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História das Religiões 46 XINTOÍSMO História do Xintoísmo. Como religião puramente japonesa, e considerando a antiguidade dessa nação, constatamos que sua fundação também jaz num período remoto. O amor e o respeito que o povo japonês declina em louvor aos seus arquipélagos fomentam a crença de que dessa região tenha principiado toda a criação divina, idéia que percorre a linha do tempo da história xintoísta, juntamente com seus conceitos inaugurais. Esse idealismo nacional e amor pátrio são os pontos de maior relevância quando o assunto é a presença exclusiva dessa cultura religiosa apenas em solo japonês. A crença a respeito da divindade desse território, embora antiga, surgiu como dogma bem mais tarde. Nessa condição, a crença proporcionou a revelação de mais uma faceta do patriotismo japonês, que trata sobre o suposto fato de que nenhuma outra nação no mundo é divina. Atrelado a isso, surgiu a crença na divindade (Deus) de sua terra, tão especial e sem par, mas também tão ausente dos outros lugares do globo, que os leva a dizer que o Japão seria “o centro do nosso universo de fenômenos”. É dessa crença que surge o nome do país, dado pelos próprios nativos: Nippon, significando “a origem do sol”. Enquanto durou a 2ª Guerra Mundial, era comum o ensino que transmitia aos pequenos a procedência divina dos imperadores japoneses, supostamente provenientes da deusa Amaterasu. Ainda segundo a tradição, essa deusa teria concedido à casa imperial japonesa o direito divino de governar, entretanto, essa prerrogativa encontra seu fim em 1946, quando o imperador Hiroito repeliu esse suposto direito divino de administração temporal. Xintoísmo como religião oficial do Japão. Assim como o Hinduísmo, o Xintoísmo não tem um fundador original. O Xintoísmo é a religião oficial do Japão. Focada na natureza, incorpora uma série de antigos ritos mitológicos desse país e passou por muitas formulações e revisões estruturais ao longo dos séculos. Está relacionada às religiões da Manchúria, Coréia e a da região que hoje é conhecida como Sibéria. Em seus primórdios, o Xintoísmo não tinha um nome, texto ou dogma. É uma das religiões mais antigas do mundo; suas origens remontam à Pré-história. A institucionalização formal de muitas de suas formas não ocorreu até a metade do primeiro milênio a.C., quando foi considerado necessário distinguir as formas originárias japonesas das influências religiosas da China. Por fim, diversos elementos mitológicos e ritualistas foram combinados em um único e aceito relato da criação. Embora não exista divindade considerada suprema, acima de todos os kami, a deusa do Sol Amaterasu é colocada em uma alta posição. No Xintoísmo, o imperador do Japão (cujo poder temporal sofreu

Xintoísmo

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O Xintoísmo na História das Religiões

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  • Histria das Religies 46

    XINTOSMO

    Histria do Xintosmo.

    Como religio puramente japonesa, e considerando a antiguidade dessa

    nao, constatamos que sua fundao tambm jaz num perodo remoto.

    O amor e o respeito que o povo japons declina em louvor aos seus

    arquiplagos fomentam a crena de que dessa regio tenha principiado toda a

    criao divina, idia que percorre a linha do tempo da histria xintosta,

    juntamente com seus conceitos inaugurais.

    Esse idealismo nacional e amor ptrio so os pontos de maior relevncia

    quando o assunto a presena exclusiva dessa cultura religiosa apenas em solo

    japons. A crena a respeito da divindade desse territrio, embora antiga, surgiu

    como dogma bem mais tarde.

    Nessa condio, a crena proporcionou a revelao de mais uma faceta do

    patriotismo japons, que trata sobre o suposto fato de que nenhuma outra nao

    no mundo divina. Atrelado a isso, surgiu a crena na divindade (Deus) de sua

    terra, to especial e sem par, mas tambm to ausente dos outros lugares do

    globo, que os leva a dizer que o Japo seria o centro do nosso universo de fenmenos.

    dessa crena que surge o nome do pas, dado pelos prprios nativos:

    Nippon, significando a origem do sol. Enquanto durou a 2 Guerra Mundial, era comum o ensino que transmitia

    aos pequenos a procedncia divina dos imperadores japoneses, supostamente

    provenientes da deusa Amaterasu. Ainda segundo a tradio, essa deusa teria

    concedido casa imperial japonesa o direito divino de governar, entretanto, essa

    prerrogativa encontra seu fim em 1946, quando o imperador Hiroito repeliu esse

    suposto direito divino de administrao temporal.

    Xintosmo como religio oficial do Japo.

    Assim como o Hindusmo, o Xintosmo no tem um fundador original.

    O Xintosmo a religio oficial do Japo. Focada na natureza, incorpora

    uma srie de antigos ritos mitolgicos desse pas e passou por muitas

    formulaes e revises estruturais ao longo dos sculos. Est relacionada s

    religies da Manchria, Coria e a da regio que hoje conhecida como Sibria.

    Em seus primrdios, o Xintosmo no tinha um nome, texto ou dogma.

    uma das religies mais antigas do mundo; suas origens remontam Pr-histria.

    A institucionalizao formal de muitas de suas formas no ocorreu at a metade

    do primeiro milnio a.C., quando foi considerado necessrio distinguir as formas

    originrias japonesas das influncias religiosas da China.

    Por fim, diversos elementos mitolgicos e ritualistas foram combinados

    em um nico e aceito relato da criao. Embora no exista divindade considerada

    suprema, acima de todos os kami, a deusa do Sol Amaterasu colocada em uma

    alta posio. No Xintosmo, o imperador do Japo (cujo poder temporal sofreu

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    muitas oscilaes ao longo dos sculos) considerado um descendente direto de

    Amaterasu.

    Acima de tudo, o Xintosmo uma forma de culto natureza; ele se

    formou em torno da reverncia aos kami, ou espritos divinos manifestados e reconhecidos nas foras naturais, nos objetos, em indivduos poderosos e em

    outras entidades. Hoje, o Xintosmo continua a dar mais nfase tradio e

    reverncia estabelecidas do que a questes formais teolgicas.

    No lugar de rgidas estruturas intelectuais, o Xintosmo enfatiza a

    harmonia da beleza natural e uma apreciao clara, frequentemente potica, da

    realidade percebida.

    Os vrios rituais dessa religio celebram a pureza, a clareza e o contato

    com as diversas foras da natureza.

    Essencial f xintosta a palavra kami, que descreve uma coisa que

    possui um poder que o indivduo no tem.

    A palavra pode ser usada para identificar algo que fsico, animado e

    familiar (um animal ou uma pessoa); espiritual (um fantasma ou esprito); ou

    inanimado (uma formao rochosa ou um computador).

    A observncia contempornea xintosta reflete interaes histricas com o

    Budismo e Confucionismo. No entanto, formas antigas do Xintosmo

    precederam, em muitos sculos, a introduo dessas expresses de f no Japo.

    Historicamente, a religio xintosta promoveu rituais que estavam muito

    ligados s estaes: aos padres de plantio e colheita por exemplo, observncia do ano novo e s pocas de purificao cerimonial. Apesar de todas

    as influncias exercidas sobre ela por expresses de f, o Xintosmo manteve seu

    foco singular nas foras naturais personificadas.

    Escritos sagrados.

    O mais perto que o Xintosmo chega deles a histria mitolgica

    conhecida como kojiki, ou documentos de questes antigas, completado em 712 d.C. Esses escritos tratam da antiga era dos espritos, bem como procedimentos em tribunais, mas no so reverenciados como os escritos

    inspirados o so em outras religies.

    O xintosmo no possui um livro sagrado, como a Bblia ou o Alcoro.

    H, no entanto, um conjunto de textos sobre os ensinamentos da religio que

    recebem o nome de Shinten, escrituras sagradas, mas no so considerados textos revelados ou de carter sobrenatural.

    * Kojiki (Anais das coisas antigas): datado de 712, o texto sagrado mais antigo, sendo composto por trs volumes.

    * Nihonshoki (Crnicas do Japo): foi redigido em 720 em chins em 30 volumes. Tambm conhecido como Nihongi.

    * Kogo-shui: compilao das tradies do cl dos Imbe, uma famlia que junto

    com a famlia dos Nakatomi era responsvel pelos ritos. A sua redao foi

    concluda em 807.

    Estes livros apresentam as narrativas mticas da tradio xintosta. Os

    mitos descritos referem-se a um caos primordial em que os elementos se

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    mesclam em massa amorfa e indistinta, como num ovo. Os deuses surgiram desse caos.

    Desenvolvimento.

    O desenvolvimento desse grupo ocorreu em estgios peridicos. O

    primeiro v seu nascimento numa poca pr-histrica que se alonga at 552 d.C,

    quando o xintosmo reinava soberanamente entre o povo japons, no

    registrando, at esse estgio, qualquer rivalidade considervel com outras

    religies.

    De 552 d.C. em diante, paralelamente ao xintosmo, encontramos o

    budismo em ascenso, conquistando popularidade entre os nipnicos.

    J em 645, Kotoku adere ao budismo, repelindo o xintosmo com todos os

    seus ideais, prticas e cultura patriticas. Entre 800 e 1700, o xintosmo aparece

    dando os primeiros sinais de adeso ao sincretismo, misturando sua essncia com

    elementos budistas e confucionistas, formando aquilo que posteriormente passou

    a ser chamado ryobu, isto , um xintosmo em dois aspectos. Nessa poca, a

    modalidade de xintosmo que poderamos qualificar como raiz sofreu um drstico declnio.

    O reavivamento e a adorao.

    Diferentemente do cristianismo e do isl, o xintosmo no tem um

    fundador. tipicamente uma religio nacional, que ao longo dos sculos adotou

    tradies de vrias outras religiosidades. Ela no conta com nenhum credo ou

    cdigo de tica expressamente formulado. A essncia do xintosmo so a

    cerimnia e o ritual, que mantm o contato com o divino.

    Costuma-se dizer que o xintosmo possui diversos milhes de deuses, ou

    kamis, que se manifestam sob a forma de rvores, montanhas, rios, animais e

    seres humanos. S que a palavra japonesa kami tambm pode ser traduzida como

    esprito. O culto aos espritos naturais e ancestrais sempre foi fundamental para o xintosmo, desde os dias em que o Japo ainda era uma sociedade agrria. O

    culto aos antepassados se difundiu particularmente sob a influncia do

    confucionismo chins.

    Quanto origem divina dos japoneses, no princpio, segundo a mitologia

    japonesa, um casal divino, Izanagui e Izanami, desceu do cu e gerou as ilhas

    japonesas, depois o resto do mundo e tudo o que h nele, e por ltimo uma srie

    de deuses, os kamis. Destes, o mais importante era a deusa do sol, Amaterasu. Os

    outros kamis se estabeleceram na terra e conceberam os primeiros seres

    humanos. Mas a sociedade humana precisava de ordem e comando, e por isso o

    neto de Amaterasu foi enviado terra. Um de seus descendentes se tornou o

    primeiro imperador do Japo. Assim, todos os japoneses tm origem divina, mas

    em especial o imperador, que descendente da prpria deusa do sol.

    Aos poucos foi ocorrendo uma mudana: em vez de adorar os kamis do

    falecido imperador, passou-se a adorar o prprio imperador. Ele era um kami

    vivo.

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    A origem do culto ao imperador se explica, em parte, pelas condies

    polticas do sculo passado. O Japo estava ameaado pelo expansionismo

    ocidental e sentiu necessidade de reforar no povo o carter nacional. Ao mesmo

    tempo, a autoridade do imperador tinha sido solapada por lderes militares, os

    xoguns, que detinham o poder.

    Em 1867, um golpe de Estado deu ao imperador Meiji o controle do pas;

    ele iniciou ento uma renovao poltica e religiosa. O xintosmo se tornou a

    religio estatal, ao passo que templos budistas foram derrubados e vrios

    elementos budistas foram expurgados da cultura xintosta.

    Retratos do imperador foram pendurados em todos os edifcios oficiais,

    nas escolas e nas fbricas, e as pessoas tinham de se curvar respeitosamente

    diante deles.

    Juntamente com o culto ao imperador veio tona um forte nacionalismo.

    Essa foi a base para o crescente expansionismo japons, que culminou na

    Segunda Guerra Mundial, quando o Japo se alinhou com a Alemanha.

    A religio ficou ento totalmente vinculada ao nacionalismo. Um

    exemplo: o xintosmo era a ideologia dos pilotos suicidas japoneses (kamikaze

    quer dizer vento divino). Cada soldado que morria na guerra era imediatamente transformado num

    kami, e em sua honra se realizavam cerimnias nos templos xintostas.

    Aps a derrota do Japo na guerra, em agosto de 1945, o imperador fez

    uma declarao renunciando a sua condio divina. O xintosmo deixou de ser

    religio estatal; porm, o xintosmo popular, que sempre havia coexistido com o

    culto imperial, sobreviveu e passou a experimentar um certo reavivamento.

    O culto observado tanto no lar como nos templos, dos quais h cerca de

    20 mil. Antes administrados pelo governo imperial, os templos so hoje

    organizados em associaes, com lderes eleitos pelo voto.

    O templo xintosta no um local para pregaes. E a morada de um

    kami, o lugar onde este cultuado segundo certos rituais prescritos.

    No santurio interno do templo h um objeto que simboliza a proximidade

    do kami. esse smbolo que torna o templo um lugar sagrado. Os trs smbolos

    mais importantes so: um espelho, uma jia ornamental e uma espada, que ficam

    guardados em trs dos maiores templos xintostas. O espelho, a jia e a espada

    esto ligados a um mito relativo deusa do sol, Amaterasu, e ao primeiro

    imperador do Japo.

    Segundo um dos antigos mitos divinos, Amaterasu certa vez foi provocada

    e se escondeu numa caverna. Mas ela foi atrada para fora por um espelho e

    convencida a brilhar novamente.

    BIBLIOGRAFIA SOBRE XINTOSMO:

    BORAU, Jos Luis Vzquez. As Religies Tradicionais (Animismo, Hindusmo,

    Budismo, Tauismo...). Paulus. Lisboa Portugal. 2008.

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    ___________________________. O Fenmeno Religioso (Smbolos, Mitos e

    Ritos das Religies). Paulus. Lisboa Portugal. 2003.

    FRANZ, Knig & Waldenfels, Hans. Lxico das Religies. Vozes. Petrpolis/RJ.

    1998.

    HELLERN, Victor Gaarder, Jostein Notaker, Henry. O Livro das Religies. Ed. Companhia das Letras. SP/SP. 2005.

    STANGROOM, Dr. Jeremy. Pequeno Livro das Grandes Idias Religio. Ciranda Cultural Editora. SP/SP. 2008.

    VALLET, Odon. Uma outra histria das Religies. Ed. Globo. SP/SP. 2002.

    http://evangelistamariano.blogspot.com/2009/12/xintoismo.html. Artigo.