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Luciano Reis Maria Dulce A verdade a que tem direito 1

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Luciano Reis

Maria DulceA verdade a que tem direito

SeteCaminhos

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A todos aqueles,

em que as suas carreiras de artista,

foi e é feita de talento, inteligência,

sinceridade, coragem,

humildade, frontalidade

e extrema lealdade.

Luciano Reis

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Prefácio

MARIA DULCE

Durante uns anos da minha adolescência vivi em Portalegre. Meu pai era professor e fora colocado nessa bela cidade do Alto Alentejo para se efectivar. Em finais dos anos 50, não sei precisar o ano mas recordo que era um puto de 13 ou 14 anos que já tinha escolhido as paixões que me iriam acompanhar ao longo da vida. Uma delas era o cinema, outra a escrita, a leitura, os jornais, outra o SCP, outra as mulheres. Entre estas últimas, que na altura não eram ainda mulheres mas meninas mais ou menos da minha idade, encontrava-se a Maria Dulce, a Maria de Noronha, do “Frei Luís de Sousa”, filme de 1950. Devo ter visto o filme no ecrã do Teatro Portalegrense ou no cinema ao ar livre da Cine Parque, uma esplanada que funcionava durante o Verão. Ainda me lembro hoje como era bonita a gaiata loura de catorze anos, com os cabelos encaracolados, que tinha pouco mais anos que eu, e cintilava brilhantemente nesse filme de António Lopes Ribeiro. Não sei mesmo o que mais me impressionou na altura – se o dramático “Ninguém!” do Romeiro, se a presença da bela Maria Dulce. Já se sabe que todos os putos têm sonhos, um dos meus sonhos era a Maria Dulce. Linda de morrer (ou não estivesse no Frei Luís de Sousa!) e ainda por cima actriz, e de cinema. Era tudo o que eu podia desejar. Em sonhos… para quem vivia em Portalegre, nos anos 50. Sabem o que era isso? Perdido junto à fronteira com a Espanha, a muitas horas de Lisboa, longe de tudo... ainda sem televisão. Só revistas de cinema, jornais diários, jornais regionais, um ou outro filme português no cinema da terra.

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Existia, todavia, uma prática saudável. Rara, mas mesmo assim salutar: de tempos a tempos aparecia em digressão pela província uma companhia teatral, normalmente uma revista ou comédia de sucesso garantido, uma vez por outra algo de mais substancial. Havia também a Companhia de Teatro Itinerante Rafael de Oliveira, e outros espectáculos musicais.Pois não querem então lá ver que um dia apareceu anunciada a presença de Maria Dulce em Portalegre! Integrada em que projecto (como hoje se diz), já não me lembro. Mas não devia ser grande coisa, uma revista montada para consumo na província ou um “sarau para trabalhadores”, daqueles que a FNAT promovia para “Alegria no Trabalho”. Mas eu queria lá saber da qualidade do “projecto”. O que me interessava era a Maria Dulce em Portalegre, e esse episódio não o esqueci mais. Por varias razões: por ver a Maria Dulce, “A vivo e a cores”, diriam os putos de hoje; porque era teatro, ou algo semelhante, e tudo o que mexesse num palco, valia a pena, mas sobretudo por um acontecimento que aconteceu e que me marcou profundamente.Passo a contar, para ficar registado para a História: anunciado o espectáculo para a noite do dia tal, calculei que a Maria Dulce e todo o elenco chegariam de véspera e ficariam instalados na Pensão Central, a única então existente em Portalegre, onde todas as noites se podia ver a jantar o poeta José Régio, amigo da minha família, o que me fazia um frequentador assíduo da pensão. Consegui saber com facilidade quando chegava a comitiva, quantos dias iam ficar, introduzindo-me assim no segredo dos deuses.Mal a Maria Dulce pôs o pé em Portalegre já estava eu no seu encalço. Chegámos portanto à fala, à porta da Pensão Central. Como já por essa altura escrevia umas “notícias” sobre espectáculos para os jornais da terra pedi-lhe descaradamente uma borla para o espectáculo da noite. Eu e uns colegas de liceu que me acompanhavam. A Maria Dulce, com uma simpatia que rondava a sedução (mas o que não rondaria a sedução nela?), disse-me que deixaria bilhetes para nós na porta do Teatro, à hora do espectáculo. Assim foi. Às 21 horas, lá estava eu e os amigos a recolher a oferta: uma magnífica frisa para os atrevidos putos do liceu de Portalegre.Nessa noite, cada palavra de Maria Dulce fazia aumentar a minha paixão. Que perdura ate hoje, apesar dela não saber. Desencontros da vida. Ao longo da vida fui acompanhando a sua carreira sempre com um interesse particular (um amor de adolescência não se esquece!). Uma ou outra vez tropecei em filmes medíocres (ela não voltou a ter muita sorte com os filmes, mas naquele tempo, quem tinha?), mas nunca por culpa dela, que tentava defender personagens banais em argumentos sem garra e realizações sem nada que as recomendassem. Em Espanha foi vedeta, mas também aí os filmes do período franquista não eram particularmente brilhantes. No teatro, porém, construiu uma carreira sólida, onde brilhou o

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seu enorme talento e dedicação à arte, sempre que havia oportunidade para o conseguir (Portugal é, todavia, madrasto para os seus artistas já se sabe). Na revista obteve êxitos inesquecíveis. Na televisão, sobretudo ultimamente em séries e telenovelas, foi mantendo um registo de qualidade e de exigência para consigo própria e para com o seu público. Hoje é uma das presenças mais respeitadas e queridas do nosso espectáculo.Já não tem os caracóis louros. Pois não. Vamos obviamente envelhecendo. “Os cabelos branqueando”, como dizia um nosso comum amigo, José Viana. Mas há dias, numa aula de História do Cinema Português, projectei o Frei Luís de Sousa e tudo voltou ao que era: eu adolescente, ela adolescente, a frisa no Teatro Portalegrense, Portalegre, à porta da Pensão Central, o autocarro com a companhia, pronto para regressar a Lisboa, eu a despedir-me de Maria Dulce, com o coração destroçado. Coisas de miúdos. Um beijo para ti, Maria Dulce, do teu Lauro António.

Lauro António

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Introdução

“O passado nunca morre. Nem chega sequer a ser passado”Faulkney

A Maria Dulce nasceu em Lisboa.Frequentou o Conservatório Nacional. Foi escolhida, em 1950, entre cerca de 300 concorrentes, para o papel

de Maria de Noronha, no filme Frei Luís de Sousa, obra realizada pelo cineasta António Lopes Ribeiro.

Após esta estreia foi para Espanha, onde permaneceu 10 anos, fazendo, teatro, cinema, rádio, moda e dobragens, tendo nesta última modalidade, «dado voz», em espanhol, a Sofia Loren.

Foi das primeiras actrizes a participar na Televisão em directo, em várias peças teatrais, como O Rapto e Pensão Vitalícia e, na série, As Aventuras do Carlos e da Lena, onde contracenou com o Artur Semedo.

Pertenceu aos elencos do Teatro Nacional D. Maria II, através da Companhia Amélia Rey Colaço – Robles Monteiro, Teatro Avenida, Monumental, Variedades, Maria Vitória, Laura Alves, Casa da Comédia e Teatro Estúdio de Lisboa, como ao Teatro da Academia Almadense e à Cooperativa “CANTARABRIL”.

Para além das várias tournées que fez ao estrangeiro (EUA, Canadá, Holanda, Angola, Moçambique, entre outros locais) Maria Dulce regista como algumas das suas últimas interpretações teatrais, a sua participação no Teatro Vasco Santana e Casa da Comédia, bem como a sua actuação na peça Das Tripas Coração, escrita por José Jorge Letria propositadamente para ela e apresentada pela Cooperativa CantarAbril, e na peça Mulher com Marido Longe, de autoria do Pedro Pinheiro, apresentada no Teatro Sá da Bandeira, em 1991.

Participou em diversas séries e telenovelas, como: O Primeiro Amor, Vidas de Sal, Os Lobos, A Lenda da Garça, Anjo Selvagem, Chuva na Areia, Passarelle, Os Andrades, Conde d’Abranhos, Alves dos Reis e Dei-te Quase Tudo.

Em Portugal, para além da sua participação no filme Frei Luís de Sousa, integrou os elencos cinematográficos de O Homem do Dia, Encontro Com a Vida, Amor de Perdição, Retalhos da Vida de um Médico

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e A Luz Vem do Alto tendo, neste último, acumulado com a função de produtora associada.

Foi a Maria Dulce, e só a esta artista, que João Villaret, determinou que o espólio dos poemas do seu repertório, apresentados no Teatro de Revista, lhe fossem entregues, aquando da sua morte, por a considerar a melhor continuadora da sua obra.

A ideia de escrever esta obra surgiu em 2005, quando encontrei Maria Dulce num hotel no Porto, onde se encontrava hospedada, através da RTP/Norte, a fim de ser entrevistada para o programa “Praça da Alegria”. Percebi, de imediato, que estava perante uma pessoa surpreendente.

Maria Dulce falou-me da vontade de publicar um livro com as suas memórias. Eu ofereci-me, logo ali, para a ajudar nesse projecto.

Árdua tarefa, reconheço, por se tratar de uma artista com 55 anos de carreira, repartida, na sua grande parte, entre Portugal e Espanha, mas insuficientemente conhecida no nosso país.

O melhor que pude registar de Maria Dulce, para além do êxito que foi a sua estreia em Portugal, foi a forma como falou do seu trabalho, a sua sensibilidade como ser humano, e o imenso respeito que sente pelo seu trabalho e colegas. Ouvi-a falar, com entusiasmo, de tudo o que fez, sem omitir pormenores, mesmo os mais desagradáveis.

Foi, igualmente, comovente a forma como falou da sua mãe e do seu pai, bem como do imenso amor que sentia por ambos.

Pretendo com esta obra, passar para o papel vivências, experiências, (umas agradáveis, outras menos) do que foi e é a actividade artística de Maria Dulce. Para o fazer contei com preciosos apontamentos da sua carreira, fornecidos pela Maria Dulce e com as conversas que tivemos, ao longo de vários meses, para a feitura deste livro.

Estas linhas não são mais do que um recordar de factos e, talvez, eu possa considerar que tudo o que aqui fica é a entrevista que Maria Dulce nunca deu, as perguntas que nunca lhe fizeram, e as questões às quais nunca respondeu. Porque, tudo isto, é a verdade a que tem direito!

Como será fácil perceber, em 55 anos de carreira, fez muitas coisas, intervenções em vários trabalhos, que é necessário recordar e perpetuar.

Numa época em que se fala tão pouco dos nossos grandes artistas e dos sonhos que construíram e alimentaram as suas carreiras, é imperioso inverter essa situação. Em Maria Dulce, há a necessidade de recordar as suas histórias e o empenho da sua postura perante a vida artística. Memórias que eu tenho o privilégio de transcrever neste livro, por achar que se trata de uma grande Mulher e uma grande Artista.

Cinquenta e cinco anos de carreira, sem grandes alardes, sem campanhas publicitárias, quase sem promoção pessoal. Vingou porque sempre se entregou de alma e coração a tudo o que fez embora, poucas vezes, tenha sido compreendida e, muito menos, apoiada. No entanto, sabe

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por onde vai, e sabe que mesmo que alguns queiram… “ela não vai por aí”, como diz o poeta.

Senhoras e senhores, amigos leitores, deixo-vos com uma pequena biografia sobre Maria Dulce. Uma senhora que fez Teatro, Cinema, Televisão, que diz Poesia maravilhosamente, e que criou, para os mais pequenos, a figura do «palhaço Rabanete», e muitas outras coisas que ides saber e descobrir ao longo das páginas que se seguem.

Luciano Reis

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1. As Origens

Em memória dos seus pais

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Maria Dulce, de seu nome completo, Maria Dulce Andrade Ferreira Alves, nasceu em Lisboa, no dia 11 de Outubro de 1936. Filha de Olga Andrade Alves, natural do concelho de Arganil e pai “alfacinha”, Domingos Ferreira Alves. Os seus avós por parte do pai, chamavam-se Ida e Francisco Ferreira Alves e, por parte da mãe, Maria da Encarnação e José Andrade.

Maria Dulce lembra-se de ter morado numa parte de casa, na rua Latino Coelho, em Lisboa. Havia um corredor muito comprido, cheio de mesas e mesinhas, jarrões com flores (talvez de papel) e, ao fundo dessa porta larga, que dava directamente para uma marquise à moda antiga, lavava-se a roupa e passava-se a ferro, onde Maria Dulce passava horas e horas sentada num cobertor, banhada pelo sol que entrava pelas enormes vidraças.

O seu passatempo preferido, naquela altura, era uma fita métrica que, durante horas e horas, enrolava e desenrolava, deixando-a cair como uma serpentina. Talvez, por isso, que a sua vida foi sempre como essa fita métrica, enrolando...desenrolando...

A sua mãe era modista. O pai era, à época, uma espécie de caixeiro-viajante. Calculem, amigos leitores, como viviam!

Maria Dulce lembra-se também das donas dessa casa: mãe e filha. A primeira não sabe do que se ocupava. A segunda tocava piano. Maria Dulce gostava de a ouvir, embora fosse muito pequenita. Aliás o piano, sempre foi o instrumento da sua paixão. Às vezes fugia à sua mãe. Amparando-se às paredes e aos móveis, lá ia ela corredor fora para junto da porta da sala das senhoras, para ouvir melhor. Um dia, agarrou-se com mais força, e uma coluna esguia e desajeitada, que ostentava lá no alto uma jarra com flores e a coluna, tombou. Foi descoberta! Houve gritos das donas da casa, elas não gostavam da Maria Dulce. “Creio até que não gostavam de crianças”, segundo Maria Dulce. Houve lágrimas da sua mãe, e à noite quando o pai chegou a casa e soube do sucedido, levou o primeiro “tabefe” da sua vida. Parece que ainda hoje o sente: “Eu creio que aquela bofetada (muito leve), foi um desabafo que não me era dirigido directamente...mas fui eu que o senti. Ainda hoje penso que devia passar-se qualquer coisa atrás daquela porta, quase sempre fechada durante o dia mas que frequentemente à noite, se abria para visitas e mais visitas. De homens? Mulheres? Não sei mas também não é para admirar porque por essa altura eu teria os meus 4 ou 5 anitos.

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Mas é engraçado como acontece recordarmos coisas que se passaram na nossa meninice, como se tivessem acontecido ontem. Fecho os olhos e parece que os acontecimentos surgem como uma película, que numa moviola, a gente pára quando quer reter a imagem, por alguns segundos. Tantas imagens! Algumas nítidas, outras menos”, diz-nos Maria Dulce.

Há depois um período de tempo que se apagou da sua memória. Recorda sim, bem mais tarde, outra casa, a família, o resto da família. Um bairro popular ali para os lados de Santa Apolónia. Casa? Umas águas-furtadas, num prédio já não muito novo, com janelinhas esquinadas no tecto, e com uma vista maravilhosa daquele telhado. Ao longe o Tejo, os barcos, muitas árvores cá em baixo, nos quintais dos vizinhos e, mesmo em frente, um ringue de patinagem, onde alguns anos mais tarde, haveria de patinar e fazer ginástica com os miúdos lá do bairro.

Chegou a altura da escola primária, numa escola camarária. Ainda hoje recorda, com uma certa saudade, a professora, a D. Nida, que ao princípio não houve uma boa relação entre ambas. Não sabe bem porquê mas que, alguns anos depois, se tornou uma das duas melhores amigas. Era tudo raparigas e um só rapaz, o Daniel. Naquela escola fez a primeira e a segunda classe. Depois, passou para a escola, no Campo de Santa Clara. A mãe continuava a trabalhar de modista. O pai, que entretanto tinha tirado a cédula marítima, lá foi para o mar. Era terrível! Estavam meses sem o ver! O dinheiro, às vezes, faltava, mesmo com o trabalho exaustivo da mãe, agarrada à máquina de costura, dias e noites a fio. Na escola, Maria Dulce, ia bem. Mesmo muito bem! Gostava muito de estudar, adorava ciências e dizia a toda a gente que, quando fosse crescida, havia de ser médica.

Simultaneamente com as suas actividades escolares, era preciso deitar mão de outras tarefas, um pouco pesadas para a sua idade, mas era preciso ajudar a mãe, na lida da casa. Assim sendo, de manhã ia à escola, vinha para casa ao meio-dia, e fazia o almoço. Para Maria Dulce: “Era engraçado, porque a mãe ia-me explicando, e eu...lá executava. Depois de arrumar a cozinha, fazia os trabalhos da escola e ainda ajudava na costura. É bom não esquecer que nessa altura eu andava pelos meus dez, doze anos”.

Todas estas experiências foram extremamente importantes para si, para a sua formação como mulher e dona de casa. Não é que ela considere que seja necessário ter uma infância difícil, sentindo à nossa volta falta de quase tudo. Não! Nada disso! Só que quando isso acontece, pelo menos tiramos para o futuro, lições que melhor nos farão compreender e “não aceitar” determinadas situações sociais. E foi, exactamente, o que aconteceu com Maria Dulce.

Por esta altura, o pai regressou de mais uma viagem de alguns meses. Passava-se com Maria Dulce, o que considera hoje um caso psicológico. Aliás, bem normal! Ela adorava o pai, mas cresceu e foi-se formando sem a

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sua presença permanente, numa altura em que ela era mais necessária. Parecia-lhe, às vezes, que ele era uma visita que aparecia de quando em vez, e sem querer, tinha-lhe medo. Não sabe porquê! Era um misto de respeito e de medo...e quase nem falava. Perdia a sua espontaneidade, a sua alegria e, se ele, por acaso, a olhava fixamente por alguns momentos, Maria Dulce começava a chorar. Era terrível! Ele adorava-a, creio mesmo que sofria com esta situação. Maria Dulce amava-o muito, mas era com a mãe que se sentia completamente à vontade.

A mãe foi sempre a sua irmã mais velha. É por isso que, quando hoje assiste a separações de casais, pensa sempre nas crianças que ficam privadas do convívio diário com os seus pais.

Ah, é verdade, o resto da família… No rés-do-chão do mesmo prédio, viviam os seus avós maternos. No 3º andar, a sua tia Olinda, casada, sem filhos. Era o casal que, na família, tinha uma vida mais desafogada. Era muito bonita esta tia, a mais jovem de cinco irmãs. Morreu aos trinta e quatro anos, de câncer. Haviam mais dois irmãos, o António e o Manuel, mas já tinham emigrado para os Estados Unidos da América. Um deles tinha sido marinheiro, na marinha de guerra e tomou parte activa na revolta de 1936, e foi preso.

Maria Dulce gostava muito da sua avó. Ela encobria as suas traquinices e, como todas as avós, fazia-lhe todas as vontades. O avô, era um homem duro e de poucas falas, mas quando lhe apetecia conversar, ai Jesus! Contava, já com os seus setenta anos, (morreu com 99) a história de Portugal; os reis que conheceu e a quem serviu. Tinha sido guarda-portão do rei D. Manuel, na Cidadela em Cascais e, a sua avó, uma das criadas de quarto da rainha. Aí se conheceram.

A família do pai, na sua opinião, era bem mais especial. Ainda conheceu a bisavó. Chamavam-lhe a “avó pequenina”. Tinha sido uma mulher com cerca de um metro e setenta de altura: “Tenho a quem sair”, diz-nos, mas quando ela a conheceu, não teria mais que um metro e meio. Aos oitenta anos fazia rendas maravilhosas, sem óculos, que nunca usou. Nunca teve uma doença, nunca tirou um dente, foi só mirrando...mirrando e morreu de velhinha, com perto de 100 anos. Ela era de cor negra e fascinante! Natural do Grão Pará, Brasil. Quando jovem, conheceu um colono português. Apaixonaram-se, casaram, tiveram filhos e ele, um dia, trouxe-a para Portugal. Uma das filhas, a Ida, “mulata bem escura, casou com um homem louro e de olhos azuis e...lindo”, na opinião de Maria Dulce.

Como já dissemos atrás, foram a Ida e o “Chico”, os seus avós paternos. Dentro das suas veias, corre o mesmo sangue, embora exteriormente. A avó Ida era a que mais privava com a sua família. Tinha sido em casa dela, que era modista de alta-costura, na rua dos Fanqueiros, considerada a “manequim da baixa”, que os seus pais se conheceram. Foi aí

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que começou a sua família. Mas a mãe, loira e de olhos azuis, apesar de conhecer a ascendência do seu pai e de ele próprio ter umas feições diferentes do comum, quando ficou grávida, disse logo que ia ter uma menina loira e de olhos azuis: “Isto é que era palpite! Nasci eu!”, diz-nos com um sorriso aberto, Maria Dulce.

O casamento dos pais não foi, nem pouco mais ou menos, aceite pela família da mãe, que queriam casá-la com um rapaz lá da terra, que tinha “terras” e que não era da “raça dos pretos”, como eles diziam. Foi de tal forma, que ninguém apareceu no casamento, naquele dia de Maio de 1935. Cortaram relações e, daí, os primeiros anos terem sido tão duros para os seus pais. Só passados cinco anos, e por causa de Maria Dulce, as pazes foram feitas. Foram depois para a tal casa das águas-furtadas.

Para Maria Dulce: “inundava o coração daquela gente, os preconceitos, o orgulho, que leva o ser humano e, naquela altura mais, a pôr de parte pessoas do seu próprio sangue, da sua própria raiz. Na família, só uma pessoa sofria com aquela situação: a avó. É lógico, tinha parido tantos filhos e ia-se separando deles, pelos mais variados motivos. Mas o avô dizia, não e...era não!”.

Durante aquele período em que Maria Dulce ajudava a mãe na costura, era também ela que ia entregar os trabalhos às freguesas, quase tudo gente do bairro ou por ali perto e, receber as contas. Saia-se sempre bem. Nunca vinha sem o dinheiro e uma pequena gorjeta de dez ou quinze tostões, que nessa altura, para ela, era uma pequena fortuna. Esse dinheiro era posto de lado e quando juntava o suficiente, a mãe comprava-lhe uns sapatos, uma saia, e outras coisas necessárias. Quantas vezes hoje se lembra, quando vai às compras, do tempo em que aos doze anos ia à praça, com vinte escudos, e conseguia trazer tudo o que a sua mãe lhe encomendava e, ainda, sobravam uns tostões para comprar tremoços, que adorava, e ainda hoje adora.

Há ainda outra recordação que guarda muito viva e que vos vou contar. A certa altura, não se lembra porque motivo, o pai ficou de novo desempregado. Era difícil arranjar colocação a bordo, e o pai não teve outro remédio senão colocar-se como estivador, nas cargas e descargas. Todos os dias lá iam, ela e a mãe, levar-lhe o almoço. Era giro para Maria Dulce estar perto dos barcos. Às vezes, o pai até a levava lá dentro. Ela queria ver tudo. Perguntava tudo. Tinha paixão pelos barcos. Depois almoçavam em cima de fardos ou caixotes, ao ar livre, no Verão ou, então no Inverno, numa tasca, em frente da passagem de nível da Rocha do Conde d’Óbidos. Por vezes o companheiro de mesa era o Alfredo Marceneiro, com quem, muitos anos depois, conviveu em muitas noites fadistas e onde recordavam, alegremente, este episódio.

1.1. Paixão por João Villaret

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Nesta altura já começava a sentir dentro de si o desejo de uma actividade, que vinha, aos poucos, a substituir aquela antiga vontade de ser médica.

Havia lá em casa uma telefonia, hoje muito velhinha, mas bem guardada, na qual ela ouvia a voz de um homem que a deixava extasiada. Chamava-se João Villaret. Então decidiu que queria ser como ele. Queria dizer versos. Imaginem! Mas como, se ela não tinha livros desses, nem dinheiro para os comprar? Só tinha uma solução, ouvir na rádio e tentar decorar. Tinha uma memória realmente prodigiosa! Bom...ainda tinha outro passatempo de que gostava muito: ouvir música. Ah! sim, como ela gostaria de saber cantar!

Mas não se pode ter tudo, não é?!O presidente da Junta de Freguesia de Santa Engrácia, que era muito

amigo da família, um dia resolveu desfazer-se de um piano velho que havia na sede da autarquia e, sabendo do seu gosto por este instrumento, ofereceu-lho. Maria Dulce recorda este episódio com muita emoção: “Ai, meu Deus! O dia em que o piano entrou lá em casa, nunca mais o larguei. Todos os minutos que tinha livres, lá estava eu a martelar nas teclas, tentando arrancar-lhe melodias que eu ouvia na rádio. Então, a minha antiga professora ofereceu-se para me dar lições, duas vezes por semana. Eu estava nas minhas sete quintas! Poesia e piano! Que mais poderia eu desejar?”.

Começou, nessa altura, a fazer pressão com a mãe, para frequentar uma escola, onde lhe ensinassem o que ela queria aprender. A D. Nida falou então no Conservatório Nacional. A mãe não queria tomar nenhuma decisão, sem o pai voltar do mar, (porque, entretanto, ele tinha conseguido embarcar de novo...).

-“Quando o pai vier a gente fala”, dizia a mãe.Aí começava de novo o seu medo. E se o pai dizia que não?Ele voltou. Falou-se no assunto. Ela já tinha uma vantagem, já tinha

feito a Quarta Classe e com distinção, bem merecia que lhe fizessem a vontade. A conversa foi longa e dolorosa. Dela apresentamos aqui um pequeno relato, baseado naquilo que nos transmitiu Maria Dulce:

- “O que é que tu queres vir a ser na vida?” – Perguntou o seu pai.- “Quero ser artista e dizer versos, muitos versos!”.- “Sabes muito bem que nós não temos dinheiro para te mandar tirar

um curso superior, que te seja útil no futuro. Mas também sabes que seria esse o nosso desejo, o nosso sonho. Ires para artista, será essa profissão que desejas para a tua vida?”.

- “Não sei, pai. Eu nem sei se quero ir para o Teatro. Não percebo nada disso. Só sei que quero ser artista”.

A sua mãe estava calada. O pai voltou à carga.

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- “O ambiente que se vive nesses sítios não me agrada porque o conheço bem. Não te esqueças que eu e o teu tio Manuel, estivemos como amadores, em algumas récitas no Teatro Nacional. Portanto a minha decisão é esta: Não! Continuaremos a fazer todos os sacrifícios que sejam necessários, para que estudes mais um pouco”.

- “Mas paizinho, eu posso estudar à mesma”. - “Não sejas teimosa, porque eu já disse o que tinha a dizer”.

Foi uma noite de choro, metida na cama para que ninguém a ouvisse. Ainda hoje não sabe bem o que aconteceu mas, quando o pai voltou para o mar, a mãe, um belo dia, pegou nela e levou-a ao Conservatório para se matricular. Como ainda não tinha idade para frequentar o Curso de Teatro, ficou no de Arte de Dizer e, no bailado, com a D. Margarida de Abreu. Não sabe quanto tempo esteve agarrada ao pescoço da mãe, a beijá-la: “Que hora feliz era a da aproximação das aulas”, recorda quase a chorar. Na turma de Arte de Dizer, era a mais nova.

A mãe, talvez de combinação com o pai, disse-lhe: “Agora tens que aprender outras coisas. Que tal o inglês e o francês? Pode ser-te útil um dia mais tarde”.

- “Está bem mãezinha, eu estudo tudo isso. Prometo!”. Lá entrou para a Escola Francesa e passou então a ser assim o seu dia

a dia:De manhã cedo, apanhava o eléctrico nos Caminhos-de-ferro, descia

na Bica; subia no elevador e lá ia a caminho da rua dos Caetanos. Levava um lanche que a mãe lhe arranjava e, depois, às duas horas, seguia para a Escola Francesa. Era perto! Até sabia bem o passeio. A mãe ficava tranquila, porque sabia bem o cuidado que Maria Dulce punha em tudo, principalmente a andar na rua sozinha.

Era a melhor aluna a francês, mas a inglês...uma desgraça! Só tirava notas baixas. Hoje é o contrário, prefere o Inglês: “Porque será?”, pergunta sem resposta.

Como sempre lhe tem acontecido, até hoje, nunca percebeu a razão pela qual os colegas, principalmente as mulheres, sempre a olharam um pouco de lado. Já era assim no Conservatório. Era boa aluna. O professor adorava-a. A tal ponto que logo no primeiro ano do Conservatório, quando se realizaram, no Salão Nobre, as comemorações de Goethe, ela foi a única que saiu da turma para se juntar aos colegas do terceiro ano.

Pois, a partir desse momento, quase todas as colegas deixaram de lhe falar como até aí. Cochichavam pelos cantos e riam-se quando ela passava. Não conseguia fazer amigos. Abre-se aqui uma excepção, para se falar de um aluno do terceiro ano que a acarinhava, e que era o Rui de Carvalho. Acontecia a mesma coisa na aula de ballet. A Margarida de Abreu gostava muito dela pois lhe reconhecia um certo jeito para a dança. No inicio do segundo ano, já tinha umas sapatilhas de pontas que ela lhe ofereceu, por

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Maria Dulce não ter dinheiro para as comprar. E, assim, assistia às aulas do terceiro ano, lá na última fila.

Vivia todas estas experiências como num sonho, mas com muita entrega. Só lhe doía o afastamento das colegas. Desabafava com a sua mãe e chegavam à conclusão de que tudo era devido ao facto de os professores elogiarem o seu trabalho e, muitas vezes, a darem como exemplo. Seria? Hoje, passados tantos anos, e conhecendo alguns desses colegas mais a fundo, vê que era verdade: “Até porque eles não mudaram nada! Continuam a proceder da mesma maneira. Tenho pena por eles! Sofrem, desgastam-se e eu cá sigo o meu caminho, sempre igual, com altos e baixos na minha carreira, mas sem trair nem magoar ninguém e muito menos a mim própria!”, diz-nos.

Resumindo, a sua vida já era agitada nessa altura. Aulas de manhã, aulas à tarde, trabalhos domésticos, as lições de piano com a D. Nida e, ao serão, ainda lhe sobrava tempo para ajudar a mãe na costura: “Mas foi boa esta experiência, esta vivência”, confidencia-nos.

Só não tinha tempo para brincar como as outras miúdas da sua idade!Um belo dia começou a sentir uma certa agitação lá no Conservatório.

Algumas colegas faltavam às aulas, sem lhes serem marcadas faltas. Falavam umas com as outras mas se ela se aproximava, calavam-se bruscamente. Não ligou. Não era, com certeza, nada consigo. Até que um dia o professor Samuel Dinis, chamou-a e disse-lhe:

- “Ò miúda, diz à tua mãe para amanhã te levar à Lisboa Filme, ali ao Lumiar, às nove da manhã”.

- “Mas a essa hora eu tenho uma aula aqui, senhor professor”.- “Não te preocupes, que não te será marcada falta. Faz o que te digo.

Quando lá chegares pergunta pelo senhor António Lopes Ribeiro”. - “Está bem, senhor professor”.Irritou-se com o elevador da Bica que descia a calçada muito devagar,

com o eléctrico que parava em todas as paragens e, por fim, subiu o bairro América a correr tanto que assustou a sua mãe quando esta a viu entrar em casa, encharcada em suor, vermelha que nem um tomate e com indícios de mais um ataque de asma, doença de que sofreu e muito, dos quatro aos catorze anos. Ela acalmou-a e Maria Dulce lá lhe deu conta do recado do professor.

– “O que será? O que não será?”. Não chegavam a nenhuma conclusão. Resolveram fazer o melhor, esperar até ao dia seguinte.

Mas que noite que Maria Dulce passou, Santo Deus! Não conseguiu pregar olho. A manhã, finalmente, chegou. Vestiu-se com o melhor que tinha e lá foram.

Misturam-se no seu cérebro centenas de acontecimentos, alguns bastante desagradáveis, de que não quer falar. Mas de um, quer:

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- “No Natal, eu não escrevia cartas ao Menino Jesus, para pedir fosse o que fosse porque, desde muito pequena, sempre me disseram que quem comprava os presentes eram os nossos familiares. Como eu sabia que os meus pais pouco podiam comprar, ficava na expectativa mas, pelo sim pelo não, lá ia pondo o sapatinho na chaminé. Qualquer coisa que lá aparecesse, era um tesouro para mim. Só que às vezes, no dia de Natal, os miúdos da rua, mais pobrezinhos do que eu, diziam-me que não tinham tido nada na chaminé e então recebiam os meus poucos e modestos presentes, que eu lhes atirava pela janela, sem que ninguém o pudesse evitar”.

Há ainda um outro episódio que Maria Dulce quer partilhar neste livro:

“Quando eu frequentava a escola do campo de Santa Clara, um dia a mãe foi lá chamada e a inspectora disse-lhe que, a partir daquele momento eu iria ter uma farda e que teria que desfilar, com as outras crianças, quando fosse necessário. Era a farda da Mocidade Portuguesa. A mãe ficou revoltada e disse que ia pensar.

- Mas é obrigatório...disse a senhora.A mãe moveu céu e terra e conseguiu de um médico amigo um

atestado alegando que eu não podia fazer esforços, por causa dos meus ataques de asma. E era verdade! Resultou e não tive a farda. Não pertenci à Mocidade Portuguesa!”.

Falando, ainda, da sua admiração por João Villaret ela durou até à sua morte. Um dia, depois do seu falecimento, o secretário deste extraordinário actor, mandou chamar Maria Dulce, para a informar que João Villaret tinha determinado que fosse ela a seguir com a leitura em público dos seus poemas, entre eles: Fado Falado, Rosa Araújo, Santo António, Recado a Lisboa, Sinfonia do Ribatejo e, A Procissão.

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2. A Estreia

Aos seus amigos e inimigos

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Ora voltemos, novamente, àquela manhã em que Maria Dulce foi à Lisboa Filme.

Chegaram lá pelas nove horas. Para Maria Dulce aquilo era uma enorme aventura. Nem sabia o que pensar, para uma miúda de treze anos. A mãe nem sequer se atrevia a falar. Entraram:

- “O senhor António Lopes Ribeiro, por favor”.- “Esperem aqui um momento”.Um salão enorme, cheio de poltronas confortáveis e muitas, muitas

portas. De repente abre-se uma e surge um homem muito alto, muito magro, excessivamente magro. Parou diante de Maria Dulce: olhou-a demoradamente, mirando-a e remirando-a por todos os lados. Mandou-a levantar, colocar-se de perfil, arrebitou-lhe o nariz e disse:

- “É isto! É isto mesmo que eu quero”.Saiu por onde tinha entrado e Maria Dulce e a mãe ficaram de boca

aberta, sem perceber nada. Pouco depois veio outro senhor com uns papéis na mão.

- “Tens boa memória?”. - “Tenho sim senhor”, respondeu Maria Dulce.- “Então vê se consegues decorar isto, para fazermos os testes a seguir

ao almoço”.Aceitou os papéis e começou a ler e a tentar decorar. Aquilo era muito

confuso, muito complicado. Tratava-se da cena final, a cena da morte de Maria, do Frei Luís de Sousa. Escusado será dizer que Maria Dulce não conhecia nada daquilo, mas passadas duas horas sabia o texto todo de cor.

Depois do almoço (nunca mais se esqueceu daqueles morangos com chantilly) foram para uma sala onde se pintavam e penteavam.

Estava lá o caracterizador, a Maria Sampaio, o Raul de Carvalho e o João Villaret. Ficou muda de espanto! Era incapaz de dizer uma única palavra. Pintaram-lhe a cara, soltaram-lhe o cabelo, que lhe chegava quase até à cintura; vestiram-lhe uma camisa de noite, cheia de rendas, e levaram-na para uma casa muito grande, cheia de luzes e um cenário enorme: o estúdio número um. Colocaram-na no meio daquilo tudo e António Lopes Ribeiro, disse-lhe:

- “Diz o que leste da maneira como sentires”.Ficou envergonhada. Não conseguia abrir a boca. Foi então que uma

voz se distinguiu entre todas, para a descontrair. - “Onde estudas?” Era o João Villaret que perguntava. - “No Conservatório com o professor Carlos Sousa e a D. Margarida

de Abreu e também na Escola Francesa”. - “Chega, chega!... Sabes então dizer versos?”

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- “Sei”, respondeu.- “O que é que sabes?”- “Pouca coisa: o «Colegial» de José Régio, que aprendi na rádio a

ouvir o senhor e a «Lady Godiva», de Júlio Dantas”.- “Óptimo! Importas-te de dizer a Lady Godiva para eu ouvir?”- “Tenho vergonha”, disse Maria Dulce.- “Não tenhas. Somos todos teus amigos”.Maria Dulce procurou o olhar da mãe, e aqueles olhos azuis, cheios de

amor, encheram-na de coragem. E lá foi! Disse tudo como sabia e sentia. À sua maneira: “Acreditem: havia lágrimas nos olhos daquele “monstro sagrado, daquele homem que eu ainda hoje respeito a memória”, relata Maria Dulce ao referir-se a João Villaret.

Acabada aquela exibição preliminar, começou a cena para as provas. Foi com a Maria Sampaio e o Raul de Carvalho. Ela já estava, como se costuma dizer, a sair-se bem. Quando terminou todos os técnicos, choravam e aplaudiam. Os actores abraçaram-na e o realizador disse-lhe:

- “Porque é que eu perdi tanto tempo? Nunca perdoarei ao Samuel Dinis esta partida de mau gosto”.

Só mais tarde soube o que se tinha passado. Fizeram-se naquele estúdio mais de trezentas provas, hoje diz-se

“casting”, com alunas do Conservatório, actrizes profissionais, mas nenhuma reunia as condições que o António Lopes Ribeiro exigia. Foi, finalmente, escolhida a Maria Dulce.

Lá começaram as filmagens. Fizeram-lhe um contrato no valor de 10.000 escudos por todo o trabalho, com refeições e transportes pagos: Que tal a exploração, hein?!, sublinha Maria Dulce.

Antes de avançar nesta biografia, seria curioso reproduzimos aqui um pequeno diálogo entre o António Lopes Ribeiro e o Samuel Dinis, dias depois:

António Lopes Ribeiro (A.L.R): - “Então, homem, tu tinhas lá esta miúda e fizeste-me perder tanto tempo e dinheiro?!”

Samuel Dinis (S.D.): - “Olha, nunca me passou pela cabeça! Ela era uma miúda muito infantil, nunca pensei que ela fosse capaz de algo com responsabilidade. Sabes, ela é um bocado bicho do mato”.

A. L. R: - “Pois é, mas é sensacional. Vai ser ela o êxito do filme, escreve o que te digo!”

Curioso, não é? Todos os dias tinha que estar no estúdio às oito da manhã. Sempre

acompanhada da sua mãe, claro.O pai andava no mar, ainda não sabia de nada. As únicas notícias que

ele tinha eram através da Emissora Nacional, através de mensagens dos familiares para a frota mercante e bacalhoeira. E esposa e filha lá iam sempre que possível. À mãe custava-lhe muito, porque começava a chorar.

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Maria Dulce era a que se aguentava melhor. Mas nada de lhe dar a notícia do filme, por esta via!

O trabalho nos estúdios ia bem. A primeira cena que filmou foi com o João Villaret. Imaginem como estava Maria Dulce, por estar a contracenar com o seu grande ídolo!

Nesse primeiro dia foram convidados muitos jornalistas e figuras importantes do meio artístico. Entre elas estava a Amália Rodrigues. Gostaram da miúda. Era gira. Tinha o nariz arrebitado... Aliás, foi o seu nariz que lhe deu o papel. Passado pouco tempo, a imprensa começou a chamar-lhe “menina-prodígio”. Entusiasmos jornalísticos, que se deixam levar pelas emoções do momento e que, anos depois, dão o dito por não dito e acham que não valeu a pena: “É mentira, meus amigos”, refere Maria Dulce. E continua: “Hoje eu posso dizer que não há meninos-prodígio. Há talento, ou não há. O que acontece é que alguns destes senhores jornalistas e críticos se deixam, depois, influenciar e até manobrar por outras razões; por opções, por ideologias e não param para pensar que aquela menina-prodígio como eles me chamaram, se transformou, depois, na actriz consciente que não se deixa manobrar por mecanismos de conveniência, nem por modas. Hoje, a esses senhores eu digo NÃO! Não fui menina-prodígio, essas normalmente morrem à nascença. O que eu era nessa altura, era uma criança inexperiente, que tudo o que fez, como é evidente, foi por instinto. Por intuição”.

Na altura, e como os produtores estavam empenhados no lançamento do filme, serviam-se de Maria Dulce, para fazer toda a espécie de publicidade. Eram capas de revistas, entrevistas, programas de rádio, fotografias por todo o lado. Uma loucura! Há ainda pessoas que se lembram disso.

Muitas peripécias aconteceram durante as filmagens, cenas que Maria Dulce, recorda hoje com um sorriso nos lábios, mas que naquela altura lhe meteram medo.

Por exemplo, as cenas passadas na praia de Caxias, dentro de um bergantim que baloiçava por todos os lados. Dentro de uma liteira puxada por cavalos nervosos e impacientes, pela espera de horas e horas e até – imaginem vocês!, cenas eventualmente chocantes. Custa a acreditar, não é? Se vos vou contar uma destas cenas é porque servirá para fazer uma análise do que leva, a que muitas vezes, a vida artística, tenha má fama.

Não é a vida artística, não é o Teatro que tem má fama, são algumas pessoas que dela fazem parte, que lhes tiram dignidade.

A Maria Dulce tinha dois grandes amigos no filme. Feitios diferentes, opções de vida diferentes, mas que em certos aspectos, se completavam, muito bem. Um deles, todos os dias lhe levava um pacote de rebuçados. Ela delirava. Um dia, num intervalo do trabalho, ele disse-lhe: “Vai ao meu camarim que eu tenho lá uma coisa para te dar”. Ela foi logo, claro, a

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pensar nos caramelos do costume. Encontrou lá três pessoas. Quando entrou, fecharam a porta por dentro e tentaram, ou por outra, um tentou, tomar com Maria Dulce atitudes menos próprias. Ela tinha 13 anos! O instinto fez-lhe sentir que aquilo era feio e só teve um impulso (lá estava o seu instinto a trabalhar) levantou a mão e deixou-a cair com quanta força tinha na cara do sujeito. Ele ainda tentou bater-lhe, mas os outros impediram e ele acabou por abrir a porta e mandá-la embora.

Se fosse hoje, chamava-se assédio sexual a menores!Fartou-se de chorar dentro do seu camarim. A mãe estranhou o seu

comportamento a partir de então, mas não conseguiu arrancar-lhe nada. Só muito depois dos vinte anos é que teve a coragem de contar o que tinha acontecido, até porque os protagonistas desta história já não estavam entre nós.

Agora pasmem! Foi este episódio que motivou que no ano seguinte ela não fizesse o Frei Luís de Sousa no Teatro Nacional. Alguém se impôs e a tal menina talentosa, a revelação do ano, que andava na boca de toda a gente, não trabalhou no Teatro Nacional, nessa altura, porque alguém importante não gostou que uma miúda de treze anos lhe pusesse a mão na cara. Mas isto foi em 1950. Hoje continuam a acontecer cenas destas e piores, porque as liberdades são maiores, e a prepotência e as injustiças são, também, e consequentemente, em proporção.

Ainda as filmagens não tinham acabado, já choviam propostas de trabalho. A primeira foi para uns jogos florais no Norte, Centro e Sul do país. E Maria Dulce lá foi. Na “caravana” iam muitos artistas que depois foram grandes vedetas, hoje já, quase todos, desaparecidos. Mais uma vez estava presente a tal rivalidade que a tem perseguido toda a vida. O público recebia-a em delírio e pronto... amizades desfeitas!

Entretanto a sua vida em casa, nas pausas do trabalho, continuava no mesmo ritmo de sempre. Nada se tinha alterado. As lições de piano, de inglês, e ajudar a mãe no que podia. Só não conseguiu matricular-se no Curso de Teatro, do Conservatório, porque o Samuel Dinis, não aceitou a sua matrícula. Faltavam duas semanas para atingir a idade regulamentar.

Um certo dia o telefone tocou. Eram os produtores do filme, a combinar tudo para a estreia, no Cinema São Jorge, que também se inaugurava nesse dia. Era preciso tratar de montes de coisas. Casas comerciais da baixa queriam oferecer “isto e aquilo”. Era preciso fazer o vestido, mas disso, encarregava-se a sua mãe. Tinha que ser espectacular!

E começou a azáfama: o vestido comprido, os sapatos a condizer, a capinha de arminho para pôr sobre os ombros, oferecida por uma loja da rua Augusta, etc., etc.,. No meio de tudo isto, um desgosto muito grande: o corte das suas tranças: “Mas eles decidiram que era assim que tinha que ser, e foi!”, recorda Maria Dulce.

Chegou o dia desejado. O dia 22 de Setembro de l950.

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Foi-lhe recomendado que teria que estar no Cinema antes da chegada dos membros do Governo. Pois é... mas atrasou-se porque o mercedes branco do produtor que a foi buscar a casa, chegou ao São Jorge, muito depois da hora marcada. Quando parou junto ao passeio, já lá estavam todos. Tinham-se formado alas na escadaria. Caras conhecidas: o Raul de Carvalho, a Maria Sampaio, a Maria Olguim, o João Villaret, o Tomás de Macedo, o António Lopes Ribeiro; os produtores, os técnicos, tantas caras que Maria Dulce conhecia e tantas, tantas anónimas. Quando desceu do carro, os “ardinas” de Lisboa puseram as suas sacas dos jornais no chão para ela passar e isto bastou para que ela não pudesse conter as lágrimas. Empoleirada em cima das árvores, havia gente gritando o seu nome. Maria Dulce pensava: "Toda esta gente enlouqueceu, que horror!”.

Não viu o filme nessa noite, porque no átrio do cinema, as máquinas de filmar dos jornais de actualidades, não a largavam: “Nessa altura ainda os jornalistas gostavam de mim”, acentua Maria Dulce.

Muito mais tarde, isso mudou, porque afinal ela não era muda, pensava e, como tal, falava. Isso começou a não agradar a muita gente. Mas enfim...

Aquela foi uma noite linda. Uma noite que não poderá esquecer, nunca mais. A sua ida ao palco, no fim da projecção, foi algo que Maria Dulce não consegue descrever com palavras. Alguns anos mais tarde, bastantes, teve uma noite parecida, quando no Teatro Nacional, a Amélia Rey Colaço a convidou para fazer, no Frei Luis de Sousa o papel da mãe, D. Madalena de Vilhena. Foi um êxito grande, embora relativamente, pouca gente tenha visto o espectáculo, que subia à cena às 18,30 no Teatro Capitólio, onde a companhia estava instalada, depois do incêndio do Teatro Avenida. Mas, os que viram, gostaram. No fim do espectáculo, na noite de estreia, a Amélia Rey Colaço, subiu ao palco, abraçou-a e disse-lhe que tinha sido uma das mais belas interpretações da Madalena, que ela tinha visto. Ainda hoje e, felizmente, isso pode ser testemunhado, porque ainda está entre nós uma grande senhora do Teatro, que assistiu a tudo, a Mariana Rey Monteiro.

Bem...depois daquela noite memorável de 22 de Setembro, no São Jorge, aí é que na verdade o ritmo da sua vida se modificou por completo.

O “atelier” da mãe fechou temporariamente. O pai continuava por “mares já dantes muitas vezes navegados...”

Quando veio a Lisboa, foi ver o filme, e chorou, o lobo do mar. Chorou de verdade. Também não era para admirar, a crítica do Diário de Notícias do dia seguinte à estreia, trazia em caixa alta: “INSTALOU-SE UMA FÁBRICA DE LÁGRIMAS NA AVENIDA DA LIBERDADE”.

E depois, a miúda para aqui a miúda para ali. As revistas chamavam a atenção dos produtores para a galinha dos ovos de ouro, etc. Mas nada! Os ovos parece que lhes faziam mal ao fígado e de ouro... já estavam cheios,

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obrigada! O filme estava a esgotar as lotações, três sessões diárias e assim foi durante alguns meses. Depois outros tantos no Teatro da Trindade e por todo o país. No Porto no fim da estreia, os estudantes puseram as suas capas no chão para Maria Dulce passar, na praça da Batalha e, deitavam-lhe flores, muitas flores. Tudo muito bonito, muito entusiasmo, muita entrega, mas... se não fossem os espanhóis, não fazia sentido estarmos hoje a divulgar estas linhas, porque a sua carreira teria começado e acabado, ali.

Porém, não foi assim!Ainda muito jovem, mas já depois do Frei Luís de Sousa era chamada

a colaborar nos célebres “Serões para Trabalhadores”, da FNAT e da eis Emissora Nacional. Foram dezenas de espectáculos por todo o País, isto sem contar com os “Passatempos APA1”, no Eden Teatro. Os pequenos recitais de poesia eram repartidos pelo João Villaret, pelo Manuel Lereno e por Maria Dulce

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? Agência de Publicidade Artística.

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3. Projecção Internacional

“Não conheço estado que exija formas mais delicadasnem costumes mais honestos que o teatro”

Diderot

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Passado algum tempo, pouco, da estreia do filme, Frei Luís de Sousa, uma empresa espanhola decidiu fazer uma produção sobre Fátima e os três pastorinhos. Vieram tomar imagens nos locais dos acontecimentos e, como era o único filme português que estava nos ecrãs, foram vê-lo. Gostaram da Maria Dulce e como lhes faltava ainda a intérprete para o papel de Jacinta, quiseram conhecê-la e contrataram-na. Os outros dois pastores videntes, já estavam escolhidos. Para a Lúcia, a actriz italiana Inês Orsinni e para o Francisco, um jovem actor espanhol. Houve alguma resistência da parte da sua mãe porque o pai não estava, como de costume, e era muito arriscado sair assim, sem o seu consentimento. Mas, felizmente, tudo se resolveu porque a partida para Madrid não seria de imediato e, entretanto, o pai chegou. Foi bom, porque ele nessa altura teve uma licença de perto de dois meses e pôde acompanhá-las.

Chegado o dia, lá foram os três no Lusitânia Expresso, com muitos fotógrafos, jornalistas e amigos a caminho de mais uma aventura que seria bem prolongada e recheada de acontecimentos artísticos e pessoais.

A Espanha representou para Maria Dulce, dez anos longe de Lisboa. Dez anos de luta artística, que não foram fáceis, porque em Espanha a protecção ao artista nacional é uma realidade e uma prioridade. Realidade que Maria Dulce gostaria que existisse em Portugal. Mas cá, é precisamente o contrário: tudo o que é estrangeiro é sempre melhor que o produto nacional.

Chegou a Madrid sem saber dizer nada em espanhol, sem conhecer ninguém, excepto as pessoas que a contrataram, claro, mas com o seu trabalho e comportamento, rapidamente conseguiu impor-se, e de tal modo que ainda iam a meio do filme, já assinava um contrato de cinco anos com a produtora e com ela fez seis filmes. Infelizmente só dois passaram em Portugal: Nuestra Señora de Fátima e Soror Intrépida. Neste ultimo trabalhou e fez grande amizade com a actriz francesa Dominique Blanchard, filha do grande actor de Teatro, Pierre Blanchard, que teve a felicidade de conhecer pessoalmente e com quem conviveu bastante. Mas o curioso de tudo isto é, que no primeiro filme, como é natural, teve que ser dobrada, mas no segundo, oito meses depois, já seria a sua voz que se ouvia e, daí para a frente, nunca mais teve voz “emprestada”.

Um ano após a sua chegada a Espanha, foi convidada para trabalhar no Teatro. A primeira experiência foi no Teatro de Cultura e Recreio (teatro experimental), dirigido por Modesto Higueras. Foi-lhe proposto fazer a protagonista da peça Juno e el Povo Real, de um autor Húngaro de que não recorda o nome.

Uma pequena pausa para vos dizer que, no meio de tanta alegria no trabalho, nem tudo era um mar de rosas... Cometeu um pequeno erro, de

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boa fé, mas do qual não se arrepende, até hoje. A sua mãe sempre foi uma mulher muito alegre e Maria Dulce sentia que ela andava triste, sentia que ela sofria com a ausência do seu pai. Era natural!: “Dificilmente se encontrava um casal assim, dois seres tão unidos, tão amorosos, como eram os meus pais. Havia alturas em que pareciam um parzinho, em permanente lua-de-mel. Então, o que é que eu fiz? Movimentei todos os meus conhecimentos e consegui arranjar um emprego para que o pai fosse para o pé de nós e não houvesse um comboio ou um mar a separar-nos. Com esta teimosia que me é peculiar, consegui o que queria. O trabalho não era muito agradável, mas tudo era preferível à separação. O pior foi convencer o pai a deixar o “seu mar” Mas eu venci!”, diz-nos Maria Dulce.

Maria Dulce vivia feliz. Trabalhava muito, ganhava muito dinheiro e estavam todos juntos, o que era o mais importante.

Voltemos ao Teatro Experimental. Na noite da estreia e, dado ser este tipo de teatro, elitista e bastante avançado no campo ideológico, para a Espanha franquista dessa altura, já que se tratava de uma companhia de vanguarda, onde o repertório, em princípio se destinava a uma minoria de intelectuais e universitários, quando o pano desceu na noite da estreia a pateada foi estrondosa. Maria Dulce nunca tinha ouvido uma coisa assim. O pano sobe, os actores vêm agradecer e tudo se transforma. A ovação foi prolongada. Foi assim a sua estreia no Teatro. Uma experiência muito valiosa para ela, sob todos os aspectos.

Terminada a carreira da peça, mais ou menos três semanas, o que já era muito bom para este tipo de teatro, foi convidada para o elenco do Teatro Maria Guerrero, o equivalente aqui ao Teatro Nacional, mas que faria a sua estreia, como era costume em Espanha, numa cidade de província. Este sistema é bom pois possibilita uma melhor rodagem do espectáculo. Aceitou a proposta e o papel que lhe foi distribuído, que era o de uma índia peruana. A acção da peça, Andres de Urdaneta, decorria no Peru e narrava os factos históricos da chegada dos espanhóis àquelas terras, na época dos descobrimentos. Era um papel curioso e difícil de executar, pois todas as noites ela tinha que pintar o corpo todo, de castanho. O primeiro actor e encenador da companhia era uma figura muito importante do panorama teatral, Luiz Prendes. A estreia foi, desta vez, um êxito. Os críticos exigentes mas competentes e profissionais disseram, entre outras coisas, que não acreditavam que Maria Dulce fosse estrangeira, pois a sua pronúncia, num texto clássico e difícil, era perfeita. Ficou contente, feliz e isto ao fim de viver dois anos e meio, em Madrid.

Depois da carreira da peça na capital, fizeram uma tournée, que durou oito meses. A meio da temporada, a primeira actriz saiu da companhia e Maria Dulce ocupou, então, o seu lugar o que lhe veio dar ainda maior projecção. A dada altura e, por motivos de saúde, o empresário abandona a

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companhia e Maria Dulce tomou conta da direcção da mesma, iniciando também tarefas empresariais. Eram 27 pessoas, fora os técnicos. Correu tudo bem. Ganharam dinheiro, eram unidos, amigos, como uma família. Continua, sem querer, ou talvez não, a fazer comparações com Portugal, desta vez desfavoráveis para nós, infelizmente. Vejam bem: actores e técnicos, orientados por uma estrangeira. Foi uma enorme prova de companheirismo. Quando a exploração terminou, voltou ao cinema; mais tarde à rádio e, assim se foram cumprindo os dez anos de actividade com os espanhóis.

Claro que entretanto veio, duas vezes, trabalhar a Portugal. Uma para fazer com o Rogério Paulo, uma peça só com dois actores mas três personagens visto que fazia duas irmãs gémeas, peça que se chamava, Não, de um autor espanhol, no falecido Teatro Avenida e, outra, para interpretar, com o Alves Barbosa, o filme, O Homem do Dia, realizado por Henrique Campos. Mas o seu regresso, quase definitivo, deu-se de uma forma inesperada. No Carnaval, resolveu vir com umas amigas a Lisboa. Uma noite num restaurante, encontrou o Artur Duarte, preocupado, pois o filme que estava a fazer, Encontro Com a Vida estava parado, porque a protagonista, a actriz brasileira Maria de la Costa, tinha sido expulsa do país pela Pide. Resultado, o filme esteve parado a meio, com todo o trabalho feito, inutilizado.

O pedido para fazer o filme foi recusado por parte da Maria Dulce. Tinha que voltar para Madrid, pois tinha um contrato assinado e não sabia quando se iniciavam as filmagens lá. Mas depois de resolvidos todos os problemas, veio fazer o filme do Artur Duarte. Protagonista com ela o Rogério Paulo. Correu bem. Gostou do trabalho e o filme agradou. Bem, agradou na justa medida, em que agradavam os filmes de então. Depois foi fazer o tal filme a Madrid e por lá fiquei mais uns tempos.

Dez anos em Espanha. Dez anos de felicidade. Dez anos de realização pessoal. Dez anos...bem vividos!

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4. De Novo Portugal

“A alquimia (do teatro): com os pós da invenção,eis que o barro se transmuda em ouro

– e a máscara em rosto e a solidão em comunhão.”

Vítor Silva Tavares

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Quando, Maria Dulce, voltou a Portugal foi para tentar recomeçar uma nova etapa da sua vida.

Entretanto, começava a Televisão. Aí trabalhou bastante. Bastante, mesmo! Fez muitas noites de Teatro (no tempo em que havia Teatro na TV): “Parece que foi à 500 anos!”, diz Maria Dulce.

Fez também uma série, chamada, Aventuras do Carlos e da Lena. Ia para o ar, em directo, todas as quintas feiras. Só dois actores ela e o Artur Semedo. Foi tão divertido para eles, este trabalho! Hoje fala-se muito da improvisação dos actores brasileiros nas telenovelas, mas eles foram os primeiros a fazer aqui, esse tipo de trabalho. Todas as semanas tinham um tema para o programa que durava 40 minutos. Repito, em directo onde desenvolviam esse tema. A série foi um êxito e, ainda hoje, já lá vão tantos anos, há gente que se lembra do Carlos e da Lena. Marcavam-se mesas nos pavilhões de Algés, para as quintas-feiras.

Foi nesta altura, concretamente em 1959, que o Vasco Morgado aproveitou o êxito da televisão e a chama para participar numa comédia no Teatro Monumental, intitulada, Eles, Elas e os Meninos, de autoria de André Roussin. Elenco de ouro e a sua estreia no teatro, em Lisboa, junto com Henrique Santana, Assis Pacheco, Irene Isidro, Álvaro Benamor, entre outros. Êxito estrondoso! Seis meses no cartaz. Três meses de tournée por todo o país. A maioria dos jornais de Lisboa e do Porto, elogiaram o desempenho de Maria Dulce, com títulos como este: “No Monumental, Auspiciosa estreia de Maria Dulce”. Maria Dulce era um novo valor em quem se poderia confiar, depois de tão boas e convincente provas. No “Diário da Manhã”, A.S.S., chamava “a atenção do leitor para a presença de Maria Dulce, como actriz de inegável presença na comédia, pelo seu ar lavado de representação moderna e pela sua presença extremamente gentil.” No “Jornal do Comércio”, num artigo assinado pelo M. M., dizia que “a jovem Maria Dulce valoriza, com apreciável intervenção uma personagem curiosa, que exige tudo quanto lhe permitiu dar: graciosidade, elegância, frescura, achado de situações.”

Maria Dulce continuava a fazer televisão, entrando em quase todas as peças dessa época. Lembra-se de uma que lhe deu um gozo especial, D. Gil Vestido de Verde, peça espanhola que tinha a participação de muitos actores e a particularidade de a protagonista D. Gil, ser feita por Maria Dulce em travesti: “E que engraçadas eram as cenas amorosas com a Irene Cruz”, diz-nos Maria Dulce. Trabalho feito em directo, claro; difícil de realizar e de interpretar, mas deu a toda a equipa enorme satisfação.

Durante os seus dez anos de actividade em Espanha, juntou algum dinheiro que, imaginem, veio “enterrar” num filme português. O Henrique Campos mostrou-lhe um argumento, que Maria Dulce gostou e nem pensou duas vezes, em aceitar fazê-lo, A Luz Vem do Alto, mas com a condição de ser produtora associada. Claro que a ideia foi logo aceite e aí vai ela a

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Madrid contratar os actores Roberto Camardiel e Félix Fernandez mais dois técnicos. Tudo a postos, iniciam-se as filmagens com exteriores no Vale do Vouga e tudo corre bem. O trio amoroso do filme era Maria Dulce, Fernando Curado Ribeiro e o Mário Pereira. Maria Dulce, com a sua boa presença, impôs-se pela graça e delicadeza no seu papel, desempenhando-o com verdadeira convicção e acerto.

O filme tem a estreia no Eden, agradou no seu todo, mas até hoje ainda espera ver o dinheiro que investiu naquele tempo. A montagem foi de Pablo del Amo, considerado, na época, com imensas qualidades técnicas. Foi enganada e na própria terra. Investiu, naquela altura, cerca de setecentos e cinquenta contos.

Claro que desde há muito, ela e a sua mãe, estavam em Lisboa. Ela sempre a acompanhou. Mas, mais uma vez, acontecia o pai estar ausente, desta vez em Madrid. Visto que ela ia continuar em Portugal, não fazia sentido esta situação. E foi aí que procurou o almirante Francisco Tenreiro e conseguiu a colocação do pai na Doca Pesca, onde se manteve até à sua reforma.

Nesta altura, mais ou menos, dá-se a primeira paragem na sua carreira, mas não durou muito tempo. Já estava a pensar em fazer as malas e voltar para Madrid, quando surge a proposta para fazer Teatro de Revista, através do empresário José Miguel. Voltou a ter medo e optou pelo Teatro Nacional. O José Miguel dizia que ela se ia meter num jazigo, em vida, mas a verdade é que ela optou pelo Nacional.

Ela queria demonstrar que a tal “menina-prodígio” ia, mais uma vez, provar, que não tinha morrido à nascença, mas que continuava viva e que afinal a Maria Dulce tinha dentro dela algo mais, do que simples intuição. Afinal o José Miguel parece que tinha um pouco de razão, só um pouco, porque aquilo que ela não ganhou em promoção, ganhou em ensinamentos. Aprendeu o que sabe hoje, com grandes actores e actrizes. Ainda se aguentou na companhia duas épocas, transitando para o Teatro Capitólio e, depois, para o Trindade. Dos colegas que encabeçaram esses elencos, e que lhe deixaram marcas significativas, no âmbito do saber, da responsabilidade e do amor ao Teatro, referimos Amélia Rey Colaço, Baptista Fernandes, Pedro Lemos, Varela Silva, Manuela de Freitas, Glicínia Quartin, Eunice Muñoz, Henriqueta Maia e Cecília Guimarães.

Começou a perceber que todas as promessas que lhe tinham sido feitas, não eram cumpridas, pois os papéis que no início lhe tinham sido, por palavra, destinados, eram feitos por outras actrizes. Chateou-se de ir só no fim do mês receber o ordenado e, despediu-se.

O repertório em que entrou no Teatro Nacional, através da Companhia de Amélia Rey Colaço – Robles Monteiro, foi o seguinte: Em 1969, no elenco de Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett e no de O Segundo Tiro, de autoria de Robert Thomas, traduzida por Jorge Batalha. A encenação da

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primeira peça foi de Pedro Lemos e, a da segunda, de Varela Silva. No ano seguinte, participa na peça, A Celestina, de autoria de Fernando Rojas, traduzida por David Mourão-Ferreira e encenada por Caytano Luca de Tena, e, em 1971, em O Duelo, de Bernardo Santareno, encenada por Varela Silva e levada à cena no Teatro da Trindade. Nesta Companhia lamenta não se ter estreado, em 1969, a peça, Os Maias, de Eça de Queirós, peça que esteve em fase adiantada de ensaios, e onde Maria Dulce, encabeçava a personagem de Maria Eduarda.

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5. No Teatro de Revista

“O artista consegue, às vezes, embelezar a vida.Um belo verso sobre um corpo de mulher

corrige o que há de humano, nesse corpo.”

António Ferro

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Surge, em 1963, a segunda proposta para Maria Dulce fazer Teatro de Revista. Foi o empresário Giuseppe Bastos, que lhe propôs colaborar num espectáculo que ia entrar em ensaios no Teatro Variedades, designadamente, Ena… Tantas, espectáculo com 50 mulheres em cena e dois homens: Carlos Coelho e Spina, com texto de Aníbal Nazareth e Rogério Bracinha, e música do maestro Carlos Dias. Um número de apresentação, História de um candeeiro e um outro no quadro de rua. Até quase ao ensaio geral, não tinha trabalho no segundo acto. Ela não dizia nada, porque era novata no género, não tinha experiência neste tipo de Teatro que, considerava, e ainda hoje considera, muito difícil de fazer. Preferia até, entrar com “pezinhos de lã”, como se costuma dizer. Se agradasse, tudo bem. Se falhasse, talvez não fosse muito grave para a sua carreira. Sobre este espectáculo é necessário dizer mais alguma coisa. Se a Maria Dulce veio a ter o impacto que teve, deveu-se à pressão de Fernando Martins sobre os autores para que Maria Dulce tivesse papéis à sua medida. Sim, segundo Maria Dulce: “Foi a teimosia do Fernando Martins. Eu Pessoalmente nada dizia. Estava ali para fazer o que eles queriam. Estava ali de «para-quedas» com muito medo”. Os autores tiveram, à última hora, um rebate de consciência e, a dois dias da estreia, inventaram um número para ela e para o Carlos Coelho, O Rapaz de hoje. Era um travesti. Ninguém tinha vontade de ensaiar o número. O Carlos Coelho, detestava-o, ela nem sim nem não, antes pelo contrário… No dia da estreia, agradou no primeiro acto, com chamadas especiais no final. Mas no fim do segundo acto da primeira sessão, foi o delírio e isto porque o tal dueto, de que ninguém gostava, acabava de ser o maior êxito da revista. Repetiram a canção cinco vezes. Se fôssemos a analisar o número em pormenor, ele não tinha nada de especial, só que a maneira como ela vinha arranjada (smoking azul escuro, cabelo cortado à rapaz, a rigor), a desenvoltura e naturalidade com que o fizeram, deu resultado positivo. Mas… há sempre um mas… O resultado do êxito, das palmas, da garrafa de champanhe aberta no escritório, pelo seu triunfo foi, que no dia seguinte, após saírem as primeiras críticas, as suas colegas deixarem de lhe falar. O “Diário de Notícias “, trazia na primeira página, em caixa alta; “João Villaret reviveu ontem no palco do Variedades, pela voz de Maria Dulce…” Foi o bom e o bonito! É espantoso, como entre colegas, podem acontecer coisas destas. A Revista esteve uma data de meses em cena, só que Maria Dulce, a dada altura, adoeceu. No final do primeiro acto de uma matinée, ao descer o pano, desmaiou. Veio a ambulância, levaram-na para a clínica e foi operada de urgência.

Durante o seu internamento, soube que algumas pessoas iam à bilheteira e ao verem o atestado do médico, afixado, iam-se embora. De tal

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forma que um dia o empresário, foi ao Hospital quase pedindo por favor para ela ter alta e voltar ao trabalho. Ela tanto pediu ao médico, que ele acabou por ceder. Voltou ao trabalho ainda ligada e quase sem poder andar. Só fazia dois números: o Candeeiro e o Rapaz. Nem finais nem nada.

Poucas pessoas sabem que esta profissão é, realmente, das mais ingratas do mundo. Mesmo doentes, não deixam de trabalhar.

No fim da exploração em Lisboa, a revista rumou ao Porto, como era costume. Maria Dulce teve a sorte de agradar a um público difícil, exigente, mas que a aceitou nesta sua nova faceta, proporcionando-lhe noites de imensa alegria.

A estreia deste espectáculo e de Maria Dulce no teatro ligeiro não podia ter sido mais auspiciosa. As opiniões do público foram muito boas. Ao nível da crítica, que tantas vezes diverge, coincidiram na impressão que os jornalistas tiveram com a Maria Dulce. Era, na verdade, um êxito indiscutível, esta primeira intervenção no Teatro ligeiro. Aliás, aquando da súbita enfermidade, a que já nos referimos atrás, caíram no Teatro Variedades, imensas e imensas cartas, provenientes de todos os pontos do país e das ex-colónias. Na noite em que Maria Dulce voltou ao Variedades, houve uma calorosa ovação, que foi sentida com eloquência e apreço, por este público, que voltava a lhe dedicar uma satisfação sincera, ocasionada pela alegria de a ter junto de si e satisfeita pelo seu restabelecimento. Sobre esta situação e este espectáculo, dias mais tarde, Maria Dulce dizia o seguinte: “Estou absolutamente encantada com tudo e com todos. Sabe? Estou convencida de que são os artistas quem faz melhor ou pior o ambiente artístico. De modo que há bons profissionais, o ambiente tem de ser bom. É o que acontece aqui no Variedades. Vim encontrar um ambiente óptimo, completamente diferente da errada ideia que os juízes maldosos pretendem fazer crer acerca da «revista». Um profissional de teatro adapta-se a todos os géneros de bastidores e o que se sente nos bastidores é igual em todos os teatros”.

Maria Dulce, na altura desta produção, foi bastantes vezes abordada sobre as diferenças de comunicação de géneros artísticos, uma vez que estava a estrear-se no teatro ligeiro. Como sempre, foi muito rápida e sincera a responder: “Pessoalmente não notei diferença alguma. Claro que sob o ponto de vista profissional tinha de haver diferença, pois as próprias concepções de arte são diferentes. Mas para quem se devota à profissão como eu tenho feito, tanto trabalha num palco de «revista», como num de comédia ou de drama. A dignidade profissional está acima das designações.”

A comunicação social do norte, a quando da deslocação de Ena, Tantas!, não lhe poupou elogios. O “Diário do Norte”, entre outras coisas, disse o seguinte: “Giuseppe Bastos descobriu – é o termo! – uma autêntica e nova «estrela» para o firmamento do nosso Teatro de revista.

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Além da sua presença gentil e airosa numa personalidade embriagadora, entusiasma e aquece a plateia gerando aquela tensão nervosa, em agitação de deleite, quando a tranquilidade desperta perante algo de sensacional e de inesperado.

Esse «algo de sensacional e inesperado» resplandece, magnanimamente, da têmpera artística e do melhor quilate de Maria Dulce ao exercer um vasto domínio sobre a plateia através duma voz magnífica e de uma garridice repleta de um calor rubro a abrasar sem destruir!

Maria Dulce, dedicando-se no plano da sua carreira artística, a um género novo triunfa no cenário da fama afirmando-se como uma extraordinária e completa actriz do nosso teatro de revista”.

Foi exactamente no Porto que aconteceu o caso sentimental mais sério da sua juventude. Mas isto fica para outro capítulo desta história.

A companhia volta a Lisboa e segue-se a tournée a Angola.Tinha começado, há pouco tempo, a luta de libertação do povo

angolano. Depois de uma curta temporada em Luanda, seguiram para o interior daquele país e aí começou o seu fascínio por aquelas terras e por aquele povo. Houve de tudo, durante aquela viagem: cenas cómicas, dramáticas e até trágicas. De tudo um pouco! Mas o pior foi ver a carnificina, as monstruosidades a que pode levar uma guerra, injusta, sem razão de ser. O que foi maltratar um povo que mais não procurava que defender com unhas e dentes a terra que era sua, que lhe pertencia por direito. Aldeias incendiadas, corpos mutilados, a angústia dos sobreviventes, sem saberem o dia de amanhã, mas continuando a lutar, com a mesma força do primeiro dia. Que povo, meu Deus! Que coragem! Que fé enorme em si próprios e nos seus direitos e ideais!

Terminada a digressão pela província, voltaram a Luanda e, alguns dias depois, foi o regresso a Lisboa.

Passadas umas semanas continuou o seu trabalho, desta vez, no Teatro Capitólio, com o espectáculo, O que é bom é p’ra se ver! Uma companhia de primeiras figuras: Eugénio Salvador, Humberto Madeira, Aida Baptista e Maria Dulce.

Continuaram as revistas durante bastante tempo, nomeadamente: Na Brasa, levada à cena, em 1964, também no Capitólio, de autoria de Aníbal Nazaré, Eduardo Damas e Eugénio Salvador, com música de João Nobre, Carlos Dias e Manuel Paião e As Garotas São o Diabo, estreada no mesmo ano e no mesmo espaço e de autoria da parceria: Nelson de Barros, Ribeirinho, César de Oliveira e Paulo Fonseca, com música de Fernando de Carvalho, Carlos Dias e Carlos Rocha. No ano seguinte participa em, É Canja, no Teatro Capitólio e em, E Viva o Velho, no Teatro Maria Vitória. Em 1966, no Teatro Variedades, participa em, Zero, Zero Zé, Ordem P’ra Pagar.

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No Monumental, também em 1966, na revista, Esta Lisboa que eu Amo, dá-se o primeiro conflito com um colega. Não vale a pena registar aqui o seu nome por ainda haver muita gente que se lembra deste caso e, para aqueles que não se lembram…paciência. Um espectáculo encenado pelo actor Paulo Renato, com um elenco de ouro. Os melhores autores do momento e bom trabalho para toda a gente. Um grande espectáculo à Vasco Morgado! Depois da estreia começam a surgir os conflitos com essa figura. Indisciplinas, boicote ao seu trabalho em cena, etc. Até que um dia, fartou-se e despediu-se. O Vasco Morgado não a queria deixar sair, mas acabou por compreender que ela tinha razão. Já era impossível aguentar aquilo por mais tempo. Entre os colegas, como sempre, havia divisões, uns a favor da “vedeta”, outros do seu lado. Mas, Maria Dulce, venceu. Foi-se embora e tão magoada estava com o Teatro, com alguma gente do Teatro, que fez as malas e abalou novamente para Espanha, a terra onde nunca tinha passado por nada disto, e, de onde mais tarde, se arrependeu de ter saído.

Lá se manteve durante oito meses. Até que um belo dia começa a receber telefonemas do empresário do Maria Vitória, o Giuseppe Bastos, a pedir-lhe para vir inaugurar a temporada. Ela respondeu que não, que não voltaria a pisar um palco de revista. Ele insistia, até que Maria Dulce resolveu fazer mais uma tentativa para obrigá-lo a desistir. Pediu um ordenado elevadíssimo. Mas o “pior” foi, que ele aceitou. Honestamente, já não teve coragem de continuar a recusar. Fez as malas e veio para Lisboa. Quando cá chegou, imaginem quem iria ser a primeira figura masculina?! Ele… o mesmo que tinha sido o causador da sua partida para Espanha. A primeira coisa que este fez foi pedir-lhe desculpa por tudo o que se tinha passado. Com este mau feitio…lá o desculpou e ele tornou-se nesse espectáculo, um homem diferente. Cumpriu-se aí o velho ditado: “Quanto mais me bates…”

A revista, intitulada, Pão, Pão… Queijo, Queijo, não era grande coisa, mas agradou e estiveram seis meses no cartaz. Fenómenos de Teatro!

5.1. Verão, Férias

O Carlos Coelho, propõe-lhe entrar num “show” que estava a organizar. Era aliciante. Primeiro uma tournée pelo Algarve e depois Estados Unidos e Canadá e ainda…voltar à África. Aceitou.

Em 1967 lá foram para Angola e, depois, para Moçambique. Foi maravilhoso voltar a pisar aquelas terras, embora, infelizmente, muitos locais já não fossem aquilo que tinham sido.

Uma das missões era fazerem espectáculos para os militares, muito no interior do país. Aí é que foi o bom e o bonito: correram perigo de vida, várias vezes. Viagens em camionetas… (e que camionetas…), de avião

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Nord Atlas e Dakotas, um horror! Mas apesar dos sustos e dos medos, mais crescia a sua revolta por tudo o que via e ouvia.

Hoje em dia, as pessoas, já estão documentadas do que foi aquilo mas, na altura, aqui, ainda não se fazia ideia do inferno que os soldados ali viviam e o que aquela gente africana sofria.

Maria Dulce sempre esteve atenta a estas situações e a tudo o que se relacionava com os grupos onde trabalhava. Nas companhias, era assim como uma espécie de confidente, para alguns. Procuravam-na para desabafar, para pedir apoio, para contarem as suas mágoas… Às vezes, era um bocado cansativo, mas como ela sempre gostou muito de ouvir, sentia-se feliz por confiarem nela.

Em 1973, integrada no espectáculo Vedetas Show, fez uma digressão pelos Estados Unidos, trabalhando para as comunidades de emigrantes.

No começo do ano de 1974, volta aos Estados Unidos e Canadá. O Canadá, adorou. É, desta forma, que nos relata a sua opinião sobre os Estados Unidos: “A América é um País que nos amachuca pela sua imponência, mas se querem saber mesmo, o que sinto, é um País no qual eu não gostaria de viver, sobretudo Nova York. Porquê? Porque apesar da liberdade que se apregoa, simbolizada pela estátua do mesmo nome, o ar que se respira, não corresponde, de todo, pelo menos para mim, àquela visão que muitas vezes nos dão no cinema. Não a encontrei, ao vivo. Ao vivo vi muita prostituição em plena rua, o ar escravizado daquela gente que só vive, só pensa em dólares, atabafou-me. As três viagens à América só me enriqueceram pelo contacto com os nossos compatriotas. Para eles, a nossa presença é uma festa e para nós é o calor humano que nos enche o coração. O que é de lastimar é que milhares e milhares de pessoas tivessem que sair da sua terra, para procurar lá longe as mínimas condições de vida que o seu país não lhes dava. Assim aconteceu, também, com parte da minha família. Também porque me proporcionou ver espectáculos, grandes montagens, grandes encenações, como o “HAIR”, a comédia “CHÁ PARA DOIS” com a extraordinária Laureen Bacal e ainda um concerto no City Hall, com Frank Sinatra, Dean Martin e Sammy Davys. Foi espantoso! Memorável!”

Anda em 1974, no Teatro Laura Alves, encabela a produção da revista, Dentadinhas da Maçã, escrita por Eduarda Damas e José Vilhena.

No ano de 1976 volta ao Teatro Maria Vitória, novamente a convite de Guiseppe Bastos, para encabeçar o elenco da revista, Vota Vota Camarada Zé, escrita por Aníbal Nazaré e musicada por Tavares Belo, João de Vasconcelos e Jorge Machado. No ano seguinte, através da Cooperativa do Teatro Popular de Almada, é um dos principais intérpretes em, Atira o Barrete ao Ar, escrita e encenada por José Viana e representada no Teatro da Academia Almadense.

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Em finais do ano de 1981, através do grupo Teatro Mestre Gil, é uma das figuras principais da revista, Ai a Tola, estreada na sala da Sociedade Filarmónica da Amadora. Foi um espectáculo escrito por Pedro Pinheiro e José Jorge Letria, com música original de Carlos Mendes, Carlos Alberto Moniz, Samuel, Nuno Gomes dos Santos e do José Jorge Letria. A direcção de ensaios esteve a cargo de Pedro Pinheiro e Maria Dulce.

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6. Mulher de Grandes Causas

“O que é indispensável, é uma maldita revolução: é absurdo mas é o que é indispensável.”

Arnold Wesker

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Na manhã do dia 25 de Abril de 1974, Maria Dulce estava na cama. Foi acordada pelo seu pai, que lhe disse: “Houve uma revolução, filha!”

É do conhecimento público que o primeiro partido a que pertenceu Maria Dulce, em 1976, foi o PS. Sentia-se pouco politizada, e, nada melhor do que este partido, segundo a sua opinião, para iniciar a sua aprendizagem política.

Trabalhou muito, entrou em lutas e foi delegada sindical. No princípio sentia-se bem, depois, por uma divergência de política sindical, com o partido, resolveu sair. Não era aquela a ideia que ela tinha de um partido de esquerda.

Esteve alguns anos sem filiação partidária, até que um dia, um pouco arrastada e esclarecida por dois homens do partido, o Rogério Paulo e o José Viana, entrou no Partido Comunista e, nas suas fileiras, onde fez de tudo: trabalho de campo nas festas do “Avante”; apresentação de comícios e espectáculos da Intersindical, na altura em que, por estes motivos foi posta na prateleira pelos empresários, imagem, durante sete anos.

Por esse motivo, foi ao partido pedir emprego, nem que fosse como funcionária. Pasmem com a resposta: “Não, camarada, o partido não é uma agência de empregos”.

Aquilo doeu tanto, magoou muito, que ela só teve uma hipótese: SAIR.

Maria Dulce julga que não merecia, por tudo o que já tinha dado dela. Até o desemprego!

E, assim, ficou livre, sem ter que obedecer a ordens e directrizes partidárias.

Só uns anos mais tarde voltou ao PS.Maria Dulce é uma mulher de esquerda consciente, mas não sectária,

nem carreirista; sabe ver e analisar o que está bem e mal no partido. Há muitas coisas com as quais não concorda, porque quer continuar a ser fiel aos seus princípios ideológicos. Apoia o seu partido de uma maneira geral e agora sente-se bem.

O 25 de Abril de 1974 foi, para ela, uma luz, “uma porta que se abriu”, como disse o grande poeta Ary dos Santos: para a vida, para alegria deste povo sofredor.

Sente-se diante do televisor e, hoje, passados mais de trinta anos, pasma ao ver o posicionamento de certas pessoas, que ela já conheceu de outros “carnavais!”: “Que diferença, Santo Deus! Vocês dirão”, desabafa, com alguma tristeza. Sim, é verdade, que não se deve mudar traindo. Prefere ser traída, como aconteceu muitas vezes.

Mudou, mas tentando ser melhor: procurando a verdade dia-a-dia, colocando-se ao lado das pessoas que sofrem, porque ela também já sofreu

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e, muito; ao lado do povo ao qual sempre pertenceu, porque a sua gente era do povo e ela nasceu nele. Mudou à procura da verdade! Está tão consciente disto que não aceita, nem admite quaisquer dúvidas, venham elas de onde vierem.

Trabalhou muito toda a vida, sempre em nome do seu país e da sua cidade de Lisboa, embora nunca tivesse, por parte da edilidade lisboeta, o menor reconhecimento. Mas é o velho ditado: “mais vale cair em graça, do que ser engraçado!”

Cinquenta e cinco anos de carreira, são uma vida. Está certa do dever cumprido e, isso, para a sua consciência...basta-lhe!

Passado um tempo, a seguir ao 25 de Abril, surge na sua carreira mais um espectáculo que adorou fazer, Empresta-me a Tua Piscina, levado à cena no Teatro Capitólio, dirigida por um encenador inglês. Foi uma enorme novidade para o público português, por ver no palco uma piscina autêntica, com raparigas inglesas (lindíssimas), a nadarem completamente nuas. Até ela teve que se despir completamente, mas não a chocou, nem a ela nem ao público, porque estava inteiramente inserido no contexto. Esgotavam-se as sessões diariamente e estiveram em cena, mais de um ano.

Por causa de acontecimentos, foi despedida do Capitólio, ou seja, (convidada a sair, por questões politico-sindicais), indo para o Maria Vitória fazer a primeira e única substituição da sua carreira. Fez um número da colega que tinha saído, A Visita da Velha Senhora, focando Amélia Rey Colaço e duas criações suas: uma caricatura do Carlos do Carmo e outra da Natália Correia. Deu até um disco.

Maria Dulce faz também questão de nos lembrar, esse grande espectáculo que se realizou por essa altura, no Coliseu dos Recreios e que se chamou, Maratona do Espectáculo, dirigido pelo António Machado. Trinta e seis horas seguidas de espectáculo. Nem um só artista português faltou à chamada. As maiores vedetas da canção, do fado, do teatro, do circo, grupos de teatro independente, bandas de música e ranchos folclóricos, vindos de todo o país, aderiram a esta extraordinária produção.

Foi aqui que tomou corpo uma iniciativa, desenvolvida no Verão de 1975, promovida por esse grande actor, José Viana. O projecto era para Almada. A velha sala da Academia Almadense estava quase em ruínas. Depois de cumpridas várias formalidades com a direcção da colectividade, meteram mãos à obra; organizaram equipas de trabalho e começaram as obras de restauro da sala.

Simultaneamente começam os ensaios do primeiro espectáculo, A Grande Jogada, com texto e música de José Viana, encenação do mesmo, com ele como protagonista, o Rogério Paulo, a Dora Leal, Maria Dulce e outros colegas. Como era uma cooperativa, eram eles quem faziam tudo: cenários (também da autoria do José), guarda-roupa, tudo, porque não havia dinheiro para mandar fazer fora.

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Soube então e sentiu na carne o que é trabalhar em cooperativa. E isto com um elenco onde estavam grandes figuras do Teatro, mas todos sem excepção, faziam o que era preciso.

Maria Dulce lutava com dificuldades de dinheiro, como todos e, por sorte, aparece-lhe a oportunidade de mais uma experiência no campo profissional. O Máxime propôs-lhe fazer uma série de actuações, que aceitou por serem bem pagas. A experiência foi valiosa para ela mas, como devem calcular, tremendamente violenta. Ensaiava em Almada até às onze da noite, vinha a correr para Lisboa, fazia a primeira actuação à uma hora, descansava uns momentos e voltava a actuar às três da madrugada. Saia do Máxime, por volta das cinco. Não sei como conseguiu aguentar este ritmo de vida, mas... aguentou!

Durante o tempo que esteve no Máxime, aproximadamente um mês, começou a aperceber-se do ambiente que se vive nestes locais, onde ela, sinceramente, nunca tinha entrado. A exploração dos artistas, o mercado de carne branca, os artistas a não terem um dia de descanso...e a aceitarem... Começou a denunciar tudo ao Sindicato. Insistia com os colegas para que exigissem contratos legais, que eles não tinham, a exigirem um dia de descanso semanal, enfim, a tentar defender os seus interesses. Não foi compreendida por eles, tinham medo de perder o emprego! Fizeram-lhe uma pequenina guerra e ela ao fim de um mês, foi-se embora. Mas veio satisfeita, primeiro pela experiência vivida, depois porque pensava que, quanto mais não fosse, tinha denunciado muita coisa, obrigando até o Ministério do Trabalho a tomar posição. Por tudo isto...missão cumprida!

Aproxima-se a estreia em Almada. Foi realmente algo que ultrapassou todas as expectativas. Cinco meses de lotações esgotadas. Êxito de crítica, absoluta. Chegavam excursões de toda a parte: do Alentejo, do Algarve, do Minho, do Porto. Toda a população da margem sul correspondeu em pleno à iniciativa e todos eles, finalmente, respiraram felizes, porque tanto trabalho tinha dado os seus frutos.

Depois deste êxito, puseram em cena uma comédia, dirigida pelo Rogério Paulo, mas o tema estava um pouco ultrapassado, a montagem era cara e...não resultou.

Decidiram fazer uma revista, também da autoria do José Viana, com o título, Atira o Barrete ao Ar. Um espectáculo divertido, que agradou, mas nada que igualasse o primeiro.

A realidade, a triste realidade, é que todo aquele espírito de luta... “todos por um e um por todos”, se ia deteriorando aos poucos. Começava o vedetismo, as rivalidades, enfim, todos aqueles ingredientes de que, infelizmente, sofre o nosso meio artístico. Até que um dia reuniram em Assembleia Geral e o José Viana sugere trazer para Lisboa, A Grande Jogada, para a empresa Vasco Morgado, no Capitólio. Alguns sócios votaram contra, porque sabiam que ao vir para Lisboa, punham um fim à

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Cooperativa, que tanto esforço lhes tinha custado. Como os do não estavam em minoria, foram para o Capitólio. No fundo, era isto que o Vasco Morgado queria. Acabava-se com a concorrência. Depois era só uma questão de dias, e... foi. É claro que não voltaram para Almada. É claro que alguns deles ficaram no desemprego, mas também é claro que outros continuaram na empresa Vasco Morgado. O Teatro da Academia foi utilizado pelo Teatro de Campolide, do Joaquim Benite. Ainda bem! Serviram, pelo menos, para criar um novo espaço teatral. Desta Cooperativa, é também de referir a estreia da peça, O Segredo do Faísca, estreada em 1977, numa encenação de Rogério Paulo, tendo a colaboração de José Viana na coreografia e de António Machado em assistente de realização. Esta comédia teve um elenco homogéneo, onde se destacou a interpretação de Maria Dulce, no papel de Germana América Pecunia, que demonstrou nesta interpretação, mais uma vez, um talento muito bem aproveitado; Rogério Paulo, no papel de Faísca; António Anjos, no papel do cientista Sabido; e Manuel Coelho, no papel de Soldado.

E Maria Dulce lá entrou, outra vez, para o desemprego. Mas não durou assim tanto. Hoje em dia os períodos são mais longos!

Foi para o elenco do Teatro Vasco Santana. Entrou no primeiro espectáculo sobre o Raul Brandão, escrito e encenado pela Luzia Maria Martins. Pouco tempo em cena e ainda menos espectadores. Aquilo para eles, actores, era um pouco frustrante. Começaram a ensaiar o segundo espectáculo: O Pecado do Saiote, dirigido pelo actor António Montez. Um pouco mais de público, mas ainda reduzido!

Entretanto o António Machado (seu companheiro) tinha sido chamado para a Casa da Comédia, dirigida pelo Filipe Lá Féria, para fazer a figura principal de, Faz Tudo...Faz Tudo, uma peça dirigida e escrita pelo Filipe, baseada no mundo do Circo. O António Machado num ensaio fracturou o menisco e o Filipe pede-lhe que o vá substituir, e foi.

Maria Dulce faz questão de confessar neste livro o quanto gostou de trabalhar com o Filipe La Féria. Considera-o um dos mais talentosos homens de teatro, da nossa geração. Tem a seu favor uma enorme vantagem: sabe como se faz e, por isso, sabe exigir o que quer e, mais, dá sempre oportunidade à gente nova. Quantos actores se revelaram nas suas mãos! É duro trabalhar com ele, mas a verdade é que só assim se consegue um trabalho em profundidade: “Um bravo para ti Filipe”, manda a Maria Dulce, que é, para ela, uma boa recordação.

6.1. Cooperativa CANTARABRIL

Houve dois acontecimentos artísticos muito importantes para Maria Dulce. Em primeiro lugar a constituição da cooperativa CANTARABRIL, essencialmente formada com gente das cantigas, compositores, poetas

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declamadores. Para Maria Dulce, era como voltar ao passado, ao tempo dos recitais por esse país fora.

Uns tempos depois o José Jorge Letria, considerado para Maria Dulce, um dos maiores poetas contemporâneos, resolveu escrever um monólogo para ela representar, Das Tripas Coração, com música de outro amigo, o Samuel. Pediu ao António Machado para dirigir a peça “Uma encenação brilhante”, diz-nos. Foi, com esta peça, a muitas cidades e vilas deste país e correu sempre muito bem. Esta tentativa serviu para a por à prova e saber se seria capaz de manter os espectadores atentos ao seu trabalho durante hora e meia, sozinha em cena. Felizmente deu certo! A estreia teve lugar no Teatro Àdóque, em Maio de 1980.

Maria Dulce faz questão de salientar, “que se tratava de um monólogo que falava da situação da mulher trabalhadora, dos seus problemas como mulher, mãe, companheira e resistente, focando os problemas da guerra colonial”.

Aquando da estreia no Àdóque, Manuela de Azevedo, pronunciava-se no “Diário de Notícias”, sobre a interpretação de Maria Dulce, da seguinte forma: “Maria Dulce que é actriz dominadora tendo na mão até ao fim (em crescendo) um público que é mais do que militante, é comovente na sua sinceridade, correndo ao palco, a chorar, abraçando a intérprete. Uma festa, enfim, que não se apagará com o que vai regressando ao cenário do presente.

E, enquanto lá fora os sinos repicam vitoriosos e o povo silencioso continua a desfilar, lá dentro a actriz «de mão cheia» que fala a outro povo a sua própria linguagem, diz com ternura e malícia: «se gostaram digam aos amigos…»”.

Em 1980 foi convidada pelo Ministério da Cultura de Angola, para fazer uma série de recitais de poesia, com maior incidência nos poetas angolanos. Que alegria! Como ela gostou de lá voltar. Estava tudo muito diferente, é certo, mas muito mais rico em humanidade, em igualdade. Deu recitais em Luanda e em várias cidades do Sul de Angola.

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7. O Trabalho em Televisão

“Obrigada a quem me vai dando trabalho para me manter”

Maria Dulce

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No campo da sua participação em televisão, referimos a integração na peça, O Rapto, realizada em 1964, seguindo-se: Pensão Vitalícia, em 1965; Trilogia das Barcas, 1969; e Solteirões, apresentada no ano de 1998.

Ao nível de séries e telenovelas, Maria Dulce iniciou-se em, As Aventuras do Carlos e da Lena, uma série em que contracenava com Artur Semedo, tendo apenas estes como artistas. Em 1984 integrou o elenco de Chuva na Areia e Passarelle.

No início de Outubro de 1992, integra o elenco fixo, que vai produzir, A Grande Noite, projecto de autoria de Filipe Lá Féria e de Teresa Guilherme, produzido pela R.T.P. Esta série de programas, dedicados ao grande espectáculo de revista e filmados no Teatro Variedades, teve como elenco fixo, nomes de artistas, como João Baião, Joaquim Monchique, Ana Zanatti, Maria Dulce, José Manuel Rosado, Rita Ribeiro, Alda Pinto e São José Lapa. Os programas eram vistos por milhares de pessoas, estando, ainda hoje, na memória de muitos.

Um dia recebe um telefonema da RTP-Porto a pedir-lhe para ir lá fazer um teste para um trabalho. Uma série que já tinha começado a ser gravada mas que, por motivos imprevistos, a protagonista teria que ser substituída. Lá foi ela. E em boa hora! Chegou, fez o teste, com um realizador brasileiro que rapidamente seria convidado a sair e substituído por outro brasileiro, o Tony MouraMatos, uma pessoa com quem gostou muito de trabalhar. Ficou contratada. A série chamou-se, Os Andrades. Os colegas eram quase todos actores do Porto. Para alguns episódios, por indicação sua e do Tony, chamou-se alguns actores de Lisboa.

A RPT resolveu colocar o programa no ar à hora do almoço, em pleno Verão, sabe-se lá porquê?! Só que o tiro saiu-lhes pela culatra. Foi um êxito tal, que alcançou uma audiência fora do comum para aquele horário. Não sabe se foi por causa disto que a NBP a chamou para uma telenovela, O Primeiro Amor, como protagonista e, logo a seguir, Vidas de Sal, num papel que adorou fazer. Nesta novela contracenava com uma grande senhora do teatro português, Mariana Rey Monteiro, e com o Mário Pereira, que infelizmente já não está entre nós, actor que Maria Dulce tinha contratado para o seu filme, A Luz Vem do Alto.

Quando esta ultima novela acabou, lá foi, de novo para o Porto, fazer a segunda série de, Os Andrades. Ela sabia que isto ia acontecer. Tinha-o previsto. O êxito tinha sido muito grande.

Ao fim de quatro meses volta para Lisboa e fica, mais uma vez, no desemprego. Passado um ano é chamada, de novo, à NBP para interpretar a personagem Laurinda, em Os Lobos, em 1998, e, a seguir a de Benvinda Matos, em A Lenda da Garça, 1999, contracenando com essa enorme actriz e querida amiga, Cármen Dolores.

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A seguir...quase dois anos no desemprego. Às vezes pensa que, não sabe se valerá a pena esforçar-se tanto para fazer o melhor possível; para dar tudo por tudo; ser cumpridora de horários, estudar, saber os textos, ser disciplinada. Acha que nada disso, hoje em dia, tem valor, se já não tiver 90x60x90, as medidas ideais para se fazer televisão. Actriz? Para quê? Isso está fora de moda! A não ser que se tenha tirado assinatura de permanência..., pensa.

Ao fim desses dois anos de pausa, surge o, Anjo Selvagem. As gravações duraram mais de um ano. Um grupo de colegas amigos, entre eles o Henrique Canto e Castro e essa saudosa actriz Isabel de Castro. Interpretou a personagem de Madre Superiora.

Novamente o desemprego. É duro, acreditem! Maria Dulce não é, como se diz na gíria, uma “canastrona”, porque tem a lucidez e a consciência do que vale. Vê o seu trabalho, quando passa no pequeno ecran, e não se arrepende do que fez.

Após mais um ano e meio, (já era um hábito!) surge, Baía das Mulheres, no papel de Piedade. Ainda hoje e, a exibição da novela já acabou há algum tempo, as pessoas, na rua, falam-lhe da sua personagem. É bom! Fá-la sentir-se bem! O público recompensa o seu esforço, as suas angústias, a sua frustração!

Mais um tempo longo de paragem, antes de chegar a telenovela, Dei-te Quase Tudo. Acha que estas constantes paragens são extremamente desagradáveis e penosas, num país onde os artistas têm uma reforma miserável, sem saberem, de todo, o que lhes reserva o futuro: “É triste como este país, não: estes governos... tratam os seus artistas!”, salienta Maria Dulce. E continua: “Também, a verdade, é que os nossos produtores de TV preferem, acima de tudo, as jovens bonitas, que sejam sexys e põem de parte as actrizes que, por terem rugas (de vivência e de experiência...) já não ficam tão bonitas na imagem. E a interpretação onde é que fica? Às vezes sem querer sou obrigada a fazer a comparação com as novelas brasileiras; em todas elas há gente jovem, mas sempre, apoiada por actores e actrizes mais velhos, que lhes dão o suporte e a experiência da vida e das tábuas. Mas, também é verdade, que alguns jovens chegam à televisão sem humildade e sem aceitarem as nossas sugestões, chamando-nos antiquados”.

Mas, Maria Dulce não quer, no entanto, generalizar. Quer destacar aqui três jovens com quem trabalhou ultimamente que foram um modelo de humildade e de vontade de aprender: a Cristina Homem de Melo, a Ana Brito e Cunha e a Sílvia Balanche, e isso sentiu-se no seu trabalho em conjunto. Por isso a gente na rua dizia: “A Piedade e as suas meninas...”

Na telenovela Dei-te Quase Tudo, desempenha o papel de Firmina. Sobre ela, Maria Dulce, diz-nos o seguinte: “Dei-te Quase Tudo tem, na verdade, sido uma experiência muito agradável, por vários motivos: porque

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voltei a fazer novela, de que gosto muito, porque voltei à N.B.P. que tem sido a única produtora a acreditar no meu trabalho, porque faço um texto de uma pessoa que admiro muito, o Tozé Martinho e… finalmente, porque estou permanentemente a trabalhar com um grupo de jovens com quem me identifico. Sei que as rugas estão visíveis, mas, o espírito considero-o ainda com uma certa juventude. Esta convivência tem sido óptima! Não sei o que o futuro me reserva -, ninguém sabe! – mas espero que, vivendo eu no Alentejo, ainda possa dizer …. “as árvores morrem de pé!” Confesso-lhe que as maiores bênçãos que Deus me poderia dar, seria acabar os meus dias em cima de um palco.

Neste último trabalho, não sei se os mais jovens conseguiram, ou quiseram, aprender alguma coisa comigo, mas eu, confesso, aprendi muito com eles”.

Para encerrar este capítulo da sua carreira gostaria de falar do abandono a que a votaram o Cinema e o Teatro. Foram, ambos, como ela costuma dizer: “Amantes que me traíram!”

Na poesia, tem a consciência de que, quando aparece, o público acarinha-a mas a verdade, é que cada vez aparece menos a dizer poesia e é algo que ela adora fazer!: “Mas as Câmaras Municipais deste país, não sabem nada, não conhecem nada, os pelouros da cultura desconhecem a matéria prima que têm ao seu dispor...”, desabafa.

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8. O Lado Sentimental – Namoricos e Paixões

“Os sentimentos são as ameias da Alma.”

António Ferro

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A sua vida amorosa, foi muito rica. Muito cheia de emoções e de aventuras. Correram muitas notícias sobre os seus casos amorosos. Umas vezes verdade, muitas vezes invenções. Segundo Maria Dulce, era mais pela sua rebeldia. Mas, aí vai!

Aqueles namoricos, sem grandes consequências, mas que, apesar de tudo, nos marcam pela vida fora, de preferência rapazes mais velhos, que lhe dessem mais experiência, mais vivência, quem sabe se à procura de um irmão que não teve e de que sempre sentiu a falta. Mas de todos, houve dois, de quem guarda, ainda hoje, uma recordação viva e cheia de ternura.

Um toureiro mexicano. A imprensa de todo o mundo taurino, considerava-o “o morto vivo”. Tinha sofrido uma violenta cornada na boca e esteve durante meses, entre a vida e a morte. Conheceu-o num consultório dentário. Pode-se dizer, que foi amor à primeira vista. Acompanhou-o durante muitos meses, ajudando-o em tudo o que pode e sofreu com ele e por ele. Um certo dia, num passeio pelo parque do Retiro, em Madrid, ele pediu-a em casamento. Ficou confusa e não soube o que responder. Ela não tinha a certeza se o que sentia por ele era amor ou compaixão, ternura, ou simples afecto. Respondeu-lhe que ia pensar. E pensou! A sua resposta foi negativa. Fê-lo sofrer, mas foi melhor assim. A profissão dele, punha-lhe os cabelos em pé, mesmo adorando ela touradas. O namoro acabou mas...a amizade continuou por muitos anos. Maria Dulce pensa que é sempre bom nós sermos leais, sinceros e se assim formos, as amizades perduram sempre!

Um outro amor, foi um fotógrafo, considerado um dos maiores da Europa. Pelo seu estúdio passavam as maiores vedetas mundiais que visitavam ou vinham trabalhar em Madrid. Chamava-se Vicente. As suas melhores fotos, foram tiradas por ele. Era seu amigo, seu companheiro, a única pessoa em quem ela confiava, tirando os seus pais, claro! Um dia no seu estúdio, ele disse-lhe: “Maria...queres casar comigo?” Foi tudo tão inesperado que a única reacção que teve, foi começar a rir. Ela gostava muito dele, mas não lhe apetecia casar; não queria prender-se, queria continuar a ser livre, a fazer o que muito bem lhe apetecia. Já muitas vezes se arrependeu desta sua atitude, acreditem, pois sabe que o magoou e que ele não merecia. Nestes assuntos, Maria Dulce, era um bocadinho inconsciente e estava deslumbrada com o sucesso. Feriu-o e ele chorou. Não gostou de o ver chorar mas o mal já estava feito e ela nunca voltava com a sua palavra atrás. Pediu a ajuda da “mãe Olga” como ele lhe chamava, mas não deu resultado porque ela não se quis envolver neste assunto. Uns meses depois, receberam um convite para o casamento dele. Maria Dulce sebe porque é que ele tomou esta atitude repentina...mas foi

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melhor assim! Foi madrinha do seu primeiro filho e, ficaram amigos para sempre, como diz a célebre canção.

Ainda em Espanha apaixonou-se por um homem 20 anos mais velho do que ela. Mas não parecia: “porque era muito ginasticado e até bonito”, segundo Maria Dulce. O encontro foi casual. Ele era luso-brasileiro e queria à força casar com ela e levá-la para o Brasil, onde vivia. Ela estava louca, estava disposta a tudo, ela gostava de homens mais velhos, mas os seus pais abriram-lhe os olhos: “O que eu sofri, Santo Deus! Mas o tempo faz milagres! Nunca mais soube nada dele”, relata-nos.

Alguns anos depois, foi no Porto, que um caso de paixão se tornou muito sério. Conheceu-o da forma mais insólita.

Estava um homem na frisa do Teatro Sá da Bandeira, todas as noites. Ela só tinha olhos para ele sofrendo a inveja das suas colegas. Grandes cestas de flores, todas as noites, no camarim. Perseguições de carro, até ao hotel, almoços, prendas, etc. Acompanhou-a na sua primeira viagem à África aparecendo de surpresa a bordo. Parecia um sonho! Mas este sonho acabou em Luanda e por motivos totalmente imprevistos para Maria Dulce, e tão sórdidos que não quer nem lembrar-se deles. Houve uma tentativa de recomeço em Lisboa, mas não resultou.

Surgiu o António Machado e, apesar de toda a gente a avisar, que este caso não iria dar certo, ela, teimosa como sempre foi, não deu ouvidos a ninguém. Acabou com tudo o resto, e num dia de Outubro de 1977. A cerimónia teve lugar em Oeiras. Assistiram a esta união vários convidados, nomeadamente Rogério Paulo, Morais e Castro, Linda Silva, José Viana, Dora Leal, Ivone Silva, Jaime Osório, Fernanda Franco, Carlos Graça e Artur Ramos.

Enfim, quanto a amores, ficamos por aqui, porque das consequências de tudo isto, Maria Dulce não quer nem falar. Isto é só a amostra do muito que ela amou mas, como disse o poeta Carlos Drumon de Andrade, “SÓ SE APRENDE A AMAR...AMANDO!”

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9. Vida Social em Madrid

“É saudável sentir a satisfação e a harmonia dos outros, quando a nossa vida é o nosso atelier de Artista”

Luciano Reis

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A sua vida social, em Madrid, foi sempre muito cheia, muito rica, muito completa. Muitas estreias, muitas festas, muitos convívios, muito...de tudo. Com que saudade ela se lembra desses tempos! Ela não parava. Não havia festa, estreia, recepção para as quais não fosse convidada. Teve o privilégio de conhecer algumas das maiores vedetas do cinema mundial: Sofia Loren, Frank Sinatra, Gina Lolobrigida, Rock Hudson, Brigite Bardott, Maria Feliz, Dolores del Rio e muitas mais que agora não recorda. Ah, vou falar-vos da Ava Gardner que vivia em Madrid num maravilhoso palacete chamado “La Bruja”. Em casa dela passou horas maravilhosas.

Sabem porque conheceu e conviveu com alguns destes “monstros sagrados” da sétima arte? Eu conto.

Maria Dulce sempre gostou muito de escrever e, então, do que é que ela se havia de lembrar? De ser jornalista. Neste campo, e antes de continuarmos, Maria Dulce quer fazer uma referência, com um misto de saudade, a esse grande profissional de quem foi amiga, o Rolo Duarte, o primeiro a escrever sobre ela as coisas mais bonitas que se podem escrever de alguém.

Continuando, Maria Dulce foi, então, correspondente, em Madrid, das revistas “Plateia” e “Estúdio”. Já não existem. Como já vos disse, ela estava em todo o lado (ela era muito brincalhona, muito alegre...) nas recepções a essas figuras, era fácil ela poder agarrar entrevistas em primeira mão.

Lembra-se de uma, que foi difícil, mas foi a que, por isso mesmo, lhe deu maior prazer. Foi com a Dolores del Rio. Mexicana e era, realmente, uma vedeta internacional, uma grande senhora e que bonita que ela era! Quando chegou a Madrid, não queria dar entrevistas, Hospedou-se no Hotel Hilton e Maria Dulce inventou, com a cumplicidade de um dos gerentes, um truque. Vestiu um uniforme de empregada de quartos e lá fui ela para a suite da estrela. Só não conseguiu levar fotografo (o que aconteceu mais tarde) dada a vigilância que havia. Bateu à porta, entrou, começou a fingir que arrumava e, de repente, ela olhou Maria Dulce e disse-lhe que ela era muito novinha para ser criada. Então, dada a sua extraordinária simpatia, Maria Dulce não teve coragem de continuar a fingir. Contou-lhe a verdade. Ela achou piada e concedeu-lhe a entrevista que saiu nas páginas centrais, com capa, na revista “Estúdio”. E ainda foi convidada por ela para almoçar. Os outros colegas não se calaram durante muito tempo, com esta história e, por vezes, pediam-lhe para ir com eles, para ser mais fácil o acesso às vedetas. Bom... foi mais um episódio da sua vida, que achei piada contar-vos.

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Ela sempre foi muito responsável, sabendo sempre qual era o seu limite, como mulher e como actriz. O caso que vos conto agora, passou-se ainda em Madrid. O seu produtor, o maior de Espanha, Cesário Gonzalez, um certo dia telefonou-lhe e pediu-lhe para ir jantar com ele, pois tinha um negócio a propor-lhe. Ela foi, claro! Eram naturais estas situações. Foram a um restaurante “chiquérrimo”, nos arredores de Madrid. Então, a proposta dele era: um contrato de três anos, fazendo o seu lançamento por toda a América Latina, como já tinha feito antes com a Carmen Sevilla, Paquita Rico, entre outros actrizes. Teria tudo pago, programas nas televisões, entrevistas, um guarda-roupa a seu cargo, tudo o que fosse necessário e, claro, sempre com ele por todo o lado e com uma secretária que ele mesmo designaria. Era lindo este projecto. Aliciante! A fama além fronteiras, o lançamento com que muitas actrizes sonhariam. Pois é... mas ela disse que não! A condição era, também, ela viver com ele durante todo esse tempo, aparecerem juntos em todo o lado e, Maria Dulce seria uma estrela de um dia para o outro. O sonho da Cinderela! Mas ela disse que não! Mais tarde e, com mais experiência, acreditem que se arrependeu. Ela poderia ter conduzido o assunto de uma outra forma.

Continuou a sua carreira, trabalhando para ele, sem rancores. Não ficou na lista negra, como teria acontecido em Portugal, porque lá não se misturavam “alhos com bogalhos”.

É bom, agora, recordar tudo isto!

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10. Situações Dolorosas da Sua Vida

“A pior coisa que uma pessoa pode fazer na vida é fugir de si mesmo;

mais cedo ou mais tarde alcançar-se-á e... ainda por cima cansado.”

Autor desconhecido

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Houve três situações muito dolorosas na vida de Maria Dulce, que nada nem ninguém poderão sanar e que ficarão na sua memória enquanto ela viver.

A primeira foi num dia horrível quando, depois de um aborto espontâneo, ela soube que nunca mais poderia ter filhos. Ainda hoje e, já lá vão muitos anos, não há um só dia em que não pense que, quando ela partir, não ficará ninguém para a recordar. Talvez este livro! Talvez!

A outra dor imensa, foi a perda da sua querida mãe: a sua amiga, a sua confidente, a sua irmã mais velha, que tanta falta lhe faz. Preferia ter sofrido tudo, menos isto.

A sua revolta é tão grande quando pensa que por esse mundo fora se gastam milhões para ferir, para matar, para envenenar a Humanidade; que tantos objectos de destruição saem de cabeças privilegiadas de génios e que essas mesmas cabeças, que inventam tudo, não tenham sido capazes de por termo a esse flagelo que transporta consigo, tanta dor e tanto sofrimento. Anos mais tarde a perda do seu querido pai que a apoiou até ao último momento. Podemos ter muitos desgostos na vida, mas a perda dos nossos pais, não há nada que a apague!

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11. O Camarim

“Entre o teatro e a sua crítica, como entre os espectáculos e o público,

há lugar para um diálogo prolongado e fecundo.”

Bernard Dort

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Maria Dulce teve um bar-restaurante em Lisboa, juntamente com o seu marido António Machado e José Jorge Letria.

Situado na rua Heliodoro Salgado, com início de actividade em 1984, foi um espaço com uma dinâmica e pluralidade artística digna de registo. As segundas-feiras eram dedicadas ao convívio e ao diálogo entre os amigos da casa, num ambiente onde se podia conversar até às tantas da madrugada. As terças-feiras, eram dedicadas a novos artistas; às quartas e quintas-feiras eram apresentados artistas conhecidos do grande público.

Neste espaço passaram, entre outros, Carlos Alberto Moniz e José Jorge Letria; Maria Dulce com vários espectáculos, de poesia e café-teatro, como “O Conferencista”, baseado numa recolha de textos alemãs, feita por José Jorge Letria; e Paulo César com um espectáculo de “Café-Concerto”, entre tantos e tantos outros.

Em finais de Setembro de 1985, Maria Dulce comemorou ali os seus 35 anos de carreira, rodeada de muitos amigos e artistas consagrados. Para relembrar esse percurso usou da palavra o actor Rogério Paulo, que traçou, de uma forma exemplar, os passos da carreira de Maria Dulce. Depois Maria Dulce saboreou os presentes com a leitura de poesias de José Régio, Ary dos Santos e Florbela Espanca, entre outros poetas. Quem assistiu diz-nos que “foi uma festa bonita”.

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12. A Terminar

“Obrigada, governo português, pela reforma de miséria que me atribuiu”

Maria Dulce

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Muitas mais histórias haveriam para contar de Maria Dulce. Mas, vamos ficando por aqui. Neste livro relatamos factos que lhe vieram à memória, pessoas que recorda pelo lado bom e...pelo lado pior, porque se ela fosse contar tudo, 55 anos de carreira e 70 de vida, ninguém a aguentava.

Eu prefiro mil vezes que vocês digam: - “já acabou?”, do que... “ainda falta muito?”, ou fechar o livro e atirá-lo para bem longe! Claro, que ela pode, ainda, lembrar-se de pequenos casos, alguns engraçados, passados no Teatro.

Por exemplo: o grande mestre Assis Pacheco, quando fizeram uma comédia no Monumental, um dia, disse-lhe: “Prepara-te, porque eu hoje vou meter uma “bucha” em cena, muito engraçada. Não te desmanches!”. Maria Dulce ficou preparada. Quando chegou o momento o Assis Pacheco começou a rir, a rir, sem ela perceber porquê. Já nos bastidores, perguntou-lhe porque é que ele se ria tanto: “É que eu pensei na graça que te ia dizer e, deu-me imensa vontade de rir. Não fui capaz.”, disse.

Carnaval, no Teatro Capitólio. Como estavam todos os teatros a funcionar, os elencos visitavam-se, uns aos outros, com música e brincadeiras. Numa das sessões, o actor Humberto Madeira, que era muito divertido e, porque no Carnaval ninguém leva a mal, disse-lhe merda, em cena, (que é uma palavra que os actores dizem uns aos outros, para desejar sorte), mas que naquela altura, dita no palco, era motivo de grandes gargalhadas. Maria Dulce ficou tão envergonhada que até corou. Todos os dias ele a “picava” até que, no último dia ela disse a dita palavra para ele, mas tão baixinho que só ele ouviu. Então ele, em voz alta, comentou: “A Dulce disse merda”. Foi uma risada geral acompanhada com palmas.

O Eugénio Salvador (esse mago da revista) gostava, e sabia fazê-lo como ninguém, de dizer piadas fora do texto, os colegas respondiam e, por vezes, estava-se naquilo, algum tempo, com o público sempre a rir, e depois perdiam o fio à meada. Então o Salvador ia à caixa do ponto (ainda havia caixa naquela altura), pegava na peça e dizia: “Deixa ver, onde é que nós íamos?”. Então, a casa vinha abaixo!

Na sua peça de estreia em Lisboa, no Monumental, uma colega gostava muito de jogar a canasta, no camarim. Maria Dulce tinha um intervalo grande, creio que no segundo acto e, ficava a vê-los jogar e a aprender, mas sempre com atenção à cena. Uma noite...a bronca deu-se! O contra-regra foi chamá-la, para prevenção e Maria Dulce ficou à boca de cena, à espera da sua “deixa” para entrar e, como os colegas já estavam a improvisar para encobrir a sua falta, concretamente o Henrique Santana, a deixa nunca mais vinha. Maria Dulce disse para o contra-regra: “Olha... alguém está a faltar”, ele olhou para a Maria Dulce aflito e respondeu: “És tu!”

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Ainda me lembro de uma nota de Maria Dulce que eu penso ser engraçada.

Durante a sua adolescência, ela tinha um grande complexo: a altura. Gostava de usar saltos altos, mas como era excessivamente alta, as pessoas olhavam para ela na rua e ela não gostava muito. Este complexo só o perdeu quando, um dia, ficou lado a lado com a Sofia Loren. Aí, olhando para a altura dela, perdeu o complexo e, no dia seguinte, comprou os seus primeiros saltos altos.

Não posso nem quero terminar, sem vos falar da sua opção pelo Alentejo.

Escolheu o Alto Alentejo, um monte, perto de uma pequena aldeia, chamada Malarranha, no concelho de Mora.

Gosta de falar dele, esses bons alentejanos, novos e velhos, pela forma como a aceitaram e como a têm acarinhado. Com eles tem aprendido muito. Com a sua sabedoria popular e filosofia de vida. E até com as suas anedotas e ditos pitorescos. Tem passado com eles, no café Rato, com a boa amiga Teodora, momentos inesquecíveis.

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13. O Percurso Artístico

“Ao teatro só será, sem dúvida, possível assumir uma posição independente,

se se entregar às correntes mais avassaladoras da sociedade e se associar a todos os que estão necessariamente,

mais impacientes por efectuar grandes modificações neste domínio.”

Bertolt Brecht

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É, também, um dos nossos principais objectivos, contribuir para a criação de instrumentos preciosos sobre a história do espectáculo em Portugal. Por essa razão aqui fica um apanhado do percurso artístico de Maria Dulce, integrado nas fichas técnicas e artísticas de cada produção2.

13.1. Teatro Declamado

Teatro Avenida

NÃOTexto: Fernando Martinez Beltrán. Tradução do castelhano: Aníbal

Anjos e Maria Dulce. Interpretação: Maria Dulce e Rogério Paulo. Estreia: 1953.

PAPÁ PRECISA-SEInterpretação: Maria Dulce, Manuel Santos Carvalho e Artur Semedo,

entre outros. Estreia: 1960.

Gran Compañia Arte Dramatico Español

ANDRES DE URDANETATexto: Fray José Maria de Quintana e José António Medrano.

Interpretação: José Talavera, Miguel Navarro, Miguel Guijarro, Júlia Castellanos, Ricardo Alpuente, Maria Dulce, Juana Cáceres, Maria Orrellana, Pedro Valdivieso, Pablo Alvarez Rubio, Rafael Cores, José Montoya, José Canalejas, António Vicente, Juan Escribano, José Talavera, Mário Duque, Célia Foster, António Fernandez, António Ceballos e José Canalejas. Estreia: 1954.

EL CABALLERO DE OLMEDO

2 Não nos foi possível, embora fosse nossa intenção, apresentar-mos o mais exaustível possível, as fichas técnicas e artísticas de cada produção, por não termos conseguido junto dos Arquivos da Rádio Televisão Portuguesa e Sociedade Portuguesa de Autores elementos de algumas produções.

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Texto: Lope de Veja. Adaptação: José António Medrano. Interpretação: Ricardo Alpuente, José Canalejas, Juana Cáceres, Maria Dulce, Célia Fóster, Mary Cármen Vegros, António Ceballos, Rafael Cores, Pablo Alvarez Rubio, José Escribano, José Valdivieso e José Talavera. Estreia: 1955.

Gran Compañia de Comedias de Maria Dulce e Roberto Samsó

EL HOMBRE QUE MATO A NADIETexto: Horácio Ruiz de La Fuenta. Estreia: 1954.

Teatro Experimental de Cultura de Madrid

JUNO Y EL POVO REALEstreia: 1956.

Teatro Monumental

ELES, ELAS E OS MENINOSProdução: Vasco Morgado. Texto: André Roussin. Versão portuguesa:

Armando Cortez. Cenografia: Pinto de Campos. Encenação: Virgílio Macieira. Interpretação: Henrique Santana, Assis Pacheco, Irene Isidro, Maria Dulce, Maria Paula, Maria Shultz, Florbela Queirós, Virgílio Macieira e Álvaro Benamor. Estreia: 1959.

A RATOEIRATexto: Agatha Christie. Encenação: Carlos Wallenstein. Interpretação:

Rui de Carvalho, Maria Dulce, Rogério Paulo, Paulo Renato, Armando Cortez e João Villaret, entre outros. Estreia: 1960.

QUE MEDO SENHOR ALFREDOTexto: Claude Magnier. Interpretação: Armando Cortez, Maria Dulce,

Luís Alberto, António Machado, entre outros. Estreia: 1972.

CRIADA PARA TODO O SERVIÇOInterpretação: Laura Alves, Artur Semedo, Assis Pacheco, Maria

Dulce e Alma Flora, entre outros. Estreia: (década de setenta).

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Teatro Capitólio

FREI LUÍS DE SOUSA Texto: Almeida Garrett. Empresa: Rey Colaço-Robles Monteiro.

Encenação: Pedro Lemos. Cenografia: Baptista Fernandes. Interpretação: Rogério Paulo, Maria Dulce, Linda Bringel e Pedro Lemos. Estreia: 4 de Fevereiro de 1969.

O SEGUNDO TIRO Texto: Robert Thomas Empresa: Rey Colaço-Robles Monteiro. Tradução: Jorge Batalha.

Encenação: Varela Silva. Cenografia: Lucien Donnat. Montagem: J. Alves da Silva. Cenografia: Joaquim Santos. Interpretação: Maria Dulce, Paiva Raposo, Baptista Fernandes, Pedro Lemos e Varela Silva. Estreia: 13 de Junho de 1969.

A CELESTINA Texto: Fernando Rojas. Versão de: Alexandro Casona. Tradução:

David Mourão-Ferreira. Encenção: Cayetano Luca de Tena. Cenografia: Lucien Donnat. Interpretação: Amélia Rey Colaço, João Perry, João Mota, Maria Dulce, Manuela de Freitas, Fernando Louro, Glicínia Quartin e Paiva Raposo. Empresa: Rey Colaço-Robles Monteiro. Estreia: 28 de Março de 1970.

MOSTRA-ME A TUA PISCINAInterpretação: Maria Dulce, Victor Espadinha, Maria Laurent,

Fernanda Franco, António Machado, Diamantino Lopes e Barroso Lopes. Estreia: 1975.

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Teatro da Trindade

O DUELO Texto: Bernardo Santareno. Empresa: Rey Colaço-Robles Monteiro.

Encenação: Varela Silva. Cenografia: Lucien Donnat. Fundo Musical: Fernando Ribeiro. Sonoplastia: Leonel da Silva. Interpretação: Eunice Muñoz, João Perry, Henriqueta Maia, Cecília Guimarães, Maria Dulce, Elisa Lisboa, Fernando Loureiro, Meniche Lopes, Maria Joaõ Galope, João Manuel, Rui Represas e Rui Pedro. Estreia: 26 de Fevereiro de 1971.

Teatro Variedades

EMPRESTA-ME O TEU APARTAMENTOTexto: Ray Cooney e John Chapman. Encenação: Maria Helena

Matos. Interpretação: Paulo Renato, Maria Dulce, António Machado, Alina Vaz, entre outros. Estreia: 1971.

Teatro da Academia Almadense

A GRANDE JOGADAComédia musical de autoria de José Viana. Encenação: José Viana.

Música: José Viana. Cenografia: José Viana e Rogério Ribeiro. Figurinos: José Viana. Coreografia: José Viana. Interpretação: José Viana, Maria Dulce, Dora Leal, Rogério Paulo, António Anjos, António Machado, Carlos Ivo, Elisa Guisette, Jaime Osório, Manuel Coelho, Maria Alexandra, Maria Helena Silva e Gil Matias. Produção: Cooperativa de Teatro Popular de Almada em 1976.

O SEGREDO DO FAÍSCATexto: Augustin Cuzzani. Tradução e adaptação: Teresa Paulo.

Colaboração e canções: José Viana. Encenação: Rogério Paulo. Direcção musica: Victor Bonjour. Cenografia e guarda-roupa: José Viana. Interpretação: Rogério Paulo, Maria Helena Silva, Maria Dulce, Maria Alexandra, Carlos Ivo, António Anjos, Manuel Coelho, Dora Leal, Jaime Osório, Elisa de Guizette, Dina Maria, António Machado, Orlando Fernandes e Gil Matias. Estreia: 1977.

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Teatro Estúdio de Lisboa

TEMA E VARIAÇÕESTexto: Luzia Maria Martins. Encenação: Luzia Maria Martins. Estreia:

1978.

O PECADO DO SAIOTETexto: Kenneth Ross. Encenação: António Montez. Interpretação:

Carlos Santos, Maria Dulce, António Montez, entre outros. Estreia: 1978.

Casa da Comédia

FASTUDO! FAZ-TUDO!!!Texto e encenação: Filipe Lá Féria. Cenários e figurinos: Filipe Lá

Féria. Música: Miguel Sá Pessoa. Adereços: Jorge Sacadura, Fernando Gomes e Álvaro Espírito Santos. Chapéus: Rui Teixeira. Colaboração de vozes: Natália de Matos. Assistente de encenação: Maria José Belo Marques e António Cruz. Execução do cenário: Carlos Graça e Eduardo Guerreiro. Interpretação: Maria Dulce, Fernando Gomes, Rocha Santos, António Cruz, Medina, Maria José Belo Marques, Adelaide João, Filipe Crawford, Teresa Roby e Paulo César. Estreia: 1979.

Cooperativa CantarAbril

DAS TRIPAS CORAÇÃOTexto: José Jorge Letria. Música: Samuel. Cenários e figurinos: Mário

Alberto. Encenação: António Machado. Interpretação: Maria Dulce. Estreia: 1980.

Teatro Villaret

O LEITINHO DO NENÉProdução: Vasco Morgado. Texto: Alfonso Paso. Adaptação:

Henrique Santana. Encenação: Francisco Nicholson. Cenários: Miguel Sá Fernandes. Interpretação: António Montez, Maria Dulce, Carlos Miguel, Manuela Carlos, Noémia Costa, Rui de Sá, Jorge Nery, Licínio França e Rui Luís. Estreia: 1988.

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Teatro Sá da Bandeira

O HOMEM DO VESTIDO LILÁS Encenação: Morais e Castro. Interpretação: Badaró, Linda Silva e

Maria Dulce, entre outros. Estreia: 1990.

MULHER COM MARIDO LONGETexto e encenação: de Pedro Pinheiro. Cenário: Moniz Ribeiro.

Interpretação: Maria Dulce, Pedro Pinheiro, Bruno Rossi, Julie Sargeant, Maria João Carreira, Paulo Oliveira e Delfina Cruz. Estreia: 1991.

13.2. Teatro de Revista

Teatro Variedades

ENA… TANTAS!Empresário: Giuseppe Bastos e Fernando Martins. Textos: Aníbal

Nazaré, António Cruz e Paulo Fonseca. Música: Fernando Carvalho, Carlos Dias, Ferrer Trindade e Carlos Rocha. Interpretação: Carlos Coelho, Maria Dulce, Leónia Mendes, Helena Tavares, Lily Neves, Ausenda Miranda, Patrizia (vedeta italiana), Elvira Velez, Spina, Maria Adelina, Maria Natália, Milú Gouveia, Dina Maria, Gelu (atracão internacional), ballet Roany Dancers com Roberto e Martini e 12 bailarinas francesas. Estreia: 1963.

ZERO, ZERO ZÉ, ORDEM P’RA PAGARProdução: Guiseppe Bastos e Vasco Morgado. Textos: Paulo da

Fonseca e César de Oliveira. Música: Frederico Valério, Fernando Carvalho e Carlos Dias. Montagem: Hernâni e Rui Martins. Figurinos: Mário Alberto e Pinto de Campos. Coreografia: Paulo José. Interpretação: Florbela Queirós, José Viana, Carlos Coelho, Leónia Mendes, António Calvário, Maria Dulce, Óscar Acúrcio, Lily Neves, Clara Rocha, Linda Silva, Dora Leal, Orlando Fernando, Guida de Carlo, Maria Luizete, Odete Antunes, Sara Rocha e Gina Loureiro. Estreia: 1966.

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Teatro Capitólio

O QUE É BOM É P’RA SE VER!Produção: Guiseppe Bastos. Textos: Aníbal Nazaré, António Cruz e

Paulo da Fonseca. Música: Fernando de Carvalho, Carlos Dias, Ferrer Trindade e Carlos Rocha. Montagem: Rui e Hernâni Martins, e Mário Alberto. Interpretação: Nélia Paula, Eugénio Salvador, Maria Dulce, Carlos Coelho, Helena Tavares, Spina, Helena Vieira, Tininha de Oliveira, Orlando Fernandes, Milene Machado, Maria Natália, Dina Maria, Brione, Sandra, Odete Antunes, Maria Morena, Aurora Cruz, Juanita, Nicole, Maty, Elisabeth, Daniele, Catherine, Daniele, Claudy e Ana Maria. Estreia: 1963.

NA BRASATextos: Aníbal Nazaré, Eduardo Damas e Eugénio Salvador. Música:

João Nobre, Carlos Dias e Manuel Paião. Interpretação: Eugénio Salvador, Humberto Madeira, Florbela Queirós, Maria Dulce, Elvira Velez e Anita Guerreiro. Estreia: 1964.

AS GAROTAS SÃO O DIABOTextos: Nelson de Barros, Ribeirinho, César de Oliveira e Paulo da

Fonseca. Música: Fernando de Carvalho, Carlos Dias e Carlos Rocha. Interpretação: Aida Baptista, Maria Dulce, Helena Tavares, Eugénio Salvador, Carlos Coelho, Spina, Maria Natália, Júlio Martins, Milene Machado, Orlando Fernandes e Dina Maria. Estreia: 1964.

É CANJA Produção: Giuseppe Bastos. Textos de Aníbal Nazaré e Eugénio

Salvador. Música: João Nobre e Carlos Dias. Montagem: Hernâni e Rui Martins. Figurinos: Mário Alberto, executados nos guarda-roupas Paiva. Realização: Eugénio Salvador. Concepção balética: Mariano Franco. Interpretação: Aida Baptista, José Viana, Carlos Coelho, Eugénio Salvador, Florbela Queirós, Emílio Correia, Anita Guerreiro, Maria Alice Ferreira, Carlos Nascimento, Maria Dulce, Dora Leal, Dina Maria, Irene Lima, Maria Helena, Wilma Meneses, Humberto Madeira, Simone Maria, Odete Antunes, Aurora Cruz, Orlando Fernandes, Mitó e Trio Bossa Nova (atracção brasileira), bailarinas francesas Jacqueline, Michele e Lilia, bailarinos Arturo, Esteban, Ribas e Bastos, as modelos Gina Canado, Anita Roma, Maria José, Belinha, Maria da Luz, Virgínia, Tó e Fátima

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Verde, coristas e as bailarinas portuguesas Matilde, Mira, Vitaliana, Carmen e Clementina. Orquestra do maestro-compositor Carlos Dias. Estreia: 1965.

Teatro Sá da Bandeira

GOLO DO PORTOTextos: Abreu e Sousa e Paulo da Fonseca. Música: Fernando de

Carvalho e R. Dias. Estreia: 1963.

Teatro Maria Vitória

E VIVA O VELHOTextos: Aníbal Nazaré, António Cruz e Eduardo Damas. Música:

Manuel Paião e João de Vasconcelos. Interpretação: Camilo de Oliveira, Maria Dulce, Luísa Durão, Manuela Maria, Paula Ribas, Costinha e António Mourão. Estreia: 1965.

PÃO, PÃO… QUEIJO, QUEIJOTextos: Aníbal Nazaré, Eugénio Salvador e José Viana. Música: João

Nobre e Carlos Dias. Interpretação: Eugénio Salvador, José Viana, Maria Dulce, Mariema, Max, Anita Guerreiro e Dora Leal. Estreia: 1967.

VOTA VOTA CAMARADA ZÉ!Produção: Guiseppe Bastos. Textos: Aníbal Nazaré. Música: Tavares

Belo, João de Vasconcelos e Jorge Machado. Coreografia: Mariano Franco. Interpretação: Eugénio Salvador, Maria Dulce, Henrique Santana, Manuela Maria, Carlos Gonçalves, Daniel Garcia, Odete Antunes, Nela Duarte, Aida Gouveia, António Semedo, Luís Mário, Gina Marques, Nani, Vanda Maria e a tracção de Cidália Moreira. Estreia: 1976.

Teatro Monumental

ESTA LISBOA QUE EU AMOTextos: Aníbal Nazaré, António Cruz e Fernando Ávila. Música:

Frederico Valério e Fernando Carvalho. Direcção artística: Paulo Renato. Coreografia: Águeda Sena. Montagem: Pinto de Campos. Interpretação: Camilo de Oliveira, Maria Dulce, Io Apoloni, Carlos J. Teixeira, Nicolau

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Breyner, Simone de Oliveira, António Calvário, Linda Silva, Dora Leal, Delfina Cruz, Anabela, Aida Baptista e José Viana. Estreia: 1966.

Teatro Laura Alves

DENTADINHAS NA MAÇÃTextos: Eduardo Damas e José Vilhena. Música: Manuel Paião.

Estreia: 1974

Cooperativa de Teatro Popular/ Teatro da Academia Almadense

ATIRA O BARRETE AO AR Produção: Cooperativa de Teatro Popular de Almada. Texto: José

Viana. Encenação: José Viana. Música: José Viana e Vítor Bonjour. Cenografia: José Viana e Velez de Lima. Figurinos: José Viana. Coreografia: José Viana. Interpretação: José Viana, Maria Dulce, Dora Leal, Rogério Paulo, António Anjos, António Machado, Carlos Ivo, Elisa de Guisette, Jaime Osório, Manuel Coelho, Maria Alexandra, Maria Helena Silva e Conjunto de Jorge Nascimento. Estreia: 1977.

Sociedade Filarmónica da Amadora

AI A TÓLAProdução: Grupo de “Teatro Mestre Gil”. Textos: José Jorge Letria e

Pedro Pinheiro. Música: Carlos Alberto Moniz, Carlos Mendes, Samuel Nuno Gomes dos Santos e José Jorge Letria. Direcção artística: Maria Dulce. Interpretação: Maria Dulce, Pedro Pinheiro, José Manuel Rosado, Fernanda Coimbra e Manuel Mendonça. Concepção plástica: Francisco Ferreira de Almeida. Estreia: 1981.

12.3. Cinema

FREI LUÍS DE SOUSARealização e montagem: António Lopes Ribeiro. Assistente de

Realização: Manuel Guimarães. Fotografia: Aquilino Ribeiro e Mário Moreira. Som: Henrique Dominguez. Caracterização: José Maria Sanches. Música: Luís de Freitas Branco. Guarda-Roupa: Alberto Anahroz.

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Cenários: Frederico George. Interpretação: Maria Sampaio, Maria Dulce, Raul de Carvalho, João Villaret, Barreto Poeira, Tomás de Macedo, José Amaro, Maria Olguim, Jaime Santos e José Vítor. Produção: Lisboa-Filme no ano de 1950.

Filmes Realizados em Espanha

NUESTRA SEÑORA DE FÁTIMARealizador: Rafael Gil. Estreia: 1951.

SOROR INTRÉPIDARealizador: Rafael Gil. Estreia: 1952.

UN DIA PERDIDORealizador: José Maria Forqué. Estreia: 1954.

AL FIN SOLOSRealizador: José Maria Elorrieta. Estreia: 1955.

PIEDRAS VIVASRealizador: Raul Alfonso. Estreia: 1956.

Y ELIGIÓ EL INFERNORealizador: César Fernandez Ardavin. Estreia: 1957.

O HOMEM DO DIA Realização: Henrique Campos. Argumento: José Maud. Fotografia:

João Moreira. Caracterização: Aguiar de Oliveira. Cenários: Américo Leitão Rosa. Montagem: Isabel de Sá. Som: Henrique Dominguez. Interpretação: Maria Dulce, Alves Barbosa, Maria Pereira, Santos Carvalho e Celestino Duarte. Produção: 1957.

A LUZ VEM DO ALTO Realização: Henrique Campos. Direcção de produção: Jorge

Gonçalves. Fotografia: João Moreira. Caracterização: Aguiar de Oliveira. Cenários: Manuel Lima. Montagem: Pablo Del Amo. Som: Henrique Dominguez e Luís Barão. Supervisão musical: Jaime Mendes. Interpretação: Maria Dulce, Roberto Camardiel, Félix Fernandez, Fernando Curado Ribeiro, Fernanda de Sousa, Beatriz de Almeida, Maria Brandão,

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Joaquim Miranda, e uma canção interpretada por Manuel Fernandes. Produção: Internacional Filmes em 1958.

ENCONTRO COM A VIDA Realização, guião técnico, planificação e direcção de montagem: Artur

Duarte. Direcção de produção: Edmundo Ferreira de Almeida. Argumento: Maria Bárbara. Diálogos e versos: João da Silva Tavares. Sequência: Castão da Cunha Ferreira. Música de fundo e canções: Jaime Mendes. Fotografia: João Moreira. Cenários: Raul de Campos e Luís Rodrigues. Montagem: Pablo Del Amo. Caracterização: Augusto Madureira. Interpretação: Maria Dulce, Luz Veloso, Maria Olguim, Ana Paula, Elvira Velez, Fernanda de Sousa, Marina Zeicér, Rogério Paulo, Moron Rodrigues, Artur Agostinho, José Luis, Santos Carvalho, Júlio Cleto, Manuel Neves, Fernando Curado Ribeiro, Luis de Campos e Fernando Ávila. Produção: 1960.

FORBIDDEN FRUITRealizador: Thoir Brooks. Estreia: 1962.

AMOR DE PERDIÇÃO Realização e argumentação: Manoel de Oliveira, segundo o romance

homónimo de Camilo Castelo Branco. Fotografia: Manuel Costa e Silva. Cenários e figurinos: António Casimiro. Música: João Pães e extractos da Sonata Op. 5 de Haendel. Montagem: Solveig Nordlund. Som: Carlos Alberto, João Diogo e José de Carvalho. Interpretação António Sequeira Lopes, Cristina Hauser, Elsa Wallencamp, António Costa, Ricardo Pais, Ruy Furtado, Maria Dulce, Maria Barroso, Henrique Viana, Adelaide João, Lia Gama, Manuela de Freiras, Ana Colares Pereira, João Benard da Costa, Vanda França, Henrique Espírito Santo, João César Monteiro, Laura Soveral, Ângela Costa, Agostinho Alves, José Capela, Carlos Garcez, António Martins, Isabel Gonçalves, Maria Salomé, António Corte-Real, Luis Filipe Monteiro, Bebiana Victorino, Maria da Conceição e Duarte de Almeida. Voz off: Pedro Pinheiro e Manuela Melo. Produção: Instituto Português de Cinema/Centro Português de Cinema/RTP/Cinequipa e Tobis Portuguesa. Direcção de produção: Henrique Espírito Santo e Marcílio Krieger e António Lagrifa. Realizado em: 1976-1978.

RETALHOS DA VIDA DE UM MÉDICO

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Texto original: Fernando Namora. Argumento: Bernardo Santareno, Carlos Coutinho, Olga Gonçalves, Urbano Tavares Rodrigues e Dinis Machado. Realização: Artur Ramos e Jaime Silva. Produção: Fórum e Radiotelevisão Portuguesa. Coordenação histórica: Fernando Namora. Fotografia: Mário Barroso, Elso Roque e Teresa Tainha. Música: Fernando Lopes-Graça. Direcção de montagem: Artur Ramos. Direcção de produção: Manuel Queiroz. Interpretação: José Peixoto, Adelaide João, Alina Vaz, Amílcar Botiga, Ana Paula, António Assunção, António Machado, António Rama, António Montez, Artur Semedo, Canto e Castro, Carlos Santos, Cármen Santos, Clara Rocha, Cremilda Dil, Dalila Rocha, Ermelinda Duarte, Eugénia Bettencourt, Fernanda Barreto, Fernanda Coimbra, Fernanda Lapa, Francisco Nicholson, Gilberto Gonçalves, Helena Isabel, Henrique Viana, Ivone Silva, José Viana, Josefina Silva, Leónia Mendes, Linda Silva, Lourdes Norberto, Márcia Breia, Maria Dulce, Rogério Paulo, Rui de Carvalho, Ruy Furtado, Rui Mendes e Virgílio Castelo. Realizado em: 1978-1979.

13.4. Televisão

13.4.1. Teleteatro

O RAPTORealização: Fernando Frazão. Interpretação: Maria Dulce, Joaquim

Rosa e Fernando Gusmão, entre outros. Estreia: 1964.

PENSÃO VITALÍCIAInterpretação: Maria Dulce, Manuel Lereno e Henrique Santos.

Estreia: 1965.

D. GIL VESTIDO VERDEInterpretação: Maria Dulce, Irene Cruz, entre outros. Estreia: (década

de sessenta).

TRILOGIA DAS BARCASTexto: Gil Vicente. Adaptação: Luiz Francisco Rebello. Realização:

Artur Ramos. Encenação: Rogério Paulo. Produção: Radiotelevisão Portuguesa. Cenários: Moniz Pereira. Música: Fernando Lopes-Graça e

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Louis de Maester. Produtor: Luiz Francisco Rebello. Interpretação: Rogério Paulo, Victor de Sousa, Maria Dulce, Baptista Fernandes, Célia de Sousa, Mário Jacques, Luís Cerqueira, Alexandre Vieira, Alexandre Careto, Nicolau Breyner, Fernanda Borsatti, Santos Manuel, Óscar Acúrcio, Isabel de Castro, António Montez e António Augusto. Data de emissão: 26 de Novembro de 1969.

SOLTEIRÕESInterpretação: Maria Dulce, Victor Norte, Ana Bustorfe, Maria João

Abreu e João Melo, entre outros. Estreia: 1998.

12.4.2. Telenovelas e Séries

AS AVENTURAS DO CARLOS E DA LENAInterpretação: Maria Dulce e Artur Semedo. Estreia: (início da década

de sessenta).

CHUVA NA AREIAProdução: RTP. Direcção de produção: Paulo Morais. Texto: Luís se

Sttau Monteiro. Realização: Nuno Teixeira. Cenografia: Conde Reis. Autoria das Canções: José Niza, Fernando Girão, Pedro Osório, José Luís Tinoco e Alexandre O’Neill. Interpretação: Virgílio Teixeira, Mariana Rey Monteiro, José Viana, Natália Luísa, Manuela Maria, Carlos Wallenstein, Rogério Paulo, Laura Soveral, Maria Dulce, Filipa Cabaço, Isabel Nunes, Jorge Campos, Nuno Melo, António Lopes Ribeiro, Armando Cortez, Manuel Cavaco, Mário Sargedas, Rui Pedro, Rui Mendes, Carlos César, Glicínia Quartin, Adelaide João, António Montez, Mariana Vilar, António Lopes Ribeiro, Amílcar Botica, António Montez, Baptista Fernandes, Cunha Marques, Óscar Acúrcio, Alina Vaz, Maria Cristina, António Salgueiro, Asdrúbal Teles, Baptista Fernandes, Cunha Marques, Eduardo Viana, Jorge Campos, José de Carvalho, Luís Pinhão, Rui Luís, António Rama, Carlos Daniel, Elizabet Camacho, José Maria Forjaz, José Gomes, Maria Salomé e Henrique Viana. Estreia: 1984.

PASSERELLETexto: Rosa Lobato Faria e Ana Zanatti. Realização: Nuno Teixeira.

Interpretação: Júlio César, Maria Dulce, entre outros. Produção: Edipim para a RTP. Estreia: 1988.

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A GRANDE NOITEProdução: RTP. Projecto de: Filipe Lá Féria e Teresa Guilherme.

Interpretação: João Baião, Joaquim Monchique, Ana Zanatti, Maria Dulce, José Mnauel Rosado, Rita Ribeiro, Alda Pinto e São José Lapa, entre muitos outros. Estreia: 1992.

O PRIMEIRO AMORTexto: Manuel Arouca. Produção: NBP. Realização: Álvaro Fugulin e

Lourenço Mello. Direcção musical: Paco Bandeira. Interpretação: Maria Dulce, Filipe Ferrer, Henriqueta Maia, Nicolau Breyner, Rita Salema, Pedro Bórgia e Sofia Sá da Bandeira, entre outros. Ano de estreia: 1996.

VIDAS DE SALAutores: Tozé Martinho, Sarah Trigoso e Cristina Aguiar. Realização:

Álvaro Fugulin e Lourenço Mello. Direcção artística: Nicolau Breyner. Produção: Pedro Miranda. Cenários: Raul Neves. Figurinos: Teresa Alves. Interpretação: Mariana Rey Monteiro, Lurdes Norberto, Cremilda Gil, Manuela Maria, Patrícia Tavares, Vera Mónica, Carlos César, Canto e Castro, Mário Pereira, Patrícia Tavares, Virgílio Castelo, Simone de Oliveira, Maria Dulce, Sofia Alves, Carlos Santos, Helena Laureano, Sofia Grilo, Rodolfo Neves, Armando Cortez, Mónica Marta, Nicolau Breyner, Marques D’Arede, Helena Isabel, Guilherme Filipe e Mancantónio Del-Carlo, entre outros. Ano de estreia: 1996.

OS ANDRADES Produção: RTP/Porto. Autores do guião: Álvaro Magalhães e M. A.

Mota. Interpretação: Maria Dulce, Carlos César, Simone de Oliveira, Luísa Barbosa e José Pinto, entre outros. Ano de estreia: 1997

OS LOBOSTexto: Francisco Nicholson. Realização: Jorge Cardoso e Lourenço de

Mello. Interpretação: Sinde Filipe, Paula Mora, Sylvie Rocha, Guilherme Filipe, Diogo Infante, Ana Brito e Cunha, Paulo Matos, Maria Amélia Matta, João Lagarto, Patrícia Tavares, Cármen Santos, Manuel Coelho, Carlos Quintas, Cucha Carvalheiro, António Pedro Cerdeira, Mané Ribeiro, Pedro Lima, Henrique Viana, Manuela Maria, Sofia Alves, Maria João

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Luís, Maria Dulce, Vieira de Almeida, Carlos César, Fernanda Serrano, Armando Cortez, Cristina Areia, Paula Neves, Sílvia Rizzo, Joaquim Guerreiro, Ana Maria Lucas, António Aldeia, Patrícia Brito e Cunha, Benjamim Falcão, Manuel Castro Silva, Nuno Santos, Viviana Lopes, Ricardo Trepa, Maria João Miranda e Júlio Cardoso. Ano de estreia: 1998

A LENDA DA GARÇAAutores: Paula Mascarenhas sobre uma ideia original de Victor Cunha.

Direcção geral: Nicolau Breyner. Realização de estúdio: Jorge Cardoso. Realização exterior: Jorge Cardoso e António Moura Matos. Interpretação: Cármen Dolores, Natália Luíza, Ana Bustorff, Patrícia Tavares, Sofia Monteiro Grilo, Pedro Grangel, Luís Esparteiro, André Gago e Maria Dulce, entre outros. Ano de estreia: 1999.

CONDE D’ABRANHOSTexto: Eça de Queiroz. Adaptação: Moita Flores. Produção:

Antinomia Prods. Música: Paço Bandeira. Interpretação: Maria Dulce, Sofia Alves, Nicolau Breyner, Pedro Górgia, Paulo Matos, João d’Ávila e Rui Luís, entre outros. Estreia: 2000.

ALVES DOS REISProdução: RTP. Texto: Moita Flores. Interpretação: Rui Luis Brás,

Sofia Duarte Silva, Paulo Pinto, Filomena Gonçalves, Henrique Viana, Maria Dulce, Manuela Maria, Armando Cortez, Rui Mendes, António Montez e Benjamim Falcão, entre outros. Estreia: 2000.

ANJO SELVAGEMAdaptação: Casa da Criação. Realização: António Moura Matos

(estúdio) e Carlos Neves (exteriores). Direcção de actores: Sílvia Rizzo. Produção: Fealmar. Música: Emanuel, Susana Félix e Vitorino. Interpretação: Paula Neves, José Carlos Pereira, Maria Dulce, António Pedro Cerdeira, Isabel de Castro, Alexandre de Sousa, Manuela Carona, Eduardo Viana, Sara Moniz, Manuel Cavaco, Paulo Luís, Madalena Bobone, Frederico Moreno, Carlos Areia, Teresa Tavares, Luísa Ortigoso, Pedro Giestas, Alexandre Ferreira, Marques D’Arede, Vera Alves, Márcia Leal, Canto e Castro, Cristina Cavalinhos e Cláudia Negrão. Ano de estreia: 2001.

BAIA DAS MULHERES

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Texto: Manuel Arouca. Produção: Luís Fialho Rico. Chefe de produção: Teresa Amaral. Realizadores de estúdio: André Cerqueira e Carlos Salgueiro. Realizador de exteriores: Lourenço Mello. Cenografia: Raul Neves. Figurinos: Juan Soutullo. Direcção musical: Ivan Coletti e Jan Van Dijck. Interpretação: Ana Paula, Cristina Homem de Melo, Tozé Martinho, Barbara Norton de Matos, José Carlos Pereira, Sílvia Balancho, Pêpê Rapazote, Tiago Mesquita, Catarina Guimarães, Maria Dulce, Ana Brito e Cunha, Sandra Faleiro, Rafaela Villa, Alexandre de Sousa, Guida Maria, Lourenço Tamagnini, Andreia Dinis, Sofia Grillo, Luís Alberto, Joaquim Nicolau, Maria Lúcia Galinha, Irene Cruz, Luís Mascarenhas, Henriqueta Maia, Rosa do Canto, Anabela Teixeira, Edmundo Rosa, Carla Maciel, André Patrício, Manuel Melo, Ricardo Castro, José Pedro Vasconcelos, Rita Seguro, João Arouca, João Lagarto, Beatriz Figueira, Ana Lúcia Chita e Cucha Carvalheiro. Ano de estreia: 2004

DEI-TE QUASE TUDO Interpretação: Fernanda Serrano, Maria João Luís, António Capelo,

Luis Esparteiro, Vera Kolodzig, Margarida Marinho, Lourdes Norberto, Pedro Granger, Cristina Cãmra, Maria Dulce, Marta Melro, Rita Pereira, Hélio Pestana, João Reis, José Eduardo, Paulo de Carvalho, Tareka, Gonçalo Diniz, Pedro Lamares, Daniela Ruah, Manuela Moreira, Henriqueta Maya, Estrela Novais, José Pinto, Glória Férias, Maria João Pinho, Cláudia Oliveira, Sandra Santos, Luís Mascarenhas, Luísa Ortigoso, Cândido Ferreira, Rute Miranda, Guilherme Peralta, Jorge Gonçalves, Orlando Costa, Joana Anes e Adriana Moniz. Estreia: 2006.

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14. Depoimentos e Citações

“Obrigada, meu Deus, pela vida que me Vais dando”

Maria Dulce

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“Ser artista em Portugal é coisa de semiloucos”

Maria Dulce,in “Diário de Lisboa”, de 28 de Setembro de 1985

“No princípio era o verbo – o verbo de amar. De amar os versos dos grandes poetas. Belo princípio!

A seguir, como dádiva de um deus artista, a doce “Maria” do “Frei Luís de Sousa” para a Dulce adolescente – Maria também de seu nome – ao lado de nomes grandes da nossa cena.

E veio o Teatro e o Cinema e a Rádio e a Televisão, e Portugal e Espanha, e a comédia e o drama e a farsa e a tragédia e a revista e os recitais de poesia, as ilusões e as desilusões, acima de tudo, a humildade de quem, cinquenta e tal anos depois, continua a interpretar a sua arte como aprendeu com os mestres e com os poetas – como um acto de amor incansavelmente vivido nos palcos.

Um grande, grande aplauso, se possível o maior, para a lealdade do teu trabalho, Maria Dulce!”

Pedro Pinheiro

“Estudei cinema, a sério, numa época em que se acreditava no talento e na seriedade das pessoas. Até certa altura vivi e estudei cinema com tal entusiasmo! Depois, percebi que tudo isso não era levado em conta”.

Maria Dulce,in “Rádio &Televisão”, de 27 de Dezembro de 1969.

“Para escrever estas linhas acerca de Maria Dulce tenho de recuar até 1966.

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Eu, já a admirava. Mas, fiquei faxinado ao ver o monólogo a “Última Corrida de Touros em Salvaterra”, integrado na revista, Esta Lisboa que eu Amo.

Quantas comédias e revistas sucederam. Quantos aplausos. Quantas noites auspiciosas. Quantos momentos de grande profissionalismo, demonstras-te com a

tua voz duma profundidade dramática ao dizeres poesia no teu (Camarim-Bar).

Por mim, obrigado.Maria Dulce!Mesmo que seja somente nas telenovelas continua a brindar-nos com

as tuas expressões e, esse teu olhar cintilante.”

António Fortuna(Agente Artístico)

“Adorava jogar à bola, andar de bicicleta, de brincar com os rapazes. Fui sempre uma maria-rapazona. O ter sido criança até muito tarde foi óptimo, porque amadureci mais conscientemente.”

Maria Dulce, in “Êxito”, de 17 de Outubro de 1985

“Minha querida Maria Dulce,

Vi-te pela primeira vez no filme “Frei Luís de Sousa”:Hoje quando a televisão repõe esse filme continuo a comover-me e a

admirar cada vez mais o teu desempenho. Foste arrebatadora porque eras ainda uma menina, tão bonita e tão dócil, mas já eras uma Actriz.

Parece que te estou a ver nos programas da APA no antigo Éden Teatro, com um vestido branco topo pomposo, tranças louras, olhos grandes e expressivos, a dizer poesia. Fazias parte do elenco residente ao lado de João Villaret e eu… cantava.

Anos mais tarde pisámos o mesmo palco, tu como Primeira Figura na revista “Dentadinhas na Maçã”, de Eduardo Damas e Manuel Paião, no também, extinto Teatro Laura Alves, uma actriz cheia e graça e uma mulher insinuante (alta, bonita), foste um sucesso, lembras-te?

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Obrigada pela noite de poesia (Florbela Espanca) no Teatro Gil Vicente em Cascais. O Teatro cheio, tu enchias o palco, sozinha em cena muito digna a dizer e a sentir os poemas como só tu sabes, saia preta, blusa branca, de quando em vez uma coreografia.

As maiores felicidades e a continuação dos maiores sucessos para esta Senhora do Teatro Português.”

Fernanda Baptista

“Existem determinadas pessoas que nos marcam para o bem e para o mal. Claro que para o bem a Maria Dulce marcou uma fase muito importante da minha vida quando profissionalmente e emocionalmente comecei a serenar o meu lado de menina e mulher. A ti Dulce obrigada por seres a prova viva de que vale a pena acreditar e pela amizade que mantemos, sendo tu uma pessoa que sempre admirei e respeitei muito.”

Ana Brito e Cunha

"Para mim a Maria Dulce está ligada à palavra MÃE.  Ela tem esse raro encanto, que quando representa, nos faz sentir, acarinhados e protegidos. Ela transmite essa doçura maternal, aliada a uma personalidade forte, vincada, lutadora. A Maria Dulce, através da sua arte já foi tudo na vida. Mas para mim como autor, a Maria Dulce além de ser um humano fantástico, é uma actriz  à qual lhe posso entregar qualquer tipo de sentimentos, e de emoções. Ela está pronta e disponível para todo o género de papéis: Mas para mim ela tem aquele carisma autêntico da MÃE.  E não é Portugal um país de  GRANDES MÃES”.

Manuel Arouca

“É Maria: generosa mãe de nós todos.É Dulce: a doçura da amizade.

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É Maria Dulce actriz inteira que nos olha na alma.”

Cristina Homem de Mello

“Não é de certeza o físico, que não me interessa grandemente, mas antes o carácter e a formação do homem. Não me interessa aquilo que as pessoas normalmente consideram sexy, os olhos ou a boca… para mim é sexy um homem com uma boa formação e um bom carácter isso sim, é importante. Quer um exemplo de um homem sexy? O meu marido”.

Maria Dulce, in “Nova Gente” de 7 de Novembro de 1984.

“Finalmente podemos todos saborear as histórias que iluminam o nosso olhar, o olhar dos mais novos. Histórias que nos inspiram e nos lembram que ainda temos muito que viver e aprender.

Ouvir a Maria Dulce é já por si uma lição de vida.Obrigada por partilhar a magia e a dor connosco”.

Vera Kolodzig

“Era o tempo em que tornava uma audácia a menina tentar a aventura fora da sua porta. Ela, essa menina de caracóis muito louros, apareceu repentinamente no cinema em «Frei Luís de Sousa» encantando meio mundo com sua juventude, seu encanto pessoal.

Foi uma pedrada no charco naquela altura em que tudo «era um escândalo» e o actor se via no «zoo». Maria Dulce cresceu menina e moça. Muito a medo foi subindo a difícil escadaria do «estrelato» português, barrando com empresários, autores e colegas de profissão.”

Carlos Castro, in “Êxito”, de 17 de Outubro de 1985

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“Uma chamada telefónica da RTP-Porto para a Maria Dulce pretendendo que ela desempenhasse um papel de sogra no sitcom “Os Andrades”: foi assim que começou a minha ligação a essa grande senhora do Teatro.

Trabalhámos muitos meses e cresceu a nossa amizade enquanto fui descobrindo um coração de ouro numa mulher que, amiga do seu amigo, percebe e ajuda quem a rodeia duma forma discreta e desinteressada.

Maria Dulce Parabéns por tudo aquilo que já fizeste e estou certo, continuarás a fazer.”

Pedro Souto e Castro

“Maria Dulce é a grande amiga que não é só eficiente naquilo que faz, como alguém em que confio e respeito.

É uma boa amiga e merece toda a minha gratidão por tudo o que tem feito e continua a fazer.

A sua vida tem sido pautada por valores que tinham já sido honrados pelos pais e pelos avós.

Maria Dulce é uma mulher forte e corajosa que encontra sempre a alegria e a força, riquezas de que jamais será despojada.

Maria Dulce é uma mulher íntegra amiga disponível a todas as horas, que mostra sempre uma serena coragem e que tem a resistência de uma grande actriz e a rara dimensão humana de quem nunca desiste ou abdica de um sonho.”

Maria Isabel Pinto Paixão (Amiga)

“Uma pessoa extraordinária que numa tarde me contou a sua história. Guardarei esta história para sempre!”

Daniela Ruha

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“Longe, muito longe vai o tempo da menina de longos cabelos dourados e rosto de boneca encantadora, que António Lopes Ribeiro foi buscar ao Conservatório para ser esteio singular no êxito de «Frei Luís de Sousa». Daí para cá, ao sabor dos altos e baixos de uma actividade nem sempre bem orientada, Maria Dulce tem vindo a consolidar prestígio, a coleccionar triunfos e algumas desilusões, ao longo de carreira persistente e acidentada. A sua incursão na revista é mais um acidente, mas é também mais uma reafirmação de valor que tarda em vincar-se definitivamente. Talento não lhe falta.”

Mário Marques, in “Plateia”, de 10 de Fevereiro de 1969

“MARIA DULCE: O SEU A SEU DONO

Maria Dulce ganhou um lugar no meu imaginário quando, sendo ainda criança, vi na televisão a adaptação cinematográfica da peça “Frei Luís de Sousa”, de Almeida Garrett. Estava então longe de imaginar que um dia viríamos a ser amigos e a partilhar inesquecíveis experiências artísticas e cívicas.

Ainda antes do 25 de Abril recordo-me de ter lido em jornais da época notícias sobre a sua carreira em Espanha e sobre os seus êxitos em espectáculos teatrais e filmes portugueses. Maria Dulce era, goste-se ou não do termo, uma vedeta que praticamente ninguém desconhecia.

Quando Portugal começou a conviver diariamente com a liberdade e com a democracia, encontrámo-nos nas andanças da política, da vida sindical e, naturalmente, da cultura. Escrevi para ela, nessa altura, o monólogo teatral “Das Tripas Coração”, em que estavam presentes temáticas como a Guerra Colonial. Fui testemunha do seu talento levado à cena, da sua obstinação, da sua solidariedade e da sua criatividade.

Não posso deixar de pensar no que se perdeu desse talento durante os anos em que esteve afastada dos palcos e dos ecrãs de televisão. Mas eu sei que ela não é pessoa para se deixar derrotar pela memória do que lhe foi negado.

Como seu amigo, fico contente por este livro ter sido publicado, porque é uma das formas de se fazer justiça a um nome importante do mundo do espectáculo em Portugal nas últimas cinco décadas. Um livro

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não é tudo, mas pode ajudar a que se faça luz sobre a importância de uma carreira relevante.”

José Jorge Letria

“Maria Dulce, - a meiga Jacinta do «Milagre de Fátima», - conquistou e cativou, por inteiro, as centenas de espectadoras, que lhe tributaram um acolhimento, acima de todas as expectativas, premiando duma maneira nunca testemunhada, nos nossos palcos, o recital de poesia, impregnado com o calor e talento da sua alma de artista consagrada. Foram intermináveis as salvas de palmas, a coroar, a sua galvanizante interpretação de poemas de João Villaret, (Como é diferente o amor em Portugal, O Fado Falado – e Recado a Lisboa). Retumbante a ovação, que se seguiu à declamação do poema «No Penedo da Saudade», criado por Aníbal Nazaré, e que calou fundo nos nossos corações de emigrantes”.

Ferreira Moreno (correspondente na Califórnia do “Diário Insular”, de Angra do

Heroísmo)

“Conhecemo-nos de pequenas e embora a nossa vida não tenha sidoparalela, porque trabalhámos em sítios diferentes, o que interessa é que te considero uma boa actriz, uma boa companheira, e uma profissional a sério. Sempre que nos encontramos nas novelas encontro-te sempre com o mesmo amor ao teatro, à novela e a tudo o que seja arte. Tens uma longa carreira que talvez não tenha corrido sempre pelo melhor mas não por culpa tua. Dás o que tens para dar e bem naquilo que fazes.

Dulce querida que o livro tenha sucesso! Que o nosso trabalho continue ainda por algum tempo e que a nossa vida, que é tão difícil, vá para a frente”.

Lourdes Norberto

“Do que me estou a lembrar de imediato foi a prestação da Maria Dulce na “Baia das Mulheres”. Fazia então de cozinheira, mais

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propriamente de governanta daquela casa em que eu e a Cristina Homem de Mello, vivíamos. Em cada sorriso de Maria Dulce podia ver-se o sorriso pelo bolo mais bem conseguido ou pelo arranjo de flores mais harmonioso. Em cada olhar mais preocupado podia sentir-se o desentendimento em que viviam os donos da casa ou o desnorte em que viviam os nossos filhos ou ainda os enganos em que eu frequentemente caía…

Depois, um ano e tal mais tarde, fez a Firmina em “Dei-te Quase Tudo”. O que aquela mulher passou, vivendo os desencontros da Joana, que adorava e conhecia desde pequena e o Rodrigo um rapaz do Porto por quem Joana se apaixonara. Os tormentos que ela viveu ficaram para sempre estampados no ecrã, com a manha de quem ajuda, com a firmeza de quem sabe estar dentro da razão. Com a experiência e a humanidade de quem tem filhos e de quem vive misturada com o bairro e com os problemas que por ali estavam sempre a passar-se…

A Maria Dulce não fingiu ser… a Maria Dulce, foi!É sempre essa a questão… ser ou não ser…É sempre essa a dificuldade… é sempre esse o desafio!

Escrever é deixarmos aos outros um pedaço de nós… pela minha parte, agradeço-te!

Três beijos”

Tozé Martinho

Maria Dulce

“A menina mais menina do cinema português.Era a menina mais loira e mais menina do cinema português.Chegou também pela mão de António Lopes Ribeiro, que todos nós

jamais esqueceremos.Começou por ser a “Maria de Noronha”, do Frei Luís de Sousa,

menina como ela mas muito mais problemática, porque vivia noutros tempos e não tinha a saúde da nossa heroína! Penso que foi a primeira vez, que esse papel surgiu desempenhado por alguém com a mesma idade da personagem.

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Quase a seguir abalou para terras de Espanha, onde se tornou vedeta. E, se lá tivesse permanecido, certamente, hoje veria o seu nome em grandes letras luminosas, na fachada de algum teatro da Gran Via.

O mesmo poderá dizer-se da nossa sempre querida Isabel de Castro.Mas ambas voltaram, para serem actrizes discretas no seu país.

Discretas, não por lhes faltar talento, mas porque aqui a dimensão é outra e pouco se aposta nos grandes nomes…

Fez comédia, revista, novos filmes e dedicou-se à declamação de poesia, não só aqui, como além fronteiras.

Villaret quis que o espólio de poemas do seu repertório lhe fosse entregue, por a considerar sua continuadora.

E, por fim, surgiu a televisão, onde hoje podemos sempre vê-la e admirá-la e onde, pela primeira vez contracenámos na novela “A Lenda da Garça”. Embora, já nos tivéssemos encontrado em muitos teatros radiofónicos…

Mas, assim, cara a cara, tive mais do que nunca, a oportunidade de verificar o seu talento e de constatar um profissionalismo, uma entrega e um entusiasmo que, eivados de uma saudável frescura, poderão servir de exemplo, a qualquer jovem que inicie agora a sua carreira.

E, que essa ideia feliz de escrever as “Memórias”, também seja um exemplo para outros colegas nossos que, igualmente, muito terão para contar.

Pois tudo isto servirá para melhor definir e dar a conhecer, quem se entrega a essa arte sublime, que é a arte de representar!”

Cármen Dolores

“Os ambientes são feitos pelos artistas e sinto-me tão bem no teatro ligeiro como se estivesse em outro qualquer”

Maria Dulce

“Lembro-me – e já lá vão alguns anos! – de ver surgir ao fundo do saudoso palco do antigo Nacional, uma figurinha esbelta, loira e graciosa, que acompanhada da sua mãe, vinha para tomar parte no elenco de duas peças infantis que iriam entrar em ensaios. Era a Maria Dulce. Algumas semanas depois vi-a já vestida de Capuchinho Vermelho e dir-se-ia que era

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a própria figurinha lendária dos famosos contos infantis. Depois perdia-a de vista e soube por acaso que estava contratada em Espanha, aonde permaneceu algum tempo, contando com assinaláveis êxitos.

Lembro-me, ainda, no seu regresso a Portugal, de a ver na Revista, com uma classe e elegância dignas, de facto, de uma primeira figura de music-hall.

Quando a nossa Companhia actuava no Teatro Capitólio, Maria Dulce ingressou no elenco, e teve várias interpretações notáveis, entre elas a principal figura do célebre Frei Luís de Sousa, D. Madalena de Vilhena.

Mas foi só anos depois que, ao contracenar com ela nos estúdios da N.B.P., pude confirmar pessoalmente a sua grande qualidade de actriz, segura, firme, excepcionalmente profissional, actuando com verdadeira inteligência, sinceridade e talento, que nunca a impediram de ser uma colega de agradável convívio e de estrema lealdade.”

Mariana Rey Monteiro

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Créditos da Iconografia

Luciano ReisMaria Dulce N.B.P.

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Agradecimentos

Ana Brito e Cunha

António Fortuna

Cármen Dolores

Cristina Homem de Mello

Daniela Ruha

Fernanda Baptista

José Jorge Letria

Lauro António

Lourdes Norberto

Manuel Arouca

Maria Helena Reis

Maria Isabel Pinto Paixão

Mariana Rey Monteiro

Nuno Gomes dos Santos

Pedro Pinheiro

Pedro Souto e Castro

Tozé Martinho

Vera Kolodzig

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Índice

PrefácioIntrodução

1. As Origens1.1. Paixão por João Villaret2. A Estreia3. Projecção Internacional4. De Novo Portugal5. No Teatro de Revista5.1. Verão, Férias6. Mulher de Grandes Causas6.1. Cooperativa CANTARABRIL7. O Trabalho em Televisão8. O Lado Sentimental – Namoricos e Paixões9. Vida Social em Madrid10. Situações Dolorosas da Sua Vida 11. O Camarim12. A Terminar13. O Percurso Artístico13.1. Teatro Declamado13.2. Teatro de Revista13.3. Cinema13.4. Televisão13.4.1. Teleteatro13.4.2. Telenovelas e Séries14. Depoimentos e CitaçõesBibliografiaAgradecimentosÍndice

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