26
Núcleo Especializado de Infância e Juventude Procedimento Administrativo n.º 002/2015 Interessado: Núcleo Especializado de Infância e Juventude Assunto: Alteração Legislativa na LDB e ECA e o Direito à Creche e Ensino Infantil em Período Integral Cuida-se de Procedimento Administrativo instaurado no âmbito do Núcleo Especializado de Infância e Juventude, em 09 de janeiro de 2015, com a finalidade de analisar o Projeto de Lei nº 8.291/2014 e de avaliar os impactos da alteração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação promovida pela Lei nº 12.796/2013. Foi juntado e-mail do Defensor Público Luis Felipe Dias questionando se as alterações promovidas pela Lei nº 12.796/2013 significam que as crianças até 5 anos serão atendidas em período integral e que as crianças a partir de 5 anos serão matriculadas apenas em período parcial, a partir de 2016. Além disso, apresentou portaria publicada pela Secretaria Municipal de Educação de Carapicuíba. Em seguida, em fevereiro de 2015, a Coordenadora do Núcleo Especializado de Infância e Juventude acostou despacho solicitando a emissão de parecer sobre a interpretação da legislação existente e o direito de acesso à creche e ensino infantil em período integral, tendo em vista que vários municípios teriam transformado uma vaga em período integral em duas vagas em período parcial, como forma de atender a demanda de vagas em creche. Rua Boa Vista, 103, - 13º andar – São Paulo/SP – CEP: 01014-001 – Tel: (11) 3101-9571 [email protected] - 1 de 26 -

 · Web viewCuida-se de Procedimento Administrativo instaurado no âmbito do Núcleo Especializado de Infância e Juventude, em 09 de janeiro de 2015, com a finalidade de analisar

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1:  · Web viewCuida-se de Procedimento Administrativo instaurado no âmbito do Núcleo Especializado de Infância e Juventude, em 09 de janeiro de 2015, com a finalidade de analisar

Procedimento Administrativo n.º 002/2015

Interessado: Núcleo Especializado de Infância e Juventude

Assunto: Alteração Legislativa na LDB e ECA e o Direito à Creche e Ensino Infantil em Período Integral

Cuida-se de Procedimento Administrativo instaurado no âmbito do Núcleo Especializado de Infância e Juventude, em 09 de janeiro de 2015, com a finalidade de analisar o Projeto de Lei nº 8.291/2014 e de avaliar os impactos da alteração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação promovida pela Lei nº 12.796/2013.

Foi juntado e-mail do Defensor Público Luis Felipe Dias questionando se as alterações promovidas pela Lei nº 12.796/2013 significam que as crianças até 5 anos serão atendidas em período integral e que as crianças a partir de 5 anos serão matriculadas apenas em período parcial, a partir de 2016. Além disso, apresentou portaria publicada pela Secretaria Municipal de Educação de Carapicuíba.

Em seguida, em fevereiro de 2015, a Coordenadora do Núcleo Especializado de Infância e Juventude acostou despacho solicitando a emissão de parecer sobre a interpretação da legislação existente e o direito de acesso à creche e ensino infantil em período integral, tendo em vista que vários municípios teriam transformado uma vaga em período integral em duas vagas em período parcial, como forma de atender a demanda de vagas em creche.

Após análise dos autos, o relator subscritor apresentou o P.A. para discussão na reunião ordinária do NEIJ em duas oportunidades, buscando compreender a amplitude do expediente e seus objetivos. A compreensão só foi possível na reunião ordinária do mês de julho de 2015, após manifestação das coordenadoras e do Defensor Público Luís Felipe, agora integrante do Núcleo, motivo pelo qual apresento o relatório e parecer somente agora.

Rua Boa Vista, 103, - 13º andar – São Paulo/SP – CEP: 01014-001 – Tel: (11) [email protected]

- 1 de 21 -

Núcleo Especializado de Infância e

Juventude

Page 2:  · Web viewCuida-se de Procedimento Administrativo instaurado no âmbito do Núcleo Especializado de Infância e Juventude, em 09 de janeiro de 2015, com a finalidade de analisar

É o breve relatório.

O presente procedimento trata de quatro temas relacionados ao direito à educação: (1) Projeto de Lei nº 8.291/2014, que busca a adequação do Estatuto da Criança e do Adolescente à normativa atual da Lei de Diretrizes e Bases; (2) as limitações trazidas por portarias municipais, como, no caso em tela, a Portaria da Secretaria Municipal de Educação de Carapicuíba nº 05/2014; (3) a progressiva extinção de vagas de educação infantil em período integral, transformando tais vagas em duas vagas de período parcial; e (4) o direito à educação infantil em período integral para crianças de 0 a 4 anos e o direito a, somente, período parcial para crianças com idade superior a 5 anos, inclusive.

Muito embora sejam temas convergentes, opto por apresentar o presente parecer dividido em quatro partes, até mesmo para facilitar a compreensão e discussão. Ao final, teço algumas considerações sobre a demanda de vagas em creches e sua judicialização pela Defensoria Pública.

1. Projeto de Lei nº 8.291/2014

Trata-se de projeto de lei, de autoria da Deputada Iara Bernardi, com objetivo de alterar os artigos 54 a 57 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Conforme justificativa apresentada, e a qual está condizente com o teor do projeto, o objetivo é adequar as disposições estatutárias com a Emenda Constitucional nº 59/2009 e com a Lei nº 12.769/2013.

Isso porque o Estatuto da Criança e do Adolescente, no que se refere ao direito à educação, não sofreu alterações desde 1990, estando, até hoje, com sua redação original.

Contudo, a Emenda Constitucional nº 59, de 11 de novembro de 2009, já estabeleceu dois importantes avanços, além de meta e cálculo dos recursos para educação:

Rua Boa Vista, 103, - 13º andar – São Paulo/SP – CEP: 01014-001 – Tel: (11) [email protected]

- 2 de 21 -

Núcleo Especializado de Infância e

Juventude

Page 3:  · Web viewCuida-se de Procedimento Administrativo instaurado no âmbito do Núcleo Especializado de Infância e Juventude, em 09 de janeiro de 2015, com a finalidade de analisar

o Educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria;

o Plano nacional de educação, de duração decenal, com o objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos das diferentes esferas federativas.

Já em 2013, a Lei de Diretrizes e Bases foi reformada, pela Lei nº 12.796, com objetivo de adequar sua normativa às disposições constitucionais trazidas pela Emenda Constitucional nº 59/2009, regulando, de forma exaustiva, o direito à educação.

Analisando a atual redação da Lei de Diretrizes e Bases e o Projeto de Lei ora em exame, verifica-se que todas as alterações propostas são reproduções literais do que já consta expressamente na Lei nº 9.394/1996.

Por tais motivos, opino favoravelmente ao Projeto de Lei nº 8.291/2014, nos termos propostos.

2. Limitações trazidas por portarias municipais - a Portaria da Secretaria Municipal de Educação de Carapicuíba nº 05/2014

A Constituição da República prevê como primeiro direito social básico a educação:

Art. 6° - São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

Rua Boa Vista, 103, - 13º andar – São Paulo/SP – CEP: 01014-001 – Tel: (11) [email protected]

- 3 de 21 -

Núcleo Especializado de Infância e

Juventude

Page 4:  · Web viewCuida-se de Procedimento Administrativo instaurado no âmbito do Núcleo Especializado de Infância e Juventude, em 09 de janeiro de 2015, com a finalidade de analisar

A Carta Magna assegura à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, os direitos sociais, dentre eles a educação (art. 227). Em capítulo especial, entre os artigos 205 e 214, a Constituição da República determina que a educação, direito de todos e dever do Estado, será provida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (art. 205). O artigo 208 da Carta Cidadã dispõe que o dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças com idade até 5 anos de idade.

O Pacto Internacional dos Direitos Humanos, do qual o Brasil é signatário, em seu artigo 13 dispõe:

“art. 13. 1.Os Estados-partes no presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa à educação. Concordam em que a educação deverá visar ao pleno desenvolvimento da personalidade humana e do sentido de sua dignidade e a fortalecer o respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais (...)”

2. Os Estados-partes no presente Pacto reconhecem que, com o objetivo de assegurar o pleno exercício desses direitos:

a) A educação primária deverá ser obrigatória e acessível gratuitamente a todos.”

Já no sistema regional de proteção dos direitos humanos, dispõe o artigo 19 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos:

“Art. 19. Toda criança terá direito às medidas de proteção que a sua condição de menor requer, por parte da sua família, da sociedade e do Estado.”

O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei Federal n° 8069/90) também regula o direito à educação, em seu Capítulo IV (art. 53 a 59), reiterando princípios e garantias já postos pela Constituição da República, e estendendo e criando direitos. Deste modo, no que importa ao caso em exame, destaca-se o artigo 53, inciso IV, da Lei n° 8.069/90 que garante à criança o direito de ter atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade (o que o Projeto de Lei analisado no item anterior

Rua Boa Vista, 103, - 13º andar – São Paulo/SP – CEP: 01014-001 – Tel: (11) [email protected]

- 4 de 21 -

Núcleo Especializado de Infância e

Juventude

Page 5:  · Web viewCuida-se de Procedimento Administrativo instaurado no âmbito do Núcleo Especializado de Infância e Juventude, em 09 de janeiro de 2015, com a finalidade de analisar

deste parecer busca compatibilizar com o texto da Constituição após a Emenda Constitucional nº 59/2009).

Assim, tendo prioridade absoluta a criança em frequentar a escola fundamental, não pode representante de órgão do Município, destinado a garantir a boa administração do serviço educacional, sobretudo do ensino infantil que é obrigação do Poder Público, se omitir em relação à concessão de vagas, causando grave violação ao direito fundamental das crianças de terem acesso ao ensino público.

Vale ressaltar que não há que se falar em violação à separação de poderes. A discricionariedade do Executivo é extremamente restringida quando se trata de políticas públicas para a garantia de direitos fundamentais ao ser humano. É pacifica a judicialização destas políticas. O Poder Judiciário, integrante do Estado, tem o dever de fazer cumprir os objetivos e fundamentos da República Federativa do Brasil.

Conjugado com estes argumentos, não só no plano jurídico se faz presente a necessidade de a criança estar inserida imediatamente no sistema educacional, como também no pedagógico e no laboral dos genitores. Isso porque o aprendizado é construído a todo momento. Um dos meios de se evitar dificuldades e deficiências no desenvolvimento na base é fornecer, o quanto antes, meios para a evolução do aluno.

Concretamente, o investimento na capacidade da criança, desde quando ela começa a ter as primeiras noções de mundo, pode, no futuro, representar ganhos educacionais, de forma que a aprovação não seja automática, mas sim uma consequência lógica de seus bons estudos. Nesse sentido, Motauri Ciocchetti de Souza refere-se à pesquisa feita por jornal:

Nesse sentido, noticia vinculada pelo jornal O Estado de São Paulo, em sua edição de 4 de março de 2002, com o título “Criança pobre sai perdendo desde a primeira infância”, após afirmar que “o acesso à educação infantil é não só de direito como determinante na aprendizagem”, expõe o resultado de estudo feito com base na Pesquisa sobre Padrões de Vida, o qual anota que dois anos de pré-escola aumentam a escolaridade em um, sendo certo que a

Rua Boa Vista, 103, - 13º andar – São Paulo/SP – CEP: 01014-001 – Tel: (11) [email protected]

- 5 de 21 -

Núcleo Especializado de Infância e

Juventude

Page 6:  · Web viewCuida-se de Procedimento Administrativo instaurado no âmbito do Núcleo Especializado de Infância e Juventude, em 09 de janeiro de 2015, com a finalidade de analisar

criança que teve acesso à creche e pré-escola tem mais chances de completar o ensino fundamental, seu nível de repetência diminui de 3% a 5% a cada ano de educação infantil cursado e sua renda tende a ser maior.

Isso porque – segundo o mesmo artigo – os primeiros anos de vida são decisivos para o desenvolvimento de habilidades lógicas, musicais, emocionais, motoras e de convívio social, predicamentos indispensáveis para que o ensino fundamental possa vir a ser melhor aproveitado pelo infante.1

Observa-se também que essa necessidade de a criança estar inserida no ensino infantil é imediata, visto que uma vez que se perde essa oportunidade não mais se consegue corrigi-la, sendo essa fase da vida de uma criança é extremamente importante para sua formação como pessoa para toda a vida. Ainda fazendo uma menção a este assunto Motauri Ciocchietti de Souza cita que:

[...] não há que se falar em incremento paulatino da oferta de vagas quando a Magna Carta impede que seja oposto qualquer condicionamento ao pleno exercício de direito fundamental, cuja natureza é temporal – pois supera a idade própria para que a criança curse o ensino infantil, o direito perecerá de forma definitiva, uma vez que não existe “supletivo” para mencionado nível de escolaridade.2

Por outro lado, o mesmo doutrinador observa que o direito de a criança frequentar creche também é um direito dos pais, que podem trabalhar. O trabalho dos pais fatalmente reverterá em benefícios à criança, que poderá ter necessidades materiais diárias atendidas com este salário. Esse ponto, inclusive, já havia sido referido acima:

[...] o acesso à educação infantil é não apenas um direito fundamental da criança, como também dos trabalhadores em geral, tendo em conta que o artigo 7º, XXV, da Magna Carta, a eles concede o direito de atendimento gratuito a seus filhos e dependentes até os cinco anos de idade em creches e pré-escolas, encargos que deve ser suprido pelo empregador, competindo ao

1 SOUZA, Motauri Ciocchetti de. Manual de Direitos Difusos – Direito a Educação. São Paulo : Verbatim, 2009, p.114 e 115.

2 SOUZA, Motauri Ciocchetti de. Manual de Direitos Difusos – Direito a Educação. São Paulo : Verbatim, 2009, p. 110.

Rua Boa Vista, 103, - 13º andar – São Paulo/SP – CEP: 01014-001 – Tel: (11) [email protected]

- 6 de 21 -

Núcleo Especializado de Infância e

Juventude

Page 7:  · Web viewCuida-se de Procedimento Administrativo instaurado no âmbito do Núcleo Especializado de Infância e Juventude, em 09 de janeiro de 2015, com a finalidade de analisar

Poder Público o dever de zelar pelo efetivo cumprimento da norma, por meio, inclusive, de suas Delegacias do Trabalho.3

São dois, portanto, os aspectos do direito de a criança frequentar creche: seu desenvolvimento e a oportunidade de os pais trabalharem.

Com efeito, nos tempos de hoje, as situações estão muito modificadas, uma vez que em época passada as mulheres normalmente tinham a possibilidade de ficar em casa para cuidar dos filhos e educá-los. Hoje é difícil encontrar uma mãe que não precise (e queira) trabalhar. Para tanto fica evidente a necessidade de esta criança estar inserida em creche ou escola infantil, salientando ainda que mesmo que um dos genitores tivesse plenas condições de dar uma educação “doméstica” para essa criança, o dever do Estado não cessa.

Ao revés, ambos devem atuar de forma conjunta. Sendo assim, não há como se afastar a responsabilidade estatal pela educação, sendo certo que ela representa um direito fundamental e social, atrelado ao direito social ao trabalho dos pais da criança educanda.

Além disso, um simples ato administrativo não é suficiente para afastar o direito da criança à educação, direito de que são titulares as crianças e adolescentes. Não pode o Município prejudicar crianças e adolescentes por eventual desídia de seus responsáveis em realizar a inscrição em moldes determinados por uma portaria, ou por não atender critérios fixados em uma portaria.

Nesse mesmo sentido, foram publicadas as súmulas de nº 63 a 65 por esta Corte tratando exatamente do caso em tela:

Súmula 63: É indeclinável a obrigação do Município de providenciar imediata vaga em unidade educacional a criança ou adolescente que resida em seu território.

3 SOUZA, Motauri Ciocchetti de. Manual de Direitos Difusos – Direito a Educação. São Paulo : Verbatim, 2009, p. 115, 2009

Rua Boa Vista, 103, - 13º andar – São Paulo/SP – CEP: 01014-001 – Tel: (11) [email protected]

- 7 de 21 -

Núcleo Especializado de Infância e

Juventude

Page 8:  · Web viewCuida-se de Procedimento Administrativo instaurado no âmbito do Núcleo Especializado de Infância e Juventude, em 09 de janeiro de 2015, com a finalidade de analisar

Súmula 64: O direito da criança ou do adolescente a vaga em unidade educacional é amparável por mandado de segurança.

Súmula 65: Não violam os princípios constitucionais da separação e independência dos poderes, da isonomia, da discricionariedade administrativa e da anualidade orçamentária as decisões judiciais que determinam às pessoas jurídicas da administração direta a disponibilização de vagas em unidades educacionais ou o fornecimento de medicamentos, insumos, suplementos e transporte a crianças ou adolescentes.

Oras, a súmula de nº 63 explicita exatamente o que se discute: a disponibilização imediata de vaga em unidade educacional. As demais súmulas complementam esse entendimento, ao entender se tratar de direito líquido e certo e não ferir os princípios constitucionais da separação e independência dos poderes, da isonomia, da discricionariedade administrativa e da anualidade orçamentária.

Em breve pesquisa realizada nos feitos que a Defensoria Pública atuou em 2013 na Comarca em que atua o Defensor Público relator, verifica-se que todos os casos que o juízo a quo denegou a segurança foram reformados pela colenda Câmara Especial do Tribunal de Justiça. Em todos os casos a seguir listados, dentre outros cuja ementa restou idêntica, estava sendo discutida a limitação de inscrição por ato administrativo:

Apelação Cível. Mandado de Segurança visando a matrícula de criança em creche. Sentença denegatória da ordem. Inscrição realizada fora de prazo estabelecido por ato administrativo. Irrelevância. Dever do Poder Público de fornecer educação básica, obrigatória e gratuita a menor de idade. Garantia fundamental à educação consagrada em norma de eficácia plena e aplicabilidade imediata. Ausência de violação ao princípio da separação dos poderes. Segurança concedida, com determinação. (Apelação nº 0018154-72.2013.8.26.0564, rel. Des. Pinheiro Franco, j. 18.08.2014).

APELAÇÃO. MANDADO DE SEGURANÇA. INTERESSE PROCESSUAL. RECONHECIMENTO. NECESSIDADE DO PROVIMENTO JUDICIAL PARA EXERCÍCIO DE DIREITO À EDUCAÇÃO. DIREITO FUNDAMENTAL LÍQUIDO E CERTO À EDUCAÇÃO, QUE NÃO PODE SER CONDICIONADO A LISTA DE ESPERA E A OUTROS CRITÉRIOS

Rua Boa Vista, 103, - 13º andar – São Paulo/SP – CEP: 01014-001 – Tel: (11) [email protected]

- 8 de 21 -

Núcleo Especializado de Infância e

Juventude

Page 9:  · Web viewCuida-se de Procedimento Administrativo instaurado no âmbito do Núcleo Especializado de Infância e Juventude, em 09 de janeiro de 2015, com a finalidade de analisar

ADMINISTRATIVOS. FORNECIMENTO DE VAGA EM CRECHE E PRÉ-ESCOLA PARA CRIANÇAS DE 0 A 05 ANOS. ATRIBUIÇÃO DO MUNICÍPIO. MATÉRIA SUMULADA POR ESTE E. TRIBUNAL DE JUSTIÇA. SENTENÇA REFORMADA. APELAÇÃO E REEXAME NECESSÁRIO, CONHECIDO DE OFÍCIO, PROVIDOS. (Apelação nº 0018938-49.2013.8.26.0564, rel. Des. Claudia Lúcia Fonseca Fanucchi, j. 28.04.2014).

Apelação Cível. Mandado de Segurança. Direito das crianças à creche e pré-escola. Segurança denegada na origem – Garantia constitucionalmente prevista – Responsabilidade prioritária do Município pelo atendimento da educação infantil. Irrelevância da existência de critérios administrativos para concessão de vaga - Violação ao princípio da igualdade e da independência dos Poderes não configurada, por inexistir, no particular, discricionariedade administrativa - Direito líquido e certo reconhecido. Reforma do decisum. Dá-se provimento ao recurso. (Apelação nº 0025353-48.2013.8.26.0564, rel. Des. Ricardo Anafe, j. 18.08.2014).

MENOR. Vaga em creche. Pleito ajuizado pela menor, visando a obtenção de vaga em creche. Sentença que denegou a segurança. Inadmissibilidade. Obrigação do Poder Público. Direito social que é assegurado pela Constituição Federal e pela lei ordinária federal. Incidência das Súmulas 63, 64 e 65 deste Tribunal. Apelo provido. (Apelação nº 0029096-66.2013.8.26.0564, rel. Des. Carlos Dias Motta, j. 18.08.2014).

APELAÇÃO. MANDADO DE SEGURANÇA. Direito da Criança e do Adolescente. Matrícula e permanência em escola de educação infantil. Direito fundamental resguardado pela Constituição Federal e legislação infraconstitucional. RECURSO PROVIDO. (Apelação nº 0029105-28.2013.8.26.0564, rel. Des. Issa Ahmed, j. 25.08.2014).

Mandado de Segurança. Insurgência da apelante contra a não concessão de vaga em creche municipal. Na hipótese, a inscrição da menor deu-se fora do prazo estipulado para matrícula. Ocorre que impedir o acesso à educação, direito fundamental, em face de inscrição extemporânea, configura ato ilegal, ensejando prejuízos irremediáveis à criança. Inteligência do art. 227 da Constituição da República, que determina com absoluta prioridade o direito à educação. Ordem concedida. (Apelação autos nº 3006866-76.2013.8.26.0564, rel. Des. Guerrieri Rezende, j. 25.08.2014).

Rua Boa Vista, 103, - 13º andar – São Paulo/SP – CEP: 01014-001 – Tel: (11) [email protected]

- 9 de 21 -

Núcleo Especializado de Infância e

Juventude

Page 10:  · Web viewCuida-se de Procedimento Administrativo instaurado no âmbito do Núcleo Especializado de Infância e Juventude, em 09 de janeiro de 2015, com a finalidade de analisar

Mandado de segurança – ensino infantil procedência pretensão de reforma da sentença que denegou a segurança pleiteada para assegurar matrícula à criança em creche próxima de sua residência – direito fundamental líquido e certo - ausência de violação aos princípios constitucionais da separação e independência dos poderes e da discricionariedade administrativa inteligência dos artigos 205, 208, I e 211, § 2º, da CF, 53, V, 54, IV, 208, I, do ECA e súmulas 63, 64 e 65 do TJSP – apelação provida. (Apelação autos nº 0017442-82.2013.8.26.0564, rel. Des. Eros Piceli, j. 20.10.2014).

Apelação Cível e Recurso Oficial. Mandado de Segurança. Dever do Poder Público de fornecer educação básica obrigatória e gratuita a menor de idade em escola próxima à sua residência. Segurança concedida. Desnecessidade de exaurimento da via administrativa. Garantia fundamental à educação consagrada em norma de eficácia plena e aplicabilidade imediata. Ausência de violação aos princípios da separação dos poderes, da discricionariedade administrativa e da isonomia. Fornecimento de vaga em creche municipal em período integral. Recurso provido. (Apelação autos nº 0018146-95.2013.8.26.0564, rel. Des. Pinheiro Franco, j. 07.07.2014).

Dessa forma, o ato administrativo, seja portaria, seja resolução, somente pode regular questões atinentes à organização administrativa da inscrição, matrícula, transporte, transferência, etc., trazendo os procedimentos de maneira clara. Não podem, contudo, limitar o direito à educação a pré-requisitos não previstos em lei, sob pena de violação aos princípios da administração pública, em especial o princípio da legalidade.

No caso específico de Carapicuíba, considero positiva a previsão de uma Comissão de Avaliação dos Turnos nas EMEIS - fase 1, trazendo a participação popular para a gestão educacional. No entanto, essa medida é positiva no sentido de que o Município não atende à demanda de vagas em creche existente, e, por essa razão, criou critérios para definição de quais crianças terão seu direito efetivado.

A questão é que, embora os recursos sejam finitos, não pode haver transação em sede de direitos fundamentais, em especial de crianças, de modo que não é possível validar a violação de direitos trazida por meio do estabelecimento de critérios de atendimento. O direito à educação é de todas

Rua Boa Vista, 103, - 13º andar – São Paulo/SP – CEP: 01014-001 – Tel: (11) [email protected]

- 10 de 21 -

Núcleo Especializado de Infância e

Juventude

Page 11:  · Web viewCuida-se de Procedimento Administrativo instaurado no âmbito do Núcleo Especializado de Infância e Juventude, em 09 de janeiro de 2015, com a finalidade de analisar

as crianças, e o Município tem obrigação de atender a todos que procuram, sob pena de responsabilidade.

Nesse sentido, pode o Defensor Público com atribuição atuar a fim de garantir o direito à educação de todas as crianças de 0 a 4 anos que os pais precisem de tal apoio. Além disso, também se mostra cabível a atuação coletiva, seja de modo direto pela Defensoria Pública ou por meio de articulação com o Ministério Público, podendo contar, ainda, com apoio desse Núcleo Especializado.

3. Progressiva extinção de vagas de educação infantil em período integral, transformando tais vagas em duas vagas de período parcial

Em relação à progressiva extinção de vagas de educação infantil em período integral, além de reiterar os argumentos já expostos, deve-se analisar, primeiramente, quais os dispositivos legais que fundamentam a educação infantil em período integral.

A Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente não trazem qualquer previsão acerca de carga horária ou se o atendimento educacional deve ser feito em período integral ou parcial.

A Lei de Diretrizes e Bases apresenta a organização da educação infantil, estabelecendo que o turno parcial compreende o atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro) horas diárias, enquanto a jornada integral compreende, pelo menos, 7 (sete) horas (artigo 31, inciso III, da Lei nº 9.394/1996, alterada pela Lei nº 12.796/2013).

Destaca-se, ademais, o disposto no artigo 34 de referida lei acerca da progressiva extensão do atendimento para o período integral, e que pode ser aplicado, por analogia, à educação infantil:

Art. 34. A jornada escolar no ensino fundamental incluirá pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula,

Rua Boa Vista, 103, - 13º andar – São Paulo/SP – CEP: 01014-001 – Tel: (11) [email protected]

- 11 de 21 -

Núcleo Especializado de Infância e

Juventude

Page 12:  · Web viewCuida-se de Procedimento Administrativo instaurado no âmbito do Núcleo Especializado de Infância e Juventude, em 09 de janeiro de 2015, com a finalidade de analisar

sendo progressivamente ampliado o período de permanência na escola.§ 1º São ressalvados os casos do ensino noturno e das formas alternativas de organização autorizadas nesta Lei.

§ 2º O ensino fundamental será ministrado progressivamente em tempo integral, a critério dos sistemas de ensino.

Decerto há alguma margem de discricionariedade administrativa na matéria, pois o artigo 34, caput, traz a ampliação progressiva do “período de permanência na escola”, enquanto seu parágrafo segundo faz a ressalva “a critério dos sistemas de ensino”. Não é demais lembrar, entretanto, que em matéria de direitos sociais não se pode regredir, isto é, veda-se o retrocesso e a regressão dos patamares já alcançados.

Nesse sentido, no meu entender, não pode o Município extinguir vagas de período integral se existe demanda para tal. O fator de discricionariedade pode ser aplicado no que se refere à criação de novas vagas, ou à cisão de eventuais vagas ociosas. Aqui caberia alguma discussão sobre a ponderação de direitos protegidos, já que não estaria sendo violado o direito de uma criança em específico ou de um determinado grupo de crianças que já goza desse direito ou tem expectativa de usufrui-lo.

Falo da situação em que crianças de uma determinada etapa da educação infantil deixa de ter acesso ao período integral no ano letivo seguinte devido à extinção das vagas pelo Município. Estamos, aqui, diante de uma clara violação do direito fundamental à educação dessas crianças.

Nesse sentido, as disposições transitórias da Lei de Diretrizes e Bases estabelece também, no parágrafo 5º do artigo 87, que “[s]erão conjugados todos os esforços objetivando a progressão das redes escolares públicas urbanas de ensino fundamental para o regime de escolas de tempo integral”.

Conjugar esforços representa progredir, nunca regredir, retroceder.

Rua Boa Vista, 103, - 13º andar – São Paulo/SP – CEP: 01014-001 – Tel: (11) [email protected]

- 12 de 21 -

Núcleo Especializado de Infância e

Juventude

Page 13:  · Web viewCuida-se de Procedimento Administrativo instaurado no âmbito do Núcleo Especializado de Infância e Juventude, em 09 de janeiro de 2015, com a finalidade de analisar

Em sentido semelhante o Plano Nacional de Educação, aprovado pela Lei nº 13.005/2014, traz a matéria da universalização da educação infantil na pré-escola e da ampliação da oferta da educação infantil em creche já na sua Meta 1, a qual transcrevo e destaco:

Meta 1: universalizar, até 2016, a educação infantil na pré-escola para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) anos de idade e ampliar a oferta de educação infantil em creches de forma a atender, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) das crianças de até 3 (três) anos até o final da vigência deste PNE.Estratégias:1.1) definir, em regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, metas de expansão das respectivas redes públicas de educação infantil segundo padrão nacional de qualidade, considerando as peculiaridades locais;1.2) garantir que, ao final da vigência deste PNE, seja inferior a 10% (dez por cento) a diferença entre as taxas de frequência à educação infantil das crianças de até 3 (três) anos oriundas do quinto de renda familiar per capita mais elevado e as do quinto de renda familiar per capita mais baixo;1.3) realizar, periodicamente, em regime de colaboração, levantamento da demanda por creche para a população de até 3 (três) anos, como forma de planejar a oferta e verificar o atendimento da demanda manifesta;1.4) estabelecer, no primeiro ano de vigência do PNE, normas, procedimentos e prazos para definição de mecanismos de consulta pública da demanda das famílias por creches;1.5) manter e ampliar, em regime de colaboração e respeitadas as normas de acessibilidade, programa nacional de construção e reestruturação de escolas, bem como de aquisição de equipamentos, visando à expansão e à melhoria da rede física de escolas públicas de educação infantil;1.6) implantar, até o segundo ano de vigência deste PNE, avaliação da educação infantil, a ser realizada a cada 2 (dois) anos, com base em parâmetros nacionais de qualidade, a fim de aferir a infraestrutura física, o quadro de pessoal, as condições de gestão, os recursos pedagógicos, a situação de acessibilidade, entre outros indicadores relevantes;1.7) articular a oferta de matrículas gratuitas em creches certificadas como entidades beneficentes de assistência

Rua Boa Vista, 103, - 13º andar – São Paulo/SP – CEP: 01014-001 – Tel: (11) [email protected]

- 13 de 21 -

Núcleo Especializado de Infância e

Juventude

Page 14:  · Web viewCuida-se de Procedimento Administrativo instaurado no âmbito do Núcleo Especializado de Infância e Juventude, em 09 de janeiro de 2015, com a finalidade de analisar

social na área de educação com a expansão da oferta na rede escolar pública;1.8) promover a formação inicial e continuada dos (as) profissionais da educação infantil, garantindo, progressivamente, o atendimento por profissionais com formação superior;1.9) estimular a articulação entre pós-graduação, núcleos de pesquisa e cursos de formação para profissionais da educação, de modo a garantir a elaboração de currículos e propostas pedagógicas que incorporem os avanços de pesquisas ligadas ao processo de ensino-aprendizagem e às teorias educacionais no atendimento da população de 0 (zero) a 5 (cinco) anos;1.10) fomentar o atendimento das populações do campo e das comunidades indígenas e quilombolas na educação infantil nas respectivas comunidades, por meio do redimensionamento da distribuição territorial da oferta, limitando a nucleação de escolas e o deslocamento de crianças, de forma a atender às especificidades dessas comunidades, garantido consulta prévia e informada;1.11) priorizar o acesso à educação infantil e fomentar a oferta do atendimento educacional especializado complementar e suplementar aos (às) alunos (as) com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, assegurando a educação bilíngue para crianças surdas e a transversalidade da educação especial nessa etapa da educação básica;1.12) implementar, em caráter complementar, programas de orientação e apoio às famílias, por meio da articulação das áreas de educação, saúde e assistência social, com foco no desenvolvimento integral das crianças de até 3 (três) anos de idade;1.13) preservar as especificidades da educação infantil na organização das redes escolares, garantindo o atendimento da criança de 0 (zero) a 5 (cinco) anos em estabelecimentos que atendam a parâmetros nacionais de qualidade, e a articulação com a etapa escolar seguinte, visando ao ingresso do (a) aluno(a) de 6 (seis) anos de idade no ensino fundamental;1.14) fortalecer o acompanhamento e o monitoramento do acesso e da permanência das crianças na educação infantil, em especial dos beneficiários de programas de transferência de renda, em colaboração com as famílias e com os órgãos públicos de assistência social, saúde e proteção à infância;1.15) promover a busca ativa de crianças em idade correspondente à educação infantil, em parceria com órgãos públicos de assistência social, saúde e proteção à infância,

Rua Boa Vista, 103, - 13º andar – São Paulo/SP – CEP: 01014-001 – Tel: (11) [email protected]

- 14 de 21 -

Núcleo Especializado de Infância e

Juventude

Page 15:  · Web viewCuida-se de Procedimento Administrativo instaurado no âmbito do Núcleo Especializado de Infância e Juventude, em 09 de janeiro de 2015, com a finalidade de analisar

preservando o direito de opção da família em relação às crianças de até 3 (três) anos;1.16) o Distrito Federal e os Municípios, com a colaboração da União e dos Estados, realizarão e publicarão, a cada ano, levantamento da demanda manifesta por educação infantil em creches e pré-escolas, como forma de planejar e verificar o atendimento;1.17) estimular o acesso à educação infantil em tempo integral, para todas as crianças de 0 (zero) a 5 (cinco) anos, conforme estabelecido nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil.

Assim, o Plano Nacional de Educação representa o compromisso e as estratégias que serão usadas para alcançar: (i) a universalização da educação infantil em pré-escola (que é direito da criança e dever dos pais) e o atendimento de, ao menos, 50% da demanda da educação infantil em creche (que é direito da criança e direito dos pais).

Complementam também o presente arrazoado as Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil, publicadas em 2010 por meio da Resolução nº 5, de 17/12/2009, do Ministério da Educação, e que tratam da obrigatoriedade da matrícula da criança na educação infantil em pré-escola, da proximidade entre a residência e a escola, e da jornada parcial e integral que deve ser oferecida a educação infantil.

Nesse sentido, diante dos fundamentos expostos, parece incabível a extinção de vagas em período integral e a sua transformação em vagas em período parcial, considerando a existência de demanda em atendimento ou em espera para educação infantil em jornada integral.

4. o direito à educação infantil em período integral para crianças de 0 a 4 anos e o direito a, somente, período parcial para crianças com idade superior a 5 anos, inclusive

A educação em período integral não se afigura, diante do já exposto, restrito à educação infantil, mas abrangendo a educação básica.

Rua Boa Vista, 103, - 13º andar – São Paulo/SP – CEP: 01014-001 – Tel: (11) [email protected]

- 15 de 21 -

Núcleo Especializado de Infância e

Juventude

Page 16:  · Web viewCuida-se de Procedimento Administrativo instaurado no âmbito do Núcleo Especializado de Infância e Juventude, em 09 de janeiro de 2015, com a finalidade de analisar

Além do que já foi arrazoado no item anterior, pode-se recorrer, também, ao Plano Nacional de Educação, aprovado pela Lei nº 13.005/2014, o qual, em sua meta 06, trata, especificamente, do período integral, na educação básica:

Meta 6: oferecer educação em tempo integral em, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) das escolas públicas, de forma a atender, pelo menos, 25% (vinte e cinco por cento) dos (as) alunos (as) da educação básica.Estratégias:6.1) promover, com o apoio da União, a oferta de educação básica pública em tempo integral, por meio de atividades de acompanhamento pedagógico e multidisciplinares, inclusive culturais e esportivas, de forma que o tempo de permanência dos (as) alunos (as) na escola, ou sob sua responsabilidade, passe a ser igual ou superior a 7 (sete) horas diárias durante todo o ano letivo, com a ampliação progressiva da jornada de professores em uma única escola;6.2) instituir, em regime de colaboração, programa de construção de escolas com padrão arquitetônico e de mobiliário adequado para atendimento em tempo integral, prioritariamente em comunidades pobres ou com crianças em situação de vulnerabilidade social;6.3) institucionalizar e manter, em regime de colaboração, programa nacional de ampliação e reestruturação das escolas públicas, por meio da instalação de quadras poliesportivas, laboratórios, inclusive de informática, espaços para atividades culturais, bibliotecas, auditórios, cozinhas, refeitórios, banheiros e outros equipamentos, bem como da produção de material didático e da formação de recursos humanos para a educação em tempo integral;6.4) fomentar a articulação da escola com os diferentes espaços educativos, culturais e esportivos e com equipamentos públicos, como centros comunitários, bibliotecas, praças, parques, museus, teatros, cinemas e planetários;6.5) estimular a oferta de atividades voltadas à ampliação da jornada escolar de alunos (as) matriculados nas escolas da rede pública de educação básica por parte das entidades privadas de serviço social vinculadas ao sistema sindical, de forma concomitante e em articulação com a rede pública de ensino;6.6) orientar a aplicação da gratuidade de que trata o art. 13 da Lei no 12.101, de 27 de novembro de 2009, em atividades

Rua Boa Vista, 103, - 13º andar – São Paulo/SP – CEP: 01014-001 – Tel: (11) [email protected]

- 16 de 21 -

Núcleo Especializado de Infância e

Juventude

Page 17:  · Web viewCuida-se de Procedimento Administrativo instaurado no âmbito do Núcleo Especializado de Infância e Juventude, em 09 de janeiro de 2015, com a finalidade de analisar

de ampliação da jornada escolar de alunos (as) das escolas da rede pública de educação básica, de forma concomitante e em articulação com a rede pública de ensino;6.7) atender às escolas do campo e de comunidades indígenas e quilombolas na oferta de educação em tempo integral, com base em consulta prévia e informada, considerando-se as peculiaridades locais;6.8) garantir a educação em tempo integral para pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação na faixa etária de 4 (quatro) a 17 (dezessete) anos, assegurando atendimento educacional especializado complementar e suplementar ofertado em salas de recursos multifuncionais da própria escola ou em instituições especializadas;6.9) adotar medidas para otimizar o tempo de permanência dos alunos na escola, direcionando a expansão da jornada para o efetivo trabalho escolar, combinado com atividades recreativas, esportivas e culturais.

O Programa Mais Educação, instituído pela Portaria Normativa Interministerial nº 17, de 24 de abril de 2007 (Ministério da Educação, Ministério do Desenvolvimento Social e do Combate à Fome, Ministério do Esporte e Ministério da Cultura), posteriormente regulado pelo Decreto nº 7.083/2010, trata especificamente da ampliação do tempo de permanência de crianças, adolescentes e jovens em escolas públicas, mediante a oferta de educação básica em tempo integral.

Nesse sentido, a educação básica em tempo integral é a jornada escolar com duração igual ou superior a sete horas diárias, e que pode ser integrada não somente com atividades em sala de aula, mas complementada e ampliada pelo “desenvolvimento das atividades de acompanhamento pedagógico, experimentação e investigação científica, cultura e artes, esporte e lazer, cultura digital, educação econômica, comunicação e uso de mídias, meio ambiente, direitos humanos, práticas de prevenção aos agravos à saúde, promoção da saúde e da alimentação saudável, entre outras atividades” (artigo 1º, § 2º, do Decreto nº 7.083/2010). Além disso, há a previsão de que as atividades possam ser desenvolvidas fora do espaço escolar, sob orientação pedagógica da escola, mediante o uso dos

Rua Boa Vista, 103, - 13º andar – São Paulo/SP – CEP: 01014-001 – Tel: (11) [email protected]

- 17 de 21 -

Núcleo Especializado de Infância e

Juventude

Page 18:  · Web viewCuida-se de Procedimento Administrativo instaurado no âmbito do Núcleo Especializado de Infância e Juventude, em 09 de janeiro de 2015, com a finalidade de analisar

equipamentos públicos e do estabelecimento de parcerias com órgãos ou instituições locais.

Cabe lembrar que o artigo 34 e o artigo 87, § 5º, ambos da Lei de Diretrizes e Bases, mencionados no item anterior, tratam especificamente da educação fundamental, e se referem ao período integral. Assim, mais do que aplicáveis ao raciocínio que ora se expõe, são normas que regulam diretamente a extensão do atendimento à educação básica em período integral como obrigação dos Municípios e Estados, na linha do que vem atualmente planejado e compromissado no Plano Nacional de Educação.

Diante do exposto, entendo que o direito à educação em período integral configura direito não só de crianças de 0 a 4 anos, mas, inclusive e especialmente, a crianças com idade superior a 5 anos, inclusive.

CONCLUSÕES E SUGESTÕES

Conforme mencionado, o presente procedimento trata de quatro temas relacionados ao direito à educação: (1) Projeto de Lei nº 8.291/2014, que busca a adequação do Estatuto da Criança e do Adolescente à normativa atual da Lei de Diretrizes e Bases; (2) as limitações trazidas por portarias municipais, como, no caso em tela, a Portaria da Secretaria Municipal de Educação de Carapicuíba nº 05/2014; (3) a progressiva extinção de vagas de educação infantil em período integral, transformando tais vagas em duas vagas de período parcial; e (4) o direito à educação infantil em período integral para crianças de 0 a 4 anos e o direito a, somente, período parcial para crianças com idade superior a 5 anos, inclusive.

Buscou-se instruir o procedimento com legislações, planos e textos correlacionados. Apesar de se tratar de temas convergentes, tentou-se responder às indagações colocadas, de forma a fornecer subsídios para orientar a atuação de Defensores Públicos.

Esse assunto se configura relevante em especial devido à grande demanda que aporta à Defensoria Pública relacionada a pedidos de

Rua Boa Vista, 103, - 13º andar – São Paulo/SP – CEP: 01014-001 – Tel: (11) [email protected]

- 18 de 21 -

Núcleo Especializado de Infância e

Juventude

Page 19:  · Web viewCuida-se de Procedimento Administrativo instaurado no âmbito do Núcleo Especializado de Infância e Juventude, em 09 de janeiro de 2015, com a finalidade de analisar

vagas em creche. Em alguns locais, o Município não realiza mais inscrições administrativas, mas somente atende ordens judiciais. Assim, há intensa discussão entre os membros da carreira se estamos, de fato, sendo um instrumento de transformação social e efetivação de direitos ou, pelo contrário, mais um mecanismo burocrático estatal, dificultando o acesso a direitos fundamentais. Ainda, há de se perquirir se aquelas crianças mais necessitadas, que sequer chegam à Defensoria Pública, não têm seu direito fundamental violado pelas centenas de ações judiciais que ingressamos anualmente.

Nos últimos anos (2013-2014) uma interessante articulação entre sociedade civil organizada e órgãos do sistema de justiça ocorreu no Município de São Paulo, no bojo de duas ações civis públicas, em que tem se realizado um acompanhamento participativo da demanda de vagas em creche e do plano de ampliação do governo, podendo-se discutir em que medida uma atuação articulada, transparente e plural pode ser alternativa à judicialização infindável, muitas vezes irresponsável e ineficaz.

No último mês, o Governo do Estado anunciou o que chamou de “reorganização escolar”, buscando que as unidades escolares sejam de “ciclo único”, e de alguma forma potencializando as salas de aula, os professores e as estruturas físicas. A justificativa é que há mais vagas que alunos, mas os critérios não estão claros para as escolhas realizadas. A consequência disso foi um grande número de “ocupações” das escolas pelos estudantes, gerando uma grande repercussão na mídia. A relação com o tema do presente P.A. se dá pela necessidade de transparência e democracia na tomada de decisões em políticas públicas na área da educação e também porque o Governo do Estado havia anunciado que a reorganização escolar liberaria prédios para serem disponibilizados aos Municípios, os quais poderiam atender à demanda de educação infantil.

No último pré-encontro (2015) as professoras Alessandra Gotti e Evorah Cardoso proferiram palestras sobre o Litígio Estratégico, trazendo o debate proposto pela ANADEP acerca da atuação coletiva das Defensorias

Rua Boa Vista, 103, - 13º andar – São Paulo/SP – CEP: 01014-001 – Tel: (11) [email protected]

- 19 de 21 -

Núcleo Especializado de Infância e

Juventude

Page 20:  · Web viewCuida-se de Procedimento Administrativo instaurado no âmbito do Núcleo Especializado de Infância e Juventude, em 09 de janeiro de 2015, com a finalidade de analisar

Públicas. Naquela oportunidade, foram discutidas as diferenças entre litígio estratégico, litígio estrutural, litígio coletivo e litígio de massa, sendo apresentada a experiência (em curso) do Município de São Paulo e relatadas diversas experiências de outros países.

Assim, aproveito essas linhas para sugerir aos integrantes desse Núcleo Especializado que possa ser organizado um evento / seminário / debate, em que se discuta especificamente a educação infantil e a sua judicialização, pensando na forma em que a Defensoria Pública se insere nesse debate e como pode atuar de maneira mais estratégica.

Considerando que a Capital possui um fluxo diferenciado de atuação (com atendimento inicial especializado centralizado, com polos de atendimento e com acórdão em sede de ação civil pública já em fase de execução), sugiro que referido evento seja realizado com convocação / afastamento dos Defensores Públicos com atuação em infância não infracional e lotados fora da Capital. Proponho que esse evento tenha por foco refletir sobre o papel que a Defensoria Pública vem desenvolvendo em seus Municípios na demanda de educação infantil, considerando, ainda, que há uma maior possibilidade (ou não) de diálogo direto com o chefe do Poder Executivo ou Secretário(a) de Educação, assim como pensar em projeto piloto de atuação, com monitoramento.

Avalio que o próximo ano seja estratégico para essa reflexão, considerando que é o primeiro ano de mandato dos novos conselheiros tutelares (propício para planejamento de trabalho conjunto) e que no ano seguinte haverá a renovação do mandato dos Executivos e Legislativos Municipais (com início em 2017).

Nesse sentido, considero que o tema “Judicialização da Educação Infantil”, pelo volume que representa nas diversas Defensorias Públicas com atribuição em infância e juventude não infracional, deve ser pautado por esse Núcleo Especializado no próximo ano, envolvendo parceiros externos (Ação Educativa, Campanha Nacional pelo Direito à Educação,

Rua Boa Vista, 103, - 13º andar – São Paulo/SP – CEP: 01014-001 – Tel: (11) [email protected]

- 20 de 21 -

Núcleo Especializado de Infância e

Juventude

Page 21:  · Web viewCuida-se de Procedimento Administrativo instaurado no âmbito do Núcleo Especializado de Infância e Juventude, em 09 de janeiro de 2015, com a finalidade de analisar

Movimento Todos pela Educação) e internos (Corregedoria Geral, Ouvidoria Geral, Assessoria Cível e EDEPE), buscando alternativas e construções coletivas que viabilizem o acesso à justiça e a efetivação do direito à educação.

Diante de todo o exposto, submeto o presente parecer à plenária.

São Bernardo do Campo, 23 de novembro de 2015.

MARCELO DAYRELL VIVASDefensor Público do Estado

Rua Boa Vista, 103, - 13º andar – São Paulo/SP – CEP: 01014-001 – Tel: (11) [email protected]

- 21 de 21 -

Núcleo Especializado de Infância e

Juventude