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O Bom Praticante Título Original: The Good Practitioner Por Thomas Watson (1620-1686) Traduzido, Adaptado e Editado por Silvio Dutra Abr/2017

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O Bom Praticante

Título Original: The Good Practitioner

Por Thomas Watson (1620-1686)

Traduzido, Adaptado e Editado

por Silvio Dutra

Abr/2017

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W474

Watson, Thomas 1620 - 1686. Uma nova criatura / Thomas Watson Tradução , adaptação e edição por Silvio Dutra – Rio de Janeiro, 2017. 56p.; 14,8 x 21cm Título original: The Good Practitioner 1. Teologia. 2. Vida cristã 2. Graça 3. Fé. 4. Alves, Silvio Dutra I. Título CDD 230

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Introdução pelo Tradutor:

A exigência da justiça de Deus em relação às Suas

criaturas morais (anjos e homens) é que sejam

perfeitamente santos assim como Ele é santo. Essa

perfeição que atende à Sua justiça só é possível

quando se está em união completa com Ele. Deus é

justo nesta exigência porque foi para o propósito de

serem santos e perfeitos como Ele, que os criou.

Os anjos que se apartaram de Deus ficaram

desprovidos de justiça em si mesmos, pois como

vimos é impossível permanecer justo, separado de

Deus, e sem esta justiça divina não há vida, e por isso

se tornaram demônios.

Quando o primeiro homem pecou tendo, por

conseguinte se separado de Deus, sujeitou à referida

separação toda a Sua descendência. Todavia, aquilo

que aos anjos caídos foi negado, tem sido concedido

àqueles que dentre os homens desejam retornar à

união com Deus.

É neste ponto que entra a necessidade da justificação

pela fé em Jesus Cristo, uma vez que a referida união

não pode ser consolidada por nenhum outro meio, já

que o homem necessita de uma justiça perfeita para

poder estar unido a Deus, e é bem sabido que tal

justiça perfeita não existe em nenhum homem.

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Todavia, a justificação não consiste em transformar

um pecador em um santo, pois ela realiza apenas a

expiação da culpa do pecador, o seu perdão, a sua

remoção de debaixo da condenação da Lei, mas não

opera qualquer transformação moral em sua

natureza.

O pecador é justificado pela redenção que há no

sangue de Cristo, para que tendo retornado ao favor

de Deus, e à comunhão com ele, possa então ser

regenerado e santificado pelo poder do Espírito

Santo.

A regeneração, que lhe dá uma nova natureza

celestial e espiritual, é realizada simultaneamente

com a justificação, no momento mesmo em que ele

crê em Cristo de uma forma salvífica.

A santificação começa com a regeneração e deve

progredir paulatinamente operando a transformação

moral à semelhança do próprio Cristo.

Entendemos então a justificação como a abertura da

porta do caminho da salvação, a partir da qual há

uma longa caminhada a ser feita através do processo

da santificação que é realizada pela agência do

Espírito Santo, mediante a instrumentalidade da

aplicação da Palavra de Deus em nossas vidas. É nisto

que consiste o que se costuma chamar de prática da

Palavra.

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É nesta prática e não no mero conhecimento da

Palavra que consiste a santificação. É sobre esta

prática santificante que discorre Thomas Watson

neste seu livro abençoado e edificante.

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"Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as

praticardes." (João 13:17)

Neste capítulo, nosso bendito Salvador, o grande

Instrutor da igreja, ensina Seus discípulos. Ele lhes

ensinou:

1. Por doutrina. Versículo 34: "Um novo

mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros;

assim como eu vos amei a vós, que também vós vos

ameis uns aos outros.”

Cristo agora estava saindo do mundo; e como um pai,

quando está morrendo, deixa uma ordem para seus

filhos se amarem mutuamente, assim que nosso

salvador deixa este encargo solene a seus discípulos

de se amarem um ao outro.

2. Ele lhes ensinou por alegoria. Versículo 4: "Ele se

levantou da refeição, tirou a sua roupa exterior e

enrolou uma toalha em torno de Sua cintura". Ele

assim ensinou-lhes por uma alegoria sagrada como

Ele se envolveu com a nossa carne. Os anjos

abençoados ficaram imaginando como a natureza

divina poderia ser cingida com a natureza humana.

3. Ele lhes ensinou pelo exemplo. Versículo 5:

"Depois disso, Ele derramou água em uma bacia e

começou a lavar os pés de Seus discípulos, secando-

os com a toalha que estava envolvida ao redor dele".

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Ele ensinou-lhes humildade por Seu próprio

exemplo. Ele se inclinou para o ofício mais baixo.

"Ele lava os pés de Seus discípulos", e isto Ele fez para

sua imitação. Versículo 14, "vocês também devem

lavar os pés uns dos outros." Agora, nosso Senhor

Jesus Cristo, tendo assim ensinado os Seus

discípulos por doutrina, alegoria e exemplo, fez uso

de tudo nas palavras do texto: "Se você sabe estas

coisas, feliz será você se as fizer".

Este é um texto que merece ser gravado em letras de

ouro em nossos corações; um texto que, se bem

observado, nos ajudará a tirar proveito de todos os

outros textos. Um sermão nunca é ouvido

corretamente, até que seja praticado. Por

conseguinte, farei que este sermão seja, pela bênção

de Deus, como uma torneira, para manter o resto dos

sermões que você ouve fluindo. Deve ser um sermão

maravilhoso, que o ajudaria a colocar em prática

todos os outros sermões que você ouviu.

“Se você souber estas coisas”. Pelas palavras "estas

coisas", nosso Salvador, reúne todos os assuntos da

verdadeira religião; embora mais particularmente

aquelas duas coisas que Ele citou imediatamente

antes de falar de amor e humildade. No texto há:

1. Uma suposição, "se você sabe estas coisas e as faz."

2. Uma bênção, "feliz é você."

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A partir destes dois pontos, vemos esta doutrina: Não

é o conhecimento dos pontos da religião, mas a

prática deles, o que torna um homem

verdadeiramente feliz. Se Cristo tivesse dito: "Se você

conhece essas coisas, feliz você é", e houvesse parado

e não ido mais longe, teríamos pensado que o

conhecimento seria suficiente para fazer alguém

eternamente feliz e abençoado. Porém, Cristo não

para aqui, mas vai mais longe: "felizes são vocês se o

fizerem". Cristo não põe a felicidade em conhecer,

mas em fazer. Não é conhecimento, mas prática, que

torna um homem verdadeiramente feliz e abençoado.

Esta proposição consiste em dois ramos, e eu os

tratarei distintamente.

I. O conhecimento sozinho, nas verdades das

Escrituras - não fará um homem eternamente feliz e

abençoado. Mateus 7:21. Lucas 6:46: "E por que me

chamais: Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu vos

digo?" Não é o mero conhecimento e aceitação das

mais gloriosas verdades do Evangelho, que trará um

homem ao céu. Se um homem pudesse fluentemente

discursar sobre todas as verdades bíblicas, se sua

cabeça fosse um tesouro de sabedoria, um oceano de

aprendizagem, contudo isso não poderia dar-lhe

direito à felicidade. Seu conhecimento poderia fazê-

lo admirado, mas não abençoado. Se um homem

conhecesse e acreditasse em todas as doutrinas da

Escritura, isso não poderia coroá-lo de felicidade.

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Na verdade, o conhecimento das doutrinas da

Escritura, tem uma beleza nele ao lado da pérola da

graça; este ouro é o mais precioso. O conhecimento é

o enriquecimento da mente. É uma guirlanda justa

para olhar - mas é como Raquel. Embora ela fosse

linda - contudo sendo estéril ela disse: "Dê-me filhos

ou eu morro!" Da mesma forma, se o conhecimento

não produzir o filho da obediência, ele morrerá e virá

a nada.

Eu não iria de modo algum menosprezar o

conhecimento. O conhecimento é o piloto que nos

guia em nossa obediência. Se o zelo não é de acordo

com o conhecimento, é adoração da vontade; está

estabelecendo um altar para um Deus desconhecido.

O conhecimento deve introduzir obediência. É tão

abominável para Deus oferecer os animais cegos

como os coxos. A ignorância finalmente destrói!

Oséias 4: 6, "Meu povo é destruído por falta de

conhecimento". A palavra hebraica é que eles são

cortados ou derrubados como árvores. Portanto, há

uma necessidade de conhecimento. O conhecimento

é a irmã mais velha - mas a obediência é melhor que

o conhecimento; e aqui o ancião deve servir o mais

jovem. O conhecimento pode nos colocar no caminho

da felicidade, mas é somente a prática que nos leva

lá. Esse conhecimento por si só não pode fazer um

homem eternamente feliz e abençoado – e vou provar

por três demonstrações:

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1. Conhecimento sozinho, não faz um homem

melhor; portanto, não pode fazê-lo eternamente feliz

e abençoado. O conhecimento nu não tem influência;

não deixa uma tintura espiritual de santidade. O

conhecimento informa e não transforma. O

conhecimento, por si só, não tem poder sobre o

coração para torná-lo mais divino. O mero

conhecimento é como um remédio fraco, que não

funciona. Não aquece as afeições nem purga a

consciência; não traz a virtude de Cristo para secar a

sangrenta questão do pecado. Um homem pode

receber a luz da verdade, mas não amar a verdade: "e

com todo o engano da injustiça para os que perecem,

porque não receberam o amor da verdade para serem

salvos." (2 Tessalonicenses 2:10). O Apóstolo chama

isso de "forma de conhecimento", Romanos 2:20.

Conhecimento sozinho, é apenas uma forma morta,

não tendo nada para animá-lo. Aquele que só tem

conhecimento - é um nascido-morto espiritual! Ele

parece um cristão, mas não tem apetite nem

movimento. O conhecimento sozinho, faz homens

monstros na religião - todos eles são cabeça, mas não

pés! Eles não andam em Cristo, Colossenses 2: 6.

Um homem pode ter o conhecimento correto, e ser

descuidado de seu dever. Plutarco disse dos gregos

que eles sabiam o que era justo, mas não praticavam

a justiça. Um homem pode ter conhecimento bíblico,

e ainda ser profano! Ele pode ter uma cabeça clara e

um coração imundo! O entendimento pode ser

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iluminado, quando o pé pisa em caminhos profanos.

Se o conhecimento é divorciado da prática, e não faz

um homem melhor, então ele não pode fazer um

homem eternamente feliz e abençoado.

2. O conhecimento sozinho, não salvará; portanto,

não pode fazê-lo eternamente feliz e abençoado. Se o

conhecimento puro salvará - então todos os que

tiverem conhecimento serão salvos. Mas isso não é

verdade, porque então Judas seria salvo, pois ele

tinha conhecimento suficiente. Então o diabo seria

salvo! Um homem pode ter conhecimento correto, e

não ser melhor do que um diabo! O inferno está cheio

de cabeças instruídas! Agora, se o conhecimento por

si só não salvará, então não colocará um homem em

estado de bem-aventurança.

3. Somente o conhecimento torna o caso de um

homem pior; portanto, não pode fazê-lo eternamente

feliz e abençoado. O conhecimento tira toda a

desculpa. João 15:22, "Se eu não viera e não lhes

falara, não teriam pecado; agora, porém, não têm

desculpa do seu pecado." O conhecimento aumenta o

tormento de um homem. "Ai de ti, Corazin! Ai de ti,

Betsaida, eu digo que haverá maior tolerância para a

terra de Sodoma no dia do juízo do que para você!"

Seria melhor ser pagão do que ser como os cristãos

professos que vivem em contradição com o seu

conhecimento. Lucas 12:47: "O servo que soube a

vontade do seu senhor, e não se aprontou, nem fez

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conforme a sua vontade, será castigado com muitos

açoites." Conhecimento sem prática, serve apenas

como uma tocha para iluminar os homens para o

inferno - quanto mais brilhante a luz, mais quente o

fogo! Se um rei faz com que sua proclamação seja

publicada, e o sujeito a conhece, mas a desobedece -

isso incendeia o rei ainda mais contra ele. Ele punirá

aquele homem por desprezo malicioso. Melhor ser

ignorante da verdade bíblica, do que ser

conscientemente desobediente a ela. Agora, então, se

o conhecimento sozinho torna o caso de um homem

pior, então está longe de fazê-lo eternamente feliz e

abençoado.

Aplicação: Obtenha o conhecimento das Escrituras,

mas não descanse nele. Você descansará naquilo que

não o fará eternamente feliz e abençoado? Nesse

sentido, "aquele que aumenta o conhecimento,

aumenta a tristeza", Eclesiastes 1:18. Seu

conhecimento servirá apenas para condená-lo. Se o

conhecimento separado da prática tornasse os

homens eternamente felizes e abençoados, o povo da

Inglaterra seria um povo feliz. Não lhes falta

conhecimento. Nunca desde a época dos Apóstolos, a

luz bíblica brilhou mais clara; mas aqui está o

problema: a maioria das pessoas sabe somente para

conhecer. Pode-se dizer da generalidade das pessoas,

como diz Sêneca - elas preferem disputar bem do que

viver bem. Eles teriam conhecimento para arruiná-

los, em vez de santificá-los. Infelizmente, o

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conhecimento por si só nunca os tornará

eternamente felizes e abençoados. Os homens podem

construir seus ninhos entre as estrelas, e ainda assim

fazerem a sua cama no inferno. Eles podem ter

conhecimento para os coroar, e Deus para condená-

los. Oh professante, que te glorias em teu

conhecimento de cabeça nua - em que você excede

um hipócrita? Onde você supera o diabo? Ele

conhece todos os artigos do credo. Ele poderia dizer

a Cristo: "Está escrito". Não é triste que um homem

não tenha melhores evidências para mostrar para o

céu do que o diabo?

Quão inútil é uma gama de conhecimento da cabeça?

Aquele que está cheio de conhecimento, é como um

copo cheio de espuma. Que coisa vã, tola é, ter

conhecimento e não fazer uso espiritual dele! É como

se um homem tivesse várias fontes em seu jardim,

mas nunca regou suas flores com elas; ou como se um

burro fosse carregado de feno, mas não comesse nada

do mesmo. Da mesma forma, muitos homens

possuem um grande conhecimento sobre eles, mas

não se alimentam da doçura dele nem digerem seu

conhecimento em prática.

Conhecer apenas para saber - é como alguém que

conhece certos países pelo mapa e pode discursar

sobre eles, mas nunca viajou até eles nem provou as

especiarias doces desses países. Da mesma forma, o

gnóstico na religião tem ouvido e lido muito da beleza

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da santidade, mas nunca viajou para a piedade ou

provou quão bom o Senhor é. Que lucro há nisso - ter

a Bíblia em nossas cabeças, mas não em nossos

corações? Podem meras noções serem cordiais

quando chegarmos à morte?

Para concluir isso, os homens não podem ser

adequadamente chamados cristãos por seu

conhecimento sozinho. Você não chama de um

artesão aquele que não trabalha em seu ofício. Que

um homem seja sempre tão instruído - contudo você

não o chama um ourives se nunca refinou um

recipiente ou provou o ouro. Embora um homem

tenha conhecimento em cirurgia - contudo você não

o chama de um cirurgião se nunca lancetou uma

ferida. Assim, é impróprio chamar de um cristão

quem tem conhecimento, mas nenhuma prática. Ele

sabe que deve mortificar o pecado, mas não o faz. Ele

sabe que deve mostrar obras de misericórdia, mas ele

não as pratica. Ele nunca operou no ofício da

piedade.

II. Passo ao segundo ramo da doutrina, que é a

prática da verdadeira religião, que faz um homem

eternamente feliz e abençoado. Conhecimento sem

prática é como uma árvore sem fruto. A arte da

prática é a arte mais nobre. O sangue vital da religião

percorre as veias da obediência. Aqui eu vou mostrar

por que deve haver prática, e que é apenas a parte

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prática da religião que faz um homem eternamente

feliz e abençoado.

1. A razão pela qual deve haver prática, é porque é

somente a prática que responde ao fim de Deus ao

nos dar Sua Palavra, tanto escrita quanto pregada.

Levítico 18: 4, "Os meus preceitos observareis, e os

meus estatutos guardareis, para andardes neles. Eu

sou o Senhor vosso Deus." Deuteronômio 26:16:

"Neste dia o Senhor teu Deus te manda observar

estes estatutos e preceitos; portanto os guardarás e

os observarás com todo o teu coração e com toda a

tua alma." Você não somente deve conhecê-los, mas

segui-los. A Palavra de Deus não é apenas uma regra

de conhecimento, mas uma regra de dever. Se você

falar com seus filhos e dizer-lhes o que sua mente

está em um assunto, não é só para que eles possam

conhecer a sua mente, mas fazê-lo. Deus nos dá Sua

Palavra não apenas como uma imagem a ser vista,

mas como uma cópia para ser escrita depois. O

mestre dá a seu servo um instrumento não para

olhar, mas para trabalhar.

A luz da Escritura é para guiar nossos pés para o

caminho da obediência; e assim Davi chama a

Palavra de Deus, não uma lâmpada para os seus

olhos, mas uma "lâmpada para os seus pés", Salmo

119: 105, sugerindo que a luz da Palavra é mais para

andar do que para ver. Deus nos dá Sua Palavra como

Sua vontade e testamento, para que nós a

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cumpramos. Se Deus somente tivesse tido Suas leis

para serem conhecidas ou faladas, Ele poderia tê-las

entregado aos papagaios! Se Ele as tivesse mantido

seguras, Ele poderia ter "com pena de ferro, e com

chumbo, fazer com que fossem para sempre

esculpidas na rocha!", Jó 19:24. Mas, portanto, Ele

entrega os registros do céu aos homens para que eles

sejam obedecidos.

O Senhor nos dá seus preceitos como um médico dá

ao paciente suas prescrições - para serem tomadas e

aplicadas. Para este fim são todos os institutos de

Deus, para que possamos, pela prática, aplicá-los

para a purgação do pecado e trazer a alma em um

temperamento mais saudável. Deus nos dá Sua

Palavra como a mãe dá à criança o peito - não só para

olhar, mas para sugar. Muitos têm ido ao inferno com

o peito em suas bocas, porque não o sugaram para

transformar o leite da Palavra em alimento sagrado!

2. É somente a parte prática da religião, que faz um

homem eternamente feliz e abençoado. Isso é claro

se consultarmos a Escritura ou a razão.

Ela aparece pela Escritura. A Escritura não conhece

outro caminho para a felicidade, senão pela prática.

Salmo 15: 5, "que não empresta o seu dinheiro a

juros, nem recebe peitas contra o inocente. Aquele

que assim procede nunca será abalado." O salmista

não diz, aquele que conhece estas coisas nunca

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perecerá, mas aquele que as fizer. Ser um praticante

da Palavra dá direito à bem-aventurança. Tiago 1:25,

"Entretanto aquele que atenta bem para a lei perfeita,

a da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte

esquecido, mas executor da obra, este será bem-

aventurado no que fizer." Não por sua ação, como o

papista erradamente interpretou - mas em sua ação.

A obediência é mais uma prova de bem-aventurança

do que uma causa de bem-aventurança.

Procure de um lado da Bíblia para o outro, e você

encontrará a coroa ainda colocada sobre a cabeça da

obediência! Os santos de renome sempre receberam

seus elogios e títulos de honra de sua obediência.

"Moisés era um homem poderoso em palavras e

obras", Atos 7:22. Quando Cristo pronunciar a

sentença de absolvição, veja como ela correrá: "Então

dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde,

benditos de meu Pai. Possuí por herança o reino que

vos está preparado desde a fundação do mundo;

porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e

me destes de beber; era forasteiro, e me acolhestes;

estava nu, e me vestistes; adoeci, e me visitastes;

estava na prisão e fostes ver-me." (Mateus 25: 34-

36). Cristo não diz que no último dia recompensará

os homens de acordo com seu conhecimento, mas

por suas ações. "Eis que cedo venho e está comigo a

minha recompensa, para retribuir a cada um

segundo a sua obra." (Apocalipse 22:12). Então, se a

Bíblia, aquela vara de medição infalível, não aponta

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nenhum outro caminho para a felicidade senão a

prática, então é inútil esperá-la de outra maneira.

Isto aparece pela razão. A felicidade não é atingível,

senão no uso dos meios. Agora, o uso de meios

implica prática. A salvação não só deve ser buscada

pelo conhecimento, mas operada pela prática,

"efetuai a vossa salvação com temor e tremor.",

Filipenses 2:12. Não pode haver coroa sem correr,

nem recompensa sem diligência. Se a felicidade vem

somente no uso dos meios, então não é imaginável

nem real sem a prática.

Se é somente a parte prática da religião, que faz os

homens eternamente felizes e abençoados - então

repreende vivamente aqueles que sabem muito – e

ainda não fazem nada. Eles falam de Deus, mas não

andam com Deus. Os homens são todos para o

conhecimento, porque é contado como um

ornamento. Eles seriam adornados com esta flor

alegre, mas uma folha da árvore da vida vale toda a

árvore do conhecimento. É melhor praticar uma

verdade, do que conhecer todas as verdades. Aqui a

maioria dos cristãos são defeituosos; eles têm como

Raquel, bons olhos, mas eles são estéreis. Mefibosete

caiu e ficou coxo nos seus pés, 2 Samuel 4: 4. Da

mesma forma, desde a queda de Adão, os homens são

coxos em seus pés. Eles não andam nos caminhos da

obediência.

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Os homens sabem que a cobiça é um pecado. A

palavra grega para cobiça significa um desejo

imoderado de conseguir, como Midas, que desejava

que tudo que ele tocasse pudesse ser transformado

em ouro. As várias espécies de pecado crescem sobre

esta raiz de cobiça, 2 Timóteo 3: 2. No entanto, os

homens vivem neste pecado, e nada pode curá-los

deste câncer de cobiça. Amós 2: 7, "pisam a cabeça

dos pobres no pó da terra."

“Pois a terra está cheia de adúlteros; por causa da

maldição a terra chora, e os pastos do deserto se

secam. A sua carreira é má, e a sua força não é reta.”,

Jeremias 23:10. “Perguntou-me o anjo: Que vês? Eu

respondi: Vejo um rolo voante, que tem vinte

côvados de comprimento e dez côvados de largura.

Então disse-me ele: Esta é a maldição que sairá pela

face de toda a terra: porque daqui, conforme a

maldição, será desarraigado todo o que furtar; assim

como daqui será desarraigado conforme a maldição

todo o que jurar falsamente.” Zacarias 5: 2,3 -

contudo eles não deixarão este pecado. Eles sabem

que a embriaguez é um pecado. Há morte no cálice,

contudo o bêbado vai bebê-lo! Os homens conhecem

a imoralidade como pecado, Êxodo 20:14; desperdiça

sua força, mancha seu nome, fere sua consciência,

ofende sua posteridade e amaldiçoa suas almas!

Apocalipse 22:15. Contudo eles seguirão este pecado

e queimarão em luxúria, embora queimem no

inferno.

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Os homens sabem que devem ser alados com

atividade, nos deveres da piedade, mas podem

contentar-se em deixar esses deveres sozinhos. Eles

sabem que devem mortificar a carne, orar em suas

famílias, ser justos em suas negociações e dar

esmolas aos pobres. Mas se não houvesse outra Bíblia

que nos ensinasse essas coisas do que a vida da

maioria, não saberíamos que havia tais deveres

ordenados! Para a maior parte, os homens não são

mudados. O que eram vinte ou trinta anos atrás - eles

são os mesmos ainda - tão orgulhosos e não

reformados como sempre. As melhores ferramentas

foram quebradas ou desgastadas em seus corações

rochosos - ainda assim elas estão tão sem corte do

que nunca. Os foles são queimados, os pulmões dos

ministros de Deus são desperdiçados, contudo

quanta prata reprovada ainda permanece em muitas

de nossas congregações! Se ninguém é eternamente

feliz e abençoado, senão os praticantes da Palavra,

quão poucos serão salvos!

Por que poucos chegam à parte prática da religião?

Certamente é:

1. Falta de prática, é por falta de HUMILIDADE

profunda. Aquele que tem o espírito de escravidão

solto sobre ele apreende-se, por assim dizer, na

esperança desesperada. Ele vê o mar de seus pecados

diante dele pronto para engoli-lo, e a justiça de Deus

por trás perseguindo e pronta para alcançá-lo! Ele

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clama como Paulo, Atos 9: 6, "Senhor, o que queres

que eu faça?" Queres que eu me arrependa ou creia?

O pecador humilde não disputa, mas obedece. A

semente que não tinha a profundidade da terra,

secou e veio a nada, Mateus 13: 5-6. A razão pela qual

os homens não produzem os frutos da obediência, é

porque não têm profundidade de terra. Eles nunca

foram profundamente humilhados pelo pecado. Um

homem orgulhoso jamais obedecerá. Em vez de pisar

seus pecados sob seus pés, ele pisoteia as leis de Deus

sob seus pés, Jeremias 43: 3-4. Aquele que se inclina

na humildade é o mais provável para colocar o

pescoço sob o jugo de Cristo. Aquele que se vê dentro

de uma polegada do inferno, faz a pergunta do

carcereiro, "o que eu devo fazer para ser salvo?" Atos

16:30. O que um homem condenado não fará, por um

perdão!

2. Falta de prática, é por falta de fé. Isaías 53: 1:

"Quem creu na nossa pregação?" Isso faz sermões

serem como chuva caindo sobre uma rocha! Eles não

são apaziguados, nem frutificam, porque os homens

são em parte, infiéis. Preferem disputar do que

acreditar. Os que vivem como céticos, morrem como

ateus. Se os homens realmente acreditassem que o

pecado era tão amargo, e que a ira e o inferno o

seguiam - eles não tirariam esta serpente do seu seio?

Se eles realmente acreditassem que havia uma beleza

em santidade, se eles acreditassem que a piedade era

ganho, que havia alegria no caminho para o céu no

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final - eles não iriam voltar seus pés para o caminho

de Cristo? Os homens têm alguns pensamentos

passageiros ligeiros dessas coisas, mas suas mentes

não estão totalmente convencidas, nem sua

consciência cativada completamente na crença delas.

Esta é a obra-prima de Satanás, sua rede pela qual ele

arrasta milhões para o inferno, mantendo-os na

incredulidade.

3. O atraso dos homens para a prática, é a

DIFICULDADE da parte prática da religião. É fácil

ouvir uma verdade, dar algum assentimento, elogiá-

la, fazer uma profissão dela. Mas digerir uma verdade

na prática é difícil, porque os homens estão cheios

de preguiça! Eles se odeiam por se colocarem em

atividade em demasia, "A preguiça traz um sono

profundo". Provérbios 19:15. Podem os homens cavar

para o ouro e não para a pérola de grande preço!

Podem eles ter dores na perseguição de seus pecados

- e eles não estarão em nenhuma dor para a salvação

de suas almas! Eu ouso dizer, que custa a muitos

pecadores mais suor e trabalho em labutar por suas

luxúrias - do que custa a um santo servir ao seu Deus!

4. Falta de prática, é porque o MUNDO entra e

dificulta. Os espinhos sufocam a semente da Palavra.

Os homens gastam tanto no mundo, que não têm

tempo para praticar coisas melhores! O mundo é

como um moinho alto - faz tal barulho em corações

carnais, que afoga o som da trombeta de prata de

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Deus. As afeições dos homens às vezes são acesas

pela pregação da Palavra, e começamos a esperar que

a chama da piedade brote em suas vidas; mas então

vem a terra - e apaga este fogo! Quantos sermões

estão enterrados nos corações terrenos!

Oh, que a falta de prática nesta época, foi mais por

falta de coração! Esta é uma lamentação: muitos

professantes são todo ouvidos. Se víssemos uma

criatura composta de nada além de ouvidos, seria um

monstro na natureza! Quantos monstros existem em

nossas igrejas? Eles ouvem e ouvem, e nunca são

melhores!

Alguns se satisfazem com ter ordenanças. Juízes

17:13: “Então disse Mica: Agora sei que o Senhor me

fará bem, visto que tenho um levita como meu

sacerdote.” Mas o que é o remédio, se não for

aplicado? O que é ter o som da Palavra em nossos

ouvidos, a menos que tenhamos o Salvador em

nossos corações? Será pouco conforto para os

homens em seus leitos mortais, pensar que Cristo foi

pregado em suas ruas, e eles foram levados para o céu

nos governos do Evangelho, quando sua consciência

lhes disser que foram profanos e não reformados.

Eles entraram na casa de Deus como os animais

fizeram na arca: eles vieram impuros e saíram da

arca imundos.

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Isso exorta todos a se tornarem praticantes da

religião. Há três etapas que levam ao céu:

conhecimento, assentimento e prática. Não é

dar os dois primeiros passos - mas o terceiro passo

que o fará eternamente feliz e abençoado. A

obediência é o grande preceito da lei e do evangelho.

Nisto está o dever de um cristão, nisto consiste a sua

felicidade. 1 Samuel 15:22, "Obedecer é melhor do

que sacrificar." É grato a Deus, e gracioso para um

cristão.

Qual é a excelência de uma coisa, senão sua

praticidade e utilidade? Que são as belas penas de um

pássaro se não pode cantar? O que é uma planta,

embora adornada com folhas, se não der fruto? O que

recomendamos em um cavalo, seus olhos ou sua boa

índole? Cantares 5: 5, "as minhas mãos destilavam

mirra." Não só os lábios de um cristão devem deixar

cair o conhecimento, mas suas mãos e seus dedos

devem deixar cair a mirra, isto é, trabalhando as

obras da obediência.

Deixe-me usar alguns MOTIVOS divinos para atrair

os cristãos para a parte prática da piedade:

1. Obediência ao Evangelho é uma prova de

sinceridade. Como nosso Salvador Jesus Cristo disse

em outro sentido, João 10:25: "As obras que faço, dão

testemunho de Mim". Embora nenhum homem

jamais tenha falado como Cristo - contudo, quando

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vier se submeter a uma provação, ele não será julgado

por suas palavras, mas por suas obras. "Elas dão

testemunho de Mim". Assim também, não são as

palavras de ouro dos cristãos, senão suas obras que

testificam dele. Salmos 119: 59, "Voltei os meus pés

para os teus estatutos." Davi não só voltou seus

ouvidos para o testemunho de Deus, mas voltou seus

pés para eles - ele andou neles. Nós não julgamos a

saúde de um homem, por sua cor, mas pelo pulso do

braço onde o sangue opera principalmente.

Exatamente assim, não julgamos a solidez de um

cristão por seu conhecimento ou expressões altas. O

que é isso, senão cores? Saul pode estar entre os

profetas, mas a estimativa de um cristão deve ser

tomada por suas ações em obediência para com

Deus.

2. Ser praticantes da religião não só nos torna bons,

mas também aos outros. Isto honrará a religião e a

propagará.

Honrará a religião. O evangelho pode ser comparado

a uma bela rainha. As vidas frutíferas dos

professantes são as muitas joias, que adornam esta

rainha e a fazem brilhar em maior glória e

magnificência. Que honra era para a piedade, quando

o Apóstolo poderia dizer que a fé dos romanos foi

trombeteada em todos os lugares! Romanos 1: 8,

"Primeiramente dou graças ao meu Deus, mediante

Jesus Cristo, por todos vós, porque em todo o mundo

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é anunciada a vossa fé." Isto é, a fé florescendo em

obediência. 1 Tessalonicenses 1: 2-3, "Sempre damos

graças a Deus por vós todos, fazendo menção de vós

em nossas orações, lembrando-nos sem cessar da

vossa obra de fé, do vosso trabalho de amor e da

vossa firmeza de esperança em nosso Senhor Jesus

Cristo, diante de nosso Deus e Pai." Os cristãos

deveriam ser ambiciosos para manter o crédito da

religião.

A prática dessas verdades que conhecemos, irá

propagar grandemente a religião. A prática é o

melhor argumento que podemos usar, para

prevalecer com os outros. Isso os confirmará na

verdade da religião. O imperador Joviniano disse aos

cristãos: "Não posso julgar sua doutrina, mas posso

julgar suas vidas". Sua prática pregaria mais alto. Se

os outros nos veem fazer uma profissão, e ainda viver

em uma contradição com o que professamos; se eles

ouvirem a voz de Jacó, mas virem as mãos de Esaú -

eles acharão que a religião não é mais que uma farsa

devota. Por que o pai proíbe seus filhos de jurar -

quando ele próprio jura? Você ganharia muitos

prosélitos à religião? Sejam praticantes da Palavra.

Digam como Abimeleque disse aos seus

companheiros: "O que me vistes fazer, apressai-vos a

fazê-lo também.", Juízes 9:48. Vocês seriam como

ímãs para atrair seus filhos e servos para o céu?

Estabeleça a prática da santidade. Basílio observa

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que a religião cristã floresceu grandemente pela

santidade e liberalidade daqueles que a professaram.

3. Assim mostramos o nosso amor a Cristo. João

14:21: "Aquele que tem os meus mandamentos e os

guarda, esse é o que me ama". Costumávamos dizer:

"Se você me ama, faça tal coisa". Este deve ser um

grande argumento para a obediência. Pelo amor que

você tem a Jesus Cristo - obedeça Sua Palavra. Seria

pensado de todo homem que ame a Cristo, sim, mas

experimente o seu amor por esse teste - você é

lançado em um molde do Evangelho? Você obedece?

É uma coisa vã para um homem dizer que ama a

pessoa de Cristo, quando despreza seus

mandamentos.

4. Sem prática você ficará aquém daqueles que

ficaram aquém do céu. "Herodes fez muitas coisas",

Marcos 6:20. Ele era, em muitas coisas, um

praticante do ministério de João. Aqueles que

descansam na parte especulativa da religião, não são

tão bons quanto Herodes.

5. Que conforto indizível a obediência produzirá

tanto na vida como na morte!

Em vida. Não é um consolo para um homem

quando ele está lançando suas contas, para descobrir

quanto ele ganhou em seu comércio? Vocês vêm aqui

no uso das ordenanças, a Palavra e a oração, para

negociar com o céu. Agora, se você encontrar em uma

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verdadeira conta que você ganhou no comércio da

piedade e está cheio com os frutos do Espírito - isso

não será um grande conforto para você? Aquele que

está cheio de boas obras, Deus colherá o fruto e

abençoará a árvore!

Na morte. A obediência dá conforto à morte. Que

alegria foi para Paulo, quando ele veio a morrer, que

ele poderia fazer esse apelo doce, 2 Timóteo 4: 7, "Eu

tenho guardado a fé!" Isto é, Paulo tinha mantido a

doutrina da fé, e tinha vivido a vida da fé. Oh, que

consolo para um cristão deitar sua vida para baixo,

quando ele colocou sua vida no serviço de Deus! Este

era um leito de morte cordial ao rei Ezequias. Isaías

38: 3, "Lembra-te, Senhor, rogo-te como andei em

verdade diante de ti." Um homem pode arrepender-

se de seu conhecimento infrutífero, mas nunca algum

homem se arrependeu de sua obediência quando veio

a morrer! Nunca algum cristão que vai descansar

com Deus, arrepende-se de ter andado com Ele.

6. Qual é a finalidade de todas as administrações de

Deus, senão obediência? Quais são todas as

promessas de Deus, senão persuasões para a

obediência? Qual é o fim de todas as ameaças de

Deus, que permanecem como o anjo com uma espada

flamejante em sua mão, senão para nos levar à

obediência! Deuteronômio 11:28, "A maldição se

você não obedecer." Que é a voz da misericórdia,

senão para nos chamar ao dever? O pai dá dinheiro a

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seu filho para incentivá-lo à obediência. O fogo das

misericórdias de Deus, é para fazer com que a água

doce da obediência destile de nós. "Misericórdia",

como disse Ambrósio, "é um remédio que Deus nos

aplica para curar nossa esterilidade". Quais são todos

os exemplos da justiça de Deus sobre os outros, senão

alarmes para nos despertar do leito da preguiça e nos

colocar em uma postura de serviço? A vara de Deus

sobre os outros, é uma vara para nos apontar para a

obediência. Se Deus não tem Seu fim no que diz

respeito ao dever, não podemos ter nosso fim com

respeito à glória.

7. Considere o que é uma desobediência de pecado!

Jeremias 44:16 é uma triste Escritura: "Quanto à

palavra que nos falaste em nome do Senhor, não

faremos".

1. A desobediência é um pecado contra a razão.

Somos capazes de resistir a ele, em desafio a Deus? 1

Coríntios 10:22, "Ou provocaremos a zelos o Senhor?

Somos, porventura, mais fortes do que ele?" É como

se os espinhos se colocassem em batalha contra o

fogo! O pecador vai medir braços com o grande Deus!

O que Salomão disse do riso, Eclesiastes 2: 2, o

mesmo pode ser dito da rebelião, "é loucura".

2. A desobediência é um pecado contra a equidade.

Temos a nossa subsistência de Deus, "nele vivemos,

nos movemos e temos nosso ser". Não é justo e

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apropriado que, enquanto vivemos sobre Ele,

devemos viver para Ele? Não é justo e apropriado

que, como Deus nos dá o nosso subsídio, devemos

dar-lhe a nossa fidelidade? Se o general dá o

pagamento ao seu soldado, o soldado deve marchar a

seu comando, pela lei da equidade.

3. A desobediência é um pecado contra a consciência.

Deus, pela criação, é nosso Pai, de modo que a

consciência liga-se ao dever. Malaquias 1: 6: "Se eu

sou Pai, onde está a minha honra?"

4. A desobediência é um pecado contra nossos votos.

Nós fizemos o juramento de lealdade, "Vossos votos

estão sobre mim, ó Deus", Salmo 65:12. Nós temos

muitos votos sobre nós - nosso voto batismal, nosso

sacramental, nosso nacional, e nossos votos do

doente. Aqui estão quatro cordas para nos chamar à

obediência, e se nós deslizarmos nesses nós sagrados

e lançarmos estas cordas de nós, Deus não virá sobre

nós por perjúrio? Se nossos juramentos não nos

amarrarem, Deus tem correntes que o farão!

5. A desobediência é um pecado contra as nossas

orações. Oramos: "Que a Vossa vontade seja feita".

De modo que, por não-obediência, nos confundimos

e vivemos em contradição com nossas próprias

orações. Aquele homem que é autoconfuso, é

autocondenado.

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6. A desobediência é um pecado contra a bondade de

Deus. É um grande pecado; é um retrocesso contra o

amor de Deus, um desprezo das riquezas de Sua

bondade, Romanos 2: 4. Portanto, o Apóstolo liga

estes dois pecados juntos, 2 Timóteo 3: 2,

desobediência e ingratidão; e isso tinge um pecado

com uma cor carmesim. Um chama-se ingratidão, o

seminário de todo o pecado. A ingratidão de Brutus

foi mais profunda para o coração de César, do que a

facada.

7. A desobediência é um pecado contra a natureza.

Toda criatura em sua espécie obedece a Deus.

Criaturas animadas o obedecem. Deus falou ao peixe

para pôr Jonas em terra, e o fez imediatamente,

Jonas 2:10. Quais são os hinos agradecidos dos

pássaros, como Ambrósio os chama, senão tributos

de obediência?

(Nota do tradutor: É pela obediência que se consuma

a conformação à santidade de Deus, de modo a

satisfazer aquela justiça perfeita à qual nos referimos

na parte introdutória deste livro. Não está portanto

em foco uma obediência servil, mas filial, uma

obediência que nos leva a ser como é o nosso Pai, o

padrão segundo o qual devem estar ajustadas as

nossas ações, pensamentos e palavras. Assim como

Ele é e age, também devemos ser nós, pois foi para

este propósito que fomos criados por Ele.

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Em sendo uma obediência de caráter filial, ela deve

ser por conseguinte voluntária e por amor. Amor

sacrificial ao pai e aos irmãos. Deus é amor, e sendo

a fonte do amor, não se poderia esperar de seus filhos

que não vivessem no mesmo amor do Pai.

Não se pense portanto no mero cumprimento de

deveres, quando se fala em obediência, pois isto não

deve ser entendido segundo o homem natural, senão

por aquele que agora não é mais carne, senão

espirito, pois tem a habitação, a direção, a instrução,

a unção, a manifestação, o poder do Espírito Santo

operando tudo isto em sua vida, para conduzi-lo a

viver no centro da vontade de Deus.)

Criaturas inanimadas obedecem a Deus. "As estrelas

em seu curso lutaram contra Sísera", Juízes 5. "O

vento e o mar obedecem a Ele", Marcos 4:41. As

próprias pedras, se Deus lhes dá uma comissão,

clamarão contra os pecados dos homens. Habacuque

2:11, "pois a pedra clamará da parede, e a trave lhe

responderá do madeiramento." Se os homens se

calassem - as pedras, de alguma maneira, teriam

testificado de Cristo, Lucas 19:40. Na paixão de

Cristo as rochas se fenderam, Mateus 27:51; que

retórica retumbante foi aquela voz para dizer ao

mundo que o Messias estava agora crucificado. Toda

criatura deve obedecer a Deus, menos o homem? Oh,

homem, pense assim consigo mesmo: "Se Deus me

tivesse feito uma pedra, eu teria obedecido a Ele, e

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agora que Ele me fez ser racional, eu me recusarei a

obedecer?" Isso é contra a natureza. Não há quem

desobedeça a Deus, senão o homem e o diabo. Não

podemos encontrar ninguém com quem se juntar,

senão o diabo?

8. A desobediência é um pecado contra a

autopreservação. A deslealdade é traição, e por

traição o pecador está preso à ira de Deus. 2

Tessalonicenses 1: 7-9, " e a vós, que sois atribulados,

alívio juntamente conosco, quando do céu se

manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu poder

em chama de fogo, e tomar vingança dos que não

conhecem a Deus e dos que não conhecem a Deus e

dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor

Jesus; os quais sofrerão, como castigo, a perdição

eterna, banidos da face do senhor e da glória do seu

poder." Aquele que se recusar a obedecer à vontade

de Deus ao comandar, certamente obedecerá Sua

vontade ao punir. O pecador, enquanto pensa em

desatar o nó da obediência, torce o cordão de sua

própria condenação!

Assim vistes o pecado de desobediência exposto nas

suas cores sangrentas. "Agora, pois, ó reis, sede

prudentes; deixai-vos instruir, juízes da terra. Servi

ao Senhor com temor, e regozijai-vos com tremor.

Beijai o Filho, para que não se ire, e pereçais no

caminho; porque em breve se inflamará a sua ira.

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Bem-aventurados todos aqueles que nele confiam."

(Salmo 2: 10-12).

8. Outro motivo, é o benefício da obediência. Salmo

19:11: "Cumprindo os Seus preceitos há grande

recompensa." A obediência é coroada de felicidade!

Assim o texto diz, "feliz é você." Se esse argumento

não prevalecer, o que será?

QUESTÃO. Mas de que felicidade você está

falando?

RESPOSTA. Todos os tipos de bênçãos são

derramados sobre a cabeça da obediência, como o

óleo precioso foi derramado sobre a cabeça de Arão.

1. Bênçãos temporais. "E todas estas bênçãos virão

sobre ti e te alcançarão, se ouvires a voz do Senhor

teu Deus: Bendito serás na cidade, e bendito serás no

campo. Bendito o fruto do teu ventre, e o fruto do teu

solo, e o fruto dos teus animais, e as crias das tuas

vacas e das tuas ovelhas. Bendito o teu cesto, e a tua

amassadeira. Bendito serás quando entrares, e

bendito serás quando saíres. O Senhor entregará,

feridos diante de ti, os teus inimigos que se

levantarem contra ti; por um caminho sairão contra

ti, mas por sete caminhos rugirão da tua presença. O

Senhor mandará que a bênção esteja contigo nos teus

celeiros e em tudo a que puseres a tua mão; e te

abençoará na terra que o Senhor teu Deus te dá. O

Senhor te confirmará para si por povo santo, como te

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jurou, se guardares os mandamentos do Senhor teu

Deus e andares nos seus caminhos." (Deuteronômio

28: 2-9). Aquele que tem coração frutífero, terá uma

colheita frutífera. Deus o fará prosperar em sua

propriedade; e seu cesto não será apenas cheio, mas

abençoado. Deus abençoará o que tem. Aqui está não

só o saco cheio de trigo, mas o dinheiro na boca do

saco.

2. Bênçãos espirituais. Êxodo 19: 5, "Agora, pois, se

atentamente ouvirdes a minha voz e guardardes o

meu pacto, então sereis a minha possessão peculiar

dentre todos os povos, porque minha é toda a terra."

Tu serás Minha porção, Minhas joias, a menina dos

Meus olhos. Eu vou dar reinos para o teu resgate.

Jeremias 7:23: "Obedeça, e eu serei o teu Deus." Eu

me entregarei a você por uma ação de dom. Que

misericórdia superlativa soberana é esta! Salmo 14:

4, "Feliz é o povo cujo Deus é o Senhor."

3. Bênçãos eternas. Hebreus 5: 9, "Cristo tornou-se o

autor da eterna salvação, para todos os que

obedecem a Ele.” Oh, então, quem não estaria

apaixonado pela obediência! Enquanto agradamos a

Deus, nós nos deleitamos. Vocês veem, irmãos, que

vocês não são perdedores pela obediência.

Vou estabelecer algumas regras para ajudar os

cristãos em sua obediência, que pode ser o sacrifício

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de um doce aroma para Deus. A obediência deve ter

esses quatro ingredientes nela:

1. A obediência deve ser CORDIAL. Deuteronômio

26:16: "Neste dia o Senhor teu Deus te manda

observar estes estatutos e preceitos; portanto os

guardarás e os observarás com todo o teu coração e

com toda a tua alma.” Romanos 6:17, "Vocês

obedeceram de coração". Obediência sem o coração,

é como fogo no altar sem incenso. O coração é a fonte

do amor, e é o amor que perfuma todos os deveres. O

coração torna o serviço uma oferta livre, ou então é

apenas um dever morto. Caim trouxe seu sacrifício,

não seu coração. Obediência sem o coração é

hipocrisia! "Como você pode dizer 'Eu te amo”,

quando seu coração não está comigo?" Juízes 16:15.

2. Obediência deve ser EXTENSIVO. Deve alcançar

todos os mandamentos de Deus, 1 Reis 9: 4, Lucas 1:

6.

QUESTÃO. Mas quem pode chegar a isso?

RESPOSTA. Embora não possamos manter

legalmente todos os mandamentos de Deus - contudo

podemos evangelicamente:

Um verdadeiro cristão consente à equidade de toda a

lei. Romanos 7:12: "A lei é santa, justa e boa". Ele fixa

seu selo em todas as leis.

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Um verdadeiro cristão tem consciência de toda lei.

Davi respeitou todos os mandamentos de Deus,

Salmo 119: 6; seu olho estava sobre todos os

preceitos. Cada comando tem tal autoridade sobre

um cristão, que ele não pode dispensar. Embora ele

falhe em cada dever, ainda não se atreve a

negligenciar qualquer dever.

O filho de Deus deseja guardar todos os

mandamentos. Salmo 119: 5, "Oh, sejam os meus

caminhos dirigidos de maneira que eu observe os

teus estatutos!" O que um filho de Deus carece de

força - ele compensa em vontade. Romanos 7:18, "o

querer está em mim." O regenerado permanece

dobrado a todos os preceitos de Deus.

A alma graciosa lamenta que não possa fazer melhor.

Quando ele falhar, ele clama: "Ó homem miserável

que eu sou!" Romanos 7:24. "Oh, este coração

incrédulo, como estou obstruído pela corrupção!"

Assim, um filho de Deus lamenta as suas falhas e

julga-se por elas, e isto é, no sentido evangélico,

guardar toda lei.

Corações insensíveis, como eles são leves em sua

obediência - assim eles são parciais em sua

obediência. Eles dispensarão alguns deveres; para

satisfazer alguns pecados. "Que o Senhor me perdoe

nesta única coisa", 2 Reis 5:18. O hipócrita andará em

alguns dos estatutos de Deus, não em todos. Ele é

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como um cavalo coxo, que não põe todos os pés no

chão. Há cristãos coxos que se detêm e mancam e se

favorecem em algumas coisas, embora seja para o

perigo de suas almas. Herodes morreria tão cedo

quanto deixaria seu incesto. Mas a verdadeira

obediência é universal. Devemos ao nosso Deus uma

obediência ilimitada.

3. O terceiro ingrediente na obediência é a FÉ.

Hebreus 11: 6, "Sem fé é impossível agradar a Deus";

portanto, é chamada a obediência da fé, Romanos

16:26. De Abel é dito ter oferecido pela fé, um

sacrifício melhor do que Caim. A fé é um princípio

vital; sem fé todos os nossos serviços estão mortos.

Portanto, a Escritura fala de obras mortas, Hebreus

6: 1.

QUESTÃO. Mas por que esse fio de fé de prata

atravessa toda a obra da obediência?

RESPOSTA. Porque a fé olha para Cristo em cada

dever, e assim a pessoa e a oferta são aceitas. Efésios

1: 6, "Ele nos aceitou no amado". Não somos aceitos

por nossos deveres, mas por meio do Amado. A fé

olha para o mérito de Cristo para tirar a culpa, e o

Espírito de Cristo para tirar a sujeira que se fecha aos

serviços mais angélicos. Assim, ela adquire aceitação.

Não, a fé não olha somente para Cristo, mas une-se a

Cristo. Os crentes são parte de Cristo. Cristo e os

santos formam um só corpo. Não é de admirar, então,

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se Deus lança um aspecto favorável sobre os serviços

que os crentes lhe apresentam.

4. A obediência deve ser CONSTANTE. Apocalipse

2:26, "Ao que vencer, e ao que guardar as minhas

obras até o fim, eu lhe darei autoridade sobre as

nações." A fé deve liderar a caravana e a perseverança

deve proteger a retaguarda.

Há algo que ainda resta para um cristão fazer, e ele

não deve deixar o trabalho até que a noite da morte

venha. "Um antigo discípulo", Atos 21:16. Que honra

é que sejamos loucos de piedade. Que crédito quando

se deve dizer dele: "Suas últimas obras são melhores

do que as primeiras!" Apocalipse 2:19. Um bom

cristão é como o vinho que é bom até a última gota.

Um artista faz seu último trabalho mais completo e

hábil. Bem-aventurado aquele homem que, quanto

mais próximo está da morte, move-se mais rápido

para o céu!

Nota do tradutor: não poderíamos perder a

oportunidade de agregar a este sermão de Thomas

Watson, o breve sermão de William Bacon Stevens

intitulado A Lei de Crescimento Espiritual que trata

do mesmo tema da prática da Palavra, pois se em

Watson temos os argumentos em relação ao dever da

prática, em Stevens, temos o modo como deve ser

realizada.

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"Exercita-te pessoalmente na piedade." (1 Timóteo 4:

7)

No texto Paulo coloca diante de nós um grande alvo:

a piedade.

O meio pelo qual pode ser obtida: por exercício.

E nosso dever pessoal de lutar para obtê-la, pela

exortação: "Exercita-te na piedade".

O homem que se contenta em passar uma existência

sem objetivo; ou que procura apenas suprimentos

para as necessidades diárias, sem olhar

esperançosamente para o futuro, e nunca

procurando vencer; faz injustiça à sua natureza

superior, e se arrasta em um plano, senão pouco

elevado acima das exigências da existência animal.

Nenhum objetivo pode assim chamar todos os

poderes da mente humana, e da alma, como o da

busca de Deus. Pois, o que é a piedade? Não é

semelhança com Deus? Alguém que procura ser

como Deus? No entanto, a questão surge

imediatamente: como o homem pode ser como

Deus?

Deus é infinito - o homem é finito.

Deus enche a imensidão - o homem está em um

pequeno mundo.

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Deus habita a eternidade - o homem tem o seu hálito

nas narinas, florescendo como a relva de hoje, e

amanhã é cortado e secado.

No entanto, com toda esta disparidade, a Bíblia nos

exorta a colocar o Senhor sempre diante de nós, e a

crescer em Sua semelhança.

O que pode ser chamado de atributos físicos de Deus,

aqueles que pertencem a Ele como Criador de todas

as coisas - Governante sobre a estrelas e sistemas, o

Sustentador do universo; estes, o homem não pode

compreender nem copiar, eles estão além de seu

alcance, e é sobre eles, que a Bíblia pergunta: "Quem

por procurar pode descobrir Deus?"

São as qualidades morais de Deus que devemos

copiar e emular. Estas são reveladas a nós em Sua

santa Palavra; e embora estas, como os outros

atributos de Deus, sejam infinitos, contudo são

colocadas diante de nós como padrões para

admirarmos e copiarmos.

Todos os atributos morais de Deus, estão

compreendidos em Sua santidade. Pois a santidade é

a perfeição moral. Aplicada a Deus, a santidade

significa a totalidade e completude da natureza

divina, da qual nada pode ser tomado, e à qual nada

pode ser acrescentado. Inclui, portanto, a verdade, o

amor, a misericórdia, a bondade e coisas

semelhantes; porque a ausência de qualquer um

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marcaria a falta de integridade e da completude do

caráter divino. A presença de toda virtude é

necessária para tornar completo o círculo da

santidade, e todas elas são encontradas em perfeita

plenitude em Deus.

Quando Deus então nos ordena na Bíblia: "Sede

santos, porque eu sou santo"; quando somos

exortados a "seguir a santidade, sem a qual ninguém

verá o Senhor"; quando de nós é expressamente dito

que "Deus não nos chamou à impureza, mas à

santidade"; devemos saber que por estas palavras,

que Ele nos chama à piedade, ou semelhança com

Deus, para sermos como Ele em todas essas

qualidades morais, pelas quais podemos andar nos

Seus caminhos, e copiar Seus atos, e manifestar Seu

espírito.

Na linguagem do salmista, o Senhor está sempre

colocado diante de nós, assim como o artista sempre

coloca seu modelo diante dele; e, dia a dia, com um

processo lento e cuidadoso, trabalha sua pintura, ou

sua estátua, à forma e ao espírito do original.

O homem, então, que coloca diante de si o objetivo

de ser como Deus, coloca sobre si o objetivo mais

grandioso que uma mente criada pode alcançar. Ele

nunca pode, de fato, alcançá-lo plenamente;

contudo, como o apóstolo Paulo, "esquecendo-se das

coisas que ficam para trás e avançando para aquelas

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que estão adiante", ele se encaminha para o alvo de

seu alto chamado.

Quanto maior o objetivo, maior a aspiração. Quanto

mais puro o objeto da ambição do coração, mais puro

se torna o coração que o busca. Daí a importância dos

objetivos sagrados, do exercício de si mesmo para a

piedade.

A piedade, então, como falada no texto, é apenas

outro nome para a santidade em ação, isto é, a

Piedade Prática. E, de fato, em um lugar nos Atos dos

Apóstolos, a palavra é traduzida santidade.

A piedade, então, ou a santidade, é aquilo que cada

ser humano deveria buscar e se esforçar para obter.

Em sua pureza, supera todos os objetivos humanos,

pois só ele é perfeitamente santo. Em seu poder de

elevação sobre pensamento e coração, ele supera

todos os chamados de ambição terrena. Na grandeza

das bênçãos que resultam de buscá-la, ultrapassa

tudo o que o mundo pode oferecer aos seus mais

ilustres devotos. A duração da bem-aventurança que

ela comunica, vai muito além do que a terra pode

oferecer, como a eternidade em si mesma estende os

limites do tempo.

Mas, você pode dizer que esta santidade, ou piedade,

não é atingível. Não é, em toda a extensão do Original

que você é chamado para copiar, porque há dois

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elementos na santidade de Deus que nunca podem

existir no homem, enquanto ele tabernacular na

carne, a saber, a completa ausência de pecado, e a

completa perfeição de cada virtude. Não é assim com

o homem; ele é sempre uma vítima do pecado, e

nunca apresenta um conjunto completo de virtudes.

Algumas ou mais virtudes sempre faltam, mesmo nos

mais perfeitos caracteres humanos. Algumas ou mais

virtudes são sempre desproporcionais, ou

imperfeitamente desenvolvidas, de modo que o

círculo não é completo em todas as suas partes, nem

harmonioso em todas as suas operações. E assim o

homem nunca pode ser como Deus.

No entanto, há um sentido, e um mais importante, no

qual podemos ser como Deus. Se não fosse assim, a

exortação do texto seria uma zombaria. Esse sentido

é que, tomando os elementos do caráter moral de

Deus como os encontramos na Bíblia - Sua verdade,

Seu amor, Sua pureza, Sua misericórdia, Sua

bondade, Sua longanimidade, etc, esforcemo-nos

para torná-los os princípios orientadores de nossas

vidas.

A própria contemplação desses atributos de Deus, faz

com que o pecado pareça excessivamente

pecaminoso; porque lança a pura luz da santidade de

Deus nas câmaras cheias de pecado do coração, e

revela seus horrores e sua vergonha!

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Enquanto a tentativa de imitar essas excelências,

fortalece todo o sentido moral, dá tom e vigor a cada

colocação do poder espiritual, e torna a alma, uma

vez fraca que afundou diante de cada provação, se

levanta e luta virilmente em uma força não

propriamente sua, e assim ganha vitórias onde até

agora tinha encontrado apenas derrotas. Isso dá a um

homem um caráter divino, e eventualmente o coroa

com piedade. Isto é aquilo pelo que todos podem

lutar, e guardar.

Paulo exorta Timóteo a "seguir a justiça, a piedade, a

fé, o amor, a paciência, a mansidão". Pedro nos diz

para "ter toda a diligência para acrescentar à nossa fé

a virtude, e à virtude, o conhecimento, e ao

conhecimento, a temperança, à temperança, a

paciência, à paciência, a piedade, à piedade, a

fraternidade, e à fraternidade o amor. No Antigo

Testamento, pela boca do profeta, Deus diz do

homem: "Eu o formei para a minha glória". No Novo

Testamento, o apóstolo diz: "Glorifiquem a Deus,

portanto, em seu corpo e em seu espírito, que são de

Deus". E Jesus Cristo declara: "Nisto é glorificado o

meu Pai, em que deis muito fruto".

Frutificação espiritual, fruto da justiça, frutos do

Espírito, demonstração de amor, alegria, paz,

longanimidade, mansidão, bondade, fé, temperança

– é nestas coisas, que manifestamos a nossa piedade,

e glorificamos a Deus. Estes são objetivos que

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podemos atingir; alturas, que podem ser escaladas e

alcançadas. . .

Pelo olho que olha para Jesus,

Pelo pé que se prende na fenda da Rocha,

E pela mão da fé, que nunca deixa ir seu alcance do

crucificado.

O resultado dessa piedade se manifestará de várias

maneiras.

Isso dará a um homem a vitória sobre si mesmo. A

autoconquista é a mais dura de todas as conquistas.

Isso decorre do fato de que nunca podemos

realmente nos conhecer, porque nossos corações são

"enganosos acima de todas as coisas". Daí a frase de

ouro, "Conhece-te a ti mesmo", inscrita no templo de

Delfos, foi dito ser o fundamento de toda a sabedoria

humana. Nenhum homem pode jamais conhecer a si

mesmo como um ser moral, enquanto ele se mede

pelo padrão de sua própria consciência não

esclarecida; ou compara-se com seus semelhantes;

ou anula a lei de Deus. Somente o homem que se

exercita na piedade, e olha para o seu caráter à luz da

Palavra de Deus, mede-se pelo padrão da santa lei de

Deus, e vendo quais são seus defeitos, e aprendendo

como somente eles podem ser remediados - ele

procura o Agente divino, por cujo poder somente

podemos alcançar qualquer bondade, por aquela

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força e graça, que o capacita a dominar-se e guiar-se,

de modo que ande retamente e com segurança no

caminho do Senhor.

O cultivo dessa santidade permitirá ao homem

vencer o mundo. Não no sentido de conquistadores

humanos, vencendo exércitos, nações, territórios, e

levantando tronos, e balançando cetros, e

dominando sobre o povo subjugado. Tais conquistas,

tão ansiosamente procuradas e compradas com tanto

trabalho, e coragem, sacrifício e talento, não são o

que o homem piedoso procura.

Suas vitórias sobre o mundo são morais - sobre suas

armadilhas, suas seduções, suas tentações, suas

variadas influências para o mal, que o cercam de

todos os lados; e persistem em seus ataques com uma

energia incansável que não conhece cansaço ou

relaxamento.

Ele olha para o mundo à luz do semblante de Deus.

Ele mede suas honras pela linha de medição da lei de

Deus. Ele pesa suas riquezas nos saldos do santuário.

Ele o examina, não como se vê nas luzes

espalhafatosas e falsos refletores que o Príncipe deste

mundo estabelece para atrair e enganar; mas no

exame calmo e claro de uma mente cheia de

pensamentos elevados e santos, consciente de sua

glória futura, e sabendo que o mundo e tudo o que

está nele logo será queimado na conflagração final.

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Assim, a fé em Jesus Cristo, o grande princípio

fundamental de toda piedade, permite-lhe vencer o

mundo. Ele encontra a verdade das palavras de

Paulo, que "a piedade tem a promessa da vida que

agora é, assim como da que está por vir".

Esta piedade, tão grande em si mesma, e em seus

resultados, pode ser assegurada, apenas por se

exercitar para alcançá-la. Não vem. . .

Por si só,

Nem por meditação,

Nem por oração fervorosa,

Nem pela diligente leitura da Palavra de Deus.

Todas estas coisas são socorros e adjuntos - mas

nenhuma delas, nem todas combinadas, nos darão

piedade. É o resultado de princípios morais

colocados em exercício ativo, e exige o esforço pleno

e extenuante da mente.

Há muito sentido na palavra original que o apóstolo

aqui usa, e que é traduzida por "exercício". A

tradução literal é - seja ginasta em piedade. É uma

palavra da qual o termo gymnasium é desenvolvido.

Segundo Platão, a ginástica, ou o mero exercício e

cultivo do poder muscular, constituía uma terceira

parte da educação grega. Não havia, provavelmente,

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qualquer cidade grega que não tivesse seu ginásio; e

nenhum menino grego saudável, que não foi

disciplinado em seu exercício severo. O ponto

culminante desta disciplina encontrou seu expoente

nas festividades nacionais da Grécia, os jogos de

Istmo perto de Corinto, e as competições mais

comemoradas de Olímpia.

Paulo, durante sua morada em Corinto, tinha sido

trazido em estreito contato com essas cenas, e viu

com seus próprios olhos, quanta labuta e sacrifício os

homens suportariam para ganhar a notoriedade de

ser um conquistador no Istmo, ou em Olímpia. Dia

após dia, semana após semana e mês após mês - esses

aspirantes à honra dedicar-se-iam à luta, ao boxe, à

corrida, ao salto e a qualquer outro exercício de

ginástica, com paciência, em meio a privações; sem

queixa de sua severidade de disciplina; sem hesitação

para suportar sua dureza; na esperança de que o

arauto um dia gritaria seus nomes como vencedores

para as multidões reunidas e ligaria seus nomes à

Olimpíada em que eles foram vencedores.

A ideia, então, do apóstolo é que, para alcançar a

piedade, devemos ser ginastas morais, dispostos a

usar disciplina severa; dispostos a sofrer privações

dolorosas; dispostos a suportar como um exercício

torturante de carne e sangue; como fez o ginasta, que

treinou para ganhar a coroa de hera no festival de

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Istmo, ou a guirlanda de oliva que coroou o

conquistador em Olímpia.

E por que não deveríamos? Os objetivos e as

recompensas são infinitamente maiores. A arena em

que devemos realizar este exercício, é na Igreja de

Deus. Os métodos pelos quais devemos fazê-lo são

tão diferentes como os nossos vários temperamentos,

gostos, posições, talentos e oportunidades. Não há

ninguém que não possa fazer algo; e sobre todos é

estabelecido o dever de viver para a glória de Deus.

Assim, a verdadeira religião é uma coisa muito

pessoal e prática. Pessoal, porque é você mesmo que

deve fazer o exercício; é um ato individual, e

nenhuma quantidade de exercício feito por aqueles

ao seu redor na mesma família, na mesma igreja;

pode aproveitar para seu benefício. É você quem deve

ser o ginasta moral neste combate espiritual.

E é prático, porque as coisas em que devemos nos

exercitar para a piedade estão em toda a nossa vida

diária. Devemos exercitarmo-nos em restringir um

temperamento violento, em verificar a impaciência,

em frear a língua, em governar o espírito, em

erradicar defeitos pessoais da mente e do coração; na

superação das tentações à luxúria, do orgulho, da

inveja, do ódio e da contenda; em suportar as

fraquezas dos outros, em ser manso em censura, em

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não murmurar nas dispensações de Deus, em

subjugar o pecado interior.

E a este trabalho repressivo, que exige um exercício

constante, deve-se acrescentar uma obra agressiva -

uma observação das oportunidades para o bem, uma

saída para o campo do esforço cristão ativo, uma

entrega de alguma parte do tempo às obras do amor

e do dever cristãos; a prontidão para dar

liberalmente, para ensinar amorosamente, para

sacrificar alegremente o nosso conforto, para

fazermos bem aos pobres, aos ignorantes, ao

proscritos, ao prisioneiros, ao doentes, aos aflitos. E

se não pudermos fazer mais, podemos dar um copo

de água fria a algum dos que sofrem e que são de

Cristo, e que "não perderá a sua recompensa".

Poderes morais, como os músculos do corpo, são

desenvolvidos pelo exercício.

O braço não usado se encolhe;

A mão não utilizada perde sua destreza;

O cérebro não utilizado perde sua força.

A lei do crescimento físico e da força, é o exercício.

A lei do crescimento espiritual e da força são

exercícios espirituais - fazendo com o nosso poder o

que nossas mãos encontram para fazer, trabalhando

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com toda a diligência para tornar nosso chamado e

eleição seguros, trabalhando enquanto é dia e dando

nossos corpos para serem "sacrifícios vivos, santos,

aceitáveis a Deus."

Nosso caráter moral é uma coisa de crescimento, e de

crescimento lento; primeiro a haste, depois a espiga,

depois o grão cheio na espiga. O caráter é um

princípio posto em prática, e desenvolvido em

provações. Esta luta com as dificuldades, com as

tentações, com as decepções - desenvolve a força e

brio da mente; e faz forte e firme, as afeições do

coração. É uma sucessão de. . .

Pequenas vitórias diárias sobre pequenas provas

diárias;

Pequenas resistências diárias a pequenas tentações;

Pequenos exercícios diários de esforços sérios e

verdadeiros para o bem,

Que vão compor um caráter bem desenvolvido.

O escultor, na vivacidade de sua imaginação,

descreve mentalmente a figura que ele vai esboçar no

bloco de mármore diante dele; mas antes que seu

ideal se torne realidade, antes que sua mão modele o

que sua imaginação retratou - quantas semanas e

meses ele deve "se exercitar" em sua arte, com um

paciente martelo, com um formão hábil, com mão

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cautelosa - antes que o mármore respire com a vida

do artista, e a pedra fale dos pensamentos do

escultor.

Assim é com a produção da piedade. Não é o produto

de um dia, o trabalho de algumas resoluções mentais.

É o resultado do exercício extenuante - o trabalho

silencioso, sério, persistente, inflexível e cotidiano do

coração que anseia pela glória de Deus, lutando para

se tornar como Deus.

O treinamento do soldado que lhe convém para a

luta, é um exercício preciso e diário de evolução e

manipulação de armas, cada um por si só, sendo do

caráter mais trivial. As batalhas do soldado são

poucas - mas seu treinamento é em todos os dias. É

este treinamento diário em pontos pequenos, que o

habilita para a batalha; e ele nunca poderia estar

preparado para a guerra, senão por esta disciplina

diária no manual de armas, e nas táticas do campo.

Assim também com a vida cristã. Tem poucas épocas

grandes, e quando estas ocorrem, nunca podem ser

encontradas com sucesso, a menos que tenha havido

exercício diário na prática da piedade. Não é muito,

talvez, que ele possa fazer qualquer dia; mas é o

paciente fazendo de muitas coisas pequenas que se

multiplicam dia a dia, para o que é grande e influente.

Quanto desse tipo de exercício de si mesmo, é exigido

pela exortação, "carregai os fardos uns dos outros, e

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assim cumprireis a lei de Cristo". Que autoexercícios

estão envolvidos aqui, para suportar o fardo de

pobreza, de aflição, de doença, de desapontamento!

Em cada um deles para um irmão que está sofrendo,

prova-se o coração fervoroso e a mão forte de um

irmão.

Exercitamo-nos em ajudar uns aos outros

espiritualmente. Ajudando...

O pecador, quanto a vencer a sua pecaminosidade;

O buscador de Cristo, para encontrar a Cristo;

O penitente, ao grande Doador de perdão;

A consciência perturbada, ao Consolador.

Ajude seu irmão. . .

Para lançar fora suas dúvidas e incredulidade;

Voltar-se de suas apostasias e negligência do dever;

de sua mornidão e indiferença.

Ajudem-no . . .

Para andar no caminho do dever,

Para aprender a vontade de seu Mestre,

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Para vencer suas propensões ao mal,

Para afastar hábitos errados,

Para conter a língua,

Para governar seu espírito.

Ajudem-no . . .

Em oração,

Em boas obras,

No cultivo das graças do Espírito.

Tome uma extremidade de todos os seus fardos, e

ajudem-no a carregá-los por amor de Jesus.

Exercite-se. . .

Em oração,

Em autoexame estrito,

Em esmolas conscientes,

Na leitura diligente da Palavra de Deus,

Em trabalhos pessoais para a salvação das almas.

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Exercite-se em ministrações diárias para os pobres,

doentes e aflitos.

Exercite a si mesmo em copiar linha por linha, e

característica por característica, as virtudes de Jesus,

que andou fazendo o bem, de modo que. . .

Sua vida possa moldar sua vida,

Seu espírito guiar seu espírito,

Suas palavras moldarem suas mentes,

Suas ações estimularem seus atos;

E assim, como um espelho terrenal mantido ao sol do

meio-dia - você possa refletir a partir da superfície de

sua graça, o coração polido, a luz e a glória, reduzida

de fato em tamanho e em força, mas ainda a luz

refletida e a glória do Sol da justiça.

Assim, exercitando a si mesmo para a piedade, você

se torna cada vez mais apto para a herança dos santos

na luz; e antes de muito tempo, entra naquele mundo

de luz onde tudo é puro, e verdadeiro, e bom, porque

é a morada de um Deus Santo!