxel e 19, o derivado de platino com gemcitabina. A maior parte dos doentes que efectuaram o tratamento concomitante fez platino e paclitaxel (15) e apenas 1 doente efec-tuou platino e gemcitabina. Da amostra estu-dada, apenas 3 doentes realizaram RT/QT concomitante ab initio, enquanto os restantes, efectuaram RT em concomitância com o 3.º ciclo de QT.

A maioria dos doentes efectuou doses de RT iguais ou inferiores a 60 Gy (44 doentes), enquan-to os restantes foram submetidos a doses supe-riores a 60 Gy.

No estudo realizado, a sobrevida mediana dos 85 doentes foi de 22,3 meses e as sobrevidas globais aos 12, 24 e 48 meses foram 83 %, 42 % e 17 %, respectivamente. A sobrevida mediana foi sobreponível nos estádios IIIA e IIIB – 22,3 meses (Figura 1).

A sobrevida global aos 24 meses nos pacien-tes que realizaram QT/RT sequencial foi de 45 % e aos 48 meses, 12 %. A sobrevida mediana foi de 22,3 meses.

Os pacientes que realizaram QT/RT concomi-tante apresentaram uma sobrevida global de 28,9 % aos 24 e aos 48 meses. A sobrevida mediana, neste grupo, foi de 17,2 meses (Figura 2).

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Figura 1. Sobrevida global por estádio

Figura 2. Sobrevida global por tipo de tratamento

Liliana Lombo, Cármen Calçada, André Soares, et al.

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A análise da sobrevida global aos 24 e 48 meses, de acordo com as doses de Radiote-rapia, foi de 35 % e 14 %, no grupo de dose ≤ 60 Gy e 56 % e 45 %, no grupo > 60 Gy (Fi-gura 3).

A sobrevida mediana do grupo de dose ≤ 60 Gy foi de 22,3 meses e 39,5 meses no grupo > 60 Gy (p > 0,05). Não verificamos diferenças significativas nos dois subgrupos de tratamento, em relação à sobrevida livre de progressão (Fi-gura 4).

Não se encontraram diferenças estatistica-mente relevantes na sobrevida livre de progres-são relativamente à dose de RT.

Não há diferenças significativas na toxicidade hematológica e esofágica grau I e II relativamen-te ao tipo de tratamento efectuado (Tabela II). O grupo que fez QT/RT sequencial com platino e gemcitabina apresentou maior toxicidade hema-tológica grau III.

Tabela II. Toxicidades hematológica e esofágica, por tipo de tratamento

ToxicidadesQT/RT sequencial

N(%)QT/RT concomitante

N(%)

Hematológica

0

I -II

III

Total

34 (49,3)

23 (33,3)

12 (17,4)

69 (100)

4 (25)

10 (62,5)

2 (12,5)

16 (100)

Esofágica

0

I -II

Total

33 (47,8)

36 (52,2)

69 (100)

7 (43,8)

9 (56,3)

16 (100)

QT/RT sequencial – quimioradioterapia sequencialQT/RT concomitante – quimioradioterapia concomitante

Também não registamos diferenças significa-tivas nas toxicidades hematológica e esofágica, relativamente à dose de RT (Tabela III).

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Figura 3. Sobrevida global por dose de radioterapia Figura 4. Sobrevida livre de progressão por tipo de tratamento

Radioquimioterapia sequencial ou concomitante no estádio III...

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Tabela III. Toxicidades relacionadas com a dose de RT

ToxicidadesDose de RT ≤ 60 Gy

N (%)Dose de RT > 60 Gy

N (%)

Hematológica

0

I -II

III

Total

17 (38,6)

21 (47,8)

6 (13,6)

44 (100)

21 (51,2)

12 (29,3)

8 (19,5)

41 (100)

Esofágica

0

I -II

Total

20 (45,5)

24 (54,6)

44 (100)

20 (48,8)

21 (51,2)

41 (100)

Toxicidades avaliadas de acordo com a WHO e a RTOG

Relativamente às toxicidades e esquema de QT utilizado (Tabela IV), o grupo que fez Platino e Gencitabina (esquema usado sobretudo nos tratamentos sequenciais) apresentou maior toxi-cidade hematológica grau III.

Tabela IV. Toxicidade hematológica grau III de acordo com o esquema de QT

ToxicidadeHematológica

Esquema de QTPlatino + Paclitaxel

N = 65

Esquema de QTPlatino + Gemcitabina

N = 20

Grau III 5 9

Toxicidade avaliada de acordo com a WHO e a RTOG

4. DISCUSSÃO

A quimioterapia foi associada à radioterapia para tratar a doença loco -regional e micrometas-tática em pacientes com CPNPC no estádio III. Inicialmente, foi utilizado o tratamento sequencial (quimioterapia seguido de RT) e os ensaios clí-nicos estabeleceram benefícios desta abordagem comparativamente à RT isolada.

Foram realizados dois ensaios clínicos e duas meta -análises que estabeleceram que a aborda-gem sequencial é superior à RT apenas1 -5.

No ensaio clínico CALGB 8433, 155 pacientes com CPNPC no estádio III foram randomizados para RT isoladamente (60 Gy em seis semanas) ou dois ciclos de quimioterapia baseada em cisplatina segui-dos de RT1. Ao fim de sete anos de follow -up, verificou--se melhoria significativa da sobrevida mediana e aos 5 anos (14 versus 10 meses e 17 % versus 6 %), no grupo que associou a quimioterapia.

As duas meta -análises que compararam qui-mioradioterapia sequencial versus só radioterapia também concluíram uma melhor sobrevida ao fim de um e dois anos na abordagem combinada. Contudo, esta melhoria de sobrevida a curto--prazo foi modesta e não se traduziu em melhores resultados a longo -prazo4,5.

No nosso estudo, a maior parte dos doentes foi tratado com quimioradioterapia sequencial com boa tolerância clínica e hematológica. As sobrevidas global e mediana estão de acordo com os resultados da literatura.

A administração de quimio -radioterapia con-comitante permite um tratamento precoce de micrometástases e explora o efeito sinergístico de ambas para melhorar a erradicação local do tumor. Contudo, o tratamento concomitante acar-reta maior toxicidade aguda e tardia, pelo que esta questão ainda mantém preocupação6,7.

Por este motivo, a nossa experiência inclui ape-nas 16 doentes tratados com QT/RT concomitante.

O estudo fase III do CALGB avaliou o uso de quimioterapia de indução prévia à QT/RT conco-mitante e referiu aumento da toxicidade sem me-lhoria da sobrevida8.

No entanto, a quimioterapia de indução prévia à radioterapia pode ser necessária nos tumores volumosos em que não é possível um bom plano de RT sem risco elevado de pneumonite radióge-

Liliana Lombo, Cármen Calçada, André Soares, et al.

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na17. Nestes casos, a QT/RT ou a RT isolada pode ser administrada subsequentemente se se obtiver uma resposta adequada à QT de indução. Foi o que se verificou em 13 dos 16 doentes tratados com QT/RT concomitante. Apresentavam tumores volu-mosos que regrediram após dois ou três ciclos de QT e nos quais foi possível efectuar RT em doses radicais sem risco de toxicidade pulmonar grave.

A toxicidade hematológica aguda (neutropenia grau II -IV) descrita para os tratamentos concomi-tantes é de 50 % versus 30 % nos sequenciais e a esofagite grau III -IV é de 25 % versus 2 %6,7,9 -11.

No nosso estudo, não tivemos toxicidade eso-fágica grau III -IV, independentemente do tipo de tratamento; apenas registámos toxicidade grau I/II e sobreponível nos dois grupos de tratamento (cerca de 55 % dos casos).

A toxicidade hematológica grau III foi seme-lhante nos dois grupos (17,4 % e 12,5 %) e a toxicidade grau II foi mais frequente no grupo concomitante (Tabela II), mas sem significado estatístico.

No geral, os nossos resultados de toxicidade são bons e não se sobrepõem à maioria dos estudos com terapêutica concomitante provavel-mente por termos utilizado um esquema de QT com doses reduzidas, planeamento 3D conformal e irradiação apenas do tumor macroscópico.

Na avaliação das sobrevidas de acordo com a dose total de radiação, embora sem significado estatístico, registamos uma tendência para melhores sobrevidas quando usamos doses superiores a 60 Gy, o que está de acordo com a literatura12,13.

Ainda não está estabelecido qual o melhor regime de quimioterapia para utilizar concomitan-te com a radioterapia devido ao pequeno núme-ro de estudos randomizados comparando os di-ferentes regimes de QT.

Nos últimos anos, os ensaios randomizados estabeleceram a superioridade da abordagem con-

comitante comparativamente à sequencial6,7,14 -17, com um aumento da sobrevida mediana de 16 meses e um aumento de 21 % na sobrevida livre de doença aos 4 anos.

A nossa experiência não nos permite confirmar uma melhor sobrevida com o tratamento conco-mitante. Obtivemos sobrevidas sem diferenças significativas nos dois grupos.

Dado ser apenas um estudo retrospectivo e observando um registo de baixa toxicidade e sobrevidas sobreponíveis, concluímos que pro-vavelmente devemos investir mais nos tratamen-tos concomitantes para conseguirmos incremen-tar as nossas sobrevidas.

5. CONCLUSÕES

A sobrevida global obtida foi de 42 % e 17 % aos 24 e 48 meses, respectivamente. Não houve toxicidade grave (grau III/IV) associada ao trata-mento concomitante. Obtiveram -se melhores sobrevidas nos pacientes que efectuaram uma dose de RT > 60 Gy.

Não houve diferenças significativas nas so-brevidas entre os doentes que efectuaram trata-mento concomitante ou sequencial. Este resulta-do não confirma os da literatura provavelmente devido ao número reduzido de pacientes subme-tido a RT/QT concomitante.

O nosso estudo confirmou a importância da dose de radioterapia no tratamento radical. Não há diferenças significativas nas toxicida-des relativamente ao tipo de tratamento efec-tuado, o que nos permite concluir que deve ser dada a oportunidade a mais doentes no estádio III de efectuarem radioquimioterapia concomitante.

O tratamento do cancro do pulmão com RT é um desafio aliciante na medida em que sabemos

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que utilizando técnicas inovadoras de tratamento podemos implementar a dose total de radiação e melhorar os resultados.

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Liliana Lombo, Cármen Calçada, André Soares, et al.

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Radioterapia Estereotáxica do Pulmão

Lung Cancer Stereotaxic Body Radiation Therapy

Nuno Pimentel

[email protected] Serviço de Radioterapia. Hospital de Santa Maria, Centro Hospitalar Lisboa Norte, EPE. Lisboa

Artigo de revisão

RESUMO

A Radioterapia Esteretotáxica Extracraniana é hoje uma técnica emergente de radioterapia, que vê na sua aplicação à neo plasia do pulmão, um potencial sem precedentes. A irradiação estereotáxica no pulmão com altas doses (BED > 100 Gy), complicações mínimas e precisão semelhante aos tratamentos de radiocirurgia intracraniana, entrou na prática clínica. Permite duma forma segura, fiável e reproduzível, ampliar o arsenal de armas terapêuticas no combate ao cancro do pulmão. O autor discute as suas indicações, desenvolvimen-tos e resultados clínicos emergentes nomeadamente nas áreas dos doentes medicamente não operáveis em estádios iniciais de CPNPC, na metastização pulmonar, oligometastização e toxicidade associada.

Palavras-chave: Radioterapia estereotáxica, Cancro do pulmão, Radioterapia, Metásteses, Oligomestásteses.

ABSTRACT

Stereotaxic Body Radiation Therapy (SBRT) is an emerging radiotherapy technique that presents an unprec-edented potential in Lung Cancer. Lung stereotaxic irradiation, with high doses (BED > 100 Gy), with minimal complications and similar accuracy as intracranial radiosurgery, pave the way into clinical practice. It allows safe delivery in a reproducible manner and provides expand the arsenal of therapeutic weapons to fight lung cancer. The author discusses indications, developments and emerging clinical results, namely in patients with early stage non-small cell lung carcinomas unfit to surgery, lung metastasis, oligometastatic disease and as-sociated toxicity.

Key-words: Stereotactic Body Radiation Therapy, Lung Cancer, Radiation Therapy, Metastasis, Oligometastasis.

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1. INTRODUÇÃO

A Radioterapia Estereotáxica Extracraniana (SBRT) ou Radioterapia Ablativa Estereotáxica configura uma nova modalidade terapêutica, onde elevadas doses de radiação ionizante são distri-buídas com grande precisão, usando fracciona-mento único ou múltiplo (tipicamente menos de 5 fracções). O objectivo é obter um elevado ren-dimento de deposição de dose, juntamente com um abrupto e decrescente gradiente de dose nos tecidos circundantes.

O conceito é muito similar ao usado na Radiocirurgia intracraniana ou na Radiotera-pia estereotáxica fraccionada intracraniana. O desenvolvimento nos últimos 15 anos dos recursos técnicos para a utilização de feixes/arcos coplanares e não coplanares altamen-te conformacionados e o uso concomitante de doses hipofraccionadas na irradiação de tumores sólidos, foi expandido para áreas extracranianas, ampliando o ratio terapêutico da irradiação tumoral (definido como a rela-ção entre o controlo local versus toxicidade induzida).

A área de tecido normal circundante ao volume alvo terá necessariamente danos permanentes mas não clinicamente significativos, seja por abranger uma área diminuta ou por não determi-nar défice de função. A vantagem do hipofracio-namento, advém da capacidade de contrariar os mecanismos de reparação celular, resultando em impacto biológico acrescido.

A sua utilização e desenvolvimento recente relaciona -se com um aumento da capacidade de garantir com precisão a deposição de dose e obter as respectivas curvas com gradientes (muito) abruptos. A melhoria na imobilização corporal de forma consistente e reprodutível e por outro lado, o emergir de modernas técnicas

para compensar a mobilidade dos órgãos – IGRT (Image Guided Radiation Therapy) em conjunção com acompanhamento (gating), amortecimento (dampening) ou alcance (cha-sing) no controlo do movimento, conduziram à aplicação das técnicas intracranianas no resto do corpo1.

2. PERSPECTIVA HISTÓRICA

As vantagens da irradiação intracraniana em termos de imobilização rígida e localização num sistema cartesiano de coordenadas com conse-quente capacidade de localização tridimensional da lesão, emergiram desde 19712 através do tra-balho percursor de Leksell (1950s)3.

A resolução dos problemas associados com a aplicação desses princípios a localizações ex-tracranianas, como seja a imobilização externa e interna, teve um desenvolvimento acelerado nos últimos anos.

Os melhoramentos na imagiologia médica anatómica e funcional e a crescente sofisticação dos sistemas de planeamento e de irradiação terapêutica, permitiram -nos uma optimização sem paralelo na radioterapia. A possibilidade recente de proceder a escalamento de dose, mantendo ou reduzindo o impacto funcional e sintomático nos tecidos circundantes, transfor-mou esta arte.

Capacidades acrescidas em imagem médica incluindo tomografias 4D, uso de marcadores fiduciais, técnicas para minimizar o movimento dos órgãos ou de os acompanhar (gating), pro-cedimentos de controlo de qualidade e verifica-ção do plano de tratamento e posicionamento iniciais (setup) e verificação em tempo real intra e inter -fracção, foram todas desenvolvidas re-centemente e convergiram para tornar a SBRT uma realidade.

Nuno Pimentel

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3. DISCUSSÃO

O tratamento standard para os estádios ini-ciais na neoplasia do pulmão é a cirurgia. Con-tudo, a cirurgia cardiotorácica apresenta risco acrescido de complicações.

Refinamentos na técnica cirúrgica, nomeada-mente com procedimentos minimamente invasi-vos e evolução dos cuidados perioperatórios, permitiram reduzir este paradigma para valores de morbilidade específica inferior a 1 %. Compli-cações pós -cirurgia são no entanto frequentes, como dor crónica, oxigenoterapia permanente, perturbação de qualidade de vida e eventualmen-te morte precoce, sobretudo em doentes idosos ou medicamente comprometidos. Infelizmente estes últimos chegam a representar 20 a 25 % dos doentes com estádios iniciais.

Até ao desenvolvimento da SBRT, a alternativa à opção cirúrgica resumia -se ao uso de EBRT (Ex-ternal Beam Radiation Therapy). O limite desta última prende -se com a quantidade de tecido pul-monar saudável irradiado e consequente probabi-lidade de pneumonite rádica que conduziu histori-camente a doses terapêuticas subóptimas e insuficiente controlo local. Em contraste com os re-

sultados da EBRT, o uso da SBRT, pelo menos em séries Japonesas, associa -se a valores de contro-lo local superiores a 90 %, aproximando -se aos da ressecção cirúrgica16 – ver Tabela I (adaptada4).

3.1. Carcinoma do Pulmão não Pequenas Células – Estádio I

(doentes medicamente inoperáveis)

Os resultados de vários ensaios de grupos cooperativos reportados na literatura33,34,35, per-mitiram estabelecer a SBRT como standard na terapêutica da neoplasia pulmonar de estádio inicial em doentes medicamente inoperáveis. O protocolo da RTOG 023635, com follow -up a 3 anos, apresentou controlo local e sobrevida glo-bal de 98 e 56 % respectivamente, evitando em mais de 75 %, toxicidade aguda severa (por es-clarecer os outros 25 %).

A dose absoluta de 60 Gy em 3 fracções de 20 Gy (BED – Biological Equivalent Dose = 180 Gy) usada em SBRT, resulta do estudo de esca-lonamento de dose publicado por Timmerman et at5 em 2003 e desde então tem sido amplamen-te discutida. As séries Japonesas diferem das publicadas nos EUA, usando esquemas de frac-cionamento diverso – 12 Gy x 4 (BED 105.6 Gy) ou 10 Gy x 5 (BED 100 Gy).

Outras diferenças como correcções no cálculo de heterogeneidade de dose, prescrição ao iso-centro ou à periferia da lesão de uma determina-da isodose, persistem e é necessário implementar uma metodologia comum. Apesar destas diferen-ças os vários estudos (fase I e II) reportam taxas de controlo local similares e > 90 % com mínimas complicações – ver Tabela I. De notar que, do ponto de vista radiológico, ao fim de 6 semanas é possível evidenciar regressão tumoral.

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Tabela I. Controlo local em tumores periféricos do pulmão, T1-2N0 (modificada de Dilling T, et al)

Autores n Dose total/ n.º fracções

Controlo local

Follow-up (meses)

Toxicidade grau 3

Uematsu et al 50 50-60 Gy/5-10 94 % 60 0.00 %

Onishi et al 251 18-75 Gy/1-22 86 % 38 5.40 %

Nagata et al 45 48 Gy/4 98 % 30 0.00 %

Timmerman et al 37 60-66 Gy/3 95 % 24 5.40 %

Baumann et al 138 30-48 Gy/2-4 88 % 33 10.10 %

Zimmerman et al 68 37.5 Gy/3 88 % 36 3.00 %

McGarry et al 47 54-72 Gy/3 87 % 15 –

Xia et al 43 50 Gy/10 95 % 36 2.30 %

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Estas receitas de dose e suas variantes tem produzido resultados consistentes e reprodutí-veis em várias séries (ver Tabela I), mas sobre-tudo para tumores < 2 cm. Para tumores maiores, possivelmente outro escalonamento será neces-sário para reproduzir as mesmas taxas de con-trolo local6,7.

Para aumentar a dose no alvo sem aumentar as complicações nos tecidos saudáveis, é preci-so ter em conta em termos de cálculo de dose total normalizada (NTD), que para um aumento de dose total por fracção de 2 Gy (para 22 Gy), obtém -se 15 % de acréscimo de morte tumoral e 20 % de acréscimo de dose nos tecidos circun-dantes que se traduz em 50/60 % de aumento na frequência de complicações8. O aumento do nú-mero de fracções com diminuição simultânea da dose por fracção tem sido usado para resolver este problema. O uso de 15 Gy x 5 ou 16 Gy x 5 em relação aos 20 Gy x 3, permite teoricamente obter ganhos de 9 a 20 % na irradiação tumoral e 2 a 10 % na irradiação circundante. Baseado nestes pressupostos está em curso um estudo prospectivo de escalonamento de dose em cen-tros Cyber -Knife8.

(doentes medicamente inoperáveis... ou não)

Muito naturalmente, grupos de doentes em áre-as mais cinzentas da indicação cirúrgica – doentes eligíveis para procedimentos cirúrgicos não anató-micos (ressecção em cunha) ou ressecções sublo-bares, mas não eligíveis para lobectomia/pneumec-tomia por problemas cardiopulmonares associados, configurarão outra área de interesse.

Em tumores pequenos e periféricos (< 3 cm), a ressecção sublobar por segmentectomia ana-tómica (e não em cunha), pode resultar em valo-res de sobrevida global e específica semelhantes aos obtíveis por lobectomia9,10,11

Os trabalhos publicados por Grills et al12, de-monstraram existir pelo menos risco igual de re-cidiva local, regional e de metastização no uso de SBRT versus estas séries cirúrgicas e para estes grupos de doentes. Apesar da existência de maior sobrevida global no grupo da cirurgia (resecção em cunha), não teve reflexo na sobre-vida específica, concluindo os autores que em estádios I de carcinoma pulmonar não pequenas células as duas alternativas são lícitas.

Outra alternativa interessante, consubstancia o uso de tumorectomias segmentares não ana-tómicas associadas a braquiterapia13 (I125) para obstar os cerca de 40 % de recorrência marginal quando isoladas14.

Grills et al12 também descrevem dados de recorrência ganglionar após SBRT de 4 a 10 % (em follow -up imagiológico) contra 13 a 26 % de envolvimento ganglionar pós cirurgia usando es-tadiamento por PET/CT. Justificam este diferen-cial pela irradiação secundária acidental das áreas ganglionares mediastínicas. Outros autores infirmam pelo efeito de vacinação imunológica na exposição a antigénios tumorais expressos após a radioterapia ablativa utilizada.

(doentes medicamente operáveis)

A extrapolação destes resultados numa popu-lação de doente medicamente operáveis, é pois, relevante, aliciante e insidiosa. Vários estudos não prospectivos e não controlados têm sido publica-dos, nomeadamente em trabalhos japoneses15,16.

A dificuldade de os recriar na Europa ou nos EUA resulta da articulação com as outras espe-cialidades, nomeadamente com a Cirurgia Car-diotorácica e é inerente à referenciação destes doentes. Alguns trabalhos fase II encontram -se em fase final de agregação de doentes e deverão dar mais respostas brevemente17,18.

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O estudo Holandês fase III (ROSEL)19 tem despertado muito interesse bem como o ensaio clínico internacional da CyberKnife20, que nos critérios de selecção dos doentes e no âmbito dos resultados, têm potencial para mudar a refe-renciação de doentes nesta área.

3.2. Metastização Pulmonar

Apesar deste subgrupo de doentes muitas ve-zes apresentar um PS e função respiratória supe-rior ao grupo dos doentes medicamente inoperáveis (mesmo tendo já sido submetidos a QT, apresen-tam melhor reserva respiratória), só mais recente-mente e apenas em estudos retrospectivos se têm publicado séries envolvendo o uso de SBRT. Na maioria dos casos com excelentes taxas de con-trolo local (> 90 %) apesar do pequeno número de doentes tratados em cada trabalho (10 a 125)21,22.

Os esquemas de fraccionamentos são muito díspares e dependem tanto de factores locais (Japão, EUA) como da extrapolação de dados radiobiológicos: 10 Gy × 3, 12 Gy × 3, 12.5 Gy × 3, 16 -26 Gy × 1, 35 Gy (7 Gy × 5), 40 Gy (8 Gy × 5). Nalguns casos a SBRT é usada em combi-nação com protocolos de EBRT23.

De salientar que a toxicidade reportada foi mínima ou mesmo inexistente para lesões peri-féricas (Grau III -IV < 1 %). Toxicidade pulmonar relevante (Grau III -IV) aparece reportada em pro-tocolos de SBRT em doentes que foram subme-tidos a irradiação torácica prévia24.

Alguns trabalhos em SBRT com fracção única determinaram uma relação dose -resposta a par-tir de 30 Gy. Apenas 11 % dos doentes tratados com 30 Gy apresentou recorrência local contra 33 % dos tratados com doses < 30 Gy25.

A discussão latente em relação á ausência de diagnóstico histológico, como não contra-

-indicação para a realização de SBRT, configura outra área onde um velho paradigma da radiote-rapia oferece reinterpretação.

3.3. Oligometástases

(controlo local)

O conceito de oligometastização26 ou de doen-ça metastática extracraniana limitada, tem sido descrito como um conjunto de situações para as quais o tratamento standard engloba terapêuticas sistémicas como a quimioterapia, hormonoterapia ou oncotermoterapia. Compreende um estado intermédio de doença em que esta, apesar de a entendermos como disseminada, está limitada a um número finito de localizações e/ou órgãos metastizados.

A potenciação e sucesso inicial das terapêu-ticas sistémicas em alguns subgrupos de doen-tes, permite confinar a doença e assim postular o efeito benéfico de intervir localmente27. Por outro lado, a fundamentação na “hipótese Norton--Simon”, segundo a qual a citorredução tumoral em localizações sólidas levará a redução do im-pacto sistémico (tumor burden) entendido como um estado de maior fracção de multiplicação nas células tumorais circulantes, permite racionalizar as vantagens de terapias ablativas locais.

O uso de SBRT como terapêutica ablativa local adjuvante, pode representar maior controlo da doença e potencialmente ter impacto na so-brevida, sobretudo ampliando as actuais ofertas terapêuticas – cirurgia, radiofrequência. A possi-bilidade de, em determinados grupos de doentes, oferecer controlo local total, passando de metas-tazectomias incompletas para completas, pode resultar num ganho de sobrevida de 15 contra 35 meses em relação ao uso de cirurgia como tera-

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pêutica ablativa em CPNPC28 e carcinoma colo--rectal29.

Também nesta área, a tentativa de descobrir a correcta relação dose -resposta, tem dado alguns passos. Um dos trabalhos publicados reportou 48 vs 60 Gy como cut -off (fracções de 4 Gy) em termos de progressão local livre de doença mas sem correlação com a sobrevida. É sem dúvida, um questão ainda com muito por optimizar30.

(paliação)

Mesmo na paliação sintomática da dor e/ou controle de função neurológica, a utilização de SBRT pode ampliar o actual uso de EBRT no sucesso terapêutico, nomeadamente em termos de Qualidade de Vida.

Contudo e apesar dos dados preliminares en-corajadores, será necessário esperar pelos re-sultados de ensaios clínicos (já em curso), com maior tempo de follow -up, onde seja possível compreender o melhor enquadramento para a SBRT, perfil de toxicidade e impacto na história natural da doença.

3.4. Comentário Final

A questão quais destas subpopulações de doentes migrarão da opção cirúrgica e serão in-cluídas na prática clínica do uso de SBRT, per-manece por caracterizar. Muito provavelmente não existirá competição na referenciação de do-entes, mas evoluir -se -á para uma situação de personalização terapêutica, resultante de abor-dagem multidisciplinar e conduzida pelo BI bio-lógico do tumor, determinado individualmente.

Factores como a patofisiologia das co -mor-bilidades cardiorespiratórias, considerações

anató micas (tamanho e localização), estudo imagioló gico funcional, perfil histopatológico e carac terização genotípica conduzirão a essa re-alidade. A nós médicos, caberá a passagem para o reconhecimento não como radioterapeutas, pneumologistas ou cirurgiões mas sim como on-cologistas torácicos31.

3.5. Toxicidade

Sempre se associou a maior dose por fracção a um maior potencial de toxicidade secundária nos tecidos sãos circundantes. Contudo os valo-res reportados nas séries internacionais – ver Tabela I – apresentam baixa frequência de toxi-cidade Grau III ou superior. Apenas em trabalhos que seleccionaram lesões mais centrais (Tabela I; ver resultados de Baumman et al33) é possível verificar um ligeiro acréscimo.

Embora pouco divulgada ou analisada, na maioria dos trabalhos publicados, com a genera-lização da SBRT, é de prever que o assunto seja mais discutido. Duma forma geral não tem sido reportada toxicidade aguda Grau > III. A pneumo-nite radiógena e fracturas de arcos costais são os eventos de maior gravidade reportados. Há que ter em conta particularmente a dermatite radiógena. Uma vez que tendencialmente os tu-mores tratados têm sido periféricos, a esofagite não tem sido limitadora.

Num trabalho publicado por investigadores do Memorial Sloan -Kettering é descrita uma ele-vada taxa de toxicidade aguda cutânea32. Um dos doentes analisados sofreu mesmo toxicidade Grau IV, 4 % com Grau III, 8 % Grau II e 38 % Grau I. Os factores associados como significativos foram a utilização de apenas 3 feixes, a distância do tumor à parede torácica posterior < 5 cm e dose máxima na pele > 50 % da dose prescrita.

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Será importante no entanto aguardar por follow -up mais alargado que permita determinar se esta técnica terá impacto clínico com detrimen-to funcional ou sintomático e se se traduz em maior toxicidade

4. CONCLUSÃO

Ainda sem uma tradução inequívoca em ter-mos de sobrevida e modificação da história natu-ral da doença, a SBRT questiona desde já o es-tado da arte em inúmeras patologias e, de todas as localizações extracranianas, é no pulmão que esse potencial promete uma pequena revolução.

A SBRT é hoje uma técnica incontornável na terapêutica da neoplasia e metastização pulmonar. Numerosos estudos demonstraram a eficácia e segurança de administrar SBRT no contexto de neoplasia pulmonar. Os dados conhecidos e inter-pretados até à actualidade, permitiram a afirmação e reconhecimento do sucesso terapêutico, em do-entes medicamente inoperáveis33,34,35 e na metasti-zação pulmonar de origem colo -rectal e pulmonar.

Naturalmente que são ainda muitas as inter-rogações e sobretudo escassos os dados viáveis para estabelecer esta técnica como standard nas indicações exploradas. Dados maduros e repre-sentativos das subpopulações em estudos esta-rão disponíveis nos próximos 3 a 5 anos.

O paradigma de tratar em Oncologia, terá no uso de SBRT na doença pulmonar, uma área com o impacto de tratar doentes com maior co--morbilidade e/ou com doença disseminada ini-cial, com tempos médios de sobrevida equipará-veis aos das melhores séries em doentes com estádios precoces. A possibilidade de tratamento efectivo, com armas terapêuticas alternativas e com perfis de toxicidade baixos, assim o permite perspectivar.

A sua implementação e consequente progra-ma36,37 deve ser reservado para Instituições com protocolos de parceria, que conduzam uma curva de aprendizagem segura e uniforme. Necessita correcta referenciação de doentes, maximizando em número o acumular de experiência. A exce-lência na formação e aposta em procedimentos de controlo de qualidade, evitará retrocessos e permitirá a todos em Portugal que se dediquem a esta área, o impacto clínico desejado. A sua divulgação intra e extra departamento levará à expansão do arsenal terapêutico, numa interven-ção que é necessariamente multidisciplinar.

O limite de transfigurar o cancro de pulmão numa doença crónica, possivelmente ainda es-tará longe, mas na SBRT, suas indicações e im-plementação universal, encontraremos um passo seguro nessa direcção.

AcrónimosQoL – Qualidade de VidaSBRT – Stereotaxic Body Radiation TheraphyEBRT – External Beam Radiation TherapyPS – Performance StatusQT – QuimioterapiaIGRT – Image Guided Radiation TherapyNTD – Normalized Total DoseCPNPC – Carcinoma Pulmonar não Pequenas CélulasBED – Biologic Equivalent Dose

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Irradiação profiláctica do cérebro (IPC) nos carcinomas do pulmão não pequenas células (CPNPC): para quando uma mudança de paradigma?

Prophylactic cranial irradiation (PCI) in non -small cell lung cancer (NSCLC) patients: when a paradigm change?

Pedro Chinita.

[email protected]ço de Radioterapia. Hospital do Espírito Santo de Évora, EPE.

Artigo de revisão

RESUMO

A elevada incidência de metastização cerebral nos CPNPC tem levado à realização de estudos que demonstrem se, à semelhança dos Carcinomas Pulmonares de Pequenas Células (CPPC), existe vantagem na realização da Irradiação Profiláctica do Cérebro (IPC).Todos os ensaios randomizados ou retrospectivos, têm revelado uma diminuição muito significativa da metastização ce-rebral. No entanto no CPNPC, a sobrevivência global e a sobrevida livre de doença não se alteram com ou sem IPC.A mais recente subanálise do ensaio da RTOG 0214 revelou que não existem diferenças significativas na função cognitiva global e na qualidade de vida mas que o grupo irradiado possui uma diminuição significativa na memória.Contudo, também foi possível determinar igual eficácia na IPC dos CPPC com menores doses dos que as ensaia-das no estudo do RTOG 0214.Parece razoável supor que, se a eficácia da PCI na diminuição das metástases cerebrais é idêntica nos CPPC e nos CPNPC, e se a mesma permanece com menores doses (com provável menor toxicidade neurológica) deverá ser melhor investigado se não existirá um subgrupo de doentes (histologias não epidermóides? diferentes respostas à terapêutica torácica?) que mais beneficie desta irradiação profiláctica e da qual resulte um ganho real na sobrevivência.Outras abordagens possíveis são o uso de agentes protectores neurológicos (como a memantina), de quimiotera-pia que ultrapasse a barreira hemato -encefálica ou IPC com protecção do hipocampo.

Palavras -chave: irradiação profiláctica cerebral, IPC, carcinoma do pulmão não pequenas células, CPNPC, me-tástases cerebrais.

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A irradiação profiláctica do cérebro (IPC) cons-titui, desde há alguns anos, uma componente essencial do tratamento dos doentes com Carci-noma do Pulmão de Pequenas Células (CPPC) desde que tenham conseguido uma resposta completa ou muito grande (em estádios limitados) ou desde que, no caso de doença extensa, te-nham alcançado uma resposta inicial.

De facto, a sua omissão compromete os ga-nhos conseguidos com a terapêutica realizada sobre a doença torácica.

A semelhança de racional entre os CPPC e os Carcinomas do Pulmão de Não Pequenas Células (CPNPC) constitui a razão pela qual, no passado e no presente, têm sido realizados di-versos ensaios visando confirmar uma eventual associação da IPC nos CPNPC.

De facto, cerca de 50 % dos doentes com um CPNPC avançado (IIIA/IIIB) acabam por metas-tizar para o cérebro e em 15 -30 % este é o pri-meiro local da recaída. Este risco é maior nas

histologias não epidermóides (cerca de 30 a 40 % nos Adenocarcinomas e nos Carcinomas de Grandes Células) do que nas epidermóides (cer-ca de 17 %).

Nesta lógica, a IPC nos doentes que tenham conseguido uma terapêutica loco -regional eficaz (por cirurgia ou radioterapia com ou sem quimio-terapia) justifica -se por não ser possível destruir eventuais focos microscópicos que se tenham alojado ao nível do SNC.

No passado, foram realizados três estudos ran do mizados que confirmaram uma redução muito significativa na incidência de metastização cerebral favorecendo o grupo de doentes com CPNPC que realizou a IPC quando comparados com aqueles que permaneceram apenas em vi-gilância. De facto o estudo do VALG1 constatou em doentes com Adenocarcinomas, com apenas 20 Gy em 10 fracções, uma metastização de 0 % no grupo sujeito a IPC e 29 % no ramo não irradiado. O ensaio do M.D. Anderson2 constatou,

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ABSTRACT

The high incidence of brain metastasis (CNS) in NSCLC has led to studies showing that, like the SCLC, there is advantage in the implementation of Prophylactic Cranial Irradiation (PCI).All the studies conducted until now, randomized or retrospective, have shown a very significant reduction in the in-cidence of CNS metastasis. However, in the NSCLC, there´s no difference in the overall survival or disease free survival between patients irradiated or not.The most recent sub -analysis of the RTOG 0214 (PCI vs. Observation in NSCLC) trial showed that there aren’t significant differences in global cognitive function and quality of life but the group that was irradia-ted has spent a significant decrease in memory.Nevertheless the last data have demonstrated equal efficacy with low doses of PCI, in SCLC patients.It seems reasonable to assume that the efficacy of PCI in reducing brain metastases is identical in both SCLC and NSCLC, and if it remains at lower doses (less likely to neurological toxicity) should be further investiga-ted whether there will be a subgroup of patients (non -squamous histologies? different responses to chest treatment?) that most benefit from this prophylactic irradiation and resulting in a net gain in survival.Other approaches are the use of neurologic protector agents (like memantine), blood -brain barrier penetrating chemotherapy or PCI with protection of the hippocampus.

Key -words: prophylactic cranial irradiation, PCI, non -small cell lung cancer, NSCLC, brain metastasis.

Pedro Chinita

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para uma dose de 30 Gy em 10 fracções, uma metastização cerebral de 4 % nos doentes irra-diados e de 27 % nos sujeitos apenas a obser-vação (p = 0,002). E, finalmente, o estudo do RTOG3 concluiu, em doentes com Adenocarcino-mas e Carcinomas de Grandes Células, para uma dose de 30 Gy em 10 fracções, uma incidência de 9 % (com IPC) contra 19 % nos que não foram sujeitos a irradiação (p = 0,10).

Contudo, esses ganhos não foram suficientes para modificar a sobrevivência global entre estes dois grupos de doentes. Para além disso, e ape-sar dos testes neurológicos realizados nesses ensaios não terem confirmado toxicidade signifi-cativa, persistiram receios relativamente às ca-pacidades cognitivas e de memória dos doentes irradiados.

Em abono da verdade, deve -se dizer que essa preocupação não parece ter constituído obstácu-lo à recomendação do IPC nos CPPC onde o ganho na sobrevivência é de cerca de 5 %.

De entre os estudos não randomizados, me-rece particular destaque o de Stuschkle4 que cons-tatou, nos doentes CPNPC estadiados como IIIA (N2)/IIIB e sujeitos a uma IPC de 30 Gy (15 x 2 Gy/dia), uma diminuição na taxa de metastização cerebral como primeiro local de recidiva de 30 % (IPC) vs 8 % (Obs.) aos 4 anos (p = 0,005) e uma diminuição na taxa de metastização cerebral glo-bal de 54 % (IPC) vs 13 % (Obs.) (p < 0,0001). Mesmo no subgrupo de 47 doentes de melhor prognóstico por terem conseguido uma resposta completa ou parcial a uma QT de indução se constatou uma diminuição na redução da metas-tização cerebral como primeiro local de fracasso (23 % vs 0 % aos 4 anos; p = 0,01). Os estudos neuropsicológicos a longo prazo não revelaram diferenças significativas entre os 2 grupos.

Actualmente está a decorrer um estudo de fase III, da responsabilidade da Chinese Society

of Lung Cancer (Clinical Trials.gov Identifier: NCT00745797) no qual doentes com CPNPC localmente avançado e que realizaram 3 a 6 ciclos de QT são randomizados, qualquer que tenha sido a sua resposta, entre a observação e a IPC na dose de 30 Gy em 15 sessões de 2 Gy/dia. O objectivo primário deste estudo será a incidência cumulativa de metástases cerebrais e os objec-tivos secundários a taxa de sobrevivência no 1.º ano, a sobrevivência global e a incidência de efeitos secundários no cérebro dos doentes irra-diados. Este estudo multicêntrico e randomizado iniciou -se em Abril de 2008, deverá incluir 206 doentes e estima -se que esteja concluído em Outubro de 2012.

Face ao que já foi determinado em estudos anteriores este estudo parece -nos, na forma como foi concebido, pouco inovador e por isso destinado a não acrescentar nada de muito novo aquilo que já foi estabelecido.

Entrementes e, recentemente, foram publica-dos dois outros ensaios que poderão auxiliar a delineação de uma estratégia.

Um diz respeito à IPC nos CPPC e o seu in-teresse é o de que as lições aí colhidas poderão também ser aplicadas aos CPNPC.

Trata -se de um estudo conduzido pela EORTC e o RTOG no qual foram ensaiados vários esque-mas de dose de IPC nos CPPC com Estádio li-mitado (nos quais foi possível alcançar uma res-posta completa após a QT ou a RT torácica). Esse estudo randomizado5 (PCI 99 -01, EORTC 22003--08004, RTOG 0212 e IFCT 99 -01) decorreu de Setembro de 1999 até Dezembro de 2005 e in-cidiu sobre 720 doentes com CPPC tendo com-parado uma dose standard (25 Gy = 10 x 2,5 Gy/dia) contra outros esquemas de dose mais ele-vada (36 Gy = 18 x 2 Gy/dia ou 36 Gy = 12 x 1,5 Gy/2x/dia). A conclusão foi a de que uma dose menor era tão eficaz quanto as doses maiores e

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que por esse motivo uma IPC na dose de 25 Gy se deveria tornar no novo standard. Isto é, curio-samente, algo que já se adivinhava desde há cerca de 30 anos atrás quando o estudo do VALG alcançou resultados muito encorajadores na IPC de Adenocarcinomas com apenas 20 Gy.

O outro estudo reporta -se ao RTOG 0214 que foi iniciado em Setembro de 2002 e fechado pre-cocemente, por dificuldades de recrutamento, em Agosto de 2007. Deste modo, de um total dese-jado de 1058 doentes com CPNPC em Estádio IIIA/IIIB com resposta completa ou parcial, ape-nas foi possível randomizar 340 doentes elegíveis entre IPC (na dose de 30 Gy em 15 fracções de 2 Gy) e a vigilância.

Mais uma vez se constatou uma redução sig-nificativa na incidência de metástases cerebrais ao fim de um ano (7,7 % versus 18 %; p = 0,004) favorecendo o grupo do IPC. E de novo se veri-ficou não existirem diferenças na sobrevivência global (75,6 % vs 76,9 %; p = 0,086) ou na so-brevivência livre de doença ao 1.º ano (56,4 % vs 51,2 %; p = 0,11).

Contudo, desta vez foi realizada uma exaustiva análise da qualidade de vida e das capacidades cognitivas, tendo sido esta uma das mais interessan-tes comunicações plenárias da ASTRO de 20096.

As suas conclusões foram a de que não exis-tiam diferenças significativas na função cognitiva global mas que, no respeitante à memória, havia um significativo declínio nos doentes irradiados.

Apesar disso, os seus autores acabaram por concluir que o baixo recrutamento de doentes não lhes permitiu realizar uma subanálise que identi-ficasse se os benefícios da IPC não seriam mais expressivos em determinadas histologias (sobre-tudo as não epidermóides) isto é, em doentes com maior risco de metastização cerebral.

Em conclusão poderá dizer -se que ainda não foi realizado um estudo que introduza, de um

modo consensual, a IPC como atitude terapêuti-ca nos CPNPC.

Contudo e apesar da aparente indefinição em que o conjunto destes estudos situam o lugar da IPC nos CPNPC podemos afirmar que em todos eles foi possível identificar uma redução muito significativa na metastização cerebral nos doen-tes sujeitos a IPC e que essa redução será, pro-vavelmente, muito mais expressiva em doentes com determinadas histologias (histologias não epidermóides).

Também foi possível perceber que é possível conseguir irradiações profilácticas eficazes com menores doses (como ficou demonstrado para os CPPC) e que essa diminuição de dose poderá significar uma menor afectação neurocognitiva.

Para além disso deverão ser explorados, no futuro, o uso de agentes protectores neurológicos (como a memantina que está a ser empregue no ensaio RTOG 0614), o emprego de quimiotera-pias de maior penetração da barreira hemato--encefálica (como a temozolamida) ou ainda a realização de radioterapias cada vez mais con-formacionais que evitem a irradiação do hipocam-po que é o responsável pelo declínio cognitivo precoce na IPC.

De tudo o que atrás foi exposto e, por analogia com que sucede, por exemplo, com a determina-ção do C -erb -B2 para seleccionar as doentes que beneficiam da terapêutica com trastuzumab ou, para citar outro caso, com a determinação do K -ras para seleccionar quem deverá realizar tra-tamento com Erbitux®, parece razoável admitir que, dada a comprovada eficácia da IPC, o que tem falhado nestes ensaios é a maneira como se seleccionam os doentes que mais dela beneficia-rão em termos de sobrevivência.

Na verdade parece existir uma falta de escla-recimento na concepção de alguns destes estu-dos relativamente aos ensinamentos do passado,

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alguns já com algumas décadas, e que haviam isolado excelentes eficácias com baixas doses de Radioterapia (20 Gy) e maiores ganhos em histologias especialmente agressivas. Parece necessário esclarecer que outros elementos de-veremos associar a estes dois parâmetros para seleccionar o subgrupo que melhor beneficiará da IPC nos CPNPC.

Resta também compreender até que ponto terapêuticas sistémicas mais eficazes poderão prolongar o controlo da doença de maneira a que o ganho de controlo a nível cerebral tenha ex-pressão na sobrevivência.

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Radioterapia de Intensidade Modulada e Carcinoma do Pulmão Não Pequenas Células

Intensity Modulated Radiotherapy and Non -Small -Cell Lung Cancer

Maria Paula Fontes

[email protected] Hospitalar. Serviço de Radioterapia. Hospital de São João, EPE.Porto

Artigo de revisão

RESUMO

O tratamento do carcinoma do pulmão é ainda hoje um desafio para a comunidade médica. Um dos problemas da Radioterapia é o limite da dose que pode ser debitada ao tumor devido aos órgãos limitantes de dose, e ao facto do tecido pulmonar normal ser muito radiossensível. Assim têm sido desenvolvidas Técnicas de Radioterapia que permitem uma escalada de dose ao tumor, como a Radioterapia de Intensidade Modulada (IMRT), especialmente usada nos carcinomas da cabeça e pescoço e nos carcinomas da próstata. A sua aplicação no tratamento do car-cinoma do pulmão, tem colocado alguns desafios, especialmente devido ao facto do pulmão ser um órgão que se move durante o ciclo respiratório.

Palavras -chave: Radioterapia de Intensidade Modulada, IMRT, Carcinoma do Pulmão Não Pequenas Células, CPNPC.

ABSTRACT

Treatment of Lung Cancer is still a challenge to the medical community. One of the problems of Radiotherapy is the limit of dose that can be prescribed to the tumour, because of dose limiting organs, and the high sensibility to radia-tion of normal lung tissue. So it has been developed Radiotherapy techniques that permit dose escalation to the tumour, like the Intensity Modulated Radiation Therapy (IMRT). This technique is being specially used in Prostate and Head and Neck carcinomas.This treatment method in Lung cancer is technically challenging, due to the fact that lung cancer moves during the respiratory cycle.

Key -words: Intensity Modulated Radiation Therapy, IMRT, Non -Small -Cell Lung Cancer, NSCLC.

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1. INTRODUÇÃO

A Radioterapia de Intensidade Modulada (IMRT), representa uma das técnicas inovadoras de Radioterapia externa (RT), especialmente usa-da no tratamento dos carcinomas da cabeça e pescoço e da próstata.

A IMRT é uma técnica de conformação tridi-mensional avançada que usa feixes de radiação de padrões de intensidade não uniforme, que vão permitir uma melhor distribuição de dose, e uma menor dose de radiação aos tecidos normais.

Na técnica de IMRT a modulação em cada feixe de radiação baseia -se numa prescrição ao volume alvo e numa série de valores limite de dose às estruturas limitantes, por exemplo a me-dula, coração e esófago, usando um algoritmo de planeamento inverso1.

O planeamento em IMRT deve ter como ob-jectivos:

– Conseguir que a dose prescrita englobe a totalidade do volume tumoral.

– A dose máxima à medula não ultrapasse os 45 Gy.

– Limitar o V20 (% de tecido normal que rece-be ≥ 20 Gy) ao pulmão a menos de 40 % do volume total do pulmão nos doentes a faze-rem só Radioterapia e a 35 % nos que estão a ser tratados com quimioradioterapia.

– Limitar o V20 a menos de 20 % e o V10 a menos de 40 % quando está planeada ci-rurgia a seguir à quimioradioterapia.

– O V50 ao coração não deve ultrapassar os 50 % e a extensão do esófago que poderá receber 60 Gy deve ser inferior a 16 centímetros2.

Marino et al, confirmou numa meta-análise que a adição de quimioterapia à base de platino à Radio-terapia aumentou a sobrevida ao fim de um e dois

anos quando comparada só com Radioterapia em doentes com Carcinomas Pulmonares Não Peque-nas Células (CPNPC) localmente avançados3.

Uma das explicações para as baixas taxas de sobrevida global nos CPNPC localmente avança-dos tratados com Radioterapia é de que as doses habitualmente usadas não serão suficientes para obter um controlo local eficaz4. Assim uma esca-lada de dose para além das doses standard de 60 -70 Gy, permitirá um melhor controlo local com a consequente maior sobrevida global5.

As técnicas de Radioterapia que permitam esta escalada de dose, como a IMRT, contribuirão para um aumento do controlo local e assim num aumento das taxas de sobrevida global.

No entanto a complexidade do planeamento de Radioterapia para o carcinoma do pulmão tais como a definição do volume alvo e especialmen-te o movimento do tumor com a respiração, não permitiu que a IMRT, nesta patologia tenha sido largamente aceite5.

2. REVISÃO DOS PRINCIPAIS ARTIGOS

Resultados obtidos por vários autores:Sura et al6 verificaram que dos 55 doentes com

CPNPC inoperáveis estádio I -IIIB tratados com IMRT com doses superiores a 60 Gy, 16 doentes (29 %) eram estádio I/II e obtiveram taxas de con-trolo local e sobrevida global aos dois anos de 50 % e 55 % respectivamente. Os 39 doentes com estádio III (71 %), obtiveram valores de 58 % de sobrevida global e de controle local aos dois anos, para uma dose média de prescrição de 69,5 GyT.

Rengan et al4 (Figura 1) em 72 doentes trata-dos com Radioterapia conformacional tridimen-sional, obteve valores de falência local para está-dios III aos dois anos de 47 % para doentes que foram tratados com doses superiores ou iguais a

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64 GyT e de 76 % para os que foram tratados com doses inferiores a 64 GyT (p = 0,024).

Um aumento de 10 Gy na dose resultou numa diminuição do risco de falência local em cerca de 36%.

A incidência de toxicidade pulmonar de Grau 2 ou superior foi maior no grupo que recebeu maior dose em comparação com os que foram tratados com menos de 64 GyT (29 % vs 22 %, sem significado estatístico)4.

Grills et al7 comparou o uso de IMRT e de Radio-terapia conformacional 3D (3D -CRT) no tratamento do CPNPC inoperável e verificou que a IMRT nos casos de gânglios mediastínicos negativos não traz um grande benefício. Mas o mesmo já não acontece

Figura 1. Percentagem de falência local em doentes com CPNPC, estádio III, tratados com doses inferiores a 64 GyT versus doses superiores a 64 GyT.

Figura 2. Comparação de curvas de distribuição de isodose entre 3DCRT (A e B) e IMRT (C e D), num caso clínico.

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em casos com gânglios mediastínicos positivos, e com volumes-alvo situados perto do esófago. Quan-do todas as limitações de dose são tidas em conta no planeamento de IMRT de doentes com gânglios mediastínicos positivos, é possível debitar uma dose de radiação 25 a 30 % superior à da 3D -CRT.

Usando a IMRT em vez de outras técnicas conformacionais, obteve -se uma redução de 10 % no V20 pulmonar e na dose pulmonar média.

No subgrupo de doentes com gânglios me-diastínicos positivos os benefícios da técnica de IMRT ainda foram superiores. O V20 pulmonar e a dose média ao pulmão diminuíram em 15 %, quando comparada com a técnica de 3D -CRT. A dose média ao volume alvo aumentou cerca de 25 a 30 % com o planeamento de IMRT nos do-entes com gânglios positivos.

Murshed et al1 comparou em 41 doentes com CPNPC planos de IMRT e de 3D -CRT. Nos planos de IMRT a conformidade ao volume alvo foi maior, sem grande diminuição da homogeneidade da dose ao tumor. Com esta técnica o V10 diminuiu em 7 % e o V20 em 10 % ao tecido pulmonar normal.

Houve também uma diminuição da dose ao esó-fago, coração e medula. O V55 ao esófago com a IMRT diminuiu 7 %, o V45 à medula foi 1 % inferior e o V40 ao coração também diminuiu. (Tabela I)

Tabela I. Sumário de volumes irradiados de esófago, coração e medula óssea (Modificada de Murshed, et al1.)

Parâmetros 3D-CRT IMRT p

Esófago (% volume aos 55 Gy) 35.0 (0.0 -72.0) 28.8 (0.0 -71.0) <0.0001

Coração (% volume aos 40 Gy) 13.0 (0.0 -58.0) 11.0 (0.0 -59.0) 0.004

Medula óssea (% volume aos 45 Gy) 0.0 (0.0 -33.0) 0.9 (0.0 -31.0) 0.026

Medula óssea (% volume aos 50 Gy) 0.0 (0.0 -4.3) 0.0 (0.0 -9.0) 0.523

Medula óssea (dose máxima, Gy)

45.8 (10.6 -55.4)

48.6 (38.6 -63.2) 0.0002

Chandra et al8 em 26 doentes com CPNPC estádio III, prescreveu uma dose de 63 Gy para cobrir 95 % ou mais do PTV e minimizar ao má-ximo, o volume de tecido pulmonar normal, cora-ção e esófago a irradiar. Os resultados obtidos foram os seguintes: O V50 ao esófago foi de 32 %, o V50 ao coração de 8 % e a dose máxima à medula óssea foi de 43 Gy. Este estudo com IMRT mostrou um baixo volume de pulmão (50 %) a receber uma baixa dose ≥ 5 Gy (V5). Este autor concluiu que é possível obter com IMRT uma baixa dose ao tecido pulmonar normal, usando este parâmetro como “constraint”, um número limitado de feixes e seleccionando cuidadosa-mente a angulação dos respectivos feixes.

Tabela II. Índices dosimétricos médios (intervalo) em IMRT obtidos por Chandra, et al8.

Parâmetros

GTV Volume (cc) 253 (15 -870)

PTV Volume (cc) 626 (103 -1322)

N.º de feixes 5 (3 -8) coplanares

Pulmão: V5 Gy (%) 50 (10 -68)

Pulmão: V10 Gy (%) 40 (9 -54)

Pulmão: V20 Gy (%) 27 (8 -34)

Pulmão: Dose média Gy 17 (5 -23)

Esófago: V55 Gy (%) 27 (0 -59)

Coração: V40 Gy (%) 11 (0 -38)

3. LIMITAÇÕES DA IMRT

A IMRT no tratamento do carcinoma do pulmão pode contribuir para uma dose a todo o pulmão, que embora baixa pode ser prejudicial devido à alta radiossensibilidade do tecido pulmonar1.

Um outro problema importante a ultrapassar é a mobilização do tumor e do próprio pulmão com o ciclo respiratório e a não homogeneidade da área a tratar que pode implicar desvios signi-

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ficativos na dose ao tumor com os consequentes efeitos adversos nos tecidos normais1.

O uso de técnicas que permitam controlar o movimento do tumor, tal com o gating, poderão ser uma mais valia na IMRT do carcinoma do pulmão, porque permite confinar o debitar da radiação a uma fase especifica do ciclo respira-tório através do gating do acelerador enquanto o doente respira normalmente9.

Vários métodos, como o gating permitem de-bitar a radiação durante uma pequena fracção do ciclo respiratório, minimizando o problema da mo-vimentação do tumor induzida pela respiração10.

A mobilização e deformação do pulmão pro-vocam a alteração constante na localização do tumor. Para ultrapassar esta situação, é dada uma margem de segurança ao mesmo, para as-segurar que fique completamente dentro do cam-po de tratamento10.

Embora estas margens assegurem que o tu-mor esteja no campo de tratamento durante o ciclo respiratório, vão aumentar o volume de te-cido pulmonar normal que é irradiado e conse-

quentemente aumenta o risco de toxicidade e limitam estratégia na escalada de dose10. Se o volume alvo se move para fora do campo de tratamento, há o risco de subdosagem ao tumor. Para compensar esta situação é adicionada uma maior margem de tecido pulmonar ao GTV limi-tando assim, a dose de radiação a debitar11.

Estas técnicas aumentam o tempo de tratamen-to e o desconforto para o doente o que tem incen-tivado a procura da diminuição do número de feixes nos planos de IMRT, embora não seja ainda claro, se o uso de menor número de feixes, comprome-terá a qualidade do planeamento e a quantidade de dose de radiação ao volume pulmonar9

Na IMRT são usados vários feixes, por exem-plo nove feixes co -planares para se obterem as desejadas distribuições de dose. Liu et al tentou demonstrar que a optimização da angulação do feixe permitia diminuir o número de feixes utiliza-dos e consequentemente diminuir a exposição de grandes volumes de tecido pulmonar a baixas doses de radiação, mas mantendo a mesma qua-lidade do planeamento com nove feixes.

Figura 3. Movimento do tumor e gating respiratório. A. Movimento anterior e posterior do tumor (GTV) causado pela respiração. B. Mo-vimento superior e inferior com desvio oblíquo, causado pela respiração. C. Eliminação do movimento do GTV com gating respiratório.

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Liu et al obteve um aumento de 20 % a 30 % nos MU (unidades de monitor) nos planos de sete e nove feixes, com o consequente aumento do número de segmentos por feixe com o sistema Step and Shoot MLC.

Este autor com a optimização da angulação do feixe de radiação obteve a mesma qualidade de planeamento com cinco ou sete feixes em comparação com os nove feixes.

A incorporação da fusão PET/TC no estadia-mento do carcinoma do pulmão e a sua incorpo-ração na rotina do planeamento permitirá uma melhor localização do tumor e consequentemente uma maior definição do volume alvo (Figura 5).

4. IMPLANTAÇÃO DE MARCADORES

A implantação de marcadores no tumor ou na sua vizinhança é uma das técnicas usadas para medir o

Figura 4. Distribuição da angulação de feixes preferencial nos planos de IMRT de menor custo (linha contínua); plano de IMRT com 5 feixes coplanares B5 -IM (linha intermitente). Plano de IMRT com sete campos coplanares B7 -IM9.

Figura 5. Impacto do PET na determinação do volume alvo. GTV foi delineado a verde no TC (A), o qual incluí a atelectasia e uma pequena quantidade de derrame pleural, sem delineação dos gânglios mediastínicos. PET (B) Mostra a captação de FDG pelos gânglios mediastínicos delineados a vermelho, os quais não foram delineados no TC. GTV foi reduzido ao nível do parên-quima, pois a atelectasia e o derrame pleural não foram incluídos.

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movimento dos órgãos internos, sem utilizar como referência a parede torácica ou o diafragma10.

Nos tratamentos de IMRT, C -RT e IG -RT (RT por imagem guiada), são implantados marcado-res rádio -opacos, em ouro no tumor que permitem em tempo real localizar os volumes de tratamen-to, quando estes se movem em relação aos mar-cadores cutâneos externos.

Podem ser implantados em tecidos moles, tais como a próstata, fígado e pulmão. A melhor téc-nica de implantação destes marcadores, ainda não está bem estabelecida 12.

Estes marcadores podem ser introduzidos per-to do tumor ou no seu interior, por via transtorácica ou por broncoscopia convencional. O primeiro mé-todo está associado ao pneumotórax e o segundo à migração do marcador ou colocação inadequada do mesmo12. Para minimizar as complicações pode ser usada a broncoscopia guiada electromagneti-camente, em que se cria uma via guiada broncos-copicamente até ao tumor, por onde é inserido o marcador usando uma agulha transtorácica.

Uma vez colocado o marcador, o tumor pode ser seguido em tempo real durante o planeamen-to e tratamento.

Imura et al13 verificou que dos 122 marcadores detectados no TC de planeamento, 115 (95 %) man-tinham -se detectáveis até ao fim do tratamento.

A variação nas distâncias entre os marcadores implantados foi de mais ou menos 2 mm em 95 % e de mais ou menos 1 mm em 80 % durante o tratamento, no entanto após as duas primeiras semanas de tratamento a relação entre o tumor e os marcadores pode mudar significativamente.

5. CONCLUSÃO

No tratamento do Carcinoma Não Pequenas Células do Pulmão o controlo local está depen-dente da dose de radiação utilizada.

Vários estudos demonstraram a importância de maximizar a dose ao tumor, através de esca-lada de dose e para tal são necessárias outras técnicas de planeamento e tratamento.

A Radioterapia de intensidade modulada (IMRT) pode ser uma delas. No entanto no CNP-CP, ainda não foi completamente aceite. Os prin-cipais obstáculos surgem do facto do tecido pul-monar ser altamente radiossensível e depender grandemente do volume irradiado. Há uma gran-de preocupação quanto ao aumento de dose ao tecido pulmonar normal, que embora baixa é muito prejudicial.

O facto da localização do tumor variar conso-ante o ciclo respiratório, introduz um outro nível de complexidade na dosimetria e tratamento de IMRT. A utilização de técnicas como o respiratory gating e o tumor tracking permitem minimizar este problema diminuindo as margens ao tumor e consequentemente aumentar a dose total.

O ideal será testar a técnica de IMRT no car-cinoma do pulmão em ensaios randomizados, para que a sua aplicação por rotina seja cientifi-camente validada.

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Caso clínico

RESUMO

A metastização intra-orbitária é uma entidade pouco frequente e pode ocorrer por disseminação hematogénea. A sintomatologia é secundária à localização da massa. O tratamento local de escolha é a Radioterapia. Descrevemos o caso clínico de um doente do sexo masculino de 51 anos com adenocarcinoma do pulmão em estádio IV, em tratamento de quimioterapia que surge na consulta com uma tumefacção palpebral do olho direito com uma sema-na de evolução. É referenciado à Consulta de Oftalmologia onde é diagnosticada metástase intra-orbitária de pri-mário do pulmão.

Palavras-chave: adenocarcinoma do pulmão, metástase intra-orbitária, radioterapia.

ABSTRACT

Intra-orbital metastasis is a rare entity and can occur by hematogeneous spread. The symptoms are secondary to the location of the tumor. Treatment of choice is radiation therapy. We describe a case of a 51 years old male patient with stage IV lung cancer. During chemotherapy he developed a mass in the right eyelid. He is referred to the Ophthalmology consult where an intra-orbital metastasis of primary lung cancer was diagnosed.

Key-words: lung adenocarcinoma, intra-orbital metastasis, radiotherapy.

Metástase intra-orbitária de adenocarcinoma do pulmão – a propósito de um caso clínico

Intra-orbital metastasis from lung adenocarcinoma – a case report

Matilde Salgado1; Pedro Meireles2; Marcos Guimarães3; Vítor Leal4; António Morais5; Margarida Marques2.

[email protected] Serviço de Oncologia Médica; 2 Serviço de Radioterapia; 3 Serviço de Anatomia Patológica; 4 Serviço de Oftalmologia; 5 Serviço de Pneumologia. Hospital de São João, EPE. Porto

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1. INTRODUÇÃO

A metastização da órbita é pouco frequente, 8 % de todos os tumores da órbita1, 2, 3. A origem primária mais frequente no homem é o pulmão e a próstata1, 4, 5. Os sintomas são consequência do efeito de massa e da invasão dos músculos extra-oculares6. Os autores descrevem o caso clínico de um doente com adenocarcinoma do pulmão em estádio IV que surge com metástase intra-orbitária, confirmada por biopsia cirúrgica, duran-te o tratamento com quimioterapia (QT). Realizou tratamento com Radioterapia Externa (RTE) apre-sentando resposta completa local.

2. CASO CLÍNICO

Doente do sexo masculino de 51 anos de idade, ex-fumador de 3 UMA até há 20 anos.

Diagnosticado adenocarcinoma do pulmão, em estádio IV, com envolvimento hepático, na sequência do estudo de um derrame pleural. Iniciou tratamento com QT com boa resposta clínica e imagiológica. Durante 42 meses realizou sucessivas linhas de QT por progressão imagio-

lógica mantendo-se, no entanto, sempre assin-tomático.

Durante esse período realizou RTE sobre a coluna dorsal, em D7, por compressão medular, com excelente resposta, estando à data comple-tamente assintomático.

Em Março de 2009, em consulta de QT o doente surgiu com uma tumefacção mole da pál-pebra direita que condicionava alteração da visão, com uma semana de evolução, pelo que foi re-ferenciado à Consulta de Oftalmologia para ava-liação. Neste serviço é constatada proptose di-reita com restrição marcada na elevação deste olho (Figura 1) e biplopia binocular.

Realizou tomografia computorizada (TC) das órbitas que revelou no quadrante supero-temporal da órbita direita uma lesão extra-cónica que mol-dava o globo ocular, empurrando-o inferiormente, assim como aos músculos extra-oculares, estando bem separada do músculo recto superior na ver-tente mais posterior mas confundindo-se na sua vertente anterior com a inserção do referido mús-culo no globo ocular. A ressonância magnética (RMN) confirmou a presença da lesão com con-tornos bem definidos que condicionava deforma-ção do globo ocular e do nervo óptico (Figura 2).

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Figura 1.

Matilde Salgado, Pedro Meireles, Marcos Guimarães,et al.

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Figura 2. RMN da órbita

Foi realizada biopsia cirúrgica para diagnós-tico. O exame anatomopatológico (Figuras 3a e 3b) revelou tratar-se de neoplasia de padrão epi-telióide, com células volumosas de citoplasma amplo, por vezes clarificado e núcleos pleomór-ficos de cromatina densa com nucléolo central e presença de mitoses. Apresentava positividade no estudo imunocitoquímico para TTF1 sendo o diagnóstico definitivo “metastização de carcinoma do pulmão”.

A

B

Figura 3. A – exame anatomopatológico HE x600); B – exa-me anatomopatológico TTF1 x600)

O doente foi proposto para QT e RT local. Realizou RTE à região da órbita direita, através de dois campos de tratamento, anterior direito e lateral direito, na dose de 40 Gy(T), 2,5 Gy/dia, em 16 fracções, com energia 6 MV, com másca-ra própria, segundo o plano de dosimetria com-putorizada (Figuras 4a e 4b).

Ao longo do tratamento a lesão foi planifican-do e houve regressão progressiva com posterior desaparecimento da sintomatologia. Aquando do

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Metástase intra-orbitária de adenocarcinoma do pulmão

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término do tratamento, o doente apresentava apenas um eritema grau 2 na região tratada (Figura 5).

O doente manteve o tratamento com a QT proposta com estabilização imagiológica a nível pulmonar, hepático e ósseo.

Actualmente, 53 meses após o diagnóstico inicial, o doente está sob tratamento com anticor-po monoclonal anti-VEGF com doença estabili-zada. Quanto à metastização intra-orbitária, 11 meses após o seu diagnóstico e 8 meses após o fim do tratamento com RTE, o doente mantém resposta completa com recuperação total da vi-são (Figura 6).

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Figura 4a. RT volumes + campos

Figura 4b. RT isodose + HDV

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3. DISCUSSÃO

A metastização da órbita é uma entidade pou-co frequente, representando aproximadamente 8 % de todos os tumores da órbita1,2. Pode ocor-rer por disseminação hematogénea ou ser se-cundária a invasão directa de tumores da cabeça e pescoço3. A origem primária mais frequente é o carcinoma da mama na mulher, o carcinoma do pulmão e da próstata no homem e o melanoma cutâneo em ambos os sexos1,4,5. Curiosamente, no Japão os tumores responsáveis pela maioria dos casos de metastização da orbita são o car-

cinoma gástrico e hepático reflectindo a sua maior incidência nesse país7. Em cerca de 20 % dos casos, a metastização da órbita é a primeira ma-nifestação de doença oncológica8, verificando-se mais frequentemente esta situação no carcinoma do pulmão do que no carcinoma da mama9. Os sintomas mais frequentes são dor, proptose, exof-talmia, diplopia e diminuição da acuidade visu-al1,3,9,10. Os sintomas são consequência do efeito de massa e da invasão dos músculos extra-ocu-lares6. Ao exame objectivo podemos encontrar ptose da pálpebra superior e/ou massa a defor-mar o olho1,11. A suspeita de metastização da

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Figura 5.

Figura 6.

Metástase intra-orbitária de adenocarcinoma do pulmão

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órbita deve ser esclarecida com auxílio de exa-mes de imagem tais como o TC e RMN das ór-bitas, mas a biopsia é inevitável para um correc-to diagnóstico12,13.

O tratamento de metástases da órbita é sem-pre paliativo, uma vez que a disseminação he-matogénea é um sinal de doença sistémica com envolvimento de outros órgãos. A cirurgia não é geralmente recomendada, estando reservada para fins de diagnóstico ou para paliação de sin-tomas com a ressecção da massa ou a enuclea-ção do olho14,15. A Radioterapia paliativa da órbi-ta na dose total de 30 a 40 Gy é a escolha terapêutica mais habitual9,10,16,17 uma vez que pre-vine e alivia os sintomas provocados pela pressão e infiltração da massa3 permitindo melhoria da sintomatologia local e recuperação total da visão, em alguns casos14. A Radioterapia do olho e da órbita requerer uma atenção especial da técnica uma vez que se deve evitar ao máximo irradiar a córnea a fim de evitar a queratite que pode ser muito dolorosa. A catarata é um possível efeito lateral consequente de pequenas doses de ra-dioterapia na lente que não deve ser esquecido. No entanto, se o tratamento estiver indicado não deve ser evitado, uma vez que posteriormente esta pode ser tratada3. O prognóstico da doença é reservado, no entanto, depende essencialmen-te do prognóstico da doença primária10. A maioria dos doentes com tumor sólido tem uma sobrevi-vência de apenas um ano após o diagnóstico da metastização da órbita5,7,8,9.

4. CONCLUSÃO

O caso clínico que os autores apresentam tem contornos invulgares. Cinquenta e três me-ses após o diagnóstico de adenocarcinoma do pulmão em estádio IV e após sucessivas linhas

de QT, praticamente sem interrupção, o doente apresenta um excelente estado geral (Perfor-mance Status Eastern Cooperative Oncology Group – 0) estando totalmente assintomático, mantendo a sua actividade laboral, ultrapassan-do assim a sobrevivência habitual deste estádio da doença.

Oito meses após o tratamento de RTE à orbi-ta direita, apresenta resposta local completa, mantendo QT para a doença sistémica com apa-rente estabilização da mesma.

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Actividades do GECP

DestaquesReunião da Primavera23 e 24 de Abril de 2010

Lamego, Quinta dos Viscondes da Várzea

Assembleia Geral24 de Abril de 2010

Lamego, Quinta dos Viscondes da Várzea

4.º Congresso Português do Cancro do Pulmão

14, 15 e 16 de Outubro de 2010Aveiro, Centro Cultural e de Congressos

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Actividades do GECP

Reunião de PrimaveraLamego, Quinta dos Viscondes da Várzea

23 e 24 de Abril de 2010

PROGRAMA

Dia 23 de Abril de 2010

20h00Jantar de Recepção

Alojamento na Quinta dos Viscondes da Várzea

Dia 24 de Abril de 2010TEMA: Terapêuticas Paliativas – Moderadora: Bárbara Parente

09h30Radioterapia Paliativa – Cármen Calçada

10h00Endoscopia Paliativa – Adriana Magalhães

10h30Intervalo

11h00Emese: Estado da Arte – Ana Figueiredo

11h30Dor: Estado da Arte – Ana Barroso

12h00Assembleia Geral do GECP – Presidente: Encarnação Teixeira

13h00Almoço

15h00Encerramento dos Trabalhos

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Actividades do GECP

PROGRAMA PRELIMINAR

Quinta-Feira, 14 de Outubro

09.00 Mesa Redonda Cancro do Pulmão:

Medicina Translacional Proteomica: Anatomia Patológica Genómica: Genética e Biologia Molecular Clínica: Oncologia e Pneumologia

10.30 Coffee-Break

11.00 Sessão de Abertura Conferência: Oncologia Pulmonar em

Portugal Atribuição de Medalha de Mérito Conferência: 10 Anos do GECP

12.15 Conferência Cuidados Paliativos: Que Realidade?

13.00 Almoço

14.30 Simpósio Satélite - AstraZeneca

15.30 Discussão dos Posters

16.30 Conferência Cirurgia no Cancro do Pulmão

Sexta-Feira, 15 de Outubro

09.00 Mesa Redonda Radioterapia (RT) no Cancro do Pulmão RT Estereotácica Torácica e Extra-Torácica RT Estereotácica Cerebral Braquiterapia

10.30 Coffee-Break

11.30 Simpósio Satélite – Roche Farmacêutica

12.30 Almoço

14.00 Conferência O Futuro do Tratamento do Cancro do

Pulmão

14.30 Discussão dos Posters

15.30 Coffee-Break

16.00 Simpósio Satélite - Lilly Portugal

20.00 Jantar do Congresso

Sábado, 16 de Outubro

09.00 Mesa Redonda Fármaco-Economia: Importância para

os Decisores Visão do Administrador Hospitalar Visão do Infarmed Visão do Clínico

10.15 Coffee-Break

10.45 Simpósio Satélite

11.45 Apresentação e Discussão dos Posters Presidenciais

Encerramento do Congresso

13.30 Almoço

4.º Congresso Português do Cancro do Pulmão14, 15 e 16 de Outubro de 2010

Aveiro, Centro Cultural e de Congressos

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Critérios de publicação

A Revista do GECP considera para publicação trabalhos (artigos originais, de revisão, de actualização, casos clínicos, cartas ao editor, resumos críticos a livros, etc.) relacionados directa ou indirectamente com tumores torácicos. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos autores. Os artigos publicados fi carão propriedade da Revista, não podendo ser reproduzidos, no todo ou em parte, sem au-torização do editor. A aceitação dos originais enviados para publicação é condicionada à avaliação pelo Conselho Cientí-fi co da Revista. Nesta avaliação os artigos poderão ser:

a) aceites sem alterações;h) aceites após as modifi cações propostas e aceites pelos autores;c) recusados.

Apresentação dos trabalhos – Os textos devem ser escritos em português, dactilografados, com margens largas (25 mm) a dois espaços, numa só face do papel e em três exemplares com as páginas numeradas no canto superior direito. Deverão ainda ser acompanhados pela disquete e indicação do programa de computador em que foram exe-cutados.

Poder-se-ão considerar para publicação artigos redigidos em inglês, francês ou espanhol. Nestes casos, deve incluir-se o resumo, o título e as palavras-chave também em português e em inglês.

Deverão ser referenciados pelos próprios autores como arti-gos originais, de revisão, cartas ao editor, ou outros.

Estrutura – Sempre que possível, será adoptado o esquema convencional em que se iniciará cada parte do trabalho numa nova página pela seguinte ordem:

a) Na primeira página: – título do trabalho em português e inglêsb) Na segunda página: – nome dos Autores com os respectivos títulos

académicos e/ou profi ssionais; – local de trabalho ou da Instituição onde foi reali zado o

trabalho.c) Na(s) página(s) seguinte(s): – o resumo em português que não deverá ultrapassar

250 palavras para os trabalhos originais e de 150 para os casos clínicos;

– os resumos em inglês com características idênticas ao do inicial em português;

– as palavras-chave, em português e inglês (3 a 10), que servirão de base à indexação do artigo, de acordo com a terminologia do lndex Medicus «Medica Subject Headings».

d) O texto que, no caso dos artigos originais, terá em geral:

CRITÉRIOS DE PUBLICAÇÃO DA REVISTA DO GRUPO DE ESTUDOS DO CANCRO DO PULMÃO

Introdução, Material e Métodos, Resultados, Discussão e Conclusões

e) Agradecimentosf) Bibliografi ag) Quadros e Figuras.

Bibliografia – As referências bibliográficas devem ser numeradas por ordem consecutiva da sua primeira citação no texto. Devem ser identifi cadas no texto com números árabes. As referências devem conter no caso das revistas o nome do primeiro autor (apelido e nome),seguido dos restantes, do título do artigo, do nome da publicação e da sua identifi cação (ano, volume e páginas).

Quadros e figuras – Os quadros e figuras devem ser apresentados em páginas separadas, em fáceis condições de reprodução. Devem ser acompanhados da respectiva legenda em página à parte, mencionando no verso a lápis o número de ordem. Todos os gráfi cos deverão ser apresentados através de fotografi a do respectivo original.

Modifi cações e revisões – No caso de a aceitação do artigo ser condicionada a modifi cações, estas devem ser realizadas pelos autores no prazo máximo de vinte dias.

As provas tipográfi cas serão realizadas pela Redacção, caso os autores não indiquem o contrário. Neste caso,elas deverão ser feitas no prazo determinado pela Redacção em função das necessidades editoriais da Revista.

Separatas – Podem ser fornecidas separatas, a expensas dos autores, quando requisitadas antes da impressão.

Cartas ao editor – Devem constituir um comentário crítico a um artigo da Revista ou uma pequena nota sobre um tema ou caso clínico. Não devem exceder as 500 palavras, nem conter mais de um quadro ou fi gura e um máximo de 6 referências bibliográfi cas. As respostas do(s) autor(es) devem obedecer às mesmas características.

Pedido de publicação – Os trabalhos deverão ser enviados à Redacção, dirigidos ao Director da Revista, para a seguinte mo-rada: Publicações Ciência e Vida, Lda. – Apartado 44 – 2676 -901 Odivelas, acompanhados de uma carta com pedido de publicação, subscrito por todos os autores, indicação da cedência do copyright e que não foram publicados ou enviados para publicação em outra revista nacional ou estrangeira. Não serão aceites trabalhos já publicados ou enviados simulta neamente a outras revistas.

Nota fi nal – Para um mais completo esclarecimento sobre este assunto, aconselha-se a leitura dos requisitos do International Commitee of Medical Journal Editors, publicados no N Engl J Med 1991; 324: 424-428.

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Em 2009, o Grupo de Estudos do Cancro do Pulmão teve o apoio de:

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Enviar para: Dr. Fernando BarataGrupo de Estudos do Cancro do Pulmão Avenida Dr. Antunes Guimarães, n.º 5544100-074 PortoTelef: 351 226 165 [email protected]

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