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Vulnerabilidade social e criminalidade na Região Metropolitana de Belo Horizonte. 1 Luciana Teixeira de Andrade 2 Fernanda Odilla Vasconcellos de Figueiredo 3 O objetivo deste trabalho é analisar a criminalidade violenta na Região Metropolitana de Belo Horizonte, com foco nos municípios que concentram as maiores taxas e correlacioná-las com outros indicadores demográficos, sociais e de vulnerabilidade. A própria criminalidade já é em si um indicador de vulnerabilidade, seja de risco social – inclusive de perder a própria vida –, seja dos custos econômicos dela decorrentes, assim como da perda da qualidade de vida derivada do medo e de outras inseguranças. Com relação às fontes de dados, vamos nos concentrar nas estatísticas de crimes violentos, uma vez que são os dados mais confiáveis. 4 Analisaremos os registros de ocorrências da Polícia Militar de Minas Gerais consolidados pela Fundação João Pinheiro, os dados da Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) e do Ministério da Saúde (DATASUS). 5 Utilizaremos ainda alguns indicadores demográficos, de integração à dinâmica metropolitana e a taxa de pobreza. 6 De acordo com as estatísticas 7 , a criminalidade vem se revelando cada dia mais um fenômeno metropolitano. Para essa comparação, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes é o indicador mais adequado, uma vez que introduz um padrão comum a regiões 1 Trabalho apresentado no XII Congresso Brasileiro de Sociologia, no GT Cidades: Transformações, governança e participação. Belo Horizonte, 31 de maio a 3 de junho de 2005. 2 Doutora em Sociologia, professora do Mestrado em Ciências Sociais e do curso de Ciências Sociais da PUC Minas, pesquisadora do Observatório das Metrópoles. 3 Jornalista com especialidade em criminalidade e segurança pública, repórter do jornal Estado de Minas. 4 Os registros de crimes violentos, em especial os de homicídios, são considerados os dados mais próximos da realidade uma vez que a subnotificação tende a ser menor em virtude da gravidade do crime. 5 Os dados da SENASP têm como fonte os registros da Polícia Civil e também os registros de homicídios do Ministério da Saúde. Os dados da Fundação João Pinheiro têm como fonte os boletins de ocorrências registradas pela Polícia Militar. Sobre a comparação entre os dados da Polícia Militar e do Ministério da Saúde ver Castro, Mônica Silva M., Assunção, Renato M. e Durante, Marcelo Ottoni (2002). É importante dizer que, apesar das diferenças na coleta desses dados, os resultados não são tão significativos a ponto de não permitir uma análise conjunta. Agradecemos a FJP o acesso aos dados da PMMG. 6 A fonte desses dados é a pesquisa “Análise das Regiões Metropolitanas do Brasil” que está sendo realizada pelo Observatório das Metrópoles como uma consultoria para o Ministério das Cidades. 7 O foco deste trabalho é, sobretudo, a dimensão quantitativa, mas alguns autores chamam também a atenção para uma mudança qualitativa perfil da criminalidade urbana. Machado da Silva (1999), por exemplo, vem investigando a emergência de um novo padrão de sociabilidade, que ele denominou de sociabilidade violenta. 1

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Vulnerabilidade social e criminalidade na Região Metropolitana de Belo Horizonte.1

Luciana Teixeira de Andrade2 Fernanda Odilla Vasconcellos de Figueiredo3 O objetivo deste trabalho é analisar a criminalidade violenta na Região

Metropolitana de Belo Horizonte, com foco nos municípios que concentram as maiores

taxas e correlacioná-las com outros indicadores demográficos, sociais e de vulnerabilidade.

A própria criminalidade já é em si um indicador de vulnerabilidade, seja de risco social –

inclusive de perder a própria vida –, seja dos custos econômicos dela decorrentes, assim

como da perda da qualidade de vida derivada do medo e de outras inseguranças. Com

relação às fontes de dados, vamos nos concentrar nas estatísticas de crimes violentos, uma

vez que são os dados mais confiáveis.4 Analisaremos os registros de ocorrências da Polícia

Militar de Minas Gerais consolidados pela Fundação João Pinheiro, os dados da Secretaria

Nacional de Segurança Pública (SENASP) e do Ministério da Saúde (DATASUS).5

Utilizaremos ainda alguns indicadores demográficos, de integração à dinâmica

metropolitana e a taxa de pobreza.6

De acordo com as estatísticas7, a criminalidade vem se revelando cada dia mais um

fenômeno metropolitano. Para essa comparação, a taxa de homicídios por 100 mil

habitantes é o indicador mais adequado, uma vez que introduz um padrão comum a regiões

1 Trabalho apresentado no XII Congresso Brasileiro de Sociologia, no GT Cidades: Transformações, governança e participação. Belo Horizonte, 31 de maio a 3 de junho de 2005. 2 Doutora em Sociologia, professora do Mestrado em Ciências Sociais e do curso de Ciências Sociais da PUC Minas, pesquisadora do Observatório das Metrópoles. 3 Jornalista com especialidade em criminalidade e segurança pública, repórter do jornal Estado de Minas. 4 Os registros de crimes violentos, em especial os de homicídios, são considerados os dados mais próximos da realidade uma vez que a subnotificação tende a ser menor em virtude da gravidade do crime. 5 Os dados da SENASP têm como fonte os registros da Polícia Civil e também os registros de homicídios do Ministério da Saúde. Os dados da Fundação João Pinheiro têm como fonte os boletins de ocorrências registradas pela Polícia Militar. Sobre a comparação entre os dados da Polícia Militar e do Ministério da Saúde ver Castro, Mônica Silva M., Assunção, Renato M. e Durante, Marcelo Ottoni (2002). É importante dizer que, apesar das diferenças na coleta desses dados, os resultados não são tão significativos a ponto de não permitir uma análise conjunta. Agradecemos a FJP o acesso aos dados da PMMG. 6 A fonte desses dados é a pesquisa “Análise das Regiões Metropolitanas do Brasil” que está sendo realizada pelo Observatório das Metrópoles como uma consultoria para o Ministério das Cidades. 7 O foco deste trabalho é, sobretudo, a dimensão quantitativa, mas alguns autores chamam também a atenção para uma mudança qualitativa perfil da criminalidade urbana. Machado da Silva (1999), por exemplo, vem investigando a emergência de um novo padrão de sociabilidade, que ele denominou de sociabilidade violenta.

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com contingentes populacionais tão diferenciados. Enquanto a taxa média de vítimas de

homicídios por 100 mil habitantes nas regiões metropolitanas entre 1998 e 2002, foi de

46,7, a média nacional para o mesmo período foi de 28,6 vítimas por 100 mil habitantes.

Além dessa concentração, observa-se também um crescimento dos homicídios. Em 1980, a

taxa de homicídios por 100 mil habitantes nas regiões metropolitanas era de 19,0 e, em

2002, passou para 46,0. Mas, dada a heterogeneidade do universo das 26 regiões

metropolitanas brasileiras, nota-se também uma variação bastante significativa entre elas no

que diz respeito ao comportamento da criminalidade. As RMs de São Paulo e Rio de

Janeiro, concentram 60% de todos os homicídios do período 1998 a 2002. Segundo esse

mesmo indicador, o que se pode verificar no ano 2002 em uma das pontas do conjunto das

RMs são taxas de homicídios superiores a 50 homicídios por cem mil habitantes e

superiores também à média das regiões metropolitanas brasileiras (46). São os casos das

RMS de Vitória (80,4), Recife (69,4), Rio de Janeiro (60,2), São Paulo (58,1), Baixada

Santista (57,2), e Maceió (50,1). Na outra ponta, estão as RMs com taxas até cinco

homicídios por 100 mil habitantes como as RMs do Vale do Itajaí (4,3) e Tubarão (5,0).

Entre as RMs cujo pólo são capitais de estado, o que não é o caso das duas anteriormente

citadas, São Luiz e Florianópolis apresentam taxas inferiores a 20 homicídios por 100 mil

habitantes; 17,8 e 18,2 respectivamente (SENASP, 2005). A Tabela 1, mostra a distribuição

dos homicídios pelas 26 regiões brasileiras oficialmente constituídas.

TABELA 1 - Distribuição da taxa de homicídio por 100 mil habitantes nas regiões metropolitanas – 2002

Taxa de homicídio por 100 mil hab. 2002

Região Metropolitana Freqüência

Mais de 50 homicídios

Recife, Maceió, Vitória, Rio de Janeiro, Baixada Santista e São Paulo.

6

Entre 49 e 40 Campinas. 1 Entre 39 e 30 Salvador, Belo Horizonte, Londrina,

Goiânia e RIDE. 5

Entre 29 e 20 Belém, Fortaleza, Natal, Curitiba, Foz do Rio Itajaí e Porto Alegre.

6

Entre 19 e 10 São Luiz, Vale do Aço, Maringá e Florianópolis.

4

Abaixo de 10 Carbonífera, Norte/Nordeste Catarinense, Tubarão e Vale do Itajaí.

4

Total 26 Fonte: SENASP.

2

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Como revela essa mesma fonte (SENASP), mas agora considerando também os

números absolutos de homicídios, a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH),

registrou, em 2002, 1.717 homicídios, ficando em 4º lugar em relação a todas as outras

regiões metropolitanas, atrás de São Paulo (10.682), Rio de Janeiro (6.596) e Recife

(2.376). Esses números aproximam a RMBH das RMs de Salvador (1.204) e Porto Alegre

(1.109). Já em relação aos homicídios por 100 mil habitantes, a RMBH, ocupa o 8º lugar,

com a taxa de 38,4 em 2002. Atrás, portanto, de Vitória, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo,

Baixada Santista, Maceió e Campinas.

Luis Mir, com base nos dados absolutos do DATASUS, analisou a evolução do

homicídio nas 10 RMs brasileiras mais violentas: São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Belo

Horizonte, Vitória, Porto Alegre, Fortaleza, Curitiba, Salvador e Belém. Quando se avalia o

aumento dos homicídios no período de 1993 a 2002, a RMBH apresenta, nesse conjunto, a

maior variação: 277,2%. Rio de Janeiro e São Paulo registraram, para o mesmo período,

aumentos de 62,4% e 43,1%, respectivamente. O que se observa na RMBH é um

crescimento tardio da violência urbana, já verificado, na década anterior, nas RMs de São

Paulo e Rio de Janeiro.8 (MIR, 2004, pp. 891-892).

Esse crescimento é ainda mais acentuado na faixa etária entre 15 e 24 anos. A

RMBH mais uma vez apresenta a maior variação: 369,5%. Rio de Janeiro e São Paulo

registraram taxas de crescimento de 87,6% e 52,5% , na mesma faixa etária. (MIR, 2004, p.

891). Se a criminalidade violenta, aqui analisada a partir dos dados de homicídios,

apresenta um padrão diferenciado entre as 26 regiões metropolitanas, o mesmo se verifica

internamente a RMBH.

Os 34 municípios que compõem a RMBH apresentam grande diversidade seja em

relação à população, densidade populacional e condições econômica e social. Há ainda uma

grande diversidade em relação às ligações estabelecidas entre esses municípios e também

entre eles e o município pólo, Belo Horizonte. Existem cidades muito integradas e outras

com baixa ou baixíssima integração à dinâmica metropolitana.

Em relação à incidência de crimes, dados da Fundação João Pinheiro mostram que a

RMBH concentra 56% de todos os crimes violentos de Minas Gerais. Entre os seus 34

8 As RMs de Curitiba e Porto Alegre também registraram aumentos significativos de óbitos por homicídios, respectivamente, 128,6 e 104,9, mas bem inferiores ao verificado na RM de Belo Horizonte.

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municípios, cinco (Belo Horizonte, Contagem, Betim, Ribeirão das Neves e Santa Luzia)

concentraram 93% de todas as ocorrências da RM e mais de 50% das ocorrências de Minas

Gerais, entre janeiro de 2002 e março de 2004 (FJP, 2004, p. 20). E, sabe-se também que,

no interior desses municípios, a criminalidade não está uniformemente distribuída. No

entanto, não se tem ainda dados georreferenciados para todos os municípios da RMBH,

restando apenas a alternativa de análise com os dados dos municípios como um todo.

A análise dos crimes da RMBH apresentada a seguir se deterá, primeiramente, nos

crimes violentos contra a pessoa e contra o patrimônio (homicídio, tentativa de homicídio,

estupro, roubo e roubo à mão armada) e, em seguida, separaremos os crimes violentos

contra o patrimônio dos crimes violentos contra a pessoa e, entre estes, os homicídios. A

Tabela 2 traz as ocorrências de crimes violentos contra a pessoa e contra o patrimônio nos

34 municípios da RMBH para os anos de 2002 e 2003.

É preciso ressaltar que há que se tomar um certo cuidado na análise desses dados.

Primeiro, porque é apenas o retrato do período mais recente a partir das estatísticas que se

acham, no momento, disponíveis. Segundo, porque municípios com baixo número de

habitantes e de ocorrências de crimes podem apresentar variações abruptas de um ano para

outro, que não reflitam, necessariamente, em um aumento ou queda da criminalidade.

Examinando os crimes violentos contra a pessoa e o patrimônio nos anos de 2002 e

2003 por cem mil habitantes (Tabela 2), encontramos realidades muito distintas: desde

municípios com taxas acima de mil ocorrências por 100 mil habitantes, como são os casos

de Contagem e Belo Horizonte (em 2002 e 2003) e de Santa Luzia (em 2003), quando

municípios com taxas 0.

Mas uma recorrência chama atenção: sete municípios ocupam os primeiros lugares

nos dois anos, ainda que alternado suas posições: Belo Horizonte, Contagem, Santa Luzia,

Ribeirão das Neves, Betim, Ibirité e Vespasiano, como se pode ver pela Tabela 2. Em

relação aos dois anos, todos esses municípios registram aumento no número de crimes (em

números absolutos e na taxa por 100 mil habitantes). Eles também foram responsáveis, em

números absolutos, por 96% do total de crimes violentos de toda a RMBH em 2002 e 98%

em 2003.

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TABELA 2 – Taxas de crimes violentos contra pessoa e contra o patrimônio por 100 mil habitantes nas 34 cidades da RMBH em 2002 e 2003 e grau de integração dos municípios à dinâmica metropolitana.

Município Grau de integração9

Total ocorren.

2002

Taxa 2002

Município Grau de integração

Total ocorren

2003

Taxa 2003

Contagem Muito alta 8378 1473,01 B. Horizonte Pólo 44137 1885,21 B. Horizonte Pólo 30469 1316,46 Contagem Muito Alta 10077 1738,60 Santa Luzia Muito Alta 1867 927,60 Santa Luzia Muito Alta 3420 1006,08 Betim Alta 3125 883,12 R. d. Neves Muito Alta 2877 974,36 R.das Neves Muito Alta 2214 783,31 Betim Alta 3420 923,09 Ibirité Muito Alta 1029 676,32 Ibirité Muito Alta 1228 772,91 Vespasiano Muito Alta 486 563,16 Vespasiano Muito Alta 799 672,75 Matozinhos Média 137 518,55 Sabará Alta 604 627,18 Lagoa Santa Média 87 462,63 Confins Média 253 545,93 Igarapé Média 124 444,03 Sarzedo Alta 171 539,98 P. Leopoldo Média 227 389,65 Igarapé Média 147 520,44 Sarzedo Alta 75 375,47 S. J. de Bicas Média 117 483,43 S.J.de Bicas Média 76 371,02 Matozinhos Média 113 444,49 Sabará Alta 402 323,52 S. J. da Lapa Alta 115 419,57 Rio Acima Baixa 25 317,90 Lagoa Santa Média 41 381,53 Nova União Muito Baixa 216 315,08 Nova União Muito Baixa 151 361,31 Mateus Leme Baixa 35 281,56 Nova Lima Média 121 345,88 Mário Campos Alta 117 280,06 Caeté Alta 103 299,48 Itatiaiuçu Baixa 24 269,17 Pe. Leopoldo Média 113 286,09 Esmeraldas Alta 127 230,86 Mário Campos Alta 75 271,13 Caeté Média 81 216,81 Mateus Leme Baixa 79 267,20 Rio Manso Muito Baixa 7 148,61 Esmeraldas Alta 35 254,30 Florestal Muito Baixa 8 136,66 Jaboticatubas Muito Baixa 35 251,57 Raposos Média 19 132,82 Rio Acima Baixa 16 214,19 Itaguara Baixa 14 121,51 Itatiaiuçu Baixa 14 154,57 Brumadinho Baixa 35 120,05 Juatuba Média 11 140,57 Juatuba Média 6 106,72 Itaguara Baixa 17 137,95 Nova Lima Média 34 104,79 Brumadinho Baixa 8 136,44 Baldim Muito Baixa 8 99,05 Florestal Muito Baixa 8 135,00 Taquaraçu Muito Baixa 3 85,04 Capim Branco Média 31 127,45 Cap. Branco Média 4 47,39 Rio Manso Muito Baixa 6 126,77 Jaboticatubas Muito Baixa 6 43,44 Baldim Muito Baixa 10 124,25 Confins Média 0 0,00 Taquaraçu Muito Baixa 4 112,97 S.José Lapa Alta 0 0,00 Raposos Média 7 48,91 RMBH 49465 1064,16 RMBH 67026 1410,90

Fontes: Dados de crimes fornecidos pela FJP, fonte original PMMG. Grau de integração, Observatório das Metrópoles.

9 - Essa tipologia de nível de integração dos municípios à dinâmica metropolitana (dos municípios com o pólo e entre os próprios municípios) foi construída a partir dos seguintes indicadores: taxa de crescimento populacional 1991-2000, densidade demográfica, movimento pendular e emprego não-agrícola.

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Comparando as ocorrências de crimes violentos em 2002 e 2003 é possível

perceber, pela Tabela 3, o aumento da participação dos municípios nas classes com maiores

números de ocorrências, ou seja, um aumento nas três primeiras classes: acima de 1.000;

entre 999 e 500; e entre 499 e 100. O total também registrou um aumento: os crimes

violentos passaram de 1.064,16 ocorrências por cem mil habitantes em 2002 para 1.410,90

em 2003. Como se trata de um retrato de apenas dois anos, esses dados devem ser olhados

com um certo cuidado, ainda que análises com séries mais longas já apontavam para

crescimento da criminalidade violenta em Minas Gerais e, em especial, na região

metropolitana e nos municípios com mais de 100 mil habitantes. (Beato, 1997 e FJP, 2004a

e 2004b).

TABELA 3 – Evolução dos crimes violentos na RMBH: 2002 e 2003

Crimes violentos contra a pessoa e contra o patrimônio por 100 mil habitantes: 2002 e 2003

2002 2003 Ocorrências

Nº % Nº %

Acima de 1.000 2 5,9 3 8,8

Entre 999 e 500 6 17,6 8 23,5

Entre 499 e 100 20 58,8 22 64,7

Abaixo de 100 4 11,8 1 2,9

Zero 2 5,9 0 0

Total 34 100,0 34 100,0

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da PMMG fornecidos pela FJP.

As próximas tabelas mostram as ocorrências de crimes violentos contra o

patrimônio (roubo e roubo à mão armada) – Tabela 4 – e dos crimes violentos contra a

pessoa (homicídio, tentativa de homicídio e estupro) – Tabela 5. Verifica-se que, para as

ocorrências contra o patrimônio, os sete municípios permanecem em 2002 ocupando os sete

primeiros lugares e, em 2003, eles estão entre os oito primeiros. Sozinhas, essas sete

cidades responderam por 96% do total absoluto de ocorrências de crimes violentos contra o

patrimônio registradas na RMBH em 2002 e também em 2003. Neste ano, 2003, Sabará

aparece em sétimo lugar e Vespasiano em oitavo. Sabará é um município com perfil muito

próximo dos sete acima citados: possui mais de 100 mil habitantes em 2003, mais

precisamente, 127.396, apresenta uma alta integração à dinâmica metropolitana e faz

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fronteira com Belo Horizonte. Entre 2002 e 2003, os sete municípios com os maiores

índices de criminalidade violenta registraram aumento dos crimes contra o patrimônio, seja

em números absolutos, seja na taxa por 100 mil habitantes.

Outra particularidade dos crimes violentos contra o patrimônio, que pode ser

verificada pela Tabela 4, é o fato dos municípios com maior desenvolvimento econômico

como Contagem, Belo Horizonte e Betim, ocuparem os três primeiros lugares no ano de

2002. Essas cidades estão entre as três primeiras do Estado na listagem dos 100 municípios

brasileiros com maior PIB em 2002. No ranking nacional, Belo Horizonte ocupa o 5º lugar,

Betim o 14º e Contagem 27º. Em 2003, Betim registra um aumento nos crimes contra o

patrimônio tanto em valores absolutos quanto na taxa por 100 mil habitantes, no entanto,

passa do terceiro lugar em 2002 para o quinto em 2003. À sua frente, aparecem Ribeirão

das Neves e Santa Luzia, que apresentaram em 2003 um crescimento ainda maior dos

crimes contra o patrimônio, ocupando os terceiro e quarto lugares, respectivamente.

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TABELA 4 – Taxas de crimes violentos contra patrimônio em 2002 e 2003 Município Total

ocorrên. 2002

Pop 2002

Taxa 2002

Município Total ocorrên.

2003

Pop. 2003

Taxa 2003

Contagem 7558 568768 1328,84 Belo Horizonte 40941 2341230 1748,70 Belo Horizonte 27773 2314466 1199,97 Contagem 9198 579604 1586,95 Betim 2731 353860 771,77 R. das Neves 2417 295270 818,57 Santa Luzia 1518 201271 754,21 Santa Luzia 1668 207040 805,64 R. das Neves 1809 282648 640,02 Betim 2893 370495 780,85 Ibirité 882 152147 579,70 Ibirité 1068 158881 672,20 Vespasiano 372 86298 431,06 Sabará 684 127396 536,91 Mateus Leme 107 26420 405,00 Vespasiano 471 89780 524,61 Juatuba 66 18805 350,96 Sarzedo 97 20927 463,52 Igarapé 95 27926 340,19 Igarapé 125 29014 430,83 Sarzedo 60 19975 300,38 Confins 23 5678 405,05 P. Leopoldo 164 58257 281,51 São J. da Lapa 70 18829 371,77 São J. de Bicas 57 20484 278,26 São J. de Bicas 78 21306 366,09 Nova Lima 184 68555 268,40 Mateus Leme 98 27222 360,00 Sabará 318 124258 255,92 Nova Lima 213 70023 304,18 Itatiaiuçu 20 8916 224,31 Juatuba 58 19657 295,05 Lagoa Santa 89 41777 213,04 Matozinhos 91 33248 273,70 Mário Campos 26 12431 209,16 Caeté 100 37733 265,02 Caeté 73 37359 195,40 Mário Campos 32 13099 244,30 Rio Acima 15 7864 190,74 Lagoa Santa 101 43153 234,05 Esmeraldas 99 55012 179,96 Pedro Leopoldo 131 59772 219,17 Florestal 8 5854 136,66 Esmeraldas 124 57806 214,51 Rio Manso 5 4710 106,15 Jaboticatubas 25 13913 179,69 Itaguara 12 11522 104,15 Rio Acima 12 7937 151,19 Raposos 12 14305 83,88 Itatiaiuçu 13 9057 143,53 Brumadinho 24 29153 82,32 Florestal 8 5926 135,00 Matozinhos 23 32445 70,89 Itaguara 15 11599 129,33 Taquaraçu de M. 2 3528 56,69 Nova União 5 5691 87,85 Nova União 3 5622 53,36 Brumadinho 26 30049 86,52 Baldim 4 8076 49,53 Rio Manso 4 4733 84,51 Capim Branco 2 8440 23,70 Baldim 5 8048 62,12 Jaboticatubas 3 13813 21,72 Taquaraçu de M. 2 3541 56,48 Confins 0 5471 0,00 Capim Branco 3 8631 34,76 São José da Lapa 0 17831 0,00 Raposos 2 14311 13,98 RMBH 44114 4648267 949,04 RMBH 60801 4750600 1279,86 Fontes: Dados de crimes fornecidos pela FJP, fonte original PMMG.

Em relação aos crimes violentos contra pessoa, os sete municípios ocupam, em

2002, os 12 primeiros lugares, e, em 2003, os nove primeiros. Santa Luzia, Contagem,

Ribeirão das Neves e Vespasiano aparecem, nos dois anos, nas quatro primeiras posições.

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Em todos esses municípios, observa-se, de um ano para outro, um crescimento das taxas e

dos números absolutos desse tipo de crime.

Os municípios que registraram nesses dois anos taxas elevadas de crimes violentos

por 100 mil habitantes, aproximando-se, ora em um ano, ora em outro, dos sete que

estamos procurando distinguir, são: Rio Acima, Mateus Leme, Juatuba, Pedro Leopoldo,

Igarapé, Confins e São Joaquim de Bicas. Diferentemente dos sete municípios em destaque,

suas posições tendem a variar muito mais de ano para ano. Em sua maioria, trata-se de

municípios com pequena população. Rio Acima e Confins têm menos de 10 mil habitantes;

Mateus Leme, Juatuba, Igarapé e São Joaquim de Bicas têm menos de 30 mil habitantes. O

mais populoso é Pedro Leopoldo, com 58.257 habitantes em 2002. Trata-se, como já foi

falado, de variações comuns em municípios com baixa população.10 E, se analisarmos a

contribuição desses municípios acima citados no total de crimes violentos contra pessoa,

em 2002, veremos que as ocorrências de Rio Acima, Mateus Leme, Juatuba e Pedro

Leopoldo corresponderam a apenas 2,8% do total registrado. Em 2003, as ocorrências de

Confins e de São Joaquim de Bicas corresponderam a apenas 0,5% do total.

Os registros policiais de crimes violentos contra pessoas em 2002 e 2003 ficaram

concentrados, em números absolutos, nos sete municípios. Em 2002, Belo Horizonte,

Contagem, Santa Luzia, Ribeirão das Neves, Betim, Ibirité e Vespasiano contribuíram com

89,8% do total de crimes violentos contra a pessoa registrados na RMBH. E, em 2003, essa

participação foi ainda maior: 92,6% do total de ocorrências.

10 Sobre a incidência de crimes em municípios com pequena população ver Beato et al, 1997, p. 2 e Hermeto et al, 2004.

10

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TABELA 5 – Taxas de crimes violentos contra pessoa em 2002 e 2003

Município Total ocorrên

2002

Pop 2002

TAXA 2002

Município Total ocorrên.

2002

Pop 2003

TAXA 2003

Santa Luzia 349 201271 173,40 Santa Luzia 415 207040 200,44 Contagem 820 568768 144,17 R.das Neves 460 295270 155,79 R. das Neves 405 282648 143,29 Contagem 879 579604 151,66 Vespasiano 114 86298 132,10 Vespasiano 133 89780 148,14 Rio Acima 10 7864 127,16 Betim 527 370495 142,24 Belo Horizonte 2696 2314466 116,48 Confins 8 5678 140,89 Mateus Leme 30 26420 113,55 Belo Horizonte 3196 2341230 136,51 Juatuba 21 18805 111,67 São J. de Bicas 25 21306 117,34 Betim 394 353860 111,34 Ibirité 160 158881 100,70 Pedro Leopoldo 63 58257 108,14 Capim Branco 8 8631 92,69 Igarapé 29 27926 103,85 Sabará 115 127396 90,27 Ibirité 147 152147 96,62 Igarapé 26 29014 89,61 São J. de Bicas 19 20484 92,75 Juatuba 17 19657 86,48 Sarzedo 15 19975 75,09 Mateus Leme 23 27222 84,49 Mário Campos 9 12431 72,40 Sarzedo 16 20927 76,46 Sabará 84 124258 67,60 Matozinhos 24 33248 72,18 Lagoa Santa 28 41777 67,02 Jaboticatubas 10 13913 71,88 Nova União 3 5622 53,36 Pedro Leopoldo 40 59772 66,92 Esmeraldas 28 55012 50,90 Rio Acima 5 7937 63,00 Baldim 4 8076 49,53 Baldim 5 8048 62,12 Raposos 7 14305 48,93 Nova Lima 40 70023 57,12 Nova Lima 32 68555 46,68 Taquaraçu de M. 2 3541 56,48 Itatiaiuçu 4 8916 44,86 Nova União 3 5691 52,71 Rio Manso 2 4710 42,46 Brumadinho 15 30049 49,92 Brumadinho 11 29153 37,73 São J.da Lapa 9 18829 47,80 Matozinhos 11 32445 33,90 Rio Manso 2 4733 42,26 Taquaraçu de M. 1 3528 28,35 Esmeraldas 23 57806 39,79 Capim Branco 2 8440 23,70 Lagoa Santa 16 43153 37,08 Jaboticatubas 3 13813 21,72 Raposos 5 14311 34,94 Caeté 8 37359 21,41 Caeté 13 37733 34,45 Itaguara 2 11522 17,36 Mário Campos 3 13099 22,90 Confins 0 5471 0,00 Itatiaiuçu 1 9057 11,04 Florestal 0 5854 0,00 Itaguara 1 11599 8,62 São J. da Lapa 0 17831 0,00 Florestal 0 5926 0,00 RMBH 5351 4648267 115,12 RMBH 6225 4750600 131,04 Fontes: Dados de crimes fornecidos pela FJP, fonte original PMMG.

Em relação às ocorrências de homicídios, os sete municípios aparecem entre os dez

primeiros em 2002. Em todos eles, observa-se um aumento nas ocorrências de um ano para

o outro. Ocupando as posições intermediárias, estão os municípios de Baldim, Mateus

11

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Leme e Sarzedo em 2002 e São Joaquim de Bicas em 2003. O maior desses municípios

possui 26 mil habitantes, trata-se, como já comentado acima, de variações em função,

principalmente, da baixa população.

Estudo realizado pelo CEDEPLAR em um período anterior e mais longo de

ocorrências de homicídios, entre os anos de 1997 e 2000, detectou a mesma concentração

nos sete municípios que estamos destacando:

“Dentre os municípios com as maiores taxas de homicídio, além de Belo Horizonte, destacam-se os municípios de Betim, Contagem, Ibirité, Santa Luzia, Ribeirão das Neves e Vespasiano que, em todo o período analisado, apresentaram elevadas taxas de homicídios por cem mil habitantes” (Hermeto, 2004, p. 151).

No caso deste trabalho, mostramos a concentração das ocorrências nessas cidades,

não apenas em relação aos homicídios, mas também nos crimes violentos contra o

patrimônio e contra pessoa.

12

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TABELA 6 – Taxas de homicídios na 34 cidades da RMBH Município Ocorren

2002 Taxa. 2002

Município Ocorren. 2003

Taxa. 2003

Ribeirão das Neves 149 52,72 Vespasiano 49 54,58 Contagem 256 45,01 Santa Luzia 111 53,61 Vespasiano 35 40,56 Contagem 304 52,45 Santa Luzia 79 39,25 Ribeirão das Neves 154 52,16 Baldim 3 37,15 Betim 183 49,39 Ibirité 56 36,81 São J.de Bicas 10 46,93 Belo Horizonte 737 31,84 Belo Horizonte 978 41,77 Mateus Leme 2 30,28 Ibirité 60 37,76 Sarzedo 6 30,04 Confins 2 35,22 Betim 101 28,54 Taquaraçu de Minas 1 28,24 Taquaraçu de Minas 1 28,35 Mateus Leme 1 25,71 Juatuba 0 26,59 Brumadinho 7 23,30 Rio Acima 2 25,43 Sabará 28 21,98 Igarapé 7 25,07 Juatuba 1 20,35 São J. de Bicas 5 24,41 Nova União 5 17,57 Rio Manso 1 21,23 Igarapé 5 17,23 Pedro Leopoldo 11 18,88 Pedro Leopoldo 8 13,38 Brumadinho 5 17,15 Baldim 1 12,42 Mário Campos 6 16,09 Capim Branco 1 11,59 Lagoa Santa 5 14,36 São José da Lapa 2 10,62 Esmeraldas 7 12,72 Esmeraldas 5 8,65 Sabará 15 12,07 Caeté 3 7,95 Itatiaiuçu 1 11,22 Mário Campos 2 7,63 Nova Lima 0 10,21 Nova Lima 1 7,14 Raposos 1 6,99 Raposos 1 6,99 Caeté 1 2,68 Lagoa Santa 4 4,63 Capim Branco 0 0,00 Matozinhos 7 3,01 Confins 0 0,00 Florestal 0 0,00 Florestal 0 0,00 Itaguara 0 0,00 Itaguara 0 0,00 Itatiaiuçu 0 0,00 Jaboticatubas 0 0,00 Jaboticatubas 0 0,00 Matozinhos 8 0,00 Rio Acima 0 0,00 Nova União 7 0,00 Rio Manso 0 0,00 São José da Lapa 0 0,00 Sarzedo 0 0,00 RMBH 1507 32,42 RMBH 1934 40,71

Fontes: Dados de crimes fornecidos pela FJP, fonte original PMMG.

Passaremos agora a relacionar alta incidência de crimes violentos nos sete

municípios anteriormente citados com outros indicadores demográficos e sociais, com o

objetivo de tentar verificar possíveis relações entre eles, mas também tentar perceber a

existência ou não de especificidades compartilhadas.

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TABELA 7 - Indicadores demográficos e de integração à dinâmica metropolitana dos sete municípios mais violentos da RMBH. Município Pop. Estm.

2004 Taxa.Cresc.1991/2000

Densidade. (hab/Km2)

Nº de pessoas que trabalham ou estudam em outro município

Integração à dinâmica metropolitana

Belo Horizonte 2.350.564 1,15 6.764 52.499 (3,40%)

Pólo

Contagem 583.386 2,02 2.765 66.700 (24,54%)

Muito Alta

Betim 376.318 6,71 887 35.754 (18,30%)

Alta

R. das Neves 299.687 6,18 1.601 61.414 (39,10%)

Muito Alta

Santa Luzia 209.057 3,32 791 40.485 (34,43%)

Muito Alta

Ibirité 161.208 6,32 1.822 33.145 (40,91%)

Muito Alta

Vespasiano 91.009 5,84 1.090 15.353 (31,76%)

Muito Alta

Fonte: Observatório das Metrópoles.

Todos eles são municípios populosos, e, com exceção de Vespasiano, os outros seis

têm mais de 100 mil habitantes. Segundo dados do Boletim de Informações Criminais da

Fundação João Pinheiro, há uma concentração, em Minas Gerais, dos crimes violentos em

municípios com mais de 100 mil habitantes. (FJP, Janeiro/Março de 2004, p. 15).

A taxa de ocupação em atividades não agrícolas é superior a 95% em seis

municípios, com exceção de Ibirité, com 93,14. Trata-se sempre de taxas elevadas, o que é

mais um indicador do perfil urbano desses municípios, que também registraram elevado

crescimento demográfico entre 1991 e 2000. O que não é o caso apenas de Belo Horizonte

e Contagem, cidades com ocupação já mais antiga e consolidada e também as que

apresentam as mais altas taxas de densidade populacional.

Mas, talvez, o dado mais significativo seja o fato do crescimento populacional

desses municípios ter como principal causa a migração de pessoas da própria região

metropolitana e, em especial, de Belo Horizonte. Fato que reforça a integração dos sete

municípios à dinâmica da região metropolitana, mesmo que de forma perversa, porque, ao

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Page 15: Vulnerabilidade social e criminalidade na Região ... · Tabela 2 traz as ocorrências de crimes violentos contra a pessoa e contra o patrimônio nos 34 municípios da RMBH para os

que tudo indica, esses migrantes procuravam, nos municípios do entorno da capital,

moradia mais acessível, daí a sua caracterização como municípios dormitórios. 11

No período de 1970/80 os municípios da RMBH que apresentaram as maiores taxas

líquidas de migração foram exatamente aqueles que hoje apresentam altas taxas de

violência, com exceção de Belo Horizonte que foi o principal município expulsor de

população.12 Ribeirão das Neves é o caso que mais chama a atenção. Com uma população

de 67.249 habitantes em 1980, seu saldo migratório foi de 54.313, o que representa uma

taxa líquida de migração (TLM) de 80,8%, ou seja, quase 81% da sua população era de

migrantes. Em seguida, mas com taxas (TLM) menores em relação a Ribeirão das Neves,

mas mesmo assim altas, aparecem Contagem com 48,8, Santa Luzia com 45,5, Betim com

40,5, Vespasiano com 37,9 e Ibirité com 33,8. (Rigotti e Vasconcellos, 2003, p. 55).

Rigotti e Vasconcellos relacionam a atração exercida por esses municípios a

diferentes formas de ocupação do solo. Enquanto Belo Horizonte passava por um processo

de mudança na legislação urbanística – que inibia a ocupação clandestina e,

conseqüentemente, elevava o preço da terra –, os municípios vizinhos, com grandes

extensões de terras disponíveis e com poucos controles formais, se apresentavam como

lugares de moradia mais viável para aqueles que dependiam do trabalho na capital. (2003,

p. 54-5)

Nos dois períodos seguintes: 1986-91 e 1995-2000, os sete municípios lideram a

recepção de migrantes. E, se Belo Horizonte foi o município que mais recebeu migrantes,

algo em torno de 50% de todos aqueles que procuravam a RM, no entanto, apresentou saldo

migratório negativo nos dois períodos. Já os outros seis municípios apresentaram saldos

migratórios positivos: Contagem (49,8), Ribeirão das Neves (39,0), Betim (30,8), Santa

luzia (21,8), Ibirité (21,1) e Vespasiano (9,2). No período seguinte, 1995-2000, Ribeirão

das Neves registrou o maior saldo positivo (46,2), seguido por Betim (39,0), Contagem

(24,7), Ibirité (23,3), Santa Luzia (18,7) e Vespasiano (12,9). (Rigotti e Vasconcellos, 1993,

p. 58).

11 Os dados apresentados a seguir têm como fonte exclusiva Rigotti e Vasconcellos (2003). 12 Em números absolutos, Belo Horizonte lidera a recepção de migrantes, mas em termos relativos (saldo migratório) não, uma vez que é também um município que registra um número muito significativo de pessoas que deixam a capital: “mais importante que o ganho populacional em si foi a saída de pessoas que não encontravam um local acessível para morar.” (Rigotti e Vasconcellos, 2003, p. 55).

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Um fenômeno a ser melhor investigado e, possivelmente, relacionado às altas taxas

de crimes violentos é o impacto da migração nos arranjos sociais e nas formas de coesão

social.

Outros dois indicadores reforçam o grau de integração desses municípios na

dinâmica metropolitana. Com exceção do Pólo e também de Betim, e, em menor grau, de

Contagem, nos outros municípios são altas as taxas de pessoas que estudam e trabalham em

outras cidades. Em relação à última coluna, índice de integração metropolitana, é

interessante observar que os cinco municípios de todos os 34 da região metropolitana

classificados no nível de integração “Muito Alta”, estão aí representados. Os outros dois

são Betim, cuja integração é Alta, e o próprio pólo, Belo Horizonte. Outra informação

importante é que todos eles localizam-se no entorno de Belo Horizonte e estão justamente

nos dois primeiros eixos de expansão da região metropolitana, o eixo norte (Santa Luzia,

Vespasiano e Ribeirão das Neves) e o eixo oeste (Contagem, Betim, Ibirité).

Esses dados reforçam as teorias clássicas da ecologia criminológica que estabelecem

relação entre o ambiente mais urbanizado e a incidência de crimes, especialmente os contra

o patrimônio (Wilson e Herrenstein, 1985). Isso pode ser visto claramente nas primeiras

posições ocupadas por Belo Horizonte e Contagem na Tabela 4, referente aos crimes contra

o patrimônio. Já em relação aos crimes contra pessoa, a capital, Belo Horizonte, ocupa o 6º

e 7º lugares em 2002 e 2003. Contagem, diferente de Belo Horizonte, aparece sempre entre

os quatro municípios mais violentos, seja em relação ao total dos crimes violentos contra

pessoa, seja em relação aos homicídios. As outras três cidades são: Ribeirão das Neves,

Vespasiano e Santa Luzia, municípios mais periféricos e com características de cidades-

dormitório, como se pode ver pelo número de pessoas que trabalham e estudam em outro

município pela Tabela 7. Elas apresentam também taxas relativamente altas de pobreza

(percentual de pessoas pobres sobre a população), como se pode ver pela Tabela 8. Mas não

são os municípios mais pobres da RMBH, aliás, os municípios mais distantes do pólo em

geral apresentam taxas de pobreza maiores que aqueles situados no entorno de Belo

Horizonte, fenômeno este também observado em outras regiões metropolitanas. Ainda em

relação à Tabela 8, os municípios em pior condição social não são os mais violentos, e os

sete mais violentos apresentam taxas de pobreza que variam de 14 a 30% a na classe de

condição social de Muito Boa a Média. Belo Horizonte apresenta os melhores indicadores,

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seguida por Contagem e Santa Luzia. Os outros compartilham a classe de situação social

Média.

TABELA 8 - Indicadores sociais dos municípios da RMBH

Município IDH Taxa de pobreza13 Classe de condição social Baldim 0,742 41,50 Ruim Belo Horizonte 0,839 14,17 Muito Boa Betim 0,775 29,31 Média Brumadinho 0,773 24,09 Média Caeté 0,789 28,46 Boa Capim Branco 0,751 30,01 Média Confins 0,773 27,82 Média Contagem 0,789 18,75 Boa Esmeraldas 0,748 39,01 Ruim Florestal 0,794 26,09 Média Ibirité 0,729 32,46 Média Igarapé 0,753 30,42 Média Itaguara 0,743 29,11 Média Itatiaiuçu 0,727 33,50 Média Jaboticatubas 0,731 42,41 Ruim Juatuba 0,712 37,29 Média Lagoa Santa 0,783 19,32 Média Mário Campos 0,711 37,89 Ruim Mateus Leme 0,745 28,98 Média Matozinhos 0,774 23,14 Média Nova Lima 0,821 14,64 Boa Nova União 0,700 46,43 Ruim P. Leopoldo 0,807 23,58 Boa R. das Neves 0,749 30,59 Média Raposos 0,758 22,78 Boa Rio Acima 0,735 29,58 Média Rio Manso 0,708 38,24 Ruim Sabará 0,773 26,15 Boa Santa Luzia 0,754 27,19 Boa São J. de Bicas 0,707 40,08 Ruim São José da Lapa 0,747 22,95 Média Sarzedo 0,748 27,40 Média Taquaraçu de M. 0,735 44,87 Ruim Vespasiano 0,747 30,13 Média Fonte: Indicadores trabalhados pelo Observatório das Metrópoles.

13 - Taxa de pobreza, corresponde ao percentual de pessoas pobres sobre a população total. É calculada pelo PNUD (2003) registra o percentual de pessoas cuja renda domiciliar mensal per capta é de até ½ salário mínimo, com base nos dados do Censo de 2000.

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Algumas considerações

Uma primeira constatação a partir desses dados é que a criminalidade violenta na

RMBH apesar de estar crescendo, não se encontra uniformemente distribuída, nem

disseminada. Na verdade ela está bastante concentrada em sete municípios, o que

corresponde a apenas 20% do total de cidades de toda a RM. Outro ponto que merece

destaque é que, apesar de Belo Horizonte, Contagem, Santa Luzia, Ribeirão das Neves,

Betim, Ibirité e Vespasiano concentrarem quase a totalidade de crimes violentos da RMBH

(98% em números absolutos em 2003), eles se alternam entre as primeiras posições do

ranking dependendo do tipo de ocorrência. De um modo geral, os municípios com maiores

taxas de crimes contra o patrimônio não são os primeiros colocados nas tabelas de

homicídios, por exemplo. A exceção de Contagem, que aparece sempre entre os quatro

primeiros colocados com maiores taxas de crimes contra pessoa, contra patrimônio e de

homicídio. Mais um indício de que a criminalidade violenta na RMBH está distribuída de

forma desigual também com relação ao tipo de crime.

Esses sete municípios têm em comum o fato de estarem muito integrados à

dinâmica metropolitana, de serem muito urbanizados e, de contarem com taxas de

crescimento populacional, com exceção de Belo Horizonte e Contagem, que denotam

significativo movimento migratório. Ou seja, são municípios que sofreram mudanças

profundas na composição de sua população e na sua estrutura urbana em virtude da

migração, grande parte dela oriunda da própria capital.

Não foi possível encontrar relações muito evidentes entre pobreza e criminalidade

violenta, apesar de três dos sete municípios mais violentos (Ibirité, Ribeirão das Neves e

Vespasiano) apresentarem taxas de pobreza acima de 30%, eles não são, no universo dos

municípios da RMBH, os mais pobres. No entanto, em se tratando de municípios muito

populosos, concentram também muitas desigualdades internas. Chega-se aqui ao limite da

explicação na escala municipal.

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Bibliografia citada BEATO FILHO, C. C. ; ASSUNCAO, R. ; SANTOS, M. A. C. ; SANTO, L. E. E. ; SAPORI, L. F. ; BATITUCCI, E. . Evolução da Criminalidade Violenta em Minas Gerais 1985-1997. Caxambu, XXII Reunião da ANPOCS, Sessão Violência, Justiça e Direitos. 1997. CASTRO, Mônica Silva M., ASSUNÇÃO, Renato M. e DURANTE, Marcelo Ottoni (2002). Homicídios em Minas Gerais: Sistema de Informações de Mortalidade do Ministério da Saúde. (Disponível em http://www.crisp.ufmg.br/informa.pdf) Acessado em 20/05/2005). FJP. Boletim de Informações Criminais de Minas Gerais. Belo Horizonte, Secretaria de Defesa Social/Fundação João Pinheiro, Janeiro/Março 2004a. FJP. Boletim de Informações Criminais de Minas Gerais. Belo Horizonte, Secretaria de Defesa Social/Fundação João Pinheiro, Abril/Junho 2004b. HERMETO, Ana M. et al. Economia social - Mercado de trabalho, pobreza e desigualdade e criminalidade. In: BH Século XXI, Belo Horizonte, CEDEPLAR, 2004. MACHADO da SILVA, Luis Antonio. “Criminalidade violenta: por uma nova perspectiva de análise”. Revista de Sociologia e Política, Nº 13: 115-124, nov. 1999. MIR, Luis. Guerra civil: Estado e Trauma. São Paulo, Geração Editorial, 2004. RIGOTTI, Jose Irineu R. e VASCONCELLOS, Idamila Renata P. “As migrações na Região Metropolitana de Belo Horizonte no limiar do século XXI”. In: Mendonça, Jupira g. e GODINHO, M. Helena L. (Orgs.). População, espaço e gestão na metrópole: novas configurações, velhas desigualdades. Belo Horizonte, PUC Minas, 2003. SENASP. http://www.mj.gov.br/senasp/estatisticas/estat_homicidios.htm WILSON, James Q. e HERRENSTEIN, Richard J. Crime and human nature: the definitive study of the causes of crime. Nova York, Touchstone Book/Simon & Schuster, Inc., 1985.

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