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2011 Wagner Miranda • Gustavo Alves Noções de Direito Processual Civil Nível Médio Conhecimentos Básicos e Específicos TÉCNICO DO MINISTÉRIO PÚBLICO ÁREA NOTIFICAÇÃO E ATOS INTIMATÓRIOS

Wagner Miranda † Gustavo Alves - vestcon.com.br · A jurisdição civil seria exercida nos casos de matéria não penal, ou seja, cons tucional, administra va, civil, tributária,

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2011

Wagner Miranda • Gustavo Alves

Noções de Direito Processual Civil

Nível MédioConhecimentos Básicos e Específicos

TÉCNICO DO MINISTÉRIO PÚBLICOÁREA NOTIFICAÇÃO E ATOS INTIMATÓRIOS

© 2011 Vestcon Editora Ltda.

Todos os direitos autorais desta obra são reservados e protegidos pela Lei nº 9.610, de 19/2/1998. Proibida a reprodução de qualquer parte deste material, sem autorização prévia expressa por escrito do autor e da editora, por quaisquer meios empregados, sejam eletrônicos, mecânicos, videográ-fi cos, fonográfi cos, reprográfi cos, microfílmicos, fotográfi cos, gráfi cos ou outros. Essas proibições aplicam-se também à editoração da obra, bem como às suas características gráfi cas.

Título da obra: MPE-RJ – Ministério Público do Estado do Rio de JaneiroTécnico do Ministério Público

Área Notifi cação e Atos Intimatórios – Nível MédioConhecimentos Básicos e Específi cos

Atualizada até 8-2011 (AM 233)

(Conforme Edital de Concurso Público para Ingresso no Quadro Permanente dos ServiçosAuxiliares do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, agosto de 2011 – FUJB)

Noções de Direito Processual Civil

Autores:Wagner Miranda • Gustavo Alves

DIRETORIA EXECUTIVANorma Suely A. P. Pimentel

PRODUÇÃO EDITORIALFabrícia de Oliveira Gouveia

SUPERVISÃO DE PRODUÇÃOAline Assis

EDIÇÃO DE TEXTOCláudia FreiresIsabel Cristina Aires Lopes

CAPARalfe Braga

ILUSTRAÇÃOMicah Abe

PROJETO GRÁFICORalfe Braga

ASSISTENTE DE PRODUÇÃOGabriela Tayná Moura de Abreu

AUXILIAR DE PRODUÇÃOGeane Rodrigues da Rocha

EDITORAÇÃO ELETRÔNICAAntonio Gerardo PereiraCarlos Alessandro de Oliveira FariaDiogo Alves

REVISÃOÉrida CassianoGiselle BerthoMicheline Cardoso Ferreira

ASSISTENTES DE REVISÃOAna Paula Oliveira PagyDanilo Marques

SEPN 509 Ed. Contag 3º andar CEP 70750-502 Brasília/DFSAC: (61) 3034 9588 Tel.: (61) 3034 9576 Fax: (61) 3347 4399

www.vestcon.com.br

Direito Processual Civil. Jurisdição. Órgãos da Função Jurisdicional. Poder Judiciário. Organização Judiciária. Funções Não Jurisdicionais do Poder Judiciário. Órgãos Auxiliares da Jus ça. O Juiz. Competência .................................5

Ação. Espécies. Condições da Ação. Individualização. Conexão e Con nência. Concurso e Cumulação de Ações. A Ação como Instrumento de Acesso à Jus ça .......................................................................................................18

Processo. Relação Jurídica Processual. Pressupostos Processuais. Princípios Informa vos do Processo e Procedimento. Atos Processuais .........................................................................................................................................19

Princípios Processuais Cons tucionais. A Instrumentalidade do Processo e sua Importância para o Acesso à Jus ça ...20

SUMÁRIO

Noções de Direito Processual Civil

MPE-RJ

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL Wagner Miranda / Gustavo Alves

Nesse procedimento, o juiz pode decidir por equidade, não estando preso a critérios de legalidade estrita.1

Nelson Nery Júnior e Rosa Maria de Andrade Nery (2006, p. 1060-1061) fazem a dis nção entre esses dois princípios, nesses termos:

[...] O poder dado ao Juiz na jurisdição contenciosa, de determinar ex offi cio realização de prova, encontra limitação no princípio disposi vo e no da igualdade de partes [...] Na jurisdição voluntária incide o prin-cípio ofi cial em toda sua extensão. O Juiz, indepen-dentemente do requerimento dos interessados, deve determinar a realização de prova ex offi cio. Aqui não há ônus de provar, há faculdade de provar.No que diz respeito à inicia va da a vidade juris-dicional, pode fazê-lo a parte ou interessado, bem como o Ministério Público nos casos em que es ver legi mado a ajuizar a ação civil pública.

Acrescente-se que a sentença proferida nos procedi-mentos de jurisdição voluntária só produzem coisa julgada formal, não produz coisa julgada material e, por isso, pode ser modifi cada em face de circunstâncias supervenientes (art. 1.111 do CPC).

Tendo em vista que não há lide, confl ito, também não há que se falar em revelia.

Considerando o interesse público envolvido, o Ministé-rio Público deverá intervir em todos os procedimentos de jurisdição voluntária (art. 1.108).

Quadro Compara vo

Jurisdição Contenciosa Jurisdição VoluntáriaLide (confl ito) Acordo de vontadePartes InteressadosSentença mérito HomologaçãoFunção jurisdicional Atribuição administra vaSubs tui a vontade das partes Não substitui a vontade das

partesFaz coisa julgada material Faz coisa julgada formal

Podemos falar, ainda, em jurisdição civil e jurisdição penal.

A jurisdição civil seria exercida nos casos de matéria não penal, ou seja, cons tucional, administra va, civil, tributária, empresarial. Por outro lado, a jurisdição penal seria conferida à solução das matérias penais.

Portanto, o direito processual civil pode ser conceitua-do como o conjunto de regras e princípios que regulam a atuação do Estado no exercício da jurisdição civil.

Temos, ainda, a jurisdição especial e a comum, que é dividida conforme a matéria envolvida e na natureza das normas que serão aplicadas para o deslinde da causa. Quan-do do estudo dos órgãos da jurisdição, trataremos melhor dessa dis nção.

Poderes

Os poderes da jurisdição seriam aqueles decorrentes da a vidade jurisdicional, podendo-se citar:

1 FCC/DPE-MT/Defensor Público/2009/Questão 56.

Wagner Miranda / Gustavo Alves

DA JURISDIÇÃO: CONCEITO, FINALIDADE E CARACTERÍSTICAS, PRINCÍPIOS, MODALIDADES, PODERES E ÓRGÃOS

Conceito

Nos dias de hoje, tendo em vista a existência de um Estado organizado, regulado por um conjunto de normas, com força sufi ciente para impor sua vontade à vontade dos cidadãos, o poder de resolver os confl itos entre as partes é exclusivo do Estado, representado, nesse caso, pelo Poder Judiciário.

Quando da inexistência desse Estado organizado, a solu-ção dos confl itos era feita pelas próprias partes, pelo que se chamava de autotutela, fazendo prevalecer a lei do mais forte.

Nada obstante seja uma forma primária de solução de confl itos, ainda hoje o ordenamento jurídico prevê a possibi-lidade de se valer da autotutela para defesa de direito, como no caso do desforço imediato nas possessórias e, a mais conhecida, legí ma defesa no direito penal.

Em um estágio mais avançado, mas ainda com um Estado não totalmente organizado, a autotutela foi sendo subs tuí-da pela solução dos confl itos por um terceiro desinteressado, eleito pelos envolvidos no confl ito, em um processo chamado de arbitragem.

Nos dias de hoje, a arbitragem serve como forma al-terna va de solução de confl itos, sendo regulada pela Lei nº 9.307/1996.

Com o surgimento do Estado de Direito, a tarefa de solu-cionar os confl itos passa para o Estado, sendo uma função a ele inerente, assim como a legisla va e a execu va.

Surge, então, a jurisdição como uma das formas de so-lução de li gios, que é um dever do Estado de resolver os confl itos que são levados pelos interessados, aplicando uma solução prevista na lei.

Podemos conceituar a jurisdição como sendo a

função que consiste, primordialmente, em resolver os confl itos que a ela sejam apresentados pelas pessoas, naturais ou jurídicas [...], em lugar dos interessados, por meio da aplicação de uma solução prevista pelo sistema jurídico. (ALMEIDA, TALAMINI, WAMBIER, 2006, p. 37-38)

Modalidade

Fala-se em jurisdição contenciosa quando há a solução de um confl ito entre as partes, aplicando-se o direito ao caso concreto, mediante um provimento jurisdicional (decisão).

Por outro lado, a jurisdição voluntária seria uma homo-logação, pelo Poder Judiciário, de um acordo de vontade entre as partes, cuja validade, em razão de determinação legal, depende da manifestação do Juiz.

Nos procedimentos de jurisdição voluntária o Juiz tem plenos poderes para inves gar livremente os fatos alegados pelas partes e ordenar de o cio a realização de qualquer prova (art. 1.107). Trata-se do princípio da inves gação de o cio, que se contrapõe ao princípio disposi vo da jurisdição contenciosa.

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A própria Cons tuição Federal dispõe sobre as jus ças que exercem a jurisdição especial e as jus ças que exercem a jurisdição comum. Entre as que exercem jurisdição espe-cial estão: a Militar (arts. 122 a 124), a Eleitoral (arts. 118 a 121), a do Trabalho (arts. 111 a 117) e as Militares Estaduais (art. 125, § 3º). No âmbito da jurisdição comum estão: a Jus ça Federal (arts. 106 a 110) e as Jus ças Estaduais Ordi-nárias (arts. 125 e 126).

Ressalte-se que a jus ça Federal não é jus ça especial, mas comum.

Órgãos

A organização do Poder Judiciário é composta do Supre-mo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Jus ça, Jus ça Militar da União, Jus ça Eleitoral, Jus ça do Trabalho, Jus ça Federal, Jus ças dos Estados e Jus ça do Distrito Federal e Territórios (arts. 92, 98, 125, § 3º, e 126 da CF/1988). Esse número de órgãos e organismos é fechado, porquanto não se pode, fora deles, haver exercício da jurisdição.

Podem os Estados, em decorrência de permissão cons- tucional, ins tuir suas Jus ças Militares, que também será

especial, competentes para julgar policiais e bombeiros militares em crimes militares, mas elas foram criadas em poucos Estados.

Acrescente-se, ainda, a possibilidade de serem criados Tribunais de Jus ça Militar nos Estados em que o efe vo militar seja superior a vinte mil integrantes.

As jurisdições especiais, todas elas da União (Militar, do Trabalho e Eleitoral), estão estruturadas de forma a se permi- r que todas as matérias a elas a nentes sejam apreciadas,

notadamente, relacionadas às suas áreas de atuação (direito penal militar, direito do trabalho, direito eleitoral).

Da decisão proferida pela úl ma instância dessa jus ça especial (Superior Tribunal Militar, Tribunal Superior do Trabalho e Tribunal Superior Eleitoral) cabe recurso ao Su-premo Tribunal Federal em caso de violação à Cons tuição Federal.

Na jurisdição comum (Jus ça Federal e Jus ças estaduais comuns), cada Estado tem seu Tribunal de Jus ça. Na Jus ça Federal, existem os Tribunais Regionais Federais divididos, atualmente, em cinco regiões (art. 110, CF/1988).

Sobre a jus ça comum sobrepõe-se o Superior Tribunal de Jus ça, que é também um Tribunal Su perior da União, mas não faz parte de nenhuma jus ça.

O Supremo Tribunal Federal, assim como os demais tribunais superiores (STM, TSE e TST), são órgãos de conver-gência, porquanto as jus ças especiais têm como cúpula seus próprios tribunais superiores e as jus ças comuns têm sua convergência ao STJ. Todos esses tribunais superiores con-vergem ao STF, órgão máximo do Poder Judi ciário Brasileiro.

Os órgãos de superposição são o STF e o STJ, porquanto, mesmo não pertencendo a qualquer jus ça, suas decisões se sobrepõem às dos demais órgãos, no caso do STF, a todos os demais tribunais superiores e, no caso do STJ, às jus ças comuns.

A jus ça do trabalho exerce competência somente de matéria civil. A jus ça militar exerce competência somente penal. As demais jus ças têm competência tanto penal quanto civil.

Para melhor elucidar o exposto, veja organograma a seguir:

• Poder de decidir – consiste na a vidade jurisdicional de por fi m aos confl itos sociais, aplicando o direito ao caso concreto, decidindo a lide. É o poder-dever de dizer o direito.

• Poderes jurisdicionais – são os decorrentes dos atos pra cados pelo Juiz no curso do processo, com o fi m de lhe dar andamento.

• Poder de polícia – é o poder dado ao magistrado para dirigir o processo, conforme previsto nos arts. 445 e 446 do CPC, em que a lei confere ao Juiz poderes sufi cientes para conduzir a audiência.

• Poder de coerção – decorre da força coerci va das decisões emanadas pelo poder judiciário, subs tuindo a vontade das partes e impondo a observância desses comandos.

Princípios

Os princípios da jurisdição são:• Inevitabilidade – os comandos emanados no exercício

da jurisdição não podem ser evitados pelas partes, sob pena de cumprimento coerci vo.

• Indeclinabilidade ou inafastabilidade – nenhuma lesão ou ameaça de direito deixará de ser apreciada pelo Poder Judiciário (art. 5º, XXXV, CF/1988). Além disso,

o Juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei. No jul-gamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais; não as havendo, recorrerá à analogia, aos costumes e aos princípios gerais de direito (art. 126 do CPC).

• Investidura – somente os agentes políticos (Juiz) inves dos na função jurisdicional poderão exercê-la, aplicando o direito ao caso concreto.

• Indelegabilidade – a função jurisdicional não poderá ser delegada para um terceiro.

• Inércia – a jurisdição não poderá ser exercida de o cio pelo Poder Judiciário, dependendo de provo-cação pelo interessado. Nada obstante, provocada a atividade, os atos de movimentação do proces-so, tais como instrução probatória e julgamento, acontecerão por impulso ofi cial, ou seja, indepen-dentemente da iniciativa das partes, cabendo ao Juiz impulsionar o feito até seu provimento final. Este princípio não é absoluto, tendo em vista que, em alguns casos, o Juiz pode iniciar o procedimento de o cio, como no caso do inventário (art. 989 do CPC), exibição de testamento (art. 1.129 do CPC) etc.

• Aderência – a jurisdição é exercida dentro de um ter-ritório delimitado.

• Unicidade – a jurisdição é una e indivisível. Nada obs-tante, a a vidade jurisdicional pode ser dividida para melhor funcionalidade.

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Finalidade e Caracterís cas

A jurisdição tem como finalidade a composição dos li gios, a pacifi cação social (escopo social) e a realização da jus ça (escopo polí co).

As caracterís cas da jurisdição são a aplicação da lei ao caso concreto e a subs tu vidade, que consiste na atuação do Estado subs tuindo a vontade das partes e de forma obrigatória.

Alexandre Freitas Câmara2 apresenta três fatores como caracterís cas da jurisdição: inércia, subs tu vidade e na-tureza declaratória.

O primeiro seria decorrente do princípio da inércia ou da demanda, segundo o qual o Estado-juiz só atua quando for provocado, conforme consagrado no art. 2º, do CPC.

Este princípio, acrescenta o autor, tem como corolário o princípio da congruência, segundo o qual o juiz não pode decidir aquém, além ou fora do que foi demandado (citra, ultra ou extra pe ta).

A segunda caracterís ca decorre da atuação do Estado no lugar das partes, que, antes da jurisdição, tutelavam seus próprios interesses sem qualquer intervenção.

Com efeito, o Estado subs tui a vontade, realizando o direito no caso concreto subme do a sua apreciação.

O terceiro e não menos importante, consiste natureza declaratória da jurisdição, pela qual o Estado, exercendo essa função, não estaria criando direitos, mas sim reconhecendo direitos já existentes.3

Há, ainda, quem indique como caracterís ca, a unida-de – só existe uma jurisdição, sendo a distribuição e divisão em órgãos u lizada somente de forma organizacional – se-cundariedade – a jurisdição só é provocada quando surge o li gio, porquanto a normalidade é que o direito se realize independentemente da sua provocação – imparcialidade – o juiz deve estar equidistante das partes, sem interesse no confl ito..............................................................................................

2 CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito processual civil. Vol. I. 15ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, p.72-73.

3 O autor, reconhecendo essa caracterís ca, opta pela teoria dualista do orde-namento jurídico, pelo qual o Estado, ao exercer a jurisdição, não cria direitos, mas simplesmente reconhece a sua existência.

LIVRO IDO PROCESSO DE CONHECIMENTO

TÍTULO IDA JURISDIÇÃO E DA AÇÃO

CAPÍTULO IDa Jurisdição

Art. 1º A jurisdição civil, contenciosa e voluntária, é exer-cida pelos juízes, em todo o território nacional, conforme as disposições que este Código estabelece.

Art. 2º Nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando a parte ou o interessado a requerer, nos casos e forma legais...............................................................................................Funções não Jurisdicionais do Poder Judiciário

É cediço que o Estado democrá co de direito exerce três funções básicas, quais sejam, execu va, legisla va e judicial.

No que concerne à divisão dessas a vidades, compete, picamente, ao Poder Execu vo a função execu va, Poder

Legisla vo a função legisla va e ao Poder Judiciário a função judicial.

Diz-se picamente porque os órgãos podem exercer outras funções que não as picamente atribuídas pela Carta Magna.

Exemplo clássico é o julgamento do Presidente, no caso do impeachemant, pelo Poder Legisla vo.

A edição de Medidas Provisórias pelo Poder Execu vo.Da mesma forma, o Poder Judiciário exerce outras fun-

ções além da jurisdicional.Essas a vidades secundárias, acessórias consistem na

pra ca de atos no exercício de função norma va, quando, por exemplo, elabora seus regimentos internos (art. 96, I, a, CF),e de função administra va, quando organiza os seus serviços (art. 96, I, a, b, c; art. 96, II, a).

Destaca-se que, no exercício dessas funções a picas, não existe a imparcialidade que se exige na a vidade jurisdicional.

COMPETÊNCIA

Conceito

Nada obstante a jurisdição seja uma, há uma divisão de competências do seu exercício entre os órgãos jurisdi-cionais, conforme critérios previamente estabelecidos na Cons tuição Federal.

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Os critérios são obje vos quando dizem respeito ao valor da causa e da matéria.

Preleciona Alexandre Freitas Câmara (2006, p. 100) que

o Código de Processo Civil se limitou a prever a possibilidade de se distribuir a competência entre juízos em razão do valor e da natureza da causa. A regulamentação desse critério obje vo de fi xação da competência fi cou a cargo das leis locais de orga-nização judiciária.

Fala-se, ainda, em critérios de natureza relativa eabsoluta.

Os critérios de natureza rela va são: territorial e em razão do valor. Tendo em vista que são de interesse privado, podem ser derrogados pela vontade das partes (quando elegem o local – foro – em que irão propor a demanda), ou seja, afastados sem que haja vício insanável. Só podem ser arguidos pelas partes.

As partes podem designar o foro competente para o julgamento da demanda pelo que se chama de eleição de foro. Note-se que a eleição de foro é obje va e não subje va (Juiz), não podendo, pois, escolher o juízo.

A exceção à regra de que o critério territorial é de natu-reza rela va, ou seja, caso em que será de natureza absoluta, é o caso previsto no art. 95, primeira parte, que diz respeito às ações que versem sobre direitos reais sobre imóveis, quando o foro competente será o da situação da coisa nas causas que versem sobre propriedade, vizinhança, servidão, posse, divisão e demarcação de terras e nunciação de obra nova. Mesmo territorial, versando a demanda sobre esses direitos, a competência será só da situação da coisa, não podendo as partes derrogá-la.

Ressalve-se, ainda, a hipótese prevista no art. 112 do CPC, que permite ao Juiz declarar, de o cio, a nulidade da cláusula de eleição de foro mesmo sendo caso de compe-tência rela va, caso em que declinará a competência para o órgão competente.

Não seria caso de exceção à regra de natureza rela va, mas sim consequência lógica da declaração de nulidade da cláusula de eleição de foro. O que se excetua, em verdade, é a possibilidade de o Juiz, de o cio, declarar a nulidade.

A tulo de exemplo: A Casa da Moeda do Brasil promove ação, pelo procedimento ordinário, em face da Empresa Zé do Pipo S/A, com domicílio na cidade de Niterói, aduzindo a quebra de contrato para fornecimento de materiais a serem u lizados na produção de selos, sendo o valor da causa de R$ 14.000,00 (catorze mil reais). A ação foi distribuída à 1ª Vara Cível da Comarca de Niterói. O réu, regularmente citado, apresenta defesa aduzindo, na peça contestatória, que o valor da causa deveria ser de R$ 100.000,00 (cem mil reais). Em preliminar, apresenta alegação de incompetência rela va, aduzindo foro de eleição fi xado na comarca da capital do Estado do Espírito Santo. O Juiz profere decisão, declarando, desde logo, que o contrato em tela não está sob a égide do Código de Defesa do Consumidor. Em tal contexto, constata-se que a exceção de incompetência não foi aduzida.6

Os critérios de natureza absoluta são os fi xados em razão da matéria, funcional e da pessoa, sendo de interesse público e, por isso, não podem ser derrogados pelas partes. Devem ser apreciados de o cio pelo Juiz e podem ser arguidos pelas partes a qualquer tempo. Se for infringido um critério de natureza absoluta, haverá vício insanável.

6 Cesgranrio/Casa da Moeda/Advogado/2009/Questão 20.

Alexandre Freitas Câmara (2006, p. 98) defi ne a com-petência como sendo “o conjunto de limites dentro dos quais cada órgão do Judiciário pode exercer legi mamente a função jurisdicional”.

Luiz Rodrigues Wambier (2006, p. 89) esclarece que competência é “o ins tuto que defi ne o âmbito de exercí-cio da a vidade jurisdicional de cada órgão dessa função encarregado”.

Competência Internacional

O Capítulo II, do Título IV, do CPC, trata da competência internacional, termo esse empregado de forma equivoca-da, uma vez que, tendo em vista o princípio da aderência, a verifi cação do País que será responsável pela solução do confl ito é questão a nente à jurisdição.

Seriam hipóteses em que a jurisdição brasileira irá atuar nos casos previstos nos arts. 88 e 89 do CPC.

Competência Concorrente

Fala-se em competência concorrente quando a lide puder ser proposta tanto no Brasil quanto em qualquer outra jurisdição estrangeira, ou, ainda, nos dois países ao mesmo tempo, tendo em vista que a propositura da ação no estrangeiro não induz li spendência4.

São os casos previstos no art. 88 do CPC:• O réu for domiciliado no Brasil, independentemente

de sua nacionalidade.• Quando a obrigação ver de ser cumprida no Brasil.• Quando a ação decorrer de ato ou fato ocorrido no

Brasil.

Nada obstante não induza li spendência a interposição conjunta de duas ações no Brasil e no estrangeiro, caso a sentença proferida no estrangeiro seja homologada pelo STJ (exequatur, art. 105, I, i), passando a ter efi cácia no ordenamento jurídico pátrio, nesse caso, a nova ação aqui proposta e ainda não sentenciada deverá ser julgada ex n-ta sem resolução de mérito, reconhecendo a coisa julgada (art. 267, V do CPC).

Competência Exclusiva

No caso da competência exclusiva, a jus ça brasileira é a única que poderá decidir no caso posto, negando validade a qualquer outra sentença estrangeira.

Note-se, inclusive, que inexiste possibilidade de homo-logação de sentença estrangeira que verse sobre casos de competência exclusiva5.

São os casos de imóveis situados no Brasil e inventário ou par lha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja estrangeiro ou tenha residido fora do País.

Competência Interna

Critérios para Determinação da Competência

Os critérios levados em consideração para fi xação da competência de atuação dos órgãos brasileiros são: valor da causa, matéria, funcional e territorial. Há ainda quem fale em critério em razão da pessoa.

4 Assunto cobrado na prova da Funiversa/Cofecon/Profi ssional de A vidades Estratégicas/Advogado/2010/Questão 46/Asser va B.

5 Assunto cobrado na prova da Funiversa/Cofecon/Profi ssional de A vidades Estratégicas/Advogado/2010/Questão 46/Asser va A.

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a demanda no foro do domicílio (segundo a regra acima exposta) ou no foro de eleição (eleito pelas pares), quando não se tratar de direito de propriedade, vizinhança, servidão, posse, divisão e demarcação de terras e nunciação de obra nova, caso em que a demanda deverá ser proposta no foro da situação da coisa. (art. 95 do CPC)

Note-se que não basta que a ação seja referente a imóvel, mas deve versar sobre direito real imobiliário contemplado no art. 95. Por isso que poderá haver eleição de foro em ações sobre imóveis, mas não em ação sobre direitos reais imobiliários especifi cados no rol do citado ar go.

O foro da situação da coisa não incide sobre as causas em que for parte a União Federal, que goza de foro privilegiado (art. 109, §§ 1º e 2º, CF/1988), correndo a demanda perante a Jus ça Federal.

O foro da situação da coisa não prevalece sobre o foro da Jus ça Federal.

Nos Estados, nas ações reais imobiliárias, o foro com-petente é o da situação da coisa. A demanda, todavia, será distribuída ao juízo priva vo dos feitos fazendários, onde houver (Enunciado nº 218, da Súmula do STF).

Cumpre observar a seguinte asser va de prova: Se o com-prador de um imóvel detecta que o bem imóvel adquirido possui defeitos que lhe diminuem o valor, poderá propor ação es matória para exigir aba mento no preço pago, ação que poderá ser processada no juízo do domicílio do réu, pois não incide na hipótese a regra geral de competência absoluta para ações reais imobi liárias.8

No caso de herança, o foro competente será o do úl mo domicílio do falecido (autor da herança) nos casos rela vos à sucessão e nos casos em que o espólio for demandado (art. 96, CPC).

Se o autor da herança não nha domicílio certo, o foro competente para a propositura da demanda rela va à suces-são, bem como contra o espólio, será o da situação dos bens. Encontrando-se, nesse caso, os bens em lugares diferentes, abrangidos por mais de um foro, será competente o foro do lugar em que ocorreu o óbito.

Ressalte-se a impossibilidade de reconhecimento de decisão estrangeira nos casos de bens situados no País ou rela vos a direitos hereditários, dada a vedação do art. 89 do CPC.

Nos casos em que for proposta ação contra o espólio, versando sobre direitos reais, a competência será a da situa-ção da coisa, nos termos do art. 95 do CPC. Isso porque essa regra, por ser de natureza absoluta, prevalece sobre a regra do art. 96, de natureza rela va.

As ações em que forem demandados os ausentes serão propostas no foro de seu úl mo domicílio. Esse foro também será competente para os atos de sucessão. Ressalte-se que, versando a ação sobre direitos reais sobre imóveis, a com-petência será a da situação da coisa.

As ações em que o réu for incapaz serão propostas no domicílio do seu representante.

O art. 99 do CPC trata da competência as causas em que for a União for autora, ré ou interveniente, que será a Capital do Estado ou do Território.

Todavia, esse ar go deve ser conjugado com o art. 109, §§ 1º e 2º, CF/1988, que estabelece:

§ 1º As causas em que a União for autora serão aforadas na seção judiciária onde ver domicílio a outra parte.§ 2º As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária em que for domiciliado

8 Cespe/DPE-AL/Defensor Público de 1ª Classe/2009/Questão 75.

Por ser arguível a qualquer momento ou grau de jurisdi-ção, o Juiz pode, até mesmo depois de já prolatada e publi-cada a sentença, inclusive em grau de recurso, verifi cando a sua incompetência absoluta, de o cio, ou a requerimento da parte, anular todos os atos decisórios – não só a senten-ça – e remeter os autos ao juízo competente7.

Acrescente-se que, declarada a incompetência abso-luta, somente os atos decisórios serão declarados nulos, determinando-se o envio dos autos ao juízo competente. Dessa forma, o Juiz absolutamente incompetente não pode julgar ex nto o processo sem resolução do mérito, de vendo, por outro lado, enviar os autos ao juízo compe-tente.

Não se admite convenção das partes quanto à compe-tência absoluta (ra one materiae e de hierarquia).

Quadro Compara vo

Competência absoluta Competência rela vaInteresse público Interesse privadoVício insanável Vício sanávelArguição de o cio ou pelas partes

Arguição pelo réu

Não pode ser modificada pela vontade da partes

Pode ser derrogada pela von-tade das partes ou renunciada

Qualquer tempo e grau Alegável no prazo da resposta (prorrogação)

Sem forma prescrita em lei Forma prescrita (exceção)

Critério Territorial

Considerando que os juízes possuem limitação de atua-ção dentro do território nacional, os critérios territoriais informam o local (foro) em que a demanda deverá ser proposta.

Conforme esclarece Câmara (2006, p. 102),

foro, como se sabe, é uma circunscrição territorial, que na linguagem comum à Jus ça Estadual, recebe o nome de comarca, e na Jus ça Federal o de seção judiciária.

Foro seria o lugar, o espaço em que determinado órgão atuaria.

Para os critérios de competência territorial, a regra geral é que a ação que versa sobre direitos pessoais seja proposta no foro do domicílio do réu, local em que a ação deverá ser interposta.

Caso o réu possua mais de um domicílio, será demanda-do em qualquer um, escolha essa que será feita pelo autor.

Se o autor desconhecer ou for incerto o domicílio do réu, este será demandado onde for encontrado ou no domicílio do autor.

Se o réu não possuir domicílio no Brasil, a demanda será proposta no domicílio do autor.

Caso nem o autor nem o réu tenham domicílio no Brasil, a demanda poderá ser proposta em qualquer foro.

Se houver mais de um réu, com domicílios dis ntos, a demanda poderá ser proposta em qualquer dos domicílios dos réus.

Nas ações que versem sobre direitos reais sobre imóveis, a demanda deverá ser proposta no foro da situação da coisa. É o chamado foro rei sitae. A lei possibilita ao autor propor

7 Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TCE-RN/Assessor Técnico Ju-rídico/2009/Questão 97 e FCC/DPE-MT/Defensor Público/2009/Questão 46.

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foro do domicílio da mulher poderá ser o competente para as ações de estado (nulidade e anulação de casamento, separação judicial e divórcio) – aferição in concreto da hipossufi ciên cia da mulher.

Por tal razão, as ações que envolvam questões rela vas ao casamento são de natureza rela va, não podendo o Juiz remeter os autos, de o cio, ao foro do domicílio da mulher, sendo necessária a provocação da parte interessada a res-peito da incompetência do foro.

Assevere-se que o juízo competente para o julgamento da ação de inves gação de paternidade é o do foro do domicílio do réu, e não o do demandante, incidindo a regra geral do foro do domicílio do réu.

O foro do domicílio ou da residência do alimentando é o competente para a ação de inves gação de paternidade, quando cumulada com a de alimentos (Enunciado nº 1, da Súmula do STJ).

No caso de demanda contra pessoa jurídica, esta poderá ser demandada:

a) no foro de sua sede;b) na agência ou sucursal quanto às obrigações que elas

contraíram;c) se a sociedade for só de fato, carecer de personali-

dade jurídica onde exerce sua a vidade;d) e, nos casos de cumprimento de obrigação, onde a

obrigação houver de ser sa sfeita.

Nas ações que envolvam reparação de danos, compe-tente será o lugar do ato ou fato. Se a reparação de danos decorrer de acidente de trânsito, será competente o foro do domicílio do autor ou local do fato.

Trago à colação enunciados da Súmula do STJ a respeito de competência:

Enunciado 3: compete ao tribunal regional federal dirimir confl ito de competência verifi cado, na respec- va região, entre Juiz federal e Juiz estadual inves do

de jurisdição federal.Enunciado 10: Instalada a junta de conciliação e julgamento, cessa a competência do Juiz de direito em matéria trabalhista, inclusive para a execução das sentenças por ele proferidas.Enunciado 11: A presença da União ou de qualquer de seus entes, na ação de usucapião especial, não afasta a competência do foro da situação do imóvel.Enunciado 22: Não há confl ito de competência entre o Tribunal de Jus ça e Tribunal de Alçada do mesmo estado-membro.Enunciado 41: O Superior Tribunal de Jus ça não tem competência para processar e julgar, originariamente, mandado de segurança contra ato de outros tribunais ou dos respec vos órgãos.Enunciado 58: Proposta a execução fi scal, a posterior mudança de domicílio do executado não desloca a competência já fi xada.Enunciado 59: Não há confl ito de competência se já existe sentença com trânsito em julgado, proferida por um dos Juízos confl itantes.Enunciado 161: É da competência da Jus ça Estadual autorizar o levantamento dos valores rela vos ao PIS/Pasep e FGTS em decorrência do falecimento do tular da conta.

Enunciado 180: Na lide trabalhista, compete ao Tribunal Regional do Trabalho dirimir confl ito de competência verifi cado, na respec va região, entre Juiz estadual e junta de conciliação e julgamento.

o autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal.

Se a União for autora, a ação deverá ser proposta na seção judiciária em que o réu ver domicílio. Se a União for ré, a ação poderá ser proposta pelo autor:

a) local do ato ou fato que originou a demanda;b) situação da coisa;c) no Distrito Federal9.

Intervindo a União, o Juiz deverá remeter os autos ao juízo competente, conforme já descrito acima, ou seja, para seção judiciária competente. Note-se que essa intervenção deve ser na qualidade de autora, ré ou interveniente. Ingressando somente como interessada, não haverá o deslocamento da competência (CC nº 45.570/RJ, Confl ito De Competência, STJ, Segunda Seção, Min. Massami Uyeda, DJe 19/2/2009).

Note-se que o deslocamento da competência não se aplica no caso de ações que versem sobre processo de in-solvência/falência e outros casos previstos em lei, tais como execução fi scal e acidente de trabalho.

Os Estados não têm foro privilegiado, mas juízo priva- vo nas causas que correm na comarca da capital. Dessa

forma, nas causas pertencentes à competência territorial de qualquer outra comarca, não pode a Lei de Organização Judiciária atrair causas para o foro da capital. Isso quer dizer que, se o Estado for li gar em processo que corra em comarca do interior que não tenha vara especializada, não haverá a transferência da competência para capital, permanecendo o feito na citada comarca do interior na vara em que se encontre. Da mesma forma, se o Estado for demandado em outro Estado, seu juízo priva vo não prevalece.

Resumindo, se a ação for proposta na capital e possuir foro previsto, será a demanda encaminhada à vara da fazenda pública. Por outro lado, se a causa sujeitar-se a outro foro defi nido pelo Código de Processo Civil, como o da situação da coisa, local do ato ou fato, ou do cumprimento da obrigação, não poderá ser deslocada para a vara da fazenda pública existente na capital, prevalecendo a regra do CPC.

Com efeito, a competência das varas especializadas para atuação da Fazenda Pública estadual só tem razão de ser quando a ação correr na Capital.

Compete à jus ça ordinária estadual o processo e o julgamento, em ambas as instâncias, das causas de acidente do trabalho, ainda que promovidas contra a União, suas autarquias, empresas públicas ou so-ciedades de economia mista (Enunciado nº 501, da Súmula do STF).

O art. 100 do CPC traz outros critérios especiais de fi xação de competência em razão do território.

Dessa forma, nas questões rela vas a casamento, com-petente é o foro da residência da mulher10.

Nas ações de alimentos, competente será o domicílio do alimentando.

A esse respeito da cons tucionalidade desses dois dis-posi vos, esclarecem Nelson Nery Júnior e Rosa Maria de Andrade Nery (2006, p. 308):

a) o foro do domicílio do alimentando é sempre o competente para a ação de alimentos (aferição in abstracto da hipossufi ciência do alimentando); b) o

9 Assunto cobrado na prova do Cespe/DPE-AL/Defensor Público de 1ª Classe/2009/Questão 74.

10 FCC/TRT-MG/Analista Judiciário - Judiciária/2009/Questão 38/Item I.

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Enunciado 206: A existência de vara priva va, ins- tuída por lei estadual, não altera a competência

territorial resultante das leis de processo.Enunciado 224: Excluído do feito o ente federal, cuja presença levara o Juiz Estadual a declinar da competência, deve o Juiz Federal res tuir os autos e não suscitar confl ito.Enunciado 230: Compete à Jus ça Estadual pro-cessar e julgar ação movida por trabalhador avulso portuário, em que se impugna ato do órgão gestor de mão de obra de que resulte óbice ao exercício de sua profi ssão.Enunciado 236: Não compete ao Superior Tribunal de Jus ça dirimir confl itos de competência entre juízes trabalhistas vinculados a Tribunais Regionais do Trabalho diversos.Enunciado 270: O protesto pela preferência de crédito, apresentado por ente federal em execução que tramita na Jus ça Estadual, não desloca a com-petência para a Jus ça Federal.Enunciado 348: Compete ao Superior Tribunal de Jus ça decidir os confl itos de competência entre Juizado especial federal e juízo federal, ainda que da mesma seção judiciária.Enunciado 349: Compete à Jus ça Federal ou aos juízes com competência delegada o julgamento das execuções fi scais de contribuições devidas pelo em-pregador ao FGTS.Enunciado 365: A intervenção da União como suces-sora da Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA) desloca a competência para a Jus ça Federal ainda que a sentença tenha sido proferida por Juízo estadual.Enunciado 367: A competência estabelecida pela EC nº 45/2004 não alcança os processos já sentenciados.Enunciado 383: A competência para processar e julgar as ações conexas de interesse de menor é, em princípio, do foro do domicílio do detentor de sua guarda.

Transcrevo, ainda, os enunciados do STF:

Enunciado 218: É competente o juízo da fazenda nacional da capital do Estado, e não o da situação da coisa, para a desapropriação promovida por empre-sa de energia elétrica, se a União Federal intervém como assistente.Enunciado 235: É competente para a ação de aciden-te do trabalho a jus ça cível comum. Inclusive, em segunda instância, ainda que seja parte autarquia seguradora (vide observação), no julgamento do CC nº 7.204, o tribunal, em sessão plenária, defi niu a competência da jus ça trabalhista, a par r da Emen-da Cons tucional nº 45/2004, para julgamento das ações de indenização por danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente do trabalho.Enunciado 363: A pessoa jurídica de direito privado pode ser demandada no domicílio da agência ou estabelecimento em que se pra cou o ato.Enunciado 501: Compete à Jus ça Ordinária Estadual o processo e o julgamento, em ambas as instâncias, das causas de acidente do trabalho, ainda que pro-movidas contra a União, suas autarquias, empresas públicas ou sociedades de economia mista.Enunciado 504: Compete à Jus ça Federal, em ambas as instâncias, o processo e o julgamento das causas fundadas em contrato de seguro marí mo.

Enunciado 508: Compete à Justiça Estadual, em ambas as instâncias, processar e julgar as causas em que for parte o Banco do Brasil S.A.Enunciado 510: Pra cado o ato por autoridade, no exercício de competência delegada, contra ela cabe o mandado de segurança ou a medida judicial.Enunciado 511: Compete à Justiça Federal, em ambas as instâncias, processar e julgar as causas entre autarquias federais e en dades públicas locais, inclusive mandados de segurança, ressalvada a ação fi scal, nos termos da Cons tuição Federal de 1967, art. 119, § 3º.Enunciado 518: A intervenção da União, em feito já julgado pela segunda instância e pendente de embargos, não desloca o processo para o Tribunal Federal de recursos.Enunciado 555: É competente o Tribunal de Jus ça para julgar confl ito de jurisdição entre Juiz de direito do estado e a Jus ça Militar local (vide observação).Enunciado 556: É competente a Justiça comum para julgar as causas em que é parte sociedade de economia mista11.Enunciado 557: É competente a Justiça Federal para julgar as causas em que são partes a Cobal e a Cibrazem.Enunciado 736: Compete à Justiça do Trabalho julgar as ações que tenham como causa de pedir o descumprimento de normas trabalhistas rela vas à segurança, higiene e saúde dos trabalhadores.

Critério em Razão do ValorO valor que se dá à causa é um dos critérios de fi xação

de competência.Em determinadas circunstâncias, dependendo das nor-

mas de organização judiciária, a competência de atuação dos diversos órgãos do Judiciário pode levar em conta o valor dado à causa.

Critério em Razão da MatériaEm razão da matéria a ser decidida, a lei de organização

judiciária pode, também, defi nir a competência para a de-cisão da causa.

É o caso, por exemplo, da criação de varas para julgamen-to de determinadas matérias, como vara de família, vara de registros públicos e vara de acidentes de trabalho.

Obs.: A competência em razão da matéria não poderá modifi car-se pela conexão.12

Critério FuncionalEsse critério considera a função de cada órgão dentro de

um mesmo processo ou em processos dis ntos, bem como quando relacionado ao grau de jurisdição.

É o caso, por exemplo, de competência do Juiz do proces-so principal para o julgamento da cautelar; da competência do Juiz do processo de execução para julgar os embargos à execução; da competência do tribunal para execução de seus acórdãos; da competência dos tribunais para julgamento de apelação.

Note-se que são regras que estabelecem a competência do órgão para atuar nos processos.

11 Assunto cobrado na prova da Funiversa/Cofecon/Profi ssional de A vidades Estratégicas/Advogado/2010/Questão 46/Asser va E.

12 Assunto cobrado na prova da FCC/TRE-AM/Analista Judiciário – Área Adminis-tra va/2010/Questão 46/Item I.

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la va em razão do valor e o critério territorial, não suscitado pela parte no momento oportuno, prorroga-se a competên-cia, ou seja, o juízo passa a ser competente.

Note-se que somente se pode falar em prorrogação nos casos de critérios de natureza rela va, uma vez que, em se tratando de critérios de natureza absoluta, vício insanável, não há possibilidade de se prorrogar a competência.

Modifi cação de Competência

A modifi cação de competência é feita em determinados casos em que, em razão da economia processual ou para evi-tar decisões confl itantes, reúnem-se processos que estavam em curso em órgãos dis ntos.

A modifi cação só tem lugar nos casos de competência rela va, ou seja, em razão do valor e do território13.

Quando se tratar de critérios de natureza absoluta, não poderá haver a modifi cação, com a consequente reunião de processos.

Trata-se de exceção à regra da perpetua o jurisdiciones, em que se permite mudar a competência originalmente fi xada.

Conexão e Con nência

Ao falar em modificação de competência, cabe-nos estudar as causas.

Reputam-se conexas duas ações quando lhe forem idên- cos o pedido (objeto) e/ou a causa de pedir.

A conexão não determina a reunião dos processos se um deles já foi julgado (Enunciado nº 235/STJ).

Ocorre a con nência quando são idên cas as partes e a causa de pedir, e o pedido de uma, por ser mais amplo, engloba o da outra14.

Os elementos da causa menor se fazem também pre-sentes na maior, podendo-se dizer que, na con nência, estão presentes os três elementos da lide: sujeito, objeto e causa petendi.

Observa-se que, quando houver con nência de causas, elas serão também conexas.

Verifi cada a conexão ou a con nência, o próprio Juiz, de o cio, ou as partes poderão requerer a reunião dos processos, caso em que será modifi cada a competência já perpetuada, com o fi to de que sejam decididos simul-taneamente15.

Para se determinar o Juízo competente, dever-se-á aferir prevenção. Se as ações conexas correrem entre juízes de mesma competência territorial, considera-se prevento o Juiz que proferiu o primeiro despacho posi vo, consideran-do a doutrina esse despacho como sendo o despacho que determina a citação.

Em se tratando de ações conexas correndo perante juízes de competência territorial diversa, considera-se prevento aquele em que, no processo, ocorreu a primeira citação válida (art. 219).

Reconhecido qual o juízo prevento, será ele o competente para a reunião dos processos.

Confl ito de Competência

O confl ito de competência ocorre quando:• Dois juízes se declaram competentes (confl ito posi vo);

13 Assunto cobrado na prova da FCC/DPE-MT/Defensor Público/2009/Questão 60.14 Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE-AM/Analista Judiciário – Área

Administra va/2010/Questão 46/Item II e FCC/TRF 4ª Região/Técnico Judiciário – Área Administra va/2010/Questão 23.

15 Assunto cobrado na prova da FCC/TRT-MG/Analista Judiciário-Execução de Mandados/2009/Questão 38/Item III.

Critério em Razão da PessoaEm razão da qualidade de determinadas pessoas, são

fi xados os critérios de competência.É o caso, por exemplo, de se determinar a competência

das varas de Fazenda Pública para julgar as causas em que o Estado for parte.

Podemos citar, ainda, o disposto no art. 109, I, II e VIII, CF/1988:

Aos juízes federais compete processar e julgar:I – as causas em que a União, en dade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Jus ça Eleitoral e à Jus ça do Trabalho;II – as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente no País;[...]VIII – os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de competência dos tribunais federais.

Perpetuação da Jurisdição

A competência é determinada no momento da propositu-ra da ação. A par r de então, irrelevantes são as modifi cações do estado de fato ou de direito que venham a ocorrer, “salvo quando suprirem o órgão judiciário ou alterarem a compe-tência em razão da matéria ou da hierarquia” (art. 87, CPC).

Trata-se do princípio da perpetua o jurisdi onis (per-petuação da competência) segundo o qual, proposta a ação e defi nida a competência, são irrelevantes as modifi cações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, assegurando que o processo não mude toda vez que houver alteração que permi ria tal fato.

Se o réu, por exemplo, mudar de cidade, não haverá alteração na competência em razão da sua mudança, em razão da perpetuação da jurisdição.

Excepcionalmente, havendo supressão do órgão judiciá-rio ou alteração da competência em razão da matéria ou da hierarquia, não prevalece a perpetuação. Isso porque, supri-mido o órgão, não haverá mais a possibilidade de permane-cer o processo como se encontrava, devendo adaptar-se à nova sistemá ca estabelecida. Da mesma forma, regras que alterem os critérios de natureza absoluta, da mesma forma, excepcional a perpetuação, porquanto o processo deverá mudar, observando a nova regra.

Dá-se alteração do estado de direito quando, v.g., se verifi ca modifi cação da lei que venha a adotar outro critério para a determinação de competência para a espécie de causa que corresponde ao processo pendente, que não se refi ra a critério de competência absoluta.

Não há que se falar em nulidade da sentença caso, an-tes do seu trânsito em julgado, for editada lei que altere a competência em razão da matéria.

Prorrogação de Competência

A prorrogação de competência, prevista no art. 114 do CPC, consiste no fato de um Juiz, rela vamente, tornar-se competente em razão da não oposição de exceção de in-competência pela parte interessada no momento oportuno.

Da mesma forma, será prorrogada a competência caso o Juiz não tenha declinado a competência após a declaração de nulidade da cláusula de eleição de foro nos termos do parágrafo único do art. 112 do CPC.

Tendo em vista que o Juiz não pode reconhecer, de o cio, ofensa às regras de fi xação de competência de natureza re-

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• Dois juízes se declaram incompetentes (confl ito nega- vo);

• Há controvérsia sobre a reunião ou separação de pro-cessos (conexão – con nência).

Verifi cado o confl ito, o Juiz poderá suscitá-lo mediante o cio ao Tribunal. Também podem suscitar o confl ito as partes e o Ministério Público, por pe ção.

Em se tratando de juízes de jus ças dis ntas, ou de graus dis ntos, será competente para julgamento do confl ito o STJ.

Assevere-se que, mesmo quando não for parte, o MP sempre será ouvido no confl ito.

Não pode suscitar confl ito quem ofereceu exceção de incompetência, porquanto não tem interesse em ver o feito retornar ao local cuja competência impugnou.

O procedimento para julgamento do confl ito está nos arts. 119 a 122 do CPC..............................................................................................

TÍTULO IVDOS ÓRGÃOS JUDICIÁRIOS E DOS

AUXILIARES DA JUSTIÇA

CAPÍTULO IDa Competência

Art. 86. As causas cíveis serão processadas e decididas, ou simplesmente decididas, pelos órgãos jurisdicionais, nos limites de sua competência, ressalvada às partes a faculdade de ins tuírem juízo arbitral.

Art. 87. Determina-se a competência no momento em que a ação é proposta. São irrelevantes as modifi cações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem o órgão judiciário ou alterarem a competência em razão da matéria ou da hierarquia.

CAPÍTULO IIDa Competência Internacional

Art. 88. É competente a autoridade judiciária brasileira quando:

I – o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, es ver domiciliado no Brasil;

II – no Brasil ver de ser cumprida a obrigação;III – a ação se originar de fato ocorrido ou de ato pra -

cado no Brasil.Parágrafo único. Para o fi m do disposto no nº I, reputa-se

domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que aqui ver agência, fi lial ou sucursal.

Art. 89. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra:

I – conhecer de ações rela vas a imóveis situados no Brasil;

II – proceder a inventário e par lha de bens, situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja estrangeiro e tenha residido fora do território nacional.

Art. 90. A ação intentada perante tribunal estrangeiro não induz li spendência, nem obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são conexas.

CAPÍTULO IIIDa Competência Interna

Seção IDa Competência em Razão do Valor e da Matéria

Art. 91. Regem a competência em razão do valor e da matéria as normas de organização judiciária, ressalvados os casos expressos neste Código.

Art. 92. Compete, porém, exclusivamente ao juiz de direito processar e julgar:

I – o processo de insolvência;II – as ações concernentes ao estado e à capacidade da

pessoa.

Seção IIDa Competência Funcional

Art. 93. Regem a competência dos tribunais as normas da Cons tuição da República e de organização judiciária. A competência funcional dos juízes de primeiro grau é dis-ciplinada neste Código.

Seção IIIDa Competência Territorial

Art. 94. A ação fundada em direito pessoal e a ação fundada em direito real sobre bens móveis serão propostas, em regra, no foro do domicílio do réu16.

§ 1º Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer deles.

§ 2º Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele será demandado onde for encontrado ou no foro do domicílio do autor.

§ 3º Quando o réu não ver domicílio nem residência no Brasil, a ação será proposta no foro do domicílio do autor. Se este também residir fora do Brasil, a ação será proposta em qualquer foro.

§ 4º Havendo dois ou mais réus, com diferentes do-micílios, serão demandados no foro de qualquer deles, à escolha do autor17.

Art. 95. Nas ações fundadas em direito real sobre imó-veis é competente o foro da situação da coisa. Pode o autor, entretanto, optar pelo foro do domicílio ou de eleição, não recaindo o li gio sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, posse, divisão e demarcação de terras e nunciação de obra nova18.

Art. 96. O foro do domicílio do autor da herança, no Brasil, é o competente para o inventário, a par lha, a arre-cadação, o cumprimento de disposições de úl ma vontade e todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro19.

Parágrafo único. É, porém, competente o foro:I – da situação dos bens, se o autor da herança não pos-

suía domicílio certo;II – do lugar em que ocorreu o óbito se o autor da he-

rança não nha domicílio certo e possuía bens em lugares diferentes.

Art. 97. As ações em que o ausente for réu correm no foro de seu úl mo domicílio, que é também o competente para a arrecadação, o inventário, a par lha e o cumprimento de disposições testamentárias.

Art. 98. A ação em que o incapaz for réu se processará no foro do domicílio de seu representante.

Art. 99. O foro da Capital do Estado ou do Território é competente:

I – para as causas em que a União for autora, ré ou interveniente;

II – para as causas em que o Território for autor, réu ou interveniente.

16 Assunto cobrado na prova do Cespe/TRE-BA/Técnico Judiciário - Administra -va/2010/Questão 91.

17 Assunto cobrado na prova da FCC/TRT-MG/Analista Judiciário-Judiciária/2009/Questão 38/Item III.

18 Assunto cobrado na prova da FCC/TRE-AM/Analista Judiciário – Área Judiciá-ria/2010/Questão 48/Item IV.

19 Assunto cobrado na prova da FCC/Assembleia Legisla va-SP/Procurador/2010/Questão 65.

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Parágrafo único. Correndo o processo perante outro juiz, serão os autos reme dos ao juiz competente da Capital do Estado ou Território, tanto que neles intervenha uma das en dades mencionadas neste ar go.

Excetuam-se:I – o processo de insolvência;II – os casos previstos em lei.Art. 100. É competente o foro:I – da residência da mulher, para a ação de separação dos

cônjuges e a conversão desta em divórcio, e para a anulação de casamento; (Redação dada pela Lei nº 6.515, de 1977)

II – do domicílio ou da residência do alimentando, para a ação em que se pedem alimentos;

III – do domicílio do devedor, para a ação de anulação de tulos extraviados ou destruídos20;

IV – do lugar:a) onde está a sede, para a ação em que for ré a pessoa

jurídica;b) onde se acha a agência ou sucursal, quanto às obriga-

ções que ela contraiu;c) onde exerce a sua a vidade principal, para a ação em

que for ré a sociedade, que carece de personalidade jurídica;d) onde a obrigação deve ser sa sfeita, para a ação em

que se lhe exigir o cumprimento;V – do lugar do ato ou fato:a) para a ação de reparação do dano;b) para a ação em que for réu o administrador ou gestor

de negócios alheios.21

Parágrafo único. Nas ações de reparação do dano sofrido em razão de delito ou acidente de veículos, será competente o foro do domicílio do autor ou do local do fato22.

Art. 101. (Revogado pela Lei nº 9.307, de 1996)

Seção IVDas Modifi cações da Competência

Art. 102. A competência, em razão do valor e do terri-tório, poderá modifi car-se pela conexão ou con nência23, observado o disposto nos ar gos seguintes.

Art. 103. Reputam-se conexas duas ou mais ações, quan-do lhes for comum o objeto ou a causa de pedir.

Art. 104. Dá-se a con nência entre duas ou mais ações sempre que há iden dade quanto às partes e à causa de pedir, mas o objeto de uma, por ser mais amplo, abrange o das outras.

Art. 105. Havendo conexão ou con nência, o juiz, de o cio ou a requerimento de qualquer das partes, pode or-denar a reunião de ações propostas em separado, a fi m de que sejam decididas simultaneamente.

Art. 106. Correndo em separado ações conexas perante juízes que têm a mesma competência territorial, considera-se prevento aquele que despachou em primeiro lugar.

Art. 107. Se o imóvel se achar situado em mais de um Estado ou comarca, determinar-se-á o foro pela preven-ção, estendendo-se a competência sobre a totalidade do imóvel24.

Art. 108. A ação acessória será proposta perante o juiz competente para a ação principal.

Art. 109. O juiz da causa principal é também competente para a reconvenção, a ação declaratória incidente, as ações de garan a e outras que respeitam ao terceiro interveniente.

20 FCC/TRT-MG/Analista Judiciário - Judiciária/2009/Questão 38/Item II.21 FCC/TRE-AM/Analista Judiciário – Área Judiciária/2010/Questão 48/Item II.22 Assunto cobrado na prova da FCC/TRE-AM/Analista Judiciário – Área Judiciá-

ria/2010/Questão 48/Item I.23 Assunto cobrado na prova do TJ-MS/Juiz Subs tuto/FCC/Nível Superior/2010/

Questão 27/Asser va C.24 TJ-MS/Juiz Subs tuto/FCC/Nível Superior/2010/Questão 27/Asser va E.

Art. 110. Se o conhecimento da lide depender necessa-riamente da verifi cação da existência de fato delituoso, pode o juiz mandar sobrestar no andamento do processo até que se pronuncie a jus ça criminal.

Parágrafo único. Se a ação penal não for exercida dentro de 30 (trinta) dias, contados da in mação do despacho de sobrestamento, cessará o efeito deste, decidindo o juiz cível a questão prejudicial.

Art. 111. A competência em razão da matéria e da hierarquia é inderrogável por convenção das partes; mas estas podem modifi car a competência em razão do valor e do território, elegendo foro onde serão propostas as ações oriundas de direitos e obrigações25.

§ 1º O acordo, porém, só produz efeito, quando constar de contrato escrito e aludir expressamente a determinado negócio jurídico.

§ 2º O foro contratual obriga os herdeiros e sucessores das partes26.

Seção VDa Declaração de Incompetência

Art. 112. Argui-se, por meio de exceção, a incompetên-cia rela va27.

Parágrafo único. A nulidade da cláusula de eleição de foro, em contrato de adesão, pode ser declarada de o cio pelo juiz, que declinará de competência para o juízo de domicílio do réu28.

Art. 113. A incompetência absoluta deve ser declarada de o cio e pode ser alegada, em qualquer tempo e grau de jurisdição, independentemente de exceção.

§ 1º Não sendo, porém, deduzida no prazo da contesta-ção, ou na primeira oportunidade em que lhe couber falar nos autos, a parte responderá integralmente pelas custas.

§ 2º Declarada a incompetência absoluta, somente os atos decisórios serão nulos, remetendo-se os autos ao juiz competente.

Art. 114. Prorrogar-se-á a competência se dela o juiz não declinar na forma do parágrafo único do art. 112 desta Lei ou o réu não opuser exceção declinatória nos casos e prazos legais. (Redação dada pela Lei nº 11.280, de 2006)

Art. 115. Há confl ito de competência:I – quando dois ou mais juízes se declaram competentes;II – quando dois ou mais juízes se consideram incom-

petentes;III – quando entre dois ou mais juízes surge controvérsia

acerca da reunião ou separação de processos.Art. 116. O confl ito pode ser suscitado por qualquer das

partes, pelo Ministério Público ou pelo juiz.Parágrafo único. O Ministério Público será ouvido em

todos os confl itos de competência; mas terá qualidade de parte naqueles que suscitar.

Art. 117. Não pode suscitar confl ito a parte que, no processo, ofereceu exceção de incompetência.

Parágrafo único. O confl ito de competência não obsta, porém, a que a parte, que o não suscitou, ofereça exceção declinatória do foro.

25 Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE-AM/Analista Judiciário – Área Administra va/2010/Questão 46/Item III; Cespe/DPE-AL/Defensor Público de 1ª Classe/2009/Questão 73 e FCC/TRT-MG/Analista Judiciário - Judiciária/2009/Questão 38.

26 Assunto cobrado na prova da FCC/TRT-MG/Analista Judiciário-Execução de Mandados/2009/Questão 38/Item II.

27 Assunto cobrado na prova do TJ-MS/Juiz Subs tuto/FCC/Nível Superior/2010/Questão 27/Asser va A.

28 Assunto cobrado na prova do TJ-MS/Juiz Subs tuto/FCC/Nível Superior/2010/Questão 27/Asser va D.

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Art. 118. O confl ito será suscitado ao presidente do tribunal:

I – pelo juiz, por o cio;II – pela parte e pelo Ministério Público, por pe ção.Parágrafo único. O o cio e a pe ção serão instruídos com

os documentos necessários à prova do confl ito.Art. 119. Após a distribuição, o relator mandará ouvir os

juízes em confl ito, ou apenas o suscitado, se um deles for suscitante; dentro do prazo assinado pelo relator, caberá ao juiz ou juízes prestar as informações.

Art. 120. Poderá o relator, de o cio, ou a requerimento de qualquer das partes, determinar, quando o confl ito for posi vo, seja sobrestado o processo, mas, neste caso, bem como no de confl ito nega vo, designará um dos juízes para resolver, em caráter provisório, as medidas urgentes.

Parágrafo único. Havendo jurisprudência dominante do tribunal sobre a questão suscitada, o relator poderá decidir de plano o confl ito de competência, cabendo agravo, no prazo de cinco dias, contado da in mação da decisão às partes, para o órgão recursal competente. (Incluído pela Lei nº 9.756, de 1998)

Art. 121. Decorrido o prazo, com informações ou sem elas, será ouvido, em 5 (cinco) dias, o Ministério Público; em seguida o relator apresentará o confl ito em sessão de julgamento.

Art. 122. Ao decidir o confl ito, o tribunal declarará qual o juiz competente, pronunciando-se também sobre a validade dos atos do juiz incompetente.

Parágrafo único. Os autos do processo, em que se manifestou o confl ito, serão reme dos ao juiz declarado competente.

Art. 123. No confl ito entre turmas, seções, câmaras, Conselho Superior da Magistratura, juízes de segundo grau e desembargadores, observar-se-á o que dispuser a respeito o regimento interno do tribunal.

Art. 124. Os regimentos internos dos tribunais regula rão o processo e julgamento do confl ito de atribuições entre autoridade judiciária e autoridade administra va..............................................................................................

Ministério Público

O Ministério Público tem função cons tucional de defesa dos interesses públicos.

Quando atua como parte, tendo em vista a necessidade de observância do princípio da isonomia, tem os mesmos direitos e ônus das partes. Nesse caso, atua como subs tuto processual, em legi mado extraordinário, pois defende em nome próprio direito alheio nos casos previstos em lei, como na ação civil pública, ação de nulidade de casamento etc.

Quando atua como fi scal da lei, fi scaliza a correta aplica-ção da lei (custos legis), sendo sua intervenção obrigatória nos seguintes casos:

I – nas causas em que há interesses de incapazes;II – nas causas concernentes ao estado da pessoa, pátrio

poder, tutela, curatela, interdição, casamento, declaração de ausência e disposições de úl ma vontade;

III – nas ações que envolvam li gios cole vos pela posse da terra rural e nas demais causas em que há interesse públi-co evidenciado pela natureza da lide ou qualidade da parte.

A lei não exige que o incapaz seja parte, mas simplesmen-te que haja interesse seu envolvido na demanda.

O inciso III do art. 82 deixa aberta a hipótese do Ministé-rio Público intervir nas demais causas em que haja interesse público envolvido, conforme sua apreciação, não sendo lícito ao magistrado ordenar sua par cipação caso entenda que não há interesse público que demande sua intervenção.

A sua intervenção poderá ser espontânea ou provocada.Quando atua como fi scal da lei, o Ministério Público terá

vista dos autos depois das partes, e sua in mação dos atos processuais será feita pessoalmente (não valendo a in ma-ção via órgão de publicação ofi cial).

O Ministério Público também não precisa adiantar o pagamento das custas, nem é condenado ao pagamento de honorários advoca cios, e tem prazo em quádruplo para contestar e em dobro para recorrer, além de poder requerer provas e diligências.

Se proceder com dolo ou fraude, o Ministério Público responderá pelas perdas e danos que causar.

A falta de intervenção gera a nulidade do processo. No entanto, de acordo com a seguinte asser va do Cespe: A falta de intervenção do Ministério Público não acarreta nulidade do processo, se os menores envolvidos na causa resultaram vitoriosos.29

Do Juiz

Ao Juiz compete a direção do processo, com o fi to de se chegar à composição do li gio, agindo de forma imparcial e com controle sobre o processo, editando comandos que deverão ser observados pelas partes e, ainda, pelos auxiliares da jus ça.

Esse poder de direção, todavia, não confere ao Juiz poder hierárquico sobre o Ministério Público ou sobre o advogado.

Na direção do processo, compete ao Juiz dar tratamento isonômico entre as partes30, sendo que qualquer oportuni-dade ou tratamento que receber uma parte também deve receber a outra.

A isonomia não deve, contudo, ser vista somente em sen do único, sendo que deverá prever tratamento desi-gual quando a circunstância assim o permi r. É o caso, por exemplo, de prazos diferenciados para a fazenda pública.

Deve, ainda, velar pela rápida solução do li gio31, sem, contudo, observar os demais princípios a nentes ao proces-so. A celeridade não pode sobrepor-se à jus ça, de modo que o magistrado deve observar todo o trâmite processual e determinar a prá ca de todos os atos necessários ao deslin-dar da causa. Da mesma forma, deve indeferir as diligências inúteis e meramente protelatórias. (art. 130, CPC)

Os atos atentatórios à dignidade da jus ça são repri-midos pelo Juiz, sendo-lhe permi do, inclusive, penalizar quem produziu o ato32.

Dentro da tenta va de resolver os confl itos, deve o Juiz sempre tentar promover a conciliação entre as partes, que pode ser feita a qualquer tempo33.

Nelson Nery Júnior e Rosa Maria de Andrade Nery (2006, p. 335) afi rmam que

o termo inicial, portanto, para a primeira tenta va de conciliação das partes, prevista no CPC, art. 125, IV, é determinado pelo decurso do prazo para a resposta do réu. Não pode o juiz determinar o comparecimen-to das partes durante o curso do prazo para a resposta do réu, suspendendo ou interrompendo esse prazo, que é peremptório e ocorre inexoravelmente, salvo expressa disposição legal em sen do contrário.

29 Cespe/TRE-BA/Analista Judiciário – Área Administra va/2010/Questão 97.30 Assunto cobrado na prova da FCC/DPE-MT/Defensor Público/2009/Questão

51/Asser va B.31 Assunto cobrado na prova da FCC/DPE-MT/Defensor Público/2009/Questão

51/Asser va B.32 Assunto cobrado na prova da FCC/DPE-MT/Defensor Público/2009/Questão

51/Asser va B.33 Assunto cobrado na prova da FCC/DPE-MT/Defensor Público/2009/Questão

51/Asser va B.

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Quanto ao termo fi nal, tendo em vista o comando legal, não há, pois pode ser ob da a conciliação a qualquer tempo.

Além dos poderes, o Juiz também tem o poder-dever de prestar a tutela jurisdicional, não podendo se eximir de sen-tenciar alegando lacuna ou obscuridade da lei, recorrendo, quando necessário, à analogia, aos costumes e aos princípios gerais de direito. Decorre do princípio da indeclinabilidade da jurisdição.

O Juiz se vale primeiro da lei e, em não exis ndo, daí sim se valerá primeiro da analogia, que consiste na aplicação, a um caso não previsto em lei, de solução dada a outro caso semelhante, esse previsto em lei34.

Equidade quer dizer justo, mas não o justo legal, sim o justo ideal. Tendo em vista que a aplicação da equidade implica o afastamento da disposição legal, só nos casos previstos em lei poderá ser aplicada35.

O Juiz está adstrito ao pedido da parte, não podendo conceder decisão infra, citra ou extra/ultra pe ta, ou seja, aquém, fora ou além do que foi pedido, sendo esses dois úl mos casos hipóteses de decisão nula36.

Trata-se do princípio da congruência, segundo o qual deve haver correlação entre o pedido e a sentença, vincu-lando o Juiz não só ao pedido, mas também à causa de pedir.

Nada o impede, todavia, de apreciar livremente a prova.Acrescente-se que as questões de ordem pública podem

ser conhecidas pelo Juiz independentemente de haverem sido suscitadas no processo, porquanto a limitação imposta pelo princípio da correlação ou da congruência não se aplica às questões de ordem pública.

Verifi cando o Juiz que as partes se valeram do processo para prá ca de ato simulado ou conseguir fi m proibido pela lei, deverá proferir decisão obstando essa prá ca (art. 129). No processo simulado, as partes buscam não a solução de um confl ito, mas a obtenção de um efeito advindo do provimento jurisdicional para fi ns diversos que não a pacifi cação social.

Note-se que o art. 129 trata da simulação bilateral, ou seja, conluio entre autor e réu. Se somente uma das partes agiu com essa fi nalidade, aplicar-se-á a condenação por li gância de má-fé.

O Juiz, dentro do processo, tem poderes ordinatórios – pelos quais dá andamento ao processo –, poderes instrutó-rios – determinando as provas que entender necessárias para o seu convencimento37 –, poderes decisórios – poder de decidir –, e poderes executórios – des nados ao cumpri-mento dos comandos judiciais.

Dentro desse poder instrutório, deve o magistrado verifi car se sua a vidade não fere o princípio da isonomia entre as partes.

O Juiz é livre na apreciação da prova, mo vando o seu convencimento. Trata-se do princípio do livre convencimento mo vado ou persuasão racional, que rege a apreciação da prova pelo Juiz.

O magistrado que concluir a audiência de instrução e julgamento julgará a lide. É a aplicação do princípio da iden dade sica do Juiz. Exceção a essa regra é quando o juiz es ver convocado, licenciado, afastado por qualquer mo- vo, promovido ou aposentado, caso em que o julgamento

passará aos seus sucessores.O Juiz responderá por perdas e danos quando agir com

dolo ou fraude ou se recusar, omi r ou retardar providência sem mo vo justo, caso em que só responderá quando cien- fi cado pelo escrivão a pedido da parte e não determinar a

providência em 10 dias.

34 Assunto cobrado na prova da FCC/DPE-MT/Defensor Público/2009/Questão 51/Asser va E.

35 Assunto cobrado na prova da FCC/DPE-MT/Defensor Público/2009/Questão 51/Asser va A.

36 Assunto cobrado na prova da FCC/DPE-MT/Defensor Público/2009/Questão 51/Asser va D.

37 Assunto cobrado na prova da FCC/DPE-MT/Defensor Público/2009/Questão 51/Asser va C.

Tendo em vista que o Juiz deve ser imparcial em suas decisões, a lei traz hipóteses em que sua parcialidade estará afetada, sendo elas: impedimento (art. 134) e suspeição (art. 135).

Os casos de impedimento são obje vos, sendo de pre-sunção absoluta a parcialidade do julgador sem se perquirir a intenção do julgador, ensejando, inclusive, defeitos na coisa julgada que, nesse caso, poderá ser rescindida (art. 485, II).

Os casos são:I – de que for parte;II – em que interveio como mandatário da parte, ofi ciou

como perito, funcionou como órgão do Ministério Público ou prestou depoimento como testemunha;

III – que conheceu em primeiro grau de jurisdição, ten-do-lhe proferido sentença ou decisão;

IV – quando nele es ver postulando, como advogado da parte, o seu cônjuge ou qualquer parente seu, consanguíneo ou afi m, em linha reta; ou na linha colateral até o segundo grau;

V – quando cônjuge, parente, consanguíneo ou afi m, de alguma das partes, em linha reta ou, na colateral, até o terceiro grau38;

VI – quando for órgão de direção ou de administração de pessoa jurídica, parte na causa.

No conceito de parte, inclui também o de terceiro (parte do processo).

O advogado não pode ingressar no feito para causar impedimento, sendo que esse impedimento somente se ve-rifi cará quando o advogado já estava no processo exercendo o patrocínio da causa.

Aplica-se também o impedimento no caso de compa-nheira.

Se o parentesco for com a parte, o grau de limitação é o 3º.Se o parentesco for com o advogado, o grau limita-se ao 2º.Nada impede que, todavia, mesmo ultrapassados esses

graus, afi gure-se como caso de suspeição.Por ser de ordem pública, a suspeição pode ser alegada

de o cio por qualquer um e a qualquer tempo até a decisão judicial. Proferida a decisão, só poderá ser alegada por ação rescisória.

Os casos de suspeição são de natureza subje va, de modo que a intenção do magistrado é que seria levada em conta. Com efeito, tendo em vista que a presunção de parcialidade é rela va, cabe prova em contrário.

Se a suspeição ou parcialidade não forem alegadas no momento oportuno, que é o prazo da resposta ou quando se teve conhecimento do fato, ocorre a preclusão.

São os casos previstos no art. 135:I – amigo ín mo ou inimigo capital de qualquer das partes;II – alguma das partes for credora ou devedora do juiz,

de seu cônjuge ou de parentes destes, em linha reta ou na colateral até o terceiro grau;

III – herdeiro presun vo, donatário ou empregador de alguma das partes;

IV – receber dádivas antes ou depois de iniciado o proces-so; aconselhar alguma das partes acerca do objeto da causa, ou subministrar meios para atender às despesas do li gio;

V – interessado no julgamento da causa em favor de uma das partes.

Caso o Juiz seja amigo ín mo ou inimigo do advogado, não se aplica a suspeição pelo inciso I, mas pelo inciso V, pois nesse caso, poderá ter interesse no julgamento em favor de uma das partes.

Não se caracteriza suspeição se o Juiz já julgou ação contra as partes ou em relação à opinião já exteriorizada pelo juiz.

O prejulgamento cons tui hipótese de suspeição, caso em que o Juiz se manifesta antecipando o julgamento da causa, fazendo afi rmação sobre o caso concreto.

38 FCC/TRE-AM/Analista Judiciário – Área Administra va/2010/Questão 43.

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O Juiz pode se julgar suspeito por mo vo ín mo, sem a necessidade de mencionar o mo vo no processo. Todavia, deverá indicar o mo vo para o Tribunal.

Somente as partes e o Ministério Público podem opor a exceção de suspeição, sendo que o advogado não pode fazê-lo em seu nome.

As causas de impedimento e suspeição podem ser impug-nadas pelo próprio Juiz ou pelas partes, por meio de exceção.

Essas causas estendem-se ao Ministério Público, como parte ou como fi scal da lei, aos serventuários da jus ça, ao perito e ao intérprete...............................................................................................

CAPÍTULO IVDo Juiz

Seção IDos Poderes, dos Deveres e da Responsabilidade do Juiz

Art. 125. O juiz dirigirá o processo conforme as disposi-ções deste Código, compe ndo-lhe:

I – assegurar às partes igualdade de tratamento;II – velar pela rápida solução do li gio;III – prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dig-

nidade da Jus ça;IV – tentar, a qualquer tempo, conciliar as partes. (Incluí-

do pela Lei nº 8.952, de 1994)Art. 126. O juiz não se exime de sentenciar ou despachar

alegando lacuna ou obscuridade da lei. No julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais; não as havendo, recorrerá à analogia, aos costumes e aos princípios gerais de direito. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1973)

Art. 127. O juiz só decidirá por equidade nos casos pre-vistos em lei.

Art. 128. O juiz decidirá a lide nos limites em que foi proposta, sendo-lhe defeso conhecer de questões, não suscitadas, a cujo respeito a lei exige a inicia va da parte.

Art. 129. Convencendo-se, pelas circunstâncias da causa, de que autor e réu se serviram do processo para pra car ato simulado ou conseguir fi m proibido por lei, o juiz proferirá sentença que obste aos obje vos das partes.

Art. 130. Caberá ao juiz, de o cio ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias à instrução do processo, indeferindo as diligências inúteis ou meramente protelatórias.

Art. 131. O juiz apreciará livremente a prova, atendendo aos fatos e circunstâncias constantes dos autos, ainda que não alegados pelas partes; mas deverá indicar, na sentença, os mo vos que lhe formaram o convencimento. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1973)

Art. 132. O juiz, tular ou subs tuto, que concluir a au-diência julgará a lide, salvo se es ver convocado, licenciado, afastado por qualquer mo vo, promovido ou aposentado, casos em que passará os autos ao seu sucessor. (Redação dada pela Lei nº 8.637, de 1993)

Parágrafo único. Em qualquer hipótese, o juiz que proferir a sentença, se entender necessário, poderá mandar repe r as provas já produzidas. (Incluído pela Lei nº 8.637, de 1993)

Art. 133. Responderá por perdas e danos o juiz, quando:I – no exercício de suas funções, proceder com dolo ou

fraude;II – recusar, omi r ou retardar, sem justo mo vo, pro-

vidência que deva ordenar de o cio, ou a requerimento da parte.

Parágrafo único. Reputar-se-ão verifi cadas as hipóteses previstas no nº II só depois que a parte, por intermédio do escrivão, requerer ao juiz que determine a providência e este não lhe atender o pedido dentro de 10 (dez) dias.

Seção IIDos Impedimentos e da Suspeição

Art. 134. É defeso ao juiz exercer as suas funções no processo contencioso ou voluntário:

I – de que for parte;II – em que interveio como mandatário da parte, ofi ciou

como perito, funcionou como órgão do Ministério Público, ou prestou depoimento como testemunha;

III – que conheceu em primeiro grau de jurisdição, tendo-lhe proferido sentença ou decisão;

IV – quando nele es ver postulando, como advogado da parte, o seu cônjuge ou qualquer parente seu, consanguíneo ou afi m, em linha reta; ou na linha colateral até o segundo grau;

V – quando cônjuge, parente, consanguíneo ou afi m, de alguma das partes, em linha reta ou, na colateral, até o terceiro grau;

VI – quando for órgão de direção ou de administração de pessoa jurídica, parte na causa.

Parágrafo único. No caso do nº IV, o impedimento só se verifi ca quando o advogado já estava exercendo o patrocínio da causa; é, porém, vedado ao advogado pleitear no proces-so, a fi m de criar o impedimento do juiz.

Art. 135. Reputa-se fundada a suspeição de parcialidade do juiz, quando:

I – amigo ín mo ou inimigo capital de qualquer das partes;

II – alguma das partes for credora ou devedora do juiz, de seu cônjuge ou de parentes destes, em linha reta ou na colateral até o terceiro grau;

III – herdeiro presun vo, donatário ou empregador de alguma das partes;

IV – receber dádivas antes ou depois de iniciado o proces-so; aconselhar alguma das partes acerca do objeto da causa, ou subministrar meios para atender às despesas do li gio;

V – interessado no julgamento da causa em favor de uma das partes.

Parágrafo único. Poderá ainda o juiz declarar-se suspeito por mo vo ín mo.

Art. 136. Quando dois ou mais juízes forem parentes, consanguíneos ou afi ns, em linha reta e no segundo grau na linha colateral, o primeiro, que conhecer da causa no tribunal, impede que o outro par cipe do julgamento; caso em que o segundo se escusará, remetendo o processo ao seu subs tuto legal.

Art. 137. Aplicam-se os mo vos de impedimento e sus-peição aos juízes de todos os tribunais. O juiz que violar o dever de abstenção, ou não se declarar suspeito, poderá ser recusado por qualquer das partes (art. 304).

Art. 138. Aplicam-se também os mo vos de impedimen-to e de suspeição:

I – ao órgão do Ministério Público, quando não for parte, e, sendo parte, nos casos previstos nos nºs I a IV do art. 135;

II – ao serventuário de jus ça;III – ao perito; (Redação dada pela Lei nº 8.455, de 1992)IV – ao intérprete.§ 1º A parte interessada deverá arguir o impedimento

ou a suspeição, em pe ção fundamentada e devidamente instruída, na primeira oportunidade em que lhe couber falar nos autos; o juiz mandará processar o incidente em separa-do e sem suspensão da causa, ouvindo o arguido no prazo de 5 (cinco) dias, facultando a prova quando necessária e julgando o pedido.

§ 2º Nos tribunais caberá ao relator processar e julgar o incidente...............................................................................................

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DA AÇÃO

Conceito

Ação pode ser conceituada como o direito público sub-je vo de se exigir do Estado uma prestação jurisdicional39.

Luiz Rodrigues Wambier (2006, p. 119) conceitua ação

como o direito público, subjetivo e abstrato, de natureza cons tucional, regulado pelo Código de Processo Civil, de pedir ao Estado-Juiz o exercício da a vidade jurisdicional no sen do de solucionar determinada lide.

O direito é público porque exercido contra o Estado-Juiz.É subje vo porque é um direito conferido à parte para

uma faculdade de buscar a proteção do seu direito perante o Estado.

As teorias sobre a ação vão desde as que confundiam a ação com o direito material, até a teoria que considera a total autonomia do direito de ação, condicionada ao preen-chimento de certas condições de ação.

A primeira teoria é a teoria civilista ou imanen sta. Se-gundo essa teoria, a ação seria o próprio direito material, era a forma como o direito material se manifestava.

Posteriormente, veio a primeira teoria que reconheceu a autonomia do direito de ação, a teoria concreta da ação. Segundo essa teoria, o direito de ação, embora autônomo, só exis ria se houvesse o direito material, ou seja, só em caso de julgamento favorável ao autor.

Uma terceira, a teoria abstrata da ação, reconhece a au-tonomia do direito de ação, que seria o direito de provocar a atuação do Estado, independentemente do resultado ob do.

Por fi m, a teoria eclé ca do direito de ação, que se asse-melha a abstrata, mais acrescenta as chamadas condições da ação, que deveriam estar presentes para permi r uma sentença de mérito, resolvendo o caso concreto.

Com efeito, essa teoria reconhece o direito de ação como sendo o direito a uma sentença de mérito.

Cri cando essa úl ma teoria, que seria a vigente hoje em nosso ordenamento, em razão da infl uência de Enrico Tulio Liebman, Alexandre Freitas Câmara40 afi rma “que alguns autores mais modernos afi rmam que as ‘condições da ação’ não são requisitos de existência daquele direito, mas sim do seu legí mo exercício”.

Natureza Jurídica

As teorias sobre o direito de ação são:1) Teoria imanen sta ou civilista – a ação é imanente ao

direito material, confundindo-se com ele, e a jurisdi-ção só pode ser acionada se houver o direito material.

2) Teoria da ação como direito autônomo e concreto – essa foi a primeira teoria que considerou a separação do direito material do direito processual. Embora considere a ação autônoma, ela só existe se a sentença for favorável.

3) Teoria da ação como direito autônomo e abstrato – por essa teoria, a ação é um direito público subje vo de se exigir uma prestação jurisdicional, independente-mente do resultado da demanda, ou seja, sentença favorável ou desfavorável.

39 Assunto cobrado na prova da Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/2009/Questão 55/Asser va B.

40 CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito processual civil. Vol. I. 15ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, p. 122.

4) Teoria eclé ca – é o conceito adotado pelo CPC. Para essa teoria, o direito de ação, para ser exercido, deve preencher alguns requisitos, que são denominados condições da ação.

Condições da Ação

Conforme divisão da doutrina clássica, as condições da ação são:

a) Possibilidade jurídica do pedido41 – consiste na au-sência de vedação, pela lei, do pedido formulado em juízo.

b) Interesse de agir42 – consubstancia-se no binômio necessidade/u lidade do provimento jurisdicional. É a relação de necessidade-a dequação do provimento postulado, diante do confl ito de direito material trazido à solução judicial43. Para a solução do li gio, é necessário que o interessado se valha do Poder Judiciário. Da mesma forma, o provimento escolhido deve ser ú l e adequado para se obter a pretensão.

c) Legi midade para a causa (legi ma o ad causam)44 – parte legí ma é aquela tular do direito invocado, bem como aquela que resiste a essa pretensão. Trata-se da legi mação ordinária. Todavia, a lei, em casos excepcionais, permite que um terceiro, não tular do direito controver do, demande em nome

próprio direito alheio, sendo o caso de legi mação extraordinária.

Como exemplo de legi mação extraordinária, podemos citar o Sindicato que vem em juízo defender o direito de seus associados, conforme permite a CF/1988 em seu art. 8º, inciso III.

Essas condições da ação são requisitos que precedem à análise do mérito.

Parte da doutrina entende que não se pode considerar as condições da ação como sendo requisitos para sua existência, mas sim como requisitos para que o processo chegue a um provimento fi nal.

A consequência da falta de uma das condições da ação é a ex nção do processo sem resolução de mérito, conforme disposto no art. 267, inciso VI, do CPC.

O momento da verifi cação dessas condições é tema controver do na doutrina, que se divide em duas correntes.

Uma delas entende que as partes devem comprovar a existência das condições da ação, inclusive fazendo prova delas. Seria a teoria da exposição.

A outra teoria é a da asserção, em que não se precisa comprovar cabalmente as condições da ação. A sua verifi -cação se dá pelas afi rmações feitas pelo autor na pe ção inicial, devendo o magistrado considerar a relação jurídica existente nos termos em que foi afi rmada.

A consequência seria que, na teoria da exposição, caso não comprovada uma condição da ação, o processo seria ex nto sem resolução de mérito.

Já na teoria da asserção, tendo em vista que as condições já estariam presentes desde o começo, caso verifi cado que, por exemplo, o réu não fosse parte legí ma, tal fato levaria à ex nção do processo com resolução de mérito, por impro-cedência do pedido.

41 Assunto cobrado na prova da Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/2009/Questão 56/Asser va C.

42 Assunto cobrado na prova da Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/2009/Questão 56/Asser va C.

43 Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/2009/Questão 56/Asser va E.44 Assunto cobrado na prova da Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/2009/

Questão 56/Asser va C.

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A ausência de uma das condições da ação leva à carência de ação e pode ser declarada de o cio pelo Juiz em qualquer fase do processo ou ser arguida pelo réu em contestação, em qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto não for proferida a sentença de mérito.

Classifi cação das Ações

• Ação de conhecimento – visa ao reconhecimento do direito.– Condenatória – condena o réu a uma obrigação de

dar, fazer ou não fazer e pagar.– Declaratória – a pretensão do autor limita-se à decla-

ração de existência ou inexistência de uma relação jurídica ou auten cidade de um documento.45

– Constitutiva – busca a criação, modificação ou ex nção de uma relação jurídica.

• Ação de execução – visa à sa sfação ou realização do direito reconhecido em um tulo judicial ou extraju-dicial.

• Ação cautelar – visa a assegurar o resultado ú l do processo.

Ressalte-se que o art. 5º do CPC trata da ação decla-ratória incidental, que deve ser conjugada com o previsto no art. 325. Tem por objeto o julgamento de uma questão prejudicial de mérito – de que dependa o julgamento da ação principal – que se torna controver da quando impugnada por uma das partes.

Tem o fi to, ainda, de ampliar os limites da coisa julgada, nos termos do art. 470 do CPC.

Conforme prelecionam Nelson Nery Júnior e Rosa Maria de Andrade Nery (2006, p. 145), são pressupostos da ADI:

a) ser deduzida por pe ção inicial, obedecidos os requisitos do CPC, art. 282 [...];b) haver li spendência;c) ter havido contestação sobre a questão prejudicial;d) tratar-se de questão prejudicial de mérito;e) poder essa questão ser objeto de ação declaratória autônoma;f) ser compatível com o procedimento da ação principal.

Acrescente-se que o nome dado à ação é irrelevante, uma vez que o Juiz acolhe o pedido, e não a ação. Por tal razão considera-se equivocada a expressão “julgar procedente a ação”, quando na verdade o que se julga é o pedido.

Elementos da Ação

As ações são iden fi cadas pelos seus elementos subje -vos (partes) e obje vos (causa de pedir e pedido).

São eles:• Partes – são os que fi guram na relação jurídica proces-

sual. Autor e réu.• Causa de pedir – são os fundamentos de fato e de

direito que levaram o demandante a procurar o Poder Judiciário. A causa de pedir remota ou fá ca seriam os fatos deduzidos, como a lesão ao direito ocorrida. A causa de pedir próxima ou jurídica é a consequência jurídica que a lesão gerou ao direito do demandante.

• Pedido – divide-se em pedido imediato, que é o provi-mento que se pede (cognição, execução ou cautelar),

45 Assunto cobrado na prova da Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/2009/Questão 56/Asser va D.

formulado ao Juiz, e pedido mediato, realizado contra o réu, que é o bem jurídico que se pede46.

Os elementos da ação permitem iden fi car a li spen-dência, coisa julgada, conexão e con nência.

Li spendência consiste na proposição simultânea de duas ações idên cas (sabe-se que são idên cas pela comparação dos elementos), ambas em curso.Ex.: Pedro ajuizou ação em face da empresa de telecomunicações TC, mo vado por supostas cobranças de pulso indevidas e postulou, ao fi nal: declaração de inexistência de débito; repe ção do indébito, em dobro; danos morais no valor de R$ 5.000,00. Dois meses após a distribuição do feito e da citação da ré, Pedro ajuizou nova ação, contra a mesma empresa, postulando, com base na mesma causa de pedir, danos morais no valor de R$ 5.000,00. Com base nessa situação hipoté ca, o ins tuto que corretamente defi ne o enqua-dramento jurídico-processual da segunda ação ajuizada é denominado li spendência parcial.47

A coisa julgada consiste na repe ção de ação idên ca a outra que já teve resolução do mérito.

Duas ações são reputadas conexas quando lhe são idên- cos o objeto (entendendo-se aí o pedido) ou a causa de

pedir (art. 103, CPC).A con nência ocorre quando há iden dade entre as

partes e a causa de pedir, mas o objeto de uma, por ser mais amplo, engloba o da outra (art. 104, CPC)..............................................................................................

CAPÍTULO IIDa Ação

Art. 3º Para propor ou contestar ação é necessário ter interesse e legi midade.

Art. 4º O interesse do autor pode limitar-se à declaração:I – da existência ou da inexistência de relação jurídica;II – da auten cidade ou falsidade de documento.Parágrafo único. É admissível a ação declaratória, ainda

que tenha ocorrido a violação do direito.Art. 5º Se, no curso do processo, se tornar li giosa re-

lação jurídica de cuja existência ou inexistência depender o julgamento da lide, qualquer das partes poderá requerer que o juiz a declare por sentença. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1973)

Art. 6º Ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo quando autorizado por lei..............................................................................................

PROCESSO E PROCEDIMENTO

Podemos conceituar o processo como sendo o ins-trumento colocado à disposição do Estado e das partes, formando uma relação jurídica, para que se chegue a um provimento jurisdicional, resolvendo os li gios.

Elpídio Donize (2007, p. 39) esclarece que o processo

é o método pelo qual se opera a jurisdição, com vistas à composição dos li gios. É instrumento de realização da jus ça; é relação jurídica, portanto, é abstrato e fi nalís co.

Para a maior parte da doutrina, o processo é autônomo, porque independe da existência do direito material e consiste em uma relação jurídica de direito público (serve para realizar uma função estatal) de formação triangular, ou seja, é um ato de três pessoas: Estado, autor e réu.

46 Assunto cobrado na prova da Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/2009/Questão 56/Asser va A.

47 Cespe/MPE-SE/Promotor Subs tuto/2010/Questão 36.

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O processo não se confunde com o procedimento, que consiste na forma como o processo caminha, a forma como o processo se exterioriza. O procedimento seria o instrumento do processo, que, por sua vez, é o instrumento da jus ça.

O processo é divido conforme o provimento jurisdicional invocado e a a vidade exercida pelo Juiz, tendo a mesma natureza da ação que lhe deu início, ou seja, processo de conhecimento, processo de execução e processo cautelar.

Natureza Jurídica

No tocante à natureza jurídica, prevalece a teoria do pro-cesso como relação jurídica, bem esclarecida por Alexandre Freitas Câmara (2006, p. 139):

Para a teoria do processo como relação jurídica, este é uma relação intersubje va, ou seja, uma relação entre pessoas, dinâmica, de direito público, e que tem seus próprios sujeitos e requisitos (a estes requisitos deu Bulow o nome de pressupostos processuais). Tal rela-ção jurídica teria como conteúdo uma outra, de direito material (a res in iudicium deducta, já referida), e teria por fi m permi r a apreciação desta pelo Estado-Juiz.

Garan as Cons tucionais do Processo Civil

• Devido processo legal – está previsto no art. 5º, inciso LIV, da CF/1988. Por esse princípio, ninguém será pro-cessado sem ser subme do a um instrumento estatal (processo) previsto em lei para a solução de confl itos. É princípio informa vo, porquanto incorpora todos os demais.

• Imparcialidade – o Juiz natural, inves do na função ju-risdicional deve ser imparcial, equidistante das partes. Para tanto, a CF/1988 concede aos julgadores diversas garan as ins tucionais.

• Contraditório – é a possibilidade dada às partes para que par cipem do processo, sendo in madas para se manifestar a cada ato novo, o que também permite ao Juiz formar seu convencimento.

• Ampla defesa – as partes podem se valer de todos os meios legalmente disponíveis para alegar atos e fazer a defesa de seus direitos.

• Fundamentação – está prevista no art. 93, inciso IX, da CF/1988, sendo que todas as decisões judiciais devem ser fundamentadas, mo vadas, garan ndo às partes o conhecimento das razões que levaram à decisão.

• Publicidade – está no art. 5º, inciso LX, da CF/1988. Todos os atos jurídicos devem ser públicos, permi ndo o controle da a vidade jurisdicional. Esse princípio admite exceções quando o interesse social ou a defesa da in midade assim o exigir. Note-se que o segredo de jus ça não dispensa a publicação dos atos, que, mesmo em segredo, são publicados sem, contudo, iden fi car as partes.

• Celeridade processual – o processo deve ter uma duração razoável.

Princípios do Processo Civil

• Duplo grau de jurisdição – as decisões judiciais, como regra, estão subme das ao reexame por uma instância superior. A doutrina não é unânime quanto a colocar esse princípio entre os cons tucionais, tendo em vista que não está expressamente disposto na Cons tuição. Para os que o situam como de índole cons tucional, entendem que ele deriva do devido processo legal.

Note-se que o entendimento das cortes superiores é que esse princípio não tem sede cons tucional:

RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. ALEGAÇÃO DE VÍCIO DE SIMULAÇÃO PELA PRÓPRIA PARTE SOB ALEGAÇÃO DE OCORRÊNCIA DE ‘SÓCIO PRESTA-NOME’. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDI-DO. EXTINÇÃO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO. QUESTÃO MERITÓRIA. RECURSO PROVIDO.1. Não cons tui cerceamento de defesa o julgamento

ex offi cio pelo Tribunal a quo que iden fi cando a ausência de condições da ação, julga processo ex nto sem julgamento de mérito. Esse proceder, por si só, não se revela violador do duplo grau de jurisdição, porquanto esse não é absoluto, razão pela qual o Pretório Excelso já decidiu que em nosso ordenamento jurídico o princípio citado não ostenta garan a cons tucional (RHC nº 79.785, Rel. Min. Sepúlveda Pertence).

2. Todavia, a aferição da mo vação do ato simulador consubstanciado na condição de sócio ‘presta-no-me’, deve ser objeto de julgamento de mérito da ação declaratória, porquanto cons tui juízo meritó-rio, sendo perfeitamente possível o pedido, o que fasta a ausência de condição de ação declarada pelo Tribunal a quo.

3. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, provido.” (REsp. nº 776.304 / MG, STJ, Quarta Turma, Rel. Min. HONILDO AMARAL DE MELLO CASTRO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/AP), DJe 16/11/2009)

• Princípio da Igualdade – o Juiz, no curso do processo, deve empreender tratamento igualitário às partes, conferindo a elas as mesmas oportunidades.

• Princípio Disposi vo – É princípio informa vo do pro-cesso civil o princípio disposi vo, signifi cando que o juiz não pode conhecer de matéria a cujo respeito a lei exige a inicia va da parte.48 Tendo em vista que o processo só se inicia por a vidade da parte, em se tra-tando de defesa de direitos disponíveis, a inicia va no ajuizamento da ação, bem como o prosseguimento do processo, dependem da disposição dos interessados. Toda a produção das provas dos fatos cons tu vos do direito do autor, bem como dos argumentos u lizados pelo réu, é atribuída às partes, limitando o Juiz a mero espectador49. Difere do princípio inquisi vo, em que a liberdade de inicia va probatória é conferida ampla-mente ao Juiz até mesmo na instauração da relação processual, independentemente da inicia va ou cola-boração das partes. Há duas derivações importantes do princípio disposi vo, em nosso sistema processual civil: a) o princípio da demanda e b) o princípio da congruência. Pelo primeiro, só se reconhece à parte o poder de abrir o processo: nenhum Juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando requerida pela par-te (CPC, art. 2º), de sorte que não há instauração de processo pelo Juiz ex offi cio. Pelo segundo princípio, que também se nomeia como princípio da adstrição, o Juiz deverá fi car limitado ou adstrito ao pedido da parte, de maneira que apreciará e julgará a lide “nos termos em que foi proposta”, sendo-lhe vedado conhe-cer questões não suscitadas pelos li gantes, ou seja, julgar de forma citra, extra ou ultra pe ta (art. 128). Ressalte-se que os vícios decorrentes de julgamento citra ou infra pe ta podem ser corrigidos pelo próprio

48 FCC/TJ-MS/Juiz Subs tuto/Nível Superior/2010/Questão 30.49 Assunto cobrado na prova da Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/2009/

Questão 58/Asser va C.

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Juiz quando provocado por embargos de declaração (art. 535, II, CPC). Nos casos de julgamento extra ou ultra pe ta, a correção só poderá ser feita por meio de recurso próprio ou, ainda, por ação rescisória (art. 485, V, CPC).

• Verdade formal? – por muito tempo defendeu-se que, no processo civil, o Juiz não buscaria a verdade real (essa só exis ria no processo penal), só a formal, tendo em vista a disponibilidade do direito. Todavia, a doutrina moderna entende que, também no pro-cesso civil, deve o magistrado buscar a verdade real, tendo em vista os escopos da jurisdição, assumindo uma posição mais a va. Verdade formal seria aquela baseada somente no que existe nos autos, no que as partes conseguiram provar, independentemente do que realmente é verdade. Já a verdade real consiste na busca efe va da comprovação dos fatos subme dos à análise jurídica.50

• Lealdade processual – as partes, nada obstante estejam em um li gio judicial, devem tratar-se com urbanidade e boa-fé.

• Juiz natural – por esse princípio, ninguém será julgado senão pela autoridade competente, inves da legal-mente na função jurisdicional, sendo impossível a cria-ção de tribunal de exceção para julgamento de causa específi ca, não previamente estabelecido. Note-se que o princípio diz respeito, em verdade, ao juízo, e não à pessoa do Juiz. Nada impede, portanto, que mais de um Juiz atue no mesmo processo.

• Oralidade – tendo em vista que o processo civil adotou a forma escrita, esse princípio tem lugar somente em casos específi cos, como no rito dos Juizados especiais. Sua aplicação se dá, também, quando da realização das audiências. Desse princípio decorrem, ainda, três outros subprincípios:– Iden dade sica do Juiz – o mesmo Juiz que colhe

as provas orais em audiência deverá sentenciar.– Imedia dade na colheita das provas – o Juiz deve

colher a prova direta e pessoalmente, sem interme-diários.

– Concentração – os atos devem concentrar-se na au-diência, sendo que só excepcionalmente permite-se a sua conclusão em dia posterior.

Ressalta-se, portanto, que a oralidade não cons tui exemplo de princípio informador e fundamental inerente à jurisdição.51

• Economia processual – os atos processuais devem ser pra cados da forma menos onerosa às partes. O máximo resultado com o mínimo emprego de a vi-dades processuais é ideia que sinte za o chamado princípio da economia processual, sendo a reunião de processos conexos exemplo de aplicação desse princípio, assim como a ação declaratória incidente.52

A doutrina ainda costuma fazer uma divisão em princí-pios informa vos do processo e princípios informa vos do procedimento, nesses termos:

Informa vos rela vos ao processo:

a) Princípio do devido processo legal; b) Princípio da isonomia ou da igualdade;c) Princípio da Imparcialidade do Juiz;d) Princípio inquisi vo ou disposi vo;e) Princípio do contraditório e da ampla defesa;f) Princípio do duplo grau de jurisdição;

50 Nesse sen do, Alexandre Freitas Câmara.51 Assunto cobrado na prova da Funiversa/PC-DF/Delegado de Polícia/2009/

Questão 58/Asser va B.52 Cespe/DPU/Defensor Público Federal/2010/Questão 40.

g) Princípio da boa-fé e lealdade processual (as partes devem agir, umas com as outras, com lealdade e boa-fé, sob pena de serem condenadas pelo descumprimento desse dever – art. 14 e 17, CPC);

h) Princípio da verdade real e da livre apreciação das provas;

i) Princípio da persuasão racional do Juiz e da mo vação das decisões judiciais (O juiz é livre para apreciar as provas que estão nos autos, mo vando sempre sua decisão);

Informa vos rela vos ao procedimento:

j) Princípios da oralidade, imediação e iden dade sica do juiz;

k) Princípio da publicidade;l) Princípio da economia processual e da instrumentalida-

de das formas (caso não observada a forma, se o ato mesmo assim a ngir sua fi nalidade será válido);

m) Princípio da eventualidade ou da preclusão (processo é um caminhar sempre para frente, de modo que não se pode revolver fases passadas).

Pressupostos Processuais

Os pressupostos processuais, da mesma forma que as condições da ação, são requisitos prévios à análise do mérito, cuja presença permite que o processo exista e se desenvolva de forma válida e regular.

São divididos em pressupostos processuais de existên-cia – necessários para que a relação processual possa ser instaurada – e pressupostos processuais de validade – ne-cessários para que o processo se desenvolva regularmente.

A doutrina diverge quanto à enumeração dos pressu-postos processuais.

Tradicionalmente, dividem-se em:De existência:• Pe ção inicial – é o ato por meio do qual se dá início à

a vidade jurisdicional, tendo em vista que o Juiz não procederá de o cio (princípio da inércia).

• Jurisdição – a formulação do pedido deve ser direcio-nada a um órgão estatal tular do poder de dizer o direito.

• Citação – é o ato por meio do qual se chama o réu a juízo.

• Capacidade postulatória – somente o advogado poderá postular em juízo, pois possui competência técnica para tanto. Como exceção, temos o caso de não ha-ver advogado no lugar ou os que existam tenham se recusado a patrocinar a causa, caso em que a parte ou quem ela escolher pode postular diretamente seu direito. É o caso do rábula. Outra exceção é no caso dos Juizados especiais cíveis, nas causas até 20 salários mínimos.

De validade:• Pe ção inicial apta – a pe ção inicial deve ser apta,

assim considerada a que preenche os requisitos pre-vistos no ar go 282 e 283

• Citação válida – a citação inicial deverá ser feita de forma válida, com observância do disposto no ar go 213 e seguintes do CPC.

• Capacidade processual ou capacidade de estar em juízo (legi ma o ad processum) – para melhor expli-citar esse tópico, cabe tecer algumas considerações a respeito da capacidade de direito e a capacidade de exercício, conceitos do direito civil. A primeira consiste

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na ap dão de adquirir direitos e obrigações, possuindo todo que tem personalidade jurídica (pessoa sica – nascimento com vida. Pessoa jurídica – cons tuição na forma da lei). A segunda consiste na capacidade de exercer, por si só, os atos da vida civil, tendo os maiores e capazes. Quem tem capacidade de direito tem capacidade de ser parte. Porém, somente quem tem capacidade de exercício tem capacidade pro-cessual. Há, ainda, os entes despersonalizados que também têm capacidade processual. Os menores de idade e os incapazes não têm capacidade processual, não podendo pra car atos processuais, devendo ser representados ou assis dos, conforme o caso.

• Imparcialidade do Juiz – Juiz imparcial é aquele equidis-tante das partes, que não toma par do por nenhuma delas e que não está impedido (art. 134).

• Competência do juízo – a ação deverá ser aJuizada em órgão competente, conforme as regras de distribuição de competência.

Apenas para constar, indicamos a enumeração feita pelo professor Alexandre Freitas Câmara, nesses termos:

Pressupostos de existência:• Órgão estatal inves do de jurisdição – só existe pro-

cesso se iniciado perante um órgão estatal com poder de dizer o direito.

• Partes capazes – cabe asseverar que o processo, para exis r, precisa, por óbvio, de partes: autor e réu. Alguns doutrinadores entendem que o processo só exis ra se houvesse citação, que é o ato por meio do qual se chama o réu a juízo. Contudo, mesmo sem a citação, o processo existe, sendo esse ato um requisito para formação da relação jurídica, e não de existência do processo. O que se exige é a existência de uma pessoa dis nta do demandante, bastando isso para que o processo exista.

• Demanda regularmente formulada.

Pressupostos de validade são:• Inves dura do órgão na jurisdição – órgão que possa

exercer a função jurisdicional diante do caso concreto, conforme atribuições cons tucionais.

• Capacidade processual – capacidade de ser parte, ca-pacidade de estar em juízo e capacidade postulatória.

• Regularidade formal da demanda.

A representação constante no ar go 12, CPC, trata da representação processual, em que o representante age em nome de outrem defendendo direito de outrem. Não age em nome próprio. Seria uma necessidade gerada pelas cir-cunstâncias do caso53, em que é necessário que a parte (no caso um pessoa jurídica de direito público ou privado ou um ente despersonalizado) seja representada.

Não se confunde com a representação que integra a ca-pacidade processual, no caso dos absolutamente incapazes (art. 3º. CC/02).

O magistrado, verifi cando o defeito na capacidade pro-cessual ou na representação da partes, suspenderá o proces-so e in mará a parte para que sane o defeito, não podendo ex nguir o processo sem antes oportunizar a regularização.

53 WAMBIER, Luiz Rodrigues. ALMEIDA, Flávio Renato Correia de. TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil. Vol 1. 8ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006, p. 220.

Caso não seja sanado o defeito, tendo em vista que a capacidade processual, bem como a representação são pressupostos processuais de validade, a ausência de um deles acarreta a ex nção do processo.