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ORGANIZADORES: WELLINGTON RIBEIRO JUSTO MARIA ISADORA GOMES DE PINHO XVIII SEMANA DE ECONOMIA DA URCA Política industrial e o papel da indústria na retomada do crescimento econômico brasileiro - 2018

XVIII SEMANA DE ECONOMIA DA URCA Política industrial e o …files.economia-semana.webnode.com/200001555-8f833907d1... · 2019. 5. 15. · Apresentação A XVIII Semana de Economia

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ORGANIZADORES:

WELLINGTON RIBEIRO JUSTO

MARIA ISADORA GOMES DE PINHO

XVIII SEMANA DE ECONOMIA DA URCA Política industrial e o papel da indústria na retomada

do crescimento econômico brasileiro - 2018

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XVIII SEMANA DE ECONOMIA DA

URCA:

Política industrial e o papel da

indústria na retomada do crescimento

econômico brasileiro.

2018

Realização:

Apoio:

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Ficha Catalográfica Elaborada pela Biblioteca Central da URCA

Bibliotecária - Ana Paula Saraiva de Sousa - CRB 3/1000

Crato-CE

Os artigos apresentados neste livro são de inteira responsabilidade dos seus autores. As

opiniões neles emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista dos organizadores

do evento.

U74d XVIII Semana de Economia: política industrial e o papel da

indústria na retomada do crescimento econômico brasileiro/

Organizadores: Wellington Ribeiro Justo e Maria Isadora Gomes de

Pinho. - 1. ed. – Crato-CE: URCA/ Departamento de Economia, 2018.

189p.; il.; Material digital.

ISBN: 978-85-65425-44-5

1. Economia regional e urbana; 2. Economia agrícola, 3. Meio

ambiente e desenvolvimento sustentável, 4. Economia social, 5.

Economia industrial; I. Título, II. URCA – Departamento de Economia.

CDD: 330

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EDITORIAL

Presidente da Comissão Organizadora

Joice Pereira de Souza.

Comissão Geral

Docente:

Prof. Dr. Luís Abel da Silva Filho

Discentes:

Joice Pereira de Souza,

Marcelo Henrick Alves dos Santos;

Comissão Organizadora

Docentes:

Prof. Dr. Luís Abel da Silva Filho

Prof. Dr. Wellington Ribeiro Justo

Profª. Ma. Aline Alves de Oliveira

Discentes:

Joyce Pereira de Souza

Ismael Martins Landim

Catia Kele Gonçalves da Silva

Sara Ferro de Melo

Mônica Lúcio e Silva

Marcelo Henrick Alves dos Santos

Joana Priscila Barbosa da Silva

Thierry Barros

Wellington Rodrigues da Silva

Maria Isadora Gomes de Pinho

Natanael Pessoa Lustoza

Guilherme Sousa Brandão

Comissão de Logística:

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Discentes:

Guilherme Sousa Brandão,

Catia Kele Gonçalves da Silva;

Comissão Científica:

Docente:

Prof. Dr. Wellington Ribeiro Justo;

Discentes:

Sara Ferro de Melo,

Maria Isadora Gomes de Pinho;

Comissão de Divulgação

Discentes:

Monica Lúcio e Silva,

Ismael Martins Landim;

Comissão de Infraestrutura Externa

Docente:

Prof. Ma. Aline Alves de Oliveira;

Discentes:

Thierry Barros,

Natanael Pessoa Lustoza;

Comissão de Infraestrutura Interna

Discentes:

Wellington Rodrigues da Silva,

Joana Priscila Barbosa da Silva;

Secretaria Executiva

Gilvânia Magda,

Gustavo Sampaio.

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PARECERISTAS

Alan Francisco Carvalho Pereira (UNIVASF)

Andréa Ferreira da Silva (UFPB- PPGE)

Áydano Ribeiro Leite (URCA)

Diego Palmiere Fernandes

Eryka Fernanda Miranda Sobral (UFPB-PPGE)

Francisco do O’ de Lima Junior (URCA)

José Márcio Santos (URCA)

Josué Nunes de Araújo Junior (PPGECON)

Kélvio Felipe dos Santos (IF- Iguatu- UNICAMP)

Maria Jeanne Gonzaga de Paiva (URCA)

Monaliza Ferreira de Oliveira (UFPE-PPGECON)

Poema Ísis Andrade de Souza (UFRPE)

Roberta de Moraes Rocha (UFPE- PPGECON)

Rogério Moreira de Siqueira (URCA)

Silvana Nunes de Queiroz (URCA)

Sónia Maria Pereira Fonseca Oliveira (UFRPE- PPGECON)

Wellington Ribeiro Justo (URCA- PPGECON)

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XVIII SEMANA DE ECONOMIA DA URCA: Política industrial e o papel da indústria na retomada do crescimento

econômico brasileiro.

Universidade Regional do Cariri, URCA.

EIXOS TEMÁTICOS

Economia Regional e Urbana;

Economia Agrícola, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável;

Economia Social, Economia do Trabalho e Demografia;

Economia Industrial

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XVIII SEMANA DE ECONOMIA DA URCA: Política industrial e o papel da indústria na retomada do crescimento

econômico brasileiro.

REALIZAÇÃO:

PATROCÍNIO:

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Apresentação

A XVIII Semana de Economia da Universidade Regional do Cariri – URCA foi realizada no

período de 10 a 14 de Setembro de 2018, com o tema: Política industrial e o papel da indústria na

retomada do crescimento econômico brasileiro.

As áreas temáticas contempladas foram: Economia Regional e Urbana; Economia Agrícola; Meio

Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; Economia Social, Economia do Trabalho e Demografia e

Economia Industrial. Foram submetidos 44 trabalhos entre artigos e resumos expandidos abrangendo

todas as áreas temáticas. Foram Aprovados 26 artigos e 07 resumos expandidos.

Dos trabalhos apresentados foram escolhidos os dez mais bem avaliados artigos pela comissão de

pareceristas para fazer parte do livro virtual do evento. Os artigos selecionados para o livro contemplam

as três primeiras áreas temáticas. Há uma diversidade de metodologias utilizadas pelos autores. Há artigos

com análise mais exploratória e outros que fazem uso de métodos mais avançados.

O primeiro artigo testa a hipótese de convergência da criminalidade nos municípios do Ceará. Os

autores fazem uso de econometria espacial e concluem que não se rejeita a hipótese testada e que há um

aumento médio da taxa de homicídio e diminuição da dispersão.

No segundo os autores buscaram mensurar a questão econômica em um índice de

desenvolvimento sustentável para os municípios da região metropolitana de Fortaleza no ano de 2010.

Foi encontrado que poucos municípios estão em patamares aceitáveis havendo espaço para ações de

políticas públicas que possam promover a sustentabilidade econômica dos municípios.

Em seguida o leitor pode deleitar-se com um estudo que buscou avaliar o impacto do ProUni sobre

o desempenho acadêmico de alunos concludentes em cursos de faculdades privadas que recebiam bolsa

integral. Fazendo uso da metodologia de Propenssity Score eles encontraram que os alunos bolsistas

apresentam desempenho acadêmico superior em relação aos demais.

Posteriormente o leitor se depara com ume estudo que aborda a questão da desconcentração

populacional das grandes metrópoles para as cidades de médio porte. Através de um estudo para o Ceará

considerando o período de 2000 a 2010, os autores encontraram que há uma diminuição de alguns

indicadores socioeconômicos maléficos como o índice de Gini e analfabetismo e aumento da renda per

capita desses municípios.

A pauta de exportações do estado da Paraíba no período entre 2000 e 2017 é abordada em seguida.

Os autores fazem uso de estimação de indicadores tradicionais na literatura e encontraram que a Paraíba

apresentou resultados favoráveis das vantagens comparativas para vários produtos. Contudo, foi

constatada que a pauta de exportação paraibana é concentrada em poucos produtos.

Na sequência, tem-se um estudo em que os autores estimam os indicadores de sustentabilidade

para as unidades da federação brasileira para o ano de 2014. Os resultados sugerem que a maioria dos

estados possui baixo nível de sustentabilidade. Esses resultados em um espaço geográfico maior

juntamente com outro artigo anteriormente comentado, sugere que a questão de sustentabilidade é

preocupante para o caso brasileiro a despeito do espaço geográfico analisado.

Um estudo comparativo da dinâmica econômica entre o Ceará e a Bahia pode ser contemplado no

livro. Os autores analisando o período entre 2003 e 2013 apontaram que a economia da Bahia apresenta-

se mais dinâmica. Uma das justificativas apontadas é que a economia baiana encontra-se mais atrelada à

economia nacional.

A crise hídrica também é abordada. Analisando o caso do Ceará no período entre 2012 e 2016 os

autores investigam uma série de políticas públicas e apontam que há espaço para adoção de políticas que

permitam uma melhor convivência com a seca.

O penúltimo artigo trata da questão do desenvolvimento em um estudo de caso para a

microrregião de Iguatu-CE. Os autores identificaram uma elevação substancial da urbanização. Contudo,

a geração de emprego não tem conseguido atender a população.

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Finalmente o último capítulo aborda o perfil sociodemográfico e econômico da mulher no setor

industrial no setor formal no Ceará no ano de 2016. Os autores identificaram alta rotatividade da mão de

obra e a despeito da elevação da escolaridade média das mulheres os salários permanecem baixos.

Wellington Ribeiro Justo

Professor Associado do Curso de Economia da URCA

Professor do PPGECON – UFPE

Doutor em Economia –PIMES (UFPE)

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SUMÁRIO

TESTANDO A HIPÓTESE DE CONVERGÊNCIA NA TAXA DE CRIMINALIDADE DOS

MUNICÍPIOS CEARENSES: UMA ANÁLISE À LUZ DO PROGRAMA RONDA DO

QUARTEIRÃO 12

ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL MUNICIPAL: UMA APLICAÇÃO DA

DIMENÇÃO ECONÔMICA SOBRE A REGIÃO METROPOLITANA DE FORTALEZA – RMF

35

IMPACTO DO PROUNI SOBRE DESEMPENHO ACADÊMICO DOS DISCENTES EM 2014

54

DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DOS MUNICÍPIOS DE MÉDIO PORTE DO CEARÁ

NOS ANOS 2000 E 2010 68

ANÁLISE DAS PAUTAS DE EXPORTAÇÃO E IMPORTAÇÃO DA PARAÍBA POR MEIO DA

COMPETITIVIDADE, CONCENTRAÇÃO E DOS FLUXOS BILATERAIS NO PERÍODO

ENTRE 2000 E 2017 86

ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NAS UNIDADES FEDERATIVAS

BRASILEIRAS EM 2014 105

DINÂMICA ECONÔMICA NORDESTINA E EMPREGO FORMAL INDUSTRIAL: O CASO

DOS ESTADOS DA BAHIA E CEARÁ – 2003/2013 123

CRISES HÍDRICAS NO CEARÁ DE 2012 A 2016: FENÔMENO CLIMÁTICO OU

SÓCIOECONÔMICO? 140

DESENVOLVIMENTO REGIONAL: UMA VISÃO SOBRE AS POLÍTICAS PÚBLICAS E A

URBANIZAÇÃO NA MICRORREGIÃO DE IGUATU 158

PERFIL DA MULHER NO SETOR INDUSTRIAL FORMAL CEARENSE – 2016 176

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TESTANDO A HIPÓTESE DE CONVERGÊNCIA NA TAXA DE CRIMINALIDADE DOS

MUNICÍPIOS CEARENSES: UMA ANÁLISE À LUZ DO PROGRAMA RONDA DO

QUARTEIRÃO

Otoniel Rodrigues dos Anjos Junior

Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Mestre em Economia

Aplicada pelo Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal da Paraíba (PPGE-

UFPB). Doutorando em Economia Aplicada pelo PPGE-UFPB. E-mail: [email protected]

Andréa Ferreira da Silva

Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA). Mestra em Economia

Rural pelo Mestrado em Economia Rural da Universidade Federal do Ceará (MAER-UFC). Doutoranda

em Economia Aplicada pelo Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal da

Paraíba (PPGE-UFPB). E-mail: [email protected]

Eryka Fernanda Miranda Sobral

Graduada em Economia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Mestra em Economia pela

UFPE. Doutoranda em Economia Aplicada pelo Programa de Pós-Graduação em Economia da

Universidade Federal da Paraíba (PPGE-UFPB). E-mail: [email protected]

Magno Vamberto Batista da Silva

Graduado em Economia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Mestre em Economia pelo

Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal da Paraíba (PPGE-UFPB). Doutor

em Economia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Professor do Departamento de

Economia da Universidade Federal da Paraíba. E-mail: [email protected]

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TESTANDO A HIPÓTESE DE CONVERGÊNCIA NA TAXA DE CRIMINALIDADE DOS

MUNICÍPIOS CEARENSES: UMA ANÁLISE À LUZ DO PROGRAMA RONDA DO

QUARTEIRÃO

RESUMO: A taxa de criminalidade tem apresentado tendência de aumento para todas as regiões do país

nos últimos anos, mesmo com a ação de programas de repressão à criminalidade. O Ceará se destaca

como segundo maior em taxa de homicídio da Região Nordeste, onde a região metropolitana de Fortaleza

contribui substancialmente para este fato. Ante a isso, o objetivo deste estudo é testar a hipótese de

convergência nas taxas de criminalidade dos municípios cearenses. Para tanto, utiliza-se a taxa de

homicídios como proxy para criminalidade, e controlando a dependência espacial. Os resultados mostram

ocorrência tanto Global quanto Local de dependência espacial significante, sinalizando dados espalhados

de forma não aleatória no espaço. Além disso, a hipótese de convergência não foi rejeitada e ocorre

paralelamente com o aumento na taxa média de homicídios e a redução em sua variabilidade. Por fim,

esse fenômeno parece ocasionar aumentos marginais maiores nas taxas de homicídios dos municípios

considerados "tranquilos” comparativamente aos outros municípios ditos "violentos".

Palavras-chaves: Criminalidade, Municípios, Ceará.

ABSTRACT: The crime rate has shown a tendency to increase for all regions of the country in the last

years, even with the action of programs of repression to the crime. Ceará stands out as the second largest

homicide rate in the Northeast Region, where the metropolitan region of Fortaleza contributes

substantially to this fact. Before this, the objective of this study is to test the hypothesis of convergence in

the crime rates of the municipalities of Ceará. To do so, the homicide rate is used as a proxy for crime,

and controlling spatial dependence. The results show both Global and Local occurrence of significant

spatial dependence, signaling data scattered nonrandomly in space. In addition, the convergence

hypothesis was not rejected and occurs in parallel with the increase in the average homicide rate and the

reduction in its variability. Finally, this phenomenon seems to cause larger marginal increases in the

homicide rates of the municipalities considered "quiet” compared to other municipalities called

"violent".

Keywords: Crime, Municipalities, Ceará.

1. Introdução

O problema da criminalidade tem sido visto como um dos mais sérios obstáculos ao

desenvolvimento econômico e social (FAJNZYLBER; JR, 2001; CLEMENTE; WELTERS, 2007;

SANTOS; FILHO, 2011). Os governos e a sociedade civil passaram a dar maior importância ao assunto,

uma vez que foram observados os aumentos nas taxas de violência e os elevados custos associados à

mortalidade, sobretudo de jovens.

Na literatura brasileira, diversos estudos analisam o crime representado pela taxa de homicídio

(OLIVEIRA et al., 2005; MENDONÇA et al., 2001; SAPORI; WANDERLEY, 2001; CANO;

SANTOS, 2007; SANTOS; FILHO, 2011; JÚNIOR et al., 2018; JÚNIOR; FILHO; AMARAL, 2018).

Isso se deve pela tendência crescente que esse indicador tem apresentado para todas as regiões do país

nos últimos anos e por sua alta taxa de reportagem às autoridades comparativamente a outros crimes.

Conforme Waiselfisz (2016), autor do Mapa da Violência de 2016, as regiões do Nordeste (NE) e

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14

Sudeste (SE) são as que se destacam em primeiro e segundo lugar, respectivamente, no total de

homicídios do país, ao longo de todo o período de 2008-2014. Em 2014, 43% do total dos homicídios

por armas de fogo no Brasil ocorreram no NE. Dentre seus estados, Alagoas, Ceará e Sergipe são os que

apresentam as maiores taxas de homicídios da região com aproximadamente 57, 43 e 42 homicídios à

cada 100 mil habitantes, respectivamente.

Ante isso, o desafio ao longo dos anos passou a ser formular e implantar políticas que permitam a

prevenção e, consequentemente, a redução da violência. Nesse caso, é importante o desenvolvimento de

pesquisas que permitam avançar na compreensão desse fenômeno por meio da geração de informações

que permitam monitorar e melhorar o entendimento das tendências temporais e espaciais da

criminalidade.

Na literatura internacional o arcabouço teórico apresentado por Becker (1968), em economia do

crime, discute as decisões racionais dos indivíduos entre crime e não crime. Nesse caso, o crime é

considerado uma atividade econômica. Assim, um indivíduo só cometerá um crime se, e somente se, os

ganhos que pretende obter forem maiores do que os custos. Dessa forma, o criminoso irá agir de acordo

com as suas motivações, ponderando as suas decisões, da mesma forma otimizadora que se faz em

outros setores da sociedade.

De acordo com Chiras e Crea (2004), ampliar o número de policiais nas ruas pode ser

considerado eficaz no combate as atividades ilegais, pois tais medidas elevam os custos da ação

criminosa.

Do mesmo modo, Suliano e Oliveira (2015) afirmam que a forma mais eficaz de combater a

criminalidade passa pelo método de inibição ou repressão do seu causador. Dentre as políticas de ação,

destacam a política de detenção por meio do aumento de policiais nas ruas. Em seu estudo, os autores

supracitados testam a hipótese do aumento do policiamento impactar na redução da criminalidade no

Ceará e encontram que o meio de inibição adotado pelo estado, através do programa Ronda do

Quarteirão, altera os ganhos e as ações dos criminosos.

Considerado um programa de segurança pública, o Ronda do Quarteirão foi implementado no

Ceará em 2007, inicialmente em Fortaleza, e a partir de 2008 foi abrangendo outras regiões do estado.

Neste ano, existiam 13.418 policiais efetivos, já em 2015, esse dado cresce 27% passando para 17.100

policiais ativos em todo o estado, segundo dados do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do

Ceará (IPECE). No que tange ao número de homicídios no Ceará, no período entre 2000 e 2015 foi

observado um crescimento de 237% no total de mortes por agressão no estado. Em média, em 2000,

ocorria 6,8 mortes homicida por município, passando a ser, em 2015, 23 mortes, observando-se, dessa

maneira, uma média quase 4 vezes maior do que a vigente no ano 2000, de acordo com dados do

DATASUS.

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15

Diferentemente da pesquisa de Suliano e Oliveira (2015), que investigou o impacto sobre os

crimes contra a propriedade, como roubos e furtos na região metropolitana de Fortaleza, a presente

pesquisa trata sobre crimes que acarretaram mortes por agressão no estado. Logo, objetiva-se testar a

hipótese de convergência nas taxas de homicídios cearenses, uma vez que foi implantada uma política de

aumento de policiais, o programa Ronda do Quarteirão. Nesse caso, espera-se que tal programa gere

redução da criminalidade.

Com a convergência, teria-se tendência de que a taxa de homicídio dos diversos municípios

ficassem cada vez mais homogênea como sugerido por Scalco et al. (2007). Santos e Filho (2011)

verificam convergência com aumento da média de criminalidade e redução da variabilidade. Com isso,

ao longo do tempo não se observaria lugares mais ou menos violentos e a criminalidade afetaria com a

mesma intensidade todos os municípios. Ao longo dos anos, não haveria nenhum lugar que possa ser

considerado “mais” ou “menos” seguro para se viver, pois a atividade criminosa estaria presente com a

mesma intensidade em todos os municípios do estado.

Para tanto, como forma de atingir o objetivo proposto, além dessa introdução, o artigo encontra-se

estruturado em mais quatro seções. A seção 2 traz uma breve revisão da literatura. Na seção 3 é descrito o

procedimento metodológico, sendo composto pela análise exploratória de dados espaciais, análise de

dependência espacial e dados utilizados na investigação. A seção 4 apresenta a análise de resultados das

estimações realizadas. Por fim, a seção 5 traz as considerações finais.

2. Revisão da Literatura

O comportamento criminoso pode ser enxergado por diferentes teorias o que o torna um

fenômeno complexo e multifacetado (CERQUEIRA; LOBÃO, 2003). Esses distintos pontos de vista de

um mesmo fato pode influenciar, inclusive, o planejamento e execução das políticas públicas.

Mediante a isso, uma importante teoria econômica acerca do estudo da criminalidade foi

denominada de teoria da Escolha Racional. Em seu trabalho seminal intitulado Crime and Punishment:

An Economic Approach, Becker (1968) mostra que os agentes decidem entre crime e não crime a partir

dos custos e benefícios de cada tomada de decisão individual. A abordagem racional permitiu estudar o

setor criminal por meio de instrumentos matemáticos e estatísticos avançados. Nessa abordagem o crime

é apresentado como uma alternativa à atividade econômica. Dessa forma, conforme Becker (1968) a

escolha por atividade criminosa ocorrerá se, e somente se, a utilidade esperada por essa ação for superior

a utilidade de empregar seu tempo e recursos em atividades legais.

Nessa perspectiva, o setor legal apresentará tanto mais adeptos quanto maiores forem seus

rendimentos líquidos. Por sua vez, as oportunidades de otimização de ganhos funcionam como setas

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16

indicativas de onde cada indivíduo deverá exerer maior dedicação. Nessa conjuntura, se o crime passa a

compensar (benefício maior que custos) então ocorrem entradas no mercado criminal incentivados pelo

efeito contágio e/ou imitação (VIAPIANA; BRUNET, 2007). A atividade criminosa possibilita,

inclusive, encontrar uma curva de oferta de crimes apenas partindo do processo de maximização de

lucro (SANTOS; KASSOUF, 2008).

O fato dos agentes serem racionais, segundo McKenzie e Tullock (1975), permite que a

quantidade de crime de uma localidade seja determinada como qualquer outra atividade da economia.

Nesse caso, a análise custo/benefício impulsiona os agentes a maximizarem a utilidade esperada de suas

ações (EHRLICH, 1973; HEINEKE, 1978; WITTE; DASGUPTA; BALTIMORE, 1980).

Nesse contexto, similar a uma atividade econômica, a taxa de criminalidade apresenta

desigualdade por região, mas alguns estudos sugerem que a criminalidade está se espalhando entre os

municípios brasileiros. Um desses é o de Scalco et al. (2007), que testa a existência de convergência na

taxa de criminalidade dos municípios mineiros. Seus resultados sugerem redução nas disparidades da

criminalidade entre os municípios e consequentemente, homogenização do crescimento das taxas de

criminalidade.

Por sua vez, Santos e Filho (2011) testam a hipótese de convergência da taxa de crime para as

microrregiões brasileiras. Para isso, utilizaram a taxa de homicídios como proxy para a criminalidade, e

controlando a dependência espacial nos dados regionalmente agrupados, essa hipótese não foi refutada.

Assim, por esse resultado, tem-se evidência de que a criminalidade tende a crescer mais rapidamente nas

localidades menos violentas do que nas localidades mais violentas, com a diferença nas taxas de crimes

dessas localidades sendo eliminadas gradativamente ao longo do tempo. Os autores argumentam que se

a tendência permanecer a redução no bem-estar é inevitável.

Contudo, em função deste arcabouço teórico e empírico, é fato que a criminalidade é um

problema para maioria dos indivíduos. Portanto, dada a evidência supracitada para Minas Gerais e para o

Brasil como um todo, é pertinente testar a convergência dentro do Estado do Ceará dado que é o

segundo mais violento da região Nordeste. Dessa forma, acredita-se contribuir para a compreensão do

fenômeno localmente, possibilitando o redesenho das políticas públicas de segurança no estado do

Ceará.

3. Metodologia

Nesta seção, discutem-se os procedimentos metodológicos empregados na pesquisa, demostrando

brevemente os fundamentos da análise exploratória de dados, os testes e procedimentos que permitem

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17

identificar padrões espaciais. Consolidando a análise, demonstram-se os passos empregados na

estratégia empírica para estimação de modelos de convergência incorporando os efeitos dos

transbordamentos espaciais. Finalmente, na última parte da presente seção, trazem-se informações sobre

os dados e variáveis utilizados na pesquisa.

3.1 Análise exploratória de dados espaciais

A análise exploratória de dados (AEDE), de acordo com Anselin (1995) consiste na técnica para

se testar a existência ou não de padrões estatisticamente significativos, extraindo medidas de

autocorrelação espacial global e local. Isto é, sua proposta é descrever a distribuição espacial, os padrões

de associação espacial (clusters espaciais), verificar a existência de outras formas de instabilidade

espacial (não-estacionariedade), e identificar observações atípicas (outliers).

Nesse sentido, para a autocorrelação espacial tem-se a proposta dos índices de Moran global (I-

Moran) e local (LISA). O primeiro fornece um único valor para o conjunto de todos os municípios,

caracterizando toda a região de estudo, que representará o grau de associação espacial entre os mesmos.

De forma que, como indicador, é definido no intervalo [-1,1], segundo o qual quanto mais próximo de 1,

maior será a associação espacial entre as observações, indicando a possível ocorrência de

homogeneidade entre regiões vizinhas. Por sua vez, quanto mais próximo de -1, maior será o grau de

dissimilaridade entre estas regiões. Já quando mais próximo à zero implicará na inexistência de

dependência espacial para aquela variável. Posto isso, o indicador I-Moran global é calculado a partir da

seguinte especificação:

n

i

tti

n

i

n

j

ttjttiij

n

i

n

j

ij

t

yy

yyyyw

w

nI

1

1 1

1 1

2

,

,, (1)

em que é o número de regiões, são os elementos da matriz de pesos espaciais , é a

observação na região no período e é a média das observações entre as regiões no período .

Conforme Anselin (1995), a matriz conterá as informações referentes à dependência espacial entre as

regiões . Os elementos na diagonal principal são iguais à zero, enquanto os elementos indicam

a associação espacial entre as regiões e .

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(3)

A referida equação demonstra o valor obtido quando não há padrão espacial nos dados, além

disso, observa-se que quando o número de municípios (n) aumenta o valor esperado para o I-Moran se

aproxima de zero. Dessa forma, caso o índice de I-Moran encontrado seja significativamente maior que

o esperado (E[I]), tem-se indício de presença de autocorrelação espacial positiva nos dados. Por outro

lado, se significativamente menor, há evidências a favor de autocorrelação negativa.

Na análise da autocorrelação espacial local, utiliza-se o indicador local de autocorrelação espacial

LISA, definido por Anselin (1995) como qualquer estatística que satisfaça dois critérios: 1) o LISA para

cada observação fornecerá uma indicação de clusters ou agrupamentos espaciais significativos, de valores

semelhantes, em torno daquela observação, bem como uma identificação de instabilidades locais, ou seja,

outliers significativos; e 2) a soma do LISA para todas as observações será proporcional ao indicador

global de associação espacial. A medida LISA para cada região e período pode ser expressa da

seguinte forma:

0

,,

,m

yywyy

I

n

j

ttjijtti

ti

1 (3)

em que assume a seguinte forma:

2

,

n

yyn

i

tti

1 (3a)

Na Equação (3) um valor positivo de indica o agrupamento de valores similares (alto ou

baixo), enquanto um valor negativo indica um agrupamento de valores desiguais. Uma vez calculado, o

indicador LISA, poderá fornecer os seguintes tipos de associações espaciais: os clusters Alto-Alto, região

que apresenta alto valor da variável em estudo, circundada por uma vizinhança em que o valor médio da

mesma variável também é alto, e Baixo-Baixo, região de baixo valor na qual a média dos seus vizinhos

também é baixa; e os outliers Baixo-Alto, região com baixo valor, circunvizinha de uma vizinhança cujo

valor médio é alto, e Alto-Baixo, região com alto valor na qual a média das regiões contíguas é baixa.

Dessa maneira, a AEDE também servirá de apoio para estimação econométrica, uma vez que poderá

confirmar a presença de dependência espacial nos dados.

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19

3.2 Análise de dependência espacial

A princípio o modelo sugerido para estimação é o Modelo Clássico de Regressão Linear

(MCRL) que trata das hipóteses ou pressupostos subjacentes ao estimador de Mínimos Quadrados

Ordinários (MQO). No entanto, ressalva-se que se na região analisada existir dependência espacial seja

na variável dependente, independente ou no termo de erro, os estimadores serão tendenciosos. Isso

porque, se a dependência espacial age sobre a variável dependente do modelo estimado, percebe-se que

as estimativas serão viesadas e inconsistente se estimadas por MCRL. Por sua vez, se a dependência

espacial ocorre nos erros, tem-se que as estimativas de MCRL serão não viesadas e consistentes, porém

ineficientes (ANSELIN, 1988; ANSELIN; BERA, 1998).

Nessa perspectiva, a estimação do MCRL no contexto de dependência espacial, e averiguando a

convergência da criminalidade entre dois períodos, Equação 4, objetiva apenas encontrar como a

dependência espacial toma forma no espaço (na variável dependente e/ou no termo de erro). Logo, a

ação da dependência espacial pode ser constatada por meio dos testes do Multiplicador de Lagrange

(ML) e Multiplicador de Lagrange Robusto (MLR)1.

(4)

Onde, é o logaritmo natural da razão entre taxa média de homicídios de dois anos

distintos, é o logaritmo natural da taxa média de homicídios no período inicial e ui é o

termo de erro. À medida que o termo de erro segue um processo espacial autorregressivo, tem-se:

(5)

Onde, λ se refere ao coeficiente escalar do erro espacial e o termo de erro é normalmente

distribuído com média zero e variância constante. Assim, incorporando a Equação 5 na Equação 4, tem-

se então a forma adequada do modelo de regressão de erro espacial, sendo este:

(6)

1 Informações, consultar Florax, Folmer e Rey (2003).

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Observa-se que a partir da especificação apresentada pela Equação 6, W é a mesma matriz de

contiguidade utilizada para realizar AEDE. Logo, se λ≠0, a incidência determinado choque numa região

se espalha não só para os seus vizinhos imediatos, mas afeta também os vizinhos de ordem maior (REY;

MONTOURI, 1999). Assim, o coeficiente espacial autorregressivo (λ) mede a força da autocorrelação

espacial, isto é, o grau de dependência espacial no termo de erro ou de efeitos não modelados que não

são aleatoriamente distribuídos através do espaço.

Outra forma de internalizar os efeitos dos transbordamentos é através da modelagem global de

defasagem espacial. Nesse caso, mudanças na variável explicativa numa região afetarão diretamente a

própria região e poderão afetar as demais regiões por meio de efeito indireto (LESAGE; PACE, 2009).

(7)

Sendo, o termo de erro, o logaritmo natural da razão entre

criminalidade média de dois diferentes anos, o logaritmo natural da criminalidade

média no período inicial, τ o termo de transbordamento espacial, denota a defasagem

espacial da criminalidade. Por fim, ρ é o coeficiente de defasagem, espera-se que seja maior do que zero,

sugerindo, existência de autocorrelação espacial positiva.

Finalmente, tem-se a Equação 8 representando uma junção das Equações 6 e 7 em que os

transbordamentos podem ocorrer tanto na variável dependente quanto no termo de erro do modelo.

(8)

Onde, W1 e W2 são matrizes de contiguidade não necessariamente iguais.

Na ótica de (COHEN; TITA, 1999), existem duas formas de disseminação da crimi nalidade.

Inicialmente, através do contato direto entre os agentes surgindo às redes de organizações criminosas

(gangues, quadrilhas, etc) disseminando o crime por meio do efeito contágio. Por fim, através da

imitação, incentivada pelas oportunidades de retorno com práticas criminosas em regiões pouco

exploradas. Nesse último processo, não precisa haver qualquer contato entre os criminosos dessas

localidades.

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Almeida (2012) afirma que a partir de determinados instrumentos econométricos é possível

modelar consistentemente os efeitos contágio e imitação. Para tanto, seria necessário utilizar o modelo

global Spacial Auto Regressive (SAR), que possiblita captar os efeitos advindos do processo de imitação.

Por sua vez, o Spatial Mixed Regressive Auto-Regressive Complete (SAC) possibilita identificar o efeito

contágio agindo sobre o processo de transbordamento de determinado fenômeno.

3.3 Dados

Os dados de homicídios em termos absolutos para o Estado do Ceará são uma amostra do

DataSUS para os anos de 2000, 2008 e 2015. Os óbitos aqui considerados são aqueles provenientes de

mortes por agressão (X85-Y09) considerando o local da ocorrência. No mais, destaca-se que considerar

o local de residência da vítima poderá viesar os resultados uma vez que determinado indivíduo pode ser

assassinado em um município mesmo residindo em outro. Nesse caso, o homicídio seria contabilizado

para um município que não ocorreu efetivamente à ação criminosa.

Para construir a taxa de homicídios por 100 mil habitantes, foram utilizados os dados

populacionais do Censo elaborado no ano 2000, assim como as estimativas populacionais construídas

anualmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nos anos de 2008 e 2015. Logo, a

variável dependente em questão é:

Crimei,t = (Mi,t/Ni,t) ∗ 100mil (9)

onde, os subscritos i e t representam, respectivamente, a região e o tempo; Crime é a taxa de morte por

100 mil habitantes do município; M é o número absoluto de mortes do município e N é a população.

4. Análise de Resultados

Nesta seção são descritos os resultados da pesquisa. Inicialmente, são apresentadas as estatísticas

descritivas e os resultados da AEDE. Em seguida, discutem-se os principais resultados das estimações

dos modelos de convergência.

4.1 Análise Descritiva

No Estado do Ceará foram contabilizados 39.287 mortes por agressão entre 2000 e 2015.

Segundo estimativa populacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 74,46% dos

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municípios Cearenses apresentava população inferior a 39 mil habitantes em 2015. A quantidade de

mortes aumentou 238%, saindo de 1.232 no ano 2000 para 4.162 em 2015, no mesmo período o

crescimento populacional do Estado foi de apenas 20%.

Em relação à taxa de mortalidade (por grupo de 100 mil habitantes), destaca-se que houve

aumento de 182% no período, saltando de 16,57 (2000) para 46,75 (2015) com destaque para o ano de

2014 (52,3) com valor máximo da série (Figura 1). Por sua vez, tem-se que a média estadual é de 29,2

mortes (por 100 mil habitantes) no período. Neste contexto, destaca-se que a Organização Mundial da

Saúde (OMS) sugere taxa de mortalidade abaixo de dez (por 100 mil habitantes) para uma boa

convivência humana, e taxas acima desse valor podem ser consideradas epidêmicas.

A partir da Figura 1, constata-se que ocorreu movimento sensível de queda na taxa de

mortalidade apenas entre 2014 e 2015 (11%), já os demais anos apresentaram taxas sempre crescentes.

Em relação ao histograma, nota-se maior frequência de taxas de mortalidade situadas entre 20 e 30 (por

grupo de 100 mil) no período de 2000 a 2015.

Figura 1 – Taxa de Mortalidade no Estado do Ceará entre 2000 e 2015

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da pesquisa.

Na Tabela 1 são apresentados dados que buscam descrever o comportamento da taxa de

homicídio nos anos selecionados de 2000, 2008 e 2015. Com essa informação, constata-se que tanto a

média quanto a dispersão (desvio padrão) dos dados cresceram ao longo dos anos analisados.

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Tabela 1 – Estatística Descritiva da Taxa de Homicídios

Variável 2000 2008 2015

Média 10,24 15,17 30,98

Desvio padrão 9,35 11,81 25,92

Coef. de Variação 0,91 0,78 0,84

Maior 42,43 48,55 129,52

Menor 0,00 0,00 0,00

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da pesquisa.

Os dados da estatística descritiva mostram que entre 2000 e 2008 a média de homicídio por

município cresceu 48,14% no estado, saindo de 10,24 para 15,17 mortes por grupo de 100 mil

habitantes. Por sua vez, no período que se estende entre 2008 e 2015 tal crescimento foi de 104,22% em

que a mortalidade se desloca de 15,17 para 30,98 homicídios por 100 mil. Por fim, tem-se que entre

2000 e 2015 a média de mortalidade homicida apresenta expressivo aumento de 202,54% a qual passa de

10,24 para 30,98 casos por 100 mil habitantes. Em relação ao coeficiente de variação ou dispersão

relativa dos dados, tem-se uma redução de 7,69% no período 2000-2015.

Figura 2 – As 100 maiores taxas de homicídios do Ceará nos anos de 2000, 2008 e 2015

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da pesquisa.

Para destacar a diferença da taxa de mortalidade dos anos analisados, pegaram-se aqueles 100

municípios cearenses que apresentaram as maiores taxas de homicídios nos anos de 2000, 2008 e 2015

respectivamente (Figura 1). A partir disso foi possível constatar que o ano de 2015 é destaque e

apresenta municípios com maiores taxas de mortalidade por homicídios, em seguida, tem-se o ano de

2008 e 2000 respectivamente. Como visto, os municípios aumentam sua carga de violência ao longo dos

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anos e, aparentemente, estar em qualquer município entre os 100 mais violentos em 2015 é

expressivamente pior que estar nesses mesmos municípios tanto 2008 quanto 2000.

Na Tabela 2, apresenta-se a estatística descritiva dos dados na forma de estratos uma vez que tal

procedimento pode melhorar a compreensão da dinâmica espacial da criminalidade no espaço. Como

visto, ocorreu expressiva redução na quantidade de municípios nos estratos mais baixos (menor que 10

por 100 mil) e aumento considerável naqueles estratos mais altos, sobretudo com taxa de mortalidade

acima de 50 por 100 mil habitantes.

Como forma de ilustrar, tem-se que municípios com taxa de mortalidade menor que dez (por 100

mil) reduziram de 101 (2000) para 36 (2015) uma contração de 180,56% no período. Já os que não

apresentaram caso de homicídios, em 2000, por exemplo, eram 26,53% (49 municípios), 14,67% (27

municípios) em 2008 e 10,89% (20 municípios) em 2015. Tais fatos sinalizam determinada tendência de

aumento na taxa de mortalidade, sobretudo nos municípios que se encontravam dentro dos limites

"aceitáveis"(taxa menor que dez por grupo de 100 mil habitantes).

Tabela 2 – Estatística descritiva da taxa de homicídio estratificada

2000 2008 2015

Taxa de

Homicídios

Média DP Cont. Média DP Cont. Média DP Cont.

0 ≤ Tx < 10 3,44 3,67 101 4,07 3,59 70 3,03 3,68 36 10 ≤ Tx <

20 4,82 2,76 59 14,41 2,84 58 14,51 2,86 31

20 ≤ Tx < 30 3,75 2,28 17 24,55 3,03 35 24,63 2,81 44 30 ≤ Tx < 40 3,20 2,78 4 34,88 2,59 13 35,10 2,66 27 40 ≤ Tx < 50 1,79 0, 67 3 44,6 2,68 8 45,09 3,62 10 50 ≤ Tx < 60 − − − − − − 55,25 3,32 14 60 ≤ Tx < 70 − − − − − − 65,98 1,87 5 70 ≤ Tx < 80 − − − − − − 74,88 2,38 6 80 ≤ Tx < 90 − − − − − − 88,00 0 1

90 ≤ Tx < 100

− − − − − − 93,53 1,96 6

Taxa > 100 − − − − − − 114,03 10,83 4

Total 10,23 9,35 184 15,17 11,81 184 30,98 25,92 184

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da pesquisa.

*DP é o Desvio Padrão; ** Cont. é a Contagem.

Com o exposto na Figura 3, podem-se identificar evidências de distribuição espacial não aleatória

na taxa de homicídios cearenses nos anos de 2000, 2008 e 2015 respectivamente. A fim de ilustrar melhor

essa distribuição, classifica-se a taxa de mortalidade por 100 mil habitantes em cinco grupos.

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25

Figura 3 – Distribuição Espacial da Taxa de Homicídio nos anos de 2000, 2008 e 2015

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da pesquisa.

Conforme enunciado anteriormente, não há uma distribuição homogênea da referida taxa de

homicídio entre os municípios do estado. Sendo assim, o mapa já fornece indícios de que municípios

com baixas/altas taxas de mortalidade homicida encontram-se, de forma geral, próximo de municípios

com valores similares dessa mesma variável.

4.2 Dependência Espacial Global e Local

A Figura 4 reporta os resultados da AEDE realizada na taxa de homicídios dos municípios

cearenses nos anos 2000, 2008 e 2015 respectivamente. Para tanto, utiliza-se o indicador de

autocorrelação espacial global e local univariado. Inicialmente, verifica-se globalmente por meio do

indicador de Moran e, posteriormente, usa-se o indicador LISA para analisar localmente. Como visto,

tais indicadores sugerem que há indicios de autocorrelação espacial agindo sobre a taxa de mortalidade

homicida dos municípios cearenses em todos os anos analisados.

Com intuito de atingir resultados estatísticos mais robustos, considerou-se uma matriz de

contiguidade espacial do tipo Queen de primeira ordem, normalizada na linha. Em tempo, destaca-se que

a utilização de tal matriz encontra alicerce no fato da mesma ter sido capaz de capturar a maior

dependência espacial comparativamente as demais matrizes testadas (Queen de primeira, segunda,

terceira, quarta e ordens superiores, K-vizinhos para dois, quatro, seis, oito, dez e outros).

A interpretação do I de Moran Global é bastante simples uma vez que tal indicador é um gráfico

composto por quatro diferentes quadrantes representando relações entre os dados no espaço: Q1 (Alto-

Alto, AA), Q2 (Alto-Baixo, AB), Q3 (Baixo-Baixo, BB) e Q4 (Baixo-Alto, BA). Estatisticamente,

rejeita-se a 1% de pseudo-significância, a hipótese nula de aleatoriedade espacial em todos os anos

analisados, para tanto, considerou-se um teste de hipótese a 1% de pseudo-significância e 999

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permutações aleatórias. Com essa rigorosidade estatística, encontraram-se resultados que sugerem dados

de homicídios espacialmente não aleatórios no espaço.

Anselin (1995) aponta que o indicador de associação espacial global pode ocultar ou mesmo ser

insatisfatório na identificação de padrões espaciais locais. Sendo assim, tem-se que tanto os clusters

quanto os outliers espaciais podem ser camuflados frente aos indicadores globais de autocorrelação

espacial. Neste contexto, Anselin (1995) aponta o indicador de associação espacial LISA como eficiente

para capturar localmente possíveis padrões de autocorrelação espacial, identificando agrupamentos de

objetos com valores de atributos semelhantes entre si. Logo, nota-se que o resultado apresentado pelo

mapa LISA (Figura 4) corrobora os indícios encontrados pelo indicador de autocorrelação espacial

global. Os mapas temáticos obtidos a partir do LISA são compostos por cinco cores distintas, cada qual

representando um tipo de associação espacial: Vermelha (Alto-Alto), Azul (Baixo-Baixo), Cinza (Baixo-

Alto), Rosa (Alto-Baixo) e Branca (Não Significativo).

Como visto, tem-se que a autocorrelação espacial da taxa de homicídio dos municípios cearenses

foi confirmada global e localmente. Assim, têm-se indícios suficientes para se acreditar em distribuição

não aleatória da mortalidade homicida no Ceará.

Continuando a avaliação do LISA para os anos selecionados de 2000, 2008 e 2015, nota-se que a

maior parte dos municípios não se mostraram estatisticamente signifi cantes (76,09%, 80,43% e 70,11%)

aos níveis da pesquisa. No entanto, observa-se que 23,91%, 19,56% e 29,89% dos municípios do estado

apresentaram alguma correlação espacial entre si nos anos de 2000, 2008 e 2015 respectivamente. Entre

os significantes a maior parte é similar (AA e BB) 77,27%, 69,44% e 81,83%, por sua vez, os

dissimilares (AB e BA) representaram 22,73%, 30,56% e 18,18% nos anos de 2000, 2008 e 2015

respectivamente.

Figura 4 – Indicador de Moran Global e LISA para os anos de 2000, 2008 e 2015

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27

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da pesquisa.

Em relação aos Alto-Alto (AA), representavam 38,64%, 50% e 43,64% enquanto a relação

Baixo-Baixo (BB) representava 38,64%, 19,44%, 38,19% dos significantes nos anos de 2000, 2008 e

2015 nessa ordem. Já os dissimilares do tipo Baixo-Alto (BA) nos mesmos anos, representavam

15,91%, 5,56% e 9,09% nos mesmos anos. Sequencialmente, notam-se os Alto-Baixo (AB) com 6,82%,

25% e 9,09% dos casos nos anos de 2000, 2008 e 2015 respectivamente.

Diante do exposto, percebe-se que entre 2000 e 2015 ocorre determinado movimento em que os

casos significantes aumentam ao longo dos anos frente aos não significantes. Além disso, entre os

significantes se nota determinada predominância da relação mais similar entre si (AA e BB). No todo,

percebe-se indícios que a taxa de homicídios dos municípios cearenses nos anos avaliados se distribuem

de forma não aleatória no espaço formando diversos clusters significantes ao longo do território.

4.3 Resultados das Estimações dos Modelos Econométricos

Na Tabela 3, encontra-se a estimação do Modelo Clássico de Regressão Linear (MCRL). O

resultado positivo e significativo encontrado na estatística de Moran aplicado nos resíduos para os

períodos selecionados de 2000-2008 (I = 1,562), 2008-2015 (I=1,456) e 2000-2015 (I=2,811) sugerem

distribuição não aleatória da taxa de homicídios ao longo do território cearense e tal fato torna invalida

as estimativas do MCRL.

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Nesse caso, a estimação do MCRL serve apenas para direcionar o processo de estimação dos

modelos espaciais. Sendo assim, torna-se adequado a utilização de modelos econométricos que levem

em consideração essa ocorrência de transbordamentos espaciais na variável de interesse.

Tabela 3 – Estimação econométrica do MCRL

2000-2008 2008-

2015

2000-2015

0,038 0,083 0,025

Α

(0,001) (0,000) (0,000)

0,009 -0,004 -0,010

Β

(0,064) (0,060) (0,001)

Diagnóstico da Regressão

AIC -370,517 -270,250 -557,322

SC -364,087 -263,820 -550,892

LIK 187,259 137,125 280,661

Teste Jarque-

Bera 13,474

1,041 27,754

(0,001) (0,594) (0,000)

Teste Breusch-

Pagan 0,281

1,717 0,089

(0,596) (0,190) (0,765)

Multicolinearida

de

3,302 4,296 3,302

Diagnóstico de Dependência Espacial

I de Moran 1,562

1,456

(0,014)

2,811

(0,005)

MLρ –

defasagem 1,365

1,410 8,469

(0,243) (0,235) (0,004)

MLRρ –

defasagem 3,295

12,349 3,141

(0,069) (0,000) (0,076)

MLλ – erro 1,930

1,673 6,831

(0,165) (0,196) (0,008)

MLRλ – erro 3,861

12,612 1,502

(0,049) (0,000) (0,220)

ML(SARMA) 5,226

14,022 9,971

(0,073) (0,000) (0,007)

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29

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da pesquisa utilizando

o Software Geoda versão 1.8.14.

Nota: Resultados entre parênteses indicam valor das

probabilidades.

Continuando com o diagnóstico da regressão do MCRL, tem-se que o valor significativo do teste

de Jarque-Bera sugere não normalidade dos resíduos nos períodos 2000-2008 e 2000-2015.

Contrariamente, no lapso temporal 2008-2015 os resíduos se mostram normalmente distribuídos. Po sua

vez, o teste de Breusch-Pagan aponta que todos os períodos apresentam erros homocedásticos.

Finalmente, tem-se que os valores apresentados pelo teste de multicolinearidade sugerem valores dentro

dos parâmetros estatisticamente aceitáveis em todos os períodos selecionados (valor menor que 30).

É amplamente divulgado o processo de seleção de modelos econométricos por meio dos menores

critérios de informação de Akaike (AIC) e Schwartz (SC), assim como o maior valor da função de

verossimilhança (LIK) do modelo. Em econometria espacial existe a possibilidade de utilização de

outros procedimentos para seleção de modelos tão eficientes quanto o anterior. Tal estratégia consiste na

utilização dos testes dos Multiplicadores de Lagrange (ML) e Multiplicador Lagrange robusto (MLR)

para identificar como a dependência espacial toma forma (ALMEIDA, 2012). Sendo que a especificação

correta será aquela que apresentar maior significância estatística nos dois testes (ML e MLR)

respectivamente.

Considerando o exposto, nota-se que os períodos de 2000-2008 e 2008-2015 podem ser

espacialmente modelados a partir da utilização do Spatial Autorregressive and Moving Average

(SARMA), pois tal especificação demonstrou resultados significantes tanto para os testes ML quanto

MLR. Já entre os anos de 2000 e 2015 o modelo de maior robustez para tratar a dependência espacial é o

Spacial Auto Regressive (SAR). Nesse mesmo período, tem-se a modelagem SARMA como opção aos

demais modelos. No entanto, este seria estimado apenas nos casos em que o modelo SAR ou SEM não

fossem capazes de capturar toda fonte de dependência espacial.

Na Tabela 4, apresenta-se o resultado da estimação do modelo β-convergência considerando

efeito de transbordamento espacial para os períodos 2000-2008, 2008-2015 e 2000-2015

respectivamente.

Em econometria espacial o melhor modelo será aquele que não apresentar evidências de

autocorrelação espacial em seus resíduos. Como visto, os testes realizados pós-estimação apontam que

os modelos utilizados foram capazes de modelar consistentemente toda fonte de dependência espacial

existente. Portanto, os testes de Moran realizados nos resíduos do modelo SARMA e o teste de Anselin-

Kelejian aplicado aos resíduos do modelo SAR, foram não significativos dando credibilidade a seus

estimadores.

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30

Ao analisar o parâmetro β estimado pelos diferentes modelos espaciais, constata-se que todos os

modelos apresentam sinal condizente com a incidência de convergência. Logo, nos períodos 2000-2008,

2008-2015 e 2000-2015, verifica-se um processo de convergência β estatisticamente significante na taxa

de homicídios dos municípios cearenses. Portanto, tais períodos merecem ser mais bem avaliados do

ponto de vista da velocidade de convergência e de suas respectivas meias-vidas.

No presente estudo, avalia-se apenas a ocorrência de convergência absoluta da taxa de

homicídios cearense. Neste contexto, têm-se valores estimados de β = -0,013, β = -0,006 e β = -0,009

para os períodos de 2000-2008, 2008-2015 e 2000-2015 respectivamente. Assim, estimam-se as

respectivas velocidades de convergência de 10,9%, 0,6% e 1% ao ano, nessa ordem.

Como visto, no período até implantação do programa Ronda do Quarteirão (2000- 2008) a

velocidade de convergência mostrava-se maior comparativamente ao período pós-implantação. Em

termos econômicos, significa que demoraria-se 52,9 anos para que a taxa de homicídios de determinado

município percorresse a metade da diferença que a separava de seu valor de estado estacionário. No

período entre 2008 e 2015 tal valor passou a ser de 115,2 anos. Esses resultados sugerem que o Ronda

do Quarteirão reduziu a velocidade de crescimento da taxa de homicídios. Sendo assim, na ausência do

referido programa as taxas de homicídios dos municípios cearenses estariam ainda maiores.

Tabela 4 – Estimação econométrica dos modelos espaciais

2000-2008 2008-2015 2000-2015

SARMA-

GMM

SARMA-

MV

SAR-

GMM

Α

0,0892 -0,117 0,015

(0,000) (0,261) (0,056)

Β

-0,013 -0,006 -0,009

(0,049) (0,015) (0,005)

Ρ 0,492 00961 0,272

(0,038) (0,000) (0,007)

Λ 0,120 0,832 -

(0,037) (0,001) -

Velocidade

Convergência

0,109 0,006 0,010

Meia Vida

52,9 115,2 76,7

Teste de Dependência Espacial no Resíduo do Modelo Estimado

I de Moran

0,680 0,636 -

(0,348) (0,134) -

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31

Teste de Anselin-

Kelejian

- - 7,197

- - (0,457)

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da pesquisa utilizando

o Software Geoda versão 1.8.14 e o GeodaSpace. Nota: Resultados

entre parênteses indicam valor das probabilidades.

Considerando-se todo o exposto até o presente, nota-se que entre 2000 e 2015 ocorreu aumento

(202,54%) na média da taxa de homicídios acompanhada por uma redução em sua dispersão intra-

regional (7,69%) calculada pelo coeficiente de variação. Isso associado aos valores do teste β-

convergência sustentam a hipótese de convergência nas taxas de homicídios dos municípios do Ceará.

Salienta-se que resultado similar já havia sido encontrado por Santos e Filho (2011) testando a hipótese

de convergência na taxa de criminalidade das microrregiões brasileiras.

Santos e Filho (2011) apontam que a convergência nas taxas de crimes intra-regionais significa

que a criminalidade tende a crescer mais rapidamente nas localidades menos violentas

comparativamente às demais, sendo que a diferença nas taxas de crimes deve ser gradativamente

eliminada ao longo do tempo.

Similarmente ao exposto por Santos e Filho (2011), os dados da presente pesquisa sugerem que a

convergência ocorre paralelamente com aumento na taxa de homicídios afetando o bem estar dos

agentes. Contrariamente, se essa equidade fosse acompanhada de uma redução nessa taxa de homicídio,

certamente haveria uma elevação do bem-estar social (SANTOS; FILHO, 2011).

Para Santos e Filho (2011) na ausência de mudanças exógenas e elaboração de políticas públicas

que mudem as decisões entre crime e não crime dos agentes, então, não haverá regiões mais violentas ou

menos violentas ao longo dos anos, já que todas seriam afetadas aproximadamente com a mesma

intensidade pela criminalidade.

Neste contexto, destaca-se que o Programa Ronda do Quarteirão parece reduzir a velocidade de

convergência da taxa de criminalidade do Ceará. Observa-se no período, aumento da média de

mortalidade, convergência e redução da variabilidade. No entanto, para melhor avaliar tal problemática

seria bastante valiosa a elaboração de pesquisa que incorporasse as características dos municípios

analisados em uma proposta de convergência relativa.

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32

5. Considerações Finais

O artigo analisa a incidência de convergência na taxa de criminalidade nos municípios cearenses

nos períodos de 2000-2008, 2008-2015 e 2000-2015. Em tal empreitada, utilizou-se o modelo de

convergência β considerando os efeitos dos transbordamentos espaciais uma vez que tanto o indicador de

autocorrelação espacial Global quanto o Local se mostraram estatisticamente significantes. Nesse caso,

não se rejeita a hipótese de convergência nas taxas de criminalidade desses municípios. Tal resultado

corrobora os achados de Scalco et al. (2007), para municípios mineiros, e Santos e Filho (2011), para as

microrregiões brasileiras.

No Ceará, a convergência ocorre paralelamente com o aumento na taxa de homicídios conforme

Santos e Filho (2011) encontra para microrregiões brasileiras. Nesse caso, as políticas públicas devem

ser implantadas incorporando esses resultados.

Para pesquisas futuras, sugere-se estimar modelos que incorporem características locais dos

municípios: renda, desemprego, população jovem, densidade populacional, nível de desenvolvimento

entre outros. Com isso, poderiam-se determinar quais os principais fatores relacionados à problemática

da criminalidade nesse estado. Por fim, salienta-se a importância da avaliação formal do programa

Ronda do Quarteirão para melhor destacar seus resultados sobre a taxa de mortalidade do Estado do

Ceará.

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ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL MUNICIPAL: UMA APLICAÇÃO DA

DIMENÇÃO ECONÔMICA SOBRE A REGIÃO METROPOLITANA DE FORTALEZA – RMF2

Marcelo Henrick Alves dos Santos

Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri - URCA.

E-mail: <[email protected]>.

Matheus Oliveira de Alencar

Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri – URCA. Mestrando em

Economia Rural pela Universidade Federal do Ceará – UFC.

E-mail: <[email protected]>.

Wellington Ribeiro Justo

Professor Associado da URCA e Professor do PPGECON-UFPE.

E-mail: <[email protected]>

2 Este trabalho tem por base o estudo sobre a dimensão econômica aplicado aos municípios da Região Metropolitana do Cariri

realizado por Vieira e Justo (2015).

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36

ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL MUNICIPAL: UMA APLICAÇÃO DA

DIMENÇÃO ECONÔMICA SOBRE A REGIÃO METROPOLITANA DE FORTALEZA – RMF3

RESUMO: A evolução das relações estabelecidas no sistema capitalista através dos fluxos de produção e

consumo, bem como a utilização de serviços, passou a interferir vertiginosamente no espaço, trazendo à

luz do debate a questão do desenvolvimento sustentável. Para objetos de mensuração, dados quantitativos

e qualitativos foram elaborados a fim de se constituírem a base para o cálculo de índices capazes de

inferir a respeito de aspectos dimensionais da sociabilidade humana e espacial. Este artigo buscou

mensurar a dimensão econômica do índice de desenvolvimento sustentável dos dezenove municípios da

Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) a partir dos dados do IPECE para o ano de 2010, fornecendo

informações no que tange às necessidades e o desempenho econômico da população, bem como servir de

instrumento para formulação de políticas públicas eficientes. Observou-se que, no tocante as variáveis

analisadas a partir da ótica econômica, os municípios da RMF possuem uma multiplicidade

comportamental instável no que se refere a estes indicadores, com uma pequena parcela do conjunto

dentro de níveis aceitáveis de desenvolvimento sustentável econômico, enquanto que a maioria dos

municípios ainda estão ao sabor de níveis de alerta neste mesmo sentido.

Palavras-chave: Desenvolvimento, sustentabilidade, economia, municipal.

ABSTRACT: The evolution of the relations established in the capitalist system through the flows of

production and consumption, as well as the use of services, began to interfere vertiginously in space,

bringing to the light of the debate the question of sustainable development. For the purposes of

measurement, quantitative and qualitative data were elaborated in order to constitute the basis for the

calculation of indexes capable of inferring about dimensional aspects of human and spatial sociability.

This article sought to measure the economic dimension of the sustainable development index of the

nineteen municipalities of the Metropolitan Region of Fortaleza (RMF) from the IPECE data for 2010,

providing information on the needs and economic performance of the population as well as an instrument

for the formulation of efficient public policies. It was observed that, regarding the variables analyzed

from the economic perspective, the municipalities of FMR have an unstable behavioral multiplicity in

relation to these indicators, with a small part of the set within acceptable levels of sustainable economic

development, while most municipalities are still at alert levels in this sense.

Keywords: Development, sustainability, economy, municipal.

1 INTRODUÇÃO

O processo de evolução das relações de produção e consumo colocou a prova de teste os níveis de

desenvolvimento sustentável, este que, por sua vez, passou a ser de importância fundamental, tendo em

vista a degradação dos recursos naturais, bem como as desigualdades sociais e de renda.

O uso do termo sustentabilidade, ou desenvolvimento sustentável, passou a ser utilizado a partir

do advento do Relatório Brundlant – Nosso Futuro Comum da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente

e Desenvolvimento da Organização das Nações Unidas – ONU. Seu significado está atrelado à ideia de

atender as necessidades atuais, entretanto, sem comprometer a satisfação das necessidades das próximas

gerações (WCED, 1987).

3 Este trabalho tem por base o estudo sobre a dimensão econômica aplicado aos municípios da Região Metropolitana do Cariri

realizado por Vieira e Justo (2015).

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Com o passar do tempo, estudiosos desenvolveram índices para mensuração de qualidade de vida,

desde os campos de saúde, educação, segurança e níveis de satisfação em relação a bens e serviços, dentre

outros indicadores que anteriormente não eram mensurados. Neste sentido, Cândido e Martins (2008)

criaram, a partir do Índice de Desenvolvimento Sustentável (IDS-Brasil), o Índice de Desenvolvimento

Sustentável Municipal (IDSM), aplicado aos municípios do estado brasileiro da Paraíba, utilizando-se de

um conjunto de variáveis específicas para sua mensuração. O IDSM é composto por cinco dimensões:

social, demográfica, econômica, político-institucional e ambiental. No entanto, no presente estudo, diante

da necessidade de fornecer informações da população deste território neste quesito, será analisada apenas

a dimensão econômica, calculada a partir da metodologia do IDSM para os municípios da Região

Metropolitana de Fortaleza (RMF). O ano de referência é 2010, ano mais recente com disponibilidade dos

dados necessários para o cálculo da dimensão econômica. É importante verificar se a proximidade com a

capital estadual, bem como localizar-se dentro da região metropolitana onde a mesma está localizada,

reflete nos municípios no que se refere às características de sua economia dentro dos indicadores

considerados.

Este trabalho tem como objetivo mensurar, para os municípios que integram a RMF, o índice

econômico que compõe o IDSM. Pretende-se também, para cada variável que compõe o índice

econômico, hierarquizar os municípios da RMF de acordo com seu desempenho.

Além da contribuição acadêmica, as informações ainda podem auxiliar os agentes

macroeconômicos no que se refere à aplicação de políticas econômicas eficientes, fornecendo

informações sobre as potencialidades de cada município, desde as peculiaridades da renda até relações de

comércio com o exterior.

Além desta introdução, o trabalho está dividido em outras quatro seções. Na segunda seção são

abordados elementos teóricos sobre desenvolvimento sustentável, na terceira, são fornecidas informações

referentes a metodologia aplicada ao presente estudo. Na quarta seção, é feito uma análise dos dados e

resultados auferidos, a partir da aplicação metodológica do IDSM econômico, findando com a quinta e

última seção, que demonstra as considerações finais deste estudo.

2 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

A literatura sobre a temática do desenvolvimento sustentável é vasta e robusta, devido à

magnitude com que a comunidade científica vem se dedicando a promover um debate e prática

intelectuais sobre a questão da conciliação consciente e sustentável da ação humana sobre a natureza.

Brüseke (1993) ressalta que a discussão sobre desenvolvimento sustentável provocou eventos que

levaram o debate a nível mundial: a declaração de Cocoyok, em 1974; o Relatório Dag-Hammarskjöld em

1975; em 1992, o relatório sobre os limites do crescimento e a Conferência da Organização das Nações

Unidas (ONU) sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento; e, em 1993, o conceito de ecodesenvolvimento.

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Para Van Bellen (2002), o conceito de desenvolvimento sustentável remete a uma reavaliação da

ideia acerca da definição de desenvolvimento, só que agora ligado à questão sustentável e não mais

apenas de crescimento. Ainda, segundo o autor, haja vista que é necessária a utilização de indicadores que

possam mensurar os índices, aqueles podem ser compreendidos como uma representação operacional de

um atributo de um sistema, sendo este atributo relacionado a aspectos no que tange a qualidade,

característica e propriedade, agregando informações conforme sua significância, para entendimento de

eventos complexos.

O desenvolvimento sustentável consiste em um processo de mudança fundamentada na

conciliação entre exploração dos recursos, direção de investimentos, orientação do desenvolvimento

tecnológico e mudanças institucionais em que todas agem em harmonia para o aprimoramento do

potencial atual e futuro, para que possam atender as necessidades e aspirações humanas (WCED, 1987).

Para Goodland e Ledoc (apud Baroni, 1987), o desenvolvimento sustentável é um padrão de

transformações econômicas e sociais, cujas transformações buscam a otimização dos recursos disponíveis

no presente para manter estes mesmos recursos disponíveis no futuro, alcançando o bem-estar econômico

razoável.

Conforme Vasconcelos (2011), os indicadores de sustentabilidade são importantes ao

possibilitarem a efetivação de um processo de desenvolvimento de maneira consolidada e sustentável,

direcionando no sentido a alcançar uma meta.

A análise de Sachs (1997) indica que o desenvolvimento sustentável pode ser abordado em cinco

dimensões, a saber:

Figura 1: Dimensões da Sustentabilidade

Fonte: Sachs (1997)

Silva, Sousa e Leal (2012) corroboram ao ressaltarem que a pluralidade dimensional direciona

para a busca de soluções para o sistema, atendendo diferentes demandas com aspecto ambiental, social,

econômico, geográfico ou espaço-territorial, político e cultural.

A dimensão econômica, analisada neste trabalho, compreende o desempenho macroeconômico e

financeiro de uma sociedade, os impactos no consumo de recursos materiais e uso de energia primária,

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39

além de possibilitar a alocação e gestão mais eficiente de recursos e fluxo de investimentos público e

privado (CAMARGO, 2002; VASCONCELOS, 2011).

Quadro 1 – Descrição das variáveis que compõem a dimensão econômica do IDSM.

Variável Descrição

PIB per capita Expressa o grau de desenvolvimento econômico

de um município. Sua variação informa o

comportamento da economia ao longo do tempo.

Participação da indústria no PIB Expressa a participação das atividades

industriais na composição do Produto Interno

Bruto (PIB) municipal.

Saldo da Balança Comercial Representa a diferença entre o saldo das

exportações e o saldo das importações.

Renda per capita Expressa o grau de desenvolvimento econômico

de uma população a partir da divisão entre a

renda nacional e o número da população

Rendimentos Provenientes do Trabalho Expressa o grau de desenvolvimento econômico

de um município.

Índice de Gini de Distribuição dos

Rendimentos

Expressa o grau de desigualdade na distribuição

de renda de uma determinada população. Fonte: VASCONCELOS (2011).

Na percepção de Vasconcelos (2011), a dimensão econômica fornece um conjunto de informações

relacionadas a objetivos ligados ao desempenho econômico e financeiro, bem como aos rendimentos da

população, consolidando-se como um importante instrumento para decisão e formulação de políticas

públicas para fomento da melhoria da qualidade de vida de uma população, através do acesso a moradia,

alimentação, vestuário, transporte e lazer.

3 METODOLOGIA

3.1 DADOS

Os dados utilizados neste estudo são de caráter secundário, provenientes de periódicos e órgãos

oficiais, a saber: o Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE), o Ministério da

Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), o Atlas de Desenvolvimento Humano, e o DataSUS. A

pesquisa tem caráter descritivo, fundamentado em levantamento de dados e pesquisa bibliográfica, com

consultas a livros, artigos e revistas que tratem do tema em questão.

Os métodos de Estatística Descritiva, organizam, resumem e descrevem os aspectos importantes

de um conjunto de características observadas, sendo utilizadas também para comparação de tais

características entre dois ou mais conjuntos (REIS; REIS, 2002).

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40

3.2. ÁREA DE ESTUDO

A análise dos dados neste trabalho se restringe à Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).

Criada pela Lei Complementar nº 14 de 1973, inicialmente pelos municípios de Fortaleza, Caucaia,

Maranguape, Pacatuba e Aquiraz, e, com o transcorrer do tempo, modificada com inclusão de novos

municípios à sua rede, atualmente a RMF comporta dezenove municípios: Aquirás, Cascavel, Caucaia,

Chorozinho, Eusébio, Fortaleza, Guaiuba, Horizonte, Itaitinga, Maracanaú, Maranguape, Pacajús,

Pacatuba, Pindoretama, São Gonçalo do Amarante, São Luís do Curu, Paraipaba, Paracuru e Trairi

(CEARÁ, 2014). O Quadro 1 mostra dados referentes às características (área, localização e clima) de

cada município envolvido na pesquisa.

Quadro 2 – Informações básicas sobre os municípios da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF)

Município Informações Básicas

Aquirás Área: 480,976 km²; População: 72.628 (2010); Distância em linha reta a

capital: 21 km; Clima Tropical Quente Sub-úmido. (IPECE, 2012)

Cascável Área: 837,97 km²; População: 66.142 (2010); Distância em linha reta a

capital: 50 km; Clima Tropical Quente Semi-árido Brando. (IPECE, 2012)

Caucaia

Área: 1227,9 km²; População: 325.441 (2010); Distância em linha reta a

capital: 20 km; Clima Tropical Quente Semi-árido Brando, Tropical

Quente Sub-úmido e Tropical Quente Úmido. (IPECE, 2012)

Chorozinho Área: 278,40 km²; População: 18.915 (2010); Distância em linha reta a

capital: 62 km; Clima Tropical Quente Semi-árido Brando. (IPECE, 2012)

Eusébio Área: 76,58 km²; População: 46.033 (2010); Distância em linha reta a

capital: 18 km; Clima Tropical Quente Sub-úmido. (IPECE, 2012)

Fortaleza Área: 313,14 km²; População: 2.452.185 (2010); Clima Tropical Quente

Sub-úmido. (IPECE, 2012)

Guaiuba

Área: 267,20 km²; População: 24.091 (2010); Distância em linha reta a

capital: 38 km; Clima Tropical Quente Sub-úmido e Tropical Quente

Úmido. (IPECE, 2012)

Horizonte

Área: 159,97 km²; População: 55.187 (2010); Distância em linha reta a

capital: 39 km; Clima Tropical Quente Sub-úmido, Tropical Quente Semi-

árido Brando. (IPECE, 2012)

Itaitinga

Área: 150,78 km²; População: 35.817 (2010); Distância em linha reta a

capital: 27 km; Clima Tropical Quente Úmido e Tropical Quente Sub-

úmido. (IPECE, 2012)

Maracanaú Área: 105,70km²; População: 209.057 (2010); Distância em linha reta a

capital: 22 km; Clima Tropical Quente Sub-úmido (IPECE, 2012)

Maraguanpe Área: 590,82 km²; População: 113.561 (2010); Distância em linha reta a

capital: 28 km; Clima Tropical Quente Úmido(IPECE, 2012)

Pacajús

Área 254,43 km²; População: 61.838 (2010); Distância em linha reta a

capital: 48 km; Clima Tropical Quente Semi-árido Brando e Tropical

Quente Subúmido (IPECE, 2012)

Pacatuba Área: 132,43 km²; População: 72.299 (2010); Distância em linha reta a

capital: 31 km; Clima Tropical Quente Úmido. (IPECE, 2012)

Pindoretama

Área: 72,85 km²; População: 18.683 (2010); Distância em linha reta a

capital: 36 km; Tropical Quente Semi-árido Brando e Tropical Quente

Subúmido (IPECE, 2012)

São Gonçalo do Área: 834,39 km²; População: 43.890 (2010); Distância em linha reta a

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41

Amarante capital: 58 km; Clima Tropical Semi-árido Brando. (IPECE, 2012)

São Luís do

Curu

Área: 122,42 km²; População: 12.332 (2010); Distância em linha reta a

capital: 84 km; Clima Tropical Quente Semi-árido Brando. (IPECE, 2012)

Paraipaba Área: 301,12 km²; População: 30.041 (2010); Distância em linha reta a

capital: 82 km; Clima Tropical Quente Semi-árido Brando. (IPECE, 2012)

Paracuru Área: 303,25 km²; População: 31.636 (2010); Distância em linha reta a

capital: 72 km; Tropical Quente Semi-árido Brando (IPECE, 2012)

Trairi

Área: 924,56 km²; População: 51.422 (2010); Distância em linha reta a

capital: 105 km; Clima Tropical Quente Semi-árido Brando. (IPECE,

2012) Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IPECE (2012).

3.3 CÁLCULO DO ÍNDICE

Conforme Martins e Candido (2008), o IDSM pode ser calculado a partir do conjunto de índices

de cinco dimensões4, sendo que a dimensão econômica engloba as seguintes variáveis: Produto Interno

Bruto per capita, participação da indústria no PIB, saldo da Balança de Pagamentos, renda familiar per

capita em salários mínimos, Renda per capita, rendimentos provenientes do trabalho, e índice de Gini de

distribuição dos rendimentos (MARTINS; CÂNDIDO, 2008).

A metodologia aplicada por Martins e Candido (2011), foi baseada no IDS-Brasil 2004 e nos

Índices de Desenvolvimento Sustentável para Territórios Rurais propostas por Waquil et al. (2006).

As variáveis possuem diferentes unidades de medida, sendo necessária a transformação das

mesmas em índices, ajustando seus valores entre 0 (zero) e 1 (um). Além disso, as variáveis que

compõem as dimensões podem apresentar relação positiva (quanto maior melhor e quanto menor pior) ou

relação negativa (quanto maior pior e quanto menor melhor). Desta forma, foi necessário determinar a

relação que cada variável possui com o desenvolvimento, se positiva ou negativa. Feita essa classificação,

o cálculo do índice é realizado através de fórmulas específicas para cada caso (positivo ou negativo), e o

agregado de todos os índices permite a análise da dimensão econômica. A conversão da variável em

índice pode ser calculada conforme as equações 1 e 2.

Quando a relação é positiva:

I = (x-m)/(M-m) (1)

Quando a relação é negativa:

I = (M-x)/(M-m) (2)

Onde:

I = valor do índice;

x = valor da variável no município observado;

4 Para mais detalhes, ver Martins e Candido (2008).

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42

m = valor mínimo identificado no Ceará (território em que se localiza a RMF);

M = valor máximo identificado no Ceará (território em que se localiza a RMF).

O nível de sustentabilidade é classificado conforme os valores obtidos (variação entre 0 e 1) em

cada índice, de acordo com o Quadro 2.

Quadro 3 – Classificação do índice conforme o valor obtido

ÍNDICE CLASSIFICAÇÃO

0,0000 – 0,2500 CRÍTICO

0,2501 – 0,5000 ALERTA

0,5001 – 0,7500 ACEITÁVEL

0,7501 – 1,0000 IDEAL Fonte: Elaboração própria com base em Martins e Candido (2008).

Em seguida, calcula-se a média aritmética de todos os índices para obter o índice da dimensão

econômica dos municípios.

Esclarecidas as questões fundamentais para o entendimento deste trabalho, a próxima seção trata

sobre a aplicação do índice para a dimensão econômica nos municípios que integram a Região

Metropolitana de Fortaleza.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Na Tabela 1, são apresentados os dados para os dezenove municípios da RMF referentes às

variáveis econômicas. Os valores referentes às estatísticas de valor máximo, valor mínimo, média e o

desvio padrão, para cada variável, referem-se ao Estado do Ceará, já que estes valores foram utilizados

dentro do cálculo.

Verifica-se que, quanto às variáveis PIB per capita e participação da indústria no PIB, o

município de Eusébio possui o maior valor considerado, restando aos municípios de Guaiuba e

Chorozinho, respectivamente, os menores valores nas respectivas variáveis. No saldo da balança

comercial, Cascável é detentora do maior superávit, enquanto que Fortaleza obteve o saldo negativo mais

expressivo no território analisado. A situação muda ao analisar a renda per capita, em virtude do bom

desempenho de Fortaleza, em oposição a situação inferior de Trairi. O maior e pior valores encontrados

para a porcentagem dos rendimentos provenientes do trabalho são, respectivamente, para os municípios

de Maracanaú e Trairi, sendo que este último apresentou o valor mais alto quanto ao índice de Gini, indo

de encontro à posição de Horizonte neste quesito.

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43

Tabela 1 – Valores para PIB per capita, participação da indústria no PIB, Saldo da Balança Comercial,

Renda per capita, rendimentos provenientes do trabalho e índice de Gini de Distribuição dos rendimentos

para os municípios que integram a Região Metropolitana de Fortaleza – RMF (2010).

Município

PIB per

capita

(R$

1,00)

Participação

da indústria

no PIB (%)

Saldo da

Balança

Comercial

(US$ mil)

Renda

per

capita

(R$)

Rendimentos

Provenientes

do Trabalho

(%)

Índice de

Gini de

Distribuição

dos

Rendimentos

Aquirás 9.395 0,44 -24.575.556 352,60 76,44 0,42

Cascável 6.762 0,33 146.534.066 309,14 68,77 0,48

Caucaia 7.999 0,32 -360.339.462 379,63 78,94 0,48

Chorozinho 4.774 0,11 0 277,40 65,44 0,50

Eusébio 27.616 0,62 -37.419.526 623,01 78,07 0,65

Fortaleza 15.161 0,22 -492.754.287 846,36 75,46 0,61

Guaiuba 4.178 0,15 -698.753 239,69 64,95 0,47

Horizonte 18.053 0,55 -10.729.996 322,78 79,07 0,42

Itaitinga 5.107 0,30 -2.557.335 300,15 70,18 0,45

Maracanaú 19.549 0,55 -151.311.338 372,91 79,75 0,43

Maraguanpe 6.671 0,39 -20.322.187 307,81 73,75 0,44

Pacajús 8.319 0,41 -6.328.928 354,78 77,44 0,47

Pacatuba 7.680 0,48 -7.788.778 344,63 74,57 0,44

Pindoretama 4.828 0,12 0 296,99 67,21 0,45

São

Gonçalo do

Amarante

25.431 0,26 -377.361.470 309,14 72,52 0,51

São Luís do

Curu

4.698 0,18 0 257,90 61,05 0,51

Paraipaba 5.824 0,23 16.478.763 283,79 66,07 0,50

Paracuru 6.211 0,26 38.691 328,20 68,03 0,56

Trairi 4.631 0,23 -70.383 205,89 56,14 0,55

Mínimo 3169 0,06 -492.754.287 171,62 33,48 0,42

Máximo 39997 0,58 150.238.212 846,36 79,75 0,66

Média 5445,29 0,16 -4858147,09 267,64 56,46 0,53

Desvio

Padrão

4024,41 0,09 57169139,28

76,34

9,46

0,05

Fonte: IPECE (2012), DATASUS (2010), Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio Exterior (MDCI) (2010) e

Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil (2010). Elaborado pelos autores.

Seguem-se os valores de cada índice para cada variável segundo o município, conforme processo

metodológico descrito anteriormente, no intuito de se obter o valor para o índice da Dimensão Econômica

do IDSM na RMF.

4.1 PIB PER CAPITA

Os valores da Tabela 2 demonstram os índices para o Produto Interno Bruto per capita em 2010.

A relação desta variável com a renda média da população é positiva, pois quanto maior for, maior será a

renda.

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44

Tabela 2 – Indicador de Produto Interno Bruto per capita por município – RMF - 2010

Município Índice Classificação

Aquirás 0,1691 Crítico

Cascável 0,0976 Crítico

Caucaia 0,0436 Crítico

Chorozinho 0,6638 Aceitável

Eusébio 0,3256 Alerta

Fortaleza 0,0274 Crítico

Guaiuba 0,4041 Alerta

Horizonte 0,0526 Crítico

Itaitinga 0,4448 Alerta

Maracanaú 0,0951 Crítico

Maranguape 0,1398 Crítico

Pacajus 0,1225 Crítico

Pacatuba 0,1225 Crítico

Pindoretama 0,0450 Crítico

São Gonçalo do Amarante 0,6045 Aceitável

São Luís do Curu 0,0415 Crítico

Paraipaba 0,0721 Crítico

Paracuru 0,0826 Crítico

Trairi 0,0397 Critico Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos dados do IPECE (2012).

Para o período analisado, apenas os municípios de Chorozinho e São Gonçalo do Amarante

apresentaram níveis aceitáveis de sustentabilidade em relação ao Produto Interno Bruto per capita, sendo

que o primeiro demonstrou valor mais expressivo. Três municípios apresentaram níveis de alerta, e os

demais se enquadraram em fator crítico, valendo salientar que o município de Fortaleza apresentou o pior

resultado, devendo-se considerar que o mesmo concentra a maior população da RMF.

4.2 PARTICIPAÇÃO DA INDÚSTRIA NO PIB

Sendo a relação dessa variável positiva, pois quanto maior for, melhor para o PIB municipal, três

municípios apresentaram níveis ideais, conforme a Tabela 3. O município de Eusébio registrou índice

1,0000, o que demonstra que a atividade industrial no município é uma das principais dinamizadoras de

sua economia, devendo-se considerar também que o mesmo apresentou o maior percentual de

participação da indústria no PIB dentre todos os municípios averiguados.

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45

Tabela 3 – Indicador de participação da indústria no PIB por município – RMF – 2010

Município Índice Classificação

Aquirás 0,6319 Aceitável

Cascável 0,4229 Alerta

Caucaia 0,4141 Aceitável

Chorozinho 0,0000 Crítico

Eusébio 1,0000 Ideal

Fortaleza 0,2114 Crítico

Guaiuba 0,0769 Crítico

Horizonte 0,8575 Ideal

Itaitinga 0,3628 Alerta

Maracanaú 0,8641 Ideal

Maranguape 0,5484 Aceitável

Pacajus 0,5904 Aceitável

Pacatuba 0,7257 Aceitável

Pindoretama 0,0172 Crítico

São Gonçalo do Amarante 0,2786 Alerta

São Luís do Curu 0,1329 Crítico

Paraipaba 0,2287 Crítico

Paracuru 0,2815 Alerta

Trairi 0,2281 Critico Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos dados do IPECE (2012).

Cinco municípios obtiveram níveis aceitáveis, enquanto que quatro e sete municípios

apresentaram, respectivamente, níveis de alerta e crítico. Vale considerar o caso de Chorozinho, que

apresentou índice 0,0000, cujo PIB per capita possui como fator dinamizador o setor de serviços,

enquanto que a indústria apresenta a menor participação neste processo. Pindoretama apresentou similar

resultado (0,0172), devendo-se levar em consideração que o dinamismo econômico destes municípios é

semelhante.

4.3 SALDO DA BALANÇA COMERCIAL

A análise da Tabela 4 demonstra os valores índices no que se refere ao saldo da balança comercial,

sendo que esta variável apresenta uma relação positiva, já que saldos positivos (superávits comerciais)

incrementam a economia.

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46

Tabela 4 – Indicador de balança comercial por município – RMF – 2010

Município Índice Classificação

Aquirás 0,7281 Aceitável

Cascável 0,9942 Ideal

Caucaia 0,2059 Crítico

Chorozinho 0,7663 Ideal

Eusébio 0,7081 Aceitável

Fortaleza 0,0000 Crítico

Guaiuba 0,7653 Ideal

Horizonte 0,7497 Aceitável

Itaitinga 0,7624 Ideal

Maracanaú 0,5310 Aceitável

Maranguape 0,7347 Aceitável

Pacajus 0,7565 Ideal

Pacatuba 0,7542 Ideal

Pindoretama 0,7663 Ideal

São Gonçalo do Amarante 0,1795 Crítico

São Luís do Curu 0,7663 Ideal

Paraipaba 0,7920 Ideal

Paracuru 0,7664 Ideal

Trairi 0,7662 Ideal Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) (2010).

Três municípios apresentaram índices com valores críticos, a saber: Fortaleza, São Gonçalo do

Amarante e Caucaia – estes municípios apresentam os piores déficits na balança comercial na área

estudada. A capital cearense registrou o pior resultado, o que demonstra que o déficit obtido em suas

contas de comércio com o exterior tem apresentado retornos demasiadamente pouco vantajosos à

economia municipal. Cinco municípios registraram índices aceitáveis e os demais enquadraram-se na

faixa ideal.

4.5 RENDA PER CAPITA

Abaixo, na Tabela 5, encontram-se expressos os valores para o índice de renda per capita de cada

munícipio da RMF. A relação é positiva, tendo em vista que quanto maior for a variável, maior será o

índice (melhor para a economia municipal). Apenas Fortaleza apresentou valor em nível ideal no que se

refere ao indicador renda per capita, em sua expressão máxima – ressalte-se o fato de a renda per capita

do mesmo ser o maior dentre todos os municípios considerados nesta investigação. O segundo melhor

resultado ficou com o município de Eusébio, na classificação aceitável. Em sua grande maioria, os outros

municípios exibiram valores críticos, enquanto que outros cinco estão na faixa de alerta.

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47

Tabela 5 – Indicador de renda per capita por município – RMF – 2010

Município Índice Classificação

Aquirás 0,2682 Alerta

Cascável 0,2038 Crítico

Caucaia 0,3083 Alerta

Chorozinho 0,1568 Crítico

Eusébio 0,6690 Aceitável

Fortaleza 1,0000 Ideal

Guaiuba 0,1009 Crítico

Horizonte 0,2240 Crítico

Itaitinga 0,1905 Crítico

Maracanaú 0,2983 Alerta

Maranguape 0,2018 Crítico

Pacajus 0,2715 Alerta

Pacatuba 0,2564 Alerta

Pindoretama 0,1858 Crítico

São Gonçalo do Amarante 0,2038 Crítico

São Luís do Curu 0,1279 Crítico

Paraipaba 0,1662 Crítico

Paracuru 0,2321 Crítico

Trairi 0,0508 Crítico Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos dados do Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil (2010).

4.6 RENDIMENTOS PROVENIENTES DO TRABALHO

A Tabela 6 exibe os valores encontrados para o indicador de porcentagem da renda proveniente de

rendimentos do trabalho. A relação é positiva, dado que quanto maior o índice melhor para o

desenvolvimento sustentável do município. No que tange ao indicador, a grande maioria dos municípios

analisados se encontram na faixa ideal, com destaque para a cidade de Maracanaú, que obteve valor

1,0000 no índice.

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Tabela 6 – Indicador de rendimentos provenientes do trabalho por município – RMF – 2010

Município Índice Classificação

Aquirás 0,9285 Ideal

Cascável 0,7627 Ideal

Caucaia 0,9825 Ideal

Chorozinho 0,6907 Aceitável

Eusébio 0,9637 Ideal

Fortaleza 0,9073 Ideal

Guaiuba 0,6801 Aceitável

Horizonte 0,9853 Ideal

Itaitinga 0,7932 Ideal

Maracanaú 1,0000 Ideal

Maranguape 0,8703 Ideal

Pacajus 0,9501 Ideal

Pacatuba 0,8880 Ideal

Pindoretama 0,7290 Aceitável

São Gonçalo do Amarante 0,8437 Ideal

São Luís do Curu 0,5959 Aceitável

Paraipaba 0,7043 Aceitável

Paracuru 0,7467 Aceitável

Trairi 0,4897 Alerta Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos dados do Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil (2010).

Quanto aos demais municípios, estes foram classificados dentro da faixa aceitável, enquanto que,

particularmente, Trairi foi enquadrado no nível de alerta.

4.7 ÍNDICE DE GINI DE DISTRIBUIÇÃO DOS RENDIMENTOS

Pode-se extrair da Tabela 7 informações acerca dos índices encontrados para os municípios da

RMF no que se refere ao Índice de Gini de Distribuição dos Rendimentos5. Neste caso, a relação é

negativa, dado que quanto maior for o valor da variável, menor será o índice. Constatou-se que quatro

municípios se encontram em nível crítico, enquanto que os demais estão em nível de alerta. O destaque

está para os municípios de Eusébio, Fortaleza, Paracuru e Trairi, que, de acordo com a análise possuem

valores para desigualdade acentuados.

5 Número de vezes que a renda agregada do quinto superior da distribuição da renda (20% mais ricos) é maior do que a renda

do quinto inferior (20% mais pobres) na população residente em determinado espaço geográfico, no ano considerado

(DATASUS, s.d.).

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Tabela 7 – Índice de Gini por município – RMF – 2010

Município Índice Classificação

Aquirás 0,4637 Alerta

Cascável 0,3606 Alerta

Caucaia 0,3606 Alerta

Chorozinho 0,3263 Alerta

Eusébio 0,0687 Crítico

Fortaleza 0,1374 Crítico

Guaiuba 0,3778 Alerta

Horizonte 0,4637 Alerta

Itaitinga 0,4122 Alerta

Maracanaú 0,4465 Alerta

Maranguape 0,4293 Alerta

Pacajus 0,3778 Alerta

Pacatuba 0,4293 Alerta

Pindoretama 0,4122 Alerta

São Gonçalo do Amarante 0,3091 Alerta

São Luís do Curu 0,3091 Alerta

Paraipaba 0,3263 Alerta

Paracuru 0,2233 Crítico

Trairi 0,2404 Crítico Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos dados do DATASUS (2010).

4.8 DIMENSÃO ECONÔMICA

Na Tabela 8, são apresentados os valores para o IDSM econômicos para os municípios da RMF.

Calculado todos os índices para todas as variáveis conforme os municípios analisados, utilizou-se

a média aritmética entre estes mesmos índices para se obter o indicador da dimensão econômica de

desenvolvimento sustentável para os municípios da RMF.

Os resultados permitem inferir que o município de Eusébio apresentou o melhor resultado para o

ano de 2010, atingindo o melhor valor para o índice da dimensão econômica da RMF. Em seguida,

Horizonte e Maracanaú atingiram bons índices. Ademais, mais três municípios apresentaram valores

dentro da faixa aceitável, quanto que os demais se enquadraram em estado de alerta quanto ao índice. O

município que apresentou o menor valor foi Trairi.

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Tabela 8 – Índice da Dimensão Econômica do IDSM para os municípios da RMF – 2010.

Município Índice Classificação

Aquirás 0,5316 Aceitável

Cascável 0,4736 Alerta

Caucaia 0,4004 Alerta

Chorozinho 0,3306 Alerta

Eusébio 0,6789 Aceitável

Fortaleza 0,4303 Alerta

Guaiuba 0,3381 Alerta

Horizonte 0,6140 Aceitável

Itaitinga 0,4289 Alerta

Maracanaú 0,5975 Aceitável

Maranguape 0,4799 Alerta

Pacajus 0,5144 Aceitável

Pacatuba 0,5294 Aceitável

Pindoretama 0,3593 Alerta

São Gonçalo do Amarante 0,4032 Alerta

São Luís do Curu 0,3289 Alerta

Paraipaba 0,3816 Alerta

Paracuru 0,3888 Alerta

Trairi 0,3025 Alerta Fonte: Elaborado pelos autores a partir da base de dados utilizadas, 2010.

Comparando-se os resultados da Tabela 8 com a Tabela 9, esta última demonstra os resultados

para a Região Metropolitana do Cariri calculados por Vieira e Justo (2015), percebe-se que Aquirás,

Eusébio, Horizonte, Maracanaú, Pacajus e Pacatuba encontram-se junto a Crato e Juazeiro do Norte no

que se refere a classificação aceitável.

Tabela 9 – Dimensão econômica do IDSM para os municípios da Região Metropolitana do Cariri –

RMC.

Município Índice Classificação

Barbalha 0,4801 Alerta

Caririaçu 0,3725 Alerta

Crato 0,5313 Aceitável

Farias Brito 0,3497 Alerta

Jardim 0,3654 Alerta

Juazeiro do Norte 0,5117 Aceitável

Missão Velha 0,3916 Alerta

Nova Olinda 0,3930 Alerta

Santana do Cariri 0,3717 Alerta Fonte: Vieira; Justo (2015).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observou-se que os indicadores analisados possuem comportamentos específicos e diversos, a

depender de cada indicador. O fato é corroborado ao analisar o indicador de participação da indústria no

PIB por município, pois este apresentou valores irregulares entre os municípios. Por outro lado, os

indicadores rendimentos provenientes do trabalho por município e índice de Gini expressaram resultados

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positivos e regulares, com a maioria dos municípios sendo enquadrados entre os níveis ideal e aceitável.

Os indicadores Produto Interno Bruto per capita e renda per capita, apresentaram os piores resultados

estimados, já que a maioria dos municípios se encontrou em estado crítico nestas dimensões do

desenvolvimento sustentável.

Do indicador econômico que compreende todos os índices calculados para 2010, ficou

evidenciado o elevado resultado do município de Eusébio. A maioria de seus índices ocupou as faixas

ideal e aceitável. Apesar do status de capital, Fortaleza apresentou níveis críticos em três indicadores,

nível aceitável em um, e nível ideal em dois.

Trairi, São Luís do Curu, São Gonçalo do Amarante, Paraipaba e Paracuru compartilham os piores

resultados, já que a maioria de seus indicadores foi enquadrada em nível crítico ou de alerta. Itaitinga e

Pacatuba demonstraram resultados, em média, nem bons e nem ruins, mas que podem conseguir bons

resultados conforme utilização de eficientes políticas públicas.

No que se refere ao índice da Dimensão Econômica, no todo para 2010, os municípios

considerados não apresentaram níveis críticos. Eusébio, Horizonte e Aquirás conseguiram os melhores

resultados, com o primeiro no nível ideal e os outros dois em níveis aceitáveis.

Entretanto, apesar de resultados não críticos na análise do índice da Dimensão Econômica, os

municípios, em sua individualidade, não compartilham de valores com características semelhantes, o que

pôde ser constatado a partir do comportamento instável das variáveis conforme a localização. Pode-se

concluir que um bom resultado no geral não implica em um bom desempenho no individual, no que tange

a dimensão econômica do IDSM, cabendo ressaltar a importância de se destrinchar as variáveis conforme

suas especificidades e localização, a fim de obter valores mais precisos que possam estar de acordo com a

realidade de cada município, além de fornecer uma visão clara e aberta da conduta econômica dos

mesmos.

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O IMPACTO DO PROUNI SOBRE DESEMPENHO ACADÊMICO DOS DISCENTES EM 2014

Fransuellen Paulino Santos

Mestre em Economia pela Universidade Federal de Viçosa

Andréa Ferreira da Silva

Doutoranda no Departamento de Economia pela Universidade Federal da Paraíba

Cristiana Tristão Rodrigues

Professora no Departamento de Economia da Universidade Federal de Viçosa

Resumo

O objetivo do presente estudo é avaliar o impacto do Programa Universidade para Todos (ProUni) sobre o

desempenho acadêmico dos alunos concluintes de graduação em instituições privadas, com bolsa integral,

avaliados no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE) em 2014. Por meio do Propensity

Score Matching foi possível observar que os beneficiários concluintes do programa apresentam um

desempenho acadêmico superior aos dos não bolsistas com características semelhantes. O resultado é

válido quando se analisa todos os cursos conjuntamente e quando se considera apenas os cinco cursos

com maior número de bolsistas, sendo eles, arquitetura e urbanismo, engenharia civil, educação física,

pedagogia e engenharia de produção.

Palavras-chave: Desempenho acadêmico; ProUni; ENADE; Propensity Score Matching.

Abstract

The present study aims at evaluating the impact of ProUni on the academic performance of the last year

students with full scholarship evaluated by the National Assessment of Student Performance (ENADE) in

2014. On the basic of microdata from ENADE 2014 and the empirical strategy Propensity Score

Matching method, could be measured the medium treatment effects on treaties and observed that the last

year students beneficiaries of ProUni in Brazil present higher academic performance when compared to

not scholarship holders in private institutions with similar characteristics. The results is valid considering

the analysis for all courses together and only the five courses with major number of scholarship students,

represented by architecture and urbanism, civil engineering, physical education, pedagogy and production

engineering.

Keywords: Academic achievement. ProUni. ENADE.

JEL: I21, I22.

1 Introdução

O Brasil vem passando por algumas mudanças na educação pública em busca de uma melhoria da

qualidade de ensino. De acordo com o site Todos Pela Educação6, no ensino médio o percentual de

alunos, até os 19 anos, que concluíram essa etapa subiu para 69,0% em 2014, enquanto o ano anterior era

6 Disponível em: <https://www.todospelaeducacao.org.br/>. Acesso em: 21 out. 2016.

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de 63,7% (BRASIL, 2016a). Desta forma, houve um avanço no sentido de que mais alunos cumprem essa

trajetória escolar na idade correta.

Assim como na educação básica, há uma grande preocupação com o acesso dos jovens,

principalmente os de baixa renda, à educação superior. Para Amaral e Oliveira (2011), um dos maiores

desafios educacionais consiste na escassez de oferta pública de vagas que limita a ampliação do acesso ao

ensino superior. Estabeleceu-se pelo Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado em 2001, a meta de

que 30% dos jovens de 18 a 24 anos estivessem cursando o ensino superior no Brasil até o final de 2010.

Porém, o resultado ficou aquém do pretendido, a Síntese dos Indicadores Sociais de 2009 revelou que

apenas 13,7% da população nesta faixa estava matriculada em um curso superior (BRASIL, 2009a).

Considerado um dos projetos do Ministério da Educação (MEC), o Programa Universidade para

Todos (ProUni), criado pela Lei nº 11.096, de 13 de janeiro de 2005, tem intuito de aumentar o acesso ao

ensino superior (BRASIL, 2005). Tem como objetivo a concessão de bolsas de estudos (integrais ou

parciais) em instituições privadas, para os estudantes que não detêm diploma de graduação. Oferecendo,

em contrapartida, a isenção de alguns tributos àquelas instituições que aderirem ao Programa. Para

participar, o aluno precisa satisfazer alguns requisitos como, por exemplo, para concorrer às bolsas

integrais o candidato deve ter uma renda familiar bruta mensal de até um salário mínimo e meio por

pessoa, além de obter boa nota no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) (BRASIL, 2016b).

França e Gonçalves (2009) afirmam que, pelo menos no curto prazo, a entrada destes alunos

bolsistas afeta negativamente o desempenho geral da turma, pois amplia a heterogeneidade existente.

Além disso, esta ampliação, segundo os autores, não foi acompanhada com aumentos na qualidade do

ensino. Porém, Lira (2010) encontrou em sua pesquisa para a Faculdade de Santo Agostinho que alunos

contemplados pela bolsa do ProUni possuem desempenho superior aos demais.

A avaliação de políticas públicas possui extrema importância, na visão de Belloni et al. (2001),

pois é uma forma de aperfeiçoar a gestão do Estado. Portanto, a partir do exposto, este artigo propõe

analisar se alunos bolsistas concluintes e que recebem o auxílio concedido pelo Programa possuem um

desempenho no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE) de 2014 superior aos que não

recebem, com características socioeconômicas observáveis semelhantes, visto que para manter o

benefício é exigido um bom rendimento (BRASIL, 2013a). Cabe destaque que, no ano de 2016, foi

realizada uma pesquisa sobre o tema de autoria de Dutra (2016), que serviu como base para a pesquisa em

tela.

Para alcançar este objetivo é necessário utilizar um método que permita a comparação dos alunos,

pois existem outros itens que podem afetar esta análise, sendo necessário isolar a influência de tais pontos

por meio de variáveis de controle que possam explicá-los. Assim, a avaliação será realizada através do

Propensity Score Matching (PSM), que encontra no banco de dados os indivíduos que não participam do

ProUni mais próximos possíveis daqueles que participam, permitindo que seja calculado o Efeito Médio

do Programa sobre os Tratados (ATT).

Para tal fim, serão considerados indivíduos com bolsa integral e utiliza-se os microdados do

ENADE de 2014, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

(INEP) cujo propósito é “acompanhar o processo de aprendizagem e o desempenho acadêmico dos

estudantes de educação superior” (BRASIL, 2013b, p. 7). Este estudo pretende colaborar na literatura de

avaliação de políticas públicas por meio de duas estimações de resultados para verificar o impacto do

programa. A saber: a primeira, verifica o impacto do Programa quando se analisam os dados agregados; a

segunda demonstra o efeito em cada curso individualmente com maiores quantidades de bolsistas.

O presente estudo se divide em cinco seções, incluindo esta introdução. A segunda seção contém

uma revisão de literatura que trata do contexto brasileiro e dos tipos de avaliação das políticas públicas,

além de abordar as análises existentes sobre o ProUni. A terceira apresenta a estratégia empírica e as

variáveis utilizadas. Na quarta, realiza-se a avaliação para todos os cursos conjuntamente para investigar

como ocorre esse efeito no geral em 2014, posteriormente verifica-se separadamente o impacto nos cinco

cursos que possuem mais bolsistas entre os cursos examinados pelo ENADE 2014. E, por fim, a quinta

seção é reservada às conclusões.

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2 O Programa Universidade para Todos - ProUni

Criado pelo Governo Federal em 2004 e instituído pela Leiº 11.096, de 13 de janeiro de 2005, o

ProUni, sob a gestão do Ministério da Educação, é destinado à concessão de bolsas de estudos integrais e

bolsas de estudos parciais de 50% ou 25% para os estudantes de cursos de graduação, e sequenciais de

formação específica, em instituições privadas de ensino superior, com ou sem fins lucrativos

(BRASIL,2005).

O público alvo do programa são os estudantes egressos que tenham cursado o ensino médio

completo em escolas da rede pública, ou os estudantes da rede privada, mas na condição de bolsista

integral, com renda familiar mensal per capita de até três salários7; estudantes portadores de deficiência;

professores da rede de ensino público, especificamente para os cursos de licenciatura destinados à

formação dos docentes da educação básica; e que não tenham diploma do ensino superior.

Com relação ao processo seletivo do ProUni, este ocorre em uma única etapa, de forma gratuita, e

exclusivamente pela internet, no site do programa. Os candidatos são selecionados pelas notas obtidas no

ENEM, sendo relacionado, portanto, à qualidade dos estudantes com melhores desempenhos no ensino

médio. No ato da inscrição, o estudante elenca, na ordem de sua preferência, até duas opções de IES

privada, curso e turno dentre as ofertas de bolsas disponíveis, podendo ser alteradas durante o período de

inscrição, sendo considerada válida a última escolha confirmada.

Após o prazo de inscrição, o sistema classifica os estudantes de acordo com as notas no ENEM e

suas respectivas opções. Dessa forma, os candidatos são pré-selecionados para uma vaga das opções dos

cursos, levando em consideração a ordem de escolha e o limite de bolsas disponíveis pela IES Por fim,

cada instituição realizará duas chamadas e, em cada uma delas, os estudantes têm um prazo para

comparecerem e apresentarem os documentos no ato na matrícula. E caso, eventualmente, o candidato

não seja pré-selecionado, o mesmo ainda pode manifestar interesse em participar na lista de espera. Pois,

uma vez que as bolsas não são preenchidas nas primeiras chamadas, deverão ser ocupadas pelos

estudantes que participam da lista de espera.

Desde sua criação até o processo seletivo de 2016, o ProUni já atendeu mais de 1,9 milhões de

estudantes, 70% deles com bolsas integrais. Com relação ao crescimento da oferta de vagas nas IES

privadas desde o início do programa, pode ser observada, através do Censo da Educação Superior do ano

de 2004, que existiam 1.789 instituições de ensino superior privadas ofertando 2.011.929 vagas em

12.382 cursos de graduação. Comparando com as informações do Censo da Educação Superior do ano de

2015, com 2.069 IES privadas, houve um crescimento de 75% na oferta de cursos de graduação, passando

para 21.681; consequentemente, o número de vagas oferecidas cresceu 60%, em relação as vagas em

2004, tendo 3.223.732 vagas ofertadas. Uma das evidências iniciais ante ao aumento da oferta do ensino

superior pela IES privadas é o notável crescimento dos indivíduos que concluíram os cursos de

graduação, 63%, 424.355 concluintes em 2004 passando para 692.167 em 2015 (INEP, 2004; INEP,

2015).

2.1 O ProUni no Brasil

Para embasar este estudo, este tópico realiza uma revisão da literatura disponível acerca do

ProUni, mormente, no que tange ao desempenho dos alunos beneficiados. Alguns estudos como, por

exemplo, Dutra (2016) e Vendramini e Lopes (2016), utilizam as notas obtidas pelos alunos bolsistas no

ENADE por se tratar de uma avaliação nacional e compulsória para os estudantes do ensino superior.

Para detalhar e especificar o processo de implementação, Faceira (2008) estabeleceu dimensões de

análise explicando que existem pontos de fragilidade e questões que precisam ser solucionadas no sistema

7 De acordo com os parágrafos 1º e 2º do Art. 1º, da Leiº 11.096, de 13 de janeiro de 2005, respectivamente, a bolsa de estudo

integral será concedida a brasileiros não portadores de diploma de curso superior, cuja renda familiar mensal per capita não

exceda o valor de até um salário-mínimo e meio. E as bolsas de estudo parciais de 50% ou de 25%, cujos critérios de

distribuição serão definidos em regulamento pelo Ministério da Educação, serão concedidas a brasileiros não-portadores de

diploma de curso superior, cuja renda familiar mensal per capita não exceda o valor de até três salários-mínimos, mediante

critérios definidos pelo MEC.

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de operacionalização e reestruturação do ProUni. Para a autora, o MEC deve criar estratégias de

acompanhamento, monitoramento e fiscalização do processo de implantação do programa nas instituições

e da qualificação dos cursos que estão sendo oferecidos.

Valle (2009), através de uma discussão teórica, destaca que realmente o programa aumenta o

acesso porém, se constitui num sentido restrito de democracia, ou seja, é a doação de um direito que é

visto como benefício. Outro ponto de destaque é a queda de arrecadação, gerada pelas isenções fiscais

dadas a estas instituições que constitui uma ampla discussão entre as redes privadas e públicas. Estas

últimas afirmam que seria mais eficiente se houvesse a arrecadação e um repasse para elas, para

ampliação de vagas públicas, geração de novos cargos, estrutura e processos administrativos. Em

contrapartida, a iniciativa privada que já dispõe de vagas e estrutura para administrar, justifica maior

eficiência no uso dos recursos, uma vez que pode absorver de forma imediata a demanda existente.

O relatório de auditoria do Tribunal de Contas da União (2009), no intuito de apontar caminhos

para melhoria do ProUni, analisa o impacto deste sobre a permanência dos alunos no ensino superior e os

estímulos que teriam para melhorar seu desempenho acadêmico no ENADE, separando os alunos entre

ingressantes e concluintes. Concluem que o programa atende ao objetivo de aumentar a probabilidade de

acesso ao ensino superior da população-alvo, além disso, a qualidade, em notas, dos alunos não piorou

após a introdução do programa e, mesmo sendo modesto, o efeito da bolsa integral é maior que o da bolsa

parcial sobre a redução da probabilidade de evasão (BRASIL, 2009b).

O estudo de Bertolin e Fioreze (2016), através das teorias do capital cultural e do background,

verificou o desempenho de alunos bolsistas do ProUni. Os resultados apontaram para melhor desempenho

dos alunos bolsistas – que tem nível socioeconômico e cultural menor – em relação aos demais alunos das

instituições privadas, contrariando a probabilidade de melhor desempenho entre os estudantes de maior

capital cultural.

Nesse contexto, os estudos comprovam que há uma relação positiva entre os alunos do ProUni, em

especial os com bolsa integral, e o desempenho acadêmico. Assim, estes estudantes tendem a apresentar

um rendimento melhor que os não bolsistas. Sendo, portanto, um incentivo ao investimento que é

realizado pelo governo no ensino superior através deste programa. Contudo, se faz necessária uma

renovação de estudos acerca de toda e qualquer atividade do governo. Partindo deste pressuposto, este

estudo faz a análise dos participantes ProUni, concluintes em 2014, afim de ampliar a literatura de

avaliações de políticas públicas.

3 Metodologia

De acordo com o estudo de Peixoto et al. (2012), o impacto do ProUni até poderia ser medido

através de diferenças observadas entre a nota obtida pelo estudante com bolsa integral e a nota auferida

por ele na situação em que não houvesse participado, porém nesses dois momentos não seria possível

observar o sujeito. Sendo que, este é um dos grandes problemas das avaliações de programas sociais, ou

seja, a dificuldade de encontrar um contrafactual dos indivíduos que recebem o tratamento para o grupo

de beneficiários em caso de não participação no programa. Uma solução de acordo com Rosenbaum e

Rubin (1983) é medir a diferença entre grupos de indivíduos que foram selecionados aleatoriamente para

participar ou não do programa.

Neste trabalho, para o caso em que o estudante fez o ENADE e participa do ProUni com

bolsa integral, definido como tratamento e , caso tenha feito o ENADE, mas não participa do

programa. O resultado observado para a variável de interesse (desempenho no ENADE) pode ser

expresso: em que representa o resultado do i-ésimo indivíduo tratado, no

caso deste estudo é dado pela nota geral no ENADE 2014 dos alunos que recebem bolsa integral.

Enquanto é a nota geral no ENADE 2014 do i-ésimo indivíduo de controle, ou seja, aquele que por

algum motivo não participa do programa. Assim, o impacto médio do ProUni sobre os participantes é

representado pelo efeito médio do tratamento no grupo tratado (ATT):

e (1)

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Porém, Rosenbaum e Robin (1983) explicam que os indivíduos que participam e os que não

participam do Programa são diferentes uns dos outros em vários quesitos. Uma forma de corrigir esse

problema é a utilização do método de Propensity Score Matching, ou pareamento por escore de

propensão, desenvolvido por Rosenbaum e Rubin (1983).

3.1 Propensity Score Matching

O presente trabalho pretende investigar se alunos que participam do ProUni apresentam

desempenho superior, dada as exigências de nota do programa, quando comparados àqueles que não

recebem o auxílio. Dessa forma, é necessária a construção de dois grupos de indivíduos com as mesmas

características. Porém, surge o problema da autosseleção, ou seja, os investigadores não

possuem controle sobre a atribuição do tratamento e isto gera comparações diretas dos resultados dos

grupos de tratamento enganosas. Os métodos tradicionais de ajustes (matching, estratificação ou ajuste de

covariância) são muitas vezes limitados, visto que só podem ser utilizados em um determinado número de

covariáveis de ajustamento, enquanto o propensity score (PS) fornece um resumo escalar das informações

das covariáveis e não possui essa restrição (ROSENBAUM; RUBIN, 1983).

Para solucionar esse viés utiliza-se o método do pareamento, o qual apresenta importância na

avaliação de impacto e de políticas. Dessa forma, pode-se comparar os resultados entre os tratados e seus

contrafactuais. De acordo com Rosenbaum e Rubin (1983), o propensity score é um escore de equilíbrio e

pode ser utilizado em estudos observacionais, para reduzir as diferenças entre grupos de tratados e não

tratados. Esta técnica consiste em encontrar um grupo de comparação o mais similar possível,

emparelhando-o e estimando os efeitos de tratamento (efeito do programa) através da diferença entre

resultados médios dos grupos de tratamento e controle. Este método pode ser executado através de uma

única variável de controle, o escore de propensão, que é definido como a probabilidade condicional de

participação no programa de um indivíduo i a um vetor de características observáveis X (CAMERON;

TRIVEDI, 2005). Assim:

em que 0 < P(x) < 1 (2)

Portanto, considera o pressuposto de independência condicional às características observáveis dos

grupos de tratamento e controle. De acordo com Rosenbaum e Rubin (1983) o efeito médio do programa

sobre os beneficiados (ATT), equação (2), pode ser reescrita como:

(3)

onde refere-se ao valor esperado, condicional ao conjunto de características

observáveis e à participação no ProUni, enquanto, refere-se ao valor esperado,

condicional ao conjunto de características observáveis e à não participação no ProUni. Como o

Propensity Score de um indivíduo, é definido como a probabilidade condicional de um indivíduo

participar do programa dado suas características observáveis x, pode-se substituir x pelo escalar P(x) na

equação (4):

(4)

Segundo Rosenbaum e Rubin (1983), no caso em que as características não observáveis

influenciam a decisão de o indivíduo participar ou não do programa, e se elas forem correlacionadas com

o desempenho potencial no ENADE 2014 deste indivíduo, o método de pareamento não conseguirá

eliminar o viés de seleção, e a estimativa do efeito do programa pode ser tendenciosa. Conforme explicam

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59

Becker e Ichino (2002), o viés de fatores não-observados somente é eliminado se a participação no

tratamento for puramente aleatória, caso contrário, será apenas reduzido. Assim, o controle é o mais

próximo possível do tratado, a partir do escore de propensão.

Existem diferentes métodos de matching que podem ser usados para atribuir participantes a não

participantes em função do PS. Na literatura que aborda as diferentes técnicas de pareamento, não há um

consenso de qual das técnicas apresentaria melhores resultados. Entretanto, o estudo de Becker e Ichino

(2002) sugere que a consideração conjunta das técnicas pode oferecer um método para avaliar se as

estimativas são robustas. Desse modo, no presente trabalho, utiliza-se três técnicas visando uma

estimativa robusta do possível efeito dos tratamentos. A partir das definições destes autores as técnicas de

correspondência empregadas neste artigo para o cálculo ATT são:

i) Vizinho mais próximo (NN): consiste em parear cada indivíduo tratado com o controle que possua

o escore de propensão mais próximo. Um problema com o NN é que a diferença no Propensity Score para

um participante e o seu vizinho mais próximo não participante da política ainda pode ser muito alta

afetando a qualidade dos controles.

ii) Kernel: todos os indivíduos tratados são pareados por uma média ponderada dos indivíduos de

controle, que possui peso inversamente proporcional à distância de escore de propensão entre tratados e

controles.

iii) Estratificação: divide a extensão dos escores de propensão em intervalos, ou blocos, e que em

média, os indivíduos tratados e controles dentro de cada bloco, possuem os mesmos escores de

propensão. Dessa forma o ATT é a média ponderada de resultados de cada bloco, com peso atribuído pelo

número de tratados em cada bloco.

Assim, o impacto do ProUni sobre o desempenho acadêmico dos estudantes que ingressaram pelo

sistema de bolsas integrais do programa (ATT) será estimado a partir da comparação entre os que

ingressaram na universidade particular por meio da política e os que ingressaram sem bolsa, selecionados

por suas características observáveis a partir da estimação do Propensity Score e pareados pelos algoritmos

de NN, Kernel e Estratificação.

Cabe destacar que, os alunos que participavam do Fundo de Financiamento Estudantil (FIES), do

ProUni parcial, aqueles que recebiam qualquer outro tipo de bolsa e os estudantes de IES públicas, foram

retirados da amostra, pois caso contrário os resultados do método aplicado não seriam legítimos.

Conforme Dutra (2016), ao adicionar alunos que recebem outro tipo de bolsa e são analisados como não

bolsistas do ProUni tem-se um cálculo errado do efeito, pois o desempenho deste aluno poderá ser

influenciado pela bolsa que ele recebe.

3.2 Base de dados e variáveis

Para inferir sobre a probabilidade de participação no ProUni, bem como os impactos sobre

desempenho acadêmico do aluno com bolsa integral, utilizam-se os microdados do ENADE 2014. Os

cursos avaliados em cada edição do Exame são definidos pelo MEC e a periodicidade máxima de

aplicação do ENADE é trienal em cada área (BRASIL, 2011). Os cursos avaliados em 2014 foram:

Bacharel - Arquitetura e Urbanismo, Sistema de Informação, Eng. Civil, Eng. Elétrica, Eng. de

Computação, Eng. de Controle e Automação, Eng. Mecânica, Eng. Química, Eng. de Alimentos, Eng. de

Produção, Eng. Ambiental, Eng. Florestal, Engenharia; Bacharel ou Licenciatura - Ciências da

Computação, Ciências Biológicas, Ciências Sociais, Filosofia, Física, Geografia, História, Letras-

Português, Matemática, Química. Licenciatura - Artes visuais, Educação Física, Letras-Português e

Espanhol, Letras-Português e Inglês, Música, Pedagogia; Tecnólogo - Análise e Desenvolvimento de

Sistemas, Automação Industrial, Gestão da Produção Industrial, Redes de Computadores. A participação de todos os alunos concluintes no exame é obrigatória, caso contrário, estão

sujeitos à caracterização de irregularidade junto ao ENADE e, dessa forma, não recebem o diploma de

conclusão do curso até a regularização da situação (BRASIL, 2011). De acordo com Dutra (2016),

utilizando apenas os concluintes pode-se separar aqueles alunos que ao longo do curso possuíram baixo

desempenho e foram excluídos do programa, de forma que só chegaram ao final os alunos que obtiveram

aprovação nas matérias anteriores.

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O modelo Probit, pelo qual o PS é calculado, deve incluir variáveis preditoras que influenciam a

participação no programa e os resultados de interesse, pois irão determinar tanto a elegibilidade para o

programa como os impactos sobre o desempenho acadêmico. Desta forma, o cálculo do ATT é realizado

entre estudantes que são de fato comparáveis de acordo com essas características. As variáveis

selecionadas encontram-se no Quadro 2:

Quadro 2 – Descrição das variáveis utilizadas no modelo

Variável Descrição

Desempenho do aluno Nota bruta da prova - Média ponderada da formação geral (25%) e componente específico (75%)

(0 a 100)

Sudeste Dummy que assume valor 1 se o aluno estuda na região Sudeste e 0 caso contrário

Sul Dummy que assume valor 1 se o aluno estuda na região Sul e 0 caso contrário

Nordeste Dummy que assume valor 1 se o aluno estuda na região Nordeste e 0 caso contrário

CO Dummy que assume valor 1 se o aluno estuda na região Centro-oeste e 0 caso contrário

Homem Dummy de sexo: 1 se o aluno for homem e 0 caso contrário

Idade2 e Idade4 Idade do estudante dividida em blocos: até 20 anos, de 30 a 40 anos

Branco Dummy de raça: 1 se o aluno é branco 0 caso contrário

Renda10 Dummy de renda total familiar de 6 a 10 salários mínimos

Renda30 Dummy de renda total familiar acima de 30 salários mínimos

Ntrab Dummy que assume valor 1 se o indivíduo não trabalha e 0 caso contrário

Empub Dummy que assume valor 1 se o aluno estudou apenas em escola pública e 0 caso contrário

EmPP Dummy com valor 1 se estudou maior parte do ensino médio em escola pública e 0 caso contrário

Pais Dummy que assume valor 1 se o pai/mãe possui superior completo e 0 caso contrário.

Fonte: Microdados do ENADE/INEP de 2014.

Nota: São apresentadas as variáveis das duas formas de análise, considerando que a escolha é feita de forma a satisfazer a

hipótese de balanceamento.

4 Resultados

A análise de resultados contará com duas seções, inicialmente tem-se a avaliação do impacto do

programa no desempenho acadêmico dos alunos para todos os cursos participantes da prova em 2014,

permitindo a generalização dos resultados encontrados. Em seguida, investiga-se o efeito

individualmente, sendo selecionados cinco cursos com maior quantidade de alunos que participam do

programa (para obter um modelo robusto), afinal, existe a possibilidade de uma variação deste impacto

entre os cursos. Ambas as seções utilizam o PSM e as variáveis são selecionadas de forma a satisfazer a

hipótese de balanceamento.

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61

4.1 O impacto do ProUni no desempenho acadêmico para todos os cursos que participaram do

ENADE 2014

Antes de iniciar as análises do PSM, nota-se a partir da Tabela 1 que em ambos os formatos de

análise empregados neste trabalho (todos os cursos conjuntamente e cinco separadamente), existe uma

diferença, na média, do desempenho entre os bolsistas integrais do ProUni e os não bolsistas. Ademais,

pode-se verificar que, na média, as notas não são tão elevadas, considerando que a pontuação do ENADE

varia de 0 a 100, isso pode ser um indício da questão da qualidade de ensino em geral apontada por

França e Gonçalves (2009).

Dutra (2016) aponta que antes do matching, mesmo existindo uma diferença entre os grupos, não

é possível atribuir esse fato ao programa. Por mais que as médias apresentadas na Tabela 1 tenham sido

diferentes, o efeito do programa é dado apenas pelos resultados encontrados através dos três métodos:

Nearest-Neighbor, Kernel e Estratificado, cujos resultados se encontram nas Tabelas 3 e 5.

Tabela 1 – Média da nota bruta da prova no ENADE 2014 antes do pareamento

Controle Observações Tratamento Observações

Todos os cursos 44,2001 114.786 52,4269 16.878

Arquitetura e urbanismo 47,3783 5.233 54,7858 676

Eng Civil 45,348 7.313 51,2719 1.017

Educação Física 43,1947 5.759 55,0608 1.304

Pedagogia 45,7491 46.297 56,4782 5.322

Eng de Produção 44,7542 4.976 51,5571 796

Fonte: Elaboração própria a partir dos Microdados ENAD/INEP 2014.

Posto isto, para realizar esta análise as variáveis foram selecionadas com o intuito de encontrar um

grupo controle que se assemelhe aos indivíduos beneficiados pelo programa em suas características

observáveis. Conforme explicado anteriormente, o método utilizado parte da elaboração do Probit, que

fornece o escore de propensão de participação no programa de acordo com as características definidas,

com a finalidade de balancear os indivíduos. Com isso, verifica-se a contribuição desses atributos para a

participação no programa, definindo para cada observação a chance de ser beneficiário do programa.

Mesmo aos indivíduos já tratados uma probabilidade é imputada, pois nem mesmo os bolsistas do ProUni

possuem características completamente iguais (DUTRA, 2016). Assim, a Tabela 2 apresenta a estimação

do modelo Probit cuja variável dependente é uma dummy que representa a presença ou não no programa.

A especificação final do modelo Probit de escore de propensão satisfez a hipótese do

balanceamento (balancing hypothesis) das variáveis. E, todos os coeficientes estimados demonstram-se

estatisticamente significativos, ou seja, as variáveis escolhidas são adequadas na definição do grupo de

controle. Desta forma, ao analisar os sinais obtidos para as variáveis que indicam se o indivíduo estudou

todo o ensino médio na escola pública ou se estudou a maior parte na escola pública, percebe-se que há

um aumento na probabilidade de participação do ProUni, o mesmo ocorre para os alunos com idade até os

20 anos. Com relação a raça, um aluno branco possui uma relação negativa com a probabilidade de

participar do programa, comparada aos demais.

Tabela 2 – Probabilidade de participar do ProUni - Probit para todos os cursos

Variáveis Coeficiente Erro Padrão

Empub 0,8653* 0,0178

EmPP 0,2529* 0,0302

Branco -0,1389* 0,0093

Pais -0,0346** 0,0144

idade2 0,3884* 0,0237

renda10 -0,6118* 0,0188

renda30 -1,1017* 0,0414

Constante -1,6904* 0,0184

Fonte: Elaboração própria.

Nota: * Significativo a 1%, ** Significativo a 5%;

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A renda em seus níveis considerados (de 10 até 30 e acima de 30 salários mínimos) apresentou

coeficientes negativos, ou seja, quanto maior a renda familiar, menor é a probabilidade de participação no

programa. Quanto à influência da educação dos pais, observa-se na Tabela 2, que há uma relação inversa

entre os pais com ensino superior e a chance de participar do programa. Desta forma, o aluno com pai ou

mãe com nível superior tem uma menor probabilidade de ser bolsista do ProUni. Isto, aliado às variáveis

de renda, é completamente compreensível, afinal, um indivíduo cujos pais possuem ensino superior, no

geral, é o que possui renda familiar mais elevada e, consequentemente, não irá se enquadrar nos pré-

requisitos do ProUni, portanto esta chance se reduz. Nesse sentido, Gaudio (2014) demonstrou que entre

os alunos bolsistas poucos pais completaram o ensino superior ou a pós-graduação.

Após a estimação do escore de propensão, calcula-se o ATT, ou seja, é feita a estimativa do valor

do efeito do tratamento sobre o coeficiente do desempenho acadêmico, por três tipos de Matching. Os

resultados estão apresentados na Tabela 3, onde verifica-se que todos os impactos são positivos e

significativos. Portanto, no ano de 2014, o ProUni apresentou efeito médio em elevar o desempenho dos

alunos concluintes com bolsa integral ao considerar os cursos conjuntamente. A análise do método do

vizinho mais próximo (NN), indica que o aumento é de 9,984 pontos em comparação com alunos não-

bolsistas com características semelhantes em termos de características observáveis controladas pelo

modelo, já no método de Kernel esse impacto foi de 9,639 pontos, e, por fim, no método Estratificado foi

de 9,983 pontos.

Tabela 3 – Efeito médio do tratamento no desempenho acadêmico para todos os cursos no ano de 2014

Tipo de Matching Nº de Tratados Nº de Controle EMPT Erro Padrão Estatística t

NN 16.883 113.950 9,984 0,111 91,248

Kernel 16.883 114.802 9,639 0,096 100,508

Estratificado 16.883 114.802 9,983 0,110 90,891

Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados ENADE/INEP de 2014.

Assim, nota-se que o programa influencia positivamente o desempenho acadêmico dos alunos

concluintes que possuem bolsa, o Relatório da Auditoria de 2009 (BRASIL, 2009b) realizado pelo TCU

corrobora esse resultado e afirma que, em média, os bolsistas do ProUni apresentaram desempenho mais

elevado que os não bolsistas. O Relatório demonstra que esse resultado é bom, pois afasta a ideia de que a

concessão das bolsas iria rebaixar o nível de ensino quando houve a implantação do ProUni. Assim

também, o estudo de Gaudio (2014) encontrou que o desempenho dos alunos bolsista é igual ou superior

à nota geral obtida pelos não bolsistas, em 43 áreas, dentre elas licenciaturas, ciências humanas e sociais.

4.2 O impacto do ProUni no desempenho acadêmico para os cursos com maior quantidade de

alunos bolsistas

Optou-se também por realizar uma análise individual, para verificar o impacto do ProUni

separadamente. Neste sentindo, foram escolhidos cinco cursos que participaram do ENADE 2014, sendo

eles Arquitetura e Urbanismo, Engenharia Civil, Educação Física, Pedagogia e Engenharia de Produção,

pois estes dentre os demais eram os que possuíam a maior quantidade de alunos beneficiários do

programa, com isso os resultados obtidos serão mais consistentes.

Analogamente à seção anterior, buscou-se na seleção das variáveis utilizadas para encontrar o

grupo controle a máxima aproximação dos objetivos do programa, respeitando também a hipótese de que

o modelo deve ser balanceado, ou seja, as observações com o mesmo PS precisam ter a mesma

distribuição das características observáveis, independentemente de serem tratadas ou não. Com isso, o uso

de uma especificação menos parcimoniosa é para que se obtenha uma melhor qualidade do pareamento

entre os tratados e o controle. Assim, a Tabela 4 apresenta a estimação do modelo Probit, cuja variável

dependente é uma dummy que representa a participação ou não no ProUni.

Neste modelo, as principais variáveis que determinam a elegibilidade para integrar o ProUni são

Empub ou EmPP, Renda10 e Renda30, todas foram estatisticamente significativas, além de apresentarem

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sinais esperados. Logo, caso o estudante tenha cursado todo o ensino médio em escola pública, ou pelo

menos a maior parte, a possibilidade de participar do programa aumenta para cada um dos cursos.

Percebe-se, ainda pela Tabela 4, que quanto maior o rendimento familiar total do aluno, menor a

probabilidade de participar do ProUni, em ambos os níveis de renda utilizados, os coeficientes para cada

curso individualmente foram estatisticamente significativos. De acordo com Mugnol e Gisi (2012), o

programa tem beneficiado uma parcela dos estudantes considerados de baixa renda. Como explicado na

seção anterior, este resultado é plausível, afinal, um dos requisitos para o aluno conseguir uma bolsa

integral é que tenha renda mensal familiar de até 1 salário mínimo e ½ por pessoa, assim se o rendimento

aumentar, a chance de ser aluno pelo ProUni reduz.

Tabela 4 – Probabilidade de participar do ProUni - Probit por curso

Variáveis Cursos

Arquitetura Civil Educação Física Pedagogia Produção

Masculino 0,0685 -0,1654* -0,0270 0,4884* -0,1651*

(0,0605) (0,0461) (0,0373) (0,0292) (0,0513)

Empub 1,7135* 1,1722* 1,0560* 0,7697* 1,1707*

(0,0699) (0,0568) (0,0722) (0,0434) (0,0652)

EmPP 0,8175* 0,4299* 0,4488* 0,2938* 0,2950**

(0,1361) (0,1071) (0,1086) (0,0608) (0,1398)

Negro 0,3933* 0,3835* 0,3069* -

0,1735***

(0,1331) (0,0865) (0,0543) (0,0911)

Ntrab 0,3726* 0,2229* 0,2460* 0,2006* 0,1027***

(0,0583) (0,0463) (0,0424) (0,0183) (0,0601)

Idade2 0,2773 0,1384 0,1755* 0,3796* 0,3580

(0,6138) (0,4350) (0,0566) (0,0459) (0,6156)

Idade4 -0,2780* -0,4164* 0,0072 -0,1855* -0,5162*

(0,0869) (0,0623) (0,0496) (0,0167) (0,0645)

Renda10 -0,9504* -0,8989* -

-0,7195* -0,7378*

(0,0859) (0,0631) (0,0492) (0,0635)

Renda30 -1,8035* -1,5682* -1,2281* -1,3303* -1,3886*

(0,1810) (0,1288) (0,2162) (0,1659) (0,1280)

Pais -

-0,2076* -0,2838* -0,0996* -0,1757*

(0,0538) (0,0525) (0,0292) (0,0642)

Sudeste -

-0,1255** -0,1036 0,0609* -0,2491

(0,0532) (0,0856) (0,0167) (0,1942)

Nordeste 0,2350** -0,2559* 0,0222 -

-0,1968

(0,0973) (0,0888) (0,1005) (0,2076)

Sul 0,1091*** -

0,0879 -

-0,1794

(0,0661) (0,0912) (0,2025)

CO 0,5005* 0,1458*** 0,2011** 0,4450* 0,1978

(0,1457) (0,0797) (0,1034) (0,0242) (0,2484)

Norte Categoria Base Categoria Base Categoria Base Categoria Base Categoria Base

Constante -2,1232* -1,3907* -1,8080* -2,0325* -1,1898*

(0,0780) (0,0788) (0,1103) (0,0444) (0,2036)

Observações 5.909 8.330 7.063 51.622 5.772

LR chi2 1.576,93 1.707,82 644,72 2.074,81 1.071,82

Prob > chi2 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000

Pseudo R2 0,3752 0,2763 0,0954 0,0606 0,2315

Fonte: Elaboração própria.

* Significativo a 1%, ** Significativo a 5%, *** Significativo a 10%.

A influência familiar, novamente, apresenta relação negativa com a probabilidade de participar do

ProUni, resultado este que foi estatisticamente significativo para os cursos de Engenharia Civil, Educação

Física, Pedagogia e Engenharia de Produção. A variável de raça apresentou um sinal positivo e foi

estatisticamente significativa para os cursos estudados, assim sendo, indivíduos negros possuem maior

probabilidade de participação no ProUni do que os demais.

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Ademais, para esses cursos, com exceção de Educação Física, quanto mais velho for o aluno,

menor a probabilidade de participação no programa. Portanto, indivíduos com idade entre 30 e 40 anos

possuem menor chance de serem bolsistas do ProUni, este efeito foi estatisticamente significativo.

Enquanto isso, se o indivíduo não trabalha, a chance de participar do ProUni aumenta e é estatisticamente

significativa para todos os cursos examinados.

Esses resultados corroboram com o estudo de Dutra (2016) que, ao analisar os cursos de

Enfermagem, Farmácia e Fisioterapia, apontou que as características que reduzem a probabilidade de

participação no ProUni no ano de 2013 são a idade (quanto mais velho), se o estudante recebe incentivo

dos pais e se tem alguém na família com ensino superior, sendo esta última significativa somente para o

curso de Farmácia.

Novamente realiza-se o pareamento através dos métodos NN, Kernel e Estratificado que

apresentam resultados semelhantes. Verificando que alunos bolsistas do ProUni apresentam notas mais

elevadas quando comparados àqueles que não são contemplados pela bolsa, em todos os cursos

selecionados. Através do método de Kernel, um aluno com bolsa integral no programa apresenta uma

elevação no desempenho em 10,292 pontos comparado com o aluno não participante do curso de

Arquitetura e Urbanismo. Para Engenharia Civil em 8,630eEducação Física em 12,649, Pedagogia de

11,643 e, para Engenharia de Produção em 9,631. Todos os valores são positivos e significativos para os

outros métodos e se encontram na Tabela 5. O menor efeito observado foi no curso de Engenharia Civil e

o maior no de Educação Física.

Tabela 5 - Efeito médio do tratamento no desempenho acadêmico no ano de 2014

Arquitetura e Urbanismo

Tipo de Matching Nº de Tratados Nº de Controle ATT Erro Padrão Estatística t

NN 676 2.848 10,197 0,625 16,327

Kernel 676 4.164 10,292 0,545 18,869

Estratificado 676 4.164 10,386 0,710 14,636

Engenharia Civil

NN 1.017 4.370 9,111 0,675 13,505

Kernel 1.017 7.143 8,630 0,391 22,080

Estratificado 1.017 7.143 9,037 0,420 21,502

Educação Física

NN 1.304 4.454 12,879 0,410 31,430

Kernel 1.304 5.759 12,649 0,419 30,171

Estratificado 1.304 5.759 12,749 0,387 32,966

Pedagogia

NN 5.323 43.653 12,143 0,199 61,132

Kernel 5.323 45.277 11,643 0,203 57,259

Estratificado 5.323 45.277 12,116 0,204 59,288

Engenharia de Produção

NN 796 3.182 10,501 0,512 20,496

Kernel 796 4.883 9,631 0,510 18,880

Estratificado 796 4.883 10,156 0,485 20,919

Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados ENADE/INEP de 2014.

Dessa forma, no geral, verifica-se neste estudo que o ProUni possui impacto positivo no

desempenho acadêmico dos alunos bolsistas concluintes que realizaram o ENADE 2014. Esse resultado

corrobora Lira (2010), que afirma que o ATT é positivo e estatisticamente significativo, portanto, os

alunos que recebem bolsa do ProUni têm desempenho superior comparados aos que não recebem.

5 Considerações Finais

A partir dos microdados do ENADE 2014, este estudo avaliou o impacto de participar do ProUni

sobre o desempenho acadêmico dos alunos concluintes com bolsa integral. Os resultados demonstraram

que tanto na análise para os cursos conjuntamente quanto na verificação por curso (Arquitetura e

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Urbanismo, Engenharia Civil, Educação Física, Pedagogia e Engenharia de Produção) o Programa exerce

uma influência positiva e significativa no desempenho dos bolsistas concluintes através dos três métodos

de pareamento (NN, Kernel e Estratificado).

As características que influenciam positivamente a participação no programa em todos os

formatos de análise são: ensino médio em escola pública, maior parte do ensino médio em escola pública

e ser negro. Este aumento na chance de participação do ProUni dos alunos de escola pública está

fortemente atrelado ao pré-requisito do programa. Já a questão racial, infelizmente, é um ponto delicado

no contexto brasileiro, o acesso ao ensino superior público para os negros ainda é falho e, assim, uma

oportunidade seria o acesso à rede privada financiada pelo governo. Ademais, um resultado importante é

que os indivíduos com menor renda têm maiores chances de participação no ProUni, visto que esta é uma

das metas do programa.

Em síntese, o impacto do ProUni é positivo, ou seja, apresenta evidência de elevação no

desempenho dos alunos concluintes. Mas, apesar do efeito favorável encontrado neste estudo, é

necessário que as autoridades governamentais se esforcem, cada vez mais, para a melhoria da qualidade

do ensino, não apenas aumentando o acesso, como também a qualidade da educação básica, pois ao

verificar as médias de desempenho de todos os alunos (Tabela 1), nota-se que não são tão elevadas,

considerando que a pontuação do ENADE varia de 0 a 100. Os resultados obtidos neste trabalho vão ao

encontro da literatura exposta, reforçando a importância de políticas públicas voltadas ao ensino. Seria

interessante, em pesquisas futuras, a ampliação da análise, tanto a nível dos cursos quanto dos anos.

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DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DOS MUNICÍPIOS DE MÉDIO PORTE DO CEARÁ

NOS ANOS 2000 E 2010

NATANIELE DOS SANTOS ALENCAR

Economista pela Universidade Regional do Cariri (URCA). Mestranda em Economia Rural pela

Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: [email protected]

Telefone: (88) 9 9449-1362

WELLINGTON RIBEIRO JUSTO

Professor associado da Universidade Regional do Cariri (URCA), Professor do Programa de Pós-

graduação em Economia (PPGECON-UFPE), Doutor em Economia pelo Programa de Pós-

graduação em Economia do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (PIMES-UFPE). E-mail:

[email protected]

Telefone: (81) 9 8848-1898.

JAMILY FREIRE GONÇALVES

Economista pela Universidade Regional do Cariri (URCA). E-mail: [email protected]

Telefone: (88) 9 9941-5302

MATHEUS OLIVEIRA DE ALENCAR

Economista pela Universidade Regional do Cariri (URCA). Mestrando em Economia Rural pela

Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: [email protected]

Telefone: (88) 9 8107-0613

WAGNER FERNANDES DE CALDA

Graduando em ciências econômicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA). E-mail:

[email protected]

Telefone: (88) 9 9230-0406

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DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DOS MUNICÍPIOS DE MÉDIO PORTE DO CEARÁ

NOS ANOS 2000 E 2010

RESUMO:

Nas últimas décadas, o avanço no processo de urbanização no Brasil, tem apontado para uma

desconcentração espacial tendo em vista que os municípios de médio porte têm crescido mais que as

grandes metrópoles. Nesse contexto, esse estudo buscou discutir o desenvolvimento econômico dos

municípios de médio porte do Estado do Ceará nos anos 2000 e 2010, a partir de uma análise tabular

descritiva. Para atingir o objetivo proposto, utilizaram-se dados do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE) e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEADATA). Um dos principais

resultados obtidos diz respeito ao crescimento populacional nos municípios, apesar de todos os

municípios estudados terem crescido ao longo dos 10 anos, as cidades de Caucaia, Juazeiro do Norte,

Maracanaú e Sobral são as que mais se destacaram com a maior concentração populacional entre as

cidades médias cearenses. Contudo, todas as cidades médias apresentaram diminuição na taxa de

analfabetismo e um aumento na renda per capita. Já em relação a desigualdade social o índice de Gini

apresentou uma diminuição significativa na maioria das cidades analisadas. Compreende-se que várias

são as mudanças ocorridas recentemente na dinâmica territorial cearense, resultado da interação de

diversos processos de produção do espaço urbano.

Palavras-chaves: Desenvolvimento Econômico; Cidades; Ceará.

ABSTRACT:

In the last decades, the advance in the process of urbanization in Brazil, has pointed to a spatial

deconcentration considering that the municipative municipalities have grown more than the great

metropolis. In this context, this study sought to discuss the economic development of the medium-sized

municipalities of the State of Ceará in the years 2000 and 2010, based on a descriptive tabular analysis.

To reach the proposed objective, data from the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE) and

the Institute of Applied Economic Research (IPEADATA) were used. One of the main results obtained is

related to the population growth in the municipalities, although all the municipalities studied grew over

the 10 years, the cities of Caucaia, Juazeiro do Norte, Maracanaú and Sobral are the ones that stood out

the most with the highest population concentration among medium-sized cities in Ceará. However, all

medium-sized cities showed a decrease in the illiteracy rate and an increase in per capita income.

Regarding social inequality, the Gini index showed a significant decrease in most cities analyzed. It is

understood that several are the recent changes in the territorial dynamics of Ceará, resulting from the

interaction of several processes of production of urban space.

Keywords: Economic development; Cities; Ceará.

1. Introdução

O conceito de desenvolvimento começou a ser delineado no decorrer da década de 1960, em um

momento em que se observava em vários países do mundo, forte crescimento econômico sem que

houvesse necessariamente melhoria nos indicadores sociais, como por exemplo, o nível de pobreza. É

consenso atualmente que o desenvolvimento econômico seja fundamentado sobre três fatores principais:

o crescimento do bem-estar econômico; a diminuição nos níveis de pobreza, desemprego e desigualdades;

e elevação das condições de saúde, nutrição, educação e moradia.

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Nas últimas décadas, no aspecto qualidade de vida, as cidades médias vêm se destacando bastante,

principalmente pelo fato de possuírem mercado de trabalho em expansão, baixo custo de vida, menores

níveis de criminalidade, entre outros fatores positivos, o que têm atraído cada vez mais pessoas, e

consequentemente, novos investimentos industriais e de serviços (SILVA; CALIXTO, 2009).

A migração é um dos fenômenos que afetam a taxa de crescimento das cidades, tendo em vista o

aumento dos investimentos realizados no Estado por investidores de outras regiões brasileiras ou

estrangeiros. Recentemente no estado do Ceará os fluxos migratórios tem sido positivos, notadamente

com a forte contribuição da migração de retorno está ocorrendo reversão dos fluxos migratórios, tais

retornos podem estar ligados ao sucesso com a migração, que possibilita assim a volta da cidade de

origem com melhor capitalização (CAVALCANTE; JUSTO, 2017).

Queiroz e Baeninger (2013, p. 843) ressaltam que as “pesquisas recentes também apontam para os

fluxos contínuos e crescentes das migrações de retorno que se dirigem para o Ceará”. É importante

salientar que as pessoas retornam à região em busca de novas oportunidades de negócios ou emprego nas

indústrias que vão se instalando no Estado e nas obras que são resultados dos investimentos estatais.

Em relação ao retorno para a região, é importante destacar a procura pelas cidades de médio porte,

em busca de melhores condições de vida, principalmente a partir dos anos 2000 (OLIVEIRA;

JANNUZZI, 2005). Essa busca pode ser resultado de situações negativas enfrentadas pelos moradores dos

grandes centros urbanos e pelas situações precárias nas áreas rurais cearenses, pois os médios centros

permitem aos seus moradores menores índices de criminalidade, redução do tempo de locomoção,

menores níveis de poluição atmosférica, menor custo de vida e melhores condições ambientais, sem

reduzir, no entanto, a facilidade e comodidade do acesso a serviços públicos, bem como ao mercado de

bens e serviços privados, que não estão dispostos ou são dispostos de maneira reduzidas nas áreas rurais e

nos pequenos centros urbanos.

Neste contexto, o presente artigo tem como objetivo geral analisar o desenvolvimento econômico

dos municípios de médio porte do Estado do Ceará, mediante comparativo entre os anos 2000 e 2010.

Além disso, buscou-se identificar os aspectos teóricos acerca do desenvolvimento econômico e das

cidades médias no país, no Nordeste e, de forma particular, no Ceará.

Sendo assim, este trabalho insere-se em uma preocupação teórica e empírica que busca contribuir

com a literatura a partir da utilização de dados para o Estado do Ceará, já que estudos desenvolvidos

anteriormente foram realizados nos planos nacional e regional.

Além desta seção introdutória, o presente artigo está estruturado em mais quatro seções. A

segunda seção traz uma breve discussão acerca dos conceitos de desenvolvimento econômico e cidades

médias, na terceira seção apresentam-se a metodologia empregada no estudo, na quarta seção são

demonstrados os resultados obtidos e, por fim, na última seção, apresentam-se as conclusões.

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2. Fundamentos teóricos sobre o desenvolvimento econômico e cidades médias

Segundo Veiga (2005) a discussão teórica para definir o desenvolvimento surgiu após a década de

1960, em uma época de intenso crescimento econômico, que aconteceu na década de 50 em diversos

países. Apesar desse avanço no processo de crescimento, este não estava necessariamente ligado ao

desenvolvimento social dos países, uma vez que crescimento não aumentou o acesso de populações

pobres a bens materiais e culturais, como havia ocorrido nos países até então considerados desenvolvidos.

Crescimento e desenvolvimento não são sinônimos, sendo que vários autores criticam e tentam

diferenciar tais conceitos. Para Bresser-Pereira (2006) o crescimento seria o mero aumento da renda per

capita, já o desenvolvimento está relacionado às transformações sociais e políticas. O desenvolvimento

econômico pode ser entendido com um fenômeno histórico que é caracterizado pelo aumento sustentado

da produtividade ou da renda por habitante, que pode ser acompanhado pelo processo de acumulação de

capital e pela incorporação de progresso técnico.

Para que se possa caracterizar desenvolvimento econômico, é necessário observar ao longo do

tempo três fatores: o crescimento do bem-estar econômico mediante indicadores, como por exemplo,

produto nacional total e produto per capita; diminuição nos níveis de pobreza, desemprego e

desigualdades; e elevação das condições de saúde.

Mediante tais indicadores, pode-se dizer que o desenvolvimento econômico é um processo de

acumulação de capital que incorpora o progresso técnico do trabalho, levando ao aumento da

produtividade, dos salários, e do padrão médio de vida da população.

Este tipo de desenvolvimento supõe uma sociedade capitalista organizada na forma de um estado-

nação onde há empresários e trabalhadores, lucros e salários, acumulação de capital e progresso técnico,

um mercado coordenando ao sistema econômico e um estado regulando esse mercando e

complementando sua ação coordenadora (BRESSER, 2008).

A partir do trabalho de Beltrão Sposito (2006), é possível afirmar que diante de um período em

que ocorrem constantes mudanças e transformações, com a ampliação das possibilidades de

telecomunicações no país, as cidades médias passam a exercer novos papeis e novos fluxos a partir de

relações estabelecidas e compartilhadas com cidades próximas e distantes.

Compreender as regiões e os centros urbanos como reprodução social específica, a partir das

análises sobre a produção de espaços concretos, é importante para obter particularmente suas

determinações históricas. Para que se tenha a estruturação do campo temático dos estudos regionais e

urbanos, para se classificar determinado espaço urbano, é fundamental “analisar o alcance e a esfera de

influência do polo, detectar as interdependências das atividades e as decisões dos agentes econômicos,

mapear a atuação de um arranjo de forças central, dos núcleos de mais alto nível e a repercussão em seus

complementos periféricos” (BRANDÃO, 2007, p. 81).

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Autores como Rigotti e Campos (2009), destacam, a partir da literatura, evidências sobre o papel

das cidades médias em absorver os fluxos migratórios que se direcionam para as grandes metrópoles.

Historicamente, essas cidades assumem esse papel a partir dos anos 1980 e, principalmente após os anos

1990, pois, até os anos 1970, as pessoas saiam de áreas pouco urbanizadas para buscarem melhores

condições de vida nas cidades grandes.

Entre os fatos que contribuíram com o processo de crescimento das cidades brasileiras nos últimos

cem anos, os que mais se destacam e explicam essa dinâmica, são o processo de industrialização e a

expansão da fronteira agrícola. Sendo que são as cidades de porte médio que tem apresentado sinais de

crescimento mais acelerado (JUSTO, 2013).

No que se refere especificamente à região nordestina, no decorrer das quatro últimas décadas, essa

região tem vivenciado um processo de urbanização de rapidez e intensidade significativas, mesmo com

um processo de desenvolvimento social e crescimento econômico ocorrendo de forma descontínua e

heterogênea. Todavia, foi a partir dessa heterogeneidade e descontinuidade que surgiram os novos centros

dinâmicos aos quais se tornaram preferenciais para o destino dos fluxos migratórios (LUBAMBO, et al.

2003).

Nos últimos anos, o Nordeste tem apresentado crescimento econômico acima da média brasileira.

Entretanto, esse crescimento colaborou apenas para recuperar a média histórica de sua participação no

PIB do Brasil. A região Nordeste tem uma população que representa quase 28% do total do País, sendo

que sua participação no PIB nacional é de apenas 13,5%. Em relação ao PIB per capita a média do

Nordeste é apenas 48% da média do Brasil (SOUZA, 2014).

No Ceará, os municípios vêm desenvolvendo políticas econômicas na tentativa de atrair empresas,

ofertando incentivos fiscais e terrenos em distritos industriais com infraestrutura. Nesta perspectiva,

quanto à guerra fiscal, são as cidades médias que apresentam mais vantagens, já que “além dos

incentivos, disponibilizavam meios técnicos mais modernos e eficientes, fundamentais para o

funcionamento de fábricas que têm o centro de comando em outros estados e um mercado internacional

amplo” (COSTA; AMORA, 2009, p. 3-4).

Neste contexto, foram várias as mudanças ocorridas recentemente na dinâmica territorial cearense,

resultado da interação de diversos processos de produção do espaço urbano, como transformações

globais, no que se refere à reestruturação capitalista (HOLANDA, 2011).

No período que antecedeu as intervenções planejadas do Governo Federal para a região Nordeste,

ao final da primeira metade do século XX, a economia cearense apresentava pouca adequação à estrutura

produtiva, nas quais persistiam formas ineficientes de produção voltadas para a produção de artigos

espacialmente concentrados e grosseiros.

A partir de 1990, com a política de atração de indústrias, se origina a chamada “guerra fiscal”

entre os estados brasileiros, que passam a competir abertamente na oferta de infraestrutura e atrativos

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fiscais, instalando-se novas plantas produtivas e compensando o baixo nível de competitividade

mercadológica verificada até então.

O Ceará vem se revelar como um dos estados mais competitivos nessa política, pois no período de

1994 a 1999, 432 novas indústrias tinham manifestado a pretensão de se instalar no estado, o que

resultaria em um investimento de US$4,7 bilhões. Entre estas, 172 já se encontravam implantadas em

sessenta municípios cearenses, com a geração de 37 mil empregos diretos e 120 mil indiretos.

De acordo com Carvalho (2013), essa política de atração favoreceu o crescimento da participação

do Ceará do PIB Industrial do Nordeste, que em 1985 era de 26,8% e em 2000 se elevou para 38,1%.

Provocou também a implantação de novos ramos industriais, como a produção de embalagens e de

material de transporte e a metalurgia, além de aumentar a participação de produtos industrializados na

pauta de exportações, com destaque para tecidos, fios de algodão, calçados, couros e peles.

3. Metodologia

3.1 Área de estudo e fonte dos dados

O presente estudo tem como foco analisar o desenvolvimento econômico dos municípios de médio

porte do Estado do Ceará nos anos 2000 e 2010. Como a definição mais usada para classificar as cidades

médias está baseada no tamanho demográfico, foi utilizado o conceito de Andrade e Serra (2001), que

define cidades médias como centros com população entre 50 mil e 500 mil habitantes.

O Estado do Ceará tem uma área territorial de 148.887,632km², com uma população estimada em

2016 de 8.963.663habitantes (IBGE/ESTADOS, 2017). O Estado é formado por 184 municípios, dos

quais 31 são consideradas cidades médias: Acaraú, Acopiara, Aquiraz, Aracati, Barbalha, Boa Viagem,

Camocim, Canindé, Cascavel, Caucaia, Crateús, Crato, Granja, Horizonte, Icó, Iguatu, Itapipoca, Juazeiro

do Norte, Limoeiro do Norte, Maracanaú, Morada Nova, Pacajus, Pacatuba, Quixadá, Quixeramobim,

Russas, Sobral, Tauá, Tianguá, Trairi e Viçosa do Ceará (IPEADATA, 2016). A partir da tabela 1 é

possível observar as descrições demográficas de cada município no ano de 2010.

Tabela1- Descrições demográficas das cidades médias cearenses do ano de 2010.

Municípios de Médio

Porte

População

Estimada

Área

(km²)

Densidade demográfica

(hab/km²)

Acaraú 57.551 842,497 68,31

Acopiara 51.160 2.265,722 22,58

Aquiraz 72.628 482,578 150,50

Aracati 69.159 1.227,965 56,32

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Barbalha 55.323 569,518 97,14

Boa Viagem 52.498 2.836,196 18,51

Camocim 60.158 1.124,869 53,48

Canindé 74.473 3.218,366 23,14

Cascavel 66.142 837,346 78,99

Caucaia 325.441 1.228,496 264,91

Crateús 72.812 2.985,322 24,39

Crato 121.428 1.176,514 103,21

Granja 52.645 2.696,977 19,52

Horizonte 55.187 159,981 344,96

Icó 65.456 1.871,776 34,97

Iguatu 96.495 1.029,170 93,76

Itapipoca 116.065 1.614,256 71,90

Juazeiro do Norte 249.939 248,831 1.004,45

Limoeiro do Norte 56.264 751,088 74,91

Maracanaú 209.057 106,648 1.960,25

Morada Nova 62.065 2.779,445 22,33

Pacajus 61.838 254,477 243,00

Pacatuba 72.299 131,995 547,74

Quixadá 80.604 2.019,644 39,91

Quixeramobim 71.887 3.275,034 21,95

Russas 69.833 1.590,367 43,91

Sobral 188.233 2.123,849 88,67

Tauá 55.716 4.017,015 13,87

Tianguá 68.892 908,865 75,80

Trairi 51.422 925,688 55,55

Viçosa do Ceará 54.955 1.311,575 41,90

Fonte: Elaboração própria a partir do IBGE/CIDADES.

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As informações das cidades médias são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e

do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEADATA) para os anos 2000 e 2010.

As variáveis utilizadas foram: população total das cidades, que é uma das variáveis utilizadas para

definir cidades médias; a renda per capita já que seu crescimento médio é uma das condições necessárias

para o desenvolvimento; o Índice de Gini; a taxa de analfabetismo das pessoas com 15 anos ou mais; a

esperança de vida ao nascer que segundo a Nova Geografia Econômica – NGE possibilita captar as

condições de saúde da população; e o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM).

3.2 Método de análise

Os meios técnicos utilizados foram o estatístico e o comparativo. Ambos contribuem para uma boa

análise de dados secundários. “O papel do método estatístico é, essencialmente, possibilitar uma

descrição quantitativa da sociedade, considerada como um todo organizado” (PRODANOV; FREITAS,

2013, p.38). “O método comparativo, ao ocupar-se das explicações de fenômenos, permite analisar o dado

concreto, deduzindo elementos constantes, abstratos ou gerais nele presentes” (PRODANOV; FREITAS,

2013, p.38).

Na seção posterior expõem-se os resultados obtidos na pesquisa a partir de uma análise tabular

descritiva.

4. Resultados e discussões

Tendo em vista a nova dinâmica apresentada pela territorial cearense, segundo o IPEIA (2008) é

possível destacar que os anos 2000 foram marcados pelo crescimento populacional das cidades médias

que foi superior ao das grandes cidades.

O gráfico 1 apresenta um comparativo da população das cidades médias cearenses entre os anos

de 2000 e 2010. Apesar de todos terem crescido ao longo dos 10 anos, as cidades de Caucaia, Juazeiro do

Norte, Maracanaú e Sobral, são as que mais se destacam com a maior concentração populacional entre as

cidades médias do estado.

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Gráfico 1 – População total das cidades médias cearenses nos anos de 2000 e 2010

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IPEADATA

No gráfico 2, é possível observar a taxa de crescimento populacional dos municípios de médio

porte no estado do Ceará no período de 2000 à 2010, bem como a taxa de crescimento da região Nordeste

e do Brasil.

Gráfico 2 – Taxa de crescimento populacional entre 2000 e 2010

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IPEADATA

Vale destacar que municípios como Aracati, Iguatu, Limoeiro do Norte e Maracanaú foram os que

apresentaram taxas de crescimento populacional semelhante à do Nordeste e do Brasil, que são bem

próximas entre si. O destaque vai para os municípios Horizonte que apresentam uma taxa de crescimentos

bem superior à do Nordeste e do Brasil. Já os municípios Acopiara, Boa Viagem, Camocim, Canindé,

Crateús, Granja, Icó e Tauá chamam atenção por apresentarem uma taxa de crescimento muito abaixo da

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média regional e nacional, o município de Morada Nova foi o único que apresentou taxa de crescimento

negativa.

Como não existe desenvolvimento sem que a produção e a renda média cresçam. Então o processo

de crescimento da renda por habitante, do produto agregado por habitante ou da produtividade, são

condições essenciais para que haja o desenvolvimento (BRESSER-PEREIRA, 2006).

Segundo Helene (2012) na década de 2000, houve retomada nas taxas de crescimento da renda per

capita e uma melhoria na distribuição de renda. Sendo que o grau de desenvolvimento de um país pode

ser medido pelo PIB per capita, que é obtido a partir da divisão do fluxo de produção anual pelo total da

população. O mesmo trata-se de uma média e esconde as disparidades na distribuição da renda, ou seja,

um país pode ter uma renda per capita elevada e uma distribuição muito desigual dessa renda, como

também pode ter uma renda per capita baixa e uma distribuição de renda que registra pouca disparidade,

logo a partir dele não se tem o registro das diferenças entre ricos e pobres (VIEIRA; ALBERT;

BAGOLIN, 2007).

O nível da renda per capita pode determinar o grau de desenvolvimento humano de uma região,

como também pode ser influenciado por programas sociais. No Brasil, os níveis de renda per capita

dependem tanto do mercado de trabalho como dos rendimentos de transferências previdenciárias e

assistenciais. Em relação aos níveis de renda per capita dos municípios eles são determinados por vários

fatores, sendo que os que mais se destacam são os que dentro de uma dimensão regional, estão ligados a

aspectos educacionais, estruturais e de desempenho da economia (LAZZAROTTO; LIMA, 2008).

Quanto à renda per capita das cidades médias cearenses, no gráfico 3 é possível observar as

rendas per capitas dos municípios corrigidas pelo IPEIADATA para o ano de 2010.

Gráfico 3- Renda per capita das cidades médias cearenses nos anos de 2000 e 2010

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IPEADATA

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A análise possibilita destacar que em 2010 as rendas per capitas dos municípios foram maiores

que as do ano 2000. Tal comportamento também ocorre com as cidades medias nordestina, já que as

mesmas apresentaram no período de 1991 a 2016 uma relação direta entre o crescimento dessas cidades e

a renda per capita (ALENCAR, et al. 2017). Comparando os dois anos analisados, o município de Crato

destaca-se com a maior renda per capita e Granja como o município que teve a menor.

Dentre os indicadores estudados, a análise do Índice de Gini se apresenta como uma medida de

desigualdade de renda. Assim, será exposta uma análise descritiva da situação da concentração de

rendimentos no Ceará, nas cidades médias. A desigualdade de renda brasileira é amplamente discutida no

debate econômico e social, dado seu impacto direto sobre o bem-estar da população, sendo vista como um

dos principais problemas que o país enfrenta na atualidade.

No decorrer dos 10 anos estudados, pode-se perceber que o índice de Gini teve uma redução

significativa para a maioria das cidades médias do estado do Ceará, entretanto, Granja e Tianguá foram às

únicas cidades nas quais o índice cresceu, ou seja, ocorreu um aumento na desigualdade social, como é

possível observar no gráfico 4.

Gráfico 4 – Índice de Gini das cidades médias cearenses nos anos de 2000 e 2010

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IPEADATA

Quanto às taxas de analfabetismos, a partir da literatura sobre educação encontra-se a definição

que uma pessoa é considerada analfabeta absoluta quando sua idade é maior ou igual a 15 anos, e não

sabe ler nem escrever. A taxa de analfabetismo é obtida a partir da razão entre o número de pessoas

analfabetas e o total de habitantes com 15 ou mais anos de idade. No Brasil a baixa escolaridade e as altas

taxas de analfabetismo da população “são reflexos de problemas estruturais históricos, que impediram o

acesso de milhões de pessoas ao sistema público de ensino” (RODRIGUES, et al. 2013, p. 4).

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O gráfico 5 mostra as taxas de analfabetismos das pessoas com 15 anos ou mais, nas cidades

médias cearenses, comparando o ano de 2010 com o ano 2000 fica evidente a redução do analfabetismo

nesses municípios. O município de Granja é o município que apresenta as maiores taxas de

analfabetismos nos anos analisados, sendo que no ano 2000 a mesma foi de 51,43% e em 2010 de

38,57%. No geral as cidades médias cearenses apresentaram no ano de 2010 taxa menores que 40%,

sendo que para o Brasil segundo os dados do Censo Demográfico de 2010 essa taxa é de cerca de 9,6% da

população brasileira. Logo, assim como o estado do Ceará apresenta taxas de analfabetismos mais

elevadas que as do Brasil, evidentemente suas cidades médias também.

Gráfico 5- Taxas de analfabetismos das pessoas com 15 anos ou mais, nas cidades médias cearenses

nos anos de 2000 e 2010

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IPEADATA

A variável esperança de vida ao nascer segundo a Nova Geografia Econômica – NGE possibilita

captar as condições de saúde da população. Quanto à esperança de vida média da população nas cidades

médias nordestinas no ano de 1991, era de 61 anos (ALENCAR, et al. 2017).

No gráfico 6 é possível observar que no decorrer dos 10 anos houve o aumento da esperança de

vida da população cearense. Sobral se destaca com o crescimento de uma maior esperança de vida para

sua população, passando de aproximadamente 68 para 75 anos. A população de Acopiara, Camocim e Icó

apresentaram os menores valores. Quanto à população brasileira, a partir dos dados do IPEIADATA é

possível destacar que no ano de 2000 a esperança de vida da população era de 68,61 anos e em 2010 de

73,94 anos. Logo, cidades como Sobral tem apresentado comportamento semelhante com o que ocorreu

no Brasil.

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Gráfico 6 – Esperança de vida ao nascer nas cidades médias cearenses nos anos de 2000 e 2010

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IPEADATA

Tratando-se do índice de desenvolvimento humano municipal o Brasil tem evoluído nas últimas

décadas, o país apresenta uma evolução de 0,115, entre 2000 e 2010 (PINTO; COSTA; MARQUES,

2013).

Quanto as cidades medias cearenses o gráfico 7 mostra que no ano de 2000 os municípios de

Crato e Maracanaú forma os que apresentaram os maiores índices de desenvolvimento humano

municipal, de aproximadamente 0,57. Já em 2010, a cidade de Crato continua com um dos maiores

índices que é de 0,71, sendo que, comparado a 2010 teve um aumento de 0,14 e, Sobral se destacou nesse

ano com 0,71 aumentando 0,18 comparado ao ano 2000. Um aumento bem maior que o do índice de

Maracanaú. Vale ressaltar a localização geográfica desses municípios que destacaram-se com os melhores

índices, já que são neles que estão os maiores desenvolvimento humanos dos municípios estudados, os

mesmos estão localizados em regiões metropolitanas. Tratando-se dos menores índices, foram os

municípios de Granja e Viçosa do Ceará que apresentaram para os dois anos estudados.

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Gráfico 7– IDHM das cidades médias cearenses em 2000 e 2010

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do IPEADATA.

5. Considerações finais

No decorrer dos 10 anos estudados, os municípios de médio porte cearenses apresentaram

dinâmicas de desenvolvimento positivas para todas as variáveis analisadas. Pois em sua maioria houve

uma elevação nas condições de desenvolvimento e na oferta de melhores condições de vida para

população. Ou seja, um aumento considerável na dinâmica de crescimento populacional, na renda per

capita e na esperança de vida.

As cidades médias que obtiveram maior destaque na variável de crescimento populacional nos 10

anos analisados, foram as cidades de Caucaia, Juazeiro do Norte, Maracanaú e Sobral, vale ressaltar que

as maiores concentrações populacionais estão localizadas em regiões metropolitanas. Em relação às

menores taxas de crescimento se destacam os municípios de Boa Viagem, Crateús, Granja, Icó e Morada

Nova. Contudo, as melhores taxas foram do município de Horizonte, que obteve um aumento

considerável, que está muito além da média nacional.

Os municípios que apresentaram maiores rendas per capita tendem a terem melhores expectativas

de vida, baixo nível de analfabetismo e também têm níveis mais baixos de desigualdade, que foram

medidos pelo coeficiente de Gini. As cidades médias cearenses que se destacaram com um índice positivo

em relação a diminuição da desigualdade, foram Horizonte, Maracanaú e Pacatuba. Porém, os municípios

de Granja e Tianguá foram os únicos que apresentaram um aumento da desigualdade social.

Diante desse cenário de mudanças e avanços vividos nos últimos anos, esse trabalho identificou

um aumento significativo da renda per capita de todas as cidades médias cearenses, além da diminuição

da taxa de analfabetismo, aumento considerável na esperança de vida e aumento do IDHM. Contudo, vale

ressaltar que mesmo diante de tantos resultados positivos, algumas cidades médias cearenses

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apresentaram determinados índices negativos nas variáveis estudadas, entendendo-se que ainda existe

abertura para a implantação de mais políticas públicas que melhorem os resultados.

Logo, este trabalho percorreu um empreendimento teórico e empírico que buscou contribuir com a

literatura a partir da utilização de dados para o Estado do Ceará, já que estudos desenvolvidos

anteriormente foram voltados para o país, outras regiões, estados ou cidades.

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85

ANÁLISE DAS PAUTAS DE EXPORTAÇÃO E IMPORTAÇÃO DA PARAÍBA POR MEIO DA

COMPETITIVIDADE, CONCENTRAÇÃO E DOS FLUXOS BILATERAIS NO PERÍODO

ENTRE 2000 E 2017

KASSIA LARISSA ABRANTES ALVES

Graduanda em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e

voluntária no Programa Institucional Voluntário de Iniciação Cientifica (PIVIC). E-mail:

[email protected]

SORAIA SANTOS DA SILVA

Professora Drª e Pesquisadora do Curso de Ciências Econômicas pela Universidade Federal de

Campina Grande (UFCG). E-mail: [email protected]

MARIA ISADORA GOMES DE PINHO

Graduanda em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA). E-mail:

[email protected]/ Contato: (088) 99949-9919

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86

ANÁLISE DAS PAUTAS DE EXPORTAÇÃO E IMPORTAÇÃO DA PARAÍBA POR MEIO DA

COMPETITIVIDADE, CONCENTRAÇÃO E DOS FLUXOS BILATERAIS NO PERÍODO

ENTRE 2000 E 2017

RESUMO: A pesquisa tem como objetivo principal analisar o padrão de comércio por meio da

competitividade das exportações e da concentração da pauta de exportação e importação do estado da

Paraíba no período de 2000 a 2017, bem como investigar a intensidade de suas relações com seus

parceiros comerciais. A metodologia consistiu no cálculo do Índice de Vantagem Comparativa (VCR) nas

versões propostas por Balassa (1965, 1979) e Laursen (1998), da Taxa de Cobertura (TC), do Índice de

Herfindall-Hirschmann (IHH) e do Índice de Intensidade de Comércio (IIC), com dados do comércio

exterior disponibilizados pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC). Os

resultados obtidos para o cálculo do VCR mostraram que a Paraíba apresentou ganhos de vantagem

comparativa nos produtos calçados, sucos, granito, peixes e álcool, que também foram classificados como

pontos fortes da economia paraibana. O grau de concentração das pautas de exportação apontou que a

pauta de exportação é concentrada em poucos produtos. Em contrapartida, a pauta de importação é

bastante variada. Em termos de destino das exportações, observou-se que a relação comercial entre a

Paraíba e a França vem aumentando no período analisado. Já, as importações da Paraíba mostraram um

crescimento na participação das relações entre Paraíba e Argentina. O estado apresentou intensidade de

comércio com os Estados Unidos, a França, a Espanha, o Paraguai e Portugal nas exportações e com os

Estados Unidos, Alemanha, Itália, França, Espanha, Argentina, China e Uruguai nas importações.

Verificou-se também que as exportações paraibanas estão concentradas em poucas cidades e poucas

empresas.

Palavras-chave: Paraíba. Padrão de Comércio. Competitividade. Concentração.

ANALYSIS OF PARAIBAL EXPORT AND IMPORTATION GUIDELINES BY

COMPETITIVENESS, CONCENTRATION AND BILATERAL FLOWS IN THE PERIOD

BETWEEN 2000 AND 2017

ABSTRACT: The main objective of the research is to analyze the pattern of trade through the

competitiveness of exports and the concentration of the export and import tariff of the State of Paraíba

from 2000 to 2017, as well as to investigate some characteristics of its bilateral trade relations. The

methodology consisted in calculating the Comparative Advantage Index in the versions proposed by

Balassa (1965, 1979) and Laursen (1998), the Coverage Rate, the Herfindall-Hirschmann Index of

bilateral flows and the Trade Intensity Index, with foreign trade data made available by the MDIC. The

results obtained for the Comparative Advantage Index calculation showed that Paraíba presented gains of

comparative advantage in shoes, juice, granite, fish and alcohol products, which were also classified as

strengths of the Paraíba economy. The degree of concentration of the export and import tariffs indicated

that the export tariff is concentrated. On the other hand, the import tariff is quite varied. In terms of

destination of exports, it was observed that the commercial relationship between Paraíba and France has

been increasing in the analyzed period. Already, the imports from Paraíba showed an increase in the

participation of the relations between Paraíba and Argentina. The state showed intense trade with the

United States, France, Spain, Paraguay and Portugal in exports and with the United States, Germany,

Italy, France, Spain, Argentina, China and Uruguay on imports. It was also verified that the exports of

Paraíba are concentrated in few cities and in few companies.

Key words: Paraíba. Standard of Commerce. Competitiveness. Concentration.

1. INTRODUÇÃO

A análise da competitividade das exportações de um estado permite identificar pontos fortes na

economia ou mercados potenciais para investimentos na produção e elaboração de estratégias de

intensificação no comércio internacional. Além disso, a literatura empírica chama a atenção também aos

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87

aspectos relacionados à concentração nas pautas de exportação e de importação. Uma pauta comercial

diversificada, tanto em termos de tipos de produtos e de mercados de destino das exportações ou de

origem das importações, possibilita manter uma estabilidade na receita e despesas com divisas e uma

menor vulnerabilidade às variações de mercados específicos.

O estado da Paraíba exporta e importa produtos manufaturados. As exportações estão

concentradas em bens de consumo não duráveis, enquanto que as importações se concentram em bens

intermediários e bens de capital. Um grande desafio para o estado é intensificar e manter suas relações

comerciais com o resto do mundo, pois o mercado internacional está cada vez mais competitivo. A

Paraíba sofre com a concorrência na exportação de bens, que também fazem parte da pauta de exportação

de outros estados da região e do Brasil, como é o caso do estado do Ceará, que também é um potencial

exportador da mercadoria calçados.

A presente pesquisa tem por objetivo principal analisar o padrão de comércio por meio da

competitividade das exportações e da concentração da pauta de exportação e importação do estado da

Paraíba no período de 2000 a 2017, bem como investigar algumas características das relações comerciais

bilaterais do estado. Para isso, foram calculados os Índices de Vantagem Comparativa (VCR) nas versões

propostas por Balassa (1965, 1979) e Laursen (1998), a Taxa de Cobertura (TC), o Índice de Herfindall-

Hirschmann (IHH), além da análise de fluxos bilaterais e do Índice de Intensidade de Comércio (IIC),

com dados do comércio exterior disponibilizados pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e

Serviços (MDIC).

A análise do comportamento das relações comerciais da Paraíba fornece um conjunto de

informações, que possibilita a compreensão da dinâmica e do funcionamento das relações de comércio

exterior no estado e, com isso, viabiliza a formulação de políticas macroeconômicas e regionais que

promovam o desenvolvimento econômico local e contribuam também para a Região Nordeste. Além do

desenvolvimento econômico, a inserção de um estado no comércio internacional se reverte em benefícios

sociais como o aumento da renda e a implantação de empregos, assegurando a sociedade melhorias no

bem-estar.

O trabalho esta dividido, além dessa introdução, em mais quatro seções. Na segunda seção, faz-se

uma análise da balança comercial da Paraíba por meio dos principais produtos exportados e importados.

Na terceira seção, descreve-se a metodologia utilizada pelo artigo. Na quarta seção, analisa-se os

resultados da pesquisa com base na identificação dos produtos que compõem os pontos fortes na

economia do estado e a intensidade de comércio da Paraíba com seus principais parceiros comerciais. Por

fim, têm-se as conclusões e as referências.

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88

2. PRINCIPAIS PRODUTOS EXPORTADOS E IMPORTADOS PELA PARAÍBA

A economia paraibana é caracterizada pela baixa inserção no comércio internacional apresentando

um coeficiente de abertura comercial em 5% entre 2000 e 2014. As exportações paraibanas são pouco

representativas nas relações comerciais do Brasil e do Nordeste com o resto do mundo. Em termos de

participação, as exportações do estado foram de 0,13% das exportações do Brasil e de 1,66% das

exportações da Região Nordeste entre 2000 e 2017. Além disso, o estado apresenta também uma

participação no Produto Interno Bruto (PIB) relativamente baixa, que foi equivalente a 0,84% entre 2000

e 2012 (FONSECA, SANTOS E MACHADO NETO, 2015).

Entre 2000 e 2017, as exportações do estado da Paraíba cresceram em 81,31%. Já, as exportações

do Nordeste apresentaram um crescimento de 316,31% maior relativo ao Brasil que registrou um

crescimento de 295,04%. No que tange ao comportamento das importações, a Paraíba mostrou um

crescimento de 170,37%. Enquanto as importações do Nordeste cresceram em 306,58% e as importações

do Brasil cresceram em 169,62%. Isso evidencia que a Paraíba segue uma trajetória diferente da nacional,

cujas importações foram superiores as exportações, o que resultou num déficit consecutivo da balança

comercial paraibana desde 2007.

Fonseca, Santos e Machado Neto (2015) apontam que a produção do estado apresenta

disponibilidade de recursos naturais e de mão de obra embora relativamente menos qualificada. Os

autores destacam ainda que na década de 90, o principal produto da pauta de exportação era os artefatos

têxteis que representavam mais de 70% do volume exportado, mas, a partir dos anos 2000 houve uma

maior variedade da pauta com a presença de novos produtos. Os produtos básicos e manufaturados

apresentaram elevada participação na pauta de exportação do estado. E a pauta de importação teve uma

participação maior de bens de capital e de insumos industriais, o que evidencia a demanda da atividade

produtiva do estado. A Tabela 1 mostra a participação dos principais produtos exportados pela Paraíba

para os anos de 2000 e 2017.

PARTICIPAÇÃO DOS PRINCIPAIS PRODUTOS EXPORTADOS

Produto

2000 2017 2000-2017

Exportação

US$

Part.

(%)

Exportação

US$

Part.

(%)

Taxa de

Crescimento

Calçados 17.004.646 21,91 74.781.308 53,14 142,54

Açúcares 3.731.781 4,81 23.248.363 16,52 243,45

Minérios 30 0,00 8.223.168 5,84 0,00

Sucos 1.060.599 1,37 9.946.197 7,07 416,06

Frutas 225.143 0,29 4.086.592 2,90 900,00

Granito 993.246 1,28 6.181.852 4,39 242,97

Artefatos têxteis 14.345.307 18,48 499.088 0,35 -98,11

Cordéis de sisal 8.915.870 11,49 2.808.424 2,00 -82,59

Peixes 14.481.408 6,81 1.266.588 0,00 -100,00

Álcool 6.773.335 8,73 144.896 0,00 -100,00

Tabela 1. Principais produtos exportados entre 2000 e 2017

Fonte: MDIC (2018). Elaboração própria.

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De acordo com a Tabela 1, os calçados corresponderam a 21,91% das exportações totais do

estado, seguido por artefatos têxteis, que representaram 18,48% em 2000. Em 2017, as exportações de

calçados apresentaram um aumento de 142,54%, quando se compara 2000 e 2017. Porém, no início do

período, as exportações dessa mercadoria eram voltadas a produção de calçados em couro natural, pórem,

a partir de 2007, a produção de calçados de borracha se tornou expressiva dentro do estado. Esse

crescimento pode ter sido motivado por investimentos em inovação e tecnologia, que proporcionaram

adequação do produto às exigências do mercado internacional, como destaca Barbosa e Temoche (2006).

Já, os artefatos têxteis decresceram em 98,11% entre 2000 e 2017. Os demais produtos com uma

participação ainda relativamente expressiva em 2000 foram: cordéis de sisal (11,49%), álcool (8,73%) e

peixes (6,81%). Em 2017, foi possível observar modificações na pauta de exportação com a inserção de

minérios (5,84%) e o aumento da participação de açucares (16,52%), sucos (7,07%) e granito (4,39%).

Os principais produtos da pauta de importação da Paraíba para o período estão expressos na

Tabela 2. Nos anos 2000, a pauta de importação do estado estava concentrada no produto algodão que

representou uma expressiva participação de 33,86%, seguido do produto cereais, cuja participação foi de

8,48% no ano.

PARTICIPAÇÃO DOS PRINCIPAIS PRODUTOS IMPORTADOS

Produto

2000 2017 2000-2017

Exportação

US$

Part.

(%)

Exportação

US$

Part.

(%)

Taxa de

Crescimento

Cereais 12.741.202 8,48 59.713.147 14,70 73,35

Malte 7.084.880 4,72 41.308.158 10,17 115,47

Calçados 462.400 0,31 28.346.456 6,98 2151,61

Borrachas 1.484.521 0,99 47.222.007 11,62 1073,74

Combustíveis minerais 3.599.844 2,40 45.844.964 11,29 370,42

Algodão 50.879.616 33,86 9.991.890 2,46 -92,73

Reatores nucleares 34.341.818 0,23 35.183.487 8,66 3665,22

Carnes - 0,00 5.292.515 1,30 0,00

Filamentos sintéticos 3.677.724 2,45 9.881.330 2,43 -0,82

Alumínio 153.840 0,10 5.081.806 1,25 1150,00

Em 2017, as importações de algodão decresceram em 92,73%, registrando no ano uma pequena

participação de 2,46% no total do montante importado pelo estado. Já, os cereais apresentaram um

crescimento de 73,35%, quando se compara 2017 com 2000. Essa mercadoria tornou-se o principal

produto importado da pauta. Em 2017, a classificação da pauta de importação foi a seguinte: cereais

(14,70%), borrachas (11,62%), combustíveis minerais (11,29%), malte (10,17%), reatores nucleares

(8,66%), calçados (6,98%), algodão (2,46%), filamentos sintéticos (2,43%), carnes (2,43%) e alumínio

(1,25%).

Relativo ao destino, as exportações paraibanas são destinadas para o mundo inteiro. Os calçados

ganharam os mercados da Argentina e dos Estados Unidos, que junto com a China são os principais

parceiros comerciais do estado. Os artefatos têxteis são comercializados com os Estados Unidos e o

Tabela 2. Principais produtos importados entre 2000 e 2017

Fonte: MDIC (2018). Elaboração própria.

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Uruguai, as frutas (especificamente, o mamão) são destinadas a Portugal, Espanha e Alemanha e o granito

é exportado principalmente para a China.

3. METODOLOGIA

A metodologia utilizou as informações sobre a balança comercial da Paraíba no período de 2000 a

2017. A fonte de dados foi a Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) do Ministério da Indústria e

Comércio Exterior (MIDIC). A desagregação dos fluxos comerciais para os produtos específicos foi feita

seguindo a Nomenclatura Comum do MERCOSUL (NCM) com dois dígitos. Foram selecionados os dez

principais produtos exportados, conforme sua participação na pauta de exportação, para a investigação da

competitividade8. Para o estudo da concentração das pautas, foram selecionados trinta e nove (39)

produtos da pauta de exportação e trinta e dois (32) produtos da pauta de importação do ano de 2017.

Quadro 1. Desagregação dos fluxos comerciais – (NCM): Principais produtos exportados pela

Paraíba entre 2000-2017 CAPÍTULO NOMECLATURA

64 Calçados, polainas e artefatos semelhantes; suas partes Calçados

17 Açúcares e produtos de confeitaria. Açúcares

26 Minérios, escórias e cinzas. Minérios

20 Preparações de produtos hortícolas, de frutas ou de outras partes de

plantas.

Sucos

08 Frutas; cascas de frutos cítricos e de melões. Frutas

25 Sal; enxofre; terras e pedras; gesso, cal e cimento. Granito

63 Outros artefatos têxteis confeccionados; sortidos; artefatos de matérias

têxteis, calçados, chapéus e artefatos de uso semelhante, usados; trapos.

Artefatos têxteis

56 Pastas (ouates), feltros e falsos tecidos; fios especiais; cordéis, cordas e

cabos; artigos de cordoaria

Cordéis de sisal

03 Peixes e crustáceos, moluscos e outros invertebrados aquáticos Peixes

22 Bebidas, líquidos alcoólicos e vinagres. Álcool

Fonte: MDIC (2018).

Segundo Maia e Barca (2013), os índices de vantagem comparativa revelada descrevem os

padrões de comércio que estão tendo lugar na economia, mas, eles não permitem dizer se esses padrões

são ótimos ou não. O índice de Vantagem Comparativa Revelada (VCR) apresentado por Balassa (1979)

é descrito pela Equação 1:

100*ii

ii

MX

MXVCR

(1)

onde iX é o valor das exportações do estado, iM é o valor das importações do estado e i é o produto. A

interpretação do resultado deste índice está no intervalo de [-100; +100]. Assim, quanto mais próximo de

+100 for o valor ie , maior é a vantagem comparativa revelada do estado para aquele produto e isto

significa que não há importações. Se o valor do ie for mais próximo de -100, compreende-se que não há

vantagens comparativas para aquele produto e que não existem exportações.

8 Ver Quadro 1.

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Balassa (1979) apresentou outra versão do índice de VCR que calcula a vantagem competitiva de

um produto tomando como base o market share. Este índice calcula a vantagem competitiva de um estado

em relação a uma região e pode ser calculado da seguinte forma:

XX

XXIVCR

i

jij

/

/ (2)

onde ijX são as exportações do produto i pelo estado j, jX são as exportações totais realizadas pelo

estado j, iX são as exportações do produto i na região e X são as exportações regionais totais. Se o

resultado encontrado for maior que um, o estado possui vantagem comparativa, se for menor que um, o

estado não possuí vantagem comparativa e, se for igual a um significa que as exportações do setor

cresceram na mesma proporção que o crescimento regional.

Laursen (1998) propõe outro método para definir as VCR. O autor argumenta que a medida de

Balassa (1979) apresenta amplitudes assimétricas, onde o VCR varia de um e infinito. Entretanto, o VCR

descrito em Laursen (1998) foi normalizado para variar entre zero e um. Este pode ser obtido através na

Equação 3:

1

1

ij

ij

ijVCR

VCRVCRS (3)

onde o ijVCR é a vantagem comparativa revelada do produto i do estado j. Nesse caso, se ijVCRS variar

entre zero e um, diz-se que o estado tem vantagem comparativa naquele produto. Se ijVCRS for igual à

zero, tem a mesma competitividade média dos demais exportadores, e se variar entre zero e menos um,

tem desvantagem comparativa.

A Taxa de Cobertura (TC) foi calculada para complementar o indicador de VCR, e pode ser

definido como sendo a razão entre o valor das exportações e importações de um dado produto em cada

período de tempo (Carvalho e Araújo, 2008), sua fórmula é dada por:

jt

jt

jt

M

XTC

(4)

onde jtTC é a taxa de cobertura do j-ésimo produto no t-ésimo período, j

tX representa o valor das

exportações do estado para o j-ésimo produto e jtM corresponde ao valor das importações do estado para

o j-ésimo produto. Segundo Hidalgo (1993) os produtos que, simultaneamente, apresentarem os valores

do VCR e TC maiores que um, constituem os pontos fortes no comércio exterior do estado. Por outro

lado, os produtos que, simultaneamente, apresentarem os valores do VCR e TC menores que um são

considerados os pontos fracos do comércio exterior do estado.

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O grau de concentração ou diversificação de produtos transacionados nas pautas de exportação e

importação foi obtido por meio do índice Herfindahl-Hirschman, sua forma de cálculo pode ser feita de

acordo com a equação abaixo:

2

1

i

i

X

xIHH (5)

onde iX / X é a razão entre o valor exportado (importado) do produto i sobre as exportações

(importações) totais do estado num dado período de tempo e n é o número de produtos. No Quadro 2,

tem-se a definição dos padrões do grau de concentração do índice HH elaborada por Rezende (1994).

Quadro 2 – Padrões do grau de concentração pelo Índice HH

HHI Classificação

Inferior a 0,1 Pouco concentrada

Entre 0,1 e 0,18 Concentração moderada

Superior a 0,18 Muito concentrada

Fonte: Rezende (1994)

A metodologia aborda ainda a análise dos fluxos bilaterais de comércio por meio da identificação

da importância relativa de cada um dos principais parceiros comerciais nas exportações e nas importações

do estado da Paraíba. Isso pode ser medindo pelo seguinte indicador:

100*X

XPCx

j (6)

onde jX são as exportações do estado para o país j. O subscrito j representa o país que a Paraíba possui

relações comerciais e X representa as exportações totais do estado. Quanto maior for esse indicador,

maior é a importância relativa do destino j das exportações do estado. Esse indicador será calculado

analogamente para o fluxo bilateral das importações, isto é, a importância tanto dos destinos das

exportações da Paraíba quanto como origem dos produtos importados pelo Estado.

Ainda analisando os fluxos bilaterais, a intensidade do comércio bilateral pode ser obtida por meio

do cálculo do Índice de Intensidade de Comércio (IIC), que é descrito como:

/w

wj

i

ij

X

X

X

X

IIC (7)

onde ijX são as exportações do estado i para o país j, iX são as exportações totais do estado i, wjX são as

exportações da região (w) para o país j e wX são as exportações totais da região para o mundo. Quando o

valor do índice for maior que um, indica uma relação comercial mais intensa entre os países i e j que entre

o país j e o total mundial (BAUMANN, 2010).

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4. ANÁLISE DAS PAUTAS DE EXPOTAÇÃO E DE IMPORTAÇÃO DO ESTADO DA

PARAÍBA DE 2000 A 2017

Os indicadores de competitividade permitem descrever o padrão de comércio de uma região,

conforme as vantagens comparativas. Ou seja, identifica os bens comercializados pela região, que

mostram potencial competitivo no mercado internacional. Na Tabela 3, podem-se observar os valores

obtidos pelo índice de Vantagem Comparativa Revelada (VCR). Verifica-se que a Paraíba apresentou

vantagem comparativa no comércio dos principais produtos exportados no período de 2000 a 2017, porém

o produto sucos foi o único que apresentou vantagem durante todo o período analisado.

Tabela 3. Índice de Vantagem Comparativa Revelada (VCR)

Ano Calçados Açúcares Minérios Sucos Frutas Granito Artefatos

Têxteis

Cordéis

de

sisal

Peixes Álcool

2000 94,71 100,00 100,00 100,00 100,00 -10,40 100,00 100,00 93,74 5,54

2001 97,68 100,00 100,00 100,00 100,00 -8,70 100,00 100,00 88,55 41,45

2002 95,39 100,00 100,00 94,13 77,55 66,33 100,00 100,00 94,03 76,15

2003 96,42 100,00 100,00 99,57 73,39 54,49 100,00 100,00 98,39 90,17

2004 96,99 100,00 100,00 100,00 100,00 80,84 100,00 100,00 98,98 89,97

2005 93,42 100,00 100,00 95,76 100,00 73,32 100,00 100,00 100,00 93,18

2006 53,09 100,00 100,00 65,89 100,00 95,60 100,00 100,00 90,18 81,25

2007 28,14 100,00 100,00 96,46 100,00 70,84 100,00 100,00 82,39 78,90

2008 26,53 100,00 100,00 95,72 100,00 71,80 100,00 100,00 84,04 54,98

2009 20,10 100,00 100,00 98,75 100,00 -13,56 100,00 100,00 11,54 31,65

2010 20,60 100,00 100,00 98,73 69,57 -16,47 100,00 100,00 -100,00 41,57

2011 13,46 100,00 100,00 94,70 3,91 -57,38 100,00 100,00 -100,00 -79,00

2012 -2,49 100,00 100,00 59,32 3,12 -42,35 100,00 100,00 -100,00 12,70

2013 -11,23 100,00 100,00 94,92 50,81 -4,53 100,00 100,00 -100,00 -27,06

2014 -14,21 100,00 100,00 84,00 -2,73 -3,48 100,00 100,00 -100,00 -49,77

2015 0,06 100,00 100,00 47,46 20,35 12,75 100,00 100,00 83,83 59,32

2016 22,06 100,00 100,00 51,13 29,23 17,10 100,00 100,00 -73,03 36,27

2017 45,03 100,00 100,00 54,77 24,50 52,60 100,00 100,00 -71,53 -90,78

Fonte: MDIC (2018). Elaborado pelos autores

Para os calçados, registrou-se desvantagem apenas entre os anos de 2012 a 2014. As frutas

mostraram vantagem comparativa em todos os anos, exceto em 2014. O granito foi o produto que

apresentou desvantagem no maior período de tempo. Os peixes não apresentaram participação nas

exportações da Paraíba entre os anos de 2010 a 2014, logo o VCR equivaleu a -100 o que marca a

ausência de exportações. Em 2015, o estado volta a exportar o produto, mas, entre 2016 e 2017, a

participação do produto foi relativamente pequena sobre as exportações totais do estado, assim o VCR

apresentou desvantagem nesses anos. O álcool apresentou vantagem comparativa entre 2000 e 2010 e, em

seguida, apresenta um comportamento instável na pauta de exportação, o que justifica a desvantagem

obtida nos anos de 2011 a 2017.

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Houve vantagem comparativa para os produtos açucares, minérios, artefatos têxteis e cordéis de

sisal, apesar da ausência de importações durante o período analisado. Em termos médios, os valores

obtidos pelo VCR foram: calçados (43,10), sucos (85,07), frutas (63,87), granito (24,38), peixes (15,62) e

álcool (30,36).

Balassa (1979) apresentou outra versão do índice de VCR que calcula a vantagem competitiva de

um produto tomando como base o market share. Na Tabela 4, apresenta-se os resultados obtidos pelo

índice de Vantagem Comparativa Revelada (IVCR). Observa-se que, dos principais produtos exportados,

os calçados, o granito e os cordéis de sisal apresentaram vantagem comparativa para todos os anos

analisados. Os artefatos têxteis de 2000 a 2009 apresentaram vantagem comparativa, mas, o produto

reduziu drasticamente sua participação nas exportações do estado da Paraíba, a partir de 2010. O álcool

apresentou vantagem comparativa, exceto em alguns anos de 2004 a 2017.

Tabela 4. Índice de Vantagem Comparativa Revelada (IVCR)

Ano Calçados Açúcares Minérios Sucos Frutas Granito Artefatos

Têxteis

Cordéis

de

sisal

Peixes Álcool

2000 8,66 0,75 - 2,68 0,06 1,41 46,66 9,90 5,56 33,13

2001 7,71 0,29 - 3,46 0,13 1,31 38,26 8,72 3,99 27,48

2002 6,36 0,30 0,00 0,67 0,04 11,84 39,44 6,53 2,56 8,91

2003 5,37 0,29 0,00 0,25 0,08 7,49 35,10 1,55 2,20 10,24

2004 5,96 0,65 0,00 5,80 0,11 16,46 48,79 4,80 1,72 -

2005 6,50 0,58 0,19 4,58 0,06 24,06 45,13 8,71 1,53 -

2006 8,88 1,22 0,38 0,40 0,07 17,84 47,76 9,20 1,15 2,82

2007 6,86 0,98 0,09 1,81 0,12 15,85 53,62 2,97 0,79 3,47

2008 10,81 0,68 0,21 2,28 0,30 6,14 67,13 9,72 0,39 1,46

2009 10,83 0,84 1,40 3,66 0,37 3,47 73,05 3,10 0,21 1,16

2010 10,55 2,20 0,18 1,93 0,38 5,05 - 7,31 0,00 4,02

2011 14,61 3,64 0,98 1,82 0,39 5,01 - 7,53 0,00 7,24

2012 17,54 3,90 6,46 0,81 0,44 24,53 - 5,83 0,00 26,84

2013 20,80 2,04 25,05 6,90 0,82 31,20 - 7,03 0,00 28,93

2014 19,26 0,75 17,77 19,99 0,95 15,77 - 3,02 0,00 21,20

2015 22,42 1,52 2,06 8,11 0,98 17,69 - 2,77 4,12 30,25

2016 17,99 1,21 - 6,71 0,74 4,89 - 8,62 0,45 -

2017 20,43 4,45 40,76 9,84 0,75 4,88 - 9,03 2,12 -

Fonte: MDIC (2018). Elaborado pelos autores

As frutas apresentaram desvantagem durante todo o período analisado. Açucares e minérios

registraram desvantagem no maior período de tempo e sucos e peixes apresentaram desvantagem em

períodos pontuais nos anos de análise. Em termos médios, os produtos com vantagem competitiva,

segundo o IVCR, foram: calçados (12,31), açucares (1,46), minérios (6,37), sucos (4,54), frutas (0,38),

granito (11,94), artefatos têxteis (49,49), cordéis de sisal (6,46), peixes (1,49) e álcool (14,80).

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Relativo aos dois métodos acima utilizados, percebe-se uma grande variação nos valores do índice

de vantagem comparativa revelada, o que dificulta a comparação entre os produtos. Devido a isso, foi

utilizado o índice de vantagem comparativa revelada simétrica, desenvolvido por Laursen (1998). Na

Tabela 5, observa-se os valores obtidos pelo índice de Vantagem Comparativa Revelada (VCRS).

Tabela 5. Índice de Vantagem Comparativa Simétrica (VCRS)

Ano Calçados Açúcares Minérios Sucos Frutas Granito Artefatos

Têxteis

Cordéis

de

sisal

Peixes Álcool

2000 0,79 -0,14 - 0,46 -0,89 0,17 0,96 0,82 0,70 0,94

2001 0,77 -0,55 - 0,55 -0,77 0,13 0,95 0,79 0,60 0,93

2002 0,73 -0,53 -1,00 -0,19 -0,92 0,84 0,95 0,73 0,44 0,80

2003 0,69 -0,55 -1,00 -0,60 -0,86 0,76 0,94 0,22 0,38 0,82

2004 0,71 -0,21 -1,00 0,71 -0,81 0,89 0,96 0,66 0,26 -

2005 0,73 -0,27 -0,68 0,64 -0,88 0,92 0,96 0,79 0,21 -

2006 0,80 0,10 -0,45 -0,43 -0,88 0,89 0,96 0,80 0,07 0,48

2007 0,75 -0,01 -0,84 0,29 -0,79 0,88 0,96 0,50 -0,12 0,55

2008 0,83 -0,19 -0,66 0,39 -0,53 0,72 0,97 0,81 -0,44 0,19

2009 0,83 -0,09 0,17 0,57 -0,46 0,55 0,97 0,51 -0,65 0,07

2010 0,83 0,38 -0,69 0,32 -0,45 0,67 - 0,76 -1,00 0,60

2011 0,87 0,57 -0,01 0,29 -0,44 0,67 - 0,77 -1,00 0,76

2012 0,89 0,59 0,73 -0,11 -0,39 0,92 - 0,71 -1,00 0,93

2013 0,91 0,34 0,92 0,75 -0,10 0,94 - 0,75 -1,00 0,93

2014 0,90 -0,14 0,89 0,90 -0,03 0,88 - 0,50 -1,00 0,91

2015 0,91 0,21 0,35 0,78 -0,01 0,89 - 0,47 0,61 0,94

2016 0,89 0,10 - 0,74 -0,15 0,66 - 0,79 -0,38 -

2017 0,91 0,63 0,95 0,82 -0,14 0,66 - 0,80 0,36 -

Fonte: MDIC (2018). Elaborado pelos autores

A Tabela 5 mostra que a Paraíba exibiu vantagem comparativa revelada simétrica em todo o

período para calçados e granito, obtendo médias de 0,82 e 0,72, respectivamente. Os cordéis de sisal

apesar de sofrerem com a forte concorrência das exportações do estado da Bahia também apresentaram

vantagem comparativa nas exportações da Paraíba, entre 2000 e 2017, cujo valor médio foi de 0,68. De

forma semelhante aos resultados obtidos pelo IVCR, as frutas apresentaram desvantagem comparativa

revelada em todos os anos analisados. Açucares, peixes e minérios registraram desvantagem no maior

período de tempo. Álcool, sucos e artefatos têxteis apresentaram vantagem comparativa revelada na maior

parte do período.

A taxa de cobertura foi calculada na busca de identificar os pontos fortes de uma economia no

comércio internacional. Os açúcares, minérios, artefatos têxteis e cordéis de Sisal não registraram

importações no período analisado. Cabe ressaltar que sucos foi o único produto com taxa de cobertura

superior a unidade durante todo o período analisado. A Tabela 6 apresenta uma análise comparada entre

os indicadores de vantagem comparativa e a taxa de cobertura de forma a identificar os pontos fortes da

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economia. De forma geral, os produtos classificados com vantagem comparativa e taxa de cobertura

maior que a unidade correspondem aos pontos fortes, ou seja, aos produtos mais competitivos do estado

no comércio internacional. Hidalgo (2000) define os pontos fortes como sendo aqueles produtos onde a

economia tem sólidas oportunidades de inserção e expansão comercial.

Tabela 6. Análise comparada entre os indicadores de Vantagem Comparativa e a Taxa de

Cobertura Produto VCR IVCR VCRS Taxa de

Cobertura

Calçados VANTAGEM VANTAGEM VANTAGEM PONTO FORTE

Açucares VANTAGEM VANTAGEM VANTAGEM -

Minérios VANTAGEM VANTAGEM DESVANTAGEM -

Sucos VANTAGEM VANTAGEM VANTAGEM PONTO FORTE

Frutas VANTAGEM DESVANTAGEM DESVANTAGEM PONTO FORTE

Granito VANTAGEM VANTAGEM VANTAGEM PONTO FORTE

Artefatos têxteis VANTAGEM VANTAGEM VANTAGEM -

Cordéis de Sisal VANTAGEM VANTAGEM VANTAGEM -

Peixes VANTAGEM VANTAGEM DESVANTAGEM PONTO FORTE

Álcool VANTAGEM VANTAGEM VANTAGEM PONTO FORTE

Fonte: MDIC (2018). Elaborado pelos autores.

Em resumo, os produtos, que foram classificados como pontos fortes do estado da Paraíba, são:

sucos, calçados, frutas, granito, peixes e álcool. Sucos é o principal ponto forte da economia paraibana no

comércio internacional, pois apresentou vantagem e taxa de cobertura em todo o período. Esses produtos

apresentam possibilidades de inserção e expansão comercial, dessa forma, o estímulo à produção e à

comercialização desses produtos podem ocasionar ganhos de comércio para a Paraíba.

Analisando o comportamento da balança comercial da Paraíba, sob a ótica da concentração das

pautas, o índice HH calculado para a pauta de exportação da Paraíba apresentou um valor médio de

0,2513 no período, que seguindo as classificações do Quadro 2 mostrou-se muito concentrada, pois IHH

foi maior do 0,18. No Gráfico 1, apresenta-se a evolução do IHH para o período analisado no tocante à

pauta de exportação e de importação paraibana.

Considerando a classificação de Silva (1998) e de Lopes e Marion Filho (2006), a concentração

também pode ser dividida em estática ou dinâmica. Conforme o Gráfico 1, verifica-se que a pauta de

exportação paraibana está enquadrada no perfil de concentração dinâmica, pois apresentou um

crescimento no indicador de concentração ao longo do tempo. O índice IHH calculado para a pauta de

importação apresentou um valor médio, de 0,0796 que, de acordo com a classificação de Resende (1994),

a pauta de importação é considerada pouco concentrada, tendo em vista que esta condição se aplica

sempre que IHH < 0,1.

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Gráfico 1. Grau de concentração das pautas de exportação e importação paraibana entre os anos

2000-2017

Fonte: MDIC (2018). Elaboração própria.

De acordo com o Gráfico 1, a pauta de importação do estado poder ser classificada como estática.

O IHH calculado para as importações mostra que, em apenas determinados períodos no tempo a pauta de

importação pode ser considerada concentrada, mais especificamente, para os anos de 2000 e 2004. Para

esses anos, a importação de algodão debulhado e outros tipos de algodão foram os reais motivos que

pontualmente tornaram a pauta de importação concentrada, pois, nesses anos a participação desses

produtos na pauta foi bastante significativa, correspondendo a 33,63% em 2000 e 28,68% em 2004.

Devido às mudanças na estratégia de inserção no mercado internacional por parte da principal

empresa de artefatos têxteis exportação, esse produto tornou-se praticamente irrelevante na pauta de

exportação com participação de 0,35% em 2017. Essa redução teve impacto relevante nas exportações

totais, pois os artefatos têxteis passou a decrescer a partir de 2007, mostrando uma queda de 40,04% entre

2007 e 2015.

Entretanto, a pauta de exportação continuou concentrada, no produto calçados, com participação

de 21,91% em 2000, saltando para 53,14% em 2017. Vale ressaltar que uma pauta comercial com grau

significativo de diversificação representa uma maior oferta de produtos e com isso um menor risco de

perda econômica. Quando o contrário ocorre, ou seja, uma pauta concentrada em um único produto ou

pouco diversificada dependerá basicamente do comportamento e da trajetória desse(s) produto(s) no

mercado internacional.

Em 2000, os três principais destinos das exportações paraibanas foram Estados Unidos, Argentina

e Espanha. Na Tabela 7, apresenta-se a participação e a intensidade de comércio do estado da Paraíba

com os seus principais parceiros comerciais de destino das exportações em 2000 e 2017. Esta relação de

intensidade de comércio entre o estado e seus principais destinos se dá sempre que o valor do índice IIC

for maior que um. As evidências mostram que os EUA é o principal parceiro comercial do estado, porém

sua participação nas exportações vem reduzindo-se ao longo do tempo, registrando uma queda de

Exportação Importação

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98

68,78%, bem como a intensidade do comércio apresentou um decrescimento quando se compara 2000 a

2017.

Tabela 7. Intensidade de comércio: Principais parceiros comerciais de destino das exportações da

Paraíba em 2000 e 2017 PRINCIPAIS PARCEIROS COMERCIAIS

Países

Destino das

Exportações

2000 Países

Destino das

Exportações

2017

Part. % IC Part. % IC

EUA 44,25 1,42 EUA 13,81 0,94

Argentina 9,54 0,88 França 12,06 6,70

Espanha 9,40 4,66 Austrália 9,81 -

Rússia 3,06 0,93 Argentina 4,48 0,38

Paraguai 1,50 - China 3,38 0,17

Alemanha 1,15 0,55 Rússia 3,00 -

França 1,11 0,40 Angola 1,97 -

Uruguai 0,48 0,90 Paraguai 1,94 2,78

Portugal 0,34 0,26 Espanha 1,77 0,63

Austrália 0,19 - Portugal 1,20 2,02

Angola - - Alemanha 1,16 0,70

China - - Uruguai 0,86 -

Fonte: MDIC (2018). Elaborado pelos autores.

Na Tabela 7 observa-se que, em 2000, a Espanha foi o país com maior intensidade de comércio

com o estado, seguido dos Estados Unidos. Em 2017, os três principais destinos das exportações

paraibanas foram Estados Unidos, França e Austrália segundo a participação nas exportações totais. A

França foi o país com maior intensidade no comércio com a Paraíba, seguida pelo Paraguai e por

Portugal. Os demais países apresentaram valores inferiores a um.

A Tabela 8 apresenta a participação e a intensidade de comércio do estado da Paraíba com os seus

principais parceiros comerciais de origem das importações em 2000 e 2017. Relativo ao IIC, a Itália

apresentou maior intensidade nas relações comerciais com a Paraíba, em sequência, tem-se a Alemanha,

França, Estados Unidos e Espanha.

As relações entre a Paraíba e o Uruguai se intensificaram ao longo do período. O Uruguai

registrou um IIC de 11,43% e suas exportações com destino ao estado cresceram em 672,07%, quando se

compara 2017 com 2000. A Argentina, a China e a Alemanha também apresentaram intensidade de

comércio nas relações com a Paraíba.

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Tabela 8. Intensidade de comércio: Principais parceiros comerciais de origem das importações da

Paraíba em 2000 e 2017 PRINCIPAIS PARCEIROS COMERCIAIS

Países

Origem das

Importações

2000 Países

Origem das

Importações

2017

Part. % IC Part. % IC

EUA 16,13 1,30 Argentina 23,25 2,59

Alemanha 12,50 4,02 China 21,69 2,09

Argentina 11,95 0,61 EUA 12,31 0,51

Itália 8,05 4,40 Uruguai 8,03 11,43

França 4,25 1,94 Vietnã 7,64 -

Paraguai 2,19 - Alemanha 3,23 1,32

Espanha 1,65 1,28 México 1,70 0,38

Uruguai 1,04 - Itália 0,67 0,22

China 0,78 0,84 Espanha 0,55 0,18

Portugal 0,25 - Portugal 0,37 -

México - - França 0,26 0,36

Vietnã - - Paraguai - -

Fonte: MDIC (2018). Elaborado pelos autores.

Fonseca, Santos e Machado Neto (2015) analisaram o desempenho e a evolução das exportações

da Paraíba entre 2000 e 2014. Os autores pesquisaram quais os principais problemas enfrentados pelas

empresas exportadoras do estado por meio de um questionário semiestruturado ao longo de dois anos e a

amostra abrangeu trinta empresas. Os principais setores produtivos das empresas pesquisadas foram o

têxtil, o sucroalcooleiro e o sisal. Os autores destacaram que parte dessas empresas foram atraídas para a

Paraíba na década de 1990, devido aos incentivos fiscais após a abertura comercial brasileira.

Os resultados mostraram que 79,31% das empresas são naturais da Paraíba, 13,79% são nacionais

e 6,89% são estrangeiras. As empresas paraibanas apresentam perfil tradicionalista e de capital fechado.

Ao longo do tempo, muitas empresas fecharam e outras diminuíram o ritmo exportador. Os autores

apontam como causa desse comportamento os baixos incentivos governamentais e a crise financeira de

2008. Verifica-se que 83,3% das empresas são indústrias nacionais e apenas 13,79% tem controle

estrangeiro. A maior parte das empresas foram classificadas como grandes e médias empresas e iniciaram

suas atividades exportadoras após os anos 2000.

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Tabela 9. Valor exportado e importado anualmente pelas empresas paraibanas VOLUME EXPORTADO ANUAL Nº de empresas pelo valor exportado anual

Acima de US$ 10 milhões 13,33%

De US$ 1 milhão a US$ 10 milhões 26,66%

Até US$ 1 milhão 46,66%

Até US$ 100 mil 13,33%

VOLUME IMPORTADO ANUAL Nº de empresas pelo valor importado anual

Acima de US$ 10 milhões 3,33%

De US$ 1 milhão a US$ 10 milhões 16,66%

Até US$ 1 milhão 26,66%

Até US$ 100 mil 3,33%

Não importa 36,66%

Fonte: MDIC (2018). Elaborado pelos autores.

Na Tabela 9 o volume exportado corresponde ao que a empresa negocia no comércio internacional

e o volume importado são insumos que entram na composição de seus produtos. A maioria das empresas

exportam anualmente valores até US$ 1 milhão, correspondendo a 46,6% da amostra, e, em seguida, tem-

se as empresas que chegam a exportar valores entre US$ 1 milhão e US$ 10 milhões, correspondendo a

26,6%.

Ressalta-se ainda que as principais empresas exportadoras do estado pertencem aos segmentos

têxtil e calçadista, como, por exemplo, a Alpargatas e a Conteminas. Essas empresas juntas obtiveram

uma participação de mais de 50% das exportações da Paraíba na maior parte dos anos (Silveira, 2012).

Além disso, a origem das exportações está localizada em poucos municípios, como João Pessoa e

Campina Grande, que são os principais exportadores e importadores. Em geral, estes municípios abrigam

as principais empresas. Os municípios de Campina Grande, de Mamanguape e de Pedras de Fogo

apresentaram crescimento das exportações no período entre 2000 e 2014, enquanto que os municípios de

Bayeux, de João Pessoa e de Santa Rita apresentaram uma tendência instável do período analisado por

Fonseca, Santos e Machado Neto, (2015).

Por fim, Fonseca, Santos e Machado Neto (2015) apresentam os principais entraves e barreiras

para entrada das empresas em outros mercados e os principais motivos das oscilações das exportações.

Esses resultados estão resumidos na Tabela 10. A maioria das empresas exportadoras do estado

apontaram as tarifas como o principal entrave para a entrada em outros mercados. Também, as crises

financeiras no mercado internacional foram apontadas como o principal motivo das oscilações nas

exportações, seguido pelas dificuldades de obtenção de melhores preços no mercado mundial.

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101

Tabela 10. Principais dificuldades das empresas paraibanas

ENTRAVES A ENTRADA EM OUTROS

MERCADOS

MOTIVOS DAS OSCILAÇOES DAS

EXPORTAÇÕES

Tarifas Crise Financeira Internacional

Não há entraves Dificuldade de obtenção de melhores preços no

mercado internacional

Logísticas Clima

Burocracia Taxa de câmbio

Carência de matéria-prima Falta de competitividade

Clima Fechamento fiscal dos EUA

Falta de investimentos do governo Mercado do papel

Crise Financeira Internacional Crise europeia

Questões culturais Mercado financeiro

Controle fitossanitário Aumento da força do mercado interno

Padrões de Qualidade Risco de atividade exportadora

Fornecedores imaturos para a exportação Trabalha apenas com clientes fidelizados

Desconhecimento das regras

Sazonalidade

Fonte: MDIC (2018). Elaborado pelos autores.

Sousa et al. (2014) discutem o desempenho e os fatores que levam ao encarecimento das

exportações da Paraíba. Os autores colocam que um motivo, que justifica as dificuldades na melhoria do

preço das exportações, é a falta de uma estrutura portuária, pois, atualmente, as exportações do estado são

transportadas através dos portos de Suape (PE), Natal (RN) e Fortaleza (CE). Esses autores discutem o

desempenho e os fatores que levam ao encarecimento das exportações da Paraíba.

Portanto, o estado da Paraíba apresenta competitividade nas exportações dos principais produtos

da pauta, porém o reflexo dessa competitividade ainda tem pouco impacto sobre a balança comercial, no

que tange ao volume exportado pelo estado e sua participação nas exportações da Região Nordeste e do

Brasil. Tem-se questões relevantes para serem discutidas pelas autoridades governamentais e instituições

de forma a estimular setores ou produção com valor agregado e capazes de participar do comércio

internacional. Isso leva a questões de logística, infraestrutura e difusão de conhecimentos e informações.

A pauta de exportação mostrou-se concentrada na exportação de poucos produtos, tornando-se vulnerável

ao desempenho do mercado internacional dessas mercadorias. Por fim, os produtos calçados, sucos,

frutas, granito, peixes e álcool foram os produtos que participam do comércio externo da Paraíba, porém,

na sua maioria, ligados aos recursos naturais. Mesmo assim, são produtos que apresentaram

oportunidades de inserção e expansão comercial.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise dos índices de vantagens comparativas reveladas com a taxa de cobertura possibilitou a

identificação dos setores mais competitivos do estado da Paraíba no comércio internacional. Os índices de

vantagem comparativa mostraram um padrão de especialização em bens manufaturados intensivos em

recursos naturais e em trabalho no comércio internacional do estado. Os indicadores mostraram que a

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102

possui competitividade nas exportações dos produtos calçados, sucos, granito, peixes e álcool. Seguindo a

definição de pontos fortes de Gutman e Miotti (1996), os produtos que mostraram vantagem comparativa

também se revelaram como aqueles produtos que a economia da Paraíba tem fortes oportunidades de

inserção no comércio externo. Portanto, o estímulo à produção e à comercialização desses produtos

podem ocasionar ganhos de comércio em termos de aumento na produção e consumo da Paraíba, como

também o aumento da sua participação no comércio internacional.

A análise do grau de concentração também possibilitou identificar fragilidades nesse comércio.

Segundo Baumann (2010), é recomendável que a pauta comercial seja diversificada tanto em termos de

tipos de produtos e de mercados de destino das exportações ou origem das importações de forma a manter

uma estabilidade na receita e despesas com divisas e menor vulnerabilidade às variações de mercados

específicos. Entretanto, o grau de concentração das pautas de exportação mostrou que a pauta de

exportação é concentrada, isto é, existe uma oferta não diversificada de produtos para exportação no

estado. Em contrapartida, a pauta de importação é bastante variada, apresentando concentração

pontualmente, apenas nos anos 2000 e 2004, devido ao crescimento da participação dos produtos algodão

debulhado e outros tipos de algodão.

Em termos de destino das exportações, observou-se que a relação comercial entre a Paraíba e a

França vem aumentando no período entre 2000 e 2017. O estado apresentou intensidade de comércio com

os Estados Unidos, a França, a Espanha, o Paraguai e Portugal no período analisado. Já, as importações

da Paraíba mostraram um crescimento na participação das relações comerciais entre Paraíba e Argentina

quando se compara 2017 com 2000. Os países de origem das importações que apresentaram intensidade

no comércio com o estado foram: Estados Unidos, Alemanha, Itália, França, Espanha, Argentina, China e

Uruguai.

De forma geral, as empresas da Paraíba apresentam um perfil tradicionalista com capital fechado,

apesar de serem classificadas como grandes e médias. Essas empresas estão localizadas em poucos

municípios, constituindo-se como principais exportadores e importadores. As tarifas e as crises

financeiras são os principais entraves apontados em pesquisa sobre o desempenho das exportações e em

outros mercados.

Conclui-se que o desempenho das exportações do estado reflete o fraco desenvolvimento da

atividade econômica local, que necessita de políticas de estímulo à produção e do desenvolvimento de

uma vocação exportadora na região. Como sugestão de trabalhos futuros, sugere-se uma análise de

comércio intraindustrial e interindustrial do estado, uma análise dos fluxos de comércio com a

desagregação por intensidade tecnológica das exportações e importações, uma análise das políticas

comerciais e acordos preferenciais no comércio internacional.

REFERÊNCIAS

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105

ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NAS UNIDADES FEDERATIVAS

BRASILEIRAS EM 2014

Renata Benício de Oliveira

Graduanda em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA) e Bolsista de

Iniciação Científica BPI FUNCAP. E-mail: [email protected]

Eliane Pinheiro de Sousa

Pós-Doutora em Economia Aplicada pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da

Universidade de São Paulo (ESALQ/USP) e Professora Associada do Departamento de Economia

da URCA.

RESUMO:

Após o reconhecimento de que o modelo de desenvolvimento adotado possui efeitos expressivos sobre o

meio ambiente, tem se buscado maneiras de garantir o bem-estar humano dentro da capacidade suportada

pelo planeta. O desenvolvimento sustentável surge, nesse contexto, como uma solução para reverter o

desequilíbrio presente nas relações entre homem e natureza. Embora a sustentabilidade envolva diversos

aspectos, há o consenso de que as dimensões social, econômica, ambiental e institucional possuem maior

relevância. Com base nessas informações, o presente trabalho objetiva mensurar o índice de

desenvolvimento sustentável das 27 unidades federativas do Brasil, tendo como referência 2014, por ser o

ano mais recente com dados disponíveis para todas as variáveis selecionadas. Especificamente, almeja-se

analisar o desempenho sustentável do Ceará, em termos comparativos aos demais estados e em relação

àqueles da região Nordeste. A metodologia empregada consistiu na construção de índices para as quatro

dimensões mencionadas e na criação do Índice de Desenvolvimento Sustentável (IDS), calculado a partir

da média aritmética dos quatro índices. Os resultados mostraram que a maioria dos estados possui baixo

nível de desenvolvimento sustentável, sendo que os melhores resultados foram obtidos pelas unidades

federativas do Sul e Sudeste e os piores pelo Norte e Nordeste. Ademais, o Ceará não possuiu bom

desempenho no IDS e o seu pior resultado ocorreu no Índice de Desenvolvimento Ambiental (IDA).

Assim, concluiu-se que é necessária a implementação de políticas públicas que visem o desenvolvimento

sustentável e que, ao mesmo tempo, reduzam as disparidades regionais.

Palavras-chaves: Desenvolvimento Sustentável, Estados Brasileiros, Ceará, IDS.

ABSTRACT: After acknowledging that the development model adopted has significant effects on the environment, we

have sought ways to ensure human well-being within the capacity by the planet. This context, sustainable

development emerges as a solution to reverse the current imbalance in the relationship between man and

nature. Although sustainability involves several aspects, there is a consensus that the social, economic,

environmental and institutional dimensions are more relevant. Based on this information, the present

study aims to measure the sustainable development index of the 27 federative units of Brazil, having as

reference 2014, being the most recent year with data available for all selected variables. Specifically, we

aim to analyze the sustainable performance of Ceará, comparing with other states and in relation to

those in the Northeast region. The methodology used consisted of the construction of indexes for the four

mentioned dimensions and the creation of the Sustainable Development Index (IDS), calculated from the

arithmetic mean of the four indices. The results showed that most states have a low level of sustainable

development, and the best results were obtained by the federative units of the South and Southeast and the

worst by the North and Northeast. In addition, Ceará did not perform well in the IDS and its worst result

occurred in the Environmental Development Index (IDA). Thus, it was concluded that the implementation

of public policies aimed at sustainable development is necessary, while at the same time reducing

regional disparities.

Keywords: Sustainable development, Brazilian states, Ceará, IDS.

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1. Introdução

Nos últimos tempos, o crescimento acelerado das relações de produção e consumo, que têm

constituído as bases do modelo de desenvolvimento, apresenta implicações sérias ao meio ambiente,

sendo responsável pela sua degradação, que tem ocorrido de maneira cada vez mais intensa; aumenta a

desigualdade social e a concentração de riqueza. Nesse contexto, nascem as definições de

desenvolvimento sustentável e sustentabilidade, cuja essência consiste na tentativa de reduzir tais

externalidades negativas. Assim, essa nova percepção acerca dos efeitos do desenvolvimento sobre a

natureza e de suas futuras consequências sobre a humanidade se fundamenta a partir do entendimento das

fragilidades do modelo vigente e da emergência da necessidade de uma nova concepção de

desenvolvimento de forma equilibrada e equitativa (MARTINS; CÂNDIDO, 2012).

Inicialmente, o conceito de desenvolvimento sustentável tinha como cerne as questões

relacionadas ao meio ambiente. Todavia, tal significado evoluiu e se tornou mais abrangente, dando

origem à noção de sustentabilidade, que contempla não apenas a natureza, mas também a sociedade e o

capital. Nesse sentido, um bom negócio deve ser ambientalmente correto, socialmente justo e

economicamente viável. Em outros termos, deve haver uma relação harmoniosa entre essas áreas. Nessa

situação, o governo se configura como um importante agente, devendo facilitar, estimular e fomentar a

gestão da sustentabilidade (AQUINO et al., 2014). Dessa forma, de acordo com Frainer et al. (2017), a

sustentabilidade possui quatro dimensões principais: ambiental, social, econômica e institucional.

De maneira simplificada, a multidisciplinariedade, atribuída ao desenvolvimento sustentável,

direcionou sua compreensão para a manutenção ou aumento do bem-estar humano e do meio ambiente,

sendo que o avanço em cada uma destas esferas não deve ser atingido em detrimento da outra. A

promoção do desenvolvimento sustentável, portanto, não é um estado fixo, o que significa que esse se

encontra em um processo contínuo de evolução, caracterizado pela inter-relação entre as pessoas e o

mundo ao seu redor, sem que se comprometa a manutenção da vida pelas próximas gerações (KRAMA,

2009).

Durante muitos anos, diversos estudiosos têm tentado buscar indicadores apropriados para a

mensuração do desenvolvimento sustentável, considerando diferentes áreas geográficas, tanto em nível

nacional como subnacional. Aparentemente, prevalece o consenso de que o desenvolvimento sustentável

não pode ser captado por um único indicador, mas sim por um conjunto significativo de indicadores, de

modo a abranger todos os aspectos relevantes do desenvolvimento sustentável dentro de uma aplicação

particular. Logo, é necessário que um amplo grupo de indicadores seja monitorado, para evitar que

aspectos importantes sejam ignorados. Todavia, ressalta-se que, se um grande número de indicadores for

considerado, a coleta de dados e sua análise podem ficar muito caras e demandar mais tempo (BENETTI,

2006).

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Os indicadores de desenvolvimento sustentável devem ser entendidos como instrumentos

imprescindíveis, uma vez que são capazes de avaliar as condições de uma determinada localidade,

considerando suas vulnerabilidades e potencialidades sustentáveis, tendo como intuito melhorar a

compreensão acerca dos fenômenos empíricos relacionados à sustentabilidade (MACÊDO; CÂNDIDO,

2011). Rodrigues e Rippel (2015) acrescentam que, tendo em vista a relevância da sustentabilidade, bem

como do seu debate, a ausência de informações sistematizadas aponta para a necessidade da criação de

indicadores que expressem a realidade a ser estudada.

Diante do exposto, o presente trabalho se propõe mensurar o índice de desenvolvimento

sustentável das 27 unidades federativas do Brasil, tendo como referência 2014, por ser o ano mais recente

com dados disponíveis para todas as variáveis selecionadas. Especificamente, almeja-se analisar o

desempenho sustentável do Ceará, em termos comparativos aos demais estados e em relação àqueles da

região Nordeste.

2. Referencial Teórico

2.1 A Multidisciplinariedade da Sustentabilidade

A origem da ideia de desenvolvimento sustentável está relacionada a dois campos: ecologia e

economia. No que se refere ao primeiro, o conceito é baseado na degradação dos recursos naturais, em

decorrência das ações antrópicas, e na recuperação dos ecossistemas, pois o meio ambiente possui seu

próprio tempo de reprodução. Assim, o ponto central aborda questões relacionadas ao uso abusivo dos

recursos naturais, desflorestamento, fogo etc. e às reações naturais, como terremotos e tsunamis. Quanto

ao segundo, seu principal pensamento é de que, dada a dependência dos recursos naturais, o padrão de

produção e consumo em expansão no mundo não tem possibilidade de perdurar. Dessa forma, a noção de

sustentabilidade diz respeito à percepção da finitude dos recursos naturais e do risco de sua depleção

(NASCIMENTO, 2012).

No cenário mundial, o foco no aspecto ambiental esteve presente desde a década de 1960. A

preocupação era a de que o meio ambiente deveria ser preservado, tendo em vista que a vida humana

depende do mesmo, de modo a garantir a vida das gerações presentes e futuras. Nessa época, foi

identificada a existência de vários problemas, tanto ambientais como sociais e econômicos, tais como a

redução da camada de ozônio, as mudanças climáticas, a escassez de água potável, a concentração da

população nas cidades, a pobreza, a falta de educação, a mortalidade infantil, entre outros Diante dessa

realidade, em 1972, optou-se por realizar a primeira conferência sobre o meio ambiente, na cidade de

Estocolmo, na Suécia (GARCIA, 2016).

A pluralidade de dimensões, adicionada na compreensão do desenvolvimento sustentável, foi

incorporada anos depois da supracitada conferência. Em consonância com Barbosa (2008), sua noção

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esteve presente no Relatório Brundtland, publicado em 1987, pela Comissão Mundial para o Meio

Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), quando o mesmo definiu três princípios básicos a serem

cumpridos: desenvolvimento econômico, proteção ambiental e equidade social. No entanto, sua

consolidação só ocorreu em 1992, na Conferência Rio-92. Desde então, o conceito multidisciplinar de

sustentabilidade tem estado em constante construção, não havendo consenso sobre sua mensuração.

O reconhecimento de que o desenvolvimento sustentável não deve se restringir ao âmbito

ambiental veio acompanhado da complexidade das interações entre o sistema humano e a natureza,

conferindo-lhe um caráter multidisciplinar. Esses sistemas estão interligados e exercem influências

mútuas. Além disso, cada sistema exige interferências diferenciadas, que deverão ser definidas em função

do nível de evolução em que se encontram, da análise de suas características e do contexto no qual está

inserido, o que dificulta a mensuração do nível de sustentabilidade e, consequentemente, o alcance de

resultados precisos (MARTINS; CÂNDIDO, 2012), o que, por sua vez, repercute no direcionamento e

nos efeitos das políticas e decisões executadas para essa área.

Nesse contexto, a ideia e as implicações das questões relacionadas à sustentabilidade foram e

continuam sendo alvo de ampla atenção nas últimas décadas, estando presente em diversos discursos

organizacionais, tanto na esfera pública quanto na privada, que, por vezes, passam a trabalhar em

parceria, com o intuito de articular novas formas de desenvolvimento, que permitam atender as demandas

da sociedade contemporânea, que incluem questões sociais e ambientais, por exemplo, com o cuidado de

manter o equilíbrio (SOUZA et al., 2014). Macêdo e Cândido (2011) também destacam a relevância do

papel empresarial e estatal nessas questões, acrescentando ainda a sociedade como um terceiro agente

dotado de influência nessa temática.

Dessa forma, Clemente, Ferreira e Lírio (2011) argumentam que o processo de conscientização

quanto aos prejuízos multifacetados decorrentes da degradação ambiental, pelo qual a sociedade tem

passado nas últimas décadas, desempenhou um papel fundamental nas questões relacionadas à

sustentabilidade. Apesar da importância de cada um dos vários segmentos integrantes da sustentabilidade,

vários autores, como Benetti (2006), Krama (2009), Matos e Rovella (2010), Clemente, Ferreira e Lírio

(2011), Aquino et al. (2014), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2015a), Rezende e

Fagundes (2017), Frainer et al. (2017) e Silva et al. (2018) destacam quatro: ambientais, econômicos,

sociais e institucionais. A descrição dessas dimensões são apresentadas no Quadro 1.

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109

Quadro 1 – Descrição das principais dimensões da sustentabilidade

Dimensão Descrição

Ambiental

Refere-se aos impactos das ações humanas sobre a natureza, tendo como intuito a

preservação ambiental, considerada como condição fundamental para a garantia de

qualidade de vida das gerações atuais e futuras.

Econômica

A perspectiva que orienta essa dimensão é a de que o desempenho econômico está

relacionado ao uso e esgotamento dos recursos naturais, à produção e

gerenciamento de resíduos, ao uso de energia e ao desempenho macroeconômico e

financeiro. A ideia é que, no longo prazo, se estabeleça a eficiência dos processos

produtivos e se consiga modificar a estrutura do consumo, com o intuito de manter

o sistema econômico em um nível sustentável.

Social

Compreende as questões relacionadas à satisfação das necessidades humanas, a

melhoria da qualidade de vida e a justiça social, para que a população desfrute de

condições de vida dignas.

Institucional

Diz respeito à orientação política, capacidade e esforço despendido, tanto pelos

governos como pela sociedade, na construção das mudanças necessárias para uma

efetiva implementação do desenvolvimento sustentável. Fonte: Elaboração própria, com base em IBGE (2015a).

No que se refere ao uso dos indicadores para representar as dimensões da sustentabilidade,

Martins e Cândido (2012) enfatizam que estes devem captar os aspectos relevantes para o processo de

desenvolvimento sustentável, permitindo uma boa leitura da realidade dos locais estudados e revelando

tendências ou perspectivas futuras, bem como as mudanças em relação aos desempenhos passados. Neste

sentido, deve-se observar a quantidade e a qualidade dos indicadores, buscando a utilização daqueles que

forem mais consistentes e fidedignos, bem como a própria metodologia, para que a retratação da realidade

seja autêntica, de modo a fornecer informações que favoreçam as interações entre os sistemas humano e

ambiental, servindo de guia para resultados sustentáveis.

2.2 Evidências Empíricas do Índice de Desenvolvimento Sustentável

Dada a importância do desenvolvimento sustentável, diversos estudiosos se propuseram mensurá-

lo para diferentes espaços geográficos. Em nível internacional, ressaltam-se: Van de Kerk e Manuel

(2008), Saisana e Philippas (2012) e Sachs et al. (2016).

Objetivando a criação de um índice que fosse capaz de medir a sustentabilidade de uma nação,

Van de Kerk e Manuel (2008) construíram o Sustainable Society Index (SSI), formado por 22 indicadores,

agrupados em cinco categorias (desenvolvimento pessoal, ambiente limpo, sociedade equilibrada, uso

sustentável de recursos e mundo sustentável), que, basicamente, se referem às dimensões social,

econômica e institucional. Inicialmente, foi calculado o nível de sustentabilidade de cada indicador, a

partir da diferença entre o valor necessário para ser considerado sustentável e o valor apresentado pelo

país. Após esse processo, determinaram a média aritmética para agregar todos os indicadores no índice e

mensuraram para 150 países, referentes ao ano de 2006. Ao ranquearem os países, verificaram que o

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110

primeiro lugar foi conquistado pela Noruega e as últimas posições foram ocupadas pelos países da África,

Oriente Médio e Ásia Ocidental, caracterizados por serem ricos em petróleo. Ao final do estudo,

concluíram que o índice proposto se mostrou mais abrangente do que os outros índices já existentes,

como o Environmental Sustainabilty Index (ESI).

Saisana e Philippas (2012) calcularam o SSI, no entanto, o índice passou por algumas alterações,

tendo em vista que o objetivo dos autores era melhorá-lo. Dessa forma, a nova versão do SSI possui 21

indicadores, alocados em três dimensões (social, econômica e ambiental) e o índice final passou a ser

obtido a partir de uma média geométrica simples das variáveis selecionadas. Mensurado para 151 nações,

referente ao ano de 2012, o ranking dos países teve a Islândia em primeira colocação e a República

Democrática do Congo, na última posição. Ademais, os resultados do SSI evidenciaram a predominância

da relação inversa entre o bem-estar social e o ambiental, sendo que o mesmo pode ser dito sobre a

relação desse com o desenvolvimento econômico.

Sachs et al. (2016) objetivaram mensurar uma medida de desenvolvimento sustentável,

considerando o desempenho dos países em cumprir os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Para isso, utilizaram dados de 2015 ou cujo ano estivesse mais próximo, obtendo um total de 77

indicadores. Calculado para 149 países, o SDG Index, como foi denominado, é determinado pela média

aritmética entre os resultados obtidos pelas nações em cada item. Os países escandinavos (Suécia,

Dinamarca e Noruega) alcançaram as melhores posições em virtude de estarem mais próximos de atingir

os ODS até o prazo limite (2030). Em contrapartida, os piores desempenhos foram registrados pelos

países pobres, como a República Democrática do Congo, a Libéria e a República Centro-Africana. Eles

concluíram que, apesar do bom desempenho, as nações mais ricas têm pontos específicos a serem

melhorados, como nutrição e educação; e a pobreza e inclusão social, entre outras questões, ainda

continuam sendo um grande desafio para os mais pobres. Além disso, apesar de suas limitações, como o

uso de dados de anos diferentes para algumas variáveis, o SDG Index é capaz de auxiliar os governos

quanto ao seu progresso em atingir os ODS e orientá-los para as próximas decisões.

Em âmbito nacional, destacam-se os estudos desenvolvidos por Benetti (2006), Krama (2009),

Clemente, Ferreira e Lírio (2011) e Silva et al. (2018).

Com o objetivo de avaliar o desenvolvimento sustentável no município de Lages (SC), Benetti

(2006) utilizou o Método do Painel de Sustentabilidade para avaliar o Índice de Desenvolvimento

Sustentável (IDS). Esse foi constituído por 41 indicadores, distribuídos nas dimensões social, natureza,

econômica e institucional; referentes aos vários anos, sendo que o mais antigo corresponde a 1996 e o

mais recente se refere a 2005. Os resultados mostraram que o município em questão obteve o melhor e o

pior desempenho, respectivamente, na dimensão ambiental e institucional. No geral, Lages registrou

performance média. Ao final do estudo, foi concluído que, embora essa estivesse próxima do nível de

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sustentabilidade, existiam vários indicadores que necessitavam de maior atenção do governo local, que

deveria implementar ações conjuntas e simultâneas sobre todas as dimensões da sustentabilidade.

Krama (2009) também calculou o IDS, empregando o Método do Painel de Sustentabilidade.

Todavia, a área de estudo não foi um município, mas os estados brasileiros utilizando 40 indicadores,

divididos nas dimensões ambiental, social, econômica e institucional, para o período 2002-2008. De

acordo com os resultados obtidos, as maiores diferenças ocorreram no intervalo do primeiro para o

segundo ano, mas tenderam ao equilíbrio ao longo dos anos. De maneira geral, as unidades federativas

brasileiras tiveram melhor desempenho na dimensão ambiental, classificada como razoável, enquanto as

dimensões social e institucional foram as piores, sendo classificadas como muito ruim. Ademais,

observou uma disparidade ao comparar as regiões Sul e Sudeste com Norte e Nordeste, que abrigavam,

respectivamente, a maior parte dos estados com os melhores e piores resultados. Além disso, ao se

calcular uma média dos estados, o Brasil foi classificado como ruim. Concluiu-se que o Brasil vem

apresentando uma lenta, mas gradativa elevação de seu índice de desenvolvimento sustentável e que é

necessário que o governo coloque mais variáveis à disposição dos pesquisadores e da sociedade, como

um todo, e que essas sejam disponibilizadas não apenas em nível nacional, mas subnacional, pois a

limitação de dados ainda é um problema presente na mensuração de sustentabilidade, o que compromete a

realidade retratada pelos resultados.

Clemente Ferreira e Lírio (2011) buscaram avaliar o IDS para o estado do Ceará, com o intuito de

fornecer informações essenciais para o planejamento das políticas. Para tal, empregaram o Método do

Painel de Sustentabilidade. Apesar de terem utilizado menos variáveis, apenas 27 indicadores, esses

foram divididos nas mesmas dimensões que o estudo de Krama (2009). Esses correspondem,

predominantemente ao ano de 2010, mas algumas variáveis são mais antigas, como é o caso da

Aquicultura, retirada do Censo de 2006. Os resultados comprovaram que o Ceará obteve bom

desempenho no IDS, sendo que as dimensões social e ambiental foram, respectivamente, as que mais se

destacaram de forma positiva e negativa. Assim, concluíram que o alcance de um padrão sustentável para

o desenvolvimento do estado do Ceará depende de uma interação entre as necessidades econômicas,

ambientais e sociais, sendo que, nesse processo, o principal agente é o governo, o que não implica na

exclusão política da população, que também possui uma participação efetiva nas decisões.

Silva et al. (2018) desenvolveram o Índice de Desenvolvimento Sustentável (IDS), formado por

45 indicadores, alocados em quatro dimensões (social, ambiental, econômica e institucional), que permite

uma avaliação espacial do desenvolvimento sustentável para o estado do Ceará, a fim de analisar a

desigualdade entre seus municípios. Calculado por meio do método de análise fatorial, utilizando dados

de 2010, os autores verificaram que as dimensões ambiental e institucional exerceram uma influência

negativa no IDS, confirmando a carência do desenvolvimento cearense nessas dimensões. Os resultados

também indicaram que 75% dos municípios apresentam baixo desenvolvimento em todas as dimensões.

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112

Ao observar a desigualdade espacial, foi confirmada uma autocorrelação espacial no desenvolvimento dos

municípios do Ceará e identificada associações entre municípios vizinhos. Dados os baixos valores do

IDS, concluíram que há a necessidade de uma ação mais efetiva do poder público na provisão de

infraestrutura adequada ao desenvolvimento sustentável.

Como pode ser observado, as tentativas de criação de um índice de sustentabilidade, abordando

seu caráter multidisciplinar, são predominantes na literatura nacional, com uma certa semelhança entre as

metodologias utilizadas, mas com uma distinção espacial nas áreas de estudo, que envolvem níveis

subnacionais, como municípios e estados. Dada a ausência de estudos para os estados brasileiros, uma vez

que o único trabalho nessa área é de Krama (2009); e ao fato de que 2002-2008 foi o período analisado, o

presente trabalho contribui ao calcular o IDS para 2014, um ano mais recente. Além disso, a base de

dados e a metodologia aqui empregadas divergem do referido trabalho, objetivando um processo mais

simples para a mensuração.

3. Metodologia

Para atingir os objetivos propostos, foi criado o Índice de Desenvolvimento Sustentável (IDS),

constituído pelas dimensões social, econômica, ambiental e institucional para os estados brasileiros,

sendo que, para cada dimensão, foi calculado um índice, composto por cinco variáveis. Assim, seguindo a

metodologia utilizada por Fortini, Silveira e Moreira (2016), Frainer et al. (2017) e Lima e Sousa (2017),

o IDS é o resultado de uma média aritmética desses índices.

A dimensão social é captada pelo Índice de Desenvolvimento Social (IDSo), que mensura o

desempenho dos estados brasileiros em relação às condições de trabalho, saúde, educação e segurança,

tendo como base as variáveis descritas no Quadro 2.

Quadro 2 – Descrição das variáveis do Índice de Desenvolvimento Social (IDSo)

Índice Descrição da variável Base de dados

utilizada

Estudos que inspiraram o uso das

variáveis

a) Taxa de

desocupação IBGE (2015b)

Benetti (2006), Krama (2009),

Clemente, Ferreira e Lírio (2011),

Aquino et al. (2014)

b) Esperança de vida

ao nascer IBGE (2017)

Benetti (2006), Krama (2009),

Clemente, Ferreira e Lírio (2011),

Martins e Cândido (2012), Aquino et

al. (2014), Rezende e Fagundes (2017)

c) Taxa de mortalidade

Infantil IBGE (2017)

Benetti (2006), Krama (2009),

Clemente, Ferreira e Lírio (2011),

Martins e Cândido (2012), Aquino et

al. (2014), Rezende e Fagundes (2017)

e Silva et al. (2018)

d) Frequência escolar

líquida IBGE (2017) Aquino et al. (2014)

e) Taxa de homicídios IPEA (2017)

Benetti (2006), Krama (2009), Martins

e Cândido (2012), Aquino et al.

(2014), Rezende e Fagundes (2017)

Fonte: Adaptado de Lima e Sousa (2017).

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113

No que se refere à dimensão econômica, é aferida a partir do Índice de Desenvolvimento

Econômico (IDE). O IDE abrange variáveis referentes à produção, indústria, investimento e distribuição

de renda (Quadro 3).

Quadro 3 – Descrição das variáveis do Índice de Desenvolvimento Econômico (IDE)

Índice Descrição da variável Base de dados

utilizada

Estudos que inspiraram o uso das

variáveis

f) PIB per capita IBGE (2014a)

Benetti (2006), Krama (2009),

Clemente, Ferreira e Lírio (2011),

Aquino et al. (2014), Rezende e

Fagundes (2017) e Silva et al.

(2018)

g) Participação da

indústria no PIB IBGE (2014a)

Martins e Cândido (2012),

Rezende e Fagundes (2017)

h) Participação do saldo

da balança comercial no

PIB

IBGE (2017)

Benetti (2006), Krama (2009),

Clemente, Ferreira e Lírio (2011),

Martins e Cândido (2012), Aquino

et al. (2014), Rezende e Fagundes

(2017) e Silva et al. (2018)

i) Participação do

investimento no PIB IBGE (2014b)

Krama (2009), Aquino et al.

(2014)

j) Índice de Gini IBGE (2017)

Benetti (2006), Clemente, Ferreira

e Lírio (2011), Martins e Cândido

(2012), Aquino et al. (2014),

Rezende e Fagundes (2017)

Fonte: Adaptado de Lima e Sousa (2017).

Para a mensuração da dimensão ambiental, utilizou-se o Índice de Desenvolvimento Ambiental

(IDA), formado por indicadores relacionados ao número de veículos, agricultura, poluição do ar,

queimadas e coleta de lixo (Quadro 4). No caso do percentual de moradores em domicílios permanentes

por tipo de destinação do lixo, essa variável abrange apenas aqueles que possuem o lixo coletado e sua

escolha se deve à ausência de dados referentes à quantidade de lixo coletada, uma vez que os dados mais

recentes têm como base o ano de 2008.

Quadro 4 – Descrição das variáveis do Índice de Desenvolvimento Ambiental (IDA)

Índice Descrição da variável Base de dados utilizada Estudos que inspiraram o uso das

variáveis

k) Frota de veículos

per capita

Departamento Nacional de

Trânsito (DENATRAN, 2016) Frainer et al. (2017)

l) Uso de fertilizantes

por unidade de área IBGE (2017)

Benetti (2006), Krama (2009),

Clemente, Ferreira e Lírio (2011)

m) Focos de calor por

unidade de área IBGE (2017)

Aquino et al. (2014) e Silva et al.

(2018)

n) Emissão de CO2

per capita

Sistema de Estimativas de

Emissões e Remoções de Gases

de Efeito Estufa (SEEG, 2017)

Benetti (2006), Krama (2009),

Clemente, Ferreira e Lírio (2011),

Aquino et al. (2014)

o) Percentual de

moradores em

domicílios

permanentes por tipo

de destinação do lixo

IBGE (2017)

Martins e Cândido (2012), Aquino et

al. (2014), Rezende e Fagundes

(2017) e Silva et al. (2018)

Fonte: Adaptado de Lima e Sousa (2017).

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114

No que diz respeito à dimensão institucional, foi obtida a partir do cômputo do Índice de

Desenvolvimento Institucional (IDI), constituído por indicadores sobre acesso à tecnologia, matriculados

na universidade e despesas públicas. No caso das despesas totais por função, foram consideradas as

despesas governamentais nas seguintes áreas: assistência social, educação, cultura, urbanismo, habitação,

gestão ambiental, ciência e tecnologia, desporto e lazer (Quadro 5).

Quadro 5 – Descrição das variáveis do Índice de Desenvolvimento Institucional (IDI)

Índice Descrição da variável Base de dados utilizada Estudos que inspiraram o uso

das variáveis

p) Percentual de domicílios

com telefone fixo

Inteligência em

Telecomunicações

(TELECO, 2018)

Benetti (2006), Krama (2009),

Clemente, Ferreira e Lírio

(2011), Aquino et al. (2014)

q) Percentual de domicílios

com celular TELECO (2018)

Benetti (2006), Krama (2009),

Clemente, Ferreira e Lírio

(2011), Aquino et al. (2014)

r) Percentual de domicílios

com microcomputador

com acesso à internet

TELECO (2018)

Benetti (2006), Krama (2009),

Clemente, Ferreira e Lírio

(2011), Aquino et al. (2014)

s) Número de alunos

matriculados por

universidade

Ministério da Educação

(MEC, 2015) Frainer et al. (2017)

t) Participação das

despesas totais por função

no PIB

COMPARA BRASIL

(2014)

Martins e Cândido (2012),

Rezende e Fagundes (2017)

Fonte: Adaptado de Lima e Sousa (2017).

Como as variáveis apresentam unidades de medidas diferentes, foi necessário padronizá-las, de

modo a permitir sua agregação nas respectivas dimensões. Assim, empregou-se o método adotado por

Fortini, Silveira e Moreira (2016), baseado nos critérios estabelecidos pelo Programa das Nações Unidas

do Desenvolvimento Humano (PNUD, 2013). Esse procedimento é mostrado na equação (1):

(1)

em que: (Ii) refere-se ao indicador i; Vi corresponde ao valor observado do indicador; Pv equivale ao pior

valor entre a distribuição do indicador e Mv é o melhor valor entre a distribuição do indicador i.

Após o cálculo de cada índice, foi realizada uma média aritmética para a obtenção do IDS para

cada unidade federativa brasileira, conforme expresso na equação (2):

(2)

A classificação adotada neste estudo segue o modelo proposto por Lima e Sousa (2017), com três

níveis adicionais, em função dos resultados registrados. Assim, foram considerados sete níveis, com

intervalos de acordo com o desvio padrão em torno da média, conforme apresentado no Quadro 6.

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115

Quadro 6 – Classificação dos níveis do Índice de Desenvolvimento Sustentável (IDS)

Níveis Sigla Desvios-Padrão (δ) em torno da

média

Muitíssimo Alto MMA (M + 3δ) ≤ MMA < (M + 4δ)

Muito Alto MA (M + 2δ) ≤ MA < (M + 3δ)

Alto A (M + 1δ) ≤ A < (M + 2δ)

Médio M Média ≤ M < (M + 1δ)

Baixo B (M - 1δ) ≤ B < Média

Muito Baixo MB (M – 2δ) ≤ MB < (M – 1δ)

Muitíssimo Baixo MMB (M - 3δ) ≤ MMB < (M – 2δ)

Fonte: Adaptado de Lima e Sousa (2017).

4. Resultados e Discussão

Esta seção apresenta a classificação dos estados brasileiros em relação ao IDS e aos índices que o

compõem. Como pode ser observada pela Tabela 1, a maior parte das unidades federativas apresentou

nível de desenvolvimento social baixo e médio. Além disso, apenas cinco delas (Alagoas, Amapá, Bahia,

Distrito Federal e Rio Grande do Norte) foram classificadas com IDSo alto, sendo que três delas são da

região Nordeste. Em contrapartida, cinco estados (Mato Grosso do Sul, Paraná, Rondônia, Roraima e

Santa Catarina) obtiveram classificação muito baixa. Em ambos os casos, os escores obtidos na taxa de

desocupação se configuraram como um dos principais fatores que influenciaram o desempenho desses

estados. A boa performance do Distrito Federal nessa dimensão também é observada por Krama (2009).

Tabela 1 – Distribuição absoluta do Índice de Desenvolvimento Social (IDSo) para os estados brasileiros,

em 2014

Níveis Limite Inferior Limite Superior Estados na Classe

Muitíssimo Alto 0,6410 0,7274 0

Muito Alto 0,5546 0,6410 0

Alto 0,4681 0,5546 5

Médio 0,3817 0,4681 8

Baixo 0,2953 0,3817 9

Muito Baixo 0,2088 0,2953 5

Muitíssimo Baixo 0,1224 0,2088 0

Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da pesquisa.

No caso do Ceará, ao compará-lo com os demais estados, foi notado que o mesmo possuiu um

nível de desenvolvimento social médio, registrando o oitavo maior escore (0,4387) no IDSo. Clemente,

Ferreira e Lírio (2001) também verificaram um bom desempenho desse Estado nessa dimensão. Entre os

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116

estados nordestinos, o Ceará possui o quarto melhor desempenho, ficando atrás apenas do Rio Grande do

Norte (0,5204), Alagoas (0,5198) e Bahia (0,4779), em função dos resultados obtidos na taxa de

desocupação e taxa de mortalidade infantil.

No tocante ao IDE, conforme demonstrado na Tabela 2, parcela majoritária das unidades

federativas se encontra nos níveis baixo e médio, sendo que todos os estados da região Nordeste (com

exceção de Alagoas, Maranhão e Pernambuco, que obtiveram desenvolvimento econômico muito baixo)

integram a primeira classe, enquanto a segunda é composta, predominantemente, pelos estados da região

Norte. Krama (2009) também verifica resultados desfavoráveis para Alagoas e Maranhão nessa dimensão.

Tabela 2 – Distribuição absoluta do Índice de Desenvolvimento Econômico (IDE) para os estados

brasileiros, em 2014

Níveis Limite Inferior Limite Superior Estados na Classe

Muitíssimo Alto 0,4812 0,5410 0

Muito Alto 0,4214 0,4812 2

Alto 0,3617 0,4214 2

Médio 0,3019 0,3617 7

Baixo 0,2421 0,3019 11

Muito Baixo 0,1823 0,2421 5

Muitíssimo Baixo 0,1225 0,1823 0

Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da pesquisa.

Por outro lado, o Distrito Federal, o Espirito Santo, o Rio de Janeiro e o Acre apresentaram os

melhores resultados, fazendo parte dos níveis alto e muito alto. Esses resultados podem ser explicados,

sobretudo, pela performance na participação do saldo da balança comercial no PIB e no índice de Gini.

Em relação ao Ceará, quando comparado aos demais, o estado se encontra em 21ª colocação (com

0,2614). Por outro lado, ao se considerar apenas os estados do Nordeste, o mesmo possui o quinto maior

escore, enquanto Sergipe (com 0,2870), Bahia (com 0,2834), Paraíba (com 0,2685) e Piauí (com 0,2633)

ocupam os primeiros lugares, influenciados, principalmente, pelo desempenho superior na participação do

saldo da balança comercial no PIB.

A Tabela 3 apresenta o comportamento dos estados na dimensão ambiental. Notou-se que, assim

como nos índices anteriores, a concentração dos estados permanece nos níveis baixo e médio, sendo que o

primeiro é constituído, predominantemente, por estados das regiões Norte e Nordeste. Martins e Cândido

(2012) também observaram o mau desempenho da região Norte nessa dimensão. Os melhores

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117

desempenhos foram computados pelo Distrito Federal, Mato Grosso, Santa Catarina, São Paulo e

Tocantins, integrantes do nível alto. Isso pode ser justificado, em maior parte, pelos valores registrados na

frota de veículos per capita e na utilização de fertilizantes por unidade de área.

Na dimensão em questão, tanto quando comparado aos outros estados do Brasil como somente aos

nordestinos, o Ceará registrou uma péssima atuação. Com um escore de 0,1073, o Estado está na

penúltima posição, em relação aos demais; e em último lugar, no que se refere aos estados do Nordeste,

possuindo baixos valores em quase todas as variáveis. O mau desempenho do Ceará nessa dimensão

também é verificado por Clemente, Ferreira e Lírio (2011) e por Silva et al. (2018).

Tabela 3 – Distribuição absoluta do Índice de Desenvolvimento Ambiental (IDA) para os estados

brasileiros, em 2014

Níveis Limite Inferior Limite Superior Estados na Classe

Muitíssimo Alto 0,6717 0,7980 0

Muito Alto 0,5454 0,6717 0

Alto 0,4190 0,5454 5

Médio 0,2927 0,4190 9

Baixo 0,1663 0,2927 6

Muito Baixo 0,0400 0,1663 7

Muitíssimo Baixo -0,0863 0,0400 0

Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da pesquisa.

Com relação ao desenvolvimento institucional, cujos resultados são expressos na Tabela 4, as

unidades federativas, de uma maneira geral, obtiveram resultados ligeiramente melhores que nas demais

dimensões, apesar do Piauí ter apresentado classificação muitíssimo baixa. Todavia, assim como nos

outros índices, parcela majoritária dos estados ainda se encontra no nível baixo, que possui

representatividade de todas as regiões do país, com exceção da região Sul. Além disso, Acre, Rio de

Janeiro, Roraima e Santa Catarina foram os únicos que apresentaram desenvolvimento institucional

considerado alto e somente Amazonas obteve um nível muito alto. Esses resultados são justificados,

principalmente, pelo desempenho no número de matrículas na universidade e no percentual de domicílios

com microcomputadores com acesso à internet.

No caso do Ceará, esse está na 13ª posição (com 0,3266), quando comparado aos demais estados

brasileiros. O péssimo desempenho nessa dimensão também é verificado por Silva et al. (2018). Em

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118

contrapartida, ao se considerar apenas a região Nordeste, o mesmo possui o quarto melhor resultado,

perdendo somente para a Paraíba (com 0,3594), Rio Grande do Norte (com 0,3380) e Sergipe (com

0,3289), devido, principalmente, ao seu desempenho inferior quanto ao percentual de domicílios com

celular e àqueles com microcomputador com acesso à internet.

Tabela 4 – Distribuição absoluta do Índice de Desenvolvimento Institucional (IDI) para os estados

brasileiros, em 2014

Níveis Limite Inferior Limite Superior Estados na Classe

Muitíssimo Alto 0,4455 0,4862 0

Muito Alto 0,4047 0,4455 1

Alto 0,3640 0,4047 4

Médio 0,3233 0,3640 8

Baixo 0,2826 0,3233 9

Muito Baixo 0,2419 0,2826 4

Muitíssimo Baixo 0,2012 0,2419 1

Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da pesquisa.

Fazendo-se uma análise agregada dos índices, foi verificado que, de maneira geral, os estados

brasileiros possuem um nível de desenvolvimento sustentável abaixo do ideal. Os resultados relacionados

ao IDS, mostrados na Tabela 5, apontam que a maioria das unidades federativas se encontra no nível

baixo, tendo como integrantes os estados das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. No caso da maior

parte desses estados, o IDA foi o principal responsável pelos baixos valores registrados no IDS. Por outro

lado, os níveis alto e muito alto são constituídos pelo Distrito Federal, Mato Grosso, Rio de Janeiro e São

Paulo. Apesar de se destacarem com índices diferentes, todos tiveram bom desempenho no IDE, que

contribuiu de forma significativa para a obtenção dessa classificação. O bom desempenho do Distrito

Federal também é observado por Krama (2009).

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119

Tabela 5 – Distribuição absoluta do Índice de Desenvolvimento Sustentável (IDS) para os estados

brasileiros, em 2014

Níveis Limite Inferior Limite Superior Estados na Classe

Muitíssimo Alto 0,4414 0,4802 0

Muito Alto 0,4026 0,4414 1

Alto 0,3637 0,4026 3

Médio 0,3249 0,3637 7

Baixo 0,2861 0,3249 12

Muito Baixo 0,2472 0,2861 4

Muitíssimo Baixo 0,2084 0,2472 0

Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da pesquisa.

No tocante ao Ceará, o estado está entre os dez piores, ocupando o 24° lugar (com 0,2835), o que

já era esperado, tendo em vista seu desempenho desfavorável nas dimensões que integram o IDS. Ao

compará-lo às demais unidades federativas nordestinas, o mesmo encontra-se em sexto lugar, perdendo

espaço para Rio Grande do Norte (com 0,3186), Bahia (com 0,3150), Sergipe (com 0,3104), Maranhão

(com 0,3020) e Alagoas (com 0,3003), tendo seu resultado influenciado, sobretudo, pela performance no

IDA.

5. Considerações Finais

O Índice de Desenvolvimento Sustentável (IDS), proposto pelo presente trabalho, permite

analisar, de maneira simplificada, o desempenho dos estados brasileiros nas principais dimensões do

desenvolvimento sustentável. Assim, além de servir como guia para os gestores estaduais, esse estudo

contribui para a literatura que debate o tema sustentabilidade, em sua compreensão multidisciplinar. No

entanto, a criação do IDS não impede que novas contribuições possam ser feitas, a partir de novos

estudos.

Como foi observado, de forma geral, as unidades federativas brasileiras estão longe de atingir o

desenvolvimento sustentável pleno e a tendência é que os estados da região Sudeste alcancem essa meta

antes que os demais. Além disso, não se pode determinar uma área específica para que os governadores

foquem sua atenção, tendo em vista a semelhança na distribuição dos estados em todos os índices que

compõem o IDS. Todavia, no caso específico do Ceará, é visível a necessidade de uma atuação mais

urgente na dimensão ambiental.

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120

Outro aspecto relevante observado na pesquisa é evidenciado ao se contrapor os resultados das

regiões Norte e Nordeste com aqueles obtidos pelo Sul e Sudeste, pois facilmente nota-se a disparidade

existente entre as mesmas. Em todos os índices, exceto no Índice de Desenvolvimento Social, o Sudeste

possui representatividade nas melhores classificações. O oposto pode ser dito das regiões Norte e

Nordeste, cujos estados prevalecem com as piores. Assim, conclui-se que, além da necessidade de adotar

políticas rumo ao desenvolvimento sustentável, é preciso também que essas visem a redução das

desigualdades regionais.

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123

DINÂMICA ECONÔMICA NORDESTINA E EMPREGO FORMAL INDUSTRIAL: O CASO

DOS ESTADOS DA BAHIA E CEARÁ – 2003/2013

José Ediglê Alcantara Moura Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA) e Pesquisador do GETEDRU. E-

mail: edigle.economia@gmail. Cel (88) 9 9285 0545.

Francisco do O’ de Lima Júnior Professor Adjunto do Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri (URCA); Pesquisador Líder

do GETEDRU (DE/URCA) e Doutor em Desenvolvimento Econômico, Área de Concentração em Economia

Regional e Urbana pelo IE/UNICAMP. E-mail: [email protected]. Cel (88) 9 9285 0545.

RESUMO:

O presente trabalho tem como objetivo estudar a dinâmica econômica nordestina tendo como fundamento

a evolução do emprego industrial formal nos estados do Ceará e da Bahia, durante o período de 2003 e

2013. A definição destes estados como estudo de caso se justifica em um conjunto de aspectos como: i)

sumarizam o perfil estrutural do conjunto das economias regionais; ii) trata-se da economia nordestina

mais dinâmica, a Bahia, e outra que assume padrão intermediário, o Ceará e; iii) como decorrência, a

Bahia possui a economia industrial mais integrada à nacional, e por isso bem mais diversificada, ao passo

que o Ceará, embora tenha passado por transformações consideráveis rumo à integração e diversificação,

ainda apresenta uma estrutura produtiva pautada prioritariamente em bens tradicionais. Foram utilizados

dados secundários da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e

Emprego (MTE) referentes à caracterização da atividade industrial nestas duas economias bem como o

perfil dos seus trabalhadores. Observou-se que a atividade industrial baiana apresentou maior

diversificação nos seus setores, em que, possui empreendimentos com maior número de empregados. No

caso cearense, apresenta um modelo mais pautado em setores tradicionais como têxtil, alimentos e

bebidas, além da forte participação no ramo de calçados. Isto ocorre, apesar da diversificação mais

recente avançar para ramos como o caso da ampliação da Indústria de Material de Transporte. Ainda

assim, sua estrutura industrial e o perfil do emprego formal é predominantemente pautado em setores

mais tradicionais.

Palavras-chaves: Emprego industrial; Bahia; Ceará; Dinâmica econômica.

ABSTRACT:

This work has as objective to study the northeastern economic dynamics and is based upon the evolution

of formal manufacturing employment in the states of Ceará and Bahia, during the period 2003 to 2013.

The definition of these states as a case study is justified in a number of aspects such as: i) summarize the

structural profile of all the regional economies; ii) it is the most dynamic economy Northeast, Bahia, and

another that standard intermediate assume, Ceará and; iii) as a result, Bahia has the most integrated

national industrial economy, and so much more diverse, while Ceará, although it has undergone

considerable changes towards integration and diversification, still has a productive structure guided

primarily in property Traditional. Secondary data from the (RAIS/MTE) information database related to

characterizing the industrial activity in these two economies as well as the profile of its workers. It was

observed that the Bahia’s industrial activity, is more diversification in their sectors. The state has

companies with the greatest number of employees. But the Ceará case presents a model guided by more

traditional sectors such as textiles, food and beverages, as well as strong participation in the footwear

industry. This occurs despite the latest move towards diversification branches as the case of expansion of

industry Transport Material. Still, its industrial structure and the profile of the formal employment is

predominantly ruled in more traditional sectors.

Keywords: Industrial employment; Bahia; Ceará; Economic dynamics.

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124

1.Introdução

A dinâmica econômica da Região Nordeste do Brasil durante as duas últimas décadas incorporou

vetores de transformação que acompanham os movimentos do processo de reestruturação econômica

vivenciado em âmbito global. Entretanto, as particularidades do desenvolvimento regional e seu papel

face à economia nacional não deixam de serem importantes acréscimos que determinam os resultados

observados nesta realidade.

Marcadamente considerada como o espaço nacional que inicia a mobilização com as preocupações

com a questão regional brasileira, após a etapa de intervenção planejada via ações da Superintendência do

Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e consubstanciada no modelo desenvolvimentista de políticas

públicas, assiste-se a uma gradativa transformação econômica. Vencem-se as etapas de conexão do

mercado nacional com a consolidação da fase de integração produtiva conforme atestaram os principais

estudiosos na área9.

Ainda assim, com base nas decorrências deste epílogo acerca da promoção do desenvolvimento

nordestino pode-se considerar duas exterioridades relevantes. A primeira, de ordem mais macroestrutural,

refere-se ao esvaziamento das políticas de desenvolvimento, e com ele o fim das políticas regionais,

advindas no bojo da longa crise do Estado Nacional que culmina com a emergência do paradigma de

regulação neoliberal. A prioridade da ação pública volta-se exclusivamente para o macroconjunturalismo

contido na busca do controle inflacionário e equilíbrio das contas públicas, em que mergulham as

economias latino-americanas durante as duas últimas décadas do século XX e início da década seguinte.

Nos anos subsequentes, como saída para a ausência da promoção regional, assistiu-se ao

predomínio dos localismos como forma de pensar as questões do desenvolvimento capitalista e suas

espacialidades (BRANDÃO, 2007). Os resultados mais imediatos foram à promoção da guerra de lugares

seja contida nas estratégias para atração de investimos públicos ou na busca de arrojar investimentos

produtivos privados em um processo de relocalização produtiva.

A segunda exterioridade, mais particular à região Nordeste, está relacionada aos efeitos intra-

regionais da integração produtiva. A desconcentração produtiva instaura uma dinâmica de desigualdade

no espaço nordestino, sendo privilegiadas as maiores economias. Dos projetos liberados pela SUDENE

até meados do decênio de 1980, 64,3% do montante total dos investimentos estavam localizados nos

estados de Bahia, Pernambuco e Ceará, suas economias mais importantes. Este percentual é reproduzindo

também para o número de empregos gerados por tais investimentos (SAMPAIO FILHO, 1985, p. 68). Tal

padrão, cujo fôlego maior ocorre com a descontração virtuosa, se mantém na fase posterior de

desconcentração espúria10

.

9 Dentre estes ver Cano (2007), Araújo (1995) e Guimarães Neto (1989). 10 As distinções do processo de industrialização do Brasil pós-1930 e suas demarcações em termos espaciais são

caracterizados por Cano (2008, p. 36) como virtuoso, até a década de 1970 (que ocorre num quadro de crescimento nacional e

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125

Sendo assim, o presente trabalho objetiva estudar a dinâmica econômica nordestina tendo como

fundamento a evolução do emprego industrial formal de dois destes estados durante o período de 2003 e

2013. A definição destes estados como estudo de caso se justifica num conjunto de aspectos como: i)

sumarizam o perfil estrutural do conjunto das economias regionais; ii) trata-se da economia nordestina

mais dinâmica, a Bahia, e outra que assumem padrão intermediário, o Ceará e; iii) como decorrência, a

Bahia possui a economia industrial mais integrada à nacional, e por isso bem mais diversificada, ao passo

que o Ceará, embora tenha passado por transformações consideráveis rumo à integração e diversificação,

ainda apresenta uma estrutura produtiva pautada prioritariamente em bens tradicionais.

Para alcançar o objetivo proposto, o trabalho está dividido em duas partes além desta Introdução e

das Considerações Finais. Numa primeira sessão são traçadas algumas notas sobre a dinâmica econômica

nordestina na fase de auge e posterior esvaziamento do aparato de suporte às ações desenvolvimentista na

região. Esta sessão se justifica pela necessidade de historicizar e contemporaneizar a industrialização

regional com destaque para estes dois estados. Na sessão seguinte são explorados os aspectos do emprego

industrial formal nas economias cearense e baiana.

Admitiu-se como questionamento problematizadora seguinte indagação: como se comportam as

variáveis que definem o padrão do emprego formal industrial nos estados doa Bahia e do Ceará durante os

anos de 2003 e 2013? A hipótese norteadora a ser seguida para resposta a tal questionamento é de que as

duas estruturas continuam a se apresentar de forma distinta, ainda que o processo de acumulação seja

homogeneizador. A Bahia permanece com uma estrutura de emprego mais diversificada e dinâmica ao

passo que o Ceará mantém um perfil tradicional, não obstante a modernização que vivenciou nos últimos

trinta anos.

Utilizou-se de abordagem metodológica descritiva estrutural, recorrendo a banco de informações

da Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho e Emprego (RAIS/MTE), por ser

considerado o banco de informações mais completas e consolidadas atinentes às variáveis de emprego

formal. Foram explorados variáveis concernentes tanto às características da indústria quanto o perfil dos

trabalhadores. Para as características da indústria foram exploradas as seguintes informações: número de

estabelecimentos industriais, número de trabalhadores por ramo de atividade econômica, quantidade de

empregados por setor da Indústria de Transformação, distribuição do emprego formal industrial por

tamanho do estabelecimento. Já no perfil dos trabalhadores, a investigação se pautou em: número de

empregados formais na atividade industrial segundo sexo, faixa etária, grau de instrução, tempo de

serviço e faixa de remuneração.

avanço da integração produtiva), e a partir de então espúrio (com arrefecimento das taxas de crescimento, crise de

endividamento, declínio da ação governamental nas políticas de desenvolvimento regional). Nesta segunda fase, é recorrente o

uso de instrumentos que evocam os localismos como o fadado exemplo da “guerra fiscal”.

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126

2. Notas sobre a dinâmica econômica nordestina no período de 1970 – 2013: do desenvolvimentismo

ao esvaziamento das políticas de desenvolvimento regional.

Conforme já apontado na Introdução, em termos de desenvolvimento regional a política

orquestrada pela SUDENE promoveu relativa modernização nordestina modificando o território regional

com ampliação, diversificação e integração do parque industrial regional ao nacional.

No que se refere à integração da economia nacional houve forte tendência de reprodução de uma

divisão espacial do trabalho entre as regiões brasileiras. Ao passo que gradativamente a atividade do

Sudeste assume padrão caracterizado por serviços e setores mais modernos e intensivos em capital, houve

implantação de ramos complementares no espaço nordestino, cujos aspectos mais gerais seguiam o maior

uso da mão de obra e/outros setores voltados para o fornecimento de insumos (LIMA, 2005).

O viés desconcentrador imprime intra regionalmente sua característica concentradora, inerente à

própria acumulação capitalista de privilegiar determinados espaços. Ainda que reconhecendo tal

característica, a contraditoriedade se apresenta nas formas assumidas por uma política pública que tinha

por principal intento a redução de disparidades regionais.

Na promoção do desenvolvimento via SUDENE, que teve a sua lógica de esvaziamento face ao

que preconizava os princípios fundadores já nos anos 1970, foram privilegiadas as maiores economias11

.

Dos projetos liberados pela Superintendência até meados do decênio de 1980, 64,3% do montante total

dos investimentos estavam localizados nos estados de Bahia, Pernambuco e Ceará, suas economias mais

importantes. Este percentual é reproduzindo também para o número de empregos gerados por tais

investimentos conforme é visualizado na Tabela 1. Tal padrão, cujo fôlego maior ocorre com a

descontração virtuosa, se mantém na fase posterior de desconcentração espúria

Tabela 1 – Nordeste: Projetos aprovados pela SUDENE por Unidade Federada (1960–1984)1

Estados Número de

Projetos

Investimento Total Empregos Diretos

Valor %

Maranhão

Piauí

Ceará

Rio Grande do Norte

Paraíba

Pernambuco

Alagoas

Sergipe

Bahia

123

122

384

134

291

523

65

61

447

1.884.377

894.894

2.102.242

1.344.668

1.169.435

4.369.174

828.756

839.061

8.910.817

7,8

3,7

8,8

5,6

4,9

18,2

3,4

3,5

37,3

16.158

13.454

70.336

34.146

36.494

121.076

12.822

13.322

104.538

11 Para esvaziamento da SUDENE enquanto instituição promotora de desenvolvimento regional ver Lima Júnior (2014b)

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127

TOTAL 2.335 23.965.302 100,0 460.431

Fonte: Sampaio Filho (1985, p. 68) apud Lima Júnior (2014, p. 52) 1 Estão excluídos os projetos provados para o norte dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, áreas de atuação da

SUDENE

Como forma de superação da crise do paradigma desenvolvimentista, na década de 1990

disseminou-se amplamente o ideário da descentralização, tanto no âmbito tributário quanto na promoção

do crescimento econômico e um cenário de esfacelamento do Estado Nacional decorrente do quadro de

crise de endividamento, culminando no aniquilamento das políticas de desenvolvimento regional de

âmbito federal. Coube como escape aos governos estaduais, mesmo com suas finanças altamente

debilitadas, utilizarem-se de instrumentos de guerra fiscal para atração de investimentos (PACHECO,

1996).

Como instrumento de transferência liquida de recursos para o setor privado, os governos

subnacionais passam a atrair empresas através de incentivos fiscais a exemplo do Imposto sobre

Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), o que impõem relativa seletividade na localização

industrial. Diante de uma política macroeconômica baseada em elevadas taxas de juros domésticas,

câmbio apreciado, o mecanismo mais eficiente para contrabalançar os efeitos negativos da abertura

comercial e da falta de investimentos estimulados pelo governo federal baseou-se na “guerra fiscal”.

Ademais, conforme Cano (2008) foi à ferramenta mais nítida de ruptura com federalismo na promoção do

desenvolvimento e privilégio às instâncias locais visto que,

Muitos governos locais (estaduais e municipais), como medida de defesa – mas também por

acreditarem na ideologia do Poder Local -, lançaram-se à infeliz empreitada da “guerra fiscal”,

submetendo-se a verdadeiros leilões de localização industrial promovidos por empresas de grande

porte (em geral transnacionais), transferindo dinheiro de pobres para milionários e fomentando a

localização pelo subsídio e pelo trabalho periférico, ainda mais precarizado e barato (CANO,

2008, p.34).

Para Pochmann (2001), as empresas tendiam a decidir sua localização já com base nos custos

atrativos de mão-de-obra e de transportes. Tal elemento marcava a transferência para o Nordeste ficando

a decisão de localização intra- regional ao leilão de incentivos ofertados.

Numa perspectiva mais ampla, vale dizer que ganhou legitimidade as inserções pautadas nos

aspectos de competitividade ancoradas na emergência do local em sintonia com a lógica de divisão

espacial do trabalho. Arranjos de políticas foram implementados tendo como conseqüência da promoção

de ajustes espaciais com as atividades econômicas imprimindo movimentos locacionais que traduzem a

busca por redução de custos.

Em tal lógica, os territórios com fatores como mão de obra barata e abundante, infraestrutura,

disponibilidade de matérias primas e algumas outras dotações e atributos positivos em termos locacionais

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passam a ser atrativos e as vantagens oferecidas pelos poderes públicos em suas diversas esferas somam-

se como determinantes (MACEDO, 2010).

Tal conjuntura foi decisiva no tocante às espacialidades econômicas da Região Nordeste nas

últimas três décadas. Como se destacou anteriormente, enquanto plataforma das transformações

econômicas decorrentes da inserção brasileira - e nordestina em particular - ao contexto global de

reestruturação, a região assumiu função importante da configuração da divisão espacial do trabalho.

É importante reaver que na fase de ação mais direta da SUDENE, que vai de meados dos anos

1960 até primeira metade da década de 1980, em que predominara a ação desenvolvimentista, a região

completa suas fases de articulação produtiva nacional12

, com taxas de crescimento setoriais na maioria

das vezes superior às nacionais, conforme atesta a Tabela 2. O principal resultado foi à consolidação de

“ilhas de prosperidade” distribuídas espacialmente que além de abranger suas Regiões Metropolitanas e

principais capitais, alcançaram alguns espaços mais interiorizados (ARAÚJO, 1995).

Tabela 2 – Brasil e Região Nordeste: Taxas de Crescimento do PIB Setorial (%) 1960 – 2010. Períodos

Selecionados. *

Períodos

Agricultura Indústria Serviços

BR

NE BR

NE BR

NE

1950-60 4,59 5,53 6,27 5,23 6,18 6,27

1960-70 -0,49 -1,08 11,53 10,02 8,88 7,68

1970-75 9,76 8,63 14,31 15,75 9,68 8,42

1975-80 6,40 6,05 12,94 18,09 7,46 9,40

1980-85 4,24 5,16 3,53 8,70 0,75 1,65

1985-90 -4,99 -6,45 -0,01 -2,55 4,73 4,78

1990-95 1,17 1,53 -1,67 -0,79 0,70 0,40

1995-00 -0,50 -3,54 3,73 4,80 1,33 2,41

2000-05 -2,84 -0,07 -3,74 -3,29 7,13 6,89

2005-10 3,46 2,41 1,59 2,56 4,81 5,96

Fonte: Elaboração a partir de IBGE (2010); IPEADATA (2013).

*Cálculo com base na seguinte disponibilidade de dados com respectivos órgãos fontes: para os anos de 1950 e 1960,

Produto Interno Líquido a custo de fatores; para os anos de 1970 a 1980, PIB a custo de fatores; para os anos de 1985 a

2001, antigo Sistema de Contas Regionais que passa a utilizar o conceito de preços básicos; para os anos de 2005 e

2002, Sistemas de Contas Regionais Referência 2002.

Nesta dinâmica, a ação planejada objetivando redução de disparidades que desfavoreciam o

Nordeste quando comparado às demais regiões brasileiras, não obstante ter alcançado alguns efeitos

positivos transformando a estrutura produtiva da região (BERNAL, 2005), geraram algumas disparidades

intrarregionais que são objeto de intenso debate. Além dos casos prósperos de áreas como o Complexo

Petroquímico de Camaçari na Bahia, o Complexo Portuário de Suape no Pernambuco, III Polo Industrial

12 Esta articulação, segundo Guimarães Neto (1989), Araújo (1995) e Cano (2007), decorreu do processo histórico de

formação e integração do mercado nacional. Saindo de um contexto de insulamento, as etapas deste processo foram: i) a

articulação comercial sob o comando da economia da Região Centro-Sul, centro dinâmico e mais diversificado do país, e, ii) a

integração produtiva, com a implantação de ramos econômicos complementares principalmente à indústria deste centro

dinâmico, estimuladas pela SUDENE.

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Diversificado em Fortaleza/CE, o Complexo de Indústria de Base Salgema em Sergipe e o Complexo

Cloroquímico de Alagoas, localizados prioritariamente nas capitais da Região ou em suas proximidades,

outros pólos se diferenciaram imprimindo as bases de configuração da desconcentração concentrada.

3. Emprego industrial formal: o caso dos estados da Bahia e do Ceará durante o período de 2003/2013.

3.1. Características da Indústria.

3.1.1. Número de Estabelecimentos Industriais.

Segundo os dados da RAIS para os estados da Bahia e do Ceará, conforme exposto na Tabela 3, o

crescimento na quantidade de indústrias formais abertas entre 2003 e 2013, com destaque para o estado da

Bahia que passou de 7.551 indústrias em 2003 para 12.801 unidades produtivas em 2013, sofrendo

variação ao longo do período de 69,53%, face à variação de 65,26% unidades produtivas no Ceará no

mesmo período.

O crescimento significativo de indústrias abertas em ambos os estados decorre do processo de

relocalização de indústrias do Sul e Sudeste do país que migram para o Nordeste brasileiro motivados

pela panaceia advinda com o movimento de reestruturação produtiva adicionados à oferta de incentivos

fiscais e financeiros, mão-de-obra barata, abundante e disciplinada combinada com ausência de sindicatos

combativos. Ademais, conforme argumenta os propositores da política de atração, a aproximação

geográfica dos mercados estadunidense e europeu acabando por reduzir o custo de transporte, facilitando

o escoamento aos mercados externos.

Tabela 3 – Ceará e Bahia: Número de estabelecimentos industriais – 2003/ 2013. UF 2003 2013 Variação (%) 2003/2013

Ceará

Bahia

6.986

7.551

11.545

12.801

65,26

69,53

Total 14.537 24.346 134,79

Fonte: RAIS/MTE. Elaboração Própria.

Vale ressaltar que ao se configurar uma “desconcentração concentrada”, já destacada no presente

trabalho, é observado que este quadro se reproduz também dentro de cada estado. Os investimentos

industriais em ambos os casos aqui analisados se concentram em suas capitais: Fortaleza em 2013

dispunha de 54,16% dos estabelecimentos industriais cearenses ao passo que Salvador abarca 49,23%13

.

A seletividade espacial decorre naturalmente da disponibilidade de infraestrutura e de uma cesta de outras

externalidades positivas aos investimentos decorrentes da consolidação destas regiões metropolitanas

como espaços de dinâmica e elevada competitividade.

13 Dados oriundos da Relação Anual de Informações Sociais ( RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego( MTE).

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130

3.1.2. Evolução do Emprego Formal por Ramo de Atividade

Os dados da Tabela 4 apresentam evolução do emprego formal por ramo de atividade. Ainda que

pese o fato do presente trabalho dedicar-se ao caso da atividade industrial, a informação quanto aos

demais setores é relevante. Conforme é visto, destaca-se a elevada concentração de trabalhadores

empregados no setor de serviços nos dois estados. Em 2013, o setor de serviços diminuiu sua participação

em ambos, principalmente na Bahia ao auferir uma taxa de crescimento negativa de 0,27% a.a14

.

Nos anos de 2003 e 2013 observa-se o setor comercial lidera a participação tanto na economia

baiana quanto na economia cearense: no Ceará observa-se uma variação de 128,80% e com maior taxa de

crescimento em todos os setores 8,63% a.a; já na Bahia houve um nível menor de participação implicando

uma variação de 94,68% e taxa de crescimento de 6,89% a.a.

Tabela 4 – Ceará e Bahia: Evolução do emprego formal por ramo de atividade – 2003/2013 RAMO DE

ATIVIDADE

CEARÁ BAHIA

2003 (%) 2013 (%) 2003 (%) 2013 (%)

Indústria

Const. Civil

Comércio

Serviços

Agropecuária

173.093

27.091

113.438

241.659

17.566

30,2

4,8

19,8

42,2

3,8

275.198

84.619

259.549

454.959

25.920

25,0

7,7

23,6

41,4

2,4

151.674

56.736

229.048

414.327

72.086

16,4

6,1

24,8

44,8

7,8

267.665

171.521

445.904

755.191

89.393

15,5

9,9

25,8

43,7

5,2

Total 572.847 100,0 1.100.245 100,0 923.871 100,0 1.729.674 100,0

Fonte: RAIS/MTE. Elaboração Própria.

Ao se investigar a dinâmica do emprego formal industrial, é necessário fazer a leitura

considerando o peso relativo da indústria no conjunto da economia como um todo. Assim, apesar de ter

aumentado o número de postos de trabalho formais na indústria nas duas economias, em termos relativos

à realidade é outra. No caso cearense, passou-se em termos absolutos de 173.093 empregados formais em

2003 para 275.198 empregados em 2013, ocorrendo uma variação de 58,99%. No entanto em termos

relativos observa-se diminuição na participação da indústria no emprego total passando de 30,22% para

25,01%. Para a economia baiana, ocorre semelhante ao observar aumento de postos de trabalho em 2003

de 151.674 em números absolutos para 267.665 em 2013, ocorrendo uma variação de 76,47%. Apesar do

número maior de empregos gerados na indústria, ao relativizar este crescimento ao contexto global das

demais atividades, constatou-se que houve uma queda na participação do emprego total passando de

16,42% para 15,47% nos anos analisados.

Algumas análises apontam para tal fenômeno como um alinhamento com o que se observa na

conjuntura macro, com o denominado processo de “desindustrialização”, ou seja, queda na participação

do emprego industrial no emprego total de um país ou região. Segundo Oreiro e Feijó (2010) esses efeitos

14 A taxa de crescimento anual é calculada a partir do seguinte método {[ (anot/ ano0)^ 1/n] – 1} x 100; onde n é o número de

anos da série, anot é o ano final e ano0 o ano inicial.

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131

podem ter impactos negativos na economia brasileira, pois mesmo com maior participação do setor

terciário no emprego total reduz significativamente o crescimento econômico, pois o setor industrial é

responsável pela maior produtividade do trabalho e progresso técnico de um país.

Contudo, é necessário maiores estudos deste alinhamento. Ao passo que a industrialização recente

dos estados do Nordeste vem a decorrer de uma das faces da reestruturação produtiva que é a incessante

busca de redução de custos, tal movimento pode estar descrito na desindustrialização do país como um

todo tenho em vista que a relocalização promove em alguns casos a redução da participação industrial nas

regiões de origem dos investimentos industriais que aportam o Nordeste.

3.1.3. Evolução do Emprego Formal da Indústria da Transformação.

Ao analisar a evolução do emprego formal na indústria de transformação, observa-se na Tabela 5,

a concentração de trabalhadores empregados em indústrias intensivas em mão-de-obra (alimentícia, têxtil

e calçadista) tanto na Bahia como no Ceará. Todavia percebe-se neste período uma queda na participação

ao observar que em 2003, o Ceará participa com 71,07% do emprego formal industrial total vindo a cair

em 2013 para 65,24%.

No entanto, as indústrias baianas intensivas em mão-de-obra participam com 64,38% do emprego

formal industrial total para o ano de 2003. Não obstante uma queda no final do período para a

participação de 57,2% do emprego total em análise. Percebe-se nesse estado uma melhor distribuição do

emprego formal entre os setores da Indústria de Transformação.

Além da estrutura produtiva da Bahia ser mais integrada ao eixo dinâmico do Centro-Sul já desde

etapas prévias à ação planejada dos anos 1960 em diante, com esta fase a integração se deu com maior

vigor. A diversificação contou ainda com o aporte de segmentos da indústria de semielaborados

implantados a partir de então com a altivez de instalações que consolidaram o Pólo Petroquímico de

Camaçari. Outro aspecto importante está na implantação da indústria automobilística, já via instrumentos

fiscais em 1999 (SILVA, 2004.)

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132

Tabela 5 – Ceará e Bahia: Evolução do emprego formal na Indústria de Transformação e Extrativa Mineral no

período – 2003/2013

RAMO DE

ATIVIDADE

CEARÁ BAHIA

2003 (%) 2013 (%) 2003 (%) 2013 (%)

Extrativa mineral

Ind. de prod. minerais

Indústria metalúrgica

Indústria mecânica

Ind. material elétrico

Indústria detransporte

Indústria de madeira

Indústria de papelão

Ind.borracha,fumo

Indústria química

Indústria têxtil

Indústria de calçados

Ind.prod.alimentício

Serviços industriais

1.857

7.109

6.119

1.935

1.327

1.526

5.465

5.545

4.754

7.754

46.113

41.454

35.613

6.763

1,1

4,1

3,5

1,1

0,8

0,9

3,2

3,2

2,7

4,5

26,60

23,92

20,5

3,9

3.583

14.900

17.120

5.540

1.704

3.807

8.443

8.862

7.612

13.430

71.133

63.748

47.520

7.796

1,2

5,1

5,8

1,9

0,6

1,3

2,9

3,0

2,6

4,6

24,3

21,7

16,0

2,7

8.797

9.945

7.267

4.769

1.876

4.265

4.984

6.285

6.542

20.810

14.784

17.418

30.602

15.330

5,7

6,5

4,7

3,1

1,2

2,7

3,2

4,1

4,3

13,5

9,6

11,3

19,9

9,9

16.272

20.312

17.249

10.685

4.673

10.704

9.829

12.041

12.759

29.777

22.343

26.195

52.520

22.306

6,1

7,6

6,3

3,9

1,7

3,9

3,6

4,5

4,7

11,1

8,3

9,8

19,6

8,3

Total 173.334 100,0 293.098 100,0 153.673 100,0 267.665 100,0

Fonte: RAIS/MTE. Elaboração Própria

Outra informação relevante dos dados contidos na Tabela 5 é o crescimento do emprego formal

industrial em setores que geralmente eram concentrados na região Sudeste do país. Um dos exemplos

pode ser a Indústria de Material de Transporte que passou em termos absolutos de 1.526 em 2003 para

3.807 em 2013 correspondendo a uma variação de 149,47% e uma taxa de crescimento de 9,57% a.a. Na

indústria metalúrgica constata-se outro caso de expansão do emprego formal ao passar de 3,5% da

participação do emprego industrial para 5,8% ocasionando uma taxa de crescimento de 10,9% a.a.

Para o estado da Bahia ocorreu um aumento no emprego ao passar de 20.810 em 2003 para 29.777

em 2013 e uma queda de participação na indústria total junto com as intensivas em trabalho caindo de

13,54% para 11,52%. Para os demais setores, o estado da Bahia permanece criando mais postos de

trabalho em relação ao Ceará continuando a imprimir um quadro de economia mais diversificada também

na geração de empregos formais diretos.

Diante de tais análises percebe-se a diversificação do emprego industrial em que a queda na

participação de setores antes tradicionais para a economia desses dois estados como a indústria têxtil e

calçadista foi recompensada pelo crescimento em indústrias de material de transporte, metalurgia e

indústria química para o caso do Ceará.

3.1.4. Tamanho do Estabelecimento da Indústria Formal.

Um dos elementos importantes pra compreender a reestruturação produtiva em vigor é

investigação sob a perspectiva do tamanho dos estabelecimentos e suas respectivas gerações de emprego.

Assim, conforme a Tabela 6, que apresenta o número de empregados segundo o porte do estabelecimento

industrial, observa-se a concentração de empregados nas grandes empresas em ambos os estados. No

entanto, no Ceará no ano de 2003 para 2013 aumentou participação de empregados em todos os portes de

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133

empresa, exceto os grandes empreendimentos que mesmo tendo aumento que foi de 74.535 em 2003 para

101.858 em 2013, observa-se redução da participação relativa ao diminuir de 43,1% para 37%. No

entanto o porte de empresa que mais se destacou no período em estudo foi à média empresa implicando

taxa de crescimento de 3,2% a.a.

No entanto, na Bahia ocorre o inverso: todos os portes de empresa diminuíram sua participação,

exceto a grande empresa que registra um incremento de 37.602 para 87.182 implicando uma variação de

131,85% e taxa de crescimento de 8,78% a.a.

Tabela 6 – Ceará e Bahia: Distribuição do emprego formal na indústria por tamanho do estabelecimento –2003/

2013 EMPREGADOS

POR PORTE DA

INDÚSTRIA

CEARÁ BAHIA

2003 (%) 2013 (%) 2003 (%) 2013 (%)

Micro (Até 19)

Pequena (20 a 99)

Média (100 a 499)

Grande (500 ou mais)

27.939

35.744

34.876

74.535

16,1

20,6

20,2

43,1

45.174

64.662

63.504

101.858

16,4

23,5

23,1

37,

29.174

36.645

48.253

37.602

19,2

24,2

31,8

24,8

47.885

61.363

71.235

87.182

17,9

22,9

26,7

32,6

Total 173.093 100,0 275.198 100,0 151.674 100,0 267.665 100,0

Fonte: RAIS/MTE. Elaboração Própria.

Quando se agregam todos os portes, é apresentado que as médias e grandes empresas aparecem

como as maiores absorvedoras de emprego formal. Os dados se contrapõem assim à tendência nacional

em que, segundo o SEBRAE (2011), entre 2000 e 2010, foram gerados 6,1 milhões de empregos formais.

O Ceará em 2010 participou em 2010 com 2,8% do total de MPE’s do Brasil enquanto Bahia participou

com 4,1% do total empregando aproximadamente 10.148 pessoas.

3.2. Perfil socioeconômico e sociodemográfico dos ocupados formais na indústria

3.2.1. Sexo dos Trabalhadores.

A análise desagregada por sexo mostra que em 2003 haviam 103.618 trabalhadores empregados

na indústria formal cearense, sendo que 59,9% são do sexo masculino e 40,1% do sexo feminino. Em

2013 a participação dos homens aumenta para 62,43% respectivamente caindo a participação feminina

(para 37,6%). O estado da Bahia contava em 2003 com um total de 151.674 trabalhadores no setor

industrial, dos quais 72,9% são do gênero masculino contra 27,0% do sexo feminino, e em 2013 ocorre

um leve aumento na participação do sexo feminino (27%) e uma pequena queda da participação

masculina (72,9%).

Apesar do crescimento do número de empregos na indústria formal no período em estudo, em

2013 prevalece a concentração de trabalhadores do gênero masculino (62,43% no Ceará e 72,95% na

Bahia). Tal indicador aponta ainda para a seletividade do sexo na maioria dos setores que compõem a

atividade industrial.

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134

Tabela 7 – Ceará e Bahia: Número de empregados na indústria formal, segundo o sexo – 2003/2013 SEXO CEARÁ BAHIA

2003 (%) 2013 (%) 2003 (%) 2013 (%)

Masculino

Feminino

10.3678

69.415

59,9

40,1

171.813

1033.85

62,4

37,6

110.682

40.992

72,9

27

195.276

72.389

72,9

27,1

Total 173.093 100,0 275.198 100,0 151.674 100,0 267.665 100,0

Fonte: RAIS/MTE. Elaboração Própria.

3.2.2. Faixa Etária.

No tocante à variável faixa etária (Tabela 8), tanto em 2003 quanto em 2013 nos dois estados

considerados, a maior participação (aproximadamente 30%) dos trabalhadores empregados na indústria

formal situava-se na faixa etária de 30 a 39 anos.

Tabela 8 – Ceará e Bahia: Total de empregados na indústria formal por faixa etária – 2003 /2013

FAIXA ETÁRIA CEARÁ BAHIA

2003 (%) 2013 (%) 2003 (%) 2013 (%)

Até 17 anos

18 a 24 anos

25 a 29 anos

30 a 39 anos

40 a 49 anos

50 a 64 anos

65 ou mais

754

46.813

38.315

52.843

25.477

8.501

390

0,4

27

22

30,5

14,7

4,9

0,2

777

65.173

58.909

86.729

43.409

19.421

780

0,1

23,7

21,4

31,5

15,8

7

0,3

307

33.797

30.460

43.902

31.686

11.467

355

0,2

22,3

20,1

28,9

20,9

7,6

0,2

1050

45.777

52.588

92.518

45.735

28.960

1.037

0,4

17,1

19,6

34,6

17,1

10,8

0,4

TOTAL 173.093 100,0 275.198 100,0 15.1674 100,0 267.665 100,0

Fonte: RAIS/MTE. Elaboração Própria.

Em 2003, a participação da mão-de-obra industrial na faixa etária que vai até 17 anos é pouco

significativa no Ceará (0,44%) e na Bahia (0,20%) ao passo que em 2013 esses números reduzem para 0,1

no Ceará e aumenta na Bahia para 0,4%. Uma possível explicação são as políticas de primeiro emprego

ser mais consolidadas onde há maior diversificação produtiva, que no caso destas duas economias,

conforme isto anteriormente é o estado da Bahia.

O número pequeno de trabalhadores jovens até 17 anos empregados na indústria formal decorre do

conjunto de incentivos oferecidos pelo governo federal para manter crianças e jovens na escola através do

Programa Bolsa Família (incentivo monetário recebido mensalmente pela família para manter crianças e

adolescentes na escola) ou pela implantação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino

Básico (FUNDEB) através da Emenda Constitucional no. 14, de 1996, tendo por objetivo melhorar a

situação do ensino fundamental público, melhorando sua qualidade e abrangência.

Por outro lado o leve aumento de pessoas com até 17 anos empregados na indústria decorre que

muitas empresas demandam essa mão-de-obra, muitas vezes funcionando como condição de aprendizes

ou estagiários, a exemplo do Centro de Integração Empresa Escola (CIEE), onde se faz o intermédio entre

a indústria, a escola e o estudante.

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135

Ainda na Tabela 8, percebe-se a pequena participação dos trabalhadores na faixa etária acima de

65 anos. Em 2003 esses trabalhadores representavam um percentual de 0,2% no Ceará e Bahia, havendo

um pouco aumento para 0,3% e 0,4% respectivamente. Esta expansão associa-se àquela redução na

participação em ambos os estados da indústria intensiva em mão-de-obra. Mesmo com os direitos

assegurados da previdência social, as indústrias demandam esses trabalhadores, o que mostra que a

carência de esforço físico, habilidade não é visto como empecilho a integração no mercado de trabalho.

3.2.3. Nível de Escolaridade

Com relação ao nível de escolaridade, chama atenção o elevado percentual de trabalhadores na

indústria formal com poucos anos de estudo (Tabela 9). Em 2003, os trabalhadores do Ceará

concentravam-se na faixa de ensino fundamental incompleto (38,09%). No entanto na Bahia havia

36,87% dos trabalhadores entre o ensino médio completo e superior incompleto.

Tabela 9 – Ceará e Bahia: Total de empregados na indústria formal, segundo grau de instrução – 2003/2013

ESCOLARIDADE CEARÁ BAHIA

2003 (%) 2013 (%) 2003 (%) 2013 (%)

Sem instrução até

fund.incompleto

Fund.comp. até méd.

incompleto

Médio comp. Até

sup.incompleto

Superior completo

65.945

57.956

43.976

5216

38,1

33,5

25,4

3,0

38.947

72.355

152.073

11.823

14,1

26,3

55,3

4,3

49.117

37.852

55.931

8.744

32,4

2,9

36,8

5,7

41.267

48.066

155.308

22.974

15,4

17,9

58

8,6

Total 173.093 100,0 275.198 100,0 151.674 100,0 267.665 100,0

Fonte: RAIS/MTE. Elaboração Própria.

Em 2013, a indústria formal da Bahia apresentou declínio em termos percentuais na participação

de trabalhadores que tinham até o ensino fundamental incompleto, ao passar de 32,38% em 2003 para

15,42% em 2013. Isto representa uma variação negativa 15,98% com queda de 49.117 em 2003 para

41.267 em 2013. Tal movimento pode indicar a substituição de trabalhadores menos escolarizados por

aqueles mais qualificados, resultando dessa forma um aumento da seletividade na contratação de mão-de-

obra, devido à incorporação de novos métodos de gestão, organização do trabalho e reestruturação da

produção. Todavia no Ceará constata-se também um declínio em

termos percentuais do número de trabalhadores com nível de escolaridade até o ensino fundamental

incompleto, de 38,1% em 2003 para 14,2% em 2013.

3.2.4. Tempo de Serviço

Um indicador que revela certa estabilidade dos ramos da atividade econômica é o tempo de

serviço nas empresas. Assim, em relação ao tempo de permanência dos trabalhadores empregados na

indústria formal, em 2003, 39,5% ficaram empregados com menos de 01 ano no Ceará vindo a diminuir

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136

para 34,2% em 2013; na Bahia eles passam de 31,1% em 2003 para 31,4% em 2013. Apesar da elevada

rotatividade em ambos os estados, percebe-se que vem diminuído.

Tabela 10 – Ceará e Bahia: Distribuição dos trabalhadores na indústria formal, segundo tempo de serviço – 2003

/2013

TEMPO DE

SERVIÇO

CEARÁ BAHIA

2003 (%) 2013 (%) 2003 (%) 2013 (%)

Menos de 1 ano

1 a menos de 3 anos

3 a menos de 5 anos

5 ou mais anos

Ignorado

68.408

50.435

22.083

32.106

61

39,5

29,1

12,7

18,5

0,1

94.031

79.074

39.899

62.188

06

34,2

28,7

14,5

22,6

0,1

47.195

43.309

21.748

39.399

23

31,1

28,5

14,3

25,9

0,1

83.962

74.950

38.750

69.978

25

31,4

28

14,5

26,1

0,1

Total 173.093 100,0 275.198 100,0 151.674 100,00 267.665 100,0

Fonte: RAIS/MTE. Elaboração Própria.

A elevada concentração de trabalhadores com pouco tempo na indústria, que mesmo perdendo a

participação em ambos os estados constituem a maioria, é resultado da reestruturação produtiva, avanço

da tecnologia e dos elevados impostos trabalhistas que incentivam aos empregadores a utilizarem mão de

obra terceirizada com o propósito de reduzir custos.

3.2.5. Remuneração dos Trabalhadores

Sob a ótica da remuneração (Tabela 11), verificou-se que tanto no Ceará quanto na Bahia houve

redução dos rendimentos auferidos pelos trabalhadores na durante o período de 2003 e 2013. Isto é notado

tanto pelo aumento daqueles que recebiam até 2 salários mínimos quanto pela redução nas demais faixas

de rendimento, exceto aqueles que ganhavam até 1 salário mínimo na Bahia, que passaram de 8,09% em

2003 para 7,48% em 2013.

Tabela 11 – Ceará e Bahia: Total de empregados na indústria formal, segundo faixa de remuneração –2003/2013

FAIXA MÉDIA DE

RENDIMENTO EM

(SM)

CEARÁ BAHIA

2003 (%) 2013 (%) 2003 (%) 2013 (%)

Até 01 salário

Mais de 01 a 02 SM

Mais de 02 a 03 SM

Mais de 03 a 05 SM

Mais de 05 a 10 SM

Mais de 10 a 20 SM

Mais de 20 SM

Sem declaração

14.063

126.990

12.242

8.224

5.899

3.908

1.513

254

8,1

73,4

7,1

4,7

3,4

2,3

0,9

0,2

27.944

206.341

17.146

10.964

6.726

2.713

941

2.423

10,2

74,9

6,2

3,9

2,4

0,9

0,3

0,8

12.283

75.303

15.305

16.816

16.569

9.783

5.354

261

8,1

49,6

10,1

11,1

10,9

6,4

3,5

0,2

20.010

147.920

31.090

27.271

20.435

11.454

5.529

3.946

7,5

55,3

11,6

10,2

7,6

4,3

2,1

1,4

Total 173.093 100,00 275.198 100,0 151.674 100,0 267.665 100,0

Fonte: RAIS/MTE. Elaboração Própria.

Em 2013, os baixos rendimentos aumentam nos dois estados, sendo mais intensa no Ceará. O

percentual dos trabalhadores que ganhavam até 2 salários mínimos amplia-se significativamente de 81,5%

em 2003 no Ceará para 85,1%. No entanto na Bahia percebe-se aumento na faixa mais de 1 a 3 salários

mínimos que passa de 59% em 2003 para 66,8%. A baixa remuneração principalmente no Ceará foi sem

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dúvida um dos atrativos para a vinda de indústrias, sendo grande elemento que norteia a redução dos

custos produtivos.

Para aqueles que ganhavam acima de 03 salários mínimos houve redução na proporção de

trabalhadores concentrados nessas faixas de rendimento em ambos os estados, sendo novamente mais

intensa para a mão-de-obra empregada na indústria cearense. No Ceará, ganhavam acima de 3 salários

mínimos 11,1% caindo para 8,6% em 2013, e na Bahia eles passam de 32,2% em 2003 para 25,6% em

2013.

Essa ótica torna-se conflitante, dado que os trabalhadores em ambos os estados melhoraram sua

qualificação ao longo dos dez anos em análise e os resultados apontam redução no nível dos rendimentos

desses trabalhadores. Há uma contrariedade ao que preconiza o pensamento hegemônico da teoria de

capital humano15

que afirma que indivíduos mais escolarizados obtêm retornos financeiros mais elevados,

em virtude da aquisição em educação proporcionar elevação na renda do indivíduo, o que eleva a

produtividade e age como processo de seleção para o mercado de trabalho.

4. Considerações finais

A partir da realização deste trabalho, respondeu-se ao questionamento colocado pela

problematização, comprovando a hipótese de que as economias, cearense e baiana, apresentam de formas

distintas, não obstante a homogeneização imperada pela lógica da acumulação capitalista contemporânea,

que imprime para os estados da Região Nordeste um papel particular na divisão espacial do trabalho pelo

fornecimento de produtos intensivos em trabalho e bens intermediários.

Mesmo concernente a estruturas produtivas distintas, o esvaziamento das políticas de promoção de

desenvolvimento trouxe como margem de ação para estas economias, no bojo do paradigma neoliberal de

regulação econômica e todo o seu aparato, a atração de empreendimentos instrumentalizados pela guerra

fiscal, se constituem assim o apego demasiado aos localismos como esboço de política industrial.

O padrão industrial que se empreende com este modelo reitera o modo de integração da região à

dinâmica capitalista, bem ilustrado pelo perfil dos estados em estudo. Observou-se que a atividade

industrial baiana, com integração ao aparelho produtivo nacional mais consolidado, apresenta maior

diversificação nos seus setores econômicos tanto no número de estabelecimentos quanto no número de

empregos gerados. Ademais figura neste estado os empreendimentos com maior número de empregados.

Já o caso cearense, apresenta um modelo mais pautado em setores tradicionais como têxtil,

alimentos e bebidas, além da forte participação no ramo de calçados. Ademais, apesar da diversificação

mais recente avançar para ramos como o caso da ampliação da Indústria de Material de Transporte. Ainda

assim, sua estrutura industrial e o perfil do emprego formal é predominantemente pautado em setores

mais tradicionais.

15 Para um debate mais robusto, deve-se consultar Arabsheibani (1998).

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138

Assim sendo, o trabalho contribuiu para engrossar os argumentos justificados na necessidade de

retomada de políticas de desenvolvimento bem definidas sob duas qualificações: a política de

desenvolvimento regional e a política de proteção do emprego formal dada à evolução da precarização no

mercado de trabalho industrial no bojo das políticas neoliberais, ambas articuladas em suas diversas

instâncias escalares.

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CRISES HÍDRICAS NO CEARÁ DE 2012 A 2016: FENÔMENO CLIMÁTICO OU

SÓCIOECONÔMICO?

NAMYRES PEREIRA SANTOS

Economista pela Universidade Regional do Cariri (URCA), e-mail: [email protected],

Telefone: (88) 9 9731-0332.

ROGÉRIO MOREIRA DE SIQUEIRA

Professor Efetivo da Universidade Regional do Cariri (URCA), Mestre em Economia pela

Universidade Federal do Ceará (UFC), e-mail: [email protected], Telefone: (85) 9 8763-7638.

JAMILY FREIRE GONÇALVES

Economista pela Universidade Regional do Cariri (URCA), e-mail: [email protected],

Telefone: (88) 9 9941-5302

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CRISES HÍDRICAS NO CEARÁ DE 2012 A 2016: FENÔMENO CLIMÁTICO OU

SÓCIOECONÔMICO?

RESUMO:

Diante da severidade e prolongamento da seca que atinge a região semiárida, principalmente no estado do

Ceará. Esse trabalho tem como objetivo avaliar o impacto da seca no cenário socioeconômico e ambiental

da região Cearense, no período de 2012 a 2016. A investigação foi elaborada por meio de um estudo

exploratório e bibliográfico, que contempla o estado do Ceará, onde a maior parte do seu território está

inserido no semiárido nordestino. Será analisado o histórico das secas, suas consequências, a forma como

é utilizado esse recurso tão escasso por meio do ponto de vista institucional e político de como ocorriam

às estiagens e como o governo agia com a sua chegada. Também será feito a descrição das políticas

públicas, quais seus mecanismos de ação, como funcionam as entidades, projetos, programas e

compreender a forma em que as políticas têm agido para solucionar este problema que aflige os

cearenses. Contudo, foi possível observar que os cearenses ainda sofrem com as constantes secas, os

programas e projetos criados ainda não foram capazes de mudar a realidade social da população da região

semiárida. Chegou-se à conclusão que os efeitos advindos da seca não podem ser evitados, mas podem

ser amenizados se as políticas alinharem as suas estratégias de convivência com o semiárido, inserindo

políticas permanentes e sustentáveis.

Palavras-chaves: Políticas Públicas; Secas; Semiárido Nordestino.

ABSTRACT:

Due to the severity and prolongation of the drought that reaches the semi-arid region, mainly in the state

of Ceará. This study aims to evaluate the impact of drought on the socioeconomic and environmental

scenario of the region Cearense, in the period from 2012 to 2016. The research was developed through

an exploratory and bibliographical study, which includes the state of Ceará, where most of its territory is

inserted into the semi-arid northeast. It will analyze the history of drought, its consequences, the way it

used this scarce resource through the institutional and political point of view of how the drought

occurred and how the government acted with his arrival. It will also describe public policies, their

mechanisms of action, how entities, projects, programs work and understand how policies have acted to

solve this problem that afflicts Cearenses. However, it was possible to observe that the people of Ceará

still suffer from the constant droughts, the programs and projects created have not yet been able to

change the social reality of the population of the region semi-arid. It has come to the conclusion that the

effects of drought can not be avoided, but can be mitigated if policies align their strategies for living with

the semi-arid, inserting policies permanent and sustainable.

Keywords: Public policy; Droughts; Semi-arid Northeastern.

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142

1. Introdução

A seca no Ceará sempre foi um problema muito abordado, devido às características climáticas e

hidrográficas do estado que provocam sua forte recorrência e traz períodos de sofrimento para grande

parte da população, em especial a mais pobre que são mais vulneráveis às crises hídricas. Por isso, os

debates técnicos, políticos e científicos buscam discutir as ações para amenizar as consequências da seca,

colocando em foco a formulação e implementação de políticas públicas.

Com a sucessão de governos foram sendo desenvolvidos e implementados diversos projetos,

porém a maioria com pouca efetividade e abrangência, já que grande parte da população continua

dependente de políticas paliativas de enfrentamento tais como distribuição de carros pipas e

assistencialismo. Ainda faltam políticas permanentes e apropriadas, capazes de modificar a realidade de

quem vive no semiárido.

Os períodos de seca prolongados como observado entre 2012 e 2016 afetam de sobremaneira as

reservas hídricas do estado do Ceará, comprometendo o abastecimento humano e animal bem como a

produtividade agrícola. Isso acaba comprometendo o desenvolvimento econômico e social dos indivíduos

e das localidades, que tem que direcionar seus esforços para o enfrentamento das secas. Segundo Martins

e Magalhães (2015) no período de 2012 a 2015, vários municípios foram atendidos com ações

emergenciais.

Apesar do empenho e avanços ainda há muito que se fazer; existem diversos esforços de analistas

públicos e acadêmicos no sentido de atenuar o problema hídrico, isto é, tornar a convivência com a seca

mais harmoniosa. Contudo, esta pesquisa se mostra de grande importância por abordar um tema essencial

à vida, à economia, ao social, ao meio ambiente e que causa, em última instância muito sofrimento aos

atingidos. Além disso, há a necessidade de se conhecer as políticas implementadas, seus mecanismos de

ação e se as mesmas realmente têm funcionado e contribuído para solução do problema e o

desenvolvimento socioeconômico do estado.

A pesquisa tem como objetivo realizar um estudo do problema hídrico da região Cearense de 2012

a 2016 verificando os aspectos sociais das políticas públicas usadas para solucionar o problema da seca.

Para isso foi necessário avaliar os aspectos econômicos e sócios ambientais da seca, bem como descrever

como os recursos hídricos do estado têm sido utilizados. Busca-se também fazer uma análise histórica das

secas assim como as ações para atenuá-las, descrevendo ainda as políticas aplicadas à seca.

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143

2. Referencial Teórico

2.1 Aspectos econômicos da seca

A seca afeta o homem pelas alterações profundas que ocorrem nas condições econômicas de quem

necessita da terra para viver, agrava os problemas econômicos e sociais de uma população pobre que já

vive em condições de emprego inseguros. Contribui para intensificar a degradação ambiental,

comprometendo o armazenamento dos recursos hídricos, trazendo problemas ao abastecimento da

população e para o desenvolvimento de atividades econômicas.

A água é um bem essencial a muitas atividades humanas, e tem havido aumento contínuo do seu

uso em diversas atividades, por sua escassez e vulnerabilidade é considerada um bem econômico.

Segundo Tundisi (2014) apesar do Brasil possuir uma grande disponibilidade de água em termos globais,

os recursos são distribuídos de forma desigual. A região Nordeste e o Ceará em particular se caracterizam

pela escassez deste recurso. A mesma água é utilizada em várias atividades, como o uso industrial, a

irrigação, geração de energia, abastecimento urbano e outras atividades, por isso sua escassez impede o

desenvolvimento da região. Segundo Dourado Júnior (2004) a escassez de água em algumas regiões se

deve a fatores como a variação climática, excesso populacional e de atividades econômicas, aumento da

demanda por água e poluição.

A agricultura de sequeiro (especialmente de arroz, feijão e milho) representa uma parcela muito

significativa da atividade econômica desenvolvida no estado do Ceará, conforme Sampaio e Sampaio

(2014) quando a seca chega, há uma queda na produção de alimentos da agricultura de sequeiro, algumas

vezes podendo resultar em perda total. De acordo com a CONAB (2017) com seca plurianual de 2012-

2016 a cultura de sequeiro foi prejudicada pelo fator climático, havendo uma queda na produção.

Segundo Sampaio e Sampaio (2014) como a renda de parte das famílias é obtida deste tipo de produção,

quando ocorre a seca a renda cai consideravelmente.

Para Carvalho (2012) a seca representa uma impossibilidade de trabalho para assalariados e

pequenos proprietários. Os que perdem a colheita e não tem mais como alimentar suas famílias, não tendo

emprego, e sem alternativas para melhorar sua situação, tentam trabalhar nas frentes de serviços, não

existindo as frentes migram na tentativa de fugir da miséria. Segundo Queiroz, Baeninger (2015) as

migrações se tornam uma alternativa para aqueles que querem melhorar de vida ou apenas sobreviver,

principalmente migrar para regiões onde se concentram a indústria, mas os migrantes ainda podem se

deparar com a falta de emprego devido ao baixo nível de educação formal e falta de qualificações.

Outra consequência da seca é a perda de valor de bens como terra e gado devido à queda na

demanda. De acordo com Araújo (2002) a seca agrava a questão fundiária, a concentração de terras nas

mãos de poucos produtores, aumentando os problemas sociais e políticos da região. Conforme Sampaio e

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Sampaio (2014), passada a seca os bens voltam a adquirir valor, e os que conseguiram acumular tem um

acréscimo na renda em detrimento de outros que perderam suas terras, fazendo com que a desigualdade

cresça ainda mais. Para Balsan (2006) a concentração da terra nas mãos de poucos proprietários impede

os pobres de terem acesso a terra, ficando com a minoria a maior porção de terras e a exploração das

mesmas.

2.2 Aspectos socioambientais da seca

A região semiárida abrange uma área de 912 mil km2, onde vivem cerca de 22 milhões de pessoas,

46% da população nordestina, é uma zona sujeita a períodos cíclicos de seca. Possui uma pluviosidade

média que pode variar de 250mm/ano a 800mm/ano. O subsolo é formado por 70% de rochas cristalinas,

que tem baixa capacidade de reter água em lençóis subterrâneos, normalmente a água é salinizada. Possui

déficit hídrico, pois a água que evapora é três vezes maior que a precipitação, se tornando o maior

problema do semiárido (MALVEZZI, 2007).

A seca é um fenômeno climático de maior gravidade no Estado do Ceará, que além de causar

problemas econômicos, também gera consequências sociais e ambientais. Um dos maiores problemas

ambientais é o impacto sobre os recursos hídricos por ser um bem natural e limitado. Assim para Silva

(2014) os impactos ambientais ocasionados pela seca estão relacionados com a redução dos recursos

hídricos e as perdas de espécies vegetais, também estão relacionados com a perda de animais aquáticos

devido o esgotamento dos açudes. Muitas famílias também perdem plantações, em especial as frutíferas,

causando danos alimentares e econômicos.

Um dos maiores danos causados pela seca, não são apenas as perdas vegetais e dos rebanhos, mas

às perdas dos recursos hídricos e por tornar a vida mais difícil. Em anos de seca há uma redução nas

fontes de abastecimento, com isso há perdas de bem-estar da população, pois reduz a qualidade de vida,

cresce a pobreza, e diminui o emprego. Com a escassez de recursos a agricultura de subsistência torna-se

impraticável, gerando redução na oferta de alimentos, muitos ficam com fome, como não há como

produzir, provoca a redução dos recursos econômicos, gerando a fome e miséria de milhares de pessoas.

Um fator de grande importância é a contaminação dos corpos hídricos, pois a água contaminada

pode trazer sérios riscos à saúde pública. No Ceará essa disponibilidade vem se reduzindo rapidamente,

enquanto que a demanda cresce. Por causa das estiagens os reservatórios secam e a população que não

tem como encontrar água de boa qualidade se vê obrigada a consumir água de poços e açudes que estão

no limite de sua capacidade de armazenamento, portanto são de baixa confiabilidade, enquanto que

alguns se submetem a caminhadas longas em busca de água para consumo próprio e dos animais.

De acordo com Carvalho (2012) a seca afeta diretamente as condições de vida das pessoas que

vivem no semiárido, a carência de água causa incerteza no consumo da população, na alimentação dos

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animais e na produção e rendimentos de quem pratica a agricultura, causando escassez de alimentos nas

áreas que são mais afetadas, maior probabilidade de doenças causadas pela má nutrição e pelo consumo

de água contaminada.

Outro fator ambiental da seca são os incêndios que ocorrem geralmente por causa do aumento da

temperatura, em períodos de seca e calor a cobertura vegetal fica seca e com reduzida umidade do ar e os

ventos quentes contribuem para que os focos de incêndios se alastrem. Ou seja, por causa do tempo seco a

vegetação se torna vulnerável as queimadas.

3. Metodologia

A presente investigação pauta-se em um estudo bibliográfico, uma vez que esta ferramenta dá

embasamento teórico necessário para aprofundar a discussão. É uma pesquisa de caráter exploratório,

buscando se familiarizar com o problema das secas no Ceará, e por meio desta discutir as políticas

públicas e até onde elas têm contribuído para solucionar este problema.

De acordo com Helena (2009) o estudo exploratório ou pesquisa bibliográfica pode ser

considerado uma forma de pesquisa, uma vez que é caracterizada pela busca a documentos de uma

resposta a uma dúvida, “uma lacuna do conhecimento”. Procura explicar um problema a partir de

referências teóricas que já foram publicadas em documentos, dispensando assim a elaboração de hipótese.

A pesquisa utilizará para a análise dados secundários de órgãos e entidades governamentais, tais

como, Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (COGERH), Fundação Cearense de Meteorologia e

Recursos Hídricos (FUNCEME). Além de estudos dos demais autores bem referenciados que já

escreveram sobre o tema aqui abordado, fazendo fichamento dos principais pontos importantes para a

pesquisa, se utilizará principalmente de publicações que em grande parte estão disponibilizados na

internet, revistas e periódicos especializados. Quanto à técnica e instrumentos utilizados para

levantamento de dados é indireta, pois faz uso de material já publicado.

3.1 Área de Estudo

O estudo realizado contemplou o Estado do Ceará, que tem como limites o Oceano Atlântico, ao

norte; o estado do Pernambuco ao Sul; Estados do Rio Grande do Norte e Paraíba, ao leste e o Estado do

Piauí a Oeste. A figura 1 mostra o mapa do estado do Ceará:

Figura 1: Mapa do Estado do Ceará

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146

Disponível em: http://www.guianet.com.br/ce/mapace.htm

O Ceará tem uma área territorial de mais de 148 mil Km2

e possui 184 municípios. Cerca de 92%

do seu território está inserido no clima semi-árido, onde predomina a vegetação caatinga que, por ser

muito sensível às mudanças climáticas e interferências humanas, é o principal bioma a sofrer com o

problema da seca. Caracteriza-se por ter clima árido e áreas com esse clima são atingidos por períodos de

seca, possui deficiência hídrica, irregularidade das precipitações pluviométricas distribuídas no tempo e

no espaço.

Segundo Albuquerque, Souza, Medeiros, Sousa e Lima (2014), o período chuvoso dura de três a

cinco meses, geralmente de fevereiro a abril, nas condições normais de chuva os índices pluviométricos

variam entre 500 a 800 mm/ano, a irregularidade das chuvas e as altas taxas de evaporação justificam

déficit hídrico para agricultura e para a população residente no semiárido. A temperatura média no

semiárido são superiores a 22°C. Os solos no estado do Ceará tem pouca profundidade, se tornando

vulnerável a erosão e tem deficiência hídrica. Atualmente o estado além de sofrer com a vulnerabilidade

imposta pela irregularidade pluviométrica, também apresenta solos degradados. Quanto aos recursos

hídricos superficiais estão em baixos índices de armazenamento ou encontram-se comprometidos pela

poluição, esse problema se agrava ainda mais na área onde prevalece o bioma caatinga.

4. As secas no Ceará do século XVI ao XXI

O quadro 1 traz um resumo de algumas das secas que tiveram destaque no Sertão Nordestino ao

longo dos séculos.

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147

Quadro 1– Algumas das principais secas registradas no Sertão Nordestino

PERÍODO DESTAQUE DESCRIÇÃO

SÉCULO

XVI

1583

Ficou conhecida como a grande estiagem, populações duramente atingidas

pela fome, fez os índios migrarem em busca de alimento.

SÉCULO

XVII 1692-1693

Assolou a produção agrária, populações se deslocavam em busca de comida e

água, com isso houve despovoamento de fazendas e currais.

SÉCULO

XVIII

1720-1727 Século em que se iniciou a cultura do algodão, foi a maior estiagem com sete

anos seguidos de seca, gados foram dizimados e as fontes secaram.

1777 Ficou conhecida como a seca dos três setes, lavouras foram esterilizadas, sete

oitavos dos rebanhos do Ceará foram dizimados.

SÉCULO

XIX 1877-1879

A mortalidade no Ceará chega à de 500000, Surgem sugestões sobre estudos

e obras para mitigar a seca. Esse período marca a frase dita por D. Pedro II:

“Não restará, uma única joia da coroa, mas nenhum nordestino morrerá de

fome”. Milhares morreram de fome e muitos morreram de doenças.

SÉCULO XX 1915

Inspirou a escritora Raquel de Queiroz a escrever o “O quinze”, onde foi

relatada a criação de campos de concentração, em que milhares de retirantes

ficaram a morrer de fome e doenças. Ficou famosa como a “seca do 15”.

SÉCULO

XXI

2001 Seca combinada com a crise elétrica assola todo o país, programa seguro

safra é proposto pelo governo do estado do Ceará.

2012-2016

Chuvas abaixo da média. Dizimou a pecuária e a agricultura familiar, em

algumas regiões não choveu, os rios secaram. Houve queda da produção

agrícola, foi necessário abastecimento via carros- pipa.

Fonte: Autora com base em Campos (2014), Rodrigues (2016).

5. Seca de 2012 a 2016

Este estudo contempla os aspectos hidrológicos do estado do Ceará, que na maior parte do seu

território predomina o clima semiárido, com uma estação chuvosa e outra seca, o período chuvoso

concentra a maior parte das precipitações e se restringe a cerca de quatro meses ao ano, isso aumenta a

evaporação e a consequente perda de reservas. As temperaturas são elevadas, variando pouco durante

todo o ano, as chuvas se concentram entre janeiro e abril, portanto, o período restante do ano corresponde

a um longo período de seca.

Atualmente o Ceará vivencia um novo ciclo de seca que teve início em 2012, segundo dados da

Fundação Cearense de Meteorologia (FUNCEME) mostram que esta é a pior seca prolongada desde

1910.

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148

Gráfico 1: Chuvas no Ceará de 1977 a 2017

FONTE: Autora com dados da Fundação Cearense de Meteorologia (FUNCEME)16

A precipitação normal no Ceará é de 800 mm, mas com a seca que deu início em 2012 a

precipitação foi de 388,8 mm muito abaixo da média o que fez desta uma das piores secas prolongadas.

De 2013 à 2016 as chuvas seguiram abaixo de 600mm. O período de 2012 a 2016 por ser muito crítico

em termos de chuvas, muitos municípios decretaram estado de emergência no Ceará como mostra na

tabela 1.

Tabela 1- Decretos de Estado de Emergência no Ceará no período de 2012 a 2016

DECRETO PERÍODO N° DE MUNICÍPIOS

30922 28/05/2012 168

31053 19/11/2012 174

31214 21/05/2013 175

31338 31/10/2013 175

31475 08/05/2014 176

31619 15/11/2014 176

31717 29/04/2015 67

31725 21/05/2015 28

31752 24/06/2015 44

31808 22/10/2015 150

31931 18/04/2016 84

31961 02/06/2016 25

31981 28/06/2016 9

32002 01/08/2016 7

32069 14/10/2016 104

32110 23/12/2016 25

Fonte: Autora com base em dados da Defesa Civil

De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA, 2015) em setembro de 2015 o

Comitê Integrado de Combate à Estiagem do Estado do Ceará incluiu mais 37 municípios cearenses na

lista dos atendidos pela operação Carro Pipa (atendendo a uma população de quase um milhão de

16 Disponível em :<www.funceme.br/index.php/areas/23-monitoramento/metereológico/406->

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149

pessoas), passando para 146 o número de municípios atendidos, quase 80% dos municípios do Estado do

Ceará e justamente na zona rural onde as carências são maiores. Segundo Marengo, Cunha e Alves (2016)

até 2015 quase nove milhões de pessoas da região semiárida do Nordeste foram atingidas por essa seca.

Com os impactos 997 dos 1794 municípios da região nordeste foram declarados em estado de calamidade

ou emergência pelo governo federal.

De acordo com Martins e Magalhães (2015) com a seca plurianual de 2012 a 2015 vários

municípios necessitaram de ações emergenciais, como adutoras de montagem rápida e perfuração de

poços. Para isso foi necessário recursos do estado do Ceará, através da Cogerh e do Ministério de

Integração. Além disso, conforme Ceará (2013) com o abastecimento de água crítico passa a ser feito por

meio da operação carro pipa, também foram atendidas com recuperação de poços profundos, construção

de cisternas, recuperação de açudes e barragens, foram criados comitês de enfrentamento das estiagens,

em 2013 foram ampliados os programas de garantia safra e a bolsa estiagem.

Segundo Martins e Magalhães (2015), ficou claro que o número de carros-pipa era insuficiente

para atender a demanda, já que se intensificou o quadro crítico em 2012, continuando abaixo da média até

2016. O exército assumiu a partir de 2015 várias rotas de carros-pipa, que de 2010 a 2015 eram atendidas

defesa civil pela estadual. Em 2010 no Estado do Ceará existiam 678 rotas na operação carro-pipa do

exército, esse número cresceu em 2015 para 1183 rotas, tendo como causa desse crescimento a

intensificação da seca plurianual. Foram cinco anos críticos em termos hidrológicos, em que houve

redução dos reservatórios. A tabela dois mostra a atual capacidade hídrica do Estado do Ceará ao final de

cada ano.

Tabela 2- Situação Hídrica do Estado do Ceará

Capacidade Hídrica por hectômetro Cúbico (hm³) – 18.678,0

ANO VOLUME ATUAL (hm³) NÍVEL ATUAL (%)

2011 13373,4 71,5%

2012 9114,8 48,8%

2013 5902,2 31,6%

2014 3922,3 21,0%

2015 2316,1 12,4%

2016 1275,0 6,8% FONTE: Autora com base em dados da Conab (2017)

A tabela dois demonstra o resultado dos cinco anos de seca de 2012 a 2016, que foram críticos em

termos hidrológicos o que refletiu na redução dos reservatórios. Em 2011 considerado um ano normal de

chuva os reservatórios estavam com 71,5% de sua capacidade, que corresponde a 13.373,4 hm3. A partir

de 2012 o nível começou a baixar, e já em 2016 o nível do estava com 6,8% da capacidade 1.275,0 hm3.

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150

A pouca chuva de 2012 prejudicou a alimentação do gado, que passou a morrer de fome, em 2013

a quadra chuvosa continuou abaixo da média, e os mesmos problemas de suprimento continuaram

afetando a produção agrícola. Segundo a Conab17

(Companhia Nacional de Abastecimento) a produção

agrícola foi extremamente prejudicada pelo fator clima, já que de 2012 a 2015 apresentaram baixa

pluviometria, representando para a produção agrícola perdas na produção.

A tabela 3 mostra o prejuízo sofrido na produção agrícola nos anos de 2012 a 2015 comparando

com a produção de grãos de 2011, ano em que a quadra chuvosa foi normal.

Tabela 3: Produção das principais culturas agrícolas no período de 2011 a 2015

Fonte: Autora com base em dados da Conab (2015)

Os anos seguidos de seca prejudicaram vários setores da economia, um dos produtos mais

prejudicados foi o milho, que é a cultura mais cultivada no Ceará, em 2011 a produção foi de 934,3, já em

2012 quando deu início a seca havia produzido 73,9. Fazendo com que houvesse uma variação negativa

de 92,2% da produção reduzida. Permanecendo abaixo da média até 2015.

Pode-se observar na tabela 4 que outros produtos agrícolas de relevância econômica para o estado

também sofreram perdas com fenômeno climático, que atinge o estado desde 2012.

Tabela 4: Produção Agrícola- Outras Cultura

Fonte: Autora com base em dados da Conab (2015)

Com esta seca até a cana-de-açúcar, uma das produções mais tradicionais do Ceará sofreu pela

falta de água, a produção que havia sido de 2209,8 em 2011, baixou para 906,6 em 2015, foi o pior ano

17

Disponível

em:<http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/16_01_05_16_16_41_dados_tecnicos_sobre_o_panorama_da_ago

pecuaria_do_estado_do_ceara_-_ano_2015.pdf>

Produto 2011

(a)

2012

(b)

2013

(c)

2014

(d)

2015 VARIAÇÃO %

(e) b/a c/a d/a e/a

Milho 949,3 73,9 98,1 401,3 151,4 -92,2 -89,7 -57,7 -84,1

Feijão 259,6 32,9 68,7 132,5 82,6 -87,3 -73,5 -49,0 -68,2

Arroz 94,9 31,9 54,1 31,7 18 -34,8 -43,0 -66,6 -81,0

Outros 38,9 3,2 2,7 7,1 2,8 -91,8 -93,1 -81,7 -92,8

Total 1342,7 171,9 223,6 572,6 254,8 -87,2 -83,3 -57,4 -81,0

Produto 2011

(a)

2012

(b)

2013

(c)

2014

(d)

2015 VARIAÇÃO %

(e) b/a c/a d/a e/a

Castanha

de caju

111,7 38,5 53,1 51,1 52,1 -65,5 -52,5 -54,2 -53,3

Cana- de -

açúcar

2209,8 1196,7 1176,5 1176,5 906,6 -9,6 -24,2 -46,8 -58,9

Raiz-

mandioca

836,6 468,7 300,3 478,4 340,6 -44,0 -64,1 -47,8 -59,2

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151

para esta produção que teve uma variação negativa de 58,9%. Essa seca prolongada afetou os campos de

cana em todo o estado.

Em 2014, segundo a FUNCEME18

(2015) houve 4517 focos de incêndio, meteorologistas

destacam que um dos principais motivos foi o acúmulo dos efeitos da seca que vem castigando o Ceará

desde 2012 e as temperaturas acima da média. Com o prolongamento da estiagem, 2015 foi o ano mais

quente da história, o que contribuiu para a redução da umidade relativa do ar, em consequência da longa

estiagem, os solos ficaram menos úmidos e a vegetação seca, condição propicia para a propagação do

fogo, com isso cresce o número de incêndios para 6.186 que representa um aumento de 36,9%.

6. Políticas Públicas

As políticas públicas têm um papel fundamental na solução de problemas da sociedade, através de

ações do Estado tanto em âmbito federal, estadual e municipal, agindo diretamente ou em parceria com

organizações não governamentais, e/ou com a iniciativa privada. As políticas desenvolvidas provocam

efeitos que influenciam a vida dos cidadãos.

Uma das formas intervenções do Estado ao problema da seca foi à criação em 1909 do

Departamento Nacional de Obras contra as Secas (DNOCS), sendo o primeiro órgão a estudar a

problemática do semiárido, vale ressaltar que ele possuía outro nome. Construiu açudes, estradas,

barragens e poços. Porém algumas de suas obras foram implantadas sem observar os aspectos ambientais

e socioeconômicos do estado, o que acabou contribuindo para diminuir a eficácia de suas ações. Apesar

de críticas não se pode deixar de destacar seu papel relevante para a construção de infraestrutura na região

nordestina.

Em 1932 um termo ficou conhecido como “Indústria da Seca” devido a uma estratégia utilizada

por políticos que se aproveitavam da tragédia da seca em benefício próprio. As intervenções do governo

se resumiram basicamente em ações de caráter emergencial de curto prazo que só são desenvolvidos em

momentos de calamidade sem ter uma programação planejada, como distribuição de água, benefícios

sociais, doações entre outros, tornando as pessoas dependentes de tais políticas. Com o povo sertanejo é

vulnerável, os políticos que estão no poder usam dessas manobras como um meio para ganhar apoio.

Assim essas ações alimentam a chamada indústria das secas, que se utiliza também das obras hídrica para

favorecer grandes proprietários.

Em seguida a secretaria de recursos hídricos foi criada em 1987. Segundo Filho (2003), com o

objetivo de promover o uso racional dos recursos hídricos, trabalhando com barragens, construção de

poços, adutoras, eixos de transferência hídrica e abastecimento de água. Também faz parte do Sistema de

18

Disponível em: <www.funceme.br/index.php/comunicao/noticias/694-número-de-focos-de-incêndio-no-ceará-cresce-

36,9#todospelaagua

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152

Recursos Hídricos, a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (COGERH) responsável pela

manutenção das obras, a Superintendência de Obras Hidráulicas (SOHIDRA) com o acompanhamento e

fiscalização e a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME) com a finalidade

de aumentar os conhecimentos da geografia, planejando e desenvolvendo as políticas.

Em seguida a agência nacional de águas - ANA foi criada em 1999, sendo responsável pelo

gerenciamento dos recursos hídricos brasileiro. Cabe a ANA o controle, operacionalização, avaliação dos

Recursos Hídricos. Seu aspecto regulatório tem alcance nacional, faz parte de suas atribuições o apoio à

gestão, monitoramento de rios e reservatórios, planeja e desenvolve programas e projetos, estimula a

adequada gestão e o uso racional dos recursos hídricos.

De acordo com Silva (2003) tradicionalmente as ações governamentais de intervenção foram

sendo construídas tendo como características o caráter emergencial, programas desenvolvidos só em

momentos de calamidade, não resolviam a solução hidráulica. As ações de combate partiam do

armazenamento de água. No entanto, o clima da região quente e seco limitava o efeito da política,

fazendo com que a água represada evaporasse muito rápido.

Segundo Malvezzi (2007) foi construído vários açudes e poços em todo o semiárido, mesmo com

as obras sendo feitas continuamente a população rural ainda encontra problemas de abastecimento. Com

isso, em momentos de seca, ainda são necessárias às ações emergenciais, como as Adutoras de montagem

rápida (AMR), perfuração de poços e a operação carro-pipa. O autor destaca o Projeto de Transposição do

São Francisco que segue a lógica da “Indústria da Seca” repetindo as obras que imobilizam grande capital

fortalecendo políticos e trazendo benefícios a particulares.

Entre os programas criados vale destacar a Agenda 21 que mobiliza as instituições sobre a ideia de

sustentabilidade, em que as políticas ou ações que promovam a convivência com o semiárido devem

inserir o desenvolvimento sustentável. Ou seja, atender as necessidades do presente sem comprometer as

gerações futuras, respeitando a capacidade de restauração dos ecossistemas.

O Projeto Áridas tem como objetivo contribuir com o desenvolvimento sustentável da região

semiárida e representa uma rica fonte de dados de informação para elaboração de políticas sustentáveis.

Segundo Viana (2013) o projeto realizou 46 estudos que demostraram desigualdade socioeconômica, a

degradação do solo e a pouca disponibilidade de água foram destacados como os grandes desafios para o

Nordeste. Foram sugeridos programas ligados às variações climáticas e a pobreza. Esse projeto foi

fundamental para a delimitação de novas políticas, deu notoriedade o desenvolvimento sustentável.

(VIANA, 2013).

O PRONAF foi criado em 1996, tendo como objetivo fortalecer o desenvolvimento sustentável da

agricultura familiar, com o intuído de melhorar a qualidade de vida das famílias produtoras. Segundo

Silva (2007) o PRONAF tem como finalidade apoiar as atividades dos agricultores da região, financiando

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153

tecnologias de convivência, como por exemplo, para construção de cisternas e barragens para consumo

humano e produção.

O programa um milhão de cisternas é reconhecido como um elemento de segurança hídrica. pela

mobilização e formação social para a convivência com o semiárido, iniciado em 2001. Até março de

2017, já foram construídos 595.812 cisternas rurais (ASA, 2017). As famílias beneficiadas com este

programa passam por uma capacitação de gerenciamento dos recursos hídricos, onde aprendem como

utilizar a água da forma mais adequada.

O P1MC foi o primeiro programa desenvolvido pala ASA, com o objetivo de atender a

necessidade básica de água para beber da população vivente no campo, as famílias envolvidas passam a

ter acesso à água de qualidade, através do armazenamento de água da chuva em cisternas construídas de

placas de cimento ao lado da casa. Com isso diminuiu a dependência de políticas assistencialistas.

Segundo Nascimento (2016) após a implantação das cisternas houve uma melhoria nos resultados de

saúde das famílias, diminuiu a dependência de carros-pipa e as migrações.

A história das secas no Ceará sempre foi de muitas perdas na agricultura, morte de animais, fome,

migração. Nesse sentido, foi criado o programa seguro safra para que os agricultores familiares que

perdessem a safra por causa da seca tenham uma condição mínima de sustento. Segundo a Secretaria de

Desenvolvimento Agrário (2015), o seguro safra foi criado em 2002. Que garante ao agricultor o

recebimento de um auxilio, caso este venha a perder 50% de sua safra por causa da estiagem. (SILVA,

2007).

O Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), foi criado em 2007 com o objetivo promover

segurança alimentar das famílias agricultoras e fomentar a geração de emprego e renda. Segundo a ASA

(2017) as tecnologias que o P1+ 2 trabalha são diversas: Cisterna- Calçadão, Barragem Subterrânea,

Tanque de Pedra ou Caldeirão, Bomba d’água popular. Barreiro- trincheiro, Barraginha, Cisterna-

enxurrada. Até março de 2017 já foram construídas 93.688 tecnologias de uso familiar. Segundo Cordeiro

(2011) estas tecnologias aumentaram significamente o acesso à água, o que possibilitou a melhoria na

qualidade de vida, aumentando a criação de animais e diminuindo as migrações. Segundo Souza (2014)

17.768 famílias foram mobilizadas.

Para Malvezzi (2007), o segredo de convivência com a seca está em conhecer profundamente a

região, propor práticas que minimizem os efeitos negativos, em especial o solo, para que o sertanejo

consiga viver com as características da seca, o que envolve um processo educativo, para respeitarem o

ambiente e os limites dos recursos. É necessário mudar a forma de pensar e agir com o meio ambiente,

para que possa adaptar-se a região em que habita.

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154

7. Conclusões

Este trabalho permitiu analisar as políticas públicas aplicadas à seca na região cearense. Admitiu

uma avaliação de como este problema afeta os aspectos econômicos, sociais e ambientais. Com este

estudo foi possível chegar a conclusões que grande parte das políticas criadas para combater da seca,

acabaram não solucionando o problema e não atingiu socialmente a população, já que este ainda se

encontra em estado de miséria e necessitando ainda de ações emergenciais. Já as políticas voltadas a se

conviver com o semiárido apesar de seu pouco tempo de funcionamento se apresentam como uma

alternativa para se conviver com os problemas de escassez.

Historicamente tentaram resolver os problemas do semiárido através da construção da perfuração

de poços e construção de açudes. Não levam em consideração que a temperatura no semiárido faria com

que a água dos açudes evaporasse, e os poços por sua vez também não é uma solução, uma vez que o solo

do semiárido é em sua grande maioria cristalino, para se conseguir água seria necessárias perfurações

muito profundas e quando conseguiam chegar a água ou era ruim ou salobra.

Tradicionalmente, as políticas de combate à seca se mostraram mais preocupadas desenvolver a

agricultura no semiárido, beneficiando principalmente a grandes e médios proprietários, seus objetivos

iniciais eram socialmente aceitáveis, mas acabaram em sua grande maioria por serem modificados, esses

programas acabaram por não alcançar a população que mais sofre com a seca que são os pequenos

proprietários e os sem terra.

As políticas de convivência com a seca conseguem ter um alcance social maior, além de utilizar

de tecnologias mais baratas como o Programa um milhão de cisternas rurais e o programa uma terra e

duas águas, beneficiam as famílias mais pobres, e evitam que a água evapore, podendo ter água de boa

qualidade para o período de seca.

Os usos das águas são diversificados e crescem a cada dia, assim como a população, trazendo

grandes impactos aos recursos hídricos, hoje se usa mais água do que a natureza tem capacidade pera

repor. É necessário levar em consideração como o clima funciona, a especificidade da região na hora de

criar uma política.

Esta pesquisa se mostra importante por abordar um problema que ainda atingi uma população

muito grande e sofredora, as políticas atuais de convivência com viés sustentável se mostram como

tecnologias apropriadas ao clima do semiárido, além de serem baratas permitem o acesso da população

para ter água para beber e produzir. A seca se mostra como uma condição natural do semiárido por isso é

importante o planejamento para os próximos anos, e se investir em tecnologias apropriadas e

permanentes.

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155

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DESENVOLVIMENTO REGIONAL: UMA VISÃO SOBRE AS POLÍTICAS PÚBLICAS E A

URBANIZAÇÃO NA MICRORREGIÃO DE IGUATU.

ELIWELTON CARLOS SILVA19

MARCELO OLIVEIRA DA SILVA20

ÉRICO ROBSOM DUARTE DE SOUSA21

Resumo

O objetivo desde trabalho é fazer uma análise do âmbito urbano em toda microrregião de Iguatu

observado seus principais aspectos e as principais politicas públicas voltadas para a zona urbana,

observando também se estão promovendo um verdadeiro desenvolvimento em cada uma das cinco

cidades que compõem a microrregião. Este trabalho utilizou de fontes secundárias provenientes de

dados estatísticos e bibliográficos, onde através de comparações e análises foi possível observar os

aspectos econômicos e sociais de cada município. O processo de urbanização vem acontecendo na

microrregião, a cada ano aumenta o número de moradores na cidade, muito disso vem das políticas

públicas aplicadas para a industrialização grande forte principalmente do município de Iguatu, mas

ainda não resolveu os problemas como emprego e renda que apresenta números preocupantes em

todos os municípios, os índices de extrema pobreza mostram que as politicas voltadas para essa área

não estão sendo eficaz, o caso mais preocupante é o município de Icó.

Palavras-chave: Urbanização; Politicas Públicas; Desenvolvimento Regional; Microrregião de

Iguatu.

19 Graduando em Ciências Econômicas-URCA. Bolsista-PIBIC/URCA - A Ru-Urbanização na Microrregião do Iguatu:

Uma Visão Holística Sobre as Politicas Públicas para o Desenvolvimento Regional. Membro do Centro de Estudos de

Desenvolvimento Socioeconômico de Iguatu (CEDESI) pela Universidade Regional do Cariri – URCA. E-mail:

[email protected].

20 Graduando em Ciências Econômicas-URCA. Bolsista-PIBIC/URCA - A Ru-Urbanização na Microrregião do Iguatu:

Uma Visão Holística Sobre as Politicas Públicas para o Desenvolvimento Regional. E-mail:

[email protected].

21 Economista. Docente na Universidade Regional do Cariri – URCA/ Campus Iguatu. Mestrando em Desenvolvimento

Regional Sustentável – PRODER/UFCA. Pesquisador. Membro do Grupo de Estudos em Territorialidades

Econômicas, Desenvolvimento Regional e Urbano (GETEDRU) da URCA, cadastrado no CPNQ. Coordenador do

projeto - PIBIC/URCA - A Ru-Urbanização na Microrregião do Iguatu: Uma Visão Holística Sobre as Politicas

Públicas para o Desenvolvimento Regional. E-mail: [email protected].

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1 – Introdução

Este trabalho faz parte do projeto de pesquisa intitulado, A Ru-Urbanização na Microrregião do

Iguatu: Uma Visão Holística Sobre as Politicas Públicas para o Desenvolvimento Regional. Com apoio da

Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa – PRPGP da Universidade Regional do Cariri – URCA. O

processo de urbanização tem como consequência principal o aumento populacional que gera o

crescimento das cidades devido principalmente o êxodo rural, levado pelos fatores atrativos devido às

condições estruturais oferecidas pelo espaço das cidades como a industrialização. Nos países pioneiros no

processo de urbanização ela ocorre de forma mais lenda e gradativa, já em países como o Brasil com uma

industrialização tardia, esse processo manifesta de forma mais acelerada gerando problemas estruturais e

principalmente sociais, como a falta de saneamento resultando no aumento das doenças e os altos índices

de criminalidade.

O Ceará desde meados dos anos de 1960 passou a implantar políticas públicas de

desenvolvimento, buscando também melhorar sua infraestrutura para tornar atrativa a implantação de

investimentos públicos e privados. A partir dos anos 1980, a indústria passa a ser vista como forma de

crescimento econômico para as demais Regiões. O que podemos analisar também nos últimos anos no

estado do Ceará a um fenômeno chamado de desmetropolização, onde a um grande crescimento urbano

das medias cidades do estado um processo que no principio aconteceu de forma lenta mais que do

primeiro ao segundo decênio do século XXI vem atingindo um novo patamar como é colocado por

SOUZA (2012) o desenvolvimento urbano do semiárido cearense. Uma dessas cidades médias do estado

é o município de Iguatu cidade polo da microrregião que é composta por outras quatro cidades, Icó, Orós,

Quixelô e Cedro.

O objetivo desde trabalho é fazer uma análise do âmbito urbano em toda microrregião de Iguatu

observado seus principais aspectos e se as principais politicas públicas voltadas para a cidade, observando

também se estão promovendo um verdadeiro desenvolvimento em cada uma das cinco cidades que

compõem a microrregião.

A divisão do trabalho consta além desta breve introdução, os principais conceitos do meio urbano

com as principais teorias que dão embasamento ao trabalho; os materiais e métodos utilizados, resultados

e discussões com as principais descobertas sobre o objeto de estudo; e por fim, as principais conclusões

pertinentes ao trabalho.

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2 – Principais conceitos do meio urbano.

O espaço urbano pode seguir diversos tipos de características que o distingue do meio rural e sua

definição é colocada por Correia (1995) “o conjunto de diferentes usos da terra justapostos entre si”. Isso

nos diz que o meio urbano é dividido entre suas áreas especificas com o centro da cidade onde a um

maior fluxo do comercio, áreas residenciais e industriais como também locais reservados para o lazer e

para uma futura expansão do espaço.

A urbanização acontece devido a específicos acontecimentos históricos que atraíram as pessoas ao

longo do tempo para um devido espaço geralmente a procura de melhores condições de vida, esses fatores

variam de acordo com cada região. Os atrativos ocorrem pela atração da população do campo em busca

da maior oferta de emprego gerada pela industrialização, além da existência de melhores condições de

renda e de vida. O rápido e fácil acesso a produtos, bens de consumo e serviços, como escolas e hospitais,

além de uma maior interação cultural, também pode ser listado como um fator atrativo da urbanização. Os

países desenvolvidos foram os primeiros a urbanizar-se, com a maior presença de fatores atrativos.

Com a Revolução Industrial, ao longo do século XVIII, cidades como Londres e Paris

transformaram-se em grandes centros urbanos, porém com uma grande carga de problemas sociais e

miséria acentuada, questão que só veio a ser atenuada pelas reformas urbanas no século seguinte, fatores

repulsivos a urbanização pela “expulsão” ou afastamento da população do campo para as cidades, com

uma migração em massa que chamamos de êxodo rural ou migração campo-cidade. Dentre os fatores

repulsivos da urbanização, podemos citar a concentração fundiária, os baixos salários do campo, a

mecanização das atividades agrícolas com a substituição da mão de obra.

Há várias fases do processo de urbanização uma delas é a pré-capitalismo como e dito por Sposito

(1988) com primeiramente a formação de aldeias onde o caçador era o principal líder e posteriormente a

monarquia onde o rei assume um papel politico onde se tem uma analise que a cidade tenha se formado

por aldeões em busca da proteção militar do rei. Temos também as cidades que foram formadas a partir

dos mercados não tanto como uma questão econômica, pois não era um lugar de produção e sim de

dominação onde se destaca o poder politico e religioso.

A constituição da cidade é ao mesmo tempo uma inovação na técnica de dominação e na

organização da produção. Ambos os aspectos do fato urbano são analiticamente separáveis, mas,

na realidade, soem ser intrinsecamente interligados. A cidade, antes de tudo, concentra gente num

ponto do espaço. Parte desta gente é constituída por soldados, que representam ponderável

potência militar face à população rural esparsamente distribuída pelo território. Além de poder

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reunir maior número de combatentes, a cidade aumenta sua eficiência profissionalizando-os. Deste

modo, a cidade proporciona à classe dominante a possibilidade de ampliar territorialmente seu

domínio, até encontrar pela frente um poder armado equivalente, isto é, a esfera de dominação de

outra cidade. Assim, a cidade é o modo de organização espacial que permite à classe dominante

maximizar a transformação do excedente alimentar, não diretamente consumido por ele, em poder

militar e este em dominação política. (SINGER, 1977, p.17).

A transição do feudalismo para o capitalismo onde ocorreu a revolução industrial só aumentou

ainda mais o processo de urbanização.

A cidade assumiu, com o capitalismo, uma capacidade de produção, que a diferenciava totalmente

do processo da urbanização ocorrido na Antiguidade. A cidade romana, para nos referirmos à

organização política que permitiu maior urbanização no período antigo, era o locus da gestão

político-administrativa, de exercício do poder, de moradia das elites dominantes. Manjei Castells,

em seu livro A questão urbana define a cidade romana assim: "A cidade portanto não é um local de

produção, mas de gestão e de domínio, ligado à primazia social do aparelho político-

administrativo”. (SPOSITO, 1988, p.44).

O desenvolvimento regional é um processo que depende de vários fatores para acontecer, existem

vários caminhos e teorias que falam sobre esse processo como Hirschman (1961) mostra que países como

o Brasil com um desenvolvimento atrasado não acontece de forma espontânea, é necessário alguma

atitude para criar um cenário propicio para que aconteça.

Um ponto importante sobre o meio urbano para se analisar é o desempenho das chamadas cidades

médias, definidas como cidades com mais de 100 e 500 mil habitantes, que não fazem parte de regiões

metropolitanas e que apresentam um relativo grau de avanço em sua economia e infraestrutura, como é o

caso de Iguatu cidade polo da microrregião e da mesorregião. Segundo (Andrade, Serra, 1998) durante os

anos de 1950 a 1970, as cidades com mais de 500 mil habitantes contribuíram com 48% do crescimento

urbano nacional, já período seguinte de 1970 a 1991 importância dessas grandes metrópoles reduz-se à

metade. Já os centros intermediários que são os grupos de cidades com população entre 50 mil e 500 mil

contribuíram, neste último período, com 49% do acréscimo populacional nacional, essa participação bem

diferente do período anterior, quando estes centros responderam por 19% do crescimento nacional. As

cidades pequenas com menos de 50 mil habitantes, no período 1970/91, se sobre saiu aos grandes centros

uranos em matéria de participação no crescimento populacional.

Nos anos 70 e 80, no Brasil, falar de cidades de porte médio significava falar de política urbana

nacional enquanto política pública. Atualmente, a redução do papel do Estado em relação à

iniciativa privada é uma realidade, na qual os objetivos de eficiência e competitividade estão cada

vez mais presentes. Assiste-se a mudanças nos padrões de produção, consumo e qualidade de vida,

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impulsionadas pelo redimensionamento das atividades empresariais, em termos econômicos,

sociais e espaciais. (ANDRADE, SERRA, 2001, p.36)

As cidades médias brasileiras, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,

2010) formavam, até 2010, um grupo de municípios que crescia muito além da média nacional. O índice

médio de crescimento econômico medido pelo Produto Interno Bruto dessas cidades foi de 153% entre os

anos de 2004 e 2010, contra um crescimento de 94% do PIB nacional no mesmo período. A oferta de

emprego formal também conheceu um salto de 70% nas cidades médias.

As Políticas públicas é a junção de programas, ações e atividades que são desenvolvidas pelo

governo nacional, estadual ou municipal com a participação tanto de órgãos públicos como privados. As

políticas públicas correspondem a direitos que são assegurados constitucionalmente para as pessoas,

comunidades, coisas ou outros bens materiais ou imateriais.

Já no Brasil, estudos sobre políticas públicas foram realizados só recentemente. Nesses estudos,

ainda esporádicos, deu-se ênfase ou à análise das estruturas e instituições ou à caracterização dos

processos de negociação das políticas setoriais específicas. Deve-se atentar para o fato de que

programas ou políticas setoriais foram examinados com respeito a seus efeitos e que esses estudos

foram antes de mais nada de natureza descritiva com graus de complexidade analítica e

metodológica bastante distintos. (FREY, 1997, p.4).

No Brasil temos um histórico de politicas publicas especificas atreladas ao conceito de

modernidade como mostra Chacon (2007) o que se vê durante a sua historia é que não temos grandes

mudanças em relação à modernidade e sim na questão de metodologia politica, e por meio disso os

políticos realizam o que eles chamam de modernização mais que na verdade o objetivo é disfarça

situações em tempo de crise. Nas ultimas décadas o que se ver é um grande avanço tecnológico e a

diminuição geográfica entre as relações de pessoas, algo bastante ligado ao liberalismo econômico, com

isso o papel do estado é cada vez mais questionado por restringir os processos econômicos. A ideia de

modernidade aliada com o estado veio a partir do governo de Juscelino Kubitschek, e varias dessas ações

puderam beneficiar a região nordeste como a criação da SUDENE e do banco do nordeste. As politicas

públicas no nordeste sempre voltadas a questão da seca e primeiramente veio á questão dos reservatórios.

Há explicação racional para a priorização das infraestruturas hidráulicas no início das políticas de

secas: sem água não há civilização e, nas grandes secas, os rios do Nordeste setentrional podiam

passar dezoito meses, ou mesmo trinta meses, totalmente secos. É impossível uma sociedade

moderna se desenvolver em um ambiente hidrologicamente tão desfavorável como esse. A solução

adotada no Brasil, como no oeste dos Estados Unidos e norte da Austrália, para compensar a

adversidade climática foram os açudes. (CAMPOS, 2014, p.13)

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Segundo Chacon (2007) no Ceará tivemos a era dos coronéis, os coronéis eram considerados como os

reprodutores do sertão donos das fazendas de criação de gado e plantação de açúcar ele tinham além das

terras um grande poder politico e social. Essa realidade permanece ate os anos 30 onde um discurso

politico moralizador atrelado à modernidade faz com que os coronéis mudem seus métodos, e a partir dos

anos 60 esse movimento começa no Ceará onde a atenção dos coronéis se volta para as cidades visando à

urbanização e a produção.

Porém, a urbanização não significou de fato o fim dos coronéis, ou melhor, do modelo de

subordinação política por eles estabelecido. O que ocorreu foi que os velhos coronéis rurais se

adaptaram aos novos tempos, se mudaram para as cidades e criaram novas formas de dominação

em clientelismo, protagonizando eles próprios o processo de modernização que levaria à sua

substituição futura pelos novos coronéis urbanos, os empresários. (CHACON, 2007 p.89).

O discurso de modernidade serviu apenas para maquiar os problemas sociais que o estado passa, o

que foi proposto não foi comprido e o Ceará mostra uma realidade bem diferente do aparece na mídia. O

que aconteceu foi o chamado “boom” da industrialização com varias medidas de isenção fiscal,

concessões e a chamada guerra fiscal.

O que podemos analisar também nos últimos anos no estado do Ceará a um fenômeno chamado de

desmetropolização, onde a um grande crescimento urbano das medias cidades do estado um processo que

no principio aconteceu de forma lenta mais que do primeiro ao segundo decênio do século XXI vem

atingindo um novo patamar como é colocado por Souza (2012) o desenvolvimento urbano do semiárido

cearense. Hoje, uma nova dinâmica socioespacial com hierarquias urbanas reestruturadas e fluxo

originado em cidades pequenas e médias menos dependentes da centralidade da metrópole Fortaleza.

3 – Material e Métodos

O objetivo desde trabalho é analisar o âmbito urbano em toda microrregião de Iguatu observado

seus principais aspectos e se as principais politicas públicas voltadas para a cidade estão promovendo um

verdadeiro desenvolvimento em cada uma das cinco cidades que compõem a microrregião. Observar e

avaliar tais impactos socioeconômicos resultantes dessas politicas e possíveis medidas que possibilitem

estimular esse desenvolvimento.

A coleta dos dados foi feito por meio de fontes bibliográficas, onde segundo GIL (2008) é

originado de material já elaborado, constituído principalmente de livros, artigos científicos, revistas, sites.

Outras fontes como documentos são utilizados e se assemelham à pesquisa bibliográfica. Mas que trata de

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materiais que não receberam ainda nenhum tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetivos da pesquisa. Para Mueller (2000) o uso de fontes segundarias facilita a analise e

o conhecimento dos dados que estão dispersos nas fontes primarias filtrando e organizando de maneira

definitiva de acordo com a finalidade do trabalho.

Método de investigação científica focado no trabalho parte da utilização do método qualitativo

que para Neves (1996) em um conjunto de diferentes técnicas de interpretação que tem por finalidade

descrever e entender as partes de um sistema complexo de significados. Onde as respostas não são

objetivas, e o propósito não é contabilizar quantidades como resultado, mas sim conseguir compreender o

comportamento do âmbito urbano na microrregião de Iguatu com base em autores renomados na questão

do desenvolvimento regional e urbano, fazendo uma analise de acordo com os seus conceitos para melhor

entender as particularidades da região.

Todas as informações que foram coletadas no trabalho adquiridas por meios dessas fontes, que por

sua vez originadas de fontes primarias disponibilizadas por instituições como IBGE e IPECE. Os dados

fornecidos por essas instituições servem para facilitar o andamento do trabalho e são necessários para que

se ocorra um estudo completo sobre a microrregião, ver a suas principais características analisando

números como, população residente, distribuição de renda, emprego e saneamento, questões importantes

para entender as politicas públicas aplicadas nos municípios e seus impactos.

4 – Resultado e discursões

O aumento da urbanização no Ceará iniciou de forma acentuada no século XVIII que começou no

interior, mas rapidamente se alocou para parte litorânea do estado, Fortaleza e seu forte papel no

comercio, a partir da segunda metade do século o algodão fez com que alguns centros urbanos no sertão

do Ceará se desenvolvessem como a microrregião de Iguatu.

A distribuição populacional no estado se viu concentrada na capital nos últimos dois séculos,

fatores primordiais como a seca e a extrema pobreza fizeram com que houvesse uma migração das

cidades do sertão para Fortaleza, ao analisar os aspectos gerais da zona urbana na microrregião de Iguatu

segundo IBGE (2010) notamos um esperado crescimento na densidade demográfica de habitantes em

todas as cinco cidades por km2, vários fatores levaram a esse aumento como o êxodo rural a busca por

melhores condições de vida em questão de emprego e renda nos centros urbanos. Como é típico da região

a seca também influencia nessa migração, como podemos observar no gráfico abaixo a cidade com maior

índice de urbanização é Iguatu com 77,34%, seguida por Orós, Cedro, Icó e Quixelô. Iguatu cidade polo

também tem o maior numero populacional Segundo algumas estimativas realizadas pelo IBGE o número

total de pessoas para o ano de 2015 deve está em torno de 101.386 habitantes em todo município.

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Gráfico 1 - População Residente Ru-Urbano e a Taxa de Urbanização.

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Censo Demográfico 2010.

O gráfico 1 mostra que três dos cinco municípios da microrregião apresentam uma concentração

maior de pessoas na zona urbana, mais nos outros dois essa situação se mostra inversa, Icó tem um total

de 34.993 moradores residentes na zona rural, maior até que o número de pessoas na mesma zona em

Iguatu, cidade polo com maior número de habitantes na região. O município de Quixelô apresenta cerca

de, 67,14% da sua população morando no campo. Esses dados nos mostra que mesmo sendo cidades

vizinhas em uma mesma microrregião, a uma diferença na distribuição populacional e também tem que

ter diferenças no momento da aplicação de politicas públicas.

Destacando também o numero de domicílios por cada cidade no ano de 2010 segundo IBGE

(2010), Iguatu conta com um total de 28.828 residências particulares dessas 22.366 está localizado na

zona urbana com uma média de 3,33 moradores, Orós com um numero total de residências na zona

urbana a 4.998 com uma media de 3,21 moradores, em Cedro o número de domicílios ocupados na zona

urbana chega a 4.615 com uma media de 3,28 por residência, Icó na zona urbana a um total de 8.859 e

uma media de moradores de 3,44 e por fim Quixelô com 1.547 e uma media de 3,18 moradores por

residência, todos os municípios da microrregião ficaram abaixo da média do estado em numero de

pessoas por residência.

Segundo Macedo, Lima Júnior e Morais (2012) o governo do Ceará a partir de meados dos anos

de 1980 passou por alterações institucionais nos âmbitos administrativo, patrimonial e financeiro,

decorrentes de uma transformação política que possibilitou a ascensão de uma nova classe dirigente

composta por um grupo de empresários com raízes e interesses aprofundado no Ceará e formado na

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marca do processo de modernização econômica. O objetivo do governo de Tasso Jereissati na época era

promover através de uma nova politica de criação de trabalho para por fim no que ele considerava como

um circulo vicioso entre desemprego, miséria e necessidades primarias. Promover uma descentralização

da industrial no estado por meio de recursos como o Fundo de Desenvolvimento Industrial – FDI.

Os incentivos fiscais foi uma das maneiras que os governos encontraram para desconcentração da

indústria no Ceará, os critérios para concessão dos incentivos, beneficiando indústrias que se localizassem

a uma maior distância da RMF, procurando desenvolver aglomerações produtivas em várias partes do

estado, como na microrregião de Iguatu, ou ainda elencando critérios como número de empregos, valores

investidos, município de localização, que elevariam o valor do incentivo e do prazo para indústrias

beneficiadas. Na tabela 1 abaixo podemos observar as indústrias ativas nas cinco cidades da microrregião

de Iguatu no ano de 2015.

Tabela 1 – Empresas Industriais Ativas na Microrregião de Iguatu – 2015.

Extrativa Mineral Construção Civil Utilidade Pública Transformação Total

Iguatu 7 40 4 449 500

Icó 4 13 0 111 128

Quixelô 0 0 0 25 25

Orós 2 0 1 32 35

Cedro 0 4 0 25 29

Empresas Industriais AtivasMunicípios

Fonte: Secretaria da Fazenda (SEFAZ) – 2015.

Podemos analisar na tabela 1 que no ano de 2015, Iguatu tem um número maior de empresas

industriais ativas em relação aos outros municípios, a indústria calçadista que tem o Ceará como maior

produtor nordestino de calçados, também faz parte desse cenário Iguatuense, em busca de força de

trabalho barata e incentivos fiscais formaram o que atraiu para região uma importante empresa no setor,

que gerou emprego e renda para a população não só de Iguatu mais das outras cidades vizinhas, onde

trabalhadores se deslocam para a cidade polo da microrregião.

O Ceará, maior produtor nordestino de calçados, aumentou significativamente sua participação nas

exportações do país passando de 1,1% do total nacional exportado, em 1989,para 13,8%, em 2008.

Observa-se, neste estado, em particular em seu segmento calçadista, um forte viés exportador que

indica uma forma de apropriação do território com vistas a uma maior articulação local-global

promovida pelas grandes empresas do setor a partir da institucionalidade constituída para aumentar

a atratividade do território cearense ao circuito de valorização do capital. Vale destacar que

majoritariamente esta produção exportadora encontra-se no interior do estado, seja no setor

calçadista, seja na fruticultura, contribuindo para a diversificação do terciário não metropolitano. (MACEDO, LIMA JÚNIOR, MORAIS, 2012, p.16).

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Vemos a indústria de transformação se sobressair sobre os demais setores nessas cidades, Quixelô

é mais dependente ainda desse setor, pois não tem mais nenhum dos outros ativos. O segundo setor mais

incidente nos municípios é a construção civil seguido pela extrativa mineral e a utilidade publica, essa

ultima só aparece em Iguatu e Orós. Podemos observar a partir desses dados a falta das politicas publicas

principalmente nas cidades segundarias da microrregião em todos os setores, exceto na indústria de

transformação. A implantação de empresas desse meio nessas cidades levaria um aumento de emprego e

renda para população. Um grande problema em potencial ocorre nas cidades de Quixelô e Orós que é a

falta de empresas no setor da construção civil, no Brasil é um setor com grande capacidade de

desenvolvimento da economia dado a grande importância para o crescimento do PIB, e a forte absorção

de mão de obra com um amplo mercado de produtos e de serviços.

Tabela 2 - Número de Empregos Formais na Microrregião de Iguatu – 2015

Iguatu Icó Quixelô Orós Cedro

Total das Atividades 14.751 5.427 950 902 1.418

Extratividade Mineral 27 24 0 0 0

Indústria de Transformação 3.552 174 18 9 21

Serviços Industriais de Utilidade Pública 123 75 0 0 0

Construção Civil 230 102 0 0 5

Comércio 4.654 901 140 147 281

Serviços 2.480 708 23 71 131

Administração Pública 3.461 3.433 764 669 975

Agropecuária 224 10 5 6 5

DiscriminaçãoMunicipíos

Fonte: Ministério do Trabalho (MTb) – RAIS – 2015.

Como podemos observar na tabela 2 o município de Iguatu tem um numero maior de empregos

formais dentre as outras cidades da microrregião com 14.751 dividido entre os setores de extratividade

mineral, indústria de transformação serviços industriais de utilidade pública, construção civil, comércio

serviços administração pública e agropecuária.

O problema que segue é o baixo número de empregos formais nos municípios da microrregião,

setores importantes para o desenvolvimento como a construção civil que chega a zero nos municípios de

Quixelô e Orós, o fato de não apresentar nenhum emprego formal não quer dizer que não exista esse setor

nessas cidades, o trabalho ocorre de maneira informal. A participação da construção civil para as cidades

e a dimensão de seu impacto social, ambiental e econômico, pode contribuir positivamente com a

sociedade urbana, não apenas construindo, mas também servindo de exemplo de um novo

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comportamento, com a adoção de inovações nos projeto e também nos sistemas construtivos. Em âmbito

nacional, na informalidade esses trabalhadores deixam de recolher R$ 515 milhões por mês à Previdência

Social, ou um pouco mais de R$ 6 bilhões por ano, de acordo com a conclusão do estudo publicado pelo

Fórum de Ação Social e Cidadania (FASC) da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), em

correalização com o SESI Nacional. Além do prejuízo aos trabalhadores, a informalidade significa

concorrência desigual e injusta com as empresas representadas pela CBIC, que atuam na legalidade e

respeitam a legislação trabalhista, como é o caso de Quixelô e Orós porque as empresas optam em

continuar a atuar na informalidade onde os custos são muito menores, os outros municípios da região já

apresentam trabalho formal nesse setor mais ainda um número muito baixo para a suas capacidades.

Segundo a Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social – STDS (2016) o setor da construção civil é

o que mais desemprega no estado do Ceará com 1.770 postos de trabalho eliminados ate junho de 2016.

Por outro lado o setor que mais gerou emprego foi o setor de serviços com 815 empregos gerados.

O desemprego e a pobreza são dois dos mais graves problemas econômicos. No primeiro caso,

trata-se de uma questão muito séria mesmo nos países desenvolvidos que, a partir das

transformações do mundo do trabalho iniciadas nos anos 70, passaram a conviver com taxas de

desemprego muito elevadas. Nos países em desenvolvimento, o desemprego alia-se ao

subemprego; muitos países, apesar de terem elevado significativamente a renda per capita,

convivem com altas taxas de pobreza e são incapazes de prover as necessidades básicas a parcelas

da população. (GUIMARÃES, 2011, P.2).

O Brasil, em função de seu histórico de colonização, desenvolvimento tardio e dependência

econômica, além dos problemas internos antigos e recentes, possui uma grande quantidade de pessoas

vivendo abaixo da linha da pobreza. Assim, por representar um país subdesenvolvido emergente, a

pobreza no Brasil apresenta elevados patamares. Mesmo com as politicas sociais que melhoraram a

situação do Brasil, com o carro-chefe atual das políticas públicas de combate à fome no Brasil o

programa Bolsa Família, criado em 2003. Segundo o Ministério de Desenvolvimento de Combate à

Fome (2011) existiam no Brasil cerca de 16,27 milhões de pessoas em condição de “extrema pobreza”, ou

seja, com uma renda familiar mensal abaixo dos R$70,00 por pessoa.

O problema da desigualdade geográfica da pobreza é um tema que tem gerado grande preocupação

em vários países e regiões, especialmente entre os países subdesenvolvidos e os que se encontram

em desenvolvimento. Anselin (1988), ao falar de heterogeneidade da pobreza, destaca que a

população pobre encontra-se concentrada em algumas áreas territoriais específicas. Vale lembrar,

que a pobreza é um fenômeno multidimensional e complexo, motivo pelo qual existem múltiplas

definições e formas de avaliá-la. (MEDEIROS, NETO, 2010, P.6).

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Segundo IBGE (2010) o estado do Ceará apresenta cerca de 1.502.924 pessoas vivem em

extrema pobreza com uma renda mensal abaixo de 70 reais, com base nesse parâmetro 17,8% da

população cearense foi classificada em situação de miséria. Dentre os estados brasileiros o Ceará fica em

terceiro com o maior numero de pessoas vivendo na miséria. Na década passada esses números eram

ainda piores.

O indicador mais contundente é a porcentagem de pessoas consideradas pobres no Estado, que em

2003 ainda representava 54,3% da população (em 1991, o percentual de pobres chegava a 68% da

população, segundo dados do Atlas de Desenvolvimento Humano de 2003). Reforçando o quadro

de pobreza, os dados sobre a porcentagem da população ocupada que recebe menos de dois

salários mínimos mostram que mais de 67% da população ocupada encontra-se nesse patamar, o

que é agravado pelo fato de os 50% mais pobres só apropriarem 14,7% da renda gerada na

economia. (CHACON, 2007, p.146,147).

Gráfico 2 – População Extremamente Pobre nos Municípios da Microrregião de Iguatu – 2010.

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Censo Demográfico 2010.

Como podemos observar no gráfico 2 o município que apresenta o maior número de pessoas

vivendo em extrema pobreza é Icó com 17.731 pessoas. A maioria dos municípios acima mostra um

número maior de pessoas nessa situação na zona rural, a única exceção é o município de Orós. O que

acontece, as características entre pobreza rural e urbana é bastante diferente. No setor primário, grande

parcela da população ativa não tem rendimentos, pois os filhos jovens e as mulheres trabalham como

ajudantes do chefe de família na própria terra ou nas colheitas das fazendas. Na área urbana, a totalidade

da população ativa tem ganhos e, por esse motivo, a linha de pobreza é definida em patamares de

rendimento superiores aos da zona rural. No entanto, o custo de vida nas cidades é mais elevado, pois

todos os itens que compõem as necessidades indispensáveis para o indivíduo exigem gastos monetários.

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Na área rural, muitas vezes, roças familiares fornecem uma parte dos produtos de alimentação e, de modo

geral, os custos com habitação e transportes são reduzidos.

De fato, o que se espera, dada a natureza do problema, é que uma política seja capaz de influenciar

as carências urbanas e rurais de forma homogênea. Contudo, tendo seu cerne em questões

distintas, o estado de privação rural (urbano) de um município pode vir a ser menos influenciado

quando ação de combate à pobreza possua elementos mais evidenciados no cenário urbano (rural).

Neste sentido, seria interessante conhecer um pouco mais da relação existente entre tais cenários,

para que se possa visualizar se a política de combate à pobreza contempla características que

culminem numa uniformidade da ação independente do espaço. (COSTA, 2016, P.2).

Segundo o Índice FIRJAN de Desenvolvimento Municipal (IFDM), acompanha o

desenvolvimento socioeconômico dos mais de todos os municípios brasileiros com base nas três áreas

fundamentais ao desenvolvimento humano: Educação, Saúde, Emprego e Renda. O índice foi criado em

2008 e possui periodicidade anual, é calculado exclusivamente com estatísticas públicas oficiais. Sua

metodologia permite tanto analisar o retrato anual dos municípios quanto à evolução ao longo dos anos. A

leitura dos resultados é bastante simples, o IFDM varia de 0 a 1, sendo que, quanto mais próximo de 1,

maior o desenvolvimento da localidade. Para facilitar a análise são estabelecidos valores de referência e

definidos quatro conceitos.

Tabela 3 - Índice FIRJAN de Desenvolvimento Municipal dos Municípios da Microrregião de

Iguatu no Ano de 2013.

IFDM e Áreas de desenvolvimento Municípios

Iguatu Icó Orós Quixelô Cedro

IFDM 0.7687 0.6532 0.6224 0.6042 0.5562

Educação 0.7549 0.6423 0.7278 0.7513 0.6659

Saúde 0.9473 0.8050 0.8464 0.6600 0.6316

Emprego e Renda 0.6039 0.5122 0.2930 0.4013 0.3712

Fonte: FIRJAN – 2013.

Segundo o índice FIRJAN (2013) como pode ser observadas na tabela 3, quatro cidades da

microrregião de Iguatu apresentam um número moderado de desenvolvimento com exceção do município

de Cedro que apresenta um valor dentro dos parâmetros como regular abaixo das outras cidades, como

esperado o município mais desenvolvido é Iguatu. Destaque para os números da saúde dentre os três

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municípios mais populosos Iguatu, Icó e Orós com um alto estagio de desenvolvimento seguindo os

números do estado do Ceará.

Entre as áreas de desenvolvimento do IFDM, Saúde é a vertente na qual o Ceará possui o maior

número de municípios em alto grau de desenvolvimento, 57 (31,0% do total). Há ainda 117

cidades (63,6%) com IFDM Saúde moderado, 10 (5,4%) com conceito regular e nenhuma com

baixo desenvolvimento. Na comparação com a medição anterior, 58,2% dos municípios cearenses

registraram crescimento no indicador de Saúde, devido, principalmente, a avanços no

acompanhamento pré-natal. Com pontuação acima dos 0,9 pontos, os municípios de Iguatu

(0,9473), Itarema (0,9391), Ibicuitinga (0,9256), Potiretama (0,9196), Itaiçaba (0,9140), General

Sampaio (0,9077) e Pentecoste (0,9056), são os destaques cearenses no IFDM Saúde. (FIRJAN,

2015).

Na área da educação todos os municípios apresentaram desenvolvimento moderado que segundo

o FIRJAN (2015) O IFDM Educação foi a vertente na qual os municípios do estado mais avançaram, 161

cidades cearenses que é cerca de 87,5% evoluíram nessa área, incentivadas principalmente por melhorias

no IDEB, que se elevou em cerca de 80% dos casos. Além disso, dois municípios cearenses figuraram

entre as 500 maiores notas do IFDM Educação do país. O grande problema ao analisar a tabela 3 fica com

a questão do emprego e da renda onde os valores apresentados são de baixo estado de desenvolvimento a

regular, o município de Orós apresenta o pior resultado. Como foi visto anteriormente tanto a cidade de

Orós quanto Quixelô apresenta um grande problema com trabalho informal, alguns setores importantes

como a construção civil estão operando, mas não de maneira formal.

O que observamos é uma falta de planejamento urbano nos municípios da microrregião de

Iguatu, na visão de muitos autores, que entendem de maneira bastante comum, como sendo um conjunto

de propostas que antecedem a implantação de políticas públicas voltadas para a melhoria da qualidade de

vida nas cidades. Concordando com essas afirmações, Souza (2001) define o planejamento afirmando que

ele é a “preparação para a gestão futura, buscando-se evitar ou minimizar problemas e ampliar margens

de manobra”. Para esse autor, é preciso que a tarefa de planejar seja precedida de um “esforço de

imaginação do futuro”, ou seja, pensar o planejamento como um instrumento que antecede a elaboração e

aplicação de políticas públicas futuras e que sejam viáveis. (SOUZA, 2001, p. 46-47).

Segundo FERRARI (2004) o Planejamento Urbano no Brasil foi regularizado em instrumentos

urbanísticos, apresentando nos Planos Diretores e Leis de Uso e Ocupação do Solo seus representantes,

que se tornaram alternativas mais que perfeitas para resolver os problemas sociais. Contudo, muitos

desses planos só tiveram a pretensão de guiar a orientação ao ambiente construído não enfrentando as

questões sociais.

Existe uma ampla legislação urbanística que seguindo os planos urbanos, oferece aos governos

um grande número de possibilidades em promover o melhoramento das cidades com politicas públicas

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especificas como a ampliação de recursos, regularização do mercado, regularização de áreas privadas

ocupadas irregularmente, preservar o patrimônio cultural, arquitetônico, urbano e ambiental e promover o

desenvolvimento sustentável como é afirmado por FERRARI (2004). Contudo os planos e a centralização

juntamente com as legislações, na condução da discussão urbana, não responderam às questões

contraditórias dentro do contexto socioespacial.

Um dos motivos pelo qual isso acontece é que entre a Lei e sua aplicação há um abismo que é

mediado pelas relações de poder na sociedade. É por demais conhecido, inclusive popularmente,

no Brasil, o fato de que a aplicação da lei depende de a quem ela (a aplicação) se refere. Essa

“flexibilidade” que inspirou também o “jeitinho brasileiro” ajuda a adaptar uma legislação

positivista, moldada sempre a partir de modelos estrangeiros, a uma sociedade onde o exercício do

poder se adapta às circunstâncias (MARICATO, 2001, p. 42).

Como observa MARICATO (2001) a implementação de politicas públicas nas cidades brasileiras

ainda é um problema, por ser um processo com bastante tramites entre a elaboração da lei e sua aplicação,

na maioria das vezes acaba por não acontecer ou ser implantado de forma incorreta com negligência. A

falta de politicas públicas voltadas para o desenvolvimento da microrregião de Iguatu é um fato, com

exceção da cidade polo Iguatu os outros municípios ainda são muito carentes de politicas públicas

principalmente voltadas para emprego, renda e a infraestrutura do meio urbano.

5 – Conclusões

O que podemos notar com o passar dos anos é o aumento da urbanização nos municípios

cearenses especificamente na microrregião de Iguatu, o êxodo rural é o principal fator, a busca por

melhores condições de vida em questão de emprego e renda nos centros urbanos, Icó e Quixelô ainda

apresentam um número maior de habitantes na zona rural, mas o percentual vem diminuindo e essa

realidade tende a mudar também.

O estado do Ceará nos anos 80 procurou promover por meio de politicas públicas uma

descentralização da industrial no estado por meio de recursos como o Fundo de Desenvolvimento

Industrial – FDI. Iguatu tem um número maior de empresas industriais ativas em relação aos outros

municípios, a indústria calçadista faz parte desse cenário Iguatuense, em busca de força de trabalho barata

e incentivos fiscais formaram o que atraiu para região uma importante empresa no setor, vemos a

indústria de transformação se sobressair sobre os demais setores nessas cidades da microrregião de

Iguatu.

Os resultados em relação à extrema pobreza são bastante preocupantes, a maioria dos municípios

mostra um número maior de pessoas nessa situação na zona rural, a única exceção é o município de Orós,

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o município que apresenta o maior número de pessoas vivendo em extrema pobreza é Icó com 17.731

pessoas, com isso podemos observar a incoerência das politicas públicas aplicadas. Quatro cidades da

microrregião de Iguatu apresentam um número moderado de desenvolvimento com exceção do município

de Cedro que apresenta um valor dentro dos parâmetros como regular abaixo das outras cidades, como

esperado o município mais desenvolvido é Iguatu. O grande problema fica com a questão do emprego e

da renda onde os valores apresentados são de baixo estado de desenvolvimento a regular, o município de

Orós apresenta o pior resultado.

Referências

CHACON S. O sertanejo e o caminho das águas; politicas públicas modernidade e sustentabilidade no

semiárido. Serie BNB Teses e Dissertações N° 08. Fortaleza 2007.

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Cidade? Uma Análise Multidimensional da Pobreza. Rev. Econ. Sociol.

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Acesso em: 20 nov. 2017.

FERRARI JÚNIOR, José Carlos. Limites e potencialidades do planejamento urbano: uma discussão sobre

os pilares e aspectos recentes da organização espacial das cidades brasileiras. In: Revista Estudos

Geográficos, Rio Claro, 2004. P. 15-28.

FREY, Klaus. Políticas Públicas: Um Debate Conceitual E Reflexões Referentes À Prática Da Análise De

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HIRSCHMAN. Albert. O. 1961-estratégia de desenvolvimento econômico, Rio de Janeiro, editora fundo

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IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica, CIDADES, 2016.

http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?codmun=230550

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174

IPECE - Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará, Perfil Básico Municipal, Cedro, 2016.

http://www.ipece.ce.gov.br/perfil_basico_municipal/2016/Cedro.pdf

IPECE - Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará, Perfil Básico Municipal, Icó, 2016.

http://www.ipece.ce.gov.br/perfil_basico_municipal/2016/Icó.pdf

IPECE - Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará, Perfil Básico Municipal, Iguatu, 2016.

http://www.ipece.ce.gov.br/perfil_basico_municipal/2016/Iguatu.pdf

IPECE - Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará, Perfil Básico Municipal, Orós, 2016.

http://www.ipece.ce.gov.br/perfil_basico_municipal/2016/Orós.pdf

IPECE - Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará, Perfil Básico Municipal, Quixelô, 2016.

http://www.ipece.ce.gov.br/perfil_basico_municipal/2016/Quixelô.pdf

NOGUEIRA, Cláudio André Gondim; FORTE, Sérgio Henrique Arruda Cavalcante. A Eficácia das

Políticas de Combate à Pobreza e os Desafios na Priorização das Intervenções nos Municípios Cearenses.

IPECE - Textos para Discussão Nº 118 – JUN. / 2016.

MACEDO, Fernando Cézar de; LIMA JÚNIOR, Francisco do O’ de; MORAIS, José Micaelson Lacerda.

Dinâmica Econômica E Rede Urbana Cearense No Início Do Século XXI. REDES, Santa Cruz do Sul, v.

17, n. 1, p. 70 – 93, jan/abr 2012.

MARICATO, Ermínia. Brasil, cidades alternativas para a crise urbana. Petrópolis: Vozes, 2001.

MEDEIROS, Cleyber Nascimento de; NETO, Valdemar Rodrigues de Pinho. Análise Espacial Da

Extrema Pobreza No Estado Do Ceará. IPECE, VII Encontro - Economia do Ceará em Debate, 2011.

GUIMARÃES, Alexandre Queiroz. Iniciativas para a promoção de emprego e renda: políticas públicas,

economia solidária e desenvolvimento local. Artigo recebido em nov. 2009 e aceito para publicação em

jun. 2011.

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175

SOUZA, Marcelo Lopes de. Mudar a Cidade. Uma Introdução Crítica ao Planejamento e à Gestão

Urbanos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.

SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão. Capitalismo e Urbanização. Editora: Contexto, 2000, São Paulo,

10ª edição.

TONELLA, C. Políticas urbanas no Brasil: Marcos Legais, Sujeitos e Instituições. Soc.

estado. vol.28 no.1 Brasília: Jan./Apr. 2013.

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PERFIL DA MULHER NO SETOR INDUSTRIAL FORMAL CEARENSE - 2016

JOANA PRISCILA BARBOSA DA SILVA

(Graduanda em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri – URCA e

pesquisadora do Grupo de Estudos em Territorialidades Econômicas e Desenvolvimento Regional e

Urbano - GETEDRU, [email protected])

NATANAEL PESSOA LUSTOZA

(Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri – URCA e pesquisador

do Grupo de Estudos em Territorialidades Econômicas e Desenvolvimento Regional e Urbano -

GETEDRU, [email protected])

ALAYANNA DARLLY ARAUJO DOS SANTOS

(Graduanda em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri – URCA,

[email protected])

CARLOS EDUARDO PEREIRA DO NASCIMENTO

(Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri – URCA e pesquisador

do Grupo de Estudos em Territorialidades Econômicas e Desenvolvimento Regional e Urbano –

GETEDRU, [email protected])

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PERFIL DA MULHER NO SETOR INDUSTRIAL FORMAL CEARENSE - 2016

RESUMO:

O presente artigo tem como objetivo analisar o perfil sociodemográfico e socioeconômico da mulher no

setor industrial formal cearense em 2016. Para tanto, foram utilizados dados da Relação Anual de

Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Em termos teóricos, foi feita uma

breve descrição sobre a inserção da mulher no mercado de trabalho e sobre o processo de industrialização

cearense. Quanto ao perfil das empregadas na indústria formal cearense, os dados revelam que estas estão em

menor número que os trabalhadores do sexo masculino, estão expressivamente concentradas no setor da

indústria têxtil, de calçados e de alimentos e bebidas, têm entre 30 a 39 anos (idade considerada ativa),

possuem ensino médio completo, permanecem por um ano a menos de três anos no mesmo emprego e

auferem de 1 a 2 salários mínimos. Assim é possível verificar que existe uma alta rotatividade da mão de obra

feminina neste setor e que mesmo com a melhoria ocorrida na educação nos últimos anos os salários

permanecem baixos, em grande parte devido ao tipo de indústria que se instalou no Ceará, que exige baixa

qualificação, facilitando o processo de contratação e demissão, demonstrando, portanto, que são necessários

muitos avanços.

Palavras-chaves: Mulheres; Indústria Cearense; Mercado de Trabalho Formal.

ABSTRACT:

The objective of this article is to analyze the socio-demographic and socioeconomic profile of women in

the formal industrial sector of Ceará in 2016.Therefore, were used data from the Annual Social

Information (ASI) of the Ministry of Labour and Employment (MLE). In theoretical terms, a brief

description was made on the insertion of women in the labor Market and on the process of

industrialization in Ceará. Regarding the profile of female employees in the formal industry of Ceará, the

data show that they are in less number than the male workers, are concentrated in the textile, footwear

and food and drinks industry, are between 30 and 39 years of age (considered to be active), have

completed high school, stay for one year to less than three years in the same job and earn 1 to 2 minimum

salaries. Thus it is possible to verify that there is a high turnover of female labor in this sector and that

even with the improvement in education in recent years the wages remain low, in large part due to the

type of industry that settled in Ceará, which requires low qualification, facilitating the process of hiring

and dismissal, demonstrating, therefore, that many advances are needed.

Keywords: Women;Industry in Ceará; Formal Labor Markek.

1. Introdução

As transformações econômicas, sociais, culturais e políticas pela qual vêm passando a sociedade

ao longo dos últimos anos tem ditado às novas configurações no espaço social. A busca pela igualdade,

norteada pela ascensão da participação da mulher nas decisões sociais e na conquista do movimento

feminista tem configurado nova realidade para as mulheres no século XXI. Através de sua inserção no

mercado de trabalho, especialmente em cargos de maior projeção social orientam a jornada da mulher na

busca e na consolidação do seu papel quanto agente de transformação política e social (SILVA FILHO;

QUEIROZ; CLEMENTINO, 2016).

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O Brasil passa por inúmeras mudanças social, econômica e demográfica, que constituem de

modo direto sobre a força de trabalho. Com a industrialização permanente, renova seus meios

produtivos e fica cada vez mais urbano. Profundas modificações, confortado pelos processos feministas

também decorreram nesse mesmo tempo, no papel da mulher na sociedade, e nos padrões de

comportamento, facilitando a entrada da mulher no mercado de trabalho e estabelecendo com que mais

mulheres atuassem na vida pública. A diminuição do número de filhos por mulheres, nos locais mais

apresentados do país, o crescimento do nível de escolaridade e o penetrar a mias de mulheres a

universidade colaboraram para esse crescimento (QUERINO; DOMINGUES; LUZ, 2013).

De acordo com Arrais, Queiroz e Alves (2008), movidas por questões esconomicas e sociais

como complementação da renda, independência financeira, aumento da escolaridade, criação de

empregos combinantes a aptidões femininas, mudanças do papel da mulher na sociedade, utilização de

métodos contraceptivos ou por assumirem, em diversos casos, o papel de chefe da família, contata-se

expansão, ainda que de forma lenta da participação das mulheres na indústria formal, seguindo uma

tendência nacional e mundial.

Assim, esse trabalho justifica-se por ampliar o conhecimento a respeito da inserção feminina no

mercado formal de trabalho industrial cearense. Para tanto, este estudo tem como objetivo geral

verificar a participação feminina no setor industrial cearense no ano de 2016. Portanto, traça-se o perfil

sociodemográfico e socioeconômico das trabalhadoras em tal setor.

Para alcançar o objetivo proposto, o artigo encontra-se estruturado da seguinte forma: além

dessa introdução, a segunda parte faz uma breve contextualização da inserção das mulheres no mercado

de trabalho. A terceira descreve a evolução histórica da indústria no Ceará. A quarta apresenta os

procedimentos metodológicos. A quinta seção analisa a participação da mulher no mercado de trabalho

industrial cearense. Por último, apresentam-se as considerações finais do estudo.

2. A mulher no mercado de trabalho

A participação da mulher no mercado de trabalho iniciou-se de fato com as I e II Guerras

Mundiais, quando os homens se ausentavam para as frentes de batalha e as mulheres passavam a tomar os

negócios da família e o cargo dos homens no mercado de trabalho. Mas a guerra teve fim, e com ela a

vida de diversos homens que lutaram pelo país. Alguns dos que sobreviveram a batalha foram mutilados e

se tornaram inaptos de voltar ao trabalho (PROBST, 2015).

Com as Guerras mundiais (I e II), as mulheres tomaram os negócios da família e um lugar de

trabalho no mercado. Junto a evolução industrial, diversas mulheres saíram para trabalhar em fábricas, se

sobrelevando assim da lei, mas, a exploração seguiu por muito tempo. De acordo com o Artigo 13, inciso

I da Constituição Federal, “todos são iguais perante a lei”, contudo as mulheres estão tentando pôr em

prática essa lei (BAYLÃO; SCHETTINO, 2014)

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De acordo com os autores, a introdução da mulher no mercado de trabalho aconteceu junto à

necessidade de sua parcela nos serviços que estavam junto ao ganho financeiro da família, com o

princípio na Revolução Industrial absorvendo de forma significativa a mão de obra feminina pelas

indústrias com a finalidade de baratear os salários e também pela maior facilidade de disciplinar esse

novo grupo de operárias, onde trazendo decisivamente, a mulher na produção. “A inserção da mulher no

mercado foi marcada por um período de preconceitos e dificuldades” (ASSIS, 2009, p. 2).

O desempenho feminino na população economicamente ativa tem ampliado em quase todos os

países do mundo desde a década de 70. De acordo com dados das nações unidas, cerca de 45% das

mulheres do mundo entre 15 e 64 anos de idades encontram-se economicamente ativas. A taxa de atuação

feminina cresceu tanto nos períodos de recessão quanto nos de prosperidade, ao tempo em que a

participação masculina tem reduzido (GARCIA; CONFORTO, 2010).

Ao falar sobre a participação da mulher no mercado de trabalho brasileiro Hoffmann e Leone

(2004), ressaltam, a partir da década de 1970, otimizou-se a participação das mulheres na movimentação

econômica em uma conjuntura de ampliação da economia com veloz processo de industrialização e

urbanização. Prolongou na década de 1980, apesar da paralização da atividade econômica e da

deterioração das oportunidades de ocupação. Nos anos 1990, década determinada pela acentuada abertura

econômica, pelos baixos investimentos e pela terceirização da economia, estendeu a habilidade de

crescente incorporação da mulher na força de trabalho. Todavia, incrementa-se, nessa última década, o

desemprego feminino, apresentando que o crescimento de postos de trabalho para mulheres não foi

bastante para absorver o montante do crescimento da População Economicamente Ativa (PEA) feminina.

Ao acontecer a Revolução Industrial, ocorreu a exploração de mão-de-obra, sendo o tempo

ponderado não pelos artesãos, mas pelos donos da indústria. Os trabalhos das crianças e das mulheres

foram de grande importância para as fábricas, visto que diminuía os esforços realizados como também os

custos com os salários. As mulheres apresentam serem completamente exploradas nas fábricas possuindo

exceção nas horas de trabalho, salários muito baixos entre outros (BAYLÃO; SCHETTINO, 2014).

3. Indústria no Ceará

O Ceará, bem como o Brasil, auferiu uma industrialização tardia, sobretudo pelo aspecto

agroexportador que o país teve nos séculos XVI, XVII, XVIII e XIX. Concomitantemente ao processo de

industrialização da Inglaterra, o estado do Ceará apresentava-se em um espaço aberto à pecuária. De fato,

esta atividade foi de suma importância no povoamento do estado. Para Pompeu Sobrinho (1917), a

pecuária extensiva caracterizava-se como uma atividade pré-industrial, isto é, foi o criatório extensivo que

possibilitou, efetivamente, a colonização do Ceará. Até então, a capital Fortaleza era um mero espaço

pautado no marasmo econômico. Diferente de Aracati e Icó, centros de distribuição e processo de preparo

do gado para exportação. A economia cearense, povoada inicialmente em 1603, tornou-se um espaço para

economias secundárias (agricultura de subsistência e pecuária) a principal (açúcar) (FIEC, 2010).

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Com a primeira Revolução Industrial iniciada no final do século XVIII, favoreceu a economia

cearense e maranhense. Este segmento industrial demandava de forma crescente suas matérias-primas. O

algodão passou a ser o produto primário mais valorizado. Com a guerra de secessão dos Estados Unidos e

sua saída do mercado algodoeiro, o Ceará e o Maranhão despontam neste mercado. Aquele se destaca e

torna-se um grande produtor de algodão, o que favorece a incipiente ascensão de Fortaleza, que

despontará como centro econômico do estado. Essa prática pôde ser fomentada mediante algumas

condições favoráveis. A primeira delas é o fator locacional, haja vista a região semiárida possuir solo

adequado para atividade algodoeira; a segunda pode ser considerada pelo grande mercado consumidor

(grandes nações como a Inglaterra) e a inserção cearense no comércio internacional; e a grande oferta de

mão-de-obra que o Ceará possuía (FIEC, 2010; SOUZA, 1994).

Segundo Girão (2000, p.213), “foi a começar de 1777 que no Ceará se cogitou do algodão como

elemento comerciável, e não simplesmente matéria prima de rudimentar indústria caseira na feitura de

fios, panos grosseiros e redes de dormir”. A indústria cearense, destarte, nascia de forma incipiente, a

partir da distribuição dos produtos colocados na pauta de exportação do estado escoados para o mercado

internacional a partir de Fortaleza, iniciando sua crescente fase de concentração econômica e

consolidação como capital do Ceará.

A partir disso, Amora (2005) elenca três períodos da implantação da indústria no Ceará:

No Ceará, em geral, identificam-se três períodos de implantação industrial que correspondem a

momentos distintos da divisão internacional e nacional do trabalho: o primeiro, inicia-se no final

do século XIX e estende-se até os anos de 1950; o segundo, compreende os anos de 1960 até

meados da década de 1980, quando começa um terceiro período, ainda em curso (AMORA, 2005,

p. 371).

O período coronelista teve significativa colaboração para o quadro espacial e organizacional do

estado, pois este momento cria as bases de transição do segundo para o terceiro período. Todavia, o

último período citado por Amora (2005) é o de maior relevância, “devido às ações modernizadoras e

impacto no território, às ideias neoliberais e importância para a dinamização da Região Metropolitana de

Fortaleza (RMF)” (ARAUJO, 2007, p. 100), reconhecido como o Governo de Mudanças.

Taxado de anacrônico, o modelo político do coronelismo é substituído em 1986, pelo então

Governador Tasso Jereissati, com o objetivo de inserir o estado no modelo de mundialização da produção,

atuando mediante práticas neoliberais (ARAUJO, 2007).

A partir daí, tem-se um maior aporte de investimentos de outros estados e do exterior, pelo caráter

de atração de investimentos e pelo discurso de emprego e geração de renda. Pereira Júnior (2005, p. 53)

chama atenção para isso quando diz que a partir da ‘Era Jereissati’, “a industrialização é abertamente um

dos maiores interesses dos programas econômicos adotados pelo Ceará”.

As políticas de industrialização cearense foram importantes no que tange a configuração espacial

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do estado. Refletem no significativo aumento da população urbana, ao estimular o êxodo rural, o

agronegócio e a modificação das relações de trabalho. Essa transformação econômico-urbana promovida

pelo Governo Mudancista modificou as bases anacrônicas do coronelismo para um de modelo de atração

de investimentos, pautado em incentivos e uma miríade de mão-de-obra disponível. Elias e Sampaio

(2002, p. 11) colocam que:

O Estado do Ceará assume novo papel na divisão social e territorial do trabalho no Brasil e deve

ser considerado como uma fração do espaço total do planeta, cada vez mais aberto às influências

exógenas e aos novos signos contemporâneos. Como objeto e sujeito da economia globalizada, é

um espaço que pouco possui de autônomo, pois não existe por si mesmo, de forma independente

do resto do mundo, com o qual interage permanentemente no processo de acumulação de capital.

No entanto, nos últimos quinze anos, é visível sua reestruturação econômica com objetivos claros

de inserir-se no circuito da produção e consumos globalizados.

Atualmente, o Ceará é um dos grandes centros econômicos do Nordeste (ao lado de Pernambuco e

Bahia) e no cenário nacional – até no internacional, como ponto de escoamento para o comércio exterior.

Todavia, cabe salientar que a industrialização promovida no estado evidencia que as verdadeiras

justificativas

[...] que induzem ao processo de acumulação de capital, assim como as decisões sobre o ambiente

ideal de alocação dos investimentos, muitas vezes escondem-se sob formulações políticas, sendo

estas apresentadas como objetivos sociais a fim de obter efeitos em nível ideológico. A concepção

que enfatiza o papel dos governos e das forças que movimentam as relações sociais de produção,

nesse caso, esclarece muito melhor o processo (PEREIRA JÚNIOR, 2011, p. 217).

4. Procedimentos metodológicos

A principal fonte de informações utilizada nesse estudo é a Relação Anual de Informações Sociais

(RAIS), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). De acordo com Silva et al (2017), essa base de

dados é uma pesquisa anual, e abrange cerca de 97% do mercado de trabalho formal brasileiro. A mesma

tem por objetivo atender as necessidades de estatísticas, de controle e informações aos investigadores e

entidades governamentais sobre os exercícios trabalhistas formais no país.

Para este estudo a área de investigação corresponde ao estado do Ceará. Por sua vez, o ano em

estudo é 2016, e o intuito é analisar a participação feminina no setor industrial.

Os conceitos adotados nesse estudo seguem as definições que constam na documentação da RAIS

(2016, p. 25-41).

Trabalhadores formais: qualquer empregado contratado que exerça vínculo empregatício e relação

de emprego com trabalho remunerado e carteira assinada sob o regime da Consolidação das Leis do

Trabalho (CLT). Consiste em trabalho fornecido por empregadores, pessoa física ou jurídica, por prazo

determinado, indeterminado ou a título de experiência que confira ao empregado sob qualquer ocupação

trabalhista todos os direitos previstos em Lei.

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Remunerações mensais: pagas ou não, importa a competência mensal a que o empregado tem o

direito de recebê-las, independentemente do momento em que o empregador tenha repassado ao

empregado tais valores.

4.1 Variáveis:

Setor de Atividade: Indústria.

Sexo: Masculino e Feminino.

Setores da Indústria de Transformação: Extrativa mineral; Prod. Mineral não metálico; Indústria

metalúrgica; Indústria mecânica; Elétrico e comunicações; Matéria e transportes; Madeira e mobiliário;

Papel e gráfica; Borracha, Fumo e Couros; Indústria química; Indústria têxtil; Indústria de calçados;

Alimentos e bebidas; Serviços de utilidade pública.

Faixa Etária: De 15 à 17 anos, de 18 à 24 anos, de 25 à 29 anos, de 30 à 39 anos, de 40 à 49 anos,

de 50 à 64 anos, 65 anos ou mais e ignorado.

Nível de Instrução: Sem Instrução, Até 5ª Incompleto, 5ª Completo Fundamental, 6ª a 9ª

Fundamental, Fundamental Completo, Médio Incompleto, Médio Completo, Superior Incompleto,

Superior Completo, Mestrado e Doutorado.

Tempo de Emprego: Menos de 1 ano, 1 a menos de 3 anos, 3 a menos de 5 anos, 5 ou mais anos e

ignorado.

Rendimento em Salário Mínimo: Até 1 salário, 1 a 2 salários mínimos, 2 a 4 salários mínimos, 4 a

7 salários mínimos, 7 a 10 salários mínimos, 10 a 15 salários mínimos, 15 a 20 salários mínimos, mais de

20 salários mínimos e ignorado.

Posteriormente a extração das variáveis acima citadas, por meio do banco de dados on-line da

RAIS/MTE, as resoluções coletadas e tabuladas foram apresentadas em tabelas com as suas respectivas

análises.

5. Perfil da mulher no setor industrial formal cearense

Essa seção analisa as o perfil sociodemográfico e socioeconômico das mulheres inseridas na

atividade industrial, durante o ano de 2016. Assim, será analisado o perfil da trabalhadora empregada na

industrial formal cearense, no que se refere ao setor de atividade, sexo, setores da indústria de

transformação, faixa etária, nível de instrução, tempo de emprego e rendimento.

De acordo com os dados da Tabela 1, o setor de serviços é responsável pelo maior número de

trabalhadores formais no Ceará, representando aproximadamente 60% do total, em seguida estão os

setores do comércio e indústria, que são responsáveis por 18,08% e 16,91% dos trabalhadores formais do

Estado, respectivamente.

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Tabela 1 – Trabalhadores por setor de atividade no Ceará - 2016

Setor de Atividade Abs. %

Indústria 244.056 16,91

Construção Civil 61.516 4,26

Comércio 260.979 18,08

Serviços 853.499 59,13

Agropecuária 23.315 1,62

Total 1.443.365 100,00 Fonte: Elaboração dos autores a partir de RAIS (2018).

No tocante à análise do perfil do trabalhador, observa-se, na Tabela 2, que no ano em estudo, há

predominância do gênero masculino empregado na indústria. O número de empregos masculinos na

indústria, em termos percentuais é de 64,08%, já a participação das mulheres empregadas representam

35,92% das vagas na indústria.

Tabela 2- Trabalhadores na indústria formal cearense, segundo o sexo – 2016

Sexo Abs. %

Masculino 156.380 64,08

Feminino 87.676 35,92

Total 244.056 100,00 Fonte: Elaboração dos autores a partir de RAIS (2018).

Quanto ao número de empregos na indústria de transformação, os dados na Tabela 3 revelam que

a indústria têxtil é a que mais emprega mulheres (38,26%). De acordo com Toitio (2008), isso está

relacionado com a simplificação do trabalho nos mais variados segmentos da indústria têxtil,

principalmente nos setores que apresentam atividades mais desagregadas, como no tear, que demanda

maior sensibilidade dos cuidados e habilidades feminina. Em seguida estão as indústria de calçados

(27,4%) e indústria de alimentos e bebidas (17,76%).

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Tabela 3 – Número de trabalhadoras formais, segundo setores da indústria de transformação - Ceará- 2016

Setor de atividade Abs. %

Extrativa Mineral 276 0,31

Prod. Mineral Não Metálico 1.123 1,28

Indústria Metalúrgica 1.581 1,80

Indústria Mecânica 1.454 1,66

Elétrico e Comunicações 507 0,58

Material de Transporte 361 0,41

Madeira e Mobiliário 952 1,09

Papel e Gráfica 2.240 2,55

Borracha, Fumo, Couros 1.714 1,95

Indústria Química 2.870 3,27

Indústria Têxtil 33.547 38,26

Indústria Calçados 24.019 27,40

Alimentos e Bebidas 15.575 17,76

Serviço Utilidade Pública 1.457 1,66

Total 87.676 100,00 Fonte: Elaboração dos autores a partir de RAIS (2018).

Por sua vez, os setores de indústria extrativa mineral (0,31%), material de transportes (0,41%) e, elétrico e

comunicações (0,58%) são os setore que apresentam o menor número de trabalhadoras da indústria de transformação. Em

números absolutos, estes três setores agregam apenas 1.144 mulheres.

No tocante a idade das ocupadas, de acordo com os dados da Tabela 4, a faixa etária que mais se

encontra empregada, situa-se entre 30 e 39 anos (idade ativa), em termos percentuais representam 35,7%

das trabalhadoras. Outra faixa etária que chama atenção é a de 25 à 29 anos (19,62%).

Tabela 4 – Trabalhadoras na indústria formal cearense, segundo a faixa etária – 2016

Faixa etária Abs. % 15 à 17 197 0,22

18 à 24 15.865 18,10

25 à 29 17.202 19,62

30 à 39 31.297 35,70

40 à 49 16.282 18,57

50 à 64 6.660 7,60

65 ou mais 173 0,20

Total 87.676 100,00 Fonte: Elaboração dos autores a partir de RAIS (2018)

Quanto a faixa etária mais jovem (15 à 17 anos), os quais apresentam uma insignificante presença

no referido segmento (0,22%), é justificada pelo aumento dos incentivos por parte do Governo, para que

crianças e jovens permaneçam estudando (SILVA FILHO, 2008). Outro fator importante decorre da

falta de políticas públicas de incentivo ao 1º emprego e de políticas industriais a partir do recrutamento

de mão de obra jovem (sem experiência) (SILVA FILHO; QUEIROZ, 2010).

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Por sua vez, quanto aos que possuem 65 anos ou mais, também constata-se baixa participação

absoluta com apenas 173 trabalhadoras (0,20%). A explicação para o baixo volume de pessoas nessa

idade, segundo Arrais (2007) é devido à falta de demanda por trabalhadores nessa faixa etária e também,

pelo fato da maioria já estarem aposentados.

Considerando o nível de instrução das trabalhadoras (Tabela 5), uma quantidade expressiva possuí

ensino médio completo, representando 58,48% das trabalhadoras inseridas na indústria. As explicações

mais plausíveis estão no incentivo à permanência dos trabalhadores na escola, e também nos programas

do Governo Federal para o combate ao analfabetismo, dentre os quais se destacam o Programa Brasil

Alfabetizado e o Programa Educação de Jovens e Adultos – EJA (SILVA FILHO; QUEIROZ, 2010). E

apenas uma quantidade inexpressiva está classificada como analfabeta (0,19%), o que corrobora com a

informação anterior.

Tabela 5 – Trabalhadoras na indústria formal cearense, segundo o nível de instrução - 2016

Escolaridade Abs. %

Analfabeto 169 0,19

Até 5ª Incompleto 2.326 2,65

5ª Completo Fundamental 1.602 1,83

6ª a 9ª Fundamental 5.499 6,27

Fundamental Completo 9.869 11,26

Médio Incompleto 8.211 9,37

Médio Completo 51.270 58,48

Superior Incompleto 2.724 3,11

Superior Completo 5.902 6,73

Mestrado 93 0,11

Doutorado 11 0,01

Total 87.676 100,00 Fonte: Elaboração dos autores a partir de RAIS (2018)

No entanto, no que concerne aos níveis de instrução mais elevados (mestrado e doutorado), a

indústria apresenta pequena quantidade de trabalhadoras com tal perfil. Em números absolutos são

apenas 104 mulheres que representam 0,12% do total. Para Silva Filho e Queiroz (2010), mesmo com a

melhoria do nível de instrução do trabalhador cearense, fica evidente o baixo nível de escolaridade da

mão de obra empregada na indústria formal cearense, uma vez que as indústrias que se deslocaram para

o Ceará não demandam trabalhadores qualificados.

Considerando o tempo de permanência no segmento da indústria formal (Tabela 6), no ano em

análise, 23,17% das mulheres passaram menos de um ano na empresa. E 29,04% passaram entre 1 a

menos de 3 anos na mesma empresa. Apenas 10,97% passaram mais de 10 anos na mesma empresa.

De acordo com Bartar e Proni (1996, p.119).

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No Brasil [...] é elevada a freqüência com que muitas pessoas estão permanentemente trocando de

emprego. As empresas dispõem de um núcleo relativamente pequeno de empregados estáveis e

contratam os demais apenas a medida que o nível de atividade justifica, dispensando parte do

pessoal quando as vendas diminuem. Elas têm, portanto, uma enorme flexibilidade para ajustar a

magnitude de funcionários a ritmo de produção e/ou vendas de produtos.

Tabela 6 – Trabalhadoras na indústria formal cearense, segundo o tempo de emprego - 2016

Tempo de serviço Abs. %

Menos de 1 anos 20.313 23,17

1 ano a menos de3 anos 25.459 29,04

3 anos a menos de 5 anos 15.956 18,20

5 anos a menos de 10 anos 16.485 18,80

10 anos ou mais 9.460 10,79

{ñ class} 3 0,00

Total 87.676 100,00 Fonte: Elaboração dos autores a partir de RAIS (2018).

Ademais, para Silva Filho e Queiroz (2010), a alta rotatividade da mão de obra na indústria cearense é

corroborada pelo fato de que a indústria é intensiva em mão de obra, e facilmente substituível em virtude

da baixa qualificação necessária/exigida de tais profissionais, facilitando-se assim, a contratação e

demissão.

No tocante ao rendimento, constata-se na Tabela 7, concentração de mulheres ganhando de 1 a 2

salários mínimos. Em termos percentuais, 78,40% das mulheres ganhavam a referida faixa de salário.

“Isso se justifica em função de as empresas atraídas para o Ceará, através das políticas de incentivos

fiscais, serem intensivas em mão de obra” (SILVA FILHO, QUEIROZ, 2010).

Tabela 7 – Trabalhadoras na indústria formal cearense, segundo o rendimento em salário mínimo – 2016

Faixa Média de Remuneração Abs. %

Até 1,00 8.874 10,12

1,01 à 2,00 68.739 78,40

2,01 à 4,00 5.264 6,00

4,01 à 7,00 1.922 2,19

7,01 à 10,00 702 0,80

10,01 à 15,00 374 0,43

15,01 à 20,00 125 0,14

Mais de 20,00 105 0,12

{ñ class} 1.571 1,79 Fonte: Elaboração dos autores a partir de RAIS (2018).

Quanto à faixa de até um salário, esta é a segunda em termos de concentração e representa 10,12% da

mão de obra feminina. Esse resultado mostra que mesmo com todos os avanços, os trabalhadores ainda

auferem uma remuneração baixa, o que evidencia uma falta de reconhecimento e desestímulo do trabalho.

Além de aumentar a desestruturação dos mercados de trabalho regionais e incentivar o avanço das

disparidades salariais e regionais (DIEESE, 2006).

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Em contrapartida, observa-se para os que ganhavam mais de 7 salários mínimos os número

absolutos são bem inexpressivos, apenas 1.306 trabalhadoras se enquadram nesse perfil. Para Baltar e

Proni (1996), a acumulação de experiências de trabalho (tempo de serviço na empresa) e o grau de

instrução dos trabalhadores são fatores que podem determinar a elevação salarial. Nesse caso, a

rotatividade da mão de obra (Tabela 6) e a grande quantidade de trabalhadores com baixo grau de

instrução (Tabela 5) podem justificar, em parte, os baixos níveis salariais pagos na Indústria.

6. Considerações finais

Este artigo teve como objetivo principal, analisar a recente participação feminina na indústria

formal cearense. Para tanto, traça-se o perfil sociodemográfico e socioeconômico das trabalhadoras,

procurando verificar sua inserção em tal atividade.

Com relação ao comportamento do mercado de trabalho cearense, em níveis setoriais, nota-se a

tendência da predominância dos segmentos comerciais e de serviços, seguida pela indústria, construção

civil e agropecuária. Como destacam Silva et al (2017), é importante ressaltar o expressivo aumento no

setor da construção civil, não obstante, decorrente dos investimentos em obras da Copa do Mundo,

habitação popular (Minha Casa Minha Vida) e infraestrutura (hospitais regionais, Universidades públicas,

centro de convenções etc.).

Quanto ao perfil sociodemográfico e socioeconômico das empregadas na indústria formal

cearense, os dados revelam que a maioria dos trabalhadores em tal setor é do sexo masculino. Com

relação às características das trabalhadoras, a maioria encontra-se na faixa etária de 30 a 39 anos, sendo

que elas permanecem de menos um a três anos no mesmo emprego. No tocante a escolaridade, um

número expressivo possui ensino médio completo.

No que concerne aos rendimentos, constata-se concentração ganhando de 1 a 2 salários mínimos.

Os setores de indústria têxtil, de calçados e de alimentos e bebidas são os que mais empregam mulheres.

Assim, constata-se que apesar das melhorias ocorridas na educação e no mercado de trabalho nos últimos

anos, ainda é preciso avançar muito. Portanto, diante de tal cenário, as lutas por igualdade e

empoderamento da mulher cearense devem permanecer.

7. Referências

AMORA, Z. B. Indústria e espaço no Ceará. In: SILVA, J. B. da S. (org.) et al. Ceará: um novo olhar

geográfico. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2005.

ARAÚJO, N. G. A industrialização no Ceará: breves considerações. Boletim Goiano de Geografia, v.

27, n. 2, p. 97-114, 2007.

ARRAIS, A. K. M.; QUEIROZ, S. N.; ALVES, C. L. B. Mercado de trabalho formal na indústria:

comparativo entre as regiões Nordeste e Sudeste nos anos de 1994 e 2004. II, 2008. II Encontro

Internacional Trabalho e Formação de Trabalhadores. Anais... Fortaleza: LABOR/UFC, 2008.

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ARRAIS, A. K. M. Mercado de trabalho Formal Industrial: Comparativo entre as Regiões Sudeste e

Nordeste nos anos de 1994 e 2004, Monografia (Graduação em Economia), Universidade Regional do

Cariri (URCA), 2007.

ASSIS, R. H. A inserção da mulher no mercado de trabalho. 2009. Disponível em:

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