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2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PARANAGUÁ/PR
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA PÚBLICA
DA COMARCA DE PARANAGUÁ – ESTADO DO PARANÁ.
“Nenhuma realidade é mais essencial para a nossa autocertificação do que a história. Mostra-nos o mais largo horizonte da humanidade, oferece-nos os conteúdos tradicionais que fundamentam a nossa vida, indica-nos os critérios para avaliação do presente, liberta-nos da inconsciente ligação à nossa época e ensina-nos a ver o homem nas suas mais elevadas possibilidades e nas suas realizações imperceptíveis.”1
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, por meio
da Promotoria de Justiça de Proteção ao Meio Ambiente, por seus representantes infra-
assinados, usando das atribuições que lhe são conferidas, vem à presença de Vossa
Excelência, com fulcro nos artigos 129, inciso III e 225, da Constituição Federal e com
fundamento nas Leis Federais nº 6.938/81 e nº 7.347/85, bem como demais leis estaduais
e municipais pertinentes à espécie, com base no Inquérito Civil nº MPPR-
0103.15.000129-7, propor a presente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL com pedido liminar,
em face do
MUNICÍPIO DE PARANAGUÁ, pessoa jurídica de direito
público interno, inscrita no CNPJ sob nº 76.017.458/0001-15, com sede administrativa na
Prefeitura Municipal de Paranaguá, situada na Rua Julia da Costa, 322, bairro Centro
Histórico, CEP 83203-060, Município de Paranaguá, Estado do Paraná, e da
FUNDAÇÃO MUNICIPAL DE TURISMO DE PARANAGUÁ,
“DR. JOAQUIM TRAMUJAS”, pessoa jurídica de direito público, inscrita no CNPJ sob nº
42.561.175/0001-15, com sede na Avenida Arthur de Abreu, 44, bairro Centro Histórico,
Paranaguá/PR, CEP 83203-010, pelos fatos e fundamentos jurídicos que passa a expor:
1 JASPERS, Karl. Iniciação Filosófica. Lisboa: Guimarães Editores, 1987, p. 89.
1
2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PARANAGUÁ/PRI – SÍNTESE FÁTICA
A Estação Ferroviária de Paranaguá, construída no ano de
1883, é considerada como marco histórico da organização política e econômica do Estado
do Paraná, o qual, logo após sua emancipação, passou por disputas internas para definir o
Porto de Paranaguá como terminal de cargas terrestres que, à época, era exclusivamente
ferroviária.2
No livro intitulado “Espirais do Tempo” da Secretaria de
Estado da Cultura do Paraná, o aludido bem histórico possui as seguintes informações:
“Em 5 de julho de 1880 o imperador D. Pedro II inaugurou oficialmente, na cidade Paranaguá, a construção da estrada de ferro entre o litoral e o primeiro planalto. Naquele momento dava-se também início à edificação da primeira Estação Ferroviária de Paranaguá, construída três anos depois. Em 17 de novembro de 1883, dia de Nossa Senhora do Rocio, padroeira da cidade, foram inaugurados o primeiro trecho de estrada, unindo Paranaguá e Morretes, e a estação de passageiros e carga, batizada com o nome do monarca. Edificação de composição simétrica, tem ao centro, destacado, um pórtico de entrada, com colunas e ornatos de inspiração neoclássica. Na cobertura, em telhas cerâmicas, são marcantes o frontão central e uma serie de óculos de ventilação”.3
Considerando a imensa importância para o patrimônio
histórico e cultural do município de Paranaguá, bem como para os cidadãos
Parnanguaras, foi tombada pela Secretaria Estadual de Cultura do Estado do Paraná, com
inscrição no Livro Tombo nº 108-II, conforme fls. 18/21.
Apesar da importância histórica e da beleza acima descritas,
no dia 19 de fevereiro de 2015, chegou ao conhecimento desta 2ª Promotoria de Justiça
da Comarca de Paranaguá/PR, por meio da representação de fls. 13/15 (Inquérito Civil
anexo), informações sobre o estado de abandono que se encontra o prédio histórico da
antiga Estação Ferroviária, localizada na Avenida Arthur de Abreu, nº 124, Centro, neste
município, a qual é, repita-se, tombada pela Secretaria Estadual de Cultura do Estado do
Paraná, com inscrição no Livro Tombo nº 108-II.
2 Informações disponíveis na página eletrônica da Secretaria de Estado da Cultura.3 Disponível em: <http://www.patrimoniocultural.pr.gov.br/arquivos/File/BIBLIOGRAFIACPC/ESPIRAIS /prg1.pdf> Acesso em 10 de março de 2015.
2
2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PARANAGUÁ/PRAinda, foi informado que, no dia 13 de fevereiro de 2013, o
requerido Município de Paranaguá promoveu a retirada do telhado do aludido prédio,
sem projeto técnico adequado e sem o devido cuidado para a preservação e segurança de
sua estrutura, o que restou demonstrado pela maneira como foi executado.
Para instruir o Inquérito Civil nº MPPR-0103.15.000129-7,
originado pela referida representação, a 2ª Promotoria de Justiça de Proteção ao Meio
Ambiente expediu ofícios aos Órgãos competentes a fim de obter informações acerca do
que foi noticiado (fls. 29/35, do IC anexo).
Sendo assim, constatou-se, através do Ofício nº 172/15 do
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), que o imóvel foi tombado
pelo Estado do Paraná e incluído na Lista do Patrimônio Cultural Ferroviário e cedido
provisoriamente pela União ao IPHAN, o qual, no dia 25 de agosto de 2011, através da
celebração de Termo de Compromisso cedeu o uso e a responsabilidade do imóvel em
questão ao requerido Município de Paranaguá (fls. 65/67 do IC anexo).
Por sua vez, o requerido Município de Paranaguá
encaminhou cópia dos seguintes documentos elaborados pela Secretaria Municipal de
Defesa Civil em vistorias realizadas no prédio da antiga Estação Ferroviária, em ordem
cronológica:
1. Relatório de Inspeção nº 004/2013: vistoria realizada
no dia 31 de janeiro de 2013, oportunidade em que se constatou, em síntese, que o
prédio histórico encontrava-se com diversos problemas estruturais, tais como degradação
das vigas e caibros, ausência de telhados e consequente infiltração contínua das águas
pluviais, pisos comprometidos, paredes trincadas e fissuradas, alvo de vandalismo devido
ao fácil acesso ao seu interior. Foram indicadas providências emergenciais a serem
adotadas pela municipalidade (fls. 28/46);
2. Relatório de Inspeção nº 030/2013: vistoria realizada
no dia 03 de outubro de 2013, sendo constatado que houve o desabamento do forro de
gesso da abóbada central devido à infiltração de água pluvial pela ausência de
cobrimento de telhado e reiterada, e a necessidade de adoção das providências
3
2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PARANAGUÁ/PRpendentes relacionadas no Relatório de Inspeção anterior, bem como isolamento do local
(fls. 46, verso/49, verso);
3. Relatório de Inspeção nº 016/2014: vistoria realizada
no dia 24 de julho de 2014, oportunidade em que se constatou a existência de telhas
soltas e algumas penduradas na estrutura de telhado, oferecendo risco à integridade
física de transeuntes, recomendando a realização de reparos urgentes (fls. 50, verso/52,
verso);
4. Laudo de Inspeção nº 019/2014: vistoria realizada no
dia 18 de agosto de 2014, quando constatou-se que houve o desabamento de
aproximadamente 20% (vinte por cento) da estrutura de madeira e cobertura da
edificação, devido ao apodrecimento das “cabeceiras das tesouras de madeira”, o que,
por sua vez, foi ocasionado pela infiltração das águas da chuva, sendo informada a
necessidade a interdição do prédio até conclusão das medidas mencionadas nos
relatórios de inspeção anteriores (fls. 53, verso/55);
5. Relatório de Ocorrência nº 14/2015: vistoria realizada
no dia 13 de fevereiro de 2015, em que se verificou que a Secretaria Municipal de Obras
promoveu a retirada da estrutura de cobertura do prédio, sendo que somente com a
chegada da Defesa Civil Municipal, ou seja, após o início da execução da obra em questão,
foi realizado o isolamento do local. Foi, então, determinada pela Defesa Civil Municipal a
paralisação das obras até a chegada do engenheiro responsável, o qual somente dirigiu-se
ao local para acompanhamento técnico do trabalho por solicitação da Defesa Civil (fls. 55,
verso/57).
Ainda foi juntado aos autos o Decreto nº 1.777, de 19 de
agosto de 2014, que interditou o prédio principal da antiga Estação Ferroviária por prazo
indeterminado, e até que se procedam as recuperações necessárias (fls. 58).
Há informações, nos autos, de que a requerida Fundação
Municipal de Turismo recebeu verbas provenientes do Ministério de Turismo para
efetuar as obras de restauração do prédio histórico em questão (reportagens jornalísticas
anexas), porém verifica-se que até o presente momento não foi realizada nenhuma obra
ou melhoria, sendo que a estação ferroviária está cada dia mais deteriorada.
4
2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PARANAGUÁ/PRAinda, conforme as informações e fotografias realizadas pelo
Sr. Oficial de Promotoria (Mídia Anexa), verifica-se a grave omissão do Poder Executivo
Municipal em preservar e manter bem de tanta importância para a sociedade
parnanguara. Além disso, basta passar em frente à referida Estação Ferroviária para
verificar o abandono e o descaso em relação a ela.
Importante ressaltar que até a presente data os requeridos
Município de Paranaguá e Fundação Municipal de Turismo (FUNTUR) não responderam
aos Ofícios nº 378/2015 e 384/2015, aos quais foi concedido o prazo de 10 (dez) dias para
resposta, ambos devidamente protocolizados no dia 24 de fevereiro de 2015, por meio do
qual o Ministério Público requisitou informações sobre: (i) a existência de projeto de
restauração da antiga estação ferroviária devidamente aprovado pela Secretaria Estadual
de Cultura do Estado do Paraná/PR (Coordenação do Patrimônio Cultural – CPC); (ii) o
motivo pelo qual foi promovida a retirada do telhado do prédio histórico em questão e se
existe projeto respectivo, com ART do seu responsável; (iii) se há pretensão de destinação
do prédio para alguma finalidade específica; (iv) se foram liberadas verbas pelo Ministério
do Turismo para restauração do prédio, em caso negativo, informar o motivo pelo qual
ainda não houve tal liberação de verbas; (v) em caso positivo, os motivos pelo qual até a
presente data não foi realizada a restauração; (vi) a data a partir da qual a necessária
restauração começará a ser realizada, bem como o cronograma de atividades.
Assim, considerando os termos do compromisso celebrado
entre o IPHAN e o requerido Município de Paranaguá, cabe a este dar ao bem histórico
em questão destinação compatível com o seu valor cultural para preservação da memória
ferroviária e para desenvolvimento da cultura e do turismo no Estado do Paraná,
adotando, dente outras, as seguintes providências previstas no aludido instrumento (fls.
63/65 do IC anexo):
“CLÁUSULA SEGUNDA – OBRIGAÇÕES DO COMPROMISSÁRIO:2. São obrigações do COMPROMISSÁRIO:2.1. (...) revitalizando a Estação Ferroviária de Paranaguá conforme ofício enviado pela Prefeitura Municipal e assinado pelo Sr. Prefeito Municipal, que contempla o pedido de posse do referido monumento, para que possam ser tomadas as medidas necessárias para sua total revitalização, considerando a necessidade de compreensão dos espaços e paisagens –
5
2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PARANAGUÁ/PRindissociáveis pela representação de seus usos e significados estético-históricos que conferem a identidade de cada local.2.2. Havendo necessidade de serviços de manutenção, esses deverão ser feitos respeitando o caráter de bem histórico e cultural. Serviços de restauração deverão ser precedidos de aprovação e anuência do IPHAN, cabendo ao COMPROMISSÁRIO acatar as orientações e recomendações técnicas expedidas pelo Instituto, no caso do bem estar em perfeito estado de conservação e manutenção deverão ser mantidas as condições em que lhe serão entregues.2.3. Promover a vigilância dos imóveis assim como obedecer à supervisão e fiscalização, a qualquer tempo, do IPHAN em virtude de caber a esse Instituto o poder de gestão dos bens (...).2.4. Assumir todas as despesas necessárias ao cumprimento das obrigações referidas no item 2.2 desta Cláusula, em decorrência de contrato, convênio, ou prestação de serviços, seja com pessoa física ou jurídica, assim como com os salários dos empregados contratados para esses fins, satisfazendo todos os encargos fiscais, tributários e sociais. (...)”.
Sendo assim, por ainda estar pendente de restauro o prédio
histórico da antiga Estação Ferroviária, e por ter restado evidente o descaso do requerido
Município de Paranaguá ante a procrastinação da execução dos projetos de restauro do
referido bem histórico e cultural, não se vislumbra outra alternativa, senão a propositura
da presente Ação Civil Pública como medida que se impõe.
II – DO DIREITO
Buscando proteger a qualidade de vida, a dignidade e bem-
estar, a Constituição Federal de 1988, pela primeira vez na história da República
Federativa do Brasil, dedicou um capítulo exclusivo ao meio ambiente, possibilitando ao
Poder Público e à coletividade os meios necessários para a tutela desse bem comum do
povo e definindo princípios e regras a serem seguidos, dentre eles, conforme dispõe no
“caput” do artigo 225, o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida.
Destaca-se, que quando se fala em meio ambiente em um
sentido mais amplo, entende-se como sendo “tanto o meio ambiente natural, quanto o
cultural e, ainda, o urbano (ou artificial).”4
4 MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Fundamentos de Direito Ambiental no Brasil. In: CUSTÓDIO, Helita Barreira. Direito Ambiental: e questões relevantes. Campinas: Millennium Editora, 2005.
6
2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PARANAGUÁ/PRPortanto, trata-se aqui de meio ambiente cultural, em que o
patrimônio cultural é constituído “por uma gama diversificada de produtos e subprodutos
provenientes da sociedade. Esse patrimônio deve ser protegido em razão de seu valor
cultural, pois constitui a memória de um país.”5
A própria Constituição Federal de 1988 albergou sua
proteção para as presentes e futuras gerações, conforme previsto em seus artigos 215 e
216.6
Ainda, o artigo 23, incisos III e V, da Constituição Federal
determina a competência comum de todos os entes federativos para proteger os
documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, bem como
proporcionar os meios de acesso à cultural e à educação7.
Vale lembrar que a Constituição Federal de 1988,
recepcionou o Decreto-Lei nº 25/37 que organiza a proteção do patrimônio histórico e
5 SIRVINSKAS, Luiz Paulo. Manual de Direito Ambiental. 11 ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 689.6 “Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais. (...)I defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro;II produção, promoção e difusão de bens culturais; III formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura em suas múltiplas dimensões; IV democratização do acesso aos bens de cultura; V valorização da diversidade étnica e regional.Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:I - as formas de expressão;II - os modos de criar, fazer e viver;III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.§ 1º - O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação. (...)§ 4º - Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da lei. (...)”.7 Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e conservar o patrimônio público; II -cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência; III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos; IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural; V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à ciência, à tecnologia, à pesquisa e à inovação;
7
2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PARANAGUÁ/PRartístico nacional. Com isso, o bem tombado deixou de ser um bem de interesse público,
passando a bem de uso comum do povo, ou seja, um bem difuso.8
No mesmo sentido, o Estado do Paraná, através da Lei
Estadual nº 1211/1953, que dispõe sobre o patrimônio histórico, artístico e natural do
Estado do Paraná, assim determina:
“Artigo 14 - As coisas tombadas não poderão em caso nenhum ser destruídas, demolidas ou mutiladas, nem sem prévia autorização do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural do Paraná, ser reparadas, pintadas ou restauradas, sob pena de multa de cinqüenta por cento (50%) do dano causado.Parágrafo único - Tratando-se de bens pertencentes ao Estado ou aos Municípios, a autoria responsável pela infração do presente artigo incorrerá pessoalmente na multa. (...)Artigo 16 - O proprietário da coisa tombada, que não dispuser de recursos para proceder às obras de conservação e reparação que a mesma requer, levará ao conhecimento da Divisão do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural do Paraná a necessidade das mencionadas obras, sob pena de multa correspondente ao dobro da importância em que for avaliado o dano sofrido pela mesma coisa.” (grifou-se)
Assim, verifica-se que a preservação do meio ambiente
artificial e cultural está devidamente regulamentada através da Constituição da República de
1988, bem como Decreto-Lei nº 25/37 e Lei Estadual nº 1.211/1953.
III – DO DANO MORAL AMBIENTAL
O dano moral coletivo, hoje perfeitamente aceito pela
doutrina e jurisprudência, tem como principal aplicação os casos de danos a bens de
interesse difuso ou coletivo.
Em se tratando de direito ambiental e do resguardo à saúde
humana, a repercussão dos danos se reflete no cível, no crime e administrativamente.
Trata-se de esferas independentes entre si, mas todas importantes quanto aos objetivos
que visam. No cível, a reparação pode ser não apenas dos danos materiais, mas também
morais, estes são compensáveis e aqueles indenizáveis.
Dizem-se indenizáveis aqueles danos em que a vítima pode
ser restituída ao estado anterior à ocorrência do dano. Já os compensáveis são aqueles
8 SIRVINSKAS, Luiz Paulo. Manual de Direito Ambiental. 11 ed. São Paulo : Saraiva, 2013. p. 689.
8
2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PARANAGUÁ/PRem que a vítima não tem como ser restituída ao estado em que se encontrava antes,
porém, lhe é entregue certa quantia em dinheiro ou coisa como forma de amenizar o
ocorrido.
Na aplicação do dano moral ambiental deve ser considerado
e interpretado de forma sistêmica o artigo 225, da Constituição Federal com o
ordenamento jurídico, pois ocorrendo lesão ao equilíbrio ecológico, este afetará a sadia
qualidade de vida e à saúde da população. Rompido o equilíbrio do ecossistema todos
correm risco. Nesta seara, o ensinamento de Carlos Alberto Bittar9:
“A nosso ver, um dos exemplos mais importantes de dano moral coletivo é o dano ambiental, que consiste não apenas na lesão ao equilíbrio ecológico, mas também na agressão à qualidade de vida e à saúde. É que esses valores estão intimamente inter-relacionados, de modo que a agressão ao ambiente afeta diretamente a saúde e a qualidade de vida da comunidade (CF, art. 225).O dano ambiental é particularmente perverso porque rompe o equilíbrio do ecossistema, pondo em risco todos os elementos deste. Ora, o meio ambiente é caracterizado pela interdependência e pela interação dos vários seres que o formam (Lei Federal nº 6.938/81, art. 3º, I), de sorte que os resultados de cada ação contra a Natureza são agregados a todos os danos ecológicos já causados. O instrumento processual que se presta por excelência à defesa dos valores coletivos em geral, na hipótese de dano, é a ação civil pública, em virtude da regra aberta acolhida pelo artigo 1º, IV, da Lei 7.347/85. Aliás, com a modificação realizada pela Lei Federal 8.884/94, o artigo 1º, caput, da Lei 7.347/85 passou a prever, expressis verbis, a possibilidade de propositura de ações de responsabilidade por danos morais de ordem coletiva. A responsabilidade pela produção do dano ambiental é objetiva – ou seja, independe da prova de culpa – por duas razões fundamentais: a) esse dano tem um caráter moral, decorrendo da própria ação lesiva ao ecossistema; b) no Direito Ambiental, há o princípio do poluidor-pagador, consagrado em nosso ordenamento jurídico (Lei Federal nº 6.938/81, art. 14, § 3º), pelo qual é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade.”
Carlo Castronovo10 preleciona:
“Um dos mais importantes e significativos exemplos de dano moral coletivo é o dano ambiental, pois o 'ambiente', como 'paisagem', como 'habitat', como 'belezas naturais', é categoria relacional que exprime a mútua colocação de uma série de elementos que, em seu conjunto,
9 Disponível em: http://www.sitiopaineiravelha.com/2002/fev.10 CASTRONOVO, Carlo. La Nuova Responsabilità Civile - Regola e Metafora, Milão, Giuffrè, 1991.
9
2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PARANAGUÁ/PRconstituem um valor que transcende a sua mera soma, valor esse que não pode ser traduzido mediante parâmetros econômicos. O dano ambiental não consiste apenas na lesão ao equilíbrio ecológico, prejudicando também outros valores fundamentais da coletividade a ele vinculados: a qualidade de vida e a saúde. É que esses valores estão profundamente unidos, de maneira que a agressão ao ambiente atinge diretamente a saúde e a qualidade de vida da comunidade”.
A jurisprudência, por reiteradas vezes, tem aceitado e
concedido a compensação por danos morais em matéria ambiental. Ainda, é o teor dos
artigos da Lei 7347/85 - Lei de Ação Civil Pública:
“Art. 3º. A ação civil pública poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer.”
Em comentários ao referido artigo dizem Nelson Nery Júnior
e Rosa Maria de Andrade Nery11:
“1. Condenação em dinheiro. A aferição do quantum indenizatório nas ações coletivas com a finalidade de reparação do dano difuso ou coletivo é questão de difícil solução. Poderão ser utilizados os critérios de arbitramento ou de fixação da indenização com base no valor do lucro obtido pelo causador do dano com sua atividade. É possível a cumulação da indenização por danos patrimoniais e morais (STJ 37; CDC 6º VI).”
Os Tribunais têm decidido neste sentido:
“POLUIÇÃO AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA FORMULADA PELO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO. POLUIÇÃO CONSISTENTE EM SUPRESSÃO DA VEGETAÇÃO DO IMÓVEL SEM A DEVIDA AUTORIZAÇÃO MUNICIPAL. CORTES DE ÁRVORES E INÍCIO DE CONSTRUÇÃO NÃO LICENCIADA, ENSEJANDO MULTAS E INTERDIÇÃO DO LOCAL. DANO À COLETIVIDADE COM A DESTRUIÇÃO DO ECOSSISTEMA, TRAZENDO CONSEQÜÊNCIAS NOCIVAS AO MEIO AMBIENTE, COM INFRINGÊNCIA, ÀS LEIS AMBIENTAIS, LEI FEDERAL 4.771/65, DECRETO FEDERAL 750/93, ARTIGO 2º, DECRETO FEDERAL 99.274/90, ARTIGO 34 E INCISO XI, E A LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO, ARTIGO 477. CONDENAÇÃO A REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS CONSISTENTES NO PLANTIO DE 2.800 ÁRVORES, E AO DESFAZIMENTO DAS OBRAS. REFORMA DA SENTENÇA PARA INCLUSÃO DO DANO MORAL PERPETRADO A COLETIVIDADE. QUANTIFICAÇÃO DO DANO MORAL AMBIENTAL RAZOÁVEL E PROPORCIONAL AO PREJUÍZO COLETIVO. A IMPOSSIBILIDADE DE REPOSIÇÃO DO AMBIENTE AO ESTADO ANTERIOR JUSTIFICAM A CONDENAÇÃO EM DANO MORAL PELA DEGRADAÇÃO AMBIENTAL PREJUDICIAL A COLETIVIDADE. PROVIMENTO DO RECURSO.” (TJRJ - 2.ª Câmara Cível - Apelação Cível n.º 2001.001.14586 - Rel.: Desa. Maria Raimunda T. de Azevedo - J. 07/08/2002)
11 NERY JUNIOR, Nelson. Código de processo civil comentado e legislação civil extravagante em vigor. 5ª ed. ver. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 2001, p. 1529.
10
2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PARANAGUÁ/PR
“DANO AO MEIO AMBIENTE. DERRAMAMENTO DE ÓLEO NA BAÍA DE GUANABARA. RESSARCIMENTO DE DANOS MATERIAIS E MORAIS. DANO EMERGENTE. LUCRO CESSANTE. DANO MORAL DE PESSOA JURÍDICA. POLUIÇÃO NAS PRAIAS. PREJUÍZO DO COMÉRCIO LOCAL. DESVALORIZAÇÃO DO PONTO COMERCIAL. 1. Comprovado o dano ao meio ambiente, decorrente do vazamento de óleo na baía de Guanabara, proveniente das instalações da empresa, cabe o pedido de reparação dos prejuízos individualmente causados. 2. É da PETROBRÁS o dever de cuidar para que não ocorra qualquer dano ao meio ambiente. 3. Dano é o gênero, do qual são espécies o dano material e o dano moral. 4. N dano material, por seu turno, se subdivide em danos emergentes e lucros cessantes. 5. Dano emergente é o que importa em efetiva diminuição no patrimônio da vítima, em razão do ato ilícito. 6. Lucro cessante é o reflexo futuro no patrimônio da vítima. 7. A honra subjetiva é exclusiva do ser humano e se caracteriza pelo decoro e auto-estima. 8. A honra objetiva é comum à pessoa natural e à pessoa jurídica e se reflete na reputação, no bom nome e na imagem perante a sociedade. 9. Desprovimento dos recursos.” (TJRJ - 8.ª Câmara Cível - Apelação Cível n.º 2002.001.09351 - Rel.: Desa. Letícia Sardas - J. 17/12/2002)
Pelo exposto, verifica-se a possibilidade de se impor aos
requeridos o pagamento pelos danos morais sofridos até então pela coletividade, sendo
sua condenação, a indenização por danos morais, a ser arbitrada por este D. Juízo,
medida que se impõe, e necessária, inclusive para a manutenção dos bens e patrimônios
históricos e culturais.
IV – DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA
A inversão do ônus da prova é perfeitamente cabível no caso
em discussão. O artigo 21, da Lei nº 7347/85 determina que se aplicam à defesa dos
direitos e interesses difusos, coletivos e individuais, no que tenha cabimento, os
dispositivos do Código de Defesa do Consumidor, no chamado “microssistema” de tutela
coletiva.
11
2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PARANAGUÁ/PRO artigo 6º, inciso VIII, da Lei nº 8078/1990 é expresso ao
admitir a inversão do ônus da prova em causa fulcrada no Código de Defesa do
Consumidor, na medida em que hipossuficiente o autor, segundo as regras comuns da
experiência como bem esclarece o texto legal, “in verbis”:
“Art. 6º - São direitos básicos do consumidor: (...)VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do Juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiência; (...)”.
Tal dispositivo, certamente, tem aplicação também no
âmbito de proteção ao meio ambiente, pois em matéria ambiental a hipossuficiência e a
verossimilhança são requisitos para uma inversão do ônus da prova. Segundo Clóvis da
Silveira12, a hipossuficiência pode se dar sob várias perspectivas:
“a) Hipossuficiência econômica: quando em um dos pólos, figuram “pequenas associações desprovidas de recursos ou o MP, que também não poderia comprometer seu orçamento institucional com o custeio de dispendiosas perícias” (SILVEIRA, 2004);b) Hipossuficiência informativa: quando os demandantes em matéria ambiental “não possuem, em regra, acesso às informações necessárias para comprovar o nexo de causalidade que permite responsabilizar o poluidor” (SILVEIRA, 2004);c) Hipossuficiência técnica: “considerando que os autores da ação civil pública obtivessem acesso aos referidos dados, que não são informados a priori, não saberiam manipulá-los ou deles obter significado que possa ser traduzido em provas” (SILVEIRA, 2004);d) Hipossuficiência decorrente do caráter do interesse tutelado: “a hipossuficiência decorre, pois, do fato de que o empreendedor recolhe os benefícios da produção, cirando riscos inerentes à atividade, enquanto o ambiente é degradado, lesado-se o direito de todos” (SILVEIRA, 2004);e) Hipossuficiência decorrente de Lei: “A própria Lei reconhece, implicitamente, a hipossuficiência dos co-legitimados, pelo fato de estarem agindo em interesse da coletividade, isentando-os do adiantamento de despesas e ônus de sucumbência” (SILVEIRA, 2004).”
Portanto, é claro que o Ministério Público, no ajuizamento
de ações civis públicas, encontra-se em desvantagem perante o demandado. Assim
entende a jurisprudência dominante:
“O instituto da inversão do ônus da prova, independentemente do título
12SILVEIRA, Clóvis Eduardo Malinverni da. Aspectos Processuais do Direito Ambiental. Orgs. LEITE, José Rubens Morato; DANTAS, Marcelo Buzagio. 2 ed. Rio de Janeiro : Forense Universitária, 2004.
12
2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PARANAGUÁ/PRem que esta disposto no Código de Defesa do Consumidor, pode ser aplicado nas ações civis publicas, desde que as circunstancias fáticas assim o autorizem.” (TJPR, Processo: 334622-7/01, Agravo Regimental Cível, Órgão Julg.: 5ª. Câmara Cível, Relator: Desembargador Leonel Cunha, 22.05.2006)
No que tange à responsabilidade pelos demandados ao
pagamento das respectivas custas, colacionamos o seguinte julgado:
“7.3.2. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA E A ATRIBUIÇÃO DOS CUSTOS DA PERÍCIA PELO DEMANDADO. Admissibilidade nas demandas que envolvam a proteção ao meio ambiente. Ministério Público e demais co-legitimados ao ajuizamento de ações civis públicas que estão em franca desvantagem perante os demandados. Ementa: Tratando-se de demanda que envolva a proteção ao meio ambiente, é cabível a inversão do ônus da prova e a atribuição dos custos da perícia, pois o Ministério Público e demais co-legitimados ao ajuizamento de ações civis públicas estão em franca desvantagem perante os demandados. Edcl 70002338473 - 4ª Cam. Civil. - TJRS - j. 04.04.2001 - rel. Des Wellington Pacheco Barros” (grifou-se).13
Assim, “pertence ao demandado, a partir de então, o ônus
da prova, para que comprove inexistência do nexo de causalidade que se lhe atribui entre
ação e dano. Uma vez que o agente criou as condições (riscos) para que o dano ocorresse,
nada mais lógico que a ele pertença tal encargo”.14
Conclui-se, portanto, pelo cabimento da inversão do ônus da
prova.
V – DA CONCESSÃO DE LIMINAR
Conforme autorizado pelo artigo 12 da Lei nº. 7.347/1985:
“Poderá o juiz conceder mandado liminar com ou sem justificação prévia (...)”.
O fumus boni iuris, que é a existência e ocorrência do direito
substancial invocado por quem pretende a segurança, está claramente demonstrado
pelos documentos que acompanham a presente e pela legislação citada, especialmente
no que se refere ao avançado estado de deterioração da Estação Ferroviária de
13 Revista de Direito Ambiental, Coordenação: Antônio Herman V. Benjamin e Édis Milaré. Editora Revista dos Tribunais. Ano 6, n. 23, julho-setembro de 2001.14 SILVEIRA, Clóvis Eduardo Malinverni da. Aspectos Processuais do Direito Ambiental. Orgs. LEITE, José Rubens Morato; DANTAS, Marcelo Buzagio. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004.
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2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PARANAGUÁ/PRParanaguá, causada pelo abandono e ausência de obras, além da retirada do telhado sem
o devido cuidado para preservação e sem projeto aprovado e acompanhamento de
responsável técnico, como pode ser bem observado nos Relatórios de Vistoria realizado
pela Secretaria Municipal de Defesa Civil.
Por outro lado, se for possibilitado aos requeridos que
continuem se omitindo frente ao contínuo processo de deterioração da Estação
Ferroviária, estar-se-á pactuando com tal atitude e negligenciando não apenas a
coletividade, mas também a memória, a cultura e a história daqueles que povoaram o
Estado do Paraná e seus descendentes. Além disso, ao se permitir que bens que os
representam se percam por omissão de quem, por dever, deveria cuidar e proteger,
estar-se-á afrontando não só a legislação que tutela a matéria, como também a
Constituição Federal de 1988. Residindo aí, o periculum in mora.
Disso resulta a necessidade da concessão da medida liminar,
inaudita altera parts, sem necessidade de justificação prévia.
Ainda, importante destacar que os requeridos estão inertes
por muito tempo, mesmo tenho pleno conhecimento da situação atual da Estação
Ferroviária, uma vez que a Defesa Civil apresentou 05 (cinco) relatórios informando a
deterioração da Estação Ferroviária:
a) Relatório de Inspeção nº 004/2013: vistoria realizada no dia 31 de janeiro de 2013, oportunidade em que se constatou, em síntese, que o prédio histórico encontrava-se com diversos problemas estruturais, tais como degradação das vigas e caibros, ausência de telhados e consequente infiltração contínua das águas pluviais, pisos comprometidos, paredes trincadas e fissuradas, alvo de vandalismo devido ao fácil acesso ao seu interior. Foram indicadas providências emergenciais a serem adotadas pela municipalidade (fls. 28/46);
b) Relatório de Inspeção nº 030/2013: vistoria realizada no dia 03 de outubro de 2013, sendo constatado que houve o desabamento do forro de gesso da abóbada central devido à infiltração de água pluvial pela ausência de cobrimento de telhado e reiterada a necessidade de adoção das providências pendentes relacionadas no Relatório de Inspeção anterior, bem como isolado o local (fls. fls. 46, verso/49, verso);
c) Relatório de Inspeção nº 016/2014: vistoria realizada no dia 24 de julho de 2014, oportunidade em que se constatou a existência de telhas soltas e algumas penduradas na estrutura de telhado, oferecendo risco à integridade física de transeuntes, opinando-se pela necessidade urgente de reparos (fls. 50, verso/52, verso);
14
2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PARANAGUÁ/PR
d) Laudo de Inspeção nº 019/2014: vistoria realizada no dia 18 de agosto de 2014, constatou-se que houve o desabamento de aproximadamente 20% (vinte por cento) da estrutura de madeira e cobertura da edificação, devido ao apodrecimento das “cabeceiras das tesouras de madeira”, o que, por sua vez, foi ocasionado pela infiltração das águas da chuva, sendo informada a necessidade a interdição do prédio até conclusão das medidas mencionadas nos relatórios de inspeção anteriores (fls. 53, verso/55);
e) Relatório de Ocorrência nº 14/2015: vistoria realizada no dia 13 de fevereiro de 2015, em que se verificou que a Secretaria Municipal de Obras promoveu a retirada da estrutura de cobertura do prédio, sendo que somente com a chegada da Defesa Civil Municipal, após o início da execução da obra em questão, foi realizado o isolamento do local. Foi, então, determinada pela Defesa Civil Municipal a paralisação das obras até a chegada do engenheiro responsável, o qual somente dirigiu-se ao local para acompanhamento técnico do trabalho por solicitação da Defesa Civil (fls. 53/ 55 do IC anexo fls. 55, verso/57).
Desta maneira, verifica-se que mesmo informados, por 05
(cinco) oportunidades, os requeridos permaneceram inerte por mais 02 (dois) anos,
sendo evidente o aumento da deterioração do prédio da estação ferroviária.
Assim, requer-se a antecipação dos efeitos da tutela
pretendida, por medida liminar, sem a ouvida da parte contrária, até o trânsito em
julgado da sentença, nos termos do artigo 11 e 12, da Lei nº 7.347/85 sob pena do
pagamento de multa diária pessoal no valor de R$ 1.000,00 (mil reais), na pessoa dos
gestores, Edison de Oliveira Kersten (Prefeito Municipal) e Rafael Gutierrez Junior
(responsável pela FUNTUR) para determinar aos requeridos:
(i) a restauração imediata e integral da Estação Ferroviária, no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, mediante aprovação prévia da Coordenação de Patrimônio Cultural – CPC, que é a unidade da Secretaria da Cultura do Estado do Paraná, responsável pelas ações referentes às medidas necessárias ao tombamento, restauração e conservação destes bens, bem como do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, que é a instituição responsável pela gestão dos bens que incluem a memória ferroviária brasileira, atendendo, inclusive, de maneira integral os pareceres técnicos elaborados pela Defesa Civil;
(ii) a concessão à Estação Ferroviária de destinação compatível com seu valor histórico-cultural;
(iii) a promoção da necessária manutenção da Estação Ferroviária, em observância ao ordenamento jurídico;
15
2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PARANAGUÁ/PR(iv) a garantia da segurança integral da Estação Ferroviária, como forma de evitar a ação de vândalos e/ou outras formas de invasão;
(v) o atendimento integral das orientações oriundas da Defesa Civil através dos Relatórios de Vistoria;
(vi) a expedição de ofício à Coordenação de Patrimônio Cultural – CPC e ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, para, após superado o prazo de 60 (sessenta) dias, realizar vistoria na Estação Ferroviária, e apresentar relatório a este Juízo, informando o cumprimento da decisão liminar, através da restauração integral da referida estação;
(vii) a previsão orçamentária e financeira, dos recursos necessários à sua restauração, manutenção e segurança;
(viii) a apresentação de cronograma circunstanciado sobre a execução das obras de restauração e serviços de manutenção e segurança;
(ix) a prestação de contas de todos os recursos recebidos (receitas), inclusive, em eventual convênio, bem como de todos os gastos com bens e serviços (despesas).
Outrossim, requer-se a Vossa Excelência, em concedendo a
liminar, que determine à Coordenação de Patrimônio Cultural – CPC e ao Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, que fiscalizem o cumprimento da
ordem, apontando ao Juízo eventuais violações para a apuração de multa diária.
Em síntese, a presente demanda visa preservar a memória e
a história de Paranaguá, pois “a História deixou de ser uma compreensão do passado,
para ser uma projeção do futuro. Em outras palavras, a História passou a ser um modelo
cuja contemplação fornece regaras para a ação. A finalidade da história é a atualização da
ideia de liberdade.15
VI – DOS PEDIDOS
Diante de todo o exposto e com base na legislação
colacionada, visando a preservação do patrimônio histórico e cultural, o Ministério
Público requer:
15 LAFER, Celso. “Da Dignidade da Política. Sobre Hannah Arendt”. In: Entre o Passado e o Futuro. São Paulo: Editora Perspectiva, 2003, 5a. edição e 2a. reimpressão, p. 15 (grifou-se).
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2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PARANAGUÁ/PRa) Seja concedida a antecipação dos efeitos da tutela
pretendida, por medida liminar, sem a ouvida da parte contrária, até o trânsito em
julgado da sentença, nos termos do artigo 11 e 12, da Lei nº 7.347/85, sob pena do
pagamento de multa diária pessoal no valor de R$ 1.000,00 (mil reais), na pessoa dos
gestores, Edison de Oliveira Kersten (Prefeito Municipal) e Rafael Gutierrez Junior
(responsável pela FUNTUR) para determinar aos requeridos:
(i) a restauração imediata e integral da Estação Ferroviária, no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, mediante aprovação prévia da Coordenação de Patrimônio Cultural – CPC, que é a unidade da Secretaria da Cultura do Estado do Paraná, responsável pelas ações referentes às medidas necessárias ao tombamento, restauração e conservação destes bens, bem como do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, que é a instituição responsável pela gestão dos bens que incluem a memória ferroviária brasileira, atendendo, inclusive, de maneira integral os pareceres técnicos elaborados pela Defesa Civil;
(ii) a concessão à Estação Ferroviária de destinação compatível com seu valor histórico-cultural;
(iii) a promoção da necessária manutenção da Estação Ferroviária, em observância ao ordenamento jurídico;
(iv) a garantia da segurança integral da Estação Ferroviária, como forma de evitar a ação de vândalos e/ou outras formas de invasão;
(v) o atendimento integral das orientações oriundas da Defesa Civil através dos Relatórios de Vistoria;
(vi) a expedição de ofício à Coordenação de Patrimônio Cultural – CPC e ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, para, após superado o prazo de 60 (sessenta) dias, realizar vistoria na Estação Ferroviária, e apresentar relatório a este Juízo, informando o cumprimento da decisão liminar, através da restauração integral da referida estação;
(vii) a previsão orçamentária e financeira, dos recursos necessários à sua restauração, manutenção e segurança;
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2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PARANAGUÁ/PR
(viii) a apresentação de projeto executivo e cronograma circunstanciado sobre a execução das obras de restauração e serviços de manutenção e segurança;
(ix) a prestação de contas de todos os recursos recebidos (receitas), inclusive, em eventual convênio, bem como de todos os gastos com bens e serviços (despesas).
b) O recebimento e o processamento da presente Ação Civil
Pública, na forma e no rito preconizado;
c) a citação dos requeridos para responder aos termos da
presente demanda, cumprir a medida liminar e, querendo, no prazo legal, contestar os
pedidos, sob pena de revelia e seus efeitos, deferindo expressamente a autorização do
art. 172, §2º, do Código de Processo Civil;
d) No mérito, a confirmação da liminar concedida, e a
consequente condenação dos requeridos na obrigação de fazer, consistente em: (i)
restaurar imediata e integral da Estação Ferroviária no prazo máximo de 60 (sessenta)
dias; (ii) dar à Estação Ferroviária destinação compatível com seu valor cultural; (iii)
promover a manutenção da Estação Ferroviária, em observância ao ordenamento
jurídico; (iv) realizar a segurança da Estação Ferroviária, como forma de evitar a ação de
vândalos; (v) atender integralmente as orientações oriundas da Defesa Civil através dos
Relatórios de Vistoria, tudo com a aprovação da Coordenação de Patrimônio Cultural –
CPC e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, da Estação
Ferroviária de Paranaguá; (vi) encaminhar a legislação e os documentos que comprovem
a previsão orçamentária e financeira, dos recursos necessários à sua restauração,
manutenção e segurança; (vii) apresentar cronograma circunstanciado sobre a execução
das obras de restauração e serviços de manutenção e segurança; (viii) prestar as devidas
contas de todos os recursos recebidos (receitas), inclusive, em eventual convênio, bem
como de todos os gastos com bens e serviços (despesas).
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2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PARANAGUÁ/PRe) A condenação dos requeridos em danos morais cujo valor
será arbitrado por Vossa Excelência, em liquidação de sentença;
f) A determinação judicial para que a Procuradoria do
Município proceda ao imediato cadastro no sistema Projudi, assim como fizeram os
demais órgãos estatais, com vistas a possibilitar à intimação, notificação e citação dos
atos judiciais online, evitando-se atos protelatórios ao devido cumprimento das decisões
judiciais;
g) A produção de todas as provas admitidas em Direito,
notadamente documentais, testemunhais, periciais, inspeção judicial, e depoimento
pessoal dos representantes legais dos requeridos, observada a inversão do ônus
probatório, com base no art. 6º, VIII, do CDC c/c o art. 18, da lei nº 7.347/85;
h) O protesto por eventual emenda, retificação e/ou
complementação da presente exordial, caso necessário;
i) A dispensa do pagamento de custas, emolumentos,
honorários periciais e outros encargos, desde logo, à vista do disposto no artigo 18 da Lei
7.347/85, e no artigo 87 da Lei 8.078/90;
j) A condenação do(s) requerido(s) ao pagamento das custas
e demais ônus da sucumbência;
k) A publicação de Edital para dar conhecimento a terceiros
interessados e à coletividade, considerando o caráter erga omnes da Ação Civil Pública;
l) A decretação da PRIORIDADE NA TRAMITAÇÃO da
presente Ação Civil Pública tendo em conta o interesse público na solução do presente
litígio.
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2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE PARANAGUÁ/PRConquanto de valor inestimável, dá-se à causa, para os
efeitos legais, o valor de R$ 1.000,00 (mil reais), ressalvando, no entanto, que este é um
valor estimativo e formal.
Paranaguá, 10 de março de 2015.
Ronaldo de Paula Mion Priscila da Mata Cavalcante
Promotor de Justiça Promotora de JustiçaCoordenadora da Bacia Litorânea
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