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Tweet 1 17 Curtir Yuri Firmeza: Turvações Estratigráficas Certa vez, Jacques Derrida, quando convocado a fazer um balanço de sua vida, definiu-se como um herdeiro apenas; herdeiro daqueles com quem manteve, em sua obra, uma relação de diálogo e, não raras vezes, de contestação. Herdar, para ele, significava ser fiel e, ao mesmo tempo, infiel aos que nos precederam, cujos despojos não nos seria possível escolher, senão a eles se vincular de modo ativo e, sobretudo, livre. Isso porque, para que a vida se mantenha em movimento – não importa em qual direção – caberia aos contemporâneos uma atitude nem de rechaço, nem de submissão contemplativa à matéria constituída, não obstante fragmentária, que chega até nós. Mas, exatamente, a escolha de preservá-la viva por intermédio de sua permanente reapropriação, a fim de que ela não seja condenada à elisão do esquecimento. Trata-se, então, de deixar para os que virão aquilo que, não obstante inteiramente reconstituído por nós, já nos havia sido deixado pelos que se foram. Uma atitude, segundo Derrida, avizinhada do abandono, do dom e do perdão. Atitude análoga é a de Yuri Firmeza, na exposição Turvações Estratigráficas. O artista toma para si despojos arqueológicos – patrimônios da União – encontrados durante a reforma do Palacete D. João VI e do Terminal Rodoviário Mariano Procópio para a instalação do MAR, bem como os destroços oriundos das remoções efetuadas no Morro da Providência, região portuária do Rio de Janeiro. Yuri torna-se, com isso, legatário de uma matéria espessa e indócil, cuja opacidade nos obriga a indagar: quais existências, ali inteiramente soterradas, continuam a pedir voz e passagem naqueles detritos em desalinho? Quais as formas de vida ainda em revulsão, cujos ecos o silenciamento forçoso do progresso urbanístico não consegue evitar? Como deixar viver aquilo que repousa, em desassossego, sob nossos pés? A conexão com a algaravia de vozes que emana de tais despojos é efetuada pelos vídeos que o artista sobrepõe ao material arqueológico, em especial aquele em que a avó, portadora do mal de Quero receber a programação do MAR Cadastre seu e-mail para ficar por dentro do que acontece no MAR Museu de Arte do Rio Praça Mauá, 5, Centro CEP 20081-240 Rio de Janeiro/RJ (21) 3031 2741 E-mail * PORTAL DA PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO OUVIDORIA O MAR IMPRENSA TRABALHE CONOSCO FALE CONOSCO ENGLISH

Yuri Firmeza- Turvações Estratigráficas

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Yuri Firmeza: Turvações EstratigráficasCerta vez, Jacques Derrida, quando convocado a fazer um balanço de sua vida, definiu-se como

um herdeiro apenas; herdeiro daqueles com quem manteve, em sua obra, uma relação de diálogo

e, não raras vezes, de contestação. Herdar, para ele, significava ser fiel e, ao mesmo tempo, infiel

aos que nos precederam, cujos despojos não nos seria possível escolher, senão a eles se

vincular de modo ativo e, sobretudo, livre. Isso porque, para que a vida se mantenha em

movimento – não importa em qual direção – caberia aos contemporâneos uma atitude nem de

rechaço, nem de submissão contemplativa à matéria constituída, não obstante fragmentária, que

chega até nós. Mas, exatamente, a escolha de preservá-la viva por intermédio de sua permanente

reapropriação, a fim de que ela não seja condenada à elisão do esquecimento. Trata-se, então,

de deixar para os que virão aquilo que, não obstante inteiramente reconstituído por nós, já nos

havia sido deixado pelos que se foram. Uma atitude, segundo Derrida, avizinhada do abandono,

do dom e do perdão.

Atitude análoga é a de Yuri Firmeza, na exposição Turvações Estratigráficas. O artista toma para

si despojos arqueológicos – patrimônios da União – encontrados durante a reforma do Palacete

D. João VI e do Terminal Rodoviário Mariano Procópio para a instalação do MAR, bem como os

destroços oriundos das remoções efetuadas no Morro da Providência, região portuária do Rio de

Janeiro. Yuri torna-se, com isso, legatário de uma matéria espessa e indócil, cuja opacidade nos

obriga a indagar: quais existências, ali inteiramente soterradas, continuam a pedir voz e

passagem naqueles detritos em desalinho? Quais as formas de vida ainda em revulsão, cujos

ecos o silenciamento forçoso do progresso urbanístico não consegue evitar? Como deixar viver

aquilo que repousa, em desassossego, sob nossos pés?

A conexão com a algaravia de vozes que emana de tais despojos é efetuada pelos vídeos que o

artista sobrepõe ao material arqueológico, em especial aquele em que a avó, portadora do mal de

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Alzheimer, repete incessantemente algumas passagens de sua infância. A velha senhora e seu

neto, à moda de Derrida, encontram uma razão singular de existir diante da inclemência do tempo

e sua força de tudo arrastar consigo: por meio da fabulação, ambos recontam uma história da

qual não participaram, mas que lhes pertence mais do que a ninguém. Yuri faz-se, assim, um

herdeiro apaixonado do seu presente.

Julio Groppa Aquino

Interlocutor

Yuri Firmeza

(São Paulo, 1982)

Vive e trabalha em Fortaleza, onde é professor do curso de cinema e audiovisual da Universidade

Federal do Ceará. É mestre em poéticas visuais pela Escola de Comunicações e Artes da

Universidade de São Paulo – financiado por bolsa de pesquisa Fapesp. Realizou exposições em

diversas cidades do Brasil e do exterior. Foi curador – em parceria com Beatriz Lemos – do

Encontro Sul-Americano Inventando o Lugar; do ciclo de conferências internacional A Imagem-

pensamento de Letícia Parente – em parceria com André Parente e Solon Ribeiro –; e do

Simpósio Internacional A Vida Secreta dos Objetos – em parceria com Cesar Baio. Publicou

textos em jornais e revistas de arte e cultura.

Interlocuções Clarissa Diniz | Julio Groppa Aquino | Paulo Herkenhoff Expografia Artur Cordeiro

Museografia Camuflagem Identidade visual Uirá dos Reis Produção executiva MAR Stella Paiva

Produção Julia Baker | Ana Terra Rodrigues Assistência à produção Silvio Borges Estagiária

Marina Cavalcanti Montagem MAR Marcos Inácio Meireles | Victor Monteiro Assessoria editorial

MAR Marco Aurélio Fiochi Museologia MAR Bianca Mandarino | Gabriela Alevato | Luciana Souza

| Mayra Brauer Produção de montagem Ana Beatriz Silva Projeto de Iluminação Artimanha – Julio

Katona Automação Alexandre Bastos Design de Projeções Making of Luiz Guilherme Guerreiro

Fotografia Maurício Hora Ampliações fotográficas Estúdio Lupa Plotagem ProfiSinal Edição de

vídeo Leonardo Mouramateus | Salomão Santana Agradecimentos André Parente | Claudemir

Martins da Silva Lima | Comunidade do Morro da Providência | Cristina Loddi | Cristina Zappa

| Felipe Ribeiro | Galpão das Artes | Guadalupe do Nascimento Campos | Instituto do Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional – Rio de Janeiro (Iphan/RJ) | Instituto Rio Patrimônio da

Humanidade (IRPH) | Ivo Barreto | José Damião | Lisette Lagnado | Luís Fernando de Almeida

| Marcos Paulo Rodrigues | Miguel Santana | Pablo Lobato | Tadeu Capistrano | Tiago do Morro

| Washington Fajardo

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