15
OS ATUAIS DESAFIOS PARA A EFETIVAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE EJA NO MUNICÍPIO DE PRESIDENTE PRUDENTE-SP Alessandra Fonseca Farias, FCT UNESP Maria Peregrina de Fátima Rotta Furlanetti, FCT UNESP Resumo: Diante do desafio de compreender as especificidades da EJA e dos sujeitos que a compõem no município de Presidente Prudente-SP, iniciamos uma pesquisa de iniciação cientifica em 2009 que se estendeu até 2012, e que contou com a parceria da Secretaria de Assistência Social (SAS) e da Secretaria de Municipal de Educação (SEDUC) do mesmo município. Tal pesquisa contribuiu para a discussão das atuais Políticas Publicas em EJA da cidade, e também para a construção de um Projeto envolvendo EJA e Economia Solidária que foi implantado em maio deste ano nos quatro bairros que apresentaram maior número de pessoas de baixa escolaridade. Em uma análise da conjuntura destes três anos de pesquisa científica, avaliamos positivamente o trabalho desenvolvido, tendo em vista o efeito qualitativo que proporcionou na vida dos educandos e educandas das salas abertas e a por dar sentido a novas pesquisas que estão surgindo com estas temáticas e sujeitos. Palavras chave: Analfabetismo; Sujeitos da EJA; Políticas Públicas para a EJA. CNPQ/Reitoria UNESP 1. Introdução No início de nossa iniciação científica intitulada “Identificando os Sujeitos da Educação de Jovens e Adultos do Município de Presidente Prudente-SP”, dentro da Pesquisa “A construção do Educador Popular” da Profª Drª Maria Peregrina de Fátima Rotta Furlanetti, trabalhamos com dados dos sujeitos analfabetos e de escolaridade até 4ª 1

 · Web viewMesmo assim, o cenário do analfabetismo brasileiro continua sendo inquietante. A taxa de analfabetismo dos brasileiros de 15 anos ou mais de idade diminuiu de 13,3% em

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1:  · Web viewMesmo assim, o cenário do analfabetismo brasileiro continua sendo inquietante. A taxa de analfabetismo dos brasileiros de 15 anos ou mais de idade diminuiu de 13,3% em

OS ATUAIS DESAFIOS PARA A EFETIVAÇÃO DAS POLÍTICAS

PÚBLICAS DE EJA NO MUNICÍPIO DE PRESIDENTE

PRUDENTE-SP

Alessandra Fonseca Farias, FCT UNESP

Maria Peregrina de Fátima Rotta Furlanetti, FCT UNESP

Resumo: Diante do desafio de compreender as especificidades da EJA e dos sujeitos que a compõem no município de Presidente Prudente-SP, iniciamos uma pesquisa de iniciação cientifica em 2009 que se estendeu até 2012, e que contou com a parceria da Secretaria de Assistência Social (SAS) e da Secretaria de Municipal de Educação (SEDUC) do mesmo município. Tal pesquisa contribuiu para a discussão das atuais Políticas Publicas em EJA da cidade, e também para a construção de um Projeto envolvendo EJA e Economia Solidária que foi implantado em maio deste ano nos quatro bairros que apresentaram maior número de pessoas de baixa escolaridade. Em uma análise da conjuntura destes três anos de pesquisa científica, avaliamos positivamente o trabalho desenvolvido, tendo em vista o efeito qualitativo que proporcionou na vida dos educandos e educandas das salas abertas e a por dar sentido a novas pesquisas que estão surgindo com estas temáticas e sujeitos.

Palavras chave: Analfabetismo; Sujeitos da EJA; Políticas Públicas para a EJA.

CNPQ/Reitoria UNESP

1. Introdução

No início de nossa iniciação científica intitulada “Identificando os

Sujeitos da Educação de Jovens e Adultos do Município de Presidente Prudente-SP”,

dentro da Pesquisa “A construção do Educador Popular” da Profª Drª Maria Peregrina

de Fátima Rotta Furlanetti, trabalhamos com dados dos sujeitos analfabetos e de

escolaridade até 4ª série do Ensino Fundamental e beneficiários do Programa Nacional

Bolsa Família.

Com nossa primeira fonte de dados cedida pela SAS – Secretaria de

Assistência Social – da cidade conseguimos mapear o analfabetismo em Presidente

Prudente-SP, e esse panorama serviu de base para a elaboração de um Projeto

Pedagógico unindo EJA e Economia Solidária, uma parceria entre o Grupo de Estudos e

Pesquisas em Educação Popular – GEPEP – da UNESP e entre a SEDUC – Secretaria

Municipal de educação – que implantou a modalidade EJA nas escolas de ensino

fundamental nos bairros que apresentavam maior número de pessoas de baixa

escolaridade e analfabetismo em nossa primeira amostragem.

1

Page 2:  · Web viewMesmo assim, o cenário do analfabetismo brasileiro continua sendo inquietante. A taxa de analfabetismo dos brasileiros de 15 anos ou mais de idade diminuiu de 13,3% em

Essa pesquisa foi a base para a realização de uma parceria entre a

UNESP, através do GEPEP – Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Popular –

com a SEDUC – Secretaria Municipal de Presidente Prudente. A partir dessa parceria

foram abertas 5 salas de Educação de Jovens e Adultos nos bairros que apresentaram

mais sujeitos analfabetos e escolaridade até a 4ª série. Pensamos que esse foi um grande

avanço que contribui para a efetivação de políticas públicas de EJA no município e para

o desenvolvimento de novos projetos com temas relacionados à educação de adultos,

como por exemplo Economia Solidária, que é um dos nossos eixos principais de

trabalho neste ano de 2012.

Quando falamos em sujeitos da EPJA – Educação de Pessoas Jovens e

Adultas, estamos falando em homens e mulheres maiores de 15 anos sujeitos de toda a

diversidade étnica-religiosa-sexual-política brasileira e sujeitos a toda desigualdade

social existente nesse país (SECAD, 2008). Pessoas que tem seu direito à educação

garantido desde 1948 na Declaração Universal dos Direitos Humanos em seu Artigo

26ª:

1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito. (ONU, 1948)

Ainda com diversos segmentos da sociedade lutando para ações

comprometidas com a educação, podemos perceber que o analfabetismo é perpetuado

de governo a governo. Com a implantação do Programa Nacional “Brasil Alfabetizado”,

em setembro de 20031, o então ministro da educação Cristovam Buarque prometeu

alfabetizar 20 milhões de brasileiros em quatro anos em sua gestão “combate

implacável” ao analfabetismo, isto porque a ONU (Organização das Nações Unidas)

estabeleceu o ano de 2003 como o início da Década da Alfabetização no mundo.

Mesmo assim, o cenário do analfabetismo brasileiro continua sendo

inquietante. A taxa de analfabetismo dos brasileiros de 15 anos ou mais de idade

diminuiu de 13,3% em 1999 para 9,7% em 2009, o que representa um total de 14,1

milhões de pessoas analfabetas. Ainda segundo o IBGE, 42,6% das pessoas analfabetas

possuem mais de 60 anos, 52,2% residem no Nordeste e 16,4% vivem com ½ salário

mínimo de renda familiar per capita. Os maiores decréscimos no analfabetismo por

grupos etários entre 1999 a 2009 ocorreram na faixa dos 15 a 24 anos. Nesse grupo, as

1 Governo Lula (2003-2010).

2

Page 3:  · Web viewMesmo assim, o cenário do analfabetismo brasileiro continua sendo inquietante. A taxa de analfabetismo dos brasileiros de 15 anos ou mais de idade diminuiu de 13,3% em

mulheres eram mais alfabetizadas, mas os homens apresentaram queda um pouco mais

acentuada, passando de 13,5% para 6,3%, contra 6,9% para 3,0% para as mulheres

(IBGE, 2010).

Neste contexto, pesquisadores, organizações não governamentais,

militantes e sujeitos educandos e educadores da educação de jovens e adultos tem

reivindicado através dos Fóruns, Seminários, Conferências e demais espaços de

discussão metas mais claras para a EJA, uma delas é que os Programas Nacionais de

Alfabetização, o que atualmente é o Brasil Alfabetizado, não tratem o analfabetismo

como uma praga ou uma doença que deve ser erradicada ou exterminada.

O Ministério da Educação tem como desafios: garantir a EJA como direito, como direito à alfabetização e a continuidade da escolarização em todos os níveis, como respeito à diversidade étnico, racial, cultural e regional e, sem dúvida, como uma das formas de enfrentamento das desigualdades sociais. (...) A diversidade brasileira, tanto no que se refere a sua composição quanto as suas demandas, demonstram no caso da EJA, a pluralidade de sua organização. Neste sentido, a organização brasileira para enfrentar as demandas por EJA, traduz-se pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, pelo Plano Nacional de Educação, pelo Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE e no avanço do Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização do Magistério - FUNDEB, na medida em que as matrículas da EJA são contabilizadas para fins de repasse deste Fundo, definindo não só um novo marco institucional como também um novo patamar para qualificar e ampliar as oportunidades da educação ao longo da vida. (Ministério da Educação - SECAD, 2008, p.4).

Vale recordar que a Declaração de Hamburgo, ocorrida em 1997, traz

uma visão de EJA que perpassa da ideia do direito, mas ressalta-a enquanto aspecto

fundamental para o desenvolvimento, “a chave para o século XXI” que tem no exercício

da cidadania uma condição para uma plena participação na sociedade:

Além do mais, é um poderoso argumento em favor do desenvolvimento ecológico sustentável, da democracia, da justiça, da igualdade entre os sexos, do desenvolvimento socioeconômico e científico, além de um requisito fundamental para a construção de um mundo onde a violência cede lugar ao diálogo e à cultura de paz baseada na justiça. (UNESCO, 1997).

Pensamos que o tema da efetivação das políticas públicas de EJA é

extremamente pertinente para o rumo que a Educação, em especial a Educação de

Jovens e Adultos, está tomando no Brasil. Esta modalidade de ensino hoje não só é

garantida por lei, mas faz parte do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da

Educação Básica, o FUNDEB, desde 2007, e possui diretrizes e parâmetros curriculares

nacionais, livros didáticos específicos, além de ser tema de diversos trabalhos

científicos e possui essas e demais conquistas não citadas neste trabalho em resposta ao

histórico perverso do analfabetismo brasileiro.

3

Page 4:  · Web viewMesmo assim, o cenário do analfabetismo brasileiro continua sendo inquietante. A taxa de analfabetismo dos brasileiros de 15 anos ou mais de idade diminuiu de 13,3% em

2. A EJA no Município de Presidente Prudente hoje

Em 2009 iniciamos uma investigação dentro da Pesquisa “A

Formação do Educador Popular” da nossa orientadora e docente da UNESP, Maria

Peregrina de Fátima Rotta Furlanetti, com o principal objetivo de identificar dentre os

dados do Programa Nacional “Bolsa Família” deste mesmo ano as zonas de

concentração da população com baixa escolaridade da cidade. A priori trabalhamos com

dados referentes ao sexo, idade, nível de escolaridade e endereço dos sujeitos de baixa

escolaridade beneficiários do Programa Nacional Bolsa Família2.

Dando continuidade à pesquisa, buscamos na Secretaria de Educação

da cidade – SEDUC, a informação de quantas escolas e quantas salas de EJA o

município possuía. Apresentaremos, pois, neste trabalho a comparação da demanda e

oferta de Educação de Pessoas Jovens e Adultas residentes na capital da alta

sorocabana, a fim de verificar se as políticas públicas desta modalidade de ensino têm

sido efetivadas.

Após três anos pesquisando os sujeitos da EJA na cidade, chegamos à

conclusão de que em Presidente Prudente-SP existem bolsões de analfabetismo, sendo

que estes não se concentram em toda a periferia, mas sim em alguns bairros periféricos,

que por sua vez, tem alto nível de pobreza e, consequentemente, baixo nível de

escolarização.

Podemos observar nos mapas a seguir onde estão as pessoas de baixa

escolaridade e renda no município de Presidente Prudente-SP:

2 De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Social, o Bolsa Família é um programa federal de transferência direta de renda, que beneficia mais de 12 milhões de famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza. Este Programa integra o Fome Zero que tem como objetivo assegurar o direito humano à alimentação adequada, promovendo a segurança alimentar e nutricional e contribuindo para a conquista da cidadania pela população mais vulnerável à fome e à pobreza.

4

Page 5:  · Web viewMesmo assim, o cenário do analfabetismo brasileiro continua sendo inquietante. A taxa de analfabetismo dos brasileiros de 15 anos ou mais de idade diminuiu de 13,3% em

Na época, comparamos estes dois mapas com o mapa da exclusão

social formulado no ano 2000 pelo Centro de Estudos e de Mapeamento da Exclusão

Social para Políticas Públicas – CEMESPP, onde as zonas de maior exclusão há dez

anos atrás são as mesmas onde hoje há mais sujeitos analfabetos e de baixa

escolaridade.

CEMESPP (FCT/UNESP)/IBGE, 2000.

5

Page 6:  · Web viewMesmo assim, o cenário do analfabetismo brasileiro continua sendo inquietante. A taxa de analfabetismo dos brasileiros de 15 anos ou mais de idade diminuiu de 13,3% em

Dando continuidade, em 2011 a Secretaria de Educação da cidade nos

forneceu dados de atendimento a 271 pessoas nas salas de EJA, espalhadas por 10

bairros da cidade. Ao todo eram 13 salas de aula para jovens e adultos do I ciclo do

Ensino Fundamental.

Cruzando os dados de demanda de EJA de 2009, ao todo 972

beneficiários do Bolsa Família, com esses dados da oferta da EJA de 2011, 13 salas que

atendem 271 pessoas, fica visível que em Presidente Prudente-SP a demanda de

educandos da EJA é bem maior que oferta de educação para essas pessoas maiores de

15 anos com escolaridade inferior à 4ª série do Ensino Fundamental.

Esse panorama serviu de base para a elaboração de um Projeto em

parceria com a SEDUC, o qual conta com um currículo alternativo incluindo a

Economia Solidária na EJA. A relação entre EJA Economia Solidária surgiu a partir das

do trabalho com o Programa de Educação de Jovens e Adultos da UNESP – PEJA – e

de várias pesquisas que desenvolvemos nos últimos anos no GEPEP.

Assim, este projeto foi intitulado “Construindo um Currículo

Alternativo nas Salas de Educação para Pessoas Jovens e Adultas em Presidente

Prudente – SP” e com a resposta positiva da SEDUC começou a ser desenvolvido em

maio deste ano, se tornando o carro-chefe na abertura de quatro salas de EJA nos quatro

bairros com maior número de pessoas de baixa escolaridade que nossa primeira

pesquisa apontou.

Outro Projeto que é considerado por nosso grupo um avanço é o

PIBID – Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – nas salas de EJA, e

esse foi o elo perfeito no desenvolvimento do Projeto antes citado, pois ao estabelecer a

parceria entre UNESP e SEDUC, conseguimos a contratação de professores para as

quatro salas de EJA abertas e o suporte do/as estagiário/as em EJA atuando nessas salas

duas vezes por semana cada um/a.

Para o bom desenvolvimento do Projeto “Construindo um Currículo

Alternativo nas Salas de Educação para Pessoas Jovens e Adultas em Presidente

Prudente – SP”, um de seus principais objetivos é a realização da Reunião Pedagógica,

que inclui todos os sujeitos formadores no planejamento e elaboração das atividades

aplicadas nas quatro salas de aula. Por isso nos reunimos semanalmente: estagiários do

PIBID, professores das salas de EJA, responsáveis pela EJA da SEDUC, orientadora e

6

Page 7:  · Web viewMesmo assim, o cenário do analfabetismo brasileiro continua sendo inquietante. A taxa de analfabetismo dos brasileiros de 15 anos ou mais de idade diminuiu de 13,3% em

docente da UNESP e demais integrantes do GEPEP a fim de estudar as especificidades

dos sujeitos de cada sala, de buscar os métodos aplicáveis de acordo com suas

necessidades e conhecimentos científicos que nos darão a base para a nossa práxis

educativa.

Em 2012 então começa-se a movimentar a EJA na cidade: são 311

alunos nas salas de EJA do município, um avanço um tanto tímido dado à enorme

demanda que apresentamos em nossa pesquisa no decorrer destes três anos, mas ao se

tratar do salto qualitativo que a parceria UNESP e SEDUC está proporcionando a

ambos os sujeitos, educandos e educadores, percebemos que começamos a trilhar um

caminho, ainda que longo, um caminho que vai de encontro com o que acreditamos ao

se tratar da efetivação das políticas públicas de EJA em Presidente Prudente-SP, pois é

uma educação que surge da realidade e necessidade das pessoas, desenvolvida nos

territórios de bolsões de analfabetismo e exclusão da cidade, que envolve entes

municipais e estaduais que dialogam entre si e que formam educadores populares que

levam em consideração a especificidade de seus educandos, não infantilizando-os, pelo

contrário, conscientizando-os através da educação de sua participação e importância na

sociedade.

3. Procedimentos Metodológicos

A pesquisa-ação deve ser essencialmente uma pesquisa intencionada à

transformação participativa, em que sujeitos e pesquisadores interagem na produção de

novos conhecimentos (FRANCO, 2005). Por isso, encontramos nas bases da pesquisa

qualitativa nossa metodologia.

Para Cunha (1995), a pesquisa qualitativa não se preocupa, apenas,

com os dados evidentes, mas sim com as representações dos “sujeitos cotidianos”, ela

propõe o aprofundamento na complexidade dos fatos sociais nas suas relações e

interdependências, ou seja, é aquela que procura estudar os fenômenos educacionais e

seus atores dentro do contexto social e histórico em que acontecem e vivem,

recuperando o cotidiano como campo de expressão humana (CUNHA, 1995).

Ao longo da pesquisa mapeamos as regiões de baixa escolaridade,

entrevistamos os sujeitos por amostragem, a fim de conhecer mais de sua identidade,

7

Page 8:  · Web viewMesmo assim, o cenário do analfabetismo brasileiro continua sendo inquietante. A taxa de analfabetismo dos brasileiros de 15 anos ou mais de idade diminuiu de 13,3% em

cultura, sonhos, desejos e expectativas de vida e apresentamos à Secretaria Municipal de

Educação uma proposta de um novo Programa de EJA.

O Projeto apresentado à SEDUC teve início em maio de 2012 e desde

então se desenvolve em dois principais âmbitos: 1) Nas reuniões pedagógicas de estudos

e planejamento das aulas, nas quais participam todos os agentes envolvidos: Orientadora

da Universidade, Bolsistas PIBID que acompanham as aulas, Professoras da SEDUC

que dão aula no Projeto, Diretoras das escolas participantes do Projeto e Supervisoras e

Coordenadoras de EJA da SEDUC; 2) Nas salas de aula distribuídas pelos bairros em

que nossa pesquisa apontou ter mais pessoas analfabetas e de baixa escolaridade do

município.

Todos os agentes se encontram na condição de atuação, intervenção e

transformação. A esse respeito, salientamos que os bairros onde se localizam as salas de

EJA estão, como já mencionado, no processo de exclusão social e apresentam

potencialidades de práticas de pesquisa que intuam na discussão e aprofundamento de

questões relacionadas à Economia Solidária. Acreditamos que tal temática é importante

no desenvolvimento das aulas, como uma das estratégias possíveis de serem seguidas na

promoção de uma articulação coletiva mais ampla que permita ampliarem suas

perspectivas com relação ao trabalho e à educação através de um empreendimento

solidário, pois concordamos com Di Giorgi (2002) quando argumenta sobre as

características básicas de uma escola que considera os desafios da modernidade que:

“Promove, como papel a ser gradativamente assumido nas políticas públicas e

legitimado no imaginário social, a dinamização cultural, social e eventualmente até

econômica de seu entorno” (DI GIORGI, 2002, p. 02).

4. Considerações Finais

Em uma análise da conjuntura destes três anos de pesquisa científica,

avaliamos positivamente o trabalho desenvolvido, tendo em vista o efeito qualitativo

que proporcionou na vida dos educandos e educandas das salas abertas e das

possibilidades de novas pesquisas que estão surgindo com estes sujeitos.

No desenvolvimento desta pesquisa pudemos aprofundar as

discussões e reflexões acerca da trajetória de não sucesso escolar dos sujeitos da EJA,

de seus anseios, necessidades e dificuldades em regressar ao espaço educativo depois de

8

Page 9:  · Web viewMesmo assim, o cenário do analfabetismo brasileiro continua sendo inquietante. A taxa de analfabetismo dos brasileiros de 15 anos ou mais de idade diminuiu de 13,3% em

adultos, pudemos conhecer algumas de suas expectativas e sonhos de vida e a relação

que esses tem com os estudos. Por fim, trazer à tona mais dos sujeitos educandos,

aspectos de sua identidade que estão fortemente ligados à história excludente brasileira

no que tange não só ao direito de acesso e permanência na escola, mas também à falta

de formação para o trabalho, à falta de cultura descentralizada, à falta de informação

sobre saúde, cidadania, organização de cooperativas, espaços de discussão e

principalmente ao não “pertencimento” dos espaços de produção e transmissão de

conhecimentos, desta forma o não reconhecimento de serem agentes produtores de

saberes, de cultura e, portanto, de seres históricos.

Conhecer, priorizar, valorizar e trabalhar com a identidade dos sujeitos

da EJA é se comprometer enquanto educador popular, e ter um espaço de discussão,

estudo, planejamento é fundamental para educadores, monitores, supervisores e

orientadores em EJA. Nós do GEPEP encontramos na Reunião Pedagógica esta

oportunidade de estudar as especificidades da EJA e de cada sala de aula em que

atuamos, onde todos os sujeitos formadores tem a oportunidade de propor, dialogar,

compartilhar experiências, reconhecer necessidades formativas e buscá-las em grupo, e

assim construindo-se educadores/as populares na práxis com as vozes dos/as

educandos/as.

5. Referências Bibliográficas

ARROYO, Miguel González. Educação como Exercício de Diversidade. Educação de Jovens e Adultos: um campo de direitos e de responsabilidade pública. UNESCO, MEC, ANPED 2007, p. 19-50.

BRASIL. Constituição (1988). Art. 208, inciso III. Da educação, da cultura e do desporto. Seção I - Da educação. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/constitui%C3%A7ao.htm> Brasília, 1988.

IBGE, 2010. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, dados referentes ao território nacional, fornecidos em meio eletrônico. Disponível em <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1717&id_pagina=1>

________. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. . Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm.

9

Page 10:  · Web viewMesmo assim, o cenário do analfabetismo brasileiro continua sendo inquietante. A taxa de analfabetismo dos brasileiros de 15 anos ou mais de idade diminuiu de 13,3% em

________. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE nº 13/2000. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos.

CUNHA, Maria Isabel da. A Pesquisa Qualtativa e a Didática. In: OLIVEIRA M.R.N.S. (org.), Didática: Ruptura, Compromisso e Pesquisa. São Paulo, Papirus Editora, 1995.

DI GIORGI, C. A. G. Por uma escola à altura dos desafios atuais. Revista de Estudos de Educação, v. 4, n.2, 2002.

FRANCO, Maria Amélia S. Pedagogia da Pesquisa-ação. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/ep/v31n3/a11v31n3.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2009.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 34a.Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006.

________. Pedagogia da Indignação. Editora Unesp, 2000.

FURLANETTI, Maria P. F. R. Formação de Professores Alfabetizadores de adulto: o Educador Popular. Tese de Doutorado. UNESP. Marília, 2001.

ONU. Art. XXVI, inciso I. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Assembleia das Nações Unidas, 948.

SECAD, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Documento Base Nacional Preparatório a VI CONFINTEA, 2008.

UNESCO. Declaração de Hamburgo, Alemanha, 1997.

10