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WILLIAM KEFFER PROJETO “DIGITALIZAÇÃO DE ACERVO DO ARQUIVO DE JORNAIS E PESQUISA CORREIO DO POVO (PORTO ALEGRE, RS)” CANOAS, 2012

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WILLIAM KEFFER

PROJETO “DIGITALIZAÇÃO DE ACERVO DO ARQUIVO DE JORN AIS E PESQUISA CORREIO DO POVO (PORTO ALEGRE, RS)”

CANOAS, 2012

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WILLIAM KEFFER

WILLIAM KEFFER

PROJETO “DIGITALIZAÇÃO DE ACERVO DO ARQUIVO DE JORN AIS E

PESQUISA CORREIO DO POVO (PORTO ALEGRE, RS)”

Dissertação apresentada à banca examinadora do Programa de Pós - Graduação em Memória Social e Bens Culturais do Centro Universitário La Salle – Unilasalle, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Memória Social e Bens Culturais.

Orientadora: Profª. Drª. Cleusa Maria Gomes Graebin

Co-orientadora: Profª. Drª. Inga Ludmila Veitenheimer Mendes

CANOAS, 2012

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

K26p Keffer, William

ProjetoDigitalização de acervo de jornais e pesquisa Correio do Povo (Porto Alegre, RS) [manuscrito]. / William Keffer. – 2012.

66 f. : il. ; 30 cm. Dissertação (mestrado em Memória Social e Bens Culturais) –

Centro Universitário La Salle, Canoas, 2012. “Orientação: Profª. Drª. Cleusa Maria Gomes Graebin.” 1. Memória social. 2. Jornais. 3. Digitalização de acervo. 4.

Correio do Povo. I. Graebin, Cleusa Maria Gomes Graebin. II. Título.

CDU: 316.7

Bibliotecária responsável: Melissa Rodrigues Martins - CRB 10/1380

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Dedico esta obra para minha mãe, Loreci Maria Locatelli Keffer.

Também para Walter Galvani e Telmo Ricardo Borges Flor pela extrema dedicação de ambos

ao Correio do Povo.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a minha mão Loreci Maria Locatelli Keffer, todo

agradecimento a ela não é o bastante. Ao Carlos Locatelli e Wilma Locatelli (in memoriam).

Familia Locatelli e Keffer.

Às minhas orientadoras Cleusa Maria Gomes Graebin, que me acompanha desde a

graduação e Inga Ludmila Veitenheimer Mendes, pela paciência e carinho.

Aos professores que passaram pela minha vida, pois sem eles eu não seria nada.

Aos amigos do jornal Correio do Povo e Rádio Guaíba: Telmo Flor, Eduardo Guedes

(pelo grande apoio nesta etapa de minha formação acadêmica), Veríssimo de Jesus, Ramon

Correia Ferreira, Lucas Baia, Marcelo Campos, Jairo Steimtz, setor de arte e pré-impressão do

Correio do Povo, redação, CP Memória e todos que formam essa grande empresa.

Meus irmãos (a coisa boa de ser filho único é poder escolhê-los): Roger Caetano, Ike

Greca, Sidney Ferraz, Caco Coelho.

Às crianças da minha vida, que fazem tudo que o é pesado ficar leve apenas com seus

sorrisos.

Agradeço também: a Walter Galvani, Samuel Dani, Fernando Lazareti, Sergio Terra,

Fabio Rufino, Michael Nascimento, família Greca Adolfo, Neilla Uema, Alcatéia Audio-

visual, Chacal, Pearl Jam.

A todos os amigos e amigas (citados ou não) que tornam minha vida melhor.

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“A preguiça e a indecisão são traidoras; pelo medo de arriscar, às vezes pode-se perder bens que, se poderia conquistar se não fosse o receio de tentar.”

William Shakespeare

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RESUMO

Este trabalho tem como foco principal a digitalização do acervo de periódicos do Arquivo de

Jornais e Pesquisa Correio do Povo, da Companhia Jornalística Caldas Júnior, empresa do

Grupo Record. O acervo integra todos os jornais que circularam sob a égide da empresa,

sendo que o principal deles é o jornal que circula até hoje, o Correio do Povo. Projeta-se,

também, concomitante ao tratamento do acervo, sua disponibilização virtual a partir do site

institucional, potencializando o canal de contato e divulgação dessa memória com a sociedade

em geral. Para desenvolver a proposta, trabalhou-se com literatura sobre memória, lugar de

memória, digitalização e gestão cultural. Acrescentou-se a isto, reconstrução da trajetória do

Correio do Povo, a partir de obras bibliográficas produzidas por historiadores e ou jornalistas.

Também, tiveram-se como base, conversas informais com funcionários ao longo da vida

profissional. Para melhor atender o objetivo e as indicações a respeito de trabalhos finais de

cursos de mestrados profissionais, deu-se o formato de dissertação ao texto, dividida em seis

capítulos. Trabalharam-se considerações sobre a história do Correio do Povo; constituição do

Arquivo de Jornais e Pesquisa Correio do Povo, diagnóstico de sua situação, conservação do

acervo, políticas de acesso à documentação, potencialidades e apropriações por pesquisadores

e público em geral; discutiram-se conceitos de memória, lugar de memória, digitalização e

gestão cultural, experiências de digitalização de acervos, a fim de terem-se exemplos práticos

sobre experiências que se aproximam da que se apresenta no trabalho proposto; após,

apresentou-se o projeto de digitalização do acervo. Finaliza-se reafirmando a relevância da

proposta e remetendo a futuras derivações da mesma.

Palavras-chave: Correio do Povo. Acervo de jornais. Memória. Lugar de Memória. Digitalização.

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ABSTRACT

This work has mainly focused on digitization of the collection of periodicals and newspapers

File Search Correio do Povo Company Journalistic Caldas Júnior, Record Group company.

The collection includes all the newspapers that circulated under the auspices of the company,

of which the main one is the newspaper that circulates today, the Correio do Povo. Projects,

too, concomitant treatment of the collection, making it available from the virtual institutional

site, leveraging the channel of contact and dissemination of this memory with society in

general. To develop the proposal, worked with literature on memory, place memory, scanning

and cultural management. Added to this, reconstruction of the trajectory of the People's Post

Office, from bibliographical works produced by historians and journalists either. Also, were

taken as a basis, informal conversations with employees throughout working life.

To best meet the purpose and indications about final papers of Masters courses professionals,

has become the format of the dissertation text, divided into six chapters. Worked up

considerations about the history of Correio do Povo; constitution File Search Mail and

Newspaper People's diagnosis of your situation, conservation of the collection, documentation

access policies, capabilities and appropriations by researchers and the general public;

discussed-if concepts of memory, place memory, scanning and cultural management,

digitization of collections experience, so they are practical examples of experiences they

approach that presents the proposed work and after, presented the project of digitizing the

acquis. Ends up reaffirming the relevance of the proposal and referring to future derivations

thereof.

Keywords: Correio do Povo. Collection of papers. Memory. Place of Memory. Scan.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Imagem do Jornal Correio do Povo de outubro de 1903.........................................13

Figura 2 – Primeira maquina de impressão Correio do Povo - Rotativas Marinoni.................16

Figura 3 – Segunda maquina de impressão Correio do Povo – Rotativa Marinoni..................17

Figura 4 – Imagem do Exemplar do Jornal Folha da Tarde......................................................18

Figura 5 – Imagem do Exemplar do Jornal Folha da Manhã....................................................19

Figura 6 – Reprodução de matéria sobre prêmio recebido por Francisca Moreira Espindola..26

Figura 7 – Imagem de livro da Coleção recuperada dos jornais Correio do Povo, 1927.........27

Figura 8 – Imagem de livro da Coleção recuperada dos jornais Correio do Povo, 1927.........27

Figura 9 – Imagem de livro da Coleção recuperada dos jornais Correio do Povo, 1927.........28

Figura 10 – Imagem do arquivo de Jornais e Pesquisa Correio do Povo..................................31

Figura 11 – Imagem do arquivo de Jornais e Pesquisa Correio do Povo..................................32

Figura 12 – Imagem do arquivo de Jornais e Pesquisa Correio do Povo.................................33

Quadro 1 – Levantamento de trabalhos acadêmicos fundamentados no acervo de jornais do

Correio do Povo......................................................................................................35

Figura 13 – Imagem do arquivo do jornal Correio do Povo.....................................................36

Figura 14 – Imagem do arquivo do jornal Correio do Povo.....................................................36

Figura 15 – Página inicial do Google - Sobre Google news – Ajuda da Pesquisa de Arquivos

Goolge...................................................................................................................44

Figura 16 – Organograma de ações para a digitalização do acervo..........................................52

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LISTA DE SIGLAS

OCR Optical Character Recognition

CCD Charged Couple Devices

LTO Linear Tape-Open

DPI Dots Per Inch

LED Light Emitting Diode

HBA Host Bus Adapter

MinC Ministério da Cultura

CIPEL Circulo de Pesquisas Literárias

RAM Random access memory

ROM Read-Only Memory

BIT BInary digiT

TB Terabit

CIPEL Circulo de Pesquisas Literárias

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SUMÁRIO

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS .................................................................................11

2 APORTES SOBRE A TRAJETÓRIA DO JORNAL CORREIO DO

POVO...........................................................................................................................13

3 ARQUIVO DE JORNAIS E PESQUISA CORREIO DO POVO:

CONSTITUIÇÃO RELEVÂNCIA E POTENCIALIDADES ................................25

4 MEMÓRIA, LUGAR DE MEMÓRIA, DIGITALIZAÇÃO E GESTÃO

CULTURAL DE ACERVOS ......................................................................................37

5 PROJETO DE DIGITALIZAÇÃO ...........................................................................48

5.1 Justificativa.................................................................................................................48

5.2 Descrição das atividades para a digitalização do acervo........................................50

5.3 Descrição dos processos e recursos...........................................................................53

5.3.1 Scanneres......................................................................................................................53

5.3.2 Fontes de luz.................................................................................................................53

5.3.3 Softwares.......................................................................................................................54

3.3.4 Workflow.......................................................................................................................54

5.3.5 Instalações....................................................................................................................54

5.3.6 Disponibilização...........................................................................................................55

5.3.7 Prazo.............................................................................................................................55

5.4 Plano de gestão cultural.............................................................................................55

5.5 Logística.......................................................................................................................57

5.6 Cronograma de execução...........................................................................................58

6 CONSIDERÇÕES FINAIS........................................................................................60

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS .....................................................................62

ANEXO - Diário Oficial da União – Área: 5 Patrimônio Cultural - (Art. 18)......66

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1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Ficam definidos em poucas linhas os compromissos com que esta folha entra para o convívio do jornalismo rio-grandense. O Correio do Povo será noticioso, litterario e commercial, e ocupar-se-á de todos os assumptos de interesse geral, obedecendo à feição característica dos jornaes modernos e só subordinando os seus intuitos as inspirações do bem público e do dever inherente as funcções da imprensa livre e independente. Como seu titulo indica, será uma folha essencialmente popular, pugnando pelas boas causas e proporcionando aos seus leitores informações detalhadas sobre tudo quanto vá diariamente occorendo no desenvolvimento do nosso meio social e nos domínios da alta administração pública do estado e do paiz. [...] Com taes intuitos, de que jamais se apartará o Correio do Povo espera poder conquistar as sympathias do público, que o verá sempre disposto a bem servil-o (Primeiro Editorial do Correio do Povo, 1º de outubro de 1895).

Nos últimos anos do século XIX era criado um dos mais importantes veículos de

comunicação do Rio Grande do Sul, o jornal Correio do Povo. Assim como milhares de sul-

riograndenses, a primeira palavra soletrada e decifrada por mim, foi em manchete de uma das

capas do Correio do Povo — momento importante e histórico em minha vida. Durante minha

infância e adolescência dividia com meu pai a conferência das notícias do dia e foi assim que

cresci, acompanhado o que ocorria no mundo pelas páginas do Correio do Povo.

Em 1999 iniciei a trabalhar na empresa que sempre admirei no setor de informática, mas

foi em 2008 quando finalizei a graduação em História que recebi a chance de mergulhar no

acervo do Arquivo de jornais do Correio do Povo da Companhia Jornalística Caldas Júnior.

Neste ano, o Grupo Record adquiriu a Empresa Jornalística Caldas Junior e o Correio passou

por processos de ampliação e modernização, tornou-se full-color, aumentou sua tiragem e

trouxe de volta tradicionais cadernos.

A ideia11de recuperar a tradição e o indicativo de pertencimento do jornal aos sul-rio-

grandenses, desenvolvida por essa administração, possibilita a proposta de trabalho ora

apresentada, ou seja, a digitalização da sua centenária coleção de jornais, abrigada em arquivo

já constituído por acervo formado pelas edições do periódico desde sua fundação em 1895 e

sua disponibilização ao público em geral. Projeta-se, também, concomitante ao tratamento do

acervo, sua disponibilização virtual a partir de seu site, potencializando o canal de contato e

divulgação dessa memória com a sociedade em geral.

Para desenvolver a proposta, trabalhou-se com literatura sobre memória, lugar de

memória, digitalização e gestão cultural. Acrescentou-se a isto, reconstrução da trajetória do

Correio do Povo, a partir de obras bibliográficas produzidas por historiadores e ou jornalistas.

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Também, teve-se como base, conversas informais com funcionários ao longo da vida

profissional.

Esse trabalho está dividido em seis capítulos. No primeiro capítulo, Considerações

iniciais, que apresenta os objetivos e justificativas do trabalho e sua atuação prática quanto as

teorias.

No segundo capítulo, Aportes sobre a trajetória do jornal Correio do Povo, apresenta-

se considerações sobre a história do periódico, a partir de visões de diferentes autores.

No terceiro capítulo, Arquivo de Jornais e Pesquisa Correio do Povo: constituição,

relevância e potencialidades, descreve-se a constituição do acervo, sua conservação, política

de acessibilidade, diagnóstico de suas condições atuais, suas potencialidades e apropriações

por pesquisadores e público em geral.

No quarto capítulo, Memória, lugar de memória, digitalização e gestão cultural de

acervos, reflete-se sobre conceitos de memória, lugar de memória, digitalização e gestão

cultural, quando se procura construir conhecimentos que embasem o projeto de digitalização.

Relatam-se, também, experiências de digitalização de acervos, a fim de terem-se exemplos

práticos sobre experiências que se aproximam da que se apresenta no trabalho ora proposto.

No quinto capítulo, Projeto de digitalização do acervo de jornais, coloca-se:

justificativa, diretrizes básicas para a digitalização do acervo de jornais, plano de gestão

cultural e cronograma de trabalho.

No sexto capítulo, Considerações finais, apresentam-se as conclusões e aspirações para

a realização prática do projeto.

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2 APORTES SOBRE A TRAJETÓRIA DO JORNAL CORREIO DO POVO

O jornal Correio do Povo surgiu em 1º de outubro de 1895 e seu fundador foi Francisco

Antônio Vieira Caldas Júnior, nascido em 1868, em Neópolis (Sergipe), vindo para o Rio

Grande do Sul com sua família aos quatro anos de idade, residindo primeiramente em Santo

Antonio da Patrulha e após, fixando-se em Porto Alegre.

Figura 1 – Imagem do Jornal Correio do Povo de outubro de 1903

Fonte: Arquivo de Jornais e Pesquisa Correio do Povo

A capital do Rio Grande do Sul, sede do jornal ao findar o século XIX, passava por

processo de saneamento, obras viárias e otimização de planejamento urbano, objetivando,

segundo o governo da época, modernização quanto ao sistema de esgotos, calçamentos nas

principais artérias, agilidade no cais do porto e no mercado público (centralizando assim a

entrada e a distribuição de produtos), enfim, os Intendentes buscavam, sucessivamente,

modernizar e embelezar a capital. O medo das epidemias e o discurso médico quanto a

medidas de saneamento balizavam as intervenções urbanas1.

A maioria dos jornais sul-rio-grandenses existentes no período em questão estava

vinculada a partidos políticos: os que representavam o poder em exercício louvavam as ações

1 OLIVEIRA, Clovis Silveira. Porto Alegre: a cidade e sua formação. 2. Ed. Porto Alegre: Metrópole, 1993. POSSAMAI, Zita Rosane (org.). Leituras da cidade. Porto Alegre: Evangraf, 2010.

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do governo, do partido, divulgavam as personagens consideradas importantes e atacavam os

oposicionistas; os da oposição se manifestavam contra as autoridades, criticando seus atos,

enaltecendo figuras políticas e sua trajetória e denunciando as perseguições por parte do

executivo.

Hohlfeldt afirma que

o desenvolvimento da imprensa no Rio Grande do Sul, na passagem do século XIX para o XX, está intimamente vinculado a dois fatores: a luta político-partidária que se desenrolou na província, inclusive com sangrentas conseqüências, como a Revolução de 18932, e o aporte de novas tecnologias que vão interferir diretamente na transformação da imprensa estritamente partidária numa imprensa industrial, passando-se de uma produção artesanal a impressão absolutamente mecanizada (HOHLFELD, 2007, p. 313).

Entre os periódicos de maior destaque com as características citadas pelo autor,

encontram-se: aquele ligado à corrente política (Partido Republicano Rio-Grandense) de Júlio

de Castilhos chamado A Federação3 e A Reforma4, jornal que se alinhava ao Partido Liberal

de Gaspar Silveira Martins.

Devido ao fato de trabalhar no jornal A Reforma e por seu pai, o magistrado Francisco

Antônio Vieira Caldas5 ser amigo de Gaspar Silveira Martins, Caldas Júnior, fundador do

Correio do Povo, de certa forma, teve sua imagem atrelada ao Partido Federalista. É

importante aqui, atentar-se para as redes de relações em que membros da elite política

provincial estavam inseridos, como agiam e articulavam suas forças (FERRARI, 2006).

Caldas Júnior, como filho de magistrado, cargo importante na burocracia provincial, circulava

nos espaços da elite e participava de redes de relações familiares e políticas. Nesse sentido,

pode-se compreender suas relações com personagens do intricado jogo político-partidário do

Rio Grande do Sul.

Mesmo imerso nessas redes de relações, ao fundar o jornal Correio do Povo, Caldas

Júnior alegou que aquele seria um jornal sem vínculos político-partidários, informando e

2 Conflito ocorrido entre 1893 e 1895 que opôs adeptos do Partido Republicano Rio-Grandense e Partido Federalista no Rio Grande do Sul. O movimento extrapolou as fronteiras do Rio Grande do Sul, alcançando Santa Catarina e Paraná. Sobre a Revolução Federalista ver: RECKZIEGEL, Ana Luiza Setti; AXT, Gunter (Diretores). República Velha (1889-1930). v. 3, t.1. Passo Fundo: Méritos, 2007. (Coleção História Geral do Rio Grande do Sul). 3Jornal afeito aos ideais do PRR (Partido Republicano Rio-Grandense) de Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros. Criado em 1º de janeiro de 1884 e extinto em 1937. 4Jornal de ideologia liberal relacionado ao Partido Federalista de Gaspar Silveira Martins. Criado em 16 de junho de 1869 e extinto em 1912. 5 Durante a Revolução Federalista, foi preso e veio a falecer, na fortaleza de Nhatomirim (SC). (PORTO ALEGRE, 1976).

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noticiando o que acontecia no Estado, na capital e no País, ou como constava na página inicial

do primeiro número – “Este jornal vai ser feito para a massa, não para determinados

indivíduos de uma única facção” (1º editorial do jornal). Corroborando esta intenção, em

Pontos de Vista, o jornal Correio do Povo de 1º de outubro de 1896 apresentava o seguinte:

[...] Este modo de proporcionar ensejo no debate de todas as opiniões é a predica de todas as

doutrinas esta muito em voga na imprensa moderna [...].

Hohlfeldt e Rausch (2006, p.3) informam que nos anos finais do século XIX a

imprensa brasileira iniciou a abandonar práticas artesanais até então adotadas, substituindo-as

pelas mecanizadas, o que modernizou a produção dos periódicos. Os editores voltaram suas

preocupações para os interesses do público receptor e para o lucro de suas organizações,

quando então, passaram a depender de assinatura dos jornais e do investimento de

empresários em anúncios de seus produtos e serviços. Além disso, com a monopolização da

representação partidária pelo Partido Republicano Rio-Grandense, os jornais que surgiam

dirigiam-se a determinados segmentos sociais ou ao grande público.

Segundo Rüdiger:

O jornalismo rio-grandense estava em plena transição para uma nova fase de estruturação, na qual a política-partidária não ditaria mais as cartas, vencida pela racionalidade mercantil, nem haveria mais espaço privilegiado para o exercício literário, substituído progressivamente pela publicidade noticiosa, consolidando transformações cujas raízes se confundem com a história do Correio do Povo (RUDIGER, 1993, p. 76).

O Correio do Povo introduziu as novas tecnologias, adquirindo caráter industrial com

grande circulação para a época, devido a suas modernas máquinas de impressão. A primeira

permitia uma rápida produção do jornal, propiciando mais exemplares, aumentando

consideravelmente sua circulação. Em se tratando da constante busca de modernização do

jornal, as impressoras do Correio do Povo, em geral, foram importadas de diversas partes do

mundo, como França, Itália e Alemanha. Como exemplo, cronologicamente, de 1895 a 1927,

pode-se verificar a busca de constante atualização do maquinário:

1º/10/1895 – Máquina Alauzet – 39x56cm

1º/7/1897 – Maquina Marinoni – 44,5x64cm

31/12/1905 – Equipamento Schelter e Giesecke – 49x68cm

6/12/1908 – Marinoni – 44x64cm

10/8/1910 – Marinoni (primeira máquina rotativa a ser implantada no rio grande do sul)

41x60cm

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1º/10/1927 – Segunda rotativa Marinoni – 44x60,5cm

Figura 2 – Primeira maquina de impressão Correio do Povo – Rotativas Marinoni

Fonte: Arquivo de Jornais e Pesquisa Correio do Povo.

Uma das dificuldades da época era quanto ao papel: em determinado momento em

busca do menor custo, o Correio do Povo passou a circular com um papel de menor qualidade

de cor rosa, durante este período o jornal passou a ser conhecido também como “O Róseo”.

O jornal possuía um formato de quatro páginas que abrangia serviços telegráficos, fatos,

notas, propagandas e anúncios, artigos jurídicos, curiosidades. Matérias de interesse político,

econômico e social se integravam, também, às mazelas e demandas do cotidiano da população

sul-rio-grandense, com informações comerciais de lojas, loterias, anúncios e farmácias que

apresentavam tônicos, xaropes, combate ao piolho, e até mesmo thermometros e gottas de

cocaína para dor-de-dentes, hábito comum naquela época (Correio do Povo, 1895, p. 3).

O espaço destinado aos esportes era reduzido. As práticas esportivas do começo do

século eram poucas e muito especificas: as grandes competições eram relacionadas às

tauromachias, que consistiam em uma espécie de tourada onde uma companhia formada por

profissionais montavam e domavam os touros, geralmente realizadas nos Campos da

Redenção (atual Parque Farroupilha) em um local próprio para a prática. As competições

velocipédicas (corridas de bicicletas), corridas de cavalo e os famosos catchs (lutas) eram os

esportes que dominavam Porto Alegre nos idos de 1900.

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A segunda rotativa do Correio do Povo, inaugurada em 6/12/1908, possibilitou um novo

formato ao jornal, que passou a circular com oito páginas, permitindo uma tiragem de 2500 a

3000 jornais por hora, treze anos após sua fundação, a empresa de Caldas Júnior surpreendia

novamente seus leitores, diversificando seu conteúdo e buscando atender as expectativas e

interesses da sociedade urbanizada.

Figura 3 – Segunda maquina de impressão Correio do Povo – Rotativa Marinoni (1897)

Fonte: Arquivo de Jornais e Pesquisa Correio do Povo.

Após a morte do fundador em 1913, assumiu o comando da empresa, Dolores Alcaraz

Caldas, sua esposa. Entre dificuldades e percalços, ela dirigiu e levou adiante o crescimento

da organização, que se tornou uma potência jornalística do Estado. Em 1935 assumiu o

comando do jornal, Breno Caldas, filho de Dolores com Caldas Júnior. Sua administração

durou 50 anos. Com Breno, o Correio do Povo prosperou ainda mais. Nos anos 1940, com

apoio de sua mãe, adquiriu os terrenos onde ainda funciona o conglomerado de comunicação.

Durante sua gestão surgiram importantes veículos de informação que, por anos,

comandaram o cenário jornalístico no Estado do Rio Grande do Sul: Folha da Tarde, Folha da

Manhã, Folha Esportiva, Folha da Tarde Final, que, junto com o Correio, formavam a

vanguarda dos jornais sul-rio-grandenses. A década de ouro dos jornais foi a de 1970, quando

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as edições de domingo chegavam a possuir uma média de quase 100 páginas, contando com

cadernos e suplementos que se tornaram clássicos em informação e cultura.

Figura 4 – Imagem do Exemplar do Jornal Folha da Tarde Esportiva (03/09/1949)

Fonte: Arquivo de Jornais e Pesquisa Correio do Povo.

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Figura 5 – Imagem do Exemplar do Jornal Folha da Manhã (03/01/1977)

Fonte: Arquivo de Jornais e Pesquisa Correio do Povo.

Em 1986, o Grupo passou ao comando do empresário Renato Bastos Ribeiro, que

revitalizou o Correio do Povo, o qual estivera fora de circulação por dois anos, adotando o

formato tabloide e sintético em 1987. Em 2007, o Grupo Record adquiriu o complexo de

comunicação que envolve a TV, as rádios AM/FM e o Jornal Correio do Povo, administrando

o grupo, inclusive o importante acervo encontrado no arquivo de jornais e pesquisa do

Correio do Povo, onde hospedam-se todas edições dos jornais.

Diversos intelectuais importantes passaram por seus editoriais, folhetins e crônicas.

Podem-se destacar alguns: Mário Quintana, poeta e escritor que trabalhou no Correio do Povo

editando a coluna H; Archymedes Fortini, reconhecido cidadão de Porto Alegre, foi diretor do

jornal e colaborou com diversas obras como a reforma e ampliação da Santa Casa de

Misericórdia; Walter Galvani, jornalista e escritor, atuou como diretor de redação da extinta

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Folha da Tarde; e o fotógrafo Santos Vidarte que registrou importantes momentos da história,

como o afundamento do encouraçado alemão Graf-Spee no Uruguai. Esses são algumas entre

diversas personalidades de inúmeras áreas que atuaram e contribuíram com o veículo.

O Correio do Povo é exemplo dessas empresas centenárias que aproveitaram as

oportunidades que se abriram com a modernização de Porto Alegre no início do século XX.

Com 117 anos, após atravessar crises e desafios, ainda remonta, em sua linha editorial, aos

seus primórdios para fundamentar sua credibilidade como veículo de informação.

Seu fundador havia explicitado que o Jornal Correio do Povo seria um jornal para

todos:

O Correio do Povo aspira a honra de se fazer uma folha lida e apreciada por todos, e para isso não poupara esforços nem medira sacrifícios. Jornal aberto a todas as manifestações do pensamento, estas columnas estarão sempre francas a quantos queiram, com elevação de vistas, tratar de assumptos de interesse geral, discutindo ideias e opiniões sobre política ou litteratura, indústria ou commercio, sciencias ou artes. Este jornal vae ser feito para toda a massa, não para determinados indivíduos de uma única facção. Emancipado de convencionalismos retrógados e de paixões inferiores, procurara esclarecer imparcialmente a opinião, apreciando com isenção de espírito os sucessos que se forem desenrolando e os actos dos governantes, para censural-os quando reprováveis, para applaudil-os quando meritórios. Com taes intuitos, de que jamais se apartará o Correio do Povo espera poder conquistar as sympathias do público, que o verá sempre disposto a bem servil-o (Primeiro Editorial do Correio do Povo, 1º de outubro de 1895).

Breno Caldas, filho do fundador, em entrevista para José Antonio Pinheiro Machado,

em 1987, rememora o início das funções do Correio do Povo, reafirmando a intenção do

Correio do Povo de ser, desde a sua origem, jornal não filiado a alguma facção política.

De fato, o meu pai, politicamente, era federalista e chegou a trabalhar no jornal A Reforma com Silveira Martins: era rapaz ainda, mas bom articulista andou escrevendo até uns editoriais, tinha certa bossa para redigir e conseguiu boa acolhida do pessoal de Silveira Martins. Por causa dessa sua posição política, e mais pelo que havia ocorrido com o pai dele, de fato, seria natural que o jornal tivesse paixão, ressentimento e uma atitude incondicional de oposição. Mas ele conseguiu evitar isso. Numa época em que os jornais serviam a facções e partidos, o Correio do Povo surgiu se propondo a servir o leitor. Naquele primeiro editorial que o meu pai escreveu, no número de estréia, está antecipada a fisionomia que o Correio teria. Um jornal equidistante e equilibrado (MACHADO, 1987. P. 22).

Isto, no entanto, não coloca o jornal como veículo neutro. Na sua trajetória histórica, o

Correio do Povo em diferentes momentos apoiou movimentos sociais e políticos. Exemplo

disso foram as chamadas em suas manchetes para o povo aderir ao movimento — a chamada

Revolução de 1930 — liderado por Getúlio Vargas. Além disso, campanha de arrecadação de

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verbas foi promovida pelo jornal para ajudar a custear as demandas revolucionárias, sendo a

central de recolhimento do dinheiro a sua própria redação. É importante, também, relembrar a

adesão do Correio à candidatura dissidente ao Governo do Estado de Cirne Lima, nas eleições

indiretas de 1966. Não existe veículo de comunicação isento. Como lembra Robert Darton

(1990), em um jornal, as notícias e a forma como as mesmas são redigidas têm implicações

nos quadros funcionais, nas normas, na evolução institucional, nas disputas internas e

externas.

A história do Correio do Povo tem sido tema de profissionais do jornalismo,

historiadores e memorialistas, cuja narrativa passa pelo apelo identitário do veículo com seu

público.

Uma obra que percorre a modernização da imprensa e avanços ao longo da história do

Rio Grande do Sul é Tendências do Jornalismo, de Francisco Rüdiger. O autor coloca em seu

livro a atuação de diversos jornais e trajetória dos mesmos rumando para os tempos atuais.

As quatro primeiras décadas do século 20 marcam precisamente esse processo de transição, através do qual se formou um novo regime jornalístico em detrimento não só da imprensa político partidária, mas da própria imprensa literário-noticiosa, na medida em que sua ascensão simultaneamente inviabilizou a continuidade da base econômica e tecnológica em que esta última se sustentava. Nesse período, com efeito, os termos da concorrência entre os jornais passaram a ser ditados pelas novas empresas jornalísticas, que alijaram do espaço público as folhas baseadas em pequenos negócios (RÜDIGER, 1993, p. 72 -73).

Nessa análise o autor coloca o Correio do Povo como o precursor da imprensa

moderna no Rio Grande do Sul, pois até sua criação, em 1895, os jornais eram de cunho

partidário, voltados para assuntos inerentes à sua filosofia ou política. Com o Correio do Povo

isso foi modificado, passando-se para moderna visão quanto aos noticiários e publicidade.

Conforme Rüdiger:

O Correio do Povo e o Diário de Notícias formavam, então, a vanguarda do nosso jornalismo, seja pelos moldes verdadeiramente capitalistas de sua organização empresarial, seja pelo novo conceito jornalístico que, respondendo às novas demandas do tempo, estava se consolidando na sociedade. Para ambos, os jornais eram apenas veículos imparciais de informações responsáveis pelo registro nervoso dos dias em curso e pela divulgação profissional e verídica dos acontecimentos. O tempo do jornalismo político-partidário havia passado, filtrado pela racionalidade emergente do mercado, conforme a qual se constituiu uma nova doutrina jornalística (RUDIGER, 1993, p. 76).

Assim, pode-se identificar o Correio do Povo como fator diferencial nesta

modernização e diferente do Diário de Noticias, a empresa de Caldas Júnior perdurou, criando

uma imagem sobre o noticioso que há 117 anos prega como filosofia, a noticia isenta.

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Alguns importantes personagens formavam o corpo de funcionários do Correio do

Povo. Um destes intelectuais, Erico Veríssimo, em 1975, no suplemento do jornal que

comemorava seus 80 anos, em longa entrevista, potencializa a credibilidade o jornal ao

comentar que escrevia algumas de suas obras com apoio das antigas edições do mesmo, pois

relatavam uma época com muita fidelidade.

Esse depoimento consta no livro de Sergio Roberto Dillenburg chamado Correio do

Povo – história e memórias:

Sempre que escrevia um romance, cuja ação se passava em fins do século passado ou principio deste Érico diz que costumava recorrer às velhas coleções do Correio do Povo, que, como testemunho da história e espelho da sociedade dos últimos oitenta anos inspirava-no em abundancia. “Muitas das minhas personagens costumam ler ou pelo menos mencionar o jornal que Caldas Júnior fundou. De certo modo o Correio passou a ser uma espécie de personagem de muitos romances”, revela, por fim, o escritor gaúcho (VERÍSSIMO, apud DILLENBURG, 1997, p. 97).

Desta forma pode-se identificar a importância do jornal junto à população não apenas

noticiando o cotidiano, mas tornando-se fonte histórica, ampliando também a visão quanto ao

conteúdo contido, ainda hoje, no arquivo de jornais.

O antigo secretário de redação, Alberto André, em depoimento, relata seu sentimento

quanto a trabalhar na empresa, exprimindo também sua visão quando à imagem do jornal na

sociedade em geral. No depoimento à Dillenburg declarou:

Era, por assim dizer, o porta-voz jornalístico do Rio Grande e nossa ligação com outras unidades da federação. Não houve personalidade que não tivesse dado entrevista ao jornal, e sua sessão de pequenos anúncios chegou a ser o maior de quase todos os outros. Acresça-se que tinha muita autoridade para colocar os assuntos, ser lido e respeitado. “O Róseo” foi um dos grandes momentos da vida jornalística da imprensa gaúcha, que nasceu com o Diário de Porto Alegre, em 1827. O Correio do Povo foi o primeiro jornal apartidário, que buscava operar com neutralidade (ALBERTO ANDRÉ, apud DILLENBURG, 1997, p. 97).

Para Sérgio da Costa Franco os editorialistas tinham uma liberdade e uma espécie de

autocensura. Coloca que nunca foi censurado por algum diretor. Quanto às matérias

divulgadas pelo jornal, Franco declara:

Invariavelmente, o Correio do Povo se batia pela causa do ruralismo rio-grandense, pelos aperfeiçoamentos da infraestrutura do estado, pelas conquistas de natureza cultural, pela moralidade administrativa e política, pela democracia e contra a demagogia. Mantendo-se dentro destes canais, o editorialista não contrariava jamais o diretor (FRANCO, apud DILLENBURG, 1997, p. 123).

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Sobre as disputas e censuras internas nas redações de jornais, Robert Darnton (1990)

faz uma analise em sua obra O Beijo de Lamourete, sobre as ações no jornal The Times.

Explica distribuição geográfica dos funcionários na redação, o que determina a importância de

cada editoria e suas sub-divisões (editor, repórter, redator). Cada ilha, com suas divisórias da

redação, posicionadas conforme a sua importância para o jornal. O manual de redação é

seguido, porém, a competição para escrever a melhor matéria é evidente, causando, por vezes,

uma luta de classes na redação. Darnton utiliza este exemplo:

O poder do editor sobre o repórter, assim como o do diretor sobre o editor, realmente gera uma tendência na maneira de redigir as notícias, como assinalam os estudos sobre o controle social na sala de redação. Mas o horror dos repórteres em canalizar, atua como uma influência em sentido contrário. Certa vez, por exemplo, um editor-assistente de Cidades do The Times, numa matéria sobre poluição, inspirou-se em seu filho, que se queixou de que uma casquinha de sorvete tinha ficado tão lambuzada, enquanto ele descia a rua, que teve de jogá-la fora numa lata de lixo. O repórter montou conscienciosamente a matéria em cima do episódio, acrescentando como enfeite o detalhe de que o garotinho anônimo errou a lata e foi embora. O editor manteve esse toque final. Ele adorou a matéria, a qual provavelmente melhorou sua situação junto aos outros editores e a situação do repórter junto a ele. Mas a reputação do repórter despencou entre seus pares e funcionou como fator preventivo contra outras “canalizadas” para o outro lado da divisória (DARNTON, 1990, p. 76).

Assim ao comparar os exemplos de Franco e Darnton, reafirma-se que não existe

neutralidade no produto final de um jornal, pois, desde o início, internamente, na própria

distribuição espacial de reportes, redatores e editores não há isenção, o que atrela o trabalho

do repórter e redator às condições impostas pelo cotidiano da redação.

A bibliografia em torno do jornal Correio do Povo não é vasta, porém, importante para

entender a história da imprensa no Rio Grande do Sul, e, porque não, no Brasil. Por ocasião

do centenário da empresa em 1995 alguns livros foram publicados.

O Circulo de Pesquisas Literárias (CIPEL) reuniu em um livro diversas personalidades

escrevendo sobre o veículo. A obra foi organizada pela historiadora Hilda Agnes Hübner

Flores e discorre sobre acontecimentos como a Revolução de 1930, de 1923, a mulher na

imprensa, reminiscências, todas baseadas nas notícias da época em destaque no jornal. Outras

remetiam ao meio cultural como, Correio do Povo e a literatura, Evolução de Porto Alegre via

Correio do Povo, música popular, entre outros. De acordo com Flores:

O CIPEL sente-se gratificado em poder integrar de maneira objetiva as comemorações do centenário do Correio do Povo, o jornal que no longínquo 1º de outubro de 1895 nasceu da tenacidade de Francisco Caldas Júnior, e desde então vem informando sobre o que de mais expressivo ocorreu no dia a dia da comunidade local, nacional e internacional. Seu compromisso constante de isenção de ânimo e objetividade, certamente é um dos segredos de sua longevidade (FLORES, 1995, p. 7).

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Outra obra desta época é Um Século de Poder – os bastidores da Caldas Júnior, de

Walter Galvani, jornalista que trabalhou durante décadas na empresa e que pesquisou,

entrevistou e relatou a história desde seu começo. Três fatos criam elo nostálgico do autor

com a empresa.

Primeiro porque, de fato, aprendi a ler no Correio do Povo, em 1940, e não porque fosse precoce (já tinha 6 anos), mas porque minha mãe entendia que era preciso armar seus filhos para a difícil luta pela vida. [...] Segundo porque, em fevereiro de 1955, mais precisamente no dia 14, às 15 horas, eu começava meu trabalho profissional na redação do Correio do Povo, na seção de esportes [...]. E terceiro porque o Correio soube me devolver em carinho e afetividade tudo o que lhe dediquei e dele retirei. Fiz amizades incontáveis através dele e dentro dele, aprendi tudo o que foi possível para uma profissão difícil e competitiva que me encanta até hoje, convivi com os maiores nomes da intelectualidade gaúcha nestes últimos 39 anos (GALVANI, 1995, p. 9 -10).

Esses relatos, o período de existência marcado por desafios, enfrentamentos de

situações adversas, sua permanência como um dos jornais de maior tiragem no Rio Grande do

Sul e a fidelidade de seu público atestam o prestígio e o legado do jornal em se tratando de

memória e história.

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3 ARQUIVO DE JORNAIS E PESQUISA CORREIO DO POVO: CONSTITUIÇÃO, RELEVÂNCIA E POTENCIALIDADES

O arquivo foi organizado por uma funcionária, Francisca Moreira Espinosa na década

de 1950. Ao chegar muito jovem para trabalhar na então Empresa Jornalística Caldas Júnior,

Chica, como era conhecida, tratou de recuperar e montar um dos arquivos mais completos do

Brasil, com declara Walter Galvani – o maior tesouro do centro de Porto Alegre 6.

Aqui se remete à narrativa de Alexandre Herculano quanto ao Estado dos Arquivos

Eclesiásticos do Reino, quando colocava o seguinte:

Nos lugares onde se acham, os antigos pergaminhos e cartulários não são entendidos nem apreciados, nem resguardados de modo conveniente contra os acidentes que possam sobrevir-lhes: não há ordem racional na sua arrumação, nos raros casos em que estão nalguma ordem, não há índices aos quais se possa recorrer quando é necessário consultá-los. Por quase todos os arquivos se encontram pergaminhos nas costas dos quais se escreveu a palavra fatal inútil. Inútil quer dizer que não serve a algum interesse material da corporação. Em regra, é no meio destas inutilidades que se vão achar os documentos históricos mais importantes (HERCULANO, 1977, p. 62 e 63).

Assim como Herculano descreve a situação dos documentos no arquivo, encontrava-se

o acervo de jornais da então Companhia Caldas Júnior, ou seja, empilhados, acomodados de

forma inadequada e em crescente processo de deterioração. Chica tomou para si a tarefa de

higienizá-los, separá-los por meses e quinzenas e providenciar a encadernação.

Foram assim recuperadas as coleções completas de todos os jornais Correio do Povo,

desde 1º de outubro de 1895, incluindo os demais jornais da empresa, ou seja, Folha da

Manhã, Folha da Tarde, Folha da Tarde Final, Folha Esportiva, todos com grande tradição no

Rio Grande do Sul e com prestigio em nível nacional. Alguns dos cadernos que vinham

encartados nesses jornais ganharam encadernação individual, como o Caderno de Sábado,

Caderno Rural, Folha da Criança, Letras e Livros7, os quais receberam atenção especial. Na

década de 1970 ocorreu a microfilmagem de grande parte do acervo, o que garante, de certa

forma, a integridade da coleção, uma vez que a mudança de suporte resguarda os documentos

originais.

O acervo tem sua própria história marcada por fatos importantes relacionados com o

processo histórico brasileiro. Um dos mais conhecidos ocorreu em 20 de setembro de 1972,

quando a edição do Correio do Povo foi condenada a ser incinerada, devido à publicação de

6 Em declaração informal ao autor no ano de 2008. 7 O suplemento substituiu o Caderno de Sábado, a partir de 1981.

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notícias consideradas prejudiciais ao governo militar. Os exemplares foram apreendidos antes

de chegar às bancas, salvando-se vinte, os quais foram escondidos pela funcionária Chica em

seu uniforme, driblando os militares que procediam à apreensão dos mesmos.

São 117 anos de matérias, as mais diferentes, fundamentais para se entender modos de

fazer, saberes, mentalidades, imaginários, posicionamentos políticos, movimentos sociais,

dinâmicas culturais, entre tantas outras temáticas. O trabalho de Chica é inestimável e

reconhecido como de relevância para a história da imprensa, partindo de uma “vontade de

conservação” que mais tarde, mesmo que involuntário, tornou-se uma “vontade de memória”.

Figura 6 – Reprodução de matéria sobre prêmio recebido por Francisca Moreira Espinosa

Fonte: Arquivo de Jornais e Pesquisa Correio do Povo. (02 de junho de 2005).

Chica, que faleceu no dia 2 de maio de 2010 dedicou-se por 60 anos ao arquivo que

tanto amou, ou como ela mesma declarava – casei com o arquivo e com o Correio do Povo.

O Arquivo de Jornais e Pesquisa Correio do Povo possui em seu acervo toda a coleção

com edições do jornal Correio do Povo, Folha da Tarde, Folha da Tarde final, Folha da Manhã

e Folha Esportiva. Todos estes jornais fazem parte do acervo e seu conteúdo está hospedado

no prédio histórico do jornal, que já foi sede de repartições administrativas do município e

abrigou lojas comerciais na virada do século XIX para o XX, uma destas lojas era uma

revenda de automóveis e acabou apelidando o prédio com o nome de Hudson, como é

conhecido até os dias de hoje, situado na Rua Caldas Junior, 219, Porto Alegre, RS.

Estão todos disponibilizados em livros encadernados, alguns separados por quinzena

devido ao fato do grande número de páginas. A coleção é composta por todas as edições do

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jornal Correio do Povo desde 1º de outubro de 1895 até as edições atuais, bem como outros

jornais editados pela empresa.

Figura 7 – Imagem de livro da Coleção recuperada dos jornais Correio do Povo, 1927

Fonte: Arquivo de Jornais e Pesquisa Correio do Povo.

Figura 8 – Imagem de livro da Coleção recuperada dos jornais Correio do Povo, 1927

Fonte: Arquivo de Jornais e Pesquisa Correio do Povo.

Figura 9 – Imagem de livro da Coleção recuperada dos jornais Correio do Povo, 1927

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Fonte: Arquivo de Jornais e Pesquisa Correio do Povo.

CORREIO DO POVO

1º/10/1895 até a atualidade

1895 a 1910 eram 2 folhas(ou seja 4 páginas por dia)

1910 a 1920 8 folhas (16 páginas)

1920 a 1950 6 folhas (12 páginas)

1950 a 1960 8 folhas (16 páginas)

1960 a 1975 12 folhas (24 páginas por dia)

ATUAL – Média de 32 páginas

OUTROS JORNAIS:

FOLHA DA TARDE

27/04/1936 até 16/06/1984.

1936 a 1950 6 folhas (12 páginas)

1950 a 1984 25 folhas (50 páginas)

FOLHA DA TARDE ESPORTIVA

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12/04/1937 até 12/11/1969.

1949 a 1969 8 folhas (16 páginas)

FOLHA DA TARDE FINAL

27/06/1974 até 08/03/1984.

1977 a 1980 30 folhas (60 páginas)

FOLHA DA MANHÃ

12/11/1969 até 21/03/1980.

1969 a 1980 23 folhas (46 páginas)

Cadernos do jornal arquivados separadamente.

Caderno de Sábado – 30/09/1967 até 10/01/1981.

Fim de Semana – 31/08/1968 até 14/04/1984.

Letras e Livros – 08/08/1981 até 14/04/1984.

Rural – 06/09/1958 até 15/06/1984

Folha da Criança – 18/04/1970 até 09/05/1981.

A salvaguarda deste material se faz necessária, devido seu suporte ser em papel e a

possibilidades de que sua decomposição se amplie com o passar dos anos. O acervo necessita

da digitalização para conservar suas informações, que são relevantes como bens culturais,

correndo o risco de deixar de existir, pois conta com material frágil com média de 100, 90, 80

anos, o que sugere urgência em sua restauração e digitalização.

Em nosso país, alguns importantes arquivos já passaram por processos semelhantes: a

Revista do Globo, digitalizada por equipe da PUC-RS, que criou, inclusive, coleção de CD-

ROM com todo o acervo e guia de busca8; o acervo do Jornal do Brasil, cuja equipe do

Google9 digitalizou, tratou a imagem e criou eficaz sistema de busca por data, a partir da

8 Projeto integrado do Centro de Pesquisas Literárias da Faculdade de Letras, Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas e Agência Experimental da Faculdade de Comunicação Social da PUCRS, financiado pela Livraria do Globo e pela Lei Estadual de Incentivo à Cultura com apoio da PUCRS, Fapergs e CNPq. 9 Conhecido site de buscas e aplicativos da internet. www.google.com

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ferramenta Google News (http://news.google.com/newspapers?nid=0qX8s2k1IRwC); acervo

audiovisual da TV Record (Programa Arquivo Record, no canal Record News).

O armazenamento do acervo deve passar por mudanças para o melhor

acondicionamento do material no que tange à umidade, temperatura e proteção contra a luz.

Com a restauração e acomodação adequada, prolonga-se assim, o suporte material.

Grande parte do acervo está microfilmada no que diz respeito ao jornal Correio do

Povo e Folha da Tarde, contendo microfilmes série ouro e prata10. Mesmo assim, existem

dificuldades para a pesquisa, uma vez que esse processo não possibilita a busca por

descritores.

O arquivo de jornais está disposto em livros que formam a coleção. No caso do

Correio do Povo até a década de 1950 eram volumes únicos, que contavam com as edições do

mês inteiro, após esse momento, devido ao grande volume de páginas atingidas pelos livros,

esses passaram a ser quinzenais (dois volumes por mês), para facilitar o manuseio.

Parte da coleção, correspondente às datas anteriores à década de 1940, encontra-se em

caixas, cada uma com três edições diárias. Isso se constitui em problema de armazenagem,

pois os jornais dessa época eram no formato standard, portanto, a caixa deveria ser do

tamanho do periódico. Esse cuidado não ocorreu e os exemplares foram dobrados ao meio

para que coubessem em caixas menores, ocupando assim, menos espaço. Com o passar dos

anos o papel destas edições passou a ser corroído justamente nesta dobra, o que, hoje,

terminou por inutilizar, total ou parcialmente algumas edições, estas cópias seriam uma

espécie de cópias de segurança para manuseio e já existem em forma de microfilme, o que

permite uma menor preocupação com este fato.

10 Série ouro: microfilmes com uma melhor concepção gráfica e mais resistentes. Ficam alojados em segurança. Séria Prata: microfilmes de qualidade menor, porém, mais indicados para uso contínuo. É uma espécie de cópia de segurança do acervo microfilmado.

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Figura 10 – Imagem do arquivo de Jornais e Pesquisa Correio do Povo – Jornais avulsos guardados em caixas de papelão

Fonte: Arquivo de Jornais e Pesquisa Correio do Povo.

Acompanhando as prateleiras é possível visualizar a mudança de formatos e o momento

em que o jornal tornou-se tablóide em 1987. Os outros jornais que circularam pela empresa

também estão preservados do mesmo modo, incluindo alguns cadernos como o Caderno de

Sábado, Rural, Letras e Livros, Fim de Semana, Folha da criança, entre outros.

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Figura 11 – Imagem do arquivo de Jornais e Pesquisa Correio do Povo – Jornais encadernados

Fonte: Arquivo de Jornais e Pesquisa Correio do Povo.

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Figura 12 – Imagem do arquivo de Jornais e Pesquisa Correio do Povo – Organização das estantes

Fonte: Arquivo de Jornais e Pesquisa Correio do Povo.

Quantificando o acervo, são mais de 36.000 edições apenas do Correio do Povo e que

juntas chegam à estimativa de 1.050.000 páginas de informações sobre os mais diferentes

assuntos. Reduzindo a escala, na tentativa de exemplificar a complexidade da pesquisa no

acervo, na década de 1970, referida como de auge do jornal, suas edições dominicais

possuíam, por vezes, 100 páginas.

A pesquisa hoje praticada no arquivo de jornais do Correio do Povo é realizada de

forma pouco prática e atrativa. Não existem índices e a busca é realizada por datas

aproximadas aos acontecimentos, portanto, o exercício de pesquisa torna-se muito mais

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demorado e caro, elevando consideravelmente o tempo que um pesquisador gasta no

levantamento de dados.

A política de acesso adotada pela administração da empresa para pesquisa no arquivo de

jornais envolve a cobrança da hora de pesquisa e de fotocópias. A pesquisa tem o valor de

R$10,00 a hora, enquanto as fotocópias variam conforme a data do jornal. São valores que

têm como objetivo manter a logística do setor (suprimentos, funcionários, entre outros) e

atualmente limitar o manuseio das coleções mais antigas por motivo de preservação, portanto,

as coleções anteriores à década de 1950 têm valores mais elevados. Outro serviço prestado

pelo arquivo é a venda de edições anteriores que datam de um ano em forma regressiva.

O público que pesquisa nas coleções é variado: professores, pesquisadores de diferentes

campos do saber como história, antropologia, sociologia, literatura, medicina, direito, buscam

informações para seus trabalhos; estudantes, escritores, pessoas que buscam comprovação

para aposentadoria; advogados em busca de provas que constam na imprensa; administradores

em busca de antigos editais para futuras comprovações; enfim o acervo tem uma variedade de

possibilidades quanto as consultas nele realizadas11. Os jornais são importantes fontes no que

diz respeito à história da imprensa no Rio Grande do Sul, história mundial, regional e

nacional.

Seu acervo é bem cultural que remete a inúmeras possibilidades de construção de

conhecimento nas mais diferentes áreas. Pode-se acompanhar, a partir das matérias divulgadas

nos periódicos, contextos sociais, econômicos, culturais, educacionais, esportivos e políticos

desde sua fundação em 1895. Saberes e modos de fazer de indivíduos, grupos e comunidades

estão registrados nas suas inúmeras páginas.

A seguir, dá-se breve exemplo de apropriações que têm sido feitas por pesquisadores a

partir do acervo, chamando a atenção que trata-se de referência apenas aos anos de 2007 a

2011.

11 Disponível em: http://www.academicoo.com/correio-do-povo-newspaper/

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Quadro 1 – Relação de trabalhos acadêmicos fundamentados no acervo de jornais do Correio do Povo

Instituição de ensino

superior

Título do trabalho

Área de conhecimento

Nível Doutorado

(D) Mestrado

(M)

Ano

UFRGS O olhar jornalístico sobre o meio ambiente: um estudo das rotinas de produção nos jornais Zero Hora e Correio do Povo

Comunicação e informação

M 2007

UFRGS O exercício da atividade da enfermeira obstétrica: análise do discurso médico no Rio Grande do Sul no ano de 2005

Enfermagem M 2008

PUCRS O Voto da Costela: o sufrágio feminino nas páginas do Correio do Povo (1930-1934)

História M 2008

UFRGS A chama que arde em nossos clubes! A corrida de revezamento do fogo simbólico da pátria em Porto Alegre (1938-1947)

Ciências do Movimento

Humano

M 2008

UFRGS A política externa independente é notícia: o reatamento das relações diplomáticas com a URSS na perspectiva do jornal Correio do Povo (novembro de 1961)

História M 2009

UFRGS O urbanismo em Porto Alegre no jornal Correio do Povo, durante o Estado Novo

Arquitetura M 2009

UFRGS Guilhermino Cesar e o Caderno de Sábado do jornal Correio do Povo: em busca do ouvido certo

Letras D 2010

UFRGS Entre ferro e fogo: os noticiários da imprensa sul-rio-grandense sobre o governo Agostinho Neto em Angola (1975-1979)

História M 2011

Fonte: http://scholar.google.com.br/schhp?hl=pt-BR. Acesso em 26/07/2012.

No campo cultural, o jornal Correio do Povo teve no suplemento Caderno de Sábado

importante espaço para discutir temas que remetessem à memória e à cultura de Porto Alegre

e do Rio Grande do Sul. Destacados colaboradores locais, regionais e nacionais enviavam

suas contribuições. Nomes como Clarice Linspector, Cyro Martins, Moacyr Scliar, Antonio

Candido, Zilá Bernd, Antonio Hohlfeldt, Sérgio da Costa Franco e Guilhermino Cesar,

citando apenas alguns, colaboravam de forma fixa ou esparsa para o suplemento.

Tânia Franco Carvalhal ao referir-se ao Caderno de Sábado afirma que:

[...] desde seu primeiro número, em 30 de setembro de 1967, é comprovar o que disse Guilhermino Cesar dos jornais e revistas rio-grandesnses: contêm eles documentação valiosa sobre a vida literária, política e econômica do Estado. Antes de tudo, suas páginas refletem o perfil intelectual da Província por um longo período, de seu início a seu término em 1980. Ao fazê-lo, registram uma fase de intensa movimentação cultural que se traduz pela própria presença do suplemento cuja criação indica existência de um público capaz de justificar iniciativa semelhante (CARVALHAL, 1995, p. 10).

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Mergulhar no acervo de jornais do Correio do Povo é, antes de tudo, fazer imersão em

fragmentos a partir dos quais como cita Axt: “podemos acessar mundos e experiências

humanas perdidas” [...] (2003, p. 9), portanto, a relevância de se restaurar, preservar (a partir

de digitalização) e socializar esta documentação.

Figura 13 – Imagem do arquivo do jornal Correio do Povo – Sala de Pesquisa

Fonte: Arquivo de Jornais e Pesquisa Correio do Povo.

Figura 14 – Imagem do arquivo do jornal Correio do Povo – Sala Administrativa

Fonte: Arquivo de Jornais e Pesquisa Correio do Povo.

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4 MEMÓRIA, LUGAR DE MEMÓRIA, DIGITALIZAÇÃO E GESTÃ O CULTURAL DE ACERVOS

Como já explicitado, o Arquivo de Jornais e Pesquisa do Correio do Povo é um centro

de referência para pesquisadores de diferentes campos do saber. No entanto, a acessibilidade

ao acervo, os métodos de busca e as condições para a pesquisa, de certa forma, impedem que

o mesmo seja mais consistentemente explorado.

Entendendo a instituição como de relevância para a sociedade, propõe-se neste trabalho,

projeto para a preservação e socialização do acervo com os seguintes objetivos:

a) Digitalizar o acervo do Jornal Correio do Povo.

b) Criar manual que indique os passos para a transposição de jornais de suporte papel

para o digital contendo desde o escaneamento até a indexação dos documentos.

c) Valorizar a relação do Correio do Povo com a comunidade em geral e de

pesquisadores, promovendo a utilização do acervo.

d) Estabelecer plano de gestão cultural, destacando seu foco, principais estratégias a

serem empregadas, destacando benefícios para a sociedade e para a empresa.

Antes da discussão do projeto propriamente dito, parte-se para a sistematização de

conceitos teóricos sobre aspectos que o mesmo envolve, ou seja: memória, lugar de memória,

digitalização e gestão cultural de acervos. Também, é importante verificar experiências de

digitalização de acervos, a fim de terem-se exemplos práticos que se aproximam daquilo que

ora se apresenta no trabalho.

Inicia-se aqui, colocando que o acervo de jornais ora em estudo é resultado de processo

de montagem, ou seja, os periódicos foram e continuam sendo produzidos em determinadas

circunstâncias e por vontade institucional. Motivações fizeram com que se constituísse um

arquivo e discursos e práticas de grupos remetem aos conteúdos dos jornais como

testemunhos de épocas passadas (GONDAR, 2005). Portanto, ao reunir os periódicos em um

arquivo, criando uma coleção e disponibilizando-a para pesquisa, a Instituição, de certa

maneira, investe em exercícios de narrativas.

Apoiando-se em Benjamin (1987) e em Zita Possamai (2007), reflete-se sobre os ritmos

e velocidades da cidade moderna, o desaparecimento dos chamados “homens-memória” (LE

GOFF, 1994, p. 429), os guardiões da memória e da tradição cujos relatos transmitiam

vivências, saberes e experiências, multiplicando conhecimentos de geração a geração. Nos

encontros familiares, nas rodas de conversa de vizinhos nas calçadas, na vida para fora da

porta, os laços eram fortalecidos, o presente integrava o decorrer do tempo e isso auxiliava na

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continuidade da coesão social dos grupos. O declínio da narrativa deu lugar a outras formas

de informação: a imprensa e, nessas primeiras décadas do século XXI, as redes sociais e o

registro e armazenamento de informações no espaço virtual tomam o antigo papel dos

“homens-memória”.

A partir dos anos 1990, com o crescimento do registro de informações em suportes

virtuais, ao mesmo tempo em que se dá transbordamento de saberes, também há o temor de

perda dos mesmos. Embora Pierre Lévy (1999) aponte para as bibliotecas-hipertexto no

espaço virtual com os conhecimentos disponíveis ao acesso individual e coletivo de qualquer

lugar e em qualquer tempo, existe a preocupação com recursos tecnológicos para o

armazenamento dessa memória e com equipamentos para acessá-la. Huyssen alerta que “a

ameaça do esquecimento emerge da própria tecnologia à qual confiamos o vasto corpo de

registros eletrônicos de dados, esta parte mais significativa da memória cultural do nosso

tempo” (2000, p. 33).

O ciberespaço12, nova configuração de espaço e tempo, no entender de Huyssen:

[...] sozinho não é o modelo apropriado para imaginar o futuro global – esta noção de memória é sem sentido, é uma falsa promessa. A memória vivida é ativa, viva, incorporada ao social – isto é, em indivíduos, famílias, grupos, nações e regiões. Estas são as memórias necessárias para construir futuros locais diferenciados num mundo global. Não há nenhuma dúvida de que a longo prazo todas estas memórias serão modeladas em grande medida pelas tecnologias digitais e pelos seus efeitos, mas elas não serão redutíveis a eles. [...] qualquer coisa recordada é memória vivida ou imaginada – é virtual por sua própria natureza. A memória é sempre transitória, notoriamente não confiável e passível de esquecimento; em suma ela é humana e social (HUYSSEN, 2000, p. 37).

Porém, acredita-se que possa haver interação entre os três meios de memória —

oralidade, escrita, e informática —, no auxílio à proteção de informações e que tanto as

bibliotecas, os arquivos e museus como os meios digitais possam ser considerados como

memória auxiliar para armazenar, manter o registro e socializar as mesmas. Nesse sentido,

tanto o acervo em suporte papel do Arquivo de Jornais e Pesquisa Correio do Povo como a

sua transposição para suporte digital se constituem em memória auxiliar.

Pela aceleração da produção e o consequente transbordamento de informações, as

sociedades contemporâneas passam pela preocupação da preservação de relatos, depoimentos,

12 [...] o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial de computadores e das memórias dos computadores. Essa definição inclui o conjunto de sistemas de comunicação eletrônicos [...] na medida em que transmitem informações provenientes de fontes digitais ou destinadas à digitalização. Insisto na “codificação digital”, pois ela condiciona o caráter plástico, fluído, calculável com precisão e tratável em tempo real, hipertextual, interativo e, resumindo, virtual da informação que é parece-me, a marca distintiva de ciberespaço (LÉVY, 1999, p. 92-93).

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documentos, vestígios sobre acontecimentos, sejam eles de interesse coletivo ou não. Nora

entende que somos obcecados em nos compreender historicamente. Vivemos a síndrome

arquivística, a impor desafios.

À medida mesmo em que desaparece a memória tradicional, nos sentimos obrigados a acumular religiosamente vestígios, testemunhos, documentos, imagens, discursos, sinais visíveis do que foi, como se esse dossiê cada vez mais proliferante devesse tornar-se não se sabe que prova em não se sabe que tribunal da história. O sagrado investiu-se no vestígio que é a sua negação. Impossível prever o que será necessário lembrar-se. Daí a inibição em destruir, a constituição de tudo em arquivos, a dilatação indiferenciada do campo do memorável, o inchamento hipertrófico da função de memória, ligado ao próprio sentimento de sua perda, e o reforço correlativo de todas as instituições de memória (NORA, 1984, p. 16).

O Arquivo de Jornais e Pesquisa Correio do Povo é uma instituição que tem guardado

não só a memória da imprensa, mas também a memória histórica do Rio Grande do Sul e seu

acervo se configura como bem cultural. Isto constitui uma memória social13, referida ao

arquivo/acervo, pois grupos estabeleceram relações com o mesmo. São memórias coletivas

diferentes umas das outras — de cooperação, de dominação ou de conflito —, variando no

tempo e no espaço, tantos são os grupos em relação, mas que têm em comum a aderência ao

Arquivo.

Ao se considerar que o acervo constitui uma memória social, recorre-se a Halbwachs14

(2006) que entende memória como fenômeno coletivo. O ponto fundamental é que a memória

individual é uma construção social, ou seja, o indivíduo que recorda, o faz perpassado por

informações e experiências modeladas em grupos de referência. Por grupo de referência,

entende-se aquele a que o indivíduo faz ou já fez parte, com o qual se identifica e associa seu

passado. Nossas lembranças do passado, por mais que pareçam resultar de sentimentos,

paixões, vivências pessoais, só podem existir a partir do que Halbwachs denomina de quadros

sociais da memória, que guardam e regulam os fluxos das lembranças. Para que essa memória

permaneça é preciso que as relações, as marcas de proximidade entre o indivíduo e o grupo

sejam preservadas. Segundo Halbwachs:

13Sobre memória social ver: GONDAR, Jô; DODEBEI, Vera (orgs.). O que é memória social? Rio de Janeiro: Contra Capa/Programa de Pós-Graduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, 2005. LOPES, Cícero Galeano et al. (Org.). Memória e Cultura: perspectivas transdisciplinares. Canoas: Salles, 2009. p. 255-270. (Série memória e patrimônio, 1) 14 Maurice Halbwachs (1877-1945), sociólogo, fez estudo dos contextos sociais da memória, apresentado inicialmente em 1925, na obra “Os contextos sociais da memória” e ampliados na obra póstuma “Memória Coletiva”, publicada pela primeira vez em 1950.

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Para que a nossa memória se aproveite da memória dos outros, não basta que estes nos apresentem seus testemunhos: também é preciso que ela não tenha deixado de concordar com as memórias deles e que existam muitos pontos de contato entre uma e outras para que a lembrança que nos fazem recordar venha a ser constituída sobre uma base comum (HALBWACHS, 2006, p. 39).

A constituição da memória individual relaciona-se a quadros sociais mais amplos, é

combinação das memórias dos diferentes grupos sociais que o indivíduo participou ou

participa, pois,

o funcionamento da memória individual não é possível sem esses instrumentos que são as palavras e as ideias, que o indivíduo não inventou, mas toma emprestado de seu ambiente [...] para evocar seu próprio passado, em geral a pessoa precisa recorrer às lembranças de outras (HALBWACHS, 2006, p. 72).

A memória coletiva é um conjunto de lembranças que transcende o indivíduo, é uma

corrente de pensamento contínuo que retém do passado aquilo que ainda está vivo ou capaz de

viver na consciência de um grupo. Porém, nem tudo o que ocorreu no passado é preservado,

pois os grupos que guardam as lembranças podem desaparecer, ou já não são mais os

mesmos. Assim, a memória coletiva está sempre se transformando, se redefinindo; é uma

memória viva. Quando lembranças não se sustentam mais por si mesmas na consciência dos

grupos, uma das tendências é fixá-las, registrando-as e transformando-as em memória

histórica.

No caso dos jornais Correio do Povo, não se pode dizer que os mesmos se constituam

como narrativa em sequência de acontecimentos, configurando a trama histórica. São

registros, documentos, vestígios do passado, fragmentos de memórias coletivas, mas

especiais, por sua produção estar ligada a uma estrutura de poder. A partir deles é possível

reconstituir processos e trajetórias de personagens de um tempo e de um espaço. Barbosa

(2000) auxilia na reflexão de que fixar um momento a partir da notícia veiculada na imprensa

é como se selecionasse e domesticasse a memória. Os jornais, representando a forma de

pensar de uma sociedade, ou parte dela, tornam-se senhores da memória.

O Arquivo de Jornais e Pesquisa Correio do Povo é uma instituição que guarda, então,

a memória de diferentes acontecimentos, de cidades, de cotidianos dispersos, de saberes e

fazeres, de crenças e valores de diversos grupos. Tem transmitido ao longo dos seus 117 anos,

parte da história cultural, política, econômica e científica da sociedade sul-rio-grandense e

brasileira. Como registro da realidade, a mensagem jornalística assume certa aura,

formalizando a memória social e por vezes, impondo modo de recordação do passado

(RIBEIRO, 1999). Nesse sentido, pode-se inferir que o Arquivo com sua coleção de jornais

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caracteriza-se como lugar de memória.

Pierre Nora, na apresentação de Les France, conceitua como “lugar de memória: toda

unidade significativa, de ordem material ou ideal, da qual a vontade dos homens ou o trabalho

do tempo fez um elemento simbólico do patrimônio da memória de uma comunidade

qualquer” (1993, p. 20). Defende que “nascem e vivem do sentimento que não há memória

espontânea, que é preciso criar arquivos, que é preciso manter aniversários, organizar

celebrações, pronunciar elogios fúnebres, notariar atas, porque essas operações são naturais”

(NORA, 1993, p. 13).

O Arquivo como lugar de memória, cumpre função de preservar e fortalecer a

memória local, regional e nacional. Também, tem em vista a intenção de preservar algo que se

encontra em perigo, neste caso, o acervo centenário de jornais em suporte papel. O Jornal

Correio do Povo, como instituição, é sobrevivente a tantos outros periódicos criados no Rio

Grande do Sul e hoje não mais existentes, assim como persiste em uma empresa que já passou

por três processos. Conforme Nora,

São lugares, com efeito, dos três sentidos da palavra, material, simbólico e funcional, simultaneamente, somente em graus diversos. Mesmo um lugar de aparência puramente material, como um depósito de arquivos, só é um lugar de memória se a imaginação o investe de uma aura simbólica (NORA, 1993, p. 8).

O Jornal Correio do Povo por ter acompanhado a formação do Rio Grande do Sul

republicano, por sua atuação nos momentos de crise democrática (Legalidade, Ditadura

Militar), por exemplo, clama por uma memória que remete não só a uma categoria de perda,

mas também de retenção cultural. Aí se encontra outra característica dos lugares de memória,

perpassados pelo jogo entre memória e história que legitimam e que tem a intenção de ser

lócus ideal para narrativas, retorno, e celebração.

Para tanto, é preciso disponibilizar o acervo para consulta, promover-se o acesso sem

corromper o suporte papel com o uso. A digitalização de acervos jornalísticos tem se tornado

foco de estudos a partir da década de 1990. O desgaste de importantes coleções de jornais

brasileiros se faz sentir a cada ano.

Algumas iniciativas são importantes para a preservação.

O projeto de digitalização da coleção de jornais mineiros do século XIX visa preservar e dar acesso a um importante acervo para a pesquisa da história de Minas Gerais e do Brasil. A coleção dos jornais esteve sob a guarda do Arquivo Público Mineiro até o ano de 1996, quando foi transferida para a Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa e, logo em seguida, para a Hemeroteca Histórica, local onde se encontra atualmente. O grande desafio da Hemeroteca Histórica tem sido a

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preservação deste acervo, que se encontra em estado precário de conservação devido à fragilidade do suporte de papel (CAMIASCA; VENÂNCIO, 2007, P. 2).

Como o papel é uma fonte que pode em breve se esgotar, a solução encontrada nos

primórdio foi a microfilmagem e após a transformação em documento digital. Este

procedimento tem a seu favor a possibilidade de buscar palavras-chave com precisão e por

fim a conservação e o fim do manuseio das valiosas coleções.

O projeto de digitalização do acervo do Correio do Povo se assemelha assim com

outras ações parecidas que estão em andamento pelo País. Um destes trabalhos é a

digitalização dos jornais mineiros do século XIV.

Apesar desses jornais estarem microfilmados, a falta de leitoras modernas de microfilmes exige que a pesquisa seja feita por meio dos originais. Além disso, o microfilme é considerado hoje uma excelente mídia de preservação, apresentando, porém, problemas de acesso, já que a manutenção das máquinas leitoras exige investimentos de valores elevados, tendo por base tecnologia considerada ultrapassada, além da pesquisa e leitura em microfilmes serem cansativas e morosas. Assim, a digitalização desta coleção contribuirá para a preservação dos originais, além de possibilitar a ampliação do acesso ao acervo (CAMIASCA, VENÂNCIO, 2007, P. 2).

Existem então casos semelhantes ao que se propõe neste trabalho. Alguns

procedimentos já realizados são de alto valor informativo para o andamento do mesmo, já as

especificidades geram desafios, pois as semelhanças são apenas superficiais, pois cada acervo

necessita de um cuidado especifico e deve ser controlado pela equipe de trabalho. Cada caso

demanda, então, uma análise profunda do acervo em questão.

Em janeiro de 2006, iniciaram-se os trabalhos que tinham por objetivo final a criação de um sistema informatizado de pesquisa no qual os jornais pudessem ser consultados e visualizados. Inicialmente foi feito um levantamento dos jornais referentes ao século XIX e também dos microfilmes em que os mesmos se localizavam. Constatou-se que 98 rolos de microfilmes continham jornais do período desejado e que eles formavam uma coleção de 266 periódicos, produzidos em várias cidades mineiras (CAMIASCA; VENÂNCIO, 2007, P. 2).

A quantificação dos dados a serem disponibilizados digitalmente é, portanto, o início

do trabalho. Assim podem-se absorver prazos e tamanhos com que se está trabalhando.

Dominando estes números, a autonomia para execução do projeto se torna muito mais ampla.

Outra preocupação que se deve levar em conta é quanto ao sistema de buscas. No

caso do Correio do Povo, a conclusão é a de que o software responsável por esta parte da

tarefa deve ser desenvolvido concomitantemente com a evolução das páginas digitalizadas,

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promovendo a possibilidade de transpor as dificuldades gráficas no momento em que elas se

apresentarem, ampliando, assim, a porcentagem de acerto quanto às pesquisas realizadas no

meio digital.

Exemplos de outros projetos, neste momento, também são importantes para que erros

já cometidos ou sucessos alcançados sirvam de suporte para o trabalho. No caso mineiro

encontra-se o seguinte:

O sistema informatizado de pesquisa desenvolvido para a consulta aos jornais permite que a busca seja realizada de diferentes formas. O pesquisador pode procurar o periódico pelo nome, pela data em que foi produzido, ou pela cidade onde foi impresso. Além disso, a busca pode ser feita cruzando-se os dados. É possível, por exemplo, pesquisar exemplares do jornal O Universal somente do ano de 1826. O sistema é capaz de filtrar a informação e pesquisar somente os dados desejados. Além disso, há ferramentas que possibilitam a ampliação das imagens, o que facilita enormemente a leitura (CAMIASCA; VENÂNCIO, 2007, P.2).

Outra experiência é a integração à plataforma Google Archives, dos diários do Jornal

do Brasil e Gazeta Mercantil. A partir de setembro de 2008, passaram por digitalização e pode

servir como referencia quanto à indexação e tratamento das imagens de acervos

jornalísticos15. O trabalho consistiu na transferência dos jornais e microfilmes para o ambiente

digital (JORNAL DO BRASIL, 2008, p. 24).

O exemplo mais prático deste site foi a forma em que foi indexada a coleção. Criou-se

uma espécie de linha do tempo desde 1891 na primeira edição, assim, setas para esquerda e

direita criam um aspecto de anos e edições. Outra opção são os tamanhos das capas que

podem ser avaliados em pequeno, médio e grande, a apresentação pode ser por década, dia,

mês ano, isto facilita muito a busca.

Pode-se visualizar que, ao clicar na edição escolhida, ao ampliar a mesma, o jornal foi

mantido como o original (in loco), portanto, mantendo as características gráficas da edição até

mesmo com falhas de impressão e sem tratamento, isto de certa forma é recomendável. Ao

clicar na edição escolhida, a mesma se amplia e divide-se em quadros que apresentam página

a página, possibilitando escolher o artigo a ser lido.

Um problema quanto ao procedimento realizado, e que pode ser impeditivo para

consulta, é quanto à questão da busca por palavras. Neste site não encontramos essa opção e

muitas pesquisas emperram devido à falta de datas especificas. A pesquisa é dificultada, isto

15O trabalho realizado está disponível no formato web, especificamente no Google News (http://news.google.com/newspapers?nid=0qX8s2k1IRwC&dat=19660719&b_mode=2).

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quando se encontra o que se busca. Este é um dos problemas do arquivo físico do Correio do

Povo. A digitalização deve abranger, também, a busca por palavras, o que por sua vez gera um

grande volume de trabalho no que tange ao desenvolvimento de um software de busca, porém,

é fundamental para um serviço completo.

Figura 15 – Página inicial do Google – Sobre Google news – Ajuda da Pesquisa de Arquivo Google

Fonte: http://news.google.com/newspapers?nid=0qX8s2k1IRwC&dat=19660719&b_mode=2. Acessado em 13/04/2012.

Em artigo de Robert Darnton, intitulado, Taper Jefferson: A biblioteca nacional digital,

o autor expõe as possibilidades quanto a digitalização de acervos, entretanto, critica o método

e procedimentos utilizados por algumas instituições para tais objetivos.

O principio iluminista do século XVIII, utilizado por Jefferson sobre os bens públicos,

é tomado como base de associação de conteúdo e internet. A ideia de bens públicos neste caso

toma por principio elementos como o ar limpo, escolarização, cidadania, entre outros. O ideal

Jeffersoniano, neste caso, prega o acesso ao conhecimento como um bem público, mas isto

não significa que o conhecimento não tenha um custo, a informação livre é apreciada, porém,

alguém deve pagar o preço.

O Google, a partir da ferramenta Google Book Search, surgiu como uma solução, mas

problemas com direitos autorais atrasam a evolução do trabalho que encontrou entraves

comerciais, remetendo a digitalização das obras ao pensamento de Jefferson. O Google, por

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sua vez, tem atingido diversos setores no que tange a informação, seja ela cultural noticiosa

ou imagética, seu êxito neste campo é reconhecido, mas acaba por capitalizar, mesmo que

indiretamente, o acesso ao conteúdo.

Diversas bibliotecas e arquivos têm digitalizado seus acervos de forma independente,

como em Harvard, isto tem efeito direto na salvaguarda dos acervos. O domínio público, no

entanto, fica restrito conforme as leis de direitos autorais de cada país. No caso analisado no

texto de Darnton, apenas artigos anteriores a 1923 estão disponíveis.

Em 2010, com a reunião de bibliotecários e cientistas da computação em Harvard,

iniciaram-se conversas para a possibilidade de criação de uma biblioteca digital pública da

América. A ideia é reunir bibliotecas, arquivos e fundações, prever financiamento, reunir

bibliotecas para fornecer livros, enfim, um trabalho com grandes dificuldades.

A administração do projeto e sua instalação será avaliada por um conselho curador,

que deve gestar o mesmo. Esse seria composto por instituições governamentais, particulares,

públicas e acadêmicas, com o foco de criar a biblioteca nacional sem paredes, com amplo

acesso após vencer os percalços jurídicos, técnicos e financeiros impostos pelo desafio.

A opinião geral é a de livre acesso aos arquivos, mas essa possibilidade, no entanto, em

determinadas instituições pode causar problemas. A cobrança de taxas baixas pode ser uma

solução, pois colaboraria para manter os equipamentos atualizados e pessoal gabaritado para o

atendimento. No caso americano em questão, apenas a manutenção seria necessária com a

possibilidade de seus servidores serem geridos em órgão ligado ao ministério da ciência ou

tecnologia.

Em palestra realizada no ano de 2010 em Porto Alegre, o antropólogo e historiador

Carlo Ginzburg, refletiu sobre o estudo da história na era do Google. Fez um breve histórico

de pesquisas de sua autoria, centrando a palestra no seu livro Os andarilhos do Bem. Para

Ginzburg escola e internet andam juntas. Quem aprende a ler um livro lentamente,

saboreando-o, consegue fazer, também, o bom uso da informação on line. Alerta, no entanto,

que a aprendizagem da leitura apenas em sites on line sem a cultura do livro, está sujeita às

informações falsas, o que não falta na web. Como colocou Ginzburg – “Devemos saber como

dominar os instrumentos de conhecimento. A internet não só referencia livros, ela os

pressupõe” (Fronteiras do Pensamento, 2010).

Continuando com a discussão sobre experiências de digitalização de jornais, o Arquivo

Público de São Paulo lançou em fevereiro de 2010 o site Memória da Imprensa16 com acervo

16 Disponível em: http://www.arquivoestado.sp.gov.br/memoria/index. php

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histórico de jornais e revistas dos séculos XIX e XX. Os veículos de comunicação remontam

ao ano de 1854, destacando-se o jornal Última Hora (1951-1971) e o Correio Paulistano

(1854-1963), primeiro diário da província de São Paulo. Apesar do número de publicações

que o site engloba, ainda há muito por ser feito. São aproximadamente 1,2 mil títulos, 32 mil

exemplares de revistas, além de mais de 200 jornais a serem digitalizados e disponibilizados

(ALCÂNTARA, 2010).

O jornal norte-americano, The New York Times, lançou, em 2008 o projeto NYTimes

Archives17, com versões digitalizadas, fac símile de edições publicadas a partir de 1851. Mais

de 13 milhões de artigos do periódico estão disponíveis para consulta na Web.

Estas são algumas das possibilidades de trabalhar com digitalização de jornais que

abrem espaço para novos aprofundamentos. Todo o processo, desde a digitalização até a

disponibilização do acervo, implica em estratégias de gestão. Assim, passa-se a discorrer

sobre aspectos da gestão cultural de acervos.

Apesar de ganhar espaço nas instituições de ensino superior, sendo tema de pesquisa

de diferentes campos do saber, com abordagem multi ou interdisciplinar, ainda há pouca

literatura sobre gestão cultural ou gestão de bens culturais. O foco da gestão cultural são os

chamados bens culturais cuja definição perpassa definições antropológicas acerca da cultura e

a compreensão dos aspectos históricos a respeito das produções humanas sejam elas materiais

ou imateriais, como saberes, fazeres, crenças, etc. Enfim, aquilo que tem significado para a

coletividade e para a memória social é considerado como bem, passível de ser avaliado e

considerado como patrimônio cultural.

Historicamente, o patrimônio cultural esteve relacionado à formação da nação e à

identidade nacional, contendo a noção de sagrado, ou seja, a concepção de memória a ser

preservada, intocada e cristalizada. No entanto, a partir da década de 1990, ganham força

debates, reflexões e estudos que encaminham o entendimento de patrimônio cultural como

fazendo parte do cotidiano das pessoas, dos grupos, dos espaços públicos da sociedade.

Levam-se em conta as diversidades, as múltiplas identidades, o exercício dos direitos

culturais, a valorização e a difusão das diferentes manifestações culturais, o que implica em

desafios para a gestão do patrimônio. Para tanto, tem havido esforço na discussão de políticas

públicas que dêem conta dessa complexidade. Embora os esforços, há um longo caminho a

percorrer no aprofundamento, teorização e construção de metodologias e instrumentos para

estudos sobre gestão cultural.

17 HTTP://www.nytimes.com/ref/membercenter/nytarchive.html

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Após consultar a literatura existente, com raras exceções, quando se trata de gestão de

acervos, as indicações caem no campo da arquivística — importante, sem dúvida —, mas que

não avançam em termos de interlocução dinâmica com o entorno da instituição de guarda.

Esta está inserida em um sistema cultural, não se constituindo como algo individual ou para

determinadas pessoas ou classes, mas devendo estar disponível às massas dentro de um

roteiro que abrange aspectos multidisciplinares.

Uma das ênfases é identificar o posicionamento da instituição que guarda os acervos

junto ao seu público, ou seja, visualizar sua dinâmica quanto local de cultura, memória e

história. O Arquivo de Jornais e Pesquisa Correio do Povo enquadra-se nessas considerações,

pois de certa forma estará abrigado em uma edificação de apelo histórico e cultural e

hospedará arquivos de jornais e fotografias, que compõem um sistema operacional do espaço

cultural e de pesquisa.

Tem-se presente também que o Arquivo se configura como equipamento de poder,

pois retém um acervo, uma memória e uma história. Sua própria criação parte da premissa de

que tem uma função e uso que dá sentido a esse espaço e que lhe determina a tarefa de

preencher necessidade de indivíduos e grupos que a priori já identificou. Assim, expressa e ao

mesmo tempo atua no jogo de forças pela apropriação de bens culturais (de ordem material ou

simbólica). Partindo de suas funções, a criação e organização do mesmo daria vazão às

demandas da sociedade e, no centro dessa, estariam os pesquisadores e público em geral,

entendidos como sujeitos de necessidades naturais que precisariam ser preenchidas pelo

Arquivo. Também, é necessário ter presente os jogos de poder dentro da própria instituição

entre setores e atores envolvidos nas diferentes atividades de guarda, atendimento ao público,

planejamento e execução de programas, eventos, etc. Sua atuação, em termos estratégicos,

tem de seguir diretrizes da Direção, bem como acompanhar a missão e a filosofia da empresa.

A ideia é que o Arquivo não seja apenas templo da recordação e da rememoração.

Portanto, a gestão cultural precisa levar em conta, como coloca Axt (2002), vida e dinamismo

social, “facilitando a criação de entornos criativos e interativos de participação social e

comunitária, afirmando-se como agente comunicador social, transmissor de valores,

garantidor da continuidade democrática, como agente educador, dinamizador comunitário e,

inclusive, dinamizador da economia” (AXT, 2002, p. 13).

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5 PROJETO DE DIGITALIZAÇÃO

5.1 Justificativa

O Arquivo de Jornais e Pesquisa Correio do Povo não abriga os fundos gerados pela

instituição, mas sim o acervo formado pelas edições dos jornais, os quais estão encadernados,

armazenados em estantes verticais, disponibilizados em ordem cronológica horizontal. Não se

pretende intervir nesse arranjo, pois aqui atenta-se para o que é colocado por Fonseca, quando

se entende que não só são importantes as informações contidas nos jornais (os documentos do

arquivo), mas também as contidas no arquivo em si, ou seja, a sua forma, estrutura, a pessoa

que o criou e a instituição, vistos no seu conjunto (1998, p. 41). Assim, para a o arquivo de

jornais, além da acessibilidade, serão importantes as relações com processos administrativos,

com os processos de geração das informações e as relações de poder que geram essa herança

documental. Nesse sentido, a criação do arquivo de jornais não se fundamenta em justificativa

jurídico-administrativa, mas sociocultural, uma vez que se entende que este acervo venha a ter

amplo uso público. Arquiva-se para que os documentos sejam “[...] capazes de oferecer aos

cidadãos um senso de identidade, de história, de cultura e de memória pessoal e coletiva”

(COOK, 1997, p. 24).

Apesar de grande parte de o acervo estar microfilmado, existe a dificuldade ao acesso

de informações e guia para o exercício da pesquisa. Isto levou a aprofundar esforços no

sentido de investigar: Como podemos conservar o acervo e facilitar a pesquisa?

Assim, desenvolveu-se a ideia de um caminho a ser seguido, ou seja, o da

digitalização dos jornais, unindo assim, conhecimentos em informática e história focando a

preservação dos documentos, possibilitando o acesso do público ao conteúdo dos mesmos,

porém evitando, ao máximo, o manuseio do suporte papel.

O objetivo então é projetar a digitalização e indexação da coleção de jornais

produzidos ao longo de 117 anos, fonte inesgotável de informações para a sociedade, criando

busca digital de informações através de rede de computadores, preservando as edições em

suporte papel.

Junto a isto criar uma espécie de lan-house histórica18, baseada em um projeto futuro

de memorial, isto é, um local que deve abrigar terminais de computadores ligados em rede

18Local que deve abrigar terminais de computadores ligados em rede com todo o conteúdo digitalizado da coleção do arquivo de jornais e fotográfico, anexado ao futuro memorial da empresa, criando um ambiente histórico e tecnológico.

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com todo o conteúdo da coleção do arquivo de jornais e fotografias digitalizados, onde o

acesso ao público seja facilitado, existindo também a possibilidade de pesquisa no site da

empresa.

Além do interesse na preservação do acervo, há envolvimento pessoal com o mesmo.

Trabalho na Empresa Jornalística Caldas Júnior, Correio do Povo. Iniciei minha atuação na

empresa em 1999 como estagiário de tecnologia de informação (CPD), na função de help-

desk e após 11 meses, fui contratado como funcionário. Estive neste setor até o ano de 2008,

quando, após a graduação em História no Unilasalle fui transferido para o Arquivo de Jornais

e Pesquisa do Correio do Povo, com o cargo de pesquisador19 e coordenador setor.

Os meus trabalhos de iniciação cientifica e de pesquisa no curso de História estão

relacionados ao acervo do Correio do Povo. A monografia de finalização da graduação foi

intitulada Doze dias que Abalaram o Rio Grande – Levante e Informação: Guaíba, a Rádio

da Legalidade. Durante cinco anos pesquisei sobre a história da rádio da Legalidade,

discursos de Leonel Brizola, depoimentos de pessoas contemporâneas aos acontecimentos.

Este trabalho envolveu análise de discurso, discussões sobre a função social do rádio e

relevantes acontecimentos na história do Brasil que possuíam lacunas quanto aos

acontecimentos de 1961. No ano de 2012, com as comemorações do cinquentenário do

ocorrido, este trabalho foi publicado em livro com sessões de autógrafos na Usina do

Gasômetro e na Feira do Livro de Porto Alegre.

Nestes 12 anos como funcionário da empresa construí sólidos conhecimentos de

informática, redes de computadores, atendimento e processos de indexação. Com a

transferência para o arquivo, passei a colocar em prática teorias que aprendi no meio

acadêmico, conheci a rotina de um arquivo, encadernações, métodos de armazenagem do

jornal em seu meio físico, pesquisas relacionadas às pautas da redação, entre outros.

Os trabalhos de maior relevância realizados no Correio do Povo, relacionados ao

campo cultural são: curadoria e consultoria histórica da exposição Usina do Gasômetro 80

Anos, na Usina do Gasômetro, de grande repercussão na mídia e de público; curador e

organizador das exposições Getúlio contado nas páginas do Correio e Folha da Tarde; Os

Farroupilhas – Heróis de ontem exemplos de hoje; A Rua da Praia e seu Tempo – Por Nilo

Ruschel; Outros Verões, que ocorreram no hall de circulação no prédio histórico que abriga o 19Minha formação acadêmica teve início em 1999, no curso de informática – software básico da Unisinos. Permaneci nesta universidade até 2002, obtive a transferência para o Unilasalle neste ano, cursei um semestre de redes de computadores. Em 2003 ingressei no curso de história do Unilasalle onde completei minha formação em 2007, neste período realizei diversos trabalhos e estágios na área da história como artigos para semana cientifica, e estágio no Arquivo Histórico do RS.

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jornal Correio do Povo.

Entre os trabalhos de pesquisa, alguns se destacam e foram publicados no jornal

Correio do Povo: A lista de Sousa Mendes, de junho de 2009; Caderno do Centenário do

Internacional – abril de 2009; série Getúlio Vargas – agosto de 2009; retorno do caderno Rural

do Correio do Povo; Caderno 100 anos de gre-nal – julho de 2009 (Ganhador do Prêmio ARI

– 2009); Coluna Outros Verões, publicada durante os meses de janeiro e fevereiro de 2010,

2011 e 2012 no Caderno de Verão (esta pesquisa foi utilizada no programa O Rio Grande em

capítulos da Rádio Guaíba, apresentado na semana de 08/02/2010 até 12/02/2010).

A exposição de 80 anos da Usina do Gasômetro foi o trabalho gerador desse projeto,

pois ao assumir a consultoria histórica da exposição, percebi que bibliografias relativas ao

assunto não existiam. Assim, tive de empreender pesquisa por quatro meses sobre a Usina,

tendo como base o arquivo de jornais do Correio do Povo. As coleções deste arquivo

permitiram um levantamento completo do histórico prédio de Porto Alegre, possibilitando

uma correção em termos históricos. Durante anos o aniversário da Usina foi,

equivocadamente, comemorado em 11 de novembro de 1928, já que a data de ativação da

usina foi em 15 de novembro de 1928. Este levantamento só foi possível devido à

conservação do acervo, porém, caso este estivesse digitalizado, o tempo da pesquisa seria

diminuído de quatro meses para, no máximo, uma semana.

Quanto a condições financeiras de realizar o projeto, o mesmo foi submetido ao

Programa Nacional de Apoio à Cultura, do Ministério da Cultura, com o título Digitalização

do Acervo do Jornal Correio do Povo – 115 anos, obtendo aprovação para captar recursos. Em

anexo, cópia da divulgação do resultado da submissão no Diário Oficial. Além disso, há o

apoio da direção da empresa Jornalística Caldas Júnior Ltda, que inclusive custeou parte do

investimento para que o autor do trabalho cursasse o Mestrado Profissional em Memória

Social e Bens Culturais.

5.2 Descrição das atividades para a digitalização do acervo

O procedimento em torno da digitalização envolve grande gama de trabalhos

relacionados ao campo da informática e tecnologia. Serão digitalizados todos os jornais que

circulavam sob o comando da empresa Jornalística Caldas Júnior, isto tem um saldo de

milhões de páginas, cada página digitalizada passará por um processo de tratamento de

imagem.

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Além dos jornais, também deverá ser submetido ao processo de digitalização, o acervo

de fotografias. Este é organizado em pastas por nomes, assuntos e acontecimentos (arquivos

físicos em pastas e envelopes de papel, armazenados em uma sala apropriada para o tipo de

material com temperatura e umidade controladas), são fotogramas (fotografias reveladas e

contatos) e negativos que contabilizam um número de 4.950.000 itens e que devem ser

digitalizados e indexados “in loco”, ou seja, como estão mantendo suas características iniciais

sem interferência eletrônica, hospedados em servidores e no software utilizado atualmente

pela redação do jornal.

Depois de digitalizado e tratado, o arquivo será indexado e colocado em sistema de

Back-up em diferentes servidores que garantirão a integridade do acervo. O passo seguinte

será criar um software de busca para facilitar a pesquisa. Para tanto, este processo deve se

realizar com apoio de software OCR (Optical Character Recognition), que possui a função de

reconhecimento de caracteres e um software de busca que deve ser desenvolvido e

implementado conforme as necessidades.

A seguir, apresentam-se as ações para a digitalização do acervo.

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Figura 16 – Organograma de ações para a digitalização do acervo

Fonte: Autoria própria, 2012.

Pré-produção/preparação

Contratação de pessoal técnico com experiência comprovada. Equipe: - Coordenação Geral - 2 Técnicos de Digitalização - 2 Técnicos de Tecnologia da Informação – TI - Diretor Executivo - Técnico Financeiro - Diretor de conteúdo

Montagem do Laboratório

de Digitalização

Definição e adequação de espaço. -Seleção e instalação de equipamentos para captura, tratamento e armazenagem de arquivos digitais. -Definição de equipe para desenvolvimento do processo de digitalização do papel, fotos e negativos. -Triagem - Reconhecimento do acervo, separar o material a ser digitalizado. -Preparação – Análise do material e do estado de conservação.

Execução do processo de

digitalização

Higienização e restauração -Seleção do material a ser higienizado e/ou restaurado. -Diagnóstico do estado dos documentos selecionados, seguido da restauração dos mesmos. Tratamento de acordo com seu estado físico, com vistas a alcançar um estado ideal, seja por higienização, restauração convencional.

Digitalização Escaneamento dos jornais. Edição de imagens Controle de qualidade, tratamento e armazenagem feito imediatamente após a

captura através de comparação com o original.

Criação de Banco de Dados Catalogação e classificação dos arquivos digitais - criação de base de dados de metadados, instalação, configuração, customização, manutenção desenvolvimento de aplicativos. No decorrer de todo o processo se disporá de estrutura de Tecnologia da Informação altamente confiável. Será gerada grande quantidade de dados que deverão ser guardados em backups de servidores de alto desempenho em regiões nacionais e internacionais e disponibilizados com eficiência.

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5.3 Descrição dos processos e recursos

Para obter-se densidade de informação compatível com o material a ser digitalizado,

jornais e fotografias, será necessária a captura de uma imagem em 10 bits com 600 dpi de

resolução de entrada e 1200 de saída. Os arquivos digitalizados serão armazenados em

storage e gerenciados pelo Media Portal onde os mesmos receberão classificação e indexação

baseados em importação prévia da base de dados da empresa.

5.3.1 Scanneres

Além dos scanneres de mesa para os livros, revistas, formatos menores em geral,

utilizar-se-á para o formato Jornal, equipamentos tendo como elemento formador de imagem

3 ccds (charged couple devices) sensíveis a um terço do espectro eletromagnético cada,

especialmente projetados para a reprodução de documentos com grande detalhamento. Deste

conjunto fazem parte lentes objetivas com elementos asféricos, sem aberrações cromáticas ou

distorções. Serão utilizados os seguintes equipamentos:

3 Scanneres Plustek Optibook A300.

3 Scanneres Fujitsu FI 6240.

1 Scanner Image Access Widetec 25.

1 Scanner de Plataforma Nikon para formatos maiores.

1 Servidor Dual CPU, 16GB de RAM Placa HBA.

1 Storage.

2 Drives LTO adicionais para a robótica já pré-existente.

8 Estações de trabalho para ingest.

5.3.2 Fontes de luz

De vital importância no processo, estas fontes são de extrema confiabilidade no que

concerne a distribuição espectral, bem como temperatura de cor. Para manter-se o equilíbrio e

uniformidade da luz serão utilizadas lâmpadas de quartzo iodino de 1000 watts com

temperatura de cor de 3200k. Para a variação da intensidade de luz serão utilizados reostatos

toroidais; LEDs brancos sem emissão de raios UV e lâmpadas catódicas frias e brancas.

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5.3.3 Softwares

• Kofax VRS 4X Professional.

• Batch Scan Wizard.

• ScandAll Pro.

• Abbyy Fine Reader 5.0.

• Windows 2008 Server R2.

• Media Portal.

• Gestão de fluxos de trabalho, usuários, grupos de usuários, papéis e metaviews através

de uma interface web-oriented.

• Customização do fluxo de ingest.

• Fluxo de ingest das páginas.

• Gestão de Drives.

• Gestão de Backup.

5.3.4 Workflow

Para as coleções do arquivo toma-se um cuidado especial para que as páginas não

saiam tortas ou cortadas nas bordas. A resolução recomendada para se escanear uma coleção é

de 600 dpi, o que torna o trabalho do scanner mais lento, mas permite o reconhecimento de

trechos em itálico e negrito, além de facilitar e muito o processo de revisão no final.

5.3.5 Instalações

Para que os procedimentos de digitalização sejam feitos dentro das dependências da

empresa será necessária área mínima de 40 metros quadrados. Esse espaço deve ser

preferencialmente climatizados em uma temperatura ao redor de 22˚C e de boa ventilação.

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5.3.6 Disponibilização

À medida que o processo de digitalização e indexação de determinado título esteja

concluído, o mesmo estará à disposição nos servidores para que a partir de cadeias de

permissões de acesso possa ser acessado por todos.

5.3.7 Prazo

A previsão para execução é de 24 meses. Porém por se tratar de uma atividade

meticulosa e envolver processos manuais e automatizados deve-se estabelecer de 10% a 20%

de margem para mais ou para menos do início dos trabalhos até a sua conclusão.

5.4 Plano de gestão cultural

Descreve-se a seguir linhas gerais de Plano de gestão cultural a ser implementado no

Arquivo de Jornais e Pesquisa Correio do Povo.

A visão do Arquivo de Jornais e Pesquisa Correio do Povo é tornar-se instituição de

excelência na conservação, armazenamento e difusão de acervo documental constituído por

jornais e fotografias.

A missão do Arquivo de Jornais e Pesquisa Correio do Povo é coletar, organizar,

recuperar, conservar e difundir a documentação (jornais e fotografias) que constitui acervo

considerado de interesse institucional, público e social, visando a colaborar para a memória e

a construção de narrativas históricas sobre o Estado do Rio Grande do Sul e Brasil. Fomentar

e executar políticas de acervo, fundamentadas em princípios éticos, promovendo a

preservação, o fomento, a valorização e a difusão do mesmo de modo a promover processos

identitários, a diversidade cultural e políticas de cidadania.

Como estratégias de ação, há de se buscar: o estabelecimento de consulta gratuita ao

acervo; fortalecimento da identidade institucional junto à comunidade onde se insere; criação

de portal na web divulgando e disponibilizando o acervo e atraindo visitantes e internautas

para o jornal; plano editorial que contribua na divulgação do acervo e da história institucional;

capacitação dos colaboradores do Arquivo; promoção de ações socioeducativas, culturais e

inclusivas; participação de programas de incentivo à cultura.

Parcerias construtivas com Instituições de Ensino Superior; Secretarias Municipais de

Cultura; instituições de memória; Secretarias de Estado de Educação, Turismo, Comunicação,

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Saúde, Cultura, Ciência e Tecnologia; Conselho Estadual de Cultura; instituições: Ministério

da Cultura (MinC); empresas privadas; Fóruns da Sociedade Civil; associações culturais;

Sistemas de Comunicação (TVs, rádios, jornais); instituições particulares; bancos; Governo

Federal.

O programa institucional visa à criação de Regimento/Regulamento, normas e

procedimentos do Arquivo, participação de redes nacionais e internacionais e em

organizações nacionais e internacionais.

O Programa de acervos trata da organização e gestão do mesmo, remetendo ao

trabalho de organização, restauração, conservação, disponibilização.

O programa educativo engloba ações, projetos e atividades educativas a serem

desenvolvidas pelo Arquivo, que podem ser articulados com outras instituições e direcionados

a diferentes públicos.

O programa de pesquisa, a ser desenvolvido com base na missão e estratégias de ação,

busca a criação de linhas de pesquisa institucionais, projetos para estudo de história

institucional, de públicos, de patrimônio cultural, entre outros.

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5.5 Logística

*Estimativas.

PRODUÇÃO/EXECUÇÃO*

Unidade de Digitalização em papel (1.050.000 páginas)

Profissional de preservação, restauração e escaneamento

Estações de escaneamento de plataforma

Material (luvas, álcool, fita adesiva, material de limpeza)

Unidade de digitalização de negativos e fotos (4.950.000 fotogramas e negativos)

Profissional de preservação, restauração e escaneamento

Estações de escaneamento de plataforma

Material (luvas, álcool, fita adesiva, material de limpeza)

Unidade de revisão e retocagem

Profissionais de edição de imagens

Profissional com treinamento de cropagem de imagem

Ilhas de edição de imagens formato tablóide

Unidade de informática

Servidor para banco de dados RAID1 fonte dupla dual CPU Xeon

Storage NAS – 16TB

Instalação, configuração, customização, manutenção e desenvolvimento de aplicativos

Disponibilização em ambientes remotos

Disponibilização em ambientes remotos

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5.6 Cronograma de execução

ATIVIDADES MESES

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24

ETAPA 1

Pré-produção/preparação Ajustes no projeto Contratação de pessoal técnico com experiência comprovada.

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X

X

X

ETAPA 2

Montagem do Laboratório de Digitalização

Definição e adequação de espaço. -Seleção e instalação de equipamentos para captura, tratamento e armazenagem de arquivos digitais. -Definição de equipe para desenvolvimento do processo de digitalização do papel, fotos e negativos. -Triagem – Reconhecimento do acervo, separar o material a ser digitalizado. -Preparação – Análise do material e do estado de conservação.

X

X

X

X

X

X

ETAPA 3

Execução do processo de digitalização

a) Higienização e restauração

X

X

X

X

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X

X

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-Seleção do material a ser higienizado e/ou restaurado. -Diagnóstico do estado dos documentos selecionados, seguido da restauração dos mesmos. Tratamento de acordo com seu estado físico, com vistas a alcançar um estado ideal, seja por higienização, restauração convencional. b) Digitalização Escaneamento dos jornais.

X

X

X

X

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X

c) Edição de imagens Controle de qualidade, tratamento e armazenagem feito imediatamente após a captura através de comparação com o original.

X

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X

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X

X

X

X

X

6 Criação de Banco de Dados Catalogação e classificação dos arquivos digitais – criação de base de dados de metadados, instalação, configuração, customização, manutenção desenvolvimento de aplicativos.

X

X

X

X

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X

X

X

X

X

X

X

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6 CONSIDERÇÕES FINAIS

A Companhia Jornalística Caldas Júnior, de acordo com a pesquisa realizada, foi

pioneira na produção de periódicos a partir de tecnologias inovadoras nos últimos anos do

século XIX. Também, caracterizou-se na época, por produzir o Correio do Povo, jornal

independente de grupos políticos, voltado para o público em geral. A história desse jornal tem

sido tema de profissionais do jornalismo, historiadores e memorialistas, cuja narrativa passa

pelo apelo identitário do veículo com seu público.

A empresa edita o Correio do Povo, desde 1º de outubro de 1895, e outros jornais:

Folha da Manhã, Folha da Tarde, Folha da Tarde Final, Folha Esportiva, todos com grande

tradição no Rio Grande do Sul e com prestigio em nível nacional. Desses, permaneceu o

primeiro, o jornal Correio do Povo.

Todos os números dos periódicos encontram-se guardados no Arquivo de Jornais e

Pesquisa Correio do Povo, organizado pela funcionária Francisca Moreira Espinosa na década

de 1950. São 117 anos de matérias, as mais diferentes, fundamentais para se entender modos

de fazer, saberes, mentalidades, imaginários, posicionamentos políticos, movimentos sociais,

dinâmicas culturais, entre tantas outras temáticas.

O acervo está em suporte papel e parte microfilmado. Urge a salvaguarda dos jornais

em papel, tendo em vista a possibilidade de que sua decomposição se amplie com o passar dos

anos, pois conta com material frágil com média de 100, 90, 80 anos, o que sugere urgência em

sua restauração e digitalização. Essa, por sua vez, facilitará a pesquisa, uma vez que durante o

processo, prevê-se a elaboração de instrumento de busca no acervo. Esta não é uma

preocupação apenas da empresa Jornalística Caldas Júnior, mas diferentes instituições já

adotaram processos semelhantes.

Para desenvolver o trabalho, refletiu-se sobre conceitos de memória social, lugar de

memória, digitalização, gestão cultural de acervos e, também, sobre experiências de outras

instituições a fim de fundamentar a proposta aqui apresentada. Pretende-se que a digitalização

do acervo do Arquivo de Jornais e Pesquisa Correio do Povo seja também, referência para

outras iniciativas semelhantes.

Desenhou-se a trajetória histórica do Jornal Correio do Povo, discutiu-se sobre a

constituição, relevância e potencialidades do Arquivo, destacando a importância do primeiro

como veículo de informação e do segundo como espaço de memória e história.

Isso demonstra a relevância do projeto de digitalização, pois com o mesmo, prioriza-se

a guarda dos jornais, sua conservação, a socialização das informações a partir da consulta

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facilitada e de plano de gestão cultural do acervo e outras ações. Assim, busca-se investir na

construção e manutenção do mesmo, entendido como bem cultural, com conteúdo importante

para a sociedade, não devendo ficar restrito a um grupo ou indivíduos, disponibilizando-o em

meio digital, para as presentes e futuras gerações, o que se constitui, acima de tudo, como

função social.

A viabilidade do projeto é garantida pela vontade institucional de realizá-lo e pela

possibilidade do levantamento de recursos financeiros via Programa Nacional de Apoio à

Cultura.

Não foi objeto do trabalho, mas entende-se que futuramente outro projeto a ser

estruturado é o da criação do Memorial do Correio do Povo, o que viria a acrescer, em termos

de equipamento cultural, o centro histórico de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul e

em termos de memória e história, espaço para exposição da trajetória da Empresa Jornalística

Caldas Júnior e da imprensa no Brasil.

Como projeto, entende-se que o trabalho preenche algumas necessidades de

preservação de bens culturais, no entanto não as esgotamos. Portanto, pensa-se a continuação

de estudos no campo das políticas institucionais de preservação de memórias e de práticas

patrimoniais.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXO – Diário Oficial da União – Área: 5 Patrimônio Cultural - (Art. 18)