ZANELLA, Maria Nilvane. UEL. Programa Atitude, Indicadores de Sarandi e Suas Impossibilidades

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    DOI: 10.5433/1679-4842.2012v15n1p89

    Programa atitude: indicadores de Sarandi e suas impossibilidades

    Attitudeprogram: impossibilities and indicators of Sarandi city

    Ricardo Peres da Costa

    Ana Lcia Rodrigues

    Maria Nilvane Zanella

    Resumo:

    O referido artigo realiza uma pesquisa bibliogrfica e documental para fundamentar aanlise da execuo do Programa Atitude de Sarandi, municpio localizado na regio

    metropolitana de Maring no noroeste do Estado do Paran. O artigo apresentainicialmente os eixos do Programa, buscando diferenciar os conceitos de Estado eGoverno. Estabelece, ainda, uma discusso crtica sobre as polticas para a juventude,na qual se insere o Programa Atitude. Com vistas a referenciar o leitor, a anliseexplicita dados e indicadores do municpio de Sarandi e os condicionantes e critriosque possibilitaram a implantao do Programa no municpio, mas, que por outro lado,contriburam para a sua ineficaz execuo.

    Palavras-chave:Juventudes. Poltica pblica. Programa de governo.

    Abstract:

    This article conducts a bibliographical and documentary research to substantiate theanalysis of the implementation of Attitude Sarandi Program, a city located in themetropolitan region of Maringa in northwestern of Parana State. The article initiallypresents the axes of the Program and seeks to differentiate the concepts of State andGovernment. It also establishes a critical discussion on youth policies in which includesthe Attitude Program. In order to refer the reader to analyze data and explicit indicatorsof the city of Sarandi and the conditions and criteria that permitted the implementationof the Programme in the city but, on the other hand contributed to its inefficientimplementation.

    Licenciado em Filosofia e Gesto em Segurana Pblica. Mestrando em Servio Social e Poltica Social (UEL).Acompanhou a execuo do Programa Atitude enquanto diretor do Centro de Socioeducao de [email protected]

    Professora do Departamento de Cincias Sociais (UEM). Coordenadora do Programa de Ps-Graduao emPolticas Pblicas e do Observatrio das Metrpoles - Ncleo Maring. Ps-doutorado (USP)[email protected]

    Pedagoga. Consultora para a elaborao de polticas para adolescente em conflito com a lei e socioeducao.Especialista em Gesto em Centros de Socioeducao (UFPR). Mestre em Polticas e prticas em Adolescentesem conflito com a lei (UNIBAN/SP). Mestranda em Educao (UEM/PR). Coordenadora executiva do ProgramaAtitude de Sarandi durante o ano de [email protected]

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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    Keywords:Youths. Public policy. Government program.

    Introduo

    Em 19 de dezembro de 2007, a extinta Secretaria de Estado da Criana e da Juventude

    (SECJ) deliberou no Conselho Estadual dos Direitos da Criana e do Adolescente (CEDCA) a

    aprovao para a implantao e execuo do Programa Atitude, que buscava o

    desenvolvimento e fortalecimento de aes, equipamentos e servios estruturados em eixos

    relacionados ao fortalecimento da famlia, superao da violncia contra crianas e

    adolescentes e criao de Redes de Proteo, s prticas formativas, socializadoras e de

    cidadania, ao combate ao uso de drogas, reduo da violncia juvenil, ao fortalecimento das

    estruturas do sistema de garantia dos direitos das crianas e adolescentes e participao

    social da juventude (PARAN, 2009, p. 1).

    Na execuo da proposta, o CEDCA deliberou para o financiamento (Deliberao

    019/2007) e implementao do Programa o valor inicial de R$ 48.200.000,00 (Quarenta e oito

    milhes e duzentos mil reais). Alguns municpios foram selecionados por meio de indicadores

    sociais e dados vinculados a questes da poltica de segurana pblica, como alto ndice de

    apreenses de adolescentes por atos infracionais. Para que os municpios pudessem acessar e

    assinar o convnio para recebimento do recurso, foram estabelecidos critrios que

    buscaremos analisar, relacionando-os aos indicadores do municpio de Sarandi, que executou

    a proposta que tinha como pblico-alvo crianas e adolescentes, suas respectivas famlias e

    comunidades, em reas que apresentam alta incidncia de fatores de risco formao e

    desenvolvimento integral e saudvel da populao infanto-juvenil (PARAN, 2009, p. 8).

    Na elaborao deste artigo, buscamos evidenciar a matriz terica que orienta a

    elaborao do texto e posteriormente faremos uma descrio dos indicadores que

    possibilitaram que o municpio de Sarandi fosse entendido como prioridade para o governo.

    Finalizaremos com a descrio das dificuldades existentes durante a implementao do

    programa, evidenciando as aes que o Governo estadual, por meio da Secretaria de Estado

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    da Criana e da Juventude (SECJ), tentou executar para minimizar as dificuldades existentes.

    Nas consideraes finais, apresentaremos os indicadores de atividades realizadas no Programa

    no perodo de janeiro a outubro de 2010.

    Definio de conceitos

    Na sociedade moderna, o termo Poltica est ligado s atividades imputadas ou que

    emanam do Estado moderno capitalista

    O conceito de poltica encadeou-se, assim, ao do poder do Estado ousociedade poltica em atuar, proibir, ordenar, planejar, legislar, intervir, comefeitos vinculadores e ao exerccio do domnio exclusivo sobre um territrio

    e da defesa de suas fronteiras (SHIROMA; MORAES; EVANGELISTA, 2004, p.6).

    A tradio do pensamento poltico um produto histrico. Hannah Arendt (2008, p. 36)

    define a poltica como a capacidade de persuadir sem o uso da fora ou da violncia, e,

    segundo a autora, para os gregos, forar algum mediante violncia e ordenar ao invs de

    persuadir, eram modos pr-polticos de lidar com as pessoas. Essas atitudes eram

    relacionadas com a vida privada, a vida em famlia, na qual o chefe da casa imperava com

    poderes incontestes e despticos [...].

    A partir dessa reflexo, os gregos definiam o que era pblico e o que era privado, ou

    seja, havia um abismo entre a vida pblica, considerada a vida poltica, e a vida privada,

    considerada como a vida do lar.

    Na sociedade capitalista, as esferas sociais e polticas diferem pouco, sendo a poltica

    uma funo da sociedade. No senso comum, quem faz poltica so os detentores de cargos

    polticos. Ainda segundo Arendt (2008), na contemporaneidade o privado misturou-se ao que

    pblico de forma quase irreconhecvel. Neste contexto, a palavra, pblico, passou a ser

    definida como tudo o que vem a pblico pode ser visto e ouvido por todos e tem a maior

    divulgao possvel, podendo significar ainda o prprio mundo, na medida em que este

    comum a todos ns, enquanto que a palavra privado passou a significar privao de relaes

    e do acesso a bens de consumo.

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    Assim, podemos argumentar que poltica a atividade praticada com o objetivo de

    influenciar acontecimentos e pensamentos e modificar a vida em sociedade. A poltica uniu-se

    ao poder do Estado de maneira que esse consegue proibir, ordenar, planejar, legislar e intervir,

    com domnio exclusivo sobre um determinado territrio. Segundo Shiroma, Moraes e

    Evangelista (2004), a poltica pblica social uma das maneiras que o Estado utiliza para

    administrar as contradies sociais de maneira humanitria.

    Para Marx, o Estado a violncia concentrada e organizada da sociedade evidenciando

    a relao entre a sociedade civil (conjunto das relaes econmicas) e o Estado (sociedade

    poltica). O Estado atua na administrao das contradies presentes na sociedade por meio

    das polticas pblicas sociais.

    estratgica a importncia das polticas pblicas de carter social sade,educao, cultura, previdncia, seguridade, informao, habitao, defesa doconsumidor para o Estado capitalista. Por um lado, revelam ascaractersticas prprias da interveno de um Estado submetido aosinteresses gerais do capital na organizao e na administrao da res publicae contribuem para assegurar e aplicar os mecanismos de cooptao econtrole social. Por outro, como o Estado no se define por estar disposiode uma ou outra classe para seu uso alternativo, no pode se desobrigar dos

    comprometimentos com as distintas foras sociais em confronto. As polticaspblicas, particularmente as de carter social, so mediatizadas pelas lutas,presses e conflitos entre elas. Assim, no so estticas ou fruto de iniciativasabstratas, mas estrategicamente empregadas no decurso dos conflitos sociaisexpressando, em grande medida, a capacidade administrativa e gerencialpara implementar decises de governo. Capacidade que burocratascontemporneos tm por hbito chamar governana (SHIROMA; MORAES;EVANGELISTA, 2004, p. 8-9).

    Para uma melhor compreenso e avaliao das polticas pblicas, torna-se fundamental

    diferenciar a concepo de Estado e de Governo. De uma maneira sinttica, podemos dizerque Estado o conjunto das instituies permanentes que possibilitam a ao do governo.

    Podemos citar, nesse caso, os rgos legislativos, o executivo, os tribunais, o exrcito e outras

    instituies que no formam um bloco, necessariamente. A palavra Estado, no sentido que

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    estamos discutindo, grafada em letra maiscula para se diferenciar dos outros termos e

    refere-se organizao social, poltica e jurdica, estabelecida em um determinado territrio.

    Governo definido como o conjunto de programas e projetos que so propostos por

    polticos, tcnicos, organismos da sociedade civil etc., para a sociedade como um todo. Essas

    propostas se configuram quase sempre pela orientao poltica de um determinado partido

    poltico. Assim, podemos compreender que um governo de tendncia neoliberal1 definir

    programas de governo seguindo essa tendncia.

    A tomada de deciso quanto elaborao e manuteno da poltica deve passar,

    preferencialmente, por um processo de tomada de decises envolvendo os rgos pblicos e

    diferentes agentes da sociedade relacionados poltica a ser implementada. Nesse sentido, a

    poltica pblica deve ser entendida como uma ao do governo e da sociedade que participou.

    A diferena principal entre uma poltica pblica e um programa de governo que o primeiro

    pode durar vrios mandatos e o segundo persiste durante um governo especfico e guarda

    profunda relao com um mandato eletivo. No cenrio poltico brasileiro, as duas categorias

    se confundem e as polticas pblicas fomentadas pela gesto que deixa o poder geralmente

    so descartadas pela gesto que assume.

    Segundo Hfling (2001, p. 31), as polticas sociais se situam [...] no interior de um tipo

    particular de Estado. So formas de interferncia do Estado, visando a manuteno das

    relaes sociais de determinada formao social.

    A atuao do Estado que visa manter as relaes sociais, minimizando possveis conflitos

    entre classes, definida por estudiosos como sendo uma poltica de consenso e, segundo

    Neves (2005, p. 15), [...] uma educao para o consenso possui aporte em conceitos como

    democracia, cidadania e tica2 que fundamentam o programa poltico denominado, Terceira

    1 O neoliberalismo um conjunto de ideias que defende a no participao do Estado na economia, havendo livreliberdade de comrcio e explorao dos lucros. A justificativa utilizada pelos tericos que defendem essapremissa (HAYEK, 2010; GIDDENS, 1999; FRIEDMAN, 1984; BUCHANAN, 1980) a de que esse princpio garanteo crescimento econmico e social de um pas. Na prtica, podemos dizer que essa poltica defende o quechamamos de Estado mnimo, com a venda das empresas estatais, a livre circulao de mercadorias e capitaisinternacionais, tendo como base da economia as empresas privadas.

    2 No podemos esquecer que os intelectuais orgnicos do capital costumam transmutar o sentido das palavrasconforme interesse e defesa da causa pela qual lutam. Assim, muitas palavras que possuam um sentido nico,

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    Via, sendo o [...] ponto de partida para a anlise sobre a difuso, na sociedade brasileira, dos

    novos ideais, ideias e prticas voltadas para a construo de uma nova pedagogia da

    hegemonia (NEVES, 2005, p. 15).

    Polticas para a juventude

    A histria da luta entre dominadores e dominados no facilmente distinguida, ela

    acontece nos bastidores de um modelo econmico que determina a trajetria que a histria

    ir seguir. As polticas pblicas para a juventude so inseridas no contexto de desigualdade,

    promovido pelo Sistema Econmico. O Estado para suprir as mazelas que afetam segmentos

    da sociedade elabora programas de governo, polticas, projetos e aes voltadas para setores

    especficos da nossa sociedade, como a juventude, por exemplo.

    Obviamente temos que discutir que a segmentao das polticas no o caminho. O

    ideal que a poltica no fosse individualizada para grupos especficos como crianas, jovens,

    idosos, negros etc., tendo em vista que isso desconstri o sentido de classe trabalhadora que

    todos somos, pressupondo o entendimento de que se deve lutar para melhorar as condies

    sociais apenas do segmento a que defende.

    Para discutirmos juventude importante mencionar que a partir de estudo de diversos

    pensadores e diante da heterogeneidade de relaes possveis para os jovens, comeou-se a

    identificar a juventude enquanto categoria social pelo termo juventudes, numa referncia aos

    estudos de Pierre Bourdieu.3

    Jos Machado Pais, no textoA construo sociolgica da juventude (1990), define que

    os estudos sobre a rea tm se detido em analisar os jovens por dois aspectos, sendo um de

    contexto psicolgico, em que os definem como sujeitos de uma mesma faixa etria e outro

    que segue a tendncia em olhar a juventude como um conjunto social diferenciado que varia,de acordo com o local em que vivem, suas classes sociais e ainda diferentes outras

    a partir das mudanas paradigmticas da ps-modernidade passaram a possuir um duplo sentido, como ocaso de cidadania, tica, direitos etc.

    3 BOURDIEU, Pierre. A juventude apenas uma palavra. Entrevista a Anne-Marie Mtaili, publicada em LesJeunes et le premier emploi, Paris, Association des Ages, 1978.

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    possibilidades, tantas quanto possveis, quase assumindo que a juventude no tem nada de

    comum entre si.

    Falando em polticas pblicas para a juventude, importante mencionar que a

    [...]juventude inscreveu-se como questo social no mundo contemporneo apartir de duas abordagens principais. De um lado, pela via dos problemascomumente associados aos jovens (como a delinqncia, o comportamentode risco e a drogadio, entre outros), que demandariam medidas deenfrentamento por parte da sociedade. [...]. De outro lado, a juventudetambm foi tradicionalmente tematizada como fase transitria para a vidaadulta, o que exigiria esforo coletivo principalmente da famlia e da escolano sentido de preparar o jovem para ser um adulto socialmente ajustadoe produtivo (AQUINO, 2009, p. 25).

    As polticas de ajuste de reestruturao da economia brasileira a partir da dcada de

    1980 adotaram polticas compensatrias de transferncia de renda para as classes mais

    vulnerveis financeiramente e a juventude no ficou parte, sendo que, muitos dos

    programas, gestados viam o jovem como capital humano,4 O que, na prtica, significava

    responder ao desemprego de jovens por meio de projetos de capacitao ocupacional e

    insero produtiva com nfase no chamado empreendedorismo juvenil(AQUINO, 2009, p.

    26).

    Assim, muitas das polticas que deveriam ser vistas como direitos dos jovens passaram

    a ser vistas como antdotos violncia e fragmentao social, ou, ainda, como uma formao

    para o consenso.

    Novaes (2009, p. 19) evidencia que, levando-se em conta os direitos e as redes de

    proteo social, vigentes e considerando-se as novas demandas juvenis que chegam ao espao

    pblico, as polticas pblicas para a juventude podem ser classificadas em universais, atrativas

    e exclusivas.

    4 Essa teoria foi desenvolvida aps a dcada de 1950 pelo economista norte-americano Theodore W. Schultz emparceria com a UNESCO. A teoria defende que o trabalho humano, quando qualificado por meio da educao, um dos mais importantes meios para a ampliao da produtividade econmica, e, portanto, das taxas de lucrodo capital. Aplicada ao campo educacional, a ideia de capital humano gerou toda uma concepo tecnicistasobre o ensino e sobre a organizao da educao (MINTO, 2012).

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    As polticas universais seriam as polticas estruturais ligadas educao, ao trabalho e

    emprego, assistncia social, sade, cultura e de combate violncia. As polticas atrativas

    seriam aquelas que no so dirigidas apenas aos jovens, mas que possuem incidncia sobre

    eles e que possuem um carter emergencial ou experimental, podendo combinar as duas

    dimenses. Por outro lado, as polticas exclusivas so aquelas voltadas para a faixa etria de

    15 a 29 anos em todas as reas de atuao.

    O contrrio da excluso a incluso, o estar dentro, o reingresso condioda qual foi excludo (a). Da mesma forma, h sujeitos sociais com o poder deincluir e h os que so considerados objetos e, portanto, que so includos ouque, numa perspectiva assistencialista e de manuteno do status quo, socolocados para dentro novamente. Se considerarmos que os processos de

    excluso social so inerentes lgica do modo de produo capitalista,veremos que as polticas de incluso e/ou insero social so estratgias paraintegrar os objetos os excludos ao sistema social que os exclui e, aomesmo tempo, de manter sob controle as tenses sociais que decorrem dodesemprego e da explorao do trabalho, mveis da excluso social (RIBEIRO,2006, p. 159).

    A reflexo de Ribeiro aponta que as polticas de incluso buscam incluir socialmente

    aqueles que o prprio capitalismo excluiu ou marginalizou na sociedade, sendo essas polticas

    incapazes de superar essa marginalizao, promovendo um ajustamento social por meio deum consenso. Como evidencia Marx (1996), o excedente de trabalhadores, que ele denomina

    de superpopulao, um produto necessrio para a acumulao ou desenvolvimento da

    riqueza do capitalismo. Assim, podemos argumentar que as legislaes que retiraram as

    crianas do exrcito ativo de trabalhadores so frutos de um movimento histrico em que

    havia um exrcito de reserva, o qual possibilitou que essa fora fosse liberada, no sendo

    tambm as polticas da infncia e juventude a causa da diminuio do trabalho infantil, por

    exemplo, e sim um processo que resultado da superpopulao disponvel para o trabalho.

    Mas, se uma populao trabalhadora excedente [...] constitui um exrcitoindustrial de reserva disponvel, que pertence ao capital de maneira toabsoluta, como se ele o tivesse criado sua prpria custa. Ela proporciona ssuas mutveis necessidades de valorizao o material humano sempre prontopara ser explorado, independente dos limites do verdadeiro acrscimopopulacional (MARX, 1996, p. 262-263).

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    Nesse sentido, [...] grandes massas humanas precisam estar disponveis para serem

    subitamente lanadas nos pontos decisivos, sem quebra da escala de produo em outras

    esferas (MARX, 1996, p. 263).

    Programa Atitude em Sarandi

    Segundo Rodrigues (2004), o planejamento da ocupao urbana de Maring possibilitou

    uma operacionalizao da segregao da pobreza, com grandes contingentes do operariado

    que se estabeleceu nas extremidades marginais da cidade e, principalmente, nos municpios

    contguos de Paiandu e Sarandi.

    A autora explicita que Sarandi surgiu como patrimnio em maio de 1947, fundado pela

    Companhia de Terras Norte do Paran, e, em 1951, tornou-se distrito administrativo de

    Marialva. Diferentemente do que ocorreu em Maring, no houve em Sarandi um

    planejamento urbanstico, havendo grandes vazios urbanos prximos ao centro do municpio

    e reas ocupadas na periferia da cidade. Localizado na configurao socioespacial da regio

    metropolitana de Maring, noroeste do Estado do Paran, o municpio de Sarandi

    [...] possui hoje oitenta e trs bairros implantados, entretanto, apenas 50%do espao incorporado est ocupado. A maioria dos loteamentos foi abertasem asfalto, gua e esgoto ou energia eltrica, ou seja, sem a infra-estruturabsica necessria. Resultado, como dissemos, da desordenada ocupao doespao, empreendida pelas aes especulativas dos agentes imobiliriosprivados (que buscaram o mximo de explorao econmica com o mnimode contrapartida), reiterada pelo apoio dos agentes pblicos (RODRIGUES,2004, p. 103).

    As informaes apresentadas pela autora demonstram que Sarandi atendia ao critrio

    estabelecido pela SECJ ao elaborar a proposta do Programa Atitude, sendo o municpio

    localizado na regio metropolitana de Maring, conformando com esse uma nica mancha

    urbana, num explcito processo de conurbao.

    A populao de Sarandi caracterizada como [...] de baixa renda, com altos ndices de

    desemprego sem saneamento bsico e pavimentao asfltica, confirmando a carncia em

    polticas pblicas (PARAN, 2009, p. 8). O Diagnstico social, elaborado pela equipe tcnica

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    do Programa Atitude de Sarandi no ano de 2009, evidencia, ainda, que o crescimento

    demogrfico anual do municpio girava em torno de 6,8%, sendo que a maioria da populao

    trabalha em Maring, consumindo parte da sua renda naquele municpio, o que diminui a

    arrecadao de impostos. Devido a essa caracterstica, Sarandi passou a ser reconhecida como

    [...] uma cidade dormitrio, l eles no obedecem a projees. O planourbanstico de Sarandi um desastre. Eu percorri na ltima campanha oSarandi e l no se v praa, no se v nada; [...] os 35% que normalmente sedeixa para o poder pblico l no se respeitou nada. um bairrodesorganizado de Maring [...] (FERREIRA5apudRODRIGUES, 2004, p. 103).

    Segundo Rodrigues (2004), 50% da populao trabalha em outro municpio

    corroborando com essa imagem de cidade-dormitrio descrita pelo depoente na entrevista

    apresentada. Esses dados nos do um indicador de que crianas e adolescentes dessa

    populao ficam grande parte do dia distantes ou ausentes de seus familiares, exigindo a

    formulao e implantao de polticas pblicas.

    A implantao dos ncleos do Programa Atitude concentrou-se nas regies do Jardim

    Independncia e Esperana, bairros com maior concentrao demogrfica perifrica e

    ausncia do Estado na promoo de espaos pblicos para o exerccio da poltica em geral e,

    especialmente, populao infantojuvenil.

    De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), em 2007, Sarandi

    possua uma populao residente de 79.747 habitantes (IBGE, 2007), atendendo, dessa

    maneira, outro critrio estabelecido pela Coordenao do Programa. Segundo dados do IBGE

    (2010), Sarandi atualmente possui 83.724 habitantes distribudos em 27.854 domiclios

    particulares permanentes; o Jardim Independncia [...] possui 4.711 unidades perfazendo

    18,1% do total dos domiclios [...], enquanto que a regio Conjunto Floresta - Esperana possui

    4.262 unidades, totalizando 16,4% dos domiclios do municpio (BARBOSA, 2012, p. 3). Ainda

    segundo o autor, o Jardim Independncia tem 14.414 residentes (17,4%) e a regio do

    Conjunto Floresta - Esperana, com 13.623 ou 16,44%. Dentre eles, 46.245 moradores so de

    cor ou raa branca; 4.201 de cor ou raa preta; 802 amarelos e 31.527 so pardos e 72 ndios.

    5 FERREIRA, Said. Entrevista a Ana Lcia Rodrigues em setembro de 2002.

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    O saneamento bsico por meio da rede de esgoto considerado um item de extrema

    importncia para a qualidade de vida da populao e uma obrigao bsica do poder pblico,

    porm, em Sarandi, essa realidade para poucos domiclios, os dados indicam que na regio

    onde foi implantado o Programa Atitude apenas 152 domiclios (11,21%) da regio do Conjunto

    Floresta - Esperana e 147 (10,83%) do Jardim Independncia possuem saneamento, com rede

    de esgoto. Dessa forma, conclui-se a prevalncia das fossas para atendimento da populao

    (BARBOSA, 2012).

    Esse aspecto tem sua gnese no processo de urbanizao do municpio, onde as

    loteadoras entregaram bairros sem a infraestrutura bsica para habitao. Para Maricato

    (2007, p. 61), [...] as alternativas de habitao, que incluem infraestrutura e servios urbanos,

    demandadas pela maior parte da populao, no so encontrveis [...] nas polticas pb licas.

    A autora afirma que a habitao social, o transporte pblico, o saneamento e a drenagem no

    tm o status de temas importantes (ou centrais, como deveria ser) para tal urbanismo

    (MARICATO, 2007, p. 61) moderno das cidades brasileiras.

    As caractersticas do municpio de Sarandi apresentadas nos do um panorama rpido

    dos indicadores que levaram o governo estadual a definir essa regio como prioridade para

    implantao desse Programa setorial de governo. Apesar dos dados particulares, esse

    municpio deve ser compreendido a partir dos aspectos regionais da segregao urbana.

    Historicamente o municpio foi construdo como sendo a periferia da cidadede Maring, esta que ostenta o ttulo de cidade sem favelas e cujos altosndices de qualidade de vida transmitem um conceito de cidade que abrigauma populao de classe mdia alta, com bons salrios e com os valores deespaos imobilirios inacessveis para a populao de baixa renda, queacabou excluindo trabalhadores que passam o dia em Maring, mas que soobrigados a optar pela moradia na cidade vizinha do polo metropolitano(BARBOSA, 2012, p. 15).

    Nesta perspectiva, as evidncias regionais demonstram o interesse privado em

    detrimento do pblico e de sua infraestrutura urbana, como destaca Maricato (2007, p. 65),

    No por falta de planos urbansticos que as cidades perifricas apresentamproblemas graves. Mas porque seu crescimento se faz ao largo dos planos

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    aprovados nas Cmaras Municipais, seguindo interesses tradicionais quecomandam a poltica local e grupos especficos ligados ao governo de planto.

    Com vistas a definir a quantidade de ncleos que formariam a base operacional do

    programa, utilizou-se o critrio de analisar a concentrao da populao de 0 a 17 anos em

    famlias com menos de salrio mnimo, segundo dados do Censo demogrfico,

    Na rea de abrangncia dos dois ncleos selecionados, Ncleo Esperana eNcleo Independncia, so identificados a falta de centros pblicos de lazer(praas, quadras, parquinhos), carncia financeira dos moradores,desestruturao familiar, crianas e adolescentes usurios de lcool e drogase envolvidos em atos ilcitos e altos ndices de gravidez na adolescncia(PARAN, 2009, p. 8).

    Considerando que o Programa Atitude possua como um de seus princpios

    metodolgicos de ao o Aproveitamento dos recursos pblicos e comunitrios disponveis

    em cada localidade, buscando a melhoria permanente dos espaos e equipamentos sociais,

    assim como sua utilizao plena(PARAN, 2007, p. 9), buscando tambm dessa maneira a

    Implantao do programa em espaos pblicos j existentes6 e que na elaborao do

    Diagnstico social os Agentes Comunitrios de Sade do municpio apontaram [...] que a

    ausncia de espaos de lazer, bem como de programas para atender a referida clientela, []

    um fator que influencia diretamente na realidade mencionada,7 compreende-se que a falta

    de centros pblicos de lazer, detectada contribuiu para as dificuldades vivenciadas durante a

    execuo do Programa. Ao descrever, posteriormente, os locais de implantao dos Ncleos

    Esperana e Independncia, os tcnicos evidenciam que Os equipamentos pblicos existentes

    nas referidas reas so considerados insuficientes, tendo em vista a elevada densidade

    populacional.8

    Devido s dificuldades em conseguir espaos pblicos, no apenas para o atendimento

    da populao que se inseria nos eixos de atuao do Programa, mas, tambm, para estabelecer

    a sede dos Ncleos, os tcnicos mencionam no Diagnstico social que

    6Ibid., p.19.7Ibid., p.15.8Ibid., 2009, p.70.

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    Entende-se como espao para uso da comunidade: Associao de Moradores,campo de terra anexo a esta, quadra de escola e/ou salo paroquial, haja vistao nmero reduzido de espaos de lazer ou demais instrumentos pblicos nasreas referidas (PARAN, 2009, p. 70, grifo meu).

    No mesmo Diagnstico, os Agentes Comunitrios de Sade apontaram a prtica de

    trfico e uso de drogas por crianas e adolescentes em todos os bairros. Entretanto, mesmo

    com essa demanda, o municpio de Sarandi no atendeu a proposta de investimento do

    Programa Atitude para a implementao de um Centro de Ateno Psicossocial infantil lcool

    e drogas (CAPSi-AD), justificando a impossibilidade de atender a contrapartida solicitada pelo

    Estado: contratao de profissionais para a execuo do servio.

    Em Sarandi, o Programa Atitude no conseguiu o alcance esperado devido sdificuldades administrativas pelas quais o municpio passou. Em 2009, o prefeito que assinou

    o Convnio do Programa foi afastado por improbidade administrativa e o mesmo ocorreu com

    o seu substituto. Com a turbulncia administrativa, o processo de licitao para compra de

    equipamentos e materiais pedaggicos impediu a realizao de cursos profissionalizantes no

    espao do programa e nas instituies que realizam esse tipo de atividade.

    Por outro lado, as atividades pedaggicas de lazer e cultura foram prejudicadas. A

    carncia de recursos impossibilitou tambm a realizao dessas atividades. Para ameniz-las,a SECJ, aps realizar licitaes, enviou materiais que visavam suprir as necessidades bsicas,

    no entanto, foram insuficientes para que as atividades realizadas surtissem efeito e ganhassem

    o interesse dos adolescentes, por exemplo. Ainda que os tcnicos, estagirios e os bolsistas

    agentes de cidadania usassem a criatividade para realizar as atividades, elas no surtiram o

    efeito esperado, sendo pequena a participao dos adolescentes e jovens.

    As dificuldades polticas e administrativas do municpio tambm influenciaram para que

    o acompanhamento do Comit gestor municipal fosse deficitrio. As constantes trocas deprofissionais que deveriam fazer parte do comit gestor e uma ausncia de dedicao, aliado

    a no operacionalizao do programa, contribuiu para que houvesse pouca adeso s reunies

    e que a pauta girasse em torno de reclamaes sobre as dificuldades existentes. A escassez de

    profissionais na rede socioassistencial do municpio tambm contribuiu para que o trabalho

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    em rede ficasse prejudicado. Nos relatrios dos tcnicos so observados estudos de caso com

    a participao de um tcnico e um estagirio, inexistindo articulao interna e tambm externa

    com a rede de proteo e o Sistema de Garantia de Direitos. Em uma situao especfica em

    que uma criana relatou sofrer abusos sexuais, por exemplo, os tcnicos fizeram a denncia

    ao Conselho Tutelar que, inadvertidamente, contaram aos responsveis pela criana a origem

    da denncia o que inviabilizou por parte dos responsveis a participao nas atividades do

    Programa.

    Devido a essas dificuldades de operacionalizao, a equipe tcnica do programa

    comeou a vivenciar conflitos entre os ncleos (Independncia e Esperana) e tambm

    conflitos internos entre os membros do mesmo ncleo. A inexistncia de um

    acompanhamento de superviso peridica contribuiu para o desencadeamento dessas

    dificuldades. Em outras situaes, as equipes vivenciavam dificuldades com a prpria rede de

    proteo do municpio e com os profissionais escalados para contriburem com a execuo do

    programa: problemas relacionados licitao e falta de materiais, dificuldade de acesso a

    computadores para elaborar os relatrios e impressoras para a impresso, problemas com o

    veculo e outras dificuldades que s foram solucionadas praticamente ao trmino do contrato

    dos profissionais, levando os tcnicos a suporem que os Planos de Aplicao dos Convnios

    seriam executados quando no houvesse mais tempo hbil para a realizao das atividades.

    Assim, o municpio cumpriria os termos do convnio e os equipamentos e materiais seriam

    utilizados em outros programas e no no prprio Atitude.

    Com vistas a amenizar as dificuldades, a SECJ executou reunies com vrios escales do

    municpio, os profissionais na base tentaram a mobilizao dos jovens, realizaram cursos,

    palestras com professores do Curso de Especializao em Gesto de Polticas Pblicas para a

    Infncia e Juventude promovido pelo Programa em um convnio com a Universidade Estadual

    de Maring (UEM). Mas, passados os primeiros momentos de euforia, a no operacionalizao

    das promessas levavam os profissionais a vivenciarem novos conflitos.

    Por meio do Processo Seletivo Simplificado (002/2008) para contratao de profissionais

    para o Programa Atitude, previu-se a seleo de 11 profissionais que atuariam nos dois Ncleos

    do Programa em Sarandi. A diviso de profissionais seria realizada de maneira que cada Ncleo

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    possusse 1 Assistente Social, 1 Arte educador, 1 Educador fsico e 2 psiclogos, e o Cientista

    social se dividiria no atendimento dos dois ncleos. Os profissionais selecionados teriam a

    obrigatoriedade de atuar 30 horas nos Ncleos e as outras 10 horas semanais estariam

    vinculadas ao curso de formao. Ocorre que, por ser um processo seletivo, vrios profissionais

    desistiram antes mesmo da contratao e outros passaram em outros concursos ou

    conseguiram outros empregos deixando a equipe desfalcada.

    Outro problema recorrente foi o estabelecimento da sede dos ncleos: falta de local

    para guardar os materiais em segurana, falta de telefone e o funcionamento em locais onde

    os profissionais no tinham acesso nos finais de semana e feriados foi recorrente, agravando-

    se ao fato de que a equipe tcnica no era bem aceita por atender as metodologias que o

    programa possua. Um exemplo disso foi o fato de que um dos ncleos funcionava em uma

    escola estadual e ex-alunos que no eram bem-vindos a essa escola tambm encontravam

    dificuldades em adentrar o espao fsico destinado ao Atitude.

    Com vistas a amenizar essas dificuldades vivenciadas pelos profissionais, a SECJ tentava

    na medida do possvel responder com rapidez comprando cotas para fotocpias de materiais

    e documentos, realizando com mxima urgncia licitaes para aquisio de materiais

    pedaggicos mnimos. Entretanto, as dificuldades e at mesmo a inexperincia dos

    profissionais para atuarem em reas com elevadas taxas de ocorrncia vinculadas violncia

    contriburam para que o encerramento do Programa Atitude em Sarandi fosse um momento

    de alvio para todos os envolvidos.

    Vale ressaltar que os rgos internos e externos que deveriam constituir o controle

    social e a defesa dos direitos da criana e do adolescente tambm foram deficitrios, inclusive

    inexistindo no municpio em alguns momentos o Conselho Municipal dos Direitos da Criana e

    do Adolescente (CMDCA), rgo mximo no exerccio desse controle.

    Consideraes Finais

    Na anlise realizada, buscamos evidenciar os problemas encontrados durante a

    execuo do Programa Atitude no municpio de Sarandi. Foi possvel observar que os critrios

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    e indicadores, que contriburam para que o municpio estivesse habilitado para receber os

    recursos destinados ao Programa Atitude, contraditoriamente foram tambm os motivos que

    inviabilizaram a execuo do Plano de Aplicao proposto inicialmente.

    Os problemas da administrao pblica vivenciados pelo municpio tambm

    contriburam para tais dificuldades. Nesse sentido, os princpios metodolgicos da ao do

    Programa Atitude no foram possveis de serem adequadamente efetivados. No que tange a

    ao de Planejamento, monitoramento e avaliao contnuos e integrados, observou-se que

    o diagnstico social elaborado pela equipe tcnica do programa evidenciou a inexistncias de

    espaos pblicos, mas o diagnstico no foi suficiente para que o municpio conseguisse suprir

    essa demanda, o que inviabilizou, de certa forma, outro princpio metodolgico de ao que

    seria o Aproveitamento dos recursos pblicos e comunitrios disponveis em cada

    localidade.

    Como j mencionado no corpo do artigo, as dificuldades existentes tambm

    contriburam para que a equipe tcnica tivesse problemas interpessoais com a rede de

    proteo social, dificultando a [...] adoo de estratgias que potencializem os projetos,

    programas e servios j existentes, agregando a eles as novas aes e ofertas e, com isso,

    garantindo um conjunto de intervenes articuladas, outro ponto dos princpios

    metodolgicos elencados. Por outro lado, as dificuldades vivenciadas fizeram com que os

    profissionais da equipe tcnica buscassem realizar atividades [...] em colaborao com os

    atores sociais envolvidos, entendendo-o como protagonistas do programa e dos resultados

    por ele produzidos. Esse princpio ficou evidenciado nos relatrios da equipe tcnica, nas

    aes de mobilizao e nas relaes estabelecidas com os lderes comunitrios.

    Para finalizar, apresentamos os indicadores do Programa Atitude de Sarandi

    correspondente aos meses de janeiro a outubro de 2010.9 Durante esses dez meses, a equipe

    do Programa Atitude de Sarandi atendeu a 486 famlias, realizou 158 atendimentos

    psicossociais, 73 visitas a domiclio, 29 estudos de caso, 418 atendimentos em grupos, 163

    9 Os dados apresentados no correspondem temporalidade de execuo do Programa em Sarandi e aparecemdissolvidos por uma opo metodolgica. Importante destacar que os autores no tiveram acesso ao relatriofinal dos indicadores do Programa referente ao perodo total de execuo.

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    abordagens educativas relacionadas ao uso de lcool e outras drogas e promoveu 19 eventos

    em que participaram 2637 pessoas. Os profissionais da equipe tcnica acompanharam 48

    bolsistas que realizaram 42 atividades e 25 oficinas para 120 participantes. Esses mesmos

    bolsistas foram monitorados em nove encontros de superviso.

    No que tange as prticas formativas, socializadoras de cidadania e profissionalizao,

    foram realizadas 18 atividades esportivas e 31 atividades de artes em que participaram 816 e

    583 pessoas consecutivamente, alm de 661 oficinas de cidadania e outras 111 iniciativas de

    fortalecimento de grupos de gerao de renda.

    Tais dados podem nos indicar que algumas demandas da realidade social da populao

    daquele territrio foram atendidas a partir de esforo profissional da equipe tcnica do

    Programa, de parceiros constitudos por iniciativas individuais entre ambas as partes e da

    prpria SECJ. A constituio de uma agenda na poltica pblica deve-se levar em conta mais

    aspectos universalizantes do que se tem levado contemporaneamente na definio das

    prioridades absolutas.

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    Recebido em: 10/09/2012

    Aprovado em: 30/11/2012