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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS VICE-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO - DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA DISCIPLINA: TECNOLOGIA EDUCACIONAL PROFESSORA: Ms. JOANA PEIXOTO Aluno: EDSON BRAZ DA SILVA Artigo apresentado como exigência parcial para obtenção do grau de Especialista em Educação (Docência Universitária) à Profª Ms. Joana Peixoto. Goiânia - Agosto de 1997

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS VICE-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO - DOCÊNCIA

UNIVERSITÁRIA

DISCIPLINA: TECNOLOGIA EDUCACIONAL

PROFESSORA: Ms. JOANA PEIXOTO

Aluno: EDSON BRAZ DA SILVA

Artigo apresentado como exigência parcial para obtenção do grau de Especialista em Educação (Docência Universitária) à Profª Ms. Joana Peixoto.

Goiânia - Agosto de 1997

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Edson Braz da Silva1 I - Introdução:

Enquanto desempenhava as suas atividades apenas com os limitados recursos de seu corpo, dependendo de suas habilidades corporal-cinestésicas, o homem não se diferenciava muito dos outros animais no relacionamento com a natureza, estando homens e animais sujeitos aos mesmos efeitos do ecossistema. Quando o homem incorporou à execução de suas atividades o uso de utensílios, que eram a tecnologia disponível na época, ele estabeleceu, a partir daí, um novo diferencial relativamente aos outros animais, elevando-se a um patamar superior na convivência com os outros animais e no relacionamento com as forças da natureza.

Essa situação é bem retratada por Orlando Gomes e Elson Gottschalk na obra Curso de Direito do Trabalho, 3ª ed. RJ, Forense, 1994, p. 1/7. Ensinam esses insígnes mestres que no início da história o homem ”trabalhava pela necessidade de satisfazer a fome e assegurar sua defesa pessoal, sendo a mão o único instrumento de trabalho e que por isso o homem primitivo tinha o seu horizonte tão limitado. Quando a sua mão foi prolongada pelo uso de utensílio, o homem se posiciona acima de outros animais. Ele tem um instrumento novo, criado por sua inteligência nascente”.

1Procurador-Chefe do Ministério Público do Trabalho em Goiás, Professor Auxiliar de Direito do

Trabalho da Universidade Católica de Goiás, concursado, Especializando em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho pela Universidade Federal de Goiás, Especializando em Educação ( Docência Universitária ) pela Universidade Católica de Goiás, Conselheiro do Instituto Goiano de Direito do Trabalho - IGT, Conselheiro do Instituto Goiano de Direito Tributário e Membro da Academia Goiana de Direito.

Como se vê, o uso da tecnologia amplia a capacidade do homem influenciar no meio social, permitindo-lhe, mais facilmente, criar bens e serviços ou resolver problemas de sobrevivência contra as hostilidades do meio ambiente. Hostilidades essas naturais ou decorrentes do próprio uso da tecnologia, como

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por exemplo a poluição do ar pela fumaça das fábricas e dos carros. No entanto, na interação homem tecnologia nem tudo são flores. Devemos

alertar que se o uso da tecnologia amplia a capacidade de atuação do homem, aumentando o seu poder de intervenção no meio ambiente e na vida em comunidade, as conseqüências desse uso poderão ser positivias ou negativas, ficando o resultado dependente do desiderato do indivíduo ou grupo que a detém e a manipula a tecnologia. Sendo a máquina uma criação do homem e a ele subjugada quando em funcionamento, é consectário natural que a ela sejam agregados todos os valores do seu criador ou do indivíduo que a utiliza, quer sejam valores éticos, filosóficos, políticos ou religiosos. Por isso o emprego da tecnologia na vida em sociedade nunca acontecerá de forma neutra ou imparcial, sendo direcionado necessariamente para o foco de interesse do seu manipulador.

Portanto, o uso da tecnologia poderá ser positivo ou negativo, ficando os resultados dependentes das virtudes ou mazelas do indivíduo ou grupo que a domina e a utiliza,

II - DO USO DA TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO

Se o resultado do uso da tecnologia em outros setores da vida em sociedade e na relação do homem com a natureza depende do animus faciendi do indivíduo ou grupo que a detém e a manipula, no campo da educação a situação não poderia ser diferente, posto que escola está situada no tempo e no espaço, sofrendo as influências e influenciando nos sistemas político, econômico e social a ela contemporâneos da respectiva comunidade, recebendo também as influências e influenciando os valores éticos, religiosos e filosóficos dessa mesma comunidade onde se insere.

Ao usar a tecnologia, o professor amplia a sua capacidade de ensinar, de influir no pensar e no comportamento dos alunos, mexendo em um nível mais elevado e efetivo com a cognoscitividade, atitudes e habilidades do alunato. Ocorre, porém, que o aumento da capacidade de influência do professor sobre o aluno não é, por si só, garantia da qualidade de ensino. Como na seara musical, onde a execução amplificada de uma obra tanto evidencia a atuação dos

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instrumentistas medíocres como dos virtuosos, na educação o uso da tecnologia amplia de forma integral o proceder do professor, superdimensionando tanto os seus defeitos como as suas virtudes, razão pela qual o resultado do uso da tecnologia na educação também poderá ser positivo ou negativo, estando atrelado ao perfil do docente. Se o professor tiver uma proposta pedagógica tradicionalista ou tecnicista, não será o uso da tecnologia que o transformará, tornando-o prosélito da pedagogia libertária e mudando seus métodos e procedimentos de ensino reprodutivistas para uma abordagem metodológica crítico-emancipatória. O professor pode adotar uma metodologia ultratradicional e conservadora e no entanto utilizar plenamente a informártica, apenas, porém, como elemento de suporte na elaboração e controle de rotinas pedagógicas.

Neste ponto podemos trazer à colação os ensinamentos do Professor José Manuel Moran, doutor em comunicação e professor de Novas Tecnologias na Escola de Comunicação e Artes da USP, reproduzidos no artigo “ Novas tecnologias e o reencantamento do mundo”, recolhido na INTERNET e fornecido pela Professora Joana Peixoto como material de apoio da disciplina Tecnologia Educacional, do Curso de Especialização em Docência Universitária, promovido pela Universidade Católica de Goiás:

“Tecnologias na educação: As tecnologias de comunicação não mudam necessariamente a relação pedagógica. As Tecnologias tanto servem para reforçar uma visão conservadora, individualista como uma visão progressista. A pessoa autoritária utilizará o computador para reforçar ainda mais o seu controle sobre os outros. Por outro lado, uma mente aberta, interativa, participativa encontrará nas tecnologias ferramentas maravilhosas de ampliar a interação. As tecnologias permitem um novo encantamento na escola, ao abrir suas paredes e possibilitar que alunos conversem e pesquisem com outros alunos da mesma cidade, país ou do exterior, no seu próprio ritmo. O mesmo acontece com os professores. Os trabalhos de pesquisa podem ser compartilhados por outros alunos e divulgados instantaneamente na rede para quem

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quiser. Alunos e professores encontram inúmeras bibliotecas eletrônicas, revistas on line, com muitos textos, imagens e sons, que facilitam a tarefa de preparar as aulas, fazer trabalhos de pesquisa e ter materiais atraentes para apresentação. O professor pode estar mais próximo do aluno. Pode receber mensagens com dúvidas, pode passar informações complementares para determinados alunos. Pode adaptar a sua aula para o ritmo de cada aluno. Pode procurar ajuda em outros colegas sobre problemas que surgem, novos programas para a sua área de conhecimento. O processo de ensino-aprendizagem pode ganhar assim um dinamismo, inovação e poder de comunicação inusitados. O reencantamento, em fim, não reside principalmente nas tecnologias - cada vez mais sedutoras - mas em nós mesmos, na capacidade em tornar-nos pessoas plenas, num mundo em grandes mudanças e que nos solicita a um consumismo devorador e pernicioso. É maravilhoso crescer, evoluir, comunicar-se plenamente com tantas tecnologias de apoio. É frustrante, por outro lado, constatar que muitos só utilizam essas tecnologias nas suas dimensões mais superficiais, alienantes ou autoritárias. O reencantamento, em grande parte, vai depender de nós.

III - DO USO DA INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO

Está na moda a utilização de software educativos que ensinam, porém

devemos ter cautela na seleção e escolha desse material. O software educativo de qualidade é aquele que privilegia a estruturação do pensamento do aluno, ajudando-o estabelecer relações. A educação tem o compromisso de desenvolvimento no aluno um pensamento lógico e científico e um comportamento dialético, razões pelas quais o professor ao decidir incluir no seu

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procedimento de ensino o uso de software educativo, deve optar por aquele que proporcione o desenvolvimento do pensamento do aluno nessas bases, porque não tem valia como instrumento pedagógico o software que não cumprir essa finalidade, tendo a mesma serventia que têm a tabuada, a régua, o compasso e a máquina de calcular no auxílio dos alunos na execução de suas tarefas escolares. Em resumo podemos concluir que a possibilidade de estruturação do raciocínio por parte do aluno é fator determinante da qualidade do software educativo.

O uso da tecnologia na educação, principalmente da informática, pode ter uma outra dimensão diversa da de “máquina de ensinar”, funcionando como suporte ao ensino ou ferramenta de ensino, o que foi muito bem percebido e explicado por José Armando Valente2:

“Entretanto, as novas modalidades de uso do computador na educação apontam para uma nova direção: o uso desta tecnologia não como “máquina de ensinar” mas, como uma nova mídia educacional: o computador passa a ser uma ferramenta educacional, uma ferramenta de complementação, de aperfeiçoamento e de possível mudança na qualidade do ensino. Isto tem acontecido pela própria mudança na nossa condição de vida e pelo fato de a natureza do conhecimento ter mudado. Hoje, nós vivemos num mundo dominado pela informação e por processos que ocorrem de maneira muito rápida e imperceptível. Os fatos e alguns processos específicos que a escola ensina rapidamente se tornam obsoletos e inúteis. Portanto, ao invés de memorizar informação, os estudantes devem ser ensinados a buscar e a usar a informação. Estas mudanças podem ser introduzidas com a presença do computador que deve propiciar as condições para os estudantes exercitarem a capacidade de procurar e selecionar informação, resolver problemas e aprender independentemente.”

2 VALENTE, José Armando. Diferentes usos do computador na educação. In: Computadores e

conhecimento: repensando a educação. Campinas: Editora da UNICAMP, 1993.

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Conclusão:

Do exposto, podemos concluir que a máquina sozinha não é nada em

termos pedagócios, e sempre dependerá do professor, das pessoas que determinam a proposta pedagógica, elegem o conteúdo curricular e detém as diretrizes do ensino. O uso da tecnologia em geral e em particular da informática não transforma, por si só, uma escola tradicional em um estabelecimento de ensino moderno e avançado pedagogicamente considerado. Os Estados Unidos são altamente desenvolvidos tecnologicamente, especialmente na área de informática, e são um país significativamente conservador. A escola pode ser expressivamente desenvolvida em termos tecnológicos e pautar-se em propostas pedagógicas reacionárias e conservadoras.

Ressaltamos que as nossa intenção não é desestimular a capacitação e atualização tecnológico da escola e do professor. Não podemos ter receio ou pudor de nos apropriarmos dos benefícios da tecnologia e empregá-los na educação, direcionadamente para atendimento dos objetivos do estabelecimento de ensino e em especial para efetivação dos objetivos específicos de cada disciplina . A escola de usar a tecnológia no sentido transformador e útil.

Em resumo final, citamos as sábias palavras da doce professora Joana Peixoto, que não se cansava repetir em sala de aula: A utilização da tecnologia de comunicação em educação importa em responder e ter consciência do quando, como e para que usá-la, principalmente a informática. Bibliografia: 1. FONSECA, Eduardo Giannetti da. A globalização e a aceleração do tempo. 2. KERCKHOVE, Derrick de. Da aldeia global à psique planetária. in: Correio da UNESCO, ano 23, n.4, abril./1995.

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3. ARIZPE. Lourdes. Rumo a uma identidade múltipla. in:Correio da UNESCO, ano 24,n.II, nov./1996. 4. BOUGNOUX, Daniel. Novas formas de se estar junto. in:Correio da UNESCO, ANO 23, N.4, Abril./1995. 5. MATTELART, Amand. Uma comunicação desigual. In: Correio da UNESCO, ano 23, n.4, abr./1995. 6. GARDNER, Howard. Inteligências múltiplas. A teoria na prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996 (Capítulos 1 e 2) 7. Somos todos robôs. Entrevista publicada na Revista ISTO É, n. 1411, 14/10/96. 8. Rumo à máquina inteligente. In: ISTO É, Coleção Grandes Temas: Eu, computador, n. 1, 1997. 9. Admirável mundo dos robôs. In: ISTO É, Coleção Grandes Temas: Eu, computador, n. 1, 1997. 10. MORAN, José Manuel. Novas tecnologias e o reencantamento do mundo. Recolhido na Internet. 11. COUTINHO, Laura Maria. Multimídia na escola. In: Revista Tecnologia educacional, v.22 (125) Jul./Ago., 1995. 12. VALENTE, José Armando. Diferentes usos do computador na educação. In: Computadores e conhecimento: repensando a educação. Campinas: Editora da UNICAMP, 1993. 13. AUMONT, Jacques. Meu caríssimo objeto do desejo. In: IMAGENS, Campinas: Editora da UNICAMP, n. 5, ago./dez., 1995. 14. MORAN, José Manuel. Desafios da Internet para o professor. Recolhido na Internet. 15. SÉNÉCAL, Michel. A interatividade conduz à democracia? In: Correio da UNESCO, ano 23, n.4, abr./1995. 16. PRETTO, Nelson de Luca. A educação num mundo de comunicação. In: Uma escola sem/com futuro. Campinas: Papirus, 1996. 17. Gomes, Orlando e Gottschalck, Elson - Curso de Direito do Trabalho, 3.ed. RJ, Forense,1994, pág.1/7.