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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE FACULDADE DE MEDICINA Programa de Pós-Graduação em Medicina ANÁLISE COMPARATIVA DOS NÍVEIS PLASMÁTICOS DE MARCADORES INFLAMATÓRIOS DE FASE AGUDA EM PACIENTES QUE UTILIZARAM A APROTININA E CORTICOSTERÓIDE DURANTE A CIRURGIA DE REVASCULARIZAÇÃO MIOCÁRDICA COM CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA Walter de Souza Homena Jr. Rio de Janeiro Setembro 2007

Walter de Souza Homena Júnior

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE FACULDADE DE MEDICINA Programa de Pós-Graduação em Medicina

ANÁLISE COMPARATIVA DOS NÍVEIS PLASMÁTICOS DE MARCADORES INFLAMATÓRIOS DE FASE AGUDA EM PACIENTES QUE

UTILIZARAM A APROTININA E CORTICOSTERÓIDE DURANTE A CIRURGIA DE REVASCULARIZAÇÃO MIOCÁRDICA COM CIRCULAÇÃO

EXTRACORPÓREA

Walter de Souza Homena Jr.

Rio de Janeiro Setembro 2007

ANÁLISE COMPARATIVA DOS NÍVEIS PLASMÁTICOS DE MARCADORES INFLAMATÓRIOS DE FASE AGUDA EM PACIENTES QUE

UTILIZARAM A APROTININA E CORTICOSTERÓIDE DURANTE A CIRURGIA DE REVASCULARIZAÇÃO MIOCÁRDICA COM

CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA

Walter de Souza Homena Jr. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Medicina (Cardiologia) da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Cardiologia.

Orientadores: Prof. Maurício da Rocha Pantoja

Prof. Eduardo Sérgio Bastos

Rio de Janeiro Setembro 2007

HOMENA Jr., Walter de Souza Análise comparativa dos níveis plasmáticos de marcadores inflamatórios de fase aguda em pacientes que utilizaram a aprotinina e corticosteróide durante a cirurgia de revascularização miocárdica com circulação extracorpórea / Walter de Souza Homena Jr. -- Rio de Janeiro: UFRJ / Faculdade de Medicina, 2007 xvi, 138 f.: ilust. 21 x 29,7 cm Orientadores: Maurício da Rocha Pantoja e Eduardo Sérgio Bastos Dissertação (mestrado) – UFRJ / Faculdade de Medicina / Cardiologia, 2007 Referências bibliográficas: f. 110-131

1. Marcadores biológicos - análise. 2. Proteínas da fase aguda. 3. Aprotinina. 4. Transcortina. 5. Revascularização miocárdia. 6. Circulação extracorpórea. 7.Cardiologia – Tese. I. Pantoja, Maurício da Rocha. II. Bastos, Eduardo Sérgio. III. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Medicina, Cardiologia. IV. Análise comparativa dos níveis plasmáticos de marcadores inflamatórios de fase aguda em pacientes que utilizaram a aprotinina e corticosteróide durante a cirurgia de revascularização miocárdica com circulação extracorpórea.

iii

ANÁLISE COMPARATIVA DOS NÍVEIS PLASMÁTICOS DE MARCADORES INFLAMATÓRIOS DE FASE AGUDA EM PACIENTES

QUE UTILIZARAM A APROTININA E CORTICOSTERÓIDE DURANTE A CIRURGIA DE REVASCULARIZAÇÃO MIOCÁRDICA

COM CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA

Walter de Souza Homena Jr.

Orientadores: Prof. Maurício da Rocha Pantoja

Prof. Eduardo Sérgio Bastos Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Medicina (Cardiologia) da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Cardiologia.

Em _____/_____/_______ Aprovada por:

___________________________________________ Prof. Rubens Giambroni Filho (Presidente)

___________________________________________ Prof. Marcelo Iório Garcia

___________________________________________ Prof. Ivan da Costa Barros

Rio de Janeiro Setembro 2007

iv

DEDICATÓRIA

Ao meu pai Walter, pelo caminho ensinado.

À minha mãe Luzia, por caminharmos de mãos dadas.

À Chris, minha mulher, Victória e Bruno, meus filhos, por chegarmos aqui.

v

Sem o poder da crítica, nenhum elogio é válido.

Pois... toda e qualquer evolução é fruto da crítica.

Beaumarchais

Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo,

qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.

Chico Xavier

A maior perda da vida é o que morre dentro de nós enquanto vivemos.

Um bombeiro desconhecido

vi

AGRADECIMENTOS

Aos Profs. Maurício da Rocha Pantoja e Eduardo Sérgio Bastos, por terem aberto

as portas para a realização deste trabalho, propiciando-me uma fase de crescimento e

amadurecimento profissional. Obrigado pelo incentivo, parceria, sabedoria e, acima de tudo, o

carinho durante todas as etapas percorridas.

Ao meu grande amigo e companheiro Dr. Plínio Resende do Carmo Jr., coordenador

do serviço de cardiologia do Hospital Barra D´Or, ser humano iluminado, com quem convivo

diariamente há quase 10 anos, obrigado por ter me ensinado o exercício da medicina em todas

as suas faces e pelo incentivo e ajuda imprescindível na viabilização desta empreitada. Sem

sua ajuda, essas palavras não estariam aqui impressas.

Ao grupo de cirurgia cardiovascular do Hospital Barra D´Or, representado pelo Dr.

Valdo José Carreira, cirurgião responsável e parceiro de todas as horas, pelo Dr. Alexandre

Pyramides, cirurgião, empreendedor e amigo, e pelos Drs. Ivo Thadeu Pinheiro e Rafael P.

Peixoto, anestesistas, cujas participações foram essenciais para elaboração e andamento deste

trabalho, obrigado pela confiança prestada.

À equipe do CTI de PO do Hospital Barra D´Or, representada por nossos médicos,

enfermeiros, técnicos, fisioterapeutas, nutricionistas e funcionários administrativos,

simplesmente, gratidão eterna.

À Dra. Martha Savedra, diretora médica do Hospital Barra D´Or, por permitir e

confiar nesta realização.

Ao Dr. Antônio Brasileiro pelo apoio e incentivo científico compartilhados desde o

início desta jornada.

Ao Dr. João Luiz Petriz e ao Dr. Adriano Caixeta pelo incentivo e orientações

prestadas nos alicerces desta tese.

Ao Dr. Paulo Costa e ao Dr. Francisco C. Leão, responsáveis médicos pelo

Laboratório de Patologia Clínica do Hospital Barra D´Or, pelo apoio incondicional à

realização das análises laboratoriais.

vii

Ao biólogos Manoel Jayme Aben-Athar Ivo, Andréa Pires Carneiro, Christiane

Diniz e ao Fábio Mota do Laboratório de Imunologia Clínica do Hospital Barra D´Or, pela

inestimável ajuda nos testes de quimiluminescência, sem vocês eu não teria realizado este

trabalho.

Muito obrigado aos funcionários da coleta de sangue às inúmeras solicitações de

coletas para que esta tese se concretizasse.

Obrigado em especial à enfermeira Ana Cláudia Costa Deud pela armazenagem das

amostras.

Ao Dr. Bráulio dos Santos Jr., pela análise estatística e pelas brilhantes sugestões.

À Theresa Ozelin e Amanda Medeiros, companheiras e amigas, obrigado pela

paciência e apoio logístico.

Ao Dr. Giovani Vitória Machado, ao Arthur e à Elisa, pela ajuda na confecção das

tabelas e gráficos.

À Bayer S.A. pelo apoio prestado no fornecimento dos frascos de aprotinina utilizados

no estudo e pela compra dos kits para dosagens das interleucinas.

Aos pacientes que acreditaram e colaboraram com o estudo. Que esta tese sirva de

benefício para os próximos.

viii

RESUMO

Homena Jr, W. S. Análise comparativa dos níveis plasmáticos de marcadores inflamatórios de fase aguda em pacientes que utilizaram aprotinina e corticosteróide durante a cirurgia de revascularização miocárdica com circulação extracorpórea. Rio de Janeiro, 2007. 138 p. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Medicina. Universidade do Rio de Janeiro.

Introdução: A cirurgia cardíaca determina intensa resposta inflamatória, com implicações

clínicas importantes. Cerca de 20% dos pacientes considerados de “baixo risco” desenvolvem

complicações no pós-operatório. Inúmeras medidas terapêuticas que visam a atenuar esse

processo, hoje denominado SIRS (systemic inflammatory response syndrome), têm sido

estudadas; enormes barreiras, porém, precisam ser ultrapassadas. Tal dificuldade poderia ser

atribuída à etiologia multifatorial da SIRS e à heterogeneidade das populações estudadas.

Objetivo: Realizar uma análise comparativa entre os níveis plasmáticos de marcadores

inflamatórios de fase aguda em pacientes submetidos à cirurgia cardíaca com circulação

extracorpórea (CEC) que utilizaram aprotinina ou corticosteróides.

Métodos: Estudou-se 40 pacientes de baixo risco submetidos à cirurgia de revascularização

miocárdica com CEC em caráter eletivo, divididos em 3 grupos: G0 (controle = 12 pac.); GA

(aprotinina = 12 pac.); e GC (metilprednisolona = 16 pac.). Amostras de sangue periférico

foram colhidas em três tempos diferentes: T0, 24 horas antes da cirurgia; e T1 e T2, 3 e 18

horas após o término da cirurgia, respectivamente. Os seguintes marcadores de resposta

inflamatória de fase aguda foram quantificados nessas amostras: TNF-α; IL-6; PCR;

fibrinogênio; haptoglobina; leucócitos e neutrófilos. A análise estatística utilizou o teste não

paramétrico de Kruskal-Wallis para a comparação entre os grupos, o teste de t para variáveis

contínuas e o teste de χ² para as proporções.

Resultados: Não houve diferença entre os grupos em relação às características demográficas,

clínicas (representadas pelos três escores de risco avaliados), o uso prévio de drogas

vasodilatadoras, a presença de diabetes mellitus e a classificação quantitativa do número de

artérias coronárias acometidas. Na cirurgia, os valores médios dos tempos de CEC, de

pinçamento aórtico e total de cirurgia, não diferiram entre os grupos, nem o uso de

hemoderivados, a despeito do menor sangramento no grupo A. Os níveis de IL-6 foram

maiores no G0 em relação ao GA e GC (374,4 ± 341,8; 260,2 ± 373,3; 249,2 ± 311,3 pg/ml,

respectivamente), porém sem significância (P = 0,2). Em relação aos níveis do TNF-α, G0,

GA e GC não diferiram (14,0 ± 19,1; 26,5 ± 61,3; 20,8 ± 48,1 pg/ml, respectivamente; P =

ix

NS). As diferenças nos maiores níveis séricos alcançados no pós-operatório (T1 e T2) entre os

grupos para o fibrinogênio, a haptoglobina e a PCR foram equivalentes (P = NS). Houve uma

significativa diferença entre os maiores níveis de T1 e T2 em relação aos valores basais da

leucometria, no grupo C em relação ao G0 e GA (15,0 ± 5,9; 8,4 ± 4,1 e 9,2 ± 3,4,

respectivamente; P = 0,02 e P = 0,003). Apesar disso, a análise da diferença dos valores

relativos dos neutrófilos não diferiu entre os grupos (P = 0,3).

Conclusão: Este estudo não foi capaz de mostrar através de duas intervenções de amplo uso

clínico (uso de aprotinina e metilprednisolona) redução nos vários marcadores da resposta de

fase aguda da inflamação em uma população de pacientes submetidos à cirurgia de

revascularização miocárdica com CEC.

x

ABSTRACT

Homena Jr, W. S. Comparative analysis of the plasma levels of markers for acute inflammation in patients receiving aprotinin and corticosteroids during coronary artery bypass grafting with extracorporeal circulation. Rio de Janeiro, 2007. 138 p. Master´s dissertation. School of Medicine of the Federal University of Rio de Janeiro.

Introduction: Heart surgery triggers an intense inflammatory response with significant

clinical implications. Approximately 20% of low-risk patients have postoperative

complications. Several therapeutic measures aiming at reducing that response, currently

known as systemic inflammatory response syndrome (SIRS), have been studied; huge

difficulties, however, need to be overcome. Such difficulties may be attributed to the

multifactorial etiology of SIRS and the heterogeneity of the populations studied.

Objective: To compare the plasma levels of markers for acute inflammation in patients

undergoing heart surgery with extracorporeal circulation (ECC) receiving either aprotinin or

corticosteroids.

Methods: The study comprised 40 low-risk patients undergoing elective coronary artery

bypass grafting (CABG) with ECC divided into the following 3 groups: G0 (control = 12 pt);

GA (aprotinin = 12 pt); and GC (methylprednisolone = 16 pt). Three peripheral blood samples

were collected as follows: T0, 24 hours prior to surgery; and T1 and T2, 3 and 18 hours after

surgery, respectively. The following markers of acute inflammatory response were quantified:

TNF-α; IL-6; PCR; fibrinogen; haptoglobin; leukocytes and neutrophils. Statistical analysis

comprised the Kruskal-Wallis non-parametric test for comparison between groups, the t test

for continuous variables and the χ² test for proportions.

Results: The groups did not differ in regard to their demographic and clinical (represented by

the 3 risk scores assessed) characteristics, the previous use of vasodilating drugs, the presence

of diabetes mellitus, and the number of coronary arteries impaired. No difference was

observed between the groups in regard to the use of blood derivatives and the mean times of

ECC, aortic clamping, and total surgery, despite the smaller bleeding in group A. The IL-6

levels were lower in G0 as compared to those in GA and GC (374.4 ± 341.8; 260.2 ± 373.3;

249.2 ± 311.3 pg/ml, respectively), but not significantly (P = 0.2). The TNF-α levels in groups

0, A and C did not differ (14.0 ± 19.1; 26.5 ± 61.3; 20.8 ± 48.1 pg/ml, respectively; P = NS).

The differences in the greatest postoperative serum levels (T1 and T2) between the groups for

fibrinogen, haptoglobin and PCR were equivalent (P = NS). A significant difference was

observed between the greatest levels in T1 and T2 and the baseline levels of leukocytes in

xi

group C as compared to those in groups 0 and A (15.0 ± 5.9; 8.4 ± 4.1 and 9.2 ± 3.4,

respectively; P = 0.02 and P = 0.003). The analysis of the difference in the relative levels of

neutrophils, however, did not differ between the groups (P = 0.3).

Conclusion: Despite being two drugs of widespread clinical use, this study could not show a

reduction in several markers of the acute phase of inflammatory response in patients

undergoing CABG with ECC and receiving aprotinin and methylprednisolone.

xii

ÍNDICE

Pág.Resumo viiiAbstract xLista de abreviaturas xivLista de tabelas xvLista de quadros xvLista de figuras xvi I- INTRODUÇÃO 1 II- REVISÃO DA LITERATURA 4II.1. A Circulação Extracorpórea 5II.2. A Resposta Inflamatória Sistêmica 18II.3. As Citocinas 42II.4. Os Corticosteróides 46II.5. A Aprotinina 52 III. OBJETIVO 64 IV. METODOLOGIA 66IV.1. Desenho Do Estudo 67IV.2. População Estudada 67IV.3. Esquema Terapêutico 67IV.4. Critérios De Inclusão 69IV.5. Critérios De Exclusão 70IV.6. Variáveis Analisadas 71IV.7. A Dosagem Dos Marcadores Inflamatórios 73IV.8. Coleta E Preparo Da Amostra 74IV.9. Teste De Quimiluminescência Imunométrica 75IV.10. A Reação De Quimiluminescência 76IV.11. O Procedimento Cirúrgico 77IV.12. O Procedimento Anestésico 78IV.13. Análise Estatística 78 V- RESULTADOS 80V.1. Características Clínicas E Demográficas 81V.2. Dados Cirúrgicos 83V.3. Variáveis Hematológicas 84V.4. A Resposta Inflamatória 85

V.4.1. A resposta inflamatória pelas citocinas 87V.4.2. A resposta inflamatória pelas proteínas de fase aguda 90V.4.3. A resposta inflamatória celular 92

VI. DISCUSSÃO 94 VII. CONCLUSÃO 107

xiii

Pág.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 109 ANEXOS 132Anexo 1 – Aprovação do projeto de pesquisa pelo comitê de ética em pesquisa do Hospital Barra D´Or.

133

Anexo 2 – Termo de consentimento livre e esclarecido 134Anexo 3 – Planilha dos resultados 135

xiv

LISTA DE ABREVIATURAS

°C - graus Celsius

ed. - edição

cols. - colaboradores

dL - decilitro

ex. - exemplo

F - French

h - horas

IIQ - intervalo inter-quartil

L - litro

mg - miligrama

mL - mililitro

mmHg - milímetros de mercúrio

p - página

rev. - revista

v. - volume

SIRS - síndrome da resposta inflamatória sistêmica (systemic inflammatory response syndrome)

MODS - síndrome da disfunção de múltiplos órgãos (multiple organ dysfunction syndrome)

CEC - circulação extracorpórea

IL - interleucina

TNF-α - fator de necrose tumoral-alfa (tumor necrosis factor-alpha)

PCR - proteína C-reativa

UTI - unidade de tratamento intensivo

xv

LISTA DE TABELAS

Pág.

Tabela 1. Papel das citocinas pró-inflamatórias na resposta imune à cirurgia cardíaca

45

Tabela 2. Papel das citocinas antiinflamatórias na resposta imune à cirurgia cardíaca

46

Tabela 3. Principais características clínicas e demográficas 81

Tabela 4. Principais características clínicas representadas pelos escores de risco cirúrgico para mortalidade

82

Tabela 5. Classificação dos grupos de acordo com o número de artérias coronárias acometidas

82

Tabela 6. Principais características perioperatórias 83

Tabela 7. Principais características hematológicas 84

LISTA DE QUADROS

Pág.

Quadro 1. Redefinição diagnóstica segundo o consenso ACCP-SCCM 19

xvi

LISTA DE FIGURAS

Pág.

Figura 1. Valores de TNF- α em T0 nos três grupos estudados 86

Figura 2. Valores de IL-6 em T0 nos três grupos estudados 86

Figura 3. Valores máximos de IL-6 entre T1 e T2. 87

Figura 4. Valores máximos de TNF-α entre T1 e T2. 88

Figura 5. Cinética da IL-6 no pós-operatório representada por seus valores medianos

89

Figura 6. Cinética do TNF-α no pós-operatório representada por seus valores medianos nos três diferentes grupos.

89

Figura 7. Diferença entre as medianas dos maiores valores do fibrinogênio em T1 e T2 em relação a T0.

90

Figura 8. Diferença entre as medianas dos maiores valores da haptoglobina em T1 e T2 em relação a T0.

91

Figura 9. Diferença entre as medianas dos maiores valores da PCR em T1 e T2 em relação a T0.

91

Figura 10. Cinética da PCR no pós-operatório representada por seus valores medianos nos três diferentes grupos.

92

Figura 11. Diferença entre as médias dos maiores valores da leucometria em T1 e T2 em relação a T0.

93

Figura 12. Diferença entre as médias dos maiores valores do número de neutrófilos em T1 e T2 em relação a T0 (valores percentuais em relação à leucometria)

93

CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO

2

I - INTRODUÇÃO

Desde a criação do sistema de circulação extracorpórea (CEC) por John Gibbon em

meados dos anos 1950, a resposta inflamatória por ela induzida tornou-se um dos maiores

desafios para o desfecho clínico favorável dos pacientes submetidos à cirurgia cardíaca. Em

1956, John W. Kirklin publicou a primeira série composta de 40 indivíduos submetidos à

CEC e atribuiu a mortalidade intra-hospitalar de 40% à então chamada “disfunção pulmonar”.

Desde então, o controle dessa resposta tem sido motivo de inúmeras investigações

clínicas e experimentais com resultados controversos, muitas das vezes difíceis de serem

transportados da “bancada” à beira do leito.

O uso rotineiro desde a década de 1970 dos corticosteróides para um possível controle

da resposta inflamatória e, posteriormente, da aprotinina para redução do sangramento

cirúrgico nos pacientes de alto risco para as complicações da coagulação gerou grande

interesse para que novas pesquisas fossem realizadas com essas drogas, uma vez que

propriedades antiinflamatórias foram atribuídas recentemente à aprotinina.

Como a aprotinina ainda é uma droga de alto custo, quando comparada com os

corticosteróides, devemos empregá-la de maneira rotineira naqueles pacientes submetidos à

cirurgia cardíaca com CEC? A resposta está em aberto.

Como a equipe de cirurgia cardiovascular na qual estamos inseridos não utiliza os

corticosteróides de maneira rotineira, a aprotinina é empregada com freqüência com o intuito

de reduzir o uso de hemoderivados. Diante da possibilidade de medirmos quantitativamente

alguns marcadores de fase aguda da resposta inflamatória, criamos a hipótese de que a

aprotinina e os corticosteróides causam uma redução significativa dos níveis séricos desses

3

marcadores. Há, portanto, uma lacuna na literatura para um ensaio clínico que contemple a

análise comparativa entre essas drogas.

CAPÍTULO II

REVISÃO DA LITERATURA

5

II - REVISÃO DA LITERATURA

II.1. Circulação Extracorpórea

A circulação extracorpórea (CEC) é um poderoso instrumento que possibilita a

cirurgia de coração aberto, assistência circulatória ou respiratória temporária e, dessa forma,

um suporte de vida mais prolongado. O sistema de perfusão gera fluxo de sangue e,

dependendo da aplicação, oxigena, resfria, reaquece ou processa esse sangue. Todavia, por ser

um procedimento invasivo, tem aplicação apenas temporária. A “bio-incompatibilidade” do

circuito de perfusão com os elementos do sangue é a maior causa de morbidade dessa

fantástica técnica.1

O estado atual desse sistema tem história de desenvolvimento de mais de 100 anos2 e

aplicabilidade apenas com o descobrimento da heparina em 19163 e da protamina em 1917.4

Antes de John e Mary Gibbon desenvolverem a máquina “coração-pulmão”, outros

experimentaram “bombas” de sangue e oxigenação extracorpórea de sangue venoso.2 John

Gibbon, com seus célebres trabalhos na década de 1930 no Massachusetts General Hospital

e, a seguir, na Jefferson Medical School, na Filadélfia, foi o primeiro cirurgião a empregar

com êxito o método em seres humanos, corrigindo, em maio de 1953, com sucesso, um

defeito do septo atrial em Cecelia Bovalak usando a CEC, desenhada pela International

Business Machines Corporation.5 Logo a seguir, em 1954, C. Walton Lillihey, na

Universidade de Mineápolis, realizou a primeira série consecutiva de cirurgia com CEC,

usando, porém, como oxigenador um doador (circulação cruzada). A primeira série de

pacientes operados com CEC com sucesso foi publicada por Kirklin e DuShane em 1955.

No Brasil, o primeiro cirurgião a empregar a CEC foi Hugo Filipozi, apresentando sua

série de pacientes operados em 1957. Zerbini, em São Paulo, e Domingos Junqueira, no Rio

6

de Janeiro, na Casa de Saúde São Miguel, chefiada por Fernando Paulino, realizaram os

primeiros casos de cirurgia cardíaca com CEC a partir de 1958. Em agosto de 1960, no 6°

Congresso Interamericano de Cardiologia, realizado no Rio de Janeiro, no Hotel Copacabana

Palace, foi apresentado o primeiro caso de paciente operado com hemodiluição.

Desde então, avanços técnicos têm diminuído a morbidade e a mortalidade da mesma.

O uso de heparina, entretanto, permanece como um pré-requisito e, também, uma de suas

limitações. A aplicação de novas tecnologias faz-se necessária para controlar a reação entre os

elementos do sangue e os biomateriais do circuito.6

II.1.1. Componentes do sistema de perfusão

A máquina “coração-pulmão” é o modelo mais oneroso dos sistemas de perfusão

extracorpórea. Seus componentes básicos são uma ou mais cânulas venosas, um reservatório

venoso, um permutador de calor, uma bomba, um filtro de linha arterial e uma cânula arterial.

A máquina contém material biocompatível que por definição deve ser não tóxico, não

imunogênico, não alergênico e não mutagênico. Exemplos desses materiais incluem

policarbonato, polivinilcloreto, teflon®, polietileno, aço inoxidável, titânio, borracha de

silicone e poliuretano. As vias para o fluxo de sangue são desenhadas para minimizar

turbulência, cavitação, estagnação, alteração na velocidade e no volume do perfusato

necessário. O sistema também requer múltiplos acessos para que outros subsistemas sejam

conectados, para coleta de amostras de sangue e para adicionar o perfusato e drogas. Dentre

esses subsistemas ou aplicativos acessórios à máquina básica, há um sistema de sucção para

cardiotomia que aspira sangue das cavidades cardíacas abertas e do campo cirúrgico. Esse

sangue é filtrado, depurado e adicionado diretamente ao perfusato. Sangue diluído

7

proveniente do campo cirúrgico pode ser “reaproveitado” por um sistema de cell saver, que

filtra e concentra hemácias antes de retorná-las para o perfusato.

O sistema de oferta de cardioplegia consiste em uma bomba, um reservatório e um

permutador de calor, sendo desenhado para oferecer sangue enriquecido com potássio ou

solução cristalóide diretamente na circulação coronária.

As máquinas de perfusão mais modernas têm arquitetura aberta que permite ao

perfusionista monitorar visualmente o conjunto e corrigir eventuais problemas; isso, no

entanto, expõe os componentes do sangue à maior área de materiais sintéticos, múltiplos sítios

de entrada de ar e potencial contaminação microbiológica.1

Os componentes do sistema de perfusão extracorpórea são detalhados a seguir.

a) cânulas venosas

Através de uma ou mais cânulas venosas, sangue desoxigenado é drenado por

gravidade para o circuito da CEC ou para o oxigenador. O número de cânulas venosas é

dependente do tipo de cirurgia e preferência do cirurgião. Quando uma cânula é utilizada, ela

é colocada no átrio direito através do apêndice atrial. Quando duas cânulas são utilizadas, elas

são colocadas através do átrio direito nas veias cavas superior e inferior. Podem também ser

inseridas através de canulação das veias femoral, ilíaca ou jugular, dependendo da situação,

como em reoperações, emergências, previsão de longa permanência sob suporte

hemodinâmico e revascularização por toracoscopia. Durante a perfusão, a pressão venosa

central deve ser mantida entre 5 e 15 mmHg. Pressões negativas colapsam o sistema e

obstruem o fluxo. Na maior parte dos circuitos de CEC, o sistema de drenagem venosa por

gravidade encontra-se entre 63 e 76 cm abaixo do plano das grandes veias sistêmicas.1

8

b) reservatório venoso

É uma bolsa compressível de polivinil com até 3 litros de capacidade, usada em linha

com o sistema do oxigenador de membrana e colocada acima da bomba. Nos oxigenadores de

bolha, o reservatório é incorporado ao sistema.1

c) oxigenador

Há dois tipos de oxigenadores, os de membrana e os de bolha. Uma membrana

microporosa de polipropileno ou, menos comumente, uma membrana de borracha siliconada

separa os compartimentos de gás e sangue nos oxigenadores de membrana. O oxigênio é

direcionado através de gradiente de pressão (cerca de 640 mmHg), difundindo-se no sangue

através de membrana não-porosa ou microporos de 1 µm. Devido à pouca difusão do oxigênio

no plasma, o sangue deve ser espalhado sobre uma superfície ampla (2-5,4 m²) para saturação

da hemoglobina. O gás carbônico difunde-se com facilidade no plasma, sendo rapidamente

liberado, a despeito dos baixos gradientes de pressão. O fino circuito de sangue e a grande

área da superfície de membrana geram alta resistência ao fluxo. Portanto, um reservatório

venoso em separado é necessário e uma bomba arterial é interposta acima do oxigenador de

membrana. Um permutador de calor está inserido nesse compartimento. Nos oxigenadores de

bolha, o sangue venoso é drenado diretamente para uma câmara, dentro da qual o oxigênio é

infundido através de um prato de difusão (pulverizador), que produz milhares de pequenas

bolhas de oxigênio no sangue.

Os dois tipos de oxigenadores ativam proteínas do sangue e células e produzem

microêmbolos. Os de bolha são mais eficientes na troca gasosa e têm menor custo; porém, o

trauma dos elementos do sangue é progressivo, desde que cada nova bolha representa uma

nova superfície “estranha”, com a qual aqueles elementos interagem. Como o contato do

sangue com a superfície dos oxigenadores de membrana é constante, rapidamente a superfície

9

dos oxigenadores torna-se revestida por uma camada de proteínas plasmáticas que reduzem a

ativação daqueles elementos. A maior parte da injúria celular ocorre nos primeiros minutos

nesses oxigenadores de membrana, causando menor trauma nas perfusões mais prolongadas.1

d) permutador de calor

O permutador de calor tem a função de controlar a temperatura corpórea durante a

CEC. A temperatura corporal interfere no metabolismo, sendo freqüentemente manipulada

durante a cirurgia por diversas razões. Devido à grande vulnerabilidade cerebral à isquemia, a

temperatura nasofaríngea (o transdutor está colocado próximo à base do cérebro) é avaliada

em conjunto com a temperatura retal ou vesical durante a CEC com hipotermia. A água

circula dentro do misturador entre 1-2˚C e 42˚C. Temperaturas acima de 42˚C aumentam o

risco de desnaturação protéica. O resfriamento é mais rápido que o reaquecimento, pois

grandes diferenças de temperatura podem ser mantidas entre a entrada e a saída de sangue do

paciente. As leis de Dalton e Boyle inferem que os gases são mais solúveis em plasma

resfriado. Portanto, perfusão de sangue resfriado para pacientes aquecidos deve ser evitada,

devido ao risco de formação de microbolhas. Reaquecimento rápido pode produzir

microbolhas visíveis no circuito da CEC, porém essas se dissolverão em contato com o

paciente resfriado. Por razões de segurança, diferenças de temperatura entre o perfusato e o

paciente maiores que 12 a 14˚C devem ser evitadas.1

e) bombas

As bombas impulsionam o sangue e existem três tipos comumente utilizados: as

centrífugas, as de rotor (hélice de impulsão) e as de rolete.

As bombas de rolete consistem de dois roletes a 180˚ que giram através de um

hemicírculo de metal. Quando um rolete começa a comprimir o tubo do circuito, o rolete

10

oposto o libera, permitindo que o sangue seja impulsionado continuamente em uma única

direção. As bombas de rolete são seguras e fáceis de operar, mantêm o fluxo unidirecional, a

despeito da pressão na linha de saída, e têm baixo custo. O débito da bomba é proporcional à

velocidade de rotação dos roletes e o diâmetro do tubo compressível. Na prática, a taxa do

fluxo de sangue é calculada ou copiada de uma figura que correlaciona a velocidade rotativa,

o diâmetro do tubo e o fluxo desejado. Essas bombas produzem uma curva de pressão em

senóide de baixa amplitude.

As bombas centrífugas e de rotor consistem de um sistema impulsionador de alta

rotação (cones concêntricos ou lâminas) inserido num compartimento com sangue. Ambas

podem gerar pressão negativa quando o fluxo é interrompido. As bombas centrífugas têm

inúmeras vantagens sobre as de rolete e de rotor, por não gerarem altas pressões retrógradas

quando o tubo é temporariamente interrompido ou torcido, não produzirem êmbolos pela

compressão do tubo e não propelirem êmbolos gasosos maiores. Essas bombas também geram

um fluxo de sangue contínuo e não pulsátil.1

f) filtros

Os filtros são desenhados para reter partículas e êmbolos gasosos. Os de linha arterial

são necessários para os circuitos com oxigenadores de bolha, sendo usados rotineiramente nos

sistemas com oxigenadores de membrana. A maioria deles requer 200 mL de perfusato, sendo

o ar retido retirado através de um sistema de suspiro.1

g) cânulas arteriais

Em geral, a cânula arterial é inserida na aorta ascendente, justamente proximal à

artéria inominada, mas pode ser colocada em qualquer parte do sistema arterial com diâmetro

suficiente para suportar o fluxo necessário. Com freqüência, a artéria femoral é acessada em

11

situações emergenciais, nas quais a CEC deve ser instituída antes que o mediastino possa ser

dissecado com segurança, em algumas reoperações e, por alguns cirurgiões, nos aneurismas e

dissecções da aorta. Altos fluxos através de cânulas estreitas podem gerar níveis de pressão

impróprios (>100 mmHg), turbulência e cavitação, que são lesivas aos elementos do sangue e

oferecem risco para a integridade das conexões. Para diminuir tais riscos, apenas a ponteira da

cânula inserida no vaso é reduzida a um diâmetro menor que o do tubo de conexão. Diâmetros

internos de cânulas arteriais comercializadas variam entre 6 e 24 F.1

h) sistema de sucção de cardiotomia

Esse sistema é necessário para o retorno do sangue sobrenadante no campo cirúrgico

das câmaras cardíacas abertas para o circuito da CEC. O sangue aspirado, no entanto, contém

enzimas ativadas pelo contato com a ferida cirúrgica e não é o mesmo com o qual o perfusato

será misturado. O sistema de sucção é uma importante causa de hemólise, é lesivo aos

elementos do sangue e, se não utilizado, pode diminuir o sangramento pós-operatório.7

Durante a cirurgia, esse sistema aspira debris teciduais e grande volume de ar, que devem ser,

obrigatoriamente, removidos através de um filtro inserido em um reservatório do sistema.

i) sistema de descompressão ventricular esquerda

Descompressão do coração não contrátil flácido previne a distensão ventricular e a

injúria miocárdica não isquêmica. A distensão ventricular reduz de maneira significativa a

contratilidade miocárdica8, pode diminuir o fluxo subendocárdico e, às vezes, induzir a lesão

pulmonar aguda pelo aumento súbito da pressão venosa retrógrada. O ventrículo esquerdo

pode ser descomprimido de diversas formas, mais comumente, sendo aspirado por um cateter

inserido na junção da veia pulmonar superior direita com o átrio esquerdo.

12

O sangue aspirado pode ser drenado por gravidade em um reservatório venoso do

sistema de perfusão, sendo que, com maior freqüência, uma bomba de rolete é usada para

aspirá-lo para o reservatório de cardiotomia. Válvulas unidirecionais no sistema previnem a

entrada acidental de ar no coração. No entanto, uma vez as cavidades esquerdas abertas, todo

o ar deve ser cuidadosamente retirado antes do reinício das contrações.1

j) cardioplegia

Vários métodos e soluções são empregados visando à proteção miocárdica durante a

cirurgia cardíaca, dependendo do tipo de cirurgia e da experiência do cirurgião. O mais

popular consiste de solução sangüínea ou cristalóide, fria e rica em potássio (4 a 12˚C),

infundida de forma anterógrada pela aorta ou retrógrada pelo seio coronário. Mais

recentemente, perfusão sangüínea contínua, normotérmica, rica em potássio tem sido utilizada

nas revascularizações miocárdicas em alguns centros. Se a raiz aórtica for aberta, cardioplegia

pode ser aplicada de maneira direta nas coronárias.

Soluções cardioplégicas são aplicadas através de um sistema especial de perfusão que

contém uma bomba de rolete, um reservatório, um sistema para permuta do calor em separado

e, opcionalmente, um filtro de leucócitos.1

l) cell saver

Apenas sangue plenamente anticoagulado deve passar pelo circuito da CEC. Coágulos

no circuito acarretam uma catástrofe, resultando na interrupção imediata da perfusão e

possível morte do paciente. Após a entrada do sangue por uma ponteira aspirativa, a heparina

é adicionada e, em seguida, o sangue é direcionado para um filtro de 20 µm e depois para um

reservatório onde as células são “lavadas” e centrifugadas. O lavado que inclui constituintes

13

do plasma e heparina é desprezado, mas o concentrado de hemácias é coletado em bolsas

plásticas e reinfundido, se necessário.1

m) perfusionista

Perfusionistas são responsáveis pela segurança e contínua operação da máquina, sob

controle direto do cirurgião. O perfusionista recebe instruções específicas em relação à taxa

de fluxo, nível de temperatura e alocação diferencial do perfusato entre o paciente e a

máquina. É ainda responsável pela monitorização das pressões no sistema, adequada

manutenção da troca de oxigênio e gás carbônico, entrada de ar no sistema ou obstrução ao

fluxo e, finalmente, manutenção da perfusão e metabolismo de órgãos e tecidos.1

II.1.2. Manuseio da circulação extracorpórea

a) montagem do sistema da CEC

A máquina da CEC é parcialmente montada 30 a 60 minutos antes do início da

perfusão. O sistema é preenchido com cristalóide, que circula por alguns minutos através de

um filtro estéril de 0,2 a 0,5 µm para remoção de todas as bolhas de ar e partículas embólicas

do sistema. Esse filtro é descartado antes do começo da CEC e, durante a recirculação, o

sistema é inspecionado e todos os sistemas de monitorização são testados.1

b) perfusato

Em geral, o perfusato consiste de solução salina balanceada, sendo necessários cerca

de 2 litros do mesmo para preencher o sistema. Uma vez iniciada a perfusão, o hematócrito do

paciente é mantido em torno de 20-25%, sendo que alguns cirurgiões permitem valores

menores, quando a temperatura é mantida mais baixa. Durante a perfusão, perfusato adicional

14

pode ser necessário para operar o sistema com segurança. O tipo de perfusato acrescido é

determinado pela concentração de hemoglobina.

A redução dos níveis de hemoglobina durante a CEC tem inúmeras vantagens.

Primeiro, menor quantidade de sangue é necessário para a cirurgia e, com isso, há menor risco

de contaminação microbiológica e reações adversas. Segundo, o trauma celular e de proteínas

plasmáticas é reduzido desde que menos sangue se encontre no circuito. A hemodiluição

também aumenta o fluxo urinário e a depuração de sódio, potássio e creatinina. A incidência

de oligúria e necrose tubular aguda é menor com a hemodiluição. Com menor viscosidade, o

fluxo de sangue é facilitado através de vasos parcialmente obstruídos e através de pequenas

arteríolas e capilares, em especial durante hipotermia. A hemodiluição, no entanto, reduz a

pressão oncótica intravascular, aumentando o edema intersticial. Todavia, essa desvantagem

não afeta suas múltiplas vantagens e as técnicas para conservação de sangue.1

c) anticoagulação

A heparina é fundamental para a CEC, embora não seja o anticoagulante ideal. Direta

e indiretamente, essa droga contribui para sangramento durante a cirurgia e no período de pós-

operatório. O desejo de menor sangramento e hemotransfusão tem fomentado questões a

respeito da quantidade de heparina necessária para cirurgias com o coração aberto.9 A CEC e

a ferida cirúrgica geram estímulo trombótico que deve ser prevenido para que não se formem

coágulos no sistema.

A heparina age próximo do final da cascata da coagulação e, durante a CEC, não

suprime a produção de uma série de potentes proteases plasmáticas ativadas durante a

“cascata” enzimática, amplificada e acelerada, até que seja bloqueada pelo seu cofator

essencial, uma proteína plasmática natural, a antitrombina (AT). A AT é uma grande (58.000

daltons) e abundante (140 µg/mL) proteína inibidora de proteases plasmáticas, que incluem o

15

fator XIIa, a calicreína, o complemento ativado, a plasmina, os fatores de coagulação IXa, Xa,

XIa e a trombina.1

A heparina age apenas como catalisador, não fazendo parte do complexo trombina-

AT. Apesar do forte estímulo trombótico da ferida cirúrgica e da CEC já comentado

anteriormente, e a despeito do tempo de coagulação ativado estar maior que 400 segundos,

trombina é progressivamente formada durante a CEC em todos os pacientes. Doses

padronizadas de heparina (300-400 U/kg) falham em suprimir por completo a formação de

trombina, resultando na permanência dessa na circulação, sendo a trombina uma poderosa

protease com múltiplos alvos de ação.1

O efeito anticoagulante das preparações de heparina varia na dependência da

concentração plasmática de AT. Se a concentração de AT for baixa, ocorrerá resistência à

heparina. Em tais pacientes submetidos à CEC, faz-se necessária imediata transfusão de

plasma fresco congelado para suplementar as concentrações de AT e aumentar o tempo de

coagulação ativado para níveis seguros (> 400 segundos) antes do começo da perfusão. Cerca

de 0,2-0,4% da população tem deficiência congênita de AT, tendo os recém-natos cerca de

metade da concentração dos adultos. Essa deficiência também pode ser encontrada em

prematuros, crianças cianóticas, doença hepática e renal avançada, pacientes caquéticos,

mulher em terapia de reposição hormonal com estrógenos e pacientes que tenham feito uso

recente de heparina.10,11

A heparina aumenta a sensibilidade das plaquetas a vários agonistas12,13 e,

discretamente, o tempo de sangramento.14 O complexo AT-heparina não é capaz de inibir a

trombina ligada à fibrina e não previne a ativação da trombina pelas plaquetas, assim como a

conversão do fibrinogênio nos coágulos. A heparina também contribui para a ativação dos

neutrófilos e, quando ligada à protamina, é o principal fator ativador do complemento. A

16

trombocitopenia induzida pela heparina (HIT) (contagem de plaquetas <50.000/µL) ocorre em

cerca de 2-3% dos pacientes.15 A heparina, portanto, não é o anticoagulante ideal. A

monitorização da heparina é essencial durante a CEC para impedir a formação de trombos no

circuito; todavia, nem a heparina nem a trombina podem ser mensuradas na sala de operação.

O tempo de coagulação ativado (TCA) é o método mais comum e simples utilizado para se

mensurar o nível de anticoagulação. A sensibilidade à heparina, assim como seu metabolismo,

variam entre os indivíduos16, sendo que pacientes previamente expostos à heparina têm

sensibilidade diminuída.17 Por essas razões, alguns clínicos recomendam a titulação da

quantidade de heparina necessária para se alcançar o TCA desejado (> 400 segundos) antes do

início da perfusão, de modo a se evitar um TCA prolongado, não esperado para a dose padrão

de 300-400 U/kg, empregada de forma rotineira.

A avaliação do TCA faz-se necessária a cada 30 minutos durante a CEC, sendo

heparina adicionada para se manter o TCA acima de 400 segundos. Se a aprotinina for

utilizada e o TCA for avaliado em tubos de teste celite, esta interação prolonga o tempo de

formação do coágulo e, conseqüentemente, o TCA. Nessas circunstâncias, a CEC deve ser

postergada até o TCA alcançar 750 segundos, sendo que a aprotinina não afeta o TCA em

tubos de teste de caulim.18

d) protamina

Após o término da CEC e da retirada das cânulas venosas, administra-se protamina (1

mg para cada 100 unidades de heparina) para a neutralização da heparina. Em cerca de 50%

dos pacientes, a protamina causa hipotensão transitória e redução do débito cardíaco.19 O

complemento ativado causa vasodilatação, disfunção cardíaca e aumento na permeabilidade

capilar, mas também estimula mastócitos e basófilos a liberarem histamina. Essa reação

normalmente responde à reposição de cálcio, sendo, em geral, transitória. Em raros casos, a

17

protamina pode causar reação anafilática em pacientes diabéticos, alérgicos a peixe ou já

expostos à protamina. Anticorpos para protamina IgE ou IgG pré-existentes podem ser

demonstrados em muitos desses indivíduos.20

O efeito “rebote” da heparina é descrito como um efeito anticoagulante aparente, com

aumento do TCA, ocorrendo entre uma e três horas após neutralização plena da heparina. Tal

fenômeno justifica-se pela posterior liberação da heparina ligada às células endoteliais após

sua neutralização sérica. Como a protamina é uma molécula menor, pode ser eliminada da

circulação antes que toda a heparina ligada seja metabolizada.21

e) taxas de fluxo e pressão

Desde que o oxigênio não é armazenado no organismo, as taxas de fluxo e perfusão

devem ter a capacidade de suprir a demanda metabólica tecidual continuamente. O consumo

de oxigênio em normotermia é de 80 a 125 mL/minuto/m², sendo similar àquele de pacientes

adultos anestesiados sem CEC. A 37˚C, a taxa de fluxo de 2,2 litros/minuto/m² é adequada

para a demanda metabólica, evitando-se, assim, acidose metabólica durante a CEC em adultos

anestesiados. A hipotermia reduz a demanda metabólica, permitindo, portanto, fluxos

menores que 2,2 litros/minuto/m².

Em geral, a tensão sangüínea média durante a CEC em normotermia é mantida em

torno de 50-70 mmHg. O aumento no número de complicações neurológicas está associado à

pressão arterial média menor que 45 mmHg. Com hipotermia moderada, a tensão sangüínea

acima de 35 mmHg é considerada segura para pacientes sem doença cerebrovascular definida.

Durante a CEC, a pressão é controlada pela taxa de fluxo, pelo volume intravascular e pela

infusão de vasodilatadores e/ou vasoconstritores periféricos. Níveis mais profundos de

anestesia também ajudam a reduzir os níveis tensionais.1

18

f) temperatura

O consumo de oxigênio diminui em 50% a cada 10˚C de decréscimo na temperatura

corporal, permitindo assim uma redução na taxa de fluxo sem conseqüente aumento da

lactatemia ou da acidose metabólica. Abaixo de 28˚C, um fluxo de 1,6 litros/minuto/m² é

seguro até duas horas. A redução na temperatura corporal proporciona maior segurança para

determinada duração do tempo de isquemia; no entanto, a demanda de tempo necessária para

o reaquecimento é sua maior desvantagem. A hipotermia também altera a reatividade de

alguns elementos do sangue, em especial das plaquetas, assim como afeta o metabolismo da

heparina. Práticas recentes tendem a realizar cirurgias relativamente curtas em normotermia

ou mesmo hipotermia leve (ex., 32-34˚C).22,23 A CEC em normotermia pode reduzir a

resistência vascular sistêmica e a perda de sangue no período de pós-operatório imediato,

porém tal prática diminui a saturação de oxigênio venoso cerebral, principalmente no início

da perfusão. Avanços nas técnicas de cardioplegia que mantêm a temperatura cardíaca, de

forma protetora, mais baixa ou oferecem perfusão coronária contínua a 37˚C durante o

pinçamento aórtico são características essenciais para a perfusão em normotermia.

II.2. A Resposta Inflamatória Sistêmica

Inflamação é a resposta orgânica, humoral e celular a qualquer injúria tecidual, sendo

caracterizada por rapidez e alta amplificação.24 Enquanto o termo sepse tem sido

classicamente utilizado para definir uma resposta clínica à infecção, resposta similar pode

também ocorrer na ausência de infecção.25 De fato, pacientes caracteristicamente com sepse,

porém com cultura microbiológica negativa, têm taxas de morbidade e mortalidade

semelhantes às da população com cultura positiva.26 Deduziu-se que esse processo seja uma

resposta inflamatória generalizada e inespecífica à injúria, o que resultou em uma imediata

19

redefinição diagnóstica desses eventos dentro de um processo pelos Americam College of

Chest Physicians e Society of Critical Care Medicine Consensus Conference Committee

(ACCP-SCCM) em 1991 (veja Quadro 1).25

Quadro 1 – Redefinição diagnóstica segundo o consenso ACCP-SCCM

Infecção: Fenômeno microbiológico caracterizado por uma resposta inflamatória à presença de um microorganismo ou à invasão de um tecido estéril do hospedeiro por qualquer organismo. Bacteremia: Presença de uma bactéria viável no sangue. Síndrome da resposta inflamatória sistêmica: Resposta inflamatória sistêmica a uma variedade de insultos clínicos. Manifesta-se por duas ou mais das seguintes condições: - Temperatura < 36°C ou > 38°C; - Freqüência cardíaca > 90 bpm; - Freqüência respiratória > 20 ipm ou PaCO2 < 32 mmHg; - Leucometria < 4.000 células/µL, > 12.000 células/µL, ou >10% bastões (formas imaturas) Sepse: Resposta sistêmica à infecção. Sepse severa: Sepse associada à disfunção orgânica, hipoperfusão ou hipotensão. Anormalidades de perfusão podem incluir, mas não estão limitadas a, acidose lática, oligúria ou uma alteração abrupta do estado mental. Choque séptico: Sepse com hipotensão, a despeito de adequada ressuscitação volêmica, associada à presença de anormalidades na perfusão, que podem incluir, mas não estão limitadas a, acidose lática, oligúria ou uma alteração abrupta do estado mental. Pacientes que estão em uso de inotrópicos ou de agentes vasopressores podem não estar hipotensos no momento em que as anormalidades de perfusão estejam sendo mensuradas. Hipotensão: Pressão sistólica sangüínea < 90 mmHg ou a redução > 40 mmHg do valor basal (em adultos), na ausência de outras causas para hipotensão. Síndrome da disfunção orgânica múltipla: Presença de uma disfunção orgânica em um paciente agudamente enfermo, no qual a homeostase não possa ser mantida na ausência de intervenção.

O termo “síndrome da resposta inflamatória sistêmica” (SIRS) tem sido proposto para

descrever o ponto de entrada nesse processo, uma entidade que se sobrepõe à resposta

inflamatória normal no período de pós-operatório. A SIRS, independentemente das suas

20

causas, é um indicador de injúria sensível e inespecífico, tendo sua classificação importância

prognóstica.26 Uma freqüente complicação da SIRS é o desenvolvimento de disfunção

orgânica, incluindo injúria pulmonar aguda, choque, falência renal e a síndrome da disfunção

orgânica múltipla (MODS). Finalmente, a sobrevida ao longo prazo em pacientes que

desenvolvem SIRS pode ser afetada adversamente. Esse fato está bem documentado no

contexto da sepse, pelo maior risco de morte em até cinco anos após o episódio de sepse.27

II.2.1. A resposta inflamatória à cirurgia cardíaca

A cirurgia cardíaca determina vigorosa resposta inflamatória, com implicações clínicas

importantes. Sob análise da Society of Thoracic Surgeons National Database, 20% (22.000)

de pacientes considerados de “baixo-risco” desenvolveram complicações no pós-operatório.28

A incidência de MODS após a CEC foi de 11%, com mortalidade de 41% desses pacientes

em outro estudo. A disfunção orgânica múltipla adquirida é o melhor preditor para

mortalidade em pacientes submetidos à cirurgia cardíaca e que requerem maior tempo de

ventilação mecânica no pós-operatório. Muitos aspectos do risco para o desenvolvimento

dessas graves complicações são relativamente fixos (genótipo, condição orgânica prévia,

dificuldade cirúrgica, etc); porém, para descobrir como intervir para a melhora desse

processo, mais estudos são necessários.29

Fatores que influenciam a incidência, gravidade e o prognóstico clínico da resposta

inflamatória e, em particular, as razões pelas quais certos pacientes desenvolvem graves

complicações com risco de vida ainda não são compreendidas. Três perspectivas podem

contribuir para o entendimento da relação entre resposta inflamatória e evento clínico adverso.

21

Primeiro, a complexa interação entre as moléculas humorais pró-inflamatórias e

antiinflamatórias pode influenciar a apresentação clínica e o curso da SIRS, com o balanço de

citocinas pró-inflamatórias e antiinflamatórias determinando o curso clínico da cirurgia

cardíaca.30 De maneira alternativa, mudanças no tempo de curso, na magnitude ou no padrão

da liberação dessas citocinas que se seguem à CEC, podem contribuir para essas

anormalidades na resposta inflamatória.

Segundo, um cenário de múltiplas agressões pode ser visto, através do qual, seqüelas

se desenvolvem, tais como infecção ou hipoperfusão tecidual mantida.25,31 A combinação de

resultados da conversão de um processo que, inerentemente, é autolimitado, associado a uma

resposta homeostática controlada em um processo destrutivo incontrolado, resultará em

disfunção orgânica.25,31,32 Mecanismos potenciais inseridos nas bases fisiopatológicas dessas

múltiplas agressões incluem a habilidade da CEC em “atrair” neutrófilos, causando a

chamada leuco-seqüestração pulmonar e a amplificação da liberação de citocinas que se segue

ao insulto subseqüente.33

Terceiro, sugere-se que possa haver concepção errônea sobre a resposta inflamatória.

O estado pró-inflamatório, SIRS, pode ser apenas um aspecto de uma resposta multifacetada.

O inverso tem sido denominado de “síndrome da resposta antiinflamatória compensatória”.34

A imunossupressão generalizada induzida pela CEC pode ter um importante papel no

desenvolvimento das complicações infecciosas.35 De uma forma acumulativa, essas respostas

representam uma tentativa do organismo de restabelecer a homeostasia e podem, do ponto de

vista clínico, manifestar-se como predominantemente pró-inflamatória (SIRS),

antiinflamatória (síndrome da resposta antiinflamatória compensatória), ou uma resposta

mista intermediária.34

22

II.2.2. Fisiopatologia da resposta inflamatória à cirurgia cardíaca

a) fatores que ativam a resposta inflamatória

Ativadores inespecíficos da resposta inflamatória incluem o trauma cirúrgico per se,

sangramento ou hemotransfusão e hipotermia. Além desses, a CEC pode especificamente

ativar a resposta inflamatória através de três mecanismos distintos. Um mecanismo envolve

diretamente a “ativação por contato” do sistema imune, que se segue à exposição dos

elementos do sangue às superfícies não biocompatíveis do circuito da CEC. Outro mecanismo

envolve a injúria de isquemia–reperfusão do cérebro36, coração37,38, pulmões39, rins40,41 e

fígado42 como resultado do pinçamento aórtico. A restauração da perfusão após a retirada do

pinçamento aórtico está associada à ativação de marcadores chaves da resposta

inflamatória.43,44

Por último, a endotoxemia pode indiretamente ativar a cascata inflamatória. A

hipoperfusão esplâncnica, um achado comum durante e após a CEC45, pode alterar a barreira

da mucosa e, com isso, permitir a translocação de endotoxinas.46 Concentrações séricas de

endotoxinas se correlacionam intimamente com o grau de disfunção cardiovascular após a

CEC47,48, enquanto baixas concentrações séricas de imunoglobulina M anti-endotoxina foram

capazes de predizer pior prognóstico.49 No entanto, a importância da endotoxemia em

estimular a resposta inflamatória à cirurgia cardíaca permanece em aberto, através de

evidências conflitantes a respeito da importância da translocação intestinal. O único estudo

que examinou a incidência e o tempo de hipoperfusão esplâncnica (através da mensuração do

pH intramucoso), permeabilidade intestinal e endotoxemia durante a CEC não encontrou

associação da acidose nas células da mucosa com endotoxemia e permeabilidade intestinal.50

23

b) componentes-chave da resposta inflamatória

• a cascata do complemento

O complemento é ativado durante a CEC, durante a reperfusão dos tecidos isquêmicos

e após a neutralização da heparina com a protamina.51 A exposição dos elementos do sangue

ao circuito da CEC resulta na ativação direta por “contato” da cascata do complemento,

predominantemente pela via alternativa.43,52,53 A formação do complexo heparina-protamina

ativa a cascata do complemento principalmente pela via clássica (C4a).52,54 Nos primeiros

cinco dias após a cirurgia cardíaca, um segundo aumento, mais tardio, dos produtos da

ativação do complemento, é observado. Esse aumento parece ser mediado pela proteína C

reativa em resposta ao complexo heparina-protamina.

O grau de ativação do complemento tem significado clínico. O nível de shunt

pulmonar no pós-operatório correlaciona-se com a ativação da via clássica pelo complexo

heparina-protamina.55 Níveis séricos do complexo proteína C reativa-C4d, um específico

marcador para a ativação do complemento pela proteína C reativa, correlacionam-se com a

ocorrência de arritmias no pós-operatório de revascularização miocárdica.54 Concentrações

aumentadas no pós-operatório de C3a podem predizer a probabilidade de disfunção cardíaca,

pulmonar, renal e da coagulação, assim como predizer MODS na população pediátrica.53

Anticorpo anti-C5a, que reduz a formação de sC5b-9, diminuiu significativamente a injúria

miocárdica, o sangramento e a disfunção cognitiva no pós-operatório de pacientes submetidos

à CEC.56

• a cascata das citocinas

As citocinas, individualmente, têm efeito pró-inflamatório e antiinflamatório, são

essenciais para a homeostase fisiológica e imunológica e são produzidas em resposta a vários

24

estímulos, sejam eles fisiológicos ou patológicos. Como citado antes, a resposta à cirurgia

cardíaca das citocinas pró-inflamatórias está balanceada por uma fase de resposta

antiinflamatória, por meio de receptores solúveis de citocinas, antagonistas dos receptores de

citocinas e citocinas antiinflamatórias.57. Enquanto o papel específico para outros mediadores

antiinflamatórios permanece indefinido, sugere-se que o prognóstico clínico de pacientes

submetidos à cirurgia cardíaca dependerá do balanço entre citocinas pró-inflamatórias e

antiinflamatórias.51

• o óxido nítrico

O óxido nítrico (ON) é um mediador biológico ubíquo que atua como regulador

fisiológico, assim como pode ter papel na lesão tecidual. Funções fisiológicas reguladoras

incluem, principalmente, a vasodilatação mediada pelo endotélio na circulação sistêmica e

pulmonar e significante função imunomodulatória. O ON pode ter inúmeras funções

protetoras na resposta inflamatória, como a prevenção do acúmulo de mediadores no

endotélio pela vasodilatação por ele induzida, a depuração de radicais livres e a regulação da

expressão das moléculas de adesão CD11/CD18 dos neutrófilos.58

O papel do ON na resposta inflamatória é complexo, uma vez que apresenta várias

ações benéficas e outras potencialmente deletérias. A depressão da função miocárdica

induzida pelas citocinas parece estar relacionada ao aumento da enzima ON-sintetase induzida

(iNOS)59, que se encontra ativada pela CEC. A prevenção desse fenômeno pode reduzir a

instabilidade hemodinâmica após a CEC60, enquanto a inibição da iNOS pode reverter a

hipotensão refratária no choque estabelecido. Enquanto o papel de depurador de radicais

livres do ON é, em geral, protetor, esse pode se combinar com radicais superóxido para

formar peroxinitrito, o mais reativo e deletério radical livre.61

25

Finalmente, o ON parece ser uma poderosa toxina celular direta, que inativa enzimas

envolvidas na glicólise, no ciclo de Krebs, no transporte de elétrons e reduz a adenosina

trifosfato intracelular e a concentração de anti-oxidantes, predispondo, portanto, à morte

celular.

Assim, a duração, a fonte e a quantidade de ON podem ser a chave para dissecar esse

aparente papel paradoxal. A resposta pró-inflamatória, uma vez completamente desenvolvida,

representa um estado de liberação plena de ON.

• a cascata da coagulação-fibrinólise

A cascata da coagulação-fibrinólise e a resposta inflamatória, enquanto em muitos

aspectos são processos independentes, estão intimamente interconectadas, sendo a ativação da

coagulação um componente-chave da resposta inflamatória aguda e vice-versa. Nesse

contexto, inflamação e coagulação devem ser consideradas facetas diferentes da mesma

resposta do hospedeiro à injúria.

A coagulação é tradicionalmente dividida (por conceituação e propósitos práticos) em

vias intrínseca e extrínseca, ambas levando a uma via final comum que resultará, através da

geração de trombina, na formação do coágulo de fibrina insolúvel. A ativação da coagulação

após a CEC se dá, em sua maior parte, pela ativação da via intrínseca pelo sistema de contato,

como dito antes. Isso sugere que a via extrínseca, que requer a expressão e a ativação do fator

tecidual, provavelmente em resposta ao estímulo inflamatório e ao estresse oxidativo, pode

estar envolvida.62

A homeostase é mediada pelo balanço de forças pró-coagulantes e anticoagulantes,

que em circunstâncias normais coexistem num delicado processo. A cascata da coagulação

consiste de precursores circulantes inativados, que são seqüencialmente ativados através de

26

clivagem enzimática. A trombina, o último produto, catalisa a formação da fibrina insolúvel

pelo fibrinogênio que se ligará aos agregados de plaqueta. Em geral, esse processo é

controlado e limitado a discretos sítios de injúria por moduladores, que incluem ativadores do

plasminogênio, trombomodulina, proteínas C e S e proteases séricas inibidoras como a

antitrombina III. A cascata fibrinolítica, ativada durante a coagulação, resulta na formação de

plasmina, que rompe o fibrinogênio e a fibrina, remodelando o coágulo formado e, mais tarde,

removendo o trombo durante a cicatrização endotelial.

No contexto da CEC, vários pontos específicos referentes à complexa inter-relação

entre coagulação e inflamação merecem atenção. O endotélio está envolvido em ambos os

processos. Citocinas pró-inflamatórias têm papel central na deflagração da coagulação

localmente nos sítios de inflamação, pela ativação do endotélio, indução da expressão do fator

tecidual, das moléculas de adesão dos leucócitos na superfície das células intravasculares,

assim como na estimulação da produção dos fatores de ativação plaquetária.63,64 Isso,

combinado com a inibição da expressão da trombomodulina e das vias anticoagulantes

(proteína C e fibrinólise), altera o balanço entre atividade pró-coagulante e anticoagulante,

resultando em um estado marcadamente pró-coagulante.

O sistema de coagulação, por sua vez, tem impacto na inflamação. A ativação

plaquetária nos sítios de injúria tecidual resulta na liberação de múltiplos fatores que alteram a

integridade tecidual. Proteínas da coagulação, como a trombina e o fator Xa, têm propriedades

pró-inflamatórias. A trombina, formada após a ativação da cascata da coagulação, estimula

inúmeras células quimiotáxicas e mitogens, responsáveis pela propagação da lesão e reparo

tecidual.63,64

A heparina e a protamina têm importante efeito imunomodulatório. A neutralização da

heparina pela protamina pode resultar em múltiplos efeitos cardiovasculares, que incluem

27

aumento da pressão da artéria pulmonar e diminuição da pressão arterial, do consumo

miocárdico de oxigênio, do débito cardíaco, da freqüência cardíaca e da resistência vascular

sistêmica. Essa interação ativa a resposta inflamatória através de inúmeros mecanismos, que

incluem a ativação do complemento, liberação de histamina, produção de tromboxane e óxido

nítrico e formação de anticorpos. A liberação de tromboxane é causa de importante aumento

da resistência vascular pulmonar.65

A injúria vascular global que se segue à CEC, pode resultar em ativação plaquetária

incontrolada, geração de trombina e coagulação intravascular disseminada. O depósito de

fibrina nos pequenos vasos pode ocluir a microcirculação e causar lesão em órgãos-alvo,

culminando com MODS progressiva e óbito.66

• o endotélio

O endotélio vascular é um participante dinâmico da função orgânica e celular, muito

mais que apenas uma barreira estática, como se acreditava. Está intimamente envolvido em

uma variedade de processos fisiológicos e patológicos e tem surgido como um foco central

em muitos eventos biológicos que afetam o curso perioperatório dos pacientes submetidos à

cirurgia cardíaca. O endotélio controla o tônus e a permeabilidade vasculares, regula a

coagulação e a trombose e direciona a passagem de leucócitos para dentro das áreas de

inflamação, através da expressão das proteínas de superfície e secreção de mediadores

solúveis.

A resposta inflamatória induzida pela CEC é caracterizada por ativação e disfunção

endotelial difusa.67 Mediadores inflamatórios, incluindo TNF-α e IL-1β, ligam-se a receptores

específicos no endotélio, iniciando diversas vias de sinal para a transdução, que por sua vez,

ativa um gene específico da célula endotelial, chamado gene de ativação. A transcrição do

fator NF→B tem um papel central no processo de transdução do sinal. Esse processo resulta

28

na translação de proteínas, incluindo moléculas de adesão (ex, E-selectina, molécula de

adesão intercelular-1) e citocinas (ex, IL-8), requerendo a ativação celular endotelial, um

processo que dura cerca de 4 horas e alcança seu pico em 8-24 horas, dependendo do gene.62

A ativação endotelial tem um papel central na ligação entre o sistema de coagulação e

inflamação, através da expressão de proteínas centrais para esse processo62,64. A expressão das

moléculas de adesão medeia a interação entre os neutrófilos e as células endoteliais,

resultando na adesão desses, ativação e degranulação, acarretando injúria endotelial,

extravasamento capilar difuso e formação de edema.62,68

Vários fatores vaso-reativos, tais como ON, prostaciclina, fator hiperpolarizante

derivado do endotélio, endotelina e tromboxane A2, têm importante papel na patogênese da

lesão microcirculatória que se segue à CEC, cujo exemplo é o aumento da resistência vascular

pulmonar, atribuído à redução na liberação de ON pelo endotélio pulmonar comprometido,

sendo revertido pela suplementação do mesmo.67

Essa mesma disfunção endotelial pode limitar o sucesso em longo prazo da cirurgia

cardíaca, em particular da revascularização miocárdica, pelo desenvolvimento de estenoses

nos sítios de anastomoses, como resultado da hiperplasia média e da aceleração da progressão

da aterosclerose.

• a resposta celular imune

O processo de adesão neutrófilo-endotélio é um componente essencial para a resposta

inflamatória, determinando lesão endotelial difusa e envolvendo duas fases distintas de

adesão: primária e secundária. O neutrófilo aderido libera proteases citotóxicas, tais como

elastase e mieloperoxidase, assim como espécies de oxigênio reativo69,70, causando lesão ao

endotélio vascular e tecidos adjacentes. Esse complexo processo de coordenação das

29

moléculas de adesão e regulação da migração dos neutrófilos é modulado por citocinas, em

particular, pelo fator de ativação plaquetária, IL-8 e C5a.68,71 Portanto, na ausência de insultos

secundários, tais como choque e/ou infecção, as células endoteliais retornam ao estado de

“repouso” e perdem essa propriedade adesiva após o retorno aos níveis basais da concentração

sérica das citocinas e do C5a. Isso limita a resposta inflamatória na grande maioria dos

pacientes submetidos à cirurgia cardíaca62.

O aumento espontâneo da ativação de macrófagos e granulócitos é observado após a

CEC, seja através da produção de fator quimiotáxico ou da ativação da expressão das

moléculas de adesão de macrófagos e produção de citocinas.72 O aumento das concentrações

das moléculas de adesão leucocitária (selectinas e integrinas) tem sido demonstrado após a

CEC.73 A contagem elevada de neutrófilos circulantes, o aumento da agregação dos

neutrófilos, geração de superóxido e liberação de elastase ocorrem até 24 horas após a

cirurgia.74

II.2.3. Fatores que influenciam a extensão da resposta inflamatória sistêmica

a) fatores pré-operatórios

Desordens pré-existentes no pré-operatório podem influenciar na resposta inflamatória

à cirurgia cardíaca. As desordens no balanço das citocinas podem ser uma característica da

fisiopatologia da doença cardíaca isquêmica.75 A disfunção ventricular esquerda na presença

da CEC parece ter um grande impacto no grau de liberação de citocinas pró-inflamatórias, que

está associada à alteração hemodinâmica e maior incidência de complicações

perioperatórias76. A CEC parece também ter impacto no maior estresse oxidativo observado

30

nos pacientes diabéticos, cuja resposta inflamatória apresenta diferenças qualitativas77,

estando alterada nos diabéticos mal controlados.78

A liberação de citocinas pró-inflamatórias e antiinflamatórias em pacientes adultos

submetidos à revascularização miocárdica não difere com a idade.79

b) fatores hemodinâmicos perioperatórios

A instabilidade hemodinâmica no perioperatório prediz morbidade e mortalidade após

a CEC80, sendo a síndrome de baixo débito cardíaco o evento causador de morte mais comum.

Fortes evidências clínicas e experimentais associam a hipoperfusão esplâncnica no pós-

operatório ao desenvolvimento de complicações, como a síndrome da angústia respiratória

aguda39. O seqüestro de neutrófilos, o aumento da expressão da iNOS, a injúria por radicais

livres, as citocinas, particularmente o TNF-α, e a translocação de toxinas e da flora bacteriana

têm papel central nesse processo.

O pH da mucosa gástrica, mensurado pela tonometria gástrica, oferece um índice da

perfusão esplâncnica, sendo que a presença de acidose é preditora de complicações.81

c) o papel da anestesia

A anestesia epidural torácica diminui a resposta ao estresse perioperatório, como

mensurado pelos níveis de epinefrina, e pode diminuir a injúria miocárdica e pulmonar no

pós-operatório82; não altera, entretanto, de forma significativa a resposta de citocinas à CEC.83

Apnéia durante a CEC pode levar à ativação de enzimas lisossomais na circulação

pulmonar, que por sua vez está relacionada ao grau de injúria pulmonar aguda (ALI).84 Isso

pode ser atenuado por uma manobra de capacidade vital realizada antes do término da CEC.85

31

Muitos agentes anestésicos utilizados durante o procedimento cirúrgico e na sedação e

analgesia do período pós-operatório apresentam efeitos imunomodulatórios. As implicações

clínicas de tais efeitos, em particular no contexto da CEC, permanecem sob investigação,

principalmente experimental. No entanto, o desenvolvimento desse campo emergente de

investigação merece consideração na luz do seu potencial terapêutico futuro.

O propofol pode aumentar a resposta antiinflamatória à cirurgia por inúmeros

mecanismos, tais como preservando o fluxo hepatoesplâncnico durante a CEC86, aumentando

a produção de IL-10 e IL-1ra87 e diminuindo a secreção de IL-888, assim como depurando

espécies reativas de oxigênio.89 O tiopental sódico impede o seqüestro de neutrófilos no

pulmão90, sua polarização, quimiotaxia, aderência e fagocitose91, assim como a recaptação

coronária após o período de isquemia e de reperfusão.92 A ketamina atenua o aumento da

concentração de IL-6 sérica durante e após a CEC93.

Os opióides têm múltiplos efeitos no sistema imune, mediados indiretamente pelo

sistema nervoso central ou diretamente através da interação com o sistema imune celular. A

morfina inibe a atividade de linfócitos, granulócitos e macrófagos, suprime a resposta de

anticorpos94, assim como aumenta a secreção do hormônio estimulante da corticotropina, do

ACTH e dos glicocorticóides, isto é, substâncias com efeitos inibitórios do sistema imune. O

fentanil aumenta a concentração de IL-1ra nas culturas de monócitos in vitro95. O midazolam,

o benzodiazepínico mais estudado, tem pouca influência nos mecanismos de defesa do

hospedeiro. Já o sevoflurane, o isoflurane e o enflurane diminuem a liberação de citocinas

pró-inflamatórias (IL-1β, TNF-α) pelas células mononucleares periféricas de seres humanos

in vitro.96

A uso da clonidina parece exercer um efeito antiinflamatório em diversas áreas, como

no modelo da dor aguda, da asma extrínseca e da inflamação induzida pelos inibidores da

32

enzima de conversão da angiotensina97. Parece que essa ação antiinflamatória é propriedade

da ativação do adrenoreceptor α-2, que, por sua vez, pode regular a produção de citocinas

através da estimulação desses receptores nos macrófagos. Enquanto o uso da clonidina

durante a revascularização miocárdica não parece influenciar a resposta ao estresse

perioperatório98, esses efeitos imunomodulatórios no contexto da CEC permanecem sob

investigação.

d) fatores cirúrgicos

A concentração de citocinas pró-inflamatórias em pacientes submetidos a transplante

cardíaco é maior que naqueles revascularizados35. Tal fato parece estar relacionado ao maior

grau de disfunção ventricular, condição esta sabidamente relacionada ao incremento da

liberação de citocinas76 ou ao maior tempo de isquemia necessário para esse procedimento35.

Pacientes submetidos à troca valvar parecem ter o mesmo grau de resposta

imunológica que os revascularizados.99 Portanto, de uma forma geral, índices de inflamação

parecem se correlacionar mais com a gravidade da doença que com o procedimento cirúrgico

per se.100

e) fatores da perfusão extracorpórea

A composição da solução do perfusato, a cardioplegia, a presença ou ausência de fluxo

pulsátil, os tipos de bomba e oxigenador, os tipos de circuito da CEC, assim como a

temperatura durante a perfusão são importantes fatores influenciadores da resposta

inflamatória. A duração da CEC correlaciona-se com níveis de IL-8 e expressão das

moléculas de adesão dos neutrófilos. Acredita-se que a liberação de mediadores inflamatórios

é dependente da temperatura, sendo que a CEC normotérmica relaciona-se com maior grau de

inflamação que a hipotérmica.101 Soluções cardioplégicas aquecidas reduzem a resposta

33

inflamatória quando comparadas com as frias.102 Oxigenadores de membrana podem resultar

em menor ativação do sistema inflamatório e atenuam a disfunção renal, respiratória e

cardíaca.103 Em pacientes adultos, bombas centrífugas podem induzir à maior resposta

inflamatória que as de rolete.104 Fluxo pulsátil está associado com menos endotoxemia, menor

concentração de citocinas e endotelina-1105 e aumento na produção de ON.106

f) força de cisalhamento

Durante a circulação normal no interior dos vasos, o sangue está exposto a vários tipos

de forças mecânicas e físicas. Isso é chamado de força de cisalhamento (shear stress) e pode

ter uma função fisiológica, como a liberação de ON pelo endotélio.107 No entanto, durante a

CEC, uma excessiva força de cisalhamento pode resultar da mudança de pressão através do

circuito de perfusão, sendo mais pronunciada ao longo da cânula arterial. Determina também,

deformidade eritrocitária e hemólise, maior adesividade leucocitária e degranulação

neutrofílica e ativação plaquetária, que pode contribuir para injúria endotelial.108

g) transfusão

• transfusão alogênica

Estima-se que 20% das transfusões alogênicas nos EUA estão associadas à cirurgia

cardíaca.109 O efeito imunomodulatório dessas transfusões está sendo reconhecido,

principalmente seu efeito pró-inflamatório, justificando, em parte, a maior morbidade nos

pacientes transfundidos.110

Apesar da hemotransfusão de hemácias aumentar a oferta de oxigênio, essa, por sua

vez, relaciona-se com a maior mortalidade no modelo de pacientes criticamente enfermos com

sepse. De fato, hemotransfusão de sangue estocado está associada a evidências de isquemia

34

esplâncnica relacionada à oclusão da microcirculação devida à pouca deformação das

hemácias transfundidas.111

• auto-transfusão

A autotransfusão de sangue coletado no campo cirúrgico é prática comum na cirurgia

cardíaca; existem, no entanto, dúvidas quanto à eficácia e segurança, devido, principalmente,

à existência de coágulos e à maior fibrinólise. O resultado dos estudos é conflitante, em

especial, em relação ao sangramento excessivo no período pós-operatório. Uma meta-análise

de estudos randomizados concluiu que o benefício dessa prática é, no mínimo, marginal.112

h) fatores de pós-operatório

• terapia de reposição renal contínua

A terapia de reposição renal contínua, tal como a hemofiltração, parece estar

relacionada com a depuração de mediadores, incluindo TNF-α e IL-1β, e seus inibidores, tais

como TNFsr1, TNFsr2 e o IL-1ra, do plasma de pacientes com SIRS.113 No entanto, um

ganho na taxa de sobrevida tem sido demonstrado em pacientes criticamente enfermos com

SIRS-MODS quando tratados com esse tipo coadjuvante de terapia.114

• ventilação mecânica

Estratégias de ventilação que determinam o estiramento de unidades alveolares não-

recrutadas, ou seja, alto volume corrente com baixa pressão positiva expiratória final, parecem

causar ou, no mínimo, potencializar, o fenômeno de injúria pulmonar aguda. Além disso, essa

injúria contribui para o processo de resposta inflamatória por diversos mecanismos, tais como

a facilitação da translocação bacteriana intrapulmonar, acúmulo de citocinas e sua liberação

sistêmica.115

35

II.2.4. Implicações clínicas da resposta inflamatória à cirurgia cardíaca

a) efeitos benéficos potenciais

Uma resposta inflamatória controlada e autolimitada à cirurgia cardíaca tem efeito

benéfico, como a prevenção de infecções perioperatórias e promoção da cicatrização

cirúrgica. O perfusato de neutrófilos da CEC pode ser benéfico no preparo do hospedeiro para

a significativa resposta fisiológica ao estresse perioperatório. O TNF-α e a IL-1β têm papel

importante na cicatrização da ferida cirúrgica.116

b) efeitos adversos potenciais

Uma resposta inflamatória não-controlada parece desempenhar significante papel na

morbi-mortalidade observada em pacientes submetidos à CEC.

• pulmonares

A injúria pulmonar aguda (ALI), definida pela tríade de hipoxemia (relação PO2/FIO2

< 300), infiltrado pulmonar bilateral e pressão de oclusão da artéria pulmonar normal, é uma

complicação séria e pouco compreendida após a cirurgia cardíaca. O risco e a gravidade117 da

ALI têm sido consistentemente relacionados à duração da CEC. Outras características, tais

como o tipo de oxigenador utilizado, podem também contribuir para o risco da ALI.118 A

grave ALI que se segue à CEC, enquanto relativamente incomum, está associada a alta taxa

de mortalidade.119

A injúria pulmonar é detectada mesmo após as perfusões não complicadas, usando-se

parâmetros de avaliação mais sensíveis, como o índice de acúmulo protéico, lavado bronco-

alveolar de neutrófilos e maiores concentrações de mieloperoxidase. Evidências histológicas

demonstram que a CEC pode causar profundas lesões a nível endotelial, epitelial e intersticial

36

pulmonar.120 Até 50% dos neutrófilos circulantes são seqüestrados nos capilares pulmonares

durante a fase de reaquecimento, com conseqüente degranulação, fato que contribui para a

destruição do endotélio vascular pulmonar. No período de pós-operatório, elevações séricas

da elastase leucocitária, um índice de degranulação lisossomal dos neutrófilos, correlacionam-

se com a deterioração do índice de oxigenação, o gradiente de oxigênio alvéolo-arterial e o

shunt intrapulmonar.121

• cardiovasculares

As complicações cardiovasculares definidas como maiores (morte cardíaca, infarto do

miocárdio e falência cardíaca) ocorrem, no mínimo, em 10% dos pacientes submetidos a

RVM.122 The Multicenter Study of Perioperative Ischemia Research Group, um estudo

multicêntrico envolvendo 566 pacientes após RVM, relatou que até 25% daqueles preenchiam

os critérios adotados, como eletrocardiograma (presença de novas ondas “Q”), enzimas

(elevação da fração CK-MB) ou necropsia com infarto do miocárdico.123

A instabilidade hemodinâmica durante a cirurgia cardíaca pode resultar no excesso de

citocinas pró-inflamatórias, como a IL-6.124 Além disso, parece haver clara relação entre

mediadores inflamatórios induzidos pela CEC e miocárdio atordoado pós-CEC, isquemia,

disfunção e dessensibilização dos receptores β-adrenérgicos.125 O TNF-α, a IL-1β e a IL-6

estão relacionados à refratariedade dos miócitos ao estímulo adrenérgico que se segue à CEC.

Anormalidades de seguimentos do ventrículo esquerdo e episódios de isquemia miocárdica

após a CEC correlacionam-se com as concentrações de IL-6 ou IL-8.126

Alterações na homeostase do ON podem ter um importante papel na patogênese dos

eventos cardiovasculares que se seguem à cirurgia cardíaca, considerando-se que o ON tem

efeito de proteção miocárdica, incluindo a regulação do tônus vascular, a contratilidade

miocárdica, a coagulação e a função endotelial pulmonar.127

37

• neurológicos

Complicações neurológicas aumentam a morbidade perioperatória, resultando em

maior tempo de hospitalização e podendo aumentar a mortalidade em até dez vezes.36

O papel da disfunção endotelial e da interação neutrófilo-endotélio na injúria

neurológica após a CEC está bem documentado. A perda da vasodilatação cerebral mediada

pelo endotélio pode contribuir para a patogênese do déficit de perfusão pós-operatório.128

• renais

Disfunção renal no perioperatório ocorre em 7% a 13% dos pacientes, sendo que 1% a

1,5% destes requerem algum tipo de terapia dialítica. A incidência dessa complicação está

diretamente relacionada à duração da CEC.129

O papel da resposta inflamatória na patogênese da disfunção renal permanece

indefinido. A injúria de isquemia-reperfusão combinada com a resposta inflamatória à CEC

pode ter papel determinante. Essa última pode exacerbar a hipoperfusão renal, tanto

indiretamente, resultado da instabilidade hemodinâmica, como diretamente, através de

vasoconstrição arteriolar renal e alteração da distribuição perfusional intra-renal pela

concentração de catecolaminas e de ON. A liberação de TNF-α durante a CEC induz a

depósito de fibrina, infiltração celular, apoptose celular e vasoconstrição, resultando na

redução da taxa de filtração glomerular.40

• hepáticos

Disfunção hepática transitória que se segue à CEC ocorre em até 47% dos casos.130

Está relacionada também ao tempo de CEC e pode aumentar, sobremaneira, a mortalidade

cirúrgica.131

38

O papel da resposta inflamatória não está bem caracterizado, sendo que a injúria

hepática de isquemia-reperfusão pode resultar da congestão hepática venosa durante o

desmame da CEC.42

• coagulação

Alterações hemostáticas induzidas pela CEC contribuem significativamente para a

morbidade perioperatória. Mecanismos potenciais incluem a ativação direta por contato da

cascata da coagulação e da fibrinólise, disfunção plaquetária e extravasamento capilar por

lesão endotelial. A resposta inflamatória pode ter papel central no desenvolvimento desses

defeitos hemostáticos. O volume de sangue perdido pode estar relacionado com o grau de

ativação da cascata do complemento.132 A disfunção plaquetária associada à CEC pode ser

mediada por citocinas.133 Endotoxinas e a IL-1β estimulam a liberação do fator de von

Willebrand do endotélio vascular, promovendo a ativação e localização de plaquetas, assim

como, aumentando a trombogenicidade no foco inflamatório.134

• imunossupressão

A imunossupressão associada à CEC pode ter um importante papel no

desenvolvimento de complicações infecciosas no pós-operatório, como resultado do

predomínio da produção de citocinas antiinflamatórias30, diminuição da contagem de

linfócitos-T CD3+ e T-helper CD4+, e aumento na contagem de células T citotóxicas-

supressoras CD8+ e monócitos.135,136

Portanto, as alterações na resposta inflamatória sinalizam para a necessidade de

considerar tanto os potenciais benefícios quanto os aspectos adversos dessa resposta,

sublinhando as vantagens da resposta inflamatória balanceada e controlada.

39

II.2.5. As proteínas de fase aguda

A reação inflamatória, que é a chave central de qualquer processo de cicatrização

tecidual, consiste, como citado anteriormente, de vias humorais, celulares e moleculares. No

início da infecção, monócitos no sangue, macrófagos tissulares e células endoteliais tornam-se

ativadas, tanto pela fagocitose do agente infectante, quanto pela exposição a seus produtos e

toxinas. Esse processo resulta na síntese e na liberação de várias citocinas dentro de uma a

duas horas, quando entram na circulação e alcançam o sistema nervoso central, onde iniciam a

febre. Como a febre, outros componentes dessa resposta podem estar presentes sem

manifestações clínicas aparentes. Uma das mensurações mais sensíveis da via celular é a do

aumento e da imaturidade dos neutrófilos circulantes, que, apesar de se constituir em um

método simples de avaliação de alta sensibilidade, tem muito baixa especificidade.137

Em 1930, alterações que ocorriam à distância do foco de inflamação despertaram

interesse com a descoberta da proteína C-reativa (PCR), assim chamada por reagir com o

polissacarídeo-C do pneumococo no plasma de pacientes durante a fase aguda da pneumonia

por esse patógeno138. Essas alterações sistêmicas têm sido descritas como resposta de fase

aguda.140

Reações de fase aguda podem ser divididas em alterações na concentração de muitas

proteínas plasmáticas, denominadas de proteínas de fase aguda, e em uma enorme gama de

alterações fisiológicas, bioquímicas e nutricionais. Proteínas de fase aguda têm sido definidas

como aquelas cujas concentrações plasmáticas aumentam (positiva) ou diminuem (negativa)

em, no mínimo, 25% durante insultos inflamatórios.143 Os corticosteróides, por exemplo, em

geral incrementam os efeitos estimulantes das citocinas na produção daquelas proteínas de

fase aguda.141

40

A PCR é uma proteína de fase aguda liberada pelos hepatócitos após o estímulo de

mediadores inflamatórios como a IL-6 e a IL-8, com meia-vida em torno de cinco a sete

horas. Sua dosagem não é influenciada por fatores como anemia e alterações dos níveis

plasmáticos de outras proteínas, como o VHS. Eleva-se rapidamente com o início da doença

(em torno de seis horas após o início da inflamação ou lesão celular) e decresce tão logo

ocorra a resolução do processo inflamatório ou a instituição da terapêutica adequada. Tem

propriedades pró-inflamatórias e antiinflamatórias. Ativa o sistema do complemento após a

ligação com polissacárides bacterianos ou fragmentos de membranas celulares.139

A PCR previne a aderência de granulócitos às células endoteliais e a síntese de

superóxidos. Inúmeros estudos confirmaram altos níveis plasmáticos da PCR em pacientes

com infecção ou sepse, enquanto muitos outros falharam em mostrar um impacto dos níveis

elevados da PCR no diagnóstico e prognóstico de tais afecções. Por ter seus níveis elevados

nas infecções bacterianas, é usada com sucesso na monitorização de infecção no pós-

operatório: em casos não complicados, atinge um pico máximo entre 48 e 72 horas,

retornando aos níveis normais entre o quinto e o sétimo dia.142

Outra proteína de fase aguda, o fibrinogênio é uma glicoproteína presente no plasma,

sintetizada no fígado, formada por três diferentes pares de cadeias polipeptídicas, ligadas por

pontes dissulfeto, que, sob a ação da trombina formam fibrinopeptídeos A e B de alto peso

molecular (340.000). Representa uma peça chave na cascata da coagulação, sendo, em geral,

convertido em sua totalidade em fibrina durante esse processo. A concentração do antígeno do

fibrinogênio no soro é de 0,02 mg/dL, comparado com 200 mg/dL no plasma. Tem vida

média de três a cinco dias, sendo observados níveis baixos nos casos de hipofibrinogenemia

ou afibrinogenemia congênitas ou adquiridas, como a proteólise pela trombina por

coagulopatias de consumo, as disfunções hepáticas agudas ou crônicas, as ascites ou

41

hemorragias agudas, os casos de choque circulatório e carcinomas. Níveis temporários

elevados são encontrados como resultado do comportamento do fibrinogênio como uma

proteína de fase aguda, ou seja, após cirurgias, traumas, infarto do miocárdio, infecções.

Neoplasias e doenças inflamatórias crônicas apresentam persistência de níveis altos. Níveis

ligeiramente ascendentes são observados com o aumento da idade.144

Outra proteína de fase aguda, a haptoglobina é uma globina, sintetizada no fígado, que

migra na região alfa-2-globulina na eletroforese e que se liga à hemoglobina livre, formando

um complexo que é removido pelo sistema retículo-endotelial. Essa ligação é a responsável

pela diminuição dos seus níveis nos casos de hemólise intravascular ou extravascular. A

haptoglobina exibe um comportamento duplo durante o processo inflamatório: diminui como

resultado da hemólise moderada, mas aumenta pelo estímulo de citocinas. A síntese de

haptoglobina está aumentada nos processos infecciosos, inflamatórios, traumas, necrose

tecidual, entre outros.145

Portanto, novos estudos fazem-se necessários devido à existência de uma lacuna de

informação na literatura quanto à avaliação dos marcadores inflamatórios, seja pela via celular

através dos leucócitos, seja através das proteínas de fase aguda. A avaliação das últimas é de

mais fácil realização técnica, de maior estabilidade físico-química que a das citocinas, tem uso

mais abrangente e, acima de tudo, apresenta menor custo para a análise, mesmo que indireta,

do impacto das diversas opções terapêuticas antiinflamatórias na CEC, pouco reproduzíveis

clinicamente.

42

II.3. As Citocinas

É provável que as citocinas sejam o mais importante grupo de moléculas

biologicamente ativas identificado desde a descoberta dos hormônios endócrinos. São

proteínas ou glicoproteínas solúveis, de tamanho pequeno a médio, que medeiam potentes

efeitos biológicos entre muitas células146, atuando como moléculas extracelulares

sinalizadoras, intimamente envolvidas na modulação da resposta inflamatória imune. São

produzidas por uma grande variedade de tipos celulares, incluindo monócitos ativados,

macrófagos teciduais, linfócitos e células endoteliais. Apesar de originalmente terem sido

identificadas como protagonistas no processo inflamatório, no desenvolvimento e na

manutenção da resposta imune e na hematopoiese, as citocinas estão envolvidas, pelo menos

de alguma forma, em muitos, senão em todos os processos inflamatórios.

Por que as citocinas existem? A evolução dos grandes organismos multicelulares

exigiu o desenvolvimento de mensageiros intercelulares como os hormônios, os

neuropeptídeos e as citocinas, que permitissem a coordenação das respostas celulares. Há

algumas diferenças que as distinguem dos hormônios endócrinos. Esses últimos são, em geral,

produzidos por células especializadas (ex, a insulina é produzida pelas células β do pâncreas,

o hormônio de crescimento pela pituitária anterior e o paratormônio pelas células da

paratireóide), estão presentes de forma constante na circulação sangüínea, possuem um

abrangente raio de ação e servem para manter a homeostase. Diferentemente, as citocinas

tendem a ser produzidas por células menos especializadas e, com freqüência, vários tipos

celulares não relacionados podem produzir a mesma citocina; em geral, agem sobre curtas

distâncias como sinais autócrinos ou parácrinos no tecido local e, apenas ocasionalmente,

espalham-se na circulação e iniciam uma reação sistêmica.

43

É provável que a característica mais marcante que diferencia as citocinas dos

hormônios seja a sua ação redundante e o seu pleiotropismo. As principais características das

citocinas estão enumeradas abaixo:146,147

• Muitas citocinas são simples polipeptídeos ou glicoproteínas com peso molecular menor

ou igual a 30 kd;

• A sua produção é regulada por estímulos que culminam em transcrição celular;

• As citocinas são, em geral, produzidas por um curto período e em concentrações

extremamente baixas (picomolar ou nanomolar);

• As citocinas exercem seus efeitos sobre as próprias células produtoras (efeito autócrino),

as células circunvizinhas (efeito parácrino) e, excepcionalmente, as células-alvo à

distância (efeito endócrino);

• As citocinas produzem sua ação ao se ligarem a receptores de superfície de alta afinidade

(kd entre 8 e 10);

• Muitas de suas ações são atribuídas a mudanças no padrão de expressão genética das

células-alvo. As citocinas aumentam (ou inibem) a proliferação celular, desencadeiam

alterações profundas na diferenciação celular e/ou nas expressões de funções

diferenciadas;

• Apesar do campo de atuação de uma determinada citocina poder ser diverso, pelo menos

parte de sua ação recai sobre as células do sistema hematopoiético;

• Em geral, uma citocina é sintetizada por mais de um tipo celular (exceção para IL-2, IL-

3, IL-4 e IL-5, que são produzidas apenas por células linfóides);

• As citocinas possuem um espectro de ação que muitas vezes sobrepõe umas às outras

(redundância);

• Uma única citocina é capaz de exercer múltiplas ações em diferentes tipos celulares e

tecidos (pleiotropismo).

44

As citocinas pró-inflamatórias têm um papel central na deflagração do processo

inflamatório, estando as concentrações plasmáticas de algumas citocinas específicas, tais

como a IL-1β e a IL-6, associadas ao prognóstico de pacientes criticamente enfermos. Apesar

de uma relação direta de causa e efeito não ter sido demonstrada, o aumento dos níveis séricos

dessas citocinas pró-inflamatórias mostra uma forte associação ao prognóstico adverso na

cirurgia cardíaca. Pacientes que desenvolvem SIRS demonstram significante elevação de

algumas citocinas em comparação com aqueles que evoluem sem complicações. No subgrupo

de pacientes com SIRS que evoluíram para óbito, os níveis de IL-8 e IL-18 estavam mais

altos que nos sobreviventes; níveis mais altos de IL-6 foram também correlacionados com

maior mortalidade após cirurgia cardíaca pediátrica.148

Uma análise estrutural possibilitou que as citocinas fossem agrupadas em famílias.

Suas principais famílias, respectivas ações e células-alvo, assim como seu papel na cirurgia

cardíaca estão relacionados nas tabelas 1 e 2.

Nos últimos anos, o maior foco de estudos e as principais publicações registram as

citocinas no cenário das doenças inflamatórias e auto-imunes, como a artrite reumatóide, o

lúpus eritematoso sistêmico, o diabetes mellitus, a doença de Crohn, as sarcoidoses, o

mieloma múltiplo, as glomerulonefrites, as doenças infecciosas e as neoplasias.149,150 Mais

recentemente, as atenções se voltaram para a cumplicidade entre algumas citocinas e as

doenças cardiovasculares, como na etiopatogênese da aterosclerose, na miocardiopatia

dilatada, nas síndromes coronárias isquêmicas agudas, nas intervenções percutâneas e na

resposta inflamatória sistêmica a diversas patologias.151

45

Tabela 1. Papel das citocinas pró-inflamatórias na resposta imune à cirurgia cardíaca.

Citocinas Células Produtoras Função Na Cirurgia Cardíaca

Mediador primário na resposta inflamatória

Macrófagos Provoca efeitos fisiopatológicos da SIRS

Monócitos Liberação das citocinas pró-inflamatórias

Células NK Liberação (da medula óssea) e ativação dos neutrófilos

Linfócitos T e B Diferenciação e ativação dos macrófagos/monócitos

Mastócitos Ativação da coagulação/cascata do complemento

Células endoteliais Síntese das moléculas de adesão endotelial

TNF-α

Produção das proteínas de fase aguda Pirógeno endógeno

Eleva-se precocemente após a cirurgia cardíaca

Mediador primário da resposta inflamatória

Inicia a resposta imune celular

Macrófagos Ativação das células T e macrófagos

Expressão da iNOS e produção de prostaglandinas

Inibição da lipase lipoprotéica Monócitos Atividade pró-coagulante

Liberação de citocinas pró-inflamatórias

Células endoteliais Síntese das moléculas de adesão endotelial

Produção das proteínas de fase aguda

IL-1β

Pirógeno endógeno

Eleva-se precocemente após a cirurgia cardíaca

Pode predizer prognóstico em certos subgrupos de pacientes criticamente

enfermos

Papel tardio na cascata inflamatória

Eleva-se tardiamente após a cirurgia cardíaca

Macrófagos Ativação de linfócitos Depressão miocárdica

Diferenciação de linfócitos B/ produção de anticorpos

Linfócitos T helper tipo 2

Ativação de diferenciação dos linfócitos T

Produção das proteínas de fase aguda

Concentração sérica pode se correlacionar com mortalidade após

cirurgia cardíaca pediátrica

IL-6

Pirógeno endógeno Pode predizer prognóstico em pacientes criticamente enfermos

Macrófagos Papel tardio na cascata inflamatória Eleva-se tardiamente após a cirurgia

cardíaca

Linfócitos T Importante papel na regulação da resposta inflamatória à cirurgia

cardíaca IL-8

Células endoteliais

Quimiotaxia de neutrófilos, basófilos e linfócitos T

Regulação da atividade neutrofílica,

incluindo a quimiotaxia, a liberação, a migração e a dispersão plasmática

Correlação negativa entre a IL-8 e o índice cardíaco no pós-operatório de

cirurgia cardíaca

* IL = interleucina; SIRS = síndrome da resposta inflamatória sistêmica; iNOS = óxido nítrico induzido pela sintetase

46

Tabela 2. Papel das citocinas antiinflamatórias na resposta imune à cirurgia cardíaca.

Citocinas Células Produtoras Função Na Cirurgia Cardíaca Eleva-se precocemente após a

cirurgia cardíaca Papel de feedback na limitação da resposta inflamatória Pode atenuar a ativação neutrofílica

durante a CEC

Potente inibidor da produção/ liberação TNF-α, IL-1β,IL-6 e IL-8

Eleva-se a produção após a CEC em pacientes tratados com

corticosteróides

IL-10 Macrófagos

Inibição da expressão dos monócitos HLA-DR

O fígado é fonte potencial durante a CEC

Macrófagos Eleva-se precocemente após a cirurgia cardíaca

Inibição da produção de citocinas pró-inflamatórias Atenua a resposta de linfócitos à

cirurgia cardíaca

Linfócitos Atenuação da ativação dos linfócitos Pode ter ação cardioprotetora direta

TGF-β

Plaquetas Estimulação da síntese da matriz extracelular

A expressão do TGF-β em enxertos cardíacos está associada à disfunção

do enxerto e sobrevida limitada

Antagonista específico da IL-1β Eleva-se tardiamente após a cirurgia cardíaca IL-1ra

Porção extracelular hidrofílica coberta do receptor que contém o

sítio que se liga ao ligante

Papel na limitação da resposta inflamatória pela ligação com a IL-1β

circulante

Eleva-se a produção após a CEC em pacientes tratados com

corticosteróides

Antagonista específico do TNF-α TNFsr 1 e 2

Porção extracelular hidrofílica coberta do receptor que contém o

sítio que se liga ao ligante

Papel na limitação da resposta inflamatória pela ligação com o

TNF-α circulante

Eleva-se tardiamente após a cirurgia

cardíaca

IL = interleucina; TNF-α = fator de necrose tumoral α; HLA = antígeno leucocitário humano; CEC = circulação extracorpórea; TGF-β = fator transformador do crescimento β; IL-1ra = antagonista do receptor da interleucina 1; TNFsr = receptor solúvel do TNF-α .

II.4. Os Corticosteróides

Com o passar dos anos, várias opções de tratamento antiinflamatório têm sido

utilizadas em pacientes submetidos à CEC no intuito de minimizar a SIRS, incluindo técnicas

para depleção de leucócitos, bloqueio das moléculas de adesão dos neutrófilos, circuitos de

perfusão recobertos com heparina e, mais recentemente, o uso de anticorpos monoclonais

específicos contra mediadores inflamatórios. No entanto, resultados clínicos contundentes em

humanos ainda não estão disponíveis. Os corticosteróides, potentes agentes antiinflamatórios

que possuem efeitos inibitórios sobre diversos componentes da resposta inflamatória,

representam uma opção terapêutica atrativa nesse cenário.

47

II.4.1. Farmacocinética e farmacodinâmica dos corticosteróides

Existem dois tipos de corticosteróides: os mineralocorticóides (regulam primariamente

a homeostase dos eletrólitos) e os glicocorticóides (regulam primariamente o metabolismo

dos carboidratos). O protótipo dos mineralocorticóides é a dexocorticosterona e o protótipo

dos glicocorticóides é o cortisol. A cortisona foi o primeiro corticosteróide usado, por volta de

1950, por seu efeito antiinflamatório. Modificações de sua estrutura e manipulação

subseqüente levaram a uma variedade de análogos de diferentes efeitos antiinflamatórios,

metabólicos e eletrolíticos. Dos análogos sintéticos, a metilprednisolona e, em menor escala, a

dexametasona representam os dois agentes mais comumente utilizados na CEC para atenuar a

SIRS.

Alterações em sua estrutura molecular determinaram potentes transformações

biológicas, através da absorção, metabolismo e excreção, entre outras propriedades. No

plasma, grande parte dos corticosteróides liga-se de forma reversível à globulina e à albumina.

No entanto, os corticosteróides livres são biologicamente ativos e disponíveis para o

metabolismo hepático e excreção renal. Como outros hormônios esteróides, exercem suas

funções através do controle de síntese de proteínas pela estimulação da transcrição do RNA.

Os efeitos fisiológicos dos corticosteróides são numerosos e variados. Influenciam o

metabolismo dos carboidratos, proteínas e lipídeos, o balaço eletrolítico e volêmico, o sistema

cardiovascular, a musculatura esquelética, o sistema nervoso central, os elementos sangüíneos

e a resposta inflamatória. Em suma, dotam o organismo da capacidade de resistir a estímulos

nocivos e alterações ambientais.

Os corticosteróides estão envolvidos na proteção da função cerebral dependente de

glicose por atuarem na produção de glicose, diminuição da sua utilização periférica e

armazenamento como glicogênio. Os glicocorticóides promovem a gliconeogênese e

48

diminuem a absorção de cálcio intestinal. Os mineralocorticóides agem nos túbulos renais

distais levando à reabsorção de sódio e excreção de potássio e íons hidrogênio.

Os efeitos cardiovasculares dos corticosteróides são secundários à regulação da

excreção de sódio e da volemia. Tais efeitos induzem à hipertensão por mecanismos diversos,

tais como o aumento excessivo de sódio, edema da parede arteriolar, maior sensibilidade à

angiotensina e às catecolaminas. Exercem também ações em vários elementos do sistema

circulatório, incluindo capilares, arteríolas e miocárdio. Na ausência dos corticosteróides, há

aumento na permeabilidade capilar, inadequada resposta vasomotora dos pequenos vasos e

redução na área e débito cardíacos.

O cortisol e seus análogos sintéticos previnem e/ou suprimem o desenvolvimento da

inflamação local (calor, rubor e edema). Do ponto de vista microscópico, essa inibição ocorre

tanto precoce (edema, depósito de fibrina, dilatação capilar, migração de leucócitos e

atividade fagocítica) quanto tardiamente (proliferação capilar, de fibroblastos e depósito de

colágeno). O efeito antiinflamatório dos corticosteróides se dá por ação local direta, sendo o

seu efeito mais importante mediado pela capacidade de inibir o recrutamento de neutrófilos e

monócitos-macrófagos dentro da área afetada. Os neutrófilos tendem a aderir menos ao

endotélio capilar nessas áreas. Os glicocorticóides também bloqueiam o efeito inibitório de

migração dos macrófagos, inibem a formação do ativador do plasminogênio, inibem a

fosfolipase A2 e diminuem a liberação do ácido aracdônico dos fosfolipídeos. Portanto,

reduzem a formação de prostaglandinas, leucotrienos e tromboxane, que têm importante papel

na quimiotaxia e inflamação.152

49

II.4.2. Perspectiva histórica dos corticosteróides usados durante a CEC

No início da década de 1960, estudos em animais e seres humanos revelaram os

efeitos fisiológicos benéficos da administração dos corticosteróides nos modelos de sepse e

choque. Em seguida, os efeitos dos corticosteróides durante a CEC foram avaliados em um

modelo fisiopatológico que se assemelhava aos anteriores.153 Nessas investigações iniciais, a

escolha dos corticosteróides era empírica e a dose administrada era maciça. No final da

década de 60, a metilprednisolona tornou-se a droga de escolha devido ao seu potente efeito

antiinflamatório e mínima tendência para induzir retenção de sódio e água.

Um estudo fundamental publicado em 1970 por Dietzman e cols.154 demonstrou que a

metilprednisolona, na dose de 30 mg/kg, foi efetiva no tratamento da “síndrome de baixo

débito” em cães e seres humanos após cirurgia cardíaca. Especificamente, em 98 cães, essa

droga diminuiu a resistência vascular sistêmica, aumentou o débito cardíaco, melhorou a

perfusão tecidual e aumentou a sobrevida em 22% a 65%. Em 19 homens, após cirurgia de

troca valvar, os mesmos benefícios hemodinâmicos foram observados. Os autores concluíram

que as bases desta experiência e as evidências clínicas preliminares desse tratamento

mereceriam futuras investigações.

A investigação clínica inicial do emprego da metilprednisolona antes do início da

perfusão data de 1971, com seu benefício demonstrado por Wilson e cols.155, através da

prevenção de alterações das arquiteturas vascular e alveolar pulmonares avaliadas através de

biópsias pulmonares perioperatórias. Esse estudo encorajou investigações durante a década de

1970, até que Thompson e cols.156 observaram que a concentração plasmática da

metilprednisolona diminuía substancialmente (cerca de 50%) com o início da CEC

(secundário à diluição pelo perfusato) com a dose empregada.

50

II.4.2.1. investigações clínicas na década de 1970

Após os estudos de Dietzman e Wilson que mostraram benefício no uso da

metilprednisolona em pacientes submetidos à cirurgia com CEC, muitos investigadores

investiram nessa área. No entanto, os diversos estudos obtiveram resultados clínicos

conflitantes. De dois estudos bem desenhados (prospectivos, randomizados, duplo-cegos e

controlados com placebo), o primeiro, em 1976, por Morton e cols.157, não foi capaz de

evidenciar o efeito cardioprotetor da metilprednisolona, sendo que o segundo, por Niazi e

cols.158, mostrou benefícios hemodinâmicos dessa droga, porém, sem impacto nas variáveis

de oxigenação.

II.4.2.2. investigações clínicas na década de 1980

A década de 1980 começou com a publicação por Toledo-Pereyra e cols.159 de uma

investigação clínica bem desenhada, com 95 pacientes adultos e pediátricos, na qual não se

observou diferença entre grupos tratados e não-tratados em relação à morbidade. No entanto,

houve maior mortalidade no grupo que não recebeu metilprednisolona, um achado que os

autores não foram capazes de explicar. Duas novas investigações em relação ao nível

plasmático necessário para efeito biológico da metilprednisolona foram inconclusivas, dados

que podem ser, em parte, explicados pela variabilidade individual desses níveis cinco minutos

após a administração da injeção inicial (variação entre 140-330 µg/mL).156

A partir dos estudos de Kirklin, realizados na Universidade do Alabama, em

Birmingham, revelou-se o papel central da ativação do complemento como um insulto

fisiopatológico básico induzido pela CEC160. Em conseqüência, a maioria dos investigadores

dessa década se focou na ativação do complemento, sendo os resultados, novamente,

conflitantes.

51

Cavarocchi e cols.161, em 1986, não observaram diferença quanto à ativação do

complemento quando foram utilizados oxigenadores de membrana, atribuindo-se o efeito

deletério aos oxigenadores de bolha, independentemente da metilprednisolona. Portanto, na

ocasião, ficou claro que os oxigenadores de bolha tinham grande capacidade de induzir a

SIRS e esse fato deveria ser levado em consideração quando da análise e interpretação dos

estudos que envolvessem corticosteróides e CEC.

II.4.2.3. investigações clínicas da década de 1990 até o presente

Inúmeros estudos durante os últimos 11 anos têm explorado os potenciais benefícios

clínicos da administração rotineira da metilprednisolona nas cirurgias cardíacas com CEC. No

entanto, apenas uma pequena proporção deles tem sido prospectiva, randomizada, duplo-cega

e controlada por placebo. No início da década, tais estudos visavam, basicamente, à atenuação

da SIRS (avaliação de mediadores pró-inflamatórios e antiinflamatórios), ao passo que, outros

mais recentes têm focado o impacto clínico dessa intervenção. Apesar de poucos estudos não

apresentarem efeito, a vasta maioria dos investigadores revelou a capacidade da

metilprednisolona beneficiar o balanço desses mediadores, através da atenuação de

marcadores inflamatórios, como a IL-1, IL-6, IL-8, TNF-α, e o aumento dos marcadores

antiinflamatórios, como a IL-4 e IL-10. Do ponto de vista clínico, os benefícios sugeridos

incluem o aumento do índice cardíaco e a diminuição da pressão de oclusão da artéria

pulmonar e da incidência de hipertermia no período pós-operatório, apesar do aumento da

glicemia.

Em 1997, Mayumi e cols.162 concluíram que a metilprednisolona comparada com o

placebo promoveu um estado de imunossupressão, porém sem aumentar a incidência de

infecção da ferida cirúrgica. Não se observou diferença em relação aos desfechos clínicos. Em

1999, Tassani e cols.163 mostraram que, a despeito do impacto positivo quanto às variáveis

52

laboratoriais e parâmetros oxi-hemodinâmicos, não se observou diferença no tempo de

permanência em ventilação mecânica. Tal estudo recebeu críticas quanto à falta de

padronização dos parâmetros ventilatórios e pelo uso da aprotinina (com provável atividade

antiinflamatória) em todos os pacientes. Estudos mais recentes por Chaney e cols.164 não

evidenciaram qualquer beneficio clínico do uso de metilprednisolona, concluindo que, na era

do fast track, isto é, medidas que visam à redução no tempo de recuperação cirúrgica de

pacientes de baixo risco operatório, o emprego de metilprednisolona, de fato, estaria contra-

indicado.

Como pôde ser visto, a maior parte dos estudos realizados envolveu um número

reduzido de pacientes e não teve um controle rígido de parâmetros perioperatórios,

permanecendo em aberto se a supressão da SIRS se traduz em benefício clínico.

Portanto, essa constelação de achados indica que a metilprednisolona não apresenta

benefício clínico e, de fato, pode ser deletéria pela indução de hiperglicemia no período de

pós-operatório e postergar a extubação traqueal por razões ainda não totalmente

esclarecidas.152

II.5. A Aprotinina

A aprotinina, também conhecida como inibidor da tripsina pancreática bovina (BPTI),

é um polipeptídeo globular monomérico (cadeia simples), inibidor de proteases séricas, não

específico, isolado do tecido pulmonar bovino. Tem peso molecular de 6512 e consiste de 16

aminoácidos diferentes agrupados em uma cadeia de 58 aminoácidos residuais. É um membro

axiômico da família dos inibidores das proteases séricas do tipo Kunitz e tem a capacidade de

formar complexos reversíveis com o sítio ativo de inúmeras proteases séricas, como a

53

plasmina, a quimotripsina, a tripsina, o ativador do plasminogênio tecidual e ambas as

calicreínas, tecidual e plasmática. Apesar de ter sido uma das primeiras proteínas a terem sua

estrutura estudada pela espectroscopia nuclear magnética, sua verdadeira função fisiológica

permanece desconhecida.165

A aprotinina foi utilizada clinicamente, pela primeira vez, para o tratamento da

pancreatite aguda, e sua atividade sobre os efeitos deletérios da CEC foi estudada em 1960.

Desde então, seu uso em baixas doses para o tratamento de sangramento após a CEC tem

apresentado resultados variados. Em 1980, doses profiláticas mais altas começaram a ser

utilizadas.

Após o primeiro estudo em 1987166, mais de 70 estudos randomizados e controlados,

incluindo de 20 a 796 pacientes (média, 75), confirmaram e estabeleceram a eficácia da

aprotinina para limitar a necessidade de hemotransfusão, plaquetas e plasma fresco congelado

em pacientes submetidos à cirurgia cardíaca.

Os primeiros estudos de utilização da aprotinina durante a cirurgia cardíaca

demonstraram dramática redução no sangramento cirúrgico e na necessidade do uso de

hemoderivados. O efeito da aprotinina na preservação plaquetária foi sugerido devido ao fato

de que pacientes que utilizaram essa droga apresentavam menor tempo de sangramento,

quando comparados àqueles que usaram placebo. Inúmeros estudos randomizados,

controlados com placebo sobre a segurança e eficácia da aprotinina têm confirmado que altas

doses da mesma podem reduzir a drenagem mediastinal em 31 a 81%, o total de transfusão

em 35% a 97% e a proporção de pacientes que requerem a transfusão de sangue ou

hemoderivados em 40 a 88%167.

54

Apesar do efeito da aprotinina sobre os parâmetros clínicos da homeostase estar bem

documentado, o seu papel na redução da resposta inflamatória durante a CEC ainda não está

estabelecido por completo.

II.5.1. Ativação por contato

Como citado antes, a ativação pelo contato com a superfície biologicamente

incompatível do circuito da CEC e sua interface gasosa deflagra a ativação de três vias de

proteases plasmáticas: o sistema cinina-calicreína, o sistema de coagulação-fibrinólise e o

sistema do complemento. Cada um desses ativa mediadores pró-inflamatórios, que

amplificam a resposta inflamatória.167

Foi demonstrado que a inibição pela aprotinina dos componentes da ativação de

proteases séricas, pelo contato, é dose-dependente numa variedade de sistemas in vitro e no

cenário da CEC. A administração da dose plena de aprotinina, que inclui um bolus inicial de 2

milhões de unidades inibidoras da calicreína (UIK) (280 mg) após a indução anestésica e a

infusão intravenosa subseqüente de 70 mg/h (500 mil UIK), resulta em uma concentração

plasmática de cerca de 35 µg/mL. Esse regime também inclui uma dose adicional de 280 mg

de aprotinina no circuito da perfusão. O regime de baixas doses de aprotinina,

internacionalmente denominado de half-dose, consiste de um bolus inicial de 1 milhão de

UIK, seguido da infusão de 35 mg/h (250 mil UIK), o que resultaria em concentrações

plasmáticas de 17 µg/mL168.

Há dois tipos básicos de alvo para a aprotinina no sistema inflamatório: as proteases

solúveis e as associadas às células, tendo os estudos focado os substratos solúveis, tais como a

55

plasmina e a calicreína. Dúvidas ainda restam quanto à dosagem terapêutica, suficientemente

alta, necessária para inibir essa última.

Nas concentrações séricas de 30 µg/mL ou mais de aprotinina, o aumento de 2,5 vezes

do complexo calicreína-C1-INH induzido pela CEC é completamente inibido, quando

comparado com grupos não tratados.169 Wachfogel e cols. mostraram que 20 µg/mL de

aprotinina inibiram significativa, mas não completamente, a formação daquele complexo, sob

condições laboratoriais controladas de CEC170. Tais observações sugerem que a administração

da aprotinina bloqueia, de modo significativo, a calicreína. Durante a CEC, a aprotinina

também foi capaz de preservar a atividade do inibidor da calicreína171, assim como foi

mostrada sua capacidade de diminuir a atividade do fator XII em 20%172, resultando em nova

diminuição da atividade da calicreína e redução de seu efeito amplificador da fase da ativação

pelo contato.

Portanto, a diminuição dos níveis de calicreína e conseqüente menor clivagem do

cininogênio poderiam ter impacto clínico, tendo em vista que tal processo acarretaria redução

nos níveis de bradicinina e preservação do tônus vasomotor.173

II.5.2. Aprotinina e via fibrinolítica

Durante e após a CEC, níveis de D-dímero, uma mensuração da quantidade de fibrina

degradada pela plasmina, foram menores em pacientes tratados com aprotinina, quando

comparados com os indivíduos controle, indicando que a atividade da plasmina foi atenuada

naqueles pacientes; os níveis de t-PA e de plasminogênio, porém, permaneceram inalterados.

Essa redução de atividade pode ser atribuída à diminuição da produção de plasmina, à

56

inibição direta da plasmina ou à combinação desses dois processos. Tal mecanismo, portanto,

determinará menor atividade fibrinolítica nos pacientes expostos a essa terapêutica.174

Pela inibição da calicreína, a aprotinina pode diminuir a formação de trombina e a

conseqüente ativação das plaquetas. Apesar de Van Oevren afirmar que essa droga inibe a

degradação dos receptores da glicoproteína Ib pela plasmina, o preciso mecanismo pelo qual a

aprotinina reduz o sangramento ainda não está claro.175

II.5.3. Aprotinina e complemento

Fatores do complemento também podem ser afetados pela aprotinina. Durante a CEC,

níveis séricos de aprotinina acima de 30 µg/mL reduziram, significativamente, a formação do

complexo C1-C1-INH, em comparação com o grupo controle169, sugerindo a redução na

formação do C1 sérico. Tal efeito, no entanto, não foi observado em níveis inferiores a 20

µg/mL. Em modelos de hemodiálise, in vivo, a aprotinina apresentou redução de até três vezes

nos níveis de C3a e C5a em 60 minutos176; tal efeito, porém, não se reproduziu durante a

CEC.

II.5.4. Aprotinina e resposta celular

a) neutrófilos

Uma vez povoando um determinado órgão, os neutrófilos são os principais

protagonistas da injúria inflamatória aguda, cuja atividade é mediada em grande parte pela

liberação de mediadores citotóxicos, radicais livres de oxigênio e chaotropic enzymes. Tais

enzimas degradam e modelam a matriz celular, tendo como exemplos, os grânulos

57

azurofílicos componentes da elastase e mieloperoxidase, bem como proteases da matriz

celular, da família das metaloproteinases.

Como citado antes, os neutrófilos reagem aos mediadores inflamatórios solúveis,

primeiramente, pelo processo conhecido por “cascata de adesão celular leucócito-endotelial”,

caracterizado pelo rolamento, seguido da aderência e, então, pela transmigração através da

barreira endotelial microvascular até alcançar o interstício. Além da função de fagocitose de

patógenos e da degeneração de partículas teciduais, os neutrófilos ativados perdem seus

grânulos, liberam substâncias tóxicas, enzimas proteolíticas e mediadores inflamatórios, que

recrutam mais leucócitos.

A CEC determina um dramático efeito na função leucocitária. Pode-se observar uma

súbita queda quantitativa no início da perfusão, em decorrência da hemodiluição e adsorção

pelo circuito177. Segue-se um aumento significativo dos neutrófilos circulantes, sendo que, até

50% desses são seqüestrados para os capilares pulmonares após a liberação do clampeamento

aórtico, dependendo do tempo de perfusão e anóxia.178

Evidências indicam que os neutrófilos são o principal alvo antiinflamatório da

aprotinina. Além de influenciar no número absoluto de leucócitos, essa droga modularia os

componentes da ativação leucocitária e seu extravasamento. Um potencial mecanismo

benéfico da aprotinina com limitação do seqüestro pulmonar de leucócitos durante a CEC é

sugerido pelo seguinte: redução in vitro da hiperativação; inibição da maior expressão do

CD11b e da Mac-1 (CD11b/CD18) induzida pela CEC; bloqueio da secreção de

mieloperoxidades e redução da liberação de elastase, com conseqüente efeito inibitório

somente sobre a transmigração e o extravasamento endotelial.179

58

b) plaquetas

Apesar de suas propriedades hemostáticas, o papel das plaquetas na resposta

inflamatória já está bem estabelecido na literatura.

A aprotinina previne a disfunção plaquetária e melhora a hemostasia durante a CEC,

de modo indireto, por inibir a plasmina e a calicreína e, de modo direto, pela estabilização do

receptor de superfície GP Ib da membrana plaquetária180. Além disso, reduz a expressão da P-

selectina e, quantitativamente, a interação leucócitos-plaquetas durante a CEC181. Outro

mecanismo do efeito direto sobre as plaquetas resultaria da ação sobre os receptores ativados

pelas proteases (PARs), em especial pela trombina, o mais potente ativador, pelo contato, das

plaquetas.182

Portanto, a aprotinina poderia reduzir a amplificação da resposta celular inflamatória

induzida pela CEC indiretamente pelo efeito sobre as proteases séricas e diretamente através

da ação sobre os receptores ativados pelas proteases.

II.5.5. Aprotinina e citocinas

Como analisado antes, níveis alterados de citocinas pró-inflamatórias e

antiinflamatórias durante a CEC têm sido documentados, sendo, em geral, sua magnitude

relacionada com o tempo de CEC e de anóxia. Estudos, no entanto, mostram graus variados

de variação durante e após a CEC.

A aprotinina tem-se mostrado capaz de inibir, in vitro, a secreção de TNF-α pelos

macrófagos ativados em 51%183, sendo que, in vivo, pode apresentar a mesma magnitude

desse efeito em relação ao grupo controle.184 Estudos preliminares apontam para um mesmo

59

comportamento em relação à IL-6 imediatamente após a descontinuação da CEC.185 Diego e

col. demonstraram que a metilprednisolona e dose plena de aprotinina foram capazes de

reduzir, de forma significativa, os níveis séricos de IL-6 após 24 horas do término da CEC.186

Interessante notar que esse mesmo grupo concluiu que, uma hora após a CEC e 24 horas após

a CEC, doses plenas de aprotinina foram capazes de aumentar os níveis de IL-10.187 A IL-8

analisada no lavado bronco-alveolar de pacientes tratados com aprotinina era

significativamente menor em relação ao grupo controle, assim como a presença de

neutrófilos.188

Apesar da já bem estabelecida atividade hemostática, estudos recentes e modelos de

sistemas sugerem que a ação da aprotinina, com base em marcadores celulares e funcionais,

poderia atenuar alguns aspectos da resposta inflamatória evocada pela CEC, principalmente

pela ação inibitória, em altas doses, da produção e função da calicreína na amplificação da

cascata inflamatória.

No entanto, desde as primeiras publicações no final da década de 1980, continuando

pela década seguinte, há a percepção de que, um agente tão eficazmente hemostático poderia

também ser pró-trombótico. Poucos, se alguns, cirurgiões duvidam da eficácia anti-

hemorrágica da aprotinina; muitos, no entanto, questionam seu impacto sobre a patência das

anastomoses. Em conseqüência, muitos ainda relutam em usá-la de forma rotineira, em

particular, nas cirurgias de revascularização miocárdica.

60

II.5.6. A trombose em debate: um problema com fundamento

a) a evidência clínica

A condução de estudos clínicos sobre a patência de enxertos coronarianos não tem,

notadamente, obtido sucesso. Cada lado de um argumento tem suscitado evidências que

suportam o contrário. Apesar dos estudos de Bidstrup e cols., Havel e cols., Lass e cols.,

Hayashida e cols. e Rich e cols. não terem encontrado evidência da redução da patência do

enxerto com o uso da aprotinina, aqueles de Cosgrove e cols., Van der Meer e cols. e

Alderman e cols. reiteraram a questão pró-trombótica. No entanto, críticas têm sido

levantadas em quase todos esses estudos e variam consideravelmente em relação à dosagem

de aprotinina utilizada nos métodos de imagem obtidos para a patência dos enxertos e no

intervalo de tempo entre o pós-operatório e a análise obtida. Fatores de confundimento, tais

como dose de heparina durante a CEC, uso da terapia com aspirina nos períodos pré e pós-

operatório e, talvez, o mais contundente de todos, a qualidade dos vasos distais, têm

contribuído para um debate caloroso e não para o esclarecimento de questões básicas.189

Mangano e cols.190 observaram uma associação entre aprotinina e disfunções

orgânicas múltiplas, dentre as quais, eventos cardiovasculares (infarto do miocárdico e

insuficiência cardíaca), cerebrovasculares e renais (disfunção renal e falência renal

requerendo diálise), assim como o aumento não significativo do risco de morte. Tais efeitos

não foram observados em relação aos análogos da lisina, quando comparados de forma

observacional e testados por métodos de propensão e multivariados.

Vale ressaltar as inúmeras opiniões adversas às do autor citado, principalmente no que

concerne ao real benefício da aprotinina quanto ao seu efeito anti-hemorrágico, ao caráter

observacional do estudo, à imprecisão na definição de variáveis de morbidade avaliadas e ao

viés de seleção durante o desenvolvimento do desenho do estudo. Tais opiniões adversas

61

ressaltam o seguinte: a falta de uniformidade na indicação para administração da droga, a não

citação do período no qual a mortalidade foi avaliada, a heterogeneidade do volume cirúrgico

entre as instituições, a imprecisão dos critérios de exclusão, assim como a semelhança do

porcentual da taxa de falência renal encontrado de 8,0% aos 7,8% citados em artigo prévio do

mesmo autor, que utilizou o mesmo banco de dados. Determinantes de prognóstico, como o

uso de drogas antitrombóticas antes da cirurgia, tempo de CEC e outros detalhes cirúrgicos, o

volume de hemotransfusão e o uso de drogas inotrópicas para episódios de hipotensão, que

interferem no prognóstico, talvez tenham sido negligenciados.191

Uma revisão sistemática de estudos clínicos randomizados realizada por Artyom

Sedrakyan e cols.192 conclui que a aprotinina diminui a necessidade de hemotransfusão em

pacientes revascularizados e não estabelece associação com maior risco de mortalidade,

infarto do miocárdio ou falência renal. Em relação ao acidente vascular cerebral, há uma

redução de risco com o uso da droga, assim como uma tendência para redução de fibrilação

atrial.

Em relação à patência dos enxertos nas cirurgias de revascularização do miocárdio,

Maninder Kalkat e cols.193, em uma revisão sistemática, concluíram que a aprotinina reduz

hemotransfusão, o risco de reoperação por sangramento, mas aumenta o risco de oclusão das

anastomoses de safena.

Cabe lembrar que as recomendações para o uso da aprotinina em dose plena em

pacientes de alto risco para sangramento cirúrgico e de metade da dose para pacientes

submetidos à cirurgia cardíaca com o objetivo de reduzir hemotransfusão, sangramento e

reexploração cirúrgica têm nível de evidência “A” em The Society of Thoracic Surgeons

Blood Conservation Guideline Task Force e The Society of Cardiovascular Anesthesiologists

Special Task Force on Blood Transfusion.194

62

De acordo com a revisão inicial dos dados pelo FDA, a aprotinina pode estar associada

com “aumento do risco de morte, falência renal, falência cardíaca congestiva e acidente

vascular cerebral”. Desde que análises de novos dados fornecidos pela Bayer S.A. estão em

andamento no FDA, conclusões sobre a segurança da aprotinina não podem ser tiradas neste

momento.195

No final da década de 1980, a equipe do Hammersmith Hospital (National Heart and

Lung Institute, Imperial College School of Medicine, Londres, Inglaterra) levantou o potencial

pró-trombótico da aprotinina e, desde então, tem advogado que tal questão só será resolvida

com o completo estabelecimento dos mecanismos de ação da aprotinina. A despeito da

questão pró-trombótica, esse mecanismo jamais foi esclarecido de forma convincente pelas

evidências científicas. De fato, com a clonagem de receptores da trombina das plaquetas, a

possibilidade é de que a aprotinina, ao invés de potencializar a ação da trombina, possa

antagonizar a mesma.

b) o clássico receptor de trombina nas plaquetas é um receptor ativado por protease

A clivagem do receptor é o resultado da atividade da trombina, que é sabidamente

inibida de maneira competitiva pela aprotinina. A hipótese imediata é de que a aprotinina

deveria antagonizar e não potencializar a ativação plaquetária induzida pela trombina. O

reconhecimento desse mecanismo de ação proteolítica distinta do receptor da trombina tem

sido denominado de “receptor 1 ativado por protease” (PAR1).

c) aprotinina seletivamente bloqueia a resposta plaquetária à trombina, mas não a outros agonistas plaquetários

É importante salientar que há uma predominância do PAR1 na resposta plaquetária à

trombina. Experimentos com o peptídeo FLLRN mostram que 70% a 100% da agregação

plaquetária induzida pela trombina é mediada pelo PAR1, sendo apenas um componente

63

residual aquele mediado pela glicoproteína GP Ib. De tal forma que, a aprotinina inibe apenas

a agregação induzida por trombina e tripsina, mas não por colágeno, ADP e epinefrina. A

ausência desse efeito, descartaria qualquer possibilidade de inibição pela aprotinina do evento

final comum da agregação plaquetária, com a ligação do fibrinogênio à GP IIbIIIa.189

d) aprotinina é simultaneamente hemostática e antitrombótica

A implicação clínica para as cirurgias cardíacas com CEC é de que a aprotinina

preveniria a participação das plaquetas ativadas pela trombina na cascata da coagulação,

exercendo um efeito antitrombótico, enquanto manteria a capacidade hemostática das

plaquetas nas feridas cirúrgicas, onde o colágeno e o ADP são gerados.189

e) preservação plaquetária

A ação antitrombótica da aprotinina citada acima pode explicar sua propriedade de

preservação das plaquetas, revelada clinicamente. A disfunção plaquetária induzida pela CEC

é causada pela perda de grânulos e exaustão das plaquetas pela contínua produção e liberação

de trombina durante a cirurgia, determinando excessivo sangramento. É provável que a

aprotinina “proteja” as plaquetas da dessensibilização pela trombina, resultando em aumento

quantitativo para a homeostase da ferida e sítios de sutura.189

CAPÍTULO III

OBJETIVO

65

III - OBJETIVO

O presente estudo teve por objetivo realizar uma análise comparativa entre os níveis

plasmáticos de marcadores inflamatórios de fase aguda em pacientes submetidos à cirurgia

cardíaca com circulação extracorpórea, utilizando aprotinina ou corticosteróides.

CAPÍTULO IV

METODOLOGIA

67

IV - METODOLOGIA

IV.1. Desenho Do Estudo

Ensaio clínico.

IV.2. População Estudada

No período de junho de 2004 a fevereiro de 2006, estudou-se, de forma consecutiva,

40 pacientes submetidos à cirurgia de revascularização miocárdica com CEC em uma única

instituição de caráter privado (Hospital Barra D’Or – Rio de Janeiro).

Os pacientes foram randomizados em blocos de três, de forma consecutiva, por um

único anestesista, para receberem um dos três tratamentos, conforme esquema terapêutico a

seguir. O restante da equipe cirúrgica e de intensivistas, no período de pós-operatório, assim

como o investigador principal, eram “cegos” em relação ao tratamento.

IV.3. Esquema Terapêutico

Em relação ao tratamento empregado, os pacientes foram divididos em três grupos da

seguinte forma:

• Grupo 0 – (controle, 12 pacientes) tratamento padrão; não uso de drogas;

• Grupo C – (16 pacientes) uso da metilprednisolona, na dose de 30 mg/kg, intravenosa,

cinco minutos antes da CEC;

68

• Grupo A – (12 pacientes) uso da aprotinina de acordo com o seguinte esquema

terapêutico:

Dose teste de 1 mL (10.000 UIK), dez minutos antes do início da terapêutica;

Dose em “bolus” de 200 mL (280 mg ou 2 milhões de UIK), infundida em 20-30 minutos, em linha venosa central, exclusiva, imediatamente antes da esternotomia;

Dose extra de 200 mL no perfusato, imediatamente antes da instituição da CEC;

Dose de manutenção de 50 mL/hora (70 mg/hora ou 500.000 UIK/hora), durante a cirurgia. Essa infusão não poderia ultrapassar o período de duas horas do procedimento, totalizando, obrigatoriamente, 5 milhões de UIK.

Em caso de reação anafilática com a dose-teste, o paciente seria excluído do estudo e

seriam tomadas as seguintes condutas:

• Administração de cristalóide venoso a critério do anestesista;

• Administração de hidrocortisona na dose de 100 a 200 mg, endovenosa;

• Administração de adrenalina (1:1000), 0,05 a 0,1 mL, endovenosa.

O Comitê de Ética em Pesquisa da Rede D´Or de Hospitais (CEP) aprovou o protocolo

de estudo no dia 3 de dezembro de 2002 e todos os pacientes ou seus familiares responsáveis

leram e assinaram o consentimento livre e esclarecido (Anexos 1 e 2, respectivamente).

Os responsáveis pelo serviço de Cirurgia Cardiovascular e de Cardiologia do Hospital

Barra D´Or tinham conhecimento do projeto de pesquisa e assinaram o termo de adesão

concordando com a realização do estudo, conforme orientação do CEP. Em todos os casos, o

autor do estudo foi o responsável pelo esclarecimento dos pacientes e pela obtenção da

assinatura dos mesmos no termo de consentimento.

O estudo seguiu os termos da Resolução n° 196 do Conselho Nacional de Saúde.

69

O pesquisador responsável pela coleta de dados, coordenador e autor desta tese não foi

subvencionado. Não há nenhum interesse, particular ou financeiro, por parte do autor ou dos

seus orientadores na indicação de qualquer das duas drogas utilizadas no estudo, que não

sejam as indicações já estabelecidas e recomendadas pela literatura mundial e que estejam de

acordo com a rotina do serviço de Cirurgia Cardiovascular. Os custos de utilização da

aprotinina, assim como das dosagens de TNF-α e IL-6 foram de responsabilidade da Bayer

S.A.

IV.4. Critérios de Inclusão

Foram definidos os seguintes critérios para inclusão no estudo:

• Cirurgias agendadas de forma eletiva pela rotina do serviço de Cirurgia Cardiovascular;

• Cirurgias realizadas pela mesma equipe cirúrgica, de anestesia e de perfusão, para que

fosse rigidamente seguido o protocolo proposto;

• Pacientes de baixo risco para mortalidade cirúrgica, definidos por três diferentes escores

de risco, a saber: o North New England, utilizado nas recomendações para as cirurgias

de revascularização do miocárdico da AHA/ACC196, o EuroSCORE197 e o Cleveland

Score;198

• Pacientes portadores de angina estável crônica, definidos como classe funcional I, II ou

III da Canadian Cardiovascular Society (CCS), ou seja, angina usualmente transitória,

com duração entre dois e 30 minutos, precipitada pelo exercício, de intensidade variável,

emoções ou outros eventos determinantes de aumento do consumo miocárdico de

oxigênio;

• Pacientes portadores de isquemia assintomática, induzida por alguma prova funcional

(teste de esforço, cintilografia tomográfica de perfusão miocárdica ou ecocardiografia de

estresse);

• Ausência de sintomas de angina em repouso nas últimas 48 horas anteriores à internação;

70

• Ausência de internação por uma síndrome coronariana aguda com ou sem supradesnível

do segmento ST-T nos últimos seis meses anteriores à randomização para o estudo;

• Ausência de internação por sinais e sintomas compatíveis com o diagnóstico de

insuficiência cardíaca sistólica e/ou diastólica nos últimos seis meses anteriores à

randomização para o estudo.

IV.5. Critérios de Exclusão

Excluíram-se os pacientes que apresentassem qualquer outro indicador capaz de

deflagrar um processo inflamatório sistêmico na ocasião da cirurgia, de forma a garantir que

qualquer processo inflamatório sistêmico que surgisse estaria relacionado ao procedimento

cirúrgico per se. Também foi excluído qualquer paciente considerado de maior risco para

sangramento cirúrgico, uma vez que esse, de acordo com a rotina do serviço, já teria

indicação para uso de aprotinina.

Para a seleção dos pacientes, respeitaram-se os seguintes critérios de exclusão:

• Pacientes que não assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido;

• Cirurgias de urgência, definidas como aquelas realizadas durante a mesma internação que

motivou a indicação do procedimento, seja pela gravidade anatômica coronariana (lesão

de troco de coronária esquerda ≥ 70% ou seu equivalente), ou pela gravidade clínica,

manifesta por angina instável e sintomas persistentes a despeito da terapia médica oral

máxima e intravenosa (classe IV da CCS persistente);

• Cirurgias de emergência, definidas como aquelas realizadas nas primeiras 24 horas após o

diagnóstico pelo qual se definiu a indicação cirúrgica, ou seja, angina de repouso

refratária associada a alterações dinâmicas do segmento ST-T ou da onda T do

eletrocardiograma de 12 derivações, em repouso, choque circulatório e insuficiência

cardíaca persistente;

• Uso de drogas com ação antiagregante plaquetária nos dez dias que precederam a

cirurgia;

71

• Uso crônico ou no período de dez dias anteriores à cirurgia de corticosteróides e/ou

antiinflamatórios não-hormonais;

• Presença de disfunção renal aguda ou crônica, definida como nível de creatinina sérica >

1,7 mg/dL ou terapia de suporte dialítico;

• História prévia ou parâmetros clínicos e laboratoriais compatíveis com coagulopatia

aguda ou crônica;

• História prévia ou parâmetros clínicos e laboratoriais compatíveis com hepatopatia aguda

ou crônica;

• Evidência clínica de infecção recente (menos de um mês);

• Doença inflamatória, localizada ou sistêmica, de qualquer natureza;

• Doença do sistema imunológico;

• Cirurgia ou trauma recente (menos de um mês);

• Cardiopatia reumática;

• Disfunção ventricular esquerda definida pelo ecocardiograma trans-torácico

unidimensional e bidimensional, como sendo moderada ou grave, pela análise subjetiva

do examinador;

• Cirurgias não realizadas no período compreendido entre 8:00 e 10:00 horas, para afastar

possível efeito confundidor do ciclo circadiano;

• Cirurgias da aorta;

• Reoperações;

• Pacientes menores de 18 anos e maiores de 75 anos.

IV.6. Variáveis Analisadas

IV.6.1. Variáveis de pré-operatório

Foram analisadas as seguintes variáveis no período pré-operatório:

72

• Demográficas: sexo, idade, raça e superfície corpórea (m²);

• Clínicas: três escores de risco para mortalidade (North New England, EuroSCORE,

ClevelandSCORE) e uso prévio de drogas bloqueadoras dos canais de cálcio e/ou

inibidoras da enzima de conversão da angiotensina pelo menos nas 24 horas que

antecederam à cirurgia;

• Anatomia coronariana: presença de estenose grave de tronco de coronária esquerda

(TCE), definida como redução de pelo menos 50% no maior diâmetro do TCE e/ou lesões

com estenose grave com redução de pelo menos 70% no maior diâmetro de um ou mais

dos três principais ramos coronarianos. Foram, portanto, categorizados como pacientes

portadores ou não de lesão de TCE, uni-arteriais, bi-arteriais e tri-arteriais.

IV.6.2. Variáveis de perioperatório

Foram analisadas as seguintes variáveis cirúrgicas no período perioperatório: tempo de

CEC (minutos), tempo de pinçamento aórtico (minutos) e tempo total de cirurgia (minutos).

IV.6.3. Variáveis de pós-operatório

Foram analisadas as seguintes variáveis clínicas no período pós-operatório imediato,

definido como sendo as primeiras 48 horas seguintes à cirurgia:

• drenagem sangüínea total (mL);

• utilização de sangue (concentrado de hemácias) e/ou outros hemoderivados (concentrado

de plaquetas, plasma fresco congelado e/ou crioprecipitado), conforme rotina estabelecida

pelo serviço de cirurgia cardiovascular para o procedimento de revascularização

miocárdica;

• Incidência de acidente vascular cerebral, definido como lesões tipo 1 (déficit

predominantemente focal, ataque isquêmico transitório ou lesões cerebrais fatais) e lesões

73

tipo 2 (refletem injúria mais global ou difusa, manifesta clinicamente por desorientação

e/ou declínio intelectual imediato, em geral reversível);

• Incidência de infarto trans-operatório, definido como surgimento de novas ondas “Q” no

ECG de superfície com 12 derivações, níveis séricos de CK-Mb e troponina I maiores

que 5 a 10 vezes os valores de referência e surgimento de nova disfunção segmentar ou

piora da disfunção pré-existente ao ecocardiograma transtorácico;

• Incidência de disfunção renal, definida como aumento de 50% ou mais nos níveis de

creatinina (mg/dL), em relação ao basal, ou insuficiência renal estabelecida, quando o

paciente requeria terapia com suporte dialítico;

• Incidência de fibrilação atrial aguda, diagnosticada pelo ECG de superfície com 12

derivações.

IV.7. Dosagens De Marcadores Inflamatórios

Foram analisadas as seguintes proteínas de fase aguda: 1) fibrinogênio, no plasma

citrado, pelo método coagulométrico citrado (valor de referência, 180-350 mg/dL) no

equipamento Sysmex CA 500; e 2) haptoglobina (alfa 2-glicoproteína), no soro, pelo método

de imunoturbimetria (valor de referência, 36-195 mg/dL) no equipamento Advia 1650

(Bayer).

A faixa de valores detectáveis para a PCR pelo teste no soro ou no plasma varia de

0,01 mg/dL a 890 mg/dL. Esse teste apresenta sensibilidade e é validado como teste ultra-

sensível para detecção de PCR (high sensitivity C-reactive protein).

A faixa de detecção para a Il-6 e para o TNF-α é a mesma, de 5 pg/mL a 1000 pg/mL.

A avaliação da séria branca do hemograma foi realizada pelo equipamento ABX

Pentra 80, versão 1.6 – Horiba ABX, com contagem global de leucócitos e neutrófilos, de

74

forma absoluta (valores de referência, 4.000 a 11.300/mm³ e 1.800 a 7.800/mm³,

respectivamente).

Para a análise do tratamento empregado sobre os valores da PCR, do fibrinogênio, da

haptoglobina, e do número de leucócitos e neutrófilos, utilizamos a diferença entre o maior

valor no período de pós-operatório (T1 e T2) e o valor basal (T0). Para efeito de análise dos

valores da IL-6 e do TNF-α, utilizou-se o maior valor no pós-operatório (T1 e T2). Não foi

usada a diferença para essa análise, pois algumas amostras apresentavam valores indetectáveis

pelo método utilizado. Para esse caso, adotamos valores arbitrários (valores menores que 4

pg/mL representaram 2 pg/mL e valores maiores que 1.000 pg/mL representaram 1.001

pg/mL). As variáveis sem distribuição normal terão seus resultados expressos em mediana e

seus respectivos intervalos inter-quartis (IIQ). As médias e os respectivos desvios-padrões

serão utilizados para as variáveis com distribuição normal.

IV.8. Coleta E Preparo Da Amostra

Realizou-se coleta de sangue venoso periférico para testes laboratoriais através de

venopunção em um dos membros superiores, de acordo com os padrões normativos

internacionais.

Obteve-se a coleta em cada grupo em três tempos diferentes:

• Nas 24 horas que antecederam à cirurgia (T0);

• 3 horas após a chegada do paciente à UTI de pós-operatório (T1);

• 18 horas após a chegada do paciente à UTI de pós-operatório (T2).

75

Após a coleta a vácuo, as amostras foram acondicionadas de imediato em tubos com e

sem EDTA (ethylene diamine tetra-acetic acid) para obtenção de soro e plasma,

respectivamente. A seguir, após a centrifugação das amostras de sangue (durante 10 min, a

3.000 rpm), o soro e o plasma foram codificados e armazenados em microtubos de 1,5 mL em

freezer a -80˚ C (Jewett LTUR 13). Ao final do estudo, todas as amostras foram

descongeladas simultaneamente e seus níveis de PCR, IL-6 e TNF-α aferidos em uma única

bateria. O tempo máximo de armazenamento das amostras no freezer foi de 22 meses.

IV.9. Teste De Quimiluminescência Imunométrica

Utilizou-se o sistema IMMULITE®, comercialmente disponível. Trata-se de analisador

automático de teste imunológico dedicado à realização de testes de quimiluminescência

imunométrica. O kit IMMULITE® é um ensaio de fase sólida, tipo imunométrico marcado

com enzima quimiluminescente, baseado no anticorpo monoclonal marcado com ligante, e

separação por fase sólida recoberta com antiligante. Em sua fase inicial, a amostra do

paciente, um anticorpo monoclonal (anti-PCR ou anti-IL-6 ou anti-TNF-α) marcado com

ligante e um anticorpo policlonal (anti-PCR ou anti-IL-6 ou anti-TNF-α) marcado com

fosfatase alcalina (reagente) são pipetados automaticamente pelo sistema e adicionados no

interior da Unidade de Teste contendo a pérola com o antiligante imobilizado. Em uma

segunda etapa, submete-se o continente da Unidade de Teste a um processo denominado

incubação por cerca de 30 minutos a 37˚C, com agitação intermitente. Durante esse período, a

PCR, a IL-6 e o TNF-α de cada amostra formam um complexo de anticorpos tipo

“sanduíche”, que, por sua vez, liga-se ao antiligante da fase sólida. O conjugado não ligado é

removido por lavagem e centrifugação. A seguir, um substrato luminogênico é adicionado e a

Unidade de Teste é incubada por um período adicional de 10 minutos. O substrato

76

quimiluminescente, éster fosfato do adamantil dioxetano é submetido a hidrólise em presença

de fosfatase alcalina, gerando um intermediário instável. A produção contínua desse

intermediário resulta na emissão ininterrupta de luz.

IV.10. A Reação De Quimiluminescência

O conjugado de fosfatase alcalina (reagente) é ligado à pérola (dentro da Unidade de

Teste) durante a reação imunológica. A quantidade de fosfatase alcalina capturada é

proporcional, ou inversamente proporcional, à concentração presente em cada amostra de soro

ou plasma. Uma vez a Unidade de Teste apropriadamente lavada, um substrato luminogênico

lhe é adicionado e, a seguir, todo o conjunto é transferido para uma câmara de luminômetro.

Poucos minutos depois, a unidade de teste é apresentada ao tubo fotomultiplicador, onde a luz

gerada pela reação luminogênica é mensurada. Durante a reação luminogênica, o substrato –

éster fosfato do adamantil dioxetano – é desfosforilado em um ânion instável intermediário

pelo conjugado de fosfatase alcalina capturado pela pérola. Esse composto instável emite um

fóton quando é decomposto. Um instrumento denominado fotômetro é capaz de quantificar os

fótons emitidos pela reação (contagem por segundo ou CPS). A emissão de luz é diretamente

proporcional à quantidade original de fosfatase alcalina capturada pela reação imunológica.

Comparado com outros meios de detecção, a quimiluminescência imunométrica representa o

mais alto grau de sensibilidade disponível, com ordens de magnitude melhor que a

sensibilidade do teste por radioimunoensaio ou enzima imunoensaio.199

O Laboratório de Imunologia Clínica do Hospital Barra D´Or realizou os exames

laboratoriais de quimiluminescência e de hematologia.

77

IV.11. O Procedimento Cirúrgico

Todas as cirurgias foram realizadas com esternotomia mediana convencional,

obrigatoriamente pela mesma técnica. A anticoagulação foi obtida com heparina não-

fracionada, 400 UI/kg, e corrigida, caso necessário, para se alcançar um tempo de coagulação

ativado (TCA) ≥480 segundos para todos os grupos durante a CEC. Após o término da

perfusão, a neutralização da heparina foi alcançada com hidroclorato de protamina em uma

relação de 1 mg para 100 UI de heparina para que se alcançasse o valor basal do tempo de

coagulação ativado. O TCA foi mensurado usando o sistema celite-ativado. A CEC foi

realizada pela mesma técnica, utilizando-se todos oxigenadores de membrana (MACCHI®,

DIDECO® ou DMG®), filtro de linha arterial, bomba de rolete (DMG®), um kit de tubo de

polivinilcloreto e uma cânula venosa de dois estágios. A proteção miocárdica foi realizada

através de cardioplegia intermitente, sangüínea e hipotérmica leve (resfriamento até 32˚C). O

prime foi preenchido com solução de Ringer com lactato (1.000 mL) e manitol a 20% (3

mL/kg).

Durante a CEC, o hematócrito foi mantido entre 20% e 25% e a pressão arterial média

entre 50 e 70 mmHg (com a utilização de nitroglicerina, nitroprussiato de sódio, dobutamina e

norepinefrina, caso necessário).

Concentrado de hemácias foi transfundido durante a CEC, se o hematócrito estivesse

menor que 20%, e no período de pós-operatório imediato, se menor que 25%. Concentrados

de plaquetas foram utilizados caso houvesse uma queda no seu valor absoluto abaixo de

50.000/mm³.

78

IV.12. O Procedimento Anestésico

Após a medicação pré-anestésica com midazolan (3 mg, endovenoso), a anestesia foi

induzida com etomidato, 0,1 mg/kg, rocurônio, 1 mg/kg, fentanil, 50-200 µg, e sevoflurane

entre 2% e 3%. Nos pacientes submetidos ao bloqueio subaracnóideo, esse foi realizado com

agulha 256 entre L4-L5 com morfina, 0,2 a 0,4 mg, e fentanil, 100 µg. Naqueles submetidos

ao bloqueio peridural, esse foi realizado com agulha 166 e cateter contínuo entre T3-T4 com

morfina, 2 a 4 mg, fentanil, 100 µg, e lidocaína a 2%, 60 mg. A manutenção anestésica foi

feita com sevoflurane entre 1% e 6% e rocurônio, 0,2 mg/kg, de forma intermitente. Um

cateter intra-arterial foi introduzido na artéria radial esquerda sob anestesia local para

monitorização da pressão arterial contínua, assim como um cateter intravenoso profundo de

três vias foi implantado na veia subclávia esquerda para infusão de líquidos, drogas,

hemoderivados e monitorização da pressão venosa central. Um cateter de Foley, em sistema

fechado, foi introduzido para avaliação do débito urinário. Monitorização contínua de duas

derivações eletrocardiográficas (II e V5 modificada), da saturação de oxigênio, do gás

carbônico e da temperatura esofagiana foi realizada.

IV.13. Análise Estatística

As associações entre variáveis categóricas foram avaliadas pelo teste χ² ou, quando

necessário, por testes exatos (Fisher ou Fisher-Freeman-Halton). Os valores das variáveis

numéricas nos diferentes tratamentos foram analisados pelo teste de Kruskal-Wallis; quando

esse foi estatisticamente significativo, foram realizadas comparações par-a-par pelo método

de Conover-Inman. As distribuições dos desfechos em cada grupo terapêutico foram exibidas

graficamente por meio do boxplot de Tukey. Para todos os testes foi usado um nível de

79

confiança de 95%. As análises foram realizadas com os programas Stata, versão 9

(StataCorp©, 2006), e SPPS, versão 14 (SPPS Inc.©, 2005).

CAPÍTULO V

RESULTADOS

81

V - RESULTADOS

V.1. Características Clínicas E Demográficas

A tabela 3 apresenta as características demográficas, o uso prévio de drogas

vasodilatadoras e a presença de diabetes mellitus nos grupos estudados. A tabela 4 traz as

características clínicas desses grupos representadas pelos três escores de risco avaliados. A

tabela 5 apresenta a classificação dos pacientes estudados de acordo com o número de artérias

coronárias acometidas.

Tabela 3. Principais características clínicas e demográficas

Características Clínicas e Demográficas

Sexo masculino

(% da amostra) Idade (anos)

Diabetes mellitus

(% da amostra)Superfície

corpórea (m2)Uso de BCC

(% da amostra) Uso de IECA

(% da amostra)

Grupo 0 72,7 64,2 25,0 1,8 (0,1) 18,1 36,3 Grupo A 83,3 62,4 50,0 1,8 (0,1) 16,6 41,6 Grupo C 68,7 64,0 31,2 1,8 (0,1) 18,7 43,7 P = NS P = NS P = NS P = NS P = NS P = NS

- Grupo 0 = controle (sem droga); Grupo A = recebeu aprotinina; Grupo C = recebeu corticosteróide

- BCC = bloqueadores dos canais de cálcio; IECA = inibidores da enzima de conversão da angiotensina Notas:

- Dados de superfície corpórea correspondem à média ± desvio-padrão (entre parênteses); - NS = não significativo.

Como pode ser visto na tabela 3, não houve diferença estatística nas médias das

idades, da prevalência de homens e mulheres, nem na superfície corpórea entre os três grupos

estudados. O porcentual de uso dos inibidores da enzima de conversão da angiotensina e dos

bloqueadores dos canais de cálcio não diferiu entre os grupos. No grupo da aprotinina, metade

dos pacientes tinha diagnóstico de diabetes mellitus, ao passo que cerca de menos de um terço

82

dos pacientes dos grupos 0 e C apresentou esse diagnóstico no pré-operatório. Todavia, não

foi observada diferença estatística entre os grupos.

Tabela 4. Principais características clínicas representadas pelos escores de risco cirúrgico para mortalidade

Escores de Risco Cirúrgico

Cleveland North New England EuroSCORE

Grupo 0 1,7 (1,0-3,0) 2,6 (0,0-4,5) 1,0 (0,0-1,0) Grupo A 1,7 (1,0-3,0) 2,7 (2,0-3,5) 2,0 (1,0-3,5) Grupo C 1,6 (1,0-3,0) 2,4 (2,0-3,2) 1,3 (1,0-2,0)

P = NS P = NS P = NS

- Grupo 0 = controle (sem droga); Grupo A = recebeu aprotinina; Grupo C = recebeu corticosteróide;

Notas: - Dados expressos pela mediana; - Dados entre parênteses correspondem ao IIQ; - NS = não significativo.

Como pode ser visto na tabela 4, os grupos apresentaram baixo risco para mortalidade

cirúrgica. As medianas dos escores de risco para mortalidade foram equivalentes entre os

grupos, apesar do maior valor da mediana do EuroSCORE (2 pontos) no grupo da aprotinina

(grupo A).

Tabela 5. Classificação dos grupos de acordo com o número de artérias coronárias acometidas

Classificação quantitativa do número de artérias coronárias acometidas

TCE Uni-arterial Bi-arterial Tri-arterial Pacientes por grupo

(Nº pac) (% ) (Nº pac) (% ) (Nº pac) (% ) (Nº pac) (% ) (Nº pac) Grupo 0 1 8,3 1 8,3 4 33,3 7 58,3 12 Grupo A 3 25,0 0 0,0 5 41,7 7 58,3 12 Grupo C 2 12,5 4 25,0 4 25,0 8 50,0 16

P = NS P = NS P = NS P = NS

- Grupo 0 = controle (sem droga); Grupo A = recebeu aprotinina; Grupo C = recebeu corticosteróide;

- TCE = Lesão de Tronco de Coronária Esquerda; Notas: - A soma do número de pacientes por categoria (TCE, Uni-arterial, Bi-arterial e Tri-arterial) ultrapassa o total por grupo, devido à associação de TCE com as demais categorias; - NS = não significativo.

83

A incidência de lesão de TCE e a presença de lesões anatomicamente significativas em

um, dois ou três vasos coronarianos principais foram semelhantes entre os grupos.

Não foi observada diferença no número de eventos clínicos adversos entre os três

grupos, incluindo os mais comumente citados pela literatura: fibrilação atrial, disfunção renal

aguda, acidente vascular encefálico (AVE) e infarto do miocárdio (IAM) perioperatório. No

grupo 0, ocorreram um óbito, um caso de disfunção renal aguda e outro de AVE. Um caso de

IAM ocorreu no grupo A.

V.2. Dados Cirúrgicos

A tabela 6 mostra os valores médios dos tempos de CEC, de pinçamento aórtico e total

de cirurgia, não tendo sido observada diferença entre os grupos. A média da temperatura

esofagiana mínima, assim como do fluxo e de pressão arterial durante a CEC (dados não

apresentados na tabela 6) não diferiu entre os grupos.

Tabela 6. Principais características perioperatórias

Tempos (em minutos)

CEC Pinçamento aórtico

Tempo de cirurgia

Grupo 0 85,9 (19,2) 69,8 (25,0) 234,5 (51,8) Grupo A 84,3 (20,2) 64,3 (16,5) 237,5 (37,8) Grupo C 85,0 (17,1) 67,3 (16,8) 229,3 (35,7)

P = NS P = NS P = NS

- Grupo 0 = controle (sem droga); Grupo A = recebeu aprotinina; Grupo C = recebeu corticosteróide; Notas: - Dados entre parênteses correspondem ao desvio-padrão; - NS = não significativo.

84

V.3. Variáveis Hematológicas

Como um indicador quantitativo indireto da fibrinólise observada durante a CEC, a

mediana da drenagem sangüínea total de 967,2 mL foi maior no grupo 0, no período de pós-

operatório imediato, em relação aos outros grupos; porém, não alcançou significado

estatístico. Esse fato, contudo, não determinou maior necessidade de hemotransfusão naquele

grupo, quando comparado aos grupos A e C, seja na quantidade mediana de concentrado de

hemácias por paciente (0,8; 0,2 e 0,5 U/paciente, respectivamente), de concentrado de

plaquetas (0,7; 0,0 e 1,0, respectivamente) e de plasma fresco congelado (0,0; 0,0 e 0,8,

respectivamente). Esses dados estão representados na tabela 7.

Tabela 7. Principais características hematológicas

Variáveis Hematológicas

Drenagem sangüinea (ml)

Concentrado de hemácias (U/pac)

Concentrado de plaquetas (U/pac)

Plasma fresco (U/pac)

Grupo 0 967,2 (425-1625) 0,8 0,7 0,0 Grupo A 447,7 (300-625) 0,25 0,0 0,0 Grupo C 732,0 (300-1075) 0,5 1,0 0,8

P = NS P = NS P = NS P = NS - Grupo 0 = controle (sem droga); Grupo A = recebeu aprotinina; Grupo C = recebeu corticosteróide; - Dados expressos pela mediana; - Dados entre parênteses correspondem ao IIQ; - NS = não significativo.

Notas:

- Não houve transfusão de crioprecipitado na amostra

Não houve transfusão de crioprecipitado nos grupos estudados, nem sangramento

cirúrgico anatomicamente detectável e digno de nota por parte da equipe cirúrgica, nem foi

necessária toracotomia exploradora no período de pós-operatório imediato. Não houve

diferença entre os grupos na quantidade administrada de heparina e protamina, nem se

observou reação anafilática no grupo que recebeu aprotinina.

85

V.4. A Resposta Inflamatória

Exceto pela leucometria, as variáveis estatísticas em estudo (IL-6, TNF-α, PCR,

fibrinogênio, haptoglobina e número de neutrófilos) não apresentaram distribuição normal.

As figuras 1 e 2 mostram o comportamento dos níveis basais do TNF-α e da IL-6. A

mediana dos valores e os respectivos IIQ do TNF-α nos grupos 0, A e C foram 2,9 (2,0–3,65),

4,0 (2,0–6,25) e 4,3 (2,0–5,7) pg/mL, respectivamente. Apesar da equivalência clínica e

estatística existente entre os grupos no período de pré-operatório, observamos uma diferença

de quase três vezes dos valores medianos e do IIQ de IL-6 no grupo A em relação ao grupo C

(18,6 [1,7–32,7] e 6,7 [1,0–8,0] pg/mL, respectivamente) e de quase duas vezes em relação ao

grupo 0 (10,8 [5,2–16,2] pg/mL). Tal comportamento não foi observado em relação às

medianas do TNF-α, nem às proteínas de fase aguda e aos componentes celulares avaliados

nessa população.

86

Figura 1. Valores de TNF- α em T0 nos três grupos estudados

Figura 2. Valores de IL-6 em T0 nos três grupos estudados

P = NS

P = NS

87

V.4.1. A resposta inflamatória pelas citocinas

Como algumas amostras apresentavam valores indetectáveis, para fim de análise

estatística os maiores valores dos níveis séricos de IL-6 e TNF-α foram comparados nos

tempos T1 e T2. Portanto, observa-se que os valores dos níveis séricos de IL-6 foram maiores

no grupo 0 do que nos grupos A e C (374,4 [74,2–608,5]; 260,2 [36,9–344] e 249,2 [99,2–

210] pg/mL, respectivamente), porém sem significância (P = 0,2). Em relação aos maiores

valores dos níveis séricos do TNF-α, os grupos 0, A e C não diferiram (14,0 [5,5–11,8]; 26,5

[4,8–14,1] e 20,8 [5,0–15,1] pg/mL, respectivamente). Tais dados são apresentados nas

figuras 3 e 4.

Figura 3. Valores máximos de IL-6 entre T1 e T2.

P = NS

88

Figura 4. Valores máximos de TNF-α entre T1 e T2.

Através das alterações nos níveis séricos das citocinas demonstradas acima, observa-se

aumento principalmente nas primeiras 3 horas pós-operatórias, em comparação aos valores

basais. Houve diminuição em 18 horas, sem retorno ao basal naquele momento. Como essas

observações foram ilustrativas, não receberam tratamento estatístico (Figuras 5 e 6).

P = NS

89

IL-6 (pg/ml)

45,5 36,8

75,5

365,6

10,8

252,8

18,6

224,9

6,7

0

50

100

150

200

250

300

350

400

T0 T1 T2

pg/m

l

Grupo 0 Grupo A Grupo C

Figura 5. Cinética da IL-6 no pós-operatório representada por seus valores medianos nos três diferentes grupos.

TNF-alfa (pg/ml)

4,0

25,9

10,5

4,3

20,6

4,72,9

7,3

12,6

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

T0 T1 T2

pg/m

l

Grupo 0 Grupo A Grupo C

Figura 6. Cinética do TNF-α no pós-operatório representada por seus valores medianos nos três diferentes grupos.

90

V.4.2. A resposta inflamatória pelas proteínas de fase aguda

As figuras 7, 8 e 9 mostram a diferença entre o maior valor (T1 e T2) dos níveis de

fibrinogênio, haptoglobina e PCR e seus respectivos valores em T0 para cada tratamento

efetuado. Ressalta-se a maior diferença alcançada pelos níveis séricos do fibrinogênio no

grupo 0, em relação aos grupos A e C (76,4 [0,2–131,9]; 35,5 [0,0–132,4] e 48,6 [-15,3–56,8

mg/mL, respectivamente; P = 0,7). Não observamos diferença significativa nos níveis séricos

da haptoglobina entre os grupos 0, A e C (-42,8 [-67,3 – -9,9]; -62,3 [-90,0 – -31,9] e -75,6

[-103,0 – -35,0], respectivamente; P = 0,4) e da PCR alcançados entre os grupos (13,0 [7,4–

19,1]; 11,0 [6,6 – 13,4] e 10,6 [6,6 – 10,1], respectivamente; P = 0,2).

Figura 7. Diferença entre as medianas dos maiores valores do fibrinogênio em T1 e T2

em relação a T0.

P = NS

91

Figura 8. Diferença entre as medianas dos maiores valores da haptoglobina em T1 e T2

em relação a T0.

Figura 9. Diferença entre as medianas dos maiores valores da PCR em T1 e T2 em

relação a T0.

P = NS

P = NS

92

Apesar de não ter sido objeto de análise estatística a variação desse aumento em

relação aos seus níveis basais, mas a influência que ambas as intervenções terapêuticas

poderiam determinar nessa variação, observa-se que o pico dos níveis de PCR ocorreu em 18

horas de maneira equivalente nos três grupos (Figura 10).

PCR (mg/dl)

1,6

15,3

11,6 11,2

0,9 0,5 0,70,9 1,0

0,0

2,0

4,0

6,0

8,0

10,0

12,0

14,0

16,0

18,0

T0 T1 T2

mg/

dl

Grupo 0 Grupo A Grupo C

Figura 10. Cinética da PCR no pós-operatório representada por seus valores medianos nos três diferentes grupos.

V.4.3. A resposta inflamatória celular

Quando se analisa a diferença entre os maiores valores (T1 e T2) e os valores em T0

da leucometria, constatamos uma significativa diferença no grupo C em relação aos grupos 0

e A (15,0 ± 5,9; 8,4 ± 4,1 e 9,2 ± 3,4, respectivamente; P = 0,02 e P = 0,003). Apesar disso, a

análise da diferença dos maiores valores relativos dos neutrófilos não diferiu entre os grupos

(P = 0,3) (Figuras 11 e 12).

93

Figura 11. Diferença entre as médias dos maiores valores da leucometria em T1 e T2

em relação a T0.

Figura 12. Diferença entre as médias dos maiores valores do número de neutrófilos em

T1 e T2 em relação a T0 (valores percentuais em relação à leucometria)

P = NS

P = 0,003 P = 0,002

CAPÍTULO VI

DISCUSSÃO

95

VI - DISCUSSÃO

Há mais de meio século, Kirklin e cols.200 relataram uma mortalidade de 40%

associada à cirurgia cardíaca com CEC, mortalidade essa atribuída, naquela época, ao que

chamavam de “disfunção pulmonar”. Desde então, inúmeras medidas terapêuticas têm sido

estudadas, visando a atenuar essa “disfunção” hoje denominada de síndrome da resposta

inflamatória sistêmica (SIRS); enormes barreiras, no entanto, persistem no caminho entre a

“bancada e a beira do leito”. Atribui-se tal dificuldade à etiologia multifatorial da SIRS e à

heterogeneidade das populações estudadas.

Nosso estudo procurou selecionar sua amostra da forma mais rigorosa possível quanto

às características demográficas e clínicas, através da equivalência das variáveis que poderiam

ser controladas e que estivessem implicadas no risco de geração da SIRS mais intensa após a

CEC. Para tal, nos restringimos aos marcadores laboratoriais da resposta inflamatória que

poderiam ser atenuados por duas estratégias terapêuticas diferentes, a aprotinina e os

corticosteróides, aqui representados pela metilprednisolona, de uso amplamente difundido,

porém com poucos estudos que comprovassem e comparassem sua atividade antiinflamatória.

Diante dos critérios de seleção adotados, concluímos que não seria possível uma análise de

desfecho clínico para essa população constituída de 40 indivíduos.

Já está estabelecida a complexa relação entre a resposta inflamatória e a cascata da

coagulação, através da rápida ativação das plaquetas pela trombina, gerada de forma

diretamente proporcional ao tempo de exposição ao circuito da CEC. Também há evidências

da associação entre hemotransfusão e efeito negativo sobre o sistema imune, determinando

maior risco de infecções, de MODS e lesão pulmonar aguda relacionada à transfusão per se

96

(TRALI), em diversos cenários de pacientes criticamente enfermos.201,202 Tornou-se

mandatória uma análise quantitativa do sangramento cirúrgico, bem como do uso de

hemoderivados, uma vez que essas variáveis poderiam interferir no aumento da liberação de

citocinas.203

Muitos investigadores já mostraram uma significativa melhora na homeostase durante

e após a CEC com o uso da aprotinina, tanto pela inibição da fibrinólise quanto pela

preservação da capacidade de adesão do receptor plaquetário da glicoproteína 1b. O presente

estudo mostra que a metilprednisolona e a aprotinina, nas doses utilizadas clinicamente, não

apresentaram efeito significativo na atenuação da liberação de muitos marcadores

inflamatórios de fase aguda após a CEC. Apesar de observarmos uma importante redução no

sangramento cirúrgico, avaliado clinicamente pela drenagem sangüínea total, a aprotinina não

foi capaz de influenciar de forma significativa o uso de hemoderivados, a despeito do maior

número de hemotransfusões no grupo controle. Tal resultado foi semelhante ao encontrado no

estudo de Schmartz e cols.204, que não observaram impacto significativo sobre a liberação de

diversos marcadores inflamatórios em dois esquemas com doses diferentes de aprotinina, em

comparação com o grupo controle, ainda que este último tenha apresentado maior taxa de

hemotransfusão.

O papel da atividade da plasmina na geração de citocinas pró-inflamatórias tem sido,

recentemente, avaliado. A plasmina pode ser ativada de modo direto pela clivagem do

componente C3 do complemento, resultando na produção de anafilotoxinas C3a e C5a, que

são sabidamente indutoras da ativação leucocitária e liberação de proteínas pró-inflamatórias.

Greilich e cols.205, comparando o ácido ε-aminocapróico, um análogo da arginina com

atividade antiinflamatória, e a aprotinina, observaram um efeito qualitativo semelhante sobre

a redução dos níveis de IL-6, porém sem diferença significativa entre os dois tratamentos. Na

97

opinião daqueles autores, a aprotinina apesar de ser capaz de inibir uma variedade de

proteases séricas além da plasmina, não mostrou qualquer vantagem sobre a redução de IL-6 e

IL-8 durante e após a CEC; apresentou, porém, significativo impacto sobre a redução dos

níveis de D-dímero, importante marcador da fibrinólise. Tal fato indica que o efeito da

aprotinina sobre essas duas citocinas pode ser devido à excessiva inibição da atividade da

plasmina ou à inibição da formação do D-dímero, ou a ambas.

Poderíamos, portanto, inferir que um possível efeito antiinflamatório da aprotinina

estaria relacionado ao menor sangramento e à menor taxa de uso de hemoderivados, o que não

foi observado em nossa casuística.

Analisando a resposta inflamatória pelas alterações nos níveis séricos das citocinas,

nosso estudo confirmou os resultados já amplamente difundidos pela literatura de que a

cirurgia cardíaca com CEC deflagra uma reação inflamatória sistêmica, aqui representada

pelos níveis elevados de IL-6 e TNF-α no pós-operatório, quando comparados com os níveis

basais, em especial em relação à dosagem dessas citocinas nas primeiras três horas. Esse dado

está em consonância com os de outros estudos, que mostram o incremento precoce nos níveis

de IL-6 e TNF-α, imediatamente após a retirada do pinçamento aórtico, com pico em torno de

três a quatro horas para a IL-6 e mais cedo (duas horas) para o TNF-α.206 Esse aumento é

diretamente proporcional ao tempo de pinçamento aórtico e, portanto, associado à injúria pela

reperfusão celular, em especial miocárdica.207 Observamos também que a média do nível

sérico de IL-6 caiu nas 18 horas seguintes, mantendo-se, porém, ainda elevado em relação ao

valor basal. Tais dados são compatíveis com os descritos na literatura, onde a normalização é

relatada em cirurgias não complicadas em até 72 horas. Em relação aos níveis de TNF-α nas

18 horas, houve o retorno aos seus níveis pré-operatórios, denotando sua meia-vida curta, em

98

torno de 20 minutos, pico precoce e normalização em quatro horas após a retirada do

pinçamento aórtico.206

Nosso estudo também indicou, através da análise do efeito antiinflamatório pelas

citocinas, que a aprotinina nas doses utilizadas clinicamente não apresentou efeito

significativo na redução dos seus valores máximos no período de pós-operatório. Entretanto,

Else Tөnnesen e cols.206 relataram que, até 1996, raros e controversos ensaios clínicos, bem

desenhados, haviam documentado qualquer benefício no tratamento que objetivasse o

bloqueio ou inibição da cascata das citocinas.

Hill e cols.208 mostraram que o uso de menor dose de aprotinina reduziu a liberação de

TNF-α durante a CEC, em seres humanos, da mesma forma que a metilprednisolona; no

entanto, esse estudo randomizou apenas oito pacientes em cada grupo. O estudo de Schmartz

e cols.204 mostrou que, apesar do significativo aumento dos níveis de TNF-α durante e após a

CEC nos três grupos estudados (um grupo com uso de meia-dose, outro grupo com uso de

dose plena e outro controle), não se observou efeito da aprotinina na atenuação desse

processo. Um outro estudo prospectivo e randomizado209 com 200 pacientes submetidos à

CEC avaliou o efeito antiinflamatório de dose plena de aprotinina e do uso dos circuitos

recobertos com heparina. Cinqüenta pacientes foram randomizados para um dos quatro

grupos seguintes: circuito recoberto com heparina com o uso da aprotinina e sem o uso da

mesma, e circuito não recoberto com heparina com o uso da aprotinina e sem o uso da

mesma. Esses autores concluíram que não houve efeito da aprotinina nos níveis séricos de

TNF-α, IL-6 e IL-8. Todavia, ressaltam que os estudos concernentes aos níveis de TNF-α são

inconsistentes, uns concordantes com seus achados, outros não, evidenciando a falta de efeito

ou apenas um modesto aumento nos seus níveis. Além disso, permanece em aberto o fato de

que, sendo o aumento nos níveis de IL-6 e IL-8 precedidos da liberação de TNF-α, por que,

99

em estudos onde não ocorrem alterações nos níveis de TNF-α, aumentos nos níveis de IL-6 e

IL-8 são notados? Essa observação é ratificada por outros autores, apesar de não ter ocorrido

em nossa casuística. Lin e cols.210 afirmam que apesar do TNF-α ser o maior indutor da

expressão da IL-6, sua detecção clínica rotineira é infreqüente. Else Tөnnesen e cols.206

relataram que, em contraste com o que ocorre com a IL-6, até o ano de 1996 não havia

evidência de que o TNF-α fosse liberado em grandes quantidades em resposta à CEC.

Segundo aqueles autores, isso poderia resultar do fato de a coleta ser feita em sangue

periférico ou da interferência de vários fatores, como a sensibilidade do método de

diagnóstico utilizado, de polímeros de formas degradadas de algumas citocinas ou fatores

ligantes das mesmas, como receptores solúveis e auto-anticorpos. Apesar de a aprotinina ter

sido capaz de reduzir os níveis séricos de citocinas, como a IL-6 e a IL-8, durante a CEC,

esses achados são provenientes de estudos com menor liberação de TNF-α, sabidamente,

como já citado, um dos fatores de maior estímulo para expressão de outras citocinas.208,210

Ashraf e cols.211 não observaram redução nos níveis de TNF-α e de IL-6, porém

utilizaram meia dose de aprotinina. Esses achados são compatíveis com os resultados de

Seghaye e cols.212 em uma coorte pediátrica, na qual a terapia com meia dose de aprotinina

não foi efetiva na redução da liberação de citocinas. Esses trabalhos, como os de Wei e

cols.213, Englberger e cols.214 e Koster e cols.215, que também utilizaram meia dose de

aprotinina e não obtiveram impacto na redução dos níveis de IL-6, levantam a hipótese de que

níveis séricos mais elevados de aprotinina, cerca de 250 UIK/mL, são necessários para inibir

todas as proteases séricas envolvidas na ativação da resposta inflamatória sistêmica. No

entanto, a dose utilizada em nosso trabalho, alcançaria, em condições normais, esse nível

terapêutico.

100

Através da análise das citocinas, nossos resultados mostraram, diferentemente

daqueles da maioria dos ensaios clínicos, que a metilprednisolona, na dose utilizada na prática

cirúrgica, não teve efeito significativo na redução do nível sérico máximo da IL-6 e do TNF-α

no período de pós-operatório. A vasta maioria das investigações realizadas tem observado a

capacidade da metilprednisolona de beneficiar o balanço desses mediadores inflamatórios em

pacientes expostos à CEC, atenuando a elevação dos mediadores pró-inflamatórios e/ou

aumentando os mediadores antiinflamatórios. No entanto, poucos estudos em consonância

com os resultados do nosso não evidenciam tais efeitos.152

Numerosos estudos observacionais têm mostrado uma atenuação do aumento de IL-6 e

TNF-α. A utilização de doses variadas de metilprednisolona, entretanto, poderia interferir com

o nível da resposta inflamatória observada. Kawamura e cols.216 concluíram que a

metilprednisolona reduziu a produção de IL-6 com um possível benefício clínico; todavia, a

dose empregada por aquele grupo foi o dobro da administrada em nosso trabalho. O mesmo

pode-se observar com os resultados de Celik e cols.217, que usaram 30 mg/kg de

metilprednisolona antes e após a CEC, e com os de Varan e cols.218, que empregaram doses

menores de metilprednisolona (2 mg/kg) em comparação com 30 mg/kg em uma população

pediátrica. Em ambos os estudos, não foi observada diferença em relação aos níveis de IL-6

alcançados.

Em 1999, Tassani e cols.163 revelaram que, quando comparados com um grupo

placebo, os pacientes que receberam metilprednisolona (1g antes da CEC) obtiveram

significativa redução nos níveis de IL-6 e IL-8 e elevação nos níveis de IL-10. Todavia, esse

trabalho apresentou um importante viés na padronização, porque todos os pacientes utilizaram

a aprotinina, com um possível efeito na atenuação da SIRS.

101

Morariu e cols.219 concluíram que o uso de dexametasona foi capaz de modular a SIRS

através da inibição de IL-6 e IL-8, e maior geração de IL-10. Porém, os autores ressaltam que

uma das limitações do estudo foi o viés de seleção dos pacientes, que eram mais velhos no

grupo tratado, sendo um possível fator de confundimento. Esse fato é ratificado por Velthuis e

cols.220, que encontraram maiores níveis de endotoxinas circulantes e maior concentração de

TNF-α em pacientes com mais de 65 anos, quando comparados com pacientes mais jovens

(menos de 55 anos).

Por que tantas evidências científicas do impacto positivo da metilprednisolona sobre a

balança antiinflamatória, aqui representadas pelas citocinas e documentadas por diversos

autores, entre eles Diego e cols.221, Teoh e cols.222 e Bourbon e cols.223, não se traduziram em

benefício clínico, mostrando, em muitos casos, inúmeros efeitos adversos?

Nesse contexto, torna-se de suma importância ressaltar o elegante trabalho de Yeager

e cols.224, comprovando que concentrações fisiológicas de cortisol já determinariam máxima

supressão da IL-6 durante e imediatamente após a cirurgia cardíaca e que, apesar da maior

concentração de cortisol implicar numa maior liberação de IL-10 durante a cirurgia cardíaca,

os autores não observaram diferença no desfecho clínico, como em muitos outros estudos.

Aqueles autores concluem, portanto, que as implicações terapêuticas da supressão transitória

da inflamação aguda durante e imediatamente após a cirurgia cardíaca permanecem

desconhecidas.

Sem dúvida, a influência da extrema variabilidade interindividual no grau de extensão

da SIRS induzida pela CEC determina a dificuldade de se transportar os resultados do

laboratório para a prática clínica. Baseados nesses questionamentos, trabalhos como o de

Drabe e cols.225 determinaram que a variante genética E4 da apolipoproteína E,

reconhecidamente um fator de risco para aterosclerose e com efeito in vitro sobre as funções

102

dos monócitos, estava associada à maior liberação de IL-8 e TNF-α após a cirurgia cardíaca.

Tomasdottir e cols.226 concluíram que pacientes homozigotos para o alelo TNFB2, um tipo de

polimorfismo dentro do locus do TNF, apresentaram maior concentração de TNF-α e de IL-6

quando comparados aos pacientes homozigotos ou heterozigotos para o TNFB1.

Ao avaliar a resposta inflamatória pelas proteínas de fase aguda, nosso trabalho

mostrou que a cirurgia cardíaca com CEC desencadeou a liberação periférica de alguns desses

marcadores. Apesar de não ter sido objeto de análise estatística a variação desse aumento em

relação aos seus níveis basais, mas a influência que ambas as intervenções terapêuticas

poderiam determinar nessa variação, observamos que o pico dos níveis de fibrinogênio

ocorreu em 18 horas, de maneira equivalente nos três grupos, assim como os níveis de PCR.

Em estudo prévio, Pepys e cols.227 relataram que os níveis de PCR começam a se

elevar seis horas após um estímulo agudo, com seu pico máximo entre 24 e 48 horas, e que

sua meia-vida sérica é de 19 horas. A biossíntese de proteínas de fase aguda (PCR, amilóide

sérico A, α-1-antitripsina, fibrinogênio e haptoglobina) pelos hepatócitos é regulada por

vários fatores. A IL-6 se destaca por ser a principal citocina que inicia a resposta de fase

aguda no fígado. Após um estímulo inflamatório, níveis séricos máximos de IL-6 são

detectados entre 6 e 12 horas antes do pico das proteínas de fase aguda. O retardo no aumento

sérico dos níveis dessas proteínas após o início do processo inflamatório reflete o tempo

necessário para a síntese e secreção de citocinas, sua interação com os receptores dos

hepatócitos, a produção protéica e a eliminação e o acúmulo na corrente sangüínea. Portanto,

há uma relação temporal entre a liberação de IL-6, sua ação hepática e a subseqüente

produção dessas proteínas.

103

Nossos achados foram compatíveis com a cinética relatada, tendo em vista que o pico

do nível sérico da IL-6 ocorreu em três horas, ou seja, 15 horas antes do observado para a

PCR e para o fibrinogênio.

Apesar de constituir-se em uma proteína de fase aguda, observamos uma diminuição

nos níveis séricos pós-operatórios da haptoglobina em relação aos seus níveis basais, com

manutenção da estabilidade entre os dois períodos analisados. Tal achado nos fez concluir que

o estímulo inflamatório que foi capaz de aumentar os níveis séricos da PCR e do fibrinogênio

não foi suficientemente importante para se sobrepor à hemólise intravascular observada nos

pacientes submetidos à CEC, que sabidamente nesse contexto é a maior causa para redução

dos níveis séricos de haptoglobina. No entanto, nosso estudo não foi capaz de encontrar

diferença entre os dois tratamentos empregados na redução do fibrinogênio, da PCR e da

haptoglobina.

Milazzo e cols.228 foram um dos primeiros autores a relacionarem os níveis de PCR >

0,3 mg/dL com risco de isquemia miocárdica em pacientes no período de pós-operatório

imediato de cirurgia de revascularização miocárdica. Cappabianca e cols.229 relataram que

pacientes com níveis de PCR > 0,5 mg/dL estavam expostos a maior risco de mortalidade e

infecções intra-hospitalares, a despeito da correção da cardiopatia de base, com impacto na

morbi-mortalidade também em médio prazo.

No entanto, poucos estudos avaliaram o comportamento dessa proteína de fase aguda

diante das diversas intervenções que visassem à redução da SIRS. Como em nosso trabalho,

Varan e cols.218 não observaram diferença nos níveis de PCR após duas e 24 horas da

interrupção do pinçamento aórtico em pacientes que receberam doses diferenciadas (30 mg/kg

e 2 mg/kg) de metilprednisolona 30 minutos antes da CEC. Gessler e cols.230, porém,

analisando uma população pediátrica, mais uma vez não obtiveram resultado positivo com o

104

uso da metilprednisolona (30 mg/kg) na redução dos níveis séricos da PCR em relação ao

grupo controle. Diferentemente, Morariu e cols.219 apresentaram resultados positivos na

redução da PCR seis e 24 horas após a cirurgia, através de doses relativamente baixas de

metilprednisolona. Goudeau e cols.231 observaram significativa redução nos níveis de PCR,

entre outros marcadores inflamatórios, como a IL-6, com o uso de altas doses de aprotinina,

quando comparado ao uso de placebo. Todavia, aqueles autores avaliaram uma população de

alto risco cirúrgico, em oposição aos pacientes selecionados para o nosso trabalho. Também

utilizaram várias estratégias potencialmente antiinflamatórias, como circuitos recobertos com

heparina e hemofiltração concomitante ao uso da aprotinina.

Não encontramos referências na literatura sobre a correlação das medidas com

potencial efeito antiinflamatório, visando a atenuar a SIRS, empregadas no nosso estudo com

os valores dos níveis séricos de fibrinogênio e de haptoglobina.

A resposta leucocitária esperada após qualquer situação de estresse orgânico foi

evidenciada no nosso trabalho através do aumento do número absoluto de leucócitos e do

porcentual de neutrófilos circulantes nos três grupos estudados nas primeiras três horas. Esse

aumento manteve-se estável após 18 horas nos grupos controle e da aprotinina; porém,

alcançou um novo pico, nesse momento, no grupo que recebeu a metilprednisolona.

Como marcador de resposta inflamatória de fase aguda, a leucocitose é muito sensível,

porém de baixa especificidade, podendo estar relacionada a processos inflamatórios recentes

ou crônicos, aos insultos infecciosos, uso de determinadas drogas, entre outros. Bishop e

cols.232, desde 1968, nos ensinaram que os corticosteróides afetam os leucócitos circulantes. A

administração de glicocorticóides aumenta o número de leucócitos polimorfonucleares

circulantes como resultado da maior taxa de penetração no sangue, vindos da medula, e menor

taxa de remoção da circulação.

105

No entanto, poucos e, novamente, controversos estudos utilizaram esse marcador para

observar o efeito de intervenções com potencial antiinflamatório. Há 11 anos, Ashraf e

cols.211 analisaram o efeito antiinflamatório da aprotinina comparada com um grupo controle

através da contagem total de neutrófilos. Aqueles autores observaram que, apesar da

diminuição do número total de neutrófilos após a hemodiluição induzida pela CEC,

alcançava-se um pico duas horas após uso da protamina, retornando-se aos valores basais

após 24 horas, porém sem diferença estatisticamente significativa entre os dois grupos

avaliados. Deve-se ressaltar que a dose utilizada de aprotinina naquele trabalho foi a metade

(meia dose) da dose utilizada por nós, a despeito do resultado obtido ter sido semelhante. É

curioso que, mais recentemente, Wei e cols.213, em um ensaio clínico com metodologia muito

semelhante à do anterior, inclusive utilizando a mesma dose de aprotinina, observaram um

resultado oposto, ou seja, uma redução na leucometria global com aquela intervenção.

Diferentemente de nossos resultados, em 1999, Yilmaz e cols.233 não obtiveram

diferença na redução da leucometria global pela metilprednisolona em relação ao placebo

entre 24 e 48 horas após o término da CEC. Todavia, a dose utilizada de metilprednisolona

nesse trabalho foi de 1 mg/kg, ou seja, uma dose 30 vezes menor que a utilizada por nós.

Quando Varan e cols.218 compararam o uso da metilprednisolona em dois esquemas de doses

diferentes (2 mg/kg e 30 mg/kg), não obtiveram diferença na redução da leucocitose

observada. Entretanto, como analisado por Gessler e cols.230 para os níveis de PCR, a

prednisolona na dose de 30 mg/kg não apresentou impacto significativo sobre o número de

leucócitos periféricos. Esses resultados só trouxeram mais questionamentos sobre a questão

da relação dose-efeito daquela droga. Cabe aqui ressaltar que, nesses dois últimos estudos,

avaliou-se, basicamente, uma população pediátrica.

106

Portanto, a significativa leucocitose, sem a elevação do número de neutrófilos

observada em nosso estudo no grupo que utilizou a metilprednisolona, poderia representar tão

e simplesmente um efeito dependente da classe e da dosagem por nós avaliada.

Deve-se ressaltar que, a despeito de não termos observado diferença significativa em

relação ao número de pacientes portadores de diabetes mellitus entre os grupos, essa patologia

estava presente em metade dos pacientes do grupo da aprotinina. Tendo em vista que a CEC

parece ter impacto no maior estresse oxidativo observado nos pacientes diabéticos, assim

como são observadas diferenças qualitativas em sua resposta inflamatória77,78, esse pode ter

representado um viés de seleção para o resultado negativo da intervenção nesse grupo.

As limitações do nosso estudo são semelhantes àquelas associadas a qualquer ensaio

clínico que vise a avaliar o efeito de drogas sob um cenário de complexas condições

fisiopatológicas. Apesar de, em sua maioria, haver um rigor na seleção dos pacientes, haverá

sempre a possibilidade de existir outras variáveis que podem interferir na resposta

inflamatória. Além disso, essa resposta envolve uma miríade de componentes humorais e

celulares outros que a IL-6, o TNF-α, as proteínas de fase aguda e os leucócitos globais

medidos na periferia, que podem ser importantes para o prognóstico dos pacientes. Uma

tendência na redução dos níveis de IL-6 nos grupos que utilizaram a aprotinina e a

metilprednisolona, porém sem significância estatística em relação ao placebo, pode significar

um erro tipo 2. Cabe ressaltar que nosso trabalho não teve poder para identificar prognóstico

clínico relacionado aos marcadores inflamatórios avaliados.

CAPÍTULO VII

CONCLUSÃO

108

VII - CONCLUSÃO

Este estudo não foi capaz de mostrar através de duas intervenções de amplo uso

clínico, administração de aprotinina e metilprednisolona, redução nos vários marcadores da

resposta de fase aguda da inflamação em uma população de pacientes submetidos à cirurgia

de revascularização miocárdica com CEC.

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110

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ANEXOS

133

Anexo 1 Aprovação do projeto de pesquisa

pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Barra D´Or

134

Anexo 2 Termo de consentimento livre e esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome: __________________________________________________________________ Idade: ___________________; Sexo: M ( ) F ( ); Telefone: _____________________ Endereço: ________________________________________________________________ Identidade: ________________________; Data de Nascimento: _____________________ Protocolo de Pesquisa: Avaliação do efeito antiinflamatório da Aprotinina. Pesquisador Responsável: Walter Homena Júnior Objetivo da Pesquisa: Avaliar se a aprotinina reduz a “Síndrome da Resposta Inflamatória” nos pacientes submetidos à cirurgia cardíaca com circulação extracorpórea. Com este trabalho, estamos pesquisando o efeito de uma droga que, de acordo com a literatura pode ter uma ação inibitória da inflamação provocada pela cirurgia cardíaca. Esse processo pode acarretar várias manifestações tais como: febre, hipotensão arterial, maior tempo de permanência em Unidade de Terapia Intensiva, etc. Casos raros de alergia, diminuição da função renal transitória e aumento da coagulação são descritos pela literatura. Com a utilização dessa droga, espera-se que ocorra diminuição da inflamação acima citada. A utilização da mesma não acarretará custos adicionais. O paciente poderá receber ou não essa medicação, dependendo de uma escolha aleatória (sorteio) realizada imediatamente antes da cirurgia pelo anestesista. A identidade do paciente será sempre protegida e mantida em absoluto sigilo em quaisquer futuras publicações, onde os resultados do exame estarão sempre disponíveis para o médico assistente e o próprio paciente. O paciente tem o direito de retirar-se do estudo em qualquer momento sem que isso traga prejuízo à continuidade de sua assistência e, também, tem o direito de fazer perguntas adicionais para seu melhor esclarecimento. Declaro que, após ter sido convenientemente esclarecido pelo pesquisador e ter entendimento sobre o que me foi explicado, consinto em participar do presente protocolo de pesquisa. Data: ___ / ___ / ___ Assinatura do paciente ou responsável: _________________________________________ Assinatura do pesquisador: ___________________________________________________ Testemunha: ______________________________________________________________

135

Anexo 3 Planilha dos resultados

reg aprot cort tratam idade masc sc branco uniart biat triart tce euro clev nne ieca bcc dm dmg clamp cec t_cir184185 0 1 C 60 1 1,9 1 0 0 0 1 1 1 2,0 0 1 1 0 87 104 2401778445 0 1 C 59 0 1,7 1 0 1 0 0 1 0 1,5 1 1 0 0 57 90 1951822990 0 0 0 74 1 2,0 1 0 0 0 1 1 3 3,0 0 1 0 0 63 76 2101844513 0 0 0 49 1 2,1 1 0 0 0 1 1 1 1,5 0 0 0 0 68 83 2351898063 0 1 C 66 0 1,5 1 0 1 0 0 2 3 3,5 0 1 0 0 70 90 1751907679 0 0 0 71 1 1,7 1 0 0 1 0 5 2 5,0 0 0 1 1 37 71 2601937173 0 0 0 63 1 1,8 1 0 0 1 0 1 0 2,0 0 0 0 0 68 104 3001980856 1 0 A 61 1 1,9 1 0 0 0 1 1 1 2,0 0 0 0 0 81 100 2752008701 0 1 C 62 0 1,7 1 0 1 0 0 2 2 3,5 1 0 0 0 63 84 2552059589 1 0 A 59 1 1,9 1 0 0 0 1 4 3 3,5 1 0 1 0 62 89 2552082224 0 1 C 67 1 2,0 1 0 0 0 1 1 2 2,0 1 0 0 1 73 100 2402166914 0 1 C 65 0 1,8 1 0 1 0 0 4 1 5,5 0 0 0 1 43 54 2102168996 0 0 0 58 1 1,9 1 0 0 0 1 0 1 0,0 0 0 1 0 80 98 2502192490 0 1 C 68 1 2,1 1 0 0 0 1 1 3 2,0 1 0 1 1 55 68 2352210020 0 0 0 46 1 1,8 1 0 0 1 0 0 0 0,0 0 0 0 0 134 100 3102235117 0 0 0 79 1 1,9 1 0 0 1 0 1 3 5,0 0 0 0 1 56 80 2402247895 0 1 C 68 0 1,9 1 0 0 0 1 2 3 3,0 1 0 1 0 80 98 2302251326 0 0 0 74 0 1,7 1 0 1 0 0 2 2 4,5 1 0 0 1 38 48 1602282757 1 0 A 65 0 2,2 1 1 0 1 0 5 3 5,5 1 1 1 1 60 82 1954408682 0 0 0 46 1 2,0 1 1 0 0 1 0 1 0,0 0 0 0 1 67 88 1654450478 0 1 C 65 1 2,0 1 0 0 1 0 1 1 2,0 0 0 0 1 62 75 1804525259 0 1 C 64 1 1,9 1 1 0 1 0 1 1 2,0 0 0 0 1 63 78 2554614822 1 0 A 64 0 1,5 0 0 0 1 0 4 2 3,5 1 0 1 1 102 129 3154655036 1 0 A 48 1 2,0 1 0 0 0 1 1 0 1,5 1 0 0 1 58 85 2154681167 0 0 0 71 0 1,7 1 0 0 0 1 4 2 6,5 1 0 0 1 80 109 2854727294 0 1 C 47 1 1,9 1 1 0 0 1 0 0 0,0 1 0 0 1 93 106 2604918130 1 0 A 50 1 2,1 1 0 0 0 1 0 0 0,0 0 0 1 0 63 80 2404972443 0 1 C 65 1 2,0 1 0 0 1 0 1 3 2,0 0 0 1 0 32 53 2705087330 0 1 C 65 1 2,4 1 0 0 1 0 1 1 2,0 1 0 0 1 63 73 2455104792 1 0 A 66 1 1,7 1 0 0 0 1 1 1 2,0 0 1 0 1 64 85 2555108847 0 0 0 69 0 1,8 1 0 0 0 1 1 3 3,5 1 1 1 1 70 100 2455245139 1 0 A 60 1 1,8 1 0 0 0 1 1 1 2,0 1 0 1 0 80 100 2305291483 0 1 C 73 1 1,9 1 0 0 0 1 2 3 4,5 0 0 0 0 76 100 2705432959 0 1 C 73 1 1,7 1 0 0 0 1 1 1 3,0 0 0 0 1 95 104 1555700374 1 0 A 75 1 1,7 1 1 0 0 1 3 4 6,5 0 0 1 1 42 54 1805728291 1 0 A 74 1 1,8 1 0 0 1 0 1 3 3,0 0 0 0 1 60 80 2156421819 0 0 0 78 1 1,9 1 0 0 0 1 1 3 3,0 1 0 0 1 44 59 1806862479 0 1 C 57 1 2,0 1 0 0 0 1 0 1 0,0 0 0 1 1 65 83 2556895753 1 0 A 58 1 1,8 1 0 0 1 0 2 1 2,0 0 0 0 1 56 74 2656907099 1 0 A 69 1 1,8 1 1 0 1 0 1 2 2,0 0 0 0 1 44 54 210

t_anest raqui peri fluxomed pressmed tempmin tempmed bh diurese plaq crio plasma ch pcrpre fibrinpre haptpre leucopre neutropre il6pre270 1 0 3508 57,9 29,7 31,2 700 1100 0 0 0 0 0,7 310,0 129,0 8,1 6 7,6255 1 0 2942 62,2 30,0 32,9 950 700 0 0 0 0 0,7 294,4 199,0 7,1 0 5,4240 1 0 3550 59,8 29,0 31,5 828 1150 0 0 0 0 0,7 260,3 43,6 7,1 2 6,6270 1 0 3695 65,4 30,0 31,7 550 500 0 0 0 0 2,9 365,3 328,0 9,4 2 15,1200 1 0 3233 64,1 33,8 34,9 800 500 0 0 0 0 0,8 250,1 126,0 8,9 2 8,5290 0 1 4900 65,0 32,0 35,0 1600 800 0 0 0 0 0,1 229,7 44,0 4,5 1 29,5320 1 0 3361 74,0 30,7 32,8 100 900 0 0 0 0 0,7 266,0 89,6 4,4 1 6,8305 1 0 3200 61,0 31,0 32,3 -150 1500 0 0 0 0 1,1 205,6 40,6 8,7 2 41,6300 1 0 3091 61,4 30,3 31,8 50 1600 0 0 0 0 2,2 263,6 53,1 5,2 1 8,0285 1 0 3573 61,8 29,6 31,6 -250 1500 0 0 0 0 1,0 310,0 37,7 7,2 5 9,1285 1 0 3433 61,5 31,0 32,5 -50 1400 0 0 0 0 0,7 199,2 113,0 6,4 2 5,4265 1 0 3206 66,1 31,8 32,9 500 800 0 0 0 0 0,3 242,0 134,0 4,6 8 1,0285 1 0 4887 64,0 33,0 33,5 -200 1600 8 0 0 7 0,7 213,0 102,0 4,7 2 18,1285 1 0 4050 62,3 31,4 32,9 650 1200 16 0 9 0 0,7 265,9 78,2 8,8 5 6,3340 1 0 3606 59,3 30,9 31,9 500 1200 0 0 0 0 0,7 249,0 97,5 4,3 3 9,5285 1 0 3582 62,0 31,0 32,4 50 1000 0 0 0 0 0,7 245,0 108,0 4,9 4 7,8270 1 0 3246 62,9 31,0 32,4 950 1000 0 0 0 0 0,5 297,0 176,0 8,3 4 8,4190 1 0 3614 62,7 33,4 34,1 350 1100 0 0 0 0 2,1 326,0 147,0 8,8 2 9,5225 0 1 4050 68,5 30,0 32,8 -100 1800 0 0 0 0 0,8 308,0 131,7 7,2 0 5,1230 0 1 5236 61,6 33,1 34,2 1250 1900 0 0 0 0 1,5 376,1 160,0 9,4 1 3,9310 1 0 5240 70,0 33,0 33,9 1500 1500 0 0 0 0 0,1 396,8 87,0 6,6 1 2,6305 0 1 5120 64,2 33,2 34,0 710 1200 0 0 0 0 0,0 152,3 75,0 6,1 1 3,3325 1 0 4000 69,1 30,6 32,6 1230 3000 0 0 0 3 0,8 543,5 152,0 4,3 1 1,0255 0 1 5200 75,3 33,4 34,2 1550 1400 0 0 0 0 0,7 378,0 171,0 10,5 1 2,4315 0 1 4631 56,0 32,0 33,5 1895 900 0 0 0 2 0,2 275,5 152,0 7,2 1 2,9300 1 0 5040 60,6 32,8 3,6 760 1400 0 0 0 1 0,6 464,1 171,0 8,1 2 3,0300 1 0 5189 79,5 33,2 33,6 360 1100 0 0 0 0 0,1 312,8 113,0 5,9 3 8,6300 0 1 5457 69,4 33,2 34,8 1350 600 0 0 0 0 4,2 460,1 317,0 8,8 6 38,0325 1 0 6052 64,3 33,0 34,1 2225 800 0 0 0 0 0,7 295,0 131,5 8,5 0 1,0285 0 1 4842 71,3 32,6 33,5 856 1100 0 0 0 0 0,3 265,0 174,0 7,5 2 1,0285 0 1 4827 73,2 32,8 34,5 1900 1800 0 0 0 0 0,1 299,4 167,0 7,5 1 3,2295 1 0 4646 61,8 33,3 34,1 900 1300 0 0 0 0 0,1 244,0 167,0 6,6 1 36,3300 1 0 5085 69,5 34,0 34,5 2075 500 0 0 0 7 2,0 429,0 200,0 4,6 3 1,0295 1 0 4677 62,6 32,1 33,4 1700 600 0 0 0 0 0,4 285,0 154,0 7,8 1 1,0210 0 1 4344 63,9 32,9 34,0 1050 1200 0 0 0 0 0,2 221,2 106,0 5,7 1 29,2255 0 1 5760 63,9 32,1 33,6 558 1200 0 0 0 0 0,2 317,6 152,0 6,9 1 1,0210 1 0 5189 66,4 32,1 34,1 1400 1100 0 0 0 0 1,2 304,0 141,0 10,3 5 17,3270 1 0 5147 65,7 33,6 34,6 1980 1000 0 0 4 0 0,1 402,7 168,0 7,9 8 6,8205 1 0 4783 64,8 33,6 34,1 1900 900 0 0 0 0 0,4 448,0 73,0 7,3 2 70,3270 1 0 5294 76,9 32,8 33,8 970 1500 0 0 0 0 1,3 354,0 61,0 7,6 5 18,1

tnfpre pcr3 fibrin3 hapt3 leuco3 neutro3 il63 tnf3 pcr18 fibrin18 hapt18 leuco18 neutro18 il618 tnf18 dren avc fa iamper ira obito2,0 0,7 285,3 129,0 24,4 4 169,0 6,0 7,2 355,5 25,4 21,0 4 16,4 2,0 1075 0 0 0 0 02,0 0,8 254,0 27,7 15,5 11 66,5 3,9 7,3 441,2 96,0 21,7 6 8,5 4,8 275 0 0 0 0 02,0 0,7 352,0 43,6 22,5 7 516,0 7,0 19,8 335,2 62,0 13,7 2 60,4 7,7 670 0 0 0 0 02,0 2,8 360,0 328,0 14,8 15 38,6 5,5 26,3 341,0 115,0 15,6 10 55,5 8,5 1645 0 0 0 0 05,8 0,7 220,7 41,3 15,7 17 41,7 19,2 8,1 263,0 33,1 34,5 15 13,2 4,0 250 0 0 0 0 02,0 0,9 228,4 2,0 10,0 31 1,0 4,1 3,1 228,4 3,0 10,0 31 89,2 5,6 500 0 0 0 0 02,0 0,5 216,0 33,3 8,7 14 85,6 5,3 12,3 266,2 41,1 3,3 3 20,1 2,0 775 0 0 0 0 06,7 0,9 220,5 120,0 20,4 3 540,0 14,1 26,3 401,9 85,6 16,4 2 11,2 2,0 500 0 0 0 0 013,0 2,3 253,2 13,3 18,2 5 254,0 18,1 27,4 320,5 52,3 15,1 3 24,6 18,5 1025 0 0 0 0 02,0 0,9 318,0 5,8 3,8 10 1001,0 221,0 19,1 350,9 5,8 14,6 13 10,3 83,5 375 0 0 0 0 02,0 0,7 189,3 37,5 9,4 19 1001,0 21,5 24,4 230,0 52,1 31,9 60 46,1 2,0 500 0 0 0 0 02,0 0,7 242,0 60,7 4,7 11 1001,0 200,0 17,4 256,0 105,0 16,5 9 22,7 8,1 500 0 0 0 0 02,0 0,7 183,0 25,6 12,3 18 252,0 9,3 9,0 199,9 26,7 14,8 12 124,0 18,1 3205 0 1 0 1 12,0 0,7 243,4 24,9 19,4 40 206,0 11,8 8,9 303,5 15,4 29,5 33 14,7 2,0 1520 0 1 0 0 02,0 2,6 218,0 25,2 10,9 30 1001,0 8,3 23,0 392,7 82,7 12,1 14 86,3 2,0 500 0 0 0 0 05,6 0,7 193,0 25,6 12,1 23 701,0 10,1 29,3 360,0 48,6 8,2 32 84,8 11,2 1625 0 1 0 0 02,0 0,6 342,0 53,6 20,2 10 99,2 3,9 12,6 335,0 78,3 27,5 14 25,4 2,0 275 0 0 0 0 02,0 1,5 310,0 106,0 15,5 23 886,0 73,5 9,5 360,0 99,7 16,1 7 29,7 9,2 325 0 0 0 0 02,0 0,7 243,0 39,0 15,1 13 43,7 3,9 9,5 352,0 48,0 16,1 11 34,2 2,0 350 0 0 0 0 02,0 2,0 312,0 133,0 15,7 16 41,0 3,9 7,7 508,0 155,0 24,4 5 13,6 2,0 425 0 0 0 0 04,7 0,3 275,5 4,0 11,2 10 186,0 7,9 9,5 806,3 21,0 18,8 11 35,1 5,2 490 0 0 0 0 02,0 0,1 152,3 4,0 16,0 6 104,0 5,3 8,6 306,7 40,0 17,9 11 45,6 4,9 375 0 0 0 0 02,0 1,2 292,0 57,0 10,0 10 1001,0 15,3 10,8 329,3 64,0 13,5 33 106,0 7,9 625 0 1 1 0 06,5 1,0 213,0 56,0 20,4 24 27,3 7,2 5,7 384,0 23,0 20,1 14 9,7 2,0 450 0 0 0 0 06,4 1,1 387,7 33,0 18,3 10 321,0 12,5 16,1 480,0 62,0 13,8 9 103,0 8,6 325 1 0 0 0 05,6 0,7 80,0 48,0 18,8 22 117,0 8,1 10,7 409,5 30,0 18,2 4 20,1 2,0 1175 0 0 0 0 02,0 0,5 227,0 29,0 9,7 7 148,0 6,2 8,3 393,7 44,0 10,7 5 120,0 9,2 400 0 0 0 0 010,6 4,0 396,0 214,0 13,0 5 210,0 4,1 7,4 517,0 150,0 20,0 7 57,0 6,1 300 0 0 0 0 02,0 0,2 314,0 58,0 11,7 22 109,0 6,1 6,3 376,0 39,0 14,9 4 48,8 2,0 730 0 1 0 0 02,0 0,2 232,9 61,0 15,8 13 88,0 3,9 9,6 406,0 84,0 14,7 9 45,6 4,8 225 0 0 0 0 05,3 1,2 227,2 9,0 14,8 38 482,0 8,3 13,7 373,0 54,0 13,3 16 239,0 7,9 695 0 1 0 0 02,0 0,3 217,0 48,0 21,2 10 85,0 3,9 13,5 281,8 30,0 13,2 3 18,5 2,0 675 0 0 0 0 05,8 3,6 280,0 39,0 16,0 7 1,0 3,9 11,0 260,5 46,0 10,2 10 49,3 2,0 665 0 0 0 0 05,6 0,6 269,6 47,0 17,4 10 33,2 6,6 6,4 269,6 52,0 20,2 14 125,0 5,5 710 0 0 0 0 02,0 0,2 219,0 37,0 19,2 18 48,7 3,9 8,0 297,9 43,0 11,6 7 46,3 6,9 375 0 0 0 0 05,8 0,2 205,0 59,0 12,3 8 8,4 14,1 6,8 317,6 71,0 8,9 8 80,1 2,0 275 0 0 0 0 02,0 4,0 331,0 82,0 13,5 11 62,8 3,9 13,9 403,0 97,0 12,0 7 1,0 5,4 450 0 0 0 0 02,0 0,6 318,0 36,0 13,2 12 1,0 4,6 8,6 341,7 45,0 13,9 14 51,0 4,2 1615 0 0 0 0 06,0 0,2 229,0 2,0 19,5 23 30,2 4,9 12,5 341,0 15,0 18,6 15 29,0 2,0 300 0 0 0 0 010,1 3,0 434,0 11,0 11,9 10 13,2 12,8 7,4 486,4 9,0 12,4 4 29,4 2,0 875 0 0 0 0 0