495
ANAIS XVIII SEMANA DE ECONOMIA Vol.4-2018 ISSN: 2179-2550 Universidade Regional do Cariri, URCA. Política Industrial e o Papel da Indústria na Retomada do Crescimento Econômico Brasileiro Eixos temáticos: Eixo 01: Economia Regional e Urbana; Eixo 02: Economia Agrícola, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; Eixo 03: Economia Social, Economia do Trabalho e Demografia; Eixo 04: Economia Industrial. Informações: www.seconurca.com. Crato-CE 2018

XVIII SEMANA DE ECONOMIAfiles.economia-semana.webnode.com/200001552-a30a6a4420...1 ANAIS XVIII SEMANA DE ECONOMIA Vol.4-2018 ISSN: 2179-2550 Universidade Regional do Cariri, URCA

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1

ANAIS XVIII SEMANA DE ECONOMIA

Vol4-2018

ISSN 2179-2550

Universidade Regional do Cariri URCA

Poliacutetica Industrial e o Papel da Induacutestria na

Retomada do Crescimento Econocircmico Brasileiro

Eixos temaacuteticos

Eixo 01 Economia Regional e Urbana

Eixo 02 Economia Agriacutecola Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentaacutevel

Eixo 03 Economia Social Economia do Trabalho e Demografia

Eixo 04 Economia Industrial

Informaccedilotildees wwwseconurcacom

Crato-CE

2018

2

XVIII Semana de Economia

Poliacutetica Industrial e o Papel da Induacutestria na

Retomada do Crescimento Econocircmico Brasileiro

REALIZACcedilAtildeO

Ficha Catalograacutefica Elaborada pela Biblioteca Central da URCA

Bibliotecaacuteria - Ana Paula Saraiva de Sousa - CRB 31000

Crato-CE

CA de Economia

Martins Filho

Departamento de

Economia

A532 Anais da XVIII Semana de Economia poliacutetica industrial e o

papel da induacutestria na retomada do crescimento econocircmico brasileiro de

10 a 14 de setembro de 2018 Organizadores Maria Isadora Gomes de

Pinho Wellington Ribeiro Justo e Sara Ferro de Melo ndash Crato-CE

URCADepartamento de Economia 2018

495p il Material digital

ISSN 2179-2550 (v4)

1 Economia regional e urbana 2 Economia agriacutecola 3 Meio

ambiente e desenvolvimento sustentaacutevel 4 Economia social 5

Economia industrial I Tiacutetulo II URCA ndash Departamento de Economia

CDD 330

3

EDITORIAL

COMISSAtildeO GERAL

Prof Dr Luiacutes Abel da Silva Filho

Marcelo Henrick Alves dos Santos

Joice Pereira de Souza

COMISSAtildeO DE LOGIacuteSTICA

Guilherme Sousa Brandatildeo

Catia Kele Gonccedilalves da Silva

COMISSAtildeO CIENTIacuteFICA

Prof Dr Wellington Ribeiro Justo

Sara Ferro de Melo

Maria Isadora Gomes de Pinho

COMISSAtildeO DE DIVULGACcedilAtildeO

Monica Luacutecio e Silva

Ismael Martins Landim

COMISSAtildeO DE INFRAESTRUTURA

EXTERNA

Prof Ma Aline Alves de Oliveira

Thierry Barros

Natanael Pessoa Lustoza

COMISSAtildeO DE INFRAESTRUTURA

INTERNA

Wellington Rodrigues da Silva

Joana Priscila Barbosa da Silva

PRESIDENTE DA COMISSAtildeO

ORGANIZADORA

Joice Pereira de Souza

COMISSAtildeO ORGANIZADORA

DOCENTES

Prof Dr Luiacutes Abel da Silva Filho

Prof Dr Wellington Ribeiro Justo

Profordf Ma Aline Alves de Oliveira

DISCENTES

Joice Pereira de Souza

Ismael Martins Landim

Catia Kele Gonccedilalves da Silva

Sara Ferro de Melo

Monica Luacutecio e Silva

Marcelo Henrick Alves dos Santos

Joana Priscila Barbosa da Silva

Thierry Barros

Wellington Rodrigues da Silva

Maria Isadora Gomes de Pinho

Natanael Pessoa Lustoza

Guilherme Sousa Brandatildeo

4

PARECERISTAS

Alan Francisco Carvalho Pereira (UNIVASF)

Andreacutea Ferreira da Silva (UFPB- PPGE)

Aacuteydano Ribeiro Leite (URCA)

Diego Palmiere Fernandes

Eryka Fernanda Miranda Sobral (UFPB-PPGE)

Francisco do Olsquo de Lima Junior (URCA)

Joseacute Maacutercio Santos (URCA)

Josueacute Nunes de Arauacutejo Junior (PPGECON)

Keacutelvio Felipe dos Santos (IF- Iguatu- UNICAMP)

Maria Jeanne Gonzaga de Paiva (URCA)

Monaliza Ferreira de Oliveira (UFPE-PPGECON)

Poema Iacutesis Andrade de Souza (UFRPE)

Roberta de Moraes Rocha (UFPE- PPGECON)

Rogeacuterio Moreira de Siqueira (URCA)

Silvana Nunes de Queiroz (URCA)

Soacutenia Maria Pereira Fonseca Oliveira (UFRPE- PPGECON)

Wellington Ribeiro Justo (URCA- PPGECON)

5

SUMAacuteRIO

Eixo 1 Economia Regional e Urbana

Nordm Tiacutetulo e autores Pg

01

DINAcircMICA ECONOcircMICA NORDESTINA E EMPREGO FORMAL

INDUSTRIAL O CASO DOS ESTADOS DA BAHIA E CEARAacute ndash 20032013 09-30

Francisco do Olsquo de Lima Juacutenior Joseacute Ediglecirc Alcantara Moura

02

ANAacuteLISE DOS PRINCIPAIS ASPECTOS DA REDE URBANA E DAS CIDADES

MEacuteDIAS CEARENSES NOS ANOS 2000 31-50

Denis Fernandes Alves Carlos Eduardo Pereira do Nascimento Francisco do Olsquo de Lima

Juacutenior

03

DESENVOLVIMENTO ECONOcircMICO DOS MUNICIacutePIOS DE MEacuteDIO PORTE

DO CEARAacute NOS ANOS 2000 E 2010 51-69

Nataniele dos Santos Alencar Wellington Ribeiro Justo Jamily Freire Gonccedilalves Matheus

Oliveira de Alencar Wagner Fernandes de Calda

04

IacuteNDICE DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL MUNICIPAL UMA

APLICACcedilAtildeO DA DIMENCcedilAtildeO ECONOcircMICA SOBRE A REGIAtildeO

METROPOLITANA DE FORTALEZA ndash RMF 70-91

Marcelo Henrick Alves dos Santos Matheus Oliveira de Alencar Wellington Ribeiro

Justo

05

NIacuteVEL DE SATISFACcedilAtildeO DOS CLIENTES EM RELACcedilAtildeO AOS SERVICcedilOS

PRESTADOS PELAS AGEcircNCIAS BANCAacuteRIAS NO MUNICIacutePIO DO IGUATU

CEARAacute 92-106

Antocircnia Karine Gomes dos Santos Gerlacircnia Maria Rocha Sousa Otaacutecio Pereira Gomes

Dacircmaris Costa Frutuoso Andreacutea Ferreira da Silva

06

CRISES INTERNACIONAIS DOS ANOS 1990 A ORIENTACcedilAtildeO EXTERNA DO

NORDESTE BRASILEIRO DENTRO DESTE CONTEXTO 107-128

Marcelo Henrick Alves dos Santos Christiane Luci Bezerra Alves

07

CARACTERIacuteSTICAS E PRINCIPAIS DESTINOS DO INVESTIMENTO

ESTRANGEIRO DIRETO NO BRASIL NO PERIacuteODO DE 2010 E 2015 129-147

Marta Rodrigues Tavares Sara Gonccedilalves Pereira Christiane Luci Bezerra Alves Adriana

Correia Lima

6

08

TESTANDO A HIPOacuteTESE DE CONVERGEcircNCIA NA TAXA DE

CRIMINALIDADE DOS MUNICIacutePIOS CEARENSES UMA ANAacuteLISE Agrave LUZ DO

PROGRAMA RONDA DO QUARTEIRAtildeO 148-173

Otoniel Rodrigues dos Anjos Junior Andreacutea Ferreira da Silva Eryka Fernanda Miranda

Sobral Magno Vamberto Batista da Silva

09

ANAacuteLISE DAS PAUTAS DE EXPORTACcedilAtildeO E IMPORTACcedilAtildeO DA PARAIacuteBA

POR MEIO DA COMPETITIVIDADE CONCENTRACcedilAtildeO E DOS FLUXOS

BILATERAIS NO PERIacuteODO ENTRE 2000 E 2017 174-195

Kassia Larissa Abrantes Alves Soraia Santos da Silva Maria Isadora Gomes de Pinho

10

DESENVOLVIMENTO REGIONAL UMA VISAtildeO SOBRE AS POLIacuteTICAS

PUacuteBLICAS E A URBANIZACcedilAtildeO NA MICRORREGIAtildeO DE IGUATU 196-216

Eliwelton Carlos Silva Marcelo Oliveira da Silva Eacuterico Robsom Duarte de Sousa

Eixo 2 Economia Agriacutecola Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentaacutevel

Nordm Tiacutetulo e autores Pg

11

O PROGRAMA DE AQUISICcedilAtildeO DE ALIMENTOS (PAA) E SUA

CONTRIBUICcedilAtildeO PARA OS AGRICULTORES FAMILIARES DO BRASIL 217-237

Ana Paula Pereira Janiele de Brito de Souza

12

ANAacuteLISE DO NIacuteVEL DE CAPITAL SOCIAL DA AGRICULTURA NO

TERRITOacuteRIO DA CIDADANIA CARIRI ndash CE 238-256

Dacircmaris Costa Frutuoso Gerlacircnia Maria Rocha Sousa Otaacutecio Pereira Gomes Antocircnia

Karine Gomes dos Santos Andreacutea Ferreira da Silva

13

CRISES HIacuteDRICAS NO CEARAacute DE 2012 A 2016 FENOcircMENO CLIMAacuteTICO OU

SOacuteCIOECONOcircMICO 257-276

Namyres Pereira Santos Rogeacuterio Moreira de Siqueira Jamily Freire Gonccedilalves

14

ECONOMIA SOLIDAacuteRIA E SUSTENTABILIDADE UM ESTUDO DE CASO DA

ASSOCIACcedilAtildeO DE ARTESAtildeOS DE SERRINHA (ARTEFIBRA) NO MUNICIacutePIO

DE GRANJEIRO ndashCE 277-289

Gessica Taciana Pereira Lima Adriana Correia Lima Franca Nayana Tavares Feitosa

15

IacuteNDICE DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL NAS UNIDADES

FEDERATIVAS BRASILEIRAS EM 2014 290-310

Renata Beniacutecio de Oliveira Eliane Pinheiro de Sousa

16 INSTRUMENTOS DE GESTAtildeO MUNICIPAL CONTRIBUICcedilOtildeES DOS 311-333

7

MUNICIacutePIOS PARA AS POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS AMBIENTAIS E DOS

RECURSOS HIacuteDRICOS NO NORDESTE BRASILEIRO

Janaildo Soares de Sousa Francisco Aquiles de Oliveira Caetano Marisa Guilherme da

Frota Andreacutea Ferreira da Silva

17

ATIVIDADE DE CERAcircMICA VERMELHA E MEDIDAS MITIGADORAS DE

IMPACTOS AMBIENTAIS UM ESTUDO DE CASO NO MUNICIacutePIO DE CRATO

(CE) 334-354

Ismael Martins Landim Maria Larissa Bezerra Batista Christiane Luci Bezerra Alves

Valeacuteria Feitosa Pinheiro

18

TURISMO COMUNITARIO ESTUDO DE CASO DA COOPERATIVA MISTA DE

PAIS E AMIGOS DA FUNDACcedilAtildeO CASA GRANDE-COOPAGRAN NO

MUNICIPIO DE NOVA OLINDA-CE 355-371

Mariany Lopes Lopes da Silva Adriana Correia Lima Franca Christiane Luci Bezerra

Alves Juliete Aquino da Silva Nayana Tavares Feitosa

Eixo 3 Economia Social Economia do Trabalho e Demografia

Nordm Tiacutetulo e autores Pg

19

ANAacuteLISE DO DESENVOLVIMENTO DOS PROGRAMAS FINANCIADOS PELO

FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCACcedilAtildeO (FNDE) EM

ESCOLA PUacuteBLICA DA EDUCACcedilAtildeO BAacuteSICA DE JUAZEIRO DO NORTE ndash CE

REFLEXOS ECONOcircMICOS NA EDUCACcedilAtildeO

372-385

Paulo Ricardo Batista

20

PERFIL DA MULHER NO SETOR INDUSTRIAL FORMAL CEARENSE ndash 2016

386-401 Joana Priscila Barbosa da Silva Natanael Pessoa Lustoza Alayanna Darlly Araujo dos

Santos Carlos Eduardo Pereira do Nascimento

21

O IMPACTO DO PROUNI SOBRE DESEMPENHO ACADEcircMICO DOS

DISCENTES EM 2014 402-423

Fransuellen Paulino Santos Andreacutea Ferreira da Silva Cristiana Tristatildeo Rodrigues

22

EFICIEcircNCIA DOS GASTOS PUacuteBLICOS EM EDUCACcedilAtildeO NO NORDESTE UMA

ABORDAGEM EM TREcircS ESTAacuteGIOS 424-447

Wallace Patrick Santos de Farias Souza Maacuterio Seacutergio Nogueira de Souza Etevaldo

Almeida Silva Andreacutea Ferreira da Silva

23 COMPORTAMENTO DO EMPREGO FORMAL NO BRASIL ENTRE 2010-2016 448-472

8

Natanael Pessoa Lustoza Joana Priscila Barbosa da Silva Carlos Eduardo Pereira do

Nascimento Guilherme Sousa Brandatildeo

24

IMPACTO FINANCEIRO DA CESTA BAacuteSICA NO SALAacuteRIO MEacuteDIO MENSAL

DOS ASSALARIADOS DE VAacuteRZEA ALEGRE-CE 459-472

Joaquim Anderson Oliveira Brito

Eixo 4 Economia Industrial

Nordm Tiacutetulo e autores Pg

25

REFLEXOtildeES DA GUERRA FISCAL NA REGIAtildeO NORDESTE NOS ANOS 1990

473-495 Carlos Eduardo Pereira do Nascimento Guilherme Sousa Brandatildeo Rosemary de Matos

Cordeiro Natanael Pessoa Lustoza Joana Priscila da Silva Barbosa

9

DINAcircMICA ECONOcircMICA NORDESTINA E EMPREGO FORMAL INDUSTRIAL

O CASO DOS ESTADOS DA BAHIA E CEARAacute ndash 20032013

Francisco do Orsquo de Lima Juacutenior Professor Adjunto do Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri (URCA)

Pesquisador Liacuteder do GETEDRU (DEURCA) e Doutor em Desenvolvimento Econocircmico Aacuterea de

Concentraccedilatildeo em Economia Regional e Urbana pelo IEUNICAMP E-mail

limajunior_economiayahoocom Cel (88) 9 9285 0545

Joseacute Ediglecirc Alcantara Moura Bacharel em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA) e Pesquisador do

GETEDRU E-mail edigleeconomiagmail Cel (88) 9 9285 0545

10

DINAcircMICA ECONOcircMICA NORDESTINA E EMPREGO FORMAL INDUSTRIAL

O CASO DOS ESTADOS DA BAHIA E CEARAacute ndash 20032013

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo estudar a dinacircmica econocircmica nordestina tendo como

fundamento a evoluccedilatildeo do emprego industrial formal nos estados do Cearaacute e da Bahia

durante o periacuteodo de 2003 e 2013 A definiccedilatildeo destes estados como estudo de caso se justifica

em um conjunto de aspectos como i) sumarizam o perfil estrutural do conjunto das

economias regionais ii) trata-se da economia nordestina mais dinacircmica a Bahia e outra que

assume padratildeo intermediaacuterio o Cearaacute e iii) como decorrecircncia a Bahia possui a economia

industrial mais integrada agrave nacional e por isso bem mais diversificada ao passo que o Cearaacute

embora tenha passado por transformaccedilotildees consideraacuteveis rumo agrave integraccedilatildeo e diversificaccedilatildeo

ainda apresenta uma estrutura produtiva pautada prioritariamente em bens tradicionais Foram

utilizados dados secundaacuterios da Relaccedilatildeo Anual de Informaccedilotildees Sociais (RAIS) do Ministeacuterio

do Trabalho e Emprego (MTE) referentes agrave caracterizaccedilatildeo da atividade industrial nestas duas

economias bem como o perfil dos seus trabalhadores Observou-se que a atividade industrial

baiana apresentou maior diversificaccedilatildeo nos seus setores em que possui empreendimentos

com maior nuacutemero de empregados No caso cearense apresenta um modelo mais pautado em

setores tradicionais como tecircxtil alimentos e bebidas aleacutem da forte participaccedilatildeo no ramo de

calccedilados Isto ocorre apesar da diversificaccedilatildeo mais recente avanccedilar para ramos como o caso

da ampliaccedilatildeo da Induacutestria de Material de Transporte Ainda assim sua estrutura industrial e o

perfil do emprego formal eacute predominantemente pautado em setores mais tradicionais

Palavras-chaves Emprego industrial Bahia Cearaacute Dinacircmica econocircmica

ABSTRACT

This work has as objective to study the northeastern economic dynamics and is based upon

the evolution of formal manufacturing employment in the states of Cearaacute and Bahia during

the period 2003 to 2013 The definition of these states as a case study is justified in a number

of aspects such as i) summarize the structural profile of all the regional economies ii) it is the

most dynamic economy Northeast Bahia and another that standard intermediate assume

Cearaacute and iii) as a result Bahia has the most integrated national industrial economy and so

much more diverse while Cearaacute although it has undergone considerable changes towards

integration and diversification still has a productive structure guided primarily in property

Traditional Secondary data from the (RAISMTE) information database related to

characterizing the industrial activity in these two economies as well as the profile of its

workers It was observed that the Bahialsquos industrial activity is more diversification in their

sectors The state has companies with the greatest number of employees But the Cearaacute case

presents a model guided by more traditional sectors such as textiles food and beverages as

well as strong participation in the footwear industry This occurs despite the latest move

towards diversification branches as the case of expansion of industry Transport Material Still

its industrial structure and the profile of the formal employment is predominantly ruled in

more traditional sectors

Keywords Industrial employment Bahia Cearaacute Economic dynamics

11

1Introduccedilatildeo

A dinacircmica econocircmica da Regiatildeo Nordeste do Brasil durante as duas uacuteltimas deacutecadas

incorporou vetores de transformaccedilatildeo que acompanham os movimentos do processo de

reestruturaccedilatildeo econocircmica vivenciado em acircmbito global Entretanto as particularidades do

desenvolvimento regional e seu papel face agrave economia nacional natildeo deixam de serem

importantes acreacutescimos que determinam os resultados observados nesta realidade

Marcadamente considerada como o espaccedilo nacional que inicia a mobilizaccedilatildeo com as

preocupaccedilotildees com a questatildeo regional brasileira apoacutes a etapa de intervenccedilatildeo planejada via

accedilotildees da Superintendecircncia do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e consubstanciada

no modelo desenvolvimentista de poliacuteticas puacuteblicas assiste-se a uma gradativa transformaccedilatildeo

econocircmica Vencem-se as etapas de conexatildeo do mercado nacional com a consolidaccedilatildeo da fase

de integraccedilatildeo produtiva conforme atestaram os principais estudiosos na aacuterea1

Ainda assim com base nas decorrecircncias deste epiacutelogo acerca da promoccedilatildeo do

desenvolvimento nordestino pode-se considerar duas exterioridades relevantes A primeira de

ordem mais macroestrutural refere-se ao esvaziamento das poliacuteticas de desenvolvimento e

com ele o fim das poliacuteticas regionais advindas no bojo da longa crise do Estado Nacional que

culmina com a emergecircncia do paradigma de regulaccedilatildeo neoliberal A prioridade da accedilatildeo

puacuteblica volta-se exclusivamente para o macroconjunturalismo contido na busca do controle

inflacionaacuterio e equiliacutebrio das contas puacuteblicas em que mergulham as economias latino-

americanas durante as duas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX e iniacutecio da deacutecada seguinte

Nos anos subsequentes como saiacuteda para a ausecircncia da promoccedilatildeo regional assistiu-se

ao predomiacutenio dos localismos como forma de pensar as questotildees do desenvolvimento

capitalista e suas espacialidades (BRANDAtildeO 2007) Os resultados mais imediatos foram agrave

promoccedilatildeo da guerra de lugares seja contida nas estrateacutegias para atraccedilatildeo de investimos

puacuteblicos ou na busca de arrojar investimentos produtivos privados em um processo de

relocalizaccedilatildeo produtiva

A segunda exterioridade mais particular agrave regiatildeo Nordeste estaacute relacionada aos

efeitos intra- regionais da integraccedilatildeo produtiva A desconcentraccedilatildeo produtiva instaura uma

dinacircmica de desigualdade no espaccedilo nordestino sendo privilegiadas as maiores economias

Dos projetos liberados pela SUDENE ateacute meados do dececircnio de 1980 643 do montante

1 Dentre estes ver Cano (2007) Arauacutejo (1995) e Guimaratildees Neto (1989)

12

total dos investimentos estavam localizados nos estados de Bahia Pernambuco e Cearaacute suas

economias mais importantes Este percentual eacute reproduzindo tambeacutem para o nuacutemero de

empregos gerados por tais investimentos (SAMPAIO FILHO 1985 p 68) Tal padratildeo cujo

focirclego maior ocorre com a descontraccedilatildeo virtuosa se manteacutem na fase posterior de

desconcentraccedilatildeo espuacuteria2

Sendo assim o presente trabalho objetiva estudar a dinacircmica econocircmica nordestina

tendo como fundamento a evoluccedilatildeo do emprego industrial formal de dois destes estados

durante o periacuteodo de 2003 e 2013 A definiccedilatildeo destes estados como estudo de caso se justifica

num conjunto de aspectos como i) sumarizam o perfil estrutural do conjunto das economias

regionais ii) trata-se da economia nordestina mais dinacircmica a Bahia e outra que assumem

padratildeo intermediaacuterio o Cearaacute e iii) como decorrecircncia a Bahia possui a economia industrial

mais integrada agrave nacional e por isso bem mais diversificada ao passo que o Cearaacute embora

tenha passado por transformaccedilotildees consideraacuteveis rumo agrave integraccedilatildeo e diversificaccedilatildeo ainda

apresenta uma estrutura produtiva pautada prioritariamente em bens tradicionais

Para alcanccedilar o objetivo proposto o trabalho estaacute dividido em duas partes aleacutem desta

Introduccedilatildeo e das Consideraccedilotildees Finais Numa primeira sessatildeo satildeo traccediladas algumas notas

sobre a dinacircmica econocircmica nordestina na fase de auge e posterior esvaziamento do aparato

de suporte agraves accedilotildees desenvolvimentista na regiatildeo Esta sessatildeo se justifica pela necessidade de

historicizar e contemporaneizar a industrializaccedilatildeo regional com destaque para estes dois

estados Na sessatildeo seguinte satildeo explorados os aspectos do emprego industrial formal nas

economias cearense e baiana

Admitiu-se como questionamento problematizadora seguinte indagaccedilatildeo como se

comportam as variaacuteveis que definem o padratildeo do emprego formal industrial nos estados doa

Bahia e do Cearaacute durante os anos de 2003 e 2013 A hipoacutetese norteadora a ser seguida para

resposta a tal questionamento eacute de que as duas estruturas continuam a se apresentar de forma

distinta ainda que o processo de acumulaccedilatildeo seja homogeneizador A Bahia permanece com

uma estrutura de emprego mais diversificada e dinacircmica ao passo que o Cearaacute manteacutem um

perfil tradicional natildeo obstante a modernizaccedilatildeo que vivenciou nos uacuteltimos trinta anos

2 As distinccedilotildees do processo de industrializaccedilatildeo do Brasil poacutes-1930 e suas demarcaccedilotildees em termos espaciais satildeo

caracterizados por Cano (2008 p 36) como virtuoso ateacute a deacutecada de 1970 (que ocorre num quadro de

crescimento nacional e avanccedilo da integraccedilatildeo produtiva) e a partir de entatildeo espuacuterio (com arrefecimento das taxas

de crescimento crise de endividamento decliacutenio da accedilatildeo governamental nas poliacuteticas de desenvolvimento

regional) Nesta segunda fase eacute recorrente o uso de instrumentos que evocam os localismos como o fadado

exemplo da ―guerra fiscal

13

Utilizou-se de abordagem metodoloacutegica descritiva estrutural recorrendo a banco de

informaccedilotildees da Relaccedilatildeo Anual de Informaccedilotildees Sociais do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego

(RAISMTE) por ser considerado o banco de informaccedilotildees mais completas e consolidadas

atinentes agraves variaacuteveis de emprego formal Foram explorados variaacuteveis concernentes tanto agraves

caracteriacutesticas da induacutestria quanto o perfil dos trabalhadores Para as caracteriacutesticas da

induacutestria foram exploradas as seguintes informaccedilotildees nuacutemero de estabelecimentos industriais

nuacutemero de trabalhadores por ramo de atividade econocircmica quantidade de empregados por

setor da Induacutestria de Transformaccedilatildeo distribuiccedilatildeo do emprego formal industrial por tamanho

do estabelecimento Jaacute no perfil dos trabalhadores a investigaccedilatildeo se pautou em nuacutemero de

empregados formais na atividade industrial segundo sexo faixa etaacuteria grau de instruccedilatildeo

tempo de serviccedilo e faixa de remuneraccedilatildeo

2 Notas sobre a dinacircmica econocircmica nordestina no periacuteodo de 1970 ndash 2013 do

desenvolvimentismo ao esvaziamento das poliacuteticas de desenvolvimento regional

Conforme jaacute apontado na Introduccedilatildeo em termos de desenvolvimento regional a

poliacutetica orquestrada pela SUDENE promoveu relativa modernizaccedilatildeo nordestina modificando

o territoacuterio regional com ampliaccedilatildeo diversificaccedilatildeo e integraccedilatildeo do parque industrial regional

ao nacional

No que se refere agrave integraccedilatildeo da economia nacional houve forte tendecircncia de

reproduccedilatildeo de uma divisatildeo espacial do trabalho entre as regiotildees brasileiras Ao passo que

gradativamente a atividade do Sudeste assume padratildeo caracterizado por serviccedilos e setores

mais modernos e intensivos em capital houve implantaccedilatildeo de ramos complementares no

espaccedilo nordestino cujos aspectos mais gerais seguiam o maior uso da matildeo de obra eoutros

setores voltados para o fornecimento de insumos (LIMA 2005)

O vieacutes desconcentrador imprime intra regionalmente sua caracteriacutestica concentradora

inerente agrave proacutepria acumulaccedilatildeo capitalista de privilegiar determinados espaccedilos Ainda que

reconhecendo tal caracteriacutestica a contraditoriedade se apresenta nas formas assumidas por

uma poliacutetica puacuteblica que tinha por principal intento a reduccedilatildeo de disparidades regionais

Na promoccedilatildeo do desenvolvimento via SUDENE que teve a sua loacutegica de

esvaziamento face ao que preconizava os princiacutepios fundadores jaacute nos anos 1970 foram

14

privilegiadas as maiores economias3 Dos projetos liberados pela Superintendecircncia ateacute

meados do dececircnio de 1980 643 do montante total dos investimentos estavam localizados

nos estados de Bahia Pernambuco e Cearaacute suas economias mais importantes Este percentual

eacute reproduzindo tambeacutem para o nuacutemero de empregos gerados por tais investimentos conforme

eacute visualizado na Tabela 1 Tal padratildeo cujo focirclego maior ocorre com a descontraccedilatildeo virtuosa

se manteacutem na fase posterior de desconcentraccedilatildeo espuacuteria

Tabela 1 ndash Nordeste Projetos aprovados pela SUDENE por Unidade Federada (1960ndash1984)1

Estados Nuacutemero de

Projetos

Investimento Total Empregos Diretos

Valor

Maranhatildeo

Piauiacute

Cearaacute

Rio Grande do Norte

Paraiacuteba

Pernambuco

Alagoas

Sergipe

Bahia

123

122

384

134

291

523

65

61

447

1884377

894894

2102242

1344668

1169435

4369174

828756

839061

8910817

78

37

88

56

49

182

34

35

373

16158

13454

70336

34146

36494

121076

12822

13322

104538

TOTAL 2335 23965302 1000 460431

Fonte Sampaio Filho (1985 p 68) apud Lima Juacutenior (2014 p 52) 1 Estatildeo excluiacutedos os projetos provados para o norte dos estados de Minas Gerais e Espiacuterito Santo aacutereas de

atuaccedilatildeo da SUDENE

Como forma de superaccedilatildeo da crise do paradigma desenvolvimentista na deacutecada de

1990 disseminou-se amplamente o ideaacuterio da descentralizaccedilatildeo tanto no acircmbito tributaacuterio

quanto na promoccedilatildeo do crescimento econocircmico e um cenaacuterio de esfacelamento do Estado

Nacional decorrente do quadro de crise de endividamento culminando no aniquilamento das

poliacuteticas de desenvolvimento regional de acircmbito federal Coube como escape aos governos

estaduais mesmo com suas financcedilas altamente debilitadas utilizarem-se de instrumentos de

guerra fiscal para atraccedilatildeo de investimentos (PACHECO 1996)

Como instrumento de transferecircncia liquida de recursos para o setor privado os

governos subnacionais passam a atrair empresas atraveacutes de incentivos fiscais a exemplo do

Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) o que impotildeem relativa

3 Para esvaziamento da SUDENE enquanto instituiccedilatildeo promotora de desenvolvimento regional ver Lima Juacutenior

(2014b)

15

seletividade na localizaccedilatildeo industrial Diante de uma poliacutetica macroeconocircmica baseada em

elevadas taxas de juros domeacutesticas cacircmbio apreciado o mecanismo mais eficiente para

contrabalanccedilar os efeitos negativos da abertura comercial e da falta de investimentos

estimulados pelo governo federal baseou-se na ―guerra fiscal Ademais conforme Cano

(2008) foi agrave ferramenta mais niacutetida de ruptura com federalismo na promoccedilatildeo do

desenvolvimento e privileacutegio agraves instacircncias locais visto que

Muitos governos locais (estaduais e municipais) como medida de defesa ndash mas

tambeacutem por acreditarem na ideologia do Poder Local - lanccedilaram-se agrave infeliz

empreitada da ―guerra fiscal submetendo-se a verdadeiros leilotildees de localizaccedilatildeo

industrial promovidos por empresas de grande porte (em geral transnacionais)

transferindo dinheiro de pobres para milionaacuterios e fomentando a localizaccedilatildeo pelo

subsiacutedio e pelo trabalho perifeacuterico ainda mais precarizado e barato (CANO 2008

p34)

Para Pochmann (2001) as empresas tendiam a decidir sua localizaccedilatildeo jaacute com base nos

custos atrativos de matildeo-de-obra e de transportes Tal elemento marcava a transferecircncia para o

Nordeste ficando a decisatildeo de localizaccedilatildeo intra- regional ao leilatildeo de incentivos ofertados

Numa perspectiva mais ampla vale dizer que ganhou legitimidade as inserccedilotildees

pautadas nos aspectos de competitividade ancoradas na emergecircncia do local em sintonia com

a loacutegica de divisatildeo espacial do trabalho Arranjos de poliacuteticas foram implementados tendo

como consequumlecircncia da promoccedilatildeo de ajustes espaciais com as atividades econocircmicas

imprimindo movimentos locacionais que traduzem a busca por reduccedilatildeo de custos

Em tal loacutegica os territoacuterios com fatores como matildeo de obra barata e abundante

infraestrutura disponibilidade de mateacuterias primas e algumas outras dotaccedilotildees e atributos

positivos em termos locacionais passam a ser atrativos e as vantagens oferecidas pelos

poderes puacuteblicos em suas diversas esferas somam-se como determinantes (MACEDO 2010)

Tal conjuntura foi decisiva no tocante agraves espacialidades econocircmicas da Regiatildeo

Nordeste nas uacuteltimas trecircs deacutecadas Como se destacou anteriormente enquanto plataforma das

transformaccedilotildees econocircmicas decorrentes da inserccedilatildeo brasileira - e nordestina em particular - ao

contexto global de reestruturaccedilatildeo a regiatildeo assumiu funccedilatildeo importante da configuraccedilatildeo da

divisatildeo espacial do trabalho

Eacute importante reaver que na fase de accedilatildeo mais direta da SUDENE que vai de meados

dos anos 1960 ateacute primeira metade da deacutecada de 1980 em que predominara a accedilatildeo

16

desenvolvimentista a regiatildeo completa suas fases de articulaccedilatildeo produtiva nacional4 com

taxas de crescimento setoriais na maioria das vezes superior agraves nacionais conforme atesta a

Tabela 2 O principal resultado foi agrave consolidaccedilatildeo de ―ilhas de prosperidade distribuiacutedas

espacialmente que aleacutem de abranger suas Regiotildees Metropolitanas e principais capitais

alcanccedilaram alguns espaccedilos mais interiorizados (ARAUacuteJO 1995)

Tabela 2 ndash Brasil e Regiatildeo Nordeste Taxas de Crescimento do PIB Setorial () 1960 ndash 2010

Periacuteodos Selecionados

Periacuteodos

Agricultura Induacutestria Serviccedilos

BR

NE BR

NE BR

NE

1950-60 459 553 627 523 618 627

1960-70 -049 -108 1153 1002 888 768

1970-75 976 863 1431 1575 968 842

1975-80 640 605 1294 1809 746 940

1980-85 424 516 353 870 075 165

1985-90 -499 -645 -001 -255 473 478

1990-95 117 153 -167 -079 070 040

1995-00 -050 -354 373 480 133 241

2000-05 -284 -007 -374 -329 713 689

2005-10 346 241 159 256 481 596

Fonte Elaboraccedilatildeo a partir de IBGE (2010) IPEADATA (2013)

Caacutelculo com base na seguinte disponibilidade de dados com respectivos oacutergatildeos fontes para os anos de

1950 e 1960 Produto Interno Liacutequido a custo de fatores para os anos de 1970 a 1980 PIB a custo de

fatores para os anos de 1985 a 2001 antigo Sistema de Contas Regionais que passa a utilizar o conceito

de preccedilos baacutesicos para os anos de 2005 e 2002 Sistemas de Contas Regionais Referecircncia 2002

Nesta dinacircmica a accedilatildeo planejada objetivando reduccedilatildeo de disparidades que

desfavoreciam o Nordeste quando comparado agraves demais regiotildees brasileiras natildeo obstante ter

alcanccedilado alguns efeitos positivos transformando a estrutura produtiva da regiatildeo (BERNAL

2005) geraram algumas disparidades intrarregionais que satildeo objeto de intenso debate Aleacutem

dos casos proacutesperos de aacutereas como o Complexo Petroquiacutemico de Camaccedilari na Bahia o

Complexo Portuaacuterio de Suape no Pernambuco III Polo Industrial Diversificado em

FortalezaCE o Complexo de Induacutestria de Base Salgema em Sergipe e o Complexo

Cloroquiacutemico de Alagoas localizados prioritariamente nas capitais da Regiatildeo ou em suas

4 Esta articulaccedilatildeo segundo Guimaratildees Neto (1989) Arauacutejo (1995) e Cano (2007) decorreu do processo

histoacuterico de formaccedilatildeo e integraccedilatildeo do mercado nacional Saindo de um contexto de insulamento as etapas deste

processo foram i) a articulaccedilatildeo comercial sob o comando da economia da Regiatildeo Centro-Sul centro dinacircmico e

mais diversificado do paiacutes e ii) a integraccedilatildeo produtiva com a implantaccedilatildeo de ramos econocircmicos

complementares principalmente agrave induacutestria deste centro dinacircmico estimuladas pela SUDENE

17

proximidades outros poacutelos se diferenciaram imprimindo as bases de configuraccedilatildeo da

desconcentraccedilatildeo concentrada

3 Emprego industrial formal o caso dos estados da Bahia e do Cearaacute durante o periacuteodo de

20032013

31 Caracteriacutesticas da Induacutestria

311 Nuacutemero de Estabelecimentos Industriais

Segundo os dados da RAIS para os estados da Bahia e do Cearaacute conforme exposto na

Tabela 3 o crescimento na quantidade de induacutestrias formais abertas entre 2003 e 2013 com

destaque para o estado da Bahia que passou de 7551 induacutestrias em 2003 para 12801

unidades produtivas em 2013 sofrendo variaccedilatildeo ao longo do periacuteodo de 6953 face agrave

variaccedilatildeo de 6526 unidades produtivas no Cearaacute no mesmo periacuteodo

O crescimento significativo de induacutestrias abertas em ambos os estados decorre do

processo de relocalizaccedilatildeo de induacutestrias do Sul e Sudeste do paiacutes que migram para o Nordeste

brasileiro motivados pela panaceia advinda com o movimento de reestruturaccedilatildeo produtiva

adicionados agrave oferta de incentivos fiscais e financeiros matildeo-de-obra barata abundante e

disciplinada combinada com ausecircncia de sindicatos combativos Ademais conforme

argumenta os propositores da poliacutetica de atraccedilatildeo a aproximaccedilatildeo geograacutefica dos mercados

estadunidense e europeu acabando por reduzir o custo de transporte facilitando o escoamento

aos mercados externos

Tabela 3 ndash Cearaacute e Bahia Nuacutemero de estabelecimentos industriais ndash 2003 2013 UF 2003 2013 Variaccedilatildeo () 20032013

Cearaacute

Bahia

6986

7551

11545

12801

6526

6953

Total 14537 24346 13479

Fonte RAISMTE Elaboraccedilatildeo Proacutepria

Vale ressaltar que ao se configurar uma ―desconcentraccedilatildeo concentrada jaacute destacada

no presente trabalho eacute observado que este quadro se reproduz tambeacutem dentro de cada estado

Os investimentos industriais em ambos os casos aqui analisados se concentram em suas

18

capitais Fortaleza em 2013 dispunha de 5416 dos estabelecimentos industriais cearenses

ao passo que Salvador abarca 49235 A seletividade espacial decorre naturalmente da

disponibilidade de infraestrutura e de uma cesta de outras externalidades positivas aos

investimentos decorrentes da consolidaccedilatildeo destas regiotildees metropolitanas como espaccedilos de

dinacircmica e elevada competitividade

312 Evoluccedilatildeo do Emprego Formal por Ramo de Atividade

Os dados da Tabela 4 apresentam evoluccedilatildeo do emprego formal por ramo de atividade

Ainda que pese o fato do presente trabalho dedicar-se ao caso da atividade industrial a

informaccedilatildeo quanto aos demais setores eacute relevante Conforme eacute visto destaca-se a elevada

concentraccedilatildeo de trabalhadores empregados no setor de serviccedilos nos dois estados Em 2013 o

setor de serviccedilos diminuiu sua participaccedilatildeo em ambos principalmente na Bahia ao auferir

uma taxa de crescimento negativa de 027 aa6

Nos anos de 2003 e 2013 observa-se o setor comercial lidera a participaccedilatildeo tanto na

economia baiana quanto na economia cearense no Cearaacute observa-se uma variaccedilatildeo de

12880 e com maior taxa de crescimento em todos os setores 863 aa jaacute na Bahia houve

um niacutevel menor de participaccedilatildeo implicando uma variaccedilatildeo de 9468 e taxa de crescimento de

689 aa

Tabela 4 ndash Cearaacute e Bahia Evoluccedilatildeo do emprego formal por ramo de atividade ndash 20032013

RAMO DE

ATIVIDADE

CEARAacute BAHIA

2003 () 2013 () 2003 () 2013 ()

Induacutestria

Const Civil

Comeacutercio

Serviccedilos

Agropecuaacuteria

173093

27091

113438

241659

17566

302

48

198

422

38

275198

84619

259549

454959

25920

250

77

236

414

24

151674

56736

229048

414327

72086

164

61

248

448

78

267665

171521

445904

755191

89393

155

99

258

437

52

Total 572847 1000 1100245 1000 923871 1000 1729674 1000

Fonte RAISMTE Elaboraccedilatildeo Proacutepria

5 Dados oriundos da Relaccedilatildeo Anual de Informaccedilotildees Sociais ( RAIS) do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego(

MTE) 6 A taxa de crescimento anual eacute calculada a partir do seguinte meacutetodo [ (anot ano0)^ 1n] ndash 1 x 100 onde n eacute

o nuacutemero de anos da seacuterie anot eacute o ano final e ano0 o ano inicial

19

Ao se investigar a dinacircmica do emprego formal industrial eacute necessaacuterio fazer a leitura

considerando o peso relativo da induacutestria no conjunto da economia como um todo Assim

apesar de ter aumentado o nuacutemero de postos de trabalho formais na induacutestria nas duas

economias em termos relativos agrave realidade eacute outra No caso cearense passou-se em termos

absolutos de 173093 empregados formais em 2003 para 275198 empregados em 2013

ocorrendo uma variaccedilatildeo de 5899 No entanto em termos relativos observa-se diminuiccedilatildeo na

participaccedilatildeo da induacutestria no emprego total passando de 3022 para 2501 Para a economia

baiana ocorre semelhante ao observar aumento de postos de trabalho em 2003 de 151674 em

nuacutemeros absolutos para 267665 em 2013 ocorrendo uma variaccedilatildeo de 7647 Apesar do

nuacutemero maior de empregos gerados na induacutestria ao relativizar este crescimento ao contexto

global das demais atividades constatou-se que houve uma queda na participaccedilatildeo do emprego

total passando de 1642 para 1547 nos anos analisados

Algumas anaacutelises apontam para tal fenocircmeno como um alinhamento com o que se

observa na conjuntura macro com o denominado processo de ―desindustrializaccedilatildeo ou seja

queda na participaccedilatildeo do emprego industrial no emprego total de um paiacutes ou regiatildeo Segundo

Oreiro e Feijoacute (2010) esses efeitos podem ter impactos negativos na economia brasileira pois

mesmo com maior participaccedilatildeo do setor terciaacuterio no emprego total reduz significativamente o

crescimento econocircmico pois o setor industrial eacute responsaacutevel pela maior produtividade do

trabalho e progresso teacutecnico de um paiacutes

Contudo eacute necessaacuterio maiores estudos deste alinhamento Ao passo que a

industrializaccedilatildeo recente dos estados do Nordeste vem a decorrer de uma das faces da

reestruturaccedilatildeo produtiva que eacute a incessante busca de reduccedilatildeo de custos tal movimento pode

estar descrito na desindustrializaccedilatildeo do paiacutes como um todo tenho em vista que a relocalizaccedilatildeo

promove em alguns casos a reduccedilatildeo da participaccedilatildeo industrial nas regiotildees de origem dos

investimentos industriais que aportam o Nordeste

313 Evoluccedilatildeo do Emprego Formal da Induacutestria da Transformaccedilatildeo

Ao analisar a evoluccedilatildeo do emprego formal na induacutestria de transformaccedilatildeo observa-se

na Tabela 5 a concentraccedilatildeo de trabalhadores empregados em induacutestrias intensivas em matildeo-

de-obra (alimentiacutecia tecircxtil e calccediladista) tanto na Bahia como no Cearaacute Todavia percebe-se

neste periacuteodo uma queda na participaccedilatildeo ao observar que em 2003 o Cearaacute participa com

7107 do emprego formal industrial total vindo a cair em 2013 para 6524

20

No entanto as induacutestrias baianas intensivas em matildeo-de-obra participam com 6438

do emprego formal industrial total para o ano de 2003 Natildeo obstante uma queda no final do

periacuteodo para a participaccedilatildeo de 572 do emprego total em anaacutelise Percebe-se nesse estado

uma melhor distribuiccedilatildeo do emprego formal entre os setores da Induacutestria de Transformaccedilatildeo

Aleacutem da estrutura produtiva da Bahia ser mais integrada ao eixo dinacircmico do Centro-

Sul jaacute desde etapas preacutevias agrave accedilatildeo planejada dos anos 1960 em diante com esta fase a

integraccedilatildeo se deu com maior vigor A diversificaccedilatildeo contou ainda com o aporte de segmentos

da induacutestria de semielaborados implantados a partir de entatildeo com a altivez de instalaccedilotildees que

consolidaram o Poacutelo Petroquiacutemico de Camaccedilari Outro aspecto importante estaacute na

implantaccedilatildeo da induacutestria automobiliacutestica jaacute via instrumentos fiscais em 1999 (SILVA 2004)

Tabela 5 ndash Cearaacute e Bahia Evoluccedilatildeo do emprego formal na Induacutestria de Transformaccedilatildeo e Extrativa

Mineral no periacuteodo ndash 20032013

RAMO DE

ATIVIDADE

CEARAacute BAHIA

2003 () 2013 () 2003 () 2013 ()

Extrativa mineral

Ind de prod minerais

Induacutestria metaluacutergica

Induacutestria mecacircnica

Ind material eleacutetrico

Induacutestria detransporte

Induacutestria de madeira

Induacutestria de papelatildeo

Indborrachafumo

Induacutestria quiacutemica

Induacutestria tecircxtil

Induacutestria de calccedilados

Indprodalimentiacutecio

Serviccedilos industriais

1857

7109

6119

1935

1327

1526

5465

5545

4754

7754

46113

41454

35613

6763

11

41

35

11

08

09

32

32

27

45

2660

2392

205

39

3583

14900

17120

5540

1704

3807

8443

8862

7612

13430

71133

63748

47520

7796

12

51

58

19

06

13

29

30

26

46

243

217

160

27

8797

9945

7267

4769

1876

4265

4984

6285

6542

20810

14784

17418

30602

15330

57

65

47

31

12

27

32

41

43

135

96

113

199

99

16272

20312

17249

10685

4673

10704

9829

12041

12759

29777

22343

26195

52520

22306

61

76

63

39

17

39

36

45

47

111

83

98

196

83

Total 173334 1000 293098 1000 153673 1000 267665 1000

Fonte RAISMTE Elaboraccedilatildeo Proacutepria

21

Outra informaccedilatildeo relevante dos dados contidos na Tabela 5 eacute o crescimento do

emprego formal industrial em setores que geralmente eram concentrados na regiatildeo Sudeste do

paiacutes Um dos exemplos pode ser a Induacutestria de Material de Transporte que passou em termos

absolutos de 1526 em 2003 para 3807 em 2013 correspondendo a uma variaccedilatildeo de 14947

e uma taxa de crescimento de 957 aa Na induacutestria metaluacutergica constata-se outro caso de

expansatildeo do emprego formal ao passar de 35 da participaccedilatildeo do emprego industrial para

58 ocasionando uma taxa de crescimento de 109 aa

Para o estado da Bahia ocorreu um aumento no emprego ao passar de 20810 em 2003

para 29777 em 2013 e uma queda de participaccedilatildeo na induacutestria total junto com as intensivas

em trabalho caindo de 1354 para 1152 Para os demais setores o estado da Bahia

permanece criando mais postos de trabalho em relaccedilatildeo ao Cearaacute continuando a imprimir um

quadro de economia mais diversificada tambeacutem na geraccedilatildeo de empregos formais diretos

Diante de tais anaacutelises percebe-se a diversificaccedilatildeo do emprego industrial em que a

queda na participaccedilatildeo de setores antes tradicionais para a economia desses dois estados como

a induacutestria tecircxtil e calccediladista foi recompensada pelo crescimento em induacutestrias de material de

transporte metalurgia e induacutestria quiacutemica para o caso do Cearaacute

314 Tamanho do Estabelecimento da Induacutestria Formal

Um dos elementos importantes pra compreender a reestruturaccedilatildeo produtiva em vigor eacute

investigaccedilatildeo sob a perspectiva do tamanho dos estabelecimentos e suas respectivas geraccedilotildees

de emprego Assim conforme a Tabela 6 que apresenta o nuacutemero de empregados segundo o

porte do estabelecimento industrial observa-se a concentraccedilatildeo de empregados nas grandes

empresas em ambos os estados No entanto no Cearaacute no ano de 2003 para 2013 aumentou

participaccedilatildeo de empregados em todos os portes de empresa exceto os grandes

empreendimentos que mesmo tendo aumento que foi de 74535 em 2003 para 101858 em

2013 observa-se reduccedilatildeo da participaccedilatildeo relativa ao diminuir de 431 para 37 No entanto

o porte de empresa que mais se destacou no periacuteodo em estudo foi agrave meacutedia empresa

implicando taxa de crescimento de 32 aa

No entanto na Bahia ocorre o inverso todos os portes de empresa diminuiacuteram sua

participaccedilatildeo exceto a grande empresa que registra um incremento de 37602 para 87182

implicando uma variaccedilatildeo de 13185 e taxa de crescimento de 878 aa

22

Tabela 6 ndash Cearaacute e Bahia Distribuiccedilatildeo do emprego formal na induacutestria por tamanho do

estabelecimento ndash2003 2013 EMPREGADOS

POR PORTE DA

INDUacuteSTRIA

CEARAacute BAHIA

2003 () 2013 () 2003 () 2013 ()

Micro (Ateacute 19)

Pequena (20 a 99)

Meacutedia (100 a 499)

Grande (500 ou mais)

27939

35744

34876

74535

161

206

202

431

45174

64662

63504

101858

164

235

231

37

29174

36645

48253

37602

192

242

318

248

47885

61363

71235

87182

179

229

267

326

Total 173093 1000 275198 1000 151674 1000 267665 1000

Fonte RAISMTE Elaboraccedilatildeo Proacutepria

Quando se agregam todos os portes eacute apresentado que as meacutedias e grandes empresas

aparecem como as maiores absorvedoras de emprego formal Os dados se contrapotildeem assim agrave

tendecircncia nacional em que segundo o SEBRAE (2011) entre 2000 e 2010 foram gerados 61

milhotildees de empregos formais O Cearaacute em 2010 participou em 2010 com 28 do total de

MPElsquos do Brasil enquanto Bahia participou com 41 do total empregando aproximadamente

10148 pessoas

32 Perfil socioeconocircmico e sociodemograacutefico dos ocupados formais na induacutestria

321 Sexo dos Trabalhadores

A anaacutelise desagregada por sexo mostra que em 2003 haviam 103618 trabalhadores

empregados na induacutestria formal cearense sendo que 599 satildeo do sexo masculino e 401 do

sexo feminino Em 2013 a participaccedilatildeo dos homens aumenta para 6243 respectivamente

caindo a participaccedilatildeo feminina (para 376) O estado da Bahia contava em 2003 com um

total de 151674 trabalhadores no setor industrial dos quais 729 satildeo do gecircnero masculino

contra 270 do sexo feminino e em 2013 ocorre um leve aumento na participaccedilatildeo do sexo

feminino (27) e uma pequena queda da participaccedilatildeo masculina (729)

Apesar do crescimento do nuacutemero de empregos na induacutestria formal no periacuteodo em

estudo em 2013 prevalece a concentraccedilatildeo de trabalhadores do gecircnero masculino (6243 no

Cearaacute e 7295 na Bahia) Tal indicador aponta ainda para a seletividade do sexo na maioria

dos setores que compotildeem a atividade industrial

23

Tabela 7 ndash Cearaacute e Bahia Nuacutemero de empregados na induacutestria formal segundo o sexo ndash 20032013 SEXO CEARAacute BAHIA

2003 () 2013 () 2003 () 2013 ()

Masculino

Feminino

103678

69415

599

401

171813

103385

624

376

110682

40992

729

27

195276

72389

729

271

Total 173093 1000 275198 1000 151674 1000 267665 1000

Fonte RAISMTE Elaboraccedilatildeo Proacutepria

322 Faixa Etaacuteria

No tocante agrave variaacutevel faixa etaacuteria (Tabela 8) tanto em 2003 quanto em 2013 nos dois

estados considerados a maior participaccedilatildeo (aproximadamente 30) dos trabalhadores

empregados na induacutestria formal situava-se na faixa etaacuteria de 30 a 39 anos

Tabela 8 ndash Cearaacute e Bahia Total de empregados na induacutestria formal por faixa etaacuteria ndash 2003 2013

FAIXA ETAacuteRIA CEARAacute BAHIA

2003 () 2013 () 2003 () 2013 ()

Ateacute 17 anos

18 a 24 anos

25 a 29 anos

30 a 39 anos

40 a 49 anos

50 a 64 anos

65 ou mais

754

46813

38315

52843

25477

8501

390

04

27

22

305

147

49

02

777

65173

58909

86729

43409

19421

780

01

237

214

315

158

7

03

307

33797

30460

43902

31686

11467

355

02

223

201

289

209

76

02

1050

45777

52588

92518

45735

28960

1037

04

171

196

346

171

108

04

TOTAL 173093 1000 275198 1000 151674 1000 267665 1000

Fonte RAISMTE Elaboraccedilatildeo Proacutepria

Em 2003 a participaccedilatildeo da matildeo-de-obra industrial na faixa etaacuteria que vai ateacute 17 anos eacute

pouco significativa no Cearaacute (044) e na Bahia (020) ao passo que em 2013 esses

nuacutemeros reduzem para 01 no Cearaacute e aumenta na Bahia para 04 Uma possiacutevel explicaccedilatildeo

satildeo as poliacuteticas de primeiro emprego ser mais consolidadas onde haacute maior diversificaccedilatildeo

produtiva que no caso destas duas economias conforme isto anteriormente eacute o estado da

Bahia

24

O nuacutemero pequeno de trabalhadores jovens ateacute 17 anos empregados na induacutestria

formal decorre do conjunto de incentivos oferecidos pelo governo federal para manter

crianccedilas e jovens na escola atraveacutes do Programa Bolsa Famiacutelia (incentivo monetaacuterio recebido

mensalmente pela famiacutelia para manter crianccedilas e adolescentes na escola) ou pela implantaccedilatildeo

do Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Baacutesico (FUNDEB) atraveacutes da

Emenda Constitucional no 14 de 1996 tendo por objetivo melhorar a situaccedilatildeo do ensino

fundamental puacuteblico melhorando sua qualidade e abrangecircncia

Por outro lado o leve aumento de pessoas com ateacute 17 anos empregados na induacutestria

decorre que muitas empresas demandam essa matildeo-de-obra muitas vezes funcionando como

condiccedilatildeo de aprendizes ou estagiaacuterios a exemplo do Centro de Integraccedilatildeo Empresa Escola

(CIEE) onde se faz o intermeacutedio entre a induacutestria a escola e o estudante

Ainda na Tabela 8 percebe-se a pequena participaccedilatildeo dos trabalhadores na faixa etaacuteria

acima de 65 anos Em 2003 esses trabalhadores representavam um percentual de 02 no

Cearaacute e Bahia havendo um pouco aumento para 03 e 04 respectivamente Esta expansatildeo

associa-se agravequela reduccedilatildeo na participaccedilatildeo em ambos os estados da induacutestria intensiva em

matildeo-de-obra Mesmo com os direitos assegurados da previdecircncia social as induacutestrias

demandam esses trabalhadores o que mostra que a carecircncia de esforccedilo fiacutesico habilidade natildeo

eacute visto como empecilho a integraccedilatildeo no mercado de trabalho

323 Niacutevel de Escolaridade

Com relaccedilatildeo ao niacutevel de escolaridade chama atenccedilatildeo o elevado percentual de

trabalhadores na induacutestria formal com poucos anos de estudo (Tabela 9) Em 2003 os

trabalhadores do Cearaacute concentravam-se na faixa de ensino fundamental incompleto

(3809) No entanto na Bahia havia 3687 dos trabalhadores entre o ensino meacutedio

completo e superior incompleto

25

Tabela 9 ndash Cearaacute e Bahia Total de empregados na induacutestria formal segundo grau de instruccedilatildeo ndash

20032013

ESCOLARIDADE CEARAacute BAHIA

2003 () 2013 () 2003 () 2013 ()

Sem instruccedilatildeo ateacute

fundincompleto

Fundcomp ateacute meacuted

incompleto

Meacutedio comp Ateacute

supincompleto

Superior completo

65945

57956

43976

5216

381

335

254

30

38947

72355

152073

11823

141

263

553

43

49117

37852

55931

8744

324

29

368

57

41267

48066

155308

22974

154

179

58

86

Total 173093 1000 275198 1000 151674 1000 267665 1000

Fonte RAISMTE Elaboraccedilatildeo Proacutepria

Em 2013 a induacutestria formal da Bahia apresentou decliacutenio em termos percentuais na

participaccedilatildeo de trabalhadores que tinham ateacute o ensino fundamental incompleto ao passar de

3238 em 2003 para 1542 em 2013 Isto representa uma variaccedilatildeo negativa 1598 com

queda de 49117 em 2003 para 41267 em 2013 Tal movimento pode indicar a substituiccedilatildeo de

trabalhadores menos escolarizados por aqueles mais qualificados resultando dessa forma um

aumento da seletividade na contrataccedilatildeo de matildeo-de-obra devido agrave incorporaccedilatildeo de novos

meacutetodos de gestatildeo organizaccedilatildeo do trabalho e reestruturaccedilatildeo da produccedilatildeo

Todavia no Cearaacute constata-se tambeacutem um decliacutenio em termos

percentuais do nuacutemero de trabalhadores com niacutevel de escolaridade ateacute o ensino fundamental

incompleto de 381 em 2003 para 142 em 2013

324 Tempo de Serviccedilo

Um indicador que revela certa estabilidade dos ramos da atividade econocircmica eacute o

tempo de serviccedilo nas empresas Assim em relaccedilatildeo ao tempo de permanecircncia dos

trabalhadores empregados na induacutestria formal em 2003 395 ficaram empregados com

menos de 01 ano no Cearaacute vindo a diminuir para 342 em 2013 na Bahia eles passam de

311 em 2003 para 314 em 2013 Apesar da elevada rotatividade em ambos os estados

percebe-se que vem diminuiacutedo

26

Tabela 10 ndash Cearaacute e Bahia Distribuiccedilatildeo dos trabalhadores na induacutestria formal segundo tempo de

serviccedilo ndash 2003 2013

TEMPO DE

SERVICcedilO

CEARAacute BAHIA

2003 () 2013 () 2003 () 2013 ()

Menos de 1 ano

1 a menos de 3 anos

3 a menos de 5 anos

5 ou mais anos

Ignorado

68408

50435

22083

32106

61

395

291

127

185

01

94031

79074

39899

62188

06

342

287

145

226

01

47195

43309

21748

39399

23

311

285

143

259

01

83962

74950

38750

69978

25

314

28

145

261

01

Total 173093 1000 275198 1000 151674 10000 267665 1000

Fonte RAISMTE Elaboraccedilatildeo Proacutepria

A elevada concentraccedilatildeo de trabalhadores com pouco tempo na induacutestria que mesmo

perdendo a participaccedilatildeo em ambos os estados constituem a maioria eacute resultado da

reestruturaccedilatildeo produtiva avanccedilo da tecnologia e dos elevados impostos trabalhistas que

incentivam aos empregadores a utilizarem matildeo de obra terceirizada com o propoacutesito de

reduzir custos

325 Remuneraccedilatildeo dos Trabalhadores

Sob a oacutetica da remuneraccedilatildeo (Tabela 11) verificou-se que tanto no Cearaacute quanto na

Bahia houve reduccedilatildeo dos rendimentos auferidos pelos trabalhadores na durante o periacuteodo de

2003 e 2013 Isto eacute notado tanto pelo aumento daqueles que recebiam ateacute 2 salaacuterios miacutenimos

quanto pela reduccedilatildeo nas demais faixas de rendimento exceto aqueles que ganhavam ateacute 1

salaacuterio miacutenimo na Bahia que passaram de 809 em 2003 para 748 em 2013

27

Tabela 11 ndash Cearaacute e Bahia Total de empregados na induacutestria formal segundo faixa de remuneraccedilatildeo ndash

20032013

FAIXA MEacuteDIA DE

RENDIMENTO EM

(SM)

CEARAacute BAHIA

2003 () 2013 () 2003 () 2013 ()

Ateacute 01 salaacuterio

Mais de 01 a 02 SM

Mais de 02 a 03 SM

Mais de 03 a 05 SM

Mais de 05 a 10 SM

Mais de 10 a 20 SM

Mais de 20 SM

Sem declaraccedilatildeo

14063

126990

12242

8224

5899

3908

1513

254

81

734

71

47

34

23

09

02

27944

206341

17146

10964

6726

2713

941

2423

102

749

62

39

24

09

03

08

12283

75303

15305

16816

16569

9783

5354

261

81

496

101

111

109

64

35

02

20010

147920

31090

27271

20435

11454

5529

3946

75

553

116

102

76

43

21

14

Total 173093 10000 275198 1000 151674 1000 267665 1000

Fonte RAISMTE Elaboraccedilatildeo Proacutepria

Em 2013 os baixos rendimentos aumentam nos dois estados sendo mais intensa no

Cearaacute O percentual dos trabalhadores que ganhavam ateacute 2 salaacuterios miacutenimos amplia-se

significativamente de 815 em 2003 no Cearaacute para 851 No entanto na Bahia percebe-se

aumento na faixa mais de 1 a 3 salaacuterios miacutenimos que passa de 59 em 2003 para 668 A

baixa remuneraccedilatildeo principalmente no Cearaacute foi sem duacutevida um dos atrativos para a vinda de

induacutestrias sendo grande elemento que norteia a reduccedilatildeo dos custos produtivos

Para aqueles que ganhavam acima de 03 salaacuterios miacutenimos houve reduccedilatildeo na proporccedilatildeo

de trabalhadores concentrados nessas faixas de rendimento em ambos os estados sendo

novamente mais intensa para a matildeo-de-obra empregada na induacutestria cearense No Cearaacute

ganhavam acima de 3 salaacuterios miacutenimos 111 caindo para 86 em 2013 e na Bahia eles

passam de 322 em 2003 para 256 em 2013

Essa oacutetica torna-se conflitante dado que os trabalhadores em ambos os estados

melhoraram sua qualificaccedilatildeo ao longo dos dez anos em anaacutelise e os resultados apontam

reduccedilatildeo no niacutevel dos rendimentos desses trabalhadores Haacute uma contrariedade ao que

preconiza o pensamento hegemocircnico da teoria de capital humano7 que afirma que indiviacuteduos

mais escolarizados obtecircm retornos financeiros mais elevados em virtude da aquisiccedilatildeo em

7 Para um debate mais robusto deve-se consultar Arabsheibani (1998)

28

educaccedilatildeo proporcionar elevaccedilatildeo na renda do indiviacuteduo o que eleva a produtividade e age

como processo de seleccedilatildeo para o mercado de trabalho

4 Consideraccedilotildees finais

A partir da realizaccedilatildeo deste trabalho respondeu-se ao questionamento colocado pela

problematizaccedilatildeo comprovando a hipoacutetese de que as economias cearense e baiana

apresentam de formas distintas natildeo obstante a homogeneizaccedilatildeo imperada pela loacutegica da

acumulaccedilatildeo capitalista contemporacircnea que imprime para os estados da Regiatildeo Nordeste um

papel particular na divisatildeo espacial do trabalho pelo fornecimento de produtos intensivos em

trabalho e bens intermediaacuterios

Mesmo concernente a estruturas produtivas distintas o esvaziamento das poliacuteticas de

promoccedilatildeo de desenvolvimento trouxe como margem de accedilatildeo para estas economias no bojo

do paradigma neoliberal de regulaccedilatildeo econocircmica e todo o seu aparato a atraccedilatildeo de

empreendimentos instrumentalizados pela guerra fiscal se constituem assim o apego

demasiado aos localismos como esboccedilo de poliacutetica industrial

O padratildeo industrial que se empreende com este modelo reitera o modo de integraccedilatildeo

da regiatildeo agrave dinacircmica capitalista bem ilustrado pelo perfil dos estados em estudo Observou-se

que a atividade industrial baiana com integraccedilatildeo ao aparelho produtivo nacional mais

consolidado apresenta maior diversificaccedilatildeo nos seus setores econocircmicos tanto no nuacutemero de

estabelecimentos quanto no nuacutemero de empregos gerados Ademais figura neste estado os

empreendimentos com maior nuacutemero de empregados

Jaacute o caso cearense apresenta um modelo mais pautado em setores tradicionais como

tecircxtil alimentos e bebidas aleacutem da forte participaccedilatildeo no ramo de calccedilados Ademais apesar

da diversificaccedilatildeo mais recente avanccedilar para ramos como o caso da ampliaccedilatildeo da Induacutestria de

Material de Transporte Ainda assim sua estrutura industrial e o perfil do emprego formal eacute

predominantemente pautado em setores mais tradicionais

Assim sendo o trabalho contribuiu para engrossar os argumentos justificados na

necessidade de retomada de poliacuteticas de desenvolvimento bem definidas sob duas

qualificaccedilotildees a poliacutetica de desenvolvimento regional e a poliacutetica de proteccedilatildeo do emprego

formal dada agrave evoluccedilatildeo da precarizaccedilatildeo no mercado de trabalho industrial no bojo das

poliacuteticas neoliberais ambas articuladas em suas diversas instacircncias escalares

29

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31

ANAacuteLISE DOS PRINCIPAIS ASPECTOS DA REDE URBANA E DAS CIDADES

MEacuteDIAS CEARENSES NOS ANOS 2000

DENIS FERNANDES ALVES

Mestrando em Economia pelo Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Economia da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte (PPGECO-UFRN) e Pesquisador do GETEDRU E-mail

denis_fernandesoutlookcom

CARLOS EDUARDO PEREIRA DO NASCIMENTO

Graduando em Economia pela Universidade Regional do Cariri (URCA) Bolsista do PIBIC-

URCA Pesquisador do GETEDRU E-mail eduardocarlos2807gmailcom

FRANCISCO DO Orsquo DE LIMA JUacuteNIOR

Professor Associado do Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri

(URCA) Doutor em Desenvolvimento Econocircmico pelo Instituto de Economia da

Universidade Estadual de Campinas (IEUNICAMP) e Pesquisador Liacuteder do GETEDRU E-

mail limajuniorurcabr

32

ANAacuteLISE DOS PRINCIPAIS ASPECTOS DA REDE URBANA E DAS CIDADES

MEacuteDIAS CEARENSES NOS ANOS 2000

RESUMO O objetivo deste artigo eacute analisar os principais aspectos econocircmicos e

demograacuteficos das cidades meacutedias do estado do Cearaacute bem como compreender a regiatildeo de

influecircncia da rede urbana e configuraccedilatildeo espacial destas cidades Os procedimentos

metodoloacutegicos adotados satildeo de caraacuteter exploratoacuterio descritivo e estatiacutestico com

levantamento de dados secundaacuterios provenientes de oacutergatildeos oficiais das cidades meacutedias do

estado no poacutes-2000 Observou-se que a presenccedila de duas Capitais Regionais de niacutevel C

(Sobral e o aglomerado Juazeiro do Norte-Crato-Barbalha) localizadas em aacutereas opostas do

territoacuterio estadual permitindo a polarizaccedilatildeo a partir destes centros bem como a importacircncia

das outras cidades meacutedias no que diz respeito ao grau de influecircncia na rede urbana tais como

Iguatu e Itapipoca como centros sub-regionais A e B respectivamente voltados sobretudo ao

comeacutercio e serviccedilos Quanto aos aspectos demograacuteficos observou-se um aumento na taxa de

urbanizaccedilatildeo em todas as cidades meacutedias bem como uma elevaccedilatildeo na qualidade de vida

maior dinamismo no mercado de trabalho com maiores oportunidades de emprego e uma leve

reduccedilatildeo quanto a desigualdade de renda

Palavras-chaves Desenvolvimento Regional Estrutura Produtiva Cidades Meacutedias Rede

Urbana Cearaacute

ABSTRACT The objective of this article is to analyze the main economic and demographic

aspects of the average cities of the state of Cearaacute as well as to understand the region of

influence of the urban network and the spatial configuration of the cities The methodological

procedures adopted are of an exploratory descriptive and statistical character with the

collection of secondary data - coming from official bodies - of the medium-sized cities of the

state in the post-2000 period It was observed that the presence of two Regional Capitals C ndash

Sobral and the Juazeiro do Norte-Crato-Barbalha agglomerate- located in opposite areas of

the state territory allow polarization from these centers As well as the importance of other

average cities with regard to the degree of influence in the urban network such as Iguatu and

Itapipoca as sub-regional centers A and B respectively focused on commerce and services

As for the demographic aspects there was an increase in the rate of urbanization in all

medium-sized cities as well as a rise in the quality of life greater dynamism in the labor

market with greater job opportunity and a slight reduction in income inequality

Keywords Regional Development Productive Structure Average Cities Urban Network

Cearaacute

33

1 Introduccedilatildeo

Ateacute meados do seacuteculo XX o Nordeste brasileiro era uma regiatildeo negligenciada

causando um atraso econocircmico e social em relaccedilatildeo ao centro da economia do paiacutes O

desconhecimento dos fatores responsaacuteveis pelo atraso gerava a incapacidade de elaborar

planos de diretrizes que modificassem o cenaacuterio As disparidades regionais eram cada vez

mais crescentes

No objetivo de entender os problemas que geravam tais atrasos e estudar a regiatildeo de

modo intensivo eacute criado no Governo de Juscelino Kubitschek (1956-61) o Grupo de

Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN) E em 1959 eacute justificada a

intervenccedilatildeo planejada via SUDENE (CANO 2000)

A Superintendecircncia do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE)8 tinha como

objetivo proporcionar accedilotildees de fomento ao desenvolvimento do Nordeste dentre elas destaca-

se a poliacutetica dos incentivos fiscais9 e a correccedilatildeo das distorccedilotildees intra-regionais Proposta por

Celso Furtado - agrave frente do GTDN - a superintendecircncia tinha como funccedilatildeo orientar a

utilizaccedilatildeo de seus recursos ―para lograr i) a elevaccedilatildeo da produtividade da agricultura ii) a

modernizaccedilatildeo da infraestrutura regional de transportes comunicaccedilatildeo energia e saneamento

baacutesico e iii) a utilizaccedilatildeo intensiva dos recursos naturais da regiatildeo (BONAVIDES 1971 p

18)

Os reflexos da SUDENE e a canalizaccedilatildeo de accedilotildees desenvolvimentistas no Nordeste

acontecem com maior consistecircncia em meados dos anos 1980-90 No Cearaacute o forte processo

de industrializaccedilatildeo eacute oriundo de poliacuteticas de atraccedilatildeo industrial (assim como o Nordeste)

contudo o parque industrial cearense estaacute fortemente concentrado em sua capital (Fortaleza) e

na regiatildeo metropolitana cada vez mais ampliando as disparidades dentro do proacuteprio estado

Os desequiliacutebrios regionais historicamente sempre foram presentes Neste contexto a

cidade meacutedia aparece assim como um mecanismo a atenuar ndash ou frear ndash tais desequiliacutebrios

Conforme aponta Rochefort (1998 p 93) algumas cidades meacutedias satildeo desenvolvidas com o

objetivo de frear o crescimento das metroacutepoles e ―[] agrave medida que as cidades satildeo escolhidas

no interior do territoacuterio levam-se para esses espaccedilos subdesenvolvidos atividade e homens

que permitam um desenvolvimento da economia regional

8 SUDENE ou a planificaccedilatildeo com liberdade numa regiatildeo subdesenvolvida foi criada pela Lei no 3692 de 15 de

dezembro de 1959 (LIMA JUacuteNIOR 2008) 9 O sistema de incentivos fiscais eram basicamente centrados na isenccedilatildeo total ou parcial do imposto sobre a

renda para subsidiar o investimento privado no Nordeste a partir da criaccedilatildeo da Sudene (CANO 2000)

34

Em vista disto seraacute que de fato a concentraccedilatildeo econocircmica e demograacutefica

intensificadas pelo processo de industrializaccedilatildeo brasileira nas uacuteltimas deacutecadas vai se

contraindo atraveacutes das poliacuteticas de interiorizaccedilatildeo e da influecircncia das cidades sobretudo nas

cidades meacutedias do Cearaacute A hipoacutetese norteadora eacute a de que com a melhoria dos indicadores

soacutecio-espaciais e com advento dos sistemas urbanos crescentes no interior do estado o

espraiamento das atividades produtivas tem exercido importante papel no desenvolvimento

espacial do territoacuterio cearense

Nesse sentido o presente artigo objetiva analisar os principais aspectos econocircmicos e

demograacuteficos das cidades meacutedias do estado do Cearaacute utilizando a classificaccedilatildeo do IBGE para

cidades meacutedias que eacute a mais usual nos trabalhos acadecircmicos10

Aleacutem de entender a dinacircmica

da estrutura produtiva cearense nas uacuteltimas deacutecadas bem como compreender os aspectos

conceituais e a importacircncia das cidades meacutedias na configuraccedilatildeo espacial e na regiatildeo de

influecircncia da rede urbana cearense nos anos 2000

Para atingir tais objetivos portou-se de procedimentos metodoloacutegicos de caraacuteter

exploratoacuterio descritivo e estatiacutestico levantamento de dados secundaacuterios - provenientes de

oacutergatildeos oficiais - das cidades meacutedias do estado O recorte temporal utilizado foi o poacutes-2000

onde seraacute possiacutevel entender e caracterizar o processo de transformaccedilotildees soacutecio-espaciais destas

cidades bem como trabalhar o exerciacutecio da espacialidade

Da base teoacuterica consultada conclui-se que uma cidade meacutedia se define pelo papel que

desempenha na organizaccedilatildeo regional natildeo obstante seja este tambeacutem comum agraves grandes

cidades e tambeacutem no que concerne agrave posiccedilatildeo que ocupa na rede urbana local ou regional

Nesse intuito a temaacutetica sobre cidades meacutedias e estudos mais aprofundados faz-se necessaacuteria

para compreender em que medida as cidades meacutedias tecircm sido afetadas pelos processos de

reestruturaccedilatildeo da economia dos aspectos econocircmicos e demograacuteficos Justificando assim a

escolha do espaccedilo-tempo em que houveram mutaccedilotildees na sociedade e no espaccedilo cearense

cujos rebatimentos tecircm sido maiores nos territoacuterios urbanos

Este artigo estaacute organizado em seis seccedilotildees Aleacutem desta introduccedilatildeo e das consideraccedilotildees

finais a segunda seccedilatildeo trata-se de um estudo sobre as principais caracteriacutesticas da estrutura

produtiva cearense a seccedilatildeo seguinte aborda aspectos conceituais de cidades meacutedias seguida

dos procedimentos metodoloacutegicos adotados na quinta seccedilatildeo eacute feito um estudo sobre a

configuraccedilatildeo espacial seguido por anaacutelises descritivas e estatiacutesticas com base na revisatildeo

10

Eacute importante destacar o debate existente entre a conceituaccedilatildeo de cidades meacutedias tendo como referecircncia os

trabalhos de Spoacutesito (2007)

35

teoacuterica abordada sobre os aspectos econocircmicos e demograacuteficos das cidades meacutedias cearenses

nos anos 2000

2 Modificaccedilotildees na estrutura produtiva e no desenvolvimento territorial do Cearaacute

Entre os anos de 1950 ateacute meados dos anos 1980 a economia do Cearaacute atravessa uma

etapa de diversificaccedilatildeo e modernizaccedilatildeo produtiva sob accedilatildeo planejada governamental

Contudo mais precisamente eacute atraveacutes de intervenccedilotildees de organismos institucionais de

fomento ao desenvolvimento regional em especial a SUDENE que o Cearaacute experimenta

transformaccedilotildees mais soacutelidas e consistentes no seu quadro produtivo e na sua infraestrutura

atraveacutes das accedilotildees de desenvolvimento via industrializaccedilatildeo (AMORA 1994 LIMA JUacuteNIOR

2014)

A anaacutelise da dinacircmica setorial produtiva eacute relevante para a compreensatildeo dos fatores

que influenciam no processo de promoccedilatildeo do desenvolvimento da economia e do territoacuterio

cearense Todavia a reestruturaccedilatildeo produtiva ocorrida com mais consistecircncia no paiacutes em

1990 teve repercussotildees acentuadas nas caracteriacutesticas da cadeia produtiva em todos os setores

de atividade econocircmica No que se refere ao comportamento da estrutura produtiva cearense

ocorre que nos uacuteltimos 20 anos houveram mudanccedilas estruturais significativas de acordo com

o tipo de atividade estimulada com base no tripeacute agronegoacutecio-induacutestria-turismo que eacute o vetor

das poliacuteticas de promoccedilatildeo do desenvolvimento cearense segundo Lima Juacutenior (2014)

Nesse sentido foi necessaacuterio que o governo dotasse o estado de infraestrutura para

permitir a ―livre circulaccedilatildeo e a expansatildeo continuada do capital De acordo com Lima Juacutenior

(2014) e corroborando com Arauacutejo (2007 p103) implantam-se trecircs eixos principais para as

accedilotildees i) interiorizaccedilatildeo da induacutestria (pela implantaccedilatildeo de novas induacutestrias e modernizaccedilatildeo do

atual parque industrial) ii) modernizaccedilatildeo da agricultura (atraveacutes do agronegoacutecio e turismo

com a instalaccedilatildeo de equipamentos necessaacuterios para a inserccedilatildeo das aacutereas litoracircneas na rota

nacional) e iii) a consequente expansatildeo do comeacutercio e dos serviccedilos

No Cearaacute ateacute meados dos anos 1990 as taxas eram crescentes em dois dos setores da

economia cearense (induacutestria e serviccedilos) inclusive maiores do que as taxas nacionais como

demonstrado na Tabela 01

36

Tabela 01 Brasil Nordeste e Cearaacute Taxas de Crescimento do PIB Setorial () 1990-2010

(Periacuteodos Selecionados)

Periacuteodo Agricultura Induacutestria Serviccedilos

BR NE CE BR NE CE BR NE CE

1990-95 117 153 -214 -167 -079 288 07 04 308

1995-00 -05 -354 -764 373 48 332 133 241 13

2000-05 -284 -007 344 -374 -329 -621 713 689 874

2005-10 346 241 102 159 256 686 481 596 504

Fonte adaptado pelo autor a partir de Lima Juacutenior (2014 p93)

As atividades estimuladas para a promoccedilatildeo do desenvolvimento no Estado do Cearaacute

formam segundo Lima Juacutenior (2014) o chamado tripeacute agronegoacutecio-induacutestria-turismo Dentre

as accedilotildees do Governo das Mudanccedilas na segunda metade da deacutecada de 1980 destacam-se ―as

poliacuteticas de interiorizaccedilatildeo do desenvolvimento mediante o fortalecimento das cidades

meacutedias as poliacuteticas fiscais e os investimentos em infraestrutura urbana de forma a atrair o

capital nacional e estrangeiro nas atividades industriais e turiacutesticasimobiliaacuterias (ACCIOLY

2009 p7)

Conforme observado por Alves et al (2017) houve melhorias substanciais e mais

difundidas ao longo do territoacuterio estadual abrangendo grande parte dos municiacutepios

Entretanto estas melhorias natildeo se deram de forma homogecircnea Os principais avanccedilos se

deram em municiacutepios polarizadores de regiotildees mais dinacircmicas como os municiacutepios de Sobral

o conjunto formado por Crato ndash Juazeiro do Norte ndash Barbalha Limoeiro do Norte Iguatu

Aleacutem da capital do estado e de seu entorno metropolitano estes municiacutepios foram alvos de

poliacuteticas de interiorizaccedilatildeo industrial e outros programas de modernizaccedilatildeo econocircmica Nas

aacutereas marcadas ainda pelo atraso e vulnerabilidades climaacuteticas como o oeste do estado

Sertotildees Central e dos Inhamuns ndash onde a aridez eacute a marca principal - as melhoras tiveram um

padratildeo mais lento

37

Figura 01 Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal para o ano de 2000 e 2010

Fonte Alves et al (2014 p16)

Segundo Conte (2013) das preocupaccedilotildees com o desenvolvimento regional e com a

tentativa de corrigir os desequiliacutebrios regionais eacute que as cidades meacutedias surgiram como uma

possiacutevel ―soluccedilatildeo

Os desequiliacutebrios regionais historicamente sempre foram presentes Neste contexto a

cidade meacutedia aparece assim como um mecanismo a atenuar ndash ou frear ndash tais desequiliacutebrios

Conforme traz Rochefort (1998 p 93) algumas cidades meacutedias satildeo desenvolvidas com o

objetivo de frear o crescimento das metroacutepoles e ―[] agrave medida que as cidades satildeo escolhidas

no interior do territoacuterio levam-se para esses espaccedilos subdesenvolvidos atividade e homens

que permitam um desenvolvimento da economia regional Destarte a concentraccedilatildeo

econocircmica intensificada pelo processo de industrializaccedilatildeo brasileira nas uacuteltimas deacutecadas vai

se contraindo atraveacutes das poliacuteticas de desconcentraccedilatildeo urbana e econocircmica

3 Aspectos conceituais das cidades meacutedias

O conceito de cidade meacutedia eacute bastante heterogecircneo pois pode ser abordado por

diversas oacuteticas demograacutefica localizaccedilatildeo espacial niacutevel hieraacuterquico o contexto em que se

insere Enfim uma vasta gama de definiccedilotildees pautadas na realidade vivenciada pela cidade

meacutedia Diversos autores e pesquisadores abordam este tema e definem diversos conceitos eou

paracircmetros para a cidade meacutedia (FRANCcedilA 2007)

38

Amorim Filho e Serra (2001) no que tange a cidade meacutedia afirma que esta eacute meacutedia

por inserir-se em uma determinada realidade em um contexto especiacutefico

Bessa Borges e Soares (2002) destacam o aspecto da localizaccedilatildeo espacial A cidade

meacutedia pode estar sob a influecircncia direta ou indiretamente de uma metroacutepole nacional ou

regional uma capital estadual ou ser adjacente a uma cidade importante o que lhe confere

maiores chances de crescimento e desenvolvimento Tais fatores indicam a singularidade das

cidades meacutedias em seus respectivos contextos (BESSA BORGES SOARES 2002

FRANCcedilA 2007)

Soares Melo e Luz (2005) trazem a questatildeo da individualidade ao debate conceitual

sobre cidade meacutedia Estas cidades como qualquer outra ―possuem especificidades relativas agrave

sua formaccedilatildeo crescimento demograacutefico dinamizaccedilatildeo econocircmica e complexidade no

oferecimento de serviccedilos comeacutercio e infraestrutura urbana (FRANCcedilA 2007 p 50)

Destarte ―cada cidade eacute um todo completo e contraditoacuterio pois as variaacuteveis necessaacuterias agrave sua

reproduccedilatildeo abarcam o sistema produtivo e a rede de consumo em uma relaccedilatildeo estreita com a

regiatildeo (SOARES LUZ MELO 2005 p2)

Quanto agrave relaccedilatildeo das cidades meacutedias com a regiatildeo Steinberger e Bruna (2001)

apontam que tal relaccedilatildeo regional daacute a elas o papel de nuacutecleo estrateacutegico pelo fato de estarem

inseridas nos espaccedilos urbano e regional

Cabe frisar que a cidade meacutedia eacute uma consonacircncia da cidade grande e da cidade

pequena Ela exibe caracteriacutesticas de um grande espaccedilo com especializaccedilotildees e variedades nos

serviccedilos e potencialidades em atividades produtivas Por outro lado a populaccedilatildeo da cidade

meacutedia manteacutem as relaccedilotildees sociais com haacutebitos de troca de favores de forte capital social

(TUAN 1983 BESSA BORGES SOARES 2002)

Quanto agrave classificaccedilatildeo segundo o IBGE uma cidade meacutedia eacute aquela que possui

populaccedilatildeo entre 100000 e 500000 habitantes A Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU)

caracteriza uma cidade meacutedia que tenha entre 100000 e 1000000 Jaacute a Uniatildeo dos Arquitetos

Internacionais (UIA) delimita entre 20000 e 2000000 de habitantes (FRANCcedilA 2007)

Ademais Soares (2005 p4) defende que o adensamento populacional de uma cidade

meacutedia varia de paiacutes para paiacutes ―como na Franccedila de 20000 a 100000 pessoas ou na Espanha

de 20000 a 200000

Todavia cabe salientar quanto ao aspecto demograacutefico uma ressalva Existe a

possibilidade de como coloca Amorim Filho Bueno e Abreu (1982) cidades com nuacutemeros

39

populacionais inferiores terem capacidade suficiente de exercer as mesmas funccedilotildees que uma

cidade meacutedia em locais menos desenvolvidos

Diversos satildeo os questionamentos ndash por exemplo o questionamento se a populaccedilatildeo

analisada eacute a total ou a urbana ndash quanto o conceito e classificaccedilatildeo de cidade meacutedia Spoacutesito

(2001) diz que uma cidade meacutedia pode ser caracterizada pelo seu papel regional e potencial de

comunicaccedilatildeo e articulaccedilatildeo provenientes de sua realidade geograacutefica tendo o consumo como

ferramenta importante no papel intermediaacuterio dessas cidades

Nesta linha os limites populacionais satildeo ultrapassados na conceituaccedilatildeo de meacutedio e satildeo

consideradas como meacutedias os nuacutecleos urbanos que ―desempenham papeacuteis de intermediaccedilatildeo

entre cidades maiores e menores no acircmbito de diferentes redes urbanas e que portanto diferem

das denominadas ―cidades de porte meacutedio cujo reconhecimento adveacutem de seus tamanhos

demograacuteficos (SPOacuteSITO 2007 p 9)

4 Aspectos metodoloacutegicos

O presente trabalho aborda uma metodologia de caraacuteter exploratoacuterio descritivo e

estatiacutestico referente ao processo de transformaccedilatildeo das cidades meacutedias cearenses ao longo dos

anos Para tanto portou-se de dados secundaacuterios referentes agraves cidades meacutedias no ano de 2017

a saber Crato-Juazeiro do Norte-Barbalha11

Iguatu Itapipoca e Sobral De modo a entender a

dinacircmica demograacutefica e econocircmica dessas regiotildees bem como compreender a influecircncia sobre

as cidades vizinhas A despeito de Caucaia Maracanauacute e Maranguape contemplarem o

criteacuterio estabelecido pelo IBGE natildeo estaratildeo no escopo deste estudo pois estatildeo inseridas na

Regiatildeo Metropolitana de Fortaleza a qual apresenta uma forte concentraccedilatildeo da estrutura

produtiva do estado e em detrimento disto natildeo exercem caracteriacutesticas intriacutensecas a uma

cidade meacutedia

Os meios teacutecnicos utilizados foram o estatiacutestico e o descritivo Ambos contribuem

para uma boa anaacutelise de dados secundaacuterios De acordo com Prodanov e Freitas (2013) a

funccedilatildeo do meacutetodo estatiacutestico eacute essencialmente possibilitar uma descriccedilatildeo quantitativa da

sociedade considerada como um todo organizado jaacute no que se refere ao meacutetodo descritivo

11

Mesmo natildeo sendo considerada uma cidade meacutedia pelo criteacuterio demograacutefico do IBGE Barbalha assume o

papel de cidade meacutedia pois a conurbaccedilatildeo Crato-Juazeiro do Norte-Barbalha apresenta uma consonacircncia entre as

economias destes municiacutepios culminando em uma dinacircmica econocircmica e urbana Por exemplo muitas pessoas

vivem em uma cidade mas trabalham ou estudam em outra Essa dinacircmica espacial que interliga as economias

dos municiacutepios como um soacute municiacutepio presente no interior cearense

40

quando utilizado para explicar fenocircmenos possibilita analisar os dados na sua concretude

deduzindo elementos constantes abstratos ou gerais nele presentes

A exploraccedilatildeo de dados secundaacuterios foi realizada a partir de artigos publicados em

perioacutedicos bem como do IBGE DATASUS IPECE PNUD RAISMTE com a utilizaccedilatildeo de

dados referente as cidades meacutedias do Cearaacute abordando um panorama dos anos 2000 daquelas

cidades que em 2017 se caracterizam como cidades meacutedias Optou-se no presente trabalho

utilizar a classificaccedilatildeo do IBGE que eacute a mais usual entre a comunidade acadecircmica Onde seraacute

possiacutevel entender o processo de transformaccedilotildees soacutecio-espaciais destas cidades e entender o

seu grau de influecircncia sobre as demais

5 Resultados e Discussatildeo

51 Configuraccedilatildeo espacial e a Regiatildeo de Influecircncia de Cidades na rede urbana do Cearaacute

Nos uacuteltimos anos houveram grandes avanccedilos metodoloacutegicos no que diz respeito agraves

interaccedilotildees espaciais entre cidades tanto em escalas nacionais e regionais quanto intra-

estaduais Tais repercussotildees estatildeo associadas a um intenso processo de urbanizaccedilatildeo das

uacuteltimas deacutecadas

A comeccedilar entende-se sistema urbano como um componente espacial do

desenvolvimento social o resultado de uma evoluccedilatildeo histoacuterica A rede de cidades que o

compotildee em sua forma distribuiccedilatildeo no territoacuterio inter-relaccedilotildees e interdependecircncias decorre

de processos sociais de mudanccedila e expressa as diferentes escalas da inserccedilatildeo regional na

divisatildeo social do trabalho (MOURA PEcircGO 2016) Portanto satildeo vaacuterias redes regionais que

correspondem aos diferentes tempos e modos dessa inserccedilatildeo

No Cearaacute como mencionado anteriormente a intervenccedilatildeo planejada via SUDENE

mais precisamente na sua segunda metade do periacuteodo de vigecircncia dos Planos Diretores (Era

Jereissati) propocircs uma estruturaccedilatildeo urbana de caraacuteter social priorizando a expansatildeo de

habitaccedilotildees de populares e o suprimento da infraestrutura urbana necessaacuteria a melhores

condiccedilotildees de vida

No entanto Egler et al (2011) apontam para a definiccedilatildeo de trecircs categorias analiacuteticas

baacutesicas que possuem relaccedilotildees conceituais distintas satildeo elas estrutura rede e sistema urbanos

A estrutura urbana segundo os autores eacute a descriccedilatildeo e a interpretaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo espacial

das cidades moldada por processos gerais provenientes das tendecircncias de longo prazo da

economia e da sociedade nesse sentido destaca-se o forte processo de concentraccedilatildeo urbana

41

cearense na capital e regiotildees adjacentes Jaacute a noccedilatildeo de rede urbana manifesta caracteriacutesticas

histoacutericas e geograacuteficas de um determinado territoacuterio estaacute associada a questotildees mais

abstratas Por fim os sistemas urbanos expressam o comportamento dos fluxos materiais e

imateriais de curto prazo isto eacute os seus aspectos dinacircmicos atuais (EGLER et al 2011)

Nos uacuteltimos anos com base em configuraccedilotildees espaciais que transcendem a noccedilatildeo do

urbano aglomerado e incorporam a dimensatildeo regional12

o Cearaacute apresentou mudanccedilas na sua

rede urbana Observando como recurso metodoloacutegico as proposiccedilotildees sistematizadas pelo

Estudo Regiatildeo de Influecircncia de Cidades ndash REGIC elaborado pelo IBGE Tem-se que em 2008

o grau de Influecircncia das cidades cearenses apresentava as seguintes caracteriacutesticas conforme

demonstrado a seguir

Quadro 01 Regiatildeo de Influecircncia de Cidades ndash REGIC 2008

CENTROS NIacuteVEIS DE HIERARQUIA

DOS CENTROS CENTROS CEARENSES

Metroacutepole Metroacutepole Fortaleza

Capital Regional Capitais Regionais C Juazeiro-Crato-Barbalha e Sobral

Centro Sub-Regional

Centros Subregionais A Crateuacutes Iguatu e Quixadaacute

Centros Subregionais B Itapipoca

Centro de Zona

Centros de Zona A Acarauacute Aracati Canindeacute Icoacute

Limoeiro do Norte e Russas

Centros de Zona B

Brejo Santo Camocim Cruz

Guaraciaba do Norte Ipu Iracema

Itapageacute Jaguaribe Satildeo Benedito

Senador Pompeu e Tauaacute

Centro Local - Demais 150 cidades

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base nas informaccedilotildees do REGICIBGE (2008)

O Quadro 01 mostra os centros de maiores hierarquias a Metroacutepole Fortaleza as

Capitais Regionais C de Sobral e Crato-Juazeiro do Norte-Barbalha que satildeo seguidas pelos

12

Os estudos da rede urbana brasileira empreendidos pelo IBGE foram realizados nos anos de 1966 1978 1993

e em 2007 Consistiram em subsiacutedios de regionalizaccedilotildees com base na definiccedilatildeo da hierarquizaccedilatildeo dos centros

urbanos brasileiros delimitados por regiotildees de influecircncia exercida no acircmbito da intensidade e direccedilatildeo de fluxos

de pessoas bens e serviccedilos (LIMA JUacuteNIOR 2014)

42

Centros Sub-regionais A de Crateuacutes Iguatu e Quixadaacute e pelo Centro Sub-regional B de

Itapipoca Logo em seguida vem os Centros de Zona A Acarauacute Aracati Canindeacute Icoacute

Limoeiro do Norte e Russas e os Centros de Zona B Brejo Santo Camocim Cruz

Guaraciaba do Norte Ipu Iracema Itapageacute Jaguaribe Satildeo Benedito Senador Pompeu e

Tauaacute Por fim agraves demais 150 cidades classificadas como centro local

A presenccedila de duas Capitais Regionais de niacutevel C ndash Sobral e o aglomerado Juazeiro do

Norte-Crato-Barbalha ndash localizadas em aacutereas opostas do territoacuterio estadual permitem segundo

Lima Juacutenior (2014) a polarizaccedilatildeo a partir destes centros Aos quais se caracterizam como

cidades meacutedias por apresentarem uma populaccedilatildeo acima de 100000 conforme o criteacuterio do

IBGE e satildeo as regiotildees mais populosas do interior do estado promovem um grau de

diversificaccedilatildeo diferenciado e apresenta niacuteveis de influecircncia mais elevados

Nos Centros Sub-regionais A de Crateuacutes Iguatu e Quixadaacute a influecircncia exercida se daacute

prioritariamente na atividade do comercio e de serviccedilos em sauacutede e educaccedilatildeo Jaacute Itapipoca

(Centro Sub-regional B) tambeacutem se caracteriza como uma cidade meacutedia (com 116065

habitantes) Os Centros de Zona satildeo os centros que se constituem de cidades menores em

relaccedilatildeo agraves anteriores possuem uma aacuterea de influecircncia tambeacutem menor estes centros

funcionalizam o processo denominado por Spoacutesito (2007) de relaccedilotildees sobreposiccedilotildees e

articulaccedilotildees com o espaccedilo rural e com os demais centros de forma multi-escalar

O olhar para o setor agriacutecola advindo (novamente) a partir do Programa de Accedilatildeo

Econocircmica do Governo ndash PAEG visando dentre outras medidas a modernizaccedilatildeo da

agricultura e a maior concentraccedilatildeo do crescimento industrial brasileiro no Sudeste levam agrave

decadecircncia das induacutestrias nordestinas a exemplo da tecircxtil e agrave crise do setor agriacutecola

aumentando as disparidades regionais no paiacutes Isso eacute um dos causadores da forte concentraccedilatildeo

na capital onde Fortaleza apresenta elevado crescimento exacerbando a distacircncia em termos

populacionais e econocircmicos em relaccedilatildeo a outras cidades do Cearaacute A centralidade de

Fortaleza eacute reforccedilada pelas poliacuteticas de desenvolvimento regional iniciadas nos anos 1960

com a SUDENE contribuindo para a ascensatildeo de Fortaleza a metroacutepole regional (COSTA

AMORA2009 ARAUJO 2007)

Nas cidades meacutedias satildeo sentidos os efeitos desse momento de industrializaccedilatildeo e

integraccedilatildeo do mercado nacional Cresce o setor terciaacuterio principalmente em funccedilatildeo dos

empregos diretos no setor puacuteblico e dos indiretos ligados ao comeacutercio e aos serviccedilos que se

ampliam A situaccedilatildeo do campo contribui para que as cidades meacutedias se tornem atrativas

43

intensificando a migraccedilatildeo campo-cidade e expandindo a periferia urbana com a formaccedilatildeo de

favelas e o crescimento do setor informal (COSTA AMORA 2009)

52 Aspectos demograacuteficos e econocircmicos das cidades meacutedias do Cearaacute

A presente seccedilatildeo tem como objetivo analisar dados relativos agraves cidades meacutedias aqui

estudadas seguindo o criteacuterio estabelecido pelo IBGE A extraccedilatildeo dos microdados foi

realizada em diversas bases de dados DATASUS IBGE IPECE PNUD RAISMTE Nesse

sentido eacute imprescindiacutevel o exerciacutecio das espacialidades destas cidades que se localizam nas

mesorregiotildees Noroeste Cearense (Sobral) Sul cearense (Crato Juazeiro do Norte e

Barbalha) Centro-sul (Iguatu) e no Norte Cearense (Itapipoca) A localizaccedilatildeo destas no

territoacuterio cearense eacute observado na Figura 02

Figura 02 Cidades meacutedias do Cearaacute - 2017

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com a utilizaccedilatildeo do software QGis

Em termos demograacuteficos tem-se um processo de urbanizaccedilatildeo das cidades meacutedias do

estado no comparativo 2000 e 2010 conforme observado no Graacutefico 01

44

Graacutefico 01 Populaccedilatildeo Urbana e Rural das cidades meacutedias em valores absolutos ndash 2000 e

2010

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos Censos de 2000 e 2010

Na Tabela 03 todos os municiacutepios aqui analisados apresentaram mais de 50 da

populaccedilatildeo como urbana (com o menor niacutevel de urbanizaccedilatildeo em Itapipoca de 51) no ano

2000 o que evidencia o papel do urbano na constituiccedilatildeo dessas cidades no iniacutecio do seacuteculo

XXI ndash vale frisar a aglomeraccedilatildeo Crato-Juazeiro do Norte-Barbalha e Sobral os quais

apresentam uma populaccedilatildeo urbana de quase 90

Tabela 03 Taxa de populaccedilatildeo urbana e rural das cidades meacutedias cearenses ndash 2000 e 2010

Municiacutepio

2000 2010 Taxa de

Crescimento

20002010 Urbana Rural Total

(abs) Urbana Rural Total (abs)

Crato-Juazeiro

do Norte-

Barbalha

087 013 363810 089 011 426690 085

Iguatu 073 027 85615 077 023 96495 089

Itapipoca 051 049 94369 058 042 116065 081

Sobral 087 013 155276 088 012 188233 082

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos Censos de 2000 e 2010

Em 2010 a taxa de urbanizaccedilatildeo miacutenima se eleva mostrando o papel do urbano no

desenvolvimento destas cidades destacando Itapipoca e Iguatu os quais apresentam

elevaccedilotildees significativas nas respectivas populaccedilotildees urbanas ante a rural Ademais tal cenaacuterio

316813

62366 48481

134508

46997 23249

45888 20768

379066

74627 66909

166310

47624 21868

49156 21923

0

50000

100000

150000

200000

250000

300000

350000

400000

Crato-Juazeiro do Norte-Barbalha

Iguatu Itapipoca Sobral

2000 Populaccedilatildeo Urbana 2000 Populaccedilatildeo Rural 2010 Populaccedilatildeo Urbana 2010 Populaccedilatildeo Rural

45

significa aumento na qualidade de vida na longevidade e na renda da populaccedilatildeo destes

municiacutepios bem como reduccedilotildees nas desigualdades (Tabela 04)

Tabela 04 Iacutendice de Desenvolvimento Humano e Iacutendice de Gini das cidades meacutedias

cearenses nos anos de 2000 e 2010

Municiacutepio IDH Iacutendice de Gini

2000 2010 Δ 2000 2010 Δ

Crato-Juazeiro do Norte-Barbalha 0546 0697 2759 06043 05431 -

101219

Iguatu 0546 0677 2399 05867 05522 -58803

Itapipoca 0477 0640 3419 06338 05617 -

113758

Sobral 0537 0714 3296 06273 05702 -91025

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de dados do PNUD e do DATASUS

Segundo dados do PNUD em 2000 todas as cidades meacutedias aqui analisadas

apresentaram IDHs medianos ndash Itapipoca apresentou abaixo disso tendo o menor coeficiente-

o que em parte refletia baixas condiccedilotildees de vida em relaccedilatildeo agraves demais cidades do estado Jaacute

em 2010 o melhor iacutendice pertence a Sobral (0714) correspondendo a um alto IDHM

destacando a elevaccedilatildeo significativa na qualidade de vida da populaccedilatildeo no dececircnio 200010

Itapipoca manteacutem-se com o IDH mais baixo Todavia cabe salientar a elevaccedilatildeo deste iacutendice

em todas as cidades

Conforme observado por Alves et al (2017) os principais avanccedilos se deram em

municiacutepios polarizadores de regiotildees mais dinacircmicas como os municiacutepios de Sobral o

conjunto formado por Crato ndash Juazeiro do Norte ndash Barbalha Limoeiro do Norte Iguatu Aleacutem

da capital do estado e de seu entorno metropolitano estes municiacutepios foram alvo de poliacuteticas

de interiorizaccedilatildeo industrial e outros programas de modernizaccedilatildeo econocircmica De modo geral

houve uma melhoria dos indicadores de IDHM das cidades meacutedias

No que diz respeito a anaacutelise da desigualdade de renda medida pelo Iacutendice de Gini o

qual mostra o quatildeo desigual encontra-se a distribuiccedilatildeo de renda dentro dos municiacutepios aqui

estudados de acordo com a Tabela 04 em 2000 o iacutendice mais alto estaacute em Itapipoca (06338)

isto eacute apresentava a pior distribuiccedilatildeo de renda entre as cidades meacutedias do Cearaacute jaacute o menor

iacutendice estaacute em Iguatu (05867) Em 2010 tem-se uma mudanccedila quanto a distribuiccedilatildeo de renda

bem significativa Todos os iacutendices apresentam melhora ou seja todos reduziram no dececircnio

46

200010 O menor iacutendice fica para o aglomerado Crato-Juazeiro do Norte-Barbalha (05431)

Sobral apresentava o maior iacutendice entre as cidades meacutedias (05702)

As melhorias neste indicador refletem em boa medida no aumento de empregos

gerados ao longo do tempo Jaacute que conforme explorado anteriormente Franccedila (2007) afirma

que as cidades meacutedias possuem especificidades relativa agrave sua formaccedilatildeo crescimento

demograacutefico dinamizaccedilatildeo econocircmica e complexidade no oferecimento de serviccedilos comeacutercio

infraestrutura urbana o que de fato favorece a reduccedilatildeo das desigualdades

Todavia o desenvolvimento das cidades meacutedias cearenses aqui estudadas se reflete

tambeacutem no mercado de trabalho destes espaccedilos e na elevaccedilatildeo do poder de compra do

consumidor

Tabela 05 Empregos formais das cidades meacutedias cearenses nos anos 2000 2010 e 2015

Ano Crato-Juazeiro do Norte-Barbalha Iguatu Itapipoca Sobral

2000 31078 5796 3239 21119

2010 63420 11521 8523 41963

2015 78106 14751 12805 46953

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de dados da RAISMTE

Conforme Tabela 05 o nuacutemero de empregos no mercado de trabalho formal eleva-se

significativamente O municiacutepio com maior nuacutemero de empregos gerados eacute o aglomerado

Crato-Juazeiro do Norte-Barbalha Em seguida aparece Sobral crescimento evidenciado pela

produccedilatildeo de calccedilados decorrente da inserccedilatildeo da empresa Grendene SA em 1993 e seus

milhares de empregos gerados desde sua instalaccedilatildeo Os com menor participaccedilatildeo na promoccedilatildeo

de empregos formais foram Iguatu e Itapipoca

Todas estas variaacuteveis refletem o crescimento econocircmico apresentado pelas cidades

meacutedias cearenses no decorrer do seacuteculo XXI Ademais o PIB per capita (PIB

municipalPopulaccedilatildeo municipal) cresce em decorrecircncia da elevaccedilatildeo do poder financeiro dos

mesmos Isso mostra o desenvolvimento econocircmico destes municiacutepios a ampliaccedilatildeo de

investimentos colocados em seus territoacuterios agraves poliacuteticas de atraccedilatildeo de investimentos para a

RM Cariri e para a Regiatildeo de Sobral ndash em 2016 foi instaurada a Regiatildeo Metropolitana de

Sobral (RMS)

47

Graacutefico 02 PIB per capita das cidades meacutedias cearenses 20022015 (em R$)

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de dados do IPECE

a anaacutelise do PIB municipal colocada pelo IPECE natildeo contempla o ano de 2014 conforme estaacute na seacuterie de Perfil

Baacutesico Municipal (PBM) da referida instituiccedilatildeo

O Graacutefico 02 traz uma seacuterie histoacuteria do PIB per capita das cidades meacutedias cearenses

Nela pode-se observar uma elevaccedilatildeo consideraacutevel do PIB por habitante em todos os

municiacutepios Destaque vai para Sobral que apresenta o maior valor (R$ 2022400) seguido

por Iguatu (R$ 1340500) Os que apresentam menor valor satildeo o aglomerado Crato-Juazeiro

do Norte-Barbalha Crato (R$ 1259300) e Itapipoca (R$ 953000) Em termos percentuais

aglomerado Crato-Juazeiro do Norte-Barbalha auferiu o maior aumento (40785) seguido

por Iguatu (38852) os com menor crescimento percentual ndash ainda assim foram altos ndash

foram Itapipoca (29659) e Sobral (26946) Jaacute em termos absolutos o que obteve maior

elevaccedilatildeo nos empregos formais foi Sobral (+ R$1475000) o com menor aumento absoluto

foi Itapipoca (+ R$712700)

Tais estatiacutesticas sobre o Produto Interno Bruto satildeo reflexos das atividades estimuladas

para a promoccedilatildeo do desenvolvimento no estado do Cearaacute que formam segundo Lima Juacutenior

(2014) o chamado tripeacute agronegoacutecio-induacutestria-turismo De modo geral conforme

demonstrado na Tabela 01 no Cearaacute ateacute meados dos anos 1990 as taxas eram crescentes em

dois dos setores da economia cearense (induacutestria e serviccedilos) eram inclusive maiores do que as

taxas nacionais Tal aspecto estrutural eacute relevante para destacar os desempenhos das cidades

meacutedias na economia cearense

0

5000

10000

15000

20000

25000

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2015

Crato-Juazeiro do Norte-Barbalha Iguatu Itapipoca Sobral

48

As cidades meacutedias passam por transformaccedilotildees significativas no contexto atual

Segundo Costa e Amora (2009) a destacada posiccedilatildeo na rede urbana cearense eacute consorciada

natildeo soacute dos aspectos de urbanizaccedilatildeo mas tambeacutem da localizaccedilatildeo espacial onde empregam

relativa dinamizaccedilatildeo da economia das cidades vizinhas configurando-se algumas delas como

cidades polos ndash Sobral e Crato-Juazeiro do Norte As autoras esclarecem que eacute na fase de

industrializaccedilatildeo nacional que ocorrem mudanccedilas significativas nas chamadas cidades meacutedias

6 Consideraccedilotildees Finais

As cidades meacutedias passaram a representar sinocircnimo de desenvolvimento na

contemporaneidade Diante das desigualdades regionais advindas das poliacuteticas de

desenvolvimento econocircmico iniciada na deacutecada de 1950 intensificando com o tempo as

disparidades econocircmicas regional e estadual a cidade meacutedia ganha um novo papel sobretudo

no que tange a desconcentraccedilatildeo econocircmica intra-estadual Assim algumas cidades meacutedias satildeo

desenvolvidas com o intento de reduzir o crescimento das metroacutepoles e conforme elas satildeo

escolhidas no interior do territoacuterio tem-se investimentos elevaccedilatildeo nos niacuteveis demograacuteficos

melhor qualidade de vida permitindo um desenvolvimento da economia regional

(ROCHEFORT 1998)

No que concerne os aspectos soacutecio-espaciais e da urbanizaccedilatildeo observou-se que a

presenccedila de duas Capitais Regionais de niacutevel C ndash Sobral e o aglomerado Juazeiro do Norte-

Crato-Barbalha ndash localizadas em aacutereas opostas do territoacuterio estadual permitem a polarizaccedilatildeo a

partir destes centros Bem como a importacircncia das outras cidades meacutedias no que diz respeito

ao grau de influecircncia na rede urbana tais como Iguatu e Itapipoca como centros sub-regionais

A e B respectivamente voltados sobretudo ao comeacutercio e serviccedilos

Quanto aos aspectos demograacuteficos percebe-se um aumento significativo na taxa de

urbanizaccedilatildeo das cidades meacutedias Todas as cidades meacutedias apresentaram bons IDHMs o que

reflete melhores condiccedilotildees de vida Os melhores iacutendices pertencem a Sobral o pior eacute

Itapipoca Quanto ao iacutendice de Gini a maior desigualdade na distribuiccedilatildeo de renda estaacute em

Sobral O melhor iacutendice encontra-se no aglomerado Crato-Juazeiro do Norte-Barbalha No

mercado de trabalho o aglomerado Crato-Juazeiro do Norte-Barbalha possui os melhores

nuacutemeros de empregos gerados Com menor participaccedilatildeo foram Iguatu e Itapipoca A seacuterie do

PIB per capita (200215) destaca Sobral (R$ 2022400) O s que apresentam menor valor satildeo

o aglomerado Crato-Juazeiro do Norte-Barbalha Crato (R$ 1259300) e Itapipoca (R$

49

953000) Tais estatiacutesticas sobre o PIB satildeo reflexos das atividades estimuladas para a

promoccedilatildeo do desenvolvimento no estado do Cearaacute que formam segundo Lima Juacutenior (2014)

o chamado tripeacute agronegoacutecio-induacutestria-turismo

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51

DESENVOLVIMENTO ECONOcircMICO DOS MUNICIacutePIOS DE MEacuteDIO PORTE DO

CEARAacute NOS ANOS 2000 E 2010

NATANIELE DOS SANTOS ALENCAR

Economista pela Universidade Regional do Cariri (URCA) Mestranda em Economia Rural pela

Universidade Federal do Cearaacute (UFC) E-mail nataniele-santoshotmailcom

Telefone (88) 9 9449-1362

WELLINGTON RIBEIRO JUSTO

Professor associado da Universidade Regional do Cariri (URCA) Professor do Programa de

Poacutes-graduaccedilatildeo em Economia (PPGECON-UFPE) Doutor em Economia pelo Programa de

Poacutes-graduaccedilatildeo em Economia do Centro de Ciecircncias Sociais Aplicadas (PIMES-UFPE) E-

mail justowryahoocombr

Telefone (81) 9 8848-1898

JAMILY FREIRE GONCcedilALVES

Economista pela Universidade Regional do Cariri (URCA) E-mail jamilyfreiregmailcom

Telefone (88) 9 9941-5302

MATHEUS OLIVEIRA DE ALENCAR

Economista pela Universidade Regional do Cariri (URCA) Mestrando em Economia Rural pela

Universidade Federal do Cearaacute (UFC) E-mail matheusalencar29gmailcom

Telefone (88) 9 8107-0613

WAGNER FERNANDES DE CALDA

Graduando em ciecircncias econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA) E-mail

wagnermauritihotmailcom

Telefone (88) 9 9230-0406

52

DESENVOLVIMENTO ECONOcircMICO DOS MUNICIacutePIOS DE MEacuteDIO PORTE DO

CEARAacute NOS ANOS 2000 E 2010

RESUMO

Nas uacuteltimas deacutecadas o avanccedilo no processo de urbanizaccedilatildeo no Brasil tem apontado para uma

desconcentraccedilatildeo espacial tendo em vista que os municiacutepios de meacutedio porte tecircm crescido mais

que as grandes metroacutepoles Nesse contexto esse estudo buscou discutir o desenvolvimento

econocircmico dos municiacutepios de meacutedio porte do Estado do Cearaacute nos anos 2000 e 2010 a partir

de uma anaacutelise tabular descritiva Para atingir o objetivo proposto utilizaram-se dados do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e do Instituto de Pesquisa Econocircmica

Aplicada (IPEADATA) Um dos principais resultados obtidos diz respeito ao crescimento

populacional nos municiacutepios apesar de todos os municiacutepios estudados terem crescido ao

longo dos 10 anos as cidades de Caucaia Juazeiro do Norte Maracanauacute e Sobral satildeo as que

mais se destacaram com a maior concentraccedilatildeo populacional entre as cidades meacutedias

cearenses Contudo todas as cidades meacutedias apresentaram diminuiccedilatildeo na taxa de

analfabetismo e um aumento na renda per capita Jaacute em relaccedilatildeo a desigualdade social o iacutendice

de Gini apresentou uma diminuiccedilatildeo significativa na maioria das cidades analisadas

Compreende-se que vaacuterias satildeo as mudanccedilas ocorridas recentemente na dinacircmica territorial

cearense resultado da interaccedilatildeo de diversos processos de produccedilatildeo do espaccedilo urbano

Palavras-chaves Desenvolvimento Econocircmico Cidades Cearaacute

ABSTRACT

In the last decades the advance in the process of urbanization in Brazil has pointed to a

spatial deconcentration considering that the municipative municipalities have grown more

than the great metropolis In this context this study sought to discuss the economic

development of the medium-sized municipalities of the State of Cearaacute in the years 2000 and

2010 based on a descriptive tabular analysis To reach the proposed objective data from the

Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE) and the Institute of Applied Economic

Research (IPEADATA) were used One of the main results obtained is related to the

population growth in the municipalities although all the municipalities studied grew over the

10 years the cities of Caucaia Juazeiro do Norte Maracanauacute and Sobral are the ones that

stood out the most with the highest population concentration among medium-sized cities in

Cearaacute However all medium-sized cities showed a decrease in the illiteracy rate and an

increase in per capita income Regarding social inequality the Gini index showed a

significant decrease in most cities analyzed It is understood that several are the recent

changes in the territorial dynamics of Cearaacute resulting from the interaction of several

processes of production of urban space

Keywords Economic development Cities Cearaacute

53

1 Introduccedilatildeo

O conceito de desenvolvimento comeccedilou a ser delineado no decorrer da deacutecada de

1960 em um momento em que se observava em vaacuterios paiacuteses do mundo forte crescimento

econocircmico sem que houvesse necessariamente melhoria nos indicadores sociais como por

exemplo o niacutevel de pobreza Eacute consenso atualmente que o desenvolvimento econocircmico seja

fundamentado sobre trecircs fatores principais o crescimento do bem-estar econocircmico a

diminuiccedilatildeo nos niacuteveis de pobreza desemprego e desigualdades e elevaccedilatildeo das condiccedilotildees de

sauacutede nutriccedilatildeo educaccedilatildeo e moradia

Nas uacuteltimas deacutecadas no aspecto qualidade de vida as cidades meacutedias vecircm se

destacando bastante principalmente pelo fato de possuiacuterem mercado de trabalho em

expansatildeo baixo custo de vida menores niacuteveis de criminalidade entre outros fatores positivos

o que tecircm atraiacutedo cada vez mais pessoas e consequentemente novos investimentos

industriais e de serviccedilos (SILVA CALIXTO 2009)

A migraccedilatildeo eacute um dos fenocircmenos que afetam a taxa de crescimento das cidades tendo

em vista o aumento dos investimentos realizados no Estado por investidores de outras regiotildees

brasileiras ou estrangeiros Recentemente no estado do Cearaacute os fluxos migratoacuterios tem sido

positivos notadamente com a forte contribuiccedilatildeo da migraccedilatildeo de retorno estaacute ocorrendo

reversatildeo dos fluxos migratoacuterios tais retornos podem estar ligados ao sucesso com a migraccedilatildeo

que possibilita assim a volta da cidade de origem com melhor capitalizaccedilatildeo (CAVALCANTE

JUSTO 2017)

Queiroz e Baeninger (2013 p 843) ressaltam que as ―pesquisas recentes tambeacutem

apontam para os fluxos contiacutenuos e crescentes das migraccedilotildees de retorno que se dirigem para o

Cearaacute Eacute importante salientar que as pessoas retornam agrave regiatildeo em busca de novas

oportunidades de negoacutecios ou emprego nas induacutestrias que vatildeo se instalando no Estado e nas

obras que satildeo resultados dos investimentos estatais

Em relaccedilatildeo ao retorno para a regiatildeo eacute importante destacar a procura pelas cidades de

meacutedio porte em busca de melhores condiccedilotildees de vida principalmente a partir dos anos 2000

(OLIVEIRA JANNUZZI 2005) Essa busca pode ser resultado de situaccedilotildees negativas

enfrentadas pelos moradores dos grandes centros urbanos e pelas situaccedilotildees precaacuterias nas aacutereas

rurais cearenses pois os meacutedios centros permitem aos seus moradores menores iacutendices de

criminalidade reduccedilatildeo do tempo de locomoccedilatildeo menores niacuteveis de poluiccedilatildeo atmosfeacuterica

menor custo de vida e melhores condiccedilotildees ambientais sem reduzir no entanto a facilidade e

54

comodidade do acesso a serviccedilos puacuteblicos bem como ao mercado de bens e serviccedilos

privados que natildeo estatildeo dispostos ou satildeo dispostos de maneira reduzidas nas aacutereas rurais e nos

pequenos centros urbanos

Neste contexto o presente artigo tem como objetivo geral analisar o desenvolvimento

econocircmico dos municiacutepios de meacutedio porte do Estado do Cearaacute mediante comparativo entre

os anos 2000 e 2010 Aleacutem disso buscou-se identificar os aspectos teoacutericos acerca do

desenvolvimento econocircmico e das cidades meacutedias no paiacutes no Nordeste e de forma particular

no Cearaacute

Sendo assim este trabalho insere-se em uma preocupaccedilatildeo teoacuterica e empiacuterica que busca

contribuir com a literatura a partir da utilizaccedilatildeo de dados para o Estado do Cearaacute jaacute que

estudos desenvolvidos anteriormente foram realizados nos planos nacional e regional

Aleacutem desta seccedilatildeo introdutoacuteria o presente artigo estaacute estruturado em mais quatro

seccedilotildees A segunda seccedilatildeo traz uma breve discussatildeo acerca dos conceitos de desenvolvimento

econocircmico e cidades meacutedias na terceira seccedilatildeo apresentam-se a metodologia empregada no

estudo na quarta seccedilatildeo satildeo demonstrados os resultados obtidos e por fim na uacuteltima seccedilatildeo

apresenta-se as conclusotildees

2 Fundamentos teoacutericos sobre o desenvolvimento econocircmico e cidades meacutedias

Segundo Veiga (2005) a discussatildeo teoacuterica para definir o desenvolvimento surgiu apoacutes

a deacutecada de 1960 em uma eacutepoca de intenso crescimento econocircmico que aconteceu na deacutecada

de 50 em diversos paiacuteses Apesar desse avanccedilo no processo de crescimento este natildeo estava

necessariamente ligado ao desenvolvimento social dos paiacuteses uma vez que crescimento natildeo

aumentou o acesso de populaccedilotildees pobres a bens materiais e culturais como havia ocorrido

nos paiacuteses ateacute entatildeo considerados desenvolvidos

Crescimento e desenvolvimento natildeo satildeo sinocircnimos sendo que vaacuterios autores criticam

e tentam diferenciar tais conceitos Para Bresser-Pereira (2006) o crescimento seria o mero

aumento da renda per capita jaacute o desenvolvimento estaacute relacionado agraves transformaccedilotildees sociais

e poliacuteticas O desenvolvimento econocircmico pode ser entendido com um fenocircmeno histoacuterico

que eacute caracterizado pelo aumento sustentado da produtividade ou da renda por habitante que

pode ser acompanhado pelo processo de acumulaccedilatildeo de capital e pela incorporaccedilatildeo de

progresso teacutecnico

55

Para que se possa caracterizar desenvolvimento econocircmico eacute necessaacuterio observar ao

longo do tempo trecircs fatores o crescimento do bem-estar econocircmico mediante indicadores

como por exemplo produto nacional total e produto per capita diminuiccedilatildeo nos niacuteveis de

pobreza desemprego e desigualdades e elevaccedilatildeo das condiccedilotildees de sauacutede

Mediante tais indicadores pode-se dizer que o desenvolvimento econocircmico eacute um

processo de acumulaccedilatildeo de capital que incorpora o progresso teacutecnico do trabalho levando ao

aumento da produtividade dos salaacuterios e do padratildeo meacutedio de vida da populaccedilatildeo

Este tipo de desenvolvimento supotildee uma sociedade capitalista organizada na forma de

um estado-naccedilatildeo onde haacute empresaacuterios e trabalhadores lucros e salaacuterios acumulaccedilatildeo de

capital e progresso teacutecnico um mercado coordenando ao sistema econocircmico e um estado

regulando esse mercando e complementando sua accedilatildeo coordenadora (BRESSER 2008)

A partir do trabalho de Beltratildeo Sposito (2006) eacute possiacutevel afirmar que diante de um

periacuteodo em que ocorrem constantes mudanccedilas e transformaccedilotildees com a ampliaccedilatildeo das

possibilidades de telecomunicaccedilotildees no paiacutes as cidades meacutedias passam a exercer novos papeis

e novos fluxos a partir de relaccedilotildees estabelecidas e compartilhadas com cidades proacuteximas e

distantes

Compreender as regiotildees e os centros urbanos como reproduccedilatildeo social especiacutefica a

partir das anaacutelises sobre a produccedilatildeo de espaccedilos concretos eacute importante para obter

particularmente suas determinaccedilotildees histoacutericas Para que se tenha a estruturaccedilatildeo do campo

temaacutetico dos estudos regionais e urbanos para se classificar determinado espaccedilo urbano eacute

fundamental ―analisar o alcance e a esfera de influecircncia do polo detectar as interdependecircncias

das atividades e as decisotildees dos agentes econocircmicos mapear a atuaccedilatildeo de um arranjo de

forccedilas central dos nuacutecleos de mais alto niacutevel e a repercussatildeo em seus complementos

perifeacutericos (BRANDAtildeO 2007 p 81)

Autores como Rigotti e Campos (2009) destacam a partir da literatura evidecircncias

sobre o papel das cidades meacutedias em absorver os fluxos migratoacuterios que se direcionam para as

grandes metroacutepoles Historicamente essas cidades assumem esse papel a partir dos anos 1980

e principalmente apoacutes os anos 1990 pois ateacute os anos 1970 as pessoas saiam de aacutereas pouco

urbanizadas para buscarem melhores condiccedilotildees de vida nas cidades grandes

Entre os fatos que contribuiacuteram com o processo de crescimento das cidades brasileiras

nos uacuteltimos cem anos os que mais se destacam e explicam essa dinacircmica satildeo o processo de

56

industrializaccedilatildeo e a expansatildeo da fronteira agriacutecola Sendo que satildeo as cidades de porte meacutedio

que tem apresentado sinais de crescimento mais acelerado (JUSTO 2013)

No que se refere especificamente agrave regiatildeo nordestina no decorrer das quatro uacuteltimas

deacutecadas essa regiatildeo tem vivenciado um processo de urbanizaccedilatildeo de rapidez e intensidade

significativas mesmo com um processo de desenvolvimento social e crescimento econocircmico

ocorrendo de forma descontiacutenua e heterogecircnea Todavia foi a partir dessa heterogeneidade e

descontinuidade que surgiram os novos centros dinacircmicos aos quais se tornaram preferenciais

para o destino dos fluxos migratoacuterios (LUBAMBO et al 2003)

Nos uacuteltimos anos o Nordeste tem apresentado crescimento econocircmico acima da meacutedia

brasileira Entretanto esse crescimento colaborou apenas para recuperar a meacutedia histoacuterica de

sua participaccedilatildeo no PIB do Brasil A regiatildeo Nordeste tem uma populaccedilatildeo que representa

quase 28 do total do Paiacutes sendo que sua participaccedilatildeo no PIB nacional eacute de apenas 135

Em relaccedilatildeo ao PIB per capita a meacutedia do Nordeste eacute apenas 48 da meacutedia do Brasil

(SOUZA 2014)

No Cearaacute os municiacutepios vecircm desenvolvendo poliacuteticas econocircmicas na tentativa de

atrair empresas ofertando incentivos fiscais e terrenos em distritos industriais com

infraestrutura Nesta perspectiva quanto agrave guerra fiscal satildeo as cidades meacutedias que

apresentam mais vantagens jaacute que ―aleacutem dos incentivos disponibilizavam meios teacutecnicos

mais modernos e eficientes fundamentais para o funcionamento de faacutebricas que tecircm o centro

de comando em outros estados e um mercado internacional amplo (COSTA AMORA 2009

p 3-4)

Neste contexto foram vaacuterias as mudanccedilas ocorridas recentemente na dinacircmica

territorial cearense resultado da interaccedilatildeo de diversos processos de produccedilatildeo do espaccedilo

urbano como transformaccedilotildees globais no que se refere agrave reestruturaccedilatildeo capitalista

(HOLANDA 2011)

No periacuteodo que antecedeu as intervenccedilotildees planejadas do Governo Federal para a

regiatildeo Nordeste ao final da primeira metade do seacuteculo XX a economia cearense apresentava

pouca adequaccedilatildeo agrave estrutura produtiva nas quais persistiam formas ineficientes de produccedilatildeo

voltadas para a produccedilatildeo de artigos espacialmente concentrados e grosseiros

A partir de 1990 com a poliacutetica de atraccedilatildeo de induacutestrias se origina a chamada ―guerra

fiscal entre os estados brasileiros que passam a competir abertamente na oferta de

57

infraestrutura e atrativos fiscais instalando-se novas plantas produtivas e compensando o

baixo niacutevel de competitividade mercadoloacutegica verificada ateacute entatildeo

O Cearaacute vem se revelar como um dos estados mais competitivos nessa poliacutetica pois

no periacuteodo de 1994 a 1999 432 novas induacutestrias tinham manifestado a pretensatildeo de se

instalar no estado o que resultaria em um investimento de US$47 bilhotildees Entre estas 172 jaacute

se encontravam implantadas em sessenta municiacutepios cearenses com a geraccedilatildeo de 37 mil

empregos diretos e 120 mil indiretos

De acordo com Carvalho (2013) essa poliacutetica de atraccedilatildeo favoreceu o crescimento da

participaccedilatildeo do Cearaacute do PIB Industrial do Nordeste que em 1985 era de 268 e em 2000 se

elevou para 381 Provocou tambeacutem a implantaccedilatildeo de novos ramos industriais como a

produccedilatildeo de embalagens e de material de transporte e a metalurgia aleacutem de aumentar a

participaccedilatildeo de produtos industrializados na pauta de exportaccedilotildees com destaque para tecidos

fios de algodatildeo calccedilados couros e peles

3 Metodologia

31 Aacuterea de estudo e fonte dos dados

O presente estudo tem como foco analisar o desenvolvimento econocircmico dos

municiacutepios de meacutedio porte do Estado do Cearaacute nos anos 2000 e 2010 Como a definiccedilatildeo mais

usada para classificar as cidades meacutedias estaacute baseada no tamanho demograacutefico foi utilizado o

conceito de Andrade e Serra (2001) que define cidades meacutedias como centros com populaccedilatildeo

entre 50 mil e 500 mil habitantes

O Estado do Cearaacute tem uma aacuterea territorial de 148887632kmsup2 com uma populaccedilatildeo

estimada em 2016 de 8963663habitantes (IBGEESTADOS 2017) O Estado eacute formado por

184 municiacutepios dos quais 31 satildeo consideradas cidades meacutedias Acarauacute Acopiara Aquiraz

Aracati Barbalha Boa Viagem Camocim Canindeacute Cascavel Caucaia Crateuacutes Crato

Granja Horizonte Icoacute Iguatu Itapipoca Juazeiro do Norte Limoeiro do Norte Maracanauacute

Morada Nova Pacajus Pacatuba Quixadaacute Quixeramobim Russas Sobral Tauaacute Tianguaacute

Trairi e Viccedilosa do Cearaacute (IPEADATA 2016) A partir da tabela 1 eacute possiacutevel observar as

descriccedilotildees demograacuteficas de cada municiacutepio no ano de 2010

58

Tabela1- Descriccedilotildees demograacuteficas das cidades meacutedias cearenses do ano de 2010

Municiacutepios de Meacutedio

Porte

Populaccedilatildeo

Estimada

Aacuterea

(kmsup2)

Densidade demograacutefica

(habkmsup2)

Acarauacute 57551 842497 6831

Acopiara 51160 2265722 2258

Aquiraz 72628 482578 15050

Aracati 69159 1227965 5632

Barbalha 55323 569518 9714

Boa Viagem 52498 2836196 1851

Camocim 60158 1124869 5348

Canindeacute 74473 3218366 2314

Cascavel 66142 837346 7899

Caucaia 325441 1228496 26491

Crateuacutes 72812 2985322 2439

Crato 121428 1176514 10321

Granja 52645 2696977 1952

Horizonte 55187 159981 34496

Icoacute 65456 1871776 3497

Iguatu 96495 1029170 9376

Itapipoca 116065 1614256 7190

Juazeiro do Norte 249939 248831 100445

Limoeiro do Norte 56264 751088 7491

Maracanauacute 209057 106648 196025

Morada Nova 62065 2779445 2233

Pacajus 61838 254477 24300

Pacatuba 72299 131995 54774

59

Quixadaacute 80604 2019644 3991

Quixeramobim 71887 3275034 2195

Russas 69833 1590367 4391

Sobral 188233 2123849 8867

Tauaacute 55716 4017015 1387

Tianguaacute 68892 908865 7580

Trairi 51422 925688 5555

Viccedilosa do Cearaacute 54955 1311575 4190

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir do IBGECIDADES

As informaccedilotildees das cidades meacutedias satildeo do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatiacutestica (IBGE) e do Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada (IPEADATA) para os anos

2000 e 2010

As variaacuteveis utilizadas foram populaccedilatildeo total das cidades que eacute uma das variaacuteveis

utilizadas para definir cidades meacutedias a renda per capita jaacute que seu crescimento meacutedio eacute uma

das condiccedilotildees necessaacuterias para o desenvolvimento o Iacutendice de Gini a taxa de analfabetismo

das pessoas com 15 anos ou mais a esperanccedila de vida ao nascer que segundo a Nova

Geografia Econocircmica ndash NGE possibilita captar as condiccedilotildees de sauacutede da populaccedilatildeo e o

Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM)

32 Meacutetodo de anaacutelise

Os meios teacutecnicos utilizados foram o estatiacutestico e o comparativo Ambos contribuem

para uma boa anaacutelise de dados secundaacuterios ―O papel do meacutetodo estatiacutestico eacute essencialmente

possibilitar uma descriccedilatildeo quantitativa da sociedade considerada como um todo organizado

(PRODANOV FREITAS 2013 p38) ―O meacutetodo comparativo ao ocupar-se das explicaccedilotildees

de fenocircmenos permite analisar o dado concreto deduzindo elementos constantes abstratos

ou gerais nele presentes (PRODANOV FREITAS 2013 p38)

Na seccedilatildeo posterior expotildeem-se os resultados obtidos na pesquisa a partir de uma

anaacutelise tabular descritiva

60

4 Resultados e discussotildees

Tendo em vista a nova dinacircmica apresentada pela territorial cearense segundo o

IPEIA (2008) eacute possiacutevel destacar que os anos 2000 foram marcados pelo crescimento

populacional das cidades meacutedias que foi superior ao das grandes cidades

O graacutefico 1 apresenta um comparativo da populaccedilatildeo das cidades meacutedias cearenses

entre os anos de 2000 e 2010 Apesar de todos terem crescido ao longo dos 10 anos as

cidades de Caucaia Juazeiro do Norte Maracanauacute e Sobral satildeo as que mais se destacam com

a maior concentraccedilatildeo populacional entre as cidades meacutedias do estado

Graacutefico 1 ndash Populaccedilatildeo total das cidades meacutedias cearenses nos anos de 2000 e 2010

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados do IPEADATA

No graacutefico 2 eacute possiacutevel observar a taxa de crescimento populacional dos municiacutepios

de meacutedio porte no estado do Cearaacute no periacuteodo de 2000 agrave 2010 bem como a taxa de

crescimento da regiatildeo Nordeste e do Brasil

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Graacutefico 2 ndash Taxa de crescimento populacional entre 2000 e 2010

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados do IPEADATA

Vale destacar que municiacutepios como Aracati Iguatu Limoeiro do Norte e Maracanauacute

foram os que apresentaram taxas de crescimento populacional semelhante agrave do Nordeste e do

Brasil que satildeo bem proacuteximas entre si O destaque vai para os municiacutepios Horizonte que

apresentam uma taxa de crescimentos bem superior agrave do Nordeste e do Brasil Jaacute os

municiacutepios Acopiara Boa Viagem Camocim Canindeacute Crateuacutes Granja Icoacute e Tauaacute chamam

atenccedilatildeo por apresentarem uma taxa de crescimento muito abaixo da meacutedia regional e

nacional o municiacutepio de Morada Nova foi o uacutenico que apresentou taxa de crescimento

negativa

Como natildeo existe desenvolvimento sem que a produccedilatildeo e a renda meacutedia cresccedilam

Entatildeo o processo de crescimento da renda por habitante do produto agregado por habitante ou

da produtividade satildeo condiccedilotildees essenciais para que haja o desenvolvimento (BRESSER-

PEREIRA 2006)

Segundo Helene (2012) na deacutecada de 2000 houve retomada nas taxas de crescimento

da renda per capita e uma melhoria na distribuiccedilatildeo de renda Sendo que o grau de

desenvolvimento de um paiacutes pode ser medido pelo PIB per capita que eacute obtido a partir da

divisatildeo do fluxo de produccedilatildeo anual pelo total da populaccedilatildeo O mesmo trata-se de uma meacutedia e

esconde as disparidades na distribuiccedilatildeo da renda ou seja um paiacutes pode ter uma renda per

capita elevada e uma distribuiccedilatildeo muito desigual dessa renda como tambeacutem pode ter uma

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Nordeste Brasil

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renda per capita baixa e uma distribuiccedilatildeo de renda que registra pouca disparidade logo a

partir dele natildeo se tem o registro das diferenccedilas entre ricos e pobres (VIEIRA ALBERT

BAGOLIN 2007)

O niacutevel da renda per capita pode determinar o grau de desenvolvimento humano de

uma regiatildeo como tambeacutem pode ser influenciado por programas sociais No Brasil os niacuteveis

de renda per capita dependem tanto do mercado de trabalho como dos rendimentos de

transferecircncias previdenciaacuterias e assistenciais Em relaccedilatildeo aos niacuteveis de renda per capita dos

municiacutepios eles satildeo determinados por vaacuterios fatores sendo que os que mais se destacam satildeo

os que dentro de uma dimensatildeo regional estatildeo ligados a aspectos educacionais estruturais e

de desempenho da economia (LAZZAROTTO LIMA 2008)

Quanto agrave renda per capita das cidades meacutedias cearenses no graacutefico 3 eacute possiacutevel

observar as rendas per capitas dos municiacutepios corrigidas pelo IPEIADATA para o ano de

2010

Graacutefico 3- Renda per capita das cidades meacutedias cearenses nos anos de 2000 e 2010

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados do IPEADATA

A anaacutelise possibilita destacar que em 2010 as rendas per capitas dos municiacutepios foram

maiores que as do ano 2000 Tal comportamento tambeacutem ocorre com as cidades medias

nordestina jaacute que as mesmas apresentaram no periacuteodo de 1991 a 2016 uma relaccedilatildeo direta

entre o crescimento dessas cidades e a renda per capita (ALENCAR et al 2017)

Comparando os dois anos analisados o municiacutepio de Crato destaca-se com a maior renda per

capita e Granja como o municiacutepio que teve a menor

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Dentre os indicadores estudados a anaacutelise do Iacutendice de Gini se apresenta como uma

medida de desigualdade de renda Assim seraacute exposta uma anaacutelise descritiva da situaccedilatildeo da

concentraccedilatildeo de rendimentos no Cearaacute nas cidades meacutedias A desigualdade de renda

brasileira eacute amplamente discutida no debate econocircmico e social dado seu impacto direto

sobre o bem-estar da populaccedilatildeo sendo vista como um dos principais problemas que o paiacutes

enfrenta na atualidade

No decorrer dos 10 anos estudados pode-se perceber que o iacutendice de Gini teve uma

reduccedilatildeo significativa para a maioria das cidades meacutedias do estado do Cearaacute entretanto

Granja e Tianguaacute foram agraves uacutenicas cidades nas quais o iacutendice cresceu ou seja ocorreu um

aumento na desigualdade social como eacute possiacutevel observar no graacutefico 4

Graacutefico 4 ndash Iacutendice de Gini das cidades meacutedias cearenses nos anos de 2000 e 2010

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados do IPEADATA

Quanto agraves taxas de analfabetismos a partir da literatura sobre educaccedilatildeo encontra-se a

definiccedilatildeo que uma pessoa eacute considerada analfabeta absoluta quando sua idade eacute maior ou

igual a 15 anos e natildeo sabe ler nem escrever A taxa de analfabetismo eacute obtida a partir da

razatildeo entre o nuacutemero de pessoas analfabetas e o total de habitantes com 15 ou mais anos de

idade No Brasil a baixa escolaridade e as altas taxas de analfabetismo da populaccedilatildeo ―satildeo

reflexos de problemas estruturais histoacutericos que impediram o acesso de milhotildees de pessoas

ao sistema puacuteblico de ensino (RODRIGUES et al 2013 p 4)

O graacutefico 5 mostra as taxas de analfabetismos das pessoas com 15 anos ou mais nas

cidades meacutedias cearenses comparando o ano de 2010 com o ano 2000 fica evidente a reduccedilatildeo

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do analfabetismo nesses municiacutepios O municiacutepio de Granja eacute o municiacutepio que apresenta as

maiores taxas de analfabetismos nos anos analisados sendo que no ano 2000 a mesma foi de

5143 e em 2010 de 3857 No geral as cidades meacutedias cearenses apresentaram no ano de

2010 taxa menores que 40 sendo que para o Brasil segundo os dados do Censo

Demograacutefico de 2010 essa taxa eacute de cerca de 96 da populaccedilatildeo brasileira Logo assim como

o estado do Cearaacute apresenta taxas de analfabetismos mais elevadas que as do Brasil

evidentemente suas cidades meacutedias tambeacutem

Graacutefico 5- Taxas de analfabetismos das pessoas com 15 anos ou mais nas cidades

meacutedias cearenses nos anos de 2000 e 2010

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados do IPEADATA

A variaacutevel esperanccedila de vida ao nascer segundo a Nova Geografia Econocircmica ndash NGE

possibilita captar as condiccedilotildees de sauacutede da populaccedilatildeo Quanto agrave esperanccedila de vida meacutedia da

populaccedilatildeo nas cidades meacutedias nordestinas no ano de 1991 era de 61 anos (ALENCAR et al

2017)

No graacutefico 6 eacute possiacutevel observar que no decorrer dos 10 anos houve o aumento da

esperanccedila de vida da populaccedilatildeo cearense Sobral se destaca com o crescimento de uma maior

esperanccedila de vida para sua populaccedilatildeo passando de aproximadamente 68 para 75 anos A

populaccedilatildeo de Acopiara Camocim e Icoacute apresentaram os menores valores Quanto agrave

populaccedilatildeo brasileira a partir dos dados do IPEIADATA eacute possiacutevel destacar que no ano de

2000 a esperanccedila de vida da populaccedilatildeo era de 6861 anos e em 2010 de 7394 anos Logo

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cidades como Sobral tem apresentado comportamento semelhante com o que ocorreu no

Brasil

Graacutefico 6 ndash Esperanccedila de vida ao nascer nas cidades meacutedias cearenses nos anos de 2000

e 2010

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados do IPEADATA

Tratando-se do iacutendice de desenvolvimento humano municipal o Brasil tem evoluiacutedo

nas uacuteltimas deacutecadas o paiacutes apresenta uma evoluccedilatildeo de 0115 entre 2000 e 2010 (PINTO

COSTA MARQUES 2013)

Quanto as cidades medias cearenses o graacutefico 7 mostra que no ano de 2000 os

municiacutepios de Crato e Maracanauacute forma os que apresentaram os maiores iacutendices de

desenvolvimento humano municipal de aproximadamente 057 Jaacute em 2010 a cidade de

Crato continua com um dos maiores iacutendices que eacute de 071 sendo que comparado a 2010 teve

um aumento de 014 e Sobral se destacou nesse ano com 071 aumentando 018 comparado

ao ano 2000 Um aumento bem maior que o do iacutendice de Maracanauacute Vale ressaltar a

localizaccedilatildeo geograacutefica desses municiacutepios que destacaram-se com os melhores iacutendices jaacute que

satildeo neles que estatildeo os maiores desenvolvimento humanos dos municiacutepios estudados os

mesmos estatildeo localizados em regiotildees metropolitanas Tratando-se dos menores iacutendices foram

os municiacutepios de Granja e Viccedilosa do Cearaacute que apresentaram para os dois anos estudados

Graacutefico 7ndash IDHM das cidades meacutedias cearenses em 2000 e 2010

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Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados do IPEADATA

5 Consideraccedilotildees finais

No decorrer dos 10 anos estudados os municiacutepios de meacutedio porte cearenses

apresentaram dinacircmicas de desenvolvimento positivas para todas as variaacuteveis analisadas Pois

em sua maioria houve uma elevaccedilatildeo nas condiccedilotildees de desenvolvimento e na oferta de

melhores condiccedilotildees de vida para populaccedilatildeo Ou seja um aumento consideraacutevel na dinacircmica

de crescimento populacional na renda per capita e na esperanccedila de vida

As cidades meacutedias que obtiveram maior destaque na variaacutevel de crescimento

populacional nos 10 anos analisados foram as cidades de Caucaia Juazeiro do Norte

Maracanauacute e Sobral vale ressaltar que as maiores concentraccedilotildees populacionais estatildeo

localizadas em regiotildees metropolitanas Em relaccedilatildeo agraves menores taxas de crescimento se

destacam os municiacutepios de Boa Viagem Crateuacutes Granja Icoacute e Morada Nova Contudo as

melhores taxas foram do municiacutepio de Horizonte que obteve um aumento consideraacutevel que

estaacute muito aleacutem da meacutedia nacional

Os municiacutepios que apresentaram maiores rendas per capita tendem a terem melhores

expectativas de vida baixos niacutevel de analfabetismo e tambeacutem tecircm niacuteveis mais baixos de

desigualdade que foram medidos pelo coeficiente de Gini As cidades meacutedias cearenses que

se destacaram com um iacutendice positivo em relaccedilatildeo a diminuiccedilatildeo da desigualdade foram

Horizonte Maracanauacute e Pacatuba Poreacutem os municiacutepios de Granja e Tianguaacute foram os uacutenicos

que apresentaram um aumento da desigualdade social

Diante desse cenaacuterio de mudanccedilas e avanccedilos vividos nos uacuteltimos anos esse trabalho

identificou um aumento significativo da renda per capita de todas as cidades meacutedias

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cearenses aleacutem da diminuiccedilatildeo da taxa de analfabetismo aumento consideraacutevel na esperanccedila

de vida e aumento do IDHM Contudo vale ressaltar que mesmo diante de tantos resultados

positivos algumas cidades meacutedias cearenses apresentaram determinados iacutendices negativos

nas variaacuteveis estudadas entendendo-se que ainda existe abertura para a implantaccedilatildeo de mais

poliacuteticas puacuteblicas que melhorem os resultados

Logo este trabalho percorreu um empreendimento teoacuterico e empiacuterico que buscou

contribuir com a literatura a partir da utilizaccedilatildeo de dados para o Estado do Cearaacute jaacute que

estudos desenvolvidos anteriormente foram voltados para o paiacutes outras regiotildees estados ou

cidades

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2016

70

IacuteNDICE DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL MUNICIPAL UMA

APLICACcedilAtildeO DA DIMENCcedilAtildeO ECONOcircMICA SOBRE A REGIAtildeO

METROPOLITANA DE FORTALEZA ndash RMF13

Marcelo Henrick Alves dos Santos

Bacharel em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri - URCA

E-mail ltmarcelohenrick22gmailcomgt

Matheus Oliveira de Alencar

Bacharel em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri ndash URCA Mestrando

em Economia Rural pela Universidade Federal do Cearaacute ndash UFC

E-mail ltmatheusalencar29gmailcomgt

Wellington Ribeiro Justo

Professor Associado da URCA e Professor do PPGECON-UFPE

E-mail ltjustowryahoocombrgt

13

Este trabalho tem por base o estudo sobre a dimensatildeo econocircmica aplicado aos municiacutepios da Regiatildeo

Metropolitana do Cariri realizado por Vieira e Justo (2015)

71

IacuteNDICE DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL MUNICIPAL UMA

APLICACcedilAtildeO DA DIMENCcedilAtildeO ECONOcircMICA SOBRE A REGIAtildeO

METROPOLITANA DE FORTALEZA ndash RMF14

RESUMO A evoluccedilatildeo das relaccedilotildees estabelecidas no sistema capitalista atraveacutes dos fluxos de

produccedilatildeo e consumo bem como a utilizaccedilatildeo de serviccedilos passou a interferir vertiginosamente

no espaccedilo trazendo agrave luz do debate a questatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel Para objetos

de mensuraccedilatildeo dados quantitativos e qualitativos foram elaborados a fim de se constituiacuterem a

base para o caacutelculo de iacutendices capazes de inferir a respeito de aspectos dimensionais da

sociabilidade humana e espacial Este artigo buscou mensurar a dimensatildeo econocircmica do

iacutendice de desenvolvimento sustentaacutevel dos dezenove municiacutepios da Regiatildeo Metropolitana de

Fortaleza (RMF) a partir dos dados do IPECE para o ano de 2010 fornecendo informaccedilotildees no

que tange agraves necessidades e o desempenho econocircmico da populaccedilatildeo bem como servir de

instrumento para formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas eficientes Observou-se que no tocante as

variaacuteveis analisadas a partir da oacutetica econocircmica os municiacutepios da RMF possuem uma

multiplicidade comportamental instaacutevel no que se refere a estes indicadores com uma

pequena parcela do conjunto dentro de niacuteveis aceitaacuteveis de desenvolvimento sustentaacutevel

econocircmico enquanto que a maioria dos municiacutepios ainda estatildeo ao sabor de niacuteveis de alerta

neste mesmo sentido

Palavras-chave Desenvolvimento sustentabilidade economia municipal

ABSTRACT The evolution of the relations established in the capitalist system through the

flows of production and consumption as well as the use of services began to interfere

vertiginously in space bringing to the light of the debate the question of sustainable

development For the purposes of measurement quantitative and qualitative data were

elaborated in order to constitute the basis for the calculation of indexes capable of inferring

about dimensional aspects of human and spatial sociability This article sought to measure

the economic dimension of the sustainable development index of the nineteen municipalities of

the Metropolitan Region of Fortaleza (RMF) from the IPECE data for 2010 providing

information on the needs and economic performance of the population as well as an

instrument for the formulation of efficient public policies It was observed that regarding the

variables analyzed from the economic perspective the municipalities of FMR have an

unstable behavioral multiplicity in relation to these indicators with a small part of the set

within acceptable levels of sustainable economic development while most municipalities are

still at alert levels in this sense

Keywords Development sustainability economy municipal

14

Este trabalho tem por base o estudo sobre a dimensatildeo econocircmica aplicado aos municiacutepios da Regiatildeo

Metropolitana do Cariri realizado por Vieira e Justo (2015)

72

1 INTRODUCcedilAtildeO

O processo de evoluccedilatildeo das relaccedilotildees de produccedilatildeo e consumo colocou a prova de teste

os niacuteveis de desenvolvimento sustentaacutevel este que por sua vez passou a ser de importacircncia

fundamental tendo em vista a degradaccedilatildeo dos recursos naturais bem como as desigualdades

sociais e de renda

O uso do termo sustentabilidade ou desenvolvimento sustentaacutevel passou a ser

utilizado a partir do advento do Relatoacuterio Brundlant ndash Nosso Futuro Comum da Comissatildeo

Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas ndash

ONU Seu significado estaacute atrelado agrave ideia de atender as necessidades atuais entretanto sem

comprometer a satisfaccedilatildeo das necessidades das proacuteximas geraccedilotildees (WCED 1987)

Com o passar do tempo estudiosos desenvolveram iacutendices para mensuraccedilatildeo de

qualidade de vida desde os campos de sauacutede educaccedilatildeo seguranccedila e niacuteveis de satisfaccedilatildeo em

relaccedilatildeo a bens e serviccedilos dentre outros indicadores que anteriormente natildeo eram mensurados

Neste sentido Cacircndido e Martins (2008) criaram a partir do Iacutendice de Desenvolvimento

Sustentaacutevel (IDS-Brasil) o Iacutendice de Desenvolvimento Sustentaacutevel Municipal (IDSM)

aplicado aos municiacutepios do estado brasileiro da Paraiacuteba utilizando-se de um conjunto de

variaacuteveis especiacuteficas para sua mensuraccedilatildeo O IDSM eacute composto por cinco dimensotildees social

demograacutefica econocircmica poliacutetico-institucional e ambiental No entanto no presente estudo

diante da necessidade de fornecer informaccedilotildees da populaccedilatildeo deste territoacuterio neste quesito

seraacute analisada apenas a dimensatildeo econocircmica calculada a partir da metodologia do IDSM para

os municiacutepios da Regiatildeo Metropolitana de Fortaleza (RMF) O ano de referecircncia eacute 2010 pois

se ressalte que este foi o ano mais recente com disponibilidade dos dados necessaacuterios para o

caacutelculo da dimensatildeo econocircmica Eacute importante verificar se a proximidade com a capital

estadual bem como localizar-se dentro da regiatildeo metropolitana onde a mesma estaacute localizada

reflete nos municiacutepios no que se refere agraves suas caracteriacutesticas de sua economia dentro dos

indicadores considerados

Este trabalho tem como objetivo mensurar para os municiacutepios que integram a RMF o

iacutendice econocircmico que compotildee o IDSM Pretende-se tambeacutem hierarquizar os municiacutepios da

RMF de acordo com seu desempenho para cada variaacutevel que compotildee o iacutendice econocircmico

Aleacutem da contribuiccedilatildeo acadecircmica as informaccedilotildees ainda podem auxiliar os agentes

macroeconocircmicos no que se refere agrave aplicaccedilatildeo de poliacuteticas econocircmicas eficientes fornecendo

73

informaccedilotildees sobre as potencialidades de cada municiacutepio desde as peculiaridades da renda ateacute

relaccedilotildees de comeacutercio com o exterior

Aleacutem desta introduccedilatildeo o trabalho estaacute dividido em outras quatro seccedilotildees na segunda

seccedilatildeo satildeo abordados elementos teoacutericos sobre desenvolvimento sustentaacutevel na terceira seccedilatildeo

satildeo fornecidas informaccedilotildees referentes a metodologia aplicada ao presente estudo na quarta

seccedilatildeo eacute feito uma anaacutelise dos dados e resultados auferidos a partir da aplicaccedilatildeo metodoloacutegica

do IDSM econocircmico findando com a quinta e uacuteltima seccedilatildeo que demonstra as consideraccedilotildees

finais deste estudo

2 REVISAtildeO DE LITERATURA SOBRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL

A literatura sobre a temaacutetica do desenvolvimento sustentaacutevel eacute vasta e robusta devido

agrave magnitude com que a comunidade cientiacutefica vem se dedicando a promover um debate e

praacutetica intelectuais sobre a questatildeo da conciliaccedilatildeo consciente e sustentaacutevel da accedilatildeo humana

sobre a natureza

Bruumlseke (1993) ressalta que a discussatildeo sobre desenvolvimento sustentaacutevel provocou

eventos que levaram o debate a niacutevel mundial em 1992 o relatoacuterio sobre os limites do

crescimento o conceito de ecodesenvolvimento em 1993 a declaraccedilatildeo de Cocoyok em

1974 O Relatoacuterio Dag-Hammarskjoumlld em 1975 e em 1992 a Conferecircncia da Organizaccedilatildeo

das Naccedilotildees Unidas (ONU) sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1992

Para Van Bellen (2002) o conceito de desenvolvimento sustentaacutevel remete a uma

reavaliaccedilatildeo da ideia acerca da definiccedilatildeo de desenvolvimento soacute que agora ligado agrave questatildeo

sustentaacutevel e natildeo mais apenas de crescimento Ainda segundo o autor haja vista que eacute

necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de indicadores que possam mensurar os iacutendices aqueles podem ser

compreendidos como uma representaccedilatildeo operacional de um atributo de um sistema sendo

este atributo relacionado a aspectos no que tange a qualidade caracteriacutestica e propriedade

agregando informaccedilotildees conforme sua significacircncia para entendimento de eventos complexos

O desenvolvimento sustentaacutevel consiste em um processo de mudanccedila fundamentado

na conciliaccedilatildeo entre exploraccedilatildeo dos recursos direccedilatildeo de investimentos orientaccedilatildeo do

desenvolvimento tecnoloacutegico e mudanccedilas institucionais em que todas agem em harmonia para

o aprimoramento do potencial atual e futuro para que possam atender as necessidades e

aspiraccedilotildees humanas (WCED 1987)

74

Para Goodland e Ledoc (apud Baroni 1987) definem o desenvolvimento sustentaacutevel

como um padratildeo de transformaccedilotildees econocircmicas e sociais cujas transformaccedilotildees buscam a

otimizaccedilatildeo dos recursos disponiacuteveis no presente para manter estes mesmos recursos

disponiacuteveis no futuro alcanccedilando o bem-estar econocircmico razoaacutevel

Conforme Vasconcelos (2011) os indicadores de sustentabilidade satildeo importantes ao

possibilitarem a efetivaccedilatildeo de um processo de desenvolvimento de maneira consolidada e

sustentaacutevel direcionando no sentido a alcanccedilar uma meta

A anaacutelise de Sachs (1997) contempla que o desenvolvimento sustentaacutevel pode ser

abordado em cinco dimensotildees a saber

Figura 1 Dimensotildees da Sustentabilidade

Fonte Sachs (1997)

Silva Sousa e Leal (2012) corroboram ao ressaltarem que a pluralidade dimensional

direciona para a busca de soluccedilotildees para o sistema atendendo diferentes demandas com

aspecto ambiental social econocircmico geograacutefico ou espaccedilo-territorial poliacutetico e cultural

Analisada neste trabalho a dimensatildeo econocircmica compreende o desempenho

macroeconocircmico e financeiro de uma sociedade os impactos no consumo de recursos

materiais e uso de energia primaacuteria aleacutem de possibilitar a alocaccedilatildeo e gestatildeo mais eficiente de

recursos e fluxo de investimentos puacuteblico e privado (CAMARGO 2002 VASCONCELOS

2011)

Quadro 1 ndash Descriccedilatildeo das variaacuteveis que compotildeem a dimensatildeo econocircmica do IDSM

Variaacutevel Descriccedilatildeo

PIB per capita Expressa o grau de desenvolvimento econocircmico

de um municiacutepio Sua variaccedilatildeo informa o

comportamento da economia ao longo do tempo

75

Participaccedilatildeo da induacutestria no PIB Expressa a participaccedilatildeo das atividades

industriais na composiccedilatildeo do Produto Interno

Bruto (PIB) municipal

Saldo da Balanccedila Comercial Representa a diferenccedila entre o saldo das

exportaccedilotildees e o saldo das importaccedilotildees

Renda per capita Expressa o grau de desenvolvimento econocircmico

de uma populaccedilatildeo a partir da divisatildeo entre a

renda nacional e o nuacutemero da populaccedilatildeo

Rendimentos Provenientes do Trabalho Expressa o grau de desenvolvimento econocircmico

de um municiacutepio

Iacutendice de Gini de Distribuiccedilatildeo dos

Rendimentos

Expressa o grau de desigualdade na distribuiccedilatildeo

de renda de uma determinada populaccedilatildeo

Fonte VASCONCELOS (2011)

Na percepccedilatildeo de Vasconcelos (2011) a dimensatildeo econocircmica fornece um conjunto de

informaccedilotildees relacionadas a objetivos ligados ao desempenho econocircmico e financeiro bem

como aos rendimentos da populaccedilatildeo consolidando-se como um importante instrumento para

decisatildeo e formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para fomento da melhoria da qualidade de vida de

uma populaccedilatildeo atraveacutes do acesso a moradia alimentaccedilatildeo vestuaacuterio transporte e lazer

3 METODOLOGIA

31 DADOS

Os dados utilizados neste estudo satildeo de caraacuteter secundaacuterio provenientes de perioacutedicos

e oacutergatildeos oficiais a saber o Instituto de Pesquisa e Estrateacutegia Econocircmica do Cearaacute (IPECE) o

Ministeacuterio da Induacutestria Comeacutercio Exterior e Serviccedilos (MDIC) o Atlas de Desenvolvimento

Humano e o DataSUS A pesquisa tem caraacuteter descritivo fundamentado em levantamento de

dados e pesquisa bibliograacutefica com consultas a livros artigos e revistas que tratem do tema

em questatildeo

Os meacutetodos de Estatiacutestica Descritiva organizam resumem e descrevem os aspectos

importantes de um conjunto de caracteriacutesticas observadas sendo utilizadas tambeacutem para

comparaccedilatildeo de tais caracteriacutesticas entre dois ou mais conjuntos (REIS REIS 2002)

32 AacuteREA DE ESTUDO

76

A anaacutelise dos dados neste trabalho se restringe agrave Regiatildeo Metropolitana de Fortaleza

(RMF) Criada pela Lei Complementar nordm 14 de 1973 inicialmente pelos municiacutepios de

Fortaleza Caucaia Maranguape Pacatuba e Aquiraz e com o transcorrer do tempo

modificada com inclusatildeo de novos municiacutepios agrave sua rede atualmente a RMF comporta

dezenove municiacutepios Aquiraacutes Cascavel Caucaia Chorozinho Euseacutebio Fortaleza Guaiuba

Horizonte Itaitinga Maracanauacute Maranguape Pacajuacutes Pacatuba Pindoretama Satildeo Gonccedilalo

do Amarante Satildeo Luiacutes do Curu Paraipaba Paracuru e Trairi (CEARAacute 2014) O Quadro 1

mostra dados referentes agraves caracteriacutesticas (aacuterea localizaccedilatildeo e clima) de cada municiacutepio

envolvido na pesquisa

Quadro 2 ndash Informaccedilotildees baacutesicas sobre os municiacutepios da Regiatildeo Metropolitana de Fortaleza

(RMF)

Municiacutepio Informaccedilotildees Baacutesicas

Aquiraacutes Aacuterea 480976 kmsup2 Populaccedilatildeo 72628 (2010) Distacircncia em linha reta a

capital 21 km Clima Tropical Quente Sub-uacutemido (IPECE 2012)

Cascaacutevel Aacuterea 83797 kmsup2 Populaccedilatildeo 66142 (2010) Distacircncia em linha reta a

capital 50 km Clima Tropical Quente Semi-aacuterido Brando (IPECE 2012)

Caucaia

Aacuterea 12279 kmsup2 Populaccedilatildeo 325441 (2010) Distacircncia em linha reta a

capital 20 km Clima Tropical Quente Semi-aacuterido Brando Tropical

Quente Sub-uacutemido e Tropical Quente Uacutemido (IPECE 2012)

Chorozinho Aacuterea 27840 kmsup2 Populaccedilatildeo 18915 (2010) Distacircncia em linha reta a

capital 62 km Clima Tropical Quente Semi-aacuterido Brando (IPECE 2012)

Euseacutebio Aacuterea 7658 kmsup2 Populaccedilatildeo 46033 (2010) Distacircncia em linha reta a

capital 18 km Clima Tropical Quente Sub-uacutemido (IPECE 2012)

Fortaleza Aacuterea 31314 kmsup2 Populaccedilatildeo 2452185 (2010) Clima Tropical Quente

Sub-uacutemido (IPECE 2012)

Guaiuba

Aacuterea 26720 kmsup2 Populaccedilatildeo 24091 (2010) Distacircncia em linha reta a

capital 38 km Clima Tropical Quente Sub-uacutemido e Tropical Quente

Uacutemido (IPECE 2012)

Horizonte

Aacuterea 15997 kmsup2 Populaccedilatildeo 55187 (2010) Distacircncia em linha reta a

capital 39 km Clima Tropical Quente Sub-uacutemido Tropical Quente Semi-

aacuterido Brando (IPECE 2012)

77

Itaitinga

Aacuterea 15078 kmsup2 Populaccedilatildeo 35817 (2010) Distacircncia em linha reta a

capital 27 km Clima Tropical Quente Uacutemido e Tropical Quente Sub-

uacutemido (IPECE 2012)

Maracanauacute Aacuterea 10570kmsup2 Populaccedilatildeo 209057 (2010) Distacircncia em linha reta a

capital 22 km Clima Tropical Quente Sub-uacutemido (IPECE 2012)

Maraguanpe Aacuterea 59082 kmsup2 Populaccedilatildeo 113561 (2010) Distacircncia em linha reta a

capital 28 km Clima Tropical Quente Uacutemido(IPECE 2012)

Pacajuacutes

Aacuterea 25443 kmsup2 Populaccedilatildeo 61838 (2010) Distacircncia em linha reta a

capital 48 km Clima Tropical Quente Semi-aacuterido Brando e Tropical

Quente Subuacutemido (IPECE 2012)

Pacatuba Aacuterea 13243 kmsup2 Populaccedilatildeo 72299 (2010) Distacircncia em linha reta a

capital 31 km Clima Tropical Quente Uacutemido (IPECE 2012)

Pindoretama

Aacuterea 7285 kmsup2 Populaccedilatildeo 18683 (2010) Distacircncia em linha reta a

capital 36 km Tropical Quente Semi-aacuterido Brando e Tropical Quente

Subuacutemido (IPECE 2012)

Satildeo Gonccedilalo do

Amarante

Aacuterea 83439 kmsup2 Populaccedilatildeo 43890 (2010) Distacircncia em linha reta a

capital 58 km Clima Tropical Semi-aacuterido Brando (IPECE 2012)

Satildeo Luiacutes do

Curu

Aacuterea 12242 kmsup2 Populaccedilatildeo 12332 (2010) Distacircncia em linha reta a

capital 84 km Clima Tropical Quente Semi-aacuterido Brando (IPECE 2012)

Paraipaba Aacuterea 30112 kmsup2 Populaccedilatildeo 30041 (2010) Distacircncia em linha reta a

capital 82 km Clima Tropical Quente Semi-aacuterido Brando (IPECE 2012)

Paracuru Aacuterea 30325 kmsup2 Populaccedilatildeo 31636 (2010) Distacircncia em linha reta a

capital 72 km Tropical Quente Semi-aacuterido Brando (IPECE 2012)

Trairi

Aacuterea 92456 kmsup2 Populaccedilatildeo 51422 (2010) Distacircncia em linha reta a

capital 105 km Clima Tropical Quente Semi-aacuterido Brando (IPECE

2012)

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados do IPECE (2012)

33 CAacuteLCULO DO IacuteNDICE

Conforme com Martins e Candido (2008) o IDSM pode ser calculado a partir do

conjunto de iacutendices de cinco dimensotildees15

sendo que a dimensatildeo econocircmica engloba as

seguintes variaacuteveis Produto Interno Bruto per capita participaccedilatildeo da induacutestria no PIB saldo

15

Maiores detalhes ver Martins e Candido (2008)

78

da Balanccedila de Pagamentos renda familiar per capita em salaacuterios miacutenimos Renda per capita

rendimentos provenientes do trabalho e iacutendice de Gini de distribuiccedilatildeo dos rendimentos

(MARTINS CAcircNDIDO 2008)

A metodologia aplicada por Martins e Candido (2011) foi baseada no IDS-Brasil 2004

e nos Iacutendices de Desenvolvimento Sustentaacutevel para Territoacuterios Rurais propostas por Waquil et

al (2006)

As variaacuteveis possuem diferentes unidades de medida sendo necessaacuteria a

transformaccedilatildeo das mesmas em iacutendices ajustando seus valores entre 0 (zero) e 1 (um) Aleacutem

disso as variaacuteveis que compotildeem as dimensotildees podem apresentar relaccedilatildeo positiva (quanto

maior melhor e quanto menor pior) ou relaccedilatildeo negativa (quanto maior pior e quanto menor

melhor) Desta forma foi necessaacuterio determinar a relaccedilatildeo que cada variaacutevel possui com o

desenvolvimento se positiva ou negativa Feita essa classificaccedilatildeo o caacutelculo do iacutendice eacute

realizado atraveacutes de foacutermulas especiacuteficas para cada caso (positivo ou negativo) e o agregado

de todos os iacutendices permite a anaacutelise da dimensatildeo econocircmica A conversatildeo da variaacutevel em

iacutendice pode ser calculada conforme as equaccedilotildees 1 e 2

Quando a relaccedilatildeo eacute positiva

I = (x-m)(M-m) (1)

Quando a relaccedilatildeo eacute negativa

I = (M-x)(M-m) (2)

Onde

I = valor do iacutendice

x = valor da variaacutevel no municiacutepio observado

m = valor miacutenimo identificado no Cearaacute (territoacuterio em que se localiza a RMF)

M = valor maacuteximo identificado no Cearaacute (territoacuterio em que se localiza a RMF)

O niacutevel de sustentabilidade eacute classificado conforme os valores obtidos (variaccedilatildeo entre

0 e 1) em cada iacutendice de acordo com o Quadro 2

79

Quadro 3 ndash Classificaccedilatildeo do iacutendice conforme o valor obtido

IacuteNDICE CLASSIFICACcedilAtildeO

00000 ndash 02500 CRIacuteTICO

02501 ndash 05000 ALERTA

05001 ndash 07500 ACEITAacuteVEL

07501 ndash 10000 IDEAL

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Martins e Candido (2008)

Em seguida calcula-se a meacutedia aritmeacutetica de todos os iacutendices para obter o iacutendice da

dimensatildeo econocircmica dos municiacutepios

Esclarecidas as questotildees fundamentais para o entendimento deste trabalho a proacutexima

seccedilatildeo trata sobre a aplicaccedilatildeo do iacutendice para a dimensatildeo econocircmica nos municiacutepios que

integram a Regiatildeo Metropolitana de Fortaleza

4 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES

Na Tabela 1 satildeo apresentados os dados para os dezenove municiacutepios da RMF

referentes agraves variaacuteveis econocircmicas Os valores referentes agraves estatiacutesticas de valor maacuteximo

valor miacutenimo meacutedia e o desvio padratildeo para cada variaacutevel referem-se ao Estado do Cearaacute jaacute

que estes valores foram utilizados dentro do caacutelculo

Verifica-se que quanto agraves variaacuteveis PIB per capita e participaccedilatildeo da induacutestria no PIB

o municiacutepio de Euseacutebio possui o maior valor considerado restando aos municiacutepios de

Guaiuba e Chorozinho respectivamente os menores valores nas respectivas variaacuteveis no

saldo da balanccedila comercial Cascaacutevel eacute detentora do maior superaacutevit enquanto que Fortaleza

obteve o saldo negativo mais expressivo no territoacuterio analisado A situaccedilatildeo muda ao analisar a

renda per capita em virtude do bom desempenho de Fortaleza em oposiccedilatildeo a situaccedilatildeo

inferior de Trairi O maior e pior valores encontrados para a porcentagem dos rendimentos

provenientes do trabalho satildeo respectivamente para os municiacutepios de Maracanauacute e Trairi este

uacuteltimo apresentou o valor mais alto quanto ao iacutendice de Gini indo de encontro agrave posiccedilatildeo de

Horizonte neste quesito

80

Tabela 1 ndash Valores para PIB per capita participaccedilatildeo da induacutestria no PIB Saldo da Balanccedila

Comercial Renda per capita rendimentos provenientes do trabalho e iacutendice de Gini de

Distribuiccedilatildeo dos rendimentos para os municiacutepios que integram a Regiatildeo Metropolitana de

Fortaleza ndash RMF (2010)

Municiacutepio

PIB per

capita

(R$

100)

Participaccedilatildeo

da induacutestria

no PIB ()

Saldo da

Balanccedila

Comercial

(US$ mil)

Renda

per

capita

(R$)

Rendimentos

Provenientes

do Trabalho

()

Iacutendice de

Gini de

Distribuiccedilatildeo

dos

Rendimentos

Aquiraacutes 9395 044 -24575556 35260 7644 042

Cascaacutevel 6762 033 146534066 30914 6877 048

Caucaia 7999 032 -360339462 37963 7894 048

Chorozinho 4774 011 0 27740 6544 050

Euseacutebio 27616 062 -37419526 62301 7807 065

Fortaleza 15161 022 -492754287 84636 7546 061

Guaiuba 4178 015 -698753 23969 6495 047

Horizonte 18053 055 -10729996 32278 7907 042

Itaitinga 5107 030 -2557335 30015 7018 045

Maracanauacute 19549 055 -151311338 37291 7975 043

Maraguanpe 6671 039 -20322187 30781 7375 044

Pacajuacutes 8319 041 -6328928 35478 7744 047

Pacatuba 7680 048 -7788778 34463 7457 044

Pindoretama 4828 012 0 29699 6721 045

Satildeo

Gonccedilalo do

Amarante

25431 026 -377361470 30914 7252 051

Satildeo Luiacutes do

Curu

4698 018 0 25790 6105 051

Paraipaba 5824 023 16478763 28379 6607 050

Paracuru 6211 026 38691 32820 6803 056

Trairi 4631 023 -70383 20589 5614 055

Miacutenimo 3169 006 -492754287 17162 3348 042

Maacuteximo 39997 058 150238212 84636 7975 066

Meacutedia 544529 016 -485814709 26764 5646 053

Desvio

Padratildeo

402441 009 5716913928

7634

946

005

Fonte IPECE (2012) DATASUS (2010) Ministeacuterio do Desenvolvimento da Induacutestria e Comeacutercio Exterior

(MDCI) (2010) e Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil (2010) Elaborado pelos autores

Seguem-se os valores de cada iacutendice para cada variaacutevel segundo o municiacutepio

conforme processo metodoloacutegico descrito anteriormente no intuito de se obter o valor para o

iacutendice da Dimensatildeo Econocircmica do IDSM na RMF

81

41 PIB PER CAPITA

Os valores da Tabela 2 demonstram os iacutendices para o Produto Interno Bruto per capita

em 2010 A relaccedilatildeo desta variaacutevel com a renda meacutedia da populaccedilatildeo eacute positiva pois quanto

maior for maior seraacute a renda

Tabela 2 ndash Indicador de Produto Interno Bruto per capita por municiacutepio ndash RMF - 2010

Municiacutepio Iacutendice Classificaccedilatildeo

Aquiraacutes 01691 Criacutetico

Cascaacutevel 00976 Criacutetico

Caucaia 00436 Criacutetico

Chorozinho 06638 Aceitaacutevel

Euseacutebio 03256 Alerta

Fortaleza 00274 Criacutetico

Guaiuba 04041 Alerta

Horizonte 00526 Criacutetico

Itaitinga 04448 Alerta

Maracanauacute 00951 Criacutetico

Maranguape 01398 Criacutetico

Pacajus 01225 Criacutetico

Pacatuba 01225 Criacutetico

Pindoretama 00450 Criacutetico

Satildeo Gonccedilalo do Amarante 06045 Aceitaacutevel

Satildeo Luiacutes do Curu 00415 Criacutetico

Paraipaba 00721 Criacutetico

Paracuru 00826 Criacutetico

Trairi 00397 Critico Fonte Elaborado pelos autores a partir dos dados do IPECE (2012)

Para o periacuteodo analisado apenas os municiacutepios de Chorozinho e Satildeo Gonccedilalo do

Amarante apresentaram niacuteveis aceitaacuteveis de sustentabilidade em relaccedilatildeo ao Produto Interno

Bruto per capita sendo que o primeiro demonstrou valor mais expressivo Trecircs municiacutepios

apresentaram niacuteveis de alerta e os demais se enquadraram em fator criacutetico valendo salientar

que o municiacutepio de Fortaleza apresentou o pior resultado devendo-se considerar que o

mesmo concentra a maior populaccedilatildeo da RMF

42 PARTICIPACcedilAtildeO DA INDUacuteSTRIA NO PIB

Sendo a relaccedilatildeo dessa variaacutevel positiva pois quanto maior for melhor para o PIB

municipal trecircs municiacutepios apresentaram niacuteveis ideais conforme a Tabela 3 O municiacutepio de

Euseacutebio registrou iacutendice 10000 o que demonstra que a atividade industrial no municiacutepio eacute

uma das principais dinamizadoras de sua economia devendo-se considerar tambeacutem que o

82

mesmo apresentou o maior percentual de participaccedilatildeo da induacutestria no PIB dentre todos os

municiacutepios averiguados

Tabela 3 ndash Indicador de participaccedilatildeo da induacutestria no PIB por municiacutepio ndash RMF ndash 2010

Municiacutepio Iacutendice Classificaccedilatildeo

Aquiraacutes 06319 Aceitaacutevel

Cascaacutevel 04229 Alerta

Caucaia 04141 Aceitaacutevel

Chorozinho 00000 Criacutetico

Euseacutebio 10000 Ideal

Fortaleza 02114 Criacutetico

Guaiuba 00769 Criacutetico

Horizonte 08575 Ideal

Itaitinga 03628 Alerta

Maracanauacute 08641 Ideal

Maranguape 05484 Aceitaacutevel

Pacajus 05904 Aceitaacutevel

Pacatuba 07257 Aceitaacutevel

Pindoretama 00172 Criacutetico

Satildeo Gonccedilalo do Amarante 02786 Alerta

Satildeo Luiacutes do Curu 01329 Criacutetico

Paraipaba 02287 Criacutetico

Paracuru 02815 Alerta

Trairi 02281 Critico Fonte Elaborado pelos autores a partir dos dados do IPECE (2012)

Cinco municiacutepios obtiveram niacuteveis aceitaacuteveis enquanto que quatro e sete municiacutepios

apresentaram respectivamente niacuteveis de alerta e criacutetico Vale considerar o caso de

Chorozinho que apresentou iacutendice 00000 cujo PIB per capita possui como fator

dinamizador o setor de serviccedilos enquanto que a induacutestria apresenta a menor participaccedilatildeo

neste processo Pindoretama apresentou similar resultado (00172) devendo-se levar em

consideraccedilatildeo que o dinamismo econocircmico destes municiacutepios eacute semelhante

43 SALDO DA BALANCcedilA COMERCIAL

A anaacutelise da Tabela 4 demonstra os valores iacutendices no que se refere ao saldo da

balanccedila comercial sendo que esta variaacutevel apresenta uma relaccedilatildeo positiva jaacute que saldos

positivos (superaacutevits comerciais) incrementam a economia

83

Tabela 4 ndash Indicador de balanccedila comercial por municiacutepio ndash RMF ndash 2010

Municiacutepio Iacutendice Classificaccedilatildeo

Aquiraacutes 07281 Aceitaacutevel

Cascaacutevel 09942 Ideal

Caucaia 02059 Criacutetico

Chorozinho 07663 Ideal

Euseacutebio 07081 Aceitaacutevel

Fortaleza 00000 Criacutetico

Guaiuba 07653 Ideal

Horizonte 07497 Aceitaacutevel

Itaitinga 07624 Ideal

Maracanauacute 05310 Aceitaacutevel

Maranguape 07347 Aceitaacutevel

Pacajus 07565 Ideal

Pacatuba 07542 Ideal

Pindoretama 07663 Ideal

Satildeo Gonccedilalo do Amarante 01795 Criacutetico

Satildeo Luiacutes do Curu 07663 Ideal

Paraipaba 07920 Ideal

Paracuru 07664 Ideal

Trairi 07662 Ideal Fonte Elaborado pelos autores a partir dos dados do Ministeacuterio da Induacutestria Comeacutercio Exterior e Serviccedilos

(MDIC) (2010)

Trecircs municiacutepios apresentaram iacutendices com valores criacuteticos a saber Fortaleza Satildeo

Gonccedilalo do Amarante e Caucaia ndash estes municiacutepios apresentam os piores deacuteficits na balanccedila

comercial na aacuterea estudada A capital cearense registrou o pior resultado o que demonstra que

o deacuteficit obtido em suas contas de comeacutercio com o exterior tem apresentado retornos

demasiadamente pouco vantajosos agrave economia municipal Cinco municiacutepios registraram

iacutendices aceitaacuteveis e os demais enquadraram-se na faixa ideal

45 RENDA PER CAPITA

Abaixo na Tabela 5 encontram-se expressos os valores para o iacutendice de renda per

capita de cada muniacutecipio da RMF A relaccedilatildeo eacute positiva tendo em vista que quanto maior for a

variaacutevel maior seraacute o iacutendice (melhor para a economia municipal) Apenas Fortaleza

apresentou valor em niacutevel ideal no que se refere ao indicador renda per capita em sua

expressatildeo maacutexima ndash ressalte-se o fato de a renda per capita do mesmo ser o maior dentre

todos os municiacutepios considerados nesta investigaccedilatildeo O segundo melhor resultado ficou com

o municiacutepio de Euseacutebio na classificaccedilatildeo aceitaacutevel Em sua grande maioria os outros

municiacutepios exibiram valores criacuteticos enquanto que outros cinco estatildeo na faixa de alerta

84

Tabela 5 ndash Indicador de renda per capita por municiacutepio ndash RMF ndash 2010

Municiacutepio Iacutendice Classificaccedilatildeo

Aquiraacutes 02682 Alerta

Cascaacutevel 02038 Criacutetico

Caucaia 03083 Alerta

Chorozinho 01568 Criacutetico

Euseacutebio 06690 Aceitaacutevel

Fortaleza 10000 Ideal

Guaiuba 01009 Criacutetico

Horizonte 02240 Criacutetico

Itaitinga 01905 Criacutetico

Maracanauacute 02983 Alerta

Maranguape 02018 Criacutetico

Pacajus 02715 Alerta

Pacatuba 02564 Alerta

Pindoretama 01858 Criacutetico

Satildeo Gonccedilalo do Amarante 02038 Criacutetico

Satildeo Luiacutes do Curu 01279 Criacutetico

Paraipaba 01662 Criacutetico

Paracuru 02321 Criacutetico

Trairi 00508 Criacutetico Fonte Elaborado pelos autores a partir dos dados do Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil (2010)

46 RENDIMENTOS PROVENIENTES DO TRABALHO

A Tabela 6 exibe os valores encontrados para o indicador de porcentagem da renda

proveniente de rendimentos do trabalho A relaccedilatildeo eacute positiva dado que quanto maior o iacutendice

melhor para o desenvolvimento sustentaacutevel do municiacutepio No que tange ao indicador a

grande maioria dos municiacutepios analisados se encontram na faixa ideal com destaque para a

cidade de Maracanauacute que obteve valor 10000 no iacutendice Quanto aos demais municiacutepios

estes foram classificados dentro da faixa aceitaacutevel enquanto que particularmente Trairi foi

enquadrado no niacutevel de alerta

85

Tabela 6 ndash Indicador de rendimentos provenientes do trabalho por municiacutepio ndash RMF ndash 2010

Municiacutepio Iacutendice Classificaccedilatildeo

Aquiraacutes 09285 Ideal

Cascaacutevel 07627 Ideal

Caucaia 09825 Ideal

Chorozinho 06907 Aceitaacutevel

Euseacutebio 09637 Ideal

Fortaleza 09073 Ideal

Guaiuba 06801 Aceitaacutevel

Horizonte 09853 Ideal

Itaitinga 07932 Ideal

Maracanauacute 10000 Ideal

Maranguape 08703 Ideal

Pacajus 09501 Ideal

Pacatuba 08880 Ideal

Pindoretama 07290 Aceitaacutevel

Satildeo Gonccedilalo do Amarante 08437 Ideal

Satildeo Luiacutes do Curu 05959 Aceitaacutevel

Paraipaba 07043 Aceitaacutevel

Paracuru 07467 Aceitaacutevel

Trairi 04897 Alerta Fonte Elaborado pelos autores a partir dos dados do Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil (2010)

47 IacuteNDICE DE GINI DE DISTRIBUICcedilAtildeO DOS RENDIMENTOS

Pode-se extrair da Tabela 7 informaccedilotildees acerca dos iacutendices encontrados para os

municiacutepios da RMF no que se refere ao Iacutendice de Gini de Distribuiccedilatildeo dos Rendimentos16

Neste caso a relaccedilatildeo eacute negativa dado que quanto maior for o valor da variaacutevel menor seraacute o

iacutendice Constatou-se que quatro municiacutepios se encontram em niacutevel criacutetico enquanto que os

demais estatildeo em niacutevel de alerta O destaque estaacute para os municiacutepios de Euseacutebio Fortaleza

Paracuru e Trairi que de acordo com a anaacutelise possuem valores para desigualdade

acentuados

16

Nuacutemero de vezes que a renda agregada do quinto superior da distribuiccedilatildeo da renda (20 mais ricos) eacute maior

do que a renda do quinto inferior (20 mais pobres) na populaccedilatildeo residente em determinado espaccedilo

geograacutefico no ano considerado (DATASUS sd)

86

Tabela 7 ndash Iacutendice de Gini por municiacutepio ndash RMF ndash 2010

Municiacutepio Iacutendice Classificaccedilatildeo

Aquiraacutes 04637 Alerta

Cascaacutevel 03606 Alerta

Caucaia 03606 Alerta

Chorozinho 03263 Alerta

Euseacutebio 00687 Criacutetico

Fortaleza 01374 Criacutetico

Guaiuba 03778 Alerta

Horizonte 04637 Alerta

Itaitinga 04122 Alerta

Maracanauacute 04465 Alerta

Maranguape 04293 Alerta

Pacajus 03778 Alerta

Pacatuba 04293 Alerta

Pindoretama 04122 Alerta

Satildeo Gonccedilalo do Amarante 03091 Alerta

Satildeo Luiacutes do Curu 03091 Alerta

Paraipaba 03263 Alerta

Paracuru 02233 Criacutetico

Trairi 02404 Criacutetico Fonte Elaborado pelos autores a partir dos dados do DATASUS (2010)

48 DIMENSAtildeO ECONOcircMICA

Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores para o IDSM econocircmicos para os municiacutepios

da RMF Calculado todos os iacutendices para todas as variaacuteveis conforme os municiacutepios

analisados utilizou-se a meacutedia aritmeacutetica entre estes mesmos iacutendices para se obter o indicador

da dimensatildeo econocircmica de desenvolvimento sustentaacutevel para os municiacutepios da RMF

Os resultados permitem inferir que o municiacutepio de Euseacutebio apresentou o melhor

resultado para o ano de 2010 atingindo o valor ideal para o iacutendice da dimensatildeo econocircmica

Em seguida Horizonte e Maracanauacute atingiram bons iacutendices Ademais mais trecircs municiacutepios

apresentaram valores dentro da faixa aceitaacutevel quanto que os demais se enquadraram em

estado de alerta quanto ao iacutendice O municiacutepio que apresentou o menor valor foi Trairi

87

Tabela 8 ndash Iacutendice da Dimensatildeo Econocircmica do IDSM para os municiacutepios da RMF ndash 2010

Municiacutepio Iacutendice Classificaccedilatildeo

Aquiraacutes 05316 Aceitaacutevel

Cascaacutevel 04736 Alerta

Caucaia 04004 Alerta

Chorozinho 03306 Alerta

Euseacutebio 06789 Aceitaacutevel

Fortaleza 04303 Alerta

Guaiuba 03381 Alerta

Horizonte 06140 Aceitaacutevel

Itaitinga 04289 Alerta

Maracanauacute 05975 Aceitaacutevel

Maranguape 04799 Alerta

Pacajus 05144 Aceitaacutevel

Pacatuba 05294 Aceitaacutevel

Pindoretama 03593 Alerta

Satildeo Gonccedilalo do Amarante 04032 Alerta

Satildeo Luiacutes do Curu 03289 Alerta

Paraipaba 03816 Alerta

Paracuru 03888 Alerta

Trairi 03025 Alerta Fonte Elaborado pelos autores a partir da base de dados utilizadas 2010

Comparando-se os resultados da Tabela 8 com a Tabela 9 esta uacuteltima demonstra os

resultados para a Regiatildeo Metropolitana do Cariri calculados por Vieira e Justo (2015)

percebe-se que Aquiraacutes Euseacutebio Horizonte Maracanauacute Pacajus e Pacatuba encontram-se

junto a Crato e Juazeiro do Norte no que se refere a classificaccedilatildeo aceitaacutevel

Tabela 9 ndash Dimensatildeo econocircmica do IDSM para os municiacutepios da Regiatildeo Metropolitana do

Cariri ndash RMC

Municiacutepio Iacutendice Classificaccedilatildeo

Barbalha 04801 Alerta

Caririaccedilu 03725 Alerta

Crato 05313 Aceitaacutevel

Farias Brito 03497 Alerta

Jardim 03654 Alerta

Juazeiro do Norte 05117 Aceitaacutevel

Missatildeo Velha 03916 Alerta

Nova Olinda 03930 Alerta

Santana do Cariri 03717 Alerta Fonte Vieira Justo (2015)

88

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Observou-se que os indicadores analisados possuem comportamentos especiacuteficos e

diversos a depender de cada indicador O fato eacute corroborado ao analisar o indicador de

participaccedilatildeo da induacutestria no PIB por municiacutepio pois este apresentou valores irregulares entre

os municiacutepios por outro lado os indicadores rendimentos provenientes do trabalho por

municiacutepio e iacutendice de Gini expressaram resultados positivos e regulares com a maioria dos

municiacutepios sendo enquadrados entre os niacuteveis ideal e aceitaacutevel Os indicadores Produto

Interno Bruto per capita e renda per capita apresentaram os piores resultados estimados jaacute

que a maioria dos municiacutepios se encontrou em estado criacutetico de desenvolvimento sustentaacutevel

segundo a dimensatildeo aqui considerada

Do indicador econocircmico que compreende todos os iacutendices calculados para 2010 ficou

evidenciado o elevado resultado do municiacutepio de Euseacutebio A maioria de seus iacutendices ocupou

as faixas ideal e aceitaacutevel Apesar do status de capital Fortaleza apresentou niacuteveis criacuteticos em

trecircs indicadores niacutevel aceitaacutevel em um e niacutevel ideal em dois

Trairi Satildeo Luiacutes do Curu Satildeo Gonccedilalo do Amarante Paraipaba e Paracuru

compartilham os piores resultados jaacute que a maioria de seus indicadores foi enquadrada em

niacutevel criacutetico ou de alerta Itaitinga e Pacatuba demonstraram resultados em meacutedia nem bons

e nem ruins mas que podem conseguir bons resultados conforme utilizaccedilatildeo de eficientes

poliacuteticas puacuteblicas

No que se refere ao iacutendice da Dimensatildeo Econocircmica no todo para 2010 os municiacutepios

considerados natildeo apresentaram niacuteveis criacuteticos Euseacutebio Horizonte e Aquiraacutes conseguiram os

melhores resultados com o primeiro no niacutevel ideal e os outros dois em niacuteveis aceitaacuteveis

Entretanto apesar de resultados natildeo criacuteticos na anaacutelise do iacutendice da Dimensatildeo

Econocircmica os municiacutepios em sua individualidade natildeo compartilham de valores com

caracteriacutesticas semelhantes o que pocircde ser constatado a partir do comportamento instaacutevel das

variaacuteveis conforme a localizaccedilatildeo Pode-se concluir que um bom resultado no geral natildeo

implica em um bom desempenho no individual no que tange a dimensatildeo econocircmica do

IDSM cabendo ressaltar a importacircncia de se destrinchar as variaacuteveis conforme suas

especificidades e localizaccedilatildeo a fim de obter valores mais precisos que possam estar de acordo

com a realidade de cada municiacutepio aleacutem de fornecer uma visatildeo clara e aberta da conduta

econocircmica dos mesmos

89

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PRESTADOS PELAS AGEcircNCIAS BANCAacuteRIAS NO MUNICIacutePIO DO IGUATU

CEARAacute

ANTOcircNIA KARINE GOMES DOS SANTOS

Discente do curso de Ciecircncias Econocircmicas da Universidade Regional do Cariri (URCA)

Unidade Descentralizada de Iguatu ndash UDI E-mail karinegomes922gmailcom

GERLAcircNIA MARIA ROCHA SOUSA

Doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Cearaacute

(UFC) Mestre em Economia Rural pela Universidade Federal do Cearaacute (UFC) E-mail

gerlaniarochagmailcom

OTAacuteCIO PEREIRA GOMES

Mestre em Economia Rural pela Universidade Federal do Cearaacute (UFC) E-mail

otaciopggmailcom

DAcircMARIS COSTA FRUTUOSO

Discente do curso de Ciecircncias Econocircmicas da Universidade Regional do Cariri (URCA)

Unidade Descentralizada de Iguatu ndash UDI E-mail damarisfrutuosogmailcom

ANDREacuteA FERREIRA DA SILVA

Doutoranda em Economia Aplicada da Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Mestre em

Economia Rural pela Universidade Federal do Cearaacute (UFC) Graduada em Ciecircncias

Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA) E-mail

andreaeconomiayahoocombr

93

NIacuteVEL DE SATISFACcedilAtildeO DOS CLIENTES EM RELACcedilAtildeO AOS SERVICcedilOS

PRESTADOS PELAS AGEcircNCIAS BANCAacuteRIAS NO MUNICIacutePIO DO IGUATU

CEARAacute

RESUMO

O presente trabalho apresenta o estudo do niacutevel de satisfaccedilatildeo dos clientes em relaccedilatildeo aos

serviccedilos oferecidos pelas agecircncias bancaacuterias localizadas no municiacutepio de Iguatu CE para isso

foi utilizado agrave teacutecnica estatiacutestica multivariada de anaacutelise fatorial para calcular o Iacutendice de

Satisfaccedilatildeo dos Clientes em relaccedilatildeo aos serviccedilos prestados pelas Agecircncias Bancaacuterias (ISCAB)

por meio desse Iacutendice foi feito a ordenaccedilatildeo dos entrevistados de acordo com seu niacutevel de

satisfaccedilatildeo Obtiveram-se resultados insatisfatoacuterios com relaccedilatildeo aos gostos dos clientes

Palavras-chave Satisfaccedilatildeo Clientes Agecircncias Bancaacuterias

ABSTRACT

The present work presents the study of the level of customer satisfaction in relation to the

services offered by the banking agencies located in the city of Iguatu CE For this a

multivariate statistical analysis was used to calculate the Customer Satisfaction Index to the

services provided by the Banking Agencies (ISCAB) through this Index the interviewees

were ranked according to their level of satisfaction Unsatisfactory results were obtained in

relation to the customers taste

Keywords Satisfaction Customers Bank agencies

94

1 Introduccedilatildeo

O sistema bancaacuterio surgiu em decorrecircncia da divisatildeo do trabalho que originou as

mercadorias-moedas e consequentemente a moeda inicialmente cunhada em metais e

posteriormente passando ao papel-moeda e finalmente a moeda escritural e eletrocircnica Tanto o

surgimento como as alteraccedilotildees que ocorreram no sistema bancaacuterio atraveacutes dos tempos foram

motivados pelas necessidades da sociedade

A partir da deacutecada de 1960 a rede de atendimento dos agentes financeiros sofreu uma

grande ampliaccedilatildeo motivada pelo novo sistema de transportes adotado o rodoviaacuterio o qual

propiciou uma maior abrangecircncia do sistema em relaccedilatildeo ao modal ferroviaacuterio Aleacutem da

mudanccedila no modal de transportes ocorrida nesse periacuteodo outro fator que proporcionou a

ampliaccedilatildeo da rede de atendimento foi o avanccedilo tecnoloacutegico nos meios de comunicaccedilatildeo do

paiacutes

Em 1988 com a promulgaccedilatildeo da nova Constituiccedilatildeo Brasileira os bancos tornaram-se

muacuteltiplos ou seja natildeo estariam mais limitados apenas ao setor financeiro podendo atuar em

outros ramos da economia Todas as mudanccedilas normativas regulamentadoras ou accedilotildees do

Estado natildeo ocasionaram tantas alteraccedilotildees na dinacircmica bancaacuteria como a estabilizaccedilatildeo

econocircmica proporcionada pelo Plano Real a partir de 1994

A partir de 1995 em decorrecircncia da estabilidade econocircmica os cartotildees de deacutebito e

principalmente os de creacutedito comeccedilaram a ganhar espaccedilo no mercado nacional tornando-se

um dos principais meios de pagamento utilizados atualmente Outra mudanccedila deste periacuteodo

foi o maior volume de empreacutestimos concedidos agraves pessoas fiacutesicas com intuito de fomentar a

aquisiccedilatildeo de bens de consumo duraacuteveis por meio de financiamentos ou consumo de bens natildeo

duraacuteveis por meio de creacutedito pessoal ou limite de creacutedito em conta corrente ou cartatildeo de

creacutedito

A globalizaccedilatildeo econocircmica que o paiacutes comeccedilou a sentir a partir de 1994 devido agrave maior

abertura do mercado financeiro a instituiccedilotildees financeiras internacionais tambeacutem possibilitou a

ampliaccedilatildeo dos espaccedilos de utilizaccedilatildeo das linhas de creacutedito oferecidas no paiacutes Os portadores de

cartotildees de creacutedito com bandeira internacional foram amplamente beneficiados com essa nova

realidade pois com uma moeda estaacutevel e valorizada foi minimizada a aquisiccedilatildeo de moedas

estrangeiras para viagens internacionais devido agrave possibilidade de utilizaccedilatildeo dos cartotildees de

95

creacutedito internacional em qualquer paiacutes que possua estabelecimentos conveniados as

administradoras que atuam no Brasil

No Brasil haacute uma enorme concentraccedilatildeo de clientes em meia duacutezia de instituiccedilotildees

financeiras Bancos privados e estatais concentram a maioria dos correntistas brasileiros Os

bancos satildeo como qualquer outra empresa no acircmbito de que visam agrave obtenccedilatildeo de lucro mas

tambeacutem fornecem serviccedilos essenciais agrave sociedade seja realizando pagamentos oferecendo

empreacutestimos transferindo valores gerenciando patrimocircnios e investindo todos precisam

deles

Como existem inuacutemeros aspectos influenciadores da satisfaccedilatildeo do consumidor cabe

ao pesquisador levaacute-los em consideraccedilatildeo no momento de construir e buscar uma metodologia

estatiacutestica Portanto pode-se justificar essa pesquisa devido agrave inexistecircncia de trabalhos

especiacuteficos nessa linha de raciociacutenio empregando um modelo que abranja a

multidimensionalidade da satisfaccedilatildeo do cliente levando em consideraccedilatildeo os diversos

indicadores que contribuem para a sua satisfaccedilatildeo

Nesse sentido o objetivo deste artigo concentra-se em traccedilar o perfil socioeconocircmico

e determinar um iacutendice de satisfaccedilatildeo dos clientes em relaccedilatildeo aos serviccedilos prestados pelas

Agecircncias Bancaacuterias (ISCAB) do municiacutepio de Iguatu Cearaacute

2 Fundamentaccedilatildeo teoacuterica

Nesta seccedilatildeo seratildeo citados conceitos de autores renomeados na aacuterea de Marketing

satisfaccedilatildeo de clientes e modelo Kano com o intuito de argumentar e fundamentar teoricamente

o tema principal do estudo que eacute analisar o niacutevel de satisfaccedilatildeo dos clientes em relaccedilatildeo aos

serviccedilos oferecidos pelas agecircncias bancaacuterias localizada no municiacutepio de Iguatu

O marketing surgiu nos Estados Unidos e foi lentamente se espalhando pelo mundo

A palavra marketing origina-se do inglecircs market e deriva do latim mercaacutetus que significa

mercado Na liacutengua portuguesa pode ser entendido como mercadologia a ciecircncia ou estudo

do mercado No Brasil o termo passou a ser utilizado a partir de 1954 quando uma missatildeo

norte americana organizou os primeiros cursos de Administraccedilatildeo de Empresas na Fundaccedilatildeo

Getulio Vargas em Satildeo Paulo (DIAS 2003 RICHERS2004)

Segundo Schmitt (2004) antes da deacutecada de 90 o marketing era focado no produto na

tecnologia e na venda as organizaccedilotildees natildeo se preocupavam com o que os clientes pensavam

apoacutes a deacutecada de 90 as organizaccedilotildees passaram a se focar no cliente Os clientes se tornaram o

96

ponto principal e as organizaccedilotildees passaram a reconhecer a necessidade de se tornarem

orientadas para o cliente e voltadas para o mercado Existe uma nova orientaccedilatildeo de marketing

chamado de marketing de relacionamento poacutes venda voltado para a retenccedilatildeo de clientes O

marketing de relacionamento defende que aleacutem de conquistar novos clientes as empresas

precisam manter e cuidar dos clientes atuais assim as empresas comeccedilam a perceber a

importacircncia dos serviccedilos ligados a qualidade do atendimento ao consumidor e criam um

espaccedilo (SAC) onde os clientes possam dar sua opiniatildeo fazer criticas e sugestotildees (VAVRA

1993 SIQUEIRA 2005)

Um relacionamento sustentaacutevel entre empresa e cliente eacute feito atraveacutes da confianccedila e

do comprometimento entre as partes pois acaba gerando um comportamento cooperativo

Esse relacionamento natildeo surge do nada exige trabalho e dedicaccedilatildeo Para construir um bom

relacionamento com seus clientes as organizaccedilotildees devem compreender as necessidades dos

clientes trata-los como parceiros assegurar que seus funcionaacuterios satisfaccedilam suas

necessidades e oferece-los a melhor qualidade possiacutevel (URDAN URDAN 2006

MCKENNA 1993)

21 Satisfaccedilatildeo do cliente aspectos conceituais e referenciais teoacutericos

Satisfaccedilatildeo significa dizer satisfazer algueacutem independente do que se trata se eacute uma

comida um produto um serviccedilo etc Em se tratando de satisfaccedilatildeo do cliente jaacute se tem em

mente um consumidor que paga por algo que iraacute consumirusufruir para satisfazer o seu ego

Sendo assim percebe-se que satisfazer um cliente eacute algo bastante promissor para o mercado

atualmente pois a cada dia que se passa ele se torna ainda mais exigente Tratar um cliente

bem eacute uma loacutegica de marketing que conduz a um cliente satisfeito portanto maior seraacute a

possibilidade do mesmo voltar ao estabelecimento e contratar novamente os seus serviccedilos e

produtos

Para Cordeiro (2014) apud Souza Sousa Justo (2014 p 20) ―percebe-se que neste

ambiente de competitividade global um novo insumo passa a ser primordial para a

manutenccedilatildeo de presenccedila no mercado qual seja a capacidade inovativa das empresas e

localidades Portanto a satisfaccedilatildeo dos clientes eacute peccedila fundamental para um mercado

competitivo vivenciado na atualidade sendo assim investir em marketing e promoccedilotildees ainda

eacute o melhor para a aquisiccedilatildeo de novos clientes natildeo se esquecendo de mantecirc-lo como cliente

fidelizado

97

Conforme Kotler e Keller (2006 p145) ―qualidade eacute a totalidade dos atributos e

caracteriacutesticas de um produto ou serviccedilo que afetam sua capacidade de satisfazer necessidades

declaradas ou impliacutecitas Essa eacute uma definiccedilatildeo claramente voltada para o cliente

Na Figura 1 retrata-se a otimizaccedilatildeo do consumidor diante a maximizaccedilatildeo da utilidade

Segundo o curso on-line de Analista de Economia Perito MPU (p49) ―O consumidor iraacute

maximizar a sua utilidade no ponto em que a sua restriccedilatildeo orccedilamentaacuteria tangencia a curva de

indiferenccedila mais alta possiacutevel

FIGURA 1 ndash A Maximizaccedilatildeo da Utilidade - Otimizaccedilatildeo do Consumidor

Fonte httpptslideshare netWesleyHandersonaula01economia

Segundo Pindyck e Rubinfeld (2006 p56)

O comportamento do consumidor eacute mais bem compreendido quando

examinado em trecircs etapas 1 Preferecircncias do consumidor A primeira

etapa consiste em encontrar uma forma praacutetica de descrever por que as

pessoas poderiam preferir uma mercadoria agrave outra 2 Restriccedilotildees

orccedilamentaacuterias Obviamente os consumidores devem tambeacutem

considerar os preccedilos Por isso na segunda etapa levaremos em conta

que os consumidores tecircm renda limitada o que restringe a quantidade

de mercadorias que podem adquirir O que um consumidor faz nessa

situaccedilatildeo Encontraremos uma resposta para essa questatildeo ao juntar

suas preferecircncias e sua restriccedilatildeo orccedilamentaacuteria na terceira etapa 3

Escolhas do consumidor Diante de suas preferecircncias e da limitaccedilatildeo de

renda os consumidores escolhem comprar as combinaccedilotildees de

mercadorias que maximizam sua satisfaccedilatildeo Essas combinaccedilotildees

dependeratildeo dos preccedilos dos vaacuterios bens disponiacuteveis Assim entender

as escolhas do consumidor nos ajudaraacute a compreender a demanda ndash

isto eacute como a quantidade de bens que os consumidores podem

adquirir depender de seus preccedilos

Y O consumidor estaacute no seu

maior niacutevel de satisfaccedilatildeo ao

escolher o ponto ldquoArdquo em que a

restriccedilatildeo orccedilamentaacuteria atinge a

curva de indiferenccedila mais alta

Este ponto eacute chamado de ponto

de tangecircncia Neste ponto a

TMS ∆119910∆119909 eacute igual agrave razatildeo dos

preccedilos 119875119909119875119903 X

Yrsquo

Xrsquo

A

98

Para Magalhatildees (2005 p 216) ― para que o consumidor maximize sua satisfaccedilatildeo eacute

necessaacuterio que selecione aquela combinaccedilatildeo de bens sobre a linha de orccedilamento que o

capacite a atingir a mais alta curva de indiferenccedila possiacutevel

3 Metodologia

31 Aacuterea de estudo

A aacuterea de estudo compreendeu o municiacutepio de Iguatu localizado na Regiatildeo Centro-

Sul Cearense O municiacutepio tem uma populaccedilatildeo estimada em 2015 de 101386 pessoas

distribuiacutedas em uma aacuterea de 1029214 Kmsup2 estaacute localizado a 380 km da capital do estado

Fortaleza (IBGE 2015)

32 Natureza dos dados e tamanhos da amostra

Os dados utilizados nesta pesquisa satildeo de natureza primaacuteria obtidos por intermeacutedio de

entrevistas diretas junto aos clientes das Empresas bancaacuterias do Municiacutepio de Iguatu no

periacuteodo de 2016 Estes questionaacuterios enfatizaram aspectos a respeito do perfil

socioeconocircmico e indicadores de satisfaccedilatildeo dos clientes das Agecircncias Bancaacuterias A

amostragem seraacute de cunho natildeo probabiliacutestica por conveniecircncia

33 Anaacutelise Tabular e descritiva

Um dos objetivos desse trabalho foi traccedilar o perfil socioeconocircmico dos entrevistados

Portanto inicialmente foi feita uma anaacutelise tabular e descritiva das variaacuteveis econocircmicas

sociais e culturais dos clientes dos correios no municiacutepio de Iguatu aleacutem da aplicaccedilatildeo do

teste H de Kruskal Wallis com vistas a testar a hipoacutetese de igualdade de meacutedias entre

algumas variaacuteveis

34 Anaacutelise fatorial

99

O meacutetodo de anaacutelise fatorial foi utilizado para gerar e mensurar o Iacutendice de Satisfaccedilatildeo

dos clientes das agecircncias bancaacuterias do municiacutepio de Iguatu (ISCAB) que satildeo objetivos

especiacuteficos deste trabalho A anaacutelise fatorial eacute uma teacutecnica multivariada que busca identificar

um nuacutemero relativamente pequeno de fatores comuns que podem ser utilizados para

representar relaccedilotildees entre um grande nuacutemero de variaacuteveis inter-relacionadas

O principal propoacutesito da anaacutelise fatorial eacute descrever as relaccedilotildees de covariacircncia entre

diversas variaacuteveis em termos de poucos fatores natildeo observaacuteveis ou seja a teacutecnica busca

identificar fatores natildeo observaacuteveis que possam explicar a intercorrelaccedilatildeo entre as variaacuteveis

(FAacuteVERO et al 2009)

Segundo Ferreira Jr Baptista e Lima (2004) os fatores satildeo formados levando em

consideraccedilatildeo alguns princiacutepios (a) as variaacuteveis mais correlacionadas satildeo combinadas em um

mesmo fator (b) as variaacuteveis que compotildeem um fator satildeo praticamente independentes das que

compotildeem outros fatores (c) a derivaccedilatildeo dos fatores eacute feita visando maximizar a porcentagem

de variacircncia total explicada por cada fator consecutivo e (d) os fatores natildeo satildeo

correlacionados entre si Assim sendo o modelo de anaacutelise fatorial pode ser expresso

algebricamente como identificado na equaccedilatildeo (01)

Xi = ai1F1 + ai2F2 ++ aimFm + ei (1)

Onde

Xi = o i-eacutesimo escore da variaacutevel padronizada com meacutedia zero e variacircncia unitaacuteria (i = 1 2

m)

Fj = aos fatores comuns natildeo correlacionados com meacutedia zero e variacircncia unitaacuteria

aij = indicaccedilatildeo das cargas fatoriais e

ei = o termo de erro que capta a variaccedilatildeo de Xi explicada por outros fatores aleacutem da

combinaccedilatildeo linear das cargas fatoriais dos fatores comuns

O passo seguinte apoacutes o caacutelculo das cargas fatoriais e a identificaccedilatildeo dos fatores eacute a

estimaccedilatildeo do escore fatorial conforme a expressatildeo geral para estimaccedilatildeo do j-eacutesimo fator Fj

(equaccedilatildeo 02)

Fj = Wj1X1 + Wj2X2 + Wj3X3 ++ WjpXp (2)

100

Em que os Wji satildeo os coeficientes dos escores fatoriais

p = o nuacutemero de variaacuteveis e

Xi (i = 1 2 p) o valor padronizado das variaacuteveis

A adequaccedilatildeo do modelo de anaacutelise fatorial foi testada pela estatiacutestica de Kaiser-

Meyer-Olkin (KMO) e pelo teste de Bartlett O primeiro varia de 0 a 1 e compara a magnitude

do coeficiente de correlaccedilatildeo observado com a magnitude do coeficiente de correlaccedilatildeo parcial

sendo que valores acima de 050 indicam que os dados satildeo adequados para a anaacutelise fatorial e

o modelo estaacute bem ajustado enquanto valores de KMO abaixo de 050 indicam a natildeo

adequabilidade do mesmo

O teste de esfericidade de Bartlett testa a hipoacutetese nula de que a matriz de correlaccedilatildeo

populacional seja igual agrave matriz identidade Para que o modelo de anaacutelise fatorial esteja bem

ajustado a hipoacutetese nula do teste de Bartlett deve ser rejeitada (FAacuteVERO et al 2009)

Segundo Mingoti (2007) o nuacutemero de fatores a serem considerados eacute determinado

geralmente pelo seguinte criteacuterio mantecircm-se apenas os fatores cuja raiz caracteriacutestica eacute

maior que um

35 Determinaccedilotildees do Iacutendice de Satisfaccedilatildeo dos Clientes e relaccedilatildeo aos serviccedilos prestados

pelas Agecircncias Bancaacuterias (ISCAB)

Propotildee-se utilizar a teacutecnica estatiacutestica multivariada de anaacutelise fatorial para calcular o

Iacutendice de Satisfaccedilatildeo dos Clientes em relaccedilatildeo aos serviccedilos prestados pelas Agecircncias Bancaacuterias

(ISCAB) por meio desse Iacutendice seraacute feita a ordenaccedilatildeo dos entrevistados de acordo com seu

niacutevel de satisfaccedilatildeo Para operacionalizar essa teacutecnica seraacute utilizado o software STATA 12

Esse iacutendice foi elaborados tendo como base os trabalhos de Soares et al (1999) que

criaram um iacutendice de desenvolvimento municipal para os municiacutepios cearenses Campos

(2008) que estabeleceu um iacutendice de hierarquizaccedilatildeo do arranjo produtivo de fruticultura

irrigada na regiatildeo do Baixo Jaguaribe no Estado do Cearaacute e pelo trabalho de Sousa e Campos

(2009) que elaborou o iacutendice de desempenho competitivo dos fruticultores cearenses e

Gomes (2015) que elaborou um iacutendice dos produtores de fruticultura irrigada na regiatildeo do

Cariri Cearaacute

101

Posto isto com esse embasamento teoacuterico criou-se o Iacutendice de Satisfaccedilatildeo dos

Clientes em relaccedilatildeo aos serviccedilos prestados pelas Agecircncias Bancaacuterias (ISCAB)

Matematicamente pode-se expressar o ISCAB da seguinte forma (equaccedilatildeo 03)

k

j

jik

j

j

j

ifISCAB

1

1

nabla

j ge 1 (3)

Sabendo que

ISCABi eacute o Iacutendice de Satisfaccedilatildeo dos Clientes em relaccedilatildeo aos serviccedilos prestados pelas

Agecircncias Bancaacuterias

j eacute a raiz caracteriacutestica associada ao fator j

k o nuacutemero de fatores escolhidos

jif o escore fatorial padronizado do cliente i do fator j que de acordo com Gama (2006)

pode ser expresso como minmax

min

FF

FFf

j

ji

em que

minF eacute o escore fatorial miacutenimo do fator j

e

maxF eacute o escore fatorial maacuteximo do fator j Ademais jif estaacute disposto de tal forma que o

pior resultado eacute 0 e o melhor eacute 1

Como o ISCAB representa uma meacutedia ponderada entrejif e as raiacutezes caracteriacutesticas

maiores que 1 entatildeo ele tambeacutem forneceraacute um intervalo entre 0 e 1 Destarte pode-se

estabelecer a seguinte classificaccedilatildeo a) ]000 050] tem-se um baixo niacutevel satisfaccedilatildeo b)

]050 080] representa niacutevel meacutedio de satisfaccedilatildeo e c) ]080 100] tem-se um niacutevel elevado

de satisfaccedilatildeo Essa classificaccedilatildeo natildeo eacute arbitraacuteria pois os niacuteveis de satisfaccedilatildeo satildeo classificados

em trecircs categorias quais sejam baixo meacutedio e alto niacutevel de satisfaccedilatildeo e se baseiam em

classificaccedilotildees utilizadas por diversos iacutendices como por exemplo o Iacutendice de

Desenvolvimento Humano (IDH)

4 Resultados e discussotildees

O meacutetodo de anaacutelise fatorial foi utilizado para gerar e analisar o niacutevel de Satisfaccedilatildeo

dos clientes em relaccedilatildeo aos serviccedilos prestados pelas agecircncias bancaacuterias que satildeo objetivos

102

especiacuteficos deste trabalho A anaacutelise fatorial tem como proposito descrever as relaccedilotildees de

covariacircncia entre os niacuteveis de satisfaccedilatildeo dos clientes Inicialmente com o intuito de verificar

a coesatildeo dos dados coletados foi calculado o teste Kaiser-Mayer - Olkin (KMO)

Assim observou-se considerando-se distribuiccedilatildeo normal dos dados que o KMO

revelou valor de 0558 ou seja eacute um iacutendice razoaacutevel e aceito para anaacutelise fatorial O Teste de

Esfericidade de Bartlett indicou valor 492408 sendo considerado elevado para garantir que a

matriz de correlaccedilotildees natildeo eacute uma matriz identidade ao niacutevel de significacircncia 1 rejeitando a

hipoacutetese nula (H 0 ) de que a matriz de correlaccedilatildeo eacute uma matriz-identidade Conclui-se

portanto que os dados amostrais satildeo adequados para uso da anaacutelise fatorial

QUADRO 1 Teste de KMO e Bartlett

Medida Kaiser-Meyer-Olkin de adequaccedilatildeo de amostragem 0558

Teste de esfericidade de Bartlett Chi-quadrado aprox 492408

Df 105

Sig 0000

Fonte Resultado da Pesquisa

Objetivando caracterizar ou representar um total de variaacuteveis originais em um nuacutemero

menor possiacutevel de variaacuteveis a fim de explicar a satisfaccedilatildeo dos clientes extraiacuteram-se cinco

fatores considerando os que apresentam raiz caracteriacutesticas maiores do que 1 e que em

conjunto 6726 dos clientes estatildeo com niacutevel meacutedio de satisfaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos serviccedilos

bancaacuterios Foram observadas as cargas fatoriais ou coeficientes de correlaccedilatildeo apoacutes a rotaccedilatildeo

dos fatores de adoccedilatildeo de atendimento a serviccedilos prestados pelos bancos e suas respectivas

comunalidades indicando a intensiva associaccedilatildeo entre a variaacutevel e o fator

103

QUADRO 2 Matriz de componente rotativaa

Componente

1 2 3 4 5 6

Tratamento 092 060 570 -279 384 039

Tempo 951 050 007 -005 036 -101

QCaixa 217 -169 686 065 212 200

Qagencia -213 019 052 -056 -029 848

Organizaccedilatildeo 149 -304 -613 -135 027 087

Infraestru 954 087 056 028 004 -127

Qualidbanc 028 086 -695 070 203 041

Confianca -120 665 201 -065 -123 -105

Exigencia 012 652 -179 221 363 009

Prazo -047 115 108 -608 -294 -153

Preccedilo -041 005 041 037 802 -084

Localizacao 040 156 071 795 -161 -130

Seguranca 536 -043 -013 261 -263 487

Concorrenc 058 861 -004 025 -026 -066

QualidSP 326 750 -091 -050 014 292

Meacutetodo de extraccedilatildeo Anaacutelise do Componente principal

Meacutetodo de rotaccedilatildeo Varimax com normalizaccedilatildeo de Kaiser

Rotaccedilatildeo convergida em 6 iteraccedilotildees

Fonte Resultado da Pesquisa

Assim os fatores ficaram da seguinte forma O primeiro fator (F1) estaacute composta pelas

variaacuteveis Tempo de espera para o atendimento Infraestrutura ndash conforto para a espera do

atendimento e Seguranccedila O fator F2 estaacute associado de forma positiva com os seguintes

indicadores de satisfaccedilatildeo Confianccedila nos serviccedilos prestados Niacutevel de exigecircncias para a

realizaccedilatildeo do serviccedilo Qualidade dos serviccedilos de encomenda prestados e Concorrecircncia O

fator F3 estaacute associado de forma positiva com os seguintes indicadores de satisfaccedilatildeo Forma

de tratamento no atendimento ao cliente ndash qualidade do atendimento Quantidade de caixas e

Quantidade de agecircncias

Portanto esse fator estaacute relacionado com os indicadores de concorrecircncia no mercado

Desta forma se um determinado indiviacuteduo apresentar um fator positivo e elevado entatildeo sua

satisfaccedilatildeo estaacute fortemente associada aos indicadores de mercado O fator F4 estaacute representado

pelas variaacuteveis Prazo de entrega das encomendas postadas e Localizaccedilatildeo da agecircncia O fator

F5 estaacute representado pela variaacutevel Preccedilo dos serviccedilos E o fator F6 estaacute representado pela

variaacutevel Quantidade de agecircncias Analogamente o entrevistado que apresentar valor positivo

e elevado desse fator prioriza esse indicador na sua satisfaccedilatildeo

104

TABELA 1 Iacutendice de satisfaccedilatildeo dos clientes das agecircncias bancaacuterias do

municiacutepio de Iguatu Cearaacute Grupos ISCAB Nuacutemeros de Clientes Frequecircncia relativa

Muito baixo 0-020 1 1

Baixo 021-035 7 7

Meacutedio 037-054 77 77

Alto 062-078 15 15

Muito Alto 079-100 0 0

Informaccedilotildees vaacutelidas - 100 100

Fonte Resultado da Pesquisa

Posto isto no que diz respeito ao Iacutendice de Satisfaccedilatildeo dos Clientes dessas agecircncias

mensurado pelo meacutetodo de anaacutelise fatorial observou-se que a maioria dos entrevistados

(77) apresentou meacutedio niacutevel de satisfaccedilatildeo 15 possuem um niacutevel alto de satisfaccedilatildeo e natildeo

houve niacuteveis muito altos de satisfaccedilatildeo para esses clientes mostrando que alguns poucos se

sentem satisfeitos contudo natildeo eacute suficiente para atender todas as suas necessidades

5 Conclusatildeo

O aumento das agecircncias bancaacuterias tem demostrado que os bancos estatildeo buscando a

expansatildeo do mercado objetivando assim um maior nuacutemero de clientes que por sua vez se

tornam cada vez mais exigentes buscando em suas escolhas produtos e serviccedilos de qualidade

Ao analisar os niacuteveis de satisfaccedilatildeo dos clientes das redes bancaacuterias eacute de fundamental

importacircncia pois possibilita que seus responsaacuteveis traccedilam estrateacutegias de forma a incentivar a

captaccedilatildeo de mais clientes Contudo os resultados natildeo foram muito satisfatoacuterios pois em sua

grande parte estes clientes apresentaram-se insatisfeitos com os serviccedilos das agecircncias

bancaacuterias do municiacutepio de Iguatu Cearaacute

Conforme os resultados a grande maioria dos entrevistados apresentaram niacuteveis natildeo

tatildeo satisfatoacuterios com os serviccedilos As variaacuteveis que mais tiveram efeitos negativos sobre os

resultados satildeo o tempo de espera por parte desses clientes pois reclamavam bastante da

demora por parte dos funcionaacuterios em atender acumulando grande quantidade de pessoas no

serviccedilo para serem atendidos A infraestrutura da agecircncia muitos comentaram que o aspecto

fiacutesico natildeo suporta a quantidade de clientes existentes sendo necessaacuteria uma mudanccedila de

espaccedilo Com relaccedilatildeo a qualidade do atendimento acredita-se que isso seja em decorrecircncia do

estresse provocado pelo acuacutemulo de pessoas em um pequeno espaccedilo de atendimento A

105

variaacutevel quantidade de caixas natildeo foi muito avaliada de forma negativa mas sim as

frequecircncias que esses ficavam sem dinheiro provocando filas desnecessaacuterias

De uma forma geral acredita-se que parte desses resultados negativos tenha-se

advindo do periacuteodo de greve em que estas unidades bancaacuterias ficaram onde isso tenha

provocado revolta por parte da populaccedilatildeo Contudo algumas sugestotildees para que o niacutevel de

satisfaccedilatildeo dos clientes bancaacuterios do municiacutepio aumente como maior agilidade e organizaccedilatildeo

dos funcionaacuterios Melhora na infraestrutura de forma em que haja um aumento nos locais

REFEREcircNCIAS

CAMPOS K C Produccedilatildeo localizada e inovaccedilatildeo o arranjo produtivo local de

fruticultura irrigada na microrregiatildeo do Baixo Jaguaribe no Estado do Cearaacute Viccedilosa

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pronafianos do grupo C e dos natildeo-pronafianos do municiacutepio de Santana do Cariri ndash CE

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SOCIOLOGIA RURAL ndash SOBER Londrina ndash PR 2007

107

CRISES INTERNACIONAIS DOS ANOS 1990 A ORIENTACcedilAtildeO EXTERNA DO

NORDESTE BRASILEIRO DENTRO DESTE CONTEXTO

Marcelo Henrick Alves dos Santos

Bacharel em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri - URCA

E-mail ltmarcelohenrick22gmailcomgt

Christiane Luci Bezerra Alves

Professora Associada do Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri

Graduada em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Federal do Cearaacute ndash UFC Mestrado em

Economia pela Universidade Federal da Paraiacuteba ndash UFPB e Doutora em Desenvolvimento e

Meio Ambiente - DDMA da Universidade Federal do Cearaacute ndash UFC E-mail

ltchrislucigmailcomgt

108

CRISES INTERNACIONAIS DOS ANOS 1990 A ORIENTACcedilAtildeO EXTERNA DO

NORDESTE BRASILEIRO DENTRO DESTE CONTEXTO

RESUMO A economia mundial da deacutecada de 1990 eacute reflexo de um conjunto de reformas

estruturais adotadas a partir das orientaccedilotildees neoliberais e de um conjunto de momentos

criacuteticos que assolaram a estabilidade comercial e financeira das naccedilotildees Entretanto da mesma

maneira que as crises afetam a economia nacional acaba por afetar tambeacutem em niacutevel

regional Este trabalho objetiva investigar as mudanccedilas estruturais na orientaccedilatildeo externa da

economia nordestina verificadas a partir das abruptas mudanccedilas na conjuntura

macroeconocircmica nacional e internacional No comeacutercio exterior o valor das importaccedilotildees

passou a exceder o valor das exportaccedilotildees resultando em deacuteficits comerciais que se alastraram

ateacute o final do periacuteodo O Nordeste reafirmou sua posiccedilatildeo como exportador de bens industriais

de baixa e meacutedia-baixa intensidades tecnoloacutegicas bem como de produtos em decadecircncia e

dinacircmicos agrave economia mundial

Palavras-chaves Nordeste orientaccedilatildeo externa crises

ABSTRACT The world economy of the 1990s is a reflection of a set of structural reforms

adopted from neoliberal orientations and a set of critical moments that have affected the

commercial and financial stability of nations However just as crises affect the national

economy it also affects the regional level This work aims to investigate the structural

changes in the external orientation of the Northeast economy verified by the abrupt changes

in the national and international macroeconomic conjuncture In foreign trade the value of

imports began to exceed the value of exports resulting in trade deficits that spread through

the end of the period The Northeast reaffirmed its position as an exporter of industrial goods

of low and medium-low technological intensities as well as of decadent and dynamic

products to the world economy

Keywords Northeast orientation external crises

109

1 INTRODUCcedilAtildeO

O processo de desenvolvimento do sistema capitalista trouxe ao debate cientiacutefico-

acadecircmico questotildees que lhe satildeo inerentes destacando suas particularidades e excentricidades

entre elas o fenocircmeno das crises Nesse sentido teoacutericos de diferentes eacutepocas e linhas de

pensamento debruccedilaram esforccedilos na tentativa de consolidar um arcabouccedilo teoacuterico a esse

respeito como Karl Marx John Maynard Keynes e Joseph Alois Schumpeter

As crises se caracterizaram como ponto de inflexatildeo ou momento de cisatildeo entre fases

diferentes e irreversiacuteveis do capitalismo moldadas a partir da incorporaccedilatildeo de novos haacutebitos

de produccedilatildeo consumo e circulaccedilatildeo financeira

(MARX 1991 SCHUMPETER 1997)

Assim o decorrer da deacutecada de 1990 foi marcado por momentos criacuteticos que abalaram

as economias nacionais principalmente aquelas emergentes

Economias regionais da mesma forma como economias nacionais podem ser afetadas

por crises internacionais dado a maior dificuldade para obtenccedilatildeo de recursos para financiar

deacuteficits em transaccedilotildees correntes

O presente trabalho procura fazer um estudo a partir de uma reflexatildeo analiacutetica sobre a

accedilatildeo dos choques externos dos anos 1990 sobre a orientaccedilatildeo externa da regiatildeo Nordeste do

Brasil Estes mesmos choques possuem suas similaridades sequenciais dado que

desencadearam instabilidade nos mercados financeiros fuga de capitais e perda de poder de

compra no mercado externo As economias envolvidas experimentaram a tensatildeo entre os

investidores quanto a tomada de decisotildees os decliacutenios de seus produtos e a recuperaccedilatildeo em

niacuteveis mais baixos do que aqueles vigentes antes das crises que as acometeram

Neste sentido o trabalho se encontra dividido em quatro seccedilotildees aleacutem desta

introduccedilatildeo na seccedilatildeo 2 eacute caracterizado o fenocircmeno dos choques externos dos anos 1990 a

saber crises mexicana asiaacutetica e russa na seccedilatildeo 3 discute-se a abertura comercial do paiacutes

ocorrida na mesma deacutecada na seccedilatildeo 4 apresentam-se os resultados e anaacutelises da pesquisa

sendo a uacuteltima seccedilatildeo referente agraves consideraccedilotildees finais

110

2 ELEMENTOS PARA COMPREENDER OS CHOQUES EXTERNOS DOS ANOS

1990

Nesta seccedilatildeo propotildee-se um resgate teoacuterico pautado na construccedilatildeo bibliograacutefica acerca

da temaacutetica das crises financeiras dos anos 1990 a saber crises mexicana asiaacutetica e russa ndash

que dentro de suas pertinecircncias abalaram as relaccedilotildees comerciais mundiais promulgando

novos padrotildees de orientaccedilatildeo externa mercado em niacuteveis nacionais e regionais

21 A CRISE FINANCEIRA DO MEacuteXICO DE 1994

Segundo Lobatildeo (2007) eacute necessaacuterio compreender os acontecimentos que antecederam

a crise mexicana em 23 de marccedilo de 1994 o assassinato do entatildeo candidato agrave Presidecircncia

Luis Donaldo Colosio provocou volatilidade nos mercados financeiros mexicanos resultando

em perda das reservas do paiacutes na ordem de mais de um terccedilo cujo volume se aproximou do

limite da banda de intervenccedilatildeo e provocaram elevaccedilatildeo das taxas de juros internas Esta

situaccedilatildeo levou o governo do Meacutexico em 20 de dezembro de 1994 a abandonar a paridade do

peso com o doacutelar passando a adotar a banda cambial alargada fato que resultou na

desvalorizaccedilatildeo do peso mexicano A tentativa fazia parte do plano de estimular a atratividade

da economia do paiacutes no cenaacuterio internacional

Conforme apontado por Kessler (2001) a crise mexicana aconteceu

concomitantemente com a medida tomada pelo FED em 1994 de dobrar as taxas de juros

americanas de 3 para 5 tornando-as muito mais atrativas do ponto de vista da taxa de

retorno do que em relaccedilatildeo aos paiacuteses em desenvolvimento provocando desta forma uma

fuga de capitais no Meacutexico concretizada por meio da reduccedilatildeo das reservas internacionais

diante da instabilidade mexicana que cada vez mais era notoacuteria na percepccedilatildeo dos investidores

Na segunda metade de 1994 observa-se uma queda de 75 nas entradas de capital sendo que

em dezembro deste mesmo ano as reservas somavam US$ 6 bilhotildees

A partir de meados da deacutecada de 1990 a economia mexicana passou a sofrer com

balanccedila comercial e conta corrente deficitaacuterias e dependecircncia de Investimento Direto

Estrangeiro (IDE) aspectos que tornavam o paiacutes natildeo propiacutecio ao crescimento e

desenvolvimento econocircmico dificultando o cumprimento de suas obrigaccedilotildees internacionais

111

Com o objetivo de recuperar-se da crise em 1994 o Meacutexico passa a participar do Acordo de

Livre Comeacutercio da Ameacuterica do Norte ndash NAFTA (BASTOS 2009)

Segundo Rocha (2004) o NAFTA contribuiu para que os investimentos em

exportaccedilotildees crescessem de 05 para 15 pontos percentuais entre 1996-2002 Acrescente-se

que entre 1980-1993 o PIB mexicano cresceu em meacutedia 2 ao ano enquanto que no periacuteodo

1996-2002 essa meacutedia ascendeu para 4

O momento criacutetico no Meacutexico exigiu poliacuteticas que evitassem o efeito contaacutegio nos

demais paiacuteses vizinhos e afetassem as economias dos paiacuteses desenvolvidos Neste intuito

muitos governos de paiacuteses centrais como Estados Unidos Gratilde-Bretanha e Alemanha

intervieram no reescalonamento da diacutevida de paiacuteses em desenvolvimento com um co-

financiamento de US$ 51 bilhotildees sob a forma de um programa de ajuste e assistecircncia

financeira (ASSIS 2001)

Rocha (2004) destaca que a crise foi sistecircmica causando um efeito contaacutegio sobre a

Aacutesia Ruacutessia Brasil e Argentina Ainda segundo a autora essas repercussotildees possuiacuteram

pontos em comum como a perda da competitividade em decorrecircncia dos altos preccedilos das

exportaccedilotildees valorizaccedilatildeo cambial na tentativa de recuperar os niacuteveis de competitividade fuga

de capitais e vulnerabilidade do setor bancaacuterio pelo fato de suas diacutevidas superarem as suas

reservas Destacam-se ainda a tentativa de tornar atraentes os tiacutetulos por meio de altas taxas

de juros conta corrente deficitaacuteria e a necessidade de ajuda internacional para quitar os

compromissos sendo que nesta uacuteltima tem-se a atuaccedilatildeo acentuada do Fundo Monetaacuterio

Internacional ndash FMI

As crises mexicana (1994) e asiaacutetica (1997) despertaram o estudo pelo processo que

causa a propagaccedilatildeo das crises de uma economia para as outras O efeito contaacutegio se

caracteriza neste sentido pela ocorrecircncia de crises cambiais e ataques especulativos

simultaneamente ou sucessivamente em diversos paiacuteses que compartilhem alguma

caracteriacutestica ou que sejam relacionados comercialmente (SANTlsquoANNA 2002) Conforme

seraacute analisado na seccedilatildeo seguinte a Aacutesia partilhou desta definiccedilatildeo

22 A CRISE FINANCEIRA ASIAacuteTICA DE 1997

A crise asiaacutetica chamou a atenccedilatildeo pelo fato de envolver economias que ateacute entatildeo

apresentavam altos iacutendices de crescimento econocircmico evento conhecido como milagre

112

econocircmico asiaacutetico Estes mesmos paiacuteses pela ferocidade com que cresceram

economicamente ficaram conhecidos como Tigres Asiaacuteticos O momento criacutetico se

caracterizou por uma conjuntura de instabilidade econocircmica em consequecircncia da crise

cambial e financeira que atingiu a regiatildeo e envolveu a princiacutepio cinco paiacuteses Coreia do

Norte Tailacircndia Indoneacutesia Malaacutesia e Filipinas

Santlsquoanna (2002) destaca que a crise nos paiacuteses asiaacuteticos ocorreu apoacutes um periacuteodo de

boom econocircmico cujo cenaacuterio favoreceu o influxo de capitais estrangeiros baixos niacuteveis

inflacionaacuterios grande crescimento econocircmico e as moedas nacionais atreladas ao doacutelar ou

seja um panorama aparentemente favoraacutevel e positivo que concomitantemente

compartilhava o contexto com uma forte liquidez internacional liberalizaccedilatildeo financeira

abertura de conta capital e fragilidade no sistema bancaacuterio com presenccedila de informaccedilatildeo

imperfeita Portanto ambiente com ampla possibilidade para a eclosatildeo de perturbaccedilotildees

econocircmicas e financeiras

Ainda segundo Santlsquoanna (2002) a crise asiaacutetica se deu quando o governo tailandecircs

optou por desvalorizar o baht (moeda tailandesa) ndash que ateacute o momento era indexado ao doacutelar

ndash em 2 de julho de 1997 o que provocou uma perca de 10 em seu valor em decorrecircncia da

especulaccedilatildeo pois os investidores acreditavam que haveria um colapso financeiro

Fatores que natildeo eram considerados pela Aacutesia podem ser creditados como condutores

da crise como o alto volume de diacutevidas de curto prazo as diacutevidas privada e puacuteblica a

transparecircncia do governo quanto agraves poliacuteticas que adotava a paridade das moedas com o doacutelar

a sauacutede financeira dos bancos aleacutem da vultosa entrada e saiacuteda de capital externo em toda

regiatildeo (ROCHA 2004 SILVA BASTOS 2011)

A sequecircncia com que se sucedeu o efeito contaacutegio da crise que teve iniacutecio na Tailacircndia

eacute descrita por Lobatildeo (2001) o choque nos mercados financeiros da Tailacircndia e suas

consequentes especulaccedilotildees repercutiu nos mercados financeiros da Malaacutesia Indoneacutesia

Filipinas e Coreia principalmente no final de 1997 e iniacutecio de 1998 A ordem de

desvalorizaccedilotildees atingiu o peso filipino o ―ringitt da Malaacutesia e a rupia da Indoneacutesia Apenas

em outubro de 1997 Hong Kong comeccedila a sofrer decliacutenio em suas accedilotildees Logo em seguida

o won coreano passa a vigorar sobre regime de cacircmbio flutuante

Desta forma a crise financeira se transformou em crise econocircmica quando do decliacutenio

dos PIBs dessas economias cujas performances anteriores alcanccedilaram iacutendices de crescimento

113

consideraacuteveis natildeo denunciando a extensatildeo e proporccedilatildeo com que se deu a crise asiaacutetica no

contexto mundial (SILVA BASTOS 2011)

A desestabilizaccedilatildeo levou agrave reduccedilatildeo do crescimento ampliaccedilatildeo do desemprego bancos

quebrados empresas falidas e manifestaccedilotildees e conflitos poliacuteticos Houve perda de

competitividade da Aacutesia e queda das exportaccedilotildees devido ao encarecimento das mesmas por

conta do atrelamento das moedas com o doacutelar que se encontrava em crise Soma-se a isto o

fato de que os bancos deveriam ter reservas para bancar a inadimplecircncia dos clientes poreacutem

muitos investimentos que a regiatildeo atraiacutea superavam a sua capacidade aleacutem de natildeo trazerem

retornos de curto e meacutedio prazos (ROCHA 2004)

Muitas liccedilotildees foram deixadas a todo o mundo por meio da instabilidade asiaacutetica de

1997 a saber a primordialidade de estimular a reduccedilatildeo do incentivo ao endividamento

exacerbado a busca pelo aprimoramento dos mecanismos nacionais de conduccedilatildeo do setor

financeiro e empresarial aleacutem de deixar clara a importacircncia de regulamentar os fluxos de

capitais de curto prazo Tailacircndia Indoneacutesia e Coreacuteia chegaram a receber ajuda do FMI

(CANUTO 2000 AMARAL 2007)

A instabilidade e especulaccedilatildeo oriundas da crise asiaacutetica permaneceu ateacute o segundo

semestre de 1998 quando o cacircmbio volta se estabilizar e recupera um pouco de seu valor

poreacutem em nenhuma das situaccedilotildees os niacuteveis voltaram a ser os mesmos e as bolsas iniciaram

um percurso de alta (ROCHA 2004)

As implicaccedilotildees da Crise Asiaacutetica passaram a atingir o mercado financeiro russo em

1998 Adicione-se o advento da crise do petroacuteleo que culminou na crise da Ruacutessia nesse

mesmo ano Os agentes monetaacuterios reagiram por meio da desvalorizaccedilatildeo da moeda russa o

rublo e decretaram moratoacuteria parcial de sua diacutevida externa (SILVA BASTOS 2011)

Portanto o efeito contaacutegio afetou outras economias como no caso da Ruacutessia cujo

acontecimento seraacute tratado na seccedilatildeo seguinte

23 A CRISE FINANCEIRA NA RUacuteSSIA EM 1998

O processo que desembocou na crise russa eacute descrito por Lobatildeo (2007) no periacuteodo de

1996 a 1997 a Ruacutessia foi afetada por deacuteficits orccedilamentaacuterios que constituiacuteam de 7 a 9 do

PIB fato que contribuiu para a elevaccedilatildeo das diacutevidas de curto prazo Conforme o autor a

quebra nos preccedilos internacionais dos principais produtos que compunham a pauta de

114

exportaccedilatildeo do paiacutes causou uma deterioraccedilatildeo dos termos de troca internacionais em torno de

18 ressaltando tambeacutem a fuga de capitais que financiavam o deacuteficit federal evento este que

reduziu o PIB em 18 no periacuteodo de 1997 a 1998 em comparaccedilatildeo com o mesmo periacuteodo do

ano anterior Lobatildeo destaca que o rublo foi mantido no interior das bandas cambiais o que

ocasionou uma perda de reservas e aumento das yields17

de diacutevida puacuteblica na faixa de 192

em 10 de julho de 1998 isto devido agrave elevaccedilatildeo das taxas de juros internas em contrapartida agrave

piora na situaccedilatildeo da balanccedila de pagamentos e a inexistecircncia de poliacuteticas de ajustamento

orccedilamental Soma-se ainda o fato de que o FMI firmou um acordo com a Ruacutessia para um

financiamento no valor de 226 mil milhotildees de doacutelares ndash o resultado foi a recuperaccedilatildeo do

mercado de accedilotildees e decliacutenio das taxas de juros

Em agosto de 1998 houve intensa fuga de capitais e esgotamento de reservas aleacutem

das yelds da diacutevida puacuteblica atingiram 300 Como resultado em 06 de agosto de 1998

ocorreu um choque no mercado de obrigaccedilotildees com ressonacircncia uma semana depois no

mercado de accedilotildees evidenciando-se desta forma o choque inicial nos mercados financeiros

russos em 13 de agosto houve queda de 10 nos mercados financeiros russos e em 2 de

setembro o rublo passou a vigorar sob o regime de cacircmbio flutuante (LOBAtildeO 2007)

Em 17 de agosto de 1998 estoura portanto a crise russa quando o governo do paiacutes

decide pela desvalorizaccedilatildeo do rublo e opta por declarar moratoacuteria do pagamento de diacutevidas

externas por 90 dias jaacute que juntamente ao Banco Central declarou ser incapaz de pagar suas

diacutevidas (PINTO VILELA LIMA 2005)

Conforme Rocha (2004) a Ruacutessia vinha sofrendo com o processo inflacionaacuterio desde

a queda do Muro de Berlim Em resposta de 1995 a 1997 o governo russo adotou medidas

sob o aval do FMI para conter a alta de preccedilos ndash objetivo alcanccedilado paulatinamente A

balanccedila comercial vinha registrando saldos superavitaacuterios A questatildeo era a diacutevida puacuteblica

acirrada a partir do oacutecio militar consequente da queda do Muro assim como do financiamento

deste deacuteficit atraveacutes de emissatildeo de moeda pelo Banco Central

As origens da crise de 1998 na Ruacutessia podem ser consideradas a partir do efeito

contaacutegio ao mercado financeiro do paiacutes quando da situaccedilatildeo criacutetica asiaacutetica ocorrida no ano

anterior que provocou uma fuga de capitais e a queda do preccedilo do petroacuteleo que consistia no

principal meio de obtenccedilatildeo de moeda forte para o paiacutes adicionalmente o governo teria que

arcar com gastos sociais deixados pelo antigo sistema sovieacutetico e manter os gastos militares

17

O termo yield refere-se ao rendimento (tipicamente anual) de um ativo em dividendos ou juros expressos

como uma percentagem da cotaccedilatildeo do mesmo (BUENO 2002)

115

Para Silva e Bastos (2011) a queda das receitas governamentais em 1997 e a meta de

aumentaacute-las no ano seguinte estimulou o governo agrave adoccedilatildeo de medidas que se tornaram

frustradas tendo ocorrido o contraacuterio do que se pretendia com queda do PIB e

endividamento quando buscava financiamento de creacuteditos a curto prazo

Pinto Vilela e Lima (2005) acrescentam que a crise russa fez com que o governo

adotasse poliacuteticas econocircmicas monetaacuteria e fiscal de austeridade recorreu ao FMI para obter

recursos cortou despesas e gastos puacuteblicos aleacutem de expandir a oferta de moeda para

estimular os investimentos e o consumo a fim de aumentar a credibilidade do governo para

adoccedilatildeo do regime de cacircmbio flutuante

Rocha (2004) destaca que de 1998 a 2000 o PIB russo declinou recuperando-se a

partir da melhora no mercado do petroacuteleo em 2001 Destarte a crise russa tem efeitos

consideraacuteveis ateacute a virada do seacuteculo e a economia da Ruacutessia comeccedila a apresentar melhora

promovida por um dos produtos mais importantes de sua produccedilatildeo que eacute o petroacuteleo

Conforme Amaral (2007) o que difere este momento dos anteriores eacute o fato de que

em particular a partir do colapso russo ocorre um fechamento dos mercados de creacutedito para

os paiacuteses emergentes quase que por completo durante um longo periacuteodo de tempo afetando

de maneira negativa as economias destes paiacuteses valendo acrescentar tambeacutem a queda nos

preccedilos das commodities que consistem nas principais formas de incremento de renda

decorrentes do comeacutercio internacional para os paiacuteses emergentes ocorrendo adicionalmente

no periacuteodo considerado uma lenta expansatildeo do comeacutercio mundial como um todo Desta

forma a sequecircncia de crises e instabilidade globais comprometeram a economia mundial

3 ABERTURA COMERCIAL BRASILEIRA DOS ANOS 1990

O periacuteodo dos anos 1990 marca a intensificaccedilatildeo da integraccedilatildeo econocircmica entre os

paiacuteses tanto poliacutetica como economicamente A formaccedilatildeo de blocos econocircmicos torna

expliacutecita a tentativa dos paiacuteses em convergir no que se refere aos ideais de interligaccedilatildeo

econocircmica e adesatildeo conjunta agraves poliacuteticas de comeacutercio exterior Esse processo faz parte de

uma fase recente do sistema capitalista de produccedilatildeo onde se acirra o movimento de

competiccedilatildeo internacional de onde resulta a generalizaccedilatildeo de poliacuteticas econocircmicas que

levariam agrave estabilizaccedilatildeo e agraves aberturas comercial e financeira fenocircmeno explicitamente

visiacutevel na conjuntura global a partir da deacutecada de 1970 com a formaccedilatildeo de blocosgrupos

116

econocircmicos para focalizaccedilatildeo nas relaccedilotildees de comeacutercio exterior com crescente mobilidade de

capitais (CARNEIRO 1999)

Para Moreira e Correa (1997) a abertura comercial no Brasil ocorrida nos anos 1990

foi inevitaacutevel e necessaacuteria quando se considera o bem-estar da populaccedilatildeo e o crescimento

econocircmico dado o modelo anterior de protecionismo vigente com a poliacutetica de substituiccedilatildeo

de importaccedilatildeo que segundo os autores favorecia o lucro abusivo pelas induacutestrias de bens de

capital e bens de consumo duraacuteveis jaacute que estas natildeo enfrentavam a concorrecircncia de produtos

importados prejudicando natildeo apenas os ganhos de escalas pelas firmas afetadas pela

restriccedilatildeo a novos meios de produccedilatildeo como tambeacutem a reestruturaccedilatildeo das mesmas quanto agraves

inovaccedilotildees tecnoloacutegicas Ademais os autores consideram que a liberalizaccedilatildeo tornou viaacutevel o

acesso aos bens de capital e insumos de tecnologia de ponta a preccedilos mais baixos

promovendo o acirramento da competitividade da induacutestria nacional

A abertura comercial forccedilou as empresas tanto nacionais como estrangeiras a

aderirem aos padrotildees de competitividade internacional buscando elevaccedilatildeo da produtividade

com reduccedilatildeo dos custos e incorporando tecnologias modernas para as suas permanecircncias no

mercado frente agrave concorrecircncia dos produtos oriundos das importaccedilotildees pois estes eram de boa

qualidade e possuiacuteam preccedilos mais baixos (MORETI 2011)

Mesmo tendo sido importante para o desenvolvimento da economia brasileira a

abertura comercial de iniacutecio apresentou efeitos adversos Primeiro em decorrecircncia do

aumento das importaccedilotildees que resultaram em deacuteficit comercial e segundo porque as

exportaccedilotildees natildeo foram incentivadas de modo a resultar no seu crescimento o que corroborava

para isto as praacuteticas protecionistas exercidas por algumas das economias desenvolvidas que

as inibiam (SILVA JUNIOR VIANA ABREU 2006)

Entretanto quanto maior for a integraccedilatildeo de uma regiatildeo ou paiacutes com o mercado

externo maiores seratildeo os reflexos de choques internacionais sobre sua tendecircncia externa e sua

estrutura principalmente no que tange agraves relaccedilotildees comerciais corporificando a sua

vulnerabilidade frente a conjuntura internacional

Eacute importante considerar que conforme o que acontece com a economia de um paiacutes os

choques externos podem abalar ou ter um efeito stop sobre a economia de uma regiatildeo tendo

em vista que a insuficiecircncia de transferecircncia de recursos para financiar um grande deacuteficit em

transaccedilotildees correntes iraacute induzir os agentes econocircmicos regionais a adotarem medidas que

contraiam a demanda agregada e consequentemente sua capacidade de crescimento Se uma

117

regiatildeo natildeo tem um volume de renda que atenda ao financiamento de suas importaccedilotildees sejam

elas domeacutesticas ou externas este fato implicaraacute numa restriccedilatildeo ao seu crescimento jaacute que a

mesma deve se deparar com a incapacidade de atender suficientemente ao volume de

importaccedilotildees adequado em insumos bens de capital e tecnologia (GALVAtildeO 2007)

4 COMPORTAMENTO E CARACTERIacuteSTICAS DA ORIENTACcedilAtildeO EXTERNA DA

ECONOMIA DO NORDESTE BRASILEIRO NOS ANOS 1990

Fontenele Melo e Dantas (2001) ao analisarem a abertura comercial frente a

economia nordestina na deacutecada de 1990 destacam que a regiatildeo eacute bem menos aberta ao

comeacutercio com o exterior que o paiacutes como um todo dado que seu coeficiente de importaccedilatildeo

marcava agravequela eacutepoca cerca de 50 do valor do mesmo coeficiente para o Brasil enquanto

que a participaccedilatildeo nordestina no total de importaccedilotildees do Brasil era de apenas 7 com o PIB

da regiatildeo representando 15 do total do PIB brasileiro

No que tange ao comeacutercio com o exterior as relaccedilotildees comerciais do Nordeste nos

anos 1990 foram resultado dos incentivos jaacute concedidos pelo governo para estimular a

competitividade setorial da regiatildeo aleacutem da atuaccedilatildeo dos estados para atraiacuterem investimentos

ao seus limites agindo atraveacutes de incentivos fiscais ndash gerando consequentemente uma guerra

fiscal entre os mesmos ndash que fomentaram a industrializaccedilatildeo local com diversificaccedilatildeo da pauta

de produccedilatildeo Entretanto no embate entre poliacuteticas de estabilizaccedilatildeo e crises financeiras as

oscilaccedilotildees regionais parecem ter correspondido

41 A BALANCcedilA COMERCIAL DO NORDESTE

Nos anos 1990 o saldo da balanccedila comercial do Nordeste comeccedila a apontar

perspectivas declinantes e jaacute na segunda metade da mesma deacutecada exibe uma posiccedilatildeo

deficitaacuteria na sua relaccedilatildeo com o comeacutercio internacional o que resultou no estancamento da

fonte de recursos ao financiamento do seu deacuteficit regional em transaccedilotildees correntes

(GALVAtildeO 2007)

A percepccedilatildeo eacute corroborada ao se verificar a Tabela 1 que demonstra os valores dos

saldos da balanccedila comercial para o Nordeste e o Brasil na deacutecada de 1990

118

Tabela 1 - Evoluccedilatildeo do saldo da balanccedila comercial do Nordeste e Brasil - 1990-2002 - (US$

bilhotildees - FOB)

Fonte Elaborado com base nos dados do MDICSECEX (2003) e Banco Central do Brasil (2003)

Os dados permitem concluir que ateacute a metade da deacutecada a balanccedila comercial

nordestina foi superavitaacuteria apresentando situaccedilatildeo inversa a partir de 1996 que perdurou ateacute

2001 O saldo de US$ 15 bilhotildees em 1990 despenca para pouco mais de US$ 636 milhotildees

em 1995 dando sequecircncia jaacute em 1996 a consecutivos deacuteficits entre os quais no ano de

2001 onde se empreende a situaccedilatildeo mais criacutetica neste periacuteodo (-US$ 932 milhotildees) Atenha-se

que isto ocorre ao mesmo tempo em que o Real passou a sofrer desvalorizaccedilatildeo cambial em

virtude do ataque especulativo que envolveu os paiacuteses subdesenvolvidos apoacutes as crises

asiaacutetica e russa o que natildeo atenuou os peacutessimos efeitos sobre a quantidade de reservas da

regiatildeo Vale destacar que no que tange a estes resultados os saldos negativos na balanccedila

comercial natildeo se restringem agraves acentuadas quedas no valor das exportaccedilotildees tendo em vista

que esta apresentou uma meacutedia anual de aproximadamente US$ 35 bilhotildees mas em virtude

dos nuacutemeros cada vez maiores das importaccedilotildees que ateacute 1993 natildeo atingiam sequer a cifra de

US$ 20 bilhotildees passando a partir de 1994 a crescerem consideravelmente A meacutedia de

crescimento anual do valor das importaccedilotildees entre 1990 e 2002 foi de 993 (contra 364

Anos Exportaccedilotildees

(NE)

Importaccedilotildees

(NE)

Balanccedila

comercial

(NE)

Exportaccedilotildees

(BRA)

Importaccedilotildees

(BRA)

Balanccedila

comercial

(BRA)

1990 3030397 1491909 1538488 31413756 20661362 10752394

1991 2859771 1577901 1281870 31620439 21040471 10579969

1992 3035047 1369830 1665217 35792986 20554091 15238895

1993 3012647 1965221 1047426 38554769 25256001 13298768

1994 3502858 2455466 1047392 43545149 33078690 10466459

1995 4239999 3603783 636216 46506282 49971896 -3465614

1996 3854865 4110932 -256067 47746728 53345767 -5599039

1997 3960561 4446396 -485835 52994341 59747430 -6753089

1998 3720485 3792485 -72000 51139862 57714365 -6574504

1999 3355394 3524050 -168656 48011444 49210314 -1198870

2000 2859771 1577901 1281870 55085595 55834343 -748748

2001 4184171 5116531 -932360 58222642 55572176 2650466

2002 4651697 4647588 4109 60361786 47231932 13129854

119

aa para as exportaccedilotildees) enquanto que a variaccedilatildeo entre estes mesmos anos atingiu o pico de

21152 (5350 para as exportaccedilotildees)

A crise poliacutetica resultante do impeachment de Fernando Collor de Melo e a

desvalorizaccedilatildeo do Cruzeiro frente ao doacutelar o que resultou no crescimento do valor das

exportaccedilotildees da regiatildeo de 1991 a 1992 em termos gerais em 613 - quanto ao Brasil este

mesmo valor cresceu 1320 no periacuteodo ndash resultaram na queda do valor das importaccedilotildees

para o ano de 1992 ndash o uacutenico momento de freio a esta tendecircncia (DAMASCENO 2003)

42 EXPORTACcedilOtildeES DO NORDESTE POR GRUPO DE PRODUTOS

Quanto aos produtos primaacuterios os ganhos em valores para as exportaccedilotildees da regiatildeo

foram expressivos ao longo da deacutecada de 1990 entretanto a participaccedilatildeo no total exportado

apresentou variaccedilotildees menores com o passar dos anos quando caiu de 2131 para 171

entre 19941995 para no final da deacutecada avanccedilar para 193 (TABELA 2)

Tabela 2 - Exportaccedilotildees do Nordeste por grupos de produtos

Grupos de produtos

US$ milhotildees

Meacutedias Bianuais

Participaccedilatildeo no total

9091 9495 9900 9091 9495 9900

Nordeste

Produtos Primaacuterios 6275 6612 7116 2131 171 193

Produtos Industrializados 23090 31138 28785 784 804 780

Outros 85 965 999 03 25 27

Total 29451 38714 36900 1000 1000 1000

Norte

Produtos Primaacuterios 9834 10074 12202 5538 447 407

Produtos Industrializados 7912 12429 16760 446 551 559

Outros 10 55 1033 01 02 34

Total 17755 22559 29995 1000 1000 1000

120

Centro-Oeste

Produtos Primaacuterios 2964 3041 6555 5210 289 420

Produtos Industrializados 2723 7180 8563 479 682 549

Outros 01 308 476 00 29 31

Total 5689 10529 15594 1000 1000 1000

Sudeste

Produtos Primaacuterios 35365 45220 46883 1847 175 159

Produtos Industrializados 154661 208131 241393 808 805 817

Outros 1432 5066 7328 07 20 25

Total 191458 258417 295604 1000 1000 1000

Sul

Produtos Primaacuterios 12209 15608 20081 1825 140 165

Produtos Industrializados 54455 95689 100726 814 857 826

Outros 229 402 1098 03 04 09

Total 66894 111698 121904 1000 1000 1000

Fonte FUNCEX (2001)

Os produtos agriacutecolas detecircm a maior parcela dentro deste grupo sendo os resultados

reflexos do pouco crescimento dos mineacuterios - com exceccedilatildeo do Mercosul as exportaccedilotildees deste

tipo de produto para os demais blocos econocircmicos perderam posiccedilatildeo no total exportado

No que tange aos produtos industrializados estes detecircm a posiccedilatildeo mais expressiva no

total exportado pela regiatildeo Nordeste embora esta seja a uacutenica regiatildeo brasileira onde este

grupo de produtos apresentou retraccedilatildeo em seus valores no final da deacutecada ndash diferente por

exemplo do Sudeste onde as exportaccedilotildees de industrializados sobrepujou 80 neste periacuteodo

A participaccedilatildeo no total exportado superou os 78 durante o periacuteodo Os semimanufaturados

responderam por mais de 50 durante todo o periacuteodo analisado

Destaque-se o peso das exportaccedilotildees tanto no geral como por grupo de produtos das

regiotildees Sul e Sudeste sobre as demais regiotildees

121

43 EXPORTACcedilOtildeES REGIONAIS SEGUNDO O GRAU DE INTENSIDADE

TECNOLOacuteGICA

No que tange agraves suas exportaccedilotildees o Nordeste assim como o Brasil concentra em sua

pauta produtos primaacuterios e intensivos em matildeo-de-obra sendo precaacuterio o grau de

competitividade de seus produtos pois possuem pouco valor agregado e geralmente acabam

sendo impactados pelas barreiras tarifaacuterias impostas pelos paiacuteses desenvolvidos Soma-se o

fato de as induacutestrias da regiatildeo exportarem produtos de baixa e meacutedia-baixa intensidade

tecnoloacutegica devido agrave especializaccedilatildeo na produccedilatildeo tradicional Fatores como carga tributaacuteria

elevada matildeo-de-obra pouco qualificada ausecircncia de uma cultura exportadora aleacutem de

poucos incentivos fiscais do governo contribuiacuteram para a performance comercial nordestina

ao longo da deacutecada de 1990 (GALVAtildeO VERGOLINO 2004) aleacutem do cenaacuterio internacional

que afetou vertiginosamente os paiacuteses em desenvolvimento

Conforme a Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econoacutemico (OCDE)

a classificaccedilatildeo dos produtos segundo a sua intensidade tecnoloacutegica corresponde da seguinte

maneira

[] alta intensidade tecnoloacutegica setores aeroespacial farmacecircutico de informaacutetica

eletrocircnica e telecomunicaccedilotildees instrumentos meacutedia-alta intensidade tecnoloacutegica

setores de material eleacutetrico veiacuteculos automotores quiacutemica excluiacutedo o setor

farmacecircutico ferroviaacuterio e de equipamentos de transporte maacutequinas e

equipamentos meacutedia-baixa intensidade tecnoloacutegica setores de construccedilatildeo naval

borracha e produtos plaacutesticos coque produtos refinados de petroacuteleo e de

combustiacuteveis nucleares outros produtos natildeo metaacutelicos metalurgia baacutesica e produtos

metaacutelicos baixa intensidade tecnoloacutegica outros setores e de reciclagem madeira

papel e celulose editorial e graacutefica alimentos bebidas e fumo tecircxtil e de confecccedilatildeo

couro e calccedilados (FURTADO CARVALHO 2005 p 72)

Percebe-se que a Regiatildeo Nordeste exportou mais produtos industrializados de baixa

intensidade tecnoloacutegica apesar dos valores apresentarem tendecircncia crescente ateacute a metade da

deacutecada e declinarem posteriormente Os produtos de meacutedia-baixa intensidade tecnoloacutegica

vecircm em seguida com movimento similar entretanto a participaccedilatildeo no total de bens

industrializados exportados caiu ao longo da deacutecada (GRAacuteFICO 1)

Os produtos com meacutedia-alta intensidade tecnoloacutegica demonstraram comportamento

crescente em sua participaccedilatildeo no total bem como em valores absolutos ao contraacuterio dos

produtos com alta tecnologia que declinaram suas representaccedilotildees nestes dois quesitos natildeo

alcanccedilando o valor de 2 do valor total exportado pelo paiacutes (GRAacuteFICO 1)

122

Fonte Elaborado a partir dos dados da FUNCEX (2001)

O biecircnio 19941995 marca um ponto de inflexatildeo para as exportaccedilotildees de produtos

industrializados de maneira geral com sucessivas tendecircncias constantes e decrescentes mas

positivas (com exceccedilatildeo do Nordeste que do segundo biecircnio para o terceiro biecircnio declinou

quanto agraves exportaccedilotildees destes bens) dado o contexto macroeconocircmico do paiacutes diante das

variaccedilotildees cambiais e crises externas que se sucederam nos anos posteriores Em conjunto

todas as regiotildees exportaram mais produtos de baixa intensidade tecnoloacutegica Os produtos com

meacutedia-baixa intensidade tecnoloacutegica aparecem logo em seguida mesmo sua posiccedilatildeo

declinando ao longo do periacuteodo analisado para todas as regiotildees (GRAacuteFICOS 1 2 3 4 e 5)

000

500000

9091 9495 9900

Graacutefico 1 ndash Exportaccedilotildees de produtos

industrializados segundo o grau de intensidade

tecnoloacutegica ndash Regiatildeo Nordeste - US$ milhotildees

BAIXA MEacuteDIA-BAIXA

MEacuteDIA-ALTA ALTA

Produtos Industrializados

123

Fonte Elaborado a partir dos dados da FUNCEX (2001)

124

Fonte Elaborado a partir dos dados da FUNCEX (2001)

Concomitantemente eacute pequena a participaccedilatildeo de produtos com alta intensidade

tecnoloacutegica na pauta exportadora de todas as regiotildees Da mesma forma os produtos com

meacutedia-alta intensidade tecnoloacutegica possuem posiccedilotildees visiacuteveis ainda que tiacutemidas nas regiotildees

Sudeste e Sul (GRAacuteFICOS 2 3 4 e 5)

A regiatildeo Nordeste natildeo de maneira isolada apresentou um direcionamento voltado a

atender a demanda por bens com baixos niacuteveis de intensidade tecnoloacutegica Ao longo da

deacutecada a estrutura dos produtos por grau de intensidade tecnoloacutegica vendidos ao exterior natildeo

apresentou alteraccedilotildees consideraacuteveis mesmo quando da desvalorizaccedilatildeo do Real quando

ocorreu a crise do Brasil em 1999 em resposta aos choques financeiros internacionais dos

anos anteriores Os anos em que a moeda nacional estava sobrevalorizada parecem natildeo ter

sido oportunos para a restruturaccedilatildeo dos niacuteveis de intensidade tecnoloacutegica da induacutestria

regional no que se refere a importaccedilatildeo de bens de capital que poderiam ter sido

determinantes para mudanccedilas favoraacuteveis neste sentido

125

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As transformaccedilotildees na conjuntura mundial dos anos 1990 propiciaram a

vulnerabilidade externa como ponto chave para o desenvolvimento de situaccedilotildees de caraacuteter

recessivo e com efeito contaacutegio agraves naccedilotildees coligadas As crises financeiras da deacutecada em

questatildeo crise mexicana crise asiaacutetica e crise russa repercutiram de tal maneira que a

especulaccedilatildeo entre os agentes financeiros foi responsaacutevel pela relocaccedilatildeo de capital dos paiacuteses

mais suscetiacuteveis aos choques externos para os paiacuteses cujos mercados financeiros

apresentavam maior grau de confianccedila e rentabilidade

Mudanccedilas em niacutevel macro tiveram seus reflexos sobre as zonas regionais brasileiras

como a regiatildeo nordestina e nem sempre estes impactos estiveram de acordo com os

resultados propagandeados pelos paradigmas neoliberais

Em se tratando do comeacutercio com o exterior o valor das importaccedilotildees passou a exceder

o valor das exportaccedilotildees resultando em deacuteficits comerciais que se alastraram ateacute o final do

periacuteodo Este comportamento ocorreu alinhado a um panorama internacional de choques

externos e especulaccedilatildeo mediante poliacuteticas cambiais imprudentes que desencadearam efeito

contaacutegio nas economias mexicana asiaacuteticas e russa Os resultados negativos refletiram a

elevaccedilatildeo das importaccedilotildees que somadas a fatores como cacircmbio desfavoraacutevel baixa

competitividade da produccedilatildeo domeacutestica e comportamento pouco representativo por parte das

exportaccedilotildees acabaram por comprometer a posiccedilatildeo externa da regiatildeo em suas relaccedilotildees com o

mercado internacional

O Nordeste reafirmou sua posiccedilatildeo como exportador de bens industriais de baixa e

meacutedia-baixa intensidades tecnoloacutegicas Os produtos enquadrados como de alta intensidade

tecnoloacutegica soaram pouco em termo de efeitos agregadores se restringindo agraves regiotildees mais

desenvolvidas potencialmente e economicamente Ao passo em que se alastraram os choques

externos agrave economia mundial ao longo do uacuteltimo dececircnio do seacuteculo XX mediante a intensa

integraccedilatildeo poliacutetica econocircmica e comercial promovida pelos paiacuteses desenvolvidos a

economia nordestina viu sua pauta de exportaccedilatildeo se voltar para produtos cada vez mais

industrializados ainda que os primaacuterios para o final da deacutecada natildeo apresentassem os

mesmos valores do iniacutecio da deacutecada

As circunstacircncias para o Nordeste ao longo dos anos 1990 satildeo reflexos para uma

regiatildeo que ainda se demonstrava pouco integrada ao contexto de abertura comercial que vinha

126

sendo desenvolvido dentro do interesse nacional de promoccedilatildeo do potencial econocircmico para o

exterior Os choques externos ocorridos agrave mesma deacutecada acabaram por integrar o conjunto

de elementos que colaboraram para a performance comercial regional desmembrando-a da

poliacutetica de protecionismo ateacute entatildeo seguida e se adaptando agrave nova realidade da conjuntura

mundial

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129

CARACTERIacuteSTICAS E PRINCIPAIS DESTINOS DO INVESTIMENTO

ESTRANGEIRO DIRETO NO BRASIL NO PERIacuteODO DE 2010 E 2015

Marta Rodrigues Tavares

Graduada em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri E-mail

rodriguestmartagmailcom

Sara Gonccedilalves Pereira

Graduada em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri E-mail

goncalvessara84gmailcom

Christiane Luci Bezerra Alves

Professora Associada do Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri

Graduada em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Federal do Cearaacute ndash UFC Mestrado em

Economia pela Universidade Federal da Paraiacuteba ndash UFPB e Doutora em Desenvolvimento e

Meio Ambiente - DDMA da Universidade Federal do Cearaacute ndash UFC E-mail

chrislucigmailcom

Adriana Correia Lima

Professora Assistente do Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri

Mestrado em Desenvolvimento Regional Sustentaacutevel pela Universidade Federal do Cearaacute ndash

UFC E-mail dricacorreiayahoocombr

130

CARACTERIacuteSTICAS E PRINCIPAIS DESTINOS DO INVESTIMENTO

ESTRANGEIRO DIRETO NO BRASIL NO PERIacuteODO DE 2010 E 2015

RESUMO

Inserido no contexto de globalizaccedilatildeo econocircmica onde satildeo intensas as formas de integraccedilatildeo

comercial financeira e produtiva a inserccedilatildeo de economias em desenvolvimento como o

Brasil tem sido intensa desde as uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX Um dos mecanismos

marcantes de integraccedilatildeo a essa nova ordem econocircmica mundial expressos na divisatildeo

internacional do trabalho satildeo os fluxos de Investimento Estrangeiro Direto (IED) O presente

artigo tem como objetivo identificar qual a influecircncia do IED no setor exportador e no PIB do

Brasil nos anos de 2010 e 2015 fazendo um comparativo entre o fluxo de IED no Brasil para

esses anos verificando quais os principais destinos do mesmo no paiacutes Os dados apontam que

a inserccedilatildeo de IED influencia diretamente os volumes de capital no paiacutes sendo um

condicionante para o crescimento e retraccedilatildeo da economia No entanto a maacute distribuiccedilatildeo do

estoque de IED entre as regiotildees do paiacutes acaba configurando um contexto de crescimento

econocircmico nacional mas natildeo um desenvolvimento igualitaacuterio de suas regiotildees ao analisar a

distribuiccedilatildeo de empregos formais e a receita bruta nas empresas de IED por regiatildeo percebe-se

que essa situaccedilatildeo se repete As regiotildees com menos postos de trabalho e com menor receita satildeo

Norte Nordeste e Centro-Oeste e em primeiro e segundo lugar estatildeo Sudeste e Sul

respectivamente fato esse que eacute resultado da concentraccedilatildeo do fluxo de IED nas regiotildees mais

desenvolvidas

Palavras-chave Globalizaccedilatildeo IDE Economias regionais

ABSTRACT

Inserted in the context of economic globalization where the forms of commercial financial

and productive integration are intense the insertion of developing economies such as Brazil

has been intense since the last decades of the twentieth century One of the strong

mechanisms of integration into this new world economic order expressed in the international

division of labor is the flows of Foreign Direct Investment (FDI) The objective of this article

is to identify the influence of FDI in the export sector and in Brazils GDP in the years 2010

and 2015 comparing FDI flows in Brazil for those years parents The data indicate that the

insertion of FDI directly influences the volumes of capital in the country being a condition

for the growth and contraction of the economy However the poor distribution of the stock of

FDI between the regions of the country ends up configuring a context of national economic

growth but not an egalitarian development of its regions when analyzing the distribution of

formal jobs and the gross revenue in FDI enterprises by region it is perceived that this

situation is repeated The regions with the least jobs and with the lowest revenues are North

Northeast and Midwest and in the first and second place are Southeast and South

respectively a fact that is a result of the concentration of FDI flow in more developed regions

Keywords Globalization IDE Regional economies

131

1 INTRODUCcedilAtildeO

Inserido no contexto de globalizaccedilatildeo econocircmica onde satildeo intensas as formas de

integraccedilatildeo comercial financeira e produtiva a inserccedilatildeo de economias em desenvolvimento

como o Brasil tem sido intensa desde as uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX Um dos mecanismos

marcantes de integraccedilatildeo a essa nova ordem econocircmica mundial expressos na divisatildeo

internacional do trabalho satildeo os fluxos de Investimento Estrangeiro Direto (IED) Segundo

Oliveira e Queiroacutez (2018) o mesmo pode ser visto como um pilar de sustentaccedilatildeo

e crescimento do PIB em qualquer paiacutes sendo primordial principalmente em periacuteodos de crise

econocircmico-financeira como a enfrentada pelas economias centrais ou perifeacutericas apoacutes a

crise estrutural do sistema capitalista de 2008 cujos efeitos no Brasil satildeo sentidos apoacutes o

esgotamento das medidas de cunho anticiacuteclicas implementadas pelo governo brasileiro a

partir de 2009

Pode-se constatar portanto que natildeo eacute recente a entrada de IED no Brasil estando o

mesmo presente em diferentes etapas do modelo de industrializaccedilatildeo e desenvolvimento

nacional Particularmente na deacutecada de 1980 e iniacutecio de 1990 havia consideraacutevel

participaccedilatildeo das empresas estrangeiras nos diversos setores de atividade econocircmica do paiacutes E

isso se procedeu nos anos seguintes havendo natildeo somente mudanccedilas quantitativas mas

tambeacutem mudanccedilas qualitativas importantes nos seus fluxos comerciais (SAacute 2005)

Segundo Rodrigues Neves e Mattos (2012) os estiacutemulos agrave exportaccedilatildeo resultam

diretamente no crescimento do PIB dos paiacuteses pois o aumento das exportaccedilotildees gera um

aumento da produtividade do fator devido a ganhos de escala resultado de um mercado

externo mais dinacircmico e competitivo Aleacutem disso o crescimento de uma economia resultante

de uma acumulaccedilatildeo de capital fiacutesico eou transferecircncia de tecnologia advindos da entrada de

IED no paiacutes influencia as exportaccedilotildees contribuindo para seu aumento e diversificaccedilatildeo

As empresas estrangeiras natildeo somente introduzem novas tecnologias como tambeacutem

facilitam o acesso aos mercados globais e agraves redes de produccedilatildeo integradas assim o IED

funciona como indutor de competitividade nas exportaccedilotildees (GREGORY OLIVEIRA 2005)

Eacute possiacutevel observar que se bem orientada a entrada desse recurso pode possibilitar um

cenaacuterio favoraacutevel para os exportadores proporcionando ―upgrading na competitividade das

exportaccedilotildees

132

Alguns autores como Veloso (2006) indicam que seria impossiacutevel todo e qualquer

paiacutes crescer economicamente sem investimentos assim natildeo haveria a possibilidade da

existecircncia de uma poliacutetica econocircmica sustentaacutevel Como os paiacuteses em desenvolvimento em

sua maioria natildeo possuem meios de financiamento interno (insuficiecircncia de poupanccedila interna)

acabam necessitando dos investimentos externos Contudo mesmo assim se natildeo bem

distribuiacutedos pode ocorrer dentro do paiacutes receptor um crescimento econocircmico global mas natildeo

um desenvolvimento de suas regiotildees igualitariamente

A desigualdade regional brasileira se mostra presente em diversos cenaacuterios da nossa

economia inclusive no que diz respeito agrave atraccedilatildeo de investimentos para o paiacutes Regiotildees como

o Sudeste tem maior facilidade de atrair recursos devido a sua estrutura produtiva bem

equipada com pontos industriais dinacircmicos e diversificados e historicamente integrados agrave

economia mundial em contrapartida regiotildees como o Norte e Nordeste tecircm grande

dificuldade de atrair esses recursos por causa de suas induacutestrias mais tradicionais menos

competitivas e ainda atrasadas em comparaccedilatildeo com a induacutestria da regiatildeo Sudeste por

exemplo (TAVARES PEREIRA REBOUCcedilAS FILHO 2017) Nesse sentido esse trabalho

se justifica na importacircncia de se estudar a dinacircmica do IDE no Brasil com destaque para os

principais destinos desses investimentos

Para isso faz-se necessaacuterio um estudo buscando identificar qual a influecircncia do IED

no setor exportador e no PIB do Brasil nos anos de 2010 e 2015 fazendo um comparativo

entre o fluxo de IED no Brasil para esses anos verificando quais os principais destinos do

mesmo no paiacutes

Segundo Gil (2008) uma pesquisa descritiva tem o objetivo primordial de descrever

as caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo ou fenocircmeno ou o estabelecimento de relaccedilotildees

entre variaacuteveis Jaacute o meacutetodo comparativo procede pela investigaccedilatildeo de indiviacuteduos classes

fenocircmenos ou fatos com vistas a ressaltar as diferenccedilas e similaridades entre eles Baseado

nisso esta pesquisa tem um caraacuteter descritivo comparativo preocupando-se natildeo soacute em

comparar a entrada de Investimento Estrangeiro Direto (IED) no paiacutes nos anos de 2010 e

2015 mas tambeacutem em analisar quais os principais destinos desses recursos e os setores para

onde esses capitais satildeo revertidos

Este trabalho conta com a apresentaccedilatildeo de dados extraiacutedos do site do Banco Central do

Brasil (BACEN) Ministeacuterio da Induacutestria Comeacutercio Exterior e Serviccedilos (MDIC) Instituto

133

Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e os textos expostos satildeo baseados em artigos e

trabalhos acadecircmicos

Para a consecuccedilatildeo dos objetivos o artigo estrutura-se em quatro seccedilotildees aleacutem dessa

introduccedilatildeo Na segunda seccedilatildeo levantam-se as principais caracteriacutesticas do IED em niacutevel

mundial e procura-se identificar qual o perfil desse tipo de investimento na economia

brasileira Na terceira seccedilatildeo faz-se uma anaacutelise dos resultados obtidos na pesquisa Por fim

satildeo revistas algumas consideraccedilotildees finais deste trabalho

2 REVISAtildeO DE LITERATURA

21 CAPITAL EXTERNO E INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO

O financiamento externo eacute uma necessidade dos paiacuteses em desenvolvimento diferente

de deacutecadas anteriores onde os paiacuteses recebiam a chamada ―Assistecircncia Oficial para o

Desenvolvimento (AOD) ou os empreacutestimos de bancos privados Atualmente esses

financiamentos tecircm sua origem nos chamados investimentos estrangeiros de fontes privadas

dos quais o Investimento Estrangeiro Direto (IED) ou produtivo destaca-se como a principal

acircncora do desenvolvimento (VELOSO 2006)

De acordo com a Lei Federal nordm 4131 de 03 de setembro de 1962

Art 1ordm Consideram-se capitais estrangeiros para os efeitos desta lei os bens

maacutequinas e equipamentos entrados no Brasil sem dispecircndio inicial de divisas

destinados agrave produccedilatildeo de bens ou serviccedilos bem como os recursos financeiros ou

monetaacuterios introduzidos no paiacutes para aplicaccedilatildeo em atividades econocircmicas desde

que em ambas as hipoacuteteses pertenccedilam a pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas residentes

domiciliadas ou com sede no exterior (BRASIL 1962)

A ApexBrasil (2014) caracteriza o IED como sendo as participaccedilotildees duraacuteveis em

empresas no Brasil empregadas por investidores natildeo residentes domiciliados residentes ou

com sede no exterior mediante a titularidade de accedilotildees ou quotas representativas do capital

social de empresas brasileiras e o capital destacado das filiais ou sucursais de empresas

estrangeiras autorizadas a operar no Brasil

Lacerda (2003) destaca que o IED eacute um investimento que possui uma relaccedilatildeo de longo

prazo e reflete um interesse duradouro aleacutem disso o investidor estrangeiro direto ou empresa

matriz possui o controle de uma entidade residente em uma economia em uma empresa

134

sediada no exterior Segundo Oliveira e Queiroacutez (2018) o IED apresenta-se como um pilar de

sustentaccedilatildeo e crescimento do PIB em qualquer paiacutes destacando-se em periacuteodos de crise

econocircmico-financeira como enfrentada nos uacuteltimos anos pelo Brasil

Conforme Guimaratildees e Ferreira (2013) os investimentos internacionais podem ser

divididos em investimentos diretos ou no mercado financeiro Os primeiros satildeo empregados

na produccedilatildeo de bens ou serviccedilos e os segundos recursos financeiros ou monetaacuterios satildeo

empregados em atividades econocircmicas Esses podem ser realizados por pessoas fiacutesicas ou

juriacutedicas residentes domiciliados ou com sede no exterior

No investimento externo direto o investidor estrangeiro transfere determinado

montante de capital para uma empresa e passa a exercer controle sobre as tomadas de decisotildees

desse empreendimento (DIERSMANN PICCOLI ROVER 2015) O IED compreende a

participaccedilatildeo no capital que diz respeito agraves entradas de bens moedas e as conversotildees externas

para aquisiccedilatildeo total ou parcial do capital social de um projeto jaacute existente no paiacutes (recursos

geralmente destinados a programas de privatizaccedilotildees) ou empreender em um novo negoacutecio e

os empreacutestimos intercompanhias que satildeo os creacuteditos de origem das matrizes destinados agraves

suas filiais (LEMOS JUNIOR 2015)

O IED busca por mercados consumidores atraentes e eficientes Satildeo transferidos das

regiotildees menos rentaacuteveis para aquelas em que se espera encontrar maior rentabilidade

(DIERSMANN PICCOLI ROVER 2015) Aleacutem de serem atraiacutedos pelos incentivos

concedidos pelos paiacuteses receptores haacute vaacuterios fatores que influenciam na anaacutelise de

viabilidade de um investimento entre eles podemos citar a abundacircncia dos recursos naturais

o tamanho do mercado domeacutestico ambiente econocircmico estaacutevel perspectivas de crescimento e

de incremento na produtividade liberdade para operar infraestrutura e capital humano

disponibilidade de fornecedores locais e um bom clima de negoacutecios risco para o ingresso

estabilidade cambial manutenccedilatildeo de contratos crescimento econocircmico estabilidade

econocircmica e poliacutetica proteccedilatildeo dos direitos de propriedade intelectual eacutetica e integridade

comercial e eficiecircncia e transparecircncia burocraacutetica (GREGORY OLIVEIRA 2005)

A discussatildeo acadecircmica em torno dos benefiacutecios trazidos pela entrada de recursos

externos gera divergentes opiniotildees Para Hastreiter (2012) os investimentos estrangeiros satildeo

importantes para a geraccedilatildeo de emprego a arrecadaccedilatildeo de tributos e o desenvolvimento

135

tecnoloacutegico Veloso (2006) no entanto diz que seus benefiacutecios satildeo relativos A transferecircncia

de tecnologia natildeo ocorre como o previsto e apesar da grande vinculaccedilatildeo da produccedilatildeo nacional

com empresas transnacionais que eacute uma caracteriacutestica de grandes aportes de IEDs o nuacutemero

de postos de empregos criados eacute miacutenimo perto do total (VELOSO 2006)

Diersmann Piccoli e Rover (2015) concordam que a entrada desses recursos gera

diversos benefiacutecios aleacutem do desenvolvimento que ocorre onde o capital eacute alocado haacute a

transferecircncia direta e indireta de conhecimento e tecnologias para empresas nacionais que

acabam elevando sua capacidade tecnoloacutegica Outro aspecto positivo eacute que o fortalecimento

da competiccedilatildeo gera maior eficiecircncia e contribui para o aumento da produtividade das

empresas locais acarretando queda no preccedilo dos produtos

O IED funciona como indutor de competitividade nas exportaccedilotildees Isso ocorre

principalmente porque ―[] as empresas estrangeiras tecircm uma vantagem comparativa tiacutepica

no conhecimento do mercado internacional no tamanho e eficiecircncia dos canais de

distribuiccedilatildeo e na habilidade de responder rapidamente agraves mudanccedilas de padrotildees no mercado

mundial (GREGORY OLIVEIRA p 19 2005)

No entanto os autores tambeacutem chamam atenccedilatildeo para alguns problemas que podem

ocasionar ao paiacutes receptor entre eles a fuga de capital supressatildeo de direitos trabalhistas e

sociais aleacutem de que a concorrecircncia com as multinacionais pode levar ao fechamento de

algumas empresas nacionais Outro ponto de impasse eacute a reduccedilatildeo da capacidade de comando

sobre a economia pois os governos tornam-se vulneraacuteveis as pressotildees externas podendo

favorecer os capitais estrangeiros em detrimento dos interesses nacionais (GREGORY

OLIVEIRA 2005)

Segundo a ApexBrasil (2014) as principais formas de entrada do capital estrangeiro

no Brasil satildeo Investimento em Moeda Conversatildeo de Creacuteditos Externos Importaccedilatildeo de Bens

sem Cobertura Cambial e Mercado de Capitais

No Investimento em Moeda a subscriccedilatildeo de capital ou aquisiccedilatildeo de participaccedilatildeo em

empresa brasileira existente os recursos deveratildeo ser enviados ao paiacutes por meio de

estabelecimento bancaacuterio autorizado a operar com cacircmbio Seu registro se daacute no Sistema de

Informaccedilotildees do Banco Central ndash SISBACEN ndash Moacutedulo RDE-IED (Registro Declaratoacuterio

136

Eletrocircnico ndash Investimento Externo Direto) num prazo de 30 dias a partir do fechamento do

contrato de cacircmbio (APEXBRASIL 2014)

Na Conversatildeo de Creacuteditos Externos a operaccedilatildeo pela qual os creacuteditos passiacuteveis de

gerarem transferecircncias para o exterior com base nas normas vigentes satildeo utilizados pelo

credor natildeo residente para a aquisiccedilatildeo ou integralizaccedilatildeo de participaccedilatildeo no capital social da

empresa no Paiacutes Devem ser registrados no Sistema de Informaccedilotildees do Banco Central ndash

SISBACEN ndash Moacutedulo RDEIED (Registro Declaratoacuterio Eletrocircnico ndash Investimento Externo

Direto) no prazo de 30 dias a partir da data de entrada (APEXBRASIL 2014)

Importaccedilatildeo de Bens sem Cobertura Cambial satildeo os bens tangiacuteveis maacutequinas ou

equipamentos de qualquer natureza efetivamente ingressados no Brasil sem dispecircndio inicial

de divisas destinados agrave produccedilatildeo ou agrave comercializaccedilatildeo de bens ou agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos

Natildeo deve haver similar nacional para os bens usados que devem ser aplicados em projetos

que estimulem o desenvolvimento econocircmico do Paiacutes Deve ser registrado no Sistema de

Informaccedilotildees do Banco Central ndash SISBACEN ndash Moacutedulo RDE-IED (Registro Declaratoacuterio

Eletrocircnico ndash Investimento Externo Direto) no prazo de 90 dias a partir do desembaraccedilo do

bem tangiacutevel (APEXBRASIL 2014)

Mercado de Capitais satildeo investimentos nos mercados financeiros e de capitais

brasileiros de renda fixa e variaacutevel com a necessaacuteria constituiccedilatildeo de representante no Brasil

para a operacionalizaccedilatildeo do investimento Seu registro deve ser efetuado no Sistema de

Informaccedilotildees do Banco Central ndash SISBACEN ndash moacutedulo Portfoacutelio do Registro Declaratoacuterio

Eletrocircnico (RDE-Portfoacutelio) antes das movimentaccedilotildees (APEXBRASIL 2014)

22 TRAJETOacuteRIA DO IED NO BRASIL

Segundo Veloso (2006) o Brasil eacute um dos maiores receptores de IEDs do mundo haacute

mais de um seacuteculo conta com investimentos externos Conforme Saacute (2005) o aporte de

capital externo sob a forma de investimentos diretos de empresas estrangeiras no paiacutes ou

empreacutestimos e financiamentos ao setor puacuteblico foi o que possibilitou as inovaccedilotildees tanto no

setor de serviccedilos quanto na industrializaccedilatildeo do Brasil Logo na deacutecada de 1980 o Brasil jaacute

contava com financiamento externo

Os investimentos estrangeiros possuem um papel demasiadamente importante no que

diz respeito agrave inserccedilatildeo do Brasil no cenaacuterio mundial Apoacutes o fim da Segunda Guerra Mundial

137

o paiacutes se encontrava entre os grandes receptores de IED na Ameacuterica Latina no entanto essa

situaccedilatildeo mudou quando o paiacutes comeccedilou a apresentar problemas de liquidez e para o

pagamento da divida externa Essa situaccedilatildeo acabou afastando os investidores e provocando

uma queda no ingresso de investimentos que ficaram praticamente estagnados ateacute o iniacutecio da

deacutecada de 1990 quando o governo comeccedilou a implementar uma seacuterie de medidas liberais

promovendo a abertura comercial e a desregulamentaccedilatildeo do mercado interno Aleacutem disso

como um dos grandes entraves era o crescente processo inflacionaacuterio em 1994 foi adotada

uma estrateacutegia de combate agrave inflaccedilatildeo que teve muito sucesso na estabilizaccedilatildeo monetaacuteria o

Plano Real (DIERSMANN PICCOLI ROVER 2015)

Passado esse periacuteodo de turbulecircncia e agora com economia estaacutevel o paiacutes volta a ser

atrativo aos investidores e os ingressos de IED se elevam novamente sendo que o estoque de

IED atingiu o montante de US$ 43 bilhotildees em 1995 quando foi realizado o primeiro Censo

do Capital Estrangeiro pelo Banco Central do Brasil (GREGORY OLIVEIRA 2005) Foi

nesse momento que grande parte das empresas estatais foram privatizadas (cerca de 115

empresas) sendo que do total de privatizaccedilotildees ocorridas 53 do capital vieram de

investidores estrangeiros (DIERSMANN PICCOLI ROVER 2015)

A valorizaccedilatildeo do cacircmbio que se deu ateacute o ano de 1999 fez com que o paiacutes sofresse

com especulaccedilatildeo da moeda Atingido pelos efeitos das crises russa e asiaacutetica que modificou o

cenaacuterio internacional o governo alterou sua poliacutetica cambial passando a adotar o regime de

cacircmbio flutuante A partir daiacute com as novas medidas adotadas o fluxo de capital externo

aumentou chegando a 328 bilhotildees de doacutelares no ano 2000 (DIERSMANN PICCOLI

ROVER 2015)

Contudo jaacute no ano de 2001 o cenaacuterio se modifica pois os acontecidos externos (―[]

queda nas bolsas dos Estados Unidos o desaquecimento da economia global em decorrecircncia

de atentados terroristas e guerras aleacutem das fraudes descobertas na contabilidade de grandes

empresas americanas e multinacionais Brasil (GREGORY OLIVEIRA p 12 2005))

juntamente com os episoacutedios internos (―[] decliacutenio do programa de privatizaccedilotildees pela crise

energeacutetica e pela instabilidade provocada pelo processo eleitoral e pela desconfianccedila de

possiacuteveis mudanccedilas nos rumos das poliacuteticas de Governo (GREGORY OLIVEIRA p 12

2005)) provocam uma queda no fluxo de capitais estrangeiros brasileiros Segundo

Diersmann Piccoli e Rover (2015) em 2004 a economia mundial volta a crescer e essa fase

de crescimento tambeacutem eacute experimentada pelo Brasil o governo lanccedila os programas de

138

incentivo da economia e vaacuterias empresas brasileiras colocam suas accedilotildees na bolsa assim o

fluxo de capitais estrangeiros volta a crescer e as exportaccedilotildees ganham impulso

A crise imobiliaacuteria americana em 2008 atingiu o mercado mundial os investimentos

externos diminuiacuteram e diversas economias apresentaram queda de crescimento muitas

estagnaram No entanto as medidas adotadas pelo governo brasileiro caracteristicamente

anticiacuteclicas foram importantes pois evitaram uma grande contraccedilatildeo no crescimento

econocircmico e um sofrimento maior advindo da crise ao longo de 2009 (DIERSMANN

PICCOLI ROVER 2015)

Apesar da recessatildeo e da esperada retraccedilatildeo dos fluxos de IED em 2014 o Brasil ficou

em sexto lugar entre os paiacuteses que mais receberam investimentos estrangeiros no mundo

Ademais os investidores continuam investindo em nosso paiacutes e os capitais estrangeiros

entrando em nossas fronteias das formas mais diversas (LEMOS JUNIOR 2015)

3 ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

Segundo Rodrigues Neves e Mattos (2012) um estiacutemulo a exportaccedilatildeo resultaraacute

diretamente no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) dado que o aumento das

exportaccedilotildees acarreta um aumento da produtividade do fator devido a ganhos de escala o que

eacute resultado de um mercado externo maior Quanto mais o PIB crescer maior eacute a taxa de

produtividade assim sendo menores seratildeo os custos unitaacuterios e maiores seratildeo as exportaccedilotildees

Ainda de acordo com Rodrigues Neves e Mattos (2012) o crescimento de uma economia

resultante de uma acumulaccedilatildeo de capital fiacutesico eou transferecircncia de tecnologia via IED

reflete diretamente nas exportaccedilotildees as quais sofrem um aumento quando o mercado

domeacutestico natildeo absorve totalmente o aumento na produccedilatildeo de bens

Gregory e Oliveira (2005) argumentam que haacute uma correlaccedilatildeo positiva entre o

ingresso de investimentos diretos e as exportaccedilotildees do paiacutes receptor Em 2010 as exportaccedilotildees

brasileiras chegaram a U$$ 20191528533500 e aumentaram para U$$ 25603957476800

no ano de 2011 tendo variaccedilatildeo percentual de 2681 O IED chegou a 731175 milhotildees de

doacutelares no ano de 2012 com variaccedilatildeo de 513 resultado do bom desempenho das

exportaccedilotildees em 2011

Assim na Tabela 1 podemos verificar essa relaccedilatildeo empiricamente Visto que o

comportamento de um afetou no desempenho do outro Ao longo dos anos houve uma

139

variaccedilatildeo percentual negativa para IED chegando haacute -2172 de 2014 para 2015 o que

tambeacutem se verifica tanto para exportaccedilotildees como para a variaccedilatildeo percentual do PIB com -

1509 e -2683 respectivamente

Tabela 1 ndash Brasil - Evoluccedilatildeo do IED PIB e Exportaccedilotildees

Ano IED

(US$ milhotildees)

Variaccedilatildeo

()

Exportaccedilotildees

(US$ FOB)

Variaccedilatildeo

()

PIBsup1 Variaccedilatildeo ()

2010 682 346 201915285335 2209751

2011 695 505 193 256039574768 2681 2614482 1832

2012 731 175 513 242578013546 -526 2463549 -577

2013 724 781 -087 242033574720 -022 2468456 020

2014 725 872 015 225100884831 -700 2454846 -055

2015 568 226 -2172 191134324584 -1509 1796168 -2683

FONTE Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de dados do BACEN (2016 2018) e do MDIC (2017)

sup1 Preccedilos correntes em milhotildees de US$

A Tabela 2 mostra a entrada de IED no Brasil de 2010 a 2015 Analisando a

distribuiccedilatildeo entre seus componentes eacute possiacutevel observar que grande parte dos recursos que

entraram no paiacutes estaacute sob a forma de participaccedilatildeo no capital 8606 em 2010 e 6380 em

2015 No entanto os dados do BACEN revelam que atraveacutes dos anos houve queda da entrada

de IED por meio de participaccedilatildeo no capital e ampliaccedilatildeo por meio de operaccedilotildees

intercompanhia que passou de 1394 em 2010 para 3620 no ano de 2015

Tabela 2 - Brasil - Investimento Estrangeiro Direto (U$$ Milhotildees)

Discriminaccedilatildeo 2010sup1 2011sup2 2012sup2 2013sup2 2014sup2 2015sup2

Investimento Estrangeiro

Direto (IED) 682 346 695 505 731 175 724 781 725 872 568 226

Participaccedilatildeo no capital 587 209 589 592 603 470 550 635 518 116 362 516

() 8606 8477 8253 7597 7138 6380

Operaccedilotildees

intercompanhiasup3 4

95 137 105 913 127 705 174 146 207 756 205 711

() 1394 1523 1747 2403 2862 3620

Memo

Quantidade de

declarantes5

16 844 3 210 2 398 2 099 1 948 19 537

Numero de empresas de 13 858 16 982

140

IED6

PIB7

2209751 2614482 2463549 2468456 2454846 1796168

IEDPIB 3088 2660 2968 2936 2957 3164

FONTE BACEN

sup1 Estoque valorado preferencialmente por valor de mercado e na ausecircncia deste por patrimocircnio liacutequido

sup2 Para empresas declarantes do Censo Anual de Capitais Estrangeiros no Paiacutes estoque valorado

preferencialmente por valor de mercado e na ausecircncia deste por patrimocircnio liacutequido Para natildeo declarantes do

Censo Anual obrigatoacuterio apenas para empresas com patrimocircnio liacutequido a partir de US$100 milhotildees estoque

estimado a partir do uacuteltimo Censo Quinquenal fluxos do balanccedilo de pagamentos e registros de capital

estrangeiro no Banco Central do Brasil moacutedulo investimento direto (RDE-IED)

sup3Fonte sistema de registros de capital estrangeiro do Banco Central do Brasil moacutedulo de operaccedilotildees financeiras

(RDE-ROF) 4

Conforme criteacuterio de ativos e passivos adotado pela sexta ediccedilatildeo do Manual de Balanccedilo de Pagamentos e

Posiccedilatildeo de Investimento Internacional (BPM6) do FMI inclui operaccedilotildees de devedores residentes no Brasil e

credores residentes no exterior desde que pertenccedilam ao mesmo grupo econocircmico e natildeo sejam do setor

financeiro Inclui passivos em moeda e em mercadoria 5

Nos Censos de 1995 2000 e 2005 a obrigatoriedade de declaraccedilatildeo quanto agrave participaccedilatildeo de investidor

estrangeiro no capital social se estendeu a vaacuterias empresas residentes e de um mesmo grupo econocircmico no

primeiro niacutevel da cadeia de controle A partir do Censo 2010 estiveram obrigadas a declarar apenas as empresas

com participaccedilatildeo direta de investidor estrangeiro no seu capital social ocasionando ganhos de eficiecircncia e

reduccedilatildeo no nuacutemero de declarantes 6

Investidores natildeo residentes detentores de no miacutenimo 10 do poder de voto da empresa residente no Brasil 7

Preccedilos Correntes em milhotildees de U$$

Os graacuteficos a seguir ilustram a distribuiccedilatildeo do estoque de IED por setor de atividade

econocircmica da empresa residente no Brasil referentes agrave participaccedilatildeo no capital e agraves operaccedilotildees

intercompanhia

Graacutefico 1 ndash Brasil - Distribuiccedilatildeo do estoque de IED por setor de atividade econocircmica da

empresa residente no Brasil Participaccedilatildeo no Capital

FONTE Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de dados do BACEN (2016)

16 15 12 12 12

10

39 39 41 41

39 37

45 47 47 46

48

53

0

10

20

30

40

50

60

2010 2011 2012 2013 2014 2015

Agricultura pecuaacuteria e extrativa mineral Induacutestria Serviccedilos

141

Graacutefico 2 ndash Brasil - Distribuiccedilatildeo do estoque por setor de atividade econocircmica da

empresa residente no Brasil Operaccedilotildees Intercompanhia

FONTE Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de dados do BACEN (2016)

Os dados revelam que em relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo no capital o setor de serviccedilos supera

a induacutestria e a agricultura pecuaacuteria e extrativa mineral como receptor de IED contudo em

relaccedilatildeo agraves operaccedilotildees intercompanhia percebe-se que a induacutestria eacute o principal receptor

seguido pela agricultura pecuaacuteria e extrativa e pelo setor de serviccedilos

No Graacutefico 3 pode-se observar que ao longo dos anos houve um decreacutescimo de IED

no paiacutes chegando a diminuir no que diz respeito a participaccedilatildeo de capital por regiatildeo mais

que 50 do seu valor na regiatildeo Sudeste com uma taxa de variaccedilatildeo percentual negativa de -

5175

No entanto o curioso eacute que apesar de a regiatildeo Centro-Oeste apresentar valores

inferiores a maioria das regiotildees sua variaccedilatildeo percentual negativa foi maior que a regiatildeo

Sudeste com um valor de -5567 Chama atenccedilatildeo tambeacutem a regiatildeo Norte que apesar de

apresentar os menores valores entre as regiotildees apresentou uma queda menor no estoque de

IED (-1603) Essa queda de IED no paiacutes pode ser explicada pelo comportamento do PIB

que variou -1872 entre 2010 e 2015 pois segundo Gregory e Oliveira (2005) o tamanho do

PIB eacute um fator determinante na atraccedilatildeo de IED assim como tambeacutem a entrada desse recurso

acaba garantindo o crescimento dessa variaacutevel

31 31 27 27

23 22

45 44 44 44 47 48

24 26 29 29 29 29

0

10

20

30

40

50

60

2010 2011 2012 2013 2014 2015

Agricultura pecuaacuteria e extrativa mineral Induacutestria Serviccedilos

142

Graacutefico 3 ndash Brasil - IED - Participaccedilatildeo no capital (US$ milhotildees) Distribuiccedilatildeo do estoque

por regiatildeo conforme localizaccedilatildeo do ativo imobilizadosup1

FONTE Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de dados do BACEN (2016)

sup1 O valor das empresas com ativo imobilizado em mais de uma unidade da federaccedilatildeo foi fracionado

Conforme mostra a Tabela 3 houve de fato uma diminuiccedilatildeo nos valores de IED no

Brasil No que diz respeito ao destino destes investimentos percebe-se que natildeo ocorreu

mudanccedila significativa

Tabela 3 ndash Brasil - IED - Participaccedilatildeo no capital (US$ milhotildees) - Distribuiccedilatildeo do estoque

por regiatildeo conforme localizaccedilatildeo do ativo imobilizadosup1

2010 () 2015 () Variaccedilatildeo Percentual

Sudeste 155946 6904 75248 6504 -5175

Sul 32718 1448 17368 1501 -4692

Nordeste 20196 894 12643 1093 -3740

Norte 7311 324 6139 531 -1603

Centro-Oeste 9706 430 4302 372 -5567

Brasil 225877 10000 115700 10000 -4878

FONTE Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de dados do BACEN (2016)

1 O valor das empresas com ativo imobilizado em mais de uma unidade da federaccedilatildeo foi fracionado

Soacute a regiatildeo Sudeste detinha em 2010 e 2015 6904 e 6504 respectivamente da

participaccedilatildeo no capital industrial enquanto as demais regiotildees respondiam juntas por apenas

3096 e 3496 nos mesmos anos Segundo Tavares Pereira e Rebouccedilas Filho (2017) a

desigualdade regional sempre esteve presente na histoacuteria do Brasil O volume de capital da

155 946

32 718

20 196

7 311 9 706

75 248

17 368 12 643

6 139 4 302

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000

140000

160000

180000

Sudeste Sul Nordeste Norte Centro-Oeste

2010

2015

143

regiatildeo Sudeste sempre foi superior agraves demais regiotildees principalmente comparando ao

Nordeste e Norte brasileiro isso se daacute pela grande concentraccedilatildeo industrial responsaacutevel pela

diversificaccedilatildeo produtiva de seus estados e pela distribuiccedilatildeo do estoque de IED no Paiacutes

A Tabela 4 revela que o nuacutemero de empregos diretos gerados nas empresas de IED

em 2015 ficou concentrado na regiatildeo Sudeste com 6741 e destes 4606 estatildeo

concentrados no estado de Satildeo Paulo As demais regiotildees somam 3259 dos postos de

trabalho em que na regiatildeo Sul destaca-se o estado do Paranaacute com 511 e na regiatildeo Nordeste

tem destaque o estado da Bahia com 400 Esse quadro estaacute relacionado com a

concentraccedilatildeo do fluxo de IED nessas regiotildees e estados que favorecem as regiotildees mais

desenvolvidas deixando de proporcionar o crescimento necessaacuterio agraves regiotildees menos

desenvolvidas

Tabela 4 ndash Brasil - Empregos diretos nas empresas de IED 2015sup1 - Distribuiccedilatildeo da

quantidade de postos de trabalho por regiatildeo

Regiotildees Nuacutemero de empregados

Norte 114 776 330

Nordeste 404 738 1163

Bahia 139 169 400

Pernambuco 95 842 275

Centro-Oeste 164 877 474

Sudeste 2 345 447 6741

Rio de Janeiro 392 914 1129

Satildeo Paulo 1 602 515 4606

Minas Gerais 306 467 881

Espiacuterito Santo 43 551 125

Sul 449 310 1291

Paranaacute 177 778 511

Rio Grande do Sul 169 230 486

Santa Catarina 102 302 294

Total 3 479 148 10000

FONTE Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de dados do BACEN (2016)

sup1 Ao menos um investidor natildeo residente possui individualmente 10 ou mais do poder de voto

Na Tabela 5 pode-se perceber a concentraccedilatildeo regional de IED tendo destaque a

regiatildeo Sudeste com maior volume e a regiatildeo Norte com menor volume

144

Tabela 5- Receita Bruta de empresas de IED 2015sup1 Distribuiccedilatildeo por regiatildeo

Regiotildees

Norte 287

Nordeste 923

Bahia 344

Centro-Oeste 642

Sudeste 6972

Satildeo Paulo 5268

Rio de Janeiro 926

Minas Gerais 629

Sul 1176

Paranaacute 505

Rio Grande do Sul 435

Total 10000

FONTE FONTE Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de dados do BACEN (2016)

sup1 Ao menos um investidor natildeo residente possui individualmente 10 ou mais do poder de voto

Faz-se necessaacuterio observar que de acordo com a tabela mesmo dentro dessa regiatildeo haacute

uma desigualdade entre as cidades quando ao recebimento dos fluxos destacando-se Satildeo

Paulo com 5268 da Receita Bruta de empresas de IED que comparado ao resto do paiacutes

deteacutem mais de 50 de toda receita Desse modo estabelecendo um ranking temos em

segundo lugar a regiatildeo Sul

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As tabelas e as composiccedilotildees graacuteficas mostram a relaccedilatildeo entre o IED e o

desenvolvimento da economia brasileira Os dados apontam que a inserccedilatildeo de IED influencia

diretamente os volumes de capital no paiacutes sendo um condicionante para o crescimento e

retraccedilatildeo da economia No entanto a maacute distribuiccedilatildeo do estoque de IED entre as regiotildees do

paiacutes acaba configurando um contexto de crescimento econocircmico nacional mas natildeo um

desenvolvimento igualitaacuterio de suas regiotildees

Ao analisar a distribuiccedilatildeo da entrada de IED por regiatildeo pode-se observar que somente

a regiatildeo Sudeste recebeu mais da metade dos investimentos em IED do paiacutes enquanto isso as

demais regiotildees foram receptoras de um valor limitado de recursos Esse acontecimento pode

ser explicado pela comparaccedilatildeo dos parques industriais das nossas regiotildees pois enquanto o

145

Sudeste possui uma induacutestria altamente diversificada e dinamizada com maior potencial de

atraccedilatildeo de investimentos as demais regiotildees principalmente Norte Nordeste e Centro-Oeste

vivem de certa forma distante dessa realidade e se encontram em grande desvantagem pelo

fato de possuiacuterem um parque industrial pouco dinacircmico e ainda em fase de amadurecimento

Desse modo se o quadro de desigualdade entre as regiotildees do paiacutes acontece em termos

de iacutendices educacionais renda Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) e PIB eacute

igualmente verificaacutevel que isso tambeacutem acontece em termos de atraccedilatildeo de investimentos

visto que ao longo dos anos estudados o quadro de concentraccedilatildeo regional de IED foi muito

acentuado e contiacutenuo

Aleacutem disso ao analisar a distribuiccedilatildeo de empregos formais e a receita bruta nas

empresas de IED por regiatildeo percebe-se que essa situaccedilatildeo se repete As regiotildees com menos

postos de trabalho e com menor receita satildeo Norte Nordeste e Centro-Oeste e em primeiro e

segundo lugar estatildeo Sudeste e Sul respectivamente fato esse que eacute resultado da concentraccedilatildeo

do fluxo de IED nas regiotildees mais desenvolvidas Desta forma percebe-se necessaacuterio um

plano de desenvolvimento mais igualitaacuterio que possibilite as demais regiotildees se desenvolverem

economicamente

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148

TESTANDO A HIPOacuteTESE DE CONVERGEcircNCIA NA TAXA DE CRIMINALIDADE

DOS MUNICIacutePIOS CEARENSES UMA ANAacuteLISE Agrave LUZ DO PROGRAMA RONDA

DO QUARTEIRAtildeO

Otoniel Rodrigues dos Anjos Junior

Graduado em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Mestre em

Economia Aplicada pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Economia da Universidade Federal

da Paraiacuteba (PPGE-UFPB) Doutorando em Economia Aplicada pelo PPGE-UFPB E-mail

pbdosanjoshotmailcom

Andreacutea Ferreira da Silva

Graduada em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA) Mestra

em Economia Rural pelo Mestrado em Economia Rural da Universidade Federal do Cearaacute

(MAER-UFC) Doutoranda em Economia Aplicada pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em

Economia da Universidade Federal da Paraiacuteba (PPGE-UFPB) E-mail

andreaeconomiayahoocombr

Eryka Fernanda Miranda Sobral

Graduada em Economia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Mestra em

Economia pela UFPE Doutoranda em Economia Aplicada pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Economia da Universidade Federal da Paraiacuteba (PPGE-UFPB) E-mail

fmsobralhotmailcom

Magno Vamberto Batista da Silva

Graduado em Economia pela Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Mestre em Economia

pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Economia da Universidade Federal da Paraiacuteba (PPGE-

UFPB) Doutor em Economia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Professor

do Departamento de Economia da Universidade Federal da Paraiacuteba E-mail

magnobsyahoocom

149

TESTANDO A HIPOacuteTESE DE CONVERGEcircNCIA NA TAXA DE CRIMINALIDADE

DOS MUNICIacutePIOS CEARENSES UMA ANAacuteLISE Agrave LUZ DO PROGRAMA RONDA

DO QUARTEIRAtildeO

RESUMO A taxa de criminalidade tem apresentado tendecircncia de aumento para todas as regiotildees do

paiacutes nos uacuteltimos anos mesmo com a accedilatildeo de programas de repressatildeo agrave criminalidade O Cearaacute se

destaca como segundo maior em taxa de homiciacutedio da Regiatildeo Nordeste onde a regiatildeo metropolitana

de Fortaleza contribui substancialmente para este fato Ante a isso o objetivo deste estudo eacute testar a

hipoacutetese de convergecircncia nas taxas de criminalidade dos municiacutepios cearenses Para tanto utiliza-se a

taxa de homiciacutedios como proxy para criminalidade e controlando a dependecircncia espacial Os

resultados mostram ocorrecircncia tanto Global quanto Local de dependecircncia espacial significante

sinalizando dados espalhados de forma natildeo aleatoacuteria no espaccedilo Aleacutem disso a hipoacutetese de

convergecircncia natildeo foi rejeitada e ocorre paralelamente com o aumento na taxa meacutedia de homiciacutedios e a

reduccedilatildeo em sua variabilidade Por fim esse fenocircmeno parece ocasionar aumentos marginais maiores

nas taxas de homiciacutedios dos municiacutepios considerados tranquilos comparativamente aos outros

municiacutepios ditos violentos

Palavras-chaves Criminalidade Municiacutepios Cearaacute

ABSTRACT The crime rate has shown a tendency to increase for all regions of the country in the

last years even with the action of programs of repression to the crime Cearaacute stands out as the second

largest homicide rate in the Northeast Region where the metropolitan region of Fortaleza contributes

substantially to this fact Before this the objective of this study is to test the hypothesis of convergence

in the crime rates of the municipalities of Cearaacute To do so the homicide rate is used as a proxy for

crime and controlling spatial dependence The results show both Global and Local occurrence of

significant spatial dependence signaling data scattered nonrandomly in space In addition the

convergence hypothesis was not rejected and occurs in parallel with the increase in the average

homicide rate and the reduction in its variability Finally this phenomenon seems to cause larger

marginal increases in the homicide rates of the municipalities considered quietrdquo compared to other

municipalities called violent

Keywords Crime Municipalities Cearaacute

150

1 Introduccedilatildeo

O problema da criminalidade tem sido visto como um dos mais seacuterios obstaacuteculos ao

desenvolvimento econocircmico e social (FAJNZYLBER JR 2001 CLEMENTE WELTERS

2007 SANTOS FILHO 2011) Os governos e a sociedade civil passaram a dar maior

importacircncia ao assunto uma vez que foram observados os aumentos nas taxas de violecircncia e

os elevados custos associados agrave mortalidade sobretudo de jovens

Na literatura brasileira diversos estudos analisam o crime representado pela taxa de

homiciacutedio (OLIVEIRA et al 2005 MENDONCcedilA et al 2001 SAPORI WANDERLEY

2001 CANO SANTOS 2007 SANTOS FILHO 2011 JUacuteNIOR et al 2018 JUacuteNIOR

FILHO AMARAL 2018) Isso se deve pela tendecircncia crescente que esse indicador tem

apresentado para todas as regiotildees do paiacutes nos uacuteltimos anos e por sua alta taxa de reportagem

agraves autoridades comparativamente a outros crimes Conforme Waiselfisz (2016) autor do

Mapa da Violecircncia de 2016 as regiotildees do Nordeste (NE) e Sudeste (SE) satildeo as que se

destacam em primeiro e segundo lugar respectivamente no total de homiciacutedios do paiacutes ao

longo de todo o periacuteodo de 2008-2014 Em 2014 43 do total dos homiciacutedios por armas de

fogo no Brasil ocorreram no NE Dentre seus estados Alagoas Cearaacute e Sergipe satildeo os que

apresentam as maiores taxas de homiciacutedios da regiatildeo com aproximadamente 57 43 e 42

homiciacutedios agrave cada 100 mil habitantes respectivamente

Ante isso o desafio ao longo dos anos passou a ser formular e implantar poliacuteticas que

permitam a prevenccedilatildeo e consequentemente a reduccedilatildeo da violecircncia Nesse caso eacute

importante o desenvolvimento de pesquisas que permitam avanccedilar na compreensatildeo desse

fenocircmeno por meio da geraccedilatildeo de informaccedilotildees que permitam monitorar e melhorar o

entendimento das tendecircncias temporais e espaciais da criminalidade

Na literatura internacional o arcabouccedilo teoacuterico apresentado por Becker (1968) em

economia do crime discute as decisotildees racionais dos indiviacuteduos entre crime e natildeo crime

Nesse caso o crime eacute considerado uma atividade econocircmica Assim um indiviacuteduo soacute

cometeraacute um crime se e somente se os ganhos que pretende obter forem maiores do que os

custos Dessa forma o criminoso iraacute agir de acordo com as suas motivaccedilotildees ponderando as

suas decisotildees da mesma forma otimizadora que se faz em outros setores da sociedade

De acordo com Chiras e Crea (2004) ampliar o nuacutemero de policiais nas ruas pode ser

considerado eficaz no combate as atividades ilegais pois tais medidas elevam os custos da

accedilatildeo criminosa

151

Do mesmo modo Suliano e Oliveira (2015) afirmam que a forma mais eficaz de

combater a criminalidade passa pelo meacutetodo de inibiccedilatildeo ou repressatildeo do seu causador

Dentre as poliacuteticas de accedilatildeo destacam a poliacutetica de detenccedilatildeo por meio do aumento de policiais

nas ruas Em seu estudo os autores supracitados testam a hipoacutetese do aumento do

policiamento impactar na reduccedilatildeo da criminalidade no Cearaacute e encontram que o meio de

inibiccedilatildeo adotado pelo estado atraveacutes do programa Ronda do Quarteiratildeo altera os ganhos e

as accedilotildees dos criminosos

Considerado um programa de seguranccedila puacuteblica o Ronda do Quarteiratildeo foi

implementado no Cearaacute em 2007 inicialmente em Fortaleza e a partir de 2008 foi

abrangendo outras regiotildees do estado Neste ano existiam 13418 policiais efetivos jaacute em

2015 esse dado cresce 27 passando para 17100 policiais ativos em todo o estado segundo

dados do Instituto de Pesquisa e Estrateacutegia Econocircmica do Cearaacute (IPECE) No que tange ao

nuacutemero de homiciacutedios no Cearaacute no periacuteodo entre 2000 e 2015 foi observado um

crescimento de 237 no total de mortes por agressatildeo no estado Em meacutedia em 2000 ocorria

68 mortes homicida por municiacutepio passando a ser em 2015 23 mortes observando-se

dessa maneira uma meacutedia quase 4 vezes maior do que a vigente no ano 2000 de acordo

com dados do DATASUS

Diferentemente da pesquisa de Suliano e Oliveira (2015) que investigou o impacto

sobre os crimes contra a propriedade como roubos e furtos na regiatildeo metropolitana de

Fortaleza a presente pesquisa trata sobre crimes que acarretaram mortes por agressatildeo no

estado Logo objetiva-se testar a hipoacutetese de convergecircncia nas taxas de homiciacutedios

cearenses uma vez que foi implantada uma poliacutetica de aumento de policiais o programa

Ronda do Quarteiratildeo Nesse caso espera-se que tal programa gere reduccedilatildeo da criminalidade

Com a convergecircncia teria-se tendecircncia de que a taxa de homiciacutedio dos diversos

municiacutepios ficassem cada vez mais homogecircnea como sugerido por Scalco et al (2007)

Santos e Filho (2011) verificam convergecircncia com aumento da meacutedia de criminalidade e

reduccedilatildeo da variabilidade Com isso ao longo do tempo natildeo se observaria lugares mais ou

menos violentos e a criminalidade afetaria com a mesma intensidade todos os municiacutepios Ao

longo dos anos natildeo haveria nenhum lugar que possa ser considerado ―mais ou ―menos

seguro para se viver pois a atividade criminosa estaria presente com a mesma intensidade em

todos os municiacutepios do estado

152

Para tanto como forma de atingir o objetivo proposto aleacutem dessa introduccedilatildeo o artigo encontra-se

estruturado em mais quatro seccedilotildees A seccedilatildeo 2 traz uma breve revisatildeo da literatura Na seccedilatildeo 3 eacute

descrito o procedimento metodoloacutegico sendo composto pela anaacutelise exploratoacuteria de dados espaciais

anaacutelise de dependecircncia espacial e dados utilizados na investigaccedilatildeo A seccedilatildeo 4 apresenta a anaacutelise de

resultados das estimaccedilotildees realizadas Por fim a seccedilatildeo 5 traz as consideraccedilotildees finais

2 Revisatildeo da Literatura

O comportamento criminoso pode ser enxergado por diferentes teorias o que o torna

um fenocircmeno complexo e multifacetado (CERQUEIRA LOBAtildeO 2003) Esses distintos

pontos de vista de um mesmo fato pode influenciar inclusive o planejamento e execuccedilatildeo

das poliacuteticas puacuteblicas

Mediante a isso uma importante teoria econocircmica acerca do estudo da criminalidade

foi denominada de teoria da Escolha Racional Em seu trabalho seminal intitulado Crime

and Punishment An Economic Approach Becker (1968) mostra que os agentes decidem

entre crime e natildeo crime a partir dos custos e benefiacutecios de cada tomada de decisatildeo

individual A abordagem racional permitiu estudar o setor criminal por meio de instrumentos

matemaacuteticos e estatiacutesticos avanccedilados Nessa abordagem o crime eacute apresentado como uma

alternativa agrave atividade econocircmica Dessa forma conforme Becker (1968) a escolha por

atividade criminosa ocorreraacute se e somente se a utilidade esperada por essa accedilatildeo for superior

a utilidade de empregar seu tempo e recursos em atividades legais

Nessa perspectiva o setor legal apresentaraacute tanto mais adeptos quanto maiores forem

seus rendimentos liacutequidos Por sua vez as oportunidades de otimizaccedilatildeo de ganhos

funcionam como setas indicativas de onde cada indiviacuteduo deveraacute exerer maior dedicaccedilatildeo

Nessa conjuntura se o crime passa a compensar (benefiacutecio maior que custos) entatildeo ocorrem

entradas no mercado criminal incentivados pelo efeito contaacutegio eou imitaccedilatildeo (VIAPIANA

BRUNET 2007) A atividade criminosa possibilita inclusive encontrar uma curva de oferta

de crimes apenas partindo do processo de maximizaccedilatildeo de lucro (SANTOS KASSOUF

2008)

O fato dos agentes serem racionais segundo McKenzie e Tullock (1975) permite que

a quantidade de crime de uma localidade seja determinada como qualquer outra atividade da

economia Nesse caso a anaacutelise custobenefiacutecio impulsiona os agentes a maximizarem a

153

utilidade esperada de suas accedilotildees (EHRLICH 1973 HEINEKE 1978 WITTE

DASGUPTA BALTIMORE 1980)

Nesse contexto similar a uma atividade econocircmica a taxa de criminalidade apresenta

desigualdade por regiatildeo mas alguns estudos sugerem que a criminalidade estaacute se espalhando

entre os municiacutepios brasileiros Um desses eacute o de Scalco et al (2007) que testa a existecircncia

de convergecircncia na taxa de criminalidade dos municiacutepios mineiros Seus resultados sugerem

reduccedilatildeo nas disparidades da criminalidade entre os municiacutepios e consequentemente

homogenizaccedilatildeo do crescimento das taxas de criminalidade

Por sua vez Santos e Filho (2011) testam a hipoacutetese de convergecircncia da taxa de

crime para as microrregiotildees brasileiras Para isso utilizaram a taxa de homiciacutedios como

proxy para a criminalidade e controlando a dependecircncia espacial nos dados regionalmente

agrupados essa hipoacutetese natildeo foi refutada Assim por esse resultado tem-se evidecircncia de que

a criminalidade tende a crescer mais rapidamente nas localidades menos violentas do que nas

localidades mais violentas com a diferenccedila nas taxas de crimes dessas localidades sendo

eliminadas gradativamente ao longo do tempo Os autores argumentam que se a tendecircncia

permanecer a reduccedilatildeo no bem-estar eacute inevitaacutevel

Contudo em funccedilatildeo deste arcabouccedilo teoacuterico e empiacuterico eacute fato que a criminalidade eacute

um problema para maioria dos indiviacuteduos Portanto dada a evidecircncia supracitada para Minas

Gerais e para o Brasil como um todo eacute pertinente testar a convergecircncia dentro do Estado do

Cearaacute dado que eacute o segundo mais violento da regiatildeo Nordeste Dessa forma acredita-se

contribuir para a compreensatildeo do fenocircmeno localmente possibilitando o redesenho das

poliacuteticas puacuteblicas de seguranccedila no estado do Cearaacute

3 Metodologia

Nesta seccedilatildeo discutem-se os procedimentos metodoloacutegicos empregados na pesquisa

demostrando brevemente os fundamentos da anaacutelise exploratoacuteria de dados os testes e

procedimentos que permitem identificar padrotildees espaciais Consolidando a anaacutelise

demonstram-se os passos empregados na estrateacutegia empiacuterica para estimaccedilatildeo de modelos de

convergecircncia incorporando os efeitos dos transbordamentos espaciais Finalmente na uacuteltima

parte da presente seccedilatildeo trazem-se informaccedilotildees sobre os dados e variaacuteveis utilizados na

pesquisa

154

31 Anaacutelise exploratoacuteria de dados espaciais

A anaacutelise exploratoacuteria de dados (AEDE) de acordo com Anselin (1995) consiste na

teacutecnica para se testar a existecircncia ou natildeo de padrotildees estatisticamente significativos extraindo

medidas de autocorrelaccedilatildeo espacial global e local Isto eacute sua proposta eacute descrever a

distribuiccedilatildeo espacial os padrotildees de associaccedilatildeo espacial (clusters espaciais) verificar a

existecircncia de outras formas de instabilidade espacial (natildeo-estacionariedade) e identificar

observaccedilotildees atiacutepicas (outliers)

Nesse sentido para a autocorrelaccedilatildeo espacial tem-se a proposta dos iacutendices de Moran

global (I-Moran) e local (LISA) O primeiro fornece um uacutenico valor para o conjunto de todos

os municiacutepios caracterizando toda a regiatildeo de estudo que representaraacute o grau de associaccedilatildeo

espacial entre os mesmos De forma que como indicador eacute definido no intervalo [-11]

segundo o qual quanto mais proacuteximo de 1 maior seraacute a associaccedilatildeo espacial entre as

observaccedilotildees indicando a possiacutevel ocorrecircncia de homogeneidade entre regiotildees vizinhas Por

sua vez quanto mais proacuteximo de -1 maior seraacute o grau de dissimilaridade entre estas regiotildees

Jaacute quando mais proacuteximo agrave zero implicaraacute na inexistecircncia de dependecircncia espacial para

aquela variaacutevel Posto isso o indicador I-Moran global eacute calculado a partir da seguinte

especificaccedilatildeo

n

i

tti

n

i

n

j

ttjttiij

n

i

n

j

ij

t

yy

yyyyw

w

nI

1

1 1

1 1

2

(1)

em que eacute o nuacutemero de regiotildees satildeo os elementos da matriz de pesos espaciais

eacute a observaccedilatildeo na regiatildeo no periacuteodo e eacute a meacutedia das observaccedilotildees entre as regiotildees no

periacuteodo Conforme Anselin (1995) a matriz conteraacute as informaccedilotildees referentes agrave

dependecircncia espacial entre as regiotildees Os elementos na diagonal principal satildeo iguais agrave

zero enquanto os elementos indicam a associaccedilatildeo espacial entre as regiotildees e

(3)

155

A referida equaccedilatildeo demonstra o valor obtido quando natildeo haacute padratildeo espacial nos

dados aleacutem disso observa-se que quando o nuacutemero de municiacutepios (n) aumenta o valor

esperado para o I-Moran se aproxima de zero Dessa forma caso o iacutendice de I-Moran

encontrado seja significativamente maior que o esperado (E[I]) tem-se indiacutecio de presenccedila

de autocorrelaccedilatildeo espacial positiva nos dados Por outro lado se significativamente menor

haacute evidecircncias a favor de autocorrelaccedilatildeo negativa

Na anaacutelise da autocorrelaccedilatildeo espacial local utiliza-se o indicador local de

autocorrelaccedilatildeo espacial LISA definido por Anselin (1995) como qualquer estatiacutestica que

satisfaccedila dois criteacuterios 1) o LISA para cada observaccedilatildeo forneceraacute uma indicaccedilatildeo de clusters

ou agrupamentos espaciais significativos de valores semelhantes em torno daquela

observaccedilatildeo bem como uma identificaccedilatildeo de instabilidades locais ou seja outliers

significativos e 2) a soma do LISA para todas as observaccedilotildees seraacute proporcional ao indicador

global de associaccedilatildeo espacial A medida LISA para cada regiatildeo e periacuteodo pode ser expressa

da seguinte forma

0

m

yywyy

I

n

j

ttjijtti

ti

1 (3)

em que assume a seguinte forma

2

n

yyn

i

tti

1 (3a)

Na Equaccedilatildeo (3) um valor positivo de indica o agrupamento de valores similares

(alto ou baixo) enquanto um valor negativo indica um agrupamento de valores desiguais

Uma vez calculado o indicador LISA poderaacute fornecer os seguintes tipos de associaccedilotildees

espaciais os clusters Alto-Alto regiatildeo que apresenta alto valor da variaacutevel em estudo

circundada por uma vizinhanccedila em que o valor meacutedio da mesma variaacutevel tambeacutem eacute alto e

Baixo-Baixo regiatildeo de baixo valor na qual a meacutedia dos seus vizinhos tambeacutem eacute baixa e os

outliers Baixo-Alto regiatildeo com baixo valor circunvizinha de uma vizinhanccedila cujo valor

meacutedio eacute alto e Alto-Baixo regiatildeo com alto valor na qual a meacutedia das regiotildees contiacuteguas eacute

156

baixa Dessa maneira a AEDE tambeacutem serviraacute de apoio para estimaccedilatildeo economeacutetrica uma

vez que poderaacute confirmar a presenccedila de dependecircncia espacial nos dados

32 Anaacutelise de dependecircncia espacial

A princiacutepio o modelo sugerido para estimaccedilatildeo eacute o Modelo Claacutessico de Regressatildeo

Linear (MCRL) que trata das hipoacuteteses ou pressupostos subjacentes ao estimador de

Miacutenimos Quadrados Ordinaacuterios (MQO) No entanto ressalva-se que se na regiatildeo analisada

existir dependecircncia espacial seja na variaacutevel dependente independente ou no termo de erro

os estimadores seratildeo tendenciosos Isso porque se a dependecircncia espacial age sobre a

variaacutevel dependente do modelo estimado percebe-se que as estimativas seratildeo viesadas e

inconsistente se estimadas por MCRL Por sua vez se a dependecircncia espacial ocorre nos

erros tem-se que as estimativas de MCRL seratildeo natildeo viesadas e consistentes poreacutem

ineficientes (ANSELIN 1988 ANSELIN BERA 1998)

Nessa perspectiva a estimaccedilatildeo do MCRL no contexto de dependecircncia espacial e

averiguando a convergecircncia da criminalidade entre dois periacuteodos Equaccedilatildeo 4 objetiva apenas

encontrar como a dependecircncia espacial toma forma no espaccedilo (na variaacutevel dependente eou

no termo de erro) Logo a accedilatildeo da dependecircncia espacial pode ser constatada por meio dos

testes do Multiplicador de Lagrange (ML) e Multiplicador de Lagrange Robusto (MLR)18

(

)

(4)

Onde (

)eacute o logaritmo natural da razatildeo entre taxa meacutedia de homiciacutedios de

dois anos distintos eacute o logaritmo natural da taxa meacutedia de homiciacutedios no

periacuteodo inicial e ui eacute o termo de erro Agrave medida que o termo de erro segue um processo

espacial autorregressivo tem-se

(5)

18

Informaccedilotildees consultar Florax Folmer e Rey (2003)

157

Onde λ se refere ao coeficiente escalar do erro espacial e o termo de erro eacute

normalmente distribuiacutedo com meacutedia zero e variacircncia constante Assim incorporando a

Equaccedilatildeo 5 na Equaccedilatildeo 4 tem-se entatildeo a forma adequada do modelo de regressatildeo de erro

espacial sendo este

(

) (6)

Observa-se que a partir da especificaccedilatildeo apresentada pela Equaccedilatildeo 6 W eacute a mesma

matriz de contiguidade utilizada para realizar AEDE Logo se λne0 a incidecircncia

determinado choque numa regiatildeo se espalha natildeo soacute para os seus vizinhos imediatos mas

afeta tambeacutem os vizinhos de ordem maior (REY MONTOURI 1999) Assim o coeficiente

espacial autorregressivo (λ) mede a forccedila da autocorrelaccedilatildeo espacial isto eacute o grau de

dependecircncia espacial no termo de erro ou de efeitos natildeo modelados que natildeo satildeo

aleatoriamente distribuiacutedos atraveacutes do espaccedilo

Outra forma de internalizar os efeitos dos transbordamentos eacute atraveacutes da modelagem

global de defasagem espacial Nesse caso mudanccedilas na variaacutevel explicativa numa regiatildeo

afetaratildeo diretamente a proacutepria regiatildeo e poderatildeo afetar as demais regiotildees por meio de efeito

indireto (LESAGE PACE 2009)

(

) (

)

(7)

Sendo o termo de erro (

)o logaritmo natural da razatildeo

entre criminalidade meacutedia de dois diferentes anos o logaritmo natural da

criminalidade meacutedia no periacuteodo inicial τ o termo de transbordamento espacial (

)

denota a defasagem espacial da criminalidade Por fim ρ eacute o coeficiente de defasagem espera-se que

seja maior do que zero sugerindo existecircncia de autocorrelaccedilatildeo espacial positiva

158

Finalmente tem-se a Equaccedilatildeo 8 representando uma junccedilatildeo das Equaccedilotildees 6 e 7 em

que os transbordamentos podem ocorrer tanto na variaacutevel dependente quanto no termo de

erro do modelo

(

) (

)

(8)

Onde W1 e W2 satildeo matrizes de contiguidade natildeo necessariamente iguais

Na oacutetica de (COHEN TITA 1999) existem duas formas de disseminaccedilatildeo da crimi

nalidade Inicialmente atraveacutes do contato direto entre os agentes surgindo agraves redes de

organizaccedilotildees criminosas (gangues quadrilhas etc) disseminando o crime por meio do efeito

contaacutegio Por fim atraveacutes da imitaccedilatildeo incentivada pelas oportunidades de retorno com

praacuteticas criminosas em regiotildees pouco exploradas Nesse uacuteltimo processo natildeo precisa haver

qualquer contato entre os criminosos dessas localidades

Almeida (2012) afirma que a partir de determinados instrumentos economeacutetricos eacute

possiacutevel modelar consistentemente os efeitos contaacutegio e imitaccedilatildeo Para tanto seria

necessaacuterio utilizar o modelo global Spacial Auto Regressive (SAR) que possiblita captar os

efeitos advindos do processo de imitaccedilatildeo Por sua vez o Spatial Mixed Regressive Auto-

Regressive Complete (SAC) possibilita identificar o efeito contaacutegio agindo sobre o processo

de transbordamento de determinado fenocircmeno

33 Dados

Os dados de homiciacutedios em termos absolutos para o Estado do Cearaacute satildeo uma

amostra do DataSUS para os anos de 2000 2008 e 2015 Os oacutebitos aqui considerados satildeo

aqueles provenientes de mortes por agressatildeo (X85-Y09) considerando o local da ocorrecircncia

No mais destaca-se que considerar o local de residecircncia da viacutetima poderaacute viesar os

resultados uma vez que determinado indiviacuteduo pode ser assassinado em um municiacutepio mesmo

residindo em outro Nesse caso o homiciacutedio seria contabilizado para um municiacutepio que natildeo

ocorreu efetivamente agrave accedilatildeo criminosa

159

Para construir a taxa de homiciacutedios por 100 mil habitantes foram utilizados os dados

populacionais do Censo elaborado no ano 2000 assim como as estimativas populacionais

construiacutedas anualmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) nos anos

de 2008 e 2015 Logo a variaacutevel dependente em questatildeo eacute

Crimeit = (MitNit) lowast 100mil (9)

onde os subscritos i e t representam respectivamente a regiatildeo e o tempo Crime eacute a taxa de

morte por 100 mil habitantes do municiacutepio M eacute o nuacutemero absoluto de mortes do municiacutepio

e N eacute a populaccedilatildeo

4 Anaacutelise de Resultados

Nesta seccedilatildeo satildeo descritos os resultados da pesquisa Inicialmente satildeo apresentadas as

estatiacutesticas descritivas e os resultados da AEDE Em seguida discutem-se os principais

resultados das estimaccedilotildees dos modelos de convergecircncia

41 Anaacutelise Descritiva

No Estado do Cearaacute foram contabilizados 39287 mortes por agressatildeo entre 2000 e

2015 Segundo estimativa populacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) 7446 dos municiacutepios Cearenses apresentava populaccedilatildeo inferior a 39 mil

habitantes em 2015 A quantidade de mortes aumentou 238 saindo de 1232 no ano 2000

para 4162 em 2015 no mesmo periacuteodo o crescimento populacional do Estado foi de apenas

20

Em relaccedilatildeo agrave taxa de mortalidade (por grupo de 100 mil habitantes) destaca-se que

houve aumento de 182 no periacuteodo saltando de 1657 (2000) para 4675 (2015) com

destaque para o ano de 2014 (523) com valor maacuteximo da seacuterie ( Figura 1) Por sua vez tem-

se que a meacutedia estadual eacute de 292 mortes (por 100 mil habitantes) no periacuteodo Neste contexto

destaca-se que a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS) sugere taxa de mortalidade abaixo

de dez (por 100 mil habitantes) para uma boa convivecircncia humana e taxas acima desse valor

podem ser consideradas epidecircmicas

160

A partir da Figura 1 constata-se que ocorreu movimento sensiacutevel de queda na taxa de

mortalidade apenas entre 2014 e 2015 (11) jaacute os demais anos apresentaram taxas sempre

crescentes Em relaccedilatildeo ao histograma nota-se maior frequecircncia de taxas de mortalidade

situadas entre 20 e 30 (por grupo de 100 mil) no periacuteodo de 2000 a 2015

Figura 1 ndash Taxa de Mortalidade no Estado do Cearaacute entre 2000 e 2015

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados da pesquisa

Na Tabela 1 satildeo apresentados dados que buscam descrever o comportamento da taxa

de homiciacutedio nos anos selecionados de 2000 2008 e 2015 Com essa informaccedilatildeo constata-

se que tanto a meacutedia quanto a dispersatildeo (desvio padratildeo) dos dados cresceram ao longo dos

anos analisados

Tabela 1 ndash Estatiacutestica Descritiva da Taxa de Homiciacutedios

Variaacutevel 200

0

2008 2015

Meacutedia 102

4

151

7

3098

Desvio padratildeo 93

5

118

1

2592

Coef de Variaccedilatildeo 09

1

078 084

Maior 424

3

485

5

12952

Menor 000 000 000

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados da pesquisa

161

Os dados da estatiacutestica descritiva mostram que entre 2000 e 2008 a meacutedia de

homiciacutedio por municiacutepio cresceu 4814 no estado saindo de 1024 para 1517 mortes por

grupo de 100 mil habitantes Por sua vez no periacuteodo que se estende entre 2008 e 2015 tal

crescimento foi de 10422 em que a mortalidade se desloca de 1517 para 3098 homiciacutedios

por 100 mil Por fim tem-se que entre 2000 e 2015 a meacutedia de mortalidade homicida

apresenta expressivo aumento de 20254 a qual passa de 1024 para 3098 casos por 100

mil habitantes Em relaccedilatildeo ao coeficiente de variaccedilatildeo ou dispersatildeo relativa dos dados tem-se

uma reduccedilatildeo de 769 no periacuteodo 2000-2015

Figura 2 ndash As 100 maiores taxas de homiciacutedios do Cearaacute nos anos de 2000 2008 e 2015

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados da pesquisa

Para destacar a diferenccedila da taxa de mortalidade dos anos analisados pegaram-se

aqueles 100 municiacutepios cearenses que apresentaram as maiores taxas de homiciacutedios nos anos

de 2000 2008 e 2015 respectivamente (Figura 1) A partir disso foi possiacutevel constatar que o

ano de 2015 eacute destaque e apresenta municiacutepios com maiores taxas de mortalidade por

homiciacutedios em seguida tem-se o ano de 2008 e 2000 respectivamente Como visto os

municiacutepios aumentam sua carga de violecircncia ao longo dos anos e aparentemente estar em

qualquer municiacutepio entre os 100 mais violentos em 2015 eacute expressivamente pior que estar

nesses mesmos municiacutepios tanto 2008 quanto 2000

Na Tabela 2 apresenta-se a estatiacutestica descritiva dos dados na forma de estratos uma

vez que tal procedimento pode melhorar a compreensatildeo da dinacircmica espacial da

162

criminalidade no espaccedilo Como visto ocorreu expressiva reduccedilatildeo na quantidade de

municiacutepios nos estratos mais baixos (menor que 10 por 100 mil) e aumento consideraacutevel

naqueles estratos mais altos sobretudo com taxa de mortalidade acima de 50 por 100 mil

habitantes

Como forma de ilustrar tem-se que municiacutepios com taxa de mortalidade menor que

dez (por 100 mil) reduziram de 101 (2000) para 36 (2015) uma contraccedilatildeo de 18056 no

periacuteodo Jaacute os que natildeo apresentaram caso de homiciacutedios em 2000 por exemplo eram

2653 (49 municiacutepios) 1467 (27 municiacutepios) em 2008 e 1089 (20 municiacutepios) em

2015 Tais fatos sinalizam determinada tendecircncia de aumento na taxa de mortalidade

sobretudo nos municiacutepios que se encontravam dentro dos limites aceitaacuteveis(taxa menor

que dez por grupo de 100 mil habitantes)

Tabela 2 ndash Estatiacutestica descritiva da taxa de homiciacutedio estratificada

2000 2008 2015

Taxa de

Homiciacutedios

Meacutedia DP Cont Meacutedia DP Cont Meacutedia DP Cont

0 le Tx lt 10 344 367 101 407 359 70 303 368 36 10 le Tx lt 20 482 276 59 1441 284 58 1451 286 31 20 le Tx lt 30 375 228 17 2455 303 35 2463 281 44 30 le Tx lt 40 320 278 4 3488 259 13 3510 266 27 40 le Tx lt 50 179 0 67 3 446 268 8 4509 362 10 50 le Tx lt 60 minus minus minus minus minus minus 5525 332 14 60 le Tx lt 70 minus minus minus minus minus minus 6598 187 5 70 le Tx lt 80 minus minus minus minus minus minus 7488 238 6 80 le Tx lt 90 minus minus minus minus minus minus 8800 0 1 90 le Tx lt 100 minus minus minus minus minus minus 9353 196 6

Taxa gt 100 minus minus minus minus minus minus 11403 1083 4

Total 1023 935 184 1517 1181 184 3098 2592 184

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados da pesquisa

DP eacute o Desvio Padratildeo Cont eacute a Contagem

Com o exposto na Figura 3 podem-se identificar evidecircncias de distribuiccedilatildeo espacial

natildeo aleatoacuteria na taxa de homiciacutedios cearenses nos anos de 2000 2008 e 2015 respectivamente

A fim de ilustrar melhor essa distribuiccedilatildeo classifica-se a taxa de mortalidade por 100 mil

habitantes em cinco grupos

163

Figura 3 ndash Distribuiccedilatildeo Espacial da Taxa de Homiciacutedio nos anos de 2000 2008 e 2015

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados da pesquisa

Conforme enunciado anteriormente natildeo haacute uma distribuiccedilatildeo homogecircnea da referida

taxa de homiciacutedio entre os municiacutepios do estado Sendo assim o mapa jaacute fornece indiacutecios de

que municiacutepios com baixasaltas taxas de mortalidade homicida encontram-se de forma

geral proacuteximo de municiacutepios com valores similares dessa mesma variaacutevel

42 Dependecircncia Espacial Global e Local

A Figura 4 reporta os resultados da AEDE realizada na taxa de homiciacutedios dos

municiacutepios cearenses nos anos 2000 2008 e 2015 respectivamente Para tanto utiliza-se o

indicador de autocorrelaccedilatildeo espacial global e local univariado Inicialmente verifica-se

globalmente por meio do indicador de Moran e posteriormente usa-se o indicador LISA

para analisar localmente Como visto tais indicadores sugerem que haacute indicios de

autocorrelaccedilatildeo espacial agindo sobre a taxa de mortalidade homicida dos municiacutepios

cearenses em todos os anos analisados

Com intuito de atingir resultados estatiacutesticos mais robustos considerou-se uma matriz

de contiguidade espacial do tipo Queen de primeira ordem normalizada na linha Em tempo

destaca-se que a utilizaccedilatildeo de tal matriz encontra alicerce no fato da mesma ter sido capaz de

capturar a maior dependecircncia espacial comparativamente as demais matrizes testadas (Queen

de primeira segunda terceira quarta e ordens superiores K-vizinhos para dois quatro seis

oito dez e outros)

164

A interpretaccedilatildeo do I de Moran Global eacute bastante simples uma vez que tal indicador eacute

um graacutefico composto por quatro diferentes quadrantes representando relaccedilotildees entre os dados

no espaccedilo Q1 (Alto-Alto AA) Q2 (Alto-Baixo AB) Q3 (Baixo-Baixo BB) e Q4 (Baixo-

Alto BA) Estatisticamente rejeita-se a 1 de pseudo-significacircncia a hipoacutetese nula de

aleatoriedade espacial em todos os anos analisados para tanto considerou-se um teste de

hipoacutetese a 1 de pseudo-significacircncia e 999 permutaccedilotildees aleatoacuterias Com essa rigorosidade

estatiacutestica encontraram-se resultados que sugerem dados de homiciacutedios espacialmente natildeo

aleatoacuterios no espaccedilo

Anselin (1995) aponta que o indicador de associaccedilatildeo espacial global pode ocultar ou

mesmo ser insatisfatoacuterio na identificaccedilatildeo de padrotildees espaciais locais Sendo assim tem-se

que tanto os clusters quanto os outliers espaciais podem ser camuflados frente aos

indicadores globais de autocorrelaccedilatildeo espacial Neste contexto Anselin (1995) aponta o

indicador de associaccedilatildeo espacial LISA como eficiente para capturar localmente possiacuteveis

padrotildees de autocorrelaccedilatildeo espacial identificando agrupamentos de objetos com valores de

atributos semelhantes entre si Logo nota-se que o resultado apresentado pelo mapa LISA

(Figura 4) corrobora os indiacutecios encontrados pelo indicador de autocorrelaccedilatildeo espacial

global Os mapas temaacuteticos obtidos a partir do LISA satildeo compostos por cinco cores distintas

cada qual representando um tipo de associaccedilatildeo espacial Vermelha (Alto-Alto) Azul (Baixo-

Baixo) Cinza (Baixo-Alto) Rosa (Alto-Baixo) e Branca (Natildeo Significativo)

Como visto tem-se que a autocorrelaccedilatildeo espacial da taxa de homiciacutedio dos

municiacutepios cearenses foi confirmada global e localmente Assim tecircm-se indiacutecios suficientes

para se acreditar em distribuiccedilatildeo natildeo aleatoacuteria da mortalidade homicida no Cearaacute

Continuando a avaliaccedilatildeo do LISA para os anos selecionados de 2000 2008 e 2015

nota-se que a maior parte dos municiacutepios natildeo se mostraram estatisticamente signifi cantes

(7609 8043 e 7011) aos niacuteveis da pesquisa No entanto observa-se que 2391

1956 e 2989 dos municiacutepios do estado apresentaram alguma correlaccedilatildeo espacial entre

si nos anos de 2000 2008 e 2015 respectivamente Entre os significantes a maior parte eacute

similar (AA e BB) 7727 6944 e 8183 por sua vez os dissimilares (AB e BA)

representaram 2273 3056 e 1818 nos anos de 2000 2008 e 2015 respectivamente

165

Figura 4 ndash Indicador de Moran Global e LISA para os anos de 2000 2008 e 2015

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados da pesquisa

Em relaccedilatildeo aos Alto-Alto (AA) representavam 3864 50 e 4364 enquanto a

relaccedilatildeo Baixo-Baixo (BB) representava 3864 1944 3819 dos significantes nos anos

de 2000 2008 e 2015 nessa ordem Jaacute os dissimilares do tipo Baixo-Alto (BA) nos mesmos

anos representavam 1591 556 e 909 nos mesmos anos Sequencialmente notam-se

os Alto-Baixo (AB) com 682 25 e 909 dos casos nos anos de 2000 2008 e 2015

respectivamente

Diante do exposto percebe-se que entre 2000 e 2015 ocorre determinado movimento

em que os casos significantes aumentam ao longo dos anos frente aos natildeo significantes

Aleacutem disso entre os significantes se nota determinada predominacircncia da relaccedilatildeo mais

similar entre si (AA e BB) No todo percebe-se indiacutecios que a taxa de homiciacutedios dos

municiacutepios cearenses nos anos avaliados se distribuem de forma natildeo aleatoacuteria no espaccedilo

formando diversos clusters significantes ao longo do territoacuterio

166

43 Resultados das Estimaccedilotildees dos Modelos Economeacutetricos

Na Tabela 3 encontra-se a estimaccedilatildeo do Modelo Claacutessico de Regressatildeo Linear

(MCRL) O resultado positivo e significativo encontrado na estatiacutestica de Moran aplicado

nos resiacuteduos para os periacuteodos selecionados de 2000-2008 (I = 1562) 2008-2015 (I=1456) e

2000-2015 (I=2811) sugerem distribuiccedilatildeo natildeo aleatoacuteria da taxa de homiciacutedios ao longo do

territoacuterio cearense e tal fato torna invalida as estimativas do MCRL

Nesse caso a estimaccedilatildeo do MCRL serve apenas para direcionar o processo de

estimaccedilatildeo dos modelos espaciais Sendo assim torna-se adequado a utilizaccedilatildeo de modelos

economeacutetricos que levem em consideraccedilatildeo essa ocorrecircncia de transbordamentos espaciais na

variaacutevel de interesse

Tabela 3 ndash Estimaccedilatildeo economeacutetrica do MCRL

2000-2008 2008-2015 2000-2015

0038 0083 0025

α

(0001) (0000) (0000)

0009 -0004 -0010

β

(0064) (0060) (0001)

Diagnoacutestico da Regressatildeo

AIC -370517 -270250 -557322

SC -364087 -263820 -550892

LIK 187259 137125 280661

Teste Jarque-

Bera 13474

1041 27754

(0001) (0594) (0000)

Teste Breusch-

Pagan

0281

1717 0089

(0596) (0190) (0765)

167

Multicolinearida

de

3302 4296 3302

Diagnoacutestico de Dependecircncia Espacial

I de Moran 1562

1456

(0014)

2811

(0005)

MLρ -

defasagem

1365

1410 8469

(0243) (0235) (0004)

MLRρ -

defasagem

3295

12349 3141

(0069) (0000) (0076)

MLλ - erro 1930

1673 6831

(0165) (0196) (0008)

MLRλ - erro 3861

12612 1502

(0049) (0000) (0220)

ML(SARMA) 5226

14022 9971

(0073) (0000) (0007)

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados da pesquisa utilizando o Software Geoda versatildeo

1814

Nota Resultados entre parecircnteses indicam valor das probabilidades

Continuando com o diagnoacutestico da regressatildeo do MCRL tem-se que o valor

significativo do teste de Jarque-Bera sugere natildeo normalidade dos resiacuteduos nos periacuteodos

2000-2008 e 2000-2015 Contrariamente no lapso temporal 2008-2015 os resiacuteduos se

mostram normalmente distribuiacutedos Po sua vez o teste de Breusch-Pagan aponta que todos

os periacuteodos apresentam erros homocedaacutesticos Finalmente tem-se que os valores

apresentados pelo teste de multicolinearidade sugerem valores dentro dos paracircmetros

estatisticamente aceitaacuteveis em todos os periacuteodos selecionados (valor menor que 30)

Eacute amplamente divulgado o processo de seleccedilatildeo de modelos economeacutetricos por meio

dos menores criteacuterios de informaccedilatildeo de Akaike (AIC) e Schwartz (SC) assim como o maior

168

valor da funccedilatildeo de verossimilhanccedila (LIK) do modelo Em econometria espacial existe a

possibilidade de utilizaccedilatildeo de outros procedimentos para seleccedilatildeo de modelos tatildeo eficientes

quanto o anterior Tal estrateacutegia consiste na utilizaccedilatildeo dos testes dos Multiplicadores de

Lagrange (ML) e Multiplicador Lagrange robusto (MLR) para identificar como a

dependecircncia espacial toma forma (ALMEIDA 2012) Sendo que a especificaccedilatildeo correta

seraacute aquela que apresentar maior significacircncia estatiacutestica nos dois testes (ML e MLR)

respectivamente

Considerando o exposto nota-se que os periacuteodos de 2000-2008 e 2008-2015 podem

ser espacialmente modelados a partir da utilizaccedilatildeo do Spatial Autorregressive and Moving

Average (SARMA) pois tal especificaccedilatildeo demonstrou resultados significantes tanto para os

testes ML quanto MLR Jaacute entre os anos de 2000 e 2015 o modelo de maior robustez para

tratar a dependecircncia espacial eacute o Spacial Auto Regressive (SAR) Nesse mesmo periacuteodo

tem-se a modelagem SARMA como opccedilatildeo aos demais modelos No entanto este seria

estimado apenas nos casos em que o modelo SAR ou SEM natildeo fossem capazes de capturar

toda fonte de dependecircncia espacial

Na Tabela 4 apresenta-se o resultado da estimaccedilatildeo do modelo β-convergecircncia

considerando efeito de transbordamento espacial para os periacuteodos 2000-2008 2008-2015 e

2000-2015 respectivamente

Em econometria espacial o melhor modelo seraacute aquele que natildeo apresentar evidecircncias

de autocorrelaccedilatildeo espacial em seus resiacuteduos Como visto os testes realizados poacutes-estimaccedilatildeo

apontam que os modelos utilizados foram capazes de modelar consistentemente toda fonte

de dependecircncia espacial existente Portanto os testes de Moran realizados nos resiacuteduos do

modelo SARMA e o teste de Anselin-Kelejian aplicado aos resiacuteduos do modelo SAR foram

natildeo significativos dando credibilidade a seus estimadores

Ao analisar o paracircmetro β estimado pelos diferentes modelos espaciais constata-se

que todos os modelos apresentam sinal condizente com a incidecircncia de convergecircncia Logo

nos periacuteodos 2000-2008 2008-2015 e 2000-2015 verifica-se um processo de convergecircncia β

estatisticamente significante na taxa de homiciacutedios dos municiacutepios cearenses Portanto tais

periacuteodos merecem ser mais bem avaliados do ponto de vista da velocidade de convergecircncia e

de suas respectivas meias-vidas

169

Tabela 4 ndash Estimaccedilatildeo economeacutetrica dos modelos espaciais

2000-2008 2008-2015 2000-2015

SARMA-

GMM

SARMA-

MV

SAR-GMM

α

00892 -0117 0015

(0000) (0261) (0056)

β

-0013 -0006 -0009

(0049) (0015) (0005)

ρ 0492 00961 0272

(0038) (0000) (0007)

λ 0120 0832 -

(0037) (0001) -

Velocidade

Convergecircncia

0109 0006 0010

Meia Vida

529 1152 767

Teste de Dependecircncia Espacial no Resiacuteduo do Modelo Estimado

I de Moran

0680 0636 -

(0348) (0134) -

Teste de Anselin-

Kelejian

- - 7197

- - (0457)

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados da pesquisa utilizando o Software Geoda versatildeo

1814 e o GeodaSpace Nota Resultados entre parecircnteses indicam valor das probabilidades

No presente estudo avalia-se apenas a ocorrecircncia de convergecircncia absoluta da taxa

de homiciacutedios cearense Neste contexto tecircm-se valores estimados de β = -0013 β = -0006 e

170

β = -0009 para os periacuteodos de 2000-2008 2008-2015 e 2000-2015 respectivamente Assim

estimam-se as respectivas velocidades de convergecircncia de 109 06 e 1 ao ano nessa

ordem

Como visto no periacuteodo ateacute implantaccedilatildeo do programa Ronda do Quarteiratildeo (2000-

2008) a velocidade de convergecircncia mostrava-se maior comparativamente ao periacuteodo poacutes-

implantaccedilatildeo Em termos econocircmicos significa que demoraria-se 529 anos para que a taxa

de homiciacutedios de determinado municiacutepio percorresse a metade da diferenccedila que a separava

de seu valor de estado estacionaacuterio No periacuteodo entre 2008 e 2015 tal valor passou a ser de

1152 anos Esses resultados sugerem que o Ronda do Quarteiratildeo reduziu a velocidade de

crescimento da taxa de homiciacutedios Sendo assim na ausecircncia do referido programa as taxas

de homiciacutedios dos municiacutepios cearenses estariam ainda maiores

Considerando-se todo o exposto ateacute o presente nota-se que entre 2000 e 2015 ocorreu

aumento (20254) na meacutedia da taxa de homiciacutedios acompanhada por uma reduccedilatildeo em sua

dispersatildeo intra-regional (769) calculada pelo coeficiente de variaccedilatildeo Isso associado aos

valores do teste β-convergecircncia sustentam a hipoacutetese de convergecircncia nas taxas de

homiciacutedios dos municiacutepios do Cearaacute Salienta-se que resultado similar jaacute havia sido

encontrado por Santos e Filho (2011) testando a hipoacutetese de convergecircncia na taxa de

criminalidade das microrregiotildees brasileiras

Santos e Filho (2011) apontam que a convergecircncia nas taxas de crimes intra-

regionais significa que a criminalidade tende a crescer mais rapidamente nas localidades

menos violentas comparativamente agraves demais sendo que a diferenccedila nas taxas de crimes

deve ser gradativamente eliminada ao longo do tempo

Similarmente ao exposto por Santos e Filho (2011) os dados da presente pesquisa

sugerem que a convergecircncia ocorre paralelamente com aumento na taxa de homiciacutedios

afetando o bem estar dos agentes Contrariamente se essa equidade fosse acompanhada de

uma reduccedilatildeo nessa taxa de homiciacutedio certamente haveria uma elevaccedilatildeo do bem-estar social

(SANTOS FILHO 2011)

Para Santos e Filho (2011) na ausecircncia de mudanccedilas exoacutegenas e elaboraccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas que mudem as decisotildees entre crime e natildeo crime dos agentes entatildeo natildeo

haveraacute regiotildees mais violentas ou menos violentas ao longo dos anos jaacute que todas seriam

afetadas aproximadamente com a mesma intensidade pela criminalidade

171

Neste contexto destaca-se que o Programa Ronda do Quarteiratildeo parece reduzir a

velocidade de convergecircncia da taxa de criminalidade do Cearaacute Observa-se no periacuteodo

aumento da meacutedia de mortalidade convergecircncia e reduccedilatildeo da variabilidade No entanto para

melhor avaliar tal problemaacutetica seria bastante valiosa a elaboraccedilatildeo de pesquisa que

incorporasse as caracteriacutesticas dos municiacutepios analisados em uma proposta de convergecircncia

relativa

5 Consideraccedilotildees Finais

O artigo analisa a incidecircncia de convergecircncia na taxa de criminalidade nos municiacutepios

cearenses nos periacuteodos de 2000-2008 2008-2015 e 2000-2015 Em tal empreitada utilizou-

se o modelo de convergecircncia β considerando os efeitos dos transbordamentos espaciais uma

vez que tanto o indicador de autocorrelaccedilatildeo espacial Global quanto o Local se mostraram

estatisticamente significantes Nesse caso natildeo se rejeita a hipoacutetese de convergecircncia nas taxas

de criminalidade desses municiacutepios Tal resultado corrobora os achados de Scalco et al

(2007) para municiacutepios mineiros e Santos e Filho (2011) para as microrregiotildees brasileiras

No Cearaacute a convergecircncia ocorre paralelamente com o aumento na taxa de

homiciacutedios conforme Santos e Filho (2011) encontra para microrregiotildees brasileiras Nesse

caso as poliacuteticas puacuteblicas devem ser implantadas incorporando esses resultados

Para pesquisas futuras sugere-se estimar modelos que incorporem caracteriacutesticas

locais dos municiacutepios renda desemprego populaccedilatildeo jovem densidade populacional niacutevel

de desenvolvimento entre outros Com isso poderiam-se determinar quais os principais

fatores relacionados agrave problemaacutetica da criminalidade nesse estado Por fim salienta-se a

importacircncia da avaliaccedilatildeo formal do programa Ronda do Quarteiratildeo para melhor destacar

seus resultados sobre a taxa de mortalidade do Estado do Cearaacute

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174

ANAacuteLISE DAS PAUTAS DE EXPORTACcedilAtildeO E IMPORTACcedilAtildeO DA PARAIacuteBA POR

MEIO DA COMPETITIVIDADE CONCENTRACcedilAtildeO E DOS FLUXOS BILATERAIS

NO PERIacuteODO ENTRE 2000 E 2017

KASSIA LARISSA ABRANTES ALVES

Graduanda em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)

e voluntaacuteria no Programa Institucional Voluntaacuterio de Iniciaccedilatildeo Cientifica (PIVIC) E-mail

klarissaabrantesagmailcom

SORAIA SANTOS DA SILVA

Professora Drordf e Pesquisadora do Curso de Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Federal

de Campina Grande (UFCG) E-mail soraiasantosdouradosgmailcom

MARIA ISADORA GOMES DE PINHO

Graduanda em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA) E-mail

isadoragomes100gmailcom Contato (088) 99949-9919

175

ANAacuteLISE DAS PAUTAS DE EXPORTACcedilAtildeO E IMPORTACcedilAtildeO DA PARAIacuteBA POR

MEIO DA COMPETITIVIDADE CONCENTRACcedilAtildeO E DOS FLUXOS BILATERAIS

NO PERIacuteODO ENTRE 2000 E 2017

RESUMO A pesquisa tem como objetivo principal analisar o padratildeo de comeacutercio por meio

da competitividade das exportaccedilotildees e da concentraccedilatildeo da pauta de exportaccedilatildeo e importaccedilatildeo do

estado da Paraiacuteba no periacuteodo de 2000 a 2017 bem como investigar a intensidade de suas

relaccedilotildees com seus parceiros comerciais A metodologia consistiu no caacutelculo do Iacutendice de

Vantagem Comparativa (VCR) nas versotildees propostas por Balassa (1965 1979) e Laursen

(1998) da Taxa de Cobertura (TC) do Iacutendice de Herfindall-Hirschmann (IHH) e do Iacutendice de

Intensidade de Comeacutercio (IIC) com dados do comeacutercio exterior disponibilizados pelo MDIC

Os resultados obtidos para o caacutelculo do VCR mostraram que a Paraiacuteba apresentou ganhos de

vantagem comparativa nos produtos calccedilados sucos granito peixes e aacutelcool que tambeacutem

foram classificados como pontos fortes da economia paraibana O grau de concentraccedilatildeo das

pautas de exportaccedilatildeo apontou que a pauta de exportaccedilatildeo eacute concentrada em poucos produtos

Em contrapartida a pauta de importaccedilatildeo eacute bastante variada Em termos de destino das

exportaccedilotildees observou-se que a relaccedilatildeo comercial entre a Paraiacuteba e a Franccedila vem aumentando

no periacuteodo analisado Jaacute as importaccedilotildees da Paraiacuteba mostraram um crescimento na

participaccedilatildeo das relaccedilotildees entre Paraiacuteba e Argentina O estado apresentou intensidade de

comeacutercio com os Estados Unidos a Franccedila a Espanha o Paraguai e Portugal nas exportaccedilotildees

e com os Estados Unidos Alemanha Itaacutelia Franccedila Espanha Argentina China e Uruguai nas

importaccedilotildees Verificou-se tambeacutem que as exportaccedilotildees paraibanas estatildeo concentradas em

poucas cidades e poucas empresas

Palavras-chave Paraiacuteba Padratildeo de Comeacutercio Competitividade Concentraccedilatildeo

ANALYSIS OF PARAIBAL EXPORT AND IMPORTATION GUIDELINES BY

COMPETITIVENESS CONCENTRATION AND BILATERAL FLOWS IN THE

PERIOD BETWEEN 2000 AND 2017

ABSTRACT The main objective of the research is to analyze the pattern of trade through the

competitiveness of exports and the concentration of the export and import tariff of the State of

Paraiacuteba from 2000 to 2017 as well as to investigate some characteristics of its bilateral trade

relations The methodology consisted in calculating the Comparative Advantage Index in the

versions proposed by Balassa (1965 1979) and Laursen (1998) the Coverage Rate the

Herfindall-Hirschmann Index of bilateral flows and the Trade Intensity Index with foreign

trade data made available by the MDIC The results obtained for the Comparative Advantage

Index calculation showed that Paraiacuteba presented gains of comparative advantage in shoes

juice granite fish and alcohol products which were also classified as strengths of the Paraiacuteba

economy The degree of concentration of the export and import tariffs indicated that the

export tariff is concentrated On the other hand the import tariff is quite varied In terms of

destination of exports it was observed that the commercial relationship between Paraiacuteba and

France has been increasing in the analyzed period Already the imports from Paraiacuteba showed

an increase in the participation of the relations between Paraiacuteba and Argentina The state

showed intense trade with the United States France Spain Paraguay and Portugal in exports

and with the United States Germany Italy France Spain Argentina China and Uruguay on

imports It was also verified that the exports of Paraiacuteba are concentrated in few cities and in

few companies

Key words Paraiacuteba Standard of Commerce Competitiveness Concentration

176

1 INTRODUCcedilAtildeO

A anaacutelise da competitividade das exportaccedilotildees de um estado permite identificar pontos

fortes na economia ou mercados potenciais para investimentos na produccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de

estrateacutegias de intensificaccedilatildeo no comeacutercio internacional Aleacutem disso a literatura empiacuterica

chama a atenccedilatildeo tambeacutem aos aspectos relacionados agrave concentraccedilatildeo nas pautas de exportaccedilatildeo e

importaccedilatildeo Uma pauta comercial diversificada tanto em termos de tipos de produtos e de

mercados de destino das exportaccedilotildees ou origem das importaccedilotildees possibilita manter uma

estabilidade na receita e despesas com divisas e uma menor vulnerabilidade agraves variaccedilotildees de

mercados especiacuteficos

O estado da Paraiacuteba exporta e importa produtos manufaturados As exportaccedilotildees estatildeo

concentradas em bens de consumo natildeo duraacuteveis enquanto que as importaccedilotildees se concentram

em bens intermediaacuterios e bens de capital Um grande desafio para o estado eacute intensificar e

manter suas relaccedilotildees comerciais com o resto do mundo pois o mercado internacional estaacute

cada vez mais competitivo A Paraiacuteba sofre com a concorrecircncia na exportaccedilatildeo de bens que

tambeacutem fazem parte da pauta de exportaccedilatildeo de outros estados da regiatildeo e do Brasil como eacute o

caso do estado do Cearaacute que tambeacutem eacute um potencial exportador da mercadoria calccedilados

A presente pesquisa tem por objetivo principal analisar o padratildeo de comeacutercio por meio

da competitividade das exportaccedilotildees e da concentraccedilatildeo da pauta de exportaccedilatildeo e importaccedilatildeo do

estado da Paraiacuteba no periacuteodo de 2000 a 2017 bem como investigar algumas caracteriacutesticas

das relaccedilotildees comerciais bilaterais do estado Para isso foram calculados os Iacutendices de

Vantagem Comparativa (VCR) nas versotildees propostas por Balassa (1965 1979) e Laursen

(1998) a Taxa de Cobertura (TC) o Iacutendice de Herfindall-Hirschmann (IHH) aleacutem da anaacutelise

de fluxos bilaterais e do Iacutendice de Intensidade de Comeacutercio (IIC) com dados do comeacutercio

exterior disponibilizados pelo MDIC

A anaacutelise do comportamento das relaccedilotildees comerciais da Paraiacuteba fornece um conjunto

de informaccedilotildees que compreende a dinacircmica e o funcionamento das relaccedilotildees de comeacutercio

exterior no estado e com isso viabiliza a formulaccedilatildeo de poliacuteticas macroeconocircmicas e

regionais que promovam o desenvolvimento econocircmico local e contribuam tambeacutem para a

Regiatildeo Nordeste Aleacutem do desenvolvimento econocircmico a inserccedilatildeo de um estado no comeacutercio

internacional se reverte em benefiacutecios sociais como o aumento da renda e a implantaccedilatildeo de

empregos assegurando a sociedade melhorias no bem-estar

O trabalho esta dividido aleacutem dessa introduccedilatildeo em mais quatro seccedilotildees Na segunda

seccedilatildeo faz-se uma anaacutelise da balanccedila comercial da Paraiacuteba por meio dos principais produtos

177

exportados e importados Na terceira seccedilatildeo descreve-se a metodologia utilizada pelo artigo

Na quarta seccedilatildeo analisa-se os resultados da pesquisa com base na identificaccedilatildeo dos produtos

que compotildeem os pontos fortes na economia do estado e a intensidade de comeacutercio da Paraiacuteba

com seus principais parceiros comerciais Por fim tem-se as conclusotildees e as referecircncias

2 PRINCIPAIS PRODUTOS EXPORTADOS E IMPORTADOS PELA PARAIacuteBA

A economia paraibana eacute caracterizada pela baixa inserccedilatildeo no comeacutercio internacional

apresentando um coeficiente de abertura comercial em 5 entre 2000 e 2014 As exportaccedilotildees

paraibanas satildeo pouco representativas nas relaccedilotildees comerciais do Brasil e do Nordeste com o

resto do mundo Em termos de participaccedilatildeo as exportaccedilotildees do estado foram de 013 das

exportaccedilotildees do Brasil e de 166 das exportaccedilotildees da Regiatildeo Nordeste entre 2000 e 2017

Aleacutem disso o estado apresenta tambeacutem uma participaccedilatildeo no Produto Interno Bruto (PIB)

relativamente baixa que foi equivalente 084 entre 2000 e 2012 (FONSECA SANTOS E

MACHADO NETO 2015)

Entre 2000 e 2017 as exportaccedilotildees do estado da Paraiacuteba cresceram em 8131 Jaacute as

exportaccedilotildees do Nordeste apresentaram um crescimento maior do que o registrado pelo paiacutes

equivalente a 31631 enquanto que as exportaccedilotildees nacionais cresceram em 29504 No

que tange ao comportamento das importaccedilotildees a Paraiacuteba mostrou um crescimento de

17037 Enquanto que as importaccedilotildees do Nordeste cresceram em 30658 e as importaccedilotildees

do Brasil cresceram em 16962 Isso evidencia que a Paraiacuteba segue uma trajetoacuteria diferente

da nacional cujas importaccedilotildees foram superiores as exportaccedilotildees o que resultou num deacuteficit

consecutivo da balanccedila comercial paraibana desde 2007

Fonseca Santos e Machado Neto (2015) apontam que a produccedilatildeo do estado apresenta

disponibilidade de recursos naturais e de matildeo de obra embora relativamente menos

qualificada Os autores destacam ainda que na deacutecada de 90 o principal produto da pauta de

exportaccedilatildeo era os artefatos tecircxteis que representavam mais de 70 do volume exportado

mas a partir dos anos 2000 houve uma maior variedade da pauta com a presenccedila de novos

produtos Os produtos baacutesicos e manufaturados apresentaram elevada participaccedilatildeo na pauta de

exportaccedilatildeo do estado E a pauta de importaccedilatildeo teve uma participaccedilatildeo maior de bens de capital

e de insumos industriais o que evidencia a demanda da atividade produtiva do estado A

Tabela 1 mostra a participaccedilatildeo dos principais produtos exportados pela Paraiacuteba para os anos

de 2000 e 2017

178

PARTICIPACcedilAtildeO DOS PRINCIPAIS PRODUTOS EXPORTADOS

Produto

2000 2017 2000-2017

Exportaccedilatildeo

US$

Part

()

Exportaccedilatildeo

US$

Part

()

Taxa de

Crescimento

Calccedilados 17004646 2191 74781308 5314 14254

Accediluacutecares 3731781 481 23248363 1652 24345

Mineacuterios 30 000 8223168 584 000

Sucos 1060599 137 9946197 707 41606

Frutas 225143 029 4086592 290 90000

Granito 993246 128 6181852 439 24297

Artefatos tecircxteis 14345307 1848 499088 035 -9811

Cordeacuteis de sisal 8915870 1149 2808424 200 -8259

Peixes 14481408 681 1266588 000 -10000

Aacutelcool 6773335 873 144896 000 -10000

De acordo com a Tabela 1 os calccedilados corresponderam a 2191 das exportaccedilotildees

totais do estado seguido por artefatos tecircxteis que representaram 1848 em 2000 Em 2017

as exportaccedilotildees de calccedilados apresentaram um aumento de 14254 quando se compara com

2000 Poreacutem no iniacutecio do periacuteodo as exportaccedilotildees dessa mercadoria eram voltadas a produccedilatildeo

de calccedilados em couro natural mas a partir de 2007 a produccedilatildeo de calccedilados de borracha se

tornou expressiva dentro do estado Esse crescimento pode ter sido motivado por

investimentos em inovaccedilatildeo e tecnologia que proporcionaram adequaccedilatildeo do produto agraves

exigecircncias do mercado internacional como destaca Barbosa e Temoche (2006)

Jaacute os artefatos tecircxteis decresceram 9811 ao compararmos 2017 com 2000 Os

demais produtos com uma participaccedilatildeo ainda relativamente expressiva em 2000 foram

cordeacuteis de sisal (1149) aacutelcool (873) e peixes (681) Em 2017 foi possiacutevel observar

modificaccedilotildees na pauta de exportaccedilatildeo com a inserccedilatildeo de mineacuterios (584) e o aumento da

participaccedilatildeo de accedilucares (1652) sucos (707) e granito (439)

Os principais produtos da pauta de importaccedilatildeo da Paraiacuteba para o periacuteodo estatildeo

expressos na Tabela 2 Nos anos 2000 a pauta de importaccedilatildeo do estado estava concentrada no

produto algodatildeo que apresentou uma expressiva participaccedilatildeo de 3386 seguido do produto

cereais cuja participaccedilatildeo foi de 848 no ano

Tabela 1 Principais produtos exportados entre 2000 e 2017

Fonte MDIC (2018) Elaboraccedilatildeo proacutepria

179

PARTICIPACcedilAtildeO DOS PRINCIPAIS PRODUTOS IMPORTADOS

Produto

2000 2017 2000-2017

Exportaccedilatildeo

US$

Part

()

Exportaccedilatildeo

US$

Part

()

Taxa de

Crescimento

Cereais 12741202 848 59713147 1470 7335

Malte 7084880 472 41308158 1017 11547

Calccedilados 462400 031 28346456 698 215161

Borrachas 1484521 099 47222007 1162 107374

Combustiacuteveis minerais 3599844 240 45844964 1129 37042

Algodatildeo 50879616 3386 9991890 246 -9273

Reatores nucleares 34341818 023 35183487 866 366522

Carnes - 000 5292515 130 000

Filamentos sinteacuteticos 3677724 245 9881330 243 -082

Alumiacutenio 153840 010 5081806 125 115000

Em 2017 as importaccedilotildees de algodatildeo decresceram 9273 registrando no ano uma

pequena participaccedilatildeo de 246 no total do montante importado pelo estado Jaacute os cereais

apresentaram um crescimento de 7335 quando se compara 2017 com 2000 e se tornaram o

principal produto importado da pauta Em 2017 a classificaccedilatildeo da pauta de importaccedilatildeo foi a

seguinte Cereais (1470) Borrachas (1162) Combustiacuteveis minerais (1129) Malte

(1017) Reatores nucleares (866) Calccedilados (698) Algodatildeo (246) Filamentos

sinteacuteticos (243) Carnes (243) e Alumiacutenio (125)

Relativo ao destino as exportaccedilotildees paraibanas satildeo destinadas para o mundo inteiro os

calccedilados ganharam os mercados da Argentina e dos Estados Unidos que junto com a China

satildeo os principais parceiros comerciais do estado Os artefatos tecircxteis satildeo comercializados com

os Estados Unidos e o Uruguai as frutas (especificamente o mamatildeo) satildeo destinadas a

Portugal Espanha e Alemanha e o granito eacute exportado para a China

3 METODOLOGIA

A metodologia utilizou as informaccedilotildees sobre a balanccedila comercial da Paraiacuteba no

periacuteodo de 2000 a 2017 A fonte de dados foi a Secretaria de Comeacutercio Exterior (SECEX) do

Ministeacuterio da Induacutestria e Comeacutercio Exterior (MIDIC) A desagregaccedilatildeo dos fluxos comerciais

para os produtos especiacuteficos foi feita seguindo a Nomenclatura Comum do MERCOSUL

(NCM) com dois diacutegitos Foram selecionados os dez principais produtos exportados

conforme sua participaccedilatildeo na pauta de exportaccedilatildeo para a investigaccedilatildeo da competitividade19

19

Ver Quadro 1

Tabela 2 Principais produtos importados entre 2000 e 2017

Fonte MDIC (2018) Elaboraccedilatildeo proacutepria

180

Para o estudo da concentraccedilatildeo das pautas foram selecionados trinta e nove (39) produtos da

pauta de exportaccedilatildeo e trinta e dois (32) produtos da pauta de importaccedilatildeo do ano de 2017

Quadro 1 Desagregaccedilatildeo dos fluxos comerciais ndash (NCM) Principais produtos

exportados pela Paraiacuteba entre 2000-2017 CAPIacuteTULO NOMECLATURA

64 Calccedilados polainas e artefatos semelhantes suas partes Calccedilados

17 Accediluacutecares e produtos de confeitaria Accediluacutecares

26 Mineacuterios escoacuterias e cinzas Mineacuterios

20 Preparaccedilotildees de produtos hortiacutecolas de frutas ou de outras partes de

plantas

Sucos

08 Frutas cascas de frutos ciacutetricos e de melotildees Frutas

25 Sal enxofre terras e pedras gesso cal e cimento Granito

63 Outros artefatos tecircxteis confeccionados sortidos artefatos de

mateacuterias tecircxteis calccedilados chapeacuteus e artefatos de uso semelhante

usados trapos

Artefatos tecircxteis

56 Pastas (ouates) feltros e falsos tecidos fios especiais cordeacuteis cordas e

cabos artigos de cordoaria

Cordeacuteis de sisal

03 Peixes e crustaacuteceos moluscos e outros invertebrados aquaacuteticos Peixes

22 Bebidas liacutequidos alcooacutelicos e vinagres Aacutelcool

Fonte MDIC (2018)

Segundo Maia e Barca (2013) os iacutendices de vantagem comparativa revelada

descrevem os padrotildees de comeacutercio que estatildeo tendo lugar na economia mas eles natildeo permitem

dizer se esses padrotildees satildeo oacutetimos ou natildeo O iacutendice de Vantagem Comparativa Revelada

(VCR) apresentado por Balassa (1979) eacute descrito pela Equaccedilatildeo 1

100ii

ii

MX

MXVCR

(1)

onde iX eacute o valor das exportaccedilotildees do estado iM eacute o valor das importaccedilotildees do estado e i eacute o

produto A interpretaccedilatildeo do resultado deste iacutendice estaacute no intervalo de [-100 +100] Assim

quanto mais proacuteximo de +100 for o valor ie maior eacute a vantagem comparativa revelada do

estado para aquele produto e isto significa que natildeo haacute importaccedilotildees Se o valor do ie for mais

proacuteximo de -100 compreende-se que natildeo haacute vantagens comparativas para aquele produto e

que natildeo existem exportaccedilotildees

181

Balassa (1979) apresentou outra versatildeo do iacutendice de VCR que calcula a vantagem

competitiva de um produto tomando como base o Market Share Este iacutendice calcula a

vantagem competitiva de um estado em relaccedilatildeo a uma regiatildeo e pode ser calculado da seguinte

forma

XX

XXIVCR

i

jij

(2)

onde ijX satildeo as exportaccedilotildees do produto i pelo estado j jX satildeo as exportaccedilotildees totais

realizadas pelo estado j iX satildeo as exportaccedilotildees do produto i na regiatildeo e X satildeo as exportaccedilotildees

regionais totais Se o resultado encontrado for maior que um o estado possui vantagem

comparativa se for menor que um o estado natildeo possuiacute vantagem comparativa e se for igual a

um significa que as exportaccedilotildees do setor cresceram na mesma proporccedilatildeo que o crescimento

regional

Laursen (1998) propotildee outro meacutetodo para definir as VCR O autor argumenta que a

medida de Balassa (1979) apresenta amplitudes assimeacutetricas onde o VCR varia de um e

infinito Entretanto o VCR descrito em Laursen (1998) foi normalizado para variar entre zero

e um Este pode ser obtido atraveacutes na Equaccedilatildeo 3

1

1

ij

ij

ijVCR

VCRVCRS (3)

onde o ijVCR eacute a vantagem comparativa revelada do produto i do estado j Nesse caso se

ijVCRS variar entre zero e um diz-se que o estado tem vantagem comparativa naquele

produto Se ijVCRS for igual agrave zero tem a mesma competitividade meacutedia dos demais

exportadores e se variar entre zero e menos um tem desvantagem comparativa

A Taxa de Cobertura (TC) foi calculada para complementar o indicador de VCR e

pode ser definido como sendo a razatildeo entre o valor das exportaccedilotildees e importaccedilotildees de um dado

produto em cada periacuteodo de tempo (Carvalho e Arauacutejo 2008) sua foacutermula eacute dada por

jt

jt

jt

M

XTC

(4)

onde jtTC eacute a taxa de cobertura do j-eacutesimo produto no t-eacutesimo periacuteodo j

tX representa o

valor das exportaccedilotildees do estado para o j-eacutesimo produto e jtM corresponde ao valor das

importaccedilotildees do estado para o j-eacutesimo produto Segundo Hidalgo (1993) os produtos que

182

simultaneamente apresentarem os valores do VCR e TC maiores que um constituem os

pontos fortes no comeacutercio exterior do estado Por outro lado os produtos que

simultaneamente apresentarem os valores do VCR e TC menores que um satildeo considerados os

pontos fracos do comeacutercio exterior do estado

O grau de concentraccedilatildeo ou diversificaccedilatildeo de produtos transacionados nas pautas de

exportaccedilatildeo e importaccedilatildeo foi obtido por meio do iacutendice Herfindahl-Hirschman sua forma de

caacutelculo pode ser feita de acordo com a equaccedilatildeo abaixo

(5)

onde eacute a razatildeo entre o valor exportado (importado) do produto i sobre as exportaccedilotildees

(importaccedilotildees) totais do estado num dado periacuteodo de tempo e eacute o nuacutemero de produtos No

Quadro 2 tem-se a definiccedilatildeo dos padrotildees do grau de concentraccedilatildeo do iacutendice HH elaborada

por Rezende (1994)

Quadro 2 ndash Padrotildees do grau de concentraccedilatildeo pelo Iacutendice HH HHI Classificaccedilatildeo

Inferior a 01 Pouco concentrada

Entre 01 e 018 Concentraccedilatildeo moderada

Superior a 018 Muito concentrada

Fonte Rezende (1994)

A metodologia aborda ainda a anaacutelise dos fluxos bilaterais de comeacutercio por meio da

identificaccedilatildeo da importacircncia relativa de cada um dos principais parceiros comerciais nas

exportaccedilotildees e nas importaccedilotildees do estado da Paraiacuteba Isso pode ser medindo pelo seguinte

indicador

100X

XPCx

j (6)

onde jX satildeo as exportaccedilotildees do estado para o paiacutes j O subscrito j representa o paiacutes que a

Paraiacuteba possui relaccedilotildees comerciais e X representa as exportaccedilotildees totais do estado Quanto

maior for esse indicador maior eacute a importacircncia relativa do destino j das exportaccedilotildees do

estado Esse indicador seraacute calculado analogamente para o fluxo bilateral das importaccedilotildees

isto eacute a importacircncia tanto dos destinos das exportaccedilotildees da Paraiacuteba quanto como origem dos

produtos importados pelo Estado

2

1

i

i

X

xIHH

iX X

n

183

Ainda analisando os fluxos bilaterais a intensidade do comeacutercio bilateral pode ser

obtida por meio do caacutelculo do Iacutendice de Intensidade de Comeacutercio (IIC) que eacute descrito como

w

wj

i

ij

X

X

X

X

IIC (7)

onde ijX satildeo as exportaccedilotildees do estado i para o paiacutes j iX satildeo as exportaccedilotildees totais do estado

i wjX satildeo as exportaccedilotildees da regiatildeo (w) para o paiacutes j e wX satildeo as exportaccedilotildees totais da regiatildeo

para o mundo Quando o valor do iacutendice for maior que um indica uma relaccedilatildeo comercial mais

intensa entre os paiacuteses i e j que entre o paiacutes j e o total mundial (BAUMANN 2010)

4 ANAacuteLISE DAS PAUTAS DE EXPOTACcedilAtildeO E DE IMPORTACcedilAtildeO DO ESTADO

DA PARAIacuteBA DE 2000 A 2017

Os indicadores de vantagem comparativa permitem descrever o padratildeo de comeacutercio de

uma regiatildeo conforme as vantagens comparativas Ou seja identifica os bens comercializados

pela regiatildeo que tem mostrado potencial competitivo no mercado internacional Na Tabela 3

podem-se observar os valores obtidos pelo iacutendice de Vantagem Comparativa Revelada

(VCR) Verifica-se que a Paraiacuteba apresentou vantagem comparativa no comeacutercio dos

principais produtos exportados no periacuteodo de 2000 a 2017 poreacutem o produto sucos foi o uacutenico

que apresentou vantagem durante todo o periacuteodo analisado

184

Tabela 3 Iacutendice de Vantagem Comparativa Revelada (VCR)

Ano Calccedilados Accediluacutecares Mineacuterios Sucos Frutas Granito Artefatos

Tecircxteis

Cordeacuteis

de

sisal

Peixes Aacutelcool

2000 9471 10000 10000 10000 10000 -1040 10000 10000 9374 554

2001 9768 10000 10000 10000 10000 -870 10000 10000 8855 4145

2002 9539 10000 10000 9413 7755 6633 10000 10000 9403 7615

2003 9642 10000 10000 9957 7339 5449 10000 10000 9839 9017

2004 9699 10000 10000 10000 10000 8084 10000 10000 9898 8997

2005 9342 10000 10000 9576 10000 7332 10000 10000 10000 9318

2006 5309 10000 10000 6589 10000 9560 10000 10000 9018 8125

2007 2814 10000 10000 9646 10000 7084 10000 10000 8239 7890

2008 2653 10000 10000 9572 10000 7180 10000 10000 8404 5498

2009 2010 10000 10000 9875 10000 -1356 10000 10000 1154 3165

2010 2060 10000 10000 9873 6957 -1647 10000 10000 -10000 4157

2011 1346 10000 10000 9470 391 -5738 10000 10000 -10000 -7900

2012 -249 10000 10000 5932 312 -4235 10000 10000 -10000 1270

2013 -1123 10000 10000 9492 5081 -453 10000 10000 -10000 -2706

2014 -1421 10000 10000 8400 -273 -348 10000 10000 -10000 -4977

2015 006 10000 10000 4746 2035 1275 10000 10000 8383 5932

2016 2206 10000 10000 5113 2923 1710 10000 10000 -7303 3627

2017 4503 10000 10000 5477 2450 5260 10000 10000 -7153 -9078

Para os calccedilados registrou-se desvantagem apenas entre os anos de 2012 a 2014 As

frutas mostraram vantagem comparativa em todos os anos exceto apenas em 2014 O granito

foi o produto que apresentou desvantagem no maior periacuteodo de tempo Os peixes natildeo

apresentaram participaccedilatildeo nas exportaccedilotildees da Paraiacuteba entre os anos de 2010 a 2014 logo o

VCR equivaleu a -100 o que marca a ausecircncia de exportaccedilotildees em 2015 o estado volta a

exportar o produto mas entre 2016 e 2017 a participaccedilatildeo do produto eacute relativamente pequena

sobre as exportaccedilotildees totais do estado assim o VCR apresentou desvantagem nestes anos O

aacutelcool apresentou vantagem comparativa entre 2000 e 2010 e em seguida apresenta um

comportamento instaacutevel na pauta de exportaccedilatildeo o que justifica a desvantagem obtida nos anos

de 2011 a 2017

Houve vantagem comparativa para os produtos accedilucares mineacuterios artefatos tecircxteis e

cordeacuteis de sisal apesar da ausecircncia de importaccedilotildees durante o periacuteodo analisado Em termos

meacutedios os valores obtidos pelo VCR foram calccedilados (4310) accedilucares (10000) mineacuterios

(10000) sucos (8507) frutas (6387) granito (2438) artefatos tecircxteis (10000) cordeacuteis de

sisal (10000) peixes (1562) e aacutelcool (3036)

Fonte MDIC (2018) Elaborado pelos autores

185

Balassa (1979) apresentou outra versatildeo do iacutendice de VCR que calcula a vantagem

competitiva de um produto tomando como base o Market Share Na Tabela 4 apresenta-se os

resultados obtidos pelo iacutendice de Vantagem Comparativa Revelada (IVCR) Observa-se que

dos principais produtos exportados os calccedilados o granito e os cordeacuteis de sisal apresentaram

vantagem comparativa para todos os anos analisados Os artefatos tecircxteis de 2000 a 2009

apresentaram vantagem comparativa mas a partir de 2010 o produto reduziu drasticamente

sua participaccedilatildeo nas exportaccedilotildees do estado da Paraiacuteba O aacutelcool apresentou vantagem

comparativa exceto em alguns anos de 2004 a 2017

Tabela 4 Iacutendice de Vantagem Comparativa Revelada (IVCR)

Ano Calccedilados Accediluacutecares Mineacuterios Sucos Frutas Granito Artefatos

Tecircxteis

Cordeacuteis

de

sisal

Peixes Aacutelcool

2000 866 075 - 268 006 141 4666 990 556 3313

2001 771 029 - 346 013 131 3826 872 399 2748

2002 636 030 000 067 004 1184 3944 653 256 891

2003 537 029 000 025 008 749 3510 155 220 1024

2004 596 065 000 580 011 1646 4879 480 172 -

2005 650 058 019 458 006 2406 4513 871 153 -

2006 888 122 038 040 007 1784 4776 920 115 282

2007 686 098 009 181 012 1585 5362 297 079 347

2008 1081 068 021 228 030 614 6713 972 039 146

2009 1083 084 140 366 037 347 7305 310 021 116

2010 1055 220 018 193 038 505 - 731 000 402

2011 1461 364 098 182 039 501 - 753 000 724

2012 1754 390 646 081 044 2453 - 583 000 2684

2013 2080 204 2505 690 082 3120 - 703 000 2893

2014 1926 075 1777 1999 095 1577 - 302 000 2120

2015 2242 152 206 811 098 1769 - 277 412 3025

2016 1799 121 - 671 074 489 - 862 045 -

2017 2043 445 4076 984 075 488 - 903 212 -

As frutas apresentaram desvantagem durante todo o periacuteodo analisado Accedilucares e

mineacuterios registraram desvantagem no maior periacuteodo de tempo e sucos e peixes apresentaram

desvantagem em periacuteodos pontuais nos anos de anaacutelise Em termos meacutedios os produtos com

vantagem competitiva segundo o IVCR foram calccedilados (1231) accedilucares (146) mineacuterios

(637) sucos (454) frutas (038) granito (1194) artefatos tecircxteis (4949) cordeacuteis de sisal

(646) peixes (149) e aacutelcool (1480)

Relativo aos dois meacutetodos acima utilizados percebe-se uma grande variaccedilatildeo nos

valores do iacutendice de vantagem comparativa revelada o que dificulta a comparaccedilatildeo entre os

Fonte MDIC (2018) Elaborado pelos autores

186

produtos Devido a isso foi utilizado o iacutendice de vantagem comparativa revelada simeacutetrica

desenvolvido por Laursen (1998) Na Tabela 5 observa-se os valores obtidos pelo iacutendice de

Vantagem Comparativa Revelada (VCRS)

Tabela 5 Iacutendice de Vantagem Comparativa Simeacutetrica (VCRS)

Ano Calccedilados Accediluacutecares Mineacuterios Sucos Frutas Granito Artefatos

Tecircxteis

Cordeacuteis

de

sisal

Peixes Aacutelcool

2000 079 -014 - 046 -089 017 096 082 070 094

2001 077 -055 - 055 -077 013 095 079 060 093

2002 073 -053 -100 -019 -092 084 095 073 044 080

2003 069 -055 -100 -060 -086 076 094 022 038 082

2004 071 -021 -100 071 -081 089 096 066 026 -

2005 073 -027 -068 064 -088 092 096 079 021 -

2006 080 010 -045 -043 -088 089 096 080 007 048

2007 075 -001 -084 029 -079 088 096 050 -012 055

2008 083 -019 -066 039 -053 072 097 081 -044 019

2009 083 -009 017 057 -046 055 097 051 -065 007

2010 083 038 -069 032 -045 067 - 076 -100 060

2011 087 057 -001 029 -044 067 - 077 -100 076

2012 089 059 073 -011 -039 092 - 071 -100 093

2013 091 034 092 075 -010 094 - 075 -100 093

2014 090 -014 089 090 -003 088 - 050 -100 091

2015 091 021 035 078 -001 089 - 047 061 094

2016 089 010 - 074 -015 066 - 079 -038 -

2017 091 063 095 082 -014 066 - 080 036 -

A Tabela 5 mostra que a Paraiacuteba exibiu vantagem comparativa revelada simeacutetrica em

todo o periacuteodo para calccedilados e granito obtendo meacutedias de 082 e 072 respectivamente Os

cordeacuteis de sisal apesar de sofrerem com a forte concorrecircncia das exportaccedilotildees do estado da

Bahia tambeacutem apresentaram vantagem comparativa nas exportaccedilotildees da Paraiacuteba entre 2000 e

2017 cujo valor meacutedio foi de 068 De forma semelhante aos resultados obtidos pelo IVCR

as frutas apresentaram desvantagem comparativa revelada em todos os anos analisados

Accedilucares peixes e mineacuterios registraram desvantagem no maior periacuteodo de tempo Aacutelcool

sucos e artefatos tecircxteis apresentaram vantagem comparativa revelada na maior parte do

periacuteodo

A taxa de cobertura foi calculada na busca de identificar os pontos fortes de uma

economia no comeacutercio internacional Os accediluacutecares mineacuterios artefatos tecircxteis e cordeacuteis de

Sisal natildeo registraram importaccedilotildees no periacuteodo analisado Cabe ressaltar que sucos foi o uacutenico

produto com taxa de cobertura superior a unidade durante todo o periacuteodo analisado A Tabela

Fonte MDIC (2018) Elaborado pelos autores

187

6 apresenta uma anaacutelise comparada entre os indicadores de vantagem comparativa e a taxa de

cobertura de forma a identificar os pontos fortes da economia De forma geral Os produtos

classificados com vantagem comparativa e taxa de cobertura maior que a unidade

correspondem aos pontos fortes ou seja aos produtos mais competitivos do estado no

comeacutercio internacional Hidalgo (2000) define os pontos fortes como sendo aqueles produtos

onde a economia tem soacutelidas oportunidades de inserccedilatildeo e expansatildeo comercial

Tabela 6 Anaacutelise comparada entre os indicadores de Vantagem Comparativa e a Taxa

de Cobertura Produto VCR IVCR VCRS Taxa de

Cobertura

Calccedilados VANTAGEM VANTAGEM VANTAGEM PONTO FORTE

Accedilucares VANTAGEM VANTAGEM VANTAGEM -

Mineacuterios VANTAGEM VANTAGEM DESVANTAGEM -

Sucos VANTAGEM VANTAGEM VANTAGEM PONTO FORTE

Frutas VANTAGEM DESVANTAGEM DESVANTAGEM PONTO FORTE

Granito VANTAGEM VANTAGEM VANTAGEM PONTO FORTE

Artefatos tecircxteis VANTAGEM VANTAGEM VANTAGEM -

Cordeacuteis de Sisal VANTAGEM VANTAGEM VANTAGEM -

Peixes VANTAGEM VANTAGEM DESVANTAGEM PONTO FORTE

Aacutelcool VANTAGEM VANTAGEM VANTAGEM PONTO FORTE

Em resumo os produtos que foram classificados como pontos fortes do estado da

Paraiacuteba satildeo sucos calccedilados frutas granito peixes e aacutelcool Sucos eacute o principal ponto forte

da economia paraibana no comeacutercio internacional pois apresentou vantagem e taxa de

cobertura em todo o periacuteodo Esses produtos apresentam possibilidades de inserccedilatildeo e

expansatildeo comercial dessa forma o estiacutemulo agrave produccedilatildeo e comercializaccedilatildeo desses produtos

podem ocasionar ganhos de comeacutercio para a Paraiacuteba

Analisando o comportamento da balanccedila comercial da Paraiacuteba sob a oacutetica da

concentraccedilatildeo das pautas o iacutendice HH calculado para a pauta de exportaccedilatildeo da Paraiacuteba

apresentou um valor meacutedio de 02513 no periacuteodo que seguindo as classificaccedilotildees do Quadro 2

mostrou-se muito concentrada pois IHH foi maior do 018 No Graacutefico 1 apresenta-se a

evoluccedilatildeo do IHH para o periacuteodo analisado no tocante agrave pauta de exportaccedilatildeo e agrave importaccedilatildeo

paraibana

Considerando a classificaccedilatildeo de Silva (1998) e de Lopes e Marion Filho (2006) a

concentraccedilatildeo tambeacutem pode ser dividida em estaacutetica ou dinacircmica Conforme o Graacutefico 1

verifica-se que a pauta de exportaccedilatildeo paraibana estaacute enquadrada no perfil de concentraccedilatildeo

dinacircmica pois apresentou um crescimento no indicador de concentraccedilatildeo ao longo do tempo

Fonte MDIC (2018) Elaborado pelos autores

188

O iacutendice HH calculado para a pauta de importaccedilatildeo apresentou um valor meacutedio o que de

acordo com a classificaccedilatildeo de Resende (1994) a pauta de importaccedilatildeo eacute considerada pouco

concentrada tendo em vista que esta condiccedilatildeo se aplica sempre que IHH lt 01

Graacutefico 1 Grau de concentraccedilatildeo das pautas de exportaccedilatildeo e importaccedilatildeo paraibana

entre os anos 2000-2017

Fonte MDIC (2018) Elaboraccedilatildeo proacutepria

De acordo com o Graacutefico 1 a pauta de importaccedilatildeo do estado poder ser classificada

como estaacutetica O IHH calculado para as importaccedilotildees mostra que em apenas determinados

periacuteodos no tempo a pauta de importaccedilatildeo pode ser considerada concentrada mais

especificamente para os anos de 2000 e 2004 Para esses anos a importaccedilatildeo de algodatildeo

debulhado e outros tipos de algodatildeo foram os reais motivos que pontualmente tornaram a

pauta de importaccedilatildeo concentrada pois nesses anos a participaccedilatildeo desses produtos na pauta

foi bastante significativa correspondendo a 3363 em 2000 e 2868 em 2004

No caso da pauta de exportaccedilatildeo paraibana devido as mudanccedilas na estrateacutegia de

inserccedilatildeo no mercado internacional por parte da principal empresa de artefatos tecircxteis

exportaccedilatildeo esse uacuteltimo produto tornou-se praticamente irrelevante com participaccedilatildeo de

035 em 2017 que veio se reduzindo desde 2007 Essa reduccedilatildeo teve impacto relevante nas

exportaccedilotildees totais pois comeccedilaram a decrescer a partir de 2007 mostrando uma queda de

4004 entre 2007 e 2015

Entretanto a pauta de exportaccedilatildeo continuou concentrada poreacutem com calccedilados cuja

participaccedilatildeo em 2000 foi de 2191 saltando para 5314 em 2017 Vale ressaltar que uma

pauta comercial com grau significativo de diversificaccedilatildeo representa uma maior oferta de

produtos e com isso um menor risco de perda econocircmica Quando o contraacuterio ocorre ou seja

uma pauta concentrada em um uacutenico produto ou pouco diversificada dependeraacute basicamente

do comportamento e da trajetoacuteria desse(s) produto(s) no mercado internacional

Exportaccedilatildeo Importaccedilatildeo

189

Em 2000 os trecircs principais destinos das exportaccedilotildees paraibanas foram Estados

Unidos Argentina e Espanha Na Tabela 7 apresenta-se a participaccedilatildeo e a intensidade de

comeacutercio do estado da Paraiacuteba com os seus principais parceiros comerciais de destino das

exportaccedilotildees em 2000 e 2017 As evidecircncias mostram que os EUA eacute o principal parceiro

comercial do estado poreacutem sua participaccedilatildeo nas exportaccedilotildees vem reduzindo-se ao longo do

tempo registrando uma queda de 6878 bem como a intensidade do comeacutercio apresentou

um decrescimento quando se compara 2000 a 2017

Tabela 7 Intensidade de comeacutercio Principais parceiros comerciais de destino das

exportaccedilotildees da Paraiacuteba em 2000 e 2017 PRINCIPAIS PARCEIROS COMERCIAIS

Paiacuteses

Destino das

Exportaccedilotildees

2000 Paiacuteses

Destino das

Exportaccedilotildees

2017

Part IC Part IC

EUA 4425 142 EUA 1381 094

Argentina 954 088 Franccedila 1206 670

Espanha 940 466 Austraacutelia 981 -

Ruacutessia 306 093 Argentina 448 038

Paraguai 150 - China 338 017

Alemanha 115 055 Ruacutessia 300 -

Franccedila 111 040 Angola 197 -

Uruguai 048 090 Paraguai 194 278

Portugal 034 026 Espanha 177 063

Austraacutelia 019 - Portugal 120 202

Angola - - Alemanha 116 070

China - - Uruguai 086 -

Observa-se que em 2000 a Espanha foi o paiacutes com maior intensidade de comeacutercio

com o estado seguido dos Estados Unidos Esta relaccedilatildeo de intensidade de comeacutercio entre o

estado e seus principais destinos se daacute sempre que o valor do iacutendice IIC for maior que um

como pode ser visto na Tabela 7 Em 2017 os trecircs principais destinos das exportaccedilotildees

paraibanas foram Estados Unidos Franccedila e Austraacutelia A Franccedila foi o paiacutes com maior

intensidade no comeacutercio com a Paraiacuteba seguida do Paraguai e de Portugal Os demais paiacuteses

apresentaram valores inferiores a um

A Tabela 8 apresenta a participaccedilatildeo e a intensidade de comeacutercio do estado da Paraiacuteba

com os seus principais parceiros comerciais de origem das importaccedilotildees em 2000 e 2017

Relativo ao IIC a Itaacutelia apresentou maior intensidade nas relaccedilotildees comerciais com a Paraiacuteba

em sequecircncia tem-se a Alemanha Franccedila Estados Unidos e Espanha

Fonte MDIC (2018) Elaborado pelos autores

190

As relaccedilotildees entre a Paraiacuteba e o Uruguai se intensificaram e o Uruguai registrou um IIC

de 1143 e suas exportaccedilotildees com destino ao estado cresceram em 67207 quando se

compara 2017 com 2000 A Argentina a China e a Alemanha tambeacutem apresentaram

intensidade de comeacutercio nas relaccedilotildees com a Paraiacuteba

Tabela 8 Intensidade de comeacutercio Principais parceiros comerciais de origem das

importaccedilotildees da Paraiacuteba em 2000 e 2017 PRINCIPAIS PARCEIROS COMERCIAIS

Paiacuteses

Origem das

Importaccedilotildees

2000 Paiacuteses

Origem das

Importaccedilotildees

2017

Part IC Part IC

EUA 1613 130 Argentina 2325 259

Alemanha 1250 402 China 2169 209

Argentina 1195 061 EUA 1231 051

Itaacutelia 805 440 Uruguai 803 1143

Franccedila 425 194 Vietnatilde 764 -

Paraguai 219 - Alemanha 323 132

Espanha 165 128 Meacutexico 170 038

Uruguai 104 - Itaacutelia 067 022

China 078 084 Espanha 055 018

Portugal 025 - Portugal 037 -

Meacutexico - - Franccedila 026 036

Vietnatilde - - Paraguai - -

Fonseca Santos e Machado Neto (2015) analisaram o desempenho e a evoluccedilatildeo das

exportaccedilotildees da Paraiacuteba entre 2000 e 2014 Os autores pesquisaram quais os principais

problemas enfrentados pelas empresas exportadoras do estado por meio de um questionaacuterio

semi-estruturado ao longo de dois anos e a amostra abrangeu trinta empresas Os principais

setores produtivos das empresas pesquisadas foram o tecircxtil o sucroalcooleiro e o sisal

Destaca-se tambeacutem que parte dessas empresas foram atraiacutedas para a Paraiacuteba na deacutecada de

1990 devido aos incentivos fiscais apoacutes a abertura comercial brasileira

Os resultados mostraram que 7931 das empresas satildeo naturais da Paraiacuteba 1379

satildeo nacionais e 689 satildeo estrangeiras As empresas paraibanas apresentam perfil

tradicionalista e de capital fechado Ao longo do tempo muitas empresas fecharam e outras

diminuiacuteram o ritmo exportador onde os autores apontam como causa os baixos incentivos

governamentais e a crise financeira de 2008 Verifica-se que predominante 833 das

empresas satildeo das induacutestrias e apenas 1379 tem controle estrangeiro A maior parte das

empresas foram classificadas como grandes e meacutedias empresas e iniciaram suas atividades

exportadoras apoacutes os anos 2000

Fonte MDIC (2018) Elaborado pelos autores

191

Tabela 9 Valor exportado e importado anualmente pelas empresas paraibanas VOLUME EXPORTADO ANUAL Nordm de empresas pelo valor exportado anual

Acima de US$ 10 milhotildees 1333

De US$ 1 milhatildeo a US$ 10 milhotildees 2666

Ateacute US$ 1 milhatildeo 4666

Ateacute US$ 100 mil 1333

VOLUME IMPORTADO ANUAL Nordm de empresas pelo valor importado anual

Acima de US$ 10 milhotildees 333

De US$ 1 milhatildeo a US$ 10 milhotildees 1666

Ateacute US$ 1 milhatildeo 2666

Ateacute US$ 100 mil 333

Natildeo importa 3666

A Tabela 9 representa os volumes exportados e importados pelas empresas paraibanas

Vale salientar que o volume exportado corresponde ao que a empresa negocia no comeacutercio

internacional e o volume importado satildeo insumos que entram na composiccedilatildeo de seus produtos

A maioria das empresas exportam anualmente valores ateacute US$ 1 milhatildeo correspondendo a

466 da amostra e em seguida tem-se as empresas que chegam a exportar valores entre

US$ 1 milhatildeo e US$ 10 milhotildees correspondendo a 266

Ressalta-se ainda que as principais empresas exportadoras do estado pertencem aos

segmentos tecircxtil e calccediladista como por exemplo a Alpargatas e a Conteminas Essas

empresas juntas obtiveram uma participaccedilatildeo de mais de 50 das exportaccedilotildees da Paraiacuteba na

maior parte dos anos (SILVEIRA 2012) Aleacutem disso a origem das exportaccedilotildees estaacute

localizada em poucos municiacutepios como Joatildeo Pessoa e Campina Grande que satildeo os principais

exportadores e importadores Em geral estes municiacutepios abrigam as principais empresas Os

municiacutepios de Campina Grande de Mamanguape e de Pedras de Fogo apresentaram

crescimento das exportaccedilotildees no periacuteodo entre 2000 e 2014 enquanto que os municiacutepios de

Bayeux de Joatildeo Pessoa e de Santa Rita apresentaram uma tendecircncia instaacutevel do periacuteodo

analisado por FONSECA SANTOS E MACHADO NETO (2015)

Por fim Fonseca Santos e Machado Neto (2015) apresentam os principais entraves e

barreiras para entrada das empresas analisadas em outros mercados e os principais motivos

das oscilaccedilotildees das exportaccedilotildees Esses resultados estatildeo resumidos na Tabela 10 A maioria das

empresas exportadoras do estado apontaram as tarifas como o principal entrave para a entrada

em outros mercados Tambeacutem as crises financeiras no mercado internacional foram

apontadas como o principal motivo das oscilaccedilotildees nas exportaccedilotildees seguido pelas dificuldades

de obtenccedilatildeo de melhores preccedilos no mercado mundial

Fonte Fonseca Santos e Machado Neto (2015)

192

Tabela 10 Principais dificuldades das empresas paraibanas

ENTRAVES A ENTRADA EM OUTROS

MERCADOS

MOTIVOS DAS OSCILACcedilOES DAS

EXPORTACcedilOtildeES

Tarifas Crise Financeira Internacional

Natildeo haacute entraves Dificuldade de obtenccedilatildeo de melhores preccedilos no

mercado internacional

Logiacutesticas Clima

Burocracia Taxa de cacircmbio

Carecircncia de mateacuteria-prima Falta de competitividade

Clima Fechamento fiscal dos EUA

Falta de investimentos do governo Mercado do papel

Crise Financeira Internacional Crise europeia

Questotildees culturais Mercado financeiro

Controle fitossanitaacuterio Aumento da forccedila do mercado interno

Padrotildees de Qualidade Risco de atividade exportadora

Fornecedores imaturos para a exportaccedilatildeo Trabalha apenas com clientes fidelizados

Desconhecimento das regras

Sazonalidade

Sousa et al (2014) discutem o desempenho e os fatores que levam ao encarecimento

das exportaccedilotildees da Paraiacuteba Os autores colocam que um motivo que justifica as dificuldades

na melhoria do preccedilo das exportaccedilotildees eacute a falta de uma estrutura portuaacuteria pois atualmente

as exportaccedilotildees do estado satildeo transportadas atraveacutes dos portos de Suape (PE) Natal (RN) e

Fortaleza (CE) Esses autores discutem o desempenho e os fatores que levam ao

encarecimento das exportaccedilotildees da Paraiacuteba

Portanto o estado da Paraiacuteba apresenta competitividade nas exportaccedilotildees dos principais

produtos da pauta poreacutem o reflexo dessa competitividade ainda tem pouco impacto sobre a

balanccedila comercial no que tange ao volume exportado pelo estado e sua participaccedilatildeo nas

exportaccedilotildees da Regiatildeo Nordeste e do Brasil Tem-se questotildees relevantes para serem

discutidas pelas autoridades governamentais e instituiccedilotildees de forma a estimular setores ou

produccedilatildeo com valor agregado e capazes de participar do comeacutercio internacional Isso leva a

questotildees de logiacutestica infraestrutura e difusatildeo de conhecimentos e informaccedilotildees A pauta de

exportaccedilatildeo mostrou-se concentrada na exportaccedilatildeo de poucos produtos tornando-se vulneraacutevel

ao desempenho do mercado internacional dessas mercadorias Por fim os produtos calccedilados

sucos frutas granito peixes e aacutelcool foram os produtos que participam do comeacutercio externo

da Paraiacuteba poreacutem na sua maioria ligados aos recursos naturais Mesmo assim satildeo produtos

que apresentaram oportunidades de inserccedilatildeo e expansatildeo comercial

Fonte Fonseca Santos e Machado Neto (2015)

193

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A anaacutelise dos iacutendices de vantagens comparativas reveladas com a taxa de cobertura

possibilitaram a identificaccedilatildeo dos setores mais competitivos do estado da Paraiacuteba no comeacutercio

internacional Os iacutendices de vantagem comparativa mostraram um padratildeo de especializaccedilatildeo

em bens manufaturados intensivos em recursos naturais e trabalho no comeacutercio internacional

do estado Os indicadores mostraram que a possui competitividade nas exportaccedilotildees dos

produtos calccedilados sucos granito peixes e aacutelcool Seguindo a definiccedilatildeo de pontos fortes de

Gutman e Miotti (1996) os produtos que mostraram vantagem comparativa tambeacutem se

revelaram como aqueles produtos que a economia da paraiacuteba tem fortes oportunidades de

inserccedilatildeo no comeacutercio externo Portanto o estiacutemulo agrave produccedilatildeo e agrave comercializaccedilatildeo desses

produtos podem ocasionar ganhos de comeacutercio em termos de aumento na produccedilatildeo e

consumo da Paraiacuteba como tambeacutem o aumento da sua participaccedilatildeo no comeacutercio internacional

A anaacutelise do grau de concentraccedilatildeo tambeacutem possibilitou identificar fragilidades nesse

comeacutercio Segundo Baumann (2010) eacute recomendaacutevel que a pauta comercial seja diversificada

tanto em termos de tipos de produtos e de mercados de destino das exportaccedilotildees ou origem das

importaccedilotildees de forma a manter uma estabilidade na receita e despesas com divisas e menor

vulnerabilidade agraves variaccedilotildees de mercados especiacuteficos Entretanto o grau de concentraccedilatildeo das

pautas de exportaccedilatildeo mostrou que a pauta de exportaccedilatildeo eacute concentrada isto eacute existe uma

oferta natildeo diversificada de produtos para exportaccedilatildeo no estado Em contrapartida a pauta de

importaccedilatildeo eacute bastante variada apresentando concentraccedilatildeo pontualmente apenas nos anos

2000 e 2004 devido ao crescimento da participaccedilatildeo dos produtos algodatildeo debulhado e outros

tipos de algodatildeo

Em termos de destino das exportaccedilotildees observou-se que a relaccedilatildeo comercial entre a

Paraiacuteba e a Franccedila vem aumentando no periacuteodo entre 2000 e 2017 O estado apresentou

intensidade de comeacutercio com os Estados Unidos a Franccedila a Espanha o Paraguai e Portugal

no periacuteodo analisado Jaacute as importaccedilotildees da Paraiacuteba mostraram um crescimento na

participaccedilatildeo das relaccedilotildees comerciais entre Paraiacuteba e Argentina quando se compara 2017 com

2000 Os paiacuteses de origem das importaccedilotildees que apresentaram intensidade no comeacutercio com o

estado foram Estados Unidos Alemanha Itaacutelia Franccedila Espanha Argentina China e

Uruguai

De forma geral as empresas da Paraiacuteba apresentam um perfil tradicionalista com

capital fechado apesar de serem classificadas como grandes e meacutedias Essas empresas estatildeo

194

localizadas em poucos municiacutepios constituindo-se como principais exportadores e

importadores As tarifas e as crises financeiras satildeo os principais entraves apontados em

pesquisa sobre o desempenho das exportaccedilotildees e em outros mercados

Conclui-se que o desempenho das exportaccedilotildees do estado reflete o fraco

desenvolvimento da atividade econocircmica local que necessita de poliacuteticas de estiacutemulo agrave

produccedilatildeo e desenvolvimento de uma vocaccedilatildeo exportadora na regiatildeo Como sugestatildeo de

trabalhos futuros sugere-se uma anaacutelise de comeacutercio intraindustrial e interindustrial do

estado uma anaacutelise dos fluxos de comeacutercio com a desagregaccedilatildeo por intensidade tecnoloacutegica

das exportaccedilotildees e importaccedilotildees uma anaacutelise das poliacuteticas comerciais e acordos preferenciais

no comeacutercio internacional

REFEREcircNCIAS

BALASSA B The changing pattern of comparative advantage in manufactured goods

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BARBOSA E T TEMOCHE C A R Inserccedilatildeo das induacutestrias de calccedilados do estado da

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Sociologia Rural (SOBER) 52ordm Congresso Goiacircnia-GO 2014

196

DESENVOLVIMENTO REGIONAL UMA VISAtildeO SOBRE AS POLIacuteTICAS

PUacuteBLICAS E A URBANIZACcedilAtildeO NA MICRORREGIAtildeO DE IGUATU

ELIWELTON CARLOS SILVA

Graduando em Ciecircncias Econocircmicas-URCA Bolsista-PIBICURCA - A Ru-Urbanizaccedilatildeo na

Microrregiatildeo do Iguatu Uma Visatildeo Holiacutestica Sobre as Politicas Puacuteblicas para o

Desenvolvimento Regional Membro do Centro de Estudos de Desenvolvimento

Socioeconocircmico de Iguatu (CEDESI) pela Universidade Regional do Cariri - URCA E-mail

eliweltoncarlosgmailcom

MARCELO OLIVEIRA DA SILVA

Graduando em Ciecircncias Econocircmicas-URCA Bolsista-PIBICURCA - A Ru-Urbanizaccedilatildeo na

Microrregiatildeo do Iguatu Uma Visatildeo Holiacutestica Sobre as Politicas Puacuteblicas para o

Desenvolvimento Regional E-mail marcelod3silvahotmailcom

EacuteRICO ROBSOM DUARTE DE SOUSA

Economista Docente na Universidade Regional do Cariri ndash URCA Campus Iguatu

Mestrando em Desenvolvimento Regional Sustentaacutevel ndash PRODERUFCA Pesquisador

Membro do Grupo de Estudos em Territorialidades Econocircmicas Desenvolvimento Regional e

Urbano (GETEDRU) da URCA cadastrado no CPNQ Coordenador do projeto -

PIBICURCA - A Ru-Urbanizaccedilatildeo na Microrregiatildeo do Iguatu Uma Visatildeo Holiacutestica Sobre as

Politicas Puacuteblicas para o Desenvolvimento Regional E-mail ericoeconhotmailcom

197

DESENVOLVIMENTO REGIONAL UMA VISAtildeO SOBRE AS POLIacuteTICAS

PUacuteBLICAS E A URBANIZACcedilAtildeO NA MICRORREGIAtildeO DE IGUATU

Resumo

O objetivo desde trabalho eacute fazer uma anaacutelise do acircmbito urbano em toda microrregiatildeo de

Iguatu observado seus principais aspectos e as principais politicas puacuteblicas voltadas para a

zona urbana observando tambeacutem se estatildeo promovendo um verdadeiro desenvolvimento em

cada uma das cinco cidades que compotildeem a microrregiatildeo Este trabalho utilizou de fontes

secundaacuterias provenientes de dados estatiacutesticos e bibliograacuteficos onde atraveacutes de comparaccedilotildees

e anaacutelises foi possiacutevel observar os aspectos econocircmicos e sociais de cada municiacutepio O

processo de urbanizaccedilatildeo vem acontecendo na microrregiatildeo a cada ano aumenta o nuacutemero de

moradores na cidade muito disso vem das poliacuteticas puacuteblicas aplicadas para a industrializaccedilatildeo

grande forte principalmente do municiacutepio de Iguatu mas ainda natildeo resolveu os problemas

como emprego e renda que apresenta nuacutemeros preocupantes em todos os municiacutepios os

iacutendices de extrema pobreza mostram que as politicas voltadas para essa aacuterea natildeo estatildeo sendo

eficaz o caso mais preocupante eacute o municiacutepio de Icoacute

Palavras-chave Urbanizaccedilatildeo Politicas Puacuteblicas Desenvolvimento Regional Microrregiatildeo

de Iguatu

198

1 ndash Introduccedilatildeo

Este trabalho faz parte do projeto de pesquisa intitulado A Ru-Urbanizaccedilatildeo na

Microrregiatildeo do Iguatu Uma Visatildeo Holiacutestica Sobre as Politicas Puacuteblicas para o

Desenvolvimento Regional Com apoio da Proacute-Reitoria de Poacutes-Graduaccedilatildeo e Pesquisa ndash

PRPGP da Universidade Regional do Cariri ndash URCA O processo de urbanizaccedilatildeo tem como

consequecircncia principal o aumento populacional que gera o crescimento das cidades devido

principalmente o ecircxodo rural levado pelos fatores atrativos devido agraves condiccedilotildees estruturais

oferecidas pelo espaccedilo das cidades como a industrializaccedilatildeo Nos paiacuteses pioneiros no processo

de urbanizaccedilatildeo ela ocorre de forma mais lenda e gradativa jaacute em paiacuteses como o Brasil com

uma industrializaccedilatildeo tardia esse processo manifesta de forma mais acelerada gerando

problemas estruturais e principalmente sociais como a falta de saneamento resultando no

aumento das doenccedilas e os altos iacutendices de criminalidade

O Cearaacute desde meados dos anos de 1960 passou a implantar poliacuteticas puacuteblicas de

desenvolvimento buscando tambeacutem melhorar sua infraestrutura para tornar atrativa a

implantaccedilatildeo de investimentos puacuteblicos e privados A partir dos anos 1980 a induacutestria passa a

ser vista como forma de crescimento econocircmico para as demais Regiotildees O que podemos

analisar tambeacutem nos uacuteltimos anos no estado do Cearaacute a um fenocircmeno chamado de

desmetropolizaccedilatildeo onde a um grande crescimento urbano das medias cidades do estado um

processo que no principio aconteceu de forma lenta mais que do primeiro ao segundo dececircnio

do seacuteculo XXI vem atingindo um novo patamar como eacute colocado por SOUZA (2012) o

desenvolvimento urbano do semiaacuterido cearense Uma dessas cidades meacutedias do estado eacute o

municiacutepio de Iguatu cidade polo da microrregiatildeo que eacute composta por outras quatro cidades

Icoacute Oroacutes Quixelocirc e Cedro

O objetivo desde trabalho eacute fazer uma anaacutelise do acircmbito urbano em toda microrregiatildeo

de Iguatu observado seus principais aspectos e se as principais politicas puacuteblicas voltadas para

a cidade observando tambeacutem se estatildeo promovendo um verdadeiro desenvolvimento em cada

uma das cinco cidades que compotildeem a microrregiatildeo

A divisatildeo do trabalho consta aleacutem desta breve introduccedilatildeo os principais conceitos do meio

urbano com as principais teorias que datildeo embasamento ao trabalho os materiais e meacutetodos

199

utilizados resultados e discussotildees com as principais descobertas sobre o objeto de estudo e

por fim as principais conclusotildees pertinentes ao trabalho

2 ndash Principais conceitos do meio urbano

O espaccedilo urbano pode seguir diversos tipos de caracteriacutesticas que o distingue do meio

rural e sua definiccedilatildeo eacute colocada por Correia (1995) ―o conjunto de diferentes usos da terra

justapostos entre si Isso nos diz que o meio urbano eacute dividido entre suas aacutereas especificas

com o centro da cidade onde a um maior fluxo do comercio aacutereas residenciais e industriais

como tambeacutem locais reservados para o lazer e para uma futura expansatildeo do espaccedilo

A urbanizaccedilatildeo acontece devido a especiacuteficos acontecimentos histoacutericos que atraiacuteram

as pessoas ao longo do tempo para um devido espaccedilo geralmente a procura de melhores

condiccedilotildees de vida esses fatores variam de acordo com cada regiatildeo Os atrativos ocorrem pela

atraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo em busca da maior oferta de emprego gerada pela

industrializaccedilatildeo aleacutem da existecircncia de melhores condiccedilotildees de renda e de vida O raacutepido e

faacutecil acesso a produtos bens de consumo e serviccedilos como escolas e hospitais aleacutem de uma

maior interaccedilatildeo cultural tambeacutem pode ser listado como um fator atrativo da urbanizaccedilatildeo Os

paiacuteses desenvolvidos foram os primeiros a urbanizar-se com a maior presenccedila de fatores

atrativos

Com a Revoluccedilatildeo Industrial ao longo do seacuteculo XVIII cidades como Londres e Paris

transformaram-se em grandes centros urbanos poreacutem com uma grande carga de problemas

sociais e miseacuteria acentuada questatildeo que soacute veio a ser atenuada pelas reformas urbanas no

seacuteculo seguinte fatores repulsivos a urbanizaccedilatildeo pela ―expulsatildeo ou afastamento da

populaccedilatildeo do campo para as cidades com uma migraccedilatildeo em massa que chamamos de ecircxodo

rural ou migraccedilatildeo campo-cidade Dentre os fatores repulsivos da urbanizaccedilatildeo podemos citar

a concentraccedilatildeo fundiaacuteria os baixos salaacuterios do campo a mecanizaccedilatildeo das atividades agriacutecolas

com a substituiccedilatildeo da matildeo de obra

Haacute vaacuterias fases do processo de urbanizaccedilatildeo uma delas eacute a preacute-capitalismo como e dito

por Sposito (1988) com primeiramente a formaccedilatildeo de aldeias onde o caccedilador era o principal

liacuteder e posteriormente a monarquia onde o rei assume um papel politico onde se tem uma

200

analise que a cidade tenha se formado por aldeotildees em busca da proteccedilatildeo militar do rei Temos

tambeacutem as cidades que foram formadas a partir dos mercados natildeo tanto como uma questatildeo

econocircmica pois natildeo era um lugar de produccedilatildeo e sim de dominaccedilatildeo onde se destaca o poder

politico e religioso

A constituiccedilatildeo da cidade eacute ao mesmo tempo uma inovaccedilatildeo na teacutecnica de dominaccedilatildeo

e na organizaccedilatildeo da produccedilatildeo Ambos os aspectos do fato urbano satildeo analiticamente

separaacuteveis mas na realidade soem ser intrinsecamente interligados A cidade antes

de tudo concentra gente num ponto do espaccedilo Parte desta gente eacute constituiacuteda por

soldados que representam ponderaacutevel potecircncia militar face agrave populaccedilatildeo rural

esparsamente distribuiacuteda pelo territoacuterio Aleacutem de poder reunir maior nuacutemero de

combatentes a cidade aumenta sua eficiecircncia profissionalizando-os Deste modo a

cidade proporciona agrave classe dominante a possibilidade de ampliar territorialmente

seu domiacutenio ateacute encontrar pela frente um poder armado equivalente isto eacute a esfera

de dominaccedilatildeo de outra cidade Assim a cidade eacute o modo de organizaccedilatildeo espacial

que permite agrave classe dominante maximizar a transformaccedilatildeo do excedente alimentar

natildeo diretamente consumido por ele em poder militar e este em dominaccedilatildeo poliacutetica

(SINGER 1977 p17)

A transiccedilatildeo do feudalismo para o capitalismo onde ocorreu a revoluccedilatildeo industrial soacute

aumentou ainda mais o processo de urbanizaccedilatildeo

A cidade assumiu com o capitalismo uma capacidade de produccedilatildeo que a

diferenciava totalmente do processo da urbanizaccedilatildeo ocorrido na Antiguidade A

cidade romana para nos referirmos agrave organizaccedilatildeo poliacutetica que permitiu maior

urbanizaccedilatildeo no periacuteodo antigo era o locus da gestatildeo poliacutetico-administrativa de

exerciacutecio do poder de moradia das elites dominantes Manjei Castells em seu livro

A questatildeo urbana define a cidade romana assim A cidade portanto natildeo eacute um local

de produccedilatildeo mas de gestatildeo e de domiacutenio ligado agrave primazia social do aparelho

poliacutetico-administrativo (SPOSITO 1988 p44)

O desenvolvimento regional eacute um processo que depende de vaacuterios fatores para

acontecer existem vaacuterios caminhos e teorias que falam sobre esse processo como Hirschman

(1961) mostra que paiacuteses como o Brasil com um desenvolvimento atrasado natildeo acontece de

forma espontacircnea eacute necessaacuterio alguma atitude para criar um cenaacuterio propicio para que

aconteccedila

Um ponto importante sobre o meio urbano para se analisar eacute o desempenho das

chamadas cidades meacutedias definidas como cidades com mais de 100 e 500 mil habitantes que

natildeo fazem parte de regiotildees metropolitanas e que apresentam um relativo grau de avanccedilo em

201

sua economia e infraestrutura como eacute o caso de Iguatu cidade polo da microrregiatildeo e da

mesorregiatildeo Segundo (Andrade Serra 1998) durante os anos de 1950 a 1970 as cidades

com mais de 500 mil habitantes contribuiacuteram com 48 do crescimento urbano nacional jaacute

periacuteodo seguinte de 1970 a 1991 importacircncia dessas grandes metroacutepoles reduz-se agrave metade Jaacute

os centros intermediaacuterios que satildeo os grupos de cidades com populaccedilatildeo entre 50 mil e 500 mil

contribuiacuteram neste uacuteltimo periacuteodo com 49 do acreacutescimo populacional nacional essa

participaccedilatildeo bem diferente do periacuteodo anterior quando estes centros responderam por 19 do

crescimento nacional As cidades pequenas com menos de 50 mil habitantes no periacuteodo

197091 se sobre saiu aos grandes centros uranos em mateacuteria de participaccedilatildeo no crescimento

populacional

Nos anos 70 e 80 no Brasil falar de cidades de porte meacutedio significava falar de

poliacutetica urbana nacional enquanto poliacutetica puacuteblica Atualmente a reduccedilatildeo do papel

do Estado em relaccedilatildeo agrave iniciativa privada eacute uma realidade na qual os objetivos de

eficiecircncia e competitividade estatildeo cada vez mais presentes Assiste-se a mudanccedilas

nos padrotildees de produccedilatildeo consumo e qualidade de vida impulsionadas pelo

redimensionamento das atividades empresariais em termos econocircmicos sociais e

espaciais (ANDRADE SERRA 2001 p36)

As cidades meacutedias brasileiras segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE 2010) formavam ateacute 2010 um grupo de municiacutepios que crescia muito aleacutem da meacutedia

nacional O iacutendice meacutedio de crescimento econocircmico medido pelo Produto Interno Bruto

dessas cidades foi de 153 entre os anos de 2004 e 2010 contra um crescimento de 94 do

PIB nacional no mesmo periacuteodo A oferta de emprego formal tambeacutem conheceu um salto de

70 nas cidades meacutedias

As Poliacuteticas puacuteblicas eacute a junccedilatildeo de programas accedilotildees e atividades que satildeo

desenvolvidas pelo governo nacional estadual ou municipal com a participaccedilatildeo tanto de

oacutergatildeos puacuteblicos como privados As poliacuteticas puacuteblicas correspondem a direitos que satildeo

assegurados constitucionalmente para as pessoas comunidades coisas ou outros bens

materiais ou imateriais

Jaacute no Brasil estudos sobre poliacuteticas puacuteblicas foram realizados soacute recentemente

Nesses estudos ainda esporaacutedicos deu-se ecircnfase ou agrave anaacutelise das estruturas e

202

instituiccedilotildees ou agrave caracterizaccedilatildeo dos processos de negociaccedilatildeo das poliacuteticas setoriais

especiacuteficas Deve-se atentar para o fato de que programas ou poliacuteticas setoriais

foram examinados com respeito a seus efeitos e que esses estudos foram antes de

mais nada de natureza descritiva com graus de complexidade analiacutetica e

metodoloacutegica bastante distintos (FREY 1997 p4)

No Brasil temos um histoacuterico de politicas publicas especificas atreladas ao conceito de

modernidade como mostra Chacon (2007) o que se vecirc durante a sua historia eacute que natildeo temos

grandes mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave modernidade e sim na questatildeo de metodologia politica e por

meio disso os poliacuteticos realizam o que eles chamam de modernizaccedilatildeo mais que na verdade o

objetivo eacute disfarccedila situaccedilotildees em tempo de crise Nas ultimas deacutecadas o que se ver eacute um grande

avanccedilo tecnoloacutegico e a diminuiccedilatildeo geograacutefica entre as relaccedilotildees de pessoas algo bastante

ligado ao liberalismo econocircmico com isso o papel do estado eacute cada vez mais questionado por

restringir os processos econocircmicos A ideia de modernidade aliada com o estado veio a partir

do governo de Juscelino Kubitschek e varias dessas accedilotildees puderam beneficiar a regiatildeo

nordeste como a criaccedilatildeo da SUDENE e do banco do nordeste As politicas puacuteblicas no

nordeste sempre voltadas a questatildeo da seca e primeiramente veio aacute questatildeo dos reservatoacuterios

Haacute explicaccedilatildeo racional para a priorizaccedilatildeo das infraestruturas hidraacuteulicas no iniacutecio

das poliacuteticas de secas sem aacutegua natildeo haacute civilizaccedilatildeo e nas grandes secas os rios do

Nordeste setentrional podiam passar dezoito meses ou mesmo trinta meses

totalmente secos Eacute impossiacutevel uma sociedade moderna se desenvolver em um

ambiente hidrologicamente tatildeo desfavoraacutevel como esse A soluccedilatildeo adotada no

Brasil como no oeste dos Estados Unidos e norte da Austraacutelia para compensar a

adversidade climaacutetica foram os accediludes (CAMPOS 2014 p13)

Segundo Chacon (2007) no Cearaacute tivemos a era dos coroneacuteis os coroneacuteis eram considerados

como os reprodutores do sertatildeo donos das fazendas de criaccedilatildeo de gado e plantaccedilatildeo de accediluacutecar

ele tinham aleacutem das terras um grande poder politico e social Essa realidade permanece ate os

anos 30 onde um discurso politico moralizador atrelado agrave modernidade faz com que os

coroneacuteis mudem seus meacutetodos e a partir dos anos 60 esse movimento comeccedila no Cearaacute onde

a atenccedilatildeo dos coroneacuteis se volta para as cidades visando agrave urbanizaccedilatildeo e a produccedilatildeo

Poreacutem a urbanizaccedilatildeo natildeo significou de fato o fim dos coroneacuteis ou melhor do

modelo de subordinaccedilatildeo poliacutetica por eles estabelecido O que ocorreu foi que os

velhos coroneacuteis rurais se adaptaram aos novos tempos se mudaram para as cidades e

criaram novas formas de dominaccedilatildeo em clientelismo protagonizando eles proacuteprios o

203

processo de modernizaccedilatildeo que levaria agrave sua substituiccedilatildeo futura pelos novos coroneacuteis

urbanos os empresaacuterios (CHACON 2007 p89)

O discurso de modernidade serviu apenas para maquiar os problemas sociais que o

estado passa o que foi proposto natildeo foi comprido e o Cearaacute mostra uma realidade bem

diferente do aparece na miacutedia O que aconteceu foi o chamado ―boom da industrializaccedilatildeo

com varias medidas de isenccedilatildeo fiscal concessotildees e a chamada guerra fiscal

O que podemos analisar tambeacutem nos uacuteltimos anos no estado do Cearaacute a um fenocircmeno

chamado de desmetropolizaccedilatildeo onde a um grande crescimento urbano das medias cidades do

estado um processo que no principio aconteceu de forma lenta mais que do primeiro ao

segundo dececircnio do seacuteculo XXI vem atingindo um novo patamar como eacute colocado por Souza

(2012) o desenvolvimento urbano do semiaacuterido cearense Hoje uma nova dinacircmica

socioespacial com hierarquias urbanas reestruturadas e fluxo originado em cidades pequenas e

meacutedias menos dependentes da centralidade da metroacutepole Fortaleza

3 ndash Material e Meacutetodos

O objetivo desde trabalho eacute analisar o acircmbito urbano em toda microrregiatildeo de Iguatu

observado seus principais aspectos e se as principais politicas puacuteblicas voltadas para a cidade

estatildeo promovendo um verdadeiro desenvolvimento em cada uma das cinco cidades que

compotildeem a microrregiatildeo Observar e avaliar tais impactos socioeconocircmicos resultantes

dessas politicas e possiacuteveis medidas que possibilitem estimular esse desenvolvimento

A coleta dos dados foi feito por meio de fontes bibliograacuteficas onde segundo GIL

(2008) eacute originado de material jaacute elaborado constituiacutedo principalmente de livros artigos

cientiacuteficos revistas sites Outras fontes como documentos satildeo utilizados e se assemelham agrave

pesquisa bibliograacutefica Mas que trata de materiais que natildeo receberam ainda nenhum

tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da

pesquisa Para Mueller (2000) o uso de fontes segundarias facilita a analise e o conhecimento

dos dados que estatildeo dispersos nas fontes primarias filtrando e organizando de maneira

definitiva de acordo com a finalidade do trabalho

204

Meacutetodo de investigaccedilatildeo cientiacutefica focado no trabalho parte da utilizaccedilatildeo do meacutetodo

qualitativo que para Neves (1996) em um conjunto de diferentes teacutecnicas de interpretaccedilatildeo que

tem por finalidade descrever e entender as partes de um sistema complexo de significados

Onde as respostas natildeo satildeo objetivas e o propoacutesito natildeo eacute contabilizar quantidades como

resultado mas sim conseguir compreender o comportamento do acircmbito urbano na

microrregiatildeo de Iguatu com base em autores renomados na questatildeo do desenvolvimento

regional e urbano fazendo uma analise de acordo com os seus conceitos para melhor entender

as particularidades da regiatildeo

Todas as informaccedilotildees que foram coletadas no trabalho adquiridas por meios dessas

fontes que por sua vez originadas de fontes primarias disponibilizadas por instituiccedilotildees como

IBGE e IPECE Os dados fornecidos por essas instituiccedilotildees servem para facilitar o andamento

do trabalho e satildeo necessaacuterios para que se ocorra um estudo completo sobre a microrregiatildeo

ver a suas principais caracteriacutesticas analisando nuacutemeros como populaccedilatildeo residente

distribuiccedilatildeo de renda emprego e saneamento questotildees importantes para entender as politicas

puacuteblicas aplicadas nos municiacutepios e seus impactos

4 ndash Resultado e discursotildees

O aumento da urbanizaccedilatildeo no Cearaacute iniciou de forma acentuada no seacuteculo XVIII que

comeccedilou no interior mas rapidamente se alocou para parte litoracircnea do estado Fortaleza e

seu forte papel no comercio a partir da segunda metade do seacuteculo o algodatildeo fez com que

alguns centros urbanos no sertatildeo do Cearaacute se desenvolvessem como a microrregiatildeo de Iguatu

A distribuiccedilatildeo populacional no estado se viu concentrada na capital nos uacuteltimos dois

seacuteculos fatores primordiais como a seca e a extrema pobreza fizeram com que houvesse uma

migraccedilatildeo das cidades do sertatildeo para Fortaleza ao analisar os aspectos gerais da zona urbana

na microrregiatildeo de Iguatu segundo IBGE (2010) notamos um esperado crescimento na

densidade demograacutefica de habitantes em todas as cinco cidades por km2 vaacuterios fatores

levaram a esse aumento como o ecircxodo rural a busca por melhores condiccedilotildees de vida em

questatildeo de emprego e renda nos centros urbanos Como eacute tiacutepico da regiatildeo a seca tambeacutem

influencia nessa migraccedilatildeo como podemos observar no graacutefico abaixo a cidade com maior

iacutendice de urbanizaccedilatildeo eacute Iguatu com 7734 seguida por Oroacutes Cedro Icoacute e Quixelocirc Iguatu

cidade polo tambeacutem tem o maior numero populacional Segundo algumas estimativas

205

realizadas pelo IBGE o nuacutemero total de pessoas para o ano de 2015 deve estaacute em torno de

101386 habitantes em todo municiacutepio

Graacutefico 1 - Populaccedilatildeo Residente Ru-Urbano e a Taxa de Urbanizaccedilatildeo

Fonte Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) ndash Censo Demograacutefico 2010

O graacutefico 1 mostra que trecircs dos cinco municiacutepios da microrregiatildeo apresentam uma

concentraccedilatildeo maior de pessoas na zona urbana mais nos outros dois essa situaccedilatildeo se mostra

inversa Icoacute tem um total de 34993 moradores residentes na zona rural maior ateacute que o

nuacutemero de pessoas na mesma zona em Iguatu cidade polo com maior nuacutemero de habitantes

na regiatildeo O municiacutepio de Quixelocirc apresenta cerca de 6714 da sua populaccedilatildeo morando no

campo Esses dados nos mostra que mesmo sendo cidades vizinhas em uma mesma

microrregiatildeo a uma diferenccedila na distribuiccedilatildeo populacional e tambeacutem tem que ter diferenccedilas

no momento da aplicaccedilatildeo de politicas puacuteblicas

Destacando tambeacutem o numero de domiciacutelios por cada cidade no ano de 2010 segundo

IBGE (2010) Iguatu conta com um total de 28828 residecircncias particulares dessas 22366 estaacute

localizado na zona urbana com uma meacutedia de 333 moradores Oroacutes com um numero total de

residecircncias na zona urbana a 4998 com uma media de 321 moradores em Cedro o nuacutemero

de domiciacutelios ocupados na zona urbana chega a 4615 com uma media de 328 por residecircncia

Icoacute na zona urbana a um total de 8859 e uma media de moradores de 344 e por fim Quixelocirc

Iguatu Oroacutes Quixelocirc Icoacute Cedro

Urbano 74627 16023 4929 30463 15159

Rural 21868 5366 10071 34993 9368

Taxa de urbanizaccedilatildeo() 7734 7491 3286 4654 6181

0

10000

20000

30000

40000

50000

60000

70000

80000

206

com 1547 e uma media de 318 moradores por residecircncia todos os municiacutepios da

microrregiatildeo ficaram abaixo da meacutedia do estado em numero de pessoas por residecircncia

Segundo Macedo Lima Juacutenior e Morais (2012) o governo do Cearaacute a partir de meados

dos anos de 1980 passou por alteraccedilotildees institucionais nos acircmbitos administrativo patrimonial

e financeiro decorrentes de uma transformaccedilatildeo poliacutetica que possibilitou a ascensatildeo de uma

nova classe dirigente composta por um grupo de empresaacuterios com raiacutezes e interesses

aprofundado no Cearaacute e formado na marca do processo de modernizaccedilatildeo econocircmica O

objetivo do governo de Tasso Jereissati na eacutepoca era promover atraveacutes de uma nova politica

de criaccedilatildeo de trabalho para por fim no que ele considerava como um circulo vicioso entre

desemprego miseacuteria e necessidades primarias Promover uma descentralizaccedilatildeo da industrial

no estado por meio de recursos como o Fundo de Desenvolvimento Industrial ndash FDI

Os incentivos fiscais foi uma das maneiras que os governos encontraram para

desconcentraccedilatildeo da induacutestria no Cearaacute os criteacuterios para concessatildeo dos incentivos

beneficiando induacutestrias que se localizassem a uma maior distacircncia da RMF procurando

desenvolver aglomeraccedilotildees produtivas em vaacuterias partes do estado como na microrregiatildeo de

Iguatu ou ainda elencando criteacuterios como nuacutemero de empregos valores investidos municiacutepio

de localizaccedilatildeo que elevariam o valor do incentivo e do prazo para induacutestrias beneficiadas Na

tabela 1 abaixo podemos observar as induacutestrias ativas nas cinco cidades da microrregiatildeo de

Iguatu no ano de 2015

Tabela 1 ndash Empresas Industriais Ativas na Microrregiatildeo de Iguatu ndash 2015

Extrativa Mineral Construccedilatildeo Civil Utilidade Puacuteblica Transformaccedilatildeo Total

Iguatu 7 40 4 449 500

Icoacute 4 13 0 111 128

Quixelocirc 0 0 0 25 25

Oroacutes 2 0 1 32 35

Cedro 0 4 0 25 29

Empresas Industriais AtivasMuniciacutepios

Fonte

Secretaria da Fazenda (SEFAZ) ndash 2015

207

Podemos analisar na tabela 1 que no ano de 2015 Iguatu tem um nuacutemero maior de

empresas industriais ativas em relaccedilatildeo aos outros municiacutepios a induacutestria calccediladista que tem o

Cearaacute como maior produtor nordestino de calccedilados tambeacutem faz parte desse cenaacuterio

Iguatuense em busca de forccedila de trabalho barata e incentivos fiscais formaram o que atraiu

para regiatildeo uma importante empresa no setor que gerou emprego e renda para a populaccedilatildeo

natildeo soacute de Iguatu mais das outras cidades vizinhas onde trabalhadores se deslocam para a

cidade polo da microrregiatildeo

O Cearaacute maior produtor nordestino de calccedilados aumentou significativamente sua

participaccedilatildeo nas exportaccedilotildees do paiacutes passando de 11 do total nacional exportado

em 1989para 138 em 2008 Observa-se neste estado em particular em seu

segmento calccediladista um forte vieacutes exportador que indica uma forma de apropriaccedilatildeo

do territoacuterio com vistas a uma maior articulaccedilatildeo local-global promovida pelas

grandes empresas do setor a partir da institucionalidade constituiacuteda para aumentar a

atratividade do territoacuterio cearense ao circuito de valorizaccedilatildeo do capital Vale

destacar que majoritariamente esta produccedilatildeo exportadora encontra-se no interior do

estado seja no setor calccediladista seja na fruticultura contribuindo para a

diversificaccedilatildeo do terciaacuterio natildeo metropolitano (MACEDO LIMA JUacuteNIOR

MORAIS 2012 p16)

Vemos a induacutestria de transformaccedilatildeo se sobressair sobre os demais setores nessas

cidades Quixelocirc eacute mais dependente ainda desse setor pois natildeo tem mais nenhum dos outros

ativos O segundo setor mais incidente nos municiacutepios eacute a construccedilatildeo civil seguido pela

extrativa mineral e a utilidade publica essa ultima soacute aparece em Iguatu e Oroacutes Podemos

observar a partir desses dados a falta das politicas publicas principalmente nas cidades

segundarias da microrregiatildeo em todos os setores exceto na induacutestria de transformaccedilatildeo A

implantaccedilatildeo de empresas desse meio nessas cidades levaria um aumento de emprego e renda

para populaccedilatildeo Um grande problema em potencial ocorre nas cidades de Quixelocirc e Oroacutes que

eacute a falta de empresas no setor da construccedilatildeo civil no Brasil eacute um setor com grande capacidade

de desenvolvimento da economia dado a grande importacircncia para o crescimento do PIB e a

forte absorccedilatildeo de matildeo de obra com um amplo mercado de produtos e de serviccedilos

208

Tabela 2 - Nuacutemero de Empregos Formais na Microrregiatildeo de Iguatu ndash 2015

Iguatu Icoacute Quixelocirc Oroacutes Cedro

Total das Atividades 14751 5427 950 902 1418

Extratividade Mineral 27 24 0 0 0

Induacutestria de Transformaccedilatildeo 3552 174 18 9 21

Serviccedilos Industriais de Utilidade Puacuteblica 123 75 0 0 0

Construccedilatildeo Civil 230 102 0 0 5

Comeacutercio 4654 901 140 147 281

Serviccedilos 2480 708 23 71 131

Administraccedilatildeo Puacuteblica 3461 3433 764 669 975

Agropecuaacuteria 224 10 5 6 5

DiscriminaccedilatildeoMunicipiacuteos

Fonte Ministeacuterio do Trabalho (MTb) ndash RAIS ndash 2015

Como podemos observar na tabela 2 o municiacutepio de Iguatu tem um numero maior de

empregos formais dentre as outras cidades da microrregiatildeo com 14751 dividido entre os

setores de extratividade mineral induacutestria de transformaccedilatildeo serviccedilos industriais de utilidade

puacuteblica construccedilatildeo civil comeacutercio serviccedilos administraccedilatildeo puacuteblica e agropecuaacuteria

O problema que segue eacute o baixo nuacutemero de empregos formais nos municiacutepios da

microrregiatildeo setores importantes para o desenvolvimento como a construccedilatildeo civil que chega

a zero nos municiacutepios de Quixelocirc e Oroacutes o fato de natildeo apresentar nenhum emprego formal

natildeo quer dizer que natildeo exista esse setor nessas cidades o trabalho ocorre de maneira informal

A participaccedilatildeo da construccedilatildeo civil para as cidades e a dimensatildeo de seu impacto social

ambiental e econocircmico pode contribuir positivamente com a sociedade urbana natildeo apenas

construindo mas tambeacutem servindo de exemplo de um novo comportamento com a adoccedilatildeo de

inovaccedilotildees nos projeto e tambeacutem nos sistemas construtivos Em acircmbito nacional na

informalidade esses trabalhadores deixam de recolher R$ 515 milhotildees por mecircs agrave Previdecircncia

Social ou um pouco mais de R$ 6 bilhotildees por ano de acordo com a conclusatildeo do estudo

publicado pelo Foacuterum de Accedilatildeo Social e Cidadania (FASC) da Cacircmara Brasileira da Induacutestria

da Construccedilatildeo (CBIC) em correalizaccedilatildeo com o SESI Nacional Aleacutem do prejuiacutezo aos

trabalhadores a informalidade significa concorrecircncia desigual e injusta com as empresas

representadas pela CBIC que atuam na legalidade e respeitam a legislaccedilatildeo trabalhista como eacute

o caso de Quixelocirc e Oroacutes porque as empresas optam em continuar a atuar na informalidade

onde os custos satildeo muito menores os outros municiacutepios da regiatildeo jaacute apresentam trabalho

209

formal nesse setor mais ainda um nuacutemero muito baixo para a suas capacidades Segundo a

Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social ndash STDS (2016) o setor da construccedilatildeo civil eacute

o que mais desemprega no estado do Cearaacute com 1770 postos de trabalho eliminados ate

junho de 2016 Por outro lado o setor que mais gerou emprego foi o setor de serviccedilos com 815

empregos gerados

O desemprego e a pobreza satildeo dois dos mais graves problemas econocircmicos No

primeiro caso trata-se de uma questatildeo muito seacuteria mesmo nos paiacuteses desenvolvidos

que a partir das transformaccedilotildees do mundo do trabalho iniciadas nos anos 70

passaram a conviver com taxas de desemprego muito elevadas Nos paiacuteses em

desenvolvimento o desemprego alia-se ao subemprego muitos paiacuteses apesar de

terem elevado significativamente a renda per capita convivem com altas taxas de

pobreza e satildeo incapazes de prover as necessidades baacutesicas a parcelas da populaccedilatildeo

(GUIMARAtildeES 2011 P2)

O Brasil em funccedilatildeo de seu histoacuterico de colonizaccedilatildeo desenvolvimento tardio e

dependecircncia econocircmica aleacutem dos problemas internos antigos e recentes possui uma grande

quantidade de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza Assim por representar um

paiacutes subdesenvolvido emergente a pobreza no Brasil apresenta elevados patamares Mesmo

com as politicas sociais que melhoraram a situaccedilatildeo do Brasil com o carro-chefe atual das

poliacuteticas puacuteblicas de combate agrave fome no Brasil o programa Bolsa Famiacutelia criado em

2003 Segundo o Ministeacuterio de Desenvolvimento de Combate agrave Fome (2011) existiam no

Brasil cerca de 1627 milhotildees de pessoas em condiccedilatildeo de ―extrema pobreza ou seja com

uma renda familiar mensal abaixo dos R$7000 por pessoa

O problema da desigualdade geograacutefica da pobreza eacute um tema que tem gerado

grande preocupaccedilatildeo em vaacuterios paiacuteses e regiotildees especialmente entre os paiacuteses

subdesenvolvidos e os que se encontram em desenvolvimento Anselin (1988) ao

falar de heterogeneidade da pobreza destaca que a populaccedilatildeo pobre encontra-se

concentrada em algumas aacutereas territoriais especiacuteficas Vale lembrar que a pobreza eacute

um fenocircmeno multidimensional e complexo motivo pelo qual existem muacuteltiplas

definiccedilotildees e formas de avaliaacute-la (MEDEIROS NETO 2010 P6)

Segundo IBGE (2010) o estado do Cearaacute apresenta cerca de 1502924 pessoas

vivem em extrema pobreza com uma renda mensal abaixo de 70 reais com base nesse

paracircmetro 178 da populaccedilatildeo cearense foi classificada em situaccedilatildeo de miseacuteria Dentre os

210

estados brasileiros o Cearaacute fica em terceiro com o maior numero de pessoas vivendo na

miseacuteria Na deacutecada passada esses nuacutemeros eram ainda piores

O indicador mais contundente eacute a porcentagem de pessoas consideradas pobres no

Estado que em 2003 ainda representava 543 da populaccedilatildeo (em 1991 o percentual

de pobres chegava a 68 da populaccedilatildeo segundo dados do Atlas de

Desenvolvimento Humano de 2003) Reforccedilando o quadro de pobreza os dados

sobre a porcentagem da populaccedilatildeo ocupada que recebe menos de dois salaacuterios

miacutenimos mostram que mais de 67 da populaccedilatildeo ocupada encontra-se nesse

patamar o que eacute agravado pelo fato de os 50 mais pobres soacute apropriarem 147

da renda gerada na economia (CHACON 2007 p146147)

Graacutefico 2 ndash Populaccedilatildeo Extremamente Pobre nos Municiacutepios da Microrregiatildeo de Iguatu

ndash 2010

Fonte Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) ndash Censo Demograacutefico 2010

Como podemos observar no graacutefico 2 o municiacutepio que apresenta o maior nuacutemero de

pessoas vivendo em extrema pobreza eacute Icoacute com 17731 pessoas A maioria dos municiacutepios

acima mostra um nuacutemero maior de pessoas nessa situaccedilatildeo na zona rural a uacutenica exceccedilatildeo eacute o

municiacutepio de Oroacutes O que acontece as caracteriacutesticas entre pobreza rural e urbana eacute bastante

diferente No setor primaacuterio grande parcela da populaccedilatildeo ativa natildeo tem rendimentos pois os

filhos jovens e as mulheres trabalham como ajudantes do chefe de famiacutelia na proacutepria terra ou

nas colheitas das fazendas Na aacuterea urbana a totalidade da populaccedilatildeo ativa tem ganhos e por

esse motivo a linha de pobreza eacute definida em patamares de rendimento superiores aos da

zona rural No entanto o custo de vida nas cidades eacute mais elevado pois todos os itens que

Iguatu Oroacutes Quixelocirc Icoacute Cedro

Total 12676 4468 4637 17731 6539

Urbano 6268 3095 917 4202 2886

Rural 6408 1373 3720 13529 3653

02000400060008000

100001200014000160001800020000

211

compotildeem as necessidades indispensaacuteveis para o indiviacuteduo exigem gastos monetaacuterios Na aacuterea

rural muitas vezes roccedilas familiares fornecem uma parte dos produtos de alimentaccedilatildeo e de

modo geral os custos com habitaccedilatildeo e transportes satildeo reduzidos

De fato o que se espera dada a natureza do problema eacute que uma poliacutetica seja capaz

de influenciar as carecircncias urbanas e rurais de forma homogecircnea Contudo tendo

seu cerne em questotildees distintas o estado de privaccedilatildeo rural (urbano) de um

municiacutepio pode vir a ser menos influenciado quando accedilatildeo de combate agrave pobreza

possua elementos mais evidenciados no cenaacuterio urbano (rural) Neste sentido seria

interessante conhecer um pouco mais da relaccedilatildeo existente entre tais cenaacuterios para

que se possa visualizar se a poliacutetica de combate agrave pobreza contempla caracteriacutesticas

que culminem numa uniformidade da accedilatildeo independente do espaccedilo (COSTA 2016

P2)

Segundo o Iacutendice FIRJAN de Desenvolvimento Municipal (IFDM) acompanha o

desenvolvimento socioeconocircmico dos mais de todos os municiacutepios brasileiros com base nas

trecircs aacutereas fundamentais ao desenvolvimento humano Educaccedilatildeo Sauacutede Emprego e Renda O

iacutendice foi criado em 2008 e possui periodicidade anual eacute calculado exclusivamente com

estatiacutesticas puacuteblicas oficiais Sua metodologia permite tanto analisar o retrato anual dos

municiacutepios quanto agrave evoluccedilatildeo ao longo dos anos A leitura dos resultados eacute bastante simples

o IFDM varia de 0 a 1 sendo que quanto mais proacuteximo de 1 maior o desenvolvimento da

localidade Para facilitar a anaacutelise satildeo estabelecidos valores de referecircncia e definidos quatro

conceitos

Tabela 3 - Iacutendice FIRJAN de Desenvolvimento Municipal dos Municiacutepios da

Microrregiatildeo de Iguatu no Ano de 2013

IFDM e Aacutereas de desenvolvimento Municiacutepios

Iguatu Icoacute Oroacutes Quixelocirc Cedro

IFDM 07687 06532 06224 06042 05562

Educaccedilatildeo 07549 06423 07278 07513 06659

Sauacutede 09473 08050 08464 06600 06316

Emprego e Renda 06039 05122 02930 04013 03712

Fonte FIRJAN ndash 2013

212

Segundo o iacutendice FIRJAN (2013) como pode ser observadas na tabela 3 quatro

cidades da microrregiatildeo de Iguatu apresentam um nuacutemero moderado de desenvolvimento com

exceccedilatildeo do municiacutepio de Cedro que apresenta um valor dentro dos paracircmetros como regular

abaixo das outras cidades como esperado o municiacutepio mais desenvolvido eacute Iguatu Destaque

para os nuacutemeros da sauacutede dentre os trecircs municiacutepios mais populosos Iguatu Icoacute e Oroacutes com

um alto estagio de desenvolvimento seguindo os nuacutemeros do estado do Cearaacute

Entre as aacutereas de desenvolvimento do IFDM Sauacutede eacute a vertente na qual o Cearaacute

possui o maior nuacutemero de municiacutepios em alto grau de desenvolvimento 57 (310

do total) Haacute ainda 117 cidades (636) com IFDM Sauacutede moderado 10 (54)

com conceito regular e nenhuma com baixo desenvolvimento Na comparaccedilatildeo com a

mediccedilatildeo anterior 582 dos municiacutepios cearenses registraram crescimento no

indicador de Sauacutede devido principalmente a avanccedilos no acompanhamento preacute-

natal Com pontuaccedilatildeo acima dos 09 pontos os municiacutepios de Iguatu (09473)

Itarema (09391) Ibicuitinga (09256) Potiretama (09196) Itaiccedilaba (09140)

General Sampaio (09077) e Pentecoste (09056) satildeo os destaques cearenses no

IFDM Sauacutede (FIRJAN 2015)

Na aacuterea da educaccedilatildeo todos os municiacutepios apresentaram desenvolvimento moderado

que segundo o FIRJAN (2015) O IFDM Educaccedilatildeo foi a vertente na qual os municiacutepios do

estado mais avanccedilaram 161 cidades cearenses que eacute cerca de 875 evoluiacuteram nessa aacuterea

incentivadas principalmente por melhorias no IDEB que se elevou em cerca de 80 dos

casos Aleacutem disso dois municiacutepios cearenses figuraram entre as 500 maiores notas do IFDM

Educaccedilatildeo do paiacutes O grande problema ao analisar a tabela 3 fica com a questatildeo do emprego e

da renda onde os valores apresentados satildeo de baixo estado de desenvolvimento a regular o

municiacutepio de Oroacutes apresenta o pior resultado Como foi visto anteriormente tanto a cidade de

Oroacutes quanto Quixelocirc apresenta um grande problema com trabalho informal alguns setores

importantes como a construccedilatildeo civil estatildeo operando mas natildeo de maneira formal

O que observamos eacute uma falta de planejamento urbano nos municiacutepios da

microrregiatildeo de Iguatu na visatildeo de muitos autores que entendem de maneira bastante

comum como sendo um conjunto de propostas que antecedem a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas voltadas para a melhoria da qualidade de vida nas cidades Concordando com essas

afirmaccedilotildees Souza (2001) define o planejamento afirmando que ele eacute a ―preparaccedilatildeo para a

gestatildeo futura buscando-se evitar ou minimizar problemas e ampliar margens de manobra

Para esse autor eacute preciso que a tarefa de planejar seja precedida de um ―esforccedilo de

213

imaginaccedilatildeo do futuro ou seja pensar o planejamento como um instrumento que antecede a

elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas futuras e que sejam viaacuteveis (SOUZA 2001 p

46-47)

Segundo FERRARI (2004) o Planejamento Urbano no Brasil foi regularizado em

instrumentos urbaniacutesticos apresentando nos Planos Diretores e Leis de Uso e Ocupaccedilatildeo do

Solo seus representantes que se tornaram alternativas mais que perfeitas para resolver os

problemas sociais Contudo muitos desses planos soacute tiveram a pretensatildeo de guiar a orientaccedilatildeo

ao ambiente construiacutedo natildeo enfrentando as questotildees sociais

Existe uma ampla legislaccedilatildeo urbaniacutestica que seguindo os planos urbanos oferece aos

governos um grande nuacutemero de possibilidades em promover o melhoramento das cidades com

politicas puacuteblicas especificas como a ampliaccedilatildeo de recursos regularizaccedilatildeo do mercado

regularizaccedilatildeo de aacutereas privadas ocupadas irregularmente preservar o patrimocircnio cultural

arquitetocircnico urbano e ambiental e promover o desenvolvimento sustentaacutevel como eacute

afirmado por FERRARI (2004) Contudo os planos e a centralizaccedilatildeo juntamente com as

legislaccedilotildees na conduccedilatildeo da discussatildeo urbana natildeo responderam agraves questotildees contraditoacuterias

dentro do contexto socioespacial

Um dos motivos pelo qual isso acontece eacute que entre a Lei e sua aplicaccedilatildeo haacute um

abismo que eacute mediado pelas relaccedilotildees de poder na sociedade Eacute por demais

conhecido inclusive popularmente no Brasil o fato de que a aplicaccedilatildeo da lei

depende de a quem ela (a aplicaccedilatildeo) se refere Essa ―flexibilidade que inspirou

tambeacutem o ―jeitinho brasileiro ajuda a adaptar uma legislaccedilatildeo positivista moldada

sempre a partir de modelos estrangeiros a uma sociedade onde o exerciacutecio do poder

se adapta agraves circunstacircncias (MARICATO 2001 p 42)

Como observa MARICATO (2001) a implementaccedilatildeo de politicas puacuteblicas nas

cidades brasileiras ainda eacute um problema por ser um processo com bastante tramites entre a

elaboraccedilatildeo da lei e sua aplicaccedilatildeo na maioria das vezes acaba por natildeo acontecer ou ser

implantado de forma incorreta com negligecircncia A falta de politicas puacuteblicas voltadas para o

desenvolvimento da microrregiatildeo de Iguatu eacute um fato com exceccedilatildeo da cidade polo Iguatu os

outros municiacutepios ainda satildeo muito carentes de politicas puacuteblicas principalmente voltadas para

emprego renda e a infraestrutura do meio urbano

214

5 ndash Conclusotildees

O que podemos notar com o passar dos anos eacute o aumento da urbanizaccedilatildeo nos

municiacutepios cearenses especificamente na microrregiatildeo de Iguatu o ecircxodo rural eacute o principal

fator a busca por melhores condiccedilotildees de vida em questatildeo de emprego e renda nos centros

urbanos Icoacute e Quixelocirc ainda apresentam um nuacutemero maior de habitantes na zona rural mas o

percentual vem diminuindo e essa realidade tende a mudar tambeacutem

O estado do Cearaacute nos anos 80 procurou promover por meio de politicas puacuteblicas uma

descentralizaccedilatildeo da industrial no estado por meio de recursos como o Fundo de

Desenvolvimento Industrial ndash FDI Iguatu tem um nuacutemero maior de empresas industriais

ativas em relaccedilatildeo aos outros municiacutepios a induacutestria calccediladista faz parte desse cenaacuterio

Iguatuense em busca de forccedila de trabalho barata e incentivos fiscais formaram o que atraiu

para regiatildeo uma importante empresa no setor vemos a induacutestria de transformaccedilatildeo se

sobressair sobre os demais setores nessas cidades da microrregiatildeo de Iguatu

Os resultados em relaccedilatildeo agrave extrema pobreza satildeo bastante preocupantes a maioria dos

municiacutepios mostra um nuacutemero maior de pessoas nessa situaccedilatildeo na zona rural a uacutenica exceccedilatildeo

eacute o municiacutepio de Oroacutes o municiacutepio que apresenta o maior nuacutemero de pessoas vivendo em

extrema pobreza eacute Icoacute com 17731 pessoas com isso podemos observar a incoerecircncia das

politicas puacuteblicas aplicadas Quatro cidades da microrregiatildeo de Iguatu apresentam um nuacutemero

moderado de desenvolvimento com exceccedilatildeo do municiacutepio de Cedro que apresenta um valor

dentro dos paracircmetros como regular abaixo das outras cidades como esperado o municiacutepio

mais desenvolvido eacute Iguatu O grande problema fica com a questatildeo do emprego e da renda

onde os valores apresentados satildeo de baixo estado de desenvolvimento a regular o municiacutepio

de Oroacutes apresenta o pior resultado

Referecircncias

CHACON S O sertanejo e o caminho das aacuteguas politicas puacuteblicas modernidade e

sustentabilidade no semiaacuterido Serie BNB Teses e Dissertaccedilotildees Ndeg 08 Fortaleza 2007

CORREcircA Roberto Lobato O Espaccedilo Urbano Editora Aacutetica Seacuterie Princiacutepios 3a ediccedilatildeo n

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IPECE - Instituto de Pesquisa e Estrateacutegia Econocircmica do Cearaacute Perfil Baacutesico Municipal

Cedro 2016 httpwwwipececegovbrperfil_basico_municipal2016Cedropdf

IPECE - Instituto de Pesquisa e Estrateacutegia Econocircmica do Cearaacute Perfil Baacutesico Municipal Icoacute

2016 httpwwwipececegovbrperfil_basico_municipal2016Icoacutepdf

IPECE - Instituto de Pesquisa e Estrateacutegia Econocircmica do Cearaacute Perfil Baacutesico Municipal

Iguatu 2016 httpwwwipececegovbrperfil_basico_municipal2016Iguatupdf

IPECE - Instituto de Pesquisa e Estrateacutegia Econocircmica do Cearaacute Perfil Baacutesico Municipal

Oroacutes 2016 httpwwwipececegovbrperfil_basico_municipal2016Oroacutespdf

IPECE - Instituto de Pesquisa e Estrateacutegia Econocircmica do Cearaacute Perfil Baacutesico Municipal

Quixelocirc 2016 httpwwwipececegovbrperfil_basico_municipal2016Quixelocircpdf

NOGUEIRA Claacuteudio Andreacute Gondim FORTE Seacutergio Henrique Arruda Cavalcante A

Eficaacutecia das Poliacuteticas de Combate agrave Pobreza e os Desafios na Priorizaccedilatildeo das Intervenccedilotildees

nos Municiacutepios Cearenses IPECE - Textos para Discussatildeo Nordm 118 ndash JUN 2016

MACEDO Fernando Ceacutezar de LIMA JUacuteNIOR Francisco do Olsquo de MORAIS Joseacute

Micaelson Lacerda Dinacircmica Econocircmica E Rede Urbana Cearense No Iniacutecio Do Seacuteculo

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216

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Cearaacute em Debate 2011

GUIMARAtildeES Alexandre Queiroz Iniciativas para a promoccedilatildeo de emprego e renda poliacuteticas

puacuteblicas economia solidaacuteria e desenvolvimento local Artigo recebido em nov 2009 e aceito

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SOUZA Marcelo Lopes de Mudar a Cidade Uma Introduccedilatildeo Criacutetica ao Planejamento e agrave

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Satildeo Paulo 10ordf ediccedilatildeo

TONELLA C Poliacuteticas urbanas no Brasil Marcos Legais Sujeitos e Instituiccedilotildees Soc

estado vol28 no1 Brasiacutelia JanApr 2013

217

O PROGRAMA DE AQUISICcedilAtildeO DE ALIMENTOS (PAA) E SUA CONTRIBUICcedilAtildeO

PARA OS AGRICULTORES FAMILIARES DO BRASIL

Ana Paula Pereira

Graduada em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA) Email

anapaula33377gmailcom Contato (88) 997134793

Janiele de Brito de Souza

Especialista em Praacutetica Docente no Ensino Superior pelas Faculdades Integradas de Patos

(FIP) Bacharel em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA) e

Tecnoacuteloga em Gestatildeo de Recursos Humanos pela Faculdade Leatildeo Sampaio (FLS)

Atualmente integra o corpo docente do departamento de Economia da URCA como

professora substituta Email janielebritogmailcom Contato (88) 996000282

218

O PROGRAMA DE AQUISICcedilAtildeO DE ALIMENTOS (PAA) E SUA CONTRIBUICcedilAtildeO

PARA OS AGRICULTORES FAMILIARES DO BRASIL

RESUMO

O processo de modernizaccedilatildeo da agricultura brasileira ocorrido em meados da deacutecada de 1960

modificou a estrutura agraacuteria com poliacuteticas agriacutecolas que beneficiaram o setor capitalista o

que resultou no aumento da exclusatildeo social Poreacutem a partir da deacutecada de 1990 novas

poliacuteticas puacuteblicas emergem em prol do agricultor familiar O objetivo geral da pesquisa

consiste em demonstrar a relevacircncia do Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) para os

agricultores familiares no contexto nacional Sendo assim discutiu-se inicialmente o conceito

de agricultura familiar e suas principais poliacuteticas puacuteblicas Posteriormente o Programa de

Aquisiccedilatildeo de Alimentos e sua sistemaacutetica de doaccedilatildeo de alimentos Por uacuteltimo os efeitos do

Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos na melhoria da qualidade de vida dos agricultores

familiares brasileiros Para tanto recorreu-se a uma abordagem qualitativa de fins

exploratoacuterios e descritivo buscando maiores informaccedilotildees sobre o tema de estudo Com base

em dados secundaacuterios atraveacutes de pesquisa bibliograacutefica e documental visando fundamentar o

problema foi realizada revisatildeo de literatura utilizando obras que retratam a temaacutetica da

agricultura familiar e do PAA Foi utilizada a base de dados do PRONAF atraveacutes dos

anuaacuterios estatiacutesticos do Banco Central Constatou-se que o programa tem trazido grandes

benefiacutecios para os agricultores familiares brasileiros como maior relevacircncia para a promoccedilatildeo

do incremento da renda gerado pelas compras governamentais e a diversidade na produccedilatildeo

que influencia a questatildeo nutricional e a possibilidade de criaccedilatildeo de outros canais de

comercializaccedilatildeo Tais fatores tecircm contribuiacutedo para melhoria da qualidade de vida do

agricultor e a sua permanecircncia no campo

Palavras-chaves Agricultura Familiar Poliacuteticas Puacuteblicas Programa de Aquisiccedilatildeo de

Alimentos

ABSTRACT

The process of modernization of Brazilian agriculture in the mid-1960s changed the agrarian

structure with agricultural policies that benefited the capitalist sector which resulted in an

increase in social exclusion However from the 1990s new public policies emerge in favor of

the family farmer The overall objective of the research is to demonstrate the relevance of the

Food Acquisition Program (PAA) to family farmers in the national context Thus the concept

of family agriculture and its main public policies was initially discussed Subsequently the

Food Acquisition Program and its food donation system Finally the effects of the Food

Acquisition Program on improving the quality of life of Brazilian family farmers To do so we

used a qualitative approach for exploratory purposes and descriptive searching for more

information about the subject of study Based on secondary data through bibliographical and

documentary research aiming to substantiate the problem a literature review was carried

out using works that portray the theme of family agriculture and the PAA The PRONAF

database was used through the statistical yearbooks of the Central Bank It was verified that

the program has brought great benefits to the Brazilian family farmers as a greater

relevance for the promotion of the increment of the income generated by government

purchases and the diversity in the production that influences the nutritional question and the

possibility of creating other channels of commercialization These factors have contributed to

the improvement of the quality of life of the farmer and his permanence in the field

Keywords Family Farming Public Policy Food Acquisition Program

219

1 Introduccedilatildeo

O processo de modernizaccedilatildeo da agricultura brasileira ocorrido em meados da deacutecada

de 1960 modificou a estrutura agraacuteria com poliacuteticas agriacutecolas que beneficiaram o setor

capitalista o que resultou no aumento da exclusatildeo social A poliacutetica de creacutedito utilizada nesse

processo envolvia projetos de benefiacutecio agrave grande produccedilatildeo um processo excludente com

privileacutegio para a regiatildeo Sul Sudeste e Centro Oeste enquanto o Norte e Nordeste lugares de

maior concentraccedilatildeo de pequenos produtores foram desfavorecidos por este processo (ALVES

CONTINI HAINZELIN 2005)

Dessa forma para os pequenos produtores as medidas foram de um todo negativo

visto que natildeo tinham capacidade financeira para adaptar-se agrave nova realidade e com a

expansatildeo da monocultura o pequeno produtor obrigou-se a vender suas terras para o grande

latifundiaacuterio (FRANCO 2001)

Contudo as uacuteltimas deacutecadas foram de grande avanccedilo no intuito de promover melhor a

qualidade de vida para os produtores familiares Na deacutecada de 1990 foi criado o Programa

Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) em resposta agraves

reivindicaccedilotildees dos sindicatos rurais O programa representou o reconhecimento da categoria

por parte do governo (PERACI BITTENCOURT 2010)

O programa permite o acesso aos recursos financeiros atraveacutes de creacutedito com taxas de

juros abaixo da inflaccedilatildeo no intuito de ampliar a capacidade produtiva do agricultor familiar e

promover um desenvolvimento rural sustentaacutevel contudo existia uma lacuna quanto ao apoio

ao comeacutercio dos alimentos produzidos (BIANCHINI 2015)

Em 2003 foi criado o Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) em resposta agrave

deficiecircncia quanto agrave venda e a dificuldade quanto agrave formaccedilatildeo de preccedilos O programa aleacutem de

promover o acesso agrave alimentaccedilatildeo para pessoas em situaccedilatildeo de inseguranccedila alimentar tem por

objetivo apoiar os agricultores familiares que fazem parte do PRONAF no intuito de

fortalecer a categoria atraveacutes do apoio agrave comercializaccedilatildeo por meio de compra de alimentos

por parte do governo com dispensa de licitaccedilatildeo a preccedilos estipulados de acordo com cada

regiatildeo (BRASIL2003)

Portanto buscou-se reunir dados e informaccedilotildees com o propoacutesito de responder ao

seguinte problema de pesquisa o programa tem de fato melhorado significativamente a vida

dos agricultores familiares brasileiros

O objetivo geral da pesquisa consiste em demonstrar a relevacircncia do Programa de

Aquisiccedilatildeo de Alimentos para os agricultores familiares no contexto nacional Como objetivos

220

especiacuteficos propotildeem-se i) entender a realidade da agricultura familiar no Brasil ii) conhecer

o Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos e sua sistemaacutetica de doaccedilatildeo de alimentos e iii)

evidenciar os efeitos do Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos na melhoria da qualidade de

vida dos agricultores familiares brasileiros

Assim o presente artigo discute inicialmente os conceitos de agricultura familiar com

ecircnfase nas poliacuteticas puacuteblicas de fortalecimento agrave categoria Posteriormente apresenta o

Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos especificando as modalidades de aquisiccedilatildeo de

alimentos e como satildeo realizadas as doaccedilotildees de alimentos Finalmente seratildeo demonstradas as

contribuiccedilotildees do programa especificando seus benefiacutecios para os agricultores familiares bem

como seratildeo apontadas algumas limitaccedilotildees que o programa apresenta

2 Referencial Teoacuterico

21 A agricultura familiar no Brasil

O campesinato no Brasil eacute marcado por lutas no intuito de conseguir seu espaccedilo na

sociedade visto que durante muito tempo na histoacuteria brasileira a agricultura consistia na

monocultura na valorizaccedilatildeo dos grandes latifuacutendios O signo da precariedade sob o qual se

construiu o espaccedilo camponecircs o tornou incapaz de proacuteprio potencial (WANDERLEY 1996)

Wanderley (1996) cita a agricultura camponesa como aquela cuja base eacute dada pela

produccedilatildeo realizada pela famiacutelia que esse caraacuteter familiar eacute determinado na junccedilatildeo de trecircs

fatores patrimocircnio trabalho e consumo enfatizando que os camponeses satildeo dedicados a

garantir o sustento familiar sem interesse em investir na atividade

Para Abramovay (1997) a agricultura familiar eacute aquela em que a maior parte da matildeo

de obra e a gestatildeo do trabalho satildeo exercidas pelos membros da famiacutelia e que este trabalho seja

transferido de pai para filho ou seja em sucessatildeo profissional ―O importante eacute que estes trecircs

atributos baacutesicos (gestatildeo propriedade e trabalho familiar) estatildeo presentes em todas elas

(ABRAMOVAY 1997 p 3)

Para o autor a rotulaccedilatildeo de pequeno produtor natildeo se enquadra ao agricultor familiar

visto que este termo denota algueacutem que vive em condiccedilotildees precaacuterias utilizando de teacutecnicas

tradicionais que natildeo conseguem se inserir na competiccedilatildeo do mercado

No Brasil os criteacuterios para a categoria foram definidos a partir da lei 11326 de 24 de

julho de 2006 que define oficialmente agricultura familiar como categoria profissional sendo

considerados aqueles que podem ser assim descritos

221

I natildeo detenha a qualquer tiacutetulo aacuterea maior do que 4 (quatro) moacutedulos fiscais

II utilize predominantemente matildeo-de-obra da proacutepria famiacutelia nas atividades

econocircmicas do seu estabelecimento ou empreendimento

III tenha renda familiar em percentual miacutenimo originada de atividades

econocircmicas vinculadas ao proacuteprio estabelecimento ou empreendimento

IV dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua famiacutelia (BRASIL

2006 p1)

Abramovay (1997) ressalta a importacircncia da agricultura familiar no combate agrave

exclusatildeo social afirmando ser um elemento decisivo para que haja a pressatildeo social na luta

pela inclusatildeo da classe e de condiccedilotildees para a permanecircncia do homem no campo

Nesse sentido Veiga (1996) enfatiza que a agricultura familiar apresenta diversas

vantagens em relaccedilatildeo agrave patronal e cita como pontos principais a versatilidade e a questatildeo de

que a agricultura patronal gera concentraccedilatildeo da renda e de exclusatildeo social ao passo que a

agricultura familiar apresenta perfil distributivo sob a oacutetica da sustentabilidade

O autor cita o Brasil como o mais intenso na histoacuteria no favorecimento da agricultura

patronal contudo a agricultura familiar resistiu e somente era superada na questatildeo da

utilizaccedilatildeo da tecnologia com as maacutequinas agriacutecolas natildeo havendo grandes diferenccedilas na

praacutetica de conservaccedilatildeo de solo Apenas na deacutecada de 1990 a agricultura familiar passa a ser

vista pelas poliacuteticas puacuteblicas como uma linha estrateacutegica de desenvolvimento rural o

segmento passa a ter valorizaccedilatildeo poreacutem sem que haja um rompimento com superioridade da

agricultura patronal (VEIGA 1996)

Os pequenos empreendimentos familiares necessitam de poliacuteticas apropriadas para o

setor que promovam a permanecircncia do produtor familiar no campo A diferenciaccedilatildeo do

segmento eacute um ponto fundamental na criaccedilatildeo de poliacuteticas para a agricultura Eacute importante

frisar que a intervenccedilatildeo do governo no sentido de melhorar a vida do agricultor familiar pode

vir a minimizar os efeitos passados que dificultaram o trabalho no campo para o pequeno

produtor (SCHMITT 2005)

No processo histoacuterico a comercializaccedilatildeo de produtos da agricultura familiar foi

ausente nas poliacuteticas voltadas ao segmento o que sempre gerou um desestiacutemulo aos

produtores familiares As accedilotildees do governo refletem a grande importacircncia que podem

desencadear o desenvolvimento local ―Atrair a participaccedilatildeo de outras esferas de governo eacute

importante natildeo soacute na agregaccedilatildeo de capacidade operacional como tambeacutem pelo estiacutemulo agrave

abertura de mercados institucionais para a agricultura familiar (BRASIL 2015a p 2)

Em 1995 foi criado o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

222

(PRONAF) que representa a legitimaccedilatildeo do Estado brasileiro da agricultura familiar como

categoria social que ateacute entatildeo natildeo se tinha qualquer poliacutetica puacuteblica que a apoiasse O

PRONAF possibilitou a formulaccedilatildeo de outras poliacuteticas de valorizaccedilatildeo da agricultura familiar

e proporcionou um novo momento para o segmento (GRISA SCHNEIDER 2015)

O programa eacute destinado a ampliar a capacidade produtiva e estimular a geraccedilatildeo de

renda e funciona como uma linha de creacutedito rural fruto de uma intensa participaccedilatildeo das

organizaccedilotildees da agricultura familiar que atualmente dispotildee de diversas linhas de creacuteditos

(BIANCHINI 2015) Entre as principais linhas de creacuteditos destacam-se PRONAF custeio

PRONAF mais alimentos PRONAF agroinduacutestria PRONAF custeio e comercializaccedilatildeo de

agroinduacutestrias familiares PRONAF jovem e PRONAF mulher dentre outras

Em toda a sua execuccedilatildeo o PRONAF ampliou o nuacutemero de beneficiaacuterios tomadores

de financiamento bem como os recursos destinados para a poliacutetica De acordo com dados do

MDA na safra 20152016 foram liberados R$ 289 bilhotildees o que representa uma elevaccedilatildeo de

20 frente agrave safra anterior O interessante eacute que o iacutendice de inadimplecircncia natildeo atinge 1

demonstrando uma boa gerecircncia por parte dos agricultores (BRASIL 2016a)

A valorizaccedilatildeo do agricultor familiar atraveacutes da implementaccedilatildeo do PRONAF tornou

possiacuteveis outras poliacuteticas de incentivo agrave categoria Um conjunto de poliacuteticas puacuteblicas e accedilotildees

de diversos modos foi implementado no intuito de fortalecer o agricultor familiar Dentre elas

estatildeo o Programa de Garantia de Preccedilos para a Agricultura Familiar (PGPAF) o Seguro da

Agricultura Familiar (SEAF) o Garantia-Safra (GS) e o Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos

(PAA)

Criado no acircmbito do governo federal o PGPAF engloba os produtores familiares que

participam do PRONAF Financiamento e Custeio Quando ocorre uma reduccedilatildeo nos preccedilos

dos produtos o programa garante desconto no financiamento de forma que o pagamento do

mesmo natildeo ultrapasse os custos de produccedilatildeo O programa tem por objetivo assegurar a

remuneraccedilatildeo dos custos de produccedilatildeo garantir que o pequeno produtor permaneccedila com a

atividade e a sustentaccedilatildeo dos preccedilos (GRISA SCHNEIDER 2015)

No caso do SEAF criado no intuito de promover ao produtor uma plantaccedilatildeo segura o

seguro eacute destinado aos agricultores familiares que recorrem ao financiamento vinculado ao

PRONAF com a promoccedilatildeo de medidas de prevenccedilatildeo climaacuteticas ―O seguro tem por objetivos

reduzir os riscos nas plantaccedilotildees evitar renegociaccedilotildees promover ampliaccedilatildeo do acesso ao

creacutedito e estiacutemulo ao uso de tecnologia apropriada (BRASIL2014 p02)

223

O Garantia-Safra (GS) tambeacutem eacute uma das accedilotildees do PRONAF mas diferente do SEAF

uma vez que este funciona como medida preventiva e o GS destina-se a agricultores que se

encontram em municiacutepios que apresentem riscos a perdas de safra devido agrave estiagem ou

mesmo excesso de chuva em municiacutepios que houver perdas em pelo menos 50 da produccedilatildeo

de produtos baacutesicos da alimentaccedilatildeo e outros itens definidos pelos oacutergatildeos gestores (

BRASIL2016a)

Para fazer parte do programa eacute necessaacuterio ser agricultor familiar em conformidade

com os requisitos do PRONAF que sua renda natildeo ultrapasse 15 (um e meio) salaacuterio miacutenimo

ter aderido ao programa antes da plantaccedilatildeo obter aacuterea em ateacute quatro moacutedulos fiscais

Somente na safra em 2016 o GS atendeu cerca de 850 mil famiacutelias (BRASIL 2014)

22 O Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos e a sistemaacutetica da doaccedilatildeo de alimentos

Para que haja um crescimento agriacutecola de forma inclusiva eacute necessaacuteria a promoccedilatildeo de

poliacuteticas que visem minimizar a pobreza no paiacutes de forma a tornar possiacutevel que essa classe

mais necessitada venha a ter acesso como mais facilidade de alimentaccedilatildeo ―Para possibilitar

um crescimento agriacutecola que resulte no aumento da seguranccedila alimentar e reduccedilatildeo da

pobreza os agricultores familiares precisam das condiccedilotildees necessaacuterias de inclusatildeo no

processo de desenvolvimento (BALABAN 2013 p 9)

O PAA eacute uma poliacutetica puacuteblica criada no intuito de executar accedilotildees na esfera agriacutecola e

de seguranccedila alimentar criado como parte do Programa Fome Zero eacute executado por estados e

municiacutepios em parceria com o Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome

(MDS) Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio (MDA) e pela Companhia Nacional de

Abastecimento (CONAB) (BRASIL 2003)

O PAA eacute um instrumento que articula o poder de compra do Estado priorizando os

segmentos vulneraacuteveis da populaccedilatildeo A interaccedilatildeo entre os temas da pobreza rural e

da seguranccedila alimentar e nutricional possibilita combinar intervenccedilotildees estruturais de

estiacutemulo agrave produccedilatildeo pela via do acesso ao mercado institucional com a accedilatildeo

emergencial de combate agrave fome (BRASIL 2015a p 1)

Assim o PAA tem por finalidade dois objetivos principais o de promover o acesso agrave

alimentaccedilatildeo para pessoas em condiccedilotildees de inseguranccedila alimentar e de fortalecer a agricultura

familiar atraveacutes da compra dos produtos produzidos O programa foi criado atraveacutes da Lei n

10696 de 2 de julho de 2003

Art 19 Fica instituiacutedo o Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos com a finalidade de

incentivar a agricultura familiar compreendendo accedilotildees vinculadas agrave distribuiccedilatildeo de

224

produtos agropecuaacuterios para pessoas em situaccedilatildeo de inseguranccedila alimentar e agrave

formaccedilatildeo de estoques estrateacutegicos sect 1

o Os recursos arrecadados com a venda de estoques estrateacutegicos formados nos

termos deste artigo seratildeo destinados integralmente agraves accedilotildees de combate agrave fome e agrave

promoccedilatildeo da seguranccedila alimentar

sect 2o O Programa de que trata o caput seraacute destinado agrave aquisiccedilatildeo de produtos

agropecuaacuterios produzidos por agricultores familiares que se enquadrem no Programa

Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar ndash PRONAF ficando dispensada

a licitaccedilatildeo para essa aquisiccedilatildeo desde que os preccedilos natildeo sejam superiores aos

praticados nos mercados regionais (BRASIL 2003 p 1)

O PAA para o agricultor familiar vem como uma garantia de se ter parte da produccedilatildeo

demandada Nesse sentido Pandolfo (2008) cita a comercializaccedilatildeo como principal obstaacuteculo

para o agricultor familiar Aleacutem da dificuldade em comercializar os produtos a preccedilos baixos

e com poliacuteticas voltadas para atender o interesse das grandes induacutestrias em detrimentos dos

pequenos produtores

O PAA representa a primeira poliacutetica em que o Estado interveacutem diretamente na

comercializaccedilatildeo de produtos da agricultura familiar As aquisiccedilotildees de alimentos juntamente

com a sustentaccedilatildeo de preccedilos incentivam ao produtor produzir com mais qualidade ―A

demanda estruturada ajuda a incentivar a diversificaccedilatildeo da produccedilatildeo agriacutecola familiar

garantindo mercados e preccedilos estaacuteveis para uma seacuterie de culturas (BALABAN 2013 p18)

Os produtos devem ser produzidos pelos agricultores familiares seguindo requisitos

de controle de qualidade e preccedilos que seguem uma referecircncia regional para cada alimento

Para que o agricultor possa fornecer alimentos para o programa eacute necessaacuterio que estejam

incluiacutedos nos termos da Lei n 11326 de 24 de julho de 2006 devendo apresentar declaraccedilatildeo

de aptidatildeo do PRONAF de modo que podem participar do PAA individualmente ou por meio

de cooperativa ou organizaccedilotildees formalmente constituiacutedas (BRASIL 2016a)

Os produtos adquiridos pelo programa abrangem uma ampla diversidade com maior

destaque para frutas e hortigranjeiros que atingiram 60 da aquisiccedilatildeo em 2016 em segundo

lugar laticiacutenios mel e processados com 20 seguidos de carnes e pescados com 10 de

gratildeos e oleaginosas com 6 e castanhas e sementes ambas com 2 das aquisiccedilotildees

(CONAB 2017)

O PAA representa possibilidades de ingresso ao mercado por parte dos produtores

familiares garantindo comercializaccedilatildeo o que resulta em fortalecimento da categoria (GRISA

et al 2011)

O PAA sinaliza um novo estaacutegio no que se refere agraves poliacuteticas de fortalecimento da

agricultura familiar sobretudo porque abre um canal de comercializaccedilatildeo para essa

225

categoria social garantindo a aquisiccedilatildeo de seus produtos pelo Estado por meio de

mecanismos diferenciados (GRISA et al 2011 p 37)

Os autores ainda enfocam a questatildeo da atribuiccedilatildeo de preccedilos aos produtos que

consideram Poliacutetica de Garantia de Preccedilos Miacutenimos (PGPM) observando as diferenccedilas

regionais e a realidade local para cada produto A garantia de comercializaccedilatildeo e seus efeitos

sobre os preccedilos e a criaccedilatildeo de novos mercados satildeo fatores que podem repercutir em uma

elevaccedilatildeo da renda obtida pelos agricultores ―A garantia de comercializaccedilatildeo traz um novo

alento a essas famiacutelias que podem lanccedilar matildeo de suas especificidades de seus valores e suas

praacuteticas locais para articular-se com diversos puacuteblicos consumidores (GRISA et al 2011 p

37)

A execuccedilatildeo do programa eacute baseada em diversas modalidades de aquisiccedilatildeo o qual

com o intuito de ampliar sua capacidade eacute gerido por diversos oacutergatildeos governamentais Ao

todo o PAA dispotildee de seis modalidades sendo que em cada uma existe um nuacutecleo gestor

responsaacutevel pela operacionalizaccedilatildeo ―Os variados arranjos e formas de execuccedilatildeo tecircm

assegurado flexibilidade e capacidade de adequaccedilatildeo a diversas realidades requisitos

fundamentais para a articulaccedilatildeo da oferta e do consumo de alimentos (BRASIL 2015b p 1)

O Quadro 01 demonstra as modalidades de aquisiccedilatildeo do programa oacutergatildeos

responsaacuteveis pela operacionalizaccedilatildeo em cada modalidade a forma de acesso e os ministeacuterios

responsaacuteveis pelos recursos

226

Quadro 01 ndash Modalidades de aquisiccedilatildeo

Modalidade Unidades

executoras

Forma de acesso Fonte de recursos

Compra da

Agricultura Familiar

para Doaccedilatildeo

Simultacircnea

Entes federados que

aderiram ao

programa CONAB

Individual

Associaccedilatildeo ou

Cooperativa

MDS

Formaccedilatildeo de

Estoques pela

Agricultura Familiar

ndash CPR Estoque

CONAB Associaccedilatildeo ou

Cooperativa

MDS ou MDA

Compra Direta da

Agricultura Familiar

ndash CDAF

CONAB Associaccedilatildeo ou

Cooperativa

MDS ou MDA

Incentivo agrave Produccedilatildeo

e Incentivo de Leite ndash

PAA Leite

Governos Estaduais

do Nordeste e do

Estado de Minas

Gerais

Individual MDS

Compra Institucional Oacutergatildeo Comprador Individual ou

Cooperativa

Dotaccedilatildeo proacutepria dos

oacutergatildeos compradores

Compra de sementes CONAB Associaccedilatildeo ou

Cooperativa

MDS

Fonte Brasil (2015b)

Silva e Schmitt (2012) enfatizam ser uma marca do programa a operacionalizaccedilatildeo

atraveacutes das diversas modalidades que satildeo aplicadas de maneiras distintas Segundo Pandolfo

(2008) a execuccedilatildeo do programa traz sustentabilidade para unidades rurais em especial nas

modalidades geridas pela CONAB que desempenham papel dinamizador com maior destaque

na modalidade de doaccedilatildeo simultacircnea

A modalidade de compra com doaccedilatildeo simultacircnea promove a compra de alimentos

produzidos por agricultores familiares e a doaccedilatildeo simultacircnea a entidades de cunho

socioassistencial Para participar da modalidade eacute necessaacuterio que os estados e municiacutepios

venham aderir ao programa atraveacutes de termo20

firmado com a Uniatildeo passando a fazer parte

das unidades executoras do programa O pagamento eacute realizado ao produtor por parte do

20

A partir do termo de adesatildeo os estados e municiacutepios passam a estabelecer metas e limites financeiros para as aquisiccedilotildees Pode ser realizado diretamente pelo municiacutepio contudo eacute sugerida a participaccedilatildeo do estado O processo de adesatildeo ocorre em cinco etapas I ndash o municiacutepio envia solicitaccedilatildeo de adesatildeo agrave Secretaria Nacional de Seguranccedila Alimentar e Nutricional (SESAN) II ndash realiza-se anaacutelise de informaccedilotildees acerca do municiacutepio e do estado caso haja participaccedilatildeo apoacutes a anaacutelise das informaccedilotildees eacute emitida a aprovaccedilatildeo ou rejeiccedilatildeo por parte do MDS O termo eacute publicado no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo IV-o MDS propotildee metas V ndash realiza-se o cadastramento da proposta de participaccedilatildeo para beneficiaacuterios fornecedores que devem fornecer nuacutemero da DAP As aquisiccedilotildees de alimentos seratildeo realizadas apoacutes a aprovaccedilatildeo da proposta pelo MDS (BRASIL2016b)

227

governo na forma de creacutedito em cartatildeo proacuteprio para recebimentos relacionados com o

programa (BRASIL 2015a)

A compra com doaccedilatildeo eacute a modalidade de maior demanda de recursos O graacutefico 01

mostra recursos demandados pela modalidade compra com doaccedilatildeo simultacircnea sendo possiacutevel

observar oscilaccedilotildees ao longo dos anos

Graacutefico 01 ndash Recurso da modalidade de compra com doaccedilatildeo simultacircnea -20102016 (em

milhotildees de reais)

Fonte

CONAB (2017)

Atraveacutes do graacutefico nota-se que os recursos aplicados na modalidade apresentaram

oscilaccedilotildees nos uacuteltimos anos sendo 2012 o ano em que a modalidade demandou maiores

recursos para no ano seguinte serem reduzidos em pouco mais de 50

Segundo dados da CONAB em 2016 a modalidade demandou aproximadamente 184

milhotildees de reais em sua maior parte na regiatildeo Nordeste que concentrou 4746 dos recursos

destinados agrave modalidade o Sudeste absorveu 2246 o Norte 1403 o Centro-Oeste 819

e o Sul 786 (CONAB 2017)

A modalidade de compras institucionais criada em 2012 tem por objetivo promover

aos agricultores familiares o acesso ao mercado de compras puacuteblicas e permite que o governo

nas trecircs esferas realize compras da agricultura familiar utilizando de recursos proacuteprios Os

produtos adquiridos atraveacutes desta modalidade satildeo destinados a abastecer entidades puacuteblicas

Em 2012 tornou-se obrigatoacuterio que ao menos 30 dos recursos federais destinados agrave compra

de alimentos sejam realizados na agricultura familiar atraveacutes da compra institucional A

0

50000

100000

150000

200000

250000

300000

350000

400000

450000

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

228

modalidade incentiva agrave produccedilatildeo saudaacutevel visto que a sugestatildeo de preccedilo eacute que para os

produtos orgacircnicos haja um acreacutescimo de 30 em relaccedilatildeo ao preccedilo dos produtos

convencionais Dessa forma tambeacutem haacute um incentivo ao agricultor a garantir a qualidade do

produto criando possibilidades de novos canais de comercializaccedilatildeo (BRASIL 2015b) Nesse

sentido Grisa (2012) cita a importacircncia dessa estrateacutegia no sentido de que o PAA natildeo torne o

agricultor dependente de um programa com limite de demanda

A modalidade de compra direta permite a realizaccedilatildeo da venda de alimentos oriundos

da agricultura familiar para o governo federal seguindo preccedilos que variam entre o preccedilo

miacutenimo e o preccedilo de mercado Nessa modalidade eacute realizada a aquisiccedilatildeo de produtos

especiacuteficos quais sejam arroz feijatildeo milho trigo sorgo farinha de mandioca farinha de

trigo leite em poacute integral castanha-de-caju e castanha-do-brasil seguindo um limite anual de

R$ 800000 por unidade familiar A certificaccedilatildeo da qualidade dos produtos eacute realizada em

conformidade com as normas da CONAB sendo que para algumas mercadorias satildeo

necessaacuterias anaacutelises laboratoriais (BRASIL 2015b)

A modalidade de formaccedilatildeo de estoque eacute baseada na compra de alimentos da safra

vigente permite agraves associaccedilotildees ou cooperativas formadas por agricultores familiares a

obtenccedilatildeo de recursos para a aquisiccedilatildeo de produtos no intuito de formar estoques visando dar

ao agricultor melhores condiccedilotildees de se manter no mercado (BRASIL 2015a)

A Tabela 01 mostra a quantidade de alimentos por regiotildees brasileiras no ano de 2016

atraveacutes da modalidade de formaccedilatildeo de estoque podendo-se observar que a regiatildeo nordeste

diferentemente da participaccedilatildeo na modalidade compra com doaccedilatildeo simultacircnea representa

menos que 2 das aquisiccedilotildees

Tabela 01 Quantidade de produtos por regiatildeo (KG) (2016)

Regiatildeo Norte Nordeste Sul Sudeste Centro-

Oeste Total

Participaccedilatildeo

absoluta 1539195 188720 9144537 0 721837

11594289

Participaccedilatildeo

relativa 1328 163 7887 000 622 100 Fonte CONAB (2017)

Pela tabela pode-se observar que no ano de 2016 foram adquiridos atraveacutes da

modalidade aproximadamente 116 milhotildees de quilos de alimentos na maior parte

representados pela regiatildeo Sul que somou 7887 dos produtos adquiridos no periacuteodo

enquanto o Sudeste natildeo teve qualquer participaccedilatildeo na totalidade de aquisiccedilatildeo de alimentos

para esta modalidade

229

A aquisiccedilatildeo de incentivo agrave produccedilatildeo e ao consumo de leite (PAA-leite) tem por

objetivo contribuir para o combate agrave fome e desnutriccedilatildeo aleacutem de fortalecer o agricultor

familiar na forma de garantir a demanda de leite Para que sejam beneficiados por esta

modalidade eacute necessaacuterio que a famiacutelia tenha renda mensal de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo por

membro familiar e que ao menos um deles cumpra os requisitos exigidos pelo Grupo Gestor

do Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos-GGPAA que satildeo gestantes ou matildees que

amamentem ateacute o sexto mecircs apoacutes o parto crianccedilas entre dois e sete anos de idade pessoas

com idade igual ou superior a 60 anos (BRASIL 2015b)

A modalidade mais recente da aquisiccedilatildeo de sementes criada em 2014 eacute caracterizada

pela compra de sementes por parte do governo no intuito de doaacute-las a agricultores que

tenham a DAP As sementes podem ser demandadas pelas proacuteprias organizaccedilotildees

fornecedoras Para tal eacute necessaacuterio que os oacutergatildeos demandantes apresentem junto agrave CONAB o

plano de distribuiccedilatildeo (BRASIL 2015b)

A modalidade tem limite de aquisiccedilatildeo de ateacute R$ 1600000 por unidade familiar e de

ateacute seis milhotildees de reais por organizaccedilatildeo quando a operaccedilatildeo ultrapassa a aquisiccedilatildeo eacute

realizada mediante chamada puacuteblica Para a formaccedilatildeo de preccedilos realiza-se um plano de

distribuiccedilatildeo a partir de pesquisa realizado no mercado local sendo estipulado a partir da

meacutedia de trecircs cotaccedilotildees No ano de 2016 o gratildeo de milho representou 62 das sementes

distribuiacutedas seguido do arroz com 30 e em menor quantidade o feijatildeo com 8 (CONAB

2017)

3 Metodologia

O presente estudo apresenta uma abordagem qualitativa de fins exploratoacuterios e

descritivo buscando maiores informaccedilotildees sobre o tema de estudo Com base em dados

secundaacuterios atraveacutes de pesquisa bibliograacutefica e documental visando fundamentar o problema

foi realizada revisatildeo de literatura utilizando obras que retratam a temaacutetica da agricultura

familiar e do PAA Foi utilizada a base de dados do PRONAF atraveacutes dos anuaacuterios

estatiacutesticos do Banco Central

Consultaram-se tambeacutem leis decretos sites de oacutergatildeos governamentais tais como

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) a fim de obter dados a respeito da

agricultura familiar no Brasil Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) Ministeacuterio

do Desenvolvimento Agraacuterio (MDA) atraveacutes de dados e relatoacuterios referentes ao PAA aleacutem

230

de recorrer agrave base de dados do PAA DATA no site do Ministeacuterio do Desenvolvimento Social

e Combate Agrave Fome (MDS)

4 Resultado e discussotildees

As poliacuteticas puacuteblicas voltadas para o fortalecimento da agricultura familiar no Brasil

tecircm grande representaccedilatildeo na vida dos agricultores A partir do estudo do que eacute o Programa de

Aquisiccedilatildeo de Alimentos eacute que se buscou examinar resultados em trabalhos e estudos

realizados sobre a contribuiccedilatildeo do programa para o agricultor familiar durante os quatorze

anos de execuccedilatildeo A motivaccedilatildeo principal para a realizaccedilatildeo desta revisatildeo decorreu-

se pela relevacircncia do programa para o agricultor familiar e a necessidade de se ter um

conhecimento dessa contribuiccedilatildeo

O programa tem de fato melhorado significativamente a vida dos agricultores

familiares brasileiros A busca por resultados incluiu pesquisa bibliograacutefica em livros artigos

e em bases eletrocircnicas e busca manual de citaccedilotildees nas publicaccedilotildees inicialmente identificadas

como Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) a fim de obter dados relativos aos

recursos e taxas de elevaccedilatildeo na renda dos fornecedores no site do Ministeacuterio do

Desenvolvimento Social e Combate Agrave Fome (MDS) e atraveacutes da base de dados do PAA

DATA com o objetivo de extrair informaccedilotildees sobre as quantidades de recursos

disponibilizados bem como a quantidade de fornecedores ao programa Para revisatildeo

considerou-se o periacuteodo de abrangecircncia entre 2003 e 2016

41 Impactos positivos do PAA na vida do agricultor familiar brasileiro

Verificou-se que o PAA contribuiu para o fortalecimento da agricultura familiar no

Brasil atraveacutes da consolidaccedilatildeo do mercado e da seguranccedila na comercializaccedilatildeo Em geral os

estudos observados resultam da contribuiccedilatildeo do programa na qualidade de vida dos

agricultores atraveacutes da elevaccedilatildeo da renda que eacute um fator citado em todos os trabalhos

analisados

A elevaccedilatildeo se daacute pela inserccedilatildeo do produtor no mercado institucional e a criaccedilatildeo de

possibilidades de maior competitividade no mercado tradicional criando novos polos de

comeacutercio Para Grisa et al (2011) a criaccedilatildeo desse mercado eacute uma oportunidade de

diversificaccedilatildeo da produccedilatildeo para atingir uma maior demanda

231

Assis et al (2017) observaram que o PAA tem contribuiacutedo com o fortalecimento da

agricultura familiar atraveacutes da consolidaccedilatildeo do mercado e da garantia de comercializaccedilatildeo O

programa vem propiciando elevaccedilatildeo na renda mensal das famiacutelias beneficiadas pelo PAA

Dessa forma contribui para diminuiccedilatildeo do ecircxodo rural

Aleixo et al (2016) verificaram que o PAA contribuiu para a permanecircncia do

agricultor familiar no campo em decorrecircncia dessa renda complementar gerada pelo

programa gerando o aproveitamento da produccedilatildeo que muitas vezes natildeo era comercializada

Estudos realizados por Aleixo et al (2016) revelam que o programa gerou benefiacutecios aos

participantes tais como melhores condiccedilotildees de trabalho aproveitamento do espaccedilo para

produccedilatildeo melhoria da renda e uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel

O programa promoveu a geraccedilatildeo do incremento da renda para agricultores familiares

sustentaccedilatildeo de preccedilos e a proposta de seguranccedila alimentar para a populaccedilatildeo do campo e da

cidade O programa de fato tem promovido a inclusatildeo econocircmica dos fornecedores gerando

poder de compra aos produtores Dessa forma a inserccedilatildeo do agricultor ao programa gera

renda natildeo apenas aos fornecedores mas de forma indireta a toda populaccedilatildeo atraveacutes do efeito

multiplicador gerado pelo poder de compra dos fornecedores o que promove uma maior

circulaccedilatildeo no comeacutercio local (DORETTO MICHELLON 2006)

Dessa forma o programa eacute essencial no incentivo agrave elevaccedilatildeo da renda dos agricultores

familiares contudo benefiacutecios gerados natildeo satildeo apenas econocircmicos mas abrangem a sauacutede e o

bem-estar dos fornecedores dada a promoccedilatildeo e diversificaccedilatildeo e qualidade na alimentaccedilatildeo o

que vem modificando a qualidade de vida natildeo apenas para produtores fornecedores ao

programa mas para a comunidade em geral que adquire os produtos de maior qualidade via

comeacutercio tradicional Assim observou-se a flexibilidade como uma das maiores contribuiccedilotildees

do programa visto que aleacutem do comeacutercio no mercado institucional transmite confianccedila para

o mercado local (GARRIDO2015)

Segundo a CONAB (2017) muitos agricultores mudaram sua realidade de vida com o

programa antes receptores de cestas baacutesicas hoje fornecedores de produtos para o Estado O

programa faz dos agricultores familiares sujeitos atuantes capazes de modificar sua realidade

aleacutem do reconhecimento de sua importacircncia na economia local e da sua inserccedilatildeo neste

mercado Nesse sentido Segundo (2014) enfatiza que embora o programa natildeo seja a poliacutetica

ideal para solucionar os gargalos existentes na produccedilatildeo familiar o PAA representa um

232

grande avanccedilo para este produtor sendo juntamente com o PRONAF agrave medida que mais tem

impacto na vida dos agricultores familiares

Aleacutem dessa elevaccedilatildeo de renda para os agricultores familiares um ponto de grande

relevacircncia citado em trabalhos analisados eacute a questatildeo do auxiacutelio agrave promoccedilatildeo de maior

organizaccedilatildeo nas propriedades rurais O programa promove a diversidade e a qualidade dos

produtos para autoconsumo um ponto importante do PAA eacute o impacto favoraacutevel nos preccedilos

dos produtos Os autores ainda afirmam que o programa mostra bastante relevacircncia por

contribuir para a organizaccedilatildeo e planejamento da oferta por parte dos agricultores

Para Schmitt (2005) o programa ao promover a sustentaccedilatildeo de preccedilo e a garantia da

demanda natildeo beneficia apenas aos agricultores familiares fornecedores de produtos mas

indiretamente aos produtores que satildeo atingidos pelos efeitos do programa

Pode-se observar que o programa ao natildeo restringir o produtor ao mercado

institucional instiga criaccedilatildeo de novos mercados seja pela valorizaccedilatildeo da categoria de

agricultura familiar que promove o reconhecimento social do produtor nas localidades ou

atraveacutes da promoccedilatildeo de uma melhor qualidade nos produtos (GRISA SCHNEIDER 2015)

Os estudos satildeo unacircnimes em apontar que as principais repercussotildees oriundas dos

benefiacutecios do programa ou seja relacionadas agrave sua contribuiccedilatildeo aos agricultores familiares

verificados com maior frequecircncia satildeo incremento da renda atraveacutes do mercado institucional

aleacutem do comeacutercio institucional a criaccedilatildeo de novos mercados fortalecimento das associaccedilotildees

e cooperativas qualidade dos alimentos produzidos incentivo agrave permanecircncia do homem no

campo

42 Impactos negativos e criacuteticas ao programa

Nesta seccedilatildeo foram analisados fatores que constituem aspectos negativos do programa

e limitaccedilotildees apresentadas ateacute entatildeo Um fator apontado como deficiecircncia do programa eacute a

respeito da disponibilizaccedilatildeo de recursos a questatildeo orccedilamentaria eacute uma barreira de

crescimento do PAA pois haacute uma desproporccedilatildeo entre o nuacutemero de produtores que buscam

aderir ao programa e os recursos disponibilizados Essa compatibilidade eacute essencial para que

o programa possa cumprir de maneira eficaz sua proposta (GRISA et al 2010)

Haacute tambeacutem uma necessidade urgente de se pensar em um melhor planejamento na

liberaccedilatildeo de recursos financeiros porque haacute um descompasso entre o montante de recursos e a

eacutepoca da produccedilatildeo aleacutem da limitaccedilatildeo no relacionamento entre oacutergatildeos gestores do programa e

233

as associaccedilotildees ou cooperativas das quais os agricultores fazem parte (DORETTO

MICHELLON 2006)

Haacute falta de informaccedilatildeo acerca da operacionalizaccedilatildeo do programa aos beneficiaacuterios

agricultores familiares que muitas vezes fornecem os alimentos para associaccedilatildeo ou

cooperativa da qual fazem parte sem saber que estatildeo tendo acesso ao PAA muitas vezes

identificado apenas como Programa Fome Zero ou confundido com um creacutedito

disponibilizado pela CONAB (GRISA et al 2011)

Outra limitaccedilatildeo enfatizada nos trabalhos consultados eacute a necessidade de um olhar

mais voltado para um debate sobre o mecanismo de controle social Trata-se de um desafio

importante a questatildeo da funccedilatildeo dos atores sociais envolvidos no programa que poderiam ser

de fato reguladores locais do programa podendo ser responsaacuteveis por apurar possiacuteveis

irregularidades na distribuiccedilatildeo de alimentos A falta de assistecircncia teacutecnica vinculada ao

programa eacute vista como uma deficiecircncia visto que haacute uma necessidade de orientaccedilatildeo para os

agricultores familiares no planejamento da produccedilatildeo para melhor atender aos padrotildees

exigidos (GRISA et al 2011)

Na verdade a necessidade de organizaccedilatildeo que o PAA exige pode ser uma barreira por

interligar diversos atores como o poder puacuteblico produtores e entidades socioassistenciais o

que se torna um problema em algumas localidades onde nem sempre esse niacutevel de

organizaccedilatildeo estaacute presente sendo que a falta de organizaccedilatildeo se agrava na maior parte dos

casos em que haacute o maior niacutevel de pobreza Ou seja nos lugares de maior necessidade do

programa na questatildeo do combate agrave fome eacute onde na verdade se tem a maior dificuldade na sua

operacionalizaccedilatildeo (GRISA et al 2011)

Para SCHMITT (2005) haacute uma necessidade de maior intensificaccedilatildeo na interligaccedilatildeo da

poliacutetica agriacutecola e a de seguranccedila alimentar buscando fincar objetivos em comum o que

resultaria em um aumento da efetividade das accedilotildees governamentais

5 Consideraccedilotildees Finais

O desenvolvimento do presente estudo possibilitou uma demonstraccedilatildeo de quatildeo grande

eacute a importacircncia das poliacuteticas puacuteblicas voltadas para agricultura familiar no Brasil bem como

permitiu visualizar um reflexo dos benefiacutecios dessas poliacuteticas e dificuldades encontradas pelos

agricultores aleacutem de propiciar uma reflexatildeo a respeito da importacircncia do investimento atraveacutes

de disponibilizaccedilatildeo de recursos para a manutenccedilatildeo da poliacutetica

234

O primeiro passo do trabalho foi entender a realidade da agricultura familiar no Brasil

onde se pocircde observar de modo geral que as dificuldades e desafios enfrentados pelos

agricultores familiares soacute foram atendidas embora que de maneira incompleta a partir da

deacutecada de 1990 uma vez que esses produtores sempre ficaram agrave mercecirc de poliacuteticas que

privilegiaram a grande produccedilatildeo e a monocultura mais especificamente da poliacutetica de creacutedito

da qual esses agricultores tinham sido excluiacutedos

O PRONAF foi uma reposta agraves reivindicaccedilotildees dos sindicatos rurais com creacutedito

destinado aos agricultores familiares O programa eacute reconhecido como a poliacutetica de maior

importacircncia na histoacuteria da agricultura familiar pois por meio das diversas linhas de creacutedito

permite ao agricultor familiar ampliar sua capacidade de produccedilatildeo aleacutem de representar um

marco para a categoria O PRONAF impulsionou o surgimento de outras poliacuteticas que

vinculadas ao programa permitem uma plantaccedilatildeo segura por meio do GS e do SEAF

sustentaccedilatildeo de preccedilos atraveacutes do PGPAF e a garantia e demanda para parte da produccedilatildeo

mediante operacionalizaccedilatildeo do PAA

A uacuteltima parte do trabalho buscou evidenciar os efeitos do Programa de Aquisiccedilatildeo de

Alimentos na melhoria da qualidade de vida dos agricultores familiares brasileiros De um

modo geral os trabalhos analisados apontam para benefiacutecios importantes que o programa tem

propiciado aos agricultores familiares contudo atraveacutes da pesquisa pocircde-se concluir que tais

benefiacutecios estatildeo ameaccedilados de um modo especial pela excessiva reduccedilatildeo dos recursos

destinados ao programa

A revisatildeo de literatura permitiu reunir os benefiacutecios que o programa tem trazido para

produtores familiares Em geral eacute citado o incremento da renda atraveacutes das compras

institucionais mais especialmente pela possibilidade de criaccedilatildeo de novos canais de

comercializaccedilatildeo que o programa promove dada a qualidade e diversidade da produccedilatildeo O

programa possibilitou aos fornecedores o reconhecimento da categoria por parte das

comunidades locais

Dada a importacircncia do programa torna-se necessaacuterio uma melhor avaliaccedilatildeo das

dificuldades que assolam sua operacionalizaccedilatildeo de forma a desencadear competecircncias e

habilidades para garantir melhores benefiacutecios aos produtores e que o programa venha a

contemplar uma parcela maior de agricultores familiares

Nesse sentido o programa trouxe um novo incentivo para os agricultores familiares

tanto na questatildeo da geraccedilatildeo de renda e permanecircncia desse produtor no campo quanto na

235

possibilidade de diversificaccedilatildeo na produccedilatildeo o que traz para os agricultores melhor qualidade

de vida mais especificamente na questatildeo nutricional

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238

ANAacuteLISE DO NIacuteVEL DE CAPITAL SOCIAL DA AGRICULTURA NO

TERRITOacuteRIO DA CIDADANIA CARIRI ndash CE

DAcircMARIS COSTA FRUTUOSO

Discente do curso de Ciecircncias Econocircmicas da Universidade Regional do Cariri (URCA)

Unidade Descentralizada de Iguatu ndash UDI E-mail damarisfrutuosogmailcom

GERLAcircNIA MARIA ROCHA SOUSA

Doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Cearaacute

(UFC) Mestre em Economia Rural pela Universidade Federal do Cearaacute (UFC) E-mail

gerlaniarochagmailcom

OTAacuteCIO PEREIRA GOMES

Mestre em Economia Rural pela Universidade Federal do Cearaacute (UFC) E-mail

otaciopggmailcom

ANTOcircNIA KARINE GOMES DOS SANTOS

Discente do curso de Ciecircncias Econocircmicas da Universidade Regional do Cariri (URCA)

Unidade Descentralizada de Iguatu ndash UDI E-mail karinegomes922gmailcom

ANDREacuteA FERREIRA DA SILVA

Doutoranda em Economia Aplicada da Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Mestre em

Economia Rural pela Universidade Federal do Cearaacute (UFC) Graduada em Ciecircncias

Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA) E-mail

andreaeconomiayahoocombr

239

ANAacuteLISE DO NIacuteVEL DE CAPITAL SOCIAL DA AGRICULTURA NO

TERRITOacuteRIO DA CIDADANIA CARIRI ndash CE

RESUMO Analisa-se o niacutevel de capital social associado a agricultura familiar em relaccedilatildeo aos dois niacuteveis de

agregaccedilatildeo soacutecio ambiental no estado do Cearaacute territoacuterio cariri e municiacutepio Utilizou-se dados

primaacuterios e secundaacuterios dados primaacuterios coletados no municiacutepio de Mauriti-CE e secundaacuterios obtido

atraveacutes de consultas O iacutendice de capital social foi calculado por meio da teacutecnica de anaacutelise

multivariada com base nas dimensotildees adaptadas para o estudo o ICS da comunidade foi calculado a

partir dos escores estimados associados aos fatores obtidos na estrutura fatorial definida Obtemos uma

caracterizaccedilatildeo precisa das instituiccedilotildees no territoacuterio e identificamos o niacutevel de capital social da

agricultura no territoacuterio verificando as limitaccedilotildees e dificuldades encontradas

Palavras-chave Agricultura Dificuldades Organizaccedilotildees

ABSTRACT The level of social capital associated with family agriculture is analyzed in relation to the two levels of

socio-environmental aggregation in the state of Cearaacute Cariri territory and municipality Primary and

secondary data were used primary data collected in the municipality of Mauriti-CE and secondary

data obtained through consultations The social capital index was calculated using the multivariate

analysis technique based on the dimensions adapted for the study the community ICS was calculated

from the estimated scores associated with the factors obtained in the defined factorial structure We

obtain a precise characterization of the institutions in the territory and identify the level of social

capital of agriculture in the territory verifying the limitations and difficulties encountered

Keywords Agriculture Difficulties Organizations

240

1 Introduccedilatildeo

Propotildee-se focar esse projeto no niacutevel de capital social com base nos agricultores

familiares do municiacutepio de Mauriti-CE Para tanto de iniacutecio teremos uma breve analise acerca

da agricultura familiar desenvolvimento territorial capital social e territoacuterio do cariri-CE

A agricultura familiar no territoacuterio brasileiro tem papel fundamental na geraccedilatildeo de

empregos e na produccedilatildeo de alimentos os defensores da modernizaccedilatildeo agriacutecola no Brasil

sempre o consideraram um segmento tardio com justificativas de que haacute pouco interesse

econocircmico para a sociedade e pouca significacircncia analiacutetica para corporaccedilatildeo

Segundo a FAOINCRA (2000) a agricultura familiar consiste na gestatildeo da produccedilatildeo

e investimentos exercida principalmente por trabalhadores com grau de parentesco a qual

pressupotildee a distribuiccedilatildeo igualitaacuteria da operacionalizaccedilatildeo da produccedilatildeo

A partir de mudanccedilas registradas no seacuteculo passado o debate a respeito da agricultura

familiar vem sendo destacado trazendo consigo mudanccedilas e respostas com relaccedilatildeo aos

avanccedilos construiacutedos pelos programasformas de organizaccedilotildees que diminuem a pobreza e

exclusatildeo social das comunidades rurais

Para Abramovay (2007) a partir dos anos 1990 a temaacutetica sobre desenvolvimento no

Brasil se desenvolveu com mais intensidade e foi iniciada com a entrada da agricultura

familiar no vocabulaacuterio cientiacutefico eacute a deacutecada atual com uma reavaliaccedilatildeo do significado de

desenvolvimento rural pois aborda as dinacircmicas territoriais no processo desenvolvimentista

O capital social vem adquirindo maior embasamento revigorando-se com o objetivo

de se tornar de fato consolidado e sustentaacutevel dada a existecircncia de uma grande subjetividade

em torno do mesmo No entendimento de Andrade e Cacircndido (2008) apesar das limitaccedilotildees

teoacutericas e metodoloacutegicas este conceito se constitui como um importante elo no processo de

revitalizaccedilatildeo da democracia fomentando a construccedilatildeo de uma identidade coletiva e

consequentemente interferindo na maior compreensatildeo e resoluccedilatildeo dos dilemas atuais

O territoacuterio caririense eacute um dos 6 territoacuterios pertencentes ao Cearaacute que tem como

objetivo trazer para cidades programas baacutesicos de cidadania para um melhor desenvolvimento

econocircmico Dessa forma pretende-se fazer uma anaacutelise atraveacutes de dados secundaacuterios a

respeito do territoacuterio como um todo e escolher um dos municiacutepios onde encontra-se uma

maior populaccedilatildeo rural e fortes atividades agriacutecolas para fazer a anaacutelise do capital social

atraveacutes de dados primaacuterios

241

2 Metodologia

21 Apresentaccedilatildeo da aacuterea geograacutefica do estudo

A aacuterea de estudo compreenderaacute o territoacuterio cariri que eacute um dos seis territoacuterios da

cidadania que fazem parte do estado do Cearaacute O mesmo abrange 29 municiacutepios Abaiara

Antonina do Norte Altaneira Araripe Assareacute Aurora Barro Barbalha Brejo Santo Campos

Sales Caririaccedilu Crato Farias Brito Granjeiro Jardim Jati Juazeiro do Norte Lavras da

Mangabeira Mauriti Milagres Missatildeo Velha Nova Olinda Penaforte Porteiras Potengi

Salitre Santana do Cariri Tarrafas e Vaacuterzea Alegre

A populaccedilatildeo total do territoacuterio eacute de 901928 habitantes dos quais 346428 vivem na

aacuterea rural Possui 51118 agricultores familiares 635 famiacutelias assentadas e 3 comunidades

quilombolas

22 Natureza e fonte dos dados

Para obtenccedilatildeo das informaccedilotildees empregadas no estudo foi utilizado dados primaacuterios e

secundaacuterios Em relaccedilatildeo aos dados primaacuterios o periacuteodo da coleta faraacute referecircncia ao ano de

2016 e efetuou-se atraveacutes da aplicaccedilatildeo de questionaacuterio semindashestruturado junto a 27 famiacutelias

de agricultores familiares de comunidades rurais do municiacutepio de Mauriti

Os dados secundaacuterios foram obtidos atraveacutes do Plano Territorial de Desenvolvimento

Rural e Sustentaacutevel Cariri (PTDRS) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE)

Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio (MDA) e por meio de consulta bibliograacutefica a

respeito do tema proposto ou seja no exame de diversos livros artigos e perioacutedicos que

informam os aspectos do tema na atualidade

23 Populaccedilatildeo e amostra

A pesquisa seraacute realizada por processo de amostragem natildeo-probabiliacutestica por

conveniecircncia levando em conta a populaccedilatildeo de agricultores na Microrregiatildeo

242

Nos meacutetodos de amostragem natildeo-probabiliacutestica as amostras satildeo obtidas de forma natildeo-

aleatoacuterias ou seja a probabilidade de cada elemento da populaccedilatildeo fazer parte da amostra natildeo

eacute igual e portanto as amostras selecionadas natildeo satildeo igualmente provaacuteveis (FAacuteVERO 2009)

O meacutetodo por conveniecircncia pode ser aplicado quando a participaccedilatildeo eacute voluntaacuteria ou os

elementos da amostra satildeo escolhidos por uma questatildeo de conveniecircncia ou simplicidade

24 Seleccedilatildeo de indicadores e tratamento dos dados

Dada a complexidade dos estudos a respeito de capital social e os vaacuterios tipos de

indicadores existentes optou-se por abordar esta questatildeo a partir de quatro dimensotildees

propostas por Grootaert et al (2003) e uma quinta dimensatildeo elaborada no presente trabalho

como uma forma de complementar e enriquecer a anaacutelise

Atraveacutes dessas dimensotildees pocircde-se criar um conjunto de questotildees essenciais para medir

os niacuteveis de capital social As dimensotildees citadas abaixo foram adaptadas para o contexto do

estudo no qual abrange o capital social no acircmbito da agricultura

Grupos e Redes esta eacute a categoria mais comumente associada ao capital social

Considera-se a natureza e a extensatildeo da participaccedilatildeo de um membro de um domiciacutelio

em vaacuterios tipos de organizaccedilatildeo social e redes informais assim como as vaacuterias

contribuiccedilotildees dadas e recebidas nestas relaccedilotildees

Confianccedila e Solidariedade esta categoria busca levantar dados sobre a confianccedila em

relaccedilatildeo a vizinhos dirigentes das formas de organizaccedilotildees e governantes locais e

regionais

Accedilatildeo Coletiva e Cooperaccedilatildeo esta categoria investiga se e como os membros do

domiciacutelio tecircm trabalhado com outras pessoas em sua comunidade e em projetos

comuns

Coesatildeo e Inclusatildeo Social as ―comunidades natildeo satildeo entidades coesas mas antes se

caracterizam por vaacuterias formas de divisatildeo e diferenccedilas que podem levar ao conflito

Questotildees nesta categoria buscam identificar a natureza e o tamanho dessas diferenccedilas

os mecanismos por meio dos quais elas satildeo gerenciadas e quais os grupos que satildeo

excluiacutedos dos serviccedilos puacuteblicos essenciais Questotildees relativas agraves formas cotidianas de

interaccedilatildeo social tambeacutem satildeo consideradas

243

Poliacuteticas Puacuteblicas e Assistecircncia Teacutecnica essa categoria foi incluiacuteda por retratar

questotildees relacionadas agraves poliacuteticas puacuteblicas as quais os membros da comunidade tecircm

acesso a presenccedila ou natildeo de assistecircncia teacutecnica e se existe adequada infraestrutura

O Quadro 1 apresenta a definiccedilatildeo das variaacuteveis utilizadas para a construccedilatildeo do iacutendice

de capital social (ICS) Os dados utilizados satildeo de natureza primaacuteria

Quadro 1 - Dimensotildees e Indicadores do ICS

DIMENSOtildeES INDICADORESVARIAacuteVEIS

Grupos e Redes

Participaccedilatildeo em alguma forma de organizaccedilatildeo

Forma de organizaccedilatildeo na qual participa

Tipo de organizaccedilatildeo na qual participa (local ou regional)

Confianccedila e

Solidariedade

Frequecircncia na qual participa da forma de organizaccedilatildeo

Niacutevel de confianccedila em relaccedilatildeo aos dirigentes da forma de organizaccedilatildeo na qual participa

Niacutevel de confianccedila em relaccedilatildeo aos governantes locais

Niacutevel de relacionamento com os vizinhos da comunidade onde reside

Accedilatildeo Coletiva e

Cooperaccedilatildeo

Participaccedilatildeo em alguma atividade voluntaacuteria de cunho local ou regional

Existecircncia de interaccedilatildeo na comunidade a fim de solicitar accedilotildees de desenvolvimento local

Participaccedilatildeo nas decisotildees a serem tomadas para o desenvolvimento da comunidade

Coesatildeo e Inclusatildeo

Social

Existecircncia de problemas na comunidade quanto agraves diferenccedilas raciais sociais culturais

poliacuteticas religiosas

Envolvimento da famiacutelia em algum problema de cunho racial social cultural poliacutetico

religioso existentes na comunidade

Existecircncia de problemas em relaccedilatildeo agrave violecircncia na comunidade

Poliacuteticas Puacuteblicas e

Assistecircncia Teacutecnica

Existecircncia de poliacuteticas ou programas envolvidos na geraccedilatildeo de desenvolvimento local na

comunidade

Participaccedilatildeo em algumas dessas poliacuteticas ou programas

Existecircncia de assistecircncia teacutecnica para a agricultura

Frequecircncia da assistecircncia teacutecnica

Fonte Elaboraccedilatildeo dos autores

25 Meacutetodos de anaacutelise

No presente trabalho seratildeo empregados alguns pressupostos propostos na Anaacutelise

Diagnoacutestico de Sistemas Agraacuterios (ADSA) desenvolvida pelo projeto INCRAFAO (1999)

dentro de uma loacutegica que parte do meio geral para o particular buscando aleacutem da descriccedilatildeo de

fenocircmenos observados explicaccedilotildees mais detalhadas sobre o objeto em estudo na necessidade

de entender as relaccedilotildees entre os meios social econocircmico e ambiental

i) Anaacutelise progressiva que parte do geral para o especiacutefico comeccedilando pelos

fenocircmenos de niacutevel geral terminando nos niacuteveis especiacuteficos eou nos

fenocircmenos particulares

244

ii) A busca por explicaccedilotildees e natildeo somente a descriccedilatildeo dos fenocircmenos

observados

iii) Estratificaccedilatildeo da realidade mediante o estabelecimento de conjuntos

homogecircneos e contrastados definidos de acordo com o desenvolvimento rural

de um determinado espaccedilo geograacutefico

Seraacute calculado o iacutendice de capital social (ICS) por meio da teacutecnica de anaacutelise

multivariada conhecida como anaacutelise fatorial com base nas dimensotildees e variaacuteveis

apresentadas no quadro 1

Adicionalmente para a identificaccedilatildeo e classificaccedilatildeo das comunidades por niacutevel de

capital social seraacute utilizada outra teacutecnica de anaacutelise multivariada a anaacutelise de agrupamento

ou cluster

Quadro 2 ndash Relaccedilatildeo entre objetivos niacuteveis de agregaccedilatildeo socioambiental meacutetodos e

instrumentos utilizados na pesquisa

OBJETIVO NIacuteVEL DE AGREGACcedilAtildeO MEacuteTODO

Caracterizaccedilatildeo do Capital Social Territoacuterio Anaacutelise documental e descritiva

ICS Municiacutepio Anaacutelise Fatorial

Tipologia do capital social Municiacutepio ICS e Anaacutelise de Agrupamento

ou Cluster

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

26 Anaacutelise descritiva

A teacutecnica da anaacutelise descritiva seraacute empregada com o objetivo de caracterizar o capital

social de acordo com as poliacuteticas ou programas projetos formas de organizaccedilotildees e

instituiccedilotildees de acesso aos agricultores das comunidades em estudo

Foram utilizadas tabelas de distribuiccedilatildeo de frequecircncias (absoluta e relativa) e as

medidas de tendecircncia central A pesquisa descritiva tem como objetivo primordial a descriccedilatildeo

das caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo ou o estabelecimento de relaccedilatildeo entre elas

27 Anaacutelise fatorial

Como recurso analiacutetico que construa um iacutendice sinteacutetico de capital social para o

conjunto de comunidades do municiacutepio seraacute utilizada a teacutecnica de anaacutelise multivariada

245

conhecida como anaacutelise fatorial a qual fornece elementos para analisar a estrutura de inter-

relaccedilotildees entre um grande nuacutemero de variaacuteveis procurando descrevecirc-las atraveacutes de um nuacutemero

menor de iacutendices ou fatores (HAIR et al 2009)

Na nova composiccedilatildeo as variaacuteveis mais correlacionadas combinam-se dentro de um

mesmo fator (que explica uma parcela das variaccedilotildees das variaacuteveis originais) Como na

estimaccedilatildeo dos fatores eacute imposta a condiccedilatildeo de ortogonalidade os fatores resultantes satildeo

independentes

Conforme Faacutevero et al (2009) o meacutetodo de anaacutelise fatorial consiste na tentativa de se

determinar as relaccedilotildees quantitativas entre as variaacuteveis aferindo seus padrotildees de movimento

de modo a associar aquelas um padratildeo semelhante o efeito de um fator causal subjacente e

especiacutefico a estas variaacuteveis

Essa anaacutelise se baseia na suposta existecircncia de um nuacutemero de fatores causais gerais

cuja presenccedila daacute origem as relaccedilotildees entre as variaacuteveis observadas de forma que no total o

nuacutemero de fatores seja consideravelmente inferior ao nuacutemero de variaacuteveis Isso porque muitas

relaccedilotildees entre as variaacuteveis satildeo em grande medida devido ao mesmo fator causal geral Sousa

(2015)

O modelo matemaacutetico da anaacutelise fatorial pode ser representado por

De forma simplificada tem-se

(1)

Tal que

= j-eacutesima variaacutevel padronizada

= eacute o coeficiente de saturaccedilatildeo referente ao i-eacutesimo fator comum da j-eacutesima variaacutevel

= eacute o i-eacutesimo fator comum

246

= eacute o coeficiente de saturaccedilatildeo referente ao j-eacutesimo fator especiacutefico da j-eacutesima variaacutevel

= eacute o j-eacutesimo fator especiacutefico da j-eacutesima variaacutevel

De acordo com a anaacutelise fatorial cada fator eacute constituiacutedo por uma combinaccedilatildeo linear

das variaacuteveis originais inseridas no estudo A associaccedilatildeo entre fatores e variaacuteveis se daacute por

meio das cargas fatoriais os quais podem ser positivos ou negativos mas nunca superiores a

um Esses coeficientes de saturaccedilatildeo tecircm funccedilatildeo similar aos coeficientes de regressatildeo na

anaacutelise de regressatildeo (SIMPLICIO 1985)

O coeficiente de saturaccedilatildeo entre uma variaacutevel e um fator elevado ao quadrado

identifica a proporccedilatildeo da variacircncia da variaacutevel explicada pelo fator E o somatoacuterio do

quadrado dos coeficientes de saturaccedilatildeo para cada variaacutevel eacute chamado ―comunalidade a

qual informa a proporccedilatildeo da variacircncia total de cada variaacutevel que eacute explicada pelo conjunto de

fatores considerados na anaacutelise ao passo que a soma do quadrado dos coeficientes de

saturaccedilatildeo para cada fator denomina-se eigenvalue Ao dividir o eigenvalue pelo nuacutemero de

variaacuteveis incluiacutedas no estudo obteacutem-se a proporccedilatildeo explicada pelo referido fator ao problema

estudado

Para aplicaccedilatildeo dessa anaacutelise foram selecionadas variaacuteveis jaacute apresentadas a respeito

do capital social atraveacutes da resposta de 27 famiacutelias entrevistadas Neste sentido na anaacutelise

fatorial a seleccedilatildeo das variaacuteveis adequadas ao fenocircmeno que se deseja estudar eacute de extrema

importacircncia pois uma vez a variaacutevel incluiacuteda na pesquisa tem implicaccedilotildees definitivas nos

resultados

O primeiro procedimento necessaacuterio seraacute a verificaccedilatildeo dos pressupostos que consistiraacute

em analisar a normalidade da distribuiccedilatildeo dos dados de cada variaacutevel (utilizando o Teorema

do Limite Central caso haja um grande nuacutemero de variaacuteveis aleatoacuterias independentes e

identicamente distribuiacutedas entatildeo a distribuiccedilatildeo tenderaacute para uma distribuiccedilatildeo normal agrave

medida que o nuacutemero dessas variaacuteveis aumentar indefinidamente no caso especiacutefico n=56)

aleacutem da estimaccedilatildeo da matriz de correlaccedilatildeo para checar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis realizada por meio de testes de hipoacuteteses especiacuteficos (GUJARATI 2000)

A anaacutelise da matriz de correlaccedilatildeo apresenta os coeficientes de correlaccedilatildeo de Pearson

para cada par de variaacuteveis adotadas na pesquisa A relaccedilatildeo entre as variaacuteveis seraacute confirmada

a partir do niacutevel de significacircncia dos coeficientes estimados (p-value lt 005) De acordo com

Hair Jr et al (2005) a anaacutelise seraacute iniciada com exame da matriz de correlaccedilotildees para

verificaccedilatildeo da existecircncia de valores significativos que justifiquem a utilizaccedilatildeo da teacutecnica

247

Ainda segundo os autores se a visualizaccedilatildeo da matriz de correlaccedilotildees natildeo mostrar um nuacutemero

substancial de valores maiores que 030 haveraacute fortes indiacutecios que a anaacutelise fatorial natildeo seraacute

adequada

Conforme Faacutevero et al (2009) para verificar a adequabilidade dos dados para a anaacutelise

fatorial satildeo utilizados o iacutendice Kaiser ndash Mayer ndash Olkin (KMO) o teste de esfericidade de

Bartlett (BTS) e a Matriz Anti ndash imagem O iacutendice Kaiser ndash Mayer ndash Olkin (KMO) varia de 0

a 1 e serve para comparar as magnitudes dos coeficientes de correlaccedilotildees observados com as

magnitudes dos coeficientes de correlaccedilotildees parciais Portanto o KMO trata-se de uma medida

de homogeneidade das variaacuteveis que compara as correlaccedilotildees parciais observadas entre as

variaacuteveis conforme a foacutermula a seguir

(2)

Sendo que

coeficiente de correlaccedilatildeo observado entre as variaacuteveis i e j

coeficiente de correlaccedilatildeo observado entre as mesmas variaacuteveis que eacute simultaneamente

uma estimativa das correlaccedilotildees entre os fatores Os deveratildeo estar proacuteximos de zero pelo

fato de os fatores serem ortogonais entre si

Em relaccedilatildeo agrave estatiacutestica do KMO quanto menor o valor do respectivo teste menor a

relaccedilatildeo entre as variaacuteveis e os fatores podendo o iacutendice variar entre 0 e 1 O iacutendice menor que

05 caracteriza-se como inaceitaacutevel o uso dessa teacutecnica caso contraacuterio o iacutendice proacuteximo de 1

a utilizaccedilatildeo da teacutecnica com os dados se torna bastante eficaz

O teste Bartlett de esfericidade pode testar a hipoacutetese nula de que a matriz de

correlaccedilotildees eacute uma matriz identidade (o que inviabiliza a metodologia da anaacutelise fatorial

proposta) Caso a matriz de correlaccedilotildees seja uma matriz identidade significa que as inter-

relaccedilotildees entre as variaacuteveis satildeo iguais a zero e portanto a anaacutelise fatorial natildeo deveraacute ser

utilizada sendo (a matriz de correlaccedilotildees eacute uma matriz identidade) e (a matriz de

correlaccedilotildees natildeo eacute uma matriz identidade) Caso for aceito a anaacutelise fatorial deve ser

desconsiderada caso seja rejeitado haveraacute indiacutecios de que existam correlaccedilotildees entre as

variaacuteveis explicativas utilizadas (FAacuteVERO et al 2009)

A matriz antindashimagem tambeacutem mostra a partir da matriz de correlaccedilotildees a

adequabilidade dos dados agrave anaacutelise fatorial e apresenta os valores negativos das correlaccedilotildees

248

parciais Na sua diagonal satildeo apresentados os valores de MSA (Measure of Sampling

Adequacy) ou a Medida de Adequaccedilatildeo da Amostra para cada variaacutevel ou seja quanto

maiores esses valores melhor seraacute a utilizaccedilatildeo da anaacutelise fatorial e caso contraacuterio talvez seja

necessaacuterio excluiacute-la (HAIR et al 2005)

A anaacutelise dos componentes principais (ACP) leva em conta a variacircncia total dos dados

e na anaacutelise fatorial comum os fatores satildeo estimados levando-se em conta apenas a variacircncia

comum O ACP se aplica quando o objetivo da anaacutelise for reduzir o nuacutemero de variaacuteveis para

a obtenccedilatildeo de um nuacutemero menor de fatores necessaacuterios a explicar o maacuteximo possiacutevel a

variacircncia representada pelas variaacuteveis originais

O procedimento utilizado neste trabalho levou em consideraccedilatildeo a extraccedilatildeo dos fatores

iniciais atraveacutes da anaacutelise dos componentes principais que mostrou uma combinaccedilatildeo linear

das variaacuteveis observadas de maneira a maximizar a variacircncia total explicada A escolha do

nuacutemero de fatores se deu atraveacutes do criteacuterio da raiz latente (criteacuterio de Kaiser) em que se

escolheu o nuacutemero de fatores a reter em funccedilatildeo dos valores proacuteprios acima de 1 (eigenvalues)

que mostram a variacircncia explicada por cada ou quanto cada fator conseguiraacute explicar da

variacircncia total (MINGOTI 2005)

A grande dificuldade ao se optar pela anaacutelise fatorial eacute a interpretaccedilatildeo dos fatores

Nem sempre se consegue identificar claramente quais variaacuteveis estatildeo sendo mais bem

explicadas por um fator Uma forma de minimizar essa duacutevida eacute aplicar o meacutetodo de rotaccedilatildeo

Faacutevero et al (2009) destaca os principais meacutetodos de rotaccedilatildeo ortogonal (mantendo-se a

independecircncia entre eles)

- Varimax eacute o mais utilizado Minimiza o nuacutemero de variaacuteveis com altas cargas em

diferentes fatores permitindo a associaccedilatildeo de uma variaacutevel a um uacutenico fator

- Quartimax minimiza o nuacutemero de fatores necessaacuterios para explicar cada variaacutevel Grande

parte das variaacuteveis fica concentrada em um soacute fator o que dificulta a interpretaccedilatildeo

- Equamax simplifica fatores e variaacuteveis (possui caracteriacutesticas dos dois meacutetodos anteriores)

Os principais meacutetodos de rotaccedilatildeo obliacutequa satildeo

- Direct oblimin produz autovalores (eigenvalues) elevados mas aumenta a complexidade

dos fatores

- Promax mais utilizado quando se trabalha com grandes bancos de dados

A rotaccedilatildeo dos fatores utilizou o meacutetodo Varimax que objetiva maximizar a variaccedilatildeo

entre os pesos de cada componente principal mantendo-se a ortogonalidade entre eles

249

28 Construccedilatildeo do iacutendice de capital social (ICS)

O ICS das comunidades seraacute calculado a partir dos escores estimados associados aos

fatores obtidos na estrutura fatorial definida Seraacute utilizado adicionalmente a raiz latente ou

o autovalor que corresponde agrave soma (em coluna) das cargas fatoriais ao quadrado para o

respectivo fator (HAIR et al 2009 p 101) A padronizaccedilatildeo dos escores fatoriais torna-se

necessaacuteria de forma a enquadraacute-los no intervalo de zero a um a partir da expressatildeo

(3)

De modo que

Fgj = escore fatorial do g-eacutesimo fator padronizado da j-eacutesima famiacutelia (g=16 e j =

1163)

Fgj = escore fatorial do g-eacutesimo fator para da j-eacutesima famiacutelia

FgF = menor escore fatorial do g-eacutesimo fator entre as famiacutelia

FgFA = maior escore fatorial do g-eacutesimo fator entre as famiacutelias das comunidades

Para a construccedilatildeo do ICS relativo a j-eacutesima famiacutelia definiu-se a equaccedilatildeo

(4)

Em que γg corresponde ao autovalor do g-eacutesimo fator Observa-se que a expressatildeo

indica a participaccedilatildeo relativa do fator g na explicaccedilatildeo da variacircncia total capturada

pelos n fatores

29 Anaacutelise de agrupamento ou cluster

Procedeu-se ainda agrave aplicaccedilatildeo de outra teacutecnica de estatiacutestica multivariada a anaacutelise

de agrupamento ou cluster a qual consiste na definiccedilatildeo de grupos homogecircneos eou

heterogecircneos constituindo-se em um meacutetodo orientador e norteador para identificaccedilatildeo de

diferenccedilas de comportamento tomada de decisotildees e definiccedilatildeo de estrateacutegias de atuaccedilatildeo e

planejamento

O meacutetodo adotado foi a anaacutelise de agrupamento natildeo hieraacuterquico (teacutecnica de particcedilatildeo

ou agrupamento de k-meacutedias) recurso comumente utilizado em estudos exploratoacuterios

250

descritivos de modo a permitir uma classificaccedilatildeo das comunidades rurais do municiacutepio de

acordo com a mensuraccedilatildeo do capital social tendo sido necessaacuteria a definiccedilatildeo do nuacutemero de

agrupamentos ―O meacutetodo de k-meacutedias eacute responsaacutevel por alocar cada um dos elementos

existentes em um dos k grupos preacute-definidos objetivando minimizar a soma dos quadrados

residuais dentro de cada grupo com a finalidade de aumentar a homogeneidade do mesmo

(FAacuteVERO et al2009)

Consiste portanto em dividir um conjunto de elementos (famiacutelias) em subconjuntos

os mais semelhantes possiacuteveis de modo que os elementos pertencentes a um mesmo grupo

sejam similares com respeito agraves caracteriacutesticas que forem medidas em cada elemento Ou seja

atraveacutes de tal procedimento estatiacutestico os elementos satildeo classificados em grupos restritos

homogecircneos internamente com variabilidade intraclasse miacutenima e interclasse maacutexima (HAIR

et al 2009)

Os grupos seratildeo divididos com base nos valores obtidos para o ICS a partir do iacutendice

fatorial conforme definido anteriormente Neste trabalho as comunidades referentes ao

municiacutepio como um todo foram divididas em trecircs clusters para as comunidades rurais do

municiacutepio de Mauriti

3 Resultados e discussotildees

31 O territoacuterio do Cariri

O territoacuterio do Cariri eacute um dos seis Territoacuterios da Cidadania pertencente ao estado do

Cearaacute de acordo com o Plano de Desenvolvimento Rural Sustentaacutevel (PTDRS 2011) estaacute

localizado na regiatildeo sul do estado do Cearaacute tendo como limites ao sul o estado de

Pernambuco a oeste o estado do Piauiacute a leste o estado da Paraiacuteba e ao norte os municiacutepios

de Aiuaba Saboeiro Jucaacutes Cariuacutes Cedro e Ipaumirim

Sua formaccedilatildeo ocorreu da seguinte maneira antes da chegada dos portugueses agrave sopeacute

da chapada do Araripe era habitada pelos iacutendios Kariri quando os integrantes das caravanas

militares e religiosos vindos de Portugal entraram em contato com os nativos estudaram a

terra e descobriram que na regiatildeo tinha ouro em abundacircncia As famiacutelias de Portugal

desencadearam em busca de exuberacircncia de ouro na regiatildeo Logo houve a colonizaccedilatildeo e

como consequecircncia a doaccedilatildeo de sesmarias o que permitiu o surgimento de lugarejos e vilas

251

A formaccedilatildeo histoacuterica da regiatildeo foi marcada principalmente pelo desenvolvimento a partir da

pecuaacuteria e do comeacutercio

O territoacuterio do cariri-CE conteacutem 29 municiacutepios como mostramos na apresentaccedilatildeo da

Aacuterea Geograacutefica do Estudo Sua populaccedilatildeo eacute de aproximadamente 901928 habitantes Dos

346428 habitantes rurais haacute 51118 agricultores familiares 635 famiacutelias assentadas (essas

aacutereas de assentamentos foram coordenadas pelo INCRA- Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e

Reforma Agraria e pelo IDACE-Instituto de Desenvolvimento Agraacuterio do Cearaacute Financiadas

pelos recursos do MDA) e 3 comunidades quilombolas

As caracteriacutesticas a respeito do solo do territoacuterio eacute que o mesmo possui um relevante

potencial natural de recursos hiacutedricos minerais de clima e solo que auxilia tanto a agricultura

diversificada como implantaccedilatildeo de agroinduacutestrias

Relatando o potencial agropecuaacuterio do Cariri conforme o (PTDRS 2011) em relaccedilatildeo as

diversidades dos micro territoacuterios as principais atividades desenvolvidas satildeo

Micro territoacuterio Cariri Central na agropecuaacuteria enfatiza uma elevada exploraccedilatildeo da

bovinocultura de leite Micro territoacuterio Cariri Oeste prevalece os serviccedilos agropecuaacuteria e

induacutestria Micro territoacuterio Cariri Leste destaca-se na exploraccedilatildeo da ovinocaprinocultura e

mandiocultura

O Poacutelo Cariri abrange uma aacuterea de 63423 kmsup2 correspondente aos municiacutepios de

Abaiara Barbalha Brejo Santo Crato Jardim Juazeiro do Norte Mauriti Milagres Missatildeo

Velha Porteiras e Santana do Cariri apresentando aacutereas de irrigaccedilatildeo com produccedilatildeo de

frutiacutecolas (banana mamatildeo manga uva pinha acerola graviola e coco dentre outras) gratildeos

Projetos programas instituiccedilotildees e organizaccedilotildees satildeo muito importante tanto para o

bem-estar da populaccedilatildeo quanto para o desenvolvimento dos municiacutepios Referente as

instituiccedilotildeesformas de organizaccedilotildees agriacutecolas temos os principais no Territoacuterio do Cariri no

quadro abaixo de forma em que haja essas formas de organizaccedilotildees em pelo menos um

municiacutepio do Territoacuterio listamos

252

Quadro 3 ndash Principais conjuntos de instituiccedilotildeesformas de organizaccedilatildeo que envolvem

agricultores presentes no Territoacuterio do Cariri INSTITUICcedilOtildeESFORMAS

DE ORGANIZACcedilOtildeES

TEMAS

Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental

Flor do Pequi

Fornecimento de Creacutedito para Agricultores

MDAINCRA Assentamentos rurais

EMATERCE Assistecircncia Teacutecnica (ATER) para agricultores familiares

Banco do Brasil (BB)

Fornecimento de creacutedito para agricultores familiares atraveacutes de

programas

Banco do Nordeste do Brasil

(BNB)

Fornecimento de creacutedito para agricultores familiares atraveacutes de

programas

SEBRAE Apoio a produccedilatildeo

INSS

Benefiacutecios previdenciaacuterios (aposentadoria auxiacutelio-doenccedila pensatildeo por

morte salaacuterio-maternidade salaacuterio-famiacutelia entre outros)

SINEIDT Programa nacional de inclusatildeo dos jovens (Pro - jovem urbano e Pro -

jovem campo)

Fundaccedilatildeo Nacional de Sauacutede Accedilotildees complementares de saneamento

SEMACEInstituto Chico

Mendes

Programa da biodiversidade (PROBIO)

Instituto AGROPOLOS Programa de Desenvolvimento Sustentaacutevel e Integrado

COGERHComitecircs de Bacias Operaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da infraestrutura hiacutedrica

Conselho CONDIRC Discute e propotildee o desenvolvimento regional do Cariri

Foacuterum Regional do Araripe Accedilotildees de apoio ao Geopark Araripe

FETRAECE

Defesa de poliacuteticas puacuteblicas pra o fortalecimento da agricultura familiar

Foacuterum pela Vida no Semiaacuterido

(FVSA)

Convivecircncia com o Semi Aacuterido

Foacuterum dos Assentados Reforma Agraacuteria

Foacuterum de Mulheres Defesa de poliacuteticas puacuteblicas para mulheres

PDRS Desenvolvimento Rural

Fonte PDTRS Cariri

A maioria dessas instituiccedilotildees apresentadas no quadro 3 foram desenvolvidas a fim de

promover o desenvolvimento da agricultura centrando cada vez mais no acircmbito local com o

objetivo de melhorar as condiccedilotildees de vida e trabalho dos agricultores familiares

Satildeo vaacuterias as entidades que prestam serviccedilos ou desenvolvem accedilotildees importantes na busca

do desenvolvimento do territoacuterio Destacam-se aquelas com maior potencial de integraccedilatildeo de

accedilotildees cuja abrangecircncia eacute territorial e contribuem diretamente para o meio rural como

Trabalhadoras na Agricultura do Estado do Cearaacute (FETRAECE) e FLOR DO PEQUI para

creacutedito fundiaacuterio

Conforme o PTDRS (2010) o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) o Banco do Brasil

(BB) e o SEBRAE priorizam o suporte agraves atividades de ovinocaprinocultura e apicultura no

Territoacuterio na questatildeo de concessotildees de creacutedito para agricultura familiar e apoio a produccedilatildeo

que eacute um dos pontos mais favoraacuteveis no micro territoacuterio do cariri leste A Companhia

Nacional de Abastecimento (CONAB) e Bases de Serviccedilos servem como apoio ao acesso aos

253

mercados e a Empresa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural do Cearaacute (EMATERCE) na

assistecircncia teacutecnica agraves comunidades rurais e aacutereas de assentamento de reforma agraacuteria

32 O municiacutepio de Mauriti-CE

Referente agrave aacuterea de estudo do presente trabalho optou-se aplicar o questionaacuterio no

municiacutepio de Mauriti pelo seu elevado nuacutemero de agricultores Este municiacutepio estaacute localizado

no Cearaacute e faz parte do territoacuterio Cariri como jaacute dito Mauriti possui aproximadamente

46335 habitantes Conforme o IBGE 2008 o PIB (Produto Interno Bruto) o municiacutepio em

questatildeo possui uma aacuterea de 1111856 kmsup2 PIB de R$ 156054540

33 Iacutendice de capital social (ICS) no municiacutepio de Mauriti (CE)

Com a aplicaccedilatildeo da anaacutelise fatorial obteve-se uma matriz de correlaccedilatildeo com

predominacircncia de coeficientes superiores a 030 indicando boa correlaccedilatildeo entre as variaacuteveis

selecionadas no estudo o que significa a possibilidade de aplicaccedilatildeo da anaacutelise fatorial Ainda

como criteacuterio para aferir as Inter correlaccedilotildees na matriz de dados a anaacutelise das Medidas de

Adequaccedilatildeo da Amostra revela coeficientes superiores a 05

Os testes de adequabilidade da amostra revelam que os fatores encontrados se constituem

em boas medidas de variabilidade dos dados originais Com o KMO atingindo 0531 pode-se

afirmar que existe uma correlaccedilatildeo meacutedia entre as variaacuteveis e com o teste de esfericidade de

Bartlett com niacutevel de significacircncia (p-value = 0000) pode-se rejeitar a hipoacutetese nula ao niacutevel

de 1 de que a matriz de correlaccedilatildeo eacute uma identidade evidenciando portanto que haacute

correlaccedilotildees entre as variaacuteveis tornando possiacutevel a aplicaccedilatildeo da anaacutelise fatorial (Tabela 4)

Tabela 1 - Teste de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e Bartlett

Medida Kaiser-Meyer-Olkin de adequaccedilatildeo de amostragem 531

Teste de esfericidade de

Bartlett

Chi-quadrado aprox 38769

df 21

Sig 010

Para a definiccedilatildeo do nuacutemero de fatores a reter utilizou-se o criteacuterio de Kaiser ou raiz

latente que considera apenas os fatores com eigenvalue (autovalor) superiores a um o que

254

significa dizer que ―no miacutenimo um componente deve explicar a variacircncia de uma variaacutevel

utilizada no modelo (FAacuteVERO et al 2009 p 243)

Quadro 4- Niacutevel de capital social Nivel de capital social

Grupos

ITFC Nuacutemero de produtores Frequecircncia relativa

Muito baixo 0-020 2 740

Baixo 021-035 8 2963

Meacutedio 031-054 11 4074

Alto 062-078 6 2222

Muito alto 079-100 0 -

Informaccedilotildees vaacutelidas - 27 9999

Fonte elaboraccedilatildeo dos autores

Observa-se uma forte assimetria nos niacuteveis de capital social das comunidades rurais desse

municiacutepio obtendo trecircs intervalos apresentados sendo 020 o niacutevel mais alto de capital social

obtido e 10 o mais baixo Como observou-se aproximadamente 4074 das famiacutelias rurais

tem um niacutevel meacutedio de capital social variando entre 037 e 054 A meacutedia dos iacutendices por

comunidade eacute 037 confirmando essa afirmaccedilatildeo (Tabela 4)

4 Consideraccedilotildees finais

Esse trabalho buscou estudar o niacutevel de capital social e agricultura familiar pertencentes

ao territoacuterio do cariri-CE Para ter em vista os aspectos mencionados ao longo do trabalho

utilizamos a princiacutepio bases documentais levando em conta as formas de organizaccedilatildeo desse

territoacuterio buscando as principais instituiccedilotildees poliacuteticas e programas para entendermos melhor

as formas de desenvolvimento contidas no espaccedilo estudado

Complementarmente recorremos a uma pesquisa com agricultores da cidade de Mauriti-

CE para calcularmos como estaacute o conjunto de ferramentas capazes de manter o melhor bem-

estar da populaccedilatildeo Para realizar isso utilizamos a teacutecnica de anaacutelise multivariada conhecida

como anaacutelise fatorial logo construiu-se o iacutendice de capital social para as comunidades rurais

do municiacutepio que se acredita ser capaz de dar uma ideia a respeito do niacutevel de capital social

de acordo com as categorias grupos e redes confianccedila e solidariedade accedilatildeo coletiva e

cooperaccedilatildeo coesatildeo e inclusatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas e assistecircncia teacutecnica

O iacutendice de capital social se mostrou como meacutedio alegando uma deficiecircncia nos moacutedulos

do capital social do territoacuterio estudado que pocircde ser explicado por meio de anaacutelises de

frequecircncia de algumas questotildees presentes no banco de dados atraveacutes das respostas obtidas na

255

pesquisa de campo Essas questotildees revelaram que haacute uma deficiecircncia principalmente no

acircmbito das formas de organizaccedilotildees e na presenccedila de instituiccedilotildees e poliacuteticas voltadas para o

desenvolvimento das comunidades ou seja a maioria das poliacuteticas acessadas satildeo de cunho

assistencial e natildeo abrangem todas as famiacutelias

Como sugestatildeo para esse problema vecirc-se a necessidade da busca projetos e

instituiccedilotildees que incentivem e apoiem a criaccedilatildeo de novas organizaccedilotildees nessas comunidades

como grupos e cooperativas ou a ampliaccedilatildeo dos grupos jaacute existentes pois estes satildeo de grande

importacircncia para a diversificaccedilatildeo produtiva e geraccedilatildeo de emprego em aacutereas rurais que sofrem

com tais problemas

Eacute imprescindiacutevel que todos se conscientizem que em face dessa realidade a

cooperaccedilatildeo eacute uma grande aliada para um bom desenvolvimento territorial e para que isso

ocorra eacute preciso que tambeacutem haja o incentivo para os agricultores participarem dessas formas

de organizaccedilatildeo sugere-se tambeacutem trabalhar com palestras explicativas de como funciona

para que funciona e mostrar a importacircncia dessas instituiccedilotildees para obter um viacutenculo de capital

social relevante para o territoacuterio cariri-CE

Referecircncias

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257

CRISES HIacuteDRICAS NO CEARAacute DE 2012 A 2016 FENOcircMENO CLIMAacuteTICO OU

SOacuteCIOECONOcircMICO

NAMYRES PEREIRA SANTOS

Economista pela Universidade Regional do Cariri (URCA) E-mail

namyresps3gmailcom Telefone (88) 9 9731-0332

ROGEacuteRIO MOREIRA DE SIQUEIRA

Professor Efetivo da Universidade Regional do Cariri (URCA) Mestre em Economia pela

Universidade Federal do Cearaacute (UFC) e-mail rogeriomsgmailcom Telefone (85) 9 8763-

7638

JAMILY FREIRE GONCcedilALVES

Economista pela Universidade Regional do Cariri (URCA) e-mail jamilyfreiregmailcom

Telefone (88) 9 9941-5302

258

CRISES HIacuteDRICAS NO CEARAacute DE 2012 A 2016 FENOcircMENO CLIMAacuteTICO OU

SOacuteCIOECONOcircMICO

RESUMO

Diante da severidade e prolongamento da seca que atinge a regiatildeo semiaacuterida principalmente

no estado do Cearaacute Esse trabalho tem como objetivo avaliar o impacto da seca no cenaacuterio

socioeconocircmico e ambiental da regiatildeo Cearense no periacuteodo de 2012 a 2016 A investigaccedilatildeo

foi elaborada por meio de um estudo exploratoacuterio e bibliograacutefico que contempla o estado do

Cearaacute onde a maior parte do seu territoacuterio estaacute inserido no semiaacuterido nordestino Seraacute

analisado o histoacuterico das secas suas consequecircncias a forma como eacute utilizado esse recurso tatildeo

escasso por meio do ponto de vista institucional e poliacutetico de como ocorriam agraves estiagens e

como o governo agia com a sua chegada Tambeacutem seraacute feito a descriccedilatildeo das poliacuteticas

puacuteblicas quais seus mecanismos de accedilatildeo como funcionam as entidades projetos programas

e compreender a forma em que as poliacuteticas tecircm agido para solucionar este problema que aflige

os cearenses Contudo foi possiacutevel observar que os cearenses ainda sofrem com as constantes

secas os programas e projetos criados ainda natildeo foram capazes de mudar a realidade social da

populaccedilatildeo da regiatildeo semiaacuterida Chegou-se agrave conclusatildeo que os efeitos advindos da seca natildeo

podem ser evitados mas podem ser amenizados se as poliacuteticas alinharem as suas estrateacutegias

de convivecircncia com o semiaacuterido inserindo poliacuteticas permanentes e sustentaacuteveis

Palavras-chaves Poliacuteticas Puacuteblicas Secas Semiaacuterido Nordestino

ABSTRACT

Due to the severity and prolongation of the drought that reaches the semi-arid region mainly

in the state of Cearaacute This study aims to evaluate the impact of drought on the socioeconomic

and environmental scenario of the region Cearense in the period from 2012 to 2016 The

research was developed through an exploratory and bibliographical study which includes the

state of Cearaacute where most of its territory is inserted into the semi-arid northeast It will

analyze the history of drought its consequences the way it used this scarce resource through

the institutional and political point of view of how the drought occurred and how the

government acted with his arrival It will also describe public policies their mechanisms of

action how entities projects programs work and understand how policies have acted to

solve this problem that afflicts Cearenses However it was possible to observe that the people

of Cearaacute still suffer from the constant droughts the programs and projects created have not

yet been able to change the social reality of the population of the region semi-arid It has

come to the conclusion that the effects of drought can not be avoided but can be mitigated if

policies align their strategies for living with the semi-arid inserting policies permanent and

sustainable

Keywords Public policy Droughts Semi-arid Northeastern

259

1 Introduccedilatildeo

A seca no Cearaacute sempre foi um problema muito abordado devido agraves caracteriacutesticas

climaacuteticas e hidrograacuteficas do estado que provocam sua forte recorrecircncia e traz periacuteodos de

sofrimento para grande parte da populaccedilatildeo em especial a mais pobre que satildeo mais

vulneraacuteveis agraves crises hiacutedricas Por isso os debates teacutecnicos poliacuteticos e cientiacuteficos buscam

discutir as accedilotildees para amenizar as consequecircncias da seca colocando em foco a formulaccedilatildeo e

implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

Com a sucessatildeo de governos foram sendo desenvolvidos e implementados diversos

projetos poreacutem a maioria com pouca efetividade e abrangecircncia jaacute que grande parte da

populaccedilatildeo continua dependente de poliacuteticas paliativas de enfrentamento tais como

distribuiccedilatildeo de carros pipas e assistencialismo Ainda faltam poliacuteticas permanentes e

apropriadas capazes de modificar a realidade de quem vive no semiaacuterido

Os periacuteodos de seca prolongados como observado entre 2012 e 2016 afetam de

sobremaneira as reservas hiacutedricas do estado do Cearaacute comprometendo o abastecimento

humano e animal bem como a produtividade agriacutecola Isso acaba comprometendo o

desenvolvimento econocircmico e social dos indiviacuteduos e das localidades que tem que direcionar

seus esforccedilos para o enfrentamento das secas Segundo Martins e Magalhatildees (2015) no

periacuteodo de 2012 a 2015 vaacuterios municiacutepios foram atendidos com accedilotildees emergenciais

Apesar do empenho e avanccedilos ainda haacute muito que se fazer existem diversos esforccedilos

de analistas puacuteblicos e acadecircmicos no sentido de atenuar o problema hiacutedrico isto eacute tornar a

convivecircncia com a seca mais harmoniosa Contudo esta pesquisa se mostra de grande

importacircncia por abordar um tema essencial agrave vida agrave economia ao social ao meio ambiente e

que causa em uacuteltima instacircncia muito sofrimento aos atingidos Aleacutem disso haacute a necessidade

de se conhecer as poliacuteticas implementadas seus mecanismos de accedilatildeo e se as mesmas

realmente tecircm funcionado e contribuiacutedo para soluccedilatildeo do problema e o desenvolvimento

socioeconocircmico do estado

A pesquisa tem como objetivo realizar um estudo do problema hiacutedrico da regiatildeo

Cearense de 2012 a 2016 verificando os aspectos sociais das poliacuteticas puacuteblicas usadas para

solucionar o problema da seca Para isso foi necessaacuterio avaliar os aspectos econocircmicos e

soacutecios ambientais da seca bem como descrever como os recursos hiacutedricos do estado tecircm sido

utilizados Busca-se tambeacutem fazer uma anaacutelise histoacuterica das secas assim como as accedilotildees para

atenuaacute-las descrevendo ainda as poliacuteticas aplicadas agrave seca

260

2 Referencial Teoacuterico

21 ASPECTOS ECONOcircMICOS DA SECA

A seca afeta o homem pelas alteraccedilotildees profundas que ocorrem nas condiccedilotildees

econocircmicas de quem necessita da terra para viver agrava os problemas econocircmicos e sociais

de uma populaccedilatildeo pobre que jaacute vive em condiccedilotildees de emprego inseguros Contribui para

intensificar a degradaccedilatildeo ambiental comprometendo o armazenamento dos recursos hiacutedricos

trazendo problemas ao abastecimento da populaccedilatildeo e para o desenvolvimento de atividades

econocircmicas

A aacutegua eacute um bem essencial a muitas atividades humanas e tem havido aumento

contiacutenuo do seu uso em diversas atividades por sua escassez e vulnerabilidade eacute considerada

um bem econocircmico Segundo Tundisi (2014) apesar do Brasil possuir uma grande

disponibilidade de aacutegua em termos globais os recursos satildeo distribuiacutedos de forma desigual A

regiatildeo Nordeste e o Cearaacute em particular se caracterizam pela escassez deste recurso A mesma

aacutegua eacute utilizada em vaacuterias atividades como o uso industrial a irrigaccedilatildeo geraccedilatildeo de energia

abastecimento urbano e outras atividades por isso sua escassez impede o desenvolvimento da

regiatildeo Segundo Dourado Juacutenior (2004) a escassez de aacutegua em algumas regiotildees se deve a

fatores como a variaccedilatildeo climaacutetica excesso populacional e de atividades econocircmicas aumento

da demanda por aacutegua e poluiccedilatildeo

A agricultura de sequeiro (especialmente de arroz feijatildeo e milho) representa uma

parcela muito significativa da atividade econocircmica desenvolvida no estado do Cearaacute

conforme Sampaio e Sampaio (2014) quando a seca chega haacute uma queda na produccedilatildeo de

alimentos da agricultura de sequeiro algumas vezes podendo resultar em perda total De

acordo com a CONAB (2017) com seca plurianual de 2012-2016 a cultura de sequeiro foi

prejudicada pelo fator climaacutetico havendo uma queda na produccedilatildeo Segundo Sampaio e

Sampaio (2014) como a renda de parte das famiacutelias eacute obtida deste tipo de produccedilatildeo quando

ocorre a seca a renda cai consideravelmente

Para Carvalho (2012) a seca representa uma impossibilidade de trabalho para

assalariados e pequenos proprietaacuterios Os que perdem a colheita e natildeo tem mais como

alimentar suas famiacutelias natildeo tendo emprego e sem alternativas para melhorar sua situaccedilatildeo

tentam trabalhar nas frentes de serviccedilos natildeo existindo as frentes migram na tentativa de fugir

261

da miseacuteria Segundo Queiroz Baeninger (2015) as migraccedilotildees se tornam uma alternativa para

aqueles que querem melhorar de vida ou apenas sobreviver principalmente migrar para

regiotildees onde se concentram a induacutestria mas os migrantes ainda podem se deparar com a falta

de emprego devido ao baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal e falta de qualificaccedilotildees

Outra consequecircncia da seca eacute a perda de valor de bens como terra e gado devido agrave

queda na demanda De acordo com Arauacutejo (2002) a seca agrava a questatildeo fundiaacuteria a

concentraccedilatildeo de terras nas matildeos de poucos produtores aumentando os problemas sociais e

poliacuteticos da regiatildeo Conforme Sampaio e Sampaio (2014) passada a seca os bens voltam a

adquirir valor e os que conseguiram acumular tem um acreacutescimo na renda em detrimento de

outros que perderam suas terras fazendo com que a desigualdade cresccedila ainda mais Para

Balsan (2006) a concentraccedilatildeo da terra nas matildeos de poucos proprietaacuterios impede os pobres de

terem acesso a terra ficando com a minoria a maior porccedilatildeo de terras e a exploraccedilatildeo das

mesmas

22 ASPECTOS SOCIOAMBIENTAIS DA SECA

A regiatildeo semiaacuterida abrange uma aacuterea de 912 mil km2 onde vivem cerca de 22 milhotildees

de pessoas 46 da populaccedilatildeo nordestina eacute uma zona sujeita a periacuteodos ciacuteclicos de seca

Possui uma pluviosidade meacutedia que pode variar de 250mmano a 800mmano O subsolo eacute

formado por 70 de rochas cristalinas que tem baixa capacidade de reter aacutegua em lenccediloacuteis

subterracircneos normalmente a aacutegua eacute salinizada Possui deacuteficit hiacutedrico pois a aacutegua que evapora

eacute trecircs vezes maior que a precipitaccedilatildeo se tornando o maior problema do semiaacuterido

(MALVEZZI 2007)

A seca eacute um fenocircmeno climaacutetico de maior gravidade no Estado do Cearaacute que aleacutem de

causar problemas econocircmicos tambeacutem gera consequecircncias sociais e ambientais Um dos

maiores problemas ambientais eacute o impacto sobre os recursos hiacutedricos por ser um bem natural

e limitado Assim para Silva (2014) os impactos ambientais ocasionados pela seca estatildeo

relacionados com a reduccedilatildeo dos recursos hiacutedricos e as perdas de espeacutecies vegetais tambeacutem

estatildeo relacionados com a perda de animais aquaacuteticos devido o esgotamento dos accediludes

Muitas famiacutelias tambeacutem perdem plantaccedilotildees em especial as frutiacuteferas causando danos

alimentares e econocircmicos

262

Um dos maiores danos causados pela seca natildeo satildeo apenas as perdas vegetais e dos

rebanhos mas agraves perdas dos recursos hiacutedricos e por tornar a vida mais difiacutecil Em anos de

seca haacute uma reduccedilatildeo nas fontes de abastecimento com isso haacute perdas de bem-estar da

populaccedilatildeo pois reduz a qualidade de vida cresce a pobreza e diminui o emprego Com a

escassez de recursos a agricultura de subsistecircncia torna-se impraticaacutevel gerando reduccedilatildeo na

oferta de alimentos muitos ficam com fome como natildeo haacute como produzir provoca a reduccedilatildeo

dos recursos econocircmicos gerando a fome e miseacuteria de milhares de pessoas

Um fator de grande importacircncia eacute a contaminaccedilatildeo dos corpos hiacutedricos pois a aacutegua

contaminada pode trazer seacuterios riscos agrave sauacutede puacuteblica No Cearaacute essa disponibilidade vem se

reduzindo rapidamente enquanto que a demanda cresce Por causa das estiagens os

reservatoacuterios secam e a populaccedilatildeo que natildeo tem como encontrar aacutegua de boa qualidade se vecirc

obrigada a consumir aacutegua de poccedilos e accediludes que estatildeo no limite de sua capacidade de

armazenamento portanto satildeo de baixa confiabilidade enquanto que alguns se submetem a

caminhadas longas em busca de aacutegua para consumo proacuteprio e dos animais

De acordo com Carvalho (2012) a seca afeta diretamente as condiccedilotildees de vida das

pessoas que vivem no semiaacuterido a carecircncia de aacutegua causa incerteza no consumo da

populaccedilatildeo na alimentaccedilatildeo dos animais e na produccedilatildeo e rendimentos de quem pratica a

agricultura causando escassez de alimentos nas aacutereas que satildeo mais afetadas maior

probabilidade de doenccedilas causadas pela maacute nutriccedilatildeo e pelo consumo de aacutegua contaminada

Outro fator ambiental da seca satildeo os incecircndios que ocorrem geralmente por causa do

aumento da temperatura em periacuteodos de seca e calor a cobertura vegetal fica seca e com

reduzida umidade do ar e os ventos quentes contribuem para que os focos de incecircndios se

alastrem Ou seja por causa do tempo seco a vegetaccedilatildeo se torna vulneraacutevel as queimadas

3 METODOLOGIA

A presente investigaccedilatildeo pauta-se em um estudo bibliograacutefico uma vez que esta

ferramenta daacute embasamento teoacuterico necessaacuterio para aprofundar a discussatildeo Eacute uma pesquisa

de caraacuteter exploratoacuterio buscando se familiarizar com o problema das secas no Cearaacute e por

meio desta discutir as poliacuteticas puacuteblicas e ateacute onde elas tecircm contribuiacutedo para solucionar este

problema

263

De acordo com Helena (2009) o estudo exploratoacuterio ou pesquisa bibliograacutefica pode ser

considerado uma forma de pesquisa uma vez que eacute caracterizada pela busca a documentos de

uma resposta a uma duacutevida ―uma lacuna do conhecimento Procura explicar um problema a

partir de referecircncias teoacutericas que jaacute foram publicadas em documentos dispensando assim a

elaboraccedilatildeo de hipoacutetese

A pesquisa utilizaraacute para a anaacutelise dados secundaacuterios de oacutergatildeos e entidades

governamentais tais como Companhia de Gestatildeo de Recursos Hiacutedricos (COGERH)

Fundaccedilatildeo Cearense de Meteorologia e Recursos Hiacutedricos (FUNCEME) Aleacutem de estudos dos

demais autores bem referenciados que jaacute escreveram sobre o tema aqui abordado fazendo

fichamento dos principais pontos importantes para a pesquisa se utilizaraacute principalmente de

publicaccedilotildees que em grande parte estatildeo disponibilizados na internet revistas e perioacutedicos

especializados Quanto agrave teacutecnica e instrumentos utilizados para levantamento de dados eacute

indireta pois faz uso de material jaacute publicado

31 AacuteREA DE ESTUDO

O estudo realizado contemplou o Estado do Cearaacute que tem como limites o Oceano

Atlacircntico ao norte o estado do Pernambuco ao Sul Estados do Rio Grande do Norte e

Paraiacuteba ao leste e o Estado do Piauiacute a Oeste A figura 1 mostra o mapa do estado do Cearaacute

Figura 1 Mapa do Estado do Cearaacute

Disponiacutevel em httpwwwguianetcombrcemapacehtm

264

O Cearaacute tem uma aacuterea territorial de mais de 148 mil Km2

e possui 184 municiacutepios

Cerca de 92 do seu territoacuterio estaacute inserido no clima semi-aacuterido onde predomina a vegetaccedilatildeo

caatinga que por ser muito sensiacutevel agraves mudanccedilas climaacuteticas e interferecircncias humanas eacute o

principal bioma a sofrer com o problema da seca Caracteriza-se por ter clima aacuterido e aacutereas

com esse clima satildeo atingidos por periacuteodos de seca possui deficiecircncia hiacutedrica irregularidade

das precipitaccedilotildees pluviomeacutetricas distribuiacutedas no tempo e no espaccedilo

Segundo Albuquerque Souza Medeiros Sousa e Lima (2014) o periacuteodo chuvoso

dura de trecircs a cinco meses geralmente de fevereiro a abril nas condiccedilotildees normais de chuva os

iacutendices pluviomeacutetricos variam entre 500 a 800 mmano a irregularidade das chuvas e as altas

taxas de evaporaccedilatildeo justificam deacuteficit hiacutedrico para agricultura e para a populaccedilatildeo residente no

semiaacuterido A temperatura meacutedia no semiaacuterido satildeo superiores a 22degC Os solos no estado do

Cearaacute tem pouca profundidade se tornando vulneraacutevel a erosatildeo e tem deficiecircncia hiacutedrica

Atualmente o estado aleacutem de sofrer com a vulnerabilidade imposta pela irregularidade

pluviomeacutetrica tambeacutem apresenta solos degradados Quanto aos recursos hiacutedricos superficiais

estatildeo em baixos iacutendices de armazenamento ou encontram-se comprometidos pela poluiccedilatildeo

esse problema se agrava ainda mais na aacuterea onde prevalece o bioma caatinga

4 AS SECAS NO CEARAacute DO SEacuteCULO XVI AO XXI

O quadro 1 traz um resumo de algumas das secas que tiveram destaque no Sertatildeo

Nordestino ao longo dos seacuteculos

Quadro 1ndash Algumas das principais secas registradas no Sertatildeo Nordestino

PERIacuteODO DESTAQUE DESCRICcedilAtildeO

SEacuteCULO

XVI

1583

Ficou conhecida como a grande estiagem populaccedilotildees duramente atingidas

pela fome fez os iacutendios migrarem em busca de alimento

SEacuteCULO

XVII 1692-1693

Assolou a produccedilatildeo agraacuteria populaccedilotildees se deslocavam em busca de comida e

aacutegua com isso houve despovoamento de fazendas e currais

SEacuteCULO

XVIII

1720-1727 Seacuteculo em que se iniciou a cultura do algodatildeo foi a maior estiagem com sete

anos seguidos de seca gados foram dizimados e as fontes secaram

1777 Ficou conhecida como a seca dos trecircs setes lavouras foram esterilizadas sete

oitavos dos rebanhos do Cearaacute foram dizimados

SEacuteCULO

XIX

1877-1879

A mortalidade no Cearaacute chega agrave de 500000 Surgem sugestotildees sobre estudos

e obras para mitigar a seca Esse periacuteodo marca a frase dita por D Pedro II

―Natildeo restaraacute uma uacutenica joia da coroa mas nenhum nordestino morreraacute de

fome Milhares morreram de fome e muitos morreram de doenccedilas

1915 Inspirou a escritora Raquel de Queiroz a escrever o ―O quinze onde foi

265

SEacuteCULO XX relatada a criaccedilatildeo de campos de concentraccedilatildeo em que milhares de retirantes

ficaram a morrer de fome e doenccedilas Ficou famosa como a ―seca do 15

SEacuteCULO

XXI

2001 Seca combinada com a crise eleacutetrica assola todo o paiacutes programa seguro

safra eacute proposto pelo governo do estado do Cearaacute

2012-2016

Chuvas abaixo da meacutedia Dizimou a pecuaacuteria e a agricultura familiar em

algumas regiotildees natildeo choveu os rios secaram Houve queda da produccedilatildeo

agriacutecola foi necessaacuterio abastecimento via carros- pipa

Fonte Autora com base em Campos (2014) Rodrigues (2016)

5 SECA DE 2012 A 2016

Este estudo contempla os aspectos hidroloacutegicos do estado do Cearaacute que na maior

parte do seu territoacuterio predomina o clima semiaacuterido com uma estaccedilatildeo chuvosa e outra seca o

periacuteodo chuvoso concentra a maior parte das precipitaccedilotildees e se restringe a cerca de quatro

meses ao ano isso aumenta a evaporaccedilatildeo e a consequente perda de reservas As temperaturas

satildeo elevadas variando pouco durante todo o ano as chuvas se concentram entre janeiro e

abril portanto o periacuteodo restante do ano corresponde a um longo periacuteodo de seca

Atualmente o Cearaacute vivencia um novo ciclo de seca que teve iniacutecio em 2012 segundo

dados da Fundaccedilatildeo Cearense de Meteorologia (FUNCEME) mostram que esta eacute a pior seca

prolongada desde 1910

Graacutefico 1 Chuvas no Cearaacute de 1977 a 2017

FONTE Autora com dados da Fundaccedilatildeo Cearense de Meteorologia (FUNCEME)21

A precipitaccedilatildeo normal no Cearaacute eacute de 800 mm mas com a seca que deu iniacutecio em 2012

a precipitaccedilatildeo foi de 3888 mm muito abaixo da meacutedia o que fez desta uma das piores secas

prolongadas De 2013 agrave 2016 as chuvas seguiram abaixo de 600mm O periacuteodo de 2012 a

21

Disponiacutevel em ltwwwfuncemebrindexphpareas23-monitoramentometereoloacutegico406-gt

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1800

1977 1982 1987 1992 1997 2002 2007 2012 2017

PR

EC

IPIT

ACcedil

AtildeO

(m

m)

ANOS

Chuva

Normal

266

2016 por ser muito criacutetico em termos de chuvas muitos municiacutepios decretaram estado de

emergecircncia no Cearaacute como mostra na tabela 1

Tabela 1- Decretos de Estado de Emergecircncia no Cearaacute no periacuteodo de 2012 a 2016

DECRETO PERIacuteODO Ndeg DE MUNICIacutePIOS

30922 28052012 168

31053 19112012 174

31214 21052013 175

31338 31102013 175

31475 08052014 176

31619 15112014 176

31717 29042015 67

31725 21052015 28

31752 24062015 44

31808 22102015 150

31931 18042016 84

31961 02062016 25

31981 28062016 9

32002 01082016 7

32069 14102016 104

32110 23122016 25

Fonte Autora com base em dados da Defesa Civil

De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Agraacuterio (SDA 2015) em setembro

de 2015 o Comitecirc Integrado de Combate agrave Estiagem do Estado do Cearaacute incluiu mais 37

municiacutepios cearenses na lista dos atendidos pela operaccedilatildeo Carro Pipa (atendendo a uma

populaccedilatildeo de quase um milhatildeo de pessoas) passando para 146 o nuacutemero de municiacutepios

atendidos quase 80 dos municiacutepios do Estado do Cearaacute e justamente na zona rural onde as

carecircncias satildeo maiores Segundo Marengo Cunha e Alves (2016) ateacute 2015 quase nove milhotildees

de pessoas da regiatildeo semiaacuterida do Nordeste foram atingidas por essa seca Com os impactos

997 dos 1794 municiacutepios da regiatildeo nordeste foram declarados em estado de calamidade ou

emergecircncia pelo governo federal

De acordo com Martins e Magalhatildees (2015) com a seca plurianual de 2012 a 2015

vaacuterios municiacutepios necessitaram de accedilotildees emergenciais como adutoras de montagem raacutepida e

perfuraccedilatildeo de poccedilos Para isso foi necessaacuterio recursos do estado do Cearaacute atraveacutes da Cogerh e

do Ministeacuterio de Integraccedilatildeo Aleacutem disso conforme Cearaacute (2013) com o abastecimento de

aacutegua criacutetico passa a ser feito por meio da operaccedilatildeo carro pipa tambeacutem foram atendidas com

recuperaccedilatildeo de poccedilos profundos construccedilatildeo de cisternas recuperaccedilatildeo de accediludes e barragens

267

foram criados comitecircs de enfrentamento das estiagens em 2013 foram ampliados os

programas de garantia safra e a bolsa estiagem

Segundo Martins e Magalhatildees (2015) ficou claro que o nuacutemero de carros-pipa era

insuficiente para atender a demanda jaacute que se intensificou o quadro criacutetico em 2012

continuando abaixo da meacutedia ateacute 2016 O exeacutercito assumiu a partir de 2015 vaacuterias rotas de

carros-pipa que de 2010 a 2015 eram atendidas defesa civil pela estadual Em 2010 no Estado

do Cearaacute existiam 678 rotas na operaccedilatildeo carro-pipa do exeacutercito esse nuacutemero cresceu em 2015

para 1183 rotas tendo como causa desse crescimento a intensificaccedilatildeo da seca plurianual

Foram cinco anos criacuteticos em termos hidroloacutegicos em que houve reduccedilatildeo dos reservatoacuterios A

tabela dois mostra a atual capacidade hiacutedrica do Estado do Cearaacute ao final de cada ano

Tabela 2- Situaccedilatildeo Hiacutedrica do Estado do Cearaacute

Capacidade Hiacutedrica por hectocircmetro Cuacutebico (hmsup3) ndash 186780

ANO VOLUME ATUAL (hmsup3) NIacuteVEL ATUAL ()

2011 133734 715

2012 91148 488

2013 59022 316

2014 39223 210

2015 23161 124

2016 12750 68 FONTE Autora com base em dados da Conab (2017)

A tabela dois demonstra o resultado dos cinco anos de seca de 2012 a 2016 que foram

criacuteticos em termos hidroloacutegicos o que refletiu na reduccedilatildeo dos reservatoacuterios Em 2011

considerado um ano normal de chuva os reservatoacuterios estavam com 715 de sua capacidade

que corresponde a 133734 hm3 A partir de 2012 o niacutevel comeccedilou a baixar e jaacute em 2016 o

niacutevel do estava com 68 da capacidade 12750 hm3

A pouca chuva de 2012 prejudicou a alimentaccedilatildeo do gado que passou a morrer de

fome em 2013 a quadra chuvosa continuou abaixo da meacutedia e os mesmos problemas de

suprimento continuaram afetando a produccedilatildeo agriacutecola Segundo a Conab22

(Companhia

Nacional de Abastecimento) a produccedilatildeo agriacutecola foi extremamente prejudicada pelo fator

22

Disponiacutevel

emlthttpwwwconabgovbrOlalaCMSuploadsarquivos16_01_05_16_16_41_dados_tecnicos_sobre_o_pano

rama_da_agopecuaria_do_estado_do_ceara_-_ano_2015pdfgt

268

clima jaacute que de 2012 a 2015 apresentaram baixa pluviometria representando para a produccedilatildeo

agriacutecola perdas na produccedilatildeo

A tabela 3 mostra o prejuiacutezo sofrido na produccedilatildeo agriacutecola nos anos de 2012 a 2015

comparando com a produccedilatildeo de gratildeos de 2011 ano em que a quadra chuvosa foi normal

Tabela 3 Produccedilatildeo das principais culturas agriacutecolas no periacuteodo de 2011 a 2015

Fonte Autora com base em dados da Conab (2015)

Os anos seguidos de seca prejudicaram vaacuterios setores da economia um dos produtos

mais prejudicados foi o milho que eacute a cultura mais cultivada no Cearaacute em 2011 a produccedilatildeo

foi de 9343 jaacute em 2012 quando deu iniacutecio a seca havia produzido 739 Fazendo com que

houvesse uma variaccedilatildeo negativa de 922 da produccedilatildeo reduzida Permanecendo abaixo da

meacutedia ateacute 2015

Pode-se observar na tabela 4 que outros produtos agriacutecolas de relevacircncia econocircmica

para o estado tambeacutem sofreram perdas com fenocircmeno climaacutetico que atinge o estado desde

2012

Tabela 4 Produccedilatildeo Agriacutecola- Outras Cultura

Fonte Autora com base em dados da Conab (2015)

Com esta seca ateacute a cana-de-accediluacutecar uma das produccedilotildees mais tradicionais do Cearaacute

sofreu pela falta de aacutegua a produccedilatildeo que havia sido de 22098 em 2011 baixou para 9066 em

Produto 2011

(a)

2012

(b)

2013

(c)

2014

(d)

2015 VARIACcedilAtildeO

(e) ba ca da ea

Milho 9493 739 981 4013 1514 -922 -897 -577 -841

Feijatildeo 2596 329 687 1325 826 -873 -735 -490 -682

Arroz 949 319 541 317 18 -348 -430 -666 -810

Outros 389 32 27 71 28 -918 -931 -817 -928

Total 13427 1719 2236 5726 2548 -872 -833 -574 -810

Produto 2011

(a)

2012

(b)

2013

(c)

2014

(d)

2015 VARIACcedilAtildeO

(e) ba ca da ea

Castanha

de caju

1117 385 531 511 521 -655 -525 -542 -533

Cana- de -

accediluacutecar

22098 11967 11765 11765 9066 -96 -242 -468 -589

Raiz-

mandioca

8366 4687 3003 4784 3406 -440 -641 -478 -592

269

2015 foi o pior ano para esta produccedilatildeo que teve uma variaccedilatildeo negativa de 589 Essa seca

prolongada afetou os campos de cana em todo o estado

Em 2014 segundo a FUNCEME23

(2015) houve 4517 focos de incecircndio

meteorologistas destacam que um dos principais motivos foi o acuacutemulo dos efeitos da seca

que vem castigando o Cearaacute desde 2012 e as temperaturas acima da meacutedia Com o

prolongamento da estiagem 2015 foi o ano mais quente da histoacuteria o que contribuiu para a

reduccedilatildeo da umidade relativa do ar em consequecircncia da longa estiagem os solos ficaram

menos uacutemidos e a vegetaccedilatildeo seca condiccedilatildeo propicia para a propagaccedilatildeo do fogo com isso

cresce o nuacutemero de incecircndios para 6186 que representa um aumento de 369

6 POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS

As poliacuteticas puacuteblicas tecircm um papel fundamental na soluccedilatildeo de problemas da

sociedade atraveacutes de accedilotildees do Estado tanto em acircmbito federal estadual e municipal agindo

diretamente ou em parceria com organizaccedilotildees natildeo governamentais eou com a iniciativa

privada As poliacuteticas desenvolvidas provocam efeitos que influenciam a vida dos cidadatildeos

Uma das formas intervenccedilotildees do Estado ao problema da seca foi agrave criaccedilatildeo em 1909 do

Departamento Nacional de Obras contra as Secas (DNOCS) sendo o primeiro oacutergatildeo a estudar

a problemaacutetica do semiaacuterido vale ressaltar que ele possuiacutea outro nome Construiu accediludes

estradas barragens e poccedilos Poreacutem algumas de suas obras foram implantadas sem observar os

aspectos ambientais e socioeconocircmicos do estado o que acabou contribuindo para diminuir a

eficaacutecia de suas accedilotildees Apesar de criacuteticas natildeo se pode deixar de destacar seu papel relevante

para a construccedilatildeo de infraestrutura na regiatildeo nordestina

Em 1932 um termo ficou conhecido como ―Induacutestria da Seca devido a uma estrateacutegia

utilizada por poliacuteticos que se aproveitavam da trageacutedia da seca em benefiacutecio proacuteprio As

intervenccedilotildees do governo se resumiram basicamente em accedilotildees de caraacuteter emergencial de curto

prazo que soacute satildeo desenvolvidos em momentos de calamidade sem ter uma programaccedilatildeo

planejada como distribuiccedilatildeo de aacutegua benefiacutecios sociais doaccedilotildees entre outros tornando as

pessoas dependentes de tais poliacuteticas Com o povo sertanejo eacute vulneraacutevel os poliacuteticos que

estatildeo no poder usam dessas manobras como um meio para ganhar apoio Assim essas accedilotildees

23

Disponiacutevel em ltwwwfuncemebrindexphpcomunicaonoticias694-nuacutemero-de-focos-de-incecircndio-no-cearaacute-

cresce-369todospelaagua

270

alimentam a chamada induacutestria das secas que se utiliza tambeacutem das obras hiacutedrica para

favorecer grandes proprietaacuterios

Em seguida a secretaria de recursos hiacutedricos foi criada em 1987 Segundo Filho

(2003) com o objetivo de promover o uso racional dos recursos hiacutedricos trabalhando com

barragens construccedilatildeo de poccedilos adutoras eixos de transferecircncia hiacutedrica e abastecimento de

aacutegua Tambeacutem faz parte do Sistema de Recursos Hiacutedricos a Companhia de Gestatildeo dos

Recursos Hiacutedricos (COGERH) responsaacutevel pela manutenccedilatildeo das obras a Superintendecircncia de

Obras Hidraacuteulicas (SOHIDRA) com o acompanhamento e fiscalizaccedilatildeo e a Fundaccedilatildeo Cearense

de Meteorologia e Recursos Hiacutedricos (FUNCEME) com a finalidade de aumentar os

conhecimentos da geografia planejando e desenvolvendo as poliacuteticas

Em seguida a agecircncia nacional de aacuteguas - ANA foi criada em 1999 sendo responsaacutevel

pelo gerenciamento dos recursos hiacutedricos brasileiro Cabe a ANA o controle

operacionalizaccedilatildeo avaliaccedilatildeo dos Recursos Hiacutedricos Seu aspecto regulatoacuterio tem alcance

nacional faz parte de suas atribuiccedilotildees o apoio agrave gestatildeo monitoramento de rios e reservatoacuterios

planeja e desenvolve programas e projetos estimula a adequada gestatildeo e o uso racional dos

recursos hiacutedricos

De acordo com Silva (2003) tradicionalmente as accedilotildees governamentais de intervenccedilatildeo

foram sendo construiacutedas tendo como caracteriacutesticas o caraacuteter emergencial programas

desenvolvidos soacute em momentos de calamidade natildeo resolviam a soluccedilatildeo hidraacuteulica As accedilotildees

de combate partiam do armazenamento de aacutegua No entanto o clima da regiatildeo quente e seco

limitava o efeito da poliacutetica fazendo com que a aacutegua represada evaporasse muito raacutepido

Segundo Malvezzi (2007) foi construiacutedo vaacuterios accediludes e poccedilos em todo o semiaacuterido

mesmo com as obras sendo feitas continuamente a populaccedilatildeo rural ainda encontra problemas

de abastecimento Com isso em momentos de seca ainda satildeo necessaacuterias agraves accedilotildees

emergenciais como as Adutoras de montagem raacutepida (AMR) perfuraccedilatildeo de poccedilos e a

operaccedilatildeo carro-pipa O autor destaca o Projeto de Transposiccedilatildeo do Satildeo Francisco que segue a

loacutegica da ―Induacutestria da Seca repetindo as obras que imobilizam grande capital fortalecendo

poliacuteticos e trazendo benefiacutecios a particulares

Entre os programas criados vale destacar a Agenda 21 que mobiliza as instituiccedilotildees

sobre a ideia de sustentabilidade em que as poliacuteticas ou accedilotildees que promovam a convivecircncia

com o semiaacuterido devem inserir o desenvolvimento sustentaacutevel Ou seja atender as

271

necessidades do presente sem comprometer as geraccedilotildees futuras respeitando a capacidade de

restauraccedilatildeo dos ecossistemas

O Projeto Aacuteridas tem como objetivo contribuir com o desenvolvimento sustentaacutevel da

regiatildeo semiaacuterida e representa uma rica fonte de dados de informaccedilatildeo para elaboraccedilatildeo de

poliacuteticas sustentaacuteveis Segundo Viana (2013) o projeto realizou 46 estudos que demostraram

desigualdade socioeconocircmica a degradaccedilatildeo do solo e a pouca disponibilidade de aacutegua foram

destacados como os grandes desafios para o Nordeste Foram sugeridos programas ligados agraves

variaccedilotildees climaacuteticas e a pobreza Esse projeto foi fundamental para a delimitaccedilatildeo de novas

poliacuteticas deu notoriedade o desenvolvimento sustentaacutevel (VIANA 2013)

O PRONAF foi criado em 1996 tendo como objetivo fortalecer o desenvolvimento

sustentaacutevel da agricultura familiar com o intuiacutedo de melhorar a qualidade de vida das famiacutelias

produtoras Segundo Silva (2007) o PRONAF tem como finalidade apoiar as atividades dos

agricultores da regiatildeo financiando tecnologias de convivecircncia como por exemplo para

construccedilatildeo de cisternas e barragens para consumo humano e produccedilatildeo

O programa um milhatildeo de cisternas eacute reconhecido como um elemento de seguranccedila

hiacutedrica pela mobilizaccedilatildeo e formaccedilatildeo social para a convivecircncia com o semiaacuterido iniciado em

2001 Ateacute marccedilo de 2017 jaacute foram construiacutedos 595812 cisternas rurais (ASA 2017) As

famiacutelias beneficiadas com este programa passam por uma capacitaccedilatildeo de gerenciamento dos

recursos hiacutedricos onde aprendem como utilizar a aacutegua da forma mais adequada

O P1MC foi o primeiro programa desenvolvido pala ASA com o objetivo de atender a

necessidade baacutesica de aacutegua para beber da populaccedilatildeo vivente no campo as famiacutelias envolvidas

passam a ter acesso agrave aacutegua de qualidade atraveacutes do armazenamento de aacutegua da chuva em

cisternas construiacutedas de placas de cimento ao lado da casa Com isso diminuiu a dependecircncia

de poliacuteticas assistencialistas Segundo Nascimento (2016) apoacutes a implantaccedilatildeo das cisternas

houve uma melhoria nos resultados de sauacutede das famiacutelias diminuiu a dependecircncia de carros-

pipa e as migraccedilotildees

A histoacuteria das secas no Cearaacute sempre foi de muitas perdas na agricultura morte de

animais fome migraccedilatildeo Nesse sentido foi criado o programa seguro safra para que os

agricultores familiares que perdessem a safra por causa da seca tenham uma condiccedilatildeo miacutenima

de sustento Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Agraacuterio (2015) o seguro safra foi

criado em 2002 Que garante ao agricultor o recebimento de um auxilio caso este venha a

perder 50 de sua safra por causa da estiagem (SILVA 2007)

272

O Programa Uma Terra e Duas Aacuteguas (P1+2) foi criado em 2007 com o objetivo

promover seguranccedila alimentar das famiacutelias agricultoras e fomentar a geraccedilatildeo de emprego e

renda Segundo a ASA (2017) as tecnologias que o P1+ 2 trabalha satildeo diversas Cisterna-

Calccediladatildeo Barragem Subterracircnea Tanque de Pedra ou Caldeiratildeo Bomba dlsquoaacutegua popular

Barreiro- trincheiro Barraginha Cisterna-enxurrada Ateacute marccedilo de 2017 jaacute foram construiacutedas

93688 tecnologias de uso familiar Segundo Cordeiro (2011) estas tecnologias aumentaram

significamente o acesso agrave aacutegua o que possibilitou a melhoria na qualidade de vida

aumentando a criaccedilatildeo de animais e diminuindo as migraccedilotildees Segundo Souza (2014) 17768

famiacutelias foram mobilizadas

Para Malvezzi (2007) o segredo de convivecircncia com a seca estaacute em conhecer

profundamente a regiatildeo propor praacuteticas que minimizem os efeitos negativos em especial o

solo para que o sertanejo consiga viver com as caracteriacutesticas da seca o que envolve um

processo educativo para respeitarem o ambiente e os limites dos recursos Eacute necessaacuterio mudar

a forma de pensar e agir com o meio ambiente para que possa adaptar-se a regiatildeo em que

habita

7 CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu analisar as poliacuteticas puacuteblicas aplicadas agrave seca na regiatildeo

cearense Admitiu uma avaliaccedilatildeo de como este problema afeta os aspectos econocircmicos

sociais e ambientais Com este estudo foi possiacutevel chegar a conclusotildees que grande parte das

poliacuteticas criadas para combater da seca acabaram natildeo solucionando o problema e natildeo atingiu

socialmente a populaccedilatildeo jaacute que este ainda se encontra em estado de miseacuteria e necessitando

ainda de accedilotildees emergenciais Jaacute as poliacuteticas voltadas a se conviver com o semiaacuterido apesar de

seu pouco tempo de funcionamento se apresentam como uma alternativa para se conviver com

os problemas de escassez

Historicamente tentaram resolver os problemas do semiaacuterido atraveacutes da construccedilatildeo da

perfuraccedilatildeo de poccedilos e construccedilatildeo de accediludes Natildeo levam em consideraccedilatildeo que a temperatura

no semiaacuterido faria com que a aacutegua dos accediludes evaporasse e os poccedilos por sua vez tambeacutem natildeo

eacute uma soluccedilatildeo uma vez que o solo do semiaacuterido eacute em sua grande maioria cristalino para se

conseguir aacutegua seria necessaacuterias perfuraccedilotildees muito profundas e quando conseguiam chegar a

aacutegua ou era ruim ou salobra

273

Tradicionalmente as poliacuteticas de combate agrave seca se mostraram mais preocupadas

desenvolver a agricultura no semiaacuterido beneficiando principalmente a grandes e meacutedios

proprietaacuterios seus objetivos iniciais eram socialmente aceitaacuteveis mas acabaram em sua

grande maioria por serem modificados esses programas acabaram por natildeo alcanccedilar a

populaccedilatildeo que mais sofre com a seca que satildeo os pequenos proprietaacuterios e os sem terra

As poliacuteticas de convivecircncia com a seca conseguem ter um alcance social maior aleacutem

de utilizar de tecnologias mais baratas como o Programa um milhatildeo de cisternas rurais e o

programa uma terra e duas aacuteguas beneficiam as famiacutelias mais pobres e evitam que a aacutegua

evapore podendo ter aacutegua de boa qualidade para o periacuteodo de seca

Os usos das aacuteguas satildeo diversificados e crescem a cada dia assim como a populaccedilatildeo

trazendo grandes impactos aos recursos hiacutedricos hoje se usa mais aacutegua do que a natureza tem

capacidade pera repor Eacute necessaacuterio levar em consideraccedilatildeo como o clima funciona a

especificidade da regiatildeo na hora de criar uma poliacutetica

Esta pesquisa se mostra importante por abordar um problema que ainda atingi uma

populaccedilatildeo muito grande e sofredora as poliacuteticas atuais de convivecircncia com vieacutes sustentaacutevel

se mostram como tecnologias apropriadas ao clima do semiaacuterido aleacutem de serem baratas

permitem o acesso da populaccedilatildeo para ter aacutegua para beber e produzir A seca se mostra como

uma condiccedilatildeo natural do semiaacuterido por isso eacute importante o planejamento para os proacuteximos

anos e se investir em tecnologias apropriadas e permanentes

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277

ECONOMIA SOLIDAacuteRIA E SUSTENTABILIDADE UM ESTUDO DE CASO DA

ASSOCIACcedilAtildeO DE ARTESAtildeOS DE SERRINHA (ARTEFIBRA) NO MUNICIacutePIO DE

GRANJEIRO ndashCE

GESSICA TACIANA PEREIRA LIMA (Graduada em Economia pela Universidade Regional do Cariri ndash URCA E-mail

gessicatacianagmailcom)

ADRIANA CORREIA LIMA FRANCA

(Mestre em Desenvolvimento Regional Sustentaacutevel pela Universidade Federal do Cearaacute ndash

UFC Professora Associada do Departamento de Economia da Universidade Regional do

Cariri ndash URCA E-mail dricacorreiayahoocombr)

NAYANA TAVARES FEITOSA

(Estudante do Curso de Ciecircncias Econocircmicas da Universidade Regional do Cariri ndash URCA

E-mail nayana_tavareshotmailcom)

278

ECONOMIA SOLIDAacuteRIA E SUSTENTABILIDADE UM ESTUDO DE CASO DA

ASSOCIACcedilAtildeO DE ARTESAtildeOS DE SERRINHA (ARTEFIBRA) NO MUNICIacutePIO DE

GRANJEIRO ndashCE

RESUMO

A Economia Solidaacuteria eacute entendida como importante instrumento para a geraccedilatildeo de emprego e

renda Diante desse contexto observa-se a crescente disseminaccedilatildeo de empreendimentos

solidaacuterios como alternativa para a exclusatildeo do mercado formal Seguindo esta tendecircncia a

ARTEFIBRA foi criada com o objetivo de geraccedilatildeo de emprego e renda na comunidade de

Serrinha distrito de Granjeiro- CE Desta forma este trabalho tem como objetivo geral

compreender a relevacircncia da associaccedilatildeo ARTEFIBRA na geraccedilatildeo de renda e emprego na

comunidade do sitio Serrinha distrito de Granjeiro-Cearaacute A pesquisa eacute de natureza

bibliograacutefica e de campo com caraacuteter exploratoacuterio descritivo e abordagem quantitativa e

qualitativa O perfil dos associados demonstra que a maioria satildeo mulheres com idade entre 40

e 50 anos residentes na zona rural Todos possuem casa proacutepria e quitada e produzem o

artesanato na proacutepria residecircncia Quanto agrave escolaridade os dados apontam que 50 dos

associados tem o ensino fundamental incompleto A principal fonte de renda eacute o artesanato

Os associados produzem vaacuterios produtos e todos compram a mateacuteria-prima principal o sisal

a agricultores da localidade A produccedilatildeo eacute destinada quase que exclusivamente para Centro de

Artesanato do Cearaacute - CEART Diante do contexto pesquisado observou-se que a

ARTEFIBRA eacute importante mecanismo de desenvolvimento local ao proporcionar emprego e

renda para os seus associados

Palavras-chaves Economia Solidaacuteria Associativismo ARTEFIBRA

ABSTRACT

The Solidarity Economy is understood as an important instrument for the generation of

employment and income Given this context we can observe the growing dissemination of

solidarity projects as an alternative to the exclusion of the formal market Following this

trend ARTEFIBRA was created with the purpose of generating employment and income in

the community of Serrinha Granjeiro-CE district In this way this work has as general

objective to understand the relevance of the ARTEFIBRA association in the generation of

income and employment in the community of the Serrinha site district of Granjeiro-Cearaacute

The research is of a bibliographic and field nature with a descriptive exploratory character and

a quantitative and qualitative approach The profile of the associates shows that the majority

are women aged between 40 and 50 years living in the rural area All of them have their own

houses and they have their own houses and produce handicrafts Regarding education the

data indicate that 50 of associates have incomplete elementary education The main source

of income is handicrafts The associates produce various products and all buy the main raw

material the sisal the farmers of the locality The production is destined almost exclusively

for Cearaacute Craft Center - CEART In view of the researched context it was observed that

ARTEFIBRA is an important local development mechanism providing employment and

income for its members

Keywords Solidarity economy Associativism ARTEFIBRA

279

1 INTRODUCcedilAtildeO

Diante da crise do sistema fordista-taylorista de produccedilatildeo e preponderacircncia das ideias

neoliberais que tiveram como consequecircncia um grande impacto negativo para a classe mais

carente da populaccedilatildeo a economia solidaacuteria passa a proporcionar alternativas de trabalho e

renda para as pessoas excluiacutedas do mercado de trabalho formal (AZAMBUJA 2009)

No acircmbito brasileiro as primeiras experiecircncias de economia solidaacuteria surgiram na

deacutecada de 1980 devido ao crescimento do desemprego provocadas pela crise cambial e

inflacionaacuteria que ocorria naquele periacuteodo

Atualmente a economia solidaacuteria se consolida como um meio econocircmico real e

opcional relativo ao capital ganhando cada vez mais relevacircncia pois seus procedimentos

englobam solidariedade inclusatildeo emancipaccedilatildeo social e sustentabilidade (GADOTTI 2009)

Desta forma a economia solidaacuteria torna-se cada vez mais forte ao possibilitar novas

alternativas de trabalho e renda a partir de uma diversidade de praacuteticas econocircmicas e sociais

organizadas sob a forma de cooperativas associaccedilotildees clubes de troca empresas

autogestionaacuteria redes de cooperaccedilatildeo entre outras que realizam atividades de produccedilatildeo de

bens prestaccedilatildeo de serviccedilos financcedilas solidaacuterias trocas comeacutercio justo e consumo

Seguindo esta tendecircncia nacional criada como um meio alternativo para driblar o

desemprego e ampliar a renda foi criado a Associaccedilatildeo de Artesatildeos de SERRINHA ndash

ARTEFIBRA no distrito de Serrinha localizada no Municiacutepio de Granjeiro ndash Ce considerada

como uma alternativa de sobrevivecircncia a partir dos princiacutepios da economia solidaacuteria

Desta forma este trabalho tem como objetivo geral compreender a relevacircncia da

associaccedilatildeo ARTEFIBRA na geraccedilatildeo de renda e emprego na comunidade do sitio Serrinha

distrito de Granjeiro-Ce

2 ECONOMIA SOLIDAacuteRIA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL

Conforme Singer (2002) a economia solidaacuteria natildeo eacute criaccedilatildeo intelectual de algueacutem

embora os grandes autores socialistas denominados utoacutepicos da primeira metade do seacuteculo

XIX (OwenFourier Buchez Proudhon) tenham dado contribuiccedilotildees decisivas ao seu

desenvolvimento a economia solidaacuteria eacute uma criaccedilatildeo em processo contiacutenuo de trabalhadores

em luta contra o capitalismo Como tal ela natildeo poderia proceder ao capitalismo industrial

mas o acompanha como uma sombra em toda sua evoluccedilatildeo

280

Ainda conforme Singer (2002) a Economia Solidaacuteria vem sendo amplamente

apresentada e discutida tanto no meio acadecircmico como no ambiente institucional como uma

possiacutevel alternativa ao desemprego e a precariedade do trabalho dado o contexto de ―crise

estrutural do sistema capitalista Sem entrave eacute vista como um modo de produccedilatildeo alternativo

que busca a emancipaccedilatildeo plena da classe dos trabalhadores

No acircmbito brasileiro eacute na deacutecada de 1980 que a Economia Solidaacuteria reaparece de

forma dispersa e toma impulso progressivo a partir de 1990 sendo resultado de movimentos

sociais que reagem agrave crise do desemprego em um nuacutemero cada vez mais crescente iniciado

no ano de 1981 e agravando-se com a abertura do mercado interno as importaccedilotildees a partir do

ano 1990 Desta forma a economia solidaacuteria surgiu como alternativa para trabalhadores que

estavam desempregados excluiacutedos diante das desigualdades do capitalismo

Conforme Franccedila Filho e Laville (2004 p 149) no Brasil o termo economia solidaacuteria

tem servido para identificar diferentes iniciativas de grupos sociais ―que se organiza sob o

princiacutepio da solidariedade e da democracia para enfrentar suas problemaacuteticas locais atraveacutes da

elaboraccedilatildeo de atividades econocircmicas

Para Singer (2004) o modelo capitalista divide a sociedade em duas classes

divergentes os trabalhadores que estatildeo sujeitos a trabalhos alienados em troca de baixos

salaacuterios ou ateacute mesmo a mercecirc do desemprego e os grandes proprietaacuterios que se beneficiam

deste molde por serem os proprietaacuterios dos meios de produccedilatildeo

Visando uma alternativa para esse modelo a Economia Solidaacuteria define-se como ―um

jeito diferente de produzir vender comprar e trocar o que eacute preciso para viver sem querer

explorar os outros sem querer levar vantagem sem querer destruir o meio ambiente

cooperando e fortalecendo o grupo cada um pensando no bem de todos e no proacuteprio bem

(SINGER 2004 p 15)

A discussatildeo em torno da temaacutetica ES estaacute diretamente relacionada agrave sustentabilidade

―Sustentabilidade e solidariedade satildeo temas emergentes e convergentes (GADOTI 2009 p

9) Com frequecircncia a economia solidaacuteria eacute interligada com desenvolvimento sustentaacutevel

visto que esta constitui o fundamento de uma globalizaccedilatildeo humanizada que acontece quando

as pessoas passam a se preocupar com o outro em relaccedilatildeo as suas necessidades buscando

atuar em um mercado mais justo voltando-se ao bem estar coletivo

Assim como o desenvolvimento sustentaacutevel a economia solidaacuteria remete a

instrumentos que buscam levar o ser humano que vive inserido nesse mundo voltado ao

281

capitalismo a ter esperanccedilas de dias melhores com condiccedilotildees de trabalho sem exploraccedilatildeo

nem do homem pelo homem nem da natureza

Para Singer (2004) a ES apresenta em seus princiacutepios a busca pela sustentabilidade ao

priorizar atividades econocircmicas que respeitem o meio ambiente e que fertilizem condutas

igualitaacuterias sem desprezar a produccedilatildeo do conhecimento nem a modernizaccedilatildeo tecnoloacutegica

mas ambos devem estar submissos aos preceitos ambientais agrave inclusatildeo social e da autogestatildeo

Os dois modelos buscam se interligarem para formarem um conjunto de accedilotildees que

priorizam a preservaccedilatildeo da natureza Conforme Singer (2004) as empresas solidaacuterias muitas

vezes optam pela proteccedilatildeo ambiental e o bem-estar do consumidor sendo contra aos

processos que impliquem em degradaccedilatildeo ambiental e diminuiccedilatildeo da sauacutede populacional

Afirma que a economia solidaacuteria tem propoacutesitos sociais e tem empregado muitas pessoas e as

incluindo no meio social

21 Cooperativismo e associativismo

O cooperativismo nasceu em meio agrave revoluccedilatildeo industrial na segunda metade do

seacuteculo XVIII surgindo como alternativa agraves barbaridades cometidas pelo sistema sobre a

sociedade que naquele momento histoacuterico presenciava a efervescente origem do capitalismo

industrial (CULTI 2007)

Entendendo como sistema e doutrina o Cooperativismo surgiu como uma alternativa

para corrigir o meio econocircmico e social consequente do liberalismo econocircmico Seus

princiacutepios satildeo baseados no ideal de que a produccedilatildeo deve ser colocada em favor do

consumidor e natildeo do produtor Para tanto as pessoas associam-se e unem-se em cooperativas

de forma que o resultado das atividades ou a prestaccedilatildeo dos serviccedilos beneficia os proacuteprios

associados e a comunidade em geral Cooperativa eacute definida como uma associaccedilatildeo de pessoas

que se reuacutenem voluntariamente para atingir um objetivo comum atraveacutes da formaccedilatildeo de uma

organizaccedilatildeo administrada e controlada democraticamente conseguindo contribuiccedilotildees

equitativas para o capital necessaacuterio e aceitando assumir de forma igualitaacuteria os riscos e

benefiacutecios do empreendimento no qual os soacutecios participam ativamente (PINHO 2004)

Leite (2007 p36) relata que ―cooperativas satildeo associaccedilotildees autocircnomas sem fins

lucrativos ao contraacuterio do que acontece no capitalismo pessoas que se unem voluntariamente

e constituem uma empresa de propriedade de todos para satisfazer necessidades

282

econocircmicas pessoais e culturais espelhando-se em ideais de solidariedade democracia

participaccedilatildeo e poder de atuaccedilatildeo pessoal

Singer (2003) ainda argumenta que as cooperativas satildeo importantes primeiro porque

permite ainda no interior do capitalismo a praacutetica da ―autogestatildeo aprendizagem que eacute

condiccedilatildeo para se ter a possibilidade histoacuterica de superaccedilatildeo do capital

Para Rocha Filho e Cunha (2009) o cooperativismo vem ajudando a reduzir os niacuteveis

de desemprego na economia formal podendo portanto constituir-se de uma nova cultura

alternativa ao capitalismo alegando que o trabalho cooperativo tem sido apontado como uma

das alternativas para a crise do desemprego na economia formal O setor informal se

desenvolve criando uma nova economia a economia social articuladas sobre novas normas

de contrato social fundamentada em redes de solidariedade nas quais o fator de risco

prevalece

Assim como o cooperativismo o associativismo eacute fruto da luta pela sobrevivecircncia e

pela melhoria das condiccedilotildees de vida de um determinado grupo Todo patrimocircnio de uma

associaccedilatildeo eacute constituiacutedo pelos associados ou membros logo as associaccedilotildees natildeo possuem fins

lucrativos

As associaccedilotildees possuem patrimocircnios que satildeo formados por taxa paga pelos

associados doaccedilotildees fundos e reservas As cooperativas diferentemente possuem capital

social Nas associaccedilotildees os dirigentes natildeo tecircm remuneraccedilatildeo pelo exerciacutecio de suas funccedilotildees

recebem apenas o reembolso das despesas realizadas para o desempenho de seus cargos Jaacute

nas cooperativas os dirigentes aleacutem do reembolso de suas despesas podem ser remunerados

por retiradas mensais ―pro-labora definidas pela assembleia As associaccedilotildees natildeo pagam

imposto de renda As cooperativas embora natildeo paguem imposto de renda sobre suas

operaccedilotildees com seus associados devem recolher sobre operaccedilotildees com terceiros (LIMA 2010

p100)

A finalidade da associaccedilatildeo eacute a promoccedilatildeo educaccedilatildeo e assistecircncia social Jaacute a

cooperativa tem por finalidade viabilizar o negoacutecio produtivo mesmo que tenha as mesmas

intenccedilotildees da associaccedilatildeo (CULTI 2007)

De acordo com Amorim (2005) o associativismo abrange vaacuterias situaccedilotildees e povos que

representam posiccedilotildees diferentes como por exemplo os movimentos estudantis associaccedilatildeo

de moradores entre outros aleacutem do sindicalismo que possui suas peculiaridades em acircmbito

nacional e internacional

283

A forccedila do trabalho associado bem como a realidade de ser o dono daquilo que se

produz tambeacutem gera outros benefiacutecios diretos e indiretos como o estiacutemulo moral aleacutem do

material a responsabilidade individual para o grupo a coordenaccedilatildeo e atenccedilatildeo para a melhora

do trabalho diminuindo a eficiecircncia atraveacutes da loacutegica de que todos satildeo donos e que

contribuem para o bem do empreendimento a troca e aprendizado muacutetuo de saberes e

habilidades incentivo agrave iniciativa e a criatividade a flexibilidade de ritmo e de funccedilatildeo o fator

de promoccedilatildeo da justiccedila e da equidade como princiacutepio fundante a autonomia dignidade e

humanizaccedilatildeo a reduccedilatildeo de conflitos laborais entre outros (ROCHA 2007)

Em suma nesses empreendimentos acontece um acolhimento do que foi perdido A

socializaccedilatildeo desperta e reafirma o coletivo em detrimento do individual o que faz os

integrantes desse modelo se sentirem mais fortes protegidos e sem medo da ameaccedila de serem

despedidos do seu emprego a qualquer momento Serem donos dos seus empreendimentos

por menores que sejam seus negoacutecios e mais simples as atividades produtivas eacute motivo para

elevar a autoestima e garantir a cidadania de qualquer trabalhador

3 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

A pesquisa eacute de natureza bibliograacutefica e de campo com caraacuteter exploratoacuterio descritivo

e abordagem quantitativa e qualitativa

A pesquisa bibliograacutefica possibilitou o levantamento das concepccedilotildees teoacutericas acerca

da temaacutetica abordada O levantamento bibliograacutefico foi feito em livros teses dissertaccedilotildees

artigos revistas de cunho cientiacutefico jornais e por meio eletrocircnico

O trabalho utilizou-se tambeacutem da coleta e anaacutelise de dados primaacuterios obtidos por

meio da pesquisa de campo caracterizando a pesquisa como empiacuterica

Para a coleta de dados foram aplicados questionaacuterios entre os meses de outubro e

novembro de 2017 junto a todos os associados que no momento da pesquisa eram oito (8)

Para a anaacutelise dos dados utilizou-se a estatiacutestica descritiva

4 PERFIL SOCIOECONOcircMICO DOS ASSOCIADOS

As associaccedilotildees dentro do contexto da economia solidaacuteria satildeo de mera importacircncia para

a geraccedilatildeo de emprego e renda que conduz a melhoria dos indicadores sociais e econocircmicos

284

De acordo com os dados da pesquisa 75 dos associados satildeo mulheres e 25

homens Essa informaccedilatildeo reflete no caso da ARTEFIBRA o crescimento da ocupaccedilatildeo de

mulheres contribuindo para que as mesmas se insiram na produccedilatildeo e conquistem o seu

espaccedilo

Assim a economia Solidaacuteria se insere nesse contexto de maneira que fica responsaacutevel

por criar novos postos de trabalho ao viabilizar a inclusatildeo social (ANTONELLO LUIZAtildeO

2012 p79)

A maioria dos associados tem entre 40 e 50 anos de idade Com relaccedilatildeo ao estado

civil 75 satildeo casados e 25 solteiros

Quanto agrave aacuterea de residecircncia todos os associados moram na zona rural e satildeo

proprietaacuterios de suas residecircncias

O grau de instruccedilatildeo eacute entendido como um importante indicador social e como

ferramenta fundamental para a melhoria das condiccedilotildees de vida dos indiviacuteduos No caso da

ARTEFIBRA percebe-se que apenas 375 dos associados concluiacuteram o ensino meacutedio

conforme tabela 1

Tabela 1 - Escolaridade dos associados da ARTEFIBRA

Escolaridade Frequecircncia absoluta Frequecircncia relativa ()

Analfabeto - -

Fundamental completo - -

Fundamental incompleto 4 50

Meacutedio completo 3 375

Meacutedio incompleto 1 125

Superior completo - -

Superior incompleto - -

Total 8 100 Fonte Dados da pesquisa 2017

Pode-se observar atraveacutes dos dados que o grau de instruccedilatildeo entre os associados da

ARTEFIBRA corroboram com a realidade encontrada em muitos empreendimentos

solidaacuterios ou seja pessoas que natildeo estatildeo inseridas no mercado formal muitas vezes pelo

baixo grau de escolaridade encontrando nesses espaccedilos uma nova oportunidade inviabilizada

pelo mercado de trabalho formal

Nesse contexto a economia solidaacuteria mostra-se uma aliada a ―exclusatildeo por falta de

preparaccedilatildeo ou falta de oportunidade tornando-se uma alternativa de geraccedilatildeo de emprego e

renda

285

Quanto agrave renda meacutedia mensal individual obtida pelos associados os dados da pesquisa

apontam para uma renda de R$ 50000 a R$ 60000 por mecircs Apenas um dos associados

afirmou natildeo saber o valor da renda mensal

Tabela 2 - Principal fonte de renda dos associados

Principal fonte de renda Frequecircncia absoluta Frequecircncia relativa ()

Emprego fixo particular - -

Funcionaacuterio puacuteblico - -

Emprego informal 6 75

Atividade autocircnoma - -

Aposentado ou pensionista 2 25

Outro tipo - -

Total 8 100 Fonte Dados da pesquisa 2017

Observa-se que a principal fonte de renda adveacutem do emprego informal seguida por

aposentadoria Esses dados reforccedilam a importacircncia da associaccedilatildeo como fonte de emprego e

renda

41 Aspectos da produccedilatildeo

A Associaccedilatildeo de Artesatildeos de Serrinha ndash ARTEFIBRA realiza o trabalho artesanal

desenvolvido com a fibra do sisal Os associados natildeo produzem o sisal compram aos

agricultores que produzem naquela localidade

O trabalho artesanal eacute desenvolvido pelos associados nas suas residecircncias isto eacute a

ARTEFIBRA natildeo dispotildee de um espaccedilo para a realizaccedilatildeo da produccedilatildeo A localizaccedilatildeo da

produccedilatildeo facilita o trabalho das mulheres ao mesmo tempo em que trabalham na atividade

artesanal realizam as tarefas domeacutesticas

Questionados sobre a ajuda da famiacutelia na produccedilatildeo 875 dos pesquisados afirmaram

que a famiacutelia participa da elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo da atividade artesanal

Quanto ao tempo que desenvolve esse tipo de atividade 625 afirmaram que haacute

quase 20 anos sendo uma atividade que passa de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo e foi aperfeiccediloada a partir

da criaccedilatildeo da ARTEFIBRA

Perguntados sobre a existecircncia de contrataccedilatildeo de matildeo-de-obra 875 relataram que

satildeo ajudados por algum membro da famiacutelia natildeo sendo preciso contratar matildeo de obra para

produccedilatildeo

286

Como jaacute mencionado para a produccedilatildeo destes artigos a mateacuteria-prima principal o

sisal eacute comprado aos agricultores daquela localidade A partir daiacute os associados fazem a

extraccedilatildeo da fibra deixam no ponto de lavagem e posteriormente chegam ao acabamento

final De acordo com dados da pesquisa o sisal eacute comprado por Kg no valor de R$ 500

Afirmaram que satildeo necessaacuterios de 2 a 3 Kg para produzir cada peccedila Esta fibra eacute comprada

durante o inverno e estocada

Quanto aos produtos elaborados pelos associados estes satildeo bolsas passarelas porta

panelas porta copos miniaturas de vassouras e espanador feitos tudo a matildeo Eacute um trabalho

que leva dias ou ateacute meses para confecccedilatildeo

No que se refere ao preccedilo de venda dos artigos foi perguntado se este seria suficiente

para cobrir os custos de produccedilatildeo todos os associados responderam que sim Cabe destacar

que com relaccedilatildeo agrave informaccedilatildeo acima mesmo tendo essa resposta como unacircnime pocircde-se

perceber que natildeo conhecem profundamente a margem de lucro natildeo acompanham com

anotaccedilotildees os custos da produccedilatildeo

Considerando a disponibilidade de creacutedito como importante instrumento para o

financiamento e consequente expansatildeo da produccedilatildeo foi perguntado se jaacute utilizaram algum

sistema de creacutedito a maioria 875 responderam que natildeo Apenas um dos soacutecios respondeu

que sim fez empreacutestimos para compra do material

Quanto agrave destinaccedilatildeo dos artigos elaborados pelos associados a Central de Artesanato

do Cearaacute ndash CEART envia os pedidos e estes produzem de acordo com a demanda Os

produtos satildeo levados para feiras e eventos de artesanatos podendo ser encontrados em

Fortaleza Minas Gerais Satildeo Paulo etc Os associados afirmaram que vendiam tambeacutem os

artigos na proacutepria residecircncia mas a destinaccedilatildeo principal eacute para a CEART

Sobre os motivos de inserccedilatildeo na associaccedilatildeo todos afirmaram que se associaram na

ARTEFIBRA para facilitar a venda dos produtos e atraveacutes desta conseguiram ampliar as

vendas Esta eacute uma alternativa conforme os soacutecios de ampliar a renda sem necessitar sair do

local onde residiam

Durante a pesquisa pocircde-se perceber o orgulho e a satisfaccedilatildeo que os soacutecios

demonstram pela profissatildeo e pela inserccedilatildeo na ARTEFIBRA ao afirmarem que se sentiam

valorizados naquele contexto

287

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Considerando a Economia Solidaacuteria como importante ferramenta para a geraccedilatildeo de

emprego e renda foi possiacutevel analisar a importacircncia da ARTEFIBRA na comunidade de

Serrinha municiacutepio de Granjeiro ndash Ce

Os dados da pesquisa demonstraram que as mulheres satildeo maioria entre os associados

essa realidade aponta para a habilidade exigida no trabalho artesanal Ademais esse dado

tambeacutem demonstra a importacircncia da ARTEFIBRA no que se refere agrave inserccedilatildeo da mulher

feminina

Todos os associados residiam no distrito de Serrinha e possuiacuteam casa proacutepria

produziam os artigos ali mesmo isto eacute a associaccedilatildeo pesquisada natildeo tinha um espaccedilo para

produccedilatildeo dos artigos cada associado executava o trabalho artesanal na sua residecircncia

enquanto as reuniotildees aconteciam mensalmente na residecircncia do presidente da ARTEFIBRA

Outro dado observado durante a pesquisa e que merece destaque eacute o baixo niacutevel de

escolaridade dos associados caracteriacutestica recorrente em muitos empreendimentos solidaacuterios

e que tambeacutem justifica entre outros a dificuldade de inserccedilatildeo no mercado formal refletindo

tambeacutem a importacircncia da economia solidaacuteria principalmente em localidades onde as

oportunidades de trabalho satildeo limitadas

Com relaccedilatildeo agrave renda mensal os dados apontaram que variava entre R$ 50000 e R$

60000 por mecircs isto eacute uma renda ainda inferior a um salaacuterio miacutenimo mas segundo eles

fundamental em uma localidade onde as oportunidades de inserccedilatildeo no mercado formal satildeo

miacutenimas o que reforccedila a necessidade de alternativas como no caso da ARTEFIBRA para a

geraccedilatildeo de emprego e renda

Dentro do contexto da ARTEFIBRA o sisal aparece como principal mateacuteria-prima

utilizada no processo produtivo No entanto verificou-se na pesquisa que os associados natildeo

produziam o sisal este era comprado a agricultores da localidade Quanto aos custos de

produccedilatildeo durante a pesquisa pocircde-se perceber que os associados natildeo acompanhavam os seus

custos de produccedilatildeo demostrando a urgecircncia de alternativas isto eacute cursos palestras voltados

para atender essa demanda

Apesar de todos os benefiacutecios verificados a partir da criaccedilatildeo da ARTEFIBRA

discutidos no presente trabalho principalmente o papel como fomentadora de emprego e

renda na comunidade existem aspectos que precisam ser melhorados tais como cursos

288

voltados para o acompanhamento da produccedilatildeo oficinas direcionadas para a diversificaccedilatildeo e

melhoramento dos artigos e a proacutepria ampliaccedilatildeo do mercado local para a venda dos produtos

jaacute que dependem da demanda da CEARTE para escoar a produccedilatildeo

REFEREcircNCIAS

AMORIM RS A economia solidaacuteria um passo aleacutem da informalidade a experiecircncia

do Dendecirc- 2002 ndash 123f Dissertaccedilatildeo de Mestrado-UFRN Rio Grande do Norte 2005

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Paulo Saraiva 2004

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289

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_________ A economia solidaacuteria no Brasil a autogestatildeo como resposta ao desemprego

Contexto Satildeo Paulo 2003

_________ Desenvolvimento significado e estrateacutegia Brasiacutelia Senaes 2004 A

290

IacuteNDICE DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL NAS UNIDADES

FEDERATIVAS BRASILEIRAS EM 2014

Renata Beniacutecio de Oliveira Graduanda em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA) E-mail

renatabenicio086gmailcom

Eliane Pinheiro de Sousa

Poacutes-Doutora em Economia Aplicada pela Escola Superior de Agricultura ―Luiz de Queiroz

da Universidade de Satildeo Paulo (ESALQUSP) e Professora Associada do Departamento de

Economia da URCA

291

IacuteNDICE DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL NAS UNIDADES

FEDERATIVAS BRASILEIRAS EM 2014

RESUMO

Apoacutes o reconhecimento de que o modelo de desenvolvimento adotado possui efeitos

expressivos sobre o meio ambiente tem se buscado maneiras de garantir o bem-estar humano

dentro da capacidade suportada pelo planeta O desenvolvimento sustentaacutevel surge nesse

contexto como uma soluccedilatildeo para reverter o desequiliacutebrio presente nas relaccedilotildees entre homem

e natureza Embora a sustentabilidade envolva diversos aspectos haacute o consenso de que as

dimensotildees social econocircmica ambiental e institucional possuem maior relevacircncia Com base

nessas informaccedilotildees o presente trabalho objetiva mensurar o iacutendice de desenvolvimento

sustentaacutevel das 27 unidades federativas do Brasil tendo como referecircncia o ano de 2014 por

ser o ano mais recente com dados disponiacuteveis para todas as variaacuteveis selecionadas

Especificamente almeja-se analisar o desempenho sustentaacutevel do Cearaacute em termos

comparativos aos demais estados e em relaccedilatildeo agravequeles da regiatildeo Nordeste A metodologia

empregada consistiu na construccedilatildeo de iacutendices para as quatro dimensotildees mencionadas e na

criaccedilatildeo do Iacutendice de Desenvolvimento Sustentaacutevel (IDS) calculado a partir da meacutedia

aritmeacutetica dos quatro iacutendices Os resultados mostraram que a maioria dos estados possui baixo

niacutevel de desenvolvimento sustentaacutevel sendo que os melhores resultados foram obtidos pelas

unidades federativas do Sul e Sudeste e os piores pelo Norte e Nordeste Ademais o Cearaacute

natildeo possuiu bom desempenho no IDS e o seu pior resultado ocorreu no Iacutendice de

Desenvolvimento Ambiental (IDA) Assim concluiu-se que eacute necessaacuteria a implementaccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas que visem o desenvolvimento sustentaacutevel e que ao mesmo tempo reduzam

as disparidades regionais

Palavras-chaves Desenvolvimento Sustentaacutevel Estados Brasileiros Cearaacute IDS

ABSTRACT After acknowledging that the development model adopted has significant effects on the

environment we have sought ways to ensure human well-being within the capacity by the

planet This context sustainable development emerges as a solution to reverse the current

imbalance in the relationship between man and nature Although sustainability involves

several aspects there is a consensus that the social economic environmental and

institutional dimensions are more relevant Based on this information the present study aims

to measure the sustainable development index of the 27 federative units of Brazil having as

reference the year 2014 being the most recent year with data available for all selected

variables Specifically we aim to analyze the sustainable performance of Cearaacute comparing

with other states and in relation to those in the Northeast region The methodology used

consisted of the construction of indexes for the four mentioned dimensions and the creation of

the Sustainable Development Index (IDS) calculated from the arithmetic mean of the four

indices The results showed that most states have a low level of sustainable development and

the best results were obtained by the federative units of the South and Southeast and the worst

by the North and Northeast In addition Cearaacute did not perform well in the IDS and its worst

result occurred in the Environmental Development Index (IDA) Thus it was concluded that

the implementation of public policies aimed at sustainable development is necessary while at

the same time reducing regional disparities

Keywords Sustainable development Brazilian states Cearaacute IDS

292

1 Introduccedilatildeo

Nos uacuteltimos tempos o crescimento acelerado das relaccedilotildees de produccedilatildeo e consumo

que tecircm constituiacutedo as bases do modelo de desenvolvimento apresenta implicaccedilotildees seacuterias ao

meio ambiente sendo responsaacutevel pela sua degradaccedilatildeo que tem ocorrido de maneira cada vez

mais intensa aumenta a desigualdade social e a concentraccedilatildeo de riqueza Nesse contexto

nascem as definiccedilotildees de desenvolvimento sustentaacutevel e sustentabilidade cuja essecircncia

consiste na tentativa de reduzir tais externalidades negativas Assim essa nova percepccedilatildeo

acerca dos efeitos do desenvolvimento sobre a natureza e de suas futuras consequecircncias sobre

a humanidade se fundamenta a partir do entendimento das fragilidades do modelo vigente e

da emergecircncia da necessidade de uma nova concepccedilatildeo de desenvolvimento de forma

equilibrada e equitativa (MARTINS CAcircNDIDO 2012)

Inicialmente o conceito de desenvolvimento sustentaacutevel tinha como cerne as questotildees

relacionadas ao meio ambiente Todavia tal significado evoluiu e se tornou mais abrangente

dando origem agrave noccedilatildeo de sustentabilidade que contempla natildeo apenas a natureza mas tambeacutem

a sociedade e o capital Nesse sentido um bom negoacutecio deve ser ambientalmente correto

socialmente justo e economicamente viaacutevel Em outros termos deve haver uma relaccedilatildeo

harmoniosa entre essas aacutereas Nessa situaccedilatildeo o governo se configura como um importante

agente devendo facilitar estimular e fomentar a gestatildeo da sustentabilidade (AQUINO et al

2014) Dessa forma de acordo com Frainer et al (2017) a sustentabilidade possui quatro

dimensotildees principais ambiental social econocircmica e institucional

De maneira simplificada a multidisciplinariedade atribuiacuteda ao desenvolvimento

sustentaacutevel direcionou sua compreensatildeo para a manutenccedilatildeo ou aumento do bem-estar

humano e do meio ambiente sendo que o avanccedilo em cada uma destas esferas natildeo deve ser

atingido em detrimento da outra A promoccedilatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel portanto natildeo

eacute um estado fixo o que significa que esse se encontra em um processo contiacutenuo de evoluccedilatildeo

caracterizado pela inter-relaccedilatildeo entre as pessoas e o mundo ao seu redor sem que se

comprometa a manutenccedilatildeo da vida pelas proacuteximas geraccedilotildees (KRAMA 2009)

Durante muitos anos diversos estudiosos tecircm tentado buscar indicadores apropriados

para a mensuraccedilatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel considerando diferentes aacutereas

geograacuteficas tanto em niacutevel nacional como subnacional Aparentemente prevalece o consenso

de que o desenvolvimento sustentaacutevel natildeo pode ser captado por um uacutenico indicador mas sim

por um conjunto significativo de indicadores de modo a abranger todos os aspectos

293

relevantes do desenvolvimento sustentaacutevel dentro de uma aplicaccedilatildeo particular Logo eacute

necessaacuterio que um amplo grupo de indicadores seja monitorado para evitar que aspectos

importantes sejam ignorados Todavia ressalta-se que se um grande nuacutemero de indicadores

for considerado a coleta de dados e sua anaacutelise podem ficar muito caras e demandar mais

tempo (BENETTI 2006)

Os indicadores de desenvolvimento sustentaacutevel devem ser entendidos como

instrumentos imprescindiacuteveis uma vez que satildeo capazes de avaliar as condiccedilotildees de uma

determinada localidade considerando suas vulnerabilidades e potencialidades sustentaacuteveis

tendo como intuito melhorar a compreensatildeo acerca dos fenocircmenos empiacutericos relacionados agrave

sustentabilidade (MACEcircDO CAcircNDIDO 2011) Rodrigues e Rippel (2015) acrescentam que

tendo em vista a relevacircncia da sustentabilidade bem como do seu debate a ausecircncia de

informaccedilotildees sistematizadas aponta para a necessidade da criaccedilatildeo de indicadores que

expressem a realidade a ser estudada

Diante do exposto o presente trabalho se propotildee mensurar o iacutendice de

desenvolvimento sustentaacutevel das 27 unidades federativas do Brasil tendo como referecircncia o

ano de 2014 por ser o ano mais recente com dados disponiacuteveis para todas as variaacuteveis

selecionadas Especificamente almeja-se analisar o desempenho sustentaacutevel do Cearaacute em

termos comparativos aos demais estados e em relaccedilatildeo agravequeles da regiatildeo Nordeste

2 Referencial Teoacuterico

21 A Multidisciplinariedade da Sustentabilidade

A origem da ideia de desenvolvimento sustentaacutevel estaacute relacionada a dois campos

ecologia e economia No que se refere ao primeiro o conceito eacute baseado na degradaccedilatildeo dos

recursos naturais em decorrecircncia das accedilotildees antroacutepicas e na recuperaccedilatildeo dos ecossistemas

pois o meio ambiente possui seu proacuteprio tempo de reproduccedilatildeo Assim o ponto central aborda

questotildees relacionadas ao uso abusivo dos recursos naturais desflorestamento fogo etc e agraves

reaccedilotildees naturais como terremotos e tsunamis Quanto ao segundo seu principal pensamento eacute

de que dada a dependecircncia dos recursos naturais o padratildeo de produccedilatildeo e consumo em

expansatildeo no mundo natildeo tem possibilidade de perdurar Dessa forma a noccedilatildeo de

sustentabilidade diz respeito agrave percepccedilatildeo da finitude dos recursos naturais e do risco de sua

depleccedilatildeo (NASCIMENTO 2012)

294

No cenaacuterio mundial o foco no aspecto ambiental esteve presente desde a deacutecada de

1960 A preocupaccedilatildeo era a de que o meio ambiente deveria ser preservado tendo em vista que

a vida humana depende do mesmo de modo a garantir a vida das geraccedilotildees presentes e futuras

Nessa eacutepoca foi identificada a existecircncia de vaacuterios problemas tanto ambientais como sociais

e econocircmicos tais como a reduccedilatildeo da camada de ozocircnio as mudanccedilas climaacuteticas a escassez

de aacutegua potaacutevel a concentraccedilatildeo da populaccedilatildeo nas cidades a pobreza a falta de educaccedilatildeo a

mortalidade infantil entre outros Diante dessa realidade em 1972 optou-se por realizar a

primeira conferecircncia sobre o meio ambiente na cidade de Estocolmo na Sueacutecia (GARCIA

2016)

A pluralidade de dimensotildees adicionada na compreensatildeo do desenvolvimento

sustentaacutevel foi incorporada anos depois da supracitada conferecircncia Em consonacircncia com

Barbosa (2008) sua noccedilatildeo esteve presente no Relatoacuterio Brundtland publicado em 1987 pela

Comissatildeo Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) quando o mesmo

definiu trecircs princiacutepios baacutesicos a serem cumpridos desenvolvimento econocircmico proteccedilatildeo

ambiental e equidade social No entanto sua consolidaccedilatildeo soacute ocorreu em 1992 na

Conferecircncia Rio-92 Desde entatildeo o conceito multidisciplinar de sustentabilidade tem estado

em constante construccedilatildeo natildeo havendo consenso sobre sua mensuraccedilatildeo

O reconhecimento de que o desenvolvimento sustentaacutevel natildeo deve se restringir ao

acircmbito ambiental veio acompanhado da complexidade das interaccedilotildees entre o sistema humano

e a natureza conferindo-lhe um caraacuteter multidisciplinar Esses sistemas estatildeo interligados e

exercem influecircncias muacutetuas Aleacutem disso cada sistema exige interferecircncias diferenciadas que

deveratildeo ser definidas em funccedilatildeo do niacutevel de evoluccedilatildeo em que se encontram da anaacutelise de

suas caracteriacutesticas e do contexto no qual estaacute inserido o que dificulta a mensuraccedilatildeo do niacutevel

de sustentabilidade e consequentemente o alcance de resultados precisos (MARTINS

CAcircNDIDO 2012) o que por sua vez repercute no direcionamento e nos efeitos das poliacuteticas

e decisotildees executadas para essa aacuterea

Nesse contexto a ideia e as implicaccedilotildees das questotildees relacionadas agrave sustentabilidade

foram e continuam sendo alvo de ampla atenccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas estando presente em

diversos discursos organizacionais tanto na esfera puacuteblica quanto na privada que por vezes

passam a trabalhar em parceria com o intuito de articular novas formas de desenvolvimento

que permitam atender as demandas da sociedade contemporacircnea que incluem questotildees

sociais e ambientais por exemplo com o cuidado de manter o equiliacutebrio (SOUZA et al

295

2014) Macecircdo e Cacircndido (2011) tambeacutem destacam a relevacircncia do papel empresarial e

estatal nessas questotildees acrescentando ainda a sociedade como um terceiro agente dotado de

influecircncia nessa temaacutetica

Dessa forma Clemente Ferreira e Liacuterio (2011) argumentam que o processo de

conscientizaccedilatildeo quanto aos prejuiacutezos multifacetados decorrentes da degradaccedilatildeo ambiental

pelo qual a sociedade tem passado nas uacuteltimas deacutecadas desempenhou um papel fundamental

nas questotildees relacionadas agrave sustentabilidade Apesar da importacircncia de cada um dos vaacuterios

segmentos integrantes da sustentabilidade vaacuterios autores como Benetti (2006) Krama

(2009) Matos e Rovella (2010) Clemente Ferreira e Liacuterio (2011) Aquino et al (2014)

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2015a) Rezende e Fagundes (2017)

Frainer et al (2017) e Silva et al (2018) destacam quatro ambientais econocircmicos sociais e

institucionais A descriccedilatildeo dessas dimensotildees satildeo apresentadas no Quadro 1

Quadro 1 ndash Descriccedilatildeo das principais dimensotildees da sustentabilidade

Dimensatildeo Descriccedilatildeo

Ambiental

Refere-se aos impactos das accedilotildees humanas sobre a natureza tendo como

intuito a preservaccedilatildeo ambiental considerada como condiccedilatildeo fundamental para

a garantia de qualidade de vida das geraccedilotildees atuais e futuras

Econocircmica

A perspectiva que orienta essa dimensatildeo eacute a de que o desempenho econocircmico

estaacute relacionado ao uso e esgotamento dos recursos naturais agrave produccedilatildeo e

gerenciamento de resiacuteduos ao uso de energia e ao desempenho

macroeconocircmico e financeiro A ideia eacute que no longo prazo se estabeleccedila a

eficiecircncia dos processos produtivos e se consiga modificar a estrutura do

consumo com o intuito de manter o sistema econocircmico em um niacutevel

sustentaacutevel

Social

Compreende as questotildees relacionadas agrave satisfaccedilatildeo das necessidades humanas

a melhoria da qualidade de vida e a justiccedila social para que a populaccedilatildeo

desfrute de condiccedilotildees de vida dignas

Institucional

Diz respeito agrave orientaccedilatildeo poliacutetica capacidade e esforccedilo despendido tanto

pelos governos como pela sociedade na construccedilatildeo das mudanccedilas necessaacuterias

para uma efetiva implementaccedilatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria com base em IBGE (2015a)

No que se refere ao uso dos indicadores para representar as dimensotildees da

sustentabilidade Martins e Cacircndido (2012) enfatizam que estes devem captar os aspectos

relevantes para o processo de desenvolvimento sustentaacutevel permitindo uma boa leitura da

realidade dos locais estudados e revelando tendecircncias ou perspectivas futuras bem como as

mudanccedilas em relaccedilatildeo aos desempenhos passados Neste sentido deve-se observar a

quantidade e a qualidade dos indicadores buscando a utilizaccedilatildeo daqueles que forem mais

296

consistentes e fidedignos bem como a proacutepria metodologia para que a retrataccedilatildeo da realidade

seja autecircntica de modo a fornecer informaccedilotildees que favoreccedilam as interaccedilotildees entre os sistemas

humano e ambiental servindo de guia para resultados sustentaacuteveis

22 Evidecircncias Empiacutericas do Iacutendice de Desenvolvimento Sustentaacutevel

Dada a importacircncia do desenvolvimento sustentaacutevel diversos estudiosos se

propuseram mensuraacute-lo para diferentes espaccedilos geograacuteficos Em niacutevel internacional haacute

poucas pesquisas na aacuterea podendo ser mencionados Van de Kerk e Manuel (2008) Saisana e

Philippas (2012) e Sachs et al (2016)

Objetivando a criaccedilatildeo de um iacutendice que fosse capaz de medir a sustentabilidade de

uma naccedilatildeo Van de Kerk e Manuel (2008) construiacuteram o Sustainable Society Index (SSI)

formado por 22 indicadores agrupados em cinco categorias (desenvolvimento pessoal

ambiente limpo sociedade equilibrada uso sustentaacutevel de recursos e mundo sustentaacutevel) que

basicamente se referem agraves dimensotildees social econocircmica e institucional Inicialmente foi

calculado o niacutevel de sustentabilidade de cada indicador a partir da diferenccedila entre o valor

necessaacuterio para ser considerado sustentaacutevel e o valor apresentado pelo paiacutes Apoacutes esse

processo determinaram a meacutedia aritmeacutetica para agregar todos os indicadores no iacutendice e

mensuraram para 150 paiacuteses referentes ao ano de 2006 Ao ranquearem os paiacuteses verificaram

que o primeiro lugar foi ocupado pela Noruega e as uacuteltimas posiccedilotildees foram ocupadas pelos

paiacuteses da Aacutefrica Oriente Meacutedio e Aacutesia Ocidental caracterizados por serem ricos em petroacuteleo

Ao final do estudo concluiacuteram que o iacutendice proposto se mostrou mais abrangente do que os

outros iacutendices jaacute existentes como o Environmental Sustainabilty Index (ESI)

Assim como o estudo anterior Saisana e Philippas (2012) calcularam o SSI no

entanto o iacutendice passou por algumas alteraccedilotildees tendo em vista que o objetivo dos autores era

melhoraacute-lo Dessa forma a nova versatildeo do SSI possui 21 indicadores alocados em trecircs

dimensotildees (social econocircmica e ambiental) e o iacutendice final passou a ser obtido a partir de uma

meacutedia geomeacutetrica simples das variaacuteveis selecionadas Mensurado para 151 naccedilotildees referente

ao ano de 2012 o ranking dos paiacuteses teve a Islacircndia em primeira colocaccedilatildeo e a Repuacuteblica

Democraacutetica do Congo na uacuteltima posiccedilatildeo Ademais os resultados do SSI evidenciaram a

predominacircncia da relaccedilatildeo inversa entre o bem-estar social e o ambiental sendo que o mesmo

pode ser dito sobre a relaccedilatildeo desse com o desenvolvimento econocircmico

Sachs et al (2016) objetivaram mensurar uma medida de desenvolvimento sustentaacutevel

considerando o desempenho dos paiacuteses em cumprir os Objetivos do Desenvolvimento

297

Sustentaacutevel (ODS) Para isso utilizaram dados de 2015 ou cujo ano estivesse mais proacuteximo

obtendo um total de 77 indicadores Calculado para 149 paiacuteses o SDG Index como foi

denominado eacute resultado de uma meacutedia aritmeacutetica entre os resultados obtidos pelas naccedilotildees em

cada item Os melhores resultados foram obtidos por paiacuteses escandinavos (Sueacutecia Dinamarca

e Noruega) Logo os mesmos estatildeo mais proacuteximos de atingir os ODS ateacute o prazo limite

(2030) Em contrapartida os piores desempenhos foram registrados pelos paiacuteses pobres como

a Repuacuteblica Democraacutetica do Congo a Libeacuteria e a Repuacuteblica Centro-Africana Eles

concluiacuteram que apesar do bom desempenho as naccedilotildees mais ricas tecircm pontos especiacuteficos a

serem melhorados como nutriccedilatildeo e educaccedilatildeo e a pobreza e inclusatildeo social entre outras

questotildees ainda continuam sendo um grande desafio para os mais pobres Aleacutem disso apesar

de suas limitaccedilotildees como o uso de dados de anos diferentes para algumas variaacuteveis o SDG

Index eacute capaz de auxiliar os governos quanto ao seu progresso em atingir os ODS e orientaacute-

los para nas proacuteximas decisotildees

Em acircmbito nacional destacam-se os estudos desenvolvidos por Benetti (2006) Krama

(2009) Clemente Ferreira e Liacuterio (2011) e Silva et al (2018)

Com o objetivo de avaliar o desenvolvimento sustentaacutevel no municiacutepio de Lages (SC)

Benetti (2006) utilizou o Meacutetodo do Painel de Sustentabilidade para avaliar o Iacutendice de

Desenvolvimento Sustentaacutevel (IDS) Esse foi constituiacutedo por 41 indicadores distribuiacutedos nas

dimensotildees social natureza econocircmica e institucional referentes aos vaacuterios anos sendo que o

mais antigo corresponde ao ano de 1996 e o mais recente se refere a 2005 Os resultados

mostraram que o municiacutepio em questatildeo obteve o melhor e o pior desempenho

respectivamente na dimensatildeo ambiental e institucional No geral Lages registrou

performance meacutedia Ao final do estudo foi concluiacutedo que embora essa estivesse proacutexima do

niacutevel de sustentabilidade existiam vaacuterios indicadores que necessitavam de maior atenccedilatildeo do

governo local que deveria implementar accedilotildees conjuntas e simultacircneas sobre todas as

dimensotildees da sustentabilidade

Krama (2009) tambeacutem calculou o IDS empregando o Meacutetodo do Painel de

Sustentabilidade Todavia a aacuterea de estudo natildeo foi um municiacutepio mas os estados brasileiros

utilizando 40 indicadores divididos nas dimensotildees ambiental social econocircmica e

institucional para o periacuteodo 2002-2008 De acordo com os resultados obtidos as maiores

diferenccedilas ocorreram no intervalo do primeiro para o segundo ano mas tenderam ao

equiliacutebrio ao longo dos anos De maneira geral as unidades federativas brasileiras tiveram

298

melhor desempenho na dimensatildeo ambiental classificada como razoaacutevel enquanto as

dimensotildees social e institucional foram as piores sendo classificadas como muito ruim

Ademais observou uma disparidade ao comparar as regiotildees Sul e Sudeste com as regiotildees

Norte e Nordeste que abrigavam respectivamente a maior parte dos estados com os

melhores e piores resultados Aleacutem disso ao se calcular uma meacutedia dos estados o Brasil foi

classificado como ruim Concluiu-se que o Brasil vem apresentando uma lenta mas gradativa

elevaccedilatildeo de seu iacutendice de desenvolvimento sustentaacutevel e que eacute necessaacuterio que o governo

coloque mais variaacuteveis agrave disposiccedilatildeo dos pesquisadores e da sociedade como um todo e que

essas sejam disponibilizadas natildeo apenas em niacutevel nacional mas subnacional pois a limitaccedilatildeo

de dados ainda eacute um problema presente na mensuraccedilatildeo de sustentabilidade o que

compromete a realidade retratada pelos resultados

Clemente Ferreira e Liacuterio (2011) buscaram avaliar o IDS para o estado do Cearaacute com

o intuito de fornecer informaccedilotildees essenciais para o planejamento das poliacuteticas Para tal

empregaram o Meacutetodo do Painel de Sustentabilidade Apesar de terem utilizado menos

variaacuteveis apenas 27 indicadores esses foram divididos nas mesmas dimensotildees que o estudo

anterior Esses correspondem predominantemente ao ano de 2010 mas algumas variaacuteveis satildeo

mais antigas como eacute o caso da Aquicultura retirada do Censo de 2006 Os resultados

comprovaram que o Cearaacute obteve bom desempenho no IDS sendo que as dimensotildees social e

ambiental foram respectivamente as que mais se destacaram de forma positiva e negativa

Assim concluiacuteram que o alcance de um padratildeo sustentaacutevel para o desenvolvimento do estado

do Cearaacute depende de uma interaccedilatildeo entre as necessidades econocircmicas ambientais e sociais

sendo que nesse processo o principal agente eacute o governo o que natildeo implica na exclusatildeo

poliacutetica da populaccedilatildeo que tambeacutem possui uma participaccedilatildeo efetiva nas decisotildees

Silva et al (2018) desenvolveram o Iacutendice de Desenvolvimento Sustentaacutevel (IDS)

formado por 45 indicadores alocados em quatro dimensotildees (social ambiental econocircmica e

institucional) que permite uma avaliaccedilatildeo espacial do desenvolvimento sustentaacutevel para o

estado do Cearaacute a fim de analisar a desigualdade entre seus municiacutepios Calculado por meio

do meacutetodo de anaacutelise fatorial utilizando dados de 2010 os dados mostraram que as

dimensotildees ambiental e institucional exerceram uma influecircncia negativa no IDS confirmando

a carecircncia do desenvolvimento cearense nessas dimensotildees Os resultados tambeacutem indicaram

que 75 dos municiacutepios apresentam baixo desenvolvimento em todas as dimensotildees Ao

observar a desigualdade espacial foi confirmada uma autocorrelaccedilatildeo espacial no

299

desenvolvimento dos municiacutepios do Cearaacute e identificada associaccedilotildees entre municiacutepios

vizinhos Dados os baixos valores do IDS concluiacuteram que haacute a necessidade de uma accedilatildeo mais

efetiva do poder puacuteblico na provisatildeo de infraestrutura adequada ao desenvolvimento

sustentaacutevel

Como pode ser observado as tentativas de criaccedilatildeo de um iacutendice de sustentabilidade

abordando seu caraacuteter multidisciplinar satildeo predominantes na literatura nacional com uma

certa semelhanccedila entre as metodologias utilizadas mas com uma distinccedilatildeo espacial nas aacutereas

de estudo que envolvem niacuteveis subnacionais como municiacutepios e estados Dada a ausecircncia de

estudos para os estados brasileiros uma vez que o uacutenico trabalho nessa aacuterea eacute de Krama

(2009) e ao fato de que 2002-2008 foi o periacuteodo analisado o presente trabalho contribui ao

calcular o IDS para 2014 um ano mais recente Aleacutem disso a base de dados e a metodologia

aqui empregadas divergem do referido trabalho objetivando um processo mais simples para a

mensuraccedilatildeo

3 Metodologia

Para atingir os objetivos propostos foi criado o Iacutendice de Desenvolvimento

Sustentaacutevel (IDS) constituiacutedo pelas dimensotildees social econocircmica ambiental e institucional

para os estados brasileiros sendo que para cada dimensatildeo foi calculado um iacutendice composto

por cinco variaacuteveis Assim seguindo a metodologia utilizada por Fortini Silveira e Moreira

(2016) Frainer et al (2017) e Lima e Sousa (2017) o IDS eacute o resultado de uma meacutedia

aritmeacutetica desses iacutendices

300

Quadro 2 ndash Descriccedilatildeo das variaacuteveis do Iacutendice de Desenvolvimento Social (IDSo)

Iacutendice Descriccedilatildeo da variaacutevel Base de dados

utilizada

Estudos que inspiraram o uso das

variaacuteveis

a) Taxa de

desocupaccedilatildeo IBGE (2015b)

Benetti (2006) Krama (2009)

Clemente Ferreira e Liacuterio (2011)

Aquino et al (2014)

b) Esperanccedila de vida

ao nascer IBGE (2017)

Benetti (2006) Krama (2009)

Clemente Ferreira e Liacuterio (2011)

Martins e Cacircndido (2012) Aquino et

al (2014) Rezende e Fagundes (2017)

c) Mortalidade Infantil IBGE (2017)

Benetti (2006) Krama (2009)

Clemente Ferreira e Liacuterio (2011)

Martins e Cacircndido (2012) Aquino et

al (2014) Rezende e Fagundes (2017)

e Silva et al (2018)

d) Frequecircncia escolar

liacutequida IBGE (2017) Aquino et al (2014)

e) Taxa de homiciacutedio IPEA (2017)

Benetti (2006) Krama (2009) Martins

e Cacircndido (2012) Aquino et al

(2014) Rezende e Fagundes (2017)

Fonte Adaptado de Lima e Sousa (2017)

A dimensatildeo social eacute captada pelo Iacutendice de Desenvolvimento Social (IDSo) que

mensura o desempenho dos estados brasileiros em relaccedilatildeo agraves condiccedilotildees de trabalho sauacutede

educaccedilatildeo e seguranccedila tendo como base as variaacuteveis descritas no Quadro 2

Quadro 3 ndash Descriccedilatildeo das variaacuteveis do Iacutendice de Desenvolvimento Econocircmico (IDE)

Iacutendice Descriccedilatildeo da variaacutevel Base de dados

utilizada

Estudos que inspiraram o uso das

variaacuteveis

f) PIB per capita IBGE (2014a)

Benetti (2006) Krama (2009)

Clemente Ferreira e Liacuterio (2011)

Aquino et al (2014) Rezende e

Fagundes (2017) e Silva et al

(2018)

g) Participaccedilatildeo da

induacutestria no PIB IBGE (2014a)

Martins e Cacircndido (2012)

Rezende e Fagundes (2017)

h) Saldo da balanccedila

comercial IBGE (2017)

Benetti (2006) Krama (2009)

Clemente Ferreira e Liacuterio (2011)

Martins e Cacircndido (2012) Aquino

et al (2014) Rezende e Fagundes

(2017) e Silva et al (2018)

i) Investimento IBGE (2014b) Krama (2009) Aquino et al

(2014)

j) Iacutendice de Gini IBGE (2017)

Benetti (2006) Clemente Ferreira

e Liacuterio (2011) Martins e Cacircndido

(2012) Aquino et al (2014)

Rezende e Fagundes (2017)

Fonte Adaptado de Lima e Sousa (2017)

301

No que se refere agrave dimensatildeo econocircmica essa eacute aferida a partir do Iacutendice de

Desenvolvimento Econocircmico (IDE) O IDE abrange variaacuteveis referentes agrave produccedilatildeo

induacutestria investimento e distribuiccedilatildeo de renda (Quadro 3)

Quadro 4 ndash Descriccedilatildeo das variaacuteveis do Iacutendice de Desenvolvimento Ambiental (IDA)

Iacutendice Descriccedilatildeo da variaacutevel Base de dados utilizada Estudos que inspiraram o uso das

variaacuteveis

k) Frota de veiacuteculos Departamento Nacional de

Tracircnsito (DENATRAN 2016) Frainer et al (2017)

l) Uso de fertilizantes

por unidade de aacuterea IBGE (2017)

Benetti (2006) Krama (2009)

Clemente Ferreira e Liacuterio (2011)

m) Focos de calor IBGE (2017) Aquino et al (2014) e Silva et al

(2018)

n) Emissatildeo de CO2

Sistema de Estimativas de

Emissotildees e Remoccedilotildees de Gases

de Efeito Estufa (SEEG 2017)

Benetti (2006) Krama (2009)

Clemente Ferreira e Liacuterio (2011)

Aquino et al (2014)

o) Moradores em

domiciacutelios

permanentes por tipo

de destinaccedilatildeo do lixo

IBGE (2017)

Martins e Cacircndido (2012) Aquino et

al (2014) Rezende e Fagundes

(2017) e Silva et al (2018)

Fonte Adaptado de Lima e Sousa (2017)

Para a mensuraccedilatildeo da dimensatildeo ambiental utilizou-se o Iacutendice de Desenvolvimento

Ambiental (IDA) formado por indicadores relacionados ao nuacutemero de veiacuteculos agricultura

poluiccedilatildeo do ar queimadas e coleta de lixo (Quadro 4) No caso do percentual de moradores

em domiciacutelios permanentes por tipo de destinaccedilatildeo do lixo essa variaacutevel abrange apenas

aqueles que possuem o lixo coletado e sua escolha se deve agrave ausecircncia de dados referentes agrave

quantidade de lixo coletada uma vez que os dados mais recentes tecircm como base o ano de

2008

No que diz respeito agrave dimensatildeo institucional essa foi obtida a partir do cocircmputo do

Iacutendice de Desenvolvimento Institucional (IDI) constituiacutedo por indicadores sobre acesso agrave

tecnologia matriculados na universidade e despesas puacuteblicas No caso das despesas totais por

funccedilatildeo foram consideradas as despesas governamentais nas seguintes aacutereas assistecircncia

social educaccedilatildeo cultura urbanismo habitaccedilatildeo gestatildeo ambiental ciecircncia e tecnologia

desporto e lazer (Quadro 5)

302

Quadro 5 ndash Descriccedilatildeo das variaacuteveis do Iacutendice de Desenvolvimento Institucional (IDI)

Iacutendice Descriccedilatildeo da variaacutevel Base de dados utilizada Estudos que inspiraram o

uso das variaacuteveis

p) Domiciacutelios com

telefone fixo

Inteligecircncia em

Telecomunicaccedilotildees

(TELECO 2018)

Benetti (2006) Krama

(2009) Clemente Ferreira

e Liacuterio (2011) Aquino et

al (2014)

q) Domiciacutelios com

celular TELECO (2018)

Benetti (2006) Krama

(2009) Clemente Ferreira

e Liacuterio (2011) Aquino et

al (2014)

r) Domiciacutelios com

microcomputador com

acesso agrave internet

TELECO (2018)

Benetti (2006) Krama

(2009) Clemente Ferreira

e Liacuterio (2011) Aquino et

al (2014)

s) Matriculados na

universidade

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

(MEC 2015) Frainer et al (2017)

t) Despesas totais por

funccedilatildeo

COMPARA BRASIL

(2014)

Martins e Cacircndido (2012)

Rezende e Fagundes

(2017)

Fonte Adaptado de Lima e Sousa (2017)

Como todas as variaacuteveis apresentam uma unidade de medida diferente foi necessaacuterio

padronizaacute-las de modo a permitir sua agregaccedilatildeo nas respectivas dimensotildees Assim

empregou-se o meacutetodo adotado por Fortini Silveira e Moreira (2016) baseado nos criteacuterios

estabelecidos pelo Programa das Naccedilotildees Unidas do Desenvolvimento Humano (PNUD

2013) Esse procedimento eacute demonstrado na equaccedilatildeo (1)

(1)

em que (Ii) refere-se ao indicador i Vi corresponde ao Valor observado do indicador Pv

equivale ao pior valor entre a distribuiccedilatildeo do indicador e Mv eacute o melhor valor entre a

distribuiccedilatildeo do indicador i

Apoacutes o caacutelculo de cada iacutendice foi realizada uma meacutedia aritmeacutetica para a obtenccedilatildeo do

IDS para cada unidade federativa brasileira conforme expresso na equaccedilatildeo (2)

(2)

A classificaccedilatildeo adotada neste estudo segue o modelo proposto por Silva e Lima

(2017) com trecircs classes adicionais em funccedilatildeo dos resultados registrados Assim foram

303

consideradas sete classes com intervalos de acordo com o desvio padratildeo em torno da meacutedia

conforme apresentado no Quadro 6

Quadro 6 ndash Classificaccedilatildeo das Classes do Iacutendice de Desenvolvimento Sustentaacutevel (IDS) Classes Sigla Desvios-Padratildeo (δ) em torno da

meacutedia

Muitiacutessimo Alto MMA (M + 3δ) le MMA lt (M + 4δ)

Muito Alto MA (M + 2δ) le MA lt (M + 3δ)

Alto A (M + 1δ) le A lt (M + 2δ)

Meacutedio M Meacutedia le M lt (M + 1δ)

Baixo B (M - 1δ) le B lt Meacutedia

Muito Baixo MB (M ndash 2δ) le MB lt (M ndash 1δ)

Muitiacutessimo Baixo MMB (M - 3δ) le MMB lt (M ndash 2δ)

Fonte Adaptado de Silva e Lima (2017)

4 Resultados e Discussatildeo

Esta seccedilatildeo apresenta a classificaccedilatildeo dos estados brasileiros em relaccedilatildeo ao IDS e aos

iacutendices que o compotildeem Como pode ser observado pela Tabela 1 a maior parte das unidades

federativas apresentou um niacutevel de desenvolvimento social baixo e meacutedio Aleacutem disso apenas

cinco delas (Alagoas Amapaacute Bahia Distrito Federal e Rio Grande do Norte) foram

classificadas com IDSo alto sendo que trecircs delas satildeo da regiatildeo Nordeste Em contrapartida

cinco estados (Mato Grosso do Sul Paranaacute Rondocircnia Roraima e Santa Catarina) obtiveram

classificaccedilatildeo muito baixa Em ambos os casos os escores obtidos na taxa de desocupaccedilatildeo se

configuraram como um dos principais fatores a influenciar no desempenho desses estados A

boa performance do Distrito Federal nessa dimensatildeo tambeacutem eacute observada por Krama (2009)

No caso do Cearaacute ao comparaacute-lo com os demais estados foi notado que o mesmo

possuiu um niacutevel de desenvolvimento social meacutedio registrando o oitavo maior escore

(04387) no IDSo Clemente Ferreira e Liacuterio (2001) tambeacutem verificaram um bom

desempenho desse Estado nessa dimensatildeo Entre os estados nordestinos o Cearaacute possui o

quarto melhor desempenho ficando atraacutes apenas do Rio Grande do Norte (05204) Alagoas

(05198) e Bahia (04779) em funccedilatildeo dos resultados obtidos na taxa de desocupaccedilatildeo e

mortalidade infantil

304

Tabela 1 ndash Distribuiccedilatildeo absoluta do Iacutendice de Desenvolvimento Social (IDSo) para os

estados brasileiros em 2014

Classes Limite Inferior Limite Superior Estados na Classe

Muitiacutessimo Alto 06410 07274 0

Muito Alto 05546 06410 0

Alto 04681 05546 5

Meacutedio 03817 04681 8

Baixo 02953 03817 9

Muito Baixo 02088 02953 5

Muitiacutessimo Baixo 01224 02088 0

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria com base nos dados da pesquisa

No tocante ao IDE conforme demonstrado na Tabela 2 parcela majoritaacuteria das

unidades federativas se encontra nas classes baixo e meacutedio sendo que todos os estados da

regiatildeo Nordeste (com exceccedilatildeo de Alagoas que obteve niacutevel de desenvolvimento econocircmico

muito baixo) integram essas classes e desses apenas a Bahia estaacute na classe meacutedio Krama

(2009) tambeacutem verifica resultados desfavoraacuteveis para Alagoas nessa dimensatildeo Por outro

lado o Distrito Federal e todas as unidades federativas da regiatildeo Sudeste apresentaram os

melhores resultados fazendo parte das classes alto e muito alto Esses resultados podem ser

explicados sobretudo pela performance no Produto Interno Bruto (PIB) e nos investimentos

Tabela 2 ndash Distribuiccedilatildeo absoluta do Iacutendice de Desenvolvimento Econocircmico (IDE) para os

estados brasileiros em 2014

Classes Limite Inferior Limite Superior Estados na Classe

Muitiacutessimo Alto 05460 06244 0

Muito Alto 04676 05460 1

Alto 03891 04676 4

Meacutedio 03107 03891 7

Baixo 02323 03107 12

Muito Baixo 01539 02323 3

Muitiacutessimo Baixo 00754 01539 0

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria com base nos dados da pesquisa

Em relaccedilatildeo ao Cearaacute quando comparado aos demais o estado se encontra em 17ordf

colocaccedilatildeo (com 02774) Por outro lado ao considerar-se apenas os estados do Nordeste o

mesmo possui o terceiro maior escore enquanto Bahia (com 03187) e Sergipe (com 02924)

305

ocupam os primeiros lugares pois tiveram desempenho superior em todos os indicadores

com exceccedilatildeo dos investimentos

A Tabela 3 apresenta o comportamento dos estados na dimensatildeo ambiental Notou-se

que assim como nos iacutendices anteriores a concentraccedilatildeo dos estados permanece nas classes

baixo e meacutedio sendo que a primeira eacute constituiacuteda predominantemente por estados das

regiotildees Norte e Nordeste Os melhores desempenhos foram computados por Minas Gerais e

Satildeo Paulo pertencentes agrave classe muito alto e Mato Grosso e Paraacute integrantes da classe alto

Isso pode ser justificado em maior parte pelos valores registrados na emissatildeo de gaacutes

carbocircnico

Na dimensatildeo em questatildeo tanto quando comparado aos outros estados do Brasil como

somente aos nordestinos o Cearaacute registrou uma peacutessima atuaccedilatildeo Com um escore de 00847

o Estado estaacute na penuacuteltima posiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos demais e em uacuteltimo lugar no que se

refere aos estados do Nordeste possuindo baixos valores em quase todas as variaacuteveis O mau

desempenho do Cearaacute nessa dimensatildeo tambeacutem eacute verificado por Clemente Ferreira e Liacuterio

(2011) e por Silva et al (2018)

Tabela 3 ndash Distribuiccedilatildeo absoluta do Iacutendice de Desenvolvimento Ambiental (IDA) para os

estados brasileiros em 2014

Classes Limite Inferior Limite Superior Estados na Classe

Muitiacutessimo Alto 06412 07732 0

Muito Alto 05093 06412 2

Alto 03774 05093 2

Meacutedio 02454 03774 10

Baixo 01135 02454 10

Muito Baixo -00184 01135 3

Muitiacutessimo Baixo -01504 -00184 0

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria com base nos dados da pesquisa

Com relaccedilatildeo ao desenvolvimento institucional cujos resultados satildeo expressos na

Tabela 4 as unidades federativas de uma maneira geral obtiveram resultados melhores que

nas demais dimensotildees tendo em vista que apenas uma (Piauiacute) apresentou classificaccedilatildeo muito

baixa Todavia assim como nos outros iacutendices parcela majoritaacuteria dos estados ainda se

encontra na classe baixo sendo que os mesmos satildeo localizados em sua totalidade nas regiotildees

Norte Nordeste e Centro-Oeste do paiacutes Aleacutem disso Minas Gerais Paranaacute e Rio de Janeiro

foram os uacutenicos que apresentaram desenvolvimento institucional considerado alto e somente

306

Satildeo Paulo obteve um niacutevel considerado muitiacutessimo alto Esses resultados satildeo justificados

principalmente pelo desempenho no nuacutemero de matriacuteculas na universidade e nas despesas

totais por funccedilatildeo

No caso do Cearaacute esse estaacute na 17ordf posiccedilatildeo (02454) quando comparado aos demais

estados brasileiros O mau desempenho nessa dimensatildeo tambeacutem eacute verificado por Silva et al

(2018) Em contrapartida ao considerar-se apenas a regiatildeo Nordeste o mesmo possui o

quarto melhor resultado perdendo somente para a Bahia (com 02808) Paraiacuteba (com 02666)

e Pernambuco (com 02649) devido principalmente ao seu desempenho inferior nos

domiciacutelios com microcomputador com acesso agrave internet e no nuacutemero de matriculados na

universidade A peacutessima atuaccedilatildeo do Cearaacute nessa dimensatildeo tambeacutem eacute constatada por Silva et

al (2018)

Tabela 4 ndash Distribuiccedilatildeo absoluta do Iacutendice de Desenvolvimento Institucional (IDI) para os

estados brasileiros em 2014

Classes Limite Inferior Limite Superior Estados na Classe

Muitiacutessimo Alto 05705 06688 1

Muito Alto 04722 05705 0

Alto 03740 04722 3

Meacutedio 02757 03740 5

Baixo 01774 02757 17

Muito Baixo 00792 01774 1

Muitiacutessimo Baixo -00191 00792 0

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria com base nos dados da pesquisa

Fazendo-se uma anaacutelise agregada dos iacutendices foi verificado que de maneira geral os

estados brasileiros possuem um niacutevel de desenvolvimento sustentaacutevel abaixo do ideal Os

resultados relacionados ao IDS mostrados na Tabela 5 apontam que a maioria das unidades

federativas se encontra na classe baixo que possui como integrantes estados das regiotildees

Norte Nordeste e Centro-Oeste No caso da maior parte desses estados o IDA foi o principal

responsaacutevel pelos baixos valores registrados no IDS Por outro lado as classes alto e muito

alto satildeo compostas pelo Distrito Federal Minas Gerais Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Apesar de

se destacarem em iacutendices diferentes todos tiveram bom desempenho no IDE que contribuiu

de forma significativa para a obtenccedilatildeo dessa classificaccedilatildeo O bom desempenho do Distrito

Federal tambeacutem eacute observado por Krama (2009)

307

Tabela 5 ndash Distribuiccedilatildeo absoluta do Iacutendice de Desenvolvimento Sustentaacutevel (IDS) para os

estados brasileiros em 2014

Classes Limite Inferior Limite Superior Estados na Classe

Muitiacutessimo Alto 05094 05780 0

Muito Alto 04407 05094 1

Alto 03720 04407 3

Meacutedio 03034 03720 7

Baixo 02347 03034 13

Muito Baixo 01661 02347 3

Muitiacutessimo Baixo 00974 01661 0

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria com base nos dados da pesquisa

No tocante ao Cearaacute o estado estaacute entre os dez piores ocupando o 21deg lugar (com

02616) o que jaacute era esperado tendo em vista seu desempenho nas dimensotildees que integram o

IDS Ao comparaacute-lo agraves demais unidades federativas nordestina o mesmo estaacute em sexto lugar

perdendo espaccedilo para Bahia (com 03483) Rio Grande do Norte (com 02897) Maranhatildeo

(com 02815) Sergipe (com 02747) e Alagoas (com 02731) tendo seu resultado

influenciado sobretudo pela performance no IDA

5 Consideraccedilotildees Finais

O Iacutendice de Desenvolvimento Sustentaacutevel (IDS) proposto pelo presente trabalho

permite analisar de maneira simplificada o desempenho dos estados brasileiros nas principais

dimensotildees do desenvolvimento sustentaacutevel Assim aleacutem de servir como guia para os gestores

estaduais esse estudo contribui para a literatura que debate o tema sustentabilidade em sua

compreensatildeo multidisciplinar No entanto a criaccedilatildeo do IDS natildeo impede que novas

contribuiccedilotildees possam ser feitas a partir de novos estudos

Como foi observado de forma geral as unidades federativas brasileiras estatildeo longe de

atingir o desenvolvimento sustentaacutevel pleno e a tendecircncia eacute que os estados da regiatildeo Sudeste

alcancem essa meta antes que os demais Aleacutem disso natildeo se pode determinar uma aacuterea

especiacutefica para que os governadores foquem sua atenccedilatildeo tendo em vista a semelhanccedila na

distribuiccedilatildeo dos estados em todos os iacutendices que compotildees o IDS Todavia no caso especiacutefico

do Cearaacute eacute visiacutevel a necessidade de uma atuaccedilatildeo mais urgente na dimensatildeo ambiental

Outro aspecto relevante observado na pesquisa eacute evidenciado ao se contrapor os

resultados das regiotildees Norte e Nordeste com aqueles obtidos pelo Sul e Sudeste pois

308

facilmente nota-se a disparidade existente entre as mesmas Em todos os iacutendices exceto no

Iacutendice de Desenvolvimento Social o Sudeste possui representatividade nas melhores

classificaccedilotildees O oposto pode ser dito das regiotildees Norte e Nordeste cujo estados prevalecem

com as piores Assim conclui-se que aleacutem da necessidade de adotar poliacuteticas rumo ao

desenvolvimento sustentaacutevel eacute preciso tambeacutem que essas visem a reduccedilatildeo das desigualdades

regionais

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311

INSTRUMENTOS DE GESTAtildeO MUNICIPAL CONTRIBUICcedilOtildeES DOS

MUNICIacutePIOS PARA AS POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS AMBIENTAIS E DOS RECURSOS

HIacuteDRICOS NO NORDESTE BRASILEIRO

JANAILDO SOARES DE SOUSA

Doutorando em Desenvolvimento e Meio Ambiente ndash PRODEMAUFC

E-mail janaildo18hotmailcom

Tel (83)98188-7869

FRANCISCO AQUILES DE OLIVEIRA CAETANO

Mestrando em Economia Rural ndash MAERUFC

E-mail aquilescaetanoyahoocombr

Tel (85) 9 9912-4614

MARISA GUILHERME DA FROTA

Mestranda em Economia Rural ndash MAERUFC

E-mail marisa_gf11hotmailcom

Tel (88) 9 9729-2248

ANDREacuteA FERREIRA DA SILVA

Doutoranda em Economia pela Universidade Federal da Paraiacuteba ndash UFPB

E-mail andreaeconomiayahoocombr

Tel (88) 9 9729-0750

312

INSTRUMENTOS DE GESTAtildeO MUNICIPAL contribuiccedilotildees dos municiacutepios para a

gestatildeo ambiental e dos recursos hiacutedricos no nordeste brasileiro

RESUMO

O objetivo deste estudo eacute analisar os niacuteveis de adoccedilatildeo dos instrumentos baacutesicos de gestatildeo

municipal dos recursos hiacutedricos e ambiental nos municiacutepios nordestinos Para tanto foram

utilizados dados da pesquisa Perfil dos Municiacutepios Brasileiros publicada pelo IBGE A

estrateacutegia empiacuterica adotada foi a criaccedilatildeo do Iacutendice de Gestatildeo Municipal dos Recursos

Hiacutedricos ndash IGMRH e o Iacutendice Municipal de Gestatildeo Ambiental ndash IMGA para os municiacutepios

nordestinos Os resultados mostraram que embora existam municiacutepios que implementem

partes dos instrumentos avaliados( Conselhos Fundos Planos Leis e Programas) em meacutedia

o niacutevel de implementaccedilatildeo de instrumentos nas duas aacutereas em estudo eacute baixo Essa deficiecircncia

eacute preocupante e pode contribuir para um aumento da degradaccedilatildeo dos recursos naturais visto

que haacute uma omissatildeo dos municiacutepios na legitimaccedilatildeo e autonomia para realizar uma boa

governanccedila

Palavras ndash Chave Instrumentos Gestatildeo Municiacutepio

ABSTRACT

The objective of this study is to analyze the levels of adoption of the basic instruments of

municipal management of water and environmental resources in the Northeastern

municipalities For that purpose data from the Brazilian Municipal Profile Profile published

by IBGE were used The empirical strategy adopted was the creation of the Municipal Water

Resources Management Index (IGMRH) and the Municipal Environmental Management

Index (IMGA) for the Northeastern municipalities The results showed that although there are

municipalities that implement parts of the instruments evaluated (Councils Funds Plans

Laws and Programs) on average the level of implementation of instruments in the two areas

under study is low This deficiency is worrying and may contribute to an increase in the

degradation of natural resources since there is an omission of the municipalities in the

legitimacy and autonomy to achieve good governance

Keyword Instruments Management County

313

1 INTRODUCcedilAtildeO

A preservaccedilatildeo do meio ambiente e a gestatildeo dos recursos hiacutedricos satildeo condiccedilotildees

necessaacuterias para alcanccedilar o desenvolvimento sustentaacutevel e para a garantia da continuidade da

vida na terra Diante disso nos uacuteltimos anos a busca de alternativas e instrumentos voltados

para a preservaccedilatildeo e a gestatildeo dos recursos naturais tem sido uma preocupaccedilatildeo de todos os

paiacuteses do mundo Um avanccedilo de tal perspectiva pode ser evidente a partir da Agenda 2030

que consiste num plano de accedilatildeo com 17 objetivos e 169 metas envolvendo todos os paiacuteses do

mundo e dentre estes o 6ordm objetivo tem como meta assegurar a disponibilidade e gestatildeo

sustentaacutevel da aacutegua e saneamento baacutesico que deve ser realizada por meio de uma gestatildeo

integrada (ONU 2017)

Desse modo acredita-se que para que esta meta seja implementada de forma

eficiente eacute preciso que haja uma gestatildeo unificada dos recursos hiacutedricos com a gestatildeo

ambiental em todos os paiacuteses e que essa governanccedila tenha participaccedilatildeo ativa de todos os

niacuteveis de governo Afinal acredita-se que uma accedilatildeo conjunta entre todos os entes federativos

possa ser uma accedilatildeo de melhoria na gestatildeo dos recursos hiacutedricos que iraacute aperfeiccediloar a Poliacutetica

Nacional dos Recursos Hiacutedricos (PNRH) e o do Sistema de Recursos Hiacutedricos (SRH)

A Poliacutetica Nacional de Recursos Hiacutedricos enfatiza que todos os entes federados da

Uniatildeo devem promover a integraccedilatildeo das poliacuteticas locais de saneamento baacutesico de uso

ocupaccedilatildeo e conservaccedilatildeo do solo e do meio ambiente com a poliacutetica federal e a estadual de

recursos hiacutedricos Mas o municiacutepio eacute um dos principais representantes dos Comitecircs de Bacia

Hidrograacutefica aleacutem disso a gestatildeo dos recursos hiacutedricos deve ser descentralizada e contar com

a participaccedilatildeo de todos os membros da sociedade civil organizada Aleacutem disso o comando

legislativo natildeo reservou exclusividade nessa gestatildeo Ou seja todos os entes da Federaccedilatildeo

devem participar das atividades de gestatildeo dos recursos hiacutedricos apesar da competecircncia

legislativa ser reservada agrave Uniatildeo (BRASIL 1997 SANTOS 2011)

Apesar de complexa esta gestatildeo tem como objetivo ―buscar o equiliacutebrio e garantir

o acesso a todos de uma aacutegua de boa qualidade capaz de satisfazer todas as necessidades da

populaccedilatildeo (SANTOS 2013 p 10) Desse modo o Estado necessita de mecanismos de

gestatildeo que sejam eficientes para a promoccedilatildeo do desenvolvimento e da reduccedilatildeo das

externalidades negativas causadas ao meio ambiente (BECKER 2004) Nesse sentido

314

destaca-se a importacircncia e o papel de todos os entes federados (Uniatildeo Estados e Municiacutepios)

para o alcance de uma gestatildeo com bons resultados e atendimento a todos os cidadatildeos em

especial os municiacutepios

O presente artigo assume como pressuposto que maiores niacuteveis de adoccedilatildeo de

instrumentos de gestatildeo municipal de recursos hiacutedricos e ambientais potencializam a

efetividade de poliacuteticas puacuteblicas em acircmbito local e contribuem para melhoria das poliacuteticas

nacionais e estaduais uma vez que tais instrumentos estatildeo relacionados ao planejamento

controle e monitoramento das aacuteguas agrave participaccedilatildeo da sociedade civil nas tomadas de

decisotildees e ao financiamento de projetos para sua recuperaccedilatildeo proteccedilatildeo e conservaccedilatildeo

Oliveira Lima e Sousa (2017 p 52) ―percebe essa relaccedilatildeo e reforccedila sua importacircncia ao

afirmar que a Poliacutetica Nacional de Recursos Hiacutedricos e a Poliacutetica Nacional de Meio Ambiente

devem estar integradas a fim de evitar a sobreposiccedilatildeo de intervenccedilotildees

Nessa perspectiva o presente estudo tem como objetivo analisar o niacutevel de

implementaccedilatildeo dos instrumentos de gestatildeo dos recursos hiacutedricos e de gestatildeo ambiental nos

municiacutepios nordestinos Adicionalmente pretende identificar os estados com maiores e

menores niacuteveis de gestatildeo em ambos os setores E por fim analisar a existecircncia de relaccedilatildeo

entre gestatildeo dos recursos hiacutedricos e a gestatildeo ambiental

O interesse em avanccedilar nessa anaacutelise pode ser justificado por alguns motivos a

saber (i) haacute escassez de estudos na literatura internacional e nacional sobre a importacircncia dos

instrumentos de gestatildeo puacuteblica nos municiacutepios nordestinos na aacuterea ambiental e dos recursos

hiacutedricos (ii) a existecircncia de instrumentos baacutesicos de gestatildeo municipal satildeo instacircncias que

cooperam para que ocorra a democratizaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas em acircmbito local desse

modo fortalece a gestatildeo eacute o caso dos Planos Conselhos Fundos e Leis municipais (iii) Os

instrumentos de gestatildeo puacuteblica municipal estatildeo previstos em legislaccedilatildeo e satildeo considerados

elementos essenciais para realizar o controle social de poliacuteticas puacuteblicas setoriais garantindo

os princiacutepios da participaccedilatildeo da sociedade nos processos de decisatildeo em todas as etapas das

poliacuteticas puacuteblicas como emana a Constituiccedilatildeo

Assim torna-se relevante realizar uma anaacutelise da gestatildeo dos recursos hiacutedricos e

ambientais na esfera municipal pois o municiacutepio eacute o local onde os serviccedilos puacuteblicos satildeo

prestados diretamente ao cidadatildeo (SILVA 2003) Conforme jaacute mencionado eacute o ente federado

mais proacuteximo da realidade dos problemas da populaccedilatildeo em geral e com maior autonomia para

mobilizar o puacuteblico alvo dos serviccedilos ademais as bases constitucionais natildeo excluem a

315

participaccedilatildeo do municiacutepio na gestatildeo hiacutedrica como emana o Art 23 do texto constitucional de

1988 o qual ressalta que eacute de competecircncia comum de todos os entes da federaccedilatildeo ―assuntos

de interesse local nesse sentido a gestatildeo das aacuteguas eacute parte integrante do centro de tais

debates

Aleacutem desta introduccedilatildeo este artigo apresenta mais quatro seccedilotildees (ii) referencial

teoacuterico em que se abordam os instrumentos de gestatildeo dos recursos hiacutedricos e da gestatildeo

ambiental (iii) apresentaccedilatildeo dos procedimentos metodoloacutegicos empregados para o alcance

dos objetivos propostos (iv) anaacutelise e discussatildeo dos resultados e por fim (v) as principais

consideraccedilotildees do estudo

2 GESTAtildeO AMBIENTAL E GESTAtildeO DOS RECURSOS HIacuteDRICOS EM AcircMBITO

LOCAL

21 Importacircncia do municiacutepio na Gestatildeo ambiental

A Constituiccedilatildeo de 1988 promoveu um papel importante para a gestatildeo puacuteblica no

Brasil pois propiciou uma accedilatildeo descentralizadora entre os entes da federaccedilatildeo em especial aos

municiacutepios Esta accedilatildeo para a governanccedila eacute uma virtude uma vez que os municiacutepios

constituem esfera privilegiada para o entendimento das demandas cotidianas dos cidadatildeos

por ser o ente federativo mais proacuteximo da populaccedilatildeo (SILVA 2003 CASTRO

ALVARENGA e MAGALHAtildeES JUacuteNIOR 2005) Ainda segundo os autores essa medida

contribuiu para a descentralizaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que ateacute entatildeo eram concentradas

entre os governos Federal e Estadual A Constituiccedilatildeo Federal prevecirc que as poliacuteticas puacuteblicas e

a gestatildeo ambiental satildeo de responsabilidades de todos os entes da federaccedilatildeo Aleacutem do poder

puacuteblico a sociedade civil tambeacutem deve contribuir para a implementaccedilatildeo destas accedilotildees para

que no curto meacutedio e longo prazo alcance uma reduccedilatildeo da degradaccedilatildeo ambiental (LEME

2010)

Para cumprir esse mister o Estado necessita de mecanismos eficientes para a

promoccedilatildeo do desenvolvimento e da reduccedilatildeo das externalidades negativas causadas ao meio

ambiente (BECKER 2004) Embora seja uma gestatildeo complexa acredita-se que sendo

realizada por cada municiacutepio eacute possiacutevel mudar o paradigma posto como entrave ao

desenvolvimento dado que o municiacutepio eacute o ente federativo mais proacuteximo da realidade local

Desse modo Carlo (2006) admite que a atuaccedilatildeo dos municiacutepios eacute de extrema importacircncia

316

para a implementaccedilatildeo da gestatildeo ambiental pois este conhece de perto os reais problemas

ambientais como das necessidades da populaccedilatildeo

Apesar de o municiacutepio poder contribuir de forma mais significativa para esta

realidade com adoccedilatildeo de mecanismos baacutesicos como Secretaria Municipal do Meio Ambiente

Conselho Municipal Fundo Municipal Plano de Gestatildeo Integrada dos Resiacuteduos Soacutelidos

Urbanos Legislaccedilatildeo especiacutefica na aacuterea ambiental e participaccedilotildees em atividades que subsidiem

o aparato institucional ainda assim conforme Leme (2010) eacute preciso fortalecer estas accedilotildees

por meio da articulaccedilatildeo com o Estado em que o municiacutepio estaacute inserido pois o planejamento

ambiental requer escalas maiores do que o territoacuterio municipal

Buscando avanccedilar nas anaacutelises Leme (2011) verificou o niacutevel da capacidade

instalada nos municiacutepios para lidar com a gestatildeo ambiental e se essa capacidade evoluiu ao

longo dos anos Fez uso dos dados da Pesquisa de Informaccedilotildees Baacutesicas Municipais ndash

MUNIC do IBGE dos anos 2002 e 2008 O meacutetodo de anaacutelise empregado foi uma anaacutelise

descritiva e comparativa a qual buscou mostrar a real situaccedilatildeo da capacidade institucional nos

municiacutepios no tocante agrave gestatildeo ambiental local e sua evoluccedilatildeo ao longo dos anos A conclusatildeo

mais direta do estudo eacute que nos uacuteltimos anos a capacidade instalada nos municiacutepios tem

avanccedilado de forma significativa apesar de ainda carecer de fortalecimento nas respectivas

instacircncias Natildeo obstante o municiacutepio exerce importante papel no protagonismo das poliacuteticas

puacuteblicas em niacutevel municipal devido agrave proximidade do gestor local com a populaccedilatildeo o que

pode contribuir para elencar as prioridades e possiacuteveis soluccedilotildees

Recentemente Rodrigues et al (2016) analisaram o niacutevel de implementaccedilatildeo dos

instrumentos de gestatildeo ambiental nos municiacutepios do Semiaacuterido Brasileiro (SAB) Para tanto

utilizaram como meacutetodo a construccedilatildeo de um iacutendice agregado de gestatildeo ambiental com base

nas informaccedilotildees da MUNIC-2009 Os resultados revelaram que os municiacutepios do SAB ainda

apresentam fragilidades inerentes agrave baixa implementaccedilatildeo dos instrumentos baacutesicos de gestatildeo

ambiental Essa realidade reforccedila para o pressuposto que os municiacutepios do SAB ainda

apresentam baixo interesse na adoccedilatildeo de mecanismos que fortaleccedilam a gestatildeo ambiental o

que contribui para o aumento dos impactos negativos ao meio ambiente

Implicaccedilotildees como essas deixam claro que o municiacutepio ainda eacute demasiadamente

omisso nas poliacuteticas de desenvolvimento local mesmo em casos que a competecircncia de gestatildeo

eacute exclusivamente municipal No entanto o baixo interesse na adoccedilatildeo de instrumentos de

gestatildeo natildeo eacute apenas em aacutereas de competecircncia local essa realidade eacute tambeacutem percebida

317

mesmo em atribuiccedilotildees comuns entre os entes federados como por exemplo na gestatildeo

ambiental Apesar disso eacute preciso ter inicialmente noccedilatildeo da realidade agrave qual se encontra os

municiacutepios brasileiros no tocante ao planejamento governamental para que se possa ter um

diagnoacutestico plausiacutevel e assim tecer possiacuteveis contribuiccedilotildees para o fortalecimento e da gestatildeo

e sustentabilidade local

Vale ressaltar que natildeo eacute apenas a existecircncia de tais instacircncias que iraacute garantir que as

poliacuteticas em suas diversas aacutereas da administraccedilatildeo puacuteblica sejam implementadas mas a

inexistecircncia destas eacute um entrave para a garantia dos direitos do desenvolvimento e

sustentabilidade em niacutevel municipal Por exemplo ―em decorrecircncia da inexistecircncia de fundo

municipal de meio ambiente deixa de arrecadar recursos que poderiam ser aplicados em

accedilotildees voltadas para a preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e recuperaccedilatildeo de recursos naturais

(OLIVEIRA et al 2016 p 110) Desse modo agrave adoccedilatildeo de instrumentos baacutesicos de gestatildeo

satildeo primordiais para qualquer aacuterea da administraccedilatildeo municipal e o municiacutepio natildeo pode ser

omisso no tocante agrave implementaccedilatildeo e uso dessas instacircncias uma vez que foram

institucionalizadas por lei para reestruturar a gestatildeo puacuteblica e fortalecer a participaccedilatildeo da

populaccedilatildeo nas demandas locais

22 Importacircncia do municiacutepio na gestatildeo dos recursos hiacutedricos

A descentralizaccedilatildeo da gestatildeo das aacuteguas teve um grande avanccedilo com a criaccedilatildeo da

Poliacutetica Nacional dos Recursos Hiacutedricos ndash PNRH Implementada pela lei nordm 94331997 ela

instituiu o Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hiacutedricos ndash SINGREH e

instaurou o Conselho Nacional de Recursos Hiacutedricos o Ministeacuterio do Meio Ambiente ndash

MMA o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renovaacuteveis ndash IBAMA a

Agecircncia Nacional de Aacutegua ndash ANA (desde 2001) os Conselhos Estaduais de recursos hiacutedricos

ndash CERHs aleacutem disso reforccedilou a competecircncia de todos os entes da federaccedilatildeo com os comitecircs

de bacia e as agecircncias de aacutegua estaduais com a gestatildeo dos recursos hiacutedricos (CASTRO

2012)

A Poliacutetica Nacional dos Recursos Hiacutedricos ndash PNRH baseia-se nos seguintes

princiacutepios I - a aacutegua eacute um bem de domiacutenio puacuteblico II - a aacutegua eacute um recurso natural limitado

dotado de valor econocircmico III - em situaccedilotildees de escassez o uso prioritaacuterio dos recursos

hiacutedricos eacute o consumo humano e a dessedentaccedilatildeo de animais IV - a gestatildeo dos recursos

hiacutedricos deve sempre proporcionar o uso muacuteltiplo das aacuteguas V - a bacia hidrograacutefica eacute a

318

unidade territorial para implementaccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Recursos Hiacutedricos e atuaccedilatildeo

do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hiacutedricos VI - a gestatildeo dos recursos

hiacutedricos deve ser descentralizada e contar com a participaccedilatildeo do Poder Puacuteblico dos usuaacuterios e

das comunidades Diante disso entende-se que a bacia hidrograacutefica eacute a unidade de

planejamento e execuccedilatildeo da PNRH cuja gestatildeo deve ser descentralizada contando com a

participaccedilatildeo de Poder Puacuteblico dos usuaacuterios e comunidades (BRASIL 1999)

Embora a Bacia Hidrograacutefica tenha sido elencada como a unidade de

planejamento da PNRH acredita-se que agrave atribuiccedilatildeo centralizada para o planejamento e

gestatildeo dos recursos hiacutedricos entra em contradiccedilatildeo com a proacutepria Lei e isso ―resulta em

conflitos devido agrave delimitaccedilatildeo de esta ser diferenciada dos limites administrativos de

municiacutepios ou ateacute mesmo de estados (CORREcircA e TEIXEIRA 2006 p7) Portanto tal

realidade contribui para a tese que a Bacia natildeo consegue realizar um planejamento e gestatildeo

com eficiecircncia em virtude da escala territorial a que pertence Obstante conforme o Art 23 da

Constituiccedilatildeo eacute de particular interesse dos municiacutepios a competecircncia suplementar pois esta

ampara legalmente ao ente para legislar suplementarmente sobre mateacuterias de interesse local

comum sendo o meio ambiente uma das mateacuterias de competecircncia em comum (CARNEIRO

et al 2010)

Desse modo acredita-se que o municiacutepio pode contribuir de forma significativa

com a gestatildeo das aacuteguas desde que implemente e utilize os mecanismos baacutesicos de gestatildeo dos

recursos hiacutedricos como Plano Fundo Conselho e Leis especiacuteficas de saneamento baacutesico com

abrangecircncia de serviccedilos de abastecimento de aacutegua e esgotamento sanitaacuterio Estudos sinalizam

que a complexidade e o agravamento da gestatildeo dos recursos hiacutedricos decorrem

principalmente de um processo de gestatildeo ainda setorial que natildeo tem contribuiacutedo para o

aumento e disponibilidade da demanda por aacutegua Ademais da combinaccedilatildeo entre o crescimento

exagerados das demandas e da degradaccedilatildeo da qualidade das aacuteguas Essa realidade decorre dos

processos de urbanizaccedilatildeo industrializaccedilatildeo e expansatildeo agriacutecola (ROGERS et al 2006

SOMLYODY e VARIS 2006)

A Lei das aacuteguas estabelece que a PNRH deve ser realizada levando em

consideraccedilatildeo os seguintes princiacutepios (FERREIRA et al 2009 p 60)

I - A aacutegua eacute um bem de domiacutenio puacuteblico ndash A dominialidade puacuteblica da aacutegua foi

instituiacuteda na Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 com isso o primeiro princiacutepio

apenas reitera o princiacutepio constitucional jaacute existente

319

II ndash A aacutegua eacute um recurso natural limitado dotado de valor econocircmico ndash esse

princiacutepio pretende ser o indutor do uso racional do recurso pois a partir do momento

em que a aacutegua eacute um bem dotado de valor econocircmico seu uso impotildee uma devida

contraprestaccedilatildeo

III ndash Em situaccedilotildees de escassez o uso prioritaacuterio dos recursos hiacutedricos eacute o consumo

humano e a dessedentaccedilatildeo de animais ndash tal princiacutepio prioriza o direito maior

existente em caso de escassez que eacute o direito agrave vida

IV ndash A gestatildeo de recursos hiacutedricos deve sempre proporcionar o uso muacuteltiplo das

aacuteguas ndash este princiacutepio visa impedir que qualquer outorga implique privileacutegio de um

setor em detrimento de outro

V ndash A bacia hidrograacutefica eacute a unidade territorial para implantaccedilatildeo da Poliacutetica

Nacional de Recursos Hiacutedricos e atuaccedilatildeo do Sistema Nacional de Gerenciamento de

Recursos Hiacutedricos ndash uma das maiores inovaccedilotildees foi a utilizaccedilatildeo do periacutemetro da

bacia como aacuterea a ser planejada o que facilita a identificaccedilatildeo das demandas e

disponibilidades

VI ndash A gestatildeo dos recursos hiacutedricos deve ser descentralizada e contar com a

participaccedilatildeo do Poder Puacuteblico dos usuaacuterios e das comunidades ndash esse uacuteltimo

princiacutepio determina que as instituiccedilotildees responsaacuteveis pela gestatildeo dos recursos tenham

uma efetiva participaccedilatildeo de todos os diversos usuaacuterios

Desse modo para que a PNRH alcance os objetivos estrateacutegicos como assegurar

agrave disponibilidade de aacutegua para agrave atual e as futuras geraccedilotildees eacute pertinente que os gestores locais

contribuam de forma mais efetiva para a gestatildeo das aacuteguas Como contributo acredita-se que

a participaccedilatildeo dos usuaacuterios do puacuteblico da iniciativa privada e do setor puacuteblico deve ser um

dos eixos principais dessa governanccedila dos recursos hiacutedricos (ROGERS 2006) Essa

participaccedilatildeo deveraacute melhorar e aprofundar a sustentabilidade da oferta e demanda e a

seguranccedila coletiva da populaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave disponibilidade e vulnerabilidade a qual pode

ser institucionalizada por meio dos Conselhos de Saneamento baacutesico com abrangecircncia ao

abastecimento e esgotamento sanitaacuterio

No entanto a gestatildeo dos recursos hiacutedricos pode ser mais complexa quando natildeo haacute

uma coordenaccedilatildeo em acircmbito local e ainda quando os instrumentos utilizados satildeo meramente

transformados em

oacutergatildeos cartoriais (que apenas referendam as decisotildees do executivo) em mecanismos

de legitimaccedilatildeo do discurso governamental ou em estruturas formais (sem reuniotildees

frequentes programas de trabalho representatividade social vigor argumentativo

rotinas de capacitaccedilatildeo e acesso aos poderes instituiacutedos) (SILVA OLIVEIRA

PEREIRA e OLIVEIRA 2010 p 423)

A inexistecircncia dessa realidade pode ser alcanccedilada desde que os sujeitos

envolvidos sejam imponderados de suas responsabilidades frente agraves demandas do coletivo

uma vez que precisam entender que satildeo os protagonistas do processo decisoacuterio que as

decisotildees e poliacuteticas da gestatildeo ambiental e dos recursos hiacutedricos a serem criadas devem

320

contribuir para a melhoria do desenvolvimento local e sustentabilidade nos municiacutepios o que

pode resultar na melhoria da qualidade de vida da populaccedilatildeo

3 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

A preocupaccedilatildeo com a gestatildeo dos recursos hiacutedricos vem aumentando

substancialmente tendo em vista a crise hiacutedrica ocorrida nos uacuteltimos anos (SANTOS 2013)

Embora seja de competecircncia da Uniatildeo e Estados a legislarem sobre a gestatildeo das aacuteguas esta

governanccedila torna-se deficiente devido a estes entes natildeo terem real domiacutenio da situaccedilatildeo hiacutedrica

de cada territoacuterio haja vista a grande escala territorial realidade esta que contribui para um

baixo alcance dos instrumentos de gestatildeo o que acaba elevando a probabilidade da poliacutetica

natildeo surtir efeitos positivos em todas as Bacias que a compotildeem

As expectativas de o municiacutepio ser o agente catalisador do desenvolvimento

sustentaacutevel demandam uma capacidade de gestatildeo que perpassa pela implementaccedilatildeo de

instrumentos capazes de operacionalizar as competecircncias que envolvem a administraccedilatildeo

puacuteblica A implementaccedilatildeo desses instrumentos em niacutevel municipal eacute ainda deficitaacuteria Os

estudos de Carvalho Lima e Sousa (2013) Lima e colaboradores (2014) Sousa Lima e Khan

(2015) Rodrigues e colaboradores (2016) e Oliveira Lima e Sousa (2017) nos setores

responsaacuteveis pelas poliacuteticas de saneamento baacutesico seguranccedila puacuteblica direitos humanos e

meio ambiente respectivamente chamam atenccedilatildeo por exemplo para o baixo niacutevel de

implementaccedilatildeo dos instrumentos baacutesicos de gestatildeo como Conselhos Fundos e Planos

municipais

O presente estudo utilizou o procedimento metodoloacutegico desenvolvido pelos

autores jaacute citados em especial a proposta de Oliveira Lima e Sousa (2017) devido ao fato de

terem realizado um estudo sobre a mensuraccedilatildeo da gestatildeo municipal dos recursos hiacutedricos e

ambiental para o estado do Cearaacute Nessa perspectiva foi construiacutedo dois iacutendices agregados

para analisar os niacuteveis de implementaccedilatildeo de instrumentos de gestatildeo municipal o Iacutendice de

Gestatildeo Municipal dos Recursos Hiacutedricos (IGMRH ndash Quadro 1) e o Iacutendice Municipal de

Gestatildeo Ambiental (IMGA ndash Quadro 2)

Para avaliar a adoccedilatildeo de instrumentos de gestatildeo dos recursos hiacutedricos optou-se

por considerar indicadores expostos no Quadro 1 Os indicadores selecionados interferem

direta e indiretamente na qualidade e na quantidade da aacutegua disponibilizada agrave populaccedilatildeo Trecircs

321

criteacuterios principais foram determinantes na escolha de cada indicador consistecircncia com a

fundamentaccedilatildeo teoacuterica confiabilidade das informaccedilotildees e disponibilidade de dados em niacutevel

municipal Quanto agrave aplicabilidade do IGMRH coloca-se o seu potencial para avaliaccedilatildeo de

um modelo municipal de gestatildeo no qual segundo Miranda (2012) o governo municipal

adquire um papel central devido ao contato em primeira instacircncia com os problemas urbano-

ambiental inerentes aos recursos hiacutedricos

Assim o IGMRH eacute resultado da agregaccedilatildeo dos 16 indicadores expostos no

Quadro 1 Eacute necessaacuterio ressaltar que o IGMRH natildeo tem a pretensatildeo de qualificar a gestatildeo

hiacutedrica dos municiacutepios brasileiros mas hierarquizar e comparar os municiacutepios e estados da

Regiatildeo Nordeste de acordo com a implementaccedilatildeo dos instrumentos de gestatildeo o que em

primeira instacircncia constitui o passo inicial para a criaccedilatildeo de condiccedilotildees necessaacuterias a praacutetica

de uma gestatildeo eficiente dos recursos hiacutedricos e do fortalecimento da PNHR

322

Quadro 1 - Operacionalizaccedilatildeo dos indicadores componentes do Iacutendice de Gestatildeo Municipal

dos Recursos Hiacutedricos ndash IGMRH Indicadores Operacionalizaccedilatildeo dos indicadores

1 - Existecircncia de oacutergatildeo responsaacutevel pela gestatildeo da poliacutetica de

serviccedilo de abastecimento de aacutegua

2 - Existecircncia de oacutergatildeo responsaacutevel pela gestatildeo da poliacutetica de

serviccedilo de esgotamento sanitaacuterio

3 - Existecircncia de poliacutetica municipal de saneamento baacutesico com

abrangecircncia de serviccedilos de abastecimento de aacutegua

4 - Existecircncia de poliacutetica municipal de saneamento baacutesico com

abrangecircncia de serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio

5 - Definiccedilatildeo do volume miacutenimo per capita de aacutegua para

abastecimento puacuteblico a partir de uma poliacutetica municipal de

saneamento baacutesico

6 - Existecircncia de fundo municipal de saneamento baacutesico

7 -Existecircncia de plano municipal de saneamento baacutesico

8 - Plano municipal de saneamento baacutesico com abrangecircncia de

serviccedilos de abastecimento de aacutegua

9 - Plano municipal de saneamento baacutesico com abrangecircncia de

serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio

10 - Plano municipal de saneamento baacutesico prevendo a

elaboraccedilatildeo de diagnoacutestico da situaccedilatildeo da prestaccedilatildeo dos serviccedilos

puacuteblicos de saneamento baacutesico e de seus impactos nas condiccedilotildees

de vida da

populaccedilatildeo local

11 - Plano municipal de saneamento baacutesico formulado de forma

compatiacutevel com o plano de bacia hidrograacutefica

12 - Existecircncia de procedimentos para acompanhamento de

vigecircncia de licenccedilas ambientais para os sistemas de

abastecimento de aacutegua

13 - Existecircncia de mecanismos de controle social para os

serviccedilos de saneamento baacutesico

14 - Existecircncia de conselho municipal de saneamento

15 - Existecircncia de oacutergatildeo responsaacutevel pela fiscalizaccedilatildeo da

qualidade da aacutegua na administraccedilatildeo puacuteblica municipal

16 - Existecircncia de legislaccedilatildeo municipal sobre proteccedilatildeo de

mananciais

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria

No intuito de verificar se haacute nos municiacutepios brasileiros uma gestatildeo conjunta municipal

entre a governanccedila hiacutedrica e ambiental como estrateacutegia de desenvolvimento sustentaacutevel local

foi construiacutedo o Iacutendice Municipal de Gestatildeo Ambiental ndash IMGA a partir dos indicadores

expressos no Quadro 2 fundamentados em Braga (2001) uma vez que parte do pressuposto

que a accedilatildeo integrada possa alcanccedilar melhores resultados da PNRH

323

Quadro 2 - Indicadores componentes do Iacutendice de Gestatildeo Ambiental (IMGA) Indicadores Operacionalizaccedilatildeo dos indicadores

1 - Existecircncia -Secretaria municipal exclusiva do meio ambiente

2 - Existecircncia - Conselho Municipal de Meio Ambiente

3 - Existecircncia de Fundo Municipal de Meio Ambiente

4 - Legislaccedilatildeo especiacutefica para tratar de questatildeo ambiental

5 - O governo municipal estaacute implementando em parceria com o

Governo Federal

6 - Participaccedilatildeo no programa Coletivo educador

7 - Participaccedilatildeo no programa Sala Verde

8 - Participaccedilatildeo no programa Circuito Tela Verde

9 - Participaccedilatildeo no programa Educaccedilatildeo Ambiental no Plano de

Gestatildeo de Resiacuteduos Soacutelidos

10 - Participaccedilatildeo no programa Sustentabilidade ambiental das

instituiccedilotildees puacuteblicas como a Agenda Ambiental na

Administraccedilatildeo-A3P

11 - O municiacutepio participa de Comissatildeo Interinstitucional de

Educaccedilatildeo Ambiental (CIEA) de acircmbito estadual

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria

As informaccedilotildees referentes a cada indicador foram extraiacutedas da Pesquisa de

Informaccedilotildees Baacutesicas Municipais ndash publicada pelo IBGE Os anos de referecircncia foram 2013

para o IMGA e 2011 para o IGMRH Apoacutes a seleccedilatildeo dos indicadores o procedimento

seguinte foi o caacutelculo dos iacutendices de gestatildeo municipal dos recursos hiacutedricos e do Iacutendice de

Gestatildeo Ambiental O caacutelculo do IGMRH e IGA seguiu o procedimento adotado por Lima e

colaboradores (2014) e Sousa Lima e Khan (2015) e Oliveira Lima e Sousa (2017) por meio

da expressatildeo

sum

Sendo

Ij = Iacutendice de Gestatildeo Municipal no i-eacutesimo municiacutepio

Eij= escore correspondente aoo i-eacutesimo indicador obtido pelo j-eacutesimo municiacutepio (0 para

ausecircncia do instrumento no municiacutepio ou 1 para a existecircncia)

Emaxi= escore maacuteximo do i-eacutesimo indicador

i = 1 p nuacutemero de indicadores

j = 1 n nuacutemero de municiacutepios da Regiatildeo Nordeste

324

Apesar de o meacutetodo ter sido ajustado natildeo haacute ainda na literatura estudos que versem

sobre a referida temaacutetica da forma como o presente estudo propotildee realizar Para todos os

iacutendices calculados quanto mais proacuteximo de 1 melhor a situaccedilatildeo do municiacutepio

Os referidos IGMRH e IMGA permite demonstrar o niacutevel de implementaccedilatildeo dos

mecanismos em anaacutelise em niacutevel municipal variando de 0 (zero) a 1(um) Quanto mais

proacuteximo 1 maior eacute o niacutevel de adoccedilatildeo dos indicadores nos respectivos municiacutepios Ademais

quando multiplicado por 100 o IGMRH e IGA podem ser interpretados como o percentual de

implementaccedilatildeo dos mecanismos municipais da gestatildeo ambiental e dos recursos hiacutedricos nos

municiacutepios brasileiros

Apoacutes o caacutelculo do IGMRH e do IGA os municiacutepios foram classificados em trecircs grupos

quanto agrave adoccedilatildeo dos mecanismos de gestatildeo a saber municiacutepios com menores intermediaacuterios

e maiores niacuteveis de gestatildeo A classificaccedilatildeo seraacute realizada por meio da anaacutelise de

agrupamento1 especificamente o meacutetodo de k-meacutedias sugerido por Hair (2005) O

procedimento segmentaraacute os municiacutepios quanto a suas semelhanccedilas em trecircs classes sendo

estas a serem delimitadas pelos valores do IGMRH e IMGA

(i)Municiacutepios com menores niacuteveis de adoccedilatildeo dos instrumentos de gestatildeo ambiental e

dos recursos hiacutedricos

(ii) Municiacutepios com niacuteveis intermediaacuterios de adoccedilatildeo dos instrumentos de gestatildeo

ambiental e dos recursos hiacutedricos

(iii) Municiacutepios com maiores niacuteveis de adoccedilatildeo dos instrumentos de gestatildeo ambiental e

dos recursos hiacutedricos

Como mencionado o IGMRH e IMGA foi calculado para cada um dos municiacutepios da

Regiatildeo Nordeste Poreacutem optou-se por agregar as referidas informaccedilotildees por unidade da

federaccedilatildeo Desse modo o iacutendice de cada unidade federativa refere-se agrave meacutedia aritmeacutetica do

IGRH e IMGA dos municiacutepios que a compotildeem

4 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

Os instrumentos de gestatildeo puacuteblica municipal estatildeo previstos em legislaccedilatildeo e satildeo

considerados elementos essenciais para realizar o controle social de poliacuteticas puacuteblicas

setoriais garantindo os princiacutepios da participaccedilatildeo da sociedade nos processos de decisatildeo em

todas as etapas das poliacuteticas puacuteblicas como emana a Constituiccedilatildeo (NEVES SANTOS e

325

SILVA 2012) Ademais compreende-se que instrumentos e mecanismos de gestatildeo satildeo

―partes constitutivas da dinacircmica organizacional de todas e quaisquer instituiccedilotildees de natureza

puacutebica ou privada (KLEBA COMERLATTO e FROZZA 2016 p 1062)

A Tabela 1 mostra o IMGA e o IGMRH que expressam em termos meacutedios o grau de

adoccedilatildeo dos municiacutepios nordestinos em relaccedilatildeo aos mecanismos de gestatildeo ambiental e dos

recursos hiacutedricos Observa-se uma relativa heterogeneidade no niacutevel de implementaccedilatildeo da

gestatildeo ambiental e dos recursos hiacutedricos nos municiacutepios nordestinos

Tabela 1 ndash Estatiacutestica descritiva do IGMA e IGMRH dos estados brasileiros

Estados Iacutendice Meacutedio da Gestatildeo Municipal

Ambiental ndash IGMA

Iacutendice Meacutedio da Gestatildeo

Municipal dos Recursos

Hiacutedricos - IGMRH

Maranhatildeo 020 013

Piauiacute 011 013

Cearaacute 037 023

Rio Grande do Norte 015 013

Paraiacuteba 011 011

Pernambuco 020 016

Alagoas 019 012

Sergipe 024 011

Bahia 025 017

Nordeste 020 014

Fonte Resultados da pesquisa (2009 e 2011)

Os resultados apresentados para regiatildeo Nordeste satildeo alarmantes Analisando a

situaccedilatildeo do niacutevel de implementaccedilatildeo do estado com melhor desempenho com relaccedilatildeo agrave gestatildeo

ambiental e dos recursos hiacutedricos observa-se que apenas 37 dos municiacutepios do Cearaacute

implementaram os mecanismos de gestatildeo ambiental Essa fragilidade de capacidade instalada

eacute tambeacutem recorrente na gestatildeo dos recursos hiacutedricos dado que somente 23 dos municiacutepios

desse estado adotam os instrumentos analisados No entanto o caso mais extremo eacute o dos

municiacutepios do estado da Paraiacuteba o que demostra a morosidade da gestatildeo diante das

vulnerabilidades em ambos setores ( IGMA = 011 e IGMRH= 011)

A existecircncia dos mecanismos baacutesicos de gestatildeo como Conselhos Fundos Planos

Poliacuteticas e Leis especiacuteficas natildeo satildeo indicativos para a legitimaccedilatildeo das poliacuteticas em acircmbito

local Conforme Leme (2010) o artigo 23 e o capiacutetulo 30 da Constituiccedilatildeo Federal deixam

claro que as poliacuteticas de meio ambiente devem ser realizadas por todos os entes federados e

aleacutem disso devem promover a participaccedilatildeo da sociedade Ademais as questotildees locais satildeo de

competecircncia dos municiacutepios sendo a questatildeo ambiental e hiacutedrica descritas como uma destas

326

responsabilidades Poreacutem a proacutepria Constituiccedilatildeo natildeo aponta de que forma deve ser realizada

a referida gestatildeo nas unidades federadas

Acredita-se que como contribuiccedilatildeo para o entendimento dessa conjuntura a

Constituiccedilatildeo de 1988 embora tenha reforccedilado a descentralizaccedilatildeo e as competecircncias entre os

entes federados muitas vezes acaba sendo omissa na orientaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo

interfederativa fator esse que na grande maioria dos casos eacute utilizado como argumento

preponderante para a negligecircncia dos gestores locais Por exemplo sabe que a bacia

hidrograacutefica eacute unidade de planejamento da gestatildeo dos recursos hiacutedricos no entanto o Art 23

da carta magna prevecirc que as poliacuteticas puacuteblicas e a gestatildeo ambiental satildeo de responsabilidades

de todos os entes da federaccedilatildeo logo o municiacutepio natildeo deve ser improvidente na gestatildeo dos

recursos hiacutedricos e do meio ambiente

Segundo Leme (2010 p 36) ―dispor de algum tipo de oacutergatildeo para tratar a questatildeo

ambiental eacute elemento baacutesico para implementar as poliacuteticas ambientais no municiacutepio E

embora exista uma especificidade nos muniacutecipes eacute preciso adotar os mecanismos de gestatildeo

ambiental e hiacutedrica como descritos na Tabela 1 e 2 visto que fortalecem as accedilotildees e

contribuem para a democratizaccedilatildeo da accountability horizontal (municiacutepios) e vertical

(estados e Uniatildeo) No intuito de sintetizar as informaccedilotildees seratildeo descritos os valores

referentes agrave Regiatildeo Nordeste (uacuteltima linha)

Eacute fundamental uma gestatildeo eficiente dos recursos hiacutedricos sobretudo em regiotildees

geograacuteficas onde a aacutegua enquanto recurso eacute um bem escasso Diante da deficiecircncia hiacutedrica

espera-se que accedilotildees governamentais promovam a conservaccedilatildeo e otimizaccedilatildeo do uso da aacutegua

contudo como se observa na Tabela 1 os estados nordestinos apresentam grandes

fragilidades nos mecanismos de gestatildeo como se percebe pela pouca atenccedilatildeo destinada ao

saneamento baacutesico e ao tratamento das efluentes aleacutem de legislaccedilatildeo ambiental deficitaacuteria para

os sistemas de abastecimento de aacutegua

Tabela 1 ndash Proporccedilatildeo dos instrumentos de gestatildeo dos recursos hiacutedricos nos estados

nordestinos (2011)

Instrumentos

Percentual dos instrumentos de gestatildeo dos recursos hiacutedricos nos estados nordestinos Regiatildeo

Nordeste

MA PI CE RN PB PE AL SE BA

1 - Existecircncia de oacutergatildeo

responsaacutevel pela gestatildeo da

poliacutetica de serviccedilo de abastecimento de aacutegua

2903 7679 3478 719 314 270 1765 1067 2974 2352

327

2 - Existecircncia de oacutergatildeo responsaacutevel pela gestatildeo da

poliacutetica de serviccedilo de

esgotamento sanitaacuterio

1336 223 2717 4311 5291 6703 1863 4000 3573 3335

3 - Existecircncia de poliacutetica

municipal de saneamento

baacutesico com abrangecircncia de serviccedilos de abastecimento de

aacutegua

1982 1920 2717 1138 628 1405 686 400 1367 1360

4 - Existecircncia de poliacutetica

municipal de saneamento baacutesico com abrangecircncia de

serviccedilos de esgotamento

sanitaacuterio

1060 313 2663 1317 852 2270 784 800 1391 1272

5 - Definiccedilatildeo do volume

miacutenimo per capita de aacutegua para

abastecimento puacuteblico a partir

de uma poliacutetica municipal de

saneamento baacutesico

138 089 380 180 314 486 196 0 360 238

6 - Existecircncia de fundo

municipal de saneamento baacutesico

138 089 326 240 135 432 098 0 168 181

7 -Existecircncia de plano

municipal de saneamento

baacutesico

691 179 870 719 224 865 784 400 432 574

8 - Plano municipal de saneamento baacutesico com

abrangecircncia de serviccedilos de

abastecimento de aacutegua

645 179 652 359 179 432 294 000 264 334

9 - Plano municipal de

saneamento baacutesico com

abrangecircncia de serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio

553 000 707 659 224 703 490 133 312 420

10 - Plano municipal de

saneamento baacutesico prevendo a

elaboraccedilatildeo de diagnoacutestico da situaccedilatildeo da prestaccedilatildeo dos

serviccedilos puacuteblicos de saneamento baacutesico e de seus

impactos nas condiccedilotildees de vida

da populaccedilatildeo local

184 089 598 659 045 595 490 133 216 334

11 - Plano municipal de saneamento baacutesico formulado

de forma compatiacutevel com o

plano de bacia hidrograacutefica

046 089 272 419 135 270 490 133 240 233

12 - Existecircncia de

procedimentos para

acompanhamento de vigecircncia de licenccedilas ambientais para os

sistemas de abastecimento de

aacutegua

2074 1652 4239 1617 583 2216 2255 1467 2830 2104

13 - Existecircncia de mecanismos de controle social para os

serviccedilos de saneamento baacutesico

3456 3125 6522 5449 3991 3459 2843 3333 4844 4114

14 - Existecircncia de conselho

municipal de saneamento 138 134 326 180 0 108 098 0 096 120

15 - Existecircncia de oacutergatildeo

responsaacutevel pela fiscalizaccedilatildeo da

qualidade da aacutegua na administraccedilatildeo puacuteblica

municipal

4147 5357 6359 2335 3139 2757 4216 4267 4580 4129

16 - Existecircncia de legislaccedilatildeo

municipal sobre proteccedilatildeo de mananciais

1797 446 3315 1198 807 2757 2059 1333 2950 1851

Fonte Resultados da pesquisa 2011

328

Observa-se tambeacutem agrave omissatildeo dos municiacutepios nordestinos no quesito ambiental fato

esse confirmado pelo baixo nuacutemero de localidades que possuem mecanismos baacutesicos para

realizar a gestatildeo ambiental como se percebe na Tabela 2 (uacuteltima coluna) apenas 4552 dos

municiacutepios da regiatildeo Nordeste possuem legislaccedilatildeo especiacutefica para tratar de assuntos

ambientais Obstante apenas 2270 dos muniacutecipes detecircm de secretaria exclusiva do meio

ambiente nos demais casos agrave questatildeo ambiental eacute subordinada a outras secretarias Esses

resultados corroboram para a confirmaccedilatildeo que embora a Constituiccedilatildeo de 1988 tenha

fomentado a descentralizaccedilatildeo e aumentado agraves competecircncias para o municiacutepio este ainda natildeo

trouxe para si a real autonomia emanada por Lei

Tabela 2 ndash Proporccedilatildeo dos instrumentos de gestatildeo ambiental nos estados brasileiros (2013)

Instrumentos

Percentual dos instrumentos de gestatildeo ambiental nos estados

nordestinos

Regiatildeo

Nordeste

MA PI CE RN PB PE AL SE BA

1 - Existecircncia -

Secretaria municipal

exclusiva do meio

ambiente

4562 2321 2717 2395 1166 1405 2353 1733 1775 2270

2 - Existecircncia -

Conselho Municipal de

Meio Ambiente

3548 1696 8315 4371 1794 3946 2353 3200 6978 4022

3 - Existecircncia de Fundo

Municipal de Meio

Ambiente

2212 848 3696 1677 448 1838 1373 1867 5204 2199

4 - Legislaccedilatildeo

especiacutefica para tratar de

questatildeo ambiental

4194 2813 8207 3293 3229 4486 4020 3867 6859 4552

5 - O governo

municipal estaacute

implementando em

parceria com o

Governo Federal

2903 1875 5870 2036 2063 3784 3627 4933 2998 3343

6 - Participaccedilatildeo no

programa Coletivo

educador

369 179 707 240 090 595 490 533 264 385

7 - Participaccedilatildeo no

programa Sala Verde 092 313 1141 180 224 486 490 533 671 459

8 - Participaccedilatildeo no

programa Circuito Tela

Verde

092 134 598 120 090 108 196 267 168 197

9 - Participaccedilatildeo no

programa Educaccedilatildeo

Ambiental no Plano de

Gestatildeo de Resiacuteduos

Soacutelidos

2212 1295 3804 1317 1480 2757 2549 4533 1918 2429

10 - Participaccedilatildeo no

programa

Sustentabilidade

ambiental das

184 134 2011 419 224 595 294 667 480 556

329

instituiccedilotildees puacuteblicas

como a Agenda

Ambiental na

Administraccedilatildeo-A3P

11 - O municiacutepio

participa de Comissatildeo

Interinstitucional de

Educaccedilatildeo Ambiental

(CIEA) de acircmbito

estadual

783 402 1413 659 359 1135 1176 1600 1055 954

12 - O municiacutepio

possui Plano de Gestatildeo

Integrada de Resiacuteduos

Soacutelidos nos termos

estabelecidos na

Poliacutetica Nacional de

Resiacuteduos Soacutelidos

2535 670 5489 1317 1659 3189 4216 4533 1487 2788

Fonte Resultados da pesquisa 2013

Percebe-se que adoccedilatildeo a adoccedilatildeo dos instrumentos de gestatildeo dos recursos e ambiental

natildeo eacute uma praacutetica comum nos municiacutepios nordestinos A maioria dos estados nordestinos

(Maranhatildeo Piauiacute Rio Grande do Norte Paraiacuteba Alagoas e Sergipe) encontra-se na classe

com os menores niacuteveis de implementaccedilatildeo (011 le IGMRH le 013) o que revela uma

fragilidade do aparato institucional na maioria dos respectivos municiacutepios (Tabela 3)

Tabela 3 ndash Clusters dos niacuteveis de implementaccedilatildeo de instrumentos de gestatildeo municipal dos

recursos hiacutedricos segundo o valor do iacutendice calculado Niacuteveis de implementaccedilatildeo de instrumentos de gestatildeo dos recursos hiacutedricos segundo o

valor do iacutendice calculado (por classes)

Classes Baixo Intermediaacuterio Alto

011 le IGMRH le 013 016 le IGMRH le 017 023le IGMRH le 023 Nuacutemero de estados 3 2 1 Fonte Resultados da pesquisa 2013

Essa realidade natildeo eacute tatildeo diferente quando se analisa a situaccedilatildeo da gestatildeo ambiental no

entanto a maioria dos estados (Maranhatildeo Pernambuco Alagoas Sergipe e Bahia) encontra-

se na classe com niacuteveis intermediaacuterios de gestatildeo ambiental (019 le IGMMA le 025) Natildeo

significa dizer que os que apresentam niacuteveis intermediaacuterios estejam em melhor situaccedilatildeo pois

o niacutevel de implementaccedilatildeo eacute ainda pouco significante (Tabela 4)

Tabela 4 ndash Clusters dos niacuteveis de implementaccedilatildeo de instrumentos de gestatildeo municipal do

meio ambiente segundo o valor do iacutendice calculado Niacuteveis de implementaccedilatildeo de instrumentos de gestatildeo municipal do meio ambiente

segundo o valor do iacutendice calculado (por classes)

Classes Baixo Intermediaacuterio Alto

011 le IGMMA le 015 019 le IGMMA le 025 037le IGMMA le 037

330

Nuacutemero de es wtados 3 5 1 Fonte Resultados da pesquisa 2009

Yassuda (1993) relata que eacute de suma importacircncia a integraccedilatildeo entre gestatildeo ambiental e

dos recursos hiacutedricos adicionalmente Oliveira Lima e Sousa (2017) reforccedilam sobre essa

realidade Relativo a isso o presente estudo observou que haacute de fato uma correlaccedilatildeo positiva e

alta entre gestatildeo ambiental e gestatildeo dos recursos hiacutedricos com niacutevel de significacircncia de 1

(Coeficiente de Correlaccedilatildeo de Pearson = 0803) Essa realidade corrobora para a hipoacutetese que

uma das possiacuteveis fragilidades da gestatildeo dos recursos hiacutedricos decorre da ausecircncia da

interaccedilatildeo de accedilotildees e poliacuteticas fomentadas pelas instacircncias locais responsaacuteveis por esses

setores Apesar disso sabe-se que haacute outras debilidades no tocante ao gerenciamento das

poliacuteticas ambientais e hiacutedricas poreacutem esse debate perpassa a proposta do estudo

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O presente estudo teve por objetivo analisar o niacutevel de implementaccedilatildeo dos

instrumentos de gestatildeo dos recursos hiacutedricos e de gestatildeo ambiental nos municiacutepios

nordestinos Bem como identificar os estados com maiores e menores niacuteveis de gestatildeo em

ambos setores E por fim analisou a existecircncia de relaccedilatildeo entre gestatildeo dos recursos hiacutedricos e

a gestatildeo ambiental A conclusatildeo mais direta do estudo eacute que haacute ainda uma omissatildeo dos

municiacutepios nos dois setores em anaacutelise ambiental e hiacutedrico Ademais uma gestatildeo conjunta

entre gestatildeo ambiental e recursos hiacutedricos pode potencializar as accedilotildees poliacuteticas e programas

direcionados para os problemas inerentes ao meio ambiente

Essas fragilidades intriacutensecas ao baixo niacutevel de implementaccedilatildeo de instrumentos de

gestatildeo contribuem para a reduccedilatildeo da capacidade do municiacutepio interferir positivamente no

arrefecimento da degradaccedilatildeo dos recursos hiacutedricos e ambientais aleacutem de comprometer

substancialmente a qualidade de vida da populaccedilatildeo Por fim compromete a atuaccedilatildeo do

municiacutepio como agente catalizador das poliacuteticas puacuteblicas em acircmbito local visto que a sua

capacidade instalada encontra-se limitada e em alguns casos haacute ausecircncia de alguns

mecanismos

Diante do exposto destacam-se quatro principais contribuiccedilotildees do estudo (i) o

fomento e discussatildeo da importacircncia da gestatildeo municipal em assuntos de interesse comum

entre os entes federativos (ii) o diagnoacutestico da situaccedilatildeo dos municiacutepios nordestinos na adoccedilatildeo

331

dos mecanismos baacutesicos de gestatildeo ambiental e hiacutedrica (iii) uma anaacutelise criacutetica e quantitativa

de um assunto que eacute tratado puramente de forma subjetiva (iv) a confirmaccedilatildeo que haacute uma

relaccedilatildeo positiva entre a gestatildeo ambiental e hiacutedrica realidade essa muita vezes tratada de

forma particularizada na administraccedilatildeo puacuteblica

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334

ATIVIDADE DE CERAcircMICA VERMELHA E MEDIDAS MITIGADORAS DE

IMPACTOS AMBIENTAIS UM ESTUDO DE CASO NO MUNICIacutePIO DE CRATO

(CE)

Ismael Martins Landim

Graduaccedilatildeo em andamento no curso de Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do

Cariri (URCA) Bolsista de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica ndash PIBICURCA E-

mail ismaellandim3gmailcom

Maria Larissa Bezerra Batista

Graduaccedilatildeo em andamento no curso de Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do

Cariri (URCA) Bolsista de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica ndash PIBICURCA E-mail

marialarissa25gmailcom

Christiane Luci Bezerra Alves

Doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Cearaacute (UFC)

Professora Associada do Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri

(URCA) E-mail chrislucigmailcom

Valeacuteria Feitosa Pinheiro

Mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade Regional do Cariri (URCA)

Professora Adjunta do Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri

(URCA) E-mail valeriafp73gmailcom

335

ATIVIDADE DE CERAcircMICA VERMELHA E MEDIDAS MITIGADORAS DE

IMPACTOS AMBIENTAIS UM ESTUDO DE CASO NO MUNICIacutePIO DE CRATO

(CE)

RESUMO

O meio ambiente eacute um elemento fundamental para a existecircncia de vida no planeta e tem sido

deteriorado por algumas atividades devido o emprego de praacuteticas inadequadas Uma dessas

atividades eacute a realizada pela induacutestria de ceracircmica vermelha que causa seacuterios impactos ao

meio ambiente na retirada do material utilizado para a fabricaccedilatildeo dos produtos e

principalmente durante o processo produtivo Poreacutem existem meios e praacuteticas que amenizam

os efeitos causados ao meio ambiente por essa atividade que se configura como uma

Responsabilidade Socioambiental (RSA) Sendo assim o objetivo dessa pesquisa eacute a

realizaccedilatildeo de um estudo de caso na Ceracircmica Gomes de Mattos (CGM) localizada em Crato

(CE) com o intuito de analisar a atividade de ceracircmica vermelha dessa empresa e as medidas

adotadas para reduzir os impactos ambientais na perspectiva de identificar accedilotildees de RSA por

parte da empresa em destaque A metodologia empregada trata-se de uma pesquisa

exploratoacuteria que engloba por exemplo levantamento bibliograacutefico e estudo de caso Por sua

vez os resultados apontaram um importante compromisso da empresa com o meio ambiente

atraveacutes da praacutetica de accedilotildees que visam melhorar as condiccedilotildees ambientais e reduzir os impactos

causados ao mesmo por essa atividade Conclui-se portanto que as boas accedilotildees empregadas

pela empresa estatildeo em consonacircncia com o atual modelo de gerecircncia empresarial que passa a

buscar aleacutem dos benefiacutecios econocircmicos uma maior responsabilidade ambiental e social

Palavras-chaves Responsabilidade Socioambiental Ceracircmica vermelha CGM

ABSTRACT The environment is a fundamental element for the existence of life on the planet and has been

deteriorated by some activities due to the use of inappropriate practices One of these

activities is the one realized by the red ceramic industry that causes serious impacts to the

environment in the withdrawal of the material used for the manufacture of the products and

mainly during the productive process However there are means and practices that soften the

effects caused to the environment by this activity which is configured as a Socio-

Environmental Responsibility (RSA) Therefore the objective of this research is to carry out a

case study at Ceracircmica Gomes de Mattos (CGM) located in Crato (CE) with the purpose of

analyzing the red ceramic activity of this company and the measures adopted to reduce

environmental impacts with a view to identifying RSA actions by the company in focus The

methodology used is an exploratory research which includes for example a bibliographical

survey and a case study In turn the results showed an important commitment of the company

to the environment through the practice of actions that aim to improve environmental

conditions and reduce the impacts caused to the same by this activity It is concluded

therefore that the good actions employed by the company are in line with the current business

management model which in addition to the economic benefits seeks greater environmental

and social responsibility

Keywords Social and Environmental Responsibility Red ceramics CGM

336

1 Introduccedilatildeo

O impacto das atividades econocircmicas sobre o meio ambiente tem sido foco crescente e

central da avaliaccedilatildeo de sistemas produtivos onde satildeo incorporados novos criteacuterios de

sustentabilidade aleacutem da estritamente econocircmica e passam a ser consideradas as dimensotildees

sociais ambientais institucionais aleacutem dos interesses dos diversos agentes envolvido no

desenvolvimento das cadeias produtivas como clientes trabalhadores fornecedores

comunidades locais sociedades em geral e as diferentes esferas do setor puacuteblico

(stakeholders) Para Silva (2007) jaacute no iniacutecio do seacuteculo XX os problemas ambientais

alcanccedilaram grande extensatildeo e se tornaram um enorme desafio agrave possibilidade de

sobrevivecircncia humana no planeta Tanto em aacutereas urbanas quanto rurais a degradaccedilatildeo

ambiental jaacute alcanccedilou niacuteveis preocupantes levando agrave ameaccedila da qualidade de vida e bem estar

das populaccedilotildees Assim ―as relaccedilotildees que envolvem os sistemas produtivos e suas conexotildees

ambientais como suporte para mecanismos de sustentabilidade e desenvolvimento devem

crescentemente fazer parte do campo de pesquisas acadecircmicas uma vez que estatildeo no centro

de projetos e poliacuteticas de desenvolvimento atuais (ALVES 2017 p 21)

Uma das atividades industriais que por sua proacutepria natureza colabora para intensificar

a degradaccedilatildeo ambiental eacute a atividade das ceracircmicas dentre elas a induacutestria de ceracircmica

vermelha Silva (2007) expotildee que o desenvolvimento dessa atividade tem acontecido atraveacutes

de um processo de produccedilatildeo muito complexo e que apresenta alguns estaacutegios a saber a

retirada da mateacuteria-prima utilizada para a fabricaccedilatildeo dos produtos como a argila e o barro

vermelho a mistura ou moldagem dos componentes secagem ou queima e a destinaccedilatildeo do

produto final ao consumidor Eacute importante destacar que em todo esse processo produtivo

ainda permanece a utilizaccedilatildeo de procedimentos arcaicos com ecircnfase para o uso da lenha na

fase de queima dos produtos

De acordo com Santos et al (2016) as ceracircmicas vermelhas satildeo responsaacuteveis pela

produccedilatildeo de materiais como componentes de laje telhas tijolos todos de suma importacircncia

para o setor de construccedilatildeo civil Poreacutem o processo produtivo e a extraccedilatildeo da mateacuteria-prima

necessaacuteria para a fabricaccedilatildeo desses produtos tem ocasionado seacuterios danos ao ambiente natural

atraveacutes dos impactos ambientais que satildeo ―toda e qualquer alteraccedilatildeo oriunda das atividades

antropoloacutegicas capazes de modificar as caracteriacutesticas fiacutesicas quiacutemicas ou bioloacutegicas do meio

natural e social (SANTOS et al 2016 p 4) Destacam-se nesse processo extraccedilatildeo da

argila promovendo desmatamento acelerado degradaccedilatildeo das margens de rios e riachos e

337

degradaccedilatildeo de matas ciliares alteraccedilatildeo da paisagem de forma geral consumo da lenha

contribuindo para a devastaccedilatildeo das matas nativas queima de produtos gerando emissatildeo em

quantidades apreciaacuteveis de certos componentes gasosos como o monoacutexido de carbono

contribuindo para poluiccedilatildeo do ar e aquecimento global resiacuteduos natildeo reutilizaacuteveis no processo

produtivo ruiacutedos e poluiccedilatildeo sonora agravos agrave sauacutede humana seja de trabalhadores ou de

comunidades do entorno (ALVES 2017)

Poreacutem se as empresas contribuiacuterem para a incorporaccedilatildeo de processos produtivos mais

limpos atuarem no gerenciamento de seus impactos ambientais e adotarem medidas

mitigadoras de tais impactos a produccedilatildeo pode ocorrer com menores danos agraves populaccedilotildees e ao

meio ambiente numa maior sintonia com o desenvolvimento sustentaacutevel Essa anaacutelise estaacute

inteiramente relacionada ao que se denomina de Responsabilidade Socioambiental (RSA)

Conforme o Ministeacuterio do Meio Ambiente (MMA 2009) as questotildees que se referem ao tema

satildeo de acircmbito global e seu entendimento eacute distinto entre as empresas e organizaccedilotildees pois

dependem dos impactos e demandas impostas como os desafios sociais econocircmicos e

ambientais que devem ser encarados e resolvidos Vale ressaltar que mais explicitamente a

partir dos anos 1970 quando se comeccedila a construir a perspectiva de avaliaccedilatildeo do

desenvolvimento incorporando a loacutegica da preservaccedilatildeo ambiental que a constituiccedilatildeo e

adesatildeo de poliacuteticas e programas que envolvem a RSA tem sido crescente e eacute resultado na

maioria dos casos dos sistemas desiguais e instaacuteveis associados ao processo de globalizaccedilatildeo

das economias e da pressatildeo que foi feita por parte das organizaccedilotildees e movimentos sociais pela

avaliaccedilatildeo dos custos sociais e ambientais na dinacircmica dos sistemas produtivos

As empresas que adotam condutas de RSA aumentam o grau de desenvolvimento

social proteccedilatildeo ambiental e respeito aos direitos humanos traduzindo-se em um

gerenciamento responsaacutevel As organizaccedilotildees empresariais que investem nessas praacuteticas

desenvolvem a capacidade de provocar haacutebitos de cooperaccedilatildeo que vatildeo aleacutem do espaccedilo

interno estendendo-se tambeacutem ao ambiente externo aleacutem de possuir uma percepccedilatildeo

sistecircmica de sua atuaccedilatildeo (SAacute et al 2013)

Com base no exposto o objetivo geral da pesquisa eacute analisar a atividade de ceracircmica

vermelha e as medidas mitigadoras de impactos ambientais atraveacutes de um estudo de caso na

Ceracircmica Gomes de Mattos (CGM) em Crato (CE) na perspectiva de identificar accedilotildees de

RSA por parte da empresa em destaque Para isso foi desenvolvida pesquisa direta com

338

entrevistas direcionadas a gestores e aplicaccedilatildeo de questionaacuterio baseado no padratildeo de conduta

da empresa na assimilaccedilatildeo de praacuteticas de RSA

Eacute substancial destacar que a escolha da empresa CGM para a realizaccedilatildeo do estudo

aconteceu em virtude do destaque que a mesma vem apresentando nos uacuteltimos anos acerca da

adoccedilatildeo de processos produtivos mais limpos inclusive substituindo a lenha utilizada para a

queima dos produtos por biomassa proveniente do bagaccedilo de cana poacute de serra casca de

babaccedilu e sobras de poda de aacutervores Essa accedilatildeo permitiu a geraccedilatildeo de receita atraveacutes da venda

de creacuteditos de carbono para o Bando Mundial com cada creacutedito equivalendo a uma tonelada

de carbono que natildeo foi emitido (CARLETI 2013) Aleacutem disso a Sustainable Carbon (2015)

afirma que a CGM utiliza essa receita para investir na modernizaccedilatildeo da empresa e em

melhorias para os trabalhadores e comunidade do entorno com melhorias nas aacutereas sociais

(inclusatildeo social estiacutemulo ao esporte) ambientais (preservaccedilatildeo do patrimocircnio natural manejo

florestal) e econocircmicas (desenvolvimento tecnoloacutegico divulgaccedilatildeo de boas praacuteticas

ambientais)

Este trabalho estaacute segmentado em cinco seccedilotildees a primeira corresponde a introduccedilatildeo

do tema proposto a segunda aborda o referencial teoacuterico que traz um estudo sobre os

impactos ambientais provocados pela atividade ceramista e a relevacircncia da RSA a terceira

refere-se agrave metodologia utilizada que se trata de um estudo exploratoacuterio a quarta corresponde

aos resultados e discussotildees da pesquisa e a quinta apresenta as consideraccedilotildees finais sobre a

pesquisa

2 Referencial Teoacuterico

21 Impactos ambientais e medidas mitigadoras do setor de ceracircmica vermelha

Nas uacuteltimas deacutecadas a sociedade vem exercendo grande pressatildeo sobre empresas no

que concerne a melhorias das atividades produtivas com intuito de conter a inerente

devastaccedilatildeo acarretada ao meio ambiente Grande parte dos processos produtivos de

empresasinduacutestrias satildeo geradoras de impactos negativos ao ambiente natural devido ao uso

excessivo dos recursos naturais de maneira desproporcional agrave capacidade de renovaccedilatildeo

relacionados ainda ao consumo irracional e agrave maacute gestatildeo para distribuiccedilatildeo dos recursos

(CHAVES CASTELLO 2013)

Dentre os ramos produtivos destaca-se o setor de ceracircmica vermelha pela diversidade

das atividades que envolvem desde o lado artiacutestico com grande contribuiccedilatildeo esteacutetica ao caso

339

industrial em que a produccedilatildeo eacute composta de artefatos com valor de uso Este ramo produtivo

eacute grande consumidor de recursos naturais como minerais e vegetais e eacute constituiacutedo

majoritariamente por empresas de pequeno e meacutedio porte de acordo com o Serviccedilo

Brasileiro de Apoio agraves Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE 2014)

Grande parte das faacutebricas de ceracircmicas exprime ameaccedila ao equiliacutebrio e a qualidade do

meio ambiente como os desmatamentos de matas nativas relacionado ao consumo de

madeira (mateacuteria-prima muito utilizada para aquecimento dos fornos) a degradaccedilatildeo dos

solos com a extraccedilatildeo da argila o consumo exacerbado de aacutegua a produccedilatildeo de resiacuteduos

soacutelidos e as emissotildees de gases poluentes aleacutem da extinccedilatildeo de espeacutecies vegetais e animais da

regiatildeo explorada (SANTOS et al 2017) Souza Pereira e Santos (2006) apontam que os

impactos recorrentes da atividade ceramista tecircm graves consequecircncias ambientais pois

causam reduccedilotildees significativas dos recursos hiacutedricos perdas quiacutemicas e fiacutesicas dos solos e

altas emissotildees de gases como carbono e nitrogecircnio que satildeo prejudicais agrave sauacutede Nestas

condiccedilotildees eacute imprescindiacutevel uma atuaccedilatildeo mais eficiente das empresas no estabelecimento de

modelos de gestatildeo direcionados ao melhor funcionamento dos sistemas no que diz respeito

aos seus impactos socioambientais O quadro 1 apresenta os principais impactos ambientais

casados pela atividade ceramista com as respectivas medidas mitigadoras ou boas praacuteticas

ambientais

Quadro 1 ndash Principais impactos ambientais da induacutestria de ceracircmica vermelha e

medidas mitigadoras

Impactos ambientais Medidas mitigadorasboa praacutetica ambiental

Degradaccedilatildeo da aacuterea pela extraccedilatildeo da argila

Estudos preacutevios da mateacuteria-prima

Recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas (aplainamentoreflorestamento

de aacutereas)

Incorporaccedilatildeo de materiais alternativos agrave argila (desde que natildeo

comprometam a qualidade dos produtos)

Assoreamento de cursos dlsquoaacuteguas Drenagem para evitar que sejam atingidos cursos dlsquoaacutegua

Disseminaccedilatildeo de material particulado (poeira) a

partir da argila

Utilizaccedilatildeo de insumos locais

Cobertura da argila durante transporte em caminhotildees

Utilizaccedilatildeo de carros-pipa na lavra

Conservaccedilatildeo de argila com relativa umidade

Cobertura de bancos de argila com lonas etc

Otimizaccedilatildeo de layout

Alteraccedilatildeo da paisagem natural e desmatamento

pela extraccedilatildeo de lenha

Utilizaccedilatildeo de fontes alternativas como biomassa ou resiacuteduos de

outros setores

Utilizaccedilatildeo de lenha de manejo florestal

Emissatildeo de gases como CO CO2 e outros gases Manutenccedilatildeo constante de secadores e fornos

Aproveitamento de calor de processos de secagem artificial e

340

queima

(Combustiacuteveis foacutesseis intensificam emissotildees atraveacutes do SOx)

Uso de filtros em chamineacutesfornos com filtros

Utilizaccedilatildeo de insumos locais para diminuir emissotildees atraveacutes de

transporte

Manutenccedilatildeo constante de caminhotildees de transporte

Resiacuteduos como peccedilas defeituosas e quebradas

apoacutes processo de queima Cinzas

Tratamento adequado da argila principalmente durante a

laminaccedilatildeo

Transporte natildeo manual de peccedilas ao longo do processo

Controle de qualidade durante todo o processo produtivo

Otimizaccedilatildeo de layout

Treinamento constante da matildeo de obra

Uso de cinzas resultantes de queima de biomassa no solo

Ruiacutedos sonoros

Manutenccedilatildeo de equipamentos

Utilizaccedilatildeo de silenciadores

Utilizaccedilatildeo de EPIs pelos trabalhadores

Fonte FIEMG FEAM (2013) NUNES (2012) GRIGOLETTI (2001) ALVES (2017)

22 Responsabilidade socioambiental empresarial

O iniacutecio das discussotildees referentes agrave Responsabilidade Social remonta ao surgimento

das primeiras empresas mais precisamente na Era Moderna Pode-se considerar que

importante contribuiccedilatildeo dos estudos direcionados a esta questatildeo surgiu concomitantemente agrave

Revoluccedilatildeo Industrial com os pensamentos sociais de Robert Owen que idealizou

fundamentos para construccedilatildeo do conceito de Responsabilidade Social Empresarial (RSE) e

atuou como forte criacutetico do sistema capitalista de produccedilatildeo (FERREIRA GUERRA 2012)

Poreacutem passou a ter maior enfoque a partir das discussotildees acadecircmicas e poliacutetico-institucionais

associadas ao desenvolvimento sustentaacutevel que passa a contemplar em uma de suas

dimensotildees a preservaccedilatildeo do estado socioambiental para as futuras geraccedilotildees

Para Ferreira e Guerra (2012) eacute no ano de 1899 sobre autoria de Andrew Carnegie

que eacute publicado o livro Evangelho da Riqueza ao qual abordava a responsabilidade social

vinculada a definiccedilotildees paternalistas de caridade e zelo priorizando a necessidade de

promoccedilatildeo do bem-estar da coletividade Os autores afirmam ainda que mesmo com as

intensas manifestaccedilotildees sobre Responsabilidade Social no comeccedilo do seacuteculo XX eacute ―somente

em 1953 com o trabalho de Howard Bowen intitulado Responsabilidades Sociais do Homem

de Negoacutecios que foi feita uma anaacutelise mais aprofundada e criteriosa sobre o assunto (2012

p 9)

De acordo com Borger (2001) a definiccedilatildeo de Responsabilidade Social surgiu na

literatura em meados da deacutecada de 1950 nos Estados Unidos e Europa A grande apreensatildeo

dos pesquisadores da deacutecada estava relacionada a forte autonomia dos negoacutecios e de seu

341

poder perante a sociedade sem preocupaccedilatildeo com as perturbaccedilotildees ambientais geradas nas

atividades produtivas Nestas condiccedilotildees a ―[] responsabilidade social caracteriza-se por

atitudes e atividades baseadas em valores eacuteticos e morais com intuito de minimizar os

impactos negativos que as organizaccedilotildees causam ao ambiente em que estatildeo inseridas

(CABESTREacute GRAZIADEI POLESEL FILHO 2008 p 42)

Para Borger (2001 p 15)

O conceito de responsabilidade social empresarial estaacute relacionado a diferentes

ideacuteias Para alguns ele estaacute associado agrave ideacuteia de responsabilidade legal para outros

pode significar um comportamento socialmente responsaacutevel no sentido eacutetico e para

outros ainda pode transmitir a ideacuteia de contribuiccedilatildeo social voluntaacuteria e associaccedilatildeo a

uma causa especiacutefica Trata-se de um conceito complexo e dinacircmico com

significados diferentes em contextos diversos Portanto natildeo eacute possiacutevel estabelecer

um manual para as empresas visando adotar praacuteticas para uma gestatildeo socialmente

responsaacutevel sem antes compreender a sua evoluccedilatildeo e dinacircmica

Na visatildeo de Kochhann et al (2016) o uso de praacuteticas socioambientais estaacute vinculado a

um ―papel social das empresas tendo em vista sua capacidade de mudanccedila da realidade local

atraveacutes de accedilotildees impostas diariamente no ambiente organizacional Aleacutem dos benefiacutecios

gerados todas as atitudes de cunho social e ambiental ajudam a promover uma nova

perspectiva da empresa por parte do consumidor o que corrobora para o aumento da demanda

de bens e serviccedilos e da proacutepria competitividade empresarial

Na interpretaccedilatildeo de Saacute et al (2013) empresas que procuram investir em accedilotildees de

responsabilidade socioambiental colaboram para o desempenho social a proteccedilatildeo ambiental e

o respeito com os diretos humanos apontando portanto uma gestatildeo de qualidade No

entanto eacute importante perceber que no mundo dos negoacutecios as praacuteticas de responsabilidade

socioambiental exigem medidas com grau elevado de complexidade que acarreta um volume

expressivo de recursos para efetivaccedilatildeo de programas tornando-se por vezes inexistentes em

empresas menores devido suas limitaccedilotildees quer sejam operacionais financeiras ou

tecnoloacutegicas

Assim segundo Gonccedilalves (2006 p 5) responsabilidade socioambiental eacute

[] a forma de gestatildeo que se define pela relaccedilatildeo eacutetica e transparente da empresa

com todos os puacuteblicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas

empresariais compatiacuteveis com o desenvolvimento sustentaacutevel da sociedade

preservando recursos ambientais e culturais para geraccedilotildees futuras respeitando a

diversidade e promovendo a reduccedilatildeo das desigualdades sociais

Para Ashley et al (2005) as organizaccedilotildees teratildeo que passar por um processo de

readaptaccedilatildeo para equacionar a necessidade de obter lucros estar em pleno acordo com as leis

possuir um comportamento eacutetico e se abarcar em alguma filantropia ao se inserir em

342

atividades que causem ameaccedila ao meio ambiente Os autores apontam ainda que ―mudanccedilas

como nas formas que satildeo concebidos e comercializados os produtos e serviccedilos trazem

consigo novas questotildees eacuteticas com as quais a organizaccedilatildeo deve aprender a lidar (2005 p 5)

O conceito de RSA utilizado como referecircncia neste artigo corresponde ao proposto em

Alves (2017) o qual pressupotildee uma cultura organizacional fundamentada em trecircs grandes

princiacutepios a) uma relaccedilatildeo eacutetica e transparente da empresa com todas as partes interessadas

(stakeholders) b) um compromisso com uma produccedilatildeo sustentaacutevel refletido num ambiente

ecologicamente equilibrado e socialmente justo que vai aleacutem das exigecircncias e demandas

legalmente constituiacutedas c) atuaccedilatildeo em sintonia com o desenvolvimento sustentaacutevel

3 Metodologia

A pesquisa eacute de origem primaacuteria obtida por meio da aplicaccedilatildeo de questionaacuterio junto agrave

Ceracircmica Gomes de Mattos (CGM) no segundo semestre do ano de 2016 localizada no

municiacutepio de Crato (CE) A anaacutelise da implementaccedilatildeo de medidas mitigadoras de impactos

ambientais ou que representem o compromisso do setor com boas praacuteticas ambientais

expressos atraveacutes de Responsabilidade Socioambiental eacute feita levando em consideraccedilatildeo

dimensotildees componentes da RSA propostas conforme Alves (2017) Compromisso com a

Melhoria da Qualidade Ambiental (CMQA) Educaccedilatildeo e Conscientizaccedilatildeo Ambiental

(ECAM) Gerenciamentos dos Impactos Sobre o Meio Ambiente (GISMA) Minimizaccedilatildeo de

Entradas e Saiacutedas (MINIES) Compromisso com a Melhoria do Ambiente de Trabalho

(CMAT) e Compromisso com a Responsabilidade Social (CRS) A aplicaccedilatildeo do questionaacuterio

utilizou-se de tabela do tipo likert Nunca Quase Nunca Agraves Vezes Quase Sempre e Sempre

correspondente ao grau de utilizaccedilatildeo dos respectivos indicadores indicando portanto um

padratildeo de conduta da empresa em questatildeo relativo agrave praacuteticas de RSA

O meacutetodo de anaacutelise refere-se a uma pesquisa exploratoacuteria que tem como objetivo de

acordo com Gil (2008 p 27) ―modificar conceitos e ideias tendo em vista a formulaccedilatildeo de

problemas mais precisos ou hipoacuteteses pesquisaacuteveis para estudos posteriores Ademais o

autor ainda coloca que geralmente esse tipo de pesquisa inclui levantamento bibliograacutefico e

documental entrevistas de tipo natildeo padronizadas e estudos de caso

4 Resultados e discussotildees

41 Indicadores para a caracterizaccedilatildeo geral do municiacutepio de Crato

343

A tabela 1 apresenta os principais indicadores que caracterizam um municiacutepio em

termos demograacuteficos econocircmicos sociais emprego formalizado e infraestrutura municipal

aqui apresentado para o municiacutepio de Crato Esses indicadores satildeo de suma importacircncia pois

satildeo capazes de apontar para o grau de desenvolvimento local em seus aspectos social e

econocircmico

Tabela 1 ndash Caracterizaccedilatildeo socioeconocircmica do municiacutepio de Crato ndash Indicadores

selecionados

Municiacutepio Caracterizaccedilatildeo Municipal

Crato

Indicadores Demograacuteficos (Ano 2010)

Populaccedilatildeo Urbana Populaccedilatildeo Rural Total Taxa Cres

20002010

100916 8311 20512 1689 121428 150

PIB Setorial (Ano 2015 expressos em R$ mil)

Agropecuaacuteria Induacutestria Serviccedilos

4700938 17608024 106684471

Emprego Formal por Segmento (Ano 2016)

Ex

mineral

Ind de

trans

Serv ind

de utilid

puacuteblica

Constr

Civil Comeacutercio Serviccedilos

Adm

Puacuteblica

Agropecuaacuteria

extraccedilatildeo vegetal caccedila

e pesca

65 4292 67 862 4097 5100 3262 96

Indicadores Socioeconocircmicos (Ano 2010)

Rend

Nominal

Meacutedio

Pop

Extrem

Pobre ()

PIB Per Capita Taxa de

Analf

Meacutedicos

(por mil

hab)

Taxa

Mort

Infantil

Dom em Cond

Inad de Mora

83281 1105 R$ 811291 1496 135 2154 1106

Infraestrutura (Ano 2010)

Esgotamento Sanitaacuterio Abastecimento de Aacutegua Coleta de Lixo

Taxa de Cobertura

Urbana ()

Domiciacutelios que obteacutem aacutegua por

poccedilo nascente ou outra forma Domiciacutelios sem lixo coletado

2650 5027 5389

Rendimento nominal meacutedio mensal das pessoas de 10 anos ou mais de idade com rendimento (R$)

(Economicamente ativas e natildeo economicamente ativas)

Fonte Elaboraccedilatildeo dos autores a partir de dados do Censo Demograacutefico do IBGE (2010) IBGE Cidades (2015)

RAISMTE (2016) IBGE Cidades (2010) IPECE (2011)

Os indicadores demograacuteficos apontam elementos relevantes e caracteriacutesticos do

municiacutepio de Crato indicando que aproximadamente 83 da sua populaccedilatildeo reside na zona

urbana que comporta em termos absolutos 100916 pessoas ao passo que a zona rural abriga

apenas cerca de 17 da populaccedilatildeo do municiacutepio sendo a primeira quase cinco vezes superior

a segunda (20512 habitantes) Eacute importante ressaltar que natildeo houve um grande crescimento

populacional observado em um periacuteodo de tempo de 10 anos apresentando uma taxa de

crescimento populacional de 150 entre os anos de 2000 e 2010

344

Em termos econocircmicos faz-se necessaacuterio uma anaacutelise do Produto Interno Bruto (PIB)

setorial que evidencia uma participaccedilatildeo consideraacutevel do setor de serviccedilos na composiccedilatildeo do

PIB municipal de 8271 seguido do segmento industrial (1365) e da agropecuaacuteria

(364) Com relaccedilatildeo agrave distribuiccedilatildeo formal do emprego observa-se que 7561 do nuacutemero

de pessoas empregadas no municiacutepio correspondem aos setores de serviccedilos induacutestria de

transformaccedilatildeo e comeacutercio apontando respectivamente para 2859 dos empregos 2406 e

2296

Por sua vez os dados socioeconocircmicos mostram que em alguns casos o municiacutepio de

Crato apresenta melhores indicadores sociais que o estado do Cearaacute como um menor iacutendice

de pessoas em condiccedilotildees de extrema pobreza com um percentual de 1105 para o municiacutepio e

1778 para o estado menor taxa de analfabetismo (1496 contra 1878 do Cearaacute) e maior

quantidade de meacutedicos por mil habitantes (135 contra 121 do estado) Poreacutem o municiacutepio de

Crato apresenta uma maior taxa de mortalidade infantil de 21 54 enquanto o Cearaacute possui

uma taxa de 1311

Apesar desses resultados percebe-se que ainda existem importantes problemas a

serem solucionados no municiacutepio pois ainda eacute muito pequena a taxa de cobertura urbana

referente ao esgotamento sanitaacuterio de apenas 2650 1482 dos domiciacutelios particulares

permanentes ainda adquirem aacutegua de poccedilo nascente ou outra forma e 1888 dos domiciacutelios

natildeo satildeo beneficiados com a coleta de lixo pelo serviccedilo puacuteblico Esses indicadores apontam

para a existecircncia de uma vulnerabilidade socioambiental no municiacutepio

42 Accedilotildees ambientais da empresa CGM

As tabelas seguintes expotildeem os indicadores utilizados durante a pesquisa nas

dimensotildees propostas para avaliaccedilatildeo da RSA na Ceracircmica Gomes de Mattos (CGM)

localizada no municiacutepio de Crato (CE)

Os indicadores desta dimensatildeo sinalizam para a incorporaccedilatildeo de uma cultura

ambiental na empresa o que se reflete em ganhos diretos de melhoria da qualidade ambiental

A execuccedilatildeo de um planejamento estrateacutegico que por si soacute jaacute constitui um diferencial de

competitividade desempenho e produtividade da empresa inclui a variaacutevel ambiental na

atuaccedilatildeo empresarial isso se reflete na existecircncia de uma poliacutetica ambiental ativa na CGM

envolvendo pesquisas estabelecimento de metas indicadores accedilotildees de proteccedilatildeo do meio

ambiente e avaliaccedilatildeo de impacto e danos

345

Tabela 2 ndash Situaccedilatildeo da empresa CGM em relaccedilatildeo aos indicadores de Compromisso com

a Melhoria da Qualidade Ambiental (CMQA)

Indicador Nunca Quase

Nunca

Agraves

Vezes

Quase

Sempr

e

Sempre

Implementaccedilatildeo de programasaccedilotildees internas de

melhoramento e proteccedilatildeo do meio ambiente

Participaccedilatildeo de eventoscongressos que tratem do

tema ambiental

Accedilotildees de parceria e cooperaccedilatildeo com outros

produtores para melhoria ambiental

A questatildeo ambiental estaacute presente no planejamento

estrateacutegico da empresa

Ao desenvolver um novo negoacutecio a empresa leva em

conta os danos ambientais que o mesmo pode causar

Poliacutetica explicita de natildeo-utilizaccedilatildeo de materiais e

insumos provenientes de exploraccedilatildeo ilegal de

recursos naturais (como madeira animais etc)

Apoio a pesquisas para o desenvolvimento de

tecnologias menos danosas ao meio ambiente

Estabelecimento de metas relativas agrave utilizaccedilatildeo de

mateacuterias-primas e destinaccedilatildeo de resiacuteduos

Existecircncia de poliacutetica ambiental

Elaboraccedilatildeo de indicadores internos de avaliaccedilatildeo da

performance ambiental

Dada a existecircncia de poliacutetica ambiental a mesma eacute

de conhecimento de todos os empregados

Participaccedilatildeo em programas de certificaccedilatildeo creacuteditos

de carbono etc

Participaccedilatildeo em algum programa externo de

avaliaccedilatildeo de conduta ambiental

Fonte Pesquisa direta (2016)

Ressalta-se ser de fundamental importacircncia o uso de praacuteticas sustentaacuteveis nos

processos produtivos com intuito de conter os danos ambientais causados no decorrer das

atividades realizadas Em relaccedilatildeo agrave dimensatildeo CMQA (Tabela 2) portanto constata-se o

amplo comprometimento da empresa CGM em atuar de maneira eficiente e ambientalmente

responsaacutevel Todos os indicadores apontaram que a empresa ―sempre executa os criteacuterios

estabelecidos exceto o que se refere agraves accedilotildees de parceria e cooperaccedilatildeo com outros produtores

para melhoria ambiental sendo respondido que ―nuncalsquo satildeo exercidas tais accedilotildees Destacam-se

a participaccedilatildeo em programas de certificaccedilatildeo como a venda de creacuteditos no mercado de

carbono que parece ter se constituiacutedo em forte impulso agrave promoccedilatildeo de um produto

ambientalmente diferenciado por parte da empresa resultando em amplo conjunto de

intervenccedilotildees atraveacutes de boas praacuteticas ambientais sistemas eficientes de produccedilatildeo e medidas

mitigadoras de impacto

346

Trabalhar com praacuteticas ambientais no local de trabalho pode exigir planejamento

estrateacutegico para delimitar metas de aprendizado que possam se expandir a outros espaccedilos

Referente agrave dimensatildeo de Educaccedilatildeo e Conscientizaccedilatildeo Ambiental a empresa apresenta

atuaccedilatildeo ativa (Tabela 3) podendo-se constatar que a mesma sempre promove campanhas

educativas relacionadas ao meio ambiente dirigidas a fornecedores e comunidades e quase

sempre com seus empregados bem como participa de projetos educacionais em parceria com

organizaccedilotildees natildeo governamentais e ambientalistas poreacutem segundo o que foi indicado nunca

foram realizadas campanhas de conscientizaccedilatildeo e educaccedilatildeo ambiental dirigidas a

consumidores o que pode representar uma perda do ponto de vista do marketing institucional

e para a formaccedilatildeo de uma cultura ambiental do proacuteprio consumidor que teria a possibilidade

de desenvolver accedilotildees conscientes podendo essa conscientizaccedilatildeo exercer efeitos de

espraiamentolsquo para outros setores em geral Nessa mesma perspectiva a empresa ―agraves vezes

exerce atuaccedilatildeo para o consumo consciente em sua intervenccedilatildeo no circuito interno

Tabela 3 ndash Situaccedilatildeo da empresa CGM em relaccedilatildeo aos indicadores de Educaccedilatildeo e

Conscientizaccedilatildeo Ambiental (ECAM)

Indicador Nunca Quase

Nunca

Agraves

Vezes

Quase

Sempre Sempre

Accedilotildees voltadas para a proteccedilatildeo ou qualidade do meio

ambiente

Campanhas de conscientizaccedilatildeo e educaccedilatildeo ambiental

dirigidas a familiares de empregados

Campanhas de conscientizaccedilatildeo e educaccedilatildeo ambiental

dirigidas a fornecedores

Campanhas de conscientizaccedilatildeo e educaccedilatildeo ambiental

dirigidas a consumidores

Campanhas de conscientizaccedilatildeo e educaccedilatildeo ambiental

dirigidas a comunidades

Campanhas (apoia ou participa) de projetos

educacionais em parceria com organizaccedilotildees natildeo

governamentais e ambientalistas

Campanhas educativas regulares com seus

empregados de incentivos sobre temas ambientais

Campanhas perioacutedicas internas junto a seus

funcionaacuterios para incentivar a reciclagem

Campanhas perioacutedicas internas de reduccedilatildeo do

consumo de aacutegua e de energia

Campanhas perioacutedicas internas de educaccedilatildeo para o

consumo consciente

Fonte Pesquisa direta (2016)

347

Quanto agrave preocupaccedilatildeo com a educaccedilatildeo familiar dos trabalhadores ―quase sempre

foram procedidas campanhas de conscientizaccedilatildeo e educaccedilatildeo ambiental dirigidas a familiares

de empregados reafirmando o compromisso da empresa quanto agrave problemaacutetica ambiental

A dimensatildeo GISMA (Tabela 4) aponta que existe todo suporte no que tange ao

gerenciamento de poliacuteticas que minimizem os impactos ambientais da ceracircmica Todo o

procedimento de avaliaccedilatildeo substituiccedilatildeo de equipamentos e manutenccedilotildees perioacutedicas

cumprimento das exigecircncias legais atuaccedilatildeo para correccedilatildeo de danos ambientais informaccedilotildees

aos consumidores e clientes discussatildeo e apresentaccedilatildeo com empregados visando diminuir os

impactos ambientais sempre foi cumprido pela empresa Apesar disto ainda eacute deficiente a

situaccedilatildeo quando a discussatildeo ambiental com fornecedores consumidores e as comunidades

indicado pela empresa que ―agraves vezes tais metas satildeo efetuadas

Tabela 4 ndash Situaccedilatildeo da empresa CGM em relaccedilatildeo aos indicadores de Gerenciamento dos

Impactos sobre o Meio Ambiente (GISMA)

Indicador Nunca Quase

Nunca

Agraves

Vezes

Quase

Sempre Sempre

Avaliaccedilatildeo dos impactos de suas atividades e de seus

produtos ou serviccedilos sobre o meio ambiente

Substituiccedilatildeo de equipamentos e atualizaccedilotildees

tecnoloacutegicas visando agrave diminuiccedilatildeo de seus impactos

ambientais

Manutenccedilotildees perioacutedicas de equipamentos visando agrave

diminuiccedilatildeo de seus impactos ambientais

Cumprimento das exigecircncias legais no que tange agraves

normas ambientais

Atuaccedilatildeo para correccedilatildeo de danos ambientais

Informaccedilotildees aos consumidores e clientes sobre

danos ambientais resultantes do uso e da destinaccedilatildeo

final dos seus produtos

Discussatildeo e apresentaccedilatildeo com empregados dos

impactos ambientais causados por seus produtos ou

serviccedilos

Discussatildeo e apresentaccedilatildeo com consumidores e

clientes dos impactos ambientais causados por seus

produtos ou serviccedilos

Discussatildeo e apresentaccedilatildeo com fornecedores dos

impactos ambientais causados por seus produtos ou

serviccedilos

Discussatildeo e apresentaccedilatildeo com comunidades dos

impactos ambientais causados por seus produtos ou

serviccedilos

Uso Sustentaacutevel da Biodiversidade e Restauraccedilatildeo

dos Habitats Naturais

Adoccedilatildeo de medidas de reciclagem e reuso de perdas

e peccedilas defeituosas

348

Compras de fornecedores que comprovadamente

tenham boa conduta ambiental

Fonte Pesquisa direta (2016)

Quanto aos indicadores de Minimizaccedilatildeo de Entradas e Saiacutedas que denotam a

preocupaccedilatildeo com menores impactos relativos ao uso de insumos e os processos resultantes do

sistema de produccedilatildeo a empresa apresenta seus melhores resultados (Tabela 5) O uso

consciente dos recursos naturais e fontes energeacuteticas o monitoramento do processo produtivo

as praacuteticas de controle de qualidade e de desperdiacutecio as boas praacuteticas de destinaccedilatildeo dos

resiacuteduos todos estes quesitos foram devidamente cumpridos pela CGM (com o padratildeo de

conduta ―sempre na totalidade dos indicadores) o que denota a eficiecircncia do sistema de

gestatildeo da empresa

Tabela 5 - Situaccedilatildeo da empresa CGM em relaccedilatildeo aos indicadores de Minimizaccedilatildeo de

Entradas e Saiacutedas (MINIES)

Indicador Nunca Quase

Nunca

Agraves

Vezes

Quase

Sempre Sempre

Utilizaccedilatildeo de fontes alternativas de energia e de

mateacuterias-primas nocivas ao meio ambiente

Economia de gastos com energia eleacutetrica

Uso racional de aacutegua

Mediccedilatildeo e monitoramento perioacutedico dos aspectos

ambientais significativos relacionados ao consumo

de recursos naturais e agrave produccedilatildeo de resiacuteduos

estabelecendo periodicamente novas metas

Medidas para a reduccedilatildeo da produccedilatildeo de resiacuteduos

(soacutelidos liacutequidos orgacircnicos etc)

Utilizaccedilatildeo de produtos advindos de atividades que

natildeo prejudiquem o meio ambiente

Destinaccedilatildeo de resiacuteduos (soacutelidos liacutequidos orgacircnicos

etc) de forma a natildeo agredir o meio ambiente

Submissatildeo de produtos acabados a ensaios

mecacircnicos para controle da qualidade

Fonte Pesquisa direta (2016)

Em relaccedilatildeo aos indicadores de Compromisso com a Melhoria do Ambiente de

Trabalho (Tabela 6) ―sempre foi realizado o recebimento adequado de materiais bem como

o armazenamento de mateacuteria-prima em estado cru No que diz respeito agraves condiccedilotildees de

trabalho ―quase sempre haacute cuidados com a sauacutede dos trabalhadores diaacutelogo e gestatildeo

participativa accedilotildees para inibir o uso do trabalho infantil e atraccedilatildeo e retenccedilatildeo de matildeo-de-obra

especializada Ainda satildeo falhas as formas de parcerias com centros para capacitaccedilatildeo

profissional assistecircncia teacutecnica e instituto de ensino e pesquisa o que poderia ser resolvido

por meio de maiores interaccedilotildees e cooperaccedilatildeo entre a empresa e oacutergatildeos de ensino teacutecnico ou

349

superior instalados na regiatildeo Isso eacute constatado apesar da expansatildeo na oferta de ensino em

todas as modalidades na Regiatildeo Metropolitana do Cariri (RMC)

Tabela 6 ndash Situaccedilatildeo da empresa CGM em relaccedilatildeo aos indicadores de Compromisso com

a Melhoria do Ambiente de Trabalho (CMAT)

Indicador Nunca Quase

Nunca

Agraves

Vezes

Quase

Sempre Sempre

Recebimento e manuseio adequado de materiais

Acondicionamento adequado de argila e demais

insumos

Armazenamento do produto e de peccedilas cruas em

local delimitado organizado com piso uniforme e

coberto

Armazenamento adequado dos resiacuteduos em

depoacutesitos fixos ou temporaacuterios

impermeabilizados e cobertos

Otimizaccedilatildeo do layout

Cuidados com a sauacutede seguranccedila e condiccedilotildees de

trabalho

Compromisso com o desenvolvimento profissional

e a empregabilidade

Poliacutetica de remuneraccedilatildeo benefiacutecios e carreira

Diaacutelogo e gestatildeo participativa

Cumprimento de exigecircncias legais relativas ao

trabalho

Accedilotildees para inibir o uso do trabalho infantil

inclusive em associaccedilatildeo com outras organizaccedilotildees

Atraccedilatildeo e retenccedilatildeo de matildeo-de-obra especializada

Formas de cooperaccedilatildeo ou parcerias entre

produtoresdestes com centros de capacitaccedilatildeo

profissional assistecircncia teacutecnica e instituto de

ensino e pesquisa

Fonte Pesquisa direta (2016)

Com base nas informaccedilotildees prestadas eacute notaacutevel o Compromisso com a

Responsabilidade Social exercida pela empresa CGM (Tabela 7) todo conjunto de praacuteticas

que visa o envolvimento e financiamento aos trabalhadores e comunidades de accedilotildees sociais

―sempre e ―quase sempre satildeo prestadas pela empresa o que mostra a importacircncia dada a

processos voltados agrave sociabilidade protagonismo social ou que contribuam para a formaccedilatildeo

cidadatilde Esse conjunto de accedilotildees contribui para o desenvolvimento humano e garantem

oportunidades de inclusatildeo social contribuindo tambeacutem para que seja despertado o espiacuterito

interativo cooperativo e de promoccedilatildeo comunitaacuteria

350

Tabela 7 ndash Situaccedilatildeo da empresa CGM em relaccedilatildeo aos indicadores de Compromisso com

a Responsabilidade Social (CRS)

Indicador Nunca Quase

Nunca

Agraves

Vezes

Quase

Sempre Sempre

Participaccedilatildeo em projetos sociais

governamentais

Envolvimento e financiamento de accedilotildees sociais

ndash trabalhadores

Envolvimento e financiamento de accedilotildees sociais

ndash comunidades

Accedilotildees praacuteticas relativas agrave lazer cultura e

educaccedilatildeo fiacutesica

Accedilotildees voltadas para a formaccedilatildeo da cidadania

Gerenciamento do impacto da empresa na

comunidade de entorno

Relaccedilotildees com organizaccedilotildees locais

Fornecedores observam requisitos

socioambientais

Criteacuterios de Seleccedilatildeo e Avaliaccedilatildeo de

Fornecedores

Estrateacutegia de governanccedila e transparecircncia de

sua gestatildeo socioambiental

Diaacutelogo e engajamento das partes interessadas

Compromisso com a natildeo discriminaccedilatildeo e

promoccedilatildeo da equidade racial e de gecircnero

Preocupaccedilatildeo mais estrutural com o

desenvolvimento local orientaccedilotildees relativas agrave

estrutura produtiva e agrave gestatildeo empresarial de

forma geral

Fonte Pesquisa direta (2016)

Apesar dos excelentes resultados da empresa cabe mencionar que ainda haacute

potencialidade de progresso quanto agrave preocupaccedilatildeo mais estrutural com o desenvolvimento

local ao qual foi respondido que ―agraves vezes esta praacutetica eacute cumprida e que haacute muito a se

construir no sentido de um maior controle sobre os impactos gerados pela empresa na

comunidade de entorno onde ―nunca foram realizadas accedilotildees nesta direccedilatildeo

5 Consideraccedilotildees finais

O meio ambiente eacute muito afetado pela atividade ceramista principalmente por aquela

que natildeo emprega as boas praacuteticas ambientais que visam reduzir os efeitos negativos e

comprometedores da possibilidade de vida no planeta Essa temaacutetica tornou-se bastante

discutida nos uacuteltimos anos e ganhou certa atenccedilatildeo em virtude das seacuterias consequecircncias

observadas mundialmente dentre elas o aquecimento global Passou-se portanto a pensar

tambeacutem no desenvolvimento sustentaacutevel como uma forma de conciliar a sustentabilidade nos

351

planos econocircmico social ambiental e institucional Poreacutem ainda natildeo foram disseminadas

por parte das organizaccedilotildees empresariais praacuteticas efetivas ou sistemas de gestatildeo que

contemplem mais explicitamente a preocupaccedilatildeo com a gestatildeo ambiental

Desta forma apesar dos avanccedilos obtidos nos uacuteltimos anos quanto agrave implementaccedilatildeo de

praacuteticas empresariais socialmente corretas a Responsabilidade Socioambiental em seu

caraacuteter sistecircmico englobando as esferas social ambiental eacutetica e econocircmica ainda parece ter

um longo caminho a ser percorrido e o desenvolvimento de accedilotildees voltadas a estes fins vem

sendo demasiadamente exercidas pelas empresas em parte por exigecircncias legais de

autoridades governamentais como tambeacutem pela proacutepria sociedade por meio de pressotildees por

uma gestatildeo mais rigorosa quanto aos impactos sociais e ambientais provocados pelos sistemas

econocircmicos

Por meio dos indicadores utilizados na pesquisa pode-se constatar que a Ceracircmica

Gomes de Mattos prioriza o estabelecimento de estrateacutegias direcionadas agrave preservaccedilatildeo

ambiental que envolvem o gerenciamento dos impactos produzidos pela empresa a educaccedilatildeo

ambiental trabalhada dentro e fora do local de trabalho concedendo oportunidade de

conhecimento aos trabalhadores familiares e comunidades circunvizinhas quanto agrave

importacircncia de um ambiente equilibrado bem como a minimizaccedilatildeo de perdas nos processos

produtivos e o controle na destinaccedilatildeo adequada de resiacuteduos produzidos

No que concerne ao indicador de Responsabilidade Social a empresa apresenta bons

resultados em quase todos os criteacuterios traccedilados no estudo Esta situaccedilatildeo soacute confirma o

compromisso social da empresa com os trabalhadores fornecedores e comunidades em

promover accedilotildees esportivas culturais e de lazer que geram inclusatildeo e garante a formaccedilatildeo

cidadatilde de todos Eacute pertinente mencionar que mesmo com todas as contribuiccedilotildees promovidas

ainda haacute dificuldades em contornar a situaccedilatildeo dos impactos gerados pela empresa na

comunidade do entorno sendo necessaacuterio planejar novas metas que contribuam para o avanccedilo

desse indicador

Portanto considerando o papel exercido pela CGM pode-se concluir que as boas

praacuteticas socioambientais exercidas pela empresa condizem com o novo modelo de

gerenciamento empresarial priorizando a responsabilidade ambiental e social das

organizaccedilotildees como tambeacutem o lado eacutetico e cultural das atividades produtivas

352

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355

TURISMO COMUNITAacuteRIO ESTUDO DE CASO DA COOPERATIVA MISTA DE

PAIS E AMIGOS DA FUNDACcedilAtildeO CASA GRANDE - COOPAGRAN NO

MUNICIacutePIO DE NOVA OLINDA ndash CE

MARIANY LOPES LOPES DA SILVA (Graduada em Economia pela Universidade Regional do Cariri ndash URCA E-mail

maryanyneguinhahotmailcom)

ADRIANA CORREIA LIMA FRANCA

(Mestre em Desenvolvimento Regional Sustentaacutevel pela Universidade Federal do Cearaacute ndash

UFC Professora Assistente do Departamento de Economia da Universidade Regional do

Cariri ndash URCA E-mail dricacorreiayahoocombr)

CHRISTIANE LUCI BEZERRA ALVES

(Doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente docente do Departamento de Economia da

Universidade Regional do Cariri ndash URCA E-mail chrislucigmailcom)

JULIETE AQUINO DA SILVA

(Graduada em Economia pela Universidade Regional do Cariri ndash URCA E-mail

jaquinosilva22gmailcom)

NAYANA TAVARES FEITOSA

(Estudante do Curso de Ciecircncias Econocircmicas da Universidade Regional do Cariri ndash URCA

E-mail nayana_tavareshotmailcom)

356

TURISMO COMUNITAacuteRIO ESTUDO DE CASO DA COOPERATIVA MISTA DE

PAIS E AMIGOS DA FUNDACcedilAtildeO CASA GRANDE - COOPAGRAN NO

MUNICIacutePIO DE NOVA OLINDA ndash CE

RESUMO

Nos uacuteltimos anos o Turismo de Base Comunitaacuteria vem se desenvolvendo no municiacutepio de

Nova Olinda ndash CE Confirmando esta realidade foi criada a Cooperativa Mista dos Pais e

Amigos da Casa Grande - COOPAGRAN formada pelos pais das crianccedilas e adolescentes da

Fundaccedilatildeo Casa Grande As atividades realizadas satildeo voltadas para a dinamizaccedilatildeo da renda

das famiacutelias e troca de saberes Desta forma este trabalho objetiva identificar os reflexos

socioeconocircmicos das poliacuteticas de cultura da Fundaccedilatildeo Casa Grandes tendo como foco a

COOPAGRAN no municiacutepio de Nova Olinda ndash Cearaacute Esta pesquisa eacute de natureza

bibliograacutefica e de campo com caraacuteter exploratoacuterio-descritivo e abordagem quantitativa e

qualitativa Os resultados apontaram que 90 dos envolvidos na cooperativa satildeo do sexo

feminino e apenas 10 do sexo masculino sinalizando para a importacircncia do

empreendedorismo feminino A maioria dos participantes da cooperativa tinha mais de 40

anos de idade Os dados da pesquisa demonstraram o baixo niacutevel de instruccedilatildeo dos membros

da cooperativa No que se refere agrave geraccedilatildeo de renda observou-se a importacircncia das atividades

ligadas ao TBC para complementaccedilatildeo da renda das famiacutelias inseridas na COOPAGRAN

confirmando que esse tipo de turismo alavanca o desenvolvimento econocircmico e social do

municiacutepio de Nova Olinda ndash CE

Palavras-chave Turismo de Base Comunitaacuteria Fundaccedilatildeo Casa Grande COOPAGRAN

ABSTRACT

In recent years Community Based Tourism has been developing in the municipality of Nova

Olinda - CE Confirming this reality the COOPAGRAN formed by the parents of the

children of the Casa Grande Foundation was created where activities are carried out to

increase income and exchange knowledge In this way this work aims to identify the

socioeconomic repercussions of the culture policies of the Casa Grandes Foundation focusing

on COOPAGRAN in the municipality of Nova Olinda - Cearaacute This research is of a

bibliographic and field nature with an exploratory-descriptive character and a quantitative

and qualitative approach The results showed that 90 of those involved in the cooperative

are female and only 10 are male signaling the importance of female entrepreneurship Most

cooperative participants were over 40 years of age The survey data showed the low level of

education of cooperative members Regarding income generation it was observed the

importance of the activities related to the TBC to complement the income of families inserted

in COOPAGRAN confirming that this type of tourism leverages the economic and social

development of the municipality of Nova Olinda - CE

Keywords Community Based Tourism Casa Grande Foundation COOPAGRAN

357

1 INTRODUCcedilAtildeO

A Globalizaccedilatildeo ampliou as facilidades de comunicaccedilatildeo por meio de uma rede de

conexatildeo deixando a distacircncia cada vez menor gerando maior rapidez e facilidade nas relaccedilotildees

culturais e econocircmicas Percebe-se assim que as diferentes culturas e costumes podem se

interagir sem que haja a necessidade de uma integraccedilatildeo territorial Poreacutem essa integraccedilatildeo

global e virtual leva muitas vezes ao esquecimento e a natildeo preservaccedilatildeo do sentido histoacuterico

vivenciado por cada indiviacuteduo dentro da sua cultura (ARAUJO 2017)

O turismo tem apresentado uma significativa forccedila enquanto fenocircmeno social e

econocircmico estando apto a gerar impactos de diferentes magnitudes na economia local

regional nacional assim como tambeacutem no meio ambiente e no meio sociocultural poreacutem eacute

de suma importacircncia o desenvolvimento dessa atividade para a manutenccedilatildeo da cultura de

determinados lugares assim como para a sobrevivecircncia de outras que dependem do turismo

para geraccedilatildeo de renda (BRASIL 2012)

Ele eacute gerado pelo deslocamento de pessoas geralmente motivadas por algum

interesse Esse interesse tem ocasionado uma crescente demanda para o turismo cultural que

estaacute voltado para o conhecimento dos costumes e tradiccedilotildees de monumentos histoacutericos e de

representaccedilotildees artiacutesticas ou seja da identidade cultural do lugar

Seguindo essa tendecircncia o Municiacutepio de Nova Olinda eacute um local de forte

representatividade cultural e tornou-se um ambiente atraente e propiacutecio a receber turistas

transformando-se assim em uma das cidades Indutora do Turismo Nacional onde se destaca

tambeacutem atraveacutes do Turismo de Base Comunitaacuteria realizado pela Fundaccedilatildeo Casa Grande

Desta forma este trabalho tem como objetivo identificar os reflexos socioeconocircmicos

das poliacuteticas de cultura da Fundaccedilatildeo Casa Grande tendo como foco a Cooperativa Mista de

Pais e Amigos da Fundaccedilatildeo Casa Grande - COOPAGRAN no municiacutepio de Nova Olinda -

CE Esta pesquisa torna-se relevante ao oferecer subsiacutedios para orientar as poliacuteticas de cultura

sobre o turismo do municiacutepio de Nova Olinda-CE como tambeacutem seus reflexos no

desenvolvimento e diversificaccedilatildeo na geraccedilatildeo de emprego e renda jaacute que o municiacutepio eacute

conhecido mundialmente atraveacutes do trabalho realizado pela Fundaccedilatildeo Casa Grande

358

2 CULTURA E TURISMO DE BASE COMUNITAacuteRIA

Ao se falar em cultura remete-se a educaccedilatildeo sabedoria ou sofisticaccedilatildeo Poreacutem cultura

vai aleacutem do niacutevel social ou educacional A cultura eacute entendida como um termo plural sendo

este complexo

De acordo com Griswold (2003) cultura refere-se ao lado expressivo da vida humana

em outras palavras ao comportamento objetos e ideias que podem ser entendidas para

expressar ou para significar alguma outra coisa

A cultura ainda pode ser entendida como o conjunto de costumes da proacutepria naccedilatildeo

sendo por vezes eventos de entretenimento ou ateacute mesmo de variaccedilotildees na acepccedilatildeo de

siacutembolos ou objetos Assim os aspectos da cultura satildeo constituiacutedos ateacute mesmo por simples

haacutebitos do cotidiano

As sociedades estatildeo em constantes mudanccedilas onde cada cultura possui sua maneira de

trabalhar As culturas satildeo compreendidas em seus contextos particulares evitamos desta

forma conflitos ou ateacute mesmo criaccedilatildeo de estereoacutetipos (LARAIA 1986)

Segundo Menezes (2012) a globalizaccedilatildeo estaacute propicia a reflexatildeo sobre a cultura de

cada paiacutes fazendo com que as pessoas mantenham relaccedilotildees ateacute mesmo estando distantes daiacute

a importacircncia de reconhecer as particularidades de cada local transmitindo assim valores

culturais

Atualmente a cultura eacute compreendida por meio de trecircs concepccedilotildees sendo estas de

suma importacircncia para a compreensatildeo do termo Primeiro em um conceito mais amplo

entende-se que todos os indiviacuteduos satildeo fabricantes de sua proacutepria cultura sendo entatildeo vista

como um conjunto de significados e valores dos grupos humanos Segundo a cultura eacute tida

como formas de atividades artiacutesticas e intelectual sendo por base a produccedilatildeo reparticcedilatildeo e

consumo de bens e serviccedilos que formam o sistema da induacutestria cultural Por uacuteltimo trata-se

de um instrumento que serve para o desenvolvimento poliacutetico e social fazendo com que o

campo cultural seja semelhante ao campo social (CLAVAL 2002)

De acordo com Menezes (2012) a cultura pode ser empregada para estimular o

crescimento econocircmico de forma justa e sobretudo sustentaacutevel As atividades culturais satildeo

meacutetodos estrateacutegicos de gerar emprego e renda Elas unem todas as formas de expressatildeo do

homem como o sentir o agir o pensar como tambeacutem as relaccedilotildees existentes entre os seres

humanos e o meio em que estatildeo inseridos Ela eacute elemento complementar da identidade local e

359

natildeo pode de forma alguma ser descaracterizada na promoccedilatildeo do turismo para que natildeo venha

a perder a sua originalidade

Assim a cultura necessita ser materializada natildeo podendo de maneira nenhuma ser

separada do desenvolvimento turiacutestico regional e local e sobretudo ter em mente que a

cultura eacute um modo de subsistecircncia humana e que o ser humano para existir precisa da sua

cultura

21 Turismo como estrateacutegia de desenvolvimento local

Segundo Barreto (2000) a produccedilatildeo do turismo eacute resultado da conduccedilatildeo de pessoas

para lugares distintos saindo da sua rotina para conhecer novos lugares causando assim

benefiacutecios aos lugares visitados jaacute que propicia o crescimento e o desenvolvimento do

ambiente agregando progresso a uma determinada regiatildeo que eacute um atrativo turiacutestico

Ainda de acordo com Barreto (2000) o turismo engloba um conjunto amplo de

atividades envolvendo vaacuterios outros setores econocircmicos de um paiacutes regiatildeo ou cidade Eacute uma

praacutetica social que aglomera lugares e pessoas diversas envolvendo lazer e sobretudo

conhecimento por meio da cultura

Sabe-se que o turismo eacute uma atividade desenvolvida atraveacutes de serviccedilos prestados que

tende a crescer agrave medida que vai se desenvolvendo contribuindo de forma significativa no

equiliacutebrio econocircmico e sobretudo regional representando assim uma uniatildeo produtiva de

atividades que interessam a todos os setores econocircmicos de uma determinada regiatildeo

(BARRETO 2000)

O planejamento do turismo e do lazer deve estar associado a accedilotildees de

desenvolvimento territorial do oposto o desenvolvimento desta atividade ocasionaraacute mais

impactos negativos no territoacuterio do que propriamente um desenvolvimento local Trata-se de

uma atividade que natildeo compreende apenas a produccedilatildeo de espaccedilos mas envolve tambeacutem

prestaccedilatildeo de serviccedilos podendo ainda modificar a estrutura social de um determinado local

(MOESCH 2002)

Eacute notoacuterio que esse setor da economia nas uacuteltimas deacutecadas estaacute sendo considerado

como uma das mais propiacutecias atividades econocircmicas mundialmente sendo essa geradora de

frentes de trabalho Trata-se de fonte de renda indireta atingindo por sua vez os mais diversos

setores da economia

360

Natildeo se pode negar que a atividade turiacutestica movimenta recursos financeiros emprega

matildeo de obra permite o intercacircmbio cultural promove o embelezamento paisagiacutestico e pode

melhorar a qualidade de vida das populaccedilotildees envolvidas (MAGALHAtildeES 2002 p3)

A aacuterea do turismo eacute um investimento muito importante nos dias atuais visto que este

setor gera emprego e renda de forma significativa ―Natildeo se pode negar que a atividade

turiacutestica movimenta recursos financeiros emprega matildeo de obra permite o intercacircmbio

cultural promove o embelezamento paisagiacutestico e pode melhorar a qualidade de vida das

populaccedilotildees envolvidas (MAGALHAtildeES 2002 p3)

Assim a atividade turiacutestica institui inuacutemeras oportunidades de emprego tanto em

pousadas hoteacuteis e dos gastos em restantes induzindo assim o surgimento de vagas em

restaurantes lojas dentre outros estabelecimentos no setor turiacutestico

22 O Potencial Turiacutestico da cidade de Nova Olinda ndash CE

A cidade de Nova Olinda - CE foi reconhecida em 2006 como o quarto destino indutor

do desenvolvimento turiacutestico regional - outorgada pelo Ministeacuterio do Turismo - presente no

Estado do Cearaacute (junto a Aracati Jijoca de Jericoacoara e Fortaleza) Com tal adesatildeo foram

incentivados investimentos no desenvolvimento turiacutestico e cultural de toda a regiatildeo

possibilitando o incremento da oferta de produtos e serviccedilos de turismo (GABRIELLI 2015)

Eacute um municiacutepio rico culturalmente este fato ocorre principalmente devido aos

atrativos turiacutestico e cultural que possui destacando-se a Fundaccedilatildeo Casa Grande ndash Memorial

do Homem Kariri o Mestre da Cultura Popular Espedito Seleiro e os geossiacutetios Ponte de

Pedra e Pedra Cariri sendo estes pontos de estudos fundamentais no desenvolvimento

regional

Dentre os atrativos turiacutesticos que o municiacutepio possui encontram-se os geossiacutetios que

satildeo elementos do Geopark Araripe sendo este o uacutenico geoparque brasileiro reconhecido junto

agrave rede global de Geoparks da UNESCO que se faz presente aleacutem de Nova Olinda mais cinco

municiacutepios da regiatildeo (Barbalha Crato Juazeiro do Norte Missatildeo Velha e Santana do Cariri)

dispondo ainda de nove geossiacutetios abertos para visitaccedilatildeo de turistas e puacuteblico em geral

(ARAUJO2017)

O municiacutepio ainda apresenta suas belezas naturais que estatildeo ligadas tanto a lendas

como a sua histoacuteria a MAtildeE DlsquoAacuteGUA que eacute um poccedilo natural do riacho que desaacutegua no rio

361

Carius situado no sitio Patos sua fama estaacute atrelada a lenda da Maara (uma serpente com

rosto de mulher que seduz os homens que escutam seu canto) e A PEDRA DA CORUJA que

satildeo duas pedra situadas no sitio Olho dlsquoAgua de Santa Barbara e que os iacutendios Kariri

acreditavam serem duas grandes corujas encantadas e eram adoradas pelos mesmos como

deusas (SECULT 2015)

Nova Olinda possui ainda um Teatro e um Museu O teatro Violeta Arraes-Engenho

de Artes Cecircnicas foi construiacutedo e inaugurado em 19 de dezembro de 2002 pelo Governo do

Estado do Cearaacute na gestatildeo do Governador Tasso Jereissati seu nome homenageia a sertaneja

Violeta Arraes Gervaseau e o conjunto arquitetocircnico dos engenhos de rapadura da regiatildeo do

cariri berccedilo cultural do Ceara (UBUNTU 2016)

O Teatro eacute um espaccedilo para formaccedilatildeo de plateia e gestores culturais nas aacutereas de

direccedilatildeo de espetaacuteculo sonoplastia iluminaccedilatildeo cenaacuterio Com uma programaccedilatildeo aberta ao

puacuteblico o teatro exibe semanalmente espetaacuteculos nas aacutereas de muacutesica danccedila cineclube e

teatro (SECULT 2015)

Dentre todos esses pontos turiacutesticos jaacute mencionados existe ainda o Mestre da Cultura

Popular Espedito Seleiro reconhecido como mestre da cultura pelo Governo do Estado do

Cearaacute em parceria com o Ministeacuterio da Cultura no ano de 2008 Espedito Seleiro desenvolve

em seu trabalho a essecircncia de suas tradiccedilotildees sem deixar de lado as mudanccedilas ocasionadas no

presente O prestigio do seu trabalho contribui de forma significativa para a economia local de

Nova Olinda

221 Fundaccedilatildeo Casa Grande-Memorial do Homem Cariri

A Fundaccedilatildeo Casa Grande eacute uma Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental cultural e

filantroacutepica que foi fundada em 1992 no municiacutepio de Nova Olinda-Cearaacute sendo o seu

idealizador o senhor Alemberg Quindins e sua esposa Rosiane Limaverde

A Casa Grande tem como missatildeo a formaccedilatildeo educacional de crianccedilas e jovens como

peccedila fundamental em gestatildeo cultural por meio de seus programas Memoacuteria Comunicaccedilatildeo

Artes e Turismo Trata-se de programas que desenvolvem atividades de complementaccedilatildeo

escolar por meio de laboratoacuterios de conteuacutedos e produccedilatildeo O ensejo eacute a formaccedilatildeo

interdisciplinar das crianccedilas e jovens que fazem parte da fundaccedilatildeo

Art 2ordm - A Fundaccedilatildeo Casa Grande Memorial do Homem Kariri tem por finalidade

362

III ndash Pesquisar preservar coletar juntar em acervo comunicar exibir e publicar

para fins cientiacuteficos de estudo e recreaccedilatildeo a cultura material e imaterial do homem

Kariri e de ambiente

IV ndash Estabelecer registro e cadastramento do Patrimocircnio Cultural da regiatildeo do

homem Kariri com fins de cuidar do acervo arqueoloacutegico e ecoloacutegico

V ndash Servir de instrumento de evoluccedilatildeo para as artes e a cultura do homem Kariri

VI ndash Formular e incentivar projetos nas aacutereas de arte e cultura educaccedilatildeo meio

ambiente sauacutede e desenvolvimento social e tecnoloacutegico () (ESTATUTO

INTERNO DA FUNDACcedilAtildeO CASA GRANDE ndash MEMORIAL DO HOMEM

KARIRI 1992 p 05)

De acordo com Arauacutejo (2017) desde a restauraccedilatildeo da casa de fazenda e instalaccedilatildeo do

MHK em outubro de 1992 residentes de Nova Olinda de outros municiacutepios do Cariri de

outras regiotildees do Cearaacute brasileiros de todas as regiotildees e estrangeiros acorrem agraves instalaccedilotildees

da FCG-MHK para conhecer a cultura do lugar e da regiatildeo Assim eacute impossiacutevel falar de Nova

Olinda sem remeter-se a FCG-MHK e o seu fundamental papel no desenvolvimento da

cultura e turismo do municiacutepio

Para Gabrielle (2015) a grande mentora do crescimento turiacutestico e cultural do

municiacutepio em estudo eacute a Fundaccedilatildeo Casa Grande que vem incentivando investimentos neste

setor da economia que eacute tatildeo importante para o desenvolvimento turiacutestico cultural e social

Portanto a atividade artiacutestica cultural e turiacutestica de Nova Olinda estaacute diretamente ligada ao

trabalho desta instituiccedilatildeo

23 Turismo de Base Comunitaacuteria ndash TBC

O turismo deve ser compreendido como um dos componentes essenciais para

alavancar a economia do Brasil e do mundo trata-se de um importante segmento no que se

refere a geraccedilatildeo de emprego e renda

Contudo nos uacuteltimos anos vem se destacando uma modalidade do turismo bastante

singular trata-se do turismo de base comunitaacuteria O turismo neste aspecto vem

proporcionando a pequenas comunidades a compreenderem de fato a importacircncia dos bens

patrimoniais naturais culturais e sociais para o desenvolvimento de um determinado local

(SAMPAIO 2005)

O turismo eacute considerado em acircmbito global como uma atividade econocircmica que gera

crescimento oportunidades de emprego e renda No entanto a proposta do TBC se opotildee a

esse estilo consumista oportunizando a descoberta de experiecircncias com outros modos de

vida superando a hegemonia da sociedade de mercado prezando pela relaccedilatildeo harmocircnica

363

entre turista e comunidade receptora onde ambos satildeo considerados agentes de accedilatildeo

socioeconocircmico e ambiental repensando as bases de um novo estilo de desenvolvimento

(SAMPAIO 2005)

O turismo como atividade comercial eacute planejado desenvolvido e gerenciado pela

proacutepria comunidade (aldeia logradouro povoado) fornecendo serviccedilos como hospedagem

refeiccedilotildees trilhas excursotildees e outras atividades para os visitantes gerando emprego e

empreendedorismo de pequenos e meacutedios negoacutecios (familiar cooperativo parceria) junto

com outras atividades de geraccedilatildeo de renda como pesca agroecologia familiar produccedilatildeo de

produtos naturais arte moda artesanato e apresentaccedilatildeo da cultura local ―Todas estas

atividades contribuem para gerar empregos e renda complementar a atividade principal da

comunidade contribuindo para o desenvolvimento local e a melhoria da qualidade de vida da

populaccedilatildeo (SALVATI 2004 p03)

Froese (2009) enfatiza que o turismo de base comunitaacuteria surgiu com o intuito de

desenvolver as comunidades tradicionais e inseri-las no mercado turiacutestico contribuindo para

experiecircncias mais reais do que as vivenciadas no turismo convencional e ainda relacionando

as preocupaccedilotildees sociais Por meio do turismo de base comunitaacuteria eacute possiacutevel a criaccedilatildeo de

alternativas para o desenvolvimento local atraveacutes da produccedilatildeo de emprego e renda como

tambeacutem da cooperaccedilatildeo participativa do melhoramento dos produtos e serviccedilos e do benefiacutecio

da sustentabilidade dos potenciais histoacuterico natural e cultural

Segundo o MTur (BRASIL 2010) os princiacutepios comuns ao TBC satildeo a autogestatildeo o

associativismo e cooperativismo a democratizaccedilatildeo de oportunidades e benefiacutecios a

centralidade da colaboraccedilatildeo parceria e participaccedilatildeo a valorizaccedilatildeo da cultura local e

principalmente o protagonismo das comunidades locais na gestatildeo da atividade eou na oferta

de bens e serviccedilos turiacutesticos visando agrave apropriaccedilatildeo por parte destas dos benefiacutecios advindos

do desenvolvimento da atividade turiacutestica

Em suma o turismo de base comunitaacuteria eacute um empreendimento que vem a mobilizar a

comunidade local visto que gera renda e natildeo provoca danos agrave qualidade de vida e as tradiccedilotildees

de um povo Eacute uma forma que natildeo se limita apenas a observar ou conviver com determinadas

pessoas mas que tem como propoacutesito ainda o engajamento desses visitantes nos projetos

sociais

364

3 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

A pesquisa eacute de natureza bibliograacutefica e de campo com caraacuteter exploratoacuterio descritivo

e abordagem quantitativa e qualitativa

A pesquisa bibliograacutefica possibilitou o levantamento das concepccedilotildees teoacutericas acerca

da temaacutetica abordada O levantamento bibliograacutefico foi feito em livros teses dissertaccedilotildees

artigos revistas de cunho cientiacutefico jornais e por meio eletrocircnico

O trabalho utilizou-se tambeacutem da coleta e anaacutelise de dados primaacuterios obtidos por

meio da pesquisa de campo caracterizando a pesquisa como empiacuterica Para a coleta de dados

foram realizadas entrevistas entre os meses de setembro e outubro de 2017 junto a todos os

membros da COOPAGRAN que no momento da pesquisa eram dez (10) Para a anaacutelise dos

dados utilizou-se a estatiacutestica descritiva

4 TURISMO DE BASE COMUNITAacuteRIA NO MUNICIacutePIO DE NOVA OLINDA- CE

O CASO DA COOPAGRAN

O municiacutepio de Nova Olinda traz consigo um grande potencial no que se refere ao

turismo de base comunitaacuteria jaacute que a cidade manteacutem viva suas tradiccedilotildees e originalidades

atraveacutes dos trabalhos realizados na Fundaccedilatildeo Casa Grande Dentre esses trabalhos destaca-se

a Cooperativa Mista de Pais e Amigos da Fundaccedilatildeo Casa Grande - COOPAGRAN

A cooperativa eacute formada pelos pais das crianccedilas e adolescentes que fazem parte da

Fundaccedilatildeo Casa Grande Atualmente a cooperativa eacute formada por 10 pais

Os artesanatos satildeo confeccionados nas oficinas dos pais da Casa Grande entre os

artigos produzidos estatildeo bordados couro madeira serigrafia e pintura e vendidos na lojinha

da COOPAGRAN A cooperativa ainda conta com um restaurante que oferece serviccedilo de

refeiccedilotildees caseiras e lanches de comidas tiacutepicas regionais e os serviccedilos de hospedagens por

meio das pousadas domiciliares que satildeo suiacutetes localizadas nos quintais das casas dos pais das

crianccedilas e adolescentes da Casa Grande Atualmente existem nove pousadas sendo sete no

centro da cidade e duas na zona rural

Com relaccedilatildeo agrave hospedagem as pousadas soacute recebem atraveacutes da FCG por intermeacutedio

da Agencia de Turismo Comunitaacuterio que realiza a reserva e a conduccedilatildeo dos turistas ateacute o seu

365

destino O pagamento pelo serviccedilo de hospedagem tambeacutem eacute feito a essa mesma agecircncia e

depois repassado aos donos das pousadas

Durante as entrevistas os membros da COOPAGRAN afirmaram que soacute recebiam

hospedes por intermeacutedio da Fundaccedilatildeo Casa Grande por uma questatildeo de seguranccedila

Ainda no que concerne ao tipo de turista hospedado nas pousadas domiciliares pode-

se notar a partir dos dados que todos esses turistas estatildeo ligados a duas caracteriacutesticas ou satildeo

estudantes-pesquisadores ou artistas sendo 75 estudantes e 25 artistas

No que se refere agrave quantidade de turistas hospedados segundo as informaccedilotildees da

Agencia de Turismo Comunitaacuterio que eacute responsaacutevel pela reserva das pousadas o nuacutemero de

hospedes fica em meacutedia 400 turistas por ano o que pode tambeacutem ser comprovado a partir das

respostas obtidas na pesquisa de campo onde os proprietaacuterios das pousadas afirmam que

recebiam em meacutedia 4 turistas mensalmente tendo exceccedilotildees apenas nas duas pousadas rurais

jaacute que estas ficam a escolha do hospedes e recebem em meacutedia 2 turistas mensalmente

Quanto aos dias que esses turistas ficam hospedados varia de acordo com o trabalho

ou pesquisa que os mesmos precisam realizar geralmente ficam entre 2 a 15 dias

De acordo com dados da pesquisa o restaurante da COOPAGRAN tambeacutem funciona

para eventos externos desde que seja agendado com antecedecircncia Atende uma demanda em

meacutedia de 30 pessoas diariamente e 900 pessoas mensalmente

Do recurso gerado pelo turismo comunitaacuterio 10 eacute para administraccedilatildeo da Agecircncia

10 alimenta um fundo de educaccedilatildeo que financia o transporte escolar dos universitaacuterios da

Casa Grande (para as cidades vizinhas de Crato e Juazeiro do Norte) e 80 eacute geraccedilatildeo de

renda familiar para cobrir despesas e originar investimento no proacuteprio negoacutecio (DADOS DA

PESQUISA 2017)

De acordo com os entrevistados aleacutem de utilizarem parte dos recursos para o

financiamento de transporte escolar dos jovens universitaacuterios destinavam outra parte para a

manutenccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Casa Grande

41 Perfil socioeconocircmico dos membros da COOPAGRAN

Para construccedilatildeo do perfil socioeconocircmico dos membros da COOPAGRAN foram

observadas as informaccedilotildees de gecircnero idade estado civil aacuterea de residecircncia grau de instruccedilatildeo

e renda e foram encontrados os seguintes resultados

366

Dos 10 membros entrevistados 90 eram do sexo feminino De acordo com o Portal

Brasil (2012) a criaccedilatildeo de cooperativas tem sido um importante sinal do aumento do

empreendedorismo das mulheres

Essa realidade mostra que as mulheres natildeo soacute avanccedilaram no mercado de trabalho

como tambeacutem buscam unir-se em grupos para se desenvolverem juntas As atividades

realizadas em cooperativas e em grupos de cooperaccedilatildeo e ajuda muacutetua satildeo mais ajustaacuteveis agrave

rotina das mulheres por muitas razotildees

No que se refere agrave faixa etaacuteria percebe-se que a maioria tinha idade superior a 40

anos Essa idade estaacute relacionada ao fato de todos os membros jaacute serem pais de crianccedilas e

jovens membros da Fundaccedilatildeo Casa Grande ndash Homem Kariri

Na tabela 1 satildeo apresentadas essas informaccedilotildees com ecircnfase para a predominacircncia da

faixa etaacuteria superior a 40 anos

Tabela 01 ndash Distribuiccedilatildeo por faixa etaacuteria dos membros da COOPAGRAN

Faixa Etaacuteria Frequecircncia absoluta Frequecircncia relativa ()

De 0 a 10 anos - -

De 11 a 20 anos - -

De 21 a 30 anos - -

De 31 a 40 anos 1 10

Acima de 40 anos 9 90

Total 10 100 Fonte Dados da pesquisa 2017

Quanto agrave aacuterea de residecircncia 80 viviam na aacuterea urbana mais precisamente nas

proximidades da Fundaccedilatildeo Casa Grande e 20 na zona rural O fato das residecircncias estarem

em dois tipos de zonas (urbanarural) possibilitava ao turistahospede vivenciar experiecircncias

diferenciadas

No que se refere ao grau de instruccedilatildeo sabe-se que esta eacute peccedila indispensaacutevel para um

bom desempenho em qualquer funccedilatildeo a ser exercida e ferramenta fundamental para a

melhoria de qualidade de vida do indiviacuteduo

Dos membros da COOPAGRAN apenas 20 concluiacuteram o ensino superior

incompleto 10 ensino meacutedio incompleto 10 natildeo concluiacuteram o ensino meacutedio e 60

tinham apenas o ensino fundamental incompleto

367

Tabela 02 ndash Distribuiccedilatildeo absoluta e relativa dos membros da COOPAGRAN segundo o

grau de instruccedilatildeo

Grau de instruccedilatildeo Frequecircncia absoluta Frequecircncia relativa ()

Ensino Fund Incompleto 6 60

Ensino Fund Completo - -

Ensino Meacutedio Incompleto 1 10

Ensino Meacutedio Completo 1 10

Ensino Superior Incompleto 2 20

Ensino Superior Completo - -

Total 10 100 Fonte Dados da pesquisa 2017

Sabe-se que o grau de instruccedilatildeo eacute um indicador importante jaacute que propicia o

desenvolvimento do conhecimento como tambeacutem permite a realizaccedilatildeo da praacutetica dos valores

cooperativos no entanto a realidade dos dados acima demostra o baixo niacutevel de escolaridade

dos cooperados

Dos entrevistados 50 afirmaram que exerciam apenas atividades do lar enquanto

30 eram aposentados um era funcionaacuterio puacuteblico e o outro entrevistado natildeo informou a

atividade que exercia aleacutem da COOPAGRAN

Tabela 03 ndash Renda Individual dos membros da COOPAGRAN

Renda Individual Frequecircncia absoluta Frequecircncia relativa ()

Menos de 1 salaacuterio miacutenimo 3 30

1 salaacuterio miacutenimo 6 60

2 a 5 salaacuterios miacutenimos 1 10

Total 10 100 Dados da pesquisa 2017

De acordo com os dados observa-se que mais da metade dos entrevistados recebiam

apenas um salaacuterio miacutenimo enquanto apenas um (10) recebia entre 2 e 3 salaacuterios Os

membros da COOPAGRAN afirmaram que o complemento de renda advindo das atividades

realizadas na cooperativa eacute fundamental para complementar a renda

No que se refere agrave renda oriunda da cooperativa esta varia de acordo com o periacuteodo

Conforme os entrevistados existiam meses com maior nuacutemero de turistas ―periacuteodo bom e o

―periacuteodo fraco onde haacute uma reduccedilatildeo de turistas

368

GRAacuteFICO 1 Variaccedilatildeo da renda individual no periacuteodo considerado ―bom

Fonte Dados da pesquisa 2017

Observa-se que a variaccedilatildeo da renda individual apresentada na tabela 3 muda

consideravelmente com o complemento de renda da COOPAGRAN De acordo com os dados

da pesquisa os 30 que antes recebiam menos de 1 salaacuterio miacutenimo passaram a receber ateacute

25 salaacuterios miacutenimos os 60 que recebiam 1 salaacuterio miacutenimo ampliaram seu ganho para ateacute

3 salaacuterios miacutenimos e os 10 que ganhavam ateacute 5 salaacuterios passaram a recebem ateacute 7 salaacuterios

miacutenimos

Conforme os dados percebe-se a importacircncia da renda complementar gerada pelas

atividades da cooperativa Esse tipo de turismo eacute importante natildeo soacute pela geraccedilatildeo de renda

mas tambeacutem pela troca de saberes propiciada pelo TBC

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O TBC eacute uma alternativa que vem dando certo pois esse busca seu alicerce na

ideologia do desenvolvimento endoacutegeno onde os principais agentes satildeo os indiviacuteduos locais

trazendo para si a responsabilidade da maior parte da execuccedilatildeo dos projetos ligados agrave

atratividade local eacute uma opccedilatildeo de inclusatildeo que vem tendo ecircxito por todo o paiacutes pois com a

capacitaccedilatildeo essas pessoas se tornam os melhores administradores jaacute que nasceram e viveram

nesse determinado local

369

Eacute possiacutevel observar ao longo desse trabalho que o turismo realizado em Nova Olinda eacute

de base comunitaacuteria sendo plausiacutevel constatar que esse por sua vez vem apresentando bons

resultados e esta concretizaccedilatildeo eacute decorrente dos trabalhos realizados atraveacutes da Fundaccedilatildeo

Casa Grande que desde 1999 vem investindo no turismo social tendo como realizaccedilatildeo as

pousadas domiciliares construiacutedas nas casas das crianccedilas e adolescentes que fazem parte da

instituiccedilatildeo

Com relaccedilatildeo agraves atividades desenvolvidas atraveacutes das pousadas restaurante e lojinha

estas satildeo norteadas pela Agencia de Turismo Comunitaacuterio que eacute responsaacutevel pela reserva

recepccedilatildeo e tambeacutem por receber os pagamentos que soacute depois satildeo transferidos para os

membros da cooperativa principalmente no que se refere agraves pousadas onde se busca de

forma justa e igualitaacuteria distribuir igualmente o fluxo de hoacutespedes nas pousadas permitindo

um equiliacutebrio na renda gerada por essa atividade

Um fato que merece destaque eacute a forma como eacute partilhada a renda gerada pelas

atividades da cooperativa onde 10 eacute destinada para o transporte dos universitaacuterios da FCG

10 para a administraccedilatildeo da agencia e 80 eacute a renda da famiacutelia para cobrir as despesas e

originar possiacuteveis investimentos

No que se refere ao perfil dos membros da COOPAGRAN foi possiacutevel constatar a

partir da anaacutelise do perfil socioeconocircmico das famiacutelias envolvidas na COOPAGRAN que os

seus membros satildeo em maior parte do sexo feminino e com idade superior a 40 anos onde a

maioria realiza atividades do lar e buscam atraveacutes das atividades da cooperativa a

complementaccedilatildeo da renda familiar

Ao analisar esses dados pode-se afirmar que a COOPAGRAN trouxe mudanccedilas

positivas na vida das famiacutelias pois aleacutem da renda extra com esse tipo de empreendimento haacute

tambeacutem a troca de saberes experiecircncia valiosa propiciada pelo TBC

Em suma o TBC realizado pela FCG vem contribuindo significativamente para o

crescimento turiacutestico e cultural do municiacutepio de Nova Olinda bem como proporcionando a

melhoria da qualidade de vida das pessoas envolvidas uma vez que o desenvolvimento das

atividades que o TBC proporciona vem gerando emprego e renda para essas famiacutelias

Nota-se claramente uma sinergia entre cultura e turismo por meio da participaccedilatildeo

popular atraveacutes da oferta das pousadas domiciliares do restaurante e da lojinha existente na

fundaccedilatildeo Trata-se de um planejamento turiacutestico bastante estruturado que tem como meta a

sustentabilidade e uma visatildeo turiacutestica de responsabilidade

370

Em suma o turismo de base comunitaacuteria eacute uma atividade que produz um engajamento

local eacute uma maneira de trocar experiecircncias entre os turistas de diversas partes do Brasil e do

mundo e os moradores desta localidade Aleacutem disso busca auxiliar diretamente na

sustentabilidade das famiacutelias gerando renda direta para o municiacutepio de Nova Olinda ndash CE

REFEREcircNCIAS

ARAUJO MLD A Fundaccedilatildeo Casa Grande (Nova OlindaCE) no Mapa do Turismo

Regional lugar de memoacuteria e salvaguarda do patrimocircnio cultural do povo kariri Tese

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BARRETTO Margarita Turismo e legado cultural as possibilidades do planejamento 2

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BRASIL Estudo de Competitividade dos 65 Destinos Indutores do Desenvolvimento

Turiacutestico Regional ndash Relatoacuterio Brasil 2009 Luiz Gustavo Medeiros Barbosa (Org) Brasiacutelia

Ministeacuterio do Turismo 200985 p ISBN Online 978-85-61239-21-3

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1983a

CLAVAL Paul A volta do cultural na Geografia Mercator - Revista de Geografia da UFC

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FROESE V F Ecoturismo de Base Comunitaacuteria Possibilidade para o Desenvolvimento

Turiacutestico de Oriximinaacute-PA Niteroacutei 2009 Disponiacutevel em Acesso em 09 outubro de 2017

FUNDACcedilAtildeO CASA GRANDE ndash MEMORIAL DO HOMEM KARIRI Estatuto interno da

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lthttpsblogfundacaocasagrandefileswordpresscom201305estatuo-da-fundac3a7c3a3o-

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GABRIELLI Cassiana Turismo Estudos amp Praacuteticas (RTEPUERN) MossoroacuteRN vol 4

n 2 juldez 2015 httpperiodicosuernbrindexphpturismo [ISSN 2316-1493]

GRISWOLD Wendy Cultures and Societies in a Changing World Chicago Sage 2003

GUERRA JUNIOR Antonio Cooperativas de creacutedito muacutetuo no contexto do sistema

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2010 DISPONIacuteVEL EM lthttpwwwcidadesibgegovbrxtrastemasphp gt Acesso em

1010 2016

LARAIA Roque de Barros Cultura um conceito antropoloacutegico Rio de Janeiro Jorge

Zahar 2000

_________________ Ministeacuterio do Turismo Dinacircmica e diversidade do turismo de base

comunitaacuteria desafio para a formulaccedilatildeo de poliacutetica puacuteblica Brasiacutelia Ministeacuterio do

Turismo 2010

MAGALHAtildeES Claacuteudia Freitas Diretrizes para o turismo sustentaacutevel em municiacutepios Satildeo

Paulo Roca 2002

MENEZES Juliana Santos O turismo cultural como fator de desenvolvimento na cidade

de Ilheacuteus 2012

MOESCH Marutschka Martini A produccedilatildeo do saber turiacutestico Satildeo Paulo Contexto 2002

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httpwwwbrasilgovbreconomia-e-emprego201202cooperativas-femininas Acesso em

12 de novembro de 2017

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Brasiacutelia WWF-Brasil 2004

SAMPAIO C A C Turismo como fenocircmeno humano princiacutepios para se pensar a

socioeconomia e sua praacutetica sob a denominaccedilatildeo turismo comunitaacuterio Santa Cruz do Sul

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SECRETARIA DE CULTURA E TURISMO DE NOVA OLINDA Atrativos Turiacutesticos

Disponiacutevel em lthttpnovaolindacegovbrseculturindexphppontos-turisticosgt Acesso

em 25 de julho de 2017

372

ANAacuteLISE DO DESENVOLVIMENTO DOS PROGRAMAS FINANCIADOS PELO

FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCACcedilAtildeO (FNDE) EM

ESCOLA PUacuteBLICA DA EDUCACcedilAtildeO BAacuteSICA DE JUAZEIRO DO NORTE ndash CE

REFLEXOS ECONOcircMICOS NA EDUCACcedilAtildeO

PAULO RICARDO BATISTA Graduando em Ciecircncias Bioloacutegicas ndash Licenciatura na Universidade Regional do Cariri ndash

URCA Bolsista de monitoria em Farmacologia ndash FECOP Voluntaacuterio no Laboratoacuterio de

Farmacologia de Produtos Nacionais (LFPN) na Universidade Regional do Cariri ndash URCA

Voluntaacuterio no Instituto Chico Mendes de Conservaccedilatildeo da Biodiversidade (ICMBio)

pauloricardoadautooutlookcom

373

ANAacuteLISE DO DESENVOLVIMENTO DOS PROGRAMAS FINANCIADOS PELO

FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCACcedilAtildeO (FNDE) EM

ESCOLA PUacuteBLICA DA EDUCACcedilAtildeO BAacuteSICA DE JUAZEIRO DO NORTE ndash CE

REFLEXOS ECONOcircMICOS NA EDUCACcedilAtildeO

RESUMO O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo (FNDE) vinculado ao Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo (MEC) fornece subsiacutedios para projetos educacionais para melhoria do ensino e

assistecircncia dos discentes A fonte financeira dos recursos fornecidos provem do salaacuterio-

educaccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo social A presente pesquisa tem como objetivo analisar os

programas financiados pelo FNDE por meio de uma pesquisa de campo e bibliograacutefica no

municiacutepio do Juazeiro do Norte - CE assim como a compreensatildeo e a avaliaccedilatildeo dos objetivos

individuais dos mesmos A pesquisa foi exercida na instituiccedilatildeo de ensino estadual E E M

Governador Adauto Bezerra no mencionado municiacutepio onde os programas satildeo

desenvolvidos Com a finalidade de compreender o desenvolvimento daqueles na instituiccedilatildeo

Na pesquisa de campo foi realizada uma entrevista com um dos coordenadores da escola

contribuindo para coleta de dados e efetuaccedilatildeo dessa investigaccedilatildeo de natureza quali-

quantitativa e caraacuteter exploratoacuterio Atraveacutes desta pesquisa foi possiacutevel notar o desempenho

dos programas na unidade escolar permitindo uma avaliaccedilatildeo criacutetica inerente aos mesmos Os

recursos satildeo administrados pelo nuacutecleo gestor e associados visando agrave permanecircncia e

assistecircncia aos alunos fomentando uma melhoria na qualidade do ensino no acircmbito

educacional entretanto eacute importante a percepccedilatildeo das carecircncias provocadas pela ausecircncia de

certos programas

Palavras-chaves FNDE Programas financiados pelo FNDE Juazeiro do Norte Acircmbito

educacional

ABSTRACT

The National Education Development Fund (FNDE) linked to the Ministry of Education

(MEC) provides subsidies for educational projects to improve the teaching and assistance of

students The financial source of the resources provided comes from the education wage a

social contribution The present research aims to analyze the programs financed by the FNDE

through a field and bibliographical research in the municipality of Juazeiro do Norte - CE as

well as the understanding and evaluation of the individual objectives of the same ones The

research was carried out in the state education institution E E M Governor Adauto Bezerra in

the mentioned municipality where the programs are developed In order to understand the

development of those in the institution In the field research an interview was conducted with

one of the coordinators of the school contributing to the collection of data and the carrying

out of this qualitative and quantitative research Through this research it was possible to note

the performance of the programs in the school unit allowing a critical evaluation inherent to

them The resources are administered by the managing nucleus and associates aiming at the

permanence and assistance to the students fomenting an improvement in the quality of the

education in the educational scope however it is important the perception of the deficiencies

provoked by the absence of certain programs

Keywords FNDE Programs funded by FNDE Juazeiro do Norte Educational scope

374

1 Introduccedilatildeo

Apoacutes a persistente desvalorizaccedilatildeo da educaccedilatildeo os anos seguintes a deacutecada de 1990

apresentam-se como um panorama permeados de contribuiccedilotildees entretanto ainda insuficientes

para a melhoria do sistema educacional brasileiro O alto iacutendice de permanecircncia de jovens na

educaccedilatildeo baacutesica a partir desse periacuteodo constituiu uma dessas contribuiccedilotildees apesar

dicotomicamente o iacutendice de qualidade da educaccedilatildeo ainda ser precaacuterio (VELOSO 2011)

Sabe-se que diversas condicionantes influenciam nesse cenaacuterio inclusive uma gestatildeo escolar

competente e recursos econocircmicos que propiciem subsiacutedios para melhoria da educaccedilatildeo

A presente pesquisa objetiva avaliar o desenvolvimento dos programas financiados

pelo FNDE presentes na escola de ensino meacutedio Governador Adauto Bezerra destacando suas

contribuiccedilotildees para o ambiente escolar assim como ressaltar se haacute a ausecircncia ou ineficaacutecia de

desenvolvimento de algum daqueles

As interrogaccedilotildees que nortearam a investigaccedilatildeo foram Quais programas estatildeo em vigor

na instituiccedilatildeo Qual o objetivo desses programas para com a instituiccedilatildeo Como funcionam na

instituiccedilatildeo Em que os recursos satildeo utilizados Qual o puacuteblico-alvo desses programas Quais

paracircmetros satildeo necessaacuterios para a liberaccedilatildeo desses recursos disponibilizados pelos

programas

2 Referencial Teoacuterico

Tanto no acircmbito nacional quanto no internacional satildeo perceptiacuteveis as discussotildees

referentes agrave gestatildeo escolar e poliacuteticas inerentes a educaccedilatildeo baacutesica tais discussotildees constituem

relaccedilotildees complexas entre os processos e execuccedilatildeo daquelas duas variaacuteveis vinculadas ao

contexto sociocultural em que o sistema educacional estaacute inserido (DOURADO 2007) Com

a mesma constacircncia se apresenta a relaccedilatildeo entre educaccedilatildeo e economia em especial a aspectos

referentes a investimentos em educaccedilatildeo e desenvolvimento econocircmico tendo em vista que

uma populaccedilatildeo mais educada eacute mais produtiva e saudaacutevel (CASTRO 2006)

Em consonacircncia com os pressupostos supracitados o Art 205 da Constituiccedilatildeo Federal

de 1988 ratifica ―a educaccedilatildeo direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida

e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa

seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho assim sendo

375

subsiacutedios financeiros necessaacuterios para a concretizaccedilatildeo de tal ideal satildeo fornecidos a educaccedilatildeo

por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo (FNDE) estabelecido em

1968 cuja manutenccedilatildeo e permanecircncia dependem do salaacuterio-educaccedilatildeo advindo das

contribuiccedilotildees sociais realizadas pelas empresas do paiacutes

O FNDE estaacute sob a administraccedilatildeo do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC) que por sua vez

eacute um oacutergatildeo administrativo responsaacutevel por executar as incumbecircncias pertinentes ao sistema

federal de ensino a encargo da Uniatildeo Devido agrave imensa importacircncia que a fonte de

manutenccedilatildeo (o salaacuterio educaccedilatildeo) do FNDE deteacutem eacute necessaacuterio que seja resguardada por lei e

fiscalizada por oacutergatildeos competentes como afirma De Oliveira Libacircneo e Toschi (2017 p

391) ―a contribuiccedilatildeo social do salaacuterio-educaccedilatildeo (SE) prevista no artigo 212 sect 5ordm da

Constituiccedilatildeo Federal foi criada pela Lei nordm 4462 de 1964 e regulamentada pelas Leis nordm

94241996 e 97661998 Decreto nordm 60032006 e Lei nordm 114572007

Este recurso eacute coletado fiscalizado e cobrado pela Secretaria da Receita Federal do

Ministeacuterio da Fazenda o percentual da contribuiccedilatildeo a qual as empresas estatildeo sujeitas a dispor

eacute de 25 O FNDE recebe o salaacuterio-educaccedilatildeo por meio da Guia da Previdecircncia Social e um

terccedilo do total de recursos eacute empregado pelo fundo no financiamento dos projetos e programas

para a melhoria da educaccedilatildeo baacutesica proporcionalmente ao nuacutemero de alunos matriculados

(De Oliveira Libacircneo e Toschi 2017)

Cabe a ressalva que a implementaccedilatildeo em uma instituiccedilatildeo dos programas financiados

pelo FNDE torna-se necessaacuteria devido a real desigualdade socioeconocircmica e educacional

presente na sociedade brasileira que influem em deacuteficits na promoccedilatildeo de uma educaccedilatildeo baacutesica

digna de qualidade Assim sendo o FNDE transpassa para o contexto escolar a funccedilatildeo

supletiva e redistributiva da Uniatildeo (CRUZ 2011)

Conforme a legislaccedilatildeo oficial atualizada registrada em documentos do

MEC o FNDE manteacutem os seguintes programas [] Programa Nacional de

Alimentaccedilatildeo Escolar [] Programa Dinheiro Direto na Escola []

Programa Nacional da Biblioteca da Escola [] Programa Nacional do

Livro Didaacutetico (tambeacutem na linguagem Braille) Programa Nacional de Apoio

ao Transporte do Escolar e Programa Caminho da Escola [] Bem como

tambeacutem Brasil Profissionalizado Formaccedilatildeo pela Escola Proinfacircncia

Programa Nacional de Sauacutede do Escolar (PNSE) e Plano de Accedilotildees

Articuladas (PAR) (De Oliveira Libacircneo e Toschi 2017 p 393)

376

Aleacutem disso ―o FNDE eacute operador do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino

Superior (Fies) um programa do MEC destinado a financiar a graduaccedilatildeo na educaccedilatildeo

superior de estudantes matriculados em instituiccedilotildees natildeo gratuitas (De Oliveira Libacircneo e

Toschi 2017 p 393) Embora tais programas sejam grandes subsiacutedios para melhoria da

educaccedilatildeo no acircmbito real a ausecircncia de dois ou mais destes em uma instituiccedilatildeo eacute frequente

culminando em precariedades no acircmbito escolar

3 Metodologia

A metodologia empregada para a realizaccedilatildeo da presente pesquisa de caraacuteter

exploratoacuterio partiu de um mapeamento dos programas na escola puacuteblica estadual de ensino

meacutedio Governador Adauto Bezerra localizada no municiacutepio de Juazeiro do Norte ndash CE

A coordenaccedilatildeo da instituiccedilatildeo foi selecionada como puacuteblico-alvo para o fornecimento

dos dados da pesquisa estes com variaacuteveis passiacuteveis de serem mensuradas ou natildeo

corroboraram para a natureza quali-quantitativa da pesquisa e para com esta previamente uma

declaraccedilatildeo foi entregue para a permissatildeo da coleta de dados

A anaacutelise dos programas que tem por objetivo a permanecircncia do aluno na instituiccedilatildeo

de ensino melhoria na qualidade do ensino e no processo de ensinoaprendizagem do aluno e

assistecircncia aos mesmos foi proporcionada por uma anaacutelise bibliograacutefica que auxiliou na

compreensatildeo da temaacutetica e uma pesquisa de campo na unidade escolar tal pesquisa tem como

caracteriacutestica principal a observaccedilatildeo direta do objeto de pesquisa auxiliando na coleta de

dados referentes aos programas e seus desenvolvimentos na instituiccedilatildeo Optou-se pela

entrevista semi-estruturada como instrumento de coleta (ver APEcircNDICE) com um dos

coordenadores da instituiccedilatildeo possibilitando a obtenccedilatildeo dos dados de forma dinacircmica e direta

Esse tipo de entrevista favorece uma interaccedilatildeo entre o entrevistador e o entrevistado

permitindo perguntas e respostas mais amplas em relaccedilatildeo agrave temaacutetica no decorrer da entrevista

A observaccedilatildeo sistemaacutetica tambeacutem foi imprescindiacutevel para a compreensatildeo dos referidos

programas e seus desenvolvimentos e objetivos na EEM Governador Adauto Bezerra O

sujeito investigado como jaacute mencionado foi um coordenador da entidade de ensino a escolha

foi aleatoacuteria em meio aos componentes do nuacutecleo gestor disponiacuteveis no dia da entrevista

377

O tratamento dos dados consistiu em uma subdivisatildeo de seis seccedilotildees correspondentes

para cada programa presente na instituiccedilatildeo seguidas e integradas por uma anaacutelise criacutetica dos

mesmos em contraste com a bibliografia consultada quanto agraves informaccedilotildees adquiridas atraveacutes

da entrevista foram expostas nas discussotildees mantendo o sigilo da identidade do coordenador

fornecedor e de forma mais fidedigna possiacutevel a linguagem utilizada pelo participante no ato

da entrevista que por sua vez foi gravada em um aacuteudio

4 Resultados e Discussotildees

Foram constatados na instituiccedilatildeo os seguintes programas financiados pelo FNDE em

vigecircncia na instituiccedilatildeo Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) o Programa

Dinheiro Direto na Escola (PDDE) o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) o

Programa Nacional do Livro Didaacutetico para o Ensino Meacutedio (PNLEM) O programa Caminho

da Escola e o Plano de Accedilotildees Articulados (PAR) Os resultados obtidos na referida pesquisa

foram aqui divididos em seccedilotildees para uma melhor organizaccedilatildeo e compreensatildeo relativas aos

seus respectivos programas

41 Programa nacional de alimentaccedilatildeo escolar (PNAE)

O PNAE considerado o maior programa de fornecimento de suplementaccedilatildeo alimentar

brasileiro abrange quase todos os municiacutepios do paiacutes este programa tanto contribui para o

desenvolvimento do discente quanto para o seu processo de aprendizagem assegurando

tambeacutem um aporte miacutenimo alimentar para populaccedilotildees necessitadas Para usufruir do

programa uma instituiccedilatildeo deve criar um Conselho de Alimentaccedilatildeo Escolar (CAE) para

fiscalizar e controlar a aplicaccedilatildeo dos recursos fornecidos bem como participar na elaboraccedilatildeo

dos cardaacutepios O PNAE tambeacutem contribui para a aquisiccedilatildeo de produtos alimentiacutecios advindos

do comeacutercio local do pequeno produtor agriacutecola e da pecuaacuteria local (BELIK CHAIM 2009)

Na instituiccedilatildeo onde a pesquisa foi realizada a porcentagem de repasse do FNDE para a

aquisiccedilatildeo desses produtos ultrapassa em 20 a porcentagem meacutedia como se pode constatar

no seguinte depoimento

―O governo manda o recurso para a escola desse recurso 50 tem que ser

destinado agrave compra da agricultura familiar e os outros 50 para alimentos

preacute-industrializados (Coordenador)

378

Segundo De Oliveira Libacircneo e Toschi (2017 p 394) ―[] o programa [] repassa a

estados e municiacutepios 30 centavos por aluno por dia letivo para complementar a verba da

merenda O paracircmetro para a liberaccedilatildeo dos recursos [] eacute o nuacutemero de alunos levantado pelo

Censo Escolar [] do ano anterior Essa afirmaccedilatildeo eacute evidente na seguinte fala

―O valor do recurso para escola eacute mediante ao levantamento do Censo do

ano anterior o nuacutemero de matriacuteculas de alunos em relaccedilatildeo ao Censo do ano

anterior (Coordenador)

42 Programa Dinheiro Direto Na Escola (PDDE)

O PDDE instituiacutedo na deacutecada de 1990 objetiva distribuir anualmente recursos agraves

escolas puacuteblicas estaduais municipais e do Distrito Federal os quais satildeo provenientes

majoritariamente do salaacuterio-educaccedilatildeo O paracircmetro para a liberaccedilatildeo eacute a presenccedila na

instituiccedilatildeo de uma unidade executora (UEx) proacutepria (DOURADO 2007) como observado

esse programa estaacute em desenvolvimento na referida instituiccedilatildeo objeto de estudo da pesquisa

O entrevistado relatou seu conhecimento sobre o programa em desenvolvimento na escola e

explicitou em seus argumentos o nome dado a UEx da instituiccedilatildeo

―O PDDE eacute um projeto do governo federal que envia recursos para melhoria

do ensino da estrutura de ensino da escola Entatildeo o recurso quando chega

quando a gente sabe o valor que vai vir eacute uma das necessidades sentar com

o Conselho pra traccedilar as prioridades de como vai ser gasto esse dinheiro

Entatildeo o Conselho eacute quem determina como e quando deve ser aplicado o

dinheiro (Coordenador)

A transferecircncia eacute dependente do Censo Escolar anterior ao ano de atendimento e os

recursos na instituiccedilatildeo podem ter diversos destinos que primem para a melhoria da qualidade

de ensino tais como a aquisiccedilatildeo de materiais permanentes e de consumo e manutenccedilatildeo e

conservaccedilatildeo da estrutura da unidade escolar

Podemos assim verificar nos pressupostos do entrevistado

―A gente recebe o recurso [] que tambeacutem eacute calculado pelo governo

mediante ao nuacutemero de alunos matriculado na escola E aiacute parte desse

dinheiro eacute destinada pra consumo e outra parte pra serviccedilo Consumo inclui

material de expediente como tambeacutem material permanente mobiacutelia

equipamentos E a outra parte [] desse recurso a serviccedilos que isso eacute preacute-

determinado antes pelo conselho escolar que determina como vai ser

aplicado esse recurso (Coordenador)

379

Tambeacutem eacute vaacutelido ressaltar que o PDDE tambeacutem pode atuar como subsiacutedio para a

implementaccedilatildeo de outros programas como o Escola Acessiacutevel e o Mais Educaccedilatildeo contudo

estes uacuteltimos satildeo ausentes no locus da investigaccedilatildeo

43 Programa Nacional Biblioteca Da Escola (PNBE)

O fornecimento de materiais paradidaacuteticos a uma instituiccedilatildeo de ensino eacute

imprescindiacutevel visto que tais recursos servem como alicerce na construccedilatildeo de conhecimentos

dos alunos e no papel de mediaccedilatildeo pedagoacutegica dos docentes

A principal funccedilatildeo do PNBE eacute a distribuiccedilatildeo de obras de literatura e de referecircncia

(enciclopeacutedias e dicionaacuterios) agraves escolas de educaccedilatildeo baacutesica da rede puacuteblica promovendo

acessibilidade a fontes de informaccedilatildeo e excitando a leitura e a criticidade no processo de

formaccedilatildeo docente e discente (De Oliveira Libacircneo e Toschi 2017) Todavia o coordenador

natildeo demonstrou conhecimentos suficientes em relaccedilatildeo ao seu funcionamento na escola mas

informou sobre quais materiais satildeo enviados para a escola em relaccedilatildeo ao PNBE aleacutem do livro

didaacutetico como constatado no seguinte relato

―Natildeo sei [] como [] funciona eu natildeo estou bem interado com ele [] Eu

sei que a biblioteca tem recebido alguns livros [] que anualmente se

recebe livros paradidaacuteticos mapas dicionaacuterios (Coordenador)

44 Programa Nacional Do Livro Didaacutetico Do Ensino Meacutedio (PNLEM)

Este eacute um dos trecircs programas voltados ao livro didaacutetico que satildeo efetuados pelo MEC

em relaccedilatildeo ao Programa Nacional do Livro Didaacutetico (PNLD) e estaacute em funcionamento na

escola de ensino meacutedio onde a pesquisa se concretizou

―No caso do livro didaacutetico natildeo vem recurso natildeo existe recurso Eacute feito a

cada trecircs anos a escolha do livro didaacutetico atraveacutes do PNLDE que eacute feito a

escolha pelos professores e mediante a escolha o Governo Federal vai

mandando esses livros (Coordenador)

De acordo com o contexto supracitado sabe-se que a aquisiccedilatildeo dos livros eacute realizada

exclusivamente pelo FNDE por meio de um termo de adesatildeo firmado pela instituiccedilatildeo

380

beneficiaacuteria do programa Ou seja para a aquisiccedilatildeo do material natildeo se faz necessaacuteria a

transferecircncia de recursos

O Coordenador entrevistado elucida o processo de escolha do livro didaacutetico assim

como um dos problemas do PNLEM em exerciacutecio na escola

―No caso o Governo Federal abre o programa [] as escolas se reuacutenem

passam quais satildeo os livros que eles desejam adotar o Governo Federal

realiza a compra e envia pra escola Os professores por aacuterea sentam

discutem entram num consenso pra que a escola adote um uacutenico livro para

aquela disciplina Para que natildeo haja cada professor com um livro diferente

entatildeo entram em um consenso entre os professores da disciplina e faz a

escolha faz agrave anaacutelise do livro eles recebem os cataacutelogos com alguns

informes sobre o livro

―Agraves vezes acontece de natildeo vir na quantidade suficiente porque como todo

levantamento eacute sempre feito em cima de uma matriacutecula do ano anterior

acaba as matriacuteculas ultrapassando o nuacutemero de livros E acaba que alguns

alunos tecircm dificuldades e tem que conseguir livro emprestado com outras

escolas mas natildeo existe recurso na escola para compra de livro didaacutetico

(Coordenador)

A instituiccedilatildeo oferece para o corpo discente livros consumiacuteveis (sociologia filosofia

inglecircs e espanhol) e livros reutilizaacuteveis (portuguecircs matemaacutetica quiacutemica fiacutesica biologia

histoacuteria e geografia) que possuem um periacuteodo de utilidade de trecircs anos

O Programa Nacional do Livro Didaacutetico em Braille eacute um dos programas voltados ao

livro didaacutetico com enfoque no atendimento de deficientes visuais os materiais satildeo transcritos

para Braille propiciando o acesso da leitura aqueles O entrevistado justifica a natildeo utilizaccedilatildeo

desse programa na instituiccedilatildeo

―Natildeo temos assim livros em Braille e nem temos alunos com essa

necessidade especial tambeacutem aqui na escola ainda (Coordenador)

Entretanto essa conduta deve ser reavaliada pois como afirma o Art 3ordm da Lei de

Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional nordm 939496 o ensino dever ser ministrado com

igualdade de condiccedilotildees de acessibilidade e permanecircncia da escola assim sendo a aquisiccedilatildeo

desses livros em Braille poderiam garantir acessibilidade a alunos cegos

381

45 Programa Caminho Da Escola

Eacute um dos programas ofertados pelo MEC que primam contribuir financeiramente para

a obtenccedilatildeo de veiacuteculos automotores para o transporte diaacuterio de alunos da zona rural e bairros

distantes da instituiccedilatildeo assegurando o acesso e permanecircncia dos alunos na escola

O processo de aquisiccedilatildeo dos ocircnibus segue um processo simples conforme percebemos

nas seguintes declaraccedilotildees

―A gente participa do programa de transporte escolar que eacute ofertado pelo

municiacutepio poreacutem em parceria com o estado Todos os nossos alunos natildeo

pelo menos 90 usam transporte escolar

―O ocircnibus como eacute ofertado pelo o estado pelo programa Caminho da Escola

natildeo eacute uso exclusivo dos nossos alunos usam todos os alunos das escolas da

localidade [] proacutexima [] entatildeo vem [] vaacuterias ―escolas no ocircnibus

―[] Haacute um convecircnio com a prefeitura-estado onde a prefeitura faz a

contrataccedilatildeo e o estado em contrapartida transfere parte do recurso pra

pagamento do transporte (Coordenador)

46 Plano De Accedilotildees Articuladas (PAR)

O PAR refere-se ao planejamento multidimensional e plurianual (quatro

anos) que os municiacutepios os estados e o Distrito federal devem fazer para a

obtenccedilatildeo de apoio teacutecnico e financeiro do MEC [] O PAR eacute coordenado

pela Secretaria MunicipalEstadual de Educaccedilatildeo mas deve ser elaborado

com a participaccedilatildeo de gestores e professores e da comunidade local (De

Oliveira Libacircneo e Toschi 2017 p 402)

A instituiccedilatildeo em questatildeo contempla esse programa que aleacutem das funccedilotildees citadas

anteriormente propicia aos professores e gestores capacitaccedilotildees sobre temaacuteticas importantes

no acircmbito educacional como podemos verificar no seguinte esclarecimento do Coordenador

―A gente teve o PAR que foi um programa do ensino meacutedio e encerrou no

final de dezembro e a gente estaacute aguardando a segunda fase desse projeto

Esse programa oferece capacitaccedilatildeo para os professores

―Nesse primeiro momento foi sobre a gestatildeo democraacutetica nas escolas e foi

tratado vaacuterios temas relacionados a essa questatildeo da democratizaccedilatildeo do

ensino (Coordenador)

382

5 Conclusotildees

Eacute notaacutevel que a instituiccedilatildeo estadual puacuteblica de educaccedilatildeo baacutesica EEM Governador

Adauto Bezerra natildeo possui todos os programas financiados pelo FNDE por conta de sua

estruturaccedilatildeo fiacutesica e organizacional Dentre os programas ausentes na instituiccedilatildeo alvo da

pesquisa destaca-se o Programa Nacional do Livro Didaacutetico para a Alfabetizaccedilatildeo de Jovens e

Adultos (PNLA) cuja ausecircncia reflete na reduccedilatildeo de oportunidades inclusivas o Programa

Nacional de Apoio ao Transporte do escolar (Pnate) o Programa nacional de Reestruturaccedilatildeo e

Aquisiccedilatildeo de Equipamentos para a Rede escolar Puacuteblica de educaccedilatildeo Infantil (Proinfacircncia) e

o Programa Nacional de Sauacutede do escolar (PNSE) aos qual a ausecircncia eacute justificada devido agrave

oferta do ensino meacutedio pela escola o Programa Brasil Profissionalizado e o Programa

Nacional de Formaccedilatildeo Continuada a Distacircncia nas Accedilotildees do FNDE (Formaccedilatildeo pela Escola)

Contudo a escola deteacutem programas necessaacuterios para a melhoria da qualidade do

ensino do processo ensino-aprendizagem do aluno da assistecircncia dos mesmos da

capacitaccedilatildeo dos professores e gestores aleacutem de proporcionar um melhor rendimento escolar

Em breve siacutentese observa-se que os objetivos propostos por cada programa possuem caraacuteter

fundamental no acircmbito educacional poreacutem sempre eacute necessaacuterio reavaliar se ausecircncia dos

programas citados acima prejudicam a qualidade da educaccedilatildeo e em caso positivo dirigir-se

aos oacutergatildeos competentes para a implementaccedilatildeo dos mesmos eacute a atitude mais sensata a se

concretizar

A anaacutelise do funcionamento de tais programas eacute indispensaacutevel para todos os futuros

educadores e cidadatildeos pois assim podemos a familiarizaccedilatildeo tanto com a legislaccedilatildeo proposta

para a contribuiccedilatildeo social do salaacuterio-educaccedilatildeo (SE) de onde eacute retirado os recursos a serem

investidos nesses programas quanto aos objetivos perspectivas e avaliaccedilotildees dos mesmos satildeo

elucidadas Assim sendo podemos diagnosticar as falhas nos desenvolvimento daqueles na

instituiccedilatildeo bem como avaliar qualitativamente os sucessos alcanccedilados e promover melhorias

caso haja deficiecircncias em relaccedilatildeo aos objetivos pretendidos

Basta-nos reconhecer portanto que o desenvolvimento dos programas na aludida

instituiccedilatildeo contribuem para o desenvolvimento da educaccedilatildeo no paiacutes cumprindo com o

principal objetivo para qual o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo foi

instaurado mesmo em meio a certas insatisfaccedilotildees Corroborando tambeacutem para uma melhoria

383

no processo educacional do corpo discente nos projetos educacionais do corpo docente e do

nuacutecleo administrativo da escola e tambeacutem indiretamente agrave comunidade

6 Referecircncias

BELIK W CHAIM N A O programa nacional de alimentaccedilatildeo escolar e a gestatildeo municipal

eficiecircncia administrativa controle social e desenvolvimento local Revista de Nutriccedilatildeo

Campinas v 5 n 22 p 595-607 setout 2009

BRASIL Constituiccedilatildeo (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia

DF 1988 Disponiacutevel em

httpwwwstfjusbrarquivocmslegislacaoConstituicaoanexoCFpdf Acesso em 12 ago

2017

______ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional ndeg

939496 Brasiacutelia DF 1996 Disponiacutevel em

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CASTRO M L S Educaccedilatildeo e economia anaacutelise de artigos publicados em perioacutedicos

brasileiros 1982-2000 Anaacutelise Porto Alegre v 17 n 2 p 224-233 juldez 2006

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educacionais na efetivaccedilatildeo do direito agrave educaccedilatildeo no Brasil Brasiacutelia Ipea 2011 Cap 5 p

79-94

DE OLIVEIRA J F LIBAcircNEO J C TOSCHI M S Educaccedilatildeo escolar poliacuteticas estrutura

e organizaccedilatildeo Satildeo Paulo Cortez 2017

DOURADO L F Poliacuteticas e gestatildeo da educaccedilatildeo baacutesica no Brasil limites e perspectivas

Educ Soc Campinas v 28 n 100 p 921-946 out 2007

VELOSO F E Evoluccedilatildeo recente e propostas para a melhoria da educaccedilatildeo no Brasil Brasil

a nova agenda social Rio de Janeiro LTC p 215-253 2011

384

APEcircNDICE ndash QUESTIONAacuteRIO

1- A escola proporciona a modalidade EJA

2- Como funciona na instituiccedilatildeo

3- Qual o valor repassado por aluno por dia letivo

4- Qual a exigecircncia para a liberaccedilatildeo dos recursos do PNAE

5- Em que os recursos disponibilizados pelo PDDE satildeo utilizados

6- Qual o objetivo desse programa

7- Como a instituiccedilatildeo recebe o dinheiro

8- A instituiccedilatildeo dispotildee de programas contemplados pelo Programa Dinheiro Direto na

Escola como o Escola Aberta o Escola Acessiacutevel e o Mais Educaccedilatildeo Como

funcionam

9- Qual o objetivo do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) na instituiccedilatildeo

10- Que tipo de acervo de obras adveacutem desse programa

11- Haacute trecircs programas voltados ao livro didaacutetico que satildeo executados pelo MEC o

Programa Nacional do Livro Didaacutetico (PNLD) o Programa Nacional do Livro

Didaacutetico para o Ensino Meacutedio (PNLEM) e o Programa Nacional do Livro Didaacutetico

para a Alfabetizaccedilatildeo de Jovens e Adultos (PNLA) A instituiccedilatildeo contempla algum

destes Qual (is) Como funciona (m)

12- Como eacute feita a aquisiccedilatildeo dos livros

13- Quais os livros reutilizaacuteveis e os consumiacuteveis

14- A instituiccedilatildeo apresenta o Programa Nacional do Livro Didaacutetico em Braille

15- A escola possui o Programa Caminho da Escola Como funciona Qual o puacuteblico

principal atendido Quais outras entidades estatildeo relacionadas a esse programa

385

16- A escola possui o Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar (Pnate)

Como se desenvolve Qual o puacuteblico-alvo

17- A escola dispotildee do Programa Brasil Profissionalizado Como funciona Em que os

recursos satildeo utilizados

18- A instituiccedilatildeo dispotildee do Programa Nacional de Formaccedilatildeo Continuada a Distacircncia nas

Accedilotildees do FNDE (Formaccedilatildeo pela Escola) O que ele prioriza

19- A instituiccedilatildeo dispotildee do Programa Nacional de Sauacutede Escolar (PNSE) Em que ele

consiste

20- Como eacute realizado o Plano de Accedilotildees Articuladas (PAR) Qual eacute o objetivo Por quem

eacute coordenado

21- A escola possui alguma outro programa financiado pelo FNDE aleacutem destes Quais

Como funcionam

386

PERFIL DA MULHER NO SETOR INDUSTRIAL FORMAL CEARENSE - 2016

JOANA PRISCILA BARBOSA DA SILVA (Graduanda em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri ndash URCA e

pesquisadora do Grupo de Estudos em Territorialidades Econocircmicas e Desenvolvimento

Regional e Urbano - GETEDRU joannasiilva24gmailcom)

NATANAEL PESSOA LUSTOZA

(Graduado em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri ndash URCA e

pesquisador do Grupo de Estudos em Territorialidades Econocircmicas e Desenvolvimento

Regional e Urbano - GETEDRU natanaelpessoa1995gmailcom)

ALAYANNA DARLLY ARAUO DOS SANTOS

(Graduanda em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri ndash URCA

alayannadarlly24gmailcom)

CARLOS EDUARDO PEREIRA DO NASCIMENTO

(Graduando em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri ndash URCA e

pesquisador do Grupo de Estudos em Territorialidades Econocircmicas e Desenvolvimento

Regional e Urbano ndash GETEDRU eduardocarlos2807gmailcom)

387

PERFIL DA MULHER NO SETOR INDUSTRIAL FORMAL CEARENSE - 2016

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo analisar o perfil sociodemograacutefico e socioeconocircmico da

mulher no setor industrial formal cearense em 2016 Para tanto foram utilizados dados da

Relaccedilatildeo Anual de Informaccedilotildees Sociais (RAIS) do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (MTE) Em

termos teoacutericos foi feita uma breve descriccedilatildeo sobre a inserccedilatildeo da mulher no mercado de trabalho

e sobre o processo de industrializaccedilatildeo cearense Quanto ao perfil das empregadas na induacutestria

formal cearense os dados revelam que estas estatildeo em menor nuacutemero que os trabalhadores do sexo

masculino estatildeo expressivamente concentradas no setor da induacutestria tecircxtil de calccedilados e de

alimentos e bebidas tecircm entre 30 a 39 anos (idade considerada ativa) possuem ensino meacutedio

completo permanecem por um ano a menos de trecircs anos no mesmo emprego e auferem de 1 a 2

salaacuterios miacutenimos Assim eacute possiacutevel verificar que existe uma alta rotatividade da matildeo de obra

feminina neste setor e que mesmo com a melhoria ocorrida na educaccedilatildeo nos uacuteltimos anos os

salaacuterios permanecem baixos em grande parte devido ao tipo de induacutestria que se instalou no Cearaacute

que exige baixa qualificaccedilatildeo facilitando o processo de contrataccedilatildeo e demissatildeo demonstrando

portanto que satildeo necessaacuterios muitos avanccedilos

Palavras-chaves Mulheres Induacutestria Cearense Mercado de Trabalho Formal

ABSTRACT

The objective of this article is to analyze the socio-demographic and socioeconomic profile of

women in the formal industrial sector of Cearaacute in 2016Therefore were used data from the

Annual Social Information (ASI) of the Ministry of Labour and Employment (MLE) In

theoretical terms a brief description was made on the insertion of women in the labor Market

and on the process of industrialization in Cearaacute Regarding the profile of female employees in

the formal industry of Cearaacute the data show that they are in less number than the male

workers are concentrated in the textile footwear and food and drinks industry are between

30 and 39 years of age (considered to be active) have completed high school stay for one

year to less than three years in the same job and earn 1 to 2 minimum salaries Thus it is

possible to verify that there is a high turnover of female labor in this sector and that even with

the improvement in education in recent years the wages remain low in large part due to the

type of industry that settled in Cearaacute which requires low qualification facilitating the

process of hiring and dismissal demonstrating therefore that many advances are needed

Keywords WomenIndustry in Cearaacute Formal Labor Markek

388

1 Introduccedilatildeo

As transformaccedilotildees econocircmicas sociais culturais e poliacuteticas pela qual vecircm passando a

sociedade ao longo dos uacuteltimos anos tem ditado agraves novas configuraccedilotildees no espaccedilo social A

busca pela igualdade norteada pela ascensatildeo da participaccedilatildeo da mulher nas decisotildees sociais e

na conquista do movimento feminista tem configurado nova realidade para as mulheres no

seacuteculo XXI Atraveacutes de sua inserccedilatildeo no mercado de trabalho especialmente em cargos de

maior projeccedilatildeo social orientam a jornada da mulher na busca e na consolidaccedilatildeo do seu papel

quanto agente de transformaccedilatildeo poliacutetica e social (SILVA FILHO QUEIROZ

CLEMENTINO 2016)

O Brasil passa por inuacutemeras mudanccedilas social econocircmica e demograacutefica que

constituem de modo direto sobre a forccedila de trabalho Com a industrializaccedilatildeo permanente

renova seus meios produtivos e fica cada vez mais urbano Profundas modificaccedilotildees

confortado pelos processos feministas tambeacutem decorreram nesse mesmo tempo no papel da

mulher na sociedade e nos padrotildees de comportamento facilitando a entrada da mulher no

mercado de trabalho e estabelecendo com que mais mulheres atuassem na vida puacuteblica A

diminuiccedilatildeo do nuacutemero de filhos por mulheres nos locais mais apresentados do paiacutes o

crescimento do niacutevel de escolaridade e o penetrar a mias de mulheres a universidade

colaboraram para esse crescimento (QUERINO DOMINGUES LUZ 2013)

De acordo com Arrais Queiroz e Alves (2008) movidas por questotildees esconomicas e

sociais como complementaccedilatildeo da renda independecircncia financeira aumento da

escolaridade criaccedilatildeo de empregos combinantes a aptidotildees femininas mudanccedilas do papel da

mulher na sociedade utilizaccedilatildeo de meacutetodos contraceptivos ou por assumirem em diversos

casos o papel de chefe da famiacutelia contata-se expansatildeo ainda que de forma lenta da

participaccedilatildeo das mulheres na induacutestria formal seguindo uma tendecircncia nacional e mundial

Assim esse trabalho justifica-se por ampliar o conhecimento a respeito da inserccedilatildeo

feminina no mercado formal de trabalho industrial cearense Para tanto este estudo tem

como objetivo geral verificar a participaccedilatildeo feminina no setor industrial cearense no ano de

2016 Portanto traccedila-se o perfil sociodemograacutefico e socioeconocircmico das trabalhadoras em

tal setor

Para alcanccedilar o objetivo proposto o artigo encontra-se estruturado da seguinte

forma aleacutem dessa introduccedilatildeo a segunda parte faz uma breve contextualizaccedilatildeo da inserccedilatildeo

389

das mulheres no mercado de trabalho A terceira descreve a evoluccedilatildeo histoacuterica da induacutestria

no Cearaacute A quarta apresenta os procedimentos metodoloacutegicos A quinta seccedilatildeo analisa a

participaccedilatildeo da mulher no mercado de trabalho industrial cearense Por uacuteltimo apresentam-

se as consideraccedilotildees finais do estudo

2 A mulher no mercado de trabalho

A participaccedilatildeo da mulher no mercado de trabalho iniciou-se de fato com as I e II

Guerras Mundiais quando os homens se ausentavam para as frentes de batalha e as mulheres

passavam a tomar os negoacutecios da famiacutelia e o cargo dos homens no mercado de trabalho Mas

a guerra teve fim e com ela a vida de diversos homens que lutaram pelo paiacutes Alguns dos que

sobreviveram a batalha foram mutilados e se tornaram inaptos de voltar ao trabalho

(PROBST 2015)

Com as Guerras mundiais (I e II) as mulheres tomaram os negoacutecios da famiacutelia e um

lugar de trabalho no mercado Junto a evoluccedilatildeo industrial diversas mulheres saiacuteram para

trabalhar em faacutebricas se sobrelevando assim da lei mas a exploraccedilatildeo seguiu por muito

tempo De acordo com o Artigo 13 inciso I da Constituiccedilatildeo Federal ―todos satildeo iguais perante

a lei contudo as mulheres estatildeo tentando pocircr em praacutetica essa lei (BAYLAtildeO SCHETTINO

2014)

De acordo com os autores a introduccedilatildeo da mulher no mercado de trabalho aconteceu

junto agrave necessidade de sua parcela nos serviccedilos que estavam junto ao ganho financeiro da

famiacutelia com o princiacutepio na Revoluccedilatildeo Industrial absorvendo de forma significativa a matildeo de

obra feminina pelas induacutestrias com a finalidade de baratear os salaacuterios e tambeacutem pela maior

facilidade de disciplinar esse novo grupo de operaacuterias onde trazendo decisivamente a mulher

na produccedilatildeo ―A inserccedilatildeo da mulher no mercado foi marcada por um periacuteodo de preconceitos

e dificuldades (ASSIS 2009 p 2)

O desempenho feminino na populaccedilatildeo economicamente ativa tem ampliado em quase

todos os paiacuteses do mundo desde a deacutecada de 70 De acordo com dados das naccedilotildees unidas

cerca de 45 das mulheres do mundo entre 15 e 64 anos de idades encontram-se

economicamente ativas A taxa de atuaccedilatildeo feminina cresceu tanto nos periacuteodos de recessatildeo

quanto nos de prosperidade ao tempo em que a participaccedilatildeo masculina tem reduzido

(GARCIA CONFORTO 2010)

390

Ao falar sobre a participaccedilatildeo da mulher no mercado de trabalho brasileiro Hoffmann e

Leone (2004) ressaltam a partir da deacutecada de 1970 otimizou-se a participaccedilatildeo das mulheres

na movimentaccedilatildeo econocircmica em uma conjuntura de ampliaccedilatildeo da economia com veloz

processo de industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo Prolongou na deacutecada de 1980 apesar da

paralizaccedilatildeo da atividade econocircmica e da deterioraccedilatildeo das oportunidades de ocupaccedilatildeo Nos

anos 1990 deacutecada determinada pela acentuada abertura econocircmica pelos baixos

investimentos e pela terceirizaccedilatildeo da economia estendeu a habilidade de crescente

incorporaccedilatildeo da mulher na forccedila de trabalho Todavia incrementa-se nessa uacuteltima deacutecada o

desemprego feminino apresentando que o crescimento de postos de trabalho para mulheres

natildeo foi bastante para absorver o montante do crescimento da Populaccedilatildeo Economicamente

Ativa (PEA) feminina

Ao acontecer a Revoluccedilatildeo Industrial ocorreu a exploraccedilatildeo de matildeo-de-obra sendo o

tempo ponderado natildeo pelos artesatildeos mas pelos donos da induacutestria Os trabalhos das crianccedilas

e das mulheres foram de grande importacircncia para as faacutebricas visto que diminuiacutea os esforccedilos

realizados como tambeacutem os custos com os salaacuterios As mulheres apresentam serem

completamente exploradas nas faacutebricas possuindo exceccedilatildeo nas horas de trabalho salaacuterios

muito baixos entre outros (BAYLAtildeO SCHETTINO 2014)

3 Induacutestria no Cearaacute

O Cearaacute bem como o Brasil auferiu uma industrializaccedilatildeo tardia sobretudo pelo

aspecto agroexportador que o paiacutes teve nos seacuteculos XVI XVII XVIII e XIX

Concomitantemente ao processo de industrializaccedilatildeo da Inglaterra o estado do Cearaacute

apresentava-se em um espaccedilo aberto agrave pecuaacuteria De fato esta atividade foi de suma

importacircncia no povoamento do estado Para Pompeu Sobrinho (1917) a pecuaacuteria extensiva

caracterizava-se como uma atividade preacute-industrial isto eacute foi o criatoacuterio extensivo que

possibilitou efetivamente a colonizaccedilatildeo do Cearaacute Ateacute entatildeo a capital Fortaleza era um mero

espaccedilo pautado no marasmo econocircmico Diferente de Aracati e Icoacute centros de distribuiccedilatildeo e

processo de preparo do gado para exportaccedilatildeo A economia cearense povoada inicialmente em

1603 tornou-se um espaccedilo para economias secundaacuterias (agricultura de subsistecircncia e

pecuaacuteria) a principal (accediluacutecar) (FIEC 2010)

Com a primeira Revoluccedilatildeo Industrial iniciada no final do seacuteculo XVIII favoreceu a

economia cearense e maranhense Este segmento industrial demandava de forma crescente

391

suas mateacuterias-primas O algodatildeo passou a ser o produto primaacuterio mais valorizado Com a

guerra de secessatildeo dos Estados Unidos e sua saiacuteda do mercado algodoeiro o Cearaacute e o

Maranhatildeo despontam neste mercado Aquele se destaca e torna-se um grande produtor de

algodatildeo o que favorece a incipiente ascensatildeo de Fortaleza que despontaraacute como centro

econocircmico do estado Essa praacutetica pocircde ser fomentada mediante algumas condiccedilotildees

favoraacuteveis A primeira delas eacute o fator locacional haja vista a regiatildeo semiaacuterida possuir solo

adequado para atividade algodoeira a segunda pode ser considerada pelo grande mercado

consumidor (grandes naccedilotildees como a Inglaterra) e a inserccedilatildeo cearense no comeacutercio

internacional e a grande oferta de matildeo-de-obra que o Cearaacute possuiacutea (FIEC 2010 SOUZA

1994)

Segundo Giratildeo (2000 p213) ―foi a comeccedilar de 1777 que no Cearaacute se cogitou do

algodatildeo como elemento comerciaacutevel e natildeo simplesmente mateacuteria prima de rudimentar

induacutestria caseira na feitura de fios panos grosseiros e redes de dormir A induacutestria cearense

destarte nascia de forma incipiente a partir da distribuiccedilatildeo dos produtos colocados na pauta

de exportaccedilatildeo do estado escoados para o mercado internacional a partir de Fortaleza

iniciando sua crescente fase de concentraccedilatildeo econocircmica e consolidaccedilatildeo como capital do

Cearaacute

A partir disso Amora (2005) elenca trecircs periacuteodos da implantaccedilatildeo da induacutestria no

Cearaacute

No Cearaacute em geral identificam-se trecircs periacuteodos de implantaccedilatildeo industrial que

correspondem a momentos distintos da divisatildeo internacional e nacional do trabalho

o primeiro inicia-se no final do seacuteculo XIX e estende-se ateacute os anos de 1950 o

segundo compreende os anos de 1960 ateacute meados da deacutecada de 1980 quando

comeccedila um terceiro periacuteodo ainda em curso (AMORA 2005 p 371)

O periacuteodo coronelista teve significativa colaboraccedilatildeo para o quadro espacial e

organizacional do estado pois este momento cria as bases de transiccedilatildeo do segundo para o

terceiro periacuteodo Todavia o uacuteltimo periacuteodo citado por Amora (2005) eacute o de maior relevacircncia

―devido agraves accedilotildees modernizadoras e impacto no territoacuterio agraves ideias neoliberais e importacircncia

para a dinamizaccedilatildeo da Regiatildeo Metropolitana de Fortaleza (RMF) (ARAUJO 2007 p 100)

reconhecido como o Governo de Mudanccedilas

Taxado de anacrocircnico o modelo poliacutetico do coronelismo eacute substituiacutedo em 1986 pelo

entatildeo Governador Tasso Jereissati com o objetivo de inserir o estado no modelo de

mundializaccedilatildeo da produccedilatildeo atuando mediante praacuteticas neoliberais (ARAUJO 2007)

392

A partir daiacute tem-se um maior aporte de investimentos de outros estados e do exterior

pelo caraacuteter de atraccedilatildeo de investimentos e pelo discurso de emprego e geraccedilatildeo de renda

Pereira Juacutenior (2005 p 53) chama atenccedilatildeo para isso quando diz que a partir da Era

Jereissatilsquo ―a industrializaccedilatildeo eacute abertamente um dos maiores interesses dos programas

econocircmicos adotados pelo Cearaacute

As poliacuteticas de industrializaccedilatildeo cearense foram importantes no que tange a

configuraccedilatildeo espacial do estado Refletem no significativo aumento da populaccedilatildeo urbana ao

estimular o ecircxodo rural o agronegoacutecio e a modificaccedilatildeo das relaccedilotildees de trabalho Essa

transformaccedilatildeo econocircmico-urbana promovida pelo Governo Mudancista modificou as bases

anacrocircnicas do coronelismo para um de modelo de atraccedilatildeo de investimentos pautado em

incentivos e uma miriacuteade de matildeo-de-obra disponiacutevel Elias e Sampaio (2002 p 11) colocam

que

O Estado do Cearaacute assume novo papel na divisatildeo social e territorial do trabalho no

Brasil e deve ser considerado como uma fraccedilatildeo do espaccedilo total do planeta cada vez

mais aberto agraves influecircncias exoacutegenas e aos novos signos contemporacircneos Como

objeto e sujeito da economia globalizada eacute um espaccedilo que pouco possui de

autocircnomo pois natildeo existe por si mesmo de forma independente do resto do mundo

com o qual interage permanentemente no processo de acumulaccedilatildeo de capital No

entanto nos uacuteltimos quinze anos eacute visiacutevel sua reestruturaccedilatildeo econocircmica com

objetivos claros de inserir-se no circuito da produccedilatildeo e consumos globalizados

Atualmente o Cearaacute eacute um dos grandes centros econocircmicos do Nordeste (ao lado de

Pernambuco e Bahia) e no cenaacuterio nacional ndash ateacute no internacional como ponto de escoamento

para o comeacutercio exterior

Todavia cabe salientar que a industrializaccedilatildeo promovida no estado evidencia que as

verdadeiras justificativas

[] que induzem ao processo de acumulaccedilatildeo de capital assim como as decisotildees

sobre o ambiente ideal de alocaccedilatildeo dos investimentos muitas vezes escondem-se

sob formulaccedilotildees poliacuteticas sendo estas apresentadas como objetivos sociais a fim de

obter efeitos em niacutevel ideoloacutegico A concepccedilatildeo que enfatiza o papel dos governos e

das forccedilas que movimentam as relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo nesse caso esclarece

muito melhor o processo (PEREIRA JUacuteNIOR 2011 p 217)

4 Procedimentos metodoloacutegicos

A principal fonte de informaccedilotildees utilizada nesse estudo eacute a Relaccedilatildeo Anual de

Informaccedilotildees Sociais (RAIS) do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (MTE) De acordo com

Silva et al (2017) essa base de dados eacute uma pesquisa anual e abrange cerca de 97 do

393

mercado de trabalho formal brasileiro A mesma tem por objetivo atender as necessidades de

estatiacutesticas de controle e informaccedilotildees aos investigadores e entidades governamentais sobre os

exerciacutecios trabalhistas formais no paiacutes

Para este estudo a aacuterea de investigaccedilatildeo corresponde ao estado do Cearaacute Por sua vez o

ano em estudo eacute 2016 e o intuito eacute analisar a participaccedilatildeo feminina no setor industrial

Os conceitos adotados nesse estudo seguem as definiccedilotildees que constam na

documentaccedilatildeo da RAIS (2016 p 25-41)

Trabalhadores formais qualquer empregado contratado que exerccedila viacutenculo

empregatiacutecio e relaccedilatildeo de emprego com trabalho remunerado e carteira assinada sob o regime

da Consolidaccedilatildeo das Leis do Trabalho (CLT) Consiste em trabalho fornecido por

empregadores pessoa fiacutesica ou juriacutedica por prazo determinado indeterminado ou a tiacutetulo de

experiecircncia que confira ao empregado sob qualquer ocupaccedilatildeo trabalhista todos os direitos

previstos em Lei

Remuneraccedilotildees mensais pagas ou natildeo importa a competecircncia mensal a que o

empregado tem o direito de recebecirc-las independentemente do momento em que o empregador

tenha repassado ao empregado tais valores

41 Variaacuteveis

Setor de Atividade Induacutestria

Sexo Masculino e Feminino

Setores da Induacutestria de Transformaccedilatildeo Extrativa mineral Prod Mineral natildeo metaacutelico

Induacutestria metaluacutergica Induacutestria mecacircnica Eleacutetrico e comunicaccedilotildees Mateacuteria e transportes

Madeira e mobiliaacuterio Papel e graacutefica Borracha Fumo e Couros Induacutestria quiacutemica Induacutestria

tecircxtil Induacutestria de calccedilados Alimentos e bebidas Serviccedilos de utilidade puacuteblica

Faixa Etaacuteria De 15 agrave 17 anos de 18 agrave 24 anos de 25 agrave 29 anos de 30 agrave 39 anos de 40

agrave 49 anos de 50 agrave 64 anos 65 anos ou mais e ignorado

Niacutevel de Instruccedilatildeo Sem Instruccedilatildeo Ateacute 5ordf Incompleto 5ordf Completo Fundamental 6ordf a

9ordf Fundamental Fundamental Completo Meacutedio Incompleto Meacutedio Completo Superior

Incompleto Superior Completo Mestrado e Doutorado

Tempo de Emprego Menos de 1 ano 1 a menos de 3 anos 3 a menos de 5 anos 5 ou

mais anos e ignorado

394

Rendimento em Salaacuterio Miacutenimo Ateacute 1 salaacuterio 1 a 2 salaacuterios miacutenimos 2 a 4 salaacuterios

miacutenimos 4 a 7 salaacuterios miacutenimos 7 a 10 salaacuterios miacutenimos 10 a 15 salaacuterios miacutenimos 15 a 20

salaacuterios miacutenimos mais de 20 salaacuterios miacutenimos e ignorado

Posteriormente a extraccedilatildeo das variaacuteveis acima citadas por meio do banco de dados on-

line da RAISMTE as resoluccedilotildees coletadas e tabuladas foram apresentadas em tabelas com as

suas respectivas anaacutelises

5 Perfil da mulher no setor industrial formal cearense

Essa seccedilatildeo analisa as o perfil sociodemograacutefico e socioeconocircmico das mulheres

inseridas na atividade industrial durante o ano de 2016 Assim seraacute analisado o perfil da

trabalhadora empregada na industrial formal cearense no que se refere ao setor de atividade

sexo setores da induacutestria de transformaccedilatildeo faixa etaacuteria niacutevel de instruccedilatildeo tempo de emprego

e rendimento

De acordo com os dados da Tabela 1 o setor de serviccedilos eacute responsaacutevel pelo maior

nuacutemero de trabalhadores formais no Cearaacute representando aproximadamente 60 do total em

seguida estatildeo os setores do comeacutercio e induacutestria que satildeo responsaacuteveis por 1808 e 1691

dos trabalhadores formais do Estado respectivamente

Tabela 1 ndash Trabalhadores por setor de atividade no Cearaacute - 2016

Setor de Atividade Abs

Induacutestria 244056 1691

Construccedilatildeo Civil 61516 426

Comeacutercio 260979 1808

Serviccedilos 853499 5913

Agropecuaacuteria 23315 162

Total 1443365 10000 Fonte Elaboraccedilatildeo dos autores a partir de RAIS (2018)

No tocante agrave anaacutelise do perfil do trabalhador observa-se na Tabela 2 que no ano em

estudo haacute predominacircncia do gecircnero masculino empregado na induacutestria O nuacutemero de

empregos masculinos na induacutestria em termos percentuais eacute de 6408 jaacute a participaccedilatildeo das

mulheres empregadas representam 3592 das vagas na induacutestria

Tabela 2- Trabalhadores na induacutestria formal cearense segundo o sexo ndash 2016

Sexo Abs

Masculino 156380 6408

395

Feminino 87676 3592

Total 244056 10000 Fonte Elaboraccedilatildeo dos autores a partir de RAIS (2018)

Quanto ao nuacutemero de empregos na induacutestria de transformaccedilatildeo os dados na Tabela 3

revelam que a induacutestria tecircxtil eacute a que mais emprega mulheres (3826) De acordo com

Toitio (2008) isso estaacute relacionado com a simplificaccedilatildeo do trabalho nos mais variados

segmentos da induacutestria tecircxtil principalmente nos setores que apresentam atividades mais

desagregadas como no tear que demanda maior sensibilidade dos cuidados e habilidades

feminina Em seguida estatildeo as induacutestria de calccedilados (274) e induacutestria de alimentos e

bebidas (1776)

Tabela 3 ndash Nuacutemero de trabalhadoras formais segundo setores da induacutestria de transformaccedilatildeo

- Cearaacute- 2016

Setor de atividade Abs Extrativa Mineral 276 031 Prod Mineral Natildeo Metaacutelico

1123 128

Induacutestria Metaluacutergica 1581 180

Induacutestria Mecacircnica 1454 166

Eleacutetrico e Comunicaccedilotildees 507 058

Material de Transporte 361 041

Madeira e Mobiliaacuterio 952 109

Papel e Graacutefica 2240 255

Borracha Fumo Couros 1714 195

Induacutestria Quiacutemica 2870 327

Induacutestria Tecircxtil 33547 3826

Induacutestria Calccedilados 24019 2740

Alimentos e Bebidas 15575 1776

Serviccedilo Utilidade Puacuteblica 1457 166

Total 87676 10000

Fonte Elaboraccedilatildeo dos autores a partir de RAIS (2018)

Por sua vez os setores de induacutestria extrativa mineral (031) material de transportes

(041) e eleacutetrico e comunicaccedilotildees (058) satildeo os setore que apresentam o menor nuacutemero de

trabalhadoras da induacutestria de transformaccedilatildeo Em nuacutemeros absolutos estes trecircs setores

agregam apenas 1144 mulheres

No tocante a idade das ocupadas de acordo com os dados da Tabela 4 a faixa etaacuteria

que mais se encontra empregada situa-se entre 30 e 39 anos (idade ativa) em termos

396

percentuais representam 357 das trabalhadoras Outra faixa etaacuteria que chama atenccedilatildeo eacute a de

25 agrave 29 anos (1962)

Tabela 4 ndash Trabalhadoras na induacutestria formal cearense segundo a faixa etaacuteria ndash 2016

Faixa etaacuteria Abs 15 agrave 17 197 022

18 agrave 24 15865 1810

25 agrave 29 17202 1962

30 agrave 39 31297 3570

40 agrave 49 16282 1857

50 agrave 64 6660 760

65 ou mais 173 020

Total 87676 10000 Fonte Elaboraccedilatildeo dos autores a partir de RAIS (2018)

Quanto a faixa etaacuteria mais jovem (15 agrave 17 anos) os quais apresentam uma

insignificante presenccedila no referido segmento (022) eacute justificada pelo aumento dos

incentivos por parte do Governo para que crianccedilas e jovens permaneccedilam estudando (SILVA

FILHO 2008) Outro fator importante decorre da falta de poliacuteticas puacuteblicas de incentivo ao

1ordm emprego e de poliacuteticas industriais a partir do recrutamento de matildeo de obra jovem (sem

experiecircncia) (SILVA FILHO QUEIROZ 2010)

Por sua vez quanto aos que possuem 65 anos ou mais tambeacutem constata-se baixa

participaccedilatildeo absoluta com apenas 173 trabalhadoras (020) A explicaccedilatildeo para o baixo

volume de pessoas nessa idade segundo Arrais (2007) eacute devido agrave falta de demanda por

trabalhadores nessa faixa etaacuteria e tambeacutem pelo fato da maioria jaacute estarem aposentados

Considerando o niacutevel de instruccedilatildeo das trabalhadoras (Tabela 5) uma quantidade

expressiva possuiacute ensino meacutedio completo representando 5848 das trabalhadoras inseridas

na induacutestria As explicaccedilotildees mais plausiacuteveis estatildeo no incentivo agrave permanecircncia dos

trabalhadores na escola e tambeacutem nos programas do Governo Federal para o combate ao

analfabetismo dentre os quais se destacam o Programa Brasil Alfabetizado e o Programa

Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos ndash EJA (SILVA FILHO QUEIROZ 2010) E apenas uma

quantidade inexpressiva estaacute classificada como analfabeta (019) o que corrobora com a

informaccedilatildeo anterior

397

Tabela 5 ndash Trabalhadoras na induacutestria formal cearense segundo o niacutevel de instruccedilatildeo - 2016

Escolaridade Abs Analfabeto 169 019

Ateacute 5ordf Incompleto 2326 265

5ordf Completo Fundamental

1602 183

6ordf a 9ordf Fundamental 5499 627

Fundamental Completo 9869 1126 Meacutedio Incompleto 8211 937

Meacutedio Completo 51270 5848

Superior Incompleto 2724 311 Superior Completo 5902 673

Mestrado 93 011

Doutorado 11 001

Total 87676 10000 Fonte Elaboraccedilatildeo dos autores a partir de RAIS (2018)

No entanto no que concerne aos niacuteveis de instruccedilatildeo mais elevados (mestrado e

doutorado) a induacutestria apresenta pequena quantidade de trabalhadoras com tal perfil Em

nuacutemeros absolutos satildeo apenas 104 mulheres que representam 012 do total Para Silva

Filho e Queiroz (2010) mesmo com a melhoria do niacutevel de instruccedilatildeo do trabalhador

cearense fica evidente o baixo niacutevel de escolaridade da matildeo de obra empregada na induacutestria

formal cearense uma vez que as induacutestrias que se deslocaram para o Cearaacute natildeo demandam

trabalhadores qualificados

Considerando o tempo de permanecircncia no segmento da induacutestria formal (Tabela 6) no

ano em anaacutelise 2317 das mulheres passaram menos de um ano na empresa E 2904

passaram entre 1 a menos de 3 anos na mesma empresa Apenas 1097 passaram mais de

10 anos na mesma empresa

De acordo com Bartar e Proni (1996 p119)

No Brasil [] eacute elevada a frequumlecircncia com que muitas pessoas estatildeo

permanentemente trocando de emprego As empresas dispotildeem de um nuacutecleo

relativamente pequeno de empregados estaacuteveis e contratam os demais apenas a

medida que o niacutevel de atividade justifica dispensando parte do pessoal quando as

vendas diminuem Elas tecircm portanto uma enorme flexibilidade para ajustar a

magnitude de funcionaacuterios a ritmo de produccedilatildeo eou vendas de produtos

398

Tabela 6 ndash Trabalhadoras na induacutestria formal cearense segundo o tempo de emprego - 2016

Tempo de serviccedilo Abs

Menos de 1 anos 20313 2317

1 ano a menos de3 anos 25459 2904

3 anos a menos de 5 anos 15956 1820

5 anos a menos de 10 anos 16485 1880

10 anos ou mais 9460 1079

ntilde class 3 000

Total 87676 10000 Fonte Elaboraccedilatildeo dos autores a partir de RAIS (2018)

Ademais para Silva Filho e Queiroz (2010) a alta rotatividade da matildeo de obra na induacutestria

cearense eacute corroborada pelo fato de que a induacutestria eacute intensiva em matildeo de obra e facilmente

substituiacutevel em virtude da baixa qualificaccedilatildeo necessaacuteriaexigida de tais profissionais

facilitando-se assim a contrataccedilatildeo e demissatildeo

No tocante ao rendimento constata-se na Tabela 7 concentraccedilatildeo de mulheres ganhando de

1 a 2 salaacuterios miacutenimos Em termos percentuais 7840 das mulheres ganhavam a referida

faixa de salaacuterio ―Isso se justifica em funccedilatildeo de as empresas atraiacutedas para o Cearaacute atraveacutes das

poliacuteticas de incentivos fiscais serem intensivas em matildeo de obra (SILVA FILHO

QUEIROZ 2010)

Tabela 7 ndash Trabalhadoras na induacutestria formal cearense segundo o rendimento em salaacuterio

miacutenimo ndash 2016

Faixa Meacutedia de Remuneraccedilatildeo Abs

Ateacute 100 8874 1012

101 agrave 200 68739 7840

201 agrave 400 5264 600

401 agrave 700 1922 219

701 agrave 1000 702 080

1001 agrave 1500 374 043

1501 agrave 2000 125 014

Mais de 2000 105 012

ntilde class 1571 179 Fonte Elaboraccedilatildeo dos autores a partir de RAIS (2018)

Quanto agrave faixa de ateacute um salaacuterio esta eacute a segunda em termos de concentraccedilatildeo e representa

1012 da matildeo de obra feminina Esse resultado mostra que mesmo com todos os avanccedilos os

trabalhadores ainda auferem uma remuneraccedilatildeo baixa o que evidencia uma falta de

reconhecimento e desestiacutemulo do trabalho Aleacutem de aumentar a desestruturaccedilatildeo dos mercados

399

de trabalho regionais e incentivar o avanccedilo das disparidades salariais e regionais (DIEESE

2006)

Em contrapartida observa-se para os que ganhavam mais de 7 salaacuterios miacutenimos os

nuacutemero absolutos satildeo bem inexpressivos apenas 1306 trabalhadoras se enquadram nesse

perfil Para Baltar e Proni (1996) a acumulaccedilatildeo de experiecircncias de trabalho (tempo de serviccedilo

na empresa) e o grau de instruccedilatildeo dos trabalhadores satildeo fatores que podem determinar a

elevaccedilatildeo salarial Nesse caso a rotatividade da matildeo de obra (Tabela 6) e a grande quantidade

de trabalhadores com baixo grau de instruccedilatildeo (Tabela 5) podem justificar em parte os baixos

niacuteveis salariais pagos na Induacutestria

6 Consideraccedilotildees finais

Este artigo teve como objetivo principal analisar a recente participaccedilatildeo feminina na

induacutestria formal cearense Para tanto traccedila-se o perfil sociodemograacutefico e socioeconocircmico

das trabalhadoras procurando verificar sua inserccedilatildeo em tal atividade

Com relaccedilatildeo ao comportamento do mercado de trabalho cearense em niacuteveis setoriais

nota-se a tendecircncia da predominacircncia dos segmentos comerciais e de serviccedilos seguida pela

induacutestria construccedilatildeo civil e agropecuaacuteria Como destacam Silva et al (2017) eacute importante

ressaltar o expressivo aumento no setor da construccedilatildeo civil natildeo obstante decorrente dos

investimentos em obras da Copa do Mundo habitaccedilatildeo popular (Minha Casa Minha Vida) e

infraestrutura (hospitais regionais Universidades puacuteblicas centro de convenccedilotildees etc)

Quanto ao perfil sociodemograacutefico e socioeconocircmico das empregadas na induacutestria

formal cearense os dados revelam que a maioria dos trabalhadores em tal setor eacute do sexo

masculino Com relaccedilatildeo agraves caracteriacutesticas das trabalhadoras a maioria encontra-se na faixa

etaacuteria de 30 a 39 anos sendo que elas permanecem de menos um a trecircs anos no mesmo

emprego No tocante a escolaridade um nuacutemero expressivo possui ensino meacutedio completo

No que concerne aos rendimentos constata-se concentraccedilatildeo ganhando de 1 a 2

salaacuterios miacutenimos Os setores de induacutestria tecircxtil de calccedilados e de alimentos e bebidas satildeo os

que mais empregam mulheres Assim constata-se que apesar das melhorias ocorridas na

educaccedilatildeo e no mercado de trabalho nos uacuteltimos anos ainda eacute preciso avanccedilar muito Portanto

diante de tal cenaacuterio as lutas por igualdade e empoderamento da mulher cearense devem

permanecer

400

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trabalho E-FACEQ revista dos discentes da Faculdade Eccedila de Queiroacutes Ano 2 nuacute-mero 2

p1- 32 Agosto de 2013

SOUZA S Histoacuteria do Cearaacute 2ordf ed Fortaleza Fundaccedilatildeo Demoacutecrito de Rocha 1994

SILVA FILHO L A A Trajetoacuteria da Induacutestria e do Emprego Formal no Cearaacute

19962006 Monografia (Graduaccedilatildeo em Economia) Universidade Regional do Cariri

(URCA) 2008

SILVA FILHO L A QUEIROZ S N Industrializaccedilatildeo e emprego formal no Cearaacute anaacutelise

a partir dos dados da RAISMTE ndash 19962006 Revista de desenvolvimento do Cearaacute -

Ipece Nordm 01 Outubro 2010

SILVA FILHO L A QUEIROZ S N CLEMENTINO M L M Mercado de trabalho nas regiotildees

metropolitanas brasileiras Mercator Fortaleza v 15 n2 p 37-54 abrjun 2016

SILVA P S SILVA J G SANTANA W W M QUEIROZ S N Mulheres na induacutestria

tecircxtil formal cearense ndash 200020072014 Revista de Estudos Sociais n 38 v 19 2017

402

O IMPACTO DO PROUNI SOBRE DESEMPENHO ACADEcircMICO DOS DISCENTES

EM 2014

FRANSUELLEN PAULINO SANTOS

Mestre em Economia pela Universidade Federal de Viccedilosa E-mail

franspaulinogmailcom

ANDREacuteA FERREIRA DA SILVA

Doutoranda em Economia Aplicada pela Universidade Federal da Paraiacuteba - UFPB E-mail

andreaeconomiayahoocombr

CRISTIANA TRISTAtildeO RODRIGUES

Professora no Departamento de Economia da Universidade Federal de Viccedilosa

403

O IMPACTO DO PROUNI SOBRE DESEMPENHO ACADEcircMICO DOS DISCENTES

EM 2014

RESUMO

O objetivo do presente estudo eacute avaliar o impacto do ProUni sobre o desempenho acadecircmico

dos alunos concluintes com bolsa integral avaliados no ENADE em 2014 Por meio do

Propensity Score Matching foi possiacutevel observar que os beneficiaacuterios concluintes do

programa no Brasil apresentam um desempenho acadecircmico mais elevado em comparaccedilatildeo aos

natildeo bolsistas das instituiccedilotildees privadas com caracteriacutesticas semelhantes O resultado eacute vaacutelido

quando se analisa todos os cursos conjuntamente e quando se considera apenas os cinco

cursos com maior nuacutemero de bolsistas sendo eles arquitetura e urbanismo engenharia civil

educaccedilatildeo fiacutesica pedagogia e engenharia de produccedilatildeo

Palavras-chave Desempenho acadecircmico ProUni ENADE Propensity Score Matching

ABSTRACT

The present study aims at evaluating the impact of ProUni on the academic performance of

the last year students with full scholarship evaluated by the National Assessment of Student

Performance (ENADE) in 2014 On the basic of microdata from ENADE 2014 and the

empirical strategy Propensity Score Matching method could be measured the medium

treatment effects on treaties and observed that the last year students beneficiaries of Prouni in

Brazil present higher academic performance when compared to not scholarship holders in

private institutions with similar characteristics The results is valid considering the analysis

for all courses together and only the five courses with major number of scholarship students

represented by architecture and urbanism civil engineering physical education pedagogy and

production engineering

Keywords Academic achievement ProUni ENADE

404

1 Introduccedilatildeo

O Brasil vem passando por algumas mudanccedilas na educaccedilatildeo puacuteblica em busca de uma

melhoria da qualidade da educaccedilatildeo De acordo com o site Todos Pela Educaccedilatildeo no ensino

meacutedio o percentual de alunos ateacute os 19 anos que concluiacuteram essa etapa subiu para 690 em

2014 enquanto o ano anterior era de 637 (BRASIL 2016a) Desta forma houve um

avanccedilo no sentido de que mais alunos cumprem essa trajetoacuteria escolar na idade correta

Assim como na educaccedilatildeo baacutesica haacute uma grande preocupaccedilatildeo com o acesso dos

jovens principalmente os de baixa renda a educaccedilatildeo superior Para Amaral e Oliveira (2011)

a ampliaccedilatildeo do acesso da populaccedilatildeo a esse niacutevel de ensino mas que por escassez de oferta

puacuteblica natildeo encontra condiccedilotildees de ingresso eacute um dos maiores desafios educacionais

Estabeleceu-se pelo Plano Nacional de Educaccedilatildeo (PNE) aprovado em 2001 a meta de que

30 dos jovens de 18 a 24 anos estivessem cursando o ensino superior no Brasil ateacute o final de

2010 Poreacutem o mesmo natildeo foi alcanccedilado a Siacutentese dos Indicadores Sociais de 2009 revelou

que apenas 137 da populaccedilatildeo nesta faixa estava matriculada em um curso superior

(BRASIL 2009a)

Considerado um dos projetos do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC) o Programa

Universidade para Todos (ProUni) criado pela Lei nordm 11096 de 13 de janeiro de 2005 tem

intuito de aumentar o acesso ao ensino superior (BRASIL 2005) Tem como objetivo a

concessatildeo de bolsas de estudos (integrais ou parciais) em instituiccedilotildees privadas para os

estudantes que natildeo detecircm diploma de graduaccedilatildeo Oferecendo em contrapartida a isenccedilatildeo de

alguns tributos agravequelas instituiccedilotildees que aderirem ao Programa Para participar o aluno precisa

satisfazer alguns requisitos como por exemplo para concorrer agraves bolsas integrais o candidato

deve ter uma renda familiar bruta mensal de ateacute um salaacuterio miacutenimo e meio por pessoa aleacutem

de obter boa nota no Exame Nacional do Ensino Meacutedio (ENEM) (BRASIL 2016b)

Franccedila e Gonccedilalves (2009) afirmam que pelo menos no curto prazo a entrada destes

alunos bolsistas afeta negativamente o desempenho geral da turma pois amplia a

heterogeneidade existente Aleacutem disso esta ampliaccedilatildeo segundo os autores natildeo foi

acompanhada com aumentos na qualidade Poreacutem Lira (2010) encontrou em sua pesquisa

para a Faculdade de Santo Agostinho que alunos contemplados pela bolsa do ProUni possuem

um desempenho superior aos que natildeo recebem

405

A avaliaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas possui extrema importacircncia na visatildeo de Belloni et

al (2001) pois eacute uma forma de aperfeiccediloar a gestatildeo do Estado Portanto a partir do exposto

este artigo propotildee analisar se alunos bolsistas concluintes e que recebem o auxiacutelio concedido

pelo Programa possuem um desempenho no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes

(ENADE) de 2014 superior aos que natildeo recebem com caracteriacutesticas socioeconocircmicas

observaacuteveis semelhantes visto que para manter o benefiacutecio eacute exigido um bom rendimento

(BRASIL 2013a) Cabe destaque que no ano de 2016 foi realizada uma pesquisa sobre o

tema de autoria de Dutra (2016) e que serviu como base para a pesquisa em tela

Para alcanccedilar este objetivo eacute necessaacuterio utilizar um meacutetodo que permita a comparaccedilatildeo

dos alunos pois existem outros itens que podem afetar esta anaacutelise sendo necessaacuterio isolar a

influecircncia de tais pontos por meio de variaacuteveis de controle que possam explicaacute-los Assim a

avaliaccedilatildeo seraacute realizada atraveacutes do Propensity Score Matching (PSM) que encontra no banco

de dados os indiviacuteduos que natildeo participam do ProUni mais proacuteximos possiacuteveis daqueles que

participam permitindo que seja calculado o Efeito Meacutedio do Programa sobre os Tratados

(ATT)

Para tal fim seratildeo considerados indiviacuteduos com bolsa integral e utiliza-se os

microdados do ENADE de 2014 realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Aniacutesio Teixeira (INEP) e que possui justamente o propoacutesito de ―acompanhar o

processo de aprendizagem e o desempenho acadecircmico dos estudantes de educaccedilatildeo superior

(BRASIL 2013b p 7) Este estudo pretende colaborar na literatura de avaliaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas por meio de duas estimaccedilotildees de resultados para verificar o impacto do programa A

saber a primeira verifica o impacto do Programa quando se analisa os dados agregados jaacute a

segunda demonstra o efeito em cada curso individualmente (aqueles com maiores quantidades

de bolsistas)

O presente estudo se divide em cinco seccedilotildees incluindo esta introduccedilatildeo A segunda

seccedilatildeo conteacutem uma revisatildeo de literatura que trata do contexto brasileiro e dos tipos de

avaliaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas aleacutem de abordar as anaacutelises existentes sobre o ProUni A

terceira apresenta a estrateacutegia empiacuterica e as variaacuteveis utilizadas Na quarta realiza-se a

avaliaccedilatildeo para todos os cursos conjuntamente para investigar como ocorre esse efeito no geral

em 2014 posteriormente verifica-se separadamente o impacto nos cinco cursos que possuem

mais bolsistas entre os cursos examinados pelo ENADE 2014 E por fim a quinta seccedilatildeo eacute

reservada agraves conclusotildees

406

2 O Programa Universidade para Todos - PROUNI

Criado pelo Governo Federal em 2004 e instituiacutedo pela Leiordm 11096 de 13 de janeiro

de 2005 o Programa Universidade para Todos (PROUNI) sob a gestatildeo do Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo eacute destinado agrave concessatildeo de bolsas de estudo integrais e bolsas de estudo parciais de

50 ou 25 para os estudantes de cursos de graduaccedilatildeo e sequenciais de formaccedilatildeo especiacutefica

em instituiccedilotildees privadas de ensino superior com ou sem fins lucrativos (BRASIL2005)

O puacuteblico alvo do programa satildeo os estudantes egressos que tenham cursado o ensino

meacutedio completo em escolas da rede puacuteblica ou os estudantes da rede privada mas na

condiccedilatildeo de bolsista integral com renda familiar mensal per capita de ateacute trecircs salaacuterios24

estudantes portadores de deficiecircncia professores da rede de ensino puacuteblico especificamente

para os cursos de licenciatura destinados agrave formaccedilatildeo dos docentes da educaccedilatildeo baacutesica e que

natildeo tenham diploma do ensino superior

Com relaccedilatildeo ao processo seletivo do Prouni este ocorre apenas em uma uacutenica etapa

de forma gratuita e exclusivamente pela internet no site do proacuteprio programa Os candidatos

satildeo selecionados pelas notas obtidas no Exame Nacional do Ensino Meacutedio - ENEM sendo

relacionado portanto agrave qualidade dos estudantes com melhores desempenhos no ensino

meacutedio No ato da inscriccedilatildeo o estudante elenca na ordem de sua preferecircncia ateacute duas opccedilotildees

de IES privada curso e turno dentre as ofertas de bolsas disponiacuteveis podendo ser alteradas

durante o periacuteodo de inscriccedilatildeo sendo considerada vaacutelida a uacuteltima escolha confirmada

Apoacutes o prazo de inscriccedilatildeo o sistema classifica os estudantes de acordo com as notas

no Enem e suas respectivas opccedilotildees Dessa forma os candidatos satildeo preacute-selecionados para

uma vaga das opccedilotildees dos cursos levando em consideraccedilatildeo a ordem de escolha e o limite de

bolsas disponiacuteveis pela IES privada Por fim cada instituiccedilatildeo realizaraacute duas chamadas e em

cada uma delas os estudantes tecircm um prazo para comparecer e apresentar os documentos no

ato na matriacutecula E caso eventualmente o candidato natildeo seja preacute-selecionado o mesmo ainda

pode manifestar interesse em participar na lista de espera Pois uma vez que as bolsas natildeo satildeo

24

De acordo com os paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do Art 1ordm da Leiordm 11096 de 13 de janeiro de 2005 respectivamente a

bolsa de estudo integral seraacute concedida a brasileiros natildeo portadores de diploma de curso superior cuja renda

familiar mensal per capita natildeo exceda o valor de ateacute um salaacuterio-miacutenimo e meio E as bolsas de estudo parciais de

50 ou de 25 cujos criteacuterios de distribuiccedilatildeo seratildeo definidos em regulamento pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

seratildeo concedidas a brasileiros natildeo-portadores de diploma de curso superior cuja renda familiar mensal per capita

natildeo exceda o valor de ateacute trecircs salaacuterios-miacutenimos mediante criteacuterios definidos pelo MEC

407

preenchidas nas primeiras chamadas deveratildeo ser ocupadas pelos estudantes que participam

da lista de espera

Desde sua criaccedilatildeo ateacute o processo seletivo de 2016 o Prouni jaacute atendeu mais de 19

milhotildees de estudantes 70 deles com bolsas integrais Com relaccedilatildeo ao crescimento da oferta

de vagas nas IES privadas desde o iniacutecio do programa pode ser observada atraveacutes do Censo

da Educaccedilatildeo Superior do ano de 2004 que existiam 1789 instituiccedilotildees de ensino superior

privadas ofertando 2011929 vagas em 12382 cursos de graduaccedilatildeo Comparando com as

informaccedilotildees do Censo da Educaccedilatildeo Superior do ano de 2015 com 2069 IES privadas houve

um crescimento de 75 na oferta de cursos de graduaccedilatildeo passando para 21681

consequentemente o nuacutemero de vagas oferecidas cresceu 60 em relaccedilatildeo as vagas em 2004

tendo 3223732 vagas ofertadas Uma das evidecircncias iniciais ante ao aumento da oferta do

ensino superior pela IES privadas eacute o notaacutevel crescimento dos indiviacuteduos que concluiacuteram os

cursos de graduaccedilatildeo 63 424355 concluintes em 2004 passando para 692167 em 2015

(INEP2004 INEP2015)

21 O ProUni no Brasil

Para embasar este estudo este toacutepico realiza uma revisatildeo da literatura disponiacutevel

acerca do Programa Universidade para Todos (ProUni) mormente no que tange ao

desempenho dos alunos beneficiados Alguns estudos como por exemplo o de Dutra (2016)

ou de Vendramini e Lopes (2016) utilizam as notas obtidas pelos alunos bolsistas no ENADE

por se tratar de uma avaliaccedilatildeo nacional e compulsoacuteria para os estudantes do ensino superior

Para detalhar e especificar o processo de implementaccedilatildeo Faceira (2008) estabeleceu

dimensotildees de anaacutelise explicando que existem pontos de fragilidade e questotildees que precisam

ser solucionadas no sistema de operacionalizaccedilatildeo e reestruturaccedilatildeo do ProUni Para a autora o

MEC deve criar estrateacutegias de acompanhamento monitoramento e fiscalizaccedilatildeo do processo

de implantaccedilatildeo do programa nas instituiccedilotildees e da qualificaccedilatildeo dos cursos que estatildeo sendo

oferecidos

Valle (2009) atraveacutes de uma discussatildeo teoacuterica destaca que realmente o programa

aumenta o acesso poreacutem se constitui num sentido restrito de democracia ou seja eacute a doaccedilatildeo

de um direito que eacute visto como benefiacutecio Outro ponto de destaque eacute a queda de arrecadaccedilatildeo

gerada pelas isenccedilotildees fiscais dadas a estas instituiccedilotildees que constitui uma ampla discussatildeo

408

entre as redes privadas e puacuteblicas Estas uacuteltimas afirmam que seria mais eficiente se houvesse

a arrecadaccedilatildeo e um repasse para elas para ampliaccedilatildeo de vagas puacuteblicas geraccedilatildeo de novos

cargos estrutura e processos administrativos Em contrapartida a iniciativa privada que jaacute

dispotildee de vagas e estrutura para administrar justifica maior eficiecircncia no uso dos recursos

uma vez que pode absorver de forma imediata a demanda existente

O relatoacuterio de auditoria do Tribunal de Contas da Uniatildeo (2009) no intuito de apontar

caminhos para melhoria do ProUni analisa o impacto deste sobre a permanecircncia dos alunos

no ensino superior e os estiacutemulos que teriam para melhorar seu desempenho acadecircmico no

ENADE separando os alunos entre ingressantes e concluintes no ensino superior Concluem

que o programa atende o objetivo de aumentar a probabilidade de acesso ao ensino superior

da populaccedilatildeo-alvo aleacutem disso a qualidade em notas dos alunos natildeo piorou apoacutes a

introduccedilatildeo do programa e mesmo sendo modesto o efeito da bolsa integral eacute maior que o da

bolsa parcial sobre a reduccedilatildeo da probabilidade de evasatildeo (BRASIL 2009b)

O estudo de Bertolin e Fioreze (2016) atraveacutes das teorias do capital cultural e do

background verificaram o desempenho de alunos bolsistas do ProUni Os resultados

apontaram para melhor desempenho dos alunos bolsistas ndash que tem niacutevel socioeconocircmico e

cultural menor ndash em relaccedilatildeo aos demais alunos das instituiccedilotildees privadas contrariando a

probabilidade de melhor desempenho entre os estudantes de maior capital cultural

Nesse contexto os estudos comprovam que haacute uma relaccedilatildeo positiva entre os alunos do

ProUni em especial os com bolsa integral e o desempenho acadecircmico Assim estes

estudantes tendem a apresentar um rendimento melhor que os natildeo bolsistas Sendo portanto

um incentivo ao investimento que eacute realizado pelo governo no ensino superior atraveacutes deste

programa Contudo se faz necessaacuterio uma renovaccedilatildeo de estudos acerca de toda e qualquer

atividade do governo Partindo deste pressuposto este estudo faz a anaacutelise do ProUni para o

ano de 2014 afim de ampliar a literatura de avaliaccedilotildees de poliacuteticas puacuteblicas

3 Metodologia

De acordo com o estudo de Peixoto et al (2012) o impacto do ProUni ateacute poderia ser

medido atraveacutes de diferenccedilas observadas entre a nota obtida pelo estudante com bolsa integral

e a nota auferida por ele na situaccedilatildeo em que natildeo houvesse participado poreacutem nesses dois

momentos natildeo seria possiacutevel observar o sujeito e este eacute um dos grandes problemas das

409

avaliaccedilotildees de programas sociais ou seja a dificuldade de encontrar um contrafactual dos

indiviacuteduos que recebem o tratamentos para o grupo de beneficiaacuterios em caso de natildeo

participaccedilatildeo no programa Uma soluccedilatildeo de acordo com Rosenbaum e Rubin (1983) eacute medir a

diferenccedila entre grupos de indiviacuteduos que foram selecionados aleatoriamente para participar ou

natildeo do programa

Neste trabalho para o caso em que o estudante fez o ENADE e participa do

ProUni com bolsa integral definido como tratamento e caso tenha feito o ENADE

mas natildeo participa do programa O resultado observado para a variaacutevel de interesse

(desempenho no ENADE) pode ser expresso em que representa

o resultado do i-eacutesimo indiviacuteduo tratado no caso deste estudo eacute dado pela nota geral no

ENADE 2014 dos alunos que recebem bolsa integral Enquanto eacute a nota geral no

ENADE 2014 do i-eacutesimo indiviacuteduo de controle ou seja aquele que por algum motivo natildeo

participa do programa Assim o impacto meacutedio do ProUni sobre os participantes eacute

representado pelo efeito meacutedio do tratamento no grupo tratado (ATT)

e | |

(1)

Poreacutem Rosenbaum e Robin (1983) explicam que os indiviacuteduos que participam e

tambeacutem os que natildeo participam do Programa satildeo diferentes uns dos outros em vaacuterios quesitos

Uma forma de corrigir esse problema eacute a utilizaccedilatildeo do meacutetodo de Propensity Score Matching

ou pareamento por escore de propensatildeo desenvolvido por Rosenbaum e Rubin (1983)

31 Propensity Score Matching

O presente trabalho pretende investigar se alunos que participam do ProUni

apresentam desempenho superior dada as exigecircncias de nota do programa quando

comparados agravequeles que natildeo recebem o auxiacutelio Dessa forma eacute necessaacuteria a construccedilatildeo de

dois grupos de indiviacuteduos com as mesmas caracteriacutesticas Poreacutem surge o problema da

autosseleccedilatildeo ou seja os investigadores natildeo possuem controle sobre a atribuiccedilatildeo do

tratamento e isto gera comparaccedilotildees diretas dos resultados dos grupos de tratamento

enganosas Os meacutetodos tradicionais de ajustes (matching estratificaccedilatildeo ou ajuste de

covariacircncia) satildeo muitas vezes limitados visto que soacute podem ser utilizados em um nuacutemero

limitado de covariaacuteveis de ajustamento enquanto o propensity score (PS) fornece um resumo

410

escalar das informaccedilotildees das covariaacuteveis e natildeo possui essa limitaccedilatildeo (ROSENBAUM RUBIN

1983)

Para solucionar esse vieacutes utiliza-se o meacutetodo do pareamento o qual apresenta

importacircncia na avaliaccedilatildeo de impacto e de poliacuteticas Dessa forma pode-se comparar os

resultados entre os tratados e seus contrafactuais De acordo com Rosenbaum e Rubin (1983)

o propensity score eacute um escore de equiliacutebrio e pode ser utilizado em estudos observacionais

para reduzir as diferenccedilas entre grupos de tratados e natildeo tratados Esta teacutecnica consiste em

encontrar um grupo de comparaccedilatildeo o mais similar possiacutevel emparelhando-o e estimando os

efeitos de tratamento (efeito do programa) atraveacutes da diferenccedila entre resultados meacutedios dos

grupos de tratamento e controle Este meacutetodo pode ser executado atraveacutes de uma uacutenica

variaacutevel de controle o escore de propensatildeo que eacute definido como a probabilidade condicional

de participaccedilatildeo no programa de um indiviacuteduo i a um vetor de caracteriacutesticas observaacuteveis X

(CAMERON TRIVEDI 2005) Assim

| em que 0 lt P(x) lt 1

(2)

Portanto considera o pressuposto de independecircncia condicional agraves caracteriacutesticas

observaacuteveis dos grupos de tratamento e controle De acordo com Rosenbaum e Rubin (1983)

o efeito meacutedio do programa sobre os beneficiados (ATT) equaccedilatildeo (2) pode ser reescrita

como

| | |

(3)

onde | refere-se ao valor esperado condicional ao conjunto de

caracteriacutesticas observaacuteveis e agrave participaccedilatildeo no ProUni enquanto | refere-se

ao valor esperado condicional ao conjunto de caracteriacutesticas observaacuteveis e agrave natildeo participaccedilatildeo

no ProUni Como o Propensity Score de um indiviacuteduo eacute definido como a probabilidade

condicional de um indiviacuteduo participar do programa dado suas caracteriacutesticas observaacuteveis x

pode-se substituir x pelo escalar P(x) na equaccedilatildeo (4)

| | |

(4)

Segundo Rosenbaum e Rubin (1983) no caso em que as caracteriacutesticas natildeo

observaacuteveis influenciam a decisatildeo de o indiviacuteduo participar ou natildeo do programa e se elas

forem correlacionadas com o desempenho potencial no ENADE 2014 deste indiviacuteduo o

meacutetodo de pareamento natildeo conseguiraacute eliminar o vieacutes de seleccedilatildeo e a estimativa do efeito do

411

programa pode ser tendenciosa Conforme explica Becker e Ichino (2002) o vieacutes de fatores

natildeo-observados somente eacute eliminado se a participaccedilatildeo no tratamento for puramente aleatoacuteria

caso contraacuterio seratildeo apenas reduzidos Assim o controle eacute o mais proacuteximo possiacutevel do

tratado a partir do escore de propensatildeo

Existem diferentes meacutetodos de matching que podem ser usados para atribuir

participantes a natildeo participantes em funccedilatildeo do PS Na literatura que aborda as diferentes

teacutecnicas de pareamento natildeo haacute um consenso de qual das teacutecnicas apresentariam melhores

resultados mas o estudo de Becker e Ichino (2002) explica que a consideraccedilatildeo conjunta das

teacutecnicas pode oferecer um meacutetodo para avaliar se as estimativas satildeo robustas Desse modo no

presente trabalho utiliza-se trecircs teacutecnicas visando uma estimativa robusta do possiacutevel efeito

dos tratamentos Atraveacutes das definiccedilotildees destes autores as teacutecnicas de correspondecircncia

empregadas neste artigo para o caacutelculo ATT satildeo

i) Vizinho mais proacuteximo (NN) consiste em parear cada indiviacuteduo tratado com o controle

que possua o escore de propensatildeo mais proacuteximo Um problema com o NN eacute que a diferenccedila

no Propensity Score para um participante e o seu vizinho mais proacuteximo natildeo participante da

poliacutetica ainda pode ser muito alta afetando a qualidade dos controles

ii) Kernel todos os indiviacuteduos tratados satildeo pareados por uma meacutedia ponderada dos

indiviacuteduos de controle que possui peso inversamente proporcional agrave distacircncia de escore de

propensatildeo entre tratados e controles

iii) Estratificaccedilatildeo divide a extensatildeo dos escores de propensatildeo em intervalos ou blocos e

que em meacutedia os indiviacuteduos tratados e controles dentro de cada bloco possuem os mesmos

escores de propensatildeo Dessa forma o ATT eacute a meacutedia ponderada de resultados de cada bloco

com peso atribuiacutedo pelo nuacutemero de tratados em cada bloco

Assim o impacto do ProUni sobre o desempenho acadecircmico dos estudantes que

ingressaram pelo sistema de bolsas integrais do programa (ATT) seraacute estimado a partir da

comparaccedilatildeo entre os que ingressaram na universidade particular por meio da poliacutetica e os que

ingressaram sem bolsa selecionados por suas caracteriacutesticas observaacuteveis a partir da estimaccedilatildeo

do Propensity Score e pareados pelos algoritmos de NN Kernel e Estratificaccedilatildeo

Cabe destacar que os alunos que participavam do Fundo de Financiamento Estudantil

(FIES) do ProUni parcial aqueles que recebiam qualquer outro tipo de bolsa e os estudantes

de IES puacuteblicas foram retirados da amostra pois caso contraacuterio os resultados do meacutetodo

aplicado natildeo seriam legiacutetimos Conforme Dutra (2016) explica ao adicionar alunos que

412

recebem outro tipo de bolsa e satildeo analisados como natildeo bolsistas do ProUni tem-se um caacutelculo

errado do efeito pois o desempenho deste aluno poderaacute ser influenciado pela bolsa que ele

recebe

32 Base de dados e variaacuteveis

Para inferir sobre a probabilidade de participaccedilatildeo no ProUni bem como os impactos

sobre desempenho acadecircmico do aluno com bolsa integral utilizam-se os microdados do

ENADE 2014 Os cursos satildeo definidos pelo MEC e a periodicidade maacutexima de aplicaccedilatildeo do

ENADE eacute trienal em cada aacuterea (BRASIL 2011) Os cursos avaliados no Brasil em 2014

foram Bacharel - Arquitetura e Urbanismo Sistema de Informaccedilatildeo Eng Civil Eng Eleacutetrica

Eng de Computaccedilatildeo Eng de Controle e Automaccedilatildeo Eng Mecacircnica Eng Quiacutemica Eng de

Alimentos Eng de Produccedilatildeo Eng Ambiental Eng Florestal Engenharia Bacharel ou

Licenciatura - Ciecircncias da Computaccedilatildeo Ciecircncias Bioloacutegicas Ciecircncias Sociais Filosofia

Fiacutesica Geografia Histoacuteria Letras-Portuguecircs Matemaacutetica Quiacutemica Licenciatura - Artes

visuais Educaccedilatildeo Fiacutesica Letras-Portuguecircs e Espanhol Letras-Portuguecircs e Inglecircs Muacutesica

Pedagogia Tecnoacutelogo - Anaacutelise e Desenvolvimento de Sistemas Automaccedilatildeo Industrial

Gestatildeo da Produccedilatildeo Industrial Redes de Computadores

A participaccedilatildeo de todos os alunos concluintes no exame eacute obrigatoacuteria caso contraacuterio

estatildeo sujeitos agrave caracterizaccedilatildeo de irregularidade junto ao ENADE e dessa forma natildeo recebem

o diploma de conclusatildeo do curso ateacute a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo (BRASIL 2011) De acordo

com Dutra (2016) utilizando apenas os concluintes pode-se separar aqueles alunos que ao

longo do curso possuiacuteram baixo desempenho e foram excluiacutedos do programa de forma que soacute

chegaram ao final os alunos que obtiveram aprovaccedilatildeo nas mateacuterias anteriores

O modelo Probit pelo qual o PS eacute calculado deve incluir variaacuteveis preditoras que

influenciam a participaccedilatildeo no programa e os resultados de interesse pois iratildeo determinar

tanto a elegibilidade para o programa como os impactos sobre o desempenho acadecircmico

Desta forma o caacutelculo do ATT eacute realizado entre estudantes que satildeo de fato comparaacuteveis de

acordo com essas caracteriacutesticas as variaacuteveis selecionadas encontram-se no Quadro 2

413

Quadro 2 ndash Descriccedilatildeo das variaacuteveis utilizadas no modelo

Variaacutevel Descriccedilatildeo Desempenho do

aluno

Nota bruta da prova - Meacutedia ponderada da formaccedilatildeo geral (25) e componente

especiacutefico (75) (0 a 100)

Sudeste Dummy que assume valor 1 se o aluno estuda na regiatildeo Sudeste e 0 caso contraacuterio

Sul Dummy que assume valor 1 se o aluno estuda na regiatildeo Sul e 0 caso contraacuterio

Nordeste Dummy que assume valor 1 se o aluno estuda na regiatildeo Nordeste e 0 caso contraacuterio

CO Dummy que assume valor 1 se o aluno estuda na regiatildeo Centro-oeste e 0 caso

contraacuterio

Homem Dummy de sexo 1 se o aluno for homem e 0 caso contraacuterio

Idade2 e Idade4 Idade do estudante dividida em blocos ateacute 20 anos de 30 a 40 anos

Branco Dummy de raccedila 1 se o aluno eacute branco 0 caso contraacuterio

Renda10 Dummy de renda total familiar de 6 a 10 salaacuterios miacutenimos

Renda30 Dummy de renda total familiar acima de 30 salaacuterios miacutenimos

ntrab Dummy que assume valor 1 se o indiviacuteduo natildeo trabalha e 0 caso contraacuterio

Empub Dummy que assume valor 1 se o aluno estudou apenas em escola puacuteblica e 0 caso

contraacuterio

EmPP Dummy com valor 1 se estudou maior parte do ensino meacutedio em escola puacuteblica e 0

caso contraacuterio

Pais Dummy que assume valor 1 se o paimatildee possui superior completo e 0 caso contraacuterio

Fonte Microdados do ENADEINEP de 2014

Nota Satildeo apresentadas as variaacuteveis das duas formas de anaacutelise considerando que a escolha eacute feita de forma a

satisfazer a hipoacutetese de balanceamento

4 Resultados

A anaacutelise de resultados contaraacute com duas seccedilotildees inicialmente tem-se a avaliaccedilatildeo do

impacto do programa no desempenho acadecircmico dos alunos para todos os cursos participantes

da prova em 2014 permitindo a generalizaccedilatildeo dos resultados encontrados E em seguida

investiga-se o efeito individualmente sendo selecionados cinco cursos com maior quantidade

de alunos que participam do programa (para obter um modelo robusto) afinal existe a

possibilidade de uma variaccedilatildeo deste impacto entre os cursos Ambas as seccedilotildees utilizam o

PSM e as variaacuteveis satildeo selecionadas de forma a satisfazer a hipoacutetese de balanceamento

41 O impacto do ProUni no desempenho acadecircmico para todos os cursos que

participaram do ENADE 2014

Antes de iniciar as anaacutelises do PSM nota-se a partir da Tabela 1 que em ambos os

formatos de anaacutelise empregados neste trabalho (todos os cursos conjuntamente e cinco

separadamente) existe uma diferenccedila na meacutedia do desempenho entre os bolsistas integrais

do ProUni e os natildeo bolsistas Ademais pode-se verificar que na meacutedia as notas natildeo satildeo tatildeo

414

elevadas considerando que a pontuaccedilatildeo do ENADE varia de 0 a 100 isso pode ser um indicio

da questatildeo da qualidade de ensino em geral apontada por Franccedila e Gonccedilalves (2009)

Dutra (2016) aponta que antes do matching mesmo existindo uma diferenccedila entre os

grupos natildeo eacute possiacutevel atribuir esse fato ao programa Destarte somente eacute possiacutevel imputar

que esta desigualdade entre as meacutedias se deve ao programa apoacutes a realizaccedilatildeo do matching

Por mais que as meacutedias apresentadas na Tabela 1 tenham sido diferentes o efeito do

programa eacute dado apenas pelos resultados encontrados atraveacutes dos trecircs meacutetodos Nearest-

Neighbor Kernel e Estratificado cujos resultados se encontram nas Tabelas 3 e 5

Tabela 1 ndash Meacutedia da nota bruta da prova no ENADE 2014 antes do pareamento

Controle Observaccedilotildees Tratamento Observaccedilotildees

Todos os cursos 442001 114786 524269 16878

Arquitetura e urbanismo 473783 5233 547858 676

Eng Civil 45348 7313 512719 1017

Educaccedilatildeo Fiacutesica 431947 5759 550608 1304

Pedagogia 457491 46297 564782 5322

Eng de Produccedilatildeo 447542 4976 515571 796

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos Microdados ENADINEP 2014

Posto isto para realizar estaacute anaacutelise as variaacuteveis foram selecionadas com o intuito de

encontrar um grupo controle que se assemelhe aos indiviacuteduos beneficiados do programa em

suas caracteriacutesticas observaacuteveis Buscando refletir os objetivos do programa que estatildeo em

torno da ampliaccedilatildeo de acesso ao niacutevel superior Conforme explicado anteriormente o meacutetodo

utilizado parte da elaboraccedilatildeo do Probit que atribui o escore de propensatildeo de participaccedilatildeo no

programa de acordo com as caracteriacutesticas definidas com o intuito de balancear os

indiviacuteduos ou seja identifica as caracteriacutesticas daqueles estudantes que recebem a bolsa e dos

que natildeo recebem Com isso verifica a contribuiccedilatildeo delas para a participaccedilatildeo no programa

definindo para cada observaccedilatildeo a chance de ser beneficiaacuterio do programa Mesmo os

indiviacuteduos jaacute tratados uma probabilidade eacute atribuiacuteda pois nem mesmo os bolsistas do ProUni

possuem caracteriacutesticas completamente iguais (DUTRA 2016) Assim tem-se na Tabela 2 a

estimaccedilatildeo do modelo Probit cuja variaacutevel dependente eacute uma dummy que representa a presenccedila

ou natildeo no programa

A especificaccedilatildeo final do modelo Probit de escore de propensatildeo satisfez a hipoacutetese do

balanceamento (balancing hypothesis) das variaacuteveis E todos os coeficientes estimados

demonstram-se estatisticamente significativos ou seja as variaacuteveis escolhidas satildeo adequadas

na definiccedilatildeo do grupo de controle Desta forma ao analisar os sinais obtidos para as variaacuteveis

415

que indicam se o indiviacuteduo estudou todo o ensino meacutedio na escola puacuteblica ou se estudou a

maior parte na escola puacuteblica percebe-se que haacute um aumento na probabilidade de

participaccedilatildeo do ProUni o mesmo ocorre para os alunos com idade ateacute os 20 anos Com

relaccedilatildeo a raccedila um aluno branco possui uma relaccedilatildeo negativa com a probabilidade de

participar do programa comparada aos demais

Tabela 2 ndash Probabilidade de participar do Prouni - Probit para todos os cursos

Variaacuteveis Coeficiente Erro Padratildeo

Empub 08653 00178

EmPP 02529 00302

Branco -01389 00093

Pais -00346 00144

idade2 03884 00237

renda10 -06118 00188

renda30 -11017 00414

Constante -16904 00184

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria

Nota Significativo a 1 Significativo a 5

A renda em seus niacuteveis considerados (de 10 ateacute 30 e acima de 30 salaacuterios miacutenimos)

apresentaram coeficientes negativos ou seja quanto maior a renda familiar menor eacute a

probabilidade de participaccedilatildeo do programa Quanto a influecircncia da educaccedilatildeo dos pais

observa-se na Tabela 2 que haacute uma relaccedilatildeo inversa entre os pais com ensino superior e a

chance de participar do programa Desta forma o aluno com pai ou matildee com niacutevel superior

tem uma menor probabilidade de ser bolsista do ProUni Isto aliado as variaacuteveis de renda satildeo

completamente compreensiacuteveis afinal um indiviacuteduo que os pais possuem ensino superior no

geral satildeo os que possuem renda familiar mais elevada e consequentemente natildeo iratildeo se

enquadrar nos preacute-requisitos do ProUni portanto estaacute chance se reduz Nesse sentido Gaudio

(2014) demonstrou que entre os alunos bolsistas poucos pais completaram o ensino superior

ou a poacutes-graduaccedilatildeo

Apoacutes a estimaccedilatildeo do escore de propensatildeo calcula-se o ATT ou seja eacute feita a

estimativa do valor do efeito do tratamento sobre o coeficiente do desempenho acadecircmico

por trecircs tipos de Matching os resultados estatildeo apresentados na Tabela 3 onde verifica-se que

todos os impactos satildeo positivos e significativos Portanto no ano de 2014 o ProUni

apresentou efeito meacutedio em elevar o desempenho dos alunos concluintes com bolsa integral

ao considerar todos os cursos conjuntamente A anaacutelise do meacutetodo do vizinho mais proacuteximo

(NN) indica que o aumento eacute de 9984 pontos em comparaccedilatildeo com alunos natildeo-bolsistas com

416

caracteriacutesticas semelhantes em termos de caracteriacutesticas observaacuteveis controladas pelo modelo

jaacute no meacutetodo de Kernel esse impacto foi de 9639 pontos e por fim no meacutetodo Estratificado

foi de 9983 pontos

Tabela 3 ndash Efeito meacutedio do tratamento no desempenho acadecircmico para todos os cursos no

ano de 2014

Tipo de Matching Nordm de Tratados Nordm de Controle EMPT Erro Padratildeo Estatiacutestica t

NN 16883 113950 9984 0111 91248

Kernel 16883 114802 9639 0096 100508

Estratificado 16883 114802 9983 0110 90891

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos microdados ENADEINEP de 2014

Assim nota-se que o programa influecircncia positivamente o desempenho acadecircmico dos

alunos concluintes que possuem bolsa o que corrobora com o Relatoacuterio da Auditoria de 2009

(BRASIL 2009b) realizado pelo TCU que afirma que em meacutedia os bolsistas do ProUni

apresentaram maior desempenho que os natildeo bolsistas Explicam que esse resultado eacute bom

pois afasta a ideia de que a concessatildeo das bolsas iria rebaixar o niacutevel de ensino quando houve

a implantaccedilatildeo do ProUni Assim tambeacutem o estudo de Gaudio (2014) encontrou que o

desempenho dos alunos bolsista eacute igual ou superior agrave nota geral obtida pelos natildeo bolsistas em

43 aacutereas dentre elas licenciaturas ciecircncias humanas e sociais

42 O impacto do ProUni no desempenho acadecircmico para os cursos com maior

quantidade de alunos bolsistas

Optou-se tambeacutem por realizar uma anaacutelise individual para verificar o impacto do

ProUni separadamente Neste sentindo foram escolhidos cinco cursos que participaram do

ENADE 2014 sendo eles arquitetura e urbanismo engenharia civil educaccedilatildeo fiacutesica

pedagogia e engenharia de produccedilatildeo pois estes dentre os demais eram os que possuiacuteam a

maior quantidade de alunos beneficiaacuterios do programa com isso os resultados obtidos seratildeo

mais consistentes

Analogamente a seccedilatildeo anterior buscou-se na seleccedilatildeo das variaacuteveis utilizadas para

encontrar o grupo controle a maacutexima aproximaccedilatildeo dos objetivos do programa respeitando

tambeacutem a hipoacutetese de que o modelo deve ser balanceado ou seja as observaccedilotildees com o

mesmo PS precisam ter a mesma distribuiccedilatildeo das caracteriacutesticas observaacuteveis

independentemente de serem tratadas ou natildeo Com isso o uso de uma especificaccedilatildeo menos

417

parcimoniosa eacute para que se obtenha uma melhor qualidade do pareamento entre os tratados e

o controle Assim a Tabela 4 apresenta a estimaccedilatildeo do modelo Probit cuja variaacutevel

dependente eacute uma dummy que representa a participaccedilatildeo ou natildeo no ProUni

Neste modelo as principais variaacuteveis que determinam a elegibilidade para integrar o

ProUni satildeo Empub ou EmPP Renda10 e Renda30 todas foram estatisticamente

significativas aleacutem de apresentarem sinais esperados Caso o estudante tenha cursado todo o

ensino meacutedio em escola puacuteblica ou pelo menos a maior parte a possibilidade de participar do

programa aumenta para todos os cursos separadamente Percebe-se ainda pela Tabela 4 que

quanto maior o rendimento familiar total do aluno menor a probabilidade de participar do

ProUni em ambos os niacuteveis de renda utilizados os coeficientes para cada curso

individualmente foram estatisticamente significativos De acordo com Mugnol e Gisi (2012)

o programa tem beneficiado uma parcela dos estudantes considerados de baixa renda Como

explicado na seccedilatildeo anterior este resultado eacute plausiacutevel afinal um dos requisitos para o aluno

conseguir uma bolsa integral eacute que tenha renda mensal familiar de ateacute 1 salaacuterio miacutenimo e frac12

por pessoa assim se o rendimento aumentar a chance de ser aluno pelo ProUni reduz

A influecircncia familiar novamente apresenta relaccedilatildeo negativa com probabilidade de

participar do ProUni resultado este que foi estatisticamente significativo para os cursos de

engenharia civil educaccedilatildeo fiacutesica pedagogia e engenharia de produccedilatildeo A variaacutevel de raccedila

apresentou um sinal positivo e foi estatisticamente significativa para os cursos estudados

assim sendo indiviacuteduos negros possuem maior probabilidade de participaccedilatildeo do ProUni do

que os demais

Ademais para esses cursos com exceccedilatildeo do curso de educaccedilatildeo fiacutesica quanto mais

velho for o aluno menor a probabilidade de participaccedilatildeo no programa Portanto indiviacuteduos

com idade entre 30 e 40 anos possuem menor chance de serem bolsistas do ProUni este efeito

foi estatisticamente significativo Enquanto isso se o indiviacuteduo natildeo trabalha a chance de

participar do ProUni aumenta e eacute estatisticamente significativa para todos os cursos

examinados

418

Tabela 4 ndash Probabilidade de participar do Prouni - Probit por curso

Variaacuteveis Cursos

Arquitetura Civil Educaccedilatildeo Fiacutesica Pedagogia Produccedilatildeo

Masculino 00685 -01654 -00270 04884 -01651

(00605) (00461) (00373) (00292) (00513)

Empub 17135 11722 10560 07697 11707

(00699) (00568) (00722) (00434) (00652)

EmPP 08175 04299 04488 02938 02950

(01361) (01071) (01086) (00608) (01398)

Negro 03933 03835 03069 -

01735

(01331) (00865) (00543) (00911)

ntrab 03726 02229 02460 02006 01027

(00583) (00463) (00424) (00183) (00601)

Idade2 02773 01384 01755 03796 03580

(06138) (04350) (00566) (00459) (06156)

Idade4 -02780 -04164 00072 -01855 -05162

(00869) (00623) (00496) (00167) (00645)

Renda10 -09504 -08989 -

-07195 -07378

(00859) (00631) (00492) (00635)

Renda30 -18035 -15682 -12281 -13303 -13886

(01810) (01288) (02162) (01659) (01280)

Pais -

-02076 -02838 -00996 -01757

(00538) (00525) (00292) (00642)

Sudeste -

-01255 -01036 00609 -02491

(00532) (00856) (00167) (01942)

Nordeste 02350 -02559 00222 -

-01968

(00973) (00888) (01005) (02076)

Sul 01091 -

00879 -

-01794

(00661) (00912) (02025)

CO 05005 01458 02011 04450 01978

(01457) (00797) (01034) (00242) (02484)

Norte Categoria Base Categoria Base Categoria Base Categoria Base Categoria Base

Constante -21232 -13907 -18080 -20325 -11898

(00780) (00788) (01103) (00444) (02036)

Observaccedilotildees 5909 8330 7063 51622 5772

LR chi2 157693 170782 64472 207481 107182

Prob gt chi2 00000 00000 00000 00000 00000

Pseudo R2 03752 02763 00954 00606 02315

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria

Significativo a 1 Significativo a 5 Significativo a 10

Esses resultados corroboram com o estudo de Dutra (2016) que ao analisar os cursos

de Enfermagem Farmaacutecia e Fisioterapia apontou que as caracteriacutesticas que reduzem a

probabilidade de participaccedilatildeo no ProUni no ano de 2013 satildeo a idade (quanto mais velho) se o

estudante recebe incentivo dos pais e se tem algueacutem na famiacutelia com ensino superior sendo

esta uacuteltima significativa somente para o curso de Farmaacutecia

Novamente realiza-se o pareamento atraveacutes dos meacutetodos NN Kernel e Estratificado

que apresentam resultados semelhantes Verificando que alunos bolsistas do ProUni

419

apresentam notas mais elevadas quando comparados agravequeles que natildeo satildeo contemplados pela

bolsa em todos os cursos selecionados Atraveacutes do meacutetodo de Kernel um aluno com bolsa

integral no programa apresenta uma elevaccedilatildeo no desempenho em 10292 pontos comparado

com o aluno natildeo participante para o curso de arquitetura e urbanismo Para o curso de

engenharia civil em 8630 para o curso de educaccedilatildeo fiacutesica em 12649 para o curso de

pedagogia de 11643 e para o curso de engenharia de produccedilatildeo em 9631 Todos os valores

satildeo positivos e significativos para os outros meacutetodos e se encontram na Tabela 5 Sendo o

menor efeito observado no curso de engenharia civil e o maior no de educaccedilatildeo fiacutesica

Tabela 5 - Efeito meacutedio do tratamento no desempenho acadecircmico no ano de 2014

Curso de Arquitetura e Urbanismo

Tipo de Matching Nordm de Tratados Nordm de Controle ATT Erro Padratildeo Estatiacutestica t

NN 676 2848 10197 0625 16327

Kernel 676 4164 10292 0545 18869

Estratificado 676 4164 10386 0710 14636

Curso de Engenharia Civil

NN 1017 4370 9111 0675 13505

Kernel 1017 7143 8630 0391 22080

Estratificado 1017 7143 9037 0420 21502

Curso de Educaccedilatildeo Fiacutesica

NN 1304 4454 12879 0410 31430

Kernel 1304 5759 12649 0419 30171

Estratificado 1304 5759 12749 0387 32966

Curso de Pedagogia

NN 5323 43653 12143 0199 61132

Kernel 5323 45277 11643 0203 57259

Estratificado 5323 45277 12116 0204 59288

Curso de Engenharia de Produccedilatildeo

NN 796 3182 10501 0512 20496

Kernel 796 4883 9631 0510 18880

Estratificado 796 4883 10156 0485 20919

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos microdados ENADEINEP de 2014

Dessa forma no geral verifica-se neste estudo que o ProUni possui impacto positivo

no desempenho acadecircmico dos alunos bolsistas concluintes que realizaram o ENADE 2014

Resultado que corrobora Lira (2010) que afirma que o ATT eacute positivo e estatisticamente

significativo portanto os alunos que recebem bolsa do ProUni tecircm desempenho superior

comparados aos que natildeo recebem

420

5 Consideraccedilotildees Finais

A partir dos microdados do ENADE 2014 este estudo avaliou o impacto de participar

do ProUni sobre o desempenho acadecircmico dos alunos concluintes com bolsa integral Os

resultados demonstraram que tanto na anaacutelise para os cursos conjuntamente quanto na

verificaccedilatildeo por curso (arquitetura e urbanismo engenharia civil educaccedilatildeo fiacutesica pedagogia e

engenharia de produccedilatildeo) o programa exerce uma influecircncia positiva e significativa no

desempenho dos bolsistas concluintes atraveacutes dos trecircs meacutetodos de pareamento (NN Kernel e

Estratificado)

As caracteriacutesticas que influenciam positivamente a participaccedilatildeo no programa em todos

os formatos de anaacutelise satildeo ensino meacutedio em escola puacuteblica maior parte do ensino meacutedio em

escola puacuteblica e ser negro Este aumento na chance de participaccedilatildeo do ProUni dos alunos de

escola puacuteblica estaacute fortemente atrelado ao preacute-requisito do programa Jaacute a questatildeo racial

infelizmente eacute um ponto delicado no contexto brasileiro o acesso ao ensino superior puacuteblico

para os negros ainda eacute falho e assim uma oportunidade seria o acesso a rede privada

financiada pelo governo Ademais um resultado importante eacute que os indiviacuteduos com menor

renda satildeo os com maiores chances de participaccedilatildeo no ProUni visto que este eacute uma das metas

do programa

Em siacutentese o impacto do ProUni eacute positivo ou seja apresenta evidecircncia de elevaccedilatildeo

no desempenho dos alunos concluintes Mas apesar do efeito favoraacutevel encontrado neste

estudo eacute necessaacuterio que as autoridades governamentais se esforcem cada vez mais para a

melhoria da qualidade do ensino natildeo apenas aumentando o acesso como tambeacutem a qualidade

da educaccedilatildeo baacutesica pois ao verificar as meacutedias de desempenho de todos os alunos (Tabela 1)

nota-se que natildeo satildeo tatildeo elevadas considerando que a pontuaccedilatildeo do ENADE varia de 0 a 100

Os resultados obtidos neste trabalho vatildeo de encontro agrave literatura exposta reforccedilando a

importacircncia de poliacuteticas puacuteblicas voltadas ao ensino Seria interessante em pesquisas futuras

a ampliaccedilatildeo da anaacutelise tanto a niacutevel dos cursos quanto dos anos

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Tese de Doutorado Dissertaccedilatildeo (Mestrado Profissional em Economia) Poacutes-Graduaccedilatildeo em

Economia Universidade Federal do Cearaacute Fortaleza 2010

MUGNOL Maacutercio GISI Maria Lourdes Avaliaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas educacionais os

resultados do Prouni Conjectura Filos Educ Caxias do Sul v 18 p 122-139 2012

PEIXOTO Betacircnia XAVIER PINTO Cristiane Campos de LIMA Lycia FOGUEL

Miguel Foguel PAES DE BARROS Ricardo Avaliaccedilatildeo Econocircmica de Projetos Sociais

Organizador Naercio Menezes Filho 1ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Dinacircmica Graacutefica e Editora 2012

RUA Maria das Graccedilas Anaacutelise de Poliacuteticas Puacuteblicas Conceitos Baacutesicos In RUA Maria

das Graccedilas VALADAtildeO Maria Izabel O Estudo da Poliacutetica Temas Selecionados Brasiacutelia

Paralelo 15 1998

ROSENBAUM Paul R RUBIN Donald B The Central Role of the Propensity Score in

Observational Studies for Causal Effects Biometrika 70(1)41ndash55 1983

SANTOS Sales Augusto dos CAVALHEIRO Eliane BARBOSA Maria Inecircs da Silva

RIBEIRO Matilde Accedilotildees afirmativas polecircmicas e possibilidades sobre igualdade racial e o

papel do Estado Rev de Estudos Feministas vol 16 nordm3 913-929 Florianoacutepolis 2008

SOUZA Celina FEDERALISMO DESENHO CONSTITUCIONAL E INSTITUICcedilOtildeES

FEDERATIVAS NO BRASIL POacuteS-1988 Revista de Sociologia e Poliacutetica Curitiba Nordm 24

105-121 jun 2005

VALLE Marcos Joseacute PROUNI POLIacuteTICA PUacuteBLICA DE ACESSO AO ENSINO

SUPERIOR OU PRIVATIZACcedilAtildeO Revista Eletrocircnica Teses e Dissertaccedilotildees v 1 n 2

2009

VENDRAMINI Claudette Maria Medeiros LOPES Fernanda Luzia Desempenho no Enade

de bolsistas ProUni Modelagem de Equaccedilotildees Estruturais Fractal Revista de Psicologia v

28 n 1 p 69-75 2016

424

EFICIEcircNCIA DOS GASTOS PUacuteBLICOS EM EDUCACcedilAtildeO NO NORDESTE UMA

ABORDAGEM EM TREcircS ESTAacuteGIOS

WALLACE PATRICK SANTOS DE FARIAS SOUZA

Doutor em Economia Aplicada pela UFRGS

Professor do Departamento de Economia - UFPB

E-mail wpsfariasgmailcom

Telefone (83) 99912-2456

MAacuteRIO SEacuteRGIO NOGUEIRA DE SOUZA

Graduaccedilatildeo em economia - UERN

E-mail marionawtgmailcom

Telefone (88) 99224-2248

ETEVALDO ALMEIDA SILVA

Doutorando em Geografia ndash UFPE

Professor do Departamento de Economia - UERN

E-mail etevaldoalhotmailcom

Telefone (84) 98833-8874

ANDREacuteA FERREIRA DA SILVA

Doutoranda em Economia Aplicada pela UFPB

E-mail andreaeconomiayahoocombr

Telefone (88) 99729-0750

425

EFICIEcircNCIA DOS GASTOS PUacuteBLICOS EM EDUCACcedilAtildeO NO NORDESTE UMA

ABORDAGEM EM TREcircS ESTAacuteGIOS

RESUMO

O objetivo deste trabalho consiste em mensurar a eficiecircncia das escolas puacuteblicas da regiatildeo

nordeste do Brasil e os condicionantes do seu grau de eficiecircncia para o ano de 2013 Para

tanto a estrateacutegia empiacuterica adotada eacute composta pelos seguintes passos 1) Mensura-se a

eficiecircncia das escolas atraveacutes da teacutecnica natildeo parameacutetrica order-α 2) Satildeo descontadas as

variaacuteveis natildeo-discricionaacuterias visto que estas possuem forte influecircncia sobre os escores finais

de eficiecircncia 3) Por fim aplica-se um modelo de regressatildeo quantiacutelica para avaliar quais os

impactos das variaacuteveis ligadas a escola Encontrou-se que o background familiar impacta

diretamente no rendimento escolar dos alunos e portanto nos niacuteveis de eficiecircncia aleacutem de

verificar-se que autonomia escolar assume um papel pouco relevante no processo de gestatildeo

das escolas

Palavras-chaves Eficiecircncia Background Familiar Autonomia Escolar

ABSTRACT

The objective of this paper is to measure the efficiency of public schools in the northeastern

region of Brazil and the constraints of their degree of efficiency for the year 2013 For this

the empirical strategy adopted is composed by the following steps 1) The efficiency of

schools is measured by the non-parametric order-α 2) Non-discretionary variables are

discounted since they have a strong influence on the final efficiency scores 3) Finally a

quantile regression model is applied to evaluate the impact of variables linked to school It

was found that the family background impacts directly on the students school performance

and therefore on the levels of efficiency besides verifying that school autonomy plays an

insignificant role in the school management process

Keywords Efficiency Family Background School Autonomy

426

1 Introduccedilatildeo

Os gastos puacuteblicos satildeo conceituados como uma escolha poliacutetica dos governos

contemplando uma gama significativa de serviccedilos prestados agrave sociedade Representam o custo

da quantidade e a qualidade dos serviccedilos e bens oferecidos a populaccedilatildeo Ao identificar os

gastos de uma gestatildeo puacuteblica os governos obedecem agraves prioridades presentes no seu plano

plurianual pela alocaccedilatildeo de recursos que lhe satildeo disponiacuteveis para atender as poliacuteticas

puacuteblicas dentre as quais destaca-se a educaccedilatildeo (RIANE 2009)

Ao longo das deacutecadas o Brasil tem procurado priorizar de forma permanente seus

esforccedilos na educaccedilatildeo incorporando maiores responsabilidades no tocante ao ensino seja

atraveacutes do aumento da arrecadaccedilatildeo de tributos vinculados agrave educaccedilatildeo seja aumentando a

obrigatoriedade Biderman et al (2004) afirma que a partir da deacutecada de 1990 um conjunto

de poliacuteticas educacionais foram implementadas e que foram determinantes na

descentralizaccedilatildeo das decisotildees e tambeacutem na mudanccedila de foco por parte do governo que agora

sinalizara seus esforccedilos para educaccedilatildeo baacutesica As estatiacutesticas reforccedilam essa argumentaccedilatildeo

mostrando que os gastos com educaccedilatildeo a partir dos anos 2000 apresentaram trajetoacuterias

crescentes principalmente aquelas vinculadas ao ensino fundamental A principal poliacutetica

puacuteblica adotada para sustentar as possibilidades evidenciadas se vincula ao Fundo de

Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da

Educaccedilatildeo - FUNDEB criado em 2006 A relevacircncia desta poliacutetica se daacute em torno de como o

volume dos recursos gastos pelos governos em educaccedilatildeo vem sendo otimizados para que se

identifique o quatildeo estatildeo sendo eficientes (SAVIAN E BEZERRA 2013)

A busca por um sistema de ensino de alta qualidade eacute um objetivo comum das

sociedades dado que diferenccedilas de qualidade na educaccedilatildeo oportunizam explicar aleacutem do

efeito positivo na remuneraccedilatildeo do trabalho oriunda dos ganhos de produtividade as

diferenccedilas nos niacuteveis de sauacutede criminalidade e participaccedilatildeo poliacutetica Garantir qualidade e

sobretudo eficiecircncia no que diz respeito aos investimentos eacute o principal objetivo de qualquer

poliacutetica puacuteblica E no acircmbito educacional certificar que os gastos puacuteblicos com educaccedilatildeo

estatildeo sendo eficazes e apropriados eacute sem duacutevida alguma uma meta a ser alcanccedilada por

qualquer naccedilatildeo

Por isso eacute importante que se faccedila uma anaacutelise criteriosa da aplicaccedilatildeo dos recursos que

contemple resultados qualitativos e quantitativos como premissa de entender como esses

custos de investimentos se deram As poliacuteticas puacuteblicas governamentais tem o papel

fundamental de pensar os meios e criar os caminhos para otimizar esses recursos

orccedilamentaacuterios

Segundo entendimento da teoria do Capital Humano formalizada na deacutecada de 1960

por Schultz o desenvolvimento de um paiacutes natildeo depende exclusivamente dos investimentos

em capital fixo mas passa diretamente pelos investimentos em recursos humanos Schultz

(1973) diz que eacute necessaacuterio primeiro investir-se em capital humano para que haja

posteriormente desenvolvimento econocircmico Ele complementa fundamentando que as

principais funccedilotildees das entidades educacionais satildeo a pesquisa com intuito de descobrir e

estimular os talentos dos alunos e a instruccedilatildeo para que estes saibam lidar com oportunidades

427

Ou seja a educaccedilatildeo e o progresso no conhecimento constituem importantes fontes de

crescimento econocircmico

Para Biderman et al (2004) a intervenccedilatildeo para manter a educaccedilatildeo direito

fundamental dos indiviacuteduos se vincula a reduzir as diferenccedilas regionais e atingir um padratildeo

de bem-estar social para alcanccedilar a eficiecircncia econocircmica Na visatildeo de Hanushek amp

Woessmann (2008) a educaccedilatildeo pode impedir ou ampliar as oportunidades econocircmicas e

sociais dos indiviacuteduos ao longo do seu ciclo de vida pois o ensino de baixa qualidade pode

reforccedilar a estrutura a qual estes estatildeo inseridos Conforme os autores a busca por um sistema

de ensino de excelecircncia eacute o grande objetivo de todas as sociedades dado que as diferenccedilas na

qualidade educacional permitem explicar aleacutem do efeito positivo na remuneraccedilatildeo do trabalho

proveniente dos ganhos de produtividade as diferenccedilas dentre outras nos niacuteveis de sauacutede

criminalidade e a participaccedilatildeo poliacutetica dos paiacuteses

De acordo com relatoacuterio da Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento

Econocircmico (OCDE) no ano de 2015 o Brasil destinou 172 dos seus gastos puacuteblicos agrave

educaccedilatildeo do niacutevel de educaccedilatildeo baacutesica agrave educaccedilatildeo superior ficando atraacutes apenas do Meacutexico e

da Nova Zelacircndia ndash ambos com 184 Esse valor destinado a educaccedilatildeo corresponde a 55

do Produto Interno Bruto (PIB) do paiacutes e encontra-se muito acima da meacutedia da OCDE (47)

e de paiacuteses latinos como o Chile (45) e Meacutexico (40) Aleacutem disso o gasto puacuteblico em

instituiccedilotildees de educaccedilatildeo superior como percentual do gasto puacuteblico total aumentou 49 entre

2005 e 2012 o que eacute bem acima do aumento meacutedio da OCDE de 33 O aumento foi ainda

mais acentuado em instituiccedilotildees de ensino fundamental e meacutedio onde a proporccedilatildeo de gasto

puacuteblico cresceu 82 no mesmo periacuteodo sendo o maior aumento entre todos os paiacuteses

parceiros da OCDE com dados disponiacuteveis (OCDE 2015)

Entretanto o consideraacutevel empenho por parte do governo ainda carrega consigo uma

maacute qualidade do ensino ofertado agrave populaccedilatildeo remetendo uma discussatildeo acerca do papel do

capital humano e da maneira que os recursos governamentais satildeo aplicados fazendo da

educaccedilatildeo um fator consideraacutevel quando se trata de desigualdade de renda no paiacutes

Especialistas voltados para economia da educaccedilatildeo cujo eacute vaacutelido o destaque para o estudo de

Delgado e Machado (2007) jaacute destacavam que quando confrontados os exames internacionais

em educaccedilatildeo e o mercado de trabalho a qualificaccedilatildeo dos alunos no Brasil eacute muito aqueacutem

daqueles paiacuteses considerados em desenvolvimento Os resultados obtidos a partir do

Programme for International Student Assessment (PISA) corroboram a tese de que a

qualidade do ensino quando aproximada por testes padronizados nacionais e internacionais

deixam a desejar O levantamento para o ano de 2015 conta com 70 paiacuteses e indica que o

Brasil figura entre os paiacuteses com piores proficiecircncias nos exames de ciecircncias (63deg posiccedilatildeo)

leitura (59deg posiccedilatildeo) e matemaacutetica (66deg posiccedilatildeo)

Apesar dos inuacutemeros estudos no Brasil sobre a eficiecircncia dos gastos puacuteblicos ainda se

torna evidente realizar estudos vinculados a educaccedilatildeo no Nordeste A partir de fronteiras de

eficiecircncia chegaremos a identificar aquelas ineficientes assim pode-se contribuir para que os

gestores puacuteblicos otimizem os recursos para melhorar o desempenho dos estados e

municiacutepios Portanto uma avaliaccedilatildeo de como os gastos puacuteblicos voltados para educaccedilatildeo

428

estatildeo sendo aplicados e quais aspectos contribuem para uma melhor administraccedilatildeo dos

insumos educacionais podem promover benefiacutecios sociais e crescimento econocircmico

Neste contexto quais satildeo os gastos que o setor puacuteblico tem destinado para o avanccedilo do

sistema puacuteblico de educaccedilatildeo Existe eficiecircncia nestes gastos Quais os motivos que os leva a

ineficiecircncia Que impactos as variaacuteveis escolares provocam no niacutevel de instruccedilatildeo dos alunos

Como eles se datildeo a niacutevel de entes da federaccedilatildeo estados e municiacutepios E a niacutevel de regiatildeo

Para responder esses questionamentos optou-se por trabalhar com o modelo natildeo

parameacutetrico order-α pelo fato desta ferramenta garantir agraves medidas uma menor

vulnerabilidade agrave outliers

Assim tomou-se como objetivo geral mensurar a eficiecircncia dos gastos puacuteblicos em

educaccedilatildeo no Nordeste dadas agraves caracteriacutesticas das escolas da rede puacuteblica de ensino E como

objetivos especiacuteficos Comparar a eficiecircncia entre os estados do Nordeste verificar quais satildeo

os determinantes de eficiecircncia identificar os fatores de responsabilidade da escola no

desempenho dos alunos e quais satildeo os mais importantes para a aprendizagem Os resultados

deste estudo podem contribuir a meacutedio e longo prazo para uma melhor realocaccedilatildeo de recursos

bem como de eficiecircncia na melhoria da poliacutetica puacuteblica da educaccedilatildeo

Para aleacutem desta introduccedilatildeo o presente trabalho se divide em mais 5 seccedilotildees A seccedilatildeo 2

conteacutem uma revisatildeo literaacuteria abordando a eficiecircncia dos gastos puacuteblicos a seccedilatildeo 3 mostra os

procedimentos metodoloacutegicos que foram adotados as seccedilotildees 4 e 5 apresentam

respectivamente os dados utilizados para mensuraccedilatildeo e os resultados alcanccedilados Por fim a

seccedilatildeo 6 apresenta as consideraccedilotildees finais

2 Eficiecircncia dos Gastos Puacuteblicos

Nas uacuteltimas deacutecadas houve um consideraacutevel crescimento de trabalhos cujo intuito eacute

avaliar a eficiecircncia dos gastos puacuteblicos no Brasil na provisatildeo de serviccedilos que satildeo

considerados essenciais como educaccedilatildeo seguranccedila e sauacutede Benegas (2012) aponta que

existe pelo menos duas razotildees que justifiquem tal ocorrecircncia A primeira reside por si soacute no

interesse pelo assunto uma vez que no Brasil dado o tamanho e importacircncia do estado na

oferta dos serviccedilos citados a avaliaccedilatildeo dos gastos puacuteblicos assume um papel preponderante

num contexto normativo A segunda diz respeito ao grande acervo de teacutecnicas de avaliaccedilatildeo de

eficiecircncia que aleacutem de serem bem fundamentados satildeo de faacutecil manuseio O modelo natildeo-

parameacutetrico Data Envelopment Analysis (DEA) que seraacute explanado nas seccedilotildees posteriores

constitui um exemplo imediato dessas teacutecnicas

No Brasil a utilizaccedilatildeo da teacutecnica eacute muito recente mas jaacute conta com um conjunto

significativo de estudos aplicados ao procedimento com um niacutevel avanccedilado de sofisticaccedilatildeo

metodoloacutegica Um exemplo praacutetico da aplicaccedilatildeo da metodologia DEA no acircmbito das poliacuteticas

puacuteblicas eacute o estudo realizado por Marinho (2001) cujo objetivo era avaliar os serviccedilos

hospitalares dos municiacutepios fluminenses referentes ao ano de 1998 Com base nos dados

obtidos ele define a rede de serviccedilos de sauacutede do Rio de Janeiro como ―um sistema de

entradas e saiacutedas que transforma capacidade de atendimento materializada em recursos

materiais e financeiros em serviccedilos de atendimento hospitalar e ambulatorial aleacutem de um

indicador de qualidade (Marinho 2001)

429

Em linha de pesquisa semelhante Costa (2011) objetivou avaliar a eficiecircncia teacutecnica

municipal na alocaccedilatildeo dos recursos puacuteblicos no estado do Paranaacute referentes ao ano de 2008

Seu trabalho identificou e analisou a eficiecircncia com gastos em sauacutede educaccedilatildeo e saneamento

em relaccedilatildeo ao IDPM (Iacutendice de Desempenho Municipal) nos municiacutepios paranaenses Ele

verificou que apenas trinta e dois do montante de trezentos e cinquenta municiacutepios avaliados

foram eficazes na alocaccedilatildeo de gastos puacuteblicos ou seja menos de 11 Expocircs ainda agrave

necessidade de se rever as praacuteticas de gestatildeo utilizadas na maioria dos municiacutepios do estado a

fim de melhor alocar os recursos puacuteblicos e entregar aos seus muniacutecipes uma melhor

qualidade de vida

Tratando especificamente de educaccedilatildeo a avaliaccedilatildeo da eficiecircncia da provisatildeo de

recursos puacuteblicos eacute um tema que desperta interesse tanto no meio acadecircmico quanto nas

autoridades puacuteblicas e sociedade civil em geral E a razatildeo para isso eacute imediata Eacute praticamente

unacircnime o consenso de que o crescimento e desenvolvimento de longo prazo de uma naccedilatildeo

passam inevitavelmente pela oferta abrangente e de qualidade do ensino baacutesico

Utilizando-se do meacutetodo DEA em dois estaacutegios Delgado e Machado (2007) analisou

a eficiecircncia das escolas puacuteblicas estaduais de Minas Gerais com intuito de detectar a fronteira

de eficiecircncia das escolas nos niacuteveis fundamental e meacutedio No primeiro estaacutegio calcularam a

eficiecircncia de todas as unidades no segundo compararam os resultados das famiacutelias aleacutem da

infraestrutura e do orccedilamento das escolas

A partir dos resultados obtidos Delgado e Machado compreendem que os indicadores

do produto educacional podem melhorar bastante se obtiverem um niacutevel maior de eficiecircncia

nas escolas estaduais Os autores recomendam ainda uma complementariedade dos insumos

dentro e fora da escola o que possibilitaraacute um desempenho melhor dado que escolas

localizadas nas mesorregiotildees do estado onde os recursos educacionais satildeo mais abundantes as

chances de serem eficientes e oferecer um ensino de melhor qualidade satildeo maiores embora

que existam bons exemplos de desempenho nas regiotildees mais carentes do Estado

Neto (2010) analisou a eficiecircncia do gasto puacuteblico em educaccedilatildeo nos municiacutepios do

estado do Cearaacute com foco no municiacutepio de Meruoca atraveacutes da anaacutelise envoltoacuteria de dados e

estimou os iacutendices de eficiecircncia considerando indicadores de insumo e produto tanto nos

estaacutegios iniciais da educaccedilatildeo infantil como do ensino fundamental para todos os municiacutepios

do estado Assim os municiacutepios foram classificados num ranking de eficiecircncia permitindo

verificar em que posiccedilatildeo o alvo deste estudo se encontrava

Atraveacutes dos resultados alcanccedilados em seu estudo Neto verificou que os municiacutepios

maiores e que dispotildeem uma gama maior de recursos natildeo apresentam eficiecircncia O exemplo

praacutetico disto eacute a capital do estado Fortaleza que ficou entre os quinze piores do ranking na

educaccedilatildeo infantil tanto na anaacutelise do paracircmetro insumo x produto e insumo x resultado como

tambeacutem no quesito produto x resultado Entretanto municiacutepios considerados menores e com

poucos recursos aparecem frequentemente entre os mais eficientes O municiacutepio de Meruoca

objeto deste estudo que conta com uma populaccedilatildeo de 13693 habitantes segundo censo de

2010 apresentou todos os iacutendices acima das suas respectivas meacutedias estando abaixo da meacutedia

apenas sob o paracircmetro do insumo x produto para o ensino fundamental

430

Wissmann (2014) atraveacutes da aplicaccedilatildeo da anaacutelise envoltoacuteria de dados apurou a

eficiecircncia do gasto puacuteblico com o ensino fundamental na regiatildeo Oeste do Paranaacute em relaccedilatildeo

ao iacutendice de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica (IDEB) Dividiu seu estudo em duas

partes ambas desenvolvidas com base em dados secundaacuterios dos municiacutepios sendo a

primeira parte composta da anaacutelise da evoluccedilatildeo do gasto puacuteblico com educaccedilatildeo em relaccedilatildeo

aos resultados do IDEB e a segunda baseando-se na utilizaccedilatildeo de variaacuteveis com intuito de

verificar quais delas podem refletir nos resultados do iacutendice

Apoacutes a coleta e anaacutelise de dados o autor constatou que os gastos com educaccedilatildeo na

regiatildeo Oeste do Paranaacute cresceram em proporccedilatildeo superior ao crescimento do IDEB Entre os

municiacutepios estudados destacou-se Santa Helena que apresentou aumento de 113 nos

gastos per capita com o Ensino Fundamental enquanto o IDEB teve variaccedilatildeo positiva de

326 Entretanto os valores destinados agrave manutenccedilatildeo do Ensino Fundamental - seacuteries

iniciais natildeo estatildeo surtindo os efeitos adequados na qualidade do ensino uma vez comparados

ao IDEB o gasto puacuteblico em educaccedilatildeo na regiatildeo Oeste do Paranaacute natildeo estaacute formando capital

humano na proporccedilatildeo desejada

3 Procedimentos Metodoloacutegicos

Nesta seccedilatildeo estatildeo contidos os principais procedimentos metodoloacutegicos necessaacuterios para

realizaccedilatildeo desse estudo Devido a questatildeo de espaccedilo o modelo natildeo parameacutetrico Anaacutelise

Envoltoacuteria de Dados (DEA) tradicional natildeo seraacute apresentado podendo ser encontrado em

Delgado e Machado (2007) Dessa forma seraacute abordado o Modelo de Ordem α e por fim o

Modelo de Misturas Finitas

31 Modelo de Ordem- α

Nos uacuteltimos anos a literatura voltada para a eficiecircncia tem migrado em direccedilatildeo a

meacutetodos natildeo parameacutetricos que natildeo utilizam erros aleatoacuterios sendo duas teacutecnicas em especial

bastante utilizadas a anaacutelise envoltoacuteria de dados (DEA) que fora abordada na seccedilatildeo anterior

e o Free Disposal Hull (FDH) proposta por Depris Simar e Tulkens (1984) O estimador

FDH baseia-se na hipoacutetese da dominacircncia fraca e possui algumas vantagens se comparado ao

DEA Dentre elas a capacidade de uma anaacutelise mais realista de modo que a fronteira estimada

eacute totalmente baseada no que realmente foi produzido e natildeo em uma combinaccedilatildeo de resultados

observados No entanto estas teacutecnicas satildeo alvo de criacuteticas por serem determiniacutesticas

vulneraacuteveis a presenccedila de outliers e a erros de mensuraccedilatildeo

Mediante isso a literatura que adota estimadores natildeo parameacutetricos vem migrando para

o chamado enfoque de fronteira parcial (partial frontier approaches) cujo dois meacutetodos

merecem destaque a order-α (ARAGON DAOUIA THOMAS-AGNAN 2005) e a anaacutelise

de eficiecircncia order-m (CAZALS FLORENS SIMAR 2002) A principal vantagem dessas

anaacutelises parciais eacute possibilitar que observaccedilotildees supereficientes sejam alocadas aleacutem da

Fronteira de Possibilidade de Produccedilatildeo (FPP) garantindo as medidas menor vulnerabilidade agrave

outliers

O meacutetodo o order-α proposto por Aragon Daoia e Thomas-Agnan (2005) representa

uma generalizaccedilatildeo do estimador FDH Para compreensatildeo do meacutetodo considere um espaccedilo de

431

probabilidade (Ω A Ƥ) sobre qual o vetor de insumos X e de produtos Y estaacute definido Sob

esta oacutetica definem-se o conjunto Ψ onde estatildeo contidos o vetor de insumos o vetor de

produtos e a distribuiccedilatildeo conjunta dos dois vetores aleacutem de um subconjunto de Ψ definido

como lowast | A equaccedilatildeo abaixo sugere introduzir o conceito de

produccedilatildeo de ordem contiacutenua como uma funccedilatildeo quantiacutelica de ordem da funccedilatildeo

que determina Y dado que X natildeo excede determinado niacutevel de insumos

| | | (1)

Essa funccedilatildeo quantiacutelica condicional eacute o limiar do produto educacional representado por

das escolas que utilizam menos insumos do que o niacutevel x Assumindo que para

todo x tal que a funccedilatildeo de distribuiccedilatildeo condicional | eacute estritamente crescente

no intervalo Para tanto

lowast tem-se que com | (2)

Com isso qualquer plano de produccedilatildeo no subconjunto lowast pertence a alguma

curva quantiacutelica de ordem α A funccedilatildeo quantiacutelica estima a eficiecircncia do plano de produccedilatildeo

quando a compara com todos que utilizam os mesmos niacuteveis de insumo x bem como

com os que usarem niacuteveis menores que x O escore de eficiecircncia eacute algebricamente descrito

por

[

frasl ] (3)

Na praacutetica Daraio e Simar (2007) fornecem os passos necessaacuterios para se obter o

estimador atraveacutes de um algoritmo

[1] - Assuma sum

[2] - Defina

[3] - Para denote por

a estaacutetica de ordem das observaccedilotildees tal que

[4] A partir do passo a medida de eficiecircncia eacute definida como

[ ]

([ ] )

[5] ndash Este passo eacute um loop B vezes para obter um conjunto de estimadores bootstrap

( lowast

lowast)

432

[6] Satildeo utilizados os valores bootstrap de A para construir o intervalo de confianccedila para Y

A figura 1 fornece uma ilustraccedilatildeo graacutefica dos meacutetodos natildeo parameacutetricos que foram

discutidos acima Para a DEA e o FDH as DMUs que satildeo irregulares abrangem as fronteiras

mensuradas fazendo com que as demais DMUs sejam ineficientes Em contrapartida o

meacutetodo ordem α possibilita que as DMUs se localizem fora da FPP estimada

Figura 1

Fonte Oliveira et al (2015)

32 Modelo de Misturas Finitas

Uma vez coletados os indicadores de eficiecircncia robustos sem a interferecircncia das

variaacuteveis natildeo discricionaacuterias mencionadas na seccedilatildeo acima ou seja apoacutes a aplicaccedilatildeo do

modelo de order-α seratildeo investigados quais as variaacuteveis satildeo decisivas para a obtenccedilatildeo de

eficiecircncia na gestatildeo escolar Para tanto adota-se um modelo de misturas finitas para estimar

essas relaccedilotildees O modelo de misturas finitas tem como vanguarda o trabalho de Feller (1943)

e apresenta-se como um modelo semiparameacutetrico dado que hipoacuteteses sobre distribuiccedilotildees de

cada subpopulaccedilatildeo satildeo desnecessaacuterias Modelos como este representam uma adiccedilatildeo de

densidades de S distintas populaccedilotildees para analisar a heterogeneidade natildeo observada Atenta-

se que algumas variaacuteveis aleatoacuterias Y podem ser heterogecircneas entre grupos mas que se

apresentam homogecircneas intragrupos Como resultado da heterogeneidade as variaacuteveis

apresentam uma distribuiccedilatildeo de probabilidade que se distingue entre os grupos embora se

presuma que todas derivem de uma distribuiccedilatildeo parameacutetrica comum Um modelo de misturas

finitas que segue uma distribuiccedilatildeo qualquer pode ser descrito da seguinte maneira

( | ) sum | sum

(4)

em que ( | ) representa a s-eacutesima densidade e eacute a probabilidade da s-

eacutesima densidade

A determinaccedilatildeo do nuacutemero de componentes se daraacute atraveacutes do teste de razatildeo de

verossimilhanccedila modificado (LR) proposto por Chen e Kalbfleisch (2005) Para isto define-se

433

o conjunto = tem k distribuiccedilotildees em que G apresenta a funccedilatildeo de distribuiccedilatildeo

acumulada Sendo uma amostra aleatoacuteria de densidade a funccedilatildeo de log

verossimilhanccedila eacute modelada por sum

A estatiacutestica de razatildeo de verossimilhanccedila para testar contra eacute

apresentada da seguinte maneira

(5)

Em razatildeo da natildeo-regularidade dos modelos de mistura finita natildeo possui uma

distribuiccedilatildeo qui-quadrado padratildeo Para restaurar a regularidade deste modelo utiliza-se a

seguinte funccedilatildeo de penalidade em que eacute uma

constante positiva e eacute um valor definido no intervalo que depende do nuacutemero de

densidades estimadas Admitindo que e maximizam para e e

o teste de razatildeo de verossimilhanccedila modificado fica da seguinte maneira

( ) ( ) (6)

Por fim se aplica um teste de diferenccedilas medias cujo objetivo eacute verificar se haacute indiacutecios

de heterogeneidade natildeo observada na amostra o que corroboraria o uso do modelo de misturas

finitas Tal passo eacute fundamental uma vez que a distribuiccedilatildeo condicional da variaacutevel eacute uma

mistura de duas ou mais componentes com meacutedias e variacircncias distintas o que possibilita que

os paracircmetros estimados sejam diferentes entre os elementos

4 Dados

Para construccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do presente estudo foram empregados micro

dados da Prova Brasil para o ano de 2013 e do Censo Escolar para o mesmo periacuteodo

considerando-se somente as escolas puacuteblicas A prova Brasil criada em 2005 consiste numa

avaliaccedilatildeo censitaacuteria dos alunos do 5deg ano e 9deg ano do ensino fundamental das escolas puacuteblicas

nas esferas municipal estadual e federal com intuito de avaliar a qualidade do ensino

ministrado

A participaccedilatildeo nesta avaliaccedilatildeo exige alguns requisitos como escolas que possuam um

nuacutemero miacutenimo de 20 alunos matriculados no ano avaliado de modo que os resultados satildeo

disponibilizados por escola e por unidade federativa A apuraccedilatildeo do desempenho dos alunos

baseia-se nas escalas de proficiecircncia uma vez que corresponde a escalas especiacuteficas ao

assunto permitindo computar as competecircncias adquiridas pelos alunos ao longo da trajetoacuteria

escolar Estas escalas satildeo construiacutedas por meio da Teoria de Reposta ao Item (TRI) e do

modelo de Blocos Incompletos Balanceados (BIB)

Foram eliminadas todas as escolas com valores missing em alguma das dimensotildees

analisadas A partir dos dados primaacuterios foram construiacutedos os indicadores de qualidade

escolar um iacutendice socioeconocircmico do aluno sendo este necessaacuterio uma vez que natildeo existem

434

informaccedilotildees referentes ao niacutevel de renda da famiacutelia do aluno e um iacutendice de incentivo escolar

por meio de uma teacutecnica de anaacutelise de componentes principais para dados categoacutericos

Para o indicador socioeconocircmico foram levadas em consideraccedilatildeo as seguintes

variaacuteveis do questionaacuterio do aluno nuacutemero de aparelhos de televisatildeo (0 1 2 ou mais)

nuacutemero de geladeiras (0 1 2 ou mais) nuacutemero de carros (0 1 2 3 ou mais) se possuem

computador nuacutemero de quartos (0 1 2 3 ou mais) nuacutemero de empregada (s) domeacutestica (s)

por pelo menos cinco dias por semana (0 1 2 3 ou mais)

O iacutendice de incentivo escolar por sua vez eacute construiacutedo com base nas seguintes

variaacuteveis se os pais do aluno o incentivam a estudar se os pais do aluno o incentivam a fazer

as atividades de casa se os pais do aluno o incentivam a ler se os pais do aluno o incentivam

a natildeo faltar agraves aulas e se os pais do aluno conversam sobre o que acontece na escola

Por fim o indicador de qualidade da escola eacute baseado no seguinte conjunto de

variaacuteveis se a escola tem rede puacuteblica de abastecimento de aacutegua se a escola tem rede puacuteblica

de energia eleacutetrica se a escola tem rede puacuteblica de esgoto se a escola tem coleta perioacutedica de

lixo se haacute sala de professores se haacute sala de diretor se haacute sala de informaacutetica se haacute

laboratoacuterio de ciecircncias se haacute cozinha se haacute biblioteca se haacute banheiros na escola

(dependecircncias externa e interna) e se haacute acesso de alunos a computadores

A tabela 1 apresenta um conjunto de estatiacutesticas descritivas que permitem caracterizar

o comportamento dos insumos e produtos utilizados no processo de estimaccedilatildeo da eficiecircncia

teacutecnica das unidades escolares para cada ano do painel Com relaccedilatildeo aos produtos nota-se

que o desempenho meacutedio dos alunos do 9deg ano nas provas de Matemaacutetica e Liacutengua

Portuguesa satildeo inferiores se comparados com os nuacutemeros do 5deg ano Observou-se tambeacutem

um consideraacutevel aumento no nuacutemero de matriacuteculas nas instituiccedilotildees de ensino voltadas para a

fase final do ensino fundamental se comparado com os indicadores do 5deg ano

Tabela 1 Estatiacutesticas Descritivas dos Insumos e Produtos ndash 1ordm Estaacutegio - 2013

5ordm Ano

Variaacuteveis Meacutedia Desvio-padratildeo Min Max

Salas de aula 1572 728 1 40

Multimiacutedia 056 075 002 809

Matriacuteculas 183659 122717 197 8328

Esc Professor 094 023 0 1

Infraestrutura 056 031 001 166

Exp Diretor 018 038 0 1

Matemaacutetica 18796 2800 8052 35312

Portuguecircs 17663 2605 9555 29608

Aprovaccedilatildeo 056 020 0 1

9ordm Ano

Variaacuteveis Meacutedia Desvio-padratildeo Min Max

Salas de aula 1572 637 4 44

Multimiacutedia 085 096 002 809

Matriacuteculas 241311 146732 299 8328

Esc Professor 096 017 0 1

Infraestrutura 066 032 001 166

Exp Diretor 023 042 0 1

Matemaacutetica 22036 2419 11640 35689

435

Portuguecircs 21486 2481 11575 32740

Aprovaccedilatildeo 055 018 0 1

Fonte Elaborado pelo autor

As variaacuteveis que representam os insumos utilizados apresentam um comportamento

que natildeo justificam um aumento no niacutevel meacutedio de reprovaccedilatildeo dos alunos do 9deg ano se

comparados com os alunos do 5deg A infraestrutura disponibilizada nos anos finais do ensino

fundamental se comparada com o 5deg ano apresenta um crescimento de aproximadamente

178 podendo ser representados pelo consideraacutevel crescimento nas salas de multimiacutedia e na

manutenccedilatildeo da quantidade meacutedia de salas de aula No tocante a experiecircncia do diretor e

escolaridade do professor tem-se indicadores melhores para etapa final de ensino com 18 e

094 respectivamente para o 5deg ano contra 23 e 96 para o 9deg ano

Na tabela 2 constam informaccedilotildees relacionadas agraves variaacuteveis natildeo-discricionaacuterias A

amostra deste estudo eacute caracterizada por uma maior presenccedila de alunos do sexo feminino (em

torno de 52 para 4deg seacuterie e 54 para a 8deg seacuterie) Nota-se tambeacutem que haacute uma presenccedila

maior de alunos brancos no 9deg ano (16 da amostra) se comparado com o total de alunos do

5deg ano (13)

Tabela 2 Estatiacutesticas Descritivas das Variaacuteveis Natildeo-Discricionaacuterias ndash 2ordm Estaacutegio - 2013

5ordm Ano

Variaacuteveis Meacutedia Desvio-padratildeo Min Max

Homem 048 013 0 1

Branco 013 033 0 1

Idade 1100 055 8 15

Mora com Matildee 086 034 0 1

Esc Matildee 004 021 0 1

Socioeconocircmico 024 029 0 262

Incentivo escolar 454 041 0 5

Creche 020 040 0 1

9ordm Ano

Variaacuteveis Meacutedia Desvio-padratildeo Min Max

Homem 046 013 0 1

Branco 016 037 0 1

Idade 1609 062 13 20

Mora com Matildee 088 032 0 1

Esc Matildee 003 017 0 1

Socioeconocircmico 019 020 0 206

Incentivo escolar 456 041 0 5

Creche 019 039 0 1

Fonte Elaborado pelos autores com base nos microdados da Prova Brasil e do Censo EscolarINEP

Notas As estatiacutesticas foram corrigidas pelos pesos amostrais

Quanto agrave evoluccedilatildeo comparando as etapas de ensino observa-se nas escolas uma

presenccedila maior do nuacutemero de alunos que moram com a matildee nos alunos do 9deg ano com 88

contra 86 para o 5deg ano Observa-se tambeacutem uma relevante piora nas condiccedilotildees financeiras

das famiacutelias dos alunos o iacutendice socioeconocircmico no 5deg ano foi em meacutedia de 024 enquanto

que no 9deg ano caiu para 019 Este indicador eacute relevante jaacute que crianccedilas de famiacutelias pobres

436

devido a causas como pais com baixa escolaridade e piores condiccedilotildees de moradia tecircm maior

dificuldade na escola refletindo no desempenho e levando a maiores taxas de reprovaccedilatildeo

evasatildeo e abandono escolar Por sua vez natildeo houve alteraccedilotildees significativas no iacutendice que

mensura o envolvimento dos pais com a vida escolar do filho e que reflete o incentivo aos

estudos e agrave leitura com o que acontece no ambiente escolar Desse modo houve encolhimento

de recursos econocircmicos para as famiacutelias dos alunos atenuados pela ausecircncia de ganho de

capital humano das matildees e diminuiccedilatildeo indireta do capital cultural

A despeito dos alunos que iniciaram sua trajetoacuteria escolar na creche verifica-se que o

desempenho de alunos do 5deg ano eacute ligeiramente superior do que os alunos do 9deg ano A

qualidade das creches estaria diretamente relacionada agrave qualidade das atividades e agrave estrutura

do programa educacional cujo reflexo eacute determinante no desenvolvimento da crianccedila O

relatoacuterio do Banco Mundial (2001) supracitado expotildee a importacircncia deste serviccedilo Barros et

al (2011) verificou em seu estudo que o baixo padratildeo de serviccedilo ofertado tambeacutem poderia

ser capaz de comprometer o desempenho educacional futuro dos discentes Desse modo o

desfecho de se iniciar a vida escolar na creche sobre o desempenho acadecircmico futuro dos

alunos estaria diretamente relacionado agrave qualidade do projeto pedagoacutegico ofertado nessa fase

Podendo o efeito creche portanto atuar positiva ou negativamente na performance dos

alunos

A tabela 3 expotildee a adoccedilatildeo de uma seacuterie de medidas de autonomia escolar e sua

evoluccedilatildeo entre os 5deg e 9deg anos do ensino fundamental A variaacutevel diretoria indica se o diretor

assumiu o cargo exclusivamente por processo seletivo O cocircmputo dos dados mostra que a

porcentagem de diretores que atuam em seus cargos em decorrecircncia de seleccedilatildeo eacute ligeiramente

maior nas turmas do 9deg ano Com relaccedilatildeo ao conselho escolar verifica-se que natildeo houve

pioras nem melhoras significativas deste indicador Cerca de 63 (5deg ano) e 65 (9deg ano) das

unidades de ensino reuniram seus conselhos escolares por trecircs vezes ou mais no ano Ao

referido oacutergatildeo atribui-se a funccedilatildeo de deliberar sobre as normas internas e o funcionamento

da escola participaccedilatildeo na elaboraccedilatildeo do projeto pedagoacutegico analisar as questotildees

encaminhadas pelos diversos segmentos da escola a fim de propor sugestotildees acompanhar a

execuccedilatildeo das accedilotildees pedagoacutegicas administrativas e financeiras da escola aleacutem de mobilizar a

comunidade escolar e local para a participaccedilatildeo em atividades em prol da melhoria da

qualidade da educaccedilatildeo conforme previsto em lei

O projeto pedagoacutegico elaborado pela instituiccedilatildeo de ensino reflete a proposta educativa

construiacuteda pela comunidade escolar no exerciacutecio de sua autonomia tomando como base as

caracteriacutesticas dos alunos os profissionais que ali atuam e os recursos disponiacuteveis

fundamentado nas orientaccedilotildees curriculares nacionais e dos respectivos sistemas de ensino

Destarte Oliveira et al (2016) argumenta que ratificar a ampla participaccedilatildeo dos profissionais

da escola famiacutelia e alunos na definiccedilatildeo das orientaccedilotildees e dos processos de implantaccedilatildeo dos

mesmos tecircm-se a construccedilatildeo de uma comunidade escolar mais igualitaacuteria e participativa

influenciando positivamente os resultados acadecircmicos dos alunos Conforme as estatiacutesticas

apontadas aqui a porcentagem de escolas em que pais professores diretor alunos e outros

servidores se reuniram para elaborar o projeto pedagoacutegico eacute iacutenfima (apenas 2) e eacute a mesma

tanto para escolas do 5deg e 9deg anos Esse resultado evidencia o baixiacutessimo envolvimento dos

437

diversos atores educacionais no processo de definiccedilatildeo das regras que iratildeo nortear a trajetoacuteria

de aprendizagem dos alunos

Os diretores tambeacutem relataram mudanccedilas nas interferecircncias em suas gestotildees Ao

comparar os dados estatiacutesticos das escolas analisadas nota-se uma variaccedilatildeo muito pequena

Todavia eacute vaacutelido destacar que mais de 33 e 36 (para 5deg e 9deg ano respectivamente) dos

diretores comunicaram que agentes externos tentaram de alguma maneira interferir em suas

praacuteticas de gestatildeo Tais tentativas podem prejudicar as teacutecnicas de administraccedilatildeo propostas

pelo diretor uma vez que o mesmo conhece a comunidade e o ambiente escolar e suas

principais demandas Concomitantemente constata-se altos iacutendices de apoio da comunidade

escolar a despeito das praacuteticas gerenciais do diretor - 94 para o 5deg ano e 92 para o 9deg ano

Tabela 3 Estatiacutesticas Descritivas das Variaacuteveis Natildeo-Discricionaacuterias ndash 3ordm Estaacutegio - 2013

5ordm Ano

Variaacuteveis Meacutedia Desvio-padratildeo Min Max

Diretoria 020 041 0 1

Conselho 063 048 0 1

Projeto 002 015 0 1

Admissatildeo 001 013 0 1

Interferecircncia 033 047 0 1

Livro 073 017 0 1

Apoio 094 023 0 1

Homog Idade 044 049 0 1

Homog Rendimento 007 026 0 1

Heter Idade 009 029 0 1

Heter Rendimento 009 028 0 1

9ordm Ano

Variaacuteveis Meacutedia Desvio-padratildeo Min Max

Diretoria 021 040 0 1

Conselho 065 047 0 1

Projeto 002 015 0 1

Admissatildeo 002 015 0 1

Interferecircncia 036 048 0 1

Livro 072 015 0 1

Apoio 092 025 0 1

Homog Idade 054 049 0 1

Homog Rendimento 003 019 0 1

Heter Idade 007 025 0 1

Heter Rendimento 006 024 0 1

Notas As estatiacutesticas foram corrigidas pelos pesos amostrais

Fonte Elaborado pelos autores com base nos microdados da Prova Brasil e do Censo

EscolarINEP

A escolha do livro didaacutetico representa mais uma medida de autonomia escolar Essa

tarefa cabe aos professores e a equipe pedagoacutegica e tem por objetivo analisar as resenhas

contidas no guia para escolher adequadamente a serem utilizados no triecircnio O livro didaacutetico

deve estar adequado ao projeto pedagoacutegico do estabelecimento de ensino ao aluno e

professor e agrave realidade sociocultural das instituiccedilotildees No ano de 2013 observou-se que para

438

o 5deg ano cerca de 73 das instituiccedilotildees de ensino decidiram que livros iriam utilizar para o 9deg

ano uma ligeira reduccedilatildeo de modo que 72 das escolas escolheram que material didaacutetico

usariam no triecircnio seguinte

Por fim adotou-se o criteacuterio de alocaccedilatildeo dos alunos entre as turmas como uacuteltima

medida de autonomia escolar Para ambos os anos do ensino fundamental o principal

paracircmetro estabelecido para o estabelecimento das turmas foi a homogeneidade quanto agrave

idade tendo 44 das escolas adotando este meacutetodo para o 5deg ano e 54 para o 9deg ano O

criteacuterio ampara-se na regra do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo que define que para ingressar no 1deg

ano do ensino fundamental as crianccedilas precisam possuir pelo menos seis anos de idade

completos ateacute marccedilo Almeja-se minimizar as diferenccedilas de idade entre os alunos e

indiretamente obter menores taxas de defasagem idade-seacuterie

Com base no exposto anteriormente daacute-se prosseguimento agrave anaacutelise de resultados obtidos

para as medidas de eficiecircncia escolar a relaccedilatildeo com as variaacuteveis natildeo discricionaacuterias e a

associaccedilatildeo existente entre autonomia na gestatildeo da escola e a eficiecircncia do diretor na

combinaccedilatildeo entre insumos e produtos

5 Resultados

51 Escores de Eficiecircncia Teacutecnica e Gerencial

Esta primeira subseccedilatildeo estaacute dividida em duas partes A primeira aborda a eficiecircncia

dos estados do nordeste brasileiro sob a oacutetica do modelo DEA cujo objetivo eacute a realizaccedilatildeo de

uma sucinta anaacutelise individual da eficiecircncia de cada estado nordestino Posteriormente daacute-se

prosseguimento anaacutelise dos resultados atraveacutes do modelo de Ordem α cuja abordagem eacute

distinta do DEA realizando uma anaacutelise da regiatildeo nordeste como um todo Isso ocorre porque

o modelo natildeo permite um nuacutemero reduzido de observaccedilotildees sendo necessaacuteria uma abordagem

mais ampla dos resultados obtidos Outra vantagem deste modelo em relaccedilatildeo ao DEA eacute a

possibilidade de escores de eficiecircncia acima de 1 ou seja eacute permitido usar escolas que satildeo

outliers (supereficientes) A tabela 4 apresenta estatiacutesticas descritivas acerca das medidas de

eficiecircncia teacutecnica e gerencial por regiatildeo geograacutefica e ano do ensino fundamental O primeiro

comportamento observado eacute o aumento razoaacutevel das medidas de eficiecircncia entre as etapas de

ensino analisadas Verifica-se que maioria dos estados examinados com exceccedilatildeo da Paraiacuteba e

Pernambuco apresentaram indicadores melhores entre os alunos do 9deg ano que os do 5deg ano

De imediato se observa tambeacutem a robusta diferenccedila entre os escores das escolas do 5deg e 9deg

anos do estado do Rio Grande do Norte ao qual possuem 0927 e 0979 respectivamente Isso

indica que as praacuteticas de gestatildeo adotadas pelos administradores escolares obtiveram melhor

balanceamento entre insumos e produtos para os alunos das seacuteries finais desta etapa de ensino

Como o grau de eficiecircncia reflete a relaccedilatildeo entre insumos e produtos unidades

geograacuteficas com desempenhos aqueacutem do ideal nos testes padronizados e elevadas taxas de

aprovaccedilatildeo por exemplo podem apresentar melhor gestatildeo que as outras uma vez que utilizem

seus recursos disponiacuteveis de forma mais eficaz do que aquelas Neste sentido o ideal natildeo

necessariamente eacute aumentar os recursos disponiacuteveis mas sim utiliza-los de forma melhor Eacute o

exemplo de Pernambuco em que se observa que as instituiccedilotildees de ensino do estado

439

apresentam meacutedia muito abaixo dos demais estados o que faz considerar que natildeo houve uma

maximizaccedilatildeo dos produtos educacionais

Tabela 4 Eficiecircncia Teacutecnica por Estado ndash Meacutedia das Escolas - 2013

5ordm Ano

Variaacuteveis Meacutedia Desvio-

padratildeo

Min Max

Maranhatildeo 0917 0120 0508 1

Piauiacute 0961 0068 0783 1

Cearaacute 0914 0115 0569 1

Rio Grande do Norte 0927 0095 0701 1

Paraiacuteba 0979 0051 0771 1

Pernambuco 0892 0116 0565 1

Alagoas 0934 0095 0689 1

Sergipe 0945 0097 0750 1

Bahia 0958 0126 0642 1

9ordm Ano

Variaacuteveis Meacutedia Desvio-

padratildeo

Min Max

Maranhatildeo 0929 0088 0729 1

Piauiacute 0962 0060 0792 1

Cearaacute 0929 0101 0599 1

Rio Grande do Norte 0977 0065 0746 1

Paraiacuteba 0971 0052 0834 1

Pernambuco 0836 0153 0487 1

Alagoas 0969 0068 0816 1

Sergipe 0971 0067 0745 1

Bahia 0961 0142 0679 1

Fonte Elaborado pelos autores com base nos microdados da Prova Brasil e do Censo EscolarINEP

A tabela 5 apresenta os escores de eficiecircncia meacutedia das escolas da regiatildeo nordeste para

os anos desta etapa de ensino que satildeo objetos deste estudo estando divididos em eficiecircncia

teacutecnica (interaccedilatildeo entre insumos e produtos sem o desconto das variaacuteveis natildeo-discricionaacuterias)

e eficiecircncia gerencial (quando as varaacuteveis que natildeo estatildeo sob domiacutenio da escola satildeo

descontadas)

Tabela 5 Eficiecircncia Meacutedia das Escolas - 2013

5ordm Ano

Variaacuteveis Meacutedia Desvio-

padratildeo

Min Max

Eficiecircncia Teacutecnica 1043 0119 0819 1609

Eficiecircncia Gerencial 0639 0082 0538 1

Observaccedilotildees 3590

9ordm Ano

Variaacuteveis Meacutedia Desvio-

padratildeo

Min Max

Eficiecircncia Teacutecnica 1076 0091 0968 1344

Eficiecircncia Gerencial 0764 0074 0677 1

Observaccedilotildees 2802

440

Fonte Elaborado pelos autores com base nos microdados da Prova Brasil e do Censo

Analisando a meacutedia do 5deg ano observa-se a meacutedia de eficiecircncia gerencial de 0639

enquanto que para o 9deg ano tecircm-se 0764 Estes nuacutemeros revelam que o ambiente

sociocultural e o capital econocircmico da famiacutelia dos alunos influenciam diretamente nos

escores Soares e Collares (2006) abordam em seu estudo o que chamam de noccedilatildeo

multidimensional de modo que no presente trabalho a fim de minuciar o background

socioeconocircmico das famiacutelias foi considerado um conjunto de dimensotildees que descrevem a

condiccedilatildeo familiar Satildeo estas recursos financeiros relaccedilatildeo entre os pais e a educaccedilatildeo dos

filhos e a presenccedila da figura materna na famiacutelia

Partindo desse pressuposto almeja-se uma apropriaccedilatildeo das melhorias da escola por

parte dos alunos cuja condiccedilatildeo familiar eacute melhor O reflexo disso eacute a diminuiccedilatildeo da

mobilidade do background familiar o que impacta diretamente na capacidade que os gestores

escolares possuem de promover ganhos agrave comunidade escolar Tais efeitos evidenciam que a

relaccedilatildeo entre bons indicadores educacionais e testes padronizados natildeo refletem a realidade ou

seja que natildeo necessariamente determinada regiatildeo possui uma eficiecircncia relativa maior que as

demais que natildeo possuem os mesmos iacutendices Isso porque os recursos destinados para alcanccedilar

tais resultados podem ser muito maiores que os demais entes da federaccedilatildeo como uma melhor

infraestrutura escolar e qualificaccedilatildeo dos professores Mediante isso as regiotildees que

historicamente satildeo desenvolvidas podem aparecer em colocaccedilotildees muito inferiores a outras

que sofrem com vulnerabilidades sociais e um baixo investimento puacuteblico o que agrave primeira

vista pode parecer um resultado incoerente

52 Eficiecircncia Teacutecnica e Natildeo Discricionariedade

Conforme supracitado no relatoacuterio Coleman et al (1966) diversos estudos revelaram a

importacircncia do background familiar como principal causador das desigualdades nos

indicadores educacionais restando uma pequena fatia de atuaccedilatildeo para as escolas Os trabalhos

de Leon e Menezes-Filho (2002) e Soares e Collares (2006) por exemplo reforccedilam a

importacircncia do ambiente familiar dos alunos tratando-o como fator chave na formaccedilatildeo

educacional Nessa perspectiva a tabela 6 explicita a relaccedilatildeo entre as variaacuteveis natildeo-

discricionaacuterias e o grau de eficiecircncia teacutecnica para o 5deg e 9deg ano no ano de 2013 Se faz

necessaacuterio tomar conhecimento da magnitude da influecircncia das variaacuteveis natildeo-discricionaacuterias

na composiccedilatildeo do escore de eficiecircncia uma vez que tais variaacuteveis natildeo estatildeo sob controle do

gestor escolar Isso permite revelar a real capacidade dos administradores escolares em atuar

na melhoria da gestatildeo de recursos

441

Tabela 6 Estimativas das Variaacuteveis Natildeo-Discricionaacuterias ndash 2ordm Estaacutegio - 2013

Variaacuteveis 5ordm Ano 9ordm Ano

Homem 0046 0034

(0007) (0005)

Branco 0076 -0008

(0004) (0002)

Idade 0058 0004

(0002) (0001)

Mora com Matildee -0054 -0138

(0058) (0367)

Esc Matildee 0215 0125

(0037) (0006)

Socioeconocircmico 0010 0193

(0003) (0009)

Incentivo 0108 0073

(0011) (0017)

Creche 0093 -0044

(0029) (0297)

R2

0155 0448

Nota Os desvios-padratildeo estatildeo entre parecircnteses e foram obtidos por bootstrap com 1000 replicaccedilotildees Nota p lt

0 1 p lt 0 05 p lt 0 01

Fonte Elaborado pelos autores com base nos microdados da Prova Brasil e do Censo EscolarINEP

De acordo com as estimativas ser do sexo masculino e possuir matildee com niacutevel superior

contribui favoravelmente para o aumento da medida eficiecircncia teacutecnica de todas instituiccedilotildees de

ensino da regiatildeo nordeste mesmo que ambas as variaacuteveis apresentem um baixo coeficiente

para os dois niacuteveis de ensino Isso se daacute em virtude de uma presenccedila maior do sexo oposto

que possuem desempenho superior ao dos homens e do baixo percentual de matildees de alunos

com ensino superior na amostra o que minimiza o peso dessas variaacuteveis Outro ponto a se

levar em consideraccedilatildeo e que naturalmente tem impacto positivo na eficiecircncia teacutecnica eacute a

idade do aluno dado que o acuacutemulo de conhecimento evolui naturalmente com a idade o que

reflete num melhor resultado na Prova Brasil

Jaacute para os alunos que iniciaram sua vida escolar na creche verifica-se um coeficiente

positivo para os alunos do 5deg ano e negativo para os alunos do 9deg ano O efeito creche possui

impacto positivo na fase inicial da vida dos alunos o que contribui positivamente para o

desempenho dos mesmos nos testes padronizados Entretanto verifica-se que esse efeito

perde forccedila na fase final do ensino fundamental o que piora o escore de eficiecircncia teacutecnica

O aspecto socioeconocircmico e o incentivo por parte dos pais satildeo duas variaacuteveis que

apresentam significativa importacircncia para o aumento do escore de eficiecircncia teacutecnica Soares e

Collares (2006) ratificam a premissa argumentando que o aparato familiar permite aos filhos

terem acesso a bens e informaccedilatildeo que de outro modo natildeo seria possiacutevel aleacutem de poderem se

dedicar somente a escola natildeo necessitando por exemplo trabalhar ou realizar outras tarefas

442

que comprometam o rendimento escolar No tocante a participaccedilatildeo dos pais nota-se uma

relaccedilatildeo mais forte para o 5deg ano o que eacute de naturalmente compreensiacutevel haja vista que satildeo

crianccedilas mais novas e consequentemente mais dependentes dos genitores aleacutem de reagirem

melhor aos incentivos recebidos

A bibliografia mais atual acerca dos retornos educacionais jaacute destaca que quanto mais

cedo os pais investem no envolvimento com a vida escolar de seus filhos maiores satildeo os

ganhos potencializando o desempenho individual dos mesmos (Cunha et al 2010)

53 Determinantes da Eficiecircncia Gerencial

A tabela 7 conteacutem as estimativas dos determinantes dos diferentes niacuteveis de eficiecircncia

das escolas Conforme explicitado nas seccedilotildees anteriores o enfoque foi voltado agrave anaacutelise das

variaacuteveis que refletem o grau de autonomia gerencial das escolas na destinaccedilatildeo dos seus

recursos

Analisando as estimativas para o 5deg anos no tocante ao processo seletivo do gestor

escolar tem-se que as escolas menos eficientes sofrem uma reduccedilatildeo no iacutendice de eficiecircncia

quando a comunidade eacute responsaacutevel pela escolha do diretor Conforme se avanccedila na

distribuiccedilatildeo de eficiecircncia o impacto desta variaacutevel torna-se irrisoacuterio ou seja revela que as

escolas que possuem autonomia no tocante agrave seleccedilatildeo dos gestores natildeo apresentam diferenccedila

relevante de eficiecircncia se comparadas com as instituiccedilotildees de ensino cujo diretor eacute indicado

por oacutergatildeo externo Para o 9deg ano a autonomia das escolas ainda que ligeiramente positiva

tambeacutem desempenha um papel irrelevante na determinaccedilatildeo da eficiecircncia escolar

Em ambas etapas de ensino o fato do conselho escolar se reunir mais de trecircs vezes ao

ano reduz sensivelmente os niacuteveis de eficiecircncia em praticamente todos os quantis analisados

A elaboraccedilatildeo do projeto pedagoacutegico pela proacutepria escola para o 5deg ano reduz pontualmente a

eficiecircncia das escolas nos menores quantis revelando um efeito miacutenimo nos quantis

superiores Para o 9deg ano esta variaacutevel sequer possui qualquer influecircncia sobre os quantis

Tabela 7 Estimativas da Relaccedilatildeo entre Autonomia Escolar e Eficiecircncia Gerencial ndash 2013

5ordm Ano 9ordm Ano

Variaacuteveis

Diretoria -0002 -0003 -0000 0001 0002 0002

(0000) (0000) (0000) (0000) (0000) (0000)

Conselho -0008 -0011 -0001 -0027 -0027 -0027

(0007) (0003) (0003) (0009) (0009) (0008)

Projeto -0001 -0001 -0001 -0000 -0000 -0000

(0000) (0000) (0000) (0000) (0000) (0000)

Admissatildeo 0086 0025 0001 -0002 -0003 -0001

(0053) (0042) (0022) (0012) (0013) (0015)

Interferecircncia 0017 0015 -0017 0009 -0037 -0037

(0002) (0008) (0008) (0001) (0007) (0005)

Apoio -0059 -0007 -0001 -0002 -0002 0009

(0006) (0002) (0001) (0001) (0001) (0006)

Homog Idade 0243 0017 -0019 0016 0083 0083

(0013) (0013) (0022) (0011) (0009) (0010)

Homog Rendimento 0258 0009 -0001 0028 0092 0020

(0015) (0015) (0002) (0011) (0009) (0044)

Heter Idade 0080 0008 -0002 0060 0124 0052

(0000) (0000) (0000) (0012) (0009) (0044)

Heter Rendimento 0335 0013 -0002 -0008 0055 -0016

443

(0016) (0016) (0003) (0010) (0010) (0006)

Notas As estatiacutesticas foram corrigidas pelos pesos amostrais

Fonte Elaborado pelos autores com base nos microdados da Prova Brasil e do Censo EscolarINEP

Tanto para o 5deg quanto para o 9deg ano a interferecircncia externa na gestatildeo do diretor

aumenta a eficiecircncia das escolas que apresentam baixo indicador de eficiecircncia poreacutem natildeo

apresenta significacircncia para escolas com maiores niacuteveis de eficiecircncia Em linhas gerais eacute

possiacutevel deduzir que embora as escolas menos eficientes requeiram um maior grau de

influecircncia externa no seu funcionamento este fator apresentou uma baixa relevacircncia para uma

maior eficiecircncia escolar

O apoio da comunidade ao modelo de funcionamento da escola gerou um impacto

negativo nas escolas menos eficientes enquanto que nas escolas mais eficientes esse efeito eacute

relativamente menor Quando as decisotildees do gestor escolar satildeo oriundas de accedilotildees da

comunidade abre-se margem para o enraizamento da atuaccedilatildeo destes no meio escolar ao qual

pode gerar ineficiecircncia na alocaccedilatildeo de recursos e reforccedilar o estado de ineficiecircncia escolar

haja vista que o diretor possui respaldo da comunidade

A relaccedilatildeo entre a forma de alocaccedilatildeo dos alunos nas turmas e a praacutetica de gestatildeo

escolar tambeacutem foi objeto de anaacutelise Com base no cocircmputo dos dados percebe-se que as

instituiccedilotildees de ensino que distribuiacuteram seus alunos nas turmas com base na homogeneidade

quanto agrave idade apresentaram maiores escores de eficiecircncia em praticamente todos os quantis

da distribuiccedilatildeo No que tange a heterogeneidade entre as idades esse efeito possuiu relevacircncia

apenas para os menores quantis de eficiecircncia Em relaccedilatildeo ao desempenho dos alunos verifica-

se uma possiacutevel relaccedilatildeo com o grupo do qual o estudante estaacute distribuiacutedo o chamado peer

efect Parte desse resultado se credita ao trabalho de Lazear (2001) que propocircs um modelo

teoacuterico com intuito de avaliar o efeito do peer efect sobre o desempenho dos alunos Nele

concluiu-se que a segregaccedilatildeo dos alunos por niacutevel de habilidade eacute a melhor maneira de

distribuir os alunos Para o 5deg ano as escolas com maiores escores de eficiecircncia obtiveram

praticamente os mesmos ganhos na utilizaccedilatildeo dos dois meacutetodos de alocaccedilatildeo Jaacute para a etapa

final de ensino os ganhos com homogeneidade e heterogeneidade de rendimento foram

distintos Enquanto o rendimento das escolas a partir da alocaccedilatildeo por homogeneidade foi

positivo os ganhos com a utilizaccedilatildeo da heterogeneidade sofreram perdas de eficiecircncia Eacute

pertinente observar que nos modelos em que eacute considerada a presenccedila de interaccedilatildeo com a

inclusatildeo dos peer efects nas funccedilotildees de produccedilatildeo educacionais as tomadas de decisatildeo

direcionam a equiliacutebrios descentralizados sub oacutetimos permitindo a elaboraccedilatildeo de mecanismos

de coordenaccedilatildeo para geraccedilatildeo de ganhos de eficiecircncia Mediante isso constata-se como as

regras de alocaccedilatildeo dos estudantes entre as turmas possuem efeito contributivo para o resultado

global em termos de eficiecircncia gerencial

6 Consideraccedilotildees Finais

O objetivo do presente trabalho consistiu em mensurar a eficiecircncia das escolas

puacuteblicas nordestinas na alocaccedilatildeo dos seus recursos e os fatores determinantes do seu grau de

eficiecircncia A partir da teacutecnica natildeo-parameacutetrica ordem-α calcularam-se os escores de

eficiecircncia das escolas e posteriormente o escore de eficiecircncia gerencial ou seja o cocircmputo da

eficiecircncia sem a influecircncia das variaacuteveis natildeo-discricionaacuterias isto eacute aquelas que natildeo estatildeo

444

diretamente relacionadas agrave escola como o background familiar por exemplo A partir daiacute se

obteve a medida de eficiecircncia ajustada levando como paracircmetro a influecircncia de variaacuteveis

escolares sobre as medidas de eficiecircncia robustas Como as variaacuteveis natildeo afetam a gestatildeo

escolar das instituiccedilotildees de ensino de maneira igual a metodologia empregada tem a vantagem

de levar em consideraccedilatildeo a heterogeneidade natildeo-observada entre as escolas

Uma vez calculado os escores de eficiecircncia ajustados foi utilizado um modelo de

dados em painel em um contexto de regressatildeo quantiacutelica com intuito de avaliar qual a

influecircncia das caracteriacutesticas das escolas sobre os diversos niacuteveis da eficiecircncia da gestatildeo

escolar A relevacircncia do presente estudo reside no fato de que apesar do forte investimento

por parte do Governo Federal com a ampliaccedilatildeo dos recursos destinados e as reformas na

organizaccedilatildeo da gestatildeo nas uacuteltimas deacutecadas as carecircncias do sistema educacional ainda

persistem principalmente no tocante agrave educaccedilatildeo Para alcanccedilar o objetivo proposto foram

utilizados microdados da Prova Brasil para o ano de 2013 sendo a escola a unidade baacutesica de

anaacutelise

Quando as variaacuteveis natildeo-discricionaacuterias satildeo descontadas o escore de eficiecircncia

diminui consideravelmente o que corrobora as evidecircncias presentes na literatura agrave despeito do

background familiar e das condiccedilotildees socioeconocircmicas para o desempenho dos filhos Desse

modo alunos cujos pais possuem um grau de escolaridade alto e que possuem incentivos por

parte dos seus genitores tentem a apresentar melhores resultados nas proficiecircncias tendo

estas impacto significativo nos niacuteveis de eficiecircncia escolar

Em relaccedilatildeo aos determinantes da eficiecircncia gerencial os resultados da estimaccedilatildeo

quantiacutelica revelam que a autonomia gerencial das escolas se mostra muito pouco relevante

para determinaccedilatildeo do grau de eficiecircncia O efeito da atuaccedilatildeo da comunidade nas praacuteticas de

gestatildeo escolar se mostrou negativo quando aplicadas em escolas menos eficientes e

irrelevantes para escolas com maior niacutevel de eficiecircncia

Diante do exposto no presente trabalho eacute evidente a necessidade da criaccedilatildeo e

aplicaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas que objetivem melhorar a gestatildeo escolar dado a desarmonia

entre os recursos disponiacuteveis e o desempenho educacional Logo mais do que mensurar os

niacuteveis de eficiecircncia este trabalho monograacutefico buscou compreender quais os fatores que

determinam o desempenho das escolas nesse criteacuterio com intuito de contribuir para a

formulaccedilatildeo de poliacuteticas mais especiacuteficas para o setor educacional

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448

COMPORTAMENTO DO EMPREGO FORMAL NO BRASIL ENTRE 2010-2016

NATANAEL PESSOA LUSTOZA

(Graduado em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri ndash URCA e

pesquisador do Grupo de Estudos em Territorialidades Econocircmicas e Desenvolvimento

Regional e Urbano - GETEDRU natanaelpessoa1995gmailcom)

JOANA PRISCILA BARBOSA DA SILVA (Graduanda em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri ndash URCA e

pesquisadora do Grupo de Estudos em Territorialidades Econocircmicas e Desenvolvimento

Regional e Urbano - GETEDRU joannasiilva24gmailcom)

CARLOS EDUARDO PEREIRA DO NASCIMENTO

(Graduando em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri ndash URCA e

pesquisador do Grupo de Estudos em Territorialidades Econocircmicas e Desenvolvimento

Regional e Urbano ndash GETEDRU eduardocarlos2807gmailcom)

GUILHERME SOUSA BRANDAtildeO

(Graduando em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri ndash URCA

sousaguilherme25gmailcom)

449

COMPORTAMENTO DO EMPREGO FORMAL NO BRASIL ENTRE 2010-2016

RESUMO

Este estudo tem como objetivo geral verificar o comportamento do emprego formal no Brasil

durante o periacuteodo de 2010 a 2016 Para tanto foram utilizados dados da Relaccedilatildeo Anual de

Informaccedilotildees Sociais (RAIS) do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (MTE) para os anos de 2010

a 2016 De acordo com os dados apresentados no trabalho o nuacutemero de postos de trabalho

formal no Brasil cresceu de forma contiacutenua ateacute 2014 a partir de 2015 poreacutem haacute uma

diminuiccedilatildeo desses empregos efeitos da recessatildeo pela qual passa a economia brasileira A

anaacutelise feita por regiotildees tambeacutem demonstra a mesma tendecircncia do que ocorreu no Brasil as

cinco regiotildees tiveram aumento de empregos formais ateacute 2014 e retraccedilatildeo em 2015 e 2016 A

regiatildeo Sudeste foi a que mais perdeu postos de trabalho em seguida a regiatildeo Nordeste Dentre

os setores a induacutestria foi a que mais apresentou variaccedilotildees O setor cresceu entre 2010 e 2013

e apresentou queda a partir de 2014 Por outro lado o setor agropecuaacuterio apresentou queda na

geraccedilatildeo de empregos apenas em 2016

Palavras-chaves Brasil Emprego Formal Mercado de Trabalho

ABSTRACT

This study has as general objective to verify the formal employment behavior in Brazil during

the period from 2010 to 2016 Therefore were used data from the Annual Social Information

(ASI) of the Ministry of Labour and Employment (MLE) for the years 2010 to 2016 According to the data presented in the paper the number of formal jobs in Brazil increased

continuously until 2014 from 2015 however there is a decrease in these jobs effects of the

recession that the Brazilian economy is experiencing The analysis by regions also shows the

same tendency as in Brazil the five regions saw formal jobs increase by 2014 and decline in

2015 and 2016 The Southeast region was the one that most lost jobs afterwards the

Northeast region Among the sectors the industry was the one that presented the most

variations The sector grew between 2010 and 2013 and presented a drop from 2014 On the

other hand the agricultural sector showed a decrease in the generation of jobs only in 2016

Keywords Brazil Formal Employment Labor Market

450

1 Introduccedilatildeo

Os anos iniciais do seacuteculo XXI foram marcados por importantes avanccedilos no mercado

de trabalho brasileiro A formalizaccedilatildeo do mercado de trabalho reverteu duas deacutecadas de

reduccedilatildeo da proporccedilatildeo de trabalhadores que se inseriam no espaccedilo ocupacional sem acesso a

Direitos Trabalhistas Sociais e Previdenciaacuterios Da mesma forma no periacuteodo 2000-2014

com maior ecircnfase a partir de 2004 houve crescimento da renda real do trabalho combinada

com reduccedilatildeo das desigualdades pessoais de rendimentos (MATTOS 2015)

Segundo Oliveira (2015) na deacutecada de 2000 a economia brasileira foi dinamizada por

meio da expansatildeo do mercado interno o qual foi direcionado pelas poliacuteticas de renda e sociais

adotadas pelo Governo Lula Assim apoacutes um periacuteodo de estagnaccedilatildeo e de predominacircncia de

poliacuteticas liberais na conduccedilatildeo da economia que se estendiam desde a deacutecada de 90

experimentou-se uma nova estrutura social e econocircmica alavancada pelo modelo de

crescimento pautado pela distribuiccedilatildeo de renda

Nesse contexto o mercado de trabalho brasileiro avanccedilou de forma significativamente

positiva com um forte aumento do emprego formal estancamento do processo de elevaccedilatildeo do

emprego sem registro do trabalho natildeo assalariado e natildeo remunerado reduccedilatildeo do desemprego

forte aumento do valor real do salaacuterio miacutenimo recuperaccedilatildeo dos salaacuterios em geral reduccedilatildeo da

desigualdade de rendimentos e da pobreza (SANTOS 2013)

Contudo a partir de 2011 a economia adentra um periacuteodo de desaceleraccedilatildeo que

somente natildeo teve impacto maior no mercado de trabalho porque as medidas tomadas de

incentivo ao consumo ainda promoveram crescimento natildeo despreziacutevel no volume de

ocupaccedilotildees criadas especialmente nas atividades de construccedilatildeo civil de comeacutercio e reparaccedilatildeo

e de algumas atividades de serviccedilos privados aleacutem de empregos na administraccedilatildeo puacuteblica

Desde 2010 como reflexo tanto da crise internacional como da desaceleraccedilatildeo dos

investimentos a produccedilatildeo e o emprego industriais desaceleraram significativamente sendo os

principais responsaacuteveis pelo fraco desempenho do PIB desde entatildeo (MATTOS 2015)

Justifica-se assim a necessidade de verificar o comportamento do emprego formal no Brasil a

partir do ano de 2010

Diante disto este estudo tem como objetivo geral verificar o comportamento do

emprego formal no Brasil durante o periacuteodo de 2010 a 2016 Ademais o estudo busca

responder as seguintes questotildees houve aumento dos postos de trabalho formal no Brasil

451

durante o periacuteodo de 2010 a 2016 Qual o setor econocircmico sofreu o maior iacutendice de

flutuaccedilotildees

Quanto aos procedimentos metodoloacutegicos a pesquisa em questatildeo utilizou-se de

pesquisa descritiva com fins de observar o comportamento econocircmico recente da economia

brasileira E para consecuccedilatildeo dos objetivos houve etapas de pesquisa bibliograacutefica e estudo

empiacuterico utilizando-se de pesquisa de dados secundaacuterios Para tanto a principal fonte de

dados eacute a Relaccedilatildeo Anual de Informaccedilotildees Sociais (RAIS) do Ministeacuterio do Trabalho e

Emprego (MTE) para os anos de 2010 a 2016

Aleacutem desta introduccedilatildeo o trabalho estaacute estruturado da seguinte forma na segunda

seccedilatildeo eacute apresentada uma revisatildeo teoacuterica acerca do comportamento recente da economia

brasileira Na terceira seccedilatildeo satildeo discutidos as anaacutelises e resultados do acerca do emprego

formal no Brasil E na quarta seccedilatildeo estatildeo as conclusotildees

2 Dinacircmica Econocircmica Recente da Brasileira

A deacutecada de 1990 ficou caracterizada por uma ―interrupccedilatildeo no processo de

formalizaccedilatildeo e do aumento significativo do emprego com carteira assinada no Brasil Apoacutes

deacutecadas de melhorias houve reduccedilatildeo nos iacutendices referentes ao mercado de trabalho brasileiro

causada principalmente pelo processo de flexibilizaccedilatildeo do trabalho advindo da abertura

econocircmica comercial contribuindo para o aumento da precarizaccedilatildeo dos viacutenculos de trabalho

vulneraacuteveis e consequentemente da informalidade (ANJOS 2017) Todavia esse cenaacuterio

comeccedila a modificar-se a partir do iniacutecio dos anos 2000

Para Carvalho Gerioni e Batista (2017) a divergecircncia entre os anos 2000 com a

deacutecada anterior pode ser entendida pela dinacircmica econocircmica que caracteriza este periacuteodo

crescimento econocircmico associado ao consumo das famiacutelias e agrave formaccedilatildeo bruta de capital

Desta forma a melhoria da redistribuiccedilatildeo de renda e o aumento do creacutedito foram peccedilas

fundamentais para explicar esta dinacircmica de crescimento com geraccedilatildeo de emprego Assim os

anos 2000 podem ser entendidos como um periacuteodo de crescimento econocircmico com

sustentadas taxas de crescimento da quantidade de empregos

Remy Queiroz e Silva Filho (2010) destacam que no iniacutecio da deacutecada as taxas de

crescimento da economia permaneceram modestas mas a balanccedila comercial tornou-se

superavitaacuteria jaacute em 2002 o que significou uma reversatildeo do quadro anterior Ademais fatores

internos como a crise de energia eleacutetrica que havia provocado racionamento no paiacutes e

452

externos como a crise na Argentina e os atentados nos EUA levaram a desaceleraccedilatildeo da

economia brasileira sendo assim um periacuteodo de incertezas

Com a vitoacuteria do candidato da oposiccedilatildeo em 2002 eacute possiacutevel destacar importantes

elementos de continuidade na poliacutetica macroeconocircmica brasileira entre o segundo mandato

de FHC e o primeiro de Lula embora tambeacutem existam diferenccedilas importantes Como

elemento importante de continuidade destacam-se as poliacuteticas de metas de inflaccedilatildeo e de

cacircmbio flexiacutevel ndash adotadas pelo Banco Central apoacutes a desvalorizaccedilatildeo do Real em janeiro de

1999 ndash e a de superaacutevit primaacuterio implementada pelo Ministeacuterio da Fazenda Entretanto a

novidade residiu como por exemplo na perda de iacutempeto do processo de privatizaccedilatildeo de

empresas estatais e o fortalecimento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e

Social (BNDES) (BALTAR et al 2010)

Segundo Santos (2013) em 2003 primeiro ano de mandato do novo presidente o

quadro de crise econocircmica era ainda marcado por elevada diacutevida e vulnerabilidade externa

fuga de capitais aceleraccedilatildeo inflacionaacuteria crise fiscal e elevada diacutevida puacuteblica juros altiacutessimos

e reduzido ritmo de crescimento econocircmico O mercado de trabalho alcanccedilava os niacuteveis mais

elevados de desestruturaccedilatildeo e precarizaccedilatildeo contribuindo para o agravamento da crise social

da desigualdade e da pobreza No entanto jaacute a partir de 2004 observa-se um processo de

recuperaccedilatildeo econocircmica que iria resultar na elevaccedilatildeo das taxas meacutedias de crescimento do PIB

para 35 no periacuteodo 2003-2006 e num meacutedia ainda maior de crescimento no periacuteodo 2007-

2010 mesmo num contexto de fortes impactos da recente crise internacional Essa retomada

do crescimento econocircmico possibilitou a geraccedilatildeo de maiores taxas de crescimento no

emprego formal do paiacutes

De acordo com Baltar (2015) as exportaccedilotildees principalmente de produtos

manufaturados foram fundanotmentais para o iniacutecio da retomada do crescimento da economia

brasileira em 2004 O crescimento da exportaccedilatildeo acelerou depois de 2002 e em 2004 houve

tambeacutem um crescimento maior do consumo e do investimento no Brasil O ritmo de

crescimento da exportaccedilatildeo de bens e serviccedilos (153) foi bem maior que o do crescimento do

consumo (39) e o do investimento (91) levando a um superavit excepcional do comeacutercio

de bens e serviccedilos que como mencionado atingiu 39 do PIB Houve entatildeo um intenso

aumento do PIB em 2004 explicado preponderantemente pela absorccedilatildeo externa haja vista

que a intensidade do crescimento do PIB (57) foi maior que a do crescimento da soma de

consumo e investimento (47) a chamada absorccedilatildeo interna Assim em um primeiro

453

momento o comeacutercio com outros paiacuteses foi fundamental para aumentar o ritmo de

crescimento do PIB em 2004 e induziu um maior aumento do consumo e do investimento

Para Barbosa e Souza (2010) o periacuteodo de 2004-2005 tambeacutem marcou o iniacutecio da

recuperaccedilatildeo do salaacuterio miacutenimo do aumento nas transferecircncias do Governo agraves famiacutelias mais

pobres e da expansatildeo da concessatildeo de creacutedito isto eacute das linhas-mestras de poliacutetica econocircmica

que iriam se consolidar nos anos seguintes Com a reeleiccedilatildeo do Presidente Lula em 2006

nota-se mais claramente uma diferente posiccedilatildeo do governo em relaccedilatildeo ao crescimento

econocircmico apesar da continuidade da poliacutetica macroeconocircmica assentada nas metas de

inflaccedilatildeo no superaacutevit primaacuterio e na poliacutetica de cacircmbio flutuante Agrave medida que o governo

Lula optou mais claramente por uma poliacutetica econocircmica desenvolvimentista ocorreu uma

aceleraccedilatildeo substancial no crescimento econocircmico do paiacutes

Assim o governo optou por lanccedilar um Plano de Aceleraccedilatildeo do Crescimento (PAC)

por restaurar o quadro de pessoal e o niacutevel dos salaacuterios dos funcionaacuterios puacuteblicos por manter

o ritmo de aumento do salaacuterio miacutenimo legal e assumir a elevaccedilatildeo das despesas da seguridade

social cujos benefiacutecios miacutenimos satildeo atrelados ao salaacuterio miacutenimo e tentou recuperar o

investimento puacuteblico especialmente em infraestrutura Outro sintoma dessa mudanccedila da

posiccedilatildeo do governo brasileiro foi a capitalizaccedilatildeo do BNDES pelo Tesouro Nacional e a

intensificaccedilatildeo de sua atuaccedilatildeo na articulaccedilatildeo da formaccedilatildeo de grupos empresariais nacionais e

no apoio ao investimento das empresas estatais (BALTAR et al 2010)

Atraveacutes do PAC o paiacutes recuperou a capacidade de induzir por meio da iniciativa

governamental o desenvolvimento de amplo espectro de setores fundamentais para a

modernizaccedilatildeo da economia A estrateacutegia do governo federal pela primeira vez em muitas

deacutecadas foi apoiar a formaccedilatildeo de capital da parte do setor privado e simultaneamente

aumentar o investimento puacuteblico em infraestrutura Em sua versatildeo inicial o PAC previa um

investimento total de R$ 504 bilhotildees entre 2007-2010 Tal foi investimento dividido em trecircs

grandes grupos transporte e logiacutestica com R$ 58 bilhotildees energia com R$ 275 bilhotildees e

infraestrutura social com R$ 171 bilhotildees De modo geral o principal meacuterito do PAC foi

liberar recursos para o aumento do investimento puacuteblico e estimular o investimento privado

(BARBOSA SOUZA 2010)

Dessa maneira o mercado de trabalho que mantinha uma trajetoacuteria de expansatildeo com a

geraccedilatildeo de 1254 milhatildeo de empregos formais em 2005 e mais 1229 milhatildeo em 2006

culminou com um novo recorde de pouco mais de 1600 milhatildeo postos formais de trabalho

454

em 2007 ano de lanccedilamento do PAC Nesse mesmo ano amplia-se o Programa Bolsa

Famiacutelia tanto no nuacutemero de famiacutelias contempladas como tambeacutem nos valores reais dos

benefiacutecios (MATTOS 2015)

Entretanto a dinacircmica econocircmica deixa de apresentar desempenhos positivos a partir

do uacuteltimo trimestre de 2008 como consequecircncia da crise econocircmica internacional A trajetoacuteria

de crescimento econocircmico que o paiacutes vinha apresentando foi interrompida a economia

brasileira sentiu os efeitos tanto da desvalorizaccedilatildeo dos preccedilos das commodities quanto do

desaquecimento da demanda internacional os desdobramentos da crise aleacutem da reduccedilatildeo do

crescimento econocircmico e da desvalorizaccedilatildeo do real tambeacutem afetaram negativamente sobre os

nuacutemeros do mercado de trabalho Cabe destacar entretanto que diferentemente das

estrateacutegias do governo em crises passadas a destacar a deacutecada de 80 a crise tratada acima foi

acompanhada por poliacuteticas anticiacuteclicas tanto fiscal quanto monetaacuteria voltadas para a geraccedilatildeo

de estiacutemulos na economia O que se observa eacute a inflexatildeo positiva do crescimento

imediatamente nos anos poacutes-crise (CARVALHO GERIONI E BATISTA 2017)

De acordo com Baltar (2015) o impacto imediato da crise foi sobre a exportaccedilatildeo e o

investimento que diminuiacuteram fortemente em 2009 As Contas Nacionais indicam que

medida na moeda do paiacutes a exportaccedilatildeo de bens e serviccedilos que tinha crescido no ritmo meacutedio

anual de 33 em 2006-2008 teve uma queda de 91 em 2009 Jaacute o investimento que tinha

aumentado no ritmo meacutedio de 137 em 2006-2008 caiu 67 em 2009 O consumo puacuteblico

e privado de bens e serviccedilos entretanto apenas desacelerou em 2009 pois tinha crescido no

ritmo meacutedio de 54 em 2006-2008 e aumentou 41 em 2009

O governo entatildeo reagiu agrave crise com poliacuteticas anticiacuteclicas Entre as medidas anticiacuteclicas

destacam-se decisotildees de ampliaccedilatildeo do Programa Bolsa Famiacutelia aleacutem de uma ampliaccedilatildeo de

investimentos puacuteblicos Decidiu-se tambeacutem pelo aumento da liquidez mediante a reduccedilatildeo do

compulsoacuterio dos bancos o que viabilizou a ampliaccedilatildeo do creacutedito interno Do ponto de vista

da poliacutetica fiscal as autoridades econocircmicas optaram por manter as despesas primaacuterias em

2009 e 2010 Importante tambeacutem foi a expansatildeo da oferta de creacutedito por parte dos bancos

puacuteblicos como Banco do Brasil Caixa Econocircmica Federal e notadamente o BNDES Essas

medidas natildeo impediram a ocorrecircncia de uma pequena retraccedilatildeo do PIB em 2009 mas pelo

menos mantiveram um ritmo positivo de criaccedilatildeo de postos formais de trabalho no ano apesar

da retraccedilatildeo de 02 do PIB foram gerados 995 mil postos formais de trabalho Como

resultado dessas medidas anticiacuteclicas em 2010 o PIB atingiria a taxa de crescimento de

455

75 o que promoveu a geraccedilatildeo liacutequida de 2136 milhotildees de postos formais de trabalho no

ano (MATTOS 2015)

3 Comportamento do Emprego Formal No Brasil (2010 ndash 2016)

De acordo com os dados do Graacutefico 1 o nuacutemero de postos de trabalho formal no

Brasil aumentou de forma contiacutenua entre 2010 e 2014 neste ultimo ano o paiacutes registrou

49571510 de empregos formais Em 2015 poreacutem houve reduccedilatildeo do numero de empregos o

que tambeacutem eacute verificado no ano de 2016 resultados provocados pela profunda recessatildeo da

economia brasileira

Graacutefico 1 - Variaccedilatildeo anual do emprego formal no Brasil (em milhotildees de postos de trabalho)

Elaboraccedilatildeo dos autores a partir dos dados da RAIS (2018)

De acordo com Cacciamali e Tatei (2016) os primeiros indiacutecios de recessatildeo

econocircmica surgiram em 2014 mas eacute apenas em 2015 que os impactos negativos sobre o

mercado de trabalho se aprofundaram A crise atingiu o mercado de trabalho destruindo

empregos assalariados formais e informais De acordo com os dados da RAIS (2016) em

2015 houve variaccedilatildeo negativa de 305 com relaccedilatildeo a 2014 no total o Brasil perdeu

1510703 empregos formais Em 2016 a perda foi de 2000609 de empregos voltando assim

a niacutevel inferior ao ano de 2011 quando foram contabilizados 46310631 empregos formais

Assim como se verificou no Brasil todas as regiotildees brasileiras tambeacutem apresentaram

crescimento dos empregos formais entre 2010 e 2014 e queda em 2015 e 2016 conforme

indica a Tabela 1 A regiatildeo Sudeste foi a que mais perdeu postos de trabalho entre 2014 e

2016 ao todo foram 1941289 empregos cabe destacar que esta eacute a regiatildeo com a maior

populaccedilatildeo Em seguida vem a Regiatildeo Nordeste com perda de 696660 empregos formais

0

10

20

30

40

50

60

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

456

Tabela 1 ndash Variaccedilatildeo do Emprego Formal por Regiatildeo 2010-2016 (em milhotildees de postos de

trabalho)

Ano Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

2010 2408182 8010839 22460999 7557531 3630804

2011 2562748 8481080 23514877 7902443 3849483

2012 2622185 8613556 24099808 8129698 3993465

2013 2743248 8926710 24623001 8415302 4240172

2014 2801469 9132863 24792464 8550246 4294468

2015 2724584 8899279 23892188 8333045 4211711

2016 2579035 8436203 22851175 8091911 4101874

Fonte Elaboraccedilatildeo dos autores a partir dos dados da RAIS (2018)

A regiatildeo Centro-Oeste foi a que menos perdeu postos de trabalho entre 2014 e 2016

ao todo foram 192594 empregos Em seguida vem a Regiatildeo Norte com perda de 222434

empregos Aprofundando o estudo dos postos de trabalho no Brasil segue-se analisando o

emprego formal a niacutevel setorial Conforme os dados da Tabela 2 os setores da induacutestria e

construccedilatildeo civil comeccedilaram a perder empregos jaacute em 2014 e os setores de comeacutercio e

serviccedilos em 2015 O setor da induacutestria foi o que apresentou o maior numero de demissotildees no

total foram 1079947 empregos entre 2014 e 2016

Tabela 2 ndash Variaccedilatildeo do Emprego formal por Setor 2010-2016 (em milhotildees de postos de

trabalho)

Ano Induacutestria Construccedilatildeo

Civil Comeacutercio Serviccedilos Agropecuaacuteria

2010 8499202 2508922 8382239 23268395 1409597

2011 8757935 2750173 8842677 24476056 1483790

2012 8830902 2832570 9226155 25104828 1464257

2013 8998796 2892557 9511094 26066422 1479564

2014 8878726 2815686 9728107 26669328 1479663

2015 8254773 2422664 9532622 26350187 1500561

2016 7798779 1985404 9264904 25534892 1476219

Fonte Elaboraccedilatildeo do autor a partir dos dados da RAIS (2018)

Um fato que chama a atenccedilatildeo ao se analisar o comportamento do mercado de trabalho

no ano de 2015 eacute o resultado do setor agropecuaacuterio frente aos outros setores da economia o

457

saldo de empregos no Paiacutes ao final de 2015 registrou 151 milhotildees de demissotildees na

contramatildeo no mesmo periacuteodo a agropecuaacuteria registrou um saldo de 20898 contrataccedilotildees

4 Consideraccedilotildees Finais

O intuito desse trabalho eacute mostrar o comportamento do emprego formal no Brasil

durante o periacuteodo de 2010 a 2016 De acordo com os dados apresentados no trabalho o

nuacutemero de postos de trabalho formal no Brasil cresceu de forma contiacutenua ateacute 2014 a partir de

2015 poreacutem haacute uma diminuiccedilatildeo desses empregos efeitos da recessatildeo pela qual passa a

economia brasileira

A anaacutelise feita por regiotildees tambeacutem demonstra a mesma tendecircncia do que ocorreu no

Brasil as cinco regiotildees tiveram aumento de empregos formais ateacute 2014 e retraccedilatildeo em 2015 e

2016 A regiatildeo Sudeste foi a que mais perdeu postos de trabalho em seguida a regiatildeo

Nordeste Dentre os setores a induacutestria foi a que mais apresentou variaccedilotildees O setor cresceu

entre 2010 e 2013 e apresentou queda a partir de 2014 Por outro lado o setor agropecuaacuterio

apresentou queda na geraccedilatildeo de empregos apenas em 2016

5 Referecircncias

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BALTAR P Crescimento da economia e mercado de trabalho no Brasil IPEA 2015

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Trabalho 15 2017 Anais Rio de Janeiro ndash RJ ABET 2017

MATTOS F A M Avanccedilos e dificuldades para o mercado de trabalho Estudos

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RAIS - Relaccedilatildeo Anual de Informaccedilotildees Sociais Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (MTE)

RAIS VIacuteNCULOS Disponiacutevel em lt httpbimtegovbrbgcagedraisphpgt Acesso em 17

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Anais Caxambu-MG ABEP 2010

SANTOS A L Recuperaccedilatildeo econocircmica e trabalho no Governo Lula Carta Social e do

Trabalho 2013

459

IMPACTO FINANCEIRO DA CESTA BAacuteSICA NO SALAacuteRIO MEacuteDIO MENSAL

DOS ASSALARIADOS DE VAacuteRZEA ALEGRE-CE

JOAQUIM ANDERSON OLIVEIRA BRITO

Joaquimanderson50gmailcom

Tel (88) 99982-7468

Estudante de Economia da Universidade Regional do Cariri ndash URCA ondeFoi Monitor da

Disciplina Economia Regional e Urbana Teacutecnico Agriacutecola pelo Instituto Federal de

Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Cearaacute ndash IFCE

460

IMPACTO FINANCEIRO DA CESTA BAacuteSICA NO SALAacuteRIO MEacuteDIO MENSAL

DOS ASSALARIADOS DE VAacuteRZEA ALEGRE-CE

RESUMO

Este trabalho visa alcanccedilar uma anaacutelise social e econocircmica criacutetica sobre o preccedilo da Cesta

baacutesica no municiacutepio de Vaacuterzea Alegre Cearaacute trazendo tambeacutem um estudo sobre quanto esse

gasto impacta na renda mensal dos trabalhadores formais da cidade A pesquisa realizada traz

uma comparaccedilatildeo com a Cidade de Fortaleza aleacutem de uma viagem historicamente sobre

salaacuterio miacutenimo no paiacutes Os preccedilos foram pesquisados em diferentes empresas de diversos

bairros para se chegar a conclusatildeo foi realizado no mecircs de dezembro do ano de 2017 Todas

as informaccedilotildees contido estaacute expressa em formas de tabelas e escrito para facilitar melhor e

dinamizar a leitura e compreensatildeo Para se chegar nesse fundamento teoacuterico foi usada a

teacutecnica de pesquisa do DIEESE

Palavras-chave Cesta Baacutesica Vaacuterzea Alegre Salaacuterios

ABSTRACT

This paper aims to reach a critical social and economic analysis on the price of the basic

Basket in the municipality of Vaacuterzea Alegre Cearaacute also bringing a study about how much

this expense impacts the monthly income of the formal workers of the city The research

conducted brings a comparison with the City of Fortaleza in addition to a historically

minimum wage trip in the country Prices were searched in different companies from several

neighborhoods to reach the conclusion was held in the month of December 2017 All

information contained is expressed in tables and written forms to facilitate better and

streamline reading and understanding In order to arrive at this theoretical foundation the

research technique of DIEESE was used

Keywords Basic Basket Vaacuterzea Alegre Salaries

461

1 Introduccedilatildeo

A Cesta Baacutesica eacute composta por alimentos necessaacuterios para a composiccedilatildeo nutritiva de

uma famiacutelia que conforme regiotildees temperaturas e ocasiotildees do ano podem sofrer alteraccedilotildees

no mercado (DIEESE 2009) Isto influenciaraacute diretamente no gasto familiar e na mesa do

trabalhador

Segundo pesquisa do DIEESE em meacutedia a cesta baacutesica no Brasil custa 30805 reais e

o salaacuterio miacutenimo no Brasil necessaacuterio para uma famiacutelia sobreviver seria de 373139 reais

(2009) Essa meacutedia eacute feita a partir de estudos de todos os estados do paiacutes e o salaacuterio

necessaacuterio calculado em cima dessa meacutedia

Na capital do Cearaacute a variaccedilatildeo anual da Cesta Baacutesica estaacute em meacutedia 485 e o preccedilo

da mesma varia em uma meacutedia de 37046 reais sendo uma das mais baratas em capitais de

todo o paiacutes (G1 2017)

Em Vaacuterzea Alegre no interior sul do Cearaacute tem uma enorme variedade de mercantil

supermercados Frigoriacuteficos e Casa de frutas distribuiacutedos em bairros para o melhor acesso da

populaccedilatildeo e assim realizar suas compras para compor a cesta baacutesica que eacute necessaacuterio para a

sobrevivecircncia de suas famiacutelias

No dia 30 de abril de 1938 foi regulamentada a lei nordm 185 de 14 de janeiro de 1936

pelo decreto Lei nordm 399 que estabelece o Salaacuterio Miacutenimo como a quantia devida ao

trabalhador maior de idade com sexo diferente trabalhando regulamente capaz de satisfazer

nas regiatildeo do paiacutes as suas necessidades normais de habitaccedilatildeo alimentaccedilatildeo transporte

vestuaacuterio e higiene (BRASIL 1968)

Este estudo tem como por objetivo apresentar uma pesquisa detalhada de quanto custa

a meacutedia de preccedilo dos alimentos que compotildee a mesa do trabalhador e o impacto que ela

representa em porcentagens na meacutedia salarial dos trabalhadores municipal trazendo assim

uma anaacutelise concreta e discutiacutevel

2 Revisatildeo de literatura

21 O salaacuterio miacutenimo no Brasil

Salaacuterio eacute o valor recebido pelo trabalhador por ter prestado qualquer que seja os tipos

de serviccedilos Eacute definido na venda da sua forccedila de trabalho para os empregadores que pode ser

462

aumentado de acordo com horas extras tempo de serviccedilo ou produccedilatildeo (SOUZA 2010) Ouse

jaacute acumula o caraacuteter positivo de retribuiccedilatildeo devida ao trabalhador

Este conceito apresenta outra conotaccedilatildeo quando analisado por autores que contestam o

sistema Capitalista como Marx que define salaacuterio como um valor na qual o trabalhador deve

receber pelo que produz criticando assim o que ele chama de mais-valia que eacute o montante que

o patratildeo ganha em cima da forccedila de trabalho do assalariado sem que o mesmo trabalhe da

mesma maneira de quem produziu (MARX sd)

Os primeiros salaacuterios foram instituiacutedos por leis que foram feitas como uma maneira de

controlar a proliferaccedilatildeo de estabelecimentos que apresentavam condiccedilotildees de trabalho de

extrema miseacuteria Essas empresas empregavam em sua maior parte mulheres e jovens para

poder pagar mais barato em relaccedilatildeo a homens adultos (SUPERINTERESSANTE 2016)

Desta forma o salaacuterio miacutenimo mais do que importante para a economia eacute mais ainda

uma questatildeo social por questotildees de distribuiccedilatildeo de renda para aquelas pessoas que natildeo tem

tanta forccedila de trabalho A soluccedilatildeo seria redefinir a estrutura de salaacuterios para que todos possam

usufruir de condiccedilotildees de qualidade de vida no miacutenimo adequadas

Comumente no Brasil o valor do salaacuterio miacutenimo eacute definido por lei de acordo como a

inflaccedilatildeo do ano anterior podendo aumentar diminuir ou continuar o mesmo valor Aleacutem do

mais esse montante eacute calculado por diferentes variaacuteveis econocircmicas sendo a Fazenda

responsaacutevel por este caacutelculo Conceitualmente este valor deve ser capaz de atender agraves

necessidades vitais baacutesicas com moradia alimentaccedilatildeo educaccedilatildeo sauacutede lazer vestuaacuterio

higiene transporte e previdecircncia social com reajustes perioacutedicos que lhe preservem o poder

aquisitivo sendo vedada sua vinculaccedilatildeo para qualquer fim (BRASIL1988)

Quatildeo diversas satildeo as naccedilotildees e suas constituiccedilotildees quanto diversos satildeo os valores pagos

pelo salaacuterio miacutenimo aos trabalhadores Em Serra Leoa continente africano ganha-se o

equivalente a 21 mil leones o que transformando em reais daacute a miseraacutevel quantia de 1127

reais No Quirguistatildeo tambeacutem no continente africano recebe-se 840 soms equivalentes a R$

40 Na Ameacuterica do Sul os salaacuterios satildeo um pouco melhores em relaccedilatildeo agrave Aacutefrica Na

Argentina o salaacuterio miacutenimo eacute de 2040 reais no Chile o salaacuterio eacute de R$ 1320 Na Ameacuterica

do Norte os EUA o salaacuterio eacute calculado por horas trabalhadas totalizando em meacutedia R$ 1256

mensais Na Europa a meacutedia salarial eacute bem maior do que as jaacute citadas Luxemburgo Beacutelgica

e Holanda satildeo os melhores lugares para trabalhar em termos salariais satildeo R$ 736482 R$

589893 e R$ 577317 respectivamente (TERRA 2013)

463

O salaacuterio miacutenimo no Brasil surgiu tardiamente foi em meados dos anos 30 atraveacutes do

governo Vargas no qual foi instituiacutedo por Lei nordm 185 de janeiro de 1936 e o Decreto-Lei nordm

399 de abril de 1938 regulamentaram a instituiccedilatildeo do salaacuterio miacutenimo e o Decreto-Lei nordm 2162

de 1ordm de maio de 1940 (Paulo Paim 2005) O salaacuterio miacutenimo passou a vigorar assim no

mesmo ano na qual o paiacutes foi dividido em 22 regiotildees fazendo com que cada regiatildeo fixasse

um valor diferente de acordo com as necessidades Assim foram definidos 14 valores de

salaacuterios miacutenimos diferentes mas sem tamanhas diferenccedilas do maior para o menor a variaccedilatildeo

se dava em 267 reais Somente em 1984 ocorreu a junccedilatildeo do salaacuterio miacutenimo em todas as

regiotildees do paiacutes Essa lei tinha por obrigaccedilatildeo mudar os valores em 3 anos e em 1943 foram

dados 2 reajustes na qual aumentou o poder de compra do trabalhador ficando assim a

diferenccedila de 224 reais (PAIM 2005)

Oito anos depois o salaacuterio veio a ser reajustado foi no ano de 1951 quando o

presidente assinou um decreto dando garantias de ajustes mais frequentes na qual traria a

manutenccedilatildeo e ateacute elevaccedilatildeo no poder de compra do salaacuterio miacutenimo fazendo com que em 10

anos sofresses 6 alteraccedilotildees Em julho de 1954 o reajusto foi o periacuteodo com maior diferenccedila

salarial entre regiotildees que chegou a ser R$ 433 (SABOIA 1985)

Durante o governo de Joatildeo Goulart a inflaccedilatildeo sofreu alta e com o golpe militar a

poliacutetica de salaacuterio miacutenimo foi modificada abandonando-se a praacutetica de recompor o valor real

do salaacuterio no uacuteltimo reajuste Passou-se a adotar uma poliacutetica que visava manter o salaacuterio

meacutedio e aumentos reais soacute deveriam ocorrer quando houvesse ganho de produtividade Os

reajustes soacute eram feitos de acordo com a inflaccedilatildeo dos anos anteriores que levava em

consideraccedilatildeo a inflaccedilatildeo esperada o que levou a uma forte queda salarial decorrente da

subestimaccedilatildeo da inflaccedilatildeo por parte do governo (LUANA 2011)

A partir de 1983 as poliacuteticas salariais vindas das medidas econocircmicas que tentavam

estabilizar a economia e controlar a inflaccedilatildeo levaram a percas altiacutessimas no poder de compra

do salaacuterio miacutenimo sendo o decreacutescimo de 24 entre 1982 e 1990 Com a estabilizaccedilatildeo da

economia apoacutes o Plano Real o salaacuterio teve ganho de 283 entre 1994 e 1998 (PAIM 2005)

O aumento do salaacuterio miacutenimo corresponde a variaccedilatildeo do PIB do ano retrasado junto

com a inflaccedilatildeo do ano anterior pelo iacutendice nacional de preccedilo do consumidor tomando por

base o exemplo praticado no ano de 2015 o valor miacutenimo era de R$ 788 no final do ano o

governo teve que acrescentar os 1157 da inflaccedilatildeo medidos pelo Iacutendice Nacional de Preccedilos

ao Consumidor (INPC) em 2015 mais o 01 de crescimento do PIB em 2014 Com isso

464

houve um reajuste de 1167 no valor do salaacuterio miacutenimo que passou a valer R$ 880 (PAIM

2005)

A maneira que o Governo calcula o salaacuterio miacutenimo brasileiro eacute contestada por

diferentes instituiccedilotildees e sindicatos eles contestam a forma na qual o caacutelculo eacute realizado Para

isso a DIEESE desenvolveu uma formula para ter nas matildeos o salaacuterio miacutenimo que o brasileiro

deve ter para realizar as necessitas baacutesicas de sobreviver Esse caacutelculo eacute feito a partir de

quando se sabe quanto custa a Cesta Baacutesica no paiacutes e eacute realizado a cada mecircs em Outubro de

2017 quando o salaacuterio que o governo calculou entrou em vigor por 93700 o caacutelculo

necessaacuterio segundo a DIEESE era de 375416 gerando assim uma diferenccedila de 281716

reais (UOL 2017)

22 Cesta Baacutesica

Existem diferentes conceitos sobre a cesta baacutesica a formula de caacutelculo e como ela eacute

dividido O PROCON (Programa de Proteccedilatildeo e Defesa do Consumidor) e a DIEESE

(Departamento Intersindical de Estatiacutestica e Estudos Socioeconocircmicos) satildeo 2 instituiccedilotildees que

pesquisam sobre o assunto aonde metodologias adotadas satildeo diferentes O PROCON

pesquisa uma Cesta mais completa com compras em materiais de limpeza higiene e

alimentaccedilatildeo aumenta tambeacutem em relaccedilatildeo a quantidades no valor da compra Jaacute a DIEESE ela

procura calcular um Cesta Baacutesica voltado mais ao ramo alimentiacutecio na qual procura

estabelecer uma formula de metodologia voltado mais a aacuterea nutricional deixando de lado

assim produtos de limpeza e higiene de fora

Conforme a DIEESE elabora a cesta baacutesica varia de acordo com as regiotildees natildeo

apenas o valor mas os componentes da mesma com as diferenccedilas de habito alimentiacutecio e

cultura podem acrescentar alguns alimentos bem como diminuir ou aumentar a quantidade de

um determinado produto que eacute consumido Os alimentos que satildeo utilizado e definido pela lei

399 de 1938 satildeo composto por 13 itens que variam de Legumes agrave frutas a lista eacute composta

por Carne arroz feijatildeo farinha leite batata Frutas (Bananas) legumes (Tomate) Manteiga

oacuteleo Cafeacute patildeo e accediluacutecar

O decreto estabelece tambeacutem uma estrutura de gastos de um trabalhador Dos cinco

itens que compotildeem essa estrutura (habitaccedilatildeo alimentaccedilatildeo vestuaacuterio transporte e higiene)

estipulou-se uma ponderaccedilatildeo onde a soma total eacute de 100 O decreto Lei ndeg399 determina

que a parcela do salaacuterio miacutenimo correspondente aos gastos com alimentaccedilatildeo natildeo pode ter

465

valor inferior ao custo da Cesta Baacutesica Nacional (art 6deg sect1deg) Esses alimentos satildeo Dividido

em 4 regiotildees sendo elas Regiatildeo 1 - Estados de Satildeo Paulo Minas Gerais Espiacuterito Santo Rio

de Janeiro Goiaacutes e Distrito Federal Regiatildeo 2 ndash Estados de Pernambuco Bahia Cearaacute Rio

Grande do Norte Alagoas Sergipe Amazonas Paraacute Piauiacute Tocantins Acre Paraiacuteba

Rondocircnia Amapaacute Roraima e Maranhatildeo Regiatildeo 3 - Estados do Paranaacute Santa Catarina Rio

Grande do Sul Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e a Nacional - Cesta normal meacutedia para a

massa trabalhadora em atividades diversas e para todo o territoacuterio nacional

O Cearaacute compotildee o grupo 2 de regiotildees para caacutelculo da Cesta baacutesica nacional mas nessa

regiatildeo soacute satildeo calculados 12 itens eacute excluiacutedo a BATATA da soma pois por determinaccedilatildeo

teoacuterica e diferenccedilas regionais natildeo eacute certo incluir ela em nossos caacutelculos para construir a cesta

baacutesica e assim ficamos com os itens carne arroz feijatildeo farinha leite Frutas (Bananas)

legumes (Tomate) Manteiga oacuteleo Cafeacute patildeo e accediluacutecar Assim eacute incluiacutedo a quantidade meacutedia

consumida por cada pessoa em cada alimento aonde a Carne eacute 45 Kg arroz 35 Kg feijatildeo

45 farinha 30 kg leite 6 litros Frutas (Bananas) 90 unidade legumes (Tomate) 12 kg

Manteiga 750 Kg Oacuteleo 750 gr cafeacute 300 gr Patildeo francecircs 6 kg e accediluacutecar 3 kg

Assim definido cabe as instituiccedilotildees pesquisar a meacutedia de cada item desses e verificar

quanto eacute o valor da Cesta Baacutesica no Cearaacute que no caso de novembro de 2017 em fortaleza

estava em 36362 $ Reais

3 Materiais e meacutetodos

31 Caracterizaccedilatildeo da pesquisa

Esta eacute uma pesquisa de abordagem quantitativa quanto agrave abordagem e de campo

quanto ao procedimento O vieacutes quantitativo permite uma maior objetividade tendo em vista

a compreensatildeo de uma dada realidade atraveacutes de princiacutepios e representaccedilotildees matemaacuteticas

(FONSECA 2002) Partindo de ideias preconcebidas e de uma pequena quantidade de

conceitos utiliza procedimentos estruturados formais para a coleta dos dados mediante

condiccedilotildees de controle sendo estes analisados de forma objetiva (POLIT et al 2004)

32 Populaccedilatildeo e amostra

466

A pesquisa realizou-se entre os dias 20 e 22 de dezembro de 2017 em 12

estabelecimentos comerciais da cidade de Vaacuterzea Alegre interior Sul do Estado do Cearaacute

tanto na Zona Urbana quanto Rural A escolha do nuacutemero de estabelecimentos se deu

mediante planejamento preacutevio devido a necessidade de se estabelecer uma amostra em torno

de uma populaccedilatildeo que natildeo se conseguiu precisar por informaccedilotildees do Governo Municipal que

natildeo conta os estabelecimentos informais

Os doze estabelecimentos pesquisados localizam-se na Sede tendo sido escolhidos

pela observaccedilatildeo empiacuterica da tradiccedilatildeo do comeacutercio local a qual indicou os mercadinhos e

supermercados mais tradicionais e preferidos pela populaccedilatildeo sendo oito na Sede Urbana e

cinco na Sede Rural

Quanto agrave questatildeo salarial a meacutedia do salaacuterio do servidor puacuteblico foi obtida na

Secretaria de Financcedilas do Municiacutepio tendo em vista em informaccedilotildees do IPECE de que o

maior empregador formal em Vaacuterzea Alegre eacute a Prefeitura

33 Instrumentos de pesquisa

Os preccedilos foram pesquisados com base nas quantidades dos iacutetens preacute-estabelecida pela

lei que rege a pesquisa de Cesta Baacutesica foram escolhidos entre 2 e 3 marcas por produto para

se chegar a meacutedia do preccedilo de cada A meacutedia calculada foi a meacutedia simples com o auxiacutelio de

uma calculadora

O registro foi realizado em um formulaacuterio impresso sendo os resultados distribuiacutedos

em planilha e separados por meacutedia e por produto aleacutem de por local da Cesta Baacutesica mais cara

e mais barata

34 Procedimentos de pesquisa

Apoacutes a seleccedilatildeo inicial dos estabelecimentos pelos criteacuterios de inclusatildeo preacutevios a

pesquisa foi realizada com a conivecircncia dos responsaacuteveis de cada estabelecimento Apoacutes a

siacutentese dos dados a pesquisa foi revisada e o texto final redigido com base em pesquisa

bibliograacutefica previamente realizada

34 Anaacutelise dos resultados

467

Os resultados foram analisados pela observaccedilatildeo simples das meacutedias e da comparaccedilatildeo

geral de preccedilos O que importa para o valor a ser considerado eacute a meacutedia geral do

estabelecimento podendo haver casos em que produtos mais baratos estatildeo incluiacutedos em uma

lista geral que natildeo foi a mais barata

Seguindo o objetivo de calcular o impacto da cesta baacutesica no salaacuterio meacutedio do

trabalhador varzealegrense os dados da meacutedia salarial e do prelo da cesta foram alinhados por

comparaccedilatildeo simples

4 Resultados e Discussotildees

A cidade de Vaacuterzea Alegre eacute localizado no interior do estado do Cearaacute na regiatildeo sul

do mapa estadual com uma populaccedilatildeo estimada pelo IBGE (instituto Brasileiro de Geografia

e Estatiacutestica) 42255 habitantes e com um territoacuterio de 835709 kmsup2 eacute uma cidade que

economicamente ainda natildeo eacute desenvolvida com a economia voltada a agricultura familiar

com trabalhadores independes e sem carteiras assinadas com poucas empresas o municiacutepio

tem uma meacutedia de 3249 empregos formais sendo 1394 homens e 1855 feminino e

divididos em 364 na induacutestria de transformaccedilatildeo 546 no comeacutercio administraccedilatildeo puacuteblica satildeo

1896 serviccedilos industriais satildeo 6 e nos Serviccedilos em gerais satildeo 437 empregos (IPECE 2015)

Em Vaacuterzea Alegre a meacutedia salarial do servidor puacuteblico estaacute de 122467 reais no mecircs

de novembro de 2017 Esse salaacuterio eacute calculado somando o salaacuterio de todos os servidores e

dividindo pela quantidade dos mesmos Vale ressaltar que o municiacutepio eacute um dos uacutenicos que

ainda pagam Meio Salaacuterio miacutenimo para alguns servidores concursado o que daacute para perceber

a diferenccedila salarial que acontecem no municiacutepio entre o que ganha menos e o que ganha mais

Sabe-se tambeacutem que a cidade tem um iacutendice de extrema pobreza altiacutessima aonde satildeo

11191 pessoas que recebem uma renda mensal de ateacute 70 reais mensal aonde 4498 satildeo da

zona Urbana e 6193 da Zona Rural que levando em consideraccedilatildeo a populaccedilatildeo de 2010

representa um total de quase 2912 da populaccedilatildeo em estado de extrema pobreza O iacutendice de

desenvolvimento Municipal (2012) eacute de 2608 ocupando assim a posiccedilatildeo 105 no ranking

estadual jaacute o iacutendice de desenvolvimento humano (2010) eacute de 0629 que ocupa a posiccedilatildeo 50

no ranking de acordo com o IPECE

A pesquisa sobre a Cesta Baacutesica em Vaacuterzea Alegre foi realizado no mecircs de Dezembro

do ano de 2017 realizado em 12 estabelecimentos diferentes aonde foi de pequenos

468

comeacutercios ateacute os grandes supermercados municipais dividido em bairros da cidade e

calculando a meacutedia de preccedilos de cada alimento que foi definido

Tabela 1 Cesta Baacutesica com maior valor em Vaacuterzea Alegre-CE

Alimentos Quantidade Meacutedia de preccedilos Total

Carne 45 Kg 2150 9675

Leite 60 L 264 1584

Feijatildeo 45 Kg 62 279

Arroz 36 Kg 323 1162

Farinha 30 Kg 325 975

Legumes (tomate) 12 Kg 390 468

Patildeo Francecircs 60 Kg 4200 42

Cafeacute em poacute 300 gr 588 588

Frutas (banana) 90 uni 033 297

Accediluacutecar 30 kg 199 597

Oacuteleo 750 gr 556 556

Manteiga 750 gr 545 545

Fonte Direta

Essa pesquisa foi feita em um Mercantil simples de um bairro em Vaacuterzea Alegre de

onde se deu o maior preccedilo da pesquisa foi concluiacutedo entatildeo que o valor da Cesta Baacutesica nesse

estabelecimento comercial eacute de 30322 reais Vaacuterios satildeo os fatores que fizeram com que esse

preccedilo seja elevado em relaccedilatildeo aos demais Por se tratar de um comercio pequeno a tendecircncia

eacute o aumento dos preccedilos para obter um maior lucro

Tambeacutem foi constatado a Cesta Baacutesica com menor valor na qual veremos a seguir

469

Tabela 2 Cesta Baacutesica de menor valor em Vaacuterzea Alegre-CE

Alimentos Quantidade Meacutedia de preccedilos Total

Carne 45 Kg 1900 855

Leite 60 L 275 165

Feijatildeo 45 Kg 295 1327

Arroz 36 Kg 274 986

Farinha 30 Kg 280 84

Legumes (tomate) 12 Kg 400 1200

Patildeo Francecircs 60 Kg 4200 4200

Cafeacute em poacute 300 gr 485 485

Frutas (banana) 90 uni 027 243

Accediluacutecar 30 kg 190 57

Oacuteleo 750 gr 521 521

Manteiga 750 gr 448 448

Fonte Direta

Jaacute nesse comercio o preccedilo da Cesta Baacutesico estaacute custando a mais barata da cidade com

o valor de 23307 reais podemos ver a diferenccedila na meacutedia de produtos em relaccedilatildeo ao

apresentado anteriormente no total chega a ser 7015 reais a diferenccedila do mais caro para esse

O que provavelmente faraacute com os consumidores tendam a preferirem esse estabelecimento ao

inveacutes do outro

Na tabela a seguir mostraremos a meacutedia de preccedilos que compotildee a Cesta baacutesica em

Vaacuterzea Alegre

470

Tabela 3 Meacutedia de preccedilos dos componentes da Cesta Baacutesica em Vaacuterzea Alegre-CE

Alimentos Quantidade Meacutedia de preccedilos

Carne 1 Kg 2005

Leite 1 L 281

Feijatildeo 1 Kg 411

Arroz 1 Kg 291

Farinha 1 Kg 352

Legumes (tomate) 1 Kg 340

Patildeo Francecircs 10 Kg 700

Cafeacute em poacute 300 gr 461

Frutas (banana) 1 uni 030

Accediluacutecar 10 kg 194

Oacuteleo 750 gr 565

Manteiga 750 gr 503

O trabalho elaborou na tabela acima a meacutedia de preccedilos de cada produto na qual o

caacutelculo foi realizado somando o preccedilo de todos os estabelecimentos por produtos e dividindo

pela quantidade de empresas que o levantamento foi feito

5 Conclusatildeo

Assim sendo sabemos que a meacutedia da Cesta Baacutesica no Municiacutepio de Vaacuterzea Alegre eacute

de 27833 reais por pessoa o que faz com que 2917 a renda mensal do trabalhador que

ganha um salaacuterio miacutenimo seja destinada para gastos com alimentaccedilatildeo Portanto o mesmo

precisa trabalhar 64 horas e 18 minutos para obter o dinheiro necessaacuterio para a sua cesta

baacutesica o que significa que teraacute que trabalhar 802 dias para obter esse montante

Conforme os dados do IPECE de 2015 a cidade de Vaacuterzea Alegre possui 11191

pessoas que recebem uma renda mensal de ateacute 70 reais mensal o que significa que elas natildeo

tem dinheiro suficiente para comprar uma Cesta Baacutesica Essas pessoas satildeo classificadas em

situaccedilatildeo de extrema pobreza e estatildeo em estado de Vulnerabilidade Socioeconocircmica

O preccedilo da cesta baacutesica em uma famiacutelia de 4 pessoas sendo 2 adultos e 2 crianccedilas

estaacute estipulado em 909 reais em Vaacuterzea Alegre o que leva-se a preocupaccedilatildeo em saber que a

471

famiacutelia precisa estar trabalhando com os 2 adultos para ter o dinheiro necessaacuterio para

sobreviver o miacutenimo possiacutevel Pois caso isso natildeo aconteccedila a renda mensal do trabalhador que

recebe um salaacuterio miacutenimo nesse caso vai estar comprometida em mais de 90 sobrando

assim apenas 2835 reais para os demais gastos para a sobrevivecircncia

Em comparaccedilatildeo com a de Fortaleza a Cesta baacutesica laacute custou em Novembro de 2017

segundo o DIEESE a quantia de R$ 36392 reais o que influenciava assim 3883 na renda

mensal do trabalhador que ganha a quantia de um salaacuterio miacutenimo Foi preciso trabalhar 85

horas e 44 minutos da jornada de trabalho mensal para adquirir a Cesta O gasto com

alimentaccedilatildeo de uma famiacutelia padratildeo (2 adultos e 2 crianccedilas) foi de R$ 109176

Tendo em vista esses dados percebe-se que a Cidade de Fortaleza eacute mais caro para

comprar a cesta baacutesica em relaccedilatildeo a Vaacuterzea Alegre Jaacute que tem uma diferenccedila meacutedia de 8559

reais por cesta baacutesica individual jaacute em relaccedilatildeo a Vaacuterzea Alegre se trabalha 21 horas e 26

minutos a menos para obter o dinheiro da Cesta e em relaccedilatildeo a Cesta meacutedia da famiacutelia a

cidade de fortaleza eacute mais cara do que a de Vaacuterzea Alegre 18276 reais

Portanto para uma famiacutelia viver com dinheiro suficiente para satisfazer todas as

necessidades miacutenimas como moradia alimentaccedilatildeo Sauacutede lazer vestuaacuterio Higiene

transporte e Previdecircncia social o trabalhador de Vaacuterzea Alegre que ganha um salaacuterio miacutenimo

de 311621 reais na qual a diferenccedila com a realidade eacute de 216221 reais

REFEREcircNCIAS

BRASIL Decreto-lei Nordm 399 de 30 de dezembro de 1968 Disponiacutevel em

httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leiDel0399htm Acesso em 03 de marccedilo de

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BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil CF 88 1988 Disponiacutevel em

httpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicaoconstituicaocompiladohtm Acesso em 03

de marccedilo de 2018

DIEESE Metodologia da Cesta Baacutesica de Alimentos Satildeo Paulo 2009 Disponiacutevel em

httpswwwdieeseorgbrmetodologiametodologiaCestaBasicapdf Acesso 23 de dezembro

de 2017

FONSECA J J S Metodologia da pesquisa cientiacutefica Fortaleza UEC 2002 Apostila

G1 Valor da cesta baacutesica em Fortaleza tem reduccedilatildeo de 485 aponta Dieese Disponiacutevel

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httpwwwinfomoneycombrminhas-financasplaneje-suas-financasnoticia2001012que-

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MARX Karl O capital Satildeo Paulo LTC Sd

PAIM Paulo Salaacuterio Miacutenimo uma histoacuteria de luta Brasiacutelia Senado Federal 2005

PRISCILA Luana Os Salaacuterios e seus efeitos distributivos Porto Alegre UFRGS 2011

SOUZA Abelman Definiccedilatildeo de Salaacuterio Planejar Cursos e treinamentos 2010 Disponiacutevel

em httpswwwplanejarcursoscombrartigosdefinicao-de-salario Acesso em 22 de

dezembro de 2017

SUPERINTERSSANTE Salaacuterios Satildeo Paulo Editora Abril 2010 Disponiacutevel em

httpssuperabrilcombrcomportamentosalario Acesso em 22 de dezembro de 2017

SABOIA Joatildeo Salaacuterio Miacutenimo e seu potencial para a melhoria para a distribuiccedilatildeo de

renda no Brasil Porto Alegre Editora LampPM 1985

UOL Salaacuterio miacutenimo em outubro deveria ser de R$ 375416 segundo Dieese Satildeo Paulo

2017 Disponiacutevel em httpseconomiauolcombrempregos-e-

carreirasnoticiasredacao20171101salario-minimo-outubro-dieesehtm Acesso em 18 de

outubro de 2017

473

REFLEXOtildeES DA GUERRA FISCAL NA REGIAtildeO NORDESTE NOS ANOS 1990

CARLOS EDUARDO PEREIRA DO NASCIMENTO Graduando em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA) e

pesquisador do Grupo de Estudos em Territorialidades Econocircmicas e Desenvolvimento

Regional e Urbano - GETEDRU e-mail eduardocarlos2807gmailcom

GUILHERME SOUSA BRANDAtildeO

Graduando em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA) e-mail

sousaguilherme25gmailcom

ROSEMARY DE MATOS CORDEIRO

Doutora em Geografia Professora Adjunto da URCA Professora do IFCE Crato-CEBrasil

e-mail Rosymatoshotmailcom

NATANAEL PESSOA LUSTOZA

Bacharel em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA) e

pesquisador do Grupo de Estudos em Territorialidades Econocircmicas e Desenvolvimento

Regional e Urbano - GETEDRU e-mail natanaelpessoa1995gmailcom

JOANA PRISCILA DA SILVA BARBOSA Graduanda em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA) e

pesquisadora do Grupo de Estudos em Territorialidades Econocircmicas e Desenvolvimento

Regional e Urbano - GETEDRU e-mail joannasiilva24gmailcom

474

REFLEXOtildeES DA GUERRA FISCAL NA REGIAtildeO NORDESTE NOS ANOS 1990

RESUMOA guerra fiscal no Brasil constitui-se como uma medida poliacutetica e econocircmica de

atraccedilatildeo de investimentos objetivando a transferecircncia de empresas de regiotildees mais

desenvolvidas para regiotildees menos desenvolvidas Historicamente esse fenocircmeno inicia sua

trajetoacuterialsquo no Brasil a partir da deacutecada de 1930 Com o advento do liberalismo nos anos

197080 surge uma doutrina poliacutetica a qual utiliza o mecanismo fiscal como um instrumento

comercial e financeiro para as unidades federativas Neste periacuteodo o fenocircmeno da guerra

fiscal intensifica-se sobretudo agrave questatildeo do desenvolvimento regional ligado a Regiatildeo

Nordeste Diante disso o presente trabalho tem como intuito a anaacutelise da guerra fiscal nesta

regiatildeo nos anos 1990 no contexto da financeirizaccedilatildeo da economia brasileira Todavia diante

da anaacutelise exposta o fenocircmeno da guerra fiscal natildeo se constitui como uma poliacutetica de

desenvolvimento regional mas sim uma poliacutetica de esgotamento que exaure as reservas dos

estados nordestinos diante das diversas concessotildees

Palavras-chaves Regiatildeo Nordeste Guerra fiscal Desenvolvimento regional

ABSTRACT The fiscal war in Brazil constitutes as a political and economic measure of

attraction of investments aiming the transfer of companies from more developed regions to

regions less developed Historically this phenomenon began its trajectory in Brazil from the

1930s With the advent of liberalism in the 1970s and 1980s a political doctrine arises

which uses the fiscal mechanism as a commercial and financial instrument for the units

federative In this period the phenomenon of the fiscal war intensifies especially to the issue

of regional development linked to the Northeast Region In view of this the present work

intends the analysis of the fiscal war in this region in the 1990s in the context of the

financialization of the Brazilian economy However in view of the above analysis the

phenomenon of fiscal war is not a regional development policy but a policy of exhaustion

that exhausts the reserves of the Northeastern states in the face of various concessions

Keywords North East Region Fiscal war Regional development

475

1Introduccedilatildeo

―A competiccedilatildeo tributaacuteria entre jurisdiccedilotildees mais comumente conhecida no Brasil como

guerra fiscal pode ser entendida como a utilizaccedilatildeo pelos governos estaduais de isenccedilotildees

reduccedilotildees e diferimentos tributaacuterios como recurso para alavancar a industrializaccedilatildeo regional

(BORGES 2012 p 1-2) Satildeo diversos os incentivos oferecidos agraves empresas destacando o

ICMS (imposto sobre operaccedilotildees relativas agrave circulaccedilatildeo de mercadorias e sobre prestaccedilotildees de

serviccedilos de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicaccedilatildeo mesmo se as

operaccedilotildees e as prestaccedilotildees iniciem no exterior) como principal mecanismo de subsiacutedio

O ICMS principal instrumento da guerra fiscal eacute um imposto de competecircncia

estadual natildeo cumulativo podendo ser cobrado em funccedilatildeo da essencialidade da mercadoria ou

serviccedilo aleacutem de ser o principal tributo indireto a incidir sobre operaccedilotildees com mercadorias

aleacutem do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e das contribuiccedilotildees do PIS (Programa

Integraccedilatildeo Social) e COFINS (Contribuiccedilatildeo para Financiamento da Seguridade Social)

(BIAacuteVA JUacuteNIOR OYADOMARI 2010) O contribuinte geneacuterico do ICMS eacute pessoa fiacutesica

ou juriacutedica que trabalhe com certo volume ou com frequecircncia com o intuito comercial

operaccedilotildees de circulaccedilatildeo de mercadoria ou prestaccedilotildees de serviccedilos de transporte interestadual e

intermunicipal e de comunicaccedilatildeo mesmo que as operaccedilotildees e as prestaccedilotildees se iniciem no

exterior (BRASIL 1996) Dessa forma a questatildeo dos incentivos fiscais nos leva de imediato

aos problemas da extrafiscalidade25

e da poliacutetica fiscal intervencionista e dirigista (GOUVEcircA

2006)

No contexto histoacuterico a intervenccedilatildeo estatal no que tange o ambiente econocircmico e

social mediante medidas fiscais origina-se no mercantilismo Tal ideia adveacutem dos proacuteprios

preceitos desta corrente de pensamento Pautada na economia do ourolsquo o incentivo a entrada

da moeda e desestiacutemulo a saiacuteda desta foram de suma importacircncia no que concerne a

organizaccedilatildeo produtiva objetivando e estimulando a exportaccedilatildeo do produto industrial A

importaccedilatildeo deveria ser desestimulada Destarte veio seu desestiacutemulo transfigurado em

imposto (LACOMBE 1969)

Segundo Lacombe (1969) mais precisamente a partir dos anos 1930 surgiram no

Brasil modificaccedilotildees substanciais na poliacutetica e na teoria fiscal O aumento da carga tributaacuteria

ocorrida principalmente com a Segunda Guerra Mundial foi ao mesmo tempo causa e efeito

do aspecto extrafiscal assumido entatildeo pela poliacutetica fiscal As deacutecadas seguintes (19506070)

25

Algo a maislsquo que a obtenccedilatildeo de receitas mediante tributos liga-se a valores constitucionais pode decorrer de

isenccedilotildees benefiacutecios fiscais progressividade de aliacutequotas (GOUVEcircA 2006 p 1)

476

proporcionaram uma maior significacircncia quanto agrave carga tributaacuteria e sua utilidade para os

estados Posteriormente com o advento do neoliberalismo surgiu a doutrina da imposiccedilatildeo

neutra ou meramente fiscal26

Todavia tal imposiccedilatildeo natildeo se configura em importaccedilatildeo neutra

pois o poder de tributar eacute fenocircmeno de caraacuteter nitidamente poliacutetico Defendem uma poliacutetica de

cunho conservador por afirmarem que o modelo tributaacuterio existente eacute ―mais justo ou

adequado agrave coletividade (LACOMBE 1969 p 108)

O que deu entretanto maior consistecircncia agrave poliacutetica de desenvolvimento regional foi agrave

questatildeo do Nordeste diante da acentuaccedilatildeo das desigualdades naturais entre as suas diversas

regiotildees Este momento inicia-se com as agecircncias de fomento criadas em meados do seacuteculo

XX com o intuito de modificar o cenaacuterio regional do Nordeste atraveacutes do Conselho do

Desenvolvimento do Nordeste (CODENO) Superintendecircncia do Desenvolvimento do

Nordeste (SUDENE) entre outros Poreacutem o crescimento natildeo ocorre de forma homogecircnea

sobre o espaccedilo territorial Desta perspectiva criam-se vaacuterios Nordestes

Do Nordeste do oeste baiano e do Nordeste canavieiro do litoral do Rio Grande do

Norte a Alagoas do Nordeste agroindustrial do sub-meacutedio Satildeo Francisco e do

Nordeste cacaueiro do sul baiano do Nordeste minero-metaluacutergico e agroindustrial

do Maranhatildeo e do Nordeste semiaacuterido dominado pelo tradicional complexo

gadoagricultura de sequeiro etc Cada um com suas particularidades e seus atores

muitos deles natildeo nordestinos (ARAUacuteJO 2000 p 38)

A despeito de tratar-se de momentos distintos poreacutem consonantes com o

neoliberalismo a internacionalizaccedilatildeo do capital e a descentralizaccedilatildeo poliacutetica brasileira

imposta pela Constituiccedilatildeo Federal (CF) de 1988 transfiguraram a guerra fiscal em mecanismo

de atraccedilatildeo para atingir a desconcentraccedilatildeo da produccedilatildeo e o desenvolvimento regional

Diante disso o presente trabalho tem o intuito de abordar a questatildeo da guerra fiscal no

Nordeste no macrocontexto inserido na deacutecada de 1990 com a abertura comercial e financeira

do mercado nacional brasileiro enfocando na Regiatildeo Nordeste espaccedilo mais afetado pela

guerra entre unidades federativas A pesquisa pauta-se no estudo bibliograacutefico de autores que

tratam da Regiatildeo Nordeste e o papel da guerra fiscal em seu espaccedilo bem como dados que

evidenciem a realidade distorcida causada por esse momento temporal na histoacuteria do

Nordeste do Brasil atraveacutes de programas estaduais de incentivo a setores produtivos como o

FDI no Cearaacute PRODEPE no Pernambuco e o uso de dados da Relaccedilatildeo Anual de Informaccedilotildees

26

Tal denominaccedilatildeo eacute tecnicamente falha pois se mostra algo democraacutetico e igualitaacuterio o que natildeo eacute Ela induz as

classes menos favorecidas a acreditarem que os impostos natildeo as prejudicam Entretanto estes impedem a

ascensatildeo das classes dominadas anulando sua neutralidade (LACOMBE 1969)

477

Sociais (RAIS) para os anos 1995 e 2005 trazendo um comparativo temporal na Regiatildeo

Nordeste

Aleacutem desta introduccedilatildeo e das consideraccedilotildees finais o presente trabalho dividir-se-aacute em

duas seccedilotildees a seccedilatildeo seguinte analisaraacute os incentivos fiscais voltados ao desenvolvimento do

Nordeste tendo duas subseccedilotildees uma tratando do fenocircmeno da guerra fiscal e outro com a

anaacutelise histoacuterica e os fatores que influenciam sua implementaccedilatildeo A terceira seccedilatildeo abordaraacute o

panorama da guerra fiscal no Nordeste os fatores que levam as empresas a se instalarem

nesse ambiente e posteriormente focalizar em dados relativos em grande parte dos Estados

da regiatildeo Nordeste como nuacutemero de estabelecimentos incentivados pelos governos e de que

forma o emprego estaacute distribuiacutedo nesses setores

2 Referencial Teoacuterico

A presente seccedilatildeo segue em duas subseccedilotildees a primeira trataraacute das caracteriacutesticas e

histoacuterico do fenocircmeno da guerra fiscal presente com maior veemecircncia na economia brasileira

a partir dos anos 1960 Na segunda seccedilatildeo apresentam-se os fatores que culminam em uma

guerra fiscal

21 Caracterizaccedilatildeo e histoacuterico da Guerra fiscal

211 Caracteriacutesticas do fenocircmeno

Sob o olhar econocircmico a busca por menores custos de produccedilatildeo integra a

racionalidade dos agentes privados Os custos tributaacuterios entram nesse contexto como um

ponto especiacutefico dos custos globais Em busca de competitividade os agentes almejam

reduzir ao maacuteximo seus custos e destarte satildeo sempre considerados mormente a eacutepoca atual

vivenciando uma sobrecarga tributaacuteria crescente (CALCIOLARI 2006)

Nesse contexto a anaacutelise do fenocircmeno sempre criacutetica em virtude dos efeitos globais

nefastos deve ser feita agrave luz do cooperativismo entre os entes participantes no sentido de

reduzir as desigualdades regionais A guerra fiscal tem como condiccedilatildeo baacutesica a possibilidade

de entes subnacionais utilizarem benesses fiscais para influenciar a alocaccedilatildeo de recursos

privados Associa-se a exacerbaccedilatildeo de praacuteticas competitivas entre entes de uma mesma

federaccedilatildeo atraveacutes da utilizaccedilatildeo de benefiacutecios e incentivos fiscais com o intuito de atrair a

alocaccedilatildeo de investimentos nos territoacuterios locais O fenocircmeno aqui delineado tem como

principais fatores a dinacircmica legal do ICMS e do ISS ndash Imposto Sobre Serviccedilos ndash (aquele no

que tange agrave guerra fiscal estadual e este no que tange agrave guerra fiscal municipal) e a parca

478

capacidade da Uniatildeo em implantar poliacuteticas desenvolvimentistas de acircmbito regional

(CALCIOLARI 2006 GUERATO 2013)

Ademais a ―utilizaccedilatildeo peculiar da guerra fiscal como instrumento poliacutetico de

desenvolvimento industrial regional deve ser analisada em termos federativos

(CALCIOLARI 2006 p 8) Todavia o federalismo introduzido no final da deacutecada 1980

aplicou as desconcentraccedilotildees poliacutetica e econocircmica culminando em uma accedilatildeo individual dos

entes da federaccedilatildeo isto eacute estados e municiacutepios auferiram maior independecircncia poliacutetica

Varsano (1997) e Guerato (2013) chamam atenccedilatildeo para esta independecircncia quando estados

tentam assumir a incumbecircncia do governo central de programar poliacuteticas industriais para

atingir a desconcentraccedilatildeo da produccedilatildeo e o desenvolvimento regional Tal responsabilidade

segundo eles tem como corolaacuterio o desastre Nesses casos os estados vencedores da guerra

fiscal tecircm maior capacidade financeira com mercados amplos e melhor infraestrutura

Ademais ao abdicar da arrecadaccedilatildeo o estado estaacute rejeitando o sortimento de insumos do

processo produtivo (educaccedilatildeo sauacutede infraestrutura etc) ou o equiliacutebrio fiscal o que implica

instabilidade macroeconocircmica

Quanto ao conceito segundo Varsano (1997) guerra fiscal eacute uma situaccedilatildeo de embate

na federaccedilatildeo em que um ente federado que ganha ndash de fato quando existe um ganho ndash

estabelece em suma uma perda a algum ou demais entes visto que raramente trata-se de um

jogo de soma positiva ―Trata-se em termos econocircmicos da disputa fiscal no contexto

federativo ou seja refere-se agrave intensificaccedilatildeo de praacuteticas concorrenciais extremas e natildeo

cooperativas entre os entes da Federaccedilatildeo no que diz respeito agrave gestatildeo de suas poliacuteticas

industriais (FERNANDES WANDERLEI 2000 p 6) Simonsen (199 apud

FERNANDES WANDERLEI 2000) conceitua a guerra das isenccedilotildees como conflitos de

natureza tributaacuteria existente entre os estados com o intento de atrair induacutestrias

Existem diversas definiccedilotildees Silva (2001) destaca que a guerra fiscal corresponde a

uma situaccedilatildeo em que uma jurisdiccedilatildeo usa seus tributos para atrair fatores de produccedilatildeo

consumidores ou residentes de outras jurisdiccedilotildees para obter vantagens econocircmicas eou

aumentar suas bases tributaacuterias Viol (1999 apud BORGES 2012 p 3) afirma que este

fenocircmeno ocorre ―tradicionalmente em paiacuteses federativos sobretudo naqueles onde os

governos subnacionais possuem ampla autonomia fiscal

O debate entre os benefiacutecios e os malefiacutecios da guerra fiscal incita a guerra poliacutetica no

movimento de atraccedilatildeo de investimentos pois por um lado a competiccedilatildeo entre unidades

479

federativas eacute vista como uma espeacutecie de geradora de inovaccedilotildees no sistema puacuteblico visto que

estimula o desenvolvimento dos mecanismos de atraccedilatildeo de inversotildees por outro alguns tratam

os estados e municiacutepios como loacutecus de clientelismo e ineficiecircncia ―sendo que sua

autonomizaccedilatildeo representa fonte importante de ingovernabilidade (MELO 1996 p 11) Natildeo

haacute somente aqueles que contrariam o sistema de isenccedilotildees fiscais tais como Guerato (2013)

Varsano (1997) Cavalcanti e Prado (1998) entre outros Haacute tambeacutem autores que entrem em

consonacircncia com o ideaacuterio da guerra fiscal e seus efeitos na economia regional como Dulci

(2002) Tiebout (1956) e Oates e Schwab (1988) O segundo traz que a ―descentralizaccedilatildeo

governamental atua como uma matildeo invisiacutevel no setor puacuteblico levando a uma alocaccedilatildeo

econocircmica eficiente (BORGES 2012 p 5) Os uacuteltimos abordam que ―a concorrecircncia fiscal

ativa em suma tende a produzir um niacutevel baixo de esforccedilo fiscal estadual-local ou uma

estrutura tributaacuteria local-estadual com fortes caracteriacutesticas regressivas (OATES SCHWAB

1988 p 334)

Diante disso enxergar-se o nascimento da competiccedilatildeo interestadual movida pela

descentralizaccedilatildeo poliacutetica marcada pela concorrecircncia entre unidades federativas natildeo

cooperativas que disputam economicamente falando contra as demais em busca de

sobrevivecircncia econocircmica

212 Histoacuterico da Guerra Fiscal

O vertiginoso processo de desenvolvimento do paiacutes que se intensificou

principalmente a partir da deacutecada de 1930 agravou as desigualdades entre as suas regiotildees A

Constituiccedilatildeo de 1946 jaacute compreendia a possiacutevel aplicaccedilatildeo de alguns recursos nas aacutereas com

baixo desenvolvimento O primeiro diploma legislativo que tratou do problema do

desenvolvimento regional sem no entanto criar incentivos fiscais foi a Lei nordm 541 de 15 de

dezembro de 1948 que instituiu a Comissatildeo do Vale do Satildeo Francisco (CVSF) Todavia a

maior consistecircncia para poliacutetica de desenvolvimento regional foi agrave questatildeo do Nordeste A

primeira medida surgiu com o Decreto nordm 45445 de 1959 criador do CODENO que

funcionaria ateacute a criaccedilatildeo efetiva jaacute prevista por lei da SUDENE Esta surgiu em decorrecircncia

da Lei nordm 3692 de 1959 conforme seu Art 2ordm com a finalidade de

a) estudar e propor diretrizes para o desenvolvimento do Nordeste b) supervisionar

coordenar e controlar a elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo de projetos a cargo de oacutergatildeos federais

na regiatildeo e que se relacionam diretamente com o seu desenvolvimento c) executar

diretamente ou mediante convecircnio acordo ou contrato os projetos relativos ao

desenvolvimento do Nordeste que lhe forem atribuiacutedos d) coordenar o programa de

assistecircncia teacutecnica nacional e estrangeira ao Nordeste (BRASIL 1959)

480

A referida lei previa dois tipos de incentivos fiscais os quais seriam concedidos para

os empreendimentos localizados na regiatildeo nordestina atraveacutes de decreto e a empresas

sediadas em outras regiotildees que aplicassem capitais no Nordeste Concernente agrave primeira

medida de incentivo fiscal empresas localizadas no Nordeste teriam isenccedilatildeo de qualquer

imposto ou taxa ndash tributos enfim ndash para a importaccedilatildeo de equipamentos e reduccedilatildeo de 50

(cinquenta por cento) do imposto de renda ateacute o exerciacutecio de 1968 Foi concedida igualmente

a isenccedilatildeo do imposto de renda para as novas induacutestrias que se utilizassem da mateacuteria-prima da

regiatildeo ou a produzissem em volume inferior a 30 do consumo aparente da regiatildeo

(LACOMBE 1969)

No aspecto relativo aos dispositivos fiscais a Lei 4239 de 1963 consolida os

estiacutemulos jaacute autorizados e prevecirc em relaccedilatildeo agrave aquisiccedilatildeo de obrigaccedilotildees do FIDENE (Fundo

de Investimento para o Desenvolvimento Econocircmico e Social do Nordeste) destinado a

garantir a exequibilidade financeira de projetos e obras consideradas pela SUDENE como

prioritaacuterios Prevecirc igualmente a lei a criaccedilatildeo do Fundo de Emergecircncia do Nordeste (FEANE)

objetivando contribuir para assistecircncia imediata agraves populaccedilotildees viacutetimas de calamidades

puacuteblicas (LACOMBE 1969 p 111-112)

Posteriormente teve-se a Lei nordm 4357 de 1964 que facultou agraves pessoas fiacutesicas

abaterem de sua renda bruta as quantias aplicadas na subscriccedilatildeo integral em dinheiro de

accedilotildees nominativas de sociedades anocircnimas que se dediquem a atividades industriais ou

agriacutecolas consideradas pela SUDENE de interesse para o desenvolvimento do Nordeste

Sobreveio entatildeo a Lei 4869 de 1965 que aprovou o Plano Diretor para os anos de 1966 1967

e 1968 modificando alguns dispositivos da legislaccedilatildeo anterior Finalmente a Lei nordm 5508 de

1968 aprova a quarta etapa do Plano Diretor da SUDENE para os anos de 1969 1970 1971

1972 e 1973 (LACOMBE 1969)

A partir de 1967 abriu-se certa flexibilizaccedilatildeo agraves unidades federativas as quais

utilizam esse mecanismo a niacutevel regional ndash podendo a este niacutevel escalar alterar a aliacutequota

Destarte inicia-se um tipo de guerra fiscal regional na atraccedilatildeo de investimentos Para conter

os acircnimos das regiotildees a partir de 1975 o governo federal passou a intervir nas poliacuteticas de

incentivos fiscais mediante criaccedilatildeo do Conselho Nacional de Poliacutetica Fazendaacuteria (CONFAZ)

responsaacutevel pela aprovaccedilatildeo de possiacuteveis concessotildees de incentivos fiscais a novos

investimentos Todavia esse mecanismo era utilizado pela Uniatildeo de forma recorrente

(ALVES 2001)

481

A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 atestou o processo de descentralizaccedilatildeo em curso

iniciado desde a deacutecada de 1970 ampliando a autonomia financeira das unidades federativas e

municiacutepios natildeo precisando mais ―agir de acordo com os interesses no macrocontexto mas

sim a favor de seus proacuteprios interesses (OLIVEIRA 1999 p 120) fazendo surgirem novos

elementos que acirram a guerra fiscal entre os estados Assim ocorre a

[] ampliaccedilatildeo da base de arrecadaccedilatildeo do ICM que passa a ser denominado ICMS

com a incorporaccedilatildeo dos impostos uacutenicos sobre combustiacuteveis e minerais e tambeacutem

com incidecircncia sobre serviccedilos como energia eleacutetrica transportes e

telecomunicaccedilotildees os estados passaram a ter liberdade para fixar as aliacutequotas do

imposto como marca da descentralizaccedilatildeo fiscal da Constituiccedilatildeo de 1988

(CARDOZO 2010 p 22)

As novas regaliaslsquo fiscais de Estados e municiacutepios concederam aos estes novas

ferramentas para competir entre si pela instalaccedilatildeo de empresas o que favoreceu a guerra

fiscal Ademais a crise fiscal das unidades federativas sinalizava a necessidade de uma

repactuaccedilatildeo federativa da qual as reformas fiscal e tributaacuteria seriam um componente essencial

Outro aspecto crucial eacute a crise fiscal da Uniatildeo haja vista que o governo federal jaacute natildeo seria

capaz de consolidar os distintos interesses regionais via redistribuiccedilatildeo de recursos atraveacutes do

orccedilamento fundos puacuteblicos agecircncias de fomento ao desenvolvimento regional etc

(ARRETCHE 1999 GUERATO 2013) Destarte

[] a relativa fragmentaccedilatildeo da Naccedilatildeo ou a impossibilidade de manutenccedilatildeo do pacto

entre as elites regionais seriam ainda agravadas pelas poliacuteticas de orientaccedilatildeo liberal

na medida em que a abertura comercial a prioridade ao pagamento da diacutevida e a

natureza dos cortes orccedilamentaacuterios incentivariam a desarticulaccedilatildeo do mercado interno

e minguariam ainda mais os recursos a serem distribuiacutedos com criteacuterios regionais de

alocaccedilatildeo (ARRETCHE 1999)

Com maior abertura comercial e financeira as escalas global e local ditaram o ritmo

do crescimento econocircmico Agrave eacutepoca anos 1990 disseminou-se a ideia de descentralizaccedilatildeo de

algumas incumbecircncias da Uniatildeo para os Estados Neste contexto a guerra fiscal eacute acirrada

com novos contornos e determinantes como o enfraquecimento das poliacuteticas do Governo

Federal voltadas ao desenvolvimento regional Todavia eacute evidente um elemento impliacutecito que

desmascara o real objetivo da competiccedilatildeo entre estados ―a proacutepria loacutegica de valorizaccedilatildeo do

capital leva os grandes grupos empresariais agrave busca das melhores condiccedilotildees de lucratividade

promovendo verdadeiros leilotildees entre paiacuteses entre regiotildees entre estados e entre cidades

(CARDOZO 2010 p 17) Ademais a tecnologia empregada no processo produtivo na eacutepoca

presente desvincula a empresa dos espaccedilos facilitando sua locomoccedilatildeo para locais que

promovam a valorizaccedilatildeo do capital A reestruturaccedilatildeo produtiva e o avanccedilo tecnoloacutegico

482

propiciaram a diversos setores produtivos diminuiccedilatildeo de escala peso e tamanho sem

comprometimento com os espaccedilos sem tantas restriccedilotildees locacionais gerando assim menores

custos de instalaccedilatildeo e ceacutelere depreciaccedilatildeo (CANO 2008)

As accedilotildees dos estados para Cavalcante e Prado (1998) satildeo falhas e passiacuteveis de

fracasso haja vista que os incentivos fiscais afetam a capacidade tributaacuteria estadual e

destarte afetam a capacidade de arrecadaccedilatildeo futura Para esses autores o uso deste

mecanismo dar-se-ia somente se o mecanismo fiscal natildeo tivesse relaccedilotildees com a capacidade de

gastos da unidade federativa Concomitantemente haacute uma perda significativa analisando o

paiacutes como um todo O estado e o municiacutepio que abrigavam tais empresas deixam de ganhar

receita aleacutem de renda e postos de trabalho (CARDOZO 2010)

Assim sendo em 1994 passa a ganhar ecircnfase agrave utilizaccedilatildeo de fundos puacuteblicos

diretamente vinculados aos orccedilamentos estaduais com renuacutencia fiscal prevista e aprovados

pelas assembleias legislativas dos Estados Acirra-se portanto o conflito federativo e

explicita-se o uso do financiamento do ICMS (GUERATO 2013)

22 Fatores determinantes da Guerra Fiscal

―A guerra fiscal consiste em um fenocircmeno que se acirra nos anos 1990 e tem como

principal caracteriacutestica o embate entre os entes federativos na atraccedilatildeo de empresas para seus

territoacuterios (CARDOZO 2010 p 20) O principal mecanismo utilizado na guerra fiscal eacute o

ICMS imposto de incumbecircncia estadual Ademais o estado que concentrar a maior parte da

estrutura produtiva concentraraacute maior arrecadaccedilatildeo desse imposto tendo assim possibilidade

de negociar reduccedilotildees tributaacuterias as empresas como incentivo a sua instalaccedilatildeo na unidade

federativa Iniciado na deacutecada de 1960 a distribuiccedilatildeo de receitas tributaacuterias informa esse

incipiente processo de lutalsquo fiscal entre os estados conforme Tabela 1

483

Tabela 1 - Distribuiccedilatildeo das receitas tributaacuterias no Brasil de 1960 a 1994 (Em )

Ano Esfera do Governo

Ano Esfera do Governo

Federal Estadual Municipal Federal Estadual Municipal

1960 64 313 47 1982 759 214 27

1965 636 308 56 1983 765 206 28

1970 667 306 27 1984 736 237 27

1971 687 286 27 1985 727 249 24

1972 697 277 26 1986 705 27 25

1973 711 263 25 1987 723 252 25

1974 723 254 23 1988 717 256 27

1975 737 235 28 1989 675 299 27

1976 754 216 3 1990 67 296 34

1977 76 211 29 1991 634 312 54

1978 751 222 28 1992 661 291 48

1979 748 218 34 1993 686 266 47

1980 747 216 37 1994 679 271 51

1981 754 213 33 - - - -

Fonte Cardozo 2010

A tabela 1 indica os percentuais de participaccedilatildeo na receita tributaacuteria de 1960 a 1994

(excetuando-se o periacuteodo 1961-64 e 1966-69) das esferas governamentais No periacuteodo da

ditadura militar a participaccedilatildeo do governo federal superou as demais esferas sendo que a

partir de 1970 tem-se um crescimento de sua participaccedilatildeo na receita tributaacuteria Todavia esse

cenaacuterio se modifica em 1978 com pequenas oscilaccedilotildees positivas e mais negativas a

participaccedilatildeo do governo federal cai paulatinamente e a esfera estadual recebe maior fatia

sobretudo pela descentralizaccedilatildeo poliacutetica a partir da Constituiccedilatildeo de 1988 A despeito desse

processo poliacutetico as unidades federativas passaram a enfrentar fortes restriccedilotildees de recursos

fenocircmeno da reduccedilatildeo de autonomia daquelas forccedilando-as a buscar novas formas de

financiamento de seus dispecircndios como o endividamento externo (LOPREATO 1992 2002)

As unidades federativas utilizam do mecanismo fiscal desde a instauraccedilatildeo do ICM

posteriormente chamado de ICMS No caso dos municiacutepios oferecem isenccedilotildees no ISS e

Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) e Imposto sobre Transferecircncia de Bens Imoacuteveis

(ITBI) Aleacutem destes tem-se tambeacutem doaccedilatildeo de terreno e obras de infraestrutura em

consonacircncia da geraccedilatildeo de empregos diretos e indiretos Tal poliacutetica fere o princiacutepio da

isonomia (CARDOZO 2010)

Cavalcante e Prado (1998) elencam trecircs principais fatores que determinam a guerra

fiscal a relaccedilatildeo entre os governos subnacionais e o governo federal a estrutura da tributaccedilatildeo

484

sobre o valor adicionado e a retomada de fluxos de investimento privado Atinente agrave primeira

a competitividade exagerada entre os estados eacute justificada mediante concessatildeo de benefiacutecios

e incentivos fiscais para atrair investimento interno ou externo a segunda relacionada agrave

tributaccedilatildeo sobre o valor adicionado diz que a base que matem o conflito entre as unidades

federativas no paiacutes decorre da sistemaacutetica de tributaccedilatildeo do ICMS no comeacutercio interestadual

no qual o modelo eacute caracterizado pela competecircncia estadual principal imposto sobre o valor

adicionado ndash o ICMS ndash ao contraacuterio do padratildeo mundial por fim o terceiro fator o

investimento privado seria justificativa adequada para uma guerra fiscal haja vista a fraacutegil

capacidade regulatoacuteria da Uniatildeo Os investimentos externos associaram-se as privatizaccedilotildees e

entrada de grandes empresas o investimento interno associou-se aos processos de

especializaccedilatildeo reduccedilatildeo de gargalos e modernizaccedilatildeo para ganhos de produtividade Destarte a

utilizaccedilatildeo de benefiacutecios e incentivos fiscais por parte dos governos estaduais eacute racional na

medida em que procuram intervir nos processos locacionais de concentraccedilatildeo de investimentos

(CAVALCANTE PRADO 1998)

Este mecanismo de guerralsquo entre estados do Brasil eacute promovido pela

internacionalizaccedilatildeo do mercado nacional acirrado na deacutecada de 1990 na medida em que a

disputa por capitais externos obriga a crescentes concessotildees dos estados Em destaque cabe

frisar que a decisatildeo de onde alocar seus investimentos por parte das empresas jaacute estava

determinada e natildeo eacute modificada agrave luz da guerra de incentivos (DULCI 2002) Ademais as

empresas o fariam de qualquer maneira e ―instalar-se-iam em princiacutepio na middotaacuterea

economicamente central do paiacutes Ora eacute precisamente essa opccedilatildeo que o leilatildeo de incentivos

pretende alterar Trata-se de cobrir com vantagens financeiras o custo da alocaccedilatildeo de uma

empresa em outra parte que natildeo aquela que ela escolheria por uma loacutegica de mercado

(DULCI 2002 p 97) Fatores como qualificaccedilatildeo do proletariado mercado consumidor

infraestrutura formas de escoamento da produccedilatildeo mateacuteria-prima satildeo alguns requisitos que

atraem empresas Contudo grande parte das localidades apresentam estas caracteriacutesticas

fazendo assim valer os incentivos fiscais e financeiros oferecidos pelo poder puacuteblico

(CARDOZO 2010) Neste ambiente os diversos governos subnacionais tornam-se

prisioneiros de um jogo de leilatildeolsquo liderado pelo setor privado que negocia simultaneamente

com vaacuterios Estados de modo que maximiza os benefiacutecios e amplia o custo fiscal

(GUERATO 2013)

485

Mesmo atraindo investimentos privados o porte de inversotildees do agente puacuteblico eacute

limitado quando renuncia ao imposto concedido o que inviabiliza muitas vezes os

investimentos puacuteblicos nos setores sociais Este cenaacuterio eacute reflexo da contemporaneidade do

capitalismo vigente O capital pressiona as transformaccedilotildees dos lugares engendrando espaccedilos

favoraacuteveis a espoliaccedilatildeo de seus excedentes O territoacuterio eacute coagido a oferecer elementos

adequados agrave realizaccedilatildeo com lucro do capital total invertido Exige-se portanto

[] adaptabilidade da geografia para usos especiacuteficos e determinados cobrando alta

funcionalidade da morfologia das localidades que deve se moldar constantemente

aos requisitos impostos pelo continuado processo de criaccedilatildeo e de valorizaccedilatildeo de

riqueza privada Estaacute na origem do capitalismo a capacidade de promover

impulsivamente a estruturaccedilatildeo produtiva do espaccedilo subordinando-o agrave sua loacutegica

interna cujo corolaacuterio eacute a inelutaacutevel confrontaccedilatildeo entre os capitais pelas maiores

taxas de lucratividade (VIEIRA 2009 p 9)

No periacuteodo contemporacircneo de integraccedilatildeo liberalizaccedilatildeo e desregulamentaccedilatildeo dos

mercados nacionais em grau sem paralelo na histoacuteria as tendecircncias do capital agravaram-se

Cabe frisar que a competiccedilatildeo fiscal natildeo se configura enquanto poliacutetica de desenvolvimento e

dessa forma natildeo pode substituir poliacuteticas nacionais e regionais cujo objetivo eacute articular

poliacuteticas setoriais e envolver o conjunto dos Estados na construccedilatildeo e implementaccedilatildeo de um

projeto nacional Todavia Cardozo (2010) reconhece que os governos estaduais possuem

limitaccedilotildees na atraccedilatildeo de investimentos haja vista que a dinacircmica de inversotildees eacute condicionada

a partir de decisotildees privadas sobre as quais fatores macroeconocircmicos que natildeo satildeo

controlados pelas unidades federativas tecircm impactos diretos

Na literatura econocircmica tende-se a encarar a guerra fiscal como elemento fundamental

de eleiccedilatildeo dos espaccedilos pelo capital produtivo atendendo as exigecircncias da globalizaccedilatildeo

―Proclama que bastaria cumprir as exigecircncias da globalizaccedilatildeo desse novo imperialismo da

partilha dos lugares eleitos se ajustando adaptando e submetendo a essa inexoraacutevel

fatalidade para se tornar um espaccedilo receptivo e conquistador da confianccedila dos agentes

econocircmicos mais poderosos (BRANDAtildeO 2004 p 6) As localidades almejam alcanccedilar o

mercado externo sonegando-se as articulaccedilotildees econocircmicas e poliacuteticas endoacutegenas com demais

locais no espaccedilo nacional (CARDOZO 2010) Os que detecircm maior diversificaccedilatildeo da

estrutura produtiva comprometem menor parcela de suas receitas com a guerra fiscal Nesse

contexto observa-se a existecircncia de condiccedilotildees diferenciadas para os Estados no processo de

competiccedilatildeo por investimentos e ainda que a guerra fiscal natildeo rompe com a tendecircncia de

concentraccedilatildeo da atividade produtiva (GUERATO 2013)

486

3 Resultados e Discussotildees

Nesta seccedilatildeo seraacute abordado um panorama da guerra fiscal no Nordeste os fatores que

levam as empresas a se instalarem nesse ambiente e depois focalizar em dados relativos a

alguns estados do Nordeste como nuacutemero de estabelecimentos incentivados pelos governos e

de que forma o emprego estaacute distribuiacutedo nesses setores

O enxugamento da atuaccedilatildeo do Estado como promotor do desenvolvimento regional ao

longo da deacutecada de 1990 associada tambeacutem agrave maior autonomia para unidades federativas

advinda da Constituiccedilatildeo de 1988 possibilitou a autonomia dos governos estatais no que tange

ao desenvolvimento de poliacuteticas que impulsionassem a dinacircmica da economia regional Como

exemplo a praacutetica de incentivos fiscais que tem como objetivo interferir na alocaccedilatildeo do

investimento privado atraindo para os Estados empreendimentos que natildeo o fariam caso o

incentivo natildeo existisse (esta eacute a premissa dos programas)

Os principais programas estaduais dos Estados da Regiatildeo Nordeste de acordo com as

respectivas legislaccedilotildees estaduais satildeo a Lei de Incentivos Fiscais do Piauiacute ndash Lei ndeg 4859 de

27081996 Fundo de Desenvolvimento Industrial do Cearaacute (FDI) ndash Lei Nordm 10367 de

07121979 Programa de Apoio ao Desenvolvimento Industrial do Rio Grande do Norte

(PROADI) ndash Lei Nordm 7075 de 17111997 Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Industrial da

Paraiacuteba (FAIN) ndash Lei ndeg 4856 de 29 de julho de 1986 Programa de Desenvolvimento do

Estado de Pernambuco (PRODEPE) ndash Lei Nordm 11675 de 11111999 Programa Sergipano de

Desenvolvimento Industrial (PSDI) ndashLei nordm 3140 de 23121991

De forma geral estes programas possuem algumas semelhanccedilas dentre as quais se

destacam a prioridade na concessatildeo de incentivo dada aos projetos de investimento que

utilizem mateacuterias-primas e insumos locais explorem potenciais produtivos do Estado

desenvolvam atividades com alto teor tecnoloacutegico e tenham alto poder germinativo em

relaccedilatildeo ao emprego

Os benefiacutecios satildeo concedidos a projetos de implantaccedilatildeo ampliaccedilatildeo relocalizaccedilatildeo

modernizaccedilatildeo e revitalizaccedilatildeo de empreendimentos industriais e agroindustriais bem como ao

desenvolvimento de novos produtos

Poreacutem para se efetuar esses benefiacutecios os Estados disputam entre si a atraccedilatildeo de

novos investimentos As empreses muitas vezes jaacute possuem um interesse preacutevio em um

determinado local e os incentivos fiscais surgem como um bocircnus pela reduccedilatildeo dos custos

(PRADO CAVALCANTI 2000)

487

Na Tabela 2 seratildeo abordados alguns dos principais fatores que determinam a

instalaccedilatildeo de unidades produtivas

Tabela 2 - Fatores determinantes para instalaccedilatildeo de plantas produtivas em outro Estado FATOR RESPOSTAS RELEVANTES ()

Custo de Matildeo-de-Obra 415

Benefiacutecios Fiscais 573

Sindicalismo Atuante na Regiatildeo 244

Saturaccedilatildeo Espacial 146

Vantagens Locacionais Especiacuteficas 390

Proximidade do Mercado 573

Fonte Prado Cavalcanti 2000

Se forem levados em consideraccedilatildeo os fatores mencionados na Tabela 1 as empresas

transferem suas plantas a outros Estados visando alocaccedilatildeo eficiente de recursos havendo

perda apenas na receita tributaacuteria do Estado de origem Caso se deslocasse sem levar em

consideraccedilatildeo a eficiecircncia global na alocaccedilatildeo dos recursos ou seja dando peso indevido ao

incentivo fiscal estariam operando com ineficiecircncia econocircmica

Destarte diante do presente contexto tem-se a anaacutelise dos dados de incentivos fiscais

em alguns estados da Regiatildeo Nordeste

Tabela 3 - Regiatildeo Nordeste ndash Induacutestria de Transformaccedilatildeo e Extrativa Mineral ndash

Estabelecimentos em Atividade - 1995 e 2005

Setores PI CE RN PB PE SE NE

1995 2005 1995 2005 1995 2005 1995 2005 1995 2005 1995 2005 1995 2005

Ext Min 25 59 108 120 125 180 49 89 78 112 19 29 632 1011

Min Natildeo metaacutelicos 56 172 272 493 119 258 132 199 350 617 80 160 1454 2866

Ind Metal 69 129 248 480 49 141 99 160 281 441 63 114 1233 2292

Ind Mec 8 14 72 132 11 66 13 46 70 128 10 31 272 677

Mat Eleacutet e Com 4 12 34 49 4 12 18 21 67 80 3 14 169 296

Mat de Transp 13 18 49 89 29 23 20 18 73 65 22 18 318 397

Mad e Mob 83 121 326 515 116 201 121 135 349 456 91 117 1858 2607

Papel e Graacutefica 70 116 244 479 91 183 103 178 301 474 57 133 1380 2519

Bor couro e fumo 45 60 179 323 50 66 82 103 182 231 36 39 931 1311

Ind Quiacutemica 50 97 233 399 66 128 111 173 350 516 53 90 1345 2372

Ind Tecircxtil 141 284 1423 2390 187 480 325 339 675 1521 116 181 3690 6643

Ind de calccedilados 4 10 85 221 9 27 60 104 37 44 7 15 251 528

Alim E bebidas 274 533 926 1613 391 737 580 884 1498 2377 333 522 6701 9941

Total 842 1625 4199 7303 1247 2502 1713 2449 4311 7062 890 1463 20234 33460

Fonte Elaboraccedilatildeo a partir de dados da RAIS

488

Tabela 4 - Regiatildeo Nordeste Induacutestria de Transformaccedilatildeo e Extrativa Mineral Emprego 1995

e 2005

Setores PI CE RN PB PE SE NE

1995 2005 1995 2005 1995 2005 1995 2005 1995 2005 1995 2005 1995 2005

Ext Min 2071 843 2947 1816 5006 6017 795 1407 1577 1703 923 2054 20473 23764

Min Natildeo metaacutelicos 1382 3177 3934 7495 2372 4506 2810 4421 8021 11179 1967 3608 29357 51746

Ind Metal 478 843 5636 7601 261 1182 981 1572 5921 8429 494 1150 24493 33925

Ind Mec 22 129 1260 2776 397 1366 177 476 1499 2194 40 1016 5501 13788

Mat Eleacutet e Com 31 113 1385 2049 1 123 394 296 5703 4512 17 204 8361 10856

Mat de Transp 143 756 660 2212 136 219 108 105 1667 1857 424 615 4344 13281

Mad e Mob 1246 1276 3320 5619 830 1368 609 981 3023 4225 744 894 19637 24809

Papel e Graacutefica 805 890 3827 5862 1102 1899 1781 2397 6036 7435 647 1143 23611 29753

Bor couro e fumo 1260 839 2538 6009 570 522 1395 3319 2787 2748 456 859 15487 23899

Ind Quiacutemica 927 1700 5647 9284 1246 2969 1884 3132 9781 13157 424 2247 40400 60822

Ind Tecircxtil 4656 3371 34574 52449 9316 20722 7700 11976 18067 18365 6248 6588 93073 132659

Ind de calccedilados 28 52 6339 44268 164 1835 5688 8461 1222 1776 743 2108 14477 81597

Alim E bebidas 3728 8052 33361 35641 14103 15851 16021 18093 85262 84476 6308 10841 252176 300006

Total 16777 22041 105428 183081 35504 58579 40343 56636 150566 162056 19435 33327 551390 800905

Fonte elaboraccedilatildeo a partir de dados da RAIS

No periacuteodo 1994-2006 de acordo com dados fornecidos pela Secretaria da Fazenda

(SEFAZ) e pela Secretaria do Planejamento (SEPLAN) do Estado do Piauiacute por intermeacutedio de

sua Comissatildeo de Incentivos Fiscais (CIF) 410 empresas foram incentivadas e geraram cerca

de 28794 empregos diretos Os investimentos realizados no acircmbito da CIF natildeo ocorreram de

forma contiacutenua e apenas os setores de produtos alimentiacutecios e de minerais natildeo metaacutelicos

receberam incentivos de forma ininterrupta sendo este uacuteltimo o principal receptor dos

investimentos realizados em todo o periacuteodo (cerca de 93) Do total de projetos incentivados

78 tinham por finalidade a implantaccedilatildeo de novas plantas industriais 12 a revitalizaccedilatildeo de

empreendimentos e o desenvolvimento de novos produtos 8 a ampliaccedilatildeo de

empreendimentos jaacute existentes e 2 tinham outras finalidades (decretos e prorrogaccedilotildees)

De acordo com os dados da RAISMTE o nuacutemero de estabelecimentos industriais em

atividade no PI cresceu entre 1995 e 2005 em todos os setores da induacutestria local com

destaque para os setores de minerais natildeo metaacutelicos materiais eleacutetricos e de comunicaccedilotildees e

calccedilados O emprego industrial caiu nos setores extrativos minerais borracha couro e fumo e

tecircxteis e cresceu nos demais especialmente nas induacutestrias mecacircnicas e de materiais de

transporte (todavia estes ainda representam apenas 4 do emprego industrial) Os setores de

minerais natildeo metaacutelicos e de produtos alimentiacutecios e bebidas tambeacutem tiveram taxas bastante

positivas

489

Os dados relativos ao FDI fornecidos pela Secretaria de Desenvolvimento Econocircmico

do Cearaacute (SDE) demonstram que no periacuteodo 1994-2006 1111 empresas foram incentivadas

e geraram 211229 empregos diretos no Estado Os setores incentivados que mais receberam

investimentos no periacuteodo foram os de refino de petroacuteleo e quiacutemicos (cerca de 41) seguidos

dos setores de energia eoacutelica e eleacutetrica (11) tecircxteis e vestuaacuterio (93) O setor de calccedilados

foi responsaacutevel por 28 do investimento realizado Do total de projetos incentivados 91

tinham por finalidade a implantaccedilatildeo de novos empreendimentos industriais 4 e 3 a

ampliaccedilatildeo e modernizaccedilatildeo respectivamente de empreendimentos jaacute existentes e 2 outras

finalidades (relocalizaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo)

A anaacutelise dos dados da RAISMTE mostra que o nuacutemero de estabelecimentos

industriais em atividade no Cearaacute cresceu em todos os setores da induacutestria entre 1995 e 2005

Destaca-se o desempenho da induacutestria de calccedilados que mais que duplicou o nuacutemero de

estabelecimentos industriais fato que pode estar relacionado agrave poliacutetica de incentivos fiscais

estaduais jaacute que este foi o terceiro setor em quantidade de projetos incentivados Este fato eacute

reforccedilado pelo bom desempenho das induacutestrias de produtos alimentiacutecios tecircxteis

metaluacutergicas mecacircnicas e quiacutemicas que tambeacutem tiveram parcela significativa de seus

empreendimentos beneficiados no periacuteodo (aproximadamente 57 do total de empresas

incentivadas pelo FDI) O emprego industrial caiu apenas nos setores extrativos minerais e

cresceu especialmente nos setores de calccedilados materiais de transporte borracha e mecacircnicos

sendo mais um fato que corrobora a contribuiccedilatildeo da poliacutetica de incentivos estaduais visto que

dois destes setores (calccedilados e mecacircnico) figuram entre aqueles que mais geraram empregos

diretos nos acircmbito do FDI

Os dados relativos ao PROADI fornecidos pela Coordenaccedilatildeo de Desenvolvimento

Industrial da Secretaria de Desenvolvimento Econocircmico (SEDECCODIT) evidenciam que

190 empresas foram incentivadas pelo programa e 44929 empregos diretos foram gerados no

periacuteodo 19862006 Ainda no Estado do Cearaacute setorialmente os projetos incentivados

concentraram-se nos gecircneros tradicionais da induacutestria sendo 656 em produtos tecircxteis e

confecccedilotildees 14 em produtos alimentiacutecios e4 em produtos minerais Em relaccedilatildeo ao

emprego direto gerado pelo programa ateacute o iniacutecio de 2000 o nuacutemero de postos gerados por

ano oscilava bastante entretanto a partir de 2003 apesar de natildeo ter alcanccedilado os patamares

de 1998 e 2000 (mais de 6 mil postos) o emprego gerado passou a mostrar uma tendecircncia

crescente

490

Entre 1995 e 2005 o nuacutemero de estabelecimentos industriais em atividade no Estado

cresceu em todos os setores da induacutestria local exceto no setor de materiais de transporte Os

setores mecacircnicos de materiais eleacutetricos metaluacutergicos (gecircneros dinacircmicos) tecircxteis e minerais

natildeo metaacutelicos tiveram os melhores desempenhos Dentre estes setores apenas o de produtos

tecircxteis figura entre os que mais receberam incentivos do PROADI O emprego industrial caiu

apenas no setor de borracha couro e fumo e teve desempenho bastante favoraacutevel em alguns

gecircneros dinacircmicos (materiais eleacutetricos e de comunicaccedilotildees metaluacutergica mecacircnica e quiacutemica)

apesar destes ainda representarem pequena parcela do emprego industrial local (96) dado o

perfil capital intensivo de seus investimentos O setor de calccedilados foi o gecircnero tradicional

com maior aumento no emprego seguido do setor de minerais natildeo metaacutelicos

Entre 1995 e 2005 segundo dados relativos ao FAIN fornecidos pela Companhia de

Desenvolvimento da Paraiacuteba (CINEP) 422 empresas foram incentivadas gerando 51508

empregos diretos Os setores incentivados que mais receberam investimentos no periacuteodo

foram tecircxteis (319) produtos minerais natildeo metaacutelicos (274) produtos alimentiacutecios

(94) e calccediladosartefatos de couro (56) Do total de projetos incentivados 61 tinham

por finalidade a implantaccedilatildeo de novos empreendimentos industriais 13 e 12

respectivamente a revitalizaccedilatildeo e a ampliaccedilatildeo de empreendimentos jaacute existentes e 13 a

relocalizaccedilatildeo de plantas industriais

O emprego direto no Nordeste gerado pelos empreendimentos incentivados foi mais

expressivo nos trecircs primeiros anos analisados e natildeo voltou a atingir em nenhum outro ano o

niacutevel alcanccedilado em 1997 (no total 9477 postos) Entre 1998 e 2003 este nuacutemero sofreu

sucessivas reduccedilotildees (caiu para 1498) exceto em 1999 Em 2004 voltou a crescer e em 2006

houve um salto do nuacutemero de emprego gerado (8355) muito superior agrave meacutedia do periacuteodo

(4292) Os setores incentivados que mais geraram emprego foram de calccedilados e artefatos de

couro (238) tecircxteis (238) minerais natildeo metaacutelicos (14) produtos alimentiacutecios (87) e

vestuaacuterio e artefatos de tecido (64) (LIMA LIMA 2010)

Em relaccedilatildeo ao nuacutemero de estabelecimentos em atividade no Estado houve um

aumento em praticamente todos os setores industriais entre 1995 e 2005 exceto no setor de

materiais de transporte Os setores que mais receberam incentivos atraveacutes do FAIN (a saber

minerais natildeo metaacutelicos produtos alimentiacutecios e bebidas calccedilados e artefatos de couro

vestuaacuterio e artefatos de tecidos materiais plaacutesticos metaluacutergico e tecircxtil) tiveram bom

desempenho neste quesito

491

No periacuteodo 1996-2006 de acordo com dados relativos ao PRODEPE fornecidos pela

Agecircncia de Desenvolvimento de Pernambuco (ADDIPER) 1221 empresas foram

incentivadas gerando 89995 empregos diretos no Estado Os setores incentivados que mais

receberam investimentos no periacuteodo foram os de materiais plaacutesticos (253) produtos

alimentares (122) bebidas (101) quiacutemicos (99) tecircxteis (72) e metaluacutergicos (62)

Do total de projetos incentivados 39 destinavam-se agrave implantaccedilatildeo de novas plantas

industriais 14 agrave ampliaccedilatildeo de empreendimentos em atividade 11 agraves centrais de

distribuiccedilatildeo 11 a projetos de importaccedilatildeo 4 agrave revitalizaccedilatildeo substituiccedilatildeo de produtos e

aumento da competitividade de empreendimentos industriais 3 agrave modernizaccedilatildeo de

estabelecimentos e 18 outras finalidades como migraccedilatildeo reenquadramento terceirizaccedilatildeo e

etc (LIMA LIMA 2010)

De acordo com os dados da RAISMTE o nuacutemero de estabelecimentos industriais em

atividade no Estado de Pernambuco soacute natildeo cresceu entre 1995 e 2005 no setor de materiais

de transporte Os setores tecircxteis mecacircnicos de minerais natildeo metaacutelicos produtos alimentiacutecios

e bebidas papel e graacutefica e metaluacutergicos tiveram os melhores desempenhos sendo alguns

destes setores os que mais tiveram projetos incentivados pelo PRODEPE o que sinaliza uma

relaccedilatildeo positiva entre o aumento no nuacutemero de estabelecimentos industriais no Estado e a

concessatildeo de incentivos O emprego industrial caiu nos setores de materiais eleacutetricos e de

comunicaccedilatildeo borracha couro e fumo e de produtos alimentiacutecios e bebidas apesar deste

uacuteltimo setor ter sido o que mais gerou emprego no acircmbito do PRODEPE entre 1996 e 2006

(fato que pode estar relacionado agrave reestruturaccedilatildeo do setor no Estado) Nos demais setores o

emprego cresceu mas de forma menos expressiva Os setores com melhores resultados foram

os mecacircnicos de calccedilados metaluacutergicos madeira e mobiliaacuterio minerais natildeo metaacutelicos e

quiacutemicos alguns dos quais figuram entre os que mais geraram emprego atraveacutes do PRODEPE

(LIMA LIMA 2010)

Os dados relativos ao PSDI fornecidos pela Companhia de Desenvolvimento

Industrial e de Recursos Minerais de Sergipe (CODISE) demonstram que no periacuteodo de

vigecircncia do programa 1991-200611 360 projetos foram incentivados gerando 25876

empregos diretos no Estado O nuacutemero de empresas incentivadas manteve-se proacuteximo agrave

meacutedia do periacuteodo (45) em todos os anos analisados sendo que 2003 foi o ano mais expressivo

(57 projetos) As empresas beneficiadas pertenciam principalmente aos setores de alimentos

(117) confecccedilotildees (111) moacuteveis e estofados (86) minerais natildeo metaacutelicos (83)

492

produtos quiacutemicos (81) tecircxteis (61) bebidas (58) laticiacutenios (5) e embalagens

(42) Os setores incentivados que mais geraram emprego foram tecircxteis (131)

confecccedilotildees (126) alimentos (127) aquicultura (127) bebidas (62) produtos

quiacutemicos (57) calccedilados (48) moacuteveis e estofados (48) embalagens (41) e minerais

natildeo metaacutelicos (41)

4 Consideraccedilotildees finais

As poliacuteticas de incentivos fiscais tecircm diversos impactos sobre os Estados que as

concedem natildeo apenas satildeo criadas novas oportunidades de investimento e emprego mas

tambeacutem a arrecadaccedilatildeo estadual eacute afetada aleacutem de provaacuteveis custos envolvidos nos programas

como a realizaccedilatildeo de obras de infraestrutura A mensuraccedilatildeo de seus impactos eacute tarefa

complexa pois envolve uma seacuterie de fatores que natildeo satildeo facilmente comparados (PRADO

CAVALCANTI 2000)

Entre 1995 e 2005 tanto para a Regiatildeo Nordeste quanto para os Estados

individualmente houve um aumento no nuacutemero de estabelecimentos e do emprego

industriais Em relaccedilatildeo ao nuacutemero de estabelecimentos Rio Grande do Norte Piauiacute e Cearaacute

tiveram os melhores desempenhos e Paraiacuteba o desempenho menos expressivo Jaacute em relaccedilatildeo

ao emprego industrial Cearaacute e Sergipe alcanccedilaram as primeiras posiccedilotildees e Pernambuco teve o

pior desempenho O Cearaacute foi o uacutenico estado que figurou entre os primeiros colocados nas

duas situaccedilotildees

Foi possiacutevel observar uma relaccedilatildeo positiva ainda que natildeo muito significativa entre o

comportamento do emprego industrial e a concessatildeo de incentivos fiscais visto que em geral

os setores com maiores taxas de variaccedilatildeo no emprego entre 1995 e 2005 foram os principais

beneficiados pelos programas estaduais

De forma geral os programas estaduais de incentivo agrave induacutestria baseados na

concessatildeo de incentivos fiscais parecem em alguma medida auxiliar a dinacircmica econocircmica

estadual e consequentemente da regiatildeo Contudo como os incentivos natildeo satildeo os uacutenicos

fatores que influenciam as decisotildees de investimento dos agentes privados a maior parte dos

empreendimentos que decidem se instalar no Nordeste ainda que considerem os incentivos

oferecidos concentra-se 1) nas aacutereas mais desenvolvidas de seus Estados que possuem

melhor infraestrutura de transporte comunicaccedilotildees e financeira aleacutem de trabalhadores com

maiores niacuteveis de qualificaccedilatildeo etc fatores essenciais para o bom funcionamento dos

mesmos e 2) em setores jaacute estabelecidos na regiatildeo o que pode estar contribuindo para

493

aumentar o custo fiscal envolvido nas operaccedilotildees realizadas bem como pode limitar os

impactos das poliacuteticas Este fato evidencia a necessidade de pensar no desenvolvimento como

um projeto mais amplo que englobe a melhoria de aspectos econocircmicos e sociais da

regiatildeoEstados visto que ao disponibilizar melhor infraestrutura logiacutestica e de matildeo-de-obra

(qualificaccedilatildeo e treinamento de trabalhadores) o EstadoRegiatildeo ganha um diferencial em

relaccedilatildeo agrave atratividade de novas induacutestrias

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XVIII Semana de Economia

Poliacutetica Industrial e o Papel da Induacutestria na

Retomada do Crescimento Econocircmico Brasileiro

REALIZACcedilAtildeO

Ficha Catalograacutefica Elaborada pela Biblioteca Central da URCA

Bibliotecaacuteria - Ana Paula Saraiva de Sousa - CRB 31000

Crato-CE

CA de Economia

Martins Filho

Departamento de

Economia

A532 Anais da XVIII Semana de Economia poliacutetica industrial e o

papel da induacutestria na retomada do crescimento econocircmico brasileiro de

10 a 14 de setembro de 2018 Organizadores Maria Isadora Gomes de

Pinho Wellington Ribeiro Justo e Sara Ferro de Melo ndash Crato-CE

URCADepartamento de Economia 2018

495p il Material digital

ISSN 2179-2550 (v4)

1 Economia regional e urbana 2 Economia agriacutecola 3 Meio

ambiente e desenvolvimento sustentaacutevel 4 Economia social 5

Economia industrial I Tiacutetulo II URCA ndash Departamento de Economia

CDD 330

3

EDITORIAL

COMISSAtildeO GERAL

Prof Dr Luiacutes Abel da Silva Filho

Marcelo Henrick Alves dos Santos

Joice Pereira de Souza

COMISSAtildeO DE LOGIacuteSTICA

Guilherme Sousa Brandatildeo

Catia Kele Gonccedilalves da Silva

COMISSAtildeO CIENTIacuteFICA

Prof Dr Wellington Ribeiro Justo

Sara Ferro de Melo

Maria Isadora Gomes de Pinho

COMISSAtildeO DE DIVULGACcedilAtildeO

Monica Luacutecio e Silva

Ismael Martins Landim

COMISSAtildeO DE INFRAESTRUTURA

EXTERNA

Prof Ma Aline Alves de Oliveira

Thierry Barros

Natanael Pessoa Lustoza

COMISSAtildeO DE INFRAESTRUTURA

INTERNA

Wellington Rodrigues da Silva

Joana Priscila Barbosa da Silva

PRESIDENTE DA COMISSAtildeO

ORGANIZADORA

Joice Pereira de Souza

COMISSAtildeO ORGANIZADORA

DOCENTES

Prof Dr Luiacutes Abel da Silva Filho

Prof Dr Wellington Ribeiro Justo

Profordf Ma Aline Alves de Oliveira

DISCENTES

Joice Pereira de Souza

Ismael Martins Landim

Catia Kele Gonccedilalves da Silva

Sara Ferro de Melo

Monica Luacutecio e Silva

Marcelo Henrick Alves dos Santos

Joana Priscila Barbosa da Silva

Thierry Barros

Wellington Rodrigues da Silva

Maria Isadora Gomes de Pinho

Natanael Pessoa Lustoza

Guilherme Sousa Brandatildeo

4

PARECERISTAS

Alan Francisco Carvalho Pereira (UNIVASF)

Andreacutea Ferreira da Silva (UFPB- PPGE)

Aacuteydano Ribeiro Leite (URCA)

Diego Palmiere Fernandes

Eryka Fernanda Miranda Sobral (UFPB-PPGE)

Francisco do Olsquo de Lima Junior (URCA)

Joseacute Maacutercio Santos (URCA)

Josueacute Nunes de Arauacutejo Junior (PPGECON)

Keacutelvio Felipe dos Santos (IF- Iguatu- UNICAMP)

Maria Jeanne Gonzaga de Paiva (URCA)

Monaliza Ferreira de Oliveira (UFPE-PPGECON)

Poema Iacutesis Andrade de Souza (UFRPE)

Roberta de Moraes Rocha (UFPE- PPGECON)

Rogeacuterio Moreira de Siqueira (URCA)

Silvana Nunes de Queiroz (URCA)

Soacutenia Maria Pereira Fonseca Oliveira (UFRPE- PPGECON)

Wellington Ribeiro Justo (URCA- PPGECON)

5

SUMAacuteRIO

Eixo 1 Economia Regional e Urbana

Nordm Tiacutetulo e autores Pg

01

DINAcircMICA ECONOcircMICA NORDESTINA E EMPREGO FORMAL

INDUSTRIAL O CASO DOS ESTADOS DA BAHIA E CEARAacute ndash 20032013 09-30

Francisco do Olsquo de Lima Juacutenior Joseacute Ediglecirc Alcantara Moura

02

ANAacuteLISE DOS PRINCIPAIS ASPECTOS DA REDE URBANA E DAS CIDADES

MEacuteDIAS CEARENSES NOS ANOS 2000 31-50

Denis Fernandes Alves Carlos Eduardo Pereira do Nascimento Francisco do Olsquo de Lima

Juacutenior

03

DESENVOLVIMENTO ECONOcircMICO DOS MUNICIacutePIOS DE MEacuteDIO PORTE

DO CEARAacute NOS ANOS 2000 E 2010 51-69

Nataniele dos Santos Alencar Wellington Ribeiro Justo Jamily Freire Gonccedilalves Matheus

Oliveira de Alencar Wagner Fernandes de Calda

04

IacuteNDICE DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL MUNICIPAL UMA

APLICACcedilAtildeO DA DIMENCcedilAtildeO ECONOcircMICA SOBRE A REGIAtildeO

METROPOLITANA DE FORTALEZA ndash RMF 70-91

Marcelo Henrick Alves dos Santos Matheus Oliveira de Alencar Wellington Ribeiro

Justo

05

NIacuteVEL DE SATISFACcedilAtildeO DOS CLIENTES EM RELACcedilAtildeO AOS SERVICcedilOS

PRESTADOS PELAS AGEcircNCIAS BANCAacuteRIAS NO MUNICIacutePIO DO IGUATU

CEARAacute 92-106

Antocircnia Karine Gomes dos Santos Gerlacircnia Maria Rocha Sousa Otaacutecio Pereira Gomes

Dacircmaris Costa Frutuoso Andreacutea Ferreira da Silva

06

CRISES INTERNACIONAIS DOS ANOS 1990 A ORIENTACcedilAtildeO EXTERNA DO

NORDESTE BRASILEIRO DENTRO DESTE CONTEXTO 107-128

Marcelo Henrick Alves dos Santos Christiane Luci Bezerra Alves

07

CARACTERIacuteSTICAS E PRINCIPAIS DESTINOS DO INVESTIMENTO

ESTRANGEIRO DIRETO NO BRASIL NO PERIacuteODO DE 2010 E 2015 129-147

Marta Rodrigues Tavares Sara Gonccedilalves Pereira Christiane Luci Bezerra Alves Adriana

Correia Lima

6

08

TESTANDO A HIPOacuteTESE DE CONVERGEcircNCIA NA TAXA DE

CRIMINALIDADE DOS MUNICIacutePIOS CEARENSES UMA ANAacuteLISE Agrave LUZ DO

PROGRAMA RONDA DO QUARTEIRAtildeO 148-173

Otoniel Rodrigues dos Anjos Junior Andreacutea Ferreira da Silva Eryka Fernanda Miranda

Sobral Magno Vamberto Batista da Silva

09

ANAacuteLISE DAS PAUTAS DE EXPORTACcedilAtildeO E IMPORTACcedilAtildeO DA PARAIacuteBA

POR MEIO DA COMPETITIVIDADE CONCENTRACcedilAtildeO E DOS FLUXOS

BILATERAIS NO PERIacuteODO ENTRE 2000 E 2017 174-195

Kassia Larissa Abrantes Alves Soraia Santos da Silva Maria Isadora Gomes de Pinho

10

DESENVOLVIMENTO REGIONAL UMA VISAtildeO SOBRE AS POLIacuteTICAS

PUacuteBLICAS E A URBANIZACcedilAtildeO NA MICRORREGIAtildeO DE IGUATU 196-216

Eliwelton Carlos Silva Marcelo Oliveira da Silva Eacuterico Robsom Duarte de Sousa

Eixo 2 Economia Agriacutecola Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentaacutevel

Nordm Tiacutetulo e autores Pg

11

O PROGRAMA DE AQUISICcedilAtildeO DE ALIMENTOS (PAA) E SUA

CONTRIBUICcedilAtildeO PARA OS AGRICULTORES FAMILIARES DO BRASIL 217-237

Ana Paula Pereira Janiele de Brito de Souza

12

ANAacuteLISE DO NIacuteVEL DE CAPITAL SOCIAL DA AGRICULTURA NO

TERRITOacuteRIO DA CIDADANIA CARIRI ndash CE 238-256

Dacircmaris Costa Frutuoso Gerlacircnia Maria Rocha Sousa Otaacutecio Pereira Gomes Antocircnia

Karine Gomes dos Santos Andreacutea Ferreira da Silva

13

CRISES HIacuteDRICAS NO CEARAacute DE 2012 A 2016 FENOcircMENO CLIMAacuteTICO OU

SOacuteCIOECONOcircMICO 257-276

Namyres Pereira Santos Rogeacuterio Moreira de Siqueira Jamily Freire Gonccedilalves

14

ECONOMIA SOLIDAacuteRIA E SUSTENTABILIDADE UM ESTUDO DE CASO DA

ASSOCIACcedilAtildeO DE ARTESAtildeOS DE SERRINHA (ARTEFIBRA) NO MUNICIacutePIO

DE GRANJEIRO ndashCE 277-289

Gessica Taciana Pereira Lima Adriana Correia Lima Franca Nayana Tavares Feitosa

15

IacuteNDICE DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL NAS UNIDADES

FEDERATIVAS BRASILEIRAS EM 2014 290-310

Renata Beniacutecio de Oliveira Eliane Pinheiro de Sousa

16 INSTRUMENTOS DE GESTAtildeO MUNICIPAL CONTRIBUICcedilOtildeES DOS 311-333

7

MUNICIacutePIOS PARA AS POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS AMBIENTAIS E DOS

RECURSOS HIacuteDRICOS NO NORDESTE BRASILEIRO

Janaildo Soares de Sousa Francisco Aquiles de Oliveira Caetano Marisa Guilherme da

Frota Andreacutea Ferreira da Silva

17

ATIVIDADE DE CERAcircMICA VERMELHA E MEDIDAS MITIGADORAS DE

IMPACTOS AMBIENTAIS UM ESTUDO DE CASO NO MUNICIacutePIO DE CRATO

(CE) 334-354

Ismael Martins Landim Maria Larissa Bezerra Batista Christiane Luci Bezerra Alves

Valeacuteria Feitosa Pinheiro

18

TURISMO COMUNITARIO ESTUDO DE CASO DA COOPERATIVA MISTA DE

PAIS E AMIGOS DA FUNDACcedilAtildeO CASA GRANDE-COOPAGRAN NO

MUNICIPIO DE NOVA OLINDA-CE 355-371

Mariany Lopes Lopes da Silva Adriana Correia Lima Franca Christiane Luci Bezerra

Alves Juliete Aquino da Silva Nayana Tavares Feitosa

Eixo 3 Economia Social Economia do Trabalho e Demografia

Nordm Tiacutetulo e autores Pg

19

ANAacuteLISE DO DESENVOLVIMENTO DOS PROGRAMAS FINANCIADOS PELO

FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCACcedilAtildeO (FNDE) EM

ESCOLA PUacuteBLICA DA EDUCACcedilAtildeO BAacuteSICA DE JUAZEIRO DO NORTE ndash CE

REFLEXOS ECONOcircMICOS NA EDUCACcedilAtildeO

372-385

Paulo Ricardo Batista

20

PERFIL DA MULHER NO SETOR INDUSTRIAL FORMAL CEARENSE ndash 2016

386-401 Joana Priscila Barbosa da Silva Natanael Pessoa Lustoza Alayanna Darlly Araujo dos

Santos Carlos Eduardo Pereira do Nascimento

21

O IMPACTO DO PROUNI SOBRE DESEMPENHO ACADEcircMICO DOS

DISCENTES EM 2014 402-423

Fransuellen Paulino Santos Andreacutea Ferreira da Silva Cristiana Tristatildeo Rodrigues

22

EFICIEcircNCIA DOS GASTOS PUacuteBLICOS EM EDUCACcedilAtildeO NO NORDESTE UMA

ABORDAGEM EM TREcircS ESTAacuteGIOS 424-447

Wallace Patrick Santos de Farias Souza Maacuterio Seacutergio Nogueira de Souza Etevaldo

Almeida Silva Andreacutea Ferreira da Silva

23 COMPORTAMENTO DO EMPREGO FORMAL NO BRASIL ENTRE 2010-2016 448-472

8

Natanael Pessoa Lustoza Joana Priscila Barbosa da Silva Carlos Eduardo Pereira do

Nascimento Guilherme Sousa Brandatildeo

24

IMPACTO FINANCEIRO DA CESTA BAacuteSICA NO SALAacuteRIO MEacuteDIO MENSAL

DOS ASSALARIADOS DE VAacuteRZEA ALEGRE-CE 459-472

Joaquim Anderson Oliveira Brito

Eixo 4 Economia Industrial

Nordm Tiacutetulo e autores Pg

25

REFLEXOtildeES DA GUERRA FISCAL NA REGIAtildeO NORDESTE NOS ANOS 1990

473-495 Carlos Eduardo Pereira do Nascimento Guilherme Sousa Brandatildeo Rosemary de Matos

Cordeiro Natanael Pessoa Lustoza Joana Priscila da Silva Barbosa

9

DINAcircMICA ECONOcircMICA NORDESTINA E EMPREGO FORMAL INDUSTRIAL

O CASO DOS ESTADOS DA BAHIA E CEARAacute ndash 20032013

Francisco do Orsquo de Lima Juacutenior Professor Adjunto do Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri (URCA)

Pesquisador Liacuteder do GETEDRU (DEURCA) e Doutor em Desenvolvimento Econocircmico Aacuterea de

Concentraccedilatildeo em Economia Regional e Urbana pelo IEUNICAMP E-mail

limajunior_economiayahoocom Cel (88) 9 9285 0545

Joseacute Ediglecirc Alcantara Moura Bacharel em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA) e Pesquisador do

GETEDRU E-mail edigleeconomiagmail Cel (88) 9 9285 0545

10

DINAcircMICA ECONOcircMICA NORDESTINA E EMPREGO FORMAL INDUSTRIAL

O CASO DOS ESTADOS DA BAHIA E CEARAacute ndash 20032013

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo estudar a dinacircmica econocircmica nordestina tendo como

fundamento a evoluccedilatildeo do emprego industrial formal nos estados do Cearaacute e da Bahia

durante o periacuteodo de 2003 e 2013 A definiccedilatildeo destes estados como estudo de caso se justifica

em um conjunto de aspectos como i) sumarizam o perfil estrutural do conjunto das

economias regionais ii) trata-se da economia nordestina mais dinacircmica a Bahia e outra que

assume padratildeo intermediaacuterio o Cearaacute e iii) como decorrecircncia a Bahia possui a economia

industrial mais integrada agrave nacional e por isso bem mais diversificada ao passo que o Cearaacute

embora tenha passado por transformaccedilotildees consideraacuteveis rumo agrave integraccedilatildeo e diversificaccedilatildeo

ainda apresenta uma estrutura produtiva pautada prioritariamente em bens tradicionais Foram

utilizados dados secundaacuterios da Relaccedilatildeo Anual de Informaccedilotildees Sociais (RAIS) do Ministeacuterio

do Trabalho e Emprego (MTE) referentes agrave caracterizaccedilatildeo da atividade industrial nestas duas

economias bem como o perfil dos seus trabalhadores Observou-se que a atividade industrial

baiana apresentou maior diversificaccedilatildeo nos seus setores em que possui empreendimentos

com maior nuacutemero de empregados No caso cearense apresenta um modelo mais pautado em

setores tradicionais como tecircxtil alimentos e bebidas aleacutem da forte participaccedilatildeo no ramo de

calccedilados Isto ocorre apesar da diversificaccedilatildeo mais recente avanccedilar para ramos como o caso

da ampliaccedilatildeo da Induacutestria de Material de Transporte Ainda assim sua estrutura industrial e o

perfil do emprego formal eacute predominantemente pautado em setores mais tradicionais

Palavras-chaves Emprego industrial Bahia Cearaacute Dinacircmica econocircmica

ABSTRACT

This work has as objective to study the northeastern economic dynamics and is based upon

the evolution of formal manufacturing employment in the states of Cearaacute and Bahia during

the period 2003 to 2013 The definition of these states as a case study is justified in a number

of aspects such as i) summarize the structural profile of all the regional economies ii) it is the

most dynamic economy Northeast Bahia and another that standard intermediate assume

Cearaacute and iii) as a result Bahia has the most integrated national industrial economy and so

much more diverse while Cearaacute although it has undergone considerable changes towards

integration and diversification still has a productive structure guided primarily in property

Traditional Secondary data from the (RAISMTE) information database related to

characterizing the industrial activity in these two economies as well as the profile of its

workers It was observed that the Bahialsquos industrial activity is more diversification in their

sectors The state has companies with the greatest number of employees But the Cearaacute case

presents a model guided by more traditional sectors such as textiles food and beverages as

well as strong participation in the footwear industry This occurs despite the latest move

towards diversification branches as the case of expansion of industry Transport Material Still

its industrial structure and the profile of the formal employment is predominantly ruled in

more traditional sectors

Keywords Industrial employment Bahia Cearaacute Economic dynamics

11

1Introduccedilatildeo

A dinacircmica econocircmica da Regiatildeo Nordeste do Brasil durante as duas uacuteltimas deacutecadas

incorporou vetores de transformaccedilatildeo que acompanham os movimentos do processo de

reestruturaccedilatildeo econocircmica vivenciado em acircmbito global Entretanto as particularidades do

desenvolvimento regional e seu papel face agrave economia nacional natildeo deixam de serem

importantes acreacutescimos que determinam os resultados observados nesta realidade

Marcadamente considerada como o espaccedilo nacional que inicia a mobilizaccedilatildeo com as

preocupaccedilotildees com a questatildeo regional brasileira apoacutes a etapa de intervenccedilatildeo planejada via

accedilotildees da Superintendecircncia do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e consubstanciada

no modelo desenvolvimentista de poliacuteticas puacuteblicas assiste-se a uma gradativa transformaccedilatildeo

econocircmica Vencem-se as etapas de conexatildeo do mercado nacional com a consolidaccedilatildeo da fase

de integraccedilatildeo produtiva conforme atestaram os principais estudiosos na aacuterea1

Ainda assim com base nas decorrecircncias deste epiacutelogo acerca da promoccedilatildeo do

desenvolvimento nordestino pode-se considerar duas exterioridades relevantes A primeira de

ordem mais macroestrutural refere-se ao esvaziamento das poliacuteticas de desenvolvimento e

com ele o fim das poliacuteticas regionais advindas no bojo da longa crise do Estado Nacional que

culmina com a emergecircncia do paradigma de regulaccedilatildeo neoliberal A prioridade da accedilatildeo

puacuteblica volta-se exclusivamente para o macroconjunturalismo contido na busca do controle

inflacionaacuterio e equiliacutebrio das contas puacuteblicas em que mergulham as economias latino-

americanas durante as duas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX e iniacutecio da deacutecada seguinte

Nos anos subsequentes como saiacuteda para a ausecircncia da promoccedilatildeo regional assistiu-se

ao predomiacutenio dos localismos como forma de pensar as questotildees do desenvolvimento

capitalista e suas espacialidades (BRANDAtildeO 2007) Os resultados mais imediatos foram agrave

promoccedilatildeo da guerra de lugares seja contida nas estrateacutegias para atraccedilatildeo de investimos

puacuteblicos ou na busca de arrojar investimentos produtivos privados em um processo de

relocalizaccedilatildeo produtiva

A segunda exterioridade mais particular agrave regiatildeo Nordeste estaacute relacionada aos

efeitos intra- regionais da integraccedilatildeo produtiva A desconcentraccedilatildeo produtiva instaura uma

dinacircmica de desigualdade no espaccedilo nordestino sendo privilegiadas as maiores economias

Dos projetos liberados pela SUDENE ateacute meados do dececircnio de 1980 643 do montante

1 Dentre estes ver Cano (2007) Arauacutejo (1995) e Guimaratildees Neto (1989)

12

total dos investimentos estavam localizados nos estados de Bahia Pernambuco e Cearaacute suas

economias mais importantes Este percentual eacute reproduzindo tambeacutem para o nuacutemero de

empregos gerados por tais investimentos (SAMPAIO FILHO 1985 p 68) Tal padratildeo cujo

focirclego maior ocorre com a descontraccedilatildeo virtuosa se manteacutem na fase posterior de

desconcentraccedilatildeo espuacuteria2

Sendo assim o presente trabalho objetiva estudar a dinacircmica econocircmica nordestina

tendo como fundamento a evoluccedilatildeo do emprego industrial formal de dois destes estados

durante o periacuteodo de 2003 e 2013 A definiccedilatildeo destes estados como estudo de caso se justifica

num conjunto de aspectos como i) sumarizam o perfil estrutural do conjunto das economias

regionais ii) trata-se da economia nordestina mais dinacircmica a Bahia e outra que assumem

padratildeo intermediaacuterio o Cearaacute e iii) como decorrecircncia a Bahia possui a economia industrial

mais integrada agrave nacional e por isso bem mais diversificada ao passo que o Cearaacute embora

tenha passado por transformaccedilotildees consideraacuteveis rumo agrave integraccedilatildeo e diversificaccedilatildeo ainda

apresenta uma estrutura produtiva pautada prioritariamente em bens tradicionais

Para alcanccedilar o objetivo proposto o trabalho estaacute dividido em duas partes aleacutem desta

Introduccedilatildeo e das Consideraccedilotildees Finais Numa primeira sessatildeo satildeo traccediladas algumas notas

sobre a dinacircmica econocircmica nordestina na fase de auge e posterior esvaziamento do aparato

de suporte agraves accedilotildees desenvolvimentista na regiatildeo Esta sessatildeo se justifica pela necessidade de

historicizar e contemporaneizar a industrializaccedilatildeo regional com destaque para estes dois

estados Na sessatildeo seguinte satildeo explorados os aspectos do emprego industrial formal nas

economias cearense e baiana

Admitiu-se como questionamento problematizadora seguinte indagaccedilatildeo como se

comportam as variaacuteveis que definem o padratildeo do emprego formal industrial nos estados doa

Bahia e do Cearaacute durante os anos de 2003 e 2013 A hipoacutetese norteadora a ser seguida para

resposta a tal questionamento eacute de que as duas estruturas continuam a se apresentar de forma

distinta ainda que o processo de acumulaccedilatildeo seja homogeneizador A Bahia permanece com

uma estrutura de emprego mais diversificada e dinacircmica ao passo que o Cearaacute manteacutem um

perfil tradicional natildeo obstante a modernizaccedilatildeo que vivenciou nos uacuteltimos trinta anos

2 As distinccedilotildees do processo de industrializaccedilatildeo do Brasil poacutes-1930 e suas demarcaccedilotildees em termos espaciais satildeo

caracterizados por Cano (2008 p 36) como virtuoso ateacute a deacutecada de 1970 (que ocorre num quadro de

crescimento nacional e avanccedilo da integraccedilatildeo produtiva) e a partir de entatildeo espuacuterio (com arrefecimento das taxas

de crescimento crise de endividamento decliacutenio da accedilatildeo governamental nas poliacuteticas de desenvolvimento

regional) Nesta segunda fase eacute recorrente o uso de instrumentos que evocam os localismos como o fadado

exemplo da ―guerra fiscal

13

Utilizou-se de abordagem metodoloacutegica descritiva estrutural recorrendo a banco de

informaccedilotildees da Relaccedilatildeo Anual de Informaccedilotildees Sociais do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego

(RAISMTE) por ser considerado o banco de informaccedilotildees mais completas e consolidadas

atinentes agraves variaacuteveis de emprego formal Foram explorados variaacuteveis concernentes tanto agraves

caracteriacutesticas da induacutestria quanto o perfil dos trabalhadores Para as caracteriacutesticas da

induacutestria foram exploradas as seguintes informaccedilotildees nuacutemero de estabelecimentos industriais

nuacutemero de trabalhadores por ramo de atividade econocircmica quantidade de empregados por

setor da Induacutestria de Transformaccedilatildeo distribuiccedilatildeo do emprego formal industrial por tamanho

do estabelecimento Jaacute no perfil dos trabalhadores a investigaccedilatildeo se pautou em nuacutemero de

empregados formais na atividade industrial segundo sexo faixa etaacuteria grau de instruccedilatildeo

tempo de serviccedilo e faixa de remuneraccedilatildeo

2 Notas sobre a dinacircmica econocircmica nordestina no periacuteodo de 1970 ndash 2013 do

desenvolvimentismo ao esvaziamento das poliacuteticas de desenvolvimento regional

Conforme jaacute apontado na Introduccedilatildeo em termos de desenvolvimento regional a

poliacutetica orquestrada pela SUDENE promoveu relativa modernizaccedilatildeo nordestina modificando

o territoacuterio regional com ampliaccedilatildeo diversificaccedilatildeo e integraccedilatildeo do parque industrial regional

ao nacional

No que se refere agrave integraccedilatildeo da economia nacional houve forte tendecircncia de

reproduccedilatildeo de uma divisatildeo espacial do trabalho entre as regiotildees brasileiras Ao passo que

gradativamente a atividade do Sudeste assume padratildeo caracterizado por serviccedilos e setores

mais modernos e intensivos em capital houve implantaccedilatildeo de ramos complementares no

espaccedilo nordestino cujos aspectos mais gerais seguiam o maior uso da matildeo de obra eoutros

setores voltados para o fornecimento de insumos (LIMA 2005)

O vieacutes desconcentrador imprime intra regionalmente sua caracteriacutestica concentradora

inerente agrave proacutepria acumulaccedilatildeo capitalista de privilegiar determinados espaccedilos Ainda que

reconhecendo tal caracteriacutestica a contraditoriedade se apresenta nas formas assumidas por

uma poliacutetica puacuteblica que tinha por principal intento a reduccedilatildeo de disparidades regionais

Na promoccedilatildeo do desenvolvimento via SUDENE que teve a sua loacutegica de

esvaziamento face ao que preconizava os princiacutepios fundadores jaacute nos anos 1970 foram

14

privilegiadas as maiores economias3 Dos projetos liberados pela Superintendecircncia ateacute

meados do dececircnio de 1980 643 do montante total dos investimentos estavam localizados

nos estados de Bahia Pernambuco e Cearaacute suas economias mais importantes Este percentual

eacute reproduzindo tambeacutem para o nuacutemero de empregos gerados por tais investimentos conforme

eacute visualizado na Tabela 1 Tal padratildeo cujo focirclego maior ocorre com a descontraccedilatildeo virtuosa

se manteacutem na fase posterior de desconcentraccedilatildeo espuacuteria

Tabela 1 ndash Nordeste Projetos aprovados pela SUDENE por Unidade Federada (1960ndash1984)1

Estados Nuacutemero de

Projetos

Investimento Total Empregos Diretos

Valor

Maranhatildeo

Piauiacute

Cearaacute

Rio Grande do Norte

Paraiacuteba

Pernambuco

Alagoas

Sergipe

Bahia

123

122

384

134

291

523

65

61

447

1884377

894894

2102242

1344668

1169435

4369174

828756

839061

8910817

78

37

88

56

49

182

34

35

373

16158

13454

70336

34146

36494

121076

12822

13322

104538

TOTAL 2335 23965302 1000 460431

Fonte Sampaio Filho (1985 p 68) apud Lima Juacutenior (2014 p 52) 1 Estatildeo excluiacutedos os projetos provados para o norte dos estados de Minas Gerais e Espiacuterito Santo aacutereas de

atuaccedilatildeo da SUDENE

Como forma de superaccedilatildeo da crise do paradigma desenvolvimentista na deacutecada de

1990 disseminou-se amplamente o ideaacuterio da descentralizaccedilatildeo tanto no acircmbito tributaacuterio

quanto na promoccedilatildeo do crescimento econocircmico e um cenaacuterio de esfacelamento do Estado

Nacional decorrente do quadro de crise de endividamento culminando no aniquilamento das

poliacuteticas de desenvolvimento regional de acircmbito federal Coube como escape aos governos

estaduais mesmo com suas financcedilas altamente debilitadas utilizarem-se de instrumentos de

guerra fiscal para atraccedilatildeo de investimentos (PACHECO 1996)

Como instrumento de transferecircncia liquida de recursos para o setor privado os

governos subnacionais passam a atrair empresas atraveacutes de incentivos fiscais a exemplo do

Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) o que impotildeem relativa

3 Para esvaziamento da SUDENE enquanto instituiccedilatildeo promotora de desenvolvimento regional ver Lima Juacutenior

(2014b)

15

seletividade na localizaccedilatildeo industrial Diante de uma poliacutetica macroeconocircmica baseada em

elevadas taxas de juros domeacutesticas cacircmbio apreciado o mecanismo mais eficiente para

contrabalanccedilar os efeitos negativos da abertura comercial e da falta de investimentos

estimulados pelo governo federal baseou-se na ―guerra fiscal Ademais conforme Cano

(2008) foi agrave ferramenta mais niacutetida de ruptura com federalismo na promoccedilatildeo do

desenvolvimento e privileacutegio agraves instacircncias locais visto que

Muitos governos locais (estaduais e municipais) como medida de defesa ndash mas

tambeacutem por acreditarem na ideologia do Poder Local - lanccedilaram-se agrave infeliz

empreitada da ―guerra fiscal submetendo-se a verdadeiros leilotildees de localizaccedilatildeo

industrial promovidos por empresas de grande porte (em geral transnacionais)

transferindo dinheiro de pobres para milionaacuterios e fomentando a localizaccedilatildeo pelo

subsiacutedio e pelo trabalho perifeacuterico ainda mais precarizado e barato (CANO 2008

p34)

Para Pochmann (2001) as empresas tendiam a decidir sua localizaccedilatildeo jaacute com base nos

custos atrativos de matildeo-de-obra e de transportes Tal elemento marcava a transferecircncia para o

Nordeste ficando a decisatildeo de localizaccedilatildeo intra- regional ao leilatildeo de incentivos ofertados

Numa perspectiva mais ampla vale dizer que ganhou legitimidade as inserccedilotildees

pautadas nos aspectos de competitividade ancoradas na emergecircncia do local em sintonia com

a loacutegica de divisatildeo espacial do trabalho Arranjos de poliacuteticas foram implementados tendo

como consequumlecircncia da promoccedilatildeo de ajustes espaciais com as atividades econocircmicas

imprimindo movimentos locacionais que traduzem a busca por reduccedilatildeo de custos

Em tal loacutegica os territoacuterios com fatores como matildeo de obra barata e abundante

infraestrutura disponibilidade de mateacuterias primas e algumas outras dotaccedilotildees e atributos

positivos em termos locacionais passam a ser atrativos e as vantagens oferecidas pelos

poderes puacuteblicos em suas diversas esferas somam-se como determinantes (MACEDO 2010)

Tal conjuntura foi decisiva no tocante agraves espacialidades econocircmicas da Regiatildeo

Nordeste nas uacuteltimas trecircs deacutecadas Como se destacou anteriormente enquanto plataforma das

transformaccedilotildees econocircmicas decorrentes da inserccedilatildeo brasileira - e nordestina em particular - ao

contexto global de reestruturaccedilatildeo a regiatildeo assumiu funccedilatildeo importante da configuraccedilatildeo da

divisatildeo espacial do trabalho

Eacute importante reaver que na fase de accedilatildeo mais direta da SUDENE que vai de meados

dos anos 1960 ateacute primeira metade da deacutecada de 1980 em que predominara a accedilatildeo

16

desenvolvimentista a regiatildeo completa suas fases de articulaccedilatildeo produtiva nacional4 com

taxas de crescimento setoriais na maioria das vezes superior agraves nacionais conforme atesta a

Tabela 2 O principal resultado foi agrave consolidaccedilatildeo de ―ilhas de prosperidade distribuiacutedas

espacialmente que aleacutem de abranger suas Regiotildees Metropolitanas e principais capitais

alcanccedilaram alguns espaccedilos mais interiorizados (ARAUacuteJO 1995)

Tabela 2 ndash Brasil e Regiatildeo Nordeste Taxas de Crescimento do PIB Setorial () 1960 ndash 2010

Periacuteodos Selecionados

Periacuteodos

Agricultura Induacutestria Serviccedilos

BR

NE BR

NE BR

NE

1950-60 459 553 627 523 618 627

1960-70 -049 -108 1153 1002 888 768

1970-75 976 863 1431 1575 968 842

1975-80 640 605 1294 1809 746 940

1980-85 424 516 353 870 075 165

1985-90 -499 -645 -001 -255 473 478

1990-95 117 153 -167 -079 070 040

1995-00 -050 -354 373 480 133 241

2000-05 -284 -007 -374 -329 713 689

2005-10 346 241 159 256 481 596

Fonte Elaboraccedilatildeo a partir de IBGE (2010) IPEADATA (2013)

Caacutelculo com base na seguinte disponibilidade de dados com respectivos oacutergatildeos fontes para os anos de

1950 e 1960 Produto Interno Liacutequido a custo de fatores para os anos de 1970 a 1980 PIB a custo de

fatores para os anos de 1985 a 2001 antigo Sistema de Contas Regionais que passa a utilizar o conceito

de preccedilos baacutesicos para os anos de 2005 e 2002 Sistemas de Contas Regionais Referecircncia 2002

Nesta dinacircmica a accedilatildeo planejada objetivando reduccedilatildeo de disparidades que

desfavoreciam o Nordeste quando comparado agraves demais regiotildees brasileiras natildeo obstante ter

alcanccedilado alguns efeitos positivos transformando a estrutura produtiva da regiatildeo (BERNAL

2005) geraram algumas disparidades intrarregionais que satildeo objeto de intenso debate Aleacutem

dos casos proacutesperos de aacutereas como o Complexo Petroquiacutemico de Camaccedilari na Bahia o

Complexo Portuaacuterio de Suape no Pernambuco III Polo Industrial Diversificado em

FortalezaCE o Complexo de Induacutestria de Base Salgema em Sergipe e o Complexo

Cloroquiacutemico de Alagoas localizados prioritariamente nas capitais da Regiatildeo ou em suas

4 Esta articulaccedilatildeo segundo Guimaratildees Neto (1989) Arauacutejo (1995) e Cano (2007) decorreu do processo

histoacuterico de formaccedilatildeo e integraccedilatildeo do mercado nacional Saindo de um contexto de insulamento as etapas deste

processo foram i) a articulaccedilatildeo comercial sob o comando da economia da Regiatildeo Centro-Sul centro dinacircmico e

mais diversificado do paiacutes e ii) a integraccedilatildeo produtiva com a implantaccedilatildeo de ramos econocircmicos

complementares principalmente agrave induacutestria deste centro dinacircmico estimuladas pela SUDENE

17

proximidades outros poacutelos se diferenciaram imprimindo as bases de configuraccedilatildeo da

desconcentraccedilatildeo concentrada

3 Emprego industrial formal o caso dos estados da Bahia e do Cearaacute durante o periacuteodo de

20032013

31 Caracteriacutesticas da Induacutestria

311 Nuacutemero de Estabelecimentos Industriais

Segundo os dados da RAIS para os estados da Bahia e do Cearaacute conforme exposto na

Tabela 3 o crescimento na quantidade de induacutestrias formais abertas entre 2003 e 2013 com

destaque para o estado da Bahia que passou de 7551 induacutestrias em 2003 para 12801

unidades produtivas em 2013 sofrendo variaccedilatildeo ao longo do periacuteodo de 6953 face agrave

variaccedilatildeo de 6526 unidades produtivas no Cearaacute no mesmo periacuteodo

O crescimento significativo de induacutestrias abertas em ambos os estados decorre do

processo de relocalizaccedilatildeo de induacutestrias do Sul e Sudeste do paiacutes que migram para o Nordeste

brasileiro motivados pela panaceia advinda com o movimento de reestruturaccedilatildeo produtiva

adicionados agrave oferta de incentivos fiscais e financeiros matildeo-de-obra barata abundante e

disciplinada combinada com ausecircncia de sindicatos combativos Ademais conforme

argumenta os propositores da poliacutetica de atraccedilatildeo a aproximaccedilatildeo geograacutefica dos mercados

estadunidense e europeu acabando por reduzir o custo de transporte facilitando o escoamento

aos mercados externos

Tabela 3 ndash Cearaacute e Bahia Nuacutemero de estabelecimentos industriais ndash 2003 2013 UF 2003 2013 Variaccedilatildeo () 20032013

Cearaacute

Bahia

6986

7551

11545

12801

6526

6953

Total 14537 24346 13479

Fonte RAISMTE Elaboraccedilatildeo Proacutepria

Vale ressaltar que ao se configurar uma ―desconcentraccedilatildeo concentrada jaacute destacada

no presente trabalho eacute observado que este quadro se reproduz tambeacutem dentro de cada estado

Os investimentos industriais em ambos os casos aqui analisados se concentram em suas

18

capitais Fortaleza em 2013 dispunha de 5416 dos estabelecimentos industriais cearenses

ao passo que Salvador abarca 49235 A seletividade espacial decorre naturalmente da

disponibilidade de infraestrutura e de uma cesta de outras externalidades positivas aos

investimentos decorrentes da consolidaccedilatildeo destas regiotildees metropolitanas como espaccedilos de

dinacircmica e elevada competitividade

312 Evoluccedilatildeo do Emprego Formal por Ramo de Atividade

Os dados da Tabela 4 apresentam evoluccedilatildeo do emprego formal por ramo de atividade

Ainda que pese o fato do presente trabalho dedicar-se ao caso da atividade industrial a

informaccedilatildeo quanto aos demais setores eacute relevante Conforme eacute visto destaca-se a elevada

concentraccedilatildeo de trabalhadores empregados no setor de serviccedilos nos dois estados Em 2013 o

setor de serviccedilos diminuiu sua participaccedilatildeo em ambos principalmente na Bahia ao auferir

uma taxa de crescimento negativa de 027 aa6

Nos anos de 2003 e 2013 observa-se o setor comercial lidera a participaccedilatildeo tanto na

economia baiana quanto na economia cearense no Cearaacute observa-se uma variaccedilatildeo de

12880 e com maior taxa de crescimento em todos os setores 863 aa jaacute na Bahia houve

um niacutevel menor de participaccedilatildeo implicando uma variaccedilatildeo de 9468 e taxa de crescimento de

689 aa

Tabela 4 ndash Cearaacute e Bahia Evoluccedilatildeo do emprego formal por ramo de atividade ndash 20032013

RAMO DE

ATIVIDADE

CEARAacute BAHIA

2003 () 2013 () 2003 () 2013 ()

Induacutestria

Const Civil

Comeacutercio

Serviccedilos

Agropecuaacuteria

173093

27091

113438

241659

17566

302

48

198

422

38

275198

84619

259549

454959

25920

250

77

236

414

24

151674

56736

229048

414327

72086

164

61

248

448

78

267665

171521

445904

755191

89393

155

99

258

437

52

Total 572847 1000 1100245 1000 923871 1000 1729674 1000

Fonte RAISMTE Elaboraccedilatildeo Proacutepria

5 Dados oriundos da Relaccedilatildeo Anual de Informaccedilotildees Sociais ( RAIS) do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego(

MTE) 6 A taxa de crescimento anual eacute calculada a partir do seguinte meacutetodo [ (anot ano0)^ 1n] ndash 1 x 100 onde n eacute

o nuacutemero de anos da seacuterie anot eacute o ano final e ano0 o ano inicial

19

Ao se investigar a dinacircmica do emprego formal industrial eacute necessaacuterio fazer a leitura

considerando o peso relativo da induacutestria no conjunto da economia como um todo Assim

apesar de ter aumentado o nuacutemero de postos de trabalho formais na induacutestria nas duas

economias em termos relativos agrave realidade eacute outra No caso cearense passou-se em termos

absolutos de 173093 empregados formais em 2003 para 275198 empregados em 2013

ocorrendo uma variaccedilatildeo de 5899 No entanto em termos relativos observa-se diminuiccedilatildeo na

participaccedilatildeo da induacutestria no emprego total passando de 3022 para 2501 Para a economia

baiana ocorre semelhante ao observar aumento de postos de trabalho em 2003 de 151674 em

nuacutemeros absolutos para 267665 em 2013 ocorrendo uma variaccedilatildeo de 7647 Apesar do

nuacutemero maior de empregos gerados na induacutestria ao relativizar este crescimento ao contexto

global das demais atividades constatou-se que houve uma queda na participaccedilatildeo do emprego

total passando de 1642 para 1547 nos anos analisados

Algumas anaacutelises apontam para tal fenocircmeno como um alinhamento com o que se

observa na conjuntura macro com o denominado processo de ―desindustrializaccedilatildeo ou seja

queda na participaccedilatildeo do emprego industrial no emprego total de um paiacutes ou regiatildeo Segundo

Oreiro e Feijoacute (2010) esses efeitos podem ter impactos negativos na economia brasileira pois

mesmo com maior participaccedilatildeo do setor terciaacuterio no emprego total reduz significativamente o

crescimento econocircmico pois o setor industrial eacute responsaacutevel pela maior produtividade do

trabalho e progresso teacutecnico de um paiacutes

Contudo eacute necessaacuterio maiores estudos deste alinhamento Ao passo que a

industrializaccedilatildeo recente dos estados do Nordeste vem a decorrer de uma das faces da

reestruturaccedilatildeo produtiva que eacute a incessante busca de reduccedilatildeo de custos tal movimento pode

estar descrito na desindustrializaccedilatildeo do paiacutes como um todo tenho em vista que a relocalizaccedilatildeo

promove em alguns casos a reduccedilatildeo da participaccedilatildeo industrial nas regiotildees de origem dos

investimentos industriais que aportam o Nordeste

313 Evoluccedilatildeo do Emprego Formal da Induacutestria da Transformaccedilatildeo

Ao analisar a evoluccedilatildeo do emprego formal na induacutestria de transformaccedilatildeo observa-se

na Tabela 5 a concentraccedilatildeo de trabalhadores empregados em induacutestrias intensivas em matildeo-

de-obra (alimentiacutecia tecircxtil e calccediladista) tanto na Bahia como no Cearaacute Todavia percebe-se

neste periacuteodo uma queda na participaccedilatildeo ao observar que em 2003 o Cearaacute participa com

7107 do emprego formal industrial total vindo a cair em 2013 para 6524

20

No entanto as induacutestrias baianas intensivas em matildeo-de-obra participam com 6438

do emprego formal industrial total para o ano de 2003 Natildeo obstante uma queda no final do

periacuteodo para a participaccedilatildeo de 572 do emprego total em anaacutelise Percebe-se nesse estado

uma melhor distribuiccedilatildeo do emprego formal entre os setores da Induacutestria de Transformaccedilatildeo

Aleacutem da estrutura produtiva da Bahia ser mais integrada ao eixo dinacircmico do Centro-

Sul jaacute desde etapas preacutevias agrave accedilatildeo planejada dos anos 1960 em diante com esta fase a

integraccedilatildeo se deu com maior vigor A diversificaccedilatildeo contou ainda com o aporte de segmentos

da induacutestria de semielaborados implantados a partir de entatildeo com a altivez de instalaccedilotildees que

consolidaram o Poacutelo Petroquiacutemico de Camaccedilari Outro aspecto importante estaacute na

implantaccedilatildeo da induacutestria automobiliacutestica jaacute via instrumentos fiscais em 1999 (SILVA 2004)

Tabela 5 ndash Cearaacute e Bahia Evoluccedilatildeo do emprego formal na Induacutestria de Transformaccedilatildeo e Extrativa

Mineral no periacuteodo ndash 20032013

RAMO DE

ATIVIDADE

CEARAacute BAHIA

2003 () 2013 () 2003 () 2013 ()

Extrativa mineral

Ind de prod minerais

Induacutestria metaluacutergica

Induacutestria mecacircnica

Ind material eleacutetrico

Induacutestria detransporte

Induacutestria de madeira

Induacutestria de papelatildeo

Indborrachafumo

Induacutestria quiacutemica

Induacutestria tecircxtil

Induacutestria de calccedilados

Indprodalimentiacutecio

Serviccedilos industriais

1857

7109

6119

1935

1327

1526

5465

5545

4754

7754

46113

41454

35613

6763

11

41

35

11

08

09

32

32

27

45

2660

2392

205

39

3583

14900

17120

5540

1704

3807

8443

8862

7612

13430

71133

63748

47520

7796

12

51

58

19

06

13

29

30

26

46

243

217

160

27

8797

9945

7267

4769

1876

4265

4984

6285

6542

20810

14784

17418

30602

15330

57

65

47

31

12

27

32

41

43

135

96

113

199

99

16272

20312

17249

10685

4673

10704

9829

12041

12759

29777

22343

26195

52520

22306

61

76

63

39

17

39

36

45

47

111

83

98

196

83

Total 173334 1000 293098 1000 153673 1000 267665 1000

Fonte RAISMTE Elaboraccedilatildeo Proacutepria

21

Outra informaccedilatildeo relevante dos dados contidos na Tabela 5 eacute o crescimento do

emprego formal industrial em setores que geralmente eram concentrados na regiatildeo Sudeste do

paiacutes Um dos exemplos pode ser a Induacutestria de Material de Transporte que passou em termos

absolutos de 1526 em 2003 para 3807 em 2013 correspondendo a uma variaccedilatildeo de 14947

e uma taxa de crescimento de 957 aa Na induacutestria metaluacutergica constata-se outro caso de

expansatildeo do emprego formal ao passar de 35 da participaccedilatildeo do emprego industrial para

58 ocasionando uma taxa de crescimento de 109 aa

Para o estado da Bahia ocorreu um aumento no emprego ao passar de 20810 em 2003

para 29777 em 2013 e uma queda de participaccedilatildeo na induacutestria total junto com as intensivas

em trabalho caindo de 1354 para 1152 Para os demais setores o estado da Bahia

permanece criando mais postos de trabalho em relaccedilatildeo ao Cearaacute continuando a imprimir um

quadro de economia mais diversificada tambeacutem na geraccedilatildeo de empregos formais diretos

Diante de tais anaacutelises percebe-se a diversificaccedilatildeo do emprego industrial em que a

queda na participaccedilatildeo de setores antes tradicionais para a economia desses dois estados como

a induacutestria tecircxtil e calccediladista foi recompensada pelo crescimento em induacutestrias de material de

transporte metalurgia e induacutestria quiacutemica para o caso do Cearaacute

314 Tamanho do Estabelecimento da Induacutestria Formal

Um dos elementos importantes pra compreender a reestruturaccedilatildeo produtiva em vigor eacute

investigaccedilatildeo sob a perspectiva do tamanho dos estabelecimentos e suas respectivas geraccedilotildees

de emprego Assim conforme a Tabela 6 que apresenta o nuacutemero de empregados segundo o

porte do estabelecimento industrial observa-se a concentraccedilatildeo de empregados nas grandes

empresas em ambos os estados No entanto no Cearaacute no ano de 2003 para 2013 aumentou

participaccedilatildeo de empregados em todos os portes de empresa exceto os grandes

empreendimentos que mesmo tendo aumento que foi de 74535 em 2003 para 101858 em

2013 observa-se reduccedilatildeo da participaccedilatildeo relativa ao diminuir de 431 para 37 No entanto

o porte de empresa que mais se destacou no periacuteodo em estudo foi agrave meacutedia empresa

implicando taxa de crescimento de 32 aa

No entanto na Bahia ocorre o inverso todos os portes de empresa diminuiacuteram sua

participaccedilatildeo exceto a grande empresa que registra um incremento de 37602 para 87182

implicando uma variaccedilatildeo de 13185 e taxa de crescimento de 878 aa

22

Tabela 6 ndash Cearaacute e Bahia Distribuiccedilatildeo do emprego formal na induacutestria por tamanho do

estabelecimento ndash2003 2013 EMPREGADOS

POR PORTE DA

INDUacuteSTRIA

CEARAacute BAHIA

2003 () 2013 () 2003 () 2013 ()

Micro (Ateacute 19)

Pequena (20 a 99)

Meacutedia (100 a 499)

Grande (500 ou mais)

27939

35744

34876

74535

161

206

202

431

45174

64662

63504

101858

164

235

231

37

29174

36645

48253

37602

192

242

318

248

47885

61363

71235

87182

179

229

267

326

Total 173093 1000 275198 1000 151674 1000 267665 1000

Fonte RAISMTE Elaboraccedilatildeo Proacutepria

Quando se agregam todos os portes eacute apresentado que as meacutedias e grandes empresas

aparecem como as maiores absorvedoras de emprego formal Os dados se contrapotildeem assim agrave

tendecircncia nacional em que segundo o SEBRAE (2011) entre 2000 e 2010 foram gerados 61

milhotildees de empregos formais O Cearaacute em 2010 participou em 2010 com 28 do total de

MPElsquos do Brasil enquanto Bahia participou com 41 do total empregando aproximadamente

10148 pessoas

32 Perfil socioeconocircmico e sociodemograacutefico dos ocupados formais na induacutestria

321 Sexo dos Trabalhadores

A anaacutelise desagregada por sexo mostra que em 2003 haviam 103618 trabalhadores

empregados na induacutestria formal cearense sendo que 599 satildeo do sexo masculino e 401 do

sexo feminino Em 2013 a participaccedilatildeo dos homens aumenta para 6243 respectivamente

caindo a participaccedilatildeo feminina (para 376) O estado da Bahia contava em 2003 com um

total de 151674 trabalhadores no setor industrial dos quais 729 satildeo do gecircnero masculino

contra 270 do sexo feminino e em 2013 ocorre um leve aumento na participaccedilatildeo do sexo

feminino (27) e uma pequena queda da participaccedilatildeo masculina (729)

Apesar do crescimento do nuacutemero de empregos na induacutestria formal no periacuteodo em

estudo em 2013 prevalece a concentraccedilatildeo de trabalhadores do gecircnero masculino (6243 no

Cearaacute e 7295 na Bahia) Tal indicador aponta ainda para a seletividade do sexo na maioria

dos setores que compotildeem a atividade industrial

23

Tabela 7 ndash Cearaacute e Bahia Nuacutemero de empregados na induacutestria formal segundo o sexo ndash 20032013 SEXO CEARAacute BAHIA

2003 () 2013 () 2003 () 2013 ()

Masculino

Feminino

103678

69415

599

401

171813

103385

624

376

110682

40992

729

27

195276

72389

729

271

Total 173093 1000 275198 1000 151674 1000 267665 1000

Fonte RAISMTE Elaboraccedilatildeo Proacutepria

322 Faixa Etaacuteria

No tocante agrave variaacutevel faixa etaacuteria (Tabela 8) tanto em 2003 quanto em 2013 nos dois

estados considerados a maior participaccedilatildeo (aproximadamente 30) dos trabalhadores

empregados na induacutestria formal situava-se na faixa etaacuteria de 30 a 39 anos

Tabela 8 ndash Cearaacute e Bahia Total de empregados na induacutestria formal por faixa etaacuteria ndash 2003 2013

FAIXA ETAacuteRIA CEARAacute BAHIA

2003 () 2013 () 2003 () 2013 ()

Ateacute 17 anos

18 a 24 anos

25 a 29 anos

30 a 39 anos

40 a 49 anos

50 a 64 anos

65 ou mais

754

46813

38315

52843

25477

8501

390

04

27

22

305

147

49

02

777

65173

58909

86729

43409

19421

780

01

237

214

315

158

7

03

307

33797

30460

43902

31686

11467

355

02

223

201

289

209

76

02

1050

45777

52588

92518

45735

28960

1037

04

171

196

346

171

108

04

TOTAL 173093 1000 275198 1000 151674 1000 267665 1000

Fonte RAISMTE Elaboraccedilatildeo Proacutepria

Em 2003 a participaccedilatildeo da matildeo-de-obra industrial na faixa etaacuteria que vai ateacute 17 anos eacute

pouco significativa no Cearaacute (044) e na Bahia (020) ao passo que em 2013 esses

nuacutemeros reduzem para 01 no Cearaacute e aumenta na Bahia para 04 Uma possiacutevel explicaccedilatildeo

satildeo as poliacuteticas de primeiro emprego ser mais consolidadas onde haacute maior diversificaccedilatildeo

produtiva que no caso destas duas economias conforme isto anteriormente eacute o estado da

Bahia

24

O nuacutemero pequeno de trabalhadores jovens ateacute 17 anos empregados na induacutestria

formal decorre do conjunto de incentivos oferecidos pelo governo federal para manter

crianccedilas e jovens na escola atraveacutes do Programa Bolsa Famiacutelia (incentivo monetaacuterio recebido

mensalmente pela famiacutelia para manter crianccedilas e adolescentes na escola) ou pela implantaccedilatildeo

do Fundo de Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento do Ensino Baacutesico (FUNDEB) atraveacutes da

Emenda Constitucional no 14 de 1996 tendo por objetivo melhorar a situaccedilatildeo do ensino

fundamental puacuteblico melhorando sua qualidade e abrangecircncia

Por outro lado o leve aumento de pessoas com ateacute 17 anos empregados na induacutestria

decorre que muitas empresas demandam essa matildeo-de-obra muitas vezes funcionando como

condiccedilatildeo de aprendizes ou estagiaacuterios a exemplo do Centro de Integraccedilatildeo Empresa Escola

(CIEE) onde se faz o intermeacutedio entre a induacutestria a escola e o estudante

Ainda na Tabela 8 percebe-se a pequena participaccedilatildeo dos trabalhadores na faixa etaacuteria

acima de 65 anos Em 2003 esses trabalhadores representavam um percentual de 02 no

Cearaacute e Bahia havendo um pouco aumento para 03 e 04 respectivamente Esta expansatildeo

associa-se agravequela reduccedilatildeo na participaccedilatildeo em ambos os estados da induacutestria intensiva em

matildeo-de-obra Mesmo com os direitos assegurados da previdecircncia social as induacutestrias

demandam esses trabalhadores o que mostra que a carecircncia de esforccedilo fiacutesico habilidade natildeo

eacute visto como empecilho a integraccedilatildeo no mercado de trabalho

323 Niacutevel de Escolaridade

Com relaccedilatildeo ao niacutevel de escolaridade chama atenccedilatildeo o elevado percentual de

trabalhadores na induacutestria formal com poucos anos de estudo (Tabela 9) Em 2003 os

trabalhadores do Cearaacute concentravam-se na faixa de ensino fundamental incompleto

(3809) No entanto na Bahia havia 3687 dos trabalhadores entre o ensino meacutedio

completo e superior incompleto

25

Tabela 9 ndash Cearaacute e Bahia Total de empregados na induacutestria formal segundo grau de instruccedilatildeo ndash

20032013

ESCOLARIDADE CEARAacute BAHIA

2003 () 2013 () 2003 () 2013 ()

Sem instruccedilatildeo ateacute

fundincompleto

Fundcomp ateacute meacuted

incompleto

Meacutedio comp Ateacute

supincompleto

Superior completo

65945

57956

43976

5216

381

335

254

30

38947

72355

152073

11823

141

263

553

43

49117

37852

55931

8744

324

29

368

57

41267

48066

155308

22974

154

179

58

86

Total 173093 1000 275198 1000 151674 1000 267665 1000

Fonte RAISMTE Elaboraccedilatildeo Proacutepria

Em 2013 a induacutestria formal da Bahia apresentou decliacutenio em termos percentuais na

participaccedilatildeo de trabalhadores que tinham ateacute o ensino fundamental incompleto ao passar de

3238 em 2003 para 1542 em 2013 Isto representa uma variaccedilatildeo negativa 1598 com

queda de 49117 em 2003 para 41267 em 2013 Tal movimento pode indicar a substituiccedilatildeo de

trabalhadores menos escolarizados por aqueles mais qualificados resultando dessa forma um

aumento da seletividade na contrataccedilatildeo de matildeo-de-obra devido agrave incorporaccedilatildeo de novos

meacutetodos de gestatildeo organizaccedilatildeo do trabalho e reestruturaccedilatildeo da produccedilatildeo

Todavia no Cearaacute constata-se tambeacutem um decliacutenio em termos

percentuais do nuacutemero de trabalhadores com niacutevel de escolaridade ateacute o ensino fundamental

incompleto de 381 em 2003 para 142 em 2013

324 Tempo de Serviccedilo

Um indicador que revela certa estabilidade dos ramos da atividade econocircmica eacute o

tempo de serviccedilo nas empresas Assim em relaccedilatildeo ao tempo de permanecircncia dos

trabalhadores empregados na induacutestria formal em 2003 395 ficaram empregados com

menos de 01 ano no Cearaacute vindo a diminuir para 342 em 2013 na Bahia eles passam de

311 em 2003 para 314 em 2013 Apesar da elevada rotatividade em ambos os estados

percebe-se que vem diminuiacutedo

26

Tabela 10 ndash Cearaacute e Bahia Distribuiccedilatildeo dos trabalhadores na induacutestria formal segundo tempo de

serviccedilo ndash 2003 2013

TEMPO DE

SERVICcedilO

CEARAacute BAHIA

2003 () 2013 () 2003 () 2013 ()

Menos de 1 ano

1 a menos de 3 anos

3 a menos de 5 anos

5 ou mais anos

Ignorado

68408

50435

22083

32106

61

395

291

127

185

01

94031

79074

39899

62188

06

342

287

145

226

01

47195

43309

21748

39399

23

311

285

143

259

01

83962

74950

38750

69978

25

314

28

145

261

01

Total 173093 1000 275198 1000 151674 10000 267665 1000

Fonte RAISMTE Elaboraccedilatildeo Proacutepria

A elevada concentraccedilatildeo de trabalhadores com pouco tempo na induacutestria que mesmo

perdendo a participaccedilatildeo em ambos os estados constituem a maioria eacute resultado da

reestruturaccedilatildeo produtiva avanccedilo da tecnologia e dos elevados impostos trabalhistas que

incentivam aos empregadores a utilizarem matildeo de obra terceirizada com o propoacutesito de

reduzir custos

325 Remuneraccedilatildeo dos Trabalhadores

Sob a oacutetica da remuneraccedilatildeo (Tabela 11) verificou-se que tanto no Cearaacute quanto na

Bahia houve reduccedilatildeo dos rendimentos auferidos pelos trabalhadores na durante o periacuteodo de

2003 e 2013 Isto eacute notado tanto pelo aumento daqueles que recebiam ateacute 2 salaacuterios miacutenimos

quanto pela reduccedilatildeo nas demais faixas de rendimento exceto aqueles que ganhavam ateacute 1

salaacuterio miacutenimo na Bahia que passaram de 809 em 2003 para 748 em 2013

27

Tabela 11 ndash Cearaacute e Bahia Total de empregados na induacutestria formal segundo faixa de remuneraccedilatildeo ndash

20032013

FAIXA MEacuteDIA DE

RENDIMENTO EM

(SM)

CEARAacute BAHIA

2003 () 2013 () 2003 () 2013 ()

Ateacute 01 salaacuterio

Mais de 01 a 02 SM

Mais de 02 a 03 SM

Mais de 03 a 05 SM

Mais de 05 a 10 SM

Mais de 10 a 20 SM

Mais de 20 SM

Sem declaraccedilatildeo

14063

126990

12242

8224

5899

3908

1513

254

81

734

71

47

34

23

09

02

27944

206341

17146

10964

6726

2713

941

2423

102

749

62

39

24

09

03

08

12283

75303

15305

16816

16569

9783

5354

261

81

496

101

111

109

64

35

02

20010

147920

31090

27271

20435

11454

5529

3946

75

553

116

102

76

43

21

14

Total 173093 10000 275198 1000 151674 1000 267665 1000

Fonte RAISMTE Elaboraccedilatildeo Proacutepria

Em 2013 os baixos rendimentos aumentam nos dois estados sendo mais intensa no

Cearaacute O percentual dos trabalhadores que ganhavam ateacute 2 salaacuterios miacutenimos amplia-se

significativamente de 815 em 2003 no Cearaacute para 851 No entanto na Bahia percebe-se

aumento na faixa mais de 1 a 3 salaacuterios miacutenimos que passa de 59 em 2003 para 668 A

baixa remuneraccedilatildeo principalmente no Cearaacute foi sem duacutevida um dos atrativos para a vinda de

induacutestrias sendo grande elemento que norteia a reduccedilatildeo dos custos produtivos

Para aqueles que ganhavam acima de 03 salaacuterios miacutenimos houve reduccedilatildeo na proporccedilatildeo

de trabalhadores concentrados nessas faixas de rendimento em ambos os estados sendo

novamente mais intensa para a matildeo-de-obra empregada na induacutestria cearense No Cearaacute

ganhavam acima de 3 salaacuterios miacutenimos 111 caindo para 86 em 2013 e na Bahia eles

passam de 322 em 2003 para 256 em 2013

Essa oacutetica torna-se conflitante dado que os trabalhadores em ambos os estados

melhoraram sua qualificaccedilatildeo ao longo dos dez anos em anaacutelise e os resultados apontam

reduccedilatildeo no niacutevel dos rendimentos desses trabalhadores Haacute uma contrariedade ao que

preconiza o pensamento hegemocircnico da teoria de capital humano7 que afirma que indiviacuteduos

mais escolarizados obtecircm retornos financeiros mais elevados em virtude da aquisiccedilatildeo em

7 Para um debate mais robusto deve-se consultar Arabsheibani (1998)

28

educaccedilatildeo proporcionar elevaccedilatildeo na renda do indiviacuteduo o que eleva a produtividade e age

como processo de seleccedilatildeo para o mercado de trabalho

4 Consideraccedilotildees finais

A partir da realizaccedilatildeo deste trabalho respondeu-se ao questionamento colocado pela

problematizaccedilatildeo comprovando a hipoacutetese de que as economias cearense e baiana

apresentam de formas distintas natildeo obstante a homogeneizaccedilatildeo imperada pela loacutegica da

acumulaccedilatildeo capitalista contemporacircnea que imprime para os estados da Regiatildeo Nordeste um

papel particular na divisatildeo espacial do trabalho pelo fornecimento de produtos intensivos em

trabalho e bens intermediaacuterios

Mesmo concernente a estruturas produtivas distintas o esvaziamento das poliacuteticas de

promoccedilatildeo de desenvolvimento trouxe como margem de accedilatildeo para estas economias no bojo

do paradigma neoliberal de regulaccedilatildeo econocircmica e todo o seu aparato a atraccedilatildeo de

empreendimentos instrumentalizados pela guerra fiscal se constituem assim o apego

demasiado aos localismos como esboccedilo de poliacutetica industrial

O padratildeo industrial que se empreende com este modelo reitera o modo de integraccedilatildeo

da regiatildeo agrave dinacircmica capitalista bem ilustrado pelo perfil dos estados em estudo Observou-se

que a atividade industrial baiana com integraccedilatildeo ao aparelho produtivo nacional mais

consolidado apresenta maior diversificaccedilatildeo nos seus setores econocircmicos tanto no nuacutemero de

estabelecimentos quanto no nuacutemero de empregos gerados Ademais figura neste estado os

empreendimentos com maior nuacutemero de empregados

Jaacute o caso cearense apresenta um modelo mais pautado em setores tradicionais como

tecircxtil alimentos e bebidas aleacutem da forte participaccedilatildeo no ramo de calccedilados Ademais apesar

da diversificaccedilatildeo mais recente avanccedilar para ramos como o caso da ampliaccedilatildeo da Induacutestria de

Material de Transporte Ainda assim sua estrutura industrial e o perfil do emprego formal eacute

predominantemente pautado em setores mais tradicionais

Assim sendo o trabalho contribuiu para engrossar os argumentos justificados na

necessidade de retomada de poliacuteticas de desenvolvimento bem definidas sob duas

qualificaccedilotildees a poliacutetica de desenvolvimento regional e a poliacutetica de proteccedilatildeo do emprego

formal dada agrave evoluccedilatildeo da precarizaccedilatildeo no mercado de trabalho industrial no bojo das

poliacuteticas neoliberais ambas articuladas em suas diversas instacircncias escalares

29

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31

ANAacuteLISE DOS PRINCIPAIS ASPECTOS DA REDE URBANA E DAS CIDADES

MEacuteDIAS CEARENSES NOS ANOS 2000

DENIS FERNANDES ALVES

Mestrando em Economia pelo Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Economia da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte (PPGECO-UFRN) e Pesquisador do GETEDRU E-mail

denis_fernandesoutlookcom

CARLOS EDUARDO PEREIRA DO NASCIMENTO

Graduando em Economia pela Universidade Regional do Cariri (URCA) Bolsista do PIBIC-

URCA Pesquisador do GETEDRU E-mail eduardocarlos2807gmailcom

FRANCISCO DO Orsquo DE LIMA JUacuteNIOR

Professor Associado do Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri

(URCA) Doutor em Desenvolvimento Econocircmico pelo Instituto de Economia da

Universidade Estadual de Campinas (IEUNICAMP) e Pesquisador Liacuteder do GETEDRU E-

mail limajuniorurcabr

32

ANAacuteLISE DOS PRINCIPAIS ASPECTOS DA REDE URBANA E DAS CIDADES

MEacuteDIAS CEARENSES NOS ANOS 2000

RESUMO O objetivo deste artigo eacute analisar os principais aspectos econocircmicos e

demograacuteficos das cidades meacutedias do estado do Cearaacute bem como compreender a regiatildeo de

influecircncia da rede urbana e configuraccedilatildeo espacial destas cidades Os procedimentos

metodoloacutegicos adotados satildeo de caraacuteter exploratoacuterio descritivo e estatiacutestico com

levantamento de dados secundaacuterios provenientes de oacutergatildeos oficiais das cidades meacutedias do

estado no poacutes-2000 Observou-se que a presenccedila de duas Capitais Regionais de niacutevel C

(Sobral e o aglomerado Juazeiro do Norte-Crato-Barbalha) localizadas em aacutereas opostas do

territoacuterio estadual permitindo a polarizaccedilatildeo a partir destes centros bem como a importacircncia

das outras cidades meacutedias no que diz respeito ao grau de influecircncia na rede urbana tais como

Iguatu e Itapipoca como centros sub-regionais A e B respectivamente voltados sobretudo ao

comeacutercio e serviccedilos Quanto aos aspectos demograacuteficos observou-se um aumento na taxa de

urbanizaccedilatildeo em todas as cidades meacutedias bem como uma elevaccedilatildeo na qualidade de vida

maior dinamismo no mercado de trabalho com maiores oportunidades de emprego e uma leve

reduccedilatildeo quanto a desigualdade de renda

Palavras-chaves Desenvolvimento Regional Estrutura Produtiva Cidades Meacutedias Rede

Urbana Cearaacute

ABSTRACT The objective of this article is to analyze the main economic and demographic

aspects of the average cities of the state of Cearaacute as well as to understand the region of

influence of the urban network and the spatial configuration of the cities The methodological

procedures adopted are of an exploratory descriptive and statistical character with the

collection of secondary data - coming from official bodies - of the medium-sized cities of the

state in the post-2000 period It was observed that the presence of two Regional Capitals C ndash

Sobral and the Juazeiro do Norte-Crato-Barbalha agglomerate- located in opposite areas of

the state territory allow polarization from these centers As well as the importance of other

average cities with regard to the degree of influence in the urban network such as Iguatu and

Itapipoca as sub-regional centers A and B respectively focused on commerce and services

As for the demographic aspects there was an increase in the rate of urbanization in all

medium-sized cities as well as a rise in the quality of life greater dynamism in the labor

market with greater job opportunity and a slight reduction in income inequality

Keywords Regional Development Productive Structure Average Cities Urban Network

Cearaacute

33

1 Introduccedilatildeo

Ateacute meados do seacuteculo XX o Nordeste brasileiro era uma regiatildeo negligenciada

causando um atraso econocircmico e social em relaccedilatildeo ao centro da economia do paiacutes O

desconhecimento dos fatores responsaacuteveis pelo atraso gerava a incapacidade de elaborar

planos de diretrizes que modificassem o cenaacuterio As disparidades regionais eram cada vez

mais crescentes

No objetivo de entender os problemas que geravam tais atrasos e estudar a regiatildeo de

modo intensivo eacute criado no Governo de Juscelino Kubitschek (1956-61) o Grupo de

Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN) E em 1959 eacute justificada a

intervenccedilatildeo planejada via SUDENE (CANO 2000)

A Superintendecircncia do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE)8 tinha como

objetivo proporcionar accedilotildees de fomento ao desenvolvimento do Nordeste dentre elas destaca-

se a poliacutetica dos incentivos fiscais9 e a correccedilatildeo das distorccedilotildees intra-regionais Proposta por

Celso Furtado - agrave frente do GTDN - a superintendecircncia tinha como funccedilatildeo orientar a

utilizaccedilatildeo de seus recursos ―para lograr i) a elevaccedilatildeo da produtividade da agricultura ii) a

modernizaccedilatildeo da infraestrutura regional de transportes comunicaccedilatildeo energia e saneamento

baacutesico e iii) a utilizaccedilatildeo intensiva dos recursos naturais da regiatildeo (BONAVIDES 1971 p

18)

Os reflexos da SUDENE e a canalizaccedilatildeo de accedilotildees desenvolvimentistas no Nordeste

acontecem com maior consistecircncia em meados dos anos 1980-90 No Cearaacute o forte processo

de industrializaccedilatildeo eacute oriundo de poliacuteticas de atraccedilatildeo industrial (assim como o Nordeste)

contudo o parque industrial cearense estaacute fortemente concentrado em sua capital (Fortaleza) e

na regiatildeo metropolitana cada vez mais ampliando as disparidades dentro do proacuteprio estado

Os desequiliacutebrios regionais historicamente sempre foram presentes Neste contexto a

cidade meacutedia aparece assim como um mecanismo a atenuar ndash ou frear ndash tais desequiliacutebrios

Conforme aponta Rochefort (1998 p 93) algumas cidades meacutedias satildeo desenvolvidas com o

objetivo de frear o crescimento das metroacutepoles e ―[] agrave medida que as cidades satildeo escolhidas

no interior do territoacuterio levam-se para esses espaccedilos subdesenvolvidos atividade e homens

que permitam um desenvolvimento da economia regional

8 SUDENE ou a planificaccedilatildeo com liberdade numa regiatildeo subdesenvolvida foi criada pela Lei no 3692 de 15 de

dezembro de 1959 (LIMA JUacuteNIOR 2008) 9 O sistema de incentivos fiscais eram basicamente centrados na isenccedilatildeo total ou parcial do imposto sobre a

renda para subsidiar o investimento privado no Nordeste a partir da criaccedilatildeo da Sudene (CANO 2000)

34

Em vista disto seraacute que de fato a concentraccedilatildeo econocircmica e demograacutefica

intensificadas pelo processo de industrializaccedilatildeo brasileira nas uacuteltimas deacutecadas vai se

contraindo atraveacutes das poliacuteticas de interiorizaccedilatildeo e da influecircncia das cidades sobretudo nas

cidades meacutedias do Cearaacute A hipoacutetese norteadora eacute a de que com a melhoria dos indicadores

soacutecio-espaciais e com advento dos sistemas urbanos crescentes no interior do estado o

espraiamento das atividades produtivas tem exercido importante papel no desenvolvimento

espacial do territoacuterio cearense

Nesse sentido o presente artigo objetiva analisar os principais aspectos econocircmicos e

demograacuteficos das cidades meacutedias do estado do Cearaacute utilizando a classificaccedilatildeo do IBGE para

cidades meacutedias que eacute a mais usual nos trabalhos acadecircmicos10

Aleacutem de entender a dinacircmica

da estrutura produtiva cearense nas uacuteltimas deacutecadas bem como compreender os aspectos

conceituais e a importacircncia das cidades meacutedias na configuraccedilatildeo espacial e na regiatildeo de

influecircncia da rede urbana cearense nos anos 2000

Para atingir tais objetivos portou-se de procedimentos metodoloacutegicos de caraacuteter

exploratoacuterio descritivo e estatiacutestico levantamento de dados secundaacuterios - provenientes de

oacutergatildeos oficiais - das cidades meacutedias do estado O recorte temporal utilizado foi o poacutes-2000

onde seraacute possiacutevel entender e caracterizar o processo de transformaccedilotildees soacutecio-espaciais destas

cidades bem como trabalhar o exerciacutecio da espacialidade

Da base teoacuterica consultada conclui-se que uma cidade meacutedia se define pelo papel que

desempenha na organizaccedilatildeo regional natildeo obstante seja este tambeacutem comum agraves grandes

cidades e tambeacutem no que concerne agrave posiccedilatildeo que ocupa na rede urbana local ou regional

Nesse intuito a temaacutetica sobre cidades meacutedias e estudos mais aprofundados faz-se necessaacuteria

para compreender em que medida as cidades meacutedias tecircm sido afetadas pelos processos de

reestruturaccedilatildeo da economia dos aspectos econocircmicos e demograacuteficos Justificando assim a

escolha do espaccedilo-tempo em que houveram mutaccedilotildees na sociedade e no espaccedilo cearense

cujos rebatimentos tecircm sido maiores nos territoacuterios urbanos

Este artigo estaacute organizado em seis seccedilotildees Aleacutem desta introduccedilatildeo e das consideraccedilotildees

finais a segunda seccedilatildeo trata-se de um estudo sobre as principais caracteriacutesticas da estrutura

produtiva cearense a seccedilatildeo seguinte aborda aspectos conceituais de cidades meacutedias seguida

dos procedimentos metodoloacutegicos adotados na quinta seccedilatildeo eacute feito um estudo sobre a

configuraccedilatildeo espacial seguido por anaacutelises descritivas e estatiacutesticas com base na revisatildeo

10

Eacute importante destacar o debate existente entre a conceituaccedilatildeo de cidades meacutedias tendo como referecircncia os

trabalhos de Spoacutesito (2007)

35

teoacuterica abordada sobre os aspectos econocircmicos e demograacuteficos das cidades meacutedias cearenses

nos anos 2000

2 Modificaccedilotildees na estrutura produtiva e no desenvolvimento territorial do Cearaacute

Entre os anos de 1950 ateacute meados dos anos 1980 a economia do Cearaacute atravessa uma

etapa de diversificaccedilatildeo e modernizaccedilatildeo produtiva sob accedilatildeo planejada governamental

Contudo mais precisamente eacute atraveacutes de intervenccedilotildees de organismos institucionais de

fomento ao desenvolvimento regional em especial a SUDENE que o Cearaacute experimenta

transformaccedilotildees mais soacutelidas e consistentes no seu quadro produtivo e na sua infraestrutura

atraveacutes das accedilotildees de desenvolvimento via industrializaccedilatildeo (AMORA 1994 LIMA JUacuteNIOR

2014)

A anaacutelise da dinacircmica setorial produtiva eacute relevante para a compreensatildeo dos fatores

que influenciam no processo de promoccedilatildeo do desenvolvimento da economia e do territoacuterio

cearense Todavia a reestruturaccedilatildeo produtiva ocorrida com mais consistecircncia no paiacutes em

1990 teve repercussotildees acentuadas nas caracteriacutesticas da cadeia produtiva em todos os setores

de atividade econocircmica No que se refere ao comportamento da estrutura produtiva cearense

ocorre que nos uacuteltimos 20 anos houveram mudanccedilas estruturais significativas de acordo com

o tipo de atividade estimulada com base no tripeacute agronegoacutecio-induacutestria-turismo que eacute o vetor

das poliacuteticas de promoccedilatildeo do desenvolvimento cearense segundo Lima Juacutenior (2014)

Nesse sentido foi necessaacuterio que o governo dotasse o estado de infraestrutura para

permitir a ―livre circulaccedilatildeo e a expansatildeo continuada do capital De acordo com Lima Juacutenior

(2014) e corroborando com Arauacutejo (2007 p103) implantam-se trecircs eixos principais para as

accedilotildees i) interiorizaccedilatildeo da induacutestria (pela implantaccedilatildeo de novas induacutestrias e modernizaccedilatildeo do

atual parque industrial) ii) modernizaccedilatildeo da agricultura (atraveacutes do agronegoacutecio e turismo

com a instalaccedilatildeo de equipamentos necessaacuterios para a inserccedilatildeo das aacutereas litoracircneas na rota

nacional) e iii) a consequente expansatildeo do comeacutercio e dos serviccedilos

No Cearaacute ateacute meados dos anos 1990 as taxas eram crescentes em dois dos setores da

economia cearense (induacutestria e serviccedilos) inclusive maiores do que as taxas nacionais como

demonstrado na Tabela 01

36

Tabela 01 Brasil Nordeste e Cearaacute Taxas de Crescimento do PIB Setorial () 1990-2010

(Periacuteodos Selecionados)

Periacuteodo Agricultura Induacutestria Serviccedilos

BR NE CE BR NE CE BR NE CE

1990-95 117 153 -214 -167 -079 288 07 04 308

1995-00 -05 -354 -764 373 48 332 133 241 13

2000-05 -284 -007 344 -374 -329 -621 713 689 874

2005-10 346 241 102 159 256 686 481 596 504

Fonte adaptado pelo autor a partir de Lima Juacutenior (2014 p93)

As atividades estimuladas para a promoccedilatildeo do desenvolvimento no Estado do Cearaacute

formam segundo Lima Juacutenior (2014) o chamado tripeacute agronegoacutecio-induacutestria-turismo Dentre

as accedilotildees do Governo das Mudanccedilas na segunda metade da deacutecada de 1980 destacam-se ―as

poliacuteticas de interiorizaccedilatildeo do desenvolvimento mediante o fortalecimento das cidades

meacutedias as poliacuteticas fiscais e os investimentos em infraestrutura urbana de forma a atrair o

capital nacional e estrangeiro nas atividades industriais e turiacutesticasimobiliaacuterias (ACCIOLY

2009 p7)

Conforme observado por Alves et al (2017) houve melhorias substanciais e mais

difundidas ao longo do territoacuterio estadual abrangendo grande parte dos municiacutepios

Entretanto estas melhorias natildeo se deram de forma homogecircnea Os principais avanccedilos se

deram em municiacutepios polarizadores de regiotildees mais dinacircmicas como os municiacutepios de Sobral

o conjunto formado por Crato ndash Juazeiro do Norte ndash Barbalha Limoeiro do Norte Iguatu

Aleacutem da capital do estado e de seu entorno metropolitano estes municiacutepios foram alvos de

poliacuteticas de interiorizaccedilatildeo industrial e outros programas de modernizaccedilatildeo econocircmica Nas

aacutereas marcadas ainda pelo atraso e vulnerabilidades climaacuteticas como o oeste do estado

Sertotildees Central e dos Inhamuns ndash onde a aridez eacute a marca principal - as melhoras tiveram um

padratildeo mais lento

37

Figura 01 Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal para o ano de 2000 e 2010

Fonte Alves et al (2014 p16)

Segundo Conte (2013) das preocupaccedilotildees com o desenvolvimento regional e com a

tentativa de corrigir os desequiliacutebrios regionais eacute que as cidades meacutedias surgiram como uma

possiacutevel ―soluccedilatildeo

Os desequiliacutebrios regionais historicamente sempre foram presentes Neste contexto a

cidade meacutedia aparece assim como um mecanismo a atenuar ndash ou frear ndash tais desequiliacutebrios

Conforme traz Rochefort (1998 p 93) algumas cidades meacutedias satildeo desenvolvidas com o

objetivo de frear o crescimento das metroacutepoles e ―[] agrave medida que as cidades satildeo escolhidas

no interior do territoacuterio levam-se para esses espaccedilos subdesenvolvidos atividade e homens

que permitam um desenvolvimento da economia regional Destarte a concentraccedilatildeo

econocircmica intensificada pelo processo de industrializaccedilatildeo brasileira nas uacuteltimas deacutecadas vai

se contraindo atraveacutes das poliacuteticas de desconcentraccedilatildeo urbana e econocircmica

3 Aspectos conceituais das cidades meacutedias

O conceito de cidade meacutedia eacute bastante heterogecircneo pois pode ser abordado por

diversas oacuteticas demograacutefica localizaccedilatildeo espacial niacutevel hieraacuterquico o contexto em que se

insere Enfim uma vasta gama de definiccedilotildees pautadas na realidade vivenciada pela cidade

meacutedia Diversos autores e pesquisadores abordam este tema e definem diversos conceitos eou

paracircmetros para a cidade meacutedia (FRANCcedilA 2007)

38

Amorim Filho e Serra (2001) no que tange a cidade meacutedia afirma que esta eacute meacutedia

por inserir-se em uma determinada realidade em um contexto especiacutefico

Bessa Borges e Soares (2002) destacam o aspecto da localizaccedilatildeo espacial A cidade

meacutedia pode estar sob a influecircncia direta ou indiretamente de uma metroacutepole nacional ou

regional uma capital estadual ou ser adjacente a uma cidade importante o que lhe confere

maiores chances de crescimento e desenvolvimento Tais fatores indicam a singularidade das

cidades meacutedias em seus respectivos contextos (BESSA BORGES SOARES 2002

FRANCcedilA 2007)

Soares Melo e Luz (2005) trazem a questatildeo da individualidade ao debate conceitual

sobre cidade meacutedia Estas cidades como qualquer outra ―possuem especificidades relativas agrave

sua formaccedilatildeo crescimento demograacutefico dinamizaccedilatildeo econocircmica e complexidade no

oferecimento de serviccedilos comeacutercio e infraestrutura urbana (FRANCcedilA 2007 p 50)

Destarte ―cada cidade eacute um todo completo e contraditoacuterio pois as variaacuteveis necessaacuterias agrave sua

reproduccedilatildeo abarcam o sistema produtivo e a rede de consumo em uma relaccedilatildeo estreita com a

regiatildeo (SOARES LUZ MELO 2005 p2)

Quanto agrave relaccedilatildeo das cidades meacutedias com a regiatildeo Steinberger e Bruna (2001)

apontam que tal relaccedilatildeo regional daacute a elas o papel de nuacutecleo estrateacutegico pelo fato de estarem

inseridas nos espaccedilos urbano e regional

Cabe frisar que a cidade meacutedia eacute uma consonacircncia da cidade grande e da cidade

pequena Ela exibe caracteriacutesticas de um grande espaccedilo com especializaccedilotildees e variedades nos

serviccedilos e potencialidades em atividades produtivas Por outro lado a populaccedilatildeo da cidade

meacutedia manteacutem as relaccedilotildees sociais com haacutebitos de troca de favores de forte capital social

(TUAN 1983 BESSA BORGES SOARES 2002)

Quanto agrave classificaccedilatildeo segundo o IBGE uma cidade meacutedia eacute aquela que possui

populaccedilatildeo entre 100000 e 500000 habitantes A Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU)

caracteriza uma cidade meacutedia que tenha entre 100000 e 1000000 Jaacute a Uniatildeo dos Arquitetos

Internacionais (UIA) delimita entre 20000 e 2000000 de habitantes (FRANCcedilA 2007)

Ademais Soares (2005 p4) defende que o adensamento populacional de uma cidade

meacutedia varia de paiacutes para paiacutes ―como na Franccedila de 20000 a 100000 pessoas ou na Espanha

de 20000 a 200000

Todavia cabe salientar quanto ao aspecto demograacutefico uma ressalva Existe a

possibilidade de como coloca Amorim Filho Bueno e Abreu (1982) cidades com nuacutemeros

39

populacionais inferiores terem capacidade suficiente de exercer as mesmas funccedilotildees que uma

cidade meacutedia em locais menos desenvolvidos

Diversos satildeo os questionamentos ndash por exemplo o questionamento se a populaccedilatildeo

analisada eacute a total ou a urbana ndash quanto o conceito e classificaccedilatildeo de cidade meacutedia Spoacutesito

(2001) diz que uma cidade meacutedia pode ser caracterizada pelo seu papel regional e potencial de

comunicaccedilatildeo e articulaccedilatildeo provenientes de sua realidade geograacutefica tendo o consumo como

ferramenta importante no papel intermediaacuterio dessas cidades

Nesta linha os limites populacionais satildeo ultrapassados na conceituaccedilatildeo de meacutedio e satildeo

consideradas como meacutedias os nuacutecleos urbanos que ―desempenham papeacuteis de intermediaccedilatildeo

entre cidades maiores e menores no acircmbito de diferentes redes urbanas e que portanto diferem

das denominadas ―cidades de porte meacutedio cujo reconhecimento adveacutem de seus tamanhos

demograacuteficos (SPOacuteSITO 2007 p 9)

4 Aspectos metodoloacutegicos

O presente trabalho aborda uma metodologia de caraacuteter exploratoacuterio descritivo e

estatiacutestico referente ao processo de transformaccedilatildeo das cidades meacutedias cearenses ao longo dos

anos Para tanto portou-se de dados secundaacuterios referentes agraves cidades meacutedias no ano de 2017

a saber Crato-Juazeiro do Norte-Barbalha11

Iguatu Itapipoca e Sobral De modo a entender a

dinacircmica demograacutefica e econocircmica dessas regiotildees bem como compreender a influecircncia sobre

as cidades vizinhas A despeito de Caucaia Maracanauacute e Maranguape contemplarem o

criteacuterio estabelecido pelo IBGE natildeo estaratildeo no escopo deste estudo pois estatildeo inseridas na

Regiatildeo Metropolitana de Fortaleza a qual apresenta uma forte concentraccedilatildeo da estrutura

produtiva do estado e em detrimento disto natildeo exercem caracteriacutesticas intriacutensecas a uma

cidade meacutedia

Os meios teacutecnicos utilizados foram o estatiacutestico e o descritivo Ambos contribuem

para uma boa anaacutelise de dados secundaacuterios De acordo com Prodanov e Freitas (2013) a

funccedilatildeo do meacutetodo estatiacutestico eacute essencialmente possibilitar uma descriccedilatildeo quantitativa da

sociedade considerada como um todo organizado jaacute no que se refere ao meacutetodo descritivo

11

Mesmo natildeo sendo considerada uma cidade meacutedia pelo criteacuterio demograacutefico do IBGE Barbalha assume o

papel de cidade meacutedia pois a conurbaccedilatildeo Crato-Juazeiro do Norte-Barbalha apresenta uma consonacircncia entre as

economias destes municiacutepios culminando em uma dinacircmica econocircmica e urbana Por exemplo muitas pessoas

vivem em uma cidade mas trabalham ou estudam em outra Essa dinacircmica espacial que interliga as economias

dos municiacutepios como um soacute municiacutepio presente no interior cearense

40

quando utilizado para explicar fenocircmenos possibilita analisar os dados na sua concretude

deduzindo elementos constantes abstratos ou gerais nele presentes

A exploraccedilatildeo de dados secundaacuterios foi realizada a partir de artigos publicados em

perioacutedicos bem como do IBGE DATASUS IPECE PNUD RAISMTE com a utilizaccedilatildeo de

dados referente as cidades meacutedias do Cearaacute abordando um panorama dos anos 2000 daquelas

cidades que em 2017 se caracterizam como cidades meacutedias Optou-se no presente trabalho

utilizar a classificaccedilatildeo do IBGE que eacute a mais usual entre a comunidade acadecircmica Onde seraacute

possiacutevel entender o processo de transformaccedilotildees soacutecio-espaciais destas cidades e entender o

seu grau de influecircncia sobre as demais

5 Resultados e Discussatildeo

51 Configuraccedilatildeo espacial e a Regiatildeo de Influecircncia de Cidades na rede urbana do Cearaacute

Nos uacuteltimos anos houveram grandes avanccedilos metodoloacutegicos no que diz respeito agraves

interaccedilotildees espaciais entre cidades tanto em escalas nacionais e regionais quanto intra-

estaduais Tais repercussotildees estatildeo associadas a um intenso processo de urbanizaccedilatildeo das

uacuteltimas deacutecadas

A comeccedilar entende-se sistema urbano como um componente espacial do

desenvolvimento social o resultado de uma evoluccedilatildeo histoacuterica A rede de cidades que o

compotildee em sua forma distribuiccedilatildeo no territoacuterio inter-relaccedilotildees e interdependecircncias decorre

de processos sociais de mudanccedila e expressa as diferentes escalas da inserccedilatildeo regional na

divisatildeo social do trabalho (MOURA PEcircGO 2016) Portanto satildeo vaacuterias redes regionais que

correspondem aos diferentes tempos e modos dessa inserccedilatildeo

No Cearaacute como mencionado anteriormente a intervenccedilatildeo planejada via SUDENE

mais precisamente na sua segunda metade do periacuteodo de vigecircncia dos Planos Diretores (Era

Jereissati) propocircs uma estruturaccedilatildeo urbana de caraacuteter social priorizando a expansatildeo de

habitaccedilotildees de populares e o suprimento da infraestrutura urbana necessaacuteria a melhores

condiccedilotildees de vida

No entanto Egler et al (2011) apontam para a definiccedilatildeo de trecircs categorias analiacuteticas

baacutesicas que possuem relaccedilotildees conceituais distintas satildeo elas estrutura rede e sistema urbanos

A estrutura urbana segundo os autores eacute a descriccedilatildeo e a interpretaccedilatildeo da distribuiccedilatildeo espacial

das cidades moldada por processos gerais provenientes das tendecircncias de longo prazo da

economia e da sociedade nesse sentido destaca-se o forte processo de concentraccedilatildeo urbana

41

cearense na capital e regiotildees adjacentes Jaacute a noccedilatildeo de rede urbana manifesta caracteriacutesticas

histoacutericas e geograacuteficas de um determinado territoacuterio estaacute associada a questotildees mais

abstratas Por fim os sistemas urbanos expressam o comportamento dos fluxos materiais e

imateriais de curto prazo isto eacute os seus aspectos dinacircmicos atuais (EGLER et al 2011)

Nos uacuteltimos anos com base em configuraccedilotildees espaciais que transcendem a noccedilatildeo do

urbano aglomerado e incorporam a dimensatildeo regional12

o Cearaacute apresentou mudanccedilas na sua

rede urbana Observando como recurso metodoloacutegico as proposiccedilotildees sistematizadas pelo

Estudo Regiatildeo de Influecircncia de Cidades ndash REGIC elaborado pelo IBGE Tem-se que em 2008

o grau de Influecircncia das cidades cearenses apresentava as seguintes caracteriacutesticas conforme

demonstrado a seguir

Quadro 01 Regiatildeo de Influecircncia de Cidades ndash REGIC 2008

CENTROS NIacuteVEIS DE HIERARQUIA

DOS CENTROS CENTROS CEARENSES

Metroacutepole Metroacutepole Fortaleza

Capital Regional Capitais Regionais C Juazeiro-Crato-Barbalha e Sobral

Centro Sub-Regional

Centros Subregionais A Crateuacutes Iguatu e Quixadaacute

Centros Subregionais B Itapipoca

Centro de Zona

Centros de Zona A Acarauacute Aracati Canindeacute Icoacute

Limoeiro do Norte e Russas

Centros de Zona B

Brejo Santo Camocim Cruz

Guaraciaba do Norte Ipu Iracema

Itapageacute Jaguaribe Satildeo Benedito

Senador Pompeu e Tauaacute

Centro Local - Demais 150 cidades

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com base nas informaccedilotildees do REGICIBGE (2008)

O Quadro 01 mostra os centros de maiores hierarquias a Metroacutepole Fortaleza as

Capitais Regionais C de Sobral e Crato-Juazeiro do Norte-Barbalha que satildeo seguidas pelos

12

Os estudos da rede urbana brasileira empreendidos pelo IBGE foram realizados nos anos de 1966 1978 1993

e em 2007 Consistiram em subsiacutedios de regionalizaccedilotildees com base na definiccedilatildeo da hierarquizaccedilatildeo dos centros

urbanos brasileiros delimitados por regiotildees de influecircncia exercida no acircmbito da intensidade e direccedilatildeo de fluxos

de pessoas bens e serviccedilos (LIMA JUacuteNIOR 2014)

42

Centros Sub-regionais A de Crateuacutes Iguatu e Quixadaacute e pelo Centro Sub-regional B de

Itapipoca Logo em seguida vem os Centros de Zona A Acarauacute Aracati Canindeacute Icoacute

Limoeiro do Norte e Russas e os Centros de Zona B Brejo Santo Camocim Cruz

Guaraciaba do Norte Ipu Iracema Itapageacute Jaguaribe Satildeo Benedito Senador Pompeu e

Tauaacute Por fim agraves demais 150 cidades classificadas como centro local

A presenccedila de duas Capitais Regionais de niacutevel C ndash Sobral e o aglomerado Juazeiro do

Norte-Crato-Barbalha ndash localizadas em aacutereas opostas do territoacuterio estadual permitem segundo

Lima Juacutenior (2014) a polarizaccedilatildeo a partir destes centros Aos quais se caracterizam como

cidades meacutedias por apresentarem uma populaccedilatildeo acima de 100000 conforme o criteacuterio do

IBGE e satildeo as regiotildees mais populosas do interior do estado promovem um grau de

diversificaccedilatildeo diferenciado e apresenta niacuteveis de influecircncia mais elevados

Nos Centros Sub-regionais A de Crateuacutes Iguatu e Quixadaacute a influecircncia exercida se daacute

prioritariamente na atividade do comercio e de serviccedilos em sauacutede e educaccedilatildeo Jaacute Itapipoca

(Centro Sub-regional B) tambeacutem se caracteriza como uma cidade meacutedia (com 116065

habitantes) Os Centros de Zona satildeo os centros que se constituem de cidades menores em

relaccedilatildeo agraves anteriores possuem uma aacuterea de influecircncia tambeacutem menor estes centros

funcionalizam o processo denominado por Spoacutesito (2007) de relaccedilotildees sobreposiccedilotildees e

articulaccedilotildees com o espaccedilo rural e com os demais centros de forma multi-escalar

O olhar para o setor agriacutecola advindo (novamente) a partir do Programa de Accedilatildeo

Econocircmica do Governo ndash PAEG visando dentre outras medidas a modernizaccedilatildeo da

agricultura e a maior concentraccedilatildeo do crescimento industrial brasileiro no Sudeste levam agrave

decadecircncia das induacutestrias nordestinas a exemplo da tecircxtil e agrave crise do setor agriacutecola

aumentando as disparidades regionais no paiacutes Isso eacute um dos causadores da forte concentraccedilatildeo

na capital onde Fortaleza apresenta elevado crescimento exacerbando a distacircncia em termos

populacionais e econocircmicos em relaccedilatildeo a outras cidades do Cearaacute A centralidade de

Fortaleza eacute reforccedilada pelas poliacuteticas de desenvolvimento regional iniciadas nos anos 1960

com a SUDENE contribuindo para a ascensatildeo de Fortaleza a metroacutepole regional (COSTA

AMORA2009 ARAUJO 2007)

Nas cidades meacutedias satildeo sentidos os efeitos desse momento de industrializaccedilatildeo e

integraccedilatildeo do mercado nacional Cresce o setor terciaacuterio principalmente em funccedilatildeo dos

empregos diretos no setor puacuteblico e dos indiretos ligados ao comeacutercio e aos serviccedilos que se

ampliam A situaccedilatildeo do campo contribui para que as cidades meacutedias se tornem atrativas

43

intensificando a migraccedilatildeo campo-cidade e expandindo a periferia urbana com a formaccedilatildeo de

favelas e o crescimento do setor informal (COSTA AMORA 2009)

52 Aspectos demograacuteficos e econocircmicos das cidades meacutedias do Cearaacute

A presente seccedilatildeo tem como objetivo analisar dados relativos agraves cidades meacutedias aqui

estudadas seguindo o criteacuterio estabelecido pelo IBGE A extraccedilatildeo dos microdados foi

realizada em diversas bases de dados DATASUS IBGE IPECE PNUD RAISMTE Nesse

sentido eacute imprescindiacutevel o exerciacutecio das espacialidades destas cidades que se localizam nas

mesorregiotildees Noroeste Cearense (Sobral) Sul cearense (Crato Juazeiro do Norte e

Barbalha) Centro-sul (Iguatu) e no Norte Cearense (Itapipoca) A localizaccedilatildeo destas no

territoacuterio cearense eacute observado na Figura 02

Figura 02 Cidades meacutedias do Cearaacute - 2017

Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria com a utilizaccedilatildeo do software QGis

Em termos demograacuteficos tem-se um processo de urbanizaccedilatildeo das cidades meacutedias do

estado no comparativo 2000 e 2010 conforme observado no Graacutefico 01

44

Graacutefico 01 Populaccedilatildeo Urbana e Rural das cidades meacutedias em valores absolutos ndash 2000 e

2010

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos Censos de 2000 e 2010

Na Tabela 03 todos os municiacutepios aqui analisados apresentaram mais de 50 da

populaccedilatildeo como urbana (com o menor niacutevel de urbanizaccedilatildeo em Itapipoca de 51) no ano

2000 o que evidencia o papel do urbano na constituiccedilatildeo dessas cidades no iniacutecio do seacuteculo

XXI ndash vale frisar a aglomeraccedilatildeo Crato-Juazeiro do Norte-Barbalha e Sobral os quais

apresentam uma populaccedilatildeo urbana de quase 90

Tabela 03 Taxa de populaccedilatildeo urbana e rural das cidades meacutedias cearenses ndash 2000 e 2010

Municiacutepio

2000 2010 Taxa de

Crescimento

20002010 Urbana Rural Total

(abs) Urbana Rural Total (abs)

Crato-Juazeiro

do Norte-

Barbalha

087 013 363810 089 011 426690 085

Iguatu 073 027 85615 077 023 96495 089

Itapipoca 051 049 94369 058 042 116065 081

Sobral 087 013 155276 088 012 188233 082

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos Censos de 2000 e 2010

Em 2010 a taxa de urbanizaccedilatildeo miacutenima se eleva mostrando o papel do urbano no

desenvolvimento destas cidades destacando Itapipoca e Iguatu os quais apresentam

elevaccedilotildees significativas nas respectivas populaccedilotildees urbanas ante a rural Ademais tal cenaacuterio

316813

62366 48481

134508

46997 23249

45888 20768

379066

74627 66909

166310

47624 21868

49156 21923

0

50000

100000

150000

200000

250000

300000

350000

400000

Crato-Juazeiro do Norte-Barbalha

Iguatu Itapipoca Sobral

2000 Populaccedilatildeo Urbana 2000 Populaccedilatildeo Rural 2010 Populaccedilatildeo Urbana 2010 Populaccedilatildeo Rural

45

significa aumento na qualidade de vida na longevidade e na renda da populaccedilatildeo destes

municiacutepios bem como reduccedilotildees nas desigualdades (Tabela 04)

Tabela 04 Iacutendice de Desenvolvimento Humano e Iacutendice de Gini das cidades meacutedias

cearenses nos anos de 2000 e 2010

Municiacutepio IDH Iacutendice de Gini

2000 2010 Δ 2000 2010 Δ

Crato-Juazeiro do Norte-Barbalha 0546 0697 2759 06043 05431 -

101219

Iguatu 0546 0677 2399 05867 05522 -58803

Itapipoca 0477 0640 3419 06338 05617 -

113758

Sobral 0537 0714 3296 06273 05702 -91025

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de dados do PNUD e do DATASUS

Segundo dados do PNUD em 2000 todas as cidades meacutedias aqui analisadas

apresentaram IDHs medianos ndash Itapipoca apresentou abaixo disso tendo o menor coeficiente-

o que em parte refletia baixas condiccedilotildees de vida em relaccedilatildeo agraves demais cidades do estado Jaacute

em 2010 o melhor iacutendice pertence a Sobral (0714) correspondendo a um alto IDHM

destacando a elevaccedilatildeo significativa na qualidade de vida da populaccedilatildeo no dececircnio 200010

Itapipoca manteacutem-se com o IDH mais baixo Todavia cabe salientar a elevaccedilatildeo deste iacutendice

em todas as cidades

Conforme observado por Alves et al (2017) os principais avanccedilos se deram em

municiacutepios polarizadores de regiotildees mais dinacircmicas como os municiacutepios de Sobral o

conjunto formado por Crato ndash Juazeiro do Norte ndash Barbalha Limoeiro do Norte Iguatu Aleacutem

da capital do estado e de seu entorno metropolitano estes municiacutepios foram alvo de poliacuteticas

de interiorizaccedilatildeo industrial e outros programas de modernizaccedilatildeo econocircmica De modo geral

houve uma melhoria dos indicadores de IDHM das cidades meacutedias

No que diz respeito a anaacutelise da desigualdade de renda medida pelo Iacutendice de Gini o

qual mostra o quatildeo desigual encontra-se a distribuiccedilatildeo de renda dentro dos municiacutepios aqui

estudados de acordo com a Tabela 04 em 2000 o iacutendice mais alto estaacute em Itapipoca (06338)

isto eacute apresentava a pior distribuiccedilatildeo de renda entre as cidades meacutedias do Cearaacute jaacute o menor

iacutendice estaacute em Iguatu (05867) Em 2010 tem-se uma mudanccedila quanto a distribuiccedilatildeo de renda

bem significativa Todos os iacutendices apresentam melhora ou seja todos reduziram no dececircnio

46

200010 O menor iacutendice fica para o aglomerado Crato-Juazeiro do Norte-Barbalha (05431)

Sobral apresentava o maior iacutendice entre as cidades meacutedias (05702)

As melhorias neste indicador refletem em boa medida no aumento de empregos

gerados ao longo do tempo Jaacute que conforme explorado anteriormente Franccedila (2007) afirma

que as cidades meacutedias possuem especificidades relativa agrave sua formaccedilatildeo crescimento

demograacutefico dinamizaccedilatildeo econocircmica e complexidade no oferecimento de serviccedilos comeacutercio

infraestrutura urbana o que de fato favorece a reduccedilatildeo das desigualdades

Todavia o desenvolvimento das cidades meacutedias cearenses aqui estudadas se reflete

tambeacutem no mercado de trabalho destes espaccedilos e na elevaccedilatildeo do poder de compra do

consumidor

Tabela 05 Empregos formais das cidades meacutedias cearenses nos anos 2000 2010 e 2015

Ano Crato-Juazeiro do Norte-Barbalha Iguatu Itapipoca Sobral

2000 31078 5796 3239 21119

2010 63420 11521 8523 41963

2015 78106 14751 12805 46953

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de dados da RAISMTE

Conforme Tabela 05 o nuacutemero de empregos no mercado de trabalho formal eleva-se

significativamente O municiacutepio com maior nuacutemero de empregos gerados eacute o aglomerado

Crato-Juazeiro do Norte-Barbalha Em seguida aparece Sobral crescimento evidenciado pela

produccedilatildeo de calccedilados decorrente da inserccedilatildeo da empresa Grendene SA em 1993 e seus

milhares de empregos gerados desde sua instalaccedilatildeo Os com menor participaccedilatildeo na promoccedilatildeo

de empregos formais foram Iguatu e Itapipoca

Todas estas variaacuteveis refletem o crescimento econocircmico apresentado pelas cidades

meacutedias cearenses no decorrer do seacuteculo XXI Ademais o PIB per capita (PIB

municipalPopulaccedilatildeo municipal) cresce em decorrecircncia da elevaccedilatildeo do poder financeiro dos

mesmos Isso mostra o desenvolvimento econocircmico destes municiacutepios a ampliaccedilatildeo de

investimentos colocados em seus territoacuterios agraves poliacuteticas de atraccedilatildeo de investimentos para a

RM Cariri e para a Regiatildeo de Sobral ndash em 2016 foi instaurada a Regiatildeo Metropolitana de

Sobral (RMS)

47

Graacutefico 02 PIB per capita das cidades meacutedias cearenses 20022015 (em R$)

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de dados do IPECE

a anaacutelise do PIB municipal colocada pelo IPECE natildeo contempla o ano de 2014 conforme estaacute na seacuterie de Perfil

Baacutesico Municipal (PBM) da referida instituiccedilatildeo

O Graacutefico 02 traz uma seacuterie histoacuteria do PIB per capita das cidades meacutedias cearenses

Nela pode-se observar uma elevaccedilatildeo consideraacutevel do PIB por habitante em todos os

municiacutepios Destaque vai para Sobral que apresenta o maior valor (R$ 2022400) seguido

por Iguatu (R$ 1340500) Os que apresentam menor valor satildeo o aglomerado Crato-Juazeiro

do Norte-Barbalha Crato (R$ 1259300) e Itapipoca (R$ 953000) Em termos percentuais

aglomerado Crato-Juazeiro do Norte-Barbalha auferiu o maior aumento (40785) seguido

por Iguatu (38852) os com menor crescimento percentual ndash ainda assim foram altos ndash

foram Itapipoca (29659) e Sobral (26946) Jaacute em termos absolutos o que obteve maior

elevaccedilatildeo nos empregos formais foi Sobral (+ R$1475000) o com menor aumento absoluto

foi Itapipoca (+ R$712700)

Tais estatiacutesticas sobre o Produto Interno Bruto satildeo reflexos das atividades estimuladas

para a promoccedilatildeo do desenvolvimento no estado do Cearaacute que formam segundo Lima Juacutenior

(2014) o chamado tripeacute agronegoacutecio-induacutestria-turismo De modo geral conforme

demonstrado na Tabela 01 no Cearaacute ateacute meados dos anos 1990 as taxas eram crescentes em

dois dos setores da economia cearense (induacutestria e serviccedilos) eram inclusive maiores do que as

taxas nacionais Tal aspecto estrutural eacute relevante para destacar os desempenhos das cidades

meacutedias na economia cearense

0

5000

10000

15000

20000

25000

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2015

Crato-Juazeiro do Norte-Barbalha Iguatu Itapipoca Sobral

48

As cidades meacutedias passam por transformaccedilotildees significativas no contexto atual

Segundo Costa e Amora (2009) a destacada posiccedilatildeo na rede urbana cearense eacute consorciada

natildeo soacute dos aspectos de urbanizaccedilatildeo mas tambeacutem da localizaccedilatildeo espacial onde empregam

relativa dinamizaccedilatildeo da economia das cidades vizinhas configurando-se algumas delas como

cidades polos ndash Sobral e Crato-Juazeiro do Norte As autoras esclarecem que eacute na fase de

industrializaccedilatildeo nacional que ocorrem mudanccedilas significativas nas chamadas cidades meacutedias

6 Consideraccedilotildees Finais

As cidades meacutedias passaram a representar sinocircnimo de desenvolvimento na

contemporaneidade Diante das desigualdades regionais advindas das poliacuteticas de

desenvolvimento econocircmico iniciada na deacutecada de 1950 intensificando com o tempo as

disparidades econocircmicas regional e estadual a cidade meacutedia ganha um novo papel sobretudo

no que tange a desconcentraccedilatildeo econocircmica intra-estadual Assim algumas cidades meacutedias satildeo

desenvolvidas com o intento de reduzir o crescimento das metroacutepoles e conforme elas satildeo

escolhidas no interior do territoacuterio tem-se investimentos elevaccedilatildeo nos niacuteveis demograacuteficos

melhor qualidade de vida permitindo um desenvolvimento da economia regional

(ROCHEFORT 1998)

No que concerne os aspectos soacutecio-espaciais e da urbanizaccedilatildeo observou-se que a

presenccedila de duas Capitais Regionais de niacutevel C ndash Sobral e o aglomerado Juazeiro do Norte-

Crato-Barbalha ndash localizadas em aacutereas opostas do territoacuterio estadual permitem a polarizaccedilatildeo a

partir destes centros Bem como a importacircncia das outras cidades meacutedias no que diz respeito

ao grau de influecircncia na rede urbana tais como Iguatu e Itapipoca como centros sub-regionais

A e B respectivamente voltados sobretudo ao comeacutercio e serviccedilos

Quanto aos aspectos demograacuteficos percebe-se um aumento significativo na taxa de

urbanizaccedilatildeo das cidades meacutedias Todas as cidades meacutedias apresentaram bons IDHMs o que

reflete melhores condiccedilotildees de vida Os melhores iacutendices pertencem a Sobral o pior eacute

Itapipoca Quanto ao iacutendice de Gini a maior desigualdade na distribuiccedilatildeo de renda estaacute em

Sobral O melhor iacutendice encontra-se no aglomerado Crato-Juazeiro do Norte-Barbalha No

mercado de trabalho o aglomerado Crato-Juazeiro do Norte-Barbalha possui os melhores

nuacutemeros de empregos gerados Com menor participaccedilatildeo foram Iguatu e Itapipoca A seacuterie do

PIB per capita (200215) destaca Sobral (R$ 2022400) O s que apresentam menor valor satildeo

o aglomerado Crato-Juazeiro do Norte-Barbalha Crato (R$ 1259300) e Itapipoca (R$

49

953000) Tais estatiacutesticas sobre o PIB satildeo reflexos das atividades estimuladas para a

promoccedilatildeo do desenvolvimento no estado do Cearaacute que formam segundo Lima Juacutenior (2014)

o chamado tripeacute agronegoacutecio-induacutestria-turismo

Referecircncias

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51

DESENVOLVIMENTO ECONOcircMICO DOS MUNICIacutePIOS DE MEacuteDIO PORTE DO

CEARAacute NOS ANOS 2000 E 2010

NATANIELE DOS SANTOS ALENCAR

Economista pela Universidade Regional do Cariri (URCA) Mestranda em Economia Rural pela

Universidade Federal do Cearaacute (UFC) E-mail nataniele-santoshotmailcom

Telefone (88) 9 9449-1362

WELLINGTON RIBEIRO JUSTO

Professor associado da Universidade Regional do Cariri (URCA) Professor do Programa de

Poacutes-graduaccedilatildeo em Economia (PPGECON-UFPE) Doutor em Economia pelo Programa de

Poacutes-graduaccedilatildeo em Economia do Centro de Ciecircncias Sociais Aplicadas (PIMES-UFPE) E-

mail justowryahoocombr

Telefone (81) 9 8848-1898

JAMILY FREIRE GONCcedilALVES

Economista pela Universidade Regional do Cariri (URCA) E-mail jamilyfreiregmailcom

Telefone (88) 9 9941-5302

MATHEUS OLIVEIRA DE ALENCAR

Economista pela Universidade Regional do Cariri (URCA) Mestrando em Economia Rural pela

Universidade Federal do Cearaacute (UFC) E-mail matheusalencar29gmailcom

Telefone (88) 9 8107-0613

WAGNER FERNANDES DE CALDA

Graduando em ciecircncias econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA) E-mail

wagnermauritihotmailcom

Telefone (88) 9 9230-0406

52

DESENVOLVIMENTO ECONOcircMICO DOS MUNICIacutePIOS DE MEacuteDIO PORTE DO

CEARAacute NOS ANOS 2000 E 2010

RESUMO

Nas uacuteltimas deacutecadas o avanccedilo no processo de urbanizaccedilatildeo no Brasil tem apontado para uma

desconcentraccedilatildeo espacial tendo em vista que os municiacutepios de meacutedio porte tecircm crescido mais

que as grandes metroacutepoles Nesse contexto esse estudo buscou discutir o desenvolvimento

econocircmico dos municiacutepios de meacutedio porte do Estado do Cearaacute nos anos 2000 e 2010 a partir

de uma anaacutelise tabular descritiva Para atingir o objetivo proposto utilizaram-se dados do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e do Instituto de Pesquisa Econocircmica

Aplicada (IPEADATA) Um dos principais resultados obtidos diz respeito ao crescimento

populacional nos municiacutepios apesar de todos os municiacutepios estudados terem crescido ao

longo dos 10 anos as cidades de Caucaia Juazeiro do Norte Maracanauacute e Sobral satildeo as que

mais se destacaram com a maior concentraccedilatildeo populacional entre as cidades meacutedias

cearenses Contudo todas as cidades meacutedias apresentaram diminuiccedilatildeo na taxa de

analfabetismo e um aumento na renda per capita Jaacute em relaccedilatildeo a desigualdade social o iacutendice

de Gini apresentou uma diminuiccedilatildeo significativa na maioria das cidades analisadas

Compreende-se que vaacuterias satildeo as mudanccedilas ocorridas recentemente na dinacircmica territorial

cearense resultado da interaccedilatildeo de diversos processos de produccedilatildeo do espaccedilo urbano

Palavras-chaves Desenvolvimento Econocircmico Cidades Cearaacute

ABSTRACT

In the last decades the advance in the process of urbanization in Brazil has pointed to a

spatial deconcentration considering that the municipative municipalities have grown more

than the great metropolis In this context this study sought to discuss the economic

development of the medium-sized municipalities of the State of Cearaacute in the years 2000 and

2010 based on a descriptive tabular analysis To reach the proposed objective data from the

Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE) and the Institute of Applied Economic

Research (IPEADATA) were used One of the main results obtained is related to the

population growth in the municipalities although all the municipalities studied grew over the

10 years the cities of Caucaia Juazeiro do Norte Maracanauacute and Sobral are the ones that

stood out the most with the highest population concentration among medium-sized cities in

Cearaacute However all medium-sized cities showed a decrease in the illiteracy rate and an

increase in per capita income Regarding social inequality the Gini index showed a

significant decrease in most cities analyzed It is understood that several are the recent

changes in the territorial dynamics of Cearaacute resulting from the interaction of several

processes of production of urban space

Keywords Economic development Cities Cearaacute

53

1 Introduccedilatildeo

O conceito de desenvolvimento comeccedilou a ser delineado no decorrer da deacutecada de

1960 em um momento em que se observava em vaacuterios paiacuteses do mundo forte crescimento

econocircmico sem que houvesse necessariamente melhoria nos indicadores sociais como por

exemplo o niacutevel de pobreza Eacute consenso atualmente que o desenvolvimento econocircmico seja

fundamentado sobre trecircs fatores principais o crescimento do bem-estar econocircmico a

diminuiccedilatildeo nos niacuteveis de pobreza desemprego e desigualdades e elevaccedilatildeo das condiccedilotildees de

sauacutede nutriccedilatildeo educaccedilatildeo e moradia

Nas uacuteltimas deacutecadas no aspecto qualidade de vida as cidades meacutedias vecircm se

destacando bastante principalmente pelo fato de possuiacuterem mercado de trabalho em

expansatildeo baixo custo de vida menores niacuteveis de criminalidade entre outros fatores positivos

o que tecircm atraiacutedo cada vez mais pessoas e consequentemente novos investimentos

industriais e de serviccedilos (SILVA CALIXTO 2009)

A migraccedilatildeo eacute um dos fenocircmenos que afetam a taxa de crescimento das cidades tendo

em vista o aumento dos investimentos realizados no Estado por investidores de outras regiotildees

brasileiras ou estrangeiros Recentemente no estado do Cearaacute os fluxos migratoacuterios tem sido

positivos notadamente com a forte contribuiccedilatildeo da migraccedilatildeo de retorno estaacute ocorrendo

reversatildeo dos fluxos migratoacuterios tais retornos podem estar ligados ao sucesso com a migraccedilatildeo

que possibilita assim a volta da cidade de origem com melhor capitalizaccedilatildeo (CAVALCANTE

JUSTO 2017)

Queiroz e Baeninger (2013 p 843) ressaltam que as ―pesquisas recentes tambeacutem

apontam para os fluxos contiacutenuos e crescentes das migraccedilotildees de retorno que se dirigem para o

Cearaacute Eacute importante salientar que as pessoas retornam agrave regiatildeo em busca de novas

oportunidades de negoacutecios ou emprego nas induacutestrias que vatildeo se instalando no Estado e nas

obras que satildeo resultados dos investimentos estatais

Em relaccedilatildeo ao retorno para a regiatildeo eacute importante destacar a procura pelas cidades de

meacutedio porte em busca de melhores condiccedilotildees de vida principalmente a partir dos anos 2000

(OLIVEIRA JANNUZZI 2005) Essa busca pode ser resultado de situaccedilotildees negativas

enfrentadas pelos moradores dos grandes centros urbanos e pelas situaccedilotildees precaacuterias nas aacutereas

rurais cearenses pois os meacutedios centros permitem aos seus moradores menores iacutendices de

criminalidade reduccedilatildeo do tempo de locomoccedilatildeo menores niacuteveis de poluiccedilatildeo atmosfeacuterica

menor custo de vida e melhores condiccedilotildees ambientais sem reduzir no entanto a facilidade e

54

comodidade do acesso a serviccedilos puacuteblicos bem como ao mercado de bens e serviccedilos

privados que natildeo estatildeo dispostos ou satildeo dispostos de maneira reduzidas nas aacutereas rurais e nos

pequenos centros urbanos

Neste contexto o presente artigo tem como objetivo geral analisar o desenvolvimento

econocircmico dos municiacutepios de meacutedio porte do Estado do Cearaacute mediante comparativo entre

os anos 2000 e 2010 Aleacutem disso buscou-se identificar os aspectos teoacutericos acerca do

desenvolvimento econocircmico e das cidades meacutedias no paiacutes no Nordeste e de forma particular

no Cearaacute

Sendo assim este trabalho insere-se em uma preocupaccedilatildeo teoacuterica e empiacuterica que busca

contribuir com a literatura a partir da utilizaccedilatildeo de dados para o Estado do Cearaacute jaacute que

estudos desenvolvidos anteriormente foram realizados nos planos nacional e regional

Aleacutem desta seccedilatildeo introdutoacuteria o presente artigo estaacute estruturado em mais quatro

seccedilotildees A segunda seccedilatildeo traz uma breve discussatildeo acerca dos conceitos de desenvolvimento

econocircmico e cidades meacutedias na terceira seccedilatildeo apresentam-se a metodologia empregada no

estudo na quarta seccedilatildeo satildeo demonstrados os resultados obtidos e por fim na uacuteltima seccedilatildeo

apresenta-se as conclusotildees

2 Fundamentos teoacutericos sobre o desenvolvimento econocircmico e cidades meacutedias

Segundo Veiga (2005) a discussatildeo teoacuterica para definir o desenvolvimento surgiu apoacutes

a deacutecada de 1960 em uma eacutepoca de intenso crescimento econocircmico que aconteceu na deacutecada

de 50 em diversos paiacuteses Apesar desse avanccedilo no processo de crescimento este natildeo estava

necessariamente ligado ao desenvolvimento social dos paiacuteses uma vez que crescimento natildeo

aumentou o acesso de populaccedilotildees pobres a bens materiais e culturais como havia ocorrido

nos paiacuteses ateacute entatildeo considerados desenvolvidos

Crescimento e desenvolvimento natildeo satildeo sinocircnimos sendo que vaacuterios autores criticam

e tentam diferenciar tais conceitos Para Bresser-Pereira (2006) o crescimento seria o mero

aumento da renda per capita jaacute o desenvolvimento estaacute relacionado agraves transformaccedilotildees sociais

e poliacuteticas O desenvolvimento econocircmico pode ser entendido com um fenocircmeno histoacuterico

que eacute caracterizado pelo aumento sustentado da produtividade ou da renda por habitante que

pode ser acompanhado pelo processo de acumulaccedilatildeo de capital e pela incorporaccedilatildeo de

progresso teacutecnico

55

Para que se possa caracterizar desenvolvimento econocircmico eacute necessaacuterio observar ao

longo do tempo trecircs fatores o crescimento do bem-estar econocircmico mediante indicadores

como por exemplo produto nacional total e produto per capita diminuiccedilatildeo nos niacuteveis de

pobreza desemprego e desigualdades e elevaccedilatildeo das condiccedilotildees de sauacutede

Mediante tais indicadores pode-se dizer que o desenvolvimento econocircmico eacute um

processo de acumulaccedilatildeo de capital que incorpora o progresso teacutecnico do trabalho levando ao

aumento da produtividade dos salaacuterios e do padratildeo meacutedio de vida da populaccedilatildeo

Este tipo de desenvolvimento supotildee uma sociedade capitalista organizada na forma de

um estado-naccedilatildeo onde haacute empresaacuterios e trabalhadores lucros e salaacuterios acumulaccedilatildeo de

capital e progresso teacutecnico um mercado coordenando ao sistema econocircmico e um estado

regulando esse mercando e complementando sua accedilatildeo coordenadora (BRESSER 2008)

A partir do trabalho de Beltratildeo Sposito (2006) eacute possiacutevel afirmar que diante de um

periacuteodo em que ocorrem constantes mudanccedilas e transformaccedilotildees com a ampliaccedilatildeo das

possibilidades de telecomunicaccedilotildees no paiacutes as cidades meacutedias passam a exercer novos papeis

e novos fluxos a partir de relaccedilotildees estabelecidas e compartilhadas com cidades proacuteximas e

distantes

Compreender as regiotildees e os centros urbanos como reproduccedilatildeo social especiacutefica a

partir das anaacutelises sobre a produccedilatildeo de espaccedilos concretos eacute importante para obter

particularmente suas determinaccedilotildees histoacutericas Para que se tenha a estruturaccedilatildeo do campo

temaacutetico dos estudos regionais e urbanos para se classificar determinado espaccedilo urbano eacute

fundamental ―analisar o alcance e a esfera de influecircncia do polo detectar as interdependecircncias

das atividades e as decisotildees dos agentes econocircmicos mapear a atuaccedilatildeo de um arranjo de

forccedilas central dos nuacutecleos de mais alto niacutevel e a repercussatildeo em seus complementos

perifeacutericos (BRANDAtildeO 2007 p 81)

Autores como Rigotti e Campos (2009) destacam a partir da literatura evidecircncias

sobre o papel das cidades meacutedias em absorver os fluxos migratoacuterios que se direcionam para as

grandes metroacutepoles Historicamente essas cidades assumem esse papel a partir dos anos 1980

e principalmente apoacutes os anos 1990 pois ateacute os anos 1970 as pessoas saiam de aacutereas pouco

urbanizadas para buscarem melhores condiccedilotildees de vida nas cidades grandes

Entre os fatos que contribuiacuteram com o processo de crescimento das cidades brasileiras

nos uacuteltimos cem anos os que mais se destacam e explicam essa dinacircmica satildeo o processo de

56

industrializaccedilatildeo e a expansatildeo da fronteira agriacutecola Sendo que satildeo as cidades de porte meacutedio

que tem apresentado sinais de crescimento mais acelerado (JUSTO 2013)

No que se refere especificamente agrave regiatildeo nordestina no decorrer das quatro uacuteltimas

deacutecadas essa regiatildeo tem vivenciado um processo de urbanizaccedilatildeo de rapidez e intensidade

significativas mesmo com um processo de desenvolvimento social e crescimento econocircmico

ocorrendo de forma descontiacutenua e heterogecircnea Todavia foi a partir dessa heterogeneidade e

descontinuidade que surgiram os novos centros dinacircmicos aos quais se tornaram preferenciais

para o destino dos fluxos migratoacuterios (LUBAMBO et al 2003)

Nos uacuteltimos anos o Nordeste tem apresentado crescimento econocircmico acima da meacutedia

brasileira Entretanto esse crescimento colaborou apenas para recuperar a meacutedia histoacuterica de

sua participaccedilatildeo no PIB do Brasil A regiatildeo Nordeste tem uma populaccedilatildeo que representa

quase 28 do total do Paiacutes sendo que sua participaccedilatildeo no PIB nacional eacute de apenas 135

Em relaccedilatildeo ao PIB per capita a meacutedia do Nordeste eacute apenas 48 da meacutedia do Brasil

(SOUZA 2014)

No Cearaacute os municiacutepios vecircm desenvolvendo poliacuteticas econocircmicas na tentativa de

atrair empresas ofertando incentivos fiscais e terrenos em distritos industriais com

infraestrutura Nesta perspectiva quanto agrave guerra fiscal satildeo as cidades meacutedias que

apresentam mais vantagens jaacute que ―aleacutem dos incentivos disponibilizavam meios teacutecnicos

mais modernos e eficientes fundamentais para o funcionamento de faacutebricas que tecircm o centro

de comando em outros estados e um mercado internacional amplo (COSTA AMORA 2009

p 3-4)

Neste contexto foram vaacuterias as mudanccedilas ocorridas recentemente na dinacircmica

territorial cearense resultado da interaccedilatildeo de diversos processos de produccedilatildeo do espaccedilo

urbano como transformaccedilotildees globais no que se refere agrave reestruturaccedilatildeo capitalista

(HOLANDA 2011)

No periacuteodo que antecedeu as intervenccedilotildees planejadas do Governo Federal para a

regiatildeo Nordeste ao final da primeira metade do seacuteculo XX a economia cearense apresentava

pouca adequaccedilatildeo agrave estrutura produtiva nas quais persistiam formas ineficientes de produccedilatildeo

voltadas para a produccedilatildeo de artigos espacialmente concentrados e grosseiros

A partir de 1990 com a poliacutetica de atraccedilatildeo de induacutestrias se origina a chamada ―guerra

fiscal entre os estados brasileiros que passam a competir abertamente na oferta de

57

infraestrutura e atrativos fiscais instalando-se novas plantas produtivas e compensando o

baixo niacutevel de competitividade mercadoloacutegica verificada ateacute entatildeo

O Cearaacute vem se revelar como um dos estados mais competitivos nessa poliacutetica pois

no periacuteodo de 1994 a 1999 432 novas induacutestrias tinham manifestado a pretensatildeo de se

instalar no estado o que resultaria em um investimento de US$47 bilhotildees Entre estas 172 jaacute

se encontravam implantadas em sessenta municiacutepios cearenses com a geraccedilatildeo de 37 mil

empregos diretos e 120 mil indiretos

De acordo com Carvalho (2013) essa poliacutetica de atraccedilatildeo favoreceu o crescimento da

participaccedilatildeo do Cearaacute do PIB Industrial do Nordeste que em 1985 era de 268 e em 2000 se

elevou para 381 Provocou tambeacutem a implantaccedilatildeo de novos ramos industriais como a

produccedilatildeo de embalagens e de material de transporte e a metalurgia aleacutem de aumentar a

participaccedilatildeo de produtos industrializados na pauta de exportaccedilotildees com destaque para tecidos

fios de algodatildeo calccedilados couros e peles

3 Metodologia

31 Aacuterea de estudo e fonte dos dados

O presente estudo tem como foco analisar o desenvolvimento econocircmico dos

municiacutepios de meacutedio porte do Estado do Cearaacute nos anos 2000 e 2010 Como a definiccedilatildeo mais

usada para classificar as cidades meacutedias estaacute baseada no tamanho demograacutefico foi utilizado o

conceito de Andrade e Serra (2001) que define cidades meacutedias como centros com populaccedilatildeo

entre 50 mil e 500 mil habitantes

O Estado do Cearaacute tem uma aacuterea territorial de 148887632kmsup2 com uma populaccedilatildeo

estimada em 2016 de 8963663habitantes (IBGEESTADOS 2017) O Estado eacute formado por

184 municiacutepios dos quais 31 satildeo consideradas cidades meacutedias Acarauacute Acopiara Aquiraz

Aracati Barbalha Boa Viagem Camocim Canindeacute Cascavel Caucaia Crateuacutes Crato

Granja Horizonte Icoacute Iguatu Itapipoca Juazeiro do Norte Limoeiro do Norte Maracanauacute

Morada Nova Pacajus Pacatuba Quixadaacute Quixeramobim Russas Sobral Tauaacute Tianguaacute

Trairi e Viccedilosa do Cearaacute (IPEADATA 2016) A partir da tabela 1 eacute possiacutevel observar as

descriccedilotildees demograacuteficas de cada municiacutepio no ano de 2010

58

Tabela1- Descriccedilotildees demograacuteficas das cidades meacutedias cearenses do ano de 2010

Municiacutepios de Meacutedio

Porte

Populaccedilatildeo

Estimada

Aacuterea

(kmsup2)

Densidade demograacutefica

(habkmsup2)

Acarauacute 57551 842497 6831

Acopiara 51160 2265722 2258

Aquiraz 72628 482578 15050

Aracati 69159 1227965 5632

Barbalha 55323 569518 9714

Boa Viagem 52498 2836196 1851

Camocim 60158 1124869 5348

Canindeacute 74473 3218366 2314

Cascavel 66142 837346 7899

Caucaia 325441 1228496 26491

Crateuacutes 72812 2985322 2439

Crato 121428 1176514 10321

Granja 52645 2696977 1952

Horizonte 55187 159981 34496

Icoacute 65456 1871776 3497

Iguatu 96495 1029170 9376

Itapipoca 116065 1614256 7190

Juazeiro do Norte 249939 248831 100445

Limoeiro do Norte 56264 751088 7491

Maracanauacute 209057 106648 196025

Morada Nova 62065 2779445 2233

Pacajus 61838 254477 24300

Pacatuba 72299 131995 54774

59

Quixadaacute 80604 2019644 3991

Quixeramobim 71887 3275034 2195

Russas 69833 1590367 4391

Sobral 188233 2123849 8867

Tauaacute 55716 4017015 1387

Tianguaacute 68892 908865 7580

Trairi 51422 925688 5555

Viccedilosa do Cearaacute 54955 1311575 4190

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir do IBGECIDADES

As informaccedilotildees das cidades meacutedias satildeo do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatiacutestica (IBGE) e do Instituto de Pesquisa Econocircmica Aplicada (IPEADATA) para os anos

2000 e 2010

As variaacuteveis utilizadas foram populaccedilatildeo total das cidades que eacute uma das variaacuteveis

utilizadas para definir cidades meacutedias a renda per capita jaacute que seu crescimento meacutedio eacute uma

das condiccedilotildees necessaacuterias para o desenvolvimento o Iacutendice de Gini a taxa de analfabetismo

das pessoas com 15 anos ou mais a esperanccedila de vida ao nascer que segundo a Nova

Geografia Econocircmica ndash NGE possibilita captar as condiccedilotildees de sauacutede da populaccedilatildeo e o

Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM)

32 Meacutetodo de anaacutelise

Os meios teacutecnicos utilizados foram o estatiacutestico e o comparativo Ambos contribuem

para uma boa anaacutelise de dados secundaacuterios ―O papel do meacutetodo estatiacutestico eacute essencialmente

possibilitar uma descriccedilatildeo quantitativa da sociedade considerada como um todo organizado

(PRODANOV FREITAS 2013 p38) ―O meacutetodo comparativo ao ocupar-se das explicaccedilotildees

de fenocircmenos permite analisar o dado concreto deduzindo elementos constantes abstratos

ou gerais nele presentes (PRODANOV FREITAS 2013 p38)

Na seccedilatildeo posterior expotildeem-se os resultados obtidos na pesquisa a partir de uma

anaacutelise tabular descritiva

60

4 Resultados e discussotildees

Tendo em vista a nova dinacircmica apresentada pela territorial cearense segundo o

IPEIA (2008) eacute possiacutevel destacar que os anos 2000 foram marcados pelo crescimento

populacional das cidades meacutedias que foi superior ao das grandes cidades

O graacutefico 1 apresenta um comparativo da populaccedilatildeo das cidades meacutedias cearenses

entre os anos de 2000 e 2010 Apesar de todos terem crescido ao longo dos 10 anos as

cidades de Caucaia Juazeiro do Norte Maracanauacute e Sobral satildeo as que mais se destacam com

a maior concentraccedilatildeo populacional entre as cidades meacutedias do estado

Graacutefico 1 ndash Populaccedilatildeo total das cidades meacutedias cearenses nos anos de 2000 e 2010

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados do IPEADATA

No graacutefico 2 eacute possiacutevel observar a taxa de crescimento populacional dos municiacutepios

de meacutedio porte no estado do Cearaacute no periacuteodo de 2000 agrave 2010 bem como a taxa de

crescimento da regiatildeo Nordeste e do Brasil

0

50000

100000

150000

200000

250000

300000

350000

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rauacute

Aco

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Tra

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Viccedil

osa

do

Cea

raacute

2000

2010

61

Graacutefico 2 ndash Taxa de crescimento populacional entre 2000 e 2010

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados do IPEADATA

Vale destacar que municiacutepios como Aracati Iguatu Limoeiro do Norte e Maracanauacute

foram os que apresentaram taxas de crescimento populacional semelhante agrave do Nordeste e do

Brasil que satildeo bem proacuteximas entre si O destaque vai para os municiacutepios Horizonte que

apresentam uma taxa de crescimentos bem superior agrave do Nordeste e do Brasil Jaacute os

municiacutepios Acopiara Boa Viagem Camocim Canindeacute Crateuacutes Granja Icoacute e Tauaacute chamam

atenccedilatildeo por apresentarem uma taxa de crescimento muito abaixo da meacutedia regional e

nacional o municiacutepio de Morada Nova foi o uacutenico que apresentou taxa de crescimento

negativa

Como natildeo existe desenvolvimento sem que a produccedilatildeo e a renda meacutedia cresccedilam

Entatildeo o processo de crescimento da renda por habitante do produto agregado por habitante ou

da produtividade satildeo condiccedilotildees essenciais para que haja o desenvolvimento (BRESSER-

PEREIRA 2006)

Segundo Helene (2012) na deacutecada de 2000 houve retomada nas taxas de crescimento

da renda per capita e uma melhoria na distribuiccedilatildeo de renda Sendo que o grau de

desenvolvimento de um paiacutes pode ser medido pelo PIB per capita que eacute obtido a partir da

divisatildeo do fluxo de produccedilatildeo anual pelo total da populaccedilatildeo O mesmo trata-se de uma meacutedia e

esconde as disparidades na distribuiccedilatildeo da renda ou seja um paiacutes pode ter uma renda per

capita elevada e uma distribuiccedilatildeo muito desigual dessa renda como tambeacutem pode ter uma

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renda per capita baixa e uma distribuiccedilatildeo de renda que registra pouca disparidade logo a

partir dele natildeo se tem o registro das diferenccedilas entre ricos e pobres (VIEIRA ALBERT

BAGOLIN 2007)

O niacutevel da renda per capita pode determinar o grau de desenvolvimento humano de

uma regiatildeo como tambeacutem pode ser influenciado por programas sociais No Brasil os niacuteveis

de renda per capita dependem tanto do mercado de trabalho como dos rendimentos de

transferecircncias previdenciaacuterias e assistenciais Em relaccedilatildeo aos niacuteveis de renda per capita dos

municiacutepios eles satildeo determinados por vaacuterios fatores sendo que os que mais se destacam satildeo

os que dentro de uma dimensatildeo regional estatildeo ligados a aspectos educacionais estruturais e

de desempenho da economia (LAZZAROTTO LIMA 2008)

Quanto agrave renda per capita das cidades meacutedias cearenses no graacutefico 3 eacute possiacutevel

observar as rendas per capitas dos municiacutepios corrigidas pelo IPEIADATA para o ano de

2010

Graacutefico 3- Renda per capita das cidades meacutedias cearenses nos anos de 2000 e 2010

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados do IPEADATA

A anaacutelise possibilita destacar que em 2010 as rendas per capitas dos municiacutepios foram

maiores que as do ano 2000 Tal comportamento tambeacutem ocorre com as cidades medias

nordestina jaacute que as mesmas apresentaram no periacuteodo de 1991 a 2016 uma relaccedilatildeo direta

entre o crescimento dessas cidades e a renda per capita (ALENCAR et al 2017)

Comparando os dois anos analisados o municiacutepio de Crato destaca-se com a maior renda per

capita e Granja como o municiacutepio que teve a menor

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Dentre os indicadores estudados a anaacutelise do Iacutendice de Gini se apresenta como uma

medida de desigualdade de renda Assim seraacute exposta uma anaacutelise descritiva da situaccedilatildeo da

concentraccedilatildeo de rendimentos no Cearaacute nas cidades meacutedias A desigualdade de renda

brasileira eacute amplamente discutida no debate econocircmico e social dado seu impacto direto

sobre o bem-estar da populaccedilatildeo sendo vista como um dos principais problemas que o paiacutes

enfrenta na atualidade

No decorrer dos 10 anos estudados pode-se perceber que o iacutendice de Gini teve uma

reduccedilatildeo significativa para a maioria das cidades meacutedias do estado do Cearaacute entretanto

Granja e Tianguaacute foram agraves uacutenicas cidades nas quais o iacutendice cresceu ou seja ocorreu um

aumento na desigualdade social como eacute possiacutevel observar no graacutefico 4

Graacutefico 4 ndash Iacutendice de Gini das cidades meacutedias cearenses nos anos de 2000 e 2010

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados do IPEADATA

Quanto agraves taxas de analfabetismos a partir da literatura sobre educaccedilatildeo encontra-se a

definiccedilatildeo que uma pessoa eacute considerada analfabeta absoluta quando sua idade eacute maior ou

igual a 15 anos e natildeo sabe ler nem escrever A taxa de analfabetismo eacute obtida a partir da

razatildeo entre o nuacutemero de pessoas analfabetas e o total de habitantes com 15 ou mais anos de

idade No Brasil a baixa escolaridade e as altas taxas de analfabetismo da populaccedilatildeo ―satildeo

reflexos de problemas estruturais histoacutericos que impediram o acesso de milhotildees de pessoas

ao sistema puacuteblico de ensino (RODRIGUES et al 2013 p 4)

O graacutefico 5 mostra as taxas de analfabetismos das pessoas com 15 anos ou mais nas

cidades meacutedias cearenses comparando o ano de 2010 com o ano 2000 fica evidente a reduccedilatildeo

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do analfabetismo nesses municiacutepios O municiacutepio de Granja eacute o municiacutepio que apresenta as

maiores taxas de analfabetismos nos anos analisados sendo que no ano 2000 a mesma foi de

5143 e em 2010 de 3857 No geral as cidades meacutedias cearenses apresentaram no ano de

2010 taxa menores que 40 sendo que para o Brasil segundo os dados do Censo

Demograacutefico de 2010 essa taxa eacute de cerca de 96 da populaccedilatildeo brasileira Logo assim como

o estado do Cearaacute apresenta taxas de analfabetismos mais elevadas que as do Brasil

evidentemente suas cidades meacutedias tambeacutem

Graacutefico 5- Taxas de analfabetismos das pessoas com 15 anos ou mais nas cidades

meacutedias cearenses nos anos de 2000 e 2010

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados do IPEADATA

A variaacutevel esperanccedila de vida ao nascer segundo a Nova Geografia Econocircmica ndash NGE

possibilita captar as condiccedilotildees de sauacutede da populaccedilatildeo Quanto agrave esperanccedila de vida meacutedia da

populaccedilatildeo nas cidades meacutedias nordestinas no ano de 1991 era de 61 anos (ALENCAR et al

2017)

No graacutefico 6 eacute possiacutevel observar que no decorrer dos 10 anos houve o aumento da

esperanccedila de vida da populaccedilatildeo cearense Sobral se destaca com o crescimento de uma maior

esperanccedila de vida para sua populaccedilatildeo passando de aproximadamente 68 para 75 anos A

populaccedilatildeo de Acopiara Camocim e Icoacute apresentaram os menores valores Quanto agrave

populaccedilatildeo brasileira a partir dos dados do IPEIADATA eacute possiacutevel destacar que no ano de

2000 a esperanccedila de vida da populaccedilatildeo era de 6861 anos e em 2010 de 7394 anos Logo

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cidades como Sobral tem apresentado comportamento semelhante com o que ocorreu no

Brasil

Graacutefico 6 ndash Esperanccedila de vida ao nascer nas cidades meacutedias cearenses nos anos de 2000

e 2010

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados do IPEADATA

Tratando-se do iacutendice de desenvolvimento humano municipal o Brasil tem evoluiacutedo

nas uacuteltimas deacutecadas o paiacutes apresenta uma evoluccedilatildeo de 0115 entre 2000 e 2010 (PINTO

COSTA MARQUES 2013)

Quanto as cidades medias cearenses o graacutefico 7 mostra que no ano de 2000 os

municiacutepios de Crato e Maracanauacute forma os que apresentaram os maiores iacutendices de

desenvolvimento humano municipal de aproximadamente 057 Jaacute em 2010 a cidade de

Crato continua com um dos maiores iacutendices que eacute de 071 sendo que comparado a 2010 teve

um aumento de 014 e Sobral se destacou nesse ano com 071 aumentando 018 comparado

ao ano 2000 Um aumento bem maior que o do iacutendice de Maracanauacute Vale ressaltar a

localizaccedilatildeo geograacutefica desses municiacutepios que destacaram-se com os melhores iacutendices jaacute que

satildeo neles que estatildeo os maiores desenvolvimento humanos dos municiacutepios estudados os

mesmos estatildeo localizados em regiotildees metropolitanas Tratando-se dos menores iacutendices foram

os municiacutepios de Granja e Viccedilosa do Cearaacute que apresentaram para os dois anos estudados

Graacutefico 7ndash IDHM das cidades meacutedias cearenses em 2000 e 2010

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Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados do IPEADATA

5 Consideraccedilotildees finais

No decorrer dos 10 anos estudados os municiacutepios de meacutedio porte cearenses

apresentaram dinacircmicas de desenvolvimento positivas para todas as variaacuteveis analisadas Pois

em sua maioria houve uma elevaccedilatildeo nas condiccedilotildees de desenvolvimento e na oferta de

melhores condiccedilotildees de vida para populaccedilatildeo Ou seja um aumento consideraacutevel na dinacircmica

de crescimento populacional na renda per capita e na esperanccedila de vida

As cidades meacutedias que obtiveram maior destaque na variaacutevel de crescimento

populacional nos 10 anos analisados foram as cidades de Caucaia Juazeiro do Norte

Maracanauacute e Sobral vale ressaltar que as maiores concentraccedilotildees populacionais estatildeo

localizadas em regiotildees metropolitanas Em relaccedilatildeo agraves menores taxas de crescimento se

destacam os municiacutepios de Boa Viagem Crateuacutes Granja Icoacute e Morada Nova Contudo as

melhores taxas foram do municiacutepio de Horizonte que obteve um aumento consideraacutevel que

estaacute muito aleacutem da meacutedia nacional

Os municiacutepios que apresentaram maiores rendas per capita tendem a terem melhores

expectativas de vida baixos niacutevel de analfabetismo e tambeacutem tecircm niacuteveis mais baixos de

desigualdade que foram medidos pelo coeficiente de Gini As cidades meacutedias cearenses que

se destacaram com um iacutendice positivo em relaccedilatildeo a diminuiccedilatildeo da desigualdade foram

Horizonte Maracanauacute e Pacatuba Poreacutem os municiacutepios de Granja e Tianguaacute foram os uacutenicos

que apresentaram um aumento da desigualdade social

Diante desse cenaacuterio de mudanccedilas e avanccedilos vividos nos uacuteltimos anos esse trabalho

identificou um aumento significativo da renda per capita de todas as cidades meacutedias

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cearenses aleacutem da diminuiccedilatildeo da taxa de analfabetismo aumento consideraacutevel na esperanccedila

de vida e aumento do IDHM Contudo vale ressaltar que mesmo diante de tantos resultados

positivos algumas cidades meacutedias cearenses apresentaram determinados iacutendices negativos

nas variaacuteveis estudadas entendendo-se que ainda existe abertura para a implantaccedilatildeo de mais

poliacuteticas puacuteblicas que melhorem os resultados

Logo este trabalho percorreu um empreendimento teoacuterico e empiacuterico que buscou

contribuir com a literatura a partir da utilizaccedilatildeo de dados para o Estado do Cearaacute jaacute que

estudos desenvolvidos anteriormente foram voltados para o paiacutes outras regiotildees estados ou

cidades

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70

IacuteNDICE DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL MUNICIPAL UMA

APLICACcedilAtildeO DA DIMENCcedilAtildeO ECONOcircMICA SOBRE A REGIAtildeO

METROPOLITANA DE FORTALEZA ndash RMF13

Marcelo Henrick Alves dos Santos

Bacharel em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri - URCA

E-mail ltmarcelohenrick22gmailcomgt

Matheus Oliveira de Alencar

Bacharel em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri ndash URCA Mestrando

em Economia Rural pela Universidade Federal do Cearaacute ndash UFC

E-mail ltmatheusalencar29gmailcomgt

Wellington Ribeiro Justo

Professor Associado da URCA e Professor do PPGECON-UFPE

E-mail ltjustowryahoocombrgt

13

Este trabalho tem por base o estudo sobre a dimensatildeo econocircmica aplicado aos municiacutepios da Regiatildeo

Metropolitana do Cariri realizado por Vieira e Justo (2015)

71

IacuteNDICE DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL MUNICIPAL UMA

APLICACcedilAtildeO DA DIMENCcedilAtildeO ECONOcircMICA SOBRE A REGIAtildeO

METROPOLITANA DE FORTALEZA ndash RMF14

RESUMO A evoluccedilatildeo das relaccedilotildees estabelecidas no sistema capitalista atraveacutes dos fluxos de

produccedilatildeo e consumo bem como a utilizaccedilatildeo de serviccedilos passou a interferir vertiginosamente

no espaccedilo trazendo agrave luz do debate a questatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel Para objetos

de mensuraccedilatildeo dados quantitativos e qualitativos foram elaborados a fim de se constituiacuterem a

base para o caacutelculo de iacutendices capazes de inferir a respeito de aspectos dimensionais da

sociabilidade humana e espacial Este artigo buscou mensurar a dimensatildeo econocircmica do

iacutendice de desenvolvimento sustentaacutevel dos dezenove municiacutepios da Regiatildeo Metropolitana de

Fortaleza (RMF) a partir dos dados do IPECE para o ano de 2010 fornecendo informaccedilotildees no

que tange agraves necessidades e o desempenho econocircmico da populaccedilatildeo bem como servir de

instrumento para formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas eficientes Observou-se que no tocante as

variaacuteveis analisadas a partir da oacutetica econocircmica os municiacutepios da RMF possuem uma

multiplicidade comportamental instaacutevel no que se refere a estes indicadores com uma

pequena parcela do conjunto dentro de niacuteveis aceitaacuteveis de desenvolvimento sustentaacutevel

econocircmico enquanto que a maioria dos municiacutepios ainda estatildeo ao sabor de niacuteveis de alerta

neste mesmo sentido

Palavras-chave Desenvolvimento sustentabilidade economia municipal

ABSTRACT The evolution of the relations established in the capitalist system through the

flows of production and consumption as well as the use of services began to interfere

vertiginously in space bringing to the light of the debate the question of sustainable

development For the purposes of measurement quantitative and qualitative data were

elaborated in order to constitute the basis for the calculation of indexes capable of inferring

about dimensional aspects of human and spatial sociability This article sought to measure

the economic dimension of the sustainable development index of the nineteen municipalities of

the Metropolitan Region of Fortaleza (RMF) from the IPECE data for 2010 providing

information on the needs and economic performance of the population as well as an

instrument for the formulation of efficient public policies It was observed that regarding the

variables analyzed from the economic perspective the municipalities of FMR have an

unstable behavioral multiplicity in relation to these indicators with a small part of the set

within acceptable levels of sustainable economic development while most municipalities are

still at alert levels in this sense

Keywords Development sustainability economy municipal

14

Este trabalho tem por base o estudo sobre a dimensatildeo econocircmica aplicado aos municiacutepios da Regiatildeo

Metropolitana do Cariri realizado por Vieira e Justo (2015)

72

1 INTRODUCcedilAtildeO

O processo de evoluccedilatildeo das relaccedilotildees de produccedilatildeo e consumo colocou a prova de teste

os niacuteveis de desenvolvimento sustentaacutevel este que por sua vez passou a ser de importacircncia

fundamental tendo em vista a degradaccedilatildeo dos recursos naturais bem como as desigualdades

sociais e de renda

O uso do termo sustentabilidade ou desenvolvimento sustentaacutevel passou a ser

utilizado a partir do advento do Relatoacuterio Brundlant ndash Nosso Futuro Comum da Comissatildeo

Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas ndash

ONU Seu significado estaacute atrelado agrave ideia de atender as necessidades atuais entretanto sem

comprometer a satisfaccedilatildeo das necessidades das proacuteximas geraccedilotildees (WCED 1987)

Com o passar do tempo estudiosos desenvolveram iacutendices para mensuraccedilatildeo de

qualidade de vida desde os campos de sauacutede educaccedilatildeo seguranccedila e niacuteveis de satisfaccedilatildeo em

relaccedilatildeo a bens e serviccedilos dentre outros indicadores que anteriormente natildeo eram mensurados

Neste sentido Cacircndido e Martins (2008) criaram a partir do Iacutendice de Desenvolvimento

Sustentaacutevel (IDS-Brasil) o Iacutendice de Desenvolvimento Sustentaacutevel Municipal (IDSM)

aplicado aos municiacutepios do estado brasileiro da Paraiacuteba utilizando-se de um conjunto de

variaacuteveis especiacuteficas para sua mensuraccedilatildeo O IDSM eacute composto por cinco dimensotildees social

demograacutefica econocircmica poliacutetico-institucional e ambiental No entanto no presente estudo

diante da necessidade de fornecer informaccedilotildees da populaccedilatildeo deste territoacuterio neste quesito

seraacute analisada apenas a dimensatildeo econocircmica calculada a partir da metodologia do IDSM para

os municiacutepios da Regiatildeo Metropolitana de Fortaleza (RMF) O ano de referecircncia eacute 2010 pois

se ressalte que este foi o ano mais recente com disponibilidade dos dados necessaacuterios para o

caacutelculo da dimensatildeo econocircmica Eacute importante verificar se a proximidade com a capital

estadual bem como localizar-se dentro da regiatildeo metropolitana onde a mesma estaacute localizada

reflete nos municiacutepios no que se refere agraves suas caracteriacutesticas de sua economia dentro dos

indicadores considerados

Este trabalho tem como objetivo mensurar para os municiacutepios que integram a RMF o

iacutendice econocircmico que compotildee o IDSM Pretende-se tambeacutem hierarquizar os municiacutepios da

RMF de acordo com seu desempenho para cada variaacutevel que compotildee o iacutendice econocircmico

Aleacutem da contribuiccedilatildeo acadecircmica as informaccedilotildees ainda podem auxiliar os agentes

macroeconocircmicos no que se refere agrave aplicaccedilatildeo de poliacuteticas econocircmicas eficientes fornecendo

73

informaccedilotildees sobre as potencialidades de cada municiacutepio desde as peculiaridades da renda ateacute

relaccedilotildees de comeacutercio com o exterior

Aleacutem desta introduccedilatildeo o trabalho estaacute dividido em outras quatro seccedilotildees na segunda

seccedilatildeo satildeo abordados elementos teoacutericos sobre desenvolvimento sustentaacutevel na terceira seccedilatildeo

satildeo fornecidas informaccedilotildees referentes a metodologia aplicada ao presente estudo na quarta

seccedilatildeo eacute feito uma anaacutelise dos dados e resultados auferidos a partir da aplicaccedilatildeo metodoloacutegica

do IDSM econocircmico findando com a quinta e uacuteltima seccedilatildeo que demonstra as consideraccedilotildees

finais deste estudo

2 REVISAtildeO DE LITERATURA SOBRE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL

A literatura sobre a temaacutetica do desenvolvimento sustentaacutevel eacute vasta e robusta devido

agrave magnitude com que a comunidade cientiacutefica vem se dedicando a promover um debate e

praacutetica intelectuais sobre a questatildeo da conciliaccedilatildeo consciente e sustentaacutevel da accedilatildeo humana

sobre a natureza

Bruumlseke (1993) ressalta que a discussatildeo sobre desenvolvimento sustentaacutevel provocou

eventos que levaram o debate a niacutevel mundial em 1992 o relatoacuterio sobre os limites do

crescimento o conceito de ecodesenvolvimento em 1993 a declaraccedilatildeo de Cocoyok em

1974 O Relatoacuterio Dag-Hammarskjoumlld em 1975 e em 1992 a Conferecircncia da Organizaccedilatildeo

das Naccedilotildees Unidas (ONU) sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1992

Para Van Bellen (2002) o conceito de desenvolvimento sustentaacutevel remete a uma

reavaliaccedilatildeo da ideia acerca da definiccedilatildeo de desenvolvimento soacute que agora ligado agrave questatildeo

sustentaacutevel e natildeo mais apenas de crescimento Ainda segundo o autor haja vista que eacute

necessaacuteria a utilizaccedilatildeo de indicadores que possam mensurar os iacutendices aqueles podem ser

compreendidos como uma representaccedilatildeo operacional de um atributo de um sistema sendo

este atributo relacionado a aspectos no que tange a qualidade caracteriacutestica e propriedade

agregando informaccedilotildees conforme sua significacircncia para entendimento de eventos complexos

O desenvolvimento sustentaacutevel consiste em um processo de mudanccedila fundamentado

na conciliaccedilatildeo entre exploraccedilatildeo dos recursos direccedilatildeo de investimentos orientaccedilatildeo do

desenvolvimento tecnoloacutegico e mudanccedilas institucionais em que todas agem em harmonia para

o aprimoramento do potencial atual e futuro para que possam atender as necessidades e

aspiraccedilotildees humanas (WCED 1987)

74

Para Goodland e Ledoc (apud Baroni 1987) definem o desenvolvimento sustentaacutevel

como um padratildeo de transformaccedilotildees econocircmicas e sociais cujas transformaccedilotildees buscam a

otimizaccedilatildeo dos recursos disponiacuteveis no presente para manter estes mesmos recursos

disponiacuteveis no futuro alcanccedilando o bem-estar econocircmico razoaacutevel

Conforme Vasconcelos (2011) os indicadores de sustentabilidade satildeo importantes ao

possibilitarem a efetivaccedilatildeo de um processo de desenvolvimento de maneira consolidada e

sustentaacutevel direcionando no sentido a alcanccedilar uma meta

A anaacutelise de Sachs (1997) contempla que o desenvolvimento sustentaacutevel pode ser

abordado em cinco dimensotildees a saber

Figura 1 Dimensotildees da Sustentabilidade

Fonte Sachs (1997)

Silva Sousa e Leal (2012) corroboram ao ressaltarem que a pluralidade dimensional

direciona para a busca de soluccedilotildees para o sistema atendendo diferentes demandas com

aspecto ambiental social econocircmico geograacutefico ou espaccedilo-territorial poliacutetico e cultural

Analisada neste trabalho a dimensatildeo econocircmica compreende o desempenho

macroeconocircmico e financeiro de uma sociedade os impactos no consumo de recursos

materiais e uso de energia primaacuteria aleacutem de possibilitar a alocaccedilatildeo e gestatildeo mais eficiente de

recursos e fluxo de investimentos puacuteblico e privado (CAMARGO 2002 VASCONCELOS

2011)

Quadro 1 ndash Descriccedilatildeo das variaacuteveis que compotildeem a dimensatildeo econocircmica do IDSM

Variaacutevel Descriccedilatildeo

PIB per capita Expressa o grau de desenvolvimento econocircmico

de um municiacutepio Sua variaccedilatildeo informa o

comportamento da economia ao longo do tempo

75

Participaccedilatildeo da induacutestria no PIB Expressa a participaccedilatildeo das atividades

industriais na composiccedilatildeo do Produto Interno

Bruto (PIB) municipal

Saldo da Balanccedila Comercial Representa a diferenccedila entre o saldo das

exportaccedilotildees e o saldo das importaccedilotildees

Renda per capita Expressa o grau de desenvolvimento econocircmico

de uma populaccedilatildeo a partir da divisatildeo entre a

renda nacional e o nuacutemero da populaccedilatildeo

Rendimentos Provenientes do Trabalho Expressa o grau de desenvolvimento econocircmico

de um municiacutepio

Iacutendice de Gini de Distribuiccedilatildeo dos

Rendimentos

Expressa o grau de desigualdade na distribuiccedilatildeo

de renda de uma determinada populaccedilatildeo

Fonte VASCONCELOS (2011)

Na percepccedilatildeo de Vasconcelos (2011) a dimensatildeo econocircmica fornece um conjunto de

informaccedilotildees relacionadas a objetivos ligados ao desempenho econocircmico e financeiro bem

como aos rendimentos da populaccedilatildeo consolidando-se como um importante instrumento para

decisatildeo e formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para fomento da melhoria da qualidade de vida de

uma populaccedilatildeo atraveacutes do acesso a moradia alimentaccedilatildeo vestuaacuterio transporte e lazer

3 METODOLOGIA

31 DADOS

Os dados utilizados neste estudo satildeo de caraacuteter secundaacuterio provenientes de perioacutedicos

e oacutergatildeos oficiais a saber o Instituto de Pesquisa e Estrateacutegia Econocircmica do Cearaacute (IPECE) o

Ministeacuterio da Induacutestria Comeacutercio Exterior e Serviccedilos (MDIC) o Atlas de Desenvolvimento

Humano e o DataSUS A pesquisa tem caraacuteter descritivo fundamentado em levantamento de

dados e pesquisa bibliograacutefica com consultas a livros artigos e revistas que tratem do tema

em questatildeo

Os meacutetodos de Estatiacutestica Descritiva organizam resumem e descrevem os aspectos

importantes de um conjunto de caracteriacutesticas observadas sendo utilizadas tambeacutem para

comparaccedilatildeo de tais caracteriacutesticas entre dois ou mais conjuntos (REIS REIS 2002)

32 AacuteREA DE ESTUDO

76

A anaacutelise dos dados neste trabalho se restringe agrave Regiatildeo Metropolitana de Fortaleza

(RMF) Criada pela Lei Complementar nordm 14 de 1973 inicialmente pelos municiacutepios de

Fortaleza Caucaia Maranguape Pacatuba e Aquiraz e com o transcorrer do tempo

modificada com inclusatildeo de novos municiacutepios agrave sua rede atualmente a RMF comporta

dezenove municiacutepios Aquiraacutes Cascavel Caucaia Chorozinho Euseacutebio Fortaleza Guaiuba

Horizonte Itaitinga Maracanauacute Maranguape Pacajuacutes Pacatuba Pindoretama Satildeo Gonccedilalo

do Amarante Satildeo Luiacutes do Curu Paraipaba Paracuru e Trairi (CEARAacute 2014) O Quadro 1

mostra dados referentes agraves caracteriacutesticas (aacuterea localizaccedilatildeo e clima) de cada municiacutepio

envolvido na pesquisa

Quadro 2 ndash Informaccedilotildees baacutesicas sobre os municiacutepios da Regiatildeo Metropolitana de Fortaleza

(RMF)

Municiacutepio Informaccedilotildees Baacutesicas

Aquiraacutes Aacuterea 480976 kmsup2 Populaccedilatildeo 72628 (2010) Distacircncia em linha reta a

capital 21 km Clima Tropical Quente Sub-uacutemido (IPECE 2012)

Cascaacutevel Aacuterea 83797 kmsup2 Populaccedilatildeo 66142 (2010) Distacircncia em linha reta a

capital 50 km Clima Tropical Quente Semi-aacuterido Brando (IPECE 2012)

Caucaia

Aacuterea 12279 kmsup2 Populaccedilatildeo 325441 (2010) Distacircncia em linha reta a

capital 20 km Clima Tropical Quente Semi-aacuterido Brando Tropical

Quente Sub-uacutemido e Tropical Quente Uacutemido (IPECE 2012)

Chorozinho Aacuterea 27840 kmsup2 Populaccedilatildeo 18915 (2010) Distacircncia em linha reta a

capital 62 km Clima Tropical Quente Semi-aacuterido Brando (IPECE 2012)

Euseacutebio Aacuterea 7658 kmsup2 Populaccedilatildeo 46033 (2010) Distacircncia em linha reta a

capital 18 km Clima Tropical Quente Sub-uacutemido (IPECE 2012)

Fortaleza Aacuterea 31314 kmsup2 Populaccedilatildeo 2452185 (2010) Clima Tropical Quente

Sub-uacutemido (IPECE 2012)

Guaiuba

Aacuterea 26720 kmsup2 Populaccedilatildeo 24091 (2010) Distacircncia em linha reta a

capital 38 km Clima Tropical Quente Sub-uacutemido e Tropical Quente

Uacutemido (IPECE 2012)

Horizonte

Aacuterea 15997 kmsup2 Populaccedilatildeo 55187 (2010) Distacircncia em linha reta a

capital 39 km Clima Tropical Quente Sub-uacutemido Tropical Quente Semi-

aacuterido Brando (IPECE 2012)

77

Itaitinga

Aacuterea 15078 kmsup2 Populaccedilatildeo 35817 (2010) Distacircncia em linha reta a

capital 27 km Clima Tropical Quente Uacutemido e Tropical Quente Sub-

uacutemido (IPECE 2012)

Maracanauacute Aacuterea 10570kmsup2 Populaccedilatildeo 209057 (2010) Distacircncia em linha reta a

capital 22 km Clima Tropical Quente Sub-uacutemido (IPECE 2012)

Maraguanpe Aacuterea 59082 kmsup2 Populaccedilatildeo 113561 (2010) Distacircncia em linha reta a

capital 28 km Clima Tropical Quente Uacutemido(IPECE 2012)

Pacajuacutes

Aacuterea 25443 kmsup2 Populaccedilatildeo 61838 (2010) Distacircncia em linha reta a

capital 48 km Clima Tropical Quente Semi-aacuterido Brando e Tropical

Quente Subuacutemido (IPECE 2012)

Pacatuba Aacuterea 13243 kmsup2 Populaccedilatildeo 72299 (2010) Distacircncia em linha reta a

capital 31 km Clima Tropical Quente Uacutemido (IPECE 2012)

Pindoretama

Aacuterea 7285 kmsup2 Populaccedilatildeo 18683 (2010) Distacircncia em linha reta a

capital 36 km Tropical Quente Semi-aacuterido Brando e Tropical Quente

Subuacutemido (IPECE 2012)

Satildeo Gonccedilalo do

Amarante

Aacuterea 83439 kmsup2 Populaccedilatildeo 43890 (2010) Distacircncia em linha reta a

capital 58 km Clima Tropical Semi-aacuterido Brando (IPECE 2012)

Satildeo Luiacutes do

Curu

Aacuterea 12242 kmsup2 Populaccedilatildeo 12332 (2010) Distacircncia em linha reta a

capital 84 km Clima Tropical Quente Semi-aacuterido Brando (IPECE 2012)

Paraipaba Aacuterea 30112 kmsup2 Populaccedilatildeo 30041 (2010) Distacircncia em linha reta a

capital 82 km Clima Tropical Quente Semi-aacuterido Brando (IPECE 2012)

Paracuru Aacuterea 30325 kmsup2 Populaccedilatildeo 31636 (2010) Distacircncia em linha reta a

capital 72 km Tropical Quente Semi-aacuterido Brando (IPECE 2012)

Trairi

Aacuterea 92456 kmsup2 Populaccedilatildeo 51422 (2010) Distacircncia em linha reta a

capital 105 km Clima Tropical Quente Semi-aacuterido Brando (IPECE

2012)

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados do IPECE (2012)

33 CAacuteLCULO DO IacuteNDICE

Conforme com Martins e Candido (2008) o IDSM pode ser calculado a partir do

conjunto de iacutendices de cinco dimensotildees15

sendo que a dimensatildeo econocircmica engloba as

seguintes variaacuteveis Produto Interno Bruto per capita participaccedilatildeo da induacutestria no PIB saldo

15

Maiores detalhes ver Martins e Candido (2008)

78

da Balanccedila de Pagamentos renda familiar per capita em salaacuterios miacutenimos Renda per capita

rendimentos provenientes do trabalho e iacutendice de Gini de distribuiccedilatildeo dos rendimentos

(MARTINS CAcircNDIDO 2008)

A metodologia aplicada por Martins e Candido (2011) foi baseada no IDS-Brasil 2004

e nos Iacutendices de Desenvolvimento Sustentaacutevel para Territoacuterios Rurais propostas por Waquil et

al (2006)

As variaacuteveis possuem diferentes unidades de medida sendo necessaacuteria a

transformaccedilatildeo das mesmas em iacutendices ajustando seus valores entre 0 (zero) e 1 (um) Aleacutem

disso as variaacuteveis que compotildeem as dimensotildees podem apresentar relaccedilatildeo positiva (quanto

maior melhor e quanto menor pior) ou relaccedilatildeo negativa (quanto maior pior e quanto menor

melhor) Desta forma foi necessaacuterio determinar a relaccedilatildeo que cada variaacutevel possui com o

desenvolvimento se positiva ou negativa Feita essa classificaccedilatildeo o caacutelculo do iacutendice eacute

realizado atraveacutes de foacutermulas especiacuteficas para cada caso (positivo ou negativo) e o agregado

de todos os iacutendices permite a anaacutelise da dimensatildeo econocircmica A conversatildeo da variaacutevel em

iacutendice pode ser calculada conforme as equaccedilotildees 1 e 2

Quando a relaccedilatildeo eacute positiva

I = (x-m)(M-m) (1)

Quando a relaccedilatildeo eacute negativa

I = (M-x)(M-m) (2)

Onde

I = valor do iacutendice

x = valor da variaacutevel no municiacutepio observado

m = valor miacutenimo identificado no Cearaacute (territoacuterio em que se localiza a RMF)

M = valor maacuteximo identificado no Cearaacute (territoacuterio em que se localiza a RMF)

O niacutevel de sustentabilidade eacute classificado conforme os valores obtidos (variaccedilatildeo entre

0 e 1) em cada iacutendice de acordo com o Quadro 2

79

Quadro 3 ndash Classificaccedilatildeo do iacutendice conforme o valor obtido

IacuteNDICE CLASSIFICACcedilAtildeO

00000 ndash 02500 CRIacuteTICO

02501 ndash 05000 ALERTA

05001 ndash 07500 ACEITAacuteVEL

07501 ndash 10000 IDEAL

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria com base em Martins e Candido (2008)

Em seguida calcula-se a meacutedia aritmeacutetica de todos os iacutendices para obter o iacutendice da

dimensatildeo econocircmica dos municiacutepios

Esclarecidas as questotildees fundamentais para o entendimento deste trabalho a proacutexima

seccedilatildeo trata sobre a aplicaccedilatildeo do iacutendice para a dimensatildeo econocircmica nos municiacutepios que

integram a Regiatildeo Metropolitana de Fortaleza

4 RESULTADOS E DISCUSSOtildeES

Na Tabela 1 satildeo apresentados os dados para os dezenove municiacutepios da RMF

referentes agraves variaacuteveis econocircmicas Os valores referentes agraves estatiacutesticas de valor maacuteximo

valor miacutenimo meacutedia e o desvio padratildeo para cada variaacutevel referem-se ao Estado do Cearaacute jaacute

que estes valores foram utilizados dentro do caacutelculo

Verifica-se que quanto agraves variaacuteveis PIB per capita e participaccedilatildeo da induacutestria no PIB

o municiacutepio de Euseacutebio possui o maior valor considerado restando aos municiacutepios de

Guaiuba e Chorozinho respectivamente os menores valores nas respectivas variaacuteveis no

saldo da balanccedila comercial Cascaacutevel eacute detentora do maior superaacutevit enquanto que Fortaleza

obteve o saldo negativo mais expressivo no territoacuterio analisado A situaccedilatildeo muda ao analisar a

renda per capita em virtude do bom desempenho de Fortaleza em oposiccedilatildeo a situaccedilatildeo

inferior de Trairi O maior e pior valores encontrados para a porcentagem dos rendimentos

provenientes do trabalho satildeo respectivamente para os municiacutepios de Maracanauacute e Trairi este

uacuteltimo apresentou o valor mais alto quanto ao iacutendice de Gini indo de encontro agrave posiccedilatildeo de

Horizonte neste quesito

80

Tabela 1 ndash Valores para PIB per capita participaccedilatildeo da induacutestria no PIB Saldo da Balanccedila

Comercial Renda per capita rendimentos provenientes do trabalho e iacutendice de Gini de

Distribuiccedilatildeo dos rendimentos para os municiacutepios que integram a Regiatildeo Metropolitana de

Fortaleza ndash RMF (2010)

Municiacutepio

PIB per

capita

(R$

100)

Participaccedilatildeo

da induacutestria

no PIB ()

Saldo da

Balanccedila

Comercial

(US$ mil)

Renda

per

capita

(R$)

Rendimentos

Provenientes

do Trabalho

()

Iacutendice de

Gini de

Distribuiccedilatildeo

dos

Rendimentos

Aquiraacutes 9395 044 -24575556 35260 7644 042

Cascaacutevel 6762 033 146534066 30914 6877 048

Caucaia 7999 032 -360339462 37963 7894 048

Chorozinho 4774 011 0 27740 6544 050

Euseacutebio 27616 062 -37419526 62301 7807 065

Fortaleza 15161 022 -492754287 84636 7546 061

Guaiuba 4178 015 -698753 23969 6495 047

Horizonte 18053 055 -10729996 32278 7907 042

Itaitinga 5107 030 -2557335 30015 7018 045

Maracanauacute 19549 055 -151311338 37291 7975 043

Maraguanpe 6671 039 -20322187 30781 7375 044

Pacajuacutes 8319 041 -6328928 35478 7744 047

Pacatuba 7680 048 -7788778 34463 7457 044

Pindoretama 4828 012 0 29699 6721 045

Satildeo

Gonccedilalo do

Amarante

25431 026 -377361470 30914 7252 051

Satildeo Luiacutes do

Curu

4698 018 0 25790 6105 051

Paraipaba 5824 023 16478763 28379 6607 050

Paracuru 6211 026 38691 32820 6803 056

Trairi 4631 023 -70383 20589 5614 055

Miacutenimo 3169 006 -492754287 17162 3348 042

Maacuteximo 39997 058 150238212 84636 7975 066

Meacutedia 544529 016 -485814709 26764 5646 053

Desvio

Padratildeo

402441 009 5716913928

7634

946

005

Fonte IPECE (2012) DATASUS (2010) Ministeacuterio do Desenvolvimento da Induacutestria e Comeacutercio Exterior

(MDCI) (2010) e Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil (2010) Elaborado pelos autores

Seguem-se os valores de cada iacutendice para cada variaacutevel segundo o municiacutepio

conforme processo metodoloacutegico descrito anteriormente no intuito de se obter o valor para o

iacutendice da Dimensatildeo Econocircmica do IDSM na RMF

81

41 PIB PER CAPITA

Os valores da Tabela 2 demonstram os iacutendices para o Produto Interno Bruto per capita

em 2010 A relaccedilatildeo desta variaacutevel com a renda meacutedia da populaccedilatildeo eacute positiva pois quanto

maior for maior seraacute a renda

Tabela 2 ndash Indicador de Produto Interno Bruto per capita por municiacutepio ndash RMF - 2010

Municiacutepio Iacutendice Classificaccedilatildeo

Aquiraacutes 01691 Criacutetico

Cascaacutevel 00976 Criacutetico

Caucaia 00436 Criacutetico

Chorozinho 06638 Aceitaacutevel

Euseacutebio 03256 Alerta

Fortaleza 00274 Criacutetico

Guaiuba 04041 Alerta

Horizonte 00526 Criacutetico

Itaitinga 04448 Alerta

Maracanauacute 00951 Criacutetico

Maranguape 01398 Criacutetico

Pacajus 01225 Criacutetico

Pacatuba 01225 Criacutetico

Pindoretama 00450 Criacutetico

Satildeo Gonccedilalo do Amarante 06045 Aceitaacutevel

Satildeo Luiacutes do Curu 00415 Criacutetico

Paraipaba 00721 Criacutetico

Paracuru 00826 Criacutetico

Trairi 00397 Critico Fonte Elaborado pelos autores a partir dos dados do IPECE (2012)

Para o periacuteodo analisado apenas os municiacutepios de Chorozinho e Satildeo Gonccedilalo do

Amarante apresentaram niacuteveis aceitaacuteveis de sustentabilidade em relaccedilatildeo ao Produto Interno

Bruto per capita sendo que o primeiro demonstrou valor mais expressivo Trecircs municiacutepios

apresentaram niacuteveis de alerta e os demais se enquadraram em fator criacutetico valendo salientar

que o municiacutepio de Fortaleza apresentou o pior resultado devendo-se considerar que o

mesmo concentra a maior populaccedilatildeo da RMF

42 PARTICIPACcedilAtildeO DA INDUacuteSTRIA NO PIB

Sendo a relaccedilatildeo dessa variaacutevel positiva pois quanto maior for melhor para o PIB

municipal trecircs municiacutepios apresentaram niacuteveis ideais conforme a Tabela 3 O municiacutepio de

Euseacutebio registrou iacutendice 10000 o que demonstra que a atividade industrial no municiacutepio eacute

uma das principais dinamizadoras de sua economia devendo-se considerar tambeacutem que o

82

mesmo apresentou o maior percentual de participaccedilatildeo da induacutestria no PIB dentre todos os

municiacutepios averiguados

Tabela 3 ndash Indicador de participaccedilatildeo da induacutestria no PIB por municiacutepio ndash RMF ndash 2010

Municiacutepio Iacutendice Classificaccedilatildeo

Aquiraacutes 06319 Aceitaacutevel

Cascaacutevel 04229 Alerta

Caucaia 04141 Aceitaacutevel

Chorozinho 00000 Criacutetico

Euseacutebio 10000 Ideal

Fortaleza 02114 Criacutetico

Guaiuba 00769 Criacutetico

Horizonte 08575 Ideal

Itaitinga 03628 Alerta

Maracanauacute 08641 Ideal

Maranguape 05484 Aceitaacutevel

Pacajus 05904 Aceitaacutevel

Pacatuba 07257 Aceitaacutevel

Pindoretama 00172 Criacutetico

Satildeo Gonccedilalo do Amarante 02786 Alerta

Satildeo Luiacutes do Curu 01329 Criacutetico

Paraipaba 02287 Criacutetico

Paracuru 02815 Alerta

Trairi 02281 Critico Fonte Elaborado pelos autores a partir dos dados do IPECE (2012)

Cinco municiacutepios obtiveram niacuteveis aceitaacuteveis enquanto que quatro e sete municiacutepios

apresentaram respectivamente niacuteveis de alerta e criacutetico Vale considerar o caso de

Chorozinho que apresentou iacutendice 00000 cujo PIB per capita possui como fator

dinamizador o setor de serviccedilos enquanto que a induacutestria apresenta a menor participaccedilatildeo

neste processo Pindoretama apresentou similar resultado (00172) devendo-se levar em

consideraccedilatildeo que o dinamismo econocircmico destes municiacutepios eacute semelhante

43 SALDO DA BALANCcedilA COMERCIAL

A anaacutelise da Tabela 4 demonstra os valores iacutendices no que se refere ao saldo da

balanccedila comercial sendo que esta variaacutevel apresenta uma relaccedilatildeo positiva jaacute que saldos

positivos (superaacutevits comerciais) incrementam a economia

83

Tabela 4 ndash Indicador de balanccedila comercial por municiacutepio ndash RMF ndash 2010

Municiacutepio Iacutendice Classificaccedilatildeo

Aquiraacutes 07281 Aceitaacutevel

Cascaacutevel 09942 Ideal

Caucaia 02059 Criacutetico

Chorozinho 07663 Ideal

Euseacutebio 07081 Aceitaacutevel

Fortaleza 00000 Criacutetico

Guaiuba 07653 Ideal

Horizonte 07497 Aceitaacutevel

Itaitinga 07624 Ideal

Maracanauacute 05310 Aceitaacutevel

Maranguape 07347 Aceitaacutevel

Pacajus 07565 Ideal

Pacatuba 07542 Ideal

Pindoretama 07663 Ideal

Satildeo Gonccedilalo do Amarante 01795 Criacutetico

Satildeo Luiacutes do Curu 07663 Ideal

Paraipaba 07920 Ideal

Paracuru 07664 Ideal

Trairi 07662 Ideal Fonte Elaborado pelos autores a partir dos dados do Ministeacuterio da Induacutestria Comeacutercio Exterior e Serviccedilos

(MDIC) (2010)

Trecircs municiacutepios apresentaram iacutendices com valores criacuteticos a saber Fortaleza Satildeo

Gonccedilalo do Amarante e Caucaia ndash estes municiacutepios apresentam os piores deacuteficits na balanccedila

comercial na aacuterea estudada A capital cearense registrou o pior resultado o que demonstra que

o deacuteficit obtido em suas contas de comeacutercio com o exterior tem apresentado retornos

demasiadamente pouco vantajosos agrave economia municipal Cinco municiacutepios registraram

iacutendices aceitaacuteveis e os demais enquadraram-se na faixa ideal

45 RENDA PER CAPITA

Abaixo na Tabela 5 encontram-se expressos os valores para o iacutendice de renda per

capita de cada muniacutecipio da RMF A relaccedilatildeo eacute positiva tendo em vista que quanto maior for a

variaacutevel maior seraacute o iacutendice (melhor para a economia municipal) Apenas Fortaleza

apresentou valor em niacutevel ideal no que se refere ao indicador renda per capita em sua

expressatildeo maacutexima ndash ressalte-se o fato de a renda per capita do mesmo ser o maior dentre

todos os municiacutepios considerados nesta investigaccedilatildeo O segundo melhor resultado ficou com

o municiacutepio de Euseacutebio na classificaccedilatildeo aceitaacutevel Em sua grande maioria os outros

municiacutepios exibiram valores criacuteticos enquanto que outros cinco estatildeo na faixa de alerta

84

Tabela 5 ndash Indicador de renda per capita por municiacutepio ndash RMF ndash 2010

Municiacutepio Iacutendice Classificaccedilatildeo

Aquiraacutes 02682 Alerta

Cascaacutevel 02038 Criacutetico

Caucaia 03083 Alerta

Chorozinho 01568 Criacutetico

Euseacutebio 06690 Aceitaacutevel

Fortaleza 10000 Ideal

Guaiuba 01009 Criacutetico

Horizonte 02240 Criacutetico

Itaitinga 01905 Criacutetico

Maracanauacute 02983 Alerta

Maranguape 02018 Criacutetico

Pacajus 02715 Alerta

Pacatuba 02564 Alerta

Pindoretama 01858 Criacutetico

Satildeo Gonccedilalo do Amarante 02038 Criacutetico

Satildeo Luiacutes do Curu 01279 Criacutetico

Paraipaba 01662 Criacutetico

Paracuru 02321 Criacutetico

Trairi 00508 Criacutetico Fonte Elaborado pelos autores a partir dos dados do Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil (2010)

46 RENDIMENTOS PROVENIENTES DO TRABALHO

A Tabela 6 exibe os valores encontrados para o indicador de porcentagem da renda

proveniente de rendimentos do trabalho A relaccedilatildeo eacute positiva dado que quanto maior o iacutendice

melhor para o desenvolvimento sustentaacutevel do municiacutepio No que tange ao indicador a

grande maioria dos municiacutepios analisados se encontram na faixa ideal com destaque para a

cidade de Maracanauacute que obteve valor 10000 no iacutendice Quanto aos demais municiacutepios

estes foram classificados dentro da faixa aceitaacutevel enquanto que particularmente Trairi foi

enquadrado no niacutevel de alerta

85

Tabela 6 ndash Indicador de rendimentos provenientes do trabalho por municiacutepio ndash RMF ndash 2010

Municiacutepio Iacutendice Classificaccedilatildeo

Aquiraacutes 09285 Ideal

Cascaacutevel 07627 Ideal

Caucaia 09825 Ideal

Chorozinho 06907 Aceitaacutevel

Euseacutebio 09637 Ideal

Fortaleza 09073 Ideal

Guaiuba 06801 Aceitaacutevel

Horizonte 09853 Ideal

Itaitinga 07932 Ideal

Maracanauacute 10000 Ideal

Maranguape 08703 Ideal

Pacajus 09501 Ideal

Pacatuba 08880 Ideal

Pindoretama 07290 Aceitaacutevel

Satildeo Gonccedilalo do Amarante 08437 Ideal

Satildeo Luiacutes do Curu 05959 Aceitaacutevel

Paraipaba 07043 Aceitaacutevel

Paracuru 07467 Aceitaacutevel

Trairi 04897 Alerta Fonte Elaborado pelos autores a partir dos dados do Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil (2010)

47 IacuteNDICE DE GINI DE DISTRIBUICcedilAtildeO DOS RENDIMENTOS

Pode-se extrair da Tabela 7 informaccedilotildees acerca dos iacutendices encontrados para os

municiacutepios da RMF no que se refere ao Iacutendice de Gini de Distribuiccedilatildeo dos Rendimentos16

Neste caso a relaccedilatildeo eacute negativa dado que quanto maior for o valor da variaacutevel menor seraacute o

iacutendice Constatou-se que quatro municiacutepios se encontram em niacutevel criacutetico enquanto que os

demais estatildeo em niacutevel de alerta O destaque estaacute para os municiacutepios de Euseacutebio Fortaleza

Paracuru e Trairi que de acordo com a anaacutelise possuem valores para desigualdade

acentuados

16

Nuacutemero de vezes que a renda agregada do quinto superior da distribuiccedilatildeo da renda (20 mais ricos) eacute maior

do que a renda do quinto inferior (20 mais pobres) na populaccedilatildeo residente em determinado espaccedilo

geograacutefico no ano considerado (DATASUS sd)

86

Tabela 7 ndash Iacutendice de Gini por municiacutepio ndash RMF ndash 2010

Municiacutepio Iacutendice Classificaccedilatildeo

Aquiraacutes 04637 Alerta

Cascaacutevel 03606 Alerta

Caucaia 03606 Alerta

Chorozinho 03263 Alerta

Euseacutebio 00687 Criacutetico

Fortaleza 01374 Criacutetico

Guaiuba 03778 Alerta

Horizonte 04637 Alerta

Itaitinga 04122 Alerta

Maracanauacute 04465 Alerta

Maranguape 04293 Alerta

Pacajus 03778 Alerta

Pacatuba 04293 Alerta

Pindoretama 04122 Alerta

Satildeo Gonccedilalo do Amarante 03091 Alerta

Satildeo Luiacutes do Curu 03091 Alerta

Paraipaba 03263 Alerta

Paracuru 02233 Criacutetico

Trairi 02404 Criacutetico Fonte Elaborado pelos autores a partir dos dados do DATASUS (2010)

48 DIMENSAtildeO ECONOcircMICA

Na Tabela 8 satildeo apresentados os valores para o IDSM econocircmicos para os municiacutepios

da RMF Calculado todos os iacutendices para todas as variaacuteveis conforme os municiacutepios

analisados utilizou-se a meacutedia aritmeacutetica entre estes mesmos iacutendices para se obter o indicador

da dimensatildeo econocircmica de desenvolvimento sustentaacutevel para os municiacutepios da RMF

Os resultados permitem inferir que o municiacutepio de Euseacutebio apresentou o melhor

resultado para o ano de 2010 atingindo o valor ideal para o iacutendice da dimensatildeo econocircmica

Em seguida Horizonte e Maracanauacute atingiram bons iacutendices Ademais mais trecircs municiacutepios

apresentaram valores dentro da faixa aceitaacutevel quanto que os demais se enquadraram em

estado de alerta quanto ao iacutendice O municiacutepio que apresentou o menor valor foi Trairi

87

Tabela 8 ndash Iacutendice da Dimensatildeo Econocircmica do IDSM para os municiacutepios da RMF ndash 2010

Municiacutepio Iacutendice Classificaccedilatildeo

Aquiraacutes 05316 Aceitaacutevel

Cascaacutevel 04736 Alerta

Caucaia 04004 Alerta

Chorozinho 03306 Alerta

Euseacutebio 06789 Aceitaacutevel

Fortaleza 04303 Alerta

Guaiuba 03381 Alerta

Horizonte 06140 Aceitaacutevel

Itaitinga 04289 Alerta

Maracanauacute 05975 Aceitaacutevel

Maranguape 04799 Alerta

Pacajus 05144 Aceitaacutevel

Pacatuba 05294 Aceitaacutevel

Pindoretama 03593 Alerta

Satildeo Gonccedilalo do Amarante 04032 Alerta

Satildeo Luiacutes do Curu 03289 Alerta

Paraipaba 03816 Alerta

Paracuru 03888 Alerta

Trairi 03025 Alerta Fonte Elaborado pelos autores a partir da base de dados utilizadas 2010

Comparando-se os resultados da Tabela 8 com a Tabela 9 esta uacuteltima demonstra os

resultados para a Regiatildeo Metropolitana do Cariri calculados por Vieira e Justo (2015)

percebe-se que Aquiraacutes Euseacutebio Horizonte Maracanauacute Pacajus e Pacatuba encontram-se

junto a Crato e Juazeiro do Norte no que se refere a classificaccedilatildeo aceitaacutevel

Tabela 9 ndash Dimensatildeo econocircmica do IDSM para os municiacutepios da Regiatildeo Metropolitana do

Cariri ndash RMC

Municiacutepio Iacutendice Classificaccedilatildeo

Barbalha 04801 Alerta

Caririaccedilu 03725 Alerta

Crato 05313 Aceitaacutevel

Farias Brito 03497 Alerta

Jardim 03654 Alerta

Juazeiro do Norte 05117 Aceitaacutevel

Missatildeo Velha 03916 Alerta

Nova Olinda 03930 Alerta

Santana do Cariri 03717 Alerta Fonte Vieira Justo (2015)

88

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Observou-se que os indicadores analisados possuem comportamentos especiacuteficos e

diversos a depender de cada indicador O fato eacute corroborado ao analisar o indicador de

participaccedilatildeo da induacutestria no PIB por municiacutepio pois este apresentou valores irregulares entre

os municiacutepios por outro lado os indicadores rendimentos provenientes do trabalho por

municiacutepio e iacutendice de Gini expressaram resultados positivos e regulares com a maioria dos

municiacutepios sendo enquadrados entre os niacuteveis ideal e aceitaacutevel Os indicadores Produto

Interno Bruto per capita e renda per capita apresentaram os piores resultados estimados jaacute

que a maioria dos municiacutepios se encontrou em estado criacutetico de desenvolvimento sustentaacutevel

segundo a dimensatildeo aqui considerada

Do indicador econocircmico que compreende todos os iacutendices calculados para 2010 ficou

evidenciado o elevado resultado do municiacutepio de Euseacutebio A maioria de seus iacutendices ocupou

as faixas ideal e aceitaacutevel Apesar do status de capital Fortaleza apresentou niacuteveis criacuteticos em

trecircs indicadores niacutevel aceitaacutevel em um e niacutevel ideal em dois

Trairi Satildeo Luiacutes do Curu Satildeo Gonccedilalo do Amarante Paraipaba e Paracuru

compartilham os piores resultados jaacute que a maioria de seus indicadores foi enquadrada em

niacutevel criacutetico ou de alerta Itaitinga e Pacatuba demonstraram resultados em meacutedia nem bons

e nem ruins mas que podem conseguir bons resultados conforme utilizaccedilatildeo de eficientes

poliacuteticas puacuteblicas

No que se refere ao iacutendice da Dimensatildeo Econocircmica no todo para 2010 os municiacutepios

considerados natildeo apresentaram niacuteveis criacuteticos Euseacutebio Horizonte e Aquiraacutes conseguiram os

melhores resultados com o primeiro no niacutevel ideal e os outros dois em niacuteveis aceitaacuteveis

Entretanto apesar de resultados natildeo criacuteticos na anaacutelise do iacutendice da Dimensatildeo

Econocircmica os municiacutepios em sua individualidade natildeo compartilham de valores com

caracteriacutesticas semelhantes o que pocircde ser constatado a partir do comportamento instaacutevel das

variaacuteveis conforme a localizaccedilatildeo Pode-se concluir que um bom resultado no geral natildeo

implica em um bom desempenho no individual no que tange a dimensatildeo econocircmica do

IDSM cabendo ressaltar a importacircncia de se destrinchar as variaacuteveis conforme suas

especificidades e localizaccedilatildeo a fim de obter valores mais precisos que possam estar de acordo

com a realidade de cada municiacutepio aleacutem de fornecer uma visatildeo clara e aberta da conduta

econocircmica dos mesmos

89

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92

NIacuteVEL DE SATISFACcedilAtildeO DOS CLIENTES EM RELACcedilAtildeO AOS SERVICcedilOS

PRESTADOS PELAS AGEcircNCIAS BANCAacuteRIAS NO MUNICIacutePIO DO IGUATU

CEARAacute

ANTOcircNIA KARINE GOMES DOS SANTOS

Discente do curso de Ciecircncias Econocircmicas da Universidade Regional do Cariri (URCA)

Unidade Descentralizada de Iguatu ndash UDI E-mail karinegomes922gmailcom

GERLAcircNIA MARIA ROCHA SOUSA

Doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Cearaacute

(UFC) Mestre em Economia Rural pela Universidade Federal do Cearaacute (UFC) E-mail

gerlaniarochagmailcom

OTAacuteCIO PEREIRA GOMES

Mestre em Economia Rural pela Universidade Federal do Cearaacute (UFC) E-mail

otaciopggmailcom

DAcircMARIS COSTA FRUTUOSO

Discente do curso de Ciecircncias Econocircmicas da Universidade Regional do Cariri (URCA)

Unidade Descentralizada de Iguatu ndash UDI E-mail damarisfrutuosogmailcom

ANDREacuteA FERREIRA DA SILVA

Doutoranda em Economia Aplicada da Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Mestre em

Economia Rural pela Universidade Federal do Cearaacute (UFC) Graduada em Ciecircncias

Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA) E-mail

andreaeconomiayahoocombr

93

NIacuteVEL DE SATISFACcedilAtildeO DOS CLIENTES EM RELACcedilAtildeO AOS SERVICcedilOS

PRESTADOS PELAS AGEcircNCIAS BANCAacuteRIAS NO MUNICIacutePIO DO IGUATU

CEARAacute

RESUMO

O presente trabalho apresenta o estudo do niacutevel de satisfaccedilatildeo dos clientes em relaccedilatildeo aos

serviccedilos oferecidos pelas agecircncias bancaacuterias localizadas no municiacutepio de Iguatu CE para isso

foi utilizado agrave teacutecnica estatiacutestica multivariada de anaacutelise fatorial para calcular o Iacutendice de

Satisfaccedilatildeo dos Clientes em relaccedilatildeo aos serviccedilos prestados pelas Agecircncias Bancaacuterias (ISCAB)

por meio desse Iacutendice foi feito a ordenaccedilatildeo dos entrevistados de acordo com seu niacutevel de

satisfaccedilatildeo Obtiveram-se resultados insatisfatoacuterios com relaccedilatildeo aos gostos dos clientes

Palavras-chave Satisfaccedilatildeo Clientes Agecircncias Bancaacuterias

ABSTRACT

The present work presents the study of the level of customer satisfaction in relation to the

services offered by the banking agencies located in the city of Iguatu CE For this a

multivariate statistical analysis was used to calculate the Customer Satisfaction Index to the

services provided by the Banking Agencies (ISCAB) through this Index the interviewees

were ranked according to their level of satisfaction Unsatisfactory results were obtained in

relation to the customers taste

Keywords Satisfaction Customers Bank agencies

94

1 Introduccedilatildeo

O sistema bancaacuterio surgiu em decorrecircncia da divisatildeo do trabalho que originou as

mercadorias-moedas e consequentemente a moeda inicialmente cunhada em metais e

posteriormente passando ao papel-moeda e finalmente a moeda escritural e eletrocircnica Tanto o

surgimento como as alteraccedilotildees que ocorreram no sistema bancaacuterio atraveacutes dos tempos foram

motivados pelas necessidades da sociedade

A partir da deacutecada de 1960 a rede de atendimento dos agentes financeiros sofreu uma

grande ampliaccedilatildeo motivada pelo novo sistema de transportes adotado o rodoviaacuterio o qual

propiciou uma maior abrangecircncia do sistema em relaccedilatildeo ao modal ferroviaacuterio Aleacutem da

mudanccedila no modal de transportes ocorrida nesse periacuteodo outro fator que proporcionou a

ampliaccedilatildeo da rede de atendimento foi o avanccedilo tecnoloacutegico nos meios de comunicaccedilatildeo do

paiacutes

Em 1988 com a promulgaccedilatildeo da nova Constituiccedilatildeo Brasileira os bancos tornaram-se

muacuteltiplos ou seja natildeo estariam mais limitados apenas ao setor financeiro podendo atuar em

outros ramos da economia Todas as mudanccedilas normativas regulamentadoras ou accedilotildees do

Estado natildeo ocasionaram tantas alteraccedilotildees na dinacircmica bancaacuteria como a estabilizaccedilatildeo

econocircmica proporcionada pelo Plano Real a partir de 1994

A partir de 1995 em decorrecircncia da estabilidade econocircmica os cartotildees de deacutebito e

principalmente os de creacutedito comeccedilaram a ganhar espaccedilo no mercado nacional tornando-se

um dos principais meios de pagamento utilizados atualmente Outra mudanccedila deste periacuteodo

foi o maior volume de empreacutestimos concedidos agraves pessoas fiacutesicas com intuito de fomentar a

aquisiccedilatildeo de bens de consumo duraacuteveis por meio de financiamentos ou consumo de bens natildeo

duraacuteveis por meio de creacutedito pessoal ou limite de creacutedito em conta corrente ou cartatildeo de

creacutedito

A globalizaccedilatildeo econocircmica que o paiacutes comeccedilou a sentir a partir de 1994 devido agrave maior

abertura do mercado financeiro a instituiccedilotildees financeiras internacionais tambeacutem possibilitou a

ampliaccedilatildeo dos espaccedilos de utilizaccedilatildeo das linhas de creacutedito oferecidas no paiacutes Os portadores de

cartotildees de creacutedito com bandeira internacional foram amplamente beneficiados com essa nova

realidade pois com uma moeda estaacutevel e valorizada foi minimizada a aquisiccedilatildeo de moedas

estrangeiras para viagens internacionais devido agrave possibilidade de utilizaccedilatildeo dos cartotildees de

95

creacutedito internacional em qualquer paiacutes que possua estabelecimentos conveniados as

administradoras que atuam no Brasil

No Brasil haacute uma enorme concentraccedilatildeo de clientes em meia duacutezia de instituiccedilotildees

financeiras Bancos privados e estatais concentram a maioria dos correntistas brasileiros Os

bancos satildeo como qualquer outra empresa no acircmbito de que visam agrave obtenccedilatildeo de lucro mas

tambeacutem fornecem serviccedilos essenciais agrave sociedade seja realizando pagamentos oferecendo

empreacutestimos transferindo valores gerenciando patrimocircnios e investindo todos precisam

deles

Como existem inuacutemeros aspectos influenciadores da satisfaccedilatildeo do consumidor cabe

ao pesquisador levaacute-los em consideraccedilatildeo no momento de construir e buscar uma metodologia

estatiacutestica Portanto pode-se justificar essa pesquisa devido agrave inexistecircncia de trabalhos

especiacuteficos nessa linha de raciociacutenio empregando um modelo que abranja a

multidimensionalidade da satisfaccedilatildeo do cliente levando em consideraccedilatildeo os diversos

indicadores que contribuem para a sua satisfaccedilatildeo

Nesse sentido o objetivo deste artigo concentra-se em traccedilar o perfil socioeconocircmico

e determinar um iacutendice de satisfaccedilatildeo dos clientes em relaccedilatildeo aos serviccedilos prestados pelas

Agecircncias Bancaacuterias (ISCAB) do municiacutepio de Iguatu Cearaacute

2 Fundamentaccedilatildeo teoacuterica

Nesta seccedilatildeo seratildeo citados conceitos de autores renomeados na aacuterea de Marketing

satisfaccedilatildeo de clientes e modelo Kano com o intuito de argumentar e fundamentar teoricamente

o tema principal do estudo que eacute analisar o niacutevel de satisfaccedilatildeo dos clientes em relaccedilatildeo aos

serviccedilos oferecidos pelas agecircncias bancaacuterias localizada no municiacutepio de Iguatu

O marketing surgiu nos Estados Unidos e foi lentamente se espalhando pelo mundo

A palavra marketing origina-se do inglecircs market e deriva do latim mercaacutetus que significa

mercado Na liacutengua portuguesa pode ser entendido como mercadologia a ciecircncia ou estudo

do mercado No Brasil o termo passou a ser utilizado a partir de 1954 quando uma missatildeo

norte americana organizou os primeiros cursos de Administraccedilatildeo de Empresas na Fundaccedilatildeo

Getulio Vargas em Satildeo Paulo (DIAS 2003 RICHERS2004)

Segundo Schmitt (2004) antes da deacutecada de 90 o marketing era focado no produto na

tecnologia e na venda as organizaccedilotildees natildeo se preocupavam com o que os clientes pensavam

apoacutes a deacutecada de 90 as organizaccedilotildees passaram a se focar no cliente Os clientes se tornaram o

96

ponto principal e as organizaccedilotildees passaram a reconhecer a necessidade de se tornarem

orientadas para o cliente e voltadas para o mercado Existe uma nova orientaccedilatildeo de marketing

chamado de marketing de relacionamento poacutes venda voltado para a retenccedilatildeo de clientes O

marketing de relacionamento defende que aleacutem de conquistar novos clientes as empresas

precisam manter e cuidar dos clientes atuais assim as empresas comeccedilam a perceber a

importacircncia dos serviccedilos ligados a qualidade do atendimento ao consumidor e criam um

espaccedilo (SAC) onde os clientes possam dar sua opiniatildeo fazer criticas e sugestotildees (VAVRA

1993 SIQUEIRA 2005)

Um relacionamento sustentaacutevel entre empresa e cliente eacute feito atraveacutes da confianccedila e

do comprometimento entre as partes pois acaba gerando um comportamento cooperativo

Esse relacionamento natildeo surge do nada exige trabalho e dedicaccedilatildeo Para construir um bom

relacionamento com seus clientes as organizaccedilotildees devem compreender as necessidades dos

clientes trata-los como parceiros assegurar que seus funcionaacuterios satisfaccedilam suas

necessidades e oferece-los a melhor qualidade possiacutevel (URDAN URDAN 2006

MCKENNA 1993)

21 Satisfaccedilatildeo do cliente aspectos conceituais e referenciais teoacutericos

Satisfaccedilatildeo significa dizer satisfazer algueacutem independente do que se trata se eacute uma

comida um produto um serviccedilo etc Em se tratando de satisfaccedilatildeo do cliente jaacute se tem em

mente um consumidor que paga por algo que iraacute consumirusufruir para satisfazer o seu ego

Sendo assim percebe-se que satisfazer um cliente eacute algo bastante promissor para o mercado

atualmente pois a cada dia que se passa ele se torna ainda mais exigente Tratar um cliente

bem eacute uma loacutegica de marketing que conduz a um cliente satisfeito portanto maior seraacute a

possibilidade do mesmo voltar ao estabelecimento e contratar novamente os seus serviccedilos e

produtos

Para Cordeiro (2014) apud Souza Sousa Justo (2014 p 20) ―percebe-se que neste

ambiente de competitividade global um novo insumo passa a ser primordial para a

manutenccedilatildeo de presenccedila no mercado qual seja a capacidade inovativa das empresas e

localidades Portanto a satisfaccedilatildeo dos clientes eacute peccedila fundamental para um mercado

competitivo vivenciado na atualidade sendo assim investir em marketing e promoccedilotildees ainda

eacute o melhor para a aquisiccedilatildeo de novos clientes natildeo se esquecendo de mantecirc-lo como cliente

fidelizado

97

Conforme Kotler e Keller (2006 p145) ―qualidade eacute a totalidade dos atributos e

caracteriacutesticas de um produto ou serviccedilo que afetam sua capacidade de satisfazer necessidades

declaradas ou impliacutecitas Essa eacute uma definiccedilatildeo claramente voltada para o cliente

Na Figura 1 retrata-se a otimizaccedilatildeo do consumidor diante a maximizaccedilatildeo da utilidade

Segundo o curso on-line de Analista de Economia Perito MPU (p49) ―O consumidor iraacute

maximizar a sua utilidade no ponto em que a sua restriccedilatildeo orccedilamentaacuteria tangencia a curva de

indiferenccedila mais alta possiacutevel

FIGURA 1 ndash A Maximizaccedilatildeo da Utilidade - Otimizaccedilatildeo do Consumidor

Fonte httpptslideshare netWesleyHandersonaula01economia

Segundo Pindyck e Rubinfeld (2006 p56)

O comportamento do consumidor eacute mais bem compreendido quando

examinado em trecircs etapas 1 Preferecircncias do consumidor A primeira

etapa consiste em encontrar uma forma praacutetica de descrever por que as

pessoas poderiam preferir uma mercadoria agrave outra 2 Restriccedilotildees

orccedilamentaacuterias Obviamente os consumidores devem tambeacutem

considerar os preccedilos Por isso na segunda etapa levaremos em conta

que os consumidores tecircm renda limitada o que restringe a quantidade

de mercadorias que podem adquirir O que um consumidor faz nessa

situaccedilatildeo Encontraremos uma resposta para essa questatildeo ao juntar

suas preferecircncias e sua restriccedilatildeo orccedilamentaacuteria na terceira etapa 3

Escolhas do consumidor Diante de suas preferecircncias e da limitaccedilatildeo de

renda os consumidores escolhem comprar as combinaccedilotildees de

mercadorias que maximizam sua satisfaccedilatildeo Essas combinaccedilotildees

dependeratildeo dos preccedilos dos vaacuterios bens disponiacuteveis Assim entender

as escolhas do consumidor nos ajudaraacute a compreender a demanda ndash

isto eacute como a quantidade de bens que os consumidores podem

adquirir depender de seus preccedilos

Y O consumidor estaacute no seu

maior niacutevel de satisfaccedilatildeo ao

escolher o ponto ldquoArdquo em que a

restriccedilatildeo orccedilamentaacuteria atinge a

curva de indiferenccedila mais alta

Este ponto eacute chamado de ponto

de tangecircncia Neste ponto a

TMS ∆119910∆119909 eacute igual agrave razatildeo dos

preccedilos 119875119909119875119903 X

Yrsquo

Xrsquo

A

98

Para Magalhatildees (2005 p 216) ― para que o consumidor maximize sua satisfaccedilatildeo eacute

necessaacuterio que selecione aquela combinaccedilatildeo de bens sobre a linha de orccedilamento que o

capacite a atingir a mais alta curva de indiferenccedila possiacutevel

3 Metodologia

31 Aacuterea de estudo

A aacuterea de estudo compreendeu o municiacutepio de Iguatu localizado na Regiatildeo Centro-

Sul Cearense O municiacutepio tem uma populaccedilatildeo estimada em 2015 de 101386 pessoas

distribuiacutedas em uma aacuterea de 1029214 Kmsup2 estaacute localizado a 380 km da capital do estado

Fortaleza (IBGE 2015)

32 Natureza dos dados e tamanhos da amostra

Os dados utilizados nesta pesquisa satildeo de natureza primaacuteria obtidos por intermeacutedio de

entrevistas diretas junto aos clientes das Empresas bancaacuterias do Municiacutepio de Iguatu no

periacuteodo de 2016 Estes questionaacuterios enfatizaram aspectos a respeito do perfil

socioeconocircmico e indicadores de satisfaccedilatildeo dos clientes das Agecircncias Bancaacuterias A

amostragem seraacute de cunho natildeo probabiliacutestica por conveniecircncia

33 Anaacutelise Tabular e descritiva

Um dos objetivos desse trabalho foi traccedilar o perfil socioeconocircmico dos entrevistados

Portanto inicialmente foi feita uma anaacutelise tabular e descritiva das variaacuteveis econocircmicas

sociais e culturais dos clientes dos correios no municiacutepio de Iguatu aleacutem da aplicaccedilatildeo do

teste H de Kruskal Wallis com vistas a testar a hipoacutetese de igualdade de meacutedias entre

algumas variaacuteveis

34 Anaacutelise fatorial

99

O meacutetodo de anaacutelise fatorial foi utilizado para gerar e mensurar o Iacutendice de Satisfaccedilatildeo

dos clientes das agecircncias bancaacuterias do municiacutepio de Iguatu (ISCAB) que satildeo objetivos

especiacuteficos deste trabalho A anaacutelise fatorial eacute uma teacutecnica multivariada que busca identificar

um nuacutemero relativamente pequeno de fatores comuns que podem ser utilizados para

representar relaccedilotildees entre um grande nuacutemero de variaacuteveis inter-relacionadas

O principal propoacutesito da anaacutelise fatorial eacute descrever as relaccedilotildees de covariacircncia entre

diversas variaacuteveis em termos de poucos fatores natildeo observaacuteveis ou seja a teacutecnica busca

identificar fatores natildeo observaacuteveis que possam explicar a intercorrelaccedilatildeo entre as variaacuteveis

(FAacuteVERO et al 2009)

Segundo Ferreira Jr Baptista e Lima (2004) os fatores satildeo formados levando em

consideraccedilatildeo alguns princiacutepios (a) as variaacuteveis mais correlacionadas satildeo combinadas em um

mesmo fator (b) as variaacuteveis que compotildeem um fator satildeo praticamente independentes das que

compotildeem outros fatores (c) a derivaccedilatildeo dos fatores eacute feita visando maximizar a porcentagem

de variacircncia total explicada por cada fator consecutivo e (d) os fatores natildeo satildeo

correlacionados entre si Assim sendo o modelo de anaacutelise fatorial pode ser expresso

algebricamente como identificado na equaccedilatildeo (01)

Xi = ai1F1 + ai2F2 ++ aimFm + ei (1)

Onde

Xi = o i-eacutesimo escore da variaacutevel padronizada com meacutedia zero e variacircncia unitaacuteria (i = 1 2

m)

Fj = aos fatores comuns natildeo correlacionados com meacutedia zero e variacircncia unitaacuteria

aij = indicaccedilatildeo das cargas fatoriais e

ei = o termo de erro que capta a variaccedilatildeo de Xi explicada por outros fatores aleacutem da

combinaccedilatildeo linear das cargas fatoriais dos fatores comuns

O passo seguinte apoacutes o caacutelculo das cargas fatoriais e a identificaccedilatildeo dos fatores eacute a

estimaccedilatildeo do escore fatorial conforme a expressatildeo geral para estimaccedilatildeo do j-eacutesimo fator Fj

(equaccedilatildeo 02)

Fj = Wj1X1 + Wj2X2 + Wj3X3 ++ WjpXp (2)

100

Em que os Wji satildeo os coeficientes dos escores fatoriais

p = o nuacutemero de variaacuteveis e

Xi (i = 1 2 p) o valor padronizado das variaacuteveis

A adequaccedilatildeo do modelo de anaacutelise fatorial foi testada pela estatiacutestica de Kaiser-

Meyer-Olkin (KMO) e pelo teste de Bartlett O primeiro varia de 0 a 1 e compara a magnitude

do coeficiente de correlaccedilatildeo observado com a magnitude do coeficiente de correlaccedilatildeo parcial

sendo que valores acima de 050 indicam que os dados satildeo adequados para a anaacutelise fatorial e

o modelo estaacute bem ajustado enquanto valores de KMO abaixo de 050 indicam a natildeo

adequabilidade do mesmo

O teste de esfericidade de Bartlett testa a hipoacutetese nula de que a matriz de correlaccedilatildeo

populacional seja igual agrave matriz identidade Para que o modelo de anaacutelise fatorial esteja bem

ajustado a hipoacutetese nula do teste de Bartlett deve ser rejeitada (FAacuteVERO et al 2009)

Segundo Mingoti (2007) o nuacutemero de fatores a serem considerados eacute determinado

geralmente pelo seguinte criteacuterio mantecircm-se apenas os fatores cuja raiz caracteriacutestica eacute

maior que um

35 Determinaccedilotildees do Iacutendice de Satisfaccedilatildeo dos Clientes e relaccedilatildeo aos serviccedilos prestados

pelas Agecircncias Bancaacuterias (ISCAB)

Propotildee-se utilizar a teacutecnica estatiacutestica multivariada de anaacutelise fatorial para calcular o

Iacutendice de Satisfaccedilatildeo dos Clientes em relaccedilatildeo aos serviccedilos prestados pelas Agecircncias Bancaacuterias

(ISCAB) por meio desse Iacutendice seraacute feita a ordenaccedilatildeo dos entrevistados de acordo com seu

niacutevel de satisfaccedilatildeo Para operacionalizar essa teacutecnica seraacute utilizado o software STATA 12

Esse iacutendice foi elaborados tendo como base os trabalhos de Soares et al (1999) que

criaram um iacutendice de desenvolvimento municipal para os municiacutepios cearenses Campos

(2008) que estabeleceu um iacutendice de hierarquizaccedilatildeo do arranjo produtivo de fruticultura

irrigada na regiatildeo do Baixo Jaguaribe no Estado do Cearaacute e pelo trabalho de Sousa e Campos

(2009) que elaborou o iacutendice de desempenho competitivo dos fruticultores cearenses e

Gomes (2015) que elaborou um iacutendice dos produtores de fruticultura irrigada na regiatildeo do

Cariri Cearaacute

101

Posto isto com esse embasamento teoacuterico criou-se o Iacutendice de Satisfaccedilatildeo dos

Clientes em relaccedilatildeo aos serviccedilos prestados pelas Agecircncias Bancaacuterias (ISCAB)

Matematicamente pode-se expressar o ISCAB da seguinte forma (equaccedilatildeo 03)

k

j

jik

j

j

j

ifISCAB

1

1

nabla

j ge 1 (3)

Sabendo que

ISCABi eacute o Iacutendice de Satisfaccedilatildeo dos Clientes em relaccedilatildeo aos serviccedilos prestados pelas

Agecircncias Bancaacuterias

j eacute a raiz caracteriacutestica associada ao fator j

k o nuacutemero de fatores escolhidos

jif o escore fatorial padronizado do cliente i do fator j que de acordo com Gama (2006)

pode ser expresso como minmax

min

FF

FFf

j

ji

em que

minF eacute o escore fatorial miacutenimo do fator j

e

maxF eacute o escore fatorial maacuteximo do fator j Ademais jif estaacute disposto de tal forma que o

pior resultado eacute 0 e o melhor eacute 1

Como o ISCAB representa uma meacutedia ponderada entrejif e as raiacutezes caracteriacutesticas

maiores que 1 entatildeo ele tambeacutem forneceraacute um intervalo entre 0 e 1 Destarte pode-se

estabelecer a seguinte classificaccedilatildeo a) ]000 050] tem-se um baixo niacutevel satisfaccedilatildeo b)

]050 080] representa niacutevel meacutedio de satisfaccedilatildeo e c) ]080 100] tem-se um niacutevel elevado

de satisfaccedilatildeo Essa classificaccedilatildeo natildeo eacute arbitraacuteria pois os niacuteveis de satisfaccedilatildeo satildeo classificados

em trecircs categorias quais sejam baixo meacutedio e alto niacutevel de satisfaccedilatildeo e se baseiam em

classificaccedilotildees utilizadas por diversos iacutendices como por exemplo o Iacutendice de

Desenvolvimento Humano (IDH)

4 Resultados e discussotildees

O meacutetodo de anaacutelise fatorial foi utilizado para gerar e analisar o niacutevel de Satisfaccedilatildeo

dos clientes em relaccedilatildeo aos serviccedilos prestados pelas agecircncias bancaacuterias que satildeo objetivos

102

especiacuteficos deste trabalho A anaacutelise fatorial tem como proposito descrever as relaccedilotildees de

covariacircncia entre os niacuteveis de satisfaccedilatildeo dos clientes Inicialmente com o intuito de verificar

a coesatildeo dos dados coletados foi calculado o teste Kaiser-Mayer - Olkin (KMO)

Assim observou-se considerando-se distribuiccedilatildeo normal dos dados que o KMO

revelou valor de 0558 ou seja eacute um iacutendice razoaacutevel e aceito para anaacutelise fatorial O Teste de

Esfericidade de Bartlett indicou valor 492408 sendo considerado elevado para garantir que a

matriz de correlaccedilotildees natildeo eacute uma matriz identidade ao niacutevel de significacircncia 1 rejeitando a

hipoacutetese nula (H 0 ) de que a matriz de correlaccedilatildeo eacute uma matriz-identidade Conclui-se

portanto que os dados amostrais satildeo adequados para uso da anaacutelise fatorial

QUADRO 1 Teste de KMO e Bartlett

Medida Kaiser-Meyer-Olkin de adequaccedilatildeo de amostragem 0558

Teste de esfericidade de Bartlett Chi-quadrado aprox 492408

Df 105

Sig 0000

Fonte Resultado da Pesquisa

Objetivando caracterizar ou representar um total de variaacuteveis originais em um nuacutemero

menor possiacutevel de variaacuteveis a fim de explicar a satisfaccedilatildeo dos clientes extraiacuteram-se cinco

fatores considerando os que apresentam raiz caracteriacutesticas maiores do que 1 e que em

conjunto 6726 dos clientes estatildeo com niacutevel meacutedio de satisfaccedilatildeo em relaccedilatildeo aos serviccedilos

bancaacuterios Foram observadas as cargas fatoriais ou coeficientes de correlaccedilatildeo apoacutes a rotaccedilatildeo

dos fatores de adoccedilatildeo de atendimento a serviccedilos prestados pelos bancos e suas respectivas

comunalidades indicando a intensiva associaccedilatildeo entre a variaacutevel e o fator

103

QUADRO 2 Matriz de componente rotativaa

Componente

1 2 3 4 5 6

Tratamento 092 060 570 -279 384 039

Tempo 951 050 007 -005 036 -101

QCaixa 217 -169 686 065 212 200

Qagencia -213 019 052 -056 -029 848

Organizaccedilatildeo 149 -304 -613 -135 027 087

Infraestru 954 087 056 028 004 -127

Qualidbanc 028 086 -695 070 203 041

Confianca -120 665 201 -065 -123 -105

Exigencia 012 652 -179 221 363 009

Prazo -047 115 108 -608 -294 -153

Preccedilo -041 005 041 037 802 -084

Localizacao 040 156 071 795 -161 -130

Seguranca 536 -043 -013 261 -263 487

Concorrenc 058 861 -004 025 -026 -066

QualidSP 326 750 -091 -050 014 292

Meacutetodo de extraccedilatildeo Anaacutelise do Componente principal

Meacutetodo de rotaccedilatildeo Varimax com normalizaccedilatildeo de Kaiser

Rotaccedilatildeo convergida em 6 iteraccedilotildees

Fonte Resultado da Pesquisa

Assim os fatores ficaram da seguinte forma O primeiro fator (F1) estaacute composta pelas

variaacuteveis Tempo de espera para o atendimento Infraestrutura ndash conforto para a espera do

atendimento e Seguranccedila O fator F2 estaacute associado de forma positiva com os seguintes

indicadores de satisfaccedilatildeo Confianccedila nos serviccedilos prestados Niacutevel de exigecircncias para a

realizaccedilatildeo do serviccedilo Qualidade dos serviccedilos de encomenda prestados e Concorrecircncia O

fator F3 estaacute associado de forma positiva com os seguintes indicadores de satisfaccedilatildeo Forma

de tratamento no atendimento ao cliente ndash qualidade do atendimento Quantidade de caixas e

Quantidade de agecircncias

Portanto esse fator estaacute relacionado com os indicadores de concorrecircncia no mercado

Desta forma se um determinado indiviacuteduo apresentar um fator positivo e elevado entatildeo sua

satisfaccedilatildeo estaacute fortemente associada aos indicadores de mercado O fator F4 estaacute representado

pelas variaacuteveis Prazo de entrega das encomendas postadas e Localizaccedilatildeo da agecircncia O fator

F5 estaacute representado pela variaacutevel Preccedilo dos serviccedilos E o fator F6 estaacute representado pela

variaacutevel Quantidade de agecircncias Analogamente o entrevistado que apresentar valor positivo

e elevado desse fator prioriza esse indicador na sua satisfaccedilatildeo

104

TABELA 1 Iacutendice de satisfaccedilatildeo dos clientes das agecircncias bancaacuterias do

municiacutepio de Iguatu Cearaacute Grupos ISCAB Nuacutemeros de Clientes Frequecircncia relativa

Muito baixo 0-020 1 1

Baixo 021-035 7 7

Meacutedio 037-054 77 77

Alto 062-078 15 15

Muito Alto 079-100 0 0

Informaccedilotildees vaacutelidas - 100 100

Fonte Resultado da Pesquisa

Posto isto no que diz respeito ao Iacutendice de Satisfaccedilatildeo dos Clientes dessas agecircncias

mensurado pelo meacutetodo de anaacutelise fatorial observou-se que a maioria dos entrevistados

(77) apresentou meacutedio niacutevel de satisfaccedilatildeo 15 possuem um niacutevel alto de satisfaccedilatildeo e natildeo

houve niacuteveis muito altos de satisfaccedilatildeo para esses clientes mostrando que alguns poucos se

sentem satisfeitos contudo natildeo eacute suficiente para atender todas as suas necessidades

5 Conclusatildeo

O aumento das agecircncias bancaacuterias tem demostrado que os bancos estatildeo buscando a

expansatildeo do mercado objetivando assim um maior nuacutemero de clientes que por sua vez se

tornam cada vez mais exigentes buscando em suas escolhas produtos e serviccedilos de qualidade

Ao analisar os niacuteveis de satisfaccedilatildeo dos clientes das redes bancaacuterias eacute de fundamental

importacircncia pois possibilita que seus responsaacuteveis traccedilam estrateacutegias de forma a incentivar a

captaccedilatildeo de mais clientes Contudo os resultados natildeo foram muito satisfatoacuterios pois em sua

grande parte estes clientes apresentaram-se insatisfeitos com os serviccedilos das agecircncias

bancaacuterias do municiacutepio de Iguatu Cearaacute

Conforme os resultados a grande maioria dos entrevistados apresentaram niacuteveis natildeo

tatildeo satisfatoacuterios com os serviccedilos As variaacuteveis que mais tiveram efeitos negativos sobre os

resultados satildeo o tempo de espera por parte desses clientes pois reclamavam bastante da

demora por parte dos funcionaacuterios em atender acumulando grande quantidade de pessoas no

serviccedilo para serem atendidos A infraestrutura da agecircncia muitos comentaram que o aspecto

fiacutesico natildeo suporta a quantidade de clientes existentes sendo necessaacuteria uma mudanccedila de

espaccedilo Com relaccedilatildeo a qualidade do atendimento acredita-se que isso seja em decorrecircncia do

estresse provocado pelo acuacutemulo de pessoas em um pequeno espaccedilo de atendimento A

105

variaacutevel quantidade de caixas natildeo foi muito avaliada de forma negativa mas sim as

frequecircncias que esses ficavam sem dinheiro provocando filas desnecessaacuterias

De uma forma geral acredita-se que parte desses resultados negativos tenha-se

advindo do periacuteodo de greve em que estas unidades bancaacuterias ficaram onde isso tenha

provocado revolta por parte da populaccedilatildeo Contudo algumas sugestotildees para que o niacutevel de

satisfaccedilatildeo dos clientes bancaacuterios do municiacutepio aumente como maior agilidade e organizaccedilatildeo

dos funcionaacuterios Melhora na infraestrutura de forma em que haja um aumento nos locais

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107

CRISES INTERNACIONAIS DOS ANOS 1990 A ORIENTACcedilAtildeO EXTERNA DO

NORDESTE BRASILEIRO DENTRO DESTE CONTEXTO

Marcelo Henrick Alves dos Santos

Bacharel em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri - URCA

E-mail ltmarcelohenrick22gmailcomgt

Christiane Luci Bezerra Alves

Professora Associada do Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri

Graduada em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Federal do Cearaacute ndash UFC Mestrado em

Economia pela Universidade Federal da Paraiacuteba ndash UFPB e Doutora em Desenvolvimento e

Meio Ambiente - DDMA da Universidade Federal do Cearaacute ndash UFC E-mail

ltchrislucigmailcomgt

108

CRISES INTERNACIONAIS DOS ANOS 1990 A ORIENTACcedilAtildeO EXTERNA DO

NORDESTE BRASILEIRO DENTRO DESTE CONTEXTO

RESUMO A economia mundial da deacutecada de 1990 eacute reflexo de um conjunto de reformas

estruturais adotadas a partir das orientaccedilotildees neoliberais e de um conjunto de momentos

criacuteticos que assolaram a estabilidade comercial e financeira das naccedilotildees Entretanto da mesma

maneira que as crises afetam a economia nacional acaba por afetar tambeacutem em niacutevel

regional Este trabalho objetiva investigar as mudanccedilas estruturais na orientaccedilatildeo externa da

economia nordestina verificadas a partir das abruptas mudanccedilas na conjuntura

macroeconocircmica nacional e internacional No comeacutercio exterior o valor das importaccedilotildees

passou a exceder o valor das exportaccedilotildees resultando em deacuteficits comerciais que se alastraram

ateacute o final do periacuteodo O Nordeste reafirmou sua posiccedilatildeo como exportador de bens industriais

de baixa e meacutedia-baixa intensidades tecnoloacutegicas bem como de produtos em decadecircncia e

dinacircmicos agrave economia mundial

Palavras-chaves Nordeste orientaccedilatildeo externa crises

ABSTRACT The world economy of the 1990s is a reflection of a set of structural reforms

adopted from neoliberal orientations and a set of critical moments that have affected the

commercial and financial stability of nations However just as crises affect the national

economy it also affects the regional level This work aims to investigate the structural

changes in the external orientation of the Northeast economy verified by the abrupt changes

in the national and international macroeconomic conjuncture In foreign trade the value of

imports began to exceed the value of exports resulting in trade deficits that spread through

the end of the period The Northeast reaffirmed its position as an exporter of industrial goods

of low and medium-low technological intensities as well as of decadent and dynamic

products to the world economy

Keywords Northeast orientation external crises

109

1 INTRODUCcedilAtildeO

O processo de desenvolvimento do sistema capitalista trouxe ao debate cientiacutefico-

acadecircmico questotildees que lhe satildeo inerentes destacando suas particularidades e excentricidades

entre elas o fenocircmeno das crises Nesse sentido teoacutericos de diferentes eacutepocas e linhas de

pensamento debruccedilaram esforccedilos na tentativa de consolidar um arcabouccedilo teoacuterico a esse

respeito como Karl Marx John Maynard Keynes e Joseph Alois Schumpeter

As crises se caracterizaram como ponto de inflexatildeo ou momento de cisatildeo entre fases

diferentes e irreversiacuteveis do capitalismo moldadas a partir da incorporaccedilatildeo de novos haacutebitos

de produccedilatildeo consumo e circulaccedilatildeo financeira

(MARX 1991 SCHUMPETER 1997)

Assim o decorrer da deacutecada de 1990 foi marcado por momentos criacuteticos que abalaram

as economias nacionais principalmente aquelas emergentes

Economias regionais da mesma forma como economias nacionais podem ser afetadas

por crises internacionais dado a maior dificuldade para obtenccedilatildeo de recursos para financiar

deacuteficits em transaccedilotildees correntes

O presente trabalho procura fazer um estudo a partir de uma reflexatildeo analiacutetica sobre a

accedilatildeo dos choques externos dos anos 1990 sobre a orientaccedilatildeo externa da regiatildeo Nordeste do

Brasil Estes mesmos choques possuem suas similaridades sequenciais dado que

desencadearam instabilidade nos mercados financeiros fuga de capitais e perda de poder de

compra no mercado externo As economias envolvidas experimentaram a tensatildeo entre os

investidores quanto a tomada de decisotildees os decliacutenios de seus produtos e a recuperaccedilatildeo em

niacuteveis mais baixos do que aqueles vigentes antes das crises que as acometeram

Neste sentido o trabalho se encontra dividido em quatro seccedilotildees aleacutem desta

introduccedilatildeo na seccedilatildeo 2 eacute caracterizado o fenocircmeno dos choques externos dos anos 1990 a

saber crises mexicana asiaacutetica e russa na seccedilatildeo 3 discute-se a abertura comercial do paiacutes

ocorrida na mesma deacutecada na seccedilatildeo 4 apresentam-se os resultados e anaacutelises da pesquisa

sendo a uacuteltima seccedilatildeo referente agraves consideraccedilotildees finais

110

2 ELEMENTOS PARA COMPREENDER OS CHOQUES EXTERNOS DOS ANOS

1990

Nesta seccedilatildeo propotildee-se um resgate teoacuterico pautado na construccedilatildeo bibliograacutefica acerca

da temaacutetica das crises financeiras dos anos 1990 a saber crises mexicana asiaacutetica e russa ndash

que dentro de suas pertinecircncias abalaram as relaccedilotildees comerciais mundiais promulgando

novos padrotildees de orientaccedilatildeo externa mercado em niacuteveis nacionais e regionais

21 A CRISE FINANCEIRA DO MEacuteXICO DE 1994

Segundo Lobatildeo (2007) eacute necessaacuterio compreender os acontecimentos que antecederam

a crise mexicana em 23 de marccedilo de 1994 o assassinato do entatildeo candidato agrave Presidecircncia

Luis Donaldo Colosio provocou volatilidade nos mercados financeiros mexicanos resultando

em perda das reservas do paiacutes na ordem de mais de um terccedilo cujo volume se aproximou do

limite da banda de intervenccedilatildeo e provocaram elevaccedilatildeo das taxas de juros internas Esta

situaccedilatildeo levou o governo do Meacutexico em 20 de dezembro de 1994 a abandonar a paridade do

peso com o doacutelar passando a adotar a banda cambial alargada fato que resultou na

desvalorizaccedilatildeo do peso mexicano A tentativa fazia parte do plano de estimular a atratividade

da economia do paiacutes no cenaacuterio internacional

Conforme apontado por Kessler (2001) a crise mexicana aconteceu

concomitantemente com a medida tomada pelo FED em 1994 de dobrar as taxas de juros

americanas de 3 para 5 tornando-as muito mais atrativas do ponto de vista da taxa de

retorno do que em relaccedilatildeo aos paiacuteses em desenvolvimento provocando desta forma uma

fuga de capitais no Meacutexico concretizada por meio da reduccedilatildeo das reservas internacionais

diante da instabilidade mexicana que cada vez mais era notoacuteria na percepccedilatildeo dos investidores

Na segunda metade de 1994 observa-se uma queda de 75 nas entradas de capital sendo que

em dezembro deste mesmo ano as reservas somavam US$ 6 bilhotildees

A partir de meados da deacutecada de 1990 a economia mexicana passou a sofrer com

balanccedila comercial e conta corrente deficitaacuterias e dependecircncia de Investimento Direto

Estrangeiro (IDE) aspectos que tornavam o paiacutes natildeo propiacutecio ao crescimento e

desenvolvimento econocircmico dificultando o cumprimento de suas obrigaccedilotildees internacionais

111

Com o objetivo de recuperar-se da crise em 1994 o Meacutexico passa a participar do Acordo de

Livre Comeacutercio da Ameacuterica do Norte ndash NAFTA (BASTOS 2009)

Segundo Rocha (2004) o NAFTA contribuiu para que os investimentos em

exportaccedilotildees crescessem de 05 para 15 pontos percentuais entre 1996-2002 Acrescente-se

que entre 1980-1993 o PIB mexicano cresceu em meacutedia 2 ao ano enquanto que no periacuteodo

1996-2002 essa meacutedia ascendeu para 4

O momento criacutetico no Meacutexico exigiu poliacuteticas que evitassem o efeito contaacutegio nos

demais paiacuteses vizinhos e afetassem as economias dos paiacuteses desenvolvidos Neste intuito

muitos governos de paiacuteses centrais como Estados Unidos Gratilde-Bretanha e Alemanha

intervieram no reescalonamento da diacutevida de paiacuteses em desenvolvimento com um co-

financiamento de US$ 51 bilhotildees sob a forma de um programa de ajuste e assistecircncia

financeira (ASSIS 2001)

Rocha (2004) destaca que a crise foi sistecircmica causando um efeito contaacutegio sobre a

Aacutesia Ruacutessia Brasil e Argentina Ainda segundo a autora essas repercussotildees possuiacuteram

pontos em comum como a perda da competitividade em decorrecircncia dos altos preccedilos das

exportaccedilotildees valorizaccedilatildeo cambial na tentativa de recuperar os niacuteveis de competitividade fuga

de capitais e vulnerabilidade do setor bancaacuterio pelo fato de suas diacutevidas superarem as suas

reservas Destacam-se ainda a tentativa de tornar atraentes os tiacutetulos por meio de altas taxas

de juros conta corrente deficitaacuteria e a necessidade de ajuda internacional para quitar os

compromissos sendo que nesta uacuteltima tem-se a atuaccedilatildeo acentuada do Fundo Monetaacuterio

Internacional ndash FMI

As crises mexicana (1994) e asiaacutetica (1997) despertaram o estudo pelo processo que

causa a propagaccedilatildeo das crises de uma economia para as outras O efeito contaacutegio se

caracteriza neste sentido pela ocorrecircncia de crises cambiais e ataques especulativos

simultaneamente ou sucessivamente em diversos paiacuteses que compartilhem alguma

caracteriacutestica ou que sejam relacionados comercialmente (SANTlsquoANNA 2002) Conforme

seraacute analisado na seccedilatildeo seguinte a Aacutesia partilhou desta definiccedilatildeo

22 A CRISE FINANCEIRA ASIAacuteTICA DE 1997

A crise asiaacutetica chamou a atenccedilatildeo pelo fato de envolver economias que ateacute entatildeo

apresentavam altos iacutendices de crescimento econocircmico evento conhecido como milagre

112

econocircmico asiaacutetico Estes mesmos paiacuteses pela ferocidade com que cresceram

economicamente ficaram conhecidos como Tigres Asiaacuteticos O momento criacutetico se

caracterizou por uma conjuntura de instabilidade econocircmica em consequecircncia da crise

cambial e financeira que atingiu a regiatildeo e envolveu a princiacutepio cinco paiacuteses Coreia do

Norte Tailacircndia Indoneacutesia Malaacutesia e Filipinas

Santlsquoanna (2002) destaca que a crise nos paiacuteses asiaacuteticos ocorreu apoacutes um periacuteodo de

boom econocircmico cujo cenaacuterio favoreceu o influxo de capitais estrangeiros baixos niacuteveis

inflacionaacuterios grande crescimento econocircmico e as moedas nacionais atreladas ao doacutelar ou

seja um panorama aparentemente favoraacutevel e positivo que concomitantemente

compartilhava o contexto com uma forte liquidez internacional liberalizaccedilatildeo financeira

abertura de conta capital e fragilidade no sistema bancaacuterio com presenccedila de informaccedilatildeo

imperfeita Portanto ambiente com ampla possibilidade para a eclosatildeo de perturbaccedilotildees

econocircmicas e financeiras

Ainda segundo Santlsquoanna (2002) a crise asiaacutetica se deu quando o governo tailandecircs

optou por desvalorizar o baht (moeda tailandesa) ndash que ateacute o momento era indexado ao doacutelar

ndash em 2 de julho de 1997 o que provocou uma perca de 10 em seu valor em decorrecircncia da

especulaccedilatildeo pois os investidores acreditavam que haveria um colapso financeiro

Fatores que natildeo eram considerados pela Aacutesia podem ser creditados como condutores

da crise como o alto volume de diacutevidas de curto prazo as diacutevidas privada e puacuteblica a

transparecircncia do governo quanto agraves poliacuteticas que adotava a paridade das moedas com o doacutelar

a sauacutede financeira dos bancos aleacutem da vultosa entrada e saiacuteda de capital externo em toda

regiatildeo (ROCHA 2004 SILVA BASTOS 2011)

A sequecircncia com que se sucedeu o efeito contaacutegio da crise que teve iniacutecio na Tailacircndia

eacute descrita por Lobatildeo (2001) o choque nos mercados financeiros da Tailacircndia e suas

consequentes especulaccedilotildees repercutiu nos mercados financeiros da Malaacutesia Indoneacutesia

Filipinas e Coreia principalmente no final de 1997 e iniacutecio de 1998 A ordem de

desvalorizaccedilotildees atingiu o peso filipino o ―ringitt da Malaacutesia e a rupia da Indoneacutesia Apenas

em outubro de 1997 Hong Kong comeccedila a sofrer decliacutenio em suas accedilotildees Logo em seguida

o won coreano passa a vigorar sobre regime de cacircmbio flutuante

Desta forma a crise financeira se transformou em crise econocircmica quando do decliacutenio

dos PIBs dessas economias cujas performances anteriores alcanccedilaram iacutendices de crescimento

113

consideraacuteveis natildeo denunciando a extensatildeo e proporccedilatildeo com que se deu a crise asiaacutetica no

contexto mundial (SILVA BASTOS 2011)

A desestabilizaccedilatildeo levou agrave reduccedilatildeo do crescimento ampliaccedilatildeo do desemprego bancos

quebrados empresas falidas e manifestaccedilotildees e conflitos poliacuteticos Houve perda de

competitividade da Aacutesia e queda das exportaccedilotildees devido ao encarecimento das mesmas por

conta do atrelamento das moedas com o doacutelar que se encontrava em crise Soma-se a isto o

fato de que os bancos deveriam ter reservas para bancar a inadimplecircncia dos clientes poreacutem

muitos investimentos que a regiatildeo atraiacutea superavam a sua capacidade aleacutem de natildeo trazerem

retornos de curto e meacutedio prazos (ROCHA 2004)

Muitas liccedilotildees foram deixadas a todo o mundo por meio da instabilidade asiaacutetica de

1997 a saber a primordialidade de estimular a reduccedilatildeo do incentivo ao endividamento

exacerbado a busca pelo aprimoramento dos mecanismos nacionais de conduccedilatildeo do setor

financeiro e empresarial aleacutem de deixar clara a importacircncia de regulamentar os fluxos de

capitais de curto prazo Tailacircndia Indoneacutesia e Coreacuteia chegaram a receber ajuda do FMI

(CANUTO 2000 AMARAL 2007)

A instabilidade e especulaccedilatildeo oriundas da crise asiaacutetica permaneceu ateacute o segundo

semestre de 1998 quando o cacircmbio volta se estabilizar e recupera um pouco de seu valor

poreacutem em nenhuma das situaccedilotildees os niacuteveis voltaram a ser os mesmos e as bolsas iniciaram

um percurso de alta (ROCHA 2004)

As implicaccedilotildees da Crise Asiaacutetica passaram a atingir o mercado financeiro russo em

1998 Adicione-se o advento da crise do petroacuteleo que culminou na crise da Ruacutessia nesse

mesmo ano Os agentes monetaacuterios reagiram por meio da desvalorizaccedilatildeo da moeda russa o

rublo e decretaram moratoacuteria parcial de sua diacutevida externa (SILVA BASTOS 2011)

Portanto o efeito contaacutegio afetou outras economias como no caso da Ruacutessia cujo

acontecimento seraacute tratado na seccedilatildeo seguinte

23 A CRISE FINANCEIRA NA RUacuteSSIA EM 1998

O processo que desembocou na crise russa eacute descrito por Lobatildeo (2007) no periacuteodo de

1996 a 1997 a Ruacutessia foi afetada por deacuteficits orccedilamentaacuterios que constituiacuteam de 7 a 9 do

PIB fato que contribuiu para a elevaccedilatildeo das diacutevidas de curto prazo Conforme o autor a

quebra nos preccedilos internacionais dos principais produtos que compunham a pauta de

114

exportaccedilatildeo do paiacutes causou uma deterioraccedilatildeo dos termos de troca internacionais em torno de

18 ressaltando tambeacutem a fuga de capitais que financiavam o deacuteficit federal evento este que

reduziu o PIB em 18 no periacuteodo de 1997 a 1998 em comparaccedilatildeo com o mesmo periacuteodo do

ano anterior Lobatildeo destaca que o rublo foi mantido no interior das bandas cambiais o que

ocasionou uma perda de reservas e aumento das yields17

de diacutevida puacuteblica na faixa de 192

em 10 de julho de 1998 isto devido agrave elevaccedilatildeo das taxas de juros internas em contrapartida agrave

piora na situaccedilatildeo da balanccedila de pagamentos e a inexistecircncia de poliacuteticas de ajustamento

orccedilamental Soma-se ainda o fato de que o FMI firmou um acordo com a Ruacutessia para um

financiamento no valor de 226 mil milhotildees de doacutelares ndash o resultado foi a recuperaccedilatildeo do

mercado de accedilotildees e decliacutenio das taxas de juros

Em agosto de 1998 houve intensa fuga de capitais e esgotamento de reservas aleacutem

das yelds da diacutevida puacuteblica atingiram 300 Como resultado em 06 de agosto de 1998

ocorreu um choque no mercado de obrigaccedilotildees com ressonacircncia uma semana depois no

mercado de accedilotildees evidenciando-se desta forma o choque inicial nos mercados financeiros

russos em 13 de agosto houve queda de 10 nos mercados financeiros russos e em 2 de

setembro o rublo passou a vigorar sob o regime de cacircmbio flutuante (LOBAtildeO 2007)

Em 17 de agosto de 1998 estoura portanto a crise russa quando o governo do paiacutes

decide pela desvalorizaccedilatildeo do rublo e opta por declarar moratoacuteria do pagamento de diacutevidas

externas por 90 dias jaacute que juntamente ao Banco Central declarou ser incapaz de pagar suas

diacutevidas (PINTO VILELA LIMA 2005)

Conforme Rocha (2004) a Ruacutessia vinha sofrendo com o processo inflacionaacuterio desde

a queda do Muro de Berlim Em resposta de 1995 a 1997 o governo russo adotou medidas

sob o aval do FMI para conter a alta de preccedilos ndash objetivo alcanccedilado paulatinamente A

balanccedila comercial vinha registrando saldos superavitaacuterios A questatildeo era a diacutevida puacuteblica

acirrada a partir do oacutecio militar consequente da queda do Muro assim como do financiamento

deste deacuteficit atraveacutes de emissatildeo de moeda pelo Banco Central

As origens da crise de 1998 na Ruacutessia podem ser consideradas a partir do efeito

contaacutegio ao mercado financeiro do paiacutes quando da situaccedilatildeo criacutetica asiaacutetica ocorrida no ano

anterior que provocou uma fuga de capitais e a queda do preccedilo do petroacuteleo que consistia no

principal meio de obtenccedilatildeo de moeda forte para o paiacutes adicionalmente o governo teria que

arcar com gastos sociais deixados pelo antigo sistema sovieacutetico e manter os gastos militares

17

O termo yield refere-se ao rendimento (tipicamente anual) de um ativo em dividendos ou juros expressos

como uma percentagem da cotaccedilatildeo do mesmo (BUENO 2002)

115

Para Silva e Bastos (2011) a queda das receitas governamentais em 1997 e a meta de

aumentaacute-las no ano seguinte estimulou o governo agrave adoccedilatildeo de medidas que se tornaram

frustradas tendo ocorrido o contraacuterio do que se pretendia com queda do PIB e

endividamento quando buscava financiamento de creacuteditos a curto prazo

Pinto Vilela e Lima (2005) acrescentam que a crise russa fez com que o governo

adotasse poliacuteticas econocircmicas monetaacuteria e fiscal de austeridade recorreu ao FMI para obter

recursos cortou despesas e gastos puacuteblicos aleacutem de expandir a oferta de moeda para

estimular os investimentos e o consumo a fim de aumentar a credibilidade do governo para

adoccedilatildeo do regime de cacircmbio flutuante

Rocha (2004) destaca que de 1998 a 2000 o PIB russo declinou recuperando-se a

partir da melhora no mercado do petroacuteleo em 2001 Destarte a crise russa tem efeitos

consideraacuteveis ateacute a virada do seacuteculo e a economia da Ruacutessia comeccedila a apresentar melhora

promovida por um dos produtos mais importantes de sua produccedilatildeo que eacute o petroacuteleo

Conforme Amaral (2007) o que difere este momento dos anteriores eacute o fato de que

em particular a partir do colapso russo ocorre um fechamento dos mercados de creacutedito para

os paiacuteses emergentes quase que por completo durante um longo periacuteodo de tempo afetando

de maneira negativa as economias destes paiacuteses valendo acrescentar tambeacutem a queda nos

preccedilos das commodities que consistem nas principais formas de incremento de renda

decorrentes do comeacutercio internacional para os paiacuteses emergentes ocorrendo adicionalmente

no periacuteodo considerado uma lenta expansatildeo do comeacutercio mundial como um todo Desta

forma a sequecircncia de crises e instabilidade globais comprometeram a economia mundial

3 ABERTURA COMERCIAL BRASILEIRA DOS ANOS 1990

O periacuteodo dos anos 1990 marca a intensificaccedilatildeo da integraccedilatildeo econocircmica entre os

paiacuteses tanto poliacutetica como economicamente A formaccedilatildeo de blocos econocircmicos torna

expliacutecita a tentativa dos paiacuteses em convergir no que se refere aos ideais de interligaccedilatildeo

econocircmica e adesatildeo conjunta agraves poliacuteticas de comeacutercio exterior Esse processo faz parte de

uma fase recente do sistema capitalista de produccedilatildeo onde se acirra o movimento de

competiccedilatildeo internacional de onde resulta a generalizaccedilatildeo de poliacuteticas econocircmicas que

levariam agrave estabilizaccedilatildeo e agraves aberturas comercial e financeira fenocircmeno explicitamente

visiacutevel na conjuntura global a partir da deacutecada de 1970 com a formaccedilatildeo de blocosgrupos

116

econocircmicos para focalizaccedilatildeo nas relaccedilotildees de comeacutercio exterior com crescente mobilidade de

capitais (CARNEIRO 1999)

Para Moreira e Correa (1997) a abertura comercial no Brasil ocorrida nos anos 1990

foi inevitaacutevel e necessaacuteria quando se considera o bem-estar da populaccedilatildeo e o crescimento

econocircmico dado o modelo anterior de protecionismo vigente com a poliacutetica de substituiccedilatildeo

de importaccedilatildeo que segundo os autores favorecia o lucro abusivo pelas induacutestrias de bens de

capital e bens de consumo duraacuteveis jaacute que estas natildeo enfrentavam a concorrecircncia de produtos

importados prejudicando natildeo apenas os ganhos de escalas pelas firmas afetadas pela

restriccedilatildeo a novos meios de produccedilatildeo como tambeacutem a reestruturaccedilatildeo das mesmas quanto agraves

inovaccedilotildees tecnoloacutegicas Ademais os autores consideram que a liberalizaccedilatildeo tornou viaacutevel o

acesso aos bens de capital e insumos de tecnologia de ponta a preccedilos mais baixos

promovendo o acirramento da competitividade da induacutestria nacional

A abertura comercial forccedilou as empresas tanto nacionais como estrangeiras a

aderirem aos padrotildees de competitividade internacional buscando elevaccedilatildeo da produtividade

com reduccedilatildeo dos custos e incorporando tecnologias modernas para as suas permanecircncias no

mercado frente agrave concorrecircncia dos produtos oriundos das importaccedilotildees pois estes eram de boa

qualidade e possuiacuteam preccedilos mais baixos (MORETI 2011)

Mesmo tendo sido importante para o desenvolvimento da economia brasileira a

abertura comercial de iniacutecio apresentou efeitos adversos Primeiro em decorrecircncia do

aumento das importaccedilotildees que resultaram em deacuteficit comercial e segundo porque as

exportaccedilotildees natildeo foram incentivadas de modo a resultar no seu crescimento o que corroborava

para isto as praacuteticas protecionistas exercidas por algumas das economias desenvolvidas que

as inibiam (SILVA JUNIOR VIANA ABREU 2006)

Entretanto quanto maior for a integraccedilatildeo de uma regiatildeo ou paiacutes com o mercado

externo maiores seratildeo os reflexos de choques internacionais sobre sua tendecircncia externa e sua

estrutura principalmente no que tange agraves relaccedilotildees comerciais corporificando a sua

vulnerabilidade frente a conjuntura internacional

Eacute importante considerar que conforme o que acontece com a economia de um paiacutes os

choques externos podem abalar ou ter um efeito stop sobre a economia de uma regiatildeo tendo

em vista que a insuficiecircncia de transferecircncia de recursos para financiar um grande deacuteficit em

transaccedilotildees correntes iraacute induzir os agentes econocircmicos regionais a adotarem medidas que

contraiam a demanda agregada e consequentemente sua capacidade de crescimento Se uma

117

regiatildeo natildeo tem um volume de renda que atenda ao financiamento de suas importaccedilotildees sejam

elas domeacutesticas ou externas este fato implicaraacute numa restriccedilatildeo ao seu crescimento jaacute que a

mesma deve se deparar com a incapacidade de atender suficientemente ao volume de

importaccedilotildees adequado em insumos bens de capital e tecnologia (GALVAtildeO 2007)

4 COMPORTAMENTO E CARACTERIacuteSTICAS DA ORIENTACcedilAtildeO EXTERNA DA

ECONOMIA DO NORDESTE BRASILEIRO NOS ANOS 1990

Fontenele Melo e Dantas (2001) ao analisarem a abertura comercial frente a

economia nordestina na deacutecada de 1990 destacam que a regiatildeo eacute bem menos aberta ao

comeacutercio com o exterior que o paiacutes como um todo dado que seu coeficiente de importaccedilatildeo

marcava agravequela eacutepoca cerca de 50 do valor do mesmo coeficiente para o Brasil enquanto

que a participaccedilatildeo nordestina no total de importaccedilotildees do Brasil era de apenas 7 com o PIB

da regiatildeo representando 15 do total do PIB brasileiro

No que tange ao comeacutercio com o exterior as relaccedilotildees comerciais do Nordeste nos

anos 1990 foram resultado dos incentivos jaacute concedidos pelo governo para estimular a

competitividade setorial da regiatildeo aleacutem da atuaccedilatildeo dos estados para atraiacuterem investimentos

ao seus limites agindo atraveacutes de incentivos fiscais ndash gerando consequentemente uma guerra

fiscal entre os mesmos ndash que fomentaram a industrializaccedilatildeo local com diversificaccedilatildeo da pauta

de produccedilatildeo Entretanto no embate entre poliacuteticas de estabilizaccedilatildeo e crises financeiras as

oscilaccedilotildees regionais parecem ter correspondido

41 A BALANCcedilA COMERCIAL DO NORDESTE

Nos anos 1990 o saldo da balanccedila comercial do Nordeste comeccedila a apontar

perspectivas declinantes e jaacute na segunda metade da mesma deacutecada exibe uma posiccedilatildeo

deficitaacuteria na sua relaccedilatildeo com o comeacutercio internacional o que resultou no estancamento da

fonte de recursos ao financiamento do seu deacuteficit regional em transaccedilotildees correntes

(GALVAtildeO 2007)

A percepccedilatildeo eacute corroborada ao se verificar a Tabela 1 que demonstra os valores dos

saldos da balanccedila comercial para o Nordeste e o Brasil na deacutecada de 1990

118

Tabela 1 - Evoluccedilatildeo do saldo da balanccedila comercial do Nordeste e Brasil - 1990-2002 - (US$

bilhotildees - FOB)

Fonte Elaborado com base nos dados do MDICSECEX (2003) e Banco Central do Brasil (2003)

Os dados permitem concluir que ateacute a metade da deacutecada a balanccedila comercial

nordestina foi superavitaacuteria apresentando situaccedilatildeo inversa a partir de 1996 que perdurou ateacute

2001 O saldo de US$ 15 bilhotildees em 1990 despenca para pouco mais de US$ 636 milhotildees

em 1995 dando sequecircncia jaacute em 1996 a consecutivos deacuteficits entre os quais no ano de

2001 onde se empreende a situaccedilatildeo mais criacutetica neste periacuteodo (-US$ 932 milhotildees) Atenha-se

que isto ocorre ao mesmo tempo em que o Real passou a sofrer desvalorizaccedilatildeo cambial em

virtude do ataque especulativo que envolveu os paiacuteses subdesenvolvidos apoacutes as crises

asiaacutetica e russa o que natildeo atenuou os peacutessimos efeitos sobre a quantidade de reservas da

regiatildeo Vale destacar que no que tange a estes resultados os saldos negativos na balanccedila

comercial natildeo se restringem agraves acentuadas quedas no valor das exportaccedilotildees tendo em vista

que esta apresentou uma meacutedia anual de aproximadamente US$ 35 bilhotildees mas em virtude

dos nuacutemeros cada vez maiores das importaccedilotildees que ateacute 1993 natildeo atingiam sequer a cifra de

US$ 20 bilhotildees passando a partir de 1994 a crescerem consideravelmente A meacutedia de

crescimento anual do valor das importaccedilotildees entre 1990 e 2002 foi de 993 (contra 364

Anos Exportaccedilotildees

(NE)

Importaccedilotildees

(NE)

Balanccedila

comercial

(NE)

Exportaccedilotildees

(BRA)

Importaccedilotildees

(BRA)

Balanccedila

comercial

(BRA)

1990 3030397 1491909 1538488 31413756 20661362 10752394

1991 2859771 1577901 1281870 31620439 21040471 10579969

1992 3035047 1369830 1665217 35792986 20554091 15238895

1993 3012647 1965221 1047426 38554769 25256001 13298768

1994 3502858 2455466 1047392 43545149 33078690 10466459

1995 4239999 3603783 636216 46506282 49971896 -3465614

1996 3854865 4110932 -256067 47746728 53345767 -5599039

1997 3960561 4446396 -485835 52994341 59747430 -6753089

1998 3720485 3792485 -72000 51139862 57714365 -6574504

1999 3355394 3524050 -168656 48011444 49210314 -1198870

2000 2859771 1577901 1281870 55085595 55834343 -748748

2001 4184171 5116531 -932360 58222642 55572176 2650466

2002 4651697 4647588 4109 60361786 47231932 13129854

119

aa para as exportaccedilotildees) enquanto que a variaccedilatildeo entre estes mesmos anos atingiu o pico de

21152 (5350 para as exportaccedilotildees)

A crise poliacutetica resultante do impeachment de Fernando Collor de Melo e a

desvalorizaccedilatildeo do Cruzeiro frente ao doacutelar o que resultou no crescimento do valor das

exportaccedilotildees da regiatildeo de 1991 a 1992 em termos gerais em 613 - quanto ao Brasil este

mesmo valor cresceu 1320 no periacuteodo ndash resultaram na queda do valor das importaccedilotildees

para o ano de 1992 ndash o uacutenico momento de freio a esta tendecircncia (DAMASCENO 2003)

42 EXPORTACcedilOtildeES DO NORDESTE POR GRUPO DE PRODUTOS

Quanto aos produtos primaacuterios os ganhos em valores para as exportaccedilotildees da regiatildeo

foram expressivos ao longo da deacutecada de 1990 entretanto a participaccedilatildeo no total exportado

apresentou variaccedilotildees menores com o passar dos anos quando caiu de 2131 para 171

entre 19941995 para no final da deacutecada avanccedilar para 193 (TABELA 2)

Tabela 2 - Exportaccedilotildees do Nordeste por grupos de produtos

Grupos de produtos

US$ milhotildees

Meacutedias Bianuais

Participaccedilatildeo no total

9091 9495 9900 9091 9495 9900

Nordeste

Produtos Primaacuterios 6275 6612 7116 2131 171 193

Produtos Industrializados 23090 31138 28785 784 804 780

Outros 85 965 999 03 25 27

Total 29451 38714 36900 1000 1000 1000

Norte

Produtos Primaacuterios 9834 10074 12202 5538 447 407

Produtos Industrializados 7912 12429 16760 446 551 559

Outros 10 55 1033 01 02 34

Total 17755 22559 29995 1000 1000 1000

120

Centro-Oeste

Produtos Primaacuterios 2964 3041 6555 5210 289 420

Produtos Industrializados 2723 7180 8563 479 682 549

Outros 01 308 476 00 29 31

Total 5689 10529 15594 1000 1000 1000

Sudeste

Produtos Primaacuterios 35365 45220 46883 1847 175 159

Produtos Industrializados 154661 208131 241393 808 805 817

Outros 1432 5066 7328 07 20 25

Total 191458 258417 295604 1000 1000 1000

Sul

Produtos Primaacuterios 12209 15608 20081 1825 140 165

Produtos Industrializados 54455 95689 100726 814 857 826

Outros 229 402 1098 03 04 09

Total 66894 111698 121904 1000 1000 1000

Fonte FUNCEX (2001)

Os produtos agriacutecolas detecircm a maior parcela dentro deste grupo sendo os resultados

reflexos do pouco crescimento dos mineacuterios - com exceccedilatildeo do Mercosul as exportaccedilotildees deste

tipo de produto para os demais blocos econocircmicos perderam posiccedilatildeo no total exportado

No que tange aos produtos industrializados estes detecircm a posiccedilatildeo mais expressiva no

total exportado pela regiatildeo Nordeste embora esta seja a uacutenica regiatildeo brasileira onde este

grupo de produtos apresentou retraccedilatildeo em seus valores no final da deacutecada ndash diferente por

exemplo do Sudeste onde as exportaccedilotildees de industrializados sobrepujou 80 neste periacuteodo

A participaccedilatildeo no total exportado superou os 78 durante o periacuteodo Os semimanufaturados

responderam por mais de 50 durante todo o periacuteodo analisado

Destaque-se o peso das exportaccedilotildees tanto no geral como por grupo de produtos das

regiotildees Sul e Sudeste sobre as demais regiotildees

121

43 EXPORTACcedilOtildeES REGIONAIS SEGUNDO O GRAU DE INTENSIDADE

TECNOLOacuteGICA

No que tange agraves suas exportaccedilotildees o Nordeste assim como o Brasil concentra em sua

pauta produtos primaacuterios e intensivos em matildeo-de-obra sendo precaacuterio o grau de

competitividade de seus produtos pois possuem pouco valor agregado e geralmente acabam

sendo impactados pelas barreiras tarifaacuterias impostas pelos paiacuteses desenvolvidos Soma-se o

fato de as induacutestrias da regiatildeo exportarem produtos de baixa e meacutedia-baixa intensidade

tecnoloacutegica devido agrave especializaccedilatildeo na produccedilatildeo tradicional Fatores como carga tributaacuteria

elevada matildeo-de-obra pouco qualificada ausecircncia de uma cultura exportadora aleacutem de

poucos incentivos fiscais do governo contribuiacuteram para a performance comercial nordestina

ao longo da deacutecada de 1990 (GALVAtildeO VERGOLINO 2004) aleacutem do cenaacuterio internacional

que afetou vertiginosamente os paiacuteses em desenvolvimento

Conforme a Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econoacutemico (OCDE)

a classificaccedilatildeo dos produtos segundo a sua intensidade tecnoloacutegica corresponde da seguinte

maneira

[] alta intensidade tecnoloacutegica setores aeroespacial farmacecircutico de informaacutetica

eletrocircnica e telecomunicaccedilotildees instrumentos meacutedia-alta intensidade tecnoloacutegica

setores de material eleacutetrico veiacuteculos automotores quiacutemica excluiacutedo o setor

farmacecircutico ferroviaacuterio e de equipamentos de transporte maacutequinas e

equipamentos meacutedia-baixa intensidade tecnoloacutegica setores de construccedilatildeo naval

borracha e produtos plaacutesticos coque produtos refinados de petroacuteleo e de

combustiacuteveis nucleares outros produtos natildeo metaacutelicos metalurgia baacutesica e produtos

metaacutelicos baixa intensidade tecnoloacutegica outros setores e de reciclagem madeira

papel e celulose editorial e graacutefica alimentos bebidas e fumo tecircxtil e de confecccedilatildeo

couro e calccedilados (FURTADO CARVALHO 2005 p 72)

Percebe-se que a Regiatildeo Nordeste exportou mais produtos industrializados de baixa

intensidade tecnoloacutegica apesar dos valores apresentarem tendecircncia crescente ateacute a metade da

deacutecada e declinarem posteriormente Os produtos de meacutedia-baixa intensidade tecnoloacutegica

vecircm em seguida com movimento similar entretanto a participaccedilatildeo no total de bens

industrializados exportados caiu ao longo da deacutecada (GRAacuteFICO 1)

Os produtos com meacutedia-alta intensidade tecnoloacutegica demonstraram comportamento

crescente em sua participaccedilatildeo no total bem como em valores absolutos ao contraacuterio dos

produtos com alta tecnologia que declinaram suas representaccedilotildees nestes dois quesitos natildeo

alcanccedilando o valor de 2 do valor total exportado pelo paiacutes (GRAacuteFICO 1)

122

Fonte Elaborado a partir dos dados da FUNCEX (2001)

O biecircnio 19941995 marca um ponto de inflexatildeo para as exportaccedilotildees de produtos

industrializados de maneira geral com sucessivas tendecircncias constantes e decrescentes mas

positivas (com exceccedilatildeo do Nordeste que do segundo biecircnio para o terceiro biecircnio declinou

quanto agraves exportaccedilotildees destes bens) dado o contexto macroeconocircmico do paiacutes diante das

variaccedilotildees cambiais e crises externas que se sucederam nos anos posteriores Em conjunto

todas as regiotildees exportaram mais produtos de baixa intensidade tecnoloacutegica Os produtos com

meacutedia-baixa intensidade tecnoloacutegica aparecem logo em seguida mesmo sua posiccedilatildeo

declinando ao longo do periacuteodo analisado para todas as regiotildees (GRAacuteFICOS 1 2 3 4 e 5)

000

500000

9091 9495 9900

Graacutefico 1 ndash Exportaccedilotildees de produtos

industrializados segundo o grau de intensidade

tecnoloacutegica ndash Regiatildeo Nordeste - US$ milhotildees

BAIXA MEacuteDIA-BAIXA

MEacuteDIA-ALTA ALTA

Produtos Industrializados

123

Fonte Elaborado a partir dos dados da FUNCEX (2001)

124

Fonte Elaborado a partir dos dados da FUNCEX (2001)

Concomitantemente eacute pequena a participaccedilatildeo de produtos com alta intensidade

tecnoloacutegica na pauta exportadora de todas as regiotildees Da mesma forma os produtos com

meacutedia-alta intensidade tecnoloacutegica possuem posiccedilotildees visiacuteveis ainda que tiacutemidas nas regiotildees

Sudeste e Sul (GRAacuteFICOS 2 3 4 e 5)

A regiatildeo Nordeste natildeo de maneira isolada apresentou um direcionamento voltado a

atender a demanda por bens com baixos niacuteveis de intensidade tecnoloacutegica Ao longo da

deacutecada a estrutura dos produtos por grau de intensidade tecnoloacutegica vendidos ao exterior natildeo

apresentou alteraccedilotildees consideraacuteveis mesmo quando da desvalorizaccedilatildeo do Real quando

ocorreu a crise do Brasil em 1999 em resposta aos choques financeiros internacionais dos

anos anteriores Os anos em que a moeda nacional estava sobrevalorizada parecem natildeo ter

sido oportunos para a restruturaccedilatildeo dos niacuteveis de intensidade tecnoloacutegica da induacutestria

regional no que se refere a importaccedilatildeo de bens de capital que poderiam ter sido

determinantes para mudanccedilas favoraacuteveis neste sentido

125

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As transformaccedilotildees na conjuntura mundial dos anos 1990 propiciaram a

vulnerabilidade externa como ponto chave para o desenvolvimento de situaccedilotildees de caraacuteter

recessivo e com efeito contaacutegio agraves naccedilotildees coligadas As crises financeiras da deacutecada em

questatildeo crise mexicana crise asiaacutetica e crise russa repercutiram de tal maneira que a

especulaccedilatildeo entre os agentes financeiros foi responsaacutevel pela relocaccedilatildeo de capital dos paiacuteses

mais suscetiacuteveis aos choques externos para os paiacuteses cujos mercados financeiros

apresentavam maior grau de confianccedila e rentabilidade

Mudanccedilas em niacutevel macro tiveram seus reflexos sobre as zonas regionais brasileiras

como a regiatildeo nordestina e nem sempre estes impactos estiveram de acordo com os

resultados propagandeados pelos paradigmas neoliberais

Em se tratando do comeacutercio com o exterior o valor das importaccedilotildees passou a exceder

o valor das exportaccedilotildees resultando em deacuteficits comerciais que se alastraram ateacute o final do

periacuteodo Este comportamento ocorreu alinhado a um panorama internacional de choques

externos e especulaccedilatildeo mediante poliacuteticas cambiais imprudentes que desencadearam efeito

contaacutegio nas economias mexicana asiaacuteticas e russa Os resultados negativos refletiram a

elevaccedilatildeo das importaccedilotildees que somadas a fatores como cacircmbio desfavoraacutevel baixa

competitividade da produccedilatildeo domeacutestica e comportamento pouco representativo por parte das

exportaccedilotildees acabaram por comprometer a posiccedilatildeo externa da regiatildeo em suas relaccedilotildees com o

mercado internacional

O Nordeste reafirmou sua posiccedilatildeo como exportador de bens industriais de baixa e

meacutedia-baixa intensidades tecnoloacutegicas Os produtos enquadrados como de alta intensidade

tecnoloacutegica soaram pouco em termo de efeitos agregadores se restringindo agraves regiotildees mais

desenvolvidas potencialmente e economicamente Ao passo em que se alastraram os choques

externos agrave economia mundial ao longo do uacuteltimo dececircnio do seacuteculo XX mediante a intensa

integraccedilatildeo poliacutetica econocircmica e comercial promovida pelos paiacuteses desenvolvidos a

economia nordestina viu sua pauta de exportaccedilatildeo se voltar para produtos cada vez mais

industrializados ainda que os primaacuterios para o final da deacutecada natildeo apresentassem os

mesmos valores do iniacutecio da deacutecada

As circunstacircncias para o Nordeste ao longo dos anos 1990 satildeo reflexos para uma

regiatildeo que ainda se demonstrava pouco integrada ao contexto de abertura comercial que vinha

126

sendo desenvolvido dentro do interesse nacional de promoccedilatildeo do potencial econocircmico para o

exterior Os choques externos ocorridos agrave mesma deacutecada acabaram por integrar o conjunto

de elementos que colaboraram para a performance comercial regional desmembrando-a da

poliacutetica de protecionismo ateacute entatildeo seguida e se adaptando agrave nova realidade da conjuntura

mundial

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129

CARACTERIacuteSTICAS E PRINCIPAIS DESTINOS DO INVESTIMENTO

ESTRANGEIRO DIRETO NO BRASIL NO PERIacuteODO DE 2010 E 2015

Marta Rodrigues Tavares

Graduada em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri E-mail

rodriguestmartagmailcom

Sara Gonccedilalves Pereira

Graduada em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri E-mail

goncalvessara84gmailcom

Christiane Luci Bezerra Alves

Professora Associada do Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri

Graduada em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Federal do Cearaacute ndash UFC Mestrado em

Economia pela Universidade Federal da Paraiacuteba ndash UFPB e Doutora em Desenvolvimento e

Meio Ambiente - DDMA da Universidade Federal do Cearaacute ndash UFC E-mail

chrislucigmailcom

Adriana Correia Lima

Professora Assistente do Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri

Mestrado em Desenvolvimento Regional Sustentaacutevel pela Universidade Federal do Cearaacute ndash

UFC E-mail dricacorreiayahoocombr

130

CARACTERIacuteSTICAS E PRINCIPAIS DESTINOS DO INVESTIMENTO

ESTRANGEIRO DIRETO NO BRASIL NO PERIacuteODO DE 2010 E 2015

RESUMO

Inserido no contexto de globalizaccedilatildeo econocircmica onde satildeo intensas as formas de integraccedilatildeo

comercial financeira e produtiva a inserccedilatildeo de economias em desenvolvimento como o

Brasil tem sido intensa desde as uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX Um dos mecanismos

marcantes de integraccedilatildeo a essa nova ordem econocircmica mundial expressos na divisatildeo

internacional do trabalho satildeo os fluxos de Investimento Estrangeiro Direto (IED) O presente

artigo tem como objetivo identificar qual a influecircncia do IED no setor exportador e no PIB do

Brasil nos anos de 2010 e 2015 fazendo um comparativo entre o fluxo de IED no Brasil para

esses anos verificando quais os principais destinos do mesmo no paiacutes Os dados apontam que

a inserccedilatildeo de IED influencia diretamente os volumes de capital no paiacutes sendo um

condicionante para o crescimento e retraccedilatildeo da economia No entanto a maacute distribuiccedilatildeo do

estoque de IED entre as regiotildees do paiacutes acaba configurando um contexto de crescimento

econocircmico nacional mas natildeo um desenvolvimento igualitaacuterio de suas regiotildees ao analisar a

distribuiccedilatildeo de empregos formais e a receita bruta nas empresas de IED por regiatildeo percebe-se

que essa situaccedilatildeo se repete As regiotildees com menos postos de trabalho e com menor receita satildeo

Norte Nordeste e Centro-Oeste e em primeiro e segundo lugar estatildeo Sudeste e Sul

respectivamente fato esse que eacute resultado da concentraccedilatildeo do fluxo de IED nas regiotildees mais

desenvolvidas

Palavras-chave Globalizaccedilatildeo IDE Economias regionais

ABSTRACT

Inserted in the context of economic globalization where the forms of commercial financial

and productive integration are intense the insertion of developing economies such as Brazil

has been intense since the last decades of the twentieth century One of the strong

mechanisms of integration into this new world economic order expressed in the international

division of labor is the flows of Foreign Direct Investment (FDI) The objective of this article

is to identify the influence of FDI in the export sector and in Brazils GDP in the years 2010

and 2015 comparing FDI flows in Brazil for those years parents The data indicate that the

insertion of FDI directly influences the volumes of capital in the country being a condition

for the growth and contraction of the economy However the poor distribution of the stock of

FDI between the regions of the country ends up configuring a context of national economic

growth but not an egalitarian development of its regions when analyzing the distribution of

formal jobs and the gross revenue in FDI enterprises by region it is perceived that this

situation is repeated The regions with the least jobs and with the lowest revenues are North

Northeast and Midwest and in the first and second place are Southeast and South

respectively a fact that is a result of the concentration of FDI flow in more developed regions

Keywords Globalization IDE Regional economies

131

1 INTRODUCcedilAtildeO

Inserido no contexto de globalizaccedilatildeo econocircmica onde satildeo intensas as formas de

integraccedilatildeo comercial financeira e produtiva a inserccedilatildeo de economias em desenvolvimento

como o Brasil tem sido intensa desde as uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XX Um dos mecanismos

marcantes de integraccedilatildeo a essa nova ordem econocircmica mundial expressos na divisatildeo

internacional do trabalho satildeo os fluxos de Investimento Estrangeiro Direto (IED) Segundo

Oliveira e Queiroacutez (2018) o mesmo pode ser visto como um pilar de sustentaccedilatildeo

e crescimento do PIB em qualquer paiacutes sendo primordial principalmente em periacuteodos de crise

econocircmico-financeira como a enfrentada pelas economias centrais ou perifeacutericas apoacutes a

crise estrutural do sistema capitalista de 2008 cujos efeitos no Brasil satildeo sentidos apoacutes o

esgotamento das medidas de cunho anticiacuteclicas implementadas pelo governo brasileiro a

partir de 2009

Pode-se constatar portanto que natildeo eacute recente a entrada de IED no Brasil estando o

mesmo presente em diferentes etapas do modelo de industrializaccedilatildeo e desenvolvimento

nacional Particularmente na deacutecada de 1980 e iniacutecio de 1990 havia consideraacutevel

participaccedilatildeo das empresas estrangeiras nos diversos setores de atividade econocircmica do paiacutes E

isso se procedeu nos anos seguintes havendo natildeo somente mudanccedilas quantitativas mas

tambeacutem mudanccedilas qualitativas importantes nos seus fluxos comerciais (SAacute 2005)

Segundo Rodrigues Neves e Mattos (2012) os estiacutemulos agrave exportaccedilatildeo resultam

diretamente no crescimento do PIB dos paiacuteses pois o aumento das exportaccedilotildees gera um

aumento da produtividade do fator devido a ganhos de escala resultado de um mercado

externo mais dinacircmico e competitivo Aleacutem disso o crescimento de uma economia resultante

de uma acumulaccedilatildeo de capital fiacutesico eou transferecircncia de tecnologia advindos da entrada de

IED no paiacutes influencia as exportaccedilotildees contribuindo para seu aumento e diversificaccedilatildeo

As empresas estrangeiras natildeo somente introduzem novas tecnologias como tambeacutem

facilitam o acesso aos mercados globais e agraves redes de produccedilatildeo integradas assim o IED

funciona como indutor de competitividade nas exportaccedilotildees (GREGORY OLIVEIRA 2005)

Eacute possiacutevel observar que se bem orientada a entrada desse recurso pode possibilitar um

cenaacuterio favoraacutevel para os exportadores proporcionando ―upgrading na competitividade das

exportaccedilotildees

132

Alguns autores como Veloso (2006) indicam que seria impossiacutevel todo e qualquer

paiacutes crescer economicamente sem investimentos assim natildeo haveria a possibilidade da

existecircncia de uma poliacutetica econocircmica sustentaacutevel Como os paiacuteses em desenvolvimento em

sua maioria natildeo possuem meios de financiamento interno (insuficiecircncia de poupanccedila interna)

acabam necessitando dos investimentos externos Contudo mesmo assim se natildeo bem

distribuiacutedos pode ocorrer dentro do paiacutes receptor um crescimento econocircmico global mas natildeo

um desenvolvimento de suas regiotildees igualitariamente

A desigualdade regional brasileira se mostra presente em diversos cenaacuterios da nossa

economia inclusive no que diz respeito agrave atraccedilatildeo de investimentos para o paiacutes Regiotildees como

o Sudeste tem maior facilidade de atrair recursos devido a sua estrutura produtiva bem

equipada com pontos industriais dinacircmicos e diversificados e historicamente integrados agrave

economia mundial em contrapartida regiotildees como o Norte e Nordeste tecircm grande

dificuldade de atrair esses recursos por causa de suas induacutestrias mais tradicionais menos

competitivas e ainda atrasadas em comparaccedilatildeo com a induacutestria da regiatildeo Sudeste por

exemplo (TAVARES PEREIRA REBOUCcedilAS FILHO 2017) Nesse sentido esse trabalho

se justifica na importacircncia de se estudar a dinacircmica do IDE no Brasil com destaque para os

principais destinos desses investimentos

Para isso faz-se necessaacuterio um estudo buscando identificar qual a influecircncia do IED

no setor exportador e no PIB do Brasil nos anos de 2010 e 2015 fazendo um comparativo

entre o fluxo de IED no Brasil para esses anos verificando quais os principais destinos do

mesmo no paiacutes

Segundo Gil (2008) uma pesquisa descritiva tem o objetivo primordial de descrever

as caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo ou fenocircmeno ou o estabelecimento de relaccedilotildees

entre variaacuteveis Jaacute o meacutetodo comparativo procede pela investigaccedilatildeo de indiviacuteduos classes

fenocircmenos ou fatos com vistas a ressaltar as diferenccedilas e similaridades entre eles Baseado

nisso esta pesquisa tem um caraacuteter descritivo comparativo preocupando-se natildeo soacute em

comparar a entrada de Investimento Estrangeiro Direto (IED) no paiacutes nos anos de 2010 e

2015 mas tambeacutem em analisar quais os principais destinos desses recursos e os setores para

onde esses capitais satildeo revertidos

Este trabalho conta com a apresentaccedilatildeo de dados extraiacutedos do site do Banco Central do

Brasil (BACEN) Ministeacuterio da Induacutestria Comeacutercio Exterior e Serviccedilos (MDIC) Instituto

133

Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e os textos expostos satildeo baseados em artigos e

trabalhos acadecircmicos

Para a consecuccedilatildeo dos objetivos o artigo estrutura-se em quatro seccedilotildees aleacutem dessa

introduccedilatildeo Na segunda seccedilatildeo levantam-se as principais caracteriacutesticas do IED em niacutevel

mundial e procura-se identificar qual o perfil desse tipo de investimento na economia

brasileira Na terceira seccedilatildeo faz-se uma anaacutelise dos resultados obtidos na pesquisa Por fim

satildeo revistas algumas consideraccedilotildees finais deste trabalho

2 REVISAtildeO DE LITERATURA

21 CAPITAL EXTERNO E INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO

O financiamento externo eacute uma necessidade dos paiacuteses em desenvolvimento diferente

de deacutecadas anteriores onde os paiacuteses recebiam a chamada ―Assistecircncia Oficial para o

Desenvolvimento (AOD) ou os empreacutestimos de bancos privados Atualmente esses

financiamentos tecircm sua origem nos chamados investimentos estrangeiros de fontes privadas

dos quais o Investimento Estrangeiro Direto (IED) ou produtivo destaca-se como a principal

acircncora do desenvolvimento (VELOSO 2006)

De acordo com a Lei Federal nordm 4131 de 03 de setembro de 1962

Art 1ordm Consideram-se capitais estrangeiros para os efeitos desta lei os bens

maacutequinas e equipamentos entrados no Brasil sem dispecircndio inicial de divisas

destinados agrave produccedilatildeo de bens ou serviccedilos bem como os recursos financeiros ou

monetaacuterios introduzidos no paiacutes para aplicaccedilatildeo em atividades econocircmicas desde

que em ambas as hipoacuteteses pertenccedilam a pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas residentes

domiciliadas ou com sede no exterior (BRASIL 1962)

A ApexBrasil (2014) caracteriza o IED como sendo as participaccedilotildees duraacuteveis em

empresas no Brasil empregadas por investidores natildeo residentes domiciliados residentes ou

com sede no exterior mediante a titularidade de accedilotildees ou quotas representativas do capital

social de empresas brasileiras e o capital destacado das filiais ou sucursais de empresas

estrangeiras autorizadas a operar no Brasil

Lacerda (2003) destaca que o IED eacute um investimento que possui uma relaccedilatildeo de longo

prazo e reflete um interesse duradouro aleacutem disso o investidor estrangeiro direto ou empresa

matriz possui o controle de uma entidade residente em uma economia em uma empresa

134

sediada no exterior Segundo Oliveira e Queiroacutez (2018) o IED apresenta-se como um pilar de

sustentaccedilatildeo e crescimento do PIB em qualquer paiacutes destacando-se em periacuteodos de crise

econocircmico-financeira como enfrentada nos uacuteltimos anos pelo Brasil

Conforme Guimaratildees e Ferreira (2013) os investimentos internacionais podem ser

divididos em investimentos diretos ou no mercado financeiro Os primeiros satildeo empregados

na produccedilatildeo de bens ou serviccedilos e os segundos recursos financeiros ou monetaacuterios satildeo

empregados em atividades econocircmicas Esses podem ser realizados por pessoas fiacutesicas ou

juriacutedicas residentes domiciliados ou com sede no exterior

No investimento externo direto o investidor estrangeiro transfere determinado

montante de capital para uma empresa e passa a exercer controle sobre as tomadas de decisotildees

desse empreendimento (DIERSMANN PICCOLI ROVER 2015) O IED compreende a

participaccedilatildeo no capital que diz respeito agraves entradas de bens moedas e as conversotildees externas

para aquisiccedilatildeo total ou parcial do capital social de um projeto jaacute existente no paiacutes (recursos

geralmente destinados a programas de privatizaccedilotildees) ou empreender em um novo negoacutecio e

os empreacutestimos intercompanhias que satildeo os creacuteditos de origem das matrizes destinados agraves

suas filiais (LEMOS JUNIOR 2015)

O IED busca por mercados consumidores atraentes e eficientes Satildeo transferidos das

regiotildees menos rentaacuteveis para aquelas em que se espera encontrar maior rentabilidade

(DIERSMANN PICCOLI ROVER 2015) Aleacutem de serem atraiacutedos pelos incentivos

concedidos pelos paiacuteses receptores haacute vaacuterios fatores que influenciam na anaacutelise de

viabilidade de um investimento entre eles podemos citar a abundacircncia dos recursos naturais

o tamanho do mercado domeacutestico ambiente econocircmico estaacutevel perspectivas de crescimento e

de incremento na produtividade liberdade para operar infraestrutura e capital humano

disponibilidade de fornecedores locais e um bom clima de negoacutecios risco para o ingresso

estabilidade cambial manutenccedilatildeo de contratos crescimento econocircmico estabilidade

econocircmica e poliacutetica proteccedilatildeo dos direitos de propriedade intelectual eacutetica e integridade

comercial e eficiecircncia e transparecircncia burocraacutetica (GREGORY OLIVEIRA 2005)

A discussatildeo acadecircmica em torno dos benefiacutecios trazidos pela entrada de recursos

externos gera divergentes opiniotildees Para Hastreiter (2012) os investimentos estrangeiros satildeo

importantes para a geraccedilatildeo de emprego a arrecadaccedilatildeo de tributos e o desenvolvimento

135

tecnoloacutegico Veloso (2006) no entanto diz que seus benefiacutecios satildeo relativos A transferecircncia

de tecnologia natildeo ocorre como o previsto e apesar da grande vinculaccedilatildeo da produccedilatildeo nacional

com empresas transnacionais que eacute uma caracteriacutestica de grandes aportes de IEDs o nuacutemero

de postos de empregos criados eacute miacutenimo perto do total (VELOSO 2006)

Diersmann Piccoli e Rover (2015) concordam que a entrada desses recursos gera

diversos benefiacutecios aleacutem do desenvolvimento que ocorre onde o capital eacute alocado haacute a

transferecircncia direta e indireta de conhecimento e tecnologias para empresas nacionais que

acabam elevando sua capacidade tecnoloacutegica Outro aspecto positivo eacute que o fortalecimento

da competiccedilatildeo gera maior eficiecircncia e contribui para o aumento da produtividade das

empresas locais acarretando queda no preccedilo dos produtos

O IED funciona como indutor de competitividade nas exportaccedilotildees Isso ocorre

principalmente porque ―[] as empresas estrangeiras tecircm uma vantagem comparativa tiacutepica

no conhecimento do mercado internacional no tamanho e eficiecircncia dos canais de

distribuiccedilatildeo e na habilidade de responder rapidamente agraves mudanccedilas de padrotildees no mercado

mundial (GREGORY OLIVEIRA p 19 2005)

No entanto os autores tambeacutem chamam atenccedilatildeo para alguns problemas que podem

ocasionar ao paiacutes receptor entre eles a fuga de capital supressatildeo de direitos trabalhistas e

sociais aleacutem de que a concorrecircncia com as multinacionais pode levar ao fechamento de

algumas empresas nacionais Outro ponto de impasse eacute a reduccedilatildeo da capacidade de comando

sobre a economia pois os governos tornam-se vulneraacuteveis as pressotildees externas podendo

favorecer os capitais estrangeiros em detrimento dos interesses nacionais (GREGORY

OLIVEIRA 2005)

Segundo a ApexBrasil (2014) as principais formas de entrada do capital estrangeiro

no Brasil satildeo Investimento em Moeda Conversatildeo de Creacuteditos Externos Importaccedilatildeo de Bens

sem Cobertura Cambial e Mercado de Capitais

No Investimento em Moeda a subscriccedilatildeo de capital ou aquisiccedilatildeo de participaccedilatildeo em

empresa brasileira existente os recursos deveratildeo ser enviados ao paiacutes por meio de

estabelecimento bancaacuterio autorizado a operar com cacircmbio Seu registro se daacute no Sistema de

Informaccedilotildees do Banco Central ndash SISBACEN ndash Moacutedulo RDE-IED (Registro Declaratoacuterio

136

Eletrocircnico ndash Investimento Externo Direto) num prazo de 30 dias a partir do fechamento do

contrato de cacircmbio (APEXBRASIL 2014)

Na Conversatildeo de Creacuteditos Externos a operaccedilatildeo pela qual os creacuteditos passiacuteveis de

gerarem transferecircncias para o exterior com base nas normas vigentes satildeo utilizados pelo

credor natildeo residente para a aquisiccedilatildeo ou integralizaccedilatildeo de participaccedilatildeo no capital social da

empresa no Paiacutes Devem ser registrados no Sistema de Informaccedilotildees do Banco Central ndash

SISBACEN ndash Moacutedulo RDEIED (Registro Declaratoacuterio Eletrocircnico ndash Investimento Externo

Direto) no prazo de 30 dias a partir da data de entrada (APEXBRASIL 2014)

Importaccedilatildeo de Bens sem Cobertura Cambial satildeo os bens tangiacuteveis maacutequinas ou

equipamentos de qualquer natureza efetivamente ingressados no Brasil sem dispecircndio inicial

de divisas destinados agrave produccedilatildeo ou agrave comercializaccedilatildeo de bens ou agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos

Natildeo deve haver similar nacional para os bens usados que devem ser aplicados em projetos

que estimulem o desenvolvimento econocircmico do Paiacutes Deve ser registrado no Sistema de

Informaccedilotildees do Banco Central ndash SISBACEN ndash Moacutedulo RDE-IED (Registro Declaratoacuterio

Eletrocircnico ndash Investimento Externo Direto) no prazo de 90 dias a partir do desembaraccedilo do

bem tangiacutevel (APEXBRASIL 2014)

Mercado de Capitais satildeo investimentos nos mercados financeiros e de capitais

brasileiros de renda fixa e variaacutevel com a necessaacuteria constituiccedilatildeo de representante no Brasil

para a operacionalizaccedilatildeo do investimento Seu registro deve ser efetuado no Sistema de

Informaccedilotildees do Banco Central ndash SISBACEN ndash moacutedulo Portfoacutelio do Registro Declaratoacuterio

Eletrocircnico (RDE-Portfoacutelio) antes das movimentaccedilotildees (APEXBRASIL 2014)

22 TRAJETOacuteRIA DO IED NO BRASIL

Segundo Veloso (2006) o Brasil eacute um dos maiores receptores de IEDs do mundo haacute

mais de um seacuteculo conta com investimentos externos Conforme Saacute (2005) o aporte de

capital externo sob a forma de investimentos diretos de empresas estrangeiras no paiacutes ou

empreacutestimos e financiamentos ao setor puacuteblico foi o que possibilitou as inovaccedilotildees tanto no

setor de serviccedilos quanto na industrializaccedilatildeo do Brasil Logo na deacutecada de 1980 o Brasil jaacute

contava com financiamento externo

Os investimentos estrangeiros possuem um papel demasiadamente importante no que

diz respeito agrave inserccedilatildeo do Brasil no cenaacuterio mundial Apoacutes o fim da Segunda Guerra Mundial

137

o paiacutes se encontrava entre os grandes receptores de IED na Ameacuterica Latina no entanto essa

situaccedilatildeo mudou quando o paiacutes comeccedilou a apresentar problemas de liquidez e para o

pagamento da divida externa Essa situaccedilatildeo acabou afastando os investidores e provocando

uma queda no ingresso de investimentos que ficaram praticamente estagnados ateacute o iniacutecio da

deacutecada de 1990 quando o governo comeccedilou a implementar uma seacuterie de medidas liberais

promovendo a abertura comercial e a desregulamentaccedilatildeo do mercado interno Aleacutem disso

como um dos grandes entraves era o crescente processo inflacionaacuterio em 1994 foi adotada

uma estrateacutegia de combate agrave inflaccedilatildeo que teve muito sucesso na estabilizaccedilatildeo monetaacuteria o

Plano Real (DIERSMANN PICCOLI ROVER 2015)

Passado esse periacuteodo de turbulecircncia e agora com economia estaacutevel o paiacutes volta a ser

atrativo aos investidores e os ingressos de IED se elevam novamente sendo que o estoque de

IED atingiu o montante de US$ 43 bilhotildees em 1995 quando foi realizado o primeiro Censo

do Capital Estrangeiro pelo Banco Central do Brasil (GREGORY OLIVEIRA 2005) Foi

nesse momento que grande parte das empresas estatais foram privatizadas (cerca de 115

empresas) sendo que do total de privatizaccedilotildees ocorridas 53 do capital vieram de

investidores estrangeiros (DIERSMANN PICCOLI ROVER 2015)

A valorizaccedilatildeo do cacircmbio que se deu ateacute o ano de 1999 fez com que o paiacutes sofresse

com especulaccedilatildeo da moeda Atingido pelos efeitos das crises russa e asiaacutetica que modificou o

cenaacuterio internacional o governo alterou sua poliacutetica cambial passando a adotar o regime de

cacircmbio flutuante A partir daiacute com as novas medidas adotadas o fluxo de capital externo

aumentou chegando a 328 bilhotildees de doacutelares no ano 2000 (DIERSMANN PICCOLI

ROVER 2015)

Contudo jaacute no ano de 2001 o cenaacuterio se modifica pois os acontecidos externos (―[]

queda nas bolsas dos Estados Unidos o desaquecimento da economia global em decorrecircncia

de atentados terroristas e guerras aleacutem das fraudes descobertas na contabilidade de grandes

empresas americanas e multinacionais Brasil (GREGORY OLIVEIRA p 12 2005))

juntamente com os episoacutedios internos (―[] decliacutenio do programa de privatizaccedilotildees pela crise

energeacutetica e pela instabilidade provocada pelo processo eleitoral e pela desconfianccedila de

possiacuteveis mudanccedilas nos rumos das poliacuteticas de Governo (GREGORY OLIVEIRA p 12

2005)) provocam uma queda no fluxo de capitais estrangeiros brasileiros Segundo

Diersmann Piccoli e Rover (2015) em 2004 a economia mundial volta a crescer e essa fase

de crescimento tambeacutem eacute experimentada pelo Brasil o governo lanccedila os programas de

138

incentivo da economia e vaacuterias empresas brasileiras colocam suas accedilotildees na bolsa assim o

fluxo de capitais estrangeiros volta a crescer e as exportaccedilotildees ganham impulso

A crise imobiliaacuteria americana em 2008 atingiu o mercado mundial os investimentos

externos diminuiacuteram e diversas economias apresentaram queda de crescimento muitas

estagnaram No entanto as medidas adotadas pelo governo brasileiro caracteristicamente

anticiacuteclicas foram importantes pois evitaram uma grande contraccedilatildeo no crescimento

econocircmico e um sofrimento maior advindo da crise ao longo de 2009 (DIERSMANN

PICCOLI ROVER 2015)

Apesar da recessatildeo e da esperada retraccedilatildeo dos fluxos de IED em 2014 o Brasil ficou

em sexto lugar entre os paiacuteses que mais receberam investimentos estrangeiros no mundo

Ademais os investidores continuam investindo em nosso paiacutes e os capitais estrangeiros

entrando em nossas fronteias das formas mais diversas (LEMOS JUNIOR 2015)

3 ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

Segundo Rodrigues Neves e Mattos (2012) um estiacutemulo a exportaccedilatildeo resultaraacute

diretamente no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) dado que o aumento das

exportaccedilotildees acarreta um aumento da produtividade do fator devido a ganhos de escala o que

eacute resultado de um mercado externo maior Quanto mais o PIB crescer maior eacute a taxa de

produtividade assim sendo menores seratildeo os custos unitaacuterios e maiores seratildeo as exportaccedilotildees

Ainda de acordo com Rodrigues Neves e Mattos (2012) o crescimento de uma economia

resultante de uma acumulaccedilatildeo de capital fiacutesico eou transferecircncia de tecnologia via IED

reflete diretamente nas exportaccedilotildees as quais sofrem um aumento quando o mercado

domeacutestico natildeo absorve totalmente o aumento na produccedilatildeo de bens

Gregory e Oliveira (2005) argumentam que haacute uma correlaccedilatildeo positiva entre o

ingresso de investimentos diretos e as exportaccedilotildees do paiacutes receptor Em 2010 as exportaccedilotildees

brasileiras chegaram a U$$ 20191528533500 e aumentaram para U$$ 25603957476800

no ano de 2011 tendo variaccedilatildeo percentual de 2681 O IED chegou a 731175 milhotildees de

doacutelares no ano de 2012 com variaccedilatildeo de 513 resultado do bom desempenho das

exportaccedilotildees em 2011

Assim na Tabela 1 podemos verificar essa relaccedilatildeo empiricamente Visto que o

comportamento de um afetou no desempenho do outro Ao longo dos anos houve uma

139

variaccedilatildeo percentual negativa para IED chegando haacute -2172 de 2014 para 2015 o que

tambeacutem se verifica tanto para exportaccedilotildees como para a variaccedilatildeo percentual do PIB com -

1509 e -2683 respectivamente

Tabela 1 ndash Brasil - Evoluccedilatildeo do IED PIB e Exportaccedilotildees

Ano IED

(US$ milhotildees)

Variaccedilatildeo

()

Exportaccedilotildees

(US$ FOB)

Variaccedilatildeo

()

PIBsup1 Variaccedilatildeo ()

2010 682 346 201915285335 2209751

2011 695 505 193 256039574768 2681 2614482 1832

2012 731 175 513 242578013546 -526 2463549 -577

2013 724 781 -087 242033574720 -022 2468456 020

2014 725 872 015 225100884831 -700 2454846 -055

2015 568 226 -2172 191134324584 -1509 1796168 -2683

FONTE Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de dados do BACEN (2016 2018) e do MDIC (2017)

sup1 Preccedilos correntes em milhotildees de US$

A Tabela 2 mostra a entrada de IED no Brasil de 2010 a 2015 Analisando a

distribuiccedilatildeo entre seus componentes eacute possiacutevel observar que grande parte dos recursos que

entraram no paiacutes estaacute sob a forma de participaccedilatildeo no capital 8606 em 2010 e 6380 em

2015 No entanto os dados do BACEN revelam que atraveacutes dos anos houve queda da entrada

de IED por meio de participaccedilatildeo no capital e ampliaccedilatildeo por meio de operaccedilotildees

intercompanhia que passou de 1394 em 2010 para 3620 no ano de 2015

Tabela 2 - Brasil - Investimento Estrangeiro Direto (U$$ Milhotildees)

Discriminaccedilatildeo 2010sup1 2011sup2 2012sup2 2013sup2 2014sup2 2015sup2

Investimento Estrangeiro

Direto (IED) 682 346 695 505 731 175 724 781 725 872 568 226

Participaccedilatildeo no capital 587 209 589 592 603 470 550 635 518 116 362 516

() 8606 8477 8253 7597 7138 6380

Operaccedilotildees

intercompanhiasup3 4

95 137 105 913 127 705 174 146 207 756 205 711

() 1394 1523 1747 2403 2862 3620

Memo

Quantidade de

declarantes5

16 844 3 210 2 398 2 099 1 948 19 537

Numero de empresas de 13 858 16 982

140

IED6

PIB7

2209751 2614482 2463549 2468456 2454846 1796168

IEDPIB 3088 2660 2968 2936 2957 3164

FONTE BACEN

sup1 Estoque valorado preferencialmente por valor de mercado e na ausecircncia deste por patrimocircnio liacutequido

sup2 Para empresas declarantes do Censo Anual de Capitais Estrangeiros no Paiacutes estoque valorado

preferencialmente por valor de mercado e na ausecircncia deste por patrimocircnio liacutequido Para natildeo declarantes do

Censo Anual obrigatoacuterio apenas para empresas com patrimocircnio liacutequido a partir de US$100 milhotildees estoque

estimado a partir do uacuteltimo Censo Quinquenal fluxos do balanccedilo de pagamentos e registros de capital

estrangeiro no Banco Central do Brasil moacutedulo investimento direto (RDE-IED)

sup3Fonte sistema de registros de capital estrangeiro do Banco Central do Brasil moacutedulo de operaccedilotildees financeiras

(RDE-ROF) 4

Conforme criteacuterio de ativos e passivos adotado pela sexta ediccedilatildeo do Manual de Balanccedilo de Pagamentos e

Posiccedilatildeo de Investimento Internacional (BPM6) do FMI inclui operaccedilotildees de devedores residentes no Brasil e

credores residentes no exterior desde que pertenccedilam ao mesmo grupo econocircmico e natildeo sejam do setor

financeiro Inclui passivos em moeda e em mercadoria 5

Nos Censos de 1995 2000 e 2005 a obrigatoriedade de declaraccedilatildeo quanto agrave participaccedilatildeo de investidor

estrangeiro no capital social se estendeu a vaacuterias empresas residentes e de um mesmo grupo econocircmico no

primeiro niacutevel da cadeia de controle A partir do Censo 2010 estiveram obrigadas a declarar apenas as empresas

com participaccedilatildeo direta de investidor estrangeiro no seu capital social ocasionando ganhos de eficiecircncia e

reduccedilatildeo no nuacutemero de declarantes 6

Investidores natildeo residentes detentores de no miacutenimo 10 do poder de voto da empresa residente no Brasil 7

Preccedilos Correntes em milhotildees de U$$

Os graacuteficos a seguir ilustram a distribuiccedilatildeo do estoque de IED por setor de atividade

econocircmica da empresa residente no Brasil referentes agrave participaccedilatildeo no capital e agraves operaccedilotildees

intercompanhia

Graacutefico 1 ndash Brasil - Distribuiccedilatildeo do estoque de IED por setor de atividade econocircmica da

empresa residente no Brasil Participaccedilatildeo no Capital

FONTE Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de dados do BACEN (2016)

16 15 12 12 12

10

39 39 41 41

39 37

45 47 47 46

48

53

0

10

20

30

40

50

60

2010 2011 2012 2013 2014 2015

Agricultura pecuaacuteria e extrativa mineral Induacutestria Serviccedilos

141

Graacutefico 2 ndash Brasil - Distribuiccedilatildeo do estoque por setor de atividade econocircmica da

empresa residente no Brasil Operaccedilotildees Intercompanhia

FONTE Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de dados do BACEN (2016)

Os dados revelam que em relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo no capital o setor de serviccedilos supera

a induacutestria e a agricultura pecuaacuteria e extrativa mineral como receptor de IED contudo em

relaccedilatildeo agraves operaccedilotildees intercompanhia percebe-se que a induacutestria eacute o principal receptor

seguido pela agricultura pecuaacuteria e extrativa e pelo setor de serviccedilos

No Graacutefico 3 pode-se observar que ao longo dos anos houve um decreacutescimo de IED

no paiacutes chegando a diminuir no que diz respeito a participaccedilatildeo de capital por regiatildeo mais

que 50 do seu valor na regiatildeo Sudeste com uma taxa de variaccedilatildeo percentual negativa de -

5175

No entanto o curioso eacute que apesar de a regiatildeo Centro-Oeste apresentar valores

inferiores a maioria das regiotildees sua variaccedilatildeo percentual negativa foi maior que a regiatildeo

Sudeste com um valor de -5567 Chama atenccedilatildeo tambeacutem a regiatildeo Norte que apesar de

apresentar os menores valores entre as regiotildees apresentou uma queda menor no estoque de

IED (-1603) Essa queda de IED no paiacutes pode ser explicada pelo comportamento do PIB

que variou -1872 entre 2010 e 2015 pois segundo Gregory e Oliveira (2005) o tamanho do

PIB eacute um fator determinante na atraccedilatildeo de IED assim como tambeacutem a entrada desse recurso

acaba garantindo o crescimento dessa variaacutevel

31 31 27 27

23 22

45 44 44 44 47 48

24 26 29 29 29 29

0

10

20

30

40

50

60

2010 2011 2012 2013 2014 2015

Agricultura pecuaacuteria e extrativa mineral Induacutestria Serviccedilos

142

Graacutefico 3 ndash Brasil - IED - Participaccedilatildeo no capital (US$ milhotildees) Distribuiccedilatildeo do estoque

por regiatildeo conforme localizaccedilatildeo do ativo imobilizadosup1

FONTE Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de dados do BACEN (2016)

sup1 O valor das empresas com ativo imobilizado em mais de uma unidade da federaccedilatildeo foi fracionado

Conforme mostra a Tabela 3 houve de fato uma diminuiccedilatildeo nos valores de IED no

Brasil No que diz respeito ao destino destes investimentos percebe-se que natildeo ocorreu

mudanccedila significativa

Tabela 3 ndash Brasil - IED - Participaccedilatildeo no capital (US$ milhotildees) - Distribuiccedilatildeo do estoque

por regiatildeo conforme localizaccedilatildeo do ativo imobilizadosup1

2010 () 2015 () Variaccedilatildeo Percentual

Sudeste 155946 6904 75248 6504 -5175

Sul 32718 1448 17368 1501 -4692

Nordeste 20196 894 12643 1093 -3740

Norte 7311 324 6139 531 -1603

Centro-Oeste 9706 430 4302 372 -5567

Brasil 225877 10000 115700 10000 -4878

FONTE Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de dados do BACEN (2016)

1 O valor das empresas com ativo imobilizado em mais de uma unidade da federaccedilatildeo foi fracionado

Soacute a regiatildeo Sudeste detinha em 2010 e 2015 6904 e 6504 respectivamente da

participaccedilatildeo no capital industrial enquanto as demais regiotildees respondiam juntas por apenas

3096 e 3496 nos mesmos anos Segundo Tavares Pereira e Rebouccedilas Filho (2017) a

desigualdade regional sempre esteve presente na histoacuteria do Brasil O volume de capital da

155 946

32 718

20 196

7 311 9 706

75 248

17 368 12 643

6 139 4 302

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000

140000

160000

180000

Sudeste Sul Nordeste Norte Centro-Oeste

2010

2015

143

regiatildeo Sudeste sempre foi superior agraves demais regiotildees principalmente comparando ao

Nordeste e Norte brasileiro isso se daacute pela grande concentraccedilatildeo industrial responsaacutevel pela

diversificaccedilatildeo produtiva de seus estados e pela distribuiccedilatildeo do estoque de IED no Paiacutes

A Tabela 4 revela que o nuacutemero de empregos diretos gerados nas empresas de IED

em 2015 ficou concentrado na regiatildeo Sudeste com 6741 e destes 4606 estatildeo

concentrados no estado de Satildeo Paulo As demais regiotildees somam 3259 dos postos de

trabalho em que na regiatildeo Sul destaca-se o estado do Paranaacute com 511 e na regiatildeo Nordeste

tem destaque o estado da Bahia com 400 Esse quadro estaacute relacionado com a

concentraccedilatildeo do fluxo de IED nessas regiotildees e estados que favorecem as regiotildees mais

desenvolvidas deixando de proporcionar o crescimento necessaacuterio agraves regiotildees menos

desenvolvidas

Tabela 4 ndash Brasil - Empregos diretos nas empresas de IED 2015sup1 - Distribuiccedilatildeo da

quantidade de postos de trabalho por regiatildeo

Regiotildees Nuacutemero de empregados

Norte 114 776 330

Nordeste 404 738 1163

Bahia 139 169 400

Pernambuco 95 842 275

Centro-Oeste 164 877 474

Sudeste 2 345 447 6741

Rio de Janeiro 392 914 1129

Satildeo Paulo 1 602 515 4606

Minas Gerais 306 467 881

Espiacuterito Santo 43 551 125

Sul 449 310 1291

Paranaacute 177 778 511

Rio Grande do Sul 169 230 486

Santa Catarina 102 302 294

Total 3 479 148 10000

FONTE Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de dados do BACEN (2016)

sup1 Ao menos um investidor natildeo residente possui individualmente 10 ou mais do poder de voto

Na Tabela 5 pode-se perceber a concentraccedilatildeo regional de IED tendo destaque a

regiatildeo Sudeste com maior volume e a regiatildeo Norte com menor volume

144

Tabela 5- Receita Bruta de empresas de IED 2015sup1 Distribuiccedilatildeo por regiatildeo

Regiotildees

Norte 287

Nordeste 923

Bahia 344

Centro-Oeste 642

Sudeste 6972

Satildeo Paulo 5268

Rio de Janeiro 926

Minas Gerais 629

Sul 1176

Paranaacute 505

Rio Grande do Sul 435

Total 10000

FONTE FONTE Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir de dados do BACEN (2016)

sup1 Ao menos um investidor natildeo residente possui individualmente 10 ou mais do poder de voto

Faz-se necessaacuterio observar que de acordo com a tabela mesmo dentro dessa regiatildeo haacute

uma desigualdade entre as cidades quando ao recebimento dos fluxos destacando-se Satildeo

Paulo com 5268 da Receita Bruta de empresas de IED que comparado ao resto do paiacutes

deteacutem mais de 50 de toda receita Desse modo estabelecendo um ranking temos em

segundo lugar a regiatildeo Sul

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As tabelas e as composiccedilotildees graacuteficas mostram a relaccedilatildeo entre o IED e o

desenvolvimento da economia brasileira Os dados apontam que a inserccedilatildeo de IED influencia

diretamente os volumes de capital no paiacutes sendo um condicionante para o crescimento e

retraccedilatildeo da economia No entanto a maacute distribuiccedilatildeo do estoque de IED entre as regiotildees do

paiacutes acaba configurando um contexto de crescimento econocircmico nacional mas natildeo um

desenvolvimento igualitaacuterio de suas regiotildees

Ao analisar a distribuiccedilatildeo da entrada de IED por regiatildeo pode-se observar que somente

a regiatildeo Sudeste recebeu mais da metade dos investimentos em IED do paiacutes enquanto isso as

demais regiotildees foram receptoras de um valor limitado de recursos Esse acontecimento pode

ser explicado pela comparaccedilatildeo dos parques industriais das nossas regiotildees pois enquanto o

145

Sudeste possui uma induacutestria altamente diversificada e dinamizada com maior potencial de

atraccedilatildeo de investimentos as demais regiotildees principalmente Norte Nordeste e Centro-Oeste

vivem de certa forma distante dessa realidade e se encontram em grande desvantagem pelo

fato de possuiacuterem um parque industrial pouco dinacircmico e ainda em fase de amadurecimento

Desse modo se o quadro de desigualdade entre as regiotildees do paiacutes acontece em termos

de iacutendices educacionais renda Iacutendice de Desenvolvimento Humano (IDH) e PIB eacute

igualmente verificaacutevel que isso tambeacutem acontece em termos de atraccedilatildeo de investimentos

visto que ao longo dos anos estudados o quadro de concentraccedilatildeo regional de IED foi muito

acentuado e contiacutenuo

Aleacutem disso ao analisar a distribuiccedilatildeo de empregos formais e a receita bruta nas

empresas de IED por regiatildeo percebe-se que essa situaccedilatildeo se repete As regiotildees com menos

postos de trabalho e com menor receita satildeo Norte Nordeste e Centro-Oeste e em primeiro e

segundo lugar estatildeo Sudeste e Sul respectivamente fato esse que eacute resultado da concentraccedilatildeo

do fluxo de IED nas regiotildees mais desenvolvidas Desta forma percebe-se necessaacuterio um

plano de desenvolvimento mais igualitaacuterio que possibilite as demais regiotildees se desenvolverem

economicamente

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148

TESTANDO A HIPOacuteTESE DE CONVERGEcircNCIA NA TAXA DE CRIMINALIDADE

DOS MUNICIacutePIOS CEARENSES UMA ANAacuteLISE Agrave LUZ DO PROGRAMA RONDA

DO QUARTEIRAtildeO

Otoniel Rodrigues dos Anjos Junior

Graduado em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Mestre em

Economia Aplicada pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Economia da Universidade Federal

da Paraiacuteba (PPGE-UFPB) Doutorando em Economia Aplicada pelo PPGE-UFPB E-mail

pbdosanjoshotmailcom

Andreacutea Ferreira da Silva

Graduada em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA) Mestra

em Economia Rural pelo Mestrado em Economia Rural da Universidade Federal do Cearaacute

(MAER-UFC) Doutoranda em Economia Aplicada pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em

Economia da Universidade Federal da Paraiacuteba (PPGE-UFPB) E-mail

andreaeconomiayahoocombr

Eryka Fernanda Miranda Sobral

Graduada em Economia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Mestra em

Economia pela UFPE Doutoranda em Economia Aplicada pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Economia da Universidade Federal da Paraiacuteba (PPGE-UFPB) E-mail

fmsobralhotmailcom

Magno Vamberto Batista da Silva

Graduado em Economia pela Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Mestre em Economia

pelo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Economia da Universidade Federal da Paraiacuteba (PPGE-

UFPB) Doutor em Economia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Professor

do Departamento de Economia da Universidade Federal da Paraiacuteba E-mail

magnobsyahoocom

149

TESTANDO A HIPOacuteTESE DE CONVERGEcircNCIA NA TAXA DE CRIMINALIDADE

DOS MUNICIacutePIOS CEARENSES UMA ANAacuteLISE Agrave LUZ DO PROGRAMA RONDA

DO QUARTEIRAtildeO

RESUMO A taxa de criminalidade tem apresentado tendecircncia de aumento para todas as regiotildees do

paiacutes nos uacuteltimos anos mesmo com a accedilatildeo de programas de repressatildeo agrave criminalidade O Cearaacute se

destaca como segundo maior em taxa de homiciacutedio da Regiatildeo Nordeste onde a regiatildeo metropolitana

de Fortaleza contribui substancialmente para este fato Ante a isso o objetivo deste estudo eacute testar a

hipoacutetese de convergecircncia nas taxas de criminalidade dos municiacutepios cearenses Para tanto utiliza-se a

taxa de homiciacutedios como proxy para criminalidade e controlando a dependecircncia espacial Os

resultados mostram ocorrecircncia tanto Global quanto Local de dependecircncia espacial significante

sinalizando dados espalhados de forma natildeo aleatoacuteria no espaccedilo Aleacutem disso a hipoacutetese de

convergecircncia natildeo foi rejeitada e ocorre paralelamente com o aumento na taxa meacutedia de homiciacutedios e a

reduccedilatildeo em sua variabilidade Por fim esse fenocircmeno parece ocasionar aumentos marginais maiores

nas taxas de homiciacutedios dos municiacutepios considerados tranquilos comparativamente aos outros

municiacutepios ditos violentos

Palavras-chaves Criminalidade Municiacutepios Cearaacute

ABSTRACT The crime rate has shown a tendency to increase for all regions of the country in the

last years even with the action of programs of repression to the crime Cearaacute stands out as the second

largest homicide rate in the Northeast Region where the metropolitan region of Fortaleza contributes

substantially to this fact Before this the objective of this study is to test the hypothesis of convergence

in the crime rates of the municipalities of Cearaacute To do so the homicide rate is used as a proxy for

crime and controlling spatial dependence The results show both Global and Local occurrence of

significant spatial dependence signaling data scattered nonrandomly in space In addition the

convergence hypothesis was not rejected and occurs in parallel with the increase in the average

homicide rate and the reduction in its variability Finally this phenomenon seems to cause larger

marginal increases in the homicide rates of the municipalities considered quietrdquo compared to other

municipalities called violent

Keywords Crime Municipalities Cearaacute

150

1 Introduccedilatildeo

O problema da criminalidade tem sido visto como um dos mais seacuterios obstaacuteculos ao

desenvolvimento econocircmico e social (FAJNZYLBER JR 2001 CLEMENTE WELTERS

2007 SANTOS FILHO 2011) Os governos e a sociedade civil passaram a dar maior

importacircncia ao assunto uma vez que foram observados os aumentos nas taxas de violecircncia e

os elevados custos associados agrave mortalidade sobretudo de jovens

Na literatura brasileira diversos estudos analisam o crime representado pela taxa de

homiciacutedio (OLIVEIRA et al 2005 MENDONCcedilA et al 2001 SAPORI WANDERLEY

2001 CANO SANTOS 2007 SANTOS FILHO 2011 JUacuteNIOR et al 2018 JUacuteNIOR

FILHO AMARAL 2018) Isso se deve pela tendecircncia crescente que esse indicador tem

apresentado para todas as regiotildees do paiacutes nos uacuteltimos anos e por sua alta taxa de reportagem

agraves autoridades comparativamente a outros crimes Conforme Waiselfisz (2016) autor do

Mapa da Violecircncia de 2016 as regiotildees do Nordeste (NE) e Sudeste (SE) satildeo as que se

destacam em primeiro e segundo lugar respectivamente no total de homiciacutedios do paiacutes ao

longo de todo o periacuteodo de 2008-2014 Em 2014 43 do total dos homiciacutedios por armas de

fogo no Brasil ocorreram no NE Dentre seus estados Alagoas Cearaacute e Sergipe satildeo os que

apresentam as maiores taxas de homiciacutedios da regiatildeo com aproximadamente 57 43 e 42

homiciacutedios agrave cada 100 mil habitantes respectivamente

Ante isso o desafio ao longo dos anos passou a ser formular e implantar poliacuteticas que

permitam a prevenccedilatildeo e consequentemente a reduccedilatildeo da violecircncia Nesse caso eacute

importante o desenvolvimento de pesquisas que permitam avanccedilar na compreensatildeo desse

fenocircmeno por meio da geraccedilatildeo de informaccedilotildees que permitam monitorar e melhorar o

entendimento das tendecircncias temporais e espaciais da criminalidade

Na literatura internacional o arcabouccedilo teoacuterico apresentado por Becker (1968) em

economia do crime discute as decisotildees racionais dos indiviacuteduos entre crime e natildeo crime

Nesse caso o crime eacute considerado uma atividade econocircmica Assim um indiviacuteduo soacute

cometeraacute um crime se e somente se os ganhos que pretende obter forem maiores do que os

custos Dessa forma o criminoso iraacute agir de acordo com as suas motivaccedilotildees ponderando as

suas decisotildees da mesma forma otimizadora que se faz em outros setores da sociedade

De acordo com Chiras e Crea (2004) ampliar o nuacutemero de policiais nas ruas pode ser

considerado eficaz no combate as atividades ilegais pois tais medidas elevam os custos da

accedilatildeo criminosa

151

Do mesmo modo Suliano e Oliveira (2015) afirmam que a forma mais eficaz de

combater a criminalidade passa pelo meacutetodo de inibiccedilatildeo ou repressatildeo do seu causador

Dentre as poliacuteticas de accedilatildeo destacam a poliacutetica de detenccedilatildeo por meio do aumento de policiais

nas ruas Em seu estudo os autores supracitados testam a hipoacutetese do aumento do

policiamento impactar na reduccedilatildeo da criminalidade no Cearaacute e encontram que o meio de

inibiccedilatildeo adotado pelo estado atraveacutes do programa Ronda do Quarteiratildeo altera os ganhos e

as accedilotildees dos criminosos

Considerado um programa de seguranccedila puacuteblica o Ronda do Quarteiratildeo foi

implementado no Cearaacute em 2007 inicialmente em Fortaleza e a partir de 2008 foi

abrangendo outras regiotildees do estado Neste ano existiam 13418 policiais efetivos jaacute em

2015 esse dado cresce 27 passando para 17100 policiais ativos em todo o estado segundo

dados do Instituto de Pesquisa e Estrateacutegia Econocircmica do Cearaacute (IPECE) No que tange ao

nuacutemero de homiciacutedios no Cearaacute no periacuteodo entre 2000 e 2015 foi observado um

crescimento de 237 no total de mortes por agressatildeo no estado Em meacutedia em 2000 ocorria

68 mortes homicida por municiacutepio passando a ser em 2015 23 mortes observando-se

dessa maneira uma meacutedia quase 4 vezes maior do que a vigente no ano 2000 de acordo

com dados do DATASUS

Diferentemente da pesquisa de Suliano e Oliveira (2015) que investigou o impacto

sobre os crimes contra a propriedade como roubos e furtos na regiatildeo metropolitana de

Fortaleza a presente pesquisa trata sobre crimes que acarretaram mortes por agressatildeo no

estado Logo objetiva-se testar a hipoacutetese de convergecircncia nas taxas de homiciacutedios

cearenses uma vez que foi implantada uma poliacutetica de aumento de policiais o programa

Ronda do Quarteiratildeo Nesse caso espera-se que tal programa gere reduccedilatildeo da criminalidade

Com a convergecircncia teria-se tendecircncia de que a taxa de homiciacutedio dos diversos

municiacutepios ficassem cada vez mais homogecircnea como sugerido por Scalco et al (2007)

Santos e Filho (2011) verificam convergecircncia com aumento da meacutedia de criminalidade e

reduccedilatildeo da variabilidade Com isso ao longo do tempo natildeo se observaria lugares mais ou

menos violentos e a criminalidade afetaria com a mesma intensidade todos os municiacutepios Ao

longo dos anos natildeo haveria nenhum lugar que possa ser considerado ―mais ou ―menos

seguro para se viver pois a atividade criminosa estaria presente com a mesma intensidade em

todos os municiacutepios do estado

152

Para tanto como forma de atingir o objetivo proposto aleacutem dessa introduccedilatildeo o artigo encontra-se

estruturado em mais quatro seccedilotildees A seccedilatildeo 2 traz uma breve revisatildeo da literatura Na seccedilatildeo 3 eacute

descrito o procedimento metodoloacutegico sendo composto pela anaacutelise exploratoacuteria de dados espaciais

anaacutelise de dependecircncia espacial e dados utilizados na investigaccedilatildeo A seccedilatildeo 4 apresenta a anaacutelise de

resultados das estimaccedilotildees realizadas Por fim a seccedilatildeo 5 traz as consideraccedilotildees finais

2 Revisatildeo da Literatura

O comportamento criminoso pode ser enxergado por diferentes teorias o que o torna

um fenocircmeno complexo e multifacetado (CERQUEIRA LOBAtildeO 2003) Esses distintos

pontos de vista de um mesmo fato pode influenciar inclusive o planejamento e execuccedilatildeo

das poliacuteticas puacuteblicas

Mediante a isso uma importante teoria econocircmica acerca do estudo da criminalidade

foi denominada de teoria da Escolha Racional Em seu trabalho seminal intitulado Crime

and Punishment An Economic Approach Becker (1968) mostra que os agentes decidem

entre crime e natildeo crime a partir dos custos e benefiacutecios de cada tomada de decisatildeo

individual A abordagem racional permitiu estudar o setor criminal por meio de instrumentos

matemaacuteticos e estatiacutesticos avanccedilados Nessa abordagem o crime eacute apresentado como uma

alternativa agrave atividade econocircmica Dessa forma conforme Becker (1968) a escolha por

atividade criminosa ocorreraacute se e somente se a utilidade esperada por essa accedilatildeo for superior

a utilidade de empregar seu tempo e recursos em atividades legais

Nessa perspectiva o setor legal apresentaraacute tanto mais adeptos quanto maiores forem

seus rendimentos liacutequidos Por sua vez as oportunidades de otimizaccedilatildeo de ganhos

funcionam como setas indicativas de onde cada indiviacuteduo deveraacute exerer maior dedicaccedilatildeo

Nessa conjuntura se o crime passa a compensar (benefiacutecio maior que custos) entatildeo ocorrem

entradas no mercado criminal incentivados pelo efeito contaacutegio eou imitaccedilatildeo (VIAPIANA

BRUNET 2007) A atividade criminosa possibilita inclusive encontrar uma curva de oferta

de crimes apenas partindo do processo de maximizaccedilatildeo de lucro (SANTOS KASSOUF

2008)

O fato dos agentes serem racionais segundo McKenzie e Tullock (1975) permite que

a quantidade de crime de uma localidade seja determinada como qualquer outra atividade da

economia Nesse caso a anaacutelise custobenefiacutecio impulsiona os agentes a maximizarem a

153

utilidade esperada de suas accedilotildees (EHRLICH 1973 HEINEKE 1978 WITTE

DASGUPTA BALTIMORE 1980)

Nesse contexto similar a uma atividade econocircmica a taxa de criminalidade apresenta

desigualdade por regiatildeo mas alguns estudos sugerem que a criminalidade estaacute se espalhando

entre os municiacutepios brasileiros Um desses eacute o de Scalco et al (2007) que testa a existecircncia

de convergecircncia na taxa de criminalidade dos municiacutepios mineiros Seus resultados sugerem

reduccedilatildeo nas disparidades da criminalidade entre os municiacutepios e consequentemente

homogenizaccedilatildeo do crescimento das taxas de criminalidade

Por sua vez Santos e Filho (2011) testam a hipoacutetese de convergecircncia da taxa de

crime para as microrregiotildees brasileiras Para isso utilizaram a taxa de homiciacutedios como

proxy para a criminalidade e controlando a dependecircncia espacial nos dados regionalmente

agrupados essa hipoacutetese natildeo foi refutada Assim por esse resultado tem-se evidecircncia de que

a criminalidade tende a crescer mais rapidamente nas localidades menos violentas do que nas

localidades mais violentas com a diferenccedila nas taxas de crimes dessas localidades sendo

eliminadas gradativamente ao longo do tempo Os autores argumentam que se a tendecircncia

permanecer a reduccedilatildeo no bem-estar eacute inevitaacutevel

Contudo em funccedilatildeo deste arcabouccedilo teoacuterico e empiacuterico eacute fato que a criminalidade eacute

um problema para maioria dos indiviacuteduos Portanto dada a evidecircncia supracitada para Minas

Gerais e para o Brasil como um todo eacute pertinente testar a convergecircncia dentro do Estado do

Cearaacute dado que eacute o segundo mais violento da regiatildeo Nordeste Dessa forma acredita-se

contribuir para a compreensatildeo do fenocircmeno localmente possibilitando o redesenho das

poliacuteticas puacuteblicas de seguranccedila no estado do Cearaacute

3 Metodologia

Nesta seccedilatildeo discutem-se os procedimentos metodoloacutegicos empregados na pesquisa

demostrando brevemente os fundamentos da anaacutelise exploratoacuteria de dados os testes e

procedimentos que permitem identificar padrotildees espaciais Consolidando a anaacutelise

demonstram-se os passos empregados na estrateacutegia empiacuterica para estimaccedilatildeo de modelos de

convergecircncia incorporando os efeitos dos transbordamentos espaciais Finalmente na uacuteltima

parte da presente seccedilatildeo trazem-se informaccedilotildees sobre os dados e variaacuteveis utilizados na

pesquisa

154

31 Anaacutelise exploratoacuteria de dados espaciais

A anaacutelise exploratoacuteria de dados (AEDE) de acordo com Anselin (1995) consiste na

teacutecnica para se testar a existecircncia ou natildeo de padrotildees estatisticamente significativos extraindo

medidas de autocorrelaccedilatildeo espacial global e local Isto eacute sua proposta eacute descrever a

distribuiccedilatildeo espacial os padrotildees de associaccedilatildeo espacial (clusters espaciais) verificar a

existecircncia de outras formas de instabilidade espacial (natildeo-estacionariedade) e identificar

observaccedilotildees atiacutepicas (outliers)

Nesse sentido para a autocorrelaccedilatildeo espacial tem-se a proposta dos iacutendices de Moran

global (I-Moran) e local (LISA) O primeiro fornece um uacutenico valor para o conjunto de todos

os municiacutepios caracterizando toda a regiatildeo de estudo que representaraacute o grau de associaccedilatildeo

espacial entre os mesmos De forma que como indicador eacute definido no intervalo [-11]

segundo o qual quanto mais proacuteximo de 1 maior seraacute a associaccedilatildeo espacial entre as

observaccedilotildees indicando a possiacutevel ocorrecircncia de homogeneidade entre regiotildees vizinhas Por

sua vez quanto mais proacuteximo de -1 maior seraacute o grau de dissimilaridade entre estas regiotildees

Jaacute quando mais proacuteximo agrave zero implicaraacute na inexistecircncia de dependecircncia espacial para

aquela variaacutevel Posto isso o indicador I-Moran global eacute calculado a partir da seguinte

especificaccedilatildeo

n

i

tti

n

i

n

j

ttjttiij

n

i

n

j

ij

t

yy

yyyyw

w

nI

1

1 1

1 1

2

(1)

em que eacute o nuacutemero de regiotildees satildeo os elementos da matriz de pesos espaciais

eacute a observaccedilatildeo na regiatildeo no periacuteodo e eacute a meacutedia das observaccedilotildees entre as regiotildees no

periacuteodo Conforme Anselin (1995) a matriz conteraacute as informaccedilotildees referentes agrave

dependecircncia espacial entre as regiotildees Os elementos na diagonal principal satildeo iguais agrave

zero enquanto os elementos indicam a associaccedilatildeo espacial entre as regiotildees e

(3)

155

A referida equaccedilatildeo demonstra o valor obtido quando natildeo haacute padratildeo espacial nos

dados aleacutem disso observa-se que quando o nuacutemero de municiacutepios (n) aumenta o valor

esperado para o I-Moran se aproxima de zero Dessa forma caso o iacutendice de I-Moran

encontrado seja significativamente maior que o esperado (E[I]) tem-se indiacutecio de presenccedila

de autocorrelaccedilatildeo espacial positiva nos dados Por outro lado se significativamente menor

haacute evidecircncias a favor de autocorrelaccedilatildeo negativa

Na anaacutelise da autocorrelaccedilatildeo espacial local utiliza-se o indicador local de

autocorrelaccedilatildeo espacial LISA definido por Anselin (1995) como qualquer estatiacutestica que

satisfaccedila dois criteacuterios 1) o LISA para cada observaccedilatildeo forneceraacute uma indicaccedilatildeo de clusters

ou agrupamentos espaciais significativos de valores semelhantes em torno daquela

observaccedilatildeo bem como uma identificaccedilatildeo de instabilidades locais ou seja outliers

significativos e 2) a soma do LISA para todas as observaccedilotildees seraacute proporcional ao indicador

global de associaccedilatildeo espacial A medida LISA para cada regiatildeo e periacuteodo pode ser expressa

da seguinte forma

0

m

yywyy

I

n

j

ttjijtti

ti

1 (3)

em que assume a seguinte forma

2

n

yyn

i

tti

1 (3a)

Na Equaccedilatildeo (3) um valor positivo de indica o agrupamento de valores similares

(alto ou baixo) enquanto um valor negativo indica um agrupamento de valores desiguais

Uma vez calculado o indicador LISA poderaacute fornecer os seguintes tipos de associaccedilotildees

espaciais os clusters Alto-Alto regiatildeo que apresenta alto valor da variaacutevel em estudo

circundada por uma vizinhanccedila em que o valor meacutedio da mesma variaacutevel tambeacutem eacute alto e

Baixo-Baixo regiatildeo de baixo valor na qual a meacutedia dos seus vizinhos tambeacutem eacute baixa e os

outliers Baixo-Alto regiatildeo com baixo valor circunvizinha de uma vizinhanccedila cujo valor

meacutedio eacute alto e Alto-Baixo regiatildeo com alto valor na qual a meacutedia das regiotildees contiacuteguas eacute

156

baixa Dessa maneira a AEDE tambeacutem serviraacute de apoio para estimaccedilatildeo economeacutetrica uma

vez que poderaacute confirmar a presenccedila de dependecircncia espacial nos dados

32 Anaacutelise de dependecircncia espacial

A princiacutepio o modelo sugerido para estimaccedilatildeo eacute o Modelo Claacutessico de Regressatildeo

Linear (MCRL) que trata das hipoacuteteses ou pressupostos subjacentes ao estimador de

Miacutenimos Quadrados Ordinaacuterios (MQO) No entanto ressalva-se que se na regiatildeo analisada

existir dependecircncia espacial seja na variaacutevel dependente independente ou no termo de erro

os estimadores seratildeo tendenciosos Isso porque se a dependecircncia espacial age sobre a

variaacutevel dependente do modelo estimado percebe-se que as estimativas seratildeo viesadas e

inconsistente se estimadas por MCRL Por sua vez se a dependecircncia espacial ocorre nos

erros tem-se que as estimativas de MCRL seratildeo natildeo viesadas e consistentes poreacutem

ineficientes (ANSELIN 1988 ANSELIN BERA 1998)

Nessa perspectiva a estimaccedilatildeo do MCRL no contexto de dependecircncia espacial e

averiguando a convergecircncia da criminalidade entre dois periacuteodos Equaccedilatildeo 4 objetiva apenas

encontrar como a dependecircncia espacial toma forma no espaccedilo (na variaacutevel dependente eou

no termo de erro) Logo a accedilatildeo da dependecircncia espacial pode ser constatada por meio dos

testes do Multiplicador de Lagrange (ML) e Multiplicador de Lagrange Robusto (MLR)18

(

)

(4)

Onde (

)eacute o logaritmo natural da razatildeo entre taxa meacutedia de homiciacutedios de

dois anos distintos eacute o logaritmo natural da taxa meacutedia de homiciacutedios no

periacuteodo inicial e ui eacute o termo de erro Agrave medida que o termo de erro segue um processo

espacial autorregressivo tem-se

(5)

18

Informaccedilotildees consultar Florax Folmer e Rey (2003)

157

Onde λ se refere ao coeficiente escalar do erro espacial e o termo de erro eacute

normalmente distribuiacutedo com meacutedia zero e variacircncia constante Assim incorporando a

Equaccedilatildeo 5 na Equaccedilatildeo 4 tem-se entatildeo a forma adequada do modelo de regressatildeo de erro

espacial sendo este

(

) (6)

Observa-se que a partir da especificaccedilatildeo apresentada pela Equaccedilatildeo 6 W eacute a mesma

matriz de contiguidade utilizada para realizar AEDE Logo se λne0 a incidecircncia

determinado choque numa regiatildeo se espalha natildeo soacute para os seus vizinhos imediatos mas

afeta tambeacutem os vizinhos de ordem maior (REY MONTOURI 1999) Assim o coeficiente

espacial autorregressivo (λ) mede a forccedila da autocorrelaccedilatildeo espacial isto eacute o grau de

dependecircncia espacial no termo de erro ou de efeitos natildeo modelados que natildeo satildeo

aleatoriamente distribuiacutedos atraveacutes do espaccedilo

Outra forma de internalizar os efeitos dos transbordamentos eacute atraveacutes da modelagem

global de defasagem espacial Nesse caso mudanccedilas na variaacutevel explicativa numa regiatildeo

afetaratildeo diretamente a proacutepria regiatildeo e poderatildeo afetar as demais regiotildees por meio de efeito

indireto (LESAGE PACE 2009)

(

) (

)

(7)

Sendo o termo de erro (

)o logaritmo natural da razatildeo

entre criminalidade meacutedia de dois diferentes anos o logaritmo natural da

criminalidade meacutedia no periacuteodo inicial τ o termo de transbordamento espacial (

)

denota a defasagem espacial da criminalidade Por fim ρ eacute o coeficiente de defasagem espera-se que

seja maior do que zero sugerindo existecircncia de autocorrelaccedilatildeo espacial positiva

158

Finalmente tem-se a Equaccedilatildeo 8 representando uma junccedilatildeo das Equaccedilotildees 6 e 7 em

que os transbordamentos podem ocorrer tanto na variaacutevel dependente quanto no termo de

erro do modelo

(

) (

)

(8)

Onde W1 e W2 satildeo matrizes de contiguidade natildeo necessariamente iguais

Na oacutetica de (COHEN TITA 1999) existem duas formas de disseminaccedilatildeo da crimi

nalidade Inicialmente atraveacutes do contato direto entre os agentes surgindo agraves redes de

organizaccedilotildees criminosas (gangues quadrilhas etc) disseminando o crime por meio do efeito

contaacutegio Por fim atraveacutes da imitaccedilatildeo incentivada pelas oportunidades de retorno com

praacuteticas criminosas em regiotildees pouco exploradas Nesse uacuteltimo processo natildeo precisa haver

qualquer contato entre os criminosos dessas localidades

Almeida (2012) afirma que a partir de determinados instrumentos economeacutetricos eacute

possiacutevel modelar consistentemente os efeitos contaacutegio e imitaccedilatildeo Para tanto seria

necessaacuterio utilizar o modelo global Spacial Auto Regressive (SAR) que possiblita captar os

efeitos advindos do processo de imitaccedilatildeo Por sua vez o Spatial Mixed Regressive Auto-

Regressive Complete (SAC) possibilita identificar o efeito contaacutegio agindo sobre o processo

de transbordamento de determinado fenocircmeno

33 Dados

Os dados de homiciacutedios em termos absolutos para o Estado do Cearaacute satildeo uma

amostra do DataSUS para os anos de 2000 2008 e 2015 Os oacutebitos aqui considerados satildeo

aqueles provenientes de mortes por agressatildeo (X85-Y09) considerando o local da ocorrecircncia

No mais destaca-se que considerar o local de residecircncia da viacutetima poderaacute viesar os

resultados uma vez que determinado indiviacuteduo pode ser assassinado em um municiacutepio mesmo

residindo em outro Nesse caso o homiciacutedio seria contabilizado para um municiacutepio que natildeo

ocorreu efetivamente agrave accedilatildeo criminosa

159

Para construir a taxa de homiciacutedios por 100 mil habitantes foram utilizados os dados

populacionais do Censo elaborado no ano 2000 assim como as estimativas populacionais

construiacutedas anualmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) nos anos

de 2008 e 2015 Logo a variaacutevel dependente em questatildeo eacute

Crimeit = (MitNit) lowast 100mil (9)

onde os subscritos i e t representam respectivamente a regiatildeo e o tempo Crime eacute a taxa de

morte por 100 mil habitantes do municiacutepio M eacute o nuacutemero absoluto de mortes do municiacutepio

e N eacute a populaccedilatildeo

4 Anaacutelise de Resultados

Nesta seccedilatildeo satildeo descritos os resultados da pesquisa Inicialmente satildeo apresentadas as

estatiacutesticas descritivas e os resultados da AEDE Em seguida discutem-se os principais

resultados das estimaccedilotildees dos modelos de convergecircncia

41 Anaacutelise Descritiva

No Estado do Cearaacute foram contabilizados 39287 mortes por agressatildeo entre 2000 e

2015 Segundo estimativa populacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) 7446 dos municiacutepios Cearenses apresentava populaccedilatildeo inferior a 39 mil

habitantes em 2015 A quantidade de mortes aumentou 238 saindo de 1232 no ano 2000

para 4162 em 2015 no mesmo periacuteodo o crescimento populacional do Estado foi de apenas

20

Em relaccedilatildeo agrave taxa de mortalidade (por grupo de 100 mil habitantes) destaca-se que

houve aumento de 182 no periacuteodo saltando de 1657 (2000) para 4675 (2015) com

destaque para o ano de 2014 (523) com valor maacuteximo da seacuterie ( Figura 1) Por sua vez tem-

se que a meacutedia estadual eacute de 292 mortes (por 100 mil habitantes) no periacuteodo Neste contexto

destaca-se que a Organizaccedilatildeo Mundial da Sauacutede (OMS) sugere taxa de mortalidade abaixo

de dez (por 100 mil habitantes) para uma boa convivecircncia humana e taxas acima desse valor

podem ser consideradas epidecircmicas

160

A partir da Figura 1 constata-se que ocorreu movimento sensiacutevel de queda na taxa de

mortalidade apenas entre 2014 e 2015 (11) jaacute os demais anos apresentaram taxas sempre

crescentes Em relaccedilatildeo ao histograma nota-se maior frequecircncia de taxas de mortalidade

situadas entre 20 e 30 (por grupo de 100 mil) no periacuteodo de 2000 a 2015

Figura 1 ndash Taxa de Mortalidade no Estado do Cearaacute entre 2000 e 2015

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados da pesquisa

Na Tabela 1 satildeo apresentados dados que buscam descrever o comportamento da taxa

de homiciacutedio nos anos selecionados de 2000 2008 e 2015 Com essa informaccedilatildeo constata-

se que tanto a meacutedia quanto a dispersatildeo (desvio padratildeo) dos dados cresceram ao longo dos

anos analisados

Tabela 1 ndash Estatiacutestica Descritiva da Taxa de Homiciacutedios

Variaacutevel 200

0

2008 2015

Meacutedia 102

4

151

7

3098

Desvio padratildeo 93

5

118

1

2592

Coef de Variaccedilatildeo 09

1

078 084

Maior 424

3

485

5

12952

Menor 000 000 000

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados da pesquisa

161

Os dados da estatiacutestica descritiva mostram que entre 2000 e 2008 a meacutedia de

homiciacutedio por municiacutepio cresceu 4814 no estado saindo de 1024 para 1517 mortes por

grupo de 100 mil habitantes Por sua vez no periacuteodo que se estende entre 2008 e 2015 tal

crescimento foi de 10422 em que a mortalidade se desloca de 1517 para 3098 homiciacutedios

por 100 mil Por fim tem-se que entre 2000 e 2015 a meacutedia de mortalidade homicida

apresenta expressivo aumento de 20254 a qual passa de 1024 para 3098 casos por 100

mil habitantes Em relaccedilatildeo ao coeficiente de variaccedilatildeo ou dispersatildeo relativa dos dados tem-se

uma reduccedilatildeo de 769 no periacuteodo 2000-2015

Figura 2 ndash As 100 maiores taxas de homiciacutedios do Cearaacute nos anos de 2000 2008 e 2015

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados da pesquisa

Para destacar a diferenccedila da taxa de mortalidade dos anos analisados pegaram-se

aqueles 100 municiacutepios cearenses que apresentaram as maiores taxas de homiciacutedios nos anos

de 2000 2008 e 2015 respectivamente (Figura 1) A partir disso foi possiacutevel constatar que o

ano de 2015 eacute destaque e apresenta municiacutepios com maiores taxas de mortalidade por

homiciacutedios em seguida tem-se o ano de 2008 e 2000 respectivamente Como visto os

municiacutepios aumentam sua carga de violecircncia ao longo dos anos e aparentemente estar em

qualquer municiacutepio entre os 100 mais violentos em 2015 eacute expressivamente pior que estar

nesses mesmos municiacutepios tanto 2008 quanto 2000

Na Tabela 2 apresenta-se a estatiacutestica descritiva dos dados na forma de estratos uma

vez que tal procedimento pode melhorar a compreensatildeo da dinacircmica espacial da

162

criminalidade no espaccedilo Como visto ocorreu expressiva reduccedilatildeo na quantidade de

municiacutepios nos estratos mais baixos (menor que 10 por 100 mil) e aumento consideraacutevel

naqueles estratos mais altos sobretudo com taxa de mortalidade acima de 50 por 100 mil

habitantes

Como forma de ilustrar tem-se que municiacutepios com taxa de mortalidade menor que

dez (por 100 mil) reduziram de 101 (2000) para 36 (2015) uma contraccedilatildeo de 18056 no

periacuteodo Jaacute os que natildeo apresentaram caso de homiciacutedios em 2000 por exemplo eram

2653 (49 municiacutepios) 1467 (27 municiacutepios) em 2008 e 1089 (20 municiacutepios) em

2015 Tais fatos sinalizam determinada tendecircncia de aumento na taxa de mortalidade

sobretudo nos municiacutepios que se encontravam dentro dos limites aceitaacuteveis(taxa menor

que dez por grupo de 100 mil habitantes)

Tabela 2 ndash Estatiacutestica descritiva da taxa de homiciacutedio estratificada

2000 2008 2015

Taxa de

Homiciacutedios

Meacutedia DP Cont Meacutedia DP Cont Meacutedia DP Cont

0 le Tx lt 10 344 367 101 407 359 70 303 368 36 10 le Tx lt 20 482 276 59 1441 284 58 1451 286 31 20 le Tx lt 30 375 228 17 2455 303 35 2463 281 44 30 le Tx lt 40 320 278 4 3488 259 13 3510 266 27 40 le Tx lt 50 179 0 67 3 446 268 8 4509 362 10 50 le Tx lt 60 minus minus minus minus minus minus 5525 332 14 60 le Tx lt 70 minus minus minus minus minus minus 6598 187 5 70 le Tx lt 80 minus minus minus minus minus minus 7488 238 6 80 le Tx lt 90 minus minus minus minus minus minus 8800 0 1 90 le Tx lt 100 minus minus minus minus minus minus 9353 196 6

Taxa gt 100 minus minus minus minus minus minus 11403 1083 4

Total 1023 935 184 1517 1181 184 3098 2592 184

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados da pesquisa

DP eacute o Desvio Padratildeo Cont eacute a Contagem

Com o exposto na Figura 3 podem-se identificar evidecircncias de distribuiccedilatildeo espacial

natildeo aleatoacuteria na taxa de homiciacutedios cearenses nos anos de 2000 2008 e 2015 respectivamente

A fim de ilustrar melhor essa distribuiccedilatildeo classifica-se a taxa de mortalidade por 100 mil

habitantes em cinco grupos

163

Figura 3 ndash Distribuiccedilatildeo Espacial da Taxa de Homiciacutedio nos anos de 2000 2008 e 2015

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados da pesquisa

Conforme enunciado anteriormente natildeo haacute uma distribuiccedilatildeo homogecircnea da referida

taxa de homiciacutedio entre os municiacutepios do estado Sendo assim o mapa jaacute fornece indiacutecios de

que municiacutepios com baixasaltas taxas de mortalidade homicida encontram-se de forma

geral proacuteximo de municiacutepios com valores similares dessa mesma variaacutevel

42 Dependecircncia Espacial Global e Local

A Figura 4 reporta os resultados da AEDE realizada na taxa de homiciacutedios dos

municiacutepios cearenses nos anos 2000 2008 e 2015 respectivamente Para tanto utiliza-se o

indicador de autocorrelaccedilatildeo espacial global e local univariado Inicialmente verifica-se

globalmente por meio do indicador de Moran e posteriormente usa-se o indicador LISA

para analisar localmente Como visto tais indicadores sugerem que haacute indicios de

autocorrelaccedilatildeo espacial agindo sobre a taxa de mortalidade homicida dos municiacutepios

cearenses em todos os anos analisados

Com intuito de atingir resultados estatiacutesticos mais robustos considerou-se uma matriz

de contiguidade espacial do tipo Queen de primeira ordem normalizada na linha Em tempo

destaca-se que a utilizaccedilatildeo de tal matriz encontra alicerce no fato da mesma ter sido capaz de

capturar a maior dependecircncia espacial comparativamente as demais matrizes testadas (Queen

de primeira segunda terceira quarta e ordens superiores K-vizinhos para dois quatro seis

oito dez e outros)

164

A interpretaccedilatildeo do I de Moran Global eacute bastante simples uma vez que tal indicador eacute

um graacutefico composto por quatro diferentes quadrantes representando relaccedilotildees entre os dados

no espaccedilo Q1 (Alto-Alto AA) Q2 (Alto-Baixo AB) Q3 (Baixo-Baixo BB) e Q4 (Baixo-

Alto BA) Estatisticamente rejeita-se a 1 de pseudo-significacircncia a hipoacutetese nula de

aleatoriedade espacial em todos os anos analisados para tanto considerou-se um teste de

hipoacutetese a 1 de pseudo-significacircncia e 999 permutaccedilotildees aleatoacuterias Com essa rigorosidade

estatiacutestica encontraram-se resultados que sugerem dados de homiciacutedios espacialmente natildeo

aleatoacuterios no espaccedilo

Anselin (1995) aponta que o indicador de associaccedilatildeo espacial global pode ocultar ou

mesmo ser insatisfatoacuterio na identificaccedilatildeo de padrotildees espaciais locais Sendo assim tem-se

que tanto os clusters quanto os outliers espaciais podem ser camuflados frente aos

indicadores globais de autocorrelaccedilatildeo espacial Neste contexto Anselin (1995) aponta o

indicador de associaccedilatildeo espacial LISA como eficiente para capturar localmente possiacuteveis

padrotildees de autocorrelaccedilatildeo espacial identificando agrupamentos de objetos com valores de

atributos semelhantes entre si Logo nota-se que o resultado apresentado pelo mapa LISA

(Figura 4) corrobora os indiacutecios encontrados pelo indicador de autocorrelaccedilatildeo espacial

global Os mapas temaacuteticos obtidos a partir do LISA satildeo compostos por cinco cores distintas

cada qual representando um tipo de associaccedilatildeo espacial Vermelha (Alto-Alto) Azul (Baixo-

Baixo) Cinza (Baixo-Alto) Rosa (Alto-Baixo) e Branca (Natildeo Significativo)

Como visto tem-se que a autocorrelaccedilatildeo espacial da taxa de homiciacutedio dos

municiacutepios cearenses foi confirmada global e localmente Assim tecircm-se indiacutecios suficientes

para se acreditar em distribuiccedilatildeo natildeo aleatoacuteria da mortalidade homicida no Cearaacute

Continuando a avaliaccedilatildeo do LISA para os anos selecionados de 2000 2008 e 2015

nota-se que a maior parte dos municiacutepios natildeo se mostraram estatisticamente signifi cantes

(7609 8043 e 7011) aos niacuteveis da pesquisa No entanto observa-se que 2391

1956 e 2989 dos municiacutepios do estado apresentaram alguma correlaccedilatildeo espacial entre

si nos anos de 2000 2008 e 2015 respectivamente Entre os significantes a maior parte eacute

similar (AA e BB) 7727 6944 e 8183 por sua vez os dissimilares (AB e BA)

representaram 2273 3056 e 1818 nos anos de 2000 2008 e 2015 respectivamente

165

Figura 4 ndash Indicador de Moran Global e LISA para os anos de 2000 2008 e 2015

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados da pesquisa

Em relaccedilatildeo aos Alto-Alto (AA) representavam 3864 50 e 4364 enquanto a

relaccedilatildeo Baixo-Baixo (BB) representava 3864 1944 3819 dos significantes nos anos

de 2000 2008 e 2015 nessa ordem Jaacute os dissimilares do tipo Baixo-Alto (BA) nos mesmos

anos representavam 1591 556 e 909 nos mesmos anos Sequencialmente notam-se

os Alto-Baixo (AB) com 682 25 e 909 dos casos nos anos de 2000 2008 e 2015

respectivamente

Diante do exposto percebe-se que entre 2000 e 2015 ocorre determinado movimento

em que os casos significantes aumentam ao longo dos anos frente aos natildeo significantes

Aleacutem disso entre os significantes se nota determinada predominacircncia da relaccedilatildeo mais

similar entre si (AA e BB) No todo percebe-se indiacutecios que a taxa de homiciacutedios dos

municiacutepios cearenses nos anos avaliados se distribuem de forma natildeo aleatoacuteria no espaccedilo

formando diversos clusters significantes ao longo do territoacuterio

166

43 Resultados das Estimaccedilotildees dos Modelos Economeacutetricos

Na Tabela 3 encontra-se a estimaccedilatildeo do Modelo Claacutessico de Regressatildeo Linear

(MCRL) O resultado positivo e significativo encontrado na estatiacutestica de Moran aplicado

nos resiacuteduos para os periacuteodos selecionados de 2000-2008 (I = 1562) 2008-2015 (I=1456) e

2000-2015 (I=2811) sugerem distribuiccedilatildeo natildeo aleatoacuteria da taxa de homiciacutedios ao longo do

territoacuterio cearense e tal fato torna invalida as estimativas do MCRL

Nesse caso a estimaccedilatildeo do MCRL serve apenas para direcionar o processo de

estimaccedilatildeo dos modelos espaciais Sendo assim torna-se adequado a utilizaccedilatildeo de modelos

economeacutetricos que levem em consideraccedilatildeo essa ocorrecircncia de transbordamentos espaciais na

variaacutevel de interesse

Tabela 3 ndash Estimaccedilatildeo economeacutetrica do MCRL

2000-2008 2008-2015 2000-2015

0038 0083 0025

α

(0001) (0000) (0000)

0009 -0004 -0010

β

(0064) (0060) (0001)

Diagnoacutestico da Regressatildeo

AIC -370517 -270250 -557322

SC -364087 -263820 -550892

LIK 187259 137125 280661

Teste Jarque-

Bera 13474

1041 27754

(0001) (0594) (0000)

Teste Breusch-

Pagan

0281

1717 0089

(0596) (0190) (0765)

167

Multicolinearida

de

3302 4296 3302

Diagnoacutestico de Dependecircncia Espacial

I de Moran 1562

1456

(0014)

2811

(0005)

MLρ -

defasagem

1365

1410 8469

(0243) (0235) (0004)

MLRρ -

defasagem

3295

12349 3141

(0069) (0000) (0076)

MLλ - erro 1930

1673 6831

(0165) (0196) (0008)

MLRλ - erro 3861

12612 1502

(0049) (0000) (0220)

ML(SARMA) 5226

14022 9971

(0073) (0000) (0007)

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados da pesquisa utilizando o Software Geoda versatildeo

1814

Nota Resultados entre parecircnteses indicam valor das probabilidades

Continuando com o diagnoacutestico da regressatildeo do MCRL tem-se que o valor

significativo do teste de Jarque-Bera sugere natildeo normalidade dos resiacuteduos nos periacuteodos

2000-2008 e 2000-2015 Contrariamente no lapso temporal 2008-2015 os resiacuteduos se

mostram normalmente distribuiacutedos Po sua vez o teste de Breusch-Pagan aponta que todos

os periacuteodos apresentam erros homocedaacutesticos Finalmente tem-se que os valores

apresentados pelo teste de multicolinearidade sugerem valores dentro dos paracircmetros

estatisticamente aceitaacuteveis em todos os periacuteodos selecionados (valor menor que 30)

Eacute amplamente divulgado o processo de seleccedilatildeo de modelos economeacutetricos por meio

dos menores criteacuterios de informaccedilatildeo de Akaike (AIC) e Schwartz (SC) assim como o maior

168

valor da funccedilatildeo de verossimilhanccedila (LIK) do modelo Em econometria espacial existe a

possibilidade de utilizaccedilatildeo de outros procedimentos para seleccedilatildeo de modelos tatildeo eficientes

quanto o anterior Tal estrateacutegia consiste na utilizaccedilatildeo dos testes dos Multiplicadores de

Lagrange (ML) e Multiplicador Lagrange robusto (MLR) para identificar como a

dependecircncia espacial toma forma (ALMEIDA 2012) Sendo que a especificaccedilatildeo correta

seraacute aquela que apresentar maior significacircncia estatiacutestica nos dois testes (ML e MLR)

respectivamente

Considerando o exposto nota-se que os periacuteodos de 2000-2008 e 2008-2015 podem

ser espacialmente modelados a partir da utilizaccedilatildeo do Spatial Autorregressive and Moving

Average (SARMA) pois tal especificaccedilatildeo demonstrou resultados significantes tanto para os

testes ML quanto MLR Jaacute entre os anos de 2000 e 2015 o modelo de maior robustez para

tratar a dependecircncia espacial eacute o Spacial Auto Regressive (SAR) Nesse mesmo periacuteodo

tem-se a modelagem SARMA como opccedilatildeo aos demais modelos No entanto este seria

estimado apenas nos casos em que o modelo SAR ou SEM natildeo fossem capazes de capturar

toda fonte de dependecircncia espacial

Na Tabela 4 apresenta-se o resultado da estimaccedilatildeo do modelo β-convergecircncia

considerando efeito de transbordamento espacial para os periacuteodos 2000-2008 2008-2015 e

2000-2015 respectivamente

Em econometria espacial o melhor modelo seraacute aquele que natildeo apresentar evidecircncias

de autocorrelaccedilatildeo espacial em seus resiacuteduos Como visto os testes realizados poacutes-estimaccedilatildeo

apontam que os modelos utilizados foram capazes de modelar consistentemente toda fonte

de dependecircncia espacial existente Portanto os testes de Moran realizados nos resiacuteduos do

modelo SARMA e o teste de Anselin-Kelejian aplicado aos resiacuteduos do modelo SAR foram

natildeo significativos dando credibilidade a seus estimadores

Ao analisar o paracircmetro β estimado pelos diferentes modelos espaciais constata-se

que todos os modelos apresentam sinal condizente com a incidecircncia de convergecircncia Logo

nos periacuteodos 2000-2008 2008-2015 e 2000-2015 verifica-se um processo de convergecircncia β

estatisticamente significante na taxa de homiciacutedios dos municiacutepios cearenses Portanto tais

periacuteodos merecem ser mais bem avaliados do ponto de vista da velocidade de convergecircncia e

de suas respectivas meias-vidas

169

Tabela 4 ndash Estimaccedilatildeo economeacutetrica dos modelos espaciais

2000-2008 2008-2015 2000-2015

SARMA-

GMM

SARMA-

MV

SAR-GMM

α

00892 -0117 0015

(0000) (0261) (0056)

β

-0013 -0006 -0009

(0049) (0015) (0005)

ρ 0492 00961 0272

(0038) (0000) (0007)

λ 0120 0832 -

(0037) (0001) -

Velocidade

Convergecircncia

0109 0006 0010

Meia Vida

529 1152 767

Teste de Dependecircncia Espacial no Resiacuteduo do Modelo Estimado

I de Moran

0680 0636 -

(0348) (0134) -

Teste de Anselin-

Kelejian

- - 7197

- - (0457)

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos dados da pesquisa utilizando o Software Geoda versatildeo

1814 e o GeodaSpace Nota Resultados entre parecircnteses indicam valor das probabilidades

No presente estudo avalia-se apenas a ocorrecircncia de convergecircncia absoluta da taxa

de homiciacutedios cearense Neste contexto tecircm-se valores estimados de β = -0013 β = -0006 e

170

β = -0009 para os periacuteodos de 2000-2008 2008-2015 e 2000-2015 respectivamente Assim

estimam-se as respectivas velocidades de convergecircncia de 109 06 e 1 ao ano nessa

ordem

Como visto no periacuteodo ateacute implantaccedilatildeo do programa Ronda do Quarteiratildeo (2000-

2008) a velocidade de convergecircncia mostrava-se maior comparativamente ao periacuteodo poacutes-

implantaccedilatildeo Em termos econocircmicos significa que demoraria-se 529 anos para que a taxa

de homiciacutedios de determinado municiacutepio percorresse a metade da diferenccedila que a separava

de seu valor de estado estacionaacuterio No periacuteodo entre 2008 e 2015 tal valor passou a ser de

1152 anos Esses resultados sugerem que o Ronda do Quarteiratildeo reduziu a velocidade de

crescimento da taxa de homiciacutedios Sendo assim na ausecircncia do referido programa as taxas

de homiciacutedios dos municiacutepios cearenses estariam ainda maiores

Considerando-se todo o exposto ateacute o presente nota-se que entre 2000 e 2015 ocorreu

aumento (20254) na meacutedia da taxa de homiciacutedios acompanhada por uma reduccedilatildeo em sua

dispersatildeo intra-regional (769) calculada pelo coeficiente de variaccedilatildeo Isso associado aos

valores do teste β-convergecircncia sustentam a hipoacutetese de convergecircncia nas taxas de

homiciacutedios dos municiacutepios do Cearaacute Salienta-se que resultado similar jaacute havia sido

encontrado por Santos e Filho (2011) testando a hipoacutetese de convergecircncia na taxa de

criminalidade das microrregiotildees brasileiras

Santos e Filho (2011) apontam que a convergecircncia nas taxas de crimes intra-

regionais significa que a criminalidade tende a crescer mais rapidamente nas localidades

menos violentas comparativamente agraves demais sendo que a diferenccedila nas taxas de crimes

deve ser gradativamente eliminada ao longo do tempo

Similarmente ao exposto por Santos e Filho (2011) os dados da presente pesquisa

sugerem que a convergecircncia ocorre paralelamente com aumento na taxa de homiciacutedios

afetando o bem estar dos agentes Contrariamente se essa equidade fosse acompanhada de

uma reduccedilatildeo nessa taxa de homiciacutedio certamente haveria uma elevaccedilatildeo do bem-estar social

(SANTOS FILHO 2011)

Para Santos e Filho (2011) na ausecircncia de mudanccedilas exoacutegenas e elaboraccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas que mudem as decisotildees entre crime e natildeo crime dos agentes entatildeo natildeo

haveraacute regiotildees mais violentas ou menos violentas ao longo dos anos jaacute que todas seriam

afetadas aproximadamente com a mesma intensidade pela criminalidade

171

Neste contexto destaca-se que o Programa Ronda do Quarteiratildeo parece reduzir a

velocidade de convergecircncia da taxa de criminalidade do Cearaacute Observa-se no periacuteodo

aumento da meacutedia de mortalidade convergecircncia e reduccedilatildeo da variabilidade No entanto para

melhor avaliar tal problemaacutetica seria bastante valiosa a elaboraccedilatildeo de pesquisa que

incorporasse as caracteriacutesticas dos municiacutepios analisados em uma proposta de convergecircncia

relativa

5 Consideraccedilotildees Finais

O artigo analisa a incidecircncia de convergecircncia na taxa de criminalidade nos municiacutepios

cearenses nos periacuteodos de 2000-2008 2008-2015 e 2000-2015 Em tal empreitada utilizou-

se o modelo de convergecircncia β considerando os efeitos dos transbordamentos espaciais uma

vez que tanto o indicador de autocorrelaccedilatildeo espacial Global quanto o Local se mostraram

estatisticamente significantes Nesse caso natildeo se rejeita a hipoacutetese de convergecircncia nas taxas

de criminalidade desses municiacutepios Tal resultado corrobora os achados de Scalco et al

(2007) para municiacutepios mineiros e Santos e Filho (2011) para as microrregiotildees brasileiras

No Cearaacute a convergecircncia ocorre paralelamente com o aumento na taxa de

homiciacutedios conforme Santos e Filho (2011) encontra para microrregiotildees brasileiras Nesse

caso as poliacuteticas puacuteblicas devem ser implantadas incorporando esses resultados

Para pesquisas futuras sugere-se estimar modelos que incorporem caracteriacutesticas

locais dos municiacutepios renda desemprego populaccedilatildeo jovem densidade populacional niacutevel

de desenvolvimento entre outros Com isso poderiam-se determinar quais os principais

fatores relacionados agrave problemaacutetica da criminalidade nesse estado Por fim salienta-se a

importacircncia da avaliaccedilatildeo formal do programa Ronda do Quarteiratildeo para melhor destacar

seus resultados sobre a taxa de mortalidade do Estado do Cearaacute

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174

ANAacuteLISE DAS PAUTAS DE EXPORTACcedilAtildeO E IMPORTACcedilAtildeO DA PARAIacuteBA POR

MEIO DA COMPETITIVIDADE CONCENTRACcedilAtildeO E DOS FLUXOS BILATERAIS

NO PERIacuteODO ENTRE 2000 E 2017

KASSIA LARISSA ABRANTES ALVES

Graduanda em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)

e voluntaacuteria no Programa Institucional Voluntaacuterio de Iniciaccedilatildeo Cientifica (PIVIC) E-mail

klarissaabrantesagmailcom

SORAIA SANTOS DA SILVA

Professora Drordf e Pesquisadora do Curso de Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Federal

de Campina Grande (UFCG) E-mail soraiasantosdouradosgmailcom

MARIA ISADORA GOMES DE PINHO

Graduanda em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA) E-mail

isadoragomes100gmailcom Contato (088) 99949-9919

175

ANAacuteLISE DAS PAUTAS DE EXPORTACcedilAtildeO E IMPORTACcedilAtildeO DA PARAIacuteBA POR

MEIO DA COMPETITIVIDADE CONCENTRACcedilAtildeO E DOS FLUXOS BILATERAIS

NO PERIacuteODO ENTRE 2000 E 2017

RESUMO A pesquisa tem como objetivo principal analisar o padratildeo de comeacutercio por meio

da competitividade das exportaccedilotildees e da concentraccedilatildeo da pauta de exportaccedilatildeo e importaccedilatildeo do

estado da Paraiacuteba no periacuteodo de 2000 a 2017 bem como investigar a intensidade de suas

relaccedilotildees com seus parceiros comerciais A metodologia consistiu no caacutelculo do Iacutendice de

Vantagem Comparativa (VCR) nas versotildees propostas por Balassa (1965 1979) e Laursen

(1998) da Taxa de Cobertura (TC) do Iacutendice de Herfindall-Hirschmann (IHH) e do Iacutendice de

Intensidade de Comeacutercio (IIC) com dados do comeacutercio exterior disponibilizados pelo MDIC

Os resultados obtidos para o caacutelculo do VCR mostraram que a Paraiacuteba apresentou ganhos de

vantagem comparativa nos produtos calccedilados sucos granito peixes e aacutelcool que tambeacutem

foram classificados como pontos fortes da economia paraibana O grau de concentraccedilatildeo das

pautas de exportaccedilatildeo apontou que a pauta de exportaccedilatildeo eacute concentrada em poucos produtos

Em contrapartida a pauta de importaccedilatildeo eacute bastante variada Em termos de destino das

exportaccedilotildees observou-se que a relaccedilatildeo comercial entre a Paraiacuteba e a Franccedila vem aumentando

no periacuteodo analisado Jaacute as importaccedilotildees da Paraiacuteba mostraram um crescimento na

participaccedilatildeo das relaccedilotildees entre Paraiacuteba e Argentina O estado apresentou intensidade de

comeacutercio com os Estados Unidos a Franccedila a Espanha o Paraguai e Portugal nas exportaccedilotildees

e com os Estados Unidos Alemanha Itaacutelia Franccedila Espanha Argentina China e Uruguai nas

importaccedilotildees Verificou-se tambeacutem que as exportaccedilotildees paraibanas estatildeo concentradas em

poucas cidades e poucas empresas

Palavras-chave Paraiacuteba Padratildeo de Comeacutercio Competitividade Concentraccedilatildeo

ANALYSIS OF PARAIBAL EXPORT AND IMPORTATION GUIDELINES BY

COMPETITIVENESS CONCENTRATION AND BILATERAL FLOWS IN THE

PERIOD BETWEEN 2000 AND 2017

ABSTRACT The main objective of the research is to analyze the pattern of trade through the

competitiveness of exports and the concentration of the export and import tariff of the State of

Paraiacuteba from 2000 to 2017 as well as to investigate some characteristics of its bilateral trade

relations The methodology consisted in calculating the Comparative Advantage Index in the

versions proposed by Balassa (1965 1979) and Laursen (1998) the Coverage Rate the

Herfindall-Hirschmann Index of bilateral flows and the Trade Intensity Index with foreign

trade data made available by the MDIC The results obtained for the Comparative Advantage

Index calculation showed that Paraiacuteba presented gains of comparative advantage in shoes

juice granite fish and alcohol products which were also classified as strengths of the Paraiacuteba

economy The degree of concentration of the export and import tariffs indicated that the

export tariff is concentrated On the other hand the import tariff is quite varied In terms of

destination of exports it was observed that the commercial relationship between Paraiacuteba and

France has been increasing in the analyzed period Already the imports from Paraiacuteba showed

an increase in the participation of the relations between Paraiacuteba and Argentina The state

showed intense trade with the United States France Spain Paraguay and Portugal in exports

and with the United States Germany Italy France Spain Argentina China and Uruguay on

imports It was also verified that the exports of Paraiacuteba are concentrated in few cities and in

few companies

Key words Paraiacuteba Standard of Commerce Competitiveness Concentration

176

1 INTRODUCcedilAtildeO

A anaacutelise da competitividade das exportaccedilotildees de um estado permite identificar pontos

fortes na economia ou mercados potenciais para investimentos na produccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de

estrateacutegias de intensificaccedilatildeo no comeacutercio internacional Aleacutem disso a literatura empiacuterica

chama a atenccedilatildeo tambeacutem aos aspectos relacionados agrave concentraccedilatildeo nas pautas de exportaccedilatildeo e

importaccedilatildeo Uma pauta comercial diversificada tanto em termos de tipos de produtos e de

mercados de destino das exportaccedilotildees ou origem das importaccedilotildees possibilita manter uma

estabilidade na receita e despesas com divisas e uma menor vulnerabilidade agraves variaccedilotildees de

mercados especiacuteficos

O estado da Paraiacuteba exporta e importa produtos manufaturados As exportaccedilotildees estatildeo

concentradas em bens de consumo natildeo duraacuteveis enquanto que as importaccedilotildees se concentram

em bens intermediaacuterios e bens de capital Um grande desafio para o estado eacute intensificar e

manter suas relaccedilotildees comerciais com o resto do mundo pois o mercado internacional estaacute

cada vez mais competitivo A Paraiacuteba sofre com a concorrecircncia na exportaccedilatildeo de bens que

tambeacutem fazem parte da pauta de exportaccedilatildeo de outros estados da regiatildeo e do Brasil como eacute o

caso do estado do Cearaacute que tambeacutem eacute um potencial exportador da mercadoria calccedilados

A presente pesquisa tem por objetivo principal analisar o padratildeo de comeacutercio por meio

da competitividade das exportaccedilotildees e da concentraccedilatildeo da pauta de exportaccedilatildeo e importaccedilatildeo do

estado da Paraiacuteba no periacuteodo de 2000 a 2017 bem como investigar algumas caracteriacutesticas

das relaccedilotildees comerciais bilaterais do estado Para isso foram calculados os Iacutendices de

Vantagem Comparativa (VCR) nas versotildees propostas por Balassa (1965 1979) e Laursen

(1998) a Taxa de Cobertura (TC) o Iacutendice de Herfindall-Hirschmann (IHH) aleacutem da anaacutelise

de fluxos bilaterais e do Iacutendice de Intensidade de Comeacutercio (IIC) com dados do comeacutercio

exterior disponibilizados pelo MDIC

A anaacutelise do comportamento das relaccedilotildees comerciais da Paraiacuteba fornece um conjunto

de informaccedilotildees que compreende a dinacircmica e o funcionamento das relaccedilotildees de comeacutercio

exterior no estado e com isso viabiliza a formulaccedilatildeo de poliacuteticas macroeconocircmicas e

regionais que promovam o desenvolvimento econocircmico local e contribuam tambeacutem para a

Regiatildeo Nordeste Aleacutem do desenvolvimento econocircmico a inserccedilatildeo de um estado no comeacutercio

internacional se reverte em benefiacutecios sociais como o aumento da renda e a implantaccedilatildeo de

empregos assegurando a sociedade melhorias no bem-estar

O trabalho esta dividido aleacutem dessa introduccedilatildeo em mais quatro seccedilotildees Na segunda

seccedilatildeo faz-se uma anaacutelise da balanccedila comercial da Paraiacuteba por meio dos principais produtos

177

exportados e importados Na terceira seccedilatildeo descreve-se a metodologia utilizada pelo artigo

Na quarta seccedilatildeo analisa-se os resultados da pesquisa com base na identificaccedilatildeo dos produtos

que compotildeem os pontos fortes na economia do estado e a intensidade de comeacutercio da Paraiacuteba

com seus principais parceiros comerciais Por fim tem-se as conclusotildees e as referecircncias

2 PRINCIPAIS PRODUTOS EXPORTADOS E IMPORTADOS PELA PARAIacuteBA

A economia paraibana eacute caracterizada pela baixa inserccedilatildeo no comeacutercio internacional

apresentando um coeficiente de abertura comercial em 5 entre 2000 e 2014 As exportaccedilotildees

paraibanas satildeo pouco representativas nas relaccedilotildees comerciais do Brasil e do Nordeste com o

resto do mundo Em termos de participaccedilatildeo as exportaccedilotildees do estado foram de 013 das

exportaccedilotildees do Brasil e de 166 das exportaccedilotildees da Regiatildeo Nordeste entre 2000 e 2017

Aleacutem disso o estado apresenta tambeacutem uma participaccedilatildeo no Produto Interno Bruto (PIB)

relativamente baixa que foi equivalente 084 entre 2000 e 2012 (FONSECA SANTOS E

MACHADO NETO 2015)

Entre 2000 e 2017 as exportaccedilotildees do estado da Paraiacuteba cresceram em 8131 Jaacute as

exportaccedilotildees do Nordeste apresentaram um crescimento maior do que o registrado pelo paiacutes

equivalente a 31631 enquanto que as exportaccedilotildees nacionais cresceram em 29504 No

que tange ao comportamento das importaccedilotildees a Paraiacuteba mostrou um crescimento de

17037 Enquanto que as importaccedilotildees do Nordeste cresceram em 30658 e as importaccedilotildees

do Brasil cresceram em 16962 Isso evidencia que a Paraiacuteba segue uma trajetoacuteria diferente

da nacional cujas importaccedilotildees foram superiores as exportaccedilotildees o que resultou num deacuteficit

consecutivo da balanccedila comercial paraibana desde 2007

Fonseca Santos e Machado Neto (2015) apontam que a produccedilatildeo do estado apresenta

disponibilidade de recursos naturais e de matildeo de obra embora relativamente menos

qualificada Os autores destacam ainda que na deacutecada de 90 o principal produto da pauta de

exportaccedilatildeo era os artefatos tecircxteis que representavam mais de 70 do volume exportado

mas a partir dos anos 2000 houve uma maior variedade da pauta com a presenccedila de novos

produtos Os produtos baacutesicos e manufaturados apresentaram elevada participaccedilatildeo na pauta de

exportaccedilatildeo do estado E a pauta de importaccedilatildeo teve uma participaccedilatildeo maior de bens de capital

e de insumos industriais o que evidencia a demanda da atividade produtiva do estado A

Tabela 1 mostra a participaccedilatildeo dos principais produtos exportados pela Paraiacuteba para os anos

de 2000 e 2017

178

PARTICIPACcedilAtildeO DOS PRINCIPAIS PRODUTOS EXPORTADOS

Produto

2000 2017 2000-2017

Exportaccedilatildeo

US$

Part

()

Exportaccedilatildeo

US$

Part

()

Taxa de

Crescimento

Calccedilados 17004646 2191 74781308 5314 14254

Accediluacutecares 3731781 481 23248363 1652 24345

Mineacuterios 30 000 8223168 584 000

Sucos 1060599 137 9946197 707 41606

Frutas 225143 029 4086592 290 90000

Granito 993246 128 6181852 439 24297

Artefatos tecircxteis 14345307 1848 499088 035 -9811

Cordeacuteis de sisal 8915870 1149 2808424 200 -8259

Peixes 14481408 681 1266588 000 -10000

Aacutelcool 6773335 873 144896 000 -10000

De acordo com a Tabela 1 os calccedilados corresponderam a 2191 das exportaccedilotildees

totais do estado seguido por artefatos tecircxteis que representaram 1848 em 2000 Em 2017

as exportaccedilotildees de calccedilados apresentaram um aumento de 14254 quando se compara com

2000 Poreacutem no iniacutecio do periacuteodo as exportaccedilotildees dessa mercadoria eram voltadas a produccedilatildeo

de calccedilados em couro natural mas a partir de 2007 a produccedilatildeo de calccedilados de borracha se

tornou expressiva dentro do estado Esse crescimento pode ter sido motivado por

investimentos em inovaccedilatildeo e tecnologia que proporcionaram adequaccedilatildeo do produto agraves

exigecircncias do mercado internacional como destaca Barbosa e Temoche (2006)

Jaacute os artefatos tecircxteis decresceram 9811 ao compararmos 2017 com 2000 Os

demais produtos com uma participaccedilatildeo ainda relativamente expressiva em 2000 foram

cordeacuteis de sisal (1149) aacutelcool (873) e peixes (681) Em 2017 foi possiacutevel observar

modificaccedilotildees na pauta de exportaccedilatildeo com a inserccedilatildeo de mineacuterios (584) e o aumento da

participaccedilatildeo de accedilucares (1652) sucos (707) e granito (439)

Os principais produtos da pauta de importaccedilatildeo da Paraiacuteba para o periacuteodo estatildeo

expressos na Tabela 2 Nos anos 2000 a pauta de importaccedilatildeo do estado estava concentrada no

produto algodatildeo que apresentou uma expressiva participaccedilatildeo de 3386 seguido do produto

cereais cuja participaccedilatildeo foi de 848 no ano

Tabela 1 Principais produtos exportados entre 2000 e 2017

Fonte MDIC (2018) Elaboraccedilatildeo proacutepria

179

PARTICIPACcedilAtildeO DOS PRINCIPAIS PRODUTOS IMPORTADOS

Produto

2000 2017 2000-2017

Exportaccedilatildeo

US$

Part

()

Exportaccedilatildeo

US$

Part

()

Taxa de

Crescimento

Cereais 12741202 848 59713147 1470 7335

Malte 7084880 472 41308158 1017 11547

Calccedilados 462400 031 28346456 698 215161

Borrachas 1484521 099 47222007 1162 107374

Combustiacuteveis minerais 3599844 240 45844964 1129 37042

Algodatildeo 50879616 3386 9991890 246 -9273

Reatores nucleares 34341818 023 35183487 866 366522

Carnes - 000 5292515 130 000

Filamentos sinteacuteticos 3677724 245 9881330 243 -082

Alumiacutenio 153840 010 5081806 125 115000

Em 2017 as importaccedilotildees de algodatildeo decresceram 9273 registrando no ano uma

pequena participaccedilatildeo de 246 no total do montante importado pelo estado Jaacute os cereais

apresentaram um crescimento de 7335 quando se compara 2017 com 2000 e se tornaram o

principal produto importado da pauta Em 2017 a classificaccedilatildeo da pauta de importaccedilatildeo foi a

seguinte Cereais (1470) Borrachas (1162) Combustiacuteveis minerais (1129) Malte

(1017) Reatores nucleares (866) Calccedilados (698) Algodatildeo (246) Filamentos

sinteacuteticos (243) Carnes (243) e Alumiacutenio (125)

Relativo ao destino as exportaccedilotildees paraibanas satildeo destinadas para o mundo inteiro os

calccedilados ganharam os mercados da Argentina e dos Estados Unidos que junto com a China

satildeo os principais parceiros comerciais do estado Os artefatos tecircxteis satildeo comercializados com

os Estados Unidos e o Uruguai as frutas (especificamente o mamatildeo) satildeo destinadas a

Portugal Espanha e Alemanha e o granito eacute exportado para a China

3 METODOLOGIA

A metodologia utilizou as informaccedilotildees sobre a balanccedila comercial da Paraiacuteba no

periacuteodo de 2000 a 2017 A fonte de dados foi a Secretaria de Comeacutercio Exterior (SECEX) do

Ministeacuterio da Induacutestria e Comeacutercio Exterior (MIDIC) A desagregaccedilatildeo dos fluxos comerciais

para os produtos especiacuteficos foi feita seguindo a Nomenclatura Comum do MERCOSUL

(NCM) com dois diacutegitos Foram selecionados os dez principais produtos exportados

conforme sua participaccedilatildeo na pauta de exportaccedilatildeo para a investigaccedilatildeo da competitividade19

19

Ver Quadro 1

Tabela 2 Principais produtos importados entre 2000 e 2017

Fonte MDIC (2018) Elaboraccedilatildeo proacutepria

180

Para o estudo da concentraccedilatildeo das pautas foram selecionados trinta e nove (39) produtos da

pauta de exportaccedilatildeo e trinta e dois (32) produtos da pauta de importaccedilatildeo do ano de 2017

Quadro 1 Desagregaccedilatildeo dos fluxos comerciais ndash (NCM) Principais produtos

exportados pela Paraiacuteba entre 2000-2017 CAPIacuteTULO NOMECLATURA

64 Calccedilados polainas e artefatos semelhantes suas partes Calccedilados

17 Accediluacutecares e produtos de confeitaria Accediluacutecares

26 Mineacuterios escoacuterias e cinzas Mineacuterios

20 Preparaccedilotildees de produtos hortiacutecolas de frutas ou de outras partes de

plantas

Sucos

08 Frutas cascas de frutos ciacutetricos e de melotildees Frutas

25 Sal enxofre terras e pedras gesso cal e cimento Granito

63 Outros artefatos tecircxteis confeccionados sortidos artefatos de

mateacuterias tecircxteis calccedilados chapeacuteus e artefatos de uso semelhante

usados trapos

Artefatos tecircxteis

56 Pastas (ouates) feltros e falsos tecidos fios especiais cordeacuteis cordas e

cabos artigos de cordoaria

Cordeacuteis de sisal

03 Peixes e crustaacuteceos moluscos e outros invertebrados aquaacuteticos Peixes

22 Bebidas liacutequidos alcooacutelicos e vinagres Aacutelcool

Fonte MDIC (2018)

Segundo Maia e Barca (2013) os iacutendices de vantagem comparativa revelada

descrevem os padrotildees de comeacutercio que estatildeo tendo lugar na economia mas eles natildeo permitem

dizer se esses padrotildees satildeo oacutetimos ou natildeo O iacutendice de Vantagem Comparativa Revelada

(VCR) apresentado por Balassa (1979) eacute descrito pela Equaccedilatildeo 1

100ii

ii

MX

MXVCR

(1)

onde iX eacute o valor das exportaccedilotildees do estado iM eacute o valor das importaccedilotildees do estado e i eacute o

produto A interpretaccedilatildeo do resultado deste iacutendice estaacute no intervalo de [-100 +100] Assim

quanto mais proacuteximo de +100 for o valor ie maior eacute a vantagem comparativa revelada do

estado para aquele produto e isto significa que natildeo haacute importaccedilotildees Se o valor do ie for mais

proacuteximo de -100 compreende-se que natildeo haacute vantagens comparativas para aquele produto e

que natildeo existem exportaccedilotildees

181

Balassa (1979) apresentou outra versatildeo do iacutendice de VCR que calcula a vantagem

competitiva de um produto tomando como base o Market Share Este iacutendice calcula a

vantagem competitiva de um estado em relaccedilatildeo a uma regiatildeo e pode ser calculado da seguinte

forma

XX

XXIVCR

i

jij

(2)

onde ijX satildeo as exportaccedilotildees do produto i pelo estado j jX satildeo as exportaccedilotildees totais

realizadas pelo estado j iX satildeo as exportaccedilotildees do produto i na regiatildeo e X satildeo as exportaccedilotildees

regionais totais Se o resultado encontrado for maior que um o estado possui vantagem

comparativa se for menor que um o estado natildeo possuiacute vantagem comparativa e se for igual a

um significa que as exportaccedilotildees do setor cresceram na mesma proporccedilatildeo que o crescimento

regional

Laursen (1998) propotildee outro meacutetodo para definir as VCR O autor argumenta que a

medida de Balassa (1979) apresenta amplitudes assimeacutetricas onde o VCR varia de um e

infinito Entretanto o VCR descrito em Laursen (1998) foi normalizado para variar entre zero

e um Este pode ser obtido atraveacutes na Equaccedilatildeo 3

1

1

ij

ij

ijVCR

VCRVCRS (3)

onde o ijVCR eacute a vantagem comparativa revelada do produto i do estado j Nesse caso se

ijVCRS variar entre zero e um diz-se que o estado tem vantagem comparativa naquele

produto Se ijVCRS for igual agrave zero tem a mesma competitividade meacutedia dos demais

exportadores e se variar entre zero e menos um tem desvantagem comparativa

A Taxa de Cobertura (TC) foi calculada para complementar o indicador de VCR e

pode ser definido como sendo a razatildeo entre o valor das exportaccedilotildees e importaccedilotildees de um dado

produto em cada periacuteodo de tempo (Carvalho e Arauacutejo 2008) sua foacutermula eacute dada por

jt

jt

jt

M

XTC

(4)

onde jtTC eacute a taxa de cobertura do j-eacutesimo produto no t-eacutesimo periacuteodo j

tX representa o

valor das exportaccedilotildees do estado para o j-eacutesimo produto e jtM corresponde ao valor das

importaccedilotildees do estado para o j-eacutesimo produto Segundo Hidalgo (1993) os produtos que

182

simultaneamente apresentarem os valores do VCR e TC maiores que um constituem os

pontos fortes no comeacutercio exterior do estado Por outro lado os produtos que

simultaneamente apresentarem os valores do VCR e TC menores que um satildeo considerados os

pontos fracos do comeacutercio exterior do estado

O grau de concentraccedilatildeo ou diversificaccedilatildeo de produtos transacionados nas pautas de

exportaccedilatildeo e importaccedilatildeo foi obtido por meio do iacutendice Herfindahl-Hirschman sua forma de

caacutelculo pode ser feita de acordo com a equaccedilatildeo abaixo

(5)

onde eacute a razatildeo entre o valor exportado (importado) do produto i sobre as exportaccedilotildees

(importaccedilotildees) totais do estado num dado periacuteodo de tempo e eacute o nuacutemero de produtos No

Quadro 2 tem-se a definiccedilatildeo dos padrotildees do grau de concentraccedilatildeo do iacutendice HH elaborada

por Rezende (1994)

Quadro 2 ndash Padrotildees do grau de concentraccedilatildeo pelo Iacutendice HH HHI Classificaccedilatildeo

Inferior a 01 Pouco concentrada

Entre 01 e 018 Concentraccedilatildeo moderada

Superior a 018 Muito concentrada

Fonte Rezende (1994)

A metodologia aborda ainda a anaacutelise dos fluxos bilaterais de comeacutercio por meio da

identificaccedilatildeo da importacircncia relativa de cada um dos principais parceiros comerciais nas

exportaccedilotildees e nas importaccedilotildees do estado da Paraiacuteba Isso pode ser medindo pelo seguinte

indicador

100X

XPCx

j (6)

onde jX satildeo as exportaccedilotildees do estado para o paiacutes j O subscrito j representa o paiacutes que a

Paraiacuteba possui relaccedilotildees comerciais e X representa as exportaccedilotildees totais do estado Quanto

maior for esse indicador maior eacute a importacircncia relativa do destino j das exportaccedilotildees do

estado Esse indicador seraacute calculado analogamente para o fluxo bilateral das importaccedilotildees

isto eacute a importacircncia tanto dos destinos das exportaccedilotildees da Paraiacuteba quanto como origem dos

produtos importados pelo Estado

2

1

i

i

X

xIHH

iX X

n

183

Ainda analisando os fluxos bilaterais a intensidade do comeacutercio bilateral pode ser

obtida por meio do caacutelculo do Iacutendice de Intensidade de Comeacutercio (IIC) que eacute descrito como

w

wj

i

ij

X

X

X

X

IIC (7)

onde ijX satildeo as exportaccedilotildees do estado i para o paiacutes j iX satildeo as exportaccedilotildees totais do estado

i wjX satildeo as exportaccedilotildees da regiatildeo (w) para o paiacutes j e wX satildeo as exportaccedilotildees totais da regiatildeo

para o mundo Quando o valor do iacutendice for maior que um indica uma relaccedilatildeo comercial mais

intensa entre os paiacuteses i e j que entre o paiacutes j e o total mundial (BAUMANN 2010)

4 ANAacuteLISE DAS PAUTAS DE EXPOTACcedilAtildeO E DE IMPORTACcedilAtildeO DO ESTADO

DA PARAIacuteBA DE 2000 A 2017

Os indicadores de vantagem comparativa permitem descrever o padratildeo de comeacutercio de

uma regiatildeo conforme as vantagens comparativas Ou seja identifica os bens comercializados

pela regiatildeo que tem mostrado potencial competitivo no mercado internacional Na Tabela 3

podem-se observar os valores obtidos pelo iacutendice de Vantagem Comparativa Revelada

(VCR) Verifica-se que a Paraiacuteba apresentou vantagem comparativa no comeacutercio dos

principais produtos exportados no periacuteodo de 2000 a 2017 poreacutem o produto sucos foi o uacutenico

que apresentou vantagem durante todo o periacuteodo analisado

184

Tabela 3 Iacutendice de Vantagem Comparativa Revelada (VCR)

Ano Calccedilados Accediluacutecares Mineacuterios Sucos Frutas Granito Artefatos

Tecircxteis

Cordeacuteis

de

sisal

Peixes Aacutelcool

2000 9471 10000 10000 10000 10000 -1040 10000 10000 9374 554

2001 9768 10000 10000 10000 10000 -870 10000 10000 8855 4145

2002 9539 10000 10000 9413 7755 6633 10000 10000 9403 7615

2003 9642 10000 10000 9957 7339 5449 10000 10000 9839 9017

2004 9699 10000 10000 10000 10000 8084 10000 10000 9898 8997

2005 9342 10000 10000 9576 10000 7332 10000 10000 10000 9318

2006 5309 10000 10000 6589 10000 9560 10000 10000 9018 8125

2007 2814 10000 10000 9646 10000 7084 10000 10000 8239 7890

2008 2653 10000 10000 9572 10000 7180 10000 10000 8404 5498

2009 2010 10000 10000 9875 10000 -1356 10000 10000 1154 3165

2010 2060 10000 10000 9873 6957 -1647 10000 10000 -10000 4157

2011 1346 10000 10000 9470 391 -5738 10000 10000 -10000 -7900

2012 -249 10000 10000 5932 312 -4235 10000 10000 -10000 1270

2013 -1123 10000 10000 9492 5081 -453 10000 10000 -10000 -2706

2014 -1421 10000 10000 8400 -273 -348 10000 10000 -10000 -4977

2015 006 10000 10000 4746 2035 1275 10000 10000 8383 5932

2016 2206 10000 10000 5113 2923 1710 10000 10000 -7303 3627

2017 4503 10000 10000 5477 2450 5260 10000 10000 -7153 -9078

Para os calccedilados registrou-se desvantagem apenas entre os anos de 2012 a 2014 As

frutas mostraram vantagem comparativa em todos os anos exceto apenas em 2014 O granito

foi o produto que apresentou desvantagem no maior periacuteodo de tempo Os peixes natildeo

apresentaram participaccedilatildeo nas exportaccedilotildees da Paraiacuteba entre os anos de 2010 a 2014 logo o

VCR equivaleu a -100 o que marca a ausecircncia de exportaccedilotildees em 2015 o estado volta a

exportar o produto mas entre 2016 e 2017 a participaccedilatildeo do produto eacute relativamente pequena

sobre as exportaccedilotildees totais do estado assim o VCR apresentou desvantagem nestes anos O

aacutelcool apresentou vantagem comparativa entre 2000 e 2010 e em seguida apresenta um

comportamento instaacutevel na pauta de exportaccedilatildeo o que justifica a desvantagem obtida nos anos

de 2011 a 2017

Houve vantagem comparativa para os produtos accedilucares mineacuterios artefatos tecircxteis e

cordeacuteis de sisal apesar da ausecircncia de importaccedilotildees durante o periacuteodo analisado Em termos

meacutedios os valores obtidos pelo VCR foram calccedilados (4310) accedilucares (10000) mineacuterios

(10000) sucos (8507) frutas (6387) granito (2438) artefatos tecircxteis (10000) cordeacuteis de

sisal (10000) peixes (1562) e aacutelcool (3036)

Fonte MDIC (2018) Elaborado pelos autores

185

Balassa (1979) apresentou outra versatildeo do iacutendice de VCR que calcula a vantagem

competitiva de um produto tomando como base o Market Share Na Tabela 4 apresenta-se os

resultados obtidos pelo iacutendice de Vantagem Comparativa Revelada (IVCR) Observa-se que

dos principais produtos exportados os calccedilados o granito e os cordeacuteis de sisal apresentaram

vantagem comparativa para todos os anos analisados Os artefatos tecircxteis de 2000 a 2009

apresentaram vantagem comparativa mas a partir de 2010 o produto reduziu drasticamente

sua participaccedilatildeo nas exportaccedilotildees do estado da Paraiacuteba O aacutelcool apresentou vantagem

comparativa exceto em alguns anos de 2004 a 2017

Tabela 4 Iacutendice de Vantagem Comparativa Revelada (IVCR)

Ano Calccedilados Accediluacutecares Mineacuterios Sucos Frutas Granito Artefatos

Tecircxteis

Cordeacuteis

de

sisal

Peixes Aacutelcool

2000 866 075 - 268 006 141 4666 990 556 3313

2001 771 029 - 346 013 131 3826 872 399 2748

2002 636 030 000 067 004 1184 3944 653 256 891

2003 537 029 000 025 008 749 3510 155 220 1024

2004 596 065 000 580 011 1646 4879 480 172 -

2005 650 058 019 458 006 2406 4513 871 153 -

2006 888 122 038 040 007 1784 4776 920 115 282

2007 686 098 009 181 012 1585 5362 297 079 347

2008 1081 068 021 228 030 614 6713 972 039 146

2009 1083 084 140 366 037 347 7305 310 021 116

2010 1055 220 018 193 038 505 - 731 000 402

2011 1461 364 098 182 039 501 - 753 000 724

2012 1754 390 646 081 044 2453 - 583 000 2684

2013 2080 204 2505 690 082 3120 - 703 000 2893

2014 1926 075 1777 1999 095 1577 - 302 000 2120

2015 2242 152 206 811 098 1769 - 277 412 3025

2016 1799 121 - 671 074 489 - 862 045 -

2017 2043 445 4076 984 075 488 - 903 212 -

As frutas apresentaram desvantagem durante todo o periacuteodo analisado Accedilucares e

mineacuterios registraram desvantagem no maior periacuteodo de tempo e sucos e peixes apresentaram

desvantagem em periacuteodos pontuais nos anos de anaacutelise Em termos meacutedios os produtos com

vantagem competitiva segundo o IVCR foram calccedilados (1231) accedilucares (146) mineacuterios

(637) sucos (454) frutas (038) granito (1194) artefatos tecircxteis (4949) cordeacuteis de sisal

(646) peixes (149) e aacutelcool (1480)

Relativo aos dois meacutetodos acima utilizados percebe-se uma grande variaccedilatildeo nos

valores do iacutendice de vantagem comparativa revelada o que dificulta a comparaccedilatildeo entre os

Fonte MDIC (2018) Elaborado pelos autores

186

produtos Devido a isso foi utilizado o iacutendice de vantagem comparativa revelada simeacutetrica

desenvolvido por Laursen (1998) Na Tabela 5 observa-se os valores obtidos pelo iacutendice de

Vantagem Comparativa Revelada (VCRS)

Tabela 5 Iacutendice de Vantagem Comparativa Simeacutetrica (VCRS)

Ano Calccedilados Accediluacutecares Mineacuterios Sucos Frutas Granito Artefatos

Tecircxteis

Cordeacuteis

de

sisal

Peixes Aacutelcool

2000 079 -014 - 046 -089 017 096 082 070 094

2001 077 -055 - 055 -077 013 095 079 060 093

2002 073 -053 -100 -019 -092 084 095 073 044 080

2003 069 -055 -100 -060 -086 076 094 022 038 082

2004 071 -021 -100 071 -081 089 096 066 026 -

2005 073 -027 -068 064 -088 092 096 079 021 -

2006 080 010 -045 -043 -088 089 096 080 007 048

2007 075 -001 -084 029 -079 088 096 050 -012 055

2008 083 -019 -066 039 -053 072 097 081 -044 019

2009 083 -009 017 057 -046 055 097 051 -065 007

2010 083 038 -069 032 -045 067 - 076 -100 060

2011 087 057 -001 029 -044 067 - 077 -100 076

2012 089 059 073 -011 -039 092 - 071 -100 093

2013 091 034 092 075 -010 094 - 075 -100 093

2014 090 -014 089 090 -003 088 - 050 -100 091

2015 091 021 035 078 -001 089 - 047 061 094

2016 089 010 - 074 -015 066 - 079 -038 -

2017 091 063 095 082 -014 066 - 080 036 -

A Tabela 5 mostra que a Paraiacuteba exibiu vantagem comparativa revelada simeacutetrica em

todo o periacuteodo para calccedilados e granito obtendo meacutedias de 082 e 072 respectivamente Os

cordeacuteis de sisal apesar de sofrerem com a forte concorrecircncia das exportaccedilotildees do estado da

Bahia tambeacutem apresentaram vantagem comparativa nas exportaccedilotildees da Paraiacuteba entre 2000 e

2017 cujo valor meacutedio foi de 068 De forma semelhante aos resultados obtidos pelo IVCR

as frutas apresentaram desvantagem comparativa revelada em todos os anos analisados

Accedilucares peixes e mineacuterios registraram desvantagem no maior periacuteodo de tempo Aacutelcool

sucos e artefatos tecircxteis apresentaram vantagem comparativa revelada na maior parte do

periacuteodo

A taxa de cobertura foi calculada na busca de identificar os pontos fortes de uma

economia no comeacutercio internacional Os accediluacutecares mineacuterios artefatos tecircxteis e cordeacuteis de

Sisal natildeo registraram importaccedilotildees no periacuteodo analisado Cabe ressaltar que sucos foi o uacutenico

produto com taxa de cobertura superior a unidade durante todo o periacuteodo analisado A Tabela

Fonte MDIC (2018) Elaborado pelos autores

187

6 apresenta uma anaacutelise comparada entre os indicadores de vantagem comparativa e a taxa de

cobertura de forma a identificar os pontos fortes da economia De forma geral Os produtos

classificados com vantagem comparativa e taxa de cobertura maior que a unidade

correspondem aos pontos fortes ou seja aos produtos mais competitivos do estado no

comeacutercio internacional Hidalgo (2000) define os pontos fortes como sendo aqueles produtos

onde a economia tem soacutelidas oportunidades de inserccedilatildeo e expansatildeo comercial

Tabela 6 Anaacutelise comparada entre os indicadores de Vantagem Comparativa e a Taxa

de Cobertura Produto VCR IVCR VCRS Taxa de

Cobertura

Calccedilados VANTAGEM VANTAGEM VANTAGEM PONTO FORTE

Accedilucares VANTAGEM VANTAGEM VANTAGEM -

Mineacuterios VANTAGEM VANTAGEM DESVANTAGEM -

Sucos VANTAGEM VANTAGEM VANTAGEM PONTO FORTE

Frutas VANTAGEM DESVANTAGEM DESVANTAGEM PONTO FORTE

Granito VANTAGEM VANTAGEM VANTAGEM PONTO FORTE

Artefatos tecircxteis VANTAGEM VANTAGEM VANTAGEM -

Cordeacuteis de Sisal VANTAGEM VANTAGEM VANTAGEM -

Peixes VANTAGEM VANTAGEM DESVANTAGEM PONTO FORTE

Aacutelcool VANTAGEM VANTAGEM VANTAGEM PONTO FORTE

Em resumo os produtos que foram classificados como pontos fortes do estado da

Paraiacuteba satildeo sucos calccedilados frutas granito peixes e aacutelcool Sucos eacute o principal ponto forte

da economia paraibana no comeacutercio internacional pois apresentou vantagem e taxa de

cobertura em todo o periacuteodo Esses produtos apresentam possibilidades de inserccedilatildeo e

expansatildeo comercial dessa forma o estiacutemulo agrave produccedilatildeo e comercializaccedilatildeo desses produtos

podem ocasionar ganhos de comeacutercio para a Paraiacuteba

Analisando o comportamento da balanccedila comercial da Paraiacuteba sob a oacutetica da

concentraccedilatildeo das pautas o iacutendice HH calculado para a pauta de exportaccedilatildeo da Paraiacuteba

apresentou um valor meacutedio de 02513 no periacuteodo que seguindo as classificaccedilotildees do Quadro 2

mostrou-se muito concentrada pois IHH foi maior do 018 No Graacutefico 1 apresenta-se a

evoluccedilatildeo do IHH para o periacuteodo analisado no tocante agrave pauta de exportaccedilatildeo e agrave importaccedilatildeo

paraibana

Considerando a classificaccedilatildeo de Silva (1998) e de Lopes e Marion Filho (2006) a

concentraccedilatildeo tambeacutem pode ser dividida em estaacutetica ou dinacircmica Conforme o Graacutefico 1

verifica-se que a pauta de exportaccedilatildeo paraibana estaacute enquadrada no perfil de concentraccedilatildeo

dinacircmica pois apresentou um crescimento no indicador de concentraccedilatildeo ao longo do tempo

Fonte MDIC (2018) Elaborado pelos autores

188

O iacutendice HH calculado para a pauta de importaccedilatildeo apresentou um valor meacutedio o que de

acordo com a classificaccedilatildeo de Resende (1994) a pauta de importaccedilatildeo eacute considerada pouco

concentrada tendo em vista que esta condiccedilatildeo se aplica sempre que IHH lt 01

Graacutefico 1 Grau de concentraccedilatildeo das pautas de exportaccedilatildeo e importaccedilatildeo paraibana

entre os anos 2000-2017

Fonte MDIC (2018) Elaboraccedilatildeo proacutepria

De acordo com o Graacutefico 1 a pauta de importaccedilatildeo do estado poder ser classificada

como estaacutetica O IHH calculado para as importaccedilotildees mostra que em apenas determinados

periacuteodos no tempo a pauta de importaccedilatildeo pode ser considerada concentrada mais

especificamente para os anos de 2000 e 2004 Para esses anos a importaccedilatildeo de algodatildeo

debulhado e outros tipos de algodatildeo foram os reais motivos que pontualmente tornaram a

pauta de importaccedilatildeo concentrada pois nesses anos a participaccedilatildeo desses produtos na pauta

foi bastante significativa correspondendo a 3363 em 2000 e 2868 em 2004

No caso da pauta de exportaccedilatildeo paraibana devido as mudanccedilas na estrateacutegia de

inserccedilatildeo no mercado internacional por parte da principal empresa de artefatos tecircxteis

exportaccedilatildeo esse uacuteltimo produto tornou-se praticamente irrelevante com participaccedilatildeo de

035 em 2017 que veio se reduzindo desde 2007 Essa reduccedilatildeo teve impacto relevante nas

exportaccedilotildees totais pois comeccedilaram a decrescer a partir de 2007 mostrando uma queda de

4004 entre 2007 e 2015

Entretanto a pauta de exportaccedilatildeo continuou concentrada poreacutem com calccedilados cuja

participaccedilatildeo em 2000 foi de 2191 saltando para 5314 em 2017 Vale ressaltar que uma

pauta comercial com grau significativo de diversificaccedilatildeo representa uma maior oferta de

produtos e com isso um menor risco de perda econocircmica Quando o contraacuterio ocorre ou seja

uma pauta concentrada em um uacutenico produto ou pouco diversificada dependeraacute basicamente

do comportamento e da trajetoacuteria desse(s) produto(s) no mercado internacional

Exportaccedilatildeo Importaccedilatildeo

189

Em 2000 os trecircs principais destinos das exportaccedilotildees paraibanas foram Estados

Unidos Argentina e Espanha Na Tabela 7 apresenta-se a participaccedilatildeo e a intensidade de

comeacutercio do estado da Paraiacuteba com os seus principais parceiros comerciais de destino das

exportaccedilotildees em 2000 e 2017 As evidecircncias mostram que os EUA eacute o principal parceiro

comercial do estado poreacutem sua participaccedilatildeo nas exportaccedilotildees vem reduzindo-se ao longo do

tempo registrando uma queda de 6878 bem como a intensidade do comeacutercio apresentou

um decrescimento quando se compara 2000 a 2017

Tabela 7 Intensidade de comeacutercio Principais parceiros comerciais de destino das

exportaccedilotildees da Paraiacuteba em 2000 e 2017 PRINCIPAIS PARCEIROS COMERCIAIS

Paiacuteses

Destino das

Exportaccedilotildees

2000 Paiacuteses

Destino das

Exportaccedilotildees

2017

Part IC Part IC

EUA 4425 142 EUA 1381 094

Argentina 954 088 Franccedila 1206 670

Espanha 940 466 Austraacutelia 981 -

Ruacutessia 306 093 Argentina 448 038

Paraguai 150 - China 338 017

Alemanha 115 055 Ruacutessia 300 -

Franccedila 111 040 Angola 197 -

Uruguai 048 090 Paraguai 194 278

Portugal 034 026 Espanha 177 063

Austraacutelia 019 - Portugal 120 202

Angola - - Alemanha 116 070

China - - Uruguai 086 -

Observa-se que em 2000 a Espanha foi o paiacutes com maior intensidade de comeacutercio

com o estado seguido dos Estados Unidos Esta relaccedilatildeo de intensidade de comeacutercio entre o

estado e seus principais destinos se daacute sempre que o valor do iacutendice IIC for maior que um

como pode ser visto na Tabela 7 Em 2017 os trecircs principais destinos das exportaccedilotildees

paraibanas foram Estados Unidos Franccedila e Austraacutelia A Franccedila foi o paiacutes com maior

intensidade no comeacutercio com a Paraiacuteba seguida do Paraguai e de Portugal Os demais paiacuteses

apresentaram valores inferiores a um

A Tabela 8 apresenta a participaccedilatildeo e a intensidade de comeacutercio do estado da Paraiacuteba

com os seus principais parceiros comerciais de origem das importaccedilotildees em 2000 e 2017

Relativo ao IIC a Itaacutelia apresentou maior intensidade nas relaccedilotildees comerciais com a Paraiacuteba

em sequecircncia tem-se a Alemanha Franccedila Estados Unidos e Espanha

Fonte MDIC (2018) Elaborado pelos autores

190

As relaccedilotildees entre a Paraiacuteba e o Uruguai se intensificaram e o Uruguai registrou um IIC

de 1143 e suas exportaccedilotildees com destino ao estado cresceram em 67207 quando se

compara 2017 com 2000 A Argentina a China e a Alemanha tambeacutem apresentaram

intensidade de comeacutercio nas relaccedilotildees com a Paraiacuteba

Tabela 8 Intensidade de comeacutercio Principais parceiros comerciais de origem das

importaccedilotildees da Paraiacuteba em 2000 e 2017 PRINCIPAIS PARCEIROS COMERCIAIS

Paiacuteses

Origem das

Importaccedilotildees

2000 Paiacuteses

Origem das

Importaccedilotildees

2017

Part IC Part IC

EUA 1613 130 Argentina 2325 259

Alemanha 1250 402 China 2169 209

Argentina 1195 061 EUA 1231 051

Itaacutelia 805 440 Uruguai 803 1143

Franccedila 425 194 Vietnatilde 764 -

Paraguai 219 - Alemanha 323 132

Espanha 165 128 Meacutexico 170 038

Uruguai 104 - Itaacutelia 067 022

China 078 084 Espanha 055 018

Portugal 025 - Portugal 037 -

Meacutexico - - Franccedila 026 036

Vietnatilde - - Paraguai - -

Fonseca Santos e Machado Neto (2015) analisaram o desempenho e a evoluccedilatildeo das

exportaccedilotildees da Paraiacuteba entre 2000 e 2014 Os autores pesquisaram quais os principais

problemas enfrentados pelas empresas exportadoras do estado por meio de um questionaacuterio

semi-estruturado ao longo de dois anos e a amostra abrangeu trinta empresas Os principais

setores produtivos das empresas pesquisadas foram o tecircxtil o sucroalcooleiro e o sisal

Destaca-se tambeacutem que parte dessas empresas foram atraiacutedas para a Paraiacuteba na deacutecada de

1990 devido aos incentivos fiscais apoacutes a abertura comercial brasileira

Os resultados mostraram que 7931 das empresas satildeo naturais da Paraiacuteba 1379

satildeo nacionais e 689 satildeo estrangeiras As empresas paraibanas apresentam perfil

tradicionalista e de capital fechado Ao longo do tempo muitas empresas fecharam e outras

diminuiacuteram o ritmo exportador onde os autores apontam como causa os baixos incentivos

governamentais e a crise financeira de 2008 Verifica-se que predominante 833 das

empresas satildeo das induacutestrias e apenas 1379 tem controle estrangeiro A maior parte das

empresas foram classificadas como grandes e meacutedias empresas e iniciaram suas atividades

exportadoras apoacutes os anos 2000

Fonte MDIC (2018) Elaborado pelos autores

191

Tabela 9 Valor exportado e importado anualmente pelas empresas paraibanas VOLUME EXPORTADO ANUAL Nordm de empresas pelo valor exportado anual

Acima de US$ 10 milhotildees 1333

De US$ 1 milhatildeo a US$ 10 milhotildees 2666

Ateacute US$ 1 milhatildeo 4666

Ateacute US$ 100 mil 1333

VOLUME IMPORTADO ANUAL Nordm de empresas pelo valor importado anual

Acima de US$ 10 milhotildees 333

De US$ 1 milhatildeo a US$ 10 milhotildees 1666

Ateacute US$ 1 milhatildeo 2666

Ateacute US$ 100 mil 333

Natildeo importa 3666

A Tabela 9 representa os volumes exportados e importados pelas empresas paraibanas

Vale salientar que o volume exportado corresponde ao que a empresa negocia no comeacutercio

internacional e o volume importado satildeo insumos que entram na composiccedilatildeo de seus produtos

A maioria das empresas exportam anualmente valores ateacute US$ 1 milhatildeo correspondendo a

466 da amostra e em seguida tem-se as empresas que chegam a exportar valores entre

US$ 1 milhatildeo e US$ 10 milhotildees correspondendo a 266

Ressalta-se ainda que as principais empresas exportadoras do estado pertencem aos

segmentos tecircxtil e calccediladista como por exemplo a Alpargatas e a Conteminas Essas

empresas juntas obtiveram uma participaccedilatildeo de mais de 50 das exportaccedilotildees da Paraiacuteba na

maior parte dos anos (SILVEIRA 2012) Aleacutem disso a origem das exportaccedilotildees estaacute

localizada em poucos municiacutepios como Joatildeo Pessoa e Campina Grande que satildeo os principais

exportadores e importadores Em geral estes municiacutepios abrigam as principais empresas Os

municiacutepios de Campina Grande de Mamanguape e de Pedras de Fogo apresentaram

crescimento das exportaccedilotildees no periacuteodo entre 2000 e 2014 enquanto que os municiacutepios de

Bayeux de Joatildeo Pessoa e de Santa Rita apresentaram uma tendecircncia instaacutevel do periacuteodo

analisado por FONSECA SANTOS E MACHADO NETO (2015)

Por fim Fonseca Santos e Machado Neto (2015) apresentam os principais entraves e

barreiras para entrada das empresas analisadas em outros mercados e os principais motivos

das oscilaccedilotildees das exportaccedilotildees Esses resultados estatildeo resumidos na Tabela 10 A maioria das

empresas exportadoras do estado apontaram as tarifas como o principal entrave para a entrada

em outros mercados Tambeacutem as crises financeiras no mercado internacional foram

apontadas como o principal motivo das oscilaccedilotildees nas exportaccedilotildees seguido pelas dificuldades

de obtenccedilatildeo de melhores preccedilos no mercado mundial

Fonte Fonseca Santos e Machado Neto (2015)

192

Tabela 10 Principais dificuldades das empresas paraibanas

ENTRAVES A ENTRADA EM OUTROS

MERCADOS

MOTIVOS DAS OSCILACcedilOES DAS

EXPORTACcedilOtildeES

Tarifas Crise Financeira Internacional

Natildeo haacute entraves Dificuldade de obtenccedilatildeo de melhores preccedilos no

mercado internacional

Logiacutesticas Clima

Burocracia Taxa de cacircmbio

Carecircncia de mateacuteria-prima Falta de competitividade

Clima Fechamento fiscal dos EUA

Falta de investimentos do governo Mercado do papel

Crise Financeira Internacional Crise europeia

Questotildees culturais Mercado financeiro

Controle fitossanitaacuterio Aumento da forccedila do mercado interno

Padrotildees de Qualidade Risco de atividade exportadora

Fornecedores imaturos para a exportaccedilatildeo Trabalha apenas com clientes fidelizados

Desconhecimento das regras

Sazonalidade

Sousa et al (2014) discutem o desempenho e os fatores que levam ao encarecimento

das exportaccedilotildees da Paraiacuteba Os autores colocam que um motivo que justifica as dificuldades

na melhoria do preccedilo das exportaccedilotildees eacute a falta de uma estrutura portuaacuteria pois atualmente

as exportaccedilotildees do estado satildeo transportadas atraveacutes dos portos de Suape (PE) Natal (RN) e

Fortaleza (CE) Esses autores discutem o desempenho e os fatores que levam ao

encarecimento das exportaccedilotildees da Paraiacuteba

Portanto o estado da Paraiacuteba apresenta competitividade nas exportaccedilotildees dos principais

produtos da pauta poreacutem o reflexo dessa competitividade ainda tem pouco impacto sobre a

balanccedila comercial no que tange ao volume exportado pelo estado e sua participaccedilatildeo nas

exportaccedilotildees da Regiatildeo Nordeste e do Brasil Tem-se questotildees relevantes para serem

discutidas pelas autoridades governamentais e instituiccedilotildees de forma a estimular setores ou

produccedilatildeo com valor agregado e capazes de participar do comeacutercio internacional Isso leva a

questotildees de logiacutestica infraestrutura e difusatildeo de conhecimentos e informaccedilotildees A pauta de

exportaccedilatildeo mostrou-se concentrada na exportaccedilatildeo de poucos produtos tornando-se vulneraacutevel

ao desempenho do mercado internacional dessas mercadorias Por fim os produtos calccedilados

sucos frutas granito peixes e aacutelcool foram os produtos que participam do comeacutercio externo

da Paraiacuteba poreacutem na sua maioria ligados aos recursos naturais Mesmo assim satildeo produtos

que apresentaram oportunidades de inserccedilatildeo e expansatildeo comercial

Fonte Fonseca Santos e Machado Neto (2015)

193

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A anaacutelise dos iacutendices de vantagens comparativas reveladas com a taxa de cobertura

possibilitaram a identificaccedilatildeo dos setores mais competitivos do estado da Paraiacuteba no comeacutercio

internacional Os iacutendices de vantagem comparativa mostraram um padratildeo de especializaccedilatildeo

em bens manufaturados intensivos em recursos naturais e trabalho no comeacutercio internacional

do estado Os indicadores mostraram que a possui competitividade nas exportaccedilotildees dos

produtos calccedilados sucos granito peixes e aacutelcool Seguindo a definiccedilatildeo de pontos fortes de

Gutman e Miotti (1996) os produtos que mostraram vantagem comparativa tambeacutem se

revelaram como aqueles produtos que a economia da paraiacuteba tem fortes oportunidades de

inserccedilatildeo no comeacutercio externo Portanto o estiacutemulo agrave produccedilatildeo e agrave comercializaccedilatildeo desses

produtos podem ocasionar ganhos de comeacutercio em termos de aumento na produccedilatildeo e

consumo da Paraiacuteba como tambeacutem o aumento da sua participaccedilatildeo no comeacutercio internacional

A anaacutelise do grau de concentraccedilatildeo tambeacutem possibilitou identificar fragilidades nesse

comeacutercio Segundo Baumann (2010) eacute recomendaacutevel que a pauta comercial seja diversificada

tanto em termos de tipos de produtos e de mercados de destino das exportaccedilotildees ou origem das

importaccedilotildees de forma a manter uma estabilidade na receita e despesas com divisas e menor

vulnerabilidade agraves variaccedilotildees de mercados especiacuteficos Entretanto o grau de concentraccedilatildeo das

pautas de exportaccedilatildeo mostrou que a pauta de exportaccedilatildeo eacute concentrada isto eacute existe uma

oferta natildeo diversificada de produtos para exportaccedilatildeo no estado Em contrapartida a pauta de

importaccedilatildeo eacute bastante variada apresentando concentraccedilatildeo pontualmente apenas nos anos

2000 e 2004 devido ao crescimento da participaccedilatildeo dos produtos algodatildeo debulhado e outros

tipos de algodatildeo

Em termos de destino das exportaccedilotildees observou-se que a relaccedilatildeo comercial entre a

Paraiacuteba e a Franccedila vem aumentando no periacuteodo entre 2000 e 2017 O estado apresentou

intensidade de comeacutercio com os Estados Unidos a Franccedila a Espanha o Paraguai e Portugal

no periacuteodo analisado Jaacute as importaccedilotildees da Paraiacuteba mostraram um crescimento na

participaccedilatildeo das relaccedilotildees comerciais entre Paraiacuteba e Argentina quando se compara 2017 com

2000 Os paiacuteses de origem das importaccedilotildees que apresentaram intensidade no comeacutercio com o

estado foram Estados Unidos Alemanha Itaacutelia Franccedila Espanha Argentina China e

Uruguai

De forma geral as empresas da Paraiacuteba apresentam um perfil tradicionalista com

capital fechado apesar de serem classificadas como grandes e meacutedias Essas empresas estatildeo

194

localizadas em poucos municiacutepios constituindo-se como principais exportadores e

importadores As tarifas e as crises financeiras satildeo os principais entraves apontados em

pesquisa sobre o desempenho das exportaccedilotildees e em outros mercados

Conclui-se que o desempenho das exportaccedilotildees do estado reflete o fraco

desenvolvimento da atividade econocircmica local que necessita de poliacuteticas de estiacutemulo agrave

produccedilatildeo e desenvolvimento de uma vocaccedilatildeo exportadora na regiatildeo Como sugestatildeo de

trabalhos futuros sugere-se uma anaacutelise de comeacutercio intraindustrial e interindustrial do

estado uma anaacutelise dos fluxos de comeacutercio com a desagregaccedilatildeo por intensidade tecnoloacutegica

das exportaccedilotildees e importaccedilotildees uma anaacutelise das poliacuteticas comerciais e acordos preferenciais

no comeacutercio internacional

REFEREcircNCIAS

BALASSA B The changing pattern of comparative advantage in manufactured goods

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BARBOSA E T TEMOCHE C A R Inserccedilatildeo das induacutestrias de calccedilados do estado da

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Paraiacuteba e Rio Grande do Norte In Sociedade Brasileira de Economia Administraccedilatildeo e

Sociologia Rural (SOBER) 52ordm Congresso Goiacircnia-GO 2014

196

DESENVOLVIMENTO REGIONAL UMA VISAtildeO SOBRE AS POLIacuteTICAS

PUacuteBLICAS E A URBANIZACcedilAtildeO NA MICRORREGIAtildeO DE IGUATU

ELIWELTON CARLOS SILVA

Graduando em Ciecircncias Econocircmicas-URCA Bolsista-PIBICURCA - A Ru-Urbanizaccedilatildeo na

Microrregiatildeo do Iguatu Uma Visatildeo Holiacutestica Sobre as Politicas Puacuteblicas para o

Desenvolvimento Regional Membro do Centro de Estudos de Desenvolvimento

Socioeconocircmico de Iguatu (CEDESI) pela Universidade Regional do Cariri - URCA E-mail

eliweltoncarlosgmailcom

MARCELO OLIVEIRA DA SILVA

Graduando em Ciecircncias Econocircmicas-URCA Bolsista-PIBICURCA - A Ru-Urbanizaccedilatildeo na

Microrregiatildeo do Iguatu Uma Visatildeo Holiacutestica Sobre as Politicas Puacuteblicas para o

Desenvolvimento Regional E-mail marcelod3silvahotmailcom

EacuteRICO ROBSOM DUARTE DE SOUSA

Economista Docente na Universidade Regional do Cariri ndash URCA Campus Iguatu

Mestrando em Desenvolvimento Regional Sustentaacutevel ndash PRODERUFCA Pesquisador

Membro do Grupo de Estudos em Territorialidades Econocircmicas Desenvolvimento Regional e

Urbano (GETEDRU) da URCA cadastrado no CPNQ Coordenador do projeto -

PIBICURCA - A Ru-Urbanizaccedilatildeo na Microrregiatildeo do Iguatu Uma Visatildeo Holiacutestica Sobre as

Politicas Puacuteblicas para o Desenvolvimento Regional E-mail ericoeconhotmailcom

197

DESENVOLVIMENTO REGIONAL UMA VISAtildeO SOBRE AS POLIacuteTICAS

PUacuteBLICAS E A URBANIZACcedilAtildeO NA MICRORREGIAtildeO DE IGUATU

Resumo

O objetivo desde trabalho eacute fazer uma anaacutelise do acircmbito urbano em toda microrregiatildeo de

Iguatu observado seus principais aspectos e as principais politicas puacuteblicas voltadas para a

zona urbana observando tambeacutem se estatildeo promovendo um verdadeiro desenvolvimento em

cada uma das cinco cidades que compotildeem a microrregiatildeo Este trabalho utilizou de fontes

secundaacuterias provenientes de dados estatiacutesticos e bibliograacuteficos onde atraveacutes de comparaccedilotildees

e anaacutelises foi possiacutevel observar os aspectos econocircmicos e sociais de cada municiacutepio O

processo de urbanizaccedilatildeo vem acontecendo na microrregiatildeo a cada ano aumenta o nuacutemero de

moradores na cidade muito disso vem das poliacuteticas puacuteblicas aplicadas para a industrializaccedilatildeo

grande forte principalmente do municiacutepio de Iguatu mas ainda natildeo resolveu os problemas

como emprego e renda que apresenta nuacutemeros preocupantes em todos os municiacutepios os

iacutendices de extrema pobreza mostram que as politicas voltadas para essa aacuterea natildeo estatildeo sendo

eficaz o caso mais preocupante eacute o municiacutepio de Icoacute

Palavras-chave Urbanizaccedilatildeo Politicas Puacuteblicas Desenvolvimento Regional Microrregiatildeo

de Iguatu

198

1 ndash Introduccedilatildeo

Este trabalho faz parte do projeto de pesquisa intitulado A Ru-Urbanizaccedilatildeo na

Microrregiatildeo do Iguatu Uma Visatildeo Holiacutestica Sobre as Politicas Puacuteblicas para o

Desenvolvimento Regional Com apoio da Proacute-Reitoria de Poacutes-Graduaccedilatildeo e Pesquisa ndash

PRPGP da Universidade Regional do Cariri ndash URCA O processo de urbanizaccedilatildeo tem como

consequecircncia principal o aumento populacional que gera o crescimento das cidades devido

principalmente o ecircxodo rural levado pelos fatores atrativos devido agraves condiccedilotildees estruturais

oferecidas pelo espaccedilo das cidades como a industrializaccedilatildeo Nos paiacuteses pioneiros no processo

de urbanizaccedilatildeo ela ocorre de forma mais lenda e gradativa jaacute em paiacuteses como o Brasil com

uma industrializaccedilatildeo tardia esse processo manifesta de forma mais acelerada gerando

problemas estruturais e principalmente sociais como a falta de saneamento resultando no

aumento das doenccedilas e os altos iacutendices de criminalidade

O Cearaacute desde meados dos anos de 1960 passou a implantar poliacuteticas puacuteblicas de

desenvolvimento buscando tambeacutem melhorar sua infraestrutura para tornar atrativa a

implantaccedilatildeo de investimentos puacuteblicos e privados A partir dos anos 1980 a induacutestria passa a

ser vista como forma de crescimento econocircmico para as demais Regiotildees O que podemos

analisar tambeacutem nos uacuteltimos anos no estado do Cearaacute a um fenocircmeno chamado de

desmetropolizaccedilatildeo onde a um grande crescimento urbano das medias cidades do estado um

processo que no principio aconteceu de forma lenta mais que do primeiro ao segundo dececircnio

do seacuteculo XXI vem atingindo um novo patamar como eacute colocado por SOUZA (2012) o

desenvolvimento urbano do semiaacuterido cearense Uma dessas cidades meacutedias do estado eacute o

municiacutepio de Iguatu cidade polo da microrregiatildeo que eacute composta por outras quatro cidades

Icoacute Oroacutes Quixelocirc e Cedro

O objetivo desde trabalho eacute fazer uma anaacutelise do acircmbito urbano em toda microrregiatildeo

de Iguatu observado seus principais aspectos e se as principais politicas puacuteblicas voltadas para

a cidade observando tambeacutem se estatildeo promovendo um verdadeiro desenvolvimento em cada

uma das cinco cidades que compotildeem a microrregiatildeo

A divisatildeo do trabalho consta aleacutem desta breve introduccedilatildeo os principais conceitos do meio

urbano com as principais teorias que datildeo embasamento ao trabalho os materiais e meacutetodos

199

utilizados resultados e discussotildees com as principais descobertas sobre o objeto de estudo e

por fim as principais conclusotildees pertinentes ao trabalho

2 ndash Principais conceitos do meio urbano

O espaccedilo urbano pode seguir diversos tipos de caracteriacutesticas que o distingue do meio

rural e sua definiccedilatildeo eacute colocada por Correia (1995) ―o conjunto de diferentes usos da terra

justapostos entre si Isso nos diz que o meio urbano eacute dividido entre suas aacutereas especificas

com o centro da cidade onde a um maior fluxo do comercio aacutereas residenciais e industriais

como tambeacutem locais reservados para o lazer e para uma futura expansatildeo do espaccedilo

A urbanizaccedilatildeo acontece devido a especiacuteficos acontecimentos histoacutericos que atraiacuteram

as pessoas ao longo do tempo para um devido espaccedilo geralmente a procura de melhores

condiccedilotildees de vida esses fatores variam de acordo com cada regiatildeo Os atrativos ocorrem pela

atraccedilatildeo da populaccedilatildeo do campo em busca da maior oferta de emprego gerada pela

industrializaccedilatildeo aleacutem da existecircncia de melhores condiccedilotildees de renda e de vida O raacutepido e

faacutecil acesso a produtos bens de consumo e serviccedilos como escolas e hospitais aleacutem de uma

maior interaccedilatildeo cultural tambeacutem pode ser listado como um fator atrativo da urbanizaccedilatildeo Os

paiacuteses desenvolvidos foram os primeiros a urbanizar-se com a maior presenccedila de fatores

atrativos

Com a Revoluccedilatildeo Industrial ao longo do seacuteculo XVIII cidades como Londres e Paris

transformaram-se em grandes centros urbanos poreacutem com uma grande carga de problemas

sociais e miseacuteria acentuada questatildeo que soacute veio a ser atenuada pelas reformas urbanas no

seacuteculo seguinte fatores repulsivos a urbanizaccedilatildeo pela ―expulsatildeo ou afastamento da

populaccedilatildeo do campo para as cidades com uma migraccedilatildeo em massa que chamamos de ecircxodo

rural ou migraccedilatildeo campo-cidade Dentre os fatores repulsivos da urbanizaccedilatildeo podemos citar

a concentraccedilatildeo fundiaacuteria os baixos salaacuterios do campo a mecanizaccedilatildeo das atividades agriacutecolas

com a substituiccedilatildeo da matildeo de obra

Haacute vaacuterias fases do processo de urbanizaccedilatildeo uma delas eacute a preacute-capitalismo como e dito

por Sposito (1988) com primeiramente a formaccedilatildeo de aldeias onde o caccedilador era o principal

liacuteder e posteriormente a monarquia onde o rei assume um papel politico onde se tem uma

200

analise que a cidade tenha se formado por aldeotildees em busca da proteccedilatildeo militar do rei Temos

tambeacutem as cidades que foram formadas a partir dos mercados natildeo tanto como uma questatildeo

econocircmica pois natildeo era um lugar de produccedilatildeo e sim de dominaccedilatildeo onde se destaca o poder

politico e religioso

A constituiccedilatildeo da cidade eacute ao mesmo tempo uma inovaccedilatildeo na teacutecnica de dominaccedilatildeo

e na organizaccedilatildeo da produccedilatildeo Ambos os aspectos do fato urbano satildeo analiticamente

separaacuteveis mas na realidade soem ser intrinsecamente interligados A cidade antes

de tudo concentra gente num ponto do espaccedilo Parte desta gente eacute constituiacuteda por

soldados que representam ponderaacutevel potecircncia militar face agrave populaccedilatildeo rural

esparsamente distribuiacuteda pelo territoacuterio Aleacutem de poder reunir maior nuacutemero de

combatentes a cidade aumenta sua eficiecircncia profissionalizando-os Deste modo a

cidade proporciona agrave classe dominante a possibilidade de ampliar territorialmente

seu domiacutenio ateacute encontrar pela frente um poder armado equivalente isto eacute a esfera

de dominaccedilatildeo de outra cidade Assim a cidade eacute o modo de organizaccedilatildeo espacial

que permite agrave classe dominante maximizar a transformaccedilatildeo do excedente alimentar

natildeo diretamente consumido por ele em poder militar e este em dominaccedilatildeo poliacutetica

(SINGER 1977 p17)

A transiccedilatildeo do feudalismo para o capitalismo onde ocorreu a revoluccedilatildeo industrial soacute

aumentou ainda mais o processo de urbanizaccedilatildeo

A cidade assumiu com o capitalismo uma capacidade de produccedilatildeo que a

diferenciava totalmente do processo da urbanizaccedilatildeo ocorrido na Antiguidade A

cidade romana para nos referirmos agrave organizaccedilatildeo poliacutetica que permitiu maior

urbanizaccedilatildeo no periacuteodo antigo era o locus da gestatildeo poliacutetico-administrativa de

exerciacutecio do poder de moradia das elites dominantes Manjei Castells em seu livro

A questatildeo urbana define a cidade romana assim A cidade portanto natildeo eacute um local

de produccedilatildeo mas de gestatildeo e de domiacutenio ligado agrave primazia social do aparelho

poliacutetico-administrativo (SPOSITO 1988 p44)

O desenvolvimento regional eacute um processo que depende de vaacuterios fatores para

acontecer existem vaacuterios caminhos e teorias que falam sobre esse processo como Hirschman

(1961) mostra que paiacuteses como o Brasil com um desenvolvimento atrasado natildeo acontece de

forma espontacircnea eacute necessaacuterio alguma atitude para criar um cenaacuterio propicio para que

aconteccedila

Um ponto importante sobre o meio urbano para se analisar eacute o desempenho das

chamadas cidades meacutedias definidas como cidades com mais de 100 e 500 mil habitantes que

natildeo fazem parte de regiotildees metropolitanas e que apresentam um relativo grau de avanccedilo em

201

sua economia e infraestrutura como eacute o caso de Iguatu cidade polo da microrregiatildeo e da

mesorregiatildeo Segundo (Andrade Serra 1998) durante os anos de 1950 a 1970 as cidades

com mais de 500 mil habitantes contribuiacuteram com 48 do crescimento urbano nacional jaacute

periacuteodo seguinte de 1970 a 1991 importacircncia dessas grandes metroacutepoles reduz-se agrave metade Jaacute

os centros intermediaacuterios que satildeo os grupos de cidades com populaccedilatildeo entre 50 mil e 500 mil

contribuiacuteram neste uacuteltimo periacuteodo com 49 do acreacutescimo populacional nacional essa

participaccedilatildeo bem diferente do periacuteodo anterior quando estes centros responderam por 19 do

crescimento nacional As cidades pequenas com menos de 50 mil habitantes no periacuteodo

197091 se sobre saiu aos grandes centros uranos em mateacuteria de participaccedilatildeo no crescimento

populacional

Nos anos 70 e 80 no Brasil falar de cidades de porte meacutedio significava falar de

poliacutetica urbana nacional enquanto poliacutetica puacuteblica Atualmente a reduccedilatildeo do papel

do Estado em relaccedilatildeo agrave iniciativa privada eacute uma realidade na qual os objetivos de

eficiecircncia e competitividade estatildeo cada vez mais presentes Assiste-se a mudanccedilas

nos padrotildees de produccedilatildeo consumo e qualidade de vida impulsionadas pelo

redimensionamento das atividades empresariais em termos econocircmicos sociais e

espaciais (ANDRADE SERRA 2001 p36)

As cidades meacutedias brasileiras segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE 2010) formavam ateacute 2010 um grupo de municiacutepios que crescia muito aleacutem da meacutedia

nacional O iacutendice meacutedio de crescimento econocircmico medido pelo Produto Interno Bruto

dessas cidades foi de 153 entre os anos de 2004 e 2010 contra um crescimento de 94 do

PIB nacional no mesmo periacuteodo A oferta de emprego formal tambeacutem conheceu um salto de

70 nas cidades meacutedias

As Poliacuteticas puacuteblicas eacute a junccedilatildeo de programas accedilotildees e atividades que satildeo

desenvolvidas pelo governo nacional estadual ou municipal com a participaccedilatildeo tanto de

oacutergatildeos puacuteblicos como privados As poliacuteticas puacuteblicas correspondem a direitos que satildeo

assegurados constitucionalmente para as pessoas comunidades coisas ou outros bens

materiais ou imateriais

Jaacute no Brasil estudos sobre poliacuteticas puacuteblicas foram realizados soacute recentemente

Nesses estudos ainda esporaacutedicos deu-se ecircnfase ou agrave anaacutelise das estruturas e

202

instituiccedilotildees ou agrave caracterizaccedilatildeo dos processos de negociaccedilatildeo das poliacuteticas setoriais

especiacuteficas Deve-se atentar para o fato de que programas ou poliacuteticas setoriais

foram examinados com respeito a seus efeitos e que esses estudos foram antes de

mais nada de natureza descritiva com graus de complexidade analiacutetica e

metodoloacutegica bastante distintos (FREY 1997 p4)

No Brasil temos um histoacuterico de politicas publicas especificas atreladas ao conceito de

modernidade como mostra Chacon (2007) o que se vecirc durante a sua historia eacute que natildeo temos

grandes mudanccedilas em relaccedilatildeo agrave modernidade e sim na questatildeo de metodologia politica e por

meio disso os poliacuteticos realizam o que eles chamam de modernizaccedilatildeo mais que na verdade o

objetivo eacute disfarccedila situaccedilotildees em tempo de crise Nas ultimas deacutecadas o que se ver eacute um grande

avanccedilo tecnoloacutegico e a diminuiccedilatildeo geograacutefica entre as relaccedilotildees de pessoas algo bastante

ligado ao liberalismo econocircmico com isso o papel do estado eacute cada vez mais questionado por

restringir os processos econocircmicos A ideia de modernidade aliada com o estado veio a partir

do governo de Juscelino Kubitschek e varias dessas accedilotildees puderam beneficiar a regiatildeo

nordeste como a criaccedilatildeo da SUDENE e do banco do nordeste As politicas puacuteblicas no

nordeste sempre voltadas a questatildeo da seca e primeiramente veio aacute questatildeo dos reservatoacuterios

Haacute explicaccedilatildeo racional para a priorizaccedilatildeo das infraestruturas hidraacuteulicas no iniacutecio

das poliacuteticas de secas sem aacutegua natildeo haacute civilizaccedilatildeo e nas grandes secas os rios do

Nordeste setentrional podiam passar dezoito meses ou mesmo trinta meses

totalmente secos Eacute impossiacutevel uma sociedade moderna se desenvolver em um

ambiente hidrologicamente tatildeo desfavoraacutevel como esse A soluccedilatildeo adotada no

Brasil como no oeste dos Estados Unidos e norte da Austraacutelia para compensar a

adversidade climaacutetica foram os accediludes (CAMPOS 2014 p13)

Segundo Chacon (2007) no Cearaacute tivemos a era dos coroneacuteis os coroneacuteis eram considerados

como os reprodutores do sertatildeo donos das fazendas de criaccedilatildeo de gado e plantaccedilatildeo de accediluacutecar

ele tinham aleacutem das terras um grande poder politico e social Essa realidade permanece ate os

anos 30 onde um discurso politico moralizador atrelado agrave modernidade faz com que os

coroneacuteis mudem seus meacutetodos e a partir dos anos 60 esse movimento comeccedila no Cearaacute onde

a atenccedilatildeo dos coroneacuteis se volta para as cidades visando agrave urbanizaccedilatildeo e a produccedilatildeo

Poreacutem a urbanizaccedilatildeo natildeo significou de fato o fim dos coroneacuteis ou melhor do

modelo de subordinaccedilatildeo poliacutetica por eles estabelecido O que ocorreu foi que os

velhos coroneacuteis rurais se adaptaram aos novos tempos se mudaram para as cidades e

criaram novas formas de dominaccedilatildeo em clientelismo protagonizando eles proacuteprios o

203

processo de modernizaccedilatildeo que levaria agrave sua substituiccedilatildeo futura pelos novos coroneacuteis

urbanos os empresaacuterios (CHACON 2007 p89)

O discurso de modernidade serviu apenas para maquiar os problemas sociais que o

estado passa o que foi proposto natildeo foi comprido e o Cearaacute mostra uma realidade bem

diferente do aparece na miacutedia O que aconteceu foi o chamado ―boom da industrializaccedilatildeo

com varias medidas de isenccedilatildeo fiscal concessotildees e a chamada guerra fiscal

O que podemos analisar tambeacutem nos uacuteltimos anos no estado do Cearaacute a um fenocircmeno

chamado de desmetropolizaccedilatildeo onde a um grande crescimento urbano das medias cidades do

estado um processo que no principio aconteceu de forma lenta mais que do primeiro ao

segundo dececircnio do seacuteculo XXI vem atingindo um novo patamar como eacute colocado por Souza

(2012) o desenvolvimento urbano do semiaacuterido cearense Hoje uma nova dinacircmica

socioespacial com hierarquias urbanas reestruturadas e fluxo originado em cidades pequenas e

meacutedias menos dependentes da centralidade da metroacutepole Fortaleza

3 ndash Material e Meacutetodos

O objetivo desde trabalho eacute analisar o acircmbito urbano em toda microrregiatildeo de Iguatu

observado seus principais aspectos e se as principais politicas puacuteblicas voltadas para a cidade

estatildeo promovendo um verdadeiro desenvolvimento em cada uma das cinco cidades que

compotildeem a microrregiatildeo Observar e avaliar tais impactos socioeconocircmicos resultantes

dessas politicas e possiacuteveis medidas que possibilitem estimular esse desenvolvimento

A coleta dos dados foi feito por meio de fontes bibliograacuteficas onde segundo GIL

(2008) eacute originado de material jaacute elaborado constituiacutedo principalmente de livros artigos

cientiacuteficos revistas sites Outras fontes como documentos satildeo utilizados e se assemelham agrave

pesquisa bibliograacutefica Mas que trata de materiais que natildeo receberam ainda nenhum

tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da

pesquisa Para Mueller (2000) o uso de fontes segundarias facilita a analise e o conhecimento

dos dados que estatildeo dispersos nas fontes primarias filtrando e organizando de maneira

definitiva de acordo com a finalidade do trabalho

204

Meacutetodo de investigaccedilatildeo cientiacutefica focado no trabalho parte da utilizaccedilatildeo do meacutetodo

qualitativo que para Neves (1996) em um conjunto de diferentes teacutecnicas de interpretaccedilatildeo que

tem por finalidade descrever e entender as partes de um sistema complexo de significados

Onde as respostas natildeo satildeo objetivas e o propoacutesito natildeo eacute contabilizar quantidades como

resultado mas sim conseguir compreender o comportamento do acircmbito urbano na

microrregiatildeo de Iguatu com base em autores renomados na questatildeo do desenvolvimento

regional e urbano fazendo uma analise de acordo com os seus conceitos para melhor entender

as particularidades da regiatildeo

Todas as informaccedilotildees que foram coletadas no trabalho adquiridas por meios dessas

fontes que por sua vez originadas de fontes primarias disponibilizadas por instituiccedilotildees como

IBGE e IPECE Os dados fornecidos por essas instituiccedilotildees servem para facilitar o andamento

do trabalho e satildeo necessaacuterios para que se ocorra um estudo completo sobre a microrregiatildeo

ver a suas principais caracteriacutesticas analisando nuacutemeros como populaccedilatildeo residente

distribuiccedilatildeo de renda emprego e saneamento questotildees importantes para entender as politicas

puacuteblicas aplicadas nos municiacutepios e seus impactos

4 ndash Resultado e discursotildees

O aumento da urbanizaccedilatildeo no Cearaacute iniciou de forma acentuada no seacuteculo XVIII que

comeccedilou no interior mas rapidamente se alocou para parte litoracircnea do estado Fortaleza e

seu forte papel no comercio a partir da segunda metade do seacuteculo o algodatildeo fez com que

alguns centros urbanos no sertatildeo do Cearaacute se desenvolvessem como a microrregiatildeo de Iguatu

A distribuiccedilatildeo populacional no estado se viu concentrada na capital nos uacuteltimos dois

seacuteculos fatores primordiais como a seca e a extrema pobreza fizeram com que houvesse uma

migraccedilatildeo das cidades do sertatildeo para Fortaleza ao analisar os aspectos gerais da zona urbana

na microrregiatildeo de Iguatu segundo IBGE (2010) notamos um esperado crescimento na

densidade demograacutefica de habitantes em todas as cinco cidades por km2 vaacuterios fatores

levaram a esse aumento como o ecircxodo rural a busca por melhores condiccedilotildees de vida em

questatildeo de emprego e renda nos centros urbanos Como eacute tiacutepico da regiatildeo a seca tambeacutem

influencia nessa migraccedilatildeo como podemos observar no graacutefico abaixo a cidade com maior

iacutendice de urbanizaccedilatildeo eacute Iguatu com 7734 seguida por Oroacutes Cedro Icoacute e Quixelocirc Iguatu

cidade polo tambeacutem tem o maior numero populacional Segundo algumas estimativas

205

realizadas pelo IBGE o nuacutemero total de pessoas para o ano de 2015 deve estaacute em torno de

101386 habitantes em todo municiacutepio

Graacutefico 1 - Populaccedilatildeo Residente Ru-Urbano e a Taxa de Urbanizaccedilatildeo

Fonte Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) ndash Censo Demograacutefico 2010

O graacutefico 1 mostra que trecircs dos cinco municiacutepios da microrregiatildeo apresentam uma

concentraccedilatildeo maior de pessoas na zona urbana mais nos outros dois essa situaccedilatildeo se mostra

inversa Icoacute tem um total de 34993 moradores residentes na zona rural maior ateacute que o

nuacutemero de pessoas na mesma zona em Iguatu cidade polo com maior nuacutemero de habitantes

na regiatildeo O municiacutepio de Quixelocirc apresenta cerca de 6714 da sua populaccedilatildeo morando no

campo Esses dados nos mostra que mesmo sendo cidades vizinhas em uma mesma

microrregiatildeo a uma diferenccedila na distribuiccedilatildeo populacional e tambeacutem tem que ter diferenccedilas

no momento da aplicaccedilatildeo de politicas puacuteblicas

Destacando tambeacutem o numero de domiciacutelios por cada cidade no ano de 2010 segundo

IBGE (2010) Iguatu conta com um total de 28828 residecircncias particulares dessas 22366 estaacute

localizado na zona urbana com uma meacutedia de 333 moradores Oroacutes com um numero total de

residecircncias na zona urbana a 4998 com uma media de 321 moradores em Cedro o nuacutemero

de domiciacutelios ocupados na zona urbana chega a 4615 com uma media de 328 por residecircncia

Icoacute na zona urbana a um total de 8859 e uma media de moradores de 344 e por fim Quixelocirc

Iguatu Oroacutes Quixelocirc Icoacute Cedro

Urbano 74627 16023 4929 30463 15159

Rural 21868 5366 10071 34993 9368

Taxa de urbanizaccedilatildeo() 7734 7491 3286 4654 6181

0

10000

20000

30000

40000

50000

60000

70000

80000

206

com 1547 e uma media de 318 moradores por residecircncia todos os municiacutepios da

microrregiatildeo ficaram abaixo da meacutedia do estado em numero de pessoas por residecircncia

Segundo Macedo Lima Juacutenior e Morais (2012) o governo do Cearaacute a partir de meados

dos anos de 1980 passou por alteraccedilotildees institucionais nos acircmbitos administrativo patrimonial

e financeiro decorrentes de uma transformaccedilatildeo poliacutetica que possibilitou a ascensatildeo de uma

nova classe dirigente composta por um grupo de empresaacuterios com raiacutezes e interesses

aprofundado no Cearaacute e formado na marca do processo de modernizaccedilatildeo econocircmica O

objetivo do governo de Tasso Jereissati na eacutepoca era promover atraveacutes de uma nova politica

de criaccedilatildeo de trabalho para por fim no que ele considerava como um circulo vicioso entre

desemprego miseacuteria e necessidades primarias Promover uma descentralizaccedilatildeo da industrial

no estado por meio de recursos como o Fundo de Desenvolvimento Industrial ndash FDI

Os incentivos fiscais foi uma das maneiras que os governos encontraram para

desconcentraccedilatildeo da induacutestria no Cearaacute os criteacuterios para concessatildeo dos incentivos

beneficiando induacutestrias que se localizassem a uma maior distacircncia da RMF procurando

desenvolver aglomeraccedilotildees produtivas em vaacuterias partes do estado como na microrregiatildeo de

Iguatu ou ainda elencando criteacuterios como nuacutemero de empregos valores investidos municiacutepio

de localizaccedilatildeo que elevariam o valor do incentivo e do prazo para induacutestrias beneficiadas Na

tabela 1 abaixo podemos observar as induacutestrias ativas nas cinco cidades da microrregiatildeo de

Iguatu no ano de 2015

Tabela 1 ndash Empresas Industriais Ativas na Microrregiatildeo de Iguatu ndash 2015

Extrativa Mineral Construccedilatildeo Civil Utilidade Puacuteblica Transformaccedilatildeo Total

Iguatu 7 40 4 449 500

Icoacute 4 13 0 111 128

Quixelocirc 0 0 0 25 25

Oroacutes 2 0 1 32 35

Cedro 0 4 0 25 29

Empresas Industriais AtivasMuniciacutepios

Fonte

Secretaria da Fazenda (SEFAZ) ndash 2015

207

Podemos analisar na tabela 1 que no ano de 2015 Iguatu tem um nuacutemero maior de

empresas industriais ativas em relaccedilatildeo aos outros municiacutepios a induacutestria calccediladista que tem o

Cearaacute como maior produtor nordestino de calccedilados tambeacutem faz parte desse cenaacuterio

Iguatuense em busca de forccedila de trabalho barata e incentivos fiscais formaram o que atraiu

para regiatildeo uma importante empresa no setor que gerou emprego e renda para a populaccedilatildeo

natildeo soacute de Iguatu mais das outras cidades vizinhas onde trabalhadores se deslocam para a

cidade polo da microrregiatildeo

O Cearaacute maior produtor nordestino de calccedilados aumentou significativamente sua

participaccedilatildeo nas exportaccedilotildees do paiacutes passando de 11 do total nacional exportado

em 1989para 138 em 2008 Observa-se neste estado em particular em seu

segmento calccediladista um forte vieacutes exportador que indica uma forma de apropriaccedilatildeo

do territoacuterio com vistas a uma maior articulaccedilatildeo local-global promovida pelas

grandes empresas do setor a partir da institucionalidade constituiacuteda para aumentar a

atratividade do territoacuterio cearense ao circuito de valorizaccedilatildeo do capital Vale

destacar que majoritariamente esta produccedilatildeo exportadora encontra-se no interior do

estado seja no setor calccediladista seja na fruticultura contribuindo para a

diversificaccedilatildeo do terciaacuterio natildeo metropolitano (MACEDO LIMA JUacuteNIOR

MORAIS 2012 p16)

Vemos a induacutestria de transformaccedilatildeo se sobressair sobre os demais setores nessas

cidades Quixelocirc eacute mais dependente ainda desse setor pois natildeo tem mais nenhum dos outros

ativos O segundo setor mais incidente nos municiacutepios eacute a construccedilatildeo civil seguido pela

extrativa mineral e a utilidade publica essa ultima soacute aparece em Iguatu e Oroacutes Podemos

observar a partir desses dados a falta das politicas publicas principalmente nas cidades

segundarias da microrregiatildeo em todos os setores exceto na induacutestria de transformaccedilatildeo A

implantaccedilatildeo de empresas desse meio nessas cidades levaria um aumento de emprego e renda

para populaccedilatildeo Um grande problema em potencial ocorre nas cidades de Quixelocirc e Oroacutes que

eacute a falta de empresas no setor da construccedilatildeo civil no Brasil eacute um setor com grande capacidade

de desenvolvimento da economia dado a grande importacircncia para o crescimento do PIB e a

forte absorccedilatildeo de matildeo de obra com um amplo mercado de produtos e de serviccedilos

208

Tabela 2 - Nuacutemero de Empregos Formais na Microrregiatildeo de Iguatu ndash 2015

Iguatu Icoacute Quixelocirc Oroacutes Cedro

Total das Atividades 14751 5427 950 902 1418

Extratividade Mineral 27 24 0 0 0

Induacutestria de Transformaccedilatildeo 3552 174 18 9 21

Serviccedilos Industriais de Utilidade Puacuteblica 123 75 0 0 0

Construccedilatildeo Civil 230 102 0 0 5

Comeacutercio 4654 901 140 147 281

Serviccedilos 2480 708 23 71 131

Administraccedilatildeo Puacuteblica 3461 3433 764 669 975

Agropecuaacuteria 224 10 5 6 5

DiscriminaccedilatildeoMunicipiacuteos

Fonte Ministeacuterio do Trabalho (MTb) ndash RAIS ndash 2015

Como podemos observar na tabela 2 o municiacutepio de Iguatu tem um numero maior de

empregos formais dentre as outras cidades da microrregiatildeo com 14751 dividido entre os

setores de extratividade mineral induacutestria de transformaccedilatildeo serviccedilos industriais de utilidade

puacuteblica construccedilatildeo civil comeacutercio serviccedilos administraccedilatildeo puacuteblica e agropecuaacuteria

O problema que segue eacute o baixo nuacutemero de empregos formais nos municiacutepios da

microrregiatildeo setores importantes para o desenvolvimento como a construccedilatildeo civil que chega

a zero nos municiacutepios de Quixelocirc e Oroacutes o fato de natildeo apresentar nenhum emprego formal

natildeo quer dizer que natildeo exista esse setor nessas cidades o trabalho ocorre de maneira informal

A participaccedilatildeo da construccedilatildeo civil para as cidades e a dimensatildeo de seu impacto social

ambiental e econocircmico pode contribuir positivamente com a sociedade urbana natildeo apenas

construindo mas tambeacutem servindo de exemplo de um novo comportamento com a adoccedilatildeo de

inovaccedilotildees nos projeto e tambeacutem nos sistemas construtivos Em acircmbito nacional na

informalidade esses trabalhadores deixam de recolher R$ 515 milhotildees por mecircs agrave Previdecircncia

Social ou um pouco mais de R$ 6 bilhotildees por ano de acordo com a conclusatildeo do estudo

publicado pelo Foacuterum de Accedilatildeo Social e Cidadania (FASC) da Cacircmara Brasileira da Induacutestria

da Construccedilatildeo (CBIC) em correalizaccedilatildeo com o SESI Nacional Aleacutem do prejuiacutezo aos

trabalhadores a informalidade significa concorrecircncia desigual e injusta com as empresas

representadas pela CBIC que atuam na legalidade e respeitam a legislaccedilatildeo trabalhista como eacute

o caso de Quixelocirc e Oroacutes porque as empresas optam em continuar a atuar na informalidade

onde os custos satildeo muito menores os outros municiacutepios da regiatildeo jaacute apresentam trabalho

209

formal nesse setor mais ainda um nuacutemero muito baixo para a suas capacidades Segundo a

Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social ndash STDS (2016) o setor da construccedilatildeo civil eacute

o que mais desemprega no estado do Cearaacute com 1770 postos de trabalho eliminados ate

junho de 2016 Por outro lado o setor que mais gerou emprego foi o setor de serviccedilos com 815

empregos gerados

O desemprego e a pobreza satildeo dois dos mais graves problemas econocircmicos No

primeiro caso trata-se de uma questatildeo muito seacuteria mesmo nos paiacuteses desenvolvidos

que a partir das transformaccedilotildees do mundo do trabalho iniciadas nos anos 70

passaram a conviver com taxas de desemprego muito elevadas Nos paiacuteses em

desenvolvimento o desemprego alia-se ao subemprego muitos paiacuteses apesar de

terem elevado significativamente a renda per capita convivem com altas taxas de

pobreza e satildeo incapazes de prover as necessidades baacutesicas a parcelas da populaccedilatildeo

(GUIMARAtildeES 2011 P2)

O Brasil em funccedilatildeo de seu histoacuterico de colonizaccedilatildeo desenvolvimento tardio e

dependecircncia econocircmica aleacutem dos problemas internos antigos e recentes possui uma grande

quantidade de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza Assim por representar um

paiacutes subdesenvolvido emergente a pobreza no Brasil apresenta elevados patamares Mesmo

com as politicas sociais que melhoraram a situaccedilatildeo do Brasil com o carro-chefe atual das

poliacuteticas puacuteblicas de combate agrave fome no Brasil o programa Bolsa Famiacutelia criado em

2003 Segundo o Ministeacuterio de Desenvolvimento de Combate agrave Fome (2011) existiam no

Brasil cerca de 1627 milhotildees de pessoas em condiccedilatildeo de ―extrema pobreza ou seja com

uma renda familiar mensal abaixo dos R$7000 por pessoa

O problema da desigualdade geograacutefica da pobreza eacute um tema que tem gerado

grande preocupaccedilatildeo em vaacuterios paiacuteses e regiotildees especialmente entre os paiacuteses

subdesenvolvidos e os que se encontram em desenvolvimento Anselin (1988) ao

falar de heterogeneidade da pobreza destaca que a populaccedilatildeo pobre encontra-se

concentrada em algumas aacutereas territoriais especiacuteficas Vale lembrar que a pobreza eacute

um fenocircmeno multidimensional e complexo motivo pelo qual existem muacuteltiplas

definiccedilotildees e formas de avaliaacute-la (MEDEIROS NETO 2010 P6)

Segundo IBGE (2010) o estado do Cearaacute apresenta cerca de 1502924 pessoas

vivem em extrema pobreza com uma renda mensal abaixo de 70 reais com base nesse

paracircmetro 178 da populaccedilatildeo cearense foi classificada em situaccedilatildeo de miseacuteria Dentre os

210

estados brasileiros o Cearaacute fica em terceiro com o maior numero de pessoas vivendo na

miseacuteria Na deacutecada passada esses nuacutemeros eram ainda piores

O indicador mais contundente eacute a porcentagem de pessoas consideradas pobres no

Estado que em 2003 ainda representava 543 da populaccedilatildeo (em 1991 o percentual

de pobres chegava a 68 da populaccedilatildeo segundo dados do Atlas de

Desenvolvimento Humano de 2003) Reforccedilando o quadro de pobreza os dados

sobre a porcentagem da populaccedilatildeo ocupada que recebe menos de dois salaacuterios

miacutenimos mostram que mais de 67 da populaccedilatildeo ocupada encontra-se nesse

patamar o que eacute agravado pelo fato de os 50 mais pobres soacute apropriarem 147

da renda gerada na economia (CHACON 2007 p146147)

Graacutefico 2 ndash Populaccedilatildeo Extremamente Pobre nos Municiacutepios da Microrregiatildeo de Iguatu

ndash 2010

Fonte Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) ndash Censo Demograacutefico 2010

Como podemos observar no graacutefico 2 o municiacutepio que apresenta o maior nuacutemero de

pessoas vivendo em extrema pobreza eacute Icoacute com 17731 pessoas A maioria dos municiacutepios

acima mostra um nuacutemero maior de pessoas nessa situaccedilatildeo na zona rural a uacutenica exceccedilatildeo eacute o

municiacutepio de Oroacutes O que acontece as caracteriacutesticas entre pobreza rural e urbana eacute bastante

diferente No setor primaacuterio grande parcela da populaccedilatildeo ativa natildeo tem rendimentos pois os

filhos jovens e as mulheres trabalham como ajudantes do chefe de famiacutelia na proacutepria terra ou

nas colheitas das fazendas Na aacuterea urbana a totalidade da populaccedilatildeo ativa tem ganhos e por

esse motivo a linha de pobreza eacute definida em patamares de rendimento superiores aos da

zona rural No entanto o custo de vida nas cidades eacute mais elevado pois todos os itens que

Iguatu Oroacutes Quixelocirc Icoacute Cedro

Total 12676 4468 4637 17731 6539

Urbano 6268 3095 917 4202 2886

Rural 6408 1373 3720 13529 3653

02000400060008000

100001200014000160001800020000

211

compotildeem as necessidades indispensaacuteveis para o indiviacuteduo exigem gastos monetaacuterios Na aacuterea

rural muitas vezes roccedilas familiares fornecem uma parte dos produtos de alimentaccedilatildeo e de

modo geral os custos com habitaccedilatildeo e transportes satildeo reduzidos

De fato o que se espera dada a natureza do problema eacute que uma poliacutetica seja capaz

de influenciar as carecircncias urbanas e rurais de forma homogecircnea Contudo tendo

seu cerne em questotildees distintas o estado de privaccedilatildeo rural (urbano) de um

municiacutepio pode vir a ser menos influenciado quando accedilatildeo de combate agrave pobreza

possua elementos mais evidenciados no cenaacuterio urbano (rural) Neste sentido seria

interessante conhecer um pouco mais da relaccedilatildeo existente entre tais cenaacuterios para

que se possa visualizar se a poliacutetica de combate agrave pobreza contempla caracteriacutesticas

que culminem numa uniformidade da accedilatildeo independente do espaccedilo (COSTA 2016

P2)

Segundo o Iacutendice FIRJAN de Desenvolvimento Municipal (IFDM) acompanha o

desenvolvimento socioeconocircmico dos mais de todos os municiacutepios brasileiros com base nas

trecircs aacutereas fundamentais ao desenvolvimento humano Educaccedilatildeo Sauacutede Emprego e Renda O

iacutendice foi criado em 2008 e possui periodicidade anual eacute calculado exclusivamente com

estatiacutesticas puacuteblicas oficiais Sua metodologia permite tanto analisar o retrato anual dos

municiacutepios quanto agrave evoluccedilatildeo ao longo dos anos A leitura dos resultados eacute bastante simples

o IFDM varia de 0 a 1 sendo que quanto mais proacuteximo de 1 maior o desenvolvimento da

localidade Para facilitar a anaacutelise satildeo estabelecidos valores de referecircncia e definidos quatro

conceitos

Tabela 3 - Iacutendice FIRJAN de Desenvolvimento Municipal dos Municiacutepios da

Microrregiatildeo de Iguatu no Ano de 2013

IFDM e Aacutereas de desenvolvimento Municiacutepios

Iguatu Icoacute Oroacutes Quixelocirc Cedro

IFDM 07687 06532 06224 06042 05562

Educaccedilatildeo 07549 06423 07278 07513 06659

Sauacutede 09473 08050 08464 06600 06316

Emprego e Renda 06039 05122 02930 04013 03712

Fonte FIRJAN ndash 2013

212

Segundo o iacutendice FIRJAN (2013) como pode ser observadas na tabela 3 quatro

cidades da microrregiatildeo de Iguatu apresentam um nuacutemero moderado de desenvolvimento com

exceccedilatildeo do municiacutepio de Cedro que apresenta um valor dentro dos paracircmetros como regular

abaixo das outras cidades como esperado o municiacutepio mais desenvolvido eacute Iguatu Destaque

para os nuacutemeros da sauacutede dentre os trecircs municiacutepios mais populosos Iguatu Icoacute e Oroacutes com

um alto estagio de desenvolvimento seguindo os nuacutemeros do estado do Cearaacute

Entre as aacutereas de desenvolvimento do IFDM Sauacutede eacute a vertente na qual o Cearaacute

possui o maior nuacutemero de municiacutepios em alto grau de desenvolvimento 57 (310

do total) Haacute ainda 117 cidades (636) com IFDM Sauacutede moderado 10 (54)

com conceito regular e nenhuma com baixo desenvolvimento Na comparaccedilatildeo com a

mediccedilatildeo anterior 582 dos municiacutepios cearenses registraram crescimento no

indicador de Sauacutede devido principalmente a avanccedilos no acompanhamento preacute-

natal Com pontuaccedilatildeo acima dos 09 pontos os municiacutepios de Iguatu (09473)

Itarema (09391) Ibicuitinga (09256) Potiretama (09196) Itaiccedilaba (09140)

General Sampaio (09077) e Pentecoste (09056) satildeo os destaques cearenses no

IFDM Sauacutede (FIRJAN 2015)

Na aacuterea da educaccedilatildeo todos os municiacutepios apresentaram desenvolvimento moderado

que segundo o FIRJAN (2015) O IFDM Educaccedilatildeo foi a vertente na qual os municiacutepios do

estado mais avanccedilaram 161 cidades cearenses que eacute cerca de 875 evoluiacuteram nessa aacuterea

incentivadas principalmente por melhorias no IDEB que se elevou em cerca de 80 dos

casos Aleacutem disso dois municiacutepios cearenses figuraram entre as 500 maiores notas do IFDM

Educaccedilatildeo do paiacutes O grande problema ao analisar a tabela 3 fica com a questatildeo do emprego e

da renda onde os valores apresentados satildeo de baixo estado de desenvolvimento a regular o

municiacutepio de Oroacutes apresenta o pior resultado Como foi visto anteriormente tanto a cidade de

Oroacutes quanto Quixelocirc apresenta um grande problema com trabalho informal alguns setores

importantes como a construccedilatildeo civil estatildeo operando mas natildeo de maneira formal

O que observamos eacute uma falta de planejamento urbano nos municiacutepios da

microrregiatildeo de Iguatu na visatildeo de muitos autores que entendem de maneira bastante

comum como sendo um conjunto de propostas que antecedem a implantaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas voltadas para a melhoria da qualidade de vida nas cidades Concordando com essas

afirmaccedilotildees Souza (2001) define o planejamento afirmando que ele eacute a ―preparaccedilatildeo para a

gestatildeo futura buscando-se evitar ou minimizar problemas e ampliar margens de manobra

Para esse autor eacute preciso que a tarefa de planejar seja precedida de um ―esforccedilo de

213

imaginaccedilatildeo do futuro ou seja pensar o planejamento como um instrumento que antecede a

elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas futuras e que sejam viaacuteveis (SOUZA 2001 p

46-47)

Segundo FERRARI (2004) o Planejamento Urbano no Brasil foi regularizado em

instrumentos urbaniacutesticos apresentando nos Planos Diretores e Leis de Uso e Ocupaccedilatildeo do

Solo seus representantes que se tornaram alternativas mais que perfeitas para resolver os

problemas sociais Contudo muitos desses planos soacute tiveram a pretensatildeo de guiar a orientaccedilatildeo

ao ambiente construiacutedo natildeo enfrentando as questotildees sociais

Existe uma ampla legislaccedilatildeo urbaniacutestica que seguindo os planos urbanos oferece aos

governos um grande nuacutemero de possibilidades em promover o melhoramento das cidades com

politicas puacuteblicas especificas como a ampliaccedilatildeo de recursos regularizaccedilatildeo do mercado

regularizaccedilatildeo de aacutereas privadas ocupadas irregularmente preservar o patrimocircnio cultural

arquitetocircnico urbano e ambiental e promover o desenvolvimento sustentaacutevel como eacute

afirmado por FERRARI (2004) Contudo os planos e a centralizaccedilatildeo juntamente com as

legislaccedilotildees na conduccedilatildeo da discussatildeo urbana natildeo responderam agraves questotildees contraditoacuterias

dentro do contexto socioespacial

Um dos motivos pelo qual isso acontece eacute que entre a Lei e sua aplicaccedilatildeo haacute um

abismo que eacute mediado pelas relaccedilotildees de poder na sociedade Eacute por demais

conhecido inclusive popularmente no Brasil o fato de que a aplicaccedilatildeo da lei

depende de a quem ela (a aplicaccedilatildeo) se refere Essa ―flexibilidade que inspirou

tambeacutem o ―jeitinho brasileiro ajuda a adaptar uma legislaccedilatildeo positivista moldada

sempre a partir de modelos estrangeiros a uma sociedade onde o exerciacutecio do poder

se adapta agraves circunstacircncias (MARICATO 2001 p 42)

Como observa MARICATO (2001) a implementaccedilatildeo de politicas puacuteblicas nas

cidades brasileiras ainda eacute um problema por ser um processo com bastante tramites entre a

elaboraccedilatildeo da lei e sua aplicaccedilatildeo na maioria das vezes acaba por natildeo acontecer ou ser

implantado de forma incorreta com negligecircncia A falta de politicas puacuteblicas voltadas para o

desenvolvimento da microrregiatildeo de Iguatu eacute um fato com exceccedilatildeo da cidade polo Iguatu os

outros municiacutepios ainda satildeo muito carentes de politicas puacuteblicas principalmente voltadas para

emprego renda e a infraestrutura do meio urbano

214

5 ndash Conclusotildees

O que podemos notar com o passar dos anos eacute o aumento da urbanizaccedilatildeo nos

municiacutepios cearenses especificamente na microrregiatildeo de Iguatu o ecircxodo rural eacute o principal

fator a busca por melhores condiccedilotildees de vida em questatildeo de emprego e renda nos centros

urbanos Icoacute e Quixelocirc ainda apresentam um nuacutemero maior de habitantes na zona rural mas o

percentual vem diminuindo e essa realidade tende a mudar tambeacutem

O estado do Cearaacute nos anos 80 procurou promover por meio de politicas puacuteblicas uma

descentralizaccedilatildeo da industrial no estado por meio de recursos como o Fundo de

Desenvolvimento Industrial ndash FDI Iguatu tem um nuacutemero maior de empresas industriais

ativas em relaccedilatildeo aos outros municiacutepios a induacutestria calccediladista faz parte desse cenaacuterio

Iguatuense em busca de forccedila de trabalho barata e incentivos fiscais formaram o que atraiu

para regiatildeo uma importante empresa no setor vemos a induacutestria de transformaccedilatildeo se

sobressair sobre os demais setores nessas cidades da microrregiatildeo de Iguatu

Os resultados em relaccedilatildeo agrave extrema pobreza satildeo bastante preocupantes a maioria dos

municiacutepios mostra um nuacutemero maior de pessoas nessa situaccedilatildeo na zona rural a uacutenica exceccedilatildeo

eacute o municiacutepio de Oroacutes o municiacutepio que apresenta o maior nuacutemero de pessoas vivendo em

extrema pobreza eacute Icoacute com 17731 pessoas com isso podemos observar a incoerecircncia das

politicas puacuteblicas aplicadas Quatro cidades da microrregiatildeo de Iguatu apresentam um nuacutemero

moderado de desenvolvimento com exceccedilatildeo do municiacutepio de Cedro que apresenta um valor

dentro dos paracircmetros como regular abaixo das outras cidades como esperado o municiacutepio

mais desenvolvido eacute Iguatu O grande problema fica com a questatildeo do emprego e da renda

onde os valores apresentados satildeo de baixo estado de desenvolvimento a regular o municiacutepio

de Oroacutes apresenta o pior resultado

Referecircncias

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Iguatu 2016 httpwwwipececegovbrperfil_basico_municipal2016Iguatupdf

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Oroacutes 2016 httpwwwipececegovbrperfil_basico_municipal2016Oroacutespdf

IPECE - Instituto de Pesquisa e Estrateacutegia Econocircmica do Cearaacute Perfil Baacutesico Municipal

Quixelocirc 2016 httpwwwipececegovbrperfil_basico_municipal2016Quixelocircpdf

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217

O PROGRAMA DE AQUISICcedilAtildeO DE ALIMENTOS (PAA) E SUA CONTRIBUICcedilAtildeO

PARA OS AGRICULTORES FAMILIARES DO BRASIL

Ana Paula Pereira

Graduada em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA) Email

anapaula33377gmailcom Contato (88) 997134793

Janiele de Brito de Souza

Especialista em Praacutetica Docente no Ensino Superior pelas Faculdades Integradas de Patos

(FIP) Bacharel em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA) e

Tecnoacuteloga em Gestatildeo de Recursos Humanos pela Faculdade Leatildeo Sampaio (FLS)

Atualmente integra o corpo docente do departamento de Economia da URCA como

professora substituta Email janielebritogmailcom Contato (88) 996000282

218

O PROGRAMA DE AQUISICcedilAtildeO DE ALIMENTOS (PAA) E SUA CONTRIBUICcedilAtildeO

PARA OS AGRICULTORES FAMILIARES DO BRASIL

RESUMO

O processo de modernizaccedilatildeo da agricultura brasileira ocorrido em meados da deacutecada de 1960

modificou a estrutura agraacuteria com poliacuteticas agriacutecolas que beneficiaram o setor capitalista o

que resultou no aumento da exclusatildeo social Poreacutem a partir da deacutecada de 1990 novas

poliacuteticas puacuteblicas emergem em prol do agricultor familiar O objetivo geral da pesquisa

consiste em demonstrar a relevacircncia do Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) para os

agricultores familiares no contexto nacional Sendo assim discutiu-se inicialmente o conceito

de agricultura familiar e suas principais poliacuteticas puacuteblicas Posteriormente o Programa de

Aquisiccedilatildeo de Alimentos e sua sistemaacutetica de doaccedilatildeo de alimentos Por uacuteltimo os efeitos do

Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos na melhoria da qualidade de vida dos agricultores

familiares brasileiros Para tanto recorreu-se a uma abordagem qualitativa de fins

exploratoacuterios e descritivo buscando maiores informaccedilotildees sobre o tema de estudo Com base

em dados secundaacuterios atraveacutes de pesquisa bibliograacutefica e documental visando fundamentar o

problema foi realizada revisatildeo de literatura utilizando obras que retratam a temaacutetica da

agricultura familiar e do PAA Foi utilizada a base de dados do PRONAF atraveacutes dos

anuaacuterios estatiacutesticos do Banco Central Constatou-se que o programa tem trazido grandes

benefiacutecios para os agricultores familiares brasileiros como maior relevacircncia para a promoccedilatildeo

do incremento da renda gerado pelas compras governamentais e a diversidade na produccedilatildeo

que influencia a questatildeo nutricional e a possibilidade de criaccedilatildeo de outros canais de

comercializaccedilatildeo Tais fatores tecircm contribuiacutedo para melhoria da qualidade de vida do

agricultor e a sua permanecircncia no campo

Palavras-chaves Agricultura Familiar Poliacuteticas Puacuteblicas Programa de Aquisiccedilatildeo de

Alimentos

ABSTRACT

The process of modernization of Brazilian agriculture in the mid-1960s changed the agrarian

structure with agricultural policies that benefited the capitalist sector which resulted in an

increase in social exclusion However from the 1990s new public policies emerge in favor of

the family farmer The overall objective of the research is to demonstrate the relevance of the

Food Acquisition Program (PAA) to family farmers in the national context Thus the concept

of family agriculture and its main public policies was initially discussed Subsequently the

Food Acquisition Program and its food donation system Finally the effects of the Food

Acquisition Program on improving the quality of life of Brazilian family farmers To do so we

used a qualitative approach for exploratory purposes and descriptive searching for more

information about the subject of study Based on secondary data through bibliographical and

documentary research aiming to substantiate the problem a literature review was carried

out using works that portray the theme of family agriculture and the PAA The PRONAF

database was used through the statistical yearbooks of the Central Bank It was verified that

the program has brought great benefits to the Brazilian family farmers as a greater

relevance for the promotion of the increment of the income generated by government

purchases and the diversity in the production that influences the nutritional question and the

possibility of creating other channels of commercialization These factors have contributed to

the improvement of the quality of life of the farmer and his permanence in the field

Keywords Family Farming Public Policy Food Acquisition Program

219

1 Introduccedilatildeo

O processo de modernizaccedilatildeo da agricultura brasileira ocorrido em meados da deacutecada

de 1960 modificou a estrutura agraacuteria com poliacuteticas agriacutecolas que beneficiaram o setor

capitalista o que resultou no aumento da exclusatildeo social A poliacutetica de creacutedito utilizada nesse

processo envolvia projetos de benefiacutecio agrave grande produccedilatildeo um processo excludente com

privileacutegio para a regiatildeo Sul Sudeste e Centro Oeste enquanto o Norte e Nordeste lugares de

maior concentraccedilatildeo de pequenos produtores foram desfavorecidos por este processo (ALVES

CONTINI HAINZELIN 2005)

Dessa forma para os pequenos produtores as medidas foram de um todo negativo

visto que natildeo tinham capacidade financeira para adaptar-se agrave nova realidade e com a

expansatildeo da monocultura o pequeno produtor obrigou-se a vender suas terras para o grande

latifundiaacuterio (FRANCO 2001)

Contudo as uacuteltimas deacutecadas foram de grande avanccedilo no intuito de promover melhor a

qualidade de vida para os produtores familiares Na deacutecada de 1990 foi criado o Programa

Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) em resposta agraves

reivindicaccedilotildees dos sindicatos rurais O programa representou o reconhecimento da categoria

por parte do governo (PERACI BITTENCOURT 2010)

O programa permite o acesso aos recursos financeiros atraveacutes de creacutedito com taxas de

juros abaixo da inflaccedilatildeo no intuito de ampliar a capacidade produtiva do agricultor familiar e

promover um desenvolvimento rural sustentaacutevel contudo existia uma lacuna quanto ao apoio

ao comeacutercio dos alimentos produzidos (BIANCHINI 2015)

Em 2003 foi criado o Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos (PAA) em resposta agrave

deficiecircncia quanto agrave venda e a dificuldade quanto agrave formaccedilatildeo de preccedilos O programa aleacutem de

promover o acesso agrave alimentaccedilatildeo para pessoas em situaccedilatildeo de inseguranccedila alimentar tem por

objetivo apoiar os agricultores familiares que fazem parte do PRONAF no intuito de

fortalecer a categoria atraveacutes do apoio agrave comercializaccedilatildeo por meio de compra de alimentos

por parte do governo com dispensa de licitaccedilatildeo a preccedilos estipulados de acordo com cada

regiatildeo (BRASIL2003)

Portanto buscou-se reunir dados e informaccedilotildees com o propoacutesito de responder ao

seguinte problema de pesquisa o programa tem de fato melhorado significativamente a vida

dos agricultores familiares brasileiros

O objetivo geral da pesquisa consiste em demonstrar a relevacircncia do Programa de

Aquisiccedilatildeo de Alimentos para os agricultores familiares no contexto nacional Como objetivos

220

especiacuteficos propotildeem-se i) entender a realidade da agricultura familiar no Brasil ii) conhecer

o Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos e sua sistemaacutetica de doaccedilatildeo de alimentos e iii)

evidenciar os efeitos do Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos na melhoria da qualidade de

vida dos agricultores familiares brasileiros

Assim o presente artigo discute inicialmente os conceitos de agricultura familiar com

ecircnfase nas poliacuteticas puacuteblicas de fortalecimento agrave categoria Posteriormente apresenta o

Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos especificando as modalidades de aquisiccedilatildeo de

alimentos e como satildeo realizadas as doaccedilotildees de alimentos Finalmente seratildeo demonstradas as

contribuiccedilotildees do programa especificando seus benefiacutecios para os agricultores familiares bem

como seratildeo apontadas algumas limitaccedilotildees que o programa apresenta

2 Referencial Teoacuterico

21 A agricultura familiar no Brasil

O campesinato no Brasil eacute marcado por lutas no intuito de conseguir seu espaccedilo na

sociedade visto que durante muito tempo na histoacuteria brasileira a agricultura consistia na

monocultura na valorizaccedilatildeo dos grandes latifuacutendios O signo da precariedade sob o qual se

construiu o espaccedilo camponecircs o tornou incapaz de proacuteprio potencial (WANDERLEY 1996)

Wanderley (1996) cita a agricultura camponesa como aquela cuja base eacute dada pela

produccedilatildeo realizada pela famiacutelia que esse caraacuteter familiar eacute determinado na junccedilatildeo de trecircs

fatores patrimocircnio trabalho e consumo enfatizando que os camponeses satildeo dedicados a

garantir o sustento familiar sem interesse em investir na atividade

Para Abramovay (1997) a agricultura familiar eacute aquela em que a maior parte da matildeo

de obra e a gestatildeo do trabalho satildeo exercidas pelos membros da famiacutelia e que este trabalho seja

transferido de pai para filho ou seja em sucessatildeo profissional ―O importante eacute que estes trecircs

atributos baacutesicos (gestatildeo propriedade e trabalho familiar) estatildeo presentes em todas elas

(ABRAMOVAY 1997 p 3)

Para o autor a rotulaccedilatildeo de pequeno produtor natildeo se enquadra ao agricultor familiar

visto que este termo denota algueacutem que vive em condiccedilotildees precaacuterias utilizando de teacutecnicas

tradicionais que natildeo conseguem se inserir na competiccedilatildeo do mercado

No Brasil os criteacuterios para a categoria foram definidos a partir da lei 11326 de 24 de

julho de 2006 que define oficialmente agricultura familiar como categoria profissional sendo

considerados aqueles que podem ser assim descritos

221

I natildeo detenha a qualquer tiacutetulo aacuterea maior do que 4 (quatro) moacutedulos fiscais

II utilize predominantemente matildeo-de-obra da proacutepria famiacutelia nas atividades

econocircmicas do seu estabelecimento ou empreendimento

III tenha renda familiar em percentual miacutenimo originada de atividades

econocircmicas vinculadas ao proacuteprio estabelecimento ou empreendimento

IV dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua famiacutelia (BRASIL

2006 p1)

Abramovay (1997) ressalta a importacircncia da agricultura familiar no combate agrave

exclusatildeo social afirmando ser um elemento decisivo para que haja a pressatildeo social na luta

pela inclusatildeo da classe e de condiccedilotildees para a permanecircncia do homem no campo

Nesse sentido Veiga (1996) enfatiza que a agricultura familiar apresenta diversas

vantagens em relaccedilatildeo agrave patronal e cita como pontos principais a versatilidade e a questatildeo de

que a agricultura patronal gera concentraccedilatildeo da renda e de exclusatildeo social ao passo que a

agricultura familiar apresenta perfil distributivo sob a oacutetica da sustentabilidade

O autor cita o Brasil como o mais intenso na histoacuteria no favorecimento da agricultura

patronal contudo a agricultura familiar resistiu e somente era superada na questatildeo da

utilizaccedilatildeo da tecnologia com as maacutequinas agriacutecolas natildeo havendo grandes diferenccedilas na

praacutetica de conservaccedilatildeo de solo Apenas na deacutecada de 1990 a agricultura familiar passa a ser

vista pelas poliacuteticas puacuteblicas como uma linha estrateacutegica de desenvolvimento rural o

segmento passa a ter valorizaccedilatildeo poreacutem sem que haja um rompimento com superioridade da

agricultura patronal (VEIGA 1996)

Os pequenos empreendimentos familiares necessitam de poliacuteticas apropriadas para o

setor que promovam a permanecircncia do produtor familiar no campo A diferenciaccedilatildeo do

segmento eacute um ponto fundamental na criaccedilatildeo de poliacuteticas para a agricultura Eacute importante

frisar que a intervenccedilatildeo do governo no sentido de melhorar a vida do agricultor familiar pode

vir a minimizar os efeitos passados que dificultaram o trabalho no campo para o pequeno

produtor (SCHMITT 2005)

No processo histoacuterico a comercializaccedilatildeo de produtos da agricultura familiar foi

ausente nas poliacuteticas voltadas ao segmento o que sempre gerou um desestiacutemulo aos

produtores familiares As accedilotildees do governo refletem a grande importacircncia que podem

desencadear o desenvolvimento local ―Atrair a participaccedilatildeo de outras esferas de governo eacute

importante natildeo soacute na agregaccedilatildeo de capacidade operacional como tambeacutem pelo estiacutemulo agrave

abertura de mercados institucionais para a agricultura familiar (BRASIL 2015a p 2)

Em 1995 foi criado o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

222

(PRONAF) que representa a legitimaccedilatildeo do Estado brasileiro da agricultura familiar como

categoria social que ateacute entatildeo natildeo se tinha qualquer poliacutetica puacuteblica que a apoiasse O

PRONAF possibilitou a formulaccedilatildeo de outras poliacuteticas de valorizaccedilatildeo da agricultura familiar

e proporcionou um novo momento para o segmento (GRISA SCHNEIDER 2015)

O programa eacute destinado a ampliar a capacidade produtiva e estimular a geraccedilatildeo de

renda e funciona como uma linha de creacutedito rural fruto de uma intensa participaccedilatildeo das

organizaccedilotildees da agricultura familiar que atualmente dispotildee de diversas linhas de creacuteditos

(BIANCHINI 2015) Entre as principais linhas de creacuteditos destacam-se PRONAF custeio

PRONAF mais alimentos PRONAF agroinduacutestria PRONAF custeio e comercializaccedilatildeo de

agroinduacutestrias familiares PRONAF jovem e PRONAF mulher dentre outras

Em toda a sua execuccedilatildeo o PRONAF ampliou o nuacutemero de beneficiaacuterios tomadores

de financiamento bem como os recursos destinados para a poliacutetica De acordo com dados do

MDA na safra 20152016 foram liberados R$ 289 bilhotildees o que representa uma elevaccedilatildeo de

20 frente agrave safra anterior O interessante eacute que o iacutendice de inadimplecircncia natildeo atinge 1

demonstrando uma boa gerecircncia por parte dos agricultores (BRASIL 2016a)

A valorizaccedilatildeo do agricultor familiar atraveacutes da implementaccedilatildeo do PRONAF tornou

possiacuteveis outras poliacuteticas de incentivo agrave categoria Um conjunto de poliacuteticas puacuteblicas e accedilotildees

de diversos modos foi implementado no intuito de fortalecer o agricultor familiar Dentre elas

estatildeo o Programa de Garantia de Preccedilos para a Agricultura Familiar (PGPAF) o Seguro da

Agricultura Familiar (SEAF) o Garantia-Safra (GS) e o Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos

(PAA)

Criado no acircmbito do governo federal o PGPAF engloba os produtores familiares que

participam do PRONAF Financiamento e Custeio Quando ocorre uma reduccedilatildeo nos preccedilos

dos produtos o programa garante desconto no financiamento de forma que o pagamento do

mesmo natildeo ultrapasse os custos de produccedilatildeo O programa tem por objetivo assegurar a

remuneraccedilatildeo dos custos de produccedilatildeo garantir que o pequeno produtor permaneccedila com a

atividade e a sustentaccedilatildeo dos preccedilos (GRISA SCHNEIDER 2015)

No caso do SEAF criado no intuito de promover ao produtor uma plantaccedilatildeo segura o

seguro eacute destinado aos agricultores familiares que recorrem ao financiamento vinculado ao

PRONAF com a promoccedilatildeo de medidas de prevenccedilatildeo climaacuteticas ―O seguro tem por objetivos

reduzir os riscos nas plantaccedilotildees evitar renegociaccedilotildees promover ampliaccedilatildeo do acesso ao

creacutedito e estiacutemulo ao uso de tecnologia apropriada (BRASIL2014 p02)

223

O Garantia-Safra (GS) tambeacutem eacute uma das accedilotildees do PRONAF mas diferente do SEAF

uma vez que este funciona como medida preventiva e o GS destina-se a agricultores que se

encontram em municiacutepios que apresentem riscos a perdas de safra devido agrave estiagem ou

mesmo excesso de chuva em municiacutepios que houver perdas em pelo menos 50 da produccedilatildeo

de produtos baacutesicos da alimentaccedilatildeo e outros itens definidos pelos oacutergatildeos gestores (

BRASIL2016a)

Para fazer parte do programa eacute necessaacuterio ser agricultor familiar em conformidade

com os requisitos do PRONAF que sua renda natildeo ultrapasse 15 (um e meio) salaacuterio miacutenimo

ter aderido ao programa antes da plantaccedilatildeo obter aacuterea em ateacute quatro moacutedulos fiscais

Somente na safra em 2016 o GS atendeu cerca de 850 mil famiacutelias (BRASIL 2014)

22 O Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos e a sistemaacutetica da doaccedilatildeo de alimentos

Para que haja um crescimento agriacutecola de forma inclusiva eacute necessaacuteria a promoccedilatildeo de

poliacuteticas que visem minimizar a pobreza no paiacutes de forma a tornar possiacutevel que essa classe

mais necessitada venha a ter acesso como mais facilidade de alimentaccedilatildeo ―Para possibilitar

um crescimento agriacutecola que resulte no aumento da seguranccedila alimentar e reduccedilatildeo da

pobreza os agricultores familiares precisam das condiccedilotildees necessaacuterias de inclusatildeo no

processo de desenvolvimento (BALABAN 2013 p 9)

O PAA eacute uma poliacutetica puacuteblica criada no intuito de executar accedilotildees na esfera agriacutecola e

de seguranccedila alimentar criado como parte do Programa Fome Zero eacute executado por estados e

municiacutepios em parceria com o Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome

(MDS) Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio (MDA) e pela Companhia Nacional de

Abastecimento (CONAB) (BRASIL 2003)

O PAA eacute um instrumento que articula o poder de compra do Estado priorizando os

segmentos vulneraacuteveis da populaccedilatildeo A interaccedilatildeo entre os temas da pobreza rural e

da seguranccedila alimentar e nutricional possibilita combinar intervenccedilotildees estruturais de

estiacutemulo agrave produccedilatildeo pela via do acesso ao mercado institucional com a accedilatildeo

emergencial de combate agrave fome (BRASIL 2015a p 1)

Assim o PAA tem por finalidade dois objetivos principais o de promover o acesso agrave

alimentaccedilatildeo para pessoas em condiccedilotildees de inseguranccedila alimentar e de fortalecer a agricultura

familiar atraveacutes da compra dos produtos produzidos O programa foi criado atraveacutes da Lei n

10696 de 2 de julho de 2003

Art 19 Fica instituiacutedo o Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos com a finalidade de

incentivar a agricultura familiar compreendendo accedilotildees vinculadas agrave distribuiccedilatildeo de

224

produtos agropecuaacuterios para pessoas em situaccedilatildeo de inseguranccedila alimentar e agrave

formaccedilatildeo de estoques estrateacutegicos sect 1

o Os recursos arrecadados com a venda de estoques estrateacutegicos formados nos

termos deste artigo seratildeo destinados integralmente agraves accedilotildees de combate agrave fome e agrave

promoccedilatildeo da seguranccedila alimentar

sect 2o O Programa de que trata o caput seraacute destinado agrave aquisiccedilatildeo de produtos

agropecuaacuterios produzidos por agricultores familiares que se enquadrem no Programa

Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar ndash PRONAF ficando dispensada

a licitaccedilatildeo para essa aquisiccedilatildeo desde que os preccedilos natildeo sejam superiores aos

praticados nos mercados regionais (BRASIL 2003 p 1)

O PAA para o agricultor familiar vem como uma garantia de se ter parte da produccedilatildeo

demandada Nesse sentido Pandolfo (2008) cita a comercializaccedilatildeo como principal obstaacuteculo

para o agricultor familiar Aleacutem da dificuldade em comercializar os produtos a preccedilos baixos

e com poliacuteticas voltadas para atender o interesse das grandes induacutestrias em detrimentos dos

pequenos produtores

O PAA representa a primeira poliacutetica em que o Estado interveacutem diretamente na

comercializaccedilatildeo de produtos da agricultura familiar As aquisiccedilotildees de alimentos juntamente

com a sustentaccedilatildeo de preccedilos incentivam ao produtor produzir com mais qualidade ―A

demanda estruturada ajuda a incentivar a diversificaccedilatildeo da produccedilatildeo agriacutecola familiar

garantindo mercados e preccedilos estaacuteveis para uma seacuterie de culturas (BALABAN 2013 p18)

Os produtos devem ser produzidos pelos agricultores familiares seguindo requisitos

de controle de qualidade e preccedilos que seguem uma referecircncia regional para cada alimento

Para que o agricultor possa fornecer alimentos para o programa eacute necessaacuterio que estejam

incluiacutedos nos termos da Lei n 11326 de 24 de julho de 2006 devendo apresentar declaraccedilatildeo

de aptidatildeo do PRONAF de modo que podem participar do PAA individualmente ou por meio

de cooperativa ou organizaccedilotildees formalmente constituiacutedas (BRASIL 2016a)

Os produtos adquiridos pelo programa abrangem uma ampla diversidade com maior

destaque para frutas e hortigranjeiros que atingiram 60 da aquisiccedilatildeo em 2016 em segundo

lugar laticiacutenios mel e processados com 20 seguidos de carnes e pescados com 10 de

gratildeos e oleaginosas com 6 e castanhas e sementes ambas com 2 das aquisiccedilotildees

(CONAB 2017)

O PAA representa possibilidades de ingresso ao mercado por parte dos produtores

familiares garantindo comercializaccedilatildeo o que resulta em fortalecimento da categoria (GRISA

et al 2011)

O PAA sinaliza um novo estaacutegio no que se refere agraves poliacuteticas de fortalecimento da

agricultura familiar sobretudo porque abre um canal de comercializaccedilatildeo para essa

225

categoria social garantindo a aquisiccedilatildeo de seus produtos pelo Estado por meio de

mecanismos diferenciados (GRISA et al 2011 p 37)

Os autores ainda enfocam a questatildeo da atribuiccedilatildeo de preccedilos aos produtos que

consideram Poliacutetica de Garantia de Preccedilos Miacutenimos (PGPM) observando as diferenccedilas

regionais e a realidade local para cada produto A garantia de comercializaccedilatildeo e seus efeitos

sobre os preccedilos e a criaccedilatildeo de novos mercados satildeo fatores que podem repercutir em uma

elevaccedilatildeo da renda obtida pelos agricultores ―A garantia de comercializaccedilatildeo traz um novo

alento a essas famiacutelias que podem lanccedilar matildeo de suas especificidades de seus valores e suas

praacuteticas locais para articular-se com diversos puacuteblicos consumidores (GRISA et al 2011 p

37)

A execuccedilatildeo do programa eacute baseada em diversas modalidades de aquisiccedilatildeo o qual

com o intuito de ampliar sua capacidade eacute gerido por diversos oacutergatildeos governamentais Ao

todo o PAA dispotildee de seis modalidades sendo que em cada uma existe um nuacutecleo gestor

responsaacutevel pela operacionalizaccedilatildeo ―Os variados arranjos e formas de execuccedilatildeo tecircm

assegurado flexibilidade e capacidade de adequaccedilatildeo a diversas realidades requisitos

fundamentais para a articulaccedilatildeo da oferta e do consumo de alimentos (BRASIL 2015b p 1)

O Quadro 01 demonstra as modalidades de aquisiccedilatildeo do programa oacutergatildeos

responsaacuteveis pela operacionalizaccedilatildeo em cada modalidade a forma de acesso e os ministeacuterios

responsaacuteveis pelos recursos

226

Quadro 01 ndash Modalidades de aquisiccedilatildeo

Modalidade Unidades

executoras

Forma de acesso Fonte de recursos

Compra da

Agricultura Familiar

para Doaccedilatildeo

Simultacircnea

Entes federados que

aderiram ao

programa CONAB

Individual

Associaccedilatildeo ou

Cooperativa

MDS

Formaccedilatildeo de

Estoques pela

Agricultura Familiar

ndash CPR Estoque

CONAB Associaccedilatildeo ou

Cooperativa

MDS ou MDA

Compra Direta da

Agricultura Familiar

ndash CDAF

CONAB Associaccedilatildeo ou

Cooperativa

MDS ou MDA

Incentivo agrave Produccedilatildeo

e Incentivo de Leite ndash

PAA Leite

Governos Estaduais

do Nordeste e do

Estado de Minas

Gerais

Individual MDS

Compra Institucional Oacutergatildeo Comprador Individual ou

Cooperativa

Dotaccedilatildeo proacutepria dos

oacutergatildeos compradores

Compra de sementes CONAB Associaccedilatildeo ou

Cooperativa

MDS

Fonte Brasil (2015b)

Silva e Schmitt (2012) enfatizam ser uma marca do programa a operacionalizaccedilatildeo

atraveacutes das diversas modalidades que satildeo aplicadas de maneiras distintas Segundo Pandolfo

(2008) a execuccedilatildeo do programa traz sustentabilidade para unidades rurais em especial nas

modalidades geridas pela CONAB que desempenham papel dinamizador com maior destaque

na modalidade de doaccedilatildeo simultacircnea

A modalidade de compra com doaccedilatildeo simultacircnea promove a compra de alimentos

produzidos por agricultores familiares e a doaccedilatildeo simultacircnea a entidades de cunho

socioassistencial Para participar da modalidade eacute necessaacuterio que os estados e municiacutepios

venham aderir ao programa atraveacutes de termo20

firmado com a Uniatildeo passando a fazer parte

das unidades executoras do programa O pagamento eacute realizado ao produtor por parte do

20

A partir do termo de adesatildeo os estados e municiacutepios passam a estabelecer metas e limites financeiros para as aquisiccedilotildees Pode ser realizado diretamente pelo municiacutepio contudo eacute sugerida a participaccedilatildeo do estado O processo de adesatildeo ocorre em cinco etapas I ndash o municiacutepio envia solicitaccedilatildeo de adesatildeo agrave Secretaria Nacional de Seguranccedila Alimentar e Nutricional (SESAN) II ndash realiza-se anaacutelise de informaccedilotildees acerca do municiacutepio e do estado caso haja participaccedilatildeo apoacutes a anaacutelise das informaccedilotildees eacute emitida a aprovaccedilatildeo ou rejeiccedilatildeo por parte do MDS O termo eacute publicado no Diaacuterio Oficial da Uniatildeo IV-o MDS propotildee metas V ndash realiza-se o cadastramento da proposta de participaccedilatildeo para beneficiaacuterios fornecedores que devem fornecer nuacutemero da DAP As aquisiccedilotildees de alimentos seratildeo realizadas apoacutes a aprovaccedilatildeo da proposta pelo MDS (BRASIL2016b)

227

governo na forma de creacutedito em cartatildeo proacuteprio para recebimentos relacionados com o

programa (BRASIL 2015a)

A compra com doaccedilatildeo eacute a modalidade de maior demanda de recursos O graacutefico 01

mostra recursos demandados pela modalidade compra com doaccedilatildeo simultacircnea sendo possiacutevel

observar oscilaccedilotildees ao longo dos anos

Graacutefico 01 ndash Recurso da modalidade de compra com doaccedilatildeo simultacircnea -20102016 (em

milhotildees de reais)

Fonte

CONAB (2017)

Atraveacutes do graacutefico nota-se que os recursos aplicados na modalidade apresentaram

oscilaccedilotildees nos uacuteltimos anos sendo 2012 o ano em que a modalidade demandou maiores

recursos para no ano seguinte serem reduzidos em pouco mais de 50

Segundo dados da CONAB em 2016 a modalidade demandou aproximadamente 184

milhotildees de reais em sua maior parte na regiatildeo Nordeste que concentrou 4746 dos recursos

destinados agrave modalidade o Sudeste absorveu 2246 o Norte 1403 o Centro-Oeste 819

e o Sul 786 (CONAB 2017)

A modalidade de compras institucionais criada em 2012 tem por objetivo promover

aos agricultores familiares o acesso ao mercado de compras puacuteblicas e permite que o governo

nas trecircs esferas realize compras da agricultura familiar utilizando de recursos proacuteprios Os

produtos adquiridos atraveacutes desta modalidade satildeo destinados a abastecer entidades puacuteblicas

Em 2012 tornou-se obrigatoacuterio que ao menos 30 dos recursos federais destinados agrave compra

de alimentos sejam realizados na agricultura familiar atraveacutes da compra institucional A

0

50000

100000

150000

200000

250000

300000

350000

400000

450000

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

228

modalidade incentiva agrave produccedilatildeo saudaacutevel visto que a sugestatildeo de preccedilo eacute que para os

produtos orgacircnicos haja um acreacutescimo de 30 em relaccedilatildeo ao preccedilo dos produtos

convencionais Dessa forma tambeacutem haacute um incentivo ao agricultor a garantir a qualidade do

produto criando possibilidades de novos canais de comercializaccedilatildeo (BRASIL 2015b) Nesse

sentido Grisa (2012) cita a importacircncia dessa estrateacutegia no sentido de que o PAA natildeo torne o

agricultor dependente de um programa com limite de demanda

A modalidade de compra direta permite a realizaccedilatildeo da venda de alimentos oriundos

da agricultura familiar para o governo federal seguindo preccedilos que variam entre o preccedilo

miacutenimo e o preccedilo de mercado Nessa modalidade eacute realizada a aquisiccedilatildeo de produtos

especiacuteficos quais sejam arroz feijatildeo milho trigo sorgo farinha de mandioca farinha de

trigo leite em poacute integral castanha-de-caju e castanha-do-brasil seguindo um limite anual de

R$ 800000 por unidade familiar A certificaccedilatildeo da qualidade dos produtos eacute realizada em

conformidade com as normas da CONAB sendo que para algumas mercadorias satildeo

necessaacuterias anaacutelises laboratoriais (BRASIL 2015b)

A modalidade de formaccedilatildeo de estoque eacute baseada na compra de alimentos da safra

vigente permite agraves associaccedilotildees ou cooperativas formadas por agricultores familiares a

obtenccedilatildeo de recursos para a aquisiccedilatildeo de produtos no intuito de formar estoques visando dar

ao agricultor melhores condiccedilotildees de se manter no mercado (BRASIL 2015a)

A Tabela 01 mostra a quantidade de alimentos por regiotildees brasileiras no ano de 2016

atraveacutes da modalidade de formaccedilatildeo de estoque podendo-se observar que a regiatildeo nordeste

diferentemente da participaccedilatildeo na modalidade compra com doaccedilatildeo simultacircnea representa

menos que 2 das aquisiccedilotildees

Tabela 01 Quantidade de produtos por regiatildeo (KG) (2016)

Regiatildeo Norte Nordeste Sul Sudeste Centro-

Oeste Total

Participaccedilatildeo

absoluta 1539195 188720 9144537 0 721837

11594289

Participaccedilatildeo

relativa 1328 163 7887 000 622 100 Fonte CONAB (2017)

Pela tabela pode-se observar que no ano de 2016 foram adquiridos atraveacutes da

modalidade aproximadamente 116 milhotildees de quilos de alimentos na maior parte

representados pela regiatildeo Sul que somou 7887 dos produtos adquiridos no periacuteodo

enquanto o Sudeste natildeo teve qualquer participaccedilatildeo na totalidade de aquisiccedilatildeo de alimentos

para esta modalidade

229

A aquisiccedilatildeo de incentivo agrave produccedilatildeo e ao consumo de leite (PAA-leite) tem por

objetivo contribuir para o combate agrave fome e desnutriccedilatildeo aleacutem de fortalecer o agricultor

familiar na forma de garantir a demanda de leite Para que sejam beneficiados por esta

modalidade eacute necessaacuterio que a famiacutelia tenha renda mensal de ateacute frac12 salaacuterio miacutenimo por

membro familiar e que ao menos um deles cumpra os requisitos exigidos pelo Grupo Gestor

do Programa de Aquisiccedilatildeo de Alimentos-GGPAA que satildeo gestantes ou matildees que

amamentem ateacute o sexto mecircs apoacutes o parto crianccedilas entre dois e sete anos de idade pessoas

com idade igual ou superior a 60 anos (BRASIL 2015b)

A modalidade mais recente da aquisiccedilatildeo de sementes criada em 2014 eacute caracterizada

pela compra de sementes por parte do governo no intuito de doaacute-las a agricultores que

tenham a DAP As sementes podem ser demandadas pelas proacuteprias organizaccedilotildees

fornecedoras Para tal eacute necessaacuterio que os oacutergatildeos demandantes apresentem junto agrave CONAB o

plano de distribuiccedilatildeo (BRASIL 2015b)

A modalidade tem limite de aquisiccedilatildeo de ateacute R$ 1600000 por unidade familiar e de

ateacute seis milhotildees de reais por organizaccedilatildeo quando a operaccedilatildeo ultrapassa a aquisiccedilatildeo eacute

realizada mediante chamada puacuteblica Para a formaccedilatildeo de preccedilos realiza-se um plano de

distribuiccedilatildeo a partir de pesquisa realizado no mercado local sendo estipulado a partir da

meacutedia de trecircs cotaccedilotildees No ano de 2016 o gratildeo de milho representou 62 das sementes

distribuiacutedas seguido do arroz com 30 e em menor quantidade o feijatildeo com 8 (CONAB

2017)

3 Metodologia

O presente estudo apresenta uma abordagem qualitativa de fins exploratoacuterios e

descritivo buscando maiores informaccedilotildees sobre o tema de estudo Com base em dados

secundaacuterios atraveacutes de pesquisa bibliograacutefica e documental visando fundamentar o problema

foi realizada revisatildeo de literatura utilizando obras que retratam a temaacutetica da agricultura

familiar e do PAA Foi utilizada a base de dados do PRONAF atraveacutes dos anuaacuterios

estatiacutesticos do Banco Central

Consultaram-se tambeacutem leis decretos sites de oacutergatildeos governamentais tais como

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) a fim de obter dados a respeito da

agricultura familiar no Brasil Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) Ministeacuterio

do Desenvolvimento Agraacuterio (MDA) atraveacutes de dados e relatoacuterios referentes ao PAA aleacutem

230

de recorrer agrave base de dados do PAA DATA no site do Ministeacuterio do Desenvolvimento Social

e Combate Agrave Fome (MDS)

4 Resultado e discussotildees

As poliacuteticas puacuteblicas voltadas para o fortalecimento da agricultura familiar no Brasil

tecircm grande representaccedilatildeo na vida dos agricultores A partir do estudo do que eacute o Programa de

Aquisiccedilatildeo de Alimentos eacute que se buscou examinar resultados em trabalhos e estudos

realizados sobre a contribuiccedilatildeo do programa para o agricultor familiar durante os quatorze

anos de execuccedilatildeo A motivaccedilatildeo principal para a realizaccedilatildeo desta revisatildeo decorreu-

se pela relevacircncia do programa para o agricultor familiar e a necessidade de se ter um

conhecimento dessa contribuiccedilatildeo

O programa tem de fato melhorado significativamente a vida dos agricultores

familiares brasileiros A busca por resultados incluiu pesquisa bibliograacutefica em livros artigos

e em bases eletrocircnicas e busca manual de citaccedilotildees nas publicaccedilotildees inicialmente identificadas

como Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) a fim de obter dados relativos aos

recursos e taxas de elevaccedilatildeo na renda dos fornecedores no site do Ministeacuterio do

Desenvolvimento Social e Combate Agrave Fome (MDS) e atraveacutes da base de dados do PAA

DATA com o objetivo de extrair informaccedilotildees sobre as quantidades de recursos

disponibilizados bem como a quantidade de fornecedores ao programa Para revisatildeo

considerou-se o periacuteodo de abrangecircncia entre 2003 e 2016

41 Impactos positivos do PAA na vida do agricultor familiar brasileiro

Verificou-se que o PAA contribuiu para o fortalecimento da agricultura familiar no

Brasil atraveacutes da consolidaccedilatildeo do mercado e da seguranccedila na comercializaccedilatildeo Em geral os

estudos observados resultam da contribuiccedilatildeo do programa na qualidade de vida dos

agricultores atraveacutes da elevaccedilatildeo da renda que eacute um fator citado em todos os trabalhos

analisados

A elevaccedilatildeo se daacute pela inserccedilatildeo do produtor no mercado institucional e a criaccedilatildeo de

possibilidades de maior competitividade no mercado tradicional criando novos polos de

comeacutercio Para Grisa et al (2011) a criaccedilatildeo desse mercado eacute uma oportunidade de

diversificaccedilatildeo da produccedilatildeo para atingir uma maior demanda

231

Assis et al (2017) observaram que o PAA tem contribuiacutedo com o fortalecimento da

agricultura familiar atraveacutes da consolidaccedilatildeo do mercado e da garantia de comercializaccedilatildeo O

programa vem propiciando elevaccedilatildeo na renda mensal das famiacutelias beneficiadas pelo PAA

Dessa forma contribui para diminuiccedilatildeo do ecircxodo rural

Aleixo et al (2016) verificaram que o PAA contribuiu para a permanecircncia do

agricultor familiar no campo em decorrecircncia dessa renda complementar gerada pelo

programa gerando o aproveitamento da produccedilatildeo que muitas vezes natildeo era comercializada

Estudos realizados por Aleixo et al (2016) revelam que o programa gerou benefiacutecios aos

participantes tais como melhores condiccedilotildees de trabalho aproveitamento do espaccedilo para

produccedilatildeo melhoria da renda e uma alimentaccedilatildeo mais saudaacutevel

O programa promoveu a geraccedilatildeo do incremento da renda para agricultores familiares

sustentaccedilatildeo de preccedilos e a proposta de seguranccedila alimentar para a populaccedilatildeo do campo e da

cidade O programa de fato tem promovido a inclusatildeo econocircmica dos fornecedores gerando

poder de compra aos produtores Dessa forma a inserccedilatildeo do agricultor ao programa gera

renda natildeo apenas aos fornecedores mas de forma indireta a toda populaccedilatildeo atraveacutes do efeito

multiplicador gerado pelo poder de compra dos fornecedores o que promove uma maior

circulaccedilatildeo no comeacutercio local (DORETTO MICHELLON 2006)

Dessa forma o programa eacute essencial no incentivo agrave elevaccedilatildeo da renda dos agricultores

familiares contudo benefiacutecios gerados natildeo satildeo apenas econocircmicos mas abrangem a sauacutede e o

bem-estar dos fornecedores dada a promoccedilatildeo e diversificaccedilatildeo e qualidade na alimentaccedilatildeo o

que vem modificando a qualidade de vida natildeo apenas para produtores fornecedores ao

programa mas para a comunidade em geral que adquire os produtos de maior qualidade via

comeacutercio tradicional Assim observou-se a flexibilidade como uma das maiores contribuiccedilotildees

do programa visto que aleacutem do comeacutercio no mercado institucional transmite confianccedila para

o mercado local (GARRIDO2015)

Segundo a CONAB (2017) muitos agricultores mudaram sua realidade de vida com o

programa antes receptores de cestas baacutesicas hoje fornecedores de produtos para o Estado O

programa faz dos agricultores familiares sujeitos atuantes capazes de modificar sua realidade

aleacutem do reconhecimento de sua importacircncia na economia local e da sua inserccedilatildeo neste

mercado Nesse sentido Segundo (2014) enfatiza que embora o programa natildeo seja a poliacutetica

ideal para solucionar os gargalos existentes na produccedilatildeo familiar o PAA representa um

232

grande avanccedilo para este produtor sendo juntamente com o PRONAF agrave medida que mais tem

impacto na vida dos agricultores familiares

Aleacutem dessa elevaccedilatildeo de renda para os agricultores familiares um ponto de grande

relevacircncia citado em trabalhos analisados eacute a questatildeo do auxiacutelio agrave promoccedilatildeo de maior

organizaccedilatildeo nas propriedades rurais O programa promove a diversidade e a qualidade dos

produtos para autoconsumo um ponto importante do PAA eacute o impacto favoraacutevel nos preccedilos

dos produtos Os autores ainda afirmam que o programa mostra bastante relevacircncia por

contribuir para a organizaccedilatildeo e planejamento da oferta por parte dos agricultores

Para Schmitt (2005) o programa ao promover a sustentaccedilatildeo de preccedilo e a garantia da

demanda natildeo beneficia apenas aos agricultores familiares fornecedores de produtos mas

indiretamente aos produtores que satildeo atingidos pelos efeitos do programa

Pode-se observar que o programa ao natildeo restringir o produtor ao mercado

institucional instiga criaccedilatildeo de novos mercados seja pela valorizaccedilatildeo da categoria de

agricultura familiar que promove o reconhecimento social do produtor nas localidades ou

atraveacutes da promoccedilatildeo de uma melhor qualidade nos produtos (GRISA SCHNEIDER 2015)

Os estudos satildeo unacircnimes em apontar que as principais repercussotildees oriundas dos

benefiacutecios do programa ou seja relacionadas agrave sua contribuiccedilatildeo aos agricultores familiares

verificados com maior frequecircncia satildeo incremento da renda atraveacutes do mercado institucional

aleacutem do comeacutercio institucional a criaccedilatildeo de novos mercados fortalecimento das associaccedilotildees

e cooperativas qualidade dos alimentos produzidos incentivo agrave permanecircncia do homem no

campo

42 Impactos negativos e criacuteticas ao programa

Nesta seccedilatildeo foram analisados fatores que constituem aspectos negativos do programa

e limitaccedilotildees apresentadas ateacute entatildeo Um fator apontado como deficiecircncia do programa eacute a

respeito da disponibilizaccedilatildeo de recursos a questatildeo orccedilamentaria eacute uma barreira de

crescimento do PAA pois haacute uma desproporccedilatildeo entre o nuacutemero de produtores que buscam

aderir ao programa e os recursos disponibilizados Essa compatibilidade eacute essencial para que

o programa possa cumprir de maneira eficaz sua proposta (GRISA et al 2010)

Haacute tambeacutem uma necessidade urgente de se pensar em um melhor planejamento na

liberaccedilatildeo de recursos financeiros porque haacute um descompasso entre o montante de recursos e a

eacutepoca da produccedilatildeo aleacutem da limitaccedilatildeo no relacionamento entre oacutergatildeos gestores do programa e

233

as associaccedilotildees ou cooperativas das quais os agricultores fazem parte (DORETTO

MICHELLON 2006)

Haacute falta de informaccedilatildeo acerca da operacionalizaccedilatildeo do programa aos beneficiaacuterios

agricultores familiares que muitas vezes fornecem os alimentos para associaccedilatildeo ou

cooperativa da qual fazem parte sem saber que estatildeo tendo acesso ao PAA muitas vezes

identificado apenas como Programa Fome Zero ou confundido com um creacutedito

disponibilizado pela CONAB (GRISA et al 2011)

Outra limitaccedilatildeo enfatizada nos trabalhos consultados eacute a necessidade de um olhar

mais voltado para um debate sobre o mecanismo de controle social Trata-se de um desafio

importante a questatildeo da funccedilatildeo dos atores sociais envolvidos no programa que poderiam ser

de fato reguladores locais do programa podendo ser responsaacuteveis por apurar possiacuteveis

irregularidades na distribuiccedilatildeo de alimentos A falta de assistecircncia teacutecnica vinculada ao

programa eacute vista como uma deficiecircncia visto que haacute uma necessidade de orientaccedilatildeo para os

agricultores familiares no planejamento da produccedilatildeo para melhor atender aos padrotildees

exigidos (GRISA et al 2011)

Na verdade a necessidade de organizaccedilatildeo que o PAA exige pode ser uma barreira por

interligar diversos atores como o poder puacuteblico produtores e entidades socioassistenciais o

que se torna um problema em algumas localidades onde nem sempre esse niacutevel de

organizaccedilatildeo estaacute presente sendo que a falta de organizaccedilatildeo se agrava na maior parte dos

casos em que haacute o maior niacutevel de pobreza Ou seja nos lugares de maior necessidade do

programa na questatildeo do combate agrave fome eacute onde na verdade se tem a maior dificuldade na sua

operacionalizaccedilatildeo (GRISA et al 2011)

Para SCHMITT (2005) haacute uma necessidade de maior intensificaccedilatildeo na interligaccedilatildeo da

poliacutetica agriacutecola e a de seguranccedila alimentar buscando fincar objetivos em comum o que

resultaria em um aumento da efetividade das accedilotildees governamentais

5 Consideraccedilotildees Finais

O desenvolvimento do presente estudo possibilitou uma demonstraccedilatildeo de quatildeo grande

eacute a importacircncia das poliacuteticas puacuteblicas voltadas para agricultura familiar no Brasil bem como

permitiu visualizar um reflexo dos benefiacutecios dessas poliacuteticas e dificuldades encontradas pelos

agricultores aleacutem de propiciar uma reflexatildeo a respeito da importacircncia do investimento atraveacutes

de disponibilizaccedilatildeo de recursos para a manutenccedilatildeo da poliacutetica

234

O primeiro passo do trabalho foi entender a realidade da agricultura familiar no Brasil

onde se pocircde observar de modo geral que as dificuldades e desafios enfrentados pelos

agricultores familiares soacute foram atendidas embora que de maneira incompleta a partir da

deacutecada de 1990 uma vez que esses produtores sempre ficaram agrave mercecirc de poliacuteticas que

privilegiaram a grande produccedilatildeo e a monocultura mais especificamente da poliacutetica de creacutedito

da qual esses agricultores tinham sido excluiacutedos

O PRONAF foi uma reposta agraves reivindicaccedilotildees dos sindicatos rurais com creacutedito

destinado aos agricultores familiares O programa eacute reconhecido como a poliacutetica de maior

importacircncia na histoacuteria da agricultura familiar pois por meio das diversas linhas de creacutedito

permite ao agricultor familiar ampliar sua capacidade de produccedilatildeo aleacutem de representar um

marco para a categoria O PRONAF impulsionou o surgimento de outras poliacuteticas que

vinculadas ao programa permitem uma plantaccedilatildeo segura por meio do GS e do SEAF

sustentaccedilatildeo de preccedilos atraveacutes do PGPAF e a garantia e demanda para parte da produccedilatildeo

mediante operacionalizaccedilatildeo do PAA

A uacuteltima parte do trabalho buscou evidenciar os efeitos do Programa de Aquisiccedilatildeo de

Alimentos na melhoria da qualidade de vida dos agricultores familiares brasileiros De um

modo geral os trabalhos analisados apontam para benefiacutecios importantes que o programa tem

propiciado aos agricultores familiares contudo atraveacutes da pesquisa pocircde-se concluir que tais

benefiacutecios estatildeo ameaccedilados de um modo especial pela excessiva reduccedilatildeo dos recursos

destinados ao programa

A revisatildeo de literatura permitiu reunir os benefiacutecios que o programa tem trazido para

produtores familiares Em geral eacute citado o incremento da renda atraveacutes das compras

institucionais mais especialmente pela possibilidade de criaccedilatildeo de novos canais de

comercializaccedilatildeo que o programa promove dada a qualidade e diversidade da produccedilatildeo O

programa possibilitou aos fornecedores o reconhecimento da categoria por parte das

comunidades locais

Dada a importacircncia do programa torna-se necessaacuterio uma melhor avaliaccedilatildeo das

dificuldades que assolam sua operacionalizaccedilatildeo de forma a desencadear competecircncias e

habilidades para garantir melhores benefiacutecios aos produtores e que o programa venha a

contemplar uma parcela maior de agricultores familiares

Nesse sentido o programa trouxe um novo incentivo para os agricultores familiares

tanto na questatildeo da geraccedilatildeo de renda e permanecircncia desse produtor no campo quanto na

235

possibilidade de diversificaccedilatildeo na produccedilatildeo o que traz para os agricultores melhor qualidade

de vida mais especificamente na questatildeo nutricional

Referecircncias

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238

ANAacuteLISE DO NIacuteVEL DE CAPITAL SOCIAL DA AGRICULTURA NO

TERRITOacuteRIO DA CIDADANIA CARIRI ndash CE

DAcircMARIS COSTA FRUTUOSO

Discente do curso de Ciecircncias Econocircmicas da Universidade Regional do Cariri (URCA)

Unidade Descentralizada de Iguatu ndash UDI E-mail damarisfrutuosogmailcom

GERLAcircNIA MARIA ROCHA SOUSA

Doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Cearaacute

(UFC) Mestre em Economia Rural pela Universidade Federal do Cearaacute (UFC) E-mail

gerlaniarochagmailcom

OTAacuteCIO PEREIRA GOMES

Mestre em Economia Rural pela Universidade Federal do Cearaacute (UFC) E-mail

otaciopggmailcom

ANTOcircNIA KARINE GOMES DOS SANTOS

Discente do curso de Ciecircncias Econocircmicas da Universidade Regional do Cariri (URCA)

Unidade Descentralizada de Iguatu ndash UDI E-mail karinegomes922gmailcom

ANDREacuteA FERREIRA DA SILVA

Doutoranda em Economia Aplicada da Universidade Federal da Paraiacuteba (UFPB) Mestre em

Economia Rural pela Universidade Federal do Cearaacute (UFC) Graduada em Ciecircncias

Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA) E-mail

andreaeconomiayahoocombr

239

ANAacuteLISE DO NIacuteVEL DE CAPITAL SOCIAL DA AGRICULTURA NO

TERRITOacuteRIO DA CIDADANIA CARIRI ndash CE

RESUMO Analisa-se o niacutevel de capital social associado a agricultura familiar em relaccedilatildeo aos dois niacuteveis de

agregaccedilatildeo soacutecio ambiental no estado do Cearaacute territoacuterio cariri e municiacutepio Utilizou-se dados

primaacuterios e secundaacuterios dados primaacuterios coletados no municiacutepio de Mauriti-CE e secundaacuterios obtido

atraveacutes de consultas O iacutendice de capital social foi calculado por meio da teacutecnica de anaacutelise

multivariada com base nas dimensotildees adaptadas para o estudo o ICS da comunidade foi calculado a

partir dos escores estimados associados aos fatores obtidos na estrutura fatorial definida Obtemos uma

caracterizaccedilatildeo precisa das instituiccedilotildees no territoacuterio e identificamos o niacutevel de capital social da

agricultura no territoacuterio verificando as limitaccedilotildees e dificuldades encontradas

Palavras-chave Agricultura Dificuldades Organizaccedilotildees

ABSTRACT The level of social capital associated with family agriculture is analyzed in relation to the two levels of

socio-environmental aggregation in the state of Cearaacute Cariri territory and municipality Primary and

secondary data were used primary data collected in the municipality of Mauriti-CE and secondary

data obtained through consultations The social capital index was calculated using the multivariate

analysis technique based on the dimensions adapted for the study the community ICS was calculated

from the estimated scores associated with the factors obtained in the defined factorial structure We

obtain a precise characterization of the institutions in the territory and identify the level of social

capital of agriculture in the territory verifying the limitations and difficulties encountered

Keywords Agriculture Difficulties Organizations

240

1 Introduccedilatildeo

Propotildee-se focar esse projeto no niacutevel de capital social com base nos agricultores

familiares do municiacutepio de Mauriti-CE Para tanto de iniacutecio teremos uma breve analise acerca

da agricultura familiar desenvolvimento territorial capital social e territoacuterio do cariri-CE

A agricultura familiar no territoacuterio brasileiro tem papel fundamental na geraccedilatildeo de

empregos e na produccedilatildeo de alimentos os defensores da modernizaccedilatildeo agriacutecola no Brasil

sempre o consideraram um segmento tardio com justificativas de que haacute pouco interesse

econocircmico para a sociedade e pouca significacircncia analiacutetica para corporaccedilatildeo

Segundo a FAOINCRA (2000) a agricultura familiar consiste na gestatildeo da produccedilatildeo

e investimentos exercida principalmente por trabalhadores com grau de parentesco a qual

pressupotildee a distribuiccedilatildeo igualitaacuteria da operacionalizaccedilatildeo da produccedilatildeo

A partir de mudanccedilas registradas no seacuteculo passado o debate a respeito da agricultura

familiar vem sendo destacado trazendo consigo mudanccedilas e respostas com relaccedilatildeo aos

avanccedilos construiacutedos pelos programasformas de organizaccedilotildees que diminuem a pobreza e

exclusatildeo social das comunidades rurais

Para Abramovay (2007) a partir dos anos 1990 a temaacutetica sobre desenvolvimento no

Brasil se desenvolveu com mais intensidade e foi iniciada com a entrada da agricultura

familiar no vocabulaacuterio cientiacutefico eacute a deacutecada atual com uma reavaliaccedilatildeo do significado de

desenvolvimento rural pois aborda as dinacircmicas territoriais no processo desenvolvimentista

O capital social vem adquirindo maior embasamento revigorando-se com o objetivo

de se tornar de fato consolidado e sustentaacutevel dada a existecircncia de uma grande subjetividade

em torno do mesmo No entendimento de Andrade e Cacircndido (2008) apesar das limitaccedilotildees

teoacutericas e metodoloacutegicas este conceito se constitui como um importante elo no processo de

revitalizaccedilatildeo da democracia fomentando a construccedilatildeo de uma identidade coletiva e

consequentemente interferindo na maior compreensatildeo e resoluccedilatildeo dos dilemas atuais

O territoacuterio caririense eacute um dos 6 territoacuterios pertencentes ao Cearaacute que tem como

objetivo trazer para cidades programas baacutesicos de cidadania para um melhor desenvolvimento

econocircmico Dessa forma pretende-se fazer uma anaacutelise atraveacutes de dados secundaacuterios a

respeito do territoacuterio como um todo e escolher um dos municiacutepios onde encontra-se uma

maior populaccedilatildeo rural e fortes atividades agriacutecolas para fazer a anaacutelise do capital social

atraveacutes de dados primaacuterios

241

2 Metodologia

21 Apresentaccedilatildeo da aacuterea geograacutefica do estudo

A aacuterea de estudo compreenderaacute o territoacuterio cariri que eacute um dos seis territoacuterios da

cidadania que fazem parte do estado do Cearaacute O mesmo abrange 29 municiacutepios Abaiara

Antonina do Norte Altaneira Araripe Assareacute Aurora Barro Barbalha Brejo Santo Campos

Sales Caririaccedilu Crato Farias Brito Granjeiro Jardim Jati Juazeiro do Norte Lavras da

Mangabeira Mauriti Milagres Missatildeo Velha Nova Olinda Penaforte Porteiras Potengi

Salitre Santana do Cariri Tarrafas e Vaacuterzea Alegre

A populaccedilatildeo total do territoacuterio eacute de 901928 habitantes dos quais 346428 vivem na

aacuterea rural Possui 51118 agricultores familiares 635 famiacutelias assentadas e 3 comunidades

quilombolas

22 Natureza e fonte dos dados

Para obtenccedilatildeo das informaccedilotildees empregadas no estudo foi utilizado dados primaacuterios e

secundaacuterios Em relaccedilatildeo aos dados primaacuterios o periacuteodo da coleta faraacute referecircncia ao ano de

2016 e efetuou-se atraveacutes da aplicaccedilatildeo de questionaacuterio semindashestruturado junto a 27 famiacutelias

de agricultores familiares de comunidades rurais do municiacutepio de Mauriti

Os dados secundaacuterios foram obtidos atraveacutes do Plano Territorial de Desenvolvimento

Rural e Sustentaacutevel Cariri (PTDRS) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE)

Ministeacuterio do Desenvolvimento Agraacuterio (MDA) e por meio de consulta bibliograacutefica a

respeito do tema proposto ou seja no exame de diversos livros artigos e perioacutedicos que

informam os aspectos do tema na atualidade

23 Populaccedilatildeo e amostra

A pesquisa seraacute realizada por processo de amostragem natildeo-probabiliacutestica por

conveniecircncia levando em conta a populaccedilatildeo de agricultores na Microrregiatildeo

242

Nos meacutetodos de amostragem natildeo-probabiliacutestica as amostras satildeo obtidas de forma natildeo-

aleatoacuterias ou seja a probabilidade de cada elemento da populaccedilatildeo fazer parte da amostra natildeo

eacute igual e portanto as amostras selecionadas natildeo satildeo igualmente provaacuteveis (FAacuteVERO 2009)

O meacutetodo por conveniecircncia pode ser aplicado quando a participaccedilatildeo eacute voluntaacuteria ou os

elementos da amostra satildeo escolhidos por uma questatildeo de conveniecircncia ou simplicidade

24 Seleccedilatildeo de indicadores e tratamento dos dados

Dada a complexidade dos estudos a respeito de capital social e os vaacuterios tipos de

indicadores existentes optou-se por abordar esta questatildeo a partir de quatro dimensotildees

propostas por Grootaert et al (2003) e uma quinta dimensatildeo elaborada no presente trabalho

como uma forma de complementar e enriquecer a anaacutelise

Atraveacutes dessas dimensotildees pocircde-se criar um conjunto de questotildees essenciais para medir

os niacuteveis de capital social As dimensotildees citadas abaixo foram adaptadas para o contexto do

estudo no qual abrange o capital social no acircmbito da agricultura

Grupos e Redes esta eacute a categoria mais comumente associada ao capital social

Considera-se a natureza e a extensatildeo da participaccedilatildeo de um membro de um domiciacutelio

em vaacuterios tipos de organizaccedilatildeo social e redes informais assim como as vaacuterias

contribuiccedilotildees dadas e recebidas nestas relaccedilotildees

Confianccedila e Solidariedade esta categoria busca levantar dados sobre a confianccedila em

relaccedilatildeo a vizinhos dirigentes das formas de organizaccedilotildees e governantes locais e

regionais

Accedilatildeo Coletiva e Cooperaccedilatildeo esta categoria investiga se e como os membros do

domiciacutelio tecircm trabalhado com outras pessoas em sua comunidade e em projetos

comuns

Coesatildeo e Inclusatildeo Social as ―comunidades natildeo satildeo entidades coesas mas antes se

caracterizam por vaacuterias formas de divisatildeo e diferenccedilas que podem levar ao conflito

Questotildees nesta categoria buscam identificar a natureza e o tamanho dessas diferenccedilas

os mecanismos por meio dos quais elas satildeo gerenciadas e quais os grupos que satildeo

excluiacutedos dos serviccedilos puacuteblicos essenciais Questotildees relativas agraves formas cotidianas de

interaccedilatildeo social tambeacutem satildeo consideradas

243

Poliacuteticas Puacuteblicas e Assistecircncia Teacutecnica essa categoria foi incluiacuteda por retratar

questotildees relacionadas agraves poliacuteticas puacuteblicas as quais os membros da comunidade tecircm

acesso a presenccedila ou natildeo de assistecircncia teacutecnica e se existe adequada infraestrutura

O Quadro 1 apresenta a definiccedilatildeo das variaacuteveis utilizadas para a construccedilatildeo do iacutendice

de capital social (ICS) Os dados utilizados satildeo de natureza primaacuteria

Quadro 1 - Dimensotildees e Indicadores do ICS

DIMENSOtildeES INDICADORESVARIAacuteVEIS

Grupos e Redes

Participaccedilatildeo em alguma forma de organizaccedilatildeo

Forma de organizaccedilatildeo na qual participa

Tipo de organizaccedilatildeo na qual participa (local ou regional)

Confianccedila e

Solidariedade

Frequecircncia na qual participa da forma de organizaccedilatildeo

Niacutevel de confianccedila em relaccedilatildeo aos dirigentes da forma de organizaccedilatildeo na qual participa

Niacutevel de confianccedila em relaccedilatildeo aos governantes locais

Niacutevel de relacionamento com os vizinhos da comunidade onde reside

Accedilatildeo Coletiva e

Cooperaccedilatildeo

Participaccedilatildeo em alguma atividade voluntaacuteria de cunho local ou regional

Existecircncia de interaccedilatildeo na comunidade a fim de solicitar accedilotildees de desenvolvimento local

Participaccedilatildeo nas decisotildees a serem tomadas para o desenvolvimento da comunidade

Coesatildeo e Inclusatildeo

Social

Existecircncia de problemas na comunidade quanto agraves diferenccedilas raciais sociais culturais

poliacuteticas religiosas

Envolvimento da famiacutelia em algum problema de cunho racial social cultural poliacutetico

religioso existentes na comunidade

Existecircncia de problemas em relaccedilatildeo agrave violecircncia na comunidade

Poliacuteticas Puacuteblicas e

Assistecircncia Teacutecnica

Existecircncia de poliacuteticas ou programas envolvidos na geraccedilatildeo de desenvolvimento local na

comunidade

Participaccedilatildeo em algumas dessas poliacuteticas ou programas

Existecircncia de assistecircncia teacutecnica para a agricultura

Frequecircncia da assistecircncia teacutecnica

Fonte Elaboraccedilatildeo dos autores

25 Meacutetodos de anaacutelise

No presente trabalho seratildeo empregados alguns pressupostos propostos na Anaacutelise

Diagnoacutestico de Sistemas Agraacuterios (ADSA) desenvolvida pelo projeto INCRAFAO (1999)

dentro de uma loacutegica que parte do meio geral para o particular buscando aleacutem da descriccedilatildeo de

fenocircmenos observados explicaccedilotildees mais detalhadas sobre o objeto em estudo na necessidade

de entender as relaccedilotildees entre os meios social econocircmico e ambiental

i) Anaacutelise progressiva que parte do geral para o especiacutefico comeccedilando pelos

fenocircmenos de niacutevel geral terminando nos niacuteveis especiacuteficos eou nos

fenocircmenos particulares

244

ii) A busca por explicaccedilotildees e natildeo somente a descriccedilatildeo dos fenocircmenos

observados

iii) Estratificaccedilatildeo da realidade mediante o estabelecimento de conjuntos

homogecircneos e contrastados definidos de acordo com o desenvolvimento rural

de um determinado espaccedilo geograacutefico

Seraacute calculado o iacutendice de capital social (ICS) por meio da teacutecnica de anaacutelise

multivariada conhecida como anaacutelise fatorial com base nas dimensotildees e variaacuteveis

apresentadas no quadro 1

Adicionalmente para a identificaccedilatildeo e classificaccedilatildeo das comunidades por niacutevel de

capital social seraacute utilizada outra teacutecnica de anaacutelise multivariada a anaacutelise de agrupamento

ou cluster

Quadro 2 ndash Relaccedilatildeo entre objetivos niacuteveis de agregaccedilatildeo socioambiental meacutetodos e

instrumentos utilizados na pesquisa

OBJETIVO NIacuteVEL DE AGREGACcedilAtildeO MEacuteTODO

Caracterizaccedilatildeo do Capital Social Territoacuterio Anaacutelise documental e descritiva

ICS Municiacutepio Anaacutelise Fatorial

Tipologia do capital social Municiacutepio ICS e Anaacutelise de Agrupamento

ou Cluster

Fonte Elaboraccedilatildeo da autora

26 Anaacutelise descritiva

A teacutecnica da anaacutelise descritiva seraacute empregada com o objetivo de caracterizar o capital

social de acordo com as poliacuteticas ou programas projetos formas de organizaccedilotildees e

instituiccedilotildees de acesso aos agricultores das comunidades em estudo

Foram utilizadas tabelas de distribuiccedilatildeo de frequecircncias (absoluta e relativa) e as

medidas de tendecircncia central A pesquisa descritiva tem como objetivo primordial a descriccedilatildeo

das caracteriacutesticas de determinada populaccedilatildeo ou o estabelecimento de relaccedilatildeo entre elas

27 Anaacutelise fatorial

Como recurso analiacutetico que construa um iacutendice sinteacutetico de capital social para o

conjunto de comunidades do municiacutepio seraacute utilizada a teacutecnica de anaacutelise multivariada

245

conhecida como anaacutelise fatorial a qual fornece elementos para analisar a estrutura de inter-

relaccedilotildees entre um grande nuacutemero de variaacuteveis procurando descrevecirc-las atraveacutes de um nuacutemero

menor de iacutendices ou fatores (HAIR et al 2009)

Na nova composiccedilatildeo as variaacuteveis mais correlacionadas combinam-se dentro de um

mesmo fator (que explica uma parcela das variaccedilotildees das variaacuteveis originais) Como na

estimaccedilatildeo dos fatores eacute imposta a condiccedilatildeo de ortogonalidade os fatores resultantes satildeo

independentes

Conforme Faacutevero et al (2009) o meacutetodo de anaacutelise fatorial consiste na tentativa de se

determinar as relaccedilotildees quantitativas entre as variaacuteveis aferindo seus padrotildees de movimento

de modo a associar aquelas um padratildeo semelhante o efeito de um fator causal subjacente e

especiacutefico a estas variaacuteveis

Essa anaacutelise se baseia na suposta existecircncia de um nuacutemero de fatores causais gerais

cuja presenccedila daacute origem as relaccedilotildees entre as variaacuteveis observadas de forma que no total o

nuacutemero de fatores seja consideravelmente inferior ao nuacutemero de variaacuteveis Isso porque muitas

relaccedilotildees entre as variaacuteveis satildeo em grande medida devido ao mesmo fator causal geral Sousa

(2015)

O modelo matemaacutetico da anaacutelise fatorial pode ser representado por

De forma simplificada tem-se

(1)

Tal que

= j-eacutesima variaacutevel padronizada

= eacute o coeficiente de saturaccedilatildeo referente ao i-eacutesimo fator comum da j-eacutesima variaacutevel

= eacute o i-eacutesimo fator comum

246

= eacute o coeficiente de saturaccedilatildeo referente ao j-eacutesimo fator especiacutefico da j-eacutesima variaacutevel

= eacute o j-eacutesimo fator especiacutefico da j-eacutesima variaacutevel

De acordo com a anaacutelise fatorial cada fator eacute constituiacutedo por uma combinaccedilatildeo linear

das variaacuteveis originais inseridas no estudo A associaccedilatildeo entre fatores e variaacuteveis se daacute por

meio das cargas fatoriais os quais podem ser positivos ou negativos mas nunca superiores a

um Esses coeficientes de saturaccedilatildeo tecircm funccedilatildeo similar aos coeficientes de regressatildeo na

anaacutelise de regressatildeo (SIMPLICIO 1985)

O coeficiente de saturaccedilatildeo entre uma variaacutevel e um fator elevado ao quadrado

identifica a proporccedilatildeo da variacircncia da variaacutevel explicada pelo fator E o somatoacuterio do

quadrado dos coeficientes de saturaccedilatildeo para cada variaacutevel eacute chamado ―comunalidade a

qual informa a proporccedilatildeo da variacircncia total de cada variaacutevel que eacute explicada pelo conjunto de

fatores considerados na anaacutelise ao passo que a soma do quadrado dos coeficientes de

saturaccedilatildeo para cada fator denomina-se eigenvalue Ao dividir o eigenvalue pelo nuacutemero de

variaacuteveis incluiacutedas no estudo obteacutem-se a proporccedilatildeo explicada pelo referido fator ao problema

estudado

Para aplicaccedilatildeo dessa anaacutelise foram selecionadas variaacuteveis jaacute apresentadas a respeito

do capital social atraveacutes da resposta de 27 famiacutelias entrevistadas Neste sentido na anaacutelise

fatorial a seleccedilatildeo das variaacuteveis adequadas ao fenocircmeno que se deseja estudar eacute de extrema

importacircncia pois uma vez a variaacutevel incluiacuteda na pesquisa tem implicaccedilotildees definitivas nos

resultados

O primeiro procedimento necessaacuterio seraacute a verificaccedilatildeo dos pressupostos que consistiraacute

em analisar a normalidade da distribuiccedilatildeo dos dados de cada variaacutevel (utilizando o Teorema

do Limite Central caso haja um grande nuacutemero de variaacuteveis aleatoacuterias independentes e

identicamente distribuiacutedas entatildeo a distribuiccedilatildeo tenderaacute para uma distribuiccedilatildeo normal agrave

medida que o nuacutemero dessas variaacuteveis aumentar indefinidamente no caso especiacutefico n=56)

aleacutem da estimaccedilatildeo da matriz de correlaccedilatildeo para checar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis realizada por meio de testes de hipoacuteteses especiacuteficos (GUJARATI 2000)

A anaacutelise da matriz de correlaccedilatildeo apresenta os coeficientes de correlaccedilatildeo de Pearson

para cada par de variaacuteveis adotadas na pesquisa A relaccedilatildeo entre as variaacuteveis seraacute confirmada

a partir do niacutevel de significacircncia dos coeficientes estimados (p-value lt 005) De acordo com

Hair Jr et al (2005) a anaacutelise seraacute iniciada com exame da matriz de correlaccedilotildees para

verificaccedilatildeo da existecircncia de valores significativos que justifiquem a utilizaccedilatildeo da teacutecnica

247

Ainda segundo os autores se a visualizaccedilatildeo da matriz de correlaccedilotildees natildeo mostrar um nuacutemero

substancial de valores maiores que 030 haveraacute fortes indiacutecios que a anaacutelise fatorial natildeo seraacute

adequada

Conforme Faacutevero et al (2009) para verificar a adequabilidade dos dados para a anaacutelise

fatorial satildeo utilizados o iacutendice Kaiser ndash Mayer ndash Olkin (KMO) o teste de esfericidade de

Bartlett (BTS) e a Matriz Anti ndash imagem O iacutendice Kaiser ndash Mayer ndash Olkin (KMO) varia de 0

a 1 e serve para comparar as magnitudes dos coeficientes de correlaccedilotildees observados com as

magnitudes dos coeficientes de correlaccedilotildees parciais Portanto o KMO trata-se de uma medida

de homogeneidade das variaacuteveis que compara as correlaccedilotildees parciais observadas entre as

variaacuteveis conforme a foacutermula a seguir

(2)

Sendo que

coeficiente de correlaccedilatildeo observado entre as variaacuteveis i e j

coeficiente de correlaccedilatildeo observado entre as mesmas variaacuteveis que eacute simultaneamente

uma estimativa das correlaccedilotildees entre os fatores Os deveratildeo estar proacuteximos de zero pelo

fato de os fatores serem ortogonais entre si

Em relaccedilatildeo agrave estatiacutestica do KMO quanto menor o valor do respectivo teste menor a

relaccedilatildeo entre as variaacuteveis e os fatores podendo o iacutendice variar entre 0 e 1 O iacutendice menor que

05 caracteriza-se como inaceitaacutevel o uso dessa teacutecnica caso contraacuterio o iacutendice proacuteximo de 1

a utilizaccedilatildeo da teacutecnica com os dados se torna bastante eficaz

O teste Bartlett de esfericidade pode testar a hipoacutetese nula de que a matriz de

correlaccedilotildees eacute uma matriz identidade (o que inviabiliza a metodologia da anaacutelise fatorial

proposta) Caso a matriz de correlaccedilotildees seja uma matriz identidade significa que as inter-

relaccedilotildees entre as variaacuteveis satildeo iguais a zero e portanto a anaacutelise fatorial natildeo deveraacute ser

utilizada sendo (a matriz de correlaccedilotildees eacute uma matriz identidade) e (a matriz de

correlaccedilotildees natildeo eacute uma matriz identidade) Caso for aceito a anaacutelise fatorial deve ser

desconsiderada caso seja rejeitado haveraacute indiacutecios de que existam correlaccedilotildees entre as

variaacuteveis explicativas utilizadas (FAacuteVERO et al 2009)

A matriz antindashimagem tambeacutem mostra a partir da matriz de correlaccedilotildees a

adequabilidade dos dados agrave anaacutelise fatorial e apresenta os valores negativos das correlaccedilotildees

248

parciais Na sua diagonal satildeo apresentados os valores de MSA (Measure of Sampling

Adequacy) ou a Medida de Adequaccedilatildeo da Amostra para cada variaacutevel ou seja quanto

maiores esses valores melhor seraacute a utilizaccedilatildeo da anaacutelise fatorial e caso contraacuterio talvez seja

necessaacuterio excluiacute-la (HAIR et al 2005)

A anaacutelise dos componentes principais (ACP) leva em conta a variacircncia total dos dados

e na anaacutelise fatorial comum os fatores satildeo estimados levando-se em conta apenas a variacircncia

comum O ACP se aplica quando o objetivo da anaacutelise for reduzir o nuacutemero de variaacuteveis para

a obtenccedilatildeo de um nuacutemero menor de fatores necessaacuterios a explicar o maacuteximo possiacutevel a

variacircncia representada pelas variaacuteveis originais

O procedimento utilizado neste trabalho levou em consideraccedilatildeo a extraccedilatildeo dos fatores

iniciais atraveacutes da anaacutelise dos componentes principais que mostrou uma combinaccedilatildeo linear

das variaacuteveis observadas de maneira a maximizar a variacircncia total explicada A escolha do

nuacutemero de fatores se deu atraveacutes do criteacuterio da raiz latente (criteacuterio de Kaiser) em que se

escolheu o nuacutemero de fatores a reter em funccedilatildeo dos valores proacuteprios acima de 1 (eigenvalues)

que mostram a variacircncia explicada por cada ou quanto cada fator conseguiraacute explicar da

variacircncia total (MINGOTI 2005)

A grande dificuldade ao se optar pela anaacutelise fatorial eacute a interpretaccedilatildeo dos fatores

Nem sempre se consegue identificar claramente quais variaacuteveis estatildeo sendo mais bem

explicadas por um fator Uma forma de minimizar essa duacutevida eacute aplicar o meacutetodo de rotaccedilatildeo

Faacutevero et al (2009) destaca os principais meacutetodos de rotaccedilatildeo ortogonal (mantendo-se a

independecircncia entre eles)

- Varimax eacute o mais utilizado Minimiza o nuacutemero de variaacuteveis com altas cargas em

diferentes fatores permitindo a associaccedilatildeo de uma variaacutevel a um uacutenico fator

- Quartimax minimiza o nuacutemero de fatores necessaacuterios para explicar cada variaacutevel Grande

parte das variaacuteveis fica concentrada em um soacute fator o que dificulta a interpretaccedilatildeo

- Equamax simplifica fatores e variaacuteveis (possui caracteriacutesticas dos dois meacutetodos anteriores)

Os principais meacutetodos de rotaccedilatildeo obliacutequa satildeo

- Direct oblimin produz autovalores (eigenvalues) elevados mas aumenta a complexidade

dos fatores

- Promax mais utilizado quando se trabalha com grandes bancos de dados

A rotaccedilatildeo dos fatores utilizou o meacutetodo Varimax que objetiva maximizar a variaccedilatildeo

entre os pesos de cada componente principal mantendo-se a ortogonalidade entre eles

249

28 Construccedilatildeo do iacutendice de capital social (ICS)

O ICS das comunidades seraacute calculado a partir dos escores estimados associados aos

fatores obtidos na estrutura fatorial definida Seraacute utilizado adicionalmente a raiz latente ou

o autovalor que corresponde agrave soma (em coluna) das cargas fatoriais ao quadrado para o

respectivo fator (HAIR et al 2009 p 101) A padronizaccedilatildeo dos escores fatoriais torna-se

necessaacuteria de forma a enquadraacute-los no intervalo de zero a um a partir da expressatildeo

(3)

De modo que

Fgj = escore fatorial do g-eacutesimo fator padronizado da j-eacutesima famiacutelia (g=16 e j =

1163)

Fgj = escore fatorial do g-eacutesimo fator para da j-eacutesima famiacutelia

FgF = menor escore fatorial do g-eacutesimo fator entre as famiacutelia

FgFA = maior escore fatorial do g-eacutesimo fator entre as famiacutelias das comunidades

Para a construccedilatildeo do ICS relativo a j-eacutesima famiacutelia definiu-se a equaccedilatildeo

(4)

Em que γg corresponde ao autovalor do g-eacutesimo fator Observa-se que a expressatildeo

indica a participaccedilatildeo relativa do fator g na explicaccedilatildeo da variacircncia total capturada

pelos n fatores

29 Anaacutelise de agrupamento ou cluster

Procedeu-se ainda agrave aplicaccedilatildeo de outra teacutecnica de estatiacutestica multivariada a anaacutelise

de agrupamento ou cluster a qual consiste na definiccedilatildeo de grupos homogecircneos eou

heterogecircneos constituindo-se em um meacutetodo orientador e norteador para identificaccedilatildeo de

diferenccedilas de comportamento tomada de decisotildees e definiccedilatildeo de estrateacutegias de atuaccedilatildeo e

planejamento

O meacutetodo adotado foi a anaacutelise de agrupamento natildeo hieraacuterquico (teacutecnica de particcedilatildeo

ou agrupamento de k-meacutedias) recurso comumente utilizado em estudos exploratoacuterios

250

descritivos de modo a permitir uma classificaccedilatildeo das comunidades rurais do municiacutepio de

acordo com a mensuraccedilatildeo do capital social tendo sido necessaacuteria a definiccedilatildeo do nuacutemero de

agrupamentos ―O meacutetodo de k-meacutedias eacute responsaacutevel por alocar cada um dos elementos

existentes em um dos k grupos preacute-definidos objetivando minimizar a soma dos quadrados

residuais dentro de cada grupo com a finalidade de aumentar a homogeneidade do mesmo

(FAacuteVERO et al2009)

Consiste portanto em dividir um conjunto de elementos (famiacutelias) em subconjuntos

os mais semelhantes possiacuteveis de modo que os elementos pertencentes a um mesmo grupo

sejam similares com respeito agraves caracteriacutesticas que forem medidas em cada elemento Ou seja

atraveacutes de tal procedimento estatiacutestico os elementos satildeo classificados em grupos restritos

homogecircneos internamente com variabilidade intraclasse miacutenima e interclasse maacutexima (HAIR

et al 2009)

Os grupos seratildeo divididos com base nos valores obtidos para o ICS a partir do iacutendice

fatorial conforme definido anteriormente Neste trabalho as comunidades referentes ao

municiacutepio como um todo foram divididas em trecircs clusters para as comunidades rurais do

municiacutepio de Mauriti

3 Resultados e discussotildees

31 O territoacuterio do Cariri

O territoacuterio do Cariri eacute um dos seis Territoacuterios da Cidadania pertencente ao estado do

Cearaacute de acordo com o Plano de Desenvolvimento Rural Sustentaacutevel (PTDRS 2011) estaacute

localizado na regiatildeo sul do estado do Cearaacute tendo como limites ao sul o estado de

Pernambuco a oeste o estado do Piauiacute a leste o estado da Paraiacuteba e ao norte os municiacutepios

de Aiuaba Saboeiro Jucaacutes Cariuacutes Cedro e Ipaumirim

Sua formaccedilatildeo ocorreu da seguinte maneira antes da chegada dos portugueses agrave sopeacute

da chapada do Araripe era habitada pelos iacutendios Kariri quando os integrantes das caravanas

militares e religiosos vindos de Portugal entraram em contato com os nativos estudaram a

terra e descobriram que na regiatildeo tinha ouro em abundacircncia As famiacutelias de Portugal

desencadearam em busca de exuberacircncia de ouro na regiatildeo Logo houve a colonizaccedilatildeo e

como consequecircncia a doaccedilatildeo de sesmarias o que permitiu o surgimento de lugarejos e vilas

251

A formaccedilatildeo histoacuterica da regiatildeo foi marcada principalmente pelo desenvolvimento a partir da

pecuaacuteria e do comeacutercio

O territoacuterio do cariri-CE conteacutem 29 municiacutepios como mostramos na apresentaccedilatildeo da

Aacuterea Geograacutefica do Estudo Sua populaccedilatildeo eacute de aproximadamente 901928 habitantes Dos

346428 habitantes rurais haacute 51118 agricultores familiares 635 famiacutelias assentadas (essas

aacutereas de assentamentos foram coordenadas pelo INCRA- Instituto Nacional de Colonizaccedilatildeo e

Reforma Agraria e pelo IDACE-Instituto de Desenvolvimento Agraacuterio do Cearaacute Financiadas

pelos recursos do MDA) e 3 comunidades quilombolas

As caracteriacutesticas a respeito do solo do territoacuterio eacute que o mesmo possui um relevante

potencial natural de recursos hiacutedricos minerais de clima e solo que auxilia tanto a agricultura

diversificada como implantaccedilatildeo de agroinduacutestrias

Relatando o potencial agropecuaacuterio do Cariri conforme o (PTDRS 2011) em relaccedilatildeo as

diversidades dos micro territoacuterios as principais atividades desenvolvidas satildeo

Micro territoacuterio Cariri Central na agropecuaacuteria enfatiza uma elevada exploraccedilatildeo da

bovinocultura de leite Micro territoacuterio Cariri Oeste prevalece os serviccedilos agropecuaacuteria e

induacutestria Micro territoacuterio Cariri Leste destaca-se na exploraccedilatildeo da ovinocaprinocultura e

mandiocultura

O Poacutelo Cariri abrange uma aacuterea de 63423 kmsup2 correspondente aos municiacutepios de

Abaiara Barbalha Brejo Santo Crato Jardim Juazeiro do Norte Mauriti Milagres Missatildeo

Velha Porteiras e Santana do Cariri apresentando aacutereas de irrigaccedilatildeo com produccedilatildeo de

frutiacutecolas (banana mamatildeo manga uva pinha acerola graviola e coco dentre outras) gratildeos

Projetos programas instituiccedilotildees e organizaccedilotildees satildeo muito importante tanto para o

bem-estar da populaccedilatildeo quanto para o desenvolvimento dos municiacutepios Referente as

instituiccedilotildeesformas de organizaccedilotildees agriacutecolas temos os principais no Territoacuterio do Cariri no

quadro abaixo de forma em que haja essas formas de organizaccedilotildees em pelo menos um

municiacutepio do Territoacuterio listamos

252

Quadro 3 ndash Principais conjuntos de instituiccedilotildeesformas de organizaccedilatildeo que envolvem

agricultores presentes no Territoacuterio do Cariri INSTITUICcedilOtildeESFORMAS

DE ORGANIZACcedilOtildeES

TEMAS

Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental

Flor do Pequi

Fornecimento de Creacutedito para Agricultores

MDAINCRA Assentamentos rurais

EMATERCE Assistecircncia Teacutecnica (ATER) para agricultores familiares

Banco do Brasil (BB)

Fornecimento de creacutedito para agricultores familiares atraveacutes de

programas

Banco do Nordeste do Brasil

(BNB)

Fornecimento de creacutedito para agricultores familiares atraveacutes de

programas

SEBRAE Apoio a produccedilatildeo

INSS

Benefiacutecios previdenciaacuterios (aposentadoria auxiacutelio-doenccedila pensatildeo por

morte salaacuterio-maternidade salaacuterio-famiacutelia entre outros)

SINEIDT Programa nacional de inclusatildeo dos jovens (Pro - jovem urbano e Pro -

jovem campo)

Fundaccedilatildeo Nacional de Sauacutede Accedilotildees complementares de saneamento

SEMACEInstituto Chico

Mendes

Programa da biodiversidade (PROBIO)

Instituto AGROPOLOS Programa de Desenvolvimento Sustentaacutevel e Integrado

COGERHComitecircs de Bacias Operaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da infraestrutura hiacutedrica

Conselho CONDIRC Discute e propotildee o desenvolvimento regional do Cariri

Foacuterum Regional do Araripe Accedilotildees de apoio ao Geopark Araripe

FETRAECE

Defesa de poliacuteticas puacuteblicas pra o fortalecimento da agricultura familiar

Foacuterum pela Vida no Semiaacuterido

(FVSA)

Convivecircncia com o Semi Aacuterido

Foacuterum dos Assentados Reforma Agraacuteria

Foacuterum de Mulheres Defesa de poliacuteticas puacuteblicas para mulheres

PDRS Desenvolvimento Rural

Fonte PDTRS Cariri

A maioria dessas instituiccedilotildees apresentadas no quadro 3 foram desenvolvidas a fim de

promover o desenvolvimento da agricultura centrando cada vez mais no acircmbito local com o

objetivo de melhorar as condiccedilotildees de vida e trabalho dos agricultores familiares

Satildeo vaacuterias as entidades que prestam serviccedilos ou desenvolvem accedilotildees importantes na busca

do desenvolvimento do territoacuterio Destacam-se aquelas com maior potencial de integraccedilatildeo de

accedilotildees cuja abrangecircncia eacute territorial e contribuem diretamente para o meio rural como

Trabalhadoras na Agricultura do Estado do Cearaacute (FETRAECE) e FLOR DO PEQUI para

creacutedito fundiaacuterio

Conforme o PTDRS (2010) o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) o Banco do Brasil

(BB) e o SEBRAE priorizam o suporte agraves atividades de ovinocaprinocultura e apicultura no

Territoacuterio na questatildeo de concessotildees de creacutedito para agricultura familiar e apoio a produccedilatildeo

que eacute um dos pontos mais favoraacuteveis no micro territoacuterio do cariri leste A Companhia

Nacional de Abastecimento (CONAB) e Bases de Serviccedilos servem como apoio ao acesso aos

253

mercados e a Empresa de Assistecircncia Teacutecnica e Extensatildeo Rural do Cearaacute (EMATERCE) na

assistecircncia teacutecnica agraves comunidades rurais e aacutereas de assentamento de reforma agraacuteria

32 O municiacutepio de Mauriti-CE

Referente agrave aacuterea de estudo do presente trabalho optou-se aplicar o questionaacuterio no

municiacutepio de Mauriti pelo seu elevado nuacutemero de agricultores Este municiacutepio estaacute localizado

no Cearaacute e faz parte do territoacuterio Cariri como jaacute dito Mauriti possui aproximadamente

46335 habitantes Conforme o IBGE 2008 o PIB (Produto Interno Bruto) o municiacutepio em

questatildeo possui uma aacuterea de 1111856 kmsup2 PIB de R$ 156054540

33 Iacutendice de capital social (ICS) no municiacutepio de Mauriti (CE)

Com a aplicaccedilatildeo da anaacutelise fatorial obteve-se uma matriz de correlaccedilatildeo com

predominacircncia de coeficientes superiores a 030 indicando boa correlaccedilatildeo entre as variaacuteveis

selecionadas no estudo o que significa a possibilidade de aplicaccedilatildeo da anaacutelise fatorial Ainda

como criteacuterio para aferir as Inter correlaccedilotildees na matriz de dados a anaacutelise das Medidas de

Adequaccedilatildeo da Amostra revela coeficientes superiores a 05

Os testes de adequabilidade da amostra revelam que os fatores encontrados se constituem

em boas medidas de variabilidade dos dados originais Com o KMO atingindo 0531 pode-se

afirmar que existe uma correlaccedilatildeo meacutedia entre as variaacuteveis e com o teste de esfericidade de

Bartlett com niacutevel de significacircncia (p-value = 0000) pode-se rejeitar a hipoacutetese nula ao niacutevel

de 1 de que a matriz de correlaccedilatildeo eacute uma identidade evidenciando portanto que haacute

correlaccedilotildees entre as variaacuteveis tornando possiacutevel a aplicaccedilatildeo da anaacutelise fatorial (Tabela 4)

Tabela 1 - Teste de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e Bartlett

Medida Kaiser-Meyer-Olkin de adequaccedilatildeo de amostragem 531

Teste de esfericidade de

Bartlett

Chi-quadrado aprox 38769

df 21

Sig 010

Para a definiccedilatildeo do nuacutemero de fatores a reter utilizou-se o criteacuterio de Kaiser ou raiz

latente que considera apenas os fatores com eigenvalue (autovalor) superiores a um o que

254

significa dizer que ―no miacutenimo um componente deve explicar a variacircncia de uma variaacutevel

utilizada no modelo (FAacuteVERO et al 2009 p 243)

Quadro 4- Niacutevel de capital social Nivel de capital social

Grupos

ITFC Nuacutemero de produtores Frequecircncia relativa

Muito baixo 0-020 2 740

Baixo 021-035 8 2963

Meacutedio 031-054 11 4074

Alto 062-078 6 2222

Muito alto 079-100 0 -

Informaccedilotildees vaacutelidas - 27 9999

Fonte elaboraccedilatildeo dos autores

Observa-se uma forte assimetria nos niacuteveis de capital social das comunidades rurais desse

municiacutepio obtendo trecircs intervalos apresentados sendo 020 o niacutevel mais alto de capital social

obtido e 10 o mais baixo Como observou-se aproximadamente 4074 das famiacutelias rurais

tem um niacutevel meacutedio de capital social variando entre 037 e 054 A meacutedia dos iacutendices por

comunidade eacute 037 confirmando essa afirmaccedilatildeo (Tabela 4)

4 Consideraccedilotildees finais

Esse trabalho buscou estudar o niacutevel de capital social e agricultura familiar pertencentes

ao territoacuterio do cariri-CE Para ter em vista os aspectos mencionados ao longo do trabalho

utilizamos a princiacutepio bases documentais levando em conta as formas de organizaccedilatildeo desse

territoacuterio buscando as principais instituiccedilotildees poliacuteticas e programas para entendermos melhor

as formas de desenvolvimento contidas no espaccedilo estudado

Complementarmente recorremos a uma pesquisa com agricultores da cidade de Mauriti-

CE para calcularmos como estaacute o conjunto de ferramentas capazes de manter o melhor bem-

estar da populaccedilatildeo Para realizar isso utilizamos a teacutecnica de anaacutelise multivariada conhecida

como anaacutelise fatorial logo construiu-se o iacutendice de capital social para as comunidades rurais

do municiacutepio que se acredita ser capaz de dar uma ideia a respeito do niacutevel de capital social

de acordo com as categorias grupos e redes confianccedila e solidariedade accedilatildeo coletiva e

cooperaccedilatildeo coesatildeo e inclusatildeo social e poliacuteticas puacuteblicas e assistecircncia teacutecnica

O iacutendice de capital social se mostrou como meacutedio alegando uma deficiecircncia nos moacutedulos

do capital social do territoacuterio estudado que pocircde ser explicado por meio de anaacutelises de

frequecircncia de algumas questotildees presentes no banco de dados atraveacutes das respostas obtidas na

255

pesquisa de campo Essas questotildees revelaram que haacute uma deficiecircncia principalmente no

acircmbito das formas de organizaccedilotildees e na presenccedila de instituiccedilotildees e poliacuteticas voltadas para o

desenvolvimento das comunidades ou seja a maioria das poliacuteticas acessadas satildeo de cunho

assistencial e natildeo abrangem todas as famiacutelias

Como sugestatildeo para esse problema vecirc-se a necessidade da busca projetos e

instituiccedilotildees que incentivem e apoiem a criaccedilatildeo de novas organizaccedilotildees nessas comunidades

como grupos e cooperativas ou a ampliaccedilatildeo dos grupos jaacute existentes pois estes satildeo de grande

importacircncia para a diversificaccedilatildeo produtiva e geraccedilatildeo de emprego em aacutereas rurais que sofrem

com tais problemas

Eacute imprescindiacutevel que todos se conscientizem que em face dessa realidade a

cooperaccedilatildeo eacute uma grande aliada para um bom desenvolvimento territorial e para que isso

ocorra eacute preciso que tambeacutem haja o incentivo para os agricultores participarem dessas formas

de organizaccedilatildeo sugere-se tambeacutem trabalhar com palestras explicativas de como funciona

para que funciona e mostrar a importacircncia dessas instituiccedilotildees para obter um viacutenculo de capital

social relevante para o territoacuterio cariri-CE

Referecircncias

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formaccedilatildeo de capital social e poliacuteticas puacuteblicas de desenvolvimento territorial no Vale do

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BECKER Berta K O Uso Poliacutetico do Territoacuterio questotildees a partir de uma visatildeo do terceiro

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256

BRASIL MINISTEacuteRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRAacuteRIO Secretaria da Agricultura

Familiar Sistema de Avaliaccedilatildeo e Monitoramento do PRONAF

BRASIL MINISTEacuteRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRAacuteRIO Secretaria do

Desenvolvimento Territorial Marco Referencial para Apoio ao Desenvolvimento de

Territoacuterios Rurais Brasiacutelia SDTMDA 2008 2009 2011 e 2013

DALLABRIDA Valdir Roque PLANEJAMENTO REGIONAL algumas observaccedilotildees

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DALLABRIDA Valdir Roque BECKER Dinizar Fermiano Governanccedila Territorial - Um

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Disponiacutevel em ltwwwibgegovbrgt Acesso em 22 jun de 2014

INAacuteCIO Raoni RODRIGUES Maurinice XAVIER Thiago WITMANN Milton

MINUSSI Tieacuteli Desenvolvimento regional sustentaacutevel abordagens para um novo

paradigma Desenvolvimento em questatildeo 24 6-40 setdez 2013

INCRAFAO Novo Retrato da Agricultura Familiar O Brasil redescoberto Brasiacutelia Projeto

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Stylus Comunicaccedilotildees 1989

257

CRISES HIacuteDRICAS NO CEARAacute DE 2012 A 2016 FENOcircMENO CLIMAacuteTICO OU

SOacuteCIOECONOcircMICO

NAMYRES PEREIRA SANTOS

Economista pela Universidade Regional do Cariri (URCA) E-mail

namyresps3gmailcom Telefone (88) 9 9731-0332

ROGEacuteRIO MOREIRA DE SIQUEIRA

Professor Efetivo da Universidade Regional do Cariri (URCA) Mestre em Economia pela

Universidade Federal do Cearaacute (UFC) e-mail rogeriomsgmailcom Telefone (85) 9 8763-

7638

JAMILY FREIRE GONCcedilALVES

Economista pela Universidade Regional do Cariri (URCA) e-mail jamilyfreiregmailcom

Telefone (88) 9 9941-5302

258

CRISES HIacuteDRICAS NO CEARAacute DE 2012 A 2016 FENOcircMENO CLIMAacuteTICO OU

SOacuteCIOECONOcircMICO

RESUMO

Diante da severidade e prolongamento da seca que atinge a regiatildeo semiaacuterida principalmente

no estado do Cearaacute Esse trabalho tem como objetivo avaliar o impacto da seca no cenaacuterio

socioeconocircmico e ambiental da regiatildeo Cearense no periacuteodo de 2012 a 2016 A investigaccedilatildeo

foi elaborada por meio de um estudo exploratoacuterio e bibliograacutefico que contempla o estado do

Cearaacute onde a maior parte do seu territoacuterio estaacute inserido no semiaacuterido nordestino Seraacute

analisado o histoacuterico das secas suas consequecircncias a forma como eacute utilizado esse recurso tatildeo

escasso por meio do ponto de vista institucional e poliacutetico de como ocorriam agraves estiagens e

como o governo agia com a sua chegada Tambeacutem seraacute feito a descriccedilatildeo das poliacuteticas

puacuteblicas quais seus mecanismos de accedilatildeo como funcionam as entidades projetos programas

e compreender a forma em que as poliacuteticas tecircm agido para solucionar este problema que aflige

os cearenses Contudo foi possiacutevel observar que os cearenses ainda sofrem com as constantes

secas os programas e projetos criados ainda natildeo foram capazes de mudar a realidade social da

populaccedilatildeo da regiatildeo semiaacuterida Chegou-se agrave conclusatildeo que os efeitos advindos da seca natildeo

podem ser evitados mas podem ser amenizados se as poliacuteticas alinharem as suas estrateacutegias

de convivecircncia com o semiaacuterido inserindo poliacuteticas permanentes e sustentaacuteveis

Palavras-chaves Poliacuteticas Puacuteblicas Secas Semiaacuterido Nordestino

ABSTRACT

Due to the severity and prolongation of the drought that reaches the semi-arid region mainly

in the state of Cearaacute This study aims to evaluate the impact of drought on the socioeconomic

and environmental scenario of the region Cearense in the period from 2012 to 2016 The

research was developed through an exploratory and bibliographical study which includes the

state of Cearaacute where most of its territory is inserted into the semi-arid northeast It will

analyze the history of drought its consequences the way it used this scarce resource through

the institutional and political point of view of how the drought occurred and how the

government acted with his arrival It will also describe public policies their mechanisms of

action how entities projects programs work and understand how policies have acted to

solve this problem that afflicts Cearenses However it was possible to observe that the people

of Cearaacute still suffer from the constant droughts the programs and projects created have not

yet been able to change the social reality of the population of the region semi-arid It has

come to the conclusion that the effects of drought can not be avoided but can be mitigated if

policies align their strategies for living with the semi-arid inserting policies permanent and

sustainable

Keywords Public policy Droughts Semi-arid Northeastern

259

1 Introduccedilatildeo

A seca no Cearaacute sempre foi um problema muito abordado devido agraves caracteriacutesticas

climaacuteticas e hidrograacuteficas do estado que provocam sua forte recorrecircncia e traz periacuteodos de

sofrimento para grande parte da populaccedilatildeo em especial a mais pobre que satildeo mais

vulneraacuteveis agraves crises hiacutedricas Por isso os debates teacutecnicos poliacuteticos e cientiacuteficos buscam

discutir as accedilotildees para amenizar as consequecircncias da seca colocando em foco a formulaccedilatildeo e

implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

Com a sucessatildeo de governos foram sendo desenvolvidos e implementados diversos

projetos poreacutem a maioria com pouca efetividade e abrangecircncia jaacute que grande parte da

populaccedilatildeo continua dependente de poliacuteticas paliativas de enfrentamento tais como

distribuiccedilatildeo de carros pipas e assistencialismo Ainda faltam poliacuteticas permanentes e

apropriadas capazes de modificar a realidade de quem vive no semiaacuterido

Os periacuteodos de seca prolongados como observado entre 2012 e 2016 afetam de

sobremaneira as reservas hiacutedricas do estado do Cearaacute comprometendo o abastecimento

humano e animal bem como a produtividade agriacutecola Isso acaba comprometendo o

desenvolvimento econocircmico e social dos indiviacuteduos e das localidades que tem que direcionar

seus esforccedilos para o enfrentamento das secas Segundo Martins e Magalhatildees (2015) no

periacuteodo de 2012 a 2015 vaacuterios municiacutepios foram atendidos com accedilotildees emergenciais

Apesar do empenho e avanccedilos ainda haacute muito que se fazer existem diversos esforccedilos

de analistas puacuteblicos e acadecircmicos no sentido de atenuar o problema hiacutedrico isto eacute tornar a

convivecircncia com a seca mais harmoniosa Contudo esta pesquisa se mostra de grande

importacircncia por abordar um tema essencial agrave vida agrave economia ao social ao meio ambiente e

que causa em uacuteltima instacircncia muito sofrimento aos atingidos Aleacutem disso haacute a necessidade

de se conhecer as poliacuteticas implementadas seus mecanismos de accedilatildeo e se as mesmas

realmente tecircm funcionado e contribuiacutedo para soluccedilatildeo do problema e o desenvolvimento

socioeconocircmico do estado

A pesquisa tem como objetivo realizar um estudo do problema hiacutedrico da regiatildeo

Cearense de 2012 a 2016 verificando os aspectos sociais das poliacuteticas puacuteblicas usadas para

solucionar o problema da seca Para isso foi necessaacuterio avaliar os aspectos econocircmicos e

soacutecios ambientais da seca bem como descrever como os recursos hiacutedricos do estado tecircm sido

utilizados Busca-se tambeacutem fazer uma anaacutelise histoacuterica das secas assim como as accedilotildees para

atenuaacute-las descrevendo ainda as poliacuteticas aplicadas agrave seca

260

2 Referencial Teoacuterico

21 ASPECTOS ECONOcircMICOS DA SECA

A seca afeta o homem pelas alteraccedilotildees profundas que ocorrem nas condiccedilotildees

econocircmicas de quem necessita da terra para viver agrava os problemas econocircmicos e sociais

de uma populaccedilatildeo pobre que jaacute vive em condiccedilotildees de emprego inseguros Contribui para

intensificar a degradaccedilatildeo ambiental comprometendo o armazenamento dos recursos hiacutedricos

trazendo problemas ao abastecimento da populaccedilatildeo e para o desenvolvimento de atividades

econocircmicas

A aacutegua eacute um bem essencial a muitas atividades humanas e tem havido aumento

contiacutenuo do seu uso em diversas atividades por sua escassez e vulnerabilidade eacute considerada

um bem econocircmico Segundo Tundisi (2014) apesar do Brasil possuir uma grande

disponibilidade de aacutegua em termos globais os recursos satildeo distribuiacutedos de forma desigual A

regiatildeo Nordeste e o Cearaacute em particular se caracterizam pela escassez deste recurso A mesma

aacutegua eacute utilizada em vaacuterias atividades como o uso industrial a irrigaccedilatildeo geraccedilatildeo de energia

abastecimento urbano e outras atividades por isso sua escassez impede o desenvolvimento da

regiatildeo Segundo Dourado Juacutenior (2004) a escassez de aacutegua em algumas regiotildees se deve a

fatores como a variaccedilatildeo climaacutetica excesso populacional e de atividades econocircmicas aumento

da demanda por aacutegua e poluiccedilatildeo

A agricultura de sequeiro (especialmente de arroz feijatildeo e milho) representa uma

parcela muito significativa da atividade econocircmica desenvolvida no estado do Cearaacute

conforme Sampaio e Sampaio (2014) quando a seca chega haacute uma queda na produccedilatildeo de

alimentos da agricultura de sequeiro algumas vezes podendo resultar em perda total De

acordo com a CONAB (2017) com seca plurianual de 2012-2016 a cultura de sequeiro foi

prejudicada pelo fator climaacutetico havendo uma queda na produccedilatildeo Segundo Sampaio e

Sampaio (2014) como a renda de parte das famiacutelias eacute obtida deste tipo de produccedilatildeo quando

ocorre a seca a renda cai consideravelmente

Para Carvalho (2012) a seca representa uma impossibilidade de trabalho para

assalariados e pequenos proprietaacuterios Os que perdem a colheita e natildeo tem mais como

alimentar suas famiacutelias natildeo tendo emprego e sem alternativas para melhorar sua situaccedilatildeo

tentam trabalhar nas frentes de serviccedilos natildeo existindo as frentes migram na tentativa de fugir

261

da miseacuteria Segundo Queiroz Baeninger (2015) as migraccedilotildees se tornam uma alternativa para

aqueles que querem melhorar de vida ou apenas sobreviver principalmente migrar para

regiotildees onde se concentram a induacutestria mas os migrantes ainda podem se deparar com a falta

de emprego devido ao baixo niacutevel de educaccedilatildeo formal e falta de qualificaccedilotildees

Outra consequecircncia da seca eacute a perda de valor de bens como terra e gado devido agrave

queda na demanda De acordo com Arauacutejo (2002) a seca agrava a questatildeo fundiaacuteria a

concentraccedilatildeo de terras nas matildeos de poucos produtores aumentando os problemas sociais e

poliacuteticos da regiatildeo Conforme Sampaio e Sampaio (2014) passada a seca os bens voltam a

adquirir valor e os que conseguiram acumular tem um acreacutescimo na renda em detrimento de

outros que perderam suas terras fazendo com que a desigualdade cresccedila ainda mais Para

Balsan (2006) a concentraccedilatildeo da terra nas matildeos de poucos proprietaacuterios impede os pobres de

terem acesso a terra ficando com a minoria a maior porccedilatildeo de terras e a exploraccedilatildeo das

mesmas

22 ASPECTOS SOCIOAMBIENTAIS DA SECA

A regiatildeo semiaacuterida abrange uma aacuterea de 912 mil km2 onde vivem cerca de 22 milhotildees

de pessoas 46 da populaccedilatildeo nordestina eacute uma zona sujeita a periacuteodos ciacuteclicos de seca

Possui uma pluviosidade meacutedia que pode variar de 250mmano a 800mmano O subsolo eacute

formado por 70 de rochas cristalinas que tem baixa capacidade de reter aacutegua em lenccediloacuteis

subterracircneos normalmente a aacutegua eacute salinizada Possui deacuteficit hiacutedrico pois a aacutegua que evapora

eacute trecircs vezes maior que a precipitaccedilatildeo se tornando o maior problema do semiaacuterido

(MALVEZZI 2007)

A seca eacute um fenocircmeno climaacutetico de maior gravidade no Estado do Cearaacute que aleacutem de

causar problemas econocircmicos tambeacutem gera consequecircncias sociais e ambientais Um dos

maiores problemas ambientais eacute o impacto sobre os recursos hiacutedricos por ser um bem natural

e limitado Assim para Silva (2014) os impactos ambientais ocasionados pela seca estatildeo

relacionados com a reduccedilatildeo dos recursos hiacutedricos e as perdas de espeacutecies vegetais tambeacutem

estatildeo relacionados com a perda de animais aquaacuteticos devido o esgotamento dos accediludes

Muitas famiacutelias tambeacutem perdem plantaccedilotildees em especial as frutiacuteferas causando danos

alimentares e econocircmicos

262

Um dos maiores danos causados pela seca natildeo satildeo apenas as perdas vegetais e dos

rebanhos mas agraves perdas dos recursos hiacutedricos e por tornar a vida mais difiacutecil Em anos de

seca haacute uma reduccedilatildeo nas fontes de abastecimento com isso haacute perdas de bem-estar da

populaccedilatildeo pois reduz a qualidade de vida cresce a pobreza e diminui o emprego Com a

escassez de recursos a agricultura de subsistecircncia torna-se impraticaacutevel gerando reduccedilatildeo na

oferta de alimentos muitos ficam com fome como natildeo haacute como produzir provoca a reduccedilatildeo

dos recursos econocircmicos gerando a fome e miseacuteria de milhares de pessoas

Um fator de grande importacircncia eacute a contaminaccedilatildeo dos corpos hiacutedricos pois a aacutegua

contaminada pode trazer seacuterios riscos agrave sauacutede puacuteblica No Cearaacute essa disponibilidade vem se

reduzindo rapidamente enquanto que a demanda cresce Por causa das estiagens os

reservatoacuterios secam e a populaccedilatildeo que natildeo tem como encontrar aacutegua de boa qualidade se vecirc

obrigada a consumir aacutegua de poccedilos e accediludes que estatildeo no limite de sua capacidade de

armazenamento portanto satildeo de baixa confiabilidade enquanto que alguns se submetem a

caminhadas longas em busca de aacutegua para consumo proacuteprio e dos animais

De acordo com Carvalho (2012) a seca afeta diretamente as condiccedilotildees de vida das

pessoas que vivem no semiaacuterido a carecircncia de aacutegua causa incerteza no consumo da

populaccedilatildeo na alimentaccedilatildeo dos animais e na produccedilatildeo e rendimentos de quem pratica a

agricultura causando escassez de alimentos nas aacutereas que satildeo mais afetadas maior

probabilidade de doenccedilas causadas pela maacute nutriccedilatildeo e pelo consumo de aacutegua contaminada

Outro fator ambiental da seca satildeo os incecircndios que ocorrem geralmente por causa do

aumento da temperatura em periacuteodos de seca e calor a cobertura vegetal fica seca e com

reduzida umidade do ar e os ventos quentes contribuem para que os focos de incecircndios se

alastrem Ou seja por causa do tempo seco a vegetaccedilatildeo se torna vulneraacutevel as queimadas

3 METODOLOGIA

A presente investigaccedilatildeo pauta-se em um estudo bibliograacutefico uma vez que esta

ferramenta daacute embasamento teoacuterico necessaacuterio para aprofundar a discussatildeo Eacute uma pesquisa

de caraacuteter exploratoacuterio buscando se familiarizar com o problema das secas no Cearaacute e por

meio desta discutir as poliacuteticas puacuteblicas e ateacute onde elas tecircm contribuiacutedo para solucionar este

problema

263

De acordo com Helena (2009) o estudo exploratoacuterio ou pesquisa bibliograacutefica pode ser

considerado uma forma de pesquisa uma vez que eacute caracterizada pela busca a documentos de

uma resposta a uma duacutevida ―uma lacuna do conhecimento Procura explicar um problema a

partir de referecircncias teoacutericas que jaacute foram publicadas em documentos dispensando assim a

elaboraccedilatildeo de hipoacutetese

A pesquisa utilizaraacute para a anaacutelise dados secundaacuterios de oacutergatildeos e entidades

governamentais tais como Companhia de Gestatildeo de Recursos Hiacutedricos (COGERH)

Fundaccedilatildeo Cearense de Meteorologia e Recursos Hiacutedricos (FUNCEME) Aleacutem de estudos dos

demais autores bem referenciados que jaacute escreveram sobre o tema aqui abordado fazendo

fichamento dos principais pontos importantes para a pesquisa se utilizaraacute principalmente de

publicaccedilotildees que em grande parte estatildeo disponibilizados na internet revistas e perioacutedicos

especializados Quanto agrave teacutecnica e instrumentos utilizados para levantamento de dados eacute

indireta pois faz uso de material jaacute publicado

31 AacuteREA DE ESTUDO

O estudo realizado contemplou o Estado do Cearaacute que tem como limites o Oceano

Atlacircntico ao norte o estado do Pernambuco ao Sul Estados do Rio Grande do Norte e

Paraiacuteba ao leste e o Estado do Piauiacute a Oeste A figura 1 mostra o mapa do estado do Cearaacute

Figura 1 Mapa do Estado do Cearaacute

Disponiacutevel em httpwwwguianetcombrcemapacehtm

264

O Cearaacute tem uma aacuterea territorial de mais de 148 mil Km2

e possui 184 municiacutepios

Cerca de 92 do seu territoacuterio estaacute inserido no clima semi-aacuterido onde predomina a vegetaccedilatildeo

caatinga que por ser muito sensiacutevel agraves mudanccedilas climaacuteticas e interferecircncias humanas eacute o

principal bioma a sofrer com o problema da seca Caracteriza-se por ter clima aacuterido e aacutereas

com esse clima satildeo atingidos por periacuteodos de seca possui deficiecircncia hiacutedrica irregularidade

das precipitaccedilotildees pluviomeacutetricas distribuiacutedas no tempo e no espaccedilo

Segundo Albuquerque Souza Medeiros Sousa e Lima (2014) o periacuteodo chuvoso

dura de trecircs a cinco meses geralmente de fevereiro a abril nas condiccedilotildees normais de chuva os

iacutendices pluviomeacutetricos variam entre 500 a 800 mmano a irregularidade das chuvas e as altas

taxas de evaporaccedilatildeo justificam deacuteficit hiacutedrico para agricultura e para a populaccedilatildeo residente no

semiaacuterido A temperatura meacutedia no semiaacuterido satildeo superiores a 22degC Os solos no estado do

Cearaacute tem pouca profundidade se tornando vulneraacutevel a erosatildeo e tem deficiecircncia hiacutedrica

Atualmente o estado aleacutem de sofrer com a vulnerabilidade imposta pela irregularidade

pluviomeacutetrica tambeacutem apresenta solos degradados Quanto aos recursos hiacutedricos superficiais

estatildeo em baixos iacutendices de armazenamento ou encontram-se comprometidos pela poluiccedilatildeo

esse problema se agrava ainda mais na aacuterea onde prevalece o bioma caatinga

4 AS SECAS NO CEARAacute DO SEacuteCULO XVI AO XXI

O quadro 1 traz um resumo de algumas das secas que tiveram destaque no Sertatildeo

Nordestino ao longo dos seacuteculos

Quadro 1ndash Algumas das principais secas registradas no Sertatildeo Nordestino

PERIacuteODO DESTAQUE DESCRICcedilAtildeO

SEacuteCULO

XVI

1583

Ficou conhecida como a grande estiagem populaccedilotildees duramente atingidas

pela fome fez os iacutendios migrarem em busca de alimento

SEacuteCULO

XVII 1692-1693

Assolou a produccedilatildeo agraacuteria populaccedilotildees se deslocavam em busca de comida e

aacutegua com isso houve despovoamento de fazendas e currais

SEacuteCULO

XVIII

1720-1727 Seacuteculo em que se iniciou a cultura do algodatildeo foi a maior estiagem com sete

anos seguidos de seca gados foram dizimados e as fontes secaram

1777 Ficou conhecida como a seca dos trecircs setes lavouras foram esterilizadas sete

oitavos dos rebanhos do Cearaacute foram dizimados

SEacuteCULO

XIX

1877-1879

A mortalidade no Cearaacute chega agrave de 500000 Surgem sugestotildees sobre estudos

e obras para mitigar a seca Esse periacuteodo marca a frase dita por D Pedro II

―Natildeo restaraacute uma uacutenica joia da coroa mas nenhum nordestino morreraacute de

fome Milhares morreram de fome e muitos morreram de doenccedilas

1915 Inspirou a escritora Raquel de Queiroz a escrever o ―O quinze onde foi

265

SEacuteCULO XX relatada a criaccedilatildeo de campos de concentraccedilatildeo em que milhares de retirantes

ficaram a morrer de fome e doenccedilas Ficou famosa como a ―seca do 15

SEacuteCULO

XXI

2001 Seca combinada com a crise eleacutetrica assola todo o paiacutes programa seguro

safra eacute proposto pelo governo do estado do Cearaacute

2012-2016

Chuvas abaixo da meacutedia Dizimou a pecuaacuteria e a agricultura familiar em

algumas regiotildees natildeo choveu os rios secaram Houve queda da produccedilatildeo

agriacutecola foi necessaacuterio abastecimento via carros- pipa

Fonte Autora com base em Campos (2014) Rodrigues (2016)

5 SECA DE 2012 A 2016

Este estudo contempla os aspectos hidroloacutegicos do estado do Cearaacute que na maior

parte do seu territoacuterio predomina o clima semiaacuterido com uma estaccedilatildeo chuvosa e outra seca o

periacuteodo chuvoso concentra a maior parte das precipitaccedilotildees e se restringe a cerca de quatro

meses ao ano isso aumenta a evaporaccedilatildeo e a consequente perda de reservas As temperaturas

satildeo elevadas variando pouco durante todo o ano as chuvas se concentram entre janeiro e

abril portanto o periacuteodo restante do ano corresponde a um longo periacuteodo de seca

Atualmente o Cearaacute vivencia um novo ciclo de seca que teve iniacutecio em 2012 segundo

dados da Fundaccedilatildeo Cearense de Meteorologia (FUNCEME) mostram que esta eacute a pior seca

prolongada desde 1910

Graacutefico 1 Chuvas no Cearaacute de 1977 a 2017

FONTE Autora com dados da Fundaccedilatildeo Cearense de Meteorologia (FUNCEME)21

A precipitaccedilatildeo normal no Cearaacute eacute de 800 mm mas com a seca que deu iniacutecio em 2012

a precipitaccedilatildeo foi de 3888 mm muito abaixo da meacutedia o que fez desta uma das piores secas

prolongadas De 2013 agrave 2016 as chuvas seguiram abaixo de 600mm O periacuteodo de 2012 a

21

Disponiacutevel em ltwwwfuncemebrindexphpareas23-monitoramentometereoloacutegico406-gt

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1800

1977 1982 1987 1992 1997 2002 2007 2012 2017

PR

EC

IPIT

ACcedil

AtildeO

(m

m)

ANOS

Chuva

Normal

266

2016 por ser muito criacutetico em termos de chuvas muitos municiacutepios decretaram estado de

emergecircncia no Cearaacute como mostra na tabela 1

Tabela 1- Decretos de Estado de Emergecircncia no Cearaacute no periacuteodo de 2012 a 2016

DECRETO PERIacuteODO Ndeg DE MUNICIacutePIOS

30922 28052012 168

31053 19112012 174

31214 21052013 175

31338 31102013 175

31475 08052014 176

31619 15112014 176

31717 29042015 67

31725 21052015 28

31752 24062015 44

31808 22102015 150

31931 18042016 84

31961 02062016 25

31981 28062016 9

32002 01082016 7

32069 14102016 104

32110 23122016 25

Fonte Autora com base em dados da Defesa Civil

De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Agraacuterio (SDA 2015) em setembro

de 2015 o Comitecirc Integrado de Combate agrave Estiagem do Estado do Cearaacute incluiu mais 37

municiacutepios cearenses na lista dos atendidos pela operaccedilatildeo Carro Pipa (atendendo a uma

populaccedilatildeo de quase um milhatildeo de pessoas) passando para 146 o nuacutemero de municiacutepios

atendidos quase 80 dos municiacutepios do Estado do Cearaacute e justamente na zona rural onde as

carecircncias satildeo maiores Segundo Marengo Cunha e Alves (2016) ateacute 2015 quase nove milhotildees

de pessoas da regiatildeo semiaacuterida do Nordeste foram atingidas por essa seca Com os impactos

997 dos 1794 municiacutepios da regiatildeo nordeste foram declarados em estado de calamidade ou

emergecircncia pelo governo federal

De acordo com Martins e Magalhatildees (2015) com a seca plurianual de 2012 a 2015

vaacuterios municiacutepios necessitaram de accedilotildees emergenciais como adutoras de montagem raacutepida e

perfuraccedilatildeo de poccedilos Para isso foi necessaacuterio recursos do estado do Cearaacute atraveacutes da Cogerh e

do Ministeacuterio de Integraccedilatildeo Aleacutem disso conforme Cearaacute (2013) com o abastecimento de

aacutegua criacutetico passa a ser feito por meio da operaccedilatildeo carro pipa tambeacutem foram atendidas com

recuperaccedilatildeo de poccedilos profundos construccedilatildeo de cisternas recuperaccedilatildeo de accediludes e barragens

267

foram criados comitecircs de enfrentamento das estiagens em 2013 foram ampliados os

programas de garantia safra e a bolsa estiagem

Segundo Martins e Magalhatildees (2015) ficou claro que o nuacutemero de carros-pipa era

insuficiente para atender a demanda jaacute que se intensificou o quadro criacutetico em 2012

continuando abaixo da meacutedia ateacute 2016 O exeacutercito assumiu a partir de 2015 vaacuterias rotas de

carros-pipa que de 2010 a 2015 eram atendidas defesa civil pela estadual Em 2010 no Estado

do Cearaacute existiam 678 rotas na operaccedilatildeo carro-pipa do exeacutercito esse nuacutemero cresceu em 2015

para 1183 rotas tendo como causa desse crescimento a intensificaccedilatildeo da seca plurianual

Foram cinco anos criacuteticos em termos hidroloacutegicos em que houve reduccedilatildeo dos reservatoacuterios A

tabela dois mostra a atual capacidade hiacutedrica do Estado do Cearaacute ao final de cada ano

Tabela 2- Situaccedilatildeo Hiacutedrica do Estado do Cearaacute

Capacidade Hiacutedrica por hectocircmetro Cuacutebico (hmsup3) ndash 186780

ANO VOLUME ATUAL (hmsup3) NIacuteVEL ATUAL ()

2011 133734 715

2012 91148 488

2013 59022 316

2014 39223 210

2015 23161 124

2016 12750 68 FONTE Autora com base em dados da Conab (2017)

A tabela dois demonstra o resultado dos cinco anos de seca de 2012 a 2016 que foram

criacuteticos em termos hidroloacutegicos o que refletiu na reduccedilatildeo dos reservatoacuterios Em 2011

considerado um ano normal de chuva os reservatoacuterios estavam com 715 de sua capacidade

que corresponde a 133734 hm3 A partir de 2012 o niacutevel comeccedilou a baixar e jaacute em 2016 o

niacutevel do estava com 68 da capacidade 12750 hm3

A pouca chuva de 2012 prejudicou a alimentaccedilatildeo do gado que passou a morrer de

fome em 2013 a quadra chuvosa continuou abaixo da meacutedia e os mesmos problemas de

suprimento continuaram afetando a produccedilatildeo agriacutecola Segundo a Conab22

(Companhia

Nacional de Abastecimento) a produccedilatildeo agriacutecola foi extremamente prejudicada pelo fator

22

Disponiacutevel

emlthttpwwwconabgovbrOlalaCMSuploadsarquivos16_01_05_16_16_41_dados_tecnicos_sobre_o_pano

rama_da_agopecuaria_do_estado_do_ceara_-_ano_2015pdfgt

268

clima jaacute que de 2012 a 2015 apresentaram baixa pluviometria representando para a produccedilatildeo

agriacutecola perdas na produccedilatildeo

A tabela 3 mostra o prejuiacutezo sofrido na produccedilatildeo agriacutecola nos anos de 2012 a 2015

comparando com a produccedilatildeo de gratildeos de 2011 ano em que a quadra chuvosa foi normal

Tabela 3 Produccedilatildeo das principais culturas agriacutecolas no periacuteodo de 2011 a 2015

Fonte Autora com base em dados da Conab (2015)

Os anos seguidos de seca prejudicaram vaacuterios setores da economia um dos produtos

mais prejudicados foi o milho que eacute a cultura mais cultivada no Cearaacute em 2011 a produccedilatildeo

foi de 9343 jaacute em 2012 quando deu iniacutecio a seca havia produzido 739 Fazendo com que

houvesse uma variaccedilatildeo negativa de 922 da produccedilatildeo reduzida Permanecendo abaixo da

meacutedia ateacute 2015

Pode-se observar na tabela 4 que outros produtos agriacutecolas de relevacircncia econocircmica

para o estado tambeacutem sofreram perdas com fenocircmeno climaacutetico que atinge o estado desde

2012

Tabela 4 Produccedilatildeo Agriacutecola- Outras Cultura

Fonte Autora com base em dados da Conab (2015)

Com esta seca ateacute a cana-de-accediluacutecar uma das produccedilotildees mais tradicionais do Cearaacute

sofreu pela falta de aacutegua a produccedilatildeo que havia sido de 22098 em 2011 baixou para 9066 em

Produto 2011

(a)

2012

(b)

2013

(c)

2014

(d)

2015 VARIACcedilAtildeO

(e) ba ca da ea

Milho 9493 739 981 4013 1514 -922 -897 -577 -841

Feijatildeo 2596 329 687 1325 826 -873 -735 -490 -682

Arroz 949 319 541 317 18 -348 -430 -666 -810

Outros 389 32 27 71 28 -918 -931 -817 -928

Total 13427 1719 2236 5726 2548 -872 -833 -574 -810

Produto 2011

(a)

2012

(b)

2013

(c)

2014

(d)

2015 VARIACcedilAtildeO

(e) ba ca da ea

Castanha

de caju

1117 385 531 511 521 -655 -525 -542 -533

Cana- de -

accediluacutecar

22098 11967 11765 11765 9066 -96 -242 -468 -589

Raiz-

mandioca

8366 4687 3003 4784 3406 -440 -641 -478 -592

269

2015 foi o pior ano para esta produccedilatildeo que teve uma variaccedilatildeo negativa de 589 Essa seca

prolongada afetou os campos de cana em todo o estado

Em 2014 segundo a FUNCEME23

(2015) houve 4517 focos de incecircndio

meteorologistas destacam que um dos principais motivos foi o acuacutemulo dos efeitos da seca

que vem castigando o Cearaacute desde 2012 e as temperaturas acima da meacutedia Com o

prolongamento da estiagem 2015 foi o ano mais quente da histoacuteria o que contribuiu para a

reduccedilatildeo da umidade relativa do ar em consequecircncia da longa estiagem os solos ficaram

menos uacutemidos e a vegetaccedilatildeo seca condiccedilatildeo propicia para a propagaccedilatildeo do fogo com isso

cresce o nuacutemero de incecircndios para 6186 que representa um aumento de 369

6 POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS

As poliacuteticas puacuteblicas tecircm um papel fundamental na soluccedilatildeo de problemas da

sociedade atraveacutes de accedilotildees do Estado tanto em acircmbito federal estadual e municipal agindo

diretamente ou em parceria com organizaccedilotildees natildeo governamentais eou com a iniciativa

privada As poliacuteticas desenvolvidas provocam efeitos que influenciam a vida dos cidadatildeos

Uma das formas intervenccedilotildees do Estado ao problema da seca foi agrave criaccedilatildeo em 1909 do

Departamento Nacional de Obras contra as Secas (DNOCS) sendo o primeiro oacutergatildeo a estudar

a problemaacutetica do semiaacuterido vale ressaltar que ele possuiacutea outro nome Construiu accediludes

estradas barragens e poccedilos Poreacutem algumas de suas obras foram implantadas sem observar os

aspectos ambientais e socioeconocircmicos do estado o que acabou contribuindo para diminuir a

eficaacutecia de suas accedilotildees Apesar de criacuteticas natildeo se pode deixar de destacar seu papel relevante

para a construccedilatildeo de infraestrutura na regiatildeo nordestina

Em 1932 um termo ficou conhecido como ―Induacutestria da Seca devido a uma estrateacutegia

utilizada por poliacuteticos que se aproveitavam da trageacutedia da seca em benefiacutecio proacuteprio As

intervenccedilotildees do governo se resumiram basicamente em accedilotildees de caraacuteter emergencial de curto

prazo que soacute satildeo desenvolvidos em momentos de calamidade sem ter uma programaccedilatildeo

planejada como distribuiccedilatildeo de aacutegua benefiacutecios sociais doaccedilotildees entre outros tornando as

pessoas dependentes de tais poliacuteticas Com o povo sertanejo eacute vulneraacutevel os poliacuteticos que

estatildeo no poder usam dessas manobras como um meio para ganhar apoio Assim essas accedilotildees

23

Disponiacutevel em ltwwwfuncemebrindexphpcomunicaonoticias694-nuacutemero-de-focos-de-incecircndio-no-cearaacute-

cresce-369todospelaagua

270

alimentam a chamada induacutestria das secas que se utiliza tambeacutem das obras hiacutedrica para

favorecer grandes proprietaacuterios

Em seguida a secretaria de recursos hiacutedricos foi criada em 1987 Segundo Filho

(2003) com o objetivo de promover o uso racional dos recursos hiacutedricos trabalhando com

barragens construccedilatildeo de poccedilos adutoras eixos de transferecircncia hiacutedrica e abastecimento de

aacutegua Tambeacutem faz parte do Sistema de Recursos Hiacutedricos a Companhia de Gestatildeo dos

Recursos Hiacutedricos (COGERH) responsaacutevel pela manutenccedilatildeo das obras a Superintendecircncia de

Obras Hidraacuteulicas (SOHIDRA) com o acompanhamento e fiscalizaccedilatildeo e a Fundaccedilatildeo Cearense

de Meteorologia e Recursos Hiacutedricos (FUNCEME) com a finalidade de aumentar os

conhecimentos da geografia planejando e desenvolvendo as poliacuteticas

Em seguida a agecircncia nacional de aacuteguas - ANA foi criada em 1999 sendo responsaacutevel

pelo gerenciamento dos recursos hiacutedricos brasileiro Cabe a ANA o controle

operacionalizaccedilatildeo avaliaccedilatildeo dos Recursos Hiacutedricos Seu aspecto regulatoacuterio tem alcance

nacional faz parte de suas atribuiccedilotildees o apoio agrave gestatildeo monitoramento de rios e reservatoacuterios

planeja e desenvolve programas e projetos estimula a adequada gestatildeo e o uso racional dos

recursos hiacutedricos

De acordo com Silva (2003) tradicionalmente as accedilotildees governamentais de intervenccedilatildeo

foram sendo construiacutedas tendo como caracteriacutesticas o caraacuteter emergencial programas

desenvolvidos soacute em momentos de calamidade natildeo resolviam a soluccedilatildeo hidraacuteulica As accedilotildees

de combate partiam do armazenamento de aacutegua No entanto o clima da regiatildeo quente e seco

limitava o efeito da poliacutetica fazendo com que a aacutegua represada evaporasse muito raacutepido

Segundo Malvezzi (2007) foi construiacutedo vaacuterios accediludes e poccedilos em todo o semiaacuterido

mesmo com as obras sendo feitas continuamente a populaccedilatildeo rural ainda encontra problemas

de abastecimento Com isso em momentos de seca ainda satildeo necessaacuterias agraves accedilotildees

emergenciais como as Adutoras de montagem raacutepida (AMR) perfuraccedilatildeo de poccedilos e a

operaccedilatildeo carro-pipa O autor destaca o Projeto de Transposiccedilatildeo do Satildeo Francisco que segue a

loacutegica da ―Induacutestria da Seca repetindo as obras que imobilizam grande capital fortalecendo

poliacuteticos e trazendo benefiacutecios a particulares

Entre os programas criados vale destacar a Agenda 21 que mobiliza as instituiccedilotildees

sobre a ideia de sustentabilidade em que as poliacuteticas ou accedilotildees que promovam a convivecircncia

com o semiaacuterido devem inserir o desenvolvimento sustentaacutevel Ou seja atender as

271

necessidades do presente sem comprometer as geraccedilotildees futuras respeitando a capacidade de

restauraccedilatildeo dos ecossistemas

O Projeto Aacuteridas tem como objetivo contribuir com o desenvolvimento sustentaacutevel da

regiatildeo semiaacuterida e representa uma rica fonte de dados de informaccedilatildeo para elaboraccedilatildeo de

poliacuteticas sustentaacuteveis Segundo Viana (2013) o projeto realizou 46 estudos que demostraram

desigualdade socioeconocircmica a degradaccedilatildeo do solo e a pouca disponibilidade de aacutegua foram

destacados como os grandes desafios para o Nordeste Foram sugeridos programas ligados agraves

variaccedilotildees climaacuteticas e a pobreza Esse projeto foi fundamental para a delimitaccedilatildeo de novas

poliacuteticas deu notoriedade o desenvolvimento sustentaacutevel (VIANA 2013)

O PRONAF foi criado em 1996 tendo como objetivo fortalecer o desenvolvimento

sustentaacutevel da agricultura familiar com o intuiacutedo de melhorar a qualidade de vida das famiacutelias

produtoras Segundo Silva (2007) o PRONAF tem como finalidade apoiar as atividades dos

agricultores da regiatildeo financiando tecnologias de convivecircncia como por exemplo para

construccedilatildeo de cisternas e barragens para consumo humano e produccedilatildeo

O programa um milhatildeo de cisternas eacute reconhecido como um elemento de seguranccedila

hiacutedrica pela mobilizaccedilatildeo e formaccedilatildeo social para a convivecircncia com o semiaacuterido iniciado em

2001 Ateacute marccedilo de 2017 jaacute foram construiacutedos 595812 cisternas rurais (ASA 2017) As

famiacutelias beneficiadas com este programa passam por uma capacitaccedilatildeo de gerenciamento dos

recursos hiacutedricos onde aprendem como utilizar a aacutegua da forma mais adequada

O P1MC foi o primeiro programa desenvolvido pala ASA com o objetivo de atender a

necessidade baacutesica de aacutegua para beber da populaccedilatildeo vivente no campo as famiacutelias envolvidas

passam a ter acesso agrave aacutegua de qualidade atraveacutes do armazenamento de aacutegua da chuva em

cisternas construiacutedas de placas de cimento ao lado da casa Com isso diminuiu a dependecircncia

de poliacuteticas assistencialistas Segundo Nascimento (2016) apoacutes a implantaccedilatildeo das cisternas

houve uma melhoria nos resultados de sauacutede das famiacutelias diminuiu a dependecircncia de carros-

pipa e as migraccedilotildees

A histoacuteria das secas no Cearaacute sempre foi de muitas perdas na agricultura morte de

animais fome migraccedilatildeo Nesse sentido foi criado o programa seguro safra para que os

agricultores familiares que perdessem a safra por causa da seca tenham uma condiccedilatildeo miacutenima

de sustento Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Agraacuterio (2015) o seguro safra foi

criado em 2002 Que garante ao agricultor o recebimento de um auxilio caso este venha a

perder 50 de sua safra por causa da estiagem (SILVA 2007)

272

O Programa Uma Terra e Duas Aacuteguas (P1+2) foi criado em 2007 com o objetivo

promover seguranccedila alimentar das famiacutelias agricultoras e fomentar a geraccedilatildeo de emprego e

renda Segundo a ASA (2017) as tecnologias que o P1+ 2 trabalha satildeo diversas Cisterna-

Calccediladatildeo Barragem Subterracircnea Tanque de Pedra ou Caldeiratildeo Bomba dlsquoaacutegua popular

Barreiro- trincheiro Barraginha Cisterna-enxurrada Ateacute marccedilo de 2017 jaacute foram construiacutedas

93688 tecnologias de uso familiar Segundo Cordeiro (2011) estas tecnologias aumentaram

significamente o acesso agrave aacutegua o que possibilitou a melhoria na qualidade de vida

aumentando a criaccedilatildeo de animais e diminuindo as migraccedilotildees Segundo Souza (2014) 17768

famiacutelias foram mobilizadas

Para Malvezzi (2007) o segredo de convivecircncia com a seca estaacute em conhecer

profundamente a regiatildeo propor praacuteticas que minimizem os efeitos negativos em especial o

solo para que o sertanejo consiga viver com as caracteriacutesticas da seca o que envolve um

processo educativo para respeitarem o ambiente e os limites dos recursos Eacute necessaacuterio mudar

a forma de pensar e agir com o meio ambiente para que possa adaptar-se a regiatildeo em que

habita

7 CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu analisar as poliacuteticas puacuteblicas aplicadas agrave seca na regiatildeo

cearense Admitiu uma avaliaccedilatildeo de como este problema afeta os aspectos econocircmicos

sociais e ambientais Com este estudo foi possiacutevel chegar a conclusotildees que grande parte das

poliacuteticas criadas para combater da seca acabaram natildeo solucionando o problema e natildeo atingiu

socialmente a populaccedilatildeo jaacute que este ainda se encontra em estado de miseacuteria e necessitando

ainda de accedilotildees emergenciais Jaacute as poliacuteticas voltadas a se conviver com o semiaacuterido apesar de

seu pouco tempo de funcionamento se apresentam como uma alternativa para se conviver com

os problemas de escassez

Historicamente tentaram resolver os problemas do semiaacuterido atraveacutes da construccedilatildeo da

perfuraccedilatildeo de poccedilos e construccedilatildeo de accediludes Natildeo levam em consideraccedilatildeo que a temperatura

no semiaacuterido faria com que a aacutegua dos accediludes evaporasse e os poccedilos por sua vez tambeacutem natildeo

eacute uma soluccedilatildeo uma vez que o solo do semiaacuterido eacute em sua grande maioria cristalino para se

conseguir aacutegua seria necessaacuterias perfuraccedilotildees muito profundas e quando conseguiam chegar a

aacutegua ou era ruim ou salobra

273

Tradicionalmente as poliacuteticas de combate agrave seca se mostraram mais preocupadas

desenvolver a agricultura no semiaacuterido beneficiando principalmente a grandes e meacutedios

proprietaacuterios seus objetivos iniciais eram socialmente aceitaacuteveis mas acabaram em sua

grande maioria por serem modificados esses programas acabaram por natildeo alcanccedilar a

populaccedilatildeo que mais sofre com a seca que satildeo os pequenos proprietaacuterios e os sem terra

As poliacuteticas de convivecircncia com a seca conseguem ter um alcance social maior aleacutem

de utilizar de tecnologias mais baratas como o Programa um milhatildeo de cisternas rurais e o

programa uma terra e duas aacuteguas beneficiam as famiacutelias mais pobres e evitam que a aacutegua

evapore podendo ter aacutegua de boa qualidade para o periacuteodo de seca

Os usos das aacuteguas satildeo diversificados e crescem a cada dia assim como a populaccedilatildeo

trazendo grandes impactos aos recursos hiacutedricos hoje se usa mais aacutegua do que a natureza tem

capacidade pera repor Eacute necessaacuterio levar em consideraccedilatildeo como o clima funciona a

especificidade da regiatildeo na hora de criar uma poliacutetica

Esta pesquisa se mostra importante por abordar um problema que ainda atingi uma

populaccedilatildeo muito grande e sofredora as poliacuteticas atuais de convivecircncia com vieacutes sustentaacutevel

se mostram como tecnologias apropriadas ao clima do semiaacuterido aleacutem de serem baratas

permitem o acesso da populaccedilatildeo para ter aacutegua para beber e produzir A seca se mostra como

uma condiccedilatildeo natural do semiaacuterido por isso eacute importante o planejamento para os proacuteximos

anos e se investir em tecnologias apropriadas e permanentes

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277

ECONOMIA SOLIDAacuteRIA E SUSTENTABILIDADE UM ESTUDO DE CASO DA

ASSOCIACcedilAtildeO DE ARTESAtildeOS DE SERRINHA (ARTEFIBRA) NO MUNICIacutePIO DE

GRANJEIRO ndashCE

GESSICA TACIANA PEREIRA LIMA (Graduada em Economia pela Universidade Regional do Cariri ndash URCA E-mail

gessicatacianagmailcom)

ADRIANA CORREIA LIMA FRANCA

(Mestre em Desenvolvimento Regional Sustentaacutevel pela Universidade Federal do Cearaacute ndash

UFC Professora Associada do Departamento de Economia da Universidade Regional do

Cariri ndash URCA E-mail dricacorreiayahoocombr)

NAYANA TAVARES FEITOSA

(Estudante do Curso de Ciecircncias Econocircmicas da Universidade Regional do Cariri ndash URCA

E-mail nayana_tavareshotmailcom)

278

ECONOMIA SOLIDAacuteRIA E SUSTENTABILIDADE UM ESTUDO DE CASO DA

ASSOCIACcedilAtildeO DE ARTESAtildeOS DE SERRINHA (ARTEFIBRA) NO MUNICIacutePIO DE

GRANJEIRO ndashCE

RESUMO

A Economia Solidaacuteria eacute entendida como importante instrumento para a geraccedilatildeo de emprego e

renda Diante desse contexto observa-se a crescente disseminaccedilatildeo de empreendimentos

solidaacuterios como alternativa para a exclusatildeo do mercado formal Seguindo esta tendecircncia a

ARTEFIBRA foi criada com o objetivo de geraccedilatildeo de emprego e renda na comunidade de

Serrinha distrito de Granjeiro- CE Desta forma este trabalho tem como objetivo geral

compreender a relevacircncia da associaccedilatildeo ARTEFIBRA na geraccedilatildeo de renda e emprego na

comunidade do sitio Serrinha distrito de Granjeiro-Cearaacute A pesquisa eacute de natureza

bibliograacutefica e de campo com caraacuteter exploratoacuterio descritivo e abordagem quantitativa e

qualitativa O perfil dos associados demonstra que a maioria satildeo mulheres com idade entre 40

e 50 anos residentes na zona rural Todos possuem casa proacutepria e quitada e produzem o

artesanato na proacutepria residecircncia Quanto agrave escolaridade os dados apontam que 50 dos

associados tem o ensino fundamental incompleto A principal fonte de renda eacute o artesanato

Os associados produzem vaacuterios produtos e todos compram a mateacuteria-prima principal o sisal

a agricultores da localidade A produccedilatildeo eacute destinada quase que exclusivamente para Centro de

Artesanato do Cearaacute - CEART Diante do contexto pesquisado observou-se que a

ARTEFIBRA eacute importante mecanismo de desenvolvimento local ao proporcionar emprego e

renda para os seus associados

Palavras-chaves Economia Solidaacuteria Associativismo ARTEFIBRA

ABSTRACT

The Solidarity Economy is understood as an important instrument for the generation of

employment and income Given this context we can observe the growing dissemination of

solidarity projects as an alternative to the exclusion of the formal market Following this

trend ARTEFIBRA was created with the purpose of generating employment and income in

the community of Serrinha Granjeiro-CE district In this way this work has as general

objective to understand the relevance of the ARTEFIBRA association in the generation of

income and employment in the community of the Serrinha site district of Granjeiro-Cearaacute

The research is of a bibliographic and field nature with a descriptive exploratory character and

a quantitative and qualitative approach The profile of the associates shows that the majority

are women aged between 40 and 50 years living in the rural area All of them have their own

houses and they have their own houses and produce handicrafts Regarding education the

data indicate that 50 of associates have incomplete elementary education The main source

of income is handicrafts The associates produce various products and all buy the main raw

material the sisal the farmers of the locality The production is destined almost exclusively

for Cearaacute Craft Center - CEART In view of the researched context it was observed that

ARTEFIBRA is an important local development mechanism providing employment and

income for its members

Keywords Solidarity economy Associativism ARTEFIBRA

279

1 INTRODUCcedilAtildeO

Diante da crise do sistema fordista-taylorista de produccedilatildeo e preponderacircncia das ideias

neoliberais que tiveram como consequecircncia um grande impacto negativo para a classe mais

carente da populaccedilatildeo a economia solidaacuteria passa a proporcionar alternativas de trabalho e

renda para as pessoas excluiacutedas do mercado de trabalho formal (AZAMBUJA 2009)

No acircmbito brasileiro as primeiras experiecircncias de economia solidaacuteria surgiram na

deacutecada de 1980 devido ao crescimento do desemprego provocadas pela crise cambial e

inflacionaacuteria que ocorria naquele periacuteodo

Atualmente a economia solidaacuteria se consolida como um meio econocircmico real e

opcional relativo ao capital ganhando cada vez mais relevacircncia pois seus procedimentos

englobam solidariedade inclusatildeo emancipaccedilatildeo social e sustentabilidade (GADOTTI 2009)

Desta forma a economia solidaacuteria torna-se cada vez mais forte ao possibilitar novas

alternativas de trabalho e renda a partir de uma diversidade de praacuteticas econocircmicas e sociais

organizadas sob a forma de cooperativas associaccedilotildees clubes de troca empresas

autogestionaacuteria redes de cooperaccedilatildeo entre outras que realizam atividades de produccedilatildeo de

bens prestaccedilatildeo de serviccedilos financcedilas solidaacuterias trocas comeacutercio justo e consumo

Seguindo esta tendecircncia nacional criada como um meio alternativo para driblar o

desemprego e ampliar a renda foi criado a Associaccedilatildeo de Artesatildeos de SERRINHA ndash

ARTEFIBRA no distrito de Serrinha localizada no Municiacutepio de Granjeiro ndash Ce considerada

como uma alternativa de sobrevivecircncia a partir dos princiacutepios da economia solidaacuteria

Desta forma este trabalho tem como objetivo geral compreender a relevacircncia da

associaccedilatildeo ARTEFIBRA na geraccedilatildeo de renda e emprego na comunidade do sitio Serrinha

distrito de Granjeiro-Ce

2 ECONOMIA SOLIDAacuteRIA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL

Conforme Singer (2002) a economia solidaacuteria natildeo eacute criaccedilatildeo intelectual de algueacutem

embora os grandes autores socialistas denominados utoacutepicos da primeira metade do seacuteculo

XIX (OwenFourier Buchez Proudhon) tenham dado contribuiccedilotildees decisivas ao seu

desenvolvimento a economia solidaacuteria eacute uma criaccedilatildeo em processo contiacutenuo de trabalhadores

em luta contra o capitalismo Como tal ela natildeo poderia proceder ao capitalismo industrial

mas o acompanha como uma sombra em toda sua evoluccedilatildeo

280

Ainda conforme Singer (2002) a Economia Solidaacuteria vem sendo amplamente

apresentada e discutida tanto no meio acadecircmico como no ambiente institucional como uma

possiacutevel alternativa ao desemprego e a precariedade do trabalho dado o contexto de ―crise

estrutural do sistema capitalista Sem entrave eacute vista como um modo de produccedilatildeo alternativo

que busca a emancipaccedilatildeo plena da classe dos trabalhadores

No acircmbito brasileiro eacute na deacutecada de 1980 que a Economia Solidaacuteria reaparece de

forma dispersa e toma impulso progressivo a partir de 1990 sendo resultado de movimentos

sociais que reagem agrave crise do desemprego em um nuacutemero cada vez mais crescente iniciado

no ano de 1981 e agravando-se com a abertura do mercado interno as importaccedilotildees a partir do

ano 1990 Desta forma a economia solidaacuteria surgiu como alternativa para trabalhadores que

estavam desempregados excluiacutedos diante das desigualdades do capitalismo

Conforme Franccedila Filho e Laville (2004 p 149) no Brasil o termo economia solidaacuteria

tem servido para identificar diferentes iniciativas de grupos sociais ―que se organiza sob o

princiacutepio da solidariedade e da democracia para enfrentar suas problemaacuteticas locais atraveacutes da

elaboraccedilatildeo de atividades econocircmicas

Para Singer (2004) o modelo capitalista divide a sociedade em duas classes

divergentes os trabalhadores que estatildeo sujeitos a trabalhos alienados em troca de baixos

salaacuterios ou ateacute mesmo a mercecirc do desemprego e os grandes proprietaacuterios que se beneficiam

deste molde por serem os proprietaacuterios dos meios de produccedilatildeo

Visando uma alternativa para esse modelo a Economia Solidaacuteria define-se como ―um

jeito diferente de produzir vender comprar e trocar o que eacute preciso para viver sem querer

explorar os outros sem querer levar vantagem sem querer destruir o meio ambiente

cooperando e fortalecendo o grupo cada um pensando no bem de todos e no proacuteprio bem

(SINGER 2004 p 15)

A discussatildeo em torno da temaacutetica ES estaacute diretamente relacionada agrave sustentabilidade

―Sustentabilidade e solidariedade satildeo temas emergentes e convergentes (GADOTI 2009 p

9) Com frequecircncia a economia solidaacuteria eacute interligada com desenvolvimento sustentaacutevel

visto que esta constitui o fundamento de uma globalizaccedilatildeo humanizada que acontece quando

as pessoas passam a se preocupar com o outro em relaccedilatildeo as suas necessidades buscando

atuar em um mercado mais justo voltando-se ao bem estar coletivo

Assim como o desenvolvimento sustentaacutevel a economia solidaacuteria remete a

instrumentos que buscam levar o ser humano que vive inserido nesse mundo voltado ao

281

capitalismo a ter esperanccedilas de dias melhores com condiccedilotildees de trabalho sem exploraccedilatildeo

nem do homem pelo homem nem da natureza

Para Singer (2004) a ES apresenta em seus princiacutepios a busca pela sustentabilidade ao

priorizar atividades econocircmicas que respeitem o meio ambiente e que fertilizem condutas

igualitaacuterias sem desprezar a produccedilatildeo do conhecimento nem a modernizaccedilatildeo tecnoloacutegica

mas ambos devem estar submissos aos preceitos ambientais agrave inclusatildeo social e da autogestatildeo

Os dois modelos buscam se interligarem para formarem um conjunto de accedilotildees que

priorizam a preservaccedilatildeo da natureza Conforme Singer (2004) as empresas solidaacuterias muitas

vezes optam pela proteccedilatildeo ambiental e o bem-estar do consumidor sendo contra aos

processos que impliquem em degradaccedilatildeo ambiental e diminuiccedilatildeo da sauacutede populacional

Afirma que a economia solidaacuteria tem propoacutesitos sociais e tem empregado muitas pessoas e as

incluindo no meio social

21 Cooperativismo e associativismo

O cooperativismo nasceu em meio agrave revoluccedilatildeo industrial na segunda metade do

seacuteculo XVIII surgindo como alternativa agraves barbaridades cometidas pelo sistema sobre a

sociedade que naquele momento histoacuterico presenciava a efervescente origem do capitalismo

industrial (CULTI 2007)

Entendendo como sistema e doutrina o Cooperativismo surgiu como uma alternativa

para corrigir o meio econocircmico e social consequente do liberalismo econocircmico Seus

princiacutepios satildeo baseados no ideal de que a produccedilatildeo deve ser colocada em favor do

consumidor e natildeo do produtor Para tanto as pessoas associam-se e unem-se em cooperativas

de forma que o resultado das atividades ou a prestaccedilatildeo dos serviccedilos beneficia os proacuteprios

associados e a comunidade em geral Cooperativa eacute definida como uma associaccedilatildeo de pessoas

que se reuacutenem voluntariamente para atingir um objetivo comum atraveacutes da formaccedilatildeo de uma

organizaccedilatildeo administrada e controlada democraticamente conseguindo contribuiccedilotildees

equitativas para o capital necessaacuterio e aceitando assumir de forma igualitaacuteria os riscos e

benefiacutecios do empreendimento no qual os soacutecios participam ativamente (PINHO 2004)

Leite (2007 p36) relata que ―cooperativas satildeo associaccedilotildees autocircnomas sem fins

lucrativos ao contraacuterio do que acontece no capitalismo pessoas que se unem voluntariamente

e constituem uma empresa de propriedade de todos para satisfazer necessidades

282

econocircmicas pessoais e culturais espelhando-se em ideais de solidariedade democracia

participaccedilatildeo e poder de atuaccedilatildeo pessoal

Singer (2003) ainda argumenta que as cooperativas satildeo importantes primeiro porque

permite ainda no interior do capitalismo a praacutetica da ―autogestatildeo aprendizagem que eacute

condiccedilatildeo para se ter a possibilidade histoacuterica de superaccedilatildeo do capital

Para Rocha Filho e Cunha (2009) o cooperativismo vem ajudando a reduzir os niacuteveis

de desemprego na economia formal podendo portanto constituir-se de uma nova cultura

alternativa ao capitalismo alegando que o trabalho cooperativo tem sido apontado como uma

das alternativas para a crise do desemprego na economia formal O setor informal se

desenvolve criando uma nova economia a economia social articuladas sobre novas normas

de contrato social fundamentada em redes de solidariedade nas quais o fator de risco

prevalece

Assim como o cooperativismo o associativismo eacute fruto da luta pela sobrevivecircncia e

pela melhoria das condiccedilotildees de vida de um determinado grupo Todo patrimocircnio de uma

associaccedilatildeo eacute constituiacutedo pelos associados ou membros logo as associaccedilotildees natildeo possuem fins

lucrativos

As associaccedilotildees possuem patrimocircnios que satildeo formados por taxa paga pelos

associados doaccedilotildees fundos e reservas As cooperativas diferentemente possuem capital

social Nas associaccedilotildees os dirigentes natildeo tecircm remuneraccedilatildeo pelo exerciacutecio de suas funccedilotildees

recebem apenas o reembolso das despesas realizadas para o desempenho de seus cargos Jaacute

nas cooperativas os dirigentes aleacutem do reembolso de suas despesas podem ser remunerados

por retiradas mensais ―pro-labora definidas pela assembleia As associaccedilotildees natildeo pagam

imposto de renda As cooperativas embora natildeo paguem imposto de renda sobre suas

operaccedilotildees com seus associados devem recolher sobre operaccedilotildees com terceiros (LIMA 2010

p100)

A finalidade da associaccedilatildeo eacute a promoccedilatildeo educaccedilatildeo e assistecircncia social Jaacute a

cooperativa tem por finalidade viabilizar o negoacutecio produtivo mesmo que tenha as mesmas

intenccedilotildees da associaccedilatildeo (CULTI 2007)

De acordo com Amorim (2005) o associativismo abrange vaacuterias situaccedilotildees e povos que

representam posiccedilotildees diferentes como por exemplo os movimentos estudantis associaccedilatildeo

de moradores entre outros aleacutem do sindicalismo que possui suas peculiaridades em acircmbito

nacional e internacional

283

A forccedila do trabalho associado bem como a realidade de ser o dono daquilo que se

produz tambeacutem gera outros benefiacutecios diretos e indiretos como o estiacutemulo moral aleacutem do

material a responsabilidade individual para o grupo a coordenaccedilatildeo e atenccedilatildeo para a melhora

do trabalho diminuindo a eficiecircncia atraveacutes da loacutegica de que todos satildeo donos e que

contribuem para o bem do empreendimento a troca e aprendizado muacutetuo de saberes e

habilidades incentivo agrave iniciativa e a criatividade a flexibilidade de ritmo e de funccedilatildeo o fator

de promoccedilatildeo da justiccedila e da equidade como princiacutepio fundante a autonomia dignidade e

humanizaccedilatildeo a reduccedilatildeo de conflitos laborais entre outros (ROCHA 2007)

Em suma nesses empreendimentos acontece um acolhimento do que foi perdido A

socializaccedilatildeo desperta e reafirma o coletivo em detrimento do individual o que faz os

integrantes desse modelo se sentirem mais fortes protegidos e sem medo da ameaccedila de serem

despedidos do seu emprego a qualquer momento Serem donos dos seus empreendimentos

por menores que sejam seus negoacutecios e mais simples as atividades produtivas eacute motivo para

elevar a autoestima e garantir a cidadania de qualquer trabalhador

3 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

A pesquisa eacute de natureza bibliograacutefica e de campo com caraacuteter exploratoacuterio descritivo

e abordagem quantitativa e qualitativa

A pesquisa bibliograacutefica possibilitou o levantamento das concepccedilotildees teoacutericas acerca

da temaacutetica abordada O levantamento bibliograacutefico foi feito em livros teses dissertaccedilotildees

artigos revistas de cunho cientiacutefico jornais e por meio eletrocircnico

O trabalho utilizou-se tambeacutem da coleta e anaacutelise de dados primaacuterios obtidos por

meio da pesquisa de campo caracterizando a pesquisa como empiacuterica

Para a coleta de dados foram aplicados questionaacuterios entre os meses de outubro e

novembro de 2017 junto a todos os associados que no momento da pesquisa eram oito (8)

Para a anaacutelise dos dados utilizou-se a estatiacutestica descritiva

4 PERFIL SOCIOECONOcircMICO DOS ASSOCIADOS

As associaccedilotildees dentro do contexto da economia solidaacuteria satildeo de mera importacircncia para

a geraccedilatildeo de emprego e renda que conduz a melhoria dos indicadores sociais e econocircmicos

284

De acordo com os dados da pesquisa 75 dos associados satildeo mulheres e 25

homens Essa informaccedilatildeo reflete no caso da ARTEFIBRA o crescimento da ocupaccedilatildeo de

mulheres contribuindo para que as mesmas se insiram na produccedilatildeo e conquistem o seu

espaccedilo

Assim a economia Solidaacuteria se insere nesse contexto de maneira que fica responsaacutevel

por criar novos postos de trabalho ao viabilizar a inclusatildeo social (ANTONELLO LUIZAtildeO

2012 p79)

A maioria dos associados tem entre 40 e 50 anos de idade Com relaccedilatildeo ao estado

civil 75 satildeo casados e 25 solteiros

Quanto agrave aacuterea de residecircncia todos os associados moram na zona rural e satildeo

proprietaacuterios de suas residecircncias

O grau de instruccedilatildeo eacute entendido como um importante indicador social e como

ferramenta fundamental para a melhoria das condiccedilotildees de vida dos indiviacuteduos No caso da

ARTEFIBRA percebe-se que apenas 375 dos associados concluiacuteram o ensino meacutedio

conforme tabela 1

Tabela 1 - Escolaridade dos associados da ARTEFIBRA

Escolaridade Frequecircncia absoluta Frequecircncia relativa ()

Analfabeto - -

Fundamental completo - -

Fundamental incompleto 4 50

Meacutedio completo 3 375

Meacutedio incompleto 1 125

Superior completo - -

Superior incompleto - -

Total 8 100 Fonte Dados da pesquisa 2017

Pode-se observar atraveacutes dos dados que o grau de instruccedilatildeo entre os associados da

ARTEFIBRA corroboram com a realidade encontrada em muitos empreendimentos

solidaacuterios ou seja pessoas que natildeo estatildeo inseridas no mercado formal muitas vezes pelo

baixo grau de escolaridade encontrando nesses espaccedilos uma nova oportunidade inviabilizada

pelo mercado de trabalho formal

Nesse contexto a economia solidaacuteria mostra-se uma aliada a ―exclusatildeo por falta de

preparaccedilatildeo ou falta de oportunidade tornando-se uma alternativa de geraccedilatildeo de emprego e

renda

285

Quanto agrave renda meacutedia mensal individual obtida pelos associados os dados da pesquisa

apontam para uma renda de R$ 50000 a R$ 60000 por mecircs Apenas um dos associados

afirmou natildeo saber o valor da renda mensal

Tabela 2 - Principal fonte de renda dos associados

Principal fonte de renda Frequecircncia absoluta Frequecircncia relativa ()

Emprego fixo particular - -

Funcionaacuterio puacuteblico - -

Emprego informal 6 75

Atividade autocircnoma - -

Aposentado ou pensionista 2 25

Outro tipo - -

Total 8 100 Fonte Dados da pesquisa 2017

Observa-se que a principal fonte de renda adveacutem do emprego informal seguida por

aposentadoria Esses dados reforccedilam a importacircncia da associaccedilatildeo como fonte de emprego e

renda

41 Aspectos da produccedilatildeo

A Associaccedilatildeo de Artesatildeos de Serrinha ndash ARTEFIBRA realiza o trabalho artesanal

desenvolvido com a fibra do sisal Os associados natildeo produzem o sisal compram aos

agricultores que produzem naquela localidade

O trabalho artesanal eacute desenvolvido pelos associados nas suas residecircncias isto eacute a

ARTEFIBRA natildeo dispotildee de um espaccedilo para a realizaccedilatildeo da produccedilatildeo A localizaccedilatildeo da

produccedilatildeo facilita o trabalho das mulheres ao mesmo tempo em que trabalham na atividade

artesanal realizam as tarefas domeacutesticas

Questionados sobre a ajuda da famiacutelia na produccedilatildeo 875 dos pesquisados afirmaram

que a famiacutelia participa da elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo da atividade artesanal

Quanto ao tempo que desenvolve esse tipo de atividade 625 afirmaram que haacute

quase 20 anos sendo uma atividade que passa de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo e foi aperfeiccediloada a partir

da criaccedilatildeo da ARTEFIBRA

Perguntados sobre a existecircncia de contrataccedilatildeo de matildeo-de-obra 875 relataram que

satildeo ajudados por algum membro da famiacutelia natildeo sendo preciso contratar matildeo de obra para

produccedilatildeo

286

Como jaacute mencionado para a produccedilatildeo destes artigos a mateacuteria-prima principal o

sisal eacute comprado aos agricultores daquela localidade A partir daiacute os associados fazem a

extraccedilatildeo da fibra deixam no ponto de lavagem e posteriormente chegam ao acabamento

final De acordo com dados da pesquisa o sisal eacute comprado por Kg no valor de R$ 500

Afirmaram que satildeo necessaacuterios de 2 a 3 Kg para produzir cada peccedila Esta fibra eacute comprada

durante o inverno e estocada

Quanto aos produtos elaborados pelos associados estes satildeo bolsas passarelas porta

panelas porta copos miniaturas de vassouras e espanador feitos tudo a matildeo Eacute um trabalho

que leva dias ou ateacute meses para confecccedilatildeo

No que se refere ao preccedilo de venda dos artigos foi perguntado se este seria suficiente

para cobrir os custos de produccedilatildeo todos os associados responderam que sim Cabe destacar

que com relaccedilatildeo agrave informaccedilatildeo acima mesmo tendo essa resposta como unacircnime pocircde-se

perceber que natildeo conhecem profundamente a margem de lucro natildeo acompanham com

anotaccedilotildees os custos da produccedilatildeo

Considerando a disponibilidade de creacutedito como importante instrumento para o

financiamento e consequente expansatildeo da produccedilatildeo foi perguntado se jaacute utilizaram algum

sistema de creacutedito a maioria 875 responderam que natildeo Apenas um dos soacutecios respondeu

que sim fez empreacutestimos para compra do material

Quanto agrave destinaccedilatildeo dos artigos elaborados pelos associados a Central de Artesanato

do Cearaacute ndash CEART envia os pedidos e estes produzem de acordo com a demanda Os

produtos satildeo levados para feiras e eventos de artesanatos podendo ser encontrados em

Fortaleza Minas Gerais Satildeo Paulo etc Os associados afirmaram que vendiam tambeacutem os

artigos na proacutepria residecircncia mas a destinaccedilatildeo principal eacute para a CEART

Sobre os motivos de inserccedilatildeo na associaccedilatildeo todos afirmaram que se associaram na

ARTEFIBRA para facilitar a venda dos produtos e atraveacutes desta conseguiram ampliar as

vendas Esta eacute uma alternativa conforme os soacutecios de ampliar a renda sem necessitar sair do

local onde residiam

Durante a pesquisa pocircde-se perceber o orgulho e a satisfaccedilatildeo que os soacutecios

demonstram pela profissatildeo e pela inserccedilatildeo na ARTEFIBRA ao afirmarem que se sentiam

valorizados naquele contexto

287

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Considerando a Economia Solidaacuteria como importante ferramenta para a geraccedilatildeo de

emprego e renda foi possiacutevel analisar a importacircncia da ARTEFIBRA na comunidade de

Serrinha municiacutepio de Granjeiro ndash Ce

Os dados da pesquisa demonstraram que as mulheres satildeo maioria entre os associados

essa realidade aponta para a habilidade exigida no trabalho artesanal Ademais esse dado

tambeacutem demonstra a importacircncia da ARTEFIBRA no que se refere agrave inserccedilatildeo da mulher

feminina

Todos os associados residiam no distrito de Serrinha e possuiacuteam casa proacutepria

produziam os artigos ali mesmo isto eacute a associaccedilatildeo pesquisada natildeo tinha um espaccedilo para

produccedilatildeo dos artigos cada associado executava o trabalho artesanal na sua residecircncia

enquanto as reuniotildees aconteciam mensalmente na residecircncia do presidente da ARTEFIBRA

Outro dado observado durante a pesquisa e que merece destaque eacute o baixo niacutevel de

escolaridade dos associados caracteriacutestica recorrente em muitos empreendimentos solidaacuterios

e que tambeacutem justifica entre outros a dificuldade de inserccedilatildeo no mercado formal refletindo

tambeacutem a importacircncia da economia solidaacuteria principalmente em localidades onde as

oportunidades de trabalho satildeo limitadas

Com relaccedilatildeo agrave renda mensal os dados apontaram que variava entre R$ 50000 e R$

60000 por mecircs isto eacute uma renda ainda inferior a um salaacuterio miacutenimo mas segundo eles

fundamental em uma localidade onde as oportunidades de inserccedilatildeo no mercado formal satildeo

miacutenimas o que reforccedila a necessidade de alternativas como no caso da ARTEFIBRA para a

geraccedilatildeo de emprego e renda

Dentro do contexto da ARTEFIBRA o sisal aparece como principal mateacuteria-prima

utilizada no processo produtivo No entanto verificou-se na pesquisa que os associados natildeo

produziam o sisal este era comprado a agricultores da localidade Quanto aos custos de

produccedilatildeo durante a pesquisa pocircde-se perceber que os associados natildeo acompanhavam os seus

custos de produccedilatildeo demostrando a urgecircncia de alternativas isto eacute cursos palestras voltados

para atender essa demanda

Apesar de todos os benefiacutecios verificados a partir da criaccedilatildeo da ARTEFIBRA

discutidos no presente trabalho principalmente o papel como fomentadora de emprego e

renda na comunidade existem aspectos que precisam ser melhorados tais como cursos

288

voltados para o acompanhamento da produccedilatildeo oficinas direcionadas para a diversificaccedilatildeo e

melhoramento dos artigos e a proacutepria ampliaccedilatildeo do mercado local para a venda dos produtos

jaacute que dependem da demanda da CEARTE para escoar a produccedilatildeo

REFEREcircNCIAS

AMORIM RS A economia solidaacuteria um passo aleacutem da informalidade a experiecircncia

do Dendecirc- 2002 ndash 123f Dissertaccedilatildeo de Mestrado-UFRN Rio Grande do Norte 2005

ANTONELLO I D LUIZAtildeO F M C Economia solidaacuteria como poliacutetica puacuteblica

alternativa agrave exclusatildeo socioespacialIN CORDEIRO S M S LANZA L M B

PITAGUARI S O (orgs) A sustentabilidade da economia solidaacuteria Londrina Universidade

Estadual de Londrina 2012

AZAMBUJA L R Os valores da Economia Solidaacuteria Porto Alegre 2009 Disponiacutevel

emlt httpwwwscielobrpdfsocn2112pdfgt Acesso em 01 jul2017

CULTI MN O cooperativismo popular no Brasil importacircncia e representatividade

Ecosol 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwecosolorgbrtxtcoopoppdfgt Acesso em 10

set 2017

FRANCcedilA FILHO GC de LAVILLE J Economia solidaacuteria uma abordagem

internacional Porto Alegre UFRGS 2004

GADOTTI M Economia Solidaacuteria como Praacutexis Pedagoacutegica Satildeo Paulo Editora e Livraria

Paulo Freire 2009

LEITE AS O GOVERNO MUNICIPAL COMO INDUTOR DO

DESENVOLVIMENTO LOCAL O caso da economia solidaacuteria Centro Universitaacuterio de

Araraquara UNIARA Araraquara Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Desenvolvimento Regional e

Meio Ambiente) ndash Centro Universitaacuterio de Araraquara UNIARA Satildeo Paulo 2007

Disponiacutevel em

httpwwwuniaracombrarquivosfilecursosmestradodesenvolvimento_regional_meio_am

bientedissertacoes2007antonio-silvestre-leitepdf Acesso em 23 jun 2017

LIMA MM Projeto de economia solidaacuteria no BNB subsiacutedios para avaliar a aplicaccedilatildeo

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PINHO D B O Cooperativismo no Brasil da vertente pioneira agrave vertente solidaacuteria Satildeo

Paulo Saraiva 2004

ROCHA F AN CUNHA LAG Economia Solidaacuteria Alternativa de Desenvolvimento

Geraccedilatildeo de Trabalho Renda e resistecircncia aacute exclusatildeo Social Revista Emancipaccedilatildeo (UEPG)

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289

ROCHA MM Pressupostos para o desenvolvimento local autogerido e autossustentado In

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incubadora -UNITRABALHO de Maringaacute 2007v1p1-9

SINGER P Introduccedilatildeo agrave economia solidaacuteria Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo Perseu

Abramo 2002

_________ A economia solidaacuteria no Brasil a autogestatildeo como resposta ao desemprego

Contexto Satildeo Paulo 2003

_________ Desenvolvimento significado e estrateacutegia Brasiacutelia Senaes 2004 A

290

IacuteNDICE DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL NAS UNIDADES

FEDERATIVAS BRASILEIRAS EM 2014

Renata Beniacutecio de Oliveira Graduanda em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA) E-mail

renatabenicio086gmailcom

Eliane Pinheiro de Sousa

Poacutes-Doutora em Economia Aplicada pela Escola Superior de Agricultura ―Luiz de Queiroz

da Universidade de Satildeo Paulo (ESALQUSP) e Professora Associada do Departamento de

Economia da URCA

291

IacuteNDICE DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTAacuteVEL NAS UNIDADES

FEDERATIVAS BRASILEIRAS EM 2014

RESUMO

Apoacutes o reconhecimento de que o modelo de desenvolvimento adotado possui efeitos

expressivos sobre o meio ambiente tem se buscado maneiras de garantir o bem-estar humano

dentro da capacidade suportada pelo planeta O desenvolvimento sustentaacutevel surge nesse

contexto como uma soluccedilatildeo para reverter o desequiliacutebrio presente nas relaccedilotildees entre homem

e natureza Embora a sustentabilidade envolva diversos aspectos haacute o consenso de que as

dimensotildees social econocircmica ambiental e institucional possuem maior relevacircncia Com base

nessas informaccedilotildees o presente trabalho objetiva mensurar o iacutendice de desenvolvimento

sustentaacutevel das 27 unidades federativas do Brasil tendo como referecircncia o ano de 2014 por

ser o ano mais recente com dados disponiacuteveis para todas as variaacuteveis selecionadas

Especificamente almeja-se analisar o desempenho sustentaacutevel do Cearaacute em termos

comparativos aos demais estados e em relaccedilatildeo agravequeles da regiatildeo Nordeste A metodologia

empregada consistiu na construccedilatildeo de iacutendices para as quatro dimensotildees mencionadas e na

criaccedilatildeo do Iacutendice de Desenvolvimento Sustentaacutevel (IDS) calculado a partir da meacutedia

aritmeacutetica dos quatro iacutendices Os resultados mostraram que a maioria dos estados possui baixo

niacutevel de desenvolvimento sustentaacutevel sendo que os melhores resultados foram obtidos pelas

unidades federativas do Sul e Sudeste e os piores pelo Norte e Nordeste Ademais o Cearaacute

natildeo possuiu bom desempenho no IDS e o seu pior resultado ocorreu no Iacutendice de

Desenvolvimento Ambiental (IDA) Assim concluiu-se que eacute necessaacuteria a implementaccedilatildeo de

poliacuteticas puacuteblicas que visem o desenvolvimento sustentaacutevel e que ao mesmo tempo reduzam

as disparidades regionais

Palavras-chaves Desenvolvimento Sustentaacutevel Estados Brasileiros Cearaacute IDS

ABSTRACT After acknowledging that the development model adopted has significant effects on the

environment we have sought ways to ensure human well-being within the capacity by the

planet This context sustainable development emerges as a solution to reverse the current

imbalance in the relationship between man and nature Although sustainability involves

several aspects there is a consensus that the social economic environmental and

institutional dimensions are more relevant Based on this information the present study aims

to measure the sustainable development index of the 27 federative units of Brazil having as

reference the year 2014 being the most recent year with data available for all selected

variables Specifically we aim to analyze the sustainable performance of Cearaacute comparing

with other states and in relation to those in the Northeast region The methodology used

consisted of the construction of indexes for the four mentioned dimensions and the creation of

the Sustainable Development Index (IDS) calculated from the arithmetic mean of the four

indices The results showed that most states have a low level of sustainable development and

the best results were obtained by the federative units of the South and Southeast and the worst

by the North and Northeast In addition Cearaacute did not perform well in the IDS and its worst

result occurred in the Environmental Development Index (IDA) Thus it was concluded that

the implementation of public policies aimed at sustainable development is necessary while at

the same time reducing regional disparities

Keywords Sustainable development Brazilian states Cearaacute IDS

292

1 Introduccedilatildeo

Nos uacuteltimos tempos o crescimento acelerado das relaccedilotildees de produccedilatildeo e consumo

que tecircm constituiacutedo as bases do modelo de desenvolvimento apresenta implicaccedilotildees seacuterias ao

meio ambiente sendo responsaacutevel pela sua degradaccedilatildeo que tem ocorrido de maneira cada vez

mais intensa aumenta a desigualdade social e a concentraccedilatildeo de riqueza Nesse contexto

nascem as definiccedilotildees de desenvolvimento sustentaacutevel e sustentabilidade cuja essecircncia

consiste na tentativa de reduzir tais externalidades negativas Assim essa nova percepccedilatildeo

acerca dos efeitos do desenvolvimento sobre a natureza e de suas futuras consequecircncias sobre

a humanidade se fundamenta a partir do entendimento das fragilidades do modelo vigente e

da emergecircncia da necessidade de uma nova concepccedilatildeo de desenvolvimento de forma

equilibrada e equitativa (MARTINS CAcircNDIDO 2012)

Inicialmente o conceito de desenvolvimento sustentaacutevel tinha como cerne as questotildees

relacionadas ao meio ambiente Todavia tal significado evoluiu e se tornou mais abrangente

dando origem agrave noccedilatildeo de sustentabilidade que contempla natildeo apenas a natureza mas tambeacutem

a sociedade e o capital Nesse sentido um bom negoacutecio deve ser ambientalmente correto

socialmente justo e economicamente viaacutevel Em outros termos deve haver uma relaccedilatildeo

harmoniosa entre essas aacutereas Nessa situaccedilatildeo o governo se configura como um importante

agente devendo facilitar estimular e fomentar a gestatildeo da sustentabilidade (AQUINO et al

2014) Dessa forma de acordo com Frainer et al (2017) a sustentabilidade possui quatro

dimensotildees principais ambiental social econocircmica e institucional

De maneira simplificada a multidisciplinariedade atribuiacuteda ao desenvolvimento

sustentaacutevel direcionou sua compreensatildeo para a manutenccedilatildeo ou aumento do bem-estar

humano e do meio ambiente sendo que o avanccedilo em cada uma destas esferas natildeo deve ser

atingido em detrimento da outra A promoccedilatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel portanto natildeo

eacute um estado fixo o que significa que esse se encontra em um processo contiacutenuo de evoluccedilatildeo

caracterizado pela inter-relaccedilatildeo entre as pessoas e o mundo ao seu redor sem que se

comprometa a manutenccedilatildeo da vida pelas proacuteximas geraccedilotildees (KRAMA 2009)

Durante muitos anos diversos estudiosos tecircm tentado buscar indicadores apropriados

para a mensuraccedilatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel considerando diferentes aacutereas

geograacuteficas tanto em niacutevel nacional como subnacional Aparentemente prevalece o consenso

de que o desenvolvimento sustentaacutevel natildeo pode ser captado por um uacutenico indicador mas sim

por um conjunto significativo de indicadores de modo a abranger todos os aspectos

293

relevantes do desenvolvimento sustentaacutevel dentro de uma aplicaccedilatildeo particular Logo eacute

necessaacuterio que um amplo grupo de indicadores seja monitorado para evitar que aspectos

importantes sejam ignorados Todavia ressalta-se que se um grande nuacutemero de indicadores

for considerado a coleta de dados e sua anaacutelise podem ficar muito caras e demandar mais

tempo (BENETTI 2006)

Os indicadores de desenvolvimento sustentaacutevel devem ser entendidos como

instrumentos imprescindiacuteveis uma vez que satildeo capazes de avaliar as condiccedilotildees de uma

determinada localidade considerando suas vulnerabilidades e potencialidades sustentaacuteveis

tendo como intuito melhorar a compreensatildeo acerca dos fenocircmenos empiacutericos relacionados agrave

sustentabilidade (MACEcircDO CAcircNDIDO 2011) Rodrigues e Rippel (2015) acrescentam que

tendo em vista a relevacircncia da sustentabilidade bem como do seu debate a ausecircncia de

informaccedilotildees sistematizadas aponta para a necessidade da criaccedilatildeo de indicadores que

expressem a realidade a ser estudada

Diante do exposto o presente trabalho se propotildee mensurar o iacutendice de

desenvolvimento sustentaacutevel das 27 unidades federativas do Brasil tendo como referecircncia o

ano de 2014 por ser o ano mais recente com dados disponiacuteveis para todas as variaacuteveis

selecionadas Especificamente almeja-se analisar o desempenho sustentaacutevel do Cearaacute em

termos comparativos aos demais estados e em relaccedilatildeo agravequeles da regiatildeo Nordeste

2 Referencial Teoacuterico

21 A Multidisciplinariedade da Sustentabilidade

A origem da ideia de desenvolvimento sustentaacutevel estaacute relacionada a dois campos

ecologia e economia No que se refere ao primeiro o conceito eacute baseado na degradaccedilatildeo dos

recursos naturais em decorrecircncia das accedilotildees antroacutepicas e na recuperaccedilatildeo dos ecossistemas

pois o meio ambiente possui seu proacuteprio tempo de reproduccedilatildeo Assim o ponto central aborda

questotildees relacionadas ao uso abusivo dos recursos naturais desflorestamento fogo etc e agraves

reaccedilotildees naturais como terremotos e tsunamis Quanto ao segundo seu principal pensamento eacute

de que dada a dependecircncia dos recursos naturais o padratildeo de produccedilatildeo e consumo em

expansatildeo no mundo natildeo tem possibilidade de perdurar Dessa forma a noccedilatildeo de

sustentabilidade diz respeito agrave percepccedilatildeo da finitude dos recursos naturais e do risco de sua

depleccedilatildeo (NASCIMENTO 2012)

294

No cenaacuterio mundial o foco no aspecto ambiental esteve presente desde a deacutecada de

1960 A preocupaccedilatildeo era a de que o meio ambiente deveria ser preservado tendo em vista que

a vida humana depende do mesmo de modo a garantir a vida das geraccedilotildees presentes e futuras

Nessa eacutepoca foi identificada a existecircncia de vaacuterios problemas tanto ambientais como sociais

e econocircmicos tais como a reduccedilatildeo da camada de ozocircnio as mudanccedilas climaacuteticas a escassez

de aacutegua potaacutevel a concentraccedilatildeo da populaccedilatildeo nas cidades a pobreza a falta de educaccedilatildeo a

mortalidade infantil entre outros Diante dessa realidade em 1972 optou-se por realizar a

primeira conferecircncia sobre o meio ambiente na cidade de Estocolmo na Sueacutecia (GARCIA

2016)

A pluralidade de dimensotildees adicionada na compreensatildeo do desenvolvimento

sustentaacutevel foi incorporada anos depois da supracitada conferecircncia Em consonacircncia com

Barbosa (2008) sua noccedilatildeo esteve presente no Relatoacuterio Brundtland publicado em 1987 pela

Comissatildeo Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) quando o mesmo

definiu trecircs princiacutepios baacutesicos a serem cumpridos desenvolvimento econocircmico proteccedilatildeo

ambiental e equidade social No entanto sua consolidaccedilatildeo soacute ocorreu em 1992 na

Conferecircncia Rio-92 Desde entatildeo o conceito multidisciplinar de sustentabilidade tem estado

em constante construccedilatildeo natildeo havendo consenso sobre sua mensuraccedilatildeo

O reconhecimento de que o desenvolvimento sustentaacutevel natildeo deve se restringir ao

acircmbito ambiental veio acompanhado da complexidade das interaccedilotildees entre o sistema humano

e a natureza conferindo-lhe um caraacuteter multidisciplinar Esses sistemas estatildeo interligados e

exercem influecircncias muacutetuas Aleacutem disso cada sistema exige interferecircncias diferenciadas que

deveratildeo ser definidas em funccedilatildeo do niacutevel de evoluccedilatildeo em que se encontram da anaacutelise de

suas caracteriacutesticas e do contexto no qual estaacute inserido o que dificulta a mensuraccedilatildeo do niacutevel

de sustentabilidade e consequentemente o alcance de resultados precisos (MARTINS

CAcircNDIDO 2012) o que por sua vez repercute no direcionamento e nos efeitos das poliacuteticas

e decisotildees executadas para essa aacuterea

Nesse contexto a ideia e as implicaccedilotildees das questotildees relacionadas agrave sustentabilidade

foram e continuam sendo alvo de ampla atenccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas estando presente em

diversos discursos organizacionais tanto na esfera puacuteblica quanto na privada que por vezes

passam a trabalhar em parceria com o intuito de articular novas formas de desenvolvimento

que permitam atender as demandas da sociedade contemporacircnea que incluem questotildees

sociais e ambientais por exemplo com o cuidado de manter o equiliacutebrio (SOUZA et al

295

2014) Macecircdo e Cacircndido (2011) tambeacutem destacam a relevacircncia do papel empresarial e

estatal nessas questotildees acrescentando ainda a sociedade como um terceiro agente dotado de

influecircncia nessa temaacutetica

Dessa forma Clemente Ferreira e Liacuterio (2011) argumentam que o processo de

conscientizaccedilatildeo quanto aos prejuiacutezos multifacetados decorrentes da degradaccedilatildeo ambiental

pelo qual a sociedade tem passado nas uacuteltimas deacutecadas desempenhou um papel fundamental

nas questotildees relacionadas agrave sustentabilidade Apesar da importacircncia de cada um dos vaacuterios

segmentos integrantes da sustentabilidade vaacuterios autores como Benetti (2006) Krama

(2009) Matos e Rovella (2010) Clemente Ferreira e Liacuterio (2011) Aquino et al (2014)

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2015a) Rezende e Fagundes (2017)

Frainer et al (2017) e Silva et al (2018) destacam quatro ambientais econocircmicos sociais e

institucionais A descriccedilatildeo dessas dimensotildees satildeo apresentadas no Quadro 1

Quadro 1 ndash Descriccedilatildeo das principais dimensotildees da sustentabilidade

Dimensatildeo Descriccedilatildeo

Ambiental

Refere-se aos impactos das accedilotildees humanas sobre a natureza tendo como

intuito a preservaccedilatildeo ambiental considerada como condiccedilatildeo fundamental para

a garantia de qualidade de vida das geraccedilotildees atuais e futuras

Econocircmica

A perspectiva que orienta essa dimensatildeo eacute a de que o desempenho econocircmico

estaacute relacionado ao uso e esgotamento dos recursos naturais agrave produccedilatildeo e

gerenciamento de resiacuteduos ao uso de energia e ao desempenho

macroeconocircmico e financeiro A ideia eacute que no longo prazo se estabeleccedila a

eficiecircncia dos processos produtivos e se consiga modificar a estrutura do

consumo com o intuito de manter o sistema econocircmico em um niacutevel

sustentaacutevel

Social

Compreende as questotildees relacionadas agrave satisfaccedilatildeo das necessidades humanas

a melhoria da qualidade de vida e a justiccedila social para que a populaccedilatildeo

desfrute de condiccedilotildees de vida dignas

Institucional

Diz respeito agrave orientaccedilatildeo poliacutetica capacidade e esforccedilo despendido tanto

pelos governos como pela sociedade na construccedilatildeo das mudanccedilas necessaacuterias

para uma efetiva implementaccedilatildeo do desenvolvimento sustentaacutevel Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria com base em IBGE (2015a)

No que se refere ao uso dos indicadores para representar as dimensotildees da

sustentabilidade Martins e Cacircndido (2012) enfatizam que estes devem captar os aspectos

relevantes para o processo de desenvolvimento sustentaacutevel permitindo uma boa leitura da

realidade dos locais estudados e revelando tendecircncias ou perspectivas futuras bem como as

mudanccedilas em relaccedilatildeo aos desempenhos passados Neste sentido deve-se observar a

quantidade e a qualidade dos indicadores buscando a utilizaccedilatildeo daqueles que forem mais

296

consistentes e fidedignos bem como a proacutepria metodologia para que a retrataccedilatildeo da realidade

seja autecircntica de modo a fornecer informaccedilotildees que favoreccedilam as interaccedilotildees entre os sistemas

humano e ambiental servindo de guia para resultados sustentaacuteveis

22 Evidecircncias Empiacutericas do Iacutendice de Desenvolvimento Sustentaacutevel

Dada a importacircncia do desenvolvimento sustentaacutevel diversos estudiosos se

propuseram mensuraacute-lo para diferentes espaccedilos geograacuteficos Em niacutevel internacional haacute

poucas pesquisas na aacuterea podendo ser mencionados Van de Kerk e Manuel (2008) Saisana e

Philippas (2012) e Sachs et al (2016)

Objetivando a criaccedilatildeo de um iacutendice que fosse capaz de medir a sustentabilidade de

uma naccedilatildeo Van de Kerk e Manuel (2008) construiacuteram o Sustainable Society Index (SSI)

formado por 22 indicadores agrupados em cinco categorias (desenvolvimento pessoal

ambiente limpo sociedade equilibrada uso sustentaacutevel de recursos e mundo sustentaacutevel) que

basicamente se referem agraves dimensotildees social econocircmica e institucional Inicialmente foi

calculado o niacutevel de sustentabilidade de cada indicador a partir da diferenccedila entre o valor

necessaacuterio para ser considerado sustentaacutevel e o valor apresentado pelo paiacutes Apoacutes esse

processo determinaram a meacutedia aritmeacutetica para agregar todos os indicadores no iacutendice e

mensuraram para 150 paiacuteses referentes ao ano de 2006 Ao ranquearem os paiacuteses verificaram

que o primeiro lugar foi ocupado pela Noruega e as uacuteltimas posiccedilotildees foram ocupadas pelos

paiacuteses da Aacutefrica Oriente Meacutedio e Aacutesia Ocidental caracterizados por serem ricos em petroacuteleo

Ao final do estudo concluiacuteram que o iacutendice proposto se mostrou mais abrangente do que os

outros iacutendices jaacute existentes como o Environmental Sustainabilty Index (ESI)

Assim como o estudo anterior Saisana e Philippas (2012) calcularam o SSI no

entanto o iacutendice passou por algumas alteraccedilotildees tendo em vista que o objetivo dos autores era

melhoraacute-lo Dessa forma a nova versatildeo do SSI possui 21 indicadores alocados em trecircs

dimensotildees (social econocircmica e ambiental) e o iacutendice final passou a ser obtido a partir de uma

meacutedia geomeacutetrica simples das variaacuteveis selecionadas Mensurado para 151 naccedilotildees referente

ao ano de 2012 o ranking dos paiacuteses teve a Islacircndia em primeira colocaccedilatildeo e a Repuacuteblica

Democraacutetica do Congo na uacuteltima posiccedilatildeo Ademais os resultados do SSI evidenciaram a

predominacircncia da relaccedilatildeo inversa entre o bem-estar social e o ambiental sendo que o mesmo

pode ser dito sobre a relaccedilatildeo desse com o desenvolvimento econocircmico

Sachs et al (2016) objetivaram mensurar uma medida de desenvolvimento sustentaacutevel

considerando o desempenho dos paiacuteses em cumprir os Objetivos do Desenvolvimento

297

Sustentaacutevel (ODS) Para isso utilizaram dados de 2015 ou cujo ano estivesse mais proacuteximo

obtendo um total de 77 indicadores Calculado para 149 paiacuteses o SDG Index como foi

denominado eacute resultado de uma meacutedia aritmeacutetica entre os resultados obtidos pelas naccedilotildees em

cada item Os melhores resultados foram obtidos por paiacuteses escandinavos (Sueacutecia Dinamarca

e Noruega) Logo os mesmos estatildeo mais proacuteximos de atingir os ODS ateacute o prazo limite

(2030) Em contrapartida os piores desempenhos foram registrados pelos paiacuteses pobres como

a Repuacuteblica Democraacutetica do Congo a Libeacuteria e a Repuacuteblica Centro-Africana Eles

concluiacuteram que apesar do bom desempenho as naccedilotildees mais ricas tecircm pontos especiacuteficos a

serem melhorados como nutriccedilatildeo e educaccedilatildeo e a pobreza e inclusatildeo social entre outras

questotildees ainda continuam sendo um grande desafio para os mais pobres Aleacutem disso apesar

de suas limitaccedilotildees como o uso de dados de anos diferentes para algumas variaacuteveis o SDG

Index eacute capaz de auxiliar os governos quanto ao seu progresso em atingir os ODS e orientaacute-

los para nas proacuteximas decisotildees

Em acircmbito nacional destacam-se os estudos desenvolvidos por Benetti (2006) Krama

(2009) Clemente Ferreira e Liacuterio (2011) e Silva et al (2018)

Com o objetivo de avaliar o desenvolvimento sustentaacutevel no municiacutepio de Lages (SC)

Benetti (2006) utilizou o Meacutetodo do Painel de Sustentabilidade para avaliar o Iacutendice de

Desenvolvimento Sustentaacutevel (IDS) Esse foi constituiacutedo por 41 indicadores distribuiacutedos nas

dimensotildees social natureza econocircmica e institucional referentes aos vaacuterios anos sendo que o

mais antigo corresponde ao ano de 1996 e o mais recente se refere a 2005 Os resultados

mostraram que o municiacutepio em questatildeo obteve o melhor e o pior desempenho

respectivamente na dimensatildeo ambiental e institucional No geral Lages registrou

performance meacutedia Ao final do estudo foi concluiacutedo que embora essa estivesse proacutexima do

niacutevel de sustentabilidade existiam vaacuterios indicadores que necessitavam de maior atenccedilatildeo do

governo local que deveria implementar accedilotildees conjuntas e simultacircneas sobre todas as

dimensotildees da sustentabilidade

Krama (2009) tambeacutem calculou o IDS empregando o Meacutetodo do Painel de

Sustentabilidade Todavia a aacuterea de estudo natildeo foi um municiacutepio mas os estados brasileiros

utilizando 40 indicadores divididos nas dimensotildees ambiental social econocircmica e

institucional para o periacuteodo 2002-2008 De acordo com os resultados obtidos as maiores

diferenccedilas ocorreram no intervalo do primeiro para o segundo ano mas tenderam ao

equiliacutebrio ao longo dos anos De maneira geral as unidades federativas brasileiras tiveram

298

melhor desempenho na dimensatildeo ambiental classificada como razoaacutevel enquanto as

dimensotildees social e institucional foram as piores sendo classificadas como muito ruim

Ademais observou uma disparidade ao comparar as regiotildees Sul e Sudeste com as regiotildees

Norte e Nordeste que abrigavam respectivamente a maior parte dos estados com os

melhores e piores resultados Aleacutem disso ao se calcular uma meacutedia dos estados o Brasil foi

classificado como ruim Concluiu-se que o Brasil vem apresentando uma lenta mas gradativa

elevaccedilatildeo de seu iacutendice de desenvolvimento sustentaacutevel e que eacute necessaacuterio que o governo

coloque mais variaacuteveis agrave disposiccedilatildeo dos pesquisadores e da sociedade como um todo e que

essas sejam disponibilizadas natildeo apenas em niacutevel nacional mas subnacional pois a limitaccedilatildeo

de dados ainda eacute um problema presente na mensuraccedilatildeo de sustentabilidade o que

compromete a realidade retratada pelos resultados

Clemente Ferreira e Liacuterio (2011) buscaram avaliar o IDS para o estado do Cearaacute com

o intuito de fornecer informaccedilotildees essenciais para o planejamento das poliacuteticas Para tal

empregaram o Meacutetodo do Painel de Sustentabilidade Apesar de terem utilizado menos

variaacuteveis apenas 27 indicadores esses foram divididos nas mesmas dimensotildees que o estudo

anterior Esses correspondem predominantemente ao ano de 2010 mas algumas variaacuteveis satildeo

mais antigas como eacute o caso da Aquicultura retirada do Censo de 2006 Os resultados

comprovaram que o Cearaacute obteve bom desempenho no IDS sendo que as dimensotildees social e

ambiental foram respectivamente as que mais se destacaram de forma positiva e negativa

Assim concluiacuteram que o alcance de um padratildeo sustentaacutevel para o desenvolvimento do estado

do Cearaacute depende de uma interaccedilatildeo entre as necessidades econocircmicas ambientais e sociais

sendo que nesse processo o principal agente eacute o governo o que natildeo implica na exclusatildeo

poliacutetica da populaccedilatildeo que tambeacutem possui uma participaccedilatildeo efetiva nas decisotildees

Silva et al (2018) desenvolveram o Iacutendice de Desenvolvimento Sustentaacutevel (IDS)

formado por 45 indicadores alocados em quatro dimensotildees (social ambiental econocircmica e

institucional) que permite uma avaliaccedilatildeo espacial do desenvolvimento sustentaacutevel para o

estado do Cearaacute a fim de analisar a desigualdade entre seus municiacutepios Calculado por meio

do meacutetodo de anaacutelise fatorial utilizando dados de 2010 os dados mostraram que as

dimensotildees ambiental e institucional exerceram uma influecircncia negativa no IDS confirmando

a carecircncia do desenvolvimento cearense nessas dimensotildees Os resultados tambeacutem indicaram

que 75 dos municiacutepios apresentam baixo desenvolvimento em todas as dimensotildees Ao

observar a desigualdade espacial foi confirmada uma autocorrelaccedilatildeo espacial no

299

desenvolvimento dos municiacutepios do Cearaacute e identificada associaccedilotildees entre municiacutepios

vizinhos Dados os baixos valores do IDS concluiacuteram que haacute a necessidade de uma accedilatildeo mais

efetiva do poder puacuteblico na provisatildeo de infraestrutura adequada ao desenvolvimento

sustentaacutevel

Como pode ser observado as tentativas de criaccedilatildeo de um iacutendice de sustentabilidade

abordando seu caraacuteter multidisciplinar satildeo predominantes na literatura nacional com uma

certa semelhanccedila entre as metodologias utilizadas mas com uma distinccedilatildeo espacial nas aacutereas

de estudo que envolvem niacuteveis subnacionais como municiacutepios e estados Dada a ausecircncia de

estudos para os estados brasileiros uma vez que o uacutenico trabalho nessa aacuterea eacute de Krama

(2009) e ao fato de que 2002-2008 foi o periacuteodo analisado o presente trabalho contribui ao

calcular o IDS para 2014 um ano mais recente Aleacutem disso a base de dados e a metodologia

aqui empregadas divergem do referido trabalho objetivando um processo mais simples para a

mensuraccedilatildeo

3 Metodologia

Para atingir os objetivos propostos foi criado o Iacutendice de Desenvolvimento

Sustentaacutevel (IDS) constituiacutedo pelas dimensotildees social econocircmica ambiental e institucional

para os estados brasileiros sendo que para cada dimensatildeo foi calculado um iacutendice composto

por cinco variaacuteveis Assim seguindo a metodologia utilizada por Fortini Silveira e Moreira

(2016) Frainer et al (2017) e Lima e Sousa (2017) o IDS eacute o resultado de uma meacutedia

aritmeacutetica desses iacutendices

300

Quadro 2 ndash Descriccedilatildeo das variaacuteveis do Iacutendice de Desenvolvimento Social (IDSo)

Iacutendice Descriccedilatildeo da variaacutevel Base de dados

utilizada

Estudos que inspiraram o uso das

variaacuteveis

a) Taxa de

desocupaccedilatildeo IBGE (2015b)

Benetti (2006) Krama (2009)

Clemente Ferreira e Liacuterio (2011)

Aquino et al (2014)

b) Esperanccedila de vida

ao nascer IBGE (2017)

Benetti (2006) Krama (2009)

Clemente Ferreira e Liacuterio (2011)

Martins e Cacircndido (2012) Aquino et

al (2014) Rezende e Fagundes (2017)

c) Mortalidade Infantil IBGE (2017)

Benetti (2006) Krama (2009)

Clemente Ferreira e Liacuterio (2011)

Martins e Cacircndido (2012) Aquino et

al (2014) Rezende e Fagundes (2017)

e Silva et al (2018)

d) Frequecircncia escolar

liacutequida IBGE (2017) Aquino et al (2014)

e) Taxa de homiciacutedio IPEA (2017)

Benetti (2006) Krama (2009) Martins

e Cacircndido (2012) Aquino et al

(2014) Rezende e Fagundes (2017)

Fonte Adaptado de Lima e Sousa (2017)

A dimensatildeo social eacute captada pelo Iacutendice de Desenvolvimento Social (IDSo) que

mensura o desempenho dos estados brasileiros em relaccedilatildeo agraves condiccedilotildees de trabalho sauacutede

educaccedilatildeo e seguranccedila tendo como base as variaacuteveis descritas no Quadro 2

Quadro 3 ndash Descriccedilatildeo das variaacuteveis do Iacutendice de Desenvolvimento Econocircmico (IDE)

Iacutendice Descriccedilatildeo da variaacutevel Base de dados

utilizada

Estudos que inspiraram o uso das

variaacuteveis

f) PIB per capita IBGE (2014a)

Benetti (2006) Krama (2009)

Clemente Ferreira e Liacuterio (2011)

Aquino et al (2014) Rezende e

Fagundes (2017) e Silva et al

(2018)

g) Participaccedilatildeo da

induacutestria no PIB IBGE (2014a)

Martins e Cacircndido (2012)

Rezende e Fagundes (2017)

h) Saldo da balanccedila

comercial IBGE (2017)

Benetti (2006) Krama (2009)

Clemente Ferreira e Liacuterio (2011)

Martins e Cacircndido (2012) Aquino

et al (2014) Rezende e Fagundes

(2017) e Silva et al (2018)

i) Investimento IBGE (2014b) Krama (2009) Aquino et al

(2014)

j) Iacutendice de Gini IBGE (2017)

Benetti (2006) Clemente Ferreira

e Liacuterio (2011) Martins e Cacircndido

(2012) Aquino et al (2014)

Rezende e Fagundes (2017)

Fonte Adaptado de Lima e Sousa (2017)

301

No que se refere agrave dimensatildeo econocircmica essa eacute aferida a partir do Iacutendice de

Desenvolvimento Econocircmico (IDE) O IDE abrange variaacuteveis referentes agrave produccedilatildeo

induacutestria investimento e distribuiccedilatildeo de renda (Quadro 3)

Quadro 4 ndash Descriccedilatildeo das variaacuteveis do Iacutendice de Desenvolvimento Ambiental (IDA)

Iacutendice Descriccedilatildeo da variaacutevel Base de dados utilizada Estudos que inspiraram o uso das

variaacuteveis

k) Frota de veiacuteculos Departamento Nacional de

Tracircnsito (DENATRAN 2016) Frainer et al (2017)

l) Uso de fertilizantes

por unidade de aacuterea IBGE (2017)

Benetti (2006) Krama (2009)

Clemente Ferreira e Liacuterio (2011)

m) Focos de calor IBGE (2017) Aquino et al (2014) e Silva et al

(2018)

n) Emissatildeo de CO2

Sistema de Estimativas de

Emissotildees e Remoccedilotildees de Gases

de Efeito Estufa (SEEG 2017)

Benetti (2006) Krama (2009)

Clemente Ferreira e Liacuterio (2011)

Aquino et al (2014)

o) Moradores em

domiciacutelios

permanentes por tipo

de destinaccedilatildeo do lixo

IBGE (2017)

Martins e Cacircndido (2012) Aquino et

al (2014) Rezende e Fagundes

(2017) e Silva et al (2018)

Fonte Adaptado de Lima e Sousa (2017)

Para a mensuraccedilatildeo da dimensatildeo ambiental utilizou-se o Iacutendice de Desenvolvimento

Ambiental (IDA) formado por indicadores relacionados ao nuacutemero de veiacuteculos agricultura

poluiccedilatildeo do ar queimadas e coleta de lixo (Quadro 4) No caso do percentual de moradores

em domiciacutelios permanentes por tipo de destinaccedilatildeo do lixo essa variaacutevel abrange apenas

aqueles que possuem o lixo coletado e sua escolha se deve agrave ausecircncia de dados referentes agrave

quantidade de lixo coletada uma vez que os dados mais recentes tecircm como base o ano de

2008

No que diz respeito agrave dimensatildeo institucional essa foi obtida a partir do cocircmputo do

Iacutendice de Desenvolvimento Institucional (IDI) constituiacutedo por indicadores sobre acesso agrave

tecnologia matriculados na universidade e despesas puacuteblicas No caso das despesas totais por

funccedilatildeo foram consideradas as despesas governamentais nas seguintes aacutereas assistecircncia

social educaccedilatildeo cultura urbanismo habitaccedilatildeo gestatildeo ambiental ciecircncia e tecnologia

desporto e lazer (Quadro 5)

302

Quadro 5 ndash Descriccedilatildeo das variaacuteveis do Iacutendice de Desenvolvimento Institucional (IDI)

Iacutendice Descriccedilatildeo da variaacutevel Base de dados utilizada Estudos que inspiraram o

uso das variaacuteveis

p) Domiciacutelios com

telefone fixo

Inteligecircncia em

Telecomunicaccedilotildees

(TELECO 2018)

Benetti (2006) Krama

(2009) Clemente Ferreira

e Liacuterio (2011) Aquino et

al (2014)

q) Domiciacutelios com

celular TELECO (2018)

Benetti (2006) Krama

(2009) Clemente Ferreira

e Liacuterio (2011) Aquino et

al (2014)

r) Domiciacutelios com

microcomputador com

acesso agrave internet

TELECO (2018)

Benetti (2006) Krama

(2009) Clemente Ferreira

e Liacuterio (2011) Aquino et

al (2014)

s) Matriculados na

universidade

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

(MEC 2015) Frainer et al (2017)

t) Despesas totais por

funccedilatildeo

COMPARA BRASIL

(2014)

Martins e Cacircndido (2012)

Rezende e Fagundes

(2017)

Fonte Adaptado de Lima e Sousa (2017)

Como todas as variaacuteveis apresentam uma unidade de medida diferente foi necessaacuterio

padronizaacute-las de modo a permitir sua agregaccedilatildeo nas respectivas dimensotildees Assim

empregou-se o meacutetodo adotado por Fortini Silveira e Moreira (2016) baseado nos criteacuterios

estabelecidos pelo Programa das Naccedilotildees Unidas do Desenvolvimento Humano (PNUD

2013) Esse procedimento eacute demonstrado na equaccedilatildeo (1)

(1)

em que (Ii) refere-se ao indicador i Vi corresponde ao Valor observado do indicador Pv

equivale ao pior valor entre a distribuiccedilatildeo do indicador e Mv eacute o melhor valor entre a

distribuiccedilatildeo do indicador i

Apoacutes o caacutelculo de cada iacutendice foi realizada uma meacutedia aritmeacutetica para a obtenccedilatildeo do

IDS para cada unidade federativa brasileira conforme expresso na equaccedilatildeo (2)

(2)

A classificaccedilatildeo adotada neste estudo segue o modelo proposto por Silva e Lima

(2017) com trecircs classes adicionais em funccedilatildeo dos resultados registrados Assim foram

303

consideradas sete classes com intervalos de acordo com o desvio padratildeo em torno da meacutedia

conforme apresentado no Quadro 6

Quadro 6 ndash Classificaccedilatildeo das Classes do Iacutendice de Desenvolvimento Sustentaacutevel (IDS) Classes Sigla Desvios-Padratildeo (δ) em torno da

meacutedia

Muitiacutessimo Alto MMA (M + 3δ) le MMA lt (M + 4δ)

Muito Alto MA (M + 2δ) le MA lt (M + 3δ)

Alto A (M + 1δ) le A lt (M + 2δ)

Meacutedio M Meacutedia le M lt (M + 1δ)

Baixo B (M - 1δ) le B lt Meacutedia

Muito Baixo MB (M ndash 2δ) le MB lt (M ndash 1δ)

Muitiacutessimo Baixo MMB (M - 3δ) le MMB lt (M ndash 2δ)

Fonte Adaptado de Silva e Lima (2017)

4 Resultados e Discussatildeo

Esta seccedilatildeo apresenta a classificaccedilatildeo dos estados brasileiros em relaccedilatildeo ao IDS e aos

iacutendices que o compotildeem Como pode ser observado pela Tabela 1 a maior parte das unidades

federativas apresentou um niacutevel de desenvolvimento social baixo e meacutedio Aleacutem disso apenas

cinco delas (Alagoas Amapaacute Bahia Distrito Federal e Rio Grande do Norte) foram

classificadas com IDSo alto sendo que trecircs delas satildeo da regiatildeo Nordeste Em contrapartida

cinco estados (Mato Grosso do Sul Paranaacute Rondocircnia Roraima e Santa Catarina) obtiveram

classificaccedilatildeo muito baixa Em ambos os casos os escores obtidos na taxa de desocupaccedilatildeo se

configuraram como um dos principais fatores a influenciar no desempenho desses estados A

boa performance do Distrito Federal nessa dimensatildeo tambeacutem eacute observada por Krama (2009)

No caso do Cearaacute ao comparaacute-lo com os demais estados foi notado que o mesmo

possuiu um niacutevel de desenvolvimento social meacutedio registrando o oitavo maior escore

(04387) no IDSo Clemente Ferreira e Liacuterio (2001) tambeacutem verificaram um bom

desempenho desse Estado nessa dimensatildeo Entre os estados nordestinos o Cearaacute possui o

quarto melhor desempenho ficando atraacutes apenas do Rio Grande do Norte (05204) Alagoas

(05198) e Bahia (04779) em funccedilatildeo dos resultados obtidos na taxa de desocupaccedilatildeo e

mortalidade infantil

304

Tabela 1 ndash Distribuiccedilatildeo absoluta do Iacutendice de Desenvolvimento Social (IDSo) para os

estados brasileiros em 2014

Classes Limite Inferior Limite Superior Estados na Classe

Muitiacutessimo Alto 06410 07274 0

Muito Alto 05546 06410 0

Alto 04681 05546 5

Meacutedio 03817 04681 8

Baixo 02953 03817 9

Muito Baixo 02088 02953 5

Muitiacutessimo Baixo 01224 02088 0

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria com base nos dados da pesquisa

No tocante ao IDE conforme demonstrado na Tabela 2 parcela majoritaacuteria das

unidades federativas se encontra nas classes baixo e meacutedio sendo que todos os estados da

regiatildeo Nordeste (com exceccedilatildeo de Alagoas que obteve niacutevel de desenvolvimento econocircmico

muito baixo) integram essas classes e desses apenas a Bahia estaacute na classe meacutedio Krama

(2009) tambeacutem verifica resultados desfavoraacuteveis para Alagoas nessa dimensatildeo Por outro

lado o Distrito Federal e todas as unidades federativas da regiatildeo Sudeste apresentaram os

melhores resultados fazendo parte das classes alto e muito alto Esses resultados podem ser

explicados sobretudo pela performance no Produto Interno Bruto (PIB) e nos investimentos

Tabela 2 ndash Distribuiccedilatildeo absoluta do Iacutendice de Desenvolvimento Econocircmico (IDE) para os

estados brasileiros em 2014

Classes Limite Inferior Limite Superior Estados na Classe

Muitiacutessimo Alto 05460 06244 0

Muito Alto 04676 05460 1

Alto 03891 04676 4

Meacutedio 03107 03891 7

Baixo 02323 03107 12

Muito Baixo 01539 02323 3

Muitiacutessimo Baixo 00754 01539 0

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria com base nos dados da pesquisa

Em relaccedilatildeo ao Cearaacute quando comparado aos demais o estado se encontra em 17ordf

colocaccedilatildeo (com 02774) Por outro lado ao considerar-se apenas os estados do Nordeste o

mesmo possui o terceiro maior escore enquanto Bahia (com 03187) e Sergipe (com 02924)

305

ocupam os primeiros lugares pois tiveram desempenho superior em todos os indicadores

com exceccedilatildeo dos investimentos

A Tabela 3 apresenta o comportamento dos estados na dimensatildeo ambiental Notou-se

que assim como nos iacutendices anteriores a concentraccedilatildeo dos estados permanece nas classes

baixo e meacutedio sendo que a primeira eacute constituiacuteda predominantemente por estados das

regiotildees Norte e Nordeste Os melhores desempenhos foram computados por Minas Gerais e

Satildeo Paulo pertencentes agrave classe muito alto e Mato Grosso e Paraacute integrantes da classe alto

Isso pode ser justificado em maior parte pelos valores registrados na emissatildeo de gaacutes

carbocircnico

Na dimensatildeo em questatildeo tanto quando comparado aos outros estados do Brasil como

somente aos nordestinos o Cearaacute registrou uma peacutessima atuaccedilatildeo Com um escore de 00847

o Estado estaacute na penuacuteltima posiccedilatildeo em relaccedilatildeo aos demais e em uacuteltimo lugar no que se

refere aos estados do Nordeste possuindo baixos valores em quase todas as variaacuteveis O mau

desempenho do Cearaacute nessa dimensatildeo tambeacutem eacute verificado por Clemente Ferreira e Liacuterio

(2011) e por Silva et al (2018)

Tabela 3 ndash Distribuiccedilatildeo absoluta do Iacutendice de Desenvolvimento Ambiental (IDA) para os

estados brasileiros em 2014

Classes Limite Inferior Limite Superior Estados na Classe

Muitiacutessimo Alto 06412 07732 0

Muito Alto 05093 06412 2

Alto 03774 05093 2

Meacutedio 02454 03774 10

Baixo 01135 02454 10

Muito Baixo -00184 01135 3

Muitiacutessimo Baixo -01504 -00184 0

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria com base nos dados da pesquisa

Com relaccedilatildeo ao desenvolvimento institucional cujos resultados satildeo expressos na

Tabela 4 as unidades federativas de uma maneira geral obtiveram resultados melhores que

nas demais dimensotildees tendo em vista que apenas uma (Piauiacute) apresentou classificaccedilatildeo muito

baixa Todavia assim como nos outros iacutendices parcela majoritaacuteria dos estados ainda se

encontra na classe baixo sendo que os mesmos satildeo localizados em sua totalidade nas regiotildees

Norte Nordeste e Centro-Oeste do paiacutes Aleacutem disso Minas Gerais Paranaacute e Rio de Janeiro

foram os uacutenicos que apresentaram desenvolvimento institucional considerado alto e somente

306

Satildeo Paulo obteve um niacutevel considerado muitiacutessimo alto Esses resultados satildeo justificados

principalmente pelo desempenho no nuacutemero de matriacuteculas na universidade e nas despesas

totais por funccedilatildeo

No caso do Cearaacute esse estaacute na 17ordf posiccedilatildeo (02454) quando comparado aos demais

estados brasileiros O mau desempenho nessa dimensatildeo tambeacutem eacute verificado por Silva et al

(2018) Em contrapartida ao considerar-se apenas a regiatildeo Nordeste o mesmo possui o

quarto melhor resultado perdendo somente para a Bahia (com 02808) Paraiacuteba (com 02666)

e Pernambuco (com 02649) devido principalmente ao seu desempenho inferior nos

domiciacutelios com microcomputador com acesso agrave internet e no nuacutemero de matriculados na

universidade A peacutessima atuaccedilatildeo do Cearaacute nessa dimensatildeo tambeacutem eacute constatada por Silva et

al (2018)

Tabela 4 ndash Distribuiccedilatildeo absoluta do Iacutendice de Desenvolvimento Institucional (IDI) para os

estados brasileiros em 2014

Classes Limite Inferior Limite Superior Estados na Classe

Muitiacutessimo Alto 05705 06688 1

Muito Alto 04722 05705 0

Alto 03740 04722 3

Meacutedio 02757 03740 5

Baixo 01774 02757 17

Muito Baixo 00792 01774 1

Muitiacutessimo Baixo -00191 00792 0

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria com base nos dados da pesquisa

Fazendo-se uma anaacutelise agregada dos iacutendices foi verificado que de maneira geral os

estados brasileiros possuem um niacutevel de desenvolvimento sustentaacutevel abaixo do ideal Os

resultados relacionados ao IDS mostrados na Tabela 5 apontam que a maioria das unidades

federativas se encontra na classe baixo que possui como integrantes estados das regiotildees

Norte Nordeste e Centro-Oeste No caso da maior parte desses estados o IDA foi o principal

responsaacutevel pelos baixos valores registrados no IDS Por outro lado as classes alto e muito

alto satildeo compostas pelo Distrito Federal Minas Gerais Rio de Janeiro e Satildeo Paulo Apesar de

se destacarem em iacutendices diferentes todos tiveram bom desempenho no IDE que contribuiu

de forma significativa para a obtenccedilatildeo dessa classificaccedilatildeo O bom desempenho do Distrito

Federal tambeacutem eacute observado por Krama (2009)

307

Tabela 5 ndash Distribuiccedilatildeo absoluta do Iacutendice de Desenvolvimento Sustentaacutevel (IDS) para os

estados brasileiros em 2014

Classes Limite Inferior Limite Superior Estados na Classe

Muitiacutessimo Alto 05094 05780 0

Muito Alto 04407 05094 1

Alto 03720 04407 3

Meacutedio 03034 03720 7

Baixo 02347 03034 13

Muito Baixo 01661 02347 3

Muitiacutessimo Baixo 00974 01661 0

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria com base nos dados da pesquisa

No tocante ao Cearaacute o estado estaacute entre os dez piores ocupando o 21deg lugar (com

02616) o que jaacute era esperado tendo em vista seu desempenho nas dimensotildees que integram o

IDS Ao comparaacute-lo agraves demais unidades federativas nordestina o mesmo estaacute em sexto lugar

perdendo espaccedilo para Bahia (com 03483) Rio Grande do Norte (com 02897) Maranhatildeo

(com 02815) Sergipe (com 02747) e Alagoas (com 02731) tendo seu resultado

influenciado sobretudo pela performance no IDA

5 Consideraccedilotildees Finais

O Iacutendice de Desenvolvimento Sustentaacutevel (IDS) proposto pelo presente trabalho

permite analisar de maneira simplificada o desempenho dos estados brasileiros nas principais

dimensotildees do desenvolvimento sustentaacutevel Assim aleacutem de servir como guia para os gestores

estaduais esse estudo contribui para a literatura que debate o tema sustentabilidade em sua

compreensatildeo multidisciplinar No entanto a criaccedilatildeo do IDS natildeo impede que novas

contribuiccedilotildees possam ser feitas a partir de novos estudos

Como foi observado de forma geral as unidades federativas brasileiras estatildeo longe de

atingir o desenvolvimento sustentaacutevel pleno e a tendecircncia eacute que os estados da regiatildeo Sudeste

alcancem essa meta antes que os demais Aleacutem disso natildeo se pode determinar uma aacuterea

especiacutefica para que os governadores foquem sua atenccedilatildeo tendo em vista a semelhanccedila na

distribuiccedilatildeo dos estados em todos os iacutendices que compotildees o IDS Todavia no caso especiacutefico

do Cearaacute eacute visiacutevel a necessidade de uma atuaccedilatildeo mais urgente na dimensatildeo ambiental

Outro aspecto relevante observado na pesquisa eacute evidenciado ao se contrapor os

resultados das regiotildees Norte e Nordeste com aqueles obtidos pelo Sul e Sudeste pois

308

facilmente nota-se a disparidade existente entre as mesmas Em todos os iacutendices exceto no

Iacutendice de Desenvolvimento Social o Sudeste possui representatividade nas melhores

classificaccedilotildees O oposto pode ser dito das regiotildees Norte e Nordeste cujo estados prevalecem

com as piores Assim conclui-se que aleacutem da necessidade de adotar poliacuteticas rumo ao

desenvolvimento sustentaacutevel eacute preciso tambeacutem que essas visem a reduccedilatildeo das desigualdades

regionais

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311

INSTRUMENTOS DE GESTAtildeO MUNICIPAL CONTRIBUICcedilOtildeES DOS

MUNICIacutePIOS PARA AS POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS AMBIENTAIS E DOS RECURSOS

HIacuteDRICOS NO NORDESTE BRASILEIRO

JANAILDO SOARES DE SOUSA

Doutorando em Desenvolvimento e Meio Ambiente ndash PRODEMAUFC

E-mail janaildo18hotmailcom

Tel (83)98188-7869

FRANCISCO AQUILES DE OLIVEIRA CAETANO

Mestrando em Economia Rural ndash MAERUFC

E-mail aquilescaetanoyahoocombr

Tel (85) 9 9912-4614

MARISA GUILHERME DA FROTA

Mestranda em Economia Rural ndash MAERUFC

E-mail marisa_gf11hotmailcom

Tel (88) 9 9729-2248

ANDREacuteA FERREIRA DA SILVA

Doutoranda em Economia pela Universidade Federal da Paraiacuteba ndash UFPB

E-mail andreaeconomiayahoocombr

Tel (88) 9 9729-0750

312

INSTRUMENTOS DE GESTAtildeO MUNICIPAL contribuiccedilotildees dos municiacutepios para a

gestatildeo ambiental e dos recursos hiacutedricos no nordeste brasileiro

RESUMO

O objetivo deste estudo eacute analisar os niacuteveis de adoccedilatildeo dos instrumentos baacutesicos de gestatildeo

municipal dos recursos hiacutedricos e ambiental nos municiacutepios nordestinos Para tanto foram

utilizados dados da pesquisa Perfil dos Municiacutepios Brasileiros publicada pelo IBGE A

estrateacutegia empiacuterica adotada foi a criaccedilatildeo do Iacutendice de Gestatildeo Municipal dos Recursos

Hiacutedricos ndash IGMRH e o Iacutendice Municipal de Gestatildeo Ambiental ndash IMGA para os municiacutepios

nordestinos Os resultados mostraram que embora existam municiacutepios que implementem

partes dos instrumentos avaliados( Conselhos Fundos Planos Leis e Programas) em meacutedia

o niacutevel de implementaccedilatildeo de instrumentos nas duas aacutereas em estudo eacute baixo Essa deficiecircncia

eacute preocupante e pode contribuir para um aumento da degradaccedilatildeo dos recursos naturais visto

que haacute uma omissatildeo dos municiacutepios na legitimaccedilatildeo e autonomia para realizar uma boa

governanccedila

Palavras ndash Chave Instrumentos Gestatildeo Municiacutepio

ABSTRACT

The objective of this study is to analyze the levels of adoption of the basic instruments of

municipal management of water and environmental resources in the Northeastern

municipalities For that purpose data from the Brazilian Municipal Profile Profile published

by IBGE were used The empirical strategy adopted was the creation of the Municipal Water

Resources Management Index (IGMRH) and the Municipal Environmental Management

Index (IMGA) for the Northeastern municipalities The results showed that although there are

municipalities that implement parts of the instruments evaluated (Councils Funds Plans

Laws and Programs) on average the level of implementation of instruments in the two areas

under study is low This deficiency is worrying and may contribute to an increase in the

degradation of natural resources since there is an omission of the municipalities in the

legitimacy and autonomy to achieve good governance

Keyword Instruments Management County

313

1 INTRODUCcedilAtildeO

A preservaccedilatildeo do meio ambiente e a gestatildeo dos recursos hiacutedricos satildeo condiccedilotildees

necessaacuterias para alcanccedilar o desenvolvimento sustentaacutevel e para a garantia da continuidade da

vida na terra Diante disso nos uacuteltimos anos a busca de alternativas e instrumentos voltados

para a preservaccedilatildeo e a gestatildeo dos recursos naturais tem sido uma preocupaccedilatildeo de todos os

paiacuteses do mundo Um avanccedilo de tal perspectiva pode ser evidente a partir da Agenda 2030

que consiste num plano de accedilatildeo com 17 objetivos e 169 metas envolvendo todos os paiacuteses do

mundo e dentre estes o 6ordm objetivo tem como meta assegurar a disponibilidade e gestatildeo

sustentaacutevel da aacutegua e saneamento baacutesico que deve ser realizada por meio de uma gestatildeo

integrada (ONU 2017)

Desse modo acredita-se que para que esta meta seja implementada de forma

eficiente eacute preciso que haja uma gestatildeo unificada dos recursos hiacutedricos com a gestatildeo

ambiental em todos os paiacuteses e que essa governanccedila tenha participaccedilatildeo ativa de todos os

niacuteveis de governo Afinal acredita-se que uma accedilatildeo conjunta entre todos os entes federativos

possa ser uma accedilatildeo de melhoria na gestatildeo dos recursos hiacutedricos que iraacute aperfeiccediloar a Poliacutetica

Nacional dos Recursos Hiacutedricos (PNRH) e o do Sistema de Recursos Hiacutedricos (SRH)

A Poliacutetica Nacional de Recursos Hiacutedricos enfatiza que todos os entes federados da

Uniatildeo devem promover a integraccedilatildeo das poliacuteticas locais de saneamento baacutesico de uso

ocupaccedilatildeo e conservaccedilatildeo do solo e do meio ambiente com a poliacutetica federal e a estadual de

recursos hiacutedricos Mas o municiacutepio eacute um dos principais representantes dos Comitecircs de Bacia

Hidrograacutefica aleacutem disso a gestatildeo dos recursos hiacutedricos deve ser descentralizada e contar com

a participaccedilatildeo de todos os membros da sociedade civil organizada Aleacutem disso o comando

legislativo natildeo reservou exclusividade nessa gestatildeo Ou seja todos os entes da Federaccedilatildeo

devem participar das atividades de gestatildeo dos recursos hiacutedricos apesar da competecircncia

legislativa ser reservada agrave Uniatildeo (BRASIL 1997 SANTOS 2011)

Apesar de complexa esta gestatildeo tem como objetivo ―buscar o equiliacutebrio e garantir

o acesso a todos de uma aacutegua de boa qualidade capaz de satisfazer todas as necessidades da

populaccedilatildeo (SANTOS 2013 p 10) Desse modo o Estado necessita de mecanismos de

gestatildeo que sejam eficientes para a promoccedilatildeo do desenvolvimento e da reduccedilatildeo das

externalidades negativas causadas ao meio ambiente (BECKER 2004) Nesse sentido

314

destaca-se a importacircncia e o papel de todos os entes federados (Uniatildeo Estados e Municiacutepios)

para o alcance de uma gestatildeo com bons resultados e atendimento a todos os cidadatildeos em

especial os municiacutepios

O presente artigo assume como pressuposto que maiores niacuteveis de adoccedilatildeo de

instrumentos de gestatildeo municipal de recursos hiacutedricos e ambientais potencializam a

efetividade de poliacuteticas puacuteblicas em acircmbito local e contribuem para melhoria das poliacuteticas

nacionais e estaduais uma vez que tais instrumentos estatildeo relacionados ao planejamento

controle e monitoramento das aacuteguas agrave participaccedilatildeo da sociedade civil nas tomadas de

decisotildees e ao financiamento de projetos para sua recuperaccedilatildeo proteccedilatildeo e conservaccedilatildeo

Oliveira Lima e Sousa (2017 p 52) ―percebe essa relaccedilatildeo e reforccedila sua importacircncia ao

afirmar que a Poliacutetica Nacional de Recursos Hiacutedricos e a Poliacutetica Nacional de Meio Ambiente

devem estar integradas a fim de evitar a sobreposiccedilatildeo de intervenccedilotildees

Nessa perspectiva o presente estudo tem como objetivo analisar o niacutevel de

implementaccedilatildeo dos instrumentos de gestatildeo dos recursos hiacutedricos e de gestatildeo ambiental nos

municiacutepios nordestinos Adicionalmente pretende identificar os estados com maiores e

menores niacuteveis de gestatildeo em ambos os setores E por fim analisar a existecircncia de relaccedilatildeo

entre gestatildeo dos recursos hiacutedricos e a gestatildeo ambiental

O interesse em avanccedilar nessa anaacutelise pode ser justificado por alguns motivos a

saber (i) haacute escassez de estudos na literatura internacional e nacional sobre a importacircncia dos

instrumentos de gestatildeo puacuteblica nos municiacutepios nordestinos na aacuterea ambiental e dos recursos

hiacutedricos (ii) a existecircncia de instrumentos baacutesicos de gestatildeo municipal satildeo instacircncias que

cooperam para que ocorra a democratizaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas em acircmbito local desse

modo fortalece a gestatildeo eacute o caso dos Planos Conselhos Fundos e Leis municipais (iii) Os

instrumentos de gestatildeo puacuteblica municipal estatildeo previstos em legislaccedilatildeo e satildeo considerados

elementos essenciais para realizar o controle social de poliacuteticas puacuteblicas setoriais garantindo

os princiacutepios da participaccedilatildeo da sociedade nos processos de decisatildeo em todas as etapas das

poliacuteticas puacuteblicas como emana a Constituiccedilatildeo

Assim torna-se relevante realizar uma anaacutelise da gestatildeo dos recursos hiacutedricos e

ambientais na esfera municipal pois o municiacutepio eacute o local onde os serviccedilos puacuteblicos satildeo

prestados diretamente ao cidadatildeo (SILVA 2003) Conforme jaacute mencionado eacute o ente federado

mais proacuteximo da realidade dos problemas da populaccedilatildeo em geral e com maior autonomia para

mobilizar o puacuteblico alvo dos serviccedilos ademais as bases constitucionais natildeo excluem a

315

participaccedilatildeo do municiacutepio na gestatildeo hiacutedrica como emana o Art 23 do texto constitucional de

1988 o qual ressalta que eacute de competecircncia comum de todos os entes da federaccedilatildeo ―assuntos

de interesse local nesse sentido a gestatildeo das aacuteguas eacute parte integrante do centro de tais

debates

Aleacutem desta introduccedilatildeo este artigo apresenta mais quatro seccedilotildees (ii) referencial

teoacuterico em que se abordam os instrumentos de gestatildeo dos recursos hiacutedricos e da gestatildeo

ambiental (iii) apresentaccedilatildeo dos procedimentos metodoloacutegicos empregados para o alcance

dos objetivos propostos (iv) anaacutelise e discussatildeo dos resultados e por fim (v) as principais

consideraccedilotildees do estudo

2 GESTAtildeO AMBIENTAL E GESTAtildeO DOS RECURSOS HIacuteDRICOS EM AcircMBITO

LOCAL

21 Importacircncia do municiacutepio na Gestatildeo ambiental

A Constituiccedilatildeo de 1988 promoveu um papel importante para a gestatildeo puacuteblica no

Brasil pois propiciou uma accedilatildeo descentralizadora entre os entes da federaccedilatildeo em especial aos

municiacutepios Esta accedilatildeo para a governanccedila eacute uma virtude uma vez que os municiacutepios

constituem esfera privilegiada para o entendimento das demandas cotidianas dos cidadatildeos

por ser o ente federativo mais proacuteximo da populaccedilatildeo (SILVA 2003 CASTRO

ALVARENGA e MAGALHAtildeES JUacuteNIOR 2005) Ainda segundo os autores essa medida

contribuiu para a descentralizaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que ateacute entatildeo eram concentradas

entre os governos Federal e Estadual A Constituiccedilatildeo Federal prevecirc que as poliacuteticas puacuteblicas e

a gestatildeo ambiental satildeo de responsabilidades de todos os entes da federaccedilatildeo Aleacutem do poder

puacuteblico a sociedade civil tambeacutem deve contribuir para a implementaccedilatildeo destas accedilotildees para

que no curto meacutedio e longo prazo alcance uma reduccedilatildeo da degradaccedilatildeo ambiental (LEME

2010)

Para cumprir esse mister o Estado necessita de mecanismos eficientes para a

promoccedilatildeo do desenvolvimento e da reduccedilatildeo das externalidades negativas causadas ao meio

ambiente (BECKER 2004) Embora seja uma gestatildeo complexa acredita-se que sendo

realizada por cada municiacutepio eacute possiacutevel mudar o paradigma posto como entrave ao

desenvolvimento dado que o municiacutepio eacute o ente federativo mais proacuteximo da realidade local

Desse modo Carlo (2006) admite que a atuaccedilatildeo dos municiacutepios eacute de extrema importacircncia

316

para a implementaccedilatildeo da gestatildeo ambiental pois este conhece de perto os reais problemas

ambientais como das necessidades da populaccedilatildeo

Apesar de o municiacutepio poder contribuir de forma mais significativa para esta

realidade com adoccedilatildeo de mecanismos baacutesicos como Secretaria Municipal do Meio Ambiente

Conselho Municipal Fundo Municipal Plano de Gestatildeo Integrada dos Resiacuteduos Soacutelidos

Urbanos Legislaccedilatildeo especiacutefica na aacuterea ambiental e participaccedilotildees em atividades que subsidiem

o aparato institucional ainda assim conforme Leme (2010) eacute preciso fortalecer estas accedilotildees

por meio da articulaccedilatildeo com o Estado em que o municiacutepio estaacute inserido pois o planejamento

ambiental requer escalas maiores do que o territoacuterio municipal

Buscando avanccedilar nas anaacutelises Leme (2011) verificou o niacutevel da capacidade

instalada nos municiacutepios para lidar com a gestatildeo ambiental e se essa capacidade evoluiu ao

longo dos anos Fez uso dos dados da Pesquisa de Informaccedilotildees Baacutesicas Municipais ndash

MUNIC do IBGE dos anos 2002 e 2008 O meacutetodo de anaacutelise empregado foi uma anaacutelise

descritiva e comparativa a qual buscou mostrar a real situaccedilatildeo da capacidade institucional nos

municiacutepios no tocante agrave gestatildeo ambiental local e sua evoluccedilatildeo ao longo dos anos A conclusatildeo

mais direta do estudo eacute que nos uacuteltimos anos a capacidade instalada nos municiacutepios tem

avanccedilado de forma significativa apesar de ainda carecer de fortalecimento nas respectivas

instacircncias Natildeo obstante o municiacutepio exerce importante papel no protagonismo das poliacuteticas

puacuteblicas em niacutevel municipal devido agrave proximidade do gestor local com a populaccedilatildeo o que

pode contribuir para elencar as prioridades e possiacuteveis soluccedilotildees

Recentemente Rodrigues et al (2016) analisaram o niacutevel de implementaccedilatildeo dos

instrumentos de gestatildeo ambiental nos municiacutepios do Semiaacuterido Brasileiro (SAB) Para tanto

utilizaram como meacutetodo a construccedilatildeo de um iacutendice agregado de gestatildeo ambiental com base

nas informaccedilotildees da MUNIC-2009 Os resultados revelaram que os municiacutepios do SAB ainda

apresentam fragilidades inerentes agrave baixa implementaccedilatildeo dos instrumentos baacutesicos de gestatildeo

ambiental Essa realidade reforccedila para o pressuposto que os municiacutepios do SAB ainda

apresentam baixo interesse na adoccedilatildeo de mecanismos que fortaleccedilam a gestatildeo ambiental o

que contribui para o aumento dos impactos negativos ao meio ambiente

Implicaccedilotildees como essas deixam claro que o municiacutepio ainda eacute demasiadamente

omisso nas poliacuteticas de desenvolvimento local mesmo em casos que a competecircncia de gestatildeo

eacute exclusivamente municipal No entanto o baixo interesse na adoccedilatildeo de instrumentos de

gestatildeo natildeo eacute apenas em aacutereas de competecircncia local essa realidade eacute tambeacutem percebida

317

mesmo em atribuiccedilotildees comuns entre os entes federados como por exemplo na gestatildeo

ambiental Apesar disso eacute preciso ter inicialmente noccedilatildeo da realidade agrave qual se encontra os

municiacutepios brasileiros no tocante ao planejamento governamental para que se possa ter um

diagnoacutestico plausiacutevel e assim tecer possiacuteveis contribuiccedilotildees para o fortalecimento e da gestatildeo

e sustentabilidade local

Vale ressaltar que natildeo eacute apenas a existecircncia de tais instacircncias que iraacute garantir que as

poliacuteticas em suas diversas aacutereas da administraccedilatildeo puacuteblica sejam implementadas mas a

inexistecircncia destas eacute um entrave para a garantia dos direitos do desenvolvimento e

sustentabilidade em niacutevel municipal Por exemplo ―em decorrecircncia da inexistecircncia de fundo

municipal de meio ambiente deixa de arrecadar recursos que poderiam ser aplicados em

accedilotildees voltadas para a preservaccedilatildeo manutenccedilatildeo e recuperaccedilatildeo de recursos naturais

(OLIVEIRA et al 2016 p 110) Desse modo agrave adoccedilatildeo de instrumentos baacutesicos de gestatildeo

satildeo primordiais para qualquer aacuterea da administraccedilatildeo municipal e o municiacutepio natildeo pode ser

omisso no tocante agrave implementaccedilatildeo e uso dessas instacircncias uma vez que foram

institucionalizadas por lei para reestruturar a gestatildeo puacuteblica e fortalecer a participaccedilatildeo da

populaccedilatildeo nas demandas locais

22 Importacircncia do municiacutepio na gestatildeo dos recursos hiacutedricos

A descentralizaccedilatildeo da gestatildeo das aacuteguas teve um grande avanccedilo com a criaccedilatildeo da

Poliacutetica Nacional dos Recursos Hiacutedricos ndash PNRH Implementada pela lei nordm 94331997 ela

instituiu o Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hiacutedricos ndash SINGREH e

instaurou o Conselho Nacional de Recursos Hiacutedricos o Ministeacuterio do Meio Ambiente ndash

MMA o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renovaacuteveis ndash IBAMA a

Agecircncia Nacional de Aacutegua ndash ANA (desde 2001) os Conselhos Estaduais de recursos hiacutedricos

ndash CERHs aleacutem disso reforccedilou a competecircncia de todos os entes da federaccedilatildeo com os comitecircs

de bacia e as agecircncias de aacutegua estaduais com a gestatildeo dos recursos hiacutedricos (CASTRO

2012)

A Poliacutetica Nacional dos Recursos Hiacutedricos ndash PNRH baseia-se nos seguintes

princiacutepios I - a aacutegua eacute um bem de domiacutenio puacuteblico II - a aacutegua eacute um recurso natural limitado

dotado de valor econocircmico III - em situaccedilotildees de escassez o uso prioritaacuterio dos recursos

hiacutedricos eacute o consumo humano e a dessedentaccedilatildeo de animais IV - a gestatildeo dos recursos

hiacutedricos deve sempre proporcionar o uso muacuteltiplo das aacuteguas V - a bacia hidrograacutefica eacute a

318

unidade territorial para implementaccedilatildeo da Poliacutetica Nacional de Recursos Hiacutedricos e atuaccedilatildeo

do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hiacutedricos VI - a gestatildeo dos recursos

hiacutedricos deve ser descentralizada e contar com a participaccedilatildeo do Poder Puacuteblico dos usuaacuterios e

das comunidades Diante disso entende-se que a bacia hidrograacutefica eacute a unidade de

planejamento e execuccedilatildeo da PNRH cuja gestatildeo deve ser descentralizada contando com a

participaccedilatildeo de Poder Puacuteblico dos usuaacuterios e comunidades (BRASIL 1999)

Embora a Bacia Hidrograacutefica tenha sido elencada como a unidade de

planejamento da PNRH acredita-se que agrave atribuiccedilatildeo centralizada para o planejamento e

gestatildeo dos recursos hiacutedricos entra em contradiccedilatildeo com a proacutepria Lei e isso ―resulta em

conflitos devido agrave delimitaccedilatildeo de esta ser diferenciada dos limites administrativos de

municiacutepios ou ateacute mesmo de estados (CORREcircA e TEIXEIRA 2006 p7) Portanto tal

realidade contribui para a tese que a Bacia natildeo consegue realizar um planejamento e gestatildeo

com eficiecircncia em virtude da escala territorial a que pertence Obstante conforme o Art 23 da

Constituiccedilatildeo eacute de particular interesse dos municiacutepios a competecircncia suplementar pois esta

ampara legalmente ao ente para legislar suplementarmente sobre mateacuterias de interesse local

comum sendo o meio ambiente uma das mateacuterias de competecircncia em comum (CARNEIRO

et al 2010)

Desse modo acredita-se que o municiacutepio pode contribuir de forma significativa

com a gestatildeo das aacuteguas desde que implemente e utilize os mecanismos baacutesicos de gestatildeo dos

recursos hiacutedricos como Plano Fundo Conselho e Leis especiacuteficas de saneamento baacutesico com

abrangecircncia de serviccedilos de abastecimento de aacutegua e esgotamento sanitaacuterio Estudos sinalizam

que a complexidade e o agravamento da gestatildeo dos recursos hiacutedricos decorrem

principalmente de um processo de gestatildeo ainda setorial que natildeo tem contribuiacutedo para o

aumento e disponibilidade da demanda por aacutegua Ademais da combinaccedilatildeo entre o crescimento

exagerados das demandas e da degradaccedilatildeo da qualidade das aacuteguas Essa realidade decorre dos

processos de urbanizaccedilatildeo industrializaccedilatildeo e expansatildeo agriacutecola (ROGERS et al 2006

SOMLYODY e VARIS 2006)

A Lei das aacuteguas estabelece que a PNRH deve ser realizada levando em

consideraccedilatildeo os seguintes princiacutepios (FERREIRA et al 2009 p 60)

I - A aacutegua eacute um bem de domiacutenio puacuteblico ndash A dominialidade puacuteblica da aacutegua foi

instituiacuteda na Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 com isso o primeiro princiacutepio

apenas reitera o princiacutepio constitucional jaacute existente

319

II ndash A aacutegua eacute um recurso natural limitado dotado de valor econocircmico ndash esse

princiacutepio pretende ser o indutor do uso racional do recurso pois a partir do momento

em que a aacutegua eacute um bem dotado de valor econocircmico seu uso impotildee uma devida

contraprestaccedilatildeo

III ndash Em situaccedilotildees de escassez o uso prioritaacuterio dos recursos hiacutedricos eacute o consumo

humano e a dessedentaccedilatildeo de animais ndash tal princiacutepio prioriza o direito maior

existente em caso de escassez que eacute o direito agrave vida

IV ndash A gestatildeo de recursos hiacutedricos deve sempre proporcionar o uso muacuteltiplo das

aacuteguas ndash este princiacutepio visa impedir que qualquer outorga implique privileacutegio de um

setor em detrimento de outro

V ndash A bacia hidrograacutefica eacute a unidade territorial para implantaccedilatildeo da Poliacutetica

Nacional de Recursos Hiacutedricos e atuaccedilatildeo do Sistema Nacional de Gerenciamento de

Recursos Hiacutedricos ndash uma das maiores inovaccedilotildees foi a utilizaccedilatildeo do periacutemetro da

bacia como aacuterea a ser planejada o que facilita a identificaccedilatildeo das demandas e

disponibilidades

VI ndash A gestatildeo dos recursos hiacutedricos deve ser descentralizada e contar com a

participaccedilatildeo do Poder Puacuteblico dos usuaacuterios e das comunidades ndash esse uacuteltimo

princiacutepio determina que as instituiccedilotildees responsaacuteveis pela gestatildeo dos recursos tenham

uma efetiva participaccedilatildeo de todos os diversos usuaacuterios

Desse modo para que a PNRH alcance os objetivos estrateacutegicos como assegurar

agrave disponibilidade de aacutegua para agrave atual e as futuras geraccedilotildees eacute pertinente que os gestores locais

contribuam de forma mais efetiva para a gestatildeo das aacuteguas Como contributo acredita-se que

a participaccedilatildeo dos usuaacuterios do puacuteblico da iniciativa privada e do setor puacuteblico deve ser um

dos eixos principais dessa governanccedila dos recursos hiacutedricos (ROGERS 2006) Essa

participaccedilatildeo deveraacute melhorar e aprofundar a sustentabilidade da oferta e demanda e a

seguranccedila coletiva da populaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave disponibilidade e vulnerabilidade a qual pode

ser institucionalizada por meio dos Conselhos de Saneamento baacutesico com abrangecircncia ao

abastecimento e esgotamento sanitaacuterio

No entanto a gestatildeo dos recursos hiacutedricos pode ser mais complexa quando natildeo haacute

uma coordenaccedilatildeo em acircmbito local e ainda quando os instrumentos utilizados satildeo meramente

transformados em

oacutergatildeos cartoriais (que apenas referendam as decisotildees do executivo) em mecanismos

de legitimaccedilatildeo do discurso governamental ou em estruturas formais (sem reuniotildees

frequentes programas de trabalho representatividade social vigor argumentativo

rotinas de capacitaccedilatildeo e acesso aos poderes instituiacutedos) (SILVA OLIVEIRA

PEREIRA e OLIVEIRA 2010 p 423)

A inexistecircncia dessa realidade pode ser alcanccedilada desde que os sujeitos

envolvidos sejam imponderados de suas responsabilidades frente agraves demandas do coletivo

uma vez que precisam entender que satildeo os protagonistas do processo decisoacuterio que as

decisotildees e poliacuteticas da gestatildeo ambiental e dos recursos hiacutedricos a serem criadas devem

320

contribuir para a melhoria do desenvolvimento local e sustentabilidade nos municiacutepios o que

pode resultar na melhoria da qualidade de vida da populaccedilatildeo

3 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

A preocupaccedilatildeo com a gestatildeo dos recursos hiacutedricos vem aumentando

substancialmente tendo em vista a crise hiacutedrica ocorrida nos uacuteltimos anos (SANTOS 2013)

Embora seja de competecircncia da Uniatildeo e Estados a legislarem sobre a gestatildeo das aacuteguas esta

governanccedila torna-se deficiente devido a estes entes natildeo terem real domiacutenio da situaccedilatildeo hiacutedrica

de cada territoacuterio haja vista a grande escala territorial realidade esta que contribui para um

baixo alcance dos instrumentos de gestatildeo o que acaba elevando a probabilidade da poliacutetica

natildeo surtir efeitos positivos em todas as Bacias que a compotildeem

As expectativas de o municiacutepio ser o agente catalisador do desenvolvimento

sustentaacutevel demandam uma capacidade de gestatildeo que perpassa pela implementaccedilatildeo de

instrumentos capazes de operacionalizar as competecircncias que envolvem a administraccedilatildeo

puacuteblica A implementaccedilatildeo desses instrumentos em niacutevel municipal eacute ainda deficitaacuteria Os

estudos de Carvalho Lima e Sousa (2013) Lima e colaboradores (2014) Sousa Lima e Khan

(2015) Rodrigues e colaboradores (2016) e Oliveira Lima e Sousa (2017) nos setores

responsaacuteveis pelas poliacuteticas de saneamento baacutesico seguranccedila puacuteblica direitos humanos e

meio ambiente respectivamente chamam atenccedilatildeo por exemplo para o baixo niacutevel de

implementaccedilatildeo dos instrumentos baacutesicos de gestatildeo como Conselhos Fundos e Planos

municipais

O presente estudo utilizou o procedimento metodoloacutegico desenvolvido pelos

autores jaacute citados em especial a proposta de Oliveira Lima e Sousa (2017) devido ao fato de

terem realizado um estudo sobre a mensuraccedilatildeo da gestatildeo municipal dos recursos hiacutedricos e

ambiental para o estado do Cearaacute Nessa perspectiva foi construiacutedo dois iacutendices agregados

para analisar os niacuteveis de implementaccedilatildeo de instrumentos de gestatildeo municipal o Iacutendice de

Gestatildeo Municipal dos Recursos Hiacutedricos (IGMRH ndash Quadro 1) e o Iacutendice Municipal de

Gestatildeo Ambiental (IMGA ndash Quadro 2)

Para avaliar a adoccedilatildeo de instrumentos de gestatildeo dos recursos hiacutedricos optou-se

por considerar indicadores expostos no Quadro 1 Os indicadores selecionados interferem

direta e indiretamente na qualidade e na quantidade da aacutegua disponibilizada agrave populaccedilatildeo Trecircs

321

criteacuterios principais foram determinantes na escolha de cada indicador consistecircncia com a

fundamentaccedilatildeo teoacuterica confiabilidade das informaccedilotildees e disponibilidade de dados em niacutevel

municipal Quanto agrave aplicabilidade do IGMRH coloca-se o seu potencial para avaliaccedilatildeo de

um modelo municipal de gestatildeo no qual segundo Miranda (2012) o governo municipal

adquire um papel central devido ao contato em primeira instacircncia com os problemas urbano-

ambiental inerentes aos recursos hiacutedricos

Assim o IGMRH eacute resultado da agregaccedilatildeo dos 16 indicadores expostos no

Quadro 1 Eacute necessaacuterio ressaltar que o IGMRH natildeo tem a pretensatildeo de qualificar a gestatildeo

hiacutedrica dos municiacutepios brasileiros mas hierarquizar e comparar os municiacutepios e estados da

Regiatildeo Nordeste de acordo com a implementaccedilatildeo dos instrumentos de gestatildeo o que em

primeira instacircncia constitui o passo inicial para a criaccedilatildeo de condiccedilotildees necessaacuterias a praacutetica

de uma gestatildeo eficiente dos recursos hiacutedricos e do fortalecimento da PNHR

322

Quadro 1 - Operacionalizaccedilatildeo dos indicadores componentes do Iacutendice de Gestatildeo Municipal

dos Recursos Hiacutedricos ndash IGMRH Indicadores Operacionalizaccedilatildeo dos indicadores

1 - Existecircncia de oacutergatildeo responsaacutevel pela gestatildeo da poliacutetica de

serviccedilo de abastecimento de aacutegua

2 - Existecircncia de oacutergatildeo responsaacutevel pela gestatildeo da poliacutetica de

serviccedilo de esgotamento sanitaacuterio

3 - Existecircncia de poliacutetica municipal de saneamento baacutesico com

abrangecircncia de serviccedilos de abastecimento de aacutegua

4 - Existecircncia de poliacutetica municipal de saneamento baacutesico com

abrangecircncia de serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio

5 - Definiccedilatildeo do volume miacutenimo per capita de aacutegua para

abastecimento puacuteblico a partir de uma poliacutetica municipal de

saneamento baacutesico

6 - Existecircncia de fundo municipal de saneamento baacutesico

7 -Existecircncia de plano municipal de saneamento baacutesico

8 - Plano municipal de saneamento baacutesico com abrangecircncia de

serviccedilos de abastecimento de aacutegua

9 - Plano municipal de saneamento baacutesico com abrangecircncia de

serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio

10 - Plano municipal de saneamento baacutesico prevendo a

elaboraccedilatildeo de diagnoacutestico da situaccedilatildeo da prestaccedilatildeo dos serviccedilos

puacuteblicos de saneamento baacutesico e de seus impactos nas condiccedilotildees

de vida da

populaccedilatildeo local

11 - Plano municipal de saneamento baacutesico formulado de forma

compatiacutevel com o plano de bacia hidrograacutefica

12 - Existecircncia de procedimentos para acompanhamento de

vigecircncia de licenccedilas ambientais para os sistemas de

abastecimento de aacutegua

13 - Existecircncia de mecanismos de controle social para os

serviccedilos de saneamento baacutesico

14 - Existecircncia de conselho municipal de saneamento

15 - Existecircncia de oacutergatildeo responsaacutevel pela fiscalizaccedilatildeo da

qualidade da aacutegua na administraccedilatildeo puacuteblica municipal

16 - Existecircncia de legislaccedilatildeo municipal sobre proteccedilatildeo de

mananciais

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria

No intuito de verificar se haacute nos municiacutepios brasileiros uma gestatildeo conjunta municipal

entre a governanccedila hiacutedrica e ambiental como estrateacutegia de desenvolvimento sustentaacutevel local

foi construiacutedo o Iacutendice Municipal de Gestatildeo Ambiental ndash IMGA a partir dos indicadores

expressos no Quadro 2 fundamentados em Braga (2001) uma vez que parte do pressuposto

que a accedilatildeo integrada possa alcanccedilar melhores resultados da PNRH

323

Quadro 2 - Indicadores componentes do Iacutendice de Gestatildeo Ambiental (IMGA) Indicadores Operacionalizaccedilatildeo dos indicadores

1 - Existecircncia -Secretaria municipal exclusiva do meio ambiente

2 - Existecircncia - Conselho Municipal de Meio Ambiente

3 - Existecircncia de Fundo Municipal de Meio Ambiente

4 - Legislaccedilatildeo especiacutefica para tratar de questatildeo ambiental

5 - O governo municipal estaacute implementando em parceria com o

Governo Federal

6 - Participaccedilatildeo no programa Coletivo educador

7 - Participaccedilatildeo no programa Sala Verde

8 - Participaccedilatildeo no programa Circuito Tela Verde

9 - Participaccedilatildeo no programa Educaccedilatildeo Ambiental no Plano de

Gestatildeo de Resiacuteduos Soacutelidos

10 - Participaccedilatildeo no programa Sustentabilidade ambiental das

instituiccedilotildees puacuteblicas como a Agenda Ambiental na

Administraccedilatildeo-A3P

11 - O municiacutepio participa de Comissatildeo Interinstitucional de

Educaccedilatildeo Ambiental (CIEA) de acircmbito estadual

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria

As informaccedilotildees referentes a cada indicador foram extraiacutedas da Pesquisa de

Informaccedilotildees Baacutesicas Municipais ndash publicada pelo IBGE Os anos de referecircncia foram 2013

para o IMGA e 2011 para o IGMRH Apoacutes a seleccedilatildeo dos indicadores o procedimento

seguinte foi o caacutelculo dos iacutendices de gestatildeo municipal dos recursos hiacutedricos e do Iacutendice de

Gestatildeo Ambiental O caacutelculo do IGMRH e IGA seguiu o procedimento adotado por Lima e

colaboradores (2014) e Sousa Lima e Khan (2015) e Oliveira Lima e Sousa (2017) por meio

da expressatildeo

sum

Sendo

Ij = Iacutendice de Gestatildeo Municipal no i-eacutesimo municiacutepio

Eij= escore correspondente aoo i-eacutesimo indicador obtido pelo j-eacutesimo municiacutepio (0 para

ausecircncia do instrumento no municiacutepio ou 1 para a existecircncia)

Emaxi= escore maacuteximo do i-eacutesimo indicador

i = 1 p nuacutemero de indicadores

j = 1 n nuacutemero de municiacutepios da Regiatildeo Nordeste

324

Apesar de o meacutetodo ter sido ajustado natildeo haacute ainda na literatura estudos que versem

sobre a referida temaacutetica da forma como o presente estudo propotildee realizar Para todos os

iacutendices calculados quanto mais proacuteximo de 1 melhor a situaccedilatildeo do municiacutepio

Os referidos IGMRH e IMGA permite demonstrar o niacutevel de implementaccedilatildeo dos

mecanismos em anaacutelise em niacutevel municipal variando de 0 (zero) a 1(um) Quanto mais

proacuteximo 1 maior eacute o niacutevel de adoccedilatildeo dos indicadores nos respectivos municiacutepios Ademais

quando multiplicado por 100 o IGMRH e IGA podem ser interpretados como o percentual de

implementaccedilatildeo dos mecanismos municipais da gestatildeo ambiental e dos recursos hiacutedricos nos

municiacutepios brasileiros

Apoacutes o caacutelculo do IGMRH e do IGA os municiacutepios foram classificados em trecircs grupos

quanto agrave adoccedilatildeo dos mecanismos de gestatildeo a saber municiacutepios com menores intermediaacuterios

e maiores niacuteveis de gestatildeo A classificaccedilatildeo seraacute realizada por meio da anaacutelise de

agrupamento1 especificamente o meacutetodo de k-meacutedias sugerido por Hair (2005) O

procedimento segmentaraacute os municiacutepios quanto a suas semelhanccedilas em trecircs classes sendo

estas a serem delimitadas pelos valores do IGMRH e IMGA

(i)Municiacutepios com menores niacuteveis de adoccedilatildeo dos instrumentos de gestatildeo ambiental e

dos recursos hiacutedricos

(ii) Municiacutepios com niacuteveis intermediaacuterios de adoccedilatildeo dos instrumentos de gestatildeo

ambiental e dos recursos hiacutedricos

(iii) Municiacutepios com maiores niacuteveis de adoccedilatildeo dos instrumentos de gestatildeo ambiental e

dos recursos hiacutedricos

Como mencionado o IGMRH e IMGA foi calculado para cada um dos municiacutepios da

Regiatildeo Nordeste Poreacutem optou-se por agregar as referidas informaccedilotildees por unidade da

federaccedilatildeo Desse modo o iacutendice de cada unidade federativa refere-se agrave meacutedia aritmeacutetica do

IGRH e IMGA dos municiacutepios que a compotildeem

4 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

Os instrumentos de gestatildeo puacuteblica municipal estatildeo previstos em legislaccedilatildeo e satildeo

considerados elementos essenciais para realizar o controle social de poliacuteticas puacuteblicas

setoriais garantindo os princiacutepios da participaccedilatildeo da sociedade nos processos de decisatildeo em

todas as etapas das poliacuteticas puacuteblicas como emana a Constituiccedilatildeo (NEVES SANTOS e

325

SILVA 2012) Ademais compreende-se que instrumentos e mecanismos de gestatildeo satildeo

―partes constitutivas da dinacircmica organizacional de todas e quaisquer instituiccedilotildees de natureza

puacutebica ou privada (KLEBA COMERLATTO e FROZZA 2016 p 1062)

A Tabela 1 mostra o IMGA e o IGMRH que expressam em termos meacutedios o grau de

adoccedilatildeo dos municiacutepios nordestinos em relaccedilatildeo aos mecanismos de gestatildeo ambiental e dos

recursos hiacutedricos Observa-se uma relativa heterogeneidade no niacutevel de implementaccedilatildeo da

gestatildeo ambiental e dos recursos hiacutedricos nos municiacutepios nordestinos

Tabela 1 ndash Estatiacutestica descritiva do IGMA e IGMRH dos estados brasileiros

Estados Iacutendice Meacutedio da Gestatildeo Municipal

Ambiental ndash IGMA

Iacutendice Meacutedio da Gestatildeo

Municipal dos Recursos

Hiacutedricos - IGMRH

Maranhatildeo 020 013

Piauiacute 011 013

Cearaacute 037 023

Rio Grande do Norte 015 013

Paraiacuteba 011 011

Pernambuco 020 016

Alagoas 019 012

Sergipe 024 011

Bahia 025 017

Nordeste 020 014

Fonte Resultados da pesquisa (2009 e 2011)

Os resultados apresentados para regiatildeo Nordeste satildeo alarmantes Analisando a

situaccedilatildeo do niacutevel de implementaccedilatildeo do estado com melhor desempenho com relaccedilatildeo agrave gestatildeo

ambiental e dos recursos hiacutedricos observa-se que apenas 37 dos municiacutepios do Cearaacute

implementaram os mecanismos de gestatildeo ambiental Essa fragilidade de capacidade instalada

eacute tambeacutem recorrente na gestatildeo dos recursos hiacutedricos dado que somente 23 dos municiacutepios

desse estado adotam os instrumentos analisados No entanto o caso mais extremo eacute o dos

municiacutepios do estado da Paraiacuteba o que demostra a morosidade da gestatildeo diante das

vulnerabilidades em ambos setores ( IGMA = 011 e IGMRH= 011)

A existecircncia dos mecanismos baacutesicos de gestatildeo como Conselhos Fundos Planos

Poliacuteticas e Leis especiacuteficas natildeo satildeo indicativos para a legitimaccedilatildeo das poliacuteticas em acircmbito

local Conforme Leme (2010) o artigo 23 e o capiacutetulo 30 da Constituiccedilatildeo Federal deixam

claro que as poliacuteticas de meio ambiente devem ser realizadas por todos os entes federados e

aleacutem disso devem promover a participaccedilatildeo da sociedade Ademais as questotildees locais satildeo de

competecircncia dos municiacutepios sendo a questatildeo ambiental e hiacutedrica descritas como uma destas

326

responsabilidades Poreacutem a proacutepria Constituiccedilatildeo natildeo aponta de que forma deve ser realizada

a referida gestatildeo nas unidades federadas

Acredita-se que como contribuiccedilatildeo para o entendimento dessa conjuntura a

Constituiccedilatildeo de 1988 embora tenha reforccedilado a descentralizaccedilatildeo e as competecircncias entre os

entes federados muitas vezes acaba sendo omissa na orientaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo

interfederativa fator esse que na grande maioria dos casos eacute utilizado como argumento

preponderante para a negligecircncia dos gestores locais Por exemplo sabe que a bacia

hidrograacutefica eacute unidade de planejamento da gestatildeo dos recursos hiacutedricos no entanto o Art 23

da carta magna prevecirc que as poliacuteticas puacuteblicas e a gestatildeo ambiental satildeo de responsabilidades

de todos os entes da federaccedilatildeo logo o municiacutepio natildeo deve ser improvidente na gestatildeo dos

recursos hiacutedricos e do meio ambiente

Segundo Leme (2010 p 36) ―dispor de algum tipo de oacutergatildeo para tratar a questatildeo

ambiental eacute elemento baacutesico para implementar as poliacuteticas ambientais no municiacutepio E

embora exista uma especificidade nos muniacutecipes eacute preciso adotar os mecanismos de gestatildeo

ambiental e hiacutedrica como descritos na Tabela 1 e 2 visto que fortalecem as accedilotildees e

contribuem para a democratizaccedilatildeo da accountability horizontal (municiacutepios) e vertical

(estados e Uniatildeo) No intuito de sintetizar as informaccedilotildees seratildeo descritos os valores

referentes agrave Regiatildeo Nordeste (uacuteltima linha)

Eacute fundamental uma gestatildeo eficiente dos recursos hiacutedricos sobretudo em regiotildees

geograacuteficas onde a aacutegua enquanto recurso eacute um bem escasso Diante da deficiecircncia hiacutedrica

espera-se que accedilotildees governamentais promovam a conservaccedilatildeo e otimizaccedilatildeo do uso da aacutegua

contudo como se observa na Tabela 1 os estados nordestinos apresentam grandes

fragilidades nos mecanismos de gestatildeo como se percebe pela pouca atenccedilatildeo destinada ao

saneamento baacutesico e ao tratamento das efluentes aleacutem de legislaccedilatildeo ambiental deficitaacuteria para

os sistemas de abastecimento de aacutegua

Tabela 1 ndash Proporccedilatildeo dos instrumentos de gestatildeo dos recursos hiacutedricos nos estados

nordestinos (2011)

Instrumentos

Percentual dos instrumentos de gestatildeo dos recursos hiacutedricos nos estados nordestinos Regiatildeo

Nordeste

MA PI CE RN PB PE AL SE BA

1 - Existecircncia de oacutergatildeo

responsaacutevel pela gestatildeo da

poliacutetica de serviccedilo de abastecimento de aacutegua

2903 7679 3478 719 314 270 1765 1067 2974 2352

327

2 - Existecircncia de oacutergatildeo responsaacutevel pela gestatildeo da

poliacutetica de serviccedilo de

esgotamento sanitaacuterio

1336 223 2717 4311 5291 6703 1863 4000 3573 3335

3 - Existecircncia de poliacutetica

municipal de saneamento

baacutesico com abrangecircncia de serviccedilos de abastecimento de

aacutegua

1982 1920 2717 1138 628 1405 686 400 1367 1360

4 - Existecircncia de poliacutetica

municipal de saneamento baacutesico com abrangecircncia de

serviccedilos de esgotamento

sanitaacuterio

1060 313 2663 1317 852 2270 784 800 1391 1272

5 - Definiccedilatildeo do volume

miacutenimo per capita de aacutegua para

abastecimento puacuteblico a partir

de uma poliacutetica municipal de

saneamento baacutesico

138 089 380 180 314 486 196 0 360 238

6 - Existecircncia de fundo

municipal de saneamento baacutesico

138 089 326 240 135 432 098 0 168 181

7 -Existecircncia de plano

municipal de saneamento

baacutesico

691 179 870 719 224 865 784 400 432 574

8 - Plano municipal de saneamento baacutesico com

abrangecircncia de serviccedilos de

abastecimento de aacutegua

645 179 652 359 179 432 294 000 264 334

9 - Plano municipal de

saneamento baacutesico com

abrangecircncia de serviccedilos de esgotamento sanitaacuterio

553 000 707 659 224 703 490 133 312 420

10 - Plano municipal de

saneamento baacutesico prevendo a

elaboraccedilatildeo de diagnoacutestico da situaccedilatildeo da prestaccedilatildeo dos

serviccedilos puacuteblicos de saneamento baacutesico e de seus

impactos nas condiccedilotildees de vida

da populaccedilatildeo local

184 089 598 659 045 595 490 133 216 334

11 - Plano municipal de saneamento baacutesico formulado

de forma compatiacutevel com o

plano de bacia hidrograacutefica

046 089 272 419 135 270 490 133 240 233

12 - Existecircncia de

procedimentos para

acompanhamento de vigecircncia de licenccedilas ambientais para os

sistemas de abastecimento de

aacutegua

2074 1652 4239 1617 583 2216 2255 1467 2830 2104

13 - Existecircncia de mecanismos de controle social para os

serviccedilos de saneamento baacutesico

3456 3125 6522 5449 3991 3459 2843 3333 4844 4114

14 - Existecircncia de conselho

municipal de saneamento 138 134 326 180 0 108 098 0 096 120

15 - Existecircncia de oacutergatildeo

responsaacutevel pela fiscalizaccedilatildeo da

qualidade da aacutegua na administraccedilatildeo puacuteblica

municipal

4147 5357 6359 2335 3139 2757 4216 4267 4580 4129

16 - Existecircncia de legislaccedilatildeo

municipal sobre proteccedilatildeo de mananciais

1797 446 3315 1198 807 2757 2059 1333 2950 1851

Fonte Resultados da pesquisa 2011

328

Observa-se tambeacutem agrave omissatildeo dos municiacutepios nordestinos no quesito ambiental fato

esse confirmado pelo baixo nuacutemero de localidades que possuem mecanismos baacutesicos para

realizar a gestatildeo ambiental como se percebe na Tabela 2 (uacuteltima coluna) apenas 4552 dos

municiacutepios da regiatildeo Nordeste possuem legislaccedilatildeo especiacutefica para tratar de assuntos

ambientais Obstante apenas 2270 dos muniacutecipes detecircm de secretaria exclusiva do meio

ambiente nos demais casos agrave questatildeo ambiental eacute subordinada a outras secretarias Esses

resultados corroboram para a confirmaccedilatildeo que embora a Constituiccedilatildeo de 1988 tenha

fomentado a descentralizaccedilatildeo e aumentado agraves competecircncias para o municiacutepio este ainda natildeo

trouxe para si a real autonomia emanada por Lei

Tabela 2 ndash Proporccedilatildeo dos instrumentos de gestatildeo ambiental nos estados brasileiros (2013)

Instrumentos

Percentual dos instrumentos de gestatildeo ambiental nos estados

nordestinos

Regiatildeo

Nordeste

MA PI CE RN PB PE AL SE BA

1 - Existecircncia -

Secretaria municipal

exclusiva do meio

ambiente

4562 2321 2717 2395 1166 1405 2353 1733 1775 2270

2 - Existecircncia -

Conselho Municipal de

Meio Ambiente

3548 1696 8315 4371 1794 3946 2353 3200 6978 4022

3 - Existecircncia de Fundo

Municipal de Meio

Ambiente

2212 848 3696 1677 448 1838 1373 1867 5204 2199

4 - Legislaccedilatildeo

especiacutefica para tratar de

questatildeo ambiental

4194 2813 8207 3293 3229 4486 4020 3867 6859 4552

5 - O governo

municipal estaacute

implementando em

parceria com o

Governo Federal

2903 1875 5870 2036 2063 3784 3627 4933 2998 3343

6 - Participaccedilatildeo no

programa Coletivo

educador

369 179 707 240 090 595 490 533 264 385

7 - Participaccedilatildeo no

programa Sala Verde 092 313 1141 180 224 486 490 533 671 459

8 - Participaccedilatildeo no

programa Circuito Tela

Verde

092 134 598 120 090 108 196 267 168 197

9 - Participaccedilatildeo no

programa Educaccedilatildeo

Ambiental no Plano de

Gestatildeo de Resiacuteduos

Soacutelidos

2212 1295 3804 1317 1480 2757 2549 4533 1918 2429

10 - Participaccedilatildeo no

programa

Sustentabilidade

ambiental das

184 134 2011 419 224 595 294 667 480 556

329

instituiccedilotildees puacuteblicas

como a Agenda

Ambiental na

Administraccedilatildeo-A3P

11 - O municiacutepio

participa de Comissatildeo

Interinstitucional de

Educaccedilatildeo Ambiental

(CIEA) de acircmbito

estadual

783 402 1413 659 359 1135 1176 1600 1055 954

12 - O municiacutepio

possui Plano de Gestatildeo

Integrada de Resiacuteduos

Soacutelidos nos termos

estabelecidos na

Poliacutetica Nacional de

Resiacuteduos Soacutelidos

2535 670 5489 1317 1659 3189 4216 4533 1487 2788

Fonte Resultados da pesquisa 2013

Percebe-se que adoccedilatildeo a adoccedilatildeo dos instrumentos de gestatildeo dos recursos e ambiental

natildeo eacute uma praacutetica comum nos municiacutepios nordestinos A maioria dos estados nordestinos

(Maranhatildeo Piauiacute Rio Grande do Norte Paraiacuteba Alagoas e Sergipe) encontra-se na classe

com os menores niacuteveis de implementaccedilatildeo (011 le IGMRH le 013) o que revela uma

fragilidade do aparato institucional na maioria dos respectivos municiacutepios (Tabela 3)

Tabela 3 ndash Clusters dos niacuteveis de implementaccedilatildeo de instrumentos de gestatildeo municipal dos

recursos hiacutedricos segundo o valor do iacutendice calculado Niacuteveis de implementaccedilatildeo de instrumentos de gestatildeo dos recursos hiacutedricos segundo o

valor do iacutendice calculado (por classes)

Classes Baixo Intermediaacuterio Alto

011 le IGMRH le 013 016 le IGMRH le 017 023le IGMRH le 023 Nuacutemero de estados 3 2 1 Fonte Resultados da pesquisa 2013

Essa realidade natildeo eacute tatildeo diferente quando se analisa a situaccedilatildeo da gestatildeo ambiental no

entanto a maioria dos estados (Maranhatildeo Pernambuco Alagoas Sergipe e Bahia) encontra-

se na classe com niacuteveis intermediaacuterios de gestatildeo ambiental (019 le IGMMA le 025) Natildeo

significa dizer que os que apresentam niacuteveis intermediaacuterios estejam em melhor situaccedilatildeo pois

o niacutevel de implementaccedilatildeo eacute ainda pouco significante (Tabela 4)

Tabela 4 ndash Clusters dos niacuteveis de implementaccedilatildeo de instrumentos de gestatildeo municipal do

meio ambiente segundo o valor do iacutendice calculado Niacuteveis de implementaccedilatildeo de instrumentos de gestatildeo municipal do meio ambiente

segundo o valor do iacutendice calculado (por classes)

Classes Baixo Intermediaacuterio Alto

011 le IGMMA le 015 019 le IGMMA le 025 037le IGMMA le 037

330

Nuacutemero de es wtados 3 5 1 Fonte Resultados da pesquisa 2009

Yassuda (1993) relata que eacute de suma importacircncia a integraccedilatildeo entre gestatildeo ambiental e

dos recursos hiacutedricos adicionalmente Oliveira Lima e Sousa (2017) reforccedilam sobre essa

realidade Relativo a isso o presente estudo observou que haacute de fato uma correlaccedilatildeo positiva e

alta entre gestatildeo ambiental e gestatildeo dos recursos hiacutedricos com niacutevel de significacircncia de 1

(Coeficiente de Correlaccedilatildeo de Pearson = 0803) Essa realidade corrobora para a hipoacutetese que

uma das possiacuteveis fragilidades da gestatildeo dos recursos hiacutedricos decorre da ausecircncia da

interaccedilatildeo de accedilotildees e poliacuteticas fomentadas pelas instacircncias locais responsaacuteveis por esses

setores Apesar disso sabe-se que haacute outras debilidades no tocante ao gerenciamento das

poliacuteticas ambientais e hiacutedricas poreacutem esse debate perpassa a proposta do estudo

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O presente estudo teve por objetivo analisar o niacutevel de implementaccedilatildeo dos

instrumentos de gestatildeo dos recursos hiacutedricos e de gestatildeo ambiental nos municiacutepios

nordestinos Bem como identificar os estados com maiores e menores niacuteveis de gestatildeo em

ambos setores E por fim analisou a existecircncia de relaccedilatildeo entre gestatildeo dos recursos hiacutedricos e

a gestatildeo ambiental A conclusatildeo mais direta do estudo eacute que haacute ainda uma omissatildeo dos

municiacutepios nos dois setores em anaacutelise ambiental e hiacutedrico Ademais uma gestatildeo conjunta

entre gestatildeo ambiental e recursos hiacutedricos pode potencializar as accedilotildees poliacuteticas e programas

direcionados para os problemas inerentes ao meio ambiente

Essas fragilidades intriacutensecas ao baixo niacutevel de implementaccedilatildeo de instrumentos de

gestatildeo contribuem para a reduccedilatildeo da capacidade do municiacutepio interferir positivamente no

arrefecimento da degradaccedilatildeo dos recursos hiacutedricos e ambientais aleacutem de comprometer

substancialmente a qualidade de vida da populaccedilatildeo Por fim compromete a atuaccedilatildeo do

municiacutepio como agente catalizador das poliacuteticas puacuteblicas em acircmbito local visto que a sua

capacidade instalada encontra-se limitada e em alguns casos haacute ausecircncia de alguns

mecanismos

Diante do exposto destacam-se quatro principais contribuiccedilotildees do estudo (i) o

fomento e discussatildeo da importacircncia da gestatildeo municipal em assuntos de interesse comum

entre os entes federativos (ii) o diagnoacutestico da situaccedilatildeo dos municiacutepios nordestinos na adoccedilatildeo

331

dos mecanismos baacutesicos de gestatildeo ambiental e hiacutedrica (iii) uma anaacutelise criacutetica e quantitativa

de um assunto que eacute tratado puramente de forma subjetiva (iv) a confirmaccedilatildeo que haacute uma

relaccedilatildeo positiva entre a gestatildeo ambiental e hiacutedrica realidade essa muita vezes tratada de

forma particularizada na administraccedilatildeo puacuteblica

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334

ATIVIDADE DE CERAcircMICA VERMELHA E MEDIDAS MITIGADORAS DE

IMPACTOS AMBIENTAIS UM ESTUDO DE CASO NO MUNICIacutePIO DE CRATO

(CE)

Ismael Martins Landim

Graduaccedilatildeo em andamento no curso de Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do

Cariri (URCA) Bolsista de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica ndash PIBICURCA E-

mail ismaellandim3gmailcom

Maria Larissa Bezerra Batista

Graduaccedilatildeo em andamento no curso de Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do

Cariri (URCA) Bolsista de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica ndash PIBICURCA E-mail

marialarissa25gmailcom

Christiane Luci Bezerra Alves

Doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Cearaacute (UFC)

Professora Associada do Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri

(URCA) E-mail chrislucigmailcom

Valeacuteria Feitosa Pinheiro

Mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade Regional do Cariri (URCA)

Professora Adjunta do Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri

(URCA) E-mail valeriafp73gmailcom

335

ATIVIDADE DE CERAcircMICA VERMELHA E MEDIDAS MITIGADORAS DE

IMPACTOS AMBIENTAIS UM ESTUDO DE CASO NO MUNICIacutePIO DE CRATO

(CE)

RESUMO

O meio ambiente eacute um elemento fundamental para a existecircncia de vida no planeta e tem sido

deteriorado por algumas atividades devido o emprego de praacuteticas inadequadas Uma dessas

atividades eacute a realizada pela induacutestria de ceracircmica vermelha que causa seacuterios impactos ao

meio ambiente na retirada do material utilizado para a fabricaccedilatildeo dos produtos e

principalmente durante o processo produtivo Poreacutem existem meios e praacuteticas que amenizam

os efeitos causados ao meio ambiente por essa atividade que se configura como uma

Responsabilidade Socioambiental (RSA) Sendo assim o objetivo dessa pesquisa eacute a

realizaccedilatildeo de um estudo de caso na Ceracircmica Gomes de Mattos (CGM) localizada em Crato

(CE) com o intuito de analisar a atividade de ceracircmica vermelha dessa empresa e as medidas

adotadas para reduzir os impactos ambientais na perspectiva de identificar accedilotildees de RSA por

parte da empresa em destaque A metodologia empregada trata-se de uma pesquisa

exploratoacuteria que engloba por exemplo levantamento bibliograacutefico e estudo de caso Por sua

vez os resultados apontaram um importante compromisso da empresa com o meio ambiente

atraveacutes da praacutetica de accedilotildees que visam melhorar as condiccedilotildees ambientais e reduzir os impactos

causados ao mesmo por essa atividade Conclui-se portanto que as boas accedilotildees empregadas

pela empresa estatildeo em consonacircncia com o atual modelo de gerecircncia empresarial que passa a

buscar aleacutem dos benefiacutecios econocircmicos uma maior responsabilidade ambiental e social

Palavras-chaves Responsabilidade Socioambiental Ceracircmica vermelha CGM

ABSTRACT The environment is a fundamental element for the existence of life on the planet and has been

deteriorated by some activities due to the use of inappropriate practices One of these

activities is the one realized by the red ceramic industry that causes serious impacts to the

environment in the withdrawal of the material used for the manufacture of the products and

mainly during the productive process However there are means and practices that soften the

effects caused to the environment by this activity which is configured as a Socio-

Environmental Responsibility (RSA) Therefore the objective of this research is to carry out a

case study at Ceracircmica Gomes de Mattos (CGM) located in Crato (CE) with the purpose of

analyzing the red ceramic activity of this company and the measures adopted to reduce

environmental impacts with a view to identifying RSA actions by the company in focus The

methodology used is an exploratory research which includes for example a bibliographical

survey and a case study In turn the results showed an important commitment of the company

to the environment through the practice of actions that aim to improve environmental

conditions and reduce the impacts caused to the same by this activity It is concluded

therefore that the good actions employed by the company are in line with the current business

management model which in addition to the economic benefits seeks greater environmental

and social responsibility

Keywords Social and Environmental Responsibility Red ceramics CGM

336

1 Introduccedilatildeo

O impacto das atividades econocircmicas sobre o meio ambiente tem sido foco crescente e

central da avaliaccedilatildeo de sistemas produtivos onde satildeo incorporados novos criteacuterios de

sustentabilidade aleacutem da estritamente econocircmica e passam a ser consideradas as dimensotildees

sociais ambientais institucionais aleacutem dos interesses dos diversos agentes envolvido no

desenvolvimento das cadeias produtivas como clientes trabalhadores fornecedores

comunidades locais sociedades em geral e as diferentes esferas do setor puacuteblico

(stakeholders) Para Silva (2007) jaacute no iniacutecio do seacuteculo XX os problemas ambientais

alcanccedilaram grande extensatildeo e se tornaram um enorme desafio agrave possibilidade de

sobrevivecircncia humana no planeta Tanto em aacutereas urbanas quanto rurais a degradaccedilatildeo

ambiental jaacute alcanccedilou niacuteveis preocupantes levando agrave ameaccedila da qualidade de vida e bem estar

das populaccedilotildees Assim ―as relaccedilotildees que envolvem os sistemas produtivos e suas conexotildees

ambientais como suporte para mecanismos de sustentabilidade e desenvolvimento devem

crescentemente fazer parte do campo de pesquisas acadecircmicas uma vez que estatildeo no centro

de projetos e poliacuteticas de desenvolvimento atuais (ALVES 2017 p 21)

Uma das atividades industriais que por sua proacutepria natureza colabora para intensificar

a degradaccedilatildeo ambiental eacute a atividade das ceracircmicas dentre elas a induacutestria de ceracircmica

vermelha Silva (2007) expotildee que o desenvolvimento dessa atividade tem acontecido atraveacutes

de um processo de produccedilatildeo muito complexo e que apresenta alguns estaacutegios a saber a

retirada da mateacuteria-prima utilizada para a fabricaccedilatildeo dos produtos como a argila e o barro

vermelho a mistura ou moldagem dos componentes secagem ou queima e a destinaccedilatildeo do

produto final ao consumidor Eacute importante destacar que em todo esse processo produtivo

ainda permanece a utilizaccedilatildeo de procedimentos arcaicos com ecircnfase para o uso da lenha na

fase de queima dos produtos

De acordo com Santos et al (2016) as ceracircmicas vermelhas satildeo responsaacuteveis pela

produccedilatildeo de materiais como componentes de laje telhas tijolos todos de suma importacircncia

para o setor de construccedilatildeo civil Poreacutem o processo produtivo e a extraccedilatildeo da mateacuteria-prima

necessaacuteria para a fabricaccedilatildeo desses produtos tem ocasionado seacuterios danos ao ambiente natural

atraveacutes dos impactos ambientais que satildeo ―toda e qualquer alteraccedilatildeo oriunda das atividades

antropoloacutegicas capazes de modificar as caracteriacutesticas fiacutesicas quiacutemicas ou bioloacutegicas do meio

natural e social (SANTOS et al 2016 p 4) Destacam-se nesse processo extraccedilatildeo da

argila promovendo desmatamento acelerado degradaccedilatildeo das margens de rios e riachos e

337

degradaccedilatildeo de matas ciliares alteraccedilatildeo da paisagem de forma geral consumo da lenha

contribuindo para a devastaccedilatildeo das matas nativas queima de produtos gerando emissatildeo em

quantidades apreciaacuteveis de certos componentes gasosos como o monoacutexido de carbono

contribuindo para poluiccedilatildeo do ar e aquecimento global resiacuteduos natildeo reutilizaacuteveis no processo

produtivo ruiacutedos e poluiccedilatildeo sonora agravos agrave sauacutede humana seja de trabalhadores ou de

comunidades do entorno (ALVES 2017)

Poreacutem se as empresas contribuiacuterem para a incorporaccedilatildeo de processos produtivos mais

limpos atuarem no gerenciamento de seus impactos ambientais e adotarem medidas

mitigadoras de tais impactos a produccedilatildeo pode ocorrer com menores danos agraves populaccedilotildees e ao

meio ambiente numa maior sintonia com o desenvolvimento sustentaacutevel Essa anaacutelise estaacute

inteiramente relacionada ao que se denomina de Responsabilidade Socioambiental (RSA)

Conforme o Ministeacuterio do Meio Ambiente (MMA 2009) as questotildees que se referem ao tema

satildeo de acircmbito global e seu entendimento eacute distinto entre as empresas e organizaccedilotildees pois

dependem dos impactos e demandas impostas como os desafios sociais econocircmicos e

ambientais que devem ser encarados e resolvidos Vale ressaltar que mais explicitamente a

partir dos anos 1970 quando se comeccedila a construir a perspectiva de avaliaccedilatildeo do

desenvolvimento incorporando a loacutegica da preservaccedilatildeo ambiental que a constituiccedilatildeo e

adesatildeo de poliacuteticas e programas que envolvem a RSA tem sido crescente e eacute resultado na

maioria dos casos dos sistemas desiguais e instaacuteveis associados ao processo de globalizaccedilatildeo

das economias e da pressatildeo que foi feita por parte das organizaccedilotildees e movimentos sociais pela

avaliaccedilatildeo dos custos sociais e ambientais na dinacircmica dos sistemas produtivos

As empresas que adotam condutas de RSA aumentam o grau de desenvolvimento

social proteccedilatildeo ambiental e respeito aos direitos humanos traduzindo-se em um

gerenciamento responsaacutevel As organizaccedilotildees empresariais que investem nessas praacuteticas

desenvolvem a capacidade de provocar haacutebitos de cooperaccedilatildeo que vatildeo aleacutem do espaccedilo

interno estendendo-se tambeacutem ao ambiente externo aleacutem de possuir uma percepccedilatildeo

sistecircmica de sua atuaccedilatildeo (SAacute et al 2013)

Com base no exposto o objetivo geral da pesquisa eacute analisar a atividade de ceracircmica

vermelha e as medidas mitigadoras de impactos ambientais atraveacutes de um estudo de caso na

Ceracircmica Gomes de Mattos (CGM) em Crato (CE) na perspectiva de identificar accedilotildees de

RSA por parte da empresa em destaque Para isso foi desenvolvida pesquisa direta com

338

entrevistas direcionadas a gestores e aplicaccedilatildeo de questionaacuterio baseado no padratildeo de conduta

da empresa na assimilaccedilatildeo de praacuteticas de RSA

Eacute substancial destacar que a escolha da empresa CGM para a realizaccedilatildeo do estudo

aconteceu em virtude do destaque que a mesma vem apresentando nos uacuteltimos anos acerca da

adoccedilatildeo de processos produtivos mais limpos inclusive substituindo a lenha utilizada para a

queima dos produtos por biomassa proveniente do bagaccedilo de cana poacute de serra casca de

babaccedilu e sobras de poda de aacutervores Essa accedilatildeo permitiu a geraccedilatildeo de receita atraveacutes da venda

de creacuteditos de carbono para o Bando Mundial com cada creacutedito equivalendo a uma tonelada

de carbono que natildeo foi emitido (CARLETI 2013) Aleacutem disso a Sustainable Carbon (2015)

afirma que a CGM utiliza essa receita para investir na modernizaccedilatildeo da empresa e em

melhorias para os trabalhadores e comunidade do entorno com melhorias nas aacutereas sociais

(inclusatildeo social estiacutemulo ao esporte) ambientais (preservaccedilatildeo do patrimocircnio natural manejo

florestal) e econocircmicas (desenvolvimento tecnoloacutegico divulgaccedilatildeo de boas praacuteticas

ambientais)

Este trabalho estaacute segmentado em cinco seccedilotildees a primeira corresponde a introduccedilatildeo

do tema proposto a segunda aborda o referencial teoacuterico que traz um estudo sobre os

impactos ambientais provocados pela atividade ceramista e a relevacircncia da RSA a terceira

refere-se agrave metodologia utilizada que se trata de um estudo exploratoacuterio a quarta corresponde

aos resultados e discussotildees da pesquisa e a quinta apresenta as consideraccedilotildees finais sobre a

pesquisa

2 Referencial Teoacuterico

21 Impactos ambientais e medidas mitigadoras do setor de ceracircmica vermelha

Nas uacuteltimas deacutecadas a sociedade vem exercendo grande pressatildeo sobre empresas no

que concerne a melhorias das atividades produtivas com intuito de conter a inerente

devastaccedilatildeo acarretada ao meio ambiente Grande parte dos processos produtivos de

empresasinduacutestrias satildeo geradoras de impactos negativos ao ambiente natural devido ao uso

excessivo dos recursos naturais de maneira desproporcional agrave capacidade de renovaccedilatildeo

relacionados ainda ao consumo irracional e agrave maacute gestatildeo para distribuiccedilatildeo dos recursos

(CHAVES CASTELLO 2013)

Dentre os ramos produtivos destaca-se o setor de ceracircmica vermelha pela diversidade

das atividades que envolvem desde o lado artiacutestico com grande contribuiccedilatildeo esteacutetica ao caso

339

industrial em que a produccedilatildeo eacute composta de artefatos com valor de uso Este ramo produtivo

eacute grande consumidor de recursos naturais como minerais e vegetais e eacute constituiacutedo

majoritariamente por empresas de pequeno e meacutedio porte de acordo com o Serviccedilo

Brasileiro de Apoio agraves Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE 2014)

Grande parte das faacutebricas de ceracircmicas exprime ameaccedila ao equiliacutebrio e a qualidade do

meio ambiente como os desmatamentos de matas nativas relacionado ao consumo de

madeira (mateacuteria-prima muito utilizada para aquecimento dos fornos) a degradaccedilatildeo dos

solos com a extraccedilatildeo da argila o consumo exacerbado de aacutegua a produccedilatildeo de resiacuteduos

soacutelidos e as emissotildees de gases poluentes aleacutem da extinccedilatildeo de espeacutecies vegetais e animais da

regiatildeo explorada (SANTOS et al 2017) Souza Pereira e Santos (2006) apontam que os

impactos recorrentes da atividade ceramista tecircm graves consequecircncias ambientais pois

causam reduccedilotildees significativas dos recursos hiacutedricos perdas quiacutemicas e fiacutesicas dos solos e

altas emissotildees de gases como carbono e nitrogecircnio que satildeo prejudicais agrave sauacutede Nestas

condiccedilotildees eacute imprescindiacutevel uma atuaccedilatildeo mais eficiente das empresas no estabelecimento de

modelos de gestatildeo direcionados ao melhor funcionamento dos sistemas no que diz respeito

aos seus impactos socioambientais O quadro 1 apresenta os principais impactos ambientais

casados pela atividade ceramista com as respectivas medidas mitigadoras ou boas praacuteticas

ambientais

Quadro 1 ndash Principais impactos ambientais da induacutestria de ceracircmica vermelha e

medidas mitigadoras

Impactos ambientais Medidas mitigadorasboa praacutetica ambiental

Degradaccedilatildeo da aacuterea pela extraccedilatildeo da argila

Estudos preacutevios da mateacuteria-prima

Recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas (aplainamentoreflorestamento

de aacutereas)

Incorporaccedilatildeo de materiais alternativos agrave argila (desde que natildeo

comprometam a qualidade dos produtos)

Assoreamento de cursos dlsquoaacuteguas Drenagem para evitar que sejam atingidos cursos dlsquoaacutegua

Disseminaccedilatildeo de material particulado (poeira) a

partir da argila

Utilizaccedilatildeo de insumos locais

Cobertura da argila durante transporte em caminhotildees

Utilizaccedilatildeo de carros-pipa na lavra

Conservaccedilatildeo de argila com relativa umidade

Cobertura de bancos de argila com lonas etc

Otimizaccedilatildeo de layout

Alteraccedilatildeo da paisagem natural e desmatamento

pela extraccedilatildeo de lenha

Utilizaccedilatildeo de fontes alternativas como biomassa ou resiacuteduos de

outros setores

Utilizaccedilatildeo de lenha de manejo florestal

Emissatildeo de gases como CO CO2 e outros gases Manutenccedilatildeo constante de secadores e fornos

Aproveitamento de calor de processos de secagem artificial e

340

queima

(Combustiacuteveis foacutesseis intensificam emissotildees atraveacutes do SOx)

Uso de filtros em chamineacutesfornos com filtros

Utilizaccedilatildeo de insumos locais para diminuir emissotildees atraveacutes de

transporte

Manutenccedilatildeo constante de caminhotildees de transporte

Resiacuteduos como peccedilas defeituosas e quebradas

apoacutes processo de queima Cinzas

Tratamento adequado da argila principalmente durante a

laminaccedilatildeo

Transporte natildeo manual de peccedilas ao longo do processo

Controle de qualidade durante todo o processo produtivo

Otimizaccedilatildeo de layout

Treinamento constante da matildeo de obra

Uso de cinzas resultantes de queima de biomassa no solo

Ruiacutedos sonoros

Manutenccedilatildeo de equipamentos

Utilizaccedilatildeo de silenciadores

Utilizaccedilatildeo de EPIs pelos trabalhadores

Fonte FIEMG FEAM (2013) NUNES (2012) GRIGOLETTI (2001) ALVES (2017)

22 Responsabilidade socioambiental empresarial

O iniacutecio das discussotildees referentes agrave Responsabilidade Social remonta ao surgimento

das primeiras empresas mais precisamente na Era Moderna Pode-se considerar que

importante contribuiccedilatildeo dos estudos direcionados a esta questatildeo surgiu concomitantemente agrave

Revoluccedilatildeo Industrial com os pensamentos sociais de Robert Owen que idealizou

fundamentos para construccedilatildeo do conceito de Responsabilidade Social Empresarial (RSE) e

atuou como forte criacutetico do sistema capitalista de produccedilatildeo (FERREIRA GUERRA 2012)

Poreacutem passou a ter maior enfoque a partir das discussotildees acadecircmicas e poliacutetico-institucionais

associadas ao desenvolvimento sustentaacutevel que passa a contemplar em uma de suas

dimensotildees a preservaccedilatildeo do estado socioambiental para as futuras geraccedilotildees

Para Ferreira e Guerra (2012) eacute no ano de 1899 sobre autoria de Andrew Carnegie

que eacute publicado o livro Evangelho da Riqueza ao qual abordava a responsabilidade social

vinculada a definiccedilotildees paternalistas de caridade e zelo priorizando a necessidade de

promoccedilatildeo do bem-estar da coletividade Os autores afirmam ainda que mesmo com as

intensas manifestaccedilotildees sobre Responsabilidade Social no comeccedilo do seacuteculo XX eacute ―somente

em 1953 com o trabalho de Howard Bowen intitulado Responsabilidades Sociais do Homem

de Negoacutecios que foi feita uma anaacutelise mais aprofundada e criteriosa sobre o assunto (2012

p 9)

De acordo com Borger (2001) a definiccedilatildeo de Responsabilidade Social surgiu na

literatura em meados da deacutecada de 1950 nos Estados Unidos e Europa A grande apreensatildeo

dos pesquisadores da deacutecada estava relacionada a forte autonomia dos negoacutecios e de seu

341

poder perante a sociedade sem preocupaccedilatildeo com as perturbaccedilotildees ambientais geradas nas

atividades produtivas Nestas condiccedilotildees a ―[] responsabilidade social caracteriza-se por

atitudes e atividades baseadas em valores eacuteticos e morais com intuito de minimizar os

impactos negativos que as organizaccedilotildees causam ao ambiente em que estatildeo inseridas

(CABESTREacute GRAZIADEI POLESEL FILHO 2008 p 42)

Para Borger (2001 p 15)

O conceito de responsabilidade social empresarial estaacute relacionado a diferentes

ideacuteias Para alguns ele estaacute associado agrave ideacuteia de responsabilidade legal para outros

pode significar um comportamento socialmente responsaacutevel no sentido eacutetico e para

outros ainda pode transmitir a ideacuteia de contribuiccedilatildeo social voluntaacuteria e associaccedilatildeo a

uma causa especiacutefica Trata-se de um conceito complexo e dinacircmico com

significados diferentes em contextos diversos Portanto natildeo eacute possiacutevel estabelecer

um manual para as empresas visando adotar praacuteticas para uma gestatildeo socialmente

responsaacutevel sem antes compreender a sua evoluccedilatildeo e dinacircmica

Na visatildeo de Kochhann et al (2016) o uso de praacuteticas socioambientais estaacute vinculado a

um ―papel social das empresas tendo em vista sua capacidade de mudanccedila da realidade local

atraveacutes de accedilotildees impostas diariamente no ambiente organizacional Aleacutem dos benefiacutecios

gerados todas as atitudes de cunho social e ambiental ajudam a promover uma nova

perspectiva da empresa por parte do consumidor o que corrobora para o aumento da demanda

de bens e serviccedilos e da proacutepria competitividade empresarial

Na interpretaccedilatildeo de Saacute et al (2013) empresas que procuram investir em accedilotildees de

responsabilidade socioambiental colaboram para o desempenho social a proteccedilatildeo ambiental e

o respeito com os diretos humanos apontando portanto uma gestatildeo de qualidade No

entanto eacute importante perceber que no mundo dos negoacutecios as praacuteticas de responsabilidade

socioambiental exigem medidas com grau elevado de complexidade que acarreta um volume

expressivo de recursos para efetivaccedilatildeo de programas tornando-se por vezes inexistentes em

empresas menores devido suas limitaccedilotildees quer sejam operacionais financeiras ou

tecnoloacutegicas

Assim segundo Gonccedilalves (2006 p 5) responsabilidade socioambiental eacute

[] a forma de gestatildeo que se define pela relaccedilatildeo eacutetica e transparente da empresa

com todos os puacuteblicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas

empresariais compatiacuteveis com o desenvolvimento sustentaacutevel da sociedade

preservando recursos ambientais e culturais para geraccedilotildees futuras respeitando a

diversidade e promovendo a reduccedilatildeo das desigualdades sociais

Para Ashley et al (2005) as organizaccedilotildees teratildeo que passar por um processo de

readaptaccedilatildeo para equacionar a necessidade de obter lucros estar em pleno acordo com as leis

possuir um comportamento eacutetico e se abarcar em alguma filantropia ao se inserir em

342

atividades que causem ameaccedila ao meio ambiente Os autores apontam ainda que ―mudanccedilas

como nas formas que satildeo concebidos e comercializados os produtos e serviccedilos trazem

consigo novas questotildees eacuteticas com as quais a organizaccedilatildeo deve aprender a lidar (2005 p 5)

O conceito de RSA utilizado como referecircncia neste artigo corresponde ao proposto em

Alves (2017) o qual pressupotildee uma cultura organizacional fundamentada em trecircs grandes

princiacutepios a) uma relaccedilatildeo eacutetica e transparente da empresa com todas as partes interessadas

(stakeholders) b) um compromisso com uma produccedilatildeo sustentaacutevel refletido num ambiente

ecologicamente equilibrado e socialmente justo que vai aleacutem das exigecircncias e demandas

legalmente constituiacutedas c) atuaccedilatildeo em sintonia com o desenvolvimento sustentaacutevel

3 Metodologia

A pesquisa eacute de origem primaacuteria obtida por meio da aplicaccedilatildeo de questionaacuterio junto agrave

Ceracircmica Gomes de Mattos (CGM) no segundo semestre do ano de 2016 localizada no

municiacutepio de Crato (CE) A anaacutelise da implementaccedilatildeo de medidas mitigadoras de impactos

ambientais ou que representem o compromisso do setor com boas praacuteticas ambientais

expressos atraveacutes de Responsabilidade Socioambiental eacute feita levando em consideraccedilatildeo

dimensotildees componentes da RSA propostas conforme Alves (2017) Compromisso com a

Melhoria da Qualidade Ambiental (CMQA) Educaccedilatildeo e Conscientizaccedilatildeo Ambiental

(ECAM) Gerenciamentos dos Impactos Sobre o Meio Ambiente (GISMA) Minimizaccedilatildeo de

Entradas e Saiacutedas (MINIES) Compromisso com a Melhoria do Ambiente de Trabalho

(CMAT) e Compromisso com a Responsabilidade Social (CRS) A aplicaccedilatildeo do questionaacuterio

utilizou-se de tabela do tipo likert Nunca Quase Nunca Agraves Vezes Quase Sempre e Sempre

correspondente ao grau de utilizaccedilatildeo dos respectivos indicadores indicando portanto um

padratildeo de conduta da empresa em questatildeo relativo agrave praacuteticas de RSA

O meacutetodo de anaacutelise refere-se a uma pesquisa exploratoacuteria que tem como objetivo de

acordo com Gil (2008 p 27) ―modificar conceitos e ideias tendo em vista a formulaccedilatildeo de

problemas mais precisos ou hipoacuteteses pesquisaacuteveis para estudos posteriores Ademais o

autor ainda coloca que geralmente esse tipo de pesquisa inclui levantamento bibliograacutefico e

documental entrevistas de tipo natildeo padronizadas e estudos de caso

4 Resultados e discussotildees

41 Indicadores para a caracterizaccedilatildeo geral do municiacutepio de Crato

343

A tabela 1 apresenta os principais indicadores que caracterizam um municiacutepio em

termos demograacuteficos econocircmicos sociais emprego formalizado e infraestrutura municipal

aqui apresentado para o municiacutepio de Crato Esses indicadores satildeo de suma importacircncia pois

satildeo capazes de apontar para o grau de desenvolvimento local em seus aspectos social e

econocircmico

Tabela 1 ndash Caracterizaccedilatildeo socioeconocircmica do municiacutepio de Crato ndash Indicadores

selecionados

Municiacutepio Caracterizaccedilatildeo Municipal

Crato

Indicadores Demograacuteficos (Ano 2010)

Populaccedilatildeo Urbana Populaccedilatildeo Rural Total Taxa Cres

20002010

100916 8311 20512 1689 121428 150

PIB Setorial (Ano 2015 expressos em R$ mil)

Agropecuaacuteria Induacutestria Serviccedilos

4700938 17608024 106684471

Emprego Formal por Segmento (Ano 2016)

Ex

mineral

Ind de

trans

Serv ind

de utilid

puacuteblica

Constr

Civil Comeacutercio Serviccedilos

Adm

Puacuteblica

Agropecuaacuteria

extraccedilatildeo vegetal caccedila

e pesca

65 4292 67 862 4097 5100 3262 96

Indicadores Socioeconocircmicos (Ano 2010)

Rend

Nominal

Meacutedio

Pop

Extrem

Pobre ()

PIB Per Capita Taxa de

Analf

Meacutedicos

(por mil

hab)

Taxa

Mort

Infantil

Dom em Cond

Inad de Mora

83281 1105 R$ 811291 1496 135 2154 1106

Infraestrutura (Ano 2010)

Esgotamento Sanitaacuterio Abastecimento de Aacutegua Coleta de Lixo

Taxa de Cobertura

Urbana ()

Domiciacutelios que obteacutem aacutegua por

poccedilo nascente ou outra forma Domiciacutelios sem lixo coletado

2650 5027 5389

Rendimento nominal meacutedio mensal das pessoas de 10 anos ou mais de idade com rendimento (R$)

(Economicamente ativas e natildeo economicamente ativas)

Fonte Elaboraccedilatildeo dos autores a partir de dados do Censo Demograacutefico do IBGE (2010) IBGE Cidades (2015)

RAISMTE (2016) IBGE Cidades (2010) IPECE (2011)

Os indicadores demograacuteficos apontam elementos relevantes e caracteriacutesticos do

municiacutepio de Crato indicando que aproximadamente 83 da sua populaccedilatildeo reside na zona

urbana que comporta em termos absolutos 100916 pessoas ao passo que a zona rural abriga

apenas cerca de 17 da populaccedilatildeo do municiacutepio sendo a primeira quase cinco vezes superior

a segunda (20512 habitantes) Eacute importante ressaltar que natildeo houve um grande crescimento

populacional observado em um periacuteodo de tempo de 10 anos apresentando uma taxa de

crescimento populacional de 150 entre os anos de 2000 e 2010

344

Em termos econocircmicos faz-se necessaacuterio uma anaacutelise do Produto Interno Bruto (PIB)

setorial que evidencia uma participaccedilatildeo consideraacutevel do setor de serviccedilos na composiccedilatildeo do

PIB municipal de 8271 seguido do segmento industrial (1365) e da agropecuaacuteria

(364) Com relaccedilatildeo agrave distribuiccedilatildeo formal do emprego observa-se que 7561 do nuacutemero

de pessoas empregadas no municiacutepio correspondem aos setores de serviccedilos induacutestria de

transformaccedilatildeo e comeacutercio apontando respectivamente para 2859 dos empregos 2406 e

2296

Por sua vez os dados socioeconocircmicos mostram que em alguns casos o municiacutepio de

Crato apresenta melhores indicadores sociais que o estado do Cearaacute como um menor iacutendice

de pessoas em condiccedilotildees de extrema pobreza com um percentual de 1105 para o municiacutepio e

1778 para o estado menor taxa de analfabetismo (1496 contra 1878 do Cearaacute) e maior

quantidade de meacutedicos por mil habitantes (135 contra 121 do estado) Poreacutem o municiacutepio de

Crato apresenta uma maior taxa de mortalidade infantil de 21 54 enquanto o Cearaacute possui

uma taxa de 1311

Apesar desses resultados percebe-se que ainda existem importantes problemas a

serem solucionados no municiacutepio pois ainda eacute muito pequena a taxa de cobertura urbana

referente ao esgotamento sanitaacuterio de apenas 2650 1482 dos domiciacutelios particulares

permanentes ainda adquirem aacutegua de poccedilo nascente ou outra forma e 1888 dos domiciacutelios

natildeo satildeo beneficiados com a coleta de lixo pelo serviccedilo puacuteblico Esses indicadores apontam

para a existecircncia de uma vulnerabilidade socioambiental no municiacutepio

42 Accedilotildees ambientais da empresa CGM

As tabelas seguintes expotildeem os indicadores utilizados durante a pesquisa nas

dimensotildees propostas para avaliaccedilatildeo da RSA na Ceracircmica Gomes de Mattos (CGM)

localizada no municiacutepio de Crato (CE)

Os indicadores desta dimensatildeo sinalizam para a incorporaccedilatildeo de uma cultura

ambiental na empresa o que se reflete em ganhos diretos de melhoria da qualidade ambiental

A execuccedilatildeo de um planejamento estrateacutegico que por si soacute jaacute constitui um diferencial de

competitividade desempenho e produtividade da empresa inclui a variaacutevel ambiental na

atuaccedilatildeo empresarial isso se reflete na existecircncia de uma poliacutetica ambiental ativa na CGM

envolvendo pesquisas estabelecimento de metas indicadores accedilotildees de proteccedilatildeo do meio

ambiente e avaliaccedilatildeo de impacto e danos

345

Tabela 2 ndash Situaccedilatildeo da empresa CGM em relaccedilatildeo aos indicadores de Compromisso com

a Melhoria da Qualidade Ambiental (CMQA)

Indicador Nunca Quase

Nunca

Agraves

Vezes

Quase

Sempr

e

Sempre

Implementaccedilatildeo de programasaccedilotildees internas de

melhoramento e proteccedilatildeo do meio ambiente

Participaccedilatildeo de eventoscongressos que tratem do

tema ambiental

Accedilotildees de parceria e cooperaccedilatildeo com outros

produtores para melhoria ambiental

A questatildeo ambiental estaacute presente no planejamento

estrateacutegico da empresa

Ao desenvolver um novo negoacutecio a empresa leva em

conta os danos ambientais que o mesmo pode causar

Poliacutetica explicita de natildeo-utilizaccedilatildeo de materiais e

insumos provenientes de exploraccedilatildeo ilegal de

recursos naturais (como madeira animais etc)

Apoio a pesquisas para o desenvolvimento de

tecnologias menos danosas ao meio ambiente

Estabelecimento de metas relativas agrave utilizaccedilatildeo de

mateacuterias-primas e destinaccedilatildeo de resiacuteduos

Existecircncia de poliacutetica ambiental

Elaboraccedilatildeo de indicadores internos de avaliaccedilatildeo da

performance ambiental

Dada a existecircncia de poliacutetica ambiental a mesma eacute

de conhecimento de todos os empregados

Participaccedilatildeo em programas de certificaccedilatildeo creacuteditos

de carbono etc

Participaccedilatildeo em algum programa externo de

avaliaccedilatildeo de conduta ambiental

Fonte Pesquisa direta (2016)

Ressalta-se ser de fundamental importacircncia o uso de praacuteticas sustentaacuteveis nos

processos produtivos com intuito de conter os danos ambientais causados no decorrer das

atividades realizadas Em relaccedilatildeo agrave dimensatildeo CMQA (Tabela 2) portanto constata-se o

amplo comprometimento da empresa CGM em atuar de maneira eficiente e ambientalmente

responsaacutevel Todos os indicadores apontaram que a empresa ―sempre executa os criteacuterios

estabelecidos exceto o que se refere agraves accedilotildees de parceria e cooperaccedilatildeo com outros produtores

para melhoria ambiental sendo respondido que ―nuncalsquo satildeo exercidas tais accedilotildees Destacam-se

a participaccedilatildeo em programas de certificaccedilatildeo como a venda de creacuteditos no mercado de

carbono que parece ter se constituiacutedo em forte impulso agrave promoccedilatildeo de um produto

ambientalmente diferenciado por parte da empresa resultando em amplo conjunto de

intervenccedilotildees atraveacutes de boas praacuteticas ambientais sistemas eficientes de produccedilatildeo e medidas

mitigadoras de impacto

346

Trabalhar com praacuteticas ambientais no local de trabalho pode exigir planejamento

estrateacutegico para delimitar metas de aprendizado que possam se expandir a outros espaccedilos

Referente agrave dimensatildeo de Educaccedilatildeo e Conscientizaccedilatildeo Ambiental a empresa apresenta

atuaccedilatildeo ativa (Tabela 3) podendo-se constatar que a mesma sempre promove campanhas

educativas relacionadas ao meio ambiente dirigidas a fornecedores e comunidades e quase

sempre com seus empregados bem como participa de projetos educacionais em parceria com

organizaccedilotildees natildeo governamentais e ambientalistas poreacutem segundo o que foi indicado nunca

foram realizadas campanhas de conscientizaccedilatildeo e educaccedilatildeo ambiental dirigidas a

consumidores o que pode representar uma perda do ponto de vista do marketing institucional

e para a formaccedilatildeo de uma cultura ambiental do proacuteprio consumidor que teria a possibilidade

de desenvolver accedilotildees conscientes podendo essa conscientizaccedilatildeo exercer efeitos de

espraiamentolsquo para outros setores em geral Nessa mesma perspectiva a empresa ―agraves vezes

exerce atuaccedilatildeo para o consumo consciente em sua intervenccedilatildeo no circuito interno

Tabela 3 ndash Situaccedilatildeo da empresa CGM em relaccedilatildeo aos indicadores de Educaccedilatildeo e

Conscientizaccedilatildeo Ambiental (ECAM)

Indicador Nunca Quase

Nunca

Agraves

Vezes

Quase

Sempre Sempre

Accedilotildees voltadas para a proteccedilatildeo ou qualidade do meio

ambiente

Campanhas de conscientizaccedilatildeo e educaccedilatildeo ambiental

dirigidas a familiares de empregados

Campanhas de conscientizaccedilatildeo e educaccedilatildeo ambiental

dirigidas a fornecedores

Campanhas de conscientizaccedilatildeo e educaccedilatildeo ambiental

dirigidas a consumidores

Campanhas de conscientizaccedilatildeo e educaccedilatildeo ambiental

dirigidas a comunidades

Campanhas (apoia ou participa) de projetos

educacionais em parceria com organizaccedilotildees natildeo

governamentais e ambientalistas

Campanhas educativas regulares com seus

empregados de incentivos sobre temas ambientais

Campanhas perioacutedicas internas junto a seus

funcionaacuterios para incentivar a reciclagem

Campanhas perioacutedicas internas de reduccedilatildeo do

consumo de aacutegua e de energia

Campanhas perioacutedicas internas de educaccedilatildeo para o

consumo consciente

Fonte Pesquisa direta (2016)

347

Quanto agrave preocupaccedilatildeo com a educaccedilatildeo familiar dos trabalhadores ―quase sempre

foram procedidas campanhas de conscientizaccedilatildeo e educaccedilatildeo ambiental dirigidas a familiares

de empregados reafirmando o compromisso da empresa quanto agrave problemaacutetica ambiental

A dimensatildeo GISMA (Tabela 4) aponta que existe todo suporte no que tange ao

gerenciamento de poliacuteticas que minimizem os impactos ambientais da ceracircmica Todo o

procedimento de avaliaccedilatildeo substituiccedilatildeo de equipamentos e manutenccedilotildees perioacutedicas

cumprimento das exigecircncias legais atuaccedilatildeo para correccedilatildeo de danos ambientais informaccedilotildees

aos consumidores e clientes discussatildeo e apresentaccedilatildeo com empregados visando diminuir os

impactos ambientais sempre foi cumprido pela empresa Apesar disto ainda eacute deficiente a

situaccedilatildeo quando a discussatildeo ambiental com fornecedores consumidores e as comunidades

indicado pela empresa que ―agraves vezes tais metas satildeo efetuadas

Tabela 4 ndash Situaccedilatildeo da empresa CGM em relaccedilatildeo aos indicadores de Gerenciamento dos

Impactos sobre o Meio Ambiente (GISMA)

Indicador Nunca Quase

Nunca

Agraves

Vezes

Quase

Sempre Sempre

Avaliaccedilatildeo dos impactos de suas atividades e de seus

produtos ou serviccedilos sobre o meio ambiente

Substituiccedilatildeo de equipamentos e atualizaccedilotildees

tecnoloacutegicas visando agrave diminuiccedilatildeo de seus impactos

ambientais

Manutenccedilotildees perioacutedicas de equipamentos visando agrave

diminuiccedilatildeo de seus impactos ambientais

Cumprimento das exigecircncias legais no que tange agraves

normas ambientais

Atuaccedilatildeo para correccedilatildeo de danos ambientais

Informaccedilotildees aos consumidores e clientes sobre

danos ambientais resultantes do uso e da destinaccedilatildeo

final dos seus produtos

Discussatildeo e apresentaccedilatildeo com empregados dos

impactos ambientais causados por seus produtos ou

serviccedilos

Discussatildeo e apresentaccedilatildeo com consumidores e

clientes dos impactos ambientais causados por seus

produtos ou serviccedilos

Discussatildeo e apresentaccedilatildeo com fornecedores dos

impactos ambientais causados por seus produtos ou

serviccedilos

Discussatildeo e apresentaccedilatildeo com comunidades dos

impactos ambientais causados por seus produtos ou

serviccedilos

Uso Sustentaacutevel da Biodiversidade e Restauraccedilatildeo

dos Habitats Naturais

Adoccedilatildeo de medidas de reciclagem e reuso de perdas

e peccedilas defeituosas

348

Compras de fornecedores que comprovadamente

tenham boa conduta ambiental

Fonte Pesquisa direta (2016)

Quanto aos indicadores de Minimizaccedilatildeo de Entradas e Saiacutedas que denotam a

preocupaccedilatildeo com menores impactos relativos ao uso de insumos e os processos resultantes do

sistema de produccedilatildeo a empresa apresenta seus melhores resultados (Tabela 5) O uso

consciente dos recursos naturais e fontes energeacuteticas o monitoramento do processo produtivo

as praacuteticas de controle de qualidade e de desperdiacutecio as boas praacuteticas de destinaccedilatildeo dos

resiacuteduos todos estes quesitos foram devidamente cumpridos pela CGM (com o padratildeo de

conduta ―sempre na totalidade dos indicadores) o que denota a eficiecircncia do sistema de

gestatildeo da empresa

Tabela 5 - Situaccedilatildeo da empresa CGM em relaccedilatildeo aos indicadores de Minimizaccedilatildeo de

Entradas e Saiacutedas (MINIES)

Indicador Nunca Quase

Nunca

Agraves

Vezes

Quase

Sempre Sempre

Utilizaccedilatildeo de fontes alternativas de energia e de

mateacuterias-primas nocivas ao meio ambiente

Economia de gastos com energia eleacutetrica

Uso racional de aacutegua

Mediccedilatildeo e monitoramento perioacutedico dos aspectos

ambientais significativos relacionados ao consumo

de recursos naturais e agrave produccedilatildeo de resiacuteduos

estabelecendo periodicamente novas metas

Medidas para a reduccedilatildeo da produccedilatildeo de resiacuteduos

(soacutelidos liacutequidos orgacircnicos etc)

Utilizaccedilatildeo de produtos advindos de atividades que

natildeo prejudiquem o meio ambiente

Destinaccedilatildeo de resiacuteduos (soacutelidos liacutequidos orgacircnicos

etc) de forma a natildeo agredir o meio ambiente

Submissatildeo de produtos acabados a ensaios

mecacircnicos para controle da qualidade

Fonte Pesquisa direta (2016)

Em relaccedilatildeo aos indicadores de Compromisso com a Melhoria do Ambiente de

Trabalho (Tabela 6) ―sempre foi realizado o recebimento adequado de materiais bem como

o armazenamento de mateacuteria-prima em estado cru No que diz respeito agraves condiccedilotildees de

trabalho ―quase sempre haacute cuidados com a sauacutede dos trabalhadores diaacutelogo e gestatildeo

participativa accedilotildees para inibir o uso do trabalho infantil e atraccedilatildeo e retenccedilatildeo de matildeo-de-obra

especializada Ainda satildeo falhas as formas de parcerias com centros para capacitaccedilatildeo

profissional assistecircncia teacutecnica e instituto de ensino e pesquisa o que poderia ser resolvido

por meio de maiores interaccedilotildees e cooperaccedilatildeo entre a empresa e oacutergatildeos de ensino teacutecnico ou

349

superior instalados na regiatildeo Isso eacute constatado apesar da expansatildeo na oferta de ensino em

todas as modalidades na Regiatildeo Metropolitana do Cariri (RMC)

Tabela 6 ndash Situaccedilatildeo da empresa CGM em relaccedilatildeo aos indicadores de Compromisso com

a Melhoria do Ambiente de Trabalho (CMAT)

Indicador Nunca Quase

Nunca

Agraves

Vezes

Quase

Sempre Sempre

Recebimento e manuseio adequado de materiais

Acondicionamento adequado de argila e demais

insumos

Armazenamento do produto e de peccedilas cruas em

local delimitado organizado com piso uniforme e

coberto

Armazenamento adequado dos resiacuteduos em

depoacutesitos fixos ou temporaacuterios

impermeabilizados e cobertos

Otimizaccedilatildeo do layout

Cuidados com a sauacutede seguranccedila e condiccedilotildees de

trabalho

Compromisso com o desenvolvimento profissional

e a empregabilidade

Poliacutetica de remuneraccedilatildeo benefiacutecios e carreira

Diaacutelogo e gestatildeo participativa

Cumprimento de exigecircncias legais relativas ao

trabalho

Accedilotildees para inibir o uso do trabalho infantil

inclusive em associaccedilatildeo com outras organizaccedilotildees

Atraccedilatildeo e retenccedilatildeo de matildeo-de-obra especializada

Formas de cooperaccedilatildeo ou parcerias entre

produtoresdestes com centros de capacitaccedilatildeo

profissional assistecircncia teacutecnica e instituto de

ensino e pesquisa

Fonte Pesquisa direta (2016)

Com base nas informaccedilotildees prestadas eacute notaacutevel o Compromisso com a

Responsabilidade Social exercida pela empresa CGM (Tabela 7) todo conjunto de praacuteticas

que visa o envolvimento e financiamento aos trabalhadores e comunidades de accedilotildees sociais

―sempre e ―quase sempre satildeo prestadas pela empresa o que mostra a importacircncia dada a

processos voltados agrave sociabilidade protagonismo social ou que contribuam para a formaccedilatildeo

cidadatilde Esse conjunto de accedilotildees contribui para o desenvolvimento humano e garantem

oportunidades de inclusatildeo social contribuindo tambeacutem para que seja despertado o espiacuterito

interativo cooperativo e de promoccedilatildeo comunitaacuteria

350

Tabela 7 ndash Situaccedilatildeo da empresa CGM em relaccedilatildeo aos indicadores de Compromisso com

a Responsabilidade Social (CRS)

Indicador Nunca Quase

Nunca

Agraves

Vezes

Quase

Sempre Sempre

Participaccedilatildeo em projetos sociais

governamentais

Envolvimento e financiamento de accedilotildees sociais

ndash trabalhadores

Envolvimento e financiamento de accedilotildees sociais

ndash comunidades

Accedilotildees praacuteticas relativas agrave lazer cultura e

educaccedilatildeo fiacutesica

Accedilotildees voltadas para a formaccedilatildeo da cidadania

Gerenciamento do impacto da empresa na

comunidade de entorno

Relaccedilotildees com organizaccedilotildees locais

Fornecedores observam requisitos

socioambientais

Criteacuterios de Seleccedilatildeo e Avaliaccedilatildeo de

Fornecedores

Estrateacutegia de governanccedila e transparecircncia de

sua gestatildeo socioambiental

Diaacutelogo e engajamento das partes interessadas

Compromisso com a natildeo discriminaccedilatildeo e

promoccedilatildeo da equidade racial e de gecircnero

Preocupaccedilatildeo mais estrutural com o

desenvolvimento local orientaccedilotildees relativas agrave

estrutura produtiva e agrave gestatildeo empresarial de

forma geral

Fonte Pesquisa direta (2016)

Apesar dos excelentes resultados da empresa cabe mencionar que ainda haacute

potencialidade de progresso quanto agrave preocupaccedilatildeo mais estrutural com o desenvolvimento

local ao qual foi respondido que ―agraves vezes esta praacutetica eacute cumprida e que haacute muito a se

construir no sentido de um maior controle sobre os impactos gerados pela empresa na

comunidade de entorno onde ―nunca foram realizadas accedilotildees nesta direccedilatildeo

5 Consideraccedilotildees finais

O meio ambiente eacute muito afetado pela atividade ceramista principalmente por aquela

que natildeo emprega as boas praacuteticas ambientais que visam reduzir os efeitos negativos e

comprometedores da possibilidade de vida no planeta Essa temaacutetica tornou-se bastante

discutida nos uacuteltimos anos e ganhou certa atenccedilatildeo em virtude das seacuterias consequecircncias

observadas mundialmente dentre elas o aquecimento global Passou-se portanto a pensar

tambeacutem no desenvolvimento sustentaacutevel como uma forma de conciliar a sustentabilidade nos

351

planos econocircmico social ambiental e institucional Poreacutem ainda natildeo foram disseminadas

por parte das organizaccedilotildees empresariais praacuteticas efetivas ou sistemas de gestatildeo que

contemplem mais explicitamente a preocupaccedilatildeo com a gestatildeo ambiental

Desta forma apesar dos avanccedilos obtidos nos uacuteltimos anos quanto agrave implementaccedilatildeo de

praacuteticas empresariais socialmente corretas a Responsabilidade Socioambiental em seu

caraacuteter sistecircmico englobando as esferas social ambiental eacutetica e econocircmica ainda parece ter

um longo caminho a ser percorrido e o desenvolvimento de accedilotildees voltadas a estes fins vem

sendo demasiadamente exercidas pelas empresas em parte por exigecircncias legais de

autoridades governamentais como tambeacutem pela proacutepria sociedade por meio de pressotildees por

uma gestatildeo mais rigorosa quanto aos impactos sociais e ambientais provocados pelos sistemas

econocircmicos

Por meio dos indicadores utilizados na pesquisa pode-se constatar que a Ceracircmica

Gomes de Mattos prioriza o estabelecimento de estrateacutegias direcionadas agrave preservaccedilatildeo

ambiental que envolvem o gerenciamento dos impactos produzidos pela empresa a educaccedilatildeo

ambiental trabalhada dentro e fora do local de trabalho concedendo oportunidade de

conhecimento aos trabalhadores familiares e comunidades circunvizinhas quanto agrave

importacircncia de um ambiente equilibrado bem como a minimizaccedilatildeo de perdas nos processos

produtivos e o controle na destinaccedilatildeo adequada de resiacuteduos produzidos

No que concerne ao indicador de Responsabilidade Social a empresa apresenta bons

resultados em quase todos os criteacuterios traccedilados no estudo Esta situaccedilatildeo soacute confirma o

compromisso social da empresa com os trabalhadores fornecedores e comunidades em

promover accedilotildees esportivas culturais e de lazer que geram inclusatildeo e garante a formaccedilatildeo

cidadatilde de todos Eacute pertinente mencionar que mesmo com todas as contribuiccedilotildees promovidas

ainda haacute dificuldades em contornar a situaccedilatildeo dos impactos gerados pela empresa na

comunidade do entorno sendo necessaacuterio planejar novas metas que contribuam para o avanccedilo

desse indicador

Portanto considerando o papel exercido pela CGM pode-se concluir que as boas

praacuteticas socioambientais exercidas pela empresa condizem com o novo modelo de

gerenciamento empresarial priorizando a responsabilidade ambiental e social das

organizaccedilotildees como tambeacutem o lado eacutetico e cultural das atividades produtivas

352

6 Referecircncias

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regiatildeo metropolitana do Cariri ndash Cearaacute Tese (Doutorado em Desenvolvimento e Meio

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Tese (Doutorado) - Departamento de administraccedilatildeo USP Satildeo Paulo 2001

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355

TURISMO COMUNITAacuteRIO ESTUDO DE CASO DA COOPERATIVA MISTA DE

PAIS E AMIGOS DA FUNDACcedilAtildeO CASA GRANDE - COOPAGRAN NO

MUNICIacutePIO DE NOVA OLINDA ndash CE

MARIANY LOPES LOPES DA SILVA (Graduada em Economia pela Universidade Regional do Cariri ndash URCA E-mail

maryanyneguinhahotmailcom)

ADRIANA CORREIA LIMA FRANCA

(Mestre em Desenvolvimento Regional Sustentaacutevel pela Universidade Federal do Cearaacute ndash

UFC Professora Assistente do Departamento de Economia da Universidade Regional do

Cariri ndash URCA E-mail dricacorreiayahoocombr)

CHRISTIANE LUCI BEZERRA ALVES

(Doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente docente do Departamento de Economia da

Universidade Regional do Cariri ndash URCA E-mail chrislucigmailcom)

JULIETE AQUINO DA SILVA

(Graduada em Economia pela Universidade Regional do Cariri ndash URCA E-mail

jaquinosilva22gmailcom)

NAYANA TAVARES FEITOSA

(Estudante do Curso de Ciecircncias Econocircmicas da Universidade Regional do Cariri ndash URCA

E-mail nayana_tavareshotmailcom)

356

TURISMO COMUNITAacuteRIO ESTUDO DE CASO DA COOPERATIVA MISTA DE

PAIS E AMIGOS DA FUNDACcedilAtildeO CASA GRANDE - COOPAGRAN NO

MUNICIacutePIO DE NOVA OLINDA ndash CE

RESUMO

Nos uacuteltimos anos o Turismo de Base Comunitaacuteria vem se desenvolvendo no municiacutepio de

Nova Olinda ndash CE Confirmando esta realidade foi criada a Cooperativa Mista dos Pais e

Amigos da Casa Grande - COOPAGRAN formada pelos pais das crianccedilas e adolescentes da

Fundaccedilatildeo Casa Grande As atividades realizadas satildeo voltadas para a dinamizaccedilatildeo da renda

das famiacutelias e troca de saberes Desta forma este trabalho objetiva identificar os reflexos

socioeconocircmicos das poliacuteticas de cultura da Fundaccedilatildeo Casa Grandes tendo como foco a

COOPAGRAN no municiacutepio de Nova Olinda ndash Cearaacute Esta pesquisa eacute de natureza

bibliograacutefica e de campo com caraacuteter exploratoacuterio-descritivo e abordagem quantitativa e

qualitativa Os resultados apontaram que 90 dos envolvidos na cooperativa satildeo do sexo

feminino e apenas 10 do sexo masculino sinalizando para a importacircncia do

empreendedorismo feminino A maioria dos participantes da cooperativa tinha mais de 40

anos de idade Os dados da pesquisa demonstraram o baixo niacutevel de instruccedilatildeo dos membros

da cooperativa No que se refere agrave geraccedilatildeo de renda observou-se a importacircncia das atividades

ligadas ao TBC para complementaccedilatildeo da renda das famiacutelias inseridas na COOPAGRAN

confirmando que esse tipo de turismo alavanca o desenvolvimento econocircmico e social do

municiacutepio de Nova Olinda ndash CE

Palavras-chave Turismo de Base Comunitaacuteria Fundaccedilatildeo Casa Grande COOPAGRAN

ABSTRACT

In recent years Community Based Tourism has been developing in the municipality of Nova

Olinda - CE Confirming this reality the COOPAGRAN formed by the parents of the

children of the Casa Grande Foundation was created where activities are carried out to

increase income and exchange knowledge In this way this work aims to identify the

socioeconomic repercussions of the culture policies of the Casa Grandes Foundation focusing

on COOPAGRAN in the municipality of Nova Olinda - Cearaacute This research is of a

bibliographic and field nature with an exploratory-descriptive character and a quantitative

and qualitative approach The results showed that 90 of those involved in the cooperative

are female and only 10 are male signaling the importance of female entrepreneurship Most

cooperative participants were over 40 years of age The survey data showed the low level of

education of cooperative members Regarding income generation it was observed the

importance of the activities related to the TBC to complement the income of families inserted

in COOPAGRAN confirming that this type of tourism leverages the economic and social

development of the municipality of Nova Olinda - CE

Keywords Community Based Tourism Casa Grande Foundation COOPAGRAN

357

1 INTRODUCcedilAtildeO

A Globalizaccedilatildeo ampliou as facilidades de comunicaccedilatildeo por meio de uma rede de

conexatildeo deixando a distacircncia cada vez menor gerando maior rapidez e facilidade nas relaccedilotildees

culturais e econocircmicas Percebe-se assim que as diferentes culturas e costumes podem se

interagir sem que haja a necessidade de uma integraccedilatildeo territorial Poreacutem essa integraccedilatildeo

global e virtual leva muitas vezes ao esquecimento e a natildeo preservaccedilatildeo do sentido histoacuterico

vivenciado por cada indiviacuteduo dentro da sua cultura (ARAUJO 2017)

O turismo tem apresentado uma significativa forccedila enquanto fenocircmeno social e

econocircmico estando apto a gerar impactos de diferentes magnitudes na economia local

regional nacional assim como tambeacutem no meio ambiente e no meio sociocultural poreacutem eacute

de suma importacircncia o desenvolvimento dessa atividade para a manutenccedilatildeo da cultura de

determinados lugares assim como para a sobrevivecircncia de outras que dependem do turismo

para geraccedilatildeo de renda (BRASIL 2012)

Ele eacute gerado pelo deslocamento de pessoas geralmente motivadas por algum

interesse Esse interesse tem ocasionado uma crescente demanda para o turismo cultural que

estaacute voltado para o conhecimento dos costumes e tradiccedilotildees de monumentos histoacutericos e de

representaccedilotildees artiacutesticas ou seja da identidade cultural do lugar

Seguindo essa tendecircncia o Municiacutepio de Nova Olinda eacute um local de forte

representatividade cultural e tornou-se um ambiente atraente e propiacutecio a receber turistas

transformando-se assim em uma das cidades Indutora do Turismo Nacional onde se destaca

tambeacutem atraveacutes do Turismo de Base Comunitaacuteria realizado pela Fundaccedilatildeo Casa Grande

Desta forma este trabalho tem como objetivo identificar os reflexos socioeconocircmicos

das poliacuteticas de cultura da Fundaccedilatildeo Casa Grande tendo como foco a Cooperativa Mista de

Pais e Amigos da Fundaccedilatildeo Casa Grande - COOPAGRAN no municiacutepio de Nova Olinda -

CE Esta pesquisa torna-se relevante ao oferecer subsiacutedios para orientar as poliacuteticas de cultura

sobre o turismo do municiacutepio de Nova Olinda-CE como tambeacutem seus reflexos no

desenvolvimento e diversificaccedilatildeo na geraccedilatildeo de emprego e renda jaacute que o municiacutepio eacute

conhecido mundialmente atraveacutes do trabalho realizado pela Fundaccedilatildeo Casa Grande

358

2 CULTURA E TURISMO DE BASE COMUNITAacuteRIA

Ao se falar em cultura remete-se a educaccedilatildeo sabedoria ou sofisticaccedilatildeo Poreacutem cultura

vai aleacutem do niacutevel social ou educacional A cultura eacute entendida como um termo plural sendo

este complexo

De acordo com Griswold (2003) cultura refere-se ao lado expressivo da vida humana

em outras palavras ao comportamento objetos e ideias que podem ser entendidas para

expressar ou para significar alguma outra coisa

A cultura ainda pode ser entendida como o conjunto de costumes da proacutepria naccedilatildeo

sendo por vezes eventos de entretenimento ou ateacute mesmo de variaccedilotildees na acepccedilatildeo de

siacutembolos ou objetos Assim os aspectos da cultura satildeo constituiacutedos ateacute mesmo por simples

haacutebitos do cotidiano

As sociedades estatildeo em constantes mudanccedilas onde cada cultura possui sua maneira de

trabalhar As culturas satildeo compreendidas em seus contextos particulares evitamos desta

forma conflitos ou ateacute mesmo criaccedilatildeo de estereoacutetipos (LARAIA 1986)

Segundo Menezes (2012) a globalizaccedilatildeo estaacute propicia a reflexatildeo sobre a cultura de

cada paiacutes fazendo com que as pessoas mantenham relaccedilotildees ateacute mesmo estando distantes daiacute

a importacircncia de reconhecer as particularidades de cada local transmitindo assim valores

culturais

Atualmente a cultura eacute compreendida por meio de trecircs concepccedilotildees sendo estas de

suma importacircncia para a compreensatildeo do termo Primeiro em um conceito mais amplo

entende-se que todos os indiviacuteduos satildeo fabricantes de sua proacutepria cultura sendo entatildeo vista

como um conjunto de significados e valores dos grupos humanos Segundo a cultura eacute tida

como formas de atividades artiacutesticas e intelectual sendo por base a produccedilatildeo reparticcedilatildeo e

consumo de bens e serviccedilos que formam o sistema da induacutestria cultural Por uacuteltimo trata-se

de um instrumento que serve para o desenvolvimento poliacutetico e social fazendo com que o

campo cultural seja semelhante ao campo social (CLAVAL 2002)

De acordo com Menezes (2012) a cultura pode ser empregada para estimular o

crescimento econocircmico de forma justa e sobretudo sustentaacutevel As atividades culturais satildeo

meacutetodos estrateacutegicos de gerar emprego e renda Elas unem todas as formas de expressatildeo do

homem como o sentir o agir o pensar como tambeacutem as relaccedilotildees existentes entre os seres

humanos e o meio em que estatildeo inseridos Ela eacute elemento complementar da identidade local e

359

natildeo pode de forma alguma ser descaracterizada na promoccedilatildeo do turismo para que natildeo venha

a perder a sua originalidade

Assim a cultura necessita ser materializada natildeo podendo de maneira nenhuma ser

separada do desenvolvimento turiacutestico regional e local e sobretudo ter em mente que a

cultura eacute um modo de subsistecircncia humana e que o ser humano para existir precisa da sua

cultura

21 Turismo como estrateacutegia de desenvolvimento local

Segundo Barreto (2000) a produccedilatildeo do turismo eacute resultado da conduccedilatildeo de pessoas

para lugares distintos saindo da sua rotina para conhecer novos lugares causando assim

benefiacutecios aos lugares visitados jaacute que propicia o crescimento e o desenvolvimento do

ambiente agregando progresso a uma determinada regiatildeo que eacute um atrativo turiacutestico

Ainda de acordo com Barreto (2000) o turismo engloba um conjunto amplo de

atividades envolvendo vaacuterios outros setores econocircmicos de um paiacutes regiatildeo ou cidade Eacute uma

praacutetica social que aglomera lugares e pessoas diversas envolvendo lazer e sobretudo

conhecimento por meio da cultura

Sabe-se que o turismo eacute uma atividade desenvolvida atraveacutes de serviccedilos prestados que

tende a crescer agrave medida que vai se desenvolvendo contribuindo de forma significativa no

equiliacutebrio econocircmico e sobretudo regional representando assim uma uniatildeo produtiva de

atividades que interessam a todos os setores econocircmicos de uma determinada regiatildeo

(BARRETO 2000)

O planejamento do turismo e do lazer deve estar associado a accedilotildees de

desenvolvimento territorial do oposto o desenvolvimento desta atividade ocasionaraacute mais

impactos negativos no territoacuterio do que propriamente um desenvolvimento local Trata-se de

uma atividade que natildeo compreende apenas a produccedilatildeo de espaccedilos mas envolve tambeacutem

prestaccedilatildeo de serviccedilos podendo ainda modificar a estrutura social de um determinado local

(MOESCH 2002)

Eacute notoacuterio que esse setor da economia nas uacuteltimas deacutecadas estaacute sendo considerado

como uma das mais propiacutecias atividades econocircmicas mundialmente sendo essa geradora de

frentes de trabalho Trata-se de fonte de renda indireta atingindo por sua vez os mais diversos

setores da economia

360

Natildeo se pode negar que a atividade turiacutestica movimenta recursos financeiros emprega

matildeo de obra permite o intercacircmbio cultural promove o embelezamento paisagiacutestico e pode

melhorar a qualidade de vida das populaccedilotildees envolvidas (MAGALHAtildeES 2002 p3)

A aacuterea do turismo eacute um investimento muito importante nos dias atuais visto que este

setor gera emprego e renda de forma significativa ―Natildeo se pode negar que a atividade

turiacutestica movimenta recursos financeiros emprega matildeo de obra permite o intercacircmbio

cultural promove o embelezamento paisagiacutestico e pode melhorar a qualidade de vida das

populaccedilotildees envolvidas (MAGALHAtildeES 2002 p3)

Assim a atividade turiacutestica institui inuacutemeras oportunidades de emprego tanto em

pousadas hoteacuteis e dos gastos em restantes induzindo assim o surgimento de vagas em

restaurantes lojas dentre outros estabelecimentos no setor turiacutestico

22 O Potencial Turiacutestico da cidade de Nova Olinda ndash CE

A cidade de Nova Olinda - CE foi reconhecida em 2006 como o quarto destino indutor

do desenvolvimento turiacutestico regional - outorgada pelo Ministeacuterio do Turismo - presente no

Estado do Cearaacute (junto a Aracati Jijoca de Jericoacoara e Fortaleza) Com tal adesatildeo foram

incentivados investimentos no desenvolvimento turiacutestico e cultural de toda a regiatildeo

possibilitando o incremento da oferta de produtos e serviccedilos de turismo (GABRIELLI 2015)

Eacute um municiacutepio rico culturalmente este fato ocorre principalmente devido aos

atrativos turiacutestico e cultural que possui destacando-se a Fundaccedilatildeo Casa Grande ndash Memorial

do Homem Kariri o Mestre da Cultura Popular Espedito Seleiro e os geossiacutetios Ponte de

Pedra e Pedra Cariri sendo estes pontos de estudos fundamentais no desenvolvimento

regional

Dentre os atrativos turiacutesticos que o municiacutepio possui encontram-se os geossiacutetios que

satildeo elementos do Geopark Araripe sendo este o uacutenico geoparque brasileiro reconhecido junto

agrave rede global de Geoparks da UNESCO que se faz presente aleacutem de Nova Olinda mais cinco

municiacutepios da regiatildeo (Barbalha Crato Juazeiro do Norte Missatildeo Velha e Santana do Cariri)

dispondo ainda de nove geossiacutetios abertos para visitaccedilatildeo de turistas e puacuteblico em geral

(ARAUJO2017)

O municiacutepio ainda apresenta suas belezas naturais que estatildeo ligadas tanto a lendas

como a sua histoacuteria a MAtildeE DlsquoAacuteGUA que eacute um poccedilo natural do riacho que desaacutegua no rio

361

Carius situado no sitio Patos sua fama estaacute atrelada a lenda da Maara (uma serpente com

rosto de mulher que seduz os homens que escutam seu canto) e A PEDRA DA CORUJA que

satildeo duas pedra situadas no sitio Olho dlsquoAgua de Santa Barbara e que os iacutendios Kariri

acreditavam serem duas grandes corujas encantadas e eram adoradas pelos mesmos como

deusas (SECULT 2015)

Nova Olinda possui ainda um Teatro e um Museu O teatro Violeta Arraes-Engenho

de Artes Cecircnicas foi construiacutedo e inaugurado em 19 de dezembro de 2002 pelo Governo do

Estado do Cearaacute na gestatildeo do Governador Tasso Jereissati seu nome homenageia a sertaneja

Violeta Arraes Gervaseau e o conjunto arquitetocircnico dos engenhos de rapadura da regiatildeo do

cariri berccedilo cultural do Ceara (UBUNTU 2016)

O Teatro eacute um espaccedilo para formaccedilatildeo de plateia e gestores culturais nas aacutereas de

direccedilatildeo de espetaacuteculo sonoplastia iluminaccedilatildeo cenaacuterio Com uma programaccedilatildeo aberta ao

puacuteblico o teatro exibe semanalmente espetaacuteculos nas aacutereas de muacutesica danccedila cineclube e

teatro (SECULT 2015)

Dentre todos esses pontos turiacutesticos jaacute mencionados existe ainda o Mestre da Cultura

Popular Espedito Seleiro reconhecido como mestre da cultura pelo Governo do Estado do

Cearaacute em parceria com o Ministeacuterio da Cultura no ano de 2008 Espedito Seleiro desenvolve

em seu trabalho a essecircncia de suas tradiccedilotildees sem deixar de lado as mudanccedilas ocasionadas no

presente O prestigio do seu trabalho contribui de forma significativa para a economia local de

Nova Olinda

221 Fundaccedilatildeo Casa Grande-Memorial do Homem Cariri

A Fundaccedilatildeo Casa Grande eacute uma Organizaccedilatildeo Natildeo Governamental cultural e

filantroacutepica que foi fundada em 1992 no municiacutepio de Nova Olinda-Cearaacute sendo o seu

idealizador o senhor Alemberg Quindins e sua esposa Rosiane Limaverde

A Casa Grande tem como missatildeo a formaccedilatildeo educacional de crianccedilas e jovens como

peccedila fundamental em gestatildeo cultural por meio de seus programas Memoacuteria Comunicaccedilatildeo

Artes e Turismo Trata-se de programas que desenvolvem atividades de complementaccedilatildeo

escolar por meio de laboratoacuterios de conteuacutedos e produccedilatildeo O ensejo eacute a formaccedilatildeo

interdisciplinar das crianccedilas e jovens que fazem parte da fundaccedilatildeo

Art 2ordm - A Fundaccedilatildeo Casa Grande Memorial do Homem Kariri tem por finalidade

362

III ndash Pesquisar preservar coletar juntar em acervo comunicar exibir e publicar

para fins cientiacuteficos de estudo e recreaccedilatildeo a cultura material e imaterial do homem

Kariri e de ambiente

IV ndash Estabelecer registro e cadastramento do Patrimocircnio Cultural da regiatildeo do

homem Kariri com fins de cuidar do acervo arqueoloacutegico e ecoloacutegico

V ndash Servir de instrumento de evoluccedilatildeo para as artes e a cultura do homem Kariri

VI ndash Formular e incentivar projetos nas aacutereas de arte e cultura educaccedilatildeo meio

ambiente sauacutede e desenvolvimento social e tecnoloacutegico () (ESTATUTO

INTERNO DA FUNDACcedilAtildeO CASA GRANDE ndash MEMORIAL DO HOMEM

KARIRI 1992 p 05)

De acordo com Arauacutejo (2017) desde a restauraccedilatildeo da casa de fazenda e instalaccedilatildeo do

MHK em outubro de 1992 residentes de Nova Olinda de outros municiacutepios do Cariri de

outras regiotildees do Cearaacute brasileiros de todas as regiotildees e estrangeiros acorrem agraves instalaccedilotildees

da FCG-MHK para conhecer a cultura do lugar e da regiatildeo Assim eacute impossiacutevel falar de Nova

Olinda sem remeter-se a FCG-MHK e o seu fundamental papel no desenvolvimento da

cultura e turismo do municiacutepio

Para Gabrielle (2015) a grande mentora do crescimento turiacutestico e cultural do

municiacutepio em estudo eacute a Fundaccedilatildeo Casa Grande que vem incentivando investimentos neste

setor da economia que eacute tatildeo importante para o desenvolvimento turiacutestico cultural e social

Portanto a atividade artiacutestica cultural e turiacutestica de Nova Olinda estaacute diretamente ligada ao

trabalho desta instituiccedilatildeo

23 Turismo de Base Comunitaacuteria ndash TBC

O turismo deve ser compreendido como um dos componentes essenciais para

alavancar a economia do Brasil e do mundo trata-se de um importante segmento no que se

refere a geraccedilatildeo de emprego e renda

Contudo nos uacuteltimos anos vem se destacando uma modalidade do turismo bastante

singular trata-se do turismo de base comunitaacuteria O turismo neste aspecto vem

proporcionando a pequenas comunidades a compreenderem de fato a importacircncia dos bens

patrimoniais naturais culturais e sociais para o desenvolvimento de um determinado local

(SAMPAIO 2005)

O turismo eacute considerado em acircmbito global como uma atividade econocircmica que gera

crescimento oportunidades de emprego e renda No entanto a proposta do TBC se opotildee a

esse estilo consumista oportunizando a descoberta de experiecircncias com outros modos de

vida superando a hegemonia da sociedade de mercado prezando pela relaccedilatildeo harmocircnica

363

entre turista e comunidade receptora onde ambos satildeo considerados agentes de accedilatildeo

socioeconocircmico e ambiental repensando as bases de um novo estilo de desenvolvimento

(SAMPAIO 2005)

O turismo como atividade comercial eacute planejado desenvolvido e gerenciado pela

proacutepria comunidade (aldeia logradouro povoado) fornecendo serviccedilos como hospedagem

refeiccedilotildees trilhas excursotildees e outras atividades para os visitantes gerando emprego e

empreendedorismo de pequenos e meacutedios negoacutecios (familiar cooperativo parceria) junto

com outras atividades de geraccedilatildeo de renda como pesca agroecologia familiar produccedilatildeo de

produtos naturais arte moda artesanato e apresentaccedilatildeo da cultura local ―Todas estas

atividades contribuem para gerar empregos e renda complementar a atividade principal da

comunidade contribuindo para o desenvolvimento local e a melhoria da qualidade de vida da

populaccedilatildeo (SALVATI 2004 p03)

Froese (2009) enfatiza que o turismo de base comunitaacuteria surgiu com o intuito de

desenvolver as comunidades tradicionais e inseri-las no mercado turiacutestico contribuindo para

experiecircncias mais reais do que as vivenciadas no turismo convencional e ainda relacionando

as preocupaccedilotildees sociais Por meio do turismo de base comunitaacuteria eacute possiacutevel a criaccedilatildeo de

alternativas para o desenvolvimento local atraveacutes da produccedilatildeo de emprego e renda como

tambeacutem da cooperaccedilatildeo participativa do melhoramento dos produtos e serviccedilos e do benefiacutecio

da sustentabilidade dos potenciais histoacuterico natural e cultural

Segundo o MTur (BRASIL 2010) os princiacutepios comuns ao TBC satildeo a autogestatildeo o

associativismo e cooperativismo a democratizaccedilatildeo de oportunidades e benefiacutecios a

centralidade da colaboraccedilatildeo parceria e participaccedilatildeo a valorizaccedilatildeo da cultura local e

principalmente o protagonismo das comunidades locais na gestatildeo da atividade eou na oferta

de bens e serviccedilos turiacutesticos visando agrave apropriaccedilatildeo por parte destas dos benefiacutecios advindos

do desenvolvimento da atividade turiacutestica

Em suma o turismo de base comunitaacuteria eacute um empreendimento que vem a mobilizar a

comunidade local visto que gera renda e natildeo provoca danos agrave qualidade de vida e as tradiccedilotildees

de um povo Eacute uma forma que natildeo se limita apenas a observar ou conviver com determinadas

pessoas mas que tem como propoacutesito ainda o engajamento desses visitantes nos projetos

sociais

364

3 PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

A pesquisa eacute de natureza bibliograacutefica e de campo com caraacuteter exploratoacuterio descritivo

e abordagem quantitativa e qualitativa

A pesquisa bibliograacutefica possibilitou o levantamento das concepccedilotildees teoacutericas acerca

da temaacutetica abordada O levantamento bibliograacutefico foi feito em livros teses dissertaccedilotildees

artigos revistas de cunho cientiacutefico jornais e por meio eletrocircnico

O trabalho utilizou-se tambeacutem da coleta e anaacutelise de dados primaacuterios obtidos por

meio da pesquisa de campo caracterizando a pesquisa como empiacuterica Para a coleta de dados

foram realizadas entrevistas entre os meses de setembro e outubro de 2017 junto a todos os

membros da COOPAGRAN que no momento da pesquisa eram dez (10) Para a anaacutelise dos

dados utilizou-se a estatiacutestica descritiva

4 TURISMO DE BASE COMUNITAacuteRIA NO MUNICIacutePIO DE NOVA OLINDA- CE

O CASO DA COOPAGRAN

O municiacutepio de Nova Olinda traz consigo um grande potencial no que se refere ao

turismo de base comunitaacuteria jaacute que a cidade manteacutem viva suas tradiccedilotildees e originalidades

atraveacutes dos trabalhos realizados na Fundaccedilatildeo Casa Grande Dentre esses trabalhos destaca-se

a Cooperativa Mista de Pais e Amigos da Fundaccedilatildeo Casa Grande - COOPAGRAN

A cooperativa eacute formada pelos pais das crianccedilas e adolescentes que fazem parte da

Fundaccedilatildeo Casa Grande Atualmente a cooperativa eacute formada por 10 pais

Os artesanatos satildeo confeccionados nas oficinas dos pais da Casa Grande entre os

artigos produzidos estatildeo bordados couro madeira serigrafia e pintura e vendidos na lojinha

da COOPAGRAN A cooperativa ainda conta com um restaurante que oferece serviccedilo de

refeiccedilotildees caseiras e lanches de comidas tiacutepicas regionais e os serviccedilos de hospedagens por

meio das pousadas domiciliares que satildeo suiacutetes localizadas nos quintais das casas dos pais das

crianccedilas e adolescentes da Casa Grande Atualmente existem nove pousadas sendo sete no

centro da cidade e duas na zona rural

Com relaccedilatildeo agrave hospedagem as pousadas soacute recebem atraveacutes da FCG por intermeacutedio

da Agencia de Turismo Comunitaacuterio que realiza a reserva e a conduccedilatildeo dos turistas ateacute o seu

365

destino O pagamento pelo serviccedilo de hospedagem tambeacutem eacute feito a essa mesma agecircncia e

depois repassado aos donos das pousadas

Durante as entrevistas os membros da COOPAGRAN afirmaram que soacute recebiam

hospedes por intermeacutedio da Fundaccedilatildeo Casa Grande por uma questatildeo de seguranccedila

Ainda no que concerne ao tipo de turista hospedado nas pousadas domiciliares pode-

se notar a partir dos dados que todos esses turistas estatildeo ligados a duas caracteriacutesticas ou satildeo

estudantes-pesquisadores ou artistas sendo 75 estudantes e 25 artistas

No que se refere agrave quantidade de turistas hospedados segundo as informaccedilotildees da

Agencia de Turismo Comunitaacuterio que eacute responsaacutevel pela reserva das pousadas o nuacutemero de

hospedes fica em meacutedia 400 turistas por ano o que pode tambeacutem ser comprovado a partir das

respostas obtidas na pesquisa de campo onde os proprietaacuterios das pousadas afirmam que

recebiam em meacutedia 4 turistas mensalmente tendo exceccedilotildees apenas nas duas pousadas rurais

jaacute que estas ficam a escolha do hospedes e recebem em meacutedia 2 turistas mensalmente

Quanto aos dias que esses turistas ficam hospedados varia de acordo com o trabalho

ou pesquisa que os mesmos precisam realizar geralmente ficam entre 2 a 15 dias

De acordo com dados da pesquisa o restaurante da COOPAGRAN tambeacutem funciona

para eventos externos desde que seja agendado com antecedecircncia Atende uma demanda em

meacutedia de 30 pessoas diariamente e 900 pessoas mensalmente

Do recurso gerado pelo turismo comunitaacuterio 10 eacute para administraccedilatildeo da Agecircncia

10 alimenta um fundo de educaccedilatildeo que financia o transporte escolar dos universitaacuterios da

Casa Grande (para as cidades vizinhas de Crato e Juazeiro do Norte) e 80 eacute geraccedilatildeo de

renda familiar para cobrir despesas e originar investimento no proacuteprio negoacutecio (DADOS DA

PESQUISA 2017)

De acordo com os entrevistados aleacutem de utilizarem parte dos recursos para o

financiamento de transporte escolar dos jovens universitaacuterios destinavam outra parte para a

manutenccedilatildeo da Fundaccedilatildeo Casa Grande

41 Perfil socioeconocircmico dos membros da COOPAGRAN

Para construccedilatildeo do perfil socioeconocircmico dos membros da COOPAGRAN foram

observadas as informaccedilotildees de gecircnero idade estado civil aacuterea de residecircncia grau de instruccedilatildeo

e renda e foram encontrados os seguintes resultados

366

Dos 10 membros entrevistados 90 eram do sexo feminino De acordo com o Portal

Brasil (2012) a criaccedilatildeo de cooperativas tem sido um importante sinal do aumento do

empreendedorismo das mulheres

Essa realidade mostra que as mulheres natildeo soacute avanccedilaram no mercado de trabalho

como tambeacutem buscam unir-se em grupos para se desenvolverem juntas As atividades

realizadas em cooperativas e em grupos de cooperaccedilatildeo e ajuda muacutetua satildeo mais ajustaacuteveis agrave

rotina das mulheres por muitas razotildees

No que se refere agrave faixa etaacuteria percebe-se que a maioria tinha idade superior a 40

anos Essa idade estaacute relacionada ao fato de todos os membros jaacute serem pais de crianccedilas e

jovens membros da Fundaccedilatildeo Casa Grande ndash Homem Kariri

Na tabela 1 satildeo apresentadas essas informaccedilotildees com ecircnfase para a predominacircncia da

faixa etaacuteria superior a 40 anos

Tabela 01 ndash Distribuiccedilatildeo por faixa etaacuteria dos membros da COOPAGRAN

Faixa Etaacuteria Frequecircncia absoluta Frequecircncia relativa ()

De 0 a 10 anos - -

De 11 a 20 anos - -

De 21 a 30 anos - -

De 31 a 40 anos 1 10

Acima de 40 anos 9 90

Total 10 100 Fonte Dados da pesquisa 2017

Quanto agrave aacuterea de residecircncia 80 viviam na aacuterea urbana mais precisamente nas

proximidades da Fundaccedilatildeo Casa Grande e 20 na zona rural O fato das residecircncias estarem

em dois tipos de zonas (urbanarural) possibilitava ao turistahospede vivenciar experiecircncias

diferenciadas

No que se refere ao grau de instruccedilatildeo sabe-se que esta eacute peccedila indispensaacutevel para um

bom desempenho em qualquer funccedilatildeo a ser exercida e ferramenta fundamental para a

melhoria de qualidade de vida do indiviacuteduo

Dos membros da COOPAGRAN apenas 20 concluiacuteram o ensino superior

incompleto 10 ensino meacutedio incompleto 10 natildeo concluiacuteram o ensino meacutedio e 60

tinham apenas o ensino fundamental incompleto

367

Tabela 02 ndash Distribuiccedilatildeo absoluta e relativa dos membros da COOPAGRAN segundo o

grau de instruccedilatildeo

Grau de instruccedilatildeo Frequecircncia absoluta Frequecircncia relativa ()

Ensino Fund Incompleto 6 60

Ensino Fund Completo - -

Ensino Meacutedio Incompleto 1 10

Ensino Meacutedio Completo 1 10

Ensino Superior Incompleto 2 20

Ensino Superior Completo - -

Total 10 100 Fonte Dados da pesquisa 2017

Sabe-se que o grau de instruccedilatildeo eacute um indicador importante jaacute que propicia o

desenvolvimento do conhecimento como tambeacutem permite a realizaccedilatildeo da praacutetica dos valores

cooperativos no entanto a realidade dos dados acima demostra o baixo niacutevel de escolaridade

dos cooperados

Dos entrevistados 50 afirmaram que exerciam apenas atividades do lar enquanto

30 eram aposentados um era funcionaacuterio puacuteblico e o outro entrevistado natildeo informou a

atividade que exercia aleacutem da COOPAGRAN

Tabela 03 ndash Renda Individual dos membros da COOPAGRAN

Renda Individual Frequecircncia absoluta Frequecircncia relativa ()

Menos de 1 salaacuterio miacutenimo 3 30

1 salaacuterio miacutenimo 6 60

2 a 5 salaacuterios miacutenimos 1 10

Total 10 100 Dados da pesquisa 2017

De acordo com os dados observa-se que mais da metade dos entrevistados recebiam

apenas um salaacuterio miacutenimo enquanto apenas um (10) recebia entre 2 e 3 salaacuterios Os

membros da COOPAGRAN afirmaram que o complemento de renda advindo das atividades

realizadas na cooperativa eacute fundamental para complementar a renda

No que se refere agrave renda oriunda da cooperativa esta varia de acordo com o periacuteodo

Conforme os entrevistados existiam meses com maior nuacutemero de turistas ―periacuteodo bom e o

―periacuteodo fraco onde haacute uma reduccedilatildeo de turistas

368

GRAacuteFICO 1 Variaccedilatildeo da renda individual no periacuteodo considerado ―bom

Fonte Dados da pesquisa 2017

Observa-se que a variaccedilatildeo da renda individual apresentada na tabela 3 muda

consideravelmente com o complemento de renda da COOPAGRAN De acordo com os dados

da pesquisa os 30 que antes recebiam menos de 1 salaacuterio miacutenimo passaram a receber ateacute

25 salaacuterios miacutenimos os 60 que recebiam 1 salaacuterio miacutenimo ampliaram seu ganho para ateacute

3 salaacuterios miacutenimos e os 10 que ganhavam ateacute 5 salaacuterios passaram a recebem ateacute 7 salaacuterios

miacutenimos

Conforme os dados percebe-se a importacircncia da renda complementar gerada pelas

atividades da cooperativa Esse tipo de turismo eacute importante natildeo soacute pela geraccedilatildeo de renda

mas tambeacutem pela troca de saberes propiciada pelo TBC

6 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O TBC eacute uma alternativa que vem dando certo pois esse busca seu alicerce na

ideologia do desenvolvimento endoacutegeno onde os principais agentes satildeo os indiviacuteduos locais

trazendo para si a responsabilidade da maior parte da execuccedilatildeo dos projetos ligados agrave

atratividade local eacute uma opccedilatildeo de inclusatildeo que vem tendo ecircxito por todo o paiacutes pois com a

capacitaccedilatildeo essas pessoas se tornam os melhores administradores jaacute que nasceram e viveram

nesse determinado local

369

Eacute possiacutevel observar ao longo desse trabalho que o turismo realizado em Nova Olinda eacute

de base comunitaacuteria sendo plausiacutevel constatar que esse por sua vez vem apresentando bons

resultados e esta concretizaccedilatildeo eacute decorrente dos trabalhos realizados atraveacutes da Fundaccedilatildeo

Casa Grande que desde 1999 vem investindo no turismo social tendo como realizaccedilatildeo as

pousadas domiciliares construiacutedas nas casas das crianccedilas e adolescentes que fazem parte da

instituiccedilatildeo

Com relaccedilatildeo agraves atividades desenvolvidas atraveacutes das pousadas restaurante e lojinha

estas satildeo norteadas pela Agencia de Turismo Comunitaacuterio que eacute responsaacutevel pela reserva

recepccedilatildeo e tambeacutem por receber os pagamentos que soacute depois satildeo transferidos para os

membros da cooperativa principalmente no que se refere agraves pousadas onde se busca de

forma justa e igualitaacuteria distribuir igualmente o fluxo de hoacutespedes nas pousadas permitindo

um equiliacutebrio na renda gerada por essa atividade

Um fato que merece destaque eacute a forma como eacute partilhada a renda gerada pelas

atividades da cooperativa onde 10 eacute destinada para o transporte dos universitaacuterios da FCG

10 para a administraccedilatildeo da agencia e 80 eacute a renda da famiacutelia para cobrir as despesas e

originar possiacuteveis investimentos

No que se refere ao perfil dos membros da COOPAGRAN foi possiacutevel constatar a

partir da anaacutelise do perfil socioeconocircmico das famiacutelias envolvidas na COOPAGRAN que os

seus membros satildeo em maior parte do sexo feminino e com idade superior a 40 anos onde a

maioria realiza atividades do lar e buscam atraveacutes das atividades da cooperativa a

complementaccedilatildeo da renda familiar

Ao analisar esses dados pode-se afirmar que a COOPAGRAN trouxe mudanccedilas

positivas na vida das famiacutelias pois aleacutem da renda extra com esse tipo de empreendimento haacute

tambeacutem a troca de saberes experiecircncia valiosa propiciada pelo TBC

Em suma o TBC realizado pela FCG vem contribuindo significativamente para o

crescimento turiacutestico e cultural do municiacutepio de Nova Olinda bem como proporcionando a

melhoria da qualidade de vida das pessoas envolvidas uma vez que o desenvolvimento das

atividades que o TBC proporciona vem gerando emprego e renda para essas famiacutelias

Nota-se claramente uma sinergia entre cultura e turismo por meio da participaccedilatildeo

popular atraveacutes da oferta das pousadas domiciliares do restaurante e da lojinha existente na

fundaccedilatildeo Trata-se de um planejamento turiacutestico bastante estruturado que tem como meta a

sustentabilidade e uma visatildeo turiacutestica de responsabilidade

370

Em suma o turismo de base comunitaacuteria eacute uma atividade que produz um engajamento

local eacute uma maneira de trocar experiecircncias entre os turistas de diversas partes do Brasil e do

mundo e os moradores desta localidade Aleacutem disso busca auxiliar diretamente na

sustentabilidade das famiacutelias gerando renda direta para o municiacutepio de Nova Olinda ndash CE

REFEREcircNCIAS

ARAUJO MLD A Fundaccedilatildeo Casa Grande (Nova OlindaCE) no Mapa do Turismo

Regional lugar de memoacuteria e salvaguarda do patrimocircnio cultural do povo kariri Tese

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BARRETTO Margarita Turismo e legado cultural as possibilidades do planejamento 2

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Turiacutestico Regional ndash Relatoacuterio Brasil 2009 Luiz Gustavo Medeiros Barbosa (Org) Brasiacutelia

Ministeacuterio do Turismo 200985 p ISBN Online 978-85-61239-21-3

CANCLINI Nestor Garciacutea As Culturas populares no capitalismo Satildeo Paulo Brasiliense

1983a

CLAVAL Paul A volta do cultural na Geografia Mercator - Revista de Geografia da UFC

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euchaocearensegt Acesso em 28 de agosto de 2017

FROESE V F Ecoturismo de Base Comunitaacuteria Possibilidade para o Desenvolvimento

Turiacutestico de Oriximinaacute-PA Niteroacutei 2009 Disponiacutevel em Acesso em 09 outubro de 2017

FUNDACcedilAtildeO CASA GRANDE ndash MEMORIAL DO HOMEM KARIRI Estatuto interno da

Fundaccedilatildeo Casa Grande ndashMemorial do Homem Kariri 1992 Disponiacutevel em

lthttpsblogfundacaocasagrandefileswordpresscom201305estatuo-da-fundac3a7c3a3o-

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GUERRA JUNIOR Antonio Cooperativas de creacutedito muacutetuo no contexto do sistema

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2010 DISPONIacuteVEL EM lthttpwwwcidadesibgegovbrxtrastemasphp gt Acesso em

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Zahar 2000

_________________ Ministeacuterio do Turismo Dinacircmica e diversidade do turismo de base

comunitaacuteria desafio para a formulaccedilatildeo de poliacutetica puacuteblica Brasiacutelia Ministeacuterio do

Turismo 2010

MAGALHAtildeES Claacuteudia Freitas Diretrizes para o turismo sustentaacutevel em municiacutepios Satildeo

Paulo Roca 2002

MENEZES Juliana Santos O turismo cultural como fator de desenvolvimento na cidade

de Ilheacuteus 2012

MOESCH Marutschka Martini A produccedilatildeo do saber turiacutestico Satildeo Paulo Contexto 2002

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httpwwwbrasilgovbreconomia-e-emprego201202cooperativas-femininas Acesso em

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Brasiacutelia WWF-Brasil 2004

SAMPAIO C A C Turismo como fenocircmeno humano princiacutepios para se pensar a

socioeconomia e sua praacutetica sob a denominaccedilatildeo turismo comunitaacuterio Santa Cruz do Sul

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Disponiacutevel em lthttpnovaolindacegovbrseculturindexphppontos-turisticosgt Acesso

em 25 de julho de 2017

372

ANAacuteLISE DO DESENVOLVIMENTO DOS PROGRAMAS FINANCIADOS PELO

FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCACcedilAtildeO (FNDE) EM

ESCOLA PUacuteBLICA DA EDUCACcedilAtildeO BAacuteSICA DE JUAZEIRO DO NORTE ndash CE

REFLEXOS ECONOcircMICOS NA EDUCACcedilAtildeO

PAULO RICARDO BATISTA Graduando em Ciecircncias Bioloacutegicas ndash Licenciatura na Universidade Regional do Cariri ndash

URCA Bolsista de monitoria em Farmacologia ndash FECOP Voluntaacuterio no Laboratoacuterio de

Farmacologia de Produtos Nacionais (LFPN) na Universidade Regional do Cariri ndash URCA

Voluntaacuterio no Instituto Chico Mendes de Conservaccedilatildeo da Biodiversidade (ICMBio)

pauloricardoadautooutlookcom

373

ANAacuteLISE DO DESENVOLVIMENTO DOS PROGRAMAS FINANCIADOS PELO

FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCACcedilAtildeO (FNDE) EM

ESCOLA PUacuteBLICA DA EDUCACcedilAtildeO BAacuteSICA DE JUAZEIRO DO NORTE ndash CE

REFLEXOS ECONOcircMICOS NA EDUCACcedilAtildeO

RESUMO O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo (FNDE) vinculado ao Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo (MEC) fornece subsiacutedios para projetos educacionais para melhoria do ensino e

assistecircncia dos discentes A fonte financeira dos recursos fornecidos provem do salaacuterio-

educaccedilatildeo uma contribuiccedilatildeo social A presente pesquisa tem como objetivo analisar os

programas financiados pelo FNDE por meio de uma pesquisa de campo e bibliograacutefica no

municiacutepio do Juazeiro do Norte - CE assim como a compreensatildeo e a avaliaccedilatildeo dos objetivos

individuais dos mesmos A pesquisa foi exercida na instituiccedilatildeo de ensino estadual E E M

Governador Adauto Bezerra no mencionado municiacutepio onde os programas satildeo

desenvolvidos Com a finalidade de compreender o desenvolvimento daqueles na instituiccedilatildeo

Na pesquisa de campo foi realizada uma entrevista com um dos coordenadores da escola

contribuindo para coleta de dados e efetuaccedilatildeo dessa investigaccedilatildeo de natureza quali-

quantitativa e caraacuteter exploratoacuterio Atraveacutes desta pesquisa foi possiacutevel notar o desempenho

dos programas na unidade escolar permitindo uma avaliaccedilatildeo criacutetica inerente aos mesmos Os

recursos satildeo administrados pelo nuacutecleo gestor e associados visando agrave permanecircncia e

assistecircncia aos alunos fomentando uma melhoria na qualidade do ensino no acircmbito

educacional entretanto eacute importante a percepccedilatildeo das carecircncias provocadas pela ausecircncia de

certos programas

Palavras-chaves FNDE Programas financiados pelo FNDE Juazeiro do Norte Acircmbito

educacional

ABSTRACT

The National Education Development Fund (FNDE) linked to the Ministry of Education

(MEC) provides subsidies for educational projects to improve the teaching and assistance of

students The financial source of the resources provided comes from the education wage a

social contribution The present research aims to analyze the programs financed by the FNDE

through a field and bibliographical research in the municipality of Juazeiro do Norte - CE as

well as the understanding and evaluation of the individual objectives of the same ones The

research was carried out in the state education institution E E M Governor Adauto Bezerra in

the mentioned municipality where the programs are developed In order to understand the

development of those in the institution In the field research an interview was conducted with

one of the coordinators of the school contributing to the collection of data and the carrying

out of this qualitative and quantitative research Through this research it was possible to note

the performance of the programs in the school unit allowing a critical evaluation inherent to

them The resources are administered by the managing nucleus and associates aiming at the

permanence and assistance to the students fomenting an improvement in the quality of the

education in the educational scope however it is important the perception of the deficiencies

provoked by the absence of certain programs

Keywords FNDE Programs funded by FNDE Juazeiro do Norte Educational scope

374

1 Introduccedilatildeo

Apoacutes a persistente desvalorizaccedilatildeo da educaccedilatildeo os anos seguintes a deacutecada de 1990

apresentam-se como um panorama permeados de contribuiccedilotildees entretanto ainda insuficientes

para a melhoria do sistema educacional brasileiro O alto iacutendice de permanecircncia de jovens na

educaccedilatildeo baacutesica a partir desse periacuteodo constituiu uma dessas contribuiccedilotildees apesar

dicotomicamente o iacutendice de qualidade da educaccedilatildeo ainda ser precaacuterio (VELOSO 2011)

Sabe-se que diversas condicionantes influenciam nesse cenaacuterio inclusive uma gestatildeo escolar

competente e recursos econocircmicos que propiciem subsiacutedios para melhoria da educaccedilatildeo

A presente pesquisa objetiva avaliar o desenvolvimento dos programas financiados

pelo FNDE presentes na escola de ensino meacutedio Governador Adauto Bezerra destacando suas

contribuiccedilotildees para o ambiente escolar assim como ressaltar se haacute a ausecircncia ou ineficaacutecia de

desenvolvimento de algum daqueles

As interrogaccedilotildees que nortearam a investigaccedilatildeo foram Quais programas estatildeo em vigor

na instituiccedilatildeo Qual o objetivo desses programas para com a instituiccedilatildeo Como funcionam na

instituiccedilatildeo Em que os recursos satildeo utilizados Qual o puacuteblico-alvo desses programas Quais

paracircmetros satildeo necessaacuterios para a liberaccedilatildeo desses recursos disponibilizados pelos

programas

2 Referencial Teoacuterico

Tanto no acircmbito nacional quanto no internacional satildeo perceptiacuteveis as discussotildees

referentes agrave gestatildeo escolar e poliacuteticas inerentes a educaccedilatildeo baacutesica tais discussotildees constituem

relaccedilotildees complexas entre os processos e execuccedilatildeo daquelas duas variaacuteveis vinculadas ao

contexto sociocultural em que o sistema educacional estaacute inserido (DOURADO 2007) Com

a mesma constacircncia se apresenta a relaccedilatildeo entre educaccedilatildeo e economia em especial a aspectos

referentes a investimentos em educaccedilatildeo e desenvolvimento econocircmico tendo em vista que

uma populaccedilatildeo mais educada eacute mais produtiva e saudaacutevel (CASTRO 2006)

Em consonacircncia com os pressupostos supracitados o Art 205 da Constituiccedilatildeo Federal

de 1988 ratifica ―a educaccedilatildeo direito de todos e dever do Estado e da famiacutelia seraacute promovida

e incentivada com a colaboraccedilatildeo da sociedade visando ao pleno desenvolvimento da pessoa

seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o trabalho assim sendo

375

subsiacutedios financeiros necessaacuterios para a concretizaccedilatildeo de tal ideal satildeo fornecidos a educaccedilatildeo

por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo (FNDE) estabelecido em

1968 cuja manutenccedilatildeo e permanecircncia dependem do salaacuterio-educaccedilatildeo advindo das

contribuiccedilotildees sociais realizadas pelas empresas do paiacutes

O FNDE estaacute sob a administraccedilatildeo do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC) que por sua vez

eacute um oacutergatildeo administrativo responsaacutevel por executar as incumbecircncias pertinentes ao sistema

federal de ensino a encargo da Uniatildeo Devido agrave imensa importacircncia que a fonte de

manutenccedilatildeo (o salaacuterio educaccedilatildeo) do FNDE deteacutem eacute necessaacuterio que seja resguardada por lei e

fiscalizada por oacutergatildeos competentes como afirma De Oliveira Libacircneo e Toschi (2017 p

391) ―a contribuiccedilatildeo social do salaacuterio-educaccedilatildeo (SE) prevista no artigo 212 sect 5ordm da

Constituiccedilatildeo Federal foi criada pela Lei nordm 4462 de 1964 e regulamentada pelas Leis nordm

94241996 e 97661998 Decreto nordm 60032006 e Lei nordm 114572007

Este recurso eacute coletado fiscalizado e cobrado pela Secretaria da Receita Federal do

Ministeacuterio da Fazenda o percentual da contribuiccedilatildeo a qual as empresas estatildeo sujeitas a dispor

eacute de 25 O FNDE recebe o salaacuterio-educaccedilatildeo por meio da Guia da Previdecircncia Social e um

terccedilo do total de recursos eacute empregado pelo fundo no financiamento dos projetos e programas

para a melhoria da educaccedilatildeo baacutesica proporcionalmente ao nuacutemero de alunos matriculados

(De Oliveira Libacircneo e Toschi 2017)

Cabe a ressalva que a implementaccedilatildeo em uma instituiccedilatildeo dos programas financiados

pelo FNDE torna-se necessaacuteria devido a real desigualdade socioeconocircmica e educacional

presente na sociedade brasileira que influem em deacuteficits na promoccedilatildeo de uma educaccedilatildeo baacutesica

digna de qualidade Assim sendo o FNDE transpassa para o contexto escolar a funccedilatildeo

supletiva e redistributiva da Uniatildeo (CRUZ 2011)

Conforme a legislaccedilatildeo oficial atualizada registrada em documentos do

MEC o FNDE manteacutem os seguintes programas [] Programa Nacional de

Alimentaccedilatildeo Escolar [] Programa Dinheiro Direto na Escola []

Programa Nacional da Biblioteca da Escola [] Programa Nacional do

Livro Didaacutetico (tambeacutem na linguagem Braille) Programa Nacional de Apoio

ao Transporte do Escolar e Programa Caminho da Escola [] Bem como

tambeacutem Brasil Profissionalizado Formaccedilatildeo pela Escola Proinfacircncia

Programa Nacional de Sauacutede do Escolar (PNSE) e Plano de Accedilotildees

Articuladas (PAR) (De Oliveira Libacircneo e Toschi 2017 p 393)

376

Aleacutem disso ―o FNDE eacute operador do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino

Superior (Fies) um programa do MEC destinado a financiar a graduaccedilatildeo na educaccedilatildeo

superior de estudantes matriculados em instituiccedilotildees natildeo gratuitas (De Oliveira Libacircneo e

Toschi 2017 p 393) Embora tais programas sejam grandes subsiacutedios para melhoria da

educaccedilatildeo no acircmbito real a ausecircncia de dois ou mais destes em uma instituiccedilatildeo eacute frequente

culminando em precariedades no acircmbito escolar

3 Metodologia

A metodologia empregada para a realizaccedilatildeo da presente pesquisa de caraacuteter

exploratoacuterio partiu de um mapeamento dos programas na escola puacuteblica estadual de ensino

meacutedio Governador Adauto Bezerra localizada no municiacutepio de Juazeiro do Norte ndash CE

A coordenaccedilatildeo da instituiccedilatildeo foi selecionada como puacuteblico-alvo para o fornecimento

dos dados da pesquisa estes com variaacuteveis passiacuteveis de serem mensuradas ou natildeo

corroboraram para a natureza quali-quantitativa da pesquisa e para com esta previamente uma

declaraccedilatildeo foi entregue para a permissatildeo da coleta de dados

A anaacutelise dos programas que tem por objetivo a permanecircncia do aluno na instituiccedilatildeo

de ensino melhoria na qualidade do ensino e no processo de ensinoaprendizagem do aluno e

assistecircncia aos mesmos foi proporcionada por uma anaacutelise bibliograacutefica que auxiliou na

compreensatildeo da temaacutetica e uma pesquisa de campo na unidade escolar tal pesquisa tem como

caracteriacutestica principal a observaccedilatildeo direta do objeto de pesquisa auxiliando na coleta de

dados referentes aos programas e seus desenvolvimentos na instituiccedilatildeo Optou-se pela

entrevista semi-estruturada como instrumento de coleta (ver APEcircNDICE) com um dos

coordenadores da instituiccedilatildeo possibilitando a obtenccedilatildeo dos dados de forma dinacircmica e direta

Esse tipo de entrevista favorece uma interaccedilatildeo entre o entrevistador e o entrevistado

permitindo perguntas e respostas mais amplas em relaccedilatildeo agrave temaacutetica no decorrer da entrevista

A observaccedilatildeo sistemaacutetica tambeacutem foi imprescindiacutevel para a compreensatildeo dos referidos

programas e seus desenvolvimentos e objetivos na EEM Governador Adauto Bezerra O

sujeito investigado como jaacute mencionado foi um coordenador da entidade de ensino a escolha

foi aleatoacuteria em meio aos componentes do nuacutecleo gestor disponiacuteveis no dia da entrevista

377

O tratamento dos dados consistiu em uma subdivisatildeo de seis seccedilotildees correspondentes

para cada programa presente na instituiccedilatildeo seguidas e integradas por uma anaacutelise criacutetica dos

mesmos em contraste com a bibliografia consultada quanto agraves informaccedilotildees adquiridas atraveacutes

da entrevista foram expostas nas discussotildees mantendo o sigilo da identidade do coordenador

fornecedor e de forma mais fidedigna possiacutevel a linguagem utilizada pelo participante no ato

da entrevista que por sua vez foi gravada em um aacuteudio

4 Resultados e Discussotildees

Foram constatados na instituiccedilatildeo os seguintes programas financiados pelo FNDE em

vigecircncia na instituiccedilatildeo Programa Nacional de Alimentaccedilatildeo Escolar (PNAE) o Programa

Dinheiro Direto na Escola (PDDE) o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) o

Programa Nacional do Livro Didaacutetico para o Ensino Meacutedio (PNLEM) O programa Caminho

da Escola e o Plano de Accedilotildees Articulados (PAR) Os resultados obtidos na referida pesquisa

foram aqui divididos em seccedilotildees para uma melhor organizaccedilatildeo e compreensatildeo relativas aos

seus respectivos programas

41 Programa nacional de alimentaccedilatildeo escolar (PNAE)

O PNAE considerado o maior programa de fornecimento de suplementaccedilatildeo alimentar

brasileiro abrange quase todos os municiacutepios do paiacutes este programa tanto contribui para o

desenvolvimento do discente quanto para o seu processo de aprendizagem assegurando

tambeacutem um aporte miacutenimo alimentar para populaccedilotildees necessitadas Para usufruir do

programa uma instituiccedilatildeo deve criar um Conselho de Alimentaccedilatildeo Escolar (CAE) para

fiscalizar e controlar a aplicaccedilatildeo dos recursos fornecidos bem como participar na elaboraccedilatildeo

dos cardaacutepios O PNAE tambeacutem contribui para a aquisiccedilatildeo de produtos alimentiacutecios advindos

do comeacutercio local do pequeno produtor agriacutecola e da pecuaacuteria local (BELIK CHAIM 2009)

Na instituiccedilatildeo onde a pesquisa foi realizada a porcentagem de repasse do FNDE para a

aquisiccedilatildeo desses produtos ultrapassa em 20 a porcentagem meacutedia como se pode constatar

no seguinte depoimento

―O governo manda o recurso para a escola desse recurso 50 tem que ser

destinado agrave compra da agricultura familiar e os outros 50 para alimentos

preacute-industrializados (Coordenador)

378

Segundo De Oliveira Libacircneo e Toschi (2017 p 394) ―[] o programa [] repassa a

estados e municiacutepios 30 centavos por aluno por dia letivo para complementar a verba da

merenda O paracircmetro para a liberaccedilatildeo dos recursos [] eacute o nuacutemero de alunos levantado pelo

Censo Escolar [] do ano anterior Essa afirmaccedilatildeo eacute evidente na seguinte fala

―O valor do recurso para escola eacute mediante ao levantamento do Censo do

ano anterior o nuacutemero de matriacuteculas de alunos em relaccedilatildeo ao Censo do ano

anterior (Coordenador)

42 Programa Dinheiro Direto Na Escola (PDDE)

O PDDE instituiacutedo na deacutecada de 1990 objetiva distribuir anualmente recursos agraves

escolas puacuteblicas estaduais municipais e do Distrito Federal os quais satildeo provenientes

majoritariamente do salaacuterio-educaccedilatildeo O paracircmetro para a liberaccedilatildeo eacute a presenccedila na

instituiccedilatildeo de uma unidade executora (UEx) proacutepria (DOURADO 2007) como observado

esse programa estaacute em desenvolvimento na referida instituiccedilatildeo objeto de estudo da pesquisa

O entrevistado relatou seu conhecimento sobre o programa em desenvolvimento na escola e

explicitou em seus argumentos o nome dado a UEx da instituiccedilatildeo

―O PDDE eacute um projeto do governo federal que envia recursos para melhoria

do ensino da estrutura de ensino da escola Entatildeo o recurso quando chega

quando a gente sabe o valor que vai vir eacute uma das necessidades sentar com

o Conselho pra traccedilar as prioridades de como vai ser gasto esse dinheiro

Entatildeo o Conselho eacute quem determina como e quando deve ser aplicado o

dinheiro (Coordenador)

A transferecircncia eacute dependente do Censo Escolar anterior ao ano de atendimento e os

recursos na instituiccedilatildeo podem ter diversos destinos que primem para a melhoria da qualidade

de ensino tais como a aquisiccedilatildeo de materiais permanentes e de consumo e manutenccedilatildeo e

conservaccedilatildeo da estrutura da unidade escolar

Podemos assim verificar nos pressupostos do entrevistado

―A gente recebe o recurso [] que tambeacutem eacute calculado pelo governo

mediante ao nuacutemero de alunos matriculado na escola E aiacute parte desse

dinheiro eacute destinada pra consumo e outra parte pra serviccedilo Consumo inclui

material de expediente como tambeacutem material permanente mobiacutelia

equipamentos E a outra parte [] desse recurso a serviccedilos que isso eacute preacute-

determinado antes pelo conselho escolar que determina como vai ser

aplicado esse recurso (Coordenador)

379

Tambeacutem eacute vaacutelido ressaltar que o PDDE tambeacutem pode atuar como subsiacutedio para a

implementaccedilatildeo de outros programas como o Escola Acessiacutevel e o Mais Educaccedilatildeo contudo

estes uacuteltimos satildeo ausentes no locus da investigaccedilatildeo

43 Programa Nacional Biblioteca Da Escola (PNBE)

O fornecimento de materiais paradidaacuteticos a uma instituiccedilatildeo de ensino eacute

imprescindiacutevel visto que tais recursos servem como alicerce na construccedilatildeo de conhecimentos

dos alunos e no papel de mediaccedilatildeo pedagoacutegica dos docentes

A principal funccedilatildeo do PNBE eacute a distribuiccedilatildeo de obras de literatura e de referecircncia

(enciclopeacutedias e dicionaacuterios) agraves escolas de educaccedilatildeo baacutesica da rede puacuteblica promovendo

acessibilidade a fontes de informaccedilatildeo e excitando a leitura e a criticidade no processo de

formaccedilatildeo docente e discente (De Oliveira Libacircneo e Toschi 2017) Todavia o coordenador

natildeo demonstrou conhecimentos suficientes em relaccedilatildeo ao seu funcionamento na escola mas

informou sobre quais materiais satildeo enviados para a escola em relaccedilatildeo ao PNBE aleacutem do livro

didaacutetico como constatado no seguinte relato

―Natildeo sei [] como [] funciona eu natildeo estou bem interado com ele [] Eu

sei que a biblioteca tem recebido alguns livros [] que anualmente se

recebe livros paradidaacuteticos mapas dicionaacuterios (Coordenador)

44 Programa Nacional Do Livro Didaacutetico Do Ensino Meacutedio (PNLEM)

Este eacute um dos trecircs programas voltados ao livro didaacutetico que satildeo efetuados pelo MEC

em relaccedilatildeo ao Programa Nacional do Livro Didaacutetico (PNLD) e estaacute em funcionamento na

escola de ensino meacutedio onde a pesquisa se concretizou

―No caso do livro didaacutetico natildeo vem recurso natildeo existe recurso Eacute feito a

cada trecircs anos a escolha do livro didaacutetico atraveacutes do PNLDE que eacute feito a

escolha pelos professores e mediante a escolha o Governo Federal vai

mandando esses livros (Coordenador)

De acordo com o contexto supracitado sabe-se que a aquisiccedilatildeo dos livros eacute realizada

exclusivamente pelo FNDE por meio de um termo de adesatildeo firmado pela instituiccedilatildeo

380

beneficiaacuteria do programa Ou seja para a aquisiccedilatildeo do material natildeo se faz necessaacuteria a

transferecircncia de recursos

O Coordenador entrevistado elucida o processo de escolha do livro didaacutetico assim

como um dos problemas do PNLEM em exerciacutecio na escola

―No caso o Governo Federal abre o programa [] as escolas se reuacutenem

passam quais satildeo os livros que eles desejam adotar o Governo Federal

realiza a compra e envia pra escola Os professores por aacuterea sentam

discutem entram num consenso pra que a escola adote um uacutenico livro para

aquela disciplina Para que natildeo haja cada professor com um livro diferente

entatildeo entram em um consenso entre os professores da disciplina e faz a

escolha faz agrave anaacutelise do livro eles recebem os cataacutelogos com alguns

informes sobre o livro

―Agraves vezes acontece de natildeo vir na quantidade suficiente porque como todo

levantamento eacute sempre feito em cima de uma matriacutecula do ano anterior

acaba as matriacuteculas ultrapassando o nuacutemero de livros E acaba que alguns

alunos tecircm dificuldades e tem que conseguir livro emprestado com outras

escolas mas natildeo existe recurso na escola para compra de livro didaacutetico

(Coordenador)

A instituiccedilatildeo oferece para o corpo discente livros consumiacuteveis (sociologia filosofia

inglecircs e espanhol) e livros reutilizaacuteveis (portuguecircs matemaacutetica quiacutemica fiacutesica biologia

histoacuteria e geografia) que possuem um periacuteodo de utilidade de trecircs anos

O Programa Nacional do Livro Didaacutetico em Braille eacute um dos programas voltados ao

livro didaacutetico com enfoque no atendimento de deficientes visuais os materiais satildeo transcritos

para Braille propiciando o acesso da leitura aqueles O entrevistado justifica a natildeo utilizaccedilatildeo

desse programa na instituiccedilatildeo

―Natildeo temos assim livros em Braille e nem temos alunos com essa

necessidade especial tambeacutem aqui na escola ainda (Coordenador)

Entretanto essa conduta deve ser reavaliada pois como afirma o Art 3ordm da Lei de

Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional nordm 939496 o ensino dever ser ministrado com

igualdade de condiccedilotildees de acessibilidade e permanecircncia da escola assim sendo a aquisiccedilatildeo

desses livros em Braille poderiam garantir acessibilidade a alunos cegos

381

45 Programa Caminho Da Escola

Eacute um dos programas ofertados pelo MEC que primam contribuir financeiramente para

a obtenccedilatildeo de veiacuteculos automotores para o transporte diaacuterio de alunos da zona rural e bairros

distantes da instituiccedilatildeo assegurando o acesso e permanecircncia dos alunos na escola

O processo de aquisiccedilatildeo dos ocircnibus segue um processo simples conforme percebemos

nas seguintes declaraccedilotildees

―A gente participa do programa de transporte escolar que eacute ofertado pelo

municiacutepio poreacutem em parceria com o estado Todos os nossos alunos natildeo

pelo menos 90 usam transporte escolar

―O ocircnibus como eacute ofertado pelo o estado pelo programa Caminho da Escola

natildeo eacute uso exclusivo dos nossos alunos usam todos os alunos das escolas da

localidade [] proacutexima [] entatildeo vem [] vaacuterias ―escolas no ocircnibus

―[] Haacute um convecircnio com a prefeitura-estado onde a prefeitura faz a

contrataccedilatildeo e o estado em contrapartida transfere parte do recurso pra

pagamento do transporte (Coordenador)

46 Plano De Accedilotildees Articuladas (PAR)

O PAR refere-se ao planejamento multidimensional e plurianual (quatro

anos) que os municiacutepios os estados e o Distrito federal devem fazer para a

obtenccedilatildeo de apoio teacutecnico e financeiro do MEC [] O PAR eacute coordenado

pela Secretaria MunicipalEstadual de Educaccedilatildeo mas deve ser elaborado

com a participaccedilatildeo de gestores e professores e da comunidade local (De

Oliveira Libacircneo e Toschi 2017 p 402)

A instituiccedilatildeo em questatildeo contempla esse programa que aleacutem das funccedilotildees citadas

anteriormente propicia aos professores e gestores capacitaccedilotildees sobre temaacuteticas importantes

no acircmbito educacional como podemos verificar no seguinte esclarecimento do Coordenador

―A gente teve o PAR que foi um programa do ensino meacutedio e encerrou no

final de dezembro e a gente estaacute aguardando a segunda fase desse projeto

Esse programa oferece capacitaccedilatildeo para os professores

―Nesse primeiro momento foi sobre a gestatildeo democraacutetica nas escolas e foi

tratado vaacuterios temas relacionados a essa questatildeo da democratizaccedilatildeo do

ensino (Coordenador)

382

5 Conclusotildees

Eacute notaacutevel que a instituiccedilatildeo estadual puacuteblica de educaccedilatildeo baacutesica EEM Governador

Adauto Bezerra natildeo possui todos os programas financiados pelo FNDE por conta de sua

estruturaccedilatildeo fiacutesica e organizacional Dentre os programas ausentes na instituiccedilatildeo alvo da

pesquisa destaca-se o Programa Nacional do Livro Didaacutetico para a Alfabetizaccedilatildeo de Jovens e

Adultos (PNLA) cuja ausecircncia reflete na reduccedilatildeo de oportunidades inclusivas o Programa

Nacional de Apoio ao Transporte do escolar (Pnate) o Programa nacional de Reestruturaccedilatildeo e

Aquisiccedilatildeo de Equipamentos para a Rede escolar Puacuteblica de educaccedilatildeo Infantil (Proinfacircncia) e

o Programa Nacional de Sauacutede do escolar (PNSE) aos qual a ausecircncia eacute justificada devido agrave

oferta do ensino meacutedio pela escola o Programa Brasil Profissionalizado e o Programa

Nacional de Formaccedilatildeo Continuada a Distacircncia nas Accedilotildees do FNDE (Formaccedilatildeo pela Escola)

Contudo a escola deteacutem programas necessaacuterios para a melhoria da qualidade do

ensino do processo ensino-aprendizagem do aluno da assistecircncia dos mesmos da

capacitaccedilatildeo dos professores e gestores aleacutem de proporcionar um melhor rendimento escolar

Em breve siacutentese observa-se que os objetivos propostos por cada programa possuem caraacuteter

fundamental no acircmbito educacional poreacutem sempre eacute necessaacuterio reavaliar se ausecircncia dos

programas citados acima prejudicam a qualidade da educaccedilatildeo e em caso positivo dirigir-se

aos oacutergatildeos competentes para a implementaccedilatildeo dos mesmos eacute a atitude mais sensata a se

concretizar

A anaacutelise do funcionamento de tais programas eacute indispensaacutevel para todos os futuros

educadores e cidadatildeos pois assim podemos a familiarizaccedilatildeo tanto com a legislaccedilatildeo proposta

para a contribuiccedilatildeo social do salaacuterio-educaccedilatildeo (SE) de onde eacute retirado os recursos a serem

investidos nesses programas quanto aos objetivos perspectivas e avaliaccedilotildees dos mesmos satildeo

elucidadas Assim sendo podemos diagnosticar as falhas nos desenvolvimento daqueles na

instituiccedilatildeo bem como avaliar qualitativamente os sucessos alcanccedilados e promover melhorias

caso haja deficiecircncias em relaccedilatildeo aos objetivos pretendidos

Basta-nos reconhecer portanto que o desenvolvimento dos programas na aludida

instituiccedilatildeo contribuem para o desenvolvimento da educaccedilatildeo no paiacutes cumprindo com o

principal objetivo para qual o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo foi

instaurado mesmo em meio a certas insatisfaccedilotildees Corroborando tambeacutem para uma melhoria

383

no processo educacional do corpo discente nos projetos educacionais do corpo docente e do

nuacutecleo administrativo da escola e tambeacutem indiretamente agrave comunidade

6 Referecircncias

BELIK W CHAIM N A O programa nacional de alimentaccedilatildeo escolar e a gestatildeo municipal

eficiecircncia administrativa controle social e desenvolvimento local Revista de Nutriccedilatildeo

Campinas v 5 n 22 p 595-607 setout 2009

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DOURADO L F Poliacuteticas e gestatildeo da educaccedilatildeo baacutesica no Brasil limites e perspectivas

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a nova agenda social Rio de Janeiro LTC p 215-253 2011

384

APEcircNDICE ndash QUESTIONAacuteRIO

1- A escola proporciona a modalidade EJA

2- Como funciona na instituiccedilatildeo

3- Qual o valor repassado por aluno por dia letivo

4- Qual a exigecircncia para a liberaccedilatildeo dos recursos do PNAE

5- Em que os recursos disponibilizados pelo PDDE satildeo utilizados

6- Qual o objetivo desse programa

7- Como a instituiccedilatildeo recebe o dinheiro

8- A instituiccedilatildeo dispotildee de programas contemplados pelo Programa Dinheiro Direto na

Escola como o Escola Aberta o Escola Acessiacutevel e o Mais Educaccedilatildeo Como

funcionam

9- Qual o objetivo do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) na instituiccedilatildeo

10- Que tipo de acervo de obras adveacutem desse programa

11- Haacute trecircs programas voltados ao livro didaacutetico que satildeo executados pelo MEC o

Programa Nacional do Livro Didaacutetico (PNLD) o Programa Nacional do Livro

Didaacutetico para o Ensino Meacutedio (PNLEM) e o Programa Nacional do Livro Didaacutetico

para a Alfabetizaccedilatildeo de Jovens e Adultos (PNLA) A instituiccedilatildeo contempla algum

destes Qual (is) Como funciona (m)

12- Como eacute feita a aquisiccedilatildeo dos livros

13- Quais os livros reutilizaacuteveis e os consumiacuteveis

14- A instituiccedilatildeo apresenta o Programa Nacional do Livro Didaacutetico em Braille

15- A escola possui o Programa Caminho da Escola Como funciona Qual o puacuteblico

principal atendido Quais outras entidades estatildeo relacionadas a esse programa

385

16- A escola possui o Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar (Pnate)

Como se desenvolve Qual o puacuteblico-alvo

17- A escola dispotildee do Programa Brasil Profissionalizado Como funciona Em que os

recursos satildeo utilizados

18- A instituiccedilatildeo dispotildee do Programa Nacional de Formaccedilatildeo Continuada a Distacircncia nas

Accedilotildees do FNDE (Formaccedilatildeo pela Escola) O que ele prioriza

19- A instituiccedilatildeo dispotildee do Programa Nacional de Sauacutede Escolar (PNSE) Em que ele

consiste

20- Como eacute realizado o Plano de Accedilotildees Articuladas (PAR) Qual eacute o objetivo Por quem

eacute coordenado

21- A escola possui alguma outro programa financiado pelo FNDE aleacutem destes Quais

Como funcionam

386

PERFIL DA MULHER NO SETOR INDUSTRIAL FORMAL CEARENSE - 2016

JOANA PRISCILA BARBOSA DA SILVA (Graduanda em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri ndash URCA e

pesquisadora do Grupo de Estudos em Territorialidades Econocircmicas e Desenvolvimento

Regional e Urbano - GETEDRU joannasiilva24gmailcom)

NATANAEL PESSOA LUSTOZA

(Graduado em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri ndash URCA e

pesquisador do Grupo de Estudos em Territorialidades Econocircmicas e Desenvolvimento

Regional e Urbano - GETEDRU natanaelpessoa1995gmailcom)

ALAYANNA DARLLY ARAUO DOS SANTOS

(Graduanda em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri ndash URCA

alayannadarlly24gmailcom)

CARLOS EDUARDO PEREIRA DO NASCIMENTO

(Graduando em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri ndash URCA e

pesquisador do Grupo de Estudos em Territorialidades Econocircmicas e Desenvolvimento

Regional e Urbano ndash GETEDRU eduardocarlos2807gmailcom)

387

PERFIL DA MULHER NO SETOR INDUSTRIAL FORMAL CEARENSE - 2016

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo analisar o perfil sociodemograacutefico e socioeconocircmico da

mulher no setor industrial formal cearense em 2016 Para tanto foram utilizados dados da

Relaccedilatildeo Anual de Informaccedilotildees Sociais (RAIS) do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (MTE) Em

termos teoacutericos foi feita uma breve descriccedilatildeo sobre a inserccedilatildeo da mulher no mercado de trabalho

e sobre o processo de industrializaccedilatildeo cearense Quanto ao perfil das empregadas na induacutestria

formal cearense os dados revelam que estas estatildeo em menor nuacutemero que os trabalhadores do sexo

masculino estatildeo expressivamente concentradas no setor da induacutestria tecircxtil de calccedilados e de

alimentos e bebidas tecircm entre 30 a 39 anos (idade considerada ativa) possuem ensino meacutedio

completo permanecem por um ano a menos de trecircs anos no mesmo emprego e auferem de 1 a 2

salaacuterios miacutenimos Assim eacute possiacutevel verificar que existe uma alta rotatividade da matildeo de obra

feminina neste setor e que mesmo com a melhoria ocorrida na educaccedilatildeo nos uacuteltimos anos os

salaacuterios permanecem baixos em grande parte devido ao tipo de induacutestria que se instalou no Cearaacute

que exige baixa qualificaccedilatildeo facilitando o processo de contrataccedilatildeo e demissatildeo demonstrando

portanto que satildeo necessaacuterios muitos avanccedilos

Palavras-chaves Mulheres Induacutestria Cearense Mercado de Trabalho Formal

ABSTRACT

The objective of this article is to analyze the socio-demographic and socioeconomic profile of

women in the formal industrial sector of Cearaacute in 2016Therefore were used data from the

Annual Social Information (ASI) of the Ministry of Labour and Employment (MLE) In

theoretical terms a brief description was made on the insertion of women in the labor Market

and on the process of industrialization in Cearaacute Regarding the profile of female employees in

the formal industry of Cearaacute the data show that they are in less number than the male

workers are concentrated in the textile footwear and food and drinks industry are between

30 and 39 years of age (considered to be active) have completed high school stay for one

year to less than three years in the same job and earn 1 to 2 minimum salaries Thus it is

possible to verify that there is a high turnover of female labor in this sector and that even with

the improvement in education in recent years the wages remain low in large part due to the

type of industry that settled in Cearaacute which requires low qualification facilitating the

process of hiring and dismissal demonstrating therefore that many advances are needed

Keywords WomenIndustry in Cearaacute Formal Labor Markek

388

1 Introduccedilatildeo

As transformaccedilotildees econocircmicas sociais culturais e poliacuteticas pela qual vecircm passando a

sociedade ao longo dos uacuteltimos anos tem ditado agraves novas configuraccedilotildees no espaccedilo social A

busca pela igualdade norteada pela ascensatildeo da participaccedilatildeo da mulher nas decisotildees sociais e

na conquista do movimento feminista tem configurado nova realidade para as mulheres no

seacuteculo XXI Atraveacutes de sua inserccedilatildeo no mercado de trabalho especialmente em cargos de

maior projeccedilatildeo social orientam a jornada da mulher na busca e na consolidaccedilatildeo do seu papel

quanto agente de transformaccedilatildeo poliacutetica e social (SILVA FILHO QUEIROZ

CLEMENTINO 2016)

O Brasil passa por inuacutemeras mudanccedilas social econocircmica e demograacutefica que

constituem de modo direto sobre a forccedila de trabalho Com a industrializaccedilatildeo permanente

renova seus meios produtivos e fica cada vez mais urbano Profundas modificaccedilotildees

confortado pelos processos feministas tambeacutem decorreram nesse mesmo tempo no papel da

mulher na sociedade e nos padrotildees de comportamento facilitando a entrada da mulher no

mercado de trabalho e estabelecendo com que mais mulheres atuassem na vida puacuteblica A

diminuiccedilatildeo do nuacutemero de filhos por mulheres nos locais mais apresentados do paiacutes o

crescimento do niacutevel de escolaridade e o penetrar a mias de mulheres a universidade

colaboraram para esse crescimento (QUERINO DOMINGUES LUZ 2013)

De acordo com Arrais Queiroz e Alves (2008) movidas por questotildees esconomicas e

sociais como complementaccedilatildeo da renda independecircncia financeira aumento da

escolaridade criaccedilatildeo de empregos combinantes a aptidotildees femininas mudanccedilas do papel da

mulher na sociedade utilizaccedilatildeo de meacutetodos contraceptivos ou por assumirem em diversos

casos o papel de chefe da famiacutelia contata-se expansatildeo ainda que de forma lenta da

participaccedilatildeo das mulheres na induacutestria formal seguindo uma tendecircncia nacional e mundial

Assim esse trabalho justifica-se por ampliar o conhecimento a respeito da inserccedilatildeo

feminina no mercado formal de trabalho industrial cearense Para tanto este estudo tem

como objetivo geral verificar a participaccedilatildeo feminina no setor industrial cearense no ano de

2016 Portanto traccedila-se o perfil sociodemograacutefico e socioeconocircmico das trabalhadoras em

tal setor

Para alcanccedilar o objetivo proposto o artigo encontra-se estruturado da seguinte

forma aleacutem dessa introduccedilatildeo a segunda parte faz uma breve contextualizaccedilatildeo da inserccedilatildeo

389

das mulheres no mercado de trabalho A terceira descreve a evoluccedilatildeo histoacuterica da induacutestria

no Cearaacute A quarta apresenta os procedimentos metodoloacutegicos A quinta seccedilatildeo analisa a

participaccedilatildeo da mulher no mercado de trabalho industrial cearense Por uacuteltimo apresentam-

se as consideraccedilotildees finais do estudo

2 A mulher no mercado de trabalho

A participaccedilatildeo da mulher no mercado de trabalho iniciou-se de fato com as I e II

Guerras Mundiais quando os homens se ausentavam para as frentes de batalha e as mulheres

passavam a tomar os negoacutecios da famiacutelia e o cargo dos homens no mercado de trabalho Mas

a guerra teve fim e com ela a vida de diversos homens que lutaram pelo paiacutes Alguns dos que

sobreviveram a batalha foram mutilados e se tornaram inaptos de voltar ao trabalho

(PROBST 2015)

Com as Guerras mundiais (I e II) as mulheres tomaram os negoacutecios da famiacutelia e um

lugar de trabalho no mercado Junto a evoluccedilatildeo industrial diversas mulheres saiacuteram para

trabalhar em faacutebricas se sobrelevando assim da lei mas a exploraccedilatildeo seguiu por muito

tempo De acordo com o Artigo 13 inciso I da Constituiccedilatildeo Federal ―todos satildeo iguais perante

a lei contudo as mulheres estatildeo tentando pocircr em praacutetica essa lei (BAYLAtildeO SCHETTINO

2014)

De acordo com os autores a introduccedilatildeo da mulher no mercado de trabalho aconteceu

junto agrave necessidade de sua parcela nos serviccedilos que estavam junto ao ganho financeiro da

famiacutelia com o princiacutepio na Revoluccedilatildeo Industrial absorvendo de forma significativa a matildeo de

obra feminina pelas induacutestrias com a finalidade de baratear os salaacuterios e tambeacutem pela maior

facilidade de disciplinar esse novo grupo de operaacuterias onde trazendo decisivamente a mulher

na produccedilatildeo ―A inserccedilatildeo da mulher no mercado foi marcada por um periacuteodo de preconceitos

e dificuldades (ASSIS 2009 p 2)

O desempenho feminino na populaccedilatildeo economicamente ativa tem ampliado em quase

todos os paiacuteses do mundo desde a deacutecada de 70 De acordo com dados das naccedilotildees unidas

cerca de 45 das mulheres do mundo entre 15 e 64 anos de idades encontram-se

economicamente ativas A taxa de atuaccedilatildeo feminina cresceu tanto nos periacuteodos de recessatildeo

quanto nos de prosperidade ao tempo em que a participaccedilatildeo masculina tem reduzido

(GARCIA CONFORTO 2010)

390

Ao falar sobre a participaccedilatildeo da mulher no mercado de trabalho brasileiro Hoffmann e

Leone (2004) ressaltam a partir da deacutecada de 1970 otimizou-se a participaccedilatildeo das mulheres

na movimentaccedilatildeo econocircmica em uma conjuntura de ampliaccedilatildeo da economia com veloz

processo de industrializaccedilatildeo e urbanizaccedilatildeo Prolongou na deacutecada de 1980 apesar da

paralizaccedilatildeo da atividade econocircmica e da deterioraccedilatildeo das oportunidades de ocupaccedilatildeo Nos

anos 1990 deacutecada determinada pela acentuada abertura econocircmica pelos baixos

investimentos e pela terceirizaccedilatildeo da economia estendeu a habilidade de crescente

incorporaccedilatildeo da mulher na forccedila de trabalho Todavia incrementa-se nessa uacuteltima deacutecada o

desemprego feminino apresentando que o crescimento de postos de trabalho para mulheres

natildeo foi bastante para absorver o montante do crescimento da Populaccedilatildeo Economicamente

Ativa (PEA) feminina

Ao acontecer a Revoluccedilatildeo Industrial ocorreu a exploraccedilatildeo de matildeo-de-obra sendo o

tempo ponderado natildeo pelos artesatildeos mas pelos donos da induacutestria Os trabalhos das crianccedilas

e das mulheres foram de grande importacircncia para as faacutebricas visto que diminuiacutea os esforccedilos

realizados como tambeacutem os custos com os salaacuterios As mulheres apresentam serem

completamente exploradas nas faacutebricas possuindo exceccedilatildeo nas horas de trabalho salaacuterios

muito baixos entre outros (BAYLAtildeO SCHETTINO 2014)

3 Induacutestria no Cearaacute

O Cearaacute bem como o Brasil auferiu uma industrializaccedilatildeo tardia sobretudo pelo

aspecto agroexportador que o paiacutes teve nos seacuteculos XVI XVII XVIII e XIX

Concomitantemente ao processo de industrializaccedilatildeo da Inglaterra o estado do Cearaacute

apresentava-se em um espaccedilo aberto agrave pecuaacuteria De fato esta atividade foi de suma

importacircncia no povoamento do estado Para Pompeu Sobrinho (1917) a pecuaacuteria extensiva

caracterizava-se como uma atividade preacute-industrial isto eacute foi o criatoacuterio extensivo que

possibilitou efetivamente a colonizaccedilatildeo do Cearaacute Ateacute entatildeo a capital Fortaleza era um mero

espaccedilo pautado no marasmo econocircmico Diferente de Aracati e Icoacute centros de distribuiccedilatildeo e

processo de preparo do gado para exportaccedilatildeo A economia cearense povoada inicialmente em

1603 tornou-se um espaccedilo para economias secundaacuterias (agricultura de subsistecircncia e

pecuaacuteria) a principal (accediluacutecar) (FIEC 2010)

Com a primeira Revoluccedilatildeo Industrial iniciada no final do seacuteculo XVIII favoreceu a

economia cearense e maranhense Este segmento industrial demandava de forma crescente

391

suas mateacuterias-primas O algodatildeo passou a ser o produto primaacuterio mais valorizado Com a

guerra de secessatildeo dos Estados Unidos e sua saiacuteda do mercado algodoeiro o Cearaacute e o

Maranhatildeo despontam neste mercado Aquele se destaca e torna-se um grande produtor de

algodatildeo o que favorece a incipiente ascensatildeo de Fortaleza que despontaraacute como centro

econocircmico do estado Essa praacutetica pocircde ser fomentada mediante algumas condiccedilotildees

favoraacuteveis A primeira delas eacute o fator locacional haja vista a regiatildeo semiaacuterida possuir solo

adequado para atividade algodoeira a segunda pode ser considerada pelo grande mercado

consumidor (grandes naccedilotildees como a Inglaterra) e a inserccedilatildeo cearense no comeacutercio

internacional e a grande oferta de matildeo-de-obra que o Cearaacute possuiacutea (FIEC 2010 SOUZA

1994)

Segundo Giratildeo (2000 p213) ―foi a comeccedilar de 1777 que no Cearaacute se cogitou do

algodatildeo como elemento comerciaacutevel e natildeo simplesmente mateacuteria prima de rudimentar

induacutestria caseira na feitura de fios panos grosseiros e redes de dormir A induacutestria cearense

destarte nascia de forma incipiente a partir da distribuiccedilatildeo dos produtos colocados na pauta

de exportaccedilatildeo do estado escoados para o mercado internacional a partir de Fortaleza

iniciando sua crescente fase de concentraccedilatildeo econocircmica e consolidaccedilatildeo como capital do

Cearaacute

A partir disso Amora (2005) elenca trecircs periacuteodos da implantaccedilatildeo da induacutestria no

Cearaacute

No Cearaacute em geral identificam-se trecircs periacuteodos de implantaccedilatildeo industrial que

correspondem a momentos distintos da divisatildeo internacional e nacional do trabalho

o primeiro inicia-se no final do seacuteculo XIX e estende-se ateacute os anos de 1950 o

segundo compreende os anos de 1960 ateacute meados da deacutecada de 1980 quando

comeccedila um terceiro periacuteodo ainda em curso (AMORA 2005 p 371)

O periacuteodo coronelista teve significativa colaboraccedilatildeo para o quadro espacial e

organizacional do estado pois este momento cria as bases de transiccedilatildeo do segundo para o

terceiro periacuteodo Todavia o uacuteltimo periacuteodo citado por Amora (2005) eacute o de maior relevacircncia

―devido agraves accedilotildees modernizadoras e impacto no territoacuterio agraves ideias neoliberais e importacircncia

para a dinamizaccedilatildeo da Regiatildeo Metropolitana de Fortaleza (RMF) (ARAUJO 2007 p 100)

reconhecido como o Governo de Mudanccedilas

Taxado de anacrocircnico o modelo poliacutetico do coronelismo eacute substituiacutedo em 1986 pelo

entatildeo Governador Tasso Jereissati com o objetivo de inserir o estado no modelo de

mundializaccedilatildeo da produccedilatildeo atuando mediante praacuteticas neoliberais (ARAUJO 2007)

392

A partir daiacute tem-se um maior aporte de investimentos de outros estados e do exterior

pelo caraacuteter de atraccedilatildeo de investimentos e pelo discurso de emprego e geraccedilatildeo de renda

Pereira Juacutenior (2005 p 53) chama atenccedilatildeo para isso quando diz que a partir da Era

Jereissatilsquo ―a industrializaccedilatildeo eacute abertamente um dos maiores interesses dos programas

econocircmicos adotados pelo Cearaacute

As poliacuteticas de industrializaccedilatildeo cearense foram importantes no que tange a

configuraccedilatildeo espacial do estado Refletem no significativo aumento da populaccedilatildeo urbana ao

estimular o ecircxodo rural o agronegoacutecio e a modificaccedilatildeo das relaccedilotildees de trabalho Essa

transformaccedilatildeo econocircmico-urbana promovida pelo Governo Mudancista modificou as bases

anacrocircnicas do coronelismo para um de modelo de atraccedilatildeo de investimentos pautado em

incentivos e uma miriacuteade de matildeo-de-obra disponiacutevel Elias e Sampaio (2002 p 11) colocam

que

O Estado do Cearaacute assume novo papel na divisatildeo social e territorial do trabalho no

Brasil e deve ser considerado como uma fraccedilatildeo do espaccedilo total do planeta cada vez

mais aberto agraves influecircncias exoacutegenas e aos novos signos contemporacircneos Como

objeto e sujeito da economia globalizada eacute um espaccedilo que pouco possui de

autocircnomo pois natildeo existe por si mesmo de forma independente do resto do mundo

com o qual interage permanentemente no processo de acumulaccedilatildeo de capital No

entanto nos uacuteltimos quinze anos eacute visiacutevel sua reestruturaccedilatildeo econocircmica com

objetivos claros de inserir-se no circuito da produccedilatildeo e consumos globalizados

Atualmente o Cearaacute eacute um dos grandes centros econocircmicos do Nordeste (ao lado de

Pernambuco e Bahia) e no cenaacuterio nacional ndash ateacute no internacional como ponto de escoamento

para o comeacutercio exterior

Todavia cabe salientar que a industrializaccedilatildeo promovida no estado evidencia que as

verdadeiras justificativas

[] que induzem ao processo de acumulaccedilatildeo de capital assim como as decisotildees

sobre o ambiente ideal de alocaccedilatildeo dos investimentos muitas vezes escondem-se

sob formulaccedilotildees poliacuteticas sendo estas apresentadas como objetivos sociais a fim de

obter efeitos em niacutevel ideoloacutegico A concepccedilatildeo que enfatiza o papel dos governos e

das forccedilas que movimentam as relaccedilotildees sociais de produccedilatildeo nesse caso esclarece

muito melhor o processo (PEREIRA JUacuteNIOR 2011 p 217)

4 Procedimentos metodoloacutegicos

A principal fonte de informaccedilotildees utilizada nesse estudo eacute a Relaccedilatildeo Anual de

Informaccedilotildees Sociais (RAIS) do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (MTE) De acordo com

Silva et al (2017) essa base de dados eacute uma pesquisa anual e abrange cerca de 97 do

393

mercado de trabalho formal brasileiro A mesma tem por objetivo atender as necessidades de

estatiacutesticas de controle e informaccedilotildees aos investigadores e entidades governamentais sobre os

exerciacutecios trabalhistas formais no paiacutes

Para este estudo a aacuterea de investigaccedilatildeo corresponde ao estado do Cearaacute Por sua vez o

ano em estudo eacute 2016 e o intuito eacute analisar a participaccedilatildeo feminina no setor industrial

Os conceitos adotados nesse estudo seguem as definiccedilotildees que constam na

documentaccedilatildeo da RAIS (2016 p 25-41)

Trabalhadores formais qualquer empregado contratado que exerccedila viacutenculo

empregatiacutecio e relaccedilatildeo de emprego com trabalho remunerado e carteira assinada sob o regime

da Consolidaccedilatildeo das Leis do Trabalho (CLT) Consiste em trabalho fornecido por

empregadores pessoa fiacutesica ou juriacutedica por prazo determinado indeterminado ou a tiacutetulo de

experiecircncia que confira ao empregado sob qualquer ocupaccedilatildeo trabalhista todos os direitos

previstos em Lei

Remuneraccedilotildees mensais pagas ou natildeo importa a competecircncia mensal a que o

empregado tem o direito de recebecirc-las independentemente do momento em que o empregador

tenha repassado ao empregado tais valores

41 Variaacuteveis

Setor de Atividade Induacutestria

Sexo Masculino e Feminino

Setores da Induacutestria de Transformaccedilatildeo Extrativa mineral Prod Mineral natildeo metaacutelico

Induacutestria metaluacutergica Induacutestria mecacircnica Eleacutetrico e comunicaccedilotildees Mateacuteria e transportes

Madeira e mobiliaacuterio Papel e graacutefica Borracha Fumo e Couros Induacutestria quiacutemica Induacutestria

tecircxtil Induacutestria de calccedilados Alimentos e bebidas Serviccedilos de utilidade puacuteblica

Faixa Etaacuteria De 15 agrave 17 anos de 18 agrave 24 anos de 25 agrave 29 anos de 30 agrave 39 anos de 40

agrave 49 anos de 50 agrave 64 anos 65 anos ou mais e ignorado

Niacutevel de Instruccedilatildeo Sem Instruccedilatildeo Ateacute 5ordf Incompleto 5ordf Completo Fundamental 6ordf a

9ordf Fundamental Fundamental Completo Meacutedio Incompleto Meacutedio Completo Superior

Incompleto Superior Completo Mestrado e Doutorado

Tempo de Emprego Menos de 1 ano 1 a menos de 3 anos 3 a menos de 5 anos 5 ou

mais anos e ignorado

394

Rendimento em Salaacuterio Miacutenimo Ateacute 1 salaacuterio 1 a 2 salaacuterios miacutenimos 2 a 4 salaacuterios

miacutenimos 4 a 7 salaacuterios miacutenimos 7 a 10 salaacuterios miacutenimos 10 a 15 salaacuterios miacutenimos 15 a 20

salaacuterios miacutenimos mais de 20 salaacuterios miacutenimos e ignorado

Posteriormente a extraccedilatildeo das variaacuteveis acima citadas por meio do banco de dados on-

line da RAISMTE as resoluccedilotildees coletadas e tabuladas foram apresentadas em tabelas com as

suas respectivas anaacutelises

5 Perfil da mulher no setor industrial formal cearense

Essa seccedilatildeo analisa as o perfil sociodemograacutefico e socioeconocircmico das mulheres

inseridas na atividade industrial durante o ano de 2016 Assim seraacute analisado o perfil da

trabalhadora empregada na industrial formal cearense no que se refere ao setor de atividade

sexo setores da induacutestria de transformaccedilatildeo faixa etaacuteria niacutevel de instruccedilatildeo tempo de emprego

e rendimento

De acordo com os dados da Tabela 1 o setor de serviccedilos eacute responsaacutevel pelo maior

nuacutemero de trabalhadores formais no Cearaacute representando aproximadamente 60 do total em

seguida estatildeo os setores do comeacutercio e induacutestria que satildeo responsaacuteveis por 1808 e 1691

dos trabalhadores formais do Estado respectivamente

Tabela 1 ndash Trabalhadores por setor de atividade no Cearaacute - 2016

Setor de Atividade Abs

Induacutestria 244056 1691

Construccedilatildeo Civil 61516 426

Comeacutercio 260979 1808

Serviccedilos 853499 5913

Agropecuaacuteria 23315 162

Total 1443365 10000 Fonte Elaboraccedilatildeo dos autores a partir de RAIS (2018)

No tocante agrave anaacutelise do perfil do trabalhador observa-se na Tabela 2 que no ano em

estudo haacute predominacircncia do gecircnero masculino empregado na induacutestria O nuacutemero de

empregos masculinos na induacutestria em termos percentuais eacute de 6408 jaacute a participaccedilatildeo das

mulheres empregadas representam 3592 das vagas na induacutestria

Tabela 2- Trabalhadores na induacutestria formal cearense segundo o sexo ndash 2016

Sexo Abs

Masculino 156380 6408

395

Feminino 87676 3592

Total 244056 10000 Fonte Elaboraccedilatildeo dos autores a partir de RAIS (2018)

Quanto ao nuacutemero de empregos na induacutestria de transformaccedilatildeo os dados na Tabela 3

revelam que a induacutestria tecircxtil eacute a que mais emprega mulheres (3826) De acordo com

Toitio (2008) isso estaacute relacionado com a simplificaccedilatildeo do trabalho nos mais variados

segmentos da induacutestria tecircxtil principalmente nos setores que apresentam atividades mais

desagregadas como no tear que demanda maior sensibilidade dos cuidados e habilidades

feminina Em seguida estatildeo as induacutestria de calccedilados (274) e induacutestria de alimentos e

bebidas (1776)

Tabela 3 ndash Nuacutemero de trabalhadoras formais segundo setores da induacutestria de transformaccedilatildeo

- Cearaacute- 2016

Setor de atividade Abs Extrativa Mineral 276 031 Prod Mineral Natildeo Metaacutelico

1123 128

Induacutestria Metaluacutergica 1581 180

Induacutestria Mecacircnica 1454 166

Eleacutetrico e Comunicaccedilotildees 507 058

Material de Transporte 361 041

Madeira e Mobiliaacuterio 952 109

Papel e Graacutefica 2240 255

Borracha Fumo Couros 1714 195

Induacutestria Quiacutemica 2870 327

Induacutestria Tecircxtil 33547 3826

Induacutestria Calccedilados 24019 2740

Alimentos e Bebidas 15575 1776

Serviccedilo Utilidade Puacuteblica 1457 166

Total 87676 10000

Fonte Elaboraccedilatildeo dos autores a partir de RAIS (2018)

Por sua vez os setores de induacutestria extrativa mineral (031) material de transportes

(041) e eleacutetrico e comunicaccedilotildees (058) satildeo os setore que apresentam o menor nuacutemero de

trabalhadoras da induacutestria de transformaccedilatildeo Em nuacutemeros absolutos estes trecircs setores

agregam apenas 1144 mulheres

No tocante a idade das ocupadas de acordo com os dados da Tabela 4 a faixa etaacuteria

que mais se encontra empregada situa-se entre 30 e 39 anos (idade ativa) em termos

396

percentuais representam 357 das trabalhadoras Outra faixa etaacuteria que chama atenccedilatildeo eacute a de

25 agrave 29 anos (1962)

Tabela 4 ndash Trabalhadoras na induacutestria formal cearense segundo a faixa etaacuteria ndash 2016

Faixa etaacuteria Abs 15 agrave 17 197 022

18 agrave 24 15865 1810

25 agrave 29 17202 1962

30 agrave 39 31297 3570

40 agrave 49 16282 1857

50 agrave 64 6660 760

65 ou mais 173 020

Total 87676 10000 Fonte Elaboraccedilatildeo dos autores a partir de RAIS (2018)

Quanto a faixa etaacuteria mais jovem (15 agrave 17 anos) os quais apresentam uma

insignificante presenccedila no referido segmento (022) eacute justificada pelo aumento dos

incentivos por parte do Governo para que crianccedilas e jovens permaneccedilam estudando (SILVA

FILHO 2008) Outro fator importante decorre da falta de poliacuteticas puacuteblicas de incentivo ao

1ordm emprego e de poliacuteticas industriais a partir do recrutamento de matildeo de obra jovem (sem

experiecircncia) (SILVA FILHO QUEIROZ 2010)

Por sua vez quanto aos que possuem 65 anos ou mais tambeacutem constata-se baixa

participaccedilatildeo absoluta com apenas 173 trabalhadoras (020) A explicaccedilatildeo para o baixo

volume de pessoas nessa idade segundo Arrais (2007) eacute devido agrave falta de demanda por

trabalhadores nessa faixa etaacuteria e tambeacutem pelo fato da maioria jaacute estarem aposentados

Considerando o niacutevel de instruccedilatildeo das trabalhadoras (Tabela 5) uma quantidade

expressiva possuiacute ensino meacutedio completo representando 5848 das trabalhadoras inseridas

na induacutestria As explicaccedilotildees mais plausiacuteveis estatildeo no incentivo agrave permanecircncia dos

trabalhadores na escola e tambeacutem nos programas do Governo Federal para o combate ao

analfabetismo dentre os quais se destacam o Programa Brasil Alfabetizado e o Programa

Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos ndash EJA (SILVA FILHO QUEIROZ 2010) E apenas uma

quantidade inexpressiva estaacute classificada como analfabeta (019) o que corrobora com a

informaccedilatildeo anterior

397

Tabela 5 ndash Trabalhadoras na induacutestria formal cearense segundo o niacutevel de instruccedilatildeo - 2016

Escolaridade Abs Analfabeto 169 019

Ateacute 5ordf Incompleto 2326 265

5ordf Completo Fundamental

1602 183

6ordf a 9ordf Fundamental 5499 627

Fundamental Completo 9869 1126 Meacutedio Incompleto 8211 937

Meacutedio Completo 51270 5848

Superior Incompleto 2724 311 Superior Completo 5902 673

Mestrado 93 011

Doutorado 11 001

Total 87676 10000 Fonte Elaboraccedilatildeo dos autores a partir de RAIS (2018)

No entanto no que concerne aos niacuteveis de instruccedilatildeo mais elevados (mestrado e

doutorado) a induacutestria apresenta pequena quantidade de trabalhadoras com tal perfil Em

nuacutemeros absolutos satildeo apenas 104 mulheres que representam 012 do total Para Silva

Filho e Queiroz (2010) mesmo com a melhoria do niacutevel de instruccedilatildeo do trabalhador

cearense fica evidente o baixo niacutevel de escolaridade da matildeo de obra empregada na induacutestria

formal cearense uma vez que as induacutestrias que se deslocaram para o Cearaacute natildeo demandam

trabalhadores qualificados

Considerando o tempo de permanecircncia no segmento da induacutestria formal (Tabela 6) no

ano em anaacutelise 2317 das mulheres passaram menos de um ano na empresa E 2904

passaram entre 1 a menos de 3 anos na mesma empresa Apenas 1097 passaram mais de

10 anos na mesma empresa

De acordo com Bartar e Proni (1996 p119)

No Brasil [] eacute elevada a frequumlecircncia com que muitas pessoas estatildeo

permanentemente trocando de emprego As empresas dispotildeem de um nuacutecleo

relativamente pequeno de empregados estaacuteveis e contratam os demais apenas a

medida que o niacutevel de atividade justifica dispensando parte do pessoal quando as

vendas diminuem Elas tecircm portanto uma enorme flexibilidade para ajustar a

magnitude de funcionaacuterios a ritmo de produccedilatildeo eou vendas de produtos

398

Tabela 6 ndash Trabalhadoras na induacutestria formal cearense segundo o tempo de emprego - 2016

Tempo de serviccedilo Abs

Menos de 1 anos 20313 2317

1 ano a menos de3 anos 25459 2904

3 anos a menos de 5 anos 15956 1820

5 anos a menos de 10 anos 16485 1880

10 anos ou mais 9460 1079

ntilde class 3 000

Total 87676 10000 Fonte Elaboraccedilatildeo dos autores a partir de RAIS (2018)

Ademais para Silva Filho e Queiroz (2010) a alta rotatividade da matildeo de obra na induacutestria

cearense eacute corroborada pelo fato de que a induacutestria eacute intensiva em matildeo de obra e facilmente

substituiacutevel em virtude da baixa qualificaccedilatildeo necessaacuteriaexigida de tais profissionais

facilitando-se assim a contrataccedilatildeo e demissatildeo

No tocante ao rendimento constata-se na Tabela 7 concentraccedilatildeo de mulheres ganhando de

1 a 2 salaacuterios miacutenimos Em termos percentuais 7840 das mulheres ganhavam a referida

faixa de salaacuterio ―Isso se justifica em funccedilatildeo de as empresas atraiacutedas para o Cearaacute atraveacutes das

poliacuteticas de incentivos fiscais serem intensivas em matildeo de obra (SILVA FILHO

QUEIROZ 2010)

Tabela 7 ndash Trabalhadoras na induacutestria formal cearense segundo o rendimento em salaacuterio

miacutenimo ndash 2016

Faixa Meacutedia de Remuneraccedilatildeo Abs

Ateacute 100 8874 1012

101 agrave 200 68739 7840

201 agrave 400 5264 600

401 agrave 700 1922 219

701 agrave 1000 702 080

1001 agrave 1500 374 043

1501 agrave 2000 125 014

Mais de 2000 105 012

ntilde class 1571 179 Fonte Elaboraccedilatildeo dos autores a partir de RAIS (2018)

Quanto agrave faixa de ateacute um salaacuterio esta eacute a segunda em termos de concentraccedilatildeo e representa

1012 da matildeo de obra feminina Esse resultado mostra que mesmo com todos os avanccedilos os

trabalhadores ainda auferem uma remuneraccedilatildeo baixa o que evidencia uma falta de

reconhecimento e desestiacutemulo do trabalho Aleacutem de aumentar a desestruturaccedilatildeo dos mercados

399

de trabalho regionais e incentivar o avanccedilo das disparidades salariais e regionais (DIEESE

2006)

Em contrapartida observa-se para os que ganhavam mais de 7 salaacuterios miacutenimos os

nuacutemero absolutos satildeo bem inexpressivos apenas 1306 trabalhadoras se enquadram nesse

perfil Para Baltar e Proni (1996) a acumulaccedilatildeo de experiecircncias de trabalho (tempo de serviccedilo

na empresa) e o grau de instruccedilatildeo dos trabalhadores satildeo fatores que podem determinar a

elevaccedilatildeo salarial Nesse caso a rotatividade da matildeo de obra (Tabela 6) e a grande quantidade

de trabalhadores com baixo grau de instruccedilatildeo (Tabela 5) podem justificar em parte os baixos

niacuteveis salariais pagos na Induacutestria

6 Consideraccedilotildees finais

Este artigo teve como objetivo principal analisar a recente participaccedilatildeo feminina na

induacutestria formal cearense Para tanto traccedila-se o perfil sociodemograacutefico e socioeconocircmico

das trabalhadoras procurando verificar sua inserccedilatildeo em tal atividade

Com relaccedilatildeo ao comportamento do mercado de trabalho cearense em niacuteveis setoriais

nota-se a tendecircncia da predominacircncia dos segmentos comerciais e de serviccedilos seguida pela

induacutestria construccedilatildeo civil e agropecuaacuteria Como destacam Silva et al (2017) eacute importante

ressaltar o expressivo aumento no setor da construccedilatildeo civil natildeo obstante decorrente dos

investimentos em obras da Copa do Mundo habitaccedilatildeo popular (Minha Casa Minha Vida) e

infraestrutura (hospitais regionais Universidades puacuteblicas centro de convenccedilotildees etc)

Quanto ao perfil sociodemograacutefico e socioeconocircmico das empregadas na induacutestria

formal cearense os dados revelam que a maioria dos trabalhadores em tal setor eacute do sexo

masculino Com relaccedilatildeo agraves caracteriacutesticas das trabalhadoras a maioria encontra-se na faixa

etaacuteria de 30 a 39 anos sendo que elas permanecem de menos um a trecircs anos no mesmo

emprego No tocante a escolaridade um nuacutemero expressivo possui ensino meacutedio completo

No que concerne aos rendimentos constata-se concentraccedilatildeo ganhando de 1 a 2

salaacuterios miacutenimos Os setores de induacutestria tecircxtil de calccedilados e de alimentos e bebidas satildeo os

que mais empregam mulheres Assim constata-se que apesar das melhorias ocorridas na

educaccedilatildeo e no mercado de trabalho nos uacuteltimos anos ainda eacute preciso avanccedilar muito Portanto

diante de tal cenaacuterio as lutas por igualdade e empoderamento da mulher cearense devem

permanecer

400

7 Referecircncias

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tecircxtil formal cearense ndash 200020072014 Revista de Estudos Sociais n 38 v 19 2017

402

O IMPACTO DO PROUNI SOBRE DESEMPENHO ACADEcircMICO DOS DISCENTES

EM 2014

FRANSUELLEN PAULINO SANTOS

Mestre em Economia pela Universidade Federal de Viccedilosa E-mail

franspaulinogmailcom

ANDREacuteA FERREIRA DA SILVA

Doutoranda em Economia Aplicada pela Universidade Federal da Paraiacuteba - UFPB E-mail

andreaeconomiayahoocombr

CRISTIANA TRISTAtildeO RODRIGUES

Professora no Departamento de Economia da Universidade Federal de Viccedilosa

403

O IMPACTO DO PROUNI SOBRE DESEMPENHO ACADEcircMICO DOS DISCENTES

EM 2014

RESUMO

O objetivo do presente estudo eacute avaliar o impacto do ProUni sobre o desempenho acadecircmico

dos alunos concluintes com bolsa integral avaliados no ENADE em 2014 Por meio do

Propensity Score Matching foi possiacutevel observar que os beneficiaacuterios concluintes do

programa no Brasil apresentam um desempenho acadecircmico mais elevado em comparaccedilatildeo aos

natildeo bolsistas das instituiccedilotildees privadas com caracteriacutesticas semelhantes O resultado eacute vaacutelido

quando se analisa todos os cursos conjuntamente e quando se considera apenas os cinco

cursos com maior nuacutemero de bolsistas sendo eles arquitetura e urbanismo engenharia civil

educaccedilatildeo fiacutesica pedagogia e engenharia de produccedilatildeo

Palavras-chave Desempenho acadecircmico ProUni ENADE Propensity Score Matching

ABSTRACT

The present study aims at evaluating the impact of ProUni on the academic performance of

the last year students with full scholarship evaluated by the National Assessment of Student

Performance (ENADE) in 2014 On the basic of microdata from ENADE 2014 and the

empirical strategy Propensity Score Matching method could be measured the medium

treatment effects on treaties and observed that the last year students beneficiaries of Prouni in

Brazil present higher academic performance when compared to not scholarship holders in

private institutions with similar characteristics The results is valid considering the analysis

for all courses together and only the five courses with major number of scholarship students

represented by architecture and urbanism civil engineering physical education pedagogy and

production engineering

Keywords Academic achievement ProUni ENADE

404

1 Introduccedilatildeo

O Brasil vem passando por algumas mudanccedilas na educaccedilatildeo puacuteblica em busca de uma

melhoria da qualidade da educaccedilatildeo De acordo com o site Todos Pela Educaccedilatildeo no ensino

meacutedio o percentual de alunos ateacute os 19 anos que concluiacuteram essa etapa subiu para 690 em

2014 enquanto o ano anterior era de 637 (BRASIL 2016a) Desta forma houve um

avanccedilo no sentido de que mais alunos cumprem essa trajetoacuteria escolar na idade correta

Assim como na educaccedilatildeo baacutesica haacute uma grande preocupaccedilatildeo com o acesso dos

jovens principalmente os de baixa renda a educaccedilatildeo superior Para Amaral e Oliveira (2011)

a ampliaccedilatildeo do acesso da populaccedilatildeo a esse niacutevel de ensino mas que por escassez de oferta

puacuteblica natildeo encontra condiccedilotildees de ingresso eacute um dos maiores desafios educacionais

Estabeleceu-se pelo Plano Nacional de Educaccedilatildeo (PNE) aprovado em 2001 a meta de que

30 dos jovens de 18 a 24 anos estivessem cursando o ensino superior no Brasil ateacute o final de

2010 Poreacutem o mesmo natildeo foi alcanccedilado a Siacutentese dos Indicadores Sociais de 2009 revelou

que apenas 137 da populaccedilatildeo nesta faixa estava matriculada em um curso superior

(BRASIL 2009a)

Considerado um dos projetos do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC) o Programa

Universidade para Todos (ProUni) criado pela Lei nordm 11096 de 13 de janeiro de 2005 tem

intuito de aumentar o acesso ao ensino superior (BRASIL 2005) Tem como objetivo a

concessatildeo de bolsas de estudos (integrais ou parciais) em instituiccedilotildees privadas para os

estudantes que natildeo detecircm diploma de graduaccedilatildeo Oferecendo em contrapartida a isenccedilatildeo de

alguns tributos agravequelas instituiccedilotildees que aderirem ao Programa Para participar o aluno precisa

satisfazer alguns requisitos como por exemplo para concorrer agraves bolsas integrais o candidato

deve ter uma renda familiar bruta mensal de ateacute um salaacuterio miacutenimo e meio por pessoa aleacutem

de obter boa nota no Exame Nacional do Ensino Meacutedio (ENEM) (BRASIL 2016b)

Franccedila e Gonccedilalves (2009) afirmam que pelo menos no curto prazo a entrada destes

alunos bolsistas afeta negativamente o desempenho geral da turma pois amplia a

heterogeneidade existente Aleacutem disso esta ampliaccedilatildeo segundo os autores natildeo foi

acompanhada com aumentos na qualidade Poreacutem Lira (2010) encontrou em sua pesquisa

para a Faculdade de Santo Agostinho que alunos contemplados pela bolsa do ProUni possuem

um desempenho superior aos que natildeo recebem

405

A avaliaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas possui extrema importacircncia na visatildeo de Belloni et

al (2001) pois eacute uma forma de aperfeiccediloar a gestatildeo do Estado Portanto a partir do exposto

este artigo propotildee analisar se alunos bolsistas concluintes e que recebem o auxiacutelio concedido

pelo Programa possuem um desempenho no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes

(ENADE) de 2014 superior aos que natildeo recebem com caracteriacutesticas socioeconocircmicas

observaacuteveis semelhantes visto que para manter o benefiacutecio eacute exigido um bom rendimento

(BRASIL 2013a) Cabe destaque que no ano de 2016 foi realizada uma pesquisa sobre o

tema de autoria de Dutra (2016) e que serviu como base para a pesquisa em tela

Para alcanccedilar este objetivo eacute necessaacuterio utilizar um meacutetodo que permita a comparaccedilatildeo

dos alunos pois existem outros itens que podem afetar esta anaacutelise sendo necessaacuterio isolar a

influecircncia de tais pontos por meio de variaacuteveis de controle que possam explicaacute-los Assim a

avaliaccedilatildeo seraacute realizada atraveacutes do Propensity Score Matching (PSM) que encontra no banco

de dados os indiviacuteduos que natildeo participam do ProUni mais proacuteximos possiacuteveis daqueles que

participam permitindo que seja calculado o Efeito Meacutedio do Programa sobre os Tratados

(ATT)

Para tal fim seratildeo considerados indiviacuteduos com bolsa integral e utiliza-se os

microdados do ENADE de 2014 realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Aniacutesio Teixeira (INEP) e que possui justamente o propoacutesito de ―acompanhar o

processo de aprendizagem e o desempenho acadecircmico dos estudantes de educaccedilatildeo superior

(BRASIL 2013b p 7) Este estudo pretende colaborar na literatura de avaliaccedilatildeo de poliacuteticas

puacuteblicas por meio de duas estimaccedilotildees de resultados para verificar o impacto do programa A

saber a primeira verifica o impacto do Programa quando se analisa os dados agregados jaacute a

segunda demonstra o efeito em cada curso individualmente (aqueles com maiores quantidades

de bolsistas)

O presente estudo se divide em cinco seccedilotildees incluindo esta introduccedilatildeo A segunda

seccedilatildeo conteacutem uma revisatildeo de literatura que trata do contexto brasileiro e dos tipos de

avaliaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas aleacutem de abordar as anaacutelises existentes sobre o ProUni A

terceira apresenta a estrateacutegia empiacuterica e as variaacuteveis utilizadas Na quarta realiza-se a

avaliaccedilatildeo para todos os cursos conjuntamente para investigar como ocorre esse efeito no geral

em 2014 posteriormente verifica-se separadamente o impacto nos cinco cursos que possuem

mais bolsistas entre os cursos examinados pelo ENADE 2014 E por fim a quinta seccedilatildeo eacute

reservada agraves conclusotildees

406

2 O Programa Universidade para Todos - PROUNI

Criado pelo Governo Federal em 2004 e instituiacutedo pela Leiordm 11096 de 13 de janeiro

de 2005 o Programa Universidade para Todos (PROUNI) sob a gestatildeo do Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo eacute destinado agrave concessatildeo de bolsas de estudo integrais e bolsas de estudo parciais de

50 ou 25 para os estudantes de cursos de graduaccedilatildeo e sequenciais de formaccedilatildeo especiacutefica

em instituiccedilotildees privadas de ensino superior com ou sem fins lucrativos (BRASIL2005)

O puacuteblico alvo do programa satildeo os estudantes egressos que tenham cursado o ensino

meacutedio completo em escolas da rede puacuteblica ou os estudantes da rede privada mas na

condiccedilatildeo de bolsista integral com renda familiar mensal per capita de ateacute trecircs salaacuterios24

estudantes portadores de deficiecircncia professores da rede de ensino puacuteblico especificamente

para os cursos de licenciatura destinados agrave formaccedilatildeo dos docentes da educaccedilatildeo baacutesica e que

natildeo tenham diploma do ensino superior

Com relaccedilatildeo ao processo seletivo do Prouni este ocorre apenas em uma uacutenica etapa

de forma gratuita e exclusivamente pela internet no site do proacuteprio programa Os candidatos

satildeo selecionados pelas notas obtidas no Exame Nacional do Ensino Meacutedio - ENEM sendo

relacionado portanto agrave qualidade dos estudantes com melhores desempenhos no ensino

meacutedio No ato da inscriccedilatildeo o estudante elenca na ordem de sua preferecircncia ateacute duas opccedilotildees

de IES privada curso e turno dentre as ofertas de bolsas disponiacuteveis podendo ser alteradas

durante o periacuteodo de inscriccedilatildeo sendo considerada vaacutelida a uacuteltima escolha confirmada

Apoacutes o prazo de inscriccedilatildeo o sistema classifica os estudantes de acordo com as notas

no Enem e suas respectivas opccedilotildees Dessa forma os candidatos satildeo preacute-selecionados para

uma vaga das opccedilotildees dos cursos levando em consideraccedilatildeo a ordem de escolha e o limite de

bolsas disponiacuteveis pela IES privada Por fim cada instituiccedilatildeo realizaraacute duas chamadas e em

cada uma delas os estudantes tecircm um prazo para comparecer e apresentar os documentos no

ato na matriacutecula E caso eventualmente o candidato natildeo seja preacute-selecionado o mesmo ainda

pode manifestar interesse em participar na lista de espera Pois uma vez que as bolsas natildeo satildeo

24

De acordo com os paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do Art 1ordm da Leiordm 11096 de 13 de janeiro de 2005 respectivamente a

bolsa de estudo integral seraacute concedida a brasileiros natildeo portadores de diploma de curso superior cuja renda

familiar mensal per capita natildeo exceda o valor de ateacute um salaacuterio-miacutenimo e meio E as bolsas de estudo parciais de

50 ou de 25 cujos criteacuterios de distribuiccedilatildeo seratildeo definidos em regulamento pelo Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

seratildeo concedidas a brasileiros natildeo-portadores de diploma de curso superior cuja renda familiar mensal per capita

natildeo exceda o valor de ateacute trecircs salaacuterios-miacutenimos mediante criteacuterios definidos pelo MEC

407

preenchidas nas primeiras chamadas deveratildeo ser ocupadas pelos estudantes que participam

da lista de espera

Desde sua criaccedilatildeo ateacute o processo seletivo de 2016 o Prouni jaacute atendeu mais de 19

milhotildees de estudantes 70 deles com bolsas integrais Com relaccedilatildeo ao crescimento da oferta

de vagas nas IES privadas desde o iniacutecio do programa pode ser observada atraveacutes do Censo

da Educaccedilatildeo Superior do ano de 2004 que existiam 1789 instituiccedilotildees de ensino superior

privadas ofertando 2011929 vagas em 12382 cursos de graduaccedilatildeo Comparando com as

informaccedilotildees do Censo da Educaccedilatildeo Superior do ano de 2015 com 2069 IES privadas houve

um crescimento de 75 na oferta de cursos de graduaccedilatildeo passando para 21681

consequentemente o nuacutemero de vagas oferecidas cresceu 60 em relaccedilatildeo as vagas em 2004

tendo 3223732 vagas ofertadas Uma das evidecircncias iniciais ante ao aumento da oferta do

ensino superior pela IES privadas eacute o notaacutevel crescimento dos indiviacuteduos que concluiacuteram os

cursos de graduaccedilatildeo 63 424355 concluintes em 2004 passando para 692167 em 2015

(INEP2004 INEP2015)

21 O ProUni no Brasil

Para embasar este estudo este toacutepico realiza uma revisatildeo da literatura disponiacutevel

acerca do Programa Universidade para Todos (ProUni) mormente no que tange ao

desempenho dos alunos beneficiados Alguns estudos como por exemplo o de Dutra (2016)

ou de Vendramini e Lopes (2016) utilizam as notas obtidas pelos alunos bolsistas no ENADE

por se tratar de uma avaliaccedilatildeo nacional e compulsoacuteria para os estudantes do ensino superior

Para detalhar e especificar o processo de implementaccedilatildeo Faceira (2008) estabeleceu

dimensotildees de anaacutelise explicando que existem pontos de fragilidade e questotildees que precisam

ser solucionadas no sistema de operacionalizaccedilatildeo e reestruturaccedilatildeo do ProUni Para a autora o

MEC deve criar estrateacutegias de acompanhamento monitoramento e fiscalizaccedilatildeo do processo

de implantaccedilatildeo do programa nas instituiccedilotildees e da qualificaccedilatildeo dos cursos que estatildeo sendo

oferecidos

Valle (2009) atraveacutes de uma discussatildeo teoacuterica destaca que realmente o programa

aumenta o acesso poreacutem se constitui num sentido restrito de democracia ou seja eacute a doaccedilatildeo

de um direito que eacute visto como benefiacutecio Outro ponto de destaque eacute a queda de arrecadaccedilatildeo

gerada pelas isenccedilotildees fiscais dadas a estas instituiccedilotildees que constitui uma ampla discussatildeo

408

entre as redes privadas e puacuteblicas Estas uacuteltimas afirmam que seria mais eficiente se houvesse

a arrecadaccedilatildeo e um repasse para elas para ampliaccedilatildeo de vagas puacuteblicas geraccedilatildeo de novos

cargos estrutura e processos administrativos Em contrapartida a iniciativa privada que jaacute

dispotildee de vagas e estrutura para administrar justifica maior eficiecircncia no uso dos recursos

uma vez que pode absorver de forma imediata a demanda existente

O relatoacuterio de auditoria do Tribunal de Contas da Uniatildeo (2009) no intuito de apontar

caminhos para melhoria do ProUni analisa o impacto deste sobre a permanecircncia dos alunos

no ensino superior e os estiacutemulos que teriam para melhorar seu desempenho acadecircmico no

ENADE separando os alunos entre ingressantes e concluintes no ensino superior Concluem

que o programa atende o objetivo de aumentar a probabilidade de acesso ao ensino superior

da populaccedilatildeo-alvo aleacutem disso a qualidade em notas dos alunos natildeo piorou apoacutes a

introduccedilatildeo do programa e mesmo sendo modesto o efeito da bolsa integral eacute maior que o da

bolsa parcial sobre a reduccedilatildeo da probabilidade de evasatildeo (BRASIL 2009b)

O estudo de Bertolin e Fioreze (2016) atraveacutes das teorias do capital cultural e do

background verificaram o desempenho de alunos bolsistas do ProUni Os resultados

apontaram para melhor desempenho dos alunos bolsistas ndash que tem niacutevel socioeconocircmico e

cultural menor ndash em relaccedilatildeo aos demais alunos das instituiccedilotildees privadas contrariando a

probabilidade de melhor desempenho entre os estudantes de maior capital cultural

Nesse contexto os estudos comprovam que haacute uma relaccedilatildeo positiva entre os alunos do

ProUni em especial os com bolsa integral e o desempenho acadecircmico Assim estes

estudantes tendem a apresentar um rendimento melhor que os natildeo bolsistas Sendo portanto

um incentivo ao investimento que eacute realizado pelo governo no ensino superior atraveacutes deste

programa Contudo se faz necessaacuterio uma renovaccedilatildeo de estudos acerca de toda e qualquer

atividade do governo Partindo deste pressuposto este estudo faz a anaacutelise do ProUni para o

ano de 2014 afim de ampliar a literatura de avaliaccedilotildees de poliacuteticas puacuteblicas

3 Metodologia

De acordo com o estudo de Peixoto et al (2012) o impacto do ProUni ateacute poderia ser

medido atraveacutes de diferenccedilas observadas entre a nota obtida pelo estudante com bolsa integral

e a nota auferida por ele na situaccedilatildeo em que natildeo houvesse participado poreacutem nesses dois

momentos natildeo seria possiacutevel observar o sujeito e este eacute um dos grandes problemas das

409

avaliaccedilotildees de programas sociais ou seja a dificuldade de encontrar um contrafactual dos

indiviacuteduos que recebem o tratamentos para o grupo de beneficiaacuterios em caso de natildeo

participaccedilatildeo no programa Uma soluccedilatildeo de acordo com Rosenbaum e Rubin (1983) eacute medir a

diferenccedila entre grupos de indiviacuteduos que foram selecionados aleatoriamente para participar ou

natildeo do programa

Neste trabalho para o caso em que o estudante fez o ENADE e participa do

ProUni com bolsa integral definido como tratamento e caso tenha feito o ENADE

mas natildeo participa do programa O resultado observado para a variaacutevel de interesse

(desempenho no ENADE) pode ser expresso em que representa

o resultado do i-eacutesimo indiviacuteduo tratado no caso deste estudo eacute dado pela nota geral no

ENADE 2014 dos alunos que recebem bolsa integral Enquanto eacute a nota geral no

ENADE 2014 do i-eacutesimo indiviacuteduo de controle ou seja aquele que por algum motivo natildeo

participa do programa Assim o impacto meacutedio do ProUni sobre os participantes eacute

representado pelo efeito meacutedio do tratamento no grupo tratado (ATT)

e | |

(1)

Poreacutem Rosenbaum e Robin (1983) explicam que os indiviacuteduos que participam e

tambeacutem os que natildeo participam do Programa satildeo diferentes uns dos outros em vaacuterios quesitos

Uma forma de corrigir esse problema eacute a utilizaccedilatildeo do meacutetodo de Propensity Score Matching

ou pareamento por escore de propensatildeo desenvolvido por Rosenbaum e Rubin (1983)

31 Propensity Score Matching

O presente trabalho pretende investigar se alunos que participam do ProUni

apresentam desempenho superior dada as exigecircncias de nota do programa quando

comparados agravequeles que natildeo recebem o auxiacutelio Dessa forma eacute necessaacuteria a construccedilatildeo de

dois grupos de indiviacuteduos com as mesmas caracteriacutesticas Poreacutem surge o problema da

autosseleccedilatildeo ou seja os investigadores natildeo possuem controle sobre a atribuiccedilatildeo do

tratamento e isto gera comparaccedilotildees diretas dos resultados dos grupos de tratamento

enganosas Os meacutetodos tradicionais de ajustes (matching estratificaccedilatildeo ou ajuste de

covariacircncia) satildeo muitas vezes limitados visto que soacute podem ser utilizados em um nuacutemero

limitado de covariaacuteveis de ajustamento enquanto o propensity score (PS) fornece um resumo

410

escalar das informaccedilotildees das covariaacuteveis e natildeo possui essa limitaccedilatildeo (ROSENBAUM RUBIN

1983)

Para solucionar esse vieacutes utiliza-se o meacutetodo do pareamento o qual apresenta

importacircncia na avaliaccedilatildeo de impacto e de poliacuteticas Dessa forma pode-se comparar os

resultados entre os tratados e seus contrafactuais De acordo com Rosenbaum e Rubin (1983)

o propensity score eacute um escore de equiliacutebrio e pode ser utilizado em estudos observacionais

para reduzir as diferenccedilas entre grupos de tratados e natildeo tratados Esta teacutecnica consiste em

encontrar um grupo de comparaccedilatildeo o mais similar possiacutevel emparelhando-o e estimando os

efeitos de tratamento (efeito do programa) atraveacutes da diferenccedila entre resultados meacutedios dos

grupos de tratamento e controle Este meacutetodo pode ser executado atraveacutes de uma uacutenica

variaacutevel de controle o escore de propensatildeo que eacute definido como a probabilidade condicional

de participaccedilatildeo no programa de um indiviacuteduo i a um vetor de caracteriacutesticas observaacuteveis X

(CAMERON TRIVEDI 2005) Assim

| em que 0 lt P(x) lt 1

(2)

Portanto considera o pressuposto de independecircncia condicional agraves caracteriacutesticas

observaacuteveis dos grupos de tratamento e controle De acordo com Rosenbaum e Rubin (1983)

o efeito meacutedio do programa sobre os beneficiados (ATT) equaccedilatildeo (2) pode ser reescrita

como

| | |

(3)

onde | refere-se ao valor esperado condicional ao conjunto de

caracteriacutesticas observaacuteveis e agrave participaccedilatildeo no ProUni enquanto | refere-se

ao valor esperado condicional ao conjunto de caracteriacutesticas observaacuteveis e agrave natildeo participaccedilatildeo

no ProUni Como o Propensity Score de um indiviacuteduo eacute definido como a probabilidade

condicional de um indiviacuteduo participar do programa dado suas caracteriacutesticas observaacuteveis x

pode-se substituir x pelo escalar P(x) na equaccedilatildeo (4)

| | |

(4)

Segundo Rosenbaum e Rubin (1983) no caso em que as caracteriacutesticas natildeo

observaacuteveis influenciam a decisatildeo de o indiviacuteduo participar ou natildeo do programa e se elas

forem correlacionadas com o desempenho potencial no ENADE 2014 deste indiviacuteduo o

meacutetodo de pareamento natildeo conseguiraacute eliminar o vieacutes de seleccedilatildeo e a estimativa do efeito do

411

programa pode ser tendenciosa Conforme explica Becker e Ichino (2002) o vieacutes de fatores

natildeo-observados somente eacute eliminado se a participaccedilatildeo no tratamento for puramente aleatoacuteria

caso contraacuterio seratildeo apenas reduzidos Assim o controle eacute o mais proacuteximo possiacutevel do

tratado a partir do escore de propensatildeo

Existem diferentes meacutetodos de matching que podem ser usados para atribuir

participantes a natildeo participantes em funccedilatildeo do PS Na literatura que aborda as diferentes

teacutecnicas de pareamento natildeo haacute um consenso de qual das teacutecnicas apresentariam melhores

resultados mas o estudo de Becker e Ichino (2002) explica que a consideraccedilatildeo conjunta das

teacutecnicas pode oferecer um meacutetodo para avaliar se as estimativas satildeo robustas Desse modo no

presente trabalho utiliza-se trecircs teacutecnicas visando uma estimativa robusta do possiacutevel efeito

dos tratamentos Atraveacutes das definiccedilotildees destes autores as teacutecnicas de correspondecircncia

empregadas neste artigo para o caacutelculo ATT satildeo

i) Vizinho mais proacuteximo (NN) consiste em parear cada indiviacuteduo tratado com o controle

que possua o escore de propensatildeo mais proacuteximo Um problema com o NN eacute que a diferenccedila

no Propensity Score para um participante e o seu vizinho mais proacuteximo natildeo participante da

poliacutetica ainda pode ser muito alta afetando a qualidade dos controles

ii) Kernel todos os indiviacuteduos tratados satildeo pareados por uma meacutedia ponderada dos

indiviacuteduos de controle que possui peso inversamente proporcional agrave distacircncia de escore de

propensatildeo entre tratados e controles

iii) Estratificaccedilatildeo divide a extensatildeo dos escores de propensatildeo em intervalos ou blocos e

que em meacutedia os indiviacuteduos tratados e controles dentro de cada bloco possuem os mesmos

escores de propensatildeo Dessa forma o ATT eacute a meacutedia ponderada de resultados de cada bloco

com peso atribuiacutedo pelo nuacutemero de tratados em cada bloco

Assim o impacto do ProUni sobre o desempenho acadecircmico dos estudantes que

ingressaram pelo sistema de bolsas integrais do programa (ATT) seraacute estimado a partir da

comparaccedilatildeo entre os que ingressaram na universidade particular por meio da poliacutetica e os que

ingressaram sem bolsa selecionados por suas caracteriacutesticas observaacuteveis a partir da estimaccedilatildeo

do Propensity Score e pareados pelos algoritmos de NN Kernel e Estratificaccedilatildeo

Cabe destacar que os alunos que participavam do Fundo de Financiamento Estudantil

(FIES) do ProUni parcial aqueles que recebiam qualquer outro tipo de bolsa e os estudantes

de IES puacuteblicas foram retirados da amostra pois caso contraacuterio os resultados do meacutetodo

aplicado natildeo seriam legiacutetimos Conforme Dutra (2016) explica ao adicionar alunos que

412

recebem outro tipo de bolsa e satildeo analisados como natildeo bolsistas do ProUni tem-se um caacutelculo

errado do efeito pois o desempenho deste aluno poderaacute ser influenciado pela bolsa que ele

recebe

32 Base de dados e variaacuteveis

Para inferir sobre a probabilidade de participaccedilatildeo no ProUni bem como os impactos

sobre desempenho acadecircmico do aluno com bolsa integral utilizam-se os microdados do

ENADE 2014 Os cursos satildeo definidos pelo MEC e a periodicidade maacutexima de aplicaccedilatildeo do

ENADE eacute trienal em cada aacuterea (BRASIL 2011) Os cursos avaliados no Brasil em 2014

foram Bacharel - Arquitetura e Urbanismo Sistema de Informaccedilatildeo Eng Civil Eng Eleacutetrica

Eng de Computaccedilatildeo Eng de Controle e Automaccedilatildeo Eng Mecacircnica Eng Quiacutemica Eng de

Alimentos Eng de Produccedilatildeo Eng Ambiental Eng Florestal Engenharia Bacharel ou

Licenciatura - Ciecircncias da Computaccedilatildeo Ciecircncias Bioloacutegicas Ciecircncias Sociais Filosofia

Fiacutesica Geografia Histoacuteria Letras-Portuguecircs Matemaacutetica Quiacutemica Licenciatura - Artes

visuais Educaccedilatildeo Fiacutesica Letras-Portuguecircs e Espanhol Letras-Portuguecircs e Inglecircs Muacutesica

Pedagogia Tecnoacutelogo - Anaacutelise e Desenvolvimento de Sistemas Automaccedilatildeo Industrial

Gestatildeo da Produccedilatildeo Industrial Redes de Computadores

A participaccedilatildeo de todos os alunos concluintes no exame eacute obrigatoacuteria caso contraacuterio

estatildeo sujeitos agrave caracterizaccedilatildeo de irregularidade junto ao ENADE e dessa forma natildeo recebem

o diploma de conclusatildeo do curso ateacute a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo (BRASIL 2011) De acordo

com Dutra (2016) utilizando apenas os concluintes pode-se separar aqueles alunos que ao

longo do curso possuiacuteram baixo desempenho e foram excluiacutedos do programa de forma que soacute

chegaram ao final os alunos que obtiveram aprovaccedilatildeo nas mateacuterias anteriores

O modelo Probit pelo qual o PS eacute calculado deve incluir variaacuteveis preditoras que

influenciam a participaccedilatildeo no programa e os resultados de interesse pois iratildeo determinar

tanto a elegibilidade para o programa como os impactos sobre o desempenho acadecircmico

Desta forma o caacutelculo do ATT eacute realizado entre estudantes que satildeo de fato comparaacuteveis de

acordo com essas caracteriacutesticas as variaacuteveis selecionadas encontram-se no Quadro 2

413

Quadro 2 ndash Descriccedilatildeo das variaacuteveis utilizadas no modelo

Variaacutevel Descriccedilatildeo Desempenho do

aluno

Nota bruta da prova - Meacutedia ponderada da formaccedilatildeo geral (25) e componente

especiacutefico (75) (0 a 100)

Sudeste Dummy que assume valor 1 se o aluno estuda na regiatildeo Sudeste e 0 caso contraacuterio

Sul Dummy que assume valor 1 se o aluno estuda na regiatildeo Sul e 0 caso contraacuterio

Nordeste Dummy que assume valor 1 se o aluno estuda na regiatildeo Nordeste e 0 caso contraacuterio

CO Dummy que assume valor 1 se o aluno estuda na regiatildeo Centro-oeste e 0 caso

contraacuterio

Homem Dummy de sexo 1 se o aluno for homem e 0 caso contraacuterio

Idade2 e Idade4 Idade do estudante dividida em blocos ateacute 20 anos de 30 a 40 anos

Branco Dummy de raccedila 1 se o aluno eacute branco 0 caso contraacuterio

Renda10 Dummy de renda total familiar de 6 a 10 salaacuterios miacutenimos

Renda30 Dummy de renda total familiar acima de 30 salaacuterios miacutenimos

ntrab Dummy que assume valor 1 se o indiviacuteduo natildeo trabalha e 0 caso contraacuterio

Empub Dummy que assume valor 1 se o aluno estudou apenas em escola puacuteblica e 0 caso

contraacuterio

EmPP Dummy com valor 1 se estudou maior parte do ensino meacutedio em escola puacuteblica e 0

caso contraacuterio

Pais Dummy que assume valor 1 se o paimatildee possui superior completo e 0 caso contraacuterio

Fonte Microdados do ENADEINEP de 2014

Nota Satildeo apresentadas as variaacuteveis das duas formas de anaacutelise considerando que a escolha eacute feita de forma a

satisfazer a hipoacutetese de balanceamento

4 Resultados

A anaacutelise de resultados contaraacute com duas seccedilotildees inicialmente tem-se a avaliaccedilatildeo do

impacto do programa no desempenho acadecircmico dos alunos para todos os cursos participantes

da prova em 2014 permitindo a generalizaccedilatildeo dos resultados encontrados E em seguida

investiga-se o efeito individualmente sendo selecionados cinco cursos com maior quantidade

de alunos que participam do programa (para obter um modelo robusto) afinal existe a

possibilidade de uma variaccedilatildeo deste impacto entre os cursos Ambas as seccedilotildees utilizam o

PSM e as variaacuteveis satildeo selecionadas de forma a satisfazer a hipoacutetese de balanceamento

41 O impacto do ProUni no desempenho acadecircmico para todos os cursos que

participaram do ENADE 2014

Antes de iniciar as anaacutelises do PSM nota-se a partir da Tabela 1 que em ambos os

formatos de anaacutelise empregados neste trabalho (todos os cursos conjuntamente e cinco

separadamente) existe uma diferenccedila na meacutedia do desempenho entre os bolsistas integrais

do ProUni e os natildeo bolsistas Ademais pode-se verificar que na meacutedia as notas natildeo satildeo tatildeo

414

elevadas considerando que a pontuaccedilatildeo do ENADE varia de 0 a 100 isso pode ser um indicio

da questatildeo da qualidade de ensino em geral apontada por Franccedila e Gonccedilalves (2009)

Dutra (2016) aponta que antes do matching mesmo existindo uma diferenccedila entre os

grupos natildeo eacute possiacutevel atribuir esse fato ao programa Destarte somente eacute possiacutevel imputar

que esta desigualdade entre as meacutedias se deve ao programa apoacutes a realizaccedilatildeo do matching

Por mais que as meacutedias apresentadas na Tabela 1 tenham sido diferentes o efeito do

programa eacute dado apenas pelos resultados encontrados atraveacutes dos trecircs meacutetodos Nearest-

Neighbor Kernel e Estratificado cujos resultados se encontram nas Tabelas 3 e 5

Tabela 1 ndash Meacutedia da nota bruta da prova no ENADE 2014 antes do pareamento

Controle Observaccedilotildees Tratamento Observaccedilotildees

Todos os cursos 442001 114786 524269 16878

Arquitetura e urbanismo 473783 5233 547858 676

Eng Civil 45348 7313 512719 1017

Educaccedilatildeo Fiacutesica 431947 5759 550608 1304

Pedagogia 457491 46297 564782 5322

Eng de Produccedilatildeo 447542 4976 515571 796

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos Microdados ENADINEP 2014

Posto isto para realizar estaacute anaacutelise as variaacuteveis foram selecionadas com o intuito de

encontrar um grupo controle que se assemelhe aos indiviacuteduos beneficiados do programa em

suas caracteriacutesticas observaacuteveis Buscando refletir os objetivos do programa que estatildeo em

torno da ampliaccedilatildeo de acesso ao niacutevel superior Conforme explicado anteriormente o meacutetodo

utilizado parte da elaboraccedilatildeo do Probit que atribui o escore de propensatildeo de participaccedilatildeo no

programa de acordo com as caracteriacutesticas definidas com o intuito de balancear os

indiviacuteduos ou seja identifica as caracteriacutesticas daqueles estudantes que recebem a bolsa e dos

que natildeo recebem Com isso verifica a contribuiccedilatildeo delas para a participaccedilatildeo no programa

definindo para cada observaccedilatildeo a chance de ser beneficiaacuterio do programa Mesmo os

indiviacuteduos jaacute tratados uma probabilidade eacute atribuiacuteda pois nem mesmo os bolsistas do ProUni

possuem caracteriacutesticas completamente iguais (DUTRA 2016) Assim tem-se na Tabela 2 a

estimaccedilatildeo do modelo Probit cuja variaacutevel dependente eacute uma dummy que representa a presenccedila

ou natildeo no programa

A especificaccedilatildeo final do modelo Probit de escore de propensatildeo satisfez a hipoacutetese do

balanceamento (balancing hypothesis) das variaacuteveis E todos os coeficientes estimados

demonstram-se estatisticamente significativos ou seja as variaacuteveis escolhidas satildeo adequadas

na definiccedilatildeo do grupo de controle Desta forma ao analisar os sinais obtidos para as variaacuteveis

415

que indicam se o indiviacuteduo estudou todo o ensino meacutedio na escola puacuteblica ou se estudou a

maior parte na escola puacuteblica percebe-se que haacute um aumento na probabilidade de

participaccedilatildeo do ProUni o mesmo ocorre para os alunos com idade ateacute os 20 anos Com

relaccedilatildeo a raccedila um aluno branco possui uma relaccedilatildeo negativa com a probabilidade de

participar do programa comparada aos demais

Tabela 2 ndash Probabilidade de participar do Prouni - Probit para todos os cursos

Variaacuteveis Coeficiente Erro Padratildeo

Empub 08653 00178

EmPP 02529 00302

Branco -01389 00093

Pais -00346 00144

idade2 03884 00237

renda10 -06118 00188

renda30 -11017 00414

Constante -16904 00184

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria

Nota Significativo a 1 Significativo a 5

A renda em seus niacuteveis considerados (de 10 ateacute 30 e acima de 30 salaacuterios miacutenimos)

apresentaram coeficientes negativos ou seja quanto maior a renda familiar menor eacute a

probabilidade de participaccedilatildeo do programa Quanto a influecircncia da educaccedilatildeo dos pais

observa-se na Tabela 2 que haacute uma relaccedilatildeo inversa entre os pais com ensino superior e a

chance de participar do programa Desta forma o aluno com pai ou matildee com niacutevel superior

tem uma menor probabilidade de ser bolsista do ProUni Isto aliado as variaacuteveis de renda satildeo

completamente compreensiacuteveis afinal um indiviacuteduo que os pais possuem ensino superior no

geral satildeo os que possuem renda familiar mais elevada e consequentemente natildeo iratildeo se

enquadrar nos preacute-requisitos do ProUni portanto estaacute chance se reduz Nesse sentido Gaudio

(2014) demonstrou que entre os alunos bolsistas poucos pais completaram o ensino superior

ou a poacutes-graduaccedilatildeo

Apoacutes a estimaccedilatildeo do escore de propensatildeo calcula-se o ATT ou seja eacute feita a

estimativa do valor do efeito do tratamento sobre o coeficiente do desempenho acadecircmico

por trecircs tipos de Matching os resultados estatildeo apresentados na Tabela 3 onde verifica-se que

todos os impactos satildeo positivos e significativos Portanto no ano de 2014 o ProUni

apresentou efeito meacutedio em elevar o desempenho dos alunos concluintes com bolsa integral

ao considerar todos os cursos conjuntamente A anaacutelise do meacutetodo do vizinho mais proacuteximo

(NN) indica que o aumento eacute de 9984 pontos em comparaccedilatildeo com alunos natildeo-bolsistas com

416

caracteriacutesticas semelhantes em termos de caracteriacutesticas observaacuteveis controladas pelo modelo

jaacute no meacutetodo de Kernel esse impacto foi de 9639 pontos e por fim no meacutetodo Estratificado

foi de 9983 pontos

Tabela 3 ndash Efeito meacutedio do tratamento no desempenho acadecircmico para todos os cursos no

ano de 2014

Tipo de Matching Nordm de Tratados Nordm de Controle EMPT Erro Padratildeo Estatiacutestica t

NN 16883 113950 9984 0111 91248

Kernel 16883 114802 9639 0096 100508

Estratificado 16883 114802 9983 0110 90891

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos microdados ENADEINEP de 2014

Assim nota-se que o programa influecircncia positivamente o desempenho acadecircmico dos

alunos concluintes que possuem bolsa o que corrobora com o Relatoacuterio da Auditoria de 2009

(BRASIL 2009b) realizado pelo TCU que afirma que em meacutedia os bolsistas do ProUni

apresentaram maior desempenho que os natildeo bolsistas Explicam que esse resultado eacute bom

pois afasta a ideia de que a concessatildeo das bolsas iria rebaixar o niacutevel de ensino quando houve

a implantaccedilatildeo do ProUni Assim tambeacutem o estudo de Gaudio (2014) encontrou que o

desempenho dos alunos bolsista eacute igual ou superior agrave nota geral obtida pelos natildeo bolsistas em

43 aacutereas dentre elas licenciaturas ciecircncias humanas e sociais

42 O impacto do ProUni no desempenho acadecircmico para os cursos com maior

quantidade de alunos bolsistas

Optou-se tambeacutem por realizar uma anaacutelise individual para verificar o impacto do

ProUni separadamente Neste sentindo foram escolhidos cinco cursos que participaram do

ENADE 2014 sendo eles arquitetura e urbanismo engenharia civil educaccedilatildeo fiacutesica

pedagogia e engenharia de produccedilatildeo pois estes dentre os demais eram os que possuiacuteam a

maior quantidade de alunos beneficiaacuterios do programa com isso os resultados obtidos seratildeo

mais consistentes

Analogamente a seccedilatildeo anterior buscou-se na seleccedilatildeo das variaacuteveis utilizadas para

encontrar o grupo controle a maacutexima aproximaccedilatildeo dos objetivos do programa respeitando

tambeacutem a hipoacutetese de que o modelo deve ser balanceado ou seja as observaccedilotildees com o

mesmo PS precisam ter a mesma distribuiccedilatildeo das caracteriacutesticas observaacuteveis

independentemente de serem tratadas ou natildeo Com isso o uso de uma especificaccedilatildeo menos

417

parcimoniosa eacute para que se obtenha uma melhor qualidade do pareamento entre os tratados e

o controle Assim a Tabela 4 apresenta a estimaccedilatildeo do modelo Probit cuja variaacutevel

dependente eacute uma dummy que representa a participaccedilatildeo ou natildeo no ProUni

Neste modelo as principais variaacuteveis que determinam a elegibilidade para integrar o

ProUni satildeo Empub ou EmPP Renda10 e Renda30 todas foram estatisticamente

significativas aleacutem de apresentarem sinais esperados Caso o estudante tenha cursado todo o

ensino meacutedio em escola puacuteblica ou pelo menos a maior parte a possibilidade de participar do

programa aumenta para todos os cursos separadamente Percebe-se ainda pela Tabela 4 que

quanto maior o rendimento familiar total do aluno menor a probabilidade de participar do

ProUni em ambos os niacuteveis de renda utilizados os coeficientes para cada curso

individualmente foram estatisticamente significativos De acordo com Mugnol e Gisi (2012)

o programa tem beneficiado uma parcela dos estudantes considerados de baixa renda Como

explicado na seccedilatildeo anterior este resultado eacute plausiacutevel afinal um dos requisitos para o aluno

conseguir uma bolsa integral eacute que tenha renda mensal familiar de ateacute 1 salaacuterio miacutenimo e frac12

por pessoa assim se o rendimento aumentar a chance de ser aluno pelo ProUni reduz

A influecircncia familiar novamente apresenta relaccedilatildeo negativa com probabilidade de

participar do ProUni resultado este que foi estatisticamente significativo para os cursos de

engenharia civil educaccedilatildeo fiacutesica pedagogia e engenharia de produccedilatildeo A variaacutevel de raccedila

apresentou um sinal positivo e foi estatisticamente significativa para os cursos estudados

assim sendo indiviacuteduos negros possuem maior probabilidade de participaccedilatildeo do ProUni do

que os demais

Ademais para esses cursos com exceccedilatildeo do curso de educaccedilatildeo fiacutesica quanto mais

velho for o aluno menor a probabilidade de participaccedilatildeo no programa Portanto indiviacuteduos

com idade entre 30 e 40 anos possuem menor chance de serem bolsistas do ProUni este efeito

foi estatisticamente significativo Enquanto isso se o indiviacuteduo natildeo trabalha a chance de

participar do ProUni aumenta e eacute estatisticamente significativa para todos os cursos

examinados

418

Tabela 4 ndash Probabilidade de participar do Prouni - Probit por curso

Variaacuteveis Cursos

Arquitetura Civil Educaccedilatildeo Fiacutesica Pedagogia Produccedilatildeo

Masculino 00685 -01654 -00270 04884 -01651

(00605) (00461) (00373) (00292) (00513)

Empub 17135 11722 10560 07697 11707

(00699) (00568) (00722) (00434) (00652)

EmPP 08175 04299 04488 02938 02950

(01361) (01071) (01086) (00608) (01398)

Negro 03933 03835 03069 -

01735

(01331) (00865) (00543) (00911)

ntrab 03726 02229 02460 02006 01027

(00583) (00463) (00424) (00183) (00601)

Idade2 02773 01384 01755 03796 03580

(06138) (04350) (00566) (00459) (06156)

Idade4 -02780 -04164 00072 -01855 -05162

(00869) (00623) (00496) (00167) (00645)

Renda10 -09504 -08989 -

-07195 -07378

(00859) (00631) (00492) (00635)

Renda30 -18035 -15682 -12281 -13303 -13886

(01810) (01288) (02162) (01659) (01280)

Pais -

-02076 -02838 -00996 -01757

(00538) (00525) (00292) (00642)

Sudeste -

-01255 -01036 00609 -02491

(00532) (00856) (00167) (01942)

Nordeste 02350 -02559 00222 -

-01968

(00973) (00888) (01005) (02076)

Sul 01091 -

00879 -

-01794

(00661) (00912) (02025)

CO 05005 01458 02011 04450 01978

(01457) (00797) (01034) (00242) (02484)

Norte Categoria Base Categoria Base Categoria Base Categoria Base Categoria Base

Constante -21232 -13907 -18080 -20325 -11898

(00780) (00788) (01103) (00444) (02036)

Observaccedilotildees 5909 8330 7063 51622 5772

LR chi2 157693 170782 64472 207481 107182

Prob gt chi2 00000 00000 00000 00000 00000

Pseudo R2 03752 02763 00954 00606 02315

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria

Significativo a 1 Significativo a 5 Significativo a 10

Esses resultados corroboram com o estudo de Dutra (2016) que ao analisar os cursos

de Enfermagem Farmaacutecia e Fisioterapia apontou que as caracteriacutesticas que reduzem a

probabilidade de participaccedilatildeo no ProUni no ano de 2013 satildeo a idade (quanto mais velho) se o

estudante recebe incentivo dos pais e se tem algueacutem na famiacutelia com ensino superior sendo

esta uacuteltima significativa somente para o curso de Farmaacutecia

Novamente realiza-se o pareamento atraveacutes dos meacutetodos NN Kernel e Estratificado

que apresentam resultados semelhantes Verificando que alunos bolsistas do ProUni

419

apresentam notas mais elevadas quando comparados agravequeles que natildeo satildeo contemplados pela

bolsa em todos os cursos selecionados Atraveacutes do meacutetodo de Kernel um aluno com bolsa

integral no programa apresenta uma elevaccedilatildeo no desempenho em 10292 pontos comparado

com o aluno natildeo participante para o curso de arquitetura e urbanismo Para o curso de

engenharia civil em 8630 para o curso de educaccedilatildeo fiacutesica em 12649 para o curso de

pedagogia de 11643 e para o curso de engenharia de produccedilatildeo em 9631 Todos os valores

satildeo positivos e significativos para os outros meacutetodos e se encontram na Tabela 5 Sendo o

menor efeito observado no curso de engenharia civil e o maior no de educaccedilatildeo fiacutesica

Tabela 5 - Efeito meacutedio do tratamento no desempenho acadecircmico no ano de 2014

Curso de Arquitetura e Urbanismo

Tipo de Matching Nordm de Tratados Nordm de Controle ATT Erro Padratildeo Estatiacutestica t

NN 676 2848 10197 0625 16327

Kernel 676 4164 10292 0545 18869

Estratificado 676 4164 10386 0710 14636

Curso de Engenharia Civil

NN 1017 4370 9111 0675 13505

Kernel 1017 7143 8630 0391 22080

Estratificado 1017 7143 9037 0420 21502

Curso de Educaccedilatildeo Fiacutesica

NN 1304 4454 12879 0410 31430

Kernel 1304 5759 12649 0419 30171

Estratificado 1304 5759 12749 0387 32966

Curso de Pedagogia

NN 5323 43653 12143 0199 61132

Kernel 5323 45277 11643 0203 57259

Estratificado 5323 45277 12116 0204 59288

Curso de Engenharia de Produccedilatildeo

NN 796 3182 10501 0512 20496

Kernel 796 4883 9631 0510 18880

Estratificado 796 4883 10156 0485 20919

Fonte Elaboraccedilatildeo proacutepria a partir dos microdados ENADEINEP de 2014

Dessa forma no geral verifica-se neste estudo que o ProUni possui impacto positivo

no desempenho acadecircmico dos alunos bolsistas concluintes que realizaram o ENADE 2014

Resultado que corrobora Lira (2010) que afirma que o ATT eacute positivo e estatisticamente

significativo portanto os alunos que recebem bolsa do ProUni tecircm desempenho superior

comparados aos que natildeo recebem

420

5 Consideraccedilotildees Finais

A partir dos microdados do ENADE 2014 este estudo avaliou o impacto de participar

do ProUni sobre o desempenho acadecircmico dos alunos concluintes com bolsa integral Os

resultados demonstraram que tanto na anaacutelise para os cursos conjuntamente quanto na

verificaccedilatildeo por curso (arquitetura e urbanismo engenharia civil educaccedilatildeo fiacutesica pedagogia e

engenharia de produccedilatildeo) o programa exerce uma influecircncia positiva e significativa no

desempenho dos bolsistas concluintes atraveacutes dos trecircs meacutetodos de pareamento (NN Kernel e

Estratificado)

As caracteriacutesticas que influenciam positivamente a participaccedilatildeo no programa em todos

os formatos de anaacutelise satildeo ensino meacutedio em escola puacuteblica maior parte do ensino meacutedio em

escola puacuteblica e ser negro Este aumento na chance de participaccedilatildeo do ProUni dos alunos de

escola puacuteblica estaacute fortemente atrelado ao preacute-requisito do programa Jaacute a questatildeo racial

infelizmente eacute um ponto delicado no contexto brasileiro o acesso ao ensino superior puacuteblico

para os negros ainda eacute falho e assim uma oportunidade seria o acesso a rede privada

financiada pelo governo Ademais um resultado importante eacute que os indiviacuteduos com menor

renda satildeo os com maiores chances de participaccedilatildeo no ProUni visto que este eacute uma das metas

do programa

Em siacutentese o impacto do ProUni eacute positivo ou seja apresenta evidecircncia de elevaccedilatildeo

no desempenho dos alunos concluintes Mas apesar do efeito favoraacutevel encontrado neste

estudo eacute necessaacuterio que as autoridades governamentais se esforcem cada vez mais para a

melhoria da qualidade do ensino natildeo apenas aumentando o acesso como tambeacutem a qualidade

da educaccedilatildeo baacutesica pois ao verificar as meacutedias de desempenho de todos os alunos (Tabela 1)

nota-se que natildeo satildeo tatildeo elevadas considerando que a pontuaccedilatildeo do ENADE varia de 0 a 100

Os resultados obtidos neste trabalho vatildeo de encontro agrave literatura exposta reforccedilando a

importacircncia de poliacuteticas puacuteblicas voltadas ao ensino Seria interessante em pesquisas futuras

a ampliaccedilatildeo da anaacutelise tanto a niacutevel dos cursos quanto dos anos

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424

EFICIEcircNCIA DOS GASTOS PUacuteBLICOS EM EDUCACcedilAtildeO NO NORDESTE UMA

ABORDAGEM EM TREcircS ESTAacuteGIOS

WALLACE PATRICK SANTOS DE FARIAS SOUZA

Doutor em Economia Aplicada pela UFRGS

Professor do Departamento de Economia - UFPB

E-mail wpsfariasgmailcom

Telefone (83) 99912-2456

MAacuteRIO SEacuteRGIO NOGUEIRA DE SOUZA

Graduaccedilatildeo em economia - UERN

E-mail marionawtgmailcom

Telefone (88) 99224-2248

ETEVALDO ALMEIDA SILVA

Doutorando em Geografia ndash UFPE

Professor do Departamento de Economia - UERN

E-mail etevaldoalhotmailcom

Telefone (84) 98833-8874

ANDREacuteA FERREIRA DA SILVA

Doutoranda em Economia Aplicada pela UFPB

E-mail andreaeconomiayahoocombr

Telefone (88) 99729-0750

425

EFICIEcircNCIA DOS GASTOS PUacuteBLICOS EM EDUCACcedilAtildeO NO NORDESTE UMA

ABORDAGEM EM TREcircS ESTAacuteGIOS

RESUMO

O objetivo deste trabalho consiste em mensurar a eficiecircncia das escolas puacuteblicas da regiatildeo

nordeste do Brasil e os condicionantes do seu grau de eficiecircncia para o ano de 2013 Para

tanto a estrateacutegia empiacuterica adotada eacute composta pelos seguintes passos 1) Mensura-se a

eficiecircncia das escolas atraveacutes da teacutecnica natildeo parameacutetrica order-α 2) Satildeo descontadas as

variaacuteveis natildeo-discricionaacuterias visto que estas possuem forte influecircncia sobre os escores finais

de eficiecircncia 3) Por fim aplica-se um modelo de regressatildeo quantiacutelica para avaliar quais os

impactos das variaacuteveis ligadas a escola Encontrou-se que o background familiar impacta

diretamente no rendimento escolar dos alunos e portanto nos niacuteveis de eficiecircncia aleacutem de

verificar-se que autonomia escolar assume um papel pouco relevante no processo de gestatildeo

das escolas

Palavras-chaves Eficiecircncia Background Familiar Autonomia Escolar

ABSTRACT

The objective of this paper is to measure the efficiency of public schools in the northeastern

region of Brazil and the constraints of their degree of efficiency for the year 2013 For this

the empirical strategy adopted is composed by the following steps 1) The efficiency of

schools is measured by the non-parametric order-α 2) Non-discretionary variables are

discounted since they have a strong influence on the final efficiency scores 3) Finally a

quantile regression model is applied to evaluate the impact of variables linked to school It

was found that the family background impacts directly on the students school performance

and therefore on the levels of efficiency besides verifying that school autonomy plays an

insignificant role in the school management process

Keywords Efficiency Family Background School Autonomy

426

1 Introduccedilatildeo

Os gastos puacuteblicos satildeo conceituados como uma escolha poliacutetica dos governos

contemplando uma gama significativa de serviccedilos prestados agrave sociedade Representam o custo

da quantidade e a qualidade dos serviccedilos e bens oferecidos a populaccedilatildeo Ao identificar os

gastos de uma gestatildeo puacuteblica os governos obedecem agraves prioridades presentes no seu plano

plurianual pela alocaccedilatildeo de recursos que lhe satildeo disponiacuteveis para atender as poliacuteticas

puacuteblicas dentre as quais destaca-se a educaccedilatildeo (RIANE 2009)

Ao longo das deacutecadas o Brasil tem procurado priorizar de forma permanente seus

esforccedilos na educaccedilatildeo incorporando maiores responsabilidades no tocante ao ensino seja

atraveacutes do aumento da arrecadaccedilatildeo de tributos vinculados agrave educaccedilatildeo seja aumentando a

obrigatoriedade Biderman et al (2004) afirma que a partir da deacutecada de 1990 um conjunto

de poliacuteticas educacionais foram implementadas e que foram determinantes na

descentralizaccedilatildeo das decisotildees e tambeacutem na mudanccedila de foco por parte do governo que agora

sinalizara seus esforccedilos para educaccedilatildeo baacutesica As estatiacutesticas reforccedilam essa argumentaccedilatildeo

mostrando que os gastos com educaccedilatildeo a partir dos anos 2000 apresentaram trajetoacuterias

crescentes principalmente aquelas vinculadas ao ensino fundamental A principal poliacutetica

puacuteblica adotada para sustentar as possibilidades evidenciadas se vincula ao Fundo de

Manutenccedilatildeo e Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica e de Valorizaccedilatildeo dos Profissionais da

Educaccedilatildeo - FUNDEB criado em 2006 A relevacircncia desta poliacutetica se daacute em torno de como o

volume dos recursos gastos pelos governos em educaccedilatildeo vem sendo otimizados para que se

identifique o quatildeo estatildeo sendo eficientes (SAVIAN E BEZERRA 2013)

A busca por um sistema de ensino de alta qualidade eacute um objetivo comum das

sociedades dado que diferenccedilas de qualidade na educaccedilatildeo oportunizam explicar aleacutem do

efeito positivo na remuneraccedilatildeo do trabalho oriunda dos ganhos de produtividade as

diferenccedilas nos niacuteveis de sauacutede criminalidade e participaccedilatildeo poliacutetica Garantir qualidade e

sobretudo eficiecircncia no que diz respeito aos investimentos eacute o principal objetivo de qualquer

poliacutetica puacuteblica E no acircmbito educacional certificar que os gastos puacuteblicos com educaccedilatildeo

estatildeo sendo eficazes e apropriados eacute sem duacutevida alguma uma meta a ser alcanccedilada por

qualquer naccedilatildeo

Por isso eacute importante que se faccedila uma anaacutelise criteriosa da aplicaccedilatildeo dos recursos que

contemple resultados qualitativos e quantitativos como premissa de entender como esses

custos de investimentos se deram As poliacuteticas puacuteblicas governamentais tem o papel

fundamental de pensar os meios e criar os caminhos para otimizar esses recursos

orccedilamentaacuterios

Segundo entendimento da teoria do Capital Humano formalizada na deacutecada de 1960

por Schultz o desenvolvimento de um paiacutes natildeo depende exclusivamente dos investimentos

em capital fixo mas passa diretamente pelos investimentos em recursos humanos Schultz

(1973) diz que eacute necessaacuterio primeiro investir-se em capital humano para que haja

posteriormente desenvolvimento econocircmico Ele complementa fundamentando que as

principais funccedilotildees das entidades educacionais satildeo a pesquisa com intuito de descobrir e

estimular os talentos dos alunos e a instruccedilatildeo para que estes saibam lidar com oportunidades

427

Ou seja a educaccedilatildeo e o progresso no conhecimento constituem importantes fontes de

crescimento econocircmico

Para Biderman et al (2004) a intervenccedilatildeo para manter a educaccedilatildeo direito

fundamental dos indiviacuteduos se vincula a reduzir as diferenccedilas regionais e atingir um padratildeo

de bem-estar social para alcanccedilar a eficiecircncia econocircmica Na visatildeo de Hanushek amp

Woessmann (2008) a educaccedilatildeo pode impedir ou ampliar as oportunidades econocircmicas e

sociais dos indiviacuteduos ao longo do seu ciclo de vida pois o ensino de baixa qualidade pode

reforccedilar a estrutura a qual estes estatildeo inseridos Conforme os autores a busca por um sistema

de ensino de excelecircncia eacute o grande objetivo de todas as sociedades dado que as diferenccedilas na

qualidade educacional permitem explicar aleacutem do efeito positivo na remuneraccedilatildeo do trabalho

proveniente dos ganhos de produtividade as diferenccedilas dentre outras nos niacuteveis de sauacutede

criminalidade e a participaccedilatildeo poliacutetica dos paiacuteses

De acordo com relatoacuterio da Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento

Econocircmico (OCDE) no ano de 2015 o Brasil destinou 172 dos seus gastos puacuteblicos agrave

educaccedilatildeo do niacutevel de educaccedilatildeo baacutesica agrave educaccedilatildeo superior ficando atraacutes apenas do Meacutexico e

da Nova Zelacircndia ndash ambos com 184 Esse valor destinado a educaccedilatildeo corresponde a 55

do Produto Interno Bruto (PIB) do paiacutes e encontra-se muito acima da meacutedia da OCDE (47)

e de paiacuteses latinos como o Chile (45) e Meacutexico (40) Aleacutem disso o gasto puacuteblico em

instituiccedilotildees de educaccedilatildeo superior como percentual do gasto puacuteblico total aumentou 49 entre

2005 e 2012 o que eacute bem acima do aumento meacutedio da OCDE de 33 O aumento foi ainda

mais acentuado em instituiccedilotildees de ensino fundamental e meacutedio onde a proporccedilatildeo de gasto

puacuteblico cresceu 82 no mesmo periacuteodo sendo o maior aumento entre todos os paiacuteses

parceiros da OCDE com dados disponiacuteveis (OCDE 2015)

Entretanto o consideraacutevel empenho por parte do governo ainda carrega consigo uma

maacute qualidade do ensino ofertado agrave populaccedilatildeo remetendo uma discussatildeo acerca do papel do

capital humano e da maneira que os recursos governamentais satildeo aplicados fazendo da

educaccedilatildeo um fator consideraacutevel quando se trata de desigualdade de renda no paiacutes

Especialistas voltados para economia da educaccedilatildeo cujo eacute vaacutelido o destaque para o estudo de

Delgado e Machado (2007) jaacute destacavam que quando confrontados os exames internacionais

em educaccedilatildeo e o mercado de trabalho a qualificaccedilatildeo dos alunos no Brasil eacute muito aqueacutem

daqueles paiacuteses considerados em desenvolvimento Os resultados obtidos a partir do

Programme for International Student Assessment (PISA) corroboram a tese de que a

qualidade do ensino quando aproximada por testes padronizados nacionais e internacionais

deixam a desejar O levantamento para o ano de 2015 conta com 70 paiacuteses e indica que o

Brasil figura entre os paiacuteses com piores proficiecircncias nos exames de ciecircncias (63deg posiccedilatildeo)

leitura (59deg posiccedilatildeo) e matemaacutetica (66deg posiccedilatildeo)

Apesar dos inuacutemeros estudos no Brasil sobre a eficiecircncia dos gastos puacuteblicos ainda se

torna evidente realizar estudos vinculados a educaccedilatildeo no Nordeste A partir de fronteiras de

eficiecircncia chegaremos a identificar aquelas ineficientes assim pode-se contribuir para que os

gestores puacuteblicos otimizem os recursos para melhorar o desempenho dos estados e

municiacutepios Portanto uma avaliaccedilatildeo de como os gastos puacuteblicos voltados para educaccedilatildeo

428

estatildeo sendo aplicados e quais aspectos contribuem para uma melhor administraccedilatildeo dos

insumos educacionais podem promover benefiacutecios sociais e crescimento econocircmico

Neste contexto quais satildeo os gastos que o setor puacuteblico tem destinado para o avanccedilo do

sistema puacuteblico de educaccedilatildeo Existe eficiecircncia nestes gastos Quais os motivos que os leva a

ineficiecircncia Que impactos as variaacuteveis escolares provocam no niacutevel de instruccedilatildeo dos alunos

Como eles se datildeo a niacutevel de entes da federaccedilatildeo estados e municiacutepios E a niacutevel de regiatildeo

Para responder esses questionamentos optou-se por trabalhar com o modelo natildeo

parameacutetrico order-α pelo fato desta ferramenta garantir agraves medidas uma menor

vulnerabilidade agrave outliers

Assim tomou-se como objetivo geral mensurar a eficiecircncia dos gastos puacuteblicos em

educaccedilatildeo no Nordeste dadas agraves caracteriacutesticas das escolas da rede puacuteblica de ensino E como

objetivos especiacuteficos Comparar a eficiecircncia entre os estados do Nordeste verificar quais satildeo

os determinantes de eficiecircncia identificar os fatores de responsabilidade da escola no

desempenho dos alunos e quais satildeo os mais importantes para a aprendizagem Os resultados

deste estudo podem contribuir a meacutedio e longo prazo para uma melhor realocaccedilatildeo de recursos

bem como de eficiecircncia na melhoria da poliacutetica puacuteblica da educaccedilatildeo

Para aleacutem desta introduccedilatildeo o presente trabalho se divide em mais 5 seccedilotildees A seccedilatildeo 2

conteacutem uma revisatildeo literaacuteria abordando a eficiecircncia dos gastos puacuteblicos a seccedilatildeo 3 mostra os

procedimentos metodoloacutegicos que foram adotados as seccedilotildees 4 e 5 apresentam

respectivamente os dados utilizados para mensuraccedilatildeo e os resultados alcanccedilados Por fim a

seccedilatildeo 6 apresenta as consideraccedilotildees finais

2 Eficiecircncia dos Gastos Puacuteblicos

Nas uacuteltimas deacutecadas houve um consideraacutevel crescimento de trabalhos cujo intuito eacute

avaliar a eficiecircncia dos gastos puacuteblicos no Brasil na provisatildeo de serviccedilos que satildeo

considerados essenciais como educaccedilatildeo seguranccedila e sauacutede Benegas (2012) aponta que

existe pelo menos duas razotildees que justifiquem tal ocorrecircncia A primeira reside por si soacute no

interesse pelo assunto uma vez que no Brasil dado o tamanho e importacircncia do estado na

oferta dos serviccedilos citados a avaliaccedilatildeo dos gastos puacuteblicos assume um papel preponderante

num contexto normativo A segunda diz respeito ao grande acervo de teacutecnicas de avaliaccedilatildeo de

eficiecircncia que aleacutem de serem bem fundamentados satildeo de faacutecil manuseio O modelo natildeo-

parameacutetrico Data Envelopment Analysis (DEA) que seraacute explanado nas seccedilotildees posteriores

constitui um exemplo imediato dessas teacutecnicas

No Brasil a utilizaccedilatildeo da teacutecnica eacute muito recente mas jaacute conta com um conjunto

significativo de estudos aplicados ao procedimento com um niacutevel avanccedilado de sofisticaccedilatildeo

metodoloacutegica Um exemplo praacutetico da aplicaccedilatildeo da metodologia DEA no acircmbito das poliacuteticas

puacuteblicas eacute o estudo realizado por Marinho (2001) cujo objetivo era avaliar os serviccedilos

hospitalares dos municiacutepios fluminenses referentes ao ano de 1998 Com base nos dados

obtidos ele define a rede de serviccedilos de sauacutede do Rio de Janeiro como ―um sistema de

entradas e saiacutedas que transforma capacidade de atendimento materializada em recursos

materiais e financeiros em serviccedilos de atendimento hospitalar e ambulatorial aleacutem de um

indicador de qualidade (Marinho 2001)

429

Em linha de pesquisa semelhante Costa (2011) objetivou avaliar a eficiecircncia teacutecnica

municipal na alocaccedilatildeo dos recursos puacuteblicos no estado do Paranaacute referentes ao ano de 2008

Seu trabalho identificou e analisou a eficiecircncia com gastos em sauacutede educaccedilatildeo e saneamento

em relaccedilatildeo ao IDPM (Iacutendice de Desempenho Municipal) nos municiacutepios paranaenses Ele

verificou que apenas trinta e dois do montante de trezentos e cinquenta municiacutepios avaliados

foram eficazes na alocaccedilatildeo de gastos puacuteblicos ou seja menos de 11 Expocircs ainda agrave

necessidade de se rever as praacuteticas de gestatildeo utilizadas na maioria dos municiacutepios do estado a

fim de melhor alocar os recursos puacuteblicos e entregar aos seus muniacutecipes uma melhor

qualidade de vida

Tratando especificamente de educaccedilatildeo a avaliaccedilatildeo da eficiecircncia da provisatildeo de

recursos puacuteblicos eacute um tema que desperta interesse tanto no meio acadecircmico quanto nas

autoridades puacuteblicas e sociedade civil em geral E a razatildeo para isso eacute imediata Eacute praticamente

unacircnime o consenso de que o crescimento e desenvolvimento de longo prazo de uma naccedilatildeo

passam inevitavelmente pela oferta abrangente e de qualidade do ensino baacutesico

Utilizando-se do meacutetodo DEA em dois estaacutegios Delgado e Machado (2007) analisou

a eficiecircncia das escolas puacuteblicas estaduais de Minas Gerais com intuito de detectar a fronteira

de eficiecircncia das escolas nos niacuteveis fundamental e meacutedio No primeiro estaacutegio calcularam a

eficiecircncia de todas as unidades no segundo compararam os resultados das famiacutelias aleacutem da

infraestrutura e do orccedilamento das escolas

A partir dos resultados obtidos Delgado e Machado compreendem que os indicadores

do produto educacional podem melhorar bastante se obtiverem um niacutevel maior de eficiecircncia

nas escolas estaduais Os autores recomendam ainda uma complementariedade dos insumos

dentro e fora da escola o que possibilitaraacute um desempenho melhor dado que escolas

localizadas nas mesorregiotildees do estado onde os recursos educacionais satildeo mais abundantes as

chances de serem eficientes e oferecer um ensino de melhor qualidade satildeo maiores embora

que existam bons exemplos de desempenho nas regiotildees mais carentes do Estado

Neto (2010) analisou a eficiecircncia do gasto puacuteblico em educaccedilatildeo nos municiacutepios do

estado do Cearaacute com foco no municiacutepio de Meruoca atraveacutes da anaacutelise envoltoacuteria de dados e

estimou os iacutendices de eficiecircncia considerando indicadores de insumo e produto tanto nos

estaacutegios iniciais da educaccedilatildeo infantil como do ensino fundamental para todos os municiacutepios

do estado Assim os municiacutepios foram classificados num ranking de eficiecircncia permitindo

verificar em que posiccedilatildeo o alvo deste estudo se encontrava

Atraveacutes dos resultados alcanccedilados em seu estudo Neto verificou que os municiacutepios

maiores e que dispotildeem uma gama maior de recursos natildeo apresentam eficiecircncia O exemplo

praacutetico disto eacute a capital do estado Fortaleza que ficou entre os quinze piores do ranking na

educaccedilatildeo infantil tanto na anaacutelise do paracircmetro insumo x produto e insumo x resultado como

tambeacutem no quesito produto x resultado Entretanto municiacutepios considerados menores e com

poucos recursos aparecem frequentemente entre os mais eficientes O municiacutepio de Meruoca

objeto deste estudo que conta com uma populaccedilatildeo de 13693 habitantes segundo censo de

2010 apresentou todos os iacutendices acima das suas respectivas meacutedias estando abaixo da meacutedia

apenas sob o paracircmetro do insumo x produto para o ensino fundamental

430

Wissmann (2014) atraveacutes da aplicaccedilatildeo da anaacutelise envoltoacuteria de dados apurou a

eficiecircncia do gasto puacuteblico com o ensino fundamental na regiatildeo Oeste do Paranaacute em relaccedilatildeo

ao iacutendice de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica (IDEB) Dividiu seu estudo em duas

partes ambas desenvolvidas com base em dados secundaacuterios dos municiacutepios sendo a

primeira parte composta da anaacutelise da evoluccedilatildeo do gasto puacuteblico com educaccedilatildeo em relaccedilatildeo

aos resultados do IDEB e a segunda baseando-se na utilizaccedilatildeo de variaacuteveis com intuito de

verificar quais delas podem refletir nos resultados do iacutendice

Apoacutes a coleta e anaacutelise de dados o autor constatou que os gastos com educaccedilatildeo na

regiatildeo Oeste do Paranaacute cresceram em proporccedilatildeo superior ao crescimento do IDEB Entre os

municiacutepios estudados destacou-se Santa Helena que apresentou aumento de 113 nos

gastos per capita com o Ensino Fundamental enquanto o IDEB teve variaccedilatildeo positiva de

326 Entretanto os valores destinados agrave manutenccedilatildeo do Ensino Fundamental - seacuteries

iniciais natildeo estatildeo surtindo os efeitos adequados na qualidade do ensino uma vez comparados

ao IDEB o gasto puacuteblico em educaccedilatildeo na regiatildeo Oeste do Paranaacute natildeo estaacute formando capital

humano na proporccedilatildeo desejada

3 Procedimentos Metodoloacutegicos

Nesta seccedilatildeo estatildeo contidos os principais procedimentos metodoloacutegicos necessaacuterios para

realizaccedilatildeo desse estudo Devido a questatildeo de espaccedilo o modelo natildeo parameacutetrico Anaacutelise

Envoltoacuteria de Dados (DEA) tradicional natildeo seraacute apresentado podendo ser encontrado em

Delgado e Machado (2007) Dessa forma seraacute abordado o Modelo de Ordem α e por fim o

Modelo de Misturas Finitas

31 Modelo de Ordem- α

Nos uacuteltimos anos a literatura voltada para a eficiecircncia tem migrado em direccedilatildeo a

meacutetodos natildeo parameacutetricos que natildeo utilizam erros aleatoacuterios sendo duas teacutecnicas em especial

bastante utilizadas a anaacutelise envoltoacuteria de dados (DEA) que fora abordada na seccedilatildeo anterior

e o Free Disposal Hull (FDH) proposta por Depris Simar e Tulkens (1984) O estimador

FDH baseia-se na hipoacutetese da dominacircncia fraca e possui algumas vantagens se comparado ao

DEA Dentre elas a capacidade de uma anaacutelise mais realista de modo que a fronteira estimada

eacute totalmente baseada no que realmente foi produzido e natildeo em uma combinaccedilatildeo de resultados

observados No entanto estas teacutecnicas satildeo alvo de criacuteticas por serem determiniacutesticas

vulneraacuteveis a presenccedila de outliers e a erros de mensuraccedilatildeo

Mediante isso a literatura que adota estimadores natildeo parameacutetricos vem migrando para

o chamado enfoque de fronteira parcial (partial frontier approaches) cujo dois meacutetodos

merecem destaque a order-α (ARAGON DAOUIA THOMAS-AGNAN 2005) e a anaacutelise

de eficiecircncia order-m (CAZALS FLORENS SIMAR 2002) A principal vantagem dessas

anaacutelises parciais eacute possibilitar que observaccedilotildees supereficientes sejam alocadas aleacutem da

Fronteira de Possibilidade de Produccedilatildeo (FPP) garantindo as medidas menor vulnerabilidade agrave

outliers

O meacutetodo o order-α proposto por Aragon Daoia e Thomas-Agnan (2005) representa

uma generalizaccedilatildeo do estimador FDH Para compreensatildeo do meacutetodo considere um espaccedilo de

431

probabilidade (Ω A Ƥ) sobre qual o vetor de insumos X e de produtos Y estaacute definido Sob

esta oacutetica definem-se o conjunto Ψ onde estatildeo contidos o vetor de insumos o vetor de

produtos e a distribuiccedilatildeo conjunta dos dois vetores aleacutem de um subconjunto de Ψ definido

como lowast | A equaccedilatildeo abaixo sugere introduzir o conceito de

produccedilatildeo de ordem contiacutenua como uma funccedilatildeo quantiacutelica de ordem da funccedilatildeo

que determina Y dado que X natildeo excede determinado niacutevel de insumos

| | | (1)

Essa funccedilatildeo quantiacutelica condicional eacute o limiar do produto educacional representado por

das escolas que utilizam menos insumos do que o niacutevel x Assumindo que para

todo x tal que a funccedilatildeo de distribuiccedilatildeo condicional | eacute estritamente crescente

no intervalo Para tanto

lowast tem-se que com | (2)

Com isso qualquer plano de produccedilatildeo no subconjunto lowast pertence a alguma

curva quantiacutelica de ordem α A funccedilatildeo quantiacutelica estima a eficiecircncia do plano de produccedilatildeo

quando a compara com todos que utilizam os mesmos niacuteveis de insumo x bem como

com os que usarem niacuteveis menores que x O escore de eficiecircncia eacute algebricamente descrito

por

[

frasl ] (3)

Na praacutetica Daraio e Simar (2007) fornecem os passos necessaacuterios para se obter o

estimador atraveacutes de um algoritmo

[1] - Assuma sum

[2] - Defina

[3] - Para denote por

a estaacutetica de ordem das observaccedilotildees tal que

[4] A partir do passo a medida de eficiecircncia eacute definida como

[ ]

([ ] )

[5] ndash Este passo eacute um loop B vezes para obter um conjunto de estimadores bootstrap

( lowast

lowast)

432

[6] Satildeo utilizados os valores bootstrap de A para construir o intervalo de confianccedila para Y

A figura 1 fornece uma ilustraccedilatildeo graacutefica dos meacutetodos natildeo parameacutetricos que foram

discutidos acima Para a DEA e o FDH as DMUs que satildeo irregulares abrangem as fronteiras

mensuradas fazendo com que as demais DMUs sejam ineficientes Em contrapartida o

meacutetodo ordem α possibilita que as DMUs se localizem fora da FPP estimada

Figura 1

Fonte Oliveira et al (2015)

32 Modelo de Misturas Finitas

Uma vez coletados os indicadores de eficiecircncia robustos sem a interferecircncia das

variaacuteveis natildeo discricionaacuterias mencionadas na seccedilatildeo acima ou seja apoacutes a aplicaccedilatildeo do

modelo de order-α seratildeo investigados quais as variaacuteveis satildeo decisivas para a obtenccedilatildeo de

eficiecircncia na gestatildeo escolar Para tanto adota-se um modelo de misturas finitas para estimar

essas relaccedilotildees O modelo de misturas finitas tem como vanguarda o trabalho de Feller (1943)

e apresenta-se como um modelo semiparameacutetrico dado que hipoacuteteses sobre distribuiccedilotildees de

cada subpopulaccedilatildeo satildeo desnecessaacuterias Modelos como este representam uma adiccedilatildeo de

densidades de S distintas populaccedilotildees para analisar a heterogeneidade natildeo observada Atenta-

se que algumas variaacuteveis aleatoacuterias Y podem ser heterogecircneas entre grupos mas que se

apresentam homogecircneas intragrupos Como resultado da heterogeneidade as variaacuteveis

apresentam uma distribuiccedilatildeo de probabilidade que se distingue entre os grupos embora se

presuma que todas derivem de uma distribuiccedilatildeo parameacutetrica comum Um modelo de misturas

finitas que segue uma distribuiccedilatildeo qualquer pode ser descrito da seguinte maneira

( | ) sum | sum

(4)

em que ( | ) representa a s-eacutesima densidade e eacute a probabilidade da s-

eacutesima densidade

A determinaccedilatildeo do nuacutemero de componentes se daraacute atraveacutes do teste de razatildeo de

verossimilhanccedila modificado (LR) proposto por Chen e Kalbfleisch (2005) Para isto define-se

433

o conjunto = tem k distribuiccedilotildees em que G apresenta a funccedilatildeo de distribuiccedilatildeo

acumulada Sendo uma amostra aleatoacuteria de densidade a funccedilatildeo de log

verossimilhanccedila eacute modelada por sum

A estatiacutestica de razatildeo de verossimilhanccedila para testar contra eacute

apresentada da seguinte maneira

(5)

Em razatildeo da natildeo-regularidade dos modelos de mistura finita natildeo possui uma

distribuiccedilatildeo qui-quadrado padratildeo Para restaurar a regularidade deste modelo utiliza-se a

seguinte funccedilatildeo de penalidade em que eacute uma

constante positiva e eacute um valor definido no intervalo que depende do nuacutemero de

densidades estimadas Admitindo que e maximizam para e e

o teste de razatildeo de verossimilhanccedila modificado fica da seguinte maneira

( ) ( ) (6)

Por fim se aplica um teste de diferenccedilas medias cujo objetivo eacute verificar se haacute indiacutecios

de heterogeneidade natildeo observada na amostra o que corroboraria o uso do modelo de misturas

finitas Tal passo eacute fundamental uma vez que a distribuiccedilatildeo condicional da variaacutevel eacute uma

mistura de duas ou mais componentes com meacutedias e variacircncias distintas o que possibilita que

os paracircmetros estimados sejam diferentes entre os elementos

4 Dados

Para construccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do presente estudo foram empregados micro

dados da Prova Brasil para o ano de 2013 e do Censo Escolar para o mesmo periacuteodo

considerando-se somente as escolas puacuteblicas A prova Brasil criada em 2005 consiste numa

avaliaccedilatildeo censitaacuteria dos alunos do 5deg ano e 9deg ano do ensino fundamental das escolas puacuteblicas

nas esferas municipal estadual e federal com intuito de avaliar a qualidade do ensino

ministrado

A participaccedilatildeo nesta avaliaccedilatildeo exige alguns requisitos como escolas que possuam um

nuacutemero miacutenimo de 20 alunos matriculados no ano avaliado de modo que os resultados satildeo

disponibilizados por escola e por unidade federativa A apuraccedilatildeo do desempenho dos alunos

baseia-se nas escalas de proficiecircncia uma vez que corresponde a escalas especiacuteficas ao

assunto permitindo computar as competecircncias adquiridas pelos alunos ao longo da trajetoacuteria

escolar Estas escalas satildeo construiacutedas por meio da Teoria de Reposta ao Item (TRI) e do

modelo de Blocos Incompletos Balanceados (BIB)

Foram eliminadas todas as escolas com valores missing em alguma das dimensotildees

analisadas A partir dos dados primaacuterios foram construiacutedos os indicadores de qualidade

escolar um iacutendice socioeconocircmico do aluno sendo este necessaacuterio uma vez que natildeo existem

434

informaccedilotildees referentes ao niacutevel de renda da famiacutelia do aluno e um iacutendice de incentivo escolar

por meio de uma teacutecnica de anaacutelise de componentes principais para dados categoacutericos

Para o indicador socioeconocircmico foram levadas em consideraccedilatildeo as seguintes

variaacuteveis do questionaacuterio do aluno nuacutemero de aparelhos de televisatildeo (0 1 2 ou mais)

nuacutemero de geladeiras (0 1 2 ou mais) nuacutemero de carros (0 1 2 3 ou mais) se possuem

computador nuacutemero de quartos (0 1 2 3 ou mais) nuacutemero de empregada (s) domeacutestica (s)

por pelo menos cinco dias por semana (0 1 2 3 ou mais)

O iacutendice de incentivo escolar por sua vez eacute construiacutedo com base nas seguintes

variaacuteveis se os pais do aluno o incentivam a estudar se os pais do aluno o incentivam a fazer

as atividades de casa se os pais do aluno o incentivam a ler se os pais do aluno o incentivam

a natildeo faltar agraves aulas e se os pais do aluno conversam sobre o que acontece na escola

Por fim o indicador de qualidade da escola eacute baseado no seguinte conjunto de

variaacuteveis se a escola tem rede puacuteblica de abastecimento de aacutegua se a escola tem rede puacuteblica

de energia eleacutetrica se a escola tem rede puacuteblica de esgoto se a escola tem coleta perioacutedica de

lixo se haacute sala de professores se haacute sala de diretor se haacute sala de informaacutetica se haacute

laboratoacuterio de ciecircncias se haacute cozinha se haacute biblioteca se haacute banheiros na escola

(dependecircncias externa e interna) e se haacute acesso de alunos a computadores

A tabela 1 apresenta um conjunto de estatiacutesticas descritivas que permitem caracterizar

o comportamento dos insumos e produtos utilizados no processo de estimaccedilatildeo da eficiecircncia

teacutecnica das unidades escolares para cada ano do painel Com relaccedilatildeo aos produtos nota-se

que o desempenho meacutedio dos alunos do 9deg ano nas provas de Matemaacutetica e Liacutengua

Portuguesa satildeo inferiores se comparados com os nuacutemeros do 5deg ano Observou-se tambeacutem

um consideraacutevel aumento no nuacutemero de matriacuteculas nas instituiccedilotildees de ensino voltadas para a

fase final do ensino fundamental se comparado com os indicadores do 5deg ano

Tabela 1 Estatiacutesticas Descritivas dos Insumos e Produtos ndash 1ordm Estaacutegio - 2013

5ordm Ano

Variaacuteveis Meacutedia Desvio-padratildeo Min Max

Salas de aula 1572 728 1 40

Multimiacutedia 056 075 002 809

Matriacuteculas 183659 122717 197 8328

Esc Professor 094 023 0 1

Infraestrutura 056 031 001 166

Exp Diretor 018 038 0 1

Matemaacutetica 18796 2800 8052 35312

Portuguecircs 17663 2605 9555 29608

Aprovaccedilatildeo 056 020 0 1

9ordm Ano

Variaacuteveis Meacutedia Desvio-padratildeo Min Max

Salas de aula 1572 637 4 44

Multimiacutedia 085 096 002 809

Matriacuteculas 241311 146732 299 8328

Esc Professor 096 017 0 1

Infraestrutura 066 032 001 166

Exp Diretor 023 042 0 1

Matemaacutetica 22036 2419 11640 35689

435

Portuguecircs 21486 2481 11575 32740

Aprovaccedilatildeo 055 018 0 1

Fonte Elaborado pelo autor

As variaacuteveis que representam os insumos utilizados apresentam um comportamento

que natildeo justificam um aumento no niacutevel meacutedio de reprovaccedilatildeo dos alunos do 9deg ano se

comparados com os alunos do 5deg A infraestrutura disponibilizada nos anos finais do ensino

fundamental se comparada com o 5deg ano apresenta um crescimento de aproximadamente

178 podendo ser representados pelo consideraacutevel crescimento nas salas de multimiacutedia e na

manutenccedilatildeo da quantidade meacutedia de salas de aula No tocante a experiecircncia do diretor e

escolaridade do professor tem-se indicadores melhores para etapa final de ensino com 18 e

094 respectivamente para o 5deg ano contra 23 e 96 para o 9deg ano

Na tabela 2 constam informaccedilotildees relacionadas agraves variaacuteveis natildeo-discricionaacuterias A

amostra deste estudo eacute caracterizada por uma maior presenccedila de alunos do sexo feminino (em

torno de 52 para 4deg seacuterie e 54 para a 8deg seacuterie) Nota-se tambeacutem que haacute uma presenccedila

maior de alunos brancos no 9deg ano (16 da amostra) se comparado com o total de alunos do

5deg ano (13)

Tabela 2 Estatiacutesticas Descritivas das Variaacuteveis Natildeo-Discricionaacuterias ndash 2ordm Estaacutegio - 2013

5ordm Ano

Variaacuteveis Meacutedia Desvio-padratildeo Min Max

Homem 048 013 0 1

Branco 013 033 0 1

Idade 1100 055 8 15

Mora com Matildee 086 034 0 1

Esc Matildee 004 021 0 1

Socioeconocircmico 024 029 0 262

Incentivo escolar 454 041 0 5

Creche 020 040 0 1

9ordm Ano

Variaacuteveis Meacutedia Desvio-padratildeo Min Max

Homem 046 013 0 1

Branco 016 037 0 1

Idade 1609 062 13 20

Mora com Matildee 088 032 0 1

Esc Matildee 003 017 0 1

Socioeconocircmico 019 020 0 206

Incentivo escolar 456 041 0 5

Creche 019 039 0 1

Fonte Elaborado pelos autores com base nos microdados da Prova Brasil e do Censo EscolarINEP

Notas As estatiacutesticas foram corrigidas pelos pesos amostrais

Quanto agrave evoluccedilatildeo comparando as etapas de ensino observa-se nas escolas uma

presenccedila maior do nuacutemero de alunos que moram com a matildee nos alunos do 9deg ano com 88

contra 86 para o 5deg ano Observa-se tambeacutem uma relevante piora nas condiccedilotildees financeiras

das famiacutelias dos alunos o iacutendice socioeconocircmico no 5deg ano foi em meacutedia de 024 enquanto

que no 9deg ano caiu para 019 Este indicador eacute relevante jaacute que crianccedilas de famiacutelias pobres

436

devido a causas como pais com baixa escolaridade e piores condiccedilotildees de moradia tecircm maior

dificuldade na escola refletindo no desempenho e levando a maiores taxas de reprovaccedilatildeo

evasatildeo e abandono escolar Por sua vez natildeo houve alteraccedilotildees significativas no iacutendice que

mensura o envolvimento dos pais com a vida escolar do filho e que reflete o incentivo aos

estudos e agrave leitura com o que acontece no ambiente escolar Desse modo houve encolhimento

de recursos econocircmicos para as famiacutelias dos alunos atenuados pela ausecircncia de ganho de

capital humano das matildees e diminuiccedilatildeo indireta do capital cultural

A despeito dos alunos que iniciaram sua trajetoacuteria escolar na creche verifica-se que o

desempenho de alunos do 5deg ano eacute ligeiramente superior do que os alunos do 9deg ano A

qualidade das creches estaria diretamente relacionada agrave qualidade das atividades e agrave estrutura

do programa educacional cujo reflexo eacute determinante no desenvolvimento da crianccedila O

relatoacuterio do Banco Mundial (2001) supracitado expotildee a importacircncia deste serviccedilo Barros et

al (2011) verificou em seu estudo que o baixo padratildeo de serviccedilo ofertado tambeacutem poderia

ser capaz de comprometer o desempenho educacional futuro dos discentes Desse modo o

desfecho de se iniciar a vida escolar na creche sobre o desempenho acadecircmico futuro dos

alunos estaria diretamente relacionado agrave qualidade do projeto pedagoacutegico ofertado nessa fase

Podendo o efeito creche portanto atuar positiva ou negativamente na performance dos

alunos

A tabela 3 expotildee a adoccedilatildeo de uma seacuterie de medidas de autonomia escolar e sua

evoluccedilatildeo entre os 5deg e 9deg anos do ensino fundamental A variaacutevel diretoria indica se o diretor

assumiu o cargo exclusivamente por processo seletivo O cocircmputo dos dados mostra que a

porcentagem de diretores que atuam em seus cargos em decorrecircncia de seleccedilatildeo eacute ligeiramente

maior nas turmas do 9deg ano Com relaccedilatildeo ao conselho escolar verifica-se que natildeo houve

pioras nem melhoras significativas deste indicador Cerca de 63 (5deg ano) e 65 (9deg ano) das

unidades de ensino reuniram seus conselhos escolares por trecircs vezes ou mais no ano Ao

referido oacutergatildeo atribui-se a funccedilatildeo de deliberar sobre as normas internas e o funcionamento

da escola participaccedilatildeo na elaboraccedilatildeo do projeto pedagoacutegico analisar as questotildees

encaminhadas pelos diversos segmentos da escola a fim de propor sugestotildees acompanhar a

execuccedilatildeo das accedilotildees pedagoacutegicas administrativas e financeiras da escola aleacutem de mobilizar a

comunidade escolar e local para a participaccedilatildeo em atividades em prol da melhoria da

qualidade da educaccedilatildeo conforme previsto em lei

O projeto pedagoacutegico elaborado pela instituiccedilatildeo de ensino reflete a proposta educativa

construiacuteda pela comunidade escolar no exerciacutecio de sua autonomia tomando como base as

caracteriacutesticas dos alunos os profissionais que ali atuam e os recursos disponiacuteveis

fundamentado nas orientaccedilotildees curriculares nacionais e dos respectivos sistemas de ensino

Destarte Oliveira et al (2016) argumenta que ratificar a ampla participaccedilatildeo dos profissionais

da escola famiacutelia e alunos na definiccedilatildeo das orientaccedilotildees e dos processos de implantaccedilatildeo dos

mesmos tecircm-se a construccedilatildeo de uma comunidade escolar mais igualitaacuteria e participativa

influenciando positivamente os resultados acadecircmicos dos alunos Conforme as estatiacutesticas

apontadas aqui a porcentagem de escolas em que pais professores diretor alunos e outros

servidores se reuniram para elaborar o projeto pedagoacutegico eacute iacutenfima (apenas 2) e eacute a mesma

tanto para escolas do 5deg e 9deg anos Esse resultado evidencia o baixiacutessimo envolvimento dos

437

diversos atores educacionais no processo de definiccedilatildeo das regras que iratildeo nortear a trajetoacuteria

de aprendizagem dos alunos

Os diretores tambeacutem relataram mudanccedilas nas interferecircncias em suas gestotildees Ao

comparar os dados estatiacutesticos das escolas analisadas nota-se uma variaccedilatildeo muito pequena

Todavia eacute vaacutelido destacar que mais de 33 e 36 (para 5deg e 9deg ano respectivamente) dos

diretores comunicaram que agentes externos tentaram de alguma maneira interferir em suas

praacuteticas de gestatildeo Tais tentativas podem prejudicar as teacutecnicas de administraccedilatildeo propostas

pelo diretor uma vez que o mesmo conhece a comunidade e o ambiente escolar e suas

principais demandas Concomitantemente constata-se altos iacutendices de apoio da comunidade

escolar a despeito das praacuteticas gerenciais do diretor - 94 para o 5deg ano e 92 para o 9deg ano

Tabela 3 Estatiacutesticas Descritivas das Variaacuteveis Natildeo-Discricionaacuterias ndash 3ordm Estaacutegio - 2013

5ordm Ano

Variaacuteveis Meacutedia Desvio-padratildeo Min Max

Diretoria 020 041 0 1

Conselho 063 048 0 1

Projeto 002 015 0 1

Admissatildeo 001 013 0 1

Interferecircncia 033 047 0 1

Livro 073 017 0 1

Apoio 094 023 0 1

Homog Idade 044 049 0 1

Homog Rendimento 007 026 0 1

Heter Idade 009 029 0 1

Heter Rendimento 009 028 0 1

9ordm Ano

Variaacuteveis Meacutedia Desvio-padratildeo Min Max

Diretoria 021 040 0 1

Conselho 065 047 0 1

Projeto 002 015 0 1

Admissatildeo 002 015 0 1

Interferecircncia 036 048 0 1

Livro 072 015 0 1

Apoio 092 025 0 1

Homog Idade 054 049 0 1

Homog Rendimento 003 019 0 1

Heter Idade 007 025 0 1

Heter Rendimento 006 024 0 1

Notas As estatiacutesticas foram corrigidas pelos pesos amostrais

Fonte Elaborado pelos autores com base nos microdados da Prova Brasil e do Censo

EscolarINEP

A escolha do livro didaacutetico representa mais uma medida de autonomia escolar Essa

tarefa cabe aos professores e a equipe pedagoacutegica e tem por objetivo analisar as resenhas

contidas no guia para escolher adequadamente a serem utilizados no triecircnio O livro didaacutetico

deve estar adequado ao projeto pedagoacutegico do estabelecimento de ensino ao aluno e

professor e agrave realidade sociocultural das instituiccedilotildees No ano de 2013 observou-se que para

438

o 5deg ano cerca de 73 das instituiccedilotildees de ensino decidiram que livros iriam utilizar para o 9deg

ano uma ligeira reduccedilatildeo de modo que 72 das escolas escolheram que material didaacutetico

usariam no triecircnio seguinte

Por fim adotou-se o criteacuterio de alocaccedilatildeo dos alunos entre as turmas como uacuteltima

medida de autonomia escolar Para ambos os anos do ensino fundamental o principal

paracircmetro estabelecido para o estabelecimento das turmas foi a homogeneidade quanto agrave

idade tendo 44 das escolas adotando este meacutetodo para o 5deg ano e 54 para o 9deg ano O

criteacuterio ampara-se na regra do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo que define que para ingressar no 1deg

ano do ensino fundamental as crianccedilas precisam possuir pelo menos seis anos de idade

completos ateacute marccedilo Almeja-se minimizar as diferenccedilas de idade entre os alunos e

indiretamente obter menores taxas de defasagem idade-seacuterie

Com base no exposto anteriormente daacute-se prosseguimento agrave anaacutelise de resultados obtidos

para as medidas de eficiecircncia escolar a relaccedilatildeo com as variaacuteveis natildeo discricionaacuterias e a

associaccedilatildeo existente entre autonomia na gestatildeo da escola e a eficiecircncia do diretor na

combinaccedilatildeo entre insumos e produtos

5 Resultados

51 Escores de Eficiecircncia Teacutecnica e Gerencial

Esta primeira subseccedilatildeo estaacute dividida em duas partes A primeira aborda a eficiecircncia

dos estados do nordeste brasileiro sob a oacutetica do modelo DEA cujo objetivo eacute a realizaccedilatildeo de

uma sucinta anaacutelise individual da eficiecircncia de cada estado nordestino Posteriormente daacute-se

prosseguimento anaacutelise dos resultados atraveacutes do modelo de Ordem α cuja abordagem eacute

distinta do DEA realizando uma anaacutelise da regiatildeo nordeste como um todo Isso ocorre porque

o modelo natildeo permite um nuacutemero reduzido de observaccedilotildees sendo necessaacuteria uma abordagem

mais ampla dos resultados obtidos Outra vantagem deste modelo em relaccedilatildeo ao DEA eacute a

possibilidade de escores de eficiecircncia acima de 1 ou seja eacute permitido usar escolas que satildeo

outliers (supereficientes) A tabela 4 apresenta estatiacutesticas descritivas acerca das medidas de

eficiecircncia teacutecnica e gerencial por regiatildeo geograacutefica e ano do ensino fundamental O primeiro

comportamento observado eacute o aumento razoaacutevel das medidas de eficiecircncia entre as etapas de

ensino analisadas Verifica-se que maioria dos estados examinados com exceccedilatildeo da Paraiacuteba e

Pernambuco apresentaram indicadores melhores entre os alunos do 9deg ano que os do 5deg ano

De imediato se observa tambeacutem a robusta diferenccedila entre os escores das escolas do 5deg e 9deg

anos do estado do Rio Grande do Norte ao qual possuem 0927 e 0979 respectivamente Isso

indica que as praacuteticas de gestatildeo adotadas pelos administradores escolares obtiveram melhor

balanceamento entre insumos e produtos para os alunos das seacuteries finais desta etapa de ensino

Como o grau de eficiecircncia reflete a relaccedilatildeo entre insumos e produtos unidades

geograacuteficas com desempenhos aqueacutem do ideal nos testes padronizados e elevadas taxas de

aprovaccedilatildeo por exemplo podem apresentar melhor gestatildeo que as outras uma vez que utilizem

seus recursos disponiacuteveis de forma mais eficaz do que aquelas Neste sentido o ideal natildeo

necessariamente eacute aumentar os recursos disponiacuteveis mas sim utiliza-los de forma melhor Eacute o

exemplo de Pernambuco em que se observa que as instituiccedilotildees de ensino do estado

439

apresentam meacutedia muito abaixo dos demais estados o que faz considerar que natildeo houve uma

maximizaccedilatildeo dos produtos educacionais

Tabela 4 Eficiecircncia Teacutecnica por Estado ndash Meacutedia das Escolas - 2013

5ordm Ano

Variaacuteveis Meacutedia Desvio-

padratildeo

Min Max

Maranhatildeo 0917 0120 0508 1

Piauiacute 0961 0068 0783 1

Cearaacute 0914 0115 0569 1

Rio Grande do Norte 0927 0095 0701 1

Paraiacuteba 0979 0051 0771 1

Pernambuco 0892 0116 0565 1

Alagoas 0934 0095 0689 1

Sergipe 0945 0097 0750 1

Bahia 0958 0126 0642 1

9ordm Ano

Variaacuteveis Meacutedia Desvio-

padratildeo

Min Max

Maranhatildeo 0929 0088 0729 1

Piauiacute 0962 0060 0792 1

Cearaacute 0929 0101 0599 1

Rio Grande do Norte 0977 0065 0746 1

Paraiacuteba 0971 0052 0834 1

Pernambuco 0836 0153 0487 1

Alagoas 0969 0068 0816 1

Sergipe 0971 0067 0745 1

Bahia 0961 0142 0679 1

Fonte Elaborado pelos autores com base nos microdados da Prova Brasil e do Censo EscolarINEP

A tabela 5 apresenta os escores de eficiecircncia meacutedia das escolas da regiatildeo nordeste para

os anos desta etapa de ensino que satildeo objetos deste estudo estando divididos em eficiecircncia

teacutecnica (interaccedilatildeo entre insumos e produtos sem o desconto das variaacuteveis natildeo-discricionaacuterias)

e eficiecircncia gerencial (quando as varaacuteveis que natildeo estatildeo sob domiacutenio da escola satildeo

descontadas)

Tabela 5 Eficiecircncia Meacutedia das Escolas - 2013

5ordm Ano

Variaacuteveis Meacutedia Desvio-

padratildeo

Min Max

Eficiecircncia Teacutecnica 1043 0119 0819 1609

Eficiecircncia Gerencial 0639 0082 0538 1

Observaccedilotildees 3590

9ordm Ano

Variaacuteveis Meacutedia Desvio-

padratildeo

Min Max

Eficiecircncia Teacutecnica 1076 0091 0968 1344

Eficiecircncia Gerencial 0764 0074 0677 1

Observaccedilotildees 2802

440

Fonte Elaborado pelos autores com base nos microdados da Prova Brasil e do Censo

Analisando a meacutedia do 5deg ano observa-se a meacutedia de eficiecircncia gerencial de 0639

enquanto que para o 9deg ano tecircm-se 0764 Estes nuacutemeros revelam que o ambiente

sociocultural e o capital econocircmico da famiacutelia dos alunos influenciam diretamente nos

escores Soares e Collares (2006) abordam em seu estudo o que chamam de noccedilatildeo

multidimensional de modo que no presente trabalho a fim de minuciar o background

socioeconocircmico das famiacutelias foi considerado um conjunto de dimensotildees que descrevem a

condiccedilatildeo familiar Satildeo estas recursos financeiros relaccedilatildeo entre os pais e a educaccedilatildeo dos

filhos e a presenccedila da figura materna na famiacutelia

Partindo desse pressuposto almeja-se uma apropriaccedilatildeo das melhorias da escola por

parte dos alunos cuja condiccedilatildeo familiar eacute melhor O reflexo disso eacute a diminuiccedilatildeo da

mobilidade do background familiar o que impacta diretamente na capacidade que os gestores

escolares possuem de promover ganhos agrave comunidade escolar Tais efeitos evidenciam que a

relaccedilatildeo entre bons indicadores educacionais e testes padronizados natildeo refletem a realidade ou

seja que natildeo necessariamente determinada regiatildeo possui uma eficiecircncia relativa maior que as

demais que natildeo possuem os mesmos iacutendices Isso porque os recursos destinados para alcanccedilar

tais resultados podem ser muito maiores que os demais entes da federaccedilatildeo como uma melhor

infraestrutura escolar e qualificaccedilatildeo dos professores Mediante isso as regiotildees que

historicamente satildeo desenvolvidas podem aparecer em colocaccedilotildees muito inferiores a outras

que sofrem com vulnerabilidades sociais e um baixo investimento puacuteblico o que agrave primeira

vista pode parecer um resultado incoerente

52 Eficiecircncia Teacutecnica e Natildeo Discricionariedade

Conforme supracitado no relatoacuterio Coleman et al (1966) diversos estudos revelaram a

importacircncia do background familiar como principal causador das desigualdades nos

indicadores educacionais restando uma pequena fatia de atuaccedilatildeo para as escolas Os trabalhos

de Leon e Menezes-Filho (2002) e Soares e Collares (2006) por exemplo reforccedilam a

importacircncia do ambiente familiar dos alunos tratando-o como fator chave na formaccedilatildeo

educacional Nessa perspectiva a tabela 6 explicita a relaccedilatildeo entre as variaacuteveis natildeo-

discricionaacuterias e o grau de eficiecircncia teacutecnica para o 5deg e 9deg ano no ano de 2013 Se faz

necessaacuterio tomar conhecimento da magnitude da influecircncia das variaacuteveis natildeo-discricionaacuterias

na composiccedilatildeo do escore de eficiecircncia uma vez que tais variaacuteveis natildeo estatildeo sob controle do

gestor escolar Isso permite revelar a real capacidade dos administradores escolares em atuar

na melhoria da gestatildeo de recursos

441

Tabela 6 Estimativas das Variaacuteveis Natildeo-Discricionaacuterias ndash 2ordm Estaacutegio - 2013

Variaacuteveis 5ordm Ano 9ordm Ano

Homem 0046 0034

(0007) (0005)

Branco 0076 -0008

(0004) (0002)

Idade 0058 0004

(0002) (0001)

Mora com Matildee -0054 -0138

(0058) (0367)

Esc Matildee 0215 0125

(0037) (0006)

Socioeconocircmico 0010 0193

(0003) (0009)

Incentivo 0108 0073

(0011) (0017)

Creche 0093 -0044

(0029) (0297)

R2

0155 0448

Nota Os desvios-padratildeo estatildeo entre parecircnteses e foram obtidos por bootstrap com 1000 replicaccedilotildees Nota p lt

0 1 p lt 0 05 p lt 0 01

Fonte Elaborado pelos autores com base nos microdados da Prova Brasil e do Censo EscolarINEP

De acordo com as estimativas ser do sexo masculino e possuir matildee com niacutevel superior

contribui favoravelmente para o aumento da medida eficiecircncia teacutecnica de todas instituiccedilotildees de

ensino da regiatildeo nordeste mesmo que ambas as variaacuteveis apresentem um baixo coeficiente

para os dois niacuteveis de ensino Isso se daacute em virtude de uma presenccedila maior do sexo oposto

que possuem desempenho superior ao dos homens e do baixo percentual de matildees de alunos

com ensino superior na amostra o que minimiza o peso dessas variaacuteveis Outro ponto a se

levar em consideraccedilatildeo e que naturalmente tem impacto positivo na eficiecircncia teacutecnica eacute a

idade do aluno dado que o acuacutemulo de conhecimento evolui naturalmente com a idade o que

reflete num melhor resultado na Prova Brasil

Jaacute para os alunos que iniciaram sua vida escolar na creche verifica-se um coeficiente

positivo para os alunos do 5deg ano e negativo para os alunos do 9deg ano O efeito creche possui

impacto positivo na fase inicial da vida dos alunos o que contribui positivamente para o

desempenho dos mesmos nos testes padronizados Entretanto verifica-se que esse efeito

perde forccedila na fase final do ensino fundamental o que piora o escore de eficiecircncia teacutecnica

O aspecto socioeconocircmico e o incentivo por parte dos pais satildeo duas variaacuteveis que

apresentam significativa importacircncia para o aumento do escore de eficiecircncia teacutecnica Soares e

Collares (2006) ratificam a premissa argumentando que o aparato familiar permite aos filhos

terem acesso a bens e informaccedilatildeo que de outro modo natildeo seria possiacutevel aleacutem de poderem se

dedicar somente a escola natildeo necessitando por exemplo trabalhar ou realizar outras tarefas

442

que comprometam o rendimento escolar No tocante a participaccedilatildeo dos pais nota-se uma

relaccedilatildeo mais forte para o 5deg ano o que eacute de naturalmente compreensiacutevel haja vista que satildeo

crianccedilas mais novas e consequentemente mais dependentes dos genitores aleacutem de reagirem

melhor aos incentivos recebidos

A bibliografia mais atual acerca dos retornos educacionais jaacute destaca que quanto mais

cedo os pais investem no envolvimento com a vida escolar de seus filhos maiores satildeo os

ganhos potencializando o desempenho individual dos mesmos (Cunha et al 2010)

53 Determinantes da Eficiecircncia Gerencial

A tabela 7 conteacutem as estimativas dos determinantes dos diferentes niacuteveis de eficiecircncia

das escolas Conforme explicitado nas seccedilotildees anteriores o enfoque foi voltado agrave anaacutelise das

variaacuteveis que refletem o grau de autonomia gerencial das escolas na destinaccedilatildeo dos seus

recursos

Analisando as estimativas para o 5deg anos no tocante ao processo seletivo do gestor

escolar tem-se que as escolas menos eficientes sofrem uma reduccedilatildeo no iacutendice de eficiecircncia

quando a comunidade eacute responsaacutevel pela escolha do diretor Conforme se avanccedila na

distribuiccedilatildeo de eficiecircncia o impacto desta variaacutevel torna-se irrisoacuterio ou seja revela que as

escolas que possuem autonomia no tocante agrave seleccedilatildeo dos gestores natildeo apresentam diferenccedila

relevante de eficiecircncia se comparadas com as instituiccedilotildees de ensino cujo diretor eacute indicado

por oacutergatildeo externo Para o 9deg ano a autonomia das escolas ainda que ligeiramente positiva

tambeacutem desempenha um papel irrelevante na determinaccedilatildeo da eficiecircncia escolar

Em ambas etapas de ensino o fato do conselho escolar se reunir mais de trecircs vezes ao

ano reduz sensivelmente os niacuteveis de eficiecircncia em praticamente todos os quantis analisados

A elaboraccedilatildeo do projeto pedagoacutegico pela proacutepria escola para o 5deg ano reduz pontualmente a

eficiecircncia das escolas nos menores quantis revelando um efeito miacutenimo nos quantis

superiores Para o 9deg ano esta variaacutevel sequer possui qualquer influecircncia sobre os quantis

Tabela 7 Estimativas da Relaccedilatildeo entre Autonomia Escolar e Eficiecircncia Gerencial ndash 2013

5ordm Ano 9ordm Ano

Variaacuteveis

Diretoria -0002 -0003 -0000 0001 0002 0002

(0000) (0000) (0000) (0000) (0000) (0000)

Conselho -0008 -0011 -0001 -0027 -0027 -0027

(0007) (0003) (0003) (0009) (0009) (0008)

Projeto -0001 -0001 -0001 -0000 -0000 -0000

(0000) (0000) (0000) (0000) (0000) (0000)

Admissatildeo 0086 0025 0001 -0002 -0003 -0001

(0053) (0042) (0022) (0012) (0013) (0015)

Interferecircncia 0017 0015 -0017 0009 -0037 -0037

(0002) (0008) (0008) (0001) (0007) (0005)

Apoio -0059 -0007 -0001 -0002 -0002 0009

(0006) (0002) (0001) (0001) (0001) (0006)

Homog Idade 0243 0017 -0019 0016 0083 0083

(0013) (0013) (0022) (0011) (0009) (0010)

Homog Rendimento 0258 0009 -0001 0028 0092 0020

(0015) (0015) (0002) (0011) (0009) (0044)

Heter Idade 0080 0008 -0002 0060 0124 0052

(0000) (0000) (0000) (0012) (0009) (0044)

Heter Rendimento 0335 0013 -0002 -0008 0055 -0016

443

(0016) (0016) (0003) (0010) (0010) (0006)

Notas As estatiacutesticas foram corrigidas pelos pesos amostrais

Fonte Elaborado pelos autores com base nos microdados da Prova Brasil e do Censo EscolarINEP

Tanto para o 5deg quanto para o 9deg ano a interferecircncia externa na gestatildeo do diretor

aumenta a eficiecircncia das escolas que apresentam baixo indicador de eficiecircncia poreacutem natildeo

apresenta significacircncia para escolas com maiores niacuteveis de eficiecircncia Em linhas gerais eacute

possiacutevel deduzir que embora as escolas menos eficientes requeiram um maior grau de

influecircncia externa no seu funcionamento este fator apresentou uma baixa relevacircncia para uma

maior eficiecircncia escolar

O apoio da comunidade ao modelo de funcionamento da escola gerou um impacto

negativo nas escolas menos eficientes enquanto que nas escolas mais eficientes esse efeito eacute

relativamente menor Quando as decisotildees do gestor escolar satildeo oriundas de accedilotildees da

comunidade abre-se margem para o enraizamento da atuaccedilatildeo destes no meio escolar ao qual

pode gerar ineficiecircncia na alocaccedilatildeo de recursos e reforccedilar o estado de ineficiecircncia escolar

haja vista que o diretor possui respaldo da comunidade

A relaccedilatildeo entre a forma de alocaccedilatildeo dos alunos nas turmas e a praacutetica de gestatildeo

escolar tambeacutem foi objeto de anaacutelise Com base no cocircmputo dos dados percebe-se que as

instituiccedilotildees de ensino que distribuiacuteram seus alunos nas turmas com base na homogeneidade

quanto agrave idade apresentaram maiores escores de eficiecircncia em praticamente todos os quantis

da distribuiccedilatildeo No que tange a heterogeneidade entre as idades esse efeito possuiu relevacircncia

apenas para os menores quantis de eficiecircncia Em relaccedilatildeo ao desempenho dos alunos verifica-

se uma possiacutevel relaccedilatildeo com o grupo do qual o estudante estaacute distribuiacutedo o chamado peer

efect Parte desse resultado se credita ao trabalho de Lazear (2001) que propocircs um modelo

teoacuterico com intuito de avaliar o efeito do peer efect sobre o desempenho dos alunos Nele

concluiu-se que a segregaccedilatildeo dos alunos por niacutevel de habilidade eacute a melhor maneira de

distribuir os alunos Para o 5deg ano as escolas com maiores escores de eficiecircncia obtiveram

praticamente os mesmos ganhos na utilizaccedilatildeo dos dois meacutetodos de alocaccedilatildeo Jaacute para a etapa

final de ensino os ganhos com homogeneidade e heterogeneidade de rendimento foram

distintos Enquanto o rendimento das escolas a partir da alocaccedilatildeo por homogeneidade foi

positivo os ganhos com a utilizaccedilatildeo da heterogeneidade sofreram perdas de eficiecircncia Eacute

pertinente observar que nos modelos em que eacute considerada a presenccedila de interaccedilatildeo com a

inclusatildeo dos peer efects nas funccedilotildees de produccedilatildeo educacionais as tomadas de decisatildeo

direcionam a equiliacutebrios descentralizados sub oacutetimos permitindo a elaboraccedilatildeo de mecanismos

de coordenaccedilatildeo para geraccedilatildeo de ganhos de eficiecircncia Mediante isso constata-se como as

regras de alocaccedilatildeo dos estudantes entre as turmas possuem efeito contributivo para o resultado

global em termos de eficiecircncia gerencial

6 Consideraccedilotildees Finais

O objetivo do presente trabalho consistiu em mensurar a eficiecircncia das escolas

puacuteblicas nordestinas na alocaccedilatildeo dos seus recursos e os fatores determinantes do seu grau de

eficiecircncia A partir da teacutecnica natildeo-parameacutetrica ordem-α calcularam-se os escores de

eficiecircncia das escolas e posteriormente o escore de eficiecircncia gerencial ou seja o cocircmputo da

eficiecircncia sem a influecircncia das variaacuteveis natildeo-discricionaacuterias isto eacute aquelas que natildeo estatildeo

444

diretamente relacionadas agrave escola como o background familiar por exemplo A partir daiacute se

obteve a medida de eficiecircncia ajustada levando como paracircmetro a influecircncia de variaacuteveis

escolares sobre as medidas de eficiecircncia robustas Como as variaacuteveis natildeo afetam a gestatildeo

escolar das instituiccedilotildees de ensino de maneira igual a metodologia empregada tem a vantagem

de levar em consideraccedilatildeo a heterogeneidade natildeo-observada entre as escolas

Uma vez calculado os escores de eficiecircncia ajustados foi utilizado um modelo de

dados em painel em um contexto de regressatildeo quantiacutelica com intuito de avaliar qual a

influecircncia das caracteriacutesticas das escolas sobre os diversos niacuteveis da eficiecircncia da gestatildeo

escolar A relevacircncia do presente estudo reside no fato de que apesar do forte investimento

por parte do Governo Federal com a ampliaccedilatildeo dos recursos destinados e as reformas na

organizaccedilatildeo da gestatildeo nas uacuteltimas deacutecadas as carecircncias do sistema educacional ainda

persistem principalmente no tocante agrave educaccedilatildeo Para alcanccedilar o objetivo proposto foram

utilizados microdados da Prova Brasil para o ano de 2013 sendo a escola a unidade baacutesica de

anaacutelise

Quando as variaacuteveis natildeo-discricionaacuterias satildeo descontadas o escore de eficiecircncia

diminui consideravelmente o que corrobora as evidecircncias presentes na literatura agrave despeito do

background familiar e das condiccedilotildees socioeconocircmicas para o desempenho dos filhos Desse

modo alunos cujos pais possuem um grau de escolaridade alto e que possuem incentivos por

parte dos seus genitores tentem a apresentar melhores resultados nas proficiecircncias tendo

estas impacto significativo nos niacuteveis de eficiecircncia escolar

Em relaccedilatildeo aos determinantes da eficiecircncia gerencial os resultados da estimaccedilatildeo

quantiacutelica revelam que a autonomia gerencial das escolas se mostra muito pouco relevante

para determinaccedilatildeo do grau de eficiecircncia O efeito da atuaccedilatildeo da comunidade nas praacuteticas de

gestatildeo escolar se mostrou negativo quando aplicadas em escolas menos eficientes e

irrelevantes para escolas com maior niacutevel de eficiecircncia

Diante do exposto no presente trabalho eacute evidente a necessidade da criaccedilatildeo e

aplicaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas que objetivem melhorar a gestatildeo escolar dado a desarmonia

entre os recursos disponiacuteveis e o desempenho educacional Logo mais do que mensurar os

niacuteveis de eficiecircncia este trabalho monograacutefico buscou compreender quais os fatores que

determinam o desempenho das escolas nesse criteacuterio com intuito de contribuir para a

formulaccedilatildeo de poliacuteticas mais especiacuteficas para o setor educacional

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448

COMPORTAMENTO DO EMPREGO FORMAL NO BRASIL ENTRE 2010-2016

NATANAEL PESSOA LUSTOZA

(Graduado em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri ndash URCA e

pesquisador do Grupo de Estudos em Territorialidades Econocircmicas e Desenvolvimento

Regional e Urbano - GETEDRU natanaelpessoa1995gmailcom)

JOANA PRISCILA BARBOSA DA SILVA (Graduanda em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri ndash URCA e

pesquisadora do Grupo de Estudos em Territorialidades Econocircmicas e Desenvolvimento

Regional e Urbano - GETEDRU joannasiilva24gmailcom)

CARLOS EDUARDO PEREIRA DO NASCIMENTO

(Graduando em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri ndash URCA e

pesquisador do Grupo de Estudos em Territorialidades Econocircmicas e Desenvolvimento

Regional e Urbano ndash GETEDRU eduardocarlos2807gmailcom)

GUILHERME SOUSA BRANDAtildeO

(Graduando em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri ndash URCA

sousaguilherme25gmailcom)

449

COMPORTAMENTO DO EMPREGO FORMAL NO BRASIL ENTRE 2010-2016

RESUMO

Este estudo tem como objetivo geral verificar o comportamento do emprego formal no Brasil

durante o periacuteodo de 2010 a 2016 Para tanto foram utilizados dados da Relaccedilatildeo Anual de

Informaccedilotildees Sociais (RAIS) do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (MTE) para os anos de 2010

a 2016 De acordo com os dados apresentados no trabalho o nuacutemero de postos de trabalho

formal no Brasil cresceu de forma contiacutenua ateacute 2014 a partir de 2015 poreacutem haacute uma

diminuiccedilatildeo desses empregos efeitos da recessatildeo pela qual passa a economia brasileira A

anaacutelise feita por regiotildees tambeacutem demonstra a mesma tendecircncia do que ocorreu no Brasil as

cinco regiotildees tiveram aumento de empregos formais ateacute 2014 e retraccedilatildeo em 2015 e 2016 A

regiatildeo Sudeste foi a que mais perdeu postos de trabalho em seguida a regiatildeo Nordeste Dentre

os setores a induacutestria foi a que mais apresentou variaccedilotildees O setor cresceu entre 2010 e 2013

e apresentou queda a partir de 2014 Por outro lado o setor agropecuaacuterio apresentou queda na

geraccedilatildeo de empregos apenas em 2016

Palavras-chaves Brasil Emprego Formal Mercado de Trabalho

ABSTRACT

This study has as general objective to verify the formal employment behavior in Brazil during

the period from 2010 to 2016 Therefore were used data from the Annual Social Information

(ASI) of the Ministry of Labour and Employment (MLE) for the years 2010 to 2016 According to the data presented in the paper the number of formal jobs in Brazil increased

continuously until 2014 from 2015 however there is a decrease in these jobs effects of the

recession that the Brazilian economy is experiencing The analysis by regions also shows the

same tendency as in Brazil the five regions saw formal jobs increase by 2014 and decline in

2015 and 2016 The Southeast region was the one that most lost jobs afterwards the

Northeast region Among the sectors the industry was the one that presented the most

variations The sector grew between 2010 and 2013 and presented a drop from 2014 On the

other hand the agricultural sector showed a decrease in the generation of jobs only in 2016

Keywords Brazil Formal Employment Labor Market

450

1 Introduccedilatildeo

Os anos iniciais do seacuteculo XXI foram marcados por importantes avanccedilos no mercado

de trabalho brasileiro A formalizaccedilatildeo do mercado de trabalho reverteu duas deacutecadas de

reduccedilatildeo da proporccedilatildeo de trabalhadores que se inseriam no espaccedilo ocupacional sem acesso a

Direitos Trabalhistas Sociais e Previdenciaacuterios Da mesma forma no periacuteodo 2000-2014

com maior ecircnfase a partir de 2004 houve crescimento da renda real do trabalho combinada

com reduccedilatildeo das desigualdades pessoais de rendimentos (MATTOS 2015)

Segundo Oliveira (2015) na deacutecada de 2000 a economia brasileira foi dinamizada por

meio da expansatildeo do mercado interno o qual foi direcionado pelas poliacuteticas de renda e sociais

adotadas pelo Governo Lula Assim apoacutes um periacuteodo de estagnaccedilatildeo e de predominacircncia de

poliacuteticas liberais na conduccedilatildeo da economia que se estendiam desde a deacutecada de 90

experimentou-se uma nova estrutura social e econocircmica alavancada pelo modelo de

crescimento pautado pela distribuiccedilatildeo de renda

Nesse contexto o mercado de trabalho brasileiro avanccedilou de forma significativamente

positiva com um forte aumento do emprego formal estancamento do processo de elevaccedilatildeo do

emprego sem registro do trabalho natildeo assalariado e natildeo remunerado reduccedilatildeo do desemprego

forte aumento do valor real do salaacuterio miacutenimo recuperaccedilatildeo dos salaacuterios em geral reduccedilatildeo da

desigualdade de rendimentos e da pobreza (SANTOS 2013)

Contudo a partir de 2011 a economia adentra um periacuteodo de desaceleraccedilatildeo que

somente natildeo teve impacto maior no mercado de trabalho porque as medidas tomadas de

incentivo ao consumo ainda promoveram crescimento natildeo despreziacutevel no volume de

ocupaccedilotildees criadas especialmente nas atividades de construccedilatildeo civil de comeacutercio e reparaccedilatildeo

e de algumas atividades de serviccedilos privados aleacutem de empregos na administraccedilatildeo puacuteblica

Desde 2010 como reflexo tanto da crise internacional como da desaceleraccedilatildeo dos

investimentos a produccedilatildeo e o emprego industriais desaceleraram significativamente sendo os

principais responsaacuteveis pelo fraco desempenho do PIB desde entatildeo (MATTOS 2015)

Justifica-se assim a necessidade de verificar o comportamento do emprego formal no Brasil a

partir do ano de 2010

Diante disto este estudo tem como objetivo geral verificar o comportamento do

emprego formal no Brasil durante o periacuteodo de 2010 a 2016 Ademais o estudo busca

responder as seguintes questotildees houve aumento dos postos de trabalho formal no Brasil

451

durante o periacuteodo de 2010 a 2016 Qual o setor econocircmico sofreu o maior iacutendice de

flutuaccedilotildees

Quanto aos procedimentos metodoloacutegicos a pesquisa em questatildeo utilizou-se de

pesquisa descritiva com fins de observar o comportamento econocircmico recente da economia

brasileira E para consecuccedilatildeo dos objetivos houve etapas de pesquisa bibliograacutefica e estudo

empiacuterico utilizando-se de pesquisa de dados secundaacuterios Para tanto a principal fonte de

dados eacute a Relaccedilatildeo Anual de Informaccedilotildees Sociais (RAIS) do Ministeacuterio do Trabalho e

Emprego (MTE) para os anos de 2010 a 2016

Aleacutem desta introduccedilatildeo o trabalho estaacute estruturado da seguinte forma na segunda

seccedilatildeo eacute apresentada uma revisatildeo teoacuterica acerca do comportamento recente da economia

brasileira Na terceira seccedilatildeo satildeo discutidos as anaacutelises e resultados do acerca do emprego

formal no Brasil E na quarta seccedilatildeo estatildeo as conclusotildees

2 Dinacircmica Econocircmica Recente da Brasileira

A deacutecada de 1990 ficou caracterizada por uma ―interrupccedilatildeo no processo de

formalizaccedilatildeo e do aumento significativo do emprego com carteira assinada no Brasil Apoacutes

deacutecadas de melhorias houve reduccedilatildeo nos iacutendices referentes ao mercado de trabalho brasileiro

causada principalmente pelo processo de flexibilizaccedilatildeo do trabalho advindo da abertura

econocircmica comercial contribuindo para o aumento da precarizaccedilatildeo dos viacutenculos de trabalho

vulneraacuteveis e consequentemente da informalidade (ANJOS 2017) Todavia esse cenaacuterio

comeccedila a modificar-se a partir do iniacutecio dos anos 2000

Para Carvalho Gerioni e Batista (2017) a divergecircncia entre os anos 2000 com a

deacutecada anterior pode ser entendida pela dinacircmica econocircmica que caracteriza este periacuteodo

crescimento econocircmico associado ao consumo das famiacutelias e agrave formaccedilatildeo bruta de capital

Desta forma a melhoria da redistribuiccedilatildeo de renda e o aumento do creacutedito foram peccedilas

fundamentais para explicar esta dinacircmica de crescimento com geraccedilatildeo de emprego Assim os

anos 2000 podem ser entendidos como um periacuteodo de crescimento econocircmico com

sustentadas taxas de crescimento da quantidade de empregos

Remy Queiroz e Silva Filho (2010) destacam que no iniacutecio da deacutecada as taxas de

crescimento da economia permaneceram modestas mas a balanccedila comercial tornou-se

superavitaacuteria jaacute em 2002 o que significou uma reversatildeo do quadro anterior Ademais fatores

internos como a crise de energia eleacutetrica que havia provocado racionamento no paiacutes e

452

externos como a crise na Argentina e os atentados nos EUA levaram a desaceleraccedilatildeo da

economia brasileira sendo assim um periacuteodo de incertezas

Com a vitoacuteria do candidato da oposiccedilatildeo em 2002 eacute possiacutevel destacar importantes

elementos de continuidade na poliacutetica macroeconocircmica brasileira entre o segundo mandato

de FHC e o primeiro de Lula embora tambeacutem existam diferenccedilas importantes Como

elemento importante de continuidade destacam-se as poliacuteticas de metas de inflaccedilatildeo e de

cacircmbio flexiacutevel ndash adotadas pelo Banco Central apoacutes a desvalorizaccedilatildeo do Real em janeiro de

1999 ndash e a de superaacutevit primaacuterio implementada pelo Ministeacuterio da Fazenda Entretanto a

novidade residiu como por exemplo na perda de iacutempeto do processo de privatizaccedilatildeo de

empresas estatais e o fortalecimento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e

Social (BNDES) (BALTAR et al 2010)

Segundo Santos (2013) em 2003 primeiro ano de mandato do novo presidente o

quadro de crise econocircmica era ainda marcado por elevada diacutevida e vulnerabilidade externa

fuga de capitais aceleraccedilatildeo inflacionaacuteria crise fiscal e elevada diacutevida puacuteblica juros altiacutessimos

e reduzido ritmo de crescimento econocircmico O mercado de trabalho alcanccedilava os niacuteveis mais

elevados de desestruturaccedilatildeo e precarizaccedilatildeo contribuindo para o agravamento da crise social

da desigualdade e da pobreza No entanto jaacute a partir de 2004 observa-se um processo de

recuperaccedilatildeo econocircmica que iria resultar na elevaccedilatildeo das taxas meacutedias de crescimento do PIB

para 35 no periacuteodo 2003-2006 e num meacutedia ainda maior de crescimento no periacuteodo 2007-

2010 mesmo num contexto de fortes impactos da recente crise internacional Essa retomada

do crescimento econocircmico possibilitou a geraccedilatildeo de maiores taxas de crescimento no

emprego formal do paiacutes

De acordo com Baltar (2015) as exportaccedilotildees principalmente de produtos

manufaturados foram fundanotmentais para o iniacutecio da retomada do crescimento da economia

brasileira em 2004 O crescimento da exportaccedilatildeo acelerou depois de 2002 e em 2004 houve

tambeacutem um crescimento maior do consumo e do investimento no Brasil O ritmo de

crescimento da exportaccedilatildeo de bens e serviccedilos (153) foi bem maior que o do crescimento do

consumo (39) e o do investimento (91) levando a um superavit excepcional do comeacutercio

de bens e serviccedilos que como mencionado atingiu 39 do PIB Houve entatildeo um intenso

aumento do PIB em 2004 explicado preponderantemente pela absorccedilatildeo externa haja vista

que a intensidade do crescimento do PIB (57) foi maior que a do crescimento da soma de

consumo e investimento (47) a chamada absorccedilatildeo interna Assim em um primeiro

453

momento o comeacutercio com outros paiacuteses foi fundamental para aumentar o ritmo de

crescimento do PIB em 2004 e induziu um maior aumento do consumo e do investimento

Para Barbosa e Souza (2010) o periacuteodo de 2004-2005 tambeacutem marcou o iniacutecio da

recuperaccedilatildeo do salaacuterio miacutenimo do aumento nas transferecircncias do Governo agraves famiacutelias mais

pobres e da expansatildeo da concessatildeo de creacutedito isto eacute das linhas-mestras de poliacutetica econocircmica

que iriam se consolidar nos anos seguintes Com a reeleiccedilatildeo do Presidente Lula em 2006

nota-se mais claramente uma diferente posiccedilatildeo do governo em relaccedilatildeo ao crescimento

econocircmico apesar da continuidade da poliacutetica macroeconocircmica assentada nas metas de

inflaccedilatildeo no superaacutevit primaacuterio e na poliacutetica de cacircmbio flutuante Agrave medida que o governo

Lula optou mais claramente por uma poliacutetica econocircmica desenvolvimentista ocorreu uma

aceleraccedilatildeo substancial no crescimento econocircmico do paiacutes

Assim o governo optou por lanccedilar um Plano de Aceleraccedilatildeo do Crescimento (PAC)

por restaurar o quadro de pessoal e o niacutevel dos salaacuterios dos funcionaacuterios puacuteblicos por manter

o ritmo de aumento do salaacuterio miacutenimo legal e assumir a elevaccedilatildeo das despesas da seguridade

social cujos benefiacutecios miacutenimos satildeo atrelados ao salaacuterio miacutenimo e tentou recuperar o

investimento puacuteblico especialmente em infraestrutura Outro sintoma dessa mudanccedila da

posiccedilatildeo do governo brasileiro foi a capitalizaccedilatildeo do BNDES pelo Tesouro Nacional e a

intensificaccedilatildeo de sua atuaccedilatildeo na articulaccedilatildeo da formaccedilatildeo de grupos empresariais nacionais e

no apoio ao investimento das empresas estatais (BALTAR et al 2010)

Atraveacutes do PAC o paiacutes recuperou a capacidade de induzir por meio da iniciativa

governamental o desenvolvimento de amplo espectro de setores fundamentais para a

modernizaccedilatildeo da economia A estrateacutegia do governo federal pela primeira vez em muitas

deacutecadas foi apoiar a formaccedilatildeo de capital da parte do setor privado e simultaneamente

aumentar o investimento puacuteblico em infraestrutura Em sua versatildeo inicial o PAC previa um

investimento total de R$ 504 bilhotildees entre 2007-2010 Tal foi investimento dividido em trecircs

grandes grupos transporte e logiacutestica com R$ 58 bilhotildees energia com R$ 275 bilhotildees e

infraestrutura social com R$ 171 bilhotildees De modo geral o principal meacuterito do PAC foi

liberar recursos para o aumento do investimento puacuteblico e estimular o investimento privado

(BARBOSA SOUZA 2010)

Dessa maneira o mercado de trabalho que mantinha uma trajetoacuteria de expansatildeo com a

geraccedilatildeo de 1254 milhatildeo de empregos formais em 2005 e mais 1229 milhatildeo em 2006

culminou com um novo recorde de pouco mais de 1600 milhatildeo postos formais de trabalho

454

em 2007 ano de lanccedilamento do PAC Nesse mesmo ano amplia-se o Programa Bolsa

Famiacutelia tanto no nuacutemero de famiacutelias contempladas como tambeacutem nos valores reais dos

benefiacutecios (MATTOS 2015)

Entretanto a dinacircmica econocircmica deixa de apresentar desempenhos positivos a partir

do uacuteltimo trimestre de 2008 como consequecircncia da crise econocircmica internacional A trajetoacuteria

de crescimento econocircmico que o paiacutes vinha apresentando foi interrompida a economia

brasileira sentiu os efeitos tanto da desvalorizaccedilatildeo dos preccedilos das commodities quanto do

desaquecimento da demanda internacional os desdobramentos da crise aleacutem da reduccedilatildeo do

crescimento econocircmico e da desvalorizaccedilatildeo do real tambeacutem afetaram negativamente sobre os

nuacutemeros do mercado de trabalho Cabe destacar entretanto que diferentemente das

estrateacutegias do governo em crises passadas a destacar a deacutecada de 80 a crise tratada acima foi

acompanhada por poliacuteticas anticiacuteclicas tanto fiscal quanto monetaacuteria voltadas para a geraccedilatildeo

de estiacutemulos na economia O que se observa eacute a inflexatildeo positiva do crescimento

imediatamente nos anos poacutes-crise (CARVALHO GERIONI E BATISTA 2017)

De acordo com Baltar (2015) o impacto imediato da crise foi sobre a exportaccedilatildeo e o

investimento que diminuiacuteram fortemente em 2009 As Contas Nacionais indicam que

medida na moeda do paiacutes a exportaccedilatildeo de bens e serviccedilos que tinha crescido no ritmo meacutedio

anual de 33 em 2006-2008 teve uma queda de 91 em 2009 Jaacute o investimento que tinha

aumentado no ritmo meacutedio de 137 em 2006-2008 caiu 67 em 2009 O consumo puacuteblico

e privado de bens e serviccedilos entretanto apenas desacelerou em 2009 pois tinha crescido no

ritmo meacutedio de 54 em 2006-2008 e aumentou 41 em 2009

O governo entatildeo reagiu agrave crise com poliacuteticas anticiacuteclicas Entre as medidas anticiacuteclicas

destacam-se decisotildees de ampliaccedilatildeo do Programa Bolsa Famiacutelia aleacutem de uma ampliaccedilatildeo de

investimentos puacuteblicos Decidiu-se tambeacutem pelo aumento da liquidez mediante a reduccedilatildeo do

compulsoacuterio dos bancos o que viabilizou a ampliaccedilatildeo do creacutedito interno Do ponto de vista

da poliacutetica fiscal as autoridades econocircmicas optaram por manter as despesas primaacuterias em

2009 e 2010 Importante tambeacutem foi a expansatildeo da oferta de creacutedito por parte dos bancos

puacuteblicos como Banco do Brasil Caixa Econocircmica Federal e notadamente o BNDES Essas

medidas natildeo impediram a ocorrecircncia de uma pequena retraccedilatildeo do PIB em 2009 mas pelo

menos mantiveram um ritmo positivo de criaccedilatildeo de postos formais de trabalho no ano apesar

da retraccedilatildeo de 02 do PIB foram gerados 995 mil postos formais de trabalho Como

resultado dessas medidas anticiacuteclicas em 2010 o PIB atingiria a taxa de crescimento de

455

75 o que promoveu a geraccedilatildeo liacutequida de 2136 milhotildees de postos formais de trabalho no

ano (MATTOS 2015)

3 Comportamento do Emprego Formal No Brasil (2010 ndash 2016)

De acordo com os dados do Graacutefico 1 o nuacutemero de postos de trabalho formal no

Brasil aumentou de forma contiacutenua entre 2010 e 2014 neste ultimo ano o paiacutes registrou

49571510 de empregos formais Em 2015 poreacutem houve reduccedilatildeo do numero de empregos o

que tambeacutem eacute verificado no ano de 2016 resultados provocados pela profunda recessatildeo da

economia brasileira

Graacutefico 1 - Variaccedilatildeo anual do emprego formal no Brasil (em milhotildees de postos de trabalho)

Elaboraccedilatildeo dos autores a partir dos dados da RAIS (2018)

De acordo com Cacciamali e Tatei (2016) os primeiros indiacutecios de recessatildeo

econocircmica surgiram em 2014 mas eacute apenas em 2015 que os impactos negativos sobre o

mercado de trabalho se aprofundaram A crise atingiu o mercado de trabalho destruindo

empregos assalariados formais e informais De acordo com os dados da RAIS (2016) em

2015 houve variaccedilatildeo negativa de 305 com relaccedilatildeo a 2014 no total o Brasil perdeu

1510703 empregos formais Em 2016 a perda foi de 2000609 de empregos voltando assim

a niacutevel inferior ao ano de 2011 quando foram contabilizados 46310631 empregos formais

Assim como se verificou no Brasil todas as regiotildees brasileiras tambeacutem apresentaram

crescimento dos empregos formais entre 2010 e 2014 e queda em 2015 e 2016 conforme

indica a Tabela 1 A regiatildeo Sudeste foi a que mais perdeu postos de trabalho entre 2014 e

2016 ao todo foram 1941289 empregos cabe destacar que esta eacute a regiatildeo com a maior

populaccedilatildeo Em seguida vem a Regiatildeo Nordeste com perda de 696660 empregos formais

0

10

20

30

40

50

60

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

456

Tabela 1 ndash Variaccedilatildeo do Emprego Formal por Regiatildeo 2010-2016 (em milhotildees de postos de

trabalho)

Ano Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

2010 2408182 8010839 22460999 7557531 3630804

2011 2562748 8481080 23514877 7902443 3849483

2012 2622185 8613556 24099808 8129698 3993465

2013 2743248 8926710 24623001 8415302 4240172

2014 2801469 9132863 24792464 8550246 4294468

2015 2724584 8899279 23892188 8333045 4211711

2016 2579035 8436203 22851175 8091911 4101874

Fonte Elaboraccedilatildeo dos autores a partir dos dados da RAIS (2018)

A regiatildeo Centro-Oeste foi a que menos perdeu postos de trabalho entre 2014 e 2016

ao todo foram 192594 empregos Em seguida vem a Regiatildeo Norte com perda de 222434

empregos Aprofundando o estudo dos postos de trabalho no Brasil segue-se analisando o

emprego formal a niacutevel setorial Conforme os dados da Tabela 2 os setores da induacutestria e

construccedilatildeo civil comeccedilaram a perder empregos jaacute em 2014 e os setores de comeacutercio e

serviccedilos em 2015 O setor da induacutestria foi o que apresentou o maior numero de demissotildees no

total foram 1079947 empregos entre 2014 e 2016

Tabela 2 ndash Variaccedilatildeo do Emprego formal por Setor 2010-2016 (em milhotildees de postos de

trabalho)

Ano Induacutestria Construccedilatildeo

Civil Comeacutercio Serviccedilos Agropecuaacuteria

2010 8499202 2508922 8382239 23268395 1409597

2011 8757935 2750173 8842677 24476056 1483790

2012 8830902 2832570 9226155 25104828 1464257

2013 8998796 2892557 9511094 26066422 1479564

2014 8878726 2815686 9728107 26669328 1479663

2015 8254773 2422664 9532622 26350187 1500561

2016 7798779 1985404 9264904 25534892 1476219

Fonte Elaboraccedilatildeo do autor a partir dos dados da RAIS (2018)

Um fato que chama a atenccedilatildeo ao se analisar o comportamento do mercado de trabalho

no ano de 2015 eacute o resultado do setor agropecuaacuterio frente aos outros setores da economia o

457

saldo de empregos no Paiacutes ao final de 2015 registrou 151 milhotildees de demissotildees na

contramatildeo no mesmo periacuteodo a agropecuaacuteria registrou um saldo de 20898 contrataccedilotildees

4 Consideraccedilotildees Finais

O intuito desse trabalho eacute mostrar o comportamento do emprego formal no Brasil

durante o periacuteodo de 2010 a 2016 De acordo com os dados apresentados no trabalho o

nuacutemero de postos de trabalho formal no Brasil cresceu de forma contiacutenua ateacute 2014 a partir de

2015 poreacutem haacute uma diminuiccedilatildeo desses empregos efeitos da recessatildeo pela qual passa a

economia brasileira

A anaacutelise feita por regiotildees tambeacutem demonstra a mesma tendecircncia do que ocorreu no

Brasil as cinco regiotildees tiveram aumento de empregos formais ateacute 2014 e retraccedilatildeo em 2015 e

2016 A regiatildeo Sudeste foi a que mais perdeu postos de trabalho em seguida a regiatildeo

Nordeste Dentre os setores a induacutestria foi a que mais apresentou variaccedilotildees O setor cresceu

entre 2010 e 2013 e apresentou queda a partir de 2014 Por outro lado o setor agropecuaacuterio

apresentou queda na geraccedilatildeo de empregos apenas em 2016

5 Referecircncias

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Anais Caxambu-MG ABEP 2010

SANTOS A L Recuperaccedilatildeo econocircmica e trabalho no Governo Lula Carta Social e do

Trabalho 2013

459

IMPACTO FINANCEIRO DA CESTA BAacuteSICA NO SALAacuteRIO MEacuteDIO MENSAL

DOS ASSALARIADOS DE VAacuteRZEA ALEGRE-CE

JOAQUIM ANDERSON OLIVEIRA BRITO

Joaquimanderson50gmailcom

Tel (88) 99982-7468

Estudante de Economia da Universidade Regional do Cariri ndash URCA ondeFoi Monitor da

Disciplina Economia Regional e Urbana Teacutecnico Agriacutecola pelo Instituto Federal de

Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Cearaacute ndash IFCE

460

IMPACTO FINANCEIRO DA CESTA BAacuteSICA NO SALAacuteRIO MEacuteDIO MENSAL

DOS ASSALARIADOS DE VAacuteRZEA ALEGRE-CE

RESUMO

Este trabalho visa alcanccedilar uma anaacutelise social e econocircmica criacutetica sobre o preccedilo da Cesta

baacutesica no municiacutepio de Vaacuterzea Alegre Cearaacute trazendo tambeacutem um estudo sobre quanto esse

gasto impacta na renda mensal dos trabalhadores formais da cidade A pesquisa realizada traz

uma comparaccedilatildeo com a Cidade de Fortaleza aleacutem de uma viagem historicamente sobre

salaacuterio miacutenimo no paiacutes Os preccedilos foram pesquisados em diferentes empresas de diversos

bairros para se chegar a conclusatildeo foi realizado no mecircs de dezembro do ano de 2017 Todas

as informaccedilotildees contido estaacute expressa em formas de tabelas e escrito para facilitar melhor e

dinamizar a leitura e compreensatildeo Para se chegar nesse fundamento teoacuterico foi usada a

teacutecnica de pesquisa do DIEESE

Palavras-chave Cesta Baacutesica Vaacuterzea Alegre Salaacuterios

ABSTRACT

This paper aims to reach a critical social and economic analysis on the price of the basic

Basket in the municipality of Vaacuterzea Alegre Cearaacute also bringing a study about how much

this expense impacts the monthly income of the formal workers of the city The research

conducted brings a comparison with the City of Fortaleza in addition to a historically

minimum wage trip in the country Prices were searched in different companies from several

neighborhoods to reach the conclusion was held in the month of December 2017 All

information contained is expressed in tables and written forms to facilitate better and

streamline reading and understanding In order to arrive at this theoretical foundation the

research technique of DIEESE was used

Keywords Basic Basket Vaacuterzea Alegre Salaries

461

1 Introduccedilatildeo

A Cesta Baacutesica eacute composta por alimentos necessaacuterios para a composiccedilatildeo nutritiva de

uma famiacutelia que conforme regiotildees temperaturas e ocasiotildees do ano podem sofrer alteraccedilotildees

no mercado (DIEESE 2009) Isto influenciaraacute diretamente no gasto familiar e na mesa do

trabalhador

Segundo pesquisa do DIEESE em meacutedia a cesta baacutesica no Brasil custa 30805 reais e

o salaacuterio miacutenimo no Brasil necessaacuterio para uma famiacutelia sobreviver seria de 373139 reais

(2009) Essa meacutedia eacute feita a partir de estudos de todos os estados do paiacutes e o salaacuterio

necessaacuterio calculado em cima dessa meacutedia

Na capital do Cearaacute a variaccedilatildeo anual da Cesta Baacutesica estaacute em meacutedia 485 e o preccedilo

da mesma varia em uma meacutedia de 37046 reais sendo uma das mais baratas em capitais de

todo o paiacutes (G1 2017)

Em Vaacuterzea Alegre no interior sul do Cearaacute tem uma enorme variedade de mercantil

supermercados Frigoriacuteficos e Casa de frutas distribuiacutedos em bairros para o melhor acesso da

populaccedilatildeo e assim realizar suas compras para compor a cesta baacutesica que eacute necessaacuterio para a

sobrevivecircncia de suas famiacutelias

No dia 30 de abril de 1938 foi regulamentada a lei nordm 185 de 14 de janeiro de 1936

pelo decreto Lei nordm 399 que estabelece o Salaacuterio Miacutenimo como a quantia devida ao

trabalhador maior de idade com sexo diferente trabalhando regulamente capaz de satisfazer

nas regiatildeo do paiacutes as suas necessidades normais de habitaccedilatildeo alimentaccedilatildeo transporte

vestuaacuterio e higiene (BRASIL 1968)

Este estudo tem como por objetivo apresentar uma pesquisa detalhada de quanto custa

a meacutedia de preccedilo dos alimentos que compotildee a mesa do trabalhador e o impacto que ela

representa em porcentagens na meacutedia salarial dos trabalhadores municipal trazendo assim

uma anaacutelise concreta e discutiacutevel

2 Revisatildeo de literatura

21 O salaacuterio miacutenimo no Brasil

Salaacuterio eacute o valor recebido pelo trabalhador por ter prestado qualquer que seja os tipos

de serviccedilos Eacute definido na venda da sua forccedila de trabalho para os empregadores que pode ser

462

aumentado de acordo com horas extras tempo de serviccedilo ou produccedilatildeo (SOUZA 2010) Ouse

jaacute acumula o caraacuteter positivo de retribuiccedilatildeo devida ao trabalhador

Este conceito apresenta outra conotaccedilatildeo quando analisado por autores que contestam o

sistema Capitalista como Marx que define salaacuterio como um valor na qual o trabalhador deve

receber pelo que produz criticando assim o que ele chama de mais-valia que eacute o montante que

o patratildeo ganha em cima da forccedila de trabalho do assalariado sem que o mesmo trabalhe da

mesma maneira de quem produziu (MARX sd)

Os primeiros salaacuterios foram instituiacutedos por leis que foram feitas como uma maneira de

controlar a proliferaccedilatildeo de estabelecimentos que apresentavam condiccedilotildees de trabalho de

extrema miseacuteria Essas empresas empregavam em sua maior parte mulheres e jovens para

poder pagar mais barato em relaccedilatildeo a homens adultos (SUPERINTERESSANTE 2016)

Desta forma o salaacuterio miacutenimo mais do que importante para a economia eacute mais ainda

uma questatildeo social por questotildees de distribuiccedilatildeo de renda para aquelas pessoas que natildeo tem

tanta forccedila de trabalho A soluccedilatildeo seria redefinir a estrutura de salaacuterios para que todos possam

usufruir de condiccedilotildees de qualidade de vida no miacutenimo adequadas

Comumente no Brasil o valor do salaacuterio miacutenimo eacute definido por lei de acordo como a

inflaccedilatildeo do ano anterior podendo aumentar diminuir ou continuar o mesmo valor Aleacutem do

mais esse montante eacute calculado por diferentes variaacuteveis econocircmicas sendo a Fazenda

responsaacutevel por este caacutelculo Conceitualmente este valor deve ser capaz de atender agraves

necessidades vitais baacutesicas com moradia alimentaccedilatildeo educaccedilatildeo sauacutede lazer vestuaacuterio

higiene transporte e previdecircncia social com reajustes perioacutedicos que lhe preservem o poder

aquisitivo sendo vedada sua vinculaccedilatildeo para qualquer fim (BRASIL1988)

Quatildeo diversas satildeo as naccedilotildees e suas constituiccedilotildees quanto diversos satildeo os valores pagos

pelo salaacuterio miacutenimo aos trabalhadores Em Serra Leoa continente africano ganha-se o

equivalente a 21 mil leones o que transformando em reais daacute a miseraacutevel quantia de 1127

reais No Quirguistatildeo tambeacutem no continente africano recebe-se 840 soms equivalentes a R$

40 Na Ameacuterica do Sul os salaacuterios satildeo um pouco melhores em relaccedilatildeo agrave Aacutefrica Na

Argentina o salaacuterio miacutenimo eacute de 2040 reais no Chile o salaacuterio eacute de R$ 1320 Na Ameacuterica

do Norte os EUA o salaacuterio eacute calculado por horas trabalhadas totalizando em meacutedia R$ 1256

mensais Na Europa a meacutedia salarial eacute bem maior do que as jaacute citadas Luxemburgo Beacutelgica

e Holanda satildeo os melhores lugares para trabalhar em termos salariais satildeo R$ 736482 R$

589893 e R$ 577317 respectivamente (TERRA 2013)

463

O salaacuterio miacutenimo no Brasil surgiu tardiamente foi em meados dos anos 30 atraveacutes do

governo Vargas no qual foi instituiacutedo por Lei nordm 185 de janeiro de 1936 e o Decreto-Lei nordm

399 de abril de 1938 regulamentaram a instituiccedilatildeo do salaacuterio miacutenimo e o Decreto-Lei nordm 2162

de 1ordm de maio de 1940 (Paulo Paim 2005) O salaacuterio miacutenimo passou a vigorar assim no

mesmo ano na qual o paiacutes foi dividido em 22 regiotildees fazendo com que cada regiatildeo fixasse

um valor diferente de acordo com as necessidades Assim foram definidos 14 valores de

salaacuterios miacutenimos diferentes mas sem tamanhas diferenccedilas do maior para o menor a variaccedilatildeo

se dava em 267 reais Somente em 1984 ocorreu a junccedilatildeo do salaacuterio miacutenimo em todas as

regiotildees do paiacutes Essa lei tinha por obrigaccedilatildeo mudar os valores em 3 anos e em 1943 foram

dados 2 reajustes na qual aumentou o poder de compra do trabalhador ficando assim a

diferenccedila de 224 reais (PAIM 2005)

Oito anos depois o salaacuterio veio a ser reajustado foi no ano de 1951 quando o

presidente assinou um decreto dando garantias de ajustes mais frequentes na qual traria a

manutenccedilatildeo e ateacute elevaccedilatildeo no poder de compra do salaacuterio miacutenimo fazendo com que em 10

anos sofresses 6 alteraccedilotildees Em julho de 1954 o reajusto foi o periacuteodo com maior diferenccedila

salarial entre regiotildees que chegou a ser R$ 433 (SABOIA 1985)

Durante o governo de Joatildeo Goulart a inflaccedilatildeo sofreu alta e com o golpe militar a

poliacutetica de salaacuterio miacutenimo foi modificada abandonando-se a praacutetica de recompor o valor real

do salaacuterio no uacuteltimo reajuste Passou-se a adotar uma poliacutetica que visava manter o salaacuterio

meacutedio e aumentos reais soacute deveriam ocorrer quando houvesse ganho de produtividade Os

reajustes soacute eram feitos de acordo com a inflaccedilatildeo dos anos anteriores que levava em

consideraccedilatildeo a inflaccedilatildeo esperada o que levou a uma forte queda salarial decorrente da

subestimaccedilatildeo da inflaccedilatildeo por parte do governo (LUANA 2011)

A partir de 1983 as poliacuteticas salariais vindas das medidas econocircmicas que tentavam

estabilizar a economia e controlar a inflaccedilatildeo levaram a percas altiacutessimas no poder de compra

do salaacuterio miacutenimo sendo o decreacutescimo de 24 entre 1982 e 1990 Com a estabilizaccedilatildeo da

economia apoacutes o Plano Real o salaacuterio teve ganho de 283 entre 1994 e 1998 (PAIM 2005)

O aumento do salaacuterio miacutenimo corresponde a variaccedilatildeo do PIB do ano retrasado junto

com a inflaccedilatildeo do ano anterior pelo iacutendice nacional de preccedilo do consumidor tomando por

base o exemplo praticado no ano de 2015 o valor miacutenimo era de R$ 788 no final do ano o

governo teve que acrescentar os 1157 da inflaccedilatildeo medidos pelo Iacutendice Nacional de Preccedilos

ao Consumidor (INPC) em 2015 mais o 01 de crescimento do PIB em 2014 Com isso

464

houve um reajuste de 1167 no valor do salaacuterio miacutenimo que passou a valer R$ 880 (PAIM

2005)

A maneira que o Governo calcula o salaacuterio miacutenimo brasileiro eacute contestada por

diferentes instituiccedilotildees e sindicatos eles contestam a forma na qual o caacutelculo eacute realizado Para

isso a DIEESE desenvolveu uma formula para ter nas matildeos o salaacuterio miacutenimo que o brasileiro

deve ter para realizar as necessitas baacutesicas de sobreviver Esse caacutelculo eacute feito a partir de

quando se sabe quanto custa a Cesta Baacutesica no paiacutes e eacute realizado a cada mecircs em Outubro de

2017 quando o salaacuterio que o governo calculou entrou em vigor por 93700 o caacutelculo

necessaacuterio segundo a DIEESE era de 375416 gerando assim uma diferenccedila de 281716

reais (UOL 2017)

22 Cesta Baacutesica

Existem diferentes conceitos sobre a cesta baacutesica a formula de caacutelculo e como ela eacute

dividido O PROCON (Programa de Proteccedilatildeo e Defesa do Consumidor) e a DIEESE

(Departamento Intersindical de Estatiacutestica e Estudos Socioeconocircmicos) satildeo 2 instituiccedilotildees que

pesquisam sobre o assunto aonde metodologias adotadas satildeo diferentes O PROCON

pesquisa uma Cesta mais completa com compras em materiais de limpeza higiene e

alimentaccedilatildeo aumenta tambeacutem em relaccedilatildeo a quantidades no valor da compra Jaacute a DIEESE ela

procura calcular um Cesta Baacutesica voltado mais ao ramo alimentiacutecio na qual procura

estabelecer uma formula de metodologia voltado mais a aacuterea nutricional deixando de lado

assim produtos de limpeza e higiene de fora

Conforme a DIEESE elabora a cesta baacutesica varia de acordo com as regiotildees natildeo

apenas o valor mas os componentes da mesma com as diferenccedilas de habito alimentiacutecio e

cultura podem acrescentar alguns alimentos bem como diminuir ou aumentar a quantidade de

um determinado produto que eacute consumido Os alimentos que satildeo utilizado e definido pela lei

399 de 1938 satildeo composto por 13 itens que variam de Legumes agrave frutas a lista eacute composta

por Carne arroz feijatildeo farinha leite batata Frutas (Bananas) legumes (Tomate) Manteiga

oacuteleo Cafeacute patildeo e accediluacutecar

O decreto estabelece tambeacutem uma estrutura de gastos de um trabalhador Dos cinco

itens que compotildeem essa estrutura (habitaccedilatildeo alimentaccedilatildeo vestuaacuterio transporte e higiene)

estipulou-se uma ponderaccedilatildeo onde a soma total eacute de 100 O decreto Lei ndeg399 determina

que a parcela do salaacuterio miacutenimo correspondente aos gastos com alimentaccedilatildeo natildeo pode ter

465

valor inferior ao custo da Cesta Baacutesica Nacional (art 6deg sect1deg) Esses alimentos satildeo Dividido

em 4 regiotildees sendo elas Regiatildeo 1 - Estados de Satildeo Paulo Minas Gerais Espiacuterito Santo Rio

de Janeiro Goiaacutes e Distrito Federal Regiatildeo 2 ndash Estados de Pernambuco Bahia Cearaacute Rio

Grande do Norte Alagoas Sergipe Amazonas Paraacute Piauiacute Tocantins Acre Paraiacuteba

Rondocircnia Amapaacute Roraima e Maranhatildeo Regiatildeo 3 - Estados do Paranaacute Santa Catarina Rio

Grande do Sul Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e a Nacional - Cesta normal meacutedia para a

massa trabalhadora em atividades diversas e para todo o territoacuterio nacional

O Cearaacute compotildee o grupo 2 de regiotildees para caacutelculo da Cesta baacutesica nacional mas nessa

regiatildeo soacute satildeo calculados 12 itens eacute excluiacutedo a BATATA da soma pois por determinaccedilatildeo

teoacuterica e diferenccedilas regionais natildeo eacute certo incluir ela em nossos caacutelculos para construir a cesta

baacutesica e assim ficamos com os itens carne arroz feijatildeo farinha leite Frutas (Bananas)

legumes (Tomate) Manteiga oacuteleo Cafeacute patildeo e accediluacutecar Assim eacute incluiacutedo a quantidade meacutedia

consumida por cada pessoa em cada alimento aonde a Carne eacute 45 Kg arroz 35 Kg feijatildeo

45 farinha 30 kg leite 6 litros Frutas (Bananas) 90 unidade legumes (Tomate) 12 kg

Manteiga 750 Kg Oacuteleo 750 gr cafeacute 300 gr Patildeo francecircs 6 kg e accediluacutecar 3 kg

Assim definido cabe as instituiccedilotildees pesquisar a meacutedia de cada item desses e verificar

quanto eacute o valor da Cesta Baacutesica no Cearaacute que no caso de novembro de 2017 em fortaleza

estava em 36362 $ Reais

3 Materiais e meacutetodos

31 Caracterizaccedilatildeo da pesquisa

Esta eacute uma pesquisa de abordagem quantitativa quanto agrave abordagem e de campo

quanto ao procedimento O vieacutes quantitativo permite uma maior objetividade tendo em vista

a compreensatildeo de uma dada realidade atraveacutes de princiacutepios e representaccedilotildees matemaacuteticas

(FONSECA 2002) Partindo de ideias preconcebidas e de uma pequena quantidade de

conceitos utiliza procedimentos estruturados formais para a coleta dos dados mediante

condiccedilotildees de controle sendo estes analisados de forma objetiva (POLIT et al 2004)

32 Populaccedilatildeo e amostra

466

A pesquisa realizou-se entre os dias 20 e 22 de dezembro de 2017 em 12

estabelecimentos comerciais da cidade de Vaacuterzea Alegre interior Sul do Estado do Cearaacute

tanto na Zona Urbana quanto Rural A escolha do nuacutemero de estabelecimentos se deu

mediante planejamento preacutevio devido a necessidade de se estabelecer uma amostra em torno

de uma populaccedilatildeo que natildeo se conseguiu precisar por informaccedilotildees do Governo Municipal que

natildeo conta os estabelecimentos informais

Os doze estabelecimentos pesquisados localizam-se na Sede tendo sido escolhidos

pela observaccedilatildeo empiacuterica da tradiccedilatildeo do comeacutercio local a qual indicou os mercadinhos e

supermercados mais tradicionais e preferidos pela populaccedilatildeo sendo oito na Sede Urbana e

cinco na Sede Rural

Quanto agrave questatildeo salarial a meacutedia do salaacuterio do servidor puacuteblico foi obtida na

Secretaria de Financcedilas do Municiacutepio tendo em vista em informaccedilotildees do IPECE de que o

maior empregador formal em Vaacuterzea Alegre eacute a Prefeitura

33 Instrumentos de pesquisa

Os preccedilos foram pesquisados com base nas quantidades dos iacutetens preacute-estabelecida pela

lei que rege a pesquisa de Cesta Baacutesica foram escolhidos entre 2 e 3 marcas por produto para

se chegar a meacutedia do preccedilo de cada A meacutedia calculada foi a meacutedia simples com o auxiacutelio de

uma calculadora

O registro foi realizado em um formulaacuterio impresso sendo os resultados distribuiacutedos

em planilha e separados por meacutedia e por produto aleacutem de por local da Cesta Baacutesica mais cara

e mais barata

34 Procedimentos de pesquisa

Apoacutes a seleccedilatildeo inicial dos estabelecimentos pelos criteacuterios de inclusatildeo preacutevios a

pesquisa foi realizada com a conivecircncia dos responsaacuteveis de cada estabelecimento Apoacutes a

siacutentese dos dados a pesquisa foi revisada e o texto final redigido com base em pesquisa

bibliograacutefica previamente realizada

34 Anaacutelise dos resultados

467

Os resultados foram analisados pela observaccedilatildeo simples das meacutedias e da comparaccedilatildeo

geral de preccedilos O que importa para o valor a ser considerado eacute a meacutedia geral do

estabelecimento podendo haver casos em que produtos mais baratos estatildeo incluiacutedos em uma

lista geral que natildeo foi a mais barata

Seguindo o objetivo de calcular o impacto da cesta baacutesica no salaacuterio meacutedio do

trabalhador varzealegrense os dados da meacutedia salarial e do prelo da cesta foram alinhados por

comparaccedilatildeo simples

4 Resultados e Discussotildees

A cidade de Vaacuterzea Alegre eacute localizado no interior do estado do Cearaacute na regiatildeo sul

do mapa estadual com uma populaccedilatildeo estimada pelo IBGE (instituto Brasileiro de Geografia

e Estatiacutestica) 42255 habitantes e com um territoacuterio de 835709 kmsup2 eacute uma cidade que

economicamente ainda natildeo eacute desenvolvida com a economia voltada a agricultura familiar

com trabalhadores independes e sem carteiras assinadas com poucas empresas o municiacutepio

tem uma meacutedia de 3249 empregos formais sendo 1394 homens e 1855 feminino e

divididos em 364 na induacutestria de transformaccedilatildeo 546 no comeacutercio administraccedilatildeo puacuteblica satildeo

1896 serviccedilos industriais satildeo 6 e nos Serviccedilos em gerais satildeo 437 empregos (IPECE 2015)

Em Vaacuterzea Alegre a meacutedia salarial do servidor puacuteblico estaacute de 122467 reais no mecircs

de novembro de 2017 Esse salaacuterio eacute calculado somando o salaacuterio de todos os servidores e

dividindo pela quantidade dos mesmos Vale ressaltar que o municiacutepio eacute um dos uacutenicos que

ainda pagam Meio Salaacuterio miacutenimo para alguns servidores concursado o que daacute para perceber

a diferenccedila salarial que acontecem no municiacutepio entre o que ganha menos e o que ganha mais

Sabe-se tambeacutem que a cidade tem um iacutendice de extrema pobreza altiacutessima aonde satildeo

11191 pessoas que recebem uma renda mensal de ateacute 70 reais mensal aonde 4498 satildeo da

zona Urbana e 6193 da Zona Rural que levando em consideraccedilatildeo a populaccedilatildeo de 2010

representa um total de quase 2912 da populaccedilatildeo em estado de extrema pobreza O iacutendice de

desenvolvimento Municipal (2012) eacute de 2608 ocupando assim a posiccedilatildeo 105 no ranking

estadual jaacute o iacutendice de desenvolvimento humano (2010) eacute de 0629 que ocupa a posiccedilatildeo 50

no ranking de acordo com o IPECE

A pesquisa sobre a Cesta Baacutesica em Vaacuterzea Alegre foi realizado no mecircs de Dezembro

do ano de 2017 realizado em 12 estabelecimentos diferentes aonde foi de pequenos

468

comeacutercios ateacute os grandes supermercados municipais dividido em bairros da cidade e

calculando a meacutedia de preccedilos de cada alimento que foi definido

Tabela 1 Cesta Baacutesica com maior valor em Vaacuterzea Alegre-CE

Alimentos Quantidade Meacutedia de preccedilos Total

Carne 45 Kg 2150 9675

Leite 60 L 264 1584

Feijatildeo 45 Kg 62 279

Arroz 36 Kg 323 1162

Farinha 30 Kg 325 975

Legumes (tomate) 12 Kg 390 468

Patildeo Francecircs 60 Kg 4200 42

Cafeacute em poacute 300 gr 588 588

Frutas (banana) 90 uni 033 297

Accediluacutecar 30 kg 199 597

Oacuteleo 750 gr 556 556

Manteiga 750 gr 545 545

Fonte Direta

Essa pesquisa foi feita em um Mercantil simples de um bairro em Vaacuterzea Alegre de

onde se deu o maior preccedilo da pesquisa foi concluiacutedo entatildeo que o valor da Cesta Baacutesica nesse

estabelecimento comercial eacute de 30322 reais Vaacuterios satildeo os fatores que fizeram com que esse

preccedilo seja elevado em relaccedilatildeo aos demais Por se tratar de um comercio pequeno a tendecircncia

eacute o aumento dos preccedilos para obter um maior lucro

Tambeacutem foi constatado a Cesta Baacutesica com menor valor na qual veremos a seguir

469

Tabela 2 Cesta Baacutesica de menor valor em Vaacuterzea Alegre-CE

Alimentos Quantidade Meacutedia de preccedilos Total

Carne 45 Kg 1900 855

Leite 60 L 275 165

Feijatildeo 45 Kg 295 1327

Arroz 36 Kg 274 986

Farinha 30 Kg 280 84

Legumes (tomate) 12 Kg 400 1200

Patildeo Francecircs 60 Kg 4200 4200

Cafeacute em poacute 300 gr 485 485

Frutas (banana) 90 uni 027 243

Accediluacutecar 30 kg 190 57

Oacuteleo 750 gr 521 521

Manteiga 750 gr 448 448

Fonte Direta

Jaacute nesse comercio o preccedilo da Cesta Baacutesico estaacute custando a mais barata da cidade com

o valor de 23307 reais podemos ver a diferenccedila na meacutedia de produtos em relaccedilatildeo ao

apresentado anteriormente no total chega a ser 7015 reais a diferenccedila do mais caro para esse

O que provavelmente faraacute com os consumidores tendam a preferirem esse estabelecimento ao

inveacutes do outro

Na tabela a seguir mostraremos a meacutedia de preccedilos que compotildee a Cesta baacutesica em

Vaacuterzea Alegre

470

Tabela 3 Meacutedia de preccedilos dos componentes da Cesta Baacutesica em Vaacuterzea Alegre-CE

Alimentos Quantidade Meacutedia de preccedilos

Carne 1 Kg 2005

Leite 1 L 281

Feijatildeo 1 Kg 411

Arroz 1 Kg 291

Farinha 1 Kg 352

Legumes (tomate) 1 Kg 340

Patildeo Francecircs 10 Kg 700

Cafeacute em poacute 300 gr 461

Frutas (banana) 1 uni 030

Accediluacutecar 10 kg 194

Oacuteleo 750 gr 565

Manteiga 750 gr 503

O trabalho elaborou na tabela acima a meacutedia de preccedilos de cada produto na qual o

caacutelculo foi realizado somando o preccedilo de todos os estabelecimentos por produtos e dividindo

pela quantidade de empresas que o levantamento foi feito

5 Conclusatildeo

Assim sendo sabemos que a meacutedia da Cesta Baacutesica no Municiacutepio de Vaacuterzea Alegre eacute

de 27833 reais por pessoa o que faz com que 2917 a renda mensal do trabalhador que

ganha um salaacuterio miacutenimo seja destinada para gastos com alimentaccedilatildeo Portanto o mesmo

precisa trabalhar 64 horas e 18 minutos para obter o dinheiro necessaacuterio para a sua cesta

baacutesica o que significa que teraacute que trabalhar 802 dias para obter esse montante

Conforme os dados do IPECE de 2015 a cidade de Vaacuterzea Alegre possui 11191

pessoas que recebem uma renda mensal de ateacute 70 reais mensal o que significa que elas natildeo

tem dinheiro suficiente para comprar uma Cesta Baacutesica Essas pessoas satildeo classificadas em

situaccedilatildeo de extrema pobreza e estatildeo em estado de Vulnerabilidade Socioeconocircmica

O preccedilo da cesta baacutesica em uma famiacutelia de 4 pessoas sendo 2 adultos e 2 crianccedilas

estaacute estipulado em 909 reais em Vaacuterzea Alegre o que leva-se a preocupaccedilatildeo em saber que a

471

famiacutelia precisa estar trabalhando com os 2 adultos para ter o dinheiro necessaacuterio para

sobreviver o miacutenimo possiacutevel Pois caso isso natildeo aconteccedila a renda mensal do trabalhador que

recebe um salaacuterio miacutenimo nesse caso vai estar comprometida em mais de 90 sobrando

assim apenas 2835 reais para os demais gastos para a sobrevivecircncia

Em comparaccedilatildeo com a de Fortaleza a Cesta baacutesica laacute custou em Novembro de 2017

segundo o DIEESE a quantia de R$ 36392 reais o que influenciava assim 3883 na renda

mensal do trabalhador que ganha a quantia de um salaacuterio miacutenimo Foi preciso trabalhar 85

horas e 44 minutos da jornada de trabalho mensal para adquirir a Cesta O gasto com

alimentaccedilatildeo de uma famiacutelia padratildeo (2 adultos e 2 crianccedilas) foi de R$ 109176

Tendo em vista esses dados percebe-se que a Cidade de Fortaleza eacute mais caro para

comprar a cesta baacutesica em relaccedilatildeo a Vaacuterzea Alegre Jaacute que tem uma diferenccedila meacutedia de 8559

reais por cesta baacutesica individual jaacute em relaccedilatildeo a Vaacuterzea Alegre se trabalha 21 horas e 26

minutos a menos para obter o dinheiro da Cesta e em relaccedilatildeo a Cesta meacutedia da famiacutelia a

cidade de fortaleza eacute mais cara do que a de Vaacuterzea Alegre 18276 reais

Portanto para uma famiacutelia viver com dinheiro suficiente para satisfazer todas as

necessidades miacutenimas como moradia alimentaccedilatildeo Sauacutede lazer vestuaacuterio Higiene

transporte e Previdecircncia social o trabalhador de Vaacuterzea Alegre que ganha um salaacuterio miacutenimo

de 311621 reais na qual a diferenccedila com a realidade eacute de 216221 reais

REFEREcircNCIAS

BRASIL Decreto-lei Nordm 399 de 30 de dezembro de 1968 Disponiacutevel em

httpwwwplanaltogovbrccivil_03decreto-leiDel0399htm Acesso em 03 de marccedilo de

2018

BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil CF 88 1988 Disponiacutevel em

httpwwwplanaltogovbrccivil_03constituicaoconstituicaocompiladohtm Acesso em 03

de marccedilo de 2018

DIEESE Metodologia da Cesta Baacutesica de Alimentos Satildeo Paulo 2009 Disponiacutevel em

httpswwwdieeseorgbrmetodologiametodologiaCestaBasicapdf Acesso 23 de dezembro

de 2017

FONSECA J J S Metodologia da pesquisa cientiacutefica Fortaleza UEC 2002 Apostila

G1 Valor da cesta baacutesica em Fortaleza tem reduccedilatildeo de 485 aponta Dieese Disponiacutevel

em httpsg1globocomcearanoticiavalor-da-cesta-basica-em-fortaleza-tem-reducao-de-

485-aponta-dieeseghtml Acesso em 03 de marccedilo de 2018

472

INFOMONEY O que eacute uma Cesta Baacutesica Brasil 2010 Disponiacutevel em

httpwwwinfomoneycombrminhas-financasplaneje-suas-financasnoticia2001012que-

uma-cesta-basica Acesso em 23 de dezembro de 2017

IPECE Perfil Baacutesico de Vaacuterzea Alegre Fortaleza IPCE 2016

MARX Karl O capital Satildeo Paulo LTC Sd

PAIM Paulo Salaacuterio Miacutenimo uma histoacuteria de luta Brasiacutelia Senado Federal 2005

PRISCILA Luana Os Salaacuterios e seus efeitos distributivos Porto Alegre UFRGS 2011

SOUZA Abelman Definiccedilatildeo de Salaacuterio Planejar Cursos e treinamentos 2010 Disponiacutevel

em httpswwwplanejarcursoscombrartigosdefinicao-de-salario Acesso em 22 de

dezembro de 2017

SUPERINTERSSANTE Salaacuterios Satildeo Paulo Editora Abril 2010 Disponiacutevel em

httpssuperabrilcombrcomportamentosalario Acesso em 22 de dezembro de 2017

SABOIA Joatildeo Salaacuterio Miacutenimo e seu potencial para a melhoria para a distribuiccedilatildeo de

renda no Brasil Porto Alegre Editora LampPM 1985

UOL Salaacuterio miacutenimo em outubro deveria ser de R$ 375416 segundo Dieese Satildeo Paulo

2017 Disponiacutevel em httpseconomiauolcombrempregos-e-

carreirasnoticiasredacao20171101salario-minimo-outubro-dieesehtm Acesso em 18 de

outubro de 2017

473

REFLEXOtildeES DA GUERRA FISCAL NA REGIAtildeO NORDESTE NOS ANOS 1990

CARLOS EDUARDO PEREIRA DO NASCIMENTO Graduando em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA) e

pesquisador do Grupo de Estudos em Territorialidades Econocircmicas e Desenvolvimento

Regional e Urbano - GETEDRU e-mail eduardocarlos2807gmailcom

GUILHERME SOUSA BRANDAtildeO

Graduando em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA) e-mail

sousaguilherme25gmailcom

ROSEMARY DE MATOS CORDEIRO

Doutora em Geografia Professora Adjunto da URCA Professora do IFCE Crato-CEBrasil

e-mail Rosymatoshotmailcom

NATANAEL PESSOA LUSTOZA

Bacharel em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA) e

pesquisador do Grupo de Estudos em Territorialidades Econocircmicas e Desenvolvimento

Regional e Urbano - GETEDRU e-mail natanaelpessoa1995gmailcom

JOANA PRISCILA DA SILVA BARBOSA Graduanda em Ciecircncias Econocircmicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA) e

pesquisadora do Grupo de Estudos em Territorialidades Econocircmicas e Desenvolvimento

Regional e Urbano - GETEDRU e-mail joannasiilva24gmailcom

474

REFLEXOtildeES DA GUERRA FISCAL NA REGIAtildeO NORDESTE NOS ANOS 1990

RESUMOA guerra fiscal no Brasil constitui-se como uma medida poliacutetica e econocircmica de

atraccedilatildeo de investimentos objetivando a transferecircncia de empresas de regiotildees mais

desenvolvidas para regiotildees menos desenvolvidas Historicamente esse fenocircmeno inicia sua

trajetoacuterialsquo no Brasil a partir da deacutecada de 1930 Com o advento do liberalismo nos anos

197080 surge uma doutrina poliacutetica a qual utiliza o mecanismo fiscal como um instrumento

comercial e financeiro para as unidades federativas Neste periacuteodo o fenocircmeno da guerra

fiscal intensifica-se sobretudo agrave questatildeo do desenvolvimento regional ligado a Regiatildeo

Nordeste Diante disso o presente trabalho tem como intuito a anaacutelise da guerra fiscal nesta

regiatildeo nos anos 1990 no contexto da financeirizaccedilatildeo da economia brasileira Todavia diante

da anaacutelise exposta o fenocircmeno da guerra fiscal natildeo se constitui como uma poliacutetica de

desenvolvimento regional mas sim uma poliacutetica de esgotamento que exaure as reservas dos

estados nordestinos diante das diversas concessotildees

Palavras-chaves Regiatildeo Nordeste Guerra fiscal Desenvolvimento regional

ABSTRACT The fiscal war in Brazil constitutes as a political and economic measure of

attraction of investments aiming the transfer of companies from more developed regions to

regions less developed Historically this phenomenon began its trajectory in Brazil from the

1930s With the advent of liberalism in the 1970s and 1980s a political doctrine arises

which uses the fiscal mechanism as a commercial and financial instrument for the units

federative In this period the phenomenon of the fiscal war intensifies especially to the issue

of regional development linked to the Northeast Region In view of this the present work

intends the analysis of the fiscal war in this region in the 1990s in the context of the

financialization of the Brazilian economy However in view of the above analysis the

phenomenon of fiscal war is not a regional development policy but a policy of exhaustion

that exhausts the reserves of the Northeastern states in the face of various concessions

Keywords North East Region Fiscal war Regional development

475

1Introduccedilatildeo

―A competiccedilatildeo tributaacuteria entre jurisdiccedilotildees mais comumente conhecida no Brasil como

guerra fiscal pode ser entendida como a utilizaccedilatildeo pelos governos estaduais de isenccedilotildees

reduccedilotildees e diferimentos tributaacuterios como recurso para alavancar a industrializaccedilatildeo regional

(BORGES 2012 p 1-2) Satildeo diversos os incentivos oferecidos agraves empresas destacando o

ICMS (imposto sobre operaccedilotildees relativas agrave circulaccedilatildeo de mercadorias e sobre prestaccedilotildees de

serviccedilos de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicaccedilatildeo mesmo se as

operaccedilotildees e as prestaccedilotildees iniciem no exterior) como principal mecanismo de subsiacutedio

O ICMS principal instrumento da guerra fiscal eacute um imposto de competecircncia

estadual natildeo cumulativo podendo ser cobrado em funccedilatildeo da essencialidade da mercadoria ou

serviccedilo aleacutem de ser o principal tributo indireto a incidir sobre operaccedilotildees com mercadorias

aleacutem do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e das contribuiccedilotildees do PIS (Programa

Integraccedilatildeo Social) e COFINS (Contribuiccedilatildeo para Financiamento da Seguridade Social)

(BIAacuteVA JUacuteNIOR OYADOMARI 2010) O contribuinte geneacuterico do ICMS eacute pessoa fiacutesica

ou juriacutedica que trabalhe com certo volume ou com frequecircncia com o intuito comercial

operaccedilotildees de circulaccedilatildeo de mercadoria ou prestaccedilotildees de serviccedilos de transporte interestadual e

intermunicipal e de comunicaccedilatildeo mesmo que as operaccedilotildees e as prestaccedilotildees se iniciem no

exterior (BRASIL 1996) Dessa forma a questatildeo dos incentivos fiscais nos leva de imediato

aos problemas da extrafiscalidade25

e da poliacutetica fiscal intervencionista e dirigista (GOUVEcircA

2006)

No contexto histoacuterico a intervenccedilatildeo estatal no que tange o ambiente econocircmico e

social mediante medidas fiscais origina-se no mercantilismo Tal ideia adveacutem dos proacuteprios

preceitos desta corrente de pensamento Pautada na economia do ourolsquo o incentivo a entrada

da moeda e desestiacutemulo a saiacuteda desta foram de suma importacircncia no que concerne a

organizaccedilatildeo produtiva objetivando e estimulando a exportaccedilatildeo do produto industrial A

importaccedilatildeo deveria ser desestimulada Destarte veio seu desestiacutemulo transfigurado em

imposto (LACOMBE 1969)

Segundo Lacombe (1969) mais precisamente a partir dos anos 1930 surgiram no

Brasil modificaccedilotildees substanciais na poliacutetica e na teoria fiscal O aumento da carga tributaacuteria

ocorrida principalmente com a Segunda Guerra Mundial foi ao mesmo tempo causa e efeito

do aspecto extrafiscal assumido entatildeo pela poliacutetica fiscal As deacutecadas seguintes (19506070)

25

Algo a maislsquo que a obtenccedilatildeo de receitas mediante tributos liga-se a valores constitucionais pode decorrer de

isenccedilotildees benefiacutecios fiscais progressividade de aliacutequotas (GOUVEcircA 2006 p 1)

476

proporcionaram uma maior significacircncia quanto agrave carga tributaacuteria e sua utilidade para os

estados Posteriormente com o advento do neoliberalismo surgiu a doutrina da imposiccedilatildeo

neutra ou meramente fiscal26

Todavia tal imposiccedilatildeo natildeo se configura em importaccedilatildeo neutra

pois o poder de tributar eacute fenocircmeno de caraacuteter nitidamente poliacutetico Defendem uma poliacutetica de

cunho conservador por afirmarem que o modelo tributaacuterio existente eacute ―mais justo ou

adequado agrave coletividade (LACOMBE 1969 p 108)

O que deu entretanto maior consistecircncia agrave poliacutetica de desenvolvimento regional foi agrave

questatildeo do Nordeste diante da acentuaccedilatildeo das desigualdades naturais entre as suas diversas

regiotildees Este momento inicia-se com as agecircncias de fomento criadas em meados do seacuteculo

XX com o intuito de modificar o cenaacuterio regional do Nordeste atraveacutes do Conselho do

Desenvolvimento do Nordeste (CODENO) Superintendecircncia do Desenvolvimento do

Nordeste (SUDENE) entre outros Poreacutem o crescimento natildeo ocorre de forma homogecircnea

sobre o espaccedilo territorial Desta perspectiva criam-se vaacuterios Nordestes

Do Nordeste do oeste baiano e do Nordeste canavieiro do litoral do Rio Grande do

Norte a Alagoas do Nordeste agroindustrial do sub-meacutedio Satildeo Francisco e do

Nordeste cacaueiro do sul baiano do Nordeste minero-metaluacutergico e agroindustrial

do Maranhatildeo e do Nordeste semiaacuterido dominado pelo tradicional complexo

gadoagricultura de sequeiro etc Cada um com suas particularidades e seus atores

muitos deles natildeo nordestinos (ARAUacuteJO 2000 p 38)

A despeito de tratar-se de momentos distintos poreacutem consonantes com o

neoliberalismo a internacionalizaccedilatildeo do capital e a descentralizaccedilatildeo poliacutetica brasileira

imposta pela Constituiccedilatildeo Federal (CF) de 1988 transfiguraram a guerra fiscal em mecanismo

de atraccedilatildeo para atingir a desconcentraccedilatildeo da produccedilatildeo e o desenvolvimento regional

Diante disso o presente trabalho tem o intuito de abordar a questatildeo da guerra fiscal no

Nordeste no macrocontexto inserido na deacutecada de 1990 com a abertura comercial e financeira

do mercado nacional brasileiro enfocando na Regiatildeo Nordeste espaccedilo mais afetado pela

guerra entre unidades federativas A pesquisa pauta-se no estudo bibliograacutefico de autores que

tratam da Regiatildeo Nordeste e o papel da guerra fiscal em seu espaccedilo bem como dados que

evidenciem a realidade distorcida causada por esse momento temporal na histoacuteria do

Nordeste do Brasil atraveacutes de programas estaduais de incentivo a setores produtivos como o

FDI no Cearaacute PRODEPE no Pernambuco e o uso de dados da Relaccedilatildeo Anual de Informaccedilotildees

26

Tal denominaccedilatildeo eacute tecnicamente falha pois se mostra algo democraacutetico e igualitaacuterio o que natildeo eacute Ela induz as

classes menos favorecidas a acreditarem que os impostos natildeo as prejudicam Entretanto estes impedem a

ascensatildeo das classes dominadas anulando sua neutralidade (LACOMBE 1969)

477

Sociais (RAIS) para os anos 1995 e 2005 trazendo um comparativo temporal na Regiatildeo

Nordeste

Aleacutem desta introduccedilatildeo e das consideraccedilotildees finais o presente trabalho dividir-se-aacute em

duas seccedilotildees a seccedilatildeo seguinte analisaraacute os incentivos fiscais voltados ao desenvolvimento do

Nordeste tendo duas subseccedilotildees uma tratando do fenocircmeno da guerra fiscal e outro com a

anaacutelise histoacuterica e os fatores que influenciam sua implementaccedilatildeo A terceira seccedilatildeo abordaraacute o

panorama da guerra fiscal no Nordeste os fatores que levam as empresas a se instalarem

nesse ambiente e posteriormente focalizar em dados relativos em grande parte dos Estados

da regiatildeo Nordeste como nuacutemero de estabelecimentos incentivados pelos governos e de que

forma o emprego estaacute distribuiacutedo nesses setores

2 Referencial Teoacuterico

A presente seccedilatildeo segue em duas subseccedilotildees a primeira trataraacute das caracteriacutesticas e

histoacuterico do fenocircmeno da guerra fiscal presente com maior veemecircncia na economia brasileira

a partir dos anos 1960 Na segunda seccedilatildeo apresentam-se os fatores que culminam em uma

guerra fiscal

21 Caracterizaccedilatildeo e histoacuterico da Guerra fiscal

211 Caracteriacutesticas do fenocircmeno

Sob o olhar econocircmico a busca por menores custos de produccedilatildeo integra a

racionalidade dos agentes privados Os custos tributaacuterios entram nesse contexto como um

ponto especiacutefico dos custos globais Em busca de competitividade os agentes almejam

reduzir ao maacuteximo seus custos e destarte satildeo sempre considerados mormente a eacutepoca atual

vivenciando uma sobrecarga tributaacuteria crescente (CALCIOLARI 2006)

Nesse contexto a anaacutelise do fenocircmeno sempre criacutetica em virtude dos efeitos globais

nefastos deve ser feita agrave luz do cooperativismo entre os entes participantes no sentido de

reduzir as desigualdades regionais A guerra fiscal tem como condiccedilatildeo baacutesica a possibilidade

de entes subnacionais utilizarem benesses fiscais para influenciar a alocaccedilatildeo de recursos

privados Associa-se a exacerbaccedilatildeo de praacuteticas competitivas entre entes de uma mesma

federaccedilatildeo atraveacutes da utilizaccedilatildeo de benefiacutecios e incentivos fiscais com o intuito de atrair a

alocaccedilatildeo de investimentos nos territoacuterios locais O fenocircmeno aqui delineado tem como

principais fatores a dinacircmica legal do ICMS e do ISS ndash Imposto Sobre Serviccedilos ndash (aquele no

que tange agrave guerra fiscal estadual e este no que tange agrave guerra fiscal municipal) e a parca

478

capacidade da Uniatildeo em implantar poliacuteticas desenvolvimentistas de acircmbito regional

(CALCIOLARI 2006 GUERATO 2013)

Ademais a ―utilizaccedilatildeo peculiar da guerra fiscal como instrumento poliacutetico de

desenvolvimento industrial regional deve ser analisada em termos federativos

(CALCIOLARI 2006 p 8) Todavia o federalismo introduzido no final da deacutecada 1980

aplicou as desconcentraccedilotildees poliacutetica e econocircmica culminando em uma accedilatildeo individual dos

entes da federaccedilatildeo isto eacute estados e municiacutepios auferiram maior independecircncia poliacutetica

Varsano (1997) e Guerato (2013) chamam atenccedilatildeo para esta independecircncia quando estados

tentam assumir a incumbecircncia do governo central de programar poliacuteticas industriais para

atingir a desconcentraccedilatildeo da produccedilatildeo e o desenvolvimento regional Tal responsabilidade

segundo eles tem como corolaacuterio o desastre Nesses casos os estados vencedores da guerra

fiscal tecircm maior capacidade financeira com mercados amplos e melhor infraestrutura

Ademais ao abdicar da arrecadaccedilatildeo o estado estaacute rejeitando o sortimento de insumos do

processo produtivo (educaccedilatildeo sauacutede infraestrutura etc) ou o equiliacutebrio fiscal o que implica

instabilidade macroeconocircmica

Quanto ao conceito segundo Varsano (1997) guerra fiscal eacute uma situaccedilatildeo de embate

na federaccedilatildeo em que um ente federado que ganha ndash de fato quando existe um ganho ndash

estabelece em suma uma perda a algum ou demais entes visto que raramente trata-se de um

jogo de soma positiva ―Trata-se em termos econocircmicos da disputa fiscal no contexto

federativo ou seja refere-se agrave intensificaccedilatildeo de praacuteticas concorrenciais extremas e natildeo

cooperativas entre os entes da Federaccedilatildeo no que diz respeito agrave gestatildeo de suas poliacuteticas

industriais (FERNANDES WANDERLEI 2000 p 6) Simonsen (199 apud

FERNANDES WANDERLEI 2000) conceitua a guerra das isenccedilotildees como conflitos de

natureza tributaacuteria existente entre os estados com o intento de atrair induacutestrias

Existem diversas definiccedilotildees Silva (2001) destaca que a guerra fiscal corresponde a

uma situaccedilatildeo em que uma jurisdiccedilatildeo usa seus tributos para atrair fatores de produccedilatildeo

consumidores ou residentes de outras jurisdiccedilotildees para obter vantagens econocircmicas eou

aumentar suas bases tributaacuterias Viol (1999 apud BORGES 2012 p 3) afirma que este

fenocircmeno ocorre ―tradicionalmente em paiacuteses federativos sobretudo naqueles onde os

governos subnacionais possuem ampla autonomia fiscal

O debate entre os benefiacutecios e os malefiacutecios da guerra fiscal incita a guerra poliacutetica no

movimento de atraccedilatildeo de investimentos pois por um lado a competiccedilatildeo entre unidades

479

federativas eacute vista como uma espeacutecie de geradora de inovaccedilotildees no sistema puacuteblico visto que

estimula o desenvolvimento dos mecanismos de atraccedilatildeo de inversotildees por outro alguns tratam

os estados e municiacutepios como loacutecus de clientelismo e ineficiecircncia ―sendo que sua

autonomizaccedilatildeo representa fonte importante de ingovernabilidade (MELO 1996 p 11) Natildeo

haacute somente aqueles que contrariam o sistema de isenccedilotildees fiscais tais como Guerato (2013)

Varsano (1997) Cavalcanti e Prado (1998) entre outros Haacute tambeacutem autores que entrem em

consonacircncia com o ideaacuterio da guerra fiscal e seus efeitos na economia regional como Dulci

(2002) Tiebout (1956) e Oates e Schwab (1988) O segundo traz que a ―descentralizaccedilatildeo

governamental atua como uma matildeo invisiacutevel no setor puacuteblico levando a uma alocaccedilatildeo

econocircmica eficiente (BORGES 2012 p 5) Os uacuteltimos abordam que ―a concorrecircncia fiscal

ativa em suma tende a produzir um niacutevel baixo de esforccedilo fiscal estadual-local ou uma

estrutura tributaacuteria local-estadual com fortes caracteriacutesticas regressivas (OATES SCHWAB

1988 p 334)

Diante disso enxergar-se o nascimento da competiccedilatildeo interestadual movida pela

descentralizaccedilatildeo poliacutetica marcada pela concorrecircncia entre unidades federativas natildeo

cooperativas que disputam economicamente falando contra as demais em busca de

sobrevivecircncia econocircmica

212 Histoacuterico da Guerra Fiscal

O vertiginoso processo de desenvolvimento do paiacutes que se intensificou

principalmente a partir da deacutecada de 1930 agravou as desigualdades entre as suas regiotildees A

Constituiccedilatildeo de 1946 jaacute compreendia a possiacutevel aplicaccedilatildeo de alguns recursos nas aacutereas com

baixo desenvolvimento O primeiro diploma legislativo que tratou do problema do

desenvolvimento regional sem no entanto criar incentivos fiscais foi a Lei nordm 541 de 15 de

dezembro de 1948 que instituiu a Comissatildeo do Vale do Satildeo Francisco (CVSF) Todavia a

maior consistecircncia para poliacutetica de desenvolvimento regional foi agrave questatildeo do Nordeste A

primeira medida surgiu com o Decreto nordm 45445 de 1959 criador do CODENO que

funcionaria ateacute a criaccedilatildeo efetiva jaacute prevista por lei da SUDENE Esta surgiu em decorrecircncia

da Lei nordm 3692 de 1959 conforme seu Art 2ordm com a finalidade de

a) estudar e propor diretrizes para o desenvolvimento do Nordeste b) supervisionar

coordenar e controlar a elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo de projetos a cargo de oacutergatildeos federais

na regiatildeo e que se relacionam diretamente com o seu desenvolvimento c) executar

diretamente ou mediante convecircnio acordo ou contrato os projetos relativos ao

desenvolvimento do Nordeste que lhe forem atribuiacutedos d) coordenar o programa de

assistecircncia teacutecnica nacional e estrangeira ao Nordeste (BRASIL 1959)

480

A referida lei previa dois tipos de incentivos fiscais os quais seriam concedidos para

os empreendimentos localizados na regiatildeo nordestina atraveacutes de decreto e a empresas

sediadas em outras regiotildees que aplicassem capitais no Nordeste Concernente agrave primeira

medida de incentivo fiscal empresas localizadas no Nordeste teriam isenccedilatildeo de qualquer

imposto ou taxa ndash tributos enfim ndash para a importaccedilatildeo de equipamentos e reduccedilatildeo de 50

(cinquenta por cento) do imposto de renda ateacute o exerciacutecio de 1968 Foi concedida igualmente

a isenccedilatildeo do imposto de renda para as novas induacutestrias que se utilizassem da mateacuteria-prima da

regiatildeo ou a produzissem em volume inferior a 30 do consumo aparente da regiatildeo

(LACOMBE 1969)

No aspecto relativo aos dispositivos fiscais a Lei 4239 de 1963 consolida os

estiacutemulos jaacute autorizados e prevecirc em relaccedilatildeo agrave aquisiccedilatildeo de obrigaccedilotildees do FIDENE (Fundo

de Investimento para o Desenvolvimento Econocircmico e Social do Nordeste) destinado a

garantir a exequibilidade financeira de projetos e obras consideradas pela SUDENE como

prioritaacuterios Prevecirc igualmente a lei a criaccedilatildeo do Fundo de Emergecircncia do Nordeste (FEANE)

objetivando contribuir para assistecircncia imediata agraves populaccedilotildees viacutetimas de calamidades

puacuteblicas (LACOMBE 1969 p 111-112)

Posteriormente teve-se a Lei nordm 4357 de 1964 que facultou agraves pessoas fiacutesicas

abaterem de sua renda bruta as quantias aplicadas na subscriccedilatildeo integral em dinheiro de

accedilotildees nominativas de sociedades anocircnimas que se dediquem a atividades industriais ou

agriacutecolas consideradas pela SUDENE de interesse para o desenvolvimento do Nordeste

Sobreveio entatildeo a Lei 4869 de 1965 que aprovou o Plano Diretor para os anos de 1966 1967

e 1968 modificando alguns dispositivos da legislaccedilatildeo anterior Finalmente a Lei nordm 5508 de

1968 aprova a quarta etapa do Plano Diretor da SUDENE para os anos de 1969 1970 1971

1972 e 1973 (LACOMBE 1969)

A partir de 1967 abriu-se certa flexibilizaccedilatildeo agraves unidades federativas as quais

utilizam esse mecanismo a niacutevel regional ndash podendo a este niacutevel escalar alterar a aliacutequota

Destarte inicia-se um tipo de guerra fiscal regional na atraccedilatildeo de investimentos Para conter

os acircnimos das regiotildees a partir de 1975 o governo federal passou a intervir nas poliacuteticas de

incentivos fiscais mediante criaccedilatildeo do Conselho Nacional de Poliacutetica Fazendaacuteria (CONFAZ)

responsaacutevel pela aprovaccedilatildeo de possiacuteveis concessotildees de incentivos fiscais a novos

investimentos Todavia esse mecanismo era utilizado pela Uniatildeo de forma recorrente

(ALVES 2001)

481

A Constituiccedilatildeo Federal de 1988 atestou o processo de descentralizaccedilatildeo em curso

iniciado desde a deacutecada de 1970 ampliando a autonomia financeira das unidades federativas e

municiacutepios natildeo precisando mais ―agir de acordo com os interesses no macrocontexto mas

sim a favor de seus proacuteprios interesses (OLIVEIRA 1999 p 120) fazendo surgirem novos

elementos que acirram a guerra fiscal entre os estados Assim ocorre a

[] ampliaccedilatildeo da base de arrecadaccedilatildeo do ICM que passa a ser denominado ICMS

com a incorporaccedilatildeo dos impostos uacutenicos sobre combustiacuteveis e minerais e tambeacutem

com incidecircncia sobre serviccedilos como energia eleacutetrica transportes e

telecomunicaccedilotildees os estados passaram a ter liberdade para fixar as aliacutequotas do

imposto como marca da descentralizaccedilatildeo fiscal da Constituiccedilatildeo de 1988

(CARDOZO 2010 p 22)

As novas regaliaslsquo fiscais de Estados e municiacutepios concederam aos estes novas

ferramentas para competir entre si pela instalaccedilatildeo de empresas o que favoreceu a guerra

fiscal Ademais a crise fiscal das unidades federativas sinalizava a necessidade de uma

repactuaccedilatildeo federativa da qual as reformas fiscal e tributaacuteria seriam um componente essencial

Outro aspecto crucial eacute a crise fiscal da Uniatildeo haja vista que o governo federal jaacute natildeo seria

capaz de consolidar os distintos interesses regionais via redistribuiccedilatildeo de recursos atraveacutes do

orccedilamento fundos puacuteblicos agecircncias de fomento ao desenvolvimento regional etc

(ARRETCHE 1999 GUERATO 2013) Destarte

[] a relativa fragmentaccedilatildeo da Naccedilatildeo ou a impossibilidade de manutenccedilatildeo do pacto

entre as elites regionais seriam ainda agravadas pelas poliacuteticas de orientaccedilatildeo liberal

na medida em que a abertura comercial a prioridade ao pagamento da diacutevida e a

natureza dos cortes orccedilamentaacuterios incentivariam a desarticulaccedilatildeo do mercado interno

e minguariam ainda mais os recursos a serem distribuiacutedos com criteacuterios regionais de

alocaccedilatildeo (ARRETCHE 1999)

Com maior abertura comercial e financeira as escalas global e local ditaram o ritmo

do crescimento econocircmico Agrave eacutepoca anos 1990 disseminou-se a ideia de descentralizaccedilatildeo de

algumas incumbecircncias da Uniatildeo para os Estados Neste contexto a guerra fiscal eacute acirrada

com novos contornos e determinantes como o enfraquecimento das poliacuteticas do Governo

Federal voltadas ao desenvolvimento regional Todavia eacute evidente um elemento impliacutecito que

desmascara o real objetivo da competiccedilatildeo entre estados ―a proacutepria loacutegica de valorizaccedilatildeo do

capital leva os grandes grupos empresariais agrave busca das melhores condiccedilotildees de lucratividade

promovendo verdadeiros leilotildees entre paiacuteses entre regiotildees entre estados e entre cidades

(CARDOZO 2010 p 17) Ademais a tecnologia empregada no processo produtivo na eacutepoca

presente desvincula a empresa dos espaccedilos facilitando sua locomoccedilatildeo para locais que

promovam a valorizaccedilatildeo do capital A reestruturaccedilatildeo produtiva e o avanccedilo tecnoloacutegico

482

propiciaram a diversos setores produtivos diminuiccedilatildeo de escala peso e tamanho sem

comprometimento com os espaccedilos sem tantas restriccedilotildees locacionais gerando assim menores

custos de instalaccedilatildeo e ceacutelere depreciaccedilatildeo (CANO 2008)

As accedilotildees dos estados para Cavalcante e Prado (1998) satildeo falhas e passiacuteveis de

fracasso haja vista que os incentivos fiscais afetam a capacidade tributaacuteria estadual e

destarte afetam a capacidade de arrecadaccedilatildeo futura Para esses autores o uso deste

mecanismo dar-se-ia somente se o mecanismo fiscal natildeo tivesse relaccedilotildees com a capacidade de

gastos da unidade federativa Concomitantemente haacute uma perda significativa analisando o

paiacutes como um todo O estado e o municiacutepio que abrigavam tais empresas deixam de ganhar

receita aleacutem de renda e postos de trabalho (CARDOZO 2010)

Assim sendo em 1994 passa a ganhar ecircnfase agrave utilizaccedilatildeo de fundos puacuteblicos

diretamente vinculados aos orccedilamentos estaduais com renuacutencia fiscal prevista e aprovados

pelas assembleias legislativas dos Estados Acirra-se portanto o conflito federativo e

explicita-se o uso do financiamento do ICMS (GUERATO 2013)

22 Fatores determinantes da Guerra Fiscal

―A guerra fiscal consiste em um fenocircmeno que se acirra nos anos 1990 e tem como

principal caracteriacutestica o embate entre os entes federativos na atraccedilatildeo de empresas para seus

territoacuterios (CARDOZO 2010 p 20) O principal mecanismo utilizado na guerra fiscal eacute o

ICMS imposto de incumbecircncia estadual Ademais o estado que concentrar a maior parte da

estrutura produtiva concentraraacute maior arrecadaccedilatildeo desse imposto tendo assim possibilidade

de negociar reduccedilotildees tributaacuterias as empresas como incentivo a sua instalaccedilatildeo na unidade

federativa Iniciado na deacutecada de 1960 a distribuiccedilatildeo de receitas tributaacuterias informa esse

incipiente processo de lutalsquo fiscal entre os estados conforme Tabela 1

483

Tabela 1 - Distribuiccedilatildeo das receitas tributaacuterias no Brasil de 1960 a 1994 (Em )

Ano Esfera do Governo

Ano Esfera do Governo

Federal Estadual Municipal Federal Estadual Municipal

1960 64 313 47 1982 759 214 27

1965 636 308 56 1983 765 206 28

1970 667 306 27 1984 736 237 27

1971 687 286 27 1985 727 249 24

1972 697 277 26 1986 705 27 25

1973 711 263 25 1987 723 252 25

1974 723 254 23 1988 717 256 27

1975 737 235 28 1989 675 299 27

1976 754 216 3 1990 67 296 34

1977 76 211 29 1991 634 312 54

1978 751 222 28 1992 661 291 48

1979 748 218 34 1993 686 266 47

1980 747 216 37 1994 679 271 51

1981 754 213 33 - - - -

Fonte Cardozo 2010

A tabela 1 indica os percentuais de participaccedilatildeo na receita tributaacuteria de 1960 a 1994

(excetuando-se o periacuteodo 1961-64 e 1966-69) das esferas governamentais No periacuteodo da

ditadura militar a participaccedilatildeo do governo federal superou as demais esferas sendo que a

partir de 1970 tem-se um crescimento de sua participaccedilatildeo na receita tributaacuteria Todavia esse

cenaacuterio se modifica em 1978 com pequenas oscilaccedilotildees positivas e mais negativas a

participaccedilatildeo do governo federal cai paulatinamente e a esfera estadual recebe maior fatia

sobretudo pela descentralizaccedilatildeo poliacutetica a partir da Constituiccedilatildeo de 1988 A despeito desse

processo poliacutetico as unidades federativas passaram a enfrentar fortes restriccedilotildees de recursos

fenocircmeno da reduccedilatildeo de autonomia daquelas forccedilando-as a buscar novas formas de

financiamento de seus dispecircndios como o endividamento externo (LOPREATO 1992 2002)

As unidades federativas utilizam do mecanismo fiscal desde a instauraccedilatildeo do ICM

posteriormente chamado de ICMS No caso dos municiacutepios oferecem isenccedilotildees no ISS e

Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) e Imposto sobre Transferecircncia de Bens Imoacuteveis

(ITBI) Aleacutem destes tem-se tambeacutem doaccedilatildeo de terreno e obras de infraestrutura em

consonacircncia da geraccedilatildeo de empregos diretos e indiretos Tal poliacutetica fere o princiacutepio da

isonomia (CARDOZO 2010)

Cavalcante e Prado (1998) elencam trecircs principais fatores que determinam a guerra

fiscal a relaccedilatildeo entre os governos subnacionais e o governo federal a estrutura da tributaccedilatildeo

484

sobre o valor adicionado e a retomada de fluxos de investimento privado Atinente agrave primeira

a competitividade exagerada entre os estados eacute justificada mediante concessatildeo de benefiacutecios

e incentivos fiscais para atrair investimento interno ou externo a segunda relacionada agrave

tributaccedilatildeo sobre o valor adicionado diz que a base que matem o conflito entre as unidades

federativas no paiacutes decorre da sistemaacutetica de tributaccedilatildeo do ICMS no comeacutercio interestadual

no qual o modelo eacute caracterizado pela competecircncia estadual principal imposto sobre o valor

adicionado ndash o ICMS ndash ao contraacuterio do padratildeo mundial por fim o terceiro fator o

investimento privado seria justificativa adequada para uma guerra fiscal haja vista a fraacutegil

capacidade regulatoacuteria da Uniatildeo Os investimentos externos associaram-se as privatizaccedilotildees e

entrada de grandes empresas o investimento interno associou-se aos processos de

especializaccedilatildeo reduccedilatildeo de gargalos e modernizaccedilatildeo para ganhos de produtividade Destarte a

utilizaccedilatildeo de benefiacutecios e incentivos fiscais por parte dos governos estaduais eacute racional na

medida em que procuram intervir nos processos locacionais de concentraccedilatildeo de investimentos

(CAVALCANTE PRADO 1998)

Este mecanismo de guerralsquo entre estados do Brasil eacute promovido pela

internacionalizaccedilatildeo do mercado nacional acirrado na deacutecada de 1990 na medida em que a

disputa por capitais externos obriga a crescentes concessotildees dos estados Em destaque cabe

frisar que a decisatildeo de onde alocar seus investimentos por parte das empresas jaacute estava

determinada e natildeo eacute modificada agrave luz da guerra de incentivos (DULCI 2002) Ademais as

empresas o fariam de qualquer maneira e ―instalar-se-iam em princiacutepio na middotaacuterea

economicamente central do paiacutes Ora eacute precisamente essa opccedilatildeo que o leilatildeo de incentivos

pretende alterar Trata-se de cobrir com vantagens financeiras o custo da alocaccedilatildeo de uma

empresa em outra parte que natildeo aquela que ela escolheria por uma loacutegica de mercado

(DULCI 2002 p 97) Fatores como qualificaccedilatildeo do proletariado mercado consumidor

infraestrutura formas de escoamento da produccedilatildeo mateacuteria-prima satildeo alguns requisitos que

atraem empresas Contudo grande parte das localidades apresentam estas caracteriacutesticas

fazendo assim valer os incentivos fiscais e financeiros oferecidos pelo poder puacuteblico

(CARDOZO 2010) Neste ambiente os diversos governos subnacionais tornam-se

prisioneiros de um jogo de leilatildeolsquo liderado pelo setor privado que negocia simultaneamente

com vaacuterios Estados de modo que maximiza os benefiacutecios e amplia o custo fiscal

(GUERATO 2013)

485

Mesmo atraindo investimentos privados o porte de inversotildees do agente puacuteblico eacute

limitado quando renuncia ao imposto concedido o que inviabiliza muitas vezes os

investimentos puacuteblicos nos setores sociais Este cenaacuterio eacute reflexo da contemporaneidade do

capitalismo vigente O capital pressiona as transformaccedilotildees dos lugares engendrando espaccedilos

favoraacuteveis a espoliaccedilatildeo de seus excedentes O territoacuterio eacute coagido a oferecer elementos

adequados agrave realizaccedilatildeo com lucro do capital total invertido Exige-se portanto

[] adaptabilidade da geografia para usos especiacuteficos e determinados cobrando alta

funcionalidade da morfologia das localidades que deve se moldar constantemente

aos requisitos impostos pelo continuado processo de criaccedilatildeo e de valorizaccedilatildeo de

riqueza privada Estaacute na origem do capitalismo a capacidade de promover

impulsivamente a estruturaccedilatildeo produtiva do espaccedilo subordinando-o agrave sua loacutegica

interna cujo corolaacuterio eacute a inelutaacutevel confrontaccedilatildeo entre os capitais pelas maiores

taxas de lucratividade (VIEIRA 2009 p 9)

No periacuteodo contemporacircneo de integraccedilatildeo liberalizaccedilatildeo e desregulamentaccedilatildeo dos

mercados nacionais em grau sem paralelo na histoacuteria as tendecircncias do capital agravaram-se

Cabe frisar que a competiccedilatildeo fiscal natildeo se configura enquanto poliacutetica de desenvolvimento e

dessa forma natildeo pode substituir poliacuteticas nacionais e regionais cujo objetivo eacute articular

poliacuteticas setoriais e envolver o conjunto dos Estados na construccedilatildeo e implementaccedilatildeo de um

projeto nacional Todavia Cardozo (2010) reconhece que os governos estaduais possuem

limitaccedilotildees na atraccedilatildeo de investimentos haja vista que a dinacircmica de inversotildees eacute condicionada

a partir de decisotildees privadas sobre as quais fatores macroeconocircmicos que natildeo satildeo

controlados pelas unidades federativas tecircm impactos diretos

Na literatura econocircmica tende-se a encarar a guerra fiscal como elemento fundamental

de eleiccedilatildeo dos espaccedilos pelo capital produtivo atendendo as exigecircncias da globalizaccedilatildeo

―Proclama que bastaria cumprir as exigecircncias da globalizaccedilatildeo desse novo imperialismo da

partilha dos lugares eleitos se ajustando adaptando e submetendo a essa inexoraacutevel

fatalidade para se tornar um espaccedilo receptivo e conquistador da confianccedila dos agentes

econocircmicos mais poderosos (BRANDAtildeO 2004 p 6) As localidades almejam alcanccedilar o

mercado externo sonegando-se as articulaccedilotildees econocircmicas e poliacuteticas endoacutegenas com demais

locais no espaccedilo nacional (CARDOZO 2010) Os que detecircm maior diversificaccedilatildeo da

estrutura produtiva comprometem menor parcela de suas receitas com a guerra fiscal Nesse

contexto observa-se a existecircncia de condiccedilotildees diferenciadas para os Estados no processo de

competiccedilatildeo por investimentos e ainda que a guerra fiscal natildeo rompe com a tendecircncia de

concentraccedilatildeo da atividade produtiva (GUERATO 2013)

486

3 Resultados e Discussotildees

Nesta seccedilatildeo seraacute abordado um panorama da guerra fiscal no Nordeste os fatores que

levam as empresas a se instalarem nesse ambiente e depois focalizar em dados relativos a

alguns estados do Nordeste como nuacutemero de estabelecimentos incentivados pelos governos e

de que forma o emprego estaacute distribuiacutedo nesses setores

O enxugamento da atuaccedilatildeo do Estado como promotor do desenvolvimento regional ao

longo da deacutecada de 1990 associada tambeacutem agrave maior autonomia para unidades federativas

advinda da Constituiccedilatildeo de 1988 possibilitou a autonomia dos governos estatais no que tange

ao desenvolvimento de poliacuteticas que impulsionassem a dinacircmica da economia regional Como

exemplo a praacutetica de incentivos fiscais que tem como objetivo interferir na alocaccedilatildeo do

investimento privado atraindo para os Estados empreendimentos que natildeo o fariam caso o

incentivo natildeo existisse (esta eacute a premissa dos programas)

Os principais programas estaduais dos Estados da Regiatildeo Nordeste de acordo com as

respectivas legislaccedilotildees estaduais satildeo a Lei de Incentivos Fiscais do Piauiacute ndash Lei ndeg 4859 de

27081996 Fundo de Desenvolvimento Industrial do Cearaacute (FDI) ndash Lei Nordm 10367 de

07121979 Programa de Apoio ao Desenvolvimento Industrial do Rio Grande do Norte

(PROADI) ndash Lei Nordm 7075 de 17111997 Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Industrial da

Paraiacuteba (FAIN) ndash Lei ndeg 4856 de 29 de julho de 1986 Programa de Desenvolvimento do

Estado de Pernambuco (PRODEPE) ndash Lei Nordm 11675 de 11111999 Programa Sergipano de

Desenvolvimento Industrial (PSDI) ndashLei nordm 3140 de 23121991

De forma geral estes programas possuem algumas semelhanccedilas dentre as quais se

destacam a prioridade na concessatildeo de incentivo dada aos projetos de investimento que

utilizem mateacuterias-primas e insumos locais explorem potenciais produtivos do Estado

desenvolvam atividades com alto teor tecnoloacutegico e tenham alto poder germinativo em

relaccedilatildeo ao emprego

Os benefiacutecios satildeo concedidos a projetos de implantaccedilatildeo ampliaccedilatildeo relocalizaccedilatildeo

modernizaccedilatildeo e revitalizaccedilatildeo de empreendimentos industriais e agroindustriais bem como ao

desenvolvimento de novos produtos

Poreacutem para se efetuar esses benefiacutecios os Estados disputam entre si a atraccedilatildeo de

novos investimentos As empreses muitas vezes jaacute possuem um interesse preacutevio em um

determinado local e os incentivos fiscais surgem como um bocircnus pela reduccedilatildeo dos custos

(PRADO CAVALCANTI 2000)

487

Na Tabela 2 seratildeo abordados alguns dos principais fatores que determinam a

instalaccedilatildeo de unidades produtivas

Tabela 2 - Fatores determinantes para instalaccedilatildeo de plantas produtivas em outro Estado FATOR RESPOSTAS RELEVANTES ()

Custo de Matildeo-de-Obra 415

Benefiacutecios Fiscais 573

Sindicalismo Atuante na Regiatildeo 244

Saturaccedilatildeo Espacial 146

Vantagens Locacionais Especiacuteficas 390

Proximidade do Mercado 573

Fonte Prado Cavalcanti 2000

Se forem levados em consideraccedilatildeo os fatores mencionados na Tabela 1 as empresas

transferem suas plantas a outros Estados visando alocaccedilatildeo eficiente de recursos havendo

perda apenas na receita tributaacuteria do Estado de origem Caso se deslocasse sem levar em

consideraccedilatildeo a eficiecircncia global na alocaccedilatildeo dos recursos ou seja dando peso indevido ao

incentivo fiscal estariam operando com ineficiecircncia econocircmica

Destarte diante do presente contexto tem-se a anaacutelise dos dados de incentivos fiscais

em alguns estados da Regiatildeo Nordeste

Tabela 3 - Regiatildeo Nordeste ndash Induacutestria de Transformaccedilatildeo e Extrativa Mineral ndash

Estabelecimentos em Atividade - 1995 e 2005

Setores PI CE RN PB PE SE NE

1995 2005 1995 2005 1995 2005 1995 2005 1995 2005 1995 2005 1995 2005

Ext Min 25 59 108 120 125 180 49 89 78 112 19 29 632 1011

Min Natildeo metaacutelicos 56 172 272 493 119 258 132 199 350 617 80 160 1454 2866

Ind Metal 69 129 248 480 49 141 99 160 281 441 63 114 1233 2292

Ind Mec 8 14 72 132 11 66 13 46 70 128 10 31 272 677

Mat Eleacutet e Com 4 12 34 49 4 12 18 21 67 80 3 14 169 296

Mat de Transp 13 18 49 89 29 23 20 18 73 65 22 18 318 397

Mad e Mob 83 121 326 515 116 201 121 135 349 456 91 117 1858 2607

Papel e Graacutefica 70 116 244 479 91 183 103 178 301 474 57 133 1380 2519

Bor couro e fumo 45 60 179 323 50 66 82 103 182 231 36 39 931 1311

Ind Quiacutemica 50 97 233 399 66 128 111 173 350 516 53 90 1345 2372

Ind Tecircxtil 141 284 1423 2390 187 480 325 339 675 1521 116 181 3690 6643

Ind de calccedilados 4 10 85 221 9 27 60 104 37 44 7 15 251 528

Alim E bebidas 274 533 926 1613 391 737 580 884 1498 2377 333 522 6701 9941

Total 842 1625 4199 7303 1247 2502 1713 2449 4311 7062 890 1463 20234 33460

Fonte Elaboraccedilatildeo a partir de dados da RAIS

488

Tabela 4 - Regiatildeo Nordeste Induacutestria de Transformaccedilatildeo e Extrativa Mineral Emprego 1995

e 2005

Setores PI CE RN PB PE SE NE

1995 2005 1995 2005 1995 2005 1995 2005 1995 2005 1995 2005 1995 2005

Ext Min 2071 843 2947 1816 5006 6017 795 1407 1577 1703 923 2054 20473 23764

Min Natildeo metaacutelicos 1382 3177 3934 7495 2372 4506 2810 4421 8021 11179 1967 3608 29357 51746

Ind Metal 478 843 5636 7601 261 1182 981 1572 5921 8429 494 1150 24493 33925

Ind Mec 22 129 1260 2776 397 1366 177 476 1499 2194 40 1016 5501 13788

Mat Eleacutet e Com 31 113 1385 2049 1 123 394 296 5703 4512 17 204 8361 10856

Mat de Transp 143 756 660 2212 136 219 108 105 1667 1857 424 615 4344 13281

Mad e Mob 1246 1276 3320 5619 830 1368 609 981 3023 4225 744 894 19637 24809

Papel e Graacutefica 805 890 3827 5862 1102 1899 1781 2397 6036 7435 647 1143 23611 29753

Bor couro e fumo 1260 839 2538 6009 570 522 1395 3319 2787 2748 456 859 15487 23899

Ind Quiacutemica 927 1700 5647 9284 1246 2969 1884 3132 9781 13157 424 2247 40400 60822

Ind Tecircxtil 4656 3371 34574 52449 9316 20722 7700 11976 18067 18365 6248 6588 93073 132659

Ind de calccedilados 28 52 6339 44268 164 1835 5688 8461 1222 1776 743 2108 14477 81597

Alim E bebidas 3728 8052 33361 35641 14103 15851 16021 18093 85262 84476 6308 10841 252176 300006

Total 16777 22041 105428 183081 35504 58579 40343 56636 150566 162056 19435 33327 551390 800905

Fonte elaboraccedilatildeo a partir de dados da RAIS

No periacuteodo 1994-2006 de acordo com dados fornecidos pela Secretaria da Fazenda

(SEFAZ) e pela Secretaria do Planejamento (SEPLAN) do Estado do Piauiacute por intermeacutedio de

sua Comissatildeo de Incentivos Fiscais (CIF) 410 empresas foram incentivadas e geraram cerca

de 28794 empregos diretos Os investimentos realizados no acircmbito da CIF natildeo ocorreram de

forma contiacutenua e apenas os setores de produtos alimentiacutecios e de minerais natildeo metaacutelicos

receberam incentivos de forma ininterrupta sendo este uacuteltimo o principal receptor dos

investimentos realizados em todo o periacuteodo (cerca de 93) Do total de projetos incentivados

78 tinham por finalidade a implantaccedilatildeo de novas plantas industriais 12 a revitalizaccedilatildeo de

empreendimentos e o desenvolvimento de novos produtos 8 a ampliaccedilatildeo de

empreendimentos jaacute existentes e 2 tinham outras finalidades (decretos e prorrogaccedilotildees)

De acordo com os dados da RAISMTE o nuacutemero de estabelecimentos industriais em

atividade no PI cresceu entre 1995 e 2005 em todos os setores da induacutestria local com

destaque para os setores de minerais natildeo metaacutelicos materiais eleacutetricos e de comunicaccedilotildees e

calccedilados O emprego industrial caiu nos setores extrativos minerais borracha couro e fumo e

tecircxteis e cresceu nos demais especialmente nas induacutestrias mecacircnicas e de materiais de

transporte (todavia estes ainda representam apenas 4 do emprego industrial) Os setores de

minerais natildeo metaacutelicos e de produtos alimentiacutecios e bebidas tambeacutem tiveram taxas bastante

positivas

489

Os dados relativos ao FDI fornecidos pela Secretaria de Desenvolvimento Econocircmico

do Cearaacute (SDE) demonstram que no periacuteodo 1994-2006 1111 empresas foram incentivadas

e geraram 211229 empregos diretos no Estado Os setores incentivados que mais receberam

investimentos no periacuteodo foram os de refino de petroacuteleo e quiacutemicos (cerca de 41) seguidos

dos setores de energia eoacutelica e eleacutetrica (11) tecircxteis e vestuaacuterio (93) O setor de calccedilados

foi responsaacutevel por 28 do investimento realizado Do total de projetos incentivados 91

tinham por finalidade a implantaccedilatildeo de novos empreendimentos industriais 4 e 3 a

ampliaccedilatildeo e modernizaccedilatildeo respectivamente de empreendimentos jaacute existentes e 2 outras

finalidades (relocalizaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo)

A anaacutelise dos dados da RAISMTE mostra que o nuacutemero de estabelecimentos

industriais em atividade no Cearaacute cresceu em todos os setores da induacutestria entre 1995 e 2005

Destaca-se o desempenho da induacutestria de calccedilados que mais que duplicou o nuacutemero de

estabelecimentos industriais fato que pode estar relacionado agrave poliacutetica de incentivos fiscais

estaduais jaacute que este foi o terceiro setor em quantidade de projetos incentivados Este fato eacute

reforccedilado pelo bom desempenho das induacutestrias de produtos alimentiacutecios tecircxteis

metaluacutergicas mecacircnicas e quiacutemicas que tambeacutem tiveram parcela significativa de seus

empreendimentos beneficiados no periacuteodo (aproximadamente 57 do total de empresas

incentivadas pelo FDI) O emprego industrial caiu apenas nos setores extrativos minerais e

cresceu especialmente nos setores de calccedilados materiais de transporte borracha e mecacircnicos

sendo mais um fato que corrobora a contribuiccedilatildeo da poliacutetica de incentivos estaduais visto que

dois destes setores (calccedilados e mecacircnico) figuram entre aqueles que mais geraram empregos

diretos nos acircmbito do FDI

Os dados relativos ao PROADI fornecidos pela Coordenaccedilatildeo de Desenvolvimento

Industrial da Secretaria de Desenvolvimento Econocircmico (SEDECCODIT) evidenciam que

190 empresas foram incentivadas pelo programa e 44929 empregos diretos foram gerados no

periacuteodo 19862006 Ainda no Estado do Cearaacute setorialmente os projetos incentivados

concentraram-se nos gecircneros tradicionais da induacutestria sendo 656 em produtos tecircxteis e

confecccedilotildees 14 em produtos alimentiacutecios e4 em produtos minerais Em relaccedilatildeo ao

emprego direto gerado pelo programa ateacute o iniacutecio de 2000 o nuacutemero de postos gerados por

ano oscilava bastante entretanto a partir de 2003 apesar de natildeo ter alcanccedilado os patamares

de 1998 e 2000 (mais de 6 mil postos) o emprego gerado passou a mostrar uma tendecircncia

crescente

490

Entre 1995 e 2005 o nuacutemero de estabelecimentos industriais em atividade no Estado

cresceu em todos os setores da induacutestria local exceto no setor de materiais de transporte Os

setores mecacircnicos de materiais eleacutetricos metaluacutergicos (gecircneros dinacircmicos) tecircxteis e minerais

natildeo metaacutelicos tiveram os melhores desempenhos Dentre estes setores apenas o de produtos

tecircxteis figura entre os que mais receberam incentivos do PROADI O emprego industrial caiu

apenas no setor de borracha couro e fumo e teve desempenho bastante favoraacutevel em alguns

gecircneros dinacircmicos (materiais eleacutetricos e de comunicaccedilotildees metaluacutergica mecacircnica e quiacutemica)

apesar destes ainda representarem pequena parcela do emprego industrial local (96) dado o

perfil capital intensivo de seus investimentos O setor de calccedilados foi o gecircnero tradicional

com maior aumento no emprego seguido do setor de minerais natildeo metaacutelicos

Entre 1995 e 2005 segundo dados relativos ao FAIN fornecidos pela Companhia de

Desenvolvimento da Paraiacuteba (CINEP) 422 empresas foram incentivadas gerando 51508

empregos diretos Os setores incentivados que mais receberam investimentos no periacuteodo

foram tecircxteis (319) produtos minerais natildeo metaacutelicos (274) produtos alimentiacutecios

(94) e calccediladosartefatos de couro (56) Do total de projetos incentivados 61 tinham

por finalidade a implantaccedilatildeo de novos empreendimentos industriais 13 e 12

respectivamente a revitalizaccedilatildeo e a ampliaccedilatildeo de empreendimentos jaacute existentes e 13 a

relocalizaccedilatildeo de plantas industriais

O emprego direto no Nordeste gerado pelos empreendimentos incentivados foi mais

expressivo nos trecircs primeiros anos analisados e natildeo voltou a atingir em nenhum outro ano o

niacutevel alcanccedilado em 1997 (no total 9477 postos) Entre 1998 e 2003 este nuacutemero sofreu

sucessivas reduccedilotildees (caiu para 1498) exceto em 1999 Em 2004 voltou a crescer e em 2006

houve um salto do nuacutemero de emprego gerado (8355) muito superior agrave meacutedia do periacuteodo

(4292) Os setores incentivados que mais geraram emprego foram de calccedilados e artefatos de

couro (238) tecircxteis (238) minerais natildeo metaacutelicos (14) produtos alimentiacutecios (87) e

vestuaacuterio e artefatos de tecido (64) (LIMA LIMA 2010)

Em relaccedilatildeo ao nuacutemero de estabelecimentos em atividade no Estado houve um

aumento em praticamente todos os setores industriais entre 1995 e 2005 exceto no setor de

materiais de transporte Os setores que mais receberam incentivos atraveacutes do FAIN (a saber

minerais natildeo metaacutelicos produtos alimentiacutecios e bebidas calccedilados e artefatos de couro

vestuaacuterio e artefatos de tecidos materiais plaacutesticos metaluacutergico e tecircxtil) tiveram bom

desempenho neste quesito

491

No periacuteodo 1996-2006 de acordo com dados relativos ao PRODEPE fornecidos pela

Agecircncia de Desenvolvimento de Pernambuco (ADDIPER) 1221 empresas foram

incentivadas gerando 89995 empregos diretos no Estado Os setores incentivados que mais

receberam investimentos no periacuteodo foram os de materiais plaacutesticos (253) produtos

alimentares (122) bebidas (101) quiacutemicos (99) tecircxteis (72) e metaluacutergicos (62)

Do total de projetos incentivados 39 destinavam-se agrave implantaccedilatildeo de novas plantas

industriais 14 agrave ampliaccedilatildeo de empreendimentos em atividade 11 agraves centrais de

distribuiccedilatildeo 11 a projetos de importaccedilatildeo 4 agrave revitalizaccedilatildeo substituiccedilatildeo de produtos e

aumento da competitividade de empreendimentos industriais 3 agrave modernizaccedilatildeo de

estabelecimentos e 18 outras finalidades como migraccedilatildeo reenquadramento terceirizaccedilatildeo e

etc (LIMA LIMA 2010)

De acordo com os dados da RAISMTE o nuacutemero de estabelecimentos industriais em

atividade no Estado de Pernambuco soacute natildeo cresceu entre 1995 e 2005 no setor de materiais

de transporte Os setores tecircxteis mecacircnicos de minerais natildeo metaacutelicos produtos alimentiacutecios

e bebidas papel e graacutefica e metaluacutergicos tiveram os melhores desempenhos sendo alguns

destes setores os que mais tiveram projetos incentivados pelo PRODEPE o que sinaliza uma

relaccedilatildeo positiva entre o aumento no nuacutemero de estabelecimentos industriais no Estado e a

concessatildeo de incentivos O emprego industrial caiu nos setores de materiais eleacutetricos e de

comunicaccedilatildeo borracha couro e fumo e de produtos alimentiacutecios e bebidas apesar deste

uacuteltimo setor ter sido o que mais gerou emprego no acircmbito do PRODEPE entre 1996 e 2006

(fato que pode estar relacionado agrave reestruturaccedilatildeo do setor no Estado) Nos demais setores o

emprego cresceu mas de forma menos expressiva Os setores com melhores resultados foram

os mecacircnicos de calccedilados metaluacutergicos madeira e mobiliaacuterio minerais natildeo metaacutelicos e

quiacutemicos alguns dos quais figuram entre os que mais geraram emprego atraveacutes do PRODEPE

(LIMA LIMA 2010)

Os dados relativos ao PSDI fornecidos pela Companhia de Desenvolvimento

Industrial e de Recursos Minerais de Sergipe (CODISE) demonstram que no periacuteodo de

vigecircncia do programa 1991-200611 360 projetos foram incentivados gerando 25876

empregos diretos no Estado O nuacutemero de empresas incentivadas manteve-se proacuteximo agrave

meacutedia do periacuteodo (45) em todos os anos analisados sendo que 2003 foi o ano mais expressivo

(57 projetos) As empresas beneficiadas pertenciam principalmente aos setores de alimentos

(117) confecccedilotildees (111) moacuteveis e estofados (86) minerais natildeo metaacutelicos (83)

492

produtos quiacutemicos (81) tecircxteis (61) bebidas (58) laticiacutenios (5) e embalagens

(42) Os setores incentivados que mais geraram emprego foram tecircxteis (131)

confecccedilotildees (126) alimentos (127) aquicultura (127) bebidas (62) produtos

quiacutemicos (57) calccedilados (48) moacuteveis e estofados (48) embalagens (41) e minerais

natildeo metaacutelicos (41)

4 Consideraccedilotildees finais

As poliacuteticas de incentivos fiscais tecircm diversos impactos sobre os Estados que as

concedem natildeo apenas satildeo criadas novas oportunidades de investimento e emprego mas

tambeacutem a arrecadaccedilatildeo estadual eacute afetada aleacutem de provaacuteveis custos envolvidos nos programas

como a realizaccedilatildeo de obras de infraestrutura A mensuraccedilatildeo de seus impactos eacute tarefa

complexa pois envolve uma seacuterie de fatores que natildeo satildeo facilmente comparados (PRADO

CAVALCANTI 2000)

Entre 1995 e 2005 tanto para a Regiatildeo Nordeste quanto para os Estados

individualmente houve um aumento no nuacutemero de estabelecimentos e do emprego

industriais Em relaccedilatildeo ao nuacutemero de estabelecimentos Rio Grande do Norte Piauiacute e Cearaacute

tiveram os melhores desempenhos e Paraiacuteba o desempenho menos expressivo Jaacute em relaccedilatildeo

ao emprego industrial Cearaacute e Sergipe alcanccedilaram as primeiras posiccedilotildees e Pernambuco teve o

pior desempenho O Cearaacute foi o uacutenico estado que figurou entre os primeiros colocados nas

duas situaccedilotildees

Foi possiacutevel observar uma relaccedilatildeo positiva ainda que natildeo muito significativa entre o

comportamento do emprego industrial e a concessatildeo de incentivos fiscais visto que em geral

os setores com maiores taxas de variaccedilatildeo no emprego entre 1995 e 2005 foram os principais

beneficiados pelos programas estaduais

De forma geral os programas estaduais de incentivo agrave induacutestria baseados na

concessatildeo de incentivos fiscais parecem em alguma medida auxiliar a dinacircmica econocircmica

estadual e consequentemente da regiatildeo Contudo como os incentivos natildeo satildeo os uacutenicos

fatores que influenciam as decisotildees de investimento dos agentes privados a maior parte dos

empreendimentos que decidem se instalar no Nordeste ainda que considerem os incentivos

oferecidos concentra-se 1) nas aacutereas mais desenvolvidas de seus Estados que possuem

melhor infraestrutura de transporte comunicaccedilotildees e financeira aleacutem de trabalhadores com

maiores niacuteveis de qualificaccedilatildeo etc fatores essenciais para o bom funcionamento dos

mesmos e 2) em setores jaacute estabelecidos na regiatildeo o que pode estar contribuindo para

493

aumentar o custo fiscal envolvido nas operaccedilotildees realizadas bem como pode limitar os

impactos das poliacuteticas Este fato evidencia a necessidade de pensar no desenvolvimento como

um projeto mais amplo que englobe a melhoria de aspectos econocircmicos e sociais da

regiatildeoEstados visto que ao disponibilizar melhor infraestrutura logiacutestica e de matildeo-de-obra

(qualificaccedilatildeo e treinamento de trabalhadores) o EstadoRegiatildeo ganha um diferencial em

relaccedilatildeo agrave atratividade de novas induacutestrias

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