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Educação corporativa: um desafio para o século XXI
Conheça uma das razões por que algumas organizações falham enquanto outras se tornam líderes no mercado
Antonio Siemsen Munhoz
Editora InterSaberes
2014
Sumário
Apresentação
Introdução
1. A educação corporativa
2. Características da educação corporativa
2.1 Cuidados para a efetivação correta da educação corporativa
3. O mercado de trabalho
3.1 Contexto
3.2 Cuidados Iniciais
4. A estratégia da educação corporativa
5. Como iniciar a educação corporativa?
5.1 Aspectos emocionais
5.2 A universidade corporativa em foco
6. Quais as razões para a criação da universidade corporativa?
6.1 Inserção da universidade corporativa na organização
7. Como implantar uma universidade corporativa?
7.1 Definição da estratégia
7.2 Planejamento do projeto
7.3 Marca (imagem institucional)
7.4 Infraestrutura
7.5 Currículo
7.6 Programas de aprendizagem e suporte
7.7 Avaliação e acreditação
8. Quais as vantagens da universidade corporativa?
8.1 Agilidade organizacional
8.2 Vantagens da UC
9. Como controlar investimentos na universidade corporativa?
9.1 Exigências/benefícios da organização
9.2 Exigências/benefício dos colaboradores
10. Mudança de treinamento para aprendizagem
10.1 Uma mudança complexa
10.2 Questões de responsabilidade
11. Aprendizagem corporativa – detalhamento
11.1 Detalhamento
12. A função CLO – Chief Learning Officer
12.1 Características do CLO
13. Como os adultos aprendem?
13.1 Reflexões
14. Como obter a motivação dos colaboradores?
14.1 Programas de comprometimento
14.2 Conclusões
15. Como definir um plano de aprendizagem?
15.1 O plano de aprendizagem organizacional
16. Perfil do aluno corporativo
16.1 O perfil do aluno corporativo
17. Um olhar para o futuro
17.1 Aprendizagem organizacional e gestão do conhecimento na universidade
corporativa
18. Organizações inovadoras sustentáveis
18.1 As organizações inovadoras
18.2 As organizações inovadoras sustentáveis
18.3 O conhecimento compartilhado
Considerações finais
Referências
Sobre o autor
Apresentação
Este livro apresenta uma finalidade e destinatários específicos. É nosso
objetivo orientar as organizações em fase de transformação de seus setores de
Treinamento e Desenvolvimento (T&D), voltados em sua proposta fundamental ao
crescimento profissional e pessoal dos colaboradores. Os destinatários são quaisquer
pessoas que venham a ser envolvidas de forma ativa (administradores e instrutores)
ou passiva (profissionais em formação) com a educação corporativa, posta como uma
imposição do mercado contemporâneo. O processo tradicional de formação, como
treinamento e desenvolvimento, aplicado no interior das organizações não mais
consegue acompanhar as exigências da atualidade.
Vivemos um tempo de mudanças significativas, as quais alcançam todas as
áreas do desenvolvimento humano. Como consequência, novas perspectivas são
colocadas para a educação corporativa. Elas provocam transformações expressivas
na cultura organizacional, no comportamento dos seus colaboradores e na relação de
aprendizado que as corporações estabelecem com seu principal agente de mudança:
o profissional do conhecimento. A universidade corporativa se constitui nesse contexto
como o instrumento capaz de possibilitar a transformação que o trabalho com a
educação corporativa exige.
Aplicar um novo formato à educação corporativa está diretamente relacionado
com duas ideias postas no mercado: empresabilidade e empregabilidade. A primeira
diz respeito à organização e trata de sua sobrevivência em um ambiente com elevado
grau de competição; a segunda volta-se aos colaboradores e trata do mesmo tema em
um nível individual. Senso crítico, criatividade e inovação são qualidades inestimáveis
para que esses dois atores – organização e seus colaboradores – tenham
sustentabilidade no contexto social contemporâneo.
Esses desafios são conhecidos e encarados com sucesso por algumas
organizações; outras tentaram enfrentá-los e não obtiveram os resultados esperados.
Estudos desenvolvidos no mercado e apresentados no encontro da Associação
Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração (ANPAD) (Tumelero et
al, 2011) concluem que, apesar da comprovação de que muitas empresas iniciam o
processo de mudança desejado na educação corporativa, o estágio atual ainda aponta
resultados que têm causado insatisfação e ineficiência. Ainda existem confusão na
identificação clara da proposta e indecisão quanto ao desenvolvimento de pessoas
reflexivas, o que exige uma formação diferenciada em relação ao aparelhamento
profissional apenas com técnicas e melhores práticas. Grande número delas (a
maioria de pequeno e médio porte) ainda está parada no tempo e no espaço, sem
tomar a decisão que pode mudar a sua vida e a dos colaboradores, investindo na
implantação da educação corporativa.
As orientações contidas neste material são provenientes dos acertos das
organizações que tiveram sucesso na iniciativa de mudar, de forma significativa, o seu
caminho de formação de atitudes e comportamentos e de criação de novas
competências e habilidades. Trata-se de um subsídio que pode nortear corporações e
pessoas que ainda estão em compasso de espera que as coloca à margem das
exigências do mercado.
O livro está estruturado em 18 capítulos, e cada um deles pode ser estudado
de forma estanque, sem comprometer a compreensão do conteúdo. Ele foi elaborado
de forma didática e pedagógica a fim de ser utilizado em cursos de graduação e em
diversos níveis de cursos de pós-graduação ou em processos de formação
permanente e continuada. Cada um dos capítulos pode dar origem a um pequeno
curso e até mesmo ser oferecido de acordo com a evolução do mercado como MOOC
(Massive Open Online Course). Esse formato surpreendeu por sua elevada
escalabilidade (há turmas com até 20 mil inscritos). Trata-se de cursos geralmente de
curta duração, desenvolvidos em ambiente online e que em virtude de serem gratuitos
(em alguns casos apenas a emissão do certificado é cobrada) alcançam grande
número de pessoas. É uma modalidade ainda considerada como oferta de cursos
livres, voltados para educação informal e aberta, o que pode mudar com a evolução e
a aceitação do conceito, se demonstrar qualidade. A certificação pode ser a aceitação
do mercado, mas com perspectivas de certificação social pelas instituições de ensino
como parte de currículo de cursos formais, proposta que poderá ser efetivada em curto
espaço de tempo. Os cursos são considerados como novas linhas de ação colocadas
como uma “febre do mercado” e podem vir a se tornar uma nova forma de ensino e
aprendizagem se não forem transformados em modismos e defenestrados do mercado
pela ação resistente de pessoas incompetentes e que bloqueiam atitudes de evolução
que representam tentativas de inovação. Elas deslocam as pessoas de sua “zona de
conforto” e podem provocar reações contrárias.
O Capítulo 1 apresenta uma visão inicial do que é tido como educação
corporativa, considerada uma estratégia competitiva. O acompanhamento das
mudanças tem trazido resultados animadores. São criadas novas condições que
justificam que as organizações levem em conta seriamente a possibilidade de dar uma
nova feição aos departamentos de T&D e adotem diferentes formas de gestão. O fato
a lamentar é que muitas estão passivas, sem perceber a “fervura do caldeirão”que
eleva a pressão por mudanças. Se não podem resolver os problemas de formação
sozinhas, resta a possibilidade efetiva, segundo alguns exemplos, de que parcerias
bem conduzidas alterem a face de seu meio ambiente interno.
O Capítulo 2 busca as principais características da educação corporativa. É
uma forma de orientar os procedimentos iniciais a serem tomados pelos profissionais
que irão trabalhar com a criação da universidade corporativa ou do aprimoramento dos
departamentos de Treinamento e Desenvolvimento. De acordo com essas
características fundamentais podem ser colocados novos direcionamentos na
divulgação proposta da educação corporativa. É uma atividade importante e que
permite definir o engajamento das pessoas aos propósitos dela.
O Capítulo 3 analisa o mercado de trabalho contemporâneo. Primeiramente
aborda o contexto que pode justificar a utilização da educação corporativa. Não é
somente o fato de ela existir que exige que todas as organizações, sem exceção,
venham a adotar as suas orientações. Definidos o contexto e a inserção da
organização nele se desce ao nível da percepção da educação corporativa como uma
exigência do mercado. É importante destacar que essa imposição não se restringe a
corporações de grande porte, com recursos financeiros disponíveis; pequenas e
médias se incluem na mesma perspectiva.
O Capítulo 4 considera definida a escolha da organização pela adoção da
educação corporativa. A partir daí propõe -se uma revisão da literatura com a posição
de especialistas na matéria para apontar o ponto básico de qualquer iniciativa: a
estratégia a ser adotada. Ela vai definir e balizar todas as atividades de planejamento
necessárias para que a iniciativa tenha o sucesso desejado. Pode-se observar que
nessa etapa são criadas expectativas de êxito; entretanto, este somente serál
alcançado se o planejamento subsequente conseguir o engajamento de todos os
níveis operacionais da organização, incluindo os mais elevados níveis de chefia.
O Capítulo 5 parte para uma etapa de início de trabalhos em que será
analisada qual a melhor forma de implantação da universidade corporativa. Ela é o
braço de ferro que dá sustentação à implantação da educação corporativa.
Antecedendo a essa discussão é importante que sejam analisados aspectos
emocionais que envolvem a sua criação, tendo em mente que é dela que vem o
atendimento às necessidades pessoais. Cuidados com esse aspecto podem definir um
caminho de sucesso para a iniciativa de implantação da educação corporativa.
O Capítulo 6 identifica as razões pelas quais a educação corporativa está
sendo adotada. Trata-se de uma fase posterior à decisão da implantação da iniciativa
e se destina mais a esclarecer os colaboradores. É o momento de definir quem são os
colaboradores envolvidos: internos ou toda a cadeia de valor organizacional. É comum
direcionar a educação corporativa a um público alvo que inclui fornecedores e clientes,
nas duas pontas extremas, como elementos de importância para que a corporação
atinja a empresabilidade.
O Capítulo 7 analisa as melhores práticas tomadas por outras empresas que
conseguiram sucesso no propósito de se transformarem em organizações que
aprendem. Estratégia, planejamento, definição e estabelecimento de marca,
identificação da melhor infraestrutura possível, determinação dos programas de
aprendizagem e de suporte e fechamento do processo com avaliações que levem à
acreditação da universidade corporativa em termos de mercado são os pontos de
destaque e estudo. Nesse momento a universidade corporativa deve ter atingido a
sustentabilidade que permita que a organização considere como missão cumprida a
intenção de desenvolver os trabalhos com a educação corporativa.
O Capítulo 8 está elaborado com a intenção de que os responsáveis pela
implantação da universidade corporativa possam comprovar o que o mercado pensa e
estabelece como vantagens que as empresas podem obter com a educação
corporativa e o quanto a universidade corporativa influencia e facilita o atendimento
dos objetivos traçados. É o momento de verificar se, com os cuidados tomados, foram
obtidas as vantagens que especialistas consideram proveitosas para as organizações
que decidiram adotar um novo formato para a educação corporativa e para os
profissionais que optaram por desenvolver um processo de formação permanente e
continuada.
O Capítulo 9 e todos os subsequentes, a partir desse ponto, tratam de
complementos que interessam aos responsáveis e a todos os envolvidos na educação
corporativa, sejam instrutores, sejam estudantes. O tratamento da educação
corporativa como um centro de investimentos, para substituir a incorreta visão que ela
tem como centro de custos, é uma das propostas colocadas para os investidores.
Esse posicionamento inicial e na continuidade dos programas de formação constitui
uma necessidade que diminui de forma significativa a pressão pelos resultados.
Trabalhar na perspectiva de benefícios indiretos deixa os responsáveis pelo processo
de formação dos colaboradores menos sujeitos a uma cobrança direta e que pode
atuar de forma negativa para obtenção de sucesso no processo.
O Capítulo 10 aborda um aspecto diretamente relacionado com questões
didáticas e pedagógicas e aponta uma das transformações significativas apresentadas
no mercado de trabalho. A mudança do enfoque do processo de formação
proporcionado pela organização de uma visão de um conjunto de treinamentos
pontuais é necessária. A evolução da formação permanente e continuada
desenvolvida para toda a vida exige uma troca de postura que altere a visão de
apenas trabalhar na perspectiva de formação de competências e habilidades; levar em
conta as necessidades e desejos dos colaboradores se coloca como uma
necessidade. Assim a organização pode considerar essa tarefa parte de sua missão e
efetivar, com utilização do processo educacional organizacional, a sua
responsabilidade e autoridade social.
O Capítulo 11 introduz conceitos complementares cujo conhecimento é de
importância para aqueles que desenvolvem os trabalhos na parte administrativa e para
os que atuam no desenvolvimento de trabalhos como orientadores (coaching) que
acompanham a carreira dos profissionais. Eles aprofundam questões não discutidas
ou tocadas de forma superficial nas fases de levantamento de justificativas e formas
de implantar a educação corporativa. É um fechamento das ideias que tornam a
educação corporativa uma das razões para o sucesso de muitas empresas em sua
transformação em organizações que aprendem.
O Capítulo 12 detalha a figura de um novo profissional que se mostra
necessário na estrutura das organizações que aprendem e cuja maior preocupação é
a definição domodelo de formação mais indicado. A escolha das áreas de
conhecimento e dos processos nos quais os profissionais devem ser especialistas e
destacados no mercado é o seu trabalho diário. Sem que essa pessoa (ou grupo de
pessoas) atue de forma decisiva, o que a empresa ensina para os colaboradores pode
não estar em sintonia com as necessidades deles e nem do mercado de trabalho.
O Capítulo 13 discute um aspecto que deve se tornar conhecimento da
organização. Ela trabalha com jovens e adultos e não teria sentido ignorar as formas
como essas pessoas que têm sua história de vida desenvolvem de modo mais
eficiente o processo de aprendizagem. Conhecer essas dimensões facilita a que os
profissionais da educação realizem o trabalho de maneira mais eficiente, junto com
pessoas que estão nesse nível e que representam a característica fundamental do
público-alvo das iniciativas educacionais da organização.
O Capítulo 14 é uma orientação direta para os responsáveis pela educação
corporativa na organização. Sem que os colaboradores estejam engajados de forma
definitiva, apoiados por um plano de cargos e salários e pelo estabelecimento de
incentivos e prêmios para o aumento da produtividade, a iniciativa tem diminuída a
possibilidade de sucesso. Como um fator importante ele deve ser transformado em um
dos conhecimentos fundamentais para a organização que aprende.
O Capítulo 15 analisa as formas de definir um plano de aprendizagem no
projeto da educação corporativa. Essa é a responsabilidade do Chief Learning Officer
(CLO), o novo profissional que realiza um trabalho cujas características o tornam
indispensável na estrutura da organização que aprende. É efetuado o necessário
destaque que esse plano não mais seja estabelecido exclusivamente de forma a
atender o que a organização necessita, mas inclua o que os colaboradores têm como
desejos e necessidades e que permitem a sua formação para a cidadania, pautada
pelo respeito profissional e ao seu papel como capital intelectual da organização.
O Capítulo 16 representa um complemento importante de ser considerado
quando o plano de formação para a organização é estabelecido. Ele trata sobre a
forma como esse programa deve ser conduzido para que atinja os colaboradores de
forma mais completa. Há um perfil cujas características estão presentes em maior ou
menor profundidade em cada um desses colaboradores e que completa aquelas que
cada um tem e que são levadas em consideração durante o desenvolvimento dos
programas de formação.
O Capítulo 17 lança um olhar para o futuro, apesar da dificuldade cada vez
mais crescente que as atividades de previsão encontram. Existem novas tecnologias
que surgem no horizonte das conquistas futuras da humanidade e apenas aguardam a
viabilidade econômica para serem implantadas e utilizadas. É bom saber quais são
essas perspectivas para que todos possam estar preparados para as mudanças que
serão exigidas dos profissionais e que afetam de maneira significativa o processo de
educação corporativa.
O Capítulo 18 identifica o que algumas organizações inovadoras estão
fazendo. O conceito da educação corporativa é uma característica presente nas
características de cada uma delas. Essas novas organizações ainda não estão
estabelecidas em um número suficiente para que se possa considerar seu surgimento
e multiplicação como um fato concretizado. Mas enquanto isso não acontece é
importante saber o que poderá vir a ser uma nova forma de desenvolvimento de
negócios em um mercado em constante mutação.
Esta divisão foi cuidadosamente programada para que as orientações do
conteúdo possam ser acompanhadas durante o estudo que as organizações venham a
fazer com vistas a implantar a educação corporativa e a universidade corporativa.
Introdução
O mercado contemporâneo impõe, a todos os profissionais, a efetivação de
processos de formação permanente e continuada. A trajetória educacional não mais
se esgota ao se completar o percurso estanque da educação formal. A evolução
tecnológica coloca a profissionais de todas as áreas do conhecimento novos desafios
que se estendem para a organização como um todo. Ela se vê sob o imperativo da
criação de novas formas de ensinar os colaboradores. Os departamentos de T&D,
com o seu modo utilitário, pontual e restrito de formação, não mais atendem às
necessidades de formação do “profissional do conhecimento”.
A nomenclatura foi criada por Drucker e Marciarello (2005) nos anos 50 do
século passado. Até os dias atuais ainda se aplica, e de forma cada vez mais
apropriada, a uma classe de profissionais altamente valorizados no mercado. Isso
acontece devido a capacidade que têm de atuar de forma decidida e eficaz sobre
conhecimentos com os quais não desenvolvem um trabalho extenso. É característica
deles a habilidade de aprender novos assuntos e, principalmente, de transmitir
conhecimento a outras pessoas. Profissionais com esses atributos não temem o
contato com novos desafios, e por meio de pesquisa, tarefa a que se dedicam com
qualidade, eles se apropriam do referencial sobre o conhecimento desejado. Com a
capacidade de aprender novos e os transformar, identificam, definem e solucionam
problemas de diferentes naturezas. A valorização, cada vez maior deles está na
medida em que permitem que as organizações enfrentem, com maior facilidade, o
desafio do novo. Essa é uma situação quase diária nas organizações do mercado
contemporâneo.
Formar esse profissional não é uma tarefa fácil, mas se revela cada vez mais
necessária para as organizações nos dias atuais. Trata-se de um contexto
considerado por Alves e Monteiro (2013) surpreendente, desafiador e que exige ações
mais diretas na mudança de relacionamento entre patrões e empregados. Uma análise
mais detalhada sobre esse mercado parece trazer visões temidas pelas alterações
que pode provocar ao retirar as pessoas da zona de conforto, reação que resulta da
insegurança com relação ao futuro e uma consequência direta do volume de
transformações que se operam em um prazo muito curto. As organizações têm pouco
tempo para se adaptar a uma série de novidades que surgem e se atropelam umas às
outras. É uma situação que deixa algumas pessoas assustadas, eaté os dias de hoje
são visíveis os efeitos avassaladores sobre as empresas. Isso ocorre principalmente
com relação àquelas que permanecem no mercado ao sabor da falta de planejamento
detalhado de sua ação e prática social. As falhas na formação de seus colaboradores
caracterizam algumas que assim se comportam. Para tais organizações são
endereçadas fortes críticas. Essa postura inadequada pode afetar dois conceitos
presentes de maneira forte no mercado e trabalhados por Kugelmeyer (2013) e outros
estudiosos da área de administração: a empresabilidade e a empregabilidade.
A empresabilidade é tida como a capacidade de a organização se manter no
mercado; a empregabilidade segue a mesma lógica, mas refere-se ao profissional.
São conceitos modernos e ambos assumem lugar de destaque em um ambiente
corporativo extremamente competitivo. As discussões sobre o assunto tomam um
tempo que nunca é perdido; é um trabalho que pode reverter em benefício do aumento
dessas capacidades. Elas são desejadas em ambos os contextos, tanto da
organização, quanto do profissional.
Tanto a organização quanto o profissional que apresentam a habilidade de se
manterem no mercado são caracterizados por Janini (2013) como agentes de
transformação. Isso se deve à capacidade de anteciparem possíveis problemas e
sugerir soluções que eliminem ou deem alguma contribuição aos desafios que lhes
são colocados. Tavares (2002) aponta que, em cenários com características
inovadoras, o estresse pode surgir, mas considera a entrada em ação da resiliência –
capacidade física e/ou psicológica de adaptação à realidade –, capaz de permitir uma
ação rápida ante as dificuldades apresentadas. Tanto a organização quanto o
profissional – a primeira com intenção e vontade de investir na formação adequada a
esse mercado, e o segundo, disposto a assumir um processo de formação
permanente e continuada – são instados a desenvolver novas formas de
relacionamento e de comunicação entre eles.
A importância do incentivo ao surgimento de lideranças se estabelece como
uma necessidade para ambos. Arruda, Chrisóstomo e Rios (2008) percebem que
profissionais que possam agir como líderes são imprescindíveis na organização
contemporânea. Os mesmos pesquisadores consideram ainda que, para o
colaborador, exercer a liderança é a oportunidade de efetivação de um perfil de alta
competitividade no mercado de trabalho. Da interação entre eles podem surgir novas
formas de agir: a organização, na valorização do capital intelectual; e o colaborador,
no engajamento com a proposta apresentada por ela como modo de sobreviver.
Assim, o relacionamento e novas formas de comunicação assumem um papel que
torna diferenciada a atuação da organização no ambiente corporativo. Entre as
técnicas surgidas, a mudança da maneira de efetivar a educação corporativa parece,
para alguns pesquisadores (Almeida, 2010; Janini, 2013; Kugelmeyer, 2013; Coronato,
Oliveira e Ciscati, 2013), ter maior eficácia na tentativa de suprir o mercado
contemporâneo de profissionais diferenciados e apresentar organizações criativas e
inovadoras.
Steinberg (2008) defende que a ação e a prática profissionais se alteram de
forma significativa na sociedade moderna. O seu desempenho pode afetar a
governança das organizações em um mercado que “explode e demanda qualificação”.
Essa perspectiva é o ponto de início de mudanças que, aos poucos, as organizações
enxergam como necessárias de serem buscadas para melhor formação do
colaborador. Considera-se que esse posicionamento, de forma consequente, permite
estabelecer novas formas de melhorar o atendimento ao cliente. Clientes satisfeitos
tendem a se tornar fiéis à organização e atuar em uma das mais eficientes formas de
marketing, o “boca a boca”, que tem grande efeito, principalmente, nas redes sociais
(Facebook, Linkedin, Twitter).
Os conselhos de administração, organismos que dirigem os trabalhos, são
criados a “toque de caixa” em todos os níveis de atuação. É um fato que acontece na
totalidade d as organizações modernas, independentemente de seu tamanho. Grande
parte das orientações emanadas desses conselhos diz respeito à formação
profissional diferenciada. Departamentos de T&D são desativados e universidades
corporativas estabelecidas sem muito critério (Meister e Willyerd, 2010). Essas
decisões, se necessárias, não devem ser tomadas de forma precipitada, pois podem
levar a organização a uma aventura de resultados desastrosos representados pela
perda de confiabilidade de seus colaboradores, quando se levam em conta as grandes
expectativas que cercam a universidade corporativa.
Essa é uma visão de um micromundo pessoal, ou de alguma organização,
quando consideradas individualmente. No momento em que é expandida e se desloca
para a sociedade como um todo, tal visão minimalista,voltada para manutenção da
empregabilidade, adquire contornos diferenciados. Eles levam em conta a
necessidade da erradicação da pobreza, a efetivação da inclusão social e do propósito
que todas as sociedades consigam atingir desenvolvimento econômico sustentável.
Ambas as visões podem ser consideradas como molas propulsoras para novos
comportamentos de profissionais e organizações. Eles passam a enxergar, como
constatado por Mariotti (2010), que é necessário movimentar potenciais criadores e
transformadores, o que somente pode acontecer a partir de uma formação
diferenciada que as instituições de ensino não proporcionam, seja pelo seu imobilismo
quer por sua baixa integração com o mercado de trabalho. Pontos de vista de
diferentes pesquisadores na área da administração convergem para um ponto comum.
Antes de desqualificar a relevância da educação formal, as críticas que se
fazem à sua efetivação destacam a importância de que ela ocorra em padrão de
qualidade diferenciada em relação ao que hoje é possível perceber no mercado. É
cada vez menos compreensível a separação que existe entre o acadêmico e o
corporativo (Dornellas, 2009), este em um processo de inovação sem precedentes,
ainda que atividades educacionais não sejam propriamente uma novidade
organizacional. O que pode ser considerado uma novidade é atender a uma exigência
que não vem sendo cumprida: o cuidadoso planejamento da educação corporativa.
É preciso reconhecer que as mudanças constantes impostas pela evolução
tecnológica e a consequente necessidade de novas competências e habilidades
exigem formação permanente e desenvolvida de modo continuado. Esse é um
posicionamento necessário para valorização dos colaboradores. É uma atividade cujo
ponto de partida deve ser tomado pelo departamento de gestão de pessoas. Segundo
Kouzes e Posner (2008), o profissional sempre parte de seu curso de formação
profissional, a qualificação formal, para então prosseguir a carreira com outros
(especialização ou livres). Arruda, Chrisostomo e Rios (2008) dá uma ênfase particular
de que são eles que completam qualificações tácitas e a atitude comportamental. O
profissional não está desamparado em termos de possibilidades existentes, entretanto
muitas vezes esbarra em considerações incorretas que consideram cursos de
formação pessoal e profissional um centro gerador de custos e não uma área de
investimento.
Esse é um binômio referente à formação de competências e habilidades e
representa uma nova forma de gestão por competências que aos poucos toma o lugar
de outros processos de avaliação. Segundo Fernandez (2013), a busca pela eficiência
é o motivador para essa nova forma de enxergar o desempenho profissional e
valorizar o recurso humano disponível. Esse modo de repensar o profissional,
colocado na sociedade contemporânea como profissional do conhecimento (Drucker e
Marciarello (2005), busca dar estabilidade às organizações. A instabilidade se
apresenta marcada por um sentimento de incerteza diante do elevado grau de
competitividade apresentado no mundo globalizado em que elas vivem. A
sobrevivência delas exige flexibilidade para se adaptarem a mudanças que acontecem
em um ritmo acelerado e que não encontram similar em nenhuma das civilizações que
nos antecederam.
Debates acadêmicos colocam e discutem a defasagem entre o que as
universidades ensinam e o que o mercado de trabalho requisita. Isso ocorre não
somente porque diretrizes curriculares nacionais estão fora de sintonia com o que se
demanda, mas também em virtude de posturas adotadas por professores e alunos
ante os problemas colocados por essa realidade. Fica claro, portanto, que não
podemos creditar essa defasagem apenas ao dinamismo do mundo do trabalho; há
uma falha por parte dos alunos que não exigem que os conteúdos tratados preencham
as suas necessidades. A mesma atitude se repete com os professores, muitos dos
quais dedicados apenas à vida acadêmica, o que faz com que se afastem cada vez
mais do mercado de trabalho. Nóvoa (2014) considera interessante que, na prática
docente, haja uma perspectiva mais centrada no contato com o mundo corporativo..
Muitos escondem a incompetência ou a falta de vontade por trás de uma posição
acadêmica voltada contra o mercado de trabalho. Demo (2011) sugere que essa talvez
seja uma das principais razões, dentre as diversas possíveis, colocadas como
justificativa para que as instituições de ensino, em todos os níveis, não estejam
adequadas ao mercado de trabalho. Elas não apresentam flexibilidade e não mudam
com a velocidade requerida.
Existem diversas alternativas no vasto leque das opções existentes para que
essa defasagem seja eliminada. A principal delas se destaca como capacitada a
facilitar uma mudança que se impõe como radical: o uso da tecnologia educacional de
forma extensiva e ostensiva. É uma postura considerada pelos estudiosos da
Associação Brasileira de Tecnologia (ABT)1 como a aplicação da tecnologia em
consonância com ideias didáticas e pedagógicas para produzir um melhor nível de
ensino e aprendizagem. As posições adotadas no 45º Seminário Brasileiro de
Tecnologia Educacional, ocorrido em junho de 2013, deixaram esse posicionamento
estabelecido de forma clara e inequívoca. O termo da tecnologia educacional não deve
ser considerado sinônimo de tecnologia da informação, como erroneamente algumas
pessoas enxergam. A tecnologia digital abrange o conjunto de toda a diversidade de
soluções tornadas possíveis com o uso de recursos de computação; já a tecnologia
educacional está focada especificamente na criação de mecanismos que facilitem o
acesso das pessoas ao conhecimento e lhes deem condições para que desenvolvam
trabalhos com conforto nos ambientes enriquecidos com a tecnologia.
Vista sob esse ângulo amplo, a tecnologia da informação engloba hardware,
software e seu estudo, o que não é objeto de propostas educacionais. A tecnologia
educacional é mais uma forma de aproximação – e é isso que precisa ser destacado –
entre a tecnologia e a educação para que se tenha maior aproveitamento social e
educacional. Com base nessa visão, é fundamental que seja assegurado e facilitado o
acesso das pessoas à informação e à orientação profissional, para que as boas
práticas sejam corretamente projetadas e extensivamente utilizadas. Enquanto essa
realidade não é alterada, resta, para a organização dissociada da academia ou não
1 Para mais informações sobre o que defende a Associação Brasileira de Tecnologia, ver: <http://abt-br.org.br/>. Acesso em: 18 out. 2014.
atendida por ela, assumir a formação das competências e habilidades de que
necessita nos seus colaboradores.
Nunes (2009) observa que está cada vez maior a defasagem entre o que a
universidade forma e o que o mundo corporativo exige:
Por mais que as faculdades corram atrás, existe uma certa defasagem entre o que é ensinado e o que o mercado de trabalho exige, devido ao dinamismo do mundo organizacional. Diante dessa situação, cabe aos alunos agirem de forma a se inteirarem sobre o que está acontecendo no mercado de trabalho em sua área de atuação, para que saibam das mudanças que nela ocorrem. (2009, p1.).
Aos poucos vai se criando um abismo que faz com que a instituição de ensino
não mais atenda às novas necessidades do mercado. Isso provoca frustração no
aluno, que tinha expectativa de uma formação adequada às características do
contexto corporativo. Esse sentimento também se estende para a organização:
gradativamente ela deixa de acreditar na academia como fonte de profissionais
preparados para enfrentar o mercado em condições e permitir que ela mantenha o
nível de competitividade.
Essas frustrações reforçam a ideia da implantação da universidade corporativa.
Entretanto, quando esta surge em resposta a expectativa de resolver uma deficiência
da instituição de ensino superior, problema estrutural que não é de sua
responsabilidade, já peca em seu nascedouro. Um olhar crítico, menos afetado pelo
entusiasmo com a nova tecnologia, enxerga esse surgimento como um complemento
de formação que se dá devido às características do mercado contemporâneo.
Ao ter como pretensão substituir a universidade tradicional, o que, segundo
Eboli (2004), é uma percepção incorreta, a universidade corporativa perde a
perspectiva de atuar como complemento ao processo de formação profissional em
uma atuação conjunta com a academia. Há um risco poucas vezes calculado de dar
ao patrão um instrumento ideológico de alta força. Independentemente de receios que
possa haver, trazer a instituição de ensino superior para o interior do mercado
corporativo e levar para a academia profissionais e um conjunto de melhores técnicas
tem sido um dos sonhos acalentados por muitos docentes e administradores. Essa
seria uma união com grandes possibilidades de beneficiar todos os envolvidos: a
instituição de ensino; as empresas; os profissionais que podem formar competências e
habilidades que não são parte da educação formal por seu caráter inovador; e a
sociedade em geral. A extensão da proposta para toda a cadeia de valor
organizacional permite antever bons resultados no desenvolvimento das atividades
comerciais das organizações.
Por outro lado, a universidade corporativa não tem o mesmo foco da
tradicional. Trata-se de instituições pertencentes a mundos diferentes, com
perspectivas particulares e que não casam entre si. De um lado, a academia defende
ter uma missão a cumprir na formação para cidadania; de outro, a universidade
corporativa tem como foco formar o profissional para a competitividade. A união entre
o social e o capital, se bem que desejada de forma intensiva, não ocorre de forma
natural e espontânea. Unir as duas visões em um propósito comum não é algo simples
– isso é provado pelo privilégio que tem a onda neoliberal que preconiza a
remuneração do capital, em detrimento de lutas por causas sociais. Conseguir tal
intento seria uma vitória que muitos não enxergam como possível. Dejours (2011),
Giddens (1991), Chesnais (1996) e outros pesquisadores sociais já ressaltaram em
suas obras os interesses irreconciliáveis e divergentes entre o capital e o social.
Eboli (2004) considera que as instituições de ensino superior pertencem ao
sistema educacional formal, e as universidades corporativas fazem parte do sistema
de gestão das organizações. Elas apresentam traços distintos sob qualquer ângulo
analisado. A pesquisadora pontua outra diferença fundamental quando observa que a
academia desenvolve as competências e habilidades para o mundo do trabalho, e as
universidades corporativas voltam-se para o mundo dos negócios. É uma
diferenciação necessária e que preserva o a definição das instituições de ensino.
A aprendizagem tem escopos variados. As instituições educacionais baseiam
sua atuação em formação conceitual, sólida e universal; as universidades
corporativas, por sua vez, proporcionam aprendizagem focada na prática de negócios,
que busca eficácia e brevidade na formação, outro aspecto que define por que é difícil
conciliar as duas perspectivas. As instituições educacionais desenvolvem a cultura
acadêmica, já as universidades corporativas priorizam a cultura organizacional, o que
também explica a sua diferença em termos éticos e humanistas. Em termos de
formação, as instituições educacionais formam cidadãos competentes para gerar o
sucesso da instituição e da comunidade, e as universidades corporativas preparam
cidadãos competentes para alcançar o sucesso das organizações e dos clientes,
escopo reduzido em relação à ação da universidade tradicional.
As colocações da pesquisadora recolocam as coisas em seu devido lugar.
Cria-se uma visão que permite antever a possibilidade de que, com pequenas
mudanças que atingem mais o comportamento dos atores, alunos e docentes, é
possível estabelecer uma integração entre essas duas instituições sociais: a academia
e as empresas. Isso é desejável em grande parte dos ângulos pelos quais pode ser
observado um relacionamento entre elas.
É nessa perspectiva que este livro trata do tema da educação corporativa. Para
efeitos de não mais dissociar as instituições sociais citadas considera-se que é
possível tratar a educação corporativa pela academia. A questão colocada é saber por
que essa visão traz vantagens, tanto para o profissional quanto para a sociedade. Isso
antecipa o que é uma proposta exigida pelo mercado de trabalho: a união de esforços
desenvolvidos pelas organizações em conjunto com as faculdades, centros
universitários e universidades. Para melhor integração escola e mundo do trabalho é
interessante levar especialistas, mestres e doutores para o ambiente corporativo, com
o objetivo de dar uma visão didática e pedagógica necessária a respeito dos
processos de formação desenvolvidos nas universidades corporativas. Por outro lado,
é importante, também, com a mesma proposta, estimular a presença de profissionais
altamente qualificados do mercado de trabalho para a academia.
1. A educação corporativa
O capítulo discorre sobre um aspecto ao qual a organização não pode mais se furtar de considerar em seu planejamento estratégico, principalmente em face da necessidade de mudança da cultura organizacional de treinamento para aprendizagem, o que altera de forma significativa a proposta de formação interna de pessoal.
A proposta de criação da universidade corporativa se mostra de acordo com a
posição adotada por Eboli et. al (2011) que pontuam a educação corporativa como
uma estratégia competitiva de alto valor para a organização contemporânea. Ela surge
como imposição de um mercado que precisa de profissionais cada vez mais criativos,
dispostos a enfrentar o novo sem receio de coerções e com elevada capacidade para
atuar na solução de problemas. É uma situação que orienta uma série de novos
comportamentos e atitudes, não somente proveniente dos setores estratégicos da
organização, mas que também envolve a necessidade de comprometimento dos
colaboradores, colocados como elo de uma cadeia de valor organizacional que inclui
fornecedores, clientes e o público externo.
Assim, a educação corporativa se sujeita a uma nova dinâmica. Ela é
necessária na formação do profissional do conhecimento e constitui uma atitude ainda
não apropriada pela universidade tradicional. Esta se encontra embaraçada com as
próprias dificuldades, nas idas e vindas de comportamentos e atitudes que se
transformam em um labirinto o qual consome tempo e esforço para ser percorrido.
Esse é um dos aspectos que fazem com que os egressos do sistema tradicional de
ensino não estejam preparados para o que o mercado realmente necessita. O
pressuposto da sujeição da academia às necessidades do mundo corporativo não se
efetiva quando é possível observar que existem habilidades que este exige para as
quais a instituição de ensino superior não prepara (Abrantes, 2013). É para formação
dessas competências e habilidades que a universidade corporativa olha com mais
atenção.
O desempenho individual supera a visão das organizações tradicionais e
sugere a necessidade de que elas sejam estabelecidas como as que aprendem.
Segundo Senge (2010), trata-se de um novo tipo de organização que permite que um
processo de aprendizagem contínua e de criação de novos conhecimentos seja
estabelecido, no qual a hierarquia passa a ser coisa do passado e é trocada por uma
estrutura descentralizada e baseada em grupos e projetos. As considerações do autor
destacam a possibilidade de que as pessoas possam se expandir e aprender.
Ao defender essa ideia o autor aponta para uma organização que se estrutura
segundo dimensões claramente estabelecidas e que se caracterizam pela:
criação de significado e localização estratégicos para a aprendizagem no
interior da organização;
união que advém da formação de equipes coesas e que desenvolvem
trabalhos em conjunto em sua delimitação física que é expandida para toda a
organização em um processo contínuo de disseminação de conhecimentos;
formação de uma cultura de aprendizagem e disseminação na qual cada um
dos colaboradores se torna um elemento adaptado a uma nova dimensão de aprender
e ensinar.
A partir dessa visão, as organizações se colocam em condições de estabelecer
um novo programa de formação corporativa. Resultados reportados, observados em
algumas iniciativas, revelam uma sensível melhoria no desempenho dos
colaboradores internos. Para elas, a valorização do capital intelectual deixa de ser
uma perspectiva teórica e se transformar em uma vivência diária. Stewart (1998)
pontua que na atual conjuntura da economia mundial não são mais as máquinas
utilizadas que definem a competitividade das empresas no mercado, mas sim a soma
do conhecimento coletivo gerado, considerado capital intelectual. Pelo menos no
interior do trabalho, uma das dimensões da vida de qualquer pessoa, o conhecimento
deixa de ser um bem privado e propriedade de poucos para se tornar um bem público.
Não é incomum que essa mesma perspectiva acabe sendo adotada pelos
profissionais na vida pessoal.
Para a adoção desse conceito as organizações buscam estabelecer estratégias
que adequem a forma de atuação delas. Isso é necessário para que se tornem
capazes de acompanhar a velocidade das mudanças que o mercado impõe. Nesse
sentido, capacitar os empregados para que também tenham essa condição é posto
como objetivo principal. Novas formas de relacionamento se estabelecem entre
patrões e empregados as quais são alteradas pela necessidade de investimento na
capacitação dos colaboradores. Isso ocorre não somente por questões gerenciais,
voltadas para melhores práticas administrativas, mas principalmente pelas pressões
provenientes das demandas do mercado.
Uma nova visão da economia é trazida no rastro dessas imposições. Para
Chiavenato (2008), as empresas bem sucedidas estão se transformando devido à
valorização do capital intelectual. São utilizadasa capacidade das pessoas em
aprender e a das organizações em motivá-las para que trabalhem na perspectiva da
disseminação desse conhecimento. Nesse contexto surge a universidade corporativa,
voltada para oferecer um complemento de formação que os programas dos cursos da
educação formal não preveem em seu currículo.
A expansão da universidade corporativa alerta a instituição de ensino superior
para revisar os currículos e verificar a sua adaptação às necessidades do ambiente
corporativo. Assim é possível maior sintonia da universidade com as grandes
transformações que acontecem no mundo contemporâneo as quais afetam todas as
organizações e principalmente aquelas voltadas para a formação das pessoas. Esse
desenho permite que cresça aesperança de uma integração entre o compromisso
social demonstrado na missão da academia e a preocupação financeira, inevitável nas
organizações em virtude da pressão de seus stakeholders, que são as pessoas ou
organizações interessadas no sucesso de qualquer empreitada por estarem financeira
ou socialmente envolvidas.
Assim, surge uma nova visão da educação corporativa, estabelecida pelas
universidades corporativas como evolução da experiência das empresas. É ela que vai
atuar no sentido de que essa experiência, adquirida no trabalho, com programas de
treinamento e desenvolvimento, seja o embrião das referidas universidades. Com essa
perspectiva, a educação corporativa se volta para a criação de competências e
habilidades pontuais nos colaboradores, agora considerados, por extensão,
fornecedores, clientes e a sociedade.
O livro que você tem em mãos tem essa preocupação principal: orientar as
organizações na criação de programas de formação diferenciados, os quais podem ser
ofertados na modalidade presencial ou com utilização da educação a distância e da
Internet. São tecnologias educacionais postas como potentes auxiliares para um
processo de democratização do acesso ao conhecimento. A universidade corporativa
e o programa da educação corporativa passam a ser considerados a personificação de
uma nova filosofia de aprendizagem adotada pelas empresas.
Desse modo, elas tendem a implantar um ambiente mais propício ao
enfrentamento do novo e ao estabelecimento de novas ideias. Isso vai ocorrer com a
perspectiva de melhoria na amplitude da produção e divulgação interna do
conhecimento criado por todos os colaboradores. Estrutura-se um processo
diferenciado de gestão do conhecimento (KM – Knowledge Management) e de busca
da qualidade total (TQM – Total Quality Management). A gestão do conhecimento é
tida por Davenport e Pruzak (2001) como a modelagem dos processos corporativos de
uma organização, com bsse no conhecimento que ela tem, utilizada para monitorar de
forma mais efetiva o ambiente interno e externo (mercado, cadeia de valor etc.). A
consequência é a orientação dos procedimentos internos no sentido da obtenção da
qualidade total, conceito que, segundo Harris (2014), facilita as empresas a reduzirem
custos e ainda assim aumentar o número de clientes satisfeitos, invertendo a lógica de
que queda nos gastos e qualidade são objetivos incompatíveis.
Trata-se de uma proposta que além de privilegiar o crescimento das
capacidades produtivas tende a diminuir os desperdícios e a rotatividade dos
colaboradores. Esse é um dos grandes problemas para o qual apenas agora as
organizações estão se voltando e que impede o desenvolvimento de trabalhos mais
consistentes e produtivos. O comprometimento de funcionários pode levar a resultados
que coloquem as corporações como uma das líderes do mercado. Aquelas assim
reconhecidas tornam-se locais procurados pelos talentos em áreas do conhecimento
específicas.
As instituições sociais precisam acelerar o ritmo com que aprendem. A
educação corporativa tende a afastar processos de estagnação e pode recolocar as
organizações em um caminho evolutivo e evitar que sejam ultrapassadas pela
concorrência. As atividades de espionagem industrial, nos dias atuais, recebem um
nome menos agressivo – inteligência competitiva – e correspondem à observação, na
grande rede, do que os outros fazem com intenção de fazer melhor, o que pode ajudar
as empresas a readequarem processos de produção de produtos ou serviços. A
divulgação de resultados nas redes sociais tende a aproximar as pessoas das
organizações que têm como características o investimento social na formação do
capital intelectual e sua valorização. Sob todos os aspectos, investimentos em
educação corporativa trazem bons resultados.
2. Características da educação corporativa
Para que se tenha uma melhor compreensão da educação corporativa é necessário o conhecimento de suas características e do contexto que orienta e justifica alterações em atitudes e comportamento das organizações.
Foram mudanças no mundo do trabalho que estabeleceram os parâmetros
para a criação da educação corporativa. A evolução tecnológica criou condições para
o estabelecimento de uma estrutura virtual para a universidade corporativa. É possível
observar algumas características claramente estabelecidas, e conhecê-las é
recomendável, sob todos os aspectos, para toda e qualquer organização que tenha a
pretensão de modificar os departamentos de T&D e implantar uma universidade
corporativa.
O principal objetivo de uma universidade corporativa já revela a sua diferença
em relação ao que propõe a instituição de ensino tradicional. Ela está voltada para
desenvolver um conjunto de competências profissionais, técnicas e gerenciais
consideradas essenciais pelo consenso do mercado (individual core competences).
Agregar valor ao negócio da organização e divulgar ao mercado as vantagens de
potencialização do componente humano secundam em importância a formação
dessas novas habilidades.
O principal indicativo a ser mensurado pelos responsáveis é a resposta ao
questionamento: Qual o efeito de um programa de educação corporativa no
desempenho dos colaboradores? Qualquer desvio que leve a resultados inesperados
revela um erro na escolha dessa estratégia. É normal a criação de um cargo –
inexistente em algumas organizações – voltado especificamente para a análise desse
programa (vamos falar sobre ele neste livro). O Chief Learning Officer (CLO), que
poderia ser traduzido como algo parecido com “chefe do escritório de aprendizagem”,
é quem assume papel de destaque. Parashar (2014) considera a função como de alta
classificação e de importância-chave na organização, pois quem a ocupa coordena o
plano de treinamento e formação de competências e habilidades nos programas
internos efetivados na universidade corporativa. A ausência dele transforma em uma
loteria a obtenção de sucesso na iniciativa. Há necessidade de acompanhamento
constante e estabelecimento de metas claras que devem ser perseguidas de forma
incessante.
Um ponto de discussão que interessa levar em conta diz respeito ao
posicionamento da universidade corporativa em relação à desregulamentação de
algumas áreas da educação. O mercado passa a considerar como decisão interna de
cada organização a formação complementar, fato que diminui a interferência que
órgãos reguladores da educação em nosso país têm sobre a escolha de conteúdos e
até de maneiras de efetivar o processo. As necessidades do mercado têm na
universidade corporativa uma aliada. Por outro lado, apesar de que a educação
corporativa tem como principal visão o investimento no colaborador, limitar o escopo
apenas à obtenção de melhores resultados financeiros em sua atuação no mercado é
insuficiente e constitui o melhor caminho para o insucesso da iniciativa. É preciso
aceitar o fato de que na educação corporativa também valem muitos dos pressupostos
vigentes para as instituições de ensino e que devem estar presentes. Entre eles,
destaca-se o humanismo, postura filosófica que, segundo Rogers e Kinget (1975),
coloca o homem como capaz de tomar consciência de sua experiência, avaliar,
verificar e corrigir seus erros. Ele pode interferir de forma decisiva no engajamento do
colaborador com as intenções da organização.
A reciclagem profissional e a atualização técnica precisam ser levadas em
conta. Por detrás disso, deve estar ativo o interesse de formação humana do
colaborador e do atendimento às necessidades sociais dele como colocadas por
Maslow (Maslow citado por Ferreira; Medeiros; Gimenez, 2010). Os pesquisadores
assinalam que Maslow destaca que os indivíduos possuem diferentes necessidades
de motivação e quando estas são atingidas, eles aumentam o grau de satisfação e, de
modo consequente, podem apresentar melhoria no desempenho de suas atividades, o
que justifica sua aplicação por meio de uma melhoria na formação profissional.
Organizações que se voltam para a educação corporativa, de modo geral já têm uma
proposta desenvolvida durante anos em seus programas de T&D. Elas sabem,
também, sobre a ausência da formação necessária no profissional egresso das lides
universitárias. Assim, já têm experiência necessária para não se lançar em uma
aventura que pode custar caro. O insucesso em um programa de educação
corporativa pode ser fatal para as empresas em tempos de redes sociais ativas e tem
influência no comportamento dos consumidores.
A percepção da empresa como organização que aprende (Senge, 2010) traz a
possibilidade da transformação dela em escola. Na outra ponta, há diversos
programas de formação de administradores escolares nos quais se enxerga que a
escola tem que demonstrar eficiência e caminhar em direção ao mercado, o que,
segundo Veiga (2007), será possível com uma gestão eficiente, estruturada de acordo
com padrões de administração vigentes no mercado, sugerindo uma nova escola, que
se comporta cada vez mais como uma empresa. Essa visão representa uma proposta
benéfica no sentido de que pode permitir uma integração, na qual não haja mais a
separação entre a universidade tradicional e a corporativa.
2.1 Cuidados para a efetivação correta da educação corporativa
Nossa preocupação neste livro é a de evitar que a opção pela educação
corporativa seja efetivada de forma incorreta. Por isso, é bem-vinda uma orientação
que conscientize as empresas em termos de:
compreenderem a ideia da educação corporativa e da universidade corporativa
como potente auxiliar que pode alavancar uma integração maior entre os
colaboradores e a estratégia organizacional, para a aquisição de elevado nível de
competitividade no mercado contemporâneo;
adquirirem fundamentação teórica necessária e suficiente para alicerçar os
trabalhos de estabelecimento dessa nova ideia no interior delas, sem descuidar de
eventuais impactos que possam vir a ter se não houver um correto planejamento;
apropriarem-se de procedimentos metodológicos que caracterizem o estudo
como resultado de uma necessidade delas e não apenas mais um modismo, dos
muitos pelos quais o mercado corporativo acabou por pagar elevado preço;
conscientizarem-se da necessidade de um roteiro estruturado e que atenda às
reais necessidades de melhoria do fluxo de trabalho e racionalização das atividades,
para que os resultados sejam atendidos de modo mais eficaz e provoquem melhorias
na produtividade da organização;
levarem em consideração as experiências do mercado, que estão disponíveis
para estudo, com base em grande número de organizações que já trilharam com maior
ou menor grau de sucesso o caminho que se propõem a trilhar depois de terem
decidido adotar novas formas de efetivar a educação corporativa.
Não há mais como negar a importância da educação corporativa para as
organizações nos dias atuais; ignorá-la como se fosse mais um modismo demonstra
falta de sensibilidade com as demandas vigentes. A análise constante do mercado de
trabalho é quem pode direcionar quais ações são mais interessantes para a
implantação da ideia.
3. O mercado de trabalho
O mercado de trabalho, contexto no qual as alterações comportamentais acontecem no procedimento das organizações contemporâneas, é aqui analisado para que uma melhor compreensão dos fatores motivadores, alguns colocados como imperativos que devem ser atendidos.
Um olhar para este mercado de trabalho nos fornece o formato ideal de
configuração para a universidade corporativa, a base da educação corporativa, como
proposta neste material. A educação a distância é a abordagem mais comum, e a
Internet parece ser o novo locus da educação corporativa. Tudo o que o colaborador
possa aprender e que lhe dê suporte teórico e traquejo técnico deve ser incentivado
na forma de aprendizagem independente. Todas as atividades aprendidas de modo
teórico devem ser complementadas na prática. A defasagem entre esses dois
momentos deve apresentaro menor diferencial de tempo possível. A inércia natural
no comportamento do ser humano pode colocar a perder toda uma atividade de
formação ou de simples treinamento.
No mundo corporativo é possível identificar diversas iniciativas de criação de
universidades corporativas. Apesar de poderem ser acessadas de forma
relativamente livre, a divulgação de resultados mostra apenas as experiências de
sucesso, o que torna mais dificultada a tarefa de estabelecer “melhores práticas” a
serem seguidas em contextos semelhantes. A concorrência e a ocultação de
resultados ainda caracterizam o comportamento das universidades corporativas
existentes hoje. Toda e qualquer proposta de alteração na educação corporativa está
baseada na criação do profissional do conhecimento, tornado recurso mais
importante em uma nova economia: a economia do conhecimento. A importância do
tema faz com que ele seja colocado como base de estudo de reuniões de
especialistas, como o que aconteceu no Fórum Nacional de Altos Estudos (INAE)
desenvolvido em setembro de 20132. Estudos desenvolvidos por Edmondson e
Schein (2012) permitem chegar a algumas conclusões sobre o conhecimento:
Ele pode ser transmitido e a partir de um ponto na cadeia de evolução temporal
adquirir a capacidade da autorreprodução.
Ele pode ser substituído – e normalmente o é quando novas técnicas surgem.
Ele pode ser transportado para onde se desejar, principalmente em uma
2 Para saber mais sobre o Fórum Nacional: Instituto Nacional de Altos Estudos, ver: <http://www.forumnacional.org.br/sec.php>. Acesso em: 17 set. 2014.
sociedade que se caracteriza pelo rápido fluxo da informação em todas as direções na
grande rede mundial de computadores.
Ele pode ser compartilhado, o que caracteriza a proposta da organização que
aprende: disseminar o conhecimento entre o maior número de pessoas.
Franco e Barbeira (2014) analisam o mercado e enxergam o conhecimento
organizacional como elemento para efetivação de alianças consideradas estratégicas,
desenvolvidas por meio da partilha dele. Assim o conhecimento atua como estímulo
para a inovação e novas possibilidades da aplicação. É o que traz o desafio do novo
sempre constante e presente. As possibilidades de reprodução imediata de inovações,
e, algumas vezes, de forma mais dirigida e orientada que o impacto inicial, exige a
inovação constante, que difere do conceito de mudança, não necessariamente
apoiada no conhecimento, como a inovação exige. A filosofia do “nada se cria, tudo se
copia”, utilizada pela indústria oriental, revela o poder da capacidade de observação.
Mas não basta fazer: é preciso fazer o melhor. O desenvolvimento de um
benchmarking é considerado por Camp (1993) como uma das melhores práticas na
indústria, visto como um processo de exame de funções com a finalidade de
desenvolver a mesma função de forma mais eficaz.
Esse ambiente está marcado pela gestão do conhecimento e pela busca da
qualidade total, o que exige um processo diferenciado e necessário para a
organização no ambiente corporativo. O mercado está marcado por uma frase feita:
a única certeza é a incerteza. Demo (2000) analisa com maior profundidade esse
aspecto, cujo conhecimento pode preparar e orientar a empresa no sentido de
considerar acertadas as medidas para formação dos colaboradores com vistas ao
enfrentamento dessa condição. Esse mote se tornou o direcionador de
comportamento de muitos profissionais que se especializaram em criar novos
conhecimentos, em situações nas quais não se pode ter uma correta previsão do
futuro e se impõe elevado grau de criatividade. Mas esta não escapa do
planejamento: ainda que possa existir o insight, trata-se de algo que pode ser
incentivado e obtido por meio de árduo treinamento.
Se no mercado ainda existem os centros de treinamento e desenvolvimento,
segundo estudos desenvolvidos por Berni (2013) há uma tendência de mudança
para o que espetacularmente algumas organizações chamam como “a
aprendizagem para o século XXI”. É um chamado direcionado aos colaboradores e
que lhes coloca responsabilidades nas costas. É o que acontece, ainda que muitas
empresas não tenham condições de suportar a mudança. De nada adianta uma
posição autoritária. É bom lembrar Takeuchi (2009), que ressalta que “a criação de
conhecimentos começa pelo indivíduo, passa pelo grupo até chegar à organização”,
o que revela o erro de decisões tomadas de cima para baixo. O autor destaca que,
além do fato de que o indivíduo deve ter a formação na instituição formal de ensino,
o aprimoramento profissional complementar pode lhe dar maiores recursos de
competitividade. Mas o que não pode ser ignorado é que o colaborador somente
participará ativamente e do modo desejado de qualquer programa de formação se
enxergar algum benefício próprio. Quando isso ocorre, ele pode vir a prestar
irrestrito apoio a todas as demais iniciativas que a empresa tomar.
Recomenda-se que a implantação da universidade corporativa, assim como
ocorre com todas as atividades administrativas estratégicas, deve estar apoiada em
um planejamento correto. Constitui um equívoco investir somente em casos
específicos, quando é detectada a necessidade de atualização de métodos,
processos, rotinas ou quando surgem novos produtos ou serviços. As formações
pontuais, sem um planejamento, apesar de necessárias e representar a aquisição
das competências e habilidades requeridas para seu desenvolvimento, não têm
sustentação. Os investimentos não trarão o resultado esperado se não houver um
programa claramente estabelecido, alguma coisa mais completa e que esteja
relacionada diretamente com um plano de carreira e de incentivos interno.
Adotado o caminho correto, deve-se observar o mercado e o que ele tem
feito. Meister (1999) realizou um estudo comparativo até hoje utilizado no qual
relaciona as diferenças entre a educação corporativa (universidade corporativa) e os
departamentos de T&D tradicionais. É uma visão de interesse para nosso estudo
por estar apoiada em observações de diversas iniciativas de sucesso em
organizações americanas, além de significar um ponto de referência que pode
justificar a adoção dessa solução pelas empresas. As diferenças estão apontadas
no Quadro 3.1.
Quadro 3.1 –
Características Centro de T & D Universidade corporativaLocal Instalações da instituição
em horários específicosAprendizagem disponível sempre que solicitada. A qualquer lugar, a qualquer hora
Objetivo Atualizar qualificações Desenvolver competências básicas do ambiente de negócios
Metodologia Aprender ouvindo Aprender agindo
Público-alvo Funcionários internos Equipe de funcionários, clientes e fornecedores de produtos
Corpo docente Professores/consultores de universidades externas
Gerentes seniores internos e um consórcio de professores universitários e consultores
Frequência Eventos únicos Processo contínuo de aprendizagem
Meta Desenvolver o estoque de qualificações do indivíduo
Solucionar problemas organizacionais reais e melhorar o desempenho no trabalho
Fonte:Meister,1999.
Não é difícil concluir que a educação corporativa e o treinamento
proporcionado pelos departamentos de T&D diferem de forma básica e fundamental.
Se fosse inserida uma quarta coluna que levasse em conta a faceta humanista da
instituição de ensino superior, seria possível verificar uma grande diferença nas
propostas. Outro fator que se destaca quando observamos o mercado de trabalho é a
insuficiência da formação tradicional como suporte para toda a vida profissional. É
cada vez maior a velocidade das inovações, o que faz com que todos os profissionais
se vejam, a partir de determinado momento, sob a imposição de uma formação
complementar. Se tal situação ainda não aconteceu, certamente o será. Além disso, é
provável que ela atinja indistintamente a qualquer dos colaboradores participantes da
cadeia de valor da organização. A educação tradicional, que estabelecia a vida em
duas etapas diferentes (o tempo da aprendizagem e o tempo da aplicação dela), agora
se transforma na formação para toda a vida e divide em múltiplas situações de
aprendizagem a necessidade de formação do profissional do conhecimento.
Silva (2013) considera que quando uma organização, para atender aos
desafios do mercado, resolve migrar para a educação corporativa, se dá início à
criação de uma cultura de aprendizagem no interior dela. A manutenção de tal cultura
depende dos vínculos estabelecidos entre as pessoas e a empresa. Por exemplo, o
relacionamento patrão e empregado muda de forma substancial. Alguns paradigmas
podem retornar à cena depois de sumariamente expulsos da arena de negócios. Um
deles diz respeito a um nível de fidelidade do colaborador com a organização, o que
existiu em tempos antigos e que com a industrialização e a evolução tecnológica
acabou por ser eliminado. É um sentimento que pode retornar, depende apenas da
atuação da organização. Fidelizar clientes está posto como uma das atividades que
caracterizam duas fases, a anterior à venda e a posterior a ela. É criada uma nova
área dentro das organizações, que trata da de gestão do relacionamento com o cliente
(Costumer Relationship Management – CRM) e que, segundo Quadros (2010), irá
continuar a ser cada vez mais ativa na próxima década. O CRM corresponde a uma
necessidade assinalada por Marcon (2008) a uma importante estratégia de negócio
voltada para o atendimento do cliente no que diz respeito ao atendimento e à
antecipação das demandas dele, o que supera a visão de coleta de informações que
permitem apenas dados estatísticos. O CRM envolve todo um trabalho de fidelização
do cliente.
A qualificação profissional agora ocorre em diversos campos do conhecimento.
Antes o indivíduo era generalista e passou, por exigência de maior produtividade, para
um perfil especialista ao máximo grau possível; agora vivencia a perspectiva de uma
especialização, que ocorre sem que perca de vista o geral. A especialização não
deixou de interessar, mas se dá em diversos campos. Não é incomum o deslocamento
de pessoas pelos mais diversos cargos no interior de uma organização; o acúmulo de
experiências diferentes se torna interessante, ainda que o profissional possa perder a
perspectiva de um conhecimento mais aprofundado, dedicado a uma única área.
Quando uma organização opta pela educação corporativa, uma das principais
recomendações é que, da mesma forma como está atenta às técnicas e habilidades,
ela tenha cuidados com o lado social e volte-se para atender aos anseios pessoais
dos colaboradores. O enterro sem pompas dos antigos departamentos de T&D dá
início, de forma definitiva, a um processo de formação descentralizado, direcionado
para um amplo público (interno e externo). Se assim acontece, a universidade
corporativa é o elemento de ligação que torna todo o processo novamente
centralizado. As coisas acontecem em um novo mundo do trabalho e baseiam-se em
novos formatos de negócios. Eles tem na criatividade a sua afirmação, e no poder de
inovar o atendimento das necessidades requeridas está sua empresabilidade. Assim,
a organização não pode mais continuar apoiada em centros de T&D defasados da
realidade. Se isso acontecer, ela corre o risco de repetir os erros cometidos pelas
instituições de ensino superior e que as trouxeram até a situação atual de não dar
conta das demandas do mercado.
Ben Hur (2013a, 2013b) aprofunda estudos na área de formação de pessoas
nas organizações contemporâneas, nos quais destaca, dentro do panorama
organizacional, o conceito de captação e assimilação do conhecimento. O colaborador
é transformado em capital intelectual das organizações, fato que agrega a ele
diferentes competências e habilidades. Ele se torna um ativo, ou seja, parte dos bens
da organização, contabilizado nos relatórios gerenciais como elemento importante de
seu valor. Torna-se um profissional valorizado e cuja manutenção interessa para a
organização. São trabalhos que recomendam que as organizações estejam
conscientes da necessidade, cada vez mais urgente, de destinar recursos para a
educação. Investir no colaborador, em sua qualificação e colocá-lo como parceiro e
elemento-chave na corporação é o caminho mais indicado. Assim ela pode
estabelecer um diferencial competitivo que não deve ser ignorado.
O autor considera, ainda, que a educação corporativa é poderosa auxiliar no
levantamento e no desenvolvimento das competências essenciais. Tudo começa no
nível do indivíduo, até atingir o nível estratégico do negócio. É um trabalho que,
quando realizado de forma planejada, pode dar à organização uma vantagem
competitiva de considerável importância em um mercado altamente agressivo e que
representa, tanto para o profissional quanto para ela a capacidade de se sobressair. É
uma situação que deixa espalhados pelo caminho os despojos de organizações
destruídas em uma luta que a educação pode tornar desigual. Não há apelo mais
significativo do que esse. A perda de competitividade é algo que tira o sono de todos
os estrategistas que ficam de plantão e mesmo assim não conseguem antever em
qual direção as coisas se encaminham devido à elevada instabilidade do mercado.
Muitos dos acertos devem-se à sorte, mas na grande maioria dos casos o que se pode
afirmar é que há uma grande possibilidade de que os fracassos obtidos aconteçam em
virtude da incompetência de se tomarem as decisões no tempo certo. É um fato que
pode ser creditado como consequência direta da falta de formação dos colaboradores.
O autor trabalha também na perspectiva de que, nos anos vindouros, a área de
T&D será um dos segmentos no interior das organizações que mais irá sofrer
mudanças. O substituto – pelo que tudo indica e de forma definitiva, a universidade
corporativa – irá tratar de assuntos de vital importância: gestão do conhecimento,
valorização capital intelectual, mensuração de resultados e estabelecimento de
recompensas. É uma grande responsabilidade.
A observação do mercado nos traz outra realidade. É frequente a intervenção
da tecnologia, de modo intenso e definitivo, sob todas as suas formas no processo de
implantação da educação corporativa. Mas ganha destaque uma de suas vertentes: a
tecnologia educacional. Com ela se torna real a possibilidade de realizar trabalhos de
maneira extensiva na criação de novas formas lúdicas, eficazes e catalisadoras de um
processo intensivo de participação e engajamento. Isso ocorre com a utilização de
materiais de estudo diversificados e diferentes abordagens do processo de ensino e
aprendizagem. Assim, não se pode fugir da possibilidade de oferta de condições
diferenciadas para que os colaboradores se tornem, de fato e de direito, verdadeiros
profissionais do conhecimento. Essa é a visão que o mercado oferece sobre as
universidades corporativas, tidas e havidas como um processo e uma mentalidade
que, a partir de sua implantação, passam a permear toda a organização e estimular as
pessoas ao compartilhamento de conhecimentos considerados críticos pelos gestores
dela.
3.1 Cuidados iniciais
O processo de formação de competências e habilidades para que o profissional
se torne mais competitivo e preencha uma série de necessidades para enfrentar os
desafios colocados para as organizações do mercado contemporâneo abandona a
simples atividade de “treinamento” de “recursos humanos” (termos em desuso). A
proposta da educação corporativa toma lugar com uma nova visão, mais abrangente,
do termo. Ela se afasta cada vez mais da percepção de que a educação dê um
possível domínio do patrão sobre o empregado, além de possibilitar a substituição dos
processos de educação formal pelas universidades corporativas. No fundo, há uma
perspectiva mais ampla, que chega ao nível de sua colocação como uma das formas
das empresas efetivarem parte de sua responsabilidade e autoridade social – a
primeira, delegada, e a segunda, adquirida. É uma proposta que insere a visão
humanista da universidade como um eixo temático a ser tratado em todos os
processos.
A valorização do colaborador toma lugar no palco em que se desenrola a troca
de vivências entre patrões e empregados. Ele passa a não mais ser visto como um
recurso, expressão em desuso conforme destacado no parágrafo anterior, e é tido e
havido como um real capital intelectual que, apesar de intangível, é real e passível de
comprovação no comportamento e atitudes dele e nos resultados de seus trabalhos. A
sua importância é fácil de ser percebida quando se demonstram os custos de
reposição de profissionais afetados pela rotatividade de mão de obra. Ignorar a
importância da retenção de talentos é considerado um dos grandes erros dos
processos de reengenharia aplicados às organizações do mercado corporativo.
A formação não envolve somente conhecimento de técnicas e melhores
práticas, mas também da organização e da cultura organizacional, o que somente
pode ser obtido pela vivência interna do colaborador; esta dá a ele condições
diferenciadas de desenvolver o trabalho. No mesmo palco, agora iluminado por novas
luzes, novas expressões, antes tidas como revolucionárias, são postas para
discussão. Entre outras inovações, se fazem presentes considerações sobre
comportamento ético e satisfação das demandas básicas dos seres humanos, coisas
caras a qualquer visão humanista do processo de formação e nem sempre desejadas
e cobertas pelo capital. O comportamento ético é uma recomendação filosófica, vem
de tempos imemoriais, mas sua efetivação tem sido omitida em algumas iniciativas. As
necessidades sociais estabelecidas por Maslow anteriormente citadas foram
responsáveis pelo estabelecimento de novas formas de relacionamento entre as
organizações e seus colaboradores. Se corretamente aplicadas, os resultados podem
ser facilmente comprovados na participação mais ativa e comprometida deles.
A aplicação da proposta de reconhecimento das necessidades sociais é um
dos aspectos que ainda gera muita discussão, posto que há uma falta de
compreensão de sua definição. Nos estudos da comunidade acadêmica sobre o tema,
existem divergências na aceitação total das propostas de Maslow. Correntes as
consideram defasadas em relação à realidade do mercado contemporâneo, com
exigência de atualização (Araújo, 2008). O pesquisador ressalta que é possível que
assim pessoas e organizações compreendam, de forma particular, a diferença entre
desejo e necessidade, como a teoria sugere. Todavia, pode-se considerar que o
atendimento a tais necessidades predispõe o colaborador a encampar como sua a
missão da organização. É a questão do comprometimento que faz com que ele se
engaje nas causas propostas pela empresa. Com essa atitude há uma tendência de
aumento de eficiência no âmbito do trabalho que o colaborador desenvolve. Trata-se
da primeira resposta ao fato de ter as suas demandas básicas atendidas. Ocorre uma
predisposição positiva que pode ser aproveitada e incentivada.
Observe na Figura 1 a pirâmide das necessidades de Maslow. A sua proposta
é aplicável a um grande número de áreas de conhecimento e está colocada logo no
começo deste estudo para que, durante desenvolvimento das propostas de
implantação de um processo de educação corporativa, se possa compreender a
importância de que esses desejos sejam atendidos. É preciso que a proposição a
respeito da importância de formação dos colaboradores, com competências e
habilidades vistas como necessárias na organização, não cause estranhamento
quando apresentada como estratégia. Essa é uma missão de um endomarketing bem
desenvolvido entre os colaboradores. Essa abordagem, considerada uma adaptação
de estratégias do marketing tradicional utilizado na divulgação dos produtos ou
serviços da organização, tem o objetivo definido de engajar o colaborador.
Figura 3.1 – Pirâmide das Necessidades de Maslow
Fonte: Recursos-Humanos, 2012.
As necessidades referidaspodem ser detalhadas como:
1. Fisiológicas – As necessidades fisiológicas são satisfeitas mediante comida, bebida, sonho, refúgio, ar fresco. Quando ela se manifesta, todas as demais necessidades do ser humano passam para um plano secundário.2. Segurança – Quando as necessidades fisiológicas são satisfeitas, o ser humano se volta para as necessidades de segurança. Em caso de perigo elas podem até superar as necessidades fisiológicas.3. Sociais – Relacionadas com as questões do amor, não restritas ao amor sexual ou entre pessoas de sexo oposto, mas consideradas de uma forma mais ampla que pode atingir questões de amor universal entre os seres humanos.4. Autoestima – É uma necessidade instintiva de um ser humano de fazer o máximo que pode dar de si. É considerada como uma necessidade que nunca está plenamente satisfeita como as anteriores. Ela é considerada como uma força contínua que empurra as pessoas para frente.5. Autorrealização – Estão diretamente associadas com as ações tomadas pelo indivíduo com relação à necessidade de vencer. É considerado como o nível das necessidades mais maduras. Elas são liberadas na medida em que maiores são as recompensas de autoestima, consideradas como nunca atendidas de forma plena. (Recursos-Humanos.es, 2012).
Maslow (citado por Ferreira; Medeiros; Gimenez, 2010) nos oferece vários
códigos no âmbito da motivação. Segundo ele, se quisermos motivar as pessoas que
temos ao nosso redor, devemos buscar que necessidades tenham sido satisfeitas e
tentar facilitar o alcance do degrau superior. Os progressos podem ser atingidos de
forma paulatina, eles nem sempre ocorrem aos saltos. O crescimento individual
representa a consequência de um processo de motivação lento e aplicado de forma
parcial, não precisa e nem deve ser acelerado. Ele é mais seguro e estável quando
ocorre de forma natural.
4. A estratégia da educação corporativa
A importância da educação corporativa na atualidade a transforma em uma das estratégias adotadas pela organização para alavancar a sua competitividade em um mercado altamente mutável, o que requer um conhecimento mais profundo sobre este viés para compreender as propostas colocadas neste material.
A estratégia, no mercado contemporâneo, está posta em um pedestal.
Foi uma ideia que nasceu da necessidade que a organização tem de realizar
objetivos em situações de elevada concorrência. O processo se assemelha
àquele desenvolvido nos momentos que antecedem uma batalha em um
campo de guerra. Os jogos de negócios, na atualidade, mais parecem uma
guerra – ou pelo menos são assim tratados. Pirtea, Nicolescu e Bortoc (2009)
pontuam a necessidade de anular ou frustrar o objetivo do concorrente, como
uma comprovação do estado de guerra. É a forma como as organizações
consideram a competição no contexto atual. Os autores levam em conta relatos
que revelam a utilização da astúcia, aplicação de procedimentos inesperados,
atos e fatos que podem iludir o adversário. Não importa muito agir de forma
ética, o que realmente interessa é neutralizar o adversário. Até que ponto a
organização pode chegar atinge horizontes cada vez mais amplos.
Desse modo, o planejamento estratégico assume o núcleo do
pensamento gerencial. Aqui ele deve ser detalhado e em muitos casos, que
são a maioria, superar a criatividade e a invenção. O risco que a organização
corre é muito grande, por isso os cuidados que deve tomar estão na mesma
medida. Essa atividade passa a ser entendida como um importante processo
gerencial, pois possibilita aos administradores a obtenção de um regime de
melhoria contínua do relacionamento da organização com o seu meio
ambiente. A finalidade, em termos de educação corporativa e de objetivos da
universidade corporativa, é a elaboração de programas de formação que define
a criação, no perfil dos colaboradores, das competências e habilidades
consideradas essenciais para a continuidade dos negócios (core
competences). Trata-se de uma tarefa da alta diretoria ou de pessoas
diretamente ligadas a ela e responsáveis pela administração da universidade
corporativa (Chief Learning Officer – CLO).
A estratégia da educação corporativa é, portanto, a primeira atividade a
ser realizada no contexto da universidade corporativa. O que vai ser
apresentado segue um roteiro elaborado com apoio de ideias de diversos
pesquisadores (Berni, 2013; Edmondson, 2012; Meister e Willyerd, 2010;
Takeuchi, 2012) e montado especificamente de acordo com os objetivos deste
trabalho. Vários estudos apontam como uma sequência mais correta a ser
seguida no planejamento da educação corporativa:
1. Determinar como está o processo de educação corporativa dos principais
concorrentes, em especial daqueles considerados líderes de mercado;
2. Verificar como se encontra atualmente o processo de T&D que vai ser substituído e
quais os cuidados a serem tomados;
3. Identificar a razão de ser da universidade corporativa como se ela fosse outra
organização cuja finalidade é prestar serviços para quem a trouxe a lume;
4. Perceber alternativas possíveis, tais como a manutenção da estrutura atual, a
terceirização de serviços ou a implantação da universidade corporativa em
substituição às atividades de T&D;
5. Estabelecer os níveis de investimento necessários e avaliar se a organização tem
previsão de entrada desses recursos;
6. Criar um processo posterior aos de formação que garantam a aplicação prática dos
conhecimentos teóricos e a avaliação dos resultados nas equipes às quais eles foram
aplicados nas fases iniciais, para descobrir eventuais incorreções.
A esse estudo preliminar seguem-se todas as recomendações que você
irá encontrar no desenvolvimento deste trabalho. São colocações reconhecidas
como uma orientação favorável na movimentação que acontece nos
“bastidores” em que fervilham as novas teorias. É o mesmo local no qual se
debatem, agonizantes, as últimas atitudes coercitivas que foram tão comuns no
relacionamento entre o patrão e o trabalhador. Essa discussão já não era sem
tempo, pois desde dezembro de 1948, quando a Declaração Universal dos
Direitos Humanos foi promulgada pela Assembleia das Nações Unidas, os
direitos básicos à vida, à segurança, à liberdade e à igualdade constituíram-se
em um ideal a ser atingido por todos os povos e todas as nações. Se eles
nunca foram respeitados nos relacionamentos entre as organizações e os
profissionais, acredita-se ser esta uma boa hora, para que venham a ser
efetivados em um mundo confuso e que não acredita mais em suas
instituições. Todas parecem estar corrompidas por um ou outro mal que afeta a
sociedade nos dias atuais.
A transformação de comportamentos pode ser creditada a uma soma
de fatores tais como: a evolução da comunicação; o protagonismo das pessoas
nas redes sociais; o surgimento de novas formas de parcerias entre a
sociedade civil, o Estado e o mercado; e a valorização inquestionável e
necessária do colaborador como capital social da organização. As redes
sociais têm destaque. A todo instante demonstram força como formadora de
opinião e transformadora de posturas. A cada momento, novas aspirações são
expressas em diferentes locais. As agendas internacionais pontuam como
importantes aspectos tais como as metas do milênio e o pacto global contra a
fome e a miséria, os quais se disseminam em todas as latitudes. São
recomendações com força transformadora, o que sugere que sejam
reconhecidas e aplicadas.
Chegamos a um ponto no qual a organização está encurralada. Mudar
ou morrer por meio de campanhas nas redes sociais e os protestos gerais em
todos os meios de comunicação, podem ser combatidos pelo que se coloca
como desafio para a organização definida por Costa (2013) como uma
“organização cidadã”. Assim é tida aquela que respeita os interesses sociais,
ambientais e econômicos de todos. Nesse panorama as redes de
relacionamento assumem um poder inesperado, mas real e evidente.
No advento de um novo milênio, Kofi Annan, secretário-geral da ONU
até 2007, desafiou as organizações a darem uma face mais humana à
globalização. Isso as incentivou a adotarem todos os princípios relacionados à
defesa dos direitos humanos, visto que em determinado momento eram tidas
como algozes. Elas passam a defender melhores condições do trabalho, a
atenção ao meio ambiente e o combate à corrupção para tornar a economia
mundial um organismo mais saudável e assim capaz de promover processos
de inclusão social. São medidas consideradas importantes e necessárias em
todas as latitudes para onde a banalização da injustiça social aponte as suas
garras afiadas (Dejours, 2011). A garantia de emprego e o tratamento
diferenciado dos colaboradores estão colocados como um dos aspectos de
justiça social na sociedade contemporânea e são passos na direção de atingir
o objetivo de um mundo mais justo. Tudo começa nas reivindicações internas
dos colaboradores. Eles estão preocupados com questões de saúde,
segurança e educação. A luta se mostra renhida no panorama do futuro. Os
sindicatos e empregados não querem abrir mão de vitórias arduamente
conquistadas nas décadas anteriores e as organizações, por sua vez,
pressionadas por um neoliberalismo sufocante, não desejam dar continuidade
a uma política de benefícios sociais que não permite uma remuneração do
capital a seus investidores da forma como eles desejam.
A saída para que não haja corpos caídos na arena de discussões é a
educação. Para o colaborador, esse é um benefício indireto de elevado grau de
importância no mercado atual e futuro em que o profissional do conhecimento
(Drucker; Marciarello, 2005) toma um assento privilegiado. Para a organização,
posar de benfeitora do meio ambiente, atuar na luta contra o desemprego e
combater a injustiça social já é um diferencial competitivo que encontra na
formação de seus colaboradores um complemento elevado, no sentido de que
é fácil constatar que, bem preparados, eles estão mais aptos a formarem
equipes competitivas e times vencedores. Esse fato se reflete na melhoria do
atendimento aos clientes. É vantajoso para a empresa vê-los fiéis à marca e
defensores da imagem dela. A fidelidade, quase inexistente no mercado, é
perseguida em luta encarniçada.
Direcionar os gastos sociais para a vertente educacional é uma das
formas de aplicar recursos que não são colocados a fundo perdido. Oliveira
(2008) assinala a existência de um componente denominado “balanço social”
ou relatório social. Trata-se de algo que interessa às organizações publicar, da
mesma forma que os balanços referentes a aspectos financeiros, pois ali se
registra uma série de benefícios intangíveis, todos resultantes do engajamento
do colaborador nas estratégias institucionais. Em tempos de redes sociais, há
outra preocupação: as empresas devem evitar “manchar” o nome. Quando isso
ocorre, elas podem ser boicotadas, ter danos em sua imagem e ver destruída
uma reputação que possivelmente levaram anos para construir.
Para a organização, criar uma cultura que demonstre que ela tem um
comprometimento com os colaboradores pode, segundo Oliveira (2008), “trazer
benefícios para todas as partes envolvidas”. Nos dias atuais, se tornar um bom
lugar para se trabalhar representa vantagens mercadológicas. Em um tempo
de defesa do consumidor e do cliente colocado no centro das negociações,
contar com equipes comprometidas com a missão da empresa é fundamental.
Mas isso não é obtido de forma gratuita, principalmente devido à perda do
estereótipo criado pelos orientais de “fidelidade” a uma organização,
representada pelo “emprego para toda a vida”. O retorno tem que acontecer. A
fidelidade não é mais um dos pilares de sustentação do bom relacionamento
entre patrões e empregados; ela foi substituída, com vantagens para ambos os
lados, por uma visão de agregar valor ao pagamento do colaborador. A
organização oferece benefícios e recebe em troca um nível de dedicação e
comprometimento maior e pode acabar por se tornar um “local agradável de
trabalhar”, uma classificação que as redes de relacionamento valorizam. Os
caçadores de talentos (headhunters) sabem o que isso representa para uma
empresa e costumam navegar nas redes sociais em busca de profissionais
capacitados para desenvolver atividades diferenciadas (Brasil Escola, 2012). É
uma procura que pode esbarrar em um comportamento social inadequado.
Não é incomum que profissionais contatados por headhunters recusem
propostas de elevado valor financeiro de remuneração. Isso acontece porque
alguns não se motivam a trabalhar para determinadas organizações. Um dos
motivos pode ser um tratamento incorreto dado a outro funcionário e divulgado
nas redes sociais. Por isso, esse é um cuidado adicional que empresas têm
que tomar, já que a transparência nas redes sociais é elevada.
Não há leis que obriguem uma organização a investir na educação. O
que pode surgir, de tempos em tempos, é um incentivo na forma de isenção de
impostos, certificação como amiga dos colaboradores e outras ações que, até
o momento, se mostram inócuas. Quando ela quer e reconhece o valor do
investimento (e não o vê como gasto) feito com a educação dos colaboradores,
as coisas acontecem. A formação correta dos funcionários faz aumentar o
bem-estar (social) deles, o que pode ser traduzido em aumento de lucros de
acordo com o desejo das pessoas interessadas (stakeholders). Segundo Paiva
(2012), os stakeholders são “qualquer pessoa ou organização que tenha
interesse ou venha a ser afetada pelo projeto da organização”. Nessa categoria
estão incluídos os investidores da organização. São os que ganham
dividendos, quando ela consegue manter ou aumentar a sua competividade no
mercado.
Aliás, essa é uma ocasião em que é possível aproveitar do capital em
benefício do próprio funcionário. Ela não pode ser desperdiçada. Em outros
estudos, Adler (2010) considera que os colaboradores fazem parte, segundo a
ideia de “roundtable”, dos sete públicos estratégicos das organizações:
clientes, colaboradores, financiadores, fornecedores, comunidades, sociedade
em geral e acionistas. Com base nessa colocação, muitas corporações deram
início a processos diferenciados de formação dos colaboradores, abandonando
antigos centros de T&D em troca de universidades corporativas. Essa
transformação deve tomar o cuidado de não repetir os erros do passado.
Novas formas de relacionamento patrão e empregado são necessárias nesse
contexto.
Volta-se a repisar um dos principais aspectos a serem ressalvados:
evitar que a universidade corporativa traga consigo a proposta de substituir a
educação formal. Outro aspecto de importância é político. Deve-se tomar o
máximo cuidado de não direcionar os programas de formação dos
colaboradores de acordo com padrões do poder dominante. Já foi ressaltado
que atender somente às necessidades dos patrões é um posicionamento
incorreto. A evolução do trabalho com a responsabilidade e autoridade social
cria uma taxonomia que estabelece áreas diferenciadas de atuação, que são:
controle ambiental; oportunidades iguais; emprego e moradia; saúde;
segurança; e benefícios sociais para os colaboradores.
São boas intenções e que vão ao encontro do que está exposto na
pirâmide de Maslow, já discutida no capítulo anterior, que considera que
colaboradores satisfeitos têm maior motivação. Eles procuram lutar para que a
missão institucional seja cumprida. É uma colocação repetida quase que como
uma oração diária pelos responsáveis pelos departamentos de gestão de
pessoas.Vista dessa maneira, a universidade corporativa é o braço
educacional da organização. Sobre ela devem ser feitos os investimentos que
permitam dar início aos trabalhos de criação de uma nova cultura de formação.
Sua finalidade não é apenas cumprir o projeto de substituição dos antigos
departamentos de T&D; ela traz consigo a proposta de integrar uma variedade
de oportunidades de aprendizagem ligadas à missão e aos objetivos
organizacionais. Há o objetivo de utilizá-la como mecanismo para colocar em
prática um alinhamento estratégico entre os conhecimentos, habilidades e
atitudes dos colaboradores com relação às estratégias da empresa. A
universidade corporativa se reveste de uma aura de respeito e já nasce
cercada das mais caras expectativas da organização em se tornar uma
organização que aprende (Senge, 2010). Ela está voltada para o
aparelhamento do colaborador com técnicas e práticas, mas essa não é a sua
única perspectiva. Como objetivo maior em sua abrangência, aparece com
destaque o desejo de formação do colaborador como cidadão, capaz de exigir
os seus direitos em todas as ocasiões.
É uma perspectiva diferenciada em relação às propostas apresentadas
pelos antigos setores de T&D. Estas ainda encontram guarida em “velhos
dinossauros”, responsáveis pela sua gerência, como se ainda estivéssemos no
século passado. A mudança de hábitos arraigados não se mostra uma tarefa
fácil. Mas, ainda assim, com toda a resistência que a universidade corporativa
desperta, o aviso de sua implantação e o desenvolvimento de uma atividade de
endomarketing bem desenvolvida já acendem nos colaboradores a vontade de
aumentar o nível de dedicação que colocam em prática.
5. Como iniciar a educação corporativa?Tivemos a oportunidade de conhecer a primeira preocupação: o
desenvolvimento do estudo da situação atual para que se possa saber o que mudar e
como fazê-lo. O planejamento foi colocado como a primeira atividade, que antecede
qualquer estudo sobre a formatação da proposta para implantar a educação
corporativa. É tempo de dar continuidade ao processo. O passo seguinte é iniciar de
forma positiva a implantação do que parece ser o anseio de muitas organizações,
ainda paralisadas sem saber o que fazer, pelo caráter inovador da proposta. É um fato
de se estranhar devido ao sucesso de tantas iniciativas (Caixa Econômica Federal,
McDonalds, Banco do Brasil, Unindus – Universidade da Indústria, Universidade dos
Supermercados e tantas outras).
A educação não acontece por acaso, tampouco pode ser imposta. Essa
declaração é especialmente aplicável às questões de educação corporativa. Os
colaboradores de uma organização não topam, a todo momento, com oportunidades
de adquirir ou aumentar conhecimentos que lhes caiam do céu em um lapso de sorte.
Da mesma forma, caso a empresa não tenha um plano de recompensa para eles, não
tem condições legais ou sociais de impor um processo de formação bem-sucedido. A
educação somente acontece quando a pessoa quer ser educada, quer aprender, quer
adquirir seja lá com que intenção for, novos conhecimentos.
É recomendável manter a motivação dos colaboradores como uma constante,
que pode ser obtida por meio de incentivos e benefícios. Há diferenças que podem ser
observadas quando entramos em duas organizações distintas. Imagine que em uma
delas a atividade de “treinamento” é imposta, e na outra os “processos de formação”
são colocados à disposição dos colaboradores sem que haja obrigatoriedade de
serem desenvolvidos, porém têm, quando efetivados, recompensas não somente
financeiras mas no sentido de desenvolvimento do colaborador. No primeiro caso, a
empresa é a única beneficiada com os processos de treinamento, e a rotatividade
acontece como consequência desse processo. No segundo, a iniciativa se reverte em
favor de um maior nível de satisfação do colaborador. Pode parecer que a organização
não é beneficiada. Pensar assim é incorreto, pois não se leva em conta que, com a
sensação de atendimento às suas necessidades, o funcionário irá ter uma
produtividade maior, sem que para isso necessite de ações coercitivas. As exceções
são poucas e representam um pequeno percentual de profissionais que não
reconhecem os esforços que são feitos em benefício deles. Infelizmente, considerar
que todo o funcionário está em constante digladiar com a organização é um
pensamento mais comum do que se possa imaginar. Em outras situações, o próprio
setor de gestão de pessoas é responsável por tal estado de coisas, por alguma
circunstância de rebeldia sem causa, muito comum em suas lides. Aos poucos, a
sobrecarga emocional dos colaboradores que prestam serviços nesses locais se torna
proverbial; há casos em que isso se reflete em um mau relacionamento com os
colaboradores.
5.1 Aspectos emocionais
O direcionamento para atendimento de aspectos emocionais tem estado
presente nos estudos de pesquisadores da área de organização; este trabalho se
apoia em muitas das conclusões deles (Gil, 2010; Kotter, 2012; Robbins, 2010;
Chiavenato, 2010; Marras, 2011). Em pontos diversificados de sua reflexões, todos
chegam à conclusão da existência de uma relação direta entre aumento de
produtividade e satisfação do colaborador (uma varia na razão direta do outro).
A educação corporativa não é um modismo a mais, no universo de tantas
outras novidades que surgiram como estrelas cadentes no mercado corporativo. Não
há um modelo pronto e acabado que funcione de acordo com as demandas da
organização. O caminho percorrido, por praticamente todas as organizações, é árduo
e pontilhado de insucessos, até que uma estrutura definitiva de substituição do T&D
seja obtida. O êxito da educação corporativa depende da vontade e do desempenho
de pessoas para que sua funcionalidade seja atingida e de um trabalho ainda maior de
motivação constante, com vistas a que os resultados continuem positivos. Os casos de
sucessos iniciais seguidos da decadência e falência da universidade corporativa são
muitos, e todos estão relacionados com questões diversas de desempenho pessoal.
Nos estudos desenvolvidos, é possível observar que a maior percentagem de
bons resultados na implantação de uma universidade corporativa acontece quando ela
inicia de forma simples. É mais recomendável começar sem sofisticação inicial de
cursos de Master Business Administration (MBA), tentativas de mestrados
profissionais e outras ofertas mais elaboradas. Ela não tem experiência para essa
abordagem na fase inicial de sua vida. Algo mais consistente é a adoção de uma linha
de montagem de pequenos cursos voltados para os Procedimentos Operacionais
Padronizados (POP) e que correspondem às atividades operacionais realizadas nos
diversos departamentos da organização. Isso pode representar retorno em termos
financeiros indiretos e intangíveis para a empresa. O aprimoramento do
desenvolvimento pessoal do colaborador, em técnicas e práticas pontuais, pode
resultar em melhor atendimento ao cliente e se refletir no aumento da competitividade
da organização como um todo.
O gasto com a formação inicial de novos colaboradores é sensível e se coloca
como uma necessidade, em muitos casos inadiável. Ele pode ser diminuído pela
inserção de cursos online, que podem ser feitos por esse público, sem impedir suas
atividades normais, antes de iniciar as tarefas cotidianas. O trabalho em processo de
imersão total no ambiente virtual permite que a organização avalie aspectos
importantes como senso crítico, independência, criatividade e inovação, os quais
surgem na esteira da aprendizagem independente proposta sobre atividades práticas.
Todos esses cursos são de curta duração e têm o objetivo de formar competências e
habilidades específicas e pontuais. Sua inserção no perfil profissional reverte em
melhor desempenho do colaborador. Paralelamente, devem ser oferecidos cursos de
valorização pessoal, pelos quais a organização se preocupa em ensinar o colaborador
a trabalhar em questões pessoais que podem melhorar sua vida em sociedade e
torná-lo uma pessoa melhor.
É altamente recomendável que a organização se preocupe em orientar o
funcionário sobre como dirigir de forma mais eficiente a sua economia doméstica,
desenvolver ginástica laboral, melhorar a convivência e intercomunicação pessoal e
outras áreas que podem representar condições de estresse para ele fora da área
direta de trabalho mas que afetam o seu desempenho. Qualquer sucesso que venha a
ser obtido nas propostas de motivação se reverte em favor da empresa. O colaborador
deve ser estimulado a participar desses cursos como um processo de formação
permanente e continuada, desenvolvida em serviço e com apoio de alguma das
formas de oferta da educação a distância. Quando a organização atua, segundo essa
linha de raciocínio, ocorre uma valorização do empregado a qual, de acordo com
Camilo (2012), se reflete em benefícios diretos (redução do absenteísmo, diminuição
do turnover, aumento da participação nas atividades, maior comprometimento com o
organização etc.).
A evolução estendida em uma linha de tempo corretamente desenvolvida
recomenda que, somente após colher os sucessos e insucessos iniciais, a
universidade corporativa pode assumir, sempre em convênio com instituições de
ensino superior, a proposta de levar para a organização especialistas, mestres e
doutores e dela trazer para a universidade um conjunto de profissionais mais
diretamente envolvidos com as linhas de produção. São eles que podem equilibrar os
conteúdos teóricos em excesso nos cursos oferecidos. É uma parceria benéfica para
todos e que ainda é recusada pela instituição de ensino superior. Esta pode trazer
para a organização cursos de educação formal desenvolvidos in company e
ministrados com personalizações que podem melhorar o aproveitamento e dar ao
segmento acadêmico novas informações práticas. Assim, os cursos da universidade
corporativa podem proporcionar ao profissional uma atividade de aprendizagem
significativa (Ausubel in Moreira e Masini, 2002) tida como mais eficiente, ao orientar o
processo de educação de acordo com necessidades pessoais e do mercado de
trabalho. Sob todos os aspectos é proveitosa uma aproximação entre as áreas
acadêmica e corporativa via educação.
Uma das recomendações mais observadas é que não se deve deixar
transcorrer um tempo excessivo entre o processo de formação e sua aplicação, pois
isso pode levar à perda da efetividade do processo. É um cuidado a ser tomado pois o
excesso de otimismo inicial pode fazer com que a organização ofereça programas de
formação apenas por mera formalidade, sem que a efetividade de sua aplicação possa
ser avaliada e provocando, em alguns casos, uma sobrecarga cognitiva ou laboral que
é desnecessária nos colaboradores.
Assim, deve-se adotar um início de trabalhos voltados para a formação
pautado pela racionalidade. É dada preferência a um programa de cobertura de
processos de formação em nivelamento. Com a satisfação das necessidades da
organização para atendimento de lacunas de formação interna, recomenda-se que o
processo busque uma redução do turnover, índice obtido da relação entre admissões
e demissões ocorridas em determinado período. É importante lembrar que a
substituição de qualquer colaborador tem um custo elevado. Esse é um dos principais
argumentos para justificaro acerto de qualquer tentativa de formação de competências
e habilidades que sejam lacunas em seu processo de formação. Trata-se de uma
forma de valorizar o colaborador e lhe dar condições de competitividade, tanto interna
(programas de promoção horizontal ou vertical) quanto externa (em termos de
aumento de seu nível de empregabilidade em um mercado altamente competitivo,
como o atual.
Senge (2010) destaca a existência de cinco domínios centrais que podem ser
aplicados nas estratégias de aprendizagem corporativa: domínio pessoal
(compreensão dos próprios objetivos); modelos mentais (visão de mundo); visão
compartilhada (aprendizagem por vontade própria); aprendizagem em grupo ou equipe
(prática do diálogo); e pensamento sistêmico (percepção da interdependência
organização e colaborador). Todos eles consistem em aspectos motivacionais que
mexem diretamente com a inteligência emocional (Goleman, 2012). Trata-se de uma
proposta diretamente relacionada com questões de motivação e habilidades que o ser
humano tem de mostrar a si mesmo. Ainda que encontre dificuldades e sofra
frustrações, ele deve poder controlar os impulsos, o que acontece com a canalização
de suas emoções para situações apropriadas. Assim, é possível antever o sucesso na
tentativa de conseguir seu engajamento em objetivos de interesse comum propostos
pela organização. Na realidade, ao final de processos individuais, a transformação da
capacidade da organização de transformar-se naquela que aprende (Senge, 2010) se
apoia nessa visão. Todas as atitudes acabam por se relacionar e uma potencializa a
outra em uma relação de sinergia constante.
O autor da ideia de inteligência emocional a pontua e mapeia cinco áreas de
habilidades diferenciadas:
1. Autoconhecimento emocional – reconhecer um sentimento enquanto ele ocorre;2. Controle emocional – habilidade de lidar com os próprios sentimentos, adequando-os para a situação;3. Automotivação – dirigir emoções a serviço de um objetivo é essencial para manter-se caminhando sempre em busca;4. Reconhecimento de emoções em outras pessoas;5. Habilidade em relacionamentos interpessoais.(Goleman, 2012).
Essa proposta é um dos principais direcionadores da orientação psicológica da
universidade corporativa, como totalmente voltada para questões de motivação. Antes
de saber os cursos que vão ser oferecidos, é importante identificar as questões de
motivação mais significativas a serem trabalhadas no ambiente. Elas desembocam na
necessidade de que a organização construa e desenvolva uma cultura interna de
comprometimento (Rothwell, 2012). A relevância desse aspecto sugere um tratamento
detalhado, o que será feito mais adiante.
Como resumo deste capítulo, é possível, portanto, colocar como
recomendação que a organização deve levar em conta aspectos sociais, antes de
iniciar de forma afoita a implantação de uma potente ferramenta que colabora com a
melhoria da qualidade do trabalho do colaborador. É uma atitude que pode se reverter
em um quadro de benefícios intangíveis que definam como positivo o retorno sobre o
investimento (Return on Investment – ROI) em educação, análise financeira que
pontua o retorno financeiro tangível e o intangível no aumento do capital intelectual da
organização. É posto como necessário um estudo que visa a avaliar se ela realmente
necessita da educação corporativa. Caso a resposta seja positiva, ela deve, então,
definir o conjunto de cursos mais recomendado para o início das atividades. O
planejamento subsequente deve abordar as iniciativas de curto, médio e longo prazos.
As primeiras são operacionais, as segundas estão voltadas para as necessidades dos
colaboradores e as terceiras estão de acordo com a estratégia organizacional
considerada na adoção da educação corporativa.
A primeira pergunta a ser colocada é: Há uma deficiência de ação crítica,
autogerenciamento e emoção no desenvolvimento da prática profissional dos
colaboradores da organização? A resposta afirmativa é um dos aspectos mais
importantes, pois são com esses objetivos que a universidade corporativa é
implantada: obter um posicionamento crítico, capacitar para a iniciativa e atividades
independentes e participação ativa dos funcionários. A resposta positiva constitui um
primeiro indicativo da aplicabilidade da universidade corporativa na organização.
A indagação que imediatamente se segue é: A organização colocou como
objetivo estratégico a efetivação de sua responsabilidade e autoridade social, no
interior das quais um dos elementos mais significativos é a formação para a cidadania
dos colaboradores, com atendimento de suas necessidades básicas, entre as quais a
educação é destaque? Da mesma forma, atender a esse anseio está entre os
principais objetivos da universidade corporativa. A resposta afirmativa dá à questão da
educação corporativa uma de suas estruturas de apoio e justificativa. Humanizar o
meio ambiente e a convivência do colaborador no interior da empresa e agregar
valores para ele, sua família e por extensão à toda a sociedade completam o rol de
providências da organização para atingir uma condição de atendimento de sua
responsabilidade e autoridade social.
Na sequência deve ser observado o grau de motivação das equipes formadas
e do comportamento individual dos colaboradores. Impõe-se a pergunta: Há
deficiências de motivação pessoal e profissional? Uma resposta positiva faz lembrar
que um dos principais objetivos da universidade corporativa é a recuperação da
autoestima para que, com base nisso, o empregado possa atingir a autorrealização
(conforme a pirâmide de Maslow mostrada na Figura 3.1), e de forma consequente
recomenda a sua implantação como algo que já deveria estar sendo trabalhado no
ambiente.
Todas as organizações têm questões sérias no que diz respeito ao melhor
aproveitamento das características de cada um dos seus organizadores. Ter a pessoa
adequada no lugar certo é um dos grandes desafios enfrentados pelos caçadores de
talentos. Ao indagar-se se as pessoas estão colocadas nos locais mais indicados para
suas competências e habilidades, qualquer resposta positiva – o que não é incomum
nas organizações contemporâneas – serve como indicativo seguro que justifica a
educação corporativa e um tratamento diferenciado da formação pessoal.
Com esses objetivos atendidos pela educação corporativa, a empresa tende a
se tornar um local no qual os colaboradores gostam de trabalhar e, assim, se tornam
eficientes e cidadãos críticos e conscientes. Eles se revelam pessoas participativas, e
sua ação e prática profissionais agregam valor às atividades de atendimento do
principal capital de uma organização na sociedade contemporânea, o conjunto de seus
fornecedores, colaboradores e clientes. Como resultado final todos ficam satisfeitos
pela interação que mantêm em um nível diferenciado com os colaboradores internos
da organização. É importante não se esquecer de outros fatores que também podem
fazer parte de um questionário de avaliação elaborado com a finalidade de verificar se
a educação corporativa é necessária na organização:
1. O quadro de colaboradores apresenta necessidade de formação permanente e
continuada, voltada para sustentar a vantagem competitiva, que é proporcionada por
um processo de educação corporativa dirigido de forma correta?
2. Há necessidade de agregação de todos os envolvidos na produção ao
processo de atendimento pós-venda para criar uma cadeia de valor organizacional
formada por fornecedores, colaboradores, clientes, diretores, alta chefia, acionistas
etc., unidos no sentido de conseguir estabelecer e implantar a estratégia da
organização com relação ao mercado de trabalho?
3. O trabalho da organização está relacionado com a utilização de novas
tecnologias, não importa em que área elas tenham sido desenvolvidas, que colocam o
desafio do novo de forma constante e consequentemente exigem a criação de novas
competências e habilidades no perfil profissional?
4. No planejamento de estratégias organizacionais foram definidas as
competências essenciais do negócio (condições que a organização tem para atingir o
nível de competitividade desejado) as quais podem resultar na necessidade da criação
de competências e habilidades específicas que nem sempre estão presentes no perfil
dos profissionais que com ela trabalham (condições que o colaborador deve ter para
desenvolver as funções que lhe são delegadas)?
5. Há algum programa de gestão do conhecimento, isto é, um programa que
incentiva o trabalho diferenciado em novas aplicações tecnológicas, o que pede
processos de formação diferenciados?
Respondidas um número de questões que justifique uma condição de
efetivação da educação corporativa segundo novos paradigmas, como os estudados
neste livro, o ponto de partida é a criação de uma universidade corporativa.
5.2 A universidade corporativa em foco
Antecedendo a universidade corporativa, o projeto de educação corporativa
desenha um novo perfil para a empresa. O primeiro aspecto de importância é a sua
virtual transformação em uma organização que aprende. O que é isso? Ao observar
qualquer organização, podemos concluir que elas nascem e, com base em suas
experiências, crescem ou fenecem, ou seja, em todas as condições aprendem, sem
que isso esteja colocado de forma implícita. O que mudou? Foi exigido das
organizações que se adaptassem ao meio ambiente. Segundo O´Brien e Maracas
(2013), é um processo similar ao que ocorre com a adaptação dos organismos vivos
aos ambientes em que vivem.
Existem algumas definições que nos interessam considerar:
1. Argote (2013): as organizações que aprendem são aquelas que estão capacitadas a
criar, a adquirir e a transferir conhecimentos e, ainda, a modificar seus
comportamentos para refletir esses novos conhecimentos e insights.
2. Senge (2010): a organização que aprende é a que está continuamente expandindo
sua capacidade de criar o futuro, em que as pessoas buscam estabelecer os
resultados que desejam e aliam-se umas às outras para que haja uma aspiração
coletiva da qual surgem novos e elevados padrões de raciocínio.
3. Meister e Willyerd (2010): a organização que aprende é aquela que prioriza a
criação de uma cultura de aprendizagem contínua em que todos os participantes
aprendem uns com os outros e compartilham inovações e melhores práticas com o
objetivo de solucionar problemas organizacionais reais.
Para que uma organização possa ser considerada como a que aprende, ela
deve estar comprometida de forma ampla e profunda com a educação e com o
desenvolvimento de seus colaboradores. Essa é uma condição sem a qual não se
pode dar-lhe tal qualificação. Um dos aspectos mais importantes, como anotado por
Almeida (2010), é a colocação que todos os integrantes dessas organizações têm um
comprometimento pessoal com ela e com a sua missão, o que recupera em grande
parte um relacionamento de encantamento entre o colaborador e a organização. Visto
por essa perspectiva, todos os colaboradores estão inseridos em um processo
contínuo de aprendizagem, não somente de dados organizacionais, mas também uma
formação pessoal. Em todas as visões, eles passam a ser vistos como construtores de
conhecimento. Para a organização, o que isso significa? Significa que todos os
empregados são considerados empreendedores. Isso facilita a eliminação das
gerências intermediárias e o reaproveitamento das pessoas sem a necessidade dos
danosos processos de reengenharia, quando eles são vistos na perspectiva do
downsizing (redução do número de funcionários para obter redução de custos e maior
retorno de capital). Vissa assim, a organização transforma-se em um sistema aberto.
O único requisito é que ela aceite a aprendizagem como um elemento fundamental e
de condição restritiva aos objetivos de competitividade, se não cumprido.
A avaliação da implantação das propostas de educação colaborativa e a dos
resultados que demonstrem o acerto da transformação para uma organização que
aprende constituem aspectos importantes a serem mensurados. Essas atividades nem
sempre são desenvolvidas com a transparência necessária. Ambas representam algo
que vai alterar, de forma significativa, a vida dos colaboradores, e as tratativas para
sua implantação deveriam envolvê-los de forma direta. Essa é a razão por que muitos
dos trabalhos, se não acabam dando resultados pífios diante das expectativas
colocadas – estas são apenas das diretorias que tratam da estratégia organizacional
–, provocam demora na obtenção do comprometimento pessoal.
Quando a empresa escolhe investir na aprendizagem colaborativa e tornar-se
uma organização que aprende, a universidade corporativa surge no horizonte das
considerações como uma ideia filosófica. Ela é suportada e mantida por um conjunto
de programas os quais trazem a presença dos sistemas de conteúdo e de
aprendizagem para o interior dela (Learning and Content Management Systems –
LCMS – ou Sistemas de Gerenciamento de Conteúdo e Aprendizagem – SGCA.
Moodle e Claroline, por exemplo, são opções sem custo, mas existem outras pagas ou
de desenvolvimento próprio). Eles já estão há muito tempo no mercado acadêmico. A
necessidade da tratativa de convênios com universidades e faculdades está colocada
mais no sentido de que essa utilização no mercado corporativo tende a escapar pela
tangente, quando se fala em pedagogia (andragogia: a forma como o ser humano
adulto aprende) organizacional.
Esse é um campo que cria zonas de desconforto, tanto para os pedagogos
quanto para os técnicos das organizações, porém é uma consideração necessária e
que volta a repisar em um tema insistentemente tratado em tantos compêndios sobre
convênios e parcerias entre os segmentos acadêmico e corporativo. A situação deve
ser resolvida de modo a atender os desejos de ambos os setores. O desconforto
daqueles que enxergam o capital como mandatário, até mesmo em iniciativas
educacionais, e dos que o veem como um entrave ao desenvolvimento dessas
iniciativas representa um dos primeiros desafios a ser superados. É nesse contexto
que a universidade corporativa é analisada como estratégia organizacional para
proporcionar melhor qualidade para seus produtos, serviços e nível de atendimento
aos clientes.
6. Quais as razões para a criação da universidade corporativa?
Ao falar da universidade corporativa é importante que a organização, o
colaborador e o leitor interessado em conhecer de forma mais profunda suas
propostas deem um passo inicial consistente: saber o que ela é, para que serve e,
então, apoiar a escolha desse caminho para efetivar a continuidade, sob uma nova
forma, dos departamentos de T&D da empresa moderna. Parte-se de uma visão
superada para atendimento de necessidades diferenciadas de uma sociedade em
transformação e mudança de muitos de seus paradigmas, impostos ao tratamento
diferenciado dos colaboradores de uma organização. A universidade corporativa
representa a forma como esses desafios podem ser enfrentados.
6.1 Inserção da universidade corporativa na organização
O primeiro aspecto a ser levado em consideração e que preocupou Otranto
(2012) quando de seus estudos é buscar uma definição para esse novo elemento
inserido no contexto das organizações modernas. A primeira conclusão a que a autora
chegou, e que pode intrigar muitas pessoas, é que a universidade corporativa, tida e
havida como tal, não era na realidade uma universidade, mas sim uma nova
denominação dos chamados Centros de Treinamento e Desenvolvimento de Recursos
Humanos das grandes organizações. Ela é assim chamada por ser, segundo Meister
(Meister in Otranto, 2012), um guarda-chuva estratégico para o desenvolvimento e a
educação de colaboradores, clientes e fornecedores, buscando aperfeiçoar as
estratégias organizacionais, além de ser um laboratório de aprendizagem para a
organização. Essa é uma definição aceita de forma consensual, uma proposta mais
abrangente e correta. Para que isso se torne realidade, é importante que seja alterada
a visão dos processos educacionais como atividades de treinamento e que sejam
vistos como um processo de educação. Munhoz e Seleme (2009) consideram que o
espaço educacional dentro de uma organização, por ela gerenciado, com objetivo de
institucionalizar uma cultura de aprendizagem contínua, que vise proporcionar a
aquisição de novas competências vinculadas às estrategias organizacionais, com o
proposito de assegurar vantagens competitivas permanentes às organizações.
A existência dela está garantida e apoiada na realidade da academia no
mercado contemporâneo a qual se mostra incapaz de proporcionar a formação exigida
pelo mundo do trabalho, em constante reestruturação. Isso faz com que as
organizações enxerguem nos investimentos em sua criação e desenvolvimento uma
das saídas para a formação de recursos mais adequadamente preparados para a sua
realidade no mercado, no qual devem manter um elevado nível de competitividade
para garantir a sua sobrevivência.
De posse da ideia do que é uma universidade corporativa, de nada adianta
definir a escolha da educação corporativa, da transformação da empresa em uma
organização que aprende sem que esteja respondida de forma clara se ela realmente
precisa disso. A universidade corporativa não é aplicável em todos os casos, e
descobrir se se trata ou não de uma boa solução é o maior desafio posto para a figura
de um novo profissional: o diretor de aprendizagem (Chief Learning Officer – CLO),
uma nova ideia dentro das organizações.
A implantação da universidade corporativa não é algo demorado e nem difícil
em termos operacionais, visto que existem no mercado sistemas e programas
gratuitos para sua criação e funcionamento. Grande parte dessas ferramentas estão
disponíveis na modalidade de software livre, entre as quais a preferida são os
sistemas de gerenciamento de conteúdo e de aprendizagem (Learning and Content
Management System – LCMS). O desafio é saber se ela é necessária. Em caso de
resposta positiva, como deve ser desenvolvida a implantação? Pretende-se que a
questão seja respondida nos estudos desenvolvidos neste material. O tratamento do
segundo questionamento é deixado para outro capítulo desta obra. O apelo de uma
iniciativa dessa natureza é grande e pode significar que a empresa deseja adquirir no
mercado (entenda-se redes sociais e de relacionamento) a valorização de ser um local
onde vale a pena trabalhar. Costa (2013) considera que essas organizações poderão
oferecer aos colaboradores uma importante vantagem competitiva, fato que lhes dá
prestígio e meritocracia na rede. Criar competências e habilidades virou o slogan da
moda no mercado corporativo, e os cursos oferecidos em muitas ocasiões estão
apoiados nessa perspectiva.
A universidade corporativa é a porta de entrada para conteúdos educacionais
estabelecidos em grandes bases de dados. Em alguns casos estão direcionados,
segundo uma tendência de mercado, para o uso extensivo de objetos de
aprendizagem. Segundo Munhoz (2012), eles surgem como uma nova promessa para
a produção de materiais didáticos de elevada qualidade, flexibilidade capazes de
serem adaptados às necessidades específicas dos alunos. Pode parecer paradoxal,
mas o principal cliente das universidades corporativas são os profissionais
recentemente formados pois permitem superar o trabalho de dois a três anos de
adequação de um colaborador às rotinas e procedimentos operacionais requeridos
pela organização. Isso pode ser reduzido para seis meses ou menos, o que representa
uma economia em escala para a empresa. Secundam esses profissionais aqueles que
desenvolvem há muito tempo uma tarefa que se tornou rotineira. O colaborador
necessita migrar por diversos setores da organização para manter, sempre
atualizados, o seu conhecimento e a sua capacidade empreendedora, ao adquirir uma
ampla visão do que ela faz e como faz.
A existência de um ambiente educacional dentro da organização pode algumas
vezes assustar os colaboradores exatamente pelo estereótipo distorcido do
relacionamento patrão-empregado. É preciso que os objetivos estejam claramente
definidos e que um viés de desvio da atenção para a formação do colaborador para a
cidadania fique claro e seja crível pelos destinatários da proposta. O que ela ensina
deve ser não apenas relevante para a organização, mas também para os
colaboradores. Meister e Willyerd (2010) afirmam que devem existir razões claras para
que a organização criar a universidade corporativa. Ela deve estar além apenas de
propostas para aumento de produtividade, e sim tentar alcançar esse objetivo por meio
de atendimento às necessidades dos colaboradores (pirâmide de Maslow) como
resultado do comprometimento voluntário destes com as metas organizacionais.
A criação da universidade corporativa deve assinalar um novo marco no
relacionamento entre a organização e os colaboradores, entre os quais podem ser
incluídos os componentes de sua cadeia de valor (fornecedores, clientes, investidores
etc.). É comum observar que no início das atividades o momento de maior
produtividade se dá quando o colaborador está aprendendo algo relevante. O
ambiente educacional instaurado na empresa tem como principal objetivo da
universidade corporativa, segundo Sordi (2013), voltar o colaborador para trabalhar
naquilo que gosta. Assim assim deveriam proceder as universidades corporativas:
formar as pessoas para que elas atuem naquilo com o qual mais se identificam.
Somente assim, a sua produtividade não terá características de alienação no trabalho,
por razões de o colaborador não estar fazendo aquilo que gosta, o que pode ser razão
suficiente para que o faça de forma automática e acabe afetando o amor próprio.
Há convergência entre pesquisadores sobre o que leva uma organização a
criar uma universidade corporativa. Entre as percepções, destaca-se a posição de
Costa (2013), que considera que podem ser destacadas as seguintes motivações:
1. alcançar uma aprendizagem contínua;
2. conduzir processos de transformação na organização;
3. desenvolver o espírito de equipe;
4. desenvolver o espírito de energia organizacional;
5. ser um lugar de exploração de novas ideias para o negócio;
6. atrair talentos e mantê-los;
7. estabelecer uma aproximação com o colaborador e influenciar mais efetivamente no
desenvolvimento dele;
8. ser um centro de aprendizagem corporativa;
9. desenvolver futuros líderes;
10. mostrar aos colaboradores o que eles têm de valor.
11. dar autonomia aos colaboradores em todos os níveis, visando a inovar e a operar
dentro da estratégia global da organização;
12. maximizar o capital intelectual;
13. aprender a competir globalmente;
14. reforçar a cultura e a lealdade dos colaboradores, ensinando novas competências
e desenvolvendo habilidades.
Os autores Kouzes e Pozner (2013) acrescentam que o treinamento de
colaboradores de forma continuada tem se revelado atividade fundamental na gestão
organizacional. Esse papel deve-se à relação entre competência e otimização de
resultados e que coloca a competência profissional como elemento de eficácia
organizacional, que também pode ser entendido como fator motivacional tendo em
vista que o conhecimento é um dos elementos chaves que impulsionam a satisfação
do trabalho, uma vez que não é só a remuneração que retém as pessoas nas
organizações.
Dentre outras razões que justificam o investimento em uma universidade
corporativa, podemos destacar ainda a definitiva opção de muitas organizações de
direcionarem esforços na teoria do capital humano que, segundo a visão da Unesco
(2005), valoriza o potencial do indivíduo como fator de importância no
desenvolvimento da organização. A sua importância sempre teve destaque, mesmo
sem a atenção que agora lhe é dada. É uma teoria que substitui com vantagem, pelo
menos para o colaborador, aquela segundo a qual a riqueza da organização está em
seus ativos tangíveis. Isso é trocado pela valorização do capital intelectual, do
elemento humano, de seu conhecimento e de seu trabalho em relação ao lucro que
pode ser obtido por ela. Hoje o posicionamento é totalmente diversificado, pelo menos
nas corporações que pautam os comportamentos e atitudes em padrões que
valorizam mais a pessoa. Até chegar a esse ponto, se passou pela afirmativa de que a
riqueza de uma organização era devida à detenção das informações, o que também
se provou uma verdade que não é completa. O estereótipo do funcionário ideal, de
acordo com essa visão, apresenta as seguintes características:
1. Energia para o trabalho2. Atitudes positivas3. Confiabilidade4. Responsabilidade5. Capacidade de aprender6. Aptidões7. Imaginação8. Criatividade9. Prudência e sensatez10. Motivação para compartilhar informações e conhecimentos11. Espírito de equipe12. Orientação a metas. (Rhportal, 2013)
Há de se convir que encontrar um profissional que tenha todos esses atributos
não é fácil. Com base nisso, a organização se viu em condições de formar
competências e habilidades que transformassem os principais colaboradores, as quais
são delegadas para a universidade corporativa. É preciso abandonar a estrita
formação técnica e tecnológica e, se necessário, lançar mão da emoção, que pode
motivar o colaborador a trazer para o interior da organização coisas que estão além de
sua força de trabalho, tais como “a sua alma, seu coração, enfim suas emoções, em
contraposição à teoria que as organizações utilizavam alguns anos atrás” (Rhportal,
2013). Com essa proposta, a empresa passa a enxergar o real valor do fator humano.
O retorno, ainda que intangível, dá força para a universidade corporativa e justifica
perante os stakeholders o investimento efetuado, a mudança da visão da formação
como um centro de custo para assumir a posição de investimento de valor e que pode
trazer retorno e justificar aportes pesados de capital.
O que é encarado de forma individual é potencializado para todo o conjunto de
colaboradores, quando a empresa agrega a essa mudança de visão a proposta da
transformação dela em uma organização que aprende, na qual: as chefias
intermediárias são eliminadas; ocorre o empowerment funcional que, segundo Santos
(2004), objetiva a delegação de poder de decisão, autonomia e participação dos
funcionários na administração da organização; e são montadas equipes de trabalho
que disseminam os seus conhecimentos e apresentam resultados que permitem sua
classificação como grupos altamente eficazes. Com base nessas considerações
iniciais, as empresas modernas passam a enxergar a educação corporativa e, por
extensão, a universidade corporativa como elementos fundamentais capazes de criar
e reter talentos dentro delas. Ao adotarem esse comportamento, têm todas as
condições de crescer, de modo a adquirir uma visão institucional e de marca, como
bons locais de trabalho, o que representa a possibilidade que reunirem uma massa de
talentos ao seu redor.
Na perspectiva da organização, a criação de uma universidade corporativa
deve, além do que já foi visto, estabelecer os programas de formação vai oferecer aos
colaboradores. Com isso é possível que aumente a capacidade competitiva no
mercado. Seus elementos de apoio passam a ser os componentes de sua cadeia
organizacional, na qual os mais diversos colaboradores têm papel de destaque. Nos
dias atuais, a posição de diversos estudiosos e dos responsáveis pelas funções de
educação corporativa no interior da organização é convergente. Ela tem a consciência
intuitiva que deve orientar os colaboradores no sentido de que se engajam em um
processo de formação permanente e continuada (lifelong learning). Isso é diferente do
que tradicionalmente era desenvolvido nos setores de T&D das organizações
tradicionais. A questão adquire importância porque os programas de formação deixam
de estar apenas circunscritos ao treinamento para utilização de técnicas e melhores
práticas solução de questões operacionais e se integram e se relacionam diretamente
com objetivos estratégicos significantes da organização. Dessa forma, não mais
podem ser vistos sob a perspectiva de treinamento, mas sim como um processo de
formação diferenciado.
7. Como implantar a universidade corporativa?
A pergunta que deve ser respondida neste ponto procura, na análise de
experiências anteriores e de recomendações que podem ser obtidas no referencial
bibliográfico, inferir e repassar para o leitor, o que será efetuado neste capítulo,
possíveis formas sob as quais as universidades corporativas podem ser implantadas.
O número de programas de formação nos dias atuais envolve o nivelamento
das equipes de trabalho, o que leva a uma formação extensiva quando se considera a
quantidade de participantes. Para se evitarem custo e perda de tempo na
movimentação do colaborador recomenda-se que o processo seja desenvolvido em
serviço. A distribuição geográfica de muitas organizações traz um elevado custo de
deslocamento. As interrupções nem sempre são possíveis para movimentar grande
número de colaboradores. Permitir que ele se realize de forma portável, em que haja
condições de comunicação fora dos horários de expediente, significa utilizarem-se os
ambientes virtuais de aprendizagem criados na rede mundial de computadores. O e-
learning (aprendizagem eletrônica) tem sido o meio mais escolhido por atender essas
sugestões. Essa abordagem muda a forma como a organização desenvolve o
processo de formação na atualidade.
Alguns requisitos são necessários para que os colaboradores possam
desenvolver uma proposta de aprendizagem independente:
1. desenvolvimento da aprendizagem ativa: aquela em que o estudante a realiza
de forma interessada, participante e ativa;
2. efetivação da aprendizagem independente: aquela em que o aluno busca,
identifica e analisa, e com base no que foi captado no universo de informações que
circulam na rede ou em qualquer outro ambiente, em qualquer outra mídia, desenvolve
novas formas de criar ou adquirir conhecimentos;
3. desenvolvimento da aprendizagem colaborativa, do trabalho em grupo: aquele
na qual o aluno é parte integrante de uma estrutura e em relação a ela adquire e se
desincumbe de responsabilidades voltadas para que um objetivo comum seja atingido;
4. disseminação de todo e qualquer conhecimento criado dentro da estrutura da
organização que está investindo em formações individuais que devem reverter em
benefício do todo.
Além dessas exigências, feitas ao aluno, sugerem-se aos instrutores:
1. aplicar os fundamentos da andragogia, que determina formas pelas quais o ser
humano adulto aprende;
2. desenvolver trabalhos em grupo com condições de agir na gestão dos conflitos
que normalmente acontecem nesse tipo de trabalho;
3. saber resolver problemas e orientar grupos de pessoas a trabalharem da
mesma forma, obtendo resultados convergentes de uma atuação conjunta entre
pessoas com diferentes formações, mas com os mesmos objetivos;
4. adequar os objetivos estratégicos da organização com os de crescimento
pessoal e atendimento das necessidades dos colaboradores participantes dos
processos de formação.
O que foi apresentado pode parecer um elenco de solicitações simples e fáceis
de serem obtidas, mas isso não corresponde à realidade dos fatos. Atender a essas
solicitações representa uma atividade complexa. Os colaboradores são egressos de
um ambiente educacional não centrado nos alunos, sob o controle do docente que
atua como detentor universal do conhecimento, por isso esperam as soluções de
todas as suas dúvidas pelo orientador. Eles são retirados de sua zona de conforto,
mas nem por isso os processos da universidade corporativa devem ser realizados sob
uma ótica assistencialista.
Outro desafio diz respeito a uma insuficiência didática e pedagógica de
profissionais como instrutores. Acostumados a um processo de orientação que apenas
conduz o aluno, apenas mostram as melhores práticas para se atingir um determinado
objetivo. O seu espelho é alguma rotina operacional definida e estável, todavia os
problemas de relacionamento da organização moderna com o mercado não são tão
simples assim. É preciso cuidado ao utilizar os profissionais como orientadores. A
qualidade didática e pedagógica leva algum tempo para ser atingida e a organização
pode não ter tempo para esperar.
Há necessidade de planejamento de toda uma estrutura educacional, a qual
difere fundamentalmente do propósito e forma de ação dos antigos departamentos de
T&D. Entre as primeiras necessidades a serem atendidas, inclui-se a de estabelecer
procedimentos específicos que permitam a operacionalização de processos de
aprendizagem diferenciados entre os colaboradores e demais participantes de sua
cadeia de valor, que pode ser incluída nos programas de formação.
Essas percepções são as que devem ser inicialmente formuladas. A partir do
atendimento desses pressupostos – a existência de instrutores e colaboradores
conscientes, o estudo do que lhes é exigido para desenvolvimento de trabalhos na
universidade corporativa e a capacidade de agir de forma didática e pedagógica – é
que se pode dar seguimento à implantação da universidade corporativa. Fee (2012),
pesquisador que trabalha extensivamente no desenvolvimento de universidades
corporativas, tem uma visão convergente com a dos autores citados neste livro. Seu
trabalho traz uma proposta de como uma universidade corporativa deve ser
estabelecida, com base nos estudos apresentados até o momento. Para tanto, ele
considera que é importante analisar alguns fatores que podem ser determinantes para
a qualidade dos serviços oferecidos, quando se coloca no papel a estratificação de
uma universidade corporativa, depois de respondidos todos os questionamentos
colocados nos capítulos anteriores. Ele chama a atenção para os seguintes aspectos:
1. definição de estratégia;
2. planejamento do projeto;
3. marca (imagem institucional);
4. infraestrutura;
5. currículo;
6. programas de aprendizagem e suporte;
7. avaliação e acreditação.
Os dados dos capítulos seguintes deste trabalho estão direcionados no mesmo
sentido dos estudos desenvolvidos por por Fee (2012).
7.1 Definição da estratégia
Quando uma organização, após estudos estratégicos, decide que deve optar
pela educação corporativa e escolhe a universidade corporativa como forma de sua
efetivação, existem questionamentos que não podem deixar de ser feitos:
1. Por que a universidade corporativa é a solução para os problemas dela?
2. O que é necessário para que ela seja implantada?
3. O que ela vai fazer?
4. Quais são os objetivos?
5. Como esses objetivos devem ser expressos?
Essas indagações a levam a formular uma estratégia. Sem uma definição clara,
os objetivos não vão ser atingidos e a universidade corporativa pode nascer já falida.
Os valores devem estar devidamente estabelecidos. Há necessidade de uma
articulação por meio de uma declaração da missão desse participante do novo
organograma da organização. A estratégia da universidade corporativa deve estar
totalmente alinhada com os objetivos estratégicos, e a forma de efetivação da
educação corporativa deve garantir a participação ativa de todos os colaboradores.
A transparência é fundamental, e o desenvolvimento de atividades de
endomarketing deve ter início antes mesmo de que a implantação venha a ocorrer.
Após a divulgação da iniciativa, é importante que os colaboradores possam
acompanhar todas as atividades que efetivam a sua implantação, desde a escolha e
definição da interface até sugestões que possam definir o programa de cursos.
7.2 Planejamento do projeto
A escolha, definição e estabelecimento de uma universidade corporativa
constitui um projeto que pode ser único ou dividido em partes que venham a ser
criadas e implantadas no transcorrer de sua vida útil, ao longo de uma linha de tempo.
A principal preocupação, em fases iniciais, diz respeito à implantação. O projeto deve
preferencialmente utilizar pessoas do seu quadro interno em seu desenvolvimento,
pois conhecem a cultura da organização, de onde ela vem e para onde pretende ir.
Essa orientação segue a ideia de que, dessa forma, pode ser mais bem aceita pelos
colaboradores e que o engajamento deles no projeto seja mais ativo. Aspectos
bastante importantes incluem a avaliação de risco e a existência de alternativas que
podem ser utilizadas no caso de algum insucesso na etapa de implantação. O plano
de contingência, se existir, deve estar claramente explicitado via documentação
apropriada. A existência de metadados sobre o projeto é uma das primeiras condições
que se impõem.
7.3 Marca (imagem institucional)
Quando você entra em algum bar e deseja tomar um refrigerante ou em algum
supermercado para escolher alguma mercadoria na prateleira, a primeira coisa que
olha é para a marca do produto. A importância dela e da criação de uma imagem
institucional para a universidade corporativa não pode ser subestimada. Trata-se mais
do que a definição de um nome e da escolha de um logotipo; a ocasião é uma
oportunidade imperdível de que ela inicie já sob o signo do sucesso. Essa imagem
deve representar parte importante da organização no que diz respeito ao seu
simbolismo. É inegável que ele é inspirador e pode se tornar o veículo para dar origem
a uma cultura de aprendizagem diferenciada (veja os exemplos típicos da universidade
corporativa dos supermercados ou da Universidade McDonalds, conhecida de forma
geral como Universidade do Hamburguer). Este é um fato que acaba por tornar a
organização conhecida nas redes sociais. Ela acaba sendo considerado um lugar
agradável para o desenvolvimento de trabalhos, tende a atrair os melhores talentos
em sua área de atuação e fomentar o seu desenvolvimento contínuo. Ela não pode
estar dissociada da marca corporativa que deve existir. Existem casos em que a
marca e imagem institucional da própria universidade corporativa pode puxar a
empresa no embalo, mas essa não é uma situação desejada. Estilo visual, cores,
animação, tudo deve estar dentro da perspectiva da imagem organizacional.
7.4 Infraestrutura
Criada a universidade corporativa, definidos os objetivos e estratégia,
planejamento cuidadosamente projetado, escolhida a marca e imagem institucional,
temos em mãos todos os elementos para iniciar a implantação.. Mas ainda falta
responder à pergunta: Onde ela deve estar instalada? Essa não é uma tarefa fácil.
Vamos partir do princípio de que os estudos iniciais apontaram como estratégia a
colocação dela no ambiente virtual, sem a necessidade de ampliações ou adequações
estruturais para o posicionamento físico. Uma vez determinada a virtualidade como
opção, a providência seguinte é definir quais sistemas e programas vão oferecer o
Sistema de Gerenciamento de Conteúdo e Aprendizagem (SGCA) que cria a metáfora
de um campus virtual.
Existem três possibilidades de escolha:
1. compra de um produto proprietário;
2. cópia de algum produto ofertado na modalidade open source (a opção mais
utilizada atualmente devido ao grande número de produtos disponíveis e ao
surgimento da computação em nuvem e a oferta de Software as a Service – SaaS);
3. desenvolvimento interno de um produto.
A organização pode optar por qualquer uma delas. Independentemente disso, a
escolha deve ser de elevado grau de usabilidade, que representa a relação entre o
número de sucessos de entrada no sistema em relação ao total de entradas efetuadas
(quanto mais esse fator de aproxima de 100%, maior a qualidade do produto
analisado). O produto desenvolvido, adquirido ou baixado deve atender ao maior
volume possível das necessidades do público-alvo que se deseja atingir. O que se
deve evitar, no máximo nível possível, é que a solução exija um esforço de
compreensão e utilização muito grande e requeira muita burocracia para o seu
atendimento. A escolha está claramente determinada e influenciada pelo que a
organização estabeleceu como estratégia. O produto deve, da mesma forma, estar
alinhado com os objetivos estabelecidos na fase de planejamento. O que a
organização deve procurar é utilizar tecnologia de ponta, ter um orçamento equilibrado
que não afugente investimentos e que atenda às expectativas. O produto criado deve
ser flexível e permitir que os instrutores tenham formas simplificadas de inserção de
conteúdos e criar condições para que os alunos desenvolvam atividades de
aprendizagem de acordo com o nível de educabilidade cognitiva, tida por Fonseca
(1998) como a capacidade de aprender a aprender, o que facilita a aprendizagem
independente. Flexibilidade e capacidade de adaptação dinâmica dos programas de
formação propostos aos colaboradores são palavras-chave para a universidade
corporativa.
7.5 Currículo
Para muitas organizações, esse foi e ainda é um dos principais aspectos que
atuam como fator de sucesso ou de insucesso. O desenho e proposta de um currículo
ou programa de cursos não pode replicar a forma como eram oferecidos pelos antigos
departamentos de T&D. Um estudo preliminar entre os colaboradores deve levantar
quais são as expectativas e a partir daí colocadas juntas com as necessidades de
formação de competências e habilidades específicas para, então, ser estudado um
programa que, além de estar de acordo com a estratégia organizacional, coincida com
as necessidades dos colaboradores. Equívocos podem ser corrigidos e ajustados, o
que muitas vezes ocorre é a dificuldade de que seja recuperado um prestígio que
venha a ser perdido por uma grande sucessão de erros de avaliação, com a oferta de
programas que não vão ao encontro das necessidades e a ausência de outros que
atendem aos colaboradores e não foram considerados (economia doméstica, correção
de lesões por esforço repetitivo etc.).
7.6 Programas de aprendizagem e suporte
O primeiro deslocamento da atividade de treinamento para que ocorra a
educação corporativa está neste aspecto. Para escolher uma capacitação, bastava
que o departamento de gestão de recursos humanos, geralmente o responsável pelos
setores de T&D, definisse quais as competências e habilidades seriam necessárias e
determinasse as atividades práticas que levariam os colaboradores a aprenderem os
conteúdos. Na visão acadêmica, a proposta é minimalista. Para que a aprendizagem
ocorra, é preciso que sejam utilizadas ideias pedagógicas diferenciadas; de acordo
com seus pressupostos e recomendações, os conteúdos vão ser apresentados aos
alunos. A partir daí, vai se exigir a efetivação da aprendizagem com: proposta da
solução de problemas; desenvolvimento da aprendizagem ativa; efetivação da
aprendizagem independente; incentivo à aprendizagem colaborativa em grupos;
respeito às formas individuais de aprendizagem (pedagogia diferenciada); e quaisquer
outras sugestões que transformem a atividade de ensino e aprendizagem em uma
ação prazerosa. Ela deve ser algo agradável de ser desenvolvido e recuperar o
encanto no relacionamento entre instrutores e alunos. É assim que se torna possivel
trazer de volta o que seria de se esperar fosse natural: entusiasmo e vontade de
ensinar e de aprender.
Desse modo, a universidade corporativa adquire uma condição diferenciada;
ela se aproxima do que devem ser os processos de educação do ser humano: a
satisfação de uma curiosidade inata que, quando desenvolvida sem coerção, pode
levar a um elevado grau de criatividade, de inovação e de empreendedorismo. A
instalação de unidades de aprendizagem face a face somente se mostra necessária
em condições bem específicas. Na maioria dos casos, quando se trata de
universidade corporativa, os equipamentos e laboratórios necessários encontram-se
no interior da organização ou bem próximos dela.
7.8 Avaliação e acreditação
De nada adiantam esforços desenvolvidos para dotar a organização de um
instrumento que atua como poderosa ferramenta para efetivar a educação corporativa
se ela não estiver apoiada por um processo de avaliação e acreditação da formação
que oferece. O reconhecimento de órgãos oficiais e do próprio mercado somente será
obtido se esses processos apresentarem validade e estiverem de acordo com o que
se espera de uma avaliação que oferece uma certificação social. A presença, na
organização, de especialistas, mestres e doutores advindos do mundo corporativo e
associações e parcerias com outras instituições podem dar um reconhecimento cada
vez maior para a universidade corporativa. Esse processo pode ser considerado como
o corolário de toda a implantação de uma universidade corporativa em qualquer
empresa. Ela tem validade seja no mercado informal, seja no corporativo, seja no
acadêmico, este ainda receoso de adotar alguns pressupostos e paradigmas já estão
em uso com sucesso. A parceria entre as organizações e a universidade é algo
esperado há muito tempo e pode trazer benefícios para ambas as partes.
8. Quais as vantagens da universidade corporativa?
Neste ponto existe a necessidade de se enxergar quais os possíveis benefícios
que a implantação de uma universidade corporativa pode trazer para a organização no
que diz respeito ao relacionamento com as estratégias adotadas para ela possa, via a
utilizacao da educação, conseguir atingir elevado nivel de produtividade.
As corporações não mais podem ignorar as mudanças a elas impostas no
século XXI. Os sistemas organizacionais criados até aqui e voltados para dotá-las de
capacidades competitivas no mercado atual foram estabelecidos fora da rota de
oferecer excelência em atendimento, controle de qualidade e adoção de contextos
apropriados de formação dos colaboradores. Em todos os artigos e livros que
discutem o tema observa-se que se propugna a aprendizagem como a força motriz
participante de todos os planejamentos organizacionais e definição de estratégias.
Drucker e Marciarello (2005) consideram que as mudanças exigem aprendizagem, o
planejamento requer estratégia; assim, por extensão, defendem que o planejamento
em um ambiente de constante mudança requer uma estratégia de aprendizagem
diferenciada para formação do profissional do conhecimento. Ela não é mais pontual
ou delimitada por curtos períodos no tempo, mas passa a ser vista como uma
necessidade para toda a vida, considerada por Claxton (2005) como uma premissa
desafiadora para todos os profissionais no mercado contemporâneo. É um fato que
coloca em foco a educação para toda a vida (lifelong learning) e que enxerga como
algo que deve ser desenvolvido de forma ininterrupta em um contexto no qual velhas
profissões deixam de existir e novas surgem em um ritmo inesperado.
Outro aspecto que causa preocupação nas organizações é a mobilidade da
força de trabalho. Ela não tem mais na fidelidade, na garantia de emprego com salário
fixo determinado, o seu objetivo. As necessidades se tornam voláteis e mudam com a
flutuação do mercado. A agilidade, na atividade de aprendizagem, torna-se algo
inevitável e pode causar ansiedade nos colaboradores, submetidos ao que se
convencionou chamar de “estresse tecnológico”. O esforço para aprender cada vez
mais coisas provoca uma sobrecarga cognitiva que pode ter vazão e ser aliviada por
meio da aprendizagem corporativa.
Quando a organização enfrenta essa situação sem a mobilidade de uma
atividade de aprendizagem, o que não é incomum, tende a criar ambientes rígidos, nos
quais não há colaboração e a sensibilidade das pessoas está embotada. Assim, o
andar da carruagem do progresso emperra em solavancos e avança em supetões, que
somente são conseguidos quando o alto nível de coerção acaba sendo imposto. Trata-
se de um processo que afugenta a força de trabalho qualificada. A burocracia
corporativa tem que ser vencida. Uma das formas mais eficientes de superar esse
estado de coisas é tornar o investimento em educação corporativa uma estratégia
organizacional. Estudos complementares sobre localização, forma de efetivação e
disponibilidade dos colaboradores, entre outros fatores, acabam indicando a criação
de uma universidade corporativa como a solução ideal para a chegada de um tempo
de mudanças na organização.
8.1 Agilidade organizacional
Para que uma organização possa atender aos anseios do mercado, com uma
variação quase que diária das necessidades dos clientes, ela precisa tornar-se ágil.
Assim poderá responder de forma mais adequada aos desafios que a modernidade
sugere e a orienta no sentido de:
1. criar uma estrutura organizacional ágil em que o alinhamento da valorização do
capital humano esteja em sintonia com a estratégia da empresa e proporcione a
retenção de talentos;
2. ter como resultado dos processos educativos um planejamento e uma medida
de avaliações do aumento da criatividade e produtividade das equipes de trabalho
montadas;
3. efetuar pesquisa nos quadros funcionais sobre a capacidade interna de
resposta às mudanças do mercado, o que pode ser obtido mediante a definição de um
programa de cursos diferenciados.
Um programa de educação corporativa que privilegie a agilidade organizacional
alinhada com a valorização do capital intelectual pode fazer diminuir a distância em
relação a organizações que saíram na frente e que ganharam destaque no mercado.
Isso exige um processo de gestão do resultado das mudanças sugeridas. As
transformações vão continuar acontecendo, mas nessa situação a organização estará
preparada para enfrentá-las.
A queda na formalidade da estrutura organizacional, prevista na educação
corporativa, implica uma eliminação de gerência intermediária e um empowerment
funcional de equipes de elevada competitividade, o que muda a natureza da
organização. Os setores produtivos se aproximam daqueles com poder de decisão e
podem compreender melhor as necessidades e as formas com que ela pode reagir no
mercado. A quebra de burocracia se impõe como atividade mandatória, e isso
somente ocorre com a quebra das estruturas formais. Ocorre um processo de
racionalização que exige colaboração e participação para que fatores resistentes e
deslocamento de pessoas de sua zona de conforto não façam retornar o estado de
burocracia que é indesejável.
8.2 Mudanças que podem advir da implantação da universidade corporativa
Em que lugar, dentro de tudo isso, se encaixa a universidade corporativa? Ela
vai atender a uma necessidade básica da empresa moderna: tornar-se uma
organização que aprende (Senge, 2010), capaz de identificar a mudança,
compreendê-la e aprender como deve ser o comportamento para enfrentá-la. Se a
educação corporativa continua sendo desenvolvida de forma externa, o tempo
necessário para que esse processo seja ágil pode não ser alcançado. A inserção dela,
quase dentro de uma linha de produção ou de um departamento de vendas –
considerando que a virtualidade está presente em todos os ambientes –, elimina a
falta de agilidade. Quem pode responder a essa demanda? A universidade corporativa
é quem assume tal responsabilidade.
Aos poucos, com a apresentação de diversos exemplos, a educação
corporativa interna, desenvolvida na universidade corporativa, vai mostrando a sua
utilidade. Ela tem sua aplicação e a oportunidade de sua implantação. Influencia
decisivamente a ótica que considera que a diminuição dos custos de armazenamento,
processamento e recuperação das informações atinge valores que justificam a criação
de localidades estabelecidas no virtual. Nesses locais, a organização guarda o seu
processo de educação corporativa. Ele pode ser acessado a qualquer momento e de
qualquer lugar, inclusive do interior de suas linhas de produção e departamentos de
vendas, marketing e outros. A empresa passa a considerar que a educação
corporativa, alinhada com estratégias formuladas à luz de resultados positivos de
outros processos de formação, pode movimentá-la para frente, torná-la ágil e e apta a
responder aos estímulos do mercado.
Essa visão, ainda que reduzida, de imposições do mercado de trabalho, mostra
que a universidade corporativa leva vantagens sobre os departamentos de
treinamento, bem como sobre a escolha de treinamento externo, desenvolvido por
pessoas que não possuem o conhecimento da organização e de suas necessidades.
Além disso, facilita a captação, retenção e engajamento dos colaboradores. A
tendência é que logo após a implantação, ela se torne um símbolo tangível dentro da
organização e afaste o receio dos stakeholders em aplicar capital em algo que não dê
retorno. A partir daí, as vantagens começam a se mostrar evidentes. Pode-se
considerar que a universidade corporativa:
1. força a organização a enxergar o valor das pessoas. Estas, quando têm as
atendidas, são mais produtivas, procuram conciliar os seus interesses com aqueles
que representam a estratégia organizacional e tendem a torná-la a mais competitiva
no mercado;
2. orienta a organização a adotar o desenvolvimento interno como meio de
aproximar as pessoas e facilitar a formação de equipes altamente competitivas;
3. facilita a disseminação do conhecimento entre departamentos e setores da
organização;
4. colabora para criar uma imagem de organização diferenciada, o que facilita a
atração de talentos;
5. compromete a organização com a visão de uma cultura educativa e integração
do que ela tem como cadeia de valor (fornecedores, colaboradores, clientes,
investidores, comunidade subjacente etc.);
6. diminui o processo de evasão, o qual impõe à organização uma sobrecarga
financeira elevada aplicada ao custo de reposição, não somente do processo
educativo de um colaborador, mas também da exigência de que ele aprenda tudo o
que seu antecessor sabia e que pode ter levado anos;
7. permite descoberta, capacitação, motivação e fomento de novos talentos para
suprir demandas da organização via movimentação interna de pessoas mal alocadas
em seus departamentos de origem por não terem tido a oportunidade de dizer e
mostrar o que pensam, querem e podem fazer – isso é solucionado pelo fórum aberto
que é criado pela instalação da universidade corporativa;
8. instala no interior da organização, segundo Eboli (2004) a compreensão da
importância das atividades de educar e de aprender. Ela atende assim a um dos
postulados de Freire (2003) de que a atividade de ensino é criação de condições que
os colaboradores criem produção de conhecimento, obtida por meio de práticas
educacionais de fácil uso e acesso. Estas são colocadas à disposição pela
universidade corporativa com um programa de cursos objetivos, curtos e flexíveis no
sentido de adaptação às características dos colaboradores da organização;
9. cria, conforme a visão de Eboli (2004), um diferencial importante quando
permite uma ampliação e qualificação de uma rede de relacionamento entre os seus
públicos externo e interno;
10. coloca em movimentação no interior da organização práticas e ações
gerenciais que motivam as pessoas a gerar, assimilar, comunicar e aplicar os
conhecimentos adquiridos (Eboli, 2004);
11. insere, segundo Carvalho (2001), os colaboradores da empresa na sociedade
do conhecimento e estimula a criação de valores intangíveis;
12. permite a divulgação do conhecimento próprio e daquele criado por terceiros
(organizações externas) que gera a tendência da criação e desenvolvimento da
inteligência organizacional;
13. estabelece, na integração entre os diversos departamentos e setores, a criação
de conhecimentos advindos da soma de comportamentos e valores compartilhados.
Eles representam, segundo Pagnozzi, (2002) a cultura que é gerada no interior da
organização;
14. cria, de acordo com Tanure (2006) a gestão do equilíbrio que leva ao
estabelecimento de um ambiente revitalizador onde são construídas relações de
confiança e percepção de justiça. Estas se refletem no atendimento das necessidades
do colaborador;
15. atua como um poderoso veículo de fortalecimento, consolidação, integração e
disseminação da cultura organizacional (Eboli, 2004). Esse aspecto é importante para
que os colaboradores estejam reunidos em torno de objetivos comuns e alinhados
com a estratégia adotada pela empresa.
A soma de todos esses elementos oferece uma perspectiva interessante para
qualquer organização interessada em mudar a forma de trabalho e investir na
valorização do capital intelectual, com vistas a obter como retorno a possibilidade de
montagem de equipes altamente eficazes. Elas tendem a manter a competividade da
empresa no mercado e trabalhar no novo, adaptando-se constantemente às
mudanças.
9. Como controlar investimentos na universidade corporativa?
Neste momento é importante levar em consideração os aspectos
financeiros que a proposta traz para que se possa dar uma resposta ao
interesse dos stakeholders interessados no sucesso da iniciativa. Investimento
ou centro de custo: Qual a orientação mais correta?
A saída do estudo desenvolvido neste capítulo tem destinatários certos: os
stakeholders. São as pessoas que têm interesses financeiros ou pessoais no
progresso da organização. Os resultados esperados em relação à educação
corporativa efetivada pela universidade corporativa implantada são:
1. aumento de produtividade nos processos internos de produção;
2. aumento da efetividade das equipes de trabalho;
3. obtenção de melhor rentabilidade nos negócios;
4. obtenção de maior qualidade nos processos de formação de competências e
habilidades;
5. possibilidade de diminuição de custos e de forma consequente dos preços
praticados;
6. aumento de segurança dada por uma formação educacional apropriada para os
colaboradores de acordo com as necessidades do mercado.
A partir daí entram em cena as duas partes interessadas. Tanto a organização
quanto os instrutores trabalham para atingir resultados que deem novas competências
e habilidades aos colaboradores e providenciar que o processo educacional esteja
alinhado com a estratégia estabelecida. A avaliação é efetuada ao longo do tempo, na
verificação de melhoria de atendimento aos clientes e de maior competitividade no
mercado. Trata-se de retornos intangíveis que se transformam em benefícios
mensuráveis; são esses os de interesse dos destinatários do resultado dos estudos.
A primeira necessidade que dá direcionamento à obtenção do engajamento
dos colaboradores diz respeito à transparência da estratégia organizacional aplicada
para justificar a implantação da educação corporativa. Ela deve ser abrangente,
envolver toda a empresa e estar apoiada em objetivos transmitidos a todos os
envolvidos. Nesse estágio, o único apelo de retorno é a valorização do capital
humano.
9.1 Exigências / benefícios da organização
Sempre que alguma melhoria é implantada na organização, é necessário um
planejamento que permita a colocação de objetivos específicos. Sugere-se que, com a
implantação da universidade corporativa, sejam colocados como tais, em parte ou em
sua totalidade, os seguintes:
1. alinhamento da estratégia organizacional com a valorização do capital humano;
2. oferta abrangente de processos de formação que superem a visão de
treinamento presente nos departamentos T&D das organizações tradicionais;
3. apresentação de planos de carreira bem delineados para todos os
colaboradores que tenham a previsão de desenvolvimento horizontal e vertical;
4. apresentação de plano de oportunidades de aprendizagem em todos os níveis
que abrangem desde o “chão de fábrica” até a alta gerência;
5. identificação clara de pontos de avaliação da estratégia, um dos aspectos de
destaque exigido pelos stakeholders.
Essa é uma visão macro dos processos que vão ser detalhados. Eles delimitam
o estudo do retorno sobre os investimentos (Return on Investment – ROI) aplicado à
educação corporativa. Ainda nesse nível, é importante que a organização estabeleça
os objetivos a serem atingidos. São eles que vão determinar, para os stakeholders,
uma primeira visão clara dos retornos possíveis:
1. atingir as expectativas – que são grandes dentro do ambiente organizacional –
colocadas com relação à educação corporativa e à criação de sua universidade
corporativa;
2. apresentar rotinas de gerenciamento de desempenho;
3. proporcionar a descoberta e atração de novos talentos e retenção dos que
foram aperfeiçoados;
4. conseguir o engajamento de todos os colaboradores;
5. criar equipes de talentos de alta produtividade.
Nessa fase estão sendo considerados os benefícios intangíveis que acabam
por trazer retornos inesperados.
9.2 Exigências / benefício dos colaboradores
Para atender aos investimentos iniciais, os colaboradores devem responder
com a “sua parte”. Eles estão sendo objeto de análise pelos stakeholders, por isso
devem:
1. atender à evolução que deles se espera;
2. expandir os limites de sua atuação antes de participar da educação corporativa;
3. crescer profissionalmente e ser capazes de assumir novas funções, algumas
derivadas das chefias intermediárias;
4. gerenciar os resultados da própria aprendizagem;
5. sugerir reinvestimentos por razões de sucesso no processo.
Essa resposta deve trazer aos colaboradores alguns benefícios que justificam o
seu engajamento na estratégia organizacional:
1. aumento da empregabilidade, não somente interna mas também no mercado
de trabalho;
2. aumento da satisfação no trabalho, que deve ser utilizada para melhoria do
clima organizacional. Estudos desenvolvidos por Junqueira e Boog (2014) consideram
um bom clima organizacional aquele em que os colaboradores sentem-se bem e
satisfeitos em trabalhar, o que aumenta o nível de participação nas iniciativas da
empresa;
3. aumento da capacidade de trabalho e de assumir responsabilidades de chefias
intermediárias e receber em troca incentivos diversos;
4. melhoria do resultado de seus trabalhos, quando em comparação com o que
era desenvolvido antes da participação em processos de educação corporativa;
5. aumento do comprometimento com o trabalho individual e em equipes de alto
desempenho.
Para o colaborador trata-se de um processo de enriquecimento com a
aquisição de novas competências e habilidades, algumas pessoais, outras
psicológicas e aquelas de benefício direto para a organização que está investindo no
processo de educação corporativa. A partir desses determinantes deve ser iniciada
análise de acordo com as melhores práticas, que não será aqui apresentada por não
fazer parte do escopo do material em foco.
10. Mudança de treinamento para aprendizagem
É importante analisar um fato que está posto como um novo paradigma para a organização. Ele diz respeito à uma mudança que é profunda no sentido da diferença qualitativa entre uma abordagem de simples treinamento e outra que leva em consideração a aprendizagem. Neste enfoque a montagem de programas de formação passam a respeitar também o interesse dos colaboradores, e não apenas da organização.
As pessoas estão comprometidas com uma nova realidade. Nela, a
organização foi lançada por força das características do mercado contemporâneo. A
mudança dos departamentos de T&D para a instalação de universidades corporativas
próprias altera de forma significativa a face dos processos de formação. Se antes eles
eram ofertados para cobrir necessidades da empresa, no preenchimento de vagas
com colaboradores internos ou na apropriação de técnicas para utilização de
equipamentos ou criação de rotinas, essa posição muda radicalmente. Ela precisa dar
aos colaboradores uma condição diferenciada, uma formação que lhe permita
enfrentar o desafio da necessidade que o mercado tem de “profissionais do
conhecimento”, aptos a trabalhar no que os pesquisadores chamam de a economia do
conhecimento a qual, segundo Tofler (2007), substituiu a economia industrial.
Drucker e Marciarello (2005) conceitua esse profissional como alguém que
surge das transformações no ambiente de trabalho ocorridas neste novo século.
Considera-se que, para sobreviver nesse mercado, a organização tem que não
apenas formar esse indivíduo mas saber como retê-lo em seus quadros, o que
aumenta a vantagem competitiva dela. Esse modelo econômico exige mais
adaptabilidade, competência e capacidade de aprendizagem.
A exigência de apresentar resultados, tanto para a empresa quanto para o
colaborador, contextualiza ainda mais a importância da educação corporativa e a
substituição da tarefa de treinamento pela missão de implantar uma cultura de
aprendizagem. Há uma colocação proposta por Sveiby (2007) que, em nosso
entender, define o profissional do conhecimento como um profissional altamente
qualificado, com alto nível de escolaridade, capacitado a converter a informação em
conhecimento, utilizando para atingir tal propósito as suas próprias competências. A
existência desse profissional no interior das organizações eleva o valor dos ativos
intangíveis e forma o seu capital intelectual.
Outro problema é que essa mudança vai encontrar a universidade e as
organizações do mercado corporativo divorciadas umas das outras, cada qual com os
próprios objetivos os quais nunca estão colocados no mesmo rumo. As empresas não
estão preparadas para abandonar as formas de treinamento, transformadas em
programas de aprendizagem. Valorização de capital humano, adultos recolocados em
uma rota de aquisição de novas competências e habilidades, andragogia, educação
para cidadania são temas da agenda acadêmica que nunca tiveram lugar na agenda
corporativa. Agora eles se impõem como necessidades que nada fáceis de serem
atendidas. Mas a primeira definição a mudar, sem o que todas as demais que serão
colocadas – na medida em que novos programas de formação sejam instalados – não
terão efeito, é a mudança do enfoque de treinamento para aprendizagem.
10.1 Uma mudança complexa
O treinamento tem um propósito restrito; sua finalidade é obter uma melhoria
de desenvolvimento profissional do colaborador. Ele é o repasse de um conhecimento,
de uma habilidade ou de uma atitude relacionada com alguma necessidade detectada
na linha de produção dos produtos ou serviços que a organização comercializa ou
para melhoria de procedimentos organizacionais.
De modo geral, os processos de formação podem ser divididos em formação e
reciclagem profissional. Em ambos os casos a restrição de objetivos continua a
mesma. Apesar de alguns treinamentos poderem ter uma estrutura formal, em sua
maioria são propostas informais, sem estruturação, cujo único objetivo é a
manutenção dos funcionários atualizados com as mudanças do mercado.
Na educação corporativa tradicional os cursos são colocados de forma
pragmática e objetiva e ignora como funciona o processo de aprendizagem e nem
considera os fatores que auxiliam para que a aprendizagem ocorra. Isso implica que
se compreenda como o aluno pode aprender de modo mais eficiente.
Em outra vertente, os profissionais alocados para a efetivação de treinamentos
não têm uma compreensão mais completa do real papel do professor. Ele está voltado
para seus problemas profissionais, e a capacidade que demonstrou no desempenho
de sua função foi o que o levou assumir essa tarefa. Ele é colocado como autoridade
máxima no assunto e suas exposições são indiscutíveis; também é tido como máquina
de ensinar, apesar de ser falível, e não teve a formação pedagógica ou da andragogia
que lhe permitam atuar como um professor. Entre as funções do instrutor corporativo,
não está a necessidade da compreensão do aluno. A preocupação não é com o
desenvolvimento intelectual deste, mas apenas o aparelhamento técnico.
Qualquer mudança proposta não deve ter a intenção de eliminar o treinamento.
Trata-se de algo necessário como parte de uma atividade de aprendizagem, mas esta
é mais extensiva e acaba transformada em uma visão de um processo de
aprendizagem para toda a vida, ideia encampada pela universidade corporativa. O
educador de trabalhadores adquire, por extensão, uma responsabilidade diferenciada.
Ele não pode estar restrito a um aumento de sua capacidade de responder à altura o
desafio tecnológico, adquirindo competências e habilidades diferenciadas, se enão
adicionar condições para que o colaborador tenha como acompanhante nesse
processo condições de adquirir um crescimento intelectual e cultural.
Segundo Moreno (2012) em trabalhadores superespecializados, nos quais se
observa esta condição, é detectável o perigo de enfraquecimento da estrutura de
valores morais que podem provocar queda em sua motivação, em sua produtividade e
na qualidade dos produtos, de serviços e da vida. Tal afirmação nos dá dimensão da
responsabilidade que recebem como herança os instrutores organizacionais. O autor é
mais radical quando considera que é difícil pensar, decidir e agir em termos de
qualidade e produtividade e educar, para esse contexto, numa nação, cuja população
trabalhadora, em grande parte, não domina habilidades de escrita, leitura e cálculo.
Isso faz aumentar ainda mais a missão desses instrutores, principalmente quando se
enxerga a sua situação, antes que a educação corporativa e as universidades
corporativas fossem cogitadas, em que apenas transmitiam noções práticas e
operacionais.
A partir daí, se impõem diferentes necessidades. Elas podem ser mais bem
solucionadas com uma proposta de integração entre a universidade e a organização.
Enquanto isso não acontece, qualquer proposta exige uma formação diferenciada a
ser oferecida aos instrutores corporativos. Todos esses aspectos complicadores, e que
tornam a atividade de mudança complexa, têm origem na diferença fundamental entre
treinamento e aprendizagem.
O treinamento possui uma visão restrita. Ele é orientado para resolver questões
imediatas, para o presente, em que são necessárias atitudes voltadas a descobrir
soluções rápidas de problemas localizados. Também está direcionado para atender ao
que o colaborador está fazendo na atualidade, com alguma deficiência, ou para formar
recursos que deem conta de uma nova necessidade, devido à aquisição de algum
complemento em linhas de produção ou desenvolvimento de serviços. Ele tem como
principal finalidade a melhoria das competências e habilidades associadas com o
desempenho imediato de alguma atividade.
A aprendizagem carrega uma visão diferenciada. Ela é mais profunda e, em
parte, absorve o treinamento. Pode ser considerada um processo de mudança de
comportamento, algo que pode ser obtido por meio de experiências construídas por
uma soma de fatores diferentes (emocionais, neurológicos, relacionais e influência do
meio ambiente). Nas condições modernas do aluno, posto como centro do processo
de ensino e aprendizagem, o docente passa a ser visto como coautor. No
entendimento de Morin (2007), em um ambiente que incorpora a incerteza, o aluno
tido como sujeito complexo está capacitado a conceber organização desde que lhe
seja dada oportunidade de ação. Trata-se de um fator que se levado em conta pode
orientar de maneira mais eficaz as atitudes e comportamento que se deve ter com o
colaborador em um ambiente no qual as atividades de ensino e aprendizagem podem
ser diferentes das realizadas nas salas de aula tradicionais.
Outro participante em cujo desempenho podem ser observadas deficiências se
ele não for devidamente preparado é o instrutor corporativo, normalmente um
profissional com conhecimento técnico, mas sem formação didática e pedagógica.
Para possa afetar a formação do colaborador com influência benéfica e extensa, ele
precisa estar habilitado para atender às necessidades do aluno, as quais vão muito
além do simples aparelhamento para o desenvolvimento de técnicas e práticas. É
importante a apropriação de uma ponderação de Imbernón (2009), pesquisador ligado
à formação permanente e continuada de docentes e que a considera algo que exige
conhecimento didático e pedagógico específico, o que, aplicado ao orientador
profissional, pode trazer melhores resultados ao trabalho.
Como complemento, para caracterizar de forma mais completa a complexidade
da mudança proposta, é preciso analisar a importância do fator motivação que,
segundo Huerta (2009), não é outra coisa senão um conjunto de padrões de ação que
ativam o indivíduo a executar determinadas metas (querer aprender), aspecto
desejável no colaborador. Outra visão, de Santos (2012), diz que ela é essencial para
efetuar a aprendizagem. Trata-se de uma realidade que é efetivada ao desenvolver
condições para que o aluno fique com vontade de aprender. Há tarefas nas quais isso
é difícil acontecer de forma natural, e é aí que o instrutor corporativo se insere como
fator decisivo e facilitador para que a atividade de aprendizagem aconteça. Há uma
nova dinâmica no relacionamento entre os instrutores e os colaboradores da
organização. São atitudes que passam pela eliminação da relação de autoridade entre
esses atores do processo. Quando esta existe, todas as atividades são decididas pelo
docente, sem levar em conta a vontade do aluno e suas características pessoais.
Quando o funcionário decide junto com o orientador o que estudar, essa atitude, além
de aproximar os dois, colabora para que ele seja mais ativo e participativo. A parte
disso, e como seu complemento, se estabelece a necessidade de um aumento na
interação social para que a motivação possa ser obtida da forma mais intensa
possível. Nela, o instrutor corporativo pode exercer influência sobre o aluno e receber
dele, em mesmo nível, influências que podem afetar o seu comportamento.
Questões de liderança completam e demonstram o nível de complexidade das
mudanças exigidas do instrutor corporativo. Há uma proposta para que se estabeleça
uma taxonomia, à qual ele deve estar submetido, relacionado de forma direta com o
que se considera uma taxonomia para liderança, levando em conta que acaba por
estabelecer uma liderança em seu relacionamento com o aluno. Dessa forma, deve
olhar para a sua prática, para seu relacionamento com cada colaborador e decidir se
ele é um:
1. Líder autoritário: Tudo o que deve ser feito é determinado por ele. Os grupos
de trabalho também são formados pelo ele, que determina para os colaboradores o
que devem fazer. Não diz aos liderados os critérios de avaliação, e as notas não
merecem discussão. O que diz é lei. Ele não participa ativamente das atividades da
turma, apenas distribui as tarefas e dá ordens.
2. Líder democrático: Tudo o que for feito vai ser objeto de discussão e decisão
da turma. Quando há necessidade de um conselho técnico, ele sugere vários
procedimentos alternativos, a fim de que os membros do grupo façam a escolha.
Todos são livres para trabalhar com os colegas que quiserem, cabendo a todos a
responsabilidade pela condução das atividades. Deve discutir com o grupo os critérios
de avaliação e participar das atividades dele.
3. Líder permissivo: Desempenha um papel bastante passivo, dando liberdade
completa ao grupo e aos indivíduos para que determinem as próprias atividades.
Coloca-se à disposição para fornecer ajuda no que for solicitado. Ele não se preocupa
com qualquer avaliação sobre a atividade do grupo e permanece alheio ao que está
acontecendo.
Fonte: Adaptado de Carpilovsky, Lund e Lago, 2007.
É importante considerar questões de retribuição por retorno, premiação por
participação, meritocracia, reciprocidade e outras atitudes positivas que o colaborador
desenvolve e que podem ser caracterizadas como fatores intangíveis, mas
comprovados no aumento de produtividade nos trabalhos desenvolvidos. Esses
complementos são necessários para que o incentivo à motivação do aluno tenha
sucesso; dizem mais respeito às questões estratégicas da organização do que a uma
mudança de atitude dos orientadores corporativos.
Com base nessas considerações, o processo de mudança pode ser
considerado como aquele que altera o treinamento técnico, voltado apenas à
efetivação de “melhores práticas”, para uma aprendizagem que inclui aspectos
humanistas. Ele envolve mudanças, não somente no desenvolvimento dos programas
de formação, mas na compreensão que o instrutor corporativo venha a ter dele. Este
passa a ter que levar em conta as formas como o colaborador aprende e variar a
maneira de apresentação dos conteúdos. Como não pode fazer isso presencialmente,
o instrutorutiliza os princípios e políticas da educação a distância de modo que o
atendimento possa ser dado a grupos de pessoas que têm as mesmas características
cognitivas, isto é, as mesmas formas de aprender.
10.2 Questões de responsabilidade
Com todas as mudanças necessárias, que envolvem atitudes comportamentais
dos instrutores corporativos, dos colaboradores e da organização, a quem cabe no
final do processo a responsabilidade pelo desenvolvimento de uma atividade
educação corporativa eficiente? Ela começa com a própria empresa, em seu papel de
criar a universidade corporativa. Ao tomar essa atitude, ela reconheceu que a
atividade de treinamento não mais é suficiente, porque ignora o principal alvo de todas
as mudanças na sociedade e nas relações de trabalho: o colaborador. Assim, a
universidade corporativa pode ser vista como responsável pelo engajamento dos
colaboradores, o qual pode ser obtido devido a uma série de incentivos que conectam
a motivação com a estratégia adotada pela empresa.
Essa responsabilidade se estende ao instrutor corporativo, instado a
transformar a sua ação e prática enquanto assim é enxergado e adotar um
comportamento de liderança democrática, de novas formas de relacionamento com os
colaboradores e com a própria organização. Indo um pouco além, a responsabilidade
atinge também cada um dos colaboradores, desafiados a engajarem-se nas propostas
de educação corporativa como estratégia organizacional. Caso outros componentes
da rede de valor forem integrados ao processo (fornecedores, clientes, investidores e
comunidade), a eles é apenas debitada a agregação de valor, e não lhes cabe
nenhuma tarefa no processo. Tal agregação de valor pode ocorrer partindo do nível de
missão da organização e estende-se até os programas de formação escolhidos para
compor o currículo de formação.
Uma das principais universidades corporativas, a Corporate University
Xchange, Inc., apresenta uma tabela que busca diferenciar as atividades de
treinamento do paradigma de aprendizagem no século XXI a ser desenvolvido pelas
organizações. É a união de uma série de reflexões encontradas de modo esparso
neste e em outros estudos, o que destaca a importância de seu conhecimento. A
Tabela 10.1 a seguir detalha essa comparação.
Tabela 10.1 –
Fator Antigo paradigma de treinamento
Paradigma de treinamento do século
XXI
Localizações
físicas
Prédio Aprendizagem
disponível sempre que
solicitada – em qualquer
lugar, a qualquer hora
Conteúdo Atualizar qualificações
técnicas
Desenvolver
competências básicas
do ambiente de
negócios
Metodologia Aprender ouvindo Aprender agindo
Público-alvo Funcionários internos Equipes de
colaboradores, clientes
e fornecedores de
produto e eventualmente
a comunidade
Corpo docente Professores/consultores
de universidades
externas
Gerentes seniores
internos e um consórcio
de professores
universitários e
consultores
Frequência Evento único Processo contínuo de
aprendizagem
Metas Desenvolver o estoque
de qualificações do
indivíduo
Solucionar problemas
organizacionais reais e
melhorar o desempenho
no trabalho
Fonte: Adaptado pelo autor de leituras desenvolvidas em artigos publicados pela Corporate
University Xchange3, 2014; tradução nossa.
3 http://archive.e-learningcentre.co.uk/eclipse/Resources/corpu.htm
Há diversas outras percepções em estudos comparativos que contrapõem os
departamentos de T&D e a universidade corporativa. Outra visão inclui aspectos que
estão colocados sob uma ótica mais formal e que considera as diferenças, conforme é
possível observar na Tabela 10.2 proposta por por Meister (1999).
Quadro 10.2 – Diferenças entre treinamento e educação corporativa
1 T & D 2 Educação corporativa
Reativo Proativa
Descentralizado Centralizada
Soluções genéricas Soluções para o negócio e para o
público específico
Visão de curto prazo Visão de longo prazo
Habilidades técnicas Habilidades técnicas e
comportamentais
Pontual Processo
Interno Interna e externa
Fonte: Meister,1999
Nos quadros apresentados é possível observar diversas considerações que
foram estabelecidas em tópicos separados e que apontam diferenças entre
treinamento e aprendizagem, estabelecidas como necessidades a serem atendidas.
11. Aprendizagem corporativa – detalhamento
Como estudada até o momento é possível colocar na forma de um conjunto de
considerações enfeixadas em um capítulo especial, algumas características que
detalham o impacto que a implantação da UC pode ocasionar no interior da
organização.
A aprendizagem organizacional, desenvolvida com a proposta da educação
corporativa e da implantação de uma universidade corporativa, traz benefícios e
melhoria nos resultados dos trabalhos da empresa, além de fazer com que efetive
diversos paradigmas disseminados na sociedade da informação e da comunicação.
Ainda observada de forma panorâmica, em uma visão macro, a sua efetivação
movimenta diversas forças que, nos casos de sucesso, acabam por criar um elevado
grau de sinergia, permitindo que a organização se torne um lugar agradável de se
trabalhar e seja procurada pelos talentos do mercado. A aprendizagem organizacional
se torna um elemento da gestão estratégica da empresa e envolve as chefias em alto
nível e em nível de diretoria com inclusão de seus stakeholders no processo e em
determinados casos toda a cadeia de valor.
Para aprender como uma proposta de educação corporativa e de
aprendizagem diferenciada pode ser desenvolvida pelos colaboradores da
organização, é preciso conhecer diversos fatores intervenientes, seja como
obstáculos, seja como auxiliares na realização das atividades por ela desenvolvidas.
As situações de aprendizagem organizacional são múltiplas e evidenciam as previsões
que permitiram trazer a organização até a realidade de sua situação atual em termos
de educação corporativa.
11.1 Detalhamento
Os quatro pilares assinalados por Barbosa et. al (2003) – estratégia, cultura,
gestão e tecnologia da informação – caracterizam o ambiente corporativo e permitem
que a organização venha a enfrentar uma nova conjuntura mercadológica, situação na
qual novos comportamentos são verificados a cada dia e se tornam cíclicos. Eles
tornam a aprendizagem da análise do resultado de atividades desenvolvidas uma
tarefa de grande importância. Tudo o que se faz está voltado para obtenção da
competitividade em um mercado instável. Os resultados precisam ser mensurados. O
sucesso das iniciativas, que têm como intenção a implantação da educação
corporativa na organização, está apoiado em uma proposta de desenvolvimento
extensivo de novos conhecimentos e de ações produtivas diferenciadas que ocorrem
em diversos níveis de complexidade. Conta muito a capacidade que a empresa tem de
aprender e de transformar os efeitos que mudanças possam provocar nos seus
procedimentos.
São as características consideradas nobres do ser humano que vão determinar
maior ou menor grau de sofrimento, até que o sucesso seja alcançado. Assim, a
criatividade e o comprometimento dos colaboradores com a organização e a
capacidade desta em engajá-los com motivação para efetuar a aprendizagem,
desempenhando ações com a habilidade de saber e querer fazer, representam os
caminhos do sucesso. O envolvimento da alta direção e a concordância dos
investidores são necessários porque, sem que haja uma modernização no sistema de
gestão de pessoas e no suporte ao desenvolvimento dos indivíduos por si próprios,
nada do que a empresa coloca como estratégia para agregar valor e conquistar a
competitividade irá acontecer. Qualquer organização que atinja um grau de
complexidade e sofisticação em sua estrutura interna necessita de uma proposta de
implantação de práticas de aprendizagem. O conhecimento adquirido vai ser
disseminado, como prega a organização que aprende (Senge, 2010) de forma que se
possa atingir a perpetuação do seu negócio. Rocha (2013) defende que o ambiente de
trabalho deve ser o principal espaço educacional dentro da organização e qualquer
situação de trabalho pode tornar-se uma oportunidade de aprendizagem à medida que
constitui um objeto de análise, um momento de reflexão e de profissionalização.
Dispersas na bibliografia, existem recomendações que vamos apontar como
passos que o detalhamento da educação corporativa deve seguir.
O primeiro passo é implantar um sistema eficaz de gestão de aprendizagem organizacional. O que ele pode fazer? Levar funcionários, clientes,
fornecedores, parceiros, distribuidores e a comunidade de forma geral a produzirem
muito mais em benefício da organização, pois em tudo o que ela oferece há valor
agregado, uma espécie de recompensa e reconhecimento do esforço de uma equipe
de gestão eficaz graças ao apoio que recebeu de todos esses elementos.
O segundo passo é desvincular as atividades de aprendizagem com a visão
do que ocorre apenas nas salas de aula, sejam elas presenciais, sejam virtuais. O
importante é veicular as atividades de aprendizagem diretamente com as estratégias de competividade da organização, apesar deserem as pessoas que
aprendem; ou seja, é necessária a programação da transferência do que as pessoas
aprendem para um conhecimento disseminado na organização. Ele se transforma em
um processo de inteligência coletiva (Lévy, citado por Hamze, 2013).
O terceiro passo é verificar qual a melhor forma de modelo de aprendizagem. Não vamos analisar todos os modelos, mas nos apoiar nos estudos
de Argyris (1977) e Valença (2013), que preconizam que o mais indicado para
mudanças organizacionais profundas é a aprendizagem desenvolvida por circuito
duplo: ensinar e aprender. É ela que permite questionar o que se aprende, revisar
princípios e valores e disseminar o que se aprende. O processo é também conhecido
como aprendizagem abrangente. De acordo com ele, há exame, reflexão e associação
entre as ações e a variável governante pode ser alterada, assim como as próprias
ações. O conhecimento é integrado à organização.
O quarto passo adota uma visão proposta por Senge (2010), que sugere que
no interior da organização seja criada uma comunidade de pessoas que aprendem. Nessas comunidades devem ser adotados como comportamentos:
Focalizar a aprendizagem em necessidades reais, não construí-la sobre bases abstratas; Agir e aprender fazendo, não deixando que o conhecimento adquirido se perca; Buscar questões unificadoras, que unam as pessoas em torno delas; Ter a percepção da busca do momento certo para o desenvolvimento comunitário; Promover encontros frequentes da comunidade, sejam eles síncronos, sejam assíncronos, presenciais ou não presenciais; Declarar os pontos de vista em debate, nos encontros, além dos aprendizados; Permitir a colocação e discussão de anseios, pressupostos etc.; Incentivar o reconhecimento de atividades desenvolvidas por indivíduos em benefício do grupo, fazendo valer o critério de meritocracia; Estabelecer o envolvimento de todos os participantes por completo, não se furtando de utilizar qualquer tipo de colaboração; Comemorar resultados positivos obtidos em qualquer atividade. (Montado pelo autor adaptado de Senge, 2010)
O quinto passo consiste em compatibilizar o processo de aprendizagem que ocorre na universidade corporativa com a concretização das metas estabelecidas pela organização e não deixar que ocorra a dispersão de esforços.
Tudo o que é aprendido deve ser aplicado o mais rapidamente possível e o
conhecimento adquirido deve ser disseminado por toda a organização. Meister e
Willyerd (2010) são felizes quando pontuam um aspecto importante para a
organização onde se reafirma que as chances de uma organização mudar com
sucesso dependem da capacidade dos funcionários de aprender novos papéis,
processos e habilidades. Essa capacidade de ativar a inteligência, a inventividade e a
energia do funcionário nunca foi tãoprimordial quanto na economia do conhecimento.
Com essa colocação destacam a importância da educação corporativa para a
empresa e revela o segredo da valorização do capital intelectual para que esta possa
concretizar a estratégia organizacional.
O sexto passo se apoia em uma proposta que observa que para a empresa
coroar uma série de iniciativas, ela deve deixar de forma clara e explícita que o seu
objetivo é transformar-se em uma organização que aprende, considerada por
Senge (2010) como aquela que consegue estabelecer procedimentos operacionais
voltados para a criação, captura, disseminação e utilização imediata e extensiva dos
conhecimentos adquiridos por seus colaboradores que, em um segundo estágio, se
transformam em uma propriedade valiosa dela. Trata-se de um posicionamento a
partir do qual a organização cria o futuro que deseja.
O sétimo passo é ter estabelecida e desenvolvida em paralelo com a
educação corporativa a implantação da gestão do conhecimento (Knowledge
Management – KM), de modo a satisfazer as necessidades internas normalmente
desenvolvidas pelo departamento de TI . O´dell e Hubert (2011) defendem que para
esse desenvolvimento algumas condições devem ser atendidas:
estabelecer uma visão estratégica do negócio, percebendo o reconhecimento
como um (novo) recurso que propiciará vantagem competitiva e perpetuidade nos
propósitos da organização;
estabelecer uma cultura organizacional favorável ao ambiente de inovação e
criatividade, estimulando as práticas de gestão do conhecimento;
estabelecer uma infraestrutura de tecnologia, sobretudo na área de gestão da
informação, que facilite e agilize o uso de bases de dados e a conversão de
conhecimento tácito, aquele que o indivíduo adquire ao longo de sua vida e que está
em nossas cabeças, em conhecimento explícito, que é claro, regrado, capaz de ser
comunicado para as outras pessoas;
estabelecer uma liderança proativa e visionária que estimule de forma
permanente a busca de novos conhecimentos e que priorize o capital humano na
organização como o seu principal ativo.
O oitavo passo aponta como importante – mas que não pode ser criada de
forma obrigatória ou via medidas coercitivas – a existência de um programa de
aprendizagem desenvolvido como atividade social que foi inicialmente
estabelecido pelo centro de pesquisa do aprendizado da Xerox em Palo Alto. Ele leva
em conta que esse tipo de iniciativa realizado dentro da organização constitui uma
atividade social que ocorre em grupos que são tratados como “comunidades de
práticas” que surgem espontaneamente, cooperam de forma direta, sondam-se
mutuamente, ensinam uns aos outros e exploram juntos determinado assunto. Curtis
(2013), ao analisar as comunidades de prática em seu trabalho com turmas de alunos
das séries iniciais, percebeu que elas apresentam como características o fato de que:
têm história, desenvolvem-se ao longo do tempo;
têm um empreendimento e não uma agenda, ou seja, elas se formam
em torno de uma tentativa de agregar valor a algo do qual todos os membros estão
participando;
o empreendimento envolve aprendizado – com o tempo as
comunidades encontram uma forma de lidar com o mundo que compartilham.
O nono passo consiste em procurar estabelecer no interior da organização
que está em fase de implantação da educação corporativa um programa que classifica os canais de aprendizagem (vias de aprendizagem) por meio dos quais a
aprendizagem organizacional pode ocorrer. Argote (2013) propõe cinco vias pelas
quais isso pode se dar:
Resolução sistemática de problemas: envolve diagnósticos elaborados
com métodos científicos e uso de dados para tomada de decisões e de ferramental
estatístico para organizar informações e fazer inferências;
Experimentação: envolve procura e teste de novos conhecimentos;
Experiências passadas: torna disponíveis a todos sucessos alcançados
e equívocos cometidos;
Circulação do conhecimento: as novas ideias devem ser
disponibilizadas e compartilhadas;
Experiências realizadas por outros: observar e aprender com as
experiências dos outros.
O décimo passo fecha o detalhamento de condições para que a
aprendizagem colaborativa ocorra de forma a atingir os seus objetivos. Ele parte dos
estudos de Valença (2013) que estabelecem ser necessária a existência de um
ambiente de aprendizagem organizacional e que este é determinado pelo grau de
alinhamento entre quatro pilares considerados como sustentadores do processo de
aprendizagem: estratégia, cultura, gestão e tecnologia da informação.
A estratégia organizacional compreende a determinação das metas e
objetivos da empresa, somadas com a amplitude de ações disponíveis para
consecução de sua orientação estratégica;
A cultura se forma com adoção de uma série de comportamentos entre
os quais tem destaque compreender: como as pessoas interagem; as relações de
poder da organização, sua transparência ou falta dela e como são desenvolvidas;
como ela reage para enfrentar problemas; o ambiente da organização; reação dos
líderes diante de crises organizacionais; como é seu sistema de recompensas; os
critérios para evolução funcional horizontal ou vertical; as declarações formais da
filosofia e missão da organização. Todos esses fatores se somam para formação da
cultura organizacional que pode influir de forma significativa nas atividades de
aprendizagem;
A gestão é representada pelos modelos de gestão de pessoas e
arranjos organizacionais. É ela quem alinha estratégias, pessoas e processos na
busca de resultados. Nesse campo, a empresa deve valorizar o capital humano que
tem, visto como um de seus maiores valores, e adotar modelos que privilegiem a
evolução pessoal;
A tecnologia da informação é considerada um dos principais motores
que pressionam a organização para introdução de mudanças e deve ter um tratamento
de destaque na implantação de um programa conhecido como gestão do
conhecimento, que é quem determina como será desenvolvida a aprendizagem
organizacional. Ela estabelece importantes mudanças de comportamento na empresa
e a quebra de muitos paradigmas enraizados em seu comportamento.
Assim, a aprendizagem organizacional se apoia nesses quatro pilares e nos
tópicos discutidos nos passos considerados como detalhamento da aprendizagem
organizacional. Tudo o que foi apresentado é uma divisão lógica de um corpo
compacto de medidas. Todas as estratégias adotadas devem estar claramente
detalhadas e compartilhadas de modo a favorecer o engajamento de pessoas na
criação de uma cultura de aprendizagem.
12. A função de Chief Learning Officer (CLO)
Este é o momento certo no fluxo do texto para colocar em destaque uma nova
função que precisa ser compreendida e estabelecida com apoio em um perfil de
liderança natural, não imposta, conquistada por méritos técnicos e envolvimento
empático e afetivo.
Os departamentos responsáveis pela gestão de recursos humanos mais
recentes, nas organizações que não adotaram a educação corporativa, são deficientes
na programação de seu pacote de treinamento. Muitas vezes são desenvolvidos com
a terceirização dos programas entre universidades e faculdades locais. Isso ocorre
devido à inexistência nos quadros funcionais de um profissional diferenciado que tem
funções particulares, nunca antes exigidas no mercado corporativo, e de presença
comum nos profissionais que atuam no segmento acadêmico. Ele tem atribuições
específicas as quais estão totalmente delimitadas na definição do programa de
aprendizagem colaborativa. Normalmente é quem assume a chefia da universidade
corporativa. É comum que, quando a decisão de adotar a aprendizagem colaborativa é
tomada, essa situação se inverta, e a empresa terceirize todos os procedimentos
operacionais de cálculo de folha de pagamento e outras rotinas e passe a trabalhar
mais diretamente com a gestão de pessoas, já que um dos principais pressupostos da
educação corporativa é a gestão do capital intelectual, conforme pudemos comprovar
nos capítulos anteriores.
Esse profissional é chamado originalmente de Chief Learning Office (CLO).
Sem intenção de criar modismos poderíamos nominá-lo como o diretor de
Aprendizagem da organização, função inexistente e a ser criada especificamente para
ele. Se tomarmos como exemplo as universidades, ele seria considerado o reitor; no
caso d as faculdades, o diretor de cursos ou qualquer outro nome similar. A
designação pouco nos interessa, e a partir deste momento vamos nos referir a ele
como CLO. Este capítulo não pretende esgotar o assunto, mas simplesmente colocar
uma visão do perfil profissional dele e destacar que a sua presença na estrutura é
imprescindível.
12.1 Características do CLO
Em uma época de guerra de talentos, a formação de equipes altamente
eficazes exige um posicionamento diferente da organização. Emerge um novo
profissional, que vai cuidar das necessidades de formação permanente e continuada
dos colaboradores. Harmonizar o direcionamento da formação de competências e
habilidades que a empresa necessita, com o objetivo de atender às necessidades que
os funcionários apresentam, é uma tarefa complexa. Algum profissional dentro dela
deve estar atento ao mercado a fim de identificar as necessidades que este impõe e,
ao mesmo tempo, criar, com base nas observações, um programa de formação
pessoal e profissional que privilegie o aumento do nível empregabilidade dos
colaboradores.
Alguns dados chegam a assustar as altas chefias das corporações pois
apontam questões críticas no mercado de trabalho. Ao centralizar os estudos sobre o
assunto na área de tecnologia da informação, por exemplo, as pesquisas
desenvolvidas pela Qualcomm, uma das líderes de tecnologia de dispositivos móveis,
revelam uma escassez de talentos. Normalmente os candidatos não apresentam as
competências e habilidades necessárias para atuar em empresas de Tecnologia da
Informação (TI) ou dentro dos setores TI de organizações de outras áreas. Essas
competências e habilidades não estão disponíveis, o que exige o desenvolvimento de
programas de formação para modelos de carreira que não estão previstos pelas
universidades e faculdades em sua proposta acadêmica, na educação formal. Para
suprir essa necessidade, as próprias organizações criam programas de educação
corporativa, desenvolvidos na forma de aprendizagem informal em suas universidades
corporativas, já que os antigos departamentos de T&D também não apresentavam
condições de suprir as demandas do mercado.
Estão lançadas as bases para justificar essa nova função de descobrir e formar
talentos no interior da organização. O profissional deve ter uma visão holística da
empresa no que diz respeito às necessidades de formação e preenchimento de vagas
de liderança para que as equipes de trabalho possam trabalhar na perspectiva da
qualidade total nos processos internos e no relacionamento externo com sua cadeia
de valor. Estabelecimento de competências e habilidades requeridas pela
organização, questões de engajamento e desempenho, todas elas voltadas para dois
níveis de competitividade (o organizacional e o pessoal), são o material de trabalho
dele. A essa lista básica somam-se outras competências e habilidades pessoais e
profissionais, como:
1. ser um condutor de engajamento dos colaboradores no processo de
aprendizagem organizacional;
2. ser o responsável pelas atividades de aprendizado e colaboração entre todos
os colaboradores;
3. um diretor do desempenho dos funcionários e alinhamento de suas
competências e habilidades de acordo com a estratégia que a organização
estabeleceu para enfrentamento dos desafios impostos pelo mercado onde atua;
4. um condutor das pessoas para que elas olhem não mais apenas para o
presente, mas também para o futuro imediato e distante e que ajudem as suas chefias
a aplicar as mudanças necessárias na força de trabalho.
Visto de acordo com essas necessidades, se impõe que esse profissional seja
um líder capaz de transformar a força de trabalho para o melhor desempenho nos
negócios da organização. Deve enxergar os desafios que ela enfrenta e assumir a
responsabilidade para que as atividades de aprendizagem sejam realizadas da forma
mais correta. As responsabilidades por todas as interligações e comunicações entre
colaboradores, setores e departamentos da empresa passam por suas mãos, com iss
fica sob os seus cuidados a disseminação do conhecimento e a efetivação do que foi
aprendido dentro do tempo útil, de modo que processos de aprendizagem não sejam
perdidos. Uma das atividades mais importantes é a criação, no interior da organização,
de uma cultura de compartilhamento e estabelecimento de valores comuns, com os
quais todos os colaboradores estão compromissados. Ele próprio deve estar
submetido a um processo de formação permanente e continuada que crie em seu
perfil:
1. interesse em divulgar o sucesso da organização na forma de narrativa de
comportamentos e atitudes de modo a motivar todos os demais colaboradores;
2. capacidade e disposição para adquirir conhecimentos sobre as últimas
tendências em estratégias de liderança;
3. aquisição de conhecimentos sobre tecnologias, ferramentas e novas
abordagens tecnológicas oferecidas pelas novas tecnologias da comunicação e da
informação (TICS);
4. utilização de novas abordagens de comunicação com os colaboradores;
5. conhecimento de procedimentos que deve adotar com relação às redes sociais,
utilizando-as como ferramentas capazes de aprofundar a comunicação e a
colaboração entre as equipes montadas para solucionar problemas e atender às
necessidades corporativas;
6. compreensão de que as “melhores práticas” comuns e vigentes no mercado
estão em constante mutação e que parte de seu trabalho é entender o que está por vir
e como aplicar novas abordagens e tecnologias no mundo da aprendizagem;
7. visão ampla que lhe dê a compreensão profunda e completa da organização na
qual trabalha em termos de sua cultura e da evolução que apresentou através do
tempo para poder programar mudanças futuras;
8. compreensão dos desafios do mercado como próprios para cada um dos
líderes da organização, os quais não podem se furtar a aceitá-los.
Nessa perspectiva, a organização é vista numa perspectiva horizontal, em que
o fim da hierarquia se mostra uma realidade inadiável no século XXI e na qual “se
reduzem os níveis hierárquicos existentes de modo que todos os seus colaboradores
se encontram mais próximos da clientela. Esse é um aspecto delicado para a empresa
devido ao fato de que, ao adotar tal estrutura de aproximar colaboradores da clientela,
eleva o nível de comprometimento e responsabilidade das pessoas. Nesse sentido, é
necessário um processo de aprendizagem corporativa que dê a elas condições de
arcar com esse novo compromisso.
Vistas de forma macro, as atividades de um CLO podem ser detalhadas
considerando as propostas apresentadas na lista a seguir, como uma possibilidade de
um perfil funcional. Em qualquer que seja a estrutura organizacional que se encontre,
desde que as funções sejam o gerenciamento da aprendizagem colaborativa, o CLO
deve ter em destaque as seguintes características:
1. ter uma visão destacada de sua função como um profissional focado na
aprendizagem organizacional;
2. estar preparado para alinhavar e desenvolver parcerias externas com
provedores, universidades e faculdades, no sentido de trazer especialistas, mestres e
doutores para o ambiente organizacional e, ao mesmo tempo, oferecer para as
instituições de ensino profissionais que conhecem a fundo novos paradigmas para o
desenvolvimento da gestão acadêmica nos moldes do que é feito no mercado
corporativo;
3. trabalhar ativamente na identificação de lideranças entre os colaboradores
internos ou na capacidade de formar novas lideranças;
4. desenvolver trabalhos colaborativos com as lideranças do negócio
organizacional;
5. atuar como ponto de influência entre os colaboradores de modo a poder obter o
comprometimento deles com a estratégia organizacional;
6. demonstrar capacidade de inovação e execução de serviços com novas
tecnologias;
7. compreender de forma profunda a cultura organizacional, e se ela não estiver
estabelecida ter condições de criar um modelo funcional para que isso se dê;
8. compreender todos os negócios desenvolvidos pela organização;
9. ter uma visão e um comportamento holístico e globalizado;
10. promover atividades de aprendizagem e providenciar a sua disseminação no
interior da organização;
11. saber utilizar as informações para comunicar a efetividade dos processos de
aprendizagem estabelecidos.
Não há, no cenário nacional, nenhum programa de formação desse
profissional. Ele busca capacitação externa, em universidades internacionais, ou adota
uma linha de estudo independente e acaba sua formação na visão na prática, com a
perspectiva do aprender a aprender, aprender pelo erro e aprender fazendo, opções
analisadas por Delors (1998) no relatório produzido para a Unesco sobre a educação
do século XXI, comentado por Behrens (2005). São atitudes que se somam para criar
um grupo que nos dias atuais pode ser considerado um escol no panorama das
empresas, em uma fase na qual deveria ser um dos principais elementos na estratégia
delas: o CLO é um dos talentos a se procurar no mercado.
13. Como os adultos aprendem?
Para que o relacionamento com o público-alvo, formado por jovens e adultos,
seja desenvolvido de forma mais produtiva é importante enxergar os colaboradores
como tal e aplicar a eles os princípios e fundamentos da andragogia que relaciona a
forma como o adulto aprende.
O público-alvo da aprendizagem organizacional é formado basicamente por
adultos e, em alguns casos, por jovens e promissores talentos. Se lançarmos um olhar
para os programas acadêmicos, inclusive para aqueles que têm destinatários com as
mesmas características, podemos observar que a pedagogia se destaca como a forma
dominante de abordagem desenvolvida pelos instrutores corporativos e docentes
acadêmicos.
Quando a atenção se volta para jovens e adultos, a orientação fica direcionada
à andragogia, considerada parte da pedagogia referente à educação desses públicos
(Knowles, 1980 in Merriam, Caffarela e Baumgartner, 2006). Nessa abordagem, os
alunos (colaboradores) não são submissos, eles têm suas experiências claramente
estabelecidas. O que aprendem e em seguida desenvolvem em práticas grupais pode
ser muito mais do que o instrutor ou docente sabe ou transmitiu para cada um. Os
colaboradores adultos, independentemente de seu nível cognitivo, têm algum
conhecimento anterior, construído ao longo da vida social e profissional. Trata-se de
algo que não pode ser ignorado; ao contrário, deve ser utilizado, se possível de forma
extensiva. Essas pessoas se mostram independentes e responsáveis pelas próprias
ações. Segundo Knowles (in Merriam, Caffarela e Baumgartner, 2006) é importante
considerar que existem diferencas que apontam que pessoas adultas são muitas
vezes motivadas a aprender devido à necessidade de resolver problemas imediatos
em suas vidas. Há outras motivações entre as quais é importante destacar que adultos
apresentam necessidades crescentes de autodirecionamento. Estes aspectos não são
privilegiados no modelo pedagogico, o que pode acarretar tensão, ressentimento e
resistência em indivíduos adultos.
Assim, encontra eco qualquer proposta de utilização da andragogia que esteja
orientada para se apropriar desar princípios que destacam formas como o adulto
aprende e providencia um modelo alternativo de instrução. Segundo Bellan (2005),
esse modelo aproveita características desse público, tal como o autodirecionamento,
para aprimorar o processo de ensino e aprendizagem. Ela é um sistema de ideias,
propostas e abordagens voltadas para a educação de adultos.
13.1 Reflexões
As ideias apresentadas na seção introdutória suscitam alguns comentários
complementares. Eles estão mais voltados a levar o instrutor corporativo a considerar
que mudanças em sua ação e prática profissional como docente, para a qual muitos
não receberam formação, são necessárias. Para o docente acadêmico, os estudos se
aplicam quando se leva em conta o tratamento pedagógico que ele dá aos alunos
adultos. Estes seriam mais propriamente orientados, com maior aproveitamento, se a
abordagem do processo de ensino e aprendizagem fosse feita de forma andragógica.
Assim, elencamos as seguintes ponderações:
Na andragogia, os instrutores corporativos – tanto quanto os docentes
acadêmicos – devem procurar incentivar uma independência progressiva, que tende a
atingir, em algum momento, uma situação denominada heutagogia, que ocorre quando
o grau de independência demonstrado pelo aluno em relação ao acompanhamento do
orientador atinge o menor grau, que pode ser total.
Um olhar mais detalhado ao que se está obtendo como resultado de uma
pesquisa bibliográfica extensa permite concluir que há constrastes visíveis entre a
educação de crianças e a de jovens e adultos. Para o instrutor corporativo e para o
responsável pela direção do processo de aprendizagem da organização (CLO), o que
mais importa é a mudança exigida no papel desse orientador, que passa a ser de
facilitador, tarefa para a qual muitos não estão preparados.
O orientador tradicional:
o elabora o plano de aprendizagem do aluno;
o estabelece as necessidades, mesmo sem conhecer o trajeto de vida do
aluno adulto;
o estabelece os objetivos de aprendizagem sem se preocupar se estão
alinhados com as necessidades do aluno;
o define a sequência lógica dos estudos a serem desenvolvidos;
o utiliza técnicas de transmissão de conhecimentos prontos e acabados,
sem se importar com a aquisição de conhecimento pelo aluno, que tem apenas que
decorar conteúdos;
o desenvolve todo o processo de avaliação de desempenho do aluno
utilizando um modelo ultrapassado de pontuação com utilização de notas, o que nem
sempre mede a evolução do nível cognitivo dele;
Em contraposição, a perspectiva do instrutor ou docente andragogo em relação
aos mesmos tópicos está pautada pela seguinte visão:
o O plano de aprendizagem é elaborado com participação direta do aluno;
o As necessidades do aluno são estabelecidas em conjunto com o
instrutor;
o O estabelecimento de objetivos é resultado de estudos de um processo
de negociação que atende às necessidades que o aluno tem e que coloca o curso de
acordo com as suas expectativas;
o A sequência lógica dos estudos a serem desenvolvidos é definida pelo
aluno, reflete o ritmo próprio e busca adequar o currículo ao seu nível cognitivo;
o A mediação de conhecimentos é feita pela ótica do aprender fazendo,
em que o aluno busca compreender como aconteceu a criação do conhecimento em
um processo que procura partir do mais simples para o mais complexo;
o Parte do processo de avaliação é desenvolvido pelo próprio aluno. Pode
ocorrer como uma proposta de construção de conhecimento ou de solução de
problemas que acontecem na organização.
Para o docente acadêmico, é difícil aceitar uma mudança de visão em relação
ao aluno, levando em conta características diferenciadas para o adulto que aprende.
Isso deve ser do conhecimento do orientador corporativo, que pode ser considerado
mais rígido em uma visão incorreta por existir um relacionamento de poder entre ele e
o colaborador estabelecido no organograma da organização. É importante que esses
dois profissionais compreendam as colocações de Merriam, Caffarela e Baumgartner
(2006). Seguindo a linha de Knowles, essas pesquisadoras consideram que o aluno
adulto:
o necessita saber o motivo pelo qual deve realizar certas aprendizagens;
o aprende melhor experimentalmente;
o concebe a aprendizagem como resolução de problemas;
o aprende melhor quando o tópico possui valor imediato e os motivadores
mais potentes para a aprendizagem são internos.
O ciclo andragógico compreende um conjunto de medidas que visam a:
o estabelecer um clima que conduz o aluno à aprendizagem em uma
atmosfera de informalidade, conforto, segurança, apoio, confiança e respeito;
o criar mecanismos para um planejamento mútuo entre o docente ou
orientador e o aluno: compreende o envolvimento de todas as partes intervenientes na
tomada de decisão e escolha de conteúdo, formas de abordagem, sem que haja
condução do aluno para um caminho previamente determinado;
o diagnosticar as necessidades de aprendizagem: significa que o
orientador ou docente devem estar atentos para a sinalização das demandas de
aprendizagem demonstradas pelo aluno e efetuar os ajustes necessários no programa
do curso ou desenvolver atividades de modo a atender a elas;
o formular objetivos programáticos que satisfaçam as necessidades
identificadas: consiste em ajudar o aluno a formular os objetivos de aprendizagem que
deve perseguir, como um roteiro do que ele tem que fazer;
o elaborar um plano de experiências com técnicas e materiais adequados:
consiste em permitir que o aluno escolha e estabeleça, entre uma série de opções, os
objetivos de aprendizagem que gostaria de realizar de acordo com as necessidades
dele;
o avaliar a evolução da aprendizagem e tornar a fazer novos diagnósticos
sobre necessidades a serem trabalhadas quando os resultados não forem
satisfatórios: consiste no acompanhamento da evolução do aluno pelo instrutor ou
docente em pontos de retomada, para evitar que um processo chegue ao final com
erros que poderiam ter sido evitados e utilizados de modo a permitir ajustes.
Estes comentários permitem, dentro de certos limites, perceber que a
andragogia é uma forma de aprendizagem ativa, pela qual se dá ao aluno um grau de
liberdade superior ao que ele tem em abordagens diretivas, como a utilizada no
ambiente tradicional. Diferenciar as formas como a criança e o adulto aprendem
representa uma evolução na educação de jovens e adultos. Knowles (in Merriam,
Caffarela e Baumgartner, 2006) o criador da ideia, que ainda sofre algumas restrições
na área acadêmica, destaca que essa abordagem enfatiza a natureza psicológica do
estudante e entende que todos os indivíduos têm a capacidade de desenvolver a
aprendizagem independente. O trabalho dele não configura uma nova teoria da
aprendizagem; trata-se de um conjunto de princípios teóricos e práticos variados e se
contrapõem à utilização única da abordagem pedagógica. Um maior detalhamento da
proposta que visa justificar a utilização da andragogia, coloca em destaque algumas
vantagens, tais como:
1. ela é aplicável em contextos diversos (formais, informais, não formais);
2. ela é aplicável no seu todo ou apenas em parte;
3. os alunos têm a liberdade de escolha em todo o processo de aprendizagem;
4. ela não possui referenciais culturais restritivos;
5. ela é aplicável ao campo das ciências exatas, humanas ou qualquer outra área
do conhecimento;
6. apesar de ser considerada de aplicabilidade a jovens e adultos, pode ser
utilizada para todas as idades, embora inicialmente seu contexto estivesse limitado a
esses públicos.
(Fonte: Adaptação do autor)
No todo do que foi visto, é possível assinalar que a andragogia se revela um
modelo aplicável a diversos casos de educação de adultos, cuja principal vantagem é
sugerir que orientadores ou docentes entendam que o aluno adulto é alguém capaz de
aprender com graus de autonomia diferenciados e desenvolver a atividade de
aprendizagem de forma ativa e participativa.
14. Como obter a motivação dos colaboradores?
Depois de tomados todos os cuidados assinalados em tópicos anteriores é
importante neste capítulo, analisar que medidas podem ser desenvolvidas para que o
aluno esteja sempre motivado.
A motivação está posta como uma das principais exigências que atua quase
como uma condição sem a qual o processo não vai ter o sucesso previsto nem
atender às expectativas da adoção da aprendizagem colaborativa e da implantação de
uma universidade corporativa. Assegurar a motivação dos colaboradores, tornando-os
engajados na proposta da organização, está além das regras de comprometimento
colocadas pelos departamentos de gestão de pessoas. É necessário criar uma cultura
que permita obtê-la de forma natural. Como fazer isso? Com certeza não é uma tarefa
fácil, principalmente quando se observa o multiculturalismo presente no interior das
organizações, e criar uma proposta flexível que atenda a características individuais de
todos os participantes não constitui algo fácil de se realizar.
A motivação tem uma definição convergente em diversas ciências e no estudo
de vários pesquisadores (Heckhausen & Heckhausen, 2008; Reeve, 2006; e outros),
os quais a concebem como o impulso interno que leva o indivíduo à ação. Em todas as
iniciativas de organizações no sentido de implantar a educação corporativa, o que se
busca responder é: Como orientar um grupo de pessoas a agir de acordo com a
proposta estratégica da organização e estar alinhado com ela de forma
comprometida? É esse comprometimento (engajamento, motivação etc.) que nos leva
a compreender por que os seres humanos escolhem determinados comportamentos
perante situações específicas que são dependentes de influências internas e externas.
A partir daí, os estudos são inúmeros e passam geralmente por questões
psicológicas e etnológicas as quais caracterizam o comportamento do ser humano. O
primeiro estágio é obter uma definição para o que vem a ser comprometimento. A
bibliografia apresenta uma vasta série de definições, mas nenhuma delas consegue se
afirmar como uma proposta adotada de forma padronizada por todos.
14.1 Programas de comprometimento
Para Reeve (2006), o comprometimento se dá quando as pessoas:
1. se sentem pessoal e emocionalmente ligadas à organização;
2. sentem orgulho em recomendar a outros a organização como um bom local de
trabalho, indicando que estão satisfeitas com relação ao tratamento que recebem;
3. obtêm mais do que apenas salários e estão ligadas às recompensas
intrínsecas;
4. sentem uma ligação forte com os valores, postura ética e ações que a
organização toma em seu comportamento e desenvolve em suas propostas.
Estabelecida uma definição – ou pelo menos apontados pressupostos – para o
que seja o comprometimento, cabe perguntar por que ele é considerado tão
importante pela alta direção. Parse disso decorre do modo de pensar da maioria dos
administradores, o senso comum administrativo, segundo o qual colaboradores
comprometidos desenvolvem um trabalho de maior qualidade, ainda que não
necessariamente em prazos menores. Uma segunda corrente considera que o
comprometimento evita a alienação, um dos piores sentimentos para os funcionários
no ambiente de trabalho, visto que mata todo o senso crítico e a criatividade deles, o
que é algo que, depois que acontece, se torna muito difícil de reverter.
E como anda o comprometimento no mercado de trabalho brasileiro? Estudos
desenvolvidos pelo Human Resources Department4 e divulgados em agosto de 2012
apontam resultados preocupantes para as organizações que ainda não adotaram a
aprendizagem corporativa, se partirmos do princípio de que esta será responsável e
vai permitir alcançar esse importante atributo. O levantamento revela que apenas 28%
da força de trabalho brasileira tem motivação e vínculo com a empresa; 30% está
desengajada, 26% se sente sem suporte por parte dela e 16% encontra-se totalmente
desvinculada daquela em que atua. O resultado é avaliado como crítico por Carlos
Ortega, um dos diretores da organizaçãoTowers Watson, responsável pela pesquisa
sobre trabalhadores brasileiros). Segundo ele, “se as empresas hoje buscam o
engajamento sustentável, isto é, que assegure uma alta performance e um
comprometimento de longo prazo, esses números mostram que estão bastante
vulneráveis” (OpiniãoRH, 2012).
Há uma corrente de pesquisadores (Bakker e Schaufefeli, 2008; Saks, 2006;
Avey, Wensing e Luthans, 2008) ligados a instituições que trabalham aspectos
psicológicos na área do trabalho que desenvolve estudos sobre os ambientes de
trabalho altamente comprometidos (Highly Engaged Workforce – HEW). Eles
consideram que nesses espaços é possível esperar um retorno acima da média em
relação aos demais. Ali os colaboradores:
1. são considerados e sentem-se como parte significativa do negócio;
4 http://www.humanresources.com/
2. obtêm respostas significativas com relação às expectativas que a organização
tem com o seu trabalho;
3. estão confiantes na possibilidade de utilizar os talentos e pontos fortes no
trabalho, todos os dias;
4. têm um forte relacionamento e uma comunicação clara com o seu gerente e
nele confiam seu desenvolvimento na organização;
5. têm um forte relacionamento com os colegas de trabalho;
6. são solucionadores de problemas colocados por desafios de trabalho que
valorizam o seu conhecimento na área;
7. recebem o auxílio de seus gerentes para que possam desenvolver seus
objetivos, metas e cumprir etapas e que procuram atender suas necessidades;
8. são pessoas com as quais os gerentes passam junto o maior tempo possível;
9. são pessoas que têm todo o potencial aproveitado e com incentivo para que ele
seja aumentado de forma permanente e continuada em programas de formação.
Fonte: Adaptado de Kofman, 2003.
O nível de comprometimento que a organização quer deve ser modelado, e
isso é mais bem aceito pelos colaboradores quando realizado pelos seus diretores. O
corpo de colaboradores deve tomar contato com toda a organização. Para que
possam construir esse ambiente é necessário que seja feito um grande esforço de
mudança. É uma intervenção de porte no comportamento da organização. É uma
visão destacada, principalmente quando se considera que tal mudança não vem
sozinha, mas vem sempre acompanhada por outras que afetam de modo sensível a
empresa (empowerment funcional, supressão de chefias intermediárias, orientação
para organização que aprende etc.). Toda essa movimentação acaba por criar uma
nova cultura corporativa. O que Rothwell e Sullivan (2005) assinalam como importante
nessa fase é que todas as definições sejam tomadas em conjunto com os
empregados. O seguimento de recomendações deve ser constantemente avaliado
quando não se consegue o comprometimento, não apenas no sentido de verificar
quantas pessoas não concordaram. O posicionamento deve ser mudado e
questionado: por que eles não aceitaram os incentivos de comprometimento? A
resposta à pergunta pode surpreender os diretores envolvidos, eximindo de culpa os
colaboradores e responsabilizando a organização. A proposta é que o processo seja
iniciado de modo que os diretores envolvidos:
1. criem uma cultura corporativa que encoraje o comprometimento;
2. meçam periodicamente o comprometimento dos empregados, e quando ele
não ocorre descubram os motivos;
3. desenvolvam planos de ação da organização, departamentos e de indivíduos
como forma de endereçar as falhas que dificultam o comprometimento e providenciem
a sua alteração;
4. mantenham as pessoas responsáveis por demonstrar progresso na construção
do comprometimento e utilizem um programa de incentivos;
5. recompensem os que demonstraram progresso na construção do
comprometimento (é importante lembrar que nem todas as recompensas necessitam
ser financeiras).
Reeve (2006) defende que colaboradores com pleno comprometimento
possuem características comuns e que podem ser observadas. Eles adotam o
seguinte comportamento, que é relativamente padronizado:
1. vão acentuar o que há de positivo na organização, o que está certo e procurar
resolver ou assinalar para os responsáveis os aspectos que consideram incorretos;
2. sempre vão procurar ocasiões para dizer boas coisas sobre a organização,
direção, departamento ou pessoas;
3. sempre vão ser voluntários para o desenvolvimento de trabalhos extras;
4. vão expressar a sua aprovação sobre o que a organização está fazendo e
sobre o modo como faz;
5. vão sempre falar bem da organização para os colegas de trabalho, amigos,
parentes e outros membros da comunidade.
Há uma atividade que não tem como objetivo direto captar o comprometimento,
mas pode trazê-lo como benefício marginal. Ela parte do princípio de que os pares de
um colaborador específico têm importante papel na influência e nas atitudes do
funcionário, ou seja, os seus colegas de trabalho podem influenciar uns aos outros na
obtenção do comprometimento e de forma reflexiva uns sobre os outros. Assim, é
importante colocar novos colaboradores ou os que demonstram alguma resistência a
desenvolver o comprometimento ao lado de outros que tenham as seguintes
características, que também são regularmente padronizadas:
1. procurem levar questões sobre a outra pessoa, todos os dias, para mostrar que
se preocupa com seu desenvolvimento na organização;
2. seja boa ouvinte de seus sentimentos e que tudo fará para adequá-los a uma
forma que a organização o recompense pelas atitudes positivas que vier a tomar;
3. o convidem para conviver em ocasiões sociais;
4. trabalhem com todos os demais colaboradores e não façam escolhas por um
ou outro;
5. alimentem de forma constante um pensamento positivo;
6. se recusem a ouvir depreciações e a incentivar os novos empregados ou
outros colegas de trabalho a fazerem o mesmo;
7. se recusem a passar boatos a respeito dos outros.
Diretores que promovem o comprometimento vão, em seu trabalho:
1. recrutar e selecionar pessoas com base no seu recorde de comprometimento
com antigos colaboradores;
2. colocar questões sobre o que as pessoas sentem a respeito da organização,
do trabalho e, de clientes e consequentemente tomar ações para remover as barreiras
que representam obstáculos aos resultados;
3. focar-se em identificar forças individuais e alavancá-las de indivíduos, equipe
ou organização;
4. reconhecer feitos em vez de ocultá-los ou tentar ficar com os créditos;
5. desenvolver pessoas para o comprometimento, assim como para o
conhecimento e capacidades;
6. encorajar quando as pessoas parecerem estar infelizes ou desapontadas.
Em ambientes com tais características, o departamento responsável pela
gestão de pessoas é quem deve suportar o comprometimento e desempenhar um
papel diferenciado no sentido de evitar que contratações incorretas, medidas
coercitivas ou falta de incentivo venham a prejudicar um bom andamento das ações.
Reeve (2006) aponta como ações mais corretas a serem realizadas por esses
gestores:
1. recrutar pessoas que estejam conscientes das exigências postas como
essenciais para atuação em ambientes altamente comprometidos;
2. desenvolver de forma constante um levantamento do clima organizacional,
identificando quais áreas podem ser melhoradas. É importante que estas sejam
imediatamente corrigidas para evitar uma disseminação de comportamentos de
descontentamento;
3. propor incentivos e premiações que promovam a manutenção do clima
organizacional em alta de modo que não seja difícil assegurar um estado de foco em
atitudes positivas;
5. auxiliar as pessoas a localizarem seus pontos fortes e fracos, atuando sobre os
fortes e procurando minimizar o efeito que os fracos possam ter em seu desempenho;
6. encorajar as pessoas a trabalhar de forma conjunta com seus supervisores e
aceitar que têm muito a aprender com eles, pela experiência que acumularam com as
rotinas desenvolvidas na organização;
7. encorajar as altas chefias (diretores, vice-presidente e presidente) a
desempenharem papéis positivos e a manter reuniões periódicas com o pessoal de
nível operacional, ouvindo, anotando e atendendo às solicitações dele;
8. estabelecer programas de planejamento de ações para obtenção da adesão
dos colaboradores aos planos de formação de ambientes altamente comprometidos;
9. propor cursos de incentivo para que os colaboradores ainda em dúvida venham
a aderir a um programa estabelecido para criação de ambientes altamente
comprometidos;
10. procurar identificar as causas de alta rotatividade, se esta acontecer, para
evitar a evasão de talentos do quadro funcional da organização.
Fonte: Adaptado de Reeve, 2006.
Ao se eliminarem as chefias intermediárias em um programa de empowerment
funcional, que cria um ambiente propício para estabelecimento de ambientes de
comprometimento total, é importante que as chefias de alto nível tomem atitudes tais
como:
1. explicar o modelo de pleno comprometimento adotado pela organização;
2. encontrar ocasiões para elogiar as pessoas que se destacam, manifestar
agradecimento e liberar incentivos e premiações;
3. encorajar a efetivação da aprendizagem colaborativa envolvendo todos os
funcionários em processos de formação permanente e continuada com programas de
estudo que não estejam voltados apenas para os interesses da organização, mas que
venham a atender às necessidades demonstradas pelos colaboradores;
4. criar uma forma de reconhecimento interno que tornem públicas atitudes
tomadas por colaboradores ou que revelem o cumprimento de metas estabelecidas;
5. nunca discutir problemas de colaboradores ou efetuar admoestações de forma
pública, mas sempre reservada;
6. implantar um programa de mensagens diárias que ressaltem e realcem atitudes
positivas adotadas pelos colaboradores.
Fonte: Adaptado de Kofman, 2003.
Todas as medidas tomadas devem constar de um histórico que permita um
raciocínio baseado em casos, o que pode permitir adotar medidas que anteriormente
deram certo em determinados contextos. Segundo Wangenheim & Wangenheim
(2003) tal raciocínio parte da ideia básica de resolver um problema a partir do
conhecimento de problemas passados. A comparação dos resultados com novos
problemas similares ou iguais permite a repetição de uma situação ou a criação de
uma nova situação”. Muitas coisas que acontecem no interior de uma organização
poderiam ser resolvidas a partir do registro dessa visão histórica, o que se recomenda
em casos de atitudes que falharam e das que foram bem-sucedidas com relação à
formação de ambientes altamente comprometidos.
Do que foi apresentado neste capítulo, podemos perceber que estabelecer
ambientes de comprometimento pode dar à organização a possibilidade de ter equipes
altamente eficientes; não é como tantas outras medidas tomadas em seu interior que
respondem apenas a modismos passageiros. A criação de um histórico, feita ao final
do capítulo anterior, se justifica quando se considera que esse programa, depois de
adotado pela empresa, não permite um retorno sem um custo muito elevado. Em
todos os momentos, observamos o cuidado em manter o foco em coisas positivas e
evitar que sentimentos negativos tomem conta do ambiente. Ambientes negativos,
provenientes de situações em que foram ignorados sinais de deterioração em
relacionamentos, são muito problemáticos. A sua expansão para o tecido da
organização, atingindo departamentos subjacentes, é inevitável.
O levantamento do clima organizacional pode ser notado de forma clara ao
vermos a chegada dos colaboradores em seus ambientes de trabalho. Sem a intenção
de vigiar o comportamento deles, mas apenas de registrar o grau de satisfação que
têm ao iniciar as atividades, é interessante reparar no que acontece. Quando for
identificado um clima no qual há indiferença entre os colaboradores, ciúme,
desconfiança, animosidade com relação a pequenos atos sem relevância, está na hora
de uma mudança significativa que pode envolver a dispensa de eventuais sementes
de discórdia. Os funcionários de uma empresa podem ser classificados, segundo
estudo do Instituto Gallup, em três categorias:
1. os colaboradores realmente engajados (29%): são aqueles que trabalham
com paixão e sentem uma profunda conexão com a organização. São os
responsáveis pelas inovações e quem realmente carrega a empresa para
frente;
2. os não engajados (54%): são aqueles que desenvolvem o trabalho sem
entusiasmo, parecem estar dormindo o dia inteiro, realizam tarefas, mas
sem energia ou paixão. São a massa de manobra;
3. os ativamente desengajados (17%): são aqueles que se sentem infelizes no
trabalho e procuram influenciar negativamente outros colegas.
(Fonte: Crabtree, 2004).
Segundo o instituto, esses números dão a medida do que acontece no contexto
de trabalho americano e que podem ser estendidos para outros mercados de países
desenvolvidos e em desenvolvimento. A organização deve diferenciar o
comportamento com relação a cada um dos grupos identificados e privilegiar os
colaboradores realmente engajados, investir na formação dos que ainda não foram
engajados e dispensar aqueles que estão ativamente desengajados.
15. Como definir um plano de aprendizagem?
Assim como toda e qualquer atividade, se chega a um momento em que é
preciso estabelecer as formas de desenvolver um planejamento que não deixe pontas
soltas. Não é diferente com relação à educação corporativa. É necessário o
estabelecimento de um plano de aprendizagem que torne a efetivação dos processos
de formação mais produtivo e eficiente.
O entusiasmo inicial com o advento da educação corporativa na organização
pode gerar expectativas que não combinam com a prudência que se recomenda para
que se percorra um caminho lento e seguro quanto àquilo que vai oferecer aos
colaboradores em termos de cursos. Pode-se considerar que deve ser proposto o
chamado “plano de aprendizagem organizacional”, com relação ao processo de
formação permanente e continuada. Ele deve ser estabelecido de forma a casar os
interesses estratégicos da empresa com as necessidades dos funcionários. O desvio,
para qualquer um dos lados, pode prejudicar a consecução do que ela definiu como
sua missão e efetivação de sua responsabilidade social entre o quadro de
colaboradores, no sentido de investimentos no capital intelectual. Se esse plano
atender apenas à organização, ele não vai contar com a adesão dos colaboradores; se
privilegiar somente estes, os stakeholders vão deixar de aplicar dinheiro, considerado
jogado fora a fundo perdido, por não trazer nenhum benefício específico e claramente
definido para a organização em termos tangíveis. A melhor situação é aquela em que
há benefícios, tangíveis e intangíveis, dependendo da proposta.
15.1 O plano de aprendizagem organizacional
O mote de toda e qualquer organização na sociedade contemporânea deveria
ser escrito com letras garrafais na entrada de cada uma delas: A educação é a base
sustentável para os negócios como considera Asnis (2012). A tendência das
corporações para responder a uma imposição do mercado é transformar os seus
departamentos de T&D, dando-lhes uma nova face e um início de brilho acadêmico,
com a mudança de enfoque do objetivo principal de um plano de aprendizagem
organizacional.
Os interesses do negócio visam a formar competências e habilidades nos
colaboradores. Isso é necessário para que eles possam ter maior desenvoltura na
realização de suas funções. São atitudes e comportamentos que têm como fim
resgatar o amor próprio perdido em um processo de alienação que lhe foi imposto no
trabalho. Isso ocorre quando são colocadas abordagens de produtividade total sem
que nenhuma recompensa se dê do outro lado da linha, ou seja, a recuperação de sua
cidadania e da noção de seu valor como capital intelectual. É importante deixar clara a
intenção de que o trabalho do funcionário não constitui apenas mais uma mercadoria a
ser comercializada.
A primeira iniciativa é utilizar as ideias da educação corporativa. De forma
simultânea, deve-se lançar mão de seu braço tecnológico, a universidade corporativa.
As propostas mais completas acabam por envolver o que se convencionou chamar de
os sete públicos estratégicos das organizações, anteriormente citados. Dessa forma,
se reúnem em torno da proposta da empresa clientes, colaboradores, financiadores,
fornecedores, comunidades temáticas, sociedade em geral e acionistas. Essa é a
visão que demonstra ser mais abrangente e portanto a de maior capacidade de
obtenção de sucesso. Sterling e Huckle (2001 citado por Asnis, 2012) assinalam que
uma universidade corporativa, para atingir um nível de sustentabilidade, deve
incorporar mudanças significativas no interior da organização e que estão baseadas
nas ideias de:
1. aprendizagem (em detrimento de ensinamento);
2. habilidades para a vida e “aprendizado para toda a vida”;
3. assuntos híbridos e interdisciplinares;
4. tecnologia da informação como aprendizado e instrumento de entrega;
5. aprendizado presencial e a distância;
6. organização que aprende;
7. reconhecimento da natureza transitória do conhecimento.
Essa é uma visão abrangente e sistêmica. Para melhor compreensão, ela deve
ser mais bem detalhada para que pessoas, acostumadas a uma visão de treinamento,
possam entender com maior facilidade. Os programas de curso devem abranger tanto
a área de negócios (interesses da organização) quanto a social (interesses dos
colaboradores). Qualquer proposta precisa estar balanceada de forma a não haver
desvios significativos, o que traz os inconvenientes anteriormente citados. O principal
fator motivador de tudo – satisfação com o que está sendo feito – nos parece ser
adaptar a organização a um ambiente de mudança que perpassa a sociedade como
um todo. Há um conjunto de palavras que pode permitir compreender melhor um novo
modelo de gestão diferenciado, que foge das taxonomias existentes e faz com que a
empresa, como no entender de Asnis (2012), pulse como um sistema vivo que
incentiva a inovação e a capacidade de responder criativamente a esse ambiente de
mudança. Eboli (2003, citada por Asnis, 2012) observa que o sistema de educação
corporativa obedece a sete princípios de sucesso que são o que vai determinar o
plano de aprendizagem. São eles:
Princípio da competitividade: Valorizar a educação como forma de desenvolver
o capital intelectual dos colaboradores, transformando-os efetivamente em fator de
diferenciação da organização diante dos concorrentes, ampliando assim sua
capacidade de competir. Significa buscar continuamente a elevação do patamar de
competitividade organizacional por meio da implantação, do desenvolvimento e da
consolidação das competências críticas organizacionais e humanas.
Princípio da perpetuidade: Entender a educação não apenas como um
processo de desenvolvimento e realização do potencial existente em cada
colaborador, mas também como um processo de transmissão de herança cultural, a
fim de perpetuar a existência da organização.
Princípio da conectividade: Privilegiar a construção social do conhecimento,
estabelecendo conexões e intensificando a comunicação e a interação. Objetiva
ampliar a quantidade e a qualidade da rede de relacionamentos com o público interno
e externo.
Princípio da disponibilidade: Oferecer e disponibilizar atividades e recursos
educacionais de fácil uso e acesso, propiciando condições favoráveis para que os
colaboradores realizem a aprendizagem a qualquer hora e em qualquer lugar.
Princípio da cidadania: Estimular o exercício da cidadania individual e
corporativa, formando atores sociais, ou seja, sujeitos capazes de refletir criticamente
sobre a realidade organizacional, de construí-la e modificá-la, e de atuar pautados por
uma postura ética e socialmente responsável.
Princípio da parceria: Entender que desenvolver continuamente as
competências dos colaboradores é uma tarefa complexa, exigindo que se estabeleçam
parcerias internas (com líderes e gestores) e externas (instituições de nível superior).
Princípio da sustentabilidade: Ser um centro gerador de resultados para a
organização, procurando sempre agregar valor ao negócio. Pode significar também
buscar formas alternativas de recursos que permitam um orçamento próprio e
autossustentável.
(Fonte: Adaptado pelo autor de Eboli, 2003).
Atendendo ao princípio da competitividade, a organização deve contar com o
engajamento dos colaboradores no sentido de que possa oferecer programas que
estejam de acordo com as necessidades de suprir as exigências do mercado. Em
contraposição, ela deve oferecer um programa de formação que aumente o nível de
empregabilidade dos funcionários em um mundo altamente competitivo. Para atender
ao princípio da perpetuidade, o resultado do plano de aprendizagem deve prever não
somente a aplicação imediata dos resultados, mas também estabelecer rotinas de
disseminação dos conhecimentos que cada colaborador adquiriu. No sentido de
atender ao princípio da conectividade, o que for oferecido como plano de
aprendizagem para o aluno deve formar competências e habilidades tecnológicas.
Estas devem permitir-lhe atuar de modo confortável em ambientes nos quais a
mediação tecnológica é extensiva e sem a qual ele não consegue desenvolver os
trabalhos de forma confortável.
Atendendo ao princípio da disponibilidade, a empresa deve facilitar o acesso
dos colaboradores a qualquer programa a ser disponibilizado pelas ferramentas web
2.0. Estas colocam recursos de espaço, programas e infraestrutura estabelecidas na
rede, aos quais eles podem ter acesso sem ter custos adicionais. Atendendo ao
princípio da cidadania, o plano de aprendizagem deve privilegiar uma situação que
signifique colocar à disposição dos contemplados pela universidade corporativa
programas que destaquem a sua formação social de modo que possam não somente
usufruir os direito da cidadania, como exigi-los quando se fizer necessário. Para
atender ao princípio da parceria, o plano de aprendizagem deve priorizar um ambiente
no qual atividades cooperativas e colaborativas possam ser desenvolvidas de forma
intensiva. Atendendo ao princípio da sustentabilidade, o plano deve criar condições
para que os colaboradores deem continuidade aos seus programas de formação de
forma independente, mas sempre tendo em mente o retorno que devem dar para a
organização que lhes está proporcionando novas possibilidades de crescimento
pessoal e profissional.
Essa é uma percepção diferenciada, tomada sob um ângulo distinto do que a
pesquisadora pretendeu, mas que tem aplicabilidade segundo outras formas de visão.
Na sequência, a definição do programa de cursos se revela uma das principais
preocupações do CLO. Ele deve ser desenvolvido tendo em vista três áreas
diferenciadas, para justificar o que foi exposto nos parágrafos anteriores. Essa
diversificação tem também o propósito de balancear necessidades da organização e
dos elementos que foram colocados como os sete públicos estratégicos. Posto
segundo essa linha de raciocínio, os cursos devem estar relacionados com uma das
três áreas seguintes:
Operacional: cursos relacionados com as necessidades internas da
organização, que lhe propiciem alguma forma de adquirir um diferencial competitivo no
mercado e que partem da observação de que a universidade não mais forma o
profissional desejado por ela;
Social: cursos relacionados com as necessidades dos colaboradores e que
lhes propiciem alguma forma de aquisição de empregabilidade em um mercado de
difícil competição e que coloca a todos sob a ameaça de vivermos em um mundo sem
empregos;
Cultural: cursos relacionados com os outros seis públicos estratégicos (clientes,
financiadores, fornecedores, comunidades temáticas, sociedade em geral e acionistas
da organização).
A montagem de um plano de formação, ao determinar o portfólio de cursos,
pode utilizar o Quadro 15.1 para estabelecer uma taxonomia que permita dividi-los de
acordo com a área operacional, que envolve o planejamento tático e estratégico (de
interesse da organização), a área social (de interesse tanto do colaborador quanto da
empresa) e a área cultural (de interesse do colaborador).
Quadro 15.1 – Programa de cursos para criação da universidade corporativa
Área operacional (tático
e estratégico)
Área social (social) Área cultural
(complementar)
Procedimentos
operacionais
padronizados; dizem
respeito a rotinas
internas, tarefas
repetitivas; são cursos
de curta duração e que
formam mais os novos
colaboradores pois os
antigos já têm formação
ou foram remanejados
Investimento no capital
intelectual com cursos
que aperfeiçoam a
valorização do ser
humano
Vida social
Utilização de
ferramental tecnológico
Formação permanente e Finanças pessoais
disponível ou referente
a inovações
tecnológicas em fase de
implantação
continuada
Atendimento ao cliente
com técnicas de
marketing, atendimento
pós-venda e outros
cursos relacionados
Autodesenvolvimento Formação política
Conhecimento de
mercado com estudos
de prospecção de
nichos temáticos
Busca e criação de
novos talentos
Questões sociológicas
e filosóficas dos tempos
modernos
Comunicação interna
com programas que
facilitam a comunicação
interpessoal e
desenvolvimento de
trabalhos em grupo,
com disseminação dos
resultados
Responsabilidade social
individual com oferta de
programas de formação
para voluntariado,
consciência ambiental
etc.
Ação cultural
Conhecimento da
organização com
apresentação e
detalhamento de sua
estrutura
Cursos com crédito
acadêmico
Cidadania
Comportamento e
cultura organizacional
Educação formal
subsidiada
Programas de saúde
Fonte: O autor.
Proporcionar a oferta aos colaboradores de uma universidade corporativa, com
as características e a proposta de um programa de cursos que abranja uma grande
gama de conhecimentos em áreas diferenciadas, tende a provocar uma mudança no
relacionamento, não somente deles com a organização, mas também entre eles. Visto
como capital intelectual, com seu trabalho valorizado em um mercado competitivo, a
mudança da autoimagem pessoal é uma consequência quase que natural. Esses
benefícios atuam como um motivador para que outros profissionais, verdadeiros
talentos em um contexto de competição acirrada, passem a considerar como opção
desenvolver seus trabalhos em uma empresa que dá tal nível de valorização ao seu
capital intelectual; ou seja, ela pode se transformar em um bom local de trabalho.
Com essas características, a corporação tem tudo para se tornar uma
organização que aprende, que adquire a capacidade de aprender mais rápido que os
outros, e aplicar esses conhecimentos com maior rapidez, o que é uma vantagem
competitiva sustentável em longo prazo, conforme opina Senge (2010).
Além de apresentar no Quadro 15.1 uma relação de tipos de cursos, é possível
sugerir um desenvolvimento que prioriza a formação conforme as necessidades da
organização e que pode seguir a sequência sugerida na lista seguinte:
iniciar com procedimentos operacionais padronizados (POP);
inserir cursos de formação pessoal;
iniciar com o programa de formação para aquisição de competências e
habilidades específicas que não são o objetivo fim da organização;
iniciar o desenvolvimento de cursos de formação interna para progressão
funcional;
iniciar o desenvolvimento de cursos com parcerias com faculdades e
universidades;
entrar na educação informal via cursos livres;
entrar na educação permanente e continuada com oferta de mix de cursos
diferenciados;
entrar nos cursos de graduação com possibilidade de desenvolvimento in
company (caminho pelo qual a universidade coloca seus mestres e doutores na
organização);
entrar nos cursos de pós-graduação (idem ao item anterior);
entrar em cursos profissionalizantes em que a organização cede instrutores
para o mercado acadêmico.
Não há obrigatoriedade de seguir um programa com todas essas
características nessa ordem; é possível haver justificativas para inversão dela. Trata-
se apenas de uma orientação para que não se dispersem esforços na tentativa de
iniciar o desenvolvimento de tudo o que se prevê para a educação corporativa e a
universidade corporativa de uma única vez, o que pode causar sobrecarga cognitiva e
escolha errada dos cursos oferecidos.
16. Perfil do aluno corporativo
Conhecer o aluno pode ser considerado como uma das principais informações
para que a forma de desenvolvimento dos cursos projetados possa ser efetuado de
uma maneira a mais próxima possível.
Em diversas oportunidades anteriores,foi possível destacar que a organização
tem sete públicos estratégicos, com os quais ela deve saber trabalhar de forma
diferenciada e integrada. A universidade corporativa é o local de encontro. Apesar de
já citados, é interessante reavivar a memória e apresentar novamente esses públicos:
clientes, colaboradores, financiadores, fornecedores, comunidades temáticas,
sociedade em geral e acionistas. Para cada um, a empresa pode agregar valor ao
relacionamento que é mantido, por meio da oferta de programas de formação que
utilizam a universidade corporativa como elemento de efetivação. Esta não tem mais
local como uma escola tradicional, está na rede e, em alguns casos, em uma nuvem,
que contém toda uma diversidade de serviços que podem ser disponibilizados.
Uma das primeiras características que a educação corporativa deve privilegiar
é custear os programas de formação em sua integralidade ou oferecer incentivos que
representam subsídios utilizados no pagamento de mensalidades como resultado de
premiações por desempenho. Recomenda-se que cursos culturais sejam de curta
duração e gratuitos, bem como os de formação social, que podem ter um subsídio
menor, mas que ainda assim deve existir. Esse é um dos grandes apelos para a
organização moderna.
Outro aspecto que muda – ou é recomendável mudar no aluno corporativo – é
a eliminação do carreirismo em sua busca de estudos. Essa situação acontece com
aqueles que apenas desenvolvem programas de formação com a finalidade única de
obtenção de emprego ou de melhoria de cargo, sem que nenhuma contribuição seja
dada às suas necessidades sociais e culturais. Essa é uma das outras formas de
alienação – mais disfarçada e que pode ser aproveitada em benefício do patrão – que
não deve estar prevista na universidade corporativa. A atividade de estudo corporativo
é uma oportunidade que o aluno tem de se aprofundar naquilo que gosta e inserir no
processo de ensino e aprendizagem a emoção como aspecto de larga importância,
trabalhar suas necessidades e melhorar seu nível cultural.
O ambiente da universidade corporativa é centrado no aluno, para quem são
desenvolvidas todas as atividades e programas de formação. Ele exige do aluno a
efetivação da capacidade da aprendizagem independente como um pré-requisito que,
se não efetivado, pode eliminá-lo de algum plano de aprendizagem específico. Este é
um dos controles de avaliação de resultados exigido como um dos aspectos de uma
análise de retorno sobre o investimento (–Return on Investment – ROI). Há uma nova
área, ainda em desenvolvimento, denominada ROLI – Return on Learning Investment
(retorno do investimento em aprendizagem), considerada por Phillips e Phillips (2011)
como a ferramenta que oferece um guia concreto e direcionamento para a
transformação estratégica em uma organização que aprende e que analisa o retorno
da aplicação em uma perspectiva holística. Os autores assinalam que essa avaliação
oferece dados como produtividade, rentabilidade, qualidade e preço, segurança e
conformidade com padrões de qualidade exigidos pela empresa.
A diversidade cultural, presente em uma universidade corporativa, pode
superar, e em muito, aquela observada nas universidades tradicionais. Pessoas
oriundas do chão de fábrica até a mais alta gerência podem estar em uma mesma sala
de aula. Nela, a hierarquia deve cair por terra, e a formação de grupos, atividade
sugerida intensamente, pode reunir tais pessoas, com características ímpares e de
elevada diversidade, em uma mesma equipe. Evidentemente essa situação não ocorre
com frequência no nível operacional, mas não é incomum quando nos deslocamos
para cursos nas áreas cultural e social da universidade corporativa.
Há um aspecto que deve ser evitado: a educação corporativa, usada como
instrumento ideológico na mão do patrão, aspecto alertado por Vergara et. al (2005) ao
questionar a orientação da universidade corporativa como elemento voltado para
educação ou doutrinação. Quando essa perspectiva é adotada, caem por terra todas
as outras dimensões humanas e sociais, um dos principais motivadores da criação de
uma universidade corporativa. Dentre os sete públicos da organização, o colaborador
merecerá uma atenção especial nas próximas seções, visto que é mais diretamente
afetado pela proposta da educação corporativa. Alguns apontamentos que serão feitos
relativamente e ele valem para todos os demais.
16.1 O perfil do aluno corporativo
É importante que a organização conheça o perfil dos alunos que desenvolvem
programas de formação na universidade corporativa. Entender o modo como
aprendem pode estabelecer as formas de abordagem do conteúdo necessário para
desenvolver determinado processo educativo. É um cuidado que ajuda a definir a
maneira como um programa vai ser desenvolvido, sem necessariamente mudar seu
conteúdo, e sim a abordagem utilizada.
Na fase de planejamento do programa de cursos, é de interesse levantar as
características dos colaboradores para identificar a abordagem mais indicada para
cada curso em particular. O objetivo é tornar o programa flexível a ponto de permitir
atender de forma individual a cada participante, considerando que o volume de
pessoas que frequenta cursos internos não é alto. É possível a montagem de uma lista
na qual a organização pode apoiar o planejamento proposto. Assim considera-se que
o aluno corporativo apresenta as seguintes características:
1. tem interesse no desenvolvimento de processos de formação permanente e
continuada;
2. perde a perspectiva do emprego para toda a vida e procura organizações que
atendam às necessidades dele, não apenas em termos de qualificações técnicas, mas
que exigem o social e o cultural como complementos necessários;
3. espera um tratamento diferenciado como parte integrante do capital intelectual
da organização, valorizado em seus conhecimentos anteriores, no seu trabalho atual e
nas possibilidades latentes ainda não exploradas;
4. está colocado como profissional do conhecimento na mudança de paradigma
econômico (de sociedade industrial para sociedade do conhecimento), o que lhe dá
uma visão sistêmica mais ampla da organização e exige mudança nas formas de
relacionamento com os empregadores;
5. exige mais em termos de atendimento de suas necessidades de formação e
sua efetivação nos níveis operacional, social e cultural;
6. tem a expectativa de que a organização atenda às suas necessidades.
7. aceita a imposição, feita pelo contexto social, de ser mais crítico e mais criativo
para a aquisição de novos conhecimentos a partir de um volume crescente de
informações presentes na sociedade em rede;
8. é uma pessoa pertencente a uma nova geração de nativos digitais (Prensky,
2001. Mattar, 2008) que convive diariamente com a tecnologia da informação e não
consegue trabalhar sem o apoio dela. Tal geração incorpora as mídias digitais em seu
cotidiano; têm novas expectativas com relação à aprendizagem, ao trabalho e à
diversão; espera que as coisas sejam fáceis de compreender ou aprender; e que haja
pessoas sempre disponíveis e dispostas a resolver uma incompreensão ou preencher
uma lacuna no entendimento. Esse é um perfil que não é comum para a organização,
acostumada a profissionais tradicionais, mas com o quai precisa aprender a lidar;
9. desenvolve novas formas de comunicação em redes de relacionamento e em
redes sociais profissionais, e está aberto para outros modos de relacionamento em
todos os níveis e que exige transparência nos contatos que mantém com
empregadores e outros colaboradores. Powel (2010) considera que as redes sociais
oferecem para os profissionais novas maneiras de se comunicar, fazer amigos e obter
resultados profissionais;
10. trabalha de forma ativa e colaborativa em grupo para resolver problemas
relacionados com sua vida pessoal e profissional, o que o leva a dar preferência a
desenvolver os seus trabalhos em ambientes assemelhados àqueles que podem ser
observados nas organizações que aprendem. Steinhauser (2008) destaca que esse
tipo de enfoque permite a criação de comunidades de prática nas quais sejam
desenvolvidas ações e práticas voltadas a orientar os colaboradores no sentido de
colaborar para que a organização mantenha uma linha de competitividade em um
ambiente dinâmico em que as tecnologias constantemente estão redesenhando o
mercado;
11. está sempre atento a novas oportunidades de negócio, posicionando-se ele
mesmo como uma boa oportunidade para terceiros;
12. é um profissional mais reflexivo, mais questionador, que está constantemente
atento às mudanças sociais por sua conexão quase que permanente com as redes;
13. apresenta mobilidade quase total, integrando seu trabalho com as mídias
sociais e com uma série de novas ferramentas que permitem que trabalhe e estude,
independentemente do lugar onde se encontre;
14. não dá a mesma importância, como o fazia toda uma geração que o
antecedeu, às certificações formais, aceitando e lutando para conseguir adquirir novas
formas de construção de conhecimento, que substituem a certificação social que dava
um estado diferenciado para profissionais;
15. aceita a necessidade de mudanças constantes e ágeis que ele consegue
atender ao desenvolver o processo de formação permanente e continuada, o qual
substitui a aprendizagem vitalícia;
16. está preparado para desenvolver o empreendedorismo interno, o qual permite
criar novos formas de atuação dos setores produtivos da organização. Segundo Fraga
(2007), o empreendedorismo interno é uma área que deve ser incentivada pela
organização como forma de obter o aperfeiçoamento da criatividade para a realização
de tarefas internas;
17. desenvolve uma personalidade voltada para resiliência, adaptando-se a
diversas situações e voltando às suas características normais sempre que se dissipam
as pressões que exigem comportamento diferenciado;
18. é proativo no sentido mais profundo do vocábulo e está preparado para agir em
situações possíveis de acontecer, mesmo antes que aconteçam. A proatividade, que
representa o ato de prever problemas e agir de forma eficiente para evitá-los, é uma
qualidade a ser desenvolvida por toda a organização que valoriza profissionais que
tentam encontrar diversas maneiras para resolver um problema ou executar uma ação
(Asp, 2012);
19. assume a liderança como algo natural e não imposto, e tem como inata a
capacidade de montagem e gerenciamento de equipes de alto desempenho que estão
sujeitas ao estresse competitivo;
20. desenvolve as ideias de gestão de conflitos e sabe como promover a
competitividade interna, de modo saudável e de resultado favorável à estratégia
organizacional;
21. apoia no humanismo todas as características técnicas que seu perfil presume
existir por ser esse um caminho considerado pela psicologia organizacional (Banov,
2013); ou seja, tem a preocupação de compreender o comportamento individual e
aumentar o bem-estar de todos os colaboradores no ambiente de trabalho;
22. possui elevada capacidade de relacionamento interpessoal e atua como
catalisador de ações de grupos de pessoas sob sua liderança. Essa é uma qualidade
tida como “um dos fatores impulsionadores do sucesso na carreira de qualquer
profissional e que revelam a maturidade e habilidade comportamental presente em
bons profissionais” (Albuquerque, 2012);
23. procura manter um clima organizacional de elevado nível empático entre todos
os participantes, utilizando a amizade como instrumento de incentivo e motivação.
Vieira (2012) chama a atenção que em tempos de grandes desafios no mundo
corporativo, um bom clima organizacional é importante para que os colaboradores
tenham um relacionamento que os ajude a aliviar o elevado nível de pressãoque este
fato lhes impõe;
24. apresenta elevada postura ética em suas atividades. Almeida (2010) considera
que de forma simplificada isso consiste em que o profissional esteja aberto e receptivo
e procure ser melhor a cada dia, independentemente de qual seja a sua atividade
profissional.
25. alia competência técnica e comportamental;
26. exige para si e concede aos outros o direito de exercer de forma plena e
completa a sua cidadania.
Todas essas considerações, que resumem diversos estudos, permitem
desenhar um perfil comum. É recomendável que as empresas se disponham a
desenvolver um processo de atualização constante nos conhecimentos de seus
colaboradores, o que os torna capazes de buscar soluções inovadoras. Trata-se de
uma forma que elas têm de dar resposta à velocidade das transformações que a
sociedade impõe a todos os profissionais na contemporaneidade. As soluções
possuem a capacidade de ser ao mesmo tempo criativas, diferenciadas e rápidas. O
trabalho com a mudança constante, as instituições sociais a compreenderem, a
necessidade da elevada flexibilidade que torne possível mudanças de hábitos de
trabalho de forma ágil, assim como o retorno a situações anteriores quando o evento
motivador for removido são fatos que ocorrem. Para poder formar e gerenciar equipes
altamente eficazes, é preciso dar elevada capacidade de liderança aos colaboradores
e ser criadas condições para que cada um revele aptidão para manter estreitas
relações pessoais e profissionais com os colegas de trabalho. A partir desse ponto,
eles devem ser capazes de demonstrar habilidade para lidar com qualquer tipo de
pessoa, seja usuária interna, seja externa dos serviços da organização.
Esse é um perfil de um colaborador diferenciado com o qual, segundo Drucker
(2000), a organização deve se acostumar. Não importa se para isso tenha que mudar
de forma radical as formas autoritárias de relacionamento que tradicionalmente
caracterizaram as relações entre empregadores e empregados. No momento em que
vive nosso conturbado mundo, elas se encontram sob o imperativo de uma
transformação urgente. Não éfácil encontrar um profissional que reúna todas essas
características e apresente um perfil que as englobe. É na universidade corporativa, e
nas expectativas que ela traz para as empresas, que se encontra a oportunidade de
que esse perfil possa ser formado nos seus colaboradores para que elas venham a
desenvolver, a partir da formação desse profissional, um trabalho diferenciado e de
destaque perante a concorrência.
17. Um olhar para o futuro
As universidades corporativas representam um fenômeno que ainda não foi
totalmente aplicado no contexto brasileiro. Já surgem no horizonte novos modelos que
se autodenominam como evolução delas. Em termos globais, em todos os cantos,
tendem a superar o crescimento do número de universidades e faculdades voltadas
para o ensino formal. Levando em consideração que o mercado brasileiro acompanha
as tendências apresentadas pelo americano, podemos esperar que logo a situação
deve se reproduzir em nosso país.
Essa constatação não deve surpreender ninguém, ela é apenas o
reconhecimento da importância da educação corporativa e do sucesso que seu braço
tecnológico conseguiu obter, o que pode lhe conferir os louros desejados. É o que se
observa quando as organizações que contam com universidade corporativa formam
pessoas às quais se pode dar o crédito de serem líderes e talentos para realizar
trabalhos em mercados inovadores e voláteis. Um exemplo eficiente que migrou dos
Estados Unidos e chegou até nós é o da universidade corporativa do McDonald´s, cujo
poder de venda no mercado é possível constatar. Ela apresenta algumas
características que podem ser alteradas, como a de colocar em segundo plano o
social, mas em termos de resultados técnicos não há reparos a ser feitos.
As novidades surgem como ideias que, se não são tão novas, começam a ser
enxergadas sob uma nova visão e impõem uma atuação diferenciada para a
universidade corporativa, pois ela é tida como o braço tecnológico que vai dar suporte
à sua efetivação. Estamos falando da aprendizagem organizacional e da gestão do
conhecimento, as quais se entrelaçam e cuja aplicação já conta com diversas
iniciativas, ainda sem o envolvimento da universidade corporativa. O surgimento e
evolução desse modelo de universidade apenas vem facilitar o trabalho que pode ser
desenvolvido para efetivar essas ideias.
17.1 Aprendizagem organizacional e gestão do conhecimento na universidade corporativa
A aprendizagem está finalmente incorporada no mercado corporativo como
uma alavanca capaz de dar à organização um diferencial competitivo significativo.
Recentemente, uma inovação trouxe o surgimento de dois aspectos que representam
relativa inovação no mercado: a aprendizagem organizacional e a gestão do conhecimento. A inclusão dessas perspectivas na universidade corporativa faz com
que esta seja vista de forma diferenciada, mais nova e sofisticada. Quem está se
debruçando sobre essas áreas? As pesquisas ainda não são extensivas, mas
podemos observar alguns estudos sendo desenvolvidos (Rocha; Oliveira Júnior, 2002;
Davenport e Prusak, 2001; Nonaka e Takeushi, 2000.) e levando em consideração
essa evolução da universidade corporativa, o que, por extensão, altera não a essência
e o conteúdo das necessidades da educação corporativa mas orienta diferentes
formas de efetivação dela.
O termo universidade corporativa parece ter sido incorretamente escolhido,
mas discussões sobre uma nova nomenclatura são improdutivas e não conduzem a
nenhum resultado prático, razão pela qual o nome acabou consagrado pelo uso e se
manterá assim. Em outras palavras, que fogem a uma definição formal e que foram
colocadas em outras partes deste livro, a universidade corporativa é a abordagem
filosófica que a organização utiliza para justificar a necessidade de formação dos
colaboradores e de toda a sua cadeia de valor (os sete públicos) de forma que ela
tenha um nível de sustentabilidade confortável no conturbado mercado da atualidade.
Nos dias de hoje, em um momento que se configura como um novo ponto de
partida para a universidade corporativa rumo a novas formas de abordar a educação
corporativa e tendo em mente os sete públicos da organização, pode-se considerar
como descrição de suas características que ela é uma função ou departamento
estrategicamente orientado para integrar o desenvolvimento de pessoas como
indivíduos, apresentando a realização dos trabalhos deles em equipe e que veicula
benefícios advindos da adoção da educação corporativa para toda sua cadeia de
valor.
Guthrie (2013) assinala que a universidade corporativa na atualidade começa a
ser vista não como uma entidade física, mas como uma ideia utilizada para denotar
aprendizagem organizada para o benefício da organização. Junto com o pensamento
de Meister e Willyerd (2010), ela é encarada como uma ideia adotada para facilitar os
processos organizacionais, mais do que uma entidade organizacional. Donadio (2011)
considera que essas instituições apresentam, desde sua criação, transformações
significativas. Estudos realizados pelos pesquisadores citados revelam que a rápida
evolução da universidade corporativa está ligada ao colapso da organização
hierárquica, com o aumento dos trabalhos desenvolvidos em equipe para que fosse
possível enfrentar o ritmo crescente da concorrência e com diversas mudanças que
acontecem no mercado de trabalho.
Dessa forma, é possível perceber que a universidade corporativa não é uma
ideia definitiva, não tem um lugar e se encontra em um processo evolutivo que está
diretamente relacionado com a evolução tecnológica e o barateamento do custo das
telecomunicações (Davenport e Prusak, 2001). Foi para resolver esses desafios que
ela foi criada. A partir do alcance de sua maturidade, os pesquisadores forma geral
registraram as mudanças pelas quais ela foi experimentando e observam algo
significativo. De um processo de atração, retenção e aumento da empregabilidade dos
colaboradores (Universia Brasil, 2012), ela passa para a visão da necessidade de
difundir a cultura comum de toda a organização. Assim, é utilizada como um veículo
para centralizar a formação dos colaboradores, com a consequente redução de custos
e alinhamento com o desenvolvimento estratégico para atingir os objetivos do negócio
(Pamtom; Peters; Quintas, 2013).
A nova dimensão, que representa um novo passo no processo de evolução,
está centrada em estudos que veem a universidade corporativa como o meio para efetivação da aprendizagem organizacional e da gestão do conhecimento. São
essas ideias que moldam a direção e o futuro dela e representam argumentos mais
sofisticados para justificação de investimentos maiores e de sua expansão, que pode
abranger a inclusão da educação formal em seus programas de formação. Pamtom,
Peters e Quintas (2013) acreditam que a universidade corporativa está adquirindo um
conjunto de ideias multifacetadas e sendo dividida em múltiplas camadas. Assim,
constitui-se em local no qual a aprendizagem organizacional e a gestão do
conhecimento podem ser utilizadas como base para um modelo em nível mundial de
uma nova universidade corporativa. Com essa proposta, ela se torna um agente
central para a gestão da mudança organizacional, pela prática constante da facilitação
da aquisição de conhecimentos. Essa é uma nova agenda para a aprendizagem da
empresa. Há uma gama de pesquisadores, todos citados neste capítulo, que
defendem que a gestão e produção do conhecimento virá a ser o caminho mais
importante para o sucesso do futuro de qualquer organização em seus processos de
negócios. Na nova universidade corporativa a visão é a de que o conhecimento é
capturado, disponibilizado e disseminado como um recurso a ser utilizado para
benefício de toda a organização; além disso, ele deve ser localizado quando e onde
existir.
A visão atual de montar programas de formação sob demanda se expande. A
universidade corporativa passa a ser considerada o cinzel que esculpe a organização
que aprende, em sua totalidade. Ela se apoia totalmente em educação e em
processos de formação pontuais e nelasé eliminado todo e qualquer inibidor interno ou
externo para que as atividades de aprendizagem venham a acontecer. Com essa nova
visão, Davenport e Prusak (2001) assinalam que a universidade corporativa apresenta
como funções:
1. desenvolver a gestão das expectativas da equipe sobre a importância da
aprendizagem, oferecendo programas de formação que aumentem o nível
de desenvolvimento dos colaboradores;
2. facilitar o acesso e a dispersão das informações que destaquem a
valorização que a organização dá ao processo de aprendizagem;
3. criar mecanismos adequados para orientar o setor de gestão de
pessoas a manter uma estrutura que permita o alinhamento dos programas
de formação com os objetivos estratégicos da organização;
4. facilitar a criação de parcerias com indivíduos e organizações externas
com a finalidade de estimular e desafiar as formas de pensamento atual,
as formas organizacionais e o próprio portfólio de programas de formação
internos.
(Fonte:Adaptação de texto de Davenport e Prusak, 2001).
A universidade corporativa, com base nessas suposições, começa a distanciar-
se cada vez mais de uma universidade com algum lugar presencial para tornar-se um
centro de formação residencial, móvel e que pode ser acessado de qualquer lugar que
tenha ligação com a rede mundial de computadores. Tem uma dimensão virtual, com
um campus virtual e salas de aula eletrônicas. Esse é um fato consequente da
importância que a formação e a educação têm para a organização moderna como
diferencial competitivo. Somente a educação corporativa, pode nos dias atuais
provocar e coordenar uma série de mudanças significativas nela, atingindo o seu
coração. Todos esses processos estão apoiados em renovação, desenvolvimento e
crescimento e acabam por transformar a universidade corporativa em uma força
poderosa no interior da empresa.
O que começou como uma apreensão para o mercado acadêmico, muda
significativamente de aspecto e Passa a representar uma oportunidade, não somente
para os docentes, mas também para os profissionais da organização que se tornarão
docentes caso venham a trabalhar juntos. Dessa forma se torna realidade o ideal que
muitos vislumbraram desde o surgimento das universidades corporativas: a ação
conjunta universidade e empresa, em parcerias profícuas. O seu desenvolvimento
ocorreu, principalmente, em razão da falta de adaptabilidade e de flexibilidade, o
trabalho em ambientes centrados no aluno, a falta de acompanhamento dos
progressos e da evolução do mercado corporativo. As universidades tradicionais, ao
agirem dessa forma, permitiram abertura suficiente para que, aos poucos, ela fosse
tomando seu lugar no mercado. Sua perspectiva nunca foi a de substituir a
universidade tradicional, mas ser um complemento, o que está muito próximo de
acontecer. Estudo desenvolvido pela Universia Brasil (Universia, 2012) questiona um
novo tipo de parceria emergente que está na berlinda. Ele é aceito sem reservas pelo
mercado corporativo, mas ainda restam alguns ecos de resistência no segmento
acadêmico, que tem medo de que, ao costurar convênios com a iniciativa privada,
possa acarretar o “atrelamento” da instituição de ensino ao patrão, risco que nos
parece cada vez mais distante.
Um olhar para o futuro nos mostra a universidade corporativa como uma ideia
que pode movimentar as questões de aprendizagem organizacional e gestão do
conhecimento, mas para tal precisa estar inserida no coração da organização e ter um
núcleo ágil de tomada de decisões. Somente assim terá funcionalidade a tentativa de
que possa assumir essas funções que apresentam elevado nível de complexidade. A
proposta de realizar um processo de aprendizagem contínuo que englobe todas as
formações formais ou informais que o colaborador pode adquirir durante a vida é
atraente, principalmente quando tem como pano de fundo atuar como um instrumento
de pesquisa sobre como a organização age ao se defrontar com os desafios que lhe
são impostos pelo mercado. A adaptação desta a um ambiente em mutação como o
mercado contemporâneo, desenvolvida com base no aumento de conhecimento dos
colaboradores, torna a ideia ainda mais interessante. Essa proposta corrobora com o
sentimento de que a organização não pode mais continuar sozinha em um mundo com
as características que se veem hoje.
A formação de equipes internas demonstrou ser um dos caminhos de sucesso,
e isso pode ser ampliado para a orientação da organização na tentativa de costurar
acordos externos nos quais alianças estratégicas possam ser estabelecidas. A
intervenção da universidade corporativa se dá na medida em que, com seu
crescimento, foi adquirindo um conhecimento sobre a empresa e acumulou
informações que podem levar esta a um patamar tal que lhe dê condições de evoluir
para uma organização que aprende, com trabalhos efetivos nas cinco disciplinas que
Senge (2010) colocou como um conjunto de práticas para construir e melhorar a
capacidade de aprendizagem nas organizações e que são:
1. Domínio pessoal: é uma disciplina de aspiração. Consiste em aprender a gerar e
manter uma tensão criativa em nossa vida. Envolve a formulação de um conjunto
coerente de resultados que as pessoas desejam alcançar como indivíduos (sua visão
pessoal) em alinhamento realístico com o estado atual de suas vidas (realidade atual).
Aprender a cultivar a tensão entre a visão pessoal e a realidade externa aumenta a
capacidade de fazer melhores escolhas e alcançar melhor os resultados escolhidos.
2. Mudança de modelos mentais: é uma disciplina de reflexão e questionamento para
trazer à superfície, testar e melhorar nossas imagens internas do mundo. Focaliza o
desenvolvimento de atitudes e percepções que influenciam o pensamento e a
interação entre as pessoas. Ao refletirem sobre aspectos do mundo interno, as
pessoas ganham mais capacidade de governar as suas ações e decisões.
3. Visão compartilhada: é uma disciplina coletiva que visa a estabelecer objetivos
comuns. As pessoas aprendem a nutrir um senso de compromisso em um grupo ou
organização desenvolvendo imagens do futuro que pretendem criar e os princípios e
práticas orientadoras pelas quais elas esperam alcançar.
4. Aprendizagem de equipes: é uma disciplina de interação grupal para aprendizagem
em grupo. A aprendizagem é feita por meio de equipes e utiliza técnicas como diálogo
e discussão para desenvolver o pensamento coletivo, aprender a mobilizar energias e
ações com vistas a alcançar objetivos comuns e desenvolver uma inteligência e
capacidade maior do que a soma dos talentos individuais.
5. Raciocínio sistêmico: é uma disciplina de aprendizagem e busca a visão de
globalidade. Por intermédio do insight as pessoas aprendem melhor compreendendo a
interdependência e mudança para lidar mais eficazmente com as formas que
produzem efeitos em suas ações. Pensamento sistêmico é baseado na retroação e na
complexidade. Sobretudo, mudar sistemas na sua totalidade e não mudar apenas
detalhes deles.
Fonte: Adaptado de Senge, 2010.
Chiavenato (2010) considera, baseado nas ideias de Senge, que a
aprendizagem organizacional é efetuada a partir dessas cinco disciplinas capazes de
fazer com que pessoas e grupos possam conduzir as organizações para a mudança e
renovação contínuas. Com relação ao relacionamento da universidade corporativa
com a gestão do conhecimento, é preciso compreender a ideia do que é considerado
gestão do conhecimento na empresa moderna. Gonzaga Júnior (2009) ressalta que “a
evolução tecnológica criou um cenário onde o conhecimento é tido como um processo
dinâmico de aprendizagem em função da mudança constante do ambiente de
negócios devido à transformação das bases tecnológicas, da economia mundial e das
relações comerciais entre os países”. A partir daí, surge a gestão do conhecimento na
organização moderna, a qual compreende a aquisição do conhecimento em nível
tácito e em nível explícito, quando ele se transforma em parte integrante do ativo
intangível dela.
O nível tácito é composto pela aquisição de conhecimento pelas pessoas com
base na vivência delas, no que a universidade corporativa não pode interferir nem
influenciar em nada. A esse primeiro componente soma-se a aprendizagem obtida por
meio das ações de treinamento e desenvolvimento profissional que são a alma e a
razão da criação da universidade corporativa. Para a organização que aprende e para
a gestão do conhecimento é necessário que esse conhecimento tácito seja convertido
em conhecimento explícito, que ocorre quando ele deixa de ser uma propriedade
pessoal e é disseminado em toda a organização. É sobre a gestão do conhecimento e
a aprendizagem organizacional que está fundamentada a visão futura da universidade
corporativa, tida como uma realidade irreversível no mercado de trabalho da
sociedade contemporânea.
18. Organizações inovadoras sustentáveis
A sustentabilidade está colocada, em todos os negócios, como um dos principais objetivos, frente às exigências cada vez maiores do capital e do aumento de remuneração que torna importante analisar como uma organização pode atingir este ponto.
Simantob (2009) considera que as organizações foram em um tempo passado,
ainda com exemplos existentes nos dias atuais, criadas com base em departamentos,
desenhadas como se fossem máquinas, com processos rigidamente mecânicos e que
funcionaram bem naquele momento, para aquele mercado, para aquela expectativa
da sociedade e com aquela configuração de gestão, mas a velocidade das mudanças
sociais e tecnológicas tem sido grande e exigiu mudanças.
Baseado nessa constatação, que se pode entender como irrefutável, o autor
analisa a existência de uma nova classificação para organizações que procuram
mudar seus procedimentos anacrônicos e que não estão em sintonia com as
necessidades do mercado: são as organizações inovadoras sustentáveis. Aos poucos
vão colorindo um ambiente no qual diversos tons de cinza ainda insistem em manter
no mercado atitudes e práticas que não condizem com a condição social da pós-
modernidade.
18.1 As organizações inovadoras
No senso comum, uma organização inovadora é aquela que provoca rupturas naquilo
que lhe é habitual. Ela pode desenvolver essa postura por escolha própria ou por
imposição do mercado. Em ambos os casos obtém resultados, sejam benéficos, sejam
desastrosos. Cabral (2012) opina que tais organizações são ou acabam sendo por
imposição organizações que encorajam quem tem ideias, facilitam as comunicações,
são descentralizadas e diversificadas e incentivam contatos com fontes exteriores,
empregam tipos heterogêneos de pessoal, lançam mão de um processo objetivo e
fundamentado na pesquisa dos fatos e estão dispostas a experimentar ideias novas
por elas mesmas, sem levar em conta o status de quem está na origem. Resumindo,
uma organização criativa é aquela que vê os seus recursos humanos como a força
geradora de criatividade, não colocando obstáculos para que estas pessoas
desenvolvam o seu talento.
Um olhar inquisitivo para o cenário contemporâneo não mostra muitas
empresas com essas características no mercado tradicional, reservando mais para o
segmento de e-commerce (comércio eletrônico desenvolvido na rede), no qual
apresentam traços similares. Elas ainda são poucas. O termo inovação já foi mais um
dos diversos modismos que costumam invadir o mercado corporativo, muitos dos
quais fazem com que a organização perca tempo e desperdice dinheiro que acaba
sendo contabilizado a fundo perdido. A universidade corporativa, depois que perdeu a
aura de inovação, passou a ser considerada necessidade para a organização.
A ideia por si só já se justifica como uma demanda quando se considera que os
ambientes inovadores são aqueles que, segundo Lindegaard (2011), têm a intenção
manifesta de gerar valor econômico (via empreendedorismo) ou social (via educação
corporativa) e melhorar o posicionamento competitivo da organização no mercado,
tendo em mente o objetivo de proporcionar a sustentabilidade não somente comercial
como também ambiental nas áreas onde atua e, dessa forma, colaborar com o
desenvolvimento sustentado do país. O autor pondera que a inovação aberta se
demonstra como uma necessidade para a empresa contemporânea ao combinar
recursos de dentro e de fora para ampliar o aproveitamento dos talentos internos. O
mote da implantação da inovação – e, por extensão, da inovação aberta proposta por
Lindegaard – tem na colaboração com diversos parceiros a possibilidade de produzir
uma força maior de inovação. É possível enxergar na implantação da educação
corporativa um facilitador para que isso ocorra. A inclusão dos sete públicos de valor
contempla as parcerias e pode tornar a universidade corporativa o braço tecnológico
que permita que essa colaboração mais estreita aconteça, não somente no âmbito
interno, mas também no externo. Ela pode ser capaz de envolver clientes,
fornecedores e outros parceiros externos.
A ideia ainda é inovadora, não por ser nova, mas por não ter uma aplicação
direta nas organizações. Algumas corporações, que trabalham intensivamente na
inovação, ainda o fazem sob a perspectiva da inovação fechada, com resultados
restritos quando comparados com as possibilidades que a inovação aberta permite
antever. Ainda vale o estereótipo da organização que defende que o que ela não fez
não presta. Trata-se de algo que precisa ser excluído das considerações estratégicas,
pois fora dela pode haver pessoas, pesquisadores e colaboradores de outras
organizações que têm ideias tão boas ou melhores do que aquelas criadas por ela. A
aplicação e utilização da inovação aberta tem todo um corpo de sustentação teórica e
não existe um padrão. A sua implantação, segundo Lindegaard (2011), ocorre de
distintas maneiras em diferentes organizações. Mas ela é vista como uma evolução
em relação à inovação fechada e aponta o caminho da organização inovadora
sustentável, um novo paradigma que enxerga na educação corporativa a forma de ela
alcançar um novo patamar de competitividade e sustentabilidade em nível globalizado.
Ainda valem as ideias de Schumpeter (1998, citado por Consoni, 2006) que
propugnam a inovação radical, a qual prevê uma mudança descontínua no interior da
organização mas não invalida as questões de discussão da inovação incremental, que
entende como possível o aprimoramento da nova (e da velha) tecnologia. A educação
corporativa enxerga qualquer tipo de mudança de forma natural e abriga nos seus
programas de formação a criação de competências e habilidades que estabeleçam
perfis empreendedores. Com o concurso dela é possível o conhecimento transformado
em técnica (Consoni, 2006). É no ambiente colaborativo, criado com a implantação da
educação corporativa, que as ideias vão ser transformadas em inovações, depois de
submetidas à modelagem, ao estabelecimento de planos e programas de mudanças.
Entre a ideia e sua disseminação a educação corporativa atua e a universidade
corporativa dá forma a um novo conhecimento que é então disseminado no interior da
organização.
18.2 As organizações inovadoras sustentáveis
Sustentabilidade parece ter se transformado em uma palavra da moda perante
um mundo que apresenta, para atônitos consumidores, a possibilidade de
esgotamento de recursos naturais. Considerada resultado de ações voltadas para
suprir as necessidades do ser humano (Sulaiman, 2011), significa sobrevivência,
continuidade, obtenção de um nível de competitividade no qual a organização não
colabore para acelerar o esgotamento desses recursos. É o que traz a noção da
ecologia para a estrutura interna. Sua busca deve ser de condições para o
crescimento, mas com consideração a esses aspectos. A sustentabilidade a ser
considerada uma necessidade como parte do processo de gestão, da estratégia para
alcance da competitividade e principalmente da aprendizagem organizacional e da
gestão do conhecimento. Essas ideias – que se reproduzem não apenas nos aspectos
econômicos, mas englobam os sociais e os de respeito ao meio ambiente – se
interpenetram para trazer uma nova visão da universidade corporativa, a ponto de que
seja vista como aquela que as trabalha de forma intensiva.
Assim, podemos enxergar que introduzir processos, técnicas e sistemas, novos
ou não, que evitam ou reduzem os danos ambientais pode não ser uma inovação
sustentável se ocorrer desagregação de comunidades e ampliação da pobreza; nesse
caso ela seria insustentável em termos sociais. Esses três aspectos – econômicos,
sociais e ambientais – se entrelaçam e as redes sociais tratam de divulgar e exigir
meritocracia para organizações que se preocupam de forma holística com os efeitos
da atuação delas. A universidade corporativa, ao prever cursos em toda essa
extensão, pode colaborar para criar uma cultura organizacional voltada ao
atendimento dessa exigência de sustentabilidade. Qualquer organização que, em sua
inovação, trouxer apenas benefícios sociais ou econômicos e agravar o ambiental não
pode ser tida como quem desenvolve uma inovação sustentável.
A educação corporativa pode colaborar de modo decisivo para a criação dessa
cultura. Ela passa a ser vista como o instrumento que pode combinar aspectos
tradicionalmente opostos ou que impõem, uns aos outros, algumas restrições. O
financeiro pode impedir que determinadas condições sociais e ambientais sejam
atingidas, com obediência a padrões estabelecidos de forma global. Ao não respeitar
essa regra, pode ser penalizada pela transparência que as redes sociais impõem às
organizações no mercado contemporâneo. Não vale mais o que a empresa quer, mas
sim o que o mercado exige. Essa é uma nova condição à qual ela tem que se curvar.
Schwartz (1991) comenta que a velocidade das mudanças econômicas,
tecnológicas, sociais e ambientais tem forçado os administradores a aprender cada
vez mais rápido. Tal aprendizado exige métodos que permitam representar e avaliar a
complexidade cada vez maior do ambiente que os cerca.
Cada nova ponderação desvia cada vez mais os olhares para a educação
corporativa como uma atitude necessária com vistas a efetivar uma mudança cultural.
Trata-se da resposta que se pode dar para atender a uma pressão contínua que o
mercado exerce sobre as organizações.
18.3 O conhecimento compartilhado
Simantob (2009), um dos autores que trabalha de forma mais intensiva com a
proposta de Organização Inovadora Sustentável (OIS), apresenta uma nova ideia: o
crowdsourcing. O termo, sem tradução exata e que combina palavras que o formam,
pode ser entendido como uma fonte de informações provenientes de uma multidão – o
melhor exemplo são as atividades cooperativas desenvolvidas na rede. Ele pode
representar o princípio de uma nova organização no mercado corporativo ou permitir a
superação de modelos desatualizados com a introdução de uma nova visão. A
educação corporativa deverá desempenhar um papel de destaque na efetivação de
uma nova cultura organizacional voltada para esse novo paradigma.
Libert e Spector (2009) explicam que a colaboração em massa, ou o
crowdsourcing, está se desenvolvendo de forma crescente, como evidencia o sucesso da
Wikipédia, do Linux, do MySpace e do YouTube. Os autores mostram que o esforço
colaborativo de uma comunidade, cujas ideias, compreensões e conhecimento são
compartilhados coletivamente, gera resultados superiores aos de um indivíduo. Muitas
organizações já vêm se beneficiando do poder coletivo, mas nem todas obtiveram sucesso. Há
muitas ciladas a serem evitadas e obstáculos a serem sobrepostos para cultivar a sabedoria
das comunidades.
O crowdsourcing constitui uma ideia inovadora mas que deve ser vista com
cuidado, principalmente devido à possibilidade de que algumas corporações venham a
utilizar o trabalho de toda uma comunidade como mão de obra barata. Sua proposta
vai exigir que “as novas organizações sejam criadas com uma nova proposição de
valor, com base em novos paradigmas e adaptadas aos contextos atuais” (Simantob,
2009). De acordo com Howe (2009), um dos principais estudiosos do assunto, ele é
concebido como o poder de muitos que pode ser aproveitado para realizar proezas
que antes eram de responsabilidade de algumas pessoas especializadas. A multidão é
mais do que sábia, ela é talentosa, criativa e incrivelmente produtiva. É também a
efetivação perfeita do conceito de meritocracia, onde sexo, idade, raça, educação e
histórico de trabalho já não importam, mas sim a qualidade do trabalho apresentado
que é tudo o que importa. Se você pode executar o serviço, a concepção do produto,
ou resolver o problema, você tem o trabalho em suas mãos.
A apropriação dessa ideia provoca uma mudança drástica na forma como o
trabalho é organizado, o talento é empregado, a pesquisa é realizada, os produtos são
feitos e comercializados. O fenônemo ainda não é observado em todo o mercado
corporativo, está ainda restrito a algumas organizações empreendedoras, que
desenvolvem negócios na rede mundial de computadores, tais como a Netmovies,
uma nova forma de locação de vídeos que colabora de forma decisiva para que as
videolocadoras tenham um fim previsto de forma acelerada. Simantob (2009) cita
ainda em seus estudos o site de vendas online da Google5, o site de notícias6 e o de
respostas7 da mesma provedora. Todos trabalham no sentido estendido de
colaboração e apresentam resultados animadores e alguns outros, que assustam pela
rapidez com que se desenvolvem e atingem uma situação de estabilidade. Aos poucos
essas ideias vão sendo implantadas e deixam de causar apreensão no mercado.
A iniciativa é também referendada por dois especialistas na área digital,
Tapscott e Willians (2006). Da mesma forma, eles estudam as possibilidades da
colaboração em massa e a influência na mudança dos negócios na organização
moderna. Concebem a colaboração como um novo modelo econômico que já se
estende para diversas indústrias: software, música, edição etc. (Tapscoot e Willians,
2006). Os autores entendem que esse enfoque endereça problemas para os gestores,
5 Para mais informações ver: <http://froogle.google.com>. Acesso em: 22 nov. 2014.6 Para mais informações ver: <http://news.google.com>. Acesso em: 22 nov. 2014.7 Para mais informações ver: <http://answers.google.com>. Acesso em: 22 nov. 2014.
que devem pensar de maneira diferente sobre como concorrer e ser lucrativo e que
mudam de forma significativa e profunda a estrutura e o modus operandi das
organizações e da própria economia. A ideia amplia a visão de crowdsourcing para
uma nova forma de desenvolvimento de negócios para o qual muitas corporações
ainda não atentaram. Outras sabem da importância dele, mas estão perdendo tempo
com discussões sobre direitos autorais e outras questões de menor relevância diante
da amplitude do fenômeno da colaboração em massa.
Dese modo, a organização inovadora sustentável pode ser vista como aquela
que contribui para alcançar um desenvolvimento socialmente inclusivo, tecnologicamente
prudente e economicamente eficiente. Muitas organizações estão buscando implantar esse
conceito. Nele há uma preocupação com o desenvolvimento sustentável que está relacionada
com as inovações pelo seu potencial de impacto sobre o meio ambiente e sobre a sociedade.
São as inovações que determinam o que deverá ser produzido, com que meios, para quem e
como serão distribuídos os resultados do esforço coletivo. Não se trata de inovar por inovar.
Gerar inovações em bases sistemáticas pode se tornar sinônimo de depredação sistemática
tanto quanto de recursos naturais quanto dos seres humanos (Simantob, 2009).
Como essa visão inovadora atinge a educação corporativa e a universidade
corporativa? Ela sugere que a organização crie uma proposta de educação para os
sete públicos, aberta para a comunidade, para o mundo, que partilhe os seus desafios
com a comunidade e que com ela resolva problemas que estão causando danos
sociais, econômicos e ambientais. A solução vem de uma contribuição geral, em que
todas as pessoas envolvidas criam uma sinergia benéfica que traga a melhor resposta.
A educação corporativa deixa de ser um instrumento unicamente a favor e a serviço
da organização e se torna um organismo social, mais um local onde as pessoas
podem colaborar em nível global. Ela abandona a visão de uma escola tradicional que
cria espaços apenas para produção, armazenamento e distribuição de informação e
conhecimento. Ela se coloca assentada em uma estrutura hierárquica, para assumir
um papel de colaboração global, na qual indivíduos exteriores ao espaço físico da
empresa podem dar uma contribuição fundamental para a análise de problemas
globais e trazer soluções para eles.
Para muitos, essa é uma visão utópica. Entretanto, é bom lembrar que todas as
soluções hoje consideradas práticas e que criaram técnicas utilizadas extensivamente
um dia foram utopias combatidas por muitos. Limitar as discussões de um assunto
com tais possibilidades para dedicar-se a questões de direitos autorais e propriedade
intelectual – isso se observa em alguns segmentos – corresponde a uma visão
minimalista de um fenômeno ainda não bem analisado, mas que em seus primeiros
resultados traz e cria expectativas animadoras para o trabalho em grupo e o
surgimento de Organizações Inovadoras Sustentáveis (OIS).
Considerações finais
O trabalho realizado para a criação deste livro procura olhar de forma direta e
sem preconceitos para um mercado no qual a confiança é uma mercadoria em falta.
As organizações olham desconfiadas para um lado e para outro. Os setores de
inteligência competitiva estão atônitos e não sabem para onde dirigir as atividades de
espionagem. Os defensores dos direitos autorais e propriedade intelectual perdem em
todas as instâncias sociais as brigas, apenas a Justiça lhes dá guarida. A meritocracia
assusta a muitas corporações. Elas têm medo de que as redes sociais possam jogar
por terra anos de trabalho voltados à construção de uma imagem institucional, de uma
“marca” que é reconhecida. Essa condição não pode ser perdida por um descuido.
Cada vez mais intensivamente o mercado trabalha com a inovação e a efetivação do
trabalho colaborativo. Esse é um cenário no qual tanto a educação corporativa quanto
seu braço tecnológico, a universidade corporativa, deverão ter um papel de destaque.
Isso nos leva a encerrar esta obra lançando olhares para o que poderá vir a ser
a organização do futuro. Ela está sendo criada agora, toma forma sob olhares
assustados de muitos tradicionalistas, pessoas resistentes que não aceitam o novo e
que podem prejudicar a evolução dos trabalhos por colocarem obstáculos. Poucas são
as corporações que estão prontas para se comprometer com uma entrega que deve
ser total e voltada a proporcionar o bem-estar social. Há necessidade de uma
reinvenção de seus comportamentos, de suas práticas e da forma como encaram o
mercado. Isso está ligado, de forma indissociável, com o modo pelo qual tratam os
seus colaboradores. Elas dependem cada vez mais de senso crítico, criatividade e
inovação.
A pergunta “Como será a organização do futuro?” perturba muitas cabeças
pensantes na área da administração de organizações. É um fato que acaba, por
extensão, agrupando em torno da procura por uma resposta sociólogos e filósofos,
todos preocupados em como as coisas vão se dar. A transição do modelo atual para
um novo pode não ser indolor e ocasionar sacrifícios.
“Quem manda na minha organização não sou mais eu!”. Ao se defrontarem
com essa realidade, muitos investidores e empresários se assustam. Olhar para o
futuro, ver o que vai acontecer e tentar enfrentar as novidades com a mente no
passado se revela perigoso. É preciso mudar; o importante é saber o quê e como fazê-
lo. O melhor é aceitar a imposição do mercado e seguir o curso dos acontecimentos. A
única certeza que se pode ter nesse estágio no qual as transformações estão
previstas mas necessariamente ainda não ocorreram, é não continuar defasado das
tendências e procurar aprender com organizações que se transformam em casos de
sucesso.
O consumidor ganha novas características e perfil e e se torna o prosumidor.
Ele representa uma figura diferenciada no mercado e acaba identificando um novo
personagem ou a tendência do que será no futuro. Esse novo consumidor já foi
chamado por Tofler (2007) como prosumer em suas análises sobre o mercado futuro.
Segundo Salzman, Mathataia Ira e O´Reilly (2003) ele é um personagem que antecipa
tendências e molda mercados e que faz hoje o que as massa de consumidores faz
amanhã ou depois. Decorre daí a sua importância para as marcas. Eles são novos
consumidores que representam perto de um quarto do mercado (25% a 30%) e estão
presentes em todos os países e segmentos de mercado. Ele é uma mistura de
consumidor e produtor de bens e serviços. Ele indica o que quer e como quer. É um
risco para as marcas ignorar este novo personagem do mercado. Eles têm uma ação
proativa, respondem ativamente ao que lhes é fornecido e refletem sobre o que irão
querer em seguida. Desta forma, a sua posição é um meio de comunicação
privilegiado com marcas e outros consumidores. Ele é fonte de influência consumista e
tem adeptos incondicionais na internet. Eles são um alarme antecipado para o que vai
acontecer no futuro.
Outros autores pontuam as características do prosumer com frases modernas
e posicionamento ousado como pessoas que, segundo a Executive Digest (2005):
1. Criam o seu estilo de vida próprio: Apanham dicas de diversas fontes, mas seguem o seu próprio ritmo, ignorando as opções das maiorias;2. Não são hipócritas puritanos: A “metrossexualidade”8 é uma atitude típica do homem prosumidor;3. Fazem escolhas inteligentes: Elas são baseadas em informação e tendo atenção ao fator preço/qualidade;4. Abraçam a mudança e a inovação: Eles são os primeiros a aderir às novidades se estas trouxerem valor acrescentado às suas vidas;5. Vivem o aqui e agora: Como sabem que vão à frente, as pressões e prazeres são gerenciados com calma.6. Estão conectados e interagem: Não se limitam espacial e temporalmente e gostam de controlar quando e a quem estão ligados;7. Valorizam-se a si próprios: Eles sabem quando parar e "mimar-se".8. Escolhem o design: Os objetos do quotidiano, na alimentação, na roupa que usam. São pessoas ponderadas.9. Preocupam-se com a saúde: da sua saúde e a saúde dos seus. Ele procura o máximo de informações ouvindo uma segunda e até uma terceira opinião.10. Valorizam o que funciona: Seja pensamento estratégico, seja pensamento a longo prazo.11. São o barômetro das marcas: Como não são seus escravos elas reconhecem os prós e os contras dos produtos da organização.
8 Termo utilizado para identificar o que sociologicamente se considera um novo tipo de homem, preocupado com o mundo da moda (Bonomo, Barbosa, Trindade, 2008).
12. Querem aprender: Tudo o que lhes possa proporcionar a sensação de controle sobre as situações: A informação é tudo. (Executive Digest, 2005)
Um estudo desenvolvido pela IBM intitulado “Estudo Global de CEO 2008: A
organização do futuro”9 apresenta um perfil da organização do futuro e como ela é
vista pelos executivos seniores (mais de mil CEOs), que trabalham com a implantação
da estratégia organizacional. Com base nesse relatório muitos ainda estão
reposicionando os seus negócios para que possam capturar oportunidades de
crescimento. O levantamento pontua que na atualidade as corporações são
bombardeadas por mudanças e muitas estão lutando para sobreviver. Nesse
panorama pode-se considerar que a organização do futuro é:
1. Uma organização ávida por mudanças: Os CEOs anteveem mudanças significativas
no futuro. Mas a confiança na própria habilidade para lidar com essas mudanças não
é, nem de longe, tão grande assim. Então, como os CEOs vão se sair em um
ambiente cada vez mais frenético? Eles serão capazes de reagir efetivamente?
2. Mais inovadora do que a imaginação dos clientes: Os CEOS estão investindo
pesadamente para capturar oportunidades de prosperidade que surgem em todo o
mundo. Eles também estão investindo mais para atender a clientes cada vez mais
sofisticados e exigentes. Mas o que é necessário para converter esses investimentos
em maior participação no mercado?
3. Globalmente integrada: Os CEOs se veem diante de muitas opções ao responder à
integração global. Como eles devem planejar seus negócios para aproveitar recursos
localizados em outras partes do mundo? Quando devem fazer parcerias, fusões ou
aquisições? Em quais mercados devem entrar? Diante de toda essa complexidade,
que estratégias funcionam melhor?
4. Contestadora e desbravadora por natureza: A maioria dos CEOs está se lançando
em uma intensa inovação nos modelos de negócios. E os outperformers estão
perseguindo inovações nos modelos de negócios ainda mais arrojadas que as dos
colegas menos bem-sucedidos. Mas esses movimentos ousados compensam? O que
é necessário para realmente se diferenciar?
5. Genuína, não apenas generosa: Uma geração emergente de clientes,
trabalhadores, parceiros, ativistas e investidores socialmente conscientes está
acompanhando virtualmente cada movimento das organizações. Reconhecendo isso,
9 Para mais informações sobre a pesquisa da IBM “Estudo Global de CEO 2008: A empresa do futuro”, ver: <http://www.ibm.com/br/ibm/ideasfromibm/ceo/index.phtml>. Acesso em: 26 nov. 2013.
rapidamente os CEOs passaram a investir em responsabilidade social corporativa.
Mas até onde eles vão?
Fonte: IBM – Estudo Global CEO, 2008.
O relatório tem importância de destaque por reunir um considerável número de
tomadores de decisões em organizações de diversos portes. Os questionamentos
deixados pendentes são os caminhos de trabalho que estão sendo desenvolvidos para
verificar como a empresa pode mudar para enfrentar o mercado. Baseados nessas
constatações, esses gestores de alto nível estão tomando as seguintes medidas:
1. Estão posicionando rapidamente os seus negócios para capturar oportunidades de
crescimento que vislumbram. Há uma constatação de que as organizações são bombardeadas por mudanças e muitas delas estão lutando para sobreviver.
2. Esperam (oito entre cada dez) mudanças significativas no futuro, e mesmo assim a
lacuna entre as mudanças esperadas e a capacidade de lidar com elas quase triplicou
desde o estudo desenvolvido em 2006. Assim, os CEOs veem os clientes cada vez mais exigentes; não como ameaças, mas como uma oportunidade para se diferenciarem.
3. Efetuam mais despesas para atrair e reter clientes cada vez mais prósperos, bem
informados e socialmente conscientes. Mais de 40% dos CEOs estão mudando os seus modelos corporativos para torná-los mais colaborativos.
4. Mudam agressivamente para projetos globais de negócios, alterando
profundamente as capacidades e criando parcerias mais amplas. Os CEOs ultrapassaram o clichê da globalização e as organizações de todos os tamanhos estão se reconfigurando para aproveitar as oportunidades da integração global.
5. Tomam atitudes mais arrojadas que são características daqueles que são
considerados outperformers10 da área financeira, termo ainda sem tradução em nosso
idioma mas utilizado para pessoas que superam outras pessoas no desempenho e
trazem maiores benefícios para a organização. São pessoas que estão tomando
atitudes mais arrojadas. Esses profissionais levam as corporações onde atuam a
antecipar mudanças e administrá-las de forma mais eficiente. Elas também estão mais globais no modelo de seus negócios, formam parcerias mais estreitas e escolhem modos mais ousados de inovação no modelo de negócios.Fonte: IBM – Estudo Global CEO, 2008.
10 Outperformers são coisas ou pessoas que ultrapassam as expectativas ou que têm um desempenho que supera todos os demais em sua área.
A visão colocada nestas considerações finais pretende destacar ao leitor a
expectativa e a insegurança que o mercado vive. É importante que tenha surgido uma
dúvida: Qual a relação dessa situação de mercado com a educação corporativa? As
organizações que a adotam formam competências e habilidades diferenciadas em
seus colaboradores. O processo de formação permanente e continuada dá ao
profissional maiores condições de enfrentar os desafios postos pelo contexto atual. É
possível observar que a efetivação dessa proposta cria um clima interno diferenciado,
o qual facilita o engajamento dos funcionários e promove um movimento de maior
doação pessoal, resultante do bem-estar a eles proporcionado. São aspectos que
orientam a adoção da educação corporativa como estratégia para aumento da
competitividade e sobrevivência em um mercado autofágico.
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Sobre o autor
Antonio Siemsen Munhoz é doutor em Engenharia da Produção com ênfase em
design do produto na área de objetos de aprendizagem e mestre em Engenharia da
Produção com ênfase em mídia e conhecimento na área de EaD. É engenheiro civil
formado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e especialista em
Metodologia do Ensino Superior pelas Faculdades Integradas Espírita (FIES), em
Metodologia da Pesquisa Científica (IBPEx), em Tecnologias Educacionais (SPEI) e
em Educação a Distância (UFPR). Atualmente presta consultoria em EaD e em
tecnologia educacional, atuando como professor em diversas instituições de ensino
superior. Projetista instrucional com desenvolvimento de cursos para oferta em
ambientes não presenciais.