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Fevereiro | 20122

www.advocef.org.br � Discagem gratuita 0800.601.3020

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS ADVOGADOSDA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL

DIRETORIA EXECUTIVA 2011-2012Presidente: Carlos Alberto Regueira de Castro e Silva (Recife)Vice-Presidente: Anna Claudia de Vasconcellos (Florianópolis)1º Secretário: Luciano Caixeta Amâncio (Brasília)2º Secretário: Jair Oliveira Figueiredo Mendes (Salvador)1º Tesoureiro: Isabella Gomes Machado(Brasília)2º Tesoureiro: Estanislau Luciano de Oliveira (Brasília)Diretor de Articulação e Relacionamento Institucional:Júlio Vitor Greve (Brasília)|[email protected] de Comunicação, Relacionamento Interno e Eventos:Roberto Maia (Porto Alegre)|[email protected] de Honorários Advocatícios:Álvaro Sérgio Weiler Junior (Porto Alegre)|[email protected] de Negociação Coletiva:Marcelo Dutra Victor (Belo Horizonte)|[email protected] de Prerrogativas:Pedro Jorge Santana Pereira (Recife)|[email protected] Jurídico:Fernando da Silva Abs da Cruz (Porto Alegre)|[email protected] Social:Elenise Peruzzo dos Santos (Porto Alegre)|[email protected] REGIONAISBianco Souza Morelli (Aracaju)|Tânia Maria Trevisan (Bauru)|Patrick Ruiz Lima(Belém)|Leandro Clementoni da Cunha (Belo Horizonte)|Júlio Vitor Greve(Brasília)|Ricardo Tavares Baraviera (Brasília)|Lya Rachel Basseto Vieira(Campinas)|Alfredo de Souza Briltes (Campo Grande)| Daniele Cristina das Neves(Cascavel)|Juel Prudêncio Borges (Cuiabá)| Susan Emily Iancoski Soeiro(Curitiba)|Edson Maciel Monteiro (Florianópolis)|Maria Rosa de Carvalho Leite Neta(Fortaleza)|Ivan Sergio Por to Vaz (Goiânia)|Isaac Marques Catão (JoãoPessoa)|Rodrigo Trezza Borges (Juiz de Fora)|Altair Rodrigues de Paula(Londrina)|Dioclécio Cavalcante Neto (Maceió)|Raimundo Anastácio Carvalho DutraFilho (Manaus)|José Irajá de Almeida (Maringá)|Carlos Rober to de Araujo(Natal)|Daniel Burkle Ward (Niterói)|João Batista Gabbardo (Novo Hamburgo)|PabloDrum (Porto Alegre)|Bruno Ricardo Carvalho de Souza (Porto Velho)|Justiniano Diasda Silva Júnior (Recife)|Sandro Endrigo Chiarotti (Ribeirão Preto)|Carlos Eduardo LeiteSaboya (Rio de Fevereiro)|Jair Oliveira Figueiredo Mendes (Salvador)|Fabio Radin(Santa Maria)|Antonio Carlos Origa Júnior (São José do Rio Preto)|Flávia ElisabeteKarrer (São José dos Campos)|Virginia Neusa Lima Cardoso (São Luís)|RolandGomes Pinheiro da Silva (São Paulo)|Edvaldo Martins Viana Júnior (Teresina)|TiagoNeder Barroca (Uberaba)|Lucíola Parreira Vasconcelos (Uberlândia)|Angelo RicardoAlves da Rocha (Vitória)|Aldir Gomes Selles (Volta Redonda)CONSELHO DELIBERATIVOMembros efetivos:Davi Duarte (Porto Alegre), Renato Luiz Harmi Hino (Curitiba),Alfredo Ambrósio Neto (Goiânia), Juliana Varella Barca de Miranda Porto (Brasília) eElton Nobre de Oliveira (Rio de Fevereiro).Membros suplentes: Antônio Xavier de Moraes Primo (Recife), Fábio Romero de SouzaRangel (João Pessoa) e Jayme de Azevedo Lima (Curitiba).CONSELHO FISCALMembros efetivos: Daniele Cristina Alaniz Macedo (São Paulo), Rogério Rubim deMiranda Magalhães (Belo Horizonte) e Adonias Melo de Cordeiro (Fortaleza).Membro suplente: Melissa Santos Pinheiro Vassoler Silva (Porto Velho).Endereço em Brasília/DF:SBS, Quadra 2, Bloco Q, Lote 3, Sala 1410 | Edifício João Carlos SaadCEP 70070-120 | Fone (61) 3224-3020E-mail: [email protected] | Gerente administrativa e financeira: Ana NiedjaMendes Nunes | Assistente financeira: Kelly Carvalho | Assistente administrativa:Valquíria Dias de Oliveira Lisboa | Recepcionista: Roane Gomes Máximo

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Edito

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Conselho Editorial: Álvaro Sérgio Weiler Junior, Anna Claudia de Vasconcellos, CarlosCastro, Davi Duarte, Estanislau Luciano de Oliveira, Fernando Abs da Cruz, Isabella GomesMachado, Jair Mendes, Júlio Greve, Luciano Caixeta Amâncio, Marcelo Dutra Victor e RobertoMaia|Jornalista responsável: Mário Goular t Duar te (Reg. Prof. 4662) - E-mail:[email protected].|Projeto gráfico: Eduardo Furasté|Editoração eletrônica: JoséRoberto Vazquez Elmo|Capa, contracapa e ilustrações: Ronaldo Selistre |Tiragem:1.000 exemplares|Impressão: Gráfica Pallotti|Periodicidade: Mensal.

A ADVOCEF em Revista é distribuída aos advogados da CAIXA, a entidades associativas e ainstituições de ensino e jurídicas.

Esta edição está também disponível no site da ADVOCEF (www.advocef.org.br).

As opiniões publicadas são de responsabilidade de seus autores,não refletindo necessariamente o pensamento da ADVOCEF.

A edição de fevereiro, como que embalada pelosmovimentos carnavalescos, vem recheada de evolu-ções e boas novas, como típicas "porta-bandeiras" deesperança e "comissões de frente" de bem-aventuranças, no terreno do Direito e das boas práticassociais e populares.

Destacando em boas páginas a grande vitória dopaís e dos brasileiros no embate travado em muitasfrentes, com elevado envolvimento da mídia e dos mo-vimentos sociais, a ADVOCEF em Revista traz algumasimpressões dos advogados e entidades acerca da deci-são do STF envolvendo a extensão e amplitude dospoderes do Conselho Nacional de Justiça.

Como representação da evolução dos homens emulheres, espelho do crescimento das instituições, aSuprema Corte nacional respaldou o comando consti-tucional que conferiu maior transparência e controlesobre o Judiciário, como forma de garantir-lhe a supre-macia como poder, afastando-o da pecha de superiori-dade em relação aos próprios princípios republicanos.

Em outra matéria, de abrangência mais interna enem por isto menos importante, uma evocação e ho-menagem a alguns dos muitos homens de bem queintegram ou integraram a área jurídica da CAIXA, com-posta desta feita por uma contundente manifestaçãode colega que deixa estas fileiras que, com honradez eincansável dedicação à Empresa e às causas justas,defendeu com ardor e desmedida garra.

A valorosa coirmã Associação Nacional dos Procu-radores de Empresas Públicas Federais é protagonista,uma vez mais e com merecida glória, de boas ealvissareiras notícias, fruto de um notável trabalho con-junto de muitos e sérios dirigentes e profissionais en-volvidos, em tema no qual a ADVOCEF está inserida deforma integral e permanente.

Boas notícias também impregnam as páginas queseguem envolvendo o recorrente tema da recuperaçãode créditos, assunto merecedor de pauta cotidiana, pelaAssociação e pela área jurídica da CAIXA.

Boas e divertidas crônicas, acompanhadas deatualíssimas e sempre completas notícias do mundojurídico acompanham esta edição, que almejamos en-contrem os olhares e críticas aguçados e confiantes denossos leitores.

O novo,de novo

Diretoria Executiva da ADVOCEFDiretoria Executiva da ADVOCEFDiretoria Executiva da ADVOCEFDiretoria Executiva da ADVOCEFDiretoria Executiva da ADVOCEF

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| Renovação

Em defesa da profissãoEm Recife, advogados denunciam juiz à Seccional da OAB

Está aberto o processo eleitoral naADVOCEF para a escolha dos dirigentes daentidade para o biênio 2012/2014. Em 28de fevereiro de 2012 será divulgada a listahomologada dos candidatos inscritos para oscargos da Diretoria Executiva, dos ConselhosDeliberativo e Fiscal e da Representação nasUnidades Jurídicas. Para as inscrições, aber-tas até 24 de fevereiro, os sócios não podemestar inadimplentes com a Tesouraria nemenquadrados em qualquer das demais alíne-as do artigo 40 do Estatuto Social.

A votação será através do site daADVOCEF, em 30 de março, entre 9h e

| Prerrogativas

O diretor de Prerrogativas daADVOCEF, Pedro Jorge SantanaPereira, acompanhado de advo-gados do Jurídico Recife/PE, en-tregou à Seccional da OAB/PE,em 25/01/2012, ofício em quesolicita a realização de desagra-vo público contra atos inibidoresda livre advocacia praticadospelo juiz da 10ª Vara Federal dePernambuco, Edvaldo Batista daSilva Júnior.

Segundo o diretor, esse tipode atitude tem ocorrido frequentemente,"apesar de o artigo 6º da Lei 8.906/1994(Estatuto da OAB) ser enfático no sentidode que não há hierarquia nem subordina-ção entre advogados, magistrados emembros do Ministério Público".

Na correspondência, a ADVOCEF de-nuncia que em decisão proferida o juizatribuiu a uma advogada "a prática deartifícios insolentes e recalcitrantes per-petrados em nome da CAIXA". Na mes-ma decisão, impôs multa pecuniária àprofissional, em afronta ao que dispõe oart. 14, parágrafo único, do CPC, e ao

entendimento sufragado pelo SupremoTribunal Federal no acórdão proferido naADI nº 2652. Além disso, segundo o do-cumento, o juiz lançou ameaça de co-metimento de crime de desobediênciajudicial capitulado no art. 330 do CPB,caso não houvesse o cumprimento desua sentença.

Nenhuma espécie desubmissão

No ofício, a ADVOCEF lembra que nojulgamento do Pedido de Providências nº0000749-61.2011.2.00.0000 o Conse-

lho Nacional de Justiça expediurecomendação aos tribunaispara os juízes se absterem deameaçar ou mandar prender ad-vogados públicos federais e es-taduais diante de casos dedescumprimento de decisõesjudiciais dirigidas aos gestoresdas autarquias e fundações. Afundamentação, ressalta aADVOCEF, se aplica igualmenteaos advogados da CAIXA, naqualidade de procuradores de

empresa pública federal integrante daAdministração Pública Indireta.

"É certo que não podemos aceitarqualquer espécie de submissão impostapor magistrados, pelo que devemos ado-tar todas as medidas necessárias à defe-sa das nossas prerrogativas enquanto ad-vogados", afirma o diretor Pedro Jorge.

O presidente da OAB/PE, HenriqueMariano, e a vice-presidente, CatarinaAlmeida, que receberam os advogadosda CAIXA, afirmaram que logo darão notí-cias sobre o processo de desagravo queserá instaurado.

Eleições na ADVOCEFAdvogados da CAIXA escolhem novos diretores, conselheiros e representantes da Associação

17h30. O resultado da eleição será divul-gado até 2 de abril.

O presidente do Conselho Deliberativo,Davi Duarte, chama a atenção para a im-portância do assunto, uma vez que o re-sultado diz respeito a todos os advogadosda CAIXA. Além da renovação dos cargosde Presidente, Diretores e membros dosConselhos Deliberativo e Fiscal, ganha re-levo a eleição dos Representantes daADVOCEF nas Unidades Jurídicas, salien-ta Davi.

"Esses colegas estão mais próximos dabase do que os demais dirigentes e têm

papel fundamental na disseminação deinformações, na arregimentação de forçase fornecimento de subsídios aos demaisassociados e à diretoria da ADVOCEF", ex-plica o presidente. "Participe. Inscreva-se,escolha bem e vote", recomenda.

No período de férias, que coincide como do processo eleitoral na ADVOCEF, a Pre-sidência do Conselho Deliberativo será as-sim exercida: de 11/02/12 até 16/02/2012, por Renato Luiz Harmi Hino; de 17/02/2012 até 26/02/2012, por AlfredoAmbrósio Neto; a partir de 27/02/2012,por Davi Duarte.

|||||Advogados do Jurídico Recife/PE, na Seccional da OAB de Pernambuco

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Com o apoio do ministroProcuradores de empresas públicas obtêm o aval do Ministério da Justiça

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O presidente da ADVOCEF, Carlos Cas-tro, e o diretor de Articulação e Relaciona-mento Institucional, Júlio Greve, integrarama comissão de procuradores federais quefoi recebida em audiência pelo ministroda Justiça, José Eduardo Cardozo, em25/01/2012. Acompa-nhados do presidente daOAB nacional, Ophir Ca-valcante, da presidenteda Comissão Nacionalde Advocacia Pública daentidade, Meire LúciaCoelho, e do vice-presi-dente da OAB/DF,Emens Pereira, os advo-gados representantesdas empresas públicasfederais foram pedir oapoio do ministro ao pro-jeto de lei que reconhe-ce a nova carreira.

"Foi a mais importante audiência e domais forte apoio que a categoria obteve atéo presente momento", definiu o diretor Jú-lio Greve. Para ele, o ministro, efetivamen-te, se mostrou interessado em auxiliar noencaminhamento do projeto que cria a car-reira dos Procuradores em Empresas Públi-cas Federais. "Lembrou, inclusive, da suaparticipação no Congresso da ADVOCEF, emAracaju/SE, em 2009, quando lá palestroue, de certa forma, comprometeu-se com acausa dos advogados das empresas públi-cas federais", conta Júlio.

"Importantíssima reunião", confirma opresidente da ANPEPF, Otávio Rocha San-

tos. "Para iniciar o ano de 2012, nada comoefetivar passos seguros em direção àconcretização de nossa causa", comemo-ra. Ele diz que o objetivo é que a regula-mentação da carreira venha pelo próprioPoder Executivo.

ça receber os advogados de empresaspúblicas abre a perspectiva de se discu-tir, em conjunto com o ministro da Advo-cacia Geral da União, Luiz Inácio Adams,a viabilização de um plano de carreirapara essa categoria. O ministro Cardozo

mostra-se, como sempre,um amigo da advocaciapública brasileira.Estamos felizes com a ex-pectativa de que as por-tas estão abertas para odiálogo".

O ministro sugeriuque fosse encaminhado,inicialmente, um projetode forma restrita, comapenas algumas defini-ções sobre o assunto. "Se-ria o primeiro passo, que,se assim apresentado,

não sofreria maiores objeções. Ele mes-mo observou que para alcançar nosso ob-jetivo seria necessário 'subir um degrauda escada de cada vez'", diz Júlio Greve.Acrescenta que o ministro se colocou àdisposição da ANPEPF para o acompa-nhamento do projeto junto ao Executivo,bem como perante o Legislativo, ondeexerceu mandato de deputado federalpor oito anos.

No fechamento desta edição, uma in-formação divulgada pelo presidente daANPEPF dava razão ao otimismo geral:está marcada reunião com o ministro daAGU, Luiz Inácio Adams, para 27 de feve-reiro, às 17h.

|||||Audiência: advogados públicos federais ganham apoio do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo

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Uma força espetacularO otimismo aparece também nos pro-

nunciamentos dos outros participantes daaudiência. O vice-presidente da OAB/DF,Emens Pereira: "O ministro é conhecedorprofundo dessas causas públicas e é umaforça espetacular na caminhada pela bus-ca do reconhecimento da categoria. Nossagestão assumiu o compromisso de apoiara luta, que já é antiga, dos advogados deempresas públicas, e o encontro de hoje écertamente valioso para o êxito das ques-tões apresentadas".

O presidente da OAB nacional, OphirCavalcante: "O fato de o ministro da Justi-

O que é advocacia públicaEm 2009, o então deputado fede-

ral José Eduardo Cardozo (PT/SP), pro-fessor de Direito Administrativo da PUC/SP, procurador do município de São Pau-lo desde 1982, palestrou no XV Congres-so da ADVOCEF, em Aracaju/SE. Sua par-ticipação foi a mais comentada e elogia-da do evento, especialmente por seuposicionamento sobre os temas essen-ciais da advocacia da CAIXA. "Vocês sãoadvogados públicos", afirmou o deputa-do. Na época, ele era presidente da Fren-te Parlamentar dos Advogados Públicos.

Veja trechos da palestra.

"Está claro e indiscutível que nos mar-cos do Direito brasileiro as empresas esta-tais, isto é, as empresas que o Estado cria,seja para prestar serviço público, seja paraexplorar atividade econômica, embora se-jam criadas sob o regime de Direito priva-do, são administração pública, como sãotambém as autarquias. Se dirá: mas isto émeramente conceitual? Não. Porque a pró-pria Constituição manda aplicar a estas em-presas os princípios jurídicos próprios doDireito comum. Ou seja, as empresas esta-tais são constituídas sob os princípios doconcurso público, estão submetidas aos

princípios da licitação. As empresas esta-tais, como regra (mas há exceções) es-tão submetidas ao teto de remuneraçãodo serviço público."

"No mundo privado o advogado

atua na defesa e no interesse da parte.O advogado público atua em duas di-mensões. Ele atua na dimensão da de-fesa e do interesse da pessoa paraquem trabalha, mas na medida em queesse interesse secundário está subor-dinado ao interesse público. Ele é umdefensor da lei. Ele é um defensor do

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da Frente Parlamentar deAdvogados Públicos eu osconsidero como tendo oapoio total desta Frentenas reivindicações, naslutas e nos caminhos queadotarem."

[Em resposta à

advogada Anna Claudia deVasconcellos, então dire-tora de Negociação daADVOCEF, que pediu suaopinião sobre o projetoincipiente de criação daProcuradoria de EmpresasPúblicas Federais:] "Exce-lente ideia. O ideal seriaestimular essa organiza-ção. É evidente que as em-presas públicas federais,

do ponto de vista do seu Jurídico, têmalguns interesses comuns, que são daprópria instituição. (...) Parabéns pela ini-ciativa."

[Recomendando reuniões, congres-

sos, etc.:] "Não temos que esperar só aação de governo, nós temos que forçar aação de governo. Todo governo, por maisbem intencionado que seja, é um foco dedisputa política. Quando você governa,além de seu programa, geralmente vocêresponde onde o calo mais aperta. Eu fui

secretário de governo na Prefeitura deSão Paulo e tinha um monte de ideias.Muitas delas ficaram no arquivo, nãoporque eu tenha desacreditado delas,mas porque o calo apertava em outradireção. Então, nós temos que fazer ocalo apertar."

[Sobre Claudio Lembo, secretário

municipal no governo de Jânio Quadros,entre 1986 e 1989:] Aprendi muito comele. Ele adorava conviver com contrári-os. Ele me nomeou como assessor téc-nico dele, mesmo sendo petista. "Por-que eu gosto de ouvir quem não pensacomo eu. Pra ouvir quem pensa comoeu tenho a mim próprio." Num momen-to de forte pressão por salários, ele dis-se: "Salário não vai ter. Por que vocêsnão criam uma Procuradoria?" "Comoassim?" "Criem uma Procuradoria, umórgão autônomo." Lembro que eu lhefalei: "Dr. Lembo, o senhor está queren-do enganar a gente, não é?" E ele:"Tolinho, hoje vocês não vão conseguir,o prefeito não vai aceitar. Criem as con-dições para o futuro." A história demons-trou a verdade: criamos naquele mo-mento a Procuradoria Geral do Municí-pio de São Paulo, subordinada ao se-cretário, mas com uma série de garanti-as institucionais. Hoje, o procurador domunicípio de São Paulo é uma das car-reiras mais bem remuneradas do país."

estado de direito. En-quanto que nas relaçõesprivadas comuns o ad-vogado privado atua nointeresse da parte e o in-quilino da Justiça é dadopelo juiz, o advogado pú-blico tem um quê depromotor, um quê dejuiz, porque ele é umaconsciência interna doórgão, porque o órgão ea pessoa devem visar asatisfação do interessepúblico."

"Vocês são advoga-

dos públicos, não sãoadvogados privados co-muns. Atuam para umaempresa que é da admi-nistração pública, que tem que respei-tar a lei, que, portanto, tem que ser res-peitada do ponto de vista das decisõesinternas, em que a lei deve ser cumpri-da. É uma empresa que tem que serpensada sob a lógica do Estado e nãoexclusivamente da lógica privada dacompetição, embora a Constituição ossubmeta ao regime privado. E é nessecontexto que vocês estão inseridos ecomo tal devem se posicionar. Eu nãotenho a menor dúvida: vocês são ad-vogados públicos. E como presidente

|||||José Eduardo Cardozo: sua palestra noXV Congresso da ADVOCEF, em 2009, ainda

é lembrada pelos advogados da CAIXA

| Registro

Aposentadoria do juizApós 24 anos de atuação na Justiça

Federal de Goiás, aposentou-se, em 11de janeiro de 2012, o juiz Carlos Humbertode Sousa, titular da 3ª Vara Cível deGoiânia. Matéria veiculada no site do TRFda 1ª Região destaca que o magistrado,de temperamento independente, foi umdos primeiros a liberar a poupançaconfiscada no governo Collor para cida-dãos necessitados e doentes terminais.

Oriundo da advocacia da CAIXA, omagistrado "construiu uma bela históriana magistratura federal, notadamentepelo seu estilo de sentenciar como se es-tivesse dando uma verdadeira aula de Di-reito", depõe o advogado AlfredoAmbrósio Neto, do Jurídico Goiânia/GO.

Juiz Carlos Humberto de Sousa, ex-advogado da CAIXA, se aposenta em Goiânia

"Aprendi muito com ele e sou muito gratopor ter sido sempre bem atendido nasdemandas enfrentadas enquanto advo-gado da CAIXA", declara Alfredo Neto.

O advogado aposentado Neri Gonçal-ves conheceu o juiz quando ambos in-gressaram como concursados no Jurídi-co da CAIXA em Goiânia, em 1984. "Elesempre se mostrou amigo dos colegasde nossa Empresa, profissionais ou não,aberto e acessível a todos", atesta Neri."O Dr. Carlos Humberto dignificou e aquihonrou a Magistratura federal por déca-das. Suas decisões se revestiam de umanseio qualificado de distribuição de jus-tiça, sem se importar com a eventual con-trariedade aos interesses de quem quer

que fosse, o que revelava sua coragem eindependência."

|||||Carlos Humberto: amigo dos advogados da CAIXA

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Suprema vitória do CNJJu

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ário

O presidente CarlosCastro e o diretor de Ar-ticulação e Relaciona-mento Institucional Jú-lio Greve representa-ram a ADVOCEF no atopúblico em defesa doConselho Nacional deJustiça, realizado em31/01/2012. Cerca de300 pessoas compare-ceram ao evento orga-nizado pela OAB, emsua sede em Brasília.Para Júlio Greve, o atode alguma forma contri-buiu para o resultado vi-torioso no julgamento do Supremo Tribu-nal Federal da ADI 4638, proposta pelaAssociação dos Magistrados Brasileiros(AMB) para limitar poderes do CNJ.

Na avaliação do diretor, o ato "mos-trou o empenho e o esforço da nossaentidade maior em congregar a socieda-de civil organizada em defesa da preser-vação do mais amplo poder do CNJ nacoordenação, planejamento, supervisãoadministrativa e, especialmente, na com-petência originária e concorrente para in-vestigar magistrados".

Júlio Greve destacou, na abertura, a"enfática e brilhante defesa da amplitu-de de atuação do CNJ" feita pelo presi-dente do Conselho Federal da OAB. Dis-se Ophir Cavalcante: "Estamos conven-cidos de que isso pode ser feito sem anecessidade de incitar atitudesrevanchistas ou irresponsáveis, nem ge-neralizar as denúncias de condutas cri-minosas que, acreditamos, são pontu-ais e localizadas. Queremos tão-somen-te que continue o CNJ farol da Justiça,conquista republicana em perfeitasintonia com os interesses do povo, aquem em última análise a democraciapresta contas".

Prestigiaram o evento dois ex-minis-tros da Justiça (Nelson Jobim e MiguelReale Júnior), diversos parlamentares devários partidos, presidentes de pratica-mente todas as Seccionais da OAB, ad-vogados, líderes e representantes deentidades corporativas.

Em seu discurso, o senador PedroTaques (PDT-MT) ironizou a decisão do mi-nistro Marco Aurélio, que havia definido aatuação do CNJ como subsidiária: "Nestepaís, que adora mudar os nomes, mas nãoas coisas, amante virou marido subsidiá-rio, o roubo virou forma subsidiária de ad-quirir a propriedade e o Conselho que fis-caliza o Judiciário, um conclave que nãopode conhecer das coisas enquanto ou-tros não a conhecerem e, quem sabe, mal-tratarem".

Ainda há juízesem Brasília

Em sessão de 2 de fevereiro, o STFdecidiu, por 6 votos a 5, que o CNJ é com-

petente para receber e jul-gar reclamações contramagistrados por descum-primento de deveres fun-cionais. Nessa missão,para a qual foi criado em2004, concorre com ascorregedorias estaduaisde Justiça, sempre quejulgar necessário.

Em maioria, os minis-tros Joaquim Barbosa,Cármen Lúcia, AyresBritto, Rosa Weber, GilmarMendes e Dias Toffoli res-tabeleceram a competên-cia do CNJ e correspon-

deram às expectativas gerais da nação.Foram vencidos os ministros Marco Auré-lio, Ricardo Lewandowski, Cezar Peluso,Luiz Fux e Celso de Mello.

A satisfação do advogado e profes-sor Miguel Reale Júnior, ex-ministro daJustiça, transpareceu no título de seu ar-tigo publicado no jornal O Estado de S.Paulo, "Ainda há juízes em Brasília", para-fraseando famosa expressão de um mo-leiro diante do rei da Prússia, em contoda literatura francesa. Para Reale, duasrazões motivaram a maioria dos minis-tros: "a clareza da Constituição e o rançocorporativista de muitos tribunais em fa-vor de seus membros". No julgamento, oministro Gilmar Mendes comentou: "Até

O Judiciário é da naçãoMarMarMarMarMarcelo Dutra Victcelo Dutra Victcelo Dutra Victcelo Dutra Victcelo Dutra Victororororor, dire, dire, dire, dire, diretttttor de Negociação Coleor de Negociação Coleor de Negociação Coleor de Negociação Coleor de Negociação Coletivtivtivtivtiva da ADa da ADa da ADa da ADa da ADVVVVVOCEFOCEFOCEFOCEFOCEF

"O CNJ tem sido o grande artífice de uma mudança social.Espera-se que com isso a falta de transparência no Judiciário dei-xe de fazer parte do imaginário popular e os membros deste Podertomem consciência que não estão acima do bem e do mal.

Em sua condição de serviço público também a Justiça eseus atores têm o dever de prestar contas a essa sociedadepara a qual prestam serviços.

Como os órgãos de controle dos tribunais nunca atende-ram a expectativa social de moralização, era preciso que o CNJ

fosse o bastião dessa empreitada, pois a credibilidade de qualquer Poder é direta-mente proporcional à sua transparência.

Eliana Calmon: 'O Judiciário não é dos juízes, é da nação'."

|||||Ato na OAB em 31/01: contribuição dos advogados para o movimento

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Campanha nacional mantém poderes amplos do Conselho Nacional de Justiça

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as pedras sabem que as corregedoriasnão se mexem quando se trata de inves-tigar os próprios pares".

Para o colunista político do Jornal doBrasil Mauro Santayana, a decisão seconforma ao novo desenho do poder na-cional. "Aceitem os excelsos pensado-res acadêmicos, que refletem o interes-se das elites oligárquicas, a verdade deque, mal ou bem, com as infecções mo-rais aqui e ali, o povo brasileiro está cons-truindo nova sociedade nacional."

Santayana inclui o episódio no mo-vimento histórico que combate a rea-ção. "Não podemos perder essa vitória,aparentemente menor, mas essencial.Os juízes venais e corruptos sabem queestão sujeitos, de agora em diante, aopoder do CNJ. E, o mais importante:esse poder poderá ser provocado pelasimples representação de qualquer ci-dadão brasileiro que assim se identifi-car junto ao Conselho."

Também para o desembargador fe-deral aposentado Vladimir Passos deFreitas, de uma forma ou de outra o jul-gamento do STF deu nova feição à Jus-tiça. "A começar pela conclusão de quefindou o tempo em que o Poder Judiciá-rio era imune a qualquer controle da so-ciedade, podendo agir como entendes-se, sem dar satisfações a ninguém. Istoacabou."

O poder emana do povoDe outro lado, o desembargador

aponta a "divergência profunda" reve-lada na decisão dos 11 ministros do STF.

"Dos vencidos, espera-se a humildadeque caracteriza os grandes homens,para o fim de adaptarem-se ao enten-dimento majoritário. Isto não é comumno Poder Judiciário." Vladimir acha queo STF daria um grande exemplo de gran-deza se os ministros vencidos aderis-sem à posição vencedora, mesmo res-salvando seu ponto de vista pessoal.

O desembargador diz que é precisoreconhecer o mérito da ministra ElianaCalmon, corregedora nacional, de ter

A imagem evocada em meu espíri-to sobre questão posta no Supremo, re-ferente aos limites da competência doCNJ, são os antigos filmes de faroesteamericano, em especial aqueles de con-flito entre criadores de gado e agricul-tores.

Essas histórias giram em torno daliberdade gozada pelos que chegaramprimeiro e ocuparam os espaços comsua cultura, seus valores, quando sãoquestionados por valores e culturas di-versas dos novos intrusos.

O criador de gado quer a liberdadede transitar com sua manada de um

Faroeste americano Estanislau Luciano de Oliveira (*)pasto para outro; não quer, nem entendelimitações a esse direito.

O agricultor deseja que seu esforçonão seja pisoteado, comido pelo gado;se garante com cercas de arame.

É o caso típico de lide: interessesopostos em conflito.

Do mesmo modo é que vejo o con-fronto sobre os limites de competênciado CNJ. De um lado há os que almejama imposição de freios eficientes aosmembros do Poder Judiciário, visandocoibir os abusos e garantir os ideais de-mocráticos da sociedade; de outro ladohá os que estão satisfeitos com a situa-ção posta, argumentando que a vigilân-cia externa sobre o Poder Judiciário éum ilícito que põe em risco as liberda-des democráticas e que compete aospróprios órgãos locais a fiscalização deseus vícios.

O conflito entre os grupos, em tornoda competência do CNJ, ocorre porqueesse órgão começou a exercer uma com-petência que, se é de outros, não atingiasatisfatoriamente aos anseios sociais.

Não importa qual seja o resultado. Oque importa é que a discussão ocorre deforma civilizada e valoriza nossas insti-tuições. Mas tenho certeza que, entre

outros benefícios, o CNJ sairá fortaleci-do desse embate.

Certo é que a sociedade clama porinvestigações e sanções eficientes so-bre aqueles que, no Poder Judiciário,atuam em benefício próprio, ou em pre-juízo dos valores sociais postos. Nãocreio que o CNJ atenderá a essa expec-tativa, mas é um avanço à realidadeanterior e demonstra a existência defalhas na estrutura dos órgãos da Re-pública, os quais podem e devem sermelhorados.

Quando se firmar a competênciado CNJ, ganharemos todos, pois a soci-edade poderá dispor de mais uma ins-tituição voltada à defesa de seus valo-res, aqui considerados os consagradosna Constituição e legislação vigente.

Ficaremos mais próximos dos ide-ais de uma sociedade justa.

Essa discussão em torno do CNJ,em suma, é apenas mais um passo embusca da paz social, não é um ponto dechegada, mas é um esforço legítimo eimportante para o aperfeiçoamento dasestruturas democráticas no Brasil.

(*) Advogado da CAIXA em(*) Advogado da CAIXA em(*) Advogado da CAIXA em(*) Advogado da CAIXA em(*) Advogado da CAIXA emBrasília. 2º tesoureiro daBrasília. 2º tesoureiro daBrasília. 2º tesoureiro daBrasília. 2º tesoureiro daBrasília. 2º tesoureiro da

ADADADADADVVVVVOCEFOCEFOCEFOCEFOCEF.....

Artigo

|||||John Wayne: nos tempos do velho Oeste

|||||Ministro Gilmar Mendes: até as pedrassabem do corporativismo

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/STF

|||||Ministra Eliana: recebeu carta da ADVOCEF, pelagalhardia em defesa da causa

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Fevereiro | 20128

| Crônica

Outro dia fui instada por um colega aelaborar um pequeno texto sobre minhasexpectativas/perspectivas para 2012. Vi-eram-me muitas ideias e fatos, mas depoistambém não me faltaram questionamentospessoais. Este assunto rendeu tanto naminha mente que acabei deixando "paradepois". Enfim, o depois chegou e agora, apoucos dias da chegada da Luísa (não doCanadá, mas sim da minha barriga!), pen-so ser esta a hora ideal. Ideal para relembraro passado e assim conectá-lo com essefuturo que me espera.

2011 foi um excelente ano, aliás,como todos têm sido para mim: aprendi-zado, maturidade, desenvolvimento es-piritual e consciên-cia da plenitude detodas as graças ad-quiridas. Poisbem, voltando umpouquinho no tem-po, às vésperas decompletar três anos de casada (dezem-bro/2010), nada melhor do que dar umpasso a mais na relação e assumir a res-ponsabilidade por uma vida... Decidimosentão tentar...

Melissa dos Santos Pinheiro (*)A expectativaAlguns meses depois (maio/2011),

o tão esperado exame positivo chegou,um dia após meu aniversário e uns 15dias após ter assumido uma função naEmpresa (sim, porque também me sentipreparada para esta tarefa no ambientede trabalho. Acho que já era meu ladomaternal desabrochando).

Felicidade total, as expectativas de to-dos (claro, porque depois de uns aninhos decasado a pressão para aumentar a família égrande) e principalmente minha e do meumarido foram atingidas em sua plenitude.Gravidez tranquila, sem absolutamente ne-nhum problema... Os meses se passaram eeis me aqui, com exatas 39 semanas...

Peraí, como as-sim? A minha bebêjá tá prontinha prasair do forno!? Seráque vamos conse-guir criá-la bem!?Será que estamos

realmente preparados?! Mas nem termi-namos de ler os 32 livros que nos indica-ram (como fazer o bebê dormir, como edu-car o filho, como lidar com o bebê, comoser um pai do século XXI, etc., etc.)...

A ansiedade chega ao limite e as dú-vidas são inúmeras... A tranquilidade pas-sada pelos nossos pais neste momentoé fundamental: Ah, agora acabou a folga,nunca mais vai dormir novamente, preo-cupação pra vida toda, vai sentir o quepapai sentiu e sente até hoje com vocês...

E aqui eu lembro da pergunta daADVOCEF em Revista: quais minhas ex-pectativas!??! Ah, ADVOCEF, são tantas,mas neste momento só me vem umacoisa à cabeça: Me dá uma licencinha,que eu vou bem ali ser mãe e já volto!

(*) Advogada da CAIXA em Porto(*) Advogada da CAIXA em Porto(*) Advogada da CAIXA em Porto(*) Advogada da CAIXA em Porto(*) Advogada da CAIXA em PortoVelho/RO. Mãe da Luísa, queVelho/RO. Mãe da Luísa, queVelho/RO. Mãe da Luísa, queVelho/RO. Mãe da Luísa, queVelho/RO. Mãe da Luísa, que

nasceu em 30 de janeirnasceu em 30 de janeirnasceu em 30 de janeirnasceu em 30 de janeirnasceu em 30 de janeiro de 20o de 20o de 20o de 20o de 2012.12.12.12.12.

"Me dá uma licencinha,que eu vou bem ali ser mãe

e já volto!"

apontado o problema. "Em estilo pró-prio, com frases fortes e por vezes es-tranhas ao protocolo, o fato é que elaconseguiu o reconhecimento da inde-pendência do CNJ, valendo-se do apoiopopular. Passa ela, assim, à história doJudiciário brasileiro."

A ministra havia criticado a açãoproposta pela AMB, que pretendia limi-

tar os poderes do CNJ de punir juízes,nestes termos: "a ADI é o primeiro ca-minho para a impunidade da Magistra-tura, que hoje está com gravíssimosproblemas de infiltração de bandidosque estão escondidos atrás da toga".

Após a decisão do STF, ElianaCalmon declarou: "Como cidadã brasi-leira, estou orgulhosa de ver essa movi-mentação. E isso tudo foi ocasionadopelo próprio STF que, numa atitude devanguarda e de prudência, adiou por 13vezes a votação para que fosse possí-vel à sociedade discutir, se assenhoreare amadurecer as ideias".

Segundo o diretor de NegociaçãoColetiva da ADVOCEF, Marcelo DutraVictor, merece ser destacada a partici-pação da cidadania nas redes sociais,nos meios acadêmicos e em todas asrodas da sociedade apoiando a minis-tra Eliana Calmon contra o enges-samento que se pretendia promover no

CNJ. "O que acabou engessado foi ocorporativismo secular que permeavao Poder Judiciário."

Marcelo diz que fica demonstradoo amadurecimento do país e o fortale-cimento do jargão contido na Constitui-ção, indicando que "o poder mais do quenunca emana do povo".

A ADVOCEF aderiu à luta pelo CNJdesde o início. Em outubro do ano pas-sado, o presidente Carlos Castro envioucorrespondência à ministra Eliana dan-do apoio à "causa defendida com galhar-dia por Vossa Excelência, que é a causade todos os brasileiros que buscam ajustiça em seu pleno valor, equilibrada,correta, eficaz e, sobretudo, justa".

Após o julgamento no STF, a minis-tra Eliana confessou ao site do CNJ quese emocionou a cada voto proferido.Perguntada sobre o que ia fazer daí emdiante, disse: "Vou dormir, porque nãodurmo há três meses".

Judi

ciár

io

|||||Carlos Castro: a Justiça equilibrada e, sobretudo, justa

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Fevereiro | 2012 9

A mensagem é recuperarA

ção

GETEN divulga melhores práticas para a recuperação de créditos

Mensagem recente da GerênciaExecutiva de Recuperação de Crédito/GETEN disponibilizou aos gerentes jurí-dicos da CAIXA uma série de �melhorespráticas�, para serem �amplamente dis-seminadas e empregadas�. Segundo ogerente executivo Jean Pablo de PaivaLopes, elas são fruto do trabalho dosmembros da 8ª Comissão Temática Na-cional de Recuperação de Crédito e têmo objetivo de unificar e desenvolver aatuação da área.

Jean faz questão de salientar que osucesso da recuperação de crédito de-corre da lida diária do advogado CAIXA,�que �esfrega a barriga no balcão�, dis-cute acordo na sala de audiência,despende tempo com a leitura dosDAPs e de autos emboloradose, alémdisso,tem queter tempo paramanter-se atuali-zado�. Para o gerente,�essa é a cara da recuperação decrédito�.

O diretor de Honorários da ADVOCEF,Álvaro Weiler, elogiou a iniciativa, desta-que entre as medidas �capazesde incrementar os resultados na área derecuperação de crédito�. Álvaro põe nes-se nível as mensagens que chegam aosadvogados através da corrente da recu-peração de crédito (e-mails que circulamentre advogados previamente cadastra-dos). �Tais informações são extrema-mente importantes para a divulgação dasmelhores práticas, padronização das es-tratégias de atuação e estímulo aoscolegas na consecução do objetivo, queé justamente a efetividade e o aumentoda recuperação de crédito�, afirma o di-retor.

Veja a seguir quais foram os pontosreferidos na mensagem enviada pelaGETEN/Recuperação de Crédito aos ge-rentes jurídicos da CAIXA.

Ações de busca eapreensão

�Nas AÇÕES DE BUSCA E APREEN-SÃO, ocorrendo a apreensão do bem ali-enado fiduciariamente, na ausência dapurga da mora no prazo de cinco diasdo cumprimento da liminar,a propriedade consolida-se em favor docredor/CAIXA. Orientamos pela imedia-ta venda por meio de leilão (indepen-dente de autorização judicial), combase no art. 3º, §1º do DL 911/69.

Alienação fiduciária narecuperação judicial�O credor titular da posição de pro-

prietário fiduciário de bens móveis ouimóveis, após seis meses do deferimen-to da recuperação, pode retomar o bemou imitir-se na posse. Saliente-se o ca-ráter extraconcursal de tais créditos,motivo pelo qual não sofrem os efeitosda recuperação (art. 49, § 3º, da Lei nº11.101/05). Orientamos peticionarjunto ao juízo da recuperação, reque-rendo a remoção dos bens móveis ou

imissão na posse do imó-vel; não resolvendo,

propor ação debusca e apre-ensão ou deimissão naposse peran-te a JustiçaFederal.�

A suspensão previstano art. 6º

�Na RECUPERAÇÃO JUDICIAL, a sus-pensão prevista no art. 6º, § 4º, da Leinº 11.101/95, para cobrança dos cré-ditos, em hipótese alguma excederá oprazo improrrogável de 180 (cento e oi-tenta) dias contado do deferimento doprocessamento da recuperação, resta-belecendo-se, após o decurso do pra-zo, o direito dos credores de iniciar oucontinuar suas ações e execuções, in-dependentemente de pronunciamentojudicial. Orienta-se que os Jurídicospeticionem defendendo o direito daCAIXA sempre que o Juízo da Recupera-ção permanecer com a paralisaçãoalém do prazo legal de 180 dias.�

Falência do devedordo FGTS

�Em caso de FALÊNCIA DO DEVE-DOR DO FGTS, com Execução Fiscal emcurso ou a ajuizar, o advogado deve re-

Caso persista dívida, mesmo após oleilão do bem alienado fiduciariamente,a cobrança do valor remanescente deveser feito por meio de AÇÃO MONITÓRIA.As despesas com o leilão devem seracrescidas no valor cobrado.

Na ocasião do leilão do bem apre-endido, há necessidade de notificaçãodos coobrigados para acompanharema alienação, mesmo que por mera car-ta com AR, sob pena de exclusão doscoobrigados no polo passivo da futuraação monitória para cobrança de saldoremanescente.�

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Fevereiro | 201210

querer, com amparo no art. 29 da Lei nº6.830/80 e na Súmula 244 TFR (anti-go Tribunal Federal de Recursos), pe-nhora no rosto dos autos da falência. Ocrédito tributário cobrado através deexecução fiscal não se sujeita à habili-tação, prosseguindo a execução nospróprios autos, cabendo a penhora norosto dos autos.

Recomendamos apresentar novocálculo para requerer penhora no rostodos autos da falência. Esse novo cálcu-lo deve ser elabo-rado da seguinteforma: retirar aMULTA do valorcobrado (Súmulas192 e 565 doSTF); são devidosJUROS apenas noperíodo anteriorà quebra; após adecretação da fa-lência os JUROSsão indevidos; aCORREÇÃO MONE-TÁRIA é devida.

Nos autos dafalência deverá ser requerida a classifi-cação do crédito do FGTS como de na-tureza trabalhista, nos termos do art.2º, §3º da Lei 8.844/94, uma vez quese trata de direito do trabalhador, pre-visto no inciso III do art. 7º da Constitui-ção Federal.�

Embargos do executado�Nas demandas judiciais de recu-

peração de crédito em geral, os EMBAR-GOS DO EXECUTADO não têm efeitosuspensivo. Por conta disso, o advoga-do deve recorrer de decisões que con-cedam efeito suspensivo e que não pre-encham os requisitos do art. 739-A,§1º, do CPC. O advogado também deverequerer a venda judicial do bem obje-to de penhora ou arresto. Caso sejaconcedido efeito suspensivo aos em-bargos, deverá ser observado o art. 670do CPC, sempre que houver ameaça dedeterioração ou perda de seu valor (con-forme item 3.1.3 do AE 018, sob o títu-lo ATUAÇÃO DO ADVOGADO).�

Certidão prevista noartigo 615-A

�Os advogados devem fazer usoostensivo da CERTIDÃO PREVISTA NO

ARTIGO 615-A DO CPC para fins deaverbação junto às matrículas dosimóveis dos devedores e perante oDETRAN. Lembrando que, após con-clusão da averbação, cabe ao advo-gado comunicar tal fato em juízo, nostermos do §1º do art. 615-A do CPC.�

Falecimento do devedor�Nas demandas judiciais da recu-

peração de crédito onde se constata oFALECIMENTO DO DEVEDOR com

patrimônio, sugeri-mos adotar os se-guintes procedi-mentos, conformeo caso:

a) Havendo in-ventário e o créditoé liquido � a CAIXAdeve habilitar o cré-dito no inventário.

b) Havendo in-ventário e o créditoé ilíquido � a CAIXAdeve propor açãoMONITÓRIA ou OR-DINÁRIA para liqui-

dar e posteriormente habilitar o seu cré-dito no inventário (v.g. contratos de CROTou DESCONTO DE DUPLICATA onde o cré-dito da CEF é ilíquido, onde deve ser pro-posta MONITÓRIA). Concomitantemente,o advogado deve peticionar nos autosdo inventário noticiando e comprovan-do a existência da ação MONITÓRIA ouORDINÁRIA requerendo reserva de bens;

c) Não havendo registro de inventá-rio instaurado, mas informações acer-ca da existência de bens, deve ser cita-do o Administra-dor provisório(arts. 985 e 986do CPC) que, con-soante reman-sosa jurisprudên-cia, recai no côn-juge supérstite dode cujus ou de-mais arroladosno art. 1.797 doCCB.

d) Havendopartilha deveocorrer substitui-ção do polo pas-sivo pelos herdeiros, lembrando o dis-posto no art. 1.997 do CC (os herdeiros

só respondem cada qual na proporçãoda parte que recebeu de herança).�

Inventário em Cartóriode Notas

�Na hipótese de inventário realiza-do em Cartório de Notas, orientamosos advogados a consultar nos Tribunaisde Justiça locais a existência de inven-tário extrajudicial, através dos meca-nismos de pesquisa criados em aten-dimento ao Art. 10º da Resolução 35do CNJ, de 24/04/2007. Não possuin-do o Tribunal tal mecanismo, instá-lo,através da Corregedoria, a adotar asmedidas adequadas para concentrarinformações e possibilitar as pesqui-sas, em atendimento à determinaçãodo CNJ.�

Ajuizamento�Orientamos que as ações judiciais

de recuperação de crédito podem serinstruídas somente com fotocópias dosdocumentos, sem necessidade de au-tenticação, ressalvados os títulos decrédito (v.g. CCB) e as habilitações nasRecuperações Judiciais (§ único do art.9º da Lei 11.101/05), casos em que asiniciais deverão ser instruídas, obriga-toriamente, com os originais.�

Prescrição dos contratosde trato sucessivo

�O termo inicial para contagem doprazo prescricional dos contratos de tra-to sucessivo, segundo precedentes doSTJ, dá-se a partir da data ordinariamen-te prevista para vencimento da últimaparcela, eis que o devedor não pode se

beneficiar do venci-mento antecipadoda dívida, que, na ver-dade, é uma faculda-de do credor. Estatese deve ser utiliza-da para sustentar oajuizamento de cré-ditos supostamentejá prescritos, não de-vendo ser utilizadacomo regra geral. Aregra geral para con-tagem de prescrição,para fins de ajuiza-mento, continua sen-

do a data em que ocorreu o inadimple-mento do contrato.�

O diretor de Honorários daADVOCEF, Álvaro Weiler,

elogiou a iniciativa,considerando que está

entre as medidas "capazesde incrementar os

resultados na área derecuperação de crédito".

"O sucesso da recuperaçãode crédito decorre da lidadiária do advogado CAIXA,que 'esfrega a barriga nobalcão', discute acordo

na sala de audiência,despende tempo com a

leitura dos DAPs e de autosembolorados."

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Fevereiro | 2012 11

Sem medo de ousarAdmitido na CAIXA em 2004,

Jean Pablo de Paiva Lopes transfe-riu-se do Rio de Janeiro para BeloHorizonte em 2006, onde trabalhounos feitos diversos e na recuperaçãode crédito. Em 2009 tornou-se res-ponsável pelo acervo relevante derecuperação de crédito. Acompa-nhou a estruturação da área noJURIR/BH e a gradual internalizaçãodos processos terceirizados. ApósProcesso Seletivo Interno, Jean Pabloassumiu, em setembro de 2011, aGerência Executiva da Recuperaçãode Crédito.

"Interessante que a progressivaestruturação da recu-peração de créditonos Jurídicos foi acom-panhada pelo aumen-to de arrecadação ju-dicial dos créditos daCAIXA", observa o ge-rente. Ele considera aterceirização uma fer-ramenta estratégica,que deve ser utilizadaquando for do interes-se da CAIXA.

E n t u s i a s m a d ocom o desafio, Jeancita uma frase queouviu de um coleganos primeiros dias deBrasília: "Não tenhamedo de ousar". Paraele, "tem servido de mantra e de pro-messa de que o trabalho a ser reali-zado é possível".

Leia trechos da entrevista.

ADADADADADVVVVVOCEF EM REVISOCEF EM REVISOCEF EM REVISOCEF EM REVISOCEF EM REVISTTTTTAAAAA - Comoavalia a importância da área de re-cuperação de crédito para a CAIXA?

JEAN PJEAN PJEAN PJEAN PJEAN PABLABLABLABLABLOOOOO - O Brasil é a sextamaior economia do mundo. A CAIXAé a quarta maior instituição financei-ra do País. O principal produto de umbanco é o crédito. Daí dá paramensurar a importância e a grande-za da área de recuperação de crédi-to da CAIXA.

O crédito é essencial para o de-senvolvimento. Sem ele não existi-

ria o bom momento de crescimentoeconômico e social que o Brasil expe-rimenta. Não precisa nem dizer a im-portância que um banco público comoa CAIXA está desempenhando nestemomento. Basta ver o tsunami decredibilidade que os bancos privadosestão enfrentando na América e naEuropa. Enquanto isso, a CAIXA estáatravessando a crise expandindo seusnegócios, ampliando seus programassociais, aumentando a concessão decrédito para a nova classe média epara as micro e pequenas empresas.

No mais, acredito que uma recu-peração eficiente enseja a redução no

preço do crédito, permitindo a perpe-tuação do ciclo virtuoso de crescimen-to sólido do país.

ADVOCEFADVOCEFADVOCEFADVOCEFADVOCEF - Quais são os seus pro-jetos na Gerência Executiva?

JEAN PJEAN PJEAN PJEAN PJEAN PABLABLABLABLABLO O O O O - Tenho vários proje-tos. Muitos novos, outros nem tanto.Vou apenas citar alguns en passant:

- Aumentar os parâmetros de de-sistência e não ajuizamento;

- Implementar nacionalmente aconciliação pré-processual;

- Segregar as ações de maior vultocom real possibilidade de êxito paratratamento diferenciado;

- Permitir ao advogado da recupe-ração de crédito acesso às redes soci-ais para pesquisa de endereço dos de-vedores;

- Franquear acesso aos advoga-dos da recuperação de crédito a umbanco de dados - diferente do bancode dados da CAIXA - para pesquisade endereço;

- Estamos analisando a possibili-dade de contratar uma empresa es-pecializada em localizar patrimônioe endereço de devedores;

- Aperfeiçoar tecnicamente osadvogados da recuperação de crédi-to, por meio dos novos cursos da Uni-versidade CAIXA;

- Atual izar nossos manuaisnormativos;

- Editar novas súmulas adminis-trativas de dispensade dever recursal;

- Realizar um en-contro nacional dosadvogados da recu-peração de crédito;

- Realizar pelomenos uma Comis-são Temática de Re-cuperação de Créditopor ano;

- Manter a corren-te de recuperação decrédito;

- Criar um banconacional de peças,atualizadas, da recu-peração de crédito;

- Difundir o uso os-tensivo das melhores

práticas para recuperação de crédito.Enfim, serviço é o que não falta.

O desafio é tornar os projetos reali-dades.

ADVOCEF ADVOCEF ADVOCEF ADVOCEF ADVOCEF - Quer observar algomais?

JEAN PJEAN PJEAN PJEAN PJEAN PABLABLABLABLABLO O O O O - Acredito que a re-cuperação de crédito da CAIXA deveser célere, eficiente e sempre abertaà via negocial. Costumo dizer que oadvogado da recuperação de créditoda CAIXA vive no extremo, pois numahora tem de agir de forma agressiva eintransigente na defesa dos interessesda CAIXA, mas ao mesmo tempo deveestar sempre receptivo e aberto a umaproposta de acordo que ponha fim àlide. São dois opostos que têm que seencontrar.

|||||Equipe da GETEN/Recuperação de Crédito: Jean Pablo (no centro),com os advogados Mario e Jucileia

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Fevereiro | 201212

Vale

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"RECURSO ESPECIAL. SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO.PEDIDO DE COBERTURA SECURITÁRIA. VÍCIOS NA CONSTRUÇÃO.AGENTE FINANCEIRO. ILEGITIMIDADE. 1. Ação em que se postulacomplementação de cobertura securitária, em decorrência da-nos físicos ao imóvel (vício de construção), ajuizada contra a se-guradora e a instituição financeira estipulante do seguro. Comu-nhão de interesses entre a instituição financeira estipulante (titu-lar da garantia hipotecária) e o mutuário (segurado), no contratode seguro, em face da seguradora, esta a devedora da coberturasecuritária. Ilegitimidade passiva da instituição financeiraestipulante para responder pela pretendida complementação decobertura securitária. 2. A questão da legitimidade passiva daCEF, na condição de agente financeiro, em ação de indenizaçãopor vício de construção, merece distinção, a depender do tipo definanciamento e das obrigações a seu cargo, podendo ser distin-guidos, a grosso modo, dois gêneros de atuação no âmbito doSistema Financeiro da Habitação, isso a par de sua ação comoagente financeiro em mútuos concedidos fora do SFH (1) mera-mente como agente financeiro em sentido estrito, assim comoas demais instituições financeiras públicas e privadas (2) ou comoagente executor de políticas federais para a promoção de mora-dia para pessoas de baixa ou baixíssima renda. 3. Nas hipótesesem que atua na condição de agente financeiro em sentido estri-to, não ostenta a CEF legitimidade para responder por pedidodecorrente de vícios de construção na obra financiada. Sua res-ponsabilidade contratual diz respeito apenas ao cumprimentodo contrato de financiamento, ou seja, à liberação do emprésti-mo, nas épocas acordadas, e à cobrança dos encargos estipula-dos no contrato. A previsão contratual e regulamentar da fiscali-zação da obra pelo agente financeiro justifica-se em função deseu interesse em que o empréstimo seja utilizado para os finsdescritos no contrato de mútuo, sendo de se ressaltar que o imó-vel lhe é dado em garantia hipotecária. 4. Hipótese em que nãose afirma, na inicial, que a CEF tenha assumido qualquer outra

Jurisprudênciaobrigação contratual, exceto a liberação de recursos para a cons-trução. Não integra a causa de pedir a alegação de que a CEFtenha atuado como agente promotor da obra, escolhido a cons-trutora ou tido qualquer responsabilidade relativa à elaboraçãoao projeto. 5. Recurso especial provido para reconhecer a ilegiti-midade passiva ad causam do agente financeiro recorrente." (STJ,REsp 1.102.539 PE, Quarta Turma, Rel. p/ ac. Min. Maria IsabelGallotti, DJe 06/fev/2012.)

"AGRAVO LEGAL. ARTIGO 557 DO CPC. FGTS. DECISÃO TRANSI-TADA EM JULGADO SEM CONDENAÇÃO DE HONORÁRIOS PELA CEF.POSTERIOR DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 29-C DA LEI N. 8036/90. ART. 5º, XXXVI DA CF. I - O agravo em examenão reúne condições de acolhimento, visto desafiar decisão que,após exauriente análise dos elementos constantes dos autos, al-cançou conclusão no sentido do não acolhimento da insurgênciaaviada através do recurso interposto contra a r. decisão de primeirograu. II - A recorrente não trouxe nenhum elemento capaz de ensejara reforma da decisão guerreada, limitando-se a mera reiteração doquanto afirmado na petição inicial. Na verdade, a agravante buscareabrir discussão sobre a questão de mérito, não atacando os fun-damentos da decisão, lastreada em jurisprudência dominante destaCorte. III - A decisão proferida na fase de conhecimento, e quetransitou em julgado, não condenou a CEF no pagamento de hono-rários advocatícios. IV - O fato de o STF ter declarado inconstitucionalo art. 29-C da Lei nº 8.039/90 não tem o condão de afastar a coisajulgada formal e material que se operou no feito originário. V -Também a lição da doutrina é no sentido de que 'nenhuma justifi-cativa poderá respaldar o desrespeito à Constituição, pois nestareside, exata e verdadeiramente, a segurança jurídica de todosfrente à vontade do Estado, mesmo que esta esteja manifestadaem Ato Judicial' (destaques no original) (in Constituição & Proces-so, Ivo Dantas, Curitiba, Ed. Juruá, 2ª Ed., 2007, p. 581). VI - Agravolegal não provido". (TRF 3, AC 0000901-40.2004.403.6100 SP,Quinta Turma, Rel. Des. Antonio Cedenho, DJe 01/fev/2012.)

Rápidas

Danos morais. Inexistência. Porta Giratória. TRF 4

"O fato de a autora não ter ingressado na agência bancáriaem face do trancamento da porta giratória não configuranenhuma conduta ilícita por parte da ré que possa configu-rar o dano pretendido. O travamento da porta giratória, porsi-só, gera uma reação de desconforto, e a necessidade dedepositar objetos em porta-metais ou de expor conteúdosde bolsas e embalagens, portadas por usuários dos servi-ços bancários, consistem em dissabores do cotidiano,vivenciados pela maioria das pessoas que ingressam, diari-amente, em locais de acesso protegido ou restrito, não sen-do possível elevá-los à categoria de dano moral passível dereparação, uma vez que se trata de uma medida de segu-rança." (TRF 4, AC 5002715-63.2010.404.7102 RS, Quar-ta Turma, Relator p/ acórdão Des. Vilson Darós, DJ 15/set/2011.)

JEF. Competência. TRF 1

"2. A competência do Juizado Especial Federal Cível, de naturezaabsoluta, é definida em razão do valor da causa, a teor do § 3º doart. 3º da Lei 10.259/2001. 3. É irrelevante o grau de complexi-dade da demanda ou o fato de ser necessária a realização deperícia técnica para a caracterização da competência dos JEFs."(TRF 1, CC 0060677-45.2011.4.01.0000 MA, Terceira Seção,Rel. Des. Selene Maria de Almeida, DJe 31/jan/2012.)

Ilegitimidade. ACP. Defensoria Pública. Caderneta depoupança. TRF 1

"3. No caso, porém, há norma constitucional expressa quanto àlegitimidade da Defensoria Pública para a defesa dos direitos einteresses dos que comprovem hipossuficiência econômica, quenão se presume em relação a investidores em cadernetas depoupança." (TRF 1, AC 2007.34.00.018385-5 DF, Quinta Tur-ma, Rel. Des. João Batista Moreira, DJe 16/dez/2011.)

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Fevereiro | 2012

| Vale a pena saber

13

LeituraManual dos Recursos

Autor: Araken de Assis. Editora: RT. 4ª ed. Ano 2012. Págs: 1056.A obra, atualizada recentemente, é dedicada aos recursos civis,

tratando dos temas correlatos aos recursos de forma completa. Inici-almente, trata da teoria geral, onde são abordados os princípios, osjuízos de admissibilidade e de mérito, as condições de admissibilidadee os efeitos. Em seguida o autor aborda os recursos de forma porme-norizada, bem como dos demais meios de impugnação.

Elaboração

Jefferson Douglas Soares e Giuliano D'Andrea.

Sugestões e comentários dos colegas podem ser encaminhadospara os endereços:

[email protected] e [email protected].

"DIREITO PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIO-NAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO EM AGRAVO INOMINADO. LEI MU-NICIPAL. TEMPO DE ESPERA PARA ATENDIMENTO BANCÁRIO. CEF.CONSTITUCIONALIDADE. AGRAVO DESPROVIDO. 1. Conforme de-monstrado, existe jurisprudência consagrada, para respaldo à apli-cação do artigo 557 do Código de Processo Civil: a alegação daagravante de que não existe solidez na jurisprudência envolve juízosubjetivo negativo em torno da validade e força dos julgados daSuprema Corte, que não cabe a este Tribunal acolher dada a auto-ridade dos precedentes firmados e, ainda porque, não indicou aagravante qualquer divergência jurisprudencial a amparar seu pe-dido, assim demonstrando que se trata de controvérsia mesmosuperada no sentido de que é, efetivamente, dos Municípios acompetência para legislar sobre tempo de espera de atendimentoao público nas agências bancárias, bem como sobre a adoção demedidas que viabilizem a norma, não se cogitando, pois, de com-petência cujo exercício viole razoabilidade, proporcionalidade eisonomia. 2. Na jurisprudência, adotada pela decisão agravada,considerou-se que a legislação municipal - aqui, no caso do Municí-pio de São José do Rio Preto, Lei 9.428/05 -, ao dispor sobre operíodo de atendimento interno aos usuários dos estabelecimen-tos bancários, prestigiou o princípio da isonomia, vez que dirigidanão apenas à agravante, como, ainda, igualmente, a todas as agên-cias bancárias daquele Município. O custo da implementação depolíticas de dignidade do consumidor ou da pessoa de uma formageral pode ser alto, porém é obrigatório por força da própria nature-za da atividade econômica ou social desenvolvida. No exame desituações que tais, advertiu a Corte Suprema, contra a pretensãodas instituições financeiras, que 'aqui estamos no âmbito de umaatividade econômica que os dados apontam como altamente lu-crativa, e versou-se o período máximo de permanência na fila, dequinze minutos, devendo o banco precatar-se, colocar, mesmo di-ante da automação dos serviços, gente para atender aos munícipes.'(excerto do voto do Min. MARCO AURÉLIO, no RE 432.7689, Rel.Min. EROS GRAU). 3. Nem se cabe discutir a inconstitucionalidadedo valor da multa, vez que não questionada a tempo e modo, note-se que os princípios da razoabilidade, proporcionalidade e isonomiaforam levantados para impugnar a disciplina, por lei municipal, dotempo de espera em fila em bancos, e não o valor da multa que sepreviu ou foi efetivamente aplicada. 4. Agravo inominado desprovi-do". (TRF 3, AMS 0003687-97.2008.403.6106 SP, Terceira Tur-ma, Rel. Des. Carlos Muta, DJe 03/fev/2012.)"DIREITO TRIBUTÁRIO - EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL - TAXA DERESÍDUOS SÓLIDOS DOMICILIARES - PROGRAMA DE ARRENDAMEN-

Decisão desfavorávelTO RESIDENCIAL (PAR) - LEI N. 10.188/01 - CAIXA ECONÔMICAFEDERAL - PROPRIEDADE FIDUCIÁRIA - LEGITIMIDADE PARA FIGU-RAR NO POLO PASSIVO DA DEMANDA EXECUTIVA - IMUNIDADE TRI-BUTÁRIA - NÃO CONFIGURAÇÃO. 1. Criado pela Lei n. 10.188/01, oPrograma de Arrendamento Residencial (PAR) tem por finalidadesuprir a necessidade de moradia da população de baixa renda,valendo-se de arrendamento residencial com opção de compra(artigo 1º), ao qual é aplicável, no que for cabível, o regramento doarrendamento mercantil (artigo 10). 2. Cabe a Caixa EconômicaFederal a operacionalização do programa, sendo que, para o de-sempenho de referida atribuição, foi-lhe autorizada a criação defundo financeiro, com vistas à segregação patrimonial e contábildos haveres financeiros e imobiliários destinados ao PAR (artigo2º), cujo patrimônio é constituído pelos bens e direitos adquiridospela CEF no âmbito de mencionado programa. 3. Muito emborahaja regra no sentido de que os bens e direitos em evidência nãose comunicam com o patrimônio da CEF, consta expressamenteda lei que os bens imóveis são mantidos sob a propriedade fiduciáriada ora apelada (artigo 2º, § 3º). 4. Por força do artigo 109 do CTN,deve-se buscar o conceito de propriedade fiduciária no direito pri-vado, o qual preceitua que se trata de propriedade de caráter tem-porário, de titularidade do credor, com a finalidade de garantir umadívida. 5. A CEF detém a propriedade dos imóveis ainda não aliena-dos nos termos da Lei n. 10.188/01, com o que deve ser colocadana posição de contribuinte dos impostos incidentes sobre mencio-nado bem, nos termos do artigo 34 do CTN, bem como e inclusiveda Taxa de Resíduos Sólidos Domiciliares cobrada na execução fis-cal impugnada. 6. Como exceção constitucional ao poder de tributar,o instituto das imunidades tributárias deve ser interpretadorestritivamente, não sendo cabível ao aplicador da norma fazê-laincidir sobre hipóteses não previstas pelo legislador. 7. Abrangendoapenas impostos, a imunidade tributária recíproca não se estende àCEF, por tratar-se de empresa pública instituída nos termos do artigo173 da Constituição da República de 1.988, devendo submeter-se,portanto, ao § 2º de referida norma. 8. A destinação de eventualsaldo do fundo em questão para o patrimônio da União não tem ocondão de modificar o entendimento acima exposto. Numa situa-ção hipotética de dissolução da Caixa Econômica Federal, por exem-plo, eventual saldo também seria destinado à União, por tratar-se deempresa pública com capital exclusivo desse ente da Federação(artigos 1º e 3º do Decreto-lei n. 759/69), sem que isso determine oalcance da imunidade recíproca para abranger a CEF. 9. Apelação aque se dá provimento". ( TRF 3, AC 0021833-21.2009.403.6182SP, Terceira Turma, Rel. Des. Cecilia Marcondes, DJe 27/jan/2012.)

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Fevereiro | 201214

Cen

a ju

rídi

ca

Luísa de Porto VelhoEm texto escrito para esta edição, publicado na página 8, aadvogada Melissa dos Santos Pinheiro, do Jurídico Porto Velho/RO, discorreu sobre suas expectativas para 2012 enquanto

esperava o nascimento doprimeiro filho. Dias depois,mandou a notícia: "Luísanasceu no dia 30 dejaneiro, extremamentesaudável, pesando 3.100kg e medindo 49 cm!".

ADI 3396A OAB decidiu, em 6 de

janeiro, solicitar aoministro do STF Celso de

Mello o julgamento daADI 3396, da qual ele érelator. A ação, ajuizada

pela entidade em26/01/2005, pretende

a declaração dainconstitucionalidade

do artigo 4º daLei 9527/97, que retirao direito ao recebimento

de honorários dosadvogados da

administração direta daUnião, dos Estados, doDistrito Federal e dos

Municípios, dasautarquias, empresaspúblicas e sociedades

de economia mista.Para a OAB, os

honorários são oreconhecimento do

trabalho dos advogadospúblicos e privados e

devem ter o tratamentoque promova o

equilíbrio entre aspartes litigantes.

Trava-línguaO Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa continua, literalmente, mal falado em Portugal, neste ano em

que começa a ser implantado. O economista e ex-ministro das Finanças Bagão Félix publicou artigo emjaneiro no site português Jornal de Negócios: "Adivinhem o que se quer dizer com 'não me pelo pelo pelo

de quem para para desistir'? Na rejeitada e antiga grafia escreve-se: 'não me pélo pelo pêlo de quem párapara desistir'". Conclui o crítico: "Já não nos chegavam os agravos à nossa língua nas tv e textos públicos,

eis que os tornam agora obrigatórios".

Resultado históricoO presidenteJorge Heredaenvioumensagem aosempregadosda CAIXA, em10/02, para"compartilhar ecomemorar" osresultados de

2011, que registram o maior lucro dahistória, de R$ 5,2 bilhões, e um resultadooperacional também recorde de R$ 4,6bilhões. "Esse feito é de todos", salientou opresidente. "Somos um banco público,temos compromisso com odesenvolvimento do Brasil e estamosdemonstrando que é possível cumprir onosso papel com competência elucratividade, marcando nossa posiçãoentre os quatro maiores bancos domercado nacional."

Forca em praça pública

"Juiz corrupto deveria ser enforcado em praça pública",afirmou o presidente do Tribunal de Justiça do Piauí, EdvaldoMoura, em 09/02. O desembargador repetiu - e endossou -

o que disse o presidente do Colégio Permanente dePresidentes de Tribunal de Justiça do Brasil, desembargador

Marcus Antônio de Sousa Faver. Edvaldo ressaltou, noentanto, que é contra a pena de morte e fala em tese, "se

existisse", pois considera a corrupção inadmissível para ummagistrado. (Fonte: site Cidadeverde.com.)

Comentário do presidente doConselho Deliberativo da ADVOCEF,Davi Duarte: "Enforcar não, masperder, por indignidade, o direito deexercer a profissão, direitospolíticos e de receber remuneraçãodo cofre público. Além disso,merece prisão, como reprimendaadequada e para inibir seguidores".

Prazo para a Revista de DireitoAtenção, advogados que querem participar

da 14ª edição da Revista de Direito daADVOCEF, que será lançada durante o

Congresso de Fortaleza, em maio deste ano.O prazo para o envio de artigos encerra em

12/03/2012. Os textos devem serremetidos para [email protected].

Outras informações e normas editoriais podem serconferidas no site da entidade.

1. 2.

|||||Desemb. Edvaldo: corruptosdevem ser enforcados

|||||Jorge Hereda: o recorde foiconstruído por todos

Revista no siteO estilo diferenciado imita o folhear de uma revista

impressa e, com opções de animação, propicia umaleitura agradável. É o novo sistema de acesso às edições

online da ADVOCEF em Revista, disponível no site daentidade, que além do mais abre rápido. A nova forma épossível graças ao site Issuu, cujo serviço é utilizado por

diversas revistas nacionais e estrangeiras. O sistema seráusado também para o acesso à Revista de Direito. "Nossapretensão é tornar a leitura dos periódicos editados pela

ADVOCEF mais amigável na opção web, induzindo àleitura de modo mais cômodo, rápido e preciso", explica o

diretor de Comunicação, Roberto Maia.

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Fevereiro | 2012 15

Homenagem aos quemerecemTr

ibut

o

ADVOCEF prepara evento para destacar quem presta serviços à categoriaUm evento planejado

pela ADVOCEF para novem-bro deste ano homenage-ará advogados da CAIXAque se destacaram em suacarreira e, especialmente,na militância associativa,em benefício da categoria.Inaugura a galeria o advo-gado Bernardo José BettiniYarzon, que se aposentouem janeiro de 2012.

No texto escrito paraa ADVOCEF em Revista(pág. 16 e 17), Bernardoconta sua trajetória naCAIXA, iniciada, como ad-vogado concursado, em 1988, no Jurídi-co Campo Grande/MS (ingressou comoescriturário em 1982, em Corumbá/MS).Faz seu relato com tintas amargas. "Dei-xa-me triste perceber o descaso e a fal-ta de consideração com que a CAIXA tra-ta seus advogados. Seus defensores!",escreve. No entanto, deixa transparecero amor pelo ofício exercido, na buscapela Justiça. "Várias vezes tive que, nosmeus modestos petitórios, escrever o se-guinte: "Sr. Juiz: a CAIXA é uma institui-ção financeira, não uma instituição decaridade!".

Bernardo lembra que no início dosanos 90 a situação dos advogados daCAIXA era "calamitosa", com excesso deserviço, falta de estrutura, poucos advo-gados, salários aviltantes. Conta que che-gou ao ponto de os advogados, aprova-dos em concurso, com procuração paradefesa da CAIXA, ganharem menos que odetentor do cargo menos valorizado.

"O texto produzido pelo advogadoBernardo Yarzon é muito triste, quasedesesperador, pois finda por retratar aausência de esperança. Mas é um mun-do de sentimentos, calcados em sua rea-lidade", comenta o presidente do Conse-lho Deliberativo, Davi Duarte, que apro-vou a publicação. Acrescenta Davi:

"Em face às diversas 'batalhas' que oJurídico da CAIXA travou também aconte-

ceram perdas. E nessas é incômodo,muito incômodo mexer. Por isso tocou-me especialmente enquanto contrapontoàs regras de saúde e bem-estar. Quemsabe a partir desse grito alguém possasugerir ou fazer despertar algo que o rea-nime. Talvez aprendamos como fazer di-ferente. Talvez valorizemos o que temose especialmente aprendamos a cuidar davida, de todos os jeitos e de todas as for-mas."

Bernardo estava entre os advogadosda CAIXA que, em dezembro de 1991,em um curso de atualização em Direitoem São Paulo, trataram pela primeira vezda criação de uma associação para re-presentar a categoria. A sugestão foi dadapelo professor e juiz Antonio CarlosMarcato, após ouvir as queixas dos alu-nos.

"A partir daí a semente germinou", dizBernardo. Ele e o colega de curso RenatoSoares Dias (homenageado em novem-bro de 2011 com o título de Sócio Hono-rário da ADVOCEF) souberam de dois ou-tros movimentos que visavam a criaçãode uma Associação de Advogados daCAIXA. Juntaram-se ao grupo que consi-deraram legítimo, liderado pelo advoga-do José Gomes Matos Filho (primeiro pre-sidente e também Sócio Honorário daADVOCEF), de Brasília. O outro movimen-to, que se formava em Bauru/SP, foi con-

siderado "pelego", como propósito de dividir eenfraquecer o movi-mento.

Foi assim que,com a união de forças,a ideia ganhou adep-tos em todo o país eculminou na históricaassembleia de 15 deagosto de 1992, emBrasília, que fundou aADVOCEF. "Não bas-tasse isso, nesse mes-mo dia, para coroaressa manifestação de-mocrática de repre-

sentação, atravessamos a rua em frenteao hotel em que se realizava aassembleia e participamos, todos vesti-dos de preto, das manifestações que pe-diam o impeachment do ex-presidenteCollor", recorda Bernardo.

O advogado participou da primeiraDiretoria da ADVOCEF, como diretor daRegião Centro Oeste, e, durante muitosanos, esteve nos congressos da entida-de como representante dos advogadosdo Mato Grosso do Sul.

A homenagem foi proposta pelo ad-vogado Tomas Barbosa Rangel Neto, ge-rente do Jurídico Campo Grande/MS, coma justificativa de que Bernardo, além deser um dos fundadores da ADVOCEF, sem-pre esteve lotado na unidade, "colaboran-do decisivamente na defesa da CAIXA,com um empenho e dedicação muitoacima do normal".

O representante da unidade, Alfredode Souza Briltes, encaminhou o pedido àADVOCEF, com o endosso do colegaAlfredo Ambrósio Neto, de Goiânia/GO,membro do Conselho Deliberativo, "paraque o Dr. Bernardo receba a justa home-nagem da ADVOCEF pelos relevantes ser-viços prestados à nossa Associação e àCAIXA". Em seu parecer, Alfredo Neto afir-ma que Bernardo Yarzon "foi um dos artí-fices mais atuantes na luta pela criaçãoe concretização da ADVOCEF".

|||||Bernardo Yarzon, sem camisa, em 1992, no protesto contra Collor: a luta pela ADVOCEF já tinha iniciado

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Fevereiro | 201216

Uma vida dedicada à CAIXABernardo Yarzon (*)Entrei na CAIXA, em setembro/

1982, como auxiliar de escritório. Pas-sei no concurso para advogado da CAI-XA, tomando posse em outubro/1988,juntamente com mais um colega, emCampo Grande/MS. Antes, o JurídicoCampo Grande/MS contava somentecom um advogado.

Durante muitos anos tocamos o Ju-rídico, somente com três advogados,para cuidar de um Estado inteiro. Che-guei a fazer audiências em mais de umacidade do interior, no mesmo dia.

O volume de serviço era brutal. Pou-ca estrutura, poucos advogados, sem es-tagiários, um Estado inteiro para cuidar...Não se cumpriam os afazeres jurídicosna jornada de trabalho, prevista, à épo-ca, em 6 h/dia. Era impossível.

Dediquei-me, integralmente, ao Ju-rídico da CAIXA e, com isso, deixei delado outras carreiras mais promissorase com maior remuneração. Tinha umamor e uma paixão pelo meu trabalho:a defesa do dinheiro público.

Naquela época não havia especiali-zação. Fazíamos tudo: penal, cível, tra-balhista, administrativo, previdenciário eetc.

Além de lutar contra mutuários, de-vedores outros e advogados, muitas ve-zes oportunistas, defender planos eco-nômicos impopulares e com sérios pro-blemas de inconstitucionalidade, o quetambém me irritava era a peleja diuturnaperante alguns juízes não equidistantes,quando não desconhecedores das ma-térias técnicas e operacionais, específi-cas dos processos da CAIXA.

Foi dura a batalha diante de juízesque, não raras vezes, refletiam na CAI-XA a materialização de tudo o que eles,ou alguma parcela da sociedade, enfim,enxergavam de mal na burocracia do Es-tado, ou no governo, ou nos desmandosestatais, como se constata de simplesleitura dos noticiários. Foi renhida a lutajunto a togados que (em tese) achamque os bancos federais possuem má-quinas de fazer dinheiro, nos fundos desuas sedes.

Cansei de explicar, nas inúmeras pe-tições e, às vezes, pessoalmente, que épúblico o dinheiro utilizado à concessão

dos empréstimos pela CAIXA, seja da pou-pança, quer do FGTS, e, por isso, devemretornar aos seus donos, contando jurose correção monetária. Ou seja, não dá parareduzir as prestações e perdoar dívidas esaldos devedores sem lógica matemáti-ca e sem base legal, senão a conta nãofecha, ao final, e o prejudicado, em últi-ma instância, é o povo brasileiro.

Várias vezes tive que, nos meus mo-destos petitórios, escrever o seguinte:�Sr. Juiz: a CAIXA é uma instituição finan-ceira, não uma instituição de caridade!�.

Cansei de pelejar na explicação aostogados que não foi um empregado daCAIXA, em Brasília, mas, sim, um mate-mático inglês, quem inventou a tabelaPrice, no século XVIII.

Esgotei as forças de tanto esclare-cer que quando a CAIXA ajuíza uma exe-cução fiscal para cobrança do FGTS con-tra empregadores inadimplentes, essedinheiro vai à conta vinculada particularde cada trabalhador, não para os cofresparticulares da CAIXA, e, por isso, preci-sávamos da diligência judicial nesse tra-balho de defesa do trabalhador, não setratando de uma atividade bancária,porém, sim, uma prestação de serviçopúblico, dos mais relevantes.

Por várias vezes tive discussões séri-as sobre muitos desses assuntos com al-guns magistrados, dentro e fora dos Fóruns.

Cansei de lutar contra a lentidão daJustiça, mas cansei, muito mais, junta-mente com essas demandas, da bata-lha diária contra o excesso de trabalho,no jurídico da CAIXA, contra a falta deadvogados, de empregados de apoio, deestagiários, de estrutura, contra a má re-muneração e, principalmente, contra afalta de reconhecimento da administra-ção da CAIXA aos seus advogados!

Os advogados da CAIXA têm procu-ração para defendê-la em qualquer ins-tância e tribunal, sobre qualquer assun-to, mas não tem o reconhecimento e aconsideração da administração da em-presa pelo exercício de tão expressivoencargo que ela mesma lhes delega.

Tudo o que o advogado da CAIXA ne-cessita, ou até mesmo a preservação deseus direitos, tem de ser obtido por meiode luta, briga, demanda, greve.

Prova disso é a necessidade que ti-vemos de criação da ADVOCEF para as-sim, juntos, podermos reivindicar nossosdireitos.

Logo que assumi, o advogado da CAI-XA percebia remuneração equivalente àde um juiz federal. Hoje, um advogadocom vinte, trinta anos de CAIXA ganhamenos do que a metade, ao passo queum advogado em início de carreira ga-nha um terço do salário de um juiz.

Deixa-me triste perceber o descasoe a falta de consideração com que aCAIXA trata seus advogados. Seus defen-sores!

Fico triste em ver, frequentemente,muitos grandes advogados da CAIXA, ex-celentes profissionais, brilhantes juris-tas pedirem demissão, por total desâni-mo, desconsolo e falta de reconheci-mento profissional e financeiro por par-te da empresa, para, então, seguiremoutras carreiras, como as de juiz, pro-motor, procurador etc.

Sempre me pergunto: por que, ten-do em seus quadros tão qualificadosprofissionais, a CAIXA consente em cedê-los para a Advocacia Geral da União, Pro-curadoria da República, a Magistratura,etc.? Por que a CAIXA não se esforça umpouco para mantê-los em seus quadros,quando se sabe que com um pouco maisde reconhecimento financeiro e profis-sional poderia segurá-los e manter emsua defesa essa legião de competentes,destemidos e abnegados trabalhado-res?

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Fevereiro | 2012 17

Muitos daqueles que permanecemnão o fazem por contentamento com asituação, ou por incompetência para sair,mas, sim, porque, cansados e exaustosao final de tão árdua jornada diária, nãotêm ânimo e forças para voltar aos li-vros e se prepararem para os concursos.Graças a isso a CAIXA ainda tem em seuquadro centenas de competentíssimos,valorosos e abnegados advogados, cujacompetência profissional de cada um éde conhecimento público.

Sempre me indaguei, nessas déca-das de trabalho na CAIXA: por que o ad-vogado da CAIXA tem sempre tantas lu-tas, diárias e concomitantes, contra osdevedores, os togados, e, também, con-tra o seu próprio empregador?

Pois bem. O tempo foi passando eminha saúde física, psicológica e emoci-onal se deteriorando. No começo de2008, durante uma audiência na Justi-ça Federal, discuti, seriamente, com umadvogado de um condomínio que insis-tia em criticar a CAIXA. A discussão con-tinuou para fora da sala de audiências;então, comecei a passar mal: falta de ar,palpitação, formigamento no braço es-querdo. Corri à emergência de um hos-pital do coração, achando que estavatendo um infarto, e após atendimentode emergência e sedação, quando acor-dei, fui informado pelos médicos quehavia tido uma crise nervosa!

É importante frisar que não se tra-tou de um caso isolado: foi o desaguarde anos, décadas, de sofrimento, can-saço, descontentamento, desilusões.

O diagnóstico dos psiquiatras não po-deria ser outro: depressão, transtorno deansiedade e estresse situacional crôni-co, entre outros.

Depois disso, outras internaçõesocorreram, uma delas de aproximada-mente trinta dias, inclusive com dois diasde internação em CTI (centro de trata-mento intensivo). Tenho-me submetidoaos mais variados tipos de tratamento(até mesmo fora do Estado), tomado osmais diversos tipos de remédios, comgastos enormes, uma vez que, não seise todos sabem, há um limite de ses-sões de psicoterapia, cobertas pelo sis-tema Saúde CAIXA. Como já ultrapasseiesse limite, há anos pago do meu bolsoas minhas sessões de psicoterapia.

A situação se tornou dramática. Des-de 2008, encontro-me de licença médi-ca, recebendo auxílio doença. Dias atrás,na mais recente perícia a que me sub-

meti, então, a junta médica do INSS cons-tatou a minha incapacidade para o tra-balho e determinou a minha aposenta-doria por invalidez.

Comecei a trabalhar com quatorzeanos de idade, como empacotador desupermercado. Entrei na CAIXA, aos 19anos, ou seja, há trinta anos. Tenho 35anos de trabalho com carteira registra-da; desses, quase 24 anos, como advo-gado da CAIXA.

De forma alguma era esse o desfe-cho que eu havia desejado para a mi-nha vida profissional: aposentadoria porinvalidez.

O nobre jornalista da ADVOCEF meconsulta para efetuar a sua reportagemsobre meus projetos para o futuro. Quefuturo?

- Tomar diversos remédios psiquiá-tricos, diariamente?

- Frequentar três sessões semanaisde psicoterapia?

- Sofrer para conseguir sair da cama,toda manhã?

- Gastar grande parte do meu salá-rio, com remédios, médicos, psicólogos,psiquiatras, tratamentos, convencionaisou não, em busca de mitigar o meu sofri-mento?

- Frequentar missas, centros espíri-tas etc., em busca de um lenitivo para aalma, ao espírito?

- Encarar meu filho, de oito anos,toda manhã a me perguntar: �Pai, porque você não trabalha?�, �Pai, por quevocê fica todo o dia em casa?�, �Pai, porque você não levanta da cama?�

- Ficar com medo de sair na rua eencontrar um colega da CAIXA e este lhefazer uma gracinha (como já aconteceu),do tipo: �Vamos trabalhar!?�, �Tá coçan-do, né!?�, �Vida boa, né!?�

- Seguir os conselhos médicos para,daí, ir ao shopping distrair a cabeça elevar meu filho a fazer um lanche, masencontrar um colega da CAIXA, com a se-guinte observação: �Passeando? Uai,você não estava doente?� Fato verídico!

Tenho somente dois projetos, hoje:tentar dar uma boa criação ao meu filhoe encaminhá-lo na Universidade e pro-porcionar um final de vida digno parameu pai, portador do Mal de Alzheimer.

Demais, da minha parte, estou pron-to para subir!

Como disse São Paulo: �Combati obom combate, acabei a carreira, guar-dei a fé�!

É obvio que não me sinto nem umpouco satisfeito em me aposentar porinvalidez, pois todo homem tem orgulhoda sua carreira profissional e desejaencerrá-la de outra forma. Mas por ou-tro lado, compensando tal infelicidade,tenho plena convicção do seguinte: Deusé testemunha do quanto fui digno, cor-reto, dedicado e incansável na defesada CAIXA e do dinheiro público, a quemdediquei diuturnamente toda a minhavida profissional.

Se pudesse dizer algo para meus co-legas advogados da CAIXA, seria:

- Não trabalhe depois do seu horárionormal de trabalho: o que o advogadoda CAIXA produz durante seu período detrabalho normal já é muito mais e muitomelhor do que faz muito advogado pú-blico, ou particular;

- Cuide da sua vida pessoal;- Cuide da sua saúde: física, mental

e espiritual;- Brinque com seus filhos; se não for

mais possível, brinque com seus netos;- Dê atenção a seu/sua esposo(a):

só ele(a) sabe o que é receber em casa,no final do dia, um(a) advogado(a) daCAIXA, vindo de uma exaustiva jornadade trabalho;

- Tenha uma atividade diária de lazer;- A vida não se resume à CAIXA ou ao

Judiciário: há vida fora deles. E vida boa!- FAÇA CONCURSOS PÚBLICOS!

(Qualquer um da área jurídica, pois hojequalquer um paga mais do que a CAIXA.)

E, principalmente: NÃO SIGAM O MEUEXEMPLO!

Confesso que não consegui conteras lágrimas ao escrever estas linhas.

Que Jesus Cristo e a Virgem Mariailuminem a todos nós!

(*) Advogado aposentado da(*) Advogado aposentado da(*) Advogado aposentado da(*) Advogado aposentado da(*) Advogado aposentado daCAIXA em Campo Grande/MS.CAIXA em Campo Grande/MS.CAIXA em Campo Grande/MS.CAIXA em Campo Grande/MS.CAIXA em Campo Grande/MS.

"Por que, tendo em seusquadros tão qualificados

profissionais, a CAIXAconsente em cedê-los para a

Advocacia Geral da União,Procuradoria da República,

a Magistratura, etc.?"

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Fevereiro | 201218

A magia de aprendere compartilharA

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Maria dos Prazeresde Oliveira (*)

Se tem algo que me fascina é o co-nhecimento e a experiência. Embora eunão seja tão jovem nem inexperiente,impressiona-me saber o quanto aindatenho que aprender, mesmo olhandopara trás e vendo tudo o que vivi.

Vez por outra a vida coloca-me emsituação que me faz lembrar o filósofoSócrates, na sua célebre frase "Só seique nada sei" e tenho que reconhecerque ele tinha razão. Gosto muito de fa-lar, mas invariavelmente me calo dian-te de alguém que tem algo a me ensi-nar. E já me calei muitas vezes na vida.

Tenho orgulho de dizer que estouno mercado de trabalho há quase 35anos; de estar na CAIXA há 28 e no Jurí-dico há mais de 23, mas isso não é nadadiante dos mais de 150 anos destaempresa e de quanta história ela tempara contar. E essa história foi vivida econstruída por cada um de nós que es-teve na empresa ao longo desses anos.

Quando entrei na CAIXA eu era umamenina e hoje sou uma mulher. Quan-do entrei no Jurídico eu era uma jovemrecém formada, hoje sou umaadvogada com mais de 20 anos de ex-periência adquirida nesta empresa. Eessa experiência ainda é muito peque-na diante do quanto quero absorver.

Aprendi muitona CAIXA e no Jurí-dico com todos: osmais experientes;os que já se forampara outra dimen-são; os meus cole-gas contemporâ-neos; os amigos fi-éis; os advogadosmais novos e osnão tão novos as-sim; os que foram meus gestores e osmeus subordinados; os técnicos bancá-rios, prestadores e menores; com os exe atuais estagiários; com juízes,desembargadores e serventuários daJustiça.

Aprendi com os que estavam pertoe com os que estavam longe. Com al-

guns aprendi com a convivência, comoutros com o exemplo. Uns me ensina-ram com palavras, outros com o silên-cio.

Aprendi com os meus erros e tam-bém observando os erros dos outros.

É comum nós fugirmos dos proble-mas, crises e dificuldades, mas acho im-pressionante como são boas essasoportunidades de aprendizado e cres-cimento. É depois de superar os momen-tos mais difíceis, que nos descobrimosmais fortes e preparados. Pena que nemtodos aproveitem essas ocasiões.

Penso que depois de uma crisenão somos mais os mesmos e a ten-dência é crescermos. Se isso não acon-tece é porque não soubemos aproveitá-la. Por vezes errei na vida pessoal eprofissional tentando passar adianteo que aprendi, na tentativa de evitarque o outro sofresse, mas hoje tentolembrar que não tenho o direito de pri-var o outro de viver sua própria experi-ência.

Lembro da minha ansiedade no co-meço da carreira, da admiração e res-peito que eu sentia pelos advogadosantigos e de como eu queria ser igual aeles.

Vejo-me em muitos dos advogadosmais novos. Já mevi em muitos dosestagiários quepassaram por mime, justamente porgostar muito deaprender, adoro etenho muita paci-ência para ensinar.

Não percouma oportunidadede aprender e rea-

lizo-me quando consigo dividir com al-guém o meu aprendizado. Mas, paramim, o exercício de ensinar é melhor emais gratificante quando o outro queraprender.

No exercício da minha profissão,observo com carinho e paciência a in-segurança do estagiário neófito e me

quedo com admiração e orgulho poraqueles que chegam ao fim do estágiocom experiência e confiança. Isso con-firma o que eu afirmo a todos no iníciodo estágio: na CAIXA a gente aprende,mesmo sem querer.

Hoje eu sou uma advogada antiga,com muito orgulho, e olho para os maisantigos do que eu com ainda mais res-peito e admiração. Mas essa vivêncianão me impede de também respeitar,admirar e motivar os jovens advogadospromissores, porque eles têm um tem-po que nós não temos mais e nós te-mos a experiência, principalmente devida, que eles ainda não têm. Por tudoisso, todos nós advogados da CAIXA te-mos muito ainda que aprender e com-partilhar.

(*) Advogada da CAIXA em Reci-(*) Advogada da CAIXA em Reci-(*) Advogada da CAIXA em Reci-(*) Advogada da CAIXA em Reci-(*) Advogada da CAIXA em Reci-fe/PE. Mantém os blogs Pra-fe/PE. Mantém os blogs Pra-fe/PE. Mantém os blogs Pra-fe/PE. Mantém os blogs Pra-fe/PE. Mantém os blogs Pra-

viajante.blogspot.com,viajante.blogspot.com,viajante.blogspot.com,viajante.blogspot.com,viajante.blogspot.com,Prapensante.blogspot.com ePrapensante.blogspot.com ePrapensante.blogspot.com ePrapensante.blogspot.com ePrapensante.blogspot.com e

Pramascotes.blogspot.com e oPramascotes.blogspot.com e oPramascotes.blogspot.com e oPramascotes.blogspot.com e oPramascotes.blogspot.com e oTTTTTwittwittwittwittwitter @Pra_Oliver @Pra_Oliver @Pra_Oliver @Pra_Oliver @Pra_Oliveira.eira.eira.eira.eira.

"Gosto muito de falar,mas invariavelmente me

calo diante de alguémque tem algo a me

ensinar."

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Fevereiro | 2012 19

Promessa é dívidaFo

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Em ano eleitoral e época dos fes-tejos de Santo Amaro, padroeiro daBaixada da Égua, o vereador e can-didato à reeleição Alvear fazia cam-panha na Praça do Distrito em fes-ta, considerado seu reduto eleitoral.Cumprimentou um aqui, outro ali,beijou uma criança no colo da mãe,acenou para uma velha acolá e en-trou na igreja.

Após fazer orações e acender velapara o santo, Alvear deixou o templosagrado e foi ovacionado pelo públi-co e correligionários. O eleitor NildoFoca, líder dos pescadores locais,em luta pela finalização do processodenominado Buraco do Ministro,aproveita a oportunidade e rogasua interferência junto ao poderpúblico, objetivando a dragagemdo canal de Quitinguta, paraminimizar as dificuldades da pes-ca e irrigação de lavouras.

Alvear analisa as pondera-ções e benefícios da empreitada,promete, se eleito for, lutar pelaconsecução das obras paralisa-das por mais de quatro anos.

Nildo Foca agradece emnome de seus liderados e obser-va diante de todos:

- Vereador, promessa é dívi-da e deve ser paga, não se es-queça.

Nesse ínterim, outro eleitordo Farol de São Tomé, que a tudoassistia, o interrompe. Alvearpede para esperar um pouco.Passado um minuto, se tanto, oimpaciente eleitor interpelou-onovamente. O vereador perdeuas estribeiras:

- Não está vendo que estouconversando? Espere aí até eute chamar.

Arcinélio Caldas (*)O eleitor, agastado, em tom fir-me e decisivo retrucou:

- Vereador Alvear, insisto em lhefalar porque estou precisando mui-to de sua ajuda.

O vereador então pede licença a

Nildo Foca e pergunta:- Qual ajuda você quer?- A minha mulher está para ga-

nhar neném a qualquer momento,pois já se completaram os nove me-

ses de gestação e estou despreve-nido para fazer as despe-

sas do parto - afir-mou o cidadãoManoel Elias.

O vereador,impassível, res-

ponde ao eleitor:- Meu caro, você

insemina sua mulher, espera novemeses e torna público que não sepreveniu para fazer as despesas doparto. Eu, que não participei doevento, como posso estar preveni-do?

O eleitor, constrangido, cabisbai-xo, resmungou meio sem coragem:

- Então o senhor me arruma R$50,00, pois vou embora para Macaé.

Alvear não esmoreceu, abraçouo cidadão e cochichou no seu ouvi-do:

- Querido, estão próximas as elei-ções, se você for embora para Macaéperderei seu voto. Espere passar aseleições. Após o resultado, me pro-cure que vou lhe ajudar. Prometo.

- Está bem. Voto não se compra,deve ser conquistado - disse o elei-tor, complementando em alto e bomtom diante de todos:

- Vereador, o senhor promete,promete, promete, mas não se es-queça: promessa é dívida, confor-me seu Nildo Foca disse dijaojinho.

(*) Advogado da CAIXA em(*) Advogado da CAIXA em(*) Advogado da CAIXA em(*) Advogado da CAIXA em(*) Advogado da CAIXA emCampos dos Goytacazes/RJ.Campos dos Goytacazes/RJ.Campos dos Goytacazes/RJ.Campos dos Goytacazes/RJ.Campos dos Goytacazes/RJ.

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Fevereiro | 2012 I

Suplemento integrante da ADVOCEF em Revista | Ano XI | Nº 108 | Fevereiro | 2012

Assédio moral - um ensaiosobre a expropriação dadignidade no trabalho

Alguns autores costumam colocar aquestão do assédio moral como essen-cialmente individual, como uma "perver-são do ego" no âmbito estritamentepsicopatológico, em que se dá um silen-cioso assassinato psíquico. Entre osmais conhecidos, podemos citar aquelaque popularizou o conceito, Marie-France Hirigoyen, em sua primeira obra,"Assédio moral: a violência perversa nocotidiano", embora em sua segundaobra, "Mal estar no trabalho: redefinindoo assédio moral", essa autora relativizea variável idiossincrática.

A par disso, existe uma outra con-cepção à qual nos filiamos que, nãoobstante mais complexa, também con-sidera cada indivíduo como produto deuma construção sócio-histórica. Sujeitoe produtor de inter-relações que ocorremdentro do meio-ambiente social, comsuas leis e regras. Diretrizes estas quefuncionam dentro de uma determinadalógica macroeconômica, a qual suben-tende e incorpora relações de poder.

Costumamos dizer que a discussãosobre assédio moral é nova. O fenôme-no é velho. Tão velho quanto o trabalho,isto é, quanto o homem, infelizmente...

No Brasil colônia, índios e negros fo-ram sistematicamente assediados, oumelhor, humilhados por colonizadoresque, de certa forma, julgavam-se superi-ores e aproveitavam-se dessa supostasuperioridade militar, cultural e econô-mica para impingir-lhes sua visão demundo, sua religião, seus costumes.

Não raro esse procedimento, cons-trangedor sob vários aspectos, vinha

Roberto HeloaniLivre docente em Teoria das Organizações(UNICAMP), pós-doutorando emComunicação (USP), doutor em PsicologiaSocial (PUC-SP), mestre em Administração(FGV-SP), graduado em Direito e Psicologiapela USP.

acompanhado de um outro que hoje de-nominamos assédio sexual, ou seja,constranger-se uma pessoa do sexooposto ou do mesmo sexo a manterqualquer tipo de prática sexual sem queessa verdadeiramente o deseje.

De fato, relembrando as idéias deGilberto Freyre, em sua obra clássica,"Casa-Grande & Senzala: formação dafamília brasileira sob o regime da eco-nomia patriarcal", as relações entre bran-cos e "raças de cor" foram, no Brasil, con-dicionadas bilateralmente - de um ladopela monocultura latifundiária (o cultivode cana-de-açúcar) no que diz respeitoao sistema de produção econômica; ede outro, pelo sistema sócio-familiar decunho patriarcal, que se caracterizavapela escassez de mulheres brancas nacolônia. Essa monocultura açucareiraacabou impossibilitando a existência deuma policultura e de uma pecuária quepudessem se instalar ao redor dos en-genhos, suprindo-lhes, inclusive, as ca-rências alimentares. A criação de gadodeslocou-se para o sertão, e a casa-gran-de adquiriu características essencial-mente feudais - senhores de engenho,em sua maior parte patriarcais e devas-sos, que dominavam, do alto de suasmoradias, escravos, lavradores e agre-gados, com mão-de-ferro.

Sem querermos radicalizar ouextrapolar, considerando a atual socie-dade brasileira nos moldes daescravocrata, pensamos que a humilha-ção no trabalho, ou o assédio moral,sempre existiu, historicamente falando,nas mais diferentes formas. Humilhação

esta embasada no próprio sistemamacroeconômico, que, em seu proces-so disciplinar, favorece o aparecimentodessa forma de violência, em que o su-perior hierárquico detém um certo po-der sobre seu subordinado.

Em um mundo que passa por gran-des e rápidas mudanças, as organiza-ções nacionais, pressionadas pelo pro-cesso de globalização, substituem cadavez mais o homem pela máquina. As-sim, novas tecnologias são imple-mentadas nas empresas, obrigando otrabalhador a adaptar-se rapidamente aelas e impondo um novo perfil profissio-nal tecnicizado.

Fruto de um processo cada vez maisintenso de globalização, de automaçãofabril, de informatização nos serviços ede agilização nos processos, a hipercom-petitividade é um fenômeno recente, quevem chegando ao Brasil e, efetivamente,estimula a instrumentalização do outro.

Nessa nova lógica pós-moderna oupós-fordista, como queiram, que legiti-ma uma ampla reestruturação produti-va, onde os salários sofrem cada vezmais reduções e a educação emergecomo "salvadora" e principal ferramen-ta da atualização, o trabalho torna-se

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Fevereiro | 2012II

cada vez mais precário e seletivo. O Es-tado vem, mediante uma ideologianeoliberal, retirar e diminuir benefícios edireitos do trabalhador, modificando arelação capital-trabalho; surgem, então,novas relações, como o contrato de tra-balho por tempo determinado e váriasformas de terceirização, que geram, des-se modo, o subemprego e o trabalho in-formal, novas ameaças ao trabalhador,que antes tinha a garantia de alguns di-reitos historicamente consolidados.

Busca-se desse modo um paradoxo:a conciliação de dois sujeitos historica-mente desiguais, capital e trabalho. Pormeio de discursos de cooperação e detrabalho em equipe, consultores organi-zacionais acabam por perpetuar elemen-tos antagônicos: a necessidade da coo-peração em equipe e a competição pelaaquisição e manutenção de um posto detrabalho.

Essa hipercompetitividade não seriaem si mesma uma forma de violência?Uma guerra, como bem coloca ChristopheDejours em "A banalização da injustiçasocial", onde o fundamental não é o equi-pamento militar, mas o desenvolvimentoda competitividade; em que o fim podejustificar os meios, mediante um atrope-lamento da ética, da própria dignidadehumana.

É certo que a violência faz parte daprópria condição humana, como o amor,o ódio, o poder, a submissão, o orgulho, ainveja e tantas outras facetas da perso-nalidade. Mas, como Roberto Da Mattaem "A violência brasileira" lucidamenteposiciona, não se pode deixar de investi-gar o conjunto de valores que estão as-sociados a certas formas de violência emsociedades específicas.

Em um sistema em que a "racionali-dade instrumental" se sobrepõe à"racionalidade comunicativa" (para usar-mos a expressão de Habermas em "Teo-ria de la acción comunicativa: crítica dela razón funcionalista"), o que gera umadistorção comunicacional, a violência tor-na-se uma resposta a um sistema desu-mano e não pode ser considerada ummero mecanismo individual. Em outraspalavras, nesse processo a violência pas-sa a ser uma perversão da perversão, ouseja, uma armadilha motivada pela cru-eldade do sistema.

Em nossa opinião, a violência refle-te, tal como uma imagem no espelho, asformas de poder constituídas socialmen-te. Se for certo que o furor expansionista

do capital conquistou-nos financeiramen-te, é também exato que nesse processode expansão comprometeu-se o nossodiscernimento, ou melhor, a nossa saú-de moral. Alguns fragmentos de discursocomo "enxugar as gorduras", "exterminaros dinossauros" e mesmo "fazer uma fa-xina" são expressões recorrentes na"mídia especializada", que costumamoschamar de subliteratura organizacional.

Situando o assédio moralO assédio moral foi apontado como

objeto de pesquisa, em 1996, na Sué-cia, pelo psicólogo do trabalho HeynsLeymann, que, por meio de um levanta-mento junto a vários grupos de profissio-nais, chegou a um processo que qualifi-cou de psicoterror, cunhando o termomobbing (um derivado de mob, que sig-nifica horda, bando ou plebe), devido àsimilaridade dessa conduta com um ata-que rústico, grosseiro.

Dois anos após, Marie-FranceHirigoyen, psiquiatra e psicanalista comgrande experiência como psicoterapeutafamiliar, popularizou o termo por meiodo lançamento de seu livro "Le harcè-lement moral: la violence perverse auquotidien", um best-seller que ocasionoua abertura de inúmeros debates sobre otema, tanto na organização do trabalhocomo na estrutura familiar.

Com formação em "victimologia" naFrança e nos Estados Unidos, a posturade Hirigoyen é empática em relação à víti-ma e discordante de algumas teorias psi-canalíticas que debitam boa parte da cul-pa ao agredido, como se de certa formaeste estivesse conivente com o agressorou desejasse inconscientemente a própriasituação de agressão, por masoquismo oumesmo por expiação de culpa.

Provavelmente foi essa faceta ino-vadora e humana de sua abordagem oque motivou o enorme sucesso de seulivro e fez com que, em sua esteira, umarevista francesa, "Rebondir", especializa-da em informações sobre o emprego,realizasse uma vasta pesquisa, em em-presas francesas, referente ao assédiomoral.

Explicitando o fenômenoPara esboçarmos, em linhas gerais,

em que consiste o assédio moral, utiliza-remos, inicialmente, algumas definiçõessobre essa conduta, apresentadas porLeymann, Hirigoyen, Barreto e Freitaspara depois nos posicionarmos.

De acordo com Heyns Leymann em"Mobbing: la persécution au travail", o au-tor que primeiro detectou esse fenôme-no, trata-se de um conceito que se de-senvolve em uma situação comunicati-va hostil, em que um ou mais indivíduoscoagem uma pessoa de tal forma queesta é levada a uma posição de fraque-za psicológica.

Segundo Marie-France Hirigoyen, queem "Assédio moral: a violência perversano cotidiano", disseminou amplamente aproblemática desse sofrimento invisível,o assédio em local de trabalho está liga-do a qualquer conduta abusiva em rela-ção a uma pessoa (seja por comporta-mentos, palavras, atos, gestos ou escri-tas) que possa acarretar um dano à suapersonalidade, à sua dignidade ou mes-mo à sua integridade física ou psíquica,podendo acarretar inclusive perda deemprego ou degradação do ambiente detrabalho em que a vítima está inserida.

No Brasil, Margarida Barreto notabili-zou-se por uma ampla pesquisa junto a2072 trabalhadores de 97 empresas dossetores químico, farmacêutico, de plásti-cos e similares, de portes variados, den-tro da região da grande São Paulo. Em seuentender, assédio moral ou violência mo-ral no trabalho é a exposição de trabalha-dores a situações vexatórias, constrange-doras e humilhantes durante o exercíciode sua função, de forma repetitiva, carac-terizando uma atitude desumana, violen-ta e antiética nas relações de trabalho,assédio este realizado por um ou maischefes contra seu subordinado.

Outra pesquisadora brasileira, MariaEster de Freitas, em seu artigo "Assédiomoral e assédio sexual: faces do poderperverso nas organizações", posiciona,com justeza, que esse fenômeno seconecta ao esforço repetitivo dedesqualificação de uma pessoa, que, de-pendendo das circunstâncias, pode levarou não ao assédio sexual.

Em nosso entender, o assédio moralcaracteriza-se pela intencionalidade; con-siste na constante e deliberadadesqualificação da vítima, seguida de suaconsequente fragilização, com o intuitode neutralizá-la em termos de poder.Esse enfraquecimento psíquico pode le-var o indivíduo vitimizado a uma paulati-na despersonalização. Sem dúvida, tra-ta-se de um processo disciplinador emque se procura anular a vontade daque-le que, para o agressor, se apresentacomo ameaça.

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Fevereiro | 2012 III

Essa dose de perversão moral - algu-mas pessoas sentem-se mais poderosas,seguras e até mesmo mais autoconfiantesà medida que menosprezam e dominamoutras - pode levar com facilidade, a nossover, ao assédio moral, quando aliada à ques-tão da hipercompetitividade.

Ou seja, a perversidade (por vezesligada a traços como frieza, calculismo einteligência) e encorajada por práticasorganizacionais danosas (corrosão de va-lores éticos essenciais) acaba pordesconsiderar o outro, em um verdadei-ro extermínio psíquico, calculado e covar-de, em relação à pessoa a quem, no ínti-mo, o agressor inveja.

Bons em fazer política na organiza-ção e hábeis em decisões difíceis e polê-micas, esses agressores não raro são ad-mirados por sua relativa eficiência e efi-cácia em sua performance em curto pra-zo, apesar da arrogância e do menospre-zo com que tratam seus subordinados.

Na verdade, esses agressores pos-suem traços narcisistas e destrutivos,estão frequentemente inseguros quantoà sua competência profissional e podemexibir, às vezes, fortes características depersonalidade paranóica, pela qual pro-jetam em seus semelhantes sua "som-bra", ou melhor, aquilo que não conse-guem aceitar em si mesmos.

Apresentando extrema dificuldadepara verdadeiramente admitir críticas,essas pessoas podem agir com descon-fiança e excessiva suspeita em relaçãoàs atitudes alheias, a quem atribuem in-tenções maldosas; e, aparentandohipersensibilidade, podem exagerar o ris-co e a incerteza presentes em diversassituações; atitudes essas que ajudam asupervalorização de seu trabalho e o for-talecimento de sua autoestima.

Ambiciosos e invejosos, esses indiví-duos procuram aproveitar-se do trabalhoalheio, sugando energias e realizaçõesde outros para montarem uma pseudo-imagem de si próprios: verdadeiros "sal-vadores da pátria", os "guardiões das or-ganizações".

Diz Lubit, no artigo "Impacto dosgestores narcisistas nas organizações",que, por não tolerarem o sucesso de su-bordinados que possam distinguir-se maisdo que eles, esses gestores normalmenteafastam seus melhores funcionários, mor-mente se forem pessoas mais jovens comou mais qualificações (formais ou infor-mais) do que eles próprios. Mesmo quevenham a aparentemente incentivar es-

sas pessoas, temporariamente adotandouma postura "simpática" a elas, não tar-dam a "puxar-lhes o tapete", ou seja, aenfraquecê-las ou a eliminá-las da organi-zação, sobretudo se manifestarem suaspróprias opiniões, mostrando-se indepen-dentes. Nossa experiência demonstra queseu "tipo preferido" é o indivíduo que tra-balha muito ("o pé-de-boi"), não questio-na nada ("o cordeiro") e, frequentemente,enaltece o ego de seu superior em posi-ção reverente ("o puxa -saco").

Geralmente o assédio moral nascecom pouca intensidade, como algo ino-fensivo, pois as pessoas tendem a rele-var os ataques, levando-os na brincadei-ra; depois, propaga-se com força e a víti-ma passa a ser alvo de um maior núme-ro de humilhações e de brincadeiras demau-gosto.

Isso provavelmente acontece justa-mente porque as vítimas temem fazerdenúncias formais, com medo do "revide"que poderia ser a demissão ou o rebaixa-mento de cargo, por exemplo; além deque essas denúncias iriam tornar públi-ca a humilhação pela qual passaram, oque as deixaria ainda mais constrangidase envergonhadas. Assim, o medo (de ca-ráter mais objetivo) e a vergonha (maissubjetiva, mas com consequências de-vastadoras) se unem, acobertando a co-vardia dos ataques.

Embora seus agressores tentemdesqualificá-las, normalmente as vítimasnão são pessoas doentes ou frágeis. Sãopessoas com personalidade, transparen-tes e sinceras que se posicionam, algu-mas vezes questionando privilégios, enão têm grande talento para o fingimen-to, para a dramaturgia. Tornam-se os al-vos das agressões justamente por nãose deixarem dominar, por não se curva-rem à autoridade de um superior semnenhum questionamento a respeito doacerto de suas determinações.

É o próprio assédio que pode vir apatologizar as vítimas, desencadeandoum processo mimético em relação a queo agressor, individualmente ou em gru-po, afirma sobre elas: que são desaten-tas, inseguras (daí serem hipersensíveisàs críticas), quase paranóicas. Referimo-nos ao agressor agindo sozinho ou emgrupos, porque, de fato, no caso de umagressor que atue dentro de uma empre-sa, este pode aliciar colegas que, por re-ceio ou interesse, aliem-se a ele em sua"perseguição" a um determinado funcio-nário, considerando que, agindo dessa

forma, demonstram uma certa cumplici-dade, na esperança da recompensa deuma não agressão futura em relação a sipróprios. É o "esprit d´équipe" que, parti-cularmente nessa situação, traduz a fal-sa idéia de que a "solidariedade" ao che-fe pode conduzir à segurança e mesmo àascensão dentro da empresa.

Um exemplo elucidativo desse proces-so mimético em que a vítima acaba porreproduzir aquilo que lhe é atribuído seriaaquele em que se atribui ao sujeito agre-dido a pecha de ser desatento, não envol-vido com seu trabalho, imperito. Em longoprazo, depois de alguns meses, às vezesaté anos de sofrimento atroz, desencade-ado por essa constante e desmerecedora"adjetivação" direta ou indireta, o indiví-duo torna-se exatamente o que lhe foi atri-buído. A vítima pode entrar em depressãoe sofrer, por exemplo, um longo períodode insônia, o que é comum nesse quadrodepressivo. Dessa forma, ela pode aca-bar por se tornar realmente negligente notrabalho, não por seu desejo e sim pelapauperização, pela fragilização de suasaúde física e mental.

É interessante observarmos que emépocas passadas, no Brasil, o assédiomoral se dava basicamente com o"peão", o serviçal sem maiores qualifica-ções. Hoje, abrange todas as classes, in-felizmente "democratizou-se" no mausentido; juízes, desembargadores, pro-fessores universitários, médicos e funci-onários de funções diversas, muitas ve-zes bastante qualificados, também sãoatingidos por esse fenômeno.

Apesar de a maioria das pesquisasapontarem que as mulheres são, estatis-ticamente falando, as maiores vítimas doassédio moral, também são elas as quemais procuram ajuda médica ou psicoló-gica e, não raro, no seu próprio grupo detrabalho, verbalizando suas queixas, pe-dindo ajuda.

Em relação ao homem, sob algunsaspectos, essa situação é mais delicada,pois fere sua identidade masculina. Emum tipo de agressão que, como já vimos,é paulatina e quase-invisível, não raroquando a vítima se apercebe da situa-ção o fenômeno destrutivo já se estabe-leceu, o que a leva a um processodepressivo em que não encontra maisforças e em relação a que nem mesmopossui ânimo para reagir.

Essa atitude de aparente passivida-de, ou melhor, de ausência de ação, den-tro de nossa cultura machista e

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Fevereiro | 2012IV As matérias publicadas neste suplemento são de responsabilidade exclusiva de seus autores.O encarte pode ser acessado, na íntegra, no site da ADVOCEF (menu Publicações).

Ano XI | Nº 108 | Fevereiro | 2012

preconceituosa é vista mais como um atri-buto feminino do que masculino, o quepiora o quadro depressivo da vítima, poisrebaixa ainda mais sua auto-estima, fe-rindo sua identidade masculina.

Assim, no caso masculino, tornar pú-blica a sua humilhação associa-se a ad-mitir sua impotência diante dos fatos, oque se lhe configura como o "fundo dopoço", o auge de sua forçada degrada-ção. Daí ocorrerem somatizações comoúlcera, disfunções sexuais, eternascefaléias etc.

Tentativas de coibiro assédio moral

Embora muitas das grandes empre-sas possuam código de ética - a maioriadas 100 melhores empresas que estãono ranking da revista "Exame" o possu-em - só essa conquista não é suficiente.O simples fato de termos um código pe-nal que condene furtos, roubos, homicí-dios, latrocínios, sequestros etc. não im-pede a sua ampla ocorrência. O que podeser atestado e confirmado empiricamen-te pela simples leitura diária das man-chetes de jornal.

Além dos códigos de ética, podem-se criar mecanismos, por meio do depar-tamento de Recursos Humanos da em-presa, para dar ao trabalhador agredidoo direito de denunciar a agressão de quetenha sido vítima, por escrito e sigilosa-mente; com esse fim, o indivíduo agredi-do pode utilizar caixas postais e mesmo"urnas" em dependências isoladas den-tro da organização, para que, em tese,possa ter seu anonimato garantido. Sãopassos para amenizar o problema, masnão bastam.

A nosso ver, as condições e a filosofiaque determinam a hipercompetição é quedevem mudar. Somente um efetivo pro-cesso de humanização do trabalho pode-rá fazer com que os "sintomas" dessa ver-dadeira doença retrocedam.

Poderíamos começar pela criaçãodaquilo que Christophe Dejours, em vári-as de suas obras, chama de espaço pú-blico, ou espaço de discussão, ou seja,um local que, no caso, poderia existirdentro das próprias empresas, onde osmembros da organização pudessem ex-por seus problemas, angústias e expec-tativas, facilitando o entendimento. Se-

ria o caso, como diria Habermas, da"racionalidade instrumental", ou seja, dalógica do sistema, vir a ceder espaço à"ação comunicativa", que tenha por baseargumentos justos e transparentes. Emoutros termos, tal discussão, que no atu-al momento nos parece utópica, podelevar as pessoas a perceberem que seuproblema não é individual, que não lhesfalta competência. Trata-se de um fenô-meno que envolve interações sociaiscomplexas e, portanto, as vítimas da vio-lência não devem se culpar.

Observações finaisÉ dessa forma, parece-nos, por meio

da organização do coletivo e de sua aber-tura dialógica que conduziria a uma soci-edade mais democrática e, portanto, me-nos sujeita à violência, que o problemado assédio moral poderia vir a sergradativamente minimizado. De fato, asaída está na organização do coletivo paraque possamos transformar súditos em ci-dadãos. Relembrando um pensamento deNorberto Bobbio, um dos mais respeita-dos cientistas políticos da atualidade, emsua obra "Liberalismo e democracia", paratornar-se cidadão é necessário haver di-reitos iguais para todos, constitucional-mente garantidos, sem discriminação dequalquer tipo - sejam provenientes desexo, religião, raça, classe social ou quais-quer outras. E como o momento históricoe o povo influem sobre esse elenco dedireitos, pode-se afirmar que fundamen-tais são os direitos atribuídos a todos oscidadãos indistintamente e de forma ab-solutamente equânime.

Esses direitos fundamentais, é bom quese diga, indiretamente já fazem parte doacervo jurídico nacional, tal como o artigo5º da Constituição Federal, parágrafos II eIII, que abrangem respectivamente o assé-dio sexual e o moral, o artigo 483 da CLT emesmo os artigos 138, 139 e 140 do Códi-go Penal, relativos a crimes contra a honra,ou seja, calúnia, difamação e injúria; semmencionar o artigo 146 - constrangimentoilegal - do referido código, que também podeser aplicado ao assédio sexual. Colocamos"indiretamente" porque a maior dificuldadeno que concerne à penalização do assédiomoral é justamente a sua "invisibilidade" e,portanto, o alto grau de subjetividade envol-vido na questão. O nexo causal, ou seja, a

comprovação da relação entre a conse-quência (no caso, o sofrimento da vítima) esua causa (no caso, a agressão), indispen-sável na esfera criminal, nem sempre é apa-rente, na medida em que tais humilhaçõessão mormente perpetradas "com luvas", ouseja, sem deixar as digitais do agressor.

No entanto, apesar dessa dificulda-de de penalização, como já observamos,devida ao fator subjetivo que envolve essetipo de delito, vários países já têm umalegislação específica para criminalizar oassédio moral no trabalho. É o caso daAlemanha, da Itália, da França, da Austrá-lia, dos Estados Unidos e da Suíça.

No Brasil, vereadores e deputadostêm tentado criar uma legislação maisdirecionada a esse fenômeno, no intuitode chamar atenção para sua gravidade. Éo caso de Arselino Tatto, vereador do PT,que teve seu projeto de lei aprovado emjaneiro de 2002, de Marcos de Jesus, de-putado pelo PL, que altera o Código Penalintroduzindo o inciso 146 A e do projetode lei de Antonio Mentor, deputado esta-dual pelo PT.

Como encerramento, fica uma suges-tão para reflexão: se não nos solidarizar-mos com as vítimas de assédio moral porsenso de justiça e bondade, deveríamosfazê-lo por inteligência... Amanhã qual-quer um de nós poderá vir a ser uma de-las... Sobretudo em uma estrutura socialem que, como vimos, impera o egoísmo ea hipercompetitividade.

De fato, em uma sociedade cuja basecultural fosse a fraternidade, o assédiomoral simplesmente não existiria, ou serestringiria às patologias individuais. Mas,enquanto vivermos em uma sociedadeque valoriza muito mais a capacidade decompetir e vencer do que o altruísmo e agenerosidade, com certeza esse tipo decoação moral continuará acontecendo.

Nesse sentido é que podemos afir-mar que a punição a esses agressores,que agem de maneira torpe - egoísta ecovarde - é bem- vinda. Impõe limites ecria barreiras a procedimentos antiéticos.

Continuemos, pois, em nossa luta so-lidária por uma sociedade mais justa emenos prepotente, em que possamos terdireito a expressar nossas opiniões semsofrermos qualquer tipo de retaliação.Oxalá venhamos algum dia a viver em umasociedade plenamente democrática.