Click here to load reader
Upload
renato-cesca
View
114
Download
1
Embed Size (px)
Citation preview
WTO DISPUTE SETTLEMENT, CASO DS199: BRASIL, ESTADOS UNIDOS E
LICENÇA COMPULSÓRIA
Daniela Kojio Nobre1
Ezequiel Santi Alievi2
Renato Cesca3
RESUMO
Este trabalho apresenta as alegações de cada país, Brasil e EUA, acerca da questão DS
199 do Órgão de Solução de Controvérsias da Organização Mundial do Comércio (OMC) que
ocorreu entre os anos de 2000 e 2001. Os EUA obtiveram junto à OMC uma rodada de
consultas que culminou, em janeiro de 2001, em um pedido de painel para discutir a
conivência da Lei brasileira n° 9.729/96 sobre a questão do licenciamento compulsório
estabelecido no TRIPS. São apresentadas as motivações de cada país para estabelecer sua
defesa, com evidências empíricas, destacando a argumentação mais efetiva para a resolução
da disputa.
No Brasil, a Lei nº 9.729/96 permite que, em casos de emergência nacional e interesse
público (por exemplo, o tratamento da AIDS com coquetéis antivirais), a concessão de licença
compulsória seja facultativa. Porém, de acordo com os EUA, as normativas brasileiras que
discorrem sobre tal “quebra de patente” vão contra acordos internacionais estabelecidos pela
própria OMC, pois o simples fato de um determinado medicamento não poder explorar o uso
da patente - por não ser produzido no Brasil - já seria o suficiente para não pagar uma licença
compulsória. Assim, poder-se-ia constatar uma discriminação entre produtos nacionais e
importados, que é contrária às asserções da Organização Mundial do Comércio.
Palavras Chave: OMC. TRIPS. Brasil. Estados Unidos. Licença Compulsória.
1 Aluna do curso de graduação em Relações Internacionais pela UFSC. Email: [email protected] 2 Aluno do curso de graduação em Relações Internacionais pela UFSC. Email: [email protected] 3 Aluno do curso de graduação em Relações Internacionais pela UFSC. Email: [email protected]
1 INTRODUÇÃO
O mercado brasileiro de medicamentos, em especial para uso profilático, é um
segmento regulado com preços controlados pelo Governo Federal, principalmente na
produção de medicamentos genéricos. Apesar dos investimentos na indústria farmacêutica, o
Brasil ainda é dependente da importação.
Para compreender este tema, faz-se necessário explicar alguns conceitos.
Primeiramente, a definição de “medicamento de referência” é dada, de acordo com a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)4, como:
(...) Medicamentos inovadores, cuja eficácia, segurança e qualidade
foram comprovadas cientificamente, por ocasião do registro junto ao
Ministério da Saúde, através da ANVISA. São os medicamentos que,
geralmente, se encontram há bastante tempo no mercado e têm uma marca comercial conhecida. (ANVISA, 2010)
Entretanto, tais medicamentos são sujeitos a patenteamentos e licenças; assim, países
importadores desses medicamentos são obrigados a pagar uma quantia significativa a título de
royalties, sendo geralmente mais viável utilizar-se da fabricação local de remédios genéricos:
(...) Aquele que contém o mesmo fármaco (princípio ativo), na mesma
dose e forma farmacêutica, é administrado pela mesma via e com a
mesma indicação terapêutica do medicamento de referência no país,
apresentando a mesma segurança que o medicamento de referência no
país podendo, com este, ser intercambiável. (ANVISA, 2010)
Todavia, esses fármacos genéricos não são tolerados pelos países detentores de patente,
pelo menos enquanto ainda estiver em vigência a validade desse direito exclusivo. Para que a
produção de fármacos ocorra legalmente - e com um pagamento menor do que aquele
estipulado pelo uso do direito exclusivo da patente - é necessário uma licença compulsória:
Trata-se de uma autorização concedida pelo Poder Público para que
um terceiro explore uma criação protegida pela legislação de
propriedade intelectual e industrial. Assegura-se uma remuneração ao
titular dos direitos, que muitas vezes é matéria de questionamento, em
função da adoção de critérios bastante subjetivos para a fixação do valor dos royalties. A licença compulsória é uma exceção à regra do
direito de exclusividade temporal. (ADVOGADOS, 2010)
Essa licença é uma medida prevista no Acordo de Propriedade Industrial (TRIPS) da
4 Todas as análises realizadas na ANVISA têm por base, exclusivamente, os requisitos legais previstos nos
instrumentos vigentes sobre o tema.
Organização Mundial do Comércio. Entretanto, quando um país se sentir prejudicado, ele
pode entrar com uma investigação na OMC, pedindo um painel para verificar se, de fato, está
ocorrendo uma infração; foi o que os EUA fizeram contra o Brasil.
2 A DISPUTA
2.1 Restrição comercial em curso
De acordo com o painel do DS199 da OMC, o resumo oficial do caso é:
Em maio de 2000, os EUA pediram uma investigação sobre a lei
brasileira de propriedade intelectual em 1996 e sobre aspectos como a
exigência de “trabalho local” para o uso de exclusivo de direitos sobre
patentes. Os EUA afirmam que esse “trabalho local” exigido pode apenas ser satisfeito pelo local de produção, e não local de
importação, da patente referida. Mais especificamente, os EUA dizem
que a exigência de “trabalho local” do Brasil estipula que a patente
deve ser sujeita à licença compulsória se o produto em questão da
patente não for ”produzido” em território brasileiro. Os EUA alegam
que o Brasil explicitamente define “falha de não ser produzido” como
“falha de manufatura” ou “incompleta manufatura do produto”. Os
EUA consideram que tal exigência é inconsistente sobre as obrigações
do Brasil de acordo com os artigos número 27 e 28 do TRIPS e o
artigo III do GATT 1994. (OMC, 2001. Tradução própria.)
2.2 Histórico do caso DS199
No dia 30 de maio de 2000, os EUA entraram com um pedido de investigação nos
termos do artigo n° 4 do Understanding on Rules and Procedures Governing the Settlement of
Disputes (DSU), capítulo 22 do GATT 1994 e do artigo n° 64 do TRIPS, sobre as disposições
da Lei brasileira n° 9.279 acerca do Direito da Propriedade Intelectual criada no dia 14 de
maio de 1996. O governo americano questionava o requisito “local de fabricação5” para o uso
do direito exclusivo da patente, podendo apenas ser concedido pelo “local de produção6” - e
não importação - da patente em questão.
Especificamente, essa exigência de “local de fabricação” do Brasil estipula que a
5 Para efeitos de tradução, consideramos “work” – to do a job, especially the job you do to earn money - com
sentido semelhante a “fabricação” – transformar matérias em objetos de uso corrente; manufaturar. Para mais
detalhes, ver: <http://dictionary.cambridge.org/dictionary/> e <http://www.dicionariodoaurelio.com/>.
6 Para efeitos de tradução, consideramos “manufacture” – to produce good in large numbers, usually in a
factory using machines – com sentido semelhante a “produzir” – apresentar produto, gerar: aquela terra
produz bom trigo. Para mais detalhes, ver: <http://dictionary.cambridge.org/dictionary/> e
<http://www.dicionariodoaurelio.com/>.
patente deve ser sujeita à licença compulsória se o objeto em questão não for “fabricado” no
território brasileiro. O Brasil deixa claro que “incapacidade de ser fabricada” é o mesmo que
“incapacidade de ser produzida ou parcialmente produzida”, ou ainda “incapacidade de fazer
total uso do processo patenteado”. Os EUA considera que tal exigência do Brasil é
inconsistente com as obrigações por ela ratificada sob os artigos 27 e 28 do TRIPS e artigo 4
do GATT 1994.
Sendo assim, o Brasil não precisaria pagar pela patente, pois, primeiramente, não se
encaixa no conceito de “local de produção”, apenas de importação; segundo, sendo o objeto
em questão - analisando coquetéis profiláticos para AIDS - considerado necessário para uma
emergência nacional ou de interesse público, e, não sendo fabricados no território brasileiro,
faz com que tal objeto possa utilizar da licença compulsória.
O problema está em que os EUA não compartilham dessa definição de “local de
fabricação”, pois não está de acordo com o GATT 1994; e o pagamento de patente fica por
conta do importador do produto final e não apenas do “local de produção” - que para os EUA
possui mesmo sentido que “local de fabricação”.
No dia 20 de junho de 2000, a Comunidade Europeia pede para acompanhar o caso; no
dia 8 de janeiro de 2001, os EUA entraram com um pedido de painel e estabelece a disputa
alegando que o TRIPS condena qualquer discriminação sobre o uso do direito exclusivo da
patente seja o produto importado ou produzido localmente. O acordo proíbe o requerimento
de “local de fabricação”, o mesmo que “local de produção”, como condição para fazer uso do
direito exclusivo da patente.
De acordo com o governo americano, o artigo n° 68 da Lei brasileira n° 9.279 sobre o
Direito da Propriedade Intelectual impõe que a exigência “local de fabricação” prevê que se
caso o objeto não seja fabricado no Brasil, a patente deve ser sujeita a licença compulsória.
Especificamente, a licença compulsória deve ser garantida se o objeto em questão não
for produzido no Brasil ou se o processo patenteado não for usado no Brasil. E ainda se o
proprietário do direito exclusivo da patente optar por explorar seu direito através da
importação, além do da prerrogativa do “local de produção”, então o artigo n° 68 permite que
esse produto, ou o produto obtido através do processo patenteado, seja importado para
terceiros.
Dessa forma, a lei brasileira estaria discriminando os proprietários de patentes
americanas, cujos produtos são importados, mas não localmente produzidos no Brasil. Essa
lei restringe o uso do direito exclusivo da patente conferida aos donos da mesma. O conceito
de “local de fabricação” é inconsistente com o TRIPS.
Antes da abertura do painel, representantes dos EUA e Brasil conversaram no dia 29 de
junho de 2000 e 1° de dezembro de 2000 em Genebra, mas não entraram em nenhum acordo.
Os EUA reiteraram a necessidade da criação de um painel, apoiado no artigo n°6 do DSU e o
artigo n° 64 do TRIPS, prevendo a abertura para o dia 19 de janeiro de 2001. No fim das
contas, o painel fora aberto 11 dias antes do previsto.
Contudo, no dia 5 de julho de 2001, através de cartas trocadas entre os embaixadores,
tanto do Brasil quanto dos EUA, os dois países entraram em um consenso: os EUA retiraram
a acusação na OMC e a querela foi resolvida bilateralmente.
2.3 Evidências empíricas associadas ao caso
2.3.1 Motivação americana
2.3.1.1 Aspecto econômico
Mesmo com o acentuado crescimento sucessivo da participação dos produtos
farmacêuticos (código 30) nas exportações americanas no período de 1998 a 2002, a
exportação do medicamento por granéis (código 300390) não apresentava o mesmo
comportamento. Isso fez com que as importações brasileiras chamassem a atenção da
indústria farmacêutica americana para o caso.
7
8
9
10
11
12
13
14
1998 1999 2000 2001 2002
Exp
ort
ação
de
tod
os
os
med
icam
ento
s (B
ilhõ
es
US$
)
Período
Exportações norteamericanas de medicamentos (em geral)
2.3.1.2 Apoio da política interna
A capacidade da indústria farmacêutica dos Estados Unidos de influenciar o governo
deriva não apenas da sua contribuição substantiva para o Produto Interno Bruto (PIB), mas
também porque no ano de 2000 este setor doou mais de US$ 18 milhões para a campanha
presidencial do Partido Republicano (CENTER FOR RESPONSIVE POLITICS, 2000). De
200
250
300
350
400
450
500
1998 1999 2000 2001 2002Exp
ort
ação
de
me
dic
ame
nto
s e
m
do
ses
(Milh
õe
s U
S$)
Período
Exportações norteamericanas de medicamentos (em doses, HS 300390)
0
5
10
15
20
25
30
35
40
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
Imp
ort
ação
bra
sile
ira
de
mec
icam
ento
s (M
ilhõ
es
de
US$
)
Período
Importação brasileira de medicamentos (em doses) dos EUA
acordo com Fernanda Moreno:
“O Partido Republicano recebeu 69% de todas as doações a campanhas políticas
realizadas por essa indústria, sendo que o atual presidente George W. Bush aparece como o
político que recebeu a maior fatia das mesmas.” (MORENO, 2003)
A autora justifica como sendo essa uma das principais razões para a indústria
farmacêutica persuadir o governo em suas demandas políticas:
2.3.2 Argumentação brasileira
2.3.2.1 Defesa jurídica
Um dos principais motivos que fizeram com que os EUA tirassem o painel de disputa
foi a necessidade de que o Brasil retirasse o pedido de painel DS2247. A defesa brasileira
demonstrou que a constituição americana aplicava medidas tão protecionistas quanto o Brasil.
O reconhecimento de tal fato fica evidenciado na última das cartas trocadas entre os países
7 O governo brasileiro, no dia 31 de janeiro de 2001, entrou com um pedido de consulta sobre as leis
americanas, pois estipulariam que pequenas empresas e organizações sem fins lucrativos que criem uma
patente permitam que qualquer pessoa tenha o direito de uso exclusivo para usar e vender tal invenção nos
EUA, a menos que essa pessoa aceite a incorporação de parte da produção do produto seja fabricado
substancialmente nos EUA.
Todos os financiamentos com pequenas empresas ou organizações sem fins lucrativos devem possuir tais
disposições em seus contratos. E a lei americana também impõe uma série de restrições para usar ou vender
qualquer invenção feita nos EUA, tendo que estar sob esse tais disposições.
O Brasil se mostra interessado em examinar tais disposições, sobre o Código Norteamericano sobre Patentes,
para entender como os EUA justificam sua consistência diante das obrigações do TRIPS, especialmente nos
artigos 27 e 28.
No dia 19 de fevereiro, a Índia se mostra interessada em acompanhar o caso.
Patrocínio da indústria farmacêutica para partidos dos EUA
Democratas
Republicanos
sobre o acordo acerca do DS199:
While we had real concerns regarding the potential use of
Article 68 of Brazil's Industrial Property Law, we note that this
provision has never been used to grant a compulsory license.
In addition, we would expect Brazil not to proceed with further
dispute settlement action regarding sections 204 and 209 of the U.S. patent law.
2.3.2.2 Caracterização humanitária
Outra prerrogativa para os EUA tirarem a acusação foi a força que o Brasil obteve das
organizações internacionais voltadas para a saúde pública. O lema o “bem público deve
prevalecer sobre do lucro” da defesa brasileira obteve apoio internacional, principalmente dos
países que possuem um grande número de portadores do HIV e que, por isso, estão
interessados na produção de genéricos em seus países (África do Sul, Índia, Quênia,
Moçambique, Zimbábue, Ruanda etc.).
Ademais, na época houve o envolvimento de vários outros atores voltados aos temas de
saúde pública e direitos humanos: Médicos sem Fronteiras, Health GAP, Oxfam, a ONU
(através do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS – UNAIDS), a
Organização Mundial da Saúde, entre outros. Curiosamente, uma parcela considerável da
sociedade civil estadunidense se comoveu com a causa.
2.3.2.3 Aspecto econômico
Com o aumento dos casos de AIDS, cresceu a preocupação com os gastos públicos na
saúde para o tratamento destes doentes em hospitais:
Do ponto de vista econômico, é inegável que o acesso aos
antirretrovirais fez com que gastos com internações e procedimentos
terapêuticos fossem reduzidos. Estimativa do Programa Nacional de
DST/AIDS aponta para uma economia superior a US$2 bilhões no
período de 1997 a 2003. (GRANGEIRO, 2006)
15
65
115
165
215
265
1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Nú
mer
o d
e n
ovo
s ca
sos
( m
ilhar
es)
Período
Casos de AIDS identificados no Brasil(1993-2000)
0
5
10
15
20
25
30
35
40
1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
Imp
ort
açõ
e em
milh
ões
(U$$
)
Período
Valor das importações brasileiras de produtos farmacêuticos americanos (1993-2000)
Através dos gráficos a seguir, podemos demonstrar que grande parte desse esforço para
que o Brasil detivesse o uso da licença compulsória não surtiu efeitos diretos na diminuição
de ocorrência da AIDS. Isso porque o número de ocorrências da AIDS não é efetivamente
diminuído pela venda de medicamentos, genéricos ou não, mas sim por campanhas
preventivas. Contudo, o aumento do número de doentes faz com que a busca por
medicamentos profiláticos aumente.
CORRELAÇÃO = 0,878
COEFICIENTE DE EXPLICAÇÃO R² = 0,771
0
5
10
15
20
25
30
35
40
50 100 150 200 250Val
or
das
imp
ort
açõ
es
de
me
dic
ame
nto
s (m
ilhõ
es
U$$
)
Novos casos de AIDS (milhares)
Relação entre o número de casos de AIDS e o valor das importações de medicamentos (1993-2000)
220
270
320
370
420
470
520
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Nú
mer
o d
e n
ovo
s ca
sos
(milh
are
s)
Período
Casos de AIDS identificados no Brasil (2000-2006)
2.3.2.4 Política Interna
O ministro da Saúde da época, José Serra, dedicou parte da suas campanhas na defesa
de genéricos. Apesar de claras pretensões eleitorais, o ministro conseguiu organizar as
indústrias farmacêuticas nacionais, laboratórios, parlamentos e a sociedade civil brasileira
para dar peso à sua campanha para a diminuição do preço dos remédios. Além da CPI das
indústrias farmacêuticas, o ministro se engajou em debates sobre o assunto na época
0
5
10
15
20
25
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Imp
ort
açõ
e em
milh
ões
(U$$
)
Período
Valor das importações brasileiras de produtos farmacêuticos americanos (2000-2006)
CORRELAÇÃO = 0COEFICIENTE DE EXPLICAÇÃO R² = 0
1,5
1,7
1,9
2,1
2,3
2,5
2,7
2,9
3,1
3,3
3,5
250 300 350 400 450 500Val
or
das
imp
ort
açõ
es d
e m
edic
amen
tos
(milh
ões
U$$
)
Casos de AIDS (milhares)
Relação entre o número de casos de AIDS e o valor das importações de medicamentos (2001-2006)
mostrando seu apoio à causa:
Paralelamente, Serra prometia também que, se eleito e se a indústria
farmacêutica internacional não diminuísse os preços dos medicamentos, ele se empenharia em utilizar o mecanismo de licença
compulsória presente na Lei de Patentes brasileira para fornecer
tratamentos de HIV/AIDS a um maior número de doentes. Para ele, “o
governo tem que exercer o seu poder de pressão na questão das
patentes” (OLIVEIRA, 2007)
2.3.3 Consenso
Em junho de 2001, os países chegaram a um acordo: fora admitida a quebra de
patentes em questões de saúde pública em países em desenvolvimento. E os EUA resolvem
tirar o pedido de investigação a fim de negociar bilateralmente com o Brasil essa questão.
3 Conclusão
Essa decisão não apenas refletiu um êxito brasileiro numa disputa comercial
internacional, recuando na sua posição intransigente de defesa dos direitos de propriedade
intelectual da indústria farmacêutica norteamericana, como alterou significativamente o uso
de licenças compulsórias entre países em desenvolvimento, como países africanos que
também eram molestados pela AIDS.
Outra consequência desta disputa foi a reiteração do TRIPS como acordo mediador
internacional, evidenciada inclusive no manual que explica seu funcionamento e o da própria
OMC em geral: “Flexibilities such as compulsory licensing are written into the TRIPS
Agreement, but some governments were unsure of how these would be interpreted, and how
far their right to use them would be respected.” (UNDERSTANDING WTO, 2008). Foi
embasando-se nessa flexibilidade que os EUA acusaram o Brasil de ferir o acordo. Por isso,
boa parte da ambiguidade sobre a licença compulsória foi esclarecida na IV Conferência
Ministerial da OMC.
4 Bibliografia
ADVOGADOS, Lopes Santiago (Org.). O que é licença compulsória? Disponível em:
<http://www.lopessantiago.com.br/voce-sabia/o-que-e-licenca-compulsoria/>. Acesso em: 17
ago. 2010.
ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária - (Org.). Medicamento Genérico.
Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/>. Acesso em: 24 nov. 2010.
CENTER FOR RESPONSIVE POLITICS. Influence Inc 2000: Top Industries:
Pharmaceuticals/Health Products. Disponível em:
<http://www.opensecrets.org/industries/contrib.php?ind=H04&cycle=2000>. Acesso em: 27
nov. 2010.
DINIZ, Maria Helena. Curso De Direito Civil Brasileiro. 2nd ed. Vol. 8. São Paulo: Saraiva,
2009.
GRANGEIRO, Alexandre. Sustentabilidade da política de acesso a medicamentos anti-
retrovirais no Brasil. Rev. Saúde Pública, 40 vol. São Paulo: April 2006.
MORENO, Fernanda. Negociações Internacionais e política doméstica: a disputa das
patentes entre Estados Unidos e Brasil. São Paulo: 2003.
OLIVEIRA, Marcelo Fernandes de. Multilateralismo, Democracia e Política Externa no
Brasil: Contenciosos das Patentes e do Algodão na Organização Mundial do Comércio
(OMC). CONTEXTO INTERNACIONAL – vol. 29, no 1. São Paulo: 2007
OMC (Org.). Brazil — Measures Affecting Patent Protection. Disponível em:
<http://www.wto.org/english/tratop_e/dispu_e/cases_e/ds199_e.htm>. Acesso em: 05 jul.
2001.
WTO, Information and Media Relations Division. Understading WTO. Editado pela World
Trade Organization Information and Media Relations Division. Genebra, 2008.