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X Prêmio SOF de Monografias Tema 1 - Despesa Pública: Gestão descentralizada de recursos públicos. DESCENTRALIZAÇÃO E RESULTADOS NA SAÚDE INFANTIL NO BRASIL Abril de 2018

X Prêmio SOF de Monografias - esaf.fazenda.gov.br · locais, haja vista que possibilitaria as entidades subnacionais implementarem ... regras aplicadas ao mecanismo de mercado. Dado

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X Prêmio SOF de Monografias

Tema 1 - Despesa Pública: Gestão descentralizada de recursos públicos.

DESCENTRALIZAÇÃO E RESULTADOS NA SAÚDE INFANTIL NO BRASIL

Abril de 2018

DESCENTRALIZAÇÃO E RESULTADOS NA SAÚDE INFANTIL NO BRASIL

RESUMO

O presente trabalho investiga os efeitos da relação entre descentralização e

resultados na saúde infantil no Brasil. Dado a possibilidade de respostas

heterogêneas e consequências distribucionais, buscou-se verificar os impactos

gerais e regionais da descentralização dos serviços de saúde pública sobre

resultados da saúde infantil nos estados brasileiros no período de 2000 a 2013. Para

tanto, construiu-se uma medida de descentralização fiscal do setor de saúde ainda

não explorada na literatura nacional e aplicou-se a abordagem do modelo de efeitos

fixos com tendências estado-específicas e erros padrões robustos. Os resultados

demonstraram que a descentralização fiscal das ações e serviços públicos de saúde

tiveram, no período estudado, impacto estatisticamente considerável na redução das

taxas de mortalidade infantil e na infância no Brasil. Constatou-se a importância dos

gastos federais per capita em serviços de saúde, além de ratificar que o acesso a

água potável é um importante fator de infraestrutura domiciliar sobre a saúde infantil

no contexto de países em desenvolvimento. Contudo, o impacto da descentralização

é diferenciado dado o nível de desenvolvimento regional, com efeitos maiores em

regiões mais desenvolvidas (região Sul, -0.598). Ao passo que, a capacidade

institucional de gestão do setor de saúde dos estados e municípios da região Norte

do Brasil (efeito nulo) precisam ser reexaminadas.

Palavras-chave: Descentralização, Saúde Infantil, Desenvolvimento Regional

SUMÁRIO

1 Introdução .............................................................................................................. 6

2 Revisão de Literatura ......................................................................................... 10

2.1 Aspectos Teóricos ......................................................................................... 10

2.2 Estudos Empíricos ........................................................................................ 12

3 Arcabouço Institucional do Sistema de Saúde Público Brasileiro .................. 17

4 Metodologia ......................................................................................................... 21

4.1 Dados .............................................................................................................. 21

4.2 Modelo Econométrico.............................................. ..................26

5 Resultados e Discussão ..................................................................................... 28

6 Análise de Robustez e Sensitividade dos Resultados.....................................33

7 Considerações Finais ......................................................................................... 35

Referências .............................................................................................................. 39

Anexo A – Figuras e Tabelas .................................................................................. 44

Anexo B – Descrição das Variáveis de Gastos em Saúde ................................... 46

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Evolução da Mortalidade Infantil e Indicador de Descentralização Fiscal da

Saúde no Brasil, 2000-2013. ..................................................................................... 23

Figura 2 - Evolução Espacial da Mortalidade Infantil nos Estados Brasileiros, 2000-

2013.. ........................................................................................................................ 24

Figura 3 - Evolução da Mortalidade Infantil nos Estados brasileiros, 2000-2013. ..... 44

Figura 4 - Evolução do Indicador de Descentralização Fiscal da Saúde nos Estados

brasileiros, 2000 e 2013. ........................................................................................... 45

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Resumo das Evidências dos Efeitos da Descentralização Fiscal sobre a

Mortalidade Infantil. ................................................................................................... 14

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Gasto total per capita anual em ações e serviços públicos de saúde por

ente federativo nos Estados brasileiros, 2000-2013 .................................................. 20

Tabela 2 - Análise Descritiva e Definição das Variáveis. ................................ 25

Tabela 3 - Resultados das Estimações. .................................................................... 29

Tabela 4 - Resultados das Estimações de Análise de Robustez...............................35 Tabela 5 - Indicador de Descentralização Fiscal do Setor de Saúde, 2000 e 2013..46

Tabela 6 - Resultados Completos das Estimações de Análise de Robustez.............47

“Good questions outrank easy answers”

Paul A. Samuelson

6

1. INTRODUÇÃO

A partir da Constituição Federal de 1988 e especialmente na década de 1990,

o Brasil encaminhou uma série de reformas,1 tanto no sentido de atender as maiores

demandas políticas com o processo de redemocratização em curso, quanto no intuito

de conquistar a estabilidade macroeconômica. Dentre as ações mais importantes

postas em prática, têm-se um novo desenho do federalismo fiscal brasileiro, com

aprofundamento da descentralização fiscal e com uma maior autonomia para

Estados e Municípios.

Entretanto, a descentralização fiscal ocorrida foi parte de uma tendência

mundial, motivada principalmente pelo processo de reestruturação política e reformas

econômicas verificadas em diversas localidades. Arzaghi e Henderson (2005), que

construíram um índice de federalismo fiscal para 48 países no período de 1960 a

1995, mostraram que todas as regiões do globo apresentaram tendência de

descentralização após os anos 1980. Destacando-se os países latino-americanos que

alcançaram o mesmo nível de federalismo que países desenvolvidos em 1995.

No caso brasileiro, esse processo não foi planejado e ocorreu especialmente

devido aos conflitos que se originaram entre União, Estados e Municípios resultantes

da concentração de recursos no governo central imposto pelo regime ditatorial

(Guedes e Gasparini, 2007). A descentralização seria assim, a forma de repartir com

o poder local os déficits acumulados mantendo a legitimidade do Governo Central

(Shah e Thompson 2004).

1 Entre as principais medidas implementadas pode-se citar a abertura comercial através de redução

de tarifas de importação, o controle rígido dos gastos públicos, a privatização de empresas públicas, a liberalização cambial, o estabelecimento de metas inflacionárias, a introdução da Lei de Responsabilidade Fiscal, dentre outras. Essas medidas conseguiram garantir as condições básicas necessárias para estabilidade macroeconômica do país.

7

Pode-se imaginar que a maior autonomia fiscal aos governos locais poderia

ser vista também como uma ferramenta mais efetiva para as políticas públicas

locais, haja vista que possibilitaria as entidades subnacionais implementarem

políticas mais direcionadas à melhoria nas condições de vida da população local.

Alguns estudos empíricos têm confirmado que o poder local tem uma vantagem

informacional maior quando comparada ao poder central, indicando maior

capacidade de atender as necessidades dos mais pobres (Galasso e Ravallion,

2000; Faguet, 2001). Contudo, esses resultados não são observados em todos os

casos, não existindo um automatismo de que a descentralização traga

necessariamente os retornos esperados.

O sucesso da descentralização parece depender de um número maior de

fatores, tais como: a capacidade financeira e o capital humano local, a clareza nos

processos existentes, o grau de maturidade das instituições locais, a competição

política e os níveis de informações dos agentes econômicos envolvidos (Collins et

al., 2000; Arzaghi e Henderson, 2005). Somente a existência desses condicionantes

poderia possibilitar que a transferência de poder para as unidades federativas teriam

fortes efeitos sobre a prestação dos serviços públicos a sociedade. Dentro desse

escopo, a despeito da importância que o acesso a serviços de saúde tem sobre o

bem-estar individual e desenvolvimento econômico,2 o setor de saúde deve ser

considerado um caso especial a ser investigado. Desse modo, a literatura tem dado

grande atenção em averiguar a direção dos efeitos da descentralização fiscal dos

serviços de saúde sobre os resultados nessa área em um número considerável de

países desenvolvidos (no Canadá: Jimenez-Rubio, 2011a; na OCDE: Jimenez-

2 Arrow (1963), em artigo seminal, destaca a importância do bom funcionamento do mercado de

assistência médica para o bem-estar social.

8

Rubio, 2011b; na Itália: Cavalieri e Ferrante, 2016; na Espanha: Jimenez-Rubio e

García-Gomes, 2017). Contudo, pouca atenção têm sido despendida em investigar

os efeitos da descentralização sobre resultados da saúde em contextos de países

em desenvolvimento como o Brasil. Sendo essa, portanto, a primeira motivação para

elaboração deste trabalho.

Outra motivação é que a questão de como a descentralização fiscal do setor

de saúde pode afetar temporal e espacialmente resultados na saúde encontra-se

aberta ao debate. Arze del Granado et al (2005) encontraram que os gastos em

saúde tendem a crescer sua participação nos gastos totais dos governos com a

descentralização fiscal. Na medida que esses tipos de gastos têm impacto positivo

direto sobre o desenvolvimento do capital humano, seria de se esperar um efeito

positivo sobre o bem-estar e desenvolvimento da economia. A existência de

externalidades nos cuidados de saúde não implica necessariamente uma provisão

centralizada como uma alternativa superior, uma vez que ainda pode haver ganhos

de bem-estar a partir da provisão descentralizada em relação a um nível de serviços

de saúde centralmente determinado (Oates, 2005).

Nesse contexto, este trabalho busca contribuir para a literatura que investiga a

relação entre descentralização e resultados na saúde fornecendo uma avaliação

para o Brasil com especial ênfase sobre os impactos na saúde infantil. O Brasil é um

excelente caso de estudo, pois além de ser uma recente democracia com alterações

político-institucionais no sistema de saúde (Emenda Constitucional 29 do ano 2000)

e um país com pluralidades étnicas, raciais e culturais com regiões exibindo

diferentes condições geográficas e econômicas, detêm taxas de mortalidade infantil

9

e na infância bem superiores a de outros países3. Ademais, é de suma importância

estudar novos canais de influência sobre a saúde infantil, já que como afirma Soares

(2005) reduções na mortalidade infantil são a principal força por trás do

desenvolvimento econômico.

A proposta dessa pesquisa é avaliar a partir do modelo de efeitos fixos com

dummies de tendência estado-específicas e erros padrões robustos a direção dos

efeitos da descentralização4 sobre saúde infantil, mensurada pelas taxas de

mortalidade infantil e na infância, no Brasil no período de 2000 a 2013. Para tanto,

utilizar-se-á dados ainda não explorados oriundos do Ministério da Saúde do Brasil

(DATA-SUS) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para cada um

dos 26 Estados brasileiros e o Distrito Federal. Por fim, dado que o Brasil é um país

que apresenta relevantes disparidades regionais (Assis e Linhares, 2016), utiliza-se

dummies interativas entre determinada região do país e o indicador de

descentralização fiscal da saúde para ter um indicativo da possibilidade de efeitos

diferenciados da descentralização sobre resultados na saúde infantil em regiões

mais desenvolvidas, vis-à-vis, regiões relativamente mais pobres.

Além desta introdução, este artigo divide-se em mais cinco seções. A seção

seguinte apresenta uma revisão da literatura, dividida em estudos teóricos e

empíricos. A terceira seção exibe uma breve apresentação do arcabouço

institucional do sistema de saúde público brasileiro. Na quarta expõe-se a

metodologia utilizada no trabalho, apresentação dos dados e modelo econométrico.

3 Segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (Herdando um mundo sustentável: Atlas sobre

a saúde das crianças e o meio ambiente, 2017) o Brasil registra a taxa de 16,4 mortes de crianças com menos de cinco anos para cada mil nascimentos, acima do índice de países como Austrália (3,8), Argentina (12,5) ou China (10,7), mas com resultados melhores que países da África. 4 Na seção de metodologia tem-se a descrição da medida de descentralização fiscal da saúde

utilizada nesse estudo.

10

Na quinta a análise dos resultados. Na sexta, uma breve análise de robustez e

sensitividade dos resultados. Por fim, são feitas as considerações finais do estudo.

2. REVISÃO DE LITERATURA

A presente seção discute os aspectos teóricos sobre federalismo fiscal

apresentando a relação entre descentralização versus centralização como forma de

atender as demandas e fornecer melhores serviços públicos a população de uma

determinada economia. Bem como, busca detalhar alguns dos principais resultados

encontrados em trabalhos empíricos anteriores com foco no impacto da

descentralização dos serviços de saúde sobre resultados na saúde infantil.

2.1. Aspectos Teóricos

Sob a ótica dos gastos públicos, a descentralização permite que as despesas

sejam realizadas de forma mais próxima as necessidades locais e desse modo pode

se ajustar melhor as preferências dos indivíduos. Hayek (1945) e Oates (1972)

expõem os argumentos fundamentais de que a descentralização fiscal possa

melhorar o bem-estar social da população local. O ponto central desse raciocínio é

que os governos subnacionais tem uma vantagem informacional sobre as

circunstâncias locais que autoridades centrais. Além disso, esse ganho informacional

resultaria na possibilidade das autoridades locais serem mais exigidas por resultados

satisfatórios de suas políticas a partir do mecanismo de premiação e punição

advindo do processo eleitoral. Isso poderia estabelecer um desenho mais eficiente

na gestão dos gastos públicos.

Por outro lado, conforme argumentaram Samuelson (1954) e Musgrave

(1959) não é possível determinar um nível eficiente de gasto público, de acordo com

11

regras aplicadas ao mecanismo de mercado. Dado que o bem público consumido

por um indivíduo não exclui o consumo por outro, então ninguém teria incentivo a

revelar sua real demanda por esse tipo de bem, desencadeando o comportamento

free-riding. Assim, cada indivíduo preferiria deixar que outros revelassem suas

demandas e pagassem pelo bem.

Contudo, Tiebout (1956) demonstra que esse mecanismo pode ser

solucionado através da descentralização por meio da comparação entre várias

jurisdições. Os cidadãos podem observar a provisão dos bens públicos e com base

em suas preferências determinar aquela que lhes proporcionaria maior bem-estar.

Os cidadãos migrariam em busca de jurisdições com melhores relações custo-

benefício entre taxação e provisão de bens e serviços públicos. Assim, a competição

entre as jurisdições por contribuintes e por recursos econômicos móveis

provavelmente restringiria os poderes tributários do governo, encorajando a provisão

dos bens e serviços públicos locais com custos mais eficientes.

A teoria tradicional tem sido crítica quanto a participação ativa dos governos

locais. Essa discordância está centrada especialmente no aspecto da eficiência das

políticas públicas locais. Prud’homme (1995) chama atenção ao fato de que a

descentralização pode permitir a replicação de estruturas desnecessárias e

ineficientes nos governos locais. Ademais, ao tentar melhorar as condições de vida

das pessoas pobres em uma determinada localidade, o governo subnacional poderia

aumentar a arrecadação própria sobre setores mais ricos, o que eventualmente

poderia estimular a migração para outras regiões que apresentam menor taxação.

Isso provocaria a erosão da arrecadação ocasionando uma política distributiva

ineficiente.

12

Evidentemente, a magnitude dessa erosão dependeria do grau de mobilidade

dos fatores de produção e da população. Quando essa mobilidade é imperfeita ou

custosa, os governos locais podem realizar um papel mais importante na introdução

de políticas sociais. Desse modo, considerando que em países em desenvolvimento a

mobilidade é relativamente baixa, pode-se imaginar que os governos locais teriam

maior aptidão na provisão de bens públicos como a saúde. Por outro lado, essa

efetividade poderia ser prejudicada dependendo da forma que o federalismo fiscal é

desenhado, já que há um trade off entre a partilha de risco e o risco moral: a partilha

de risco federal pode induzir os governos locais a promulgar políticas que aumentam o

risco local na presença de captura (risco moral) das capacidades administrativas

desses governos na elaboração de políticas. Os arranjos alternativos criam incentivos

diferentes para os formuladores de políticas e os eleitores, e dão origem a diferentes

equilíbrios políticos. Sob as instituições apropriadas, a centralização das funções e

do poder podem mitigar o problema do risco moral (Perrson e Tabellini, 1996a).

2.2. Estudos Empíricos

De acordo com a seção anterior, há argumentos teóricos que apontam tanto

para uma relação positiva entre descentralização e resultados na saúde infantil,

como existem também explicações para uma provável relação negativa. Desse

modo, diversos estudos empíricos têm procurado analisar a relação entre essas

medidas. Esta seção faz um breve resumo dos principais trabalhos disponíveis na

literatura, sempre procurando destacar a forma de aferição do indicador de

descentralização e das variáveis de controle utilizadas. Destaca-se que é comum

aos trabalhos citados o uso da taxa de mortalidade infantil (TMI) como forma de

13

mensurar resultados na saúde. O Quadro 1 apresenta um resumo das evidências

dos efeitos da descentralização fiscal sobre a mortalidade infantil.

Habibi et al (2003) investiga o impacto da descentralização fiscal na Argentina

utilizando dados para 23 províncias (Estados) no período de 1970 a 1994. Ele utiliza

duas medidas de descentralização: a proporção das receitas auferidas localmente e

a proporção da receita controlada pela província sobre o total, além de: PIB per

capita da província, funcionários públicos por 1.000 habitantes e despesas totais da

província per capita como controles. Seus resultados mostram que descentralização

reduz mortalidade infantil. Além disso, ao comparar os padrões de descentralização

entre as províncias de baixa renda e alta renda, evidencia que as disparidades nas

TMIs regionais diminuem significativamente durante o período após as reformas de

descentralização serem realizadas.

Asfaw et al (2007) analisando 14 grandes Estados indianos entre 1990 e 1997

observa que a descentralização fiscal reduz a TMI de áreas rurais, e destaca que

sua eficácia aumenta com o nível de descentralização política. Para chegar a esses

resultados seu trabalho utiliza três indicadores de descentralização fiscal: a despesa

total do Estado, a despesa local total pela população rural e a parcela das receitas

próprias locais no total das despesas locais. Além de PIB per capita e alfabetização

feminina como variáveis independentes.

Para dados de 15 regiões da Espanha entre 1992 e 2003, Cantarero e

Pascual (2008) avaliam os efeitos da descentralização fiscal da saúde (Proporção

das despesas de saúde dos entes sub-nacionais em relação a despesa total em

saúde para todos os níveis de governo) sobre a TMI e expectativa de vida. Suas

estimações mostram que a descentralização fiscal é negativamente relacionada com

as TMIs e positivamente relacionada com a expectativa de vida.

14

Quadro 1 - Resumo das Evidências dos Efeitos da Descentralização Fiscal sobre a Mortalidade Infantil.

LISTA DE ARTIGOS

Estudo Unidade/Método de

Estimação Medida de Descentralização Conclusões

Robalino et al. (2001)

Painel de Países/Efeitos Fixos Relação entre as despesas totais dos governos locais e as despesas totais do governo central.

Efeito Positivo. Maior efeito em países pobres.

Habibi et al. (2003)

Argentina (23 províncias)/ MQO, MQG e Efeitos Fixos

Proporção da receita auferida localmente e proporção da receita controlada sobre o total.

Efeito Positivo

Asfaw et al. (2007)

India

(14 estados)/ Efeitos fixos e

Aleatórios

Índice de descentralização fiscal obtido por análise fatorial com base em três variáveis, a parcela da despesa local na despesa total do estado, a despesa local total pela população, a parcela da receita própria local do total das despesas locais.

Efeito Positivo

Cantarero e Pascual (2008) Espanha (15 regiões)/Efeitos Fixos e Aleatórios

Proporção de despesas de saúde dos

entes sub-nacionais em relação a

despesa total em saúde para todos os

níveis de governo.

Efeito Positivo

Uchimura e Jütting (2009)

China

(26 estados)/Efeitos Fixos com

erros padrão robustos

Proporção da despesa agregada do condado em relação à despesa total da província.

Efeito Positivo

Akpan (2011)

Nigéria (36 estados)/ Efeitos Aleatórios

Proporção de receita do Estado para a receita federal.

Efeito Positivo

Jiménez-Rubio (2011a) Canadá (10 províncias)/Efeitos Fixos com erros padrões robustos

Proporção de despesas de saúde dos entes sub-nacionais em relação a despesa total em saúde para todos os níveis de governo.

Efeito Positivo

Jiménez-Rubio (2011b)

Painel de Países (OCDE)/ Modelo de correção de erros com dummies de tendência e ano e erros padrões robustos

A taxa das receitas fiscais sub-nacionais sobre as receitas totais das administrações públicas e a taxa entre a receita fiscal sub-nacional e a receita total do governo geral.

Efeito Positivo

Soto et al. (2012) Colombia (1080 municípios)/ Efeitos Fixos com dummies de ano e erros padrões robustos

Despesas de saúde controladas localmente como proporção das despesas totais de saúde.

Efeito Positivo. Maior efeito em municípios ricos que em pobres.

Cavalieri e Ferrante (2016)

Itália (20 regiões)/Efeitos

Fixos com dummies de

tendência região-específica

Grau de autonomia de decisão na

alocação de receitas tributárias e

dependência de transferências fiscais

do governo central.

Efeito Positivo. Maior efeito em regiões mais pobres

Jiménez-Rubio e García-Gómez (2017)

Espanha (50 províncias)/ Modelo de diferenças em dife- renças com erros padrões robus- tos

Descentralização fiscal e política,

atribuindo-se diferentes escalas para

as regiões antes e depois de

alterações no sistema de saúde.

Efeito Positivo. Os benefícios da descentralização se concentram em regiões mais ricas e descentralizadas

Fonte: Elaboração Própria. Notas: Por efeito positivo entende-se que a descentralização fiscal teve efeito de reduzir a taxa de mortalidade infantil.

Uchimura e Jütting (2009) utilizando dados de 26 províncias chinesas no

período de 1995 a 2001, relata que as províncias mais descentralizadas têm melhor

desempenho em relação aos resultados da saúde se duas condições forem

15

atendidas: um sistema de transferência funcional for estabelecido entre os níveis da

província e do condado; e se a capacidade fiscal dos próprios municípios for

reforçada. Duas medidas de descentralização são utilizadas: relação entre a

despesa dos condados agregada a nível provincial e a receita própria dos condados

agregada a nível provincial (como medida de equilíbrio vertical), e a razão entre a

despesa agregada do condado e a despesa total da província.

A estratégia empírica do trabalho de Jimenez-Rubio (2011a) foi construída

para 10 províncias do Canadá, entre 1979 e 1995, utilizando como medida de

descentralização fiscal: a proporção das despesas de saúde dos entes sub-

nacionais em relação a despesa total em saúde para todos os níveis de governo; e

como variáveis de controle: o PIB per capita da província, subsídios globais de

saúde per capita do governo federal, despesa federal per capita em saúde, despesa

municipal per capita em saúde, assistência médica privada per capita, baixo peso ao

nascer, dentre outras. Ele ressalta que a descentralização tem uma influência

positiva substancial sobre a eficácia da política pública na melhoria da saúde da

população (medida pela mortalidade infantil).

Soto (2012) utilizando dados de 1080 municípios da Colômbia de 1998 a 2007

e construindo um indicador de descentralização fiscal similar a Jimenez-Rubio

(2011a), encontra que a descentralização diminui as TMIs. No entanto, os efeitos

nos resultados da saúde melhoram dependendo das condições socioeconômicas

das localidades: eles são maiores nos municípios não pobres do que nos municípios

pobres. Entre outras variáveis de controle empregadas, destacam-se o percentual de

domicílios com necessidades básicas insatisfeitas e nível de urbanização. Já

Cavalieri e Ferrante (2016) analisam 20 regiões italianas no período de 1996 a 2012.

A descentralização é medida por dois indicadores diferentes, o grau de autonomia

16

de decisão na alocação de receitas tributárias e o outro até que ponto as regiões

dependem de transferências fiscais do governo central. Seus resultados mostram

que uma maior proporção das receitas fiscais geradas e/ou controladas localmente,

bem como uma menor dependência de transferência do governo central, estão

consistentemente associadas a menores taxas de mortalidade infantil. Além de

constatarem que regiões mais pobres apresentam melhores resultados.

Por fim, Jimenez-Rubio e Garcıa-Gomez (2017) exploram um experimento

natural para identificar o efeito da descentralização nos resultados de saúde de 50

províncias espanholas entre 1980 e 2010. Os autores baseiam-se no pressuposto de

que o momento da descentralização foi conduzido pela identidade cultural das

províncias, que supostamente não está correlacionado com os resultados de saúde,

para identificar o efeito da descentralização. Os autores estimam o efeito da

descentralização nas taxas de mortalidade neonatal e infantil usando um modelo de

diferenças em diferenças, no qual as províncias que adotam um sistema de saúde

descentralizado em qualquer período t são consideradas tratadas. Os resultados

mostram que a descentralização completa, quando as províncias adquirem

independência fiscal e política do governo central, tem um impacto significativo nas

taxas de mortalidade neonatal e infantil.

Em suma, de certo modo pode-se aventar, com base nos estudos de Soto

(2012) e Cavalieri e Ferrante (2016), que há uma expectativa a priori de que regiões

mais pobres em países desenvolvidos apresentem impactos positivos e mais

relevantes da descentralização fiscal na redução da mortalidade infantil. Ao passo

que, esse efeito ocorreria de modo inverso em países em desenvolvimento. Assim,

este estudo buscará investigar esses efeitos em um contexto de país em

desenvolvimento com reconhecidos problemas de desigualdades regionais.

17

3. ARCABOUÇO INSTITUCIONAL DO SISTEMA DE SAÚDE PÚBLICO

BRASILEIRO

Uma mudança relevante no direito ao acesso a saúde no Brasil ocorreu com a

Constituição Federal de 1988, que determinou a implantação do Sistema Único de

Saúde (SUS), prevendo acesso universal e integralidade no atendimento, além da

descentralização como princípio da política. Contudo, isso não foi suficiente para

garantir a provisão equânime dos serviços de saúde pública no país. Desse modo,

dentro da perspectiva do desenvolvimento de ações e serviços públicos de saúde, o

Brasil adotou a Emenda Constitucional no 29 do ano 2000 como forma de quantificar

e monitorar o financiamento das despesas necessárias para a manutenção do

sistema de saúde entre os entes federativos. A referida Emenda estabeleceu para os

Estados e Municípios, a participação mínima de 12% e 15%, respectivamente, da

alocação de seus recursos na esfera da saúde. Quanto a União, esta deveria aplicar

na saúde o valor empenhado no ano anterior, mais a variação nominal do Produto

Interno Bruto (PIB).

Segundo o Ministério da Saúde do Brasil (2006), a divisão das

responsabilidades da gestão e provisão da saúde no país ocorre da seguinte forma:

a) A União é o principal financiador da saúde pública no país. Historicamente,

metade dos gastos é feita pelo governo federal, a outra metade fica sob

responsabilidade dos Estados e Municípios. A União formula políticas nacionais,

mas a implementação é feita por seus parceiros (estados, municípios, ONGs e

iniciativa privada). Também tem a função de planejar, criar normas, avaliar e utilizar

instrumentos para o controle do SUS; b) O governo estadual implementa políticas

nacionais e estaduais, além de organizar o atendimento à saúde em seu território.

Os estados possuem secretarias específicas para a gestão de saúde; c) O município

18

é o principal responsável pela saúde pública de sua população. O gestor municipal

deve aplicar recursos próprios e os repassados pela União e pelo Estado. O

município formula suas próprias políticas de saúde e também é um dos parceiros

para a aplicação de políticas nacionais e estaduais de saúde. Ele coordena e planeja

o SUS em nível municipal, respeitando a normatização federal e o planejamento

estadual. Além disso, pode estabelecer parcerias com outros municípios para

garantir o atendimento pleno de sua população para procedimentos de

complexidade que estejam acima daqueles que pode oferecer.

Com relação a composição das receitas que devem ser alocadas no setor de

saúde, em nível estadual, deve-se somar: a) Impostos Estaduais (Imposto sobre

Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), Imposto sobre Propriedade de

Veículo Automotor (IPVA), e Impostos sobre herança e doações); b) Transferências

da União (cota-parte do Fundo de Participação dos Estados (FPE), cota-parte do IPI-

Exportação e transferências da Lei Kandir); c) Imposto de Renda Retido na Fonte; d)

Outras Receitas Correntes. Desse total, devem-se subtrair as transferências

constitucionais e legais que são feitas aos municípios (25% do ICMS, 50% do IPVA

e 25% do IPI-Exportação). Após esse procedimento, 12% dessas receitas devem ser

gastas com ações e serviços públicos de saúde. Em nível municipal, o orçamento é

composto por: a) Impostos Municipais (Imposto Sobre Serviços (ISS), Imposto

Predial Territorial Urbano (IPTU), Imposto sobre Transferência de Bens Imóveis

(ITBI)); b) Transferências da União (cota-parte do Fundo de Participação do

Municípios (FPM), cota-parte do Imposto sobre propriedade Territorial Rural (ITR) e

transferências da Lei Kandir); c) Imposto de Renda Retido na Fonte; d)

Transferências do Estado; e) Outras Receitas Correntes. Como dito anteriormente,

15% dessas receitas municipais devem ser gastas em saúde.

19

Apesar do maior peso sobre os municípios, o Ministério da Saúde adverte que

a relação entre a União, Estados e Municípios não possui uma hierarquização. Os

entes federados negociam e entram em acordo sobre ações, serviços, organização

do atendimento e outras relações dentro do sistema público de saúde. É o que se

chama de pactuação intergestores, ela pode ocorrer na Comissão Intergestora

Bipartite (Estados e Municípios) ou na Comissão Intergestora Tripartite (os três entes

federados). Collins et al. (2000) reforça a importância do Estado na provisão de

saúde ao afirmar que o imenso tamanho do Brasil e o grande número de municípios

no país tornam bastante impraticável pensar que as formas de integração

intergovernamental podem ser conduzidas sem um intermediário estadual, dado que

muitos dos municípios são muito pequenos para considerá-los como tendo a

capacidade de desenvolver sistemas de saúde municipais viáveis. Conforme o autor,

deve-se notar que a descentralização requer um forte nível de ligação

intergovernamental em torno da alocação de recursos, planejamento, garantia de

qualidade, supervisão técnica e planejamento de recursos humanos.

Por fim, a Tabela 1 apresenta a estrutura dos gastos em ações e serviços

públicos de saúde por ente federativo nos Estados brasileiros. Pode-se observar que

houve um crescimento considerável dos gastos em saúde nos três níveis de

governo. Destaca-se que entre 2000 e 2013 os gastos municipais e estaduais em

ações e serviços públicos de saúde per capita cresceram, respectivamente, cerca de

200% e 174%. Além disso, esses dados revelam a assimetria da estrutura dos

gastos em saúde no Brasil. A título de exemplo, o Governo do Estado do Maranhão

gastava apenas 9.91 reais per capita anualmente em ações e serviços públicos de

saúde no ano 2000, bem como o Estado do Acre que no mesmo ano deteve

20

aproximadamente apenas 10 reais em gastos per capita com saúde oriundos da

esfera municipal.

Tabela 1 - Gasto total per capita anual em ações e serviços públicos de saúde por ente federativo nos Estados brasileiros, 2000-2013.

GASTO MUNICIPAL PER CAPITA GASTO ESTADUAL PER CAPITA GASTO FEDERAL PER CAPITA

UNIDADE DA FEDERAÇÃO

2000 2013 VARIAÇÃO 2000 2013 VARIAÇÃO 2000 2013 VARIAÇÃO

TOTAL 98.37 294.87 200% 94.34 258.64 174% 271.64 413.07 52%

Acre 10.01 149.90 1398% 455.40 658.56 45% 313.90 257.77 -18%

Alagoas 41.88 174.90 318% 79.13 191.71 142% 227.24 260.09 14%

Amapá 22.51 127.38 466% 273.42 625.20 129% 311.43 228.89 -27%

Amazonas 82.06 221.74 170% 187.66 484.86 158% 192.45 203.08 06%

Bahia 48.22 180.36 274% 66.37 161.47 143% 186.93 243.28 30%

Ceará 50.47 205.36 307% 21.42 197.42 822% 218.21 238.22 09%

Distrito Federal - - - 183.02 760.31 315% 339.48 209.94 -38%

Espírito Santo 87.52 282.80 223% 155.97 355.92 128% 197.53 226.73 15%

Goiás 60.84 253.68 317% 80.90 238.39 195% 212.15 232.40 10%

Maranhão 42.72 169.36 296% 9.91 159.50 1509% 197.39 240.07 22%

Mato Grosso 111.47 318.95 186% 38.92 286.26 636% 232.46 233.02 0%

Mato Grosso do Sul 118.33 396.13 235% 105.58 308.36 192% 218.95 273.63 25%

Minas Gerais 113.86 309.95 172% 48.24 208.53 332% 201.83 245.23 22%

Pará 32.85 154.74 371% 55.66 190.73 243% 188.21 203.06 08%

Paraíba 46.54 212.00 356% 31.50 225.34 615% 251.62 272.88 08%

Paraná 103.53 312.17 202% 42.90 191.16 346% 219.29 259.23 18%

Pernambuco 46.12 186.87 305% 84.03 236.83 182% 251.13 262.15 04%

Piauí 26.06 207.91 698% 40.57 208.12 413% 225.50 272.70 21%

Rio de Janeiro 106.71 342.82 221% 94.39 239.07 153% 415.61 334.91 -19%

Rio Grande do Norte 75.34 257.81 242% 129.87 266.31 105% 236.96 260.84 10%

Rio Grande do Sul 100.55 299.17 198% 85.71 254.80 197% 272.01 324.99 19%

Rondônia 61.36 232.01 278% 108.84 346.03 218% 319.20 212.67 -33%

Roraima 57.37 204.64 257% 364.00 758.76 108% 436.32 256.07 -41%

Santa Catarina 89.01 337.35 279% 106.58 246.07 131% 200.95 247.03 23%

São Paulo 179.74 450.11 150% 162.69 299.64 84% 218.61 221.26 01%

Sergipe 40.72 192.41 373% 43.11 295.74 586% 230.21 260.04 13%

Tocantins 71.75 221.64 209% 156.15 635.49 307% 260.33 277.95 07%

Fonte: DATASUS, Ministério da Saúde do Brasil. Valores deflacionados com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) 2013.

21

4. METODOLOGIA

4.1. Dados

Os dados que viabilizaram esse estudo foram obtidos em duas fontes. A

primeira, o Ministério da Saúde do Brasil, a partir do sistema de compilação de

dados DATA-SUS. A segunda, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE), através dos dados oriundos da Pesquisa Nacional por Amostra de

Domicílios (PNAD). Foram utilizados dados anuais para a taxa de mortalidade infantil

até o primeiro e quinto ano de vida, com o intuito de identificar os impactos da

descentralização sobre resultados na saúde infantil. O painel é formado por 26

Estados brasileiros e o Distrito Federal no período de 2000 a 2013. Destaca-se que

a PNAD não foi realizada nos anos de 2000 e 2010. Portanto, são 324 observações

que compõem a amostra do trabalho.

A Tabela 3 apresenta uma análise descritiva e definição de todas as variáveis

utilizadas. A variável que merece uma maior reflexão e explicação em seu uso e

construção é o indicador de descentralização fiscal da saúde. Segundo Jimenez-

Rubio (2011a), a mais usual medida quantitativa disponível de descentralização da

assistência de saúde é a proporção entre os gastos de saúde sub-nacionais para o

total de gastos de saúde para todos os níveis de governo. Assim, através dos dados

do Ministério da Saúde do Brasil, o cálculo do indicador de descentralização nesse

artigo considera o nível de gastos anuais per capita com ações e serviços públicos

de saúde, deflacionados com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor

Amplo (IPCA) do ano 2013, para os três entes federados do país (União, Estados e

Municípios).

Desse modo, levando em consideração as características institucionais do

Brasil, o indicador de descentralização da saúde é calculado somando-se os gastos

22

per capita com ações e serviços de saúde pública dos Estados e Municípios, e

posteriormente dividindo-o pelo total de gastos per capita em ações e serviços

públicos de saúde, que é a soma dos gastos per capita federais, estaduais e

municipais. Além disso, destacam-se as outras variáveis de controle obtidas no

Ministério da Saúde, uma proxy para gastos privados em saúde: proporção da

população com a acesso a assistência médica através de planos privados de saúde;

e uma medida de necessidades no período de gestação da criança: baixo peso ao

nascer, proporção de nascidos vivos pesando menos que 2.500g.5

As variáveis obtidas no IBGE, através da PNAD, foram o indicador do nível de

rendimentos: a renda domiciliar per capita; uma medida de capital social: proporção

da população feminina acima de 15 anos de idade alfabetizada; e três indicadores

de condições básicas de vida: percentual das pessoas que vivem em domicílios com

acesso a um sistema básico de esgoto,6 percentual de pessoas em domicílios com

acesso a água potável através de sistema canalizado e percentual de pessoas em

domicílios com acesso ao serviço de coleta de lixo.

Uma primeira inspeção nos dados revela que, como exposto na Figura 1, há

uma relação inversamente proporcional entre a taxa de mortalidade infantil e o

indicador de descentralização fiscal da saúde do Brasil no período de 2000 a 2013.

Dado que a mortalidade infantil vem reduzindo no país desde os anos 19607 e como

o processo de crescimento dos gastos em saúde dos entes federados sub-nacionais

5 Outra importante variável utilizada na literatura e disponibilizada pelo Ministério da Saúde do Brasil é

a taxa de mulheres fumantes. Contudo, dado o seu restrito período de disponibilidade de 2006 a 2012, optou-se pela sua não inclusão na amostra. 6 Dados da PNAD 2013 revelam que 25% da população brasileira não dispõe de condições básicas

de esgotamento sanitário. Com esse número se elevando para 47% e 43% nas regiões Norte e Nordeste do país, respectivamente. 7 Soares (2007b) mostra que a América Latina de uma maneira geral reduziu cerca de 70% a

mortalidade infantil (por 1,000 nascidos vivos) entre 1960 e 2000. O Brasil seguiu essa tendência segundo o referido autor.

23

Figura 1 - Evolução da Mortalidade Infantil e Indicador de Descentralização Fiscal

da Saúde no Brasil, 2000-2013.

Fonte: Elaboração Própria.

iniciou-se apenas no ano 2000, é salutar questionar se a redução da mortalidade na

década de 2000 estaria de fato relacionada ao processo de descentralização.

Soares (2007a) advoga que a redução da mortalidade infantil no Brasil entre os anos

de 1970 e 2000 estaria fortemente relacionada aos ganhos educacionais de sua

população, redução da taxa de analfabetismo.

A Figura 2 apresenta a evolução espacial da taxa de mortalidade infantil nos

Estados brasileiros entre 2000 e 2013. Observa-se que há uma tendência comum a

todas unidades federativas em reduzir a mortalidade. Entretanto, alguns Estados

destacam-se, como: o Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco na região

Nordeste; Minas Gerais na região Sudeste; Mato Grosso do Sul na região Centro-

Oeste e, Rondônia na região Norte8. Ademais, destaca-se que há maior

8 O estado do Ceará foi destaque nacional reduzindo em 62% a taxa de mortalidade infantil entre os

anos de 2000 e 2013. Os estados do Rio Grande do Norte e Pernambuco reduziram, 54% e 56%, respectivamente. Minas Gerais, 44%. Mato Grosso do Sul, 46% e Rondônia, 53%

24

predominância de taxas mais elevadas de mortalidade infantil até um ano de vida

nas regiões Norte e Nordeste do país.

Figura 2 - Evolução Espacial da Mortalidade Infantil nos Estados Brasileiros, 2000-

2013.

Fonte: Elaboração Própria.

Por fim, ressalta-se que a escolha das variáveis de controle para compor o

modelo seguiu o padrão da literatura: Descentralização, Gasto Federal e Baixo Peso

ao Nascer (Jimenez-Rubio, 2011a); Gasto Estadual e Alfabetização Feminina (Asfaw

et al., 2007); Plano de Saúde, proposta do autor de utilizar a proporção da população

coberta por plano privado de saúde como proxy para o valor do gasto per capita em

serviços de saúde providos pelo setor privado, que foi a medida utilizada por

Jimenez-Rubio (2011a); Renda Domiciliar, Saneamento, Água Potável e Coleta de

Lixo (Soares, 2007a e Soto, 2012).

25

Tabela 2 - Análise Descritiva e Definição das Variáveis.

LISTA DE VARIÁVEIS

VARIÁVEL MÉDIA DESVIO PADRÃO

MÍN. MÁX. DEFINIÇÃO PERÍODO FONTE

Mortalidade Infantil

21.1 Overall 6.67 Between 4.93 Within 4.58

10.41 2.7 11.8

39.2 27.4 35.6

Número de crianças que morrem antes do primeiro ano de vida, expressa como uma taxa por 1000 nasci- das vivas.

2000-2013 DATA-SUS

Mortalidade na Infância

24.5 Overall 7.61 Between 5.66 Within 5.20

12.1 14.9 13.6

44.3 31.0 40.8

Número de crianças que morrem antes dos cinco anos de vida, expressa como uma taxa por 1000 nascidas vivas.

2000-2013 DATA-SUS

Descentralização 0.58 Overall 0.11 Between 0.07 Within 0.08

0.21 0.47 0.28

0.80 0.71 0.75

Indicador de Descen- tralização Fiscal da Saúde.

2000-2013 Elaboração

Própria

Renda Domiciliar 730.9 Overall 302.9 Between 277.3 Within 132.2

314.2 416.8 380.5

2034 1.632 1.133

Renda Domiciliar per capita em reais de 2013.

2001-2013 IBGE

Gasto Estadual 386.4 Overall 177.6 Between 124.8 Within 128.4

52.63 210.2 55.75

963.4 668.5 707.3

Gasto Estadual e Municipal per capita anual com ações e serviços de saúde pública em reais de 2013.

2000-2013 DATA-SUS

Gasto Federal 247.3 Overall 54.0 Between 35.1 Within 41.5

149.0 184.7 150.2

525.8 359.2 494.5

Gasto Federal per ca- pita anual com ações e serviços de saúde pública em reais de 2013.

2000-2013 DATA-SUS

Plano de Saúde 13.62 Overall 9.16 Between 8.94 Within 2.59

2.68 4.56 6.97

42.9 39.1 20.2

Proporção da popu- lação coberta por plano privado de saúde com assistên- cia médica.

2000-2013 DATA-SUS

Alfabetização Feminina

87.9 Overall 6.09 Between 5.90 Within 1.85

71.0 74.9 82.9

96.7 95.8 93.4

Proporção da popu- lação feminina acima de 15 anos de idade alfabetizada.

2001-2013 IBGE

Baixo Peso ao Nascer (BPN)

7.72 Overall 0.91 Between 0.85 Within 0.36

4.10 6.30 5.52

9.70 9.44 8.79

Proporção de nas- cidos vivos pesando menos que 2500g.

2000-2013 DATA-SUS

Saneamento 0.58 Overall 0.21 Between 0.19 Within 0.08

0.11 0.26 0.30

0.97 0.94 0.88

Percentual de domi- cílios com adequado saneamento através de rede coletora ou fossa séptica.

2001-2013 IBGE

Água Potável 0.85 Overall 0.13 Between 0.12 Within 0.05

0.45 0.61 0.68

1.00 0.99 1.02

Percentual de pes- soas em domicílios com acesso a aguá potável através de sistema canalizado.

2001-2013 IBGE

Coleta de Lixo 0.81 Overall 0.12 Between 0.11 Within 0.04

0.46 0.53 0.68

0.99 0.98 0.95

Percentual de pes- soas em domicílios com acesso ao serviço de coleta de lixo.

2001-2013 IBGE

Fonte: Elaboração Própria.

26

4.2. Modelo Econométrico

A abordagem empírica deste artigo, apesar de se aproximar do padrão na

literatura (Jimenez- Rubio, 2011), sugere a incorporação de medidas importantes

para a realidade de países em desenvolvimento (Soares, 2007a e Soto, 2012). Dado

a estrutura de dados, o método de estimação empregado para testar a direção dos

efeitos da descentralização sobre resultados da saúde infantil foi o modelo de efeitos

fixos com dummies de tendências estado-específicas e erros padrões robustos.

Assim, os modelos de efeito médio nacional e efeitos regionais utilizados podem ser

descritos da seguinte forma:

𝑇𝑀it = 𝛽0 + 𝛽1Descentralizaçãoit + 𝛽𝑋it + 𝛼i + 𝜃iTempot + 𝜀it (1)

Onde i = 1,..., 27; t = 2000,..., 2013

𝑇𝑀it = 𝛽0 + 𝛽j𝜆j Descentralizaçãoit + 𝛽𝑋it + 𝛼i + 𝜃iTempot + 𝜀it (2)

Onde i = 1,..., 27; t = 2000,..., 2013 e j = 1,..., 5

A variável dependente, TM, denota a taxa de mortalidade infantil (menores de

1 ano) ou na infância (menores de 5 anos) em logaritmo. A variável explicativa de

principal interesse é a Descentralização (em logaritmo), indicador de

descentralização fiscal da saúde. O vetor 𝑋 de variáveis de controle é composto

pelas variáveis (em logaritmo): Renda, renda domiciliar per capita; Gasto Estadual,

gasto estadual e municipal anual per capita com ações e serviços públicos de saúde

em Reais de 2013; Gasto Federal, gasto federal anual per capita com ações e

serviços públicos de saúde em Reais de 2013; Plano de Saúde, proporção da

população coberta com assistência médica por plano privado de saúde;

27

Alfabetização Feminina taxa de alfabetização entre mulheres de 15 anos ou mais de

idade; BPN, proporção de nascidos vivos com peso inferior a 2500g, independente

do tempo de gestação; Saneamento, percentual das pessoas que vivem em

domicílios com acesso a instalações adequadas de esgoto; Água, percentual de

pessoas em domicílios com acesso a água potável; Lixo, percentual de pessoas em

domicílios com acesso ao serviço de coleta de lixo.

O termo 𝛼i (efeito fixo estadual) são os efeitos idiossincráticos que não variam

no tempo associados a cada Estado e que podem afetar de alguma maneira os

níveis de mortalidade, como por exemplo, as características naturais, as condições

climáticas, estrutura econômica, etc. Assim, pode ser entendido como um

representante de variáveis omitidas, que apesar de não observáveis, afetam as

taxas de mortalidade local. O termo 𝜃iTempo representa a tendência específica

estadual, dummies de tendência para cada Estado da amostra, que permitem

controlar qualquer variação sistemática no registro de mortalidade entre Estados em

um ponto no tempo, ou através do tempo dentro de um Estado. Como, por exemplo,

um programa nacional de saúde familiar lançado pelo governo federal, ou um

programa específico de combate a pobreza em um determinado Estado.

Por fim, o componente 𝜀𝑖𝑡 é um termo aleatório com média zero e variância

constante. Os subscritos 𝑖, 𝑡 e 𝑗 correspondem ao Estado, ao período de tempo da

observação e a Região do país, respectivamente. Além disso, levando em

consideração a possibilidade de erros autocorrelacionados e heterocedasticos, o que

poderia acarretar na sobre-estimação da significância dos coeficientes estimados,

computou-se os erros padrões corrigidos para cinco clusters em nível regional9.

9 Jiménez-Rubio e García-Gómez (2017) usam estratégia similar para dados da Espanha.

28

Ademais, a literatura (Cavalieri e Ferrante, 2016; Soto, 2012; Robalino et al.,

2001) aponta para a existência de evidências de que os efeitos da descentralização

fiscal sobre a mortalidade infantil apresente benefícios diferenciados em regiões ou

países mais desenvolvidos que em regiões ou países pobres. Então, como exercício

adicional e dado que o Brasil é um país que apresenta relevantes disparidades

regionais (Assis e Linhares, 2016), utiliza-se dummies interativas entre determinada

região do país e o indicador de descentralização fiscal da saúde (𝜆𝑗

Descentralização) para ter um indicativo dessa hipótese para a economia brasileira.

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nesta seção expõem-se os resultados das estimações dispostas de seis

formas distintas. Para fins ilustrativos, a Tabela 3 apresenta na coluna (1) e (4) o

modelo similar ao empregado por Jimenez- Rubio (2011) incluindo variáveis de

condições básicas de vida e aplicado a mortalidade infantil e na infância,

respectivamente. A coluna (2) e (5) incluem aos modelos anteriores dummies de

tendências estado-específicas, que permitem a possibilidade de tendências

específicas na taxa de mortalidade infantil e na infância para cada Estado,

possibilitando amenizar problemas de viés de especificação oriundos da omissão de

variáveis relevantes. Nas colunas (3) e (6) são apresentadas as estimações do

modelo de efeitos fixos10 com dummies de tendências estado-específicas e erros

padrões robustos incluindo interações entre determinada região do país e a medida

de descentralização fiscal da saúde.

10

Como é padrão na literatura, adicionalmente, estimou-se utilizando o modelo de efeitos aleatórios. Porém, o teste de Hausman indicou que o modelo mais apropriado seria o de efeitos fixos.

29

Tabela 3 - Resultados das Estimações.

ESTIMATIVA DE EFEITOS FIXOS (E.F)

(ln) Variável Dependente

Taxa de Mortalidade Infantil Taxa de Mortalidade na Infância

(ln) Regressores (1) (2) (3) (4) (5) (6)

Descentralização -0.193

*

(-2.44) -0.355

*

(-2.07) -

-0.219*

(-2.16) -0.277

*

(-2.05) -

Renda -0.133

**

(-3.20) -0.096 (-1.56)

-0.085

(-1.36) -0.149

**

(-3.06) -0.091

(-1.94) -0.081

(-1.65)

Gasto Estadual -0.115

**

(-3.85) -0.096 (-1.56)

0.208

(1.78) -0.106

**

(-2.67) 0.161 (1.47)

0.171

(1.81)

Gasto Federal -0.173

***

(-4.25) -0.151

*

(-2.06) -0.155

*

(-2.44) -0.185

**

(-3.81) -0.116

*

(-2.09) -0.115

*

(-2.66)

Plano de Saúde -0.201

***

(-4.36) 0.026 (0.36)

0.015 (0.23)

-0.193***

(-4.57) 0.010

(0.19) -0.000

(-0.01)

Alfabetização Feminina

-1.427 (-1.86)

0.416 (0.69)

0.408 (0.67)

-1.396

(-1.88) 0.329 (0.59)

0.320 (-0.56)

BPN -0.225 (-0.87)

0.122*

(2.10) 0.099

*

(2.00) -0.210

(-0.92) 0.109 (1.14)

0.088

(0.99)

Saneamento -0.001 (-0.11)

0.001 (-0.09)

-0.000 (-0.03)

0.000

(0.01) -0.001

(-0.15) -0.001

(-0.08)

Água -0.188 (-0.89)

-0.080***

(-4.18)

-0.061*

(-2.57) -0.169

(-0.88) -0.087

***

(-5.57) -0.070

*

(-2.43)

Lixo 0.096 (0.94)

-0.078 (-0.69)

-0.058 (0.53)

0.106 (0.85)

-0.082

(-0.72) -0.062

(-0.55)

Descentralização* S -0.598

**

(-3.12)

-0.505**

(-3.58)

Descentralização* SE -0.379

**

(-2.69)

-0.288**

(-2.83)

Descentralização* CO -0.452

*

(-2.54)

-0.351**

(-2.74)

Descentralização* NE -0.350

*

(-2.39)

-0.268*

(-2.44)

Descentralização* NO -0.245 (-1.21)

0.160 (-0.99)

Constante 13.13

***

(5.61) 95.51

***

(5.84) 96.81

***

(6.71) 13.05

***

(5.57) 93.78

***

(6.36) 94.88

***

(7.33)

E.F. Estado Sim Sim Sim Sim Sim Sim

E.F. Estado Específico Temporal

Não Sim Sim Não Sim Sim

Prob > F 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00

N 324 324 324 324 324 324

R2 Within 0.88 0.96 0.96 0.89 0.97 0.97

R2 Between 0.68 0.25 0.33 0.68 0.19 0.28

R2 Overall 0.73 0.16 0.12 0.73 0.12 0.17

Fonte: Elaboração Própria. Notas: Erros padrões robustos computados em cluster em nível de Região. *significante a 10%, **significante a 5%, ***significante a 1%. Estatística t entre parênteses.

30

Pode-se observar que os resultados da coluna (1) e (4), estimados com

efeitos fixos e erros padrões robustos, apresentam resultados esperados para as

variáveis de natureza econômica. Entretanto, as variáveis de caráter social são

estatisticamente insignificantes. Isso deve-se principalmente ao fato do viés das

estimativas ocasionado pela omissão dos efeitos fixos de tendência-específica.

Desse modo, dado a estrutura dos dados o modelo apropriado para aferir o

impacto da descentralização fiscal sobre resultados da saúde infantil são os

expostos nas colunas (2) e (5). Os resultados dessas estimações mostram que a

descentralização fiscal das ações e serviços públicos de saúde tiveram

estatisticamente impacto em reduzir a taxa de mortalidade infantil e na infância no

Brasil entre 2000 e 2013. Os coeficientes estimados das dummies de tendência

estado-específicas são conjuntamente significantes (Prob ≥ 𝐹 = 0.00) e sua inclusão

tem um efeito marginal substancial sobre o ajustamento do modelo (𝑅2 = 0.96). Esse

modelo mais conservador revela um efeito médio da descentralização fiscal do setor

de saúde de −0.355 na mortalidade infantil e −0.277 na mortalidade na infância,

demonstrando maior importância do acesso a serviços de saúde no primeiro ano de

vida. Outra evidência que corrobora a importância da maior atenção a fase inicial da

vida infantil é o impacto positivo da variável de controle Baixo Peso ao Nascer

(BPN), que é uma proxy para necessidades no período de gestação, em ampliar a

mortalidade infantil.

Além disso, as regressões das colunas (2) e (5) confirmam a importância dos

gastos federais per capita em ações e serviços de saúde, além de demonstrar que o

acesso a água potável é um importante fator de infraestrutura domiciliar que afetou a

mortalidade infantil e na infância nos Estados brasileiros entre os anos 2000 e 2013.

31

Isso poderia suscitar, em termos de implicações de política, a implementação

de cobertura de acesso total dos domicílios do país a água potável. Pode-se

destacar a deficiência desse fator no Brasil citando, por exemplo, o estado do

Maranhão que no último ano da amostra apresentava 30% dos seus domicílios sem

acesso a água potável. A importância dessas variáveis também é confirmada pelos

resultados de Jimenez-Rubio (2011) e Soto (2012).

As colunas (3) e (6) expõem os resultados com a inclusão das variáveis

interativas entre determinada macrorregião e a variável de descentralização. Os

coeficientes estimados confirmam que há diferenciais de impacto da

descentralização fiscal da saúde entre as regiões do país. A região Sul, que é

historicamente a região mais desenvolvida do Brasil, apresentou o mais significativo

impacto, um aumento de 10% da descentralização do setor de saúde acarretaria em,

aproximadamente, uma redução de 6% na taxa de mortalidade infantil. As

macrorregiões do Sudeste e Centro-Oeste também apresentaram sinais satisfatórios

do efeito da descentralização e estatisticamente significantes ao nível de 5% e 10%,

respectivamente.

Como relatado por Soto (2012) para dados da Colômbia, as regiões mais

pobres detêm efeitos menos robustos da descentralização fiscal sobre a mortalidade

infantil. No caso do Brasil, verificou-se essa hipótese através da insignificância

estatística da descentralização do setor de saúde na região Norte, região que possui

peculiaridades de extensas áreas de mata, cidades isoladas e carência de

investimentos em infraestrutura básica que dificultam seu processo de

desenvolvimento. A região Nordeste apesar de também apresentar desafios sociais

vis-à-vis outras regiões, parece caminhar em média na direção do restante do país

32

em conseguir impactos positivos de redução na mortalidade infantil e na infância

através do processo de descentralização fiscal.

Por fim, as estimativas da coluna (3) mostram que em média um aumento de

10% na descentralização fiscal da saúde reduziria em aproximadamente 3.5% a

mortalidade infantil no Nordeste brasileiro. Ao primeiro olhar esse resultado parece

pouco expressivo, contudo, aumentar nessa magnitude a descentralização

significaria apenas uma ampliação da média do indicador de 0.58 para 0.64. Dado

que o Brasil ainda apresenta razoável nível de centralização, pode-se conseguir

isso, por exemplo, simplesmente transferindo 65 reais per capita das obrigações de

gastos em saúde do governo federal para os Estados e/ou Municípios. Ademais, a

ampliação em 10% do nível de gastos federais em ações e serviços públicos de

saúde reduziria, em média, 1.5% a mortalidade infantil. A título de informação,

segundo dados do periódico The Lancet (2017), o Brasil apresenta gasto público em

saúde inferior à média global. O país despendeu 8.3% do PIB para custear a saúde

durante o ano de 2014. Todavia, menos da metade desse investimento foi financiado

pela esfera pública, já que 54% corresponderam a gasto privado. Assim, o

investimento público do Brasil em Saúde (3.8%) em percentual do PIB é considerado

baixo quando comparado a outros países da América Latina. No ano de 2014, por

exemplo, a Colômbia destinou 5.4% do PIB para a Saúde, Equador e Paraguai

4.5%.

Esses resultados suscitam a necessidade de maior investigação do porquê de

efeitos assimétricos da descentralização fiscal do setor de saúde entre as regiões

brasileiras. Pode-se elencar como um dos principais desafios da oferta de saúde nas

regiões Norte e Nordeste a disponibilidade de recursos humanos, principalmente, na

região Norte. Para IPEA (2009), há quatro principais problemas enfrentados pelo

33

SUS no âmbito da administração pública: i) o não cumprimento dos requisitos cons-

titucionais de concurso público para admissão, gerando uma grande quantidade de

vínculos que não têm a indispensável base de legalidade, sendo contestáveis pelos

órgãos do Ministério Público; ii) as dificuldades para constituir e manter uma

adequada diversidade de processos de educação permanente que tenham como

efeito não só a qualificação técnica, mas reforcem a adesão dos profissionais ao

modelo de assistência requerido pelo SUS; iii) a inoperância dos mecanismos de

negociação permanente do trabalho entre gestores e entidades representativas dos

trabalhadores; e iv) a formação dos profissionais pelas universidades brasileiras,

especialmente dos médicos, que privilegia certas especialidades altamente

tecnológicas e raramente consegue conferir aos concluintes as habilidades que são

requeridas no exercício das funções técnicas e organizacionais peculiares à atenção

básica.

6. ANÁLISE DE ROBUSTEZ E SENSITIVIDADE DOS RESULTADOS

Essa seção tem por objetivo buscar investigar a robustez e sensitividade dos

resultados encontrados na seção anterior. Assim, seguindo a argumentação

proposta por Angrist e Pischke (2009) que propõe a inclusão de defasagens da

variável dependente como forma de verificar a robustez de estimativas em modelos

de efeitos fixos, o procedimento inicial realizado foi a inclusão de duas defasagens11

da variável de mortalidade infantil ou na infância na equação 2. Ademais, como

afirma Bond (2002), modelos de efeitos fixos com variáveis defasadas tendem a

subestimar as estimativas da regressão. Portanto, essa análise tem a capacidade de

11

A escolha de duas defasagens seguiu o raciocínio de Soares (2007a), que ao investigar mortalidade infantil e expectativa de vida com dados do Brasil utilizou essa abordagem.

34

fornecer um limite inferior12 para os coeficientes que medem o impacto da

descentralização das ações e serviços de saúde sobre a mortalidade infantil e na

infância.

𝑇𝑀it = 𝛽0+ 𝛽1𝑇𝑀i,t-1+𝛽2𝑇𝑀i,t-2+𝛽j𝜆j Descentralizaçãoit+𝛽𝑋it+𝛼i+ +𝜃iTempot+𝜀it (3)

Onde i = 1,..., 27; t = 2000,..., 2013 e j = 1,..., 5

Além disso, ainda podem existir fatores não observáveis não capturados pela

especificação anterior que podem viesar as estimativas. Desse modo, acrescenta-se

também a equação 3 o termo , dummies de ano, que medem choques comuns aos

Estados brasileiros em um determinadado ano específico. Como, por exemplo, uma

campanha nacional de vacinação implementada pelo Ministério da Saúde.

Por fim, adotou-se o mesmo vetor de variáveis de controle das especificações

anteriores, com exceção das variáveis de gastos federais e estaduais per capita em

ações e serviços públicos de saúde, que foram substituídas pela inclusão de uma

única variável: o valor total dos gastos em ações e serviços públicos de saúde em

percentual do PIB do Estado i no ano t. Essa variável também foi construída com

informações do Ministério da Saúde do Brasil com o intuito de testar a sensitividade

dos resultados.

A Tabela 4 apresenta, de forma resumida, os resultados das estimações de

análise de robustez13. Pode-se observar que em geral os resultados encontrados

foram similares em sentido aos encontrados pelo modelo proposto como mais

adequado. Novamente, a região Sul do país apresentou os mais relevantes e

12

Pode-se citar como exemplo Oliveira e Quintana-Domeque (2014), que realizaram o mesmo procedimento para estimar o limite inferior e superior do impacto das condições econômicas ao nascer sobre a estatura da população adulta brasileira. 13

Na Tabela 6, em anexo, encontram-se os resultados completos das estimações de análise de robustez dos resultados.

35

significativos coeficientes de impacto do efeito da descentralização fiscal das ações

e serviços públicos de saúde na redução da mortalidade infantil (-0.353) e na

infância (-0.321). Em contrapartida, a região Norte do Brasil exibiu efeito nulo da

descentralização sobre a saúde infantil. As demais regiões, Sudeste, Centro-Oeste e

Nordeste, também apresentaram estatisticamente efeitos esperados de melhoria da

saúde infantil com a descentralização fiscal do setor de saúde.

Tabela 4 - Resultados das Estimações de Análise de Robustez.

Fonte: Elaboração Própria. Notas: Erros padrões robustos computados em cluster em nível de Região. *significante a 10%, **significante a 5%, ***significante a 1%. Estatística t entre parênteses.

Com relação as variáveis de controle, igualmente destacaram-se a variável de

Baixo Peso ao Nascer e a variável de acesso a Água Potável encanada. A novidade

ESTIMATIVA DE EFEITOS FIXOS (E.F)

(ln) Variável Dependente

Taxa de Mortalidade Infantil Taxa de Mortalidade na Infância

(ln) Regressores (7) (8)

Descentralização* S -0.353

**

(-2.90) -0.321

**

(-2.93)

Descentralização* SE -0.114

*

(-2.53)

-0.097*

(-2.30)

Descentralização* CO -0.079

*

(-2.45)

-0.065*

(-2.18)

Descentralização* NE -0.130

*

(-2.35)

-0.106*

(-2.11)

Descentralização* NO 0.107 (1.54)

0.101 (1.53)

Constante 46.26

***

(5.08)

42.50***

(5.17)

E.F. Estado Sim Sim

E.F. Estado Específico Temporal

Sim Sim

E.F. Ano Sim Sim

Prob > F 0.00 0.00

N 270 270

R2 Within 0.98 0.98

R2 Between 0.37 0.30

R2 Overall 0.26 0.21

36

foi o efeito da renda domiciliar per capita em apresentar efeito de redução nas taxas

de mortalidade. Por outro lado, a inclusão da variável de gastos totais em saúde

como proporção do PIB não apresentou resultados estatisticamente significativos.

Finalmente, destaca-se que novamente as dummies de tendências estado-

específicas foram significantes, porém as dummies de ano apresentaram em sua

maioria coeficientes insignificantes, com excessão do ano 2011. Em suma, os

resultados oriundos dessa análise corroboram as principais conclusões do trabalho.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo analisou os efeitos gerais e regionais da descentralização

dos serviços de saúde pública sobre a saúde infantil nos Estados brasileiros no

período de 2000 a 2013. Para tanto, construiu-se a mais usual medida de

descentralização fiscal do setor de saúde indicada por Jimmenez- Rubio (2011a): a

proporção do gasto per capita em ações e serviços de saúde dos entes sub-

nacionais em relação ao gasto total em todos os níveis de governo. Apesar da

importância que o acesso a serviços de saúde tem sobre o bem-estar individual e

desenvolvimento econômico, pouca atenção tem sido despendida em avaliar os

efeitos potenciais da descentralização da saúde em países em desenvolvimento

como o Brasil.

Os resultados obtidos através da abordagem empírica do modelo de efeitos

fixos com dummies de tendência estado-específicas e erros padrões robustos

ratificaram que a descentralização fiscal das ações e serviços públicos de saúde

tiveram estatisticamente, no período estudado, impacto em reduzir a taxa de

mortalidade infantil e na infância no Brasil. Ademais, estimações mais criteriosas

confirmaram, como relatado por Jimmenez-Rubio (2011a), a importância dos gastos

37

federais per capita em ações e serviços de saúde sobre a mortalidade infantil, além

de demonstrar que o acesso a água potável é um importante fator de infraestrutura

domiciliar no contexto brasileiro.

Além disso, a descentralização fiscal da saúde apresenta respostas

heterogêneas e consequências distribucionais. Uma vez que seu efeito sobre a

mortalidade infantil e na infância é diferenciado dado o nível de desenvolvimento

regional, tendo efeitos mais fortes em regiões mais desenvolvidas, como é o caso do

centro-sul brasileiro. Assim, destaca-se a importância de diferenciais institucionais

dos governos locais e características populacionais no processo de eficiência da

descentralização. Esses resultados corroboram com os encontrados por Soto (2012)

para a Colômbia e contribuem com resultados robustos para a reduzida literatura

que investiga essa relação no maior país em extensão territorial e em processo de

desenvolvimento da América Latina.

Como proposição de política, pode-se argumentar que a descentralização não

deve ser interpretada como um objetivo em si, principalmente em regiões que

apresentam contextos desfavoráveis como a região Norte do Brasil. O Ministério da

saúde precisa reexaminar o instrumento de política para avaliação da capacidade

institucional de gestão do setor de saúde dos Estados e Municípios nessa região do

país. A eficácia da descentralização requer um forte nível de interação

intergovernamental em torno do planejamento de recursos humanos e da alocação

de recursos, monitoramento e avaliação dos gastos públicos em ações e serviços de

saúde. De modo geral, o Brasil parece caminhar nessa direção,14 sendo interessante

14

De acordo com Marinho et al. (2012), que comparou a eficiência na provisão de serviços de saúde no Brasil com os países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em termos de eficiência técnica relativa o Brasil apresentou entre 2004 e 2006 um dos melhores desempenhos relativos na provisão de serviços de saúde.

38

considerar a possibilidade de continuação de maneira planejada do processo de

descentralização fiscal da saúde e aumento do volume de recursos despendidos no

setor como forma de melhorar os indicadores de mortalidade infantil, que ainda são

bastante desafiadores.

A despeito da forte relação estatística observada nesse estudo, a

interpretação dos seus resultados em relações de causa e efeito exige cautela.

Contudo, esse é um problema padrão e puzzle presente nessa literatura. Uma

extensão natural dessa pesquisa na direção de buscar respostas para esse

questionamento seria investigar no caso brasileiro a variação exógena de

implementação da Emenda Constitucional N° 29 sobre os resultados da saúde na

vizinhança do período de sua implementação, dado que esse evento representou um

choque na ampliação dos gastos em saúde dos entes sub-nacionais.

Outro ponto para futuras investigações é considerar, dado a natureza

multidimensional do fenômeno da descentralização, indicadores de descentralização

da saúde além do ponto de vista fiscal, apesar da dificuldade empírica de

construção. Além disso, deve-se buscar incluir o uso de outras variáveis que

mensurem os resultados da saúde infantil, como indicadores de incidência de

doenças específicas, por exemplo. Por fim, a despeito dessas limitações, de acordo

com as estimações econométricas este trabalho empírico adiciona novas

perspectivas de avaliação e análise dos ganhos oriundos dos efeitos gerais e

regionais da descentralização fiscal dos serviços de saúde pública sobre a saúde

infantil no contexto de países em desenvolvimento, em especial para o caso

brasileiro.

39

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44

ANEXO A – Figuras e Tabelas

Figura 3 - Evolução da Mortalidade Infantil nos Estados brasileiros, 2000-2013.

Fonte: Elaboração Própria.

45

Figura 4 - Evolução do Indicador de Descentralização Fiscal da Saúde nos Estados

brasileiros, 2000-2013.

Fonte: Elaboração Própria.

46

Tabela 5: Indicador de Descentralização Fiscal do Setor de Saúde, 2000 e 2013.

Fonte: DATA-SUS, Ministério da Saúde do Brasil. Elaboração Própria.

Indicador de Descentralização Fiscal da Saúde

Estado 2000 2013 Variação Ranking

Acre 0.60 0.76 27.0% 26

Alagoas 0.35 0.58 68.3% 13

Amapá 0.49 0.77 57.4% 17

Amazonas 0.58 0.78 33.1% 25

Bahia 0.38 0.58 53.7% 19

Ceará 0.25 0.63 153.6% 4

Distrito Federal 0.35 0.78 123.7% 6

Espírito Santo 0.55 0.74 33.7% 24

Goiás 0.40 0.68 69.6% 12

Maranhão 0.21 0.58 174.6% 1

Mato Grosso 0.39 0.72 83.8% 10

Mato Grosso do Sul 0.51 0.72 42.5% 22

Minas Gerais 0.45 0.68 52.4% 20

Pará 0.32 0.63 96.9% 8

Paraíba 0.24 0.62 160.1% 3

Paraná 0.40 0.66 64.9% 14

Pernambuco 0.34 0.62 81.0% 11

Piauí 0.23 0.60 164.8% 2

Rio de Janeiro 0.33 0.63 94.6% 9

Rio Grande do Norte 0.46 0.67 43.9% 21

Rio Grande do Sul 0.41 0.63 55.1% 18

Rondônia 0.35 0.73 110.2% 7

Roraima 0.49 0.79 60.8% 16

Santa Catarina 0.49 0.70 42.4% 23

São Paulo 0.61 0.77 26.5% 27

Sergipe 0.27 0.65 144.4% 5

Tocantins 0.47 0.76 61.8% 15

47

Tabela 6: Resultados Completos das Estimações de Análise de Robustez.

ESTIMATIVA DE EFEITOS FIXOS (E.F)

(ln) Variável Dependente

Taxa de Mortalidade Infantil Taxa de Mortalidade na Infância

(ln) Regressores (7) (8)

TMIt-1 0.560

***

(4.40)

0.534***

(3.85)

TMIt-2 -0.160 (-1.86)

-0.116

(-1.21)

Renda -0.078

**

(-3.51)

-0.088**

(-3.14)

Gasto Total/PIB 0.043 (0.93)

0.037

(0.84)

Plano de Saúde 0.003 (0.07)

-0.008

(-0.022)

Alfabetização Feminina

0.681 (1.77)

0.648

(1.50)

BPN 0.289

***

(6.14)

0.263***

(3.78)

Saneamento 0.004 (1.34)

0.003

(0.85)

Água -0.059

**

(-3.49)

-0.071***

(-5.76)

Lixo -0.014 (-0.21)

-0.024

(-0.36)

Descentralização* S -0.353

**

(-2.90)

-0.321**

(-2.93)

Descentralização* SE -0.114

*

(-2.53)

-0.097*

(-2.30)

Descentralização* CO -0.079

*

(-2.45)

-0.065*

(-2.18)

Descentralização* NE -0.130

*

(-2.35)

-0.106*

(-2.11)

Descentralização* NO 0.107 (1.54)

0.101 (1.53)

Constante 46.26

***

(5.08)

42.51***

(5.17)

E.F. Estado Sim Sim

E.F. Estado Específico Temporal

Sim Sim

E.F. Ano Sim Sim

Prob > F 0.00 0.00

N 270 270

R2 Within 0.98 0.98

R2 Between 0.37 0.30

R2 Overall 0.26 0.21

Fonte: Elaboração Própria. Notas: Erros padrões robustos computados em cluster em nível de Região. *significante a 10%, **significante a 5%, ***significante a 1%. Estatística t entre parênteses.

48

ANEXO B – DESCRIÇÃO DAS VARIÁVEIS DE GASTOS EM SAÚDE

As variáveis de gastos em saúde são oriundas do Ministério da Saúde, área

de Economia da Saúde e Desenvolvimento, mais precisamente do Sistema de

Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde - SIOPS (Gasto Estadual e

Municipal); SPO/SE e Fundo Nacional de Saúde - FNS (Gasto Federal). Os valores

dos gastos per capita estão apresentados em reais com base no Índice Nacional de

Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de dezembro do último ano (2013).

Até o ano de 2008 os gastos estaduais com ações e serviços públicos de

saúde, eram extraídos das Notas Técnicas da Análise dos Balanços Gerais dos

estados de acordo com a Lei Nº. 4.320,64, elaboradas pela equipe responsável

pelo SIOPS, em conformidade com a Resolução nº 322 do Conselho Nacional de

Saúde - CNS e a Emenda Constitucional nº 29/2000 – EC 29/00. A partir do ano de

2009 os gastos estaduais passam a ser os declarados no SIOPS.

As despesas com Ações e Serviços Públicos de Saúde são aquelas

definidas na quinta e sexta diretrizes da Resolução nº 322/2003 do Conselho

Nacional de Saúde, descrita em detalhes a seguir. No âmbito federal, além da

exclusão da despesa com inativos e pensionistas, foram excluídas as despesas

com o pagamento de juros e amortização da dívida e com o Fundo de Erradicação

e Combate à Pobreza. A partir de junho de 2004, a despesa com pessoal do

Ministério da Saúde executada pelos Estados foi centralizada no Distrito Federal.

Para minimizar a distorção do gasto público federal com saúde entre os estados

optou-se por contabilizar esta despesa com pessoal na rubrica "Nacional".

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CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE

RESOLUÇÃO Nº 322, DE 08 DE MAIO DE 2003

DAS AÇÕES E SERVIÇOS PÚBLICOS DE SAÚDE

Quinta Diretriz: Para efeito da aplicação da Emenda Constitucional nº 29,

consideram-se despesas com ações e serviços públicos de saúde aquelas com

pessoal ativo e outras despesas de custeio e de capital, financiadas pelas três

esferas de governo, conforme o disposto nos artigos 196 e 198, § 2º, da

Constituição Federal e na Lei n 8080/90, relacionadas a programas finalísticos e de

apoio, inclusive administrativos, que atendam, simultaneamente, aos seguintes

critérios:

I – sejam destinadas às ações e serviços de acesso universal, igualitário e

gratuito;

II – estejam em conformidade com objetivos e metas explicitados nos

Planos de Saúde de cada ente federativo;

III – sejam de responsabilidade específica do setor de saúde, não se

confundindo com despesas relacionadas a outras políticas públicas que atuam

sobre determinantes sociais e econômicos, ainda que com reflexos sobre as

condições de saúde.

§ Único – Além de atender aos critérios estabelecidos no caput, as

despesas com ações e serviços de saúde, realizadas pelos Estados, Distrito

Federal e Municípios deverão ser financiadas com recursos alocados por meio dos

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respectivos Fundos de Saúde, nos termos do Art. 77, § 3º do ADCT.

Sexta Diretriz: Atendido ao disposto na Lei 8.080/90, aos critérios da

Quinta Diretriz e para efeito da aplicação da EC 29, consideram-se despesas com

ações e serviços públicos de saúde as relativas à promoção, proteção, recuperação

e reabilitação da saúde, incluindo:

I - vigilância epidemiológica e controle de doenças;

II - vigilância sanitária;

III - vigilância nutricional, controle de deficiências nutricionais, orientação

alimentar, e a segurança alimentar promovida no âmbito do SUS;

IV - educação para a saúde;

V - saúde do trabalhador;

VI - assistência à saúde em todos os níveis de complexidade;

VII - assistência farmacêutica;

VIII - atenção à saúde dos povos indígenas;

IX - capacitação de recursos humanos do SUS;

X - pesquisa e desenvolvimento científico e tecnológico em saúde,

promovidos por entidades do SUS;

XI - produção, aquisição e distribuição de insumos setoriais específicos, tais

como medicamentos, imunobiológicos, sangue e hemoderivados, e equipamentos;

XII - saneamento básico e do meio ambiente, desde que associado

diretamente ao controle de vetores, a ações próprias de pequenas comunidades ou

em nível domiciliar, ou aos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI), e outras

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ações de saneamento a critério do Conselho Nacional de Saúde;

XIII - serviços de saúde penitenciários, desde que firmado Termo de

Cooperação específico entre os órgãos de saúde e os órgãos responsáveis pela

prestação dos referidos serviços.

XIV – atenção especial aos portadores de deficiência.

XV – ações administrativas realizadas pelos órgãos de saúde no âmbito do

SUS e indispensáveis para a execução das ações indicadas nos itens anteriores;

§ 1 No caso da União, excepcionalmente, as despesas com ações e

serviços públicos de saúde da União financiadas com receitas oriundas de

operações de crédito contratadas para essa finalidade poderão integrar o montante

considerado para o cálculo do percentual mínimo constitucionalmente exigido, no

exercício em que ocorrerem.

§ 2 No caso dos Estados, Distrito Federal e Municípios, os pagamentos

de juros e amortizações decorrentes de operações de crédito contratadas a partir de

1.01.2000 para custear ações e serviços públicos de saúde, excepcionalmente,

poderão integrar o montante considerado para o cálculo do percentual mínimo

constitucionalmente exigido.

Sétima Diretriz: Em conformidade com o disposto na Lei 8.080/90, com os

critérios da Quinta Diretriz e para efeito da aplicação da EC nº 29, não são

consideradas como despesas com ações e serviços públicos de saúde as relativas

a:

I – pagamento de aposentadorias e pensões;

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II - assistência à saúde que não atenda ao princípio da universalidade

(clientela fechada);

III - merenda escolar;

IV - saneamento básico, mesmo o previsto no inciso XII da Sexta Diretriz,

realizado com recursos provenientes de taxas ou tarifas e do Fundo de Combate e

Erradicação da Pobreza, ainda que excepcionalmente executado pelo Ministério da

Saúde, pela Secretaria de Saúde ou por entes a ela vinculados;

V - limpeza urbana e remoção de resíduos sólidos (lixo);

VI - preservação e correção do meio ambiente, realizadas pelos órgãos de

meio ambiente dos entes federativos e por entidades não governamentais;

VII – ações de assistência social não vinculadas diretamente a execução

das ações e serviços referidos na Sexta Diretriz e não promovidas pelos órgãos de

Saúde do SUS;

VIII – ações e serviços públicos de saúde custeadas com recursos que não

os especificados na base de cálculo definida na primeira diretriz.

§ 1 No caso da União, os pagamentos de juros e amortizações

decorrentes de operações de crédito, contratadas para custear ações e serviços

públicos de saúde, não integrarão o montante considerado para o cálculo do

percentual mínimo constitucionalmente exigido.

§ 2 No caso dos Estados, Distrito Federal e Municípios, as despesas

com ações e serviços públicos de saúde financiadas com receitas oriundas de

operações de crédito contratadas para essa finalidade não integrarão o montante

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considerado para o cálculo do percentual mínimo constitucionalmente exigido, no

exercício em que ocorrerem.